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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEODINÂMICA E GEOFÍSICA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
DIAGÊNESE E PROVENIÊNCIA DOS ARENITOS DA TECTONOSSEQUÊNCIA RIFTE NAS BACIAS DO RIO DO PEIXE E DO
ARARIPE, NE DO BRASIL
Autora:
Ana Bárbara Sampaio Costa
Orientador: Prof. Dra. Valéria Centurion Córdoba
Co-Orientador:
Prof. Dr. Emanuel Ferraz Jardim de Sá (PPGG – UFRN)
Dissertação nº95 / PPGG
Natal – RN, Julho de 2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEODINÂMICA E GEOFÍSICA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
DIAGÊNESE E PROVENIÊNCIA DOS ARENITOS DA
TECTONOSSEQUÊNCIA RIFTE NAS BACIAS DO RIO DO PEIXE E DO ARARIPE, NE DO BRASIL
Autora: Ana Bárbara Sampaio Costa
Dissertação apresentada em 29 de Julho
de 2010, ao Programa de Pós-Graduação
em Geodinâmica e Geofísica – PPGG,
da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte - UFRN, como requisito à
obtenção do grau de MESTRE em
Geodinâmica e Geofísica, com área de
concentração em Geodinâmica.
Comissão Examinadora:
Prof. Dra. Valéria Centurion Córdoba (PPGG)
Dra. Marcela Marques Vieira (PPCEP/UFRN)
Dra. Liliane Rabêlo Cruz (PETROBRAS)
Natal – RN, Julho de 2010
“Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa no desenho que fizesse, nesse céu onde o olhar é uma asa que não voa, esmorece e cai no mar.
Que perfeito coração no meu peito bateria,
meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.”
Amália Rodrigues
Aos meus Costas (Adelino, Gastão, Leonildo)
E às minhas Marias (Arletes, Mota e Filomena) …os meus eternos amores!
i
AGRADECIMENTOS
Queria agradecer primeiramente ao Prof. Antônio Jorge Vasconselos Garcia por ter-me
sugerido a UFRN e ao Prof. Dr. Emanuel Ferraz Jardim de Sá, em nome do PPGG, com o qual
eu fiz os meus primeiros contatos e a ele devo esta minha vinda.
À CAPES pelo financiamento da bolsa e ao Projeto “Arquitetura e Evolução Tectono-
estratigráfica das Bacias Interiores do Nordeste, a norte do Lineamento Pernambuco”, objeto
convênio PETROBRAS/UFRN-PPGG, na qual esta dissertação está inserida.
À minha orientadora Prof. Dra. Valéria Centurion Córdoba por me ter enriquecido com
os seus conhecimentos geológicos, pela excelente orientação, pela sempre boa e contangiante
disposição, pela força e apoio que sempre me deu, estou-lhe eternamente grata. “Este vai ser o
tanto que vai ficar por escrever…”.
Ao meu co-orientador Prof. Dr. Emanuel Jardim de Sá pelas discussões e pelo enorme
privilégio em ser sua mestranda.
Gostaria de agradecer a todos os Professores do Laboratório de Geologia e Geofísica do
Petróleo por eventuais esclarecimentos que foram surgindo no desenvolvimento desta
dissertação, assim como ao Prof. Dr. Claiton Scherer por seus ensinamentos no campo, à Prof.
Dra. Marcela Marques Vieira, Prof. Dra. Helenice Vital, Prof. Dr. Zorano Sérgio de Souza, Prof.
Narendra a disponibilidade que sempre tiveram, especialmente à Dra. Débora do Carmo Sousa
por tudo…
Queria agradecer também aos meus colegas do LGGP, Isaac, Camila, Téo, Ajosenildo,
Dalton, Mayara, Ana, Marconi, pelo bom convívio que me proporcionaram e um agradecimento
em especial ao Arturinho (Artur Victor) e ao Marculino pelas críticas construtivas e transmissão
de conhecimentos informáticos. Não poderia eu, deixar de aqui proferir umas palavras ao Sr.
Emanuel de Brito por me ter “adotado”, pela alegria no início e final de cada dia, sempre
ansiando pela sexta-feira, e à doce Nilda, pela enorme alegria, simpatia, ajuda e apoio na
resolução dos problemas burocráticos que foram surgindo.
À Lúcia, ao João e à Fátima pela amizade, companheirismo, e simplesmente por me
ouvirem. Ao Roberto, Jordi, Marco, Bruno e à Marosca por todos os bons momentos que me
proporcionaram dando-me a conhecer um bocado mais sobre a cultura brasileira. Um
agradecimento enorme também, a todos aqueles que vindo aqui de férias, me trouxeram um
bocadinho do meu Portugal, especialmente ao PP (Pedro Miguel Duarte) pelo carinho, ternura, e
pelos bons momentos que me proporcionou em Natal e no Rio de Janeiro, e à Joaninha (Joana
Cruz) pelo fantástico sentido de humor e por ler os meus desabafos.
ii
Porque AMIGO é aquele que está lá sempre que precisamos e que nos diz não só aquilo
que gostamos de ouvir, fica aqui um agradecimento aos verdadeiros amigos que aqui fiz Sílvia,
Tó (pá) Nunes (António Preto), Escrevison (Cledison Marlon), António Serrano, Valéria
Córdoba, Emanuel de Brito e à Little Luminha (Luma Preto), muito obrigada pela amizade,
companheirismo, cumplicidade, pelos sermões, pelo apoio que me deram, sei que estas palavras
parecem diminutas…fica tudo o resto que não vou aqui partilhar, adoro-vos a todos.
Queria agradecer a todos os meus amigos que no outro hemisfério me deram força,
minimizaram as saudades deste período de tempo que estive apartada deles, mais
especificamente Andrea, minha Sorelli (Rita Caldas), Kimzinhu meu amor (Joaquim Barbosa),
dentre outros.
Aos meus familiares, pela enorme força e incentivo que me deram. Ao meu primo
Domingos por me ter proporcionado uma boa estadia em Natal, pelos fantásticos momentos
indescritíveis que passei na sua presença, quer em Natal, quer no Rio de Janeiro. Ao meu primo
Hugo Massana pelas prolongadas conversas no skype, desabafos, conselhos...por tudo!
Às pessoas que mais amo neste mundo que são os meus pais, a minha irmã e a minha
avózinha! Obrigada por todo o vosso amor que desde sempre me acompanha, pelo apoio
incondicional e força, graças a vocês, desde que nasci sou feliz! Amar-vos-ei para toda a
eternidade.
E claro, a quem eu nunca esqueci…
Obrigada a todos por terem “embarcado” nesta aventura!!
iii
RESUMO A presente dissertação apresenta um estudo diagenético e de proveniência dos arenitos que integram a Tectonossequência Rifte nas bacias do Rio do Peixe e do Araripe. Tais bacias compõem o conjunto das Bacias Interiores do Nordeste brasileiro. As mesmas encontram-se alinhadas segundo o Trend Cariri-Potiguar, estando geneticamente relacionadas ao rifteamento eocretáceo. Litoestratigraficamente, o intervalo estudado corresponde às formações Antenor Navarro, Sousa e Rio Piranhas, na Bacia do Rio do Peixe, e às formações Missão Velha e Abaiara, na Bacia do Araripe, estas últimas aflorantes na porção centro-oeste do Vale do Cariri. Visando subsidiar os estudos de diagênese e proveniência foi realizada uma análise fáciológica que permitiu identificar nove fácies sedimentares distintas para a Bacia do Rio do Peixe e dez para a Bacia do Araripe, individualizadas consoantes os diferentes tipos litológicos e principais estruturas sedimentares presentes. As associações destas fácies possibilitaram tecer interpretações acerca dos paleoambientes nos quais as mesmas estão inseridas, e suas sucessões verticais permitiram compreender a evolução do cenário deposicional durante o intervalo cronoestratigráfico estudado nestas bacias. Com base nas análises petrográfica e diagenética, foi possível caracterizar textural e mineralogicamente os arenitos estudados, identificar as fases diagenéticas, bem como tecer interpretações sobre a proveniência dos grãos do arcabouço. O estudo petrográfico permitiu classificar os litótipos estudados, em ambas as bacias, principalmente como quartzarenitos. Tais quartzarenitos, de maneira geral, apresentam arcabouço rico em grãos de quartzo, feldspatos e fragmentos líticos e, em menor percentagem, minerais resistatos (turmalina, esfeno, zircão, epídoto). A história diagenética das rochas estudadas mostrou-se bastante complexa, sendo caracterizada por uma grande variedade de fases que se sucederam durante os estágios de eo, meso e telodiagênese. De acordo com a formação estudada e as particularidades texturais e composicionais intrínsecas às fácies destas unidades, alguns processos se mostraram mais ou menos atuantes, outros até mesmo ausentes. De forma geral o estágio eodiagenético é marcado pela infiltração mecânica de argilas e início dos processos de compactação mecânica; O estágio mesodiagenético é caracterizado pela continuidade da compactação mecânica e início dos eventos de compactação química, crescimentos secundários de quartzo e de feldspatos, geração de caulinita autigênica, alteração dos grãos do arcabouço para clorita e ilita e, por fim, a precipitação de minerais opacos. O estágio telodiagenético, por sua vez, é representado pela oxidação de alguns dos grãos, matriz e cimentos presentes. A análise de proveniência dos arenitos estudados, utilizando-se diagramas ternários, cujos vértices correspondem aos percentuais de quartzo, feldspatos e fragmentos líticos, permitiu identificar que a área-fonte dessas rochas é representada por blocos continentais. Foi possível também, reconhecer que os arenitos da Formação Antenor Navarro, da Bacia do Rio do Peixe, e a seção superior da Formação Missão Velha, da Bacia do Araripe apresentam maior maturidade mineralógica e estabilidade química, ao passo que, as demais formações contêm rochas que, comparativamente, apresentam mais maturidade mineralógica e estabilidade química. Tais informações permitiram associar as formações estudadas em cada uma das bacias, a fases específicas de evolução do Estágio Rifte.
iv
ABSTRAT
This thesis presents diagenetic and provenance studies of sandstones belonging to the Rift Tectonosequence of the Rio do Peixe and Araripe basins. These basins are located in the interior of Northeast Brazil aligned along the Trend-Cariri Potiguar. Their origin is related to the Early Cretaceous rifting event. In terms of lithostratigraphy, the studied section corresponds to the Antenor Navarro, Sousa and Rio Piranhas formations of the Rio do Peixe Basin, and the Missão Velha and Abaiara formations of the Araripe Basin, outcropping in the central-west Cariri Valley. A facies analysis was performed and identified nine distinct sedimentary facies for the Rio de Peixe Basin and ten sedimentary facies for the Araripe Basin, individualized according to the different rock types and their sedimentary structures. These facies associations to led paleoenvironments interpretations and their vertical succession allowed understanding the evolution of the depositional setting during the cronostratigraphic interval studied in these basins. Based on petrographic and diagenetic studies it was possible to characterize the texture and mineralogy of these sandstones, identifying their diagenetic stage and the grain framework provenance. The petrographic study allowed to classify the lithotypes studied in both basins as quartzarenites. Such quartzarenites, in general, are rich in quartz, feldspar and lithic fragment grains, and at accessory levels tourmaline, sphene, zircon, epidote and other mineralogy. The diagenetic history of the studied rocks proved to be very complex, being characterized by a variety mineral of phases that succeeded each other during the eo, meso and telodiagenetic stages. According to the studied formation and the textural and compositional aspects of the rocks, some processes were more or less active, while others were even absent. The eodiagenetic stage is marked by mechanical infiltration of clays and early mechanical compactional processes. The mesodiagenetic phase is characterized by continuity of the mechanical compaction and the beggining of chemical compaction, with quartz and feldspar overgrowths, precipitation of kaolinite, alteration of framework grains to chlorite and illite, and finally, precipitation of opaque minerals. The telodiagenetic stage is represented by the oxidation of some grains, matrix and cements. For the provenance analysis of the studied sandstones were used ternary diagrams whose vertices correspond to the percentage of quartz, feldspar and lithic fragments. This study allowed identifies the source area of these rocks as continental blocks. It was also possible, based on the chemical stability and mineralogical maturity of the rocks, recognize that the Antenor Navarro Formation of the Rio do Peixe Basin, and the upper section of the Missão Velha Formation of Araripe Basin have less maturity and stability when compared with the other studied formations.
v
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS i
RESUMO iii
ABSTRACT iv
ÍNDICE DE FIGURAS vii
CAPÍTULOI - INTRODUÇÃO 01
1.1 Apresentação e Objetivos ......................................................................................... 01
1.2 Localização das Áreas de Estudos ............................................................................ 01
1.2.1 Bacia do Rio do Peixe .................................................................................. 02
1.2.2 Bacia do Araripe .......................................................................................... 02
1.3 Base de dados e Métodos Empregados .................................................................... 04
CAPÍTULO II - GEOLOGIA DAS BACIAS ESTUDADAS 07
2.1 Contexto Regional .................................................................................................... 07
2.2 Bacia do Rio do Peixe .............................................................................................. 08
2.2.1 Arcabouço Estratigráfico ............................................................................. 08
2.2.2 Arcabouço Estrutural ................................................................................... 09
2.3 Bacia do Araripe ....................................................................................................... 12
2.3.1 Arcabouço Estratigráfico ............................................................................. 12
2.3.2 Arcabouço Estrutural ................................................................................... 15
2.4 Evolução Tectono-Estratigráfica .............................................................................. 17
2.4.1 Introdução .................................................................................................... 17
2.4.2 Bacias do Tipo Rifte: Fundamentação Teórica ............................................ 17
2.4.3 Evolução Tectono-estratigráfica da Bacia Rio do Peixe .............................. 20
2.4.4 Evolução Tectono-estratigráfica da Bacia do Araripe ................................. 21
CAPÍTULO III - TECTONOSSEQUÊNCIA RIFTE: FÁCIES E SI STEMAS
DEPOSICIONAIS 22
3.1 Introdução ................................................................................................................. 22
3.2 Bacia do Rio do Peixe .............................................................................................. 22
3.3 Bacia do Araripe ....................................................................................................... 28
vi
CAPÍTULO IV - ANÁLISE DIAGENÉTICA 37
4.1 Diagênese: Fundamentação Teórica ......................................................................... 37
4.2 Petrografia dos arenitos estudados ........................................................................... 40
4.2.1 Introdução .................................................................................................... 40
4.2.2 Bacia do Rio do Peixe .................................................................................. 42
4.2.3 Bacia do Araripe .......................................................................................... 45
4.3 Processos Diagenéticos e História Evolutiva ........................................................... 50
4.3.1 Infiltração Mecânica de Argila .................................................................... 50
4.3.2 Compactação ................................................................................................ 51
4.3.3 Crescimentos Secundários de Quartzo e Feldspatos .................................... 55
4.3.4 Calcita Mesodiagenética .............................................................................. 55
4.3.5 Dissolução e Geração de Porosidade Secundária ........................................ 55
4.3.6 Caulinita Autigênica .................................................................................... 57
4.3.7 Alteração dos Grãos para Clorita e Ilita ....................................................... 57
4.3.8 Precipitação de Minerais Opacos ................................................................. 59
4.3.9 Oxidação Telodiagenética ............................................................................ 59
4.4 Análise da Porosidade Secundária ............................................................................ 59
4.5 Integração dos Resultados da Análise Diagenética .................................................. 65
CAPÍTULO V - ESTUDOS DE PROVENIÊNCIA 70
5.1 Proveniência: Fundamentação Teórica .......................................................................... 70
5.2 Análise da Proveniência ........................................................................................... 72
5.2.1 Apresentação dos Resultados ....................................................................... 72
5.2.2 Interpretação dos Resultados ....................................................................... 76
5.2.3 Inferência sobre a Evolução do Estágio Rifte nas bacias estudadas ............ 78
CAPÍTULO VI - CONCLUSÃO 83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 86
APÊNDICES 94
vii
ÍNDICE DE FIGURAS
Capítulo I
Figura 1.1 - Mapas geológicos e de localização das bacias estudadas ............................... 03
Figura 1.2 - Fluxograma detalhado de todas as atividades realizadas para a elaboração
da presente dissertação ........................................................................................................ 05
Capítulo II
Figura 2.1 - Quadro com a descrição das unidades litostratigráficas que integram o
estágio tectônico Rifte da Bacia do Rio do Peixe e suas relações estratigráficas
(Modificado de Córdoba et al., 2007) ................................................................................. 10
Figura 2.2 - A) Mapa do arcabouço estrutural da Bacia do Rio do Peixe. B) Seção
sísmica de direção NW-SE (dip) apresentando o arranjo estratigráfico e estrutural dos
semi-grabens de Brejo das Freiras e Sousa ......................................................................... 11
Figura 2.3 - Quadro estratigráfico com descrição das unidades litostratigráficas
arranjadas segundo os diferentes estágios tectônicos da Bacia do Araripe (Compilado de
Assine, 2007; Aquino, 2009; Garcia, 2009, e Cardoso, 2010) ............................................ 14
Figura 2.4 - A) Arcabouço estrutural da Bacia do Araripe (Modificado de Ponte &
Ponte-Filho, 1996). B) Seção geológica esquemática com direção aproximadamente W-
E, da Bacia do Araripe (Assine 1992) ................................................................................. 16
Figura 2.5 - Coluna litostratigráfica idealizada para uma Bacia Rifte, mostrando o
controle tectônico nos sistemas deposicionais (Modificado de Prosser, 1993) .................. 19
Capítulo III
Figura 3.1 - Quadro de fácies deposicionais descritas para os arenitos estudados na
Bacia do Rio do Peixe ......................................................................................................... 23
Figura 3.2 - Fotografias ilustrando as fácies deposicionais descritas para os arenitos
estudados na Bacia do Rio do Peixe .................................................................................... 24
Figura 3.3 - Seções colunares dos afloramentos adotados como referência para o estudo
das fácies e associação de fácies, e para a análise petrográfica, diagenética e de
proveniência na Bacia do Rio do Peixe (Modificado do Projeto Bacias Interiores) ........... 25
viii
Figura 3.4 - Descrição e interpretação das associações de fácies e cenários
deposicionais propostos para a Tectonossequência Rifte na Bacia Rio do Peixe ............... 27
Figura 3.5 - Quadro de fácies deposicionais descritas para os arenitos estudados na
Bacia do Araripe .................................................................................................................. 29
Figura 3.6 - Fotomicrografias ilustrando as fácies deposicionais descritas para os
arenitos da Formação Missão Velha na Bacia do Araripe .................................................. 30
Figura 3.7 - Seções colunares dos afloramentos adotados como referência para o estudo
de fácies e associação de fácies, e para a análise petrográfica, diagenética e de
proveniência na Bacia do Araripe (Modificado do Projeto Bacias Interiores) ................... 32
Figura 3.8 - Descrição e interpretação das associações de fácies e cenários
deposicionais propostos para a Tectonossequência Rifte na Bacia do Araripe. O bloco
diagrama A foi modificado de Garcia (2009) e os B e C de Miall (1996) .......................... 33
Figura 3.9 Fotomicrografias ilustrando as fácies deposicionais descritas para os arenitos
estudados da Formação Abaiara da Bacia do Araripe ......................................................... 35
Capítulo IV
Figura 4.1 - Principais regimes hidrológicos responsáveis pela movimentação de
fluidos numa bacia hidrológica (Modificado de Galloway, 1995) ...................................... 37
Figura 4.2 Esquema ilustrativo das zonas onde ocorrem cada um dos estágios
diagenéticos: A) Zona eodiagenética; B) Zona mesodiagenética, e C) Zona
telodiagenética (Modificado de Choquete & Pray, 1970) ..................................................... 38
Figura 4.3 - Tabelas utilizadas para a análise textural das rochas estudadas ..................... 41
Figura 4.4 - Fotomicrografias ilustrando as principais características petrográficas dos
arenitos estudados da Formação Antenor Navarro ............................................................. 43
Figura 4.5 - Fotomicrografias ilustrando as principais características petrográficas dos
arenitos estudados da Formação Sousa ............................................................................... 45
Figura 4.6 - Fotomicrografias ilustrando as principais características petrográficas dos
arenitos estudados da Formação Rio Piranhas .................................................................... 46
Figura 4.7 - Fotomicrografias ilustrando as características petrográficas dos arenitos
estudados da Formação Missão Velha ................................................................................ 48
Figura 4.8 - Fotomicrografias ilustrando as características petrográficas dos arenitos
estudados da Formação Abaiara .......................................................................................... 49
Figura 4.9 - Fotomicrografias ilustrando o evento de infiltração mecânica de argilas
atuando em maior ou menor intensidade nos arenitos estudados ........................................ 52
ix
Figura 4.10 - Fotomicrografias ilustrando os eventos de compactação mecânica e
química, crescimentos secundários de quartzo e feldspatos, e cimento de calcita nos
arenitos estudados ............................................................................................................... 54
Figura 4.11 - Fotomicrografias ilustrando os eventos de cimento de calcita, dissolução e
geração de porosidade secundária, e caulinita autigênica nos arenitos estudados .............. 56
Figura 4.12 - Fotomicrografias ilustrando os eventos de alteração das biotitas,
ilitização, precipitação de opacos e oxidação telodiagenética nos arenitos estudados ....... 58
Figura 4.13 - Quadro comparativo apresentando a análise da porosidade nos arenitos da
Tectonossequência Rifte nas bacias estudadas .................................................................... 61
Figura 4.14 - Fotomicrografias ilustrando os tipos de porosidade encontrados nos
arenitos da Tectonossequência Rifte das bacias estudadas ................................................. 62
Figura 4.15 - Fotomicrografias ilustrando os critérios petrográficos utilizados para
definir a origem da porosidade presente nos arenitos das bacias do Rio do Peixe e do
Araripe ................................................................................................................................. 64
Figura 4.16 - Porosidade média dos arenitos estudados, individualizados por formações
que compõem a Tectonossequência Rifte nas bacias do Rio do Peixe e Araripe ............... 65
Figura 4.17 - Quadro comparativo apresentando a história diagenética evolutiva dos
arenitos da Tectonossequência Rifte preservados nas bacias do Rio do Peixe e Araripe ... 66
Figura 4.18 - Resultado da análise quantitativa dos produtos diagenéticos nos arenitos
estudados da Tectonossequência Rifte nas bacias estudadas .............................................. 68
Capítulo V
Figura 5.1 - Fatores que controlam a proveniência (Modificado de Zuffa, 2003) ............. 70
Figura 5.2 - Método de Gazzi-Dickson (Gazzi, 1996; Dickinson, 1970 apud Leitão et
al., 2007) ............................................................................................................................. 71
Figura 5.3 - Diagramas triangulares utilizados para o estudo da proveniência dos
arenitos da Tectonossequência Rifte nas bacias do Rio do Peixe e do Araripe .................. 73
Figura 5.4 - Distribuição média dos grãos detríticos para arenitos com diferentes tipos
de proveniência plotado em diagrama triangular padrão QtFL da Tectonossequência
Rifte (Modificado Dickinson & Suczek, 1979) .................................................................. 74
Figura 5.5 - Distribuição média dos grãos detríticos para arenitos com diferentes tipos
de proveniência plotado em diagrama triangular padrão QmFLt da Tectonossequência
Rifte (Modificado Dickinson & Suczek, 1979) .................................................................. 75
x
Figura 5.6 - Síntese dos estudos de proveniência dos arenitos da Tectonossequência
Rifte na Bacia do Rio do Peixe com base nos resultados de maturidade mineralógica e
estabilidade química. ........................................................................................................... 80
Figura 5.7 - Síntese dos estudos de proveniência dos arenitos da Tectonossequência
Rifte na Bacia do Araripe com base nos resultados de maturidade mineralógica e
estabilidade química.. .......................................................................................................... 81
ÍNDICE DE TABELAS
Capítulo V
Tabela 1 - Classificação e simbologia adotada para os tipos de grãos (Dickinson, 1985) . 71
Tabela 2 - Tipos de proveniência e aspectos composicionais das areias (Dickinson,
1985) .................................................................................................................................... 72
Capítulo I - Introdução
Costa, A. B. S.
1
1 INTRODUÇÃO
1.1 APRESENTAÇÃO E OBJETIVOS
A presente dissertação é um dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre
em Geodinâmica do Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Geodinâmica e
Geofísica (PPGG) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O trabalho
intitula-se “Diagênese e Proveniência dos Arenitos da Tectonossequência Rifte nas Bacias do
Rio de Peixe e do Araripe, NE do Brasil” e integra-se ao Projeto de Pesquisa referido como
“Arquitetura e Evolução Tectono-estratigráfica das Bacias Interiores do Nordeste, a norte do
Lineamento Pernambuco”, objeto de convênio PETROBRAS/UFRN-PPGG.
Os principais objetivos desta pesquisa são: (1) identificar, por meio da confecção e
análise de seções colunares, as diferentes fácies, elementos arquiteturais e sistemas deposicionais
característicos da Tectonossequência Rifte nas bacias estudadas; (2) realizar um estudo
petrográfico enfatizando os aspectos texturais e composicionais das rochas analisadas para, por
fim, classificá-las segundo as nomenclaturas usuais; (3) efetuar uma análise diagenética
detalhada, identificando os processos que atuaram em cada fase específica, com o objetivo de, ao
final, estabelecer uma história evolutiva destes eventos; (4) analisar a porosidade presente nas
rochas estudadas, estabelecendo o tipo, a origem, a forma, a geometria e a percentagem para
cada unidade; (5) elaborar um estudo de proveniência dos arenitos investigados e estabelecer as
possíveis áreas-fonte, com o intuito de auxiliar na compreensão da evolução tectono-
estratigráfica da Tectonossequência Rifte nas bacias do Araripe e do Rio de Peixe, e (6) integrar
os resultados e efetuar uma análise comparativa sobre a evolução diagenética e as propriedades
de reservatório dos arenitos depositados durante o Estágio Rifte nas bacias investigadas.
1.2 LOCALIZAÇÃO DAS ÁREAS DE ESTUDOS
Com o intuito de contemplar os objetivos propostos foi escolhida uma área na porção
centro-oeste da Bacia do Araripe, região onde afloram litótipos das tectonossequências mais
antigas, a exemplo da Tectonossequência Rifte. Além desta área, visando uma análise
comparativa foram selecionados afloramentos ao longo da Bacia do Rio do Peixe, que expõem
rochas depositadas no mesmo contexto evolutivo daquela aflorante na Bacia do Araripe.
As bacias do Rio do Peixe e do Araripe fazem parte de um conjunto de bacias que
compõem as Bacias Interiores do Nordeste do Brasil (Assine, 2007). Além destas, fazem parte
Costa, A. B. S.
2
deste conjunto outras bacias mesozóicas representadas pelas bacias de Iguatu, Malhada
Vermelha, Lima Campos e Icó, além de outras menores que juntamente com aquelas, situam-se
entre as bacias Potiguar, Tucano-Jatobá e Parnaíba.
1.2.1 – Bacia do Rio de Peixe
A Bacia do Rio do Peixe (referida como BRP) encontra-se localizada no limite NW do
Estado da Paraíba com o Ceará, abrangendo os munícipios de Sousa, Uiraúna, Poço, Brejo das
Freiras, Triunfo, Santa Helena e Pombal, mais precisamente entre os meridianos 37º 47’ 00’’ e
38º 50’ 00’’, de longitude oeste, e entre os paralelos 06º 25’ 00’’ e 06º 50’ 00’’, de latitude sul
(Córdoba, 2008; Nunes da Silva, 2009; Srivastava & Carvalho, 2004). Esta bacia é dividida em
quatro sub-bacias que correspondem aos semi-grabens de Pombal, Sousa, Brejo das Freiras e
Icozinho, separadas pelos altos do embasamento cristalino. As suas falhas principais são
controladas pelas zonas de cisalhamento de Portalegre (NE-SW) e de Patos (E-W).
Compreendem uma área de cerca de 1.250 km2, sendo a Sub-bacia de Sousa a maior de todas,
com 675 km2. Os arenitos estudados provêm de exposições, num total de 13 afloramentos,
situadas nas sub-bacias de Icozinho, Brejo das Freiras e Sousa (Figura 1.1). O principal acesso
aos mesmos é feito por meio da rodovia BR-230, que estabelece a ligação entre Pombal e
Marizópolis, e a BR-405 no sentido Cajazeiras-São João do Rio do Peixe. Também foram
utilizadas algumas vias carroçáveis.
1.2.2 – Bacia do Araripe
A Bacia do Araripe é a mais extensa das bacias interiores do Nordeste do Brasil,
apresentando as seguintes coordenadas geográficas: 38º30’ a 40º55’ de longitude oeste, e 7º07’ a
7º49’ de latitude sul (Ponte & Ponte Filho, 1996). A sua área de ocorrência estende-se desde a
Chapada de Araripe até o Vale do Cariri, perfazendo um total de 9.000 km2 (Assine, 1992).
A Chapada do Araripe é a feição geomorfológica que mais se destaca na região,
constituindo uma extensa superfície tabular situada entre os estados do Ceará, Pernambuco e
Piauí. Apresenta um comprimento de 160 km na direção leste-oeste (eixo principal) e de
aproximadamente 50 km de direção norte-sul (Kellner, 2002), e é limitada por escarpas erosivas
abruptas (Assine, 2007).
0 50km
A
Figura 1.1 - Mapas geológicos e de localização das bacias estudadas: (A) Mapa de localização das bacias do Rio doPeixe e do Araripe no contexto do Nordeste do Brasil; (B) Mapa geológico com a localização dos afloramentosestudados na Bacia do Rio do Peixe (Nunes da Silva, 2009), e C) Mapa geológico com a localização dos afloramentosestudados na porção centro-oeste da Bacia doAraripe (Modificado do Projeto Bacias Interiores;Aquino, 2009).
Legendas:
Principais cidades AfloramentoVias de acesso
500000
0 102,5 5 7,5km
BA-514
BA-500
BA-527
Abaiara
CE
-393
C
91
90
00
09
18
00
00
ASequência Pós-Rifte
Sequência Rifte e Pré-Rifte
B
Formação Sousa
Formação Rio Piranhas
Formação Antenor Navarro
Formação Abaiara
Seção Inferior da Formação Missão Velha
Formação Brejo Santo
Seção Superior da Formação Missão Velha
Formação Rio da Batateira
Aluvião
Formação Mauriti
C
RP-003
RP-474
RP-462
RP-311
RP-187
RP-171
RP-154
RP-054RP-042 RP-035
RP-033
RP-031RP-030
530000 545000 560000 575000 590000 605000 620000
92
50
00
09
26
50
00
92
80
00
0
37°50'0"W38°0'0"W38°10'0"W38°20'0"W38°30'0"W38°40'0"W
6°3
0'0
"S6
°40'0
"S
0 5 10km
BSemi-grabende Icozinho
Semi-graben deBrejo das Freiras
Semi-grabende Sousa
Semi-grabende Pombal
RP-023 BR
230
BR
405Falha de São Gonçalo
Poço
Umari
Triunfo
Uirauna
Santa Helena
Brejo das Freiras
Sousa
Aparecida
Marizópolis
Varginha
Cacaré
BA
BRP
Costa, A. B. S.
3
Costa, A. B. S.
4
A região subjacente à chapada, referida como Vale do Cariri, é constituída por uma
peneplanície com relevo ondulado onde afloram unidades das tectonossequências de Sinéclise
Paleozóica, Sinéclise Jurássica e Rifte (terminologia adotada pelo Projeto Bacias Interiores).
Os afloramentos investigados localizam-se em uma região situada no Vale do Cariri,
mais concretamente no sudeste do Estado do Ceará, a norte da Cidade de Brejo Santo. Na sua
porção central, situa-se a Cidade de Abaiara e, nas áreas circundantes às cidades de Missão
Velha (oeste) e Milagres (norte). O principal acesso ao Vale do Cariri é feito por meio da
rodovia federal BR-116, que estabelece a ligação entre Fortaleza e Brejo Santo. As rodovias
estaduais CE-293 e CE-393, que ligam as cidades de Missão Velha e Abaiara, constituem as
principais vias de acesso aos afloramentos estudados. Além destas rodovias, a área de estudo é
recortada por várias vias carroçáveis (Figura 1.1).
1.3 – BASE DE DADOS E MÉTODOS EMPREGADOS
A base de dados utilizada nesta pesquisa consta de informações obtidas em afloramentos
em áreas selecionadas das bacias do Rio do Peixe e Araripe. Na Bacia do Araripe, onde se
iniciaram os trabalhos, foram estudados 8 afloramentos, confeccionadas seções colunares e
coletados dados de paleocorrentes. Após uma avaliação em gabinete foram selecionados 3
afloramentos-chaves para serem objeto de um estudo mais detalhado. Nas seções colunares
destes afloramentos foram escolhidos 33 pontos estratégicos para amostragem, consoante às
fácies previamente definidas em campo, visando a confeção de lâminas delgadas para estudos
petrográficos, diagenéticos, de porosidade e de proveniência.
Para os estudos conduzidos na Bacia do Rio do Peixe, foram estudadas seções colunares
previamente elaboradas por pesquisadores vinculados ao Projeto Bacias Interiores, em 6
afloramentos principais. Nestes mesmos afloramentos, já haviam sido coletadas amostras e
confeccionadas 13 lâminas delgadas. Após uma análise destas seções colunares, com o
reconhecimento das fácies, das associações de fácies e dos sistemas deposicionais, as 13 lâminas
delgadas foram então descritas.
Os métodos empregados nesta Dissertação distribuíram-se em 3 etapas principais (Figura
1.2). A primeira etapa envolveu um levantamento bibliográfico dos principais trabalhos
realizados nas bacias do Rio de Peixe e do Araripe, no intuito de obter uma maior familiarização
com a área em estudo, bem como sobre a fundamentação teórica e os métodos a serem
empregados (Figura 1.2). A segunda etapa compreendeu primeiramente uma campanha de
campo na Bacia do Araripe com a duração de 10 dias.
Bacias estudadas
Bacia do Araripe
Bacia do Rio do Peixe
Fundamentação teórica
Diagênese
Bacias do Tipo Rifte
ProveniênciaPesquisa bibliográfica
Bacia do Araripe(Campo)
Coleta de dados depaleocorrentes
Amostragem
Elaboração de seçõescolunares
Bacia do Rio do Peixe(Análise de trabalhos anteriores)
Análise de seçõescolunares
Petrografia Diagênese Proveniência Porosidade
Textura
Composição
Classificação
Processosdiagenéticos
Evoluçãodiagenética
Composiçãomineralógica
Característicasda área fonte
Estudo comparativo da Tectonossequência Rifte nas bacias doAraripe
Rio do Peixe e do
Definição de fácies/associação de fácies e interpretação dos sistemas deposicionais
Análise microscópica
Triagem de lâminasdelgadas
Figura 1.2 - Fluxograma detalhado de todas as atividades realizadas para a elaboração dapresente dissertação.
Pri
mei
ra E
tapa
Seg
unda
Eta
pa
Ter
ceir
a E
tapa
Percentagem
Tipo
Origem
Costa, A. B. S.
5
6
Nos afloramentos visitados, foram confeccionadas seções colunares, nas quais foram
considerados os seguintes aspectos: (i) litológico, expresso pelos constituintes mineralógicos e
parâmetros texturais, com ênfase na granulometria e no selecionamento dos grãos; (ii)
sedimentológico, com a caracterização das estruturas sedimentares presentes e da geometria dos
estratos e, por fim (iii) estratigráfico, com a definição dos tipos de limites entre unidades e os
padrões de ciclicidade. Tais seções tiveram como objetivo maior estabelecer o empilhamento
sedimentar da seção estudada e reconhecer as várias unidades litoestratigráficas presentes.
Foram agregados, aos dados de campo da Bacia do Araripe, dados pré-existentes da
Bacia do Rio do Peixe. Esta etapa teve como finalidade o reconhecimento de fácies/associação
de fácies e dos sistemas deposicionais para a seção cronostratigráfica estudada nas referidas
bacias.
De posse de todas as lâminas delgadas de ambas as bacias, as mesmas foram descritas
dando ênfase à (i) análise petrográfica, onde foram avaliados os aspectos texturais e
composicionais das rochas, seguida de sua classificação; (ii) diagenética, onde foram descritos os
processos e interpretada sua história evolutiva, e (iii) proveniência. Tais estudos forneceram
informações importantes que, integradas a outros dados e resultados, forneceram subsídios para
o entendimento da tectônica e evolução estratigráfica do intervalo estudado.
Por fim, cabe salientar que para o estudo petrográfico, diagenético e de proveniência dos
arenitos da Tectonossequência Rifte da Bacia do Rio do Peixe não foi necessária realizar a etapa
prévia de campo, uma vez que as seções colunares e lâminas delgadas aqui utilizadas foram
cedidas pelo Projeto Bacias Interiores. As mesmas já tinham sido objeto de estudos faciológicos
por pesquisadores participantes do referido Projeto. (Figura 1.2).
Capítulo II - Geologia das Bacias Estudadas
Costa, A. B. S.
7
2 GEOLOGIA DAS BACIAS ESTUDADAS
2.1 CONTEXTO REGIONAL
As bacias do Rio de Peixe e do Araripe, juntamente com outros grabens e semi-grabens
de menor porte, constituem o conjunto de bacias interiores do Nordeste brasileiro (Iguatu, Icó,
Lavras da Mangabeira e outras; (Castro & Castelo Branco, 1999), que se encontram alinhadas
segundo o Trend Cariri-Potiguar (Matos 1992, 1999).
A origem destas bacias intracratônicas está diretamente ligada a esforços tectónicos,
associados ao rifteamento que moldou a atual margem continental, em consequência da
separação dos continentes Sul-Americano e Africano, durante o Eocretáceo. Utilizando um
modelo simples, Matos (1992) sugere uma evolução tectônica para as bacias do tipo rifte do Vale
do Cariri, como resultado de uma distensão NW-SE que reativou uma zona de cisalhamento
sigmoidal de idade neoproterozóica. Este mesmo autor afirma que, de forma genérica, estas
bacias são constituídas por semi-grabens com geometrias variáveis, com mergulho para SE.
Françolin et al. (1994) propõem uma evolução tectônica mais complexa. Para tais autores, as
bacias do tipo rifte do Vale do Cariri sofreram um deslocamento lateral E-W ao longo da Falha
de Malta. Como tal, a sua forma, localização e empilhamento estratigráfico estariam fortemente
controlados pelos lineamentos regionais pré-existentes do embasamento pré-cambriano (Matos
1992, 1999), na Província Borborema.
O arcabouço estrutural da Província Borborema é individualizado em três segmentos
tectônicos fundamentais, a Subprovíncia Setentrional, a Subprovíncia Transversal ou Central e a
Subprovíncia Externa ou Meridional (Bizzi et al., 2003). A Bacia do Rio de Peixe está situada na
Subprovíncia Setentrional, mais especificamente no Domínio Rio Grande do Norte. É limitada a
oeste pela Zona de Cisalhamento Orós/Aiuaba e a sul pelo Lineamento de Patos (Bizzi et al.,
2003). A Bacia do Araripe está localizada na Subprovíncia da Zona Transversal e é limitada, a
norte e a oeste, pelo Lineamento de Patos e a sul, pelo Lineamento de Pernambuco (Bizzi et al.,
2003).
Costa, A. B. S.
8
2.2 BACIA DO RIO DE PEIXE
2.2.1 Arcabouço Estratigráfico
A idade de deposição dos sedimentos que hoje constituem os depósitos sedimentares da
Bacia do Rio do Peixe, sua evolução tectono-estratigráfica, bem como a sua ligação ou não com
áreas sedimentares próximas (a exemplo da Bacia de Araripe), sempre foram motivos de grande
questionamento no que tange ao enquadramento desta bacia no contexto evolutivo das demais
bacias do Nordeste brasileiro.
As informações mais antigas sobre a “Bacia sedimentar do Rio do Peixe” datam de 1854,
com a coleta de rochas sedimentares pelo médico e naturalista francês Jacques Brunnet (Crandall
et al., 1910). Em 1924, a descoberta de fósseis (invertebrados) e icnofósseis por Luciano Jacques
de Moraes (Carvalho & Leonardi, 1991) deu uma nova ênfase aos estudos geológicos da região.
Além disso, a presença de pegadas de dinossauros permitiu a esse autor caracterizar a bacia
como de idade eocretácea. Moraes (1924) também foi responsável pela organização
cronostratigráfica dos pacotes sedimentares cretáceos do oeste paraibano, agrupando-os na Série
Rio do Peixe.
Braun (1966, 1969) e Beurlen & Mabesoone (1969) retomaram os estudos nesta região na
década de 60, com o reconhecimento de conchostráceos, ostracodes, fragmentos vegetais e restos
ósseos. Braun (1969) apresentou o mapa geológico na escala 1:100.000, estabelecendo uma
coluna estratigráfica, e definiu as principais estruturas geológicas da “Bacia do Rio do Peixe”.
Além disso, Braun (1969, 1970), com base nas descrições litológicas e paleontológicas,
subdividiu a coluna estratigráfica desta bacia em três unidades informais: unidades A, B e C.
As três formações que integram a Bacia do Rio do Peixe foram definidas por
Albuquerque (1970), que as denominou de Antenor Navarro, Sousa e Rio Piranhas. A
formalização da litoestratigrafia das bacias cretáceas do interior da Paraíba, contudo, deve-se a
Mabesoone (1972) e a Mabesoone & Campanha (1973/1974).
Estudos mais recentes enfocando o reconhecimento de fácies, a interpretação dos
sistemas deposicionais e a reconstituição paleogeográfica incluem as publicações de Srivastava
& Carvalho (2004), Córdoba et al. (2008) e Nunes da Silva (2009), entre outros. Córdoba et al.
(2008) propuseram, com base na análise sismostratigráfica de 3 linhas sísmicas, uma Carta
Estratigráfica baseada na arquitetura deposicional das sub-bacias de Brejo das Freiras e Sousa,
enfantizando os episódios de progradação e retrogradação dos cinturões de fácies.
Costa, A. B. S.
9
A figura 2.1, a seguir, apresenta o quadro estratigráfico adotado neste trabalho. O mesmo
incorpora informações litostratigráficas de vários autores, apresentando a estrutura básica que
norteou a confecção da Carta Estratigráfica proposta por Córdoba et al. (2008).
2.2.2 Arcabouço Estrutural
A Bacia do Rio do Peixe (BRP) localiza-se na porção Centro-Norte da Província
Borborema, sendo constituída essencialmente por depósitos sinrifte de idade neocomiana (Castro
et al., 2007; Córdoba et al., 2008; Nunes da Silva, 2009). Tal bacia é formada por quatro sub-
bacias (de oeste para leste, Icozinho, Brejo das Freiras, Sousa e Pombal; Antunes et al. 2007;
Nunes da Silva, 2009; Figura 2.2), separadas por altos estruturais do embasamento e localizadas
imediatamente a norte do Lineamento Patos (Françolin et al., 1994; Castro et al., 2007; Antunes
et al., 2007; Nunes da Silva, 2009).
Estudos recentes baseados na interpretação de seções sísmicas 2D, juntamente com dados
gravimétricos e de campo, possibilitaram uma visão aprimorada da arquitetura tridimensional da
Bacia do Rio do Peixe (Córdoba et al., 2008; Antunes et al., 2007). A interpretação das linhas
sísmicas adquiridas no âmbito do Projeto Bacias Interiores, que atravessam as sub-bacias de
Brejo das Freiras e Sousa, permitiu visualizar uma geometria em que o embasamento e as
unidades sedimentares sobrepostas apresentam-se basculadas para SE ou Sul, delimitadas pelas
falhas normais de São Gonçalo e Brejo das Freiras (Sénant & Popoff, 1991; Françolin et al.,
1994) em consequência da instalação de falhamentos normais ou oblíquos (Figura 2.2). Nas
terminações em rampa direcional, tais unidades e o embasamento mergulham para a porção
central dos depocentros (Antunes et al., 2007; Castro et al., 2007).
A Sub-bacia de Brejo das Freiras, segundo Córdoba et al. (2008), é alongada na direção
NE-SW e é controlada pela falha normal de Brejo das Freiras. Tal falha localiza-se na borda
sudeste, apresentando um perfil lístrico e mergulho para NW (Figura 2.2). A base da borda NW é
caracterizada pela justaposição de unidades sedimentares, em não-conformidade sobre o
embasamento cristalino. Em direção à Falha de Brejo das Freiras, é possivel observar, também,
um espessamento das camadas, característico de sedimentação sintectônica.
A Sub-bacia de Sousa exibe um eixo maior na direção E-W (Castro et al., 2007) e é
interpretada por Matos (1992) como sendo um graben transtracional associado à Zona de
Cisalhamento de Patos. Esta Sub-bacia é limitada, a sul, pela Falha de São Gonçalo, que
apresenta direção E-W e mergulho para norte (Figura 2.2). Os pacotes sedimentares desta sub-
bacia apresentam mergulho para S-SE (Antunes et al., 2007).
Figura 2.1 - Quadro com a descrição das unidades litostratigráficas que integram o Estágio Tectônico Rifte da Bacia do Rio do Peixe e suas relações estratigráficas (Modificado de Córdoba ., 2008).et al
CR
ET
ÁC
EO
125
130
135
140
145
150
EO
JIQUIÁ
BURACICA
ARATU
RIODA
SERRA
NE
OC
OM
IAN
O
Hauter-irano
Valan-giniano
Berria-siano
Barre-miano
RIO
DE
PE
IXE
Estágiostectô-nicos
Descrição litológica e estratigráficaLitostratigrafia
FormaçãoMa
Geocronologia
Época IdadePeríodo Grupo
Ante
nor
Nav
arro
Sousa
Rio
Pir
anhas
EmbasamentoPré-Cambriano
Ocorrre ao longo de bordas falhadasda bacia. É composta por
conglomerados, brechas e arenitosgrossos conglomeráticos,
e líticos,mal
amarelas a
feldspáticosselecionados, de
coloraçõescinza claras
(MendonçaFilho ., 2006),
intercalados compelitos.As paleocorrentes
obtidas indicam um paleofluxopara NWou N. Tais litofácies são
característica de um sistema deleque aluvial de margem falhada,
associado a sistemas fluviaisentrelaçados (Córdoba ., 2008).
et al
et al
Dispõe-se discordantemente sobre oembasamento (Costa, 1964 MendonçaFilho ., 2006). É constituída por arenitos
conglomeráticos desorganizados ematriz-suportados e, principalmente, porarenitos conglomeráticos comestratificaçõescruzadas tabulares e acanaladas(Córdoba ., 2007). Na partesuperior da sucessão ocorremintercalações de siltitos e argilitosavermelhados (Mendonça Filho
., 2006).As paleocorrentesapontam um paleofluxo para SE e sul. Taislitofácies representam depósitos de canaisfluviais entrelaçados grossos quecompõem as porções próximas de sistemas
apud
et al
et al
et al
QU
AT
ER
NÁ
RIO
Holoceno
Pleistoceno
2,58
RIF
TE
Gá
lic
o
ANT
RPI
ANT
SOU
SOU
Relações Estratigráficas
Caracteriza-se pelapredominância de
folhelhos e siltitosavermelhados, localmente acinzentados
(Srivastava ., 2004), e arenitos queexibem marcas onduladas, laminações plano-paralelas e
cruzadas até gretas de contração, além de calcretes. Aspaleocorrentes têm um paleofluxo semelhante ao
da Formação Antenor Navarro. As litofáciesrepresentam depósitos das porções mediana e
distal de sistemas fluviais distributários(Córdoba ., 2008).
et al
et al
Costa, A. B. S.
10
NW SE
FORMAÇÃO SOUSAFORMAÇÃO
ANTENOR NAVARRO FORMAÇÃO SOUSAFORMAÇÃO ANTENOR NAVARROFORMAÇÃO RIO
PIRANHASFORMAÇÃO
RIO PIRANHAS
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
SEMI-GRÁBEN DE BREJO DAS FREIRAS SEMI-GRÁBEN DE SOUSA
Falhas normais e oblíquas
Arenitos e, subordinadamente,c o n g l o m e r a d o s ,predominantemente estratificados,da FormaçãoAntenor Navarro.
Pelitos maciços, laminados e/oucom gretas de contração e,subord inadamente , a ren i tosmaciços ou estratificados daFormação Sousa.
Conglomerados, brechas e arenitosda Formação Rio Piranhas.
Legenda:
Figura 2.2 -A) Mapa do arcabouço estrutural da Bacia do Rio do Peixe exibindo as principais falhas de borda, de Icozinho e de Brejo das Freiras, ambas com direção NE-SW, ea Falha de São Gonçalo, de direção principal E-W. Notam-se ainda falhas de rejeitos menores, na maioria sintéticas, e o Degrau de Santa Helena, que separa as sub-bacias deBrejo das Freiras e de Sousa (Nunes da Silva, 2009). B) Seção sísmica de direção NW-SE ( ) apresentando o arranjo estratigráfico e estrutural dos semi-grabens de Brejo dasFreiras e Sousa. Notar o espessamento do pacote sedimentar em direção às falhas de borda, melhor caracterizado no semi-graben de Brejo das Freiras (Modificado de Córdoba
., 2008).
dip
et al
0km
2
Seção sísmica
B
Litostratigrafia
530000 545000 560000 575000 590000 605000 620000
9250000
9265000
9280000
37°50'0"W38°0'0"W38°10'0"W38°20'0"W38°30'0"W38°40'0"W
6°3
0'0
"S6°4
0'0
"S
0 5 10km
ASemi-grabende Icozinho
Semi-graben deBrejo das Freiras
Semi-grabende Sousa
Semi-grabende Pombal
Falha de São Gonçalo
Poço
Umari
Triunfo
Uirauna
Santa Helena
Brejo das Freiras
Sousa
Aparecida
Marizópolis
Varginha
Cacaré
São Gonçalo
Costa
,A
. B. S
.
11
Costa, A. B. S.
12
A Sub-bacia de Pombal está localizada na terminação oriental da Falha de São Gonçalo
(Sénant & Popoff, 1991). É limitada a SE por uma falha com movimento normal a oblíquo e
conecta-se à Sub-bacia de Sousa através de um alto estrutural (Figura 2.2; Nunes da Silva, 2009).
A Sub-bacia do Icozinho é limitada por falha na borda SE. Na borda NW, o contato se faz
por uma discordância ou falha de pequeno rejeito, resultando em basculamento das camadas para
SE (Nunes da Silva, 2009).
2.3 BACIA DO ARARIPE
2.3.1 Arcabouço Estratigráfico
A Bacia do Araripe é a mais extensa das bacias do Nordeste e, dentre elas a que apresenta
história geológica mais complexa (Assine, 2007).
O seu embasamento é constituído pelos terrenos pré-cambrianos da Zona Transversal da
Província Borborema e é caracterizado por uma estruturação complexa, dominada por intensos
dobramentos, segmentados por grandes geofraturas e intrudidos por batólitos ígneos (Ponte &
Ponte-Filho, 1996). O mesmo encontra-se dividido em dois domínios litológicos pré-cambrianos
distintos: (1) terrenos metassedimentares e metavulcanossedimentares, ou “sistemas de
dobramentos”, que se distribuem em faixas lineares, bem definidas, e (2) terrenos ou maciços
gnáissico-migmatíticos-graníticos. Tais domínios constituem feições marcantes e características
da região, sendo caracterizados pela forte linearidade de zonas cataclásticas e miloníticas, que
normalmente delimitam ou seccionam os terrenos supracitados (Santos & Brito Neves, 1984).
O estudo estratigráfico da Bacia do Araripe iniciou com o trabalho pioneiro de Small
(1913), que subdividiu o registo sedimentar da bacia, com base em características litológicas e
paleontológicas, em quatro unidades distintas: Conglomerado basal, Arenito inferior, Calcário
Santana e Arenito superior. Na década de 60, Beurlen (1962, 1963) renomeou as unidades
estabelecidas por Small, designando-as de formações Cariri, Missão Velha, Santana e Exu,
respectivamente, para as quais estimou uma espessura total de 850 m.
Baseando-se em dados gravimétricos, Rand e Manso (1984) calcularam uma espessura
sedimentar total da ordem dos 2.400 m, refutando assim a espessura inicial de 850 m sugerida
por Beurlen (1962, 1963). Esta enorme espessura despertou o interesse por parte de empresas
nacionais para as potencialidades petrolíferas da referida bacia, as quais rapidamente
desenvolveram trabalhos, tais como o mapeamento geológico em uma escala de 1:100.000,
levantamento de 250 km de linhas sísmicas de reflexão e a perfuração do poço 2-AP-1-CE
Costa, A. B. S.
13
(Assine, 1992), através do qual foi possível estimar uma espessura sedimentar de 1.700 m, no
local da sondagem.
Estudos posteriores, com uma visão mais moderna da estratigrafia aplicada ao
mapeamento geológico (Ghignone, 1986), contribuíram para um grande avanço no
conhecimento da bacia, consolidado pelas contribuições subsequentes de Ponte e Appi (1990),
Ponte e Ponte-Filho (1996) e Assine (1990, 1992), criando um arcabouço de unidades e
sequências reproduzido na Figura 2.3.
O Estágio Tectônico de Sinéclise Paleozóica, de provável idade siluriana, é constituído
por uma única unidade litostratigráfica, denominada por Formação Mauriti, que se encontra
sobreposta ao embasamento pré-cambriano através da Discordância Pré-Siluriana (Assine,
2007).
O Estágio de Sinéclise Jurássica é formado unicamente pela Formação Brejo Santo. O
contato basal com a Formação Mauriti é feito pela Discordância Pré-Jurássica (Assine, 2007).
No Neocomiano, teve início o Estágio Rifte, constituído pelas formações Missão Velha e
Abaiara. No entanto, e em consonância com os estudos conduzidos pelo Projeto Bacias
Interiores, Aquino (2009) descreveu a existência de uma discordância erosiva, muito bem
marcada por um nível conglomerático, que segmenta a Formação Missão Velha em duas seções.
Cardoso (2010) mapeou essa mesma discordância na porção leste da Bacia do Araripe, a qual
separa uma seção inferior, sobreposta à Formação Brejo Santo através de uma discordância
designada de Pré-Rio da Serra (Cardoso, 2010), e uma seção superior, definida na base por uma
discordância erosional, designada de Intra-Rio da Serra I, e, no topo, pela discordância Intra-Rio
da Serra II, sobre a qual foram depositados os litótipos pertencentes à Formação Abaiara.
O Estágio Pós-Rifte, de idade mesocretácea, é composto pelas formações Barbalha,
Santana, Araripina e Exu. A Formação Barbalha é limitada na base pela Discordância Pré-
Alagoas (Assine, 2007). As camadas das formações supracitadas apresentam-se subhorizontais,
estendendo-se discordantemente sobre as camadas dos estágios tectônicos mais antigos, bem
como sobre o embasamento cristalino pré-cambriano (Cardoso, 2010).
A figura 2.3 apresenta uma compilação baseada na proposta mais recente de Assine
(2007), incorporando as modificações apresentadas e defendidas por Aquino (2009), Garcia
(2009) e Cardoso (2010).
Figura 2.3 - Quadro estratigráfico com descrição das unidades litostratigráficas arranjadas segundo os diferentes estágios tectônicos da Bacia doAraripe (Compilado deAssine, 2007;Aquino, 2009; Garcia, 2009, e Cardoso, 2010).Discordâncias: 1 - Pré-Siluriana; 2 - Pré-Jurássica; 3 - Pré-Rio da Serra; 4, 5 - Intra-Rio da Serra, I e II; 6 - Pré-Alagoas e, 7 - Pré-Albiano superior.
A é composta por folhelhos e argilitos vermelhos, sílticos, calcíferos, interdigitados com arenitos finosa médios de espessura métrica a centimétrica. Os calcários argilosos apresentam ostracodes. A composição calcífera dospelitos pode ser creditada à grande abundância de carapaças destes crustáceos (Assine, 1992). A presença de formasexclusivamente não-marinhas indica uma sedimentação lacustre em ambientes propícios à formação de
Formação Brejo Santo
red beds.
Litostratigrafia
Formação MembroJU
RÁ
SSIC
OC
RE
TÁ
CE
O
P
C
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C
O
90
95
100
105
110
115
120
125
130
135
140
145
300
350
400
450
500
550
150
NE
OE
ON
EO
TURONIANO
CENOMANIANO
ALBIANO
Alagoas
JIQUIÁ
Buracica
ARATU
RIODA
SERRA
NE
OC
OM
IAN
O
Apti
ano
Halter-niano
Valan-giniano
Berrio-siano
Barre-niano
Titho-niano
DOMJOÃO
Kimme-ridgiano
MaGeocronologia
Época IdadePeríodo Grupo
AR
AR
IPE
VA
LE
DO
CA
RIR
I
ABAIARA
EXU
ARARIPINA
SANTANA
BARBALHA
ROMU-ALDO
CRATO
BREJOSANTO
MAURITI
Discor-dâncias
Estágiostectó-nicos
A Formação Cariri é constítuida por arenitos imaturos intercalados com níveis de siltitos brancos ou vermelhos. Na parteinferior predominam arenitos feldspáticos de coloração branca ou creme. A granulometria varia de média a muito grossa,podendo os grãos apresentarem-se angulosos a subangulosos. Na base, os níveis conglomeráticos são mais abundante. Já emdireção ao topo ocorre uma gradação dos arenitos feldspáticos para arenitos branco acinzentados, de granulometria média agrossa (Assine, 1992). Estes arenitos apresentam uma particularidade que é a presença disseminada de um mineral de corverde, a palygorskita (Feitosa, 1987), que constitui um critério diagnóstico desta unidade.Estes litótipos apresentamestratificações cruzadas acanaladas e tabulares, em de espessura métrica a decimétrica, característicos de sistemasfluviais entrelaçados.As paleocorrentes indicam uma paleodrenagem para NW/N.
sets
A é constitFormação Abaiara uída, na sua porção basal, por folhelhos e siltitos vermelhos, com interdigitações de arenitosfinos. Nos arenitos, ocorrem métricos a decamétricos, com estratificações cruzadas acanaladas. Na porção superiorpredominam arenitos quartzosos finos a muito grossos, e níveis conglomeráticos com fragmentos de madeira silicificada,interestratificados (Assine, 2007). Nos arenitos também é possível encontrar folhelhos papiráceos fossilíferos, portadores deescamas de peixes e ostracodes (Assine, 1992). As paleocorrentes indica um paleofluxo para SSW (Assine, 2007). As rochasdesta formação indicam um ambiente continental com sistemas fluviais e lacustres de pequena profundidade.
sets
Descrição
Pós-
rift
e II
Pós-
rift
e I
Rif
teS
inéc
lise
Jurá
ssic
a
Siné-cliseMAU
ZONA TRANSVERSAL / CINTURÃO PIANCO - ALTO-BRÍGIDA
A é constituída por folhelhos papiráceos calcíferos, interdigitados com calcários micríticos, laminados,com registo fóssil abundante e diversificado: insetos, crustáceos, peixes, aracnídeos e ostracodes. A ausência de associaçõesmarinhas sugere para o Membro Crato um ambiente continental com sedimentação lacustre (Neumann, 1999). Sobre estescalcários laminados depositaram-se camadas descontínuas de gipsita, folhelhos verdes e pretos (Membro Ipubi), sobre osquais se depositaram arenitos intercalados com folhelhos portadores de pólens, ostracodes, foraminíferos, moluscos e esporos(Membro Romualdo). Parao topo, estes folhelhos adquirem uma coloração mais escura, com uma grande predominância dematéria orgânica, constituindo um nível de concreções fossilíferas presente em toda a bacia, constituindo um outro importantemarco estratigráfico.
Formação Santana
A é constituída por arenitos finos a médios com estratificação cruzada tabular planar ou acanalada,intercalados com folhelhos com coloração vermelha e delgados níveis conglomeráticos. O seu perfil estratigráfico envolvedois ciclos fluviais de granodecrescência ascendente, cujos topos apresentam um intervalo pelítico-carbonático lacustre. Otopo do primeiro ciclo apresenta folhelhos betuminosos de coloração preta, ricos em lâminas carbonáticas de origem algálica,coprólitos, ostracodes, restos de peixes e fragmentos vegetais carbonizados (Assine, 2007), denominados por Hashimoto
(1987) de “Camadas Batateira”. Este intervalo constitui um importante marco estratigráfico regional na bacia. O segundociclo inicia com a deposição de arenitos grossos e conglomerados fluviais sobre um contato erosivo. Para o topo, estes arenitostornam-se mais finos, com intercalações de folhelhos calcíferos.
Formação Barbalha
et.
al
A é constituída por uma associação de fácies psamíticas que evidencia o recobrimento das planícies aluviais,frequentemente úmidas, pela sedimentação fluvial (Assine,1992) Apresenta ciclos de granodecrescência ascendente, comníveis conglomeráticos na base seguidos de arenitos grossos, com estratificação cruzada tabular a acanalada distribuída em
métricos a decimétricos, intercalados com fácies pelíticas de planície de inundação. Na zona leste da bacia, os arenitosapresentam granulometria média a grossa, conglomerática confirma fácies típicas de um sistema fluvial entrelaçado.
Formação Exu.
sets
A , também designada de Formação Arajara, por Ponte & Appi (1990), é composta por ritmitos formados porarenitos finos e folhelhos de coloração amarela, roxa e vermelha, com laminação plano-paralela. Ocorrem intercalados comcorpos lenticulares de arenitos médios a grossos. Estruturas sedimentares tais como pseudonódulos, almofadas e estruturas emchama podem ser visualizadas, assim como truncamentos internos que constituem diastemas (Assine, 2007).
Formação Araripina
Gá
lic
o
ABA
EXU
ARA
BAR
SAN
M.V. INF
A seção superior da Formação Missão Velha é constituída por arenitos médios a grossos, com níveis conglomeráticos, malselecionados, contendo clastos pelíticos e dos arenitos sotopostos, e troncos de madeira fóssil retrabalhados (Cardoso, 2010).A seção inferior da Formação Missão Velha é composta por arenitos finos a grossos, com níveis conglomeráticos e troncos demadeira fóssil. Ocorrem também intercalações pelíticas de tonalidade arroxeada a esbranquiçada.
M.V. SUP MV
Relações Estratigráficas
BSA?
6
7
5
4
3
2
1
Costa, A. B. S.
14
Costa, A. B. S.
15
2.3.2 Arcabouço Estrutural
Implantada sobre o embasamento pré-cambriano e localizada na extremidade ocidental da
Zona Transversal, a Bacia do Araripe é limitada e controlada pela reactivação de falhamentos
(zonas de cisalhamento) neoproterozóicos: a norte, pelo Lineamento Patos; a sul, pela “Falha” de
Sítio das Moreiras, a noroeste pela “Falha” de Farias Brito, a sudoeste pelo Lineamento
Pernambuco e, a leste e a sudeste, pela “Falha” de Conceição (Figura 2.4).
A estruturação da Bacia do Araripe pode ser subdividida em dois níveis distintos: um
nível inferior, que compreende as estruturas resultantes do tectonismo tafrogênico eocretáceo
(Neocomiano), a chamada “Revolução Wealdeniana” (Almeida et al., 1977), e um nível
superior, caracterizado por uma cobertura de estratos tabulares, subhorizontais, gerado no
contexto pós-rifte, de idade mesocretácea (Ponte et al., 1991; Matos 1992; Castro & Castelo
Branco, 1999). A transição do nível inferior do tipo rifte, para o nível superior pós-rifte, se faz
por meio de uma discordância denominada de “Discordância Pré-Aptiana”.
A configuração estrutural resultante do rifteamento eocretáceo (Neocomiano) foi
interpretada com base nos levantamentos gravimétricos e magnetométricos (Rand & Manso,
1984) e nas linhas sísmicas (Ponte & Ponte-Filho, 1996), o que permitiu reconhecer a existência
de duas sub-bacias: a Sub-bacia de Feira-Nova ou de Feitoria, situada a oeste, e a Sub-bacia do
Cariri, a leste, separadas por um alto estrutural designado de Alto de Dom Leme (Matos 1992,
1999; Figura 2.4).
Segundo Ponte e Ponte-Filho (1996), em ambas as sub-bacias, os falhamentos apresentam
três orientações preferenciais: NE-SW, E-W e NW-SE. O primeiro conjunto de falhamentos é
responsável pelos limites das sub-bacias e os seus blocos estruturais internos, constituídos por
falhas normais paralelas à orientação principal da trama estrutural do embasamento. O conjunto
E-W concorda com as direções estruturais dos lineamentos Patos e Pernambuco; o terceiro
conjunto, NW-SE, embora menos frequente, atuou como falhas de transferência durante o
processo de rifteamento (Figura 2.4).
A Sub-bacia do Cariri aflora no Vale do Cariri e é limitada, a oeste, pelo Alto de Dom
Leme e pela Falha do Crato; a sul, encontra-se coberta por depósitos subhorizontais da
Sequência Pós-Rifte. Internamente, é constituída por um conjunto de grabens colaterais,
assimétricos, com direção NE, separados por altos que formam cristas intrabacinais (Figura 2.4).
A Sub-bacia da Feitoria é limitada pelo Alto de Dom Leme, a leste e, a oeste, pela Plataforma de
Araripina e pela Falha da Serrolândia.
+ 1200
+ 400
- 400
- 1200
0
Serra da MãozinhaDom Leme
Vale do Cariri+ 1200
+ 400
- 400
- 1200
0
W E
SUB-BACIA DA FEITORIA SUB-BACIA DO CARIRI
Marcolândia
7º30’
Simões
Padre Marcos
São Julião
Caldeirão Grande
Fronteiras Campos Sales
Araripina
Feitoria
Ipubi
Serrolância
Araripe
Dom Leme
Santana
Nova Olinda
CratoJuazueiro
Santana
Barbalha
Jardim
Exu
Porteiras
Brejo Santo
Milagres
Missão Velha
Mauriti
Barro
Benedito de
Santa Fé
FALHA DE FARIA
S BRITO
FA
LH
A D
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SÃO
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AIA
RA
“HORSTS” DE BREJO
SANTO-MAURIT
I
“GR
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O
JENIPAPEIRO
LINEAMENTO DE PATOS
FALH
A DA C
ONCEIÇ
ÃO
FALHA DO SÍTIO DO MOREIRAS
FALH
A D
E PORT
EIRA
S
FALHA DE MISSÃO VELHA
39º40º
40º
7º30’
BA
CIA
DA
PA
RN
AÍB
A
39º 010 20 30 40 50 Km
A
B
Lineamento de Patos
“Falha” do Sítio do Moreiras
Falhas
Contato concordante
Discordância Embasamento Pré-Cambriano
Sequência Paleozóica
Sequência Juro-neocomiana
Sequência Aptiana-Albiana
Sequência Albiana-Cenomaniana
Legenda:
Figura 2.4 - A) Arcabouço estrutural da Bacia do Araripe (Modificado de Ponte & Ponte-Filho, 1996). B) Seção geológica esquemáticacom direção aproximadamente W-E, da Bacia doAraripe (Assine, 1992).
ALTO DA ARARIPINA ALTO DE DOM LEME
Crato
AbaiaraCHAPADA DO ARARIPE
Sem escala horizontal
SUB-BACIA DO CARIRISUB-BACIA DA FEITORIA
Costa
,A
. B. S
.
16
Costa, A. B. S.
17
Esta bacia encontra-se subjacente à Chapada do Araripe e só foi possível conhecer a sua
geometria interna graças aos levantamentos gravimétrico e magnetométrico efetuados por
Oliveira (1983) e Rand e Manso (1984), onde foi possível observar a ocorrência, em
profundidade, de grabens assimétricos com direção NE.
2.4 EVOLUÇÃO TECTONO-ESTRATIGRÁFICA
2.4.1 Introdução
O entendimento da evolução tectono-estratigráfica das bacias estudadas tem como foco
principal a implantação do Estágio Rifte e como esta fase de acentuado controle tectônico
norteou a sedimentação. Neste escopo, este item visa fornecer um apanhado teórico sobre a
evolução tectonossedimentar de bacias do tipo rifte, para então aplicar a terminologia vigente
para o intervalo cronostratigráfico correspondente a este estágio nas bacias do Rio do Peixe e
Araripe.
Cabe primeiramente ressaltar que as concepções estratigráficas adotadas nesta
Dissertação correspondem àquelas seguida nos trabalhos em andamento no âmbito do Projeto
Bacias Interiores, algumas das quais já foram apresentadas nas Cartas Estratigráficas ilustradas
nos itens 2.2.1 e 2.3.1 (vide figuras 2.1 e 2.3).
Por fim, faz-se necessário esclarecer que, neste trabalho, optou-se por utilizar o termo
tectonossequência (sensu Ponte et al., 1997), para subdividir o arcabouço estratigráfico das
bacias estudadas, termo esse que, para aqueles autores, corresponde a uma unidade estratigráfica
formada por associações tridimensionais de sistemas deposicionais geneticamente relacionados,
resultantes de sedimentação sob condições paleogeográficas semelhantes, durante um
determinado estágio de evolução tectônica de uma bacia, sendo delimitada no topo e na base por
discordâncias ou descontinuidades deposicionais.
2.4.2 Bacias do Tipo Rifte: Fundamentação Teórica
Nas bacias do tipo rifte, não existe um fator preponderante no controle das sequências
deposicionais, mas sim uma combinação entre eles. Como tal, a origem dos limites de sequência
neste tipo de bacia é atribuída a efeitos climáticos e tectônicos (Soares et al., 2005). Uma vez
que tratam-se de sucessões continentais, a influência das variações eustáticas torna-se secundária
(Faccini & Paim, 2001).
Costa, A. B. S.
18
O aporte sedimentar sofre efeitos tanto das variações climáticas quanto do tectonismo.
Assim, durante as épocas de clima úmido, a vazão dos rios aumenta e um volume maior de
sedimentos finos é transportado para o lago. Contrariamente, nas épocas de clima seco, o aporte
tende a ser mais arenoso e diminui com a redução da vazão dos rios, passando estes a ocorrer de
forma episódica (Cupertino & Bueno, 2005). O tectonismo tem um papel muito relevante na
distribuição espacial e evolução das redes de drenagem: em fases de tectonismo ativo, as
drenagens pré-existentes tendem a ser desestabilizadas, contribuindo para a diminuição do aporte
sedimentar. Em períodos de baixa atividade tectônica, as drenagens estabilizam-se;
consequentemente, há um desenvolvimento da bacia hidrográfica, aumentando o aporte
sedimentar (Chiossi, 2005).
Os riftes apresentam geometria de graben ou semi-graben; esta última possui a
particularidade de apresentar um perfil deposicional em forma de rampa, que os difere da
tradicional transição plataforma-talude-bacia. O talude vai ser substituído por charneiras
estruturais sobre uma margem flexural, desenvolvidas durante o surgimento de grandes falhas
normais geradas durante a propagação lateral do rifte (Cupertino & Bueno, 2005).
A aplicação da estratigrafia de sequências para contextos não marinhos já foi realizada
em algumas bacias, a exemplo da Bacia Potiguar (Della Fávera et al., 1994a) e da Bacia do
Recôncavo (Della Fávera et al., 1994b). O primeiro trabalho determinou três tratos de sistemas
para as bacias rifte: (A) Trato de sistemas de fase de lago profundo; (B) Trato de sistemas de fase
de lago raso, e (C) Trato de sistemas de lago assoreado.
O trato de sistemas de fase de lago profundo é caracterizado por conter espessos pacotes
de arenitos turbíditicos e de apresentar ciclos simétricos. Pode compreender um intervalo
transgressivo com a passagem gradual de uma seção arenosa para folhelhos no topo. O trato de
sistemas de fase de lago raso é composto por ciclos assimétricos de depósitos deltaicos (Della
Fávera, 2001). À medida que o lago é assoreado, os ciclos vão sendo capeados com sedimentos
de planície deltaica, de natureza essencialmente fluvial. O trato de sistemas de lago assoreado é
composto por arenitos médios a grossos, de fácies fluviais. As rápidas oscilações do nível do
lago ainda resultam em finas intercalações de folhelhos orgânicos (Della Fávera, 2001).
Segundo Zachariah et al. (2009), Souza-Lima & Hamsi Junior (2003), Bosence (1998) e
Prosser (1993), a evolução tectono-estratigráfica das bacias do tipo rifte pode ser dividida em
três fases distintas, embora cada autor tenho uma denominação própria para cada uma destas
fases (vide, como exemplo, a proposição de Prosser, 1993; Figura 2.5). Na fase inicial, os
falhamentos são pouco desenvolvidos e a sedimentação se dá em uma grande depressão (Souza-
Lima & Hamsi Junior, 2003).
Pós-
Rif
te i
med
iato
Pós-
Rif
teT
ardio
Cli
máx
do R
ifte
Rif
te I
nic
ial
Sistemas deposicionais respondem ao rifteamentoinicial formando amplas bacias de drenagem comfluxo contínuo. Tais sistemas se posicionamgeralmente no eixo das bacias, as quais sãoinicialmente preenchidas por depósitos continentais.A taxa de sedimentação é maior ou igual que a dasubsidência.
Aumento no estiramento e na taxa de subsidênciaconduzem ao afogamento do eixo da bacia, o quepromoverá uma redefinição dos padrões de drenagem.Sistemas longitudinais vão dominar se os canais dealimentação ainda forem subaéreos.
Erosão gradual das áreas-fontes promove a geração desucessões com afinamento para o topo, a menos queoutros fatores estejam envolvidos.
Estabelecimento e expansão das bacias de drenagemgraças ao término da subsidência diferencial. As taxasde sedimentação aumentam assim como agranulometria dos sedimentos. Os sistemastransversais progradam em toda a bacia.
Figura 2.5 - Seção colunar esquemática idealizada para uma Bacia Rifte, mostrando o controle tectônico nos sistemas deposicionais (Modificado de Prosser, 1993).
TST* Interpretação Corte esquemático Bloco diagrama
* Trato de Sistema Tectônico
Costa, A. B. S.
19
Costa, A. B. S.
20
Na fase intermediária, a sedimentação se dá pelo tectonismo e subsidência (Zachariah et al.,
2009), formando semi-grabens. O aumento da taxa de subsidência vai levar ao afogamento do
eixo das bacias e, consequentemente, a redefinição dos padrões de drenagem (Prosser, 1993). A
terceira fase é caracterizada pelo preenchimento sedimentar devido à subsidência térmica
(Bosence, 1998) das depressões anteriormente formadas (semi-grabens). Prosser (1993) engloba
esta fase em dois tratos de sistemas tectônicos: (1) Pós-rifte imediato e (2) Pór-rifte tardio
(Figura 2.5). No decorrer do pós-rifte imediato, ocorre o estabelecimento e expansão das bacias
de drenagem, uma vez que a subsidência diferencial terminou; e o pós-rifte tardio é caracterizado
pela erosão gradual de áreas fontes e a geração de um afinamento gradual para o topo. Ressalta-
se no entanto, que a terminologia pós-rifte utilizada por esta autora refere-se ainda a uma fase
tardia de preenchimento ou assoreamento gerada pela tectônica rifte. Este termo não deve ser
confundido com a fase de deriva oceânica (drifte ou pós-rifte) descrita em bacias de margens
passivas.
2.4.3 Evolução Tectono-estratigráfica da Bacia do Rio do Peixe
Os depósitos sedimentares da Bacia do Rio do Peixe estão inseridos, segundo Córdoba et
al. (2008), em uma única sequência, denominada em alusão ao estágio tectônico em que foi
formada, como Tectonossequência Rifte. O seu contato inferior é caraterizado por uma
superfície de não conformidade, que a separa do embasamento cristalino. O seu limite superior
corresponde a uma discordância de forte caráter erosivo (Córdoba et al., 2008).
Nunes da Silva (2009), levando em consideração aspectos deposicionais e tectônicos,
subdividiu a Tectonossequência Rifte em três tratos de sistemas tectônicos: (i) de Início de Rifte;
(ii) de Clímax de Rifte e, (iii) de Preenchimento de Rifte. Córdoba et al. (2008) também
reconhecem fases tectonossedimentares no preenchimento dos semi-grabens da Bacia do Rio do
Peixe.
O Trato de Sistemas Tectônico de Início de Rifte é representado pelos depósitos que
integram a porção basal da Formação Antenor Navarro e é caraterizado por ciclos pouco
espessos, onde o espaço de acomodação criado é constantemente preenchido, originando uma
fase com pouca criação de espaço deposicional (Nunes da Silva, 2009). O Trato de Sistemas
Tectônico de Clímax de Rifte corresponde ao estágio onde a atividade tectônica se intensifica,
sendo caracterizado por altas taxas de subsidência, o que faz com que a taxa de criação de espaço
de acomodação exceda a de aporte sedimentar.
Costa, A. B. S.
21
Nesta fase, são gerados ciclos com padrão de empilhamento retrogradacional em direção à
margem flexural; os sedimentos fluvio-deltaicos que chegam desta margem em direção ao
depocentro da bacia, no entanto, tendem a progradarem (Córdoba et al., 2008). No Trato de
Sistemas Tectônico de Preenchimento de Rifte, a tectônica diminui de intensidade, e a
sedimentação origina uma cunha progradante na margem flexural da bacia (Nunes da Silva, 2009
e Córdoba et al., 2008).
2.4.4 – Evolução Tectono-estratigráfica da Bacia do Araripe
A história evolutiva da Bacia do Araripe, recorrendo ao seu registo estratigráfico, pode
ser dividida em quatro tectonossequências (Assine, 2007, Aquino, 2009, e Cardoso, 2010): (1) de
Sinéclise Paleozóica; (2) Jurássica; (3) Rifte, e (4) Pós-rifte.
A base do empilhamento estratigráfico é caracterizada pela Tectonossequência de
Sinéclise Paleozóica, na qual se inserem os litótipos enquadrados litostratigraficamente na
Formação Mauriti. Sobreposta, através de uma discodância regional, encontra-se a
Tectonossequência Jurássica, representada litostratigraficamente pela Formação Brejo Santo
(Aquino, 2009; Garcia 2009, e Cardoso, 2010). A Tectonossequência Rifte é caracterizada por
dois tratos de sistemas tectônicos: (1) de Início de Rifte, e (2) de Clímax (Aquino, 2009;
Cardoso, 2010). O Trato de Sistema de Início de Rifte é composto pela seção inferior da
Formação Missão Velha, e é superposta à Formação Brejo Santo através de uma discordância
designada de Pré-Rio da Serra. O Trato de Sistema de Clímax de Rifte é constituído por litótipos
da seção superior da Formação Missão Velha e Formação Abaiara (Cardoso, 2010).
A Tectonossequência Pós-Rifte é representada pela deposição de sedimentos flúvio-
lacustres, que hoje correspondem às rochas da Formação Rio da Batateira, que se dispuseram
preenchendo depressões resultantes de eventos tectônicos pretéritos (Ponte & Ponte Filho, 1996).
Gradualmente, a sedimentação passou a ser lacustre, originando as fácies carbonático-argilosas
do Membro Crato (Ponte & Ponte Filho, 1996). Uma episódica ingressão marinha foi
responsável pela deposição de fácies evaporíticas do Membro Ipubi; fácies carbonático-argilosas
de ambiente marinho raso no Membro Romualdo e fácies terrígenas de ambiente transicional
litorâneo da Formação Araripina. Na transição Albiano-Cenomaniano teve início a fase
regressiva, que impulsionou a sedimentação fluvial da Formação Exu (Ponte & Ponte Filho,
1996). Durante este período, ocorreram pulsos tectônicos tardios que reativaram falhamentos e
promoveram o basculamento de blocos.
Capítulo III - Tectonossequência Rifte: Fácies e Sistemas Deposicionais
Costa, A. B. S.
22
3 TECTONOSSEQUÊNCIA RIFTE: FÁCIES E SISTEMAS DEPOSICIONAIS
3.1 INTRODUÇÃO
O estudo de fácies e associação de fácies, assim como a interpretação dos sistemas
deposicionais e dos cenários evolutivos para cada uma das unidades estudadas nas bacias do Rio
do Peixe e Araripe tiveram como base os trabalhos anteriores de Nunes da Silva (2009), Scherer
et al. (2007) e Córdoba et al. (2008) realizados na Bacia do Rio de Peixe, e de Aquino (2009),
Garcia (2009) e Cardoso (2010), na Bacia do Araripe. O texto a seguir incorpora ainda resultados
atualizados dos estudos que vêem sendo realizados no âmbito do Projeto Bacias Interiores.
A seguir, será apresentada a análise de fácies, a definição dos elementos arquiteturais e a
interpretação dos sistemas deposicionais para cada uma das unidades investigadas nas bacias
estudadas. Para a caracterização das fácies e dos elementos arquiteturais foram adotados critérios
utilizados por Miall (1978 e 1985 apud Miall 1996), em estudos conduzidos em depósitos
fluviais.
3.2 BACIA RIO DO PEIXE
A Tectonossequência Rifte na Bacia do Rio do Peixe inclui litótipos pertencentes às
formações Antenor Navarro, Sousa e Rio Piranhas, constituindo um único grupo denominado
por Rio do Peixe.
A Formação Antenor Navarro, juntamente com a Formação Sousa, como já mencionado
no capítulo anterior, constituiem as unidades basais da coluna litostratigráfica da Bacia do Rio do
Peixe, sobrepondo-se, em não-conformidade, às rochas do embasamento cristalino. A Formação
Sousa dispõe-se de forma interdigitada com a Formação Rio Piranhas.
A Formação Antenor Navarro é composta principalmente por arenitos grossos a
conglomeráticos, moderadamente selecionados, que exibem internamente estratificações
cruzadas predominantemente acanaladas (fácies Aa; Figuras 3.1 e 3.2A). Na base dos sets ou
dispersos nos planos de estratificação, podem ser encontrados grânulos e seixos de quartzo,
feldspatos e rochas granito-gnáissicas (a exemplo do afloramento RP-021; Figura 3.3). As
medições das paleocorrentes efetuadas nas estratificações indicam sentido de paleofluxo
predominante para SE (Figura 3.3).
Costa, A
. B. S.
Figura 3.1 – Quadro de fácies deposicionais descritas para os arenitos estudados na Bacia do Rio do Peixe.
Fácies Litologia Estruturas Sedimentares Interpretação Ch
Conglomerados matriz-suportados, polimíticas, com seixos, blocos e
matacões de granitos, gnaisses, micaxistos, milonitos e quartzo
Estratificações plano-paralelas incipientes
Fluxos de detritos em condições de viscosidade
elevada
Aa
Arenitos médios a conglomeráticos, moderadamente selecionados,
podendo apresentar grânulos e seixos de quartzo, feldspatos e de rochas granito-gnáissicas, dispersos nos planos de estratificação ou concentrados
na base das camadas
Estratificações cruzadas acanaladas dispostas em sets de 15 a
40 cm de espessura
Dunas arenosas 3D, fluxos trativos
unidirecionais, regime de fluxo inferior
Aba Arenitos finos a conglomeráticos, moderadamente selecionados, com grânulos e seixos de quartzo, feldspatos e de rochas granito-gnáissicas,
dispersos nos planos de estratificação.
Estratificações cruzadas de baixo ângulo dispostas em sets de 15 a 30 cm de espessura
Dunas atenuadas, fluxos trativos unidirecionais, transição entre regime de fluxo inferior e superior
Amo Arenitos finos a médios Laminações cruzadas de marcas onduladas, dispostos em sets
com ângulos de cavalgamentos subcríticos a supercríticos
Marcas onduladas 2D e 3D, fluxos trativos unidirecionais, regime de fluxo inferior
Aba(e) Arenitos finos a médios com laminações transladantes de marcas onduladas eólicas dispostas em camadas de 0,3 a 0,5 m de espessura
Migração e cavalgamento de marcas onduladas eólicas sobre uma superfície seca
Pl Pelitos (lamitos e argilitos)
Laminações plano-paralelas Assentamento gravitacional de partículas em suspensão, floculação de argila, correntes fracas
Pm Pelitos (siltitos e lamitos) Estrutura maciça Assentamento gravitacional de partículas em
suspensão
Pmg Pelitos (lamitos e argilitos) Estrutura maciça Assentamento gravitacional de partículas em suspensão em locais sujeitos à exposição
subaérea
PS Calcretes Estrutura nódular Paleossolos carbonáticos
D
A B
C
FE
Figura 3.2 - Fotografias ilustrando as fácies deposicionais descritas para os arenitos estudados na Bacia doRio do Peixe: A) Fácies Aa, representando estratificação acanalada de grande porte, Formação AntenorNavarro, ; B) C)
D)E)
e F)
RP-021 Fácies Pm, estrutura maciça, Formação Sousa, RP-023; Fácies PS, pelítos comgretas de contração, Formação Sousa; RP-030; Fácies Amo exibindo, em planta, marcas onduladas,Formação Sousa, RP-023; Fácies Aa, apresentando em planta os da estratificação cruzadaacanalada, Formação Rio Piranhas, RP-035, Intercalações das fáciesAba apresentando estratificaçõescruzadas de baixo ângulo e Pm com estruturas maciças, Formação Rio Piranhas, RP-035.
festoons
Costa, A. B. S.
24
mAg S mf f g GrSx Bl
Areia
RP-474(m)
0
1,0
2,0
mAg S mf f g Gr Sx Bl
Areia
RP-030(m)
0
1,0
2,0
mAg S mf f g Gr Sx BlAreia
RP-023(m)
0
1,0
2,0
3,0
4,0
mAg S mf f g Gr Sx Bl
Areia
RP-42(m)
0
1,0
2,0
RP-35(m)
mAg S mf f g Gr Sx Bl
Areia
0
1,0
2,0
mAg S mf f g Gr Sx Bl
Areia
RP-33(m)
0
1,0
RP-003
RP-474
RP-462
RP-311
RP-187
RP-171
RP-154
RP-054RP-042
RP-035
RP-033
RP-031RP-030
530000 545000 560000 575000 590000 605000 620000
92
50
00
09
26
50
00
92
80
00
0
37°50'0"W38°0'0"W38°10'0"W38°20'0"W38°30'0"W38°40'0"W
6°3
0'0
"S6
°40'0
"S
0 5 10km
Semi-grabende Icozinho
Semi-graben deBrejo das Freiras
Semi-grabende Sousa
Semi-grabende Pombal
RP-023 BR
230
BR
405Falha de São Gonçalo
Poço
Umari
Triunfo
Uirauna
Santa Helena
Brejo das Freiras
Sousa
Aparecida
Marizópolis
Varginha
Cacaré
Arenitos
Siltitos/pelitos
Unidades litoestratigráficas
Conglomerados
Figura 3.3 - Seções colunares dos afloramentos adotados como referência para o estudo das fácies e associação de fácies, e para a análise petrográfica, diagenética e de proveniência na Bacia do Rio do Peixe (Modificado do Projeto Bacias Interiores).
RP-021
RP-030
RP-023
Formação Rio Piranhas
Formação Sousa
Formação Antenor Navarro
Lâminas descritas
Estruturas Sedimentares e outras convenções
Litologia
Estratificação cruzada acanalada
Estratificação cruzada tabular
Laminação cruzada de marcas onduladas
Estratificação plano-paralela
Estratificação cruzada de baixo ângulo
Fluidização
Laminação deformada
Laminação convoluta
Seixos/grânulos de quartzo
Clastos argilosos
Gretas de contração
Bioturbação
Conglomerados polimíticos (RP-42)
Fm
. Ante
nor
Nav
arro
Fm
. S
ousa
Fm
. S
ousa
Fm
. R
io P
iran
has
Fm
. R
io P
iran
has
Fm
. R
io P
iran
has
Costa, A. B. S.
25
Costa, A. B. S.
26
A textura mais grossa, o tipo de estrutura sedimentar, a ausência de fácies pelíticas e a ocorrência
amalgamada dos estratos, contendo exclusivamente fácies Aa, permitem interpretar que os
depósitos que integram tal unidade representam barras arenosas internas a canais fluviais
entrelaçados (Figuras 3.3 e 3.4). Estes canais, segundo Scherer et al. (2007), representam as
porções proximais de um sistema fluvial mais amplo reconhecido como um sistema fluvial
distributário. Nichols e Fisher (2007) descrevem que este sistema é caracterizado por canais que
se tornam menores à jusante, em virtude da perda de competência da drenagem devido à
evaporação e infiltração.
A Formação Sousa é composta por pelitos (fácies Pl, Pm e Pmg; Figura 3.1) e arenitos
(fácies Aa, Amo, Aba(e) e Aba; Figura 3.1), como pode ser observado no afloramento RP-030
(Figura 3.3); subordinadamente, ocorrem calcários nodulares descritos como fácies PS (Figura
3.1).
Os siltitos e argilitos apresentam coloração vermelha e exibem laminações plano-
paralelas (fácies Pl), estrututa maciça (fácies Pm; Figura 3B) e gretas de contração (fácies Pmg;
Figuras 3.3). Ocorrem ainda calcretes, produto de pedogênese (fácies PS; Figura 3.2C). Os
arenitos apresentam-se finos a grossos, moderadamente selecionados, podendo apresentar
grânulos e seixos de quartzo, feldspatos e de rocha granito-gnáissicas. Em termos de estruturas
sedimentares, predominam as estratificações cruzadas acanaladas (fácies Aa), de baixo ângulo
(Aba) e laminações cruzadas de marcas onduladas (fácies Amo; Figura 3.2D), e laminações
transladantes de marcas eólicas evidenciada pela fácies Aba(e), bem caracterizadas no
afloramento RP-030 (Figura 3.3). O sentido do paleofluxo, obtido através da medição de
paleocorrentes nas estruturas sedimentares varia de NNW-SE (Figura 3.3).
As sucessões de fácies presentes nos afloramentos estudados desta unidade compõem
uma única associação denominada de fácies de lobos de extravasamento terminais e de planície
aluvial distal (Figura 3.4). Esta associação representa as porções mais distais de um sistema
fluvial distributário (Scherer et al., 2007). Os lobos de espraiamento diferenciam-se dos demais
depósitos fluviais por constituírem áreas de fluxo não canalizados, representando a deposição
final dos canais, que culminam na planície aluvial seca de baixo gradiente (Nichols & Fisher,
2007).
A Formação Rio Piranhas é composta predominantemente por arenitos (fácies Aa, Amo
e Aba) que podem ocorrer intercalados a pelitos (facies Pm) ou associados a fácies
conglomeráticas (fácies Ch; Figura 3.1).
Rio
Pir
anhas
Depósitos de fluxosgravitacionais
Lobos deextravasamento
terminais e planíciealuvial distal
Associação de fácies Descrição Interpretação SistemaDeposicional
Fácies
Ante
nor
Nav
arro
Aa, ,Amo Aba(e),Aba, Pl, Pm, Pmg,
PS
Cenário deposicional
Corpos areníticos com geometria tabularintercalados com corpos pelíticos ou, por vezes,com corpos areníticos com geometria em canal.
Canaisfluviais entrelaçados
arenosos
Aa, Aba, Pm
Depósitos de preenchimento de canais, compredomínio de barras longitudinais e transversaisarenosas. Por vezes, ocorrem barras longitudinaiscascalhosas na base dos canais.
Ch, Aba Corpos conglomeráticos e areníticos comgeometria tabular.
Canais fluviaisentrelaçados arenosos a
cascalhosos
Ch, Aa, Amo, AbaPm, Pmg*
Sistemas deLeques Aluviais
Tec
tonoss
equên
cia
Rif
te
Depósitos de leques aluviais provenientes das margensfalhadas.
Sistemas FluviaisDistributários
Sousa
Figura 3.4 - Descrição e interpretação das associações de fácies e cenários deposicionais propostos para a Tectonossequência Rifte na Bacia Rio do Peixe.
Corpos areníticos amalgamados, com feições decorte e preenchimento. Localmente, ocorremcamadas de conglomerados com grânulos e seixos.Exibem padrão de granodecrescência ascendente.
Depósitos de inundações em lençóis, efêmeros e de altaenergia, associados a depósitos de preenchimento decanais, depósitos de finos de planície de inundaçãodistal ou a corpos lacustres efêmeros e de ocorrêncialocalizada.
Corpos areníticos limitados por superfícies erosivaslevemente côncavas marcadas por concentrações degrânulos e seixos de quartzo.Apresentam padrão degranodecrescência ascendente fracamentedesenvolvido.
Lags residuais de fundo de canal e barras fluviaisamalgamadas.
* Ocorrência local.
Costa, A. B. S.
27
Costa, A. B. S.
28
Os arenitos variam desde finos a conglomeráticos, são moderadamente selecionados, e
contêm grânulos e seixos de quartzo, feldspatos e de rochas granito-gnáissicas, os quais ocorrem
dispersos nos planos de estratificação ou na base dos sets. A seção colunar do afloramento RP-
042 ilustra bem a associação destas fácies (Figura 3.3). As estruturas sedimentares
predominantes são as estratificações cruzadas acanaladas (fácies Aa; Figura 3.2E), de baixo
ângulo (fácies Aba; Figura 3.2F) e laminações cruzadas de marcas onduladas (fácies Amo). As
paleocorrentes indicam um paleofluxo preferencialmente para NE/NW.
O estudo de fácies nos afloramentos investigados permitiu compreender que as mesmas
se associam verticalmente de forma a compor duas associações de fácies: (1) Associação de
fácies de canais fluviais entrelaçados arenosos a cascalhosos, e (2) Associação de fácies de
fluxos gravitacionais. Estas associações se integram para compor um sistema de leques aluviais
(Figura 3.4).
3.3 BACIA DO ARARIPE
Nesta bacia, a Tectonossequência integra Rifte integra rochas que litoestratigraficamente
correspondem às formações Missão Velha e Abaiara.
A seção inferior da Formação Missão Velha, como já abordado no capítulo anterior,
limita-se com a Formação Brejo Santo através de uma discordância erosional, que pode ser
claramente observada no afloramento BA-527, com a transição dos pelitos para um arenito
conglomerático (vide Figura 3.7, mais adiante). Finalizando esta tectonossequência, tem-se a
Formação Abaiara que contacta com a formação sotoposta através de uma discordância
erosional.
A seção inferior da Formação Missão Velha é composta predominantemente por
arenitos (fácies Aa, Ap, Ah, Aba e Am; Figura 3.5), no entanto, em alguns afloramentos, a
exemplo do afloramento BA-500, estão presentes alguns níveis centimétricos de pelitos (fácies
Pm; Figura 3.5).
Nos afloramentos estudados, ocorrem arenitos finos a conglomeráticos, arenitos médios e
ainda arenitos finos a muito finos. Os arenitos grossos a conglomeráticos são pobremente
selecionados e contém clastos de argila, seixos de quartzo e feldspatos, além de troncos
silicificados. As estruturas sedimentares presentes estão bem definidas, sendo representadas por
acamamento maciço (fácies Am; Figura 3.6A), estratificações plano-paralelas (fácies Ah),
cruzadas de baixo ângulo (fácies Aba), acanaladas (fácies Aa; Figura 3.6B) e tabulares (fácies
Ap), as quais podem apresentar-se fluidizadas.
Costa, A
. B. S.
Figura 3.5 – Quadro de fácies deposicionais descritas para os arenitos estudados na Bacia do Araripe.
Fácies Litologia Estruturas Sedimentares Interpretação
Cmm
Conglomerados matriz-suportados com seixos de quartzo e feldspatos, angulosos a subangulosos
Estrutura maciça ou gradação incipiente
Depósitos gerados por fluxo de detritos plásticos
Aa
Arenitos finos a médios, bem selecionados
Sets de estratificações cruzadas acanaladas
Dunas arenosas 3D, fluxos trativos
unidirecionais, regime de fluxo inferior
Ap Arenitos finos a grossos, moderadamente a bem selecionados, podendo apresentar grânulos e seixos de quartzo e granitos dispersos nos planos da
estratificação ou concentrados na base das camadas
Estratificações cruzadas planares dispostas em sets de 10 a 30 cm de espessura. Estratificações deformadas formando
estratos cruzados recumbentes
Dunas arenosas 2D, fluxos trativos unidirecionais, regime de fluxo inferior
Aba Arenitos finos a conglomeráticos, moderadamente selecionados, com grânulos e seixos de quartzo, feldspatos e de rochas granito-gnáissicas,
dispersos nos planos de estratificação
Estratificações cruzadas de baixo ângulo dispostas em sets Dunas atenuadas, fluxos trativos unidirecionais, transição entre regime de fluxo inferior e superior
Ah
Arenitos muito finos a grossos
Laminação horizontal, lineação por partição
Formas de leito plano, regime de fluxo
superior/crítico
Amo
Arenitos finos a médios
Laminações cruzadas de marcas onduladas dispostos em cosets com ângulos de cavalgamentos subcríticos a
supercríticos
Marcas onduladas 2D e 3D, fluxos trativos unidirecionais, regime de fluxo inferior
Am Arenitos finos a médios, bem selecionados. Por vezes, ocorrem grânulos
e seixos de caliche e/ou clastos argilosos na base das camadas
Estrutura maciça Preenchimento de suaves depressões, dunas atenuadas, antidunas
Ad
Arenitos finos a grossos Estratificações cruzadas tabulares, planares, acanaladas ou sigmoidais deformadas, formando estruturas do tipo
estratificação cruzada recumbente ou dobras convolutas
Fluidização e deformação plástica de sedimentos previamente depositados
Pl
Pelitos (lamitos e argilitos) com tons avermelhados ou esverdeados
Delgadas laminações, laminações cruzadas de marcas
onduladas
Assentamento gravitacional de partículas em
suspensão, floculação de argilas, correntes fracas
Pm Pelitos (lamitos e argilitos) com tons avermelhados Estrutura maciça Assentamento gravitacional de partículas em suspensão
D
Figura 3.6 - Fotografias ilustrando as fácies deposicionais descritas para os arenitos da Formação MissãoVelha na Bacia do Araripe: A)
B)C) Fácies Aa intercaladas a n
D) Intercalação de fáciesPm e Aba, pelítos maciços intercalados com estratificações cruzadas de baixo ângulo, passagem seçãoinferior para a superior da Formação Missão Velha, ; E)
, e F)
Fácies Am, apresentando estruturas maciças, seção inferior da FormaçãoMissão Velha, BA-500; Fácies Aa, representado estratificações acanaladas de médio porte, seçãoinferior da Formação Missão Velha, BA-527; íveis centimétricos de fáciesPm, pelítos maciços (setas), seção inferior da Formação Missão Velha, BA-500;
BA-500 Fácies Aa, estratificações cruzadasacanaladas de pequeno porte, seção superior da Formação Missão Velha, BA-500 Madeira fóssil,seção superior da Formação Missão Velha.
A B
C
E F
Costa, A. B. S.
30
Costa, A. B. S.
31
Na base dos sets ou dispersos nos planos da estratificação é possível encontrar clastos argilosos,
seixos de quartzo de feldspatos e troncos de madeira silicificados (BA-500; Figura 3.7). Em
alguns destes arenitos é possível observar gradação normal, com a passagem de conglomerados,
na base, para arenitos muito grossos no topo. Os arenitos médios exibem grãos subangulosos a
subarredondados, e são moderadamente a pobremente selecionados. Os mesmos exibem
estratificações cruzadas tabulares planares (fácies Ap), acanaladas (fácies Aa), de baixo ângulo
(fácies Aba) e, por vezes apresentam, estrutura maciça, com seixos e grânulos de quartzo
dispersos ao longo do plano de estratificação (BA-527; Figura 3.7). Já os arenitos finos a muito
finos apresentam-se bem selecionados, por vezes maciços (fácies Am) ou com estruturas
sedimentares caracterizadas por estratificações cruzadas acanaladas (fácies Aa; Figura 3.6C),
tabulares (fácies Ap) e de marcas onduladas (Amo; algumas incipientes). As medições das
paleocorrentes indicam sentido de paleofluxo que varia de SW-SE (Figura 3.7).
As sucessões de fácies definidas nos afloramentos estudados possibilitaram identificar
duas distintas associações de fácies para esta unidade: (1) Associação de fácies de canais fluviais
entrelaçados a meandrantes arenosos e cascalhosos, e (2) Associação de fácies de depósitos
externos aos canais. A presença destas associações e as características diagnósticas de cada
fácies permitem interpretar que, no início da Tectonossequência Rifte, o cenário deposicional era
representado por sistemas fluviais entrelaçados a meandrantes grossos (Figura 3.8).
A seção superior da Formação Missão Velha Superior é formada por espessos pacotes
areníticos amalgamados (fácies Aa, Aba e Am; Figura 3.5). Localmente, a exemplo do
afloramento BA-500, ocorrem níveis centimétricos de pelitos (fácies Pm; Figuras 3.5, 3.6D e
3.7). Na base desta seção, separando-a da seção inferior da Formação Missão Velha e
delimitando a discordância interna a esta formação, como já documentado por Aquino (2009) e
Cardoso (2010), ocorre um nível conglomerático clasto–suportado, formado por seixos de
Quartzo, Feldspatos, além de arenitos da seção inferior (BA-500, 28m; Figura 3.7 e fácies
Cmm).
Os arenitos da seção superior da Formação Missão Velha apresentam, em sua maioria,
granulometria grossa a conglomerática, são pobremente selecionados e contêm grãos angulosos a
subangulosos, representados principalmente por quartzo e feldspatos; troncos de madeira podem
estar presentes. As estruturas sedimentares predominantes são as estratificações cruzadas
acanaladas (fácies Aa; Figura 3.6E) e raras estratificações de baixo ângulo (fácies Aba).
Dispersos nos planos da estratificação ou na base dos sets, é possível visualizar restos de troncos
de madeira (Figura 3.6F), clastos de argila e grânulos e seixos de quartzo e feldspatos.
Fig
ura
3.7
-S
eções
colu
nar
esdos
aflo
ram
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sad
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nci
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pro
ven
iênci
ana
Bac
iado
Ara
ripe
(Modif
icad
odo
Pro
jeto
Bac
ias
Inte
riore
s).
Anexo X
05
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60
65
70
75
85
90
80
mA
gS
mf
fA
gG
rS
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lA
reia
BA
-500
(m)
510
15
20
2
2
455
5105
5
5
10
10
15
125
130
135
140
145
150
155
160
165
170
175
180
185
190
195
120
115
110
105
100 05
10
15
20
25
30
35
40
45
50
80
85
90
95
mA
gS
mf
fA
gG
rS
xB
lA
reia
BA
-514
(m)
1234A5678910 4B
23A4568
BA
-527
(m)
05
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60
65
70
75
mA
gS
mf
fA
gG
rS
xB
lA
reia
2 4 6 8 10
1255
1235 467813
12
11
10 9
Anexo 5
13B67
50
00
00
01
02
,55
7,5
km
BA
-51
4
BA
-50
0
BA
-52
7
Ab
aiar
a
CE-393
9190000 9180000
Conglo
mer
ado
Are
nit
o
Pel
ito/s
ilti
to
Lit
olo
gia
Unid
ades
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Mis
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Seç
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Mis
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Vel
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Bre
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lano-p
aral
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Est
rati
fica
ção c
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ngulo
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ação
Lam
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inaç
ão c
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ta
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Rio
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tra-
Rio
Ser
ra I
Dis
cord
ânci
aP
ré-R
io S
erra
I
Dis
cord
ânci
as
Costa, A. B. S.
32
Figura 3.8 - Descrição e interpretação das associações de fácies e cenários deposicionais propostos para a Tectonossequência Rifte na Bacia do Araripe. O bloco diagrama A foi modificado de Garcia (2009) e os B e C de Miall (1996).
Tec
tonoss
equên
cia
Rif
te
Sec
ção I
nfe
rior
Mis
são
Vel
ha
Sec
ção S
uper
ior
Mis
são
Vel
ha
Abai
ara
Canaisfluviais meandrantes
arenosos
PlanícieDeltaica
Frentedeltaica/Prodelta
Depósitosexternos aos canais
fluviais
Canaisfluviais
entrelaçados arenosos acascalhosos
Canaisfluviais
entrelaçados ameandrantes,
arenosos e cascalhosos
Associação de fácies Descrição Interpretação Sistema DeposicionalFácies
Aa ,Ap, Aba, Am
Aa*,Pm
Am, Amo,
Aa, Am, Ap, Ah
Aa, Amo, Am,Ad, Pm, Pl
Aa, Ad, Pm*
Aa, Ap, Amo, Ah,Am,
Ad, Pm, Pl
Corpos pelíticos intercalados com níveis areníticos decimétricos, comgeometria tabular.
Corpos areníticos com espessuras que variam de 0,2 a 2m, limitados porsuperfícies erosivas, levemente côncavas, marcadas por concentrações degrânulos e seixos de quartzo. Apresentam padrão de granodecrescênciaascendente fracamente desenvolvido.
Corpos arenosos com geometria em lençol, amalgamados, limitados porsuperfícies erosivas. Ocorrem, por vezes, camadas de conglomerados degrânulos e seixos.
Corpos areníticos e pelíticos compondo sucessões com granocrescênciaascendente, com espessura de até 10m, iniciando com pelitos de prodelta eculminando com arenitos com feições deformacionais e arenitos comestratificações cruzadas.
Corpos areníticos com granodecrescência ascendente, com espessura 1,5 a5m. Na base ocorrem arenitos com estratificação cruzada que passam aotopo para arenitos mais finos com laminações de marcas onduladas. Porvezes, finalizando os ciclos, ocorrem pacotes de pelitos maciços.
Corpos areníticosamalgamados limitados por superfícies erosivascôncavas que compõem sucessões com granodecrescência ascendente.
Barras internas ao canalfluvial
Depósitos de planície deinundação e de
extravasamento de canal
Lags residuais de fundo decanal e barras fluviais
amalgamadas.
Lobos deltaicosprogradacionais dominados
por processos fluviais
Canais fluviais de baixasinuosidade de planície
deltaica
Depósitos de barraem pontal
Cenário deposicional
? Sistema FluvialEntrelaçado a Meandrante
grosso
? Sistema Deltaico
? Sistema Fluvial Meandrante
? Sistema Fluvial Entrelaçado
* Ocorrência local.
A
B
C
Costa, A. B. S.
33
Costa, A. B. S.
34
Ocorrem também arenitos finos a médios, pobremente a moderadamente selecionados, com
grânulos de quartzo, que podem apresentar-se maciços (fácies Am) ou conter estratificações
cruzadas de baixo ângulo (fácies Aba), acanaladas (fácies Aa) e tabulares (fácies Ap), compondo
sets de 10 a 40 cm. As paleocorrentes indicam um paleofluxo para SW, à exceção daquelas
obtidas no afloramento BA-527, que apresentam um paleoluxo para NW (Figura 3.7).
As fácies descritas para esta seção agrupam-se de forma a definir uma associação de
fácies de canais fluviais entrelaçados arenosos a cascalhosos. Esta associação permitiu
interpretar que, evolutivamente, o cenário deposicional na Bacia do Araripe passou a ser
caracterizado por sistemas fluviais arenosos e cascalhosos, agora com estilo notadamente
entrelaçado (Figura 3.8).
Na Formação Abaiara, predominam rochas de granulometria mais fina como siltitos e
argilitos intercalados a arenitos (fácies Aa, Amo, Ah, Aba, Am, Ad, Pl e Pm; Figura 3.5).
Os pelitos da Formação Abaiara (fácies Pl e Pm) apresentam cor vermelha, verde,
mosqueada e cinza, ocorrendo associados a arenitos finos a médios que podem apresentar
estrutura maciça (Am; Figura 3.9A), e laminações plano-paralelas (fácies Ah) ou cruzadas
cavalgantes (BA-514; Figura 3.7).
Ocorrem ainda arenitos médios a grossos e também arenitos finos. Os arenitos médios a
grossos variam de pobremente a bem selecionados e podem conter grânulos e seixos de quartzo.
As estruturas sedimentares presentes constituem estratificações cruzadas acanaladas (fácies Aa),
de baixo ângulo (fácies Aba; Figura 3.9B), tabulares planares (fácies Ad) ou maciça (fácies Am);
estruturas de fluidização (dobras convolutas; BA-514, 108-140m; Figura 3.7) podem estar
presentes. Grânulos e seixos de quartzo são vísiveis na base dos sets e ao longo do plano de
estratificação. Ocorrem também arenitos finos que são bem selecionados, apresentam cor branca
e exibem estratificações cruzadas de baixo ângulo (fácies Aba; Figura 3.9C), acanaladas de
grande porte (fácies Aa), além de laminações plano-paralelas (fácies Ah; Figuras 3.9D e E),
marcas onduladas incipientes (fácies Amo), marcas onduladas cavalgantes, laminações
deformadas com dobras e falhas sin-deposicionais (fácies Ad; Figura 3.9F), além de estruturas de
fluidização e bioturbação. O sentido do paleofluxo obtido através da medição de paleocorrentes
nas estruturas sedimentares varia de NW-NE (Figura 3.7).
As fácies descritas para a Formação Abaiara são, dentre as descritas nas demais unidades,
as mais variadas, indicando assim uma grande diversidade de processos sedimentares e
elementos arquiteturais.
C D
E F
Figura 3.9 - Fotografias ilustrando as fácies deposicionais descritas para os arenitos estudados naFormaçãoAbaiara da Bacia doAraripe:A) FáciesAm, representando estrutura maciça, BA-500; B) FáciesAba apresentando estratificações cruzadas de baixo ângulo, BA-500; C
; D e E) FáciesAh, laminações horizontais, BA-514; eF) FáciesAd, estratificações tabulares, BA-514.
) Fácies Aba denotando a presençade estratificações cruzadas de baixo ângulo, BA-514
BA
Costa, A. B. S.
35
Costa, A. B. S.
36
Foram identificadas três associações de fácies: (1) Associação de fácies de canais fluviais
meandrantes; (2) Associação de fácies de planície deltaica, e (3) Associação de fácies de frente
deltaica e prodelta. Tais associações permitem interpretar que, ao final desta tectonossequência,
o cenário deposicional passou a ser caracterizado pela implantação de um amplo sistema deltaico
com todas as suas porções fisiográficas bem representadas, associado a um sistema fluvial
meandrante (Figura 3.8).
Capítulo IV - Análise Diagenética
Costa, A. B. S.
37
4 ANÁLISE DIAGENÉTICA
4.1 DIAGÊNESE: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A diagênese envolve todos os processos físicos, químicos, bioquímicos e biológicos que
afetam os sedimentos durante e após a sua litificação. Para muitos autores, o metamorfismo, que
compreende os processos de temperatura e pressão relativamente altas, e os agentes de dinâmica
externa (chuva, vento, etc.), não se enquadram como processos diagenéticos (Suguio, 2003).
Nos processos diagenéticos, a água de formação, que ocupa o espaço intergranular nas
rochas sedimentares, desempenha um papel importante e pode ter várias origens. Galloway
(1984) estabeleceu três regimes hidrológicos principais, responsáveis pela movimentação do
fluido na bacia: (i) Meteórico; (ii) Compactacional, e (iii) Termobárico ou Abissal (Figura 4.1).
O regime meteórico compreende as partes mais rasas das bacias onde a água presente origina-se
da infiltração de águas superficiais, podendo atingir até 2 km. O regime compactacional é aquele
onde os sedimentos estão sob pressão e as águas de formação são expulsas para as regiões de
menor pressão em resposta à compactação. Por último, o regime termobárico ou abissal
compreende as partes mais profundas de uma bacia, onde o fluido é gerado in situ como produto
da desidratação, principalmente de argilominerais e sais. A movimentação decorre da presença
de gradientes de pressão (Silva, 1991).
Figura 4.1 – Principais regimes hidrológicos responsáveis pela movimentação de fluidos numa bacia
hidrológica (Modificada de Galloway, 1984).
Costa, A. B. S.
38
A diagênese é dividida em três estágios evolutivos distintos (Choquette & Pray, 1970):
(1) eodiagênese, (2) mesodiagênese, (3) telodiagênese (Figura 4.2).
A eodiagênese envolve todos os processos atuantes na ou próximo da superfície
deposicional, onde o quimismo das águas intersticiais é dominantemente controlado pelo
ambiente sedimentar (De Ros, 1987). Termos como diagênese rasa ou diagênese precoce são
também utilizados para designar este estágio diagenético.
A mesodiagênese é o estágio intermédiário, que envolve todos os processos atuantes em
subsuperfície durante o soterramento efetivo, até uma profundidade capaz de isolar a rocha e
fluidos intersticiais da ação das águas superficiais (De Ros, 1987). Prolonga-se paulativamente
até o metamorfismo. Com o aumento da profundidade, aumentam a pressão e a temperatura e,
consequentemente, os sedimentos vão sendo litificados em virtude dos processos de
compactação e cimentação (Suguio, 2003).
A telodiagênese é o último estágio da diagênese e compreende todos os processos
atuantes próximo da superfície após o soterramento efectivo (De Ros, 1987). Este regime é
desenvolvido devido ao soerguimento e posterior erosão das rochas.
Figura 4.2 – Esquema ilustrativo das zonas onde ocorrem cada um dos estágios diagenéticos: A) Zona
eodiagenética; B) Zona mesodiagenética, e C) Zona telodiagenética (Choquete & Pray, 1970).
Os principais processos diagenéticos que podem atuar numa rocha siliciclástica desde a
deposição até o soterramento são (De Ros, 1987): (1) Infiltração mecânica de argilominerais; (2)
Costa, A. B. S.
39
Compactação mecânica; (3) Compactação química; (4) Cimentação; (5) Alteração dos grãos; (6)
Precipitação de minerais opacos e (7) Oxidação telodiagenética.
A infiltração mecânica de argilominerais está relacionada às condições de clima seco no
ambiente deposicional. Tal processo ocorre logo após a deposição dos sedimentos, e relaciona-se
à entrada de sedimentos finos nos espaços intergranulares quando da infiltração da água
proveniente de enxurradas episódicas (Walker et al., 1978 apud Batezelli et al., 2005)
A compactação mecânica origina-se em virtude da pressão litostática exercida pela
sobrecarga da coluna de sedimentos, e como tal, produz uma redução do volume intergranular
(Milliken, 2005) provocando rearranjos texturais devido à rotação dos clastos mais rígidos.
Quando os clastos mais rígidos atingem o seu limite máximo de elasticidade, ou quando os
planos de clivagem são bastante evidentes, ocorrerá o fraturamento dos grãos. Os clastos que
apresentam uma ductibilidade maior, como por exemplo, os fragmentos líticos de folhelhos ou
rochas metamórficas de baixo grau, vão reagir incompetentemente aos esforços e,
consequentemente, irão penetrar pelos grãos rígidos circundantes, fluindo entre os espaços
intersticiais (Ribeiro, 2001).
A compactação química envolve a dissolução grão a grão ou em nível da rocha devido ao
avanço dos processos de compactação mecânica. Durante este processo, há uma interação entre a
fase sólida e os fluidos que percorrem os poros, provocando a dissolução dos constituintes
minerais menos resistentes (Milliken, 2005) ou, no caso das rochas carbonáticas, dissolução de
níveis de rocha, produzindo superfícies estilóliticas.
A cimentação é um processo que está relacionado a regiões de pequena precipitação
pluviométrica. Os sais resultantes da decomposição química não podem fluir para os rios e mares
ficando retidos no local onde se formam (Silva, 1991). O movimento capilar ascendente da água
por evaporação faz com ocorra precipitação química de diversas substâncias que preenchem os
poros. Distribui-se heterogeneamente, convertendo os sedimentos em rocha sedimentar. Pode ser
impulsionada pelo crescimento secundário de quartzo e feldspatos, ou então pela precipitação de
carbonato de cálcio, sílica, óxidos e hidróxidos de ferro (Caetano-Chang & Tai, 2003).
Com o decorrer dos estágios diagenéticos, alguns grãos originais podem ser alterados
para argilominerais. Citam-se como exemplos, a cloritização das biotitas e a caulinização das
muscovitas (De Ros, 1987).
A porosidade secundária inclui, igualmente, fraturamento, encolhimento de argilas e é
gerada pela dissolução dos grãos do arcabouço, podendo ocorrer em qualquer fase da diagênese
(Milliken, 2005).
Costa, A. B. S.
40
4.2 PETROGRAFIA DOS ARENITOS
4.2.1 Introdução
A análise petrográfica priorizou a descrição dos parâmetros texturais e da composição,
para então proceder a classificação das rochas. Com relação aos aspectos texturais foram
utilizadas como referências as seguintes tabelas ou esquemas classificatórios (Figura 4.3): (i)
para a granulometria, a classificação de Wentworth (1922); (ii) para a esfericidade e
arredondamento, o quadro proposto por Powers (1953); (iii) para os contatos entre os grãos,
uma comparação visual com as figuras de Giannini (2000), sendo individualizadas três
hieraquias de contatos - “P” predominante, “C” comum e “R” raro; (iv) para o selecionamento,
as figuras padrões de Pettijohn et al. (1949); (v) para o empacotamento, o Índice de Kahn
(1956), calculado em cinco travessias, escolhidas aleatoriamente para cada lâmina delgada,
valores que foram comparados às classes nominais – frouxo, normal e fechado; (vi) para a
maturidade textural, o diagrama de Folk (1968), e (vii) para a maturidade mineralógica, na
ausência de uma classificação de referência, foi adotada a seguinte convenção - abaixo de 75%
de quartzo e chert, imatura, entre 75 e 90% destes grãos, matura e acima de 90% destes grãos,
supermatura. No que se refere à denominação das rochas estudadas, no presente trabalho, a
classificação adotada foi a de Folk (1968; Figura 4.3).
Para a análise diagenética, procurou-se descrever os processos, relacionando-os aos
estágios de eo, meso e telodiagênese, para então, com base no reconhecimento das relações
texturais e na interpretação da temporaneidade destes eventos, elaborar uma história diagenética
evolutiva.
Para o estudo de porosidade, foi utilizada a tabela de Choquete e Pray (1970) que, embora
utilizada primordialmente para rochas carbonáticas, pode ser aplicada às rochas siliciclásticas, e
divide o sistema poroso nos seguintes tipo: interpartícula, intrapartícula, intercristalina, móldica,
fenestral, de abrigo, de crescimento, de fratura, de canal, vugular, de caverna e de estilólito. A
grande maioria destes tipos de porosidade pode ser reconhecida em arenitos e sua gênese pode
ser primária, como no caso da porosidade de abrigo, secundária, a exemplo da porosidade
móldica, ou ainda ora primária, ora secundária, como a porosidade interpartícula. No caso deste
tipo de porosidade, critérios como a dissolução parcial dos grãos, moldes, heterogeneidade de
empacotamento, poros agigantados e grãos flutuantes, poros alongados, grãos corroídos,
alveolados e fraturados podem auxiliar nesta distinção.
Diâmetro médio (mm) Desvio padrão (phi) Escala verbal
Submatura
MaturaMuito bem selecionada
Bem selecionada
Moderadamente selecionada
Pobremente selecionada
Mto pobremente selecionada
1,0 0,00
1,6 0,35
2,0 0,50
4,0 1,00
16,0 2,00
0,35 0,50
1,00 2,00
Tabela de Comparação de classes de selecionamento(Segundo Pettijohn, Potter & Siever, 1972)
IMAGENS DE SELEÇÃO
CLASSE ÍNDICE
p < 40
Normal
Fechado
40 < p < 55
p > 55
Frouxo
Entrada da travessia de varredura
IMATURA
SUBMATURA
SUPERMATURA
> 5%
< 5%
τ < 0,5ф
τ > 0,5ф
(<3,0p)
(>3,0p)
Subangular
Subarredondado
Quantidadede matriz
deposicional
Selecionamento
ArredondamentoMATURA
Quartzo
Fragmentosde rocha
(incluindo )chert
Feldspato25 50 25
75 75
9595
Arc
óse
o
Arc
óse
olí
tico
Litaren
ito feld
spático
Litaren
ito
SubarcóseoSublitarenito
Quartzarenito
ddMmUden, 1898
Classes NominaisWentworth,1922
4,000 - 2,000
2,000 - 1,000
1,000 - 0,500
0,500 - 0,250
0,250 - 0,125
0,125 - 0,062
0,062 - 0,031
0,031 - 0,016
0,016 - 0,008
0,008 - 0,004
<0,004
Grânulo
Areia muito grossa
Areia grossa
Areia média
Areia fina
Areia muito fina
Silte grosso
Silte fino
ArgilaMuito angular Angular Subangular Arredondado Bem arredondadoSubarredondado
Esf
eric
idad
e
2 3 41 5 6
Alt
aB
aixa
0
FLUTUANTES RETOS OU LONGOSPONTUAIS
SUTURADOSCÔNCAVO-CÔNVEXOS
Grãos flutuantes ebordos livres
Grãos se tocam em umúnico ponto
Poro
Poro
Bordo livre
Bordo fixado
Grãos em contatosinterpenetrativos
Filmes de dissoluçãoentre os grãos
A) B) C)
D) E) F) G)
Figura 4.3 - Tabelas utilizadas para a análise textural e classificação das rochas estudas.A) Escala granulométrica para rochas sedimentares clásticas, com as classes nominais baseadas na proposta de Wentworth (1922); B) Quadro de comparaçãovisual para a esfericidade e arredondamento (Modificado de Scholle, 1979); C) Tipos de contatos grão-a-grão existentes (Modificado de Scholle, 1979); D) Quadro de comparação visual para o selecionamento e respectivas classes de seleção(Pettijohn , 1949); E) Classes de empacotamento baseada no Índice de Kahn (1956); F) Quadro de identificação da maturidade de rochas sedimentares clásticas (Modificado de Scholle, 1979), e G) Classificação adotada para presente trabalho,Folk (1968).
et al.
Costa, A. B. S.
41
Costa, A. B. S.
42
4.2.2 Bacia do Rio do Peixe
Petrograficamente, os arenitos da Formação Antenor Navarro são caracterizados por
apresentarem granulometria que varia desde areia muito fina a grânulos, com grãos muito bem a
moderadamente selecionados, com arredondamento variável, de subangular a bem arredondado,
e esfericidade baixa (Figuras 4.4A e B, apresentadas na página seguinte). O empacotamento das
rochas é fechado, predominando os contatos entre os grãos do tipo côncavo-cônvexo, sendo
comuns os contatos retos e raros os contatos pontuais. Texturalmente, as rochas desta unidade
são consideradas como maturas. Mineralogicamente, tais rochas foram classificadas, em geral
como matura, uma vez que o somatório do percentual de quartzo mais chert está compreendido
entre os 75-95%.
Composicionalmente, tais rochas são constituídas predominantemente por grãos de
quartzo, feldspatos e fragmentos de rochas (Figura 4.4A, C e D), sendo comum também, a
presença de minerais resistatos como turmalina, zircão e esfeno, assim como minerais
pertencentes ao grupo dos filossilicatos como a muscovita e biotita (Figura 4.4C). A matriz é
formada por argilominerais infiltrados ou resulta do esmagamento dos grãos mais dúcteis,
constituindo uma pseudomatriz e por material siltítico. O cimento é principalmente carbonático
(Figura 4.4E); ocorrendo também cimentos ferruginoso (Figura 4.4F), crescimentos secundários
de quartzo (Figura 4.4C), assim como ilita.
Dados da análise modal projetados no diagrama triangular de Folk (1968) permitiram
classificar as rochas desta unidade como Quatzarenito e, localmente, Subarcóseo.
Texturalmente, os arenitos da Formação Sousa apresentam granulometria que varia de
muito fina a média, com grãos bem a muito bem selecionados (Figura 4.5A), angulosos a
subarredondados, exibindo desde esfericidade baixa até alta. Os contatos concavo-convexos são
os que ocorrem com maior frequência, sendo os contatos retos comuns, e os suturados raros
(Figura 4.5B), conferindo um empacotamento fechado à rocha (Figura 4.5A). Texturalmente, as
rochas desta unidade são classificadas como imaturas. A maturidade mineralógica é expressa
pela soma de quartzo mais chert, cujos valores excedem os 95% e, como tal, os arenitos desta
formação foram classificados como supermaturos.
A composição mineralógica é variável, predominando quartzo, feldspatos e fragmentos
de rochas, no entanto, minerais resistatos como esfeno, zircão e turmalina são comuns, tais como
alguns minerais do grupo dos filossilicatos representados pelas muscovitas, biotitas e cloritas
(Figura 4.5C e D). A matriz é formada por argilominerais infiltrados (Figura 4.5E).
E F
D
A B
Figura 4.4 - Fotomicrografias ilustrando as principais características petrográficas dos arenitos estudadosda Formação Antenor Navarro. A) Empacotamento fechado ; B) Grãossubangulares a subarredondados (N//); C)
D) E)
em nicóis paralelos (N//)Crescimentos secundários de Quartzo em nicóis cruzados (NX;
seta); Microclina (NX); Cimento carbonático (N//), e F) Cimentos carbonático e ferruginoso (NX;setas).
C
Costa, A. B. S.
43
A
E
D
F
C
Figura 4.5 - Fotomicrografias ilustrando as principais características petrográficas dos arenitos estudadosda Formação Sousa. A) Granulometria areia muito fina e grãos bem selecionados ; B) Contatossuturados ; C) Matriz de argilominerais infiltrados (N//; seta); D) Muscovita (M) e Quartzito(Q)(NX; E) Compactação mecânica da Muscovita (M) ( , e F) Cimento carbonáticopreenchendo os espaços intersticiais .
(N//)(NX; seta)
setas); NX; seta)(NX; setas)
MQ
M
B
Costa, A. B. S.
44
Costa, A. B. S.
45
O cimento é carbonático (Figura 4.5F) e ocorre preenchendo os espaços intersticiais; estão
presentes também argilominerais autigênicos como a ilita.
Para a análise modal, foi utilizada a projeção triangular de Folk (1968) resultando na
classificação das rochas desta formação como Quartzarenito.
A Formação Rio Piranhas é composta por arenitos finos a grossos, com grãos
moderadamente a bem selecionados (Figura 4.6A e B), e localmente mal selecionados (Figura
4.6C), predominantemente subangulosos a subarredondados, com esfericidade baixa para os
grãos maiores e alta para os menores.
Os contatos côncavo-cônvexos são os que ocorrem com maior frequência, os contatos
retos (Figura 4.6C) são comuns, e raros são os contatos suturados, o que confere a esta formação
um empacotamento do tipo fechado. Com relação à maturidade textural, as rochas desta
formação foram classificadas como maturas, ao passo que, a maturidade mineralógica é elevada,
com o somatório de quartzo mais chert, excedendo os 95%, sendo então classificadas como
supermaturas.
Na análise composicional, verificou-se, tal como nas formações anteriormente descritas,
uma grande abundância de quartzo, feldspatos e fragmentos de rocha, contudo, minerais
resistentes (resistatos) como turmalina e zircão são comuns, assim como minerais pertencentes
ao grupo dos filossilicatos, a exemplo da muscovita, biotita e clorita. A matriz é do tipo argila
infiltrada. O cimento é formado pela precipitação de argilominerais como ilita, pelos
crescimentos secundários de quartzo e por cimentos carbonáticos (Figura 4.6D).
A projeção da análise quantitativa foi efetuada num diagrama triangular de Folk (1968),
resultando na classificação das rochas desta unidade como Quartzarenito e, localmente,
Subarcóseo.
4.2.3 Bacia do Araripe
Os arenitos da seção inferior da Formação Missão Velha possuem granulometria areia
fina a média, com grãos muito bem a moderadamente selecionados, arredondamento variável, de
subangular a subarredondado, e esfericidade baixa (Figura 4.7A).
Os contatos retos são os que ocorrem com maior frequência, seguidos dos contatos
côncavo-cônvexos, o que confere à rocha um empacotamento normal a fechado. As rochas são
texturalmente maturas. Com relação à maturidade mineralógica, graças à presença de mais de
95% de quartzo mais chert, tais rochas são classificadas, em geral, como supermaturas.
A B
C D
Figura 4.6 - Fotomicrografias ilustrando as principais características petrográficas dos arenitos estudadosda Formação Rio Piranhas. A) Selecionamento moderado e empacotamento fechado ; B) Grãos bemselecionados e matriz do tipo argilas infiltradas (N//; ; C) Grãos subangulosos a subarredondados
, e D) Cimento carbonático .
(N//)seta)
(N//) (NX; seta)
Costa, A. B. S.
46
Costa, A. B. S.
47
A composição mineralógica é variável, predominando grãos de quartzo, feldspatos e
fragmentos de rocha (Figuras 4.7A, B e C). Minerais resistentes como zircão, esfeno, estaurolita
e turmalina (Figura 4.7D), assim como minerais pertencentes ao grupo dos filossilicatos como
muscovita, biotita e clorita também foram identificados. A matriz é constituída essencialmente
por argilominerais infiltrados e pseudomatriz. Os cimentos são representados pelo tipo
ferruginoso, crescimentos secundários de quartzo e feldspatos, ou então, pela precipitação de
argilominerais como ilita e caulinita.
Uma vez efetuada a análise quantitativa, utilizou-se a classificação de Folk (1968) que
resultou na classificação das rochas desta unidade como Quartzarenito e, localmente,
Subarcóseo.
Os arenitos da seção superior da Formação Missão Velha apresentam granulometria
que varia desde areia muito fina a muito grossa, são moderada a pobremente selecionados, com
grãos angulosos a subangulosos e com esfericidade baixa. O empacotamento é do tipo frouxo,
com o predomínio de contatos flutuantes, sendo comuns os contatos pontuais e raros os côncavo-
cônvexos. Texturalmente, tais rochas são consideradas submaturas. A maturidade mineralógica é
elevada, com o somatório de quartzo e chert excedendo os 95% e, como tal, as rochas desta
seção classificam-se como supermaturas.
Composicionalmente, tais rochas apresentam uma grande abundância em quartzo,
feldspatos e fragmentos de rocha. Resistatos como a turmalina e zircão (Figura 4.7E) estão
presentes, assim como, muscovita, biotita e Clorita (Figura 4.7F). A matriz é do tipo argila
infiltrada e pseudomatriz. O cimento é formado por crescimentos secundários de quartzo e a
precipitação de argilominerais como a ilita e caulinita.
Para a análise modal foi utilizada a classificação de Folk (1968) que enquadrou as rochas
desta unidade como Quartzarenito e, localmente, Subarcóseo.
A Formação Abaiara é composta por arenitos muito finos a médios, com grãos bem a
muito bem selecionados, predominatemente angulosos a subarredondados, com esfericidade
baixa (Figura 4.8A). O contato entre os grãos do arcabouço é dominantemente reto, sendo
comum o côncavo-cônvexo, o que confere a esta formação um empacotamento do tipo normal
(Figura 4.8B). Texturalmente, as rochas desta unidade são classificadas como maturas. A
maturidade mineralógica é elevada, definida como supermatura, em virtude da percentagem do
somatário de quartzo e chert ser superior a 95%.
A
D
B
C
Figura 4.7 - Fotomicrografias ilustrando as características petrográficas dos arenitos estudados daFormação Missão Velha. A) Granulometria areia fina a média e selecionamento muito bom a moderadoem(N//); B) Microclina (NX); C) Fragmentos de rocha (calcedônia;NX); D) Turmalina ; E) Zircão
, e F) Clorita (N//).(NX)
(N//)
E F
Costa, A. B. S.
48
A B
D
F
C
E
Figura 4.8 - Fotomicrografias ilustrando as características petrográficas dos arenitos estudados daFormaçãoAbaiara.A)Aspectos texturais dos arenitos e presença de argilas infiltradas ; B) Grãos bema muito bem selecionados, subangulares e empacotamento normal ; C) Plagioclásio ; D)Esfeno ; E) Turmalina azul , e F) Biotita cloritizada .
(N//)(N//) NX; seta)
(N//) (N//) (N//; seta)
Costa, A. B. S.
49
Costa, A. B. S.
50
Na análise composicional, verificou-se, tal como nas formações anteriormente descritas, uma
grande abundância em quartzo, feldspatos (Figura 4.8C), e fragmentos de rocha, contudo,
minerais mais resistentes como o zircão, esfeno, espídoto e turmalina (Figura 4.8D e E), são
frequentes. biotita, muscovita e clorita são também evidentes (Figura 4.8F). A matriz é do tipo
argila infiltrada e pseudomatriz, ao passo que o cimento pode ser precipitado sobre a forma de
argilominerais (caulinita e ilita), e como crescimentos secundários de quartzo.
A projeção da análise quantitativa foi efetuada num diagrama triangular de Folk (1968),
resultando na classificação das rochas desta unidade como Quartzarenito.
4.3 PROCESSOS DIAGENÉTICOS E HISTÓRIA EVOLUTIVA
De maneira geral, os arenitos estudados, provenientes da porção centro-oeste do Vale do
Cariri, Bacia do Araripe e da Bacia do Rio do Peixe foram afetados durante a diagênese por nove
processos distintos. De acordo com a formação estudada e as particularidades texturais e
composicionais intrínsecas às fácies destas unidades, alguns processos se mostraram mais ou
menos atuantes, outros até mesmo ausentes. Com base na relação temporal entre estes eventos,
foi possível estabelecer uma sequência evolutiva desde a eodiagênese até a telodiagênese,
particularizada para cada formação estudada. Os eventos diagenéticos caracterizados neste
estudo foram os seguintes: (1) Infiltração mecânica de argilas; (2) Compactação mecânica; (3)
Compactação química; (4) Crescimentos secundários de Quartzo e Feldspatos; (5) Cimentos de
Calcita mesodiagenética; (6) Caulinita autigênica; (7) Alteração de grãos para argilominerais
(Clorita e Ilita), (8) Precipitação de minerais opacos; e (9) Oxidação telodiagenética.
4.3.1 Infiltração Mecânica de Argila
A infiltração mecânica de argila ocorre preferencialmente em sedimentos aluviais de
clima árido (Morad, 1991) que estiveram sujeitos a períodos de longa estiagem, provocados por
um rebaixamento do nível freático e a formação de uma espessa zona vadosa (Silva, 1991).
Durante as enxurradas episódicas, a argila é infiltrada e transportada em suspensão até ao
momento em que a vazão promove a sua decantação na superfície dos grãos (De Ros, 1987).
Uma vez depositado, o material argiloso apresenta texturas características, tais como (Silva,
1991): (1) cutículas; (2) meniscos; (3) agregados floculados; (5) fábricas geopetais, e (4) níveis
argilosos.
Costa, A. B. S.
51
Os arenitos das formações estudadas apresentam evidências de infiltração mecânica de
argila (Figura 4.9), sob a forma de cutículas (contínuas ou descontínuas), meniscos (pontes ou
cristas) e agregados/massas floculadas, ou exibem textura de encolhimento (shrinkage). As
cutículas (Figura 4.9A e B) mostram-se, em sua maioria, descontínuas e, localmente, nos
arenitos da seção superior da Formação Missão Velha e da Formação Antenor Navarro,
contínuas, apresentando espessuras variadas. As cutículas são formadas por lamelas de Ilita que
se dispõem predominantemente perpendicular aos grãos, as quais são produto da recristalização
de Esmectitas ou Montmorilonitas que outrora se dispunham de forma tangencial. Ocorrem
também argilas infiltradas em meniscos ou pontes, presentes nos arenitos da seção superior da
Formação Missão Velha e nas formações Abaiara e Antenor Navarro (Figura 4.9C e D). Esta
textura em menisco ou ponte é interpretada como tendo sido formada na zona vadosa pelos
meniscos de água durante os períodos de seca. As lamelas vão se localizar em zonas onde a
pressão capilar preserva os fluidos, promovendo a reorganização do material argiloso. Assim, as
primeiras partículas depositam-se desorganizadamente na zona onde o contato entre os grãos do
arcabouço é mais próximo. Quando esta zona do poro está preenchida na totalidade pelos
minerais de argila desorganizados, novas películas vão ser depositadas progressivamente em
conformidade com a interface água-ar, até que a sua orientação se torne tangencial à fronteira do
menisco (Xavier du Bernard et al., 2003).
As rochas da seção superior da Formação Missão Velha e das formações Antenor
Navarro e Sousa diferenciam-se das demais formações pelo fato de que nestas rochas ocorrem
dois tipos de texturas de argilas infiltradas, não evidentes nas demais rochas. Estes dois tipos são
designados de texturas de encolhimento e de agregados/massas floculadas (Figura 4.9E e F). O
primeiro tipo resulta de um processo que consiste na perda de água presente no material argiloso,
e o segundo tipo relaciona-se a condições de estabilidade/estagnação que dão origem a massas
argilosas que envolvem os grãos do arcabouço.
As argilas infiltradas irão obliterar localmente o espaço poroso da rocha e,
consequentemente, inibir parcialmente o desenvolvimento de fases diagenéticas posteriores
(Ribeiro, 2001).
4.3.2 Compactação
A compactação é subdividida em duas fases, uma subsequente à outra, designadas nesta
ordem de compactação mecânica e compactação química; esta última envolve um soterramento
mais efetivo, sendo também denominada de dissolução por pressão.
C
F
B
E
D
A
Figura 4.9 - Fotomicrografias ilustrando o evento de infiltração mecânica de argilas atuando em maior oumenor intensidade nos arenitos estudados: A) Cutículas contínuas de argilominerais em torno dos grãos;seção superior da Fm. Missão Velha, (NX; setas); B) Cutículas contínuas de argilominerais em torno dosgrãos; Fm.Abaiara, ; C) Menisco de ilita preenchendo as gargantas dos poros; seção inferior daFm. Missão Velha, ; D) Menisco de ilita preenchendo as gargantas dos poros; Fm. Abaiara,
; E) Encolhimento das argilas em arenitos da seção inferior da Fm. Missão Velha, (N//; seta), e F)Argilas em massa e encolhimento em arenitos da seção inferior da Fm. Missão Velha .
(NX; setas)(N//; seta) (N//;
seta), (N//; seta)
Costa, A. B. S.
52
Costa, A. B. S.
53
Nas rochas das formações em estudo, a compactação mecânica é reconhecida pelos três
parâmetros que a caracterizam: rearranjo textural, fraturamento e esmagamento, com a geração
de pseudomatriz. O rearranjo textural é observado tanto em grãos mais rígidos, com o quartzo,
como em grãos mais dúcteis, como as muscovitas e biotitas. No caso das muscovitas e biotitas
foi possível observá-las completamente dobradas (Figura 4.10A) as quais, uma vez atingindo o
ponto máximo de elasticidade, acabam por fraturar. Em minerais mais resistentes, por sua vez,
como quartzo e determinados Fragmentos de rocha, foi possível visualizar fraturamentos
internos. Além disso, a pressão exercida pelos grãos mais rígidos sobre os mais dúcteis, provoca
o seu esmagamento, fluindo estes pelos espaços intersticiais, originando a pseudomatriz (Figura
4.10B). A pseudomatriz é geralmente constituída por ilita nas rochas das formações Antenor
Navarro, Sousa, Abaiara e da seção superior da Formação Missão Velha, e por feldspatos e
fragmentos de rochas dúcteis na seção inferior da Formação Missão Velha e Formação Rio
Piranhas.
A compactação química provoca a dissolução por pressão ao longo dos contatos grão-a-
grão ou a dissolução em nível da rocha, sendo ocasionada pela sobrecarga sedimentar (Caetano-
Chang & Tai, 2003). Evidências da sua presença são os contatos interpenetrativos, do tipo
côncavo-cônvexo (Figura 4.10C) e suturado e as superfícies estilóliticas. Fatores como
crescimentos secundários de quartzo e de feldspatos, presença de cimentos de calcita e de argilas
infiltradas vão influenciar na intensidade de atuação da compactação, já que, ao passar por tais
processos, a rocha fica com uma maior resistência. Nos arenitos das formações Antenor Navarro,
Sousa e Rio Piranhas pertencentes à Bacia do Rio do Peixe, predominam os contatos côncavo-
cônvexos, sendo comum também os suturados; estão também presentes superfícies estilolíticas.
Já na Bacia do Araripe, as rochas da Formação Abaiara e as da seção inferior da Formação
Missão Velha exibem predominantemente contatos retos, embora, também ocorram os contatos
côncavo-cônvexo e suturados e, particularmente nas rochas da Formação Abaiara, superfícies
estilolíticas. Por fim, as rochas da seção superior da Formação Missão Velha são as que
apresentam pouca evidência de compactação, sendo caracterizadas pela presença de grãos
flutuantes, o que concede às rochas um empacotamento frouxo. A explicação para o fato dos
arenitos da seção superior da Formação Missão Velha apresentarem evidências de maior
compactação química quando comparados com aqueles da Formação Abaiara sobrepostos, é que
os mesmos contém uma grande percentagem de argilas infiltradas (vide Figura 4.17, mais
adiante). As argilas infiltradas ocorrem envelopando os grãos ou preenchendo os espaços
intersticiais e impedem o contato grão a grão que irá promover a dissolução por pressão.
Figura 4.10 - Fotomicrografias ilustrando os eventos de compactação mecânica e química, crescimentossecundários de quartzo e feldspatos, e cimento de calcita nos arenitos estudados:A) Rearranjo textural dasbiotitas em arenitos da Fm. Abaiara ( ; B) Pseudomatriz de argilominerais em arenitos da seçãoinferior da Fm. Missão Velha C) Contato suturado em arenitos da Fm. Antenor Navarro
; D) Crescimento secundário de quartzo em arenitos da Fm. Antenor Navarro (NX; ; E)Crescimento secundário de feldspato em arenitos da seção inferior da Fm. Missão Velha (NX; , e F)cimento de calcita em arenitos da Fm. Sousa, .
NX; seta)(NX; seta) (N//;
seta) seta)seta)
(NX; seta)
C
E
A B
D
F
Costa, A. B. S.
54
Costa, A. B. S.
55
4.3.3 Crescimentos Secundários de Quartzo e Feldspatos
Os crescimentos secundários de quartzo (Figura 4.10D) estão presentes nas rochas das
formações estudadas, sendo particularmente importantes naquelas em que o processo de
infiltração mecânica de argilas está ausente ou pouco expressivo. A presença de argilas, quer seja
sob a forma de cutículas ou de massas, cria uma barreira impermeável, impedindo o contato
entre os fluidos instersticiais e a superfície do grão. Mesmo naquelas rochas onde o processo de
infiltração mecânica de argilas está presente, ainda assim podem ser encontrados crescimentos
secundários de quartzo. Nestes casos, as argilas encontram-se como cutículas descontínuas o que
pode justificar a ocorrência conjunta destes dois processos. Os crescimentos secundários de
quartzo foram identificados pelas linhas de descontinuidade constituídas por impurezas (oxidos e
hidróxidos de ferro e cutículas de argilas) que delimitam o grão original, e pelas faces retas com
a mesma orientação ótica do mineral original.
Os crescimentos secundários de feldspatos (Figura 4.10E) somente foi visualizado nas
rochas da seção inferior da formação Missão Velha, e localmente, nas rochas da Formação
Antenor Navarro. Predominam feldspatos alcalinos em relação aos plagioclásios. O crescimento
autigênico de feldspatos é reconhecido em lâmina delgada pelas faces retas dos grãos, e pelo fato
da fase autigênica não apresentar as maclas presentes no grão hospedeiro.
4.3.4 Cimentação por calcita
A calcita é precipitada quimicamente, preenchendo parcial ou totalmente os espaços
porosos e/ou substituindo os grãos do arcabouço. Os fatores que controlam a sua precipitação
dependem da química da água, sobretudo, a razão Mg/Ca, Eh, pH, temperatura e PCO2 (Klein &
Mizusaki, 2007).
Nas rochas das formações Antenor Navarro, Sousa e Rio Piranhas, pertencentes à BRP,
os cimentos de calcita manifestam-se pela precipitação de cristais bem desenvolvidos, de
cristalinidade média a grossa, que ocupam grande parte do espaço intersticial (Figura 4.10F;
Figura 4.11A) e podem, em alguns casos, substituir grãos do arcabouço.
4.3.5 Dissolução
A porosidade secundária resulta da lixiviação parcial a total de alguns grãos do
arcabouço, de cimentos e/ou da matriz deposicional (Ribeiro, 2001).
Figura 4.11 - Fotomicrografias ilustrando os eventos de cimento de calcita , dissolução e geração deporosidade secundária, e caulinita autigênica nos arenitos estudados:A) Cimento de calcita em arenitos daFm. Rio Piranhas ; B) Grão de feldspato alvéolado, produto da dissolução diagenética atuanteem arenitos da seção inferior da Fm. Missão Velha (N//; ; C) e D) Caulinita autigênica exibindoestrutura em em arenitos da seção superior da Fm. Missão Velha (N//;C),(NX; D; , e E)Caulinita autigênica em arenitos da Fm. Sousa (N//) e F) Caulinização de muscovita gerando ilita nosarenitos da Fm.Abaiara (NX).
(NX; seta)seta)
seta)booklets
F
B
DC
E
A
Costa, A. B. S.
56
Costa, A. B. S.
57
Nas rochas estudadas, a porosidade primária foi reduzida durante a eodiagênese e inicio da
mesodiagênese, em virtude da infiltração mecânica de argilas, quer sob a forma de cutículas,
meniscos ou massas, por vezes com posterior encolhimento, como também pelos crescimentos
secundários de quartzo e feldspatos. Ainda em ambiente mesodiagenético, porém mais tardio,
ocorreu a dissolução dos cimentos e grãos do arcabouço originando a porosidade secundária
(Figura 4.11B).
4.3.6 Caulinita Autigênica
A presença de Caulinita autigênica pôde ser observada nas rochas das formações Sousa,
Abaiara e nas seções superior e inferior da Formação Missão Velha. Este evento diagenético
pode ocorrer em virtude de dois processos distintos: (1) ser decorrente da precipitação a partir da
dissolução de silicatos instáveis durante a circulação de fluidos intersticiais (Figura 4.11C, D e
E) ou então, (2) resultar da substituição de grãos do arcabouço como muscovita, biotita e
feldspatos, e portanto, constituir um mineral de substituição. Em ambos os casos, seja como
cimento ou como mineral de substituição, as caulinitas constituem uma fase autigênica de
mesodiagênese. No primeiro caso, as Caulinitas são identificadas nos espaços interpartícula, por
apresentar, em nicóis paralelos, coloração azul-esverdeada, e em nicóis cruzados birrefringência
baixa, na ordem dos cinzentos, além da típica textuta em booklets (Figura 4.11D). No segundo
caso, quando as caulinitas constituem um mineral de substituição, estas ocorrem
preferencialmente associadas às muscovitas, sendo também comum como substituição de
biotitas, provocando um aumento no volume destes filossilicatos e a consequente diminuição da
porosidade (Figura 4.11F).
4.3.7 Alteração dos Grãos para Clorita e Ilita
A alteração dos grãos para ilita e clorita (Figuras 4.12A e B) ocorre graças ao aumento
da instabilidade dos argilominerais com o aumento da profundidade. Para atingir o ponto de
estabilidade, eles transformam-se em fases mais estáveis, contudo, esta transformação está
dependente da concentração de determinados elementos químicos nos fluidos intersticiais (Silva,
1991).
Em lâmina delgada, este processo foi reconhecido pela elevada birrefringência dos
argilominerais quando ocorre a substituição da muscovita e da caulinita para ilita (Figura 4.12B).
Figura 4.12 - Fotomicrografias ilustrando os eventos de alteração das biotitas, ilitização, precipitação deopacos e oxidação telodiagenética nos arenitos estudados: A) Cloritização da biotita em arenitos da seçãoinferior da Fm. Missão Velha (N//; ; B) Ilitização em arenitos da Fm. Antenor Navarro (NX; ; C)Precipitação de minerais opacos em arenitos da Fm. Antenor Navarro (N//); D) Precipitação de mineraisopacos em arenitos da Fm. Abaiara (N//; ; E) Oxidação dos minerais em arenitos da Fm. AntenorNavarro (N//; s , e F) Oxidação dos minerais em arenitos da Fm. Sousa (N//; .
seta) seta)
seta)etas) setas)
E
A
F
B
D
Costa, A. B. S.
58
C
Costa, A. B. S.
59
Em arenitos, a clorita está presente como um cimento (Milliken, 2005), contudo, nas formações
em estudo, tal processo não foi identificado. Ocorre frequentemente como um mineral de
substituição nos arenitos e está geneticamente vinculada ao processo de cloritização,
principalmente da biotita.
4.3.8 Precipitação de minerais opacos
O processo de precipitação de minerais opacos pôde ser observado em todos os arenitos
estudados e pode ocorrer sob a forma de agregados ou como cristais alongados (Figuras 4.12C e
D). Nas lâminas observadas, predominam as piritas, sob a forma de cristais euédricos, as quais
podem ter sido formadas em zonas de redução de sulfato por ação das bactérias anaeróbicas.
Fatores como a presença de Biotita e argilominerais (ilita e esmectita), produto da substituição
dos grãos, controlam fortemente a precipitação deste mineral, uma vez que ocorrem associados e
ambos dependem da disponibilidade de ferro existente para sua precipitação.
4.3.9 Oxidação telodiagenética
A oxidação telodiagenética é originada em virtude das alterações físico-químicas dos
fluidos intersticiais. Nas rochas estudadas, este processo encontra-se presente sob a forma de
grandes massas em tons acastanhados e avermelhados que ocupam o espaço interpartícula
(Figura 4.12E e F). Em algumas lâminas, foi também possível visualizar os grãos recobertos por
filmes ou coatings constituídos por óxidos e hidróxidos de ferro, ou então substituindo
parcialmente os grãos do arcabouço (Figura 4.12F).
4.4 ANÁLISE DA POROSIDADE SECUNDÁRIA
Para o estudo de porosidade, foi utilizada a tabela de Choquete e Pray (1970) que
classifica o sistema poroso de rochas carbonáticas em porosidade dos tipos: interpartícula,
intrapartícula, intercristalina, móldica, fenestral, de abrigo, de crescimento, de fratura, de canal,
vugular, de caverna e de estilólito. A grande maioria destes tipos de porosidade pode ser
reconhecida em arenitos e sua gênese pode ser primária, como no caso da porosidade de abrigo,
secundária, a exemplo da porosidade móldica, ou ainda ora primária, ora secundária, como a
porosidade interpartícula. No caso deste tipo de porosidade, critérios como a dissolução parcial
Costa, A. B. S.
60
dos grãos, moldes, heterogeneidade de empacotamento, poros agigantados e grãos flutuantes,
poros alongados, grãos corroídos, alveolados e fraturados podem auxiliar nesta distinção.
A Figura 4.13 mostra uma compilação dos dados obtidos da análise da porosidade
referente aos arenitos da Tectonossequência Rifte nas bacias do Rio do Peixe e do Araripe.
Nestas amostras, a porosidade pode ser dos seguintes tipos: interpartícula, intrapartícula,
móldica, de encolhimento, fratura, vugular e estilólito (Figura 4.14A-F).
Antenor Navarro
Bacia do Rio do Peixe
Sousa Rio Piranhas
TIP
OS
DE
PO
RO
SID
AD
E
Interpartícula
Intrapartícula
Intercristalina
Móldica
Encolhimento
Fratura
Vugular
Estilólito
Bacia do Araripe
Seção Inferior da Fm. Missão Velha Seção Superior da Fm. Missão Velha Abaiara
Tectonossequência Rifte
OR
IGE
M D
AP
OR
OS
IDA
DE
SE
CU
ND
ÁR
IA
Dissolução Parcial
Moldes
Het. do Empacotamento
Poros Agigantados
Poros Alongados
Grãos Alvéolados
Grãos Fraturados
Grãos Corroídos
GE
OM
ET
RIA
Seleção
Distribuição
Orientação
Média da Formação*
Moderada
Heterogênia
Não
14,36
Moderada
Homo-Heterogênia Heterogênia
Não
Boa
Não
17,45 6,36
FO
RM
A Alongada
Equidimensional
Má Má Má
Heterogênia Heterogênia Homo-Heterogênia
NãoNãoSim
4,631,232,35
Figura 4.13 - Quadro comparativo apresentando a análise da porosidade nos arenitos da Tectonossequência Rifte nas bacias estudadas.
* procedimento efetuado no apêndice 1vide
Costa, A. B. S.
61
C
E F
B
D
Figura 4.14 - Fotomicrografias ilustrando os tipos de porosidade encontrados nos arenitos daTectonossequência Rifte das bacias estudadas: A) Interpartícula e móldica; B) Interpartícula e fraturarelacionada à quebra do grão; C) Vugular; D) Móldica; E) Intraparticula, e F) de Encolhimento.
A
Costa, A. B. S.
62
Costa, A. B. S.
63
Embora tais tipos de porosidade estejam presentes de maneira geral nos arenitos estudados,
quando particularizado para cada bacia, notam-se algumas diferenças. A porosidade dos tipos
fratura e vugular (Figura 4.14B e C) encontram-se muito bem marcadas nos arenitos estudados
na Bacia do Araripe, mas com pouca expressão quando comparada aos provenientes da Bacia do
Rio do Peixe. A porosidade do tipo estilólito só foi observada nas rochas da Formação Antenor
Navarro da Bacia do Rio do Peixe.
Com relação à definição da origem, se primária ou secundária, da porosidade
interpartícula, foram encontrados todos os critérios de Schmidt et al. (1977) nos arenitos
estudados provenientes das bacias do Rio do Peixe e Araripe (Figura 4.15A-F). Ressalta-se, no
entanto, que somente os arenitos da Bacia do Araripe contêm grãos alveolados (Figuras 4.13 e
4.15D)
Nos arenitos estudados da Bacia do Rio do Peixe, os poros apresentam-se pobremente
selecionados, contudo, naqueles da Bacia do Araripe, os poros se mostram moderamente
selecionados. Em todos os arenitos estudados os poros exibem forma alongada e
equidimensional, com distribuição heterogênea e sem uma orientação preferencial. Com relação
à porosidade média das rochas estudadas, verificou-se que as rochas da Tectonossequência Rifte
na Bacia do Araripe são aquelas onde a porosidade apresenta maior percentagem quando
comparada com a Tectonossequência Rifte na Bacia do Rio do Peixe (Figuras 4.16A e B).
B
F
DC
E
Figura 4.15 - Fotomicrografias ilustrando os critérios petrográficos utilizados para definir a origem daporosidade presentes nos arenitos das bacias do Rio do Peixe e doAraripe:A) Dissolução parcial dos grãos;B) ; C) Poros alongados; D) Grãos alveolados; E) Grãos fraturados, eF) Grãos corroídos e poros agigantados (seta).
Heterogeneidade do empacotamento
A
Costa, A. B. S.
64
Costa, A. B. S.
A)
B)
Figura 4.16 – Porosidade média dos arenitos estudados, individualizados por formações que compõem a
Tectonossequência Rifte nas bacias do Rio do Peixe e Araripe.
4.5 INTEGRAÇÃO DOS RESUL
Com o intuito de comparar os resultados obtidos
Tectonossequência Rifte nas bacias do Rio do Peixe e do Araripe, foi elaborado um quadro que
apresenta a sequência temporal dos eventos de acordo com as fases diagenéticas, eodiagênese,
mesodiagênese e telodiagênese (
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
Per
cent
agem
méd
ia d
a po
sorid
ade
(%)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Pec
enta
gem
méd
ia d
a P
oros
idad
e (%
)
Porosidade média dos arenitos estudados, individualizados por formações que compõem a
Tectonossequência Rifte nas bacias do Rio do Peixe e Araripe.
INTEGRAÇÃO DOS RESULTADOS DA ANÁLISE DIA GENÉTICA
Com o intuito de comparar os resultados obtidos na análise diagenética dos arenitos da
Tectonossequência Rifte nas bacias do Rio do Peixe e do Araripe, foi elaborado um quadro que
apresenta a sequência temporal dos eventos de acordo com as fases diagenéticas, eodiagênese,
mesodiagênese e telodiagênese (Figura 4.17).
Bacia do Rio do Peixe
Antenor Navarro
Sousa
Rio Piranhas
Bacia do Araripe
65
Porosidade média dos arenitos estudados, individualizados por formações que compõem a
GENÉTICA
na análise diagenética dos arenitos da
Tectonossequência Rifte nas bacias do Rio do Peixe e do Araripe, foi elaborado um quadro que
apresenta a sequência temporal dos eventos de acordo com as fases diagenéticas, eodiagênese,
Antenor Navarro
Sousa
Rio Piranhas
Seção inf. MV
Seção sup. MV
Abaiara
Figura 4.17 - Quadro comparativo apresentando a história diagenética evolutiva dos arenitos da Tectonossequência Rifte preservados nas bacias do Rio do Peixe e Araripe.
Antenor Navarro
Bacia do Rio do Peixe
Sousa Rio Piranhas
1 - Infiltração Mecânica de Argilas
2 - Compactação Mecânica
3 - Compactação Química
4 - Crescimento Secundário de Quartzo
5 - Crescimento Secundário de Feldspatos
6 - Cimento de Calcita
7 - Dissolução
8 - Caulinita Autigênica
9 - Alteração dos Minerais para Ilita eClorita
10 - Precipitação de Minerais Opacos
11 - Oxidação Telodiagenética
Bacia do Araripe
Seção Inferior da Fm. Missão Velha Seção Superior da Fm. Missão Velha Abaiara
Tectonossequência Rifte
TelodiagêneseMesodiagêneseEodiagênese TelodiagêneseMesodiagêneseEodiagênese TelodiagêneseMesodiagêneseEodiagênese TelodiagêneseMesodiagêneseEodiagênese TelodiagêneseMesodiagêneseEodiagênese TelodiagêneseMesodiagêneseEodiagênese
8,99
1,87
39,12
3,32
14,18
1,05
30,22
13,32
2,86
2,83
0,49
3,63
47,41
27,66
0,46
2,30
13,07
1,65
4,64
0,30
< 0,1
48,41
8,35
1,07
5,07
17,72
8,01
0,59
0,29
< 0,1
6,97
18,54
0,74
21,21
3,56
40,05
10,52
3,66
1,83
< 0,1
20,59
5,03
1,37
11,89
1,14
43,93
3,20
< 0,1
46,78
16,05
6,88
1,83
22,01
0,99
0,22
< 0,1
Fases diagenéticas
Eventos diagenéticos
3,2
< 0,1
< 0.1 % 0,1 0,5 % 0,5 10 % 10 30 % 30 50 %
Costa, A. B. S.
66
Costa, A. B. S.
67
A fase de eodiagênese é representada por dois eventos que atuaram em menor ou maior
intensidade nos arenitos estudados, são eles: (1) infiltração mecânica de argilas e, (2) início da
compactação mecânica. A infiltração mecânica de argilas foi um evento de ocorrência ampla,
que atingiu todos os litótipos estudados. Tal fato implica dizer que à época de deposição de tais
rochas, provavelmente o clima era árido. Nestas condições, durante enxurradas episódicas e em
profundidades rasas, as águas meteóricas infiltraram-se transportando consigo argilas detríticas
em suspensão que se decantaram sob a forma de cutículas (contínuas e/ou descontínuas),
meniscos ou massas. Este evento atuou com maior intensidade nos arenitos pertencentes à Bacia
do Araripe (Figuras 4.17 e 4.18A). No decorrer desta fase é iniciada a compactação mecânica, de
igual importância em ambas as bacias estudadas, a qual é evidenciada pela existência de
pseudomatriz (esmagamento), rearranjo textural e fracturamento, que se prolonga até ao início da
fase mesodiagenética.
A mesodiagênese é composta por nove eventos que se manifestaram nos arenitos
estudados de forma distinta, sendo eles: (1) Compactação mecânica; (2) Compactação química;
(3) Crescimentos secundários de Quartzo; (4) Crescimentos secundários de feldspatos; (5)
Cimento de calcita; (6) Dissolução e geração de porosidade secundária; (7) Caulinita autigênica,
e (8) pela Precipitação de minerais opacos.
Esta fase tem início quando o fluido intersticial se isola completamente em virtude do
soterramento dos sedimentos até profundidades maiores e, desta forma, os efeitos das águas
superficiais são praticamente nulos. A compactação mecânica, que teve seu princípio ainda na
eodiagênese, prossegue atuando de forma preponderante nos arenitos da Formação Sousa, com
um percentual de 3,66 (Figuras 4.17 e 4.18A), e nos da seção inferior da Formação Missão
Velha, que registou uma percentagem de 2,86 (Figuras 4.17 e 4.18B). Segue-se então a
compactação química, com a dissolução por pressão intergranular ou em nível da rocha
reconhecida pela presença de contatos côncavo-cônvexos, suturados ou por superfícies
estilolíticas. Este evento foi mais marcante nos arenitos estudados da Bacia do Araripe (Figura
4.18), quando comparada à Bacia do Rio do Peixe. Os crescimentos secundários de quartzo e
feldspatos foram precipitados em torno dos grãos devido à dissolução e posterior circulação de
sílica e cátions nos fluidos intersticiais. Nos arenitos da Bacia do Rio do Peixe os crescimentos
secundários de quartzo obtiveram valores inferiores a 0,1 % (Figuras 4.17 e 4.18A). Já, na Bacia
do Araripe, os percentuais deste evento encontram-se compreendidos entre 0,22 e 0,49 (Figura
4.18).
Costa, A. B. S.
A)
B)
Figura 4.18 – Resultado da análise quantitativa dos produtos diagenéticos nos arenitos estudados da
Tectonossequência Rifte nas bacias
Compactação mecânica; 3. Compactação química; 3. Crescimento secun
secundário de feldspato; 6. Cimento de
minerais para ilita e clorita; 10. Precipitação de minerais opacos, e 11. Oxidação telodiagenêtica.
O crescimento secundário de f
as bacias. Os crescimentos secundários promovem a redução da porosidade
compactação. Com o aumento da profundidade e temperatura, aumentam também as reações
0
10
20
30
40
50
1 2% d
os P
rodu
tos
Dia
gené
ticos
Antenor Navarro
0
10
20
30
40
50
60
1 2
% d
os P
rodu
tos
Dia
gené
ticos
Seção inf. MV
Resultado da análise quantitativa dos produtos diagenéticos nos arenitos estudados da
Tectonossequência Rifte nas bacias do Rio do Peixe e do Araripe: 1. Infiltração mecânica de argilas; 2.
Compactação mecânica; 3. Compactação química; 3. Crescimento secundário de
eldspato; 6. Cimento de calcita; 7. Dissolução; 8. Caulinita autigênica; 9. Alteração dos
lorita; 10. Precipitação de minerais opacos, e 11. Oxidação telodiagenêtica.
feldspato é um evento de pouca importância nos arenitos em ambas
as bacias. Os crescimentos secundários promovem a redução da porosidade
compactação. Com o aumento da profundidade e temperatura, aumentam também as reações
2 3 4 5 6 7 8 9 10
Eventos Diagenéticos
Bacia Rio do Peixe
Antenor Navarro Sousa Rio Piranhas
2 3 4 5 6 7 8 9 10
Eventos Diagenéticos
Bacia do Araripe
Seção inf. MV Seção sup. MV Abaiara
68
Resultado da análise quantitativa dos produtos diagenéticos nos arenitos estudados da
do Rio do Peixe e do Araripe: 1. Infiltração mecânica de argilas; 2.
dário de quartzo; 4. Crescimento
alcita; 7. Dissolução; 8. Caulinita autigênica; 9. Alteração dos
lorita; 10. Precipitação de minerais opacos, e 11. Oxidação telodiagenêtica.
eldspato é um evento de pouca importância nos arenitos em ambas
as bacias. Os crescimentos secundários promovem a redução da porosidade remanescente da
compactação. Com o aumento da profundidade e temperatura, aumentam também as reações
10 11
10 11
Costa, A. B. S.
69
químicas e a calcita mesodiagenética é precipitada. Analisando a Figura 4.17, pode-se inferir que
estas reações químicas foram mais intensas nos arenitos da Bacia do Rio do Peixe, mais
concretamente naqueles da Formação Rio Piranhas, e ausentes nos arenitos da Bacia do Araripe
(Figuras 4.18A e B). A dissolução dos grãos e cimentos do arcabouço ocorre devido à circulação
dos fluidos intersticiais, os grãos atuaram com mais intensidade nos arenitos da Bacia do Araripe
atingindo um valor médio aproximado de 44 %. Caso contrário foi visualizado nos arenitos das
formações Antenor Navarro e Sousa, pertencentes à Bacia do Rio do Peixe. As rochas da
Formação Rio Piranhas apresentam um valor anômalo (Figura 4.17), quando comparado com os
valores das rochas das formações restantes (Figura 4.17). No caso da caulinita autigênica, quer
seja aquela decorrente da precipitação de silicatos instáveis ou aquela que atua como mineral de
substituição, estas apresentam valores mais elevados na Bacia do Araripe, mais concretamente
nas rochas da seção superior da Formação Missão Velha. Contudo, com relação à alteração dos
minerais para ilita e clorita, a maior percentagem deste evento foi verificada nos arenitos
estudados da Bacia Rio do Peixe (Figuras 4.17 e 4.18A). Estes processos atuam no sentido de
reduzir a porosidade secundária, anteriormente gerada. Por fim, na Bacia do Rio do Peixe
observa-se uma maior percentagem de ocorrência de precipitação de minerais opacos.
A telodiagênese é representada por um único evento diagenético, expresso pela oxidação
telodiagenética. Este processo mostrou-se mais atuante nas rochas da Bacia do Rio do Peixe em
relação às rochas da Bacia do Araripe, o que permite afirmar que as alterações físico-químicas
dos fluidos intersticais foram mais elevadas relativamente à Bacia do Rio do Peixe (Figuras 4.17
e 4.18A).
Capítulo V - Estudos de Proveniência
Costa, A. B. S.
70
5 ESTUDOS DE PROVENIÊNCIA
5.1 PROVENIÊNCIA: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Os estudos sobre a proveniência de uma rocha têm como principal objetivo a
identificação das principais áreas fontes, assim como a rota de transporte dos diversos
sedimentos (Dickinson, 1984).
A identificação de rochas-fonte é, muitas vezes, problemática. Embora a tectônica exerça
o controle primário na composição de rochas siliciclásticas (Dickinson et al., 1984), fatores
como o relevo, clima, mecanismo de transporte, ambiente deposicional, mudanças diagenéticas
constituem controles secundários também importantes (Dickinson, 1984; Figura 5.1). Tais
fatores causam o fracionamento dos minerais em função da sua forma, densidade, resistência
física e estabilidade química, levando à perda parcial de informações de proveniência (Morton,
1985a, Morton & Hallsworth, 1994, 1999 apud Mendes & Truckenbrodt, 2009).
Figura 5.1 - Fatores que controlam a proveniência (Modificado de Zuffa, 2003).
O estudo de proveniência teve como base a análise quantitativa da mineralogia presente
na lâmina delgada, utilizando-se a técnica de Gazzi-Dickinson (Dickinson, 1985).
Existem dois métodos distintos para o tratamento dos fragmentos de rocha durante a
contagem de pontos (Zuffa, 1980; Ingersoll et al., 1984). No primeiro método todos os grãos
policristalinos com dimensão inferior a 0,0625mm são contados como fragmentos líticos.
Quando os cristais atingem uma dimensão superior, os mesmos podem ser separados em
minerais individuais para a referida análise (Dickinson, 1984; Figura 5.2).
Costa, A. B. S.
71
Figura 5.2 - Método de Gazzi-Dickinson (Gazzi, 1996; Dickinson, 1970 apud Leitão et al., 2007).
Para a classificação, os fragmentos são agrupados de acordo com a sua provável
proveniência (Tabela 1). Sendo assim os grãos são recalculados para 100%, com o somatório do
Qm (quartzo monocristalino), Qp (quartzo policristalino), P (plagioclásio), K (feldspato
potássico), Lv (fragmentos vulcânicos) e Ls (fragmentos sedimentares). Os grãos produzidos na
própria bacia deposicional são ignorados nesta contagem assim como os minerais pesados. Isto
ocorre, no caso dos minerais pesados, pelo fato dos mesmos reagirem de maneira diferente às
influências hidrodinâmicas e geoquímicas, o que faz com que a sua distribuição seja variável.
Tabela 1. Classificação e simbologia adotada para os tipos de grãos (Dickinson, 1985).
A. Grãos de Quartzo (Qt = Qm + Qp)
Qt = total de grãos de Quartzo
Qm = Quartzo monocristalino (> 0,625mm)
Qp = Quartzo policristalino (ou calcedônia)
B. Grãos de Feldspatos (F = P + K)
F = total de grãos de Feldspatos
P = grãos de Plagioclásio
K = grãos de Feldspatos potássico
C. Fragmentos líticos instáveis ( L = Lv + Ls)
L = total de Fragmentos líticos instáveis
Lv = Fragmentos líticos vulcânicos
Ls = Fragmentos líticos sedimentares
D. Total de Fragmentos líticos ( Lt = Lv + Qp)
Costa, A. B. S.
72
Uma vez realizada a contagem de pontos, procede-se à plotagem das percentagens em
diagramas triangulares (Dickinson & Suczek,1979; Figura 5.3).
Uma vez plotados, cada ponto pode ser interpretado como a junção de três identidades
distintas, e é nesse ponto triplo que está evidenciado o ambiente de proveniência (Tabela 2),
assim como a maturidade mineralógica e a instabilidade química.
Tabela 2. Tipos de proveniência e aspectos composicionais das areias (Dickinson, 1985).
Tipos de Proveniência
Ambiente Tectônico
Composição das areias geradas
Interior Cratônico
Intracontinental ou plataforma passiva
Areias quartzosas (ricas em Qt) com
altas razões de Qm/Qp e K/P
Soerguimento Rifte ou ruptura transformante
Areias quartzo-feldspáticas (Qm-F)
pobres em Lt e Qp, similares à area-
fonte
Arco magmático Arco de ilhas ou arco continental
Areias feldspato-líticas (F-L)
vulcanoclásticas com altas razões P/K e
Lv/Ls, gradando para areias
quartzo-feldspáticas derivadas de
batólitos
Orógenos Reciclados
Cinturão de empurrões ou complexo de
subducção
Areias quartzo-líticas (Qt-Lt) ricas em
Ls (sedimentares e meta-sedimentares),
pobres em F e Lv, com razões variáveis
de Qm/Qp e Qp/L
5.2 ANÁLISE DA PROVENIÊNCIA
5.2.1 Apresentação dos Resultados
Para a análise da proveniência dos arenitos estudados, pertencentes à Tectonossequência
Rifte nas bacias do Rio do Peixe e Araripe, foram utilizados os diagramas QtFL e QmFLt
(Figuras 5.4 e 5.5). O primeiro diagrama é amplamente aplicado para separar os tipos principais
de áreas-fonte e o segundo detalha as diferentes fontes de orógenos reciclados (Leitão et. al.,
2007).
Qt
F L
Qt
LF
Qm
F Lt
Qm
F Lt
Cratón Interior
Transição Continental
Orógenosreciclados
Soerguimento doEmbasamento
ArcoTransicional
Cratón Interior
Transição Continental
Soerguimento doEmbasamento
ReciclagemQuartzosa
ReciclagemTransicional
ReciclagemLítica
Misto
Proveniência de blocos continentais em cratónsestáveis ou atravésdo soreguimento do
embasamento
Proveniência de orógenosreciclados
Incremento de materialproveniente do continenterelativamente ao oceânico
Decréscimo da maturidadeou estabilidade
Proveniência dearco magmático
Proveniênciade blocos continentais
Orógenos reciclados
Misto
Campo para rochas maturascom níveis estáveis
Incremento narazão para
quartzochert
Incremento narazão entre a área
fonte plutônica para vulcânica
Campo para embasamentoplutónico e arcos profundos
A
C D
B
Figura 5.3 - Diagramas triangulares utilizados para o estudo da proveniência dos arenitos da Tectonossequência Riftenas bacias do Rio do Peixe e do Araripe: A e B) Diagramas QtLF e, C e D) Diagramas QmLtF (Modificado deDickinson & Suczek, 1979).
ArcoDissecado
Arconão Dissecado
ArcoDissecado
ArcoTransicional
Arconão Dissecado
Costa
,A
. B. S
.
73
Figura 5.4 - Distribuição média dos grãos detríticos para arenitos com diferentes tipos de proveniênciaplotado em diagrama triangular padrão QtFL da Tectonossequência Rifte (Modificado Dickinson &Suczek, 1979):A) Bacia do Rio do Peixe, e B) Bacia doAraripe.
B Qt
F
Qt
L
A Qt
F L
Qt
Formação Rio Piranhas
Formação Sousa
Formação Antenor Navarro
Legenda:
Formação Abaiara
Seção Superior da Formação Missão Velha
Seção Inferior da Formação Missão Velha
Legenda:
1
1
2
3
2
3
1
2
3
Proveniência de blocos continentais
Proveniência de orógenos reciclados
Proveniência de arcos magmáticos
1
2
3 3
1
2 1
2
3
Proveniência de blocos continentais
Proveniência de orógenos reciclados
Proveniência de arcos magmáticos
Costa, A. B. S.
74
Figura 5.5 - Distribuição média dos grãos detríticos para arenitos com diferentes tipos de proveniênciaplotado em diagrama triangular padrão QmFLt da Tectonossequência Rifte
:A) Bacia do Rio do Peixe, e B) Bacia doAraripe.(Modificado Dickinson &
Suczek, 1979)
Qm
F
B Qm
Lt
A Qm
F
Qm
Lt
Formação Rio Piranhas
Formação Sousa
Formação Antenor Navarro
Legenda:
1
2
3
Proveniência de blocos continentais
Proveniência de orógenos reciclados
Proveniência de arcos magmáticos1
1
2 2
33
1
1
2 2
33
Formação Abaiara
Seção Superior da Formação Missão Velha
Seção Inferior da Formação Missão Velha
Legenda:
1
2
3
Proveniência de blocos continentais
Proveniência de orógenos reciclados
Proveniência de arcos magmáticos
Costa, A. B. S.
75
Costa, A. B. S.
76
Considerando o contexto regional das áreas em estudo, bem como os princípios que
nortearam a metodologia empregada (Dickinson & Suczek, 1979; Dickinson et al., 1979;
Dickinson, 1985), a proveniência do interior cratônico fica pré-estabelecida, sendo que variações
em direção a outros campos (“orógenos reciclados”, “transição continental”, “orógenos
colisionais” e outros) podem refletir, entre outras coisas, a exposição de níveis cratônicos
profundos (uma fonte cratônica desprovida de coberturas sedimentares que envolvam uma prévia
reciclagem dos constituintes minerais).
Os valores percentuais das amostras, quando plotados nos diagramas QtFL (Figura 5.4) e
QmFLt (Figura 5.5), revelaram que a quase totalidade das rochas estudadas apresenta
proveniência continental, mais concretamente do cratón interior, à exceção da seção superior da
Formação Missão Velha, cuja projeção no diagrama QmFLt indicou proveniência da região de
transição continental.
A aplicação do diagrama ternário QtFL para as amostras provenientes da Bacia do Rio do
Peixe tornou possível separar dois campos distintos, um mais próximo ao vértice Qt (quartzo
total), o qual indica maior maturidade mineralógica e estabilidade química, onde ficaram
plotadas as amostras das formações Rio Piranhas e Sousa, e outro, que revela menor maturidade
mineralógica e estabilidade química, comparativamente, onde ficaram plotadas as amostras da
Formação Antenor Navarro (Figura 5.4). Para as amostras oriundas da Bacia do Araripe, o
emprego do diagrama QmFLt permitiu também caracterizar dois campos, um adjacente do
vértice Qm, onde caíram as amostras da seção inferior da Formação Missão Velha e da
Formação Abaiara, e outro campo, mais distante, que indica menor maturidade mineralógica e
estabilidade química, onde se posicionaram as amostras da seção superior da Formação Missão
Velha (Figura 5.5).
5.2.2 Interpretação dos Resultados
A interpretação destes resultados levou em consideração uma série de fatores que
incluem: (1) a mineralogia presente nas áreas fontes, (2) os sistemas de cada formação estudada,
(3) a distância de transporte dos sedimentos e (4) a localização no mapa geológico de onde foi
coletada a amostra, a qual fornece informações sobre a posição estratigráfica da mesma. Todos
estes parâmetros isolados ou integrados, podem explicar as tendências de maior ou menor
maturidade mineralógica e estabilidade química ilustrados nos diagramas ternários
confeccionados.
Costa, A. B. S.
77
Analisando-se primeiramente os resultados obtidos para os arenitos estudados da Bacia
do Rio do Peixe, dando ênfase à geologia das áreas-fontes e a distância percorrida pelos
sedimentos desde as áreas de proveniência até o local de deposição, várias inferências podem ser
tecidas. Os arenitos da Formação Antenor Navarro da Bacia do Rio do Peixe, como relatado no
capítulo 3 (vide Figura 3.4), representam as porções proximais de um sistema fluvial distributário
e, portanto, encontram-se adjacentes às áreas de proveniência. As mesmas, como comprovam as
paleocorrentes obtidas nas rochas desta formação, que indicam paleofluxo predominantemente
para SE, incluem em maior frequência, rochas graníticas, onde os minerais feldspáticos são mais
frequentes, terrenos gnáissicos, rochas metassedimentares de alto grau. Tal fato pode justificar a
menor maturidade mineralógica e estabilidade química encontrados nesta unidade. Para as
rochas da Formação Sousa, apesar das mesmas constituírem as porções distais do mesmo sistema
fluvial distributário e, portanto, apresentarem mesma proveniência da Formação Antenor
Navarro, a mineralogia presente nas áreas-fontes não se revelou fator determinante, uma vez que
os sedimentos sofreram um grande transporte até o local de deposição e, graças a isso, os
feldspatos e outros minerais menos resistentes física e quimicamente foram sendo reduzidos. Isto
pode explicar a maior maturidade mineralógica e estabilidade química encontrados no diagrama
para esta unidade. Para os arenitos da Formação Rio Piranhas, que caracterizam a deposição de
sistemas de leques aluviais provenientes da margem falhada, como atestam as paleocorrentes
obtidas nestas rochas, que indicam sentido predominantemente para NE e NW, a área de
proveniência é caracterizada por rochas metassedimentares pobres em feldspatos. Aliado a isso,
as amostras coletadas nesta unidade encontram-se próximas à transição com litótipos da
Formação Sousa e, portanto, constituem as porções mais distais dos leques aluviais. Estes
aspectos se refletem nos resultados encontrados nestas rochas que indicam maior maturidade
mineralógica e estabilidade química.
No caso dos arenitos da Bacia do Araripe, a análise dos resultados levou em consideração
principalmente os sistemas deposicionais que se sucederam durante a evolução do intervalo
cronoestratigráfico estudado, pelo fato dos mesmos serem bem mais diversificados. As áreas de
proveniência na Bacia do Araripe, sejam as que ocupam as porções a sul ou a norte do Vale do
Cariri, quando comparadas às da Bacia do Rio do Peixe, são representadas por uma menor
proporção de granitos, uma maior representatividade de rochas metamórficas de baixo grau,
quartzo-micáceas, além de rochas vulcânicas, como também as coberturas sedimentares mais
antigas, que incluem as rochas areníticas e pelíticas das formações Mauriti e Brejo Santo. Tudo
isso confere uma maior complexidade mineralógica e explica a maior quantidade de minerais
filossilicatos (muscovita, biotita e clorita) e resistatos (granada, zircão, esfeno, epídoto,
Costa, A. B. S.
78
estaurolita e turmalina) encontradas em todas as rochas estudadas. Com relação aos sistemas
deposicionais, assim como foi apresentado no capítulo 3 (vide Figura 3.8), tem-se que os arenitos
da seção inferior da Formação Missão Velha caracterizam sistemas fluviais arenosos,
entrelaçados a meandrantes; aqueles da seção superior da Formação Missão Velha representam
sistemas fluviais arenosos a cascalhosos entrelaçados e que os arenitos e pelitos da Formação
Abaiara representam sistemas deltaicos e fluviais meandrantes. A textura mais grossa dos
arenitos da seção superior da Formação Missão Velha e o fato dos mesmos se relacionarem aos
sistemas mais proximais de um sistema fluvial entrelaçado, dentre os demais interpretados para
as formações restantes pode explicar a menor maturidade mineralógica e estabilidade química
relevada nos diagramas ternários elaborados.
5.2.3 Inferências sobre evolução do Estágio Rifte nas bacias estudadas
Analisando os resultados encontrados, levando em consideração que tais unidades se
depositaram durante o Estágio Rifte e observando a posição estratigráfica dos afloramentos, com
base nos mapas geológicos de ambas as bacias, várias inferências podem ser feitas, no sentido de
corroborar as interpretações tectônicas e estratigráficas tecidas sobre a evolução deste estágio nas
bacias estudadas.
No Estágio Rifte, o tectonismo tem um papel fundamental na taxa de rejuvenescimento
das áreas-fontes, na implantação e evolução dos sistemas deposicionais e no estabelecimento das
rotas de fluxo. Todos estes aspectos estão muito bem marcados nos parâmetros texturais das
rochas sedimentares depositadas durante este estágio, os quais são expressos pelo
arredondamento, esfericidade, maturidade mineralógica e textural, parâmetros estes que irão dar
indicações de uma maior ou menor estabilidade física e química destas rochas.
O Estágio Rifte, como já reconhecido por diversos autores (vide discussões no item 2.4.2
capítulo 2), se desenrola durante fases evolutivas, as quais podem ser genericamente referidas
como fase inicial, fase de clímax e fase de preenchimento ou assoreamento do rifte. No início do
rifte, formam-se amplas bacias de fluxo contínuo e, como tal, não há uma mudança expressiva na
área-fonte. Esta fase não promove mudanças significativas nos parâmetros texturais das rochas
depositadas. Com o decorrer do rifteamento, no entanto, e já em uma fase de clímax, a taxa mais
elevada de rejuvenescimento das áreas-fontes e a maior subsidência, promovidas pela geração de
falhas mais expressivas e de maiores rejeitos, acarretarão em uma redefinição nos padrões de
drenagem. Estas mudanças irão conduzir a uma grande modificação nos parâmetros texturais das
rochas depositadas nesta fase, onde se inclui aumento na granulometria, produção de grãos
Costa, A. B. S.
79
comparativamente mais angulososos e um pior selecionamento, o que resulta assim em uma
menor maturidade textural aliada a uma menor maturidade mineralógica. Em uma fase final, de
preenchimento ou assoreamento do rifte, a tectônica se torna menos ativa, as taxas de
rejuvenescimento das áreas-fontes decrescem e os sistemas deposicionais se estabilizam. Com
isso, as rochas geradas nesta fase tendem a mostrar uma maior maturidade mineralógica e
textural e uma maior estabilidade química.
Os resultados obtidos com base nos estudos de proveniência dos arenitos da
Tectonossequência Rifte, nas bacias em questão, mais especificamente, os valores de maturidade
mineralógica e estabilidade química encontrados para tais rochas, permitiram associá-las, e as
formações as quais elas pertencem, a cada uma das fases evolutivas do Estágio Rifte. Neste
escopo, tem-se, para as bacias do Rio do Peixe e do Araripe, a seguinte sequência evolutiva
(Figura 5.6 e 5.7):
A) Fase de Início do Rifte
Esta fase é caracterizada por uma maior maturidade mineralógica e maior estabilidade
química das rochas. Na Bacia do Rio do Peixe, esta fase não pôde ser particularizada em
virtude do número reduzido de amostras estudadas, contudo, estudos recentes realizados
por Nunes da Silva (2009) indicam que a parte mais basal da Formação Antenor Navarro,
aflorantes nas porções mais proximais das margens flexurais dos semi-grabens desta
bacia, está inserida no Trato de Sistemas de Inicio de Rifte (Figura 5.6B). Na Bacia do
Araripe, esta fase está sendo associada aos arenitos de origem fluvial meandrante a
entrelaçado da seção inferior da Formação Missão Velha (Figura 5.7).
B) Fase de Clímax do Rifte
Esta fase é representada por uma menor maturidade mineralógica e menor estabilidade
química das rochas, reflexo da presença de um maior percentual de feldspatos. Com base nas
amostras estudadas, esta fase está sendo aqui associada aos arenitos fluviais entrelaçados da
Formação Antenor Navarro. Ressalta-se, no entanto, que conforme mapeado sismicamente por
Nunes da Silva (2009), esta fase compreende em subsuperfície um intervalo que inclui
sismofácies equivalentes às formações Antenor Navarro, Sousa e Rio Piranhas, uma vez que as
mesmas ocorrem interdigitadas. No entanto, a porção deste intervalo mapeado em subsuperfície
(vide linha sísmica na Figura 5.6B) quando projetado para a superfície coincide com a maior
parte da área aflorante da Formação Antenor Navarro e, sendo assim, a interpretação aqui tecida
confirma a interpretação prévia.
530000 545000 560000 575000 590000 605000 620000
92
50
00
09
26
50
00
92
80
00
0
37°50'0"W38°0'0"W38°10'0"W38°20'0"W38°30'0"W38°40'0"W
6°3
0'0
"S6
°40'0
"S
0 5 10km
Semi-grabende Icozinho
Semi-graben deBrejo das Freiras
Semi-grabende Sousa
Semi-grabende Pombal
Falha de São Gonçalo
Poço
Umari
Triunfo
Uirauna
Santa Helena
Brejo das Freiras
Sousa
Aparecida
Marizópolis
Varginha
Cacaré
São Gonçalo
Pro
ven
iênci
a em
blo
cos
conti
nen
tais
Crá
ton i
nte
rior
.T
erre
mos
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och
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sedim
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alto
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u. R
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Sis
tem
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NE
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och
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sedim
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res
Tra
nsp
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oder
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Pouco
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aturi
dad
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esta
bil
idad
e
Bac
ia d
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eixe
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anhas
Sousa
Ante
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arro
A
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FORMAÇÃO SOUSAFORMAÇÃO
ANTENOR NAVARRO FORMAÇÃO SOUSAFORMAÇÃO ANTENOR NAVARROFORMAÇÃO RIO
PIRANHASFORMAÇÃO
RIO PIRANHAS
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
SEMI-GRÁBEN DE BREJO DAS FREIRAS SEMI-GRÁBEN DE SOUSA
0km
2
B
Figura 5.6 - Síntese dos estudos de proveniência dos arenitos da Tectonossequência Rifte na Bacia do Rio do Peixe com base nos resultados de maturidademineralógica e estabilidade química. Tais resultados suportam a sismostratigrafia realizada por Nunes da Silva (2009).A) Mapa Geológico da Bacia do Rio do Peixe(Córdoba ., 2008); B) Seção sísmica de direção NW-SE evidenciando os tratos de sistemas tectônicos (Modificado de Nunes da Silva, 2009).et al
TST de iniciode rifte
TST de clímaxdo rifte
TST depreenchimento
de rifte
TST de iniciode rifte
80
Costa
,A
. B. S
.
Pro
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iênci
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trel
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taic
o e
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Figura 5.7 - Síntese dos estudos de proveniência dos arenitos da Tectonossequência Rifte na Bacia doAraripe com base nos resultados de maturidade mineralógica e estabilidade química, os quais suportaminterpretações anteriores sobre a divisão do Estágio Rifte nas fases de Ínicio, Clímax e de Preenchimento.
Costa, A. B. S.
81
Costa, A. B. S.
82
Na Bacia do Araripe, esta fase de clímax do Rifte está sendo associada à deposição dos arenitos
fluviais entrelaçados da seção superior da Formação Missão Velha (Figura 5.7), rocha que dentre
as demais, são as que apresenta os maiores valores de maturidade mineralógica e estabilidade
química.
C) Fase de Preenchimento do Rifte
Esta Fase é caracterizada por uma maior maturidade mineralógica e maior estabilidade
química das rochas. Na Bacia do Rio do Peixe, esta fase está sendo associada às rochas de
planície aluvial distal da Formação Sousa e aos arenitos da porção distal de leques aluviais da
Formação Rio Piranhas. Nunes da Silva (2009), como pode ser observado na Figura 5.6B, insere
também nesta fase de preenchimento parte da Formação Antenor Navarro, porção esta que se
interdigita com a Formação Sousa (Figura 5.6B). Na Bacia do Araripe, os elevados valores de
maturidade mineralógica e estabilidade química são explicados pela origem deltaica e fluvial
meandrante dos arenitos estudados pertencentes à Formação Abaiara, sistemas estes que
denotam um maior transporte de sedimentos quando comparados aos sistemas das unidades
sotopostas.
Ressalta-se, por fim, que tais interpretações ainda estão no campo de inferência, porém
confirmam as interpretações de trabalhos anteriores no que tange ao detalhadamento da evolução
tectono-sedimentar do Estágio Rifte destas bacias.
Capítulo VI - Conclusão
Costa, A. B. S.
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A análise faciológica dos arenitos estudados na Bacia do Rio do Peixe permitiu
identificar nove fácies distintas, sendo uma conglomerática, quatro areníticas e quatro pelíticas.
A associação destas fácies possibilitou interpretar que o cenário deposicional que se estabeleceu
durante a deposição das formações Antenor Navarro e Sousa era representado por sistemas
fluviais distributários, os quais associavam-se lateralmente a leques aluviais provenientes da
margem falhada, representados pelas associações de fácies da Formação Rio Piranhas. A Bacia
do Araripe, por sua vez, é composta por dez fácies onde uma é conglomerática, sete são
areníticas e duas são pelíticas. O estudo das associações de fácies tornou possível interpretar que
a seção inferior da Formação Missão Velha representa sistemas fluviais entrelaçados a
meandrantes; que a seção superior da Formação Missão Velha constitui sistemas fluviais
entrelaçados e, que a Formação Abaiara representa sistemas deltaicos que evoluem para o topo,
para sistemas fluviais meandrantes.
Petrograficamente, os arenitos estudados em ambas as bacias apresentam grãos com
composição mineralógica variável, predominando o Quartzo, Feldspatos e Fragmentos de rochas.
Ocorrem também, minerais do grupo dos filossilicatos como a Muscovita, Biotita e Clorita,
assim como, alguns minerais resistatos, representados pela Turmalina, Esfeno e Zircão, presentes
em ambas as bacias e, particularmente, na Bacia do Araripe, além destes, a Estaurolita, Granada
e Epídoto. A matriz identificada em todas as rochas estudadas é formada por argilominerais
infiltrados e pseudomatriz. Os cimentos evidenciados nas rochas que integram todas as
formações da Bacia do Rio do Peixe estão representados por cimentos carbonáticos e
ferruginosos, além de crescimentos secundários de Quartzo. Na Bacia do Araripe, as rochas das
Formação Missão Velha exibem cimentos ferruginosos, assim como crescimentos secundários de
Quartzo e Feldspatos. As rochas da Formação Abaiara, por sua vez, contêm além de
crescimentos secundários de Quartzo, cimentos ferruginosos e de argilominerais. A análise
modal permitiu classificar os litótipos estudados, em ambas as bacias, como Quartzarenitos.
Com base na análise diagenética das rochas estudadas foi possível identificar nove
processos distintos que foram agrupados nos estágios de eo, meso e telodiagênese. O estágio de
eodiagênese é marcado pela infiltração mecânica de argilas e o início da compactação mecânica.
Tais processos, principalmente a infiltração mecânica de argilas, atuaram com mais intensidade
nos arenitos pertencentes à Bacia do Rio do Peixe. O estágio mesodiagenético é caracterizado
pela continuidade da compactação mecânica e o início dos eventos de compactação química,
crescimentos secundários de quartzo e de feldspatos, geração de Caulinita autigênica, alteração
dos grãos do arcabouço para Clorita e Ilita e, por fim, precipitação de minerais opacos. Os
processos diagenéticos deste estágio agiram de forma diferenciada nas rochas que integram as
Costa, A. B. S.
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bacias estudadas. Os processos mesodiagenéticos que atuaram de forma mais significativa nos
arenitos da Bacia do Rio do Peixe foram a precipitação de mosaicos de calcita espática nos
espaços intersticiais e a alteração dos grãos e, subordinadamente, da matriz para Clorita e Ilita.
Já, na Bacia do Araripe, os arenitos foram principalmente submetidos a crescimentos
secundários de Feldspatos e dissolução com geração de porosidade secundária; o que explica os
valores mais elevados obtidos para a porosidade nesta bacia. O estágio telodiagenético, por sua
vez, é representado pela oxidação parcial de grãos, matriz e cimentos; tal estágio encontra-se
bastante evidente na Bacia do Rio do Peixe.
Os estudos de proveniência utilizando-se os diagramas QtFL e QmFLt revelaram que as
rochas estudadas apresentam proveniência continental, com a grande maioria delas indicando
proveniência do cráton interior. A aplicação destes diagramas possibilitou também destacar
aquelas rochas com maior maturidade mineralógica e estabilidade química, que se concentram
nas formações Sousa e Rio Piranhas, na Bacia do Rio Peixe, e na seção inferior da Formação
Missão Velha e Formação Abaiara, na Bacia do Araripe. As amostras da Formação Antenor
Navarro, na Bacia do Rio do Peixe, e as da seção superior da Formação Missão Velha, na Bacia
do Araripe, exibem menor maturidade mineralógica e estabilidade química. A menor maturidade
mineralógica e estabilidade química encontradas nos arenitos da Formação Antenor Navarro
pode ser justificado pelo fato dos mesmos representarem as porções mais proximais de um
sistema fluvial distributário, adjacente às áreas-fontes ao norte/NW da bacia compostas por
rochas ricas em feldspatos. Para as rochas da Formação Sousa os maiores valores encontrados
podem ser explicados pela maior distância de transporte dos sedimentos. No caso dos arenitos da
Formação Rio Piranhas, que caracterizam um sistema de leques aluviais provenientes de
margens falhadas, a maior maturidade das amostras coletadas na porção distal dos leques
provavelmente reflete uma combinação de maior transporte e a ocorrência demicaxistos (rochas
pobres em feldspatos) na área fonte, a sul da bacia. Na Bacia do Araripe, os arenitos da seção
inferior da Formação Missão Velha constituem sistemas fluviais arenosos, entrelaçados a
meandrantes; os da seção superior da Formação Missão Velha caracterizam sistemas fluviais
arenosos a cascalhosos entrelaçados, e os arenitos e pelitos da Formação Abaiara representam
sistemas deltaicos e fluviais. A menor maturidade mineralógica e estabilidade química
evidenciada na seção superior da Formação Missão Velha pode ser explicada pelo fato desta
estar relacionada a sistemas mais proximais relativamente às demais formações. Os resultados
obtidos com base nos valores da maturidade mineralógica e estabilidade química permitiram
associar as formações estudadas a cada uma das fases evolutivas do estágio rifte. Assim, foi
possível relacionar as amostras estudadas da seção inferior da Formação Missão Velha, na Bacia
Costa, A. B. S.
85
do Araripe, à Fase de Início do Rifte; as da seção superior da Formação Missão Velha, na Bacia
do Araripe, e as da Formação Antenor Navarro, na Bacia do Rio do Peixe à Fase de Climax do
Rifte e as das formações Sousa e Rio Piranhas, na Bacia do Rio do Peixe, e as das Formação
Abaiara, na Bacia do Araripe, à Fase de Preenchimento do Rifte.
Referências Bibliográficas
Costa, A. B. S.
86
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Apêndices
Costa, A. B. S.
Apêndice 1 – Procedimentos para o cálculo da porosidade média dos arenitos estudados.
Para a obtenção do valor da porosidade média dos arenitos das formações da
Tectonossequência Rifte nas bacias do Rio do Peixe e Araripe foi utilizado o programa Corel
PHOTO-PAINT X3, realizando os seguintes procedimentos:
1) File � open � foto
2) Image � histogram � pixels (o valor observado é o número total de pixels que a
fotomicrografia apresenta).
3) Adjust � replace colours � old colour (clicar com o conta gotas no local da lâmina
onde existe porosidade que, neste caso, está representada pela cor azul) � new colour
(clicar com o contas gotas nos pixels com cor azul, e substituir por uma outra cor para
uma melhor visualização do espaço interpartícula, por exemplo, amarelo) � range
(utilizado, se necessário, para realizar um ajuste visando uma maior precisão da
informação) � ok.
Costa, A. B. S.
4) Mask � color mask (clicar com o conta gotas em qualquer dos pixeis amarelos) � ok
(neste passo, vão ser contabilizados os pixels amarelos que representam o espaço
poroso).
5) Image � histogram � pixels (neste caso, obtem-se somente o número de pixels com
cor amarela).
6) Dividir o número de pixels final pelo inicial, multiplicando por 100, tem-se a porosidade
média para a referida lâmina.
Nota: Para cada lâmina foram tiradas 20 fotomicrografias numa sequência predefinida de
modo a não haver repetições. Por fim, efetuou-se a média para aquela lâmina, e
posteriormente, para toda a formação estudada.