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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE …... Mais do que uma calçada: estudo preliminar para a requalificação da orla da praia da Laginha (Mindelo/Cabo Verde) / Tiago Fortes

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

Tiago Fortes da Silva Ramos

MAIS DO QUE UMA CALÇADA:

Estudo preliminar para a requalificação da orla da praia da Laginha

(Mindelo/Cabo Verde).

NATAL/RN

2017

Tiago Fortes da Silva Ramos

MAIS DO QUE UMA CALÇADA:

Estudo preliminar para a requalificação da orla da praia da Laginha

(Mindelo/Cabo Verde).

Trabalho Final de Graduação apresentado

ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, sob a orientação da Profa. Dra.

Amíria Bezerra Brasil, como requisito à

obtenção do grau de Arquiteto e

Urbanista.

NATAL/RN

2017

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - CT

Ramos, Tiago Fortes da Silva.

Mais do que uma calçada: estudo preliminar para a requalificação da orla

da praia da Laginha (Mindelo/Cabo Verde) / Tiago Fortes da Silva Ramos. -

Natal, 2017.

100f.: il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Amíria Bezerra Brasil.

1. Planejamento urbano - Monografia. 2. Requalificação - Orla - Praia da

Langinha - Monografia. 3. Frentes de água - Praia da Langinha - Monografia.

I. Brasil, Amíria Bezerra. II. Título.

RN/UF/BSE15 CDU 711.4

Tiago Fortes da Silva Ramos

MAIS DO QUE UMA CALÇADA:

Estudo preliminar para a requalificação da orla da praia da Laginha

(Mindelo/Cabo Verde).

Aprovado em: 30/06/2017

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________

Profa. Dra. Amíria Bezerra Brasil

Orientadora - UFRN

____________________________________________________

Profa. Dra. Verônica Maria Fernandes de Lima

Avaliador interno - UFRN

____________________________________________________

Thiago de Carvalho Brito

Avaliador externo - Arquiteto e Urbanista

À minha avó, Maria dos Anjos, pela

jovialidade, alegria e exemplo que nos

brindou (...) tud onde q un bai, ta levob ma

mi!

Grato,

à minha família, meus pais e meus irmãos, que dividiram comigo palavras de

incentivo e orgulho que não me deixaram cair e me empurram até aqui.

à minha família, minha namorada e minha filha, que multiplicaram a minha

determinação para concluir esta etapa e dar início a outras mais.

à minha família, meus novos amigos, que somaram bons momentos,

feijoadas, cachupas, viagens e várias novas experiências que guardarei sempre

comigo.

Grato,

ao Galinheiro (Laboratórios de Arquitetura), minha casa, onde tive a chance

de aprender muito mais do que arquitetura e urbanismo.

à Amíria Brasil, minha orientadora, pela confiança depositada e por mostrar

que - apesar dos contratempos – tudo iria dar certo.

as minhas ‘chefinhas’, Carol Farkat e Sophia Motta, pelas experiências e

ensinamentos transmitidos durante os estágios, que me farão um profissional

melhor.

ao Brasil, país que me acolheu e me proporcionou a oportunidade de crescer

e me tornar naquilo que sou hoje.

Obrigado!

Sou muito grato a tudo e todos que dividiram, multiplicaram e somaram para

que esta caminhada fosse como foi e da qual levarei mais do que um diploma.

"As cidades têm a capacidade de fornecer

algo para cada um de seus habitantes,

apenas porque e, somente quando, elas

são criadas para todos."

Jane Jacobs

RESUMO

O processo de modernização das estruturas portuárias, o desenvolvimento

económico, a expansão urbana ou, mesmo, a modificação das práticas sociais

ditaram, em certas cidades portuárias, a aproximação às frentes de água, com vista

à qualificação deste espaço livre urbano. Porém, no caso do Mindelo, as

intervenções efetuadas na praia da Laginha, a fim de requalifica-la – face ao cenário

resultante das obras portuárias promovidas no entorno – não se traduziram em

melhorias dos atributos urbanísticos e valorização do meio. Assim sendo, este

trabalho tem como temática as intervenções urbanas em frentes de água –

enquadrada na área de planejamento urbano – e materializa-se em uma proposta de

redesenho do calçadão da praia com o propósito de requalifica-la e garantir a

vitalidade do local.

Palavras-Chave: planejamento urbano; requalificação; frentes de água.

ABSTRACT

The process of modernization of port structures, economic development,

urban expansion or even the modification of social practices dictated, in certain port

cities, the approach to the water fronts, with a view to the qualification of this urban

free space. However, in the case of Mindelo, the interventions carried out on Laginha

beach, in order to requalify it - given the scenario resulting from the port works

promoted in the surrounding area - did not translate into improvements in urban

attributes and environmental valuation. Thus, this work has as its theme the urban

interventions in water fronts - framed in the area of urban planning - and materializes

in a proposal of redesign of the beach promenade with the purpose of requalifying it

and guarantee the vitality of the place.

Keywords: urban planning; urban renewal; waterfront

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Evolução temporal da cidade portuária industrial ....................................... 19

Figura 2: Qualidade do entorno x atividades ............................................................. 26

Figura 3: Vista aérea da baía do Mindelo - 1885 ....................................................... 32

Figura 4: Vista aérea da baía do Mindelo - 1940 ....................................................... 33

Figura 5: Vista aérea da baía do Mindelo - 1965 ....................................................... 34

Figura 6: Evolução Urbana de Mindelo 1858 a 2000 ................................................ 35

Figura 7: Vista aérea da baía do Mindelo - 2015 ....................................................... 36

Figura 8: Vista aérea do centro da cidade - 2015 ...................................................... 36

Figura 9: Praia da Matiota em 1930 e em 1958 ........................................................ 38

Figura 10: Praia da Laginha – 1958 .......................................................................... 39

Figura 11: Praia da Laginha – 1968, 2003, 2013 e 2015 .......................................... 40

Figura 12: Alteração do contorno da costa devido às obras ..................................... 42

Figura 13: Projeto de intervenção proposto .............................................................. 42

Figura 14: Praia da Laginha após a intervenção em 2013 ........................................ 43

Figura 15: Praia da Laginha em 2013 (esquerda) e em 2017 (direita) ...................... 43

Figura 16: Fluxograma para desenvolvimento de projetos sugerido pelo manual ..... 49

Figura 17: Fluxograma para desenvolvimento de projeto ......................................... 50

Figura 18: Praia da Laginha ...................................................................................... 51

Figura 19: Avenida Marginal (entorno da Laginha) ................................................... 56

Figura 20: Corte da via (Av. Marginal) ....................................................................... 56

Figura 21: Avenida Dr. Alberto Leite ......................................................................... 57

Figura 22: Corte da via (Av. Dr. Alberto Leite) ........................................................... 57

Figura 23: Vegetação existente ................................................................................. 58

Figura 24: Elevações no entorno ............................................................................... 59

Figura 25: Desnível do calçadão em relação à praia ................................................ 60

Figura 26: Calçadão da praia .................................................................................... 60

Figura 27: Usos no calçadão da praia ....................................................................... 61

Figura 28: Vegetação existente no calçadão............................................................. 61

Figura 29: Problemas evidenciados .......................................................................... 62

Figura 30: Potencialidades evidenciadas .................................................................. 63

Figura 31: Potencialidades evidenciadas .................................................................. 63

Figura 32: Orla de Camburi ....................................................................................... 68

Figura 33: Calçadão da praia de Camburi ................................................................. 68

Figura 34: Quiosques da praia de Camburi ............................................................... 69

Figura 35: Estruturas no calçadão da praia ............................................................... 69

Figura 36: Masterplan da intervenção ....................................................................... 70

Figura 37: Calçadão da praia de Hjerting .................................................................. 71

Figura 38: Cais flutuante de Hjerting ......................................................................... 72

Figura 39: Piscina oceânica de Hjerting .................................................................... 73

Figura 40: Clube náutico de Hjerting ......................................................................... 73

Figura 41: Conceito da proposta ............................................................................... 79

Figura 42: Piso intertravado ...................................................................................... 87

Figura 43: Referências de mobiliário urbano ............................................................. 88

Figura 44: Deck de contemplação ............................................................................. 89

Figura 45: Caramanchão ........................................................................................... 89

Figura 46: Aparelho de ginástica ............................................................................... 90

Figura 47: Kalimba beach bar ................................................................................... 91

Figura 48: Piscina oceânica ...................................................................................... 92

Figura 49: Pontão de Santa Maria ............................................................................. 92

Figura 50: Pier ........................................................................................................... 93

Figura 51: Proposta de intervenção .......................................................................... 94

LISTA DE MAPAS

Mapa 1: Mapa de Cabo Verde .................................................................................. 30

Mapa 2: Mapa de São Vicente .................................................................................. 31

Mapa 3: Localização das praias da Matiota e Laginha .............................................. 37

Mapa 4: Recorte da área de estudo .......................................................................... 47

Mapa 05: Espaços lazer e comerciais presentes na orla .......................................... 52

Mapa 6: Equipamentos marítimo-portuários presentes na orla ................................. 53

Mapa 7: Equipamentos marítimo-portuários presentes na orla ................................. 53

Mapa 8: Uso do solo ................................................................................................. 54

Mapa 9: Sistema viário da área de estudo ................................................................ 55

Mapa 10: Áreas verdes na área de estudo ............................................................... 58

Mapa 11: Topografia da área de estudo ................................................................... 59

Mapa 12: Mapa síntese ............................................................................................. 64

Mapa 13: Zoneamento da proposta .......................................................................... 84

Mapa 13: Masterplan da proposta ............................................................................. 86

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Quadro resumo das modificações na praia da Laginha. ........................... 41

Tabela 2: Quadro resumo dos estudos de referência ............................................... 75

Tabela 3: Quadro resumo das diretrizes e ações ...................................................... 82

SUMÁRIO

Introdução .............................................................................................................. 13

1. Cidades e suas frentes de água ...................................................................... 16

1.1. Expansão urbana das cidades portuárias. ................................................... 18

1.2. Transformação das frentes marítimas. ......................................................... 22

1.3. Espaços livres urbanos. ............................................................................... 23

2. Universo do projeto ......................................................................................... 28

2.1. Contexto do desenvolvimento urbano da cidade do Mindelo/São Vicente. .. 30

2.2. Elucidação sobre o histórico de intervenções no entorno da praia da

Laginha. ................................................................................................................. 37

3. Área de estudo ................................................................................................ 45

3.1. Caracterização da área de estudo. .............................................................. 51

3.2. Análise da área de estudo. ........................................................................... 54

3.3. Síntese diagnóstica da fração. ..................................................................... 62

4. Estudos de referência ...................................................................................... 65

4.1. Reurbanização da orla de Camburi – BR. .................................................... 67

4.2. Projeto de calçadão e clube náutico na praia de Hjerting – DK. .................. 70

4.3. Considerações dos estudos de referência. .................................................. 74

5. Proposta de intervenção .................................................................................. 76

5.1. Conceito e partido urbanístico. ..................................................................... 79

5.2. Diretrizes e ações propostas. ....................................................................... 80

5.3. Masterplan e programa de necessidades. ................................................... 83

5.4. Memorial descritivo. ..................................................................................... 87

Considerações finais .............................................................................................. 95

INTRODUÇÃO

Página | 14

O processo de desenvolvimento urbano, determinado pela alteração da

interface porto-cidade a partir da Revolução Industrial, gera, nas cidades portuárias,

uma oportunidade para a reconfiguração das frentes marítimas.

Em face dessa alteração, se assiste a uma revalorização das frentes de água,

associada a um novo modelo de intervenção urbana, com vista à recuperação dos

espaços urbanos abandonados, subutilizados ou degradados presentes nestas

áreas.

Portanto, a revitalização urbana nas frentes da água responde a um processo

de desenvolvimento das cidades portuárias, em virtude da transformação do núcleo

urbano-portuário original. Neste sentido, têm-se desenvolvido atualmente, projetos

de intervenção urbanística, visando à qualificação do meio urbano, de forma a

aumentar o grau de vitalidade ali presente.

No caso do Mindelo, assiste-se a uma constante evolução da infraestrutura

marítimo-portuária e, com isso, evidencia-se a carência de espaços públicos

qualificados na orla, face ao domínio da vertente institucional.

Neste contexto, este trabalho final de graduação se enquadra na área de

planejamento e projeto urbano e paisagístico, com ênfase para aspectos

relacionados aos espaços livres e públicos, intervenção em orlas urbanas,

apropriação do espaço, valorização da paisagem, entre outros. Assim, a temática do

trabalho define-se pelas intervenções urbanas em frentes de água (waterfronts), com

o propósito de valorizá-las a partir do redesenho das mesmas.

O interesse pelo tema proposto se deve, em parte, pela minha motivação

pessoal, visto que sou natural do Mindelo e, por isso, tenho uma relação com a

cidade e com o local. Também, se deve pelo fato de ter desenvolvido anteriormente

uma pesquisa no qual analisei o projeto de ampliação do Porto Grande do Mindelo e

requalificação da Praia da Laginha - implantado em 2013 – sobre a ótica de como se

configuraram as divergências entre os responsáveis administração e gestão

portuária e a população em geral e, constatar que, apesar das melhorias promovidas

ao funcionamento do porto, o projeto não resultou na melhoria dos atributos

urbanísticos presentes no local.

Página | 15

Portanto, a proposta trata-se de uma intervenção de escala urbana num dos

principais pontos turísticos da cidade do Mindelo – a praia da Laginha – e

materializa-se em um projeto que visa uma nova configuração urbana para a praia, a

fim de requalifica-la, face ao cenário resultante das obras portuárias promovidas pela

Empresa Nacional de Administração dos Portos de Cabo Verde (ENAPOR) no

entorno da praia. Dessa forma, a intervenção terá como base as práticas anteriores

e, através da requalificação pretendida, busca-se a valorização ambiental e a

melhoria da qualidade do espaço urbano.

Nessa perspectiva, objetiva-se ainda, de maneira específica: diversificar os

usos e atividades desempenhados no calçadão, com vista a fomentar a permanência

do usuário; gerar melhorias nos acessos e conexões da cidade com a praia e desta

com o mar; redesenhar o calçadão, de forma a proporcionar maior segurança e

conforto aos usuários.

A fim de atingir os objetivos determinados para este trabalho foi realizada uma

revisão bibliográfica, a fim de compreender a relação entre as cidades portuárias e

suas frentes de água, bem como uma análise metodológica da área de intervenção,

baseada no levantamento e estudo de dados.

O trabalho está organizado em cinco capítulos, além da introdução e

considerações finais. A primeira parte aborda a conceituação teórica dos temas

abordados, de modo a elucidá-los e facilitar o entendimento deste trabalho. No

segundo capítulo, é apresentado o universo do projeto que aborda o processo de

desenvolvimento urbano da cidade do Mindelo e trás uma elucidação sobre o

histórico de intervenções ocorridas no entorno da praia da Laginha. O terceiro

capítulo se atem às análises pertinentes à área de estudo mediante a caracterização

da situação atual, levantamento dos problemas/potencialidades e síntese dos dados

levantados. Em seguida, são apresentadas referências de projeto que auxiliaram nas

escolhas relativas a aspectos estéticos, formais e funcionais da proposta, bem como

na formulação do partido arquitetônico. Por fim, no quinto, apresentam-se os

aspectos gerais e projeto de intervenção urbana na praia da Laginha (Mindelo).

1. CIDADES E SUAS FRENTES DE ÁGUA

Este capítulo irá tratar da conceituação teórica dos temas

abordados, de modo a elucidá-los e facilitar o entendimento

deste trabalho.

Página | 18

1.1. Expansão urbana das cidades portuárias.

A relação entre a cidade e o porto sempre foi muito estreita, dado que os

portos, pela sua variante econômica, deram início a novos povoamentos através de

processos de urbanização do litoral, vinculados ao desenvolvimento das atividades

portuárias. Neste sentido, Ana Esteves (20-?) aponta que os portos figuraram, por

um longo período, como elemento estruturador do tecido urbano e centro funcional

da cidade.

Nas cidades portuárias, porto e cidade constituem um sistema variável,

diretamente proporcional, influenciado por questões sociais e urbanas. De acordo

com Monié e Vasconcelos (2012), tanto a expansão urbana gera uma mudança de

postura da cidade em relação ao porto, quanto o desenvolvimento das atividades e

infraestruturas portuárias originam novos posicionamentos frente ao espaço urbano.

No entanto, em função do declínio económico que atingiu muitas destas

cidades, as atividades portuárias e afins foram perdendo a sua importância

estratégica, enfraquecendo, assim, a relação entre cidades e portos (ESTEVES, 20-

?). Neste contexto, Hoyle (1989, apud MONIÉ e VASCONCELOS, 2012) apresenta

uma análise da interface cidade-porto, estruturado em cinco fases distintas.

Página | 19

Figura 1: Evolução temporal da cidade portuária industrial

Fonte: Hoyle, 1989, apud Monié e Vasconcelos, 2012

Com base no modelo cronológico apresentado na figura 01 percebe-se o

processo de transformação da frente marítima face às exigências de modernização

das estruturas portuárias. Tal processo, determinado pelo desmembramento cidade-

porto deram, segundo Esteves (20-?), origem a espaços obsoletos que têm vindo a

ser objeto de grandes operações de transformação.

Estes assumem-se como um importante instrumento de renovação e

desenvolvimento urbano das cidades portuárias, ao constituírem um

estímulo para o desencadear de operações urbanísticas, de maior ou menor

dimensão, na frente de água, com impactes significativos nas dinâmicas

relacionais porto-cidade, na competitividade das cidades portuárias e na

revitalização económica e social das áreas intervencionadas (SOUSA e

FERNANDES, 2012).

Segundo Maria Oliveira (2009), com a deslocação das estruturas portuárias, a

partir da segunda metade do século XX, cria-se oportunidade para a reconfiguração

do núcleo urbano-portuário original, mediante a revitalização da frente marítima.

Página | 20

A degradação dos espaços urbano-portuários foi apreendida como um

fenômeno indesejável imposto pela decadência do modelo econômico. (...)

Mas, nos anos 1960, algumas metrópoles avistaram na “remodelação da

frente marítima” (HOYLE, 1989) a possibilidade de pensar usos destinados

a melhorar a qualidade de vida da população. As primeiras iniciativas foram

voltadas para a criação de espaços verdes e recreativos (...) que

revalorizavam o elemento aquático no imaginário coletivo (MONIÉ e

VASCONCELOS, 2012).

As frentes de água tornaram-se assim, áreas privilegiadas para a cidade e

fundamentais para o desenvolvimento urbano. Mann (1988) refere dez tendências

que estão na origem deste movimento nos EUA:

1. Oferta de grande diversidade de usos;

2. Forte procura do público de margens livres e acessíveis;

3. Afastamento das infraestruturas viárias e substituição por usos pedonais;

4. Recuperação de margens de pequenos cursos de água e canais;

5. Recuperação de património cultural e histórico;

6. Criação de espaços públicos de carácter comercial;

7. Sítios de exposições e eventos culturais;

8. Locais de instalação de elementos artísticos;

9. Oportunidade para realização de festivais e outros acontecimentos

artísticos;

10. Promoção de regulação urbanística.

As tendências referidas acima ocorrem, de acordo com Esteves (20-?), um

pouco por toda a Europa, onde se verifica a “manifestação do interesse público e

das autoridades no sentido da requalificação de áreas anteriormente degradadas,

obsoletas ou subutilizadas, tendo em vista o desenvolvimento de um carácter

urbano, paisagístico, cultural e de lazer que responda às novas solicitações que se

colocam à sua fruição” (Urban Wildlife Research Center, 1981, apud ESTEVES, 20-

?, p.3).

Página | 21

Os níveis de lucratividade obtidos com os empreendimentos iniciais e a

aceitação da população, que constrói uma nova representação dos bairros

portuários, facilitaram o processo de difusão dos projetos de waterfront dos

Estados Unidos para a Europa e daí para o resto do mundo (MONIÉ e

VASCONCELOS, 2012).

Para Oliveira (2009), a revalorização das frentes de água trouxe uma

mudança de paradigma em relação à frente marítima, dando origem a um novo

modelo de intervenção espacial mais adequada aos novos modos de vida da

sociedade atual.

A redescoberta do valor paisagístico e ambiental das frentes de água,

associado à possibilidade da aproximação da população à “água”, tem-se

convertido num novo modelo de urbanização contemporânea (OLIVEIRA,

2009, p.19).

Este modelo de urbanização tem como objetivos “manter a atratividade do

destino e qualificar a procura através da qualificação da oferta” (OLIVEIRA, 2009,

p.19) e têm, conforme Sousa e Fernandes (2012), as seguintes variantes:

Arranjo e requalificação de espaços públicos ao nível urbanístico e

funcional;

Reconversão de antigas instalações portuárias através da implantação

de funções de cariz mais urbano (restauração, lazer);

Reutilização de antigas instalações portuárias através da sua

adaptação a novas funções portuárias mais compatíveis com a

vivência urbana, como por exemplo, o transporte de passageiros, os

cruzeiros ou a náutica de recreio.

Percebe-se então que a qualificação do espaço por meio da “pedonalização

das frentes de água, associada a espaços públicos de estar, de recreio, lazer e

restauração” (OLIVEIRA, 2009, p. 21), relacionada, ou não, a intervenções de

regeneração de áreas portuárias, está estreitamente relacionada com operações

urbanísticas de transformação do espaço.

Página | 22

1.2. Transformação das frentes marítimas.

No que diz respeito às frentes marítimas, temos que estas se configuram

como a “fachada” da cidade e, portanto, os projetos que as envolvem são

considerados como “oportunidades” nessa condição (VASCONCELOS, 2014).

Em muitos desses grandes centros, a transformação da orla e de suas

áreas contíguas está inserida num processo de valorização, favorecida pela

proximidade do mar e a possibilidade de obter vistas do mesmo, além do

acesso aos serviços e equipamentos constituídos nesses projetos.

(MACEDO, 2012, apud VASCONCELOS, 2014).

No contexto da cidade contemporânea, os projetos urbanos de transformação

das frentes marítimas buscam atribuir a estes espaços livres públicos novos

significados, mediante a modificação da sua paisagem. Com isto, almeja-se a

valorização do espaço urbano e do sentido de lugar.

Sobretudo se o ambiente está visivelmente organizado e nitidamente

identificado, poderá então o habitante dá-lo a conhecer, por meio dos seus

próprios significados e relações. Nesse momento tornar-se-á um verdadeiro

lugar notável e inconfundível (Lynch, 1980, p.103).

Nota-se que tais processos de transformação das frentes marítimas podem

ter por base diferentes conceitos de acordo com o modelo de intervenção

pretendido. No entanto, Moura et al. (2006) apontam que estes conceitos podem

integrar-se numa mesma intervenção urbana dado que os modelos atuam de forma

“nem sempre claramente distintos e raramente indissociáveis”. É o caso dos

conceitos de renovação urbana, reabilitação, requalificação1.

O conceito da renovação urbana é marcado pela ideia de demolição do

edificado e consequente substituição por construção nova, geralmente

com características morfológicas e tipológicas diferentes, e/ou com novas

atividades económicas adaptadas ao processo de mudança urbana. (...) A

ideia de renovação atinge, sobretudo, as intervenções de larga escala, de

transformação integral.

A reabilitação não representa a destruição do tecido, mas a sua

“habilitação”, a readaptação a novas situações em termos de funcionalidade

urbana. Trata-se de readequar o tecido urbano degradado, dando

ênfase ao seu carácter residencial (...).

1 Conceito escolhido como elemento norteador da proposta deste trabalho.

Página | 23

A requalificação urbana é, sobretudo, um instrumento para a melhoria das

condições de vida das populações, promovendo a construção e

recuperação de equipamentos e infraestruturas e a valorização do espaço

público com medidas de dinamização social e económica. Procura a

(re)introdução de qualidades urbanas, de acessibilidade ou

centralidade a uma determinada área (...). (MOURA et al., 2006, p.20,

grifo próprio)

Neste sentido, as intervenções urbanas com vista à renovação, reabilitação

ou requalificação das frentes marítimas, dão abertura para o desenvolvimento

urbano, na medida em que possibilitam a recuperação de espaços urbanos

abandonados, subutilizados ou degradados.

No caso das requalificações urbanas, o objetivo central passa pela criação de

novos usos e atributos urbanísticos, bem como, pela recuperação da infraestrutura e

equipamentos urbanos já existentes. Assim, espera-se a melhoria da qualidade de

vida na cidade e valorização do espaço.

1.3. Espaços livres urbanos.

Mediante a caracterização da interface cidade-porto e com o reconhecimento

do modo de operação das intervenções em frentes de água, torna-se necessário

abordar o meio de intervenção em questão: o espaço livre.

Os espaços livres constituem um importante elemento para a vida citadina,

dado que proporcionam a experiência com o coletivo, sem o qual não se concebe a

existência das cidades, uma vez que são locais de convívio público, circulação,

conservação ambiental, etc.

Em conformidade com o processo de transformação da frente marítima, os

espaços livres urbanos, também, sofreram mutações em relação a seus significados

e usos dentro da esfera urbana, resultante da modernização do ambiente urbano no

século XIX.

Miranda Magnoli (1982) define como espaços livres urbanos aqueles espaços

não ocupados por um volume edificado e que as pessoas têm acesso, como por

exemplo: quintais, jardins, ruas, avenidas, praças, parques, rios, matas, mangues e

praias urbanas, ou simples vazios urbanos, sendo eles privados ou públicos.

Página | 24

No entanto, os espaços livres públicos se diferenciam dos privados a partir do

momento em que são abertos e acessíveis, sem exceção, a todos (MATOS, 2010,

apud REIS, 2014).

O espaço público é por natureza mais aberto e a primeira função que o

distingue do espaço privado é a facilidade de acesso. O espaço público é de

todos e de ninguém em particular, em princípio, todos o podem usar com os

mesmos direitos (MATOS, 2010, p.20 apud REIS, 2014, p.35).

De acordo com Mônica Bahia Schlee et al. (2009), os espaços livres públicos,

também tratados como espaços livres urbanos, detêm um papel de destaque na

paisagem da cidade, face a diversidade de possibilidades que oferecem.

Os espaços livres têm grandes probabilidades de transformação no

processo de construção da paisagem. Conformam o componente mais

flexível da estrutura do território, seja funcional ou espacialmente. São

também os lugares mais frágeis e um dos mais promissores tendo em conta

a possibilidade de reestruturação do território, já que podem assumir

algumas importantes funções, por exemplo, como lugar dos ecossistemas,

da percepção da paisagem e como possível lugar para o futuro da

ocupação urbana (TARDIN, 2008, p.44).

Neste sentido, entende-se a importância dos espaços livres públicos em

função do papel que desempenha no processo de transformação da paisagem

urbana, dadas as funções que podem assumir, bem como as atividades que podem

possibilitar.

Tais espaços livres públicos são fundamentais em razão das funções que

podem ser desempenhadas neles, elencadas por Del Rio (1990) como: social -

presente nos encontros que são possibilitados nesses espaços; cultural -

relacionada aos eventos variados que podem ser realizados no local; e funcional ou

higiênica – em alusão à saúde mental e física do usuário, que utiliza o espaço livre

para fins de lazer.

Estes espaços englobam, segundo Panerai (2006, p.79), “a totalidade das

vias: ruas e vielas, bulevares e avenidas, largos e praças, passeios e esplanadas

[...]. Esse conjunto organiza-se em rede a fim de permitir a distribuição e circulação.”.

Portanto, entendidos em conjunto, conforme aponta Silvio Macedo (2013),

formam um “sistema de espaços livres urbanos”, composto por elementos

classificadas como nós e conexões pelos autores Hartman e Strom (1995).

Página | 25

Os nós são definidos espacialmente por meio de porções do solo

urbano que podem servir como ponto focal, ponto de atração e/ou

destino para usos recreativos. Dentre os principais elementos

constituintes dos nós estão diferentes categorias de espaços livres, como

parques, praças, terras devolutas de propriedade pública, áreas vegetadas

livres, áreas produtivas da paisagem, jardins comunitários, áreas de

conservação e áreas com instalações cívicas e institucionais [...]. As

conexões possibilitam as ligações da paisagem e suas variadas

florestas através da conformação de corredores e cinturões verdes. Ao

mesmo tempo em que preservam, conservam e protegem os recursos

da paisagem, podem favorecer múltiplos usos, principalmente para

recreação e transporte alternativo. Dentre os elementos que atuam como

conexões, destacam-se os corredores viários, as conectividades visuais, os

corredores verdes, os corredores azuis, e os corredores amarelos (STROM,

2007, apud PIPPI e TRINDADE, 2013, p.84, grifo próprio).

Os nós – parques, as praças e os demais espaços livres destinados ao lazer

e recreação – contribuem, segundo Pippi e Trindade (2013), para a conservação dos

recursos naturais inseridos em áreas urbanas na medida em que promovem o seu

uso. Ainda de acordo com os mesmos autores, as conexões constituem-se pela

integração da rede viária e de corredores ecológicos – verdes (faixas lineares,

estreitas e contínuas de vegetação), azuis (rios, córregos, lagos, cascatas e

nascentes) e amarelos (parques lineares contínuos ao longo da linha da preamar,

dunas, estuários e lagoas).

Percebe-se então, que os espaços livres públicos constituem-se como

elementos estruturantes da malha urbana, devido às relações de conectividade entre

elas e dadas às funções diversas que desempenham na cidade.

2.2.a. Uso e ocupação do espaço público.

Tendo em conta que os espaços livres públicos têm características

morfológicas distintas, as atividades desempenhadas, também, diferem, em função

da qualidade física do local.

Planejamento e projetos podem ser usados para influenciar o alcance e o

caráter de nossas atividades ao ar livre. Convites para uma atividade ao ar

livre que vá além de uma simples caminhada incluem proteção, segurança,

um espaço razoável, mobiliário e qualidade visual (GEHL, 2013, p.21).

Página | 26

Jan Gehl (2006) aponta que existem três tipos de atividades: as necessárias,

as opcionais e as sociais. As necessárias são aquelas indispensáveis, onde os

envolvidos são obrigados a participar, independentemente do ambiente exterior.

Inversamente, as atividades opcionais dependem das condições do lugar e da

vontade do envolvido em realizá-la. Por último, as sociais são aquelas que

dependem do convívio público, sendo denominadas, também, de atividades

“resultantes”, uma vez que são consequência das outras atividades.

Neste contexto, o arquiteto alega que existe uma relação proporcionalmente

direta entre a qualidade do ambiente físico e a frequência com que tais atividades

acontecem. Ou seja, quanto mais qualidade o ambiente físico tiver, mais atividades

serão desenvolvidas nela.

Figura 2: Qualidade do entorno x atividades

Fonte: Gehl, 2006

Porém, além da qualidade física do ambiente, a acessibilidade também

influencia no uso/ocupação dos espaços livres públicos e, consequentemente, na

sua apropriação.

Página | 27

Segundo Sun Alex (2008, p.25) ‘’a acessibilidade é a condição primordial para

a apropriação e o uso de um espaço. Entrar em um lugar é a condição inicial para

poder usa-lo’’. Neste sentido, o autor, citando Carr (1995), afirma que existem três

categorias de acesso: físico, visual e simbólico.

Acesso físico refere-se à ausência de barreiras espaciais ou

arquitetônicas (construções, plantas, águas, etc.) [...]. No caso do espaço

público, devem-se considerar também a localização das aberturas, as

condições de travessia das ruas e a qualidade ambiental dos trajetos.

Acesso visual ou visibilidade define a qualidade do primeiro contato

[...] do individuo com o lugar. Perceber e identificar ameaças potenciais é

um procedimento instintivo antes de alguém adentrar qualquer espaço.

Acesso simbólico ou social refere-se à presença de sinais, sutis ou

ostensivos que sugerem quem é e quem não é bem-vindo ao lugar.

(CARR, 1995, apud ALEX, 2008, p.25, grifo próprio).

Logo, é necessário que os espaços livres públicos combinem qualidade física

e acessibilidade (física, visual e simbólica), para que seja reconhecida uma

identidade, gerando, assim, a apropriação do espaço.

Em síntese, espera-se que com esta relação (qualidade física-acessibilidade),

os espaços livres públicos apresentem conjunto de aptidões que propiciem a sua

apropriação por parte população e, como consequência, confiram vitalidade ao

ambiente urbano, já que segundo Jane Jacobs (2001, apud BUENO; FRANCO,

2010), o grau de urbanidade de uma cidade, metrópole ou bairro está relacionado ao

grau de vitalidade urbana ali presente.

Segundo Jacobs, o grau de urbanidade de uma cidade, metrópole ou de um

bairro está relacionado ao grau de vitalidade urbana ali presente. Dessa

forma, conforme apontado por Frederico de Holanda, a urbanidade

transcende a realidade física da cidade, ao incluir a “qualidade do cortês, do

afável, relativo à negociação continuada entre interesses”. Sandra Mello

define urbanidade “como aquilo que qualifica a vida urbana, no sentido da

interação entre os cidadãos no espaço coletivo, da promoção do encontro e

do convívio social” (BUENO; FRANCO, 2010).

Conclui-se, então, que é necessário pensar espaços livres de forma

integrada, criando, assim, espaços atrativos e acessíveis, onde as pessoas

envolvidas possam desempenhar atividades distintas com conforto e segurança

concedendo, desta forma, vitalidade ao ambiente urbano.

2. UNIVERSO DO PROJETO

Neste capítulo será abordado o processo de desenvolvimento

urbano da cidade do Mindelo – de vila à cidade – e trás uma

elucidação sobre o histórico de intervenções ocorridas no

entorno da praia da Laginha.

Página | 30

2.1. Contexto do desenvolvimento urbano da cidade do Mindelo/São Vicente.

A ilha de São Vicente é a segunda mais populosa de Cabo Verde e pertence

ao grupo do Barlavento, composta por outras cinco ilhas, localizadas a norte do

arquipélago. Cabo Verde, oficialmente República de Cabo Verde, é um país insular

localizado num arquipélago formado por dez ilhas vulcânicas na região central do

Oceano Atlântico a cerca de quinhentos e setenta (570) quilómetros da costa da

África Ocidental.

Mapa 1: Mapa de Cabo Verde

Fonte: http://www.capeverdehomes.org, acessado em 10/11/2015.

Por sua vez, Mindelo - principal centro urbano de São Vicente e a segunda

maior cidade do país – está situada a noroeste da ilha, dentro da baía do Porto

Grande – porto natural que está conectado com o Canal de São Vicente e com o

Oceano Atlântico.

Página | 31

Mapa 2: Mapa de São Vicente

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_de_S%C3%A3o_Vicente_(Cabo_Verde), acessado em

10/11/2015. Nota: Destaque cidade do Mindelo.

O Porto Grande do Mindelo desempenha, desde o início da ocupação de S.

Vicente, um papel estruturante para o desenvolvimento da ilha, tanto em termos

econômicos como urbanísticos, já que o porto figura como a principal fonte de

recursos e foi por onde surgiram os primeiros focos de ocupação da ilha de São

Vicente.

Após a consolidação dos primeiros núcleos portuários de Cabo Verde, em

meados de oitocentos, pretendia-se transformar o arquipélago num ponto de apoio

para as embarcações que tinham rotas pelo Atlântico. Para tal, o investimento

público foi direcionado para a cidade do Mindelo, ocasionando, assim, a sua

afirmação em relação às demais.

...o surto de desenvolvimento ligado à navegação a vapor, sobretudo

relacionada com o transporte marítimo e o comércio de origem inglesa,

permitiu novos processos de desenvolvimento urbano, de onde se destaca a

criação da atual segunda cidade em importância - o Mindelo. (FERNANDES;

FERNANDES, 200-?)

Página | 32

A Cidade de Mindelo, como se conhece hoje, surge então, nos finais do séc.

XIX, associada à baía de Porto Grande, que contribuíra para o crescimento e

desenvolvimento da ilha, visto sua importância para a economia do país.

A ocupação inicial à volta do Porto Grande mediante a consolidação do porto

como entreposto comercial entre a Inglaterra, América do Sul, África e Ásia, cria

bases para o povoamento da ilha e, em 1858, a povoação do Mindelo foi elevada a

categoria de vila.

(…) tendo consideração que a povoação principal da ilha de S. Vicente tem

modernamente crescido em número de habitantes, e em construções

urbanas; e que o Porto Grande (…) é frequentado por grande número de

embarcações (…) o que cada vez dá maior importância àquela ilha e

concorre para o seu aumento. (Linhas Gerais da História do

Desenvolvimento do Mindelo apud IIPC, 2011, p. 13).

No entanto, o reconhecimento do núcleo urbano de S. Vicente só se

concretizou após várias tentativas, dado que as condições naturais da ilha não

propiciavam a ocupação humana. A ordem do Estado Português para a ocupação de

S. Vicente, oferecendo um conjunto de contrapartidas aos novos povoadores

possibilita a “chegada dos novos habitantes (...) que queriam construir habitações na

vila que sofria muito de falta de casas” (IIPC, 2011, p. 13) e devido à rápida

transformação de Mindelo pelo aumento significativo de habitantes e de construções

urbanas, foi reconhecido a Mindelo o estatuto de cidade em 1879.

Figura 3: Vista aérea da baía do Mindelo - 1885

Fonte: Fonte: www.mindelo.info, acessado no dia 10/11/15.

Página | 33

No decorrer do séc. XX, perante a visível expansão da cidade, acréscimo

demográfico e crescente importância do Porto na conjuntura nacional, são realizadas

transformações urbanas voltadas para a construção de edifícios públicos e de

moradia. Neste contexto, foi construída uma estrada, junto ao litoral (a Avenida

Marginal), permitindo que outros equipamentos complementares fossem implantados

na época.

Desta forma, o núcleo urbano portuário se estende em raios cada vez maiores

na direção das periferias (conforme figura 04), paralelamente em relação à baía,

devido ao aumento do número de edificações voltadas à habitação e serviços

públicos e portuários, assim como novos arruamentos e espaços públicos,

contribuindo para o desenvolvimento urbano da zona portuária e do centro da

cidade.

Figura 4: Vista aérea da baía do Mindelo - 1940

Fonte: www.mindelo.info, acessado no dia 10/11/15.

Tendo em vista a crise portuária ocorrida na época, o Estado português, na

tentativa de devolver ao arquipélago o estatuto de plataforma para rotas do Atlântico,

em meados do séc. XX, dá início a uma estratégia político-econômica de

investimento em Cabo Verde, a fim de atrair a navegação internacional e tornar a

cidade mais estruturada do ponto de vista urbanístico e sanitário (ver figura 05).

Página | 34

Em primeiro lugar, pretendia‐se a modernização das interfaces do arquipélago

com o exterior, utilizando os planos diretores para a reestruturação das duas

principais cidades portuárias, a Praia e o Mindelo. Outro propósito visava à

consolidação do povoamento das ilhas através de intervenção nos núcleos

existentes que apoiavam o desenvolvimento das atividades económicas locais,

como a pesca ou a extração de sal. Por último, com a generalização da ideia de

turismo balnear na Europa, Cabo Verde viu nas suas qualidades paisagísticas e

climatéricas uma oportunidade para o crescimento económico do arquipélago.

(FERNANDES; FERNANDES, 200-?)

Neste âmbito, foram desenvolvidos durante a década de 1960, os planos

urbanísticos para as cidades da Praia e do Mindelo, com o objetivo de afirmar a

aptidão desses lugares, e contribuir para a consolidação do povoamento e das

atividades económicas.

Figura 5: Vista aérea da baía do Mindelo - 1965

Fonte: www.mindelo.info, acessado no dia 10/11/15.

Após a independência das ilhas em 1975, foi posta em prática uma política de

preservação do meio ambiente, através dos sucessivos Programas de Governo

(1975-1980, 1981-1985 e 1986-1990) e Planos Nacionais de Desenvolvimento

(1982-1985 e 1986-1990), que tinham como principais objetivos a ‘’preocupação

com o reordenamento do território, o desenvolvimento integrado e o prosseguimento

da política de desenvolvimento de energias novas e renováveis’’ (SILVA, 2005. p.

41).

Página | 35

Portanto, entende-se o processo de expansão urbana – de vila à cidade – do

Mindelo como um processo resultante da urbanização do litoral, diretamente

relacionada com o desenvolvimento das atividades portuárias, bem como pela

implementação de outras politicas de desenvolvimento ao longo dos anos.

Figura 6: Evolução Urbana de Mindelo 1858 a 2000

Fonte: Cruz, 2000, apud Oliveira, 2009, acessado no dia 10/11/15.

Página | 36

Atualmente, o Plano Diretor Municipal da cidade do Mindelo – em revisão

desde 2011 e indisponível para consulta pública – contempla uma série de projetos

estruturantes a ser realizados na ilha como Porto de Águas Profundas, a Zona de

Desenvolvimento Turístico Integrado do Flamengo, a Cadeia Civil, o Comando Militar

e também a Ampliação do terrapleno e construção do acesso na zona nordeste do

Porto Grande - o único realizado até a data.

Figura 7: Vista aérea da baía do Mindelo - 2015

Fonte: www.mindelo.info, acessado no dia 10/11/15.

Figura 8: Vista aérea do centro da cidade - 2015

Fonte: www.mindelo.info, acessado no dia 10/11/15.

Página | 37

2.2. Elucidação sobre o histórico de intervenções no entorno da praia da

Laginha.

A Praia da Laginha está situada dentro da Baía do Porto Grande, de formato

semicircular com comprimento aproximado de 9 km entre a Ponta de João Ribeiro e

a Ponta do Morro Branco. Localizada na costa norte da Ilha de S. Vicente – Cabo

Verde, a praia é uma das mais frequentadas por toda a população da ilha e é onde

são desenvolvidas atividades esportivas, culturais e de lazer da cidade.

Mapa 3: Localização das praias da Matiota e Laginha

Fonte: WIKI2007.03.16.cv.SaoVicente.mapa, acessado no dia 10/11/15.

Nota: Editada pelo autor.

Porém, a praia da Laginha apenas passou a ser utilizada pela população,

depois da construção de um estaleiro naval, no ano de 1980, na praia da Matiota

(preferida pelos mindelenses na época). Inserido no contexto de expansão das

atividades marítimo-portuárias, o estaleiro da CABNAVE (Estaleiros Navais de Cabo

Verde), foi criado com o objetivo de proceder à reparação e construção de

embarcações para o mercado nacional e internacional na praia da Matiota,

causando uma alteração profunda em seu uso e ocupação.

Página | 38

Figura 9: Praia da Matiota em 1930 e em 1958

Fonte: www.mindelo.info, acessado no dia 10/11/15.

Muito embora a CABNAVE prometesse novos postos de trabalho e

desenvolvimento para a ilha, a sua instalação foi contestada pela população, já que

a praia era bastante utilizada e, segundo esta havia outros locais, dentro e fora da

baía do Porto Grande, que podiam comportar o estaleiro naval. De nada valeram os

protestos e, desta forma, a população foi afastada e obrigada a migrar para outras

praias.

Página | 39

A Laginha, pouco utilizada até então – devido as suas condições naturais -,

passou, posteriormente à intervenção, a ser a praia mais procurada pela população.

Figura 10: Praia da Laginha – 1958

Fonte: www.mindelo.info, acessado no dia 10/11/15.

Segundo o Instituto Marítimo Portuário (IMP), na época, a praia da Laginha

não oferecia as melhores condições de conforto e segurança aos usuários, pois era

‘’muito batida pelas ondas e constituída por lajedos basálticos, muitos calhaus

rolados e alguma areia basáltica, sazonal, dependendo das correntes e ondas

marítimas durante o ano’’ (IMP, 2013). Ainda de acordo com a análise feita pelo IMP

sobre o histórico da praia da Laginha, entende-se que a praia com areia e devidas

condições para o banho foi fruto da intervenção humana. Por conseguinte, a Laginha

apenas adquiriu a configuração atual após a referida intervenção e as ampliações do

porto em 1983 e 1997.

É possível verificar as transformações espaciais ocorridas no perfil da praia e

no entorno, desde o período que antecedeu a migração da população da Matiota

para a Laginha - iniciado em 1980 até os dias de hoje - por meio da organização

cronológica de fotos da época apresentadas na figura 12 e pela análise da tabela 01.

Página | 40

Figura 11: Praia da Laginha – 1968, 2003, 2013 e 2015

Fonte: www.mindelo.info, acessado no dia 10/11/15. Nota: Editado pelo autor.

Página | 41

Tabela 1: Quadro resumo das modificações na praia da Laginha.

HISTÓRICO DA PRAIA DA LAGINHA

LAGINHA ENTORNO

1968

Praia com muitos calhaus na faixa

de praia; sem areia; muito batida

pelas ondas; e sem utilização.

Sistema viário pouco estruturado;

edifícios exclusivamente voltados

aos serviços portuários; sem

cobertura vegetal.

2003

Praia com poucos calhaus na faixa

de praia; com areia basáltica;

menos batida pelas ondas; e

bastante utilizada.

Sistema viário bem estruturado;

pequeno número de edifícios

residenciais e comerciais, além dos

portuários; iluminação pública; pouca

cobertura vegetal.

2013

Praia sem calhaus na faixa de

praia; com areia basáltica; menos

batida pelas ondas; e bastante

utilizada.

Sistema viário bem estruturado;

grande número de edifícios

residenciais e comerciais, além dos

portuários; iluminação pública; pouca

cobertura vegetal; verticalização.

2015

Praia significativamente maior; sem

calhaus na faixa de praia; com

areia calcária; e bastante utilizada.

Sistema viário bastante estruturado;

grande número de edifícios

residenciais e comerciais, além dos

portuários; iluminação pública; pouca

cobertura vegetal; verticalização.

Fonte: Produção do autor.

Até meados de 2013, a praia da Laginha era dotada de uma faixa de areia

com 350m de comprimento e 40m de largura, bem como de um ‘calçadão’

parcialmente arborizado, com espaços de permanência e iluminação pública.

Entretanto, o projeto de a Ampliação do terrapleno e construção do acesso na

zona nordeste do Porto Grande, elaborado em novembro de 2010, com vista a

cumprir as normas internacionais de segurança para instalações portuárias e

modernizar a logística operacional do porto, veio a alterar este cenário.

Página | 42

Tal intervenção compreendeu duas fases: ampliação do porto - executada

em março de 2013 – e requalificação da praia da Laginha – executada em julho de

2013.

O projeto de ampliação do porto da cidade previa um avanço sobre o mar e

um conjunto de alterações no sistema viário (conforme figura 13), de modo a

possibilitar a construção de um novo ponto de acesso ao porto e, ainda, facilitar a

circulação de veículos pesados na Avenida Marginal.

Figura 12: Alteração do contorno da costa devido às obras

Fonte: imagem extraída do Estudo de Impacto Ambiental da ENAPOR.

Concretamente, o projeto resultou no aumento do aterro portuário existente

(conquistado ao mar) em cerca de 17.000 m², totalizando uma área de 25.000 m²

para comportar o referido acesso (via de sentido duplo com faixas de

estacionamento, calçada e mirante) e alterações no sistema viário do entorno

(inserção de rotatórias).

Figura 13: Projeto de intervenção proposto

Fonte: imagem extraída do Estudo de Impacto Ambiental da ENAPOR.

Página | 43

Paralelamente, a intervenção na praia da Laginha, deu-se pelo aumento do

comprimento da linha de praia de 350 para 500 metros e da largura máxima de 40

para 90 metros; extensão do calçadão existente em cerca de 360 metros; e

construção de um espigão (parcialmente submerso) de contenção das areias

colocadas na praia devido a existência de uma captação de água salgada para

alimentação da central dessalinizadora do Mindelo.

Figura 14: Praia da Laginha após a intervenção em 2013

Fonte: Autor desconhecido.

No conjunto das duas fases, as intervenções foram: aumento do terrapleno

portuário na região sul da praia; aumento da faixa de areia da praia; aumento linear

do calçadão; construção de um mirante na extremidade sul da praia; e construção de

um espigão na extremidade norte da praia. Tais intervenções, conforme figura 15,

vieram a alterar de forma significativa a imagem e morfologia da área.

Figura 15: Praia da Laginha em 2013 (esquerda) e em 2017 (direita)

Fonte: www.google.com/maps. Nota: Editado pelo autor.

Página | 44

De acordo com o Estudo de Impacto Ambiental apresentado, em 2010,

pela Empresa Nacional de Administração dos Portos (ENAPOR), o aumento do

terrapleno portuário para ampliação do Porto de S. Vicente se enquadra no âmbito

do programa de reabilitação dos Portos de Cabo Verde e visa garantir a

sustentabilidade económica, social, ambiental e financeira dos mesmos. Porém, a

proposta foi amplamente criticada, dando forma a um conflito de interesses entre os

gestores do projeto e conjunto de críticos, entre os quais ambientalistas, políticos e a

população em geral, quanto aos impactos ambientais e sociais sobre a praia da

Laginha.

Tal divergência se deve pelo fato de ter ocorrido uma alteração do projeto

inicial - este não previa a requalificação da praia da Laginha – e, fundamentalmente,

devido aos impactos ambientais resultantes da intervenção na biologia marinha da

baía, conforme apresenta Guilherme Mascarenhas (2013) em seu estudo sobre o

impacto das obras na praia da Laginha.

Atualmente, a praia continua muito frequentada por toda a população do

Mindelo. No entanto, em virtude de não ter sido inserida no contexto da intervenção

nenhuma outra melhoria na infraestrutura local como, por exemplo, equipamentos de

apoio, equipamentos de incentivo a prática de esporte ou mobiliário urbano e, o fato

de subsistirem antigos pontos negativos, torna evidente a necessidade da

intervenção urbana com vista a requalificar o espaço.

3. ÁREA DE ESTUDO

Este capítulo irá ater-se às análises pertinentes à área de

estudo mediante a caracterização da situação atual,

levantamento dos problemas/potencialidades e síntese

diagnóstica dos dados levantados.

Página | 47

A análise da fração teve como base a determinação de duas categorias –

área de estudo e área de projeto – a partir dos conceitos apresentados por

Ferdinando Rodrigues (1986). O autor defende que para o conhecimento da área de

influência do projeto no entorno é necessário demarcar uma área-de-estudo,

delimitada por um raio que pode variar de 300m a 500m a partir do “centro de

gravidade física e funcional da área” e, incorporada nesta, uma área-de-projeto

“onde se concentrarão as propostas de organização física”.

Relativamente à requalificação pretendida neste trabalho, definiu-se como

área-de-projeto a faixa de praia (calçadão/adjacências) e estendeu-se o estudo da

área para um raio de influência de 500m (conforme mapa 02).

Com a delimitação da área de estudo num raio de 500m foi possível englobar

uma fração significativa do entorno, na qual se encontram equipamentos

significativos (porto, escolas, etc.), vias estruturantes, assim como a praia na sua

totalidade.

Mapa 4: Recorte da área de estudo

Fonte: Produção do autor a partir de base do Scribblemaps, 2017.

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O método de trabalho utilizado tem como base o manual ‘Espaços Públicos:

Diagnóstico e Metodologia de Projeto’ elaborado pela arquiteta e urbanista Simone

Gatti2 a partir do programa3 ‘Soluções para Cidades’ que como objetivo acelerar e

qualificar o desenvolvimento urbano nas áreas de habitação, saneamento,

mobilidade e espaços públicos.

O manual divide-se em três partes. O primeiro capítulo trata da leitura do

espaço urbano a fim de se identificar onde podem ser investidas as melhorias

urbanas, o segundo aborda a análise do espaço urbano e apresenta um passo a

passo para o desenvolvimento de projetos e o terceiro capítulo aponta um conjunto

de boas praticas para projetos de espaços públicos.

A metodologia adotada pelo manual consiste, num primeiro momento, na

compreensão da cidade por meio do mapeamento dos pontos de interesse

e dos problemas/potencialidades do espaço urbano, com vista a identificar as

prioridades e escolher locais para projeto. Posteriormente a escolha da área de

intervenção, têm-se as análises da área e entorno, através da identificação dos

problemas urbanos, apropriações do espaço, fluxos/deslocamentos, estruturas

existentes, topografia, vegetação, entre outros. Por fim, com a coleta dos elementos

necessários para o início do projeto, seguem-se as etapas para o desenvolvimento

da proposta, entre elas: definição do programa; setorização de atividades; projetos

complementares; detalhamentos; memorial descritivo; planilha orçamentária; e

diretrizes pós-ocupação.

Tal metodologia serviu de base para a elaboração do fluxograma de

desenvolvimento do projeto fruto deste trabalho, bem como para as análises

especificas da área de intervenção, sendo que para as análises também foram

consultados outros autores (citados no referencial teórico).

2 Arquiteta e urbanista formada pela Universidade Estadual de Londrina. Doutoranda da Faculdade de

Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e especialista em Projetos Urbanos pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. 3 Programa desenvolvido pela Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP).

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Figura 16: Fluxograma para desenvolvimento de projetos sugerido pelo manual

Fonte: imagem extraída do manual ‘Espaços Públicos: Diagnóstico e Metodologia de Projeto’.

Página | 50

Para efeito deste trabalho, a caracterização da área foi realizada após a

escolha da área de projeto e não anteriormente, como sugere o manual, dado que o

universo de estudo já estava definido. Em seguida, foi feita a análise da área,

síntese diagnóstica e elaboração da proposta (conforme figura 18).

Figura 17: Fluxograma para desenvolvimento de projeto

Fonte: Produção do autor.

Universo

Plano

Programa

Zoneamento

Diagnóstico

Problemas e potencialidades

Projeto

Projeto

Caracterização

Perfil Análises

Uso do solo

Sistema viário

Vegetação

Topografia

Calçadão

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3.1. Caracterização da área de estudo.

Inserida entre bairros de predominância residencial, a praia da Laginha está

situada na baía do Porto Grande a menos de 2 km do centro da cidade do Mindelo e

constitui-se como um grande ativo para a população local, além de ser um dos

principais pontos turísticos da ilha.

A orla é bastante utilizada pela população ao longo de todo o dia pela

presença de estabelecimentos comerciais próximos à praia – restaurantes, bares,

discotecas, etc. -, bem como pela prática de exercícios físicos no calçadão e na faixa

de areia. Além disso, durante o ano são realizados eventos esportivos e festivais de

música na praia.

O entorno da praia é marcado pela presença de grandes equipamentos

institucionais - Porto Grande do Mindelo, ELECTRA (Empresa Nacional de

Eletricidade e Água), etc. - e, fundamentalmente, pela figura de equipamentos

comerciais – Caravela, Kalimba, etc. - por toda a extensão da praia, que determinam

a vitalidade da área.

Figura 18: Praia da Laginha

Fonte: imagem extraída da pagina de Facebook ‘Mindelo São Vicente Vídeo’.

Nota: Editado pelo autor.

Página | 52

A concentração dos equipamentos relacionados às atividades comerciais e

turísticas na área lindeira a praia ilustram o perfil turístico da praia e este se estende

por toda a orla, visto que ao longo da mesma estão presentes outros equipamentos

da mesma natureza (conforme mapa 04). Além disso, a figura do porto, também,

influência o perfil da área.

Mapa 05: Espaços lazer e comerciais presentes na orla

Fonte: Produção do autor a partir de base do Googlemaps, 2017.

Conforme o mapeamento dos equipamentos significativos relacionados as

atividades marítimo-portuárias presentes na orla (mapa 05) é possível vislumbrar

outra face do perfil da orla, relacionada com a presença do porto que acarretou a

instalação de instituições dependentes.

Neste sentido, destaca-se, a presença destas instituições ligadas às

atividades marítimo-portuárias como, por exemplo, a CABNAVE (estaleiro naval), a

Interbase (empresa de prestação de serviços de congelação e armazenagem

frigorífica de pescado), a Agência Marítima Portuária (AMP), o Mercado de Peixe,

entre outras implantadas na orla.

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Mapa 6: Equipamentos marítimo-portuários presentes na orla

Fonte: Produção do autor a partir de base do Googlemaps, 2017.

Perante os mapeamentos, tanto dos espaços lazer e comerciais, como dos

equipamentos significativos, presentes na orla, é possível constatar a correlação

entre as atividades turísticas e portuárias na orla, garantindo, assim, a vitalidade da

região. Tal relação se estabelece de forma equilibrada, dado que os equipamentos

estão dispostos em zonas distintas, conforme a sobreposição dos pontos

apresentada na mapa 05.

Mapa 7: Equipamentos marítimo-portuários presentes na orla

Fonte: Produção do autor a partir de base do Googlemaps, 2017.

Mediante a caracterização da área de estudo foram feitas as análises da

fração a partir do estudo do uso do solo, sistema viário, vegetação e topografia, a fim

de se obterem bases para a elaboração da proposta de intervenção. Também foi

feita uma analise do calçadão a partir dos mesmos estudos.

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3.2. Análise da área de estudo.

O referido processo de desenvolvimento urbano da cidade do Mindelo dado

com a instalação do porto e, a partir daí, a expansão em raios cada vez maiores do

núcleo urbano através da construção de novas instituições públicas e novas

residências é notório na análise do uso e ocupação da fração, visto que no decurso

da faixa litorânea estão implantados vários equipamentos institucionais voltados

para o porto (mapa 06) e, na região central, verifica-se a coexistência de

equipamentos de lazer, comércio, serviço e residências.

Neste contexto, tem-se na área adjacente à praia a predominância de

equipamentos institucionais e comerciais e, conforme se distancia da orla, o

ascendente do uso residencial.

Mapa 8: Uso do solo

Fonte: Produção do autor a partir de base do Scribblemaps, 2017.

Página | 55

No entorno da área de intervenção encontra-se um conjunto de

estabelecimentos de serviços como bares, restaurantes e discotecas; equipamentos

esportivos (aparelhos de ginástica e uma academia da terceira idade); parques de

estacionamento; mirante; e alguns edifícios abandonados. Também se ressaltam na

fração algumas áreas verdes (praças/jardins), instituições de ensino, comércio e

serviços, porém num raio mais distante da orla.

Em relação à malha viária da fração tem-se que é composta por duas vias

estruturantes – Avenida Marginal (via costeira) e Avenida Dr. Alberto Leite – e o

restante vias locais (conforme mapa 07).

Mapa 9: Sistema viário da área de estudo

Fonte: Produção do autor a partir de base do Scribblemaps, 2017.

O tráfego mais intenso se concentra na Avenida Marginal pelo fato da avenida

comportar todo o trânsito derivado do Porto (caminhões e carros particulares) e,

também, pelo fato de circularem nela cinco linhas de ônibus que ligam a praia com o

restante da cidade.

Página | 56

Figura 19: Avenida Marginal (entorno da Laginha)

Fonte: Acervo do autor, 2017.

A malha viária da Av. Marginal (conforme figura 21) é formada por calçadas

dos dois lados – revestidas com piso intertravado, arborizadas e em bom estado de

conservação – e pela via – composta por quatro faixas de rodagem (duas em cada

sentido), revestidas com asfalto em estado razoável de conservação. Nota-se que

apesar do tráfego intenso, a via suporta a demanda, dado que duas das quatro

faixas são utilizadas como estacionamento (ainda que exista um parque de

estacionamento próximo à praia) e, mesmo assim, não se verificam

congestionamentos - exceto na parada de ônibus.

Figura 20: Corte da via (Av. Marginal)

Fonte: Produção do autor.

Página | 57

Na Avenida Dr. Alberto Leite o tráfego é moderado e se dá

predominantemente por carros particulares para acesso à praia e as instituições de

ensino nas margens da via.

Figura 21: Avenida Dr. Alberto Leite

Fonte: Acervo do autor, 2017.

A malha viária é formada por calçadas dos dois lados – revestidas com piso

intertravado, arborizadas e em bom estado de conservação – pela via – composta

por quatro faixas de rodagem (duas em cada sentido), revestidas com asfalto em

bom estado de conservação – e por baias de estacionamento intermitentes nos dois

lados (conforme figura 23).

Figura 22: Corte da via (Av. Dr. Alberto Leite)

Fonte: Produção do autor.

O tráfego de menor intensidade está retido nas vias locais da fração

compostas por duas faixas de rodagem revestidas com paralelepípedo e calçadas,

geralmente, do mesmo material.

Relativamente à vegetação existente, a fração estudada é composta por

pequenas zonas arbóreas, principalmente nas praças, na área non aedificandi (ver

mapa 10), no calçadão e nas áreas sem ocupação do entorno (conforme mapa 09).

Página | 58

Mapa 10: Áreas verdes na área de estudo

Fonte: Produção do autor a partir de base do Scribblemaps, 2017.

As praças se encontram na área predominantemente residencial, ao passo

que as demais zonas arbóreas estão dispostas nas áreas sem ocupação (utilizadas

como estacionamento) adjacentes a Av. Marginal e Av. Dr. Alberto Leite, sendo a

maior parte da vegetação de grande porte e implantada de forma aleatória

(conforme figura 24).

Figura 23: Vegetação existente

Fonte: Acervo do autor, 2017.

Página | 59

No que se refere à topografia, tem-se que a fração é composta por uma

região parcialmente plana na faixa de praia e por algumas elevações no entorno,

como, por exemplo, no local onde está implantado o parque de estacionamento da

praia e na região próxima ao porto onde existe uma montanha (conforme figura 25).

Mapa 11: Topografia da área de estudo

Fonte: Produção do autor a partir de base do Scribblemaps, 2017.

Figura 24: Elevações no entorno

Fonte: Acervo do autor, 2017.

Página | 60

Existe, também, um desnível existente entre o calçadão e a linha de praia que se

apresenta em alturas diferentes na extremidade sul (próxima ao porto) e na norte

(próxima ao eq. comercial). Na extremidade sul a altura do desnível é de

aproximadamente 70 centímetros – suplantado por uma escada de quatro degraus -

e enquanto que na outra extremidade a altura é de aproximadamente 2 metros –

vencido por uma rampa (conforme figura 26).

Figura 25: Desnível do calçadão em relação à praia

Fonte: Acervo do autor, 2017.

O calçadão, referido anteriormente, tem uma extensão de 360 metros, largura

variável – de 1,50 (mínimo) a 6 metros (máximo) - e é dotado de mobiliários urbanos,

tais como bancos de concreto, postes de iluminação pública, lixeiras e pontos de

ônibus, além de equipamentos comerciais.

Figura 26: Calçadão da praia

Fonte: Acervo do autor, 2017.

Página | 61

Ao longo de todo o dia o calçadão é utilizado para atividades de lazer e,

também, para prática de exercícios físicos - mas não existe uma demarcação dos

espaços – o que gera conflitos de uso. Os mobiliários urbanos se encontram em

bom estado de conservação (exceto as lixeiras), porém a sua disposição no

calçadão origina bloqueios na circulação dos pedestres. A iluminação pública na orla

é satisfatória, mas não cobre a faixa de areia, restringindo a sua utilização.

Figura 27: Usos no calçadão da praia

Fonte: Acervo do autor, 2017.

A vegetação existente no calçadão, tal como do entorno, é de grande porte e

é composta por tamareiras e algarobeiras, estando dispostas linearmente ao longo

do calçadão.

Figura 28: Vegetação existente no calçadão

Fonte: Acervo do autor, 2017.

Página | 62

3.3. Síntese diagnóstica da fração.

Posteriormente à caracterização e análise da fração foi feita a síntese

diagnóstica, ou seja, a problematização dos dados levantados, com base na leitura

dos problemas e potencialidades da área de projeto.

Tal leitura se baseia na sintetização das carências – equipamentos,

acessibilidade, problemas urbanos (falta de segurança e iluminação), etc. – e das

potencialidades – espaços livres, usos e apropriações do espaço, entre outros.

Os principais problemas evidenciados na fração estão relacionados à falta de

acessibilidade nos pontos de acesso à praia; falta de iluminação pública na faixa de

areia que impossibilita a sua utilização durante a noite; escassez de banheiros

públicos; inexistência de abrigos de ônibus (são apenas sinalizados); e má

conservação dos pontos de salva-vidas.

Além dos problemas elencados acima, o próprio calçadão constitui um

problema já que a sua largura não acomoda de maneira adequada as atividades

nele desempenhadas – descanso, passeio e corrida – e, também, existem bloqueios

na circulação do pedestre por intermédio de árvores e postes, além do mau estado

de conservação do piso intertravado.

Figura 29: Problemas evidenciados

Fonte: Acervo do autor, 2017.

Quanto às potencialidades da fração têm-se, principalmente, o fato dela ser

bastante utilizada pela população dada a diversidade de usos verificados na praia -

uso comum, festivais de música (Laginha Summer Fest) e eventos esportivos

(Corrida São Silvestre) – ao longo de todo o ano.

Página | 63

As demais potencialidades da fração são: a largura da faixa de areia (cerca

de 90m) que permite a ampliação do calçadão; a área do espigão utilizado pela

população como descanso e trampolim que pode ser estruturado em um espaço de

lazer; e as áreas sem ocupação presentes no entorno.

Figura 30: Potencialidades evidenciadas

Fonte: Autor desconhecido.

As visuais também constituem uma potencialidade a ser explorada, visto que

a partir de pontos como o mirante, o espigão ou a área onde está implantada a ATI é

possível vislumbrar o Mont d’cara (uma das sete maravilhas de Cabo Verde que

deve o nome ao fato do recorte da montanha fazer lembrar um rosto humano), assim

como parte da ilha de Santo Antão.

Figura 31: Potencialidades evidenciadas

Fonte: Acervo do autor, 2017.

A partir da síntese diagnostica (mapa 11) desenvolvida, foram formuladas as

diretrizes de projeto que permitiram a definição do programa e o zoneamento das

atividades, os quais serão apresentados em outro capítulo.

Página | 64

Mapa 12: Mapa síntese4

Fonte: Produção do autor, 2017.

4 Mapa disponível nos apêndices em maior escala.

a. projeto

banheiros

acessibilidade mobiliário salva-vidas

iluminação

4. ESTUDOS DE REFERÊNCIA

Neste capítulo serão apresentadas referências de projeto que

auxiliaram nas escolhas relativas a aspectos estéticos, formais

e funcionais da proposta, bem como uma síntese dos aspectos

que foram analisados.

Página | 67

Os estudos de referência consistem em um método de coleta e análise de

dados referentes a experiências projetuais precedentes, a fim de se detectar

aspectos relevantes que sirvam como base para a concepção de novas propostas.

Portanto, foram analisadas duas propostas de intervenção urbana em frentes

de água (orlas de praias) pelo fato destas evidenciarem desafios de projeto

semelhantes aos encontrados na área de intervenção.

O estudo (indireto) dos projetos de referência foi feito com base na análise do

partido urbanístico, das diretrizes projetuais e do programa de necessidades de cada

proposta, bem como aspectos relativos a zoneamento, mobiliário urbano, etc.,

através de pesquisas em sites especializados.

Além das propostas apresentadas, foram consultados projetos

complementares de mobiliário urbano, equipamentos urbanos e paisagismo, como

contributos a concepção projetual da requalificação pretendida.

4.1. Reurbanização da orla de Camburi – BR.

Localizada na cidade de Vitória - Espírito Santo, a praia de Camburi possui

um extenso calçadão (6 km de extensão), muito utilizado pela população como

espaço público de lazer, fruto da requalificação de um trecho da orla.

A praia encontra-se entre três bairros: Jardim da Penha, Mata da Praia e

Jardim Camburi e está inserida no processo de crescimento da cidade, fruto das

transformações estruturais ocorridas no entorno imediato.

A proposta buscou criar uma urbanização linear com variadas possibilidades

de estar, sem se repetir, e uma arquitetura que sustentasse tal diversidade de usos.

Para tanto, foram levantados os usos e edificações existentes na orla, apropriações

diversas, bem como a relação com o entorno e novos empreendimentos.

Página | 68

Figura 32: Orla de Camburi

Fonte: Vitruvius, acessado em abril 2017.

O desenho do calçadão teve como partido a separação das atividades

esportivas e de passeio contemplativo, com a intenção de evitar o conflito entre os

esportistas - que utilizam a ciclovia ou a pista de corrida - e os pedestres que

utilizam o passeio.

Figura 33: Calçadão da praia de Camburi

Fonte: Wikipedia, acessado em abril 2017.

Como parte da reurbanização da orla de Camburi, a construção de novos

quiosques na praia visava qualificar o serviço e a estrutura e, ainda, assegurar a

visibilidade da praia. Neste contexto, foram construídos sete módulos de estrutura

leve e forma orgânica, com um quiosque cada e deque de madeira.

Página | 69

Figura 34: Quiosques da praia de Camburi

Fonte: Diário de Vitória, acessado em abril 2017.

Adjacente às edificações foram previstos módulos de estar, apoio turístico e

orientação ao exercício sobre a areia da praia, com mobiliário urbano apropriado,

paisagismo, áreas de mesas cobertas e descobertas e playground infantil, como

medida de incentivo a permanência dos usuários no espaço público.

Figura 35: Estruturas no calçadão da praia

Fonte: Wikipedia, acessado em abril 2017.

Atualmente, a praia urbana de Camburi é considerada ponto de encontro da

população local e serve de sede para eventos esportivos, como torneios de vôlei de

praia, futebol de areia, campeonatos de vela, entre outros.

Página | 70

4.2. Projeto de calçadão e clube náutico na praia de Hjerting – DK.

A praia de Hjerting está localizada em Esbjerg – cidade portuária do sudoeste

da Dinamarca onde está implantado um dos portos pesqueiros mais importantes do

país.

A intervenção urbana na praia teve como fio condutor o encontro entre a terra

firme e o mar, na qual a baía figura como uma moldura para os projetos

estruturantes da proposta – o cais flutuante, a piscina oceânica, o clube náutico e o

próprio calçadão.

Figura 36: Masterplan da intervenção

Fonte: Archdaily, acessado em abril 2017.

Página | 71

Uma das diretrizes da proposta era garantir melhores condições de acesso à

praia, visto que existia uma parede de retenção de madeira e uma barreira de

proteção rochosa cortando a orla, que dificultava as relações entre a praia e a

cidade.

Neste sentido, o calçadão proposto visava tornar a praia mais permeável e

promover a interação social, prática esportiva e contemplação, através da

implantação de um deck com estrutura de arquibancada sobre as rochas.

Figura 37: Calçadão da praia de Hjerting

Fonte: Archdaily, acessado em abril 2017.

Conforme o partido, a proposta do cais flutuante pretendia gerar uma

extensão do calçadão sobre o mar que, dependendo das marés, se tornasse numa

plataforma de repouso sobre a areia ou numa ilha para banhos de sol, saltos para a

água e contemplação.

Página | 72

Figura 38: Cais flutuante de Hjerting

Fonte: Archdaily, acessado em abril 2017.

A proposta da piscina oceânica se baseou no mesmo princípio do cais

flutuante – possibilitar diferentes usos conforme a maré – e do partido norteador. Em

marés altas o oceano incorpora a piscina e na maré baixa esta se torna num espelho

d’agua fixado na areia, interligada ao calçadão por uma rampa de acesso que

permite o acesso de cadeirantes e demais usuários.

Página | 73

Figura 39: Piscina oceânica de Hjerting

Fonte: Archdaily, acessado em abril 2017.

Por ultimo, o clube náutico – equipamento com instalações recreativas, vestiários e

sauna pública – localizado numa das extremidades do calçadão e parcialmente

enterrado na restinga, constitui-se como plataforma elevada que serve de mirante.

Figura 40: Clube náutico de Hjerting

Fonte: Archdaily, acessado em abril 2017.

Página | 74

4.3. Considerações dos estudos de referência.

As experiências projetuais apresentadas acima trouxeram contribuições

relevantes para a concepção da proposta fruto deste trabalho, na medida em que

ambas abordam o mesmo tema. Assim sendo, tais contribuições funcionaram como

mais valias para a formulação do conceito, diretrizes e ações da requalificação

pretendida para a praia da Laginha.

Da primeira referência, destaca-se o fato da reurbanização da orla de

Camburi se apresentar como uma resposta direta a influência dos novos rumos de

crescimento da cidade de Vitória-ES, produto das transformações ocorridas no

entorno como, por exemplo, a ampliação o Aeroporto de Vitória e a remodelação da

malha viária lindeira ao projeto. Mas, fundamentalmente, distingue-se a

reestruturação promovida no calçadão da praia de Camburi por meio de dois eixos

de circulação (eixos de caminhadas e passeio contemplativo), o fomento a

permanência do usuário através da implantação de módulos de apoio, bem como a

consideração dos usos e apropriações atuais.

Relativamente à segunda referência, ressalta-se a intenção de se facultar a

ligação entre a cidade e a praia, a partir do aumento da permeabilidade do local com

a introdução de um deck-calçadão a fim de garantir tal conexão. Também, destaca-

se a implantação de estruturas no mar ou na faixa de areia, visando à apropriação

do espaço, bem como a transformação num elemento permeável associado à

promoção da interação social e prática esportiva

De modo geral, as referências se complementam em relação à resposta aos

desafios de projeto que se pretendia para a orla da praia da Laginha e, desta forma,

contribuíram para o desenvolvimento das estratégias projetuais.

Página | 75

Tabela 2: Quadro resumo dos estudos de referência

Aspectos Relevantes Projetos Referenciados

Orla de Camburi Praia de Hjerting

Localização Vitória, Brasil. Esbjerg, Dinamarca.

Partido Urbanização linear com

variadas possibilidades

de estar.

Encontro entre a terra

firme e o mar.

Diretrizes

Considerar os usos e

apropriações atuais;

Evitar o conflito de usos

entre pedestres e

ciclistas.

Fomentar a permanência

do usuário por meio de

módulos de estar, de

apoio turístico e

esportivo.

Garantir melhores

condições de acesso ao

local;

Conceber um deck-

calçadão que propicie a

interação social, prática

esportiva e contemplação

Estimular usos na faixa

de praia.

Programa

Ampliação do calçadão;

Ciclovia;

Quiosques;

Módulos de apoio às

atividades físicas.

Calçadão;

Clube náutico;

Piscina oceânica;

Cais flutuante.

Fonte: Produção do autor.

5. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Este capítulo irá tratar dos aspectos gerais e do projeto de

intervenção urbana na praia da Laginha (Mindelo), com base

nas análises e estudos apresentados anteriormente.

Página | 78

A proposta deste trabalho tem como temática as intervenções urbanas em

frentes de água (waterfronts), enquadradas na área de planejamento e projeto

urbano, com ênfase para a valorização e apropriação do meio urbano.

A intervenção consiste em um estudo preliminar de requalificação urbana da

orla da Praia da Laginha, tendo em vista a sua afirmação como um dos principais

atrativos turísticos da cidade. Neste sentido, a concepção da proposta levou em

consideração o processo de transformação urbana no entorno da área, o contexto

urbano atual e perspectivas futuras.

É importante destacar que, pelo fato da área de estudo estar situada em outro

país (Cabo Verde) e, também, por uma questão de tempo, não foi possível levantar

a opinião dos usuários da praia relativamente às expectativas de projeto5.

Também, é importante lembrar que o Plano Diretor Municipal6 encontra-se em

revisão e, por isso não foi possível ter acesso à legislação urbanística local.

A representação gráfica do projeto está dividida em quatro pranchas que

serão apresentadas nos apêndices deste trabalho.

5 Um dos motivos da escolha de projeto preliminar.

6 O PDM do Mindelo, apresentado pela Câmara Municipal em 2011, não foi homologado pelo

Governo e encontra-se em revisão desde então.

Página | 79

5.1. Conceito e partido urbanístico.

Tendo em vista que o objetivo geral da proposta passa por consolidar a praia

como um importante ativo urbano para a cidade, vislumbra-se a necessidade de

qualificar o ambiente físico, conferindo, assim, maior vitalidade urbana ao local.

Neste sentido, o partido urbanístico adotado para a formulação das diretrizes e

ações de projeto – com vista a atender o objetivo geral do mesmo – foi atribuir um

novo significado ao calçadão da praia, com vista a garantir maior atratividade e

conectividade ao local. Buscou-se, então, alterar o perfil atual do calçadão –

elemento fundamentalmente de circulação, com poucas possibilidades de estar – em

um espaço livre público propriamente dito, associado à promoção do convívio social,

prática esportiva, assim como, maior contato com o mar. Daí o titulo do presente

trabalho – Mais do que uma calçada – em referência a esta alteração do perfil.

Figura 41: Conceito da proposta

Fonte: Produção do autor.

Portanto, a proposta objetiva a criação de uma setorização linear, de modo a

favorecer as funções de conectividade e atratividade do espaço livre urbano, assim

como conferir conforto aos usuários.

Página | 80

5.2. Diretrizes e ações propostas.

Delineadas com a finalidade de responder ao que se espera alcançar com a

proposta de intervenção e, ao mesmo tempo, servirem guia para o desenvolvimento

da mesma, cada diretriz proposta surge em função de um objetivo específico e se

rebate em ações concretas de projeto.

Assim sendo, figuram-se as seguintes diretrizes conforme cada objetivo

específico estabelecido:

Objetivo específico 01: Diversificar os usos e atividades desempenhados

no calçadão, com vista a fomentar a permanência do usuário.

Consolidar as estruturas onde exista apropriação;

Implementar novos equipamentos de estar, incentivo ao esporte, lazer e

apoio;

Objetivo específico 02: Gerar melhorias nos acessos e conexões da cidade

com a praia e desta com o mar.

Integrar a praia com o restante da cidade por intermédio do transporte

público e ciclo-viário;

Facilitar o contato com o mar;

Adotar medidas de proteção contra o tráfego.

Objetivo específico 03: Redesenhar o calçadão, de forma a proporcionar

maior segurança e conforto aos usuários.

Evitar conflitos de usos e eliminar bloqueios de circulação;

Adaptar o mobiliário urbano;

Criar um microclima favorável.

As diretrizes elencadas acima apontam para a solução dos problemas

evidenciados na área de estudo e se materializam ações específicas, com o intuito

de alcançar o objetivo geral da intervenção. São elas:

Página | 81

Intervir no esporão da praia com vista a transforma-lo num píer de uso

coletivo;

Substituir os equipamentos de ginástica existentes;

Relocar a ATI para uma área central;

Reformar o banheiro existente a fim de abrigar um posto policial;

Incorporar playground, caramanchões e banheiros públicos;

Estruturar locais para prática de futebol, vólei, etc. na faixa de areia.

Implantar um ciclo-faixa;

Criar baias nas paradas de ônibus;

Implementar passeio acessível até a linha do mar;

Inserir deck de contemplação projetada no mar;

Criar uma faixa verde de divisão entre o passeio e a via;

Elevar as faixas de pedestre;

Restaurar os elementos de sinalização de trânsito (horizontal e vertical).

Criar faixas distintas para passeio e estar;

Instalar abrigos de ônibus, bicicletário, bancos e lixeiras;

Relocar os postes de iluminação existentes e implementar novos na

faixa de areia;

Arborizar e criar estruturas de sombra.

Página | 82

Tabela 3: Quadro resumo das diretrizes e ações

Obj. Geral: Desenvolver uma proposta de requalificação urbana para a orla da Praia da Laginha, tendo em vista a valorização da paisagem e sua afirmação como um dos principais atrativos turísticos da cidade.

Obj. Esp. 01: Diversificar os

usos e atividades

desempenhados no calçadão,

com vista a fomentar a

permanência do usuário.

Consolidar as estruturas onde

exista apropriação;

Implementar novos

equipamentos de estar,

incentivo ao esporte, lazer e

apoio;

Intervir no esporão da praia com vista a transforma-lo num píer de uso coletivo;

Substituir os equipamentos de ginástica existentes;

Relocar a ATI para uma área central;

Reformar o banheiro existente a fim de abrigar um posto policial;

Incorporar playground, caramanchões e banheiros públicos;

Estruturar locais para prática de futebol, vólei, etc. na faixa de areia.

Obj. Esp. 02: Gerar melhorias

nos acessos e conexões da

cidade com a praia e desta

com o mar.

Integrar a praia com o restante

da cidade por intermédio do

transporte público e cicloviário;

Facilitar o contato com o mar;

Adotar medidas de proteção

contra o tráfego.

Implantar um ciclo-faixa;

Criar baias nas paradas de ônibus;

Implementar passeio acessível até a linha do mar;

Inserir deck de contemplação projetada no mar;

Criar uma faixa verde de divisão entre o passeio e a via;

Elevar as faixas de pedestre;

Restaurar os elementos de sinalização de trânsito (horizontal e vertical).

Obj. Esp. 03: Redesenhar o

calçadão, de forma a

proporcionar maior

segurança e conforto aos

usuários.

Evitar conflitos de usos e

eliminar bloqueios de

circulação;

Adaptar o mobiliário urbano;

Criar um microclima favorável.

Criar faixas distintas para passeio e estar;

Instalar abrigos de ônibus, bicicletário, bancos e lixeiras;

Relocar os postes de iluminação existentes e implementar novos na faixa de areia;

Arborizar e criar estruturas de sombra.

Fonte: Produção do autor.

Página | 83

5.3. Masterplan e programa de necessidades.

Conforme o partido referido anteriormente, a proposta se baseou em constituir

o calçadão em um elemento multiuso (atrativo) - estar, lazer, esportivo e

contemplação - e conector – interfaces cidade/praia e praia/mar. Com isso, espera-

se fomentar a permanência do usuário e garantir melhores condições de acesso ao

espaço público.

A atratividade da proposta será assegurada por meio da aplicação de

estratégias como: manutenção dos usos consolidados; estruturação de novos usos;

variação das atividades conforme faixas etárias; remodelação da iluminação artificial

para que o espaço seja usado durante todo o dia; e outras.

Por outro lado, a conectividade será promovida através da combinação de

medidas como: variação das opções de acesso; criação de faixas livres de

circulação; ligação com os edifícios adjacentes; entre outras.

Desta forma, o zoneamento (mapa 13) ficou estruturado por faixas de acordo

com as atividades correspondentes: serviço, circulação, estar e equipamentos.

Na primeira zona, mais próxima a via, tem-se a faixa de serviço, onde será

inserido o mobiliário urbano, vegetação e pontos de acesso, com a função de

oferecer conforto e segurança aos pedestres. Na segunda zona esta disposta a faixa

livre de circulação, tanto para pedestres como para ciclistas (ciclo-faixa). Em

seguida, figura a faixa de estar onde são desenvolvidas as atividades de passeio e

contemplação, bem como a ligação com a faixa de areia. Por último, tem-se a faixa

na qual estão implantados os equipamentos de incentivo a pratica esportiva e lazer.

Página | 84

Mapa 13: Zoneamento da proposta

Fonte: Produção do autor, 2017.

a. projeto

banheiros

acessibilidade mobiliário salva-vidas

iluminação

Página | 85

De modo geral, a proposta inclui o avanço do limite atual do calçadão sobre a

faixa de areia, pelo fato da via ser classificada como arterial e, também pelo fato da

faixa de areia comportar sem grandes prejuízos (nos usos) a ampliação proposta

devido a sua dimensão. A proposta, também, inclui a implantação de equipamentos

de incentivo ao esporte, lazer e contemplação como decks, caramanchões,

academias ao ar livre, etc.; construção de unidades de apoio com vestiários e de

policiamento; introdução de uma ciclofaixa ao longo do calçadão; adição de novos

mobiliários urbanos; colocação de novas árvores; bem como a reforma do piso e

reestruturação da iluminação pública.

Com isso, chegou-se ao seguinte programa de necessidades:

Deck; Caramanchão;

Equipamento de ginástica; Academia da Terceira Idade;

Playground; Posto policial;

Banheiro público; Piscina oceânica;

Píer.

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Mapa 14: Masterplan da proposta7

Fonte: Produção do autor, 2017.

7 Mapa disponível nos apêndices em maior escala.

a. projeto

banheiros

acessibilidade mobiliário salva-vidas

iluminação

Página | 87

5.4. Memorial descritivo.

O redesenho do calçadão – consoante o masterplan – foi caracterizado pela

ampliação da linha anterior da calçada, gerando um espaço mais amplo, a fim de

comportar a multiplicidade de usos proposta.

A estrutura existente foi mantida, dado que a ampliação segue os mesmos

moldes do calçadão atual, conforme figura 44. Porém, as peças do piso intertravado

foram substituídas de forma a adequar a paginação do piso e corrigir as

imperfeições verificadas.

Figura 42: Piso intertravado

Fonte: http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-tecnicas/2/1-piso-intertravado-para-calcadas-

conheca-as-especificacoes-tecnicas-212948-1.aspx

A escolha pela pavimentação do calçadão com blocos pré-moldados se deve

ao fato desta ser de rápida execução, baixa manutenção e boa capacidade de

drenagem das águas das chuvas. Vale salientar que, nos locais onde for pertinente,

serão demarcadas as devidas sinalizações verticais e horizontais (alerta e

direcionais), bem como serão asseguradas as medidas mínimas de distanciamento,

de acordo as normas de acessibilidade (NBR 9050).

6.4.a. Mobiliário urbano

O arranjo do mobiliário urbano obedece a uma linguagem simples, com base

nas necessidades do projeto, onde se buscou elementos de fácil

construção/manutenção e que se adaptassem ao entorno. Para tal, foram escolhidos

mobiliários a base de concreto e madeira e outros metálicos com revestimentos

especiais contra corrosão.

Página | 88

Não foi desenvolvida uma proposta de desenho do mobiliário, portanto as

imagens apresentadas na figura 45 figuram como referências projetuais. Dentre os

elementos do mobiliário sugerido distinguem-se:

Abrigos de ônibus de concreto com acabamento em painéis de

madeira;

Bancos de concreto - com e sem encosto – revestidos com ripas de

madeira;

Bicicletário e lixeiras de aço galvanizado com pintura especial contra a

corrosão;

Figura 43: Referências de mobiliário urbano

Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/800719/primeiro-lugar-no-concurso-publico-nacional-de-ideias-

para-elementos-de-mobiliario-urbano-de-sao-paulo-estudio-modulo

6.4.b. Deck de contemplação

A ideia central relativa a introdução do deck de contemplação foi criar uma

extensão do calçadão projetado sobre o mar. O deck está estruturado em três níveis

diferentes, estando o nível intermediário na altura do calçadão e os demais a altura

de 0,51cm (para cima ou para baixo). A sustentação da estrutura é dada por uma

trama de madeira apoiada em estacas de madeira tratada e a superfície do deck

Página | 89

revestida, também, de madeira, pela sensação acolhedora e apelo estético natural

do material.

Figura 44: Deck de contemplação

Fonte: Produção do autor.

6.4.c. Caramanchões

O objetivo passou por propor estruturas de sombra a fim de criar um

microclima favorável, mediante a atenuação da temperatura e, assim, fomentar a

permanência do usuário e servir de apoio aos demais equipamentos. Os

caramanchões, dispostos ao longo do calçadão, têm sua estrutura composta por

pilares de concreto e cobertura vazada de madeira – com possibilidade de existir

cobertura vegetal (trepadeiras) - sustentada por cabos de aço.

Figura 45: Caramanchão

Fonte: http://www.fortalezaemfotos.com.br/2014/03/a-nova-avenida-monsenhor-tabosa.html

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6.4.d. Espaço fitness e Academia da terceira idade

Inseridos na faixa de areia, os equipamentos de exercícios e alongamentos –

espaço fitness e academia da terceira idade – estão relacionados com as ações de

incentivo a prática esportiva.

O espaço fitness é formado por três módulos distintos vinculados um

equipamento que integra diversas opções de exercícios em um único aparelho. Os

módulos são compostos por uma base de aço galvanizado, piso de madeira e

estrutura de aço inox. As dimensões do modulo são: 2,60m de altura; 4,50m de

comprimento; e 3,00m de largura. Também existe a possibilidade de fixação de

painéis publicitários/institucionais.

Figura 46: Aparelho de ginástica

Fonte: http://www.mude.esp.br/projetos/estacao-com-base/?portfolioID=16#prettyPhoto

Tendo em conta que já existe uma academia da terceira idade implantada no

calçadão da praia, a proposta passou por relocar e reformar a mesma, de acordo

com o zoneamento proposto, para uma área central, próxima aos caramanchões e

pontos de acesso a faixa de areia.

Página | 91

6.4.e. Playground

A proposta de introdução de um playground, também, provém do pressuposto

de diversificar as atividades conforme faixas etárias distintas, bem como, da garantia

da multiplicidade de usos. O playground está implantado na faixa de areia, próximo a

áreas de estar sombreadas, de forma que os pais/responsáveis possam

acompanhar as crianças.

6.4.f. Posto policial

Pela necessidade de construir novos banheiros públicos em um espaço mais

amplo, optou-se por reformar a edificação onde estão implantados os banheiros

atuais, com vista a abrigar um posto policial. Nota-se que posto se encontra a 25 cm

acima do nível do calçadão, por isso, foi colocada uma rampa de acesso, a fim de

torná-lo acessível. Não foi possível realizar o levantamento do edifício, portanto a

proposta foi elaborada a partir do perímetro proveniente da base cartográfica.

6.4.g. Unidade de apoio

Tendo em vista a redução do impacto físico/visual e, também, criar uma

identidade local, para proposta a unidade de apoio se adotou, como referência

estrutural e de materiais, o Kalimba beach bar, implantado na praia da Laginha. O

sistema construtivo do Kalimba, denominado por wood frame, é constituído por uma

estrutura de perfis leves de madeira maciça, contraventados com chapas estruturais

de madeira transformada.

Figura 47: Kalimba beach bar

Fonte: https://www.saovicentecaboverde.com/portfolio/sao-vicente-tour-full-day/

Página | 92

A composição da unidade de apoio é dada por três ambientes – banheiro

masculino (28,30m²), banheiro feminino (28,30m²) e depósito (13,50m²) – e é

contornada por um passeio (de 2,5m de largura com corrimão central) que interliga o

calçadão e a piscina/píer. Repara-se que os banheiros serão vigiados por um

zelador(a), do mesmo modo que já acontece em outros espaços livres públicos da

cidade.

6.4.h. Piscina oceânica

Conforme apresentado em um dos estudos de referência, as piscinas

oceânicas buscam aproximar os usuários do mar ao proporcionarem um contato

direto com o mesmo. A piscina proposta possibilita uma opção de banho no mar

mais segura e o acesso é dado por um passeio acessível, referido anteriormente,

que permite o uso para portadores de necessidades especiais e demais usuários.

Figura 48: Piscina oceânica

Fonte: Archdaily, acessado em abril 2017.

6.4.i. Píer

Em virtude da apropriação do espigão, por parte dos usuários que a utilizam

como descanso e trampolim, a proposta do píer passou por transformar o espigão

em um espaço de lazer. Com base no mesmo princípio do deck e da piscina

oceânica, a proposta do píer visa à aproximação do mar, perante a estruturação do

espaço, semelhante à intervenção feita na praia de Santa Maria (Cabo Verde).

Figura 49: Pontão de Santa Maria

Página | 93

Fonte: Produção do autor.

Anexo ao passeio, o píer tem parte da sua estrutura em madeira apoiada na

base de concreto do espigão e parte projetada sobre o mar sustentado por tesouras

e estacas de madeira. O acesso ao píer se dá por intermédio de rampa/escadas e

nele estão previstos postes de iluminação pública, bancos e lixeiras.

Figura 50: Pier

Fonte: Produção do autor.

A proposta também incluiu a reforma da iluminação pública artificial, de

maneira a se adaptar ao redesenho do calçadão, bem como a solucionar o problema

de falta de iluminação pública na faixa de areia. Para tal, foram utilizados dois tipos

de postes: postes altos para iluminação generalizada da via e do calçadão; e postes

baixos para iluminação próxima ao pedestre. Também, foi introduzido um ciclo-faixa

com dois sentidos (1,2m cada faixa) que atravessa a praia e prevê conexões com o

restante da cidade. Relativamente à vegetação, se propôs espécies iguais as

existentes, de modo a manter a identidade e, também, pelo fato destas se

adaptarem bem ao meio.

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Figura 51: Proposta de intervenção8

Fonte: Produção do autor.

8 Mapa disponível nos apêndices em maior escala.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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As cidades e seus habitantes encontram-se em contínua transformação. Os

processos de produção do espaço urbano buscam desta forma, a reconfiguração de

determinadas áreas, com vista à revitalização económica e social do meio urbano.

Tais processos constituem-se, portanto, como oportunidades, na medida em

que possibilitam o desenvolvimento urbano, vinculado a melhora da qualidade

urbana dos espaços livres públicos presentes na cidade. No entanto, as

transformações pretendidas não resultam obrigatoriamente em aspectos positivos,

dado que alteram o perfil social e morfologia de ambientes coletivos.

Assim sendo, vale ressaltar que durante o desenvolvimento deste trabalho

final de graduação, houve a preocupação em manter a identidade do local,

respeitando as praticas anteriores e propondo intervenções de baixo impacto que,

de forma sustentável, deem uma resposta aos desafios atuais.

Em Mindelo, a intervenção proposta representa uma importante oportunidade

que a cidade terá, de consolidar e valorizar um ativo urbano presente na orla, por

meio da qualificação do espaço existente. A implementação da proposta poderá,

desse modo, garantir a requalificação da frente urbana da cidade e, como

consequência, estruturar a reconfiguração da orla como um todo.

No entanto, se faz necessário lembrar que o produto exposto aqui neste

trabalho possui um caráter propositivo, tem em conta que se trata de um estudo

preliminar de intervenção.

Por fim, ultrapassadas as dificuldades inerentes a qualquer proposta de

desenho arquitetônico/urbano, acredita-se que o presente trabalho atende ao

objetivo a que se dispôs e contribui, assim, para discussões importantes a serem

desenvolvidas no futuro.

Página | 97

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APEÊNDICES

Prancha 01: Localização da proposta na área de intervenção.

Prancha 02: Masterplan.

Prancha 03: Proposta geral de intervenção.

Prancha 04: Proposta de equipamentos.