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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA Programa de Pós-Graduação em Ciências Climáticas ANÁLISE DO BALANÇO DE ENERGIA ENTRE A INTERFACE ATMOSFERA- GELO-ÁGUA SOBRE O MAR DE WEDDELL FRANCISCO AGUSTINHO DE BRITO NETO NATAL RN Outubro 2017

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · oceano com a cobertura do gelo marinho, mas sem deposição de neve. ... Figura 9 - Esquema exemplificando como calcula o balanço

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

Programa de Pós-Graduação em Ciências Climáticas

ANÁLISE DO BALANÇO DE ENERGIA ENTRE A INTERFACE ATMOSFERA-GELO-ÁGUA SOBRE O MAR DE WEDDELL

FRANCISCO AGUSTINHO DE BRITO NETO

NATAL RN Outubro 2017

ANÁLISE DO BALANÇO DE ENERGIA ENTRE A INTERFACE ATMOSFERA-GELO-ÁGUA EM TORNO DO MAR DE WEDDELL

FRANCISCO AGUSTINHO DE BRITO NETO

Dissertação de mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Ciências

Climáticas, do Centro de Ciências Exatas e da Terra

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

como parte dos requisitos para obtenção do título de

Mestre em Ciências Climáticas.

Orientador: Professor David Mendes

Co-orientador: Professora Maria Helena Constantino Spyrides

COMISSÃO EXAMIDADORA

Prof. David Mendes (UFRN)

Profa. Maria Helena Constantino Spyrides (UFRN)

Prof. Cláudio Moisés Santos e Silva (UFRN)

Prof. Márcio Machado Cintra (UFRN)

Prof. Weber Andrade Gonçalves (UFRN)

Prof. Paulo Nobre (INPE)

NATAL RN

Outubro 2017

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, os maiores amores da minha vida a quem dedico todas as minhas

vitórias

A Glícia Ruth, companheira de todos os momentos, pela compreensão e carinho ao

longo do período de elaboração deste trabalho.

Ao meu orientador David Mendes, professor exemplar, me orientou de forma eficaz,

entendendo minhas dificuldades e comemorando as minhas vitórias.

AGRADECIMENTOS

Por inúmeras conquistas na minha vida, venho por meio deste comunicado

agradecer a Deus que permitiu que tudo isso acontecesse, ao longo de minha vida, e

não somente nestes 7 anos como universitário, mas que em todos os momentos é o

maior mestre que alguém pode conhecer.

Agradeço do fundo do meu coração a minha mãe Rita Paula de Brito Silva, ao

meu pai Lenilson Cardoso da Silva e a minha Avó materna Antônia Mandu de Brito

por ter me mostrado o caminho correto na vida, incentivando nas horas difíceis, de

desânimo e cansaço.

Agradeço a todos os professores do Departamento de Ciências Atmosféricas e

Climáticas (DCAC) por me proporcionar o conhecimento não apenas racional, mas a

manifestação do caráter e efetividade da educação no processo de formação

profissional em Meteorologia, por tanto que se dedicaram a mim, não somente por

terem me ensinado, mas por terem me feito aprender. A palavra mestre, nunca fará

justiça aos professores dedicados aos quais sem nominar os meus eternos

agradecimentos.

Um agradecimento especial ao meu Orientador David Mendes, tanto do

trabalho de conclusão de curso da graduação em Meteorologia, quanto da dissertação

de mestrado. O senhor sempre teve a disposição em passar os melhores conselhos

e orientações para o enriquecimento do meu trabalho, e o meu crescimento como

pesquisador na área. Obrigado por tudo!

A minha coorientadora Maria Helena por contribuir na minha formação e com

as inúmeras contribuições no meu trabalho durante o mestrado.

Ao instituto Antártico Argentino por disponibilizar de forma inédita os seus

bancos de dados das seis estações fixas sobre o Mar de Weddell. Também agradecer

o CNPq e CAPES, pelo incentivo a minha pesquisa, proporcionando instrumentos

necessários para realização da mesma.

RESUMO

As regiões polares têm um papel crucial no clima do planeta, pois constituem

verdadeiros sumidouros de energia. O continente Antártico apresenta características

físicas e geográficas que propiciam a geração de condições meteorológicas adversas,

tendo outro importante atributo a grande variabilidade interanual do gelo marinho. Este

estudo tem como um dos objetivos estudar e avaliar o comportamento das condições

de gelo marinho em pontos fixos no Mar de Weddell, assim como os fluxos de energia

em superfície e temperatura do ar, utilizando um modelo dinâmico pontual. A área de

estudo corresponde ao Mar de Weddell situado na parte mais ao sul do oceano

Atlântico, entre as latitudes 83° 10’ Sul a 55° 00’ Sul e longitudes 84° 00’ Oeste a 10°

00’ Leste. Esta área cobre aproximadamente 3,4 milhões de Km² correspondendo

aproximadamente o tamanho do Giro de Weddell. Um outro objetivo é caracterizar as

condições climáticas em superfície na região. Para isso utilizaram-se dados diários de

Pressão Atmosférica em Superfície, Velocidade e Direção do Vento, além da

Temperatura do ar a 2 metros, oriundos de 6 estações meteorológicas do Instituto

Antártico Argentino localizados ao longo da borda continental que compreende o Mar

de Weddell. Desta forma, realizou-se um estudo das condições extremas na

velocidade do vento, com dados de reanálise do Era-Interim, para os ventos zonal e

meridional, pressão ao nível médio do mar e altura geopotencial. Para as condições

iniciais que alimentam o modelo pontual de gelo marinho, utilizaram-se dados dos

fluxos de energia e radiação diários provenientes das reanálises do NCEP/NCAR. O

período de estudo compreende janeiro de 1979 a dezembro de 2015. Quanto à

caracterização das condições meteorológicas sobre o Mar de Weddell observou-se

que quando há eventos extremos na região, estes estavam associados a ciclones

extratropicais transientes. Tendo também impacto no aumento da temperatura na

maioria das estações, devido à advecção de temperatura oriundo de latitudes

menores. As simulações com o modelo pontual mostraram que a neve é um grande

controlador na taxa de crescimento e derretimento do gelo marinho sobre o Mar do

Weddell. Enquanto, que o modelo subestima a Temperatura do Ar em todos os pontos

simulados.

Palavras–chave: Espessura do Gelo Marinho; Ciclone Extratropical; Teoria de

Eventos Extremos

ABSTRACT

The polar regions play a crucial role in the climate of the planet, as they constitute true

energy sinks. The Antarctic continent presents physical and geographical

characteristics that provide the generation of adverse weather conditions, having

another important attribute the great interannual variability of the sea ice. This study

has as one of the objectives to study and evaluate the behavior of marine ice conditions

at fixed points in the sea of Weddell, as well as the energy flows in surface and

temperature of the air, using a dynamic model punctual. The area of study corresponds

to the sea of Weddell situated in the southern part of the Atlantic Ocean, between the

latitudes 83 ° 10 ' South at 55 ° 00 ' South and longitudes 84 ° 00 ' West at 10 ° 00 '

East. This area covers approximately 3.4 million km² corresponding to approximately

the size of Weddell. Another objective is to characterize the surface climatic conditions

in the region. For this use daily data of atmospheric pressure on surface, speed and

direction of the wind, in addition to the air temperature at 2 meters, from 6

meteorological stations of the Argentine Antarctic Institute located along the

Continental edge that comprises the sea of Weddell. In this way, a study of the extreme

conditions at wind speed was carried out, with data of reanalysis of the Era-Interim, for

the winds of the region and the south, pressure at the average sea level and

geopotential height. For the initial conditions that feed the time model of marine ice,

data were used of the daily energy flows and radiation from the reanalysis of

NCEP/NCAR. The study period comprises January from 1979 to December 2015. As

for the characterization of the weather conditions on the sea of Weddell it was observed

that when there are extreme events in the region, these were associated with transient

extratropical cyclones. It also has an impact on the increase in temperature in most

stations due to the advection of temperature from smaller latitudes. The simulations

with the punctual model showed that snow is a great controller in the rate of growth

and melting of sea ice over the sea of the Weddell. Meanwhile, the model

underestimates the air temperature at all simulated points.

Key words: thickness of sea ice; Cyclone Extratropical; Extreme Event Theory

LISTA DE ILUSTRAÇÃO

Figura 1 - Continente Antártico com Oceano Austral dividido em regiões ................ 18 Figura 2 - Imagem representando o Giro do Mar de Weddell (WG) e o Giro do Mar de Ross (RG). ................................................................................................................ 19 Figura 3 - A imagem à esquerda (a) mostra a topografia do Continente Antártico. A imagem à direita (b) mostra a representação da formação dos ventos catabáticos sobre o platô Antártico. Setas representa a circulação do vento............................... 20 Figura 4 - Cobertura do gelo marinho. Imagem a esquerda mostra a cobertura do gelo marinho no mês de março e no lado direito no mês de setembro. ............................ 21 Figura 5 - Representação de forma esquemática dos principais componentes da Criosfera. ................................................................................................................... 22 Figura 6 - Ilustração da dinâmica da modificação da espessura do gelo marinho. ... 26 Figura 7 - Esquema exemplificando como calcula o balanço de energia para o oceano sem a cobertura do gelo marinho. Setas pretas indica os fluxos de energia. ........... 29 Figura 8 - Esquema exemplificando como é calculado o balanço de energia para o oceano com a cobertura do gelo marinho, mas sem deposição de neve. Setas pretas indicam os fluxos de energia. .................................................................................... 30 Figura 9 - Esquema exemplificando como calcula o balanço de energia para o oceano com a cobertura de gelo marinho e de neve. Setas pretas indicam os fluxos de energia. Fonte: Adaptado de Parkinson e Washington (1979). ............................................... 31 Figura 10 - Localização do Mar do Weddell no continente Antártico. ........................ 34 Figura 11 - Distribuição espacial das estações meteorológicas Argentinas em volta do Mar de Weddell. ........................................................................................................ 35 Figura 12 - Experimento 1: Sem a presença de gelo ou neve................................... 44 Figura 13 - Experimento 2: Condições de gelo marinho e água abaixo. ................... 45 Figura 14 - Experimento 3: Condições de neve sobre o gelo marinho e água abaixo. .................................................................................................................................. 45 Figura 15 - Pontos para simulação distribuído espacialmente. ................................. 48 Figura 16: Fluxograma com as etapas da simulação da espessura do gelo marinho. .................................................................................................................................. 48 Figura 17: Série Temporal da Pressão Atmosférica Superficial em hPa (PAS). (a) Belgrano II, (b) Carlini, (c) Orcadas, (d) San Martin, (e) Marambio e (f) Esperanza. Linha continua em vermelho mostra a média móvel. Valores seguidos com um * mostra que o valor do p-valor foi menor do que 5%, e os valores com ** que o valor do p-valor foi muito menor do que 1%. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015, dados diários. ............................................................................ 56 Figura 18 - Série Temporal da Velocidade do Vento em m/s (VV). (a) Estação meteorológica de Belgrano II, (b) Carlini, (c) Orcadas, (d) San Martin, (e) Marambio e (f) Esperanza. Linha continua em vermelho mostra a média móvel. Valores seguidos com um * mostra que o valor do p-valor foi menor do que 5%, e os valores com ** que o valor do p-valor foi muito menor do que 1%. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015, dados diários. ......................................................................... 57 Figura 19 - Série Temporal da Temperatura do Ar a 2 Metros em °C (T2M). (a) Belgrano II, (b) Carlini, (c) Orcadas, (d) San Martin, (e) Marambio e (f) Esperanza. Linha continua em vermelho mostra a média móvel. Valores seguidos com um * mostra que o valor do p-valor foi menor do que 5%, e os valores com ** que o valor

do p-valor foi muito menor do que 1%. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015, dados diários. ............................................................................ 58 Figura 20 - Boxplot mensal da Pressão Superficial Atmosférica em hPa (PAS). (a) Belgrano II, (b) de Carlini, (c) Orcadas, (d) San Martin, (e) Marambio e (f) Estação meteorológica de Esperanza. O ponto vermelho mostra a média climatológica mensal. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015, dados diários. .......... 59 Figura 21 - Boxplot mensal da Velocidade do Vento em m/s (VV). (a) Belgrano II, (b) Carlini, (c) Orcadas, (d) San Martin, (e) Marambio e (f) Esperanza. O ponto vermelho mostra a média climatológica mensal. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015, dados diários. ............................................................................ 60 Figura 22 - Boxplot mensal da Temperatura do ar a 2 Metros em °C (T2M). (a) Belgrano II, (b) Carlini, (c) Orcadas, (d) de San Martin, (e) Marambio e (f) Esperanza. O ponto vermelho mostra a média climatológica mensal. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015, dados diários. ................................................ 61 Figura 23: Rosas dos ventos demonstrando o comportamento da Direção e Velocidade do Vento nas seis estações em torno do Mar do Weddell. (a) Belgrano II, (b) Carlini, (c) Orcadas, (d) San Martin, (e) Marambio e (f) Esperanza. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015, dados diários. ................................. 63 Figura 24 - Componente da tendência para Pressão Superficial Atmosférica (PAS) em hPa. A linha pontilhada vermelha mostra a componente para a estação meteorológica de Carlini, a linha sólida azul mostra a componente para a estação de Esperanza e a linha preta pontilhada mostra o componente para a estação de San Martin. O período em estudo compreende de janeiro de 1979 a dezembro de 2016. ........................... 65 Figura 25 - Componente da tendência para Velocidade do Vento (VV) em m/s. A linha pontilhada vermelha mostra a componente para a estação meteorológica de Carlini, a linha sólida azul mostra a componente para a estação de Orcadas e a linha preta pontilhada mostra o componente para a estação de San Martin. O período em estudo compreende de janeiro de 1979 a dezembro de 2016. ............................................. 66 Figura 26: Componente da tendência para Temperatura do ar 2 Metros (T2M) em °C. A linha pontilhada vermelha mostra a componente para a estação meteorológica de San Martin e a linha sólida azul mostra a componente para a estação de Orcadas. O período em estudo compreende de janeiro de 1979 a dezembro de 2016. .............. 67 Figura 27 - Boxplot mensal do extremo da Velocidade do Vento (VV) em superfície em m/s nas seis estações em torno do Mar do Weddell. (a) Estação meteorológica de Belgrano II, (b) Estação meteorológica de Carlini, (c) Estação meteorológica de Orcadas, (d) Estação meteorológica de Marambio, (e) Estação meteorológica de San Martin e (f) Estação meteorológica de Esperanza. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015. ....................................................................................... 70 Figura 28 - Tempo de Retorno estimado pela técnica GEV dos eventos extremos da Velocidade do Vento (VV) em superfície em m/s nas seis estações em torno do Mar do Weddell. (a) Belgrano II, (b) Carlini, (c) Orcadas, (d) Marambio, (e) San Martin e (f) Esperanza. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015. .............. 71 Figura 29 - Composição Atmosférica da Anomalia da Pressão ao Nível Médio do Mar (PNMM) em hPa e linhas de corrente para os dias com Eventos Extremos outliers na Figura 28. Totalizando 16 Eventos Extremos. (a) Belgrano II, (b) Carlini, (c) Orcadas, (d) Marambio, (e) San Martin e (f) Esperanza. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015. ................................................................................................ 73 Figura 30 - Composição Atmosférica da Temperatura do ar a 2 Metros do Era-Interim em °C e linhas de corrente para os dias com Eventos Extremos outliers na Figura 28. Totalizando 16 Eventos Extremos. (a) Belgrano II, (b) Carlini, (c) de Orcadas, (d)

Estação meteorológica de Marambio, (e) San Martin e (f) Esperanza. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015. ........................................................ 75 Figura 31 - Ciclo diário do Fluxo de Calor Latente nos pontos pré-definidos sobre o Mar de Weddell. Climatologia feita a partir dos dados do NCEP/NCAR de janeiro de 1979 a dezembro de 2008 com a frequência diária. ................................................. 76 Figura 32 - Ciclo diário do Fluxo de Calor Sensível nos pontos pré-definidos sobre o Mar de Weddell. Climatologia feita a partir dos dados do NCEP/NCAR de janeiro de 1979 a dezembro de 2008 com frequência diária. .................................................... 77 Figura 33 - Ciclo diário da radiação de Onda Curta nos pontos pré-definidos sobre o Mar de Weddell. Climatologia feita a partir dos dados do NCEP/NCAR de janeiro de 1979 a dezembro de 2008 com frequência diária. .................................................... 78 Figura 34 - Ciclo diário da radiação de Onda Longa nos pontos pré-definidos sobre o Mar de Weddell. Climatologia feita a partir dos dados do NCEP/NCAR de janeiro de 1979 a dezembro de 2008 com frequência diária. .................................................... 79 Figura 35 - Ciclo diário da radiação do Albedo nos pontos pré-definidos sobre o Mar de Weddell. Climatologia feita a partir dos dados do Era – Interim de janeiro de 1979 a dezembro de 2008 com frequência diária. ............................................................. 80 Figura 36 - Simulação do Modelo Pontual da Espessura do Gelo Marinho em centímetro para os pontos pré-definidos. Tempo da simulação foi 7 anos (2009 a 2015). ........................................................................................................................ 81 Figura 37 - Ciclo anual da Espessura do Gelo Marinho de acordo com a simulação (2009 a 2015) do modelo proposto por Bitz e Roe (2004). ....................................... 82 Figura 38 - Simulação da Profundidade da Neve pelo Modelo Pontual em centímetros para os pontos. .......................................................................................................... 83 Figura 39 - Simulação do Fechamento do Balanço de Radiação em W/m² pelo modelo pontual. ..................................................................................................................... 83 Figura 40 - Avaliação das simulações com o modelo pontual proposto por Bitz e Roe (2004) para Temperatura do Ar (°C). (a) Foldvic, (b) Smithson, (c) Pratt, (d) PT1, (e) PT2, (F) Smith, (G) Gekstaller, e (h) Thiel. Linha pontilhada de cor vermelha é a Temperatura do Ar Simulado pelo Modelo Pontual. A linha continua azul é o dado da Temperatura do Ar do Era - Interim. .......................................................................... 86

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Variáveis meteorológicas com suas respectivas unidades e siglas. Dados

corresponde a médias diárias de janeiro de 1979 a dezembro de 2015. .................. 36

Tabela 2: Variáveis de energia com suas respectivas unidades de medidas e

resolução espacial ..................................................................................................... 37

Tabela 3: Pontos para simulação, longitude, latitude e o tipo. .................................. 47

Tabela 4 - Predominância do vento diário nas estações em torno do MW. Período de

janeiro de 1979 a dezembro de 2015. ....................................................................... 62

Tabela 5 - Teste de Mann-Kendall para a componente de tendência das Séries

Históricas de Pressão Atmosférica (PAS) em hPa, Velocidade do Vento (VV) em m/s,

Direção do Vento (DV) em graus e Temperatura do Ar em 2 metros (T2M) em °C. 1979

– 2015. Valores seguidos com um * mostra que o valor do p-valor foi menor do que

5%, e os valores com ** que o valor do p-valor foi muito menor do que 1%. ............ 64

Tabela 6 - Mostra os limiares diários da velocidade do vento em m/s, baseado nos

valores estimados pelo percentil de 95%. No período de janeiro de 1979 a dezembro

de 2010. .................................................................................................................... 68

Tabela 7 - Mostra a quantidade de extremos da velocidade do vento por mês em todas

estações em estudo no período de 1979 a 2015. Entre parêntese indica a

porcentagem de eventos extremos em relação a quantidade de observação (13514

dias). ......................................................................................................................... 69

Tabela 8 - Estatística descritiva da simulação para as variáveis Espessura do Gelo

Marinho (EGM), Espessura da Neve (EM) e Temperatura do Ar (Tar). Simulações para

7 anos (2009 a 2015). ............................................................................................... 84

Tabela 9 - Avaliação da acurácia do modelo pontual para Temperatura do Ar.

Simulação realizada no período de 2009 a 2015. ..................................................... 87

LISTA DE SIGLAS

AC – Análise de Cluster

CCA – Corrente Circumpolar Antártico

DV – Direção do Vento

EEVV – Evento Extremo na Velocidade do Vento

GEV – Distribuição Generalizada de Valores Extremos

HS – Hemisfério Sul

IAA – Instituto Antártico Argentino

IHO – Organização Internacional de Hidrografia

MR – Mar de Ross

MW – Mar do Weddell

NSIDC – National Snow and Ice Data Center

OA – Oceano Austral

PA – Península Antártica

PAS – Pressão Atmosférica Superfícial

PNMM – Pressão ao Nível Médio do Mar

RG – Giro do Ross

SAM – Modo Anular do Sul

T2M – Temperatura do Ar a 2 Metros

TVE – Teoria de Valores Extremos

U – Vento Zonal

V – Vento Meridional

VV – Velocidade do Vento

WG – Giro do Weddell

Sumário

RESUMO ............................................................................................................................................................... 6

ABSTRACT ........................................................................................................................................................... 7

LISTA DE ILUSTRAÇÃO ................................................................................................................................... 8

LISTA DE TABELAS ......................................................................................................................................... 11

LISTA DE SIGLAS ............................................................................................................................................. 12

1 . INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................. 15

1.1 HIPÓTESE DA PESQUISA ......................................................................................................................... 17

1.2 OBJETIVO GERAL...................................................................................................................................... 17

1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................................................................... 17

2. REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................................................................... 18

2.1 CARACTERÍSTICAS DO CONTINENTE ANTÁRTICO ....................................................................... 18

2.2 GELO MARINHO ......................................................................................................................................... 22

2.3 APLICAÇÃO DE MODELOS FÍSICOS NA SIMULAÇÃO DE GELO MARINHO ............................ 26

3. MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................................................................... 34

3.1 ÁREA DE ESTUDO ...................................................................................................................................... 34

3.2 DADOS ........................................................................................................................................................... 35

3.2.1 Dados provenientes de estações meteorológicas ....................................................................................... 35

3.2.2 Reanálises de modelos dinâmicos .............................................................................................................. 36

3.3 DESCRIÇÕES DO MODELO PONTUAL DE GELO MARINHO ......................................................... 37

3.3.1 Modelo pontual baseado no balanço de energia ...................................................................................... 37

3.3.2 Feedback gelo/albedo ................................................................................................................................. 39

3.3.3 Condições para identificação do gelo marinho em camadas................................................................... 40

3.3.4 Processos termodinâmicos ......................................................................................................................... 41

3.4 SIMULAÇÃO ................................................................................................................................................ 47

3.4.1 Sítios para realização da simulação .......................................................................................................... 47

3.4.3 Configuração do experimento para simulação da espessura do gelo marinho ...................................... 48

3.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA ........................................................................................................................... 49

3.5.1 Análise exploratória dos dados .................................................................................................................. 49

3.5.2 Regressão Linear ........................................................................................................................................ 49

3.5.3 Teste de Hipótese ........................................................................................................................................ 50

3.5.3.1 Teste para verificar tendência: Mann-Kendall ..................................................................................... 51

3.5.3.2 Teste para verificar a sazonalidade: Kruskal-Wallis ........................................................................... 52

4. RESULTADO E DISCUSSÂO ....................................................................................................................... 55

4.1.2 Análise da tendência das variáveis meteorológicas nas estações em torno do Mar de Weddell .......... 63

4.1.3 Análise dos eventos extremos na velocidade do vento nas estações meteorológicas em torno do Mar

de Weddell ............................................................................................................................................................ 67

4.2 Análise das simulações do modelo pontual .................................................................................................. 76

4.2.1 Análise das séries temporais simuladas das variáveis de saída do modelo ............................................ 80

4.2.2 Avaliação da Temperatura do Ar simulada pelo modelo pontual .......................................................... 85

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................................... 88

Referências ........................................................................................................................................................... 92

APÊNDICE .......................................................................................................................................................... 99

ANEXOS ............................................................................................................................................................ 100

15

1. INTRODUÇÃO

As regiões polares têm desempenhado um papel crucial no clima do planeta,

pois constituem verdadeiros sumidouros de energia (infravermelho). Como tais, são

essenciais para redistribuição de calor executada pelos oceanos e pela atmosfera

(TURNER et al. 2013). O continente Antártico é o mais elevado do planeta, com uma

altitude média de 2.500 metros, extrapolando os 4.000 metros na região do platô. Esse

gelo glacial possui um volume perto de 25 x 106 Km², que é cerca de 90% do gelo

encontrado na Terra (BOIASKI., 2007).

A Antártica apresenta características físicas e geográficas que propiciam a

geração de ventos fortes na região costeira do continente e a formação de um centro

de alta pressão sobre o continente, gerando uma circulação na baixa atmosfera que

causa os ventos catabáticos (CHENOLI et al. 2013). Estes ventos podem chegar a

velocidades que variam de 5 a 10 m/s, contribuindo com o transporte de massa de ar

frio para o norte. Uma das regiões em que se registram estas condições de tempo na

Antártica é o Mar de Weddell (MW). Além disso, a região tem influência de sistemas

sinóticos transientes de baixa pressão como os ciclones extratropicais (SIMMONDS

et al. 2003; e MENDES et al. 2010). De acordo com Mendes et al. (2010), a região do

MW é bastante ativa em relação à formação de ciclones extratropicais (Ciclogênese),

apresentando seu pico no verão e menores ocorrências na primavera e outono austral.

A parte leste do continente, devido à topografia e à presença de intensos ciclones

extratropicais, é susceptível a ventos extremos (WEBER et al. 2016).

Outra importante característica do continente Antártico é o fato de receber

pouca energia durante todo o ano, quando comparado com as regiões subtropicais e

tropicais. Esse aspecto, combinado com a presença de neve e gelo, origina um

feedback fortemente positivo, devido a altos valores de albedo (80% - 90%), fazendo

com que aumente o resfriamento nas altas latitudes (WADHAMS, 2000).

Consequentemente, a variação da cobertura de gelo influencia na variabilidade da

temperatura na região. Diante disto, o continente Antártico é uma das regiões que

apresenta uma maior sensibilidade às mudanças climáticas, tendo como destaque a

Península Antártica (PA) onde se observam as maiores tendências de aquecimento

16

no Hemisfério Sul (HS), ao contrário da grande parte da região continental, onde se

verifica o resfriamento (MAYEWSKI et al. 2009).

De acordo com Marshall et al. (2002), a tendência de aquecimento sobre a

costa oeste da PA é maior do que o resto do continente. O aumento da temperatura

na região da PA foi verificado em vários estudos, sendo que, os mesmos propõem

que a tendência de aumento na temperatura do ar dá-se através do resfriamento da

baixa estratosfera da Antártica (a perda do gás ozônio) e aquecimento da troposfera,

devido ao aumento dos gases de efeito estufa (GILLETT et al. 2006 e TURNER et al.

2005, 2006). Todos os cenários de mudanças climáticas e tendências de aquecimento

da temperatura na PA tem uma forte influência no Mar de Weddell (MW), importante

região para circulação oceânica global. O Mar de Weddell é uma região formadora de

água profunda (uma das mais importantes do Oceano Austral -OA), tendo como

principal característica da massa de água formada a sua alta densidade, ao ser

comparada com outras massas de água dos demais oceanos (RIFFENBURG, 2007).

Esta região é também caracterizada pela presença de polínias, que são áreas de

águas abertas no meio de banquisa1 ou do gelo fixo sem forma linear, desenvolvendo

águas mais salinas do planeta (SIMÔES, 2004).

Em relação ao gelo marinho, observa-se, desde a década de 1970, que em

torno do continente Antártico há aumento em sua extensão e concentração (COMISO;

NISHIO 2008). A razão para o aumento do gelo marinho nos últimos 30 anos está

sendo discutida na comunidade cientifica (TURNER et al. 2009). Experimentos

realizados com modelos numéricos sugeriram que a perda do ozônio estratosférico

tem desempenhado um papel significativo através do aprofundamento dos centros de

baixas pressões atmosféricas sobre o Mar de Amundsen (costa oeste da PA),

resultando em uma intensificação do ventos provenientes de sul ao longo do Mar do

Ross (costa oeste do continente Antártico), que tem experimentado um grande

aumento na cobertura de gelo (TURNER et al. 2013).

Diante do exposto, é importante um estudo amplo com a finalidade de

relacionar as condições atmosféricas observadas e o gelo marinho em suas diferentes

características, como por exemplo: a espessura, concentração e volume.

1 Camada superficial de gelo, resultante do congelamento da água do mar, cujas bordas podem se elevar a até 50

m 0u 60 m acima do nível do mar; campo de gelo.

17

1.1 HIPÓTESE DA PESQUISA

o Os eventos extremos mais fortes na velocidade do vento sobre a região do Mar

de Weddell e Península Antártica são causados pelos inúmeros Ciclones

Extratropicais atuantes na região.

o A Espessura do Gelo Marinho, Neve e Temperatura do Ar é bem representada,

por meio das simulações de modelos pontuais que leva em consideração o

balanço de energia em superfície.

1.2 OBJETIVO GERAL

O objetivo deste estudo é avaliar o comportamento das condições e

características de gelo marinho em torno do Mar de Weddell em relação aos fluxos de

energia em superfície, de forma a caracterizar regiões que apresentam maiores ou

menores espessuras, verificando possíveis tendências ao longo do tempo, assim

como caracterizar o comportamento atmosférico no Mar de Weddell por meio de

observações em superfície.

1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

o Estimar possíveis tendências e sazonalidade nas séries temporais de Pressão

Atmosférica Superficial (PAS), Velocidade do Vento (VV), Direção do Vento (DV)

e Temperatura do ar a 2 Metros (T2M) em torno do Mar de Weddell;

o Avaliar a ocorrência de extremos na Velocidade do Vento na região do Mar de

Weddell;

o Analisar o comportamento da Espessura da Neve em diferentes anos de

simulação;

o Avaliar as características da distribuição da Espessura do Gelo Marinho,

analisando o balanço de energia em superfície em diferentes épocas do ano;

o Verificar se o modelo pontual proposto por Bitz e Roe (2004) representa de forma

adequada a Temperatura do Ar em diferentes pontos do Mar de Weddell.

18

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 CARACTERÍSTICAS DO CONTINENTE ANTÁRTICO

A Organização Internacional de Hidrologia (IHO, sigla e, inglês), no ano de

2000, definiu o continente Antártico como sendo o limite sul do OA e a latitude de 60°S

como sendo o limite norte. Segundo os autores Schlosser et al. (2017), a região do

OA pode ser dividida em cinco regiões principais: Mar de Weddell (60° Oeste – 20°

Leste), Oceano índico (20° - 90° Leste), Oeste do Oceano Pacífico (90° - 160° Leste),

Mar de Ross (160° Leste – 130° Oeste) e os Mares de Amundsen e Bellingshausen

(130° - 60° Oeste) (Figura 1).

Figura 1 - Continente Antártico com Oceano Austral dividido em regiões

Fonte: LIMA, 2017

A principal consequência da falta de barreiras continentais no OA é a Corrente

Circumpolar Antártica (CCA), sendo a resposta da circulação atmosférica que possui

19

um fluxo de oeste na região em torno do continente Antártico, consistindo

dinamicamente em um fluxo geostrófico que circunda o continente Antártico

(TRENBERTH et al. 1990). O Mar de Weddell apresenta uma circulação oceânica

bastante ativa, conhecida como Giro de Weddell (WG, sigla em inglês), possuindo

uma extensão de aproximadamente 7x106 Km². É um dos maiores giros existentes no

entorno do continente, estendendo-se do leste da PA até 30° Leste. A origem física

deste giro é consequência da combinação das forçantes termohalinas e do atrito

causado na superfície oceânica pelos ventos, onde a transição dos ventos de oeste

ao norte e ventos de leste próximo à costa da Antártica faz com que haja um

movimento "horário" na região e no mesmo contexto na região do Mar de Ross

apresenta outro giro, denominado Giro de Ross (RG, sigla em inglês)

(RIFFENBURGH,2007 e BRANDON, 2010).

Figura 2 - Imagem representando o Giro do Mar de Weddell (WG) e o Giro do Mar de Ross (RG).

Fonte: Adaptado de Brandon (2010)

O continente Antártico é o mais elevado do planeta, com uma altitude média

de 2.500 metros, extrapolando os 4.000 metros na região do platô. Além disso, possui

um volume perto de 25 x 106 Km² de gelo glacial, isso significa que apresenta cerca

de 90% do gelo encontrado nos dois hemisfério (BOIASKI., 2007). Essa característica

propicia a geração de ventos fortes na região costeira do continente e a formação de

um centro de alta pressão sobre o continente gerando uma circulação na baixa

20

atmosfera que causam ventos catabáticos (CHENOLI et al. 2013), como pode ser visto

na Figura 3:

Figura 3 - A imagem à esquerda (a) mostra a topografia do Continente Antártico. A imagem à direita (b) mostra a representação da formação dos ventos catabáticos sobre o platô Antártico. Setas representa a circulação do vento.

Fonte: Autoria Própria

Os ciclones extratropicais são os principais sistemas meteorológicos de escala

sinótica que atuam na região, sendo relevante no sistema acoplado atmosfera-

oceano-gelo nas altas latitudes (MENDES et al. 2010). Mendes et al. (2007)

mencionaram que o verão austral é a época do ano que mais há ciclogêneses no MW

e a primavera e o outono há uma diminuição na formação dos ciclones extratropicais.

A parte leste do continente, devido à topografia e à presença de intensos ciclones

extratropicais, é susceptível a ventos extremos (WEBER et al. 2016).

Alguns estudos como Marshall (2003) e Thompson; Wallace (2000) estudaram

a relação entre os sistemas sinóticos Antártico com as condições atmosféricas e

oceânicas, principalmente a relação entre o Soutth Annular Model (SAM). Desta

forma, quando há fase positiva do SAM, associa-se a intensificação dos ciclones

extratropicais sobre OA, assim como dos ventos de oeste e um aumento da

temperatura na PA, e na fase negativa, observa-se anomalias negativas na

temperatura do ar assim como uma ligeira diminuição da quantidade de ciclones

extratropicais na região dos Mares Antárticos (GILLETT et al. 2006 e MENDES et al.

2010).

21

O continente Antártico é sensível às mudanças climáticas, devido aos

ecossistemas complexos existentes na região. De acordo com Turner et al. (2005), a

PA possui as maiores tendências de aquecimento anual relacionado as demais áreas

do continente Antártico, principalmente na parte oeste da mesma. Destaque que deve

ser dado para o período do inverno, cujo aumento foi de +1,09°C década-1 nas

estações de Faraday e Vernadsky. Riffenburgh (2007) identificou que a temperatura

do ar anual MW apresentou uma amplitude térmica, variando de -4,3°C nas Ilhas

Orcadas do Sul (mais ao norte do MW) e -22,2°C nas Coast Land (mais ao sul do

MW). Entre os anos de 1904 e 1994, os registros de Orcadas do Sul mostraram um

aumento na temperatura de +2°C (RIFFENBURGH, 2007). Desta forma, o autor

identificou que no lado leste da PA acontece o maior aquecimento durante o verão e

está associado com o aumento da intensidade dos ventos de oeste circumpolares

(MAYEWSKI et al. 2009). Segundo Thompson (2002), a intensificação dos ventos de

oeste circumpolar ocorre devido aos altos índices de polaridade positivo do SAM,

fazendo com que haja uma diminuição na incidência de ar frio do sul.

Uma das características mais proeminentes da Antártica é a presença de

grandes extensões de gelo marinho cercando o continente, extensões estas que

apresentam uma grande variação sazonal. O máximo de extensão do gelo marinho

ocorre em setembro (20 x 106 Km²) e o mínimo em fevereiro (4 x 106 Km²) (TURNER

et al. 2013), como observa-se na Figura 4.

Figura 4 - Cobertura do gelo marinho. Imagem a esquerda mostra a cobertura do gelo marinho no mês de março e no lado direito no mês de setembro.

Fonte: National Snow and Ice Data Center (NSIDC)

No tópico seguinte serão abordadas, de forma mais detalhada, as

características físicas e dinâmicas do gelo marinho.

22

2.2 GELO MARINHO

O sistema climático da Terra é constituído pela Atmosfera, Hidrosfera, Litosfera,

Biosfera e Criosfera. A Criosfera (Figura 5) é a componente constituída por: neve,

Gelo Marinho, Superfícies Congeladas, Glaciais, Camada de Gelo, Plataforma de

Gelo, Calota de Gelo e entre outros, que se apresenta sobre a superfície terrestre

principalmente nas regiões polares ou em áreas elevadas (VAUGHAN et al., 2013).

Figura 5 - Representação de forma esquemática dos principais componentes da Criosfera.

Fonte: Adaptado do AR5 do IPCC (VAUGHAN et al., 2013)

Numa definição simples, o gelo marinho é qualquer forma de gelo proveniente

do congelamento da água do mar (SIMÕES, 2004). Desta maneira, a microestrutura

e textura do gelo marinho dependem das condições meteorológicas e hidrológicas do

local na sua fase de congelamento e crescimento (PETRICH; EICKEN, 2010) fazendo

com que o gelo possua composição individual (LANGE et al. 1989). A fase de

congelamento começa quando a água do mar atinge o ponto de congelamento que é

aproximadamente -1,86°C para uma água que apresenta uma salinidade igual a 34

Psu (PETRICH; EICKEN, 2010). Cabral (2014) mostrou que a temperatura média para

água do mar congelar é -1,91°C. Essa diferença de pontos de congelamento está

associada não só a maior ou menor quantidade de sal, mas também em função da

formação de água profunda que contribui para um aumento ou diminuição das

condições de sal nos oceanos (SATO; POLITO, 2008). Desta maneira, após o gelo

marinho ser formado, o mesmo tende a crescer até certa profundidade, possuindo

uma sazonalidade e variabilidade interanual na sua espessura (PETRICH; EICKEN,

23

2010). O crescimento pode ser governado pelo balanço de energia nas superfícies

superior2 e inferior3 do gelo marinho, tendo uma entalpia4 do congelamento pela

formação do gelo marinho de 334 Jg-1 para o gelo puro e pouco menor para o gelo

marinho dependendo da concentração de sal (YEN et al. 1991). Este calor usado para

o congelamento e resfriamento é transferido através da massa de gelo até a superfície

do mesmo e, por último, é transferido para atmosfera. Para uma superfície que se

encontra em equilíbrio térmico com a atmosfera, requer um balanço de radiação na

interface gelo e atmosfera (PETRICH; EICKEN, 2010), dado pela Equação 1:

(1 − 𝛼)𝐹𝑟𝑙𝑜 + 𝐹𝐿↓ − 𝐹𝐿↑ + 𝐹𝑆 + 𝐹𝐸 + 𝐹𝐶 + 𝐹𝑚 = 0 (1)

em que α é o albedo do gelo; Fr é o fluxo de onda curta incidente; lo corresponde ao

fluxo de onda curta penetrante entre o gelo e água; FL↓ indica o fluxo de onda longa

incidente na superfície e FL↑ é o fluxo de onda longa que sai da superfície do gelo; Fs

e FE são os fluxos turbulento de calor latente e sensível, Fm fluxo de calor devido ao

derretimento ou congelamento da superfície do gelo; e Fc fluxo de calor devido a

condutividade. Por convenção, os fluxos atmosféricos direcionados na direção da

superfície possuem sinais negativos (LEWIS; JONES, 2000).

O fluxo de calor através da condutividade no gelo (Fc) expressa a quantidade

de energia que é transferida por unidade de área entre a superfície das camadas de

gelo por unidade de tempo (t). Esta condutividade pode ser dada de várias maneiras:

além da condução, pode ser dada pela convecção5 e advecção (PETRICH; EICKEN,

2010). Dependendo da condutividade térmica, o gradiente de temperatura do gelo

marinho pode ser pequeno entre a superfície até uma profundidade z (base profunda

do gelo marinho). Desta forma, o fluxo de calor através da condutividade pode ser

dado por:

𝐹𝑐(𝑧) = −𝛾𝑠𝑖 (𝑇𝑜−𝑇𝑖

𝐻) (2)

sendo que 𝑇𝑖 é a temperatura de congelamento do fundo (-1.86°C),𝑇𝑜 é a temperatura

da superfície do gelo, 𝛾𝑠𝑖 massa especifica do gelo e H é altura ou profundidade do

gelo marinho

2 É superfície, onde há troca de energia entre o gelo e atmosfera. 3 É a camada logo abaixo da superficie, caracterizada pela forte condutividade térmica. 4 Pode ser definida como o conteúdo de energia de uma substância. 5 No oceano, a convecção ocorre quando as águas de superfície são resfriadas. Isso resulta num aumento da

densidade da água na superfície e força as mesmas a descender.

24

Desta forma, o crescimento em termos de espessura do gelo marinho (H) é

determinado pelo balanço de energia abaixo da camada de gelo marinho (PETRICH;

EICKEN, 2010). Isso acontece devido ao oceano abaixo do gelo conter um

reservatório de calor que é consequência do armazenamento de energia em forma de

calor na camada de mistura durante o verão que, por sua vez, fica armazenado por

longo período ou devido à transferência do calor de camadas profundas do oceano

(MAYKUT; MCPHEE.1995).

A deposição de neve sobre a superfície de gelo marinho possui um importante

papel como isolador comparado com o gelo marinho, uma vez que sua condutividade

térmica é de 0,1 a 0,4 Wm-1K-1, impedindo em até 50% do crescimento do gelo. Isso

ocorre devido à redução do fluxo de condutividade de calor (Fc). Outra consequência

dessa redução é a diminuição da penetração da radiação de onda curta, fazendo com

que aumente a temperatura na superfície do gelo, isso acontece devido ao isolamento

térmico que existirá no gelo, fazendo com que tenha uma conservação de calor

(STURM et al. 2002). Por outro lado, a neve pode também prevenir a remoção

completa do gelo marinho nas áreas com alto fluxo de calor oceânico (MAYKUT;

MCPHEE. 1995).

Jeffries et al. (1994) identificaram que nos mares antárticos a profundidade da

neve6 pode ser bastante profunda, variando de alguns centímetros a metros. Desta

forma, quanto mais neve se deposita sobre o gelo marinho, maior é o isolamento do

gelo marinho localizado abaixo da neve. Os autores sugeriram que isso poderia levar

ao prolongamento em anos do gelo marinho Antártico.

Esses resultados são confirmados através de simulações numéricas em que

uma maior deposição de neve sobre o gelo marinho ao longo dos anos pode

representar até metade da espessura do gelo marinho, principalmente no Mar de

Weddell e leste da Antártica (PETRICH; EICKEN, 2010). Devido ao alto acúmulo de

neve, a difusão é o principal processo de transferência de energia para as demais

camadas (PETRICH; EICKEN, 2010).

Segundo Simmonds et al. (2003), a passagem de ciclones extratropicais ao

redor do oceano antártico, dita as condições meteorológicas sobre a camada de gelo

marinho, podendo implicar em uma grande quantidade de deposição de neve.

6 Espessura da neve sobre o gelo marinho.

25

Simmonds et al. (2003) também verificaram que esses ciclones extratropicais podem

influenciar não só a dinâmica do gelo marinho, mas também o comportamento da neve

que precipita. Desta forma, uma tempestade dinamicamente mais ativa contribui com

uma maior quantidade de neve depositada sobre o gelo marinho já existente,

ocorrendo principalmente no Inverno Austral. De acordo com Sturm e Masson (2010),

a cobertura de neve para ser bem distribuída sobre o gelo marinho, necessita de

baixas temperaturas para garantir que a precipitação venha como flocos de neve ou

granizo. Este último requisito depende da sequência de eventos meteorológicos no

outono, quando o gelo marinho está começando a se formar.

Petrich e Eicken (2010) mencionaram que a fase de derretimento no fundo do

gelo marinho acontece quando o fluxo oceânico (Fw) entre a interface gelo e água

excede o fluxo de calor que sai desta mesma interface (condutividade nas camadas

do gelo marinho). Inicialmente, o saldo do fluxo de calor não resulta imediatamente no

derretimento, sendo primeiro utilizado para o aquecimento na cobertura de gelo.

Consequentemente, este aquecimento é acompanhado por uma redução na

salinidade, devido ao derretimento da neve em superfície, tornando-se menor a

concentração de sal no entorno do gelo marinho (PETRICH; EICKEN, 2010).

O processo de formação, manutenção e derretimento do gelo marinho têm

grande impacto na distribuição da espessura do gelo marinho. Mas os processos

dinâmicos entre atmosfera e o oceano também têm grande papel na mudança de

espessura (HAAS, 2010). A Figura 6 mostra a dinâmica da distribuição da espessura

do gelo marinho. Os processos dinâmicos são bem importantes nos mares de

Bellingshausen/Amundsen, Mar de Ross (MR) e Mar de Weddell. Como mencionado,

as regiões do MW e MR apresentam um giro oceânico, este mecanismo no MW é

responsável pelo empilhamento de massa (gelo) na costa leste da PA, fazendo com

que haja grandes quantidades de gelo marinho ao longo do ano. Por outro lado, no

Mar de Ross o mecanismo provoca a remoção de massa da costa em direção ao mar

aberto, tendo como reflexo um empilhamento de massa na costa (litoral) nos Mares

de Bellingshausen e Amundsen, localizados na costa oeste do continente Antártico

(RIFFENBURGH.,2007; BRANDON., 2010; TURNER et al., 2013).

26

Figura 6 - Ilustração da dinâmica da modificação da espessura do gelo marinho.

Fonte: Adaptado de Haas (2010)

2.3 APLICAÇÃO DE MODELOS FÍSICOS NA SIMULAÇÃO DE GELO MARINHO

A modelagem de gelo marinho pode ser dividida em duas categorias:

modelagem termodinâmica e dinâmica (SEMTNER e JR., 1976). Maykut e

Untersteiner (1969) elaboraram um modelo unidimensional termodinâmico de gelo

marinho, no qual o objetivo foi identificar a espessura e temperatura vertical do gelo

(perfil). O modelo baseou-se na difusão do gelo, para isso, os autores utilizaram

diferenças finitas envolvendo uma grade com intervalo de 0,10 metros em camadas

verticais e 100 km espacialmente. Maccracken e Luther (1974) propuseram um

modelo atmosférico de duas dimensões que introduzia o gelo marinho de 0,2 metros

quando a temperatura do oceano estivesse abaixo do ponto de congelamento,

calculando a extensão horizontal do gelo, assim como também a espessura e o

balanço de energia. Parkinson e Washington (1979) realizaram simulações

tridimensionais baseadas no modelo proposto por Maykut e Untersteiner (1969), em

que foi realizada uma redução na quantidade vertical de camadas, eliminaram, na

equação de calor, o termo que representava a difusão e o uso de constantes para as

variáveis de calor específico e condutividade do gelo e neve.

27

De acordo com Parkinson e Washington (1979), um modelo numérico de

grande escala que simule gelo marinho deve levar em consideração os seguintes

pontos: ter cobertura mínima de 7% dos oceanos da terra; apresentar sazonalidade e

variação interanual; ter forte efeito da insolação que restringem as mudanças ou

trocas de calor e momento entre o oceano e atmosfera; possuir alto albedo relativo ao

da água, reduzindo significativamente a radiação de onda curta. Os autores também

citaram que o cálculo termodinâmico em um modelo de gelo marinho requer a entrada

de dados que contenha temperatura do ar, fluxo de calor sensível e radiação de onda

longa em superfície, temperatura do ponto de orvalho, velocidade do vento e a

topografia. Um modelo que consegue captar as mudanças da espessura do gelo

marinho e neve requer fluxos de radiação solar, radiação de onda-longa, calor

sensível e calor latente (MAYKUT e UNTERSTEINER, 1969). De acordo com

Laevastu (1960), o fluxo de radiação solar 𝑆w↓ é calculado aplicando um fator de

correção de nuvens para radiação global com o céu apresentando cobertura de

nuvens:

𝑆w↓=Scos²Z

( cos Z+2,7)e x 10-5

+1,085 cos Z+0,10 (3)

sendo que 𝑆 significa a constante solar, 𝑍 o ângulo zenital solar e 𝑒 a pressão de

vapor. O valor utilizado para constante solar é igual a 1.353 Wm-2 (THEKAEKARA e

DRUMMOND, 1971). O cosseno do ângulo zenital é calculado pela fórmula

geométrica, como mostrado:

cos Z = sin∅ sin δ + cos∅ cos δ cos H (4)

em que ∅,δ e H são latitude, declinação e ângulo horário respectivamente (SELLERS.,

1969).

Segundo Laevasto (1960), o objetivo de calcular a radiação global é para obter

a radiação de onda curta total que chega à superfície. Como mencionado

anteriormente, a radiação global é modificada pela cobertura de nuvem através da

reflexividade e espalhamento, dada por:

Q = 𝑄𝑜 (1-0,6C²) (5)

na qual 𝐶 é a cobertura de nuvem. Já a radiação de onda longa segundo a Parkinson

e Washington (1979) é dada por:

𝐹↓ = σ𝑇𝑎4{1-0,261EXP[-7,77x10

-4(273-𝑇𝑎)²]} (6)

28

sendo que 𝜎 é a constante de Stefan-Boltzmann e 𝑇𝑎 é a temperatura média do ar na

superfície em °C. Sendo assim, o calor sensível e latente que chega em superfície é

dado pelas as seguintes formulas:

𝐻↓ = ρ𝑎𝐶𝑝𝐶ℎ𝑉𝑤𝑔(𝑇𝑎 − 𝑇𝑠𝑓𝑐) (7)

e

𝐿𝐸↓ = ρ𝑎L𝐶𝑒𝑉𝑤𝑔(𝑞10𝑚- q) (8)

sendo que,

𝑞10𝑚=ϵe

p-(1-ϵ)e (9)

q = ϵes

p-(1-ϵ)es (10)

em que o 𝑉𝑤𝑔 é o vento geostrófico em superfície; 𝑇𝑠𝑓𝑐 é a temperatura na interface

gelo-neve-água, que pode ser calculada pela equação do balanço de energia na

superfície; 𝐿 indica o calor latente de vaporização (2,5x106 Jkg-1) ou de sublimação

(2,8x106 Jkg-1), sendo que depende da cobertura de gelo existente (HALTINER;

MARTIN, 1957). E 𝑞10𝑚 e 𝑞𝑠 são as umidades específica a 10 metros e na superfície,

respectivamente; 𝜖 é o raio molecular do vapor d’água igual a 0,622 nm. E por fim, 𝑒

indica a pressão de vapor e 𝑒𝑠 a pressão de vapor à saturação.

De acordo com Parkinson e Washington (1979), a camada superior do oceano

tende a ser bem misturada em temperatura e salinidade. Geralmente, os modelos de

gelo marinho ignoram os detalhes das diferenças na estratificação da densidade,

assume uma profundidade da camada de mistura em torno de 30 metros e calcula as

mudanças na temperatura da água baseada na profundidade (TARTINVILLE et al.

2001 e VANCOPPENOLLE et al. 2008). A temperatura e outras propriedades da

camada de mistura são usadas para determinar o fluxo de energia instantâneo 𝐹↑ para

o gelo formado pelo congelamento da água, sendo constante para Antártica cujo valor

é igual a 25 Wm-2. O fluxo da camada de mistura é diretamente proporcional à

diferença da temperatura entre a água e o gelo (BRYAN et al. 1975).

Para melhor acurácia dos cálculos dos fluxos de energia do oceano para o gelo,

é necessário a inclusão da salinidade, uma variável que represente a profundidade da

camada de mistura e interação com as camadas oceânicas subjacentes. Isso é

necessário, pois as camadas superiores do oceano concentram uma maior

29

quantidade de sal, influenciando no ponto de congelamento da água do mar, assim

como, modificando a estrutura vertical da densidade do oceano (PARKINSON;

WASHINGTON, 1979).

Existem três situações para o cálculo termodinâmico que influencia na variação

da espessura do gelo marinho. São elas: a) situação sem gelo; b) situação com gelo,

mas sem cobertura de neve e c) situação com cobertura de gelo e neve. Sendo assim,

os cálculos da mudança de espessura do gelo e da neve são baseados no balanço

de energia nas interfaces da superfície entre o neve-gelo-água (PARKINSON;

WASHINGTON, 1979),

A Figura 7 representa o cálculo do balanço de energia para o oceano sem a

cobertura de gelo marinho, indicando os fluxos de entrada e saída da radiação na

água do mar.

Figura 7 - Esquema exemplificando como calcula o balanço de energia para o oceano sem a cobertura do gelo marinho. Setas pretas indica os fluxos de energia.

Fonte: Adaptado de Parkinson e Washington (1979).

O saldo do fluxo de energia na camada de mistura oceânica (𝑄𝑚𝑒𝑡) é dado por:

𝑄𝑚𝑒𝑡= H↓+𝐿𝐸↓+ ∈𝑤 𝐿𝑤↓+(1-𝛼𝑤)𝑆𝑤↓+ 𝐹𝐵↑- ∈𝑤 σ𝑇𝑤4 (11)

em que 𝐻↓ é o fluxo de calor sensível, 𝐿𝐸↓ fluxo de calor latente, 𝐹𝐵↑ fluxo de calor da

camada de mistura oceânica, 𝑇𝑤4 temperatura da água, ∈𝑤 emissividade de onda

longa, σ constante de Stefan – Boltzmann, 𝐿𝑤↓ calor latente de evaporação e 𝑆𝑤↓ calor

sensível de evaporação.

A energia interna L é o produto da profundidade da camada de mistura (𝑑𝑚𝑖𝑥),

a capacidade volumétrica de calor da água 𝐶𝑤 = 4,19 𝑀𝐽𝑚−2𝐾−1 e temperatura da

30

água (𝑇𝑤). Utilizando a aproximação finita para 𝑑𝐿

𝑑𝑡= 𝑄𝑚𝑒𝑡 obtém-se o resultado da

avaliação da temperatura na camada de mistura:

∆𝑇𝑊=∆Tx𝑄𝑚𝑒𝑡

𝑑𝑚𝑖𝑥 x 𝐶𝑤 (12)

Como o calor é espalhado uniformemente na camada de mistura, a equação

da temperatura da água é dada por:

𝐿𝑊,𝑖 = 𝑇𝑊,𝑖−1 + ∆𝑇𝑤 (13)

sendo que o subscrito i e i-1 refere-se ao time step. A espessura do gelo marinho na

temperatura de congelamento é configurada em ℎ𝑛 = 0.001 𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜𝑠, sendo assim, a

quantidade de calor necessário para manter a temperatura da água congelada é dada

por:

𝐹 =(𝑇𝑏−𝑇𝑤)×𝑑𝑚𝑖𝑥×𝐶𝑤

𝑄𝐿×ℎ𝑛 (14)

sendo 𝑄𝐿 o calor de fusão do gelo.

Quando o corpo d’água do mar chega à temperatura próxima de -1.90 °C, a

mesma atinge o ponto de congelamento (MAYKUT e UNTERSTEINER, 1971; BRYAN

et al., 1975). Então, o modelo termodinâmico de gelo marinho resolve as equações

para situação com cobertura de gelo marinho, sem deposição de neve sobre o mesmo,

como esquematizado na Figura 8:

Figura 8 - Esquema exemplificando como é calculado o balanço de energia para o oceano com a cobertura do gelo marinho, mas sem deposição de neve. Setas pretas indicam os fluxos de energia.

Fonte: Adaptado de Parkinson e Washington (1979).

31

O balanço de energia em superfície fica:

H↓+LE↓+𝜖𝐿Lw↓+(1-0.4𝐿𝑜)(1-𝛼𝐿)Sw↓-𝜖𝐿σT𝑠𝑓𝑐4 + (

𝐾𝐿

ℎ𝐿) (𝑇𝑏-𝑇𝑠𝑓𝑐) = 0 (15)

De acordo com Semtner (1976), a emissividade de onda-longa do gelo 𝜖𝐿 é

0,97 e o albedo de onda-curta do gelo 𝛼𝐿 é igual a 0,50. A equação é linearizada

substituindo a temperatura da superfície do gelo 𝑇𝑠𝑓𝑐 por 𝑇𝑝+∆T (𝑇𝑝 é a temperatura

da superfície durante passo de tempo da previsão). Desta forma, a equação fica:

∆T= [H↓+LE↓+ 𝜖𝐿Lw↓+ (1-0.4𝐿𝑂)(1-𝛼𝐿)Sw↓-𝜖𝐿σT𝑝4+

𝐾𝐿I

ℎ𝐿(𝑇𝑏-𝑇𝑝)] [4𝜖𝐿σT𝑝

3+ 𝐾𝐿

ℎ𝐿] (16)

Na terceira condição, há deposição de neve sobre uma camada de gelo

marinho, o princípio do modelo proposto por Parkinson e Washington (1979) é a

introdução de neve, para isso a altura da neve sobre a camada de gelo marinho tem

que ser indicada previamente.

Figura 9 - Esquema exemplificando como calcula o balanço de energia para o oceano com a cobertura de gelo marinho e de neve. Setas pretas indicam os fluxos de energia. Fonte: Adaptado de Parkinson e Washington (1979).

Fonte: Adaptado de Parkinson e Washington (1979).

No esquema da Figura 9 tem-se que 𝑇𝑏 indica a temperatura da parte inferior

do gelo marinho, 𝑇𝐿 representa a temperatura da interface neve/gelo e 𝑇𝑠𝑓𝑐 mostra a

temperatura da superfície da neve. Sendo assim, os fluxos de condutividade entre as

interfaces são:

32

𝐺𝐿=𝑘𝑙(𝑇𝐵- 𝑇𝐿)

ℎ𝐿 (17)

e

𝐺𝑆=Ks(𝑇𝐼-𝑇𝑠𝑓𝑐)

ℎ𝐿 . (18)

A condutividade da neve 𝐾𝑠 é igual 0.31 Wm-1K-1, enquanto o albedo de onda-

curta 𝛼𝑠 da neve é fixado em 0,75 e a emissividade de onda-longa ∈𝑠 é igual a 0,99

(PARKINSON e WASHINGTON, 1979).

Nesse caso, o balanço de energia na superfície da neve é dado por:

𝐻↓+𝐿𝐸↓ ∈𝑠 𝐿𝑤↓+(1-αs)𝑆𝑤↓ 𝑇𝑠𝑓𝑐4 +

𝐾𝑠

ℎ𝑆(𝑇𝐿-𝑇𝑠𝑓𝑐)=0 (19)

E na interface neve-gelo é dado por:

𝐾𝑠

ℎ𝑆(𝑇𝐿-𝑇𝑠𝑓𝑐)=

𝐾𝑠𝑙

ℎ𝑙(𝑇𝑏-𝑇𝑙) (20)

Segundo a Maykut; McPhee (1995), na área que estiver coberta com gelo

marinho e possuir cerca de 1% de área de água livre, o aquecimento de grande escala

acontece por condução. Portanto, mudanças na área ocorrem devido ao derretimento

do gelo lateralmente ou na superfície e a magnitude desta mudança depende do fluxo

de energia (saldo) entre o gelo marinho e a água. Se o cálculo da espessura do gelo

marinho resultar em derretimento, a água proveniente deste derretimento vai para

camada logo abaixo do gelo marinho, sendo que a mesma vai servir para reajustar a

temperatura da camada de mistura oceânica. A temperatura da água do derretimento

é modelada de forma que seja constante (aproximadamente 𝑇𝑓 = 271,2 K) e a

densidade do gelo 𝜌𝑖 é igual a 900 Kgm-3. A densidade da camada de mistura na

Antártica é igual a 1.027 Kgm-3 (KARA., 2003).

Os autores Petrich e Eicken (2010) descreveram um simples modelo de

crescimento de gelo marinho, mostrando que um rigoroso tratamento matemático do

problema do crescimento do gelo marinho requer técnicas numéricas. Isso ocorre

porque os termos individuais do balanço de energia na superfície (Equação 1)

dependem diretamente ou indiretamente da temperatura em superfície, que determina

a magnitude da condutividade de calor e, consequentemente, a razão de crescimento

do gelo (STEELE; FLATO., 2000). O principal objetivo da modelagem do crescimento

do gelo é a avaliação da razão de crescimento do gelo marinho em função do tempo

33

(PETRICH; EICKEN, 2010). Assumindo a transferência de calor somente na vertical

e o perfil de temperatura linear, 𝑑𝐻

𝑑𝑡 é dado por:

𝑑𝐻

𝑑𝑡=

𝛾𝑖

HρiL(𝑇𝑜-𝑇𝑓) (21)

em que 𝜌𝑖 é a densidade do gelo, 𝛾𝑖 Condutividade Térmica, L função do calor

latente, 𝜆𝑖 condutividade térmica do gelo, 𝑇𝑜 temperatura da superfície e 𝑇𝑓 é a

temperatura da parte inferior do gelo marinho.

Petrich e Eicken (2010) observaram que, durante o inverno polar, o fluxo de

onda curta pode ser desprezado e o fluxo de onda longa pode ser descrito como

função da temperatura da superfície ou pela temperatura do ar. Da mesma forma, os

fluxos turbulentos de calor dependem da temperatura do ar e da superfície. Sendo

assim, assume-se que a temperatura da superfície do gelo marinho é igual a

temperatura do ar (𝑇𝑎). Consequentemente, substituindo 𝑇𝑎 em 𝑇𝑜 e fazendo as

devidas considerações, facilmente obtém-se a equação da razão de crescimento do

gelo, dada por:

H2+2λiH

Ka=2λi

ρiLθ (22)

34

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo corresponde ao Mar de Weddell, situado no Oceano Austral,

entre as latitudes 83° S a 55°S e longitudes 84°W e 10°E (ROBERTSON et al. 1998).

A Península Antártica e a margem do continente Antártico (litoral) são os limites

ocidentais e sul, respectivamente. A fronteira setentrional estende-se desde a PA até

10°E. Esta área cobre aproximadamente 3,4 milhões de Km² correspondendo

aproximadamente o tamanho do Giro de Weddell (CHRISTIAN et al., 2015).

Figura 10 - Localização do Mar do Weddell no continente Antártico.

Fonte: Autoria própria

35

3.2 DADOS

3.2.1 Dados provenientes de estações meteorológicas

Em torno do MW, o Instituto Antártico Argentino (IAA) possui seis estações

meteorológicas permanentes, estas coletam informações de forma ininterrupta

(Tabela 1) deste 1979 até o presente. As estações são: Belgrano II, Carlini,

Esperanza, Marambio e San Martin, como pode ser observada na Figura 11:

Figura 11 - Distribuição espacial das estações meteorológicas Argentinas em volta do Mar de Weddell.

Fonte: Autoria Própria.

Os dados meteorológicos diários utilizados foram: a Pressão Atmosférica

Superficial (PAS) em hPa, Velocidade do Vento (VV) em m/s, Direção do Vento (DV)

em graus e Temperatura do Ar a 2 Metros (T2M) em °C, provenientes das estações

meteorológicas (Figura 11) e disponibilizados pelo IAA. O período estudado

compreende de janeiro de 1979 a dezembro de 2015, sendo médias diárias e a

direção do vento o predominante durante o dia (totalizando 37 anos de observação)

(Tabela 1).

36

Tabela 1: Variáveis meteorológicas com suas respectivas unidades e siglas. Dados corresponde a médias diárias de janeiro de 1979 a dezembro de 2015.

Variável Unidade Sigla

Temperatura do ar em 2 Metros °C T2M

Pressão Atmosférica Superficial hPa PAS

Velocidade do Vento m/s VV

Direção do Vento °(graus) DV

3.2.2 Reanálises de modelos dinâmicos

Com o objetivo de analisar a composição atmosférica nos dias de eventos

extremos de velocidade do vento nas estações meteorológicas, utilizaram-se as

variáveis Vento Zonal (U), Vento Meridional (V), Temperatura do Ar 2 Metros (T2m),

Pressão ao Nível Médio do Mar (PNMM) e Altura Geopotencial de 500 hPa, oriundos

do banco de dados diários do Era-Interim (descrito na Tabela 2) com um espaçamento

de grade 0,75° x 0,75° (DEE et al. 2011), referente ao período de janeiro de 1979 a

dezembro de 2015. Lembrando que a utilização dos dados do Era-Interim foram

utilizados para analisar espacialmente em níveis atmosféricos as condições extremas

de vento observadas nas estações do IAA.

Por outro lado, os dados de Albedo do gelo, fluxo de calor e radiação diários,

descrito na Tabela 2, foram extraídos do banco de dados reconstruídos do National

Centre and Environment Predict (NCEP/NCAR) referente ao período que compreende

janeiro de 1979 a dezembro de 2015, configurando um total de 37 anos.

37

Tabela 2: Variáveis de energia com suas respectivas unidades de medidas e resolução espacial

Variável Unidade Espaçamento de Grade

Vento Zonal m/s 0,75° x 0,75°

Vento Meridional m/s 0,75° x 0,75°

Temperatura do Ar a 2 Metros °C 0,75° x 0,75°

Pressão ao Nível Médio do Mar Pa 0,75° x 0,75°

Altura Geopotencial m²/s² 0,75° x 0,75°

Albedo Decimal 2,5° x 2,5°

Fluxo de Calor Latente Wm-2s-1 2,5° x 2,5°

Fluxo de Calor Sensível Wm-2s-1 2,5° x 2,5°

Radiação de Onda Longa Incidente Wm-2s-1 2,5° x 2,5°

Radiação de Onda Curta Incidente Wm-2s-1 2,5° x 2,5°

3.3 DESCRIÇÕES DO MODELO PONTUAL DE GELO MARINHO

3.3.1 Modelo pontual baseado no balanço de energia

O modelo utilizado nesta dissertação é baseado nos modelos proposto por Bitz

e Roe (2004), modelo esse baseado na influência dos fluxos de energia incidente

sobre a cobertura de gelo marinho. Em relação ao modelo proposto de Bitz e Roe

(2004), algumas modificações e implementações de novas parametrizações foram

feitas. A seguir, estas modificações no modelo serão descritas. .

A primeira parte está diretamente relacionada à descrição das forçantes do

modelo:

Radiação Solar Incidente em superfície (Sw↓)

O balanço de energia unidimensional é definido como:

𝛽𝑠𝑢𝑟𝑓𝑑𝑇𝑠𝑢𝑟𝑓

𝑑𝑡= 𝐹𝑡ℎ𝑒𝑟𝑚𝑎𝑙 + 𝐹𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 (23)

em que 𝐹𝑡ℎ𝑒𝑟𝑚𝑎𝑙 é fluxo termal e 𝐹𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 é o fluxo solar incidente na superfície.

38

Na formulação 23, apenas foi realizada a troca de calor para o espaço, sem

aplicar o transporte de massa e momentum.

Quando se utiliza o balanço de radiação para uma escala espacial menor, ou

seja, em um Modelo Numérico Regional ou em uma escala pontual, como é o caso do

modelo proposto aqui nesta dissertação, é necessário incluir outras trocas de calor,

ou seja, transporte de momentum e de transição de fase (e.g. calor latente - mudança

de fase). Dessa forma, para um melhor detalhamento do balanço de radiação, insere-

se:

𝛽𝑠𝑢𝑟𝑓𝑑𝑇𝑠𝑢𝑟𝑓

𝑑𝑡= 𝐹𝑡ℎ𝑒𝑟𝑚𝑎𝑙 + 𝐹𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 + 𝐹𝑆𝑒𝑛𝑠𝑜 + 𝐹𝑜𝑐𝑒𝑎𝑛 + 𝐹𝑙𝑎𝑡𝑒𝑛𝑡 (24)

em que 𝐹𝑆𝑒𝑛𝑠𝑜 representa o fluxo de calor sensível em um ambiente turbulento; 𝐹𝑙𝑎𝑡𝑒𝑛𝑡

o fluxo de calor latente, ou seja, troca de calor por mudança de fase da água

(evaporação ou condensação); 𝐹𝑜𝑐𝑒𝑎𝑛 troca de calor para um ambiente turbulento nos

oceanos.

Esse modelo é pontual, no qual calcularam-se as condições de gelo marinho,

condutividade térmica no gelo, neve e água em um determinado ponto na superfície

da Terra coberta ou não por gelo marinho, para isso é necessário compreender cada

termo que compõe as equações 23 e 24, desta forma tem-se:

𝐹𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 =1

4[1 − 𝛾𝑝(𝑇𝑠𝑢𝑟𝑓)]𝑆0 (25)

O modelo de Bitz e Roe (2004) atribuía ao fluxo de radiação solar em superfície

(Equação 3) apenas a variação em relação ao fluxo solar incidente (𝑆0), sem variação

no tempo, ou seja, fixo temporalmente. Atribuiu-se na equação (35) a variação

temporal, pois desta forma, tem-se uma variação mais realística do gelo marinho em

sua espessura ao longo dos dias.

Desta forma, a equação (25) foi reescrita como:

𝐹𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟 =1

4[1 − 𝛼𝑠𝑢𝑟𝑓(𝑇𝑠𝑢𝑟𝑓)]𝑆0 ∙ 𝑟(∅, 𝑡𝑡𝑖𝑚𝑒) (26)

na qual 𝑟(∅, 𝑡𝑡𝑖𝑚𝑒) representa a variação temporal por latitude, 𝑡𝑡𝑖𝑚𝑒 representa o dia

Juliano e 𝑆0 a constante solar e 𝛼𝑠𝑢𝑟𝑓 o albedo em superfície.

Tornou-se necessário incluir mais alguns aspectos, como por exemplo: 1) a

radiação solar variável para cada dia do ano em uma latitude, ou seja, variação de

energia por latitude; e 2) uma parametrização para o albedo, na qual uma parte é

39

refletida de volta para a atmosfera e a outra identifica o albedo referente ao tipo de

superfície, que nesses casos é o gelo marinho ou água do mar. Lembrando que o gelo

marinho pode ter variação em seu albedo, em que o gelo marinho novo, aquele que

se forma todos os anos durante o outono/inverno e depois derrete durante a

primavera/verão, é em torno de 𝛼 = 0,75 e o gelo marinho mais velho, aquele que está

à deriva há mais de 3 anos, o albedo é 𝛼 = 0,82 (BRANDT et al. 2005).

O albedo na superfície da Terra varia de acordo com as regiões, isso ocorre a

diferentes aspectos, tais como: água dos oceanos, neve, cobertura de gelo em

superfície continental, gelo marinho, árvores, desertos entre outros. Desta forma,

assumiu-se a mesma definição de Budyko (1969) em relação ao gelo-albedo, ou seja,

o mecanismo de feedback, desta forma, escreve-se:

𝜑𝑠𝑢𝑟𝑓 = 𝜑𝑠𝑢𝑟𝑓(𝑇𝑠𝑢𝑟𝑓) (27)

Budyko (1969) assumiu que um albedo é constante quando a temperatura é

mais fria. Assume-se também que há variação de albedo de acordo com uma faixa de

temperatura, que neste caso ficou entre -0.1C até -10.0C para a superfície

continental e entre -1.7C até -8.5C para a superfície oceânica. Com isso, calculou-

se a diferença na resposta do feedback entre o gelo continental e o gelo marinho, ao

qual se assumiu que o ponto de congelamento do gelo sobre o oceano é a partir de -

1.7C.

3.3.2 Feedback gelo/albedo

Representando na Equação 26, a temperatura da superfície está diretamente

ligada ao processo de troca entre o gelo/albedo, sendo;

𝛼𝑠𝑢𝑟𝑓 = 𝛼0 +∆𝛼

∆𝑇𝑠𝑢𝑟𝑓∙ (𝑇𝑠𝑢𝑟𝑓 − 𝑇0) (28)

em que 𝛼0 = 0.1. 𝑇0 = 273,16𝐾. Desta forma, pode-se calcular a força do mecanismo

de retorno gelo/albedo de forma linear.

Reescreveu-se esse feedback gelo/albedo, da seguinte forma:

𝐵𝑖𝑐𝑒/𝑎𝑙𝑏𝑒𝑑𝑜 =𝑑𝐹𝑠𝑜𝑙𝑎𝑟

𝑑𝑇𝑠𝑢𝑟𝑓= (𝛼𝑐𝑙𝑜𝑢𝑑 − 1) ∙ 𝑆0 ∙ 𝑟(∅, 𝑡𝑡𝑖𝑚𝑒) ∙

∆𝜑

∆𝑇 (29)

40

Como mencionado anteriormente, o intervalo em que o albedo está ativo vai de

-10C até 0C, logo, regiões nas quais o intervalo de temperatura encontra-se entre

esses valores obtiveram um forte feedback gelo/albedo. Durante o inverno, em que os

valores podem chegar abaixo de -10C, o termo 𝛼𝑐𝑙𝑜𝑢𝑑 na Equação (8), representa o

albedo das nuvens. O albedo das nuvens tem influência substancial nas temperaturas

atmosféricas. Tipos diferentes de nuvens possuem refletividades diferentes,

teoricamente variando em albedo próximo de zero para um máximo que se aproxima

de 0,8, como o intuito é a superfície, assumiu-se que esse valor era constante de

acordo com a época do ano, por exemplo: 𝛼𝑐𝑙𝑜𝑢𝑑 = 0.35 ∗ 𝛼𝑐𝑙𝑜𝑢𝑑. A equação

representa o fator em consideração a época do ano (DOMMENGET e FLÖTER,

2011).

𝛼𝑐𝑙𝑜𝑢𝑑 = 𝑉𝑒𝑟ão (𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 = 0)

𝛼𝑐𝑙𝑜𝑢𝑑 = 𝐼𝑛𝑣𝑒𝑟𝑛𝑜 (𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 = 1)𝑐𝑜𝑚𝑝𝑙𝑒𝑡𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑒𝑛𝑐𝑜𝑏𝑒𝑟𝑡𝑜

𝛼𝑐𝑙𝑜𝑢𝑑 = 𝑃𝑟𝑖𝑚𝑎𝑣𝑒𝑟𝑎 𝑒 𝑂𝑢𝑡𝑜𝑛𝑜 (𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 = 0.50)

O fator 0,35 é o limiar entre céu todo coberto por nuvens e sem nuvens, desta

forma, assumiu-se que as nuvens refletem cerca de 35% da radiação.

3.3.3 Condições para identificação do gelo marinho em camadas

O mesmo princípio de Untersteiner (1961) e Maykut e Untersteiner (1971) foi

utilizado para a identificação do gelo marinho em camadas. Dessa forma, o objetivo

foi calcular os fluxos de calor como sendo proporcional à diferença de temperatura

entre a água e o gelo marinho, modelo esse baseado em Bitz e Roe (2004). O mesmo

estabelece que todos os fluxos de calor sobre uma superfície de gelo marinho

possuem condutividade térmica do gelo. Porém, sabe-se que o gelo marinho sobre

um oceano não é só composto por uma camada simples de gelo que congelou, há

deposição de neve sobre o mesmo e a condutividade da neve é diferente da

condutividade do gelo marinho (MENGEL et al., 1988).

Desta forma, uma das novas parametrizações no modelo de Bitz e Roe (2004)

foi o cálculo da condutividade em camadas distintas e combinadas, ou seja, só neve

sobre o oceano, neve e gelo marinho sobre o oceano e, por fim, só gelo marinho. Para

41

isso foi necessário inicialmente definir que os fluxos de calor são proporcionais à

diferença entre a temperatura do gelo e (ou) neve e a água do oceano, sempre

informando que a temperatura do gelo permanece praticamente em zero (0) até o gelo

marinho desaparecer, para casos em que o gelo marinho se forma e desaparece em

um ano.

Embora só a temperatura tenha sido mencionada até agora, um cálculo dos

fluxos de energia a partir do gelo exigiria incorporar a salinidade na camada de mistura

como variável e interligados com as camadas subsuperficiais do oceano.

A salinidade no oceano próximo da superfície é significativa depende do

congelamento da água e derretimento do gelo marinho, afetando diretamente a

estrutura da densidade vertical do oceano. Desta forma, é necessária uma

parametrização que inclua a influência da salinidade exigindo uma análise

tridimensional da temperatura e salinidade. Portanto, considerou-se que os fluxos

constantes de calor no oceano é a melhor escolha para o caso atual, ou seja, para um

modelo simples essa premissa é necessária.

3.3.4 Processos termodinâmicos

Todos os modelos que estimam o gelo marinho são baseados nos processos

térmicos e dinâmicos não só do gelo, como também da atmosfera e do oceano. Como

é o caso também do modelo com modificações proposto neste estudo. Para isso,

modificou-se o processo que calcula a espessura do gelo marinho e se calculou a

neve depositada sobre o mesmo, pois todo processo de espessura é baseado na

difusão radiativa, ou seja, por meio do balanço de energia nas camadas de gelo, neve

ou gelo/neve.

Processos termodinâmicos na Neve

Sem a presença de gelo marinho, definiu-se que o fluxo de energia líquida para

a camada oceânica é dado por:

𝑄𝑛𝑒𝑡 = 𝐻 ↓ +𝐿𝐸 ↓ +𝐸𝑤𝐿𝑊 ↓ +(1 − 𝛼𝑤)𝑆𝑤 ↓ +𝐹𝑤 ↓ −𝜖𝑤𝜎𝑇𝑤4 ↑ (30)

considerando 𝐻 ↓, 𝐿𝐸 , 𝐿𝑊 ↓ 𝑒 𝑆𝑤 ↓ em W/m² o fluxo de calor sensível, fluxo de calor

latente, fluxo de calor latente de vaporização e fluxo incidente de radiação solar,

respectivamente. Considerou-se como constante a camada de mistura do oceano

42

profundo. Isso porque há pouca transferência de energia para o oceano profundo,

principalmente quando há presença de gelo marinho, logo considerou-se como zero

esse fluxo.

Todos os termos da Equação (30) são diagnósticos, ou seja, o tempo é fixo. O

termo 𝛼𝑤 é o albedo que foi fixado em 10% e a emissividade 𝜖𝑤 = 97%. Lembrando

que o sufixo w refere-se à water (água).

Outro fator importante deste modelo está diretamente ligado à entrada líquida

do fluxo de energia que eleva a temperatura da água, de modo que a taxa de tempo

para ocorrer a mudança interna de energia (por unidade de massa) torna-se:

𝑑𝐼

𝑑𝑡= 𝑄𝑛𝑒𝑡 (31)

sendo a energia interna o produto da profundidade da camada de mistura que começa

a partir de 30 m de profundidade, definida como 𝑑𝑚𝑖𝑥, a energia térmica da água 𝐶𝑤 =

4.19 𝑀𝐽𝑚−3𝐾−1. Também foi necessário aplicar uma aproximação de diferenças

finitas (Eq. 30), pois se obtém uma temperatura resultante de mudanças como:

∆𝑇𝑤 =∆𝑡×𝑄𝑛𝑒𝑡

𝑑𝑚𝑖𝑥×𝐶𝑤 (32)

em que ∆𝑇𝑤 é o passo de tempo de 24 horas. Como o calor é espalhado

uniformemente em todas as camadas de mistura, calcula-se uma nova temperatura

da água:

𝑇𝑤𝑖𝑖 = 𝑇𝑤𝑖−1 + ∆𝑇𝑤 (33)

sendo i e i-1 os intervalos de tempo. É importante enfatizar o resultado da Equação

(33), pois se for menor que zero, utilizam-se as premissas:

o 𝑇𝑤 < 271,2𝐾, seria o ponto inicial de congelamento;

o A espessura do gelo marinho recém congelado (ℎ𝑛) igual a 0,015m.

Salienta-se que a espessura é uma condição interna do modelo, baseada em

condições diferentes de deposição de neve para cada ponto inserido no modelo. De

posse dessas informações, definiu-se a fração da cobertura do gelo marinho:

𝐹 =(𝑇𝑎−𝑇𝑤)×𝑑𝑚𝑖𝑥×𝐶𝑤

𝑄𝐼×ℎ𝑚 (34)

sendo que 𝑄𝐼 é o calor de fusão do gelo, fixado em 302 𝑀𝐽/𝑚2 (MAYKUT e

UNTERSTEINER, 1971).

43

O gelo novo é modulado para ter uma temperatura superficial de 271,2K. O

único fluxo modulado neste modelo foi a condutividade, embora na realidade, 𝐼0 seja

a fração de onda curta incidente que penetra na superfície superior do gelo marinho.

Diferente de Bitz e Roe (2004), que no modelo original não contemplava o termo 𝐼0,

assumiu-se que 𝐼0 = 17% representa a incidência da radiação sobre o gelo marinho

de acordo com o proposto por Maykut e Untersteiner (1971).

Essa radiação que penetra normalmente faz com que o volume de soluções

salinas aumente o arrefecimento perto da superfície. Adotou-se que o fluxo de

condutividade 𝑄𝐼 através do gelo marinho foi igual 𝑘𝑖(𝑇𝑏 − 𝑇𝑠𝑓𝑐)/ℎ𝑖 (BRYAN et al, 1975;

SEMTNER, 1976).

Experimento 1

A espessura do gelo (ℎ𝑖) foi retirada do passo de tempo anterior, enquanto a

condutividade térmica (𝑘𝑖) do gelo está fixada a uma constante de 2,04Wm-1K-1. Para

a temperatura (𝑇𝑠𝑓𝑐), o intervalo de tempo deve ser calculado a partir do balanço de

energia em superfície, sendo a suposição básica que 𝑇𝑠𝑓𝑐 ajusta-se de maneira a

manter esse equilíbrio.

No modelo ora em estudo, implementaram-se as mesmas condições de

Semtner; Jr. (1976) as quais 𝑇𝑠𝑓𝑐 = 𝑇𝑝 + ∆𝑇, 𝑇𝑝 é a temperatura em superfície durante

o passo de tempo anterior, desta forma, reescreveu-se 𝑇𝑠𝑓𝑐 como:

𝑇𝑠𝑓𝑐4 = (𝑇𝑝 + ∆𝑇)

4 = 𝑇𝑠𝑓𝑐4 ≈ 𝑇𝑝

4 + 4𝑇𝑝3∆𝑇 (35)

Desta forma, 𝑇𝑠𝑓𝑐 = 𝑇𝑝 + ∆𝑇, excede 273,15K, ocorrendo o ponto de

derretimento do gelo marinho, ou seja, valores maiores que zero (0) graus Celsius. A

Figura 12 mostra o experimento inicial no qual o modelo representa os fluxos sem a

presença de neve ou gelo marinho. Em relação ao modelo proposto por Bitz e Roe

(2004), calculou-se o 𝐹𝑊↑, (fluxo de calor do oceano). De acordo com Maykut e

Untersteiner (1971), esse fluxo 𝐹𝑊↑ é importante para o calculo da transferência de

energia entre as camadas oceânicas, neve e/ou gelo marinho.

44

Figura 12 - Experimento 1: Sem a presença de gelo ou neve.

Fonte: Autoria Própria

Experimento 2

Neste experimento, tem-se o processo de condutividade térmica referente ao

gelo marinho (Figura 13), sendo que o 𝑘𝑖 representa essa condutividade térmica, ℎ𝑖

representa a altura da coluna de gelo marinho, 𝑇𝑏 representa a temperatura da base

profunda de gelo marinho e 𝑇𝑠𝑓𝑐 a temperatura em superfície, neste caso na base

superficial do gelo marinho. O processo de condutividade do gelo ocorre através da

transferência de calor entre as camadas mais próximas da superfície e as camadas

mais profundas do gelo marinho, variando de forma quase uniforme, ou seja, com

variações pequenas e quase constantes. Esse processo de condutividade também

ocorre na horizontal, sendo em menor escala e de forma constante (SEMTNER;

JR.1976). Desta forma, para o propósito desta dissertação, a condutividade torna-se

de suma importância para um cálculo mais preciso da transferência de calor, formação

de gelo e balanço de energia ao longo de um tempo.

Superfície

Final Camada de

Mistura

Água Oceano Sem gelo

45

Figura 13 - Experimento 2: Condições de gelo marinho e água abaixo.

Fonte: Autoria Própria

Experimento 3

E por fim, o experimento 3, é com a presença de neve sobre o gelo marinho

(Figura 14).

Figura 14 - Experimento 3: Condições de neve sobre o gelo marinho e água abaixo.

Fonte: Autoria Própria

O processo de condutividade térmica é idêntico ao processo no experimento 2,

com a diferença que se tem agora a condutividade térmica da neve. Assim, pode-se

calcular a condutividade térmica total, ou seja, neve + gelo marinho:

Superfície

Gelo marinho sem neve CondutividadeGelo marinho

água

Superfície

Gelo marinho sem neve CondutividadeGelo marinho

água

Neve Condutividade neve

46

𝐶 =𝑘𝑠

ℎ𝑠(𝑇𝑠 − 𝑇𝑠𝑓𝑐) +

𝑘𝑖

ℎ𝑖(𝑇𝑏 − 𝑇𝑖) (36)

Por meio da equação (36), pode-se identificar o processo de derretimento do

gelo na parte superior da camada de neve + gelo marinho, para isso agrega-se ao

modelo proposto por Bitz e Roe (2004), a equação (37) proposta por Semtner; Jr.

(1976):

−∆ℎ𝑖 =∆𝑡

𝑄𝑛𝑒𝑡[𝐹 ↑ −

𝑘𝑖

ℎ𝑖(𝑇𝑏 − 𝑇𝑠𝑓𝑐)] (37)

O modelo aqui modificado, como já mencionado, foi baseado no modelo de Bitz

e Roe (2004), agregando algumas alterações referentes à deposição de neve sobre o

gelo marinho, assim como equações que calculam a condutividade térmica do sistema

neve + gelo marinho. Consideraram-se para efeito deste estudo os parâmetros fixos

no modelo descritos a seguir:

o Nesta dissertação, padronizou-se o gelo marinho e a neve com 10

camadas, criando um equilíbrio térmico. Semtner; Jr. (1976) salientou

que muitas camadas podem inibir a condutividade térmica no gelo,

criando um armazenamento de energia e contribuindo para um rápido

descongelamento tanto do gelo marinho como da neve. Em

experimentos iniciais, o modelo não muda "radicalmente" entre 1 e 5

camadas, assim como entre 15 e 20 camadas. Desta forma, escolheu-

se em 10 camadas;

o Spin-up do modelo foi fixado em 20 dias;

o A densidade inicial do gelo marinho foi 917 kg/m3;

o A densidade inicial da neve foi 330 kg/m3;

o Temperatura de congelamento da água doce foi 273,16 K;

o Temperatura de congelamento da água do mar foi 271,2 K;

o Espessura média do gelo marinho no mar de Weddell foi 1,8 metros;

o Intervalo máximo e mínimo de salinidade contida em uma grama (1g) de

gelo marinho: Máxima = 3,2 Psu e Mínima = 1,0 Psu;

o Calor latente do gelo marinho considerado de 0,335 x 10-6J/kg para

temperatura de 0C;

o Camada oceânica abaixo do gelo marinho padronizou-se em 50 metros.

Cabe aqui uma observação. Em regiões cobertas por gelo marinho a

47

haloclina (camada sub-superficial na qual a salinidade apresente uma

forte variação com a profundidade) ocorre próxima a superfície (similar

à termoclina), profundidade típica de 50 a 200 metros. A coluna toda não

congela, porque uma camada d’água (mais leve), a haloclina, fica acima

da água coberta por gelo marinho. Esta camada congela sem ficar mais

densa que a camada abaixo dela.

3.4 SIMULAÇÃO

3.4.1 Sítios para realização da simulação

Os pontos utilizados para a simulação da espessura do gelo marinho e o

balanço de energia foi baseado do trabalho de Robertson et al. (1998). Os mesmos

são descritos na Tabela 3 e na Figura 15 a seguir:

Tabela 3: Pontos para simulação, longitude, latitude e o tipo.

Nome Longitude Latitude Tipo

Foldvic 39° 24’ 74° 23’ Mar Aberto

Pratt 37° 10’ 77° 58’ Mar Aberto

Smithson 61° 17’ 61° 28’ Mar Aberto

PT1 25° 50’ 65° 20’ Indefinido*

PT2 35° 00’ 67° 00’ Indefinido*

Smith 67° 21’ 79° 44’ Camada de Gelo

Gekstaller 52° 75’ 77° 88’ Camada de Gelo

Thiel 41° 08’ 77° 42’ Camada de Gelo

* São pontos que não possuem características definidas, ou seja, dependendo da época do ano é gelo ou água líquida.

Fonte: Adaptado de Robertson et al. (1998)

48

Figura 15 - Pontos para simulação distribuído espacialmente.

Fonte: Autoria Própria

3.4.3 Configuração do experimento para simulação da espessura do gelo marinho

As simulações foram realizadas para cada ponto descrito na Tabela 3

anteriormente, sendo o tempo de simulação foi de 7 anos (2009 a 2015). A Figura 16

mostra a sequência até chegar a execução do modelo.

Figura 16: Fluxograma com as etapas da simulação da espessura do gelo marinho.

Fonte: Autoria Própria

A seguir serão descritas cada uma das etapas da Figura 16:

49

Etapa 1: Antes de iniciar a simulação é necessário fazer uma climatologia dos

dias julianos, ou seja, foi feito uma média de cada dia do ano sequencial. No caso os

dados de fluxo e do albedo são de 1979 até 2008 (30 anos).

Etapa 2: Após fazer a climatologia dos fluxos e do albedo, deve-se usá-los

como entrada no modelo para cada simulação. Sendo que, o modelo termodinâmico

pontual só aceita dados de fluxo em erg/cm² e albedo em decimais.

Etapa 3: O modelo apresenta a configuração do número de camadas do gelo

marinho. Na presente simulação fixou-se em 10 camadas e 7 anos de integração do

modelo (2009 a 2015).

Etapa 4: Após as configurações das etapas anteriores, foi dado o início da

simulação. A saída gerou 4 séries históricas, cuja primeira é a espessura do gelo

marinho em metros, a segunda a temperatura da superfície do mar em °C, a terceira

a espessura da neve e a quarta o erro do balanço de energia na superfície do gelo

marinho.

3.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA

3.5.1 Análise exploratória dos dados

Com o objetivo de fazer uma análise exploratória nos dados observados nas

estações meteorológicas e de radiação sobre o Mar de Weddell, é necessária aplicar

inicialmente métodos da estatística descritiva. Calcularam-se as estatísticas resumo

como: média, mediana, desvio-padrão, quantis, máximos e mínimos e coeficiente de

variação; além da elaboração de gráficos para a visualização do comportamento das

variáveis e detecção de outliers, tais como: Box and Whiskers Plot. Essas estatísticas

são bem difundidas em toda comunidade cientifica de diversas áreas de

conhecimento, não sendo necessários maiores detalhes sobre a metodologia de

cálculo das mesmas.

3.5.2 Regressão Linear

Com a finalidade de verificar se as variáveis Pressão Atmosférica Superficial,

Velocidade do Vento e Temperatura do Ar a 2 Metros estão com o comportamento

50

crescente ou decrescente ao longo do período de 1979 a 2015, foi calculado o

coeficiente de inclinação da reta proveniente do ajuste através do método de

Regressão Linear, relacionando as variáveis com o tempo.

De acordo com Wilks (2006) o método de Regressão Linear Simples é uma

forma de relacionar duas variáveis, através do ajuste de uma reta que melhor

representa a relação entre as variáveis. A equação da reta é dada:

𝑌 = 𝑎 + 𝑏𝑋 (38)

sendo Y a variável dependente, X a variável independente, a o coeficiente do

intercepte da reta e b o coeficiente de inclinação da reta

Como mencionado anteriormente o objetivo do presente trabalho é somente

encontrar o coeficiente de inclinação da reta (b) e verificar se o mesmo possui

significância estatística (usando o Teste – F). Então, a equação 39 descreve mostra

como é calculado o coeficiente de inclinação da reta:

b = ∑ [(Xi−Xmed)(Yi−Ymed)]ni=1

∑ (Xi−Xmed)2n

i=1

(39)

onde Xmed e Ymed são os valores médios das variáveis independente e dependente,

respectivamente.

3.5.3 Teste de Hipótese

Na estatística existem métodos que auxiliam o pesquisador a tomar decisões

admitindo que a mesma tenha uma tolerância ao erro. Um dos métodos é o teste de

hipóteses (WILKS, 2006). Os principais passos necessários para realização de um

teste são: definir a Hipótese Nula (H0) e a Hipótese Alternativa (H1).

De acordo com Wilks (2006) a Hipótese Nula (H0) é uma suposição de uma

verdade que necessita ser testada, já que a mesma leva em consideração que não há

mudanças na população de interesse. Já a Hipótese Alternativa (H1) é aquela que

contradiz a suposição da Hipótese nula, na qual a mesma tem a suposição que há

mudanças na população de interesse. Segundo Wang (1998), o nível de significância

é um limite máximo de probabilidade para a rejeição da H0. No presente trabalho foi

adotado o nível de significância de α = 0,05.

51

3.5.3.1 Teste para verificar tendência: Mann-Kendall

O objetivo da aplicação deste teste é a verificação da existência de tendências

com significância estatística nas séries históricas descrita no tópico 3.2.1. Esse teste

é recomendado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), pois o mesmo é um

teste não paramétrico e aplicado em avaliação de dados ambientais (YUE et al., 2002).

O teste foi proposto por Mann (1945) e aprimorado pelo Kendall (1975) e possui

ampla utilização na verificação de tendência em uma determinada série histórica

estatística (YUE et al., 2002). A metodologia consiste em comparar cada valor de uma

série histórica com os outros valores restantes, sempre obedecendo uma ordem

(WILKS, 2006). Segundo Mann (1945), a Hipótese Nula (H0) indica que os dados são

provenientes de uma variável aleatória independente e identicamente distribuída e a

Hipótese Alternativa é que os dados apontam a existência de tendência

(WILKS,2006). A estatística do teste é:

𝑆 = ∑ ∑ 𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 (𝑋𝑖 − 𝑋𝑗)𝑛−1𝑗=1

𝑛𝑖=1 (40)

sendo que Xi e Xj são os valores dos dados em sequência, n é o comprimento a série

de dados, e:

𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 (𝑋𝑖 − 𝑋𝑗) = {

+1 𝑠𝑒 (𝑋𝑖 − 𝑋𝑗) > 0

0 𝑠𝑒 (𝑋𝑖 − 𝑋𝑗) = 0

−1 𝑠𝑒 (𝑋𝑖 − 𝑋𝑗) < 0

} (41)

Mann (1945) e Kendall (1975) demonstraram que S possui uma distribuição

normal com média centrada em zero E(S) e variância var(S) dada por:

𝐸(𝑠) = 0 (42)

var(s)= n(n+1)(2n+5)- ∑ 𝑡𝑝 (𝑡𝑝-1)(2𝑡𝑝+5)

pi=1

18 (43)

sendo,

E(s) - Indica o valor esperado do sinal;

var(s) - Corresponde à variância do sinal;

𝑡𝑝 – é o número de dados com valores iguais em certo grupo;

q – é o número de grupos iguais na série;

52

n – representa o tamanho da série.

Quando o número de observações é superior a 30, a estatística de teste é:

𝑍𝑚𝑘 =

{

𝑆−1

√𝑣𝑎𝑟(𝑠) 𝑠𝑒 𝑆 > 0

0 𝑠𝑒 𝑆 = 0𝑆+1

√𝑣𝑎𝑟(𝑠) 𝑠𝑒 𝑆 < 0

(44)

De acordo com Wilks (2006), o sinal da estatística z indica se a tendência é

crescente (z>0) ou decrescente (z<0).

3.5.3.2 Teste para verificar a sazonalidade: Kruskal-Wallis

A sazonalidade é verificada quando os fenômenos em estudo ocorrem durante

um determinado tempo e repetem-se a cada período idêntico de tempo. Aplicou-se o

teste de Kruskal – Wallis com o objetivo de verificar se as séries temporais observadas

nas estações meteorológicas (Tabela 1) apresentam sazonalidade estatisticamente

significante no período em estudo.

3.5.4 Análise dos eventos extremos de velocidade do vento

Na literatura possuem diferentes limiares para definir um Evento Extremo de

Velocidade do Vento (EEVV). Estudos sobre extremos na intensidade da velocidade

do vento, realizados para a estação de McMundo (Mar de Ross), levaram em

consideração a categoria 6 da escala de Beaufort (11,3 m/s), enquanto Turner et al.

(2009) usou 17,3 m/s para definir vendavais e 24,5 m/s para tempestade. Estudo

realizado por Weber et al. (2016) encontrou um limiar para definir evento extremos da

velocidade do vento de 15 m/s, usando o percentil de 95%. Diante ao exposto, no

presente trabalho, utilizou-se o percentil de 95% variável por mês com o objetivo de

obter os limiares mensais acima do qual se considerou como EEVV por considerar

que, devido à sazonalidade, as condições variam ao longo do ano, sendo assim,

levou-se em conta eventos atípicos para cada mês em observação.

A Teoria de Valores Extremos (TVE) foi aplicada na série temporal de

velocidade do vento diário para cada estação meteorológica em estudo. Sendo que,

53

a finalidade desta técnica estatística é estimar a cauda inferior ou superior de uma

distribuição referente a um conjunto de observações independentes e identicamente

distribuídas (COLES, 2001).

No presente trabalho utilizou a Distribuição Generalizada de Valores Extremos

(GEV) definido por Jenkinson (1855). Desta forma, a configuração do banco de dados

para o cálculo do tempo de retorno dos extremos da velocidade do vento baseou-se

na metodologia dos máximos anuais, cuja série temporal formada compreende os

valores máximos da velocidade em cada ano (COLES, 2001).

3.5.5 Análise da acurácia do modelo pontual

Com a finalidade de verificar acurácia das simulações do modelo pontual,

aplicou-se para Temperatura do Ar a análise objetiva através dos Erro Médio, Raiz do

Erro Quadrático Médio e Erro Absoluto Médio. Deve-se ressaltar que o modelo pontual

possui quatro saídas, porém só foi possível aplicar análise objetiva na temperatura

devido a disponibilidade de dados com boa qualidade para a região do Mar do

Weddell.

Segundo a Wilks (2006) a análise de resíduo dos modelos é o melhor método

de análise da acurácia dos mesmos. Então, o Erro Absoluto Médio se for igual a zero

significa que a simulação foi perfeita. Ou seja, a simulação possui os mesmos valores

do que o observado. E é dado pela seguinte formula:

𝐸𝐴𝑀 = 1

𝑛 ∑ |𝑆𝑖𝑚𝑢𝑙𝑎𝑑𝑜 − 𝑂𝑏𝑠𝑒𝑟𝑣𝑎𝑑𝑜|𝑛

𝑘=1 (45)

onde n é o numero de observações.

A Raiz do Erro Quadrático Médio é similar ao EAM, dando a magnitude do erro

para simulação. Como pode ser verificado pela formula abaixo:

𝑅𝐸𝑄𝑀 = √1

𝑛∑ (𝑆𝑖𝑚𝑢𝑙𝑎𝑑𝑜 − 𝑂𝑏𝑠𝑒𝑟𝑣𝑎𝑑𝑜)2𝑛𝑘=1 (46)

54

O Erro Médio mostra simplesmente o viés entre o observado e o simulado.

Podendo indicar se o modelo está subestimando ou superestimando os valores

observado.

𝐸𝑀 = 𝑆𝑖𝑚𝑢𝑙𝑎𝑑𝑜𝑀é𝑑𝑖𝑜 − 𝑂𝑏𝑠𝑒𝑟𝑣𝑎𝑑𝑜𝑀é𝑑𝑖𝑜 (47)

55

4. RESULTADO E DISCUSSÂO

Nesta seção serão analisadas as variáveis meteorológicas das estações sobre

responsabilidade do Instituto Argentino Antártico em torno do Mar de Weddell (MW),

identificando os eventos extremos na Velocidade do Vento (VV) e suas implicações

na região de interesse. Por fim, serão discutidas as simulações da Espessura do Gelo

Marinho para pontos pré-definidos sobre o MW, tendo como objetivo avaliar a

representação das variáveis.

4.1 Análise descritiva das variáveis meteorológicas

As séries temporais diárias das variáveis estudadas neste trabalho

apresentaram uma alta variabilidade ao longo do tempo. Sendo assim, aplicou-se a

técnica de médias móveis (janela de 30 dias) com o objetivo de suavizar a

variabilidade.

Observa-se que as estações meteorológicas de Belgrano II e Marambio (Figura

17a e Figura 17e, respectivamente) possuem os valores de Pressão Atmosférica

Superficial semelhantes com 988,51 hPa e 988,97 hPa, respectivamente. Entretanto,

as estações de Carlini, Orcadas e Esperanza (Figuras 17b, c e f, respectivamente)

apresentaram os maiores valores médios diários da Pressão atmosférica, com 990,57

hPa, 992,43 hPa e 990,58 hPa, respectivamente. Enquanto, a San Martin (Figura 17d)

apresentou a menor média diária com o valor de 987,96 hPa. Por outro lado, San

Martin possuiu a maior variabilidade entre as demais estações estudadas, com um

desvio-padrão igual a 13,05 hPa. Em todas as estações meteorológicas notou-se que

o coeficiente de inclinação da regressão linear foi negativo, implicando-se numa

redução da Pressão Atmosférica Superficial entre o período de 1979 a 2015. Este

comportamento pode estar relacionado com o aumento de Ciclones Extratropicais

transientes pela região do Mar de Weddell, fazendo com que a Pressão Atmosférica

diária tenha uma redução.

56

Figura 17: Série Temporal da Pressão Atmosférica Superficial em hPa (PAS). (a) Belgrano II, (b) Carlini, (c) Orcadas, (d) San Martin, (e) Marambio e (f) Esperanza. Linha continua em vermelho mostra a média móvel. Valores seguidos com um * mostra que o valor do p-valor foi menor do que 5%, e os valores com ** que o valor do p-valor foi muito menor do que 1%. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015, dados diários.

Observa-se que a estação meteorológica de San Martin (Figura 18d) entre

todas as estações é a que apresentou a menor intensidade do vento, com uma

velocidade média diária de 2,41 m/s entre os anos de 1979 a 2015. Por outro lado, as

estações de Carlini, Orcadas e Esperanza (Figuras 18 b, c e f, respectivamente)

apresentaram as maiores intensidades de vento, com valores de 8,40 m/s, 8,84 m/s e

8,34 m/s, respectivamente. Verificou-se que a estação de Belgrano II (Figura 18a)

apresentou uma média diária de 5,92 m/s, contudo possuem diversos eventos que a

velocidade do vento ultrapassa os 25 m/s. A estação de Belgrano II está localizada na

costa sul do Mar de Weddell, nesta região possui influência dos Ciclones

Extratropicais e dos Ventos Catabáticos oriundos do Platô no centro do continente

Antártico (SIMMONDS e KEAY, 2000; MENDES et al., 2010; e CHENOLI et al., 2013).

O coeficiente de inclinação da reta da regressão linear mostrou que somente a

estação de San Martin (Figura 18d) não apresentou aumento na intensidade do vento

na região. O fato das demais estações em torno do Mar de Weddell apresentarem um

57

aumento, pode estar relacionado com o aumento da densidade de ciclones

extratropicais na região.

Figura 18 - Série Temporal da Velocidade do Vento em m/s (VV). (a) Estação meteorológica de Belgrano II, (b) Carlini, (c) Orcadas, (d) San Martin, (e) Marambio e (f) Esperanza. Linha continua em vermelho mostra a média móvel. Valores seguidos com um * mostra que o valor do p-valor foi menor do que 5%, e os valores com ** que o valor do p-valor foi muito menor do que 1%. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015, dados diários.

Nota-se que a estação meteorológica de Belgrano II (Figura 19a) possui a

menor média diária climatológica entre todas as estações estudadas no presente

estudo, com uma Temperatura do Ar a 2 Metros de -16,05 °C. Outra característica que

a estação apresentou foi a grande variabilidade, com um valor de desvio-padrão de

8,44 °C. Este aspecto pode estar relacionado a sua localização geográfica, visto que

nessa região a estação meteorológica possui influência dos Ventos Catabáticos

oriundos do centro do continente Antártico, transportando um ar mais frio para região.

Por outro lado, as temperaturas mais altas registradas na estação está relacionada a

passagem de Ciclones Extratropicais na região que advecta um ar mais quente de

latitudes maiores para estação de Belgrano II, como mostra na Figura 30 em tópicos

posteriores quando discutido os eventos extremos na velocidade do vento. As

estações de San Martin e Marambio (Figura 19d e Figura 19e), apresentaram valores

médios na Temperatura do Ar a 2 Metros de -9,10 °C e -7,91 °C, respectivamente.

58

Sendo que, as duas estações como apresentou Belgrano II também apresentaram

valores altos no desvio-padrão comparados as demais estações estudas. O

coeficiente de Inclinação da Reta mostra que as estações de Carlini, Orcadas, San

Martin e Esperanza (Figura19 b, c, d e f, respectivamente) possuem uma temperatura

crescente entre o período de 1979 a 2015. Entretanto, as estações de Belgrano II e

Marambio mostra que a temperatura do ar está decrescendo no mesmo período.

Figura 19 - Série Temporal da Temperatura do Ar a 2 Metros em °C (T2M). (a) Belgrano II, (b) Carlini, (c) Orcadas, (d) San Martin, (e) Marambio e (f) Esperanza. Linha continua em vermelho mostra a média móvel. Valores seguidos com um * mostra que o valor do p-valor foi menor do que 5%, e os valores com ** que o valor do p-valor foi muito menor do que 1%. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015, dados diários.

Os Boxplots mensais da Pressão Atmosférica Superficiais (Figura 20) mostram

que a variável não possui grandes variações ao longo do ano. Por outro lado, indica

que em todas as estações estudadas a variabilidade aumenta no final do outono até

o início da primavera austral. Este padrão está associado a quantidade de Ciclones

Extratropicais que passam pela região. Em 2000, Simmonds e Keay desenvolveram

uma climatologia de ciclones para o hemisfério sul, usando 40 anos de dados das

reanálises do NCEP/NCAR. Os autores encontraram que no inverno austral sobre o

Mar de Weddell possui a maior densidade de Ciclone Extratropical, do que o verão

austral. Observa-se que na maioria das estações meteorológicas estudas no presente

59

trabalho (menos Belgrano II) a Pressão Atmosférica Superficial está maior no mesmo

período que apresenta a maior variabilidade discutia anteriormente. Este padrão pode

estar associado a anticiclones transientes pela região.

Figura 20 - Boxplot mensal da Pressão Superficial Atmosférica em hPa (PAS). (a) Belgrano II, (b) de Carlini, (c) Orcadas, (d) San Martin, (e) Marambio e (f) Estação meteorológica de Esperanza. O ponto vermelho mostra a média climatológica mensal. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015, dados diários.

Nota-se que as estações de Carlini, Orcadas e Esperanza (Figura 21b, 21c e

21f, respectivamente) não apresentaram variações significativas na intensidade do

vento, tendo o mesmo comportamento ao longo do ano, sendo que, de acordo com

estudo desenvolvido pelos autores Van As et al. (2007), os ventos mais intensos

encontram-se no inverno em algumas estações sobre o continente Antártico.

Entretanto, a estação de San Martin (Figura 21d) possui as menores magnitudes do

vento durante o ano. Observa-se, em todas as estações, que no final da primavera e

durante o verão austral, ocorreram as menores velocidades do vento na região. Este

padrão como mostrado na Figura 20 anteriormente, está relacionado com a densidade

de Ciclones Extratropicais no período do Inverno ser maior, do que no período do

verão e outono austral. Por fim, verifica-se que a estação de Belgrano II possui a maior

densidade de outliers em relação às demais estações meteorológicas, está

60

informação implica no fator que a estação possui diversos fenômenos meteorológicos

que propiciam eventos extremos na Velocidade do Vento, tais como, Ciclones

Extratropicais e Ventos Catabáticos.

Figura 21 - Boxplot mensal da Velocidade do Vento em m/s (VV). (a) Belgrano II, (b) Carlini, (c) Orcadas, (d) San Martin, (e) Marambio e (f) Esperanza. O ponto vermelho mostra a média climatológica mensal. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015, dados diários.

Nota-se que as maiores T2M foram nos meses que compreendem o verão

austral (DJF) e nos meses com as menores variabilidades (Figura 22). Observa-se

que as estações de Belgrano II e San Martin (Figura 22a e Figura 22d,

respectivamente) as temperaturas durante o período de 1979 a 2015 apresentaram

casos próximos de -40°C. Outro aspecto da estação de Belgrano II são as menores

temperaturas entre os meses de maio e setembro, diferentemente das demais

estações que registraram entre os meses de junho, julho e agosto. O inverno possui

a maior variabilidade da T2M em todas as estações meteorológicas. As estações de

Carlini, Orcadas e Esperanza (Figuras 22b, 22c e 22f, respectivamente) possuem a

maior densidade de outliers diante demais estações.

61

Com a aplicação do Teste de Hipótese Kruskall – Wallis, identificou-se que em

todas as estações, as variáveis Pressão Atmosférica Superficial (PAS), Velocidade do

Vento (VV) e Temperatura do Ar a 2 Metros (T2M) apresentaram sazonalidade com

significância estatística ao longo do ano.

Figura 22 - Boxplot mensal da Temperatura do ar a 2 Metros em °C (T2M). (a) Belgrano II, (b) Carlini, (c) Orcadas, (d) de San Martin, (e) Marambio e (f) Esperanza. O ponto vermelho mostra a média climatológica mensal. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015, dados diários.

Observa-se na Tabela 4 que a estação de Belgrano II possui duas direções do

vento com maior frequência nas observações diárias realizadas no período

compreendido de 1979 a 2015. A primeira de 43° (Nordeste) e a segunda direção de

166° (Sudeste). Este padrão está de acordo com o estudo desenvolvido pelos autores

Chenoli et al. (2013), que observaram na estação meteorológica de McMundo (na

região do Mar de Ross) a existência de ventos predominantes de sudeste e sudoeste,

configurando uma distribuição binomial da direção do vento. Na região de Belgrano II,

os ventos de oriundos de nordeste, são provenientes da atuação de Ciclones

Extratropicais (Figura 29), contudo os ventos provenientes de sul são os ventos que

vem do interior do continente (os Ventos Catabáticos). Na estação de Carlini, a

predominância do vento é de 257° (Sudoeste), Orcadas de 297° (Noroeste), San

62

Martin de 78° (Nordeste), Marambio de 222° (Sudoeste) e Esperanza de 289°

(Noroeste).

Tabela 4 - Predominância do vento diário nas estações em torno do MW. Período de janeiro de 1979 a dezembro de 2015.

Estação Direção predominante do vento

Belgrano II 43° e 166° Carlini 257°

Orcadas 297° San Martin 78° Marambio 222° Esperanza 289°

Durante as observações realizadas entre o período de 1979 a 2015, nota-se

que na estação de Belgrano II (Figura 23a) os ventos mais intensos foram os

provenientes de sul e nordeste. Em particular, quando o vento foi de nordeste, cerca

de 20% dos ventos possuíam velocidades maiores do que 16 m/s (Figura 23a).

Estudos realizados com estações meteorológicas para região de Ross na Antártica,

evidenciaram que a maioria dos eventos intensos (velocidade), a direção tinha

predominância de sul ou nordeste (CHENOLI et al. 2013 e WEBER et al. 2016).

Observa-se que as estações de Carlini, Orcadas e San Martin (Figuras 23b, 23c e 23f,

respectivamente) apresentaram o mesmo padrão observado, visto que os ventos mais

intensos foram de oeste. Na estação de Marambio (Figura 23e) nota-se que os ventos

mais intensos são provenientes de sudeste, por outro lado, a estação de San Martin

(Figura 23d) os ventos mais intensos foram os oriundos de leste.

63

Figura 23: Rosas dos ventos demonstrando o comportamento da Direção e Velocidade do Vento nas seis estações em torno do Mar do Weddell. (a) Belgrano II, (b) Carlini, (c) Orcadas, (d) San Martin, (e) Marambio e (f) Esperanza. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015, dados diários.

4.1.2 Análise da tendência das variáveis meteorológicas nas estações em torno do Mar de Weddell

A Tabela 5 mostra o teste de Mann–Kendall aplicado nas séries históricas da

Pressão Atmosférica Superficial, Velocidade do Vento e Temperatura do Ar a 2 Metros

para o período de janeiro de 1979 a dezembro de 2015. Como mostrado na Figura 17

anteriormente, as estações meteorológicas estudas no presente trabalho apresenta

um comportamento decrescente da Pressão Atmosférica Superficial no período

estudado. Entretanto, somente as estações de Carlini, Esperanza e San Martin

possuem tendências com significância estatística. Por outro lado, para a série

temporal da Velocidade do Vento mostram que para a estação de Orcadas, Carlini e

San Martin possuem tendência com significância estatística segundo ao teste de

hipótese de Mann-Kendall. Destacou-se para Temperatura do Ar a 2 Metros as

estações de Orcadas e San Martin com tendência positiva significante.

64

Tabela 5 - Teste de Mann-Kendall para a componente de tendência das Séries Históricas de Pressão Atmosférica (PAS) em hPa, Velocidade do Vento (VV) em m/s, Direção do Vento (DV) em graus e Temperatura do Ar em 2 metros (T2M) em °C. 1979 – 2015. Valores seguidos com um * mostra que o valor do p-valor foi menor do que 5%, e os valores com ** que o valor do p-valor foi muito menor do que 1%.

Estação

PAS VV T2M

tau tau tau

Belgrano II -0,03 0,01 -0,05

Carlini -0,07 * 0,09 ** 0,05

Esperanza -0,06 * 0,06 0,02

Marambio -0,05 0,02 -0,03

Orcadas -0,02 0,07 * 0,07 *

San Martin -0,07 * 0,11 ** 0,20 *

As Figuras 24, 25 e 26 mostram a componente da tendência oriundo da

decomposição da série temporal das variáveis PAS, VV e T2M, respectivamente. É

identificado que entre o período de 1979 a 2005 a série temporal de PAS apresentou

estacionaridade para as estações de Carlini, Esperanza e San Martin (estações estas

que apresentaram tendência significante da PAS, de acordo com a Tabela 5). Ou seja,

visualmente a componente da tendência mostra uma variabilidade em torno da média.

Entretanto, a partir do ano de 2006, observa-se uma tendência negativa acentuada

até o ano de 2015 (Figura 24).

65

Figura 24 - Componente da tendência para Pressão Superficial Atmosférica (PAS) em hPa. A linha pontilhada vermelha mostra a componente para a estação meteorológica de Carlini, a linha sólida azul mostra a componente para a estação de Esperanza e a linha preta pontilhada mostra o componente para a estação de San Martin. O período em estudo compreende de janeiro de 1979 a dezembro de 2016.

De acordo com a Figura 26, o comportamento da Velocidade do Vento das

estações de Carlini e Orcadas apresentaram comportamento semelhante durante o

período estudado. Nota-se uma leve tendência positiva nas estações de Carlini,

Orcadas e San Martin.

66

Figura 25 - Componente da tendência para Velocidade do Vento (VV) em m/s. A linha pontilhada vermelha mostra a componente para a estação meteorológica de Carlini, a linha sólida azul mostra a componente para a estação de Orcadas e a linha preta pontilhada mostra o componente para a estação de San Martin. O período em estudo compreende de janeiro de 1979 a dezembro de 2016.

A Figura 27 mostra a componente da tendência da T2M nas estações que

apresentaram tendência positiva com significância estatística (Orcadas e San Martin).

Diante disto, observa-se na estação de San Martin entre 2003 e 2014, uma tendência

positiva da T2M. Entretanto, no período de 1979 a 2002, identificou-se uma série com

comportamento estacionário. Por outro lado, na estação de Orcadas, identifica-se uma

tendência positiva da T2M, porém entre os anos de 2011 e 2015 a componente mostra

uma indicação de diminuição da temperatura; principalmente em Orcadas. O aumento

da temperatura em Orcadas e na região da Península Antártica (PA) foi verificado em

vários estudos, sendo que, os mesmos propõem que a tendência de aumento na

temperatura do ar dá-se através do resfriamento da baixa estratosfera (a perda do gás

ozônio) Antártica e aquecimento da troposfera, devido ao aumento dos gases de efeito

estufa (GILLETT et al. 2006 e TURNER et al. 2005, 2006).

67

Figura 26: Componente da tendência para Temperatura do ar 2 Metros (T2M) em °C. A linha pontilhada vermelha mostra a componente para a estação meteorológica de San Martin e a linha sólida azul mostra a componente para a estação de Orcadas. O período em estudo compreende de janeiro de 1979 a dezembro de 2016.

4.1.3 Análise dos eventos extremos na velocidade do vento nas estações meteorológicas em torno do Mar de Weddell

Na Tabela 6 podem-se observar os limiares definidos a partir do percentil de

95% para todos os meses do ano. Considerou-se como eventos extremos valores e

velocidade do vento superiores a estes limiares mensais. Observa-se que os ventos

mais intensos estão presentes no período do inverno e primavera austral e os menores

limiares no verão austral.

68

Tabela 6 - Mostra os limiares diários da velocidade do vento em m/s, baseado nos valores estimados pelo percentil de 95%. No período de janeiro de 1979 a dezembro de 2010.

Mês Belgrano II Carlini Orcadas Marambio San Martin Esperanza

Janeiro 8,34 12,44 13,25 10,54 7,47 12,25

Fevereiro 10,00 13,49 14,07 11,59 8,15 13,59

Março 12,10 14,05 14,53 12,73 8,85 14,09

Abril 14,06 14,44 15,24 12,84 9,54 14,44

Maio 13,95 14,89 14,83 13,12 9,55 14,71

Junho 16,30 15,39 15,78 13,27 9,54 15,41

Julho 16,53 16,01 15,85 14,19 10,01 16,19

Agosto 17,76 16,84 15,98 13,60 10,36 16,14

Setembro 16,78 15,82 15,80 14,28 9,99 15,99

Outubro 15,52 15,52 15,85 13,47 9,46 15,62

Novembro 13,48 14,13 14,96 12,61 8,51 14,59

Dezembro 9,87 12,97 13,38 11,11 7,42 12,94

A Tabela 7 mostra a quantidade de eventos extremos da velocidade do vento

por mês, com base nos limiares mostrados anteriormente. No período das séries

temporais diárias desde janeiro de 1979 a dezembro de 2015 foram registrados 687

eventos extremos na estação de Belgrano II. Nota-se que os meses de janeiro e março

foram os que apresentaram maior quantidade de extremos. Na estação de Carlini

foram registrados 701 eventos extremos. O mês de dezembro destaca-se por ter

registrado 83 eventos extremos, sendo assim, o mês que mais acontece mais ventos

fortes para estação. As estações de Orcadas e Marambio apresentaram 680 eventos

extremos. Nestas estações, o mês de maio foi o que apresentou maior quantidade de

eventos com 60 e 59 registros, respectivamente. A estação de Esperanza apresentou

677 registros de ventos fortes. E por fim, San Martin apresentou 672 registros de

ventos fora do padrão, com os meses de junho e julho com mais ocorrência de eventos

extremos na velocidade do vento.

69

Tabela 7 - Mostra a quantidade de extremos da velocidade do vento por mês em todas estações em estudo no período de 1979 a 2015. Entre parêntese indica a porcentagem de eventos extremos em relação a quantidade de observação (13514 dias).

Estações/Meses Belgrano

II Carlini Orcadas Marambio

San

Martin Esperanza

Janeiro 59 54 56 58 60 56

Fevereiro 54 53 52 52 52 51

Março 59 54 55 54 57 56

Abril 56 54 54 57 55 54

Maio 58 60 60 59 47 59

Junho 54 56 57 56 56 56

Julho 57 58 58 58 59 58

Agosto 54 58 59 58 58 58

Setembro 54 56 57 56 56 56

Outubro 53 59 58 58 58 58

Novembro 57 56 56 56 56 56

Dezembro 54 83 58 58 58 59

Total 669 701 680 680 672 677

Nos boxplots (Figura 27), nota-se que em todas as estações os extremos

menos intensos encontram-se no período do verão austral. A estação de Belgrano II

(Figura 27a) possui a maior variabilidade no decorrer do ano na magnitude dos ventos,

em comparação com as demais estações estudadas. No mês de setembro de 2013,

foi registrada a velocidade do vento mais intensa, cujo valor chegou a 30,25 m/s

(~108,19 km/h). A estação de Marambio (Figura 27d), em julho de 1982, registrou um

valor semelhante à de Belgrano II, sendo que, a intensidade foi igual a 30,40 m/s.

70

Figura 27 - Boxplot mensal do extremo da Velocidade do Vento (VV) em superfície em m/s nas seis estações em torno do Mar do Weddell. (a) Estação meteorológica de Belgrano II, (b) Estação meteorológica de Carlini, (c) Estação meteorológica de Orcadas, (d) Estação meteorológica de Marambio, (e) Estação meteorológica de San Martin e (f) Estação meteorológica de Esperanza. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015.

Para as estações de Carlini, Orcadas e Esperanza (Figuras 28b, 28c e 28f,

respectivamente) estimou-se o tempo de retorno aproximadamente de 1 ano para

eventos extremos da velocidade do vento, ficando inferiores a 20 m/s. Por outro lado,

extremos entre 20 a 22 m/s, o tempo estimado para os mesmos voltarem acontecer

ficou entre 1 a 10 anos e as magnitudes máximas registradas nessas estações ficaram

com o tempo de retorno aproximadamente de 80 anos. Na estação de Belgrano II

(Figura 28a), as magnitudes abaixo de 25 m/s dos eventos extremos, possuem um

tempo de retorno de aproximadamente 1 ano, porém, valores entre 25 a 28 m/s foi

71

estimado m período de retorno a cerca de 10 anos. O valor máximo de 30,25 m/s,

registrado na estação, possui um tempo previsto de retorno a cada 80 anos. A estação

de Marambio (Figura 28e) foi semelhante a estação de Belgrano II em relação às

magnitudes das velocidades do vento. A estação de San Martin possui as menores

magnitudes da velocidade do vento nos eventos extremos ao ser comparada com as

demais estações meteorológicas. Os eventos que ficaram entre 10 a 15 m/s revelaram

um tempo de retorno entre 1 a 10 anos, entretanto, o valor máximo de 30,40 m/s tem

o período de recorrência de 80 anos.

Figura 28 - Tempo de Retorno estimado pela técnica GEV dos eventos extremos da Velocidade do Vento (VV) em superfície em m/s nas seis estações em torno do Mar do Weddell. (a) Belgrano II, (b) Carlini, (c) Orcadas, (d) Marambio, (e) San Martin e (f) Esperanza. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015.

72

A Figura 29 mostra a composição atmosférica da anomalia da PNMM e

circulação atmosférica para os dias com registros mais intensos de Eventos Extremos

na Velocidade do Vento (EEVV). Observa-se que as composições nas estações de

Belgrano II, Orcadas, San Martin e Esperanza (Figura 29a, 29c, 29e e 29f,

respectivamente), no dia anterior (T-1) do registro do evento, mostravam anomalias

negativas (podendo chegar a -14 hPa) sobre o Mar do Weddell ou Península Antártica,

associados com movimentos ciclônicos (Ciclone Extratropical). Entretanto, a

composição feita para os eventos ocorridos nas estações de Carlini (Figura 29b)

mostram que no dia anterior aos registros não há anomalias negativas no campo da

PNMM sobre MW e PA, porém existe um cavado em superfície bem pronunciado ao

norte da PA.

No dia do registro do evento extremo nas estações (T=0), identificou-se que em

todas as imagens há um ciclone extratropical com anomalias de PNMM negativas

sobre PA ou MW. Destaca-se a composição na estação de Belgrano II com um intenso

ciclone extratropical na região da estação e o rápido deslocamento do anticiclone na

composição de Marambio. No dia posterior da ocorrência do evento extremo (T+1)

nota-se que as composições das estações de Belgrano II, Marambio, San Martin e

Esperanza (Figura 29a, 29d, 29e e 29f, respectivamente) mantiveram o padrão

ciclônico sobre a região do MW com anomalias negativas de PNMM, porém menos

intensas. Por outro lado, nota-se anomalias positivas sobre PA nas composições das

estações de Carlini e Orcadas (Figura 29b e 29c, respectivamente).

Diversos estudos em torno do continente Antártico utilizando dados de

estações meteorológicas mostraram uma diminuição na pressão atmosférica durante

eventos extremos na velocidade do vento (VAN AS et al. 2007; HOLMES et al. 2000

e WEBER et al. 2016). De acordo com Mendes et al. (2010), a região do Mar de

Weddell é ciclogenética, ou seja, existe formação de ciclones extratropicais. Sendo

assim, é de esperar ter uma relação entre a diminuição na pressão atmosférica e o

aumento da velocidade do vento, com a passagem de ciclones extratropicais na

região.

73

Figura 29 - Composição Atmosférica da Anomalia da Pressão ao Nível Médio do Mar (PNMM) em hPa e linhas de corrente para os dias com Eventos Extremos outliers na Figura 28. Totalizando 16 Eventos Extremos. (a) Belgrano II, (b) Carlini, (c) Orcadas, (d) Marambio, (e) San Martin e (f) Esperanza. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015.

N

orte

74

A Figura 30 mostra a composição da anomalia do campo de temperatura do ar

a 2 metros da superfície proveniente da reanálise do Era – Interim. No dia anterior ao

registro do evento extremo na composição dos 16 casos mais intensos da estação de

Orcadas (Figura 30c), detectou-se anomalia positiva da temperatura sobre o MW,

entretanto, observa-se anomalia negativa sobre toda a península Antártica. Padrão

semelhante encontra-se na composição dos extremos registrado na estação de

Belgrano II (Figura 30a), porém obteve-se anomalia negativa mais para sudoeste da

PA, estendendo-se na direção do Mar de Ross (oeste do continente antártico). Esse

padrão é notado nas demais composições, entretanto com menor magnitude.

No dia do registro do evento extremo (T=0), observa-se que na composição da

estação de Belgrano II, verificou-se o mesmo padrão do dia anterior (T-1), porém mais

intenso. Contudo, na composição da estação de Orcadas, verificaram-se menores

anomalias positivas de temperatura sobre o MW e menores anomalias negativas

sobre a PA. Na composição da estação de Marambio (Figura 30d) constataram-se

anomalias positivas do campo de temperatura do ar a 2 metros na parte central ao

norte da PA, por outro lado na estação de San Martin (Figura 30e) há anomalias

positivas na parte leste da PA (oeste do MW). Enquanto, as estações de Carlini e

Esperanza (Figura 30b e 30f, respectivamente) ocorreram valores baixos de anomalia

negativa na parte sudoeste da PA, longe da região de localização das estações.

No dia após o registro do evento extremo (T+1) destaca-se a composição de

Belgrano II com a manutenção da anomalia positiva nessa região da estação. Sendo

assim, diversos estudos realizados em torno do continente Antártico utilizando

estações meteorológicas aponta que antes e durante o registro do evento extremo

observou-se um aumento da temperatura na estação, devido à advecção quente

proveniente do ar marinho oriundos de latitude menores (VAN AS et al., 2007;

HOLMES et al., 2000; COGGINS;MCDONALD, 2015; e WEBER et al., 2016).

75

Figura 30 - Composição Atmosférica da Temperatura do ar a 2 Metros do Era-Interim em °C e linhas de corrente para os dias com Eventos Extremos outliers na Figura 28. Totalizando 16 Eventos Extremos. (a) Belgrano II, (b) Carlini, (c) de Orcadas, (d) Estação meteorológica de Marambio, (e) San Martin e (f) Esperanza. O período em estudo é janeiro de 1979 a dezembro de 2015.

76

4.2 Análise das simulações do modelo pontual

Serão apresentados a seguir as simulações do Modelo Pontual proposto por

Bitz e Roe (2004) com modificações descritas no presente trabalho, cujas saídas são:

a Espessura do Gelo Marinho, Temperatura do Ar, Espessura da Neve e o

Fechamento do Balanço de Radiação. Realizou-se uma avaliação objetiva das saídas

de Temperatura do Ar e da Espessura da Neve. Contudo, inicialmente foi discutido os

dados de fluxos e albedo que serviram com condição inicial para o modelo pontual.

Observa-se que o Fluxo de Calor Latente (Figura 31) nos pontos PT1 e PT2

possuem o fluxo máximo compreendendo nos primeiros 100 dias do ano, ou seja, o

máximo acontece no outono austral. Entretanto, o ponto de Smithson possui seu pico

de calor latente no inverno austral. Sendo assim, são os únicos pontos que

apresentam essas características, sendo que, os demais apresentam o menor Fluxo

de Calor Latente no inverno austral e o máximo ocorre no verão austral. Deve-se

ressaltar que no período do início da primavera austral o gelo marinho começa a

derreter, chegando na sua menor concentração em fevereiro (verão austral). Por outro

lado, no outono austral o gelo começa a crescer sobre o Oceano Austral (TURNER et

al., 2013).

Figura 31 - Ciclo diário do Fluxo de Calor Latente nos pontos pré-definidos sobre o

Mar de Weddell. Climatologia feita a partir dos dados do NCEP/NCAR de janeiro de

1979 a dezembro de 2008 com a frequência diária.

O comportamento do ciclo anual do Fluxo de Calor Sensível (Figura 32) mostra-

se similar ao comportamento verificado na Figura 31 do Fluxo de Calor Latente.

77

Destacando novamente os pontos PT1, PT2 e Smithson. Visto que, nos períodos de

máximo fluxo desses pontos é positivo, diferentemente dos demais pontos estudados.

Figura 32 - Ciclo diário do Fluxo de Calor Sensível nos pontos pré-definidos sobre o Mar de Weddell. Climatologia feita a partir dos dados do NCEP/NCAR de janeiro de 1979 a dezembro de 2008 com frequência diária.

A região do Mar do Weddell possui uma característica de haver Radiação de

Onda Curta (ROC) somente durante o verão, outono e primavera austral (Figura 33),

sendo assim, o período do inverno austral a maior parte da área não recebe radiação

proveniente do sol. Contudo, deve-se destacar o ponto de Smithson que mesmo

durante o inverno continua recebendo tal radiação, mesmo de forma muito pequena

(aproximadamente 0,2 erg/cm²). Outro aspecto, é o fato do mesmo receber menos

Radiação de Onda Curta no período do verão austral, quando comparados com os

demais pontos estudados no presente trabalho. Este último padrão também é

observado nos pontos PT1 e PT2, visto que receber mais energia do que o ponto

Smithson, entretanto, recebe menos iluminação do que os pontos que estão mais em

latitudes maiores. Sendo assim, tem-se mais ROC durante o verão, outono e

primavera austral nos pontos mais ao sul do Mar de Weddell, entretanto essas regiões

78

recebem menos radiação proveniente do sol durante o inverno austral, comparados

com os pontos localizados em latitudes menores.

Figura 33 - Ciclo diário da radiação de Onda Curta nos pontos pré-definidos sobre o Mar de Weddell. Climatologia feita a partir dos dados do NCEP/NCAR de janeiro de 1979 a dezembro de 2008 com frequência diária.

Em relação a Radiação de Onda Longa (ROL), nota-se que o ponto de

Smithson possui o maior fluxo ao longo do ano, seguido pelos pontos PT1 e PT2.

Contudo, os demais que se localizam em latitudes maiores, ou seja, perto do

continente Antártico possuem menores valores de ROL durante o ano. Por outro lado,

todos os pontos mostram que o ciclo anual possui maior fluxo de ROL no verão, do

que no inverno austral. Analisando todos os pontos, o verão austral o fluxo de ROL

varia entre 2,1 a 2,9 erg/cm² (uma variação de 0,8 erg/cm²). Enquanto, durante o

inverno austral está variação pode chegar a 1.3 erg/cm² (Figura 34).

79

Figura 34 - Ciclo diário da radiação de Onda Longa nos pontos pré-definidos sobre o Mar de Weddell. Climatologia feita a partir dos dados do NCEP/NCAR de janeiro de 1979 a dezembro de 2008 com frequência diária.

O Albedo do gelo marinho sobre os pontos definidos não possui grandes

variações ao longo do ano, como mostra a Figura 35. Destaca-se o ponto de Smithson

visto que possui o maior valor de albedo (aproximadamente 0,85) durante o ano.

Entretanto, o ponto de Smith é possui um valor menor, quando comparados com os

demais pontos (aproximadamente um albedo de 0,75). Este padrão é devido ao fato

de que o gelo velho, possui um albedo menor do que o gelo novo. Sendo assim, o

ponto de Smithson fica em mar aberto que possui uma maior variabilidade na

quantidade de gelo que se forma e derrete. Por outro lado, a região de Smith é uma

camada de gelo que não possui grandes variações com o passar dos anos, este

aspecto faz com que o gelo fique muito tempo depositado, tornando-se velho e com

um tom amarelado, consequentemente, diminuindo o seu albedo (PETRICH; EICKEN,

2010).

80

4.2.1 Análise das séries temporais simuladas das variáveis de saída do modelo

A Espessura do Gelo Marinho nos pontos simulados (Tabela 3), apresentou um

comportamento crescente (Figura 36). Nota-se, que os pontos PT1 e PT2 possuem a

maior espessura do gelo ao longo da simulação (2009 a 2015). Por sua vez, os pontos

definidos como camada de gelo (Thiel, Gekstaller e Smith) são os que possuem a

menor espessura. Este padrão está associado há grande quantidade de neve

depositada ao longo do ano em regiões mais ao sul do Mar do Weddell (Figura 38).

Desta forma, devido ao fato de que a neve depositada sobre o gelo marinho sirva

como um isolador, fazendo com que diminua em até 50% o seu crescimento. Isso

ocorre devido à redução do fluxo de condutividade de calor no interior da camada do

gelo marinho (STURN et al., 2002).

Figura 35 - Ciclo diário da radiação do Albedo nos pontos pré-definidos sobre o Mar de Weddell. Climatologia feita a partir dos dados do Era – Interim de janeiro de 1979 a dezembro de 2008 com frequência diária.

81

Figura 36 - Simulação do Modelo Pontual da Espessura do Gelo Marinho em centímetro para os pontos pré-definidos. Tempo da simulação foi 7 anos (2009 a 2015).

O ciclo anual da espessura do gelo marinho de acordo com a simulação feita

entre o período de 2009 a 2015, mostra que os pontos PT1 e PT2 possuem menor

Espessura de Gelo Marinho, que acontece aproximadamente ao centésimo dia juliano

do ano. Enquanto, o ponto de Smithson, a mínima espessura acontece

aproximadamente 150 dias juliano, ou seja, no período do outono austral. Este padrão

está de acordo com os períodos de maior fluxo de Calor Latente, descrito

anteriormente na Figura 31 para os três pontos citados. De acordo com Turner et al.

(2013), a menor concentração de gelo marinho na Antártica acontece no mês de

fevereiro (verão austral) e a maior concentração no mês de setembro (primavera

austral). Contudo, observa-se que a menor espessura do gelo acontece no outono

austral, e maior espessura no final da primavera para o hemisfério sul. Este

comportamento da espessura do gelo na região está de acordo com diversos estudos

que apontam que o crescimento do gelo marinho acontece de cima para baixo no

oceano. Sendo assim, primeiramente há o congelamento da água superficial,

consequentemente acontece o aumento da concentração do gelo marinho.

Posteriormente, com a região do oceano encoberto pelo gelo, menos energia entra,

fazendo com que a temperatura da água adjacente ao gelo diminua dando inicio ao

crescimento na vertical do gelo marinho (MAYKUT; MCPHEE, 1995, STURNM et al.,

82

2002 e PETRICH; EICHEN, 2010). Este aspecto explica o fato de possuir a defasagem

entre a maior (menor) concentração de gelo marinho em relação a maior (menor)

Espessura do Gelo Marinho.

Figura 37 - Ciclo anual da Espessura do Gelo Marinho de acordo com a simulação (2009 a 2015) do modelo proposto por Bitz e Roe (2004).

Observa-se que os pontos Gekstaller, Thiel e Smith (Classificados como

Camada de Gelo permanente) apresentaram maior deposição de neve comparados

com os demais pontos simulados (Figura 38). Nota-se que os mesmos possuem um

comportamento crescente. Este padrão indica que na região próximo ao continente

Antártico a simulação mostrou que não há derretimento da neve na região, fazendo

com que a neve se acumule ao longo a integração do modelo no tempo. Por outro

lado, os demais pontos apresentam menores profundidades da neve ao longo do

tempo, mostrando que nessas regiões há deposição e o derretimento da neve. Os

pontos PT1, PT2 e Smithson que são classificados como indefinidos e mar aberto,

respectivamente, no verão toda a neve contida foi derretida. Sendo assim, a

profundidade da neve chega a ser zero no verão de acordo com a simulação.

83

Figura 38 - Simulação da Profundidade da Neve pelo Modelo Pontual em centímetros para os pontos.

A Figura 39 mostra o Fechamento do Balanço de Radiação em W/m² do modelo

pontual. Identificou-se que os pontos Smithson (Mar aberto), PT1 e PT2 (Indefinidos)

receberam mais energia ao longo do ano revelaram os maiores resíduos nos valores

simulados. Smithson, PT1 e PT2 apresentaram resíduos próximos de zero no início

da simulação, porém aumenta ao longo do período em estudo da simulação. Smithson

apresentando o maior erro, enquanto que os demais pontos o valor do fechamento do

balanço de radiação fica próximos a zero.

Figura 39 - Simulação do Fechamento do Balanço de Radiação em W/m² pelo modelo pontual.

A Tabela 8 mostra as maiores espessuras do gelo marinho para os pontos PT1

e PT2 (com os valores médios iguais a 285,00 e 294,90 centímetros,

84

respectivamente). Por outro lado, os pontos que apresentaram as menores

espessuras foram: Smith e Gekstaller (com o um valor médio de 252,40 centímetros

os dois pontos). Mesmo os pontos PT1 e PT2 tendo em média os maiores valores de

espessura, o desvio-padrão demonstra que nessa região existe uma grande

variabilidade, o que explica que o gelo marinho forma-se durante o inverno e derrete

durante o verão austral. Ao contrário da região de camada de gelo que apresenta

menor variabilidade ao longo do tempo.

Em relação a Espessura da Neve os pontos próximos ao continente Antártico

a simulação mostrou um valor médio de 149,31 cm durante o tempo de integração do

modelo. Contudo, para Smithson a deposição média ficou com o valor de 9,42 cm.

Para Temperatura do Ar a simulação aponta a menor temperatura ocorreu em Pratt,

com um valor de -21,40 °C, apresentando também uma das maiores variabilidades

(desvio-padrão igual a 10,23 °C).

Tabela 8 - Estatística descritiva da simulação para as variáveis Espessura do Gelo Marinho (EGM), Espessura da Neve (EM) e Temperatura do Ar (Tar). Simulações para 7 anos (2009 a 2015).

Pontos

EGM (cm) EN (cm) Tar (°C)

Média Desvio-Padrão

Média Desvio-Padrão

Média Desvio-Padrão

Foldvic 271,50 53,01 64,56 17,76 -17,38 9,28

Smithson 262,90 39,73 9,42 9,13 -8,73 9,07

Pratt 253,30 29,42 149,31 40,32 -21,40 10,23

PT1 285,00 62,37 23,72 23,76 -11,57 7,47

PT2 294,90 67,66 23,59 23,95 -12,34 7,64

Smith 252,40 29,17 149,31 40,32 -21,33 10,07

Gekstaller 252,40 29,10 149,31 40,32 -21,31 10,53

Thiel 253,50 29,50 149,31 40,32 -21,43 10,75

85

4.2.2 Avaliação da Temperatura do Ar simulada pelo modelo pontual

Neste tópico mostra a avaliação da Temperatura do Ar simulado pelo o modelo

pontual proposto pelos autores Bitz e Roe (2004). As séries temporais simuladas

serão avaliadas através da comparação com o dado de Temperatura do Ar, oriundo

do banco de dados do Era - Interim.

A Temperatura do Ar simulado (Figura 40), de forma geral, representou o

comportamento sazonal da variável sobre o Mar de Weddell. Entretanto, observou-se

que a temperatura do dado proveniente do Era- Interim apresentou muita variabilidade

ao longo do período simulado (2009 a 2015). Este padrão o modelo não conseguiu

representar de forma adequada, sendo que, o mesmo suavizou a variável ao longo da

integração do modelo no tempo.

Nota-se que em Smithson (Figura 40b) a simulação subestimou até 15 °C (linha

pontilhada vermelha) o dado do Era - Interim (linha continua azul), no período de

menor temperatura (inverno austral). Este padrão apresenta em Pratt, desta vez,

subestimando até 10 °C. Entretanto, em Smith a simulação mostrou-se representar

melhor entre todos os pontos o ciclo anual da Temperatura do Ar, ajustando-se tanto

no verão e inverno austral.

A Tabela 9 mostra avaliação da Temperatura do Ar simulado, através dos Erro

Médio, Raiz do Erro Quadrático Médio e Erro Absoluto. Observa-se com mencionado

na análise da Figura 40, que o Smith foi o melhor ponto simulado entre todos os

demais. Os valores do Erro Médio, Raiz do Erro Quadrático Médio e Erro Absoluto

Médio são -6,06 °C, 8,69 °C e 7,04 °C, respectivamente. Os pontos PT1 e PT2

também tiveram resultados melhores quando comprados com outros pontos. Por

outro lado, os pontos de Thiel, Gekstaller e Pratt tiveram os piores resultados na

avaliação objetiva com os erros aplicados no atual estudo. Enquanto, o Erro Médio

mostra que em todos os pontos a simulação subestimou a Temperatura do Ar.

86

Figura 40 - Avaliação das simulações com o modelo pontual proposto por Bitz e Roe (2004) para Temperatura do Ar (°C). (a) Foldvic, (b) Smithson, (c) Pratt, (d) PT1, (e) PT2, (F) Smith, (G) Gekstaller, e (h) Thiel. Linha pontilhada de cor vermelha é a Temperatura do Ar Simulado pelo Modelo Pontual. A linha continua azul é o dado da Temperatura do Ar do Era - Interim.

87

Tabela 9 - Avaliação da acurácia do modelo pontual para Temperatura do Ar. Simulação realizada no período de 2009 a 2015.

Pontos Erro Médio (°C)

Raiz do Erro

Quadrático Médio

(°C)

Erro Absoluto

Médio (°C)

Foldvic -4,95 7,94 6,49

Smithson -4,03 9,03 6,87

Pratt -7,92 10,41 8,63

PT1 -2,82 7,35 5,93

PT2 -2,85 7,13 5,71

Smith -1,97 5,69 4,46

Gekstaller -6,06 8,69 7,04

Thiel -7,99 10,69 8,85

88

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados disponibilizados pelo Instituto Antártico Argentino desde 1979 até

2015 das seis estações meteorológicas que a mesma mantém fixa em torno do Mar

do Weddell, possuem alta consistência em seus dados, sem possuir dados faltantes.

Deve-se ressaltar que este volume de dados nunca foi antes do estudo atual

apresentado na comunidade cientifica. Sendo assim, as análises aplicadas nos dados

demonstram que a Pressão Atmosférica não possui grandes variações ao longo do

ano nas seis estações meteorológicas. Entretanto, verificou-se um comportamento

decrescente no período de 1979 a 2015. Enquanto, notou-se uma tendência crescente

na velocidade do vento no mesmo período. Este padrão pode está associado ao

aumento da densidade de Ciclones Extratropicais sobre o Mar do Weddell.

Em relação a Direção do Vento, as estações meteorológicas possuem algumas

diferenças entre si. Observou-se que em Carlini e Marambio, localizadas na ponta da

Península Antártica, os ventos predominantes diariamente são de sudoeste. Contudo,

nas estações de Orcadas (na ilha mais ao norte do Mar do Weddell) e Esperanza

(localiza-se na ponta da Península Antártica) constataram-se ventos de noroeste. Os

ventos da estação de San Martin apresentaram predominância de nordeste. Por fim,

destaca-se a estação de Belgrano II que receberam ventos oriundos de duas direções

predominantes (nordeste e sudeste), visto que este comportamento pode estar

relacionado atuação dos Ventos Catabáticos, explicando os ventos predominantes de

sudeste e os Ciclones Extratropicais (explicando o vento predominante de nordeste)

(MENDES at al., 2010). Diante deste padrão, verificou-se que quando a o vento era

predominantemente de nordeste cerca de 20% apresentaram velocidades com

intensidades superiores a 16 m/s.

A estação de Belgrano II apresentou características distintas das demais

estações meteorológicas estudadas na região. Este aspecto, é pelo fato da

localização da mesma sofres fortes influencias do gelo marinho e das condições

meteorológicas, por exemplo, os Ventos Catabáticos proveniente do interior do

continente Antártico e dos Ciclones Extratropicais. Contudo, eventos extremos na

velocidade do vento foram registrados em todas as estações entre o período

estudado. Sendo que, a estação que mais apresentou eventos fortes foi a de Carlini,

com cerca de 701 eventos. Por outro lado, a estação de Belgrano II apresentou a

89

menor quantidade de eventos extremos, com 669 registros. Foi constato através da

composição dos 16 eventos extremos mais fortes em cada estação meteorológica,

que nos dias dos registros sobre a região tinha a presença de um Ciclone

Extratropical.

Diante atuação de Ciclones Extratropicais durante os eventos de ventos fortes

nas estações meteorológicas, foram observadas anomalias positivas de Temperatura

do Ar a 2 Metros. Sendo assim, diversos estudos realizados em torno do continente

Antártico utilizando estações meteorológicas apontam que antes e durante o registro

do evento extremo é notado um aumente da temperatura do ar na estação. Isso

acontece devido advecção de ar marinho mais quente oriundo de latitudes menores

(VAN AS et al., 2007; HOLMES et al., 2000; COGGINS; MCDONALD, 2015; e WEBER

et al., 2016).

O modelo pontual proposto pelos autores Bitz e Roe (2004) utilizado no

presente estudo, anteriormente, todos seus parâmetros eram ajustados para o Ártico.

Sendo assim, sem aplicação para o contexto do Oceano Austral. Neste contexto, foi

proposto no atua estudo modificações em parâmetros físicos que ajuste-se a realidade

do Mar de Weddell, e a inclusão de novos parâmetros do balanço de energia com a

finalidade de representar de forma adequada a espessura do gelo marinho,

profundidade da neve e temperatura do ar. Devido a falta de dados observados da

Espessura do Gelo marinho em torno do continente Antártico, principalmente sobre o

Mar de Weddell. Porém, foi analisado de forma objetiva a saída da temperatura do ar

do modelo pontual, através do dado de Temperatura do Ar do Era-Interim.

As simulações mostraram que os pontos localizados em região que é

denominada camada de gelo permanente, possui menor espessura do gelo marinho,

do que aqueles que estão presentes em região de mar aberto. Enquanto, as

simulações mostraram que nessa região de camada de gelo permanente (fica a sul

do Mar do Weddell) possuem maior deposição de neve, diferentemente dos pontos

em Mar Aberto, que estão mais ao norte do Mar do Weddell. Sendo assim, a maior

Espessura de Neve sobre as regiões com a camada de gelo faz haja uma redução da

condutividade de calor pelo gelo marinho. Neste contexto, pode reduzir até 50% a

espessura do mesmo. Por outro lado, o fato de ter mais neve reduz a taxa de

derretimento, já que menos energia penetra no gelo marinho (STURM et al., 2002).

90

Por este fato, as simulações mostraram que nestas regiões o gelo não possui grandes

variações ao longo do ano.

O ciclo anual da espessura do gelo marinho mostra que o mínimo acontece no

período do outono austral e a máxima espessura ocorre no final da primavera. Este

aspecto vai de encontro com as observações feitas pelos autores Turner et al., 2013

sobre a concentração de gelo marinho, visto que, a máxima concentração ocorre na

primavera e a mínima no verão austral. Porém, quando ocorre a máxima concentração

de gelo marinho, significa que a maior parte da agua superficial do oceano está

congelada. Sendo assim, após este período, com a redução da energia que penetra

no oceano, existe condição termodinâmica do gelo crescer verticalmente, ou seja,

aumentando sua espessura (PETRICH; EICKEN, 2010). O mesmo acontece de forma

inversa com o período de redução do gelo marinho. Isso explica a defasagem que

existe entre a espessura do gelo marinho e a concentração.

As simulações mostraram que o modelo modificado conseguiu representar de

forma satisfatória o ciclo anual da Temperatura do Ar estimada. Porém, não capta a

variabilidade da variável, suavizando a temperatura ao longo do tempo. Outro fato, é

que as simulações subestimaram a temperatura no período de 2009 a 2015, e este

padrão é mais evidente no inverno austral, quando encontra-se as temperatura mais

baixas.

Os resultados encontrados no presente trabalho colaboram para comunidade

cientifica, no entendimento das condições meteorológicas na região do Mar de

Weddell. Que por sua vez, é uma região pouco explorada no globo. Tendo um

diferencial, que de forma inédita será publicado estudos sobre as estações do Instituto

Antártico Argentino. Outro ponto é a adaptação ou ajuste do modelo de Espessura do

Gelo Marinho, variável essa pouco estuda e observada na Antártica. Podendo

colaborar em diversos estudos sobre o comportamento da mesma nas regiões em

volta da Antártica. Sendo assim, a partir deste estudo se pode desenvolver diversos

outros estudos na região. Então para trabalhos futuros:

o Como descrito no presente trabalho a Pressão Atmosférica Superficial durante

o período de 1979 a 2015, possuiu um comportamento decrescente.

Diferentemente da Velocidade do Vento, que por sua vez, possuiu um padrão

crescente. Diante disso, levanta-se a hipótese do aumento da atuação de

91

Ciclones Extratropicais na região do Mar do Weddell, colaborando com estes

padrões observados.

o Diante o trabalho proposto anteriormente, levanta-se a hipótese do aumento da

espessura do gelo marinho na costa leste da Península antártica, devido ao

empilhamento de massa na região com a passagem de Ciclones Extratropicais.

o Analisar se o fato dinâmico ou termodinâmico influencia mais para o

derretimento e crescimento do gelo marinho sobre o Mar de Weddell. Utilizando

assim, o modelo modificado no atual estudo com devidas calibrações nos seus

parâmetros físicos e termodinâmicos.

92

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99

APÊNDICE

ARTIGO CIENTIFICO EM FASE FINAL DE

PREPARAÇÃO

TITULO:

EVALUATION OF EXTREME WIND EVENTS IN THE WEDDELL REGION OF THE

SEA

MODELING OF SEA-ICE IN THE WEDDELL SEA: PUNCTUAL ANALYSIS

100

ANEXOS

Código com as modificações no modelo de gelo marinho

Função entalpia inserida no modelo

Condições fixas inseridas no modelo

101

Parâmetros inseridos nas condições termodinâmicas do modelo