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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE UNIDADE ACADÊMICA ESPECIALIZADA ESCOLA DE MÚSICA CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA WALTER CLÁUDIO DE BRITO LIMA ENSINO COLETIVO DE VIOLÃO NO COLÉGIO SALESIANO SÃO JOSÉ NATAL - RN 2014

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · O presente trabalho tem como objetivo apresentar o processo de ensino ... a possibilidade de todos poderem aprender com todos. Sobre

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE UNIDADE ACADÊMICA ESPECIALIZADA

ESCOLA DE MÚSICA CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA

WALTER CLÁUDIO DE BRITO LIMA

ENSINO COLETIVO DE VIOLÃO NO COLÉGIO SALESIANO SÃO JOSÉ

NATAL - RN 2014

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE UNIDADE ACADÊMICA ESPECIALIZADA

ESCOLA DE MÚSICA CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA

WALTER CLÁUDIO DE BRITO LIMA

ENSINO COLETIVO DE VIOLÃO NO COLÉGIO SALESIANO SÃO JOSÉ

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Música, como requisito para a obtenção do título de Licenciado em Música da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Betânia Maria Franklin de Melo.

NATAL - RN 2014

WALTER CLÁUDIO DE BRITO LIMA

ENSINO COLETIVO DE VIOLÃO NO COLÉGIO SALESIANO SÃO JOSÉ

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Música, como requisito para a obtenção do título de Licenciado em Música da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

APROVADA EM ___/___/____

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________

Prof.ª Dr.ª Betânia Maria Franklin de Melo Orientadora

_____________________________________________

Prof. Me. Juliano Antônio Ferreira Xavier Membro da banca

_____________________________________________

Prof. Dr. Álvaro Barros Membro da banca

AGRADECIMENTOS

A Deus Pai todo poderoso, o criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e

invisíveis a minha gratidão primeira pelo dom da vida.

A minha mãe, Sra. Maria Regina de Brito Lima pelas orações e cuidados

maternos e ao meu pai, Sr. Walter Barbosa de Lima (in memory) pelo exemplo de

simplicidade e serenidade que me deu ao longo de sua vida.

A minha querida esposa, Têmis Lima e filhos, Davi Isaias e Maria Cecília pelas

renúncias de minha presença em prol da construção desse trabalho.

A minha orientadora, Prof.ª Dra. Betânia Maria Franklin de Melo pela

disponibilidade, acolhimento, firmeza e seriedade.

A todos os professores da EMUFRN pela formação técnica e pedagógica musical

que recebi ao longo desses anos de estudo.

Ao bibliotecário Everton Rodrigues Barbosa pelas orientações a respeito de

formatação e normatização.

Ao Prof. Mário Sérgio de Oliveira, Coordenador geral do Colégio Salesiano São

José, pela disponibilização de fotografias da escola utilizadas neste trabalho, bem como

ao Padre José Mauro da Silva, Diretor do referido Colégio, pelo apoio e incentivo ao

nosso trabalho.

Sem dedicação e entusiasmo nada de positivo se obtém em arte.

Robert Schuman.

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo apresentar o processo de ensino coletivo

de violão desenvolvido no Colégio Salesiano São José na cidade de Natal/RN. Através

disto, ampliar e aprofundar conhecimentos na área do ensino coletivo do instrumento

centrado nos autores: Cristina Tourinho e Flávia Cruvinel. As informações acadêmicas

e complementares dão subsídio a essa modalidade de ensino musical dentro da educação

básica. Alguns aspectos históricos e atuais são mencionados diante das experiências que

se justificam pela literatura estudada, numa relação entre a prática de ensino alicerçada à

pedagogia musical. Os métodos e filosofias são adaptados ao fazer musical dos alunos,

descrevendo alguns trabalhos desenvolvidos por eles entre os anos de 2010 e 2014.

Elabora-se nesta construção uma experiência de conteúdo musical e coletivo.

Palavras - chave: Música. Ensino coletivo. Violão. Colégio Salesiano São José.

ABSTRACT

This paper aims to present the process of collective learning guitar developed at

St. Joseph Salesian College in Natal. Through this, broaden and deepen knowledge in

the collective teaching focused on authors: and Flavia Cristina Tourinho Cruvinel

instrument area. Academic and additional information give subsidy to this type of music

teaching in basic education. Some historic and current aspects are mentioned on the

experiences that are justified by the literature study, a relationship between teaching

practice grounded in musical pedagogy. The methods and philosophies are adapted to

making music students, describing some work done by them between 2010 and 2014. It

elaborates on this building an experience of musical content and collective.

Keywords: Music. Collective education. Guitar. Salesian College St. Joseph.

LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1 - Ginásio Salesiano anos 50................................................................... 16

Fotografia 2 - Ginásio Salesiano anos 60................................................................... 16

Fotografia 3 - Fachada principal do Colégio.............................................................. 18

Fotografia 4 - Fachada lateral do Colégio.................................................................. 18

Fotografia 5 - Sala de música: primeiro ambiente...................................................... 20

Fotografia 6 - Sala de música: segundo ambiente...................................................... 20

Fotografia 7 - Sala de música: terceiro ambiente....................................................... 20

Fotografia 8 - Aula coletiva de violão........................................................................ 23

Fotografia 9 - Apresentação da Orquestrinha no Parque das Dunas de Natal/RN..... 31

Fotografia 10 - Recital 2012. Homenagem a Luiz Gonzaga...................................... 33

Fotografia 11 - Intervalo festivo. Tema: Copa do mundo no Brasil........................... 33

Fotografia 12 - Festa dos ex-alunos no Colégio São José.......................................... 33

Fotografia 13 - Inauguração da sala de música Padre Mauro..................................... 33

Fotografia 14 - Recital temático sobre o dia do músico............................................. 33

Fotografia 15 - Inauguração da sala de música Padre Mauro..................................... 33

Fotografia 16 - Apresentação da Orquestrinha São João Bosco no Parque das

Dunas de Natal/ RN.....................................................................................................

44

Fotografia 17 – Recital temático sobre música de cinema......................................... 44

Fotografia 18 – Inauguração da sala de música Padre Mauro: Descerramento da

placa com o novo nome da sala...................................................................................

45

Fotografia 19 – Recital temático sobre o dia do músico............................................ 45

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Sistema de leitura por números................................................................ 26

Figura 2 – Sistema PIMA puxado............................................................................. 27

Figura 3 – Sistema PIMA dedilhado......................................................................... 27

Figura 4 – Sistema de setas........................................................................................ 27

Figura 5 – O diagrama............................................................................................... 28

Figura 6 – Sistema de leitura por cifras..................................................................... 29

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10 2 O ENSINO COLETIVO DE VIOLÃO ................................................................. 11 2.1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES .......................................................................... 11 2.2 ALGUNS PRINCÍPIOS ........................................................................................ 12 2.3 ALGUNS BENEFÍCIOS ....................................................................................... 14 3 O CONTEXTO DE ENSINO ................................................................................ 16 3.1 UM RECORTE HISTÓRICO DO COLÉGIO SALESIANO ................................. 16 3.2 CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR NA ATUALIDADE ................. 18 3.3 A SALA DE MÚSICA .......................................................................................... 19 3.4 A ESCOLINHA DE MÚSICA .............................................................................. 20 3.4.1 Organização e funcionamento.......................................................................... 22 4 A EXPERIÊNCIA DA PRÁTICA PEDAGÓGICA ............................................. 23 4.1 AS AULAS ........................................................................................................... 23 4.1.1 O violão ............................................................................................................. 25 4.1.2 As melodias e a escrita alternativa ................................................................... 26 4.1.3 O ritmo e a escrita alternativa ......................................................................... 27 4.1.4 Os acordes e a escrita alternativa .................................................................... 28 4.1.5 A progressão harmônica e a escrita alternativa .............................................. 29 4.1.6 A opção pela música popular ........................................................................... 30 4.2 A ORQUESTRINHA SÃO JOÃO BOSCO ........................................................... 32 4.3 AS APRESENTAÇÕES PÚBLICAS .................................................................... 33 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 36 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 37 APÊNDICE ............................................................................................................... 40 APÊNDICE A – Plano de curso .................................................................................. 41 ANEXO ..................................................................................................................... 43 ANEXO A - Fotografias ............................................................................................. 44

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1 INTRODUÇÃO

"O ensino coletivo de instrumento musical pode ser uma importante ferramenta

para o processo de socialização do ensino musical, democratizando o acesso do cidadão

à formação musical" (CRUVINEL, 2008, p. 5)1. Em um país com oportunidades

reduzidas de trabalho como é o nosso, a prática do ensino coletivo de violão deveria ser

difundida e aplicada em diversos contextos, pois os seus resultados estão para além do

artístico e musical. Nesse trabalho, procuramos afirmar sua importância e eficácia

através das evidências encontradas na literatura estudada e na nossa experiência no

Colégio Salesiano São José.

No primeiro capítulo diversificamos nossa abordagem em algumas

considerações sobre o tema estudado, na escassez de material de pesquisa, como

também nos princípios, benefícios e um dos objetivos do ensino coletivo de violão na

educação básica. Não nos detivemos nos aspectos históricos e gerais desta metodologia

de ensino, nem tão pouco na origem, pois o foco da monografia se encontra na prática

do ensino de violão no Colegio Salesiano São José, considerando nossa ação nesta

escola como pioneira no ensino coletivo sistematizado.

No segundo capítulo descrevemos o contexto de ensino em alguns dos seus

aspectos históricos, acontecimentos que narram transformações pelas quais o Colégio

Salesiano passou, quais sejam: as reformas educacionais e estruturais. Sua infra-

estrutura ampla e moderna no momento atual, sua organização, a sala de música com

sua história particular e a Escolinha de Música como atividade extra curricular também

estão imersos nesta parte.

No terceiro capítulo, relatamos a nossa prática no ensino coletivo de violão, o

processo de ensino-aprendizagem e alguns aspectos didáticos metodológicos. O

instrumento também é apresentado em seus aspectos pedagógicos musicais. Por fim

descremos o uso das escritas alternativas, a opção pela música popular, as apresentações

públicas e a criação da Orquestrinha São João Bosco.2

1 Documento online não paginado. Paginação atribuída de acordo o software visualizador e leitor de PDFs Adobe Reader. 2 Grupo criado para fins de prática de conjunto em novembro de 2012 pelo autor desta monografia e aprovado pelo Padre José Mauro, Diretor do Colégio Salesiano São José.

11

2 O ENSINO COLETIVO DE VIOLÃO

2.1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Segundo a Professora e pesquisadora Flávia Cruvinel (2004), a inserção da

prática do ensino coletivo de instrumentos musicais nos diversos espaços formais e não

formais de educação musical deveria ser tarefa dos educadores musicais. Como vemos:

[...] os educadores musicais deveriam buscar viabilizar e propor políticas educacionais para a inserção do ensino coletivo de instrumento musical nas instituições de ensino formal, escolas de ensino básico e especializado e entidades de ensino não formal como as ONGs, Casas de Cultura e Projetos Sociais no sentido de defender uma escola crítica e transformadora, ligada ao esforço coletivo de democratização da sociedade. (CRUVINEL, 2004, p. 35)

Segundo a autora, pode-se ainda afirmar que o ensino coletivo é um meio pelo

qual a oportunidade de se aprender a tocar um instrumento musical é socializada, numa

perspectiva democrática de que todos podem estudar música. Atrelado a esta prática

esta o êxito das ações pedagógicas e sociais. Como nos afirma: "O ensino coletivo é

uma importante ferramenta para o processo de democratização do ensino de música.

Alguns programas ligados a essa filosofia de ensino vêm surgindo no país, alcançando

êxito, tanto na área pedagógica quanto na social" (CRUVINEL, 2005, p. 19).

Segundo a pesquisadora Cristina dos Santos Tourinho (2004), a partir de seus

precursores, o ensino coletivo agora esta se expandindo por toda parte, porém ainda

com pouca literatura científica disponível para subsidiar a sua prática. Assim lemos:

As iniciativas brasileiras de Maria de Lourdes Junqueira Gonçalves e do Prof. José Coelho, seguidas por Alda Oliveira, Diana Santiago e Maria Isabel Montandon agora estão brotando por toda parte e ai reside o nosso grande desafio neste encontro: fornecer subsídios para que o ensino coletivo de instrumentos musicais cresça e apareça como uma oportunidade real de ensino (TOURINHO, 2004, p. 42).

No caso específico do ensino coletivo de violão, não obstante o avanço das

pesquisas desenvolvidas, o acesso direto a fonte científica de alguns materiais está

condicionado e restrito à convivência com os seus respectivos autores.

12

2.2 ALGUNS PRINCÍPIOS

Pontuamos aqui algumas idéias baseadas na obra de Tourinho (2008) chamadas

de princípios do ensino coletivo e que podem ser aplicados nas diversas famílias dos

instrumentos musicais.

Como princípio um, destacamos que todos tem a condição de aprender a tocar

um instrumento musical. Neste, não há teste de seleção, e outros parâmetros são

aplicados com fins de classificação e nivelamento. Assim vemos: “O teste seletivo e a

idéia de ensinar apenas alunos ‘talentosos’ dá lugar a uma classificação que tem outros

parâmetros, tais como interesses e horários comuns, idade e repertório.” (TOURINHO,

2008, p. 2).

Consideramos na questão dos nivelamentos das turmas um outro princípio citado

de maneira indireta pela autora, o dos remanejamentos de alunos. Ela assim sugere:

"Assiduidade acoplada a velocidades diferentes de aprendizado requer um

remanejamento semestral, segundo nossa sugestão." (TOURINHO, 2007, p. 4).

Destacamos mais um princípio, a possibilidade de todos poderem aprender com

todos. Sobre este princípio a autora explica: "Para o estudante, o professor é o modelo, a

pessoa que toca com facilidade,orienta, possui domínio de técnica, enquanto que os

demais colegas atual como espelhos, refletindo (ou não) as dificuldades individuais de

cada elemento do grupo." (TOURINHO, 2008, p. 2). Nesta perspectiva entende-se que:

o professor é a referência da meta a ser alcançada, enquanto que os colegas são reflexos

das dificuldades ou avanços compartilhados no grupo. Neste contexto de relação

professor-aluno, aluno-aluno, subentende-se ainda que a aprendizagem possa acontecer

também por colaboração.

Aprender pela observação, interação e imitação é mais um dos princípios do

ensino coletivo. Nesta perspectiva, a autora argumenta: "Pode-se argumentar em favor

do ensino coletivo que o aprendizado se dá pela observação e interação com outras

pessoas, a exemplo de como se aprende a falar, a andar, a comer" (TOURINHO, 2007,

p. 2). Neste sentido, quanto à leitura, ela pode ser realizada pela compreensão dos

códigos ou pela imitação no ver e ouvir o professor. A autora expande e correlaciona

esta idéia: “A partitura no ensino coletivo, ou não está presente nas aulas iniciais, onde

o trabalho é feito por imitação, ou é apresentada de forma funcional, isto é, serve para

um resultado específico e imediato” (TOURINHO, 2007, p. 2).

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Portanto, a explanação anterior de Tourinho pressupõe que o fazer deve preceder

o saber no ensino coletivo. E, conforme Almeida afirma, temos: " 'O fazer musical' deve

preceder sempre 'o saber musical'. Não há nenhuma justificativa sociopsicopedagógica,

nem econômica e prática que nos autorize a pensar o contrário" (ALMEIDA, 2004, p.

27).

Tourinho na mesma linha do pensamento anterior ainda relata o assunto:

A concepção de ensino coletivo está aqui conceituada como transposição inata de comportamento humano de observação e imitação para o aprendizado musical. Professores de ensino coletivo levam em consideração o aprendizado dos autodidatas, que se concentram inicialmente em observar o que desejam imitar. A imitação está focada no resultado sonoro obtido e não na decodificação de símbolos musicais. [...] Junto com musicalizar está implícito o conceito de desenvolver a percepção auditiva mais do que decodificar símbolos musicais. (TOURINHO, 2007, p. 2).

Outro princípio diz respeito ao planejamento da aula. Esse é feito em função do

grupo, respeitando o ritmo de aprendizagem, as possibilidades e dificuldades de cada

um, favorecendo a distribuição de tarefas de acordo com preferências e competências.

(TOURINHO, 2008).

Quanto ao ritmo de aprendizagem Almeida acrescenta: "Para o pedagogo, cada

aluno tem o seu tempo de aprendizado, e a boa didática recomenda que se deva respeitar

o tempo de aprendizado de cada um." (ALMEIDA, 2004, p. 19).

Montandon acrescenta um outro princípio: o do envolvimento ativo. Na aula

coletiva ninguém pode ficar isolado ou inativo, o professor deve providenciar para que

todos sejam protagonistas no fazer musical, mesmo que cada um realize diferentes

atividades. A autora explica: “[...] na aula em grupo, todos devem estar envolvidos e

ativos todo tempo, mesmo que com atividades diferentes.” (MONTANDON, 2004, p.

47).

Outro princípio refere-se ao tempo do professor. Este deve ter disponibilidade

para administrar o progresso dos alunos faltosos, comunicando-se com eles e

providenciando momentos de encontro individual antes ou depois das aulas para

equilibrar novamente a turma. A autora aconselha: "Um telefonema, um pequeno apoio

individual como reforço antes ou depois da aula contribui para reparar estes problemas."

(TOURINHO, 2008, p. 4).

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Diante desta exposição de princípios destacados para o ensino coletivo,

finalizamos com um dos objetivos definidos pela autora para a educação básica:

Ensino coletivo na escola regular deve ter em mente não a formação do músico com as funções específicas do instrumentista, mas a possibilidade de oferecer um fazer musical concreto, que vá ao encontro da expectativa da maioria dos estudantes, que quer manipular um instrumento [...] (TOURINHO, 2004, p. 42).

2.3 ALGUNS BENEFÍCIOS

Considerando as evidências e os efeitos benéficos ao longo de nossa experiência

com o ensino coletivo de violão no Colégio Salesiano, ressaltamos sua eficiência como

ferramenta pedagógica e sua ação transformadora na literatura estudada. Por

conseguinte, evocamos essa metodologia nos pensamentos dos autores que coadunam

com essa filosofia e prática de ensino.

Acredita-se que o rendimento do aluno iniciante é maior dentro da aula coletiva

do que na aula tutorial. De acordo com essa crença, Tourinho e Barreto (2003) afirmam:

Vários anos de experiência no ensino do instrumento, tanto em grupo quanto individual, nos levam a acreditar que o rendimento do aluno iniciante é maior dentro de um grupo, com colegas que atuem como referência, e com a ajuda de um professor capacitado para lidar com as competências individuais e coletivas. (TOURINHO; BARRETO, 2003, p.7, grifo nosso)

Segundo Alda Oliveira, o ensino coletivo é mais motivador e o aluno aprende

mais em menos tempo. Vejamos: "O ensino coletivo é mais estimulante para o aluno

iniciante devido ao seu maior desenvolvimento em menos tempo de aula, em

decorrência das técnicas pedagógicas usadas no ensino coletivo." (OLIVEIRA, 1998

apud CRUVINEL, 2005, p. 20). Ainda de acordo com Oliveira, o ensino coletivo

promove a motivação, a solidariedade nas dificuldades e evita desestímulos:

O aprendizado musical em grupo é agradável pelas seguintes razões: o aluno percebe que suas dificuldades são compartilhadas pelos colegas, evitando desestímulos; o aluno se sente logo no início dos estudos, participante de uma

15

orquestra ou de um coral e, ao conseguir executar uma peça, sua motivação aumenta. (OLIVEIRA, 2002 apud CRUVINEL, 2005, p. 78).

Neste sentido, Cruvinel (2004) aborda os efeitos benéficos do ensino coletivo

em sua dissertação de mestrado. Vejamos:

Tomando como base os resultados apresentados pela autora, na dissertação de mestrado “Efeitos do Ensino Coletivo na Iniciação Instrumental em Cordas: A Educação Musical como meio de Transformação Social”, percebeu-se: a melhora na disciplina, na organização, na cooperação, na solidariedade, no respeito mútuo, na concentração, no desempenho técnico-musical, na consciência corporal, na assimilação e acomodação dos conteúdos, na interação entre os alunos despertando a socialização, a motivação, entre outros; o desenvolvimento do repertório de maneira mais rápida; o desenvolvimento do ouvido harmônico do aluno; a economia de tempo, já que se trabalham os mesmos aspectos e princípios instrumentais e/ou musicais com todos os iniciantes; o maior rendimento; a baixa desistência por parte dos alunos; melhora da autoestima, maior estímulo, desinibição, ou seja, a mudança de comportamento dos alunos envolvidos no processo de aprendizagem em grupo. (CRUVINEL 2004, p. 69-70 apud CRUVINEL, 2003).

Dentre os benefícios elencados pela autora, observamos em nossa prática

musical com o ensino coletivo de violão no Colégio São José, alguns que consideramos

mais relevantes, quais sejam: a melhora da autoestima, a baixa desistência por parte dos

alunos, a motivação, o maior rendimento, a economia de tempo e a desinibição. Esta

relevância se dá por fatos que se relacionam com tais benefícios encontrados na prática

pedagógica.

16

3 O CONTEXTO DE ENSINO

3.1 UM RECORTE HISTÓRICO DO COLÉGIO SALESIANO

De acordo com o professor, historiador e sociólogo Itamar de Souza, em 1932, a

família do empresário Juvino Barreto e da Sra. Inês Barreto - casal da alta burguesia

natalense - faz uma importante doação de seu patrimônio em forma de testamento aos

religiosos Salesianos. Tratava-se de um imóvel situado a Avenida Junqueira Aires no

bairro Ribeira desta capital, constando de um grande sobrado de dois andares superiores

e terreno medindo quinze mil quinhentos e vinte e um metros quadrados (15.521 m²).

Era uma verdadeira chácara com pomar, palmeiras imperiais, jardins e cacimba para

assegurar o abastecimento de água da propriedade denominada "Vila Barreto"3. Vale

ressaltar que a casa doada era o bem de maior valor econômico e sentimental da família.

(SOUZA, [2005?]).

Fotografia 1 - Ginásio Salesiano anos 50 Fotografia 2 - Ginásio Salesiano anos 60

Fonte: Arquivos do Colégio Salesiano São José.

Em 1936, após os entendimentos de praxe mantidos pela família dos doadores

com a ordem Salesiana, o Padre José Selva - então Inspetor Salesiano do Norte do

Brasil - enviou os primeiros religiosos para receberem a propriedade doada e iniciarem

os trabalhos educacionais. (ibid., [2005?]).

3 No sentido italiano da palavra significa casa requintada.

17

As primeiras ações educativas dos Salesianos em Natal foram: o oratório festivo

- encontro de cunho sócio educativo religioso - que reunia semanalmente jovens e

crianças pobres da periferia de Natal para realização de atividades esportivas, oficinas,

brincadeiras e formação religiosa.

O funcionamento de aulas noturnas gratuitas de alfabetização para rapazes do

comércio e ajudantes de oficina também compunham o leque das primeiras ações

educativas. (ibid., [2005?]).

Além do oratório festivo e das aulas gratuitas do curso noturno, os Salesianos

abriram o Externato São José para alunos do curso primário. O curso completo

compreendia quatro séries, com quatro aulas de 45 minutos cada, iniciada às 7 horas.

Alguns alunos pagavam pequenas contribuições, enquanto outros estudavam

gratuitamente. Este foi o segundo passo na trajetória educacional dos salesianos em

Natal. (ibid., [2005?]).

Em 1959, para adaptar-se às necessidades dos alunos e da sociedade,

implantaram o curso ginasial, ocupando o turno da manhã, enquanto o curso primário

permanecia à tarde. Ascender a esse patamar do ensino significava a expansão da obra

Salesiana no território Potiguar. (ibid., [2005?]).

Com a reforma do sistema educacional brasileiro, de acordo com a lei 5.692 de

11 de agosto de 1971 (BRASIL, 1971), a escola primária e ginasial passou a se chamar

1º grau, e após ter cursado esse grau de escolaridade, o aluno deveria ingressar no 2º

grau, organizado em três ou quatro séries anuais. Este nível escolar destinava-se a

formação integral do adolescente e a sua habilitação profissional. E, para adaptar-se às

exigências desta reforma, a Casa Salesiana de Natal tomou as providências criando

também o 2º grau, que começou a funcionar em janeiro de 1973, e o antigo Ginásio

Salesiano passou a chamar-se Colégio Salesiano São José. (ibid., [2005?]).

Ao lado das reformas educacionais que aconteceram nesse período aconteciam

também as reformas de infraestrutura, dentre elas a construção da primeira sala

reservada para fins musicais. Vejamos: "fora inaugurado com muita simplicidade o

pavilhão complementar com garagem, depósitos, oficinas e sala do conjunto musical".

(SOUZA, [2005?], p. 80, grifo do autor).

A correspondência dos trabalhos educacionais dos Salesianos com as

expectativas dos pais dos alunos ao longo dos anos resultou em um elevado conceito e

prestígio da referida escola no meio da sociedade natalense, tornando-a uma referência

em matéria de educação até aos dias atuais, levando várias gerações a buscar formação

18

integral de qualidade nos moldes do trinômio que fundamenta a essência da educação

Salesiana: a razão, a religião e a cordialidade.

3.2 CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR NA ATUALIDADE

Fotografia 3 - Fachada principal do Colégio. Fotografia 4 - Fachada lateral do Colégio.

Fonte: Arquivos do Colégio Salesiano São José (2004).

Localizado a Rua Largo Dom Bosco Nº 335, Ribeira, na cidade do Natal/ RN, o

Colégio Salesiano São José é atualmente uma Escola Católica de direito privado

prestadora de serviço público da rede particular de ensino que trabalha com a educação

básica do primeiro ao nono ano do ensino fundamental e da primeira a terceira série do

ensino médio, onde o tradicional e o moderno se congregam.

Sob a direção do Padre José Mauro da Silva, da coordenação geral do Prof.

Mário Sérgio de Oliveira e da administração do Sr. Francisco Sérvulo Francelino, o

colégio organiza-se em coordenações, departamentos e setores assim distribuídos:

pedagógico, esportes, apoio, arte cultura, recursos humanos, secretaria, financeiro,

multimídia, comunicação e informática. Disponibiliza também, serviços de orientação

religiosa, educacional e psicológica, além de contar com uma ampla infra estrutura

onde encontramos portaria e segurança 24h, estacionamento, recepção, enfermaria,

capela, residência, cozinha, refeitório, cantina, quadras poliesportivas, piscina,

banheiros, ginásios, almoxarifado, biblioteca, laboratórios, livraria, gráfica, auditórios e

salas de aula.

19

3.3 A SALA DE MÚSICA

Dentre as salas de aula mencionadas está a Sala de Música. Em seus primórdios,

esta funcionava em um espaço simples ao lado da biblioteca.

A chegada do Padre José Mauro da Silva à Casa Salesiana em 1999, trouxe uma

visão empreendedora e modernidade na infra-estrutura da escola. Com o advento da

reforma do poliesportivo Padre Prata em 2004, a sala de música passa a localizar-se

agora ao lado do departamento de esportes, em lugar mais visível e de fácil acesso,

ganha mais espaço e um pequeno tratamento acústico para atender as necessidades da

época. Sobre essas obras e acontecimentos afirma-se: "Em quinto lugar, destacamos a

ação modernizadora do Pe. José Mauro, cujas obras se fazem presentes em todos os

setores deste colégio, desde que esse sacerdote assumiu a direção deste colégio, em

1999." (SOUZA, [2005?], p. 95).

A partir de 2010, com a chegada do autor deste trabalho monográfico, a sala é

aparelhada com novos e modernos equipamentos de som para melhorar a qualidade dos

ensaios da Banda Dom Bosco4 e aulas da Escolinha de Música.

Em 2011, com a sistematização do ensino coletivo já implementada, tem seus

instrumentos musicais totalmente recuperados e renovados, além de receber mais um

professor de música para atender as demandas da Escolinha em fase de expansão.

Em 2012, fruto do trabalho que já se consolidava, passa por uma grande reforma

estrutural ganhando três novos ambientes totalmente climatizadas, independentes, com

tratamento acústico, beleza e design. No primeiro ambiente realizam-se as aulas de

teclado e violão; no segundo ambiente temos a sala técnica, onde acontecem às

gravações e edições de áudio além de atividades de apreciação, e no terceiro ambiente

as aulas de bateria, guitarra e contrabaixo. Aí os professores de música, Walter Lima e

Renato Ortiz5, desenvolvem suas atividades e tem ao seu dispor diversos recursos

didáticos, dentre eles instrumentos musicais tais como: violões, teclados, baterias,

contrabaixos, guitarras e equipamentos de som como amplificadores, equalizador,

caixas de som e mixer, além de computador, monitores de referência, software de

gravação, edição de áudio e de partituras, dentre outros. Sobre essa questão

complementa-se categorizando: "Entre as muitas funções da organização de uma

instituição como a escola, está à questão dos recursos didáticos, que podem ser

4 Pequeno grupo musical pré-existente no Colégio São José composto por apenas cinco alunos. 5 Professor assistente de música entre os anos de 2011 e 1º semestre de 2014.

20

classificados em espaciais, tecnológicos e financeiros." (GONÇALVES, 2008, p.179

apud FANFANI, 2001, p.40).

Em sua inauguração realizada em 16/11/2012, o Reverendo Padre Diretor foi

homenageado, pois a antiga sala de música passa a chamar-se agora Sala de Música

Padre Mauro. Na seqüência do cerimonial houve o descerramento da placa com o novo

nome da sala, palavra de pais, alunos, coordenadores, professores e direção da escola,

bênção, visitação, apresentação musical e cokctail.

Fotografia 5 - Sala de música: Fotografia 6 - Sala de música: Fotografia 7 - Sala de música: 1º ambiente 2º ambiente 3º ambiente

Fonte: O Autor (2014)

3.4 A ESCOLINHA DE MÚSICA

Ligada ao departamento de Arte e Cultura a "Escolinha de Música"6 é uma

atividade de ensino de instrumentos musicais opcional que acontece em caráter extra

curricular7 e que adota a prática do ensino coletivo por determinação da administração

escolar. Conta com dois profissionais do ensino de música e oferece aulas de bateria,

contrabaixo, guitarra, teclado e violão, sendo este último o instrumento mais procurado

pelos alunos. Ainda sobre essa e outras atividades musicais dentro da escola regular

ressalta-se: "Portanto, as escolas deveriam promover programas de música com

enfoques diferenciados, como aulas de instrumento, coral ou conjunto musical,

atividades estas que interessam muito aos alunos." (BASTIÃO, 2010, p. 17).

A escolinha recebe alunos iniciantes e intermediários na faixa etária entre 11 e

16 anos de idade, esse aluno não precisa dispor do instrumento musical para realizar as

aulas no colégio e sim para praticar em casa. Trabalhamos do mais simples ao mais

elaborado com os alunos de acordo com suas habilidades, competências e nível de

6 Nome dado pelos gestores do colégio as aulas de instrumentos musicais. 7 O caráter extracurricular das aulas de violão nesse contexto específico significa uma atividade opcional, complementar e não obrigatória.

21

aprendizagem, alternando entre o conteúdo programático e o conhecimento prévio dos

alunos. Com relação às competências e habilidades observa-se que: "[...] no contexto

educacional, oportunizar desafios compatíveis com habilidades torna-se importante para

despertar nos alunos crenças sobre suas capacidades, estabelecerem objetivos e domínio

de tarefas mais complexas." (PIZZATO, 2010, p. 42 apud MAEHR et al, 2002).

O conhecimento prévio dos alunos é válido para o processo de ensino

aprendizagem de acordo com Louro. Vejamos: "[...] os próprios conteúdos trazidos

pelos alunos podem passar a servir de tema para o processo de aprendizagem."

(LOURO, 2008, p. 271).

O objetivo do trabalho não são as realizações geniais e virtuosísticas no

instrumento, haja vista que essa conduta inibe a autoconfiança dos alunos para a

aquisição de modestas habilidades segundo Schafer. Assim confirmamos: "A síndrome

do gênio na educação musical leva freqüentemente a um enfraquecimento da confiança

para as mais modestas aquisições." (SCHAFER, 1991, p. 280).

Tão pouco a ênfase na leitura e escrita musical tradicional como fim último.

Neste sentido Swanwick se posiciona: "Diferentemente de Kodály, entretanto, não acho

que a capacidade de ler e escrever seja o objetivo final da educação musical; é,

simplesmente um meio para um fim, quando estamos trabalhando com algumas

musicas." (SWANWICK, 2003, p. 69, grifo nosso).

O autor ainda complementa: "Ser capaz de dizer em música somente o que

podemos escrever em notação nega tanto a expressividade como o discurso musical dos

alunos" (SWANWICK, 2003, p. 115). Fialho na mesma linha de pensamento comenta:

“No que se refere à leitura e escrita musical entende-se que saber música não é só saber

ler e escrever [...]” (FIALHO, 2008, p. 109 apud SOUZA 2001, p. 215).

Formar músicos instrumentistas fica a cargo das escolas especializadas, quando

surge alguma vocação, de pronto encaminhamos. Nessa perspectiva Tourinho (2007, p.

1).8 observa que: “É possível afirmar que parte dos estudantes que inicia o aprendizado de

um instrumento não se profissionaliza ou nem mesmo pensa neste aspecto.” Cruvinel

(2004, p. 33) ainda complementa: "Não devemos olhar uma criança ou um iniciante

como um futuro profissional." Por outro lado a maioria dos jovens estudantes do Colégio

São José vislumbram outras profissões, e a música através do ensino coletivo de violão

é concebida como parte da formação integral, iniciação instrumental e um meio pelo

8 Documento online não paginado, paginação atribuída de acordo com o software visualizador e leitor de PDFs Adobe Reader.

22

qual também se educa. A partir dessa realidade conclui-se que: "A música é importante

para o ser humano e sociedade independe da profissão que ele seguirá." (CRUVINEL,

2004, p. 33). Conscientes desta realidade, adotamos algumas práticas que encontram

consonância com a realidade de ensino, priorizando o fazer musical direto e atendendo

as expectativas de manipulação do instrumento por parte dos alunos.

O nosso foco é colocar o aluno em contato com o fenômeno da música, ampliar

seus horizontes, resgatar valores, formar o senso crítico, estético e seletivo e ao mesmo

tempo desenvolver conceitos e habilidades básicas ao instrumento.

3.4.1 Organização e funcionamento

Os cursos são pagos e desenvolvidos no período de nove meses consecutivos, de

março a novembro, com um pequeno recesso escolar de duas semanas entre os meses de

junho e julho, devido às festas juninas.

Os dias e horários de funcionamento são de segunda à quinta, das 11h40min. ás

14h10min. e das 17h50min. ás 19h30min., exceto em dia de feriado nacional, estadual,

municipal, de caráter religioso ou civil, ou ainda outro determinado pela escola.

As turmas são formadas por até quatro alunos por questões de espaço físico e

quantidade de instrumentos disponíveis, e obedecem aos critérios de idade, horários

disponibilizados para cada nível escolar e habilidade prévia no instrumento musical.

As inscrições são feitas a cada início de semestre se houver disponibilidade de

vaga e horários, pois as mesmas são limitadas ao número de alunos por turma.

As aulas são ministradas para cada grupo de interesse numa periodicidade de

dois encontros semanais, em dias alternados e com duração de 50 minutos cada.

O aluno é pagante e tem um limite de 25% de faltas do total de aulas do ano

letivo, ultrapassado esse limite, o aluno será considerado desistente e terá a sua vaga

colocada em disponibilidade.

O professor deve ter algum tipo de formação ou prática na área musical, deve ser

polivalente em instrumentos musicais, ter conhecimentos básicos sobre sonorização,

informática e disponibilidade para assessorar e participar de eventos dentro e fora da

escola.

A conclusão dos trabalhos e atividades da escolinha de música se dá através de

um recital que acontece na penúltima semana de novembro, onde os alunos de todas as

23

modalidades tocam juntos para uma platéia formada por pais, parentes, amigos e

professores de outras áreas de conhecimento.

4 A EXPERIÊNCIA DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

4.1 AS AULAS

Fotografia 8 - Aula coletiva de violão. Sala de música do Colégio Salesiano São José.

Fonte: O Autor (2014)

Para iniciar ou aperfeiçoar as habilidades dos alunos ao violão, as aulas são

planejadas e ministradas de acordo com a resposta às atividades propostas e o resultado

das vivências musicais escolares, partindo sempre do experimentar para o saber. As

lições são de dificuldades progressivas, onde o aluno aprende desde melodias, acordes e

batidas simples, até melodias, acordes e ritmos tecnicamente mais complexos. A cada

lição realizada o aluno aprende uma nova melodia, um novo ritmo, um novo acorde ou

um novo elemento musical, exercitando também os já aprendidos. Desta forma evolui

gradativamente ampliando o seu conhecimento.

A aplicação dos aspectos rítmicos, melódicos e harmônicos da música é

realizada de acordo com a idade, evidenciando o elemento musical apropriado para cada

faixa etária de acordo com Friedenreich:

Portanto, enquanto antes dos sete anos a criança é essencialmente rítmica, após o livre desabrochar do corpo elétrico, dos sete aos quatorze anos, ela desenvolve o sentido para a melodia. Com a libertação do corpo astral, entre os 14 e os 21 anos, o jovem demonstra um especial interesse pela harmonia

24

sonora, e só com o advento da maior idade começa a despertar o interesse pela forma musical. (FRIEDENREICH, 1990, p. 78)

Durante esses anos ministrando aulas de violão no Colégio Salesiano,

observamos também que a motivação em freqüentar as aulas, o permanecer na

Escolinha ao longo do ano e o interesse pelo estudo do instrumento está baseado em

cinco pontos: o ensino em grupo, o fazer musical direto, a música popular, o senso de

competência e o bom humor.

Sobre o bom humor lemos: "A relação bem humorada e harmônica entre

professor e aluno atua diretamente no desempenho das atividades, bem como na

disciplina em sala de aula." (DRUMMOND, 2009, p. 7). Partindo da mesma linha de

raciocínio e na certeza de resultados positivos é nos dito: "Neste sentido, certamente

bons resultados serão obtidos utilizando-se o bom humor – pois, a par da seriedade do

trabalho pedagógico, o educador precisa desenvolver também um sadio senso

humorístico." (FRIEDENREICH, 1990, p. 24).

Sobre o senso de competência pode-se supor segundo Pizzato: "[...] o interesse é

supostamente influenciado pelo senso de competência, de dificuldade e do esforço

exigido para aprender [...]" (PIZZATO, 2010, p. 45). Por outro ângulo, ainda segundo a

autora, observa-se também que: "[...] atividades nas quais os indivíduos sentem-se

muito competentes e são pouco exigidos podem levar à sensação de tédio e,

conseqüentemente, ao baixo interesse." (PIZZATO, 2010, p. 46 apud ECCLES et al,

1983). Analisando-se as citações anteriores, percebe-se uma clara correlação entre o

senso de competência do aluno e o interesse pelas atividades propostas. Conclui-se

então segundo a autora, que essa relação é um princípio motivação fundamental para os

alunos. Vejamos:

Contudo, o conjunto de dados apresentados também aponta para a importância das propostas de ensino desafiadoras e compatíveis com as capacidades dos alunos. Ou seja, tarefas nem muito fáceis, nem muito difíceis, mas que exijam esforço, investimento do aluno, pois esse é considerado um princípio motivacional fundamental. (PIZZATO, 2010, p. 46).

As músicas trabalhadas e o repertório escolhido podem mudar sempre que

necessário, para que haja um aprendizado significativo e motivador. Nessa linha de

raciocínio compreende-se que: "[...] um "professor reflexivo" é um profissional

25

autônomo, que se questiona, toma decisões e cria durante a sua ação pedagógica.

Observando seus próprios alunos, as situações educativas com seus limites e

potencialidades, criando e experimentando alternativas pedagógicas - inclusive

elaborando materiais de ensino próprios [...]" (PENNA, 2010, p. 29).

4.1.1 O violão

Este instrumento é considerado popular entre os jovens e economicamente mais

acessível que outros instrumentos. O violão era um dos instrumentos que o Colégio São

José dispunha em quantidade, e para tanto o adotamos para a prática do ensino coletivo.

Dentro desse entendimento a autora argumenta: "O violão, por ser um instrumento de

baixo custo, é passível de ser adotado como opção de ensino instrumental na escola

básica. Além do baixo custo, pode ser transportado com facilidade, é fácil para aprender

os primeiros acordes, e o mais importante, muitas crianças e adolescentes gostariam de

tocar violão." (TOURINHO, 2008, p. 7).

Num primeiro momento, em se tratando de alunos que estão tendo o seu

primeiro contato com o violão, nós apresentamos o instrumento mostrando cada uma de

suas partes e a importância de se estabelecer uma postura correta para uma boa

execução. Mostramos também algumas maneiras de produzir som no instrumento, seja

dedilhando, tangendo, puxando ou batendo em suas cordas.

Num segundo momento abordamos assuntos referentes a marcas, modelos,

manutenção e contextos musicais em que são utilizados. Em seguida recomendamos a

higienização das mãos e explicamos como usar o afinador eletrônico. Neste momento

associa-se o nome de cada corda do violão com algumas letras do alfabeto que

representam as notas da afinação padrão, pois o afinador só reconhece as alturas dos

sons desta forma. E num terceiro momento explicamos sobre o uso das mãos esquerda e

direita, suas convenções e nomenclatura dos dedos utilizados. Abordaremos esse

assunto detalhadamente mais adiante dentro das escritas alternativas.

26

4.1.2 As melodias e a escrita alternativa

"A notação musical convencional é um código extremamente complicado, e para

dominá-lo são necessários anos de treinamento" (SCHAFER, 1991, p. 307). No

fragmento de texto acima, o autor aborda a complexidade e o fator tempo no

aprendizado da notação musical tradicional. Sabe-se que no contexto da escola regular

não se dispõe de tanto tempo para o ensino de música e que a complexidade não

corresponde à busca pela praticidade e a ansiedade dos alunos em manipular um

instrumento. Neste sentido se fez necessário a criação e/ou utilização de escritas

alternativas, objetivando resultados a curto e médio prazo para a satisfação das

expectativas de pais, alunos e escola.

Schafer (1991, p. 307, grifo do autor) ainda assiná-la e complementa o exposto:

"O ideal, o que precisamos, é de uma notação que pudesse ser aprendida em dez

minutos, após os quais, a música voltasse a seu estado original - como som.”

O sistema de leitura por números é a escrita alternativa utilizada por nós para o

estudo e compreensão de como tocar as melodias no violão.

Figura 1 - Sistema de leitura por números

Fonte: O autor (2014)

Como se vê na figura acima, definimos a altura das notas em oitavas diferentes

através de números, onde a dezena significa à corda e a unidade a casa que deve ser

tocada.

Exemplo: Como ler: 30 = Sol 3 13 13 = Sol 4 Corda Casa * O número zero representa a corda solta

27

4.1.3 O ritmo e a escrita alternativa

A mão direita é responsável pelo ritmo no violão, a simbologia utilizada para a

representação dos dedos utilizados nessa mão são as iniciais dos nomes de cada dedo, as

letras são P,I,M,A, significando consecutivamente polegar, indicador médio e anelar.

Organizamos a escrita alternativa para essa mão de três formas, para atender a

execução do dedilhado, do puxado e do batido que são bastante utilizados na música

popular.

Para o dedilhado e o puxado utilizamos o sistema que denominamos de PIMA.

A letra "P" dentro do círculo e abaixo da linha horizontal significa tocar com o dedo

polegar em um dos três bordões do violão conforme o acorde em questão. As letras

minúsculas "i", "m" e "a" acima da linha horizontal, significa tocar com os dedos

indicador, médio e anelar as três primeiras ou a 2ª, 3ª e 4ª cordas do violão de acordo

com a indicação do professor. O alinhamento das letras determina o tipo de execução,

letras alinhadas verticalmente significa puxar as cordas indicadas ao mesmo tempo,

letras em alinhamento vertical diferente significa dedilhar as cordas indicadas. A ordem

vertical das letras minúsculas altera a seqüencia dos dedos a serem utilizados. Lê-se de

baixo para cima e da esquerda para a direita:

Figura 2 - Sistema PIMA puxado

Fonte: O autor (2014) Figura 3 - Sistema PIMA dedilhado

Fonte: O autor (2014)

28

Para os ritmos batidos utilizamos o sistema de setas para cima e para baixo

indicando o movimento e a direção da mão direita como um todo para a realização do

estilo musical proposto:

Figura 4 - Sistema de setas

Fonte: O autor (2014)

A técnica e o como fazer, o andamento, a dinâmica, a expressão, o caráter e

outros elementos musicais em todas as escritas alternativas descritas são geralmente

aprendidos pela observação e imitação, de acordo com Ramos: "O que vale na repetição

é o binômio olhar e fazer. A freqüência e a repetição se interligam formando um

procedimento único no aprender música." (RAMOS, 2008, p. 82)

4.1.4 Os acordes e a escrita alternativa

O diagrama é a escrita alternativa utilizada para o estudo e a compreensão das

formas dos acordes. De acordo com posição da figura abaixo, as linhas verticais

significam as cordas do violão, da direita para a esquerda temos a contagem das cordas

de acordo com a afinação padrão: 1ª mi, 2ª si, 3ª sol, 4ª ré, 5ª lá e 6ª mi, sendo esta

última duas oitavas abaixo com relação à primeira; as linhas horizontais são os trates; os

números brancos são os dedos da mão esquerda de acordo com a convenção: 1 para

indicador, 2 para médio, 3 para anelar e 4 para mínimo; o "x" é a corda que deve ser

abafada ou não tocada, a bolinha preta abaixo dos diagramas é o baixo do acorde e as

brancas são as cordas que podem ser tocadas para completar o acorde em questão. A

letra maiúscula acima dos diagramas é a cifra9 de cada acorde.

9 Recurso utilizado na música popular para representar acordes através de letras, sinais, números e abreviações.

29

Figura 5 - O diagrama

Fonte: Dicionário de acordes. Cifra club.

4.1.5 A progressão harmônica e a escrita alternativa

Na aplicação da harmonia temos o sistema de leitura por cifras, onde o aluno é

levado a ler e interpretar as progressões harmônicas de músicas mais complexas que não

consegue memorizar. Neste ponto em especial são introduzidos elementos da escrita

tradicional tais como: semibreves para um acorde em um compasso quaternário,

mínimas para dois acordes por compasso, semínimas para quatro acordes por compasso,

sinais de repetição como ritornelo, pausas, casas de primeira e segunda vez, fermata,

entre outros.

Segundo Ermelinda Paz: "Antes de ter conhecimento de nota, de altura, o aluno

deverá ter conhecimento e vivência da rítmica, que é a primeira linguagem musical do

aluno." (PAZ, 2000, p. 258). E como vimos pelo texto e pela ilustração, é o primeiro

elemento musical da notação tradicional a ser introduzido.

Apesar da fusão da escrita alternativa da música popular com os códigos da

escrita tradicional proporcionar mais precisão e entendimento na leitura, percebe-se,

entretanto que: "Para a cultura da música popular, a notação seria desejável e até mesmo

casual, por não ser determinante na sua produção e aprendizagem" (ARROYO, 2001, p.

65).

Figura 6 - Sistema de leitura por cifras

Fonte: O autor (2014)

30

A partir do sistema de leitura por cifras descrito por nós e de acordo com

Schafer, temos: "Uma tarefa especial dos educadores musicais deveria ser a de inventar

uma nova ou mais notações, que, sem se afastar tão radicalmente do sistema

convencional, possam ser dominadas rapidamente [...]" (SCHAFER, 1991, p. 311).

4.1.6 A opção pela música popular

Optamos por trabalhar um repertório de música popular com os alunos,

buscando principalmente aquelas músicas que resistiram ao tempo e evitando aquelas de

conteúdo literário impróprio. Por ser uma categoria musical marcada pela transmissão

oral de seus padrões e formas, a música popular é bem aceita entre os jovens. Segundo

Fialho (2008, p. 109 apud SOUZA et al., 2002, p. 343-344): "[...] muitas práticas

musicais contemporâneas entre jovens e crianças são aprendidas oralmente, como é

comum na tradição da música popular ou na nova oralidade que os meios de

comunicação apresentam".

Arroyo confirma a oralidade da música popular no processo de ensino-

aprendizagem concebendo os códigos escritos como não determinantes na prática deste

gênero musical. Vejamos: "Por outro lado, a construção do conhecimento relativo às

práticas das músicas populares é marcadamente oral. O papel do domínio dos códigos

escritos é aceitável, mas não determinante nessa prática." (ARROYO, 2001, p. 65).

Diversificamos também os estilos, a época e a nacionalidade para facilitar a

aproximação do aluno com a música em termos gerais. O foco na música popular como

campo de interação e aproximação é a uma ação que facilita o processo de ensino

aprendizagem segundo aponta a mesma autora: "De qualquer modo, o foco na música

popular faz sentido, visto ser essa a música com a qual a maioria dos jovens interage."

(ARROYO, 2005, p. 25-26).

Transcrito para a linguagem instrumental, o repertório quase sempre é arranjado

ou adaptado para a instrumentação do grupo. É escolhido de maneira a equacionar a

significância para os alunos com os objetivos do trabalho e etapas do processo de

ensino-aprendizagem. Começando com as músicas mais simples do cancioneiro

regional como Asa Branca de Luiz Gonzaga, Luar do Sertão do Catulo da Paixão

Cearense, Felicidade de Lupicínio Rodrigues, músicas natalinas como Jingles Bells,

Noite Feliz e Boas Festas, temas de desenhos animados e filmes como The godfather,

31

Chariots fire, The pink panther, Harry Potter, passando pela música nacional como

Aquarela de Toquinho, o Sítio do pica-pau amarelo, Garota de Ipanema, Wave,

Aquarela do Brasil, internacionais como Yesterday, Here comes the sun, How deep is

your love, Dust in the wind, Tears in heaven, e New york new york, o repertório vai se

expandindo em número de músicas e grau de complexidade. Trechos de obras da

música erudita mais populares tais como: Ode a alegria de Beethoven, o Minueto em

sol e Jesus alegria dos homens de Bach também são trabalhados com os alunos. Esses

trechos dos clássicos da música erudita são fontes de ricos aspectos rítmicos e

melódicos para iniciantes que nem sempre são encontrados na música popular. Essa

última mais rica em sincopes e contratempos. O repertório também é trabalhado na

perspectiva de ampliar conceitos, vivências e conteúdos musicais, além de contribuir

para o acervo musical das apresentações.

Muitas outras músicas são utilizadas nesse processo pela necessidade de

ampliação do repertório. Uma das estratégias de ampliação é colocar peças com

conteúdo técnico igual ou parecido na escolha de outros materiais. Nessa perspectiva, a

autora afirma: "[...] o objetivo último do ensino de arte na educação básica (aí incluída a

música) é ampliar o alcance e a qualidade da experiência artística dos alunos,

contribuindo para uma participação mais ampla e significativa na cultura socialmente

produzida [...]" (PENNA, 2010, p. 30 apud PENNA, 2008, p. 97). Ainda nesse

entendimento Schafer (1991, p. 296) nos lembra: "Temos, porém, uma outra obrigação,

que é continuar a ampliar o repertório, que é onde falhamos miseravelmente."

32

4.2 A ORQUESTRINHA SÃO JOÃO BOSCO

Fotografia 9 - Apresentação da Orquestrinha no Parque das Dunas de Natal/ RN

Fonte: Lago (20/10/13)

Por iniciativa do autor desta monografia no ano de 2012, tendo como auxiliar o

Prof. Renato Ortiz e tomando por base as formações instrumentais dos recitais, o

"broken consort"10 chamado "Orquestrinha São João Bosco" foi criado para atender à

necessidade de um espaço para a prática de conjunto, responder a demanda de um

número cada vez maior de alunos tocando vários instrumentos e desvincular o nosso

trabalho musical do entretenimento. Reúne os alunos de bateria, contrabaixo, guitarra,

teclado e violão melhor preparados musicalmente. Alunos que tocam outros

instrumentos tais como violino e flauta transversal também participam do trabalho. Sob

a nossa batuta, os ensaios acontecem sempre às sextas-feiras nos horários de 12h30min.

às 14h10min. e das 17h50min. às 19h30min. Cerca de vinte alunos dos turnos matutino

e vespertino participam desses ensaios. Como exemplos de espaços para compartilhar

tarefas musicais com outros instrumentos, ai incluído o violão, a autora sugere:

"Devemos pensar também na formação de corais, grupos musicais, orquestras e broken

10 Terminologia da música instrumental inglesa do século XVI usada a partir do final da renascença para designar um grupo de instrumentos musicais formado por mais de uma família.

33

consorts modernos, grupos onde a presença do violão será muito bem vinda [...]"

(TOURINHO, 2008, p. 7, grifo do autor).

O repertório da orquestrinha contempla desde clássicos da música popular

brasileira, como por exemplo: Garota de Ipanema e Brasileirinho, passando pelos

clássicos de alguns representantes da música internacional como Beatles e Bee Gees,

temas de filmes famosos como The Godfather, até temas de desenho animado como The

Pink Panther Theme.

Apresenta-se na própria escola em algumas datas especiais do calendário e

também em eventos externos, em espaços públicos como o Parque das Dunas de Natal/

RN e em outras escolas da rede Salesiana.

4.3 AS APRESENTAÇÕES PÚBLICAS Fotografia 10 - Recital 2012. Fotografia 11 - Intervalo festivo. Fotografia 12 - Festa dos Homenagem a Luiz Gonzaga. Tema: Copa do mundo no Brasil. ex-alunos no Colégio São José.

Fonte: Arquivos do Colégio Salesiano São José (16/11/12, 11/06/14, 20/09/14).

Devido ao caráter extracurricular das aulas de música, não há avaliação formal e

sim apresentações públicas, que ocorrem durante o ano letivo em diversos momentos

tais como: datas comemorativas, missas solenes, intervalos festivos, projetos, recitais,

entre outros. As apresentações servem também como um termômetro avaliativo do

aprendizado dos alunos e do trabalho dos professores. Com relação à intencionalidade

da presença da música em datas comemorativas do calendário escolar afirma-se:

O velho discurso negativo, segundo o qual o professor de música não é um recreador, que ele não deve abrir mão de seu planejamento para preparar festas comemorativas do calendário escolar, vai de encontro ás novas demandas da interdisciplinaridade no ensino básico. Isso não quer dizer que o professor deva abandonar o seu planejamento, mas sim aproveitar as

34

oportunidades festivas para também tornar público o trabalho que desenvolve em sala de aula com os alunos. (BASTIÃO, 2010, p. 23).

Fotografia 13 - Inauguração da Fotografia 14 - Recital temático Fotografia 15 - Inauguração da sala de música Padre Mauro. sobre o dia do músico. sala de música Padre Mauro.

Fonte: Arquivos do Colégio Salesiano São José (16/11/12, 22/11/13, 16/11/12).

Quando nos referimos às apresentações musicais, destacamos essas como um

momento de transpor os limites da sala de aula, vencer a timidez e encontrar com a

comunidade educativa, socializando o fazer musical dos alunos. A timidez é amenizada

ao longo do ano letivo nas aulas coletivas e nos ensaios gerais, haja vista que o aluno

está sendo observado e julgado pelos próprios colegas o tempo todo. Assim lemos: "Os

estudantes são menos tímidos nos primeiros contatos com o público, visto que a

exposição constante ao julgamento mesmo que silencioso dos colegas diminui a

inibição das “audições” e provas de fim de semestre." (TOURINHO, 2007, p. 4 apud

TOURINHO, 1995, p. 187). Unir as modalidades de ensino, tocar juntos e vendo o que

outro aprendeu e preparou para socializar, é bastante enriquecedor. Além disso, o

entusiasmo, a festa, a avaliação e a confraternização geral de todos fazem parte deste

encontro. Com relação ao que as apresentações musicais oportunizam. Temos: "[...]

quando há apresentações e recitais familiares, as crianças têm oportunidades de

desenvolver o sistema de pensamento social." (ILARI, 2003, p. 15).

As implicações sócio culturais, político econômicas vem requerer um diálogo na

escolha de um repertório adequado para cada uma dais apresentações dentro e fora da

escola, é preciso conversar e levar em consideração o tempo disponível para a

preparação do mesmo, o nível de dificuldade e em que contexto essa ou aquela música

do repertório gera significação, sobre este último ponto afirma-se: "Tomando como

ponto de partida a possibilidade desse diálogo, levanto que, além do repertório, se torna

relevante discutir o seu contexto." (LOURO, 2008, p. 281). Um repertório que também

agrade e seja apreciado por todos, a fim de que se possa estabelecer uma comunicação

35

interativa com o público formado pelos pais, parentes e amigos dos alunos. Nesse

entendimento Schafer acrescenta: "Certamente, toda sociedade possui um repertório de

experiências musicais passadas que gosta de manter vivo." (SCHAFER, 1991, p. 296).

Não se trata, porém, de uma escolha aleatória baseada no "gosto do senso

comum imposto pela mídia", mais em critérios musicais, artísticos e pedagógicos com

objetivos bem definidos. Sobre essa questão Nunes adverte-se: "Sem formação crítica

da população, o mercado de discos e cancioneiros se reduz a interesses basicamente

comerciais; e o gosto musical parece tornar-se a cada dia mais questionável." (NUNES,

2010, p. 36). Ainda sobre um repertório que agrade aos pais, alunos e comunidade

educativa em geral entende-se que:

A relação entre produções culturais e diferentes grupos geracionais tem fronteiras difíceis de precisar, uma vez que símbolos de um grupo podem passar a ser apropriados por outro. Na música, há vários exemplos disso relativo a estilos musicais cujos ídolos, práticas e apreciadores (as) "envelhecem", mais continuam atraindo os mais jovens. (RIBAS, 2008, p. 148)

Um exemplo clássico do que o autor acaba de correlacionar, é o Rock. Esse

estilo musical pode ser considerado um fenômeno musical intergeracional, onde grupos

que o representam, como Beatles, Rolling Stones, Titãs, Legião Urbana, entre outros,

são apreciados por diversas gerações.

Em nossa prática musical no Colégio Salesiano, observamos que os jovens

passam a apreciar músicas de outras décadas que fazem parte do patrimônio cultural

nacional e internacional, à medida que estas lhes são apresentadas de maneira

contextualizada e significativa.

36

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer do trabalho monográfico, percebemos um crescente interesse pela

pesquisa, à medida que consultávamos a bibliografia. A prática docente durante esses

anos no Colégio Salesiano nos fez enxergar novas possibilidades de aprender e ensinar

música coletivamente à luz de nossa formação. A necessidade de atualização frente aos

desafios apresentados, nos fez buscar alternativas para que houvesse uma prática

significativa para todos os envolvidos no processo de aprendizagem, inclusive o

docente. Conforme Penna: "Sem dúvida, a atuação em sala de aula é fundamental para a

aprendizagem da profissão docente, sendo indispensável no processo de se tornar

professor." (PENNA, 2010, p. 30).

As questões relativas à formação continuada do professor e a sua polivalência

em instrumentos musicais nos levaram a refletir: se por um lado a nova legislação

trouxe a separação na área de artes por especialidade, acabando com a formação

polivalente do professor, por outro lado nasce a generalidade dentro da especificidade,

ou seja, o professor de música polivalente em instrumentos musicais.

A idéia de fazer música de maneira prazerosa e significativa, a paciência e a

perseverança em trabalhar com a escola real e não a ideal, as iniciativas

interdisciplinares, a pesquisa, o planejamento, a organização de um trabalho sistemático

e o êxito das apresentações musicais dos alunos, atraíram o apoio e a credibilidade da

comunidade escolar, além dos investimentos por parte dos gestores em nosso trabalho.

Os resultados dos desafios foram positivos. Ganhamos espaço e experiência,

construímos conhecimentos, compartilhamos saberes, ampliamos a nossa visão de

mundo e conquistamos o respeito da comunidade educativa Salesiana, não pela

quantidade do que fizemos, mas pela dedicação, compromisso, entusiasmo e seriedade

naquilo que realizamos. Como escreveu Friedenreich: "Cada professor chegará a outras

descobertas e formulações que ampliarão continuamente suas capacidades e

conhecimentos." (FRIEDENREICH, 1990, p. 85).

Com base na nossa experiência, no Colégio Salesiano São José, observamos que

alguns dos princípios e benefícios do ensino coletivo de violão encontrados nos

pensamentos dos autores: Cristina Tourinho e Flávia Cruvinel permitem a eficácia da

referida prática musical em grupo (violão).

37

REFERÊNCIAS

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APÊNDICE

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APÊNDICE A – Plano de curso

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ANEXOS

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ANEXO A - Fotografias Fotografia 16 - Apresentação da Orquestrinha São João Bosco no Parque das Dunas. Natal/ RN.

Fonte: Lago (20/10/13)

Fotografia 17 - Recital temático sobre música de cinema com os alunos da Escolinha de Música. Evento realizado no Colégio São José. Repertório composto por músicas de trilhas sonoras de filmes clássicos e atuais, tais como: The wizard of Oz, The Godfather, Harry Potter, Titanic, entre outros.

Fonte: Arquivos do Colégio Salesiano São José (25/11/11)

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Fotografia 18 - Inauguração da sala de música Padre Mauro: Descerramento da placa com o novo nome da sala.

Fonte: Arquivos do Colégio Salesiano São José (16/11/12)

Fotografia 19 - Recital temático sobre o dia do músico. Homenagem a Erick Clapton, Beatles, Toquinho e Dominguinhos.

Fonte: Arquivos do Colégio Salesiano São José (22/11/13)