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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA JOSÉ WELLIGTON SOUSA DE CASTRO A JORNADA DE UM COMPOSITOR: do Bottom-up ao Top-down VOLUME I: DISSERTAÇÃO NATAL RN 2019

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ......curso de Mestrado, com viagens semanais de Pindoretama - CE1 a Natal - RN2. Ao professor Alexandre Reche e Silva, pelos valiosos ensinamentos

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

    JOSÉ WELLIGTON SOUSA DE CASTRO

    A JORNADA DE UM COMPOSITOR: do Bottom-up ao Top-down

    VOLUME I: DISSERTAÇÃO

    NATAL – RN 2019

  • JOSÉ WELLIGTON SOUSA DE CASTRO

    A JORNADA DE UM COMPOSITOR: do bottom-up ao top-down

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Música (PPGMUS) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como requisito obrigatório para a aprovação no exame de qualificação, na linha de pesquisa Processos e Dimensões da Produção Artística, área de concentração Composição.

    Orientador: Prof. Dr. Alexandre Reche e Silva.

    NATAL – RN 2019

    i

  • Catalogação da Publicação na Fonte

    Biblioteca Setorial Pe. Jaime Diniz - Escola de Música da UFRN

    C355j Castro, José Welligton Sousa de.

    A Jornada de um compositor: do bottom-up ao top-down / José

    Welligton Sousa de Castro. – Natal, 2020.

    2 v. : il.; 30 cm.

    Orientador: Alexandre Reche e Silva.

    Artigo (mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

    Escola de Música, Programa de Pós-Graduação em Música 2020.

    1. Composição musical – Dissertação. 2. Música – Processo compositivo – Dissertação. I. Silva, Alexandre Reche e. II. Título.

    RN/BS/EMUFRN CDU 781.6

    Elaborada por: Elizabeth Sachi Kanzaki – CRB-15/Insc. 293

  • JOSE WELLIGTON SOUSA DE CASTRO

    A JORNADA DE UM COMPOSITOR: do bottom-up ao top-down

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Música (PPGMUS) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como requisito obrigatório para a aprovação no exame de qualificação, na linha de pesquisa Processos e Dimensões da Produção Artística, área de concentração Composição.

    Aprovada em: __/__/__

    BANCA EXAMINADORA:

    ________________________________________________________ PROF. DR. ALEXANDRE RECHE E SILVA

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN) (ORIENTADOR)

    ________________________________________________________ PROF. DR. MARCUS ANDRÉ VARELA VASCONCELOS

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN) (MEMBRO DA BANCA)

    ______________________________________________________ PROF. DR. ELI ERI LUIZ DE MOURA

    UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA (UFPB) (MEMBRO DA BANCA)

    ii

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus, pela minha vida e por me dar forças para superar as dificuldades.

    Aos meus pais (Maria Helena Sousa de Castro e José Wilame Pereira de

    Castro), pela ajuda, apoio e torcida.

    À minha esposa (Jéssica Maria dos Santos Albino), pelo amor, dedicação,

    compreensão, paciência e apoio, principalmente, durante os 2 anos de realização do

    curso de Mestrado, com viagens semanais de Pindoretama - CE1 a Natal - RN2.

    Ao professor Alexandre Reche e Silva, pelos valiosos ensinamentos em

    composição.

    Aos colegas músicos, que me ajudaram na realização dos recitais. São eles:

    Willian Ciriaco e a Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual do Ceará, Roberto

    Ramos, Abraão Sales (Cello), Gabriel Vasco (Cello), Ivson da Conceição (Cello), Laís

    Oliveira (Cello), Maria Bellorin (Cello), Jean Carlos (Trompete), Emerson Pereira

    (Trompete), minha irmã - Williane Sousa (Trompa), Djacir Vasconcelos (Trombone),

    Caio Ramires (Tuba), Washington Florêncio (Sax), João Simplício (Trompete), Bruno

    Farias (Trombone), Silas Barreto (Eufônio), Marco Cezar (Bandolim), Rodrigo de

    Castro (Violão), Cláudia Cunha (Soprano), Antônio Renato (Violino), Mariana de

    Oliveira (Viola), Airton Bezerra (Contrabaixo), Walter Célio e a Banda de Música de

    Pacatuba (CE), Everton Castro (Oboé), Francisco Sousa (Fagote), Jônatas Gaudêncio

    (Clarinete), Lucas Daniel (Trompete), Vanniellyson Vilker (Trompa), Júlio César

    (Tuba), Isaac Santos (Fagote), Antônio Wendel (Clarinete) e Joabe Oliveira (Oboé).

    À Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que, por meio do

    Programa de Pós-Graduação em Música (PPGMUS), me propiciou novas

    experiências e um aprendizado intenso.

    1Ceará (CE). 2Rio Grande do Norte (RN).

    iii

  • RESUMO

    Apresenta o desenvolvimento da prática compositiva do autor na forma de

    memoriais de composição. O objetivo principal é relatar o deslocamento do fazer

    criativo do autor, que era mais voltado à manipulação de materiais por meio de

    técnicas, para uma abordagem com foco em metas e princípios compositivos.

    Apresenta uma fundamentação teórica organizada segundo as instâncias do modelo

    de acompanhamento do processo composicional proposto por Silva (2010a), listando

    Metas, Princípios, Materiais e Técnicas que congregam elementos gerais utilizados

    nas composições aqui apresentadas. Apresenta os memoriais das obras Uirapuru,

    para quinteto de flautas-doce, Algoritmico, para quinteto de metais, Hircus, para

    quinteto de cellos, Tapioca, para quinteto de metais, Momentos Eternos, para grupo

    misto, Mandioca, para trio de sopros e Autóctones, para saxofone solo. Os

    memoriais das obras foram confeccionados com base no Modelo de Silva (2010a),

    listando as instâncias do modelo como seções que descrevem o percurso criativo de

    cada obra e, por fim, comentário conclusivos sobre cada composição.

    Palavras-chave: Composição Musical. Processo Compositivo. Modelo de

    acompanhamento do processo composicional. Bottom-up. Top-down.

    iv

  • ABSTRACT

    It presents the development of the author's compositional practice in the form

    of composition memoirs. The main objective is to report the displacement of the

    author’s creative making, which was more focused on the manipulation of materials

    through techniques, for an approach focused on goals and principles. It presents a

    theoretical foundation organized according to the instances of the model of

    accompaniment of the compositional process proposed by Silva (2010a), listing

    Goals, Principles, Materials and Techniques that bring together general elements

    used in the compositions presented here. Presents the memoirs of the works

    Uirapuru, for recorder quintet, Algoritmico, for brass quintet, Hircus, for cellos quintet,

    Tapioca, for brass quintet, Momentos Eternos, for mixed ensemble, Mandioca, for

    woodwinds trio and Autoctones, for solo saxophone. The memoirs of the works were

    made based on the model by Silva (2010a), listing the instances of the model as

    sections that describe the creative path of each work and, finally, conclusive

    comments on each composition.

    Keywords: Musical composition. Compositional process. Model of accompaniment of

    the compositional process. Bottom-up.; Top-down.

    v

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - O modelo de acompanhamento do processo composicional

    proposto por Silva (2010a)............................................................ 19

    Figura 2 - Cálculo da proporção áurea de um segmento de medida............. 23

    Figura 3 - Principais abordagens de design compositivo do Modelo de Silva

    (2010a): top-down e bottom-up, respectivamente................ 28

    Figura 4 - Transcrição do canto do Uirapuru................................................ 42

    Figura 5 - Primeiro segmento da obra Algoritmico (cc. 1-4).......................... 53

    Figura 6 - Segundo segmento da obra Algoritmico (cc. 5-8)......................... 53

    Figura 7 - Terceiro segmento da obra Algoritmico (cc. 9-10)......................... 53

    Figura 8 - Quarto segmento da obra Algoritmico (cc. 11-12)......................... 53

    Figura 9 - Quinto segmento da obra Algoritmico (cc. 13-15)......................... 53

    Figura 10 - Sexto segmento da obra Algoritmico (c. 18).................................. 54

    Figura 11 - Durações do primeiro segmento da obra Hircus........................... 58

    Figura 12 - Durações do segundo segmento da obra Hircus.......................... 58

    Figura 13 - Durações do terceiro segmento da obra Hircus............................ 58

    Figura 14 - Durações do quarto segmento da obra Hircus.............................. 58

    Figura 15 - Durações do quinto segmento da obra Hircus.............................. 58

    Figura 16 - Durações do sexto segmento da obra Hircus................................ 59

    Figura 17 - Escala nordestina......................................................................... 59

    Figura 18 - Primeiro segmento da obra Hircus (cc.1-5)................................... 59

    Figura 19 - Segundo segmento da obra Hircus (cc. 6-10)............................... 59

    Figura 20 - Terceiro segmento da obra Hircus (cc. 10-13).............................. 59

    Figura 21 - Quarto segmento da obra Hircus (cc. 14-17)................................ 59

    Figura 22 - Quinto segmento da obra Hircus (cc.18-25).................................. 60

    Figura 23 - Sexto segmento da obra Hircus (cc. 33-35).................................. 60

    Figura 24 - Petruska, First Tableau, compassos 42 a 62, redução para piano

    a 4 mãos....................................................................................... 64

    Figura 25 - Ressignificação do trecho entre os compassos 42 a 62 (First

    Tableau) de Petruska na obra Hircus............................................ 64

    Figura 26 - Baião (bombo e vareta)................................................................ 70

    Figura 27 - Célula rítmica (a,b): Baião (bombo e vareta) (1)............................ 72

    vi

  • Figura 28 - Célula rítmica (c,b): Boi de Mamão (reco-reco)............................. 72

    Figura 29 - Resultado da operação de distribuição justapositiva entre Baião

    (bombo e vareta) e Boi de Mamão (reco-reco).............................. 72

    Figura 30 - Célula rítmica (a,b): Baião (bombo e vareta) (2)............................ 72

    Figura 31 - Célula rítmica (d): Maxixe (bombo)............................................... 72

    Figura 32 - Resultado da operação de distribuição justapositiva entre Baião

    (bombo e vareta) e Maxixe (bombo)............................................. 73

    Figura 33 - Célula rítmica (a,b): Baião (bombo e vareta) (3)............................ 73

    Figura 34 - Célula rítmica (b,b,e,b): Maracatu estilizado (agogô).................... 73

    Figura 35 - Resultado da operação de distribuição justapositiva entre Baião

    (bombo e vareta) e Maracatu estilizado (agogô)........................... 73

    Figura 36 - Célula rítmica (a,b): Baião (bombo e vareta) (4)............................ 74

    Figura 37 - Célula rítmica (e,e): Carimbó (tambor surdo)................................ 74

    Figura 38 - Resultado da operação de distribuição justapositiva entre Baião

    (bombo e vareta) e Carimbó (tambor surdo)................................. 74

    Figura 39 - Célula rítmica (a,b): Baião (bombo e vareta) (5)............................ 74

    Figura 40 - Célula rítmica (e,b,e,f): Maracatu de baque – virado..................... 74

    Figura 41 - Resultado da operação de distribuição justapositiva entre Baião

    (bombo e vareta) e Maracatu de baque-virado............................. 75

    Figura 42 - Fragmento do primeiro segmento da obra Tapioca (cc. 1-2)......... 75

    Figura 43 - Segundo segmento da obra Tapioca (cc. 5-10)............................ 75

    Figura 44 - Terceiro segmento da obra Tapioca (cc. 11-18)............................ 75

    Figura 45 - Quarto segmento da obra Tapioca (cc. 19-22).............................. 76

    Figura 46 - Quinto segmento da obra Tapioca (cc. 23-30).............................. 76

    Figura 47 - Primeiro segmento (original) da obra Momentos Eternos............. 81

    Figura 48 - Segundo segmento (original) da obra Momentos Eternos............ 81

    Figura 49 - Terceiro segmento (original) da obra Momentos Eternos............. 81

    Figura 50 - Quarto segmento (original) da obra Momentos Eternos................ 81

    Figura 51 - Célula rítmica (a,b): Chula Gaúcha, sapateado (c. 8) (1).............. 91

    Figura 52 - Célula rítmica (c,d): Ciranda, caixa............................................... 91

    Figura 53 - Resultado da operação de distribuição justapositiva entre Chula

    Gaúcha (sapateado) e Ciranda (caixa)......................................... 91

    Figura 54 - Célula rítmica (d,e): Chimarrita Balão, surdo (2)........................... 91

    vii

  • Figura 55 - Célula rítmica (f): Chula Gaúcha, bombo (c. 1)............................. 91

    Figura 56 - Resultado da operação de distribuição justapositiva entre

    Chimarrita Balão (surdo) e Chula Gaúcha (bombo)...................... 92

    Figura 57 - Célula rítmica (g,h): Chimarrita Balão, caixa (3)............................ 92

    Figura 58 - Célula rítmica (i): Cateretê (sem anacruse)................................... 92

    Figura 59 - Resultado da operação de distribuição justapositiva entre

    Chimarrita Balão, caixa e Cateretê (sem anacruse e alterado)..... 92

    Figura 60 - Célula rítmica (j,k): Baião, pandeiro (4)......................................... 93

    Figura 61 - Célula rítmica (l,m): Toada Moderna, tamborim........................... 93

    Figura 62 - Resultado da operação de distribuição justapositiva entre Baião,

    pandeiro e Toada Moderna, tamborim.......................................... 93

    Figura 63 - Célula rítmica (a): Maxixe, cabaça (apenas os acentos)............... 101

    Figura 64 - Célula rítmica (b): Xote, zabumba (desconsiderando a vareta)..... 101

    Figura 65 - Célula rítmica (c,d): Ciranda (Recife – PE), caixa......................... 101

    Figura 66 - Célula rítmica (e): imposição arbitrária.......................................... 101

    Figura 67 - Resultado da operação de distribuição justapositiva nas

    durações do primeiro e terceiro movimentos da obra

    Autóctones.................................................................................... 102

    Figura 68 - Célula rítmica a = d (oriundo da Ciranda (Recife – PE), caixa

    (desconsiderando a primeira parte).............................................. 103

    Figura 69 - Célula rítmica (b): Xote, zabumba (desconsiderando a vareta)..... 103

    Figura 70 - Célula rítmica c = a (oriundo do Maxixe, cabaça (apenas os

    acentos)........................................................................................ 103

    Figura 71 - Célula rítmica d = c (oriundo da Ciranda (Recife – PE), caixa

    (desconsiderando a segunda parte)............................................. 103

    Figura 72 - Célula rítmica (e): imposição arbitrária.......................................... 103

    Figura 73 - Resultado da operação de distribuição justapositiva nas

    durações do segundo movimento da obra Autóctones.................. 104

    Figura 74 - Exemplo de somas rítmicas nas durações das melodias da obra

    Autóctones: primeiro e último movimento..................................... 105

    Figura 75 - Exemplo de somas rítmicas nas durações das melodias da obra

    Autóctones: segundo movimento.................................................. 105

    viii

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Instâncias do Modelo de Silva (2010a)........................................ 20

    Quadro 2 - Escala de intensidades (dinâmicas)............................................ 34

    Quadro 3 - Termos que evocam subjetividade em tomadas de decisões

    criativas....................................................................................... 40

    Quadro 4 - Matriz de transposição e inversão desenvolvida para a

    composição da obra Uirapuru (desconsiderando relações

    intervalares)................................................................................ 45

    Quadro 5 - Aplicação do Modelo de Silva (2010a) na obra Uirapuru............. 47

    Quadro 6 - Matriz de transposição e inversão desenvolvida para a

    composição da obra Algoritmico................................................. 50

    Quadro 7 - Aplicação do Modelo de Silva (2010a) na obra Algoritmico......... 55

    Quadro 8 - Aplicação do Modelo de Silva (2010a) na obra Hircus................. 66

    Quadro 9 - Aplicação do Modelo de Silva (2010a) na obra Tapioca.............. 78

    Quadro 10 - Aplicação do Modelo de Silva (2010a) na obra Momentos

    Eternos....................................................................................... 88

    Quadro 11 - Aplicação do Modelo de Silva (2010a) na obra Mandioca........... 95

    Quadro 12 - A forma dos movimentos da obra Autóctones............................. 99

    Quadro 13 - Contorno de intensidades do primeiro movimento da obra

    Autóctones.................................................................................. 100

    Quadro 14 - Aplicação do Modelo de Silva (2010a) na obra Autóctones......... 108

    Quadro 15 - Aplicação do Modelo de Silva (2010a) nos memoriais................ 112

    ix

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Escala de intensidades numeralizadas........................................ 35

    Tabela 2 - Distribuição de intensidades da obra Algoritmico......................... 51

    Tabela 3 - A forma da obra Algoritmico......................................................... 52

    Tabela 4 - Intensidades associadas a cada segmento da obra Hircus.......... 61

    Tabela 5 - A forma da obra Hircus................................................................ 61

    Tabela 6 - Combinações instrumentais da obra Hircus................................ 62

    Tabela 7 - Papéis texturais, onde M é melodia, A é acompanhamento e C

    é contracanto............................................................................... 82

    Tabela 8 - Disposição dos grupos de instrumentos que crescem na

    numeração, conforme seu peso instrumental............................... 84

    Tabela 9 - Variações de somas rítmicas do primeiro segmento da obra

    Momentos Eternos...................................................................... 85

    Tabela 10 - Variações de somas rítmicas do segundo segmento da obra

    Momentos Eternos...................................................................... 85

    Tabela 11 - Variações de somas rítmicas do terceiro segmento da obra

    Momentos Eternos...................................................................... 85

    Tabela 12 - Variações de somas rítmicas do quarto segmento da obra

    Momentos Eternos...................................................................... 85

    Tabela 13 - Ponto áureo de 8 seções e 32 segmentos.................................... 86

    Tabela 14 - Ponto culminante da obra Momentos Eternos............................. 86

    Tabela 15 - Aplicação de zonas de transposição e mudança de modo da

    obra Momentos Eternos............................................................... 87

    Tabela 16 - Disposição dos instrumentos ao longo da obra Mandioca............ 90

    Tabela 17 - Variações de somas rítmicas do primeiro segmento da obra

    Mandioca...................................................................................... 93

    x

  • LISTA DE GRÁFICOS

    Gráfico 1 - Espectro do canto do Uirapuru no software SPEAR.................. 42

    Gráfico 2 - Sonograma da obra Uirapuru extraído a partir do MIDI.............. 46

    Gráfico 3 - Sonograma da obra Algoritmico extraído a partir do MIDI........... 54

    Gráfico 4 - Sonograma da obra Hircus extraído a partir do MIDI.................. 65

    Gráfico 5 - Sonograma da obra Tapioca extraído a partir do MIDI................ 69

    Gráfico 6 - Sonograma da obra Momentos Eternos extraído a partir do

    MIDI............................................................................................ 80

    Gráfico 7 - Sonograma da obra Mandioca extraído a partir do MIDI............. 94

    Gráfico 8 - Sonograma da obra Autóctones, 1º movimento, extraído a

    partir do MIDI.............................................................................. 97

    Gráfico 9 - Sonograma da obra Autóctones, 2º movimento, extraído a

    partir do MIDI.............................................................................. 97

    Gráfico 10 - Sonograma da obra Autóctones, 3º movimento, extraído a

    partir do MIDI.............................................................................. 98

    Gráfico 11 - Transposições do primeiro movimento da obra Autóctones....... 107

    Gráfico 12 - Transposições do segundo movimento da obra Autóctones....... 107

    xi

  • SUMÁRIO

    VOLUME I

    1 INTRODUÇÃO.................................................................................... 17

    2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................................... 19

    2.1 O Modelo de Silva (2010a)................................................................. 19

    2.2 Metas.................................................................................................. 21

    2.2.1 O clímax............................................................................................... 21

    2.2.2 Aplicação de proporção áurea............................................................. 23

    2.2.3 A grande linha e a manutenção do fluxo musical.................................. 24

    2.3 Princípios........................................................................................... 26

    2.3.1 Abordagem de design compositivo...................................................... 26

    2.3.2 Negociação.......................................................................................... 29

    2.3.3 Composição baseada em exemplos ou em regras............................. 31

    2.3.4 Analogia............................................................................................... 32

    2.3.5 Ressignificação................................................................................... 33

    2.4 Materiais............................................................................................. 33

    2.4.1 Paleta de qualidades musicais utilizadas............................................ 34

    2.4.2 Numeralização de quantidades de uma qualidade musical.................. 34

    2.5 Técnicas............................................................................................. 35

    2.5.1 Operações sobre listas........................................................................ 36

    2.5.1.1 Justaposição........................................................................................ 37

    2.5.1.2 Permutação......................................................................................... 37

    3 MEMORIAIS DAS OBRAS.................................................................. 39

    3.1 Processo compositivo da obra Uirapuru, para quinteto de

    flautas-doce....................................................................................... 40

    3.1.1 Ideias................................................................................................... 41

    3.1.2 Materiais.............................................................................................. 41

    3.1.2.1 Alturas................................................................................................ 41

    3.1.2.2 Durações............................................................................................ 42

    3.1.2.3 Forma.................................................................................................. 43

    3.1.3 Técnicas.............................................................................................. 43

    3.1.3.1 Operações sobre as durações.......................................................... 43

    3.1.3.2 Justaposição de segmentos............................................................. 44

    xii

  • 3.1.3.3 Matriz de transposição e inversão.................................................... 45

    3.1.4 Princípios............................................................................................. 46

    3.1.5 Metas................................................................................................... 46

    3.1.6 Resultados........................................................................................... 47

    3.1.7 Comentários conclusivos..................................................................... 47

    3.2 Processo compositivo da obra Algoritmico, para quinteto de

    metais................................................................................................. 49

    3.2.1 Ideias................................................................................................... 49

    3.2.2 Materiais.............................................................................................. 49

    3.2.2.1 Durações............................................................................................. 49

    3.2.2.2 Alturas.................................................................................................. 50

    3.2.2.3 Forma.................................................................................................. 50

    3.2.2.4 Transposições e textura...................................................................... 50

    3.2.2.5 Intensidades........................................................................................ 50

    3.2.3 Técnicas.............................................................................................. 51

    3.2.3.1 Permutação de durações.................................................................... 51

    3.2.3.2 Justaposição de segmentos............................................................... 52

    3.2.3.3 Sincronização de alturas e durações.................................................. 53

    3.2.4 Princípios............................................................................................. 54

    3.2.5 Metas................................................................................................... 54

    3.2.6 Resultados........................................................................................... 55

    3.2.7 Comentários conclusivos..................................................................... 55

    3.3 Processo compositivo da obra Hircus, para quinteto de cellos..... 55

    3.3.1 Ideias................................................................................................... 56

    3.3.2 Materiais.............................................................................................. 56

    3.3.2.1 Textura................................................................................................. 57

    3.3.2.2 Transposições..................................................................................... 57

    3.3.2.3 Intensidades........................................................................................ 57

    3.3.2.4 Timbres................................................................................................ 57

    3.3.2.5 Forma.................................................................................................. 57

    3.3.2.6 Durações e alturas............................................................................... 58

    3.3.3 Técnicas.............................................................................................. 60

    3.3.3.1 Aplicação de contorno......................................................................... 60

    xiii

  • 3.3.3.2 Justaposição de segmentos................................................................ 61

    3.3.3.3 Combinações instrumentais................................................................ 62

    3.3.4 Princípios............................................................................................. 63

    3.3.5 Metas................................................................................................... 65

    3.3.6 Resultados........................................................................................... 65

    3.3.7 Comentários conclusivos..................................................................... 65

    3.4 Processo compositivo da obra Tapioca, para quinteto de metais. 67

    3.4.1 Ideias................................................................................................... 67

    3.4.2 Metas................................................................................................... 68

    3.4.3 Princípios............................................................................................. 69

    3.4.4 Materiais.............................................................................................. 70

    3.4.4.1 Durações............................................................................................. 70

    3.4.4.2 Alturas................................................................................................. 70

    3.4.4.3 Forma.................................................................................................. 71

    3.4.4.4 Textura................................................................................................ 71

    3.4.5 Técnicas.............................................................................................. 71

    3.4.5.1 Distribuição justapositiva.................................................................... 71

    3.4.5.2 Sincronização entre alturas e durações............................................. 75

    3.4.5.3 Justaposição de segmentos............................................................... 76

    3.4.6 Resultados........................................................................................... 77

    3.4.7 Comentários conclusivos..................................................................... 77

    3.5 Processo compositivo da obra Momentos Eternos, para grupo

    misto................................................................................................... 79

    3.5.1 Ideias................................................................................................... 79

    3.5.2 Princípios............................................................................................. 79

    3.5.3 Metas................................................................................................... 80

    3.5.4 Materiais.............................................................................................. 80

    3.5.4.1 Timbres................................................................................................ 81

    3.5.4.2 Durações............................................................................................. 81

    3.5.4.3 Forma.................................................................................................. 82

    3.5.4.4 Textura................................................................................................ 82

    3.5.4.5 Texto da obra...................................................................................... 82

    3.5.5 Técnicas.............................................................................................. 83

    xiv

  • 3.5.5.1 Combinações de timbres..................................................................... 83

    3.5.5.2 Somas rítmicas.................................................................................... 85

    3.5.5.3 Justaposição de segmentos................................................................. 86

    3.5.5.4 Transposições e mudanças de modo................................................. 87

    3.5.6 Resultados........................................................................................... 87

    3.5.7 Comentários conclusivos..................................................................... 87

    3.6 Processo compositivo da obra Mandioca, para trio de sopros...... 89

    3.6.1 Ideias................................................................................................... 89

    3.6.2 Materiais.............................................................................................. 89

    3.6.2.1 Timbres................................................................................................ 90

    3.6.2.2 Durações............................................................................................. 90

    3.6.3 Técnicas.............................................................................................. 90

    3.6.3.1 Distribuição justapositiva..................................................................... 90

    3.6.3.2 Somas rítmicas.................................................................................... 93

    3.6.4 Demais instâncias................................................................................ 94

    3.6.5 Resultados........................................................................................... 95

    3.6.6 Comentários conclusivos..................................................................... 95

    3.7 Processo compositivo da obra Autóctones, para saxofone solo.. 96

    3.7.1 Ideias................................................................................................... 96

    3.7.2 Metas................................................................................................... 97

    3.7.3 Princípios............................................................................................. 98

    3.7.4 Materiais.............................................................................................. 98

    3.7.4.1 Durações............................................................................................. 98

    3.7.4.2 Alturas................................................................................................. 99

    3.7.4.3 Forma.................................................................................................. 99

    3.7.4.4 Intensidades....................................................................................... 99

    3.7.5 Técnicas.............................................................................................. 100

    3.7.5.1 Distribuição justapositiva................................................................. 101

    3.7.5.2 Somas rítmicas.................................................................................. 105

    3.7.5.3 Aplicação de proporção áurea nas transposições.......................... 106

    3.7.5.4 Técnicas estendidas.......................................................................... 107

    3.7.6 Resultados........................................................................................... 108

    3.7.7 Comentários conclusivos..................................................................... 108

    xv

  • 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................ 110

    REFERÊNCIAS................................................................................... 114

    VOLUME II

    APÊNDICE A – PARTITURA DA OBRA UIRAPURU......................... 121

    APÊNDICE B – PARTITURA DA OBRA ALGORITMICO................... 134

    APÊNDICE C – PARTITURA DA OBRA HIRCUS.............................. 143

    APÊNDICE D – PARTITURA DA OBRA TAPIOCA............................ 162

    APÊNDICE E – PARTITURA DA OBRA MOMENTOS ETERNOS..... 183

    APÊNDICE F – PARTITURA DA OBRA MANDIOCA......................... 214

    APÊNDICE G – PARTITURA DA OBRA AUTÓCTONES................... 223

    xvi

  • 17

    1 INTRODUÇÃO

    Ao atentar para a nossa jornada criativa, percebeu-se que nosso modus

    operandi, até então, se baseou, principalmente, no emprego de técnicas compositivas

    sobre materiais musicais. Grande parte do processo esteve ligada a operações sobre

    materiais (excetuando-se uma organização, geralmente, prevista pela escolha da

    forma musical). Segundo Reynolds (2002 apud LIMA, 2014, p. 54): “se não houver

    uma coerente ‘rede de conectividade’ entre o material escolhido e a forma designada,

    o resultado será necessariamente imperfeito, menor do que poderia ter sido”

    Em nosso Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)3, descrevemos técnicas e

    materiais utilizados para compor a obra Naturalis. Todo o percurso criativo se baseou

    em operar os motivos e temas através de algumas técnicas compositivas. A estrutura

    formal e os contornos gerais, em última análise, foram uma consequência do trabalho

    realizado sobre temas. Não houve grandes planejamentos sobre o plano estrutural da

    obra. Com isso, dificuldades como direcionalidade, elementos unificadores e

    coerência formal surgiram. Essas dificuldades foram resolvidas da maneira que

    achamos mais adequada, infelizmente sem uma lógica amparada por um projeto

    geral.

    Apesar dos esforços empregados nessa direção, restava adicionar ao processo

    compositivo uma perspectiva mais ampla na organização dos elementos de uma

    composição musical. Eis aí o problema desta pesquisa.

    Assim, o objetivo principal deste trabalho é relatar o deslocamento do nosso

    fazer criativo (mais voltado à manipulação de materiais por meio de técnicas) para

    uma abordagem com foco em metas e princípios compositivos.

    Quanto à metodologia empregada, aplicou-se, como ferramenta principal, o

    desígnio de metas bem como a observação de princípios que possibilitou um

    manuseio mais consciente dos próprios materiais e resultados prévios, dentro de um

    planejamento mais abrangente.

    Ao longo dos respectivos memoriais, detalhou-se com, cada vez mais ênfase,

    elementos de uma visão, cada vez mais panorâmica, no processo compositivo. O

    portfólio de composições, apresentado neste trabalho, descreve esta jornada

    enquanto uma mudança de perspectiva. Isto resultou na aprendizagem de uma

    3 (Castro, 2012)

  • 18

    alternativa à situação inicial. Neste sentido, passou-se a organizar, previamente, as

    estruturas das obras e a operacionalizar várias qualidades músicas (tantas quantas

    fossem desejadas). Criou-se planos estruturais que facilitaram a implementação de

    algumas composições e quem ligam a primeira nota à última (COPLAND, 1974)

    criando sentidos (ou direções) em diversos níveis das obras.

    Este trabalho está organizado em 4 capítulos.

    No capítulo 1, apresenta-se a introdução da pesquisa, descrevendo uma visão

    geral sobre o trabalho que foi desenvolvido.

    No capítulo 2, descreve-se a fundamentação teórica do trabalho. Para isso,

    utilizou-se 5 das instâncias do modelo de acompanhamento de processo

    composicional (SILVA, 2010a), a saber: Metas, Princípios, Materiais e Técnicas para

    explicitar conceitos utilizados nas composições.

    No capítulo 3, apresenta-se os memoriais das obras que foram compostas

    entre 2018 e 2019, período de realização do curso de Mestrado em Música da

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Selecionou-se algumas das

    obras compostas ao longo do Curso para melhor evidenciar o deslocamento do fazer

    compositivo, do bottom-up ao top-down. As obras descritas neste trabalho são:

    Uirapuru (para quinteto de flautas-doce), Algoritmico (para quinteto de metais), Hircus

    (para quinteto de cellos), Tapioca (para quinteto de metais), Momentos Eternos (para

    grupo misto), Mandioca (para trio de sopros) e Autóctones (para saxofone alto solo).

    Por fim, no capítulo 4, tece-se as considerações finais sobre o trabalho

    desenvolvido, evidenciando resultados e perspectivas abertas por esta pesquisa além

    de discutir as suas contribuições para o campo da composição musical.

  • 19

    2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

    Este capítulo apresentará o modelo de acompanhamento de processo

    composicional de Silva (2010a) e alguns dos conceitos gerais que foram utilizados

    durante os processos compositivos das obras listadas no capítulo 3 – Memoriais das

    obras. Estes conceitos serão apresentados em algumas das instâncias do modelo de

    Silva (2010a).

    Serão apresentadas as metas, os princípios, os materiais e as técnicas. As

    instâncias, ideias e resultados serão apresentadas no capítulo 3, no memorial de cada

    obra.

    2.1 O Modelo de Silva (2010a)

    Para o desenvolvimento dos memoriais compositivos, o trabalho se apoiou no

    modelo de acompanhamento do processo composicional proposto por Silva (2010a).

    Figura 1 – O modelo de acompanhamento do processo composicional de Silva (2010a)

    Fonte: Silva (2010a, p. 19).

    O modelo permite organizar passos adotados durante a composição de uma

    obra, registrando informações em suas instâncias: Ideias, Princípios, Metas,

    Materiais, Técnicas e Resultados. O modelo permitiu ainda uma “[...] visão

    panorâmica e em larga escala” (SILVA, 2010a, p. 19) do percurso realizado

  • 20

    durante a composição das obras desta pesquisa. Serviu também como um diário de

    bordo onde se pôde descrever o passo-a-passo do processo compositivo.

    Dentro do modelo há duas principais abordagens possíveis, são elas: bottom-

    up e top-down. Na subseção 2.3.1 será aprofundada a Abordagem de design

    compositivo.

    Sobre as instâncias do modelo, Silva (2010a) escreve:

    Quadro 1 – Instâncias do Modelo de Silva (2010a)

    IDEIAS

    São “[...] concepções provedoras de sentidos e imagens ao processo de realização de uma obra” (SILVA, 2010a, p. 20). Exemplos: “Planejamento esquemático; resolução de problemas; roteirização” (SILVA, 2010a, p. 20).

    PRINCÍPIOS

    São uma “[...] coleção de critérios que subsidiam tomadas de decisões ao longo do processo. Tais decisões lidam com atitudes geralmente automáticas, a priori, ou que não costumam ser levadas em conta (senão tácita ou de alguma maneira não consciente)” (SILVA, 2010a, p. 20). Exemplos: “Aninhamento (de contornos); mapeamento entre domínios; negociação; repetição variada; surpresa” (SILVA, 2010a, p. 20).

    METAS

    São “[...] pontos que definem o contorno (o perfil) de gestos ou eventos. Metas possuem medidas (que as dispõem no espaço/tempo do plano composicional) e formas de acesso (que são maneiras de se alcançar suas medidas)” (SILVA, 2010a, p. 20). Exemplos: “Medidas (metades, terços e seções áureas); formas de acesso (crescimento resistente)” (SILVA, 2010a, p. 20).

    MATERIAIS São “[...] dados brutos ou elementos básicos submetidos a transformação, sínteses” (SILVA, 2010a, p. 20). Exemplos: “Agregado; natureza timbrística; ritmos” (SILVA, 2010a, p. 21).

    TÉCNICAS

    São “[...] operações sobre materiais, orientadas por princípios para o alcance de metas” SILVA, 2010a, p. 21). Exemplos: “Combinatória; defasagem (phasing); expansão/contração intervalar; melodia de timbres (Klangfarbenmelodie); polirritimia; politonalismo; heterofonia; permutação; serialismo; síntese sonora” (SILVA, 2010a, p. 21, grifo do autor).

    RESULTADOS

    São as saídas do processo composicional, “essa instância funciona como um repositório dinâmico de resultados parciais. Ela também serve de centro nervoso, conectando as demais instâncias” (SILVA, 2010a, p. 21). Exemplos: “Obras de arte, composições; esboços composicionais; gestos e amostras sonoras (tratadas ou sintetizadas)” (SILVA, 2010a, p. 21).

    Fonte: Silva (2010a, p. 20-21). Nota: Quadro 1 adaptado pelo autor (2019).

    Silva (2010a, p. 11) sugere o impacto do modelo sobre o campo da

    Composição, do ponto de vista da criatividade, quando diz que:

    Um processo composicional assistido por um modelo que auxilie na varredura desse campo e que viabilize um enfoque global do próprio processo, traz vantagens do ponto de vista da fluência criativa, ajudando na superação do ‘terror das possibilidades infinitas’.

  • 21

    Este enfoque global do processo é desejável quando se intenta aprofundar na

    habilidade da composição musical.

    A utilização do Modelo de Silva (2010a), neste trabalho, se justifica pelo fato de

    fornecer uma consciência mais apurada do processo compositivo além de servir como

    um diário de bordo, onde registrou-se, em suas instâncias, as estratégias tomadas ao

    longo do percurso criativo. Também serviu para a organização dos conceitos,

    técnicas, materiais e objetivos envolvidos na confecção de uma composição.

    As seções a seguir são: Metas, Princípios, Materiais e Técnicas, segundo as

    instâncias do Modelo de Silva (2010a). Elas congregam elementos que foram

    utilizados na composição das obras listadas no capítulo 3. As instâncias Ideias e

    Resultados terão suas descrições contempladas no memorial de cada obra.

    2.2 Metas

    Durante o trabalho compositivo descrito nos memoriais das obras cuja

    abordagem se aproximou mais de uma visão panorâmica (top-down), algumas metas

    foram preestabelecidas. Para estas obras aplicou-se a proporção áurea para

    estabelecer um ponto de clímax máximo em um local significativo. O caminho, até

    este ponto, foi construído em ondas, ou seja, aplicando-se certa resistência até

    alcançá-lo. E, ao longo deste caminho, buscou-se estabelecer pontos reconhecíveis

    que garantissem o fluxo musical.

    As metas listadas, a seguir, são o clímax, aplicação de proporção áurea, a

    grande linha e a manutenção do fluxo musical.

    2.2.1 O clímax

    O clímax de uma obra pode ser definido com um ponto de adensamento das

    estruturas musicais. Ou seja, um ponto onde as qualidades musicais crescem em suas

    grandezas (intensidade, textura, tensão harmônica, velocidade (andamento) ou outras

    qualidades).

    Em uma obra musical podem haver vários clímaces que precedem um clímax

    principal. Estes clímaces podem ser em “[...] uma frase, uma seção ou um movimento

  • 22

    inteiro" (BELKIN, 2008, p. 29, tradução nossa4). O caminho até o clímax mais

    importante de uma composição é feito utilizando curvas de crescimento de grandezas

    musicais. Essas curvas, além de preparar o clímax principal, auxiliam o ouvinte na

    compreensão geral da obra.

    Belkin (2008, p. 47, tradução nossa) acentua que:

    Impor uma progressão nos picos de vários clímaces sucessivos chama a atenção do ouvinte para relacionamentos de larga escala, encorajando uma visão panorâmica da forma. Isso facilita a compreensão geral e ajuda a situar o ouvinte5.

    Em algumas obras do século XIX ocorre expressão Stringendo, que “[...] indica

    o desenvolvimento em direção a algum clímax” (FALLOWS, 2001, tradução nossa6,7).

    Por exemplo, Guillaume Tell (ROSSINI, [1829]), Nabucco (VERDI, 1841), Die Walküre

    (WAGNER, 1874), Sinfonia n. 1 (BRAHMS, 1877), 1812 Overture, op. 49

    (TCHAIKOVSKY, 1882), Sinfonia n. 9, op. 95 (DVOŘÁK, 1894), entre outras.

    A expressão Stringendo implica em um aumento no andamento. Em muitas

    composições, ela vem em conjunto com um crescendo. Contudo, a utilização deste

    caráter não é a única maneira de impor um crescimento até um clímax. Outras

    qualidades musicais podem ser operadas (como intensidades, alturas e combinações

    instrumentais) visando o adensamento das estruturas até o ápice de uma música.

    Durante a composição das obras listadas no capítulo 3, entrelaçou-se a

    organização da forma com a operacionalização de outras qualidades musicais que

    foram articuladas visando atingir um clímax e depois esmaecer. Esta

    operacionalização de qualidades se define como um desenho de contornos de curvas

    dramáticas que perfazem variações de instrumentação, intensidade, transposição e

    outras qualidades, de modo a atingir o ápice e dele retornar.

    4“[...] a phrase, a section, or a whole movement.” (BELKIN, 2008, p. 29). 5“Imposing a progression on the peaks of several successive climaxes draws the listener's attention to

    large scale relationships, encouraging a bird's eye view of the form. This makes overall comprehension easier and helps situate the listener.” (BELKIN, 2008, p. 47).

    6“[…] to indicate the development towards some climax.” (FALLOWS, 2001). 7Documento online não paginado.

  • 23

    2.2.2 Aplicação de proporção áurea

    A proporção áurea, também conhecida número de ouro, é uma constante

    algébrica, frequentemente representada pela letra grega Φ (phi). Esta proporção

    algébrica está presente em diversas estruturas naturais, como em flores, crescimento

    de conchas e “entre as partes de uma figura humana” (FENERICH, 2015, p. 19). Por

    este motivo, “essa constante foi por muitos séculos adotada para determinar qual seria

    o ideal da beleza” (FISCHER, 2017, p. 139). A constante tem valor aproximado de

    0,618 e está presente ainda na razão entre os números da Série Fibonacci

    (1,1,2,3,5,8,13,...).

    Lendvai (1971, p. 17, tradução nossa8) acredita que:

    Seção áurea [...] significa a divisão de uma distância de forma que a proporção do comprimento total da parte maior corresponda geometricamente à proporção da parte maior à menor [...] um cálculo simples mostra que, se o comprimento total for tomado como unidade, o valor da parte maior será de 0,618... Assim, a parte maior de qualquer comprimento dividido pela seção áurea é igual ao comprimento total multiplicado por 0,618...

    Figura 2 – Cálculo da proporção áurea de um segmento de medida

    Fonte: O autor (2019).

    Diversos são os compositores que se utilizaram desta proporção para a

    elaboração de suas obras.

    Lendvai (1971) analisa a presença da proporção áurea na construção de obras

    de Bela Bartók. Ele escreve que “o método de Bartók, em sua construção de forma e

    8“Golden Section […] means the division of a distance in such a way that the proportion of the whole

    lenght ot the larger part corresponds geometrically to the proportion of the large to the smaller parts (...) A simple calculation show that if the whole lenght is take as unity, the value of the larger section is 0, 618... Thus, the larger part of any lenght divided into GS is equal to the whole multiplied by 0, 618...” (LENDVAI, 1971, p. 17).

  • 24

    harmonia, está intimamente ligado a lei da seção áurea” (LENDVAI, 1971, p. 18,

    tradução nossa9).

    Outro compositor que utilizou a proporção áurea foi Stravinsky (1924). Borém

    (2001) analisou a proporção áurea presente nos movimentos Pequeno Coral, Canção

    do Diabo e Grande Coral, da obra História do Soldado (STRAVINSKY, 1924),

    escrevendo que:

    Curiosamente, esta passagem [...] ocorre a cerca de 2/3 do início do movimento Grande Coral, numa proporção que nos remete à seção áurea, característica matemática que, em música, muitas vezes, coincide com a ocorrência do clímax da obra [...]. Esse clímax inclui as três danças (Tango, Ragtime, Valsa), a Canção do Diabo e o Pequeno Coral (subintitulado ‘O Abraço’), que coincidem, aproximadamente, com os primeiros 2/3 da obra (STRAVINSKY, 1924 apud BORÉM, 2001, p. 141-142, grifos do autor).

    Como poderá ser observado no capítulo 3, na organização estrutural de

    algumas obras, colocou-se o clímax mais importante em um local que consideramos

    significativo. Este local foi escolhido segundo cálculos da proporção áurea. O ponto

    áureo foi predeterminado em aproximadamente em 62% da medida dos segmentos

    da obra. Como em algumas composições ocorrem variações no andamento, o ponto

    áureo não coincide exatamente em 62% de tempo de música. Este cálculo atuou no

    planejamento estrutural da forma sobre a quantidade de segmentos, multiplicando-os

    pelo número 0,618. Ocorreu uma negociação com o resultado do cálculo, pois a

    multiplicação com 0,618 gera números decimais. Esses números decimais foram

    arredondados ou simplesmente truncados10.

    2.2.3 A grande linha e a manutenção do fluxo musical

    “A grande linha" descrita por Copland (1974, p. 34) se refere a algo que pode

    contribuir com a construção de um sentido para uma obra musical. Esta construção

    formal, "tem um grande objetivo a alcançar" (COPLAND, 1974, p. 35).

    A música deve sempre fluir, porque isso é parte da sua própria essência, mas a criação dessa continuidade e desse fluxo — da

    9“Bartok's method, in his construction of form and harmony, is closely connected with the law of the […]

    (Golden Section)” (LENDVAI, 1971, p. 18). 10Desprezo de número de dígitos, isto é, após a vírgula.

  • 25

    grande linha — constitui o desespero e a última recompensa da vida de um compositor (COPLAND, 1974, p. 34).

    Belkin (2008, p. 9, tradução nossa11) escreve que: “o primeiro e mais

    fundamental problema do compositor é, portanto, garantir o fluxo geral da peça, do

    começo ao fim. No entanto, o grau de novidade deve ser variado em diferentes

    pontos”. Ou seja, a familiaridade entre os elementos e seu surgimento dentro do fluxo

    musical é algo importante para a coerência de uma obra. “Elementos unificadores”

    (SCHOENBERG, 1996, p. 47) precisam ser evidenciados e estes conectarão

    segmentos contrastantes (BELKIN, 2008, p. 24).

    Copland (1974, p. 34) escreve que "toda boa peça de música deve dar a

    impressão de fluência - deve ter um sentido de continuidade que ligue a primeira nota

    à ultima".

    Assim, um elemento importante são os “pontos de referência” (BELKIN, 2008,

    p. 29, tradução nossa12), pois através deles o ouvinte pode entender a coerência da

    obra. Belkin (tradução nossa13) escreve que: “a música depende de uma teia de

    memórias e associações que ficam mais ricas à medida que a peça progride”. Esta

    teia de memórias e associações são alcançadas através da repetição. Sobre isto,

    Schoenberg (1996, p. 47) escreve que: “a inteligibilidade musical parece ser algo

    impossível de se obter sem o recurso da repetição”.

    Como poderá ser observado, no capítulo 3, criou-se segmentos com certo grau

    de familiaridade entre si. Este procedimento se deu de maneira espontânea (intuitiva),

    nas primeiras obras (Uirapuru, Algoritmico e Hircus). Nas demais, buscou-se

    racionalizar a similaridade entre os segmentos14 e outro recurso foi criar melodias

    variadas através de somas de durações15.

    11“first and most fundamental problem is therefore to ensure the overall flow of the piece, from beginning

    to end. However the degree of novelty must be varied at different points.” (BELKIN, 2008, p. 9). 12 “Points of reference” (BELKIN, 2008, p. 29) 13“Music depends on a web of memories and associations that gets richer as the piece progresses.”

    (BELKIN, 2008, p. 9). 14Cf. as seções 3.1.3.1 Operações sobre as durações (Uirapuru), 3.2.3.1 Permutação de durações

    (Algoritmico) e 3.3.2.6 Durações e alturas (Hircus). 15Cf. as seções 0 3.5.5.2 Somas rítmicas (Momentos Eternos) e 3.6.3.2 Somas rítmicas (Mandioca).

  • 26

    2.3 Princípios

    Os princípios listados a seguir são: a abordagem de design compositivo (SILVA,

    2010a), negociação, composição baseada em exemplos e em regras (LASKE, 1991),

    analogia e ressignificação.

    Nas primeiras obras listadas no capítulo 3, cujas abordagens de design

    compositivo são ou se aproximam do bottom-up, a instância Princípios foi ignorada

    durante o processo compositivo. O conteúdo desta instância, nos memoriais, foi

    relatado a partir de uma reflexão posterior à implementação da obra.

    2.3.1 Abordagem de design compositivo

    Durante o processo de composição de uma obra, um compositor pode ir

    mudando o foco da sua lente criativa afim de acessar diferentes dimensões de

    planejamento.

    Para Laske (1991, p. 251), um dos principais objetivos do design compositivo é

    o de convergir às dimensões temporais de uma música. Na abordagem bottom-up,

    prevalece as decisões micro estruturais sobre o tempo, enquanto que, na top-down,

    as macroestruturais dominam. Existem várias possibilidades entre estas duas

    abordagens extremas.

    Para Reynolds (2002), a estrutura formal da música está em um nível mais

    amplo enquanto que o material está em um nível básico. A “intenção expressiva” (p.

    5, tradução nossa16) reside na maneira de como trabalhar com a forma ou com os

    materiais de uma obra. Porém, vale ressaltar que, em qualquer processo compositivo,

    o mais importante é o aspecto geral, ou seja, o “gerenciamento da experiência total

    que o ouvinte deve ter” (p. 21, tradução nossa17).

    Moura (2003), menciona uma visão, hora microscópica, hora panorâmica, ao

    descrever o percurso compositivo de sua obra Noite dos Tambores Silenciosos ao se

    utilizar de processos denominados Zoom In (Zin) e Zoom Out (Zout).

    16“expressive intentions e expressive intent” (REYNOLDS, 2002, p. 5). 17“the management of the total experience that the listener is to have” (REYNOLDS, 2002, p. 21).

  • 27

    Moura (2003, p. 13, grifo nosso, tradução nossa18) esclarece que:

    Zin consiste em desconstruir, separar temporalmente e 'fisicamente' (de maneira metafórica) os componentes constituintes dos elementos, separando, ainda mais, as 'fatias de som' microscópicas e dando-lhes olhares cada vez mais próximos, de modo que, digamos, um timbre específico (ou mesmo apenas um aspecto particular de um timbre) pode ser identificado e visto (ou ouvido!) como uma entidade separada. O procedimento é paralelo ao ato de se aproximar muito de uma pintura, a um ponto em que não são percebidos contornos desenhados de maneira significativa, mas sim, textura, pinceladas e detalhes da própria tela. Zout aplicado ao contrário o processo de reconstrução, de reunir, gradualmente, as fatias de som, componentes e elementos da fonte de referência. A ideia de aplicar esse procedimento é que, em comparação com Zin, é possível reconhecer a partir de uma certa gestalt musical 'distanciada' (isto é, os elementos em suas formas holísticas), da mesma forma que, na pintura, é possível delinear imagens claras e significativas.

    Isto se aplica, e.g.19, na maneira como o contorno geral de uma obra é

    planejado assim como os contornos específicos em cada melodia, ou em

    subestruturas da composição.

    Martins (1994), ao realizar entrevistas com alunos-compositores e compositor-

    professor, mostra como compositores percebem sua atividade de criação.

    [...] há momentos nos quais ele (o compositor) reflete sobre o que fez até então e faz planificações de suas ações a nível mais geral. Podemos perceber que nessa atuação passa a evidenciar-se o movimento top-down da ação cognitiva do sujeito, pois ele se detém em pensar em algo que poderia ser feito, sem saber ainda quais objetos utilizaria (...) Na seqüência das ações, volta a se evidenciar o movimento bottom-up pois o compositor retoma a busca de características do objeto musical dado inicialmente (MARTINS, 1994, p. 71-72).

    18“Zin consists of deconstructing, separating temporally and 'physically' (in a metaphorical way) the

    elements' constituent components, further detaching microscopie 'slices of sound' and giving them closer and closer glances, so that, let's say, a specific timbre (or even just a particular aspect of a timbre) can be identified and viewed (or heard!) as a separate entity. The procedure parallels the act of getting very close to a painting, to a point that no meaningfully drawn outlines but rather texture, paintbrush strokes, and details of the canvas itself are perceived. Zout applies to the reverse, the process of reconstruction, of assembling gradually the slices of sound, components and elements of the reference source. The idea in applying this procedure is that, in comparison with Zin, one can recognize from a certain 'distance' musical gestalts (i.e. the elements in their holistic forms), similarly as, in painting, one can delineate clear and meaningful images.” (MOURA, 2003, p. 13).

    19 exemplī grātiā (e.g.) = por exemplo.

  • 28

    Portanto, percebe-se a possibilidade de uma mudança dinâmica de escopo no

    fazer criativo, transitando entre o mais geral e o mais específico, durante o processo

    compositivo.

    Essas duas abordagens (bottom-up e top-down) referem-se ao foco dado a

    determinados objetos de uma obra. A bottom-up foca nos objetos mais específicos,

    como durações, alturas, motivos, melodias, entre outros materiais a serem

    manipulados. A top-down consiste em uma visão mais ampla, como o planejamento

    dos elementos musicais subordinados a estruturas, de maneira mais holística.

    Silva (2010a) também define estes tipos de abordagem de design:

    (1) bottom-up, que consiste na:

    [...] usinagem de materiais através de técnicas, produzindo resultados (parciais). Em seguida, estes resultados podem ser avaliados com a finalidade de extrair deles mesmos o desígnio de metas, e o aclaramento de ideias. Se tais ações não se mostrarem suficientes para a realização da obra, ruma-se a uma nova rodada de geração de resultados, até que esses se mostrem em acordo razoável com a expectativa do compositor (SILVA, 2010a, p. 23-24).

    (2) top-down, que:

    [...] parte de um diálogo entre ideias e o desígnio de metas. Tal diálogo já contribui com resultados (parciais) [...]. Neste ir e vir, decisões são reavaliadas à luz dos produtos que vão sendo gerados [...]. Novas rodadas de refinamento acontecem até que um resultado (final) seja obtido (SILVA, 2010a, p. 22-23).

    Figura 3 – Principais abordagens de design compositivo do Modelo de Silva (2010a): top-down e bottom-up, respectivamente.

    Fonte: Silva (2010a, p. 23-24).

  • 29

    Do trabalho de Silva (2010a), entende-se que a abordagem top-down

    estimula o compositor a se concentrar em metas, o que o leva a um planejamento pré-

    compositivo e a uma visão mais panorâmica da obra. Tal visão se concentra em

    estruturas maiores (e.g. forma, pontos de adensamento (clímax), planejamento de

    transposições). Na abordagem bottom-up, leva diretamente à manipulação de

    materiais através de técnicas, ou seja, a uma visão mais focada em objetos

    específicos (e.g. alturas e durações de melodias). Também pode haver um (possível)

    planejamento que poderá ir sendo construído e alterado ao longo do processo. Silva

    (2010a, p. 24) ainda menciona que “excessos nas duas opções são indesejados”20.

    Ao atentar para o nosso percurso criativo, observou-se que o nosso fazer

    compositivo vem se deslocando, cada vez mais, de uma abordagem bottom-up para

    a top-down. Inicialmente, o emprego de técnicas sobre materiais, gerava resultados

    pontuais. Uma soma deles era colecionada no sentido de se gerar um todo (de

    maneira intuitiva). Comumente, há aqui uma tendência a não ficar claro o caminho

    percorrido (até que ele se estabeleça na versão final da obra). Posteriormente, o

    desígnio de metas e a observação de princípios passou a guiar o trabalho musical de

    maneira mais consciente. Isto possibilitou um maior controle sobre os materiais e/ou

    resultados prévios que estão subordinados a um esquema maior – chamada de “la

    grand ligne” por Copland (1974, p. 34). O deslocamento da abordagem de design

    compositivo poderá ser observado com maiores detalhes nos memoriais das obras

    listadas no capítulo 3.

    2.3.2 Negociação

    O princípio da negociação permite um diálogo entre normas estabelecidas e

    possíveis exceções; ajustes entre o planejamento (prévio) e resultados parciais e final.

    O uso do princípio da negociação também visa adequar o resultado de

    operações a certos contextos, como, e.g. à extensão de um instrumento a uma

    harmonia, a duração de um trecho, ou, simplesmente, ao gosto do compositor.

    A negociação pode ser utilizada como um critério para uma abordagem de

    design compositivo meio-termo.

    Silva (2010a, p. 24) escreveu:

    20A discussão referente a uma abordagem meio-termo será retomada na seção 2.3.2 Negociação.

  • 30

    Há toda uma gradação entre as duas abordagens apresentadas (bottom-up e top-down). Desnecessário é dizer que excessos nas duas opções são indesejados. Por um lado, numa ênfase exageradamente top-down, correríamos o risco de uma estruturação rigorosa, porém, infrutífera, devido à possibilidade de detalhamento em demasia, criando dificuldades à própria implementação. Por outro lado, teríamos uma ênfase exagerada na abordagem bottom-up, tendendo a apresentar resultados isolados, desconexos ou incoerentes (que geralmente acabam ‘colados com duréx’). Mais interessante é contribuir com a instauração de uma via de mão dupla que permita nos beneficiarmos dos proveitos de cada uma delas.

    Uma das diferenças entre as abordagens de design top-down e bottom-up

    reside na forma como o princípio da negociação atua sobre a implementação da

    composição.

    Em obras cujas abordagens são exclusivamente bottom-up, dado seu pouco

    (ou nenhum) planejamento prévio, vão ocorrendo diversas rodadas de negociação

    com os resultados parciais das operações sobre os materiais musicais. Ainda nesta

    abordagem, podem ocorrer rodadas de planejamento, ao longo do processo

    compositivo, que visam adequar os resultados aos desejos do compositor.

    Em outras composições, cujas abordagens são top-down, a negociação pode

    ou não atuar. Ela é encarada, conscientemente, como um recurso possível que pode

    ser acionado quando o compositor desejar. Quando este princípio não atua, a

    composição pode se tornar, demasiadamente, difícil de ser implementada. Quando

    ela atua, pode vir de maneira especifica, em locais pontuais, pois o planejamento pré-

    compositivo já estabeleceu os seus limites.

    Durante o percurso criativo das composições listadas no capítulo 3 e

    apêndices, a negociação se deu na forma de alterações de alturas, durações, ajustes

    dos segmentos, entre outras qualidades musicais, conforme achamos mais

    conveniente. Em uma reflexão posterior ao relato das primeiras obras listadas nos

    memoriais (Uirapuru, Algoritmico e Hircus) bem como às primeiras composições

    desenvolvemos (mesmo antes do ingresso nesta pesquisa no Mestrado), observou-

    se que este princípio foi bastante utilizado, haja vista que rodadas de manipulações

    de materiais foram feitas até atender nosso gosto. Na medida em que se rumou para

    uma abordagem top-down, buscou-se usar menos este princípio. Isto não significa

    que ele seja completamente ignorado, mas sim utilizado com mais consciência e em

    pontos cada vez mais específicos.

  • 31

    2.3.3 Composição baseada em exemplos ou em regras

    Laske (1991) escreve que tanto a composição baseada em exemplos como a

    baseada em regras se baseiam em modelos. Diante disto, complementa afirmando

    que, o primeiro se baseia em modelo de objetos musicais existentes, enquanto que o

    segundo se ampara no próprio processo musical do compositor ou no de outra pessoa.

    É importante observar que a composição baseada em exemplos e em regras

    não são opostos absolutos, mesmo que ambos confiem no modelo de suas

    experiências, habilidades e materiais de um compositor.

    Laske (1991, p. 5, tradução nossa21) escreve que:

    Quando um compositor decide trabalhar de uma maneira baseada em regras, ele aceita a perda de certas habilidades, já que ele sente que a perda é compensada pelo ganho de outras habilidades mais relevantes. Ao usar uma estratégia de controle baseada em exemplos, o compositor decide favorecer habilidades de adaptação (de objetos) de músicas existentes, enquanto ao seguir uma estratégia de controle baseada em regras, ele opta por habilidades de formular, implementar e depurar ideias processuais abstratas.

    Do mesmo modo, durante esta jornada criativa de desenvolvimento estrutural

    pré-compositivo, optou-se por definir metas ao invés de trabalhar apenas com

    materiais e técnicas. Esta decisão foi se tornando, cada vez mais, efetiva durante as

    composições das obras. Assim, nas obras listadas no capítulo 3, pode ser observado

    que se adicionou mais complexidade ao planejamento. Isto significa que mais

    qualidades musicais foram sendo operacionalizadas, criando mais diretivas que atuam

    sobre os elementos da música.

    A estratégia para o desenvolvido na criação das obras listadas, no capítulo 3,

    seguiu as duas abordagens. Inicialmente, trabalhou-se com exemplos já existentes.

    (ou em última análise, com a percepção (memória) auditiva dos exemplos).

    Posteriormente, rumou-se para uma estratégia na qual as regras preestabelecidas

    guiaram o processo. Por fim, a estrutura pré-compositiva desenvolvida serve como

    21“When a composer decides to work in a rule-based fashion, he accepts the loss of certain abilities

    since he feels the loss is offset by the gain of other, more relevant abilities. When using an example-based control strategy, the composer decides to favor abilities of adapting (objects of) existing musics, while when following a rule-based control strategy, he opts in favor of abilities of formulating, implementing, and debugging abstract procedural ideas.” (LASKE, 1991, p. 5).

  • 32

    uma espécie de molde para a implementação da obra em questão e também de outras

    obras. Assim, pode-se dizer que a estrutura também é um resultado do processo. Esta

    estrutura engendra uma série de qualidades musicais que foram operacionalizadas e

    servem como uma espécie de algoritmo para a composição. As possibilidades

    (resultados) na implementação da obra variam conforme os materiais trabalhados.

    2.3.4 Analogia

    A analogia é uma relação de similaridade entre objetos. Este princípio presume

    “implicitamente a existência de relações subjacentes” (DAVID; KRAMER, 2002, p. 30).

    Ela “abarca itens como alegoria, comparação, metáfora, símile, etc.” (PORTO, 2018,

    p. 42).

    Em música, existem vários exemplos da aplicação deste princípio. Exemplifica-

    se com Prélude à l'après-midi d'un Faune (DEBUSSY, [1895]). Segundo descreve

    Piedade (2009, p. 152, grifo nosso):

    Claude Debussy compôs o Prélude à l´Aprés-midi d´un faune em 1894 por encomenda da Société Nationale de Musique. Foi o próprio Mallarmé que instigou seu amigo compositor a compor essa peça, a qual se tornou um sucesso imediato. Debussy é muitas vezes descrito como um compositor intuitivo, improvisador, sonhador de imagens musicais. No entanto, era igualmente um construtor de estruturas, minucioso quanto às proporções. Dessa forma, na própria estrutura musical do Prélude pode estar ancorada, como uma resposta formal no nível do timbre, a estrutura poética do poema de Mallarmé.

    Outro exemplo é Syrinx (DEBUSSY, 1927). Santos (2014, p. 94) escreve que o

    autor a compôs “em 1913, originalmente como música incidental, inspirada na estátua

    ‘Dernier Soupier de Pan’ (o último suspiro de Pan), buscando ilustrar a peça teatral de

    Gabriel Mourey ‘Psyqué”. Notadamente, ao ser inspirado pela estátua de um fauno,

    pelo texto da peça teatral e, certamente, pela lenda grega, o compositor buscou

    expressar em música este contexto fictício.

    Este princípio foi utilizado na composição da obra Tapioca. Notadamente, na

    utilização da imagem de uma tapioca para a organização da estrutura formal.

  • 33

    2.3.5 Ressignificação

    A ressignificação trata da reconstrução com base em material dado provendo-

    lhe um novo significado. Tal princípio se constitui, na verdade, na ação da

    intertextualidade. A intertextualidade, por sua vez, é a reelaboração a partir de objetos

    presentes em outras obras, fornecendo outras perspectivas. Este conceito abarca a

    alusão, conotação, versão, plágio, pastiche, citação, paródia, entre outras formas.

    Sobre isso, Silva (2002, p. 34) escreve que:

    A ressignificação implica na presença das relações e sentidos originais, todavia, imersos num contexto criativo diferenciado, visualizando perspectivas de desenvolvimento a partir de um diálogo com a leitura original. [...] A ressignificação faz parte do aprendizado do compositor e é tão tradicional quando o próprio ato de compor, embora enseje menos comentários que o esperado. De certa forma, os compositores sempre ressignificaram uns aos outros.

    Um exemplo musical ocorre na obra Abertura 1812 (TCHAIKOVSKY, 1882).

    Nela, Tchaikovsky se utiliza da obra La Marseillaise (LISLE, 1792) para representar

    as tropas francesas. Também, outras músicas tradicionais russas e da igreja ortodoxa,

    como o hino: Deus, salve o Tsar (ALEKSEY, 1833, tradução nossa22,23). Notadamente,

    Tchaikovsky (1882) fez citação destas músicas para contar, musicalmente, a história

    da Batalha de Borodino, que ocorreu em 7 de setembro de 1812 (VIEIRA, 2013).

    Este princípio foi utilizado, especificamente, na obra Hircus. Seu uso buscou

    reelaborar o trecho entre os compassos 42-62 (First Tableau) de Petruska

    (STRAVINSKY,1911)24.

    2.4 Materiais

    Os materiais de uma composição são os insumos do fazer musical. Estes serão

    moldados através de técnicas. Dentro do Modelo de Silva (2010a), pode-se alocar

    conteúdos de outras instâncias tornando-os materiais, por exemplo, que passarão por

    processos definidos pelas técnicas. Assim, serão listadas a seguir, qualidades

    musicais (materiais) que foram utilizadas nas composições listadas nos memoriais do

    22“Боже, Царя храни” (ALEKSEY, 1833). 23Documento online não paginado. 24A explicação do princípio será realizada na subseção 3.3 Processo compositivo na obra Hircus, para

    quinteto de cellos.

  • 34

    capítulo 3. A estratégia para a sua quantificação foi a numeralização de quantidades

    de uma qualidade musical.

    2.4.1 Paleta de qualidades musicais utilizadas

    A seguir será listado os materiais que foram trabalhados nos memoriais tanto

    de maneira bottom-up, com rodadas de negociações e com a inclusão posterior,

    quanto de maneira top-down, com um plano predefinido.

    Forma (segmentos e seções);

    Andamento;

    Durações (que também abarcam combinações de figuras rítmicas);

    Alturas (notas, frequências);

    Combinações instrumentais;

    Textura (resultado de combinações entre melodia, acompanhamento e

    contraponto);

    Contorno de motivos de altura (resultado de transposições);

    Modos; e

    Intensidades.

    2.4.2 Numeralização de quantidades de uma qualidade musical

    Uma qualidade musical pode ser representada em uma escala, a fim de que

    sua grandeza possa ser medida em um contínuo de quantidades. Por exemplo, as

    intensidades têm sua escala de grandeza:

    Quadro 2 – Escala de intensidades (dinâmicas) Pp p mp mf f ff

    Fonte: O autor (2019).

    Como estratégia para a operacionalização da qualidade da intensidade

    (dinâmica), podem ser atribuídos números, começando com o elemento com menos

    proeminência. A ele é atribuído o algarismo 1. Os demais ganham sua numeração à

    medida em que crescem em sua grandeza. Assim, esta escala de intensidades

    numeralizadas fica:

  • 35

    Tabela 1 – Escala de intensidades numeralizadas pp p mp mf f ff

    1 2 3 4 5 6

    Fonte: O autor (2019).

    A partir disto, estas intensidades podem ser submetidas a diversas operações

    matemáticas. Obviamente, para esta e outras qualidades musicais, é preciso haver

    certa cautela, pois os resultados matemáticos podem não ser possíveis de serem

    (re)atribuídos às qualidades musicais (e.g. utilizando a Tabela 1: 5 x 6 = 30. O que

    significaria 30?)

    A partir da estratégia de numeralização das qualidades musicais para as

    durações, atribuiu-se números, conforme as durações proporcionais. A unidade de

    ritmo é associada ao número 1. As demais durações são obtidas proporcionalmente.

    Aplicou-se operações sobre estes números e os resultados compõem o conjunto de

    durações dos segmentos.

    Para a forma, atribuiu-se números aos segmentos. Estes números foram

    embaralhados, utilizando-se operação de permutação. Por fim, agrupou-se os

    segmentos resultantes em seções.

    Outra qualidade musical numeralizada foi a instrumentação. Associou-se

    ordinalmente, por grandeza, números aos conjuntos de instrumentos que foram

    obtidos através de análise combinatória. Contudo, os números associados a

    combinações instrumentais não podem ser submetidos, diretamente, à operações que

    alterem seus valores.

    Os resultados das operações sobre as qualidades poderão ser observados nos

    memoriais listados no capítulo 3.

    2.5 Técnicas

    As técnicas compositivas são ações sobre o material musical. Durante o

    percurso criativo que gerou os memoriais listados no capítulo 3, algumas técnicas

    foram utilizadas para a transformação dos materiais. Dependendo de qual abordagem

    estava sendo adotada (bottom-up ou top-down), havia um controle prévio (ou não)

    sobre a adoção destas técnicas.

  • 36

    2.5.1 Operações sobre listas

    Por assim dizer, até aqui, nossa tendência era de operar sobre insumos,

    transformar matérias-primas, ou seja, empregar técnicas sobre materiais. Um passo

    seguinte, caminhou no sentido de se assimilar uma sistematização desta tendência.

    Isso se deu de modo a abordar os materiais enquanto qualidades musicais (SILVA,

    2016).

    Além disso, cada uma destas qualidades tende a variar, quanto a sua

    magnitude, ao longo de uma obra. Isto engendra o conceito de quantidade (que está,

    diretamente, ligado ao de qualidade). As quantidades que descrevem o quão presente

    se fazem de uma determinada qualidade que podem ser representadas na forma de

    listas numéricas, conforme descritas na subseção 2.4.2 Numeralização de

    quantidades de uma qualidade musical. Parte do trabalho compositivo, de geração de

    resultados prévios, pode ser descrito como a utilização de operações que incidem

    sobre estas listas.

    A respeito desse modus operandi, Silva (2016, p. 58, tradução nossa25)

    escreve:

    Empregar operações sobre listas pode ser estrategicamente usado para fins musicais, produzindo uma riqueza de material pré-compositivo. É também uma maneira de resumir técnicas de composição, sugerindo outro modo de formalizar o conhecimento para o campo da Composição Musical. Uma vez que a variação quantitativa descrita pelas qualidades musicais é representada numericamente, ela pode ser submetida a uma variedade de recursos matemáticos. Ainda assim, essa abordagem pode ser aplicada a qualquer qualidade musical.

    A prática foi se aclarando rumo a uma dinâmica de operações sobre listas.

    Operando com, cada vez mais qualidades musicais, de maneira prévia. Em um

    momento posterior, esta sistematização ganhou ainda mais fôlego quando os

    resultados obtidos ganharam uma forma mais abrangente quanto à sua organização

    musical.

    25“Employing operations on lists can be strategically used for musical ends, producing a wealth of pre-

    compositional material. It is also a way to summarize composition techniques, suggesting another manner of formalizing knowledge to the field of music composition. Once quantitative variation described by musical qualities is numerically represented, it can be subjected to a variety of mathematical resources. Still, this approach can be applied to any musical quality.” (SILVA, 2016, p. 58).

  • 37

    2.5.1.1 Justaposição

    A justaposição refere-se à junção sequencial (um após o outro) de objetos

    (simétricos ou assimétricos entre si).

    Um problema relacionado ao uso desta operação para a forma reside no fato

    de que ela pode ocasionar a quebra da continuidade no fluxo da música.

    Schoenberg (1996, p. 47, grifo nosso) escreve que: “Enquanto a repetição sem

    variação pode facilmente engendrar monotonia, a justaposição de elementos com

    pouca afinidade pode, com facilidade, resultar em absurdo, especialmente, se os

    elementos unificadores forem omitidos”.

    Do mesmo modo, Belkin (2008, p. 9, tradução nossa26) escreve que: “[...] se

    houver muitos ajustes e inícios, as descontinuidades vão quebrar a coerência do

    trabalho”.

    Este problema foi resolvido nas obras, justapondo segmentos com certo grau

    de similaridade entre si27, o que diminui as quebras de continuidade do fluxo.

    Esta operação pode ser operada em conjunto com outra, como, e.g. a

    permutação. A subseção 2.5.1.2. trata desta operação.

    2.5.1.2 Permutação

    A operação de permutação trata de combinações entre a sequência dos

    elementos de um conjunto.

    Sobre o procedimento de justaposição de segmentos permutados, Downie

    (2017, p. 50, grifo nosso, tradução nossa28) escreve:

    A função exata (permutação) e os métodos empregados (justaposição e sobreposição) demonstraram ser tão variados quanto a imaginação permitiria. No entanto [...] a reconhecibilidade do material e, portanto, a sua capacidade de ser contrastada, é vital para o design formal.

    26“[…] if there are too many fits and starts, the discontinuities will break up the work's coherence.”

    (BELKIN, 2008, p. 9). 27Para maiores detalhes, verificar as subseções 3.4.5.1 Distribuição justapositiva (Tapioca) e 3.6.3.1

    Distribuição Justapositiva (Mandioca). 28“The exact function (permutation) and methods employed have been shown to be as varied as one’s

    imagination will allow. However […] the recognisability of material, and hence its ability to be contrasted, is vital to the formal design.” (DOWNIE, 2017, p. 50).

  • 38

    O embaralhamento dos segmentos, combinados com outras qualidades

    musicais operacionalizadas, resultaram em "pontos de referência" (BELKIN, 2008, p.

    29), mas sem criar monotonia na obra.

    Inicialmente, a operacionalização foi implementada com menos consciência e

    organização prévia. Mais adiante, será visto, com maiores detalhes, como foi realizada

    permutação dos segmentos bem como a operacionalização de outras qualidades

    musicais.

    A justaposição de segmentos permutados se caracteriza, principalmente, como

    uma técnica de composição, cujo resultado é a sucessão de partes da obra, ou seja,

    sua estrutura formal. Sua operacionalização com outros materiais compositivos

    resulta em variabilidade, fazendo com que as reaparições dos segmentos sejam

    variadas, evitando assim a monotonia (SCHOENBERG, 1996; p. 47; BELKIN, 2008,

    p. 9).

  • 39

    3 MEMORIAIS DAS OBRAS

    Os memoriais, a seguir, foram construídos utilizando o modelo de

    acompanhamento composicional proposto por Silva (2010a). Tal modelo serviu como

    organizador para o registro dos passos adotados ao longo do percurso criativo.

    Nos memoriais utilizou-se as instâncias do modelo como seções para

    descrever o processo compositivo adotado em cada obra. Doravante, a ordem das

    subseções que descrevem o conteúdo dos memoriais, seguem a abordagem de

    design compositivo adotada. Para tanto, relata-se ideias, materiais, técnicas, metas,

    princípios e resultados. Além de comentários conclusivos em cada memorial onde

    estão as lições aprendidas após a implementação da composição.

    Observa-se, de maneira geral, que o nosso processo compositivo vem

    migrando do bottom-up para top-down. Isto se deu à medida em que se foi se

    manipulando mais qualidades musicais, i.e.29, os materiais da composição, como

    contorno de alturas, instrumentação, textura, etc. Esta migração esteve a par e passo

    como o planejamento prévio (e em larga escala) destas qual