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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS
PEDRO HENRIQUE MACIEL DA SILVA
AVALIAÇÃO DO TRATAMENTO TÉRMICO DE ENVELHECIMENTO
NA LIGA Sn-0,7%Cu-0,05%Ni
Natal
2019
PEDRO HENRIQUE MACIEL DA SILVA
AVALIAÇÃO DO TRATAMENTO TÉRMICO DE ENVELHECIMENTO
NA LIGA Sn-0,7%Cu-0,05%Ni
Trabalho de Conclusão de Curso na
modalidade Monografia, submetido ao
Departamento de Engenharia de Materiais
da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte como parte dos requisitos
necessários para obtenção do Título de
Bacharel em Engenharia de Materiais.
Orientador: Prof. Dr. Bismarck Luiz
Silva
Natal
2019
AGRADECIMENTOS
A Deus primeiramente, por ter me dado forças nesta caminhada, disciplina,
foco, resiliência e sabedoria para enfrentar os obstáculos e chegar até aqui;
A minha mãe Elzineide (in memorian) por ter me incentivado a trilhar o caminho
do conhecimento desde o inicio da minha vida, ter sido guerreira e lutado
diante de todas as dificuldades para me propiciar o melhor possível enquanto
em vida;
Ao meu avô Antônio (in memorian) por transmitir sabedoria, ser inspiração para
trilhar o caminho do conhecimento e ter deixado em sua história exemplo de
bondade, amizade, companheirismo os quais me espelho por toda vida;
A minha irmã Emiliane pelo companheirismo, por ter me apoiado desde o início
da minha vida em todos os momentos (alegres e tristes), pelos incentivos e ter
me guiado em todos os passos que percorri até chegar aqui;
Ao meu cunhado Eli Carlos por todo incentivo, apoio, amizade e inspiração no
percurso deste árduo caminho;
Ao meu orientador, Prof. Dr. Bismark Luiz Silva, pela dedicação, atenção, apoio
e ajuda para conclusão deste trabalho;
Aos técnicos do DEMat-UFRN Hudson e Roberto pelas ajudas nos ensaios
mecânicos e tratamentos térmicos e também pela amizade;
Aos técnicos do Laboratório de Caracterização Estrutural Igor Zumba e Carla
Laíse por todo o empenho e dedicação na realização das análises;
A todos os amigos feitos nesta universidade, em especial aos do Departamento
de Engenharia de materiais Pedro Mendes e Gilberto Martins pelo
companheirismo, amizade e auxílios para conclusão deste trabalho;
A todos os professores que fizeram parte desta jornada e me fizeram chegar
até aqui, agradecimentos especiais aos professores Zulmara Vírginia de
Carvalho da Escola de Ciências e Tecnologia e Carlos Alberto Paskocimas do
DEMat-UFRN pelos incentivos e motivação a seguir o curso de Engenharia de
Materiais.
“A educação tem raízes amargas, mas
seus frutos são doces.”
(Aristóteles)
RESUMO
Estudos sobre o efeito de ciclos térmicos (variações de temperatura e
tempo) nos aspectos microestruturais de ligas alternativas livres de Pb são
escassos na literatura. Desta forma, este trabalho objetiva realizar uma análise
microestrutural da influência do tratamento térmico de envelhecimento (com
T=100°C e tempos de 10, 20 e 30 dias) na microestrutura da liga Sn-0,7%Cu-
0,05%Ni solidificada unidirecionalmente no sentido vertical ascendente em
substrato de Cu. Três diferentes níveis de taxa de resfriamento (Ṫ) e velocidade
de solidificação (V) foram considerados para análise, tendo como foco a
morfologia, distribuição e tamanho das fases nas regiões celulares e eutéticas.
Os resultados mostraram que uma microestrutura celular composta de uma
matriz β-Sn circundada por uma mistura eutética Sn+intermetálico (Cu,Ni)6Sn5
prevaleceu ao longo do lingote Sn-0,7%Cu-0,05%Ni. Nas posições iniciais (até
8 mm) do lingote foi possível observar regiões dendríticas. Notou-se que
microestruturas mais refinadas foram encontradas para maiores valores de Ṫ e
V. O intermetálico (Cu,Ni)6Sn5 apresentou morfologia de tipo fibrosa. Verificou-
que o tratamento térmico de envelhecimento promoveu um ligeiro aumento no
arranjo celular (λC) e eutético (λ(Cu,Ni)6Sn5).
Palavras-Chave: Solidificação; Liga Sn-0,7%Cu-0,05%Ni; Tratamento térmico
de envelhecimento; microestrutura.
ABSTRACT
Investigations about the effect of thermal cycles (variations of time and
temperature) on the microstructures of Pb-free solder alloys are scarce in the
literature. Thus, this work aims to perform a microstructural analysis of the
influence of aging treatment (T=100°C and times of 10, 20 and 30 days) on the
microstructure of directionally solidified Sn-0.7wt%Cu-0.05wt%Ni solder alloy
under steady-state conditions against copper substrate. Three different levels of
cooling rate (Ṫ) and growth rate (V) were considered for this study, considering
the morphology, distribution and size of the phases in the cellular and eutectic
regions. The results showed that a cellular array composed of a β-Sn matrix
surrounded by eutectic mixture Sn+(Cu,Ni)6Sn5 intermetallics prevailed along
the casting length. In initial positions of the alloy casting (up to 8mm), it can be
seen dendritic morphology. Refined microstructures have been founded for
higher values of V and Ṫ. The (Cu,Ni)6Sn5 intermetallic showed fiber
morphology. It can be seen that aging treatment cause lightly increase in the
cellular (λC) and eutectic arrangements (λ(Cu,Ni)6Sn5).
Keywords: Solidification, Sn-Cu-Ni alloys, aging treatment; microstructure.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Processos de solidificação de produtos metálicos [11]. ....................4
Figura 2: Representação esquemática da macroestrutura de um lingote de
metal puro solidificado unidirecionalmente, mostrando as zonas coquilhada,
colunar e equiaxial [15]. ....................................................................................5
Figura 3: Representação esquemática do dispositivo de solidificação
unidirecional ascendente em condições transiente de fluxo de calor [20]. ......6
Figura 4: Representação esquemática das variáveis térmicas na formação das
estruturas de solidificação [13, 22]. ...................................................................8
Figura 5: Mudança de morfologia conforme o aumento da velocidade: (a)
crescimento celular regular em baixas velocidades; (b) crescimento celular com
alteração na direção de crescimento; (c) transição celular dendrítica; (d)
crescimento dendrítico com início de formação de instabilidade lateral
[13]....................................................................................................................9
Figura 6: Condição de transição planar/celular/dendrítica pelo efeito do super-
resfriamento constitucional [13].........................................................................10
Figura 7: Ramificações interdendríticas primária (λ1), secundária (λ2) e terciária
(λ3) na microestrutura de fundidos [13]..........................................................11
Figura 8: (a) Diagrama de fases Sn-Cu e (b) ampliação rica em Sn [6]............13
Figura 9: Crescimento do intermetálico facetado Cu6Sn5 (a) e da fase β-Sn não-
facetada [37]. ....................................................................................................13
Figura 10: Esquema representa células (α, β e σ) na Figura a), σ e β têm
praticamente a mesma orientação e à medida que a célula σ Figuras b) e c) vai
desaparecendo é formado um contorno de alto ângulo ou subcontorno (a-b) na
Figura d) ao final α e β se encontram formando uma célula maior [adaptado de
42]. ...................................................................................................................16
Figura 11: Fluxograma do procedimento experimental. ..................................17
Figura 12: Aparato experimental para o experimento de solidificação
unidirecional vertical ascendente da liga eutética Sn-0,7%Cu-0,05%Ni [3]. ....19
Figura 13: Lingoteira bipartida de aço inoxidável com pintura a base de sílica-
alumina e chapa molde de aço carbono [3]. ...................................................20
Figura 14: Esquema da obtenção das amostras a partir do lingote para análise
macro e microestrutural. (a) macroestrutura solidificada no dispositivo de
solidificação vertical ascendente; (b) corte central para obtenção das amostras;
(c) corte longitudinal e (d) cortes longitudinais para tratamento térmico
[adaptada de 3]. .................................................................................................21
Figura 15: (a) esquema do ciclo térmico utilizado no tratamento de
envelhecimento e (b) disposição das amostras para os ciclos térmicos e seus
respectivos tratamentos térmicos. ....................................................................22
Figura 16: Esquema representativo do método utilizado para quantificar os
espaçamentos celulares e dendríticos: (A) Seção transversal de uma estrutura
dendrítica para medição de λC; (B) Seção transversal de uma estrutura celular
para medição de λ1 [44]. ...................................................................................24
Figura 17: (a) Curvas de resfriamento experimentais; evoluções (b) da
velocidade da frente eutética e (c) da taxa de resfriamento com a posição para
a liga Sn-0,7%Cu-0,05%Ni [5]. .........................................................................26
Figura 18: Microestruturas brutas de fusão e com tratamento térmico por 10, 20
e 30 dias a 100°C para as posições 5 mm e 30 mm da liga Sn-0,7%Cu-
0,05%Ni. .................................................................................................................... 28
Figura 19: Microestruturas brutas de fusão e com tratamento térmico por 10, 20
e 30 dias a 100°C para a posição 90 mm da liga Sn-0,7%Cu-0,05%Ni. ................... 30
Figura 20: Evolução da taxa do espaçamento dendrítico primário λ1/ celular λc
com a taxa de resfriamento da liga Sn-0,7%Cu-0,05%Ni solidificadas
unidirecionalmente em chapa molde de aço1020. . .................................................. 32
Figura 21: Difratogramas para diferentes posições ao longo do lingote Sn-
0,7%Cu-0,05%Ni. ...................................................................................................... 33
Figura 22: Imagens MEV das amostras (a,b) sem e (c,d) com tratamento
térmico de 30 dias a 100°C para a posição 5 mm. .................................................... 35
Figura 23: Imagens MEV das amostras (a,b) sem e (c,d) com tratamento
térmico de 30 dias a 100°C para a posição 30 mm. .................................................. 36
Figura 24: Imagens MEV das amostras (a,b) sem e (c,d) com tratamento
térmico de 30 dias a 100°C para a posição 90 mm. .................................................. 37
Figura 25: Evolução do espaçamento interfásico (λ(Cu,Ni)6Sn5) com o tempo de
envelhecimento(dias).........................................................................................37
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Variação do espaçamento interfásico (λ(Cu,Ni)6Sn5) em função da
posição ao longo do lingote Sn-0,7%Cu-0,05%Ni e do tempo de tratamento
térmico de envelhecimento. ....................................................................................... 37
SÍMBOLOS E ABREVIAÇÕES
C0 – Composição nominal
DRX – Difração de Raios-X
EDS – Espectroscopia de Raios-X por Energia Dispersiva
G ou GL – Gradiente Térmico
MEV – Microscopia Eletrônica de Varredura
MO – Microscopia Óptica
SE – Detector de Elétrons Secundários
S/L – Sólido / Liquido
SRC – Super-resfriamento Constitucional
Ṫ ou ṪL- Taxa de resfriamento
TE – Temperatura eutética
TENV – Temperatura de envelhecimento
tENV – tempo de envelhecimento
v – Velocidade de solidificação ou velocidade da frente eutética
VL – Velocidade da isoterma liquidus
λC – Espaçamento Celular
λ1 – Espaçamento Dendrítico Primário
λ2 – Espaçamento Dendrítico Secundário
λ3 – Espaçamento Dendrítico Terciário
λE – Espaçamento Interfásico
λd – Diâmetro do intermetálico
σu - Limite de Resistência a Tração
hi - Transferância de calor interfacial
IMC – Compostos intermetálicos
δ – Alongamento
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1
1.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................ 2
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................................... 3
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 4
2.1 PROCESSO DE SOLIDIFICAÇÃO ................................................................ 4
2.2 INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS TÉRMICOS DE SOLIDIFICAÇÃO
NA MICROESTRUTURA ......................................................................................... 7
2.3 MICROESTRUTURAS DE SOLIDIFICAÇÃO................................................. 8
2.3.1 Estrutura Celulares e Dendríticas ............................................................ 8
2.4 LIGAS Sn-Cu................................................................................................ 11
2.5 TRATAMENTO TÉRMICO DE ENVELHECIMENTO EM LIGAS DE
BRASAGEM LIVRES DE Pb .................................................................................. 14
3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL .................................................................. 17
3.1 SOLIDIFICAÇÃO DIRECIONAL ................................................................... 18
3.2 DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS TÉRMICOS DE
SOLIDIFICAÇÃO ................................................................................................... 20
3.3 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS ............................................................... 21
3.4 TRATAMENTO TÉRMICO DE ENVELHECIMENTO ................................... 21
3.5 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL................................................ 23
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................ 25
4.1 ESTUDOS DOS PARÂMETROS TÉRMICOS E DA
MICROESTRUTURA ............................................................................................. 25
4.2 MICROESTRUTURAS DE SOLIDIFICAÇÃO............................................... 27
4.3 LEIS DE CRESCIMENTO DENDRÍTICO E CELULAR ................................ 31
4.4 CARACTERIZAÇÃO VIA DRX E MEV ......................................................... 32
5 CONCLUSÕES ................................................................................................... 38
SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .................................................. 39
6 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 40
1
1 INTRODUÇÃO
Atualmente é possível observar uma crescente produção de dispositivos
eletrônicos, os quais, em sua maioria, utilizam na soldagem das interconexões
metálicas ligas à base de ligas Sn-Pb (37% ou 40% em peso de Pb). O seu
amplo uso na indústria deve-se ao seu baixo custo, baixo ponto de fusão
(183°C) e bom molhamento em substratos metálicos como cobre e níquel [1].
No entanto, devido aos aspectos danosos do chumbo aos seres humanos
e ao meio ambiente, diversas diretrizes, principalmente no âmbito internacional,
vêm sendo criadas e implantadas, a fim de minimizar os efeitos prejudiciais
deste metal tóxico. Assim, surgem as ligas alternativas livres de chumbo (do
inglês ― Lead-Free Solder Alloys), com o objetivo de substituir as ligas
tradicionais Sn-Pb [2, 3]. Entre várias ligas disponíveis, as ligas do sistema Sn-
Cu-(xNi) surgiram como opções promissoras para aplicações em dispositivos
eletrônicos, principalmente em composições variando de 0,5 a 1,0% (% em
peso) de Cu e de 0 a 0,1% de Ni, com ponto de fusão próximo de 227°C. A
reação eutética acontece entre a fase não facetada β-Sn e o intermetálico
Cu6Sn5 (facetado). Esta liga tem recebido muita atenção na indústria e
pesquisa em relação à outras devido ao seu baixo preço de produção quando
comparada com outras ligas alternativas, que incluem o elemento de liga prata
(Ag) em sua composição [4].
Sabe-se que a microestrutura, as propriedades mecânicas, a resistência
térmica e elétrica e a molhabilidade da liga eutética de Sn-0,7%Cu podem ser
alteradas pela adição de pequenas quantidades de alguns elementos de liga,
como o níquel, e por condições de solidificação (taxa de resfriamento,
velocidade de solidificação, segregação, coeficiente interfacial de transferência
de calor) [5-7,17]. Ligas Sn-0,7%Cu-(xNi) são alternativas interessantes,
contudo, investigações sobre o efeito de tratamentos térmicos de
envelhecimento na microestrutura final ainda são escassos na literatura [3].
Estudos de Liu e Madeni [8], analisaram diferentes temperaturas e tempos de
envelhecimento na camada de dissolução formada entre substrato de Cu e
várias ligas livres de Pb. Concluiu-se que a formação da camada de
intermetálicos junto à interface é um processo controlado por difusão e o
2
aumento de temperatura e tempo de envelhecimento promovem o aumento da
camada do intermetálico.
Li e coautores [9] estudaram o comportamento do intermetálico
(Cu,Ni)6Sn5 na camada de reação entre Sn-0,7%Cu-0,05%Ni e substratos
revestidos com cobre quando a liga Sn-Cu-Ni foi submetida a ciclos térmicos
de 60°, 100°, 140° e 180°C por 100h. Observou-se que houve o crescimento do
intermetálico (Cu,Ni)6Sn5 com o aumento da temperatura e também uma maior
dispersão do intermetálico dentro da fase β-Sn. O crescimento da camada de
intermetálico Cu3Sn também foi observado para maiores temperaturas de
envelhecimento [5, 9, 10].
1.1 OBJETIVO GERAL
O presente trabalho tem por objetivo avaliar a influência do tratamento
térmico de envelhecimento (a 100°C) em diferentes tempos (10, 20 e 30 dias)
na microestrutura da liga alternativa de brasagem Sn-0,7%Cu-0,05%Ni
solidificada direcionalmente em regime transitório de fluxo de calor. O foco do
presente estudo é caracterizar as fases presentes e seus respectivos
tamanhos, distribuição e morfologia, mediante a aplicação dos ciclos térmicos
escolhidos. Leis de crescimento microestrutural também serão discutidas.
3
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
(i) Estudar a literatura especializada para compreender os efeitos de
tratamentos térmicos de envelhecimento na microestrutura de ligas de
brasagem livres de Pb, especialmente para ligas Sn-Cu-Ni;
(ii) Entender a relação experimental de parâmetros térmicos e microestrutura
ao longo do lingote Sn-0,7%Cu-0,05%Ni e suas respectivas leis de crescimento
microestrutural;
(iii) Realizar os tratamentos térmicos de envelhecimento (T=100°C e tempos de
10, 20 e 30 dias) em 3 diferentes posições e 3 taxas de resfriamento
(P=5mm20,0 °C/s; P=30mm1,5 °C/s; P=90mm0,4 °C/s) da liga Sn-
0,7%Cu-0,05%Ni;
(iv) Caracterizar e avaliar os arranjos celulares/dendríticos quanto ao tamanho,
distribuição e morfologia das fases presentes antes e pós-tratamento térmico
de envelhecimento;
(v) Comparar as leis de crescimento celular para as amostras antes e após
tratamento térmico.
4
2 REVISAO BIBLIOGRÁFICA
2.1 O PROCESSO DE SOLIDIFICAÇÃO
O processo de solidificação de metais e ligas pode ser descrito através da
análise de transferência de calor e massa na interface sólido/liquido, e envolve
o controle de variáveis térmicas, e técnicas de caracterização de
macroestruturas e microestruturas, que possibilitam avaliar a influência das
variáveis de processo na qualidade final dos produtos [11].
Figura 1: Encadeamento de fenômenos durante o processo de solidificação de um
metal [adaptada de 13].
A técnica de solidificação tem sido extensivamente utilizada em estudos
de caracterização de aspectos da macroestrutura, da microestrutura e de
análise de segregação de soluto experimentalmente, além disso, permite a
5
produção de peças com grãos colunares orientados na mesma direção ou na
forma de monocristal [14]. A estrutura formada assim que se solidifica é
determinante para as propriedades do produto final. No geral a macroestrutura
de solidificação pode apresentar três zonas distintas ao longo do lingote: zona
coquilhada, zona colunar e a zona equiaxial. A Figura 2 mostra o esquema da
macroestrutura formada em lingotes solidificados de maneira unidirecional.
Figura 2: Representação esquemática da macroestrutura de um lingote de metal puro
solidificado unidirecionalmente, mostrando as zonas coquilhada, colunar e equiaxial
[15].
A técnica de solidificação unidirecional é largamente utilizada em
estudos de caracterização macroestrutural e microestrutural, a fim de
compreender a forma que a liga metálica está evoluindo no decorrer do
processo. Esta técnica divide-se em duas categorias: a solidificação em
regime transiente e a solidificação que ocorre em regime permanente. No
regime permanente, os parâmetros térmicos, tais como gradiente de
temperatura e a velocidade de crescimento são manipulados
independentemente e mantidos constantes durante todo o procedimento
experimental, os métodos de Bridgman e de Stockbarger são baseados nessa
técnica [3, 11, 16, 17]. A solidificação no regime transiente, no entanto, o
6
gradiente de temperatura e velocidade de crescimento são correlativos e
variam livremente com o tempo, além disso, esse método experimental se
aproxima mais da realidade de vários processos industriais que podem
envolver a solidificação de metais [3, 11, 18, 19]. Dentre os sistemas de
solidificação unidirecional em regime transiente podemos destacar: vertical
ascendente, vertical descendente e horizontal.
A Figura 3 representa um esquema do dispositivo de solidificação
unidirecional ascendente. No sistema vertical ascendente a extração de calor é
realizada através da base do molde, e a mudança de fase ocorre liquido para
sólido ocorre contra a ação da gravidade, utilizando o peso do próprio lingote,
logo, para favorecer o contato térmico com a base do próprio molde.
Figura 3: Representação esquemática do dispositivo de solidificação unidirecional
ascendente em condições transiente de fluxo de calor [20].
Os dados coletados através dos termopares no processo de solidificação
são armazenados em um computador e utilizados para determinação das
variáveis térmicas de solidificação, como: gradientes térmicos, coeficientes de
7
transferência de calor interfacial metal/molde (hi), taxa de resfriamento e as
velocidades das isotermas características (temperatura de fusão, no caso de
um metal puro; temperaturas solidus e liquidus, no caso de uma liga; ou
temperatura da frente eutética, para uma liga eutética) [3,19-21]. Neste
dispositivo, a solidificação evolui em sentido contrário ao da ação da gravidade
e consequentemente o peso próprio do lingote atua no sentido de favorecer o
contato térmico com a base refrigerada. Outro aspecto típico deste dispositivo
experimental é que, quando o soluto rejeitado na solidificação provoca a
formação de um líquido interdendrítico mais denso que o volume global de
metal líquido, a solidificação de processa de forma completamente estável do
ponto de vista de movimentação do líquido. Assim, como o perfil de
temperaturas no líquido é crescente em direção ao topo do lingote e o líquido
mais denso localiza-se junto à fronteira de transformação sólido/líquido, não
ocorrem correntes convectivas nem por diferenças de temperatura nem por
diferenças de densidade (massa específica). Isto permite uma análise
experimental e cálculos teóricos isentos deste complicador, já que a
transferência de calor dentro de lingote é realizada essencialmente por
condução térmica unidimensional [3,19-21].
2.2 INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS TÉRMICOS DE SOLIDIFICAÇÃO E
MICROESTRUTURA
O controle dos parâmetros térmicos possibilita definir a microestrutura
final. Vários trabalhos na literatura demonstraram que algumas variáveis são
significativas para o processo de solidificação, tais como velocidade de
isoterma liquidus (VL) ou velocidade da frente eutética (v), gradiente térmico à
frente da interface sólido/liquido (G), grau de super-resfriamento constitucional
(SRC) e concentração de soluto (Co) e taxa de resfriamento (ṪL). Estas
variáveis podem se correlacionar com a morfologia e consequentemente com
as microestruturas brutas de solidificação [3,11,13,17,20-23].
Em virtude da variação dos parâmetros térmicos do sistema metal/molde
torna-se possível passar da forma plana dos metais puros para estruturas
celulares e dendríticas. A instabilidade na interface sólido/liquido é provocada
pela distribuição não uniforme de concentração de líquido à frente desta
8
interface, originada pela termodinâmica do processo que impõe a segregação
do soluto ou solvente à frente dela. A partir disso surge o SRC, fenômeno
favorável à nucleação e responsável pela instabilidade da interface
sólido/liquido provocado pela rejeição ou solvente à frente da mesma [22, 23].
Dependendo do valor de SRC, morfologias diferentes surgem em virtude da
instabilidade causada na interface sólido/liquido, denominadas por ordem
crescente do valor do SRC como planar, celular e dendrítica, conforme
mostrado na Figura 4.
Figura 4: Representação esquemática das variáveis térmicas na formação das
estruturas de solidificação [13, 22].
2.3 MICROESTRUTURAS DE SOLIDIFICAÇÃO
2.3.1 Estrutura celulares e dendríticas
Quando o líquido na região sob influência do super-resfriamento
constitucional encontra-se em uma situação instável, há a tendência de
desestabilização frente à isoterma liquidus na interface sólido/líquido, surgindo
protuberâncias sólidas na frente inicialmente plana. Essa interface passa
inicialmente de plana para celular, apresentando forma de células, semelhante
à forma cilíndrica [11,15]. Quando as células crescem, rejeitam soluto que
promovem a concentração de soluto nas regiões laterais, adquirindo uma forma
9
estável pelo fato do liquido estar presente ao redor da célula e estar em
condições de manter um regime estacionário de crescimento destas
protuberâncias [11,13, 24].
As baixas velocidades promovem o crescimento de células regulares
perpendicularmente à interface sólido/líquido e na direção de extração de calor.
Quando esta velocidade é aumentada e o gradiente de temperaturas no líquido
é reduzido, a célula tende a mudar sua forma devido ao aumento da região
super-resfriada. Sendo assim, em decorrência dos efeitos de natureza
cristalográfica, a célula começa a mudar de forma inicialmente circular,
apresentando uma forma tipo cruz de malta. Perturbações laterais começam a
surgir com o aumento da velocidade de crescimento, dando origem a uma
estrutura chamada de dendrítica [13,14]. A seguir de acordo com a Figura 5, o
esquema da mudança morfológica na estrutura de crescimento à medida que a
velocidade é aumentada:
Figura 5: Mudança de morfologia conforme o aumento da velocidade: (a) crescimento
celular regular em baixas velocidades; (b) crescimento celular com alteração na
direção de crescimento; (c) transição celular dendrítica; (d) crescimento dendrítico com
início de formação de instabilidade lateral [adaptado de 13].
A atuação da natureza cristalográfica dá início à transição
celular/dendrítica, influenciando a sua morfologia difusa. Esta morfologia difusa
termina quando é atingida a direção preferencial de crescimento, apresentando
10
agora uma morfologia com braços dendríticos secundários bem definidos. A
transição celular/dendrítica ocorre somente para pequenas faixas de valores de
velocidade de solidificação e gradiente térmico. Estas variáveis fazem parte do
efeito do SRC (super-resfriamento constitucional), influenciando na estabilidade
de uma interface plana, ou na transformação para a condição de celular,
celular/dendrítica e dendrítica, como pode ser observado nas Figuras 6 e 7
[25].
As medições dos espaçamentos intercelulares e interdendríticos
possibilitam determinar os efeitos das condições de solidificação da
microestrutura formada, ou seja, medindo a distância entre o centro das células
e de ramificações ou braços dendríticos que podem ser primários (λ1) e
secundários (λ2) [22, 23]. Além disso, as propriedades mecânicas são
determinadas também pelos arranjos intercelulares e interdendríticos e
produtos segregados, porosidades e contornos de celulares e/ou dendríticos
dispostos neste arranjo.
Figura 6: Condição de transição planar/celular/dendrítica pelo efeito do super-
resfriamento constitucional [13].
11
Figura 7: Ramificações interdendríticas primária (λ1), secundária (λ2) e terciária (λ3) na
microestrutura de fundidos [13].
2.4 LIGAS Sn-Cu
Durante muitos anos, as ligas de soldagem Sn-37%Pb ou Sn-40%Pb
foram utilizadas em dispositivos eletrônicos em geral [1], sendo a melhor opção
para fabricação de produtos eletrônicos devido ao seu baixo ponto de fusão,
baixo custo e bom nível de molhabilidade em substratos metálicos usados na
indústria eletrônica, principalmente nos substratos de Cu [3, 26, 27]. No
entanto, tendências e diretrizes foram e estão sendo criadas a fim de restringir
o uso de Pb, em processos de componentes eletrônicos, pincipalmente devido
à sua alta toxidade [2, 3, 27, 28].
Neste contexto, surgem as ligas de brasagem livres de chumbo (do
inglês, Lead-free solder alloys), que têm por objetivo, substituir as tradicionais
ligas do sistema Sn-Pb, suprindo todas as exigências requeridas para a
aplicação na indústria eletrônica. Dentre as várias ligas disponíveis, pode-se
citar a liga Sn-Cu, que apresenta composição eutética de 0,7%Cu (%em peso)
e ponto de fusão de 227°C [3,6, 29, 30]. A microadição de Ni na liga eutética
Sn-0,7%Cu é uma forte candidata a substituição de ligas Sn-Pb, uma vez que
não afetaria o ponto de fusão da liga. Esta alternativa torna-se uma solução
viável do ponto de vista econômico e processo de união de componentes
eletrônicos.
12
Alguns trabalhos recentes mostraram que microadições de Ni (entre 20 e
1000 ppm) podem incrementar fortemente o nível de molhamento entre o metal
de adição (liga alternativa de soldagem) e o metal base (placa de circuito
eletrônico) [3, 31]. Quantidade maiores que 20 ppm são suficientes para
obtenção de ligas de boa fluidez e boa soldabilidade, segundo Gourlay e
colaboradores, garantindo também uma adequada resistência mecânica. A
Figura 8 mostra o diagrama de fases o diagrama de fases Cu-Sn, cujo
apresenta a composição eutética de Sn-0,7%Cu a 227°C.
A reação eutética de equilíbrio ocorre entre o intermetálico facetado de
Cu6Sn5 e a fase β-Sn não facetada [3, 6, 32, 33]. As ligas alternativas de
soldagem livre de Pb em sua maioria possuem suas composições próximas da
composição eutéticas [3, 29]. De acordo com Drevet e colaboradores [34] o
crescimento eutético é governado pelo intermetálico Cu6Sn5 e que a fase β-Sn
cresce ao longo dos planos atômicos menos empacotados, visando alcançar
uma baixa energia interfacial Sn-Cu6Sn5. A fase Cu6Sn5 cresce em forma de
bastões que são incorporados a matriz rica em Sn [29].
Logo, com a adição de Cu no estanho sete diferentes fases podem ser
formadas: β, γ, Cu41Sn11 (δ), Cu10Sn3 (δ), Cu3Sn (γ), Cu6Sn5 (ε-hexagonal) e
Cu6Sn5 (ε’-monoclínica), no entanto, por se decomporem em reações
eutetóides para temperaturas abaixo de 350°C, apenas as três últimas fases
são interessantes para aplicação em ligas de soldagem [35]. É possível
observar através do diagrama de fases demonstrado na Figura 8, que o
intermetálico Cu6Sn5 existe na forma de duas estruturas cristalinas, ε-Cu6Sn5 e
ε’-Cu6Sn5. A estrutura ε-Cu6Sn5 é hexagonal e a ε’-Cu6Sn5 é monoclínica. A
transformação alotrópica ocorre a uma temperatura de 186°C, sendo a fase ε-
Cu6Sn5 estável acima desta temperatura (Figura 9) [36].
13
Figura 8: (a) Diagrama de fases Sn-Cu e (b) ampliação rica em Sn [6].
Figura 9: (a) Crescimento do intermetálico facetado Cu6Sn5 e (b) da fase β-Sn não-
facetada [37].
Os compostos intermetálicos desempenham um papel importante nas
características mecânicas nas ligas de soldagem. Tsukamoto et al. [33]
investigaram medidas de módulo de elasticidade e dureza de compostos
intermetálicos Cu6Sn5 e (Cu,Ni)6Sn5 formados na interface entre a ligas de
soldagem Sn-0,7%Cu e Sn-0,7%Cu-0,05%Ni e substratos de Cu, usando
testes de nanodureza. Estes concluíram que os intermetálicos contendo Ni
14
possuem dureza e módulo de elasticidades superiores aos intermetálicos
Cu6Sn5.
Fissuras foram observadas de acordo com alguns estudos [6] na
camada formada por compostos intermetálicos entre as ligas de soldagem Sn-
Cu e Sn-Cu-Ni e o substrato de Cu. Estes intermetálicos são do tipo Cu6Sn5 e
se apresentaram com menos fissuras quando o Ni é adicionado à liga Sn-
0,7%Cu. Portanto, a estabilização do intermetálico (Cu,Ni)6Sn5 hexagonal
devido a presença de Ni pode impedir uma mudança de volume mais
acentuada, que por sua vez, poderia contribuir para o processo de
fissuramento de juntas soldadas de ligas não modificadas com Ni, onde a
transformação hexagonal/monoclínica ocorre em aproximadamente 186°C [3,
37, 38].
2.5 TRATAMENTO TÉRMICO DE ENVELHECIMENTO EM LIGAS DE
BRASAGEM LIVRE DE CHUMBO (Pb)
O envelhecimento é um tratamento térmico do âmbito da metalurgia que
consiste em aquecer a uma dada temperatura, mantida durante até centenas
de horas, uma peça de aço ou liga. Esse tratamento térmico visa o oposto da
solubilização, ou seja, a formação de precipitados que aumentam a resistência
do material [39]. Em algumas ligas o envelhecimento ocorre espontaneamente
à temperatura ambiente para períodos prolongados de tempo com o aumento
de envelhecimento a dureza aumenta, atinge um valor máximo e diminui. Essa
redução na dureza que ocorre após longos períodos de tempo é conhecida
como superenvelhecimento [40].
Devido às suas baixas temperaturas de fusão, as ligas sem chumbo são
expostas a altas temperaturas homólogas na maioria dos produtos. Assim,
existe um estado contínuo de processos de difusão ativo nas ligas de
brasagem, e suas microestruturas são intrinsecamente instáveis e evoluem
continuamente durante as condições normais de temperatura de uso dos
equipamentos eletrônicos [41]. Estudos realizados por Liu e Madeni
investigaram a influência de diferentes temperaturas e tempo na camada de
dissolução formada entre o substrato de Cu e as várias ligas livres de Pb (Sn-
3,5%Ag, Sn-0,7%Cu, Sn-3,2%Ag-0,8%Cu e Sn-9%Zn). Estes tratamentos
15
térmicos de envelhecimentos foram realizados em temperaturas de 70, 100 e
150 °C, pelos períodos de 20, 100, 200 e 500 horas. Os resultados avaliados
através de caracterizações microestruturais (MEV e EDS) mostraram que para
o aumento da temperatura e tempo houve um crescimento da camada do
intermetálico junto ao substrato de Cu. Os resultados também indicaram que a
formação da camada de intermetálicos junto à interface é um processo
controlado por difusão.
O comportamento do envelhecimento térmico na camada de compostos
intermetálicos e propriedades mecânicas de ligas de Sn-0,7%Cu e Sn-0,7%Cu-
0,05%Ni foi investigado por Li e colaboradores [9] a partir das temperaturas de
envelhecimento no intervalo de 60 a 180°C durante 100 horas. A espessura da
camada aumenta à medida que a temperatura do envelhecimento aumenta
para ambas as juntas. De acordo com alguns trabalhos a migração e
dissolução do Cu na interface de reação liga/substrato foram observados
principalmente em baixas temperaturas. O crescimento da camada de
intermetálicos aumentou com o aumento da temperatura e do tempo de
envelhecimento, no caso deste trabalho o intermetálico presente na liga
eutética Sn-0,7%Cu-0,05%Ni é o Cu6Sn [5, 8]. O crescimento celular da mesma
forma que os intermetálicos podem crescer, do ponto de vista da escala
microestrutural, por processos difusionais ativados termicamente. O
crescimento de células ocorre à custa de outras células, de maneira a diminuir
a área superficial de contornos das células, onde as células menores vão
desaparecendo e ao final do processo os contornos das maiores células
coalescem. A Figura 10 mostra o esquema deste processo. Neste fenômeno a
migração é no sentido do centro de curva do contorno, a curvatura dos
contornos das células por sua vez, leva a uma diferença de potencial químico,
promovendo a migração de átomos através dos contornos de grão [42].
16
Figura 10: Esquema representa células (α, β e σ) na Figura a), σ e β têm praticamente
a mesma orientação e à medida que a célula σ desaparece (Figuras (b) e (c)), é
formado um contorno de alto ângulo ou subcontorno (a-b) na Figura d) ao final α e β
se encontram formando uma célula maior [adaptado de 42].
Entretanto, alguns fatores podem interferir neste tipo de cinética, e estão
associados a inibições ao crescimento normal, dentre eles são: inibição devido
às partículas (tamanho, morfologia ou microestrutura), inibição devido à
espessura da amostra (fina ou grossa) e inibição devido à textura preferencial
(alinhamento dos grãos e orientações cristalográficas). Se estes fatores se
tornam relevantes, a amostra tende a não ultrapassar um tamanho de grão
denominado tamanho de grão limite, ou seja, a microestrutura mesmo sob
tratamento térmico de envelhecimento poderá não crescer se estas condições
forem satisfeitas [42].
17
3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
A metodologia experimental do presente trabalho consistiu das seguintes
etapas: i. Preparação da liga metálica e realização do experimento de
solidificação direcional em condições transientes de extração de calor; ii.
Determinação dos parâmetros térmicos de solidificação; iii. Tratamento térmico
de envelhecimento; iv. Caracterização macro e microestrutural. As etapas i e ii
foram realizadas com o auxílio do Grupo M2PS/DEMa (Microestrutura e
Propriedades em Processos de Solidificação) do Departamento de Engenharia
de Materiais da UFSCar na pessoa do prof. José Eduardo Spinelli. O esquema
da Figura 11 apresenta essas etapas detalhadamente.
Figura 11: Fluxograma do procedimento experimental
18
3.1 SOLIDIFICAÇÃO DIRECIONAL
Na preparação da liga Sn-0,7%Cu-0,05%Ni, primeiramente os metais
puros (Sn, Cu e Ni) foram cortados e pesados em uma balança eletrônica de
precisão. Em seguida, o estanho, cobre e níquel, respectivamente, foram
decapados pelas soluções compostas de 10mL de HF+10mL de HNO3+10mL
de H2SO4+20mL de H2O, 40mL HNO3+10mL H2O e 30 mL H2SO4 + 30 mL
HNO3 + 30 mL HF + 10 mL H2O [3]. Em seguida foi utilizada uma centrífuga do
tipo Titancast 700 VAC, da fabricante Linn High Therm, de procedência alemã.
A fusão foi realizada a vácuo o que minimizou a presença de óxidos e as
eventuais perdas de composição.
O forno de indução utilizado para fusão das ligas é da marca
Inductotherm VIP modelo power-trak 50-30 R. A pré-liga então foi diluída em
um banho líquido de estanho, de modo a contemplar a composição final da liga
estudada, Sn-0,7%Cu-0,05%Ni. Nesse estágio o metal líquido é vertido em
uma lingoteira, que se encontra acoplada ao dispositivo de solidificação,
ocorrendo a solidificação espontânea do metal. Com o intuito de refundir o
material, deve ser acionado o sistema de aquecimento do dispositivo através
de resistências elétricas. Para garantir a total fusão da liga e a estabilização do
líquido será aplicado um superaquecimento de aproximadamente 20% acima
da temperatura eutética (TE). Quando a temperatura desejada é alcançada, o
desligamento do dispositivo é acionado por um controlador térmico, onde o
sistema de refrigeração a água é ligado na direção da chapa do molde. O
monitoramento e o registro são realizados por termopares inseridos e no
interior da lingoteira e conectados a um sistema de aquisição de dados.
A Figura 12 mostra o sistema de solidificação ascendente utilizado nos
experimentos. A estrutura do forno desse sistema consiste em um tubo
mecânico de aço carbono sem costura. Acoplado a base encontra-se o sistema
de refrigeração, que utiliza água como fluido de refrigeração e também o
sistema de acoplamento das lingoteiras. O forno utilizado no dispositivo de
solidificação é constituído de resistências elétricas, montadas em uma peça
refratária cilíndrica, com potência controlada, permitindo obter diferentes níveis
de superaquecimento para o metal líquido [3].
19
Figura 12: Aparato experimental para o experimento de solidificação unidirecional
vertical ascendente da liga eutética Sn-0,7%Cu-0,05%Ni [3].
No experimento de solidificação foi utilizada uma lingoteira de aço
inoxidável AISI 310 com 60 mm de diâmetro interno, 157 mm de altura e 5 mm
de espessura de parede. No presente trabalho uma chapa molde de cobre com
3 mm de espessura foi utilizada. A lingoteira possui furos de 1,5 mm de
diâmetro para passagem dos termopares que registram a evolução das
temperaturas do metal. No geral, foram utilizados seis (6) termopares nas
posições: 4, 9, 26, 45, 60 e 75 mm a partir da interface metal/molde para a liga
Sn-0,7%Cu-0,05%Ni. Foi realizada a pintura da parede interna da lingoteira,
com um cimento refratário sílico-aluminoso para evitar possíveis extrações de
calor na direção radial e facilitar a desmoldagem dos lingotes [3].
A Figura 13 mostra a lingoteira bipartida de aço inoxidável e chapa molde
de aço carbono, respectivamente.
20
Figura 13: Lingoteira bipartida de aço inoxidável com pintura a base de sílica-alumina
e chapa molde de aço carbono [3].
3.2 DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS TÉRMICOS DE SOLIDIFICAÇÃO
As variáveis térmicas de solidificação como velocidade da frente eutética
(v) e taxa de resfriamento (Ṫ) foram determinadas experimentalmente após
obtenção de curvas de resfriamento durante a evolução do processo de
solidificação, de acordo com os seguintes procedimentos:
As velocidades experimentais da frente eutética (v), para todas as ligas
analisadas são determinadas por meio de derivadas das funções P=f(t),
ou seja, v=dP/dt. As P=f(t) são obtidas experimentalmente através de
interpolações para os tempos de passagem da frente eutética para cada
posição monitorada dos termopares. Com pares ordenados (P,t), obtidos
a partir deste procedimento, sendo possível traçar um gráfico
experimental da posição da frente eutética em função do tempo. A partir
deste gráfico, extrai-se uma lei de potência, cuja derivada fornece uma
equação v=f(t). Com isso, pode-se observar a variação de v em função
da posição ao longo de todo o lingote;
A taxa de resfriamento (Ṫ), para cada posição dos termopares no lingote
é obtida pelo resultado da leitura direta do quociente das temperaturas
21
imediatamente antes e depois da TE e dos tempos correspondentes, ou
seja, Ṫ=∆T/∆t; [3].
3.3 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS
O lingote inicialmente foi seccionado ao meio no sentido vertical. Em
seguida foram realizados cortes transversais para obtenção das amostras para
o tratamento térmico e caracterização microestrutural. Foram escolhidas três
posições a partir da base refrigerada, 5, 30 e 90 mm. Tais posições foram
definidas baseadas nos valores de taxa de resfriamento, que neste caso foram
20,0°C/s, 1,7°C/s e 0,4°C/s, respectivamente. A Figura 14 mostra os
procedimentos, desde o lingote seccionado ao meio e a sequência de cortes
para a retirada das amostras.
(a) (b) (c) (d)
Figura 14: Esquema da obtenção das amostras a partir do lingote para análise macro
e microestrutural. (a) macroestrutura solidificada no dispositivo de solidificação vertical
ascendente; (b) corte central para obtenção das amostras; (c) corte longitudinal e (d)
cortes longitudinais para tratamento térmico [adaptada de 3].
22
3.4 TRATAMENTO TÉRMICO DE ENVELHECIMENTO
Para as posições selecionadas (5, 30 e 90 mm) no lingote Sn-0,7%Sn-
0,05%Ni foi separada uma amostra padrão (sem tratamento térmico) para
caracterizar a microestrutura bruta de solidificação e outras três (3) foram
submetidas a ciclos térmicos de envelhecimento de 10, 20 e 30 dias a uma
temperatura de 100°C. Esta temperatura é similar àquela encontrada para
condições reais de juntas brasadas submetidas a ciclos térmicos. A Figura 15
esquematiza este ciclo térmico e a retirada das amostras. Para isso foi utilizado
um forno tipo mufla da marca EDG equipamentos e modelo EDG3P-S. Os
tratamentos térmicos foram realizados ao ar.
(a)
23
(b)
Figura 15: (a) esquema do ciclo térmico utilizado no tratamento de envelhecimento e
(b) disposição das amostras para os ciclos térmicos e seus respectivos tratamentos
térmicos.
3.5 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL
Para investigar as microestruturas brutas de solidificação (padrões) e as
tratadas termicamente as amostras foram devidamente identificadas em
relação à interface metal/molde e embutidas a frio com resina poliéster,
posteriormente foram lixadas sequencialmente com lixas de granulometria de
150, 240, 320, 400, 600, 1200 e 2000 mesh em lixadeira manual refrigerada a
água. Após esta etapa as amostras foram polidas manualmente em uma politriz
de marca Teclago e modelo PVVD em pano metalográfico e suspensão de
alumina de granulometria 1µm e água para remoção de arranhões
provenientes da etapa de lixamento. A revelação microestrutural para análise
em microscopia óptica foi feita pela imersão das amostras em solução aquosa
de 100 mL H2O, 1,5 e 2,5g FeCl3 e 5 mL HCl por um tempo de entre 3 e 5
segundos. Os registros das micrografias foram realizados com auxílio do
24
microscópio óptico da marca Nikon Eclipse MA2000 no Laboratório de
Caracterização Estrutural (LCEM-DEMat-UFRN).
Após registrar as micrografias óticas, foram realizados alguns ataques
profundos com o mesmo reagente químico, mas com concentração de 5g de
FeCl3 com intuito de visualizar a morfologia e distribuição do intermetálico
Cu6Sn5 presentes nas regiões intercelulares da liga Sn-0,7%Cu-0,05%Ni. As
amostras foram imersas em uma solução aquosa de 100 mL H2O, 5g FeCl3 e 5
mL HCl por 4 minutos. O microscópio eletrônico de varredura (MEV) utilizado é
da marca Zeiss modelo Auriga 40 do LCEM-DEMat-UFRN, utilizando o detector
de elétrons secundários (SE).
O método do triângulo [43] foi utilizado para as medidas diretas dos
espaçamentos celulares (λC) e dendríticos primários (λ1), medidos com auxílio
do software Image-J. Foram realizadas 40 medidas para cada posição
selecionada, considerando as amostras tratadas e não tratadas termicamente,
e ao final foi obtida uma média dos valores e intervalos de dispersão. A Figura
16 mostra os métodos usados nas medições.
Figura 16: Esquema representativo do método utilizado para quantificar os
espaçamentos celulares e dendríticos: (A) Seção transversal de uma estrutura celular
para medição de λC; (B) Seção transversal de uma estrutura dendrítica para medição
de λ1 [44].
25
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Este trabalho teve por objetivo dar continuidade ao estudo reportado por
Silva e colaboradores intitulado “Sn-0.7wt%Cu-(xNi) alloys: microstructure-
mechanical properties correlations with solder/substrate interfacial heat transfer
coefficient’’ [5]. O presente estudo busca investigar os efeitos do tratamento
térmico de envelhecimento na morfologia de crescimento microestrutural e no
arranjo das fases presentes na mistura eutética, especialmente os
intermetálicos Cu6Sn5. Foi observado também a influência dos parâmetros
térmicos de solidificação como velocidade da frente eutética (v) e taxa de
resfriamento (Ṫ) na microestrutura final antes e pós tratamento térmico.
4.1 ESTUDOS DOS PARÂMETROS TÉRMICOS E DA MICROESTRUTURA
A Figura 17 mostra curvas de resfriamento durante a solidificação da liga
Sn-0,7%Cu-0,05%Ni, destacando as posições dos termopares ao longo do
lingote (a). Notou-se que as posições mais próximas da interface metal/molde
apresentaram maiores variações de temperatura no tempo (taxa de
resfriamento). Estes dados térmicos foram utilizados para determinação das
evoluções da velocidade da frente eutética (v) e da taxa de resfriamento (Ṫ) em
função da posição, conforme apresenta (b) e (c), respectivamente. Observou-
se que tanto v quanto Ṫ diminuem à medida que se afasta da interface
metal/molde. Isso ocorre devido às camadas sólidas que são progressivamente
formadas durante a solidificação direcional, funcionando assim como
resistências térmicas para extração de calor.
26
0 20 40 60 80 100
0
50
100
150
200
250
300
Posições a partir da interface metal/molde:
4 mm 9 mm 15 mm
20 mm 43 mm 73 mm
Sn-0,7%Cu-0,05%Ni
Tempo (s)
Te
mp
era
tura
(°C
)
(a)
0 15 30 45 60 75 90
0.0
0.4
0.8
1.2
1.6
2.0
Posição (mm)
Ve
locid
ad
e d
a in
terf
ace
eu
tética
, V
(m
m/s
)
Sn-0,7%Cu-0,05%Ni
(b)
27
0 15 30 45 60 75 90
0
5
10
15
20
25
30
35
Sn-0,7%Cu-0,05%Ni
Ta
xa
de
re
sfr
iam
en
to, T
(°
C/s
)
Posição (mm) (c)
Figura 17: (a) Curvas de resfriamento experimentais; evoluções (b) da velocidade da
frente eutética e (c) da taxa de resfriamento com a posição para a liga Sn-0,7%Cu-
0,05%Ni [5].
4.2 MICROESTRUTURAS DE SOLIFICAÇÃO
Considerando as amostras 5 mm, 30 mm e 90 mm a partir da interface
metal/molde do lingote Sn-0,7%Cu-0,05%Ni apresentadas nas Figuras 18 e 19
tratadas e não tratadas termicamente, verificou-se que uma microestrutura do
tipo células eutéticas prevaleceu, havendo uma transição dendrítica/celular
abrupta na posição 6 mm, indicando que apenas a posição 5 mm apresentou
crescimento dendrítico, enquanto que 30 e 90mm, mostraram células eutéticas.
Isto pode indicar que a microadição de Ni na liga eutética Sn-0,7%Cu pode
estabilizar o crescimento celular mesmo para altas taxas de resfriamento ou
velocidade da frente eutética [3, 5, 32]. Conforme demonstrado por Ventura e
colaboradores [17], pequenas mudanças no teor de cobre associado a taxas de
crescimento podem provocar o crescimento de diferentes morfologias para
ligas Sn-Cu quase eutéticas. Esses autores propuseram a ocorrência de uma
zona acoplada associada ao diagrama de fases Sn-Cu. A zona de instabilidade
28
é bastante pronunciada com o conteúdo de 0,5 a 0,7% (em peso) de Cu
desenvolvendo microestruturas não-eutéticas, especialmente se altas taxas de
crescimento forem consideradas. Taxas de crescimento muito baixas parecem
ser necessárias para permitir que uma microestrutura totalmente eutética seja
desenvolvida na liga Sn-0,7%Cu.
Com relação ao efeito do tratamento térmico de envelhecimento, notou-
se que o mesmo não afetou a morfologia de crescimento microestrutural,
permanecendo a posição 5 mm com morfologia dendrítica e as posições 30 e
90 mm com arranjo celular eutético. Levando em consideração as
microestruturas das amostras tratadas termicamente, percebeu-se um aumento
mais significativo nos valores de λ1 para maiores tempos de tratamento térmico,
ou seja, um crescimento na escala microestrutural primária. Este crescimento é
devido ao processo de difusão que promove a migração de átomos de cobre
(Cu) e estanho (Sn) dos contornos celulares em direção a outras células
adjacentes, conforme reportou Padilha [42].
Observou-se ainda que o aumento do tempo de tratamento térmico
promoveu um ligeiro aumento na posição 30mm, e um aumento mais
significativo nas posições 5 e 90mm, conforme mostram as Figuras 18 e 19,
que destacam os valores de espaçamento dendrítico primário (λ1) e celular (λC)
em cada condição térmica investigada.
5mm 30mm
Sem TTE λ1= 6,78 μm λC= 81,06 μm
29
Figura 18: Microestruturas brutas de fusão e com tratamento térmico por 10, 20 e 30
dias a 100°C para as posições 5 mm e 30 mm da liga Sn-0,7%Cu-0,05%Ni.
10 dias
20 dias
30 dias
λC= 82,30 μm λ1= 15,05 μm
λC= 84,83 μm λ1= 17,55 μm
λC= 86,54 μm λ1= 18,56 μm
30
Figura 19: Microestruturas brutas de fusão e com tratamento térmico por 10, 20 e 30
dias a 100°C para a posição 90 mm da liga Sn-0,7%Cu-0,05%Ni.
4.3 LEIS DE CRESCIMENTO DENDRÍTICO E CELULAR
A Figura 20 mostra a evolução dos espaçamentos dendríticos
primários/celular (λ1,C) em função da taxa de resfriamento (Ṫ) para a liga Sn-
0,7%Cu-0,05%Ni. Através das relações lineares entre os pontos foram
determinadas leis experimentais de potência referentes ao crescimento
dendrítico/celular ao longo de todo o lingote Sn-Cu-Ni. Os pontos nos gráficos
representam a média do λ1,C, que foi determinado experimentalmente, e seus
respectivos desvios padrão. A variação dos λ1,C em função da taxa de
resfriamento para a liga Sn-0,7%Cu-0,1%Ni com e sem tratamento térmico
pode ser descrita por meio de uma função do tipo potência com expoente
característico de -0,55. Rocha e coautores [3, 45, 46, 49] também reportaram o
mesmo expoente para caracterizar o crescimento celular de ligas Sn-Pb
solidificada unidirecionalmente sob condições de fluxo de calor transitório.
90mm
Sem TTE λC= 99,84 μm
20 dias λC= 155,69 μm 30 dias λC= 159,53 μm
10 dias λC= 121,30 μm
31
Com relação às amostras tratadas termicamente isso ocorre devido ao
crescimento de determinadas células à custa de outras células de modo a
diminuir a área total de regiões intercelulares, onde células maiores crescem às
custas do desaparecimento de células menores, em um tipo de crescimento
competitivo [42,47]. Observou-se um aumento do tamanho do arranjo
dendrítico-celular com o aumento do tempo de tratamento térmico,
principalmente para as posições de 5mm e 90mm. O potencial de crescimento
pelo processo de difusão é maior para as amostras refinadas, uma vez que,
quanto mais contornos de grão, maior a fração de sítios de difusão, conforme
cita Padilha [42].
10-1
100
101
100
101
102
103
Sn-0,7%Cu-0,05%Ni
1=100 (T)
-0,55 - Pós-Tratamento Térmico
1=65 (T)
-0,55 - Bruto de fusão [Silva et al 2015]
5mm
90mm
Taxa de resfriamento, T (mm/s)
Espa
ça
me
nto
de
nd
rítico
pri
má
rio
/ c
elu
lar,
1,C
(m
)
30mm
Dendritas
Células
10,5°C/s
Figura 20: Evolução da taxa do espaçamento dendrítico primário λ1/celular λC com a
taxa de resfriamento da liga Sn-0,7%Cu-0,05%Ni solidificadas unidirecionalmente em
chapa molde de aço1020.
32
4.4 CARACTERIZAÇÃO VIA DRX E MEV
Os difratogramas obtido para a liga Sn-0,7%Cu-0,05%Ni (21) mostraram
que apenas as fases Sn puro (β-Sn) e o intermetálico (Cu,Ni)6Sn5 estão
presentes no lingote Sn-Cu-Ni, havendo em alguns casos a sobreposição de
picos de ambos. Para as duas fases presentes na microestrutura, não há uma
tendência de aumento ou diminuição da fração volumétrica. No do intermetálico
(Cu,Ni)6Sn5, os picos referem-se a fase alotrópica hexagonal, conforme
descreveu Nogita [6].
15 30 45 60 75 90
0
150
300
450
600
750
900
90mm, 0,3 °C/s
37mm, 1,2 °C/s
6mm, 16,0 °C/s
Sn
(Cu,Ni)6Sn
5
Sn-0,7%Cu-0,05%Ni
Āngulo de difração (2)
In
ten
sid
ad
e (
a.u
.)
Figura 21: Difratogramas para diferentes posições ao longo do lingote Sn-0,7%Cu-
0,05%Ni.
As Figuras 22, 23 e 24 apresentam as imagens MEV para a liga Sn-
0,7%Cu-0,05%Ni nas posições 5 mm, 30 mm e 90 mm sem e com tratamento
térmico de 30 dias, tempo mais longo adotado neste trabalho. Todas as
imagens MEV mostraram a presença do intermetálico (Cu,Ni)6Sn5 com
morfologia fibrosa. Esta morfologia se manteve após o tratamento térmico de
33
envelhecimento ao longo de todas as posições analisadas. O espaçamento
interfásico (λ(Cu,Ni)6Sn5) para todas as posições examinadas, apresentou um
ligeiro aumento com o aumento do tempo de tratamento térmico, conforme a
Tabela 1. Por exemplo, para a posição 5mm, o valor médio λ(Cu,Ni)6Sn5 saiu de
0,79 µm (sem tratamento) para 1,32 µm (tratada termicamente com 30 dias),
um aumento de aproximadamente 60%, e para a posição 90mm, o valor de
λ(Cu,Ni)6Sn5 saiu de 2,41 µm (sem tratamento) para 2,86 µm (tratada
termicamente com 30 dias), um aumento de aproximadamente 16%.
5mm: Sem Tratamento
(a)
(b)
5mm: 30 dias
(c)
(d)
Figura 22: Imagens MEV das amostras (a,b) sem e (c,d) com tratamento térmico de 30
dias a 100°C para a posição 5 mm.
34
30mm: Sem Tratamento
(a)
(b)
30mm: 30 dias
(c)
(d)
Figura 23: Imagens MEV das amostras (a,b) sem e (c,d) com tratamento térmico de 30
dias a 100°C para a posição 30 mm.
35
90mm: Sem Tratamento
(a)
(b)
90mm: 30 dias
(c)
(d)
Figura 24: Imagens MEV das amostras (a,b) sem e (c,d) com tratamento térmico de 30
dias a 100°C para a posição 90 mm.
A Figura 25 corrobora com a Tabela 1, mostrando a evolução e o ligeiro
aumento de λ(Cu,Ni)6Sn5 com o tempo de envelhecimento para cada posição
analisada. Analisando apenas as amostras não tratadas em cada posição,
verificou-se que este aumento de λ(Cu,Ni)6Sn5 estar relacionado a diminuição
gradativa dos parâmetros térmicos de solidificação como a taxa de
resfriamento e velocidade da frente eutética à medida que se afasta da
interface metal/molde.
36
Com relação às amostras tratadas termicamente, notou-se que este
aumento de λ(Cu,Ni)6Sn5 se deu pelo fenômeno de difusão de átomos de contorno
de fibras (Cu,Ni)6Sn5 para o centro de outro intermetálico adjacente, conforme o
processo de Ostwald ripening. O crescimento e dispersão do intermetálico
(Cu,Ni)6Sn5 também foi reportado por Fu e coautores [41] e Tian et al. [48].
Baseados nesse princípio, descreveram que o processo de coalescimento e
dispersão do intermetálico consiste em pequenas partículas de (Cu,Ni)6Sn5
sendo dispersadas para liberar átomos de cobre (Cu), níquel (Ni) e estanho
(Sn) que se difundem através da matriz para a região em torno de células
maiores e então, são reprecipitadas facilitando o crescimento das partículas
maiores.
Tabela 1: Variação do espaçamento interfásico (λ(Cu,Ni)6Sn5) em função da
posição ao longo do lingote Sn-0,7%Cu-0,05%Ni e do tempo de tratamento
térmico de envelhecimento.
5mm 30mm 90mm
Condição de Tratamento
λ(Cu,Ni)6Sn5
(µm)
λ(Cu,Ni)6Sn5
(µm)
λ(Cu,Ni)6Sn5
(µm)
Sem tratamento 0,79±0,17 1,61±0,22 2,41±0,31
10d 0,92±0,10 2,05±0,04 2,69±0,35
20d 1,29±0,20 2,06±0,12 2,75±0,17
30d 1,32±0,08 2,06±0,26 2,86±0,20
37
Figura 25: Evolução do espaçamento interfásico (λ(Cu,Ni)6Sn5) com o tempo de
envelhecimento (dias).
38
5 CONCLUSÃO
Com base nos resultados para a liga Sn-0,7%Cu-0,05%Ni tratada
termicamente, podem ser relatadas as seguintes conclusões:
1. As análises microestruturais mostraram que um crescimento celular
prevaleceu ao longo da liga Sn-0,7%Cu-0,05%Ni a partir da interface
metal/molde, com regiões dendríticas apenas nas posições iniciais do
lingote (até 8mm);
2. Considerando o tratamento térmico de envelhecimento realizado a
100°C nos períodos de 10, 20, e 30 dias, foi possível notar que houve
crescimento significativo no arranjo celular. Não houve mudança
estrutural (dendrítica 5mm e celulares 30 e 90mm) nas amostras
tratadas termicamente quando comparadas com as microestruturas
brutas de solidificação;
3. As imagens MEV mostraram a presença do intermetálico (Cu,Ni)6Sn5
com morfologia fibrosa, mostrando que esta morfologia se manteve
após o tratamento térmico de envelhecimento ao longo de todas as
posições analisadas. O espaçamento interfásico (λ(Cu,Ni)6Sn5), para
todas as posições, aumentou com o aumento do tempo de tratamento
térmico principalmente para as posições 5 (1,32 µm) e 90 mm (2,86
µm), conforme mecanismo descrito por Ostwald;
4. A variação dos espaçamentos celulares (λC) e dendríticos primários
(λ1), em função da taxa de resfriamento e da velocidade da frente
eutética para a liga Sn-0,7%Cu-0,05%Ni foi caracterizada pelo
expoente experimental de -0,55. Um aumento gradativo dos
espaçamentos dendríticos primários (λ1) e celulares (λC) foi observado
com o distanciamento da interface metal/molde.
39
SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Realizar tratamentos térmicos de envelhecimento com maiores tempos e
temperatura, a fim de consolidar o efeito desses parâmetros de processo
na microestrutura final e dureza de ligas Sn-Cu-Ni;
Executar ensaios de fadiga térmica em amostras com e sem tratamento
térmico de envelhecimento, no intuito de obter propriedades mecânicas
em condições próximas as de uso.
40
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