44
Universidade Federal do Rio Grande do Norte Escola de Música Licenciatura em Música Dois olhares: aulas de violão na Escola de Música Municipal de Macaíba- um relato de experiência Pâmela Araújo de Moura Natal/RN Maio/2016

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Escola de ... · plantas e fotografias, obtidas em pesquisa na própria escola de Música de Macaíba. No segundo capítulo serão apresentados

Embed Size (px)

Citation preview

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Escola de Música Licenciatura em Música

Dois olhares: aulas de violão na Escola de Música Municipal de Macaíba- um relato de experiência

Pâmela Araújo de Moura

Natal/RN Maio/2016

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Escola de Música

Licenciatura em Música

Dois olhares: aulas de violão na Escola de Música Municipal de Macaíba- um relato de experiência

Pâmela Araújo de Moura

Monografia apresentada ao curso de Licenciatura Plena em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN – como requisito parcial para a obtenção do Grau de Licenciada em Música.

Orientador: Prof. Dr. Danilo Cesar Guanais de

Oliveira

Natal/RN Maio/2016

Catalogação da Publicação na Fonte

Biblioteca Setorial da Escola de Música

M929d Moura, Pâmela Araújo de.

Dois olhares: aulas de violão na Escola de Música Municipal de

Macaíba: um relato de experiência / Pâmela Araújo de Moura. –

Natal, 2016.

42 f.: il.; 30 cm.

Orientador: Danilo César Guanais de Oliveira.

Monografia (graduação) – Escola de Música, Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, 2016.

1. Violão - Instrução e estudo - Monografia. 2. Música - Instrução e estudo - Monografia. 3. Projetos de desenvolvimento social - Monografia. I. Escola de Música Municipal de Macaíba / RN. II. Oliveira, Danilo César Guanais de. III. Título.

RN/BS/EMUFRN CDU 787.61:37

Pâmela Araújo de Moura

Dois olhares: aulas de violão na Escola de Municipal de Música de Macaíba –

um relato de experiência

Monografia apresentada ao curso de

Licenciatura em Música da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),

como requisito parcial para a obtenção de grau

de Licenciado (a) em música.

Aprovada em ________________de____________.

Banca Examinadora

________________________________________________

Prof. Dr. Danilo Cesar Guanais de Oliveira Universidade Federal do Rio Grande do Norte –

UFRN

Orientador

________________________________________________

Prof. Ms. Erinckinson Bezerra de Lima- Universidade Federal do Rio Grande do Norte –

UFRN

________________________________________________

Prof. Dra. Maria Clara de Almeida Gonzaga- Universidade Federal do Rio Grande do Norte –

UFRN

Dedicatória

Dedico com todo amor aos meus pais

Iranir e José Roberto, por todo apoio,

cuidado, carinho e amor sem medidas. E

especialmente à minha irmã (in

memoriam) Nelyane Araújo por todos os

momentos que não vivemos, mas Deus

sabe todas as coisas.

Agradecimentos

A Deus pelo dom da vida, pela sabedoria, por ser luz em meus caminhos, por me

ensinar a esperar e acreditar em seus propósitos e por me amar infinitamente.

Aos meus pais Iranir e José Roberto por serem meu exemplo de vida e sempre

estarem ao meu lado em qualquer circunstância, me ensinando e me moldando para

eu ser o que sou, pelos ―nãos‖ que muito me ensinaram, por incentivar e acreditar

nas minhas escolhas e me amar sem medidas.

À minha tia Iraneide por me acolher e me ajudar a seguir na minha formação, ao

meu Padrinho Walace, por estar ao meu lado e aos meus primos que são como

irmãos Wellys, Willian e Wilker.

À toda minha família por me ajudar a crescer e valorizar o amor que deles recebo.

Aos pequenos Emilly, Pedro e João pela inocência e amor puro. Pelos sorrisos

infinitos. Amo vocês.

Ao meu amado noivo Filipe Morais por não largar minha mão, me apoiar e por ser o

exemplo de músico e docente a se seguir. Eis o encontro mais lindo que a música

me proporcionou. E à sua família por me acolher e estar sempre de prontidão a me

ajudar.

Ao meu orientador Danilo Guanais pela atenção, dedicação e incentivo desde meu

ingresso na licenciatura.

Ao professor Erinckinson por muito me incentivar na conclusão deste trabalho.

Aos meus amigos desde a infância por me proporcionarem ótimos momento,

inclusive musicais (mesmo que sem intenção). E àqueles que estiveram comigo

durante o ensino regular.

Aos meus colegas de turma 2014.1 por me proporcionarem momentos de

aprendizagem a cada dia. Minha formação não seria a mesma sem vocês.

Às amigas que encontrei na música Ana Paula, Kadja, Vanessa, Joyce, Raiane,

Érica, Thaís e Lucicleide, Anna Cristina e Nayara Freire.

À minha amiga Elionai que está comigo desde meu ingresso nessa instituição, que

me ensina todos os dias o valor da amizade.

Ao meu amigo Francisco pelas boas risadas, aventuras e companheirismo. Sua

amizade é muito importante.

Ao Secretário de cultura de Macaíba e grande amigo Marcelo Augusto por sempre

acreditar em mim e no meu trabalho, e pelo carinho de sempre.

Aos funcionários da escola de Música de Macaíba desde o ano de 2006, por

fazerem parte da minha formação musical.

Ao diretor da EMMa Lindenilson por acreditar no meu trabalho e por me ajudar na

conclusão dessa monografia.

À todos meus professores desde o ensino regular, em especial aos que me

incentivaram na busca da formação musical.

Aos meus professores do EMMa, vocês foram muito importantes.

Aos meus alunos por me permitirem momentos de grande aprendizagem e

A todos que de forma direta ou indiretamente me incentivaram nos caminhos

musicais e me ajudaram crescer como pessoa. Meu muito obrigado. Que Deus os

abençoe.

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo relatar a experiência das aulas de violão na Escola

Municipal de Música, no âmbito de um projeto social na cidade de Macaíba/RN. Este projeto

funciona atualmente através de um convenio entre a Prefeitura Municipal e a Universidade

Federal do Rio grande do Norte. A partir de uma perspectiva de dois olhares: discente e

docente procuro estabelecer um ponto de intercessão entre professor/aluno em busca de uma

compreensão acerca do ensino do violão em projeto social. Durante a pesquisa foram

realizadas entrevistas semiestruturadas com participantes do projeto, para obter outros pontos

de vista acerca do ensino de música no projeto. Com essa pesquisa podemos perceber a

importância dos projetos sociais na vida de seus participantes e refletir sobre a atuação dos

educadores musicais nesses espaços.

Palavras-chave: Educação Musical, Projetos sociais, aulas de violão.

Abstract

This study aims to report the experience of guitar lessons at the Municipal School of

Music, in the context of a social project in the city of Macaíba / RN. This project

currently runs through a covenant between the City and the Federal University of Rio

Grande do Norte. From a perspective of two looks: students and teachers seek to

establish a point of intersection between teacher / student in search of an

understanding about teaching the guitar in social projects. During the research were

accomplished semi-structured interviews with project participants, for other points of

view about music education in the project. With this survey we can understand the

importance of social projects in the lives of its participants and reflect on the

performance of music educators in these spaces.

Keywords: Music Education, Social Projects, guitar lessons.

SUMÁRIO

1 – Introdução ..................................................................................................... 10

2 – Contextualização: Breve histórico, características atuais da cidade e do campo

investigado ......................................................................................................... 11

2.1 – Sobre projetos sociais ........................................................................... 12

2.2 – Sobre contexto não- formal..................................................................... 14

2.3 – Sobre o Projeto ..................................................................................... 15

3 – Os momentos e convênios do Projeto ............................................................ 18

3.1 – Primeiro momento ................................................................................ 18

3.2 – Segundo momento.................................................................................. 19

3.3 – Terceiro momento .................................................................................. 21

4 – Relato: dois olhares ......................................................................................... 21

4.1 – Sobre o material utilizado .................................................................... 23

4.2 – Ensino coletivo .................................................................................... 28

5 – Entrevistas ...................................................................................................... 31

5.1 – Análise da Entrevistas.......................................................................... 39

6 – Considerações Finais ..................................................................................... 40

Referências .......................................................................................................... 41

10

1- Introdução

A educação musical tem se inserido cada vez mais em nosso cotidiano,

podemos encontrá-la em uma multiplicidade de espaços. Ela tem sido um fator muito

importante na promoção da inclusão social, por isso está cada vez mais presente

nos projetos sociais. Nesses espaços é dado ênfase ao papel da música como

promotor de inclusão, e o ensino, na maioria das vezes não tem sistematização,

assim se configurando como espaço não formal.

As minhas considerações a respeito do ensino em projetos sociais devem

muito às contribuições dos autores Souza (2004), Kleber (2014) e Fialho (2014), que

abordam aspectos importantes para a compreensão e atuação do educador musical

nesse contexto. É muito comum aulas de instrumento coletivo nesses projetos. Para

entendermos como esse ensino acontece os autores Tourinho (2012) e Sá (2012)

discutem o processo de aprendizagem nas aulas coletivas de violão. Por outro lado,

Queiroz (2004) nos traz considerações a respeito da diversidade musical e a

importância dela no processo de aprendizagem.

Este trabalho é dividido em cinco partes. Na primeira será feita uma

contextualização da cidade como polo e projeto em si. Nelas, serão apresentadas

plantas e fotografias, obtidas em pesquisa na própria escola de Música de Macaíba.

No segundo capítulo serão apresentados os momentos que o projeto vivenciou, bem

como mudanças de convênios. No terceiro capítulo será relatado minha vivência

enquanto discente e docente no EMMa, e ainda minha visão e mudança de

metodologia a partir dela. No quarto capítulo serão apresentadas entrevistas feitas

com participantes e ex-participantes do projeto. Para finalizar com as conclusões

obtidas a partir das avaliações que fiz como participante ativa do projeto.

11

2- Contextualização: breve histórico, características atuais da

cidade e do campo investigado

Inicialmente chamada de vila de Coité no século XVII, localizada às margens

do rio Jundiaí, recebeu tal nome pelo Coronel Manoel Teixeira Casado, inspirado

numa árvore de frutos muito vista em toda vila. Em 1614, com pequenos terrenos

doados ao Capitão Francisco Rodrigues Coelho fez surgir o Ferreiro Torto e ali

ergueu-se o segundo Engenho do Rio Grande do Norte: Engenho Potengi.

No ano de 1855, a vila de Coité passou a ser chamada Macaíba — como é

considerada atualmente — nomeada pelo comerciante Fabrício Gomes Pedrosa. Em

sua propriedade havia muitas palmeiras conhecidas como Macaíbas e elas eram

admiradas tanto pelo seu dono quanto por outros moradores daquele lugar, tendo

uma característica bem peculiar, contendo, em seu tronco, uma circunferência

avantajada.

Já em 27 de outubro de 1877, Macaíba foi emancipada através da Lei 801.

Seu principal ponto turístico é o Solar do Ferreiro Torto, que outrora foi conhecido

como Engenho Potengi. Muitos dos visitantes deste lugar vão curiosos pela lenda da

filha do senhor do engenho que se apaixonou por um escravo. Diz a lenda que o pai

da sinhazinha atirou nesse escravo e sua filha se colocou na frente do escravo

sendo ela atingida pelo tiro e morreu. Por esse motivo o senhor do engenho mandou

que os capitães-do-mato enterrassem o escravo vivo. No local há uma estátua de

um escravo que simboliza a lenda.

Após uma breve apresentação da história da cidade, buscar-se-á

desenvolver sobre alguns aspectos importantes do projeto foco desta pesquisa. O

projeto Escola de Música de Macaíba funciona desde o ano de 2006 e foi idealizado

pela prefeitura da cidade trazendo uma proposta de projeto social, oferecendo o

ensino da música aos jovens e crianças da zona urbana e rural da cidade. A

prefeitura espera promover alguns benefícios, a partir das atividades desenvolvidas

em sala de aula, a saber: ―Aumentar a frequência dos alunos na escola regular;

Promover uma maior integração com a comunidade escolar; Aumentar a alto-estima

do alunado; Revelar talentos; Contribuir para uma melhor aprendizagem escolar;

Formar profissionais de música‖ (Escola Municipal de música de Macaíba, 2010).

12

2.1- SOBRE OS PROJETOS SOCIAIS

Os projetos sociais vêm ganhando cada vez mais visibilidade. Tal

fator se deve pela acolhida de uma população que constantemente é vista

em situação de risco — principalmente para as crianças e jovens de baixa

renda. Neste sentido, os projetos sociais têm sido de grande importância

contra os danos sociais através de diversas ações.

Segundo Souza (2014, p. 20), podemos compreender

resumidamente a perspectiva exposta:

Os projetos sociais são destinados às pessoas que são excluídas ou ―menos visíveis‖ para a sociedade, como pessoas idosas, jovens, crianças, mulheres, negros, integrantes da comunidade LGBT, trazendo as questões de gênero, raça, geração, entre outras.

Nesses projetos ações ligadas às artes ao esporte tem se incluído

cada vez mais. Sobre isso Kleber (2014, p. 27) afirma:

As artes, juntamente com o esporte se apresentam como base de argumentação nas propostas socioeducativas voltadas para o exercício de cidadania, dirigidas principalmente à camada mais pobre da textura social.

Através das perspectivas dos autores citados, podemos perceber

que a educação musical está cada vez mais inserida nesses espaços,

tendo em vista que cada vez mais se encontra o ensino da música em

espaços de ensino como igrejas, ONGs e até mesmo espaços criados

entre parcerias do estado e comunidade social.

Por conseguinte, vemos assim o grande crescimento de projetos

sociais. ―A música vem se constituindo como um dos fortes eixos dessas

propostas, o que tem demandado estudos de aprofundamento sobre o

projeto pedagógico-musical nesses contextos.‖ (KLEBER, 2014, p. 27).

Partindo de tais perspectivas, a Escola de Música de Macaíba —

cerne do qual este trabalho irá se deter — desenvolve o perfil de projeto

social, buscando através da música, oferecer um espaço de inclusão

social ao mesmo tempo em que promove a formação do músico.

13

Vale salientar que estes espaços exigem uma atenção maior por

parte dos educadores, pois deve se levar em conta a história dos

participantes desses projetos. Assim, Fialho coloca:

Atuar em projetos sociais requer inicialmente pensar em quem são seus participantes [...] O educador musical de um projeto social atua nesse contexto, e uma das funções desse educador é fazer com que o participante possa ter o sentimento de pertencimento a alguma coisa e possa sentir que algo pertence a ele, para daí conquistar a dignidade necessária para a vida em sociedade. (FIALHO, 2014, p. 127 e 128)

Sendo assim no contexto dos projetos sociais os conhecimentos

vão além das habilidades musicais e o professor estará promovendo

experiências de vida construindo uma relação do indivíduo com sua

própria história e consequentemente com o ambiente onde vive.

14

2.2- Sobre Contexto não formal

O contexto não formal é voltado para o ensino intencional, sem diretrizes

definidas para o mesmo. Muitas vezes os termos: formal, não formal e informal são

usados com relação ao contexto escolar e não escolar, restringindo o formal ao que

está dentro da escola e o informal ao que está fora dela. No ensino formal a

educação é organizada intencional e sistematicamente, com planejamento, a escola

regular é o maior exemplo. No ensino não formal a educação também requer uma

intenção, porém é pouco estruturada e planejada. Para Libâneo (2000), a educação

se caracteriza em duas modalidades: intencional e não intencional, onde a educação

intencional se volta para o ensino formal e não formal, e a educação não intencional

para o ensino informal. Nessa perspectiva a Escola de Música de Macaíba – EMMa,

se insere no contexto não formal. Pois desde o início de sua existência o ensino não

era sistematizado. Libâneo (2000, p. 80) ainda afirma que:

A educação não-formal, por sua vez, são aquelas atividades com caráter de intencionalidade, porém com baixo grau de estruturação e sistematização, implicando certamente relações pedagógicas, mas não formalizadas.

Muitas instituições de ensino se inserem nesse contexto, principalmente

aquelas que não recebem um apoio governamental. Essas estão cada vez mais

presentes em nosso cotidiano com iniciativas de socialização e inclusão.

A educação musical tem se inserido cada vez mais em nosso cotidiano em

vários espaços de ensino, sejam eles formais ou não formais. O ensino de música

tem se tornado cada vez mais significante na sociedade, trazendo novas

perspectivas de abordagens educativo-musicais, procurando assim contemplar essa

multiplicidade de espaços. Porém nem todos tem acesso ao ensino da música,

principalmente a população que constantemente é vista em situação de risco,

especialmente as crianças e jovens de baixa renda.

15

2.3- Sobre o Projeto

O Projeto inicialmente teve parceria com a Casa Talento. Essa instituição

desenvolve um projeto sociocultural desde o ano 2000 na cidade do Natal/RN,

oferecendo o ensino da música gratuito para jovens e crianças da rede de ensino

público, seu ensino é baseado na metodologia Suzuki. Em seguida o convenio foi

feito com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte. As modalidades de

ensino desenvolvidas inicialmente eram: violão, guitarra, baixo elétrico, teclado,

bateria, violino, viola, violoncelo e teoria musical. O ensino era voltado

principalmente para a preparação dos alunos que tocariam na orquestra, a principal

atividade coletiva, onde eram tocadas músicas populares. Os instrumentos

harmônicos também estavam na orquestra. Para o violão, por exemplo, tinham 5

instrumentistas que revezavam durante as músicas. O ensino do violão era voltado

para o repertório popular, com leituras de cifras principalmente, melodias

conhecidas, sem dispensar a leitura de partitura. Conforme o desenvolvimento do

/aluno era iniciado o ensino de repertório clássico, com peças simples.

Desde o ano de 2006, a escola de música municipal de macaíba (EMMa) é

uma iniciativa da prefeitura, a mesma oferece formação básica de instrumentos em

diversas modalidades de ensino. Esse Projeto desde sua existência se caracteriza

como escola especializada em música. Porém a aprendizagem do instrumento

nunca foi o principal objetivo do projeto. A escola de música desde o início teve

como principal objetivo a promoção da inclusão social, bem como a ampliação de

possibilidades educacionais a partir do ensino da música, haja vista a

vulnerabilidade social dos jovens e crianças.

Partindo de tais delineações, em conversa informal com o secretário de

cultura percebi que para a gestão da Prefeitura de Macaíba a EMMa é um projeto

social, que antes de se preocupar com a formação profissional dos alunos, se

concentra nos impactos sociais dos participantes do projeto. (informação verbal)1

Em entrevista à autora desta abordagem, o Secretário de Cultura da

Prefeitura Municipal de Macaíba (RN) Marcelo Augusto afirma:

Porque a ideia da escola não era apenas, ou melhor, não é de formar músicos. É de através da música, promover a inclusão social de jovens e

1 Fala mencionada por Marcelo Augusto, secretário de cultura da cidade de Macaíba/RN, em abril de 2016.

16

crianças [...] estávamos certos de que estava havendo sem dúvida nenhuma uma inclusão social e ele não era mais uma qualquer pessoa. Ele era um músico, ele sabia tocar o instrumento. Isso aí diferencia. Então eu considero um projeto de cunho social.

Este mesmo sentido está descrito em documento oficial, do qual nos foi

apresentado pelo secretário de cultura da cidade. EMMa(2010) é referente a

reinauguração da escola em 2010, e através dos objetivos expostos a seguir

corroboram o sentido das palavras supracitadas do secretário:

Objetivos Gerais

Fomentar a arte musical no município de Macaíba, disponibilizando ao alunado uma ferramenta de Profissionalização;

Promover e fazer exercer a cidadania;

Diminuir a evasão escolar e o índice de repetência.

Objetivo Específico

Contribuir para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e intelectual dos alunos, promovendo o crescimento cultural de crianças e adolescentes e oportunizando a profissionalização através da arte da música.

No inicio do projeto em 2006, os transportes para levar os alunos da zona

rural até a cidade para as aulas eram custeados pela própria prefeitura. Muitos

alunos da zona rural estudavam na EMMa, as aulas aconteciam de segunda a

sábado e todos os dias os alunos tinham aula, de acordo com seu instrumento.

No convênio com a casa talento, os professores planejavam suas aulas sem

uma orientação pedagógica. O planejamento era baseado no método Suzuki, pois a

primeira instituição que teve parceria com a EMMa trabalhava suas aulas segundo

essa metodologia. Após o convênio com a UFRN todos os professores (graduados e

graduandos em música) do projeto passaram a ter orientação dos professores

doutores da instituição, onde as possibilidades de conteúdos aumentaram e a

formação dos professores também contribuiu para a expansão de metodologias para

as aulas.

Atualmente a Escola de Música de Macaíba oferece aulas principalmente

para jovens e crianças da cidade. Não há transporte custeado pela prefeitura para a

locomoção dos alunos da zona rural. Hoje a escola tem aproximadamente 250

alunos matriculados. A mesma funciona em uma estrutura bem dividida, contendo 6

salas de aulas, uma instrumentoteca, copa e sala da direção. Na escola tem

17

também um auditório amplo para a realização de recitais. Todos os professores

estão vinculados a EMUFRN.

Imagem 01: Planta da Escola de Música e do espaço de apresentações.

Fonte: Prefeitura Municipal de Macaíba.

Imagem 2: Planta do prédio da escola de música.

Fonte: Prefeitura Municipal de Macaíba.

18

Imagem 03: Sacada da escola de música de Macaíba.

Fonte: Imagem cedida pelo diretor da EMMa.

3.0- Os Momentos e Convênios do Projeto

3.1 Primeiro Momento

No ano de 2008 a escola de música passa a funcionar como projeto de

extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Os professores

estagiários são alunos dos cursos técnicos e graduação (bacharelado e licenciatura

em música) da EMUFRN. Além das modalidades de ensino já existentes, foram

inseridas aulas de trompete, clarinete, saxofone, flauta transversal, contrabaixo

acústico e canto coral.

Por outro lado — durante o período da mudança de convênio — um número

considerável de professores saiu. Consequentemente, muitos alunos desistiram no

que impactou em maior tempo de espera até que as aulas se normalizassem. Muitos

alunos que ficaram passaram algum tempo visivelmente desestimulados.

Com essa mudança consequentemente vieram novos objetivos. O principal

deles era a preparação dos alunos para o ingresso nos cursos de música da UFRN.

19

A orquestra passou a tocar peças clássicas e os próprios alunos passaram a

desempenhar, pela primeira vez, o papel de solistas. Os recitais passaram a ser

preparados pelas classes de instrumentos.

Em 2010 surgiram alguns problemas. O atraso na remuneração dos

professores fez com que algumas aulas atrasassem. Consequentemente alguns

professores e alunos sentiram-se desmotivados. Por outro lado, mesmo com todo

problema alguns professores continuaram suas aulas normalmente, os alunos

reconheciam o esforço dos professores e se dedicavam ao estudo do instrumento,

como se retribuíssem ao esforço de seus professores. Muitos dos alunos que

continuaram no projeto faziam parte de grupos formados pelos professores que não

cancelaram a aula: a orquestra, o grupo de MPB e o grupo de violões.

Vale ressaltar que durante esse período houve um número considerável de

alunos aprovados em cursos de música da UFRN. A partir do ano de 2009 os alunos

viram novas perspectivas na música. Foi nesse ano que houve a primeira

aprovação. Nos anos seguintes já houve número maior de aprovados. Como

podemos ver na tabela abaixo:

Tabela 01: Alunos aprovados nos cursos da EMUFRN.

ANO NÚMERO DE ALUNOS CURSO

2009 1 Técnico

2010 3 Técnico

2011 9 Técnico e Licenciatura

2012 3 Técnico e Licenciatura

2013 — —

2014 4 Licenciatura

2015 2 Licenciatura e

bacharelado

2016 1 Técnico

Fonte: Pesquisa de campo.

20

É importante observarmos o crescimento do número de alunos aprovados

nos cursos de música, bem como suas perspectivas com relação à atuação nesse

meio, tendo em vista o ingresso desses alunos na graduação principalmente para

cursos voltados à preparação do professor de música, ou seja, muitos dos alunos

com pretensões de educadores.

3.2-Segundo momento

No ano de 2012, a prefeitura suspendeu o convênio com a UFRN e os

professores passaram a ter contrato direto com a gestão. Novamente houve

mudança de professores, poucas dessa vez. Também houve um intervalo maior sem

aula. Apesar disso, poucos alunos desistiram. A equipe de professores era

praticamente a mesma. Foi nesse ano em que ex-alunos do projeto aprovados nos

cursos técnicos da EMUFRN foram convidados a ministrarem aulas no projeto nas

modalidades de Violino, Violoncelo e Violão.

O projeto se desenvolveu muito nessa fase. Ter monitores que já haviam

sido alunos do projeto motivava os alunos ao estudo, pois os alunos passaram a

tomar conhecimento da carreira acadêmica que poderia acontecer. Muitos até então

tinham em pensamento tocar na igreja, em bandas populares ou em encontro de

amigos. Mas através do exemplo dos monitores puderam ter outro olhar do estudo

da música.

Os monitores planejavam suas aulas de acordo com sua experiência

naquele mesmo projeto. Essa experiência fazia com que eles tivessem o olhar

sensível para os alunos. No período da atuação dos monitores houve o mesmo

problema de remuneração e a exemplo dos seus mestres eles continuaram com as

aulas, como relata João2 (2016):

[...]Eu tive os mesmos problemas que meus professores tiveram com questão do salário, essas coisas. Nos primeiros meses eu comecei ganhar e depois não ganhei mais nada. Também dei aula, fiz a mesma coisa que fizeram comigo assim, continuei até onde eu podia e continuei dando aula aos meus alunos.

2 O nome João corresponde a um pseudônimo.

21

Com essa fala podemos compreender o quão significativo é o professor na

vida do aluno, isso não se refere apenas a sua visão de mundo, mas pode-se ver

ações do professor refletida em seu aluno. Essas ações podem estar presente na

própria atuação docente de seu aluno, principalmente quando ele inicia essa prática

sem orientação acadêmica.

É necessário estar atento, pois o aluno não está atento apenas aos

conteúdos musicais em si. Nesses projetos os alunos vêem nos seus mestres um

exemplo a se seguir, muitas vezes esses alunos optam por seguir a carreira

docente, como foi o exemplo do entrevistado e quando não se tem uma formação

acadêmica ( licenciatura) que prepare-o para a atuação como professor, esse toma

por base seu professor, tomando para si o que ele acha que foi positivo e

descartando o que foi negativo. Vale ressaltar que todo esse processo de aulas,

planejamentos, didática, também fazem parte do processo de ensino e

aprendizagem. Pensando nesse processo KLEBER 2006 afirma:

Pode-se pensar, ainda, que nesse processo está também presente um sistema de trocas baseado em valores simbólicos e materiais ligados às práticas musicais, extrapolando-as. Estabelece-se, assim, a possibilidade de constituir redes de sociabilidade mobilizando motivações internas, consubstanciadas em ações nos diferentes contextos: institucional, histórico, sociocultural e de ensino e aprendizagem musical (KLEBER, 2006, p. 122)

Entretanto, pensar no aluno de projeto social como sujeito pertencente a

uma realidade, que na maioria das vezes é desfavorável nos faz pensar na

construção de um espaço educativo capaz de oferecer também a inclusão social dos

indivíduos. Assim, ―Temos portanto, dois desafios que conjugam: melhorar a

educação por meio de uma formação integral de qualidade e fortalecer, nas

diferentes políticas sociais, o compromisso com inclusão‖ (GUARÁ, 2003, p. 34)

3.3-Terceiro Momento

No ano de 2014 a Escola de Música de Macaíba faz novamente convênio

com a UFRN, o qual é mantido atualmente. Nesse convênio continuam apenas dois

professores que já eram do projeto anteriormente, sendo um professor desde o início

22

e outro um ex-aluno que leciona no projeto desde 2012. O quadro de professores

atualmente atende as modalidades de: violão, baixo elétrico, guitarra, teclado,

bateria, violino (3 professores), viola, violoncelo, canto individual e canto coral.

O projeto hoje recebe alunos principalmente da rede pública de ensino e

direciona 20% das vagas para pessoas que não estão na escola regular. São

poucos os alunos da zona rural matriculados, pois o deslocamento dos mesmos é

independente, ou seja, a prefeitura não custeia o transporte.

Além de trabalhar a música no âmbito de inclusão social, hoje a escola de

música busca preparar os alunos para o ingresso nos cursos da EMUFRN, fazendo

com que haja a profissionalização dos alunos na área da música.

4.0- RELATO: dois olhares

Minha vivência no projeto teve início em 2006, como aluna de violão. As

aulas aconteciam duas vezes por semana e havia transporte que deslocava os

alunos do interior até a cidade. A cada aula eram 54 km percorridos.

Através do ensino do violão tive a experiência tanto quanto aluna como de

professora na EMMa. Enquanto aluna, vivenciei aulas que tiveram por base o

método de iniciação ao violão de Henrique Pinto3. Vale salientar que na minha

experiência inicial como docente o referido método foi também utilizado por mim.

Confesso também que ambas as perspectivas — enquanto aluna e na fase inicial de

professora — as aulas eram voltadas principalmente para a leitura de partitura e

pouco se tocava canções conhecidas em âmbito popular.

Quando a expectativa dos discentes era frustrada, principalmente porque o

repertório era o mesmo para todos os alunos, independente da faixa etária. Ainda se

constitui um fato corriqueiro, os alunos se matriculavam para aulas de violão com

pretensões de tocar um repertório popular.

Tendo essa experiência como aluna, pude buscar novas metodologias para

minha atuação como professora no mesmo projeto. Busquei contemplar os alunos

com a ideia de considerar o objetivo que eles traziam e inserir o conteúdo dos meus

objetivos enquanto professora. Vale ressaltar que é importante que o educador

3O método Henrique Pinto (1978) consiste em método para violão que aborda conceitos técnico-

metodológicos para principiantes no respectivo instrumento.

23

considere as experiências trazidas pelos alunos, valorizando os indivíduos e sua

cultura seja ela qual for. Sobre isso SOUZA (2004) afirma:

Considerar a música como uma comunicação sensorial, simbólica e afetiva, e portanto social, geralmente desencadeia a convicção de que nossos alunos podem expor, assumir suas experiências musicais e que nós podemos dialogar sobre elas. (SOUZA, 2004, p. 9)

O desejo dos alunos de violão nesse contexto é principalmente poder fazer

acompanhamento vocal, seja de outras pessoas ou de si próprio. Recebê-los com

leitura de partitura e assuntos teóricos os leva muitas vezes a desistir. É importante

que eles percebam que o que eles pretendem não será perdido e assim o professor

poderá inserir outras práticas, assim ele irá entender a importância de ser um músico

preparado tanto para acompanhar como para tocar sozinho, e principalmente um

músico capaz de ler partitura a primeira vista, compreendendo a linguagem universal

da música.

Para isso através de um método infantil de violão pude perceber a

importância para o aluno de estar se acompanhando, mesmo que tocando apenas

nas cordas mais graves do instrumento para tal acompanhamento. Nas aulas com

alunos infantis foram usadas as músicas sugeridas pelo livro, para os adolescentes

as músicas foram sugeridas pelos próprios. Os alunos mais novos puderam também

acompanhar os alunos mais avançados, que já liam partitura, onde os iniciantes que

acompanhavam faziam os baixos, e os outros faziam a melodia através da leitura de

partitura, assim possibilitando que os alunos possam fazer música mesmo com

poucas habilidades e poucos conhecimentos. Isso faz com que os alunos se sintam

capazes de aprender, pois está inserido em meio aos alunos que já tocam a mais

tempo. Com essa prática podemos ainda demonstrar na prática a importância da

leitura, não impondo, mas, despertando o interesse para a aprendizagem, através do

diálogo

Geralmente nesses contextos há uma multiplicidade de gostos musicais,

principalmente no que se refere aos adolescentes, por isso:

Da mesma forma que entendemos a diversidade musical necessitamos entender que é necessário uma diversidade de estratégias para o ensino da música. [...] com o objetivo de entender diferentes relações e situações de e aprendizagem da música. (QUEIROZ, 2004, p. 102)

24

Buscando compreender e oferecer aulas atrativas que atendesse a

expectativa dos alunos, mas que também pudesse desenvolver um conteúdo sólido

capaz de formar um músico leitor de partitura e também de cifra, tendo em vista que

essas são as principais formas encontradas pelo violonista tanto para fazer

acompanhamento como para fazer concertos solos. Nas aulas os alunos puderam

expor seus interesses com relação ao aprendizado.

4.1- Sobre o material utilizado

1)No primeiro contato com o instrumento, o violão é apresentado, mostrando

suas características e como é chamado cada parte dele. O material utilizado expõe

isso de uma forma bem ilustrada e isso ajuda na memorização. É importante que o

aluno tenha conhecimento dessas partes para que ao iniciar a leitura em partitura

compreenda principalmente o que diz respeito às casas do violão.

Figura 1: Apresentação das características do violão.

Fonte: livro: o equilibrista das seis cordas, p. 1

25

2) Os primeiros exercícios feitos são ―exercícios de cordas soltas‖,

que são feitos para que o aluno desenvolva a habilidade dos dedos da

mão direita. Para isso o método utiliza músicas folclóricas, onde os nomes

das cordas são usados na música na estrutura de cifras, mas ao invés

das cifras são usados os próprios nomes das cordas. Como poderemos

ver na figura a seguir:

Figura 2: Letra da música Nesta rua com o acompanhamento para o violão.

Fonte: livro: o equilibrista das seis cordas, p. 27

26

Figura3: Partitua da música nesta rua.

Fonte: Livro: o equilibrista das seis cordas, p. 120.

As duas figuras mostram diferentes formas de tocar a canção. Na

figura 3 podemos ver que são tocados os baixos da canção. Na figura 4

está a melodia da música escrita em partitura. Isso proporciona que a

música seja tocada em conjunto, e que os alunos ―mais avançados‖

27

toquem a melodia e os alunos iniciantes também participem. Assim é

possível promover a prática de conjunto, valorizando os diferentes

momentos de aprendizagem dos alunos.

Quando estão tocando em conjunto os alunos sempre buscam

partilhar experiências e aprendizados, ao meu ver isso é resultante da

proximidade que eles tem uns com os outros desde o início das aulas,

independentemente do de estarem no ―mesmo nível‖ em questão de

conhecimento do instrumento.

Imagem 2: Recital realizado no dia 22/12/2015. Na cidade de Macaíba/RN.

Fonte:https://www.facebook.com/prefeiturademacaiba/photos/a.932869503467310.1073742029.495695500518048/932870280133899/?type=3&t

heater acesso em 22/05/2016.

Com base no método utilizado para as primeiras aulas do violão

busquei saber as músicas que os alunos gostariam de tocar e cantar e as

transcrevi na mesa estrutura das músicas folclóricas, usando os nomes

das cordas soltas que faziam o baixo como cifra. Assim pude notar o

entusiasmo dos alunos e a vontade de desenvolver novos conhecimentos

para cantar e poder se acompanhar, ao mesmo tempo em que fez surgir o

desejo de ler a partitura.

28

4.2 - Ensino coletivo

O ensino de instrumento coletivo é uma prática muito comum em escolas de

música, principalmente quando se refere a turmas direcionadas para alunos

iniciantes. Essa prática tem sido bastante discutida no que se refere aos resultados

obtidos a partir dela. Nessas discussões cabem questões como o acompanhamento

das aulas, na medida em que cada aluno tem sua particularidade no processo de

aprendizagem. ―Embora não haja um consenso sobre o êxito deste processo de

ensino, é notável o crescimento de experiências que utilizam essa metodologia com

diversos instrumentos musicais.‖ (SÁ, 2012)

O violão é um dos instrumentos que têm acompanhado essa metodologia,

principalmente por oportunizar o ensino do mesmo a mais alunos por vez, tendo em

vista que esse instrumento é um dos mais populares, resultando assim numa maior

procura. Nessas aulas é necessário a busca por um repertório homogêneo, que

atenda o máximo possível aos alunos da turma. TOURINHO (2012), explica a

importância dessas aulas:

―Assim, os estudantes devem ter a oportunidade de tocar, criar e ouvir, a si e a seus colegas, bem como ao professor. A diferença fundamental é que, no ensino coletivo, tais atividades são feitas, em sua maioria, envolvendo todos os estudantes na maior parte do tempo possível.

As aulas coletivas levam os alunos a compreenderem a importância de ouvir

o outro, haja vista que o violão é um instrumento acompanhador. Ter os violões

divididos por naipes, necessita deixar os alunos atentos a toda turma. Isso possibilita

a organização de um repertório que pode ser utilizado em prática de conjunto.

Nessas aulas podemos ainda compreender a importância das aulas de

teoria e percepção, auxiliando a leitura da partitura, da apreciação musical, da

técnica do instrumento e consequentemente o desenvolvimento do repertório.

Outro fator muito importante a ser ressaltado nessas aulas é que ―o espírito

colaborativo é estimulado porque os integrantes podem combinar estratégias entre

si, discutir as respostas e decidir musicalmente acerca de como completar uma

frase.‖ (TOURINHO 2012). Assim são muitos os resultados a serem alcançados.

Apesar das aulas coletivas não serem exatamente a prática de conjunto, elas

possibilitam que isso aconteça.

29

4.2.1- Apresentações

É importante que os alunos exponham o que aprenderam ao longo do

semestre. E para isso geralmente são preparados espaços para apresentações.

Para essas atividades, o ensino coletivo proporciona aos alunos uma experiência

importante para que ocorra um melhor desempenho dos alunos. Dessa forma

podemos ver resultados positivos de tocar em conjunto, pois está com um colega, o

qual já se tem convivência alivia a tensão. O recital é importante para que os alunos

ponham em prática o que foi aprendido em sala de aula. Demonstra também para

comunidade os resultados do trabalho feito ao longo do semestre, principalmente

quando se tem parcerias com instituições públicas ( prefeitura) como é o caso do

EMMa.

4.2.3 – Demanda

O repertório utilizado já é preparado pensando nas práticas de conjunto para

serem apresentadas ao final do ano letivo. Neste projeto por exemplo, o violão é um

dos instrumentos mais procurados e são abertas turmas de instrumento coletivo para

atender essa demanda

Imagem 8: Recital de fim de semestre da EMMa. 2012.

Fonte: /Arquivo pessoal

30

Imagem 9: Recital de fim de semestre da EMMa. 2012.

Fonte: Arquivo pessoal.

31

5.0- Das entrevistas

Apesar de conhecer bem a EMMa, tendo em vista minha participação como

discente e posteriormente como docente, busquei entrevistar pessoas que estão

ligadas ao projeto para que esses pudessem também relatar seu ponto de vista a

respeito do referido projeto. Para isso foram entrevistados o Secretário de Cultura da

cidade de Macaíba (secretário desde o início do projeto, em 2006),um ex-aluno que

também teve a experiência docente no projeto, e um aluno da etapa atual da Escola

de Música.

Expor estes pontos de vista nos permite realizar uma triangulação entre as

opiniões dos entrevistados. Este procedimento possibilita ressaltar particularidades

do projeto que estavam inalcançáveis ou dados que não seriam obtidos apenas com

a revisão da literatura. Assim, foi realizada uma entrevista semiestruturada e seus

dados serão expostos por conseguinte:

Marcelo Augusto (Secretário de Cultura de Macaíba): entrevista em 17/05/2016

as 15:30h

A escola de música de Macaíba é um projeto social?

É. No meu ponto de vista é um projeto social. Por que? Porque a ideia da

escola não era apenas, ou melhor não de formar músicos. É de através da música,

promover a inclusão social dos jovens e crianças. De crianças e jovens. Por que?

Porque a vulnerabilidade social em todos os lugares é muito grande e então a

música é uma coisa que atrai. É uma coisa que lhe domina. A música lhe domina

então em a música dominando o ser ali nós estávamos certos que estava havendo

sem dúvida nenhuma uma inclusão social e ele não era mais uma qualquer pessoa.

Ele era um músico, ele sabia tocar o instrumento. Isso diferencia. Então eu

considero um projeto de cunho social.

Esse projeto impactou a vida dos jovens da cidade?

Com certeza. E muito. A gente escuta assim, relatos fantásticos. Por

exemplo, vou citar exemplo de Igor. Igor começou que não queria e lá vai, virou,

mexeu, findou indo. Que que Igor vai tocar? Violino. Bota Igor pra tocar o violino.

Pega o violino menor que tiver. Igor é pequenininho e tal, e ele começou a tocar, e o

pai dizendo: não! Igor tem é que me ajudar porque eu tô matando porco e Igor tem

32

que tá lá me ajudando. E o que que Igor fazia? Não, eu vou ajudar, mas depois que

for pra aula de música. Pois bem, certo dia eu encontro a mãe de Igor. E Igor como é

que tá? Ah, Marcelo, ele de vez em quando toca em casa, mas sente uma falta

muito grande da escola. Olhe, eu não sei o que seria de Igor hoje se não fosse

aquela escola de música. Então, você ouvir um depoimento desse no meio daqueles

alunos todos que a gente tinha, a gente fica feliz. Tá certo que não são trezentos e

poucos depoimentos do mesmo jeito, mas você ouvindo um isso aí, você já se sente

feliz.

Como você avalia esse ganho no geral?

Um ganho de vida. Ganho de vida para o poder publico, pra cidade de um modo

geral e um ganho de vida principalmente pro aluno, pra aquela pessoa que ta sendo

atendida ali por aquele projeto. Que mesmo com todas as dificuldades mas a gente

conseguia induzir aqueles alunos pra o bem, e isso aí olhe era o fator assim

primordial. A gente via os meninos da escola de música se destacavam na escola

normal, digamos assim. Relatos de professores né? Que os alunos da escola de

música eram alunos especiais na escola onde eles estavam estudando, isso aí

porque a música é mágica. A música consegue lhe transformar. Transforma a alma,

transforma o pensamento, transforma o ser humano. Então é isso sabe? No geral, a

escola de música é primordial. Se todo município brasileiro tivesse uma escola de

música, a coisa seria diferente.

Como você vê a mudança de convênio entre a primeira instituição e a UFRN?

É são dois momentos muito distintos. Eu diria até que a Casa Talento foi

necessária. Até pela rigidez da maestrina Marcia Pires, até pela forma como ela

induzia os alunos até meio grosseira, mas talvez que naquele momento fosse

necessário. Também porque pegou todo mundo muito verde ninguém entendia

nada. Nem o Secretário nem o prefeito, a gente queria que a coisa acontecesse,

mas a gente não entendia. E com aqueles erros nós fomos entendendo. Quando a

escola de música deixou de ser da Casa Talento e passou a ser da cátedra. Da

universidade aí veio a coisa formal. Os meninos que já tocavam a coisa, só que

quando, principalmente quando o professor Fábio Presgrave pegou na mão dos

meninos, ensaiava aos sábados e os demais professores, aí veio também Danilo

Guanais, e aí veio o professor André Muniz, a professora Nazaré [Rocha], a

33

professora Maria Clara [Gonzaga] e deu aquela conotação de Universidade. Deu a

moral. Deu a moral que a gente estava precisando, porque muitos torceram para que

a Escola quando a casa talento saísse, a escola fechasse, e a escola não fechou até

hoje. Desde 2006 que a Escola de Música, fechou períodos pequenos, por conta de

uma casa, por conta de problemas burocráticos, mas o sonho continua em pé e os

frutos estão aí. E certamente que nós vamos continuar e muitos frutos ainda virão.

Hoje a Escola de Música é um projeto de extensão da UFRN?

Pra universidade sim, pra nós continua sendo um projeto de inclusão social.

Por que com esses dois parâmetros? Porque para o povão que é quem paga o

projeto eu não posso dizer que é um projeto de extensão da Universidade. Como é

que eu vou explicar pra um pai de aluno que o filho dele está ali somente para que a

universidade possa ter monitores e professores tomando conta de um projeto que

vai favorecer a eles? Aí a gente vai pelo lado contrário a gente diz que os

professores da Universidade pagos pela prefeitura através do convenio estão ali

prestando serviço deles. Então, inclui-se os filhos e a prefeitura paga para quem

tenha o saber da Universidade através de vocês, entendeu? Dos professores,

monitores, e dos professores doutores que são os coordenadores. Então pra

Universidade é um projeto de extensão. Pra nós, continua sendo um projeto de

inclusão social.

Quando a Universidade entrou no convenio começou a se pensar na formação

do músico. Começou a surgir o conhecimento das oportunidades de cursos, e

do ingresso na própria universidade. Com isso muitos alunos foram aprovados

nos cursos de música. Como a administração viu isso?

Vamos dizer que tudo começou numa brincadeira. É aquele namoro que

começa sem intenção de casar. Só que a coisa foi tomando um pé e a coisa foi

enraizando, foi aquela plantinha que foi plantada, mas a gente não sabia que o

terreno era tão bom. Tão bom pra música. Nós não sabíamos que dentro daqueles

trezentos e poucos alunos, nós íamos ter alunos que iriam certamente passar na

Escola de Música na Universidade e iam ter a música como propósito de vida. Então

quando a gente viu que a coisa não era aquele namorico, não era aquela

brincadeira, era uma coisa muito séria, aí nós começamos a ver que realmente a

coisa ia longe. Então, quando nós soubemos dos primeiros aprovados, olhe foi uma

34

felicidade assim grandiosa. Aí foi que nós botamos na cabeça, nós estamos no

caminho certo. Essa daí foi a frase que fez com que a gente continuasse o projeto.

Com essas aprovações alguns alunos voltaram pra dar aula no projeto. Como

foi pensado essa volta?

Talvez tenha sido uma das melhores coisas. Um exemplo é o seu. O

exemplo que a gente cita sempre é o seu. É o primeiro, certamente não será o único,

mas hoje é o mais vivo e é o que nunca será esquecido. Você chegou, você veio

como aluna, pegando na mão, foi pra Universidade, continua na Universidade, vai

permanecer por muito tempo. Porque aí vem mestrado, vem doutorado. E aí onde é

o limite? Nós não sabemos. O céu. A verdade é essa. Então é a sobremesa da

refeição. É saber que nós começamos juntando uma farinha de trigo com água, com

o fermento, deu um pão e que esse pão alimentou tantas outras pessoas e que hoje

a gente vê que da certo. E como foi bom. E como será. Melhor ainda quando outros

também estiverem aqui. Porque é o que eu digo: a música tem que correr na veia. E

o amor pela música também. Você é uma que faz por amor.

Teve um momento que houve um problema burocrático e alguns professores

suspenderam suas aulas e outros não. Isso de certa forma acabou interferindo

nos alunos. Infelizmente alguns desistiram. Como você avalia esse momento?

É. Foi um momento assim de muita aflição. E aí eu talvez eu fiz coisas

naquele tempo, que se fosse hoje eu talvez não fizesse. Eu comprei aquela briga.

Digo: não. Essa escola não tem como fechar. Eu não posso chegar pra cento e

poucos alunos, na época quase duzentos alunos e dizer que não vai ter mais escola.

Não. Vou conversar com os professores, mas por exemplo ficaram três ou quatro

professores. Desses professores nós conseguimos segurar trinta ou quarenta

alunos. E desses trinta, quarenta alunos eram aqueles que já tocavam, tinham os

grupos e a gente apresentava. Então só sabe que isso existiu você, nós que

estávamos ali dentro. A população nunca soube que estava existindo aquele

problema todo e que a escola praticamente quase que não existia. Então foi talvez o

problema pior, mais castigante da escola durante esse tempo todo, foi aquele

problema. Foi aquele período ali, foi terrível. Mas conseguimos suportar. Eu espero

que não tenham outros. Porque talvez eu tome a iniciativa de realmente dizer não,

35

não dá. Porque foi muito castigante, humilhante. E teve muitos problemas e você

sabe demais.

Foi justamente nesse período o maior número de aprovação dos alunos.

Exatamente. Então o que acontece? É inversamente proporcional. Quando a

escola tava passando por um problema tão grave. Fecha hoje, fecha amanhã, não

tem dinheiro, é que acontece aprovação dos alunos na universidade federal. Aí você

logo pensa. Meu Deus, dá certo. Então porque que não se continua? Porque tá

dando certo. Se não desse, não tinha ninguém na Universidade, não é? E a coisa

não é em vão. Mas foi terrível aquele momento.

João4: entrevista em 11/05/2016 as 19:40h

Como você soube do projeto?

Ah, foi no ensino fundamental. Chegou uma pessoa lá com projeto que era

pra música e informática e eu escolhi pra informática só que não tinha mais vaga, e

acabei indo pra música e de lá eu entrei no projeto, fiz minha matricula e comecei

em 2006, desde o inicio. Eu queria teclado só que aí disseram que eu era muito

pequeno e tinha que que ir pro cello, eu acabei ficando no cello, meio que sem

gostar, aí depois eu acabei criando gosto pelo instrumento.

Você tocava na orquestra? Como foi a experiência com as duas orquestras, do

primeiro convenio e do segundo?

Tocava. Quem fazia os solos eram os professores. Aí começou trabalhar as

músicas com os alunos. Porque no tempo até quem tocava os solos era os

professores. Eles usavam captadores e os alunos não usavam. Ficava meio que

encenando. E quando veio o convênio com a UFRN que teve a orquestra de

câmara, formada pelos alunos e foi trabalhado com o professor Fábio [Presgrave], o

Ronedilk [Dantas], o Thiago [Morais], Sóstenes [Lopes] e Edmarcos [Costa] também.

Era só a gente, tocávamos e fazíamos os solos. Não tinha professor tocando,

passou a ser só os alunos. Foi importante. Os alunos começaram a poder viver

4 Pseudônimo usado para o ex aluno do projeto.

36

mesmo a música. Trabalhar a música e entender o que tá se passando. Antes a

gente ficava só ali e depois entendemos o que estávamos fazendo.

Quando houve a mudança de convenio entre a primeira instituição e a UFRN

você mudou de professor?

Mudei. Eu tinha aula com Ana Sandra no projeto da Casa Talento. Eu...

dentro do projeto da Casa Talento mesmo eu tive aula com Júlio Cesar e ele

continuou no projeto do convenio com a UFRN.

No período de mudança de convenio houve demora? Esse tempo

interferiu na sua motivação?

Demorou. Interferiu sim. Eu passei um tempo parado né?, e quando voltei já

tava com aquele desejo de voltar e foi bom o projeto ressurgir de novo e manter os

professores já conhecidos, foi uma coisa boa.

Teve mudança de professores de outros instrumentos?

Isso, mudaram dentro do projeto da Casa Talento.

Em que ano você foi aprovado no curso de música da UFRN?

Foi em 2010, no Curso Técnico.

Você considera o projeto importante para essa aprovação?

Sim, bastante. O Júlio [César] professor, me preparou bem pra entrar no

técnico para a prova, foi uma base também. O professor Claudio também, que eu

tive poucas aulas de teoria, não tinha muita teoria e ele ajudou muito, e fazendo

umas atividades antes da prova, um mês antes assim, ajudou bastante: percepção

essas coisas.

O convenio teve problemas com questão de remuneração dos professores e a

escola passou um tempo sem aula. Alguns professores cancelaram as aulas e

outros continuavam. O seu professor deu aula nesse período?

Ele dava aula ainda. Não sempre, mas o Júlio [César] ele continuava dando

aula. Assim como eu também via, alguns professores mesmo sem ganhar também

37

davam aula. Thiago [Morais] do violino, outros instrumentos, Edmarcos [Costa]

também. Era assim.

Você percebeu se isso interferiu na motivação do seu professor?

Sim, eu acho que sim também. Porque ele tem que ganhar o dinheiro, né?

Precisa, ele vai dar aula, ele precisa. Ele meio que fazia por boa vontade assim.

Continuava o projeto, ele também surgiu de projetos assim. Ele era da Casa Talento

também, ele começou lá.

Como você voltou para o projeto como professor?

Eu recebi uma proposta de Marcelo, secretário depois que já tava acho que

dois anos de curso na UFRN e fui lá dar aula na mesma escola q eu comecei.

Você era remunerado normalmente?

Não [risos]. Eu tive os mesmos problemas que meus professores tiveram

com questão do salário, essas coisas. Nos primeiros meses eu comecei ganhar e

depois não ganhei mais nada. Também dei aula, fiz a mesma coisa que fizeram

comigo. Assim, continuei até onde eu podia e continuei dando aula aos meus

alunos. Sempre foi difícil o projeto nessa questão aí, faltava o apoio da prefeitura,

dos maiores lideres lá pra pagar ao pessoal da cultura.

Como você planejava suas aulas?

Não. Eu, as minhas aulas, eu baseava em tudo que aprendi assim, não tive

uma licenciatura, não tive nada assim do tipo e eu tentava passar da melhor forma.

Via as aulas do professor também, eu tinha aula aqui com o professor Fábio

Presgrave, via a aula, via o que podia colocar num aluno de nível baixo, assim mais

iniciante. Eu já tinha uma certa experiência o que eu via aqui e o que via também

nos meus alunos.

Você dava aula para os alunos de violoncelo?

Eu só dava aulas pra iniciantes. Até porque o projeto na cidade não tinha

músicos que tocavam violoncelo. Todo mundo que chegava lá, não tinha contato

com o instrumento.

38

Antônio5: entrevista em 23/05/2016 as 17:00 horas

Como você entrou no projeto?

Eu entrei no Projeto em 2012, tive que sair e depois queria muito voltar.

Qual a sua relação com a música antes do projeto?

Eu tocava na igreja. Aprendi um pouco na igreja e sempre toquei na

igreja, nunca fui pra outro canto.

Como eram as aulas na igreja?

Não era nem uma aula. Era quase se vira. Ensinava alguns acordes e

dava um violão e toque. E eu tinha que aprender a improvisar.

O projeto mudou sua visão com relação a música?

Sim, eu pude conhecer a música melhor. Como ela é escrita, a história,

mais da música. Eu tocava só por tocar. Depois eu conhecendo eu pude

saber sobre a história, sobre as figuras, sobre essas coisas da música.

Quais as suas pretensões ao entrar no projeto?

Foi aprender mais informações pra entrar no Curso Técnico na UFRN.

Como o projeto influenciou na sua vida musical?

Me dando mais informações sobre a parte teórica da música.

O projeto lhe influenciou para a sua aprovação no curso técnico?

Ajudou. Principalmente na parte teórica. Eu tocava meio sem saber. Mas

como eu aprendi a partitura, intervalos, essas coisas foi bastante

essencial. E a orientação dos professores também. Eu só sabia que na

clave de sol, a segunda linha era sol, mas lá eu tive que aprender o sol do

violão onde era, se era na terceira corda, esse tipo de coisa.

5 Pseudônimo para o aluno atual do Projeto.

39

O projeto foi importante pra você?

Foi importante. Vemos que não tem uma estrutura tão boa assim, mas se

você quiser alguma coisa é claro que vai ter, porque professores,

orientação é o que mais tem lá.

5.1 - Análises das Entrevistas

Com essas entrevistas podemos perceber o quão distintos foram

os momentos pelos quais a EMMa passou até os dias atuais. A

importância do Projeto para os alunos e sua influência na continuação da

formação dos alunos.

Através da entrevista com o secretário podemos compreender os

momentos de transições entre os convênios e suas contribuições para os

alunos. É imprescindível observarmos a importância dos professores para

os alunos, tanto em cunho pessoal quanto profissional, tendo a música

como promotora de inclusão social e principalmente preparando seus

alunos para a formação especializada.

Na segunda entrevista, é muito clara a influência dos professores

na formação dos alunos como um todo. Podemos perceber a influencia

dos professores, sua metodologia e forma de lidar com seus alunos, e

posteriormente, na atuação docente dos alunos.

Na terceira entrevista vemos o quão importante são os

conhecimentos específicos da música para os alunos, principalmente

quando eles buscam conhecimento com propósito de seguir sua

formação.

Podemos, então, compreender a importância de pensar nesses

projetos não apenas na busca de promover a inclusão social, mas pensar

na música como formação específica, acreditando no potencial dos alunos

e nos resultados positivos que podem ser alcançados. Podemos perceber

ainda a resposta dos alunos com relação ao incentivo de seus

professores.

40

Considerações finais

Durante a pesquisa foi possível perceber a importância de o

professor estar totalmente envolvido com projeto, bem como a busca de

conhecimentos para dar um maior suporte aos alunos. Pude perceber

também a importância da atuação dos professores e como isso influencia

a prática docente dos alunos quando posteriormente forem professores.

Ter investimentos em projetos sociais é de extrema importância e

esta pesquisa nos leva a compreender isso através do relato dos

impactos que eles têm na vida dos participantes. Muitos dos participantes

ao iniciarem nesses projetos não têm conhecimento das possibilidades

acadêmicas que a música pode proporcionar e a orientação de um

professor faz total diferença nos caminhos que esses alunos trilharão.

Essa vivência me fez perceber que a atuação dos professores

nem sempre está relacionada apenas a sua remuneração. Nesses

projetos, na visão dos professores, o foco na formação dos alunos muitas

vezes, está desvinculado da compensação financeira.

Assim, considero esses espaços de extrema importância para a

formação docente e discente, haja vista as trocas de saberes que

acontecem nesses projetos. Quando os alunos voltam para ministrar no

mesmo espaço em que tiveram aulas, ele trazem para sua atuação a

experiência enquanto aluno, podendo compreender o que foi positivo e

negativo em suas aulas, e consequentemente utilizando materiais que

possam ajudar no processo de aprendizagem dos estudantes.

41

Referências

SILVANA, Mariani. O equilibrista das seis cordas: método de violão

para crianças, !° ed. Rev. Curitiba: editora UFPR, 2009.

LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo:

Cortez, 1999.

SOUZA, Jusamara. Música em projetos sociais: a perspectiva da

sociologia da educação musical. Música, educação e projetos sociais.

2014.

KLEBER, Magali. Música e projetos sociais, Música, educação e projetos

sociais. 2014

FIALHO, Vania Malagutti. Ser professor de música em projetos

sociais: aspectos da formação e da atuação. Música, educação e

projetos sociais. 2014.

KLEBER, Magali Oliveira. Educação Musical e ONGs: dois estudos de

caso no contexto urbano brasileiro. 2006.

GUARÁ, Isa Maria Ferreira da Rosa. Educação, proteção social e

muitos espaços para aprender. Muitos Lugares para aprender. Centro

de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação comunitária –

CENPEC- São Paulo 2003.

SOUZA, Jusamara. Educação musical e práticas sociais. Revista da

ABEM, n°10 7 -11, março de 2004.

QUEIROZ, Luiz Ricardo Silva. Educação musical e cultura:

singularidade e pluralidade cultural no ensino e aprendizagem da

música. Revista da ABEM, n°10 99-107, março de 2004.

SÁ, Fábio Amaral da Silva. A construção de um repertório atrativo e

eficaz para o ensino coletivo de violão: uma experiência. 2012.

Disponível em < http://ensinocoletivo.blogspot.com.br/2012/12/artigo-

apresentado-no-v-enecim-em.html> acesso em: 17/05/2016.

TOURINHO, Cristiana. Ensino coletivo de violão: proposta para

disposição física dos estudantes em classe e atividades correlatas.

2012. Disponível em < http://artenaescola.org.br/sala-de-

leitura/artigos/artigo.php?id=69356&> acesso em: 17/05/2016.

42

AUGUSTO, M. Entrevista de Pâmela Araújo em 17/05/2016. Macaíba/RN.

Registro de áudio celular. Residência.

SILVA. J. Entrevista de Pâmela Araújo em 17/05/2016. Natal/RN. Registro

de áudio celular. Residência.

GUSTAVO. P. Entrevista de Pâmela Araújo em 17/05/2016. Natal/RN.

Registro de áudio celular. Residência.

Escola de Música Municipal de Macaíba. Secretaria de cultura e Turismo,

2010. Documento explicito.

Esta versão foi revisada e aprovada pelo(a) orientador(a), sendo aceite, pela

Coordenação de Graduação em Música, como versão final válida para depósito

no Repositório de Monografias da UFRN.

Valéria Lazaro de Carvalho

Coordenadora dos Cursos de Graduação