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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE PRÁTICAS EDUCACIONAIS E CURRÍCULO CURSO DE PEDAGOGIA MARIA DANUBIA DE MOURA LIMA VOZ E COMPREENSÃO: A PROSÓDIA COMO ESTRATÉGIA MEDIADORA DO TEXTO LITERÁRIO - UMA EXPERIÊNCIA COM APRENDIZES DO ENSINO FUNDAMENTAL NATAL/RN 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … e...todo amor, incentivo, cuidado e dedicação externados. Ao meu irmão, Antonio Diego de Moura Lima, por me ajudar a amadurecer como

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE PRÁTICAS EDUCACIONAIS E CURRÍCULO

CURSO DE PEDAGOGIA

MARIA DANUBIA DE MOURA LIMA

VOZ E COMPREENSÃO: A PROSÓDIA COMO ESTRATÉGIA MEDIADORA DO

TEXTO LITERÁRIO - UMA EXPERIÊNCIA COM APRENDIZES DO ENSINO

FUNDAMENTAL

NATAL/RN

2015

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MARIA DANÚBIA DE MOURA LIMA

VOZ E COMPREENSÃO: A PROSÓDIA COMO ESTRATÉGIA MEDIADORA DO

TEXTO LITERÁRIO - UMA EXPERIÊNCIA COM APRENDIZES DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Artigo apresentado ao Departamento de Práticas

Educacionais e Currículo da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte como requisito parcial para

a obtenção do título de Pedagoga.

Orientadora: Profª. Drª. Alessandra Cardoso de

Freitas

NATAL/RN

2015

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MARIA DANUBIA DE MOURA LIMA

VOZ E COMPREENSÃO: A PROSÓDIA COMO ESTRATÉGIA MEDIADORA DO

TEXTO LITERÁRIO - UMA EXPERIÊNCIA COM APRENDIZES DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Artigo apresentado ao Departamento de Práticas Educacionais e Currículo da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para a

obtenção do título de Pedagoga.

Aprovado em: ____/____/_____.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________________

Profª. Drª. Alessandra Cardoso de Freitas – Orientadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

_____________________________________________________________

Profª. Ma. Kívia Pereira de Medeiros Faria – Examinadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

_____________________________________________________________

Prof. Me. Leonardo Mendes Alvares – Examinador Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

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Dedico este trabalho a minha família por acreditar

em minhas possibilidades e me incentivar a vencer

meus limites.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço Àquele pelo qual meu coração arde em louvor e gratidão, que me

deu a vida e razões para vivê-la e amá-la: meu amado Deus que zela por mim todas

as horas e segundos e guia minha doce vida.

Aos meus pais, Maria Dalvaci de Moura e Raimundo Ferreira de Lima por

todo amor, incentivo, cuidado e dedicação externados. Ao meu irmão, Antonio Diego

de Moura Lima, por me ajudar a amadurecer como ser humano, sua vida é um

presente valioso.

Aos meus amigos de infância que me motivaram a ir além do que estava

visível e o fizeram com muito carinho e verdade: Renata Faustino, Laerton Duarte,

Viviane Freitas e Andressa Félix – que vem da adolescência, mas que conhece meu

coração de criança.

Aos meus amigos que chegaram há pouco tempo, mas conquistaram um

grande espaço em meu coração: Pollyana Guedes, Gilliane Tavares, Jordânia

Medeiros, Raissa Vieira, Cleilma Abreu, Xóstenes Medeiros, Mariana Pinheiro e

Vânia Maria.

Àquelas que tenho como exemplo e norte nesta jornada: Francimara

Marcolino e Rayonnara Késsia.

Aqueles com quem aprendi sobre a vida e os levo no peito com muito zelo e

alegria: Leonardo Mendes, Marília Ribeiro e Deuza Santos.

A Alessandra Freitas, minha pequena-grande orientadora, pela paciência e

estímulos, amargos e suaves, a prosseguir na jornada acadêmica, por exigir de mim

o brilho do sol - o vias antes de mim mesma.

A Marly Amarilha, pela confiança e oportunidades de aprender sempre mais e

mais e por me abrir a porta encantada que me permitiu redescobrir minha

capacidade imaginativa, a poesia pulsante dentro de mim.

Às companheiras de Iniciação Científica, com as quais (re)descobri a

capacidade de ser livre e espontânea. Com vocês partilhei as melhores risadas da

graduação: Mayara Sales, Jéssica Fidelis, Andressa Barbosa, Daniele Cordeiro,

Beatriz Barreto e Franciele Reis.

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Ao grupo de pesquisa Ensino e Linguagem que me acolheu e exigiu de mim o

melhor como pesquisadora iniciante: Diva Tavares, Daliane Nascimento, Nathália

Duarte, Francineide Batista, Diana Saldanha, Wagner Ramos, Juliana Pessoa,

Dayane Grilo, Emanuela Medeiros, Sayonara Fernandes, Verônica Campos, Ana

Raquel, Isaura Brandão, Kívia Medeiros e Danielle Medeiros.

Aos meus professores da graduação que fizeram parte dessa jornada, mais

especialmente aos docentes: Luciane Terra dos Santos Garcia, Maria Estela Costa

Holanda Campelo, Giane Bezerra Vieira, Walter Pinheiro Barbosa Júnior, Francisco

Cláudio Soares Júnior e Marisa Narciso Sampaio.

E aqueles por quem busco me qualificar e ser eximia profissional: meus

futuros aprendizes, que me darão forma, cor e tom, enquanto professora, enquanto

ser em construção e, sobretudo, me farão perceber, ainda mais, que o aprendizado

se faz em via de mão dupla.

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A poesia está guardada nas palavras – é tudo que eu sei.

Meu fado é o de não saber quase tudo.

Sobre o nada eu tenho profundidades.

Não tenho conexões com a realidade.

Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.

Para mim poderoso é aquele que descobre as

insignificâncias (do mundo e nossas).

Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.

Fiquei emocionado e chorei.

Sou fraco para elogios.

Manoel de Barros

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RESUMO

O trabalho origina-se da participação na pesquisa “A mediação na leitura do poema

e do livro de poesia: interface voz e imagem no processo de atribuição de sentido”

(FREITAS, 2013), que se caracteriza como um estudo longitudinal, realizado numa

escola da rede estadual de ensino de Natal/RN, com aprendizes do ensino

fundamental. Objetiva investigar o papel da prosódia no processo de recepção e

atribuição de sentidos pelos aprendizes ao texto poético, a partir de postagens em

fórum eletrônico. Elege como referencial teórico os estudos sobre literatura

(AMARILHA, 2006; 2010), leitura (JOUVE, 2002; SMITH, 2003; FREIRE, 2011;

YUNES, 2002) mediação pedagógica (VIGOTSKI, 1989; FONTANA, 2000; GIUGNO,

2002; OLIVEIRA, 1993;), poesia (KIRINUS, 2011; POUND, 2006; BARROS, 2013;

PAZ, 1982). O referencial metodológico sustenta-se pelos estudos desenvolvidos

por Graves e Graves (1995), o qual revela a experiência da leitura como um

andaime para a construção do conhecimento. A análise revela que a leitura

expressiva da mediadora influencia significativamente na atribuição de sentidos

pelos aprendizes ao texto poético, como também, o crescente gosto pela leitura de

poesia.

Palavras-chave: Poesia. Prosódia. Mediação. Formação do leitor.

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1. INTRODUÇÃO

Neste trabalho, elegemos como objeto de estudo a prosódia do mediador de

leitura de poemas na escola de ensino fundamental, partindo das respostas dadas

pelos aprendizes como resultados da experiência estética por eles vivenciada. O

presente texto é fruto da experiência como bolsita de iniciação científica, no grupo

de pesquisa “Ensino e linguagem”, no período de janeiro de 2013 a dezembro de

2015, no decurso da investigação intitulada “Voz e compreensão na leitura de

poemas no ensino fundamental: as respostas dos aprendizes”, vinculada à pesquisa

“A mediação na leitura do poema: interface voz, imagem e sentidos" (FREITAS,

2013), que buscava compreender a contribuição da mediação na leitura de poesia,

na perspectiva multimodal, para o desenvolvimento cognitivo, semântico e estético

do aprendiz.

Neste trabalho, investigamos o papel da prosódia nos processos de recepção

e atribuição de sentidos pelos aprendizes ao texto poético, a partir de postagens

feitas em um fórum eletrônico (www.pesquisaepoesia.ativoforum.com).

A pesquisa mencionada alertou-nos sobre a importância da prosódia para a

mediação pedagógica dada ao texto literário, a fim de valorizar e explorar as

sonoridades presentes em textos com poesia através de diversas modalidades de

leitura, dentre as quais destacamos a leitura em voz alta - sonorização do texto - e a

leitura compartilhada - experiência coletiva do ato de ler.

Ressaltamos a importância de investigar a prosódia enquanto estratégia que

colabora para a prática docente dos professores em interface com os processos de

ensino e aprendizagem de seus aprendizes em formação ao processo de

compreensão da palavra, do texto, substancialmente, do texto poético e suas

contribuições para a formação do ser humano em aspectos morais, cognitivos,

psicológicos, sociais e afetivos.

A opção pela poesia faz-se por ser um texto complexo e que possui os

aspectos mencionados acima, uma vez que cada palavra dita ou omitida, cada

espaço não preenchido no papel vem desnudar o interior humano e trazer liberdade

interna, conforme discutido por Octavio Paz (1982). Deste modo a leitura de poesia

“contamina de felicidade o leitor porque permite o reencontro com o mundo

simbólico” (KIRINUS, 2011, p. 98), sendo assim, uma porta de acesso à

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sensibilidade dos seres multissensoriais que somos e possibilitando um lapidar

através da palavra oralizada que potencializa em nós a criatividade e inventividade

necessárias a vida.

No início deste trabalho, empreendemos um levantamento de outras

pesquisas realizadas sobre o nosso tema – a prosódia na formação do leitor de

poesia. Assim, identificamos, entre artigos; monografias; livros; dissertações e teses

publicados nos últimos 5 anos, os seguintes títulos:

QUADRO 01: Levantamento de pesquisa sobre nosso tema

Natureza do

Trabalho

Título

Autoria

Instituição

Ano

Livro

Rumores da escrita, vestígios do passado: uma interpretação fonológica das vogais do português arcaico por meio da poesia medieval

Juliana Simões Fonte

UNESP

2010

Artigo

Variações prosódicas e mudanças discursivas em uma criança com distúrbio de linguagem

Thais Firmo Carvalho; Lourenco Chacon e

Leslie Piccolotto Ferreira.

PUC/SP

2010

Artigo

O trabalho com a oralidade/variedades linguísticas no ensino de Língua Portuguesa

Lucia Furtado de Mendonca

Cyranka e

Tania Guedes Magalhaes.

UFJF

2012

Artigo

Leitura e recepção crítica livre de poesia

Jamesson Buarque de

Souza

UFG 2014

Artigo

A fluência e sua importância para a compreensão da leitura

Sandra Puliezi e

Maria Regina Maluf

PUC/SP

2014

Artigo

Apontamentos para leitura de poemas em sala de aula

Éverton Barbosa Correia

UNICAMP

2014

Artigo O sentido e o som: três teorias da Beatriz Cabral USP 2012

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tradução de poesia em diálogo Bastos

Artigo A Prosódia da Sintaxe e a Prosódia do Sentido

José Olimpio Magalhães;

Camila Tavares Leite e Ceriz

Graça Bicalho Cruz Costa

UFMG 2012

Artigo

Leitura em voz alta e construção de sentido: uma análise da vocalização de poemas de Manoel de Barros

Marília Dantas Tenório Leite; Pedro Moura

Araújo; Estêvão

Belarmino Ribeiro dos

Anjos e outros

UFAl

2013

Ao fazermos esse levantamento, cujos resultados foram apresentados no

quadro 1, percebemos que a prosódia articulada à poesia foi pouco discutida no

meio acadêmico, apenas um livro e sete artigos. Percebemos ainda que, dos oito

trabalhos acima mencionados, apenas cinco artigos se aproximam da abordagem do

tema trazida neste artigo, são eles: “Leitura em voz alta e construção de sentido:

uma análise da vocalização de poemas de Manoel de Barros” (LEITE; ARAÚJO;

ANJOS, 2013); “A Prosódia da Sintaxe e a Prosódia do Sentido” (MAGALÃES,

LEITE; COSTA, 2012); “O sentido e o som: três teorias da tradução de poesia em

diálogo” (BASTOS, 2012); “Apontamentos para leitura de poemas em sala de aula”

(CORREIA, 2014) e “A fluência e sua importância para a compreensão da leitura”

(PULIEZI; MALUF, 2014).

Assim sendo, evidenciamos a relevância do nosso estudo, no sentido de

oferecer nova perspectiva aos estudos sobre prosódia, contemplando a poesia na

escola fundamental.

Organização das seções

Na primeira seção abordamos a motivação encontrada para estudarmos a

modalidade oral do trabalho com o texto poético em sala de aula, como também, o

conceito de prosódia no qual nos apoiamos.

Na segunda seção, versaremos sobre a leitura e a compreensão leitora: em

quê a prosódia contribui?

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Na terceira seção, trataremos do mediador enquanto andaime intermediário

do processo de ensino e aprendizagem.

Na quarta seção, daremos enfoque à abordagem metodológica da pesquisa

“A mediação na leitura do poema: interface voz, imagem e sentidos" (FREITAS,

2013), a partir da qual, apresentaremos a obra “Minha ilha maravilha” (COLASANTI,

2007), discutindo o gênero poesia.

Na quinta e última seção, discutiremos a análise das postagens dos

aprendizes no fórum eletrônico mencionado, referentes à obra de Colasanti (2007),

evidenciando as relações que desvelam compreensões elaboradas por estes, nas

1ª, 2ª e 3ª sessões de leitura, a partir da voz do mediador.

2. Oralidade e Prosódia: um brincar com as palavras

A motivação para esta seção surge a partir das leituras feitas de Amarilha

(2010) e Leal e Gois (2012), as quais discutem a importância da oralidade na sala de

aula e, também, a relação entre escrita e escuta, suscitada a partir do texto literário.

Resgatamos a experiência com essas leituras por acreditarmos que elas

dialogam com o que defende Marcuschi (2001, p; 17), ao afirmar que “o homem é

um ser definido como um ser que fala e não como um ser que escreve”, por isso

tanto a fala como a escrita nada mais são que “formas diferentes de uma

determinada língua” (MARCUSCHI, 2001, p.18). Neste artigo valorizamos a

modalidade oral da língua, por sabermos que esta possui caráter formativo de suma

importância para o ser humano e, portanto prezamos em anunciar o valor que as

práticas sociais orais têm em nossa formação de leitora. Afinal quem nunca se

rendeu ao ouvir a frase “Vamos ouvir uma história?”.

A prosódia nesta conjuntura de ideias surge como estratégia de defesa em

favor da oralidade. Partimos da definição que prosódia é:

Modulação da altura, intensidade, tom, duração, e ritmo da leitura oral de um texto pautada em sua coesão e coerência. Considera as relações hierárquicas do texto, a aceitabilidade da interpretação feita pelo/a leitor/a e suas condições de interação leitor-texto-contexto em sua dimensão voz/audição (CASTELLO-PEREIRA Apud AMARILHA, 2010, p. 98)

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Outrossim, entendemos que no texto existe elementos prosódicos, que são:

expressividade, entonação, fraseado, pausa e acentuação que, quando explorados

pela voz, podem contribuir para a compreensão do leitor/ouvinte.

Inferimos que não há bom uso da prosódia, sem um planejamento prévio do

texto a ser lido, sem a busca voraz por conhecer os elementos citados, em especial

a expressividade e a entonação, que encontram-se no texto, a espera de uma

emissão sonora produzida pelo homem - a espera de uma voz. Quando existe

planejamento a cerca da leitura em voz alta, a fluidez do texto é tão certa quanto

água que escorre pelas mãos; pois a prosódia propicia um brincar planejado com as

palavras e se faz ponte para a aproximar o leitor do autor.

3. Leitura e compreensão leitora: a contribuição da prosódia

Há inúmeras definições do que é leitura, mas neste trabalho partimos dos

estudos de Jouve (2002), Smith (2003), Yunes (2002) e Freire (2011) por

entendermos que eles nos trazem subsídios valiosos. Como eles, enxergamos o ato

de ler e suas contribuições para o leitor, assentados numa concepção da leitura

como prática social, que tem; o leitor como parte ativa do processo, um sujeito de

ação.

Todos os autores por nós estudados compreendem a leitura como uma

atividade complexa e plural que tem de ser vivida, isto é, experienciada. E revelam

que a compreensão de um texto se dá a partir da leitura. Assim o texto é entendido

quando se percebem os vazios entre ele e seu contexto, vazios estes preenchidos

pelo leitor.

A ação de ler perpassa segundo os estudos de Jouve (2002) cinco dimensões

processuais, as quais exporemos brevemente para dar subsídio a magnitude do que

é ler. São elas:

Neurofisiológica - ler é um processo biológico, visto que nenhuma leitura se

faz sem o aparelho visual e as diferentes funções cerebrais envolvidas no ato de ler,

portanto, ler é uma “operação e percepção, de identificação e memorização dos

signos” (p. 17).

Cognitiva - depois de percebidos e decifrados os signos que compõem o texto

lido, o leitor inicia o movimento de entender do que se trata - compreender-, exigindo

do leitor um saber mínimo, sem o qual ele não conseguiria prosseguir a leitura.

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Afetiva - o engajamento afetivo do leitor com o texto é componente basilar

para a leitura, em especial, a leitura de textos literários. É prendendo-se à trama

traçada, aos desafios enfrentados por um personagem, vivendo a cena e a narrativa

que ocorre o primor do jogo ficcional, este age sobre as capacidades reflexivas do

leitor, dentre elas a afetividade.

Argumentativa - o texto ao ser interpelado pelo leitor o faz assumir a

argumentação dele, ou porque ela o convenceu ou porque ele desenvolveu para si

uma argumentação.

Simbólica - o ato de ler suscita em nós um diálogo com a cultura e a história,

também, com o imaginário coletivo por onde o texto circula. Assim, por reafirmar a

parte interessada de uma cultura a leitura abrange a dimensão simbólica.

Diante da grandeza conceitual e processual da leitura defendemos que a

escola nunca se exima de formar leitores, pois, está é (ou deveria ser) a exigência

maior da sociedade, e a função essencial da escola: formar leitores! Leitores da arte

de ver e compreender o texto lido, porque o viveu e como organismo vivo; o texto

me afeta à medida que eu afeto o mundo e posso transformá-lo.

Smith (2003) defende que a leitura é uma interação entre o leitor e o texto. E

corroboramos com o pensamento deste autor, uma vez que somente pode existir

leitura se houver um texto, seu contexto e quem possibilitará o olhar indagador e

criativo, quem busca respostas, ora por prazer ora por necessidade de

conhecer/aprender.

A leitura é singular a cada experiência e o texto tem seu sentido atribuído pelo

leitor, a partir do que está escrito pelo autor. No âmbito escolar a leitura não deve

apenas promover tarefas e avaliações, mas deve favorecer os sentimentos mais

pessoais dos aprendizes. E “a noção de leitura como experiência é favorecida

enormemente pela opção de tratar com a literatura, com a ficção. Nela o sujeito se

experimenta e se transforma enquanto transforma o texto. (YUNES, 2002, p. 14)

Yunes (2002) traz à luz a chave da porta mágica da criatividade, potencial

inventivo e criador: a leitura de literatura, pois o atravessar desta experiência

estética, dada pela linguagem permite emoções, pensamentos, sensações e

percepções múltiplas, contudo gravadas na subjetividade humana do leitor.

Neste estudo utilizamos de estratégias de leitura, dentre as quais destacamos

a leitura oral – vocalizada pelo planejamento prosódico - e compartilhada – em dupla

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ou grupo; embora também tenha havido em alguns momentos o uso da leitura

silenciosa – para o reconhecimento Inicial do texto - e individual - sobretudo ler e

permitir o encontro das opiniões do leitor.

Diante do exposto, a prosódia contribui na escolha sonora que o mediador de

leitura faz, trazendo a este maior domínio sobre o texto quanto aos elementos

prosódicos, como também; confere-lhe confiança para modificar o texto com sua

entonação, colocando a roupagem que o medidor/professor escolheu partilhar com

seus aprendizes.

4. O mediador: andaime intermediário dos processos de ensino e de

aprendizagem

Na escola fundamental o professor/mediador muitas vezes é tido como a

engrenagem central dos processos de ensinar e de aprender. Todavia, não

desejamos colaborar com esta concepção, e não estamos desmerecendo o papel de

educador, mas o valorizando, pois se tenho como foco os aprendizes entendo que o

aprendizado passa por nós, sendo também o professor um aprendiz que por ser

mais experiente e ter se qualificado para tal cargo, recebe a função temporária de

mediador.

Diante disso, percebemos o quanto é importante a criança fazer parte do

processo dinâmico e bidirecional de ensinar e aprender, pois desta maneira, são

despertados nos alunos não só o engajamento, mas também o prazer, a

curiosidade, a solidariedade e a disponibilidade para a interação. Desse modo,

passamos a ensinar a literatura de uma maneira lúdica, fugindo dos padrões

tradicionais das explicações docentes e exercícios repetitivos. Não queremos

desmerecer os exercícios, pois estes são importantes, contanto que ocorram num

contexto que os torne significativos para os educandos. Vejamos o que Vygotsky

(1989, p. 101) diz sobre o processo de aprendizagem:

Um aspecto essencial do aprendizado é o fato de ele criar a zona de desenvolvimento proximal, ou seja, o aprendizado desperta vários processos internos de desenvolvimento que são capazes de operar somente quando a criança interage com as pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com seus companheiros. Uma vez internalizados, esses processos tornam-se parte das aquisições do desenvolvimento.

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Logo, a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) é a distância entre o que

se sabe (Conhecimento Real) e o que se almeja aprender (Conhecimento Potencial),

presente nos processos de ensinar e de aprender, perpassa a interação e a

elaboração do conhecimento. A Zona de Desenvolvimento Proximal exige a

presença de outro ser mais experiente para auxiliar - “construir andaimes”

(GRAVES; GRAVES, 1995) - no decorrer do processo de aprendizagem.

Assim, a mediação desempenha um papel “equilibrador” (GIUGNO, 2002, p.

37), pois contribui para estabelecer relações da ação pedagógica à interação

dialógica do conhecimento pelo aprendiz.

Segundo Oliveira (1993, p. 26-27), mediação é:

o processo de intervenção de um elemento/sujeito intermediário numa relação; a relação deixa, então, de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento/sujeito. A presença de elementos mediadores introduz um elo a mais nas relações organismo/meio, tornando-se mais complexas. Ao longo do desenvolvimento do individuo as relações mediadas passam a predominar sobre as relações diretas.

Conforme defende Fontana (2000), a mediação é ação intencional e

sistematizada que se direciona para a internalização dos conhecimentos

culturalmente e historicamente construídos pela humanidade.

Por conseguinte, ser mediador preocupado com a formação do leitor de

literatura é intervir em conflitos cognitivos, partindo dos conhecimentos culturais e

históricos que os aprendizes têm, de maneira, a possibilitar que ocorra uma

aprendizagem que faça sentido para o educando. Esta deve partir do mundo real do

aprendiz e trabalhar com o transcender de universos que a poesia possibilita através

do jogo ficcional sensível sobre o mundo, o eu e o outro.

Articulando este pensamento ao que entende Kirinus (2011), a poesia

constitui-se como gênero literário capaz de fornecer à criança um sentido em sua

relação com o seu meio natural, ou seja, mesmo fazendo uma viagem ao mundo

fictício a criança estabelece relações com o seu mundo real.

A leitura de literatura, assim como outras manifestações artísticas, possibilita

ao individuo enxergar o mundo com “lentes” diferentes, pois o texto literário é

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plurissignificativo, ou seja, permite leituras diferentes sobre um mesmo enfoque,

abrindo-se a possibilidades delimitadas pelo leitor. Faz-se essencial que o docente

atue compreendendo a construção e reconstrução de sentidos a partir da

experiência do leitor com o texto literário.

Prontamente, o presente estudo justifica-se, pois conforme explicita Amarilha

(2010, p. 09 - 10), “a iniciação à poesia pode, então, ser a experiência que ao

justificar a escolarização possibilita ao aprendiz explorar sua própria capacidade

leitora, dar-lhe identidade cultural, social. Isto é, ao interagir com a multiplicidade

poética o aprendiz pode tomar para si a experiência de pertencer à cultura letrada

porque domina seu direito e avesso, qual sejam a norma e a ruptura”. Isso porque a

poesia constitui a apreensão do mundo por meio da palavra.

No contexto de uma sala de aula o papel de mediador, inicialmente, é

direcionado a figura do professor. Com o tempo, as próprias criança tornam-se

outros mediadores, através das relações desempenhadas entre si. Deste modo, a

experiência proporcionada pelo jogo ficcional permite à criança resolver um

problema, que poderá estar além de seus esforços.

5. Abordagem metodológica da pesquisa “A mediação na leitura do poema:

interface voz, imagem e sentidos" (FREITAS, 2013)

A pesquisa citada ensejou um estudo longitudinal, com procedimentos de

intervenção, desenvolvido numa escola pública de Natal-RN. Os sujeitos

pesquisados foram alunos do ensino fundamental, acompanhados do 4º ao 5º ano,

período em que foram realizadas 15 sessões de leitura e 15 sessões de postagens

no fórum eletrônico mencionado, todas registradas em vídeo. Para a realização das

sessões de leitura foram utilizados os livros “Minha ilha maravilha” (2007), de Marina

Colasanti; “Quando chove a cântaros/Cuando llueve a cántaros” (2005), de Glória

Kirinus e “Lampião e Lancelote” (2006), de Fernando Vilela. Esses livros foram

selecionados porque atendiam ao critério de qualidade estética adotado,

considerando-se aspectos da melopéia, fanopéia e logopéia, conforme os conceitua

Pound (1997).

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As sessões seguiram os passos da metodologia de andaimagem (GRAVES e

GRAVES 1995): pré-leitura - em que eram feitas provocações por meio de

perguntas para que os sujeitos fizessem previsões sobre o livro e/ou o poema a ser

lido; leitura - sendo desenvolvidas as práticas da leitura silenciosa e da leitura oral

do texto pela pesquisadora mediadora e pelos aprendizes; pós-leitura - discussão

em sala seguida de postagem(ns) no fórum eletrônico.

5.1 Minha ilha maravilha - ecos de prosódia

Como recorte da pesquisa, nos propusemos a analisar as postagens

referentes à obra “Minha ilha maravilha”(2007), de Marina Colasanti, que apresenta

estrutura verbal, semântica e plástica relevantes, pois todos os poemas são

articulados visando a revelar aspectos da temática proposta pela autora do que seja

uma ilha cheia de maravilhas. Do ponto de vista poético, os poemas

desautomatizam conceitos sobre o que se espera encontrar em uma ilha, como, por

exemplo, no poema que abre o livro “Uma casa se faz” (p. 06):

UMA CASA SE FAZ

Uma casa se faz Com tudo aquilo Que a sorte traz Cimento sonho suor canseira

Barro e madeira Folha de zinco ou

De bananeira Tijolo oco

Tinta reboco. Tem que ter teto Parede e porta, Melhor se reta Mas vale torta

Pois o que importa É que dê guarida Abrigue o sono Proteja a vida.

A colocação, lado a lado, de elementos que constroem uma casa, tanto do

ponto de vista referencial, quanto do ponto de vista conotativo, como em

cimento/sonho, amplia a percepção do sujeito-leitor, promove o arejamento de visão

sobre o que se lê.

19

5.2 A poesia: voando fora da asa

O estimado Manoel de Barros (2013, p. 278) diz que “poesia é voar fora da

asa”. Sobre o mesmo assunto, Kirinus (2011), diz que a poesia é invenção, é criação

que explica a nós e ao mundo. Com isso, a linguagem poética desperta nos homens

sentidos e emoções sobre o mundo. Falar de poesia é olhar os nossos sentidos, não

são por eles que descobrimos o texto no mundo e/ou o mundo num texto? É

desvelar este mundo e criar outro.

Paz (1982, p.27) afirma que “a poesia converte a pedra, a cor, a palavra o

som em imagens” para dialogar com esta definição trazemos os estudos de Pound

(2006) que evidencia a relevância da leitura de poesia na formação leitora,

especialmente em função do gênero pressupor a leitura numa perspectiva

multimodal, articulando aspectos de três ordens: fanopéia, logopéia e melopeia,

como explicita Pound (2006, p. 11):

Há três modalidades na poesia: Melopéia: aquela em que as palavras são impregnadas de uma propriedade musical (som, ritmo) que orienta o seu significado. Fanopéia: um lance de imagens sobre a imaginação visual e Logopéia: a dança do intelecto entre as palavras que trabalha no domínio específico das manifestações verbais e não se pode conter em música ou em plástica.

Assim, faz-se de suma importância que na prática pedagógica o professor

tenha ciência de seu papel de mediador de leitura, sobretudo de poesia, de modo a

sistematizar leituras que explorem as modalidades constitutivas do texto poético.

Compreende-se que mediar a leitura de poesia é enveredar-se pelo que se

entende que seja poético, sobretudo saber explorar o aspecto sonoro mediante a

abordagem da prosódia, o que brevemente nos propomos a realizar neste artigo.

6. Análise das postagens registradas em fórum eletrônico

Analisamos, aqui, os registros dos educandos que fizeram parte da pesquisa

em um fórum eletrônico, Para tanto, fizemos um recorte das três primeiras sessões

de leitura de Minha ilha maravilha (COLASANTI, 2007). Os sujeitos da pesquisa

20

serão chamados de André, Beatriz, Eduarda, Liacir, Leila e Silvia. Mantivemos,

neste trabalho, os registros tais quais foram escritos pelos sujeitos no fórum. A

escolha por esses discentes se deu de forma aleatória, apenas com o pré-requisito

de terem participado da pesquisa do início ao fim, visto que o estudo foi de natureza

longitudinal. Delimitamos seis sujeitos para análise por razão operacional. De cada

um deles damos exemplos de uma sessão em que eles demonstram perceber os

movimentos prosódicos na leitura oral de poesia.

6.1 A entrada na casa da poesia

A primeira sessão aconteceu no dia 13 de abril de 2012, com o objetivo de

abordar aspectos semânticos do livro “Minha Ilha Maravilha”, de Marina Colasanti.

Capa do livro “Minha Ilha Maravilha”

Na pré-leitura foram exploradas a capa do livro e as provocações trazidas

pelo título e pelas imagens. Algumas perguntas foram feitas aos aprendizes, como

por exemplo: O que o título do poema sugere?

Foi realizada a leitura do poema “Uma casa se faz”. Inicialmente, essa leitura

foi feita silenciosamente pelos aprendizes e, posteriormente, a mediadora fez a

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leitura em voz alta. Por fim, ainda foi solicitado aos alunos que fizessem a leitura

compartilhada.

No momento de pós-leitura, foi proposta a discussão sobre a prosódia do

texto, a ideia da casa presente no poema e a relação entre a casa e o título do livro

(Minha ilha maravilha).

De maneira a estimular que os sujeitos expusessem o que pensavam e

participassem da discussão no fórum, a cada sessão era formulada uma

“provocação” sob forma de pergunta ou de alguma solicitação. Na 1ª sessão a

provocação foi: O que é poesia? O que você achou do poema "Uma casa se faz"?

Nessa sessão destacamos as postagens de André, Liacir e Leila.

E quando as palavras rimam. Em voz alta o som é diferente é melhor de ouvir. O poema da casa é interessante por que rimava e era bonito.

(André, 1ª sessão de leitura – Minha ilha maravilha, 13 de abril de 2012).

O registro feito pelo aprendiz revela que o aspecto sonoro do poema -

melopéia, a partir de uma performance oral (prosódia) devidamente planejada, ativa

nossos ouvidos para a percepção de um campo que ganha vida quando oralizado

promovendo novas aprendizagens que a leitura sozinha e silenciosa não conseguia

desenvolver. Para nós, André sinaliza ao professor mediador de leitura que é

prazeroso o caminho da leitura oral, sendo este uma porta de acesso ao

conhecimento, a aprendizagem.

Eu adorei o livro.

Eu achei legal porque ela falou sobre a casa que ela ia fazer. Gostei

da leitura oral.

(Liacir, 1ª sessão de leitura – Minha ilha maravilha, 13 de abril de

2012).

Liacir apresenta, claramente, sua opção pela leitura oral de poesia. É está

(poesia) que transforma a palavra. O texto em si tem uma sonoridade, mesmo

quando a leitura é feita silenciosamente, em contraste, quando oralizado em

harmonia, ou seja, respeitando os limites da pontuação e avivando as palavras em

tons agudos e graves, curtos e longos, pianos - baixos - altos, organiza nossas

ações mentais, nosso pensamento. Liacir nos conduz ao entendimento que é

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gostoso aprender a ler através da poesia utilizando a estratégia da leitura em voz

alta.

É UM TEXTO QUE CONTA HISTORIA AS POESIAS SÃO LEGAIS A GENTE PODE CONTA PARA NOSSAS MÃE BONITO BEM LEGAL ACHEI POR QUE O LIVRO CONTOU QUE E BEM INTERESSANTE QUE ELA QUE RIA FAZER UMA CASA. EU GOSTEI DE OUVIR O POEMA POR QUE EU CONSEGUI ENTENDER MELHOR. (Leila, 1ª sessão de leitura – Minha ilha maravilha, 13 de abril de

2012).

A Leila traz em sua fala, aspectos valiosos para refletirmos acerca da nossa

atuação como professores na escola de ensino fundamental, pois percebemos no

registro desta o gosto por ler poesias, e a colocação que ela faz “A gente pode

contar para nossas mãe”, isto é, poesia também é “assunto” que abre margem para

dialogarmos com o outro, não apenas no espaço escolar, mas também, no âmbito

familiar. Leila colabora para nossa compreensão de que a poesia, de fato, voa fora

da asa, haja vista que nos leva a voar pelos diferentes espaços da sociedade:

escola, rua, casa..., com os amigos, professores e colegas de sala, com os pais.

Outro destaque que fazemos da fala de Leila é sua colocação de que gostou

de ouvir o poema, porque ela conseguiu entender melhor, ou seja, ocorreu

compreensão leitora, porque a voz possivelmente reconstruiu o sentido que a Leila

não percebeu ou entendeu durante a leitura silenciosa, trazendo assim uma

ressignificação do texto para a pequena.

6.2 O livre voo pela ilha

Essa sessão foi realizada no dia 27 de abril de 2012, e teve como objetivo

abordar aspectos semânticos do livro “Minha ilha Maravilha”, de Marina Colasanti,

enfatizando a melopéia e a fanopéia presentes no texto.

Na pré-leitura, foi explorado o título do poema “Vou, voo e volto”, sobre o qual

foram feitos questionamentos, como “Quais ideias ou imagem os sujeitos podem

criar a partir do título?” Nessa sessão a leitura se deu em quatro momentos: leitura

silenciosa pelos sujeitos seguida de leitura oral pelos alunos; leitura oral pela

mediadora, relacionando a melodia do poema ao galope do cavalo; leitura realizada

em conjunto pela mediadora e aprendizes.

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VOU, VOO, E VOLTO Cavalo de vento

cavalo de ar salto na sela

e vou galopar.

Galopo na praia galopo no mar

a crina é uma vela que faz navegar.

Navega na onda navega no sal

a vela abre asa me leva a voar.

Voando no alto

começo a cansar ao ver minha casa

já quero voltar.

(COLASANTI, 2007, p; 23)

Na pós-leitura, a melopéia e a fanopéia foram exploradas a partir do poema.

Foram também feitas provocações do tipo: A leitura oral ajudou a entender ou gostar

mais do poema lido? Quando o poema foi oralizado, quais palavras chamaram mais

sua atenção?

A provocação no fórum eletrônico dessa sessão foi: Escreva sobre o poema,

sobre o que achou do momento de leitura e discussão.

Nessa sessão destacamos as postagens de Bianca, Eduarda e Leila.

Vou vôo e volto eu achei muito bom por que pares uma musica achei legal aquela parte galopo na praia galopo No mar crina é uma vela que faz navegar.quero ganha um livro tesi.

(Leila, 2ª sessão de leitura – Minha ilha maravilha, 27 de abril de

2012).

Leila associa poesia à canção. Perguntamo-nos porque ela faz isso e

chegamos a conclusão de que a sonoridade do texto, marcada em suas nuances de

fala e pausa, apoiada pela expressividade dada as palavras remetia-lhe ao gênero

canção, que também emprega estes recursos para cantar sua poesia, sua verdade.

Embora o poema lido não seja uma canção, há no registro da Leila um

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encantamento pelo jogo oral proposto a ponto de suscitar nela o desejo de possuir

um livro desses, um livro de poema, para ler em voz alta, quase feito canção.

Eu adorei muito porque eu não sabia que formava uma melodia e

a professora e muito legal o poema e muito importante pra todos

nos eu adorei a aula.

(Eduarda, 2ª sessão de leitura – Minha ilha maravilha, 27 de abril de

2012).

A poesia, como já mencionado, também é conhecimento, é saber e fonte de

descobertas seja de si, do outro ou do mundo. O conhecimento desvelado por

Eduarda vincula-se aos aspectos sonoros do texto poético. Talvez ela ainda não

conhecesse o gênero ou não tivesse ainda percebido que o texto poético, também, é

fonte de ritmo, como a música.

Podemos inferir do seu discurso que a aprovação pela experiência estética

não foi apenas dela, mas também do grupo de sujeitos que participaram juntamente

com ela desta sessão de leitura. Quanta sensibilidade em perceber que o poema (a

poesia) nos alimenta e se faz importante para nosso viver comunitário, se faz fonte

de sabor e textura da experiência de ser humano, afinal, a palavra embebida de

poesia é antes de qualquer coisa linguagem, e esta por sua vez é a característica

mais peculiar dos seres humanos.

Eu gostei muito do título e gostei também de ler a poesia que a gente leu hoje é muito interessante que fala de voar fala de crena de cavalo u que eu mas gostei foi a professora fez uma rima que se transformou em uma canção e gostei de ler jumto com a turma.

(Beatriz, 2ª sessão de leitura – Minha ilha maravilha, 27 de abril de

2012).

Beatriz gosta de ler poesia, o que sugere para nós que ela já tem

conhecimento do gênero. Talvez tenha tido conhecimento na escola, a partir do livro

didático. Todavia, ela faz uma ressalva à mediação docente que explorou os sons do

poema o deixando fluido e compreensível como uma canção que adentra nossos

ouvidos e nos faz pensar. A poesia também tem este potencializador, nos fazer

pensar. Portanto, as sonoridades poéticas aguçam nossa curiosidade e nos motivam

a pensar.

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6.3 Cantando poesias

A terceira sessão foi realizada no dia 22 de maio de 2012. Teve como objetivo

abordar aspectos semânticos e formais do poema “4 cantigas antigas”, do mesmo

livro “Minha ilha maravilha”, destacando-se a melopéia, fanopéia e logopéia. O

poema é o que segue:

4 CANTIGAS ANTIGAS Rosa branca rosa amarela

ó bela tira essa tranca e vem me ver à janela.

Com um pote de alecrim enfeitou a sua sacada

tem perfume de jasmim o beijo da minha amada.

No galho do limoeiro

colhi um limão maduro mas chorei o ano inteiro por um amor sem futuro.

O choro tem gosto amargo

o vento sopra no mar vem vindo aquele barco

o moço que vai me amar. (COLASANTI, 2007, p; 33)

Durante a pré-leitura, foi explorado o título do poema com perguntas que

solicitavam o que os sujeitos entendiam por cantigas, por cantigas antigas e o que o

título sugeria.

A leitura foi feita primeiro de forma silenciosa pelos aprendizes, depois

oralmente e, por último, foi feita pela mediadora. Nesse momento, a mediadora

destacou em sua prosódia palavras e rimas que se relacionassem com sentimentos.

Na pós-leitura, a discussão foi realizada pondo em destaque a sonoridade do

poema, questionando aos sujeitos se eles observaram se a leitura oral ajudou ou

não a entender melhor o poema, assim como se havia também cooperado com a

relação afetiva entre texto e leitor. Nesse momento, foi feita a divisão dos sujeitos

em dois grupos e cada grupo fez a leitura oral do poema intercalando as estrofes.

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A provocação no fórum eletrônico, nessa sessão, foi: O que vocês acharam

da poesia lida hoje?

Nesta sessão destacamos as postagens de Silvia.

Eu gostei muito porque era a poesia que eu mas gostava a professora alessandra leu com todo mundo e focou um coral eu também li.

(Silvia, 3ª sessão de leitura – Minha ilha maravilha, 22 de maio de

2012).

Mais uma vez os sujeitos da pesquisa demonstram apreço pela poesia, por

sua leitura em sala de aula e pela cooperação desenvolvida a partir da estratégia de

leitura oral e compartilhada.

O gosto pela leitura, no caso, de Silvia, possivelmente; parte porque é poesia,

ou seja, é o ritmo pulsante da criação/invenção de mundos, corpos, personagens

que a ensina pela construção sonora dada à palavra. O gosto surge, pois o texto

poético a ajuda a construir pontes para o entendimento do mundo, dos sentidos seus

e dos outros.

A poesia coloca Silvia como participante da ficção, e a queremos assim perto

das palavras, dos seus sentidos, dos seus sons e das imagens que elas criam em

nós. Desejamos que mais aprendizes tenham oportunidade de descobrir e aprender

com o potencial da poesia.

7. Ponto a ponto: o fim como início de uma reflexão

PONTO A PONTO

A morte não é feia

Nem bonita. A morte é onde a vida,

Põe um ponto. Um ponto

De partida.

(COLASANTI, 2007, p; 36)

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Entendemos que este trabalho não finaliza aqui, pelo contrário, é ponto de

partida para outras reflexões, para outros olhares sobre a poesia atrelados à voz,

que significa o texto dando-lhe corpo e forma pela palavra oralizada.

Mediante a análise das postagens, podemos concluir que os sujeitos dão

ênfase à leitura oral, e essa indica que o trabalho docente como texto poético na

escola pressupõe uma mediação pedagógica que considere suas especificidades,

refletidas na articulação entre a melopéia, fanopéia e logopéia. Esse dado conduz

ao entendimento de que é necessário valorizar a multimodalidade constitutiva dos

gêneros poético, explorando o som, a imagem, a palavra e os sentidos construídos

no processo de mediação pedagógica com o texto poético, as relações intertextuais,

retomando aspectos da cultura local para interagir com o texto. Verificamos que

os aprendizes, em decorrência da intervenção realizada durante a pesquisa e de

outros aspectos, entrecruzam textos e vivências para atribuir sentido à leitura do

poema.

Em suma, ressaltamos que a partir de um trabalho contínuo, devidamente

planejado e mediado, é possível aprimorar o encontro do aluno com a poesia,

presente no livro de poemas. Considerado o aspecto multimodal dos gêneros

poético, é preciso selecionar procedimentos e intervenções que envolvam a atenção

à diversidade, definindo desafios e ajudas apropriadas às respostas dos aprendizes

durante a sequência de leitura por andaime.

8. Referências

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