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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA PEDRO AUGUSTO DA SILVA CONCERTINO N.1 PARA TROMBONE E ORQUESTRA DE CORDAS DO COMPOSITOR FERNANDO DEDDOS: PERSPECTIVAS TÉCNICO- INTERPRETATIVAS E PEDAGÓGICAS NATAL-RN 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE MÚSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

PEDRO AUGUSTO DA SILVA

CONCERTINO N.1 PARA TROMBONE E ORQUESTRA DE CORDAS DO

COMPOSITOR FERNANDO DEDDOS: PERSPECTIVAS TÉCNICO-

INTERPRETATIVAS E PEDAGÓGICAS

NATAL-RN

2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE MÚSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

PEDRO AUGUSTO DA SILVA

CONCERTINO N.1 PARA TROMBONE E ORQUESTRA DE CORDAS DO

COMPOSITOR FERNANDO DEDDOS: PERSPECTIVAS TÉCNICO-

INTERPRETATIVAS E PEDAGÓGICAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Música da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, na linha de

pesquisa – Processos e dimensões da produção

artística, como requisito parcial para a

obtenção do título de Mestre em Música.

Orientador: Prof. Dr. Radegundis Aranha

Tavares Feitosa.

NATAL-RN

2018

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PEDRO AUGUSTO DA SILVA

CONCERTINO N.1 PARA TROMBONE E ORQUESTRA DE CORDAS DO

COMPOSITOR FERNANDO DEDDOS: PERSPECTIVAS TÉCNICO-

INTERPRETATIVAS E PEDAGÓGICAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Música da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, na linha de

pesquisa – Processos e dimensões da produção

artística, como requisito parcial para a

obtenção do título de Mestre em Música.

Orientador: Prof. Dr. Radegundis Aranha

Tavares Feitosa.

Aprovada em: ___/___/___

BANCA EXAMINADORA:

_________________________________________________________

PROF. DR. RADEGUNDIS ARANHA TAVARES FEITOSA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ORIENTADOR

_________________________________________________________

PROF. DR. RANILSON BEZERRA DE FARIAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

MEMBRO DA BANCA

_________________________________________________________

PROF. DR. ALEXANDRE MAGNO E SILVA FERREIRA

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

MEMBRO DA BANCA

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Dedico este trabalho ao meu pai, Damião Augusto da Silva; à minha mãe, Maria do Céu

Pereira Silva; aos meus irmãos, Cosme Damião da Silva, Josimar Augusto da Silva, José

Roberto da Silva, Maria das Vitórias, Francisca das Chagas, Aparecida Paula; à minha

namorada, Julyane Kallyandra Alves Pereira; e ao meu orientador, Radegundis Aranha

Tavares Feitosa.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus, por todas as minhas conquistas, em especial

pela conclusão deste curso de mestrado e o consequente enriquecimento profissional que me

foi proporcionado.

Gostaria de fazer meus sinceros agradecimentos a todos que de maneira direta ou indireta

contribuíram para a realização desta dissertação.

Aos meus pais, à minha namorada; e a toda minha família, que sempre me apoiaram e

forneceram o suporte necessário para que eu pudesse realizar este curso.

A Radegundis Tavares, meu orientador, por toda a atenção e dedicação que me foram

destinadas, pelos conhecimentos que me foram passados e principalmente por ter me apoiado,

motivado e acreditado no meu trabalho.

Aos meus professores Alzimar Trajano, Edmilson Junior, Klenio Barros, Gilvando Pereira da

Silva, Radegundis Feitosa Nunes (in memoriam), Paula Francinete, Bembem Dantas, Maria

Clara Gonzaga, Ranilson Bezerra de Farias, Fernando Deddos, Eliane Leão, André Luiz

Muniz Oliveira, Agostinho Jorge de Lima, Airton Guimarães, Fabio Soren Presgrave,

Alexandre Santos, por contribuírem para a minha trajetória musical até o presente momento.

Ao músico José Milton Vieira Leite e ao compositor Fernando Deddos, por se disporem

prontamente a participar da pesquisa e pelas importantes colaborações que deram para a

realização deste trabalho.

Aos amigos e colegas músicos, em especial os da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, que me incentivaram, trocaram ideias e participaram ativamente do meu processo de

formação no mestrado.

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RESUMO

Na construção de uma performance musical diversos procedimentos são utilizados em função

da criação técnico-interpretativa de uma obra. Destaco nesse âmbito os planejamentos de

prática instrumental para otimização e desenvolvimento da performance. Para sistematizar a

preparação do performer, há a necessidade da compreensão dos aspectos envolvidos nesse

processo. A partir desse contexto propõe-se, neste trabalho, compreender os processos de

construção da performance musical no Trombone na obra Concertino N.1 para Trombone e

Orquestra de Cordas, do compositor Fernando Deddos. Para fundamentar esta pesquisa a

produção científica brasileira sobre o instrumento em questão foi consultada, assim como as

literaturas mais gerais no âmbito da performance e do ensino de instrumento foram utilizadas

de forma complementar. Para o desenvolvimento deste estudo foram realizadas entrevistas

semiestruturadas com o compositor com o objetivo de entender suas perspectivas e

direcionamentos para a análise técnico-interpretativa da obra estudada. O intérprete para o

qual o Concertino N.1 foi dedicado, também foi consultado com o intuito de entender o seu

processo de construção da performance para a estreia desta composição. A partir deste

trabalho foi possível construir um conhecimento técnico-interpretativo e pedagógico no que

diz respeito à performance musical no trombone da referida obra, assim como apresentar

direcionamentos mais gerais que poderão ser utilizados para a construção da performance de

repertórios similares.

Palavras chaves: Performance musical. Ensino de instrumento. Trombone.

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ABSTRACT

To prepare a musical performance involves several aspects that may change depending on the

technical-interpretative challenges of each piece. As part of this context this thesis studies a

possibility of planning to practice and performance development. To systematize the

preparation of a performer, there is a need to understand the aspects involved in this process.

From this scenario it is proposed in this research to understand the processes of construction

of musical performance in the Trombone in the work Concertino N.1 for Trombone and

String Orchestra, by the composer Fernando Deddos. Brazilian scientific production on the

trombone as the general literature related to performance and instrumental teaching were used

to do this work. There were made semi-structured interviews with the composer and the

trombonist to whom the piece was dedicated to with the aim of understanding their

perspectives and directions for the technical-interpretative analysis of the studied

composition. From this research it was possible to construct a technical-interpretative and

pedagogical knowledge regarding the musical performance in the trombone of the Concertino

N.1, as well as to present general directions that could be used for the construction of the

performance of similar repertoires.

Key words: Musical performance. Instrumental teaching. Trombone.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Manuscrito cedido pelo compositor: esquema composicional do Concertino N.

1.................................................................................................................................................58

FIGURA 2 – Manuscrito acerca da temática escolhida pelo compositor.................................59

FIGURA 3 – Exemplo musical........................................................................................................59

FIGURA 4 – Exemplo musical.................................................................................................60

FIGURA 5 – Exemplo musical.................................................................................................61

FIGURA 6 – Exemplo musical.................................................................................................63

FIGURA 7 – Exemplo musical.................................................................................................64

FIGURA 8 – Exemplo musical.................................................................................................65

FIGURA 9 – Exemplo musical.................................................................................................66

FIGURA 10 - Exemplo musical...............................................................................................67

FIGURA 11– Exemplo musical................................................................................................67

FIGURA 12– Conceito de sonoridade.........................................................................................70

FIGURA 13 – Exemplo de acentuação........................................................................................71

FIGURA 14 – Exemplo musical...............................................................................................72

FIGURA 15 – Exemplo musical...............................................................................................74

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11

1 A PRÁTICA INSTRUMENTAL, O ENSINO DE INSTRUMENTO E O TROMBONE

NA LITERATURA CIENTÍFICA ........................................................................................ 14

1.1 A prática instrumental e a pesquisa ................................................................................ 18

1.2 Principais trabalhos da revisão de literatura: ensino de instrumento ......................... 19

1.3 Principais trabalhos da revisão de literatura: trabalhos sobre o Trombone .............. 21

1.4 A definição do tema estudado .......................................................................................... 23

1.5 Pesquisa bibliográfica....................................................................................................... 24

1.6 Pesquisa em documentos .................................................................................................. 24

1.7 Entrevista semiestruturada ............................................................................................. 25

1.8 Constituição do referêncial teórico ................................................................................. 25

1.9 Análise dos documentos ................................................................................................... 25

1.10 Transcrição das entrevistas ........................................................................................... 26

1.11 Análise dos depoimentos ................................................................................................ 26

2 CONCEITOS E PERSPECTIVAS PARA A PRÁTICA E O ENSINO DO

TROMBONE .......................................................................................................................... 28

2.1 O trombone ....................................................................................................................... 28

2.2 A construção da performance musical: a prática instrumental ................................... 30

2.2.1 O desenvolvimento de estratégias de estudos diários ...................................................... 32

2.2.2 A Otimização do estudo diário ........................................................................................ 33

2.2.3 Preparação cognitiva para a performance ........................................................................ 34

2.2.4 Interpretação musical ....................................................................................................... 35

2.2.5 Preparação para o palco ................................................................................................... 36

2.2.6 Metacognição/Autorregulação da prática instrumental ................................................... 37

2.3 Aspectos técnicos do trombone ........................................................................................ 38

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2.3.1 Sonoridade ....................................................................................................................... 38

2.3.2 Articulação....................................................................................................................... 39

2.3.3 Flexibilidade .................................................................................................................... 41

2.3.4 Extensão .......................................................................................................................... 42

2.3.5 Posições alternativas, afinação e digitação ...................................................................... 42

2.4 Conceitos relacionados ao ensino de instrumento ......................................................... 43

2.4.1 O professor de instrumento ............................................................................................. 44

2.4.2 A transmissão do conhecimento musical ........................................................................ 46

2.4.3 O ensino do trombone...................................................................................................... 47

3 O COMPOSITOR E INTÉRPRETE DA OBRA: PROCESSOS E

CARACTERÍSTICAS INTERPRETATIVAS .................................................................... 50

3.1 O compositor Fernando Deddos – Trajetória e formação ............................................ 50

3.2 As principais características do Concertino N.1 para trombone e orquestra de cordas

do compositor Fernando Deddos. ......................................................................................... 56

3.3 Os principais desafios para o intérprete do Concertino N.1 para trombone e

orquestra de cordas ................................................................................................................ 62

4 PERSPECTIVAS PARA A CONSTRUÇÃO DA PERFORMANCE E O ENSINO DO

CONCERTINO N. 1 ............................................................................................................... 68

4.1 Perspectivas pedagógicas para o ensino e a aprendizagem do Concertino N.1 para

trombone e orquestra de cordas ............................................................................................ 69

4.1.1 Sonoridade ....................................................................................................................... 69

4.1.2 Articulação....................................................................................................................... 70

4.1.3 Flexibilidade .................................................................................................................... 72

4.1.4 Extensão .......................................................................................................................... 73

4.1.5 Posições alternativa, afinação e digitação ....................................................................... 73

4.1.6 Otimização do estudo diário ............................................................................................ 75

4.1.7 Preparação cognitiva da performance.............................................................................. 75

4.1.8 Interpretação musical ....................................................................................................... 76

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4.1.9 Preparação para o palco ................................................................................................... 76

4.1.10 Metacognição/autorregulação da prática instrumental .................................................. 77

CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 78

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 80

APÊNDICE A ......................................................................................................................... 85

APÊNDICE B .......................................................................................................................... 87

APÊNDICE C ......................................................................................................................... 88

APÊNDICE D ......................................................................................................................... 89

ANEXO A - Partitura de trombone do Concertino N.1, para Trombone e Orquestra de

Cordas do compositor Fernando Deddos ............................................................................. 90

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INTRODUÇÃO

Os estudos relacionados à área de performance vêm crescendo de forma significativa

nos últimos anos. Consequentemente, vem se consolidando e alcançando a sua devida

importância no âmbito acadêmico. Nessa perspectiva, considero fundamental na elaboração

dos trabalhos científicos da área o desenvolvimento de ferramentas metodológicas sólidas nos

processos de criação dos trabalhos. Diante desse contexto, a partir da ligação entre as

temáticas de prática instrumental, ensino de instrumento e a performance no trombone,

procurei atribuir uma maior consistência de referenciais teóricos relacionados à construção da

performance musical no instrumento citado para o desenvolvimento desta pesquisa. A prática

instrumental, neste estudo, refere-se aos processos de construção da performance; estudos

diários; planejamentos e processos que constituem a prática interpretativa de uma obra

específica, o que tem sido abordada por muito pesquisadores e professores, especialmente

numa perspectiva ampla, considerando os dois campos de estudos citados. Nessa direção, os

principais estudos que trazem as temáticas citadas acima são aqui estudados, com intuito de

promover o conhecimento musical, especialmente na fundamentação teórica sobre a

construção da performance musical de uma obra específica no instrumento, nesse caso, o

trombone.

O trombone tem sido um instrumento ainda pouco discutido no âmbito dos trabalhos

sobre performance musical que contemplam os processos de prática, ensino e aprendizagem

de uma obra específica relacionados, especialmente para a construção da performance musical

no instrumento. Nesse sentido, podemos inferir que a realização de estudos que tratam sobre

os processos de construção da performance no trombone ainda é algo em expansão.

Considerando esse contexto, analisamos, assim, o desenvolvimento e o aumento do número

de trabalhos científicos direcionados ao trombone, bem como a importância da relação entre

as temáticas de prática instrumental, ensino de instrumento e performance no trombone para

consolidar os estudos da área, contribuindo para documentar os processos de ensino e

aprendizagem de uma obra específica para o instrumento.

Nessa perspectiva, este trabalho tem como objetivo apresentar os processos de

construção da performance musical sobre o Concertino N.1 para trombone e orquestra de

cordas do compositor Fernando Deddos: perspectivas técnico-interpretativas e pedagógicas.

Mais especificamente, identificar as principais características técnico-interpretativas desta

composição e quais estratégias melhor se aplica nesse contexto. Para alcançar esse propósito,

a pesquisa realizada teve como objetivos específicos a elaboração de análise técnico-

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interpretativa da obra pelo autor deste estudo, verificando procedimentos de construção da

performance; identificação e análise do contexto em que a obra e o compositor se inserem;

verificação, a partir da literatura estudada, de possibilidades de abordagens pedagógicas e

interpretativas para o Concertino N.1.

A pesquisa teve como base metodológica uma investigação qualitativa, utilizando

como instrumentos de coleta de dados: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e

entrevistas semiestruturadas. Dessa forma, buscou-se alcançar os objetivos propostos e expor

as informações e ideias resultantes do desenvolvimento deste estudo.

O primeiro capítulo traz a revisão de literatura geral e a categorização dos principais

aspectos estudados sobre os temas de prática instrumental, ensino de instrumento e os

principais aspectos de execução musical no trombone. Com o intuito de orientar o leitor sobre

as bases metodológicas que nortearam a construção desta pesquisa, apresento ainda as

definições do tema de estudo; definição metodológica de desenvolvimento desta pesquisa;

instrumentos de coleta de dados; questão de pesquisa, bem como a justificativa e os objetivos

propostos.

No segundo capítulo, discuto o referencial teórico, especialmente quais são os

conceitos que fundamentam esta pesquisa a partir da revisão de literatura. Defino e apresento

os principais conceitos relacionados às temáticas estudadas sobre a prática instrumental,

ensino de instrumento e sobre a performance musical no trombone.

A apresentação e análise dos dados coletados serão relatadas no capítulo três. Trago as

principais questões sobre a vida e a obra do compositor; história e processos da criação do

Concertino N. 1, bem como o contexto estilístico ao qual a obra e o compositor se inserem; as

principais características do Concertino N.1; os principais desafios e obstáculos de execução

relatados pelo intérprete ao qual a obra foi dedicada e pelo compositor em entrevista, bem

como a análise técnico-interpretativa pelo autor desta pesquisa, buscando, assim, alcançar o

objetivo geral proposto para realização deste estudo.

No quarto capítulo, trago a resposta da questão de pesquisa. Os principais resultados,

as conclusões e os direcionamentos para prática instrumental, ensino e aprendizagem, e

construção da performance musical do Concertino N.1 para trombone e orquestra de cordas

do compositor Fernando Deddos: perspectivas técnico-interpretativas e pedagógicas. Sendo

assim, exponho as principais estratégias de prática instrumental para o desenvolvimento dos

processos de ensino e aprendizagem na construção da performance da obra pelo trombonista.

E na conclusão, discutimos os principais resultados e as análises consolidadas a partir

da realização deste estudo, considerando a trajetória, o objetivo geral e o específico, a

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experiência e o conhecimento adquirido diante do desenvolvimento deste trabalho. Portanto,

essas são algumas informações de natureza esclarecedora sobre a estrutura desta dissertação

de mestrado.

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1 A PRÁTICA INSTRUMENTAL, O ENSINO DE INSTRUMENTO E O TROMBONE

NA LITERATURA CIENTÍFICA

Estudos mostram que a subárea da performance musical vem crescendo

significativamente no século XXI, sobretudo com o aumento nos números de cursos de

mestrado e doutorado em performance musical nas universidades brasileiras, que contribuem

consequentemente para uma produção maior de trabalhos científicos nessa área (BORÉM e

RAY, 2012). Entretanto, ainda são muitos os temas a serem explorados nesse campo de

estudos, bem como a área carece ainda de ferramentas sólidas no que diz respeito ao

desenvolvimento metodológico dos trabalhos produzidos no âmbito acadêmico. Refletindo a

respeito da pesquisa em performance musical, Borém ressalta que:

A área da Performance Musical é a subárea da música mais carente de

quadros teóricos de referência específicos ou procedimentos metodológicos

consolidados. Mas é também a subárea que tem apresentado a maior

demanda e o maior número de trabalhos defendidos em pós-graduação

brasileira, ao mesmo tempo em que apresenta uma grande diversidade de

interfaces de pesquisa, permitindo uma interação significativa dentro e fora

da área da música (BORÉM, 2005, p. 14).

Nesse sentido, a afirmação acima vem consolidar a importância e o número crescente

dos trabalhos acadêmicos da área, sobretudo nas ferramentas metodológicas utilizadas no

desenvolvimento das pesquisas. No limiar entre a performance/práticas interpretativas e a

Educação Musical, a prática instrumental e o ensino de instrumento tem sido problematizado

por pesquisadores inseridos nesses dois campos de estudos. Nessa direção, a temática tem se

expandido cada vez mais nos últimos anos (SANTOS & HENTSCHKE, 2009).

Com o objetivo de contribuir para o crescimento dos trabalhos científicos da área de

performance e ampliar o discurso sobre a construção da performance musical, sobretudo

diante dos processos que constituem o desenvolvimento da performance sobre uma peça

específica, consideramos como fundamental estudar os processos criativos e pedagógicos na

construção da performance musical no instrumento, identificando as especificidades e os

direcionamentos necessários em cada caso, buscando assim ampliar o discurso sobre as obras

estudadas, bem como fomentar ideias para construir um conhecimento técnico-interpretativo

abrangente no que diz respeito à construção da performance musical.

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15

As mais diversas situações implícitas nos processos de desenvolvimento e prática do

instrumento têm sido exploradas. Podemos observar dentre os principais aspectos

contemplados, especialmente, em relação ao desenvolvimento da prática motora na

aprendizagem de um instrumento musical, na perspectiva de Sloboda (2005) e Weissberg

(1999): habilidades mecânicas individuais adquiridas ao longo do processo de estudo;

quantidade e qualidade nos estudos relativos à constância da prática regular; estratégias de

prática diária; concepções formal e informal de interpretação no que diz respeito à forma de

conceber a genuinidade estilística de cada obra estudada estruturada, a partir de planejamento

dos processos práticos. Considerando os aspectos mencionados, observamos que vários desses

estão relacionados à construção da performance, abordando elementos significativos para o

desenvolvimento de uma prática instrumental consciente e efetiva para performance. Sobre

essa perspectiva, França comenta que:

[...] à técnica chamamos toda uma gama de habilidades e procedimentos

práticos através dos quais a concepção musical pode ser realizada,

demonstrada e avaliada. Embora a compreensão e a técnica sejam aspectos

interligados da experiência psicológica do fazer musical, é preciso

desvencilha-las conceitualmente no intuito de se clarear a natureza de sua

relação no desenvolvimento musical (FRANÇA, 2000, p. 52).

Além dos aspectos técnicos interpretativos mencionados acima, podemos observar

procedimentos metodológicos que são tendências na área e que buscam compreender a

interpretação musical de uma obra por meio da relação de interfaces com outras subáreas da

música e do conhecimento. Como exemplo, citamos o caso da “linguagem hermenêutica”

discutida por Lima (2005), para o qual a música pode ainda transcender os aspectos

simbólicos e representativos existentes na partitura. A partir dessa ótica, a performance pode

ser realizada com maior sentido e significado interno por parte do intérprete considerado o

contexto em que a obra se insere.

Observando as práticas características do universo acadêmico da performance no

Brasil, Borém (2006) afirma que há uma tradição herdada dos conservatórios onde alguns

professores não documentavam suas experiências sobre o fazer e ensino relativos à

performance musical, o que para o autor implica em um grave problema para a pesquisa na

área de performance musical. Concordando com o autor, acredito que a documentação das

nossas práticas, seja sobre o ensino e ou sobre a performance contribuem de forma

significativa para o desenvolvimento da área de um modo geral, de maneira que as

experiências documentadas nos oferece perspectivas diversas sobre um tema abordado.

Ainda segundo Borém (2006, p. 45): “(...) No mundo da performance musical, grandes

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16

instrumentistas e cantores permanecem como uma memória inacessível as gerações

posteriores que não tiveram a oportunidade de ouvi-los enquanto eram ativos como intérpretes

e professores”.

Podemos observar assim a importância da pesquisa na área de performance musical,

sobretudo no que diz respeito aos registros documentais da construção de uma performance,

pois através dessa, elementos essenciais para o desenvolvimento do fazer musical, como

conceber as dimensões entre a interpretação musical e a técnica do instrumentista, podem

contribuir efetivamente para o desenvolvimento de uma performance mais consciente de

diversas obras estudadas, bem como colaborar para o crescimento da produção de estudos

acadêmicos no âmbito da performance musical.

Na construção de uma performance sólida e de excelência é indispensável refletirmos

sobre a relação entre a técnica do instrumentista associada à compreensão musical de uma

peça específica. Numa perspectiva empírica, são vários os direcionamentos que consideramos

fundamentais nesse processo: a elaboração de um cronograma de estudos práticos e teóricos

direcionados a cada obra; a análise histórica e estilística da peça estudada; o conhecimento e o

domínio da técnica básica específica do instrumento musical utilizado; disciplina no contato

regular com instrumento; identificar elementos técnicos utilizados pelo autor; encontrar

possibilidades alternativas de interpretação musical com base em estratégias efetivas de

prática instrumental. Entretanto, para direcionamentos mais sólidos, faz-se necessário um

estudo significativo no âmbito da performance musical, buscando analisar e compreender os

principais processos utilizados para construção musical de uma obra.

Complementando a realização desta pesquisa será abordado também o ensino de

instrumento. A temática será estudada a partir de publicações que se relacionam mais

diretamente com a performance, direcionamentos e processos de prática instrumental numa

perspectiva pedagógica e estratégias de como desenvolver a performance da peça, alinhando

assim a prática interpretativa com o ensino de instrumento na peça.

A transmissão do conhecimento musical é uma abordagem constante dos estudos

concentrados na área de educação musical. Nessa direção ainda há muito a ser explorado nos

estudos sobre o ensino de instrumento especificamente, no sentido de contribuir para uma

metodologia de abordagem mais consistente, enriquecendo as reflexões acerca da

performance e educação musical (FEITOSA, 2013). Para entender o cenário do ensino de

instrumento hoje, no Brasil, assim como mais especificamente o ensino do trombone,

instrumento musical ao qual será dedicada esta pesquisa, considerou-se importante abordar o

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17

ensino dos conservatórios, que contribuiu significativamente para a realidade vivida por

instrumentistas, atualmente, no país.

Segundo Vieira (2004), o ensino de música se deu inicialmente por meio dos

conservatórios no século XIX. O conservatório de Paris foi o primeiro a se estabelecer como

instituição conservadora do conhecimento musical europeu, que serviu de modelo para o

mundo ocidental. Dessa forma, a metodologia de ensino de conservatório veio a se estabelecer

também no Brasil, utilizando-se do repertório europeu como referência, bem como o papel do

professor e suas práticas metodológicas de ensino e eficácia na transmissão do conhecimento

musical, baseavam-se no modelo de conservatório com ênfase na performance e

separadamente da teoria musical (FEITOSA 2013)”. A partir desse comentário podemos

observar que o professor de instrumento mantinha sempre o foco na performance com

objetivo que o aluno alcançasse um alto nível performático no instrumento. Além disso,

Vieira (2004, p. 143) acrescenta que “O aluno que, em geral, ingressou no curso almejando

tocar e/ ou cantar, pouco preza o estudo das disciplinas que tratam da gramática e da literatura

musical”. A rejeição abre ainda mais o abismo entre as aulas "teóricas" - que dariam suporte

para decodificação necessária à execução musical - e as aulas práticas.

Contribuindo para a reflexão acerca das características atuais do professor de

instrumento, Harder (2008), em seu estudo “Algumas considerações a respeito do ensino de

instrumento: Trajetória e Realidade”, relaciona vários autores que comentam aspectos

característicos da qualidade de um professor de instrumento bem sucedido, entre elas, a do

professor que trabalha aspectos inerentes à expressividade interpretativa com a mesma

importância dos aspectos técnicos, bem como o seu relacionamento com o aluno direcionando

a uma possível carreira profissional. Entre outros aspectos considerados importantes para o

professor de instrumento, podemos observar a motivação como sendo um dos elementos

essenciais para a aprendizagem do aluno tendo em vista que esse aspecto pode ser

fundamental no sentido de proporcionar que os alunos se envolvam com as atividades

propostas para o seu desenvolvimento, e consequentemente as práticas se tornem mais

efetivas. Nessa direção, Figueiredo (2014) acredita que o professor abarca um importante

papel no sentido de fomentar, além do conhecimento técnico, a manutenção da motivação

diária através de metodologias e estratégias de ensino empregadas em beneficio do aluno.

As reflexões propostas acima, objetivam analisar o cenário da performance e do

ensino de instrumento numa perspectiva esclarecedora sobre as práticas aplicadas no âmbito

da performance e do ensino. Diante do contexto apresentado, esse estudo tem o objetivo de

contribuir para os processos de ensino e aprendizagem de obra brasileira composta

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especificamente para trombone no século XXI. Entendemos que este trabalho também será

muito importante para a nossa formação específica, pois a partir das reflexões desenvolvidas

nesta dissertação podemos ampliar os conhecimentos, especialmente sobre a construção da

performance e do ensino do trombone, bem como em relação ao universo da música

contemporânea brasileira escrita para o instrumento.

1.1 A prática instrumental e a pesquisa

Considerando os trabalhos analisados, categorizamos os estudos que têm se destacado

no âmbito da prática instrumental: a relação entre a abordagem de questões técnicas e

interpretativas; estratégias de organização de estudos diários e questões psicológicas

relacionadas à performance. Nesse sentido, para abordar de maneira mais específica o tema,

segue uma breve apresentação de alguns trabalhos que se destacaram na revisão de literatura

realizada para esta dissertação.

Podemos destacar como os principais autores que têm se dedicado ao estudo de prática

instrumental e que nortearam esta pesquisa os estudos de Ericsson, Krampe, & Tesch-Römer

(1993); França (2000); SANTIAGO (2002); Nancy H. Barry e Susan Hallam (2002); Gerling

(2005); Borém (2005); Borém (2006); Silva (2008); Santos e Hentschke (2009); Cerqueira

(2009); Cavalcanti (2009); Kuehn (2012); e Paola Andrea Jeramillo García (2015).

Considerando as principais linhas de estudos desenvolvidas no âmbito da performance

destaco as mais diversas reflexões realizadas através de estudos da área que têm contribuído

no sentido de fomentar um referencial teórico para esta pesquisa.

Cerqueira (2009) apresenta no trabalho “Proposta para um modelo de ensino e

aprendizagem da performance musical”, alguns modelos de prática instrumental com o intuito

de referenciar os planejamentos de preparação da performance musical. O autor tem como

objetivo contribuir para a resolução de problemas relativos à prática instrumental e às

estratégias de estudos adotadas, abordando diferentes níveis de intérprete. Esse trabalho

contribui diretamente para esta pesquisa, visto que trata da prática instrumental em

desenvolvimento, bem como aborda os planejamentos de construção da performance em

intérpretes de vários níveis de compreensão musical.

Santos e Hentschke (2009) apresentam alguns direcionamentos relacionados à eficácia

do processo introduzido ao ato de tocar, bem como a aplicação de tais procedimentos e

estratégias no âmbito da prática instrumental. As autoras refletem sobre os planejamentos

intencionais de instrumentistas que almejam obter um alto nível de excelência em seus

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recitais, concertos e apresentações. Entre alguns conceitos da prática intencional citados está a

“prática deliberada”, que procura estabelecer tarefas bem definidas de foco de estudo que se

firmam no comprometimento em realizar o que foi definido e a “prática de auto ensino”, que

propõe a observação de tais planejamentos de estudo preestabelecidos e sua eficácia. E

alinhando a essa perspectiva, relacionam vários autores e seus conceitos sobre a temática em

questão.

Nancy H. Barry e Susan Hallam (2012) refletem sobre algumas estratégias para a

obtenção de proficiência técnica; aprendizagem de novos repertórios; desenvolvimento da

interpretação musical; memorização da música e preparação para a apresentação. Dentre as

estratégias de prática instrumental, as autoras chamam a nossa atenção para a prática mais

conhecida e utilizada por estudantes na elaboração de uma performance, a prática lenta, tida

como perfeita, mas que pode não ser necessariamente tão eficaz, segundo as autoras.

García (2015) trata de questões relativas à prática instrumental e estratégias de estudo,

especialmente o caminho que o instrumentista percorre para adquirir o controle dos elementos

musicais contidos na Primeira Sonata-Fantasia, Désespérance, para Violino e Piano de Heitor

Villa-Lobos. A autora divide a metodologia em duas etapas: a primeira, partindo do

reconhecimento dos aspectos técnicos para a aprendizagem da Primeira Sonata-Fantasia,

Désespérance e a segunda, desenvolvimento das estratégias de estudos utilizados para abordar

e superar as dificuldades técnicas selecionadas na obra. García conclui com o levantamento de

exercícios práticos desenvolvidos a partir de diferentes tipos de estratégias de estudo que

facilitam a aprendizagem.

Essas pesquisas são importantes para o nosso trabalho, pois apresentam discussões

referentes à qualidade na prática instrumental, temática a qual relacionamos diretamente com

o objetivo da pesquisa.

1.2 Principais trabalhos da revisão de literatura: ensino de instrumento

Os trabalhos da área de ensino de instrumentos trazem discussões diversas a respeito

do desenvolvimento da prática instrumental, pedagogia da performance, metodologia de

ensino e livros didáticos já consolidados no âmbito acadêmico, como exemplo desses

trabalhos: Harder (2008); Zerbinatti (2009); Cerqueira, D. L.; Zorzal, R. C.; Ávil, G. A. de.

(2012); Burwell (2012); Feitosa (2013); Figueiredo (2014); e Ray (2015).

Destacando o que foi pesquisado na área de ensino de instrumento estão trabalhos

como o de Harder (2008), que relaciona vários autores que comentam aspectos característicos

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da qualidade de um professor de instrumento bem sucedido, entre elas, a do professor que

trabalha aspectos inerentes à expressividade interpretativa com a mesma importância dos

aspectos técnicos, bem como o seu relacionamento com o aluno, direcionando a uma possível

carreira profissional. Esse trabalho se relaciona com a esta pesquisa diretamente, pois a partir

deste será possível discutir com mais efetividade aspectos sobre como transmitir de forma

equivalente elementos como expressividade interpretativa e os aspectos técnicos.

O estudo de Zerbinatti (2009) apresenta reflexões acerca dos processos de

aprendizagem e de ensino instrumental, a partir dos pontos de vista da psicologia da música e

da educação. No trabalho são apresentadas explicações sobre os processos que estruturam o

aprendizado musical, a aquisição de habilidades, o desenvolvimento da expressão, da

comunicação e das habilidades metacognitivas envolvidas na prática instrumental. O estudo

se mostra relevante para a pesquisa, pois trata especialmente do desenvolvimento da

interpretação e do controle do instrumento, sendo assim possibilitando um diálogo

significativo sobre a aprendizagem e o ensino no âmbito da performance.

Cerqueira, D. L.; Zorzal, R. C.; Ávil, G. A. de. (2012) apresentam elementos que

referenciam a prática musical instrumental e o canto, baseando-se principalmente na Teoria da

Aprendizagem Pianística de José Alberto Kaplan, enfatizando procedimentos de estudo, bem

como aspectos históricos do ensino de instrumentos musicais e métodos para a educação

musical, em diálogo com áreas afins à Performance Musical, entre elas a Psicologia

Cognitiva, a Neurociência e a Educação Física. Tendo em vista que o trabalho citado

estabelece um diálogo importante entre estratégias de estudo, aspectos históricos sobre o

ensino de instrumentos, métodos e ainda a psicologia cognitiva, a neurociência e a educação

física, buscamos neste trabalho alicerçar os processos de aprendizagem da performance e

interface, especialmente os elementos que formam o instrumentista.

O artigo de Burwell (2012) explora o aprendizado como forma de entender a prática

do ensino baseada em classe, começando com uma breve visão histórica e passando a

examinar os pressupostos que estão por trás das referências ao termo na literatura da pesquisa.

Esse estudo contribui de forma significativa, pois trata da aprendizagem da prática

instrumental, área a qual dialoga com as perspectivas de ensino da performance para o nosso

trabalho. O estudo de Ray (2015), traz reflexões amplas acerca do ensino da performance

musical e, principalmente, defende alguns conceitos desse campo, bem como apresenta o

perfil dos cursos de graduação e pós-graduação em performance no Brasil e no exterior,

sobretudo dos docentes que atuam nessa área. Dessa forma, o presente estudo contribuirá

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enriquecendo a discussão acerca do ensino de instrumento e os conceitos que direcionam o

aprendizado da performance musical e suas metodologias.

1.3 Principais trabalhos da revisão de literatura: trabalhos sobre o Trombone

Os trabalhos sobre o trombone problematizam várias questões inerentes à prática,

ensino e ao repertório escrito especificamente para o instrumento. Nessa perspectiva,

podemos observar trabalho como o de Oliveira (1998); Silva (2007); Oliveira (2010); Farias e

Santos (2011); Lima (2013); Matos (2013); Silva (2013); Assis e Botelho (2015); Reis

(2016); Botelho (2017); Santos (2004); Fonseca (2008); Nadai (2007); Silva (2010); Angelo e

Cardoso (2011); Teixeira (2012); Silva (2012); Silva B (2012); Barros (2014); Silvestre e

Oliveira (2015); Lima e Farias (2016); Leite (2016); Leite (2017); Mello e Souza (2017).

Assim como nas outras etapas, destacamos a seguir um resumo dos trabalhos que mais

se alinham à técnica e à performance musical ao trombone que nortearam esta pesquisa.

Podemos observar, dentro dessa perspectiva mencionada acima, trabalhos como o de Silva

(2010), que aborda uma das obras mais significativas para trombone do século XIX e XX pelo

desenvolvimento da escrita. O trabalho reflete aspectos como a história e a literatura do

instrumento; o desenvolvimento da escrita para trombone nos Séculos XIX e XX; principais

efeitos sonoros produzidos através da peça e principais trombonistas no desenvolvimento da

Sequenza V. Esse trabalho se mostra relevante, pois trata de uma obra importante do

repertório para trombone solo do século XIX e XX e especialmente traz reflexões acerca dos

efeitos sonoros produzidos no trombone, algo pouco discutido em meio aos trabalhos

acadêmicos.

Barros (2014) desenvolveu um estudo em torno da singularidade performativa do

trombonista brasileiro Radegundis Feitosa Nunes (1962 – 2010), através da aplicação da

Teoria da Intertextualidade. Entre os resultados verificou-se que houve uma relação intérprete

compositor entre Radegundis e Kaplan, compositor sobre o qual Barros delimitou a sua

pesquisa, pois diante da variedade de textos musicais utilizados por Kaplan, o autor pressupõe

em sua análise que o trombonista constrói a sua performance com base em experiências,

emoções, conhecimentos e informações diversas, resultado de um processo colaborativo. Esse

trabalho se mostra relevante para esta pesquisa, pois explora aspectos importantes da

produção musical relativa ao trombone no Brasil.

Os autores Silvestre e Oliveira (2015) apresentam um relato interpretativo do

Concertino N.1 para Trombone e Orquestra de Cordas, de Fernando Deddos, realizado em

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Natal – RN, durante o III Encontro Regional de Trombonistas do Rio Grande do Norte pela

Orquestra Sinfônica da UFRN e tendo como solista o intérprete José Milton Vieira,

trombonista ao qual a obra foi dedicada. Embora os autores reflitam no trabalho sobre o

processo de ensaios e dificuldades técnicas/interpretativas especificamente da parte da

orquestra, o estudo se mostra relevante para esta pesquisa, pois além de tratar sobre o

Concertino N.1, para Trombone e Orquestra de Cordas, de Fernando Deddos, nosso objeto de

pesquisa, aborda também aspectos rítmicos, temáticos e estilísticos da obra, bem como

soluções de execução desenvolvidas do primeiro ao último ensaio com relatos de alguns

músicos participantes e do próprio solista.

Leite (2016) apresenta uma análise composicional e interpretativa de obras para

trombone, algumas atuais e dedicadas ao próprio autor que apresenta reflexões sobre o

processo interpretativo e soluções encontradas para o melhor desempenho que culminaram na

performance do seu recital de conclusão de curso. Este trabalho dedica-se à construção da

performance musical ao trombone de obras brasileiras pelo intérprete, trazendo as principais

características das obras apresentadas, bem como os desafios e resoluções das principais

dificuldades encontradas por parte do performer, portanto acreditamos que se alinha com esta

pesquisa, visto que o trabalho também trata de questões as quais foram explicitadas acima.

Leite (2017) expõe as principais dificuldades encontradas por ele na interpretação de

obra brasileira para trombone composta por Villani-Côrtes. Durante o aprendizado e a prática

da obra, o autor discute aspectos como articulação, resistência, estilo, caráter da peça e por

fim, expõe soluções aos obstáculos encontrados na execução da obra. Mais um autor trazendo

a discussão sobre interpretação musical ao trombone, dificuldades técnicas, bem como

aspectos estilísticos do repertório específico para o instrumento ao qual dedicamos esta

pesquisa.

O estudo de Oliveira (2010) merece destaque, pois é um trabalho extremamente

necessário para entendermos os métodos de ensino específicos para trombone utilizados hoje

no âmbito dos cursos superiores do Brasil. O autor discute o ensino do trombone a partir dos

materiais didáticos e as metodologias de ensino nos cursos superiores federais no país.

Inicialmente, foi feita uma revisão de literatura sobre o ensino de música e práticas

instrumentais dos séculos XVII ao XXI, com objetivo de abordar aspectos históricos e

pedagógicos e verificar quais modificações o ensino de instrumentos musicais sofreu ao longo

do tempo até chegar aos moldes em que é realizado na maioria das instituições nos dias de

hoje.

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23

A partir dessa revisão foi possível identificar algumas das principais tendências que

têm caracterizado a produção de conhecimento relacionada à prática instrumental, ao ensino

de instrumento e ao desenvolvimento da performance musical no trombone. Considerando o

contexto apresentado, pôde-se observar os temas que mais têm sido abordados e algumas

lacunas que caracterizam esses campos de estudos.

1.4 A definição do tema estudado

Diante dos estudos apresentados, em particular sobre o trombone, é notório o

desenvolvimento e o aumento no interesse pelo instrumento por parte dos compositores

brasileiros, bem como, consequentemente, a ampliação de sua literatura a partir do século XX.

Portanto, é fundamental problematizarmos esses repertórios e essas práticas de estudos diários

com o intuito de contribuir para o desenvolvimento das práticas interpretativas no trombone,

bem como para consolidar o repertório do instrumento e sua literatura.

Nesse sentido, pesquisar um assunto nesse âmbito pode estimular também maior

interesse por parte dos intérpretes em analisar o que está sendo tocado e contribuir para as

escolhas técnico-interpretativas aplicadas. Assim sendo, esta pesquisa se insere no universo de

estudos acerca das práticas musicais a fim de promover reflexões inerentes aos conceitos que

envolvem os processos que constituem a construção da performance musical no trombone,

especialmente, buscamos compreender os processos de construção da performance musical da

obra Concertino N.1, para Trombone e Orquestra de Cordas, de Fernando Deddos.

Fernando Deddos (1983) é eufonista e compositor, professor de Eufônio e Tuba na

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), doutor em música pela State

University of Georgia at Athens – UGA/Estados Unidos e tem contribuído consideravelmente

para a área de instrumentos de metais através de suas composições premiadas

internacionalmente em diversos concursos de composição e associações de Eufônio e Tuba.

Portanto, aqui serão apresentadas reflexões acerca da prática instrumental alinhada ao ensino

de instrumento com o objetivo de contribuir para os processos de ensino e aprendizagem para

performance do repertório brasileiro escrito, especificamente, para trombone do século XXI

através da obra citada.

Para a área da música em geral, a realização deste estudo é relevante, porque pouco

tem se discutido no Brasil sobre a música contemporânea brasileira para trombone no âmbito

acadêmico, tendo-se ai campo vago ainda por ser explorado. Nesse contexto, insere-se

também o termo construção da performance musical no trombone, que tem sido pouco

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explorada no universo da pesquisa. Como mencionado anteriormente, desenvolver um

trabalho nesse âmbito contribui para o crescimento do repertório escrito para o trombone e

estimula intérpretes no sentido de superação dos seus próprios limites e possibilidades

técnico-interpretativas desse tipo de repertório.

A partir da literatura estudada foi possível entender como os temas têm sido

abordados, assim como compreender as bases teóricas que nortearam a pesquisa na busca por

desenvolver um trabalho sólido e significativo. Portanto, considerando o contexto apresentado

e a literatura relacionada às temáticas de prática instrumental, ensino de instrumento, assim

como dos principais estudos no universo do trombone, trago a seguinte questão de pesquisa:

quais as principais características técnico-interpretativas do Concertino N.1 para

Trombone e Orquestra de Cordas, do compositor Fernando Deddos, e quais estratégias

podem ser utilizadas para o ensino e a aprendizagem da obra?

Considerando a questão de pesquisa, o objetivo geral deste estudo de cunho

qualitativo, é identificar as principais características técnico-interpretativas do Concertino N.1

do compositor Fernando Deddos e verificar possibilidades e estratégias para o ensino e a

aprendizagem da obra. Os instrumentos de coleta de dados serão apresentados em seguida.

1.5 Pesquisa bibliográfica

Foram coletadas e analisadas publicações sobre as temáticas de prática instrumental,

ensino de instrumento e sobre o trombone, bem como materiais em que, em um âmbito mais

geral, estejam relacionados à construção da performance musical. Essa etapa será importante

para entender como as temáticas têm sido abordadas no âmbito da pesquisa e identificar os

principais direcionamentos que têm caracterizado esses campos de estudos.

1.6 Pesquisa em documentos

Realizou-se um levantamento dos materiais e documentos cedidos pelo compositor,

que expõem os processos de composição da obra e elaboração dos textos musicais criados

pelo autor, bem como o levantamento de publicações sobre o ensino do instrumento que se

relacionam diretamente com as dificuldades técnico-interpretativas do Concertino N.1 para

Trombone e Orquestra de Cordas do compositor Fernando Deddos, aspectos identificados a

partir da análise da obra. Relacionaram-se também livros de estudo que ajudam no

desenvolvimento da técnica necessária para superar os desafios presentes na composição.

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25

1.7 Entrevista semiestruturada

Foram elaboradas entrevistas com o compositor da obra, Fernando Deddos; o

intérprete para quem a obra foi dedicada, José Milton Vieira, trombonistas da Orquestra

Sinfônica de Porto Alegre (OSPA). As entrevistas foram realizadas em local pré-agendado e

com autorização prévia de acordo com a disponibilidade dos participantes. Com o compositor

busquei entender suas escolhas composicionais e os aspectos que considera principais em sua

obra. Ao intérprete foram realizadas perguntas sobre sua percepção quanto às principais

dificuldades do Concertino N.1; suas escolhas interpretativas e as principais estratégias

utilizadas para preparar a obra. A partir dessas entrevistas foi possível entender os intertextos

musicais utilizados pelo compositor Fernando Deddos, bem como os caminhos de prática

instrumental escolhidos pelo intérprete José Milton Vieira. Seguem os instrumentos de

organização e análise dos dados.

1.8 Constituição do referencial teórico

A partir das publicações científicas disponibilizadas em anais de eventos, periódicos,

teses e dissertações e publicações em geral, relacionados à temática de prática instrumental e

de ensino de instrumento, bem como a construção da performance musical no trombone

apresentadas foram definidos os conceitos que nortearam esta pesquisa e o referêncial teórico

que fundamentou o desenvolvimento das análises e as reflexões acerca do objeto de estudo

desta pesquisa.

1.9 Análise dos documentos

A partir da pesquisa em documentos, foram identificados procedimentos e influências

composicionais, além de livros de estudos que se relacionam diretamente com as dificuldades

técnico-interpretativas observadas na obra estudada. A partir da literatura, esse material foi

relacionado às perspectivas apresentadas pelo compositor e pelos intérpretes da obra. Nesse

sentido, foram apresentadas reflexões sobre as principais estratégias de prática instrumental e

perspectivas pedagógicas para o ensino e a construção da performance da obra.

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1.10 Transcrição das entrevistas

Retrataram-se as principais escolhas composicionais de Fernando Deddos na criação

da obra e as principais escolhas técnico-interpretativas e estratégias utilizadas por José Milton

Vieira no aprendizado da obra. Foram apresentadas durante a dissertação as principais falas

retiradas das entrevistas com os intérpretes e com o compositor do Concertino N.1 para

Trombone e Orquestra de Cordas.

1.11 Análises dos depoimentos

Destacaram, a partir das falas, concepções apontadas pelo compositor e por intérpretes

entrevistados, relacionando os principais aspectos apontados por ambos nos processos de

composição e construção da performance da obra. Dessa forma, foram relacionadas essas

informações com a literatura mais geral da área de prática instrumental, ensino de

instrumento, e sobre o trombone. Nesse sentido, estabelecemos um diálogo entre as falas dos

profissionais estudados e o referencial teórico apresentado, contribuindo para a

contextualização dos processos que resultaram na composição e na interpretação do

Concertino N.1.

A respeito do trombone, instrumento musical para o qual dedico esta pesquisa, foi

possível observar também, através dos estudos apresentados, o desenvolvimento do repertório

específico para o instrumento; a sua técnica básica e peculiar sendo explorada pelos

compositores através dos desafios atribuídos no repertório contemporâneo; o crescimento do

repertório; bem como a ascensão de trabalhos acadêmicos refletindo sobre o universo do

trombone. E sobre o ensino de instrumento, os principais autores e seus estudos refletem a

forma de transmissão do conhecimento musical; a didática e métodos de ensino utilizados; as

práticas e transformações do ensino ao longo da história, bem como o ambiente e a relação

professor-aluno em função do ensino/aprendizagem para o desenvolvimento e construção da

performance musical.

Considerando as bases metodológicas citadas, buscou-se alcançar os objetivos

propostos. A partir da pesquisa e com base nas informações obtidas definimos os

direcionamentos desta dissertação que engloba a prática instrumental, o ensino de instrumento

e a construção da performance musical no trombone sobre o repertório brasileiro escrito

especificamente para o instrumento. Nesse sentido, a estrutura deste trabalho se divide em

quatro capítulos, pois assim foi possível discutir, de forma separada, mas integrada ao tema

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central, as experiências, informações, conclusões e reflexões construídas a partir da pesquisa

realizada.

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2 CONCEITOS E PERSPECTIVAS PARA A PRÁTICA E O ENSINO DO

TROMBONE

Diante da diversidade de procedimentos que constituem a elaboração de uma

performance musical no instrumento, especialmente os aspectos que contribuem para a

construção da performance musical ao trombone, apresentamos neste capítulo os conceitos

fundamentais para a discussão das temáticas de prática instrumental, do ensino de instrumento

e da técnica de execução do trombone. Considerando os trabalhos analisados sobre a prática

instrumental, os principais autores pesquisados, e a relação direta com a construção desta

pesquisa, buscou-se avaliar e compreender os principais conceitos, além de questões como: a

relação entre a abordagem técnica e interpretativa na prática instrumental, as estratégias de

organização de estudo diário e questões psicológicas relacionadas à performance.

Portanto, trago a seguir os conceitos básicos que orientam a fundamentação teórica

desta pesquisa. Nessa direção, reflexões acerca dos aspectos relacionados à construção da

performance musical no trombone são tratados categoricamente em razão de um

desenvolvimento efetivo da interpretação musical e discutidos através deste estudo.

Considerando a literatura pesquisada, trago aspectos que contemplam o desenvolvimento da

prática instrumental e estratégias de estudo; metodologia e as principais características do

ensino de instrumento; bem como um breve histórico do instrumento e sua técnica básica.

2.1 O trombone

O trombone é um instrumento musical de sopro pertencente à família dos metais. O

instrumento foi construído com sistema de tubos corrediços que possibilitou uma tessitura

mais grave, bem como maior gama de notas cromáticas, o que deu origem mais tarde à

nomenclatura popular “Trombone de vara”. Existem relatos de sua origem a partir do século

XVI. Era usado especialmente nas cortes e igrejas medievais para o acompanhamento de

corais sacros e em várias formações camerísticas da época, peça indispensável para

compositores como Giovanni Gabrieli. Devido a sua sonoridade peculiar, o trombone está

inserido hoje em diversos agrupamentos musicais tais como bandas militares, filarmônicas,

orquestras sinfônicas, big bands, bem como em vários gêneros musicais, indo do jazz até o

frevo (Fonseca, 2008; Silva, 2012).

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Segundo BARROS (2014), o trombone é um instrumento rico no que diz respeito a

sua vasta gama de possibilidades de efeitos sonoros, o que estimula o interesse dos

compositores a compor para o instrumento. Tal interesse se deu especialmente a partir do

século XX e até hoje o instrumento é visto em diversas formações como um instrumento

solista. Nessa direção o repertório contemporâneo para trombone vem crescendo de modo

significativo e a procura dos intérpretes por novos desafios e possibilidades técnicas têm

motivado os compositores, gerando o interesse pelo instrumento e em muitos casos, até,

promovendo a relação criativa entre o compositor e o intérprete.

Dentre os diversos compositores, podemos citar José Ursicino da Silva (Duda) que

compôs uma série de obras dentre as quais podemos destacar as Duas Danças entre 1983 e

1984, divididas em dois movimentos intitulados “Gisele e Marquinhos no Frevo”, dedicadas

ao trombonista Radegundis Feitosa; Claudio Santoro com a Fantasia Sul America – 1983 para

trombone solo utilizando elementos do instrumento como glissandos naturais e cromáticos;

Osvaldo Lacerda compôs o Andante para trombone e piano, composta em 1987, em que

compositor utiliza o cromatismo para criar uma atmosfera densa e seleciona pequenos

motivos alternando perguntas e respostas entre o trombone e o piano; o carioca Jorge

Antunes, com a obra Inutilenfa - 1988, explora algumas possibilidades de efeitos sonoro

produzidos pelo trombone dentre os quais frulatos, glissandos além de várias acentuações e

efeitos acústicos diversos; Gilberto Gagliardi com a Valsa Brasileira (este costumava não

datar as suas obras), constrói um estilo semelhante ao das valsas da virada do século XX,

totalmente tonal, cuja apresentação se dá em três partes (A-B-A); Jose Alberto Kapplan com

as Três Peças para trombone e piano intituladas Humoresca, Noturno, e Tarantela, também

dedicadas ao trombonista Radegundis Feitosa; Rodrigo Lima com Paisagem Sonora nº1 -

2001, na qual o compositor se vale da escala de tons inteiros, às vezes substituída por escalas

de maior força tonal criando um contraste de cor dentro da peça (SANTOS, 2004).

Observamos, numa perspectiva cronológica, o trombone em destaque na música

brasileira dos séculos XX e XXI através de alguns compositores consagrados que

contribuíram e contribuem para o crescimento da literatura do instrumento, contemplando a

evolução do repertório para trombone.

Paralelamente a evolução do repertório, o ensino do trombone vem sendo

desenvolvido com o intuito de padronizar a técnica dos instrumentistas em busca de uma

maior uniformidade sonora dentro das formações camerísticas a partir da segunda metade do

século XX (SANTOS, 2004). Um dos mais renomados pedagogos do trombone no Brasil foi

o trombonista, professor e compositor Gilberto Gagliardi. Gagliardi ficou conhecido pela sua

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forte contribuição para formação dos trombonistas brasileiros através da criação de

importantes livros de estudo para trombone, bem como por sua vasta produção composicional

específica para grupo de trombones e peça solo. O seu método mais utilizado pelos

professores de trombone em universidades brasileiras é o Método de Trombone para Iniciante

lançado pela editora Ricordi Brasileira S/A (CARDOSO, 2007).

Considerando os métodos e diversos ambientes de ensino e aprendizagem do

trombone, vale a pena ressaltar o universo da Banda de Música, pois esta exerce um papel

importante no que diz respeito ao desenvolvimento do ensino dos instrumentos de sopro

especialmente no Brasil, e nesse contexto podemos notar a sua contribuição para a

propagação do ensino do trombone, popularizando o instrumento em suas apresentações

musicais em eventos diversos. Contudo, as bandas são consideradas importantes centros de

formação musical dos trombonistas, pois o ensino acontece de forma prática, buscando assim

resolver as dificuldades técnicas através do repertório, transcendendo o conhecimento teórico

aprofundado (SANTOS, 2004).

Muitos professores de trombone desenvolvem a prática coletiva através dos grupos de

câmara, em que os alunos compartilham o conhecimento sobre o instrumento tornando assim

o aprendizado mais significativo. Assim como afirma Santos:

Há outros tipos de formações camerísticas que têm papel importante na

formação musical dos trombonistas: o “Coral de Trombones” é um exemplo

significativo. Em conjuntos de câmara, do tipo Coral de Trombones, o

repertório é específico para o instrumento. Muitas vezes o repertório é

originalmente composto para esse tipo de conjunto, outras vezes são

adaptações de trechos orquestrais e demais gêneros musicais (SANTOS,

2004, s/p).

Considerando esse contexto, observamos que o desenvolvimento técnico instrumental

dos alunos de trombone vem crescendo a partir de métodos específicos de ensino do

instrumento, bem como diversas práticas de aprendizagem a exemplo da prática coletiva

como sendo um dos mais utilizados por diversos professores em universidades no Brasil e no

exterior.

2.2 A construção da performance musical: a prática instrumental

Na construção de uma performance musical, diversos procedimentos são utilizados em

função da criação interpretativa de uma obra, especialmente os planejamentos de prática

instrumental são utilizados pelos instrumentistas para o desenvolvimento de sua performance

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musical. E nesse sentido, a literatura pesquisada mostrou que as estratégias de prática

instrumental e sua eficácia para o amadurecimento técnico interpretativo, são temas

recorrentes em estudos científicos realizados na área de performance.

Considerando os conceitos de prática instrumental, Santos e Hentschke (2009, p. 72-

73) afirmam: “Para estudantes, professores e instrumentistas profissionais, as situações de

prática constituem uma atividade fundamental no dia-a-dia, compreendendo a utilização de

uma série de procedimentos aprendidos ou criados em dependência das necessidades

pessoais”. As autoras colocam ainda que os procedimentos de preparação técnica do músico

são o modo como ele percebe e age com base em normas e convenções, fundamentadas por

uma determinada tradição cultural. Para Barry e Hallam (2012, p. 151) a Prática é

estabelecida quando há necessidade dos músicos em adquirir habilidades motoras,

aprendizagem de novos repertórios, desenvolvimento da interpretação musical, memorização

da música, e preparação para apresentação. Nessa direção, podemos entender que a prática

instrumental consiste no desenvolvimento sistemático de atividades diárias planejadas com

objetivo de desenvolver habilidades técnico interpretativas direcionadas ao amadurecimento

da performance musical.

Portanto, considerando os conceitos apresentados, observa-se que a prática

instrumental é uma atividade essencial para o músico, tornando-se necessária para criação de

hábitos intencionais que direcionem de forma específica para superação de dificuldades

técnico-interpretativas.

Diante desse contexto, os autores Ericsson, Krampe e Tesch-Römer (1993) e Santos e

Hentschke (2009), entendem como conceito de prática instrumental deliberada, ou seja,

intencional, atividades planejadas com objetivo de melhorar certo nível de performance;

especialmente quando a prática é conduzida de forma racional e calculada das ações,

resultando em procedimentos conscientes. Cavalcanti acrescenta que:

O ato de praticar ou aprender através de experiências sistemáticas é

compreendido como um requisito essencial para aquisição de habilidades em

diversos domínios. Na musica, representa um ritual inevitável incutido na

rotina diária daqueles que se envolvem com o estudo do instrumento musical

(CAVALCANTI, 2009, p. 15).

Dessa forma, identificamos a prática instrumental como sendo um processo necessário

para o desenvolvimento da habilidade técnica que influencia diretamente no resultado da

interpretação musical, contribuindo para a construção da performance. Portanto, os

planejamentos de prática instrumental estabelecidos por estudantes, professores e

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instrumentistas profissionais, definem aspectos importantes para o desenvolvimento de

habilidades técnico-interpretativas que viabilizam o aprendizado da obra, bem como a sua

interpretação. E, nessa direção, podemos observar que a prática instrumental necessita de

estratégias de atividades musicais eficazes que conduzam o instrumentista a desenvolver o

máximo de sua capacidade técnico-interpretativa.

No entanto, sabendo que a prática é necessária, como estudantes, professores e

instrumentistas profissionais podem adotar estratégias e planejamentos de prática instrumental

eficaz? Nessa direção, alguns pesquisadores apontam que a prática instrumental transcende o

acúmulo de horas e horas de exercícios repetitivos. A prática instrumental requer disciplina,

motivação e desenvolvimento de estratégias e habilidades cognitivas (BARRY E HALLAM,

2012; CAVALCANTI, 2009). Vejamos a seguir os principais conceitos aplicados sobre as

estratégias de estudo que podem nos ajudar a estabelecer melhores e mais eficazes

planejamentos de prática instrumental.

2.2.1 O desenvolvimento de estratégias de estudos diários

Nos dias de hoje, ao reportarmos a nossa trajetória musical, a nossa memória como

instrumentista, deparamo-nos frequentemente com a mesma dúvida, especialmente sobre

como se preparar para compreensão de uma obra; como resolver as principais dificuldades

encontradas; quais estratégias irão funcionar; como devo aplicá-las e por fim, será que tudo

está contribuindo de forma efetiva para o meu desenvolvimento técnico-interpretativo? Como

desenvolver formas de estudos adequadas ao repertório e particularidades do instrumentista?

Pois bem, diante desse contexto, para conduzir e organizar o seu desenvolvimento técnico,

estudantes, professores e instrumentistas profissionais recorrem as estratégias de estudo

diário. Nesse sentido, pautamos algumas reflexões acerca das atividades que constituem os

processos de construção da performance musical, mais precisamente trazemos algumas das

principais definições sobre as estratégias de prática instrumental. Para Santos e Hentschke

(2009):

A prática instrumental formal envolve muitos procedimentos convencionais

sistematizados pela tradição de ensino e aprendizagem instrumental. Em

geral, esses procedimentos aprendidos têm finalidade de desenvolver e

manter programas motores, leitura musical, consciência cenestésica e aural,

entre outros aspectos. Para ler e avançar qualitativamente uma obra em

preparação é preciso ter um repertório pessoal de procedimentos aprendidos

e/ou criados, ou seja, é preciso criar uma coleção de estratégias pessoais

(SANTOS E HENTSCHKE, 2009, p. 78).

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Do ponto de vista de Garcia (2015, p. 14), “As estratégias de aprendizagem consistem

em um grupo de atividades, técnicas e meios planejados de acordo com as necessidades do

estudante de alcançar seus objetivos, de maneira que seu processo de aprendizagem seja

eficaz”. Identificamos através dos conceitos apresentados a importância dos procedimentos de

prática instrumental para o desenvolvimento de habilidades técnico interpretativas, bem como

sobre os inúmeros aspectos que são atribuídos ao uso das estratégias de prática instrumental

pelos instrumentistas.

2.2.2 A Otimização do estudo diário

Ao nos depararmos com a necessidade da prática instrumental, logo passamos a

refletir sobre o programa e ou a rotina de estudos diários que nos ajuda a desenvolver uma

prática instrumental efetiva. Essa rotina diária pode nos levar à construção de uma trajetória

musical de sucesso; a estabelecer o domínio pleno de nossas capacidades técnico

interpretativas e a alcançar um alto nível de performance musical. Nesse sentido, alguns

pesquisadores argumentam que a realização de um programa de desenvolvimento e,

consequentemente, o tempo acumulado de prática pode prever diretamente o desenvolvimento

de habilidades (ERICSSON, KRAMPE, & TESCH-RÖMER, 1993, p. 365).

Sob essa perspectiva, as autoras Barry e Hallam (2012) sugerem que as sessões

relativamente curtas de prática instrumental geralmente são mais eficazes do que sessões

ininterruptas de prática. E que isso varia de acordo com o nível do músico. Mesmo os músicos

mais experientes estão sujeitos à fadiga física e mental durante a prática e são aconselhados a

distribuir a prática ao longo do tempo. Considerando o contexto, as sessões de prática

instrumental devem vir acompanhadas de um momento de descanso. Períodos de descanso de

30 a 40 minutos, variando entre descanso e prática. Dessa forma, podemos prevenir algumas

patologias, como a distonia focal, tendinite e outras doenças causadas pelo esforço repetitivo

sem o devido descanso muscular; por outro lado, as sessões relativamente curtas podem

contribuir para reflexões e análises acerca das atividades realizadas.

Sobre esse aspecto Cavalcanti (2009, p. 12) comenta que “O esforço físico, mental e

emocional necessário para sustentar um longo período de estudo, quando o progresso não é

sempre aparente, somado ao estudo repetitivo do repertório, que pode levar semanas e até

meses, requer resistência e persistência por parte do instrumentista”. Dessa forma, estabelecer

metas para o alcance dos objetivos é fundamental visto a necessidade de conduzir uma rotina

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de prática instrumental diária, condizente com as habilidades pretendidas na construção de

uma performance musical.

Neste contexto, confiar nas próprias capacidades pode significar a

continuidade dos estudos musicais. Instrumentistas que acreditam em suas

capacidades não evitam tocar as obras mais difíceis, estabelecem metas

desafiadoras, mantem um forte compromisso em cumpri-las e sustentam

seus esforços diante das dificuldades. Embora cometam erros, recobram

rapidamente seu senso de eficácia, acreditam em sua capacidade de exercer

controle sobre as situações do cotidiano e sentem menos estresse sendo

menos vulneráveis a depressão (CAVALCANTI, 2009, p. 12)

Complementando o conceito apresentado, a prática instrumental pode ser mais eficaz

se praticada em seções curtas, pois, dessa forma, possibilita ao instrumentista reflexões

constantes sobre as suas atividades em tempo real. Evita a fadiga muscular e mental, tornando

a prática instrumental mais leve, consciente e produtiva, e motiva o instrumentista a

estabelecer metas profissionais almejadas. Portanto, contribui para o desenvolvimento efetivo

das habilidades motoras que constituem o domínio técnico do instrumento pelo músico.

2.2.3 Preparação cognitiva para a performance

A estratégia cognitiva ou prática mental é um dos procedimentos empregados por

estudantes, professores e instrumentistas profissionais. Geralmente, é usada para o

aprendizado de um novo repertório. Consiste em ensaios cognitivos sem esforço físico e prevê

a eficácia da aprendizagem de habilidades motoras através de uma experiência prévia da

atividade a qual deseja desempenhar (BARRY e HALLAM, 2012). Para Garcia (2015, p. 15)

“as habilidades cognitivas são um conjunto de operações mentais que permitem ao estudante

integrar a informação adquirida por via sensorial...”. Desse modo, é possível visualizar,

através desta estratégia, um desenvolvimento eficaz da performance musical visto que o

instrumentista conduzirá os seus estudos não somente pelo contato direto com o instrumento,

como também por meios de atividades analíticas e perceptivas.

Sobre esse aspecto, Santiago (2006, p. 4) acrescenta que “para tocar uma peça, o

músico necessita construir uma representação mental de como ela irá soar, com suas alturas,

ritmos e expressão”. Assim, a estratégia cognitiva contribui efetivamente para a compreensão

e aquisição de habilidades interpretativas através do ensaio mental, devido a antecipação da

atividade musical em função do estímulo muscular; da visão e da memória. Podemos

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relacionar essa estratégia com a análise visual da partitura musical; estudos de leitura visual

que contribuem para identificarmos possíveis obstáculos e ajuda na precisão da leitura de

novas partituras com o instrumento. Sendo assim, os conceitos apresentados se relacionam

diretamente com a construção da performance musical no trombone, pois a preparação mental

pode contribui efetivamente como ferramenta para o aprendizado e desenvolvimento

performativo do Concertino N.1, para Trombone e Orquestra de Cordas do compositor

Fernando Deddos.

2.2.4 Interpretação musical

A interpretação musical consiste na leitura singular de uma composição representada

por um conjunto de sinais gráficos, formando uma imagem de texto ou partitura musical. A

partir da análise desse texto musical, o músico transforma esses gráficos em ideias musicais

sonoras, interpretando-as e possibilitando um sentido para o contexto musical representado

pelos sinais gráficos (KUEHN, 2012). O desenvolvimento da interpretação musical, então,

pode ser estruturado levando em consideração a relação entre o conhecimento prévio do

contexto em que a obra se insere, o fazer musical e as habilidades interpretativas. Sendo

assim, alinha-se a análise da obra, estrutura, contexto, textura, citações e elementos melódicos

ao domínio do instrumento para a construção de uma performance fiel ao compositor e ao

contexto em que a obra se insere.

Contribuindo para o desenvolvimento da interpretação musical, Barry e Hallam (2012)

sugerem, com base na pesquisa empírica, que os músicos adotem duas abordagens principais

para desenvolver a interpretação, a intuitiva e a analítica. Se uma abordagem intuitiva for

adotada, a interpretação evolui ao longo do aprendizado para tocar a peça e é baseada no

conhecimento musical básico já acumulado pelo intérprete. Quando uma abordagem analítica

é adotada, a interpretação é baseada na escuta extensa da música específica, na comparação de

interpretações alternativas e na análise da estrutura da música. Dessa forma, considerando os

conceitos estudados e direcionamentos que implicam diretamente na construção da

performance musical ao trombone, os aspectos apresentados são de extrema importância para

a reflexão e preparação da interpretação musical do Concertino N.1, para Trombone e

Orquestra de Cordas do compositor Fernando Deddos.

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2.2.5 Preparação para o palco

No momento de preparação para o palco, nos encontramos com dúvidas frequentes

sobre qual a melhor forma de nos prepararmos, seja artística ou psicologicamente. Segundo

Cardassi (2000), a preparação para o palco concentra-se em momentos de organização

psicológica que se complementam para o desenvolvimento da construção da performance,

sendo eles: antes do recital, momento em que acontece a definição do programa de estudo

para o recital; preparação organizacional, que consiste na elaboração de convites, cartazes e

folders; produção organizacional do recital, que, por muitas vezes fica a cargo do músico;

preparação psicológica, diz respeito aos aspectos que envolvem a ansiedade de performance

musical; preparação física, afim de desenvolver hábitos saudáveis no dia-dia com

alimentação balanceada e a prática de exercícios físicos, para se sentir-se em boa forma,

diminuindo assim o risco de lesões; durante o recital, se o intérprete está confiante na sua

preparação artística e encara o recital como um desafio, será muito mais fácil controlar a

ansiedade; depois do recital, que se observa como lidar com as falhas da performance que

geralmente assumem proporções maiores para o performer do que para o público. Nesse

sentido, é importante avaliar todos os aspectos que se relacionam com o bem estar do músico,

pois torna-se assim um fator positivo fortalecer o desenvolvimento muscular e psicológico no

momento de subir ao palco.

Outras estratégias são utilizadas por muitos músicos. As autoras Barry e Hallam

(2012) afirmam que, as estratégias de gravação de performance antecipados são adotadas por

muitos intérpretes, bem como a de ensaio geral, buscando construir no ambiente uma

execução com o máximo de similaridade possível com o dia de concerto. Nesse sentido,

podemos refletir acerca das dificuldades de construção da performance musical, compreendê-

las e resolvê-las através de estratégias deliberadas. Entende-se que se fazem necessária as

reflexões acerca dos processos de preparação para o palco, visto que o desenvolvimento

psicológico do músico contribui para uma performance efetiva. Podemos perceber que o

desenvolvimento e a construção da performance musical não são apenas dificuldades técnicas,

fazem parte o lado artístico e de compreensão musical, bem como a construção física e

psicológica do intérprete.

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2.2.6 Metacognição/Autorregulação da prática instrumental

É uma das estratégias mais importantes da prática instrumental, pois está ligada

efetivamente com a eficácia dos processos evolutivos da performance musical. Consiste na

autoavaliação de suas atividades; da consciência e análise do seu próprio desenvolvimento

performativo. Para Cavalcanti (2009, p. 17), “autorregulação é a capacidade de auto ensino,

ou seja, ser capaz de preparar, facilitar e controlar a própria aprendizagem, proporcionar

feedback e julgamentos quanto aos resultados, fomentar a motivação e a concentração. Um

aluno autorregulado é aquele que usa estratégias próprias testando continuamente a sua

eficácia, sentindo-se motivado a fazê-lo”. Nessa perspectiva, complementando a definição da

estratégia de Metacognição, Santos e Hentschke, afirmam que:

A metacognição nas situações de prática instrumental implicaria um tipo de

raciocínio voltado a elaborar perguntas do tipo: De que maneira eu faria

essa passagem? Por que tal modo de realização é tão difícil para mim?

Nessa maneira de fazer, o que é específico as minhas próprias

possibilidades pessoais? O que poderia fazer para melhorar minha

execução? A profundidade desses questionamentos depende tanto do nível

de especialização, como da capacidade reflexiva do instrumentista

(SANTOS; HENTSCHKE, 2009, p. 73).

Nesse sentido, os momentos de descanso durante a prática instrumental contribuem

para reflexões acerca do estudo diário, especialmente sobre como estamos nos preparando ou

de que forma podemos melhorar a nossa interpretação em um determinado trecho musical.

Ajudando o intérprete na avaliação e no desenvolvimento da sua própria interpretação

musical, Garcia (2015, p. 17) descreve a metacognição como sendo a metaestratégia que se

refere à capacidade do estudante em pensar em si mesmo e no que faz ao utilizar estratégicas

benéficas. Contribuindo para o entendimento deste conceito, Barry e Hallam (2012), dizem

que a metacognição refere-se ao conhecimento do aprendiz sobre a aprendizagem em si (ou

seja, pensando sobre pensar). Isso é fundamental para a prática. As habilidades

metacognitivas estão ligadas ao planejamento, monitoramento e à avaliação de aprendizagem,

incluindo conhecimento de pontos fortes e fracos pessoais, estratégias disponíveis (orientada a

tarefas e orientada para a pessoa) e conhecimento de domínio para avaliar a natureza da tarefa

e avaliar o progresso em direção ao objetivo.

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2.3 Aspectos técnicos do trombone

No período renascentista, o trombone era especialmente usado para acompanhamento

de corais de vozes. “Quando surgiram os primeiros trombones, a ideia principal era a de ter

um instrumento dotado de capacidade para executar todas as notas diatônicas, a fim de se

contrapor às formas cantadas por coro de vozes humanas” (SANTOS, 2004, s/p). Apesar de

muito utilizado como solista em várias formações, as características de evidência do

instrumento como solista só tomaram proporções maiores apôs compositores como Ludwig

Van Beethoven introduzirem o instrumento na orquestra nas suas sinfonias 5ª, 6ª e 9ª,

considerando as características sonoras do trombone.

No século XIX, a música sofreu modificações significativas devido às tendências de

texturas que transcenderam as concepções do classicismo. Paralelamente, a evolução das

fábricas na produção de instrumentos musicais e, a partir disso, a introdução de novas

válvulas, proporcionou o aumento de possibilidades de execução musical, especialmente dos

instrumentos de metal. A partir desse contexto, podemos analisar uma série de elementos

sonoros inseridos no repertório, escrito no decorrer da história da música até os dias atuais,

especialmente as modificações atribuídas no repertório de caráter solo para trombone.

Nessa direção, além da sonoridade do trombone, veremos a seguir alguns conceitos

sobre os aspectos de execução musical no instrumento. Especialmente, sobre o repertório de

obras brasileiras compostas exclusivamente para o trombone. Considerando que esta pesquisa

é focada na preparação e no ensino da obra Concertino N.1, para Trombone e Orquestra de

Cordas do compositor Fernando Deddos, os conceitos relacionados à técnica do instrumento

apresentados neste capítulo serão abordados sob um enfoque mais geral, e aspectos mais

específicos de cada técnica não serão abordados. Nessa direção, cada um desses tópicos

poderia gerar vários trabalhos específicos, portanto, não é pretensão exaurir ou abordar de

forma mais ampla os tópicos aqui apresentados.

2.3.1 Sonoridade

Entre outros aspectos, categorizamos a sonoridade, que é característica ímpar do

instrumento; os efeitos sonoros; bem como a utilização de todas as possibilidades técnicas do

instrumento nos leva a entender o desenvolvimento da escrita; as principais técnicas e como

os trombonistas desenvolvem a sonoridade na prática instrumental diária no trombone.

Segundo Santos:

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Nos séculos XVI e XVII o trombone era considerado um instrumento de

meia sonoridade, ou seja, em volume de som era considerado semelhante aos

instrumentos de cordas. Shütz, conhecendo o potencial do instrumento,

utilizou o trombone na figuração imitativa entre os diversos instrumentos, a

fim de compor dentro do conceito polifônico (SANTOS, 2004, s/p).

Assim como na ótica de Shütz, o trombone é visto por muitos compositores hoje como

um instrumento versátil e com possibilidades sonoras peculiares. Utilizado hoje em diversas

formações de câmera e de inúmeros gêneros musicais, como jazz, orquestra, solo, música de

câmara e conjuntos musicais diversos, é um instrumento que participou da história da música

desde o período renascentista (Silva, 2010). A respeito da sonoridade peculiar do trombone,

Silva (2012) acrescenta que os compositores românticos consideravam que o trombone era

capaz de produzir e expressar diferentes momentos e situações emocionais na música.

Considerando essa afirmação, podemos entender que a sonoridade do trombone era um

atrativo motivador para os compositores no sentido de proporcionar grandes possibilidades de

variações sonoras.

Já muito foi dito acerca das qualidades sonoras e expressivas do trombone.

Não creio poder acrescentar nada à vasta literatura existente, no entanto,

pretendo expressar a minha convicção de que o trombone, no seu âmago, se

trata de um amplificador que pode transmitir uma grande variedade de

estados de alma (SILVA, 2010, p.08).

O aspecto de sonoridade caracteriza-se como extremamente importante para a

construção desta pesquisa, visto que, na obra estudada, o compositor Fernando Deddos

explora, de forma significativa, a sonoridade do instrumento através dos contrastes de

dinâmicas colocadas em três movimentos contrastantes e com características melódicas

singulares.

2.3.2 Articulação

Diante das principais técnicas de execução musical nos instrumentos de metal,

podemos citar a articulação como sendo um dos principais aspectos da interpretação musical,

especialmente no trombone, pois se trata diretamente do uso consciente da língua, que é parte

fundamental na definição das frases musicais. Como afirma Fonseca (2008, p. 100): “Grande

parte dos problemas vividos por músicos de instrumentos de metal podem ser atribuídos ao

uso incorreto ou ineficiente da língua”. Nesse sentido, assim como na fala, a língua contribui

efetivamente para a articulação das notas que através da combinação de sílabas pode ajudar a

definir a qualidade do ataque sonoro, aspecto que vem a ser de grande importância no

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momento de construção da interpretação musical, pois cada pronúncia silábica delimita um

tipo diferente de ataque e ou acentuação da nota. Para Med (1996, p. 217), “Acento (do latim

accentu) é o grau de intensidade atribuído à determinada nota de um desenho ou frase

musical. É a ênfase dada a um som (alguns sons são mais fortemente acentuados que outros)”,

o que proporciona e define a articulação escrita na partitura.

Santos (2004, s/p) afirma que: “A Língua. É um fator importante, pois é ela quem

controla parte da emissão sonora, obstruindo ou liberando a passagem de ar que vem do

tórax”. Quando sopramos dentro do instrumento de sopro, a língua funciona como mediadora

da corrente de ar que é expirada de dentro dos pulmões. Dessa forma, definindo o tipo de

ataque e ou acento sonoro a ser produzido.

O autor coloca ainda que, com a língua é possível definir diversas articulações, tais

como: Staccato simples, quando o instrumentista deseja uma articulação com o ataque de nota

mais seco, a fim de separar bem uma nota da outra, a língua golpeia rapidamente por trás dos

dentes superiores, causando uma explosão devido à interrupção da coluna de ar; detachê,

quando o instrumentista deseja uma articulação que possibilite apenas uma separação das

notas, sem que haja uma explosão ou ataque brusco, a língua golpeia levemente por trás dos

dentes superiores, interrompendo a coluna de ar, entre outros tipos. Sobre esse aspecto, a

língua exerce um papel fundamental na clareza interpretativa, conduzindo a qualidade do

ataque da nota e assim estabelecendo padrões sonoros ao trombonista.

Sendo a articulação um aspecto que envolve várias formas de produzir um som,

especialmente sobre o uso do Legato no trombone, Souza e Mello comentam a respeito da

importância do uso das sílabas para facilitar a articulação:

Porque através de sílabas se torna mais viável a explicação de como ocorre à

execução do legato. A linguagem falada traz todo um repertório de atuação

da língua com o qual o trombonista já tem muita familiaridade. A cada sílaba

corresponde um posicionamento e/ou ação diferenciada da língua, conforme

as consoantes e as vogais que a compõem. Assim, pode-se fazer o uso de

sílabas comuns na linguagem para facilitar o aprendizado do controle da

língua, ao se tocar o instrumento (SOUZA E MELLO, 2017, p. 40).

Dessa forma, o uso da pronúncia falada das sílabas ajuda efetivamente no

desenvolvimento e na execução de vários tipos de articulação no trombone. Podemos observar

também a importância dessa técnica no Método para Iniciantes do professor e trombonista

Gilberto Gagliardi. O autor direciona parte do seu livro de estudo à execução do staccato-

legado no trombone, sugerindo o uso das sílabas “Da e Ra” para eliminar dificuldades de

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Glissandos1, efeito causado pelo movimento de troca de notas, especialmente em

determinadas frases musicais realizadas pela sincronia entre a vara e a língua.

Nessa perspectiva, o conhecimento aprofundado dos conceitos de articulação no

trombone pode ser fundamental para o desenvolvimento da performance musical no

instrumento, especialmente para a compreensão dos vários tipos de acentos usados pelo

compositor Fernando Deddos no Concertino N.1, bem como para buscar opções de execução

de determinados trechos da obra no instrumento. Dessa forma, será possível esboçar um plano

de ação diante das dificuldades interpretativas encontradas.

2.3.3 Flexibilidade

A flexibilidade é um aspecto que está ligado ao domínio de intervalos e conexões entre

as notas. Levando em consideração que o trombonista necessita de um bom domínio da

técnica de flexibilidade labial, pois isso irá ajudá-lo na superação de dificuldades a ela

relacionadas, cabe destacá-la como parte fundamental dos aspectos de execução musical no

trombone. Sobre esse aspecto, Fonseca acrescenta que “a primeira e importante indicação

para uma boa flexibilidade é que a primeira nota de uma série seja articulada pela língua.

Porém, quando os lábios param de vibrar, a única atitude para retornar à flexibilidade é re-

atacando a nota, atitude que não se aceita numa flexibilidade” (FONSECA, 2008, p. 108).

Nessa direção, observamos que o domínio de tal técnica de execução contribui para o

desenvolvimento da performance musical no trombone influenciando vários tipos de

articulação. Silva comenta sobre outro aspecto que se relaciona com o uso da flexibilidade,

como por exemplo, o efeito de trilo:

Noutros instrumentos de sopro que não o trombone, o trilo executa-se

através da alternância de chaves ou pistões (nos instrumentos de cordas

através do movimento dos dedos sobre as cordas). No trombone este efeito é

produzido apenas pela mudança alternada de harmônicos, o que exige um

grande controlo dos músculos labiais em qualquer registo (SILVA, 2010, p.

49).

1 GLISSANDOS – Esse termo, de origem francesa, que significa escorregando, designa o processo de executar

gradualmente as notas existentes entre os menores intervalos da música ocidental. O trombone é o instrumento

da família dos metais que executa os glissandos com maior excelência. No entanto, o glissando natural máximo

obtido tem a extensão de uma quarta aumentada, e não de toda a extensão do instrumento, conforme mencionado

nos mais renomados manuais de orquestração (SANTOS, 2004, s/p). Segundo Fonseca, “O trombone é o único

instrumento de metal e de sopro que executa verdadeiramente o glissando. Isso, obviamente, é um dos atributos

do sistema de âmbalo. No antanto, devido aos enganos que acometem os compositores e maestros, tornasse uma

dor de cabeça ao trombonista” (FONSECA, 2008, p.91).

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Nessa perspectiva, ressalta-se a importância do domínio da flexibilidade, pois a

execução de intervalos que dependem na maioria das vezes dessa técnica de execução labial é

bastante explorada no Concertino N.1 do compositor Fernando Deddos e esse aspecto

demonstra ser uma das principais dificuldades de interpretação da obra, por isso é relevante o

desenvolvimento de tal técnica para construção da performance no trombone.

2.3.4 Extensão

A extensão é um dos principais aspectos de execução musical no trombone que requer

domínio técnico. Nesse sentido, é importante levar em consideração todas as modificações

ocorridas nos processos de construção do instrumento a partir da revolução industrial com a

implantação das válvulas nos instrumentos de metal. Contribuindo assim para ampliar a

tessitura do instrumento, especialmente os registros da região grave. Segundo Silva:

A extensão do trombone, vulgarmente indicada de Mi1 a Sib3, aumentou

consideravelmente no século XX. Contudo, há que distinguir a extensão do

trombone no repertório solo, mais exigente nos extremos, da extensão do

instrumento no repertório orquestral. No século XIX, era vulgar a tessitura

do trombone estar compreendida entre Mib 1 e Mib 4 exemplo deste uso é a

“Sinfonia nº 3” de Robert Schumann. Já no repertório solo do século XX,

compositores e executantes cultivam frequentemente o registo agudo do

instrumento até Fá# 4 (SILVA, 2010, p.56).

Considerando a evolução de possibilidades técnicas no trombone, bem como a

ampliação de sua extensão, podemos observar, no repertório, especialmente a partir de obras

contemporâneas brasileiras, a exploração de toda a extensão do instrumento por parte dos

compositores que escrevem para o trombone. Portanto, o domínio de toda a região grave,

médio e agudo pelo trombonistas é fundamental para o desenvolvimento técnico em função da

construção de uma performance musical sobre o repertório específico.

2.3.5 Posições alternativas, afinação e movimento/digitação de vara

As posições alternativas podem ser usadas para eliminar dificuldades de afinação, bem

como para facilitar digitações rápidas em trechos que requerem bastante sincronia da língua e

movimento da vara, ou até mesmo para produção de efeitos sonoros especiais. Alguns

compositores até definem na partitura a posição a ser utilizada pelo efeito sonoro atribuído ao

uso da posição alternativa. Nessa perspectiva, Silva diz que:

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43

Esta técnica consiste em utilizar posições diferentes para a mesma nota,

permitindo a articulação em legato (determinadas notas podem ser

produzidas em mais de uma posição: o Ré 3, por exemplo obtém-se na 1.ª e

na 4.ª, o lá 2 na 2.ª e na 6.ª, etc.9. Tal procedimento visa ajudar na execução

da obra, eliminando dificuldades técnicas, ou para efeitos acústicos (SILVA,

2010, p. 47).

Podemos entender que as posições alternativas contribuem também para o domínio de

dificuldades técnicas como, por exemplo, a afinação das notas no trombone. Nesse sentido, as

posições alternativas e a afinação das notas são dois aspectos interligados da execução

musical no trombone, pois a escolha da posição auxilia diretamente o trombonista no

desenvolvimento de sua performance musical, especificamente influenciando na afinação,

bem como na mudança de digitação através do movimento de braço.

Segundo Fonseca, “A sonoridade de algumas posições alternativas deixa insegura a

maioria dos trombonistas, mas, seguramente devemos considerá-las como notas úteis em

determinadas ocasiões, especialmente quando na execução do “legato” (FONSECA, 2008, p.

99). Alinhado a esse conceito, cabe ressaltar que a segurança na afinação das notas no

trombone na maioria das vezes depende da escolha da posição da vara que por muitas vezes

define a exatidão da frequência, proporcionando ao trombonista mais segurança de afinação.

Dessa forma, a afinação da nota no trombone envolve análise de opção de posições

alternativa para ajudar a encontrar o melhor caminho para afinação, bem como para a

execução de um trecho musical, levando em consideração que no trombone é possível tocar a

mesma nota em várias posições diferentes e que a posição mais segura contribui para uma

digitação efetiva. Portanto, cabe ao trombonista verificar dependendo do trecho musical

estudado a posição que mais lhe trará segurança de afinação e que facilita a sua execução

musical.

2.4 Conceitos relacionados ao ensino de instrumento

Contemplando o universo da educação musical, que é parte fundamental no

desenvolvimento desta pesquisa, especialmente sobre a temática de ensino de instrumento,

seguem os principais conceitos que envolvem as práticas pedagógicas de âmbito geral para o

aprimoramento técnico dos conceitos básicos de execução musical.

Nesse sentido, consideramos os conceitos que se relacionam diretamente com o

professor de instrumento; a transmissão do conhecimento musical e o ensino do trombone em

função da construção da performance musical no instrumento. Nessa perspectiva, são

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apresentados os fundamentos que constituem o desenvolvimento da prática instrumental

afetiva, bem como a habilidade do professor de instrumento em promover atividades e a sua

eficácia no ensino e aprendizado de trombone através de uma prática significativa para o

aluno.

2.4.1 O professor de instrumento

O professor de instrumento exerce um papel fundamental no desenvolvimento da

performance musical do aluno. Estudos apontam diversas características do professor de

instrumento, dentre elas: criatividade, didática e entusiasmo. E tais características contribuem

efetivamente para a relação entre professor e aluno, refletindo na aprendizagem musical. Para

Sonia Ray, “a atuação como artista que vivencia a prática musical é a principal credencial que

habilita o músico a instruir outro músico em sua formação prática” (RAY, 2015, p. 57).

Ressalta-se assim, a importância da experiência musical dos professores de instrumento, o que

acaba sendo fator primordial no desenvolvimento da performance musical do seu aluno, pois

a experiência musical é fundamental para norteá-lo, de um modo geral, sobre as dificuldades

que possam surgir.

Dar dicas sobre expressividade; incentivar o aluno; desenvolver aspectos técnicos;

guiar e especialmente, orientar os alunos a respeito dos planejamentos e estratégias de estudos

diários vêm a ser algumas das principais funções do professor de instrumento. Diante desse

contexto, relacionam-se com este estudo, que contempla especificamente a construção da

performance no trombone, reflexões acerca dos aspectos mencionados acima, pois todo

desenvolvimento da performance musical no trombone parte de uma boa orientação dos

fundamentos de prática instrumental, auxiliado por um bom professor.

Contemplando as principais características do professor de instrumento como sendo

um facilitador da aprendizagem, Harder acrescenta que “esse professor deverá buscar que seu

aluno esteja informado e preparado para interpretar as diferentes obras musicais, não apenas

de maneira técnica, mas, desenvolvendo sua expressividade, entre diversas habilidades

interpretativas” (HARDER, 2008, p. 132). Nessa direção, podemos entender que é papel do

professor de instrumento trabalhar aspectos expressivos na mesma importância dos aspectos

técnicos de execução. A autora ressalta ainda sobre a relação professor e aluno, facilitando a

participação e comunicação verbal durante as aulas, bem como sobre a motivação do aluno

por parte do professor.

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45

Complementando esse contexto, os estudos pesquisados consideram como sendo

característica fundamental do professor observar as especificidades de cada aluno com intuito

de promover atividades que contemplem a sua aprendizagem, especialmente as dificuldades e

facilidades específicas. Nesse sentido, Feitosa afirma:

Agindo de acordo com estes direcionamentos, o professor iria condicionar os

ensinamentos às particularidades de cada aluno. Provavelmente, o trabalho

pedagógico seria diferenciado de indivíduo para indivíduo. O ensino passaria

então a ser mais específico e direcionado, e provavelmente mais efetivo e

com uma maior taxa de aproveitamento de alunos (FEITOSA, 2013, p. 38-

39).

Podemos observar nesta citação que é papel do professor considerar as

particularidades do aluno, com o objetivo de desenvolver metodologias que conduzam o

aprendizado deste com base na sua própria cultura, nas suas vivências e na sua realidade.

Considerando o papel do professor de instrumento, sobre a motivação para

performance, o que é um fator importante da prática instrumental, e que o professor influencia

diretamente na promoção de estímulos para o desenvolvimento do aluno. Sobre esse aspecto,

Zerbinatti acrescenta que:

Como o comportamento humano é fundamentalmente orientado por

objetivos, sejam eles conhecidos ou inconscientes, fica evidente a

importância de se associar atitudes motivacionais a esses objetivos. Esses

fatores motivacionais influenciam diretamente no comportamento do

indivíduo e, conseqüentemente, no seu desempenho dentro do campo no

qual está inserido (ZERBINATTI, 2009, p. 15).

Percebemos a influência do professor de instrumento sobre a motivação do aluno, pois

cabe ao professor desenvolver metas e sugerir caminhos significativos que possam guiar o

aluno aos seus objetivos, contribuindo assim para o seu aprimoramento técnico no

instrumento musical.

Outro aspecto importante é de fornecer estratégias de prática instrumental com o

intuito de encaminhar o aluno para uma prática instrumental diária consciente, motivada e

efetiva. Sobre esse aspecto, Figueiredo atenta para o fato de que “a dinâmica da sala de aula

no contexto de ensino individual, falta de planejamento e direção no ensino podem levar os

alunos a perderem o interesse pelo instrumento, devido a aulas rotineiras com abordagem

excessiva em mecanismos de notação e digitação” (FIGUEIREDO, 2014, p. 83-84). Nesse

sentido, ser criativo em suas aulas e promover autoconsciência do aluno através das

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estratégias de prática instrumental são características fundamentais para um bom professor de

instrumento.

Pesquisas realizadas por Barry e Hallam (2012) apontam que os professores de música

reconhecem a importância da prática e relatam que discutem técnicas de prática específicas

com seus alunos. Nesse sentido, indicar não somente estratégias de prática instrumental, mas

exemplos de alta qualidade, referências audiovisuais e a literatura relacionada às estratégias

de desenvolvimento da performance musical vem a ser atribuído por muitos como papel do

professor de instrumento. Nessa direção, o assunto ainda é pouco discutido nos trabalhos

pesquisados sobre o ensino de instrumento e nesse sentido é importante o alinhamento das

temáticas de prática instrumental, ensino de instrumento e performance no trombone para

refletirmos a respeito da fundamentação teórica sobre a construção da performance musical.

Nesta perspectiva, podemos observar que o papel do professor é fundamental e que

diversos aspectos ligados ao desenvolvimento da performance musical estão sendo

conduzidos através desses das metodologias de ensino e atividades estabelecidas pelo

professor de instrumento. Portanto, um bom professor pode conduzir o aluno a desenvolver

estratégias de prática instrumental efetivas, encaminhando-lhe, assim, ao sucesso na carreira

através da efetividade de sua prática instrumental.

2.4.2 A transmissão do conhecimento musical

Autores como Sloboda, Harder e Hallam definem o ensino de instrumento como sendo

a facilitação da aprendizagem musical, envolvendo fatores motivacionais e efetividade das

atividades de prática instrumental. E considerando os planejamentos e metodologias aplicadas

ao ensino e à aprendizagem musical, destacamos, especialmente a forma de transmissão do

conhecimento musical pelo professor de instrumento.

Nessa direção, contemplando os conceitos que envolvem a prática do ensino, segundo

Harder (2008), o professor pode elaborar as suas atividades centradas no aluno com o intuito

de entender as suas práticas individuais e as dificuldades por ele enfrentadas e estabelecer

decisões em conjunto com o aluno, desenvolvendo uma relação sociointeracionista e

contribuindo para o aprendizado. Para Figueiredo (2014), especialmente sobre promoção de

autonomia, o professor deve criar estratégias efetivas para construção de autonomia na prática

instrumental do aluno, motivando assim o desenvolvimento metacognitivo e interpessoal do

aluno. Considerando que o ensino de instrumento se difundiu a partir de influências do

modelo de conservatório europeu, Feitosa observa que:

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Em alguns casos se estabelece um verdadeiro círculo vicioso, em que o

professor repete nas suas práticas pedagógicas as mesmas práticas utilizadas

no seu próprio aprendizado. Apesar de que essa forma de “ensinar como

aprendeu” ser funcional e significativa, em muitos casos ela limita o

professor a seguir por um único caminho, o seu, não estando aberto a

contemplar especificidades e singularidades de cada situação e aluno, a não

ser que façam parte do seu repertório de ensino previamente estabelecido

(FEITOSA, 2013, p. 34).

Dessa forma, a transmissão do conhecimento musical se estabeleceu com base nas

práticas de ensino aplicadas em conservatório no século XVI, quando os processos de ensino

eram desenvolvidos através da imitação. Os alunos procuravam imitar os seus professores

para que assim pudessem buscar o máximo de referências auditivas para o aprendizado de

novas obras. Considerando a concepção de ensino baseada nesse modelo, a principal

característica do professor de instrumento era de exemplo incontestável e cabe ressaltar que,

no Brasil, também se difundiu esse modelo de ensino conservatório, focado especialmente na

música europeia, repertório tradicional de concerto.

Podemos observar também algumas concepções empregadas nos planejamentos de

transmissão do conhecimento musical, bem como a importância de estabelecer metodologias

de ensino de instrumento, sobretudo refletindo sobre a necessidade de desenvolver novas

práticas de ensino, considerando a realidade do aluno, bem como novas formas de relacionar

teoria e prática, contemplando também os gêneros musicais brasileiros. Nessa direção, os

conceitos discutidos acima se relacionam diretamente com o desenvolvimento desse estudo,

pois engloba aspectos inerentes à transmissão do conhecimento musical, especialmente sobre

sua principal forma de aprendizagem.

2.4.3 O ensino do trombone

Contribuindo para o desenvolvimento desta pesquisa, destacamos a seguir as

principais características pedagógicas sobre o ensino do trombone, especialmente

direcionamentos a respeito do perfil do professor e a transmissão do conhecimento musical

sobre o instrumento, bem como os métodos utilizados para o desenvolvimento da

performance musical no trombone.

Observando sobre os métodos didáticos, especificamente sobre o desenvolvimento da

prática coletiva, Santos (2004) defende que o ensino do trombone pelos professores está

ligado também aos laboratórios de música de câmara. Segundo Santos:

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48

Todo o direcionamento do ensino do trombone no mundo atual está voltado

para a prática em conjunto. A possibilidade de os estudantes compartilharem

os conhecimentos de trombone com outros torna seu aprendizado muito mais

rentável. Os didatas do trombone estão cada vez mais conscientes das

possibilidades e benefícios do estudo em grupo, o que é cada vez mais

aplicado ao ensino da música em geral. O enfoque dado à preparação para

execução de instrumentos musicais é, assim, muito marcado pelas respostas

de coordenação motora comuns a grupos de indivíduos (SANTOS, 2004,

s/p).

Diante da reflexão de Santos, podemos entender a importância da prática de música de

câmara, visto o contato com o professor e pela diversidade de conhecimento compartilhado

entre os demais alunos do grupo, contribuindo também para a motivação em conjunto.

Sobre as competências necessárias para admissão em diferentes programas de curso

superior com habilitação em trombone, Fonseca (2008) explica diferentes perspectivas de

competências no instrumento, contemplando, especialmente; os padrões de movimento físico;

o desenvolvimento da compreensão do simbolismo facilitando a execução à primeira vista; o

desenvolvimento da compreensão de ensino e de estudo do trombone. Dessa forma, é

indispensável o auxílio de um bom professor que irá direcionar as melhores estratégias com

base na realidade do aluno para que ele possa aprimorar os fundamentos básicos de execução

musical no trombone. A respeito dos materiais didáticos utilizados e a transmissão do ensino

musical, especialmente o ensino de trombone no Brasil, Oliveira afirma que:

Analisando o aspecto relacionamento professor-aluno, é possível observar

que, novamente, Müller, Lafosse, Peretti, José Gagliardi e Gilberto

Gagliardi, aproximam-se de duas tendências pedagógicas liberais:

tradicional, ao considerar o professor como centro do processo e transmissor

do conteúdo; e tecnicista, ao considerar o professor um elo entre a verdade

técnica ou científica e o aluno (OLIVEIRA, 2010, p.143).

O autor afirma ainda a respeito da metodologia de ensino empregada, que os materiais

didáticos apresentam conteúdo explícito sobre como elaborar, memorizar e repetir cada

exercício através de textos expositivos, fazendo com que o aluno adquira autonomia na

aprendizagem.

Considerando os elementos fundamentais da construção da performance musical no

trombone, é possível elaborar processos e planejar ações efetivas com intuito de desenvolver

uma forma eficaz de prática instrumental que contribuirá com o sucesso da performance

musical no instrumento pelo aluno. Portanto, as reflexões e discussões explicitadas acima

contemplam uma relação direta com esta pesquisa, sobretudo para embasar os

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direcionamentos de estratégias de prática instrumental e ensino da obra Concertino N.1, para

Trombone e Orquestra de Cordas do compositor Fernando Deddos.

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3 O COMPOSITOR E INTÉRPRETE DA OBRA: PROCESSOS E

CARACTERÍSTICAS INTERPRETATIVAS

Neste capítulo apresentamos as informações colhidas através da coleta de dados,

relatos das entrevistas com o compositor e com o intérprete ao qual o Concertino N.1 para

trombone e orquestra de cordas foi dedicado; a trajetória e formação musical do compositor

Fernando Deddos e do trombonista José Milton Vieira Leite (Miltinho). Apresentamos as

principais questões que nortearam o processo composicional e de construção da performance,

desde a criação até a estreia do Concertino; as entrevistas e depoimentos, que são analisados

pelo autor com o intuito de entender os processos de construção da performance da obra no

trombone por parte do intérprete entrevistado.

Fernando Rodrigues Diego dos Santos é conhecido popularmente como Fernando

Deddos, e dessa forma, utilizarei “Deddos” para fazer referência às suas citações. E o

intérprete José Milton Vieira Leite, será referenciado no texto como “Vieira”. Dessa forma,

buscaremos entender, por meio dos participantes entrevistados, as concepções composicionais

e interpretativas que nortearam a criação do Concertino N.1 para trombone e orquestra de

cordas, bem como a interpretação da obra, considerando as principais influências do

compositor no seu modo de criação musical, a concepção interpretativa do texto musical por

parte do intérprete e as suas escolhas diante dos obstáculos e dificuldades de aprendizagem do

Concertino N.1.

3.1 O compositor Fernando Deddos – Trajetória e formação

Para entendermos as suas influências composicionais e consequentemente as suas

escolhas na criação do Concertino N.1 para trombone e orquestra de cordas, veremos a seguir

um pouco da trajetória musical do músico e compositor. Eufonista e compositor, Fernando

Deddos iniciou a sua carreira em Curitiba – PR. Obteve as suas principais influências

musicais a partir dos 3 anos de idade, por estar inserido em uma família de músicos,

estudando inicialmente o órgão eletrônico e prosseguiu com o teclado/piano no Talento

Conservatório em União da Vitória - SC, aos 4 anos de idade. E, como compositor, também

remete ao seu ambiente familiar e a uma diversidade de experiências vivenciadas que

posteriormente vieram a caracterizar a sua música. Segundo Deddos:

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[...] eu nunca me fechei muito em aprender coisas novas, estive sempre

aberto a aprender novas sonoridades e deixar com que elas me influenciem

o mais naturalmente. Eu não necessariamente cito compositores específicos

como minhas influências, vou até citar alguns, mas eu gosto de citar

justamente o combinado de atividades das quais eu fiz parte; às quais eu fui

exposto. Então, eu considero como influências minhas desde as músicas que

a minha mãe cantava comigo, minha mãe era cantora, as músicas que meu

pai ouvia, ele não sabia, um trechinho da ópera Carmem lavando o carro ou

uma música de Pink Froyd e minha mãe cantava uma valsa tradicional

brasileira como Sereno da Madrugada...” (DEDDOS, 2017).

Diante desse contexto, que o compositor expressa as suas primeiras influências

musicais a partir de vivências familiares, o que facilitou o seu envolvimento com o meio

musical. Aos 12 anos, a partir do ingresso na Banda Marcial Santos Anjos, pôde ter contato

com os instrumentos de sopro no interior de Santa Catarina, na cidade de Porto União.

Segundo o próprio compositor, o seu interesse por compor surgiu paralelamente ao

desenvolvimento técnico na banda marcial no ano de 1996. Deddos comenta que:

[...] dentro desse grupo, justamente por essa estrutura que essa banda

oferecia ter, posteriormente a minha entrada, comprado instrumentos, por

exemplo, de percussão sinfônica e já ter um trabalho um pouco mais

aprimorado de trazer arranjos, adaptações eu tive um acesso ao mundo da

música escrita, orquestrada. Eu já tinha o interesse por criação! Apesar de

estudar as músicas que estavam escritas eu tive sorte que as minhas

professoras de teclado, elas não colocavam muitas barreiras nas minhas

vontades criativas... Então isso já acessou um pouco o lado da criação

(DEDDOS, 2017).

O compositor deixa claro na citação acima a importância da Banda Marcial Santos

Anjos, que teve um papel fundamental para que o instrumentista viesse a se descobrir,

sobretudo na sua formação como compositor. Nesse contexto, complementando sobre seus

primeiros passos como compositor, Deddos (2017) declara que: “[...] conectando com essa

banda marcial, o regente que era o coordenador na verdade da banda percebeu que eu tinha

esse interesse também e eu me conectei rapidamente com as grades das peças e me motivou a

fazer arranjos...”. O compositor ressalta, ainda, que ao mesmo tempo em que começou a fazer

arranjos, passou a tocar na noite em bandas bailes pelo interior do estado, tocando música

popular brasileira nos instrumentos de teclado e também de sopro e que essa experiência o

motivava a continuar criando arranjos até vir a escrever os seus próprios temas, por volta dos

15 anos de idade.

Deddos comenta sobre o jogo RPG e das suas influências para compor os seus

primeiros temas: “[...] eu tinha um jogo que chamava RPG que eu jogava com os meus

colegas, que tinha todo o envolvimento com o mundo medieval fantástico que tem certa

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conexão com música sinfônica, pois têm umas trilhas de filmes, uma coisa meio épica, som

dos metais, fanfarras...” (DEDDOS, 2017). Diante da fala do compositor, podemos visualizar

a partir do comentário, a sua influência da música sinfônica, sobretudo pelo som dos

instrumentos de metal que são parte fundamental nas trilhas sonoras de filmes históricos.

Acerca da forma com que desenvolvia a sua escrita inicial, o que se deu através do contato

com os softwares de escrita no computador, no final dos anos 1990, Deddos comenta:

[...] então isso já ajudava também, mesmo sem um professor de composição

eu desenvolver um jeito meu de me influenciar pelas músicas populares que

eu tocava; as músicas sinfônicas a que eu tinha acesso através dessa banda,

gravações. Conheci já compositores que se não fosse por essa banda eu não

teria conectado, tive a oportunidade de ouvir Bruckner, depois descobri

Mahler e outros compositores ultrarromânticos. E o computador então me

ajudou a tentar colocar mais ou menos no papel. Eu não tinha técnica, não

sabia escrever a mão, depois eu fui estudar na faculdade (DEDDOS, 2017).

Podemos observar que o compositor obteve influências diversas, o que contribuiu para

diversificar o seu modo de criação musical, abrangendo a música popular brasileira; trilhas

sonoras históricas e a música sinfônica de concerto, através do acesso às grades da Banda

Marcial Santos Anjos, além de ouvir grandes compositores da história da música como Anton

Bruckner e Gustav Mahler, e considerando esse contexto, passou a desenvolver e organizar as

suas ideias e primeiras composições utilizando os softwares de escrita musical no

computador.

Levando em consideração o seu aprendizado como compositor e as suas principais

influências, o próprio Deddos (2017) denominou de “complexo de influências iniciais” o fato

de aprender e querer criar a música de concerto em paralelo ao seu hábito de fazer

transcrições de áudios de obras conhecidas no âmbito da música sinfônica:

[...] eu tinha certo vício de fazer transcrições de áudio. Então o que me

ajudava e compreender um pouco, pegava uma obra, abertura de Verdi, por

exemplo, uma das primeiras transcrições de áudio de adolescente foi de A

Força do Destino, sem ter a partitura eu me esforçava pra aprender e isso

me ajudava comparando com a partitura (DEDDOS, 2017).

Nessa direção, conectando com o Concertino N.1 para trombone e orquestra de cordas,

podemos entender que as suas influências iniciais como compositor e o fato da facilidade com

que Deddos faz transcrições nos ajudam a compreender o possível uso de intertextos, citações

direta ou indireta de outras obras, aspectos que podem vir a ser uma das principais

características do seu modo de compor, sobretudo do Concertino N.1. Posteriormente, no ano

de 2003, Fernando Deddos se deslocou para a cidade de Curitiba – PR, onde se formou em

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composição e regência na Escola de Música e Belas Artes do Paraná/EMBAP, o que contribui

para definir e entender o que ele estava construindo na sua cidade natal como compositor e

quais caminhos iria seguir a partir de então.

Seguindo a linha de descobertas e explorando o universo do compositor que é autor de

obras para formações musicais diversas, perguntamos como o próprio compositor caracteriza

o seu estilo composicional. Apesar das referências e experiências vivenciadas como músico e

compositor, considera-se “plural” como um compositor de música erudita popular que gosta

de expressar o momento, considerando o ambiente. E que tenta descobrir uma linguagem

experimentalista e particular, estando sempre aberto a aprender novas sonoridades (DEDDOS,

2017).

Deddos relata sobre os estilos musicais que o influenciaram além dos elementos

musicais e as mais diversas sonoridades. “[...] eu cresci perto de música gaúcha, nativista.

Então, eu cresci vendo grandes acordeonistas sempre me impressionando naquela

musicalidade e eu tive uma conexão sempre com percussão, com ritmos e isso foi me fazendo

ver com o que eu estivesse sempre aberto a me influenciar com as mais diversas sonoridades

[...]” (DEDDOS, 2017). Diante desta citação é possível entender como Deddos foi

influenciado por diversos ritmos musicais quando visualizamos nas suas obras uma

diversidade de ritmos brasileiros em conexão a exemplo do Concertino N.1 para trombone e

orquestra de cordas. O compositor ressalta também sobre o seu aprendizado no que diz

respeito à escrita para o instrumento de metal e como foi a sua influência em conexão com

diversos compositores.

[...] por ser instrumentista de metal, nos nós conectamos com as músicas

dos nossos instrumentos. Eu comecei a tocar o Bombardino, o Eufônio que a

gente pesquisa já na adolescência e antes eu já tive esse acesso a umas

peças relacionadas a um instrumento, aí eu abri a cabeça também para esse

mundo das especificidades dos instrumentos. E alguns compositores de

banda sinfônica e principalmente de trilha sonora me influenciaram muito, é

um tipo de música que você conecta com a imagem, John Williams, por

exemplo, foi uma influência juntamente com esses compositores que ele

mesmo remete como Gustav Holst; o próprio Gustav Mahler que eu já havia

citado Anton Bruckner, Richard Wagner são compositores que utilizam

muito instrumento de metal (DEDDOS, 2017).

O fato de o compositor ser instrumentista da área de metal atribui certa relevância para

a criação do Concertino N.1 para trombone e orquestra de cordas e ainda sobre os

compositores que o influenciaram, especialmente a partir da sua inserção no âmbito

acadêmico para continuar a sua formação em composição e regência, Deddos cita Ígor

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Stravinski, Bela Bartók, Padre José Maurício, Antônio Carlos Gomes e Heitor Villa-Lobos

considerando todos eles parte fundamental para sua formação. Nesse sentido, aspectos

fundamentais da música e especialmente o modo como esses compositores conectam tais

elementos fundamentais da música como ritmo, melodia, harmonia, forma são objeto de

pesquisa de Deddos. Porém, o compositor ressalta que não há um compositor em primeiro

lugar e sim uma amálgama de influências de conceitos adquiridos através da pesquisa sobre a

vida e obra desses compositores.

O compositor destaca que buscou, a partir das suas influências na música clássica, na

música experimental em sala de aula, além de todos esses renomados compositores citados,

construir e desenvolver uma forma diversa de escrita que permeia por vários ritmos e gêneros

musicais. Nesse sentido, especialmente sobre a suas influências na música popular brasileira,

no jazz e em outros gêneros, Deddos destaca:

[...] Na música popular, que é o que a gente chama, eu tive contato

felizmente com bons músicos já na minha adolescência. Esses grupos de

noite, músicos que estudavam música instrumental como jazz, música

brasileira, choro e então eu já tive acesso a nomes do jazz, já sabia quem

era Artur Maia porque eu estava sempre perto de grandes músicos que

estudavam grandes bateristas e grandes saxofonistas... e quando eu mudei

pra capital, que é um centro mais cosmopolita, eu tive acesso aos gêneros

como eles são porque você encontra um grupo de choro; um grupo de

maracatu; um grupo de samba; um grupo de música cubana; outro grupo de

música antiga, especificamente [...] (DEDDOS, 2017).

A partir da fala do compositor, percebemos que a diversidade de combinações

musicais vivenciadas por Fernando Deddos contribuiu para a sua formação musical diversa

como compositor, bem como para caracterizar o seu modo de criação musical. Deddos reitera

que prefere a pluralidade na sua forma de compor e reafirma a importância da música popular

brasileira na sua trajetória musical.

[...] O que eu fiz foi ir sugando o máximo que eu poderia de todas essas

influências da música clássica; música experimental; música popular na

rua; eu já toquei trombone em banda de salsa e até comecei a tocar mais

choro depois, então você vai ver que eu gosto que a minha música soe

assim, bem plural e mais atualmente depois que eu defini que eu gostaria de

pesquisar o meu instrumento principal que é o Eufônio na música brasileira

e trazer compositores brasileiros e não necessariamente só ritmos mais

populares, tradicionais ou típicos ai eu fiz um combinado de tentar

descobrir quem sou eu como compositor e como instrumentista e como eu

conecto todas essas coisas. (DEDDOS, 2017).

Nessa direção, o compositor ressalta ainda que uma das últimas peças que escreveu,

no ano de 2016, foi um Concerto para Eufônio e orquestra sinfônica no modo tradicionalista

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com três grandes movimentos, considerando a escassez desse tipo de obra no Brasil, com o

objetivo de revisitar as suas experiências como músico e compositor. Deddos acrescenta:

“[...] Nesse concerto eu tentei colocar uma história do que seriam as minhas influências e

principalmente uma homenagem ao Bombardino no Brasil, então as coisas que eu vou

estudando como instrumentista vêm a influencias no que eu componho” (DEDDOS, 2017).

Observamos, a partir do comentário, que o compositor reforça a ideia de pluralidade na sua

forma de pensar e criar as suas obras, desenvolvendo assim um estilo composicional

particular e ao mesmo tempo diverso.

Para que possamos conhecer um pouco mais de algumas de suas obras, trazemos

abaixo uma breve descrição elaborada a partir de comentários do próprio compositor das

peças que mais caracterizam o seu estilo composicional:

a) Ratatá! - 2007. A obra escrita para a criação do Duo Primo de Eufônio e Percussão

(com Danilo Koch, que vive atualmente na Alemanha). Ratatá! Simula dois corpos em

movimento similar, que por ventura discordam, mas através de homo ritmos e uníssimos

terminam com o assunto quase que em concordata. A peça foi gravada no disco EuFonium

Brasileiro, de Fernando Deddos e publicada pela editora Potenza Music (EUA);

b) Rabecando - 2008. Chamar-se-ia originalmente "Singelo". A ideia é a de

contemplar o eufônio em suas distintas características líricas X ágil. A obra é como um solo

de um instrumento típico brasileiro (viola, rabeca, ou até mesmo um berrante). Inicia-se

lentamente e como uns processos de externalização de uma ideia individual, desabrocha em

uma corrente de notas aceleradas ao seu final. Uma evocação. A obra contém exigências

cênicas e de técnicas estendidas. Rabecando foi gravada no disco EuFonium Brasileiro, e

publicada pela editora Potenza Music (EUA);

c) Tuba e Grupo de Trombones - 2010. Obra baseada no épico de Homero - Odisséia,

A viagem de Ulisses. A tuba não é solista, mas protagonista. A tuba é Ulisses e os trombones

representam tudo o que permeia o épico. A obra é narrativa, seguindo em partes a estrutura da

obra literária. Foi dedicada a Sérgio Carolino e o grupo The Wild Bones Gang, de Portugal, e

está oficialmente gravada e lançada em CD na Europa;

d) Duo Divertimento No. 2 - 2011. Foi escrita durante uma residência no Primeiro

Festival Internacional SESC de Música e estreada no mesmo lugar, em parceria com o

trombonista José Milton Vieira. A obra é o início de uma série que pretende ter o Eufônio

convidando sempre um instrumento diferente, como já se diz no título, para se divertir. As

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alusões são as do momento, preservando-se ao máximo as características dos instrumentos.

Utiliza-se de técnicas estendidas, uso de fonemas e ritmos latino-americanos.

e) Nevoeiro - 2012. Escrita para um concurso de composição (sem sucesso) na

Rússia. Por isso a obra cita Shostakovich em poucos momentos. Sobretudo, inspirada no

poema "Nevoeiro" de Fernando Pessoa (inclusive o tubista deve declamar em uma sessão

intermediária da obra). Há também menção à "Anunciação", do compositor Alceu Valença, já

que fala de brumas. Nevoeiro é grave e ágil, mas também lírica e leve. Por vezes uma névoa

por outras um cântico referencial à beleza das nuvens. Sempre brasileira (como quer que veja

o que é "brasileiro").

Consideramos que essas obras caracterizam o estilo do compositor e podem nos ajudar

a compreender um pouco mais sobre a sua concepção musical, contribuindo assim para

construção de uma concepção interpretativa sobre o Concertino para trombone e orquestra de

cordas, obra a qual é o foco desta pesquisa. Atualmente, Fernando Deddos é professor de tuba

e eufônio na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, doutor em música pela State

University of Georgia at Athens – UGA/Estados Unidos e premiado internacionalmente em

diversos concursos, tais como o da ITEA - International Tuba and Euphonium Association;

Prêmio Roger Bobo Awards for Excellence in Recording e Harvey Phillips Awards for

Excellence in Composition (Solo e Música de Câmara).

3.2 As principais características do Concertino N.1 para trombone e orquestra de cordas

do compositor Fernando Deddos.

O Concertino n.1 para Trombone e Orquestra de Cordas, do compositor Fernando

Deddos, foi composta em 2013, encomendada e dedicada ao trombonista José Milton Vieira,

primeiro trombone da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, e estreada no dia 18 de Novembro

de 2013 com a Orquestra Sinfônica do Theatro São Pedro (OTSP). O compositor relata em

entrevista que a parceria com o intérprete José Milton Vieira Leite surgiu em um festival de

música do SESC/Pelotas – RS, em 2011. A sua primeira parceria com Vieira foi um duo,

“Divertimento para trombone e eufônio”, dedicada ao professor e trombonista Gilberto

Gagliardi pela sua importância na área dos instrumentos de metal no Brasil. Deddos fez

citações de alguns dos temas do Gagliardi, que também era compositor. O compositor

ressalta, ainda, que, durante um desses encontros, o Viera sugeriu ao compositor a criação de

uma obra para trombone que fosse estreada com a Orquestra Sinfônica do Theatro São Pedro

(DEDDOS, 2017).

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Sobre o Concertino n.1 para Trombone e Orquestra de Cordas, Deddos comenta que a

criação surgiu quando ele estava morando nos Estados Unidos, no final da sua formação de

pós-graduação em performance musical na Duquesne University, onde se encontrava em parte

afastado da atividade de composição pelo foco direcionado ao curso de mestrado em

performance. E que o convite para compor uma obra para orquestra de cordas e trombone

solista veio como um desafio para a continuidade de suas atividades como compositor.

[...] Eu tinha escrito uma outra peça de câmara lá e tive encomendas de

uma brass band e pintou essa oportunidade de escrever pra cordas, o que eu

tomei como um desafio. Eu já tinha orquestrado na universidade, mas pra

uma orquestra profissional, eu ainda não tinha escrito, eu já tinha feito

muitos arranjos, cordas e big band, trabalhei com direção de big band pop,

big band de rock com pianista e acabei escrevendo pra cordas, mas pra eu

escrever pra uma orquestra um Concertino seria uma tomada, um desafio.

(DEDDOS, 2017).

Considerando os procedimentos de composição da obra, o compositor relata: “Ai o

procedimento veio primeiramente de eu reestudar orquestração, as teorias. Gosto das coisas que o

Samuel Adler escreve de orquestração. Isso veio como um desafio pra eu me estruturar pra escrever

pra cordas. Então veio primeiro o estudo das cordas de melhor ou possível desses instrumentos pra eu

escrever como orquestra de cordas” (DEDDOS, 2017). Para ele o trombone é um instrumento

sobre o qual já havia um conhecimento prévio, porém é possível perceber na sua fala que

houve uma interação entre compositor e intérprete no estímulo à criação da obra:

O trombone é um instrumento com que eu já tinha intimidade, então não

teria maiores problemas. Isso foi um catalizador motivacional, o

aprendizado! E as motivações musicais vieram sugeridas do próprio Milton

de “o que você tem pensado?; você gosta muito de música brasileira,

ritmos!” Daí eu vou pensar em unir o útil ao agradável, escrever uma peça

que eu sei que seria com que o solista gostaria de se conectar, tentando me

sentir confortável, mas experimentando o máximo que eu puder” (DEDDOS,

2017).

Neste contexto, Deddos comenta que buscou inspiração também em alguns

Concertinos já consagrados, como o Concertino para Clarinete do Aaron Copland e o

Concertino do Lars-Erik Larsson para trombone e orquestra de cordas, no qual ele explica:

“Eu percebi que o trombone soava mais rapizódico, deliberado com mais liberdade em certos

momentos e eu queria trazer essa mistura desse timbre... o trombone tem uma pomposidade

orquestral, uma força; um brilho e eu queria trazer esse lado rapizódico do trombone e então

eu já decidi antes que ia fazer algumas cadências” (DEDDOS, 2017). A partir desse

comentário é possível observar as principais inspirações, obras que influenciaram o

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compositor na criação do Concertino n.1 para Trombone e Orquestra de Cordas o que ajuda o

intérprete a compreender algumas características peculiares, como, por exemplo, as nuances

de caráter livre de andamento, logo no início do primeiro movimento.

A obra apresenta três movimentos interligados: Allegro Marcato, Andante poco rubato

e Allegro Acelerado com algumas alterações de andamento dentro de cada movimento. A

peça é repleta de variações rítmicas, buscando da música popular intertextos e alusões ao

Frevo, à Marcha-rancho e à Guarânia, além de influências do choro (Silvestre e Oliveira,

2015). Considerando a análise estilística dos autores citados acima, bem como as influências

da música popular, podemos observar, a partir das figuras abaixo, o esquema de

desenvolvimento composicional de Deddos na criação da obra.

FIGURA 1 Manuscrito cedido pelo compositor: esquema composicional do Concertino N.1.

FONTE: Documento compartilhado pelo compositor

O compositor desenvolve as suas possibilidades através de rascunho em que ele atribui

à obra uma forma específica como explica em entrevista: “[...] Eu gosto desse padrão rápido

– lento – rápido. Não é necessariamente um A-B-A, mas eu sou um amante daquele discurso

do texto: introdução, desenvolvimento e conclusão e não necessariamente que seja uma coisa

que não possa ser continuada, mas nesse Concertino eu pensei numa estrutura já pensada

antes” (DEDDOS, 2017). Nesse sentido, a partir da análise da obra, foi possível entender a

forma estrutural do Concertino n.1 para Trombone e Orquestra de Cordas que se desenvolve

na forma A-B-A, a partir de temáticas recorrentes, influenciados por diversos compositores e

gêneros musicais, como podemos observar na próxima figura.

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FIGURA 2 Manuscrito acerca da temática escolhida pelo compositor

FONTE: Documento compartilhado pelo compositor

A partir do manuscrito, observamos que o compositor seleciona algumas referências

para que ele possa influenciar-se na criação da sua obra, nomes de compositores, peças e de

gêneros musicais diversos com destaque no primeiro movimento para obras, como o

Concertino do Lars-Erik Larsson para trombone e orquestra de cordas; música caipira, como o

Rio de Piracicaba; música nordestina; compositores, como Heitor Villa Lobos e César Guerra

Peixe. Para que possamos visualizar, segue na figura abaixo o tema do primeiro movimento.

FIGURA 3 Exemplo musical

FONTE: Arquivo do autor

Sobre o segundo movimento, o compositor relata ser uma valsa dedicada a sua esposa

cuja melodia já existia, apenas foi orquestrada e inserida no Concertino N.1 como sendo o

tema dois da obra.

“[...] No meu recital de mestrado eu fiz uma surpresa pra minha esposa que

se chama Mariana. Eu reescrevi uma melodia simples, tem a ver com sonhos

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porque ela sonha muito... e é baseada no nome Mariana que tem as

temáticas Lá – Dó - Sol Fá” (DEDDOS, 2017).

Para que possamos visualizar, segue na figura abaixo o tema do segundo movimento.

FIGURA 4 Exemplo musical

FONTE: Documento compartilhado pelo compositor

Analisando a construção dos temas o compositor ressalta ainda: “[...] O que eu faço é

separar temas que eu possa usar durante o concerto todo como, por exemplo, da sílaba do

nome Mariana e temas que são mais ocorrentes. Então eu uso essas temáticas pra dar

consistência e desenvolvo os pequenos momentos” (DEDDOS, 2017). É importante ressaltar

que o tema do segundo movimento é recorrente em todo o Concertino, fazendo com que a

obra obtenha uma unidade temática.

No terceiro movimento, o compositor comenta que se trata de um movimento mais

experimental. Segundo o próprio Deddos, é uma homenagem a alguns compositores como

Béla Viktor János Bartók de Szuhafő. “[...] O terceiro é uma mistura de um presto mais

Bethoviano, uma coisa mais frenética e uma sonoridade entre Villa Lobos e Bartók”

(DEDDOS, 2017). O compositor ainda ressalta que há uma grande mistura de populares,

especialmente destaca os ritmos Chacarera e Frevo como sendo grande influência deste

terceiro movimento. Para que possamos visualizar, segue na figura abaixo o tema do terceiro

movimento.

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FIGURA 5 Exemplo musical

FONTE: Arquivo do autor

Considerando as informações expostas acima, observamos que o compositor

contempla diversos gêneros musicais, bem como busca selecionar alguns compositores nos

quais ele gostaria de influenciar-se para o desenvolvimento e a criação de sua música, em

especial sobre o Concertino N.1 para Trombone e Orquestra de Cordas. Deddos destaca,

ainda, em entrevista, que faz algumas citações diretas de outros compositores e obras já

consagradas como, por exemplo, o Concerto para trombone do dinamarquês Launy Grondahl,

entre outras obras populares brasileiras (DEDDOS, 2017).

Com base nesses dados, defendemos que conhecer bem as concepções criativas do

compositor, as suas influências, o seu processo de criação, conhecer a obra do compositor

como um todo, objetivos sonoros, especialmente quando se trata de um compositor ainda

vivo, bem como o reconhecimento das principais características composicionais da obra

específica estudada vem a ser um aspecto de extrema importância no âmbito da construção da

performance do trombonista. Dessa forma, as suas escolhas interpretativas constituem à

música o mais aproximado possível dos objetivos sonoros pensados pelo compositor da obra.

Podemos considerar, como exemplo, as constantes variações rítmicas atribuídas aos diferentes

gêneros das músicas populares citados, o que, numa perspectiva empírica, para o músico que

não obtém proximidade com esse tipo de repertório pode sofrer grandes dificuldades no

reconhecimento de métricas e acentuações peculiares escritas pelo compositor.

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3.3 Os principais desafios para o intérprete do Concertino N.1 para trombone e

orquestra de cordas

Paralelamente às informações coletadas com o intérprete José Milton Vieira, neste

tópico são apresentados aspectos evidenciados pelo compositor e as dificuldades encontradas

pelo pesquisador a partir da análise e estudo da obra.

Vieira iniciou seus estudos musicais em 1998, na Banda de Bombeiros Mirins em

Brasília – DF; posteriormente, estudou na Escola de Música de Brasília, na Universidade de

Brasília (UnB) e na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especializou-se na

Julliard Music School (2012). Atualmente é Trombone Solo da Ospa e membro do Quinteto

Porto Alegre, professor do Conservatório Pablo Komlós e da plataforma Play With a Pro

(VIEIRA, 2017). Considerado um dos representantes da nova geração de trombonistas

brasileiros pela classe trombonística. O trombonista destaca-se pelas premiações como

trombone solista em competições nacionais e internacionais, tais como: Primeiro prêmio do

Pré – Estréia, Categoria Solista (TV Cultura, SP- 2012); Segundo prêmio exclusivo

Radegundis Feitosa Nunes (solista de Metais no Festival de Metais do Pará – BL – 2012) e

Primeiro prêmio no prêmio do público do 26° Concorso Internazionale “Città di Porcia

(Italia-2015); Primeiro prêmio da Lewis Van Haney Philharmonic Prize Competition em Paris

(ITF 2012). Além destes, foi premiado pela melhor interpretação na peça comissionada “Is

My Shoe Still Blue” de Christian Muthspiel da 64ª Internationaler Musikwettbewerb der ARD

(Alemanha, 2015).

Sabendo da trajetória musical do intérprete, percebemos que se trata de um músico

profissional reconhecido no cenário musical contemporâneo e nesse sentido é importante

ressaltar que o Concertino N.1 para Trombone e Orquestra de Cordas do compositor Fernando

Deddos foi uma composição dedicada ao trombonista. Levando em consideração que a obra

foi escrita para um trombonista dominante dos aspectos técnicos de execução musical no

instrumento, veremos a seguir as principais dificuldades técnicas encontradas por parte do

intérprete José Milton Vieira, em diálogo com as observações do compositor e as nossas

considerações diante dos obstáculos encontrados no estudo da obra.

O intérprete argumenta que as principais dificuldades da obra giram em torno dos

diversos tipos de articulação utilizados pelo compositor e descreve um dos trechos que mais

estudou na sua preparação:

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[...] Articulação! As obras do Deddos têm muita articulação! Então, isso é um

achismo meu, se dá muito pelo fato de ele ser um Eufonista e como tal, na literatura

do instrumento tem bastante variação de articulações, obviamente no trombone tem

bastante, mas é nítido que ele varia bastante a articulação no Concertino. E

algumas coisas que eu, lembrando a minha preparação, coisa que eu peguei no meu

pé, foram os trechos ali do primeiro movimento...” (VIEIRA, 2017).

Vieira se refere à articulação do primeiro movimento do Concertino N.1 para

Trombone e Orquestra de Cordas, trecho que compreende os compassos 61 ao 66, como

mostra a figura abaixo.

FIGURA 6 Exemplo musical

FONTE: Arquivo do autor

Refletindo sobre o trecho, base dos nossos estudos de construção da performance

sobre a obra pesquisada, observamos que a dificuldade se dá em parte, também, pelo

andamento rápido semínima = 110, o que dificulta a execução do trecho, tendo em vista a

distância intervalar das notas escritas e a posição/localização das notas na vara.

Ainda considerando a articulação como sendo um dos aspectos fundamentais para a

construção da performance da obra estudada, segundo Vieira, é um dos trechos de difícil

execução, ainda no primeiro movimento, o que compreende os compassos 104 e 130 como

mostra a figura a seguir:

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64

FIGURA 7 Exemplo musical

FONTE: Arquivo do autor

No trecho acima é possível analisar a variação de articulação e dinâmica escrita pelo

compositor num andamento rítmico de semínima igual a 110 (cento e dez), bem como

observar os diferentes tipos de acentuações que é parte importante da interpretação sonora

pensada pelo compositor. Para eficácia na execução dos trechos citados acima, torna-se

essencial para o intérprete o domínio da articulação, especialmente a pronuncia dos acentos,

equilíbrio no controle da dinâmica, bem como a conexão entre o movimento e o acento

pronunciado.

No segundo movimento, o intérprete destaca como sendo o principal desafio o

conceito lírico do trombone pelo fato de se tratar do movimento lento da obra, levando em

consideração os contrastes interpretativos pela diversidade de informação contida na partitura.

[...] O movimento que eu mais estudei, estudei o conceito desse movimento que é

justamente a questão da música lenta de você deixar isso o mais orgânico possível,

e pra mim é o mais difícil, como eu disse: ele é o contraste em relação aos outros

dois movimentos. Então, no ponto de vista técnico nem é tão complicado, aliás, ele é

realmente simples de tocar só que no ponto de vista de interpretação ele tem muita

informação. (VIEIRA, 2017).

Alguns termos considerados usuais ou empíricos são utilizados na área para

argumentar aspectos musicais e representar algo que é abstrato na música. Nesse caso, ao se

referir ao trecho com o termo “mais orgânico possível”, Vieira (2017) sugere que o segundo

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movimento requer maior conexão das notas e atenção nas indicações escritas na partitura com

o intuito de construir expressividade interpretativa através da variação rítmica/nuances de

andamento escrito pelo compositor. Na figura abaixo, segue o tema do segundo movimento,

que compreende os compassos 201 ao 218:

FIGURA 8 Exemplo musical

FONTE: Arquivo do autor

A partir da figura é possível visualizar as nuances e articulações escritas pelo

compositor, ainda, como sendo uma das dificuldades de execução o domínio do

movimento/digitação de vara, considerando que o compositor escreve alguns intervalos

distantes com notas em ligadura.

No terceiro movimento, o intérprete destaca mais uma vez os tipos de acentuação,

bem como a movimentação/digitação da vara como sendo as principais dificuldades,

considerando que se trata do movimento rápido baseado no frevo e comenta sobre as

variações de dinâmicas:

[...] O terceiro movimento, além das questões técnicas, você usa basicamente

articulações diversas, tipos de articulações distintas, tem a questão da agilidade da

vara que é pra ser claro. Eu consideraria que como ele é o resumo da obra porque

tem um trecho em que entram citações do primeiro e do segundo movimento. As

ideias precisam estar muito claras na questão de dinâmicas pra não soar uma coisa

muito chapada. Isso, obviamente, em toda obra, mas no terceiro movimento eu

destacaria mais isso porque tem varias mudanças e citações de obras famosas.

(VIEIRA, 2017).

O intérprete destaca o uso de citações dos dois movimentos anteriores e até de outras

obras, confirmando a fala anterior do compositor sobre as principais características do

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Concertino N1, o que contribui para uma maior atenção à articulação escrita, com o objetivo

de destacar com fidelidade essas citações. Em diálogo com Vieira, a conexão entre

movimento/digitação na vara e a articulação escrita exige bastante atenção, visto ser um

aspecto fundamental para a execução do terceiro movimento, especialmente em trechos

rápidos com semínima igual a 165 (cento e sessenta e cinco). Descreve como “dinâmica

chapada” a dificuldade de equilibrar as dinâmicas escritas na partitura, fazendo com que a

música soe apenas num só volume sonoro. Para que possamos visualizar a escrita do trecho,

segue na figura abaixo parte do terceiro movimento.

FIGURA 9 Exemplo musical

FONTE: Arquivo do autor

Na figura 9, destaque para as semicolcheias em staccato; variações de acentos e

dinâmica. E, como podemos visualizar, no trecho acima, Deddos não descreve a armadura de

clave na partitura, apenas adiciona os acidentes ocorrentes, o que pode dificultar a leitura. E,

nesse sentido, o compositor alerta para o desenvolvimento das tonalidades em que a peça foi

escrita, quando argumenta: “[...] O Concertino foi pensado para uma execução de um músico

avançado a profissional, porque não existe uma delimitação de extensão necessariamente. A

peça trabalha com a região aguda, para um instrumento que é construído em Sib ela circula

em certas modulações”... (DEDDOS, 2017). Nessa direção, entendemos que o compositor

levou em consideração o nível avançado do intérprete José Milton Vieira e a partir da nossa

análise e estudo da obra, também ressalto da importância do reconhecimento da tonalidade e

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das modulações da peça. E sobre a extensão, pudemos perceber que o compositor explora

bem a extensão do trombone, como podemos observar na figura abaixo:

FIGURA 10 Exemplo musical

FONTE: Arquivo do autor

A obra apresenta dificuldade no equilíbrio sonoro em diferentes registros, como

podemos ver na figura acima, compasso 263, onde o compositor escreve um Réb1,

dificultando a execução do trecho, por se tratar de um registro grave. Já na próxima figura

apresenta um Réb 4, registro agudo que requer precisão e resistência no compasso 479.

FIGURA 11 Exemplo musical

FONTE: Arquivo do autor

Diante de todas as dificuldades apresentadas, a amálgama de citações e referências de

outros compositores e de outras obras utilizadas pelo compositor Fernando Deddos para a

criação do Concertino n.1 para Trombone e Orquestra de Cordas representa um grande

desafio interpretativo para o performance, visto que o objetivo do compositor é a sonoridade

pensada a partir dos trechos da obra que abarcam as mais variadas articulações, gerando

efeitos sonoros específicos pensados no desenvolvimento da peça. Nessa perspectiva, um dos

aspectos mais importantes é o contraste sonoro de cada movimento, que requer uma

construção interpretativa fundamentada no conhecimento dos procedimentos composicionais

que caracterizam o contexto em que a obra e o compositor se inserem.

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4 PERSPECTIVAS PARA A CONSTRUÇÃO DA PERFORMANCE E O ENSINO DO

CONCERTINO N. 1

A partir dos dados coletados nas entrevistas com o compositor e o intérprete, foi

possível identificar uma série de características técnico-interpretativas da obra estudada. Neste

capítulo, apresentaremos ainda as estratégias de ensino e aprendizagem do instrumento para

melhor dominar os aspectos apresentados.

O Concertino N.1 para Trombone e Orquestra de Cordas se insere no contexto das

obras contemporâneas brasileiras para trombone, compostas no século XXI. Porém, a obra

apresenta, em sua análise estilística, características tradicionais com relação à sua

forma/estrutura estabelecida em três movimentos distintos. É repleta de mudanças rítmicas

dentro de cada movimento e faz alusão a diversas obras através de citações diretas e indiretas

de gêneros da música brasileira, além do repertório erudito tradicional para trombone, o que

estabelece uma diversidade de articulações necessárias para interpretação dos intertextos.

A obra proporciona ao intérprete desafios significativos para o domínio das técnicas

básicas de execução musical no trombone, dada as necessidades encontradas no aprendizado

para o desenvolvimento da prática instrumental, essencial na construção da performance da

obra no instrumento. O compositor ainda descreve na partitura diversas indicações de

expressividade e andamentos que orientam o intérprete na compreensão da peça como um

todo.

Considerando a análise das principais características técnico-interpretativas da obra

apresentadas no capítulo anterior, desenvolvendo o conhecimento musical para consolidar a

construção da performance da obra pelo intérprete, sabemos sobre as principais influências do

compositor Fernando Deddos para criação do Concertino N.1 para trombone e orquestra de

cordas e suas inspirações, bem como sobre os principais obstáculos e desafios encontrados na

preparação e aprendizagem da obra pelo intérprete José Milton Vieira, em diálogo com as

dificuldades apresentadas pelos autores deste estudo.

Com base na análise da trajetória e da formação do compositor, bem como pelo

conhecimento adquirido através de procedimentos composicionais utilizados em outras obras

do compositor, foi possível identificar como sendo umas das principais características

composicionais de Fernando Deddos o uso de citação direta e indireta de compositores e

obras que o influenciam no processo de criação, de desenvolvimento de suas obras. A partir

desse conceito, ressaltamos ao intérprete a importância do conhecimento da vida e da obra do

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compositor o qual pretende tocar, pois desse modo será construído um conhecimento sólido

no que diz respeito aos propósitos composicionais pensados pelo compositor, especialmente a

fidedignidade da interpretação, considerando o contexto em que a obra e o compositor se

inserem.

Não obstante a construção do referencial teórico sobre o compositor é importante

entender a estrutura da música; contrastes sonoros dos diferentes movimentos da obra;

principalmente lhe dar ferramentas que fundamentam o desenvolvimento interpretativo sobre

a obra estudada. Nesse caso, conhecer também as principais características composicionais da

obra específica contribui para o entendimento da peça como um todo, sobretudo dos

principais obstáculos, bem como para identificá-los, e a partir disso, desenvolver estratégias

de prática instrumental que auxiliem no aprendizado.

No Capítulo II foram apresentados conceitos relacionados à construção da

performance. Nesse sentido, foram discutidos direcionamentos que englobam aspectos

técnico-interpretativos e questões que vão para além da performance com o instrumento, mas

que impactam diretamente no desenvolvimento e aprendizado da obra. Considerando os

principais conceitos discutidos, segue, neste capítulo, a resposta da questão de pesquisa,

dialogando com os conceitos e as estratégias apresentadas pelo compositor e intérprete, bem

como, com a nossa análise dos fundamentos e direcionamentos que mais se mostraram

eficazes na construção da performance musical no trombone sobre a obra estudada.

4.1 Perspectivas pedagógicas para o ensino e a aprendizagem do Concertino N.1 para

trombone e orquestra de cordas

4.1.1 Sonoridade

O controle e equilíbrio do som nos diferentes registros torna-se fundamental para a

construção da performance desta obra, fazendo da sonoridade um dos aspectos básicos de

execução musical importantes para a interpretação. Considerando a literatura já citada,

sabemos que o instrumento possui diversas possibilidades de efeitos sonoros. Nesse caso, é

uma característica fundamental que estabelece unidade à obra, sobretudo pelo domínio do

som nos diferentes registros da música, bem como na definição e no controle de execução das

dinâmicas preestabelecidas na partitura. Influencia também na qualidade da articulação, pois a

forma da nota estabelece um padrão conceitual para a sonoridade pensada pelo compositor.

Para o desenvolvimento da sonoridade, podemos incluir exercícios básicos de notas longas e

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para uma visão conceitual de padrão sonoro vejamos a figura abaixo:

FIGURA 12 Conceito de sonoridade

FONTE: Arquivo do autor

Antes de tudo, é importante frisar que para o desenvolvimento desse conceito, o

trombonista precisará dominar o controle da coluna de ar. Sistema esse que promove energia a

vibração labial que por sua vez dá continuidade ao som. Feito isso, o esquema acima

representa um conceito de som equilibrado, a partir do qual o trombonista deve inferir um

padrão específico na forma de emissão sonora que envolva o início, a continuidade e a

finalização da nota, determinando assim o controle e o equilíbrio ao emitir um som. No

esquema, o bloco em retângulo representam um som emitido e três características são

apontadas como sendo essenciais para a definição de um padrão sonoro equilibrado: ataque;

controle/equilíbrio e finalização. O ataque delimita o início do som, a forma inicial, como o

som será pronunciado, o que pode ser pensado através da pronúncia da sílaba “Da”,

suavizando o início da nota. Posteriormente ao ataque, ou seja, a língua dá espaço à coluna de

ar, estabelece um fio condutor que proporciona a continuidade desse som, proporcionando

estabilidade e equilíbrio, finalizado com a interrupção do fluxo de ar.

O conceito pode ajudar o intérprete no desenvolvimento e controle da sonoridade nos

diferentes momentos da obra. Desenvolvendo-se através de exercícios de respiração, seguidos

em notas longas com base em exercícios do Caderno de Trombone Marcelo de Jesus da Silva

(Bam Bam) e nos estudos de aquecimento do The Remington Warm-Up Studies.

4.1.2 Articulação

Sobre o uso dos diversos tipos de articulações, o compositor escreve diferentes tipos

de acentuações na partitura. E, para a pronúncia desses acentos é importante que o intérprete

domine e compreenda a forma de reprodução dos diferentes tipos de articulação, bem como o

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domínio do movimento/digitação da vara em conexão com o ataque da nota. Como descreve o

compositor em entrevista:

[...] As grandes diferenças entre durações, o uso da língua vão fazer

diferença no estudo da detecção do que pode ser ali mais direcionado a um

tambor e do que a uma peça cantada. É quando eu preciso ser mais lírico,

por exemplo, uma valsa é diferente do terceiro movimento que tem rítmicas

aplicadas. Quando você tem repetição de notas você tem que saber que

articulação ali vai ser!...”(DEDDOS, 2017).

Dessa forma, é indispensável o reconhecimento e a interpretação dos diferentes tipos

de articulações contidos na obra. Para que possamos entender a definição de alguns ataques,

Med (1996) descreve na figura abaixo a forma de nota considerando início, meio e finalização

de alguns ataques,

FIGURA 13 Exemplo de acentuação

FONTE: Arquivo do autor

O autor define os tipos de ataques através de gráficos para que possamos entender a

intensidade inicial da nota, e dessa forma, instrui o intérprete na interpretação dos diversos

sinais usados pelo compositor Fernando Deddos no Concertino N.1 para trombone e orquestra

de cordas. Conectando com o gráfico 11 sobre a sonoridade, será preciso alterar a velocidade

do fluxo de ar no ataque da nota inicial, dependendo do tipo de acentuação. Para a prática de

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determinadas articulações, são referências os livros de estudos, Méthode Complète de

Trombone a Coulisse do André Lafosse volume 1 e o Complete Method For Trombone e

Euphonium Arban; para o domínio do movimento/digitação da vara em conexão com o ataque

da nota, os exercícios do Caderno de Trombone Marcelo de Jesus da Silva (Bam Bam) e sobre

o aprimoramento do staccato duplo e demais acentos, o Méthode Complète de Trombone a

Coulisse do André Lafosse volume 2.

4.1.3 Flexibilidade

A técnica de flexibilidade labial é um aspecto de execução significativa para a

interpretação desta obra, visto que em vários trechos o compositor faz uso de intervalos em

legato e staccato, o que, para o domínio de tais trechos, vem a ser essencial um bom

condicionamento da flexibilidade labial. Podemos observar na figura abaixo, trechos que

compreendem o compasso 134 ao compasso 149.

FIGURA 14 Exemplo musical

FONTE: Arquivo do autor

Com base na minha experiência e no estudo de construção da performance da obra,

esse aspecto de execução musical no trombone engloba a regularidade diária com base em

estudos específicos que trabalham toda a extensão do trombone, estudo esses que geram

memória de movimento com e sem o uso da língua e, para desenvolver tal aspecto, indico os

livros de estudos, Flexibilidade do Nicolás Estevem Columina do volume 1 ao 4 e o

Progressive Exercises for Bulding Tone e Technique do Brad Edwards.

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73

4.1.4 Extensão

O compositor não se limitou em explorar toda a região do trombone e trabalhou bem

com as regiões graves e agudas. Nesse sentido, o desenvolvimento da resistência e da

memória muscular estabelece segurança para a performance da obra, equilibrando a

sonoridade nos diferentes registros do instrumento. O domínio dos registros graves e agudos

do trombone provém do desenvolvimento da memória muscular que define a posição da

embocadura em cada nota e ou região, bem como da coluna de ar adicionada a cada altura

específica. Nesse sentido, são relevantes os exercícios de bases fundamentados a partir de

variações dos estudos do livro The Remington Warm-Up Studies, reforçando o solfejo para

memorização das notas e exercícios do Complete Method For Trombone e Euphonium Arban.

4.1.5 Posições alternativas, afinação e digitação

Será necessário o uso das posições alternativas para resolver passagens rápidas,

facilitando a articulação a qual é desafio para o intérprete em conexão com a digitação da vara

para uma maior fluidez em alguns trechos. Ressaltamos ainda a conexão entre a digitação e o

uso da língua para que o ataque seja preciso e para evitar o glissando na vara. Com base nos

exercícios do Caderno de Trombone Marcelo de Jesus da Silva (Bam Bam), o trombonista

poderá trabalhar movimentação da vara em conexão com o ataque da nota e para as posições

alternativas, os livros de estudos, Complete Method For Trombone e Euphonium Arban e o

Método de Trombone para iniciantes Gilberto Gagliardi.

Para que possamos visualizar todos esses aspectos de execução musical da obra no

trombone mencionados, que são características técnico-interpretativas do Concertino N.1 para

trombone e orquestra de cordas segue na figura abaixo um trecho da música que contempla

tais aspectos.

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FIGURA 15 Exemplo musica

FONTE: Arquivo do autor

Como podemos visualizar, no trecho que vai do compasso dezessete ao cinquenta e

nove, a obra está repleta de indicações diversas sobre andamento, dinâmica e articulações

diversas. Destaque também para os intervalos de altura que vão do Mib 1 ao Sib 3 com muitas

passagens partindo de ligaduras de expressão e variações de dinâmica, o que requer do

instrumentista resistência muscular da embocadura e controle da coluna de ar, o que

influencia na sonoridade, contribuindo para eficácia na performance do trecho. Observa-se a

importância da revisão de posições alternativas e o conhecimento da pronúncia desses acentos

escritos. Esses aspectos se destacaram como sendo os principais elementos que caracterizam

artisticamente o resultado esperado pelo compositor. Portanto, é fundamental que o intérprete

desenvolva a sua análise e a construção da performance da obra com base em informações

sólidas que nortearam a sua prática instrumental no aprendizado de tais aspectos de execução

musical no trombone, bem como desenvolva estratégias de prática instrumental eficazes na

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75

preparação da obra, o que veremos em seguida, pois este estudo considera esses elementos

parte indispensável na construção da performance.

4.1.6 Otimização do estudo diário

Na otimização do estudo diário, sugerimos o desenvolvimento de um cronograma de

estudos do qual façam parte todos os aspectos mencionados anteriormente. Desse modo, serão

incluídos estudos de sonoridade, articulação, flexibilidade labial, extensão dos registros,

posições alternativas, afinação e digitação, bem como apreciação e pesquisa sobre o contexto

em que o compositor e a obra se inserem. Todo esse cronograma deve ser trabalhado em

sessões de prática instrumental curtas, acompanhadas de um momento de descanso/reflexão.

Esses períodos devem ser entre 30 a 40 minutos, variando entre descanso e prática. Isso

contribuirá para uma maior reflexão e análise acerca de suas escolhas interpretativas,

prevenindo o esforço demasiado.

4.1.7 Preparação cognitiva da performance

O ensaio mental pode ajudar ao intérprete no aprendizado desta obra, pois a partir do

conhecimento prévio das principais dificuldades da obra é possível reproduzi-la ao preparar-

se, mentalizando as resoluções, construindo assim maior envolvimento e concentração nas

habilidades necessárias. Segundo VIEIRA (2017), ao se referir à análise da partitura:

“Partindo do princípio de que a gente já fez a análise da música, eu sempre

começo assim, nunca estudo de imediato com o instrumento, sempre passo

pelo macro depois pra micro e depois entender a estrutura... Eu sempre

começo a obra lentamente, tentando reconhecer os trechos que mais

precisam ser trabalhados para deixar clara a estrutura... E depois tocar

lento!” (VIEIRA, 2017).

Concordando com Vieira (2017), essa é uma estratégia fundamental para o

aprendizado do Concertino N.1 para trombone e orquestra de cordas, especialmente para a

compreensão dos trechos rápidos que requerem atenção nas mudanças de registros e de

posições alternativas para a definição da articulação explícita.

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76

4.1.8 Interpretação musical

Para o amadurecimento da interpretação musical desta obra o intérprete deve

considerar o conhecimento prévio do contexto em que a obra se insere. Como ressalta o

compositor em entrevista:

“O intérprete deve saber a procedência, a conexão em saber quem é o

compositor, o que ele faz, como é a obra dele como um todo e se existem

outras coisas disponíveis por ai.... gravações, se ele trabalha com gêneros

específicos ou não. Então, nesse caso, pra essa peça específica que é uma

peça pensada pra cordas você vai pensar em Concertinos... A percepção em

saber que ela é baseada em música brasileira seria uma coisa muito

importante” (DEDDOS, 2017).

Dessa forma, considerando a literatura estudada sobre o tópico, uma interpretação

analítica, baseada na escuta extensa de música e na pesquisa sobre o contexto em que o

compositor e a obra foram influenciados, os procedimentos de criação e o desenvolvimento da

obra, contribuirá com o intérprete no aprendizado da obra como um todo, influenciando no

resultado interpretativo.

4.1.9 Preparação para o palco

A preparação para o palco concentra-se inicialmente na organização de todo o

cronograma diário de estudos, bem como no cumprimento desse programa de prática

instrumental. Nesse sentido, uma vez que há o domínio dos aspectos técnicos básicos de

execução musical e os desafios encontrados na obra pelo intérprete, será mais fácil vencer a

ansiedade durante a performance, bem como estar presente, concentrado no momento

presente, focando no “porque você está no palco?” e não no “como estou fazendo” é

fundamental para lidar com as falhas durante a performance. Portanto, organização e prazer

pela atividade a qual está realizando podem ser fatores decisivos na performance da peça. Se

alto gravar e tocar para amigos e ou professores de diferentes concepções musicais pode ser

uma ótima opção.

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77

4.1.10 Metacognição/autorregulação da prática instrumental

Para o desenvolvimento Metacognição/autorregulação da prática instrumental, o

intérprete deve se valer dos momentos de reflexões realizados durante a Preparação cognitiva

da performance, bem como a produção de gravações audiovisuais da obra e ou atividades de

máster classes em que o intérprete poderá apresentar a obra para um músico mais experiente,

proporcionando-lhe feedbacks e contribuindo para a eficácia de suas estratégias e para a

aprendizagem da peça. O intérprete José Milton Vieira, apresentou um alto nível de

habilidades metacognitivo pela facilidade com que descreveu em entrevista os procedimentos

e as estratégias que mais funcionam efetivamente na sua prática instrumental.

Considerando as estratégias de prática instrumental apresentadas, estabelecer

processos efetivos de estudos diários podem nos auxiliar na construção da performance

musical no trombone desta obra. Nesse sentido, a otimização do estudo diário, a preparação

cognitiva para performance, os aspectos de interpretação musical, a preparação para o palco e

a metacognição são estratégias de prática instrumental de extrema importância para o

desenvolvimento e a construção da performance musical no trombone, especialmente para

direcionamentos técnico-interpretativos sobre o Concertino N.1, para Trombone e Orquestra

de Cordas do compositor Fernando Deddos.

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78

CONCLUSÃO

Observando as práticas direcionadas que contribuíram para o desenvolvimento do

processo de construção da performance musical no trombone sobre o Concertino N.1 para

trombone e orquestra de cordas do compositor Deddos, concluímos a partir desta pesquisa,

fundamentada na literatura que abrange as temáticas de prática instrumental, ensino de

instrumento e aspectos técnicos do trombone, que foi possível conectar as temáticas citadas

em função da elaboração de um processo sólido que constituiu um modelo de ensino e

aprendizagem da obra. Isso contribuiu para a construção da performance musical no trombone

sobre a peça estudada. No entanto não é objetivo deste estudo criar um método engessado

para o performer do Concertino N.1 e sim compartilhar um modelo de aprendizagem que

possa servir de base para os intérpretes que desejarem tocar a obra.

A pesquisa trouxe reflexões pertinentes para área de performance enfatizando a

necessidade de consolidação dos trabalhos desenvolvidos nesse universo, bem como sobre a

solidificação das ferramentas metodológicas no desenvolvimento das pesquisas em

performance musical no país. Observou-se a carência por parte dos intérpretes em documentar

as suas práticas e os seus processos de construção da performance sobre uma obra específica

estudada. Nesse sentido, esta pesquisa teve como objetivo elaborar e expor um processo

prático de aprendizagem e ao mesmo tempo fundamentado na literatura já existente sobre as

temáticas. Porém, aqui são apresentadas reflexões acerca das propostas de pesquisas

elaboradas, assim como sobre a efetividade dos estudos produzidos na área de performance,

contribuindo para a produção de pesquisas objetivas e bem fundamentadas.

Apresentamos os principais aspectos do ensino de instrumento e transformações do

perfil do professor, contribuindo assim para análise das práticas pedagógicas e didáticas

desenvolvidas. Entendemos que o ensino se evidencia através da aprendizagem e da

elaboração de processos, estratégias específicas e eficazes que conduzem o intérprete ao êxito

na preparação de uma obra estudada. Consequentemente, há a análise a respeito da

transmissão do conhecimento musical e da forma de abordagem dos diferentes aspectos

técnicos de execução musical no instrumento, colaborando para a criação de novas

abordagens no ensino de instrumento, considerando os livros didáticos já consolidados na

área.

Para consolidação do estudo, foram apresentadas as principais características técnico-

interpretativas do Concertino N.1 para Trombone e Orquestra de Cordas, do compositor

Fernando Deddos, e as estratégias que podem ser utilizadas para o ensino e a aprendizagem da

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obra. Sendo assim, a trajetória do compositor foi descrita com o intuito de nortear o intérprete

sobre suas principais influências. Foi possível observar que Deddos fez uso de citações de

obras brasileiras em suas composições bem como explorou diversas possibilidades de escrita

na criação da obra.

As principais características do Concertino N.1 para trombone e orquestra de cordas

giram em torno das influências composicionais do compositor. Deddos costuma separar obras

pelas quais decide influenciar-se no processo de criação de uma nova peça. Dessa forma, o

Concertino N.1 apresenta várias citações de obras brasileiras e outros compositores, bem como

ritmos diversos, dividindo-se em três movimentos interligados com temáticas distintas. As

principais características e desafios do Concertino N.1 para trombone e orquestra de cordas são

aspectos técnicos básicos de execução musical no trombone, tais como sonoridade, articulação,

extensão e flexibilidade labial, posições alternativas, afinação e digitação.

Das perspectivas pedagógicas para o ensino e aprendizagem do Concertino N.1 para

trombone e orquestra de cordas, apresentou-se um processo de construção da performance

musical no trombone do qual fizeram parte aspectos técnicos de execução musical no

instrumento como Sonoridade, Articulação, Extensão, Flexibilidade, e; Posições alternativas,

afinação e digitação, assim como direcionamentos que vão para além da prática com o

instrumento, tais como a otimização do estudo diário, a preparação cognitiva para

performance, a interpretação musical, a preparação para o palco e a

metacognição/autorregulação da prática instrumental.

O desenvolvimento desta pesquisa culminou no enriquecimento dos meus

conhecimentos ao longo do curso de mestrado, especialmente no que diz respeito à construção

da performance musical de uma obra específica no trombone, bem como contribuiu para a

minha formação acadêmica como músico e professor do instrumento. Essa experiência

objetiva estimulou a busca por novas descobertas e aprendizados na área de performance com

engajamento nas novas tendências de pesquisas da área, fortalecendo a relação entre a prática

instrumental, ensino de instrumento e a performance, conectando os saberes com o objetivo

de contribuir para o crescimento do referencial teórico sobre o trombone e sobre a

performance. Portanto, espero que este estudo, traga aos demais colegas trombonistas e

performers em geral, reflexões pertinentes acerca da prática instrumental e do ensino de

instrumento para que assim possamos nortear o desenvolvimento da performance musical e

fortalecer as ferramentas de pesquisa na área.

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APÊNDICE A

Roteiro para entrevista semiestruturada a ser realizada com o compositor Fernando Deddos,

autor da obra Concertino N. 1 para trombone e orquestra de cordas:

Nome completo:

Data de nascimento:

Como se deu a sua trajetória musical e desde quando atua como compositor?

1 - Quais as suas maiores influências como compositor e como você classifica o seu estilo

composicional?

2 - Você compôs varias obras para instrumentos de metal e também para diversas formações

camerísticas. Nesse sentido. Quais as obras você destacaria para representar o seu estilo

composicional e quais as principais características dessas obra?

3- Você já havia escrito obras de caráter solo para trombone antes?

4 - O que lhe motivou a escrever para o instrumento?

5 - Considerando o Concertino N. 1 para trombone orquestra de cordas, qual foi a sua

inspiração e quais os principais procedimentos que caracterizam o processo composicional da

obra?

6 - Você considera as diferentes partes da obra como movimento distinto? Quais as principais

características estilísticas dessas partes/movimentos?

7 - Você faz uso de intertextos e ou citações de obras de outros compositores ou alusões a

outros gêneros da música brasileira no Concertino N.1 para trombone orquestra de cordas?

8 - Houve alguma interação entre você e o trombonista para quem a obra foi dedicada durante

o processo composicional?

9 - Em sua opinião, o que você destacaria como principais dificuldades técnico-interpretativas

dessa obra?

10 - Considerando as dificuldades interpretativas, quais estratégias de estudo você indicaria

para o aprendizado desta obra?

11 - Já existe alguma versão reduzida da obra para piano ou se pretende reduzir?

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12 - O que você espera que esta composição desperte no ouvinte?

13 - Você gostaria de falar algo que não foi contemplado nessa entrevista?

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APÊNDICE B

Roteiro para entrevista semiestruturada a ser realizada com o intérprete do Concertino N. 1

para trombone e orquestra de cordas:

Nome completo:

Data de nascimento:

1 - Você poderia descrever brevemente a sua trajetória musical?

2 - Quais as suas maiores influências como trombonista?

3 - Quais os estilos interpretativos você mais se identifica?

4 - Considerando o repertório escrito especificamente para trombone, quais os maiores

desafios técnicos de execução?

5 - Quais as principais técnicas expandidas para trombone?

6 - Fale sobre a sua relação com o compositor Fernando Deddos e sobre a sua obra

Concertino n.1 para trombone e orquestra de cordas.

7 - Você considera as diferentes partes da obra como movimentos distintos?

8 - Quais a principais características estilísticas dessas partes/movimentos?

9 - Qual a importância da relação compositor/intérprete nos processos de criação da obra?

10 - O que você destacaria como principais dificuldades técnico-interpretativas da obra?

11- Quais as principais estratégias de prática instrumental você utilizou para vencer as

dificuldades técnicas de execução da obra?

12- Quais estratégias você indicaria para o ensino e aprendizagem desta obra?

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APÊNDICE C

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Unidade Acadêmica Especializada, Escola de Música

Programa de Pós-Graduação em Música

Carta de Agradecimento

Prezado

Agradeço o seu apoio, empenho e disponibilidade em participar da minha pesquisa de

mestrado que tem como tema o “Concertino N.1 para Trombone e Orquestra de Cordas do

compositor Fernando Deddos: perspectivas técnico-interpretativas e pedagógicas” Certamente

as suas contribuições serão fundamentais para a realização do trabalho. Reitero o meu

compromisso com a veracidade das informações a mim confiadas e me comprometo a analisar

os seus depoimentos de forma ética e profissional, solicitando a sua autorização prévia para a

utilização de qualquer informação.

Natal, 07 de novembro de 2017.

____________________________________________

Pedro Augusto da Silva

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APÊNDICE D

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Unidade Acadêmica Especializada, Escola de Música

Programa de Pós-Graduação em Música

Termo de Consentimento

Como compositor/intérprete da obra Concertino N.1 para Trombone e Orquestra de Cordas,

disponho-me voluntariamente a participar da pesquisa desenvolvida pelo mestrando Pedro

Augusto da Silva do programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, que tem como objetivo identificar as principais características e perspectivas técnico-

interpretativas e pedagógicas dessa obra. Assim, autorizo a coleta de dados a partir de

entrevistas realizadas durante o ultimo semestre de 2017. O meu nome poderá ser mencionado

em citações obtidas a partir das entrevistas, desde que seja considerado o preceito

fundamental da ética na pesquisa, o que implica o fato de que não haverá qualquer juízo de

valor sobre as minhas falas, depoimentos e análises;

Natal, 07 de novembro de 2017.

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Entrevistado

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ANEXO A - Partitura de trombone do Concertino N.1, para Trombone e Orquestra de Cordas

do compositor Fernando Deddos

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