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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO ROBERTA SOUZA LOBÃO CONSTRUINDO UM SHOIN PROTÓTIPO DE MODELO DIGITAL INTERATIVO DO KO SHOIN DA VILA DE KATSURA COM FOCO NAS TÉCNICAS CONSTRUTIVAS EM MADEIRA NATAL RN 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

ROBERTA SOUZA LOBÃO

CONSTRUINDO UM SHOIN

PROTÓTIPO DE MODELO DIGITAL INTERATIVO DO KO SHOIN DA

VILA DE KATSURA COM FOCO NAS TÉCNICAS CONSTRUTIVAS EM

MADEIRA

NATAL – RN

2018

ROBERTA SOUZA LOBÃO

CONSTRUINDO UM SHOIN

PROTÓTIPO DE MODELO DIGITAL INTERATIVO DO KO SHOIN DA VILA DE

KATSURA COM FOCO NAS TÉCNICAS CONSTRUTIVAS EM MADEIRA

Trabalho Final de Graduação apresentado ao

Curso de Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte-

UFRN, como requisito para obtenção do grau de

Arquiteto e Urbanista.

Orientador:

Prof. Dr. Eugênio Mariano Fonseca de Medeiros

Co-orientador:

Profa. Dra. Edna Moura Pinto

NATAL – RN

2018

Lobão, Roberta Souza. Construindo um shoin: protótipo de modelo digital interativodo ko shoin da vila de Katsura com foco nas técnicasconstrutivas em madeira / Roberta Souza Lobão. - Natal, 2018. 108f.: il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grandedo Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura eUrbanismo. Orientador: Eugênio Mariano Fonseca de Medeiros. Coorientadora: Edna Moura Pinto.

1. Arquitetura Tradicional Japonesa - Monografia. 2. ModeloDigital Interativo (MDI) - Monografia. 3. Técnica construtiva emmadeira - Monografia. 4. 3DS Max - Monografia. 5. Unreal Engine4 - Monografia. I. Medeiros, Eugênio Mariano Fonseca de. II.Pinto, Edna Moura. III. Universidade Federal do Rio Grande doNorte. IV. Título.

RN/UF/BSE15 CDU 72(52)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRNSistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - ­CT

Elaborado por Ericka Luana Gomes da Costa Cortez - CRB-15/344

RESUMO

O presente trabalho consiste em uma proposta de Modelo Digital Interativo do Ko Shoin

da Vila Imperial de Katsura, localizada em Quioto, no Japão. A Vila Imperial de Katsura

apresenta um valor arquitetônico tanto para o oriente quanto para o ocidente, por ser

considerada obra-prima da Arquitetura Tradicional Japonesa além de apresentar elementos e

traços vistos pelos arquitetos modernistas como exemplares. A escolha de modelar a edificação

principal da Vila, denominada shoin, baseia-se na restrição de seu acesso devido à distância e

a impossibilidade de entrada no local mesmo quando dentro da Vila, entretanto esta apresenta

a maior variedade de detalhes e técnicas construtivas dentre as demais edificações. Pretende-se

com este trabalho possibilitar uma elucidação de como a edificação foi construída, a escolha de

seus materiais e a ideologia por trás deste espaço simples e, ao mesmo tempo, sofisticado. Foi

elaborado um modelo tridimensional da edificação por meio de um software de modelagem, o

3DS Max e, com suporte de um software do tipo motor de jogo, o Unreal Engine 4, este modelo

teve implementada a sua interatividade, tendo como resultado o Modelo Digital Interativo.

Palavras-Chave: Modelo Digital Interativo (MDI), Arquitetura Tradicional Japonesa,

Técnica construtiva em madeira, 3DS Max, Unreal Engine 4.

ABSTRACT

This is a proposal of an interactive digital model of Katsura's Villa, located in Kyoto,

Japan. Katsura Imperial Villa presents architectonic value to both the east and the west,

considered a masterpiece of the Japanese Traditional Architecture and presents elements and

traces seen by modernist architects as exemplary. The choice to model the Villa's main building

(shoin) stems not only from its impossibility of visitation due to distance impairments and the

prohibition of entry of the actual building, but also from its high amount of details and technical

knowledge if compared to the other buildings of the Villa. This work intends to give the

possibility of elucidation about how the buildings were built, the definition of its materials and

the ideology behind this simple, yet sophisticated space. A tridimensional model of the building

was elaborated through a modeling software, the 3DS Max, and through the support of a game

engine software, the Unreal Engine 4, this model had its interactive features added, resulting

in the Interactive Digital Model.

Keywords: Interactive Digital Model (IDM), Traditional Japanese Architecture, Wood

Construction Methods, 3DS Max, Unreal Engine 4.

AGRADECIMENTOS

Agradeço antes de mais nada a minha família, por todo o suporte que recebo a todo

momento. Nada disto seria concreto sem eles, mesmo próximos ou não.

A todos os meus animais de estimação, praticamente parte da família, por terem me

compreendido e confortado quando precisava.

Agradeço muito a André, por ser uma pessoa maravilhosa durante todo este período de

trabalho e ter me compreendido e dado forças para concluir este trabalho.

Meus orientadores, Eugênio e Edna, duas pessoas maravilhosas, que me guiaram da

melhor forma possível para conseguir resultados excelentes.

A minha psicóloga, Izabel, por ter me ajudado a entender e superar todas as dificuldades

que encontramos na loucura da nossa mente.

Às demais pessoas que contribuíram com o trabalho anterior, mesmo não concretizado,

porém representativo de uma experiência que resultou neste trabalho.

A todas os amigos que fiz no decorrer do curso, Bruna, Mayara e Rute, e durante o

período de bolsista, por terem sido ótimas companhias nesta jornada.

E por fim, sempre agradecer a quem faz um trabalho como este, por ter batalhado contra

medos e dificuldades e alcançar os resultados pretendidos. Não por egoísmo, mas por

reconhecimento próprio.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 12

1. A VILA IMPERIAL DE KATSURA E SEU PALÁCIO .................................................... 14

1.1. HISTÓRIA E CONTEXTO .......................................................................................... 15

1.2. A VILA IMPERIAL DE KATSURA ........................................................................... 18

2. ANALISANDO OS SHOIN DA VILA DE KATSURA .................................................... 28

2.1. ANÁLISE DOS MATERIAIS UTILIZADOS E SUAS TÉCNICAS CONSTRUTIVAS

EMPREGADAS ....................................................................................................................... 29

2.1.1. Pedra ........................................................................................................................... 29

2.1.2. Terra e gesso ............................................................................................................... 33

2.1.3. Papel ........................................................................................................................... 37

2.1.4. Palha e bambu ............................................................................................................ 42

2.2. O USO DA MADEIRA ................................................................................................ 43

2.2.1. Análise das técnicas construtivas em madeira ........................................................... 51

2.2.2. Análise das juntas em madeira ................................................................................... 58

2.3. ACABAMENTOS...................................................................................................... 68

3. DEFINIÇÕES INICIAIS DA MODELAGEM ................................................................... 71

3.1. REFERÊNCIAS DE MODELOS DIGITAIS INTERATIVOS ................................... 71

3.2. DEFININDO A MECÂNICA DE INTERAÇÃO ........................................................ 78

4. DIGITALIZANDO O KO SHOIN DA VILA DE KATSURA ........................................... 79

4.1. CONSTRUINDO A GEOMETRIA ............................................................................. 80

4.2. TORNAR INTERATIVO ............................................................................................. 86

4.3. PALÁCIO DIGITAL .................................................................................................... 89

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 91

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 93

ANEXOS .................................................................................................................................. 97

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Linha do tempo da história do Japão. ....................................................................... 15

Figura 2: Vista aérea do Castelo de Nijô. ................................................................................. 16

Figura 3: Localização da Vila Imperial de Katsura. ................................................................. 18

Figura 4: Mapa da Vila de Katsura. .......................................................................................... 19

Figura 5: Cerca do tipo Katsura Gaki. ..................................................................................... 21

Figura 6: Cerca do tipo Ho Gaki. ............................................................................................. 21

Figura 7: Vista para o Miyuki mon. .......................................................................................... 21

Figura 8: Vista para a estrutura do telhado do Miyuki mon. ..................................................... 21

Figura 9: Vista para o Mikoshi-ishi. ......................................................................................... 21

Figura 10: O Miyuki michi e a ponte em arco no fim do caminho. .......................................... 21

Figura 11: Vista para o Soto Koshikake.................................................................................... 23

Figura 12: O Sotetsu Yama. ...................................................................................................... 23

Figura 13: Vista para o chozubachi e a lanterna de pedra ao fundo. ........................................ 23

Figura 14: Vista para o Suhama, com a lanterna de pedra ao fim do caminho. ....................... 23

Figura 15: O Amanohashidate. ................................................................................................. 23

Figura 16: Vista para o Shirakawa Bashi. ................................................................................ 23

Figura 17: Casa de chá Shokin Tei............................................................................................ 25

Figura 18: Vista para o Shoka Tei. ........................................................................................... 25

Figura 19: Vista para o Orindo e Dobashi. .............................................................................. 25

Figura 20: O chozubachi, próximo à entrada do Orindo. ......................................................... 25

Figura 21: Vista para o Shoiken. ............................................................................................... 25

Figura 22: Vista para o Geppa ro. ............................................................................................ 25

Figura 23: Vista para o Chu Mon. ............................................................................................ 27

Figura 24: O Ko Shoin visto na edificação geral. ..................................................................... 27

Figura 25: Vista para o Tsukimidai........................................................................................... 27

Figura 26: O Okoshiyose. ......................................................................................................... 27

Figura 27: À esquerda, o Chu Shoin e à direita, o Ko Shoin. ................................................... 27

Figura 28: À esquerda o Shin Goten, à direita o Chu Shoin e, ao centro, o Gakki Noma. ....... 27

Figura 29: Planta dos shoin. ..................................................................................................... 29

Figura 30: Pedras utilizadas nos shoin. .................................................................................... 30

Figura 31: Pedras utilizadas no Tsukimidai. ............................................................................. 30

Figura 32: O uso das pedras nos caminhos da entrada do Ko shoin ......................................... 30

Figura 33: Pedras próximas ao Tsukimidai............................................................................... 30

Figura 34: O chozubachi........................................................................................................... 31

Figura 35: O ishidoro. .............................................................................................................. 31

Figura 36: Composição das pedras abaixo da base. ................................................................. 32

Figura 37: Esquema do encaixe na base de pedra. ................................................................... 32

Figura 38: Colocação das pedras da fundação. ......................................................................... 33

Figura 39: Paredes com tom amarelado do Ko Shoin. .............................................................. 34

Figura 40: Paredes inferiores c/acabamento em cal branca. ..................................................... 34

Figura 41: Planta dos shoin da Vila de Katsura. ...................................................................... 35

Figura 42: Tipos de kawara. ..................................................................................................... 36

Figura 43: Vista do Okoshiyose, focando as telhas de terra queimada (kawara). .................... 36

Figura 44: Camadas para a construção do tsuchikabe: a) komai, b) nakanuri e c) shiage. ...... 37

Figura 45: Camada de massa aplicada no telhado. ................................................................... 37

Figura 46: Telhas do tipo Ichimonji-karakusa-gawara. ............................................................ 37

Figura 47: Shoji visto do exterior do Ko Shoin. ....................................................................... 39

Figura 48: Shoji aberto e visto do interior do shoin. ................................................................ 39

Figura 49: Fusuma com carimbos de pigmentos no Ko Shoin. ................................................ 39

Figura 50: Fusuma com pinturas no Chu Shoin. ...................................................................... 39

Figura 51: Galhos da árvore kozo a serem usados ................................................................... 41

Figura 52: Higienização das cascas removidas ........................................................................ 41

Figura 53: Obtenção da polpa das cascas. ................................................................................ 41

Figura 54: Tanque com a polpa e o uso da tela de bambu........................................................ 41

Figura 55: Calhas de bambu no Ko Shoin. ............................................................................... 42

Figura 56: Exemplos de geometria dos tatames. ...................................................................... 43

Figura 57: Colocação dos tatames. ........................................................................................... 43

Figura 58: Calha em bambu...................................................................................................... 43

Figura 59: Variedade de ranma em madeira no Ko Shoin. ....................................................... 48

Figura 60: Variedade de ranma em madeira no Chu Shoin. .................................................... 48

Figura 61: Engawa no Shin Goten. ........................................................................................... 49

Figura 62: Engawa na saída da Gakki noma. ........................................................................... 49

Figura 63: Amado no Ko Shoin................................................................................................. 50

Figura 64: Tobukuro, marcado em vermelho, ao lado do Chu Shoin. ...................................... 50

Figura 65: Exemplo de daikokubashira.................................................................................... 50

Figura 66: Tokobashira no tokonoma do Ko Shoin. ................................................................. 50

Figura 67: Esquema da fundação.............................................................................................. 52

Figura 68: Fundação do Chu Shoin. ......................................................................................... 52

Figura 69: Shin Goten após a remoção das partições móveis................................................... 52

Figura 70: Esquema da composição das peças nas paredes. .................................................... 53

Figura 71: Esquema do forro saobuchi..................................................................................... 54

Figura 72: Forro saobuchi no Chu Shoin.................................................................................. 54

Figura 73: Esquema do forro goubuchi. ................................................................................... 55

Figura 74: Forro goubuchi no Shin Goten. ............................................................................... 55

Figura 75: Estilos dos telhados. ................................................................................................ 56

Figura 76: Vista aérea dos shoin............................................................................................... 56

Figura 77: Esquema das peças do telhado. .............................................................................. 57

Figura 78: Fusuma no Ko Shoin. .............................................................................................. 69

Figura 79: Fusuma no Chu Shoin. ............................................................................................ 69

Figura 80: Hikite. ...................................................................................................................... 69

Figura 81: Hikite ....................................................................................................................... 69

Figura 82: Hikite ....................................................................................................................... 69

Figura 83: Kugikakushi no Shin Goten. .................................................................................... 70

Figura 84: Armários da primeira sala do Shin Goten. .............................................................. 70

Figura 85: Armários dos quartos do Shin Goten. ..................................................................... 70

Figura 86: Foto e modelagem (respectivamente) do Edifício Mackenzie. ............................... 72

Figura 87: Modelo da construção de Belas Artes da feira. ....................................................... 73

Figura 88: Modelo digital interativo da Vila Adriana. ............................................................. 74

Figura 89: Capturas de tela do jogo Titanic. ............................................................................ 75

Figura 90: Capturas de tela do jogo Byzantine. ........................................................................ 76

Figura 91: Contra-capa da caixa do jogo Byzantine. ................................................................ 77

Figura 92: Interface do registro de um objeto informativo em Metroid Prime 3. .................... 77

Figura 93: Mockup da mecânica de interação com o modelo................................................... 78

Figura 94: Exemplo de modelo no programa Unreal. .............................................................. 79

Figura 95: Recorte da planta-baixa doko shoin. ....................................................................... 81

Figura 96: Exemplo de adaptação da planta-baixa para o CAD. .............................................. 81

Figura 97: Exemplo de tatame. ................................................................................................. 81

Figura 98: Exemplo de adaptação de corte esquemático para o CAD. .................................... 82

Figura 99: Exemplo de adaptação de planta-baixa para o CAD. .............................................. 82

Figura 100: Posicionamento dos pontos de interatividade do MDI. ........................................ 88

Figura 101: Capturas de tela no interior do MDI. .................................................................... 89

Figura 102: Capturas de tela das interatividades no MDI. ....................................................... 91

Quadro 1: Espécies shinyoju..................................................................................................... 45

Quadro 2: Espécies koyoju. ...................................................................................................... 46

Quadro 3: Juntas recorrentes para um mesmo pilar. ................................................................ 58

Quadro 4: Juntas recorrentes entre pilar e viga. ....................................................................... 59

Quadro 5: Tipos de juntas para uma mesma viga. .................................................................... 62

Quadro 6: Tipos de juntas recorrentes entre vigas. .................................................................. 65

Quadro 7: Outros tipos de juntas recorrentes. .......................................................................... 66

Quadro 8: Dimensões de peças de madeiras especificadas por MORSE, ................................ 83

Quadro 9: Dimensões das peças da fundação/paredes obtidas com os desenhos de referências.

.................................................................................................................................................. 83

Quadro 10: Dimensões das peças do forro obtidas com os desenhos de referências. .............. 84

Quadro 11: Dimensões das peças do telhado obtidas com os desenhos de referências. .......... 84

Quadro 12: Quadro de áreas do Ko Shoin. ............................................................................... 85

Quadro 13: Definição das juntas e posicionamento destas no MDI. ........................................ 87

Quadro 14: Definição dos painéis informativos e o posicionamento destes no MDI. ............. 87

LISTA DE SIGLAS

ATJ – Arquitetura Tradicional Japonesa

MDI – Modelo Digital Interativo

12

INTRODUÇÃO

No nosso cotidiano, vemos que a arquitetura predominante em Natal é marcada por

edificações de tijolos e concreto. Embora em menor escala, a madeira marca presença constante

como um material construtivo leve e resistente (ZENID, 2002), sendo aplicada em estruturas

de telhados, esquadrias, pisos, forros, etc. Ela pode ser vista em exemplos locais de arquitetura

com amplo uso da madeira (restaurante Tábua de Carne em Ponta Negra e a pizzaria Reis

Magos em Capim Macio). A técnica com excelência deste material pode ser vista na arquitetura

tradicional do Japão, que aperfeiçoou seu uso, com exemplares tanto antigos quanto atuais, tais

como a Vila de Katsura e a obra de Kengo Kuma.

A Arquitetura Tradicional Japonesa (ATJ) é marcada pelo uso da madeira como material

de construção, devido à abundante presença de vegetação pelo território japonês. Entretanto,

apesar de preferência por esta, houve restrições em seu uso por volta dos séculos XVI e XVII,

além da existência de florestas tidas como sagradas, as quais permanecem intactas

(COLLCUTT et al, 1996). Não só a possibilidade de obtê-la justificou seu uso, como também

suas características físicas, sua capacidade de manter a estabilidade da edificação sob a ação de

terremotos e por possuir propriedades térmicas que permitem conforto durante o frio e o calor

local (MADY, 2008).

Focando especificamente nas edificações históricas, a arquitetura residencial dos antigos

palácios imperiais têm exemplos que refletem o primor de sua técnica construtiva, bem como a

idealização do espaço construído. São construções imponentes, porém leves, utilizando madeira

e papel como principais elementos de sua composição. Dentre os exemplares mais memoráveis,

localizados em Quioto, está a Vila Imperial de Katsura, marcada por sua simplicidade na

execução e, ainda assim, mantendo a imponência de sua função imperial. Sendo assim, para

este trabalho, tem-se como objeto de estudo a virtualização da técnica construtiva histórica em

madeira da arquitetura oriental por meio de modelagem digital interativa do Ko Shoin da Vila

de Katsura, de forma que o resultado deste estudo contribua não só com a teoria, mas também

com o resultado prático.

O tema selecionado para a elaboração do trabalho final de graduação representa interesse

em aprofundar os conhecimentos das técnicas construtivas utilizadas nestas edificações

históricas, além das áreas de história da arte, história da arquitetura e, consequentemente,

estruturas. Nas disciplinas de estruturas deste curso, ainda que tenha sido feito o estudo das

mais variadas técnicas construtivas em madeira, este se manteve na abordagem apenas das

técnicas locais ou mais populares. Com a elaboração deste trabalho, há a possibilidade do estudo

13

da tecnologia em madeira utilizada no oriente, a qual possui maior refinamento em sua

execução, devido ao aprimoramento do uso deste material na construção, e riqueza em detalhes

construtivos.

Também há o interesse, por meio deste trabalho, de proporcionar a redução de distâncias

(i.e., Brasil-Japão), utilizando-se de alternativas virtuais de maneira a recriar o espaço

construído, suas ambiências e, consequentemente, a visitação à edificação proposta.

Para a elaboração deste trabalho, foi escolhida a Vila Imperial de Katsura, localizada em

Quioto, no Japão. Foi construída entre 1620 e 1663, durante o período Edo, pelo príncipe

Hachijonomiya Toshihito e seu filho, Toshitada (FABRIZI, 2016). Consistia em um retiro para

a família imperial, distanciada do agitado burburinho da cidade. É composta por jardins e

edificações centrais em madeira, neste caso as casas de chá e os shoins (salas de estudo), as

quais possuem um estilo minimalista e moduladas de acordo com as dimensões do tatame.

Ícones da construção como este, assim como seus similares, representam fonte de

conhecimento e inspiração para a Arquitetura, bem como para admiradores e interessados na

área. Entretanto, a distância, e até mesmo a existência de burocracia para ter acesso a edificação,

podem resultar em um impedimento para tal conhecimento. Uma das formas de contornar estes

impedimentos é a salvaguarda de documentação referente à edificação, como fotografias e

documentos que descrevem e recriam o espaço no nosso imaginário.

Mesmo havendo estes métodos de preservação da informação, ainda pode-se aprimorar a

forma de visualização do espaço com outros mecanismos – i.e., a possibilidade de digitalização

de um espaço, criando uma versão virtual, representativa do espaço real, passível de ser

visitado. Com a oportunidade de interação com o ambiente virtual, tal estratégia consiste em

uma alternativa mais lúdica que unifica o acervo referente a uma edificação.

Portanto, tem-se como objetivo deste trabalho desenvolver um Modelo Digital Interativo

(MDI) do Ko Shoin da Vila Imperial de Katsura, com foco na abordagem histórica da técnica

construtiva em madeira. De forma mais aprofundada, pretende-se: levantar dados históricos da

Vila Imperial de Katsura; analisar as técnicas construtivas da ATJ (madeira e demais materiais)

utilizadas no Ko Shoin; e após delinear a apresentação dos dados levantados, desenvolver o

(MDI).

Para a elaboração deste trabalho, foram realizados os seguintes procedimentos:

Levantamento de referências bibliográficas e imagéticas sobre a história do Ko

Shoin da Vila de Katsura, seus interiores e técnicas construtivas;

14

Levantamento bibliográfico sobre as ferramentas disponíveis para a modelagem

tridimensional e para a adição da interação;

Definição das áreas a serem modeladas; definição das ferramentas de modelagem

e motor de jogo1 a serem utilizadas;

Delimitação do roteiro de visitação e o que será exibido em cada local do modelo;

Definição das interatividades para a apresentação do modelo;

Modelagem em 3D do Ko Shoin da Vila de Katsura; e

Implementação da interatividade ao modelo através da exportação para o software

do tipo motor de jogo.

Por fim, este trabalho está organizado em cinco capítulos: o primeiro apresenta o histórico

e o contexto da Vila Imperial de Katsura; o segundo faz uma abordagem específica dos

materiais utilizados nos shoin e suas respectivas técnicas construtivas empregadas; o terceiro

apresenta as referências de modelos interativos elaborados por outros autores e a metodologia

a ser utilizada neste trabalho; o quarto apresenta os resultados de desenho, modelagem e

interatividade obtidos; e o quinto expõe as conclusões e considerações finais acerca de todo o

processo deste trabalho.

1. A VILA IMPERIAL DE KATSURA E SEU PALÁCIO

Considerada como um dos mais importantes e admiráveis exemplares da arquitetura

japonesa, a Vila Imperial de Katsura tem a capacidade de cativar arquitetos e aspirantes pela

área da arquitetura, sendo marcada pelo bom gosto de seus idealizadores e o requinte de seus

detalhes. Apesar de simples, o Katsura deixou uma forte impressão nos arquitetos modernistas,

como por exemplo Le Corbusier, Walter Gropius e Frank Lloyd Wright, que viram em Katsura

uma espécie de “modernidade”. Foi apresentada ao mundo pelo arquiteto alemão Bruno Taut,

através de uma “descoberta” feita durante sua estadia pelo Japão no período da Segunda Guerra

Mundial (ASIAN HISTORICAL ARCHITECTURE, s.d.).

1 Ferramenta do tipo ‘motor de jogo’ consiste em um programa computacional que agrega diversas

funcionalidades de um jogo, como renderização de imagem e som, inteligência artificial e física, servindo como

base para os jogos digitais e evitando que estes tenham que ser programados do zero.

15

1.1. HISTÓRIA E CONTEXTO

A história do Japão é compreendida por momentos denominados Períodos ou Eras,

podendo estes serem marcados pela autoridade no poder, um fato histórico importante ou o

local o qual estava o centro do poder (INSTITUTO ISHINDO, s.d.). Para este estudo, apesar

de haver períodos anteriores e posteriores ao que será apresentado, como pode ser observado

na linha do tempo a seguir, o foco será no Período Edo para interesse deste trabalho.

Figura 1: Linha do tempo da história do Japão.

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

A Vila Imperial de Katsura é produto de um período específico do Japão, correspondente

ao Período Edo (1603 – 1868), marcado pela ATJ. No poder, havia a figura do Imperador e os

xoguns, sendo estes últimos de maior influência política. A Vila foi obra da família imperial,

iniciada e finalizada pelos príncipes imperiais.

O xogunato dos Tokugawa permaneceu no Japão durante os anos de 1603 a 1867, sendo

característico pelo isolamento dos demais países, o rígido controle da população pelo xogum e

hierarquia social de sua população. Foi resultado de um constante trabalho de unificação do

país após anos de constantes conflitos internos. Esta unificação é também o que caracteriza este

período como de paz, devido ao grande controle e repressão de qualquer inconveniente interno,

além do desenvolvimento da cultura japonesa através do comércio e das artes.

No Japão do período Edo, caracterizado pela forte hierarquização em suas classes sociais,

a arquitetura era influenciada por estas diferenças na sociedade, refletindo em suas construções

o status correspondente. Os que pertenciam à elite, tinham suas obras marcadas por palácios,

vilas, santuários e templos, enquanto as pessoas comuns tinham suas obras marcadas por casas

de fazenda e lojas. Este padrão, porém, não era imutável, podendo haver exceções (YOUNG,

2007).

Com relação à arquitetura predominantemente realizada pela elite, os castelos eram

edificações imponentes e em locais estratégicos, servindo como forma de proteção para tal

lugar. Inicialmente no século XIV, os castelos tinham o objetivo tanto de proteger como abrigar

a residência dos barões feudais. A partir do século XIV, com o aumento da influência das

autoridades e o anseio pela extensão de sua área de domínio, os castelos começaram a receber

16

a população em seu interior, aumentando a importância daqueles centros, principalmente no

quesito comercial (SCHMORLEITZ, 1974). Um exemplo destas edificações é o Castelo de

Nijô, localizado em Quioto, construído durante o xogunato Tokugawa:

Figura 2: Vista aérea do Castelo de Nijô.

Fonte: The Otaku Exception. Disponível em: http://bit.ly/2EvpZYt

Diferente dos castelos, o outro tipo comum de edificação da elite eram as vilas, as quais

serviam como espaço mais privativo além de refúgio em seu cotidiano, geralmente localizadas

no campo e afastadas das cidades. As vilas também serviam de local de controle da família

imperial por parte dos xoguns (ASIAN HISTORICAL ARCHITECTURE, s.d.), que eram

locais dedicados a atividades de lazer dos imperadores (TANAKA, 2011).

A Vila Imperial de Katsura (ou Katsura Rikyu) funcionou como retiro para os membros

da família imperial japonesa e, atualmente, é uma das duas vilas imperiais ainda existentes em

Quioto, sendo a outra Shugakuin Imperial Villa ou Shugakuin Rikyu (DANIELL, 2010). Foi

construída durante os anos de 1615 a 1660, inicialmente pelo príncipe imperial Toshihito, da

família Hachijonomiya e, após sua morte em 1629, pelo seu filho, o príncipe Toshitada. Com a

sua morte, em 1662, a Vila ficou sem um responsável pelos seus cuidados, devido a morte

precoce dos demais príncipes da família, até que o Príncipe Yakahito, nascido em 1703,

retomou os cuidados e reparos na Vila, sem alterar sua formação original (ASIAN

HISTORICAL ARCHITECTURE, s.d.). Com o fim da família Hachijonomiya em 1881, a vila

passou a ser responsabilidade de uma agência governamental da família imperial, The Imperial

Household Agency.

A composição da Vila Imperial é feita por seus jardins e edificações, interligados por

caminhos executados de forma a criarem um efeito cênico, com cada trecho da paisagem sendo

desenvolvido através da composição de elementos do espaço e posicionamento das construções

17

(KIM, 1982). Um dos importantes fatores de sua construção, principalmente no tocante a

localização no rio Katsura, é a relação com o Conto de Genji, uma das obras mais admiradas

pelo Príncipe Toshihito e, consequentemente, pelo seu filho Toshitada (ASIAN HISTORICAL

ARCHITECTURE, s.d.).

Um romance datado do século X (período Heian), O Conto de Genji, ou Genji

Monogatari, consiste em uma obra literária escrita por Murasaki Shikibu, que retrata o

cotidiano na corte imperial daquele período. Teve um importante papel ao influenciar o modo

de viver da época em que foi escrita, bem como no Período Edo, sendo inclusive responsável

por algumas características da Vila de Katsura.

Os contos de ficção ou romances, denominados Monogatari, eram famosos no Período

Heian, consistindo em histórias narrativas escritas em versos. Dentre estas histórias, a que mais

se destacou foi a Genji Monogatari, considerada obra-prima da literatura japonesa

(COLLCUTT et al, 1996. p. 80). Este conto consiste em um conjunto de poemas que descrevem

a vida de Príncipe chamado Hikaru Genji (Hikaru – verbo brilhar), seus sentimentos durante a

vida na corte e o modo de viver da época. (HANDA, s.d.).

Com relação a autora, denominada Murasaki Shikibu, tem seu nome somente como

homenagem, devido o desconhecimento de sua identidade real por motivos culturais de sua

época. O termo Murasaki nomeia a planta que dá origem ao pigmento de cor púrpura, sendo

também o mesmo nome da personagem principal do conto de Genji. Já o termo Shikibu tem

origem no posto ocupado por seu pai, que dirigia a divisão administrativa que tratava de eventos

(TYLER, 2002).

18

1.2. A VILA IMPERIAL DE KATSURA

A Vila, localizada em Nishikyo Ward, bairro próximo ao Rio Katsura, possui 69000 m²

de área do terreno, no qual estão locadas as edificações que a compõe:

Figura 3: Localização da Vila Imperial de Katsura.

Fonte: Google Maps, modificado pela autora, 2018.

Apresenta em sua composição sete edificações principais, sendo elas os shoin, quatro

casas de chá, um santuário, uma área de espera e uma recepção para os visitantes. Aqui nesta

pesquisa serão abordados somente os elementos que compõem a Vila em si. Cada pavilhão

construído possui um nome e função específicos. Em relação à Vila de Katsura em Quioto,

dado o tempo de sua existência e o decorrer de seu uso, novas áreas foram acrescentadas

conforme o seu uso e proprietário. Na imagem a seguir, o mapa da Vila está detalhado com os

nomes de cada elemento de sua composição e seu respectivo nome:

19

Figura 4: Mapa da Vila de Katsura.

Fonte: ArchiGraphie. Disponível em: http://bit.ly/2t6MLmz

Cada edificação da Vila foi simplificado em um mapa à parte incluído com este trabalho

(Ver Mapa Guia no Apêndice), que será utilizado como guia para a descrição das edificações.

A seguir, há o nome de cada uma destas, a numeração correspondente no mapa anexo e uma

breve descrição de sua composição e/ou materiais.

20

Katsura Gaki e Ho Gaki ①

O fechamento do terreno correspondente a Vila é feito por uma cerca de bambu, com um

portão de entrada neste mesmo material. Katsura Gaki corresponde ao cercado delimitado pelo

Rio Katsura, sendo feita em bambu ainda vivo. Ho Gaki é o nome dado ao outro tipo de cercado,

encontrado nas demais áreas da Vila. Diferente da anterior, esta é feita de uma trama de bambus

já secos, sendo estes posicionados na vertical com uma outra trama de bambus mais finos na

horizontal.

Miyuki Mon ②

O Miyuki Mon (Miyuki – visita imperial e Mon – Portão), o portão imperial, é o segundo

portão de entrada da Vila, construído por volta de 1633 para a visita do imperador Gomizuno-

o (KIM, 1982). O portão original foi posteriormente demolido, sendo o atual reerguido no

século XVIII. É composto por troncos de carvalho nos pilares e vigas, e o telhado é feito com

a palha de arroz (TAMON, 2012).

O Mikoshi-ishi consiste em uma pedra quadrada e achatada, localizada próxima ao portão

imperial (TAMON, 2012). Era utilizada para o descanso dos palanquins dos imperadores (KIM,

1982).

Miyuki Michi ③

O Miyuki Michi (Miyuki – visita imperial e Michi – Caminho), o caminho imperial, está

localizado após o segundo portão, sendo o intermédio entre este e um terceiro portão para o

acesso à edificação principal, o shoin. Ao fim de seu trajeto, possui uma pequena ponte em arco

(KIM, 1982), feita com seixos de jardim, denominados arare ishi (TAMON, 2012).

21

Figura 5: Cerca do tipo Katsura Gaki.

Fonte: Blog “Click”.

Disponível em: http://bit.ly/2v15Utn

Figura 6: Cerca do tipo Ho Gaki.

Fonte: Culture Japonaise.

Disponível em: http://bit.ly/2qinxAl

Figura 7: Vista para o Miyuki mon.

Fonte: Culture Japonaise.

Disponível em: http://bit.ly/2GOPrKo

Figura 8: Vista para a estrutura do telhado do Miyuki

mon.

Fonte: Culture Japonaise.

Disponível em: http://bit.ly/2GOPrKo

Figura 9: Vista para o Mikoshi-ishi.

Fonte: Culture Japonaise. Disponível em:

http://bit.ly/2GOPrKo

Figura 10: O Miyuki michi e a ponte em arco no fim

do caminho.

Fonte: Culture Japonaise. Disponível em:

http://bit.ly/2GOPrKo

22

Soto Koshikake ④

O Soto Koshikake (Soto – exterior e Koshikake – banco, assento) consiste em um pequeno

pavilhão com uma cobertura, um banco e um banheiro, servindo como área de espera para as

pessoas convidadas para a cerimônia do chá no Shokintei (TAMON, 2012).

Em frente ao Soto koshikake está o Sotetsu yama (Sotetsu – espécie de palma (Cycas

revoluta) e Yama – montanha, colina), um pequeno jardim tratado com cicas (sotetsu) e com a

função de apreciação para os convidados que aguardam a cerimônia.

Há nas proximidades uma área chamada tsukubai, que serve para a higienização das mãos

e rosto no momento anterior à cerimônia do chá. (ROYBAL, 2015). Nesta área há uma

composição de elementos que a caracterizam, como uma bacia com água e uma lanterna de

pedra, sendo o primeiro denominado chozubachi e segundo ishidoro (MITCHNICK, 2012).

Suhama ⑤

O Suhama consiste em uma pequena costa com uma ponte, acima do lago, feita com

pedras achatadas de apoio e uma lanterna no final do caminho, de forma que esta composição

da margem do lago seja similar a uma península voltada para o mar com um farol,

respectivamente (THE IMPERIAL HOUSEHOLD AGENCY, s.d.).

Amanohashidate ⑥

O Amanohashidate, que significa “a ponte para o céu”, consiste em uma composição

cênica similar a uma existente na costa da cidade de Kyoto, elaborada com o alinhamento de

duas pontes, pequenas ilhas e uma península (ASANO, 2003).

Shirakawa Bashi ⑦

A ponte que leva à primeira casa de chá, o Shokin Tei, é chamada de Shirakawa Bashi

(Shira – branco, kawa – rio e Bashi – Ponte), sendo composta por uma peça única de granito,

com aproximadamente 6 m. de comprimento por 65 cm. de largura (ASANO, 2003).

23

Figura 11: Vista para o Soto Koshikake.

Fonte: Culture Japonaise. Disponível em:

http://bit.ly/2v3ERhj

Figura 12: O Sotetsu Yama.

Fonte: Culture Japonaise. Disponível em:

http://bit.ly/2v15Utn

Figura 13: Vista para o chozubachi e a lanterna

de pedra ao fundo.

Fonte: Culture Japonaise. Disponível em:

http://bit.ly/2v3ERhj

Figura 14: Vista para o Suhama, com a lanterna de pedra

ao fim do caminho.

Fonte: Blog “Click”. Disponível em: http://bit.ly/2v15Utn

Figura 15: O Amanohashidate.

Fonte: Culture Japonaise. Disponível em:

http://bit.ly/2JUmi1W

Figura 16: Vista para o Shirakawa Bashi.

Fonte: My Kind of Kyoto. Disponível em:

http://bit.ly/2GYUpbB

24

Shokin Tei ⑧

A primeira casa de chá é chamada de Shokin Tei, que significa aproximadamente “o

pavilhão de pinho que toca como a harpa”. É a maior das três casas de chá que compões a Vila,

com a sua construção datada próxima à 1660, sendo o local no qual acontecia a cerimônia do

chá típica do século XVII (TAMON, 2012).

Shoka tei ⑨

Logo após o Shokin Tei, está localizado um outro espaço destinado à apreciação do chá,

chamada Shoka Tei, que significa “o local o qual se aprecia as flores”. É uma pequena casa de

chá, sem data precisa de construção e, devido à sua estrutura ser bastante exposta, passou por

uma reconstrução no ano de 1935, devido à passagem de um tufão no ano anterior (TAMON,

2012).

Orindo ⑩

O Orindo consiste em um pequeno santuário da família imperial, o qual possuía,

inicialmente, estátuas de Kannon Bodhisattva e o memórial do Príncipe Toshihito (THE

IMPERIAL HOUSEHOLD AGENCY, s.d.). Após isto, funcionou como memorial dos demais

príncipes da família. É a única construção da Vila que apresenta o estilo da arquitetura chinesa

(KIM, 1982). A ponte arqueada que leva para o Orindo é chamada de Dobashi e, logo após ela,

há um chozubachi, uma bacia para higienização anterior à entrada do santuário.

Shoiken ⑪

A maior de todas as casas de chá é denominada Shoiken, possuindo um estilo similar a

uma casa de fazenda.

Geppa ro ⑫

O Geppa Ro é a casa de chá próxima à edificação principal da vila, o shoin, tendo a sua

data de construção por volta do ano 1660. Seu nome significa aproximadamente “o local de

onde se vê a lua nas ondas” (TAMON, 2012), referindo-se ao reflexo da lua no lago.

25

Figura 17: Casa de chá Shokin Tei.

Fonte: Blog “Click”. Disponível em:

http://bit.ly/2v15Utn

Figura 18: Vista para o Shoka Tei.

Fonte: The Kyoto Project. Disponível em:

http://bit.ly/2qxlHLT

Figura 19: Vista para o Orindo e Dobashi.

Fonte: The Travels of Scott and John.

Disponível em: http://bit.ly/2GO66Om

Figura 20: O chozubachi, próximo à entrada do

Orindo.

Fonte: Culture Japonaise.

Disponível em: http://bit.ly/2JwpUaA

Figura 21: Vista para o Shoiken.

Fonte: Culture Japonaise. Disponível em:

http://bit.ly/2qxGWg0

Figura 22: Vista para o Geppa ro.

Fonte: Culture Japonaise. Disponível em:

http://bit.ly/2GYdfeY.

26

Chu Mon ⑬

O Chu Mon (Chu – Meio e Mon – Portão) é o terceiro portão da sequência, logo após o

Miyuki Michi, sendo a porta de entrada para a edificação principal, o shoin. Apresenta estilo

similar ao mencionado anteriormente, o Miyuki Mon.

Ko Shoin ⑭

O primeiro a ser construído das três partes do shoin foi o Ko Shoin (Ko – antigo e Shoin

– uma sala de estudo), ainda pelo príncipe Toshihito. Apresenta salas amplas, dimensionadas

de acordo com o tamanho do tatame e pouca decoração em comparativo aos demais, sendo seu

uso provável destinado à reuniões informais (KIM, 1982). É neste shoin que se encontra a

entrada principal da edificação, logo após o Chu Mon, denominada Okoshiyose (que significa

“o local ao qual o palanquim se aproxima”) e uma plataforma destinada à observação da lua,

chamada de Tsukimidai. Ainda no Okoshiyose, há uma pedra destinada à colocação dos sapatos

removidos antes de entrar, chamada de Mutsu-no-kutsunugi (Mutsu – seis, no – indica

posse/nominaliza, Kutsu – sapato e Nugi – retirar (alguma peça do vestuário)) (TAMON, 2012).

Chu Shoin ⑮

O segundo pavilhão a ser construído foi o Chu Shoin (Chu – meio e shoin – uma sala de

estudo), pelo príncipe Toshihito. Apresenta um pouco mais de ornamentação que o Ko Shoin,

além de ter seu uso destinado à acomodação do Príncipe (KIM, 1982).

Gakki Noma ⑯

Conectando o Chu Shoin e o Shin Goten está o Gakki noma (Gakki – Instrumento, no –

posse e ma – Espaço, sala), sendo sua construção datada em conjunto com o Shin Goten

(TAMON, 2012).

Shin Goten ⑰

Das três partes do shoin, a mais recente é denominada Shin Goten (Shin – Novo e Goten

– Palácio), construída posterior a morte do Príncipe Toshihito, sendo obra de seu filho, o

Príncipe Toshidata, no momento da visita do Imperador Gomizuno-o. Além de ser a construção

mais recente das três, apresenta mais ornamentação que os anteriores e possui traços palacianos

(KIM, 1982). Sua construção é datada por volta do ano de 1660 (TAMON, 2012).

27

Figura 23: Vista para o Chu Mon.

Fonte: Culture Japonaise.

Disponível em: http://bit.ly/2Hho8JP

Figura 24: O Ko Shoin visto na edificação geral.

Fonte: Raphael Franca (2007).

Disponível em: http://bit.ly/2v1hZ1H

Figura 25: Vista para o Tsukimidai

Fonte: Kyotoholic.

Disponível em: http://bit.ly/2JvCwie

Figura 26: O Okoshiyose.

Fonte: Blog “life is journey” Disponível em:

http://bit.ly/2HoMykK

Figura 27: À esquerda, o Chu Shoin e à direita, o Ko

Shoin.

Fonte: My Kind of Kyoto. Disponível em:

http://bit.ly/2Hm6l42

Figura 28: À esquerda o Shin Goten, à direita o Chu

Shoin e, ao centro, o Gakki Noma.

Fonte: Culture Japonaise. Disponível em:

http://bit.ly/2JpN56i

28

2. ANALISANDO OS SHOIN DA VILA DE KATSURA

O complexo é caracterizado pela composição de todas as edificações anteriormente

descritas, entretanto, para a realização deste trabalho, somente uma edificação foi escolhida

para a análise aprofundada de seus interiores e técnicas construtivas, que são os shoin.

Apesar de apresentar-se como bloco único, os shoin da Vila de Katsura consistem em

três unidades, sendo elas o Ko Shoin, o Chu Shoin e o Shin Goten, possuindo além destes, a sala

de instrumentos musicais e áreas de serviço. Foram edificados em momentos distintos,

inclusive por proprietários diferentes, sendo estas características notadas em seus detalhes

construtivos, embora os materiais utilizados e as técnicas construtivas empregadas sejam

similares.

Um fator determinante para alguns dos materiais utilizados na edificação é o estilo

arquitetônico. Na ATJ, existem dois estilos predominantes para este tipo de edificação, que são

o Estilo Shoin (Shoin-zukuri) e o Estilo Sukiya (Sukiya-zukuri). De acordo com o dicionário

online JAANUS (Japanese Architecture and Art Net Users System) (2001) os pavilhões (shoin)

do Katsura se enquadram no segundo estilo, Sukiya-zukuri, com influências da cerimônia do

chá, caracterizado por:

Uso de uma maior variedade de espécies de madeira, conservando sua forma natural, às

vezes ainda com a sua casca;

Utilização de tons suaves nas cores das paredes;

Presença de um ambiente para elementos ornamentais, a alcova (tokonoma);

Uso de prateleiras ornamentadas em um espaço diferenciado;

Uso de frisos e

Novos formatos de elementos ornamentais como os puxadores e os afixados sobre as

marcas expostas das juntas.

Observando a imagem a seguir (Figura 29), é possível atentar na planta dos shoin a

divisão de cada uma das três unidades que compõem a edificação, o Ko Shoin em azul, o Chu

Shoin em vermelho, o Shin Goten em verde, a Sala de Música (Gakki noma) em amarelo e as

áreas de serviço em roxo.

29

Figura 29: Planta dos shoin.

Fonte: Socks Studio, modificado pela autora, 2018. Disponível em: http://bit.ly/2weOGcD

Seguiremos para a análise dos materiais construtivos conforme a lógica da elevação da

edificação, iniciando pela base estrutural até o telhado e acabamentos. A madeira, por ser o foco

deste trabalho, irá se apresentar em grande parte das etapas da construção, por possuir

importantes aspectos para a consolidação da edificação. Sendo assim, será tratada em um

capítulo à parte, posterior a análise dos materiais

2.1. ANÁLISE DOS MATERIAIS UTILIZADOS E SUAS TÉCNICAS

CONSTRUTIVAS EMPREGADAS

Os materiais empregados na construção das edificações da ATJ, diferentemente dos

utilizados no ocidente, tem foco na madeira, papel, pedra e na palha (geralmente a do arroz).

Nos shoin da Vila de Katsura, cada um destes materiais tem uma função específica, além de

usos previamente estudados de acordo com as características e propriedades de cada material.

A análise do uso de cada um destes será feita por ordem cronológica dos shoin, identificando

onde cada qual foi utilizado, o motivo de seu uso e as técnicas construtivas utilizadas.

2.1.1. Pedra

Sobre o material e seu uso na edificação

A pedra é um material durável e resistente, facilmente encontrado no Japão. Por suas

características e comportamento, a pedra é primeiramente utilizada na base da estrutura, ou seja,

30

como fundação. Ao contrário das edificações encontradas no Brasil, a fundação das casas

tradicionais japonesas não adentra o solo, mas sim, repousam sobre a superfície do terreno, uma

vez que esta fundação consiste em uma estratégia antissísmica singular, permitindo a

mobilidade da edificação em caso de abalos (Locher e Simmons, 2012).

Esta fundação é encontrada em todos os três shoin, como elemento estrutural de suporte

aos pilares de madeira que os compõem, devido às suas propriedades físicas e de forma a

proteger a madeira da degradação devida ao contato direto com o solo. Além da fundação, as

pedras podem ser encontradas como elemento não estrutural, compondo os caminhos pelos

arredores dos shoin e com função compositivo-ornamental. Nos jardins, elementos como o

chozubachi, a bacia para lavar as mãos, e o ishidoro, a lanterna de pedra, também são feitos

deste mesmo material.

Figura 30: Pedras utilizadas nos shoin.

Fonte: Yoshiyuki Yuguchi

Disponível em: http://bit.ly/2vdINfg.

Figura 31: Pedras utilizadas no Tsukimidai.

Fonte: Yoshiyuki Yuguchi

Disponível em: http://bit.ly/2vdINfg.

Figura 32: O uso das pedras nos caminhos da entrada

do Ko shoin

Fonte: Asian Historical Architecture.

Disponível em: http://bit.ly/2EtGdRG

Figura 33: Pedras próximas ao Tsukimidai.

Fonte: Asian Historical Architecture.

Disponível em: http://bit.ly/2EtGdRG

31

Figura 34: O chozubachi.

Fonte: Culture Japonaise.

Disponível em: http://bit.ly/2Hho8JP

Figura 35: O ishidoro.

Fonte: Culture Japonaise.

Disponível em: http://bit.ly/2Hho8JP

Dentre as pedras utilizadas na fundação, destaca-se o granito graças a sua composição

uniforme e densa (o que o torna difícil de se trabalhar), sendo uma ótima escolha para o uso

estrutural. É de origem ígnea ou magmática, podendo ser encontrado naturalmente no formato

adequado para ser empregado na edificação ou, no caso de blocos grandes, cortado de forma a

se adequar ao uso proposto. Este apresenta diversas nomenclaturas, conforme a variedade de

qualidades que a pedra possui dependendo do local de origem, sendo alguns deles: ikoma-ishi,

kaji-ishi, honmikage, okushu-mikage, dentre outras (LOCHER e SIMMONS, 2012).

Nas bases dos pilares de madeira, nos caminhos dos jardins e como ornamento nas laterais

dos shoin, é possível que o granito tenha sido o material utilizado, dada a análise feita e o

aspecto visual das pedras.

Para finalidades ornamentais, outro tipo de pedra, a Oya (nome dado devido à sua

presença marcante na cidade de Oya, no norte de Tóquio), é a mais interessante por ser fácil de

trabalhar dada a sua maleabilidade, além de possuir características específicas tais como baixa

densidade e porosidade. De origem ígnea, é encontrada em blocos grandes, sendo necessária

sua extração e corte para possibilitar seu uso arquitetônico. É usada em formatos regulares,

podendo apresentar sua superfície natural ou polida (LOCHER e SIMMONS, 2012).

Para os usos ornamentais, como a lanterna e a bacia para lavar as mãos, é provável que,

conforme análise anterior, tenha sido utilizada a pedra Oya ou alguma outra pedra de

características similares e de fácil obtenção no Japão. Ambas as pedras mencionadas são de

origem vulcânica, devido à presença de vulcões pelo território japonês, permitindo a ampla

possibilidade de aquisição deste material.

32

Técnicas construtivas empregadas

O início do levantamento da estrutura de uma residência tradicional japonesa é dado a

partir de sua fundação. No caso da Vila de Katsura, os shoin são construídos utilizando a

fundação com bases de pedra, evitando o contato da madeira com o solo e proporcionando um

suporte à prevenção de colapso da estrutura devido aos sismos. Como partes das técnicas

construtivas empregadas nesta etapa estão: o preparo do solo para o posicionamento das pedras

base e o encontro da pedra com os pilares de madeira.

De acordo com Edward Morse (1886), as casas não possuem porão ou estruturas que

adentram profundamente no solo, consistindo sua fundação elevada em uma composição de

pilares repousando sobre pedras, as quais eram batidas com o auxílio de um maço para adentrar

e firmar no solo. Abaixo destas pedras bases há uma formação de pequenas pedras ovaladas,

formando uma espécie de “colchão” no solo. Nas residências de Quioto era comum que esta

trama de madeira entre o solo e o piso da edificação fosse fechada, impedindo a circulação de

vento e, consequentemente, que a residência ficasse muito fria.

Locher e Simmons (2012) complementam as informações acerca deste procedimento,

destacando a nomenclatura dada a cada pedra base dos pilares, soseki, e que, no estilo sukiya,

estas pedras base, de granito, eram preferencialmente utilizadas em seu formato natural, sendo

trabalhado somente o encaixe do pilar. O encaixe tradicionalmente empregado em fundações é

do tipo caixa e espiga (hozoana e hozo respectivamente), sendo a pedra entalhada em formato

côncavo para receber a espiga (pilar de madeira). Essa ligação é do tipo apoio móvel, no qual

somente os esforços verticais são contidos, permitindo assim que cada elemento trabalhe

independentemente, possibilitando, em caso de sismos, um melhor comportamento da estrutura

como um todo. As figuras a seguir demonstram como era feita a fundação e a sua execução:

Figura 36: Composição das pedras abaixo da base.

Figura 37: Esquema do encaixe na base de pedra.

33

Fonte: Elaborado pela autora, 2018. Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Figura 38: Colocação das pedras da fundação.

Fonte: MORSE, 1886. p. 15.

Além da técnica aplicada a pedra usada na fundação, há a elaboração dos caminhos

pelos arredores dos shoin. As pedras de granito se apresentam em três composições de

caminhos, sendo elas a formal (shin), semi-formal (gyo) e informal (so). O caminho do tipo

shin é elaborado através da composição e do corte geométrico do granito; O tipo gyo consiste

na composição assimétrica, porém regular, de pedras rústicas; E o tipo so utiliza pedras

irregulares em caminhos geralmente irregulares. A fixação destes é dado somente com a

compactação do solo ao redor das pedras e o peso destas, dispensando o uso do maço

mencionado anteriormente, por exemplo (LOCHER e SIMMONS, 2012).

2.1.2. Terra e gesso

Sobre o material e seu uso na edificação

Dentre todos os materiais encontrados na ATJ, a terra é amplamente disponível e possui

uma variedade de aplicações para seu uso. Apresenta baixa condutividade térmica, a tornando

um material isolante e interessante para o clima local. Pode ser associada a outros materiais de

forma que suas características sejam aprimoradas, como a resistência ao intemperismo

(LOCHER e SIMMONS, 2012).

Em sua forma natural, a terra não se apresenta como componente estrutural, apenas

compondo, por exemplo, o solo no qual repousa o shoin. Entretanto, quando associada a outros

materiais de forma a compor as paredes sólidas, denominadas tsuchikabe (tsuchi – terra, solo e

kabe – parede), esta apresenta maior resistência aos terremotos, tornando-se compatível para o

emprego na edificação. Dentre os materiais adicionados estão a areia, palha e água, de forma a

34

atingir a consistência necessária, podendo também conter uma cola feita de algas vermelhas

(denominadas tsunomata), que funciona como elemento aglutinante. Além disso, a combinação

de diversos tipos de solo nesta mesma mistura dá origem a uma variedade de cores e texturas

no acabamento das paredes. (LOCHER e SIMMONS, 2012).

Figura 39: Paredes com tom amarelado do Ko Shoin.

Fonte: Culture Japonaise.

Disponível em: http://bit.ly/2Hho8JP

Figura 40: Paredes inferiores c/acabamento em cal

branca.

Fonte: Culture Japonaise.

Disponível em: http://bit.ly/2JpN56i

Na imagem a seguir, ilustrando a planta do Ko shoin, as paredes sólidas, marcadas em

preto, apresentam a composição mencionada anteriormente:

35

Figura 41: Planta dos shoin da Vila de Katsura.

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Uma outra forma de trabalhar a terra na ATJ é a sua modelagem e cozimento, garantindo

um material bastante resistente, em comparação ao seu uso cru, além de manter suas

características iniciais. Nos shoin da Vila, esta mistura de terra (argila) e água, moldada e

cozida, é observada nos telhados das áreas de serviço e em parte do Ko Shoin, sob a forma de

telhas.

As telhas da STJ, chamadas de kawara, eram inicialmente trazidas da China, por volta do

século VI. Os japoneses, entretanto, iniciaram mais tarde a produção de suas próprias telhas,

sendo seu uso muito popular em templos, residências aristocráticas e em algumas casas

populares. A argila utilizada em sua fabricação consistia em uma mistura de diversos tipos de

terra e água, até atingir a consistência desejada, sendo esta trabalhada manualmente em moldes

36

de madeira (LOCHER e SIMMONS, 2012). As telhas são classificadas segundo seu formato e

encaixe, conforme Jeffrey Hays (2009):

Figura 42: Tipos de kawara.

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Em parte dos telhados do Ko Shoin e nas áreas de serviço, foi identificado a telha do tipo

Ichimonji-karakusa-gawara, como observado na imagem:

Figura 43: Vista do Okoshiyose, focando as telhas de terra queimada (kawara).

Fonte: Blog “Click”. Disponível em: http://bit.ly/2v15Utn

Técnicas construtivas empregadas

A parede é construída com camadas de massa superpostas sobre uma trama de madeira

(komai), consistindo em três tipos distintos: uma primeira camada, mais bruta ou emboço

(arakabe), a mediana, menos bruta ou reboco (nakanuri) e a de acabamento (shiage) que

apresenta a cor e textura desejadas. No caso do Ko Shoin, Chu Shoin e Shin Goten, foram

observados dois tipos de acabamento, um branco e um amarelado. O acabamento branco, mais

visível, é preparado com gesso, denominado shikkui, composto por cal de origem mineral

(pedras calcárias) ou animal (conchas) (LOCHER e SIMMONS, 2012). Já o acabamento

observado na entrada do Ko Shoin, de acordo com os materiais tradicionais analisados, há

somente a camada shiage, resultando na coloração final amarelada. Na Figura 44 está

esquematizada a execução destas camadas:

37

Figura 44: Camadas para a construção do tsuchikabe: a) komai, b) nakanuri e c) shiage.

Fonte: Edopedia. Disponível em: http://bit.ly/2qINgBn

Com relação ao telhado, a montagem utilizando as telhas de barro (kawara) é feita em

três etapas, sendo estas: colocação de telhas sobre a estrutura do telhado; aplicação de massa; e

colocação das telhas cerâmicas. De acordo com Morse (1886):

Primeiramente é aplicada uma camada fina e bruta de telhas planas sobre a armação do

telhado (será detalhada no capítulo 0);

Em seguida, uma camada de massa (feita de barro) espessa e uniforme é espalhada

acima desta anteriormente descrita;

Por fim, as telhas de barro são assentadas sobre a massa por fileiras.

Figura 45: Camada de massa aplicada no telhado.

Fonte: Hosomi Tile Industry.

Disponível em: http://bit.ly/2KVCwJ3

Figura 46: Telhas do tipo Ichimonji-karakusa-gawara.

Fonte: Hachise. Disponível em: http://bit.ly/2KEtHCE

2.1.3. Papel

Sobre o material e seu uso na edificação

Na ATJ, o papel tem a função de revestimento em partições móveis, a exemplo das portas

e janelas. Há três tipos destas partições, sendo elas denominadas: shoji, fusuma e amado. Serão

38

analisados dois tipos que apresentam o uso do papel em sua construção, o shoji e o fusuma,

ambas utilizadas para fechamento dos ambientes, móveis e removíveis, porém sem função

estrutural ou de barreira ao som, uma vez que o papel é utilizado sob a forma de folhas.

O papel utilizado nas edificações japonesas, denominado washi, muito se difere do

utilizado cotidianamente, por exemplo, para escrever. É elaborado manualmente, utilizando

técnicas locais para o tratamento das fibras, podendo estas serem provenientes da árvore Kozo

ou amoreira de papel (Broussonetia papyrifera), a Gampi, (Wikstroemia sikokiana) e a

Mitsumata, (Edgeworthia chrysantha) (HAYASAKA e NISHIDA). Para o uso arquitetônico,

são utilizadas as fibras da árvore Kozo, capazes de tornar o papel elaborado bastante resistente

e possível de ser usado na construção, apresentando uma particularidade distintiva que é a

translucidez, o que permite aproveitar a iluminação natural quando utilizado em paredes

periféricas (LOCHER e SIMMONS, 2012).

As partições móveis do tipo shoji consistem em portas feitas com uma moldura de

madeira em suas bordas e uma trama, geralmente retangular, de uma madeira mais leve como

preenchimento, sendo o papel aplicado nesta última. O shoji está localizado no perímetro dos

ambientes do shoin, devido ao uso do papel translúcido para permitir a entrada de luz natural

(LOCHER e SIMMONS, 2012).

Já as partições do tipo fusuma, similar ao shoji, possuem a moldura de madeira e trama

interna de madeira mais leve, porém se difere no modo de aplicação do papel, sendo este

superposto em várias camadas e cobrindo a trama por ambos os lados, de forma que fique opaco.

As portas do tipo fusuma são encontradas em divisões internas dos ambientes, devido ao seu

revestimento bloquear a visão e, consequentemente, a possibilidade de mais privacidade. Este

tipo de porta também possui puxadores, de forma que sejam movidas sem tocar no washi e,

ocasionalmente, apresentam pinturas com tinta ou padrões de desenhos carimbados com

pigmentos em suas faces (LOCHER e SIMMONS, 2012).

Os dois tipos de partições móveis, o shoji e o fusuma, inicialmente eram comuns em

edificações das classes mais abastadas, dada a necessidade de ajustar os espaços internos às

mais variadas funções que o ambiente poderia ter. Dependendo do evento ou reunião, as portas

poderiam ser abertas ou completamente removidas, deixando somente à vista os pilares de

madeira, permitindo acomodar o número desejado de pessoas (LOCHER e SIMMONS, 2012).

Por ser uma edificação pertencente ao imperador, bem como através das observações realizadas,

confirmam-se a existência dos dois tipos de partições na Vila de Katsura, compondo os demais

fechamentos, não sólidos, internos e externos dos ambientes.

39

Figura 47: Shoji visto do exterior do Ko Shoin.

Fonte: The Blogazine.

Disponível em: http://bit.ly/2Hy1eOh

Figura 48: Shoji aberto e visto do interior do shoin.

Fonte: The Financial Times.

Disponível em: http://bit.ly/2JNnEft.

Figura 49: Fusuma com carimbos de pigmentos no

Ko Shoin.

Fonte: Azurebumble.

Disponível em: http://bit.ly/2EJENmp

Figura 50: Fusuma com pinturas no Chu Shoin.

Fonte: Azurebumble.

Disponível em: http://bit.ly/2EJENmp

Técnicas construtivas empregadas

O uso do papel nas partições móveis envolve a técnica do washi e o modo como este é

aplicado no shoji e no fusuma. A fabricação do washi envolve um processo de tratamento das

fibras da casca da árvore kozo de forma que seja possível fabricar o papel. Consiste em uma

técnica utilizada no período Edo e até nos dias atuais.

De acordo com Locher e Simmons (2012), a fabricação do washi utilizando a árvore kozo

(amoreira do papel) segue as seguintes etapas:

Os galhos da árvore são extraídos in natura e levados para o cozimento a vapor em um

recipiente de madeira denominado koshiki, de forma a separar a casca dos galhos;

40

Após este cozimento, as cascas já soltas são removidas dos galhos e trabalhadas de

forma a retirar a parte mais externa (escura). O resultado é uma casca fibrosa e branca,

a matéria-prima para o papel.

Estas fibras brancas são então higienizadas e levadas para o cozimento por várias horas

com uma base (álcali) denominada soda, de forma a quebrar as fibras da casca;

As fibras quebradas obtidas na etapa anterior são amassadas até obter uma polpa,

utilizando um instrumento de madeira denominado bai;

Esta polpa de fibras é então misturada em um tanque de água com um material pegajoso,

chamado de neri, feito geralmente com a planta tororo (Aibika – Abelmoschus

manihot), de forma a atenuar o processo de ressecamento do material durante a

manufatura do papel;

A mistura obtida é a base para a fabricação do washi. O processo continua com o uso

de uma tela removível de bambu (su), posicionada numa moldura de madeira,

denominada sakuketa, que será mergulhada dentro do tanque com água, de forma que a

tela agregue uma fina camada da polpa. A água é então escorrida;

Em seguida, a tela é novamente mergulhada e desta vez é agitada para os lados, frente

e atrás, de forma que as fibras se alternem em várias direções e confira ao papel sua

consistência. Este processo é repetido quando toda a água escorre, até obter a espessura

desejada;

Com a espessura adquirida, a tela de bambu é removida e a folha de papel obtida é

posicionada em uma mesa à parte. Várias folhas são superpostas ainda molhadas;

As folhas empilhadas são prensadas, de forma a remover a água, e então puxadas uma

a uma, para serem trabalhadas individualmente

Por fim, cada folha separada é escovada e finalizada.

41

Figura 51: Galhos da árvore kozo a serem usados

Fonte: Intangible Cultural Heritage.

Disponível em: http://bit.ly/2JYSlRG

Figura 52: Higienização das cascas removidas

Fonte: Intangible Cultural Heritage.

Disponível em: http://bit.ly/2JYSlRG

Figura 53: Obtenção da polpa das cascas.

Fonte: Intangible Cultural Heritage.

Disponível em: http://bit.ly/2JYSlRG

Figura 54: Tanque com a polpa e o uso da tela de

bambu.

Fonte: Intangible Cultural Heritage.

Disponível em: http://bit.ly/2JYSlRG

A aplicação do washi no shoji é feita com o uso de cola (elaborada geralmente a partir do

arroz), fixando as folhas em apenas uma face da grade de madeira, sendo este procedimento

feito na direção horizontal de forma a evitar a entrada de poeira no caso de imperfeições. Já a

aplicação no fusuma é diferenciada, sendo o washi colado em ambas as faces da grade de

madeira, aproximadamente 10 ou 12 folhas do papel em cada um dos lados (LOCHER e

SIMMONS, 2012).

42

2.1.4. Palha e bambu

Sobre o material e seu uso na edificação

Além da madeira, outros tipos de vegetais utilizados na ATJ incluem alguns gêneros de

gramíneas (arroz, bambu, etc.) e suas palhas secas, podendo ser encontradas in natura ou

cultivadas, uma vez que apresentam crescimento rápido. São fáceis e simples de colher,

transportar e trabalhar, sendo utilizadas nas mais variadas etapas da construção, desde a

estrutura aos detalhes. Dentre as gramíneas, a mais comum e utilizada na ATJ é o bambu, sendo

utilizada em cercas, caibros, ripas, persianas e calhas, além de ser a única encontrada nas

estruturas das edificações. (LOCHER e SIMMONS, 2012).

Nos shoins, a palha de arroz é primeiramente visível na composição dos tatames, que

compõem o revestimento do piso e são determinantes para a dimensão dos cômodos (LOCHER

e SIMMONS, 2012). O Ko Shoin, Chu Shoin e Shin Goten apresentam o tatame como

revestimento do piso, em conjunto com a madeira. O bambu, especificadamente, é utilizado nas

calhas, em painéis decorativos e na composição estrutural dos telhados, como terças, caibros e

ripas, além de estar nos pregos utilizados, por exemplo, no telhado:

Figura 55: Calhas de bambu no Ko Shoin.

Fonte: Asian Historical Architecture. Disponível em: http://bit.ly/2EtGdRG

Técnicas construtivas empregadas

Os tatames, apesar de não envolver técnica construtiva em sua colocação nos ambientes,

merecem destaque devido à sua importância para modulação do ambiente. Morse (1886)

descreve que os tatames são colocados sobre os pisos dos cômodos, sem nenhuma espécie de

fixação, de forma que possam ser removidos. O posicionamento destes segue um padrão de

acordo com a quantidade de unidades utilizadas:

43

Figura 56: Exemplos de geometria dos tatames.

Fonte: Tatami. Disponível em: http://bit.ly/2LJBjoz.

Figura 57: Colocação dos tatames.

Fonte: LOCHER; SIMMONS, 2012, Paginação

Irregular.

Morse (1886) descreve como as calhas são utilizadas: feitas em bambus cortados ao meio

longitudinalmente, sendo fixadas nos beirais com o uso de ganchos metálicos ou com extensões

em madeira fixadas nos caibros, nesse caso a madeira utilizada é entalhada para receber a calha.

A calha em si é feita pela junção de quatro peças de madeira em formato piramidal seccionado

na extremidade. Todas essas peças conduzem a água pluvial a um cano condutor feito em

bambu, o qual possui em sua extremidade quatro pontas cortadas e usadas para suportar o bocal

feito em madeira (Ver Figura 58).

Figura 58: Calha em bambu.

Fonte: MORSE, 1886, p. 83.

2.2. O USO DA MADEIRA

Por ser um material abundante no Japão medieval (1185–1333), correspondendo a cerca

de 70% de seu território, a madeira foi bastante utilizada até o fim do período feudal, na

urbanização e como combustível para atividades como olarias e fundição do ferro. Apesar de

seu uso ser necessário ele era prejudicial para as florestas. Durante este período os xoguns se

44

deram conta da importância das árvores para a conservação do meio ambiente, terminando por

limitar seu corte e estimular a sua plantação. (COLLCUTT et al, 1996).

A madeira era o material preferido por apresentar entre suas propriedades as

características necessárias para a edificação e, principalmente, pela preferência do uso de

materiais naturais. A primeira delas é a sua capacidade de se acomodar às variações de umidade

do clima japonês, por meio de um processo de respiração – absorvendo e liberando a umidade

quando necessário no decorrer das flutuações sazonais (YOUNG e YOUNG, 2014). No final

dos meses de verão, o território japonês sofre com a formação de tufões, o que resulta numa

grande incidência de ventos. A edificação praticada na ATJ utiliza-se da estrutura armada em

madeira de forma que permita a passagens dos ventos sem bloqueios, como paredes

completamente sólidas, permitindo que não ocorra colapso da estrutura com a força do choque

dos ventos (MORSE, 1886, p. 14 – 16).

Com relação à temperatura, a madeira apresenta uma baixa condutividade térmica, ou

seja, não consegue transmitir bem o calor. Este fato se deve a presença da celulose na

composição da madeira, um mau condutor térmico, e a presença do ar nas cavidades internas

do tecido da madeira, funcionando como um isolante térmico (MADY, 2008). Apesar de a

edificação permitir o fluxo dos ventos, é possível fechar a entrada destes e de outros agentes

externos (chuva e neve) com o uso do amado, um tipo de partição móvel feito em madeira

localizado no perímetro mais externo da construção e na direção dos ventos. Suas características

e demais detalhes serão analisados posteriormente.

Além do clima, o Japão possui uma particularidade que é a ocorrência de abalos sísmicos,

devido à grande quantidade de vulcões em seu território. De forma a adaptar a edificação a esta

condição natural do local, materiais com melhores desempenhos a este estresse são

fundamentais, sendo a madeira um destes. Com relação a ATJ e de acordo com Karsh (2014),

o uso da madeira em locais com tendência à atividade sísmica é justificado pelos seguintes

motivos:

A madeira é um material construtivo leve, resultando em baixo impacto resultante da

força de um terremoto, uma vez que a força deste é proporcional a massa do material

usado na edificação;

A edificação em madeira apresenta inúmeras conexões e detalhes como parte de seu

processo construtivo, permitindo que esta apresente ductibilidade, ou seja, a capacidade

de se deformar sob a ação de esforços até seu rompimento.

45

Estas mesmas conexões, durante um abalo sísmico, permitem que as peças de madeira

neste estado absorvam e distribuam os esforços decorrentes deste evento, permitindo

que ocorra a dispersão pelas diversas pequenas conexões estruturais e a edificação

mantenha-se estável;

E, para que o projeto seja ideal para a condição de um local com abalos sísmicos, é

necessário promover o bom comportamento da estrutura, em vez de subjugá-la a força

bruta para mantê-la estável.

Entendendo o desempenho e o funcionamento deste material, cabe destacar em que

elementos da edificação ele é utilizado, de forma que seja possível compreender e justificar a

sua presença. Da base ao telhado, a madeira está presente no shoin de forma significativa,

abrangendo uma variedade de técnicas que serão analisadas posteriormente.

Em todos os shoin a madeira é utilizada como uma das partes da fundação, servindo como

suporte e elemento de elevação da edificação. Compõe os pilares e fechamentos da estrutura

acima da fundação e o interior das paredes (tsuchikabe). É o material de portas, janelas e

aberturas, forros, acabamentos, estrutura do telhado e telhas. Dependendo da função e

localização da peça, o tipo da madeira usado variará, conforme a espécie e o local de onde a

árvore foi retirada.

Os tipos de madeira utilizados na ATJ são divididos em duas categorias: as coníferas,

com folhas aciculares (forma de agulha) e fibras geralmente macias, denominadas shinyoju; e

as latifoliadas, com folhas largas e fibras geralmente densas, denominadas koyoju. As espécies

utilizadas de cada um destes tipos são catalogadas por Locher e Simmons (2012) nos quadros

abaixo, contendo o nome em japonês, o nome em inglês e sua taxonomia:

Quadro 1: Espécies shinyoju.

Espécie (*Também usada no Sukiya-

zukuri) Nome Taxonomia

Akamatsu* Red pine Pinus densiflora

Asuranô* False arbovitae, hiba arbovitae Thujopsis dolabrata

Hiba A type of japanese cypress Thujopsis dolabrata

Hinoki Japanese cypress Chamaecyparis obtusa

Kuromatsu Black pine Pinus thumbergii

Matsu Pine Pinus densiflora

Nezuko* White cedar Thuja standishii

Continua

46

Espécie (*Também usada no Sukiya-

zukuri) Nome Taxonomia

Sawara* Sawara cypress Chamaecyparis pisifera

Sugi* Japanese cedar Cryptomeria japonica

Tsuga Hemlock-spruce Tsuga siekoldii

Fonte: LOCHER e SIMMONS, 2012, paginação irregular.

Quadro 2: Espécies koyoju.

Espécie

(*Também utilizada no

estilo sukiya; ** Utilizada

somente no estilo sukiya)

Nome Taxonomia

Ichô** Gingko or maidenhair Gingko biloba

Kashi Oak Quercus serrata

Keyaki Zelkova Zelkova acuminata

Kiri** Paulownia Paulownia imperialis

Kokutan** Ebony, blackwood Diospyros ebenum

Kuri** Chestnut Castanea crenata

Kurobe** Japanese arbor vitae Thuja standishii

Kurokaki** Black persimmon Diospyros nitida Merr.

Kurumi** Walnut Juglans ailantifolia

Kusu** Camphor Cinnamomum camphora

Kuwa Mulberry Broussonetia papyrifera

Mitsuba tsutsuji** Azalea Rhododendron dilatatum

Momi** White fir or japanese fir Abies firma

Nara** Japanese oak Quercus crispula

Sakura Cherry Prunus japonica

Sarusuberi** Crape myrtle Lagerstroemia indica

Shioji** Ash Fraxinus spaethiana Lingelsh

Shitan** Red sandalwood, rosewood Dalbergia latifolia Roxb.

Tagayasan** Indian ironwood Mesua ferrea L.

Tochi** Horse chestnut Aesculus turbinata

Tsubaki** Canellia Camellia japonica

Tsutsuji** Azalea Rhododendron indicum

Ume Plum Prunus mume

Urushi, urushi-no-ki Japanese lacquer tree Toxicodendron vernicifluum

(formerly Rhus verniciflua)

Fonte: LOCHER e SIMMONS, 2012, paginação irregular.

47

Dependendo da resistência e durabilidade da madeira, caso seja do tipo koyoju ou

shinyoju, esta poderá ser empregada para uso estrutural, mobiliário, ornamental e/ou de

acabamento. Locher e Simmons (2012) destaca a aplicação de algumas espécies para estes

quatro usos:

Para uso estrutural, destaca as espécies hinoki (cipreste japonês) e sugi (cedro-

japonês), embora esta última seja não apenas ideal como também usada na confecção

de partições móveis do tipo amado (analisado posteriormente);

Para o uso mobiliário, destaca a espécie kiri (paulownia);

Para uso ornamental, destaca a espécie sakura (cerejeira), ainda que raramente usada;

Para o acabamento, destaca as espécies kozo (amoreira de papel) e urushi (árvore de

laca japonesa).

Outro fator interessante para o uso da madeira, além de seu tipo e espécie, é seu local de

crescimento e posicionamento natural, uma vez que isto define o desempenho estrutural da

edificação. Analisando a origem da árvore, é possível definir sua capacidade como material

construtivo e, consequentemente, a sua aplicação, como explica Locher e Simmons (2012):

“Árvores que crescem próximas ao topo da encosta da montanha tendem a serem retas

e fortes, sendo estas as que os carpinteiros escolhiam para os elementos primários das

estruturas – os pilares e vigas. Árvores que crescem na parte mais baixa e mediana da

encosta da montanha tendem a serem retas porém finas […]. Entretanto, elas ainda

são úteis para elementos expostos, por possuírem poucos nós e superfícies finas.

Árvores que crescem em vales entre montanhas são conhecidas por serem

estruturalmente fracas e possuírem um alto teor de umidade, o que as tornam úteis

apenas para usos não estruturais. Algumas árvores que crescem em declives ou em

áreas com alta incidência de ventos são curvadas ou tortas, e carpinteiros habilidosos

podem “trançá-las” em uma trama de vigas”(LOCHER; SIMMONS, 2012)2

Por ser um material orgânico e suscetível à deterioração em estado natural depois do corte,

a madeira utilizada na construção, quando não determinada a periodicidade de sua renovação –

p.e., o Santuário de Ise (Ise Jingu), a cada 20 anos tem sua estrutura desmontada e renovada

(YOUNG; YOUNG, 2012) - passa por tratamentos que possibilitam esta durabilidade.

Nesta pesquisa, foi identificado um tipo de tratamento utilizado na ATJ, a queima da

madeira. Este processo, denominado Shou Sugi Ban ou Yakisugi, consiste na carbonização da

2 Tradução livre da autora do original em inglês: Trees that grow near the top of a mountain slope tend to grow

straight and strong, and it is these trees that carpenters choose for a bulding’s primary structural elements – the

columns and beams. Trees that grow in the lower mid-mountain slope are straight but thin, so they are not as

strong as those that grow at the higher elevation. However, they still are useful for exposed elements because they

tend to have few knots and fine surfaces. Trees that grow in the valleys between mountains are understood to be

structurally weak and have a high moisture content, which makes then suitable only for non-structural uses. Some

trees that grow on steep slopes or in windy areas are curved or bent, and skillful carpenters can “weave” them

into a fabric-like structure of beams

48

face da peça que será exposta, sendo esta queima feita de diversas formas – como por exemplo

com uma pequena fogueira. Este tipo de tratamento contribui para a durabilidade da madeira

ao evitar a sua decomposição, afastar insetos, melhorar a estabilidade dimensional (variação

das dimensões da peça) e retardar a propagação de chamas (SHOU SUGI BAN, 2018).

Portanto, é possível encontrar a madeira em edificações com datação superior a mil anos

de existência (HARADA, 1954. p. 46). Este potencial duradouro somente é possível com este

tipo de artifício de forma a superar sua fragilidade, por meio de proteção contra apodrecimento,

ataque de insetos, intempéries ou interferência de outros materiais, como o metal.

Além dos elementos estruturais, a madeira também é utilizada em importantes peças da

composição interna e externa dos ambientes. Conforme mencionado anteriormente na parte

referente aos outros materiais, ainda existem aqueles feitos de madeira, sendo estes: ornamentos

no ranma, o amado, o engawa e os pilares daikokubashira e tokobashira.

O nome ranma é dado ao espaço entre a viga de madeira na altura das portas, magusa

(lintel) ou as vigas que travam as paredes, portas e janelas, nageshi (gravata), e o forro de

madeira que compõe o teto. Este espaço, quando não composto por uma parede do tipo

tsuchikabe, possui os painéis ornamentais de madeira, que têm como função a passagem do

vento e do som, mas também podem ser usados para a permitir iluminação natural, dependendo

da composição elaborada, ou uma combinação de ambas as funções. O ranma também pode ser

construído como o shoji ou fusuma, possuindo trilhos próprios e removíveis (LOCHER e

SIMMONS, 2012). Nos shoin da Vila de Katsura foram identificados painéis em madeira e

similares ao shoji:

Figura 59: Variedade de ranma em madeira no Ko

Shoin.

Fonte: Katsura Walking Tour.

Disponível em: http://bit.ly/2Hylrnl

Figura 60: Variedade de ranma em madeira no Chu

Shoin.

Fonte: BORRAS, 1970, p. 80.

49

Os corredores revestidos em madeira encontrados pelos caminhos internos mais

periféricos dos shoin são as varandas, denominados engawa. São espaços protegidos pela

cobertura da edificação, porém não possuem paredes fixas, apenas partições móveis como

proteção. De acordo com Morse (1886), o engawa consiste em uma importante parte da casa

tradicional japonesa, funcionando como uma extensão do interior da edificação e permitindo

que, em conjunto com o amado (feito somente em madeira), seja possível reduzir a deterioração

do shoji devido aos agentes externos, como a chuva (Ver FigurasFigura 61e Figura 62).

Figura 61: Engawa no Shin Goten.

Fonte: CTA.

Disponível em: http://bit.ly/2JQu8Ku

Figura 62: Engawa na saída da Gakki noma.

Fonte: CTA.

Disponível em: http//bit.ly/2JQu8Ku

As partições móveis do tipo amado (Ver Figura 63) consistem em grandes painéis móveis

de madeira que contornam o perímetro mais externo dos ambientes internos do shoin ou no

contorno das varandas (engawa), fornecendo proteção contra agentes externos, como chuva e

neve, e para fechar a edificação durante a noite. Tanto o amado, quanto o shoji e fusuma,

possuem trilhos feitos em madeira para sua mobilidade, sendo estes denominados: shikii, os

trilhos inferiores e kamoi os trilhos superiores. Nota-se a diferença do amado para as outras

duas partições móveis, que é a existência de apenas um trilho para correr. Sendo assim, não há

superposição entre as folhas, e uma caixa de madeira, denominada tobukuro (Ver Figura 64),

utilizada para guardar estes painéis quando não estão em uso (LOCHER e SIMMONS, 2012).

50

Figura 63: Amado no Ko Shoin.

Fonte: The Kyoto Project.

Disponível em: http://bit.ly/2FMbb8y.

Figura 64: Tobukuro, marcado em vermelho, ao lado do

Chu Shoin.

Fonte: Raphael Franca (2007).

Disponível em: http://bit.ly/2KEs1JT.

Na estrutura de pilares internos da residência, há um simbolismo referente à função de

dois específicos, o daikokubashira e o tokobashira. O pilar central da casa é denominado

daikokubashira, que significa “o pilar do deus da riqueza”, sendo elaborado de forma mais

exagerada que os demais e feito em uma espécie diferente de madeira, a keyaki (Zelcova -

Zelcova serrata). O tokobashira consiste em um dos pilares que compõem o ambiente

denominado tokonoma, local no qual são expostos objetos artísticos. Este pilar é feito com uma

espécie de árvore diferente, como a sakura (cerejeira) ou bambu, e sua superfície é deixada

preferencialmente em seu estado natural (LOCHER e SIMMONS, 2012):

Figura 65: Exemplo de daikokubashira.

Fonte: ie-new.

Disponível em: http://bit.ly/2FNxb2E.

Figura 66: Tokobashira no tokonoma do Ko Shoin.

Fonte: Development Agency Marsmedia PR.

Disponível em: http://bit.ly/2KD2fWE

51

2.2.1. Análise das técnicas construtivas em madeira

De forma a analisar o conjunto de técnicas construtivas em madeira aplicadas nos shoin

da Vila de Katsura, será descrito o processo de levantamento da residência como um todo,

detalhando os usos da madeira que forem encontrados e destacando as técnicas construtivas já

mencionadas anteriormente.

Fundação

O início da construção de uma residência da ATJ é dado pela sua fundação. Como já foi

analisado no item 3.1.1, a pedra é o elemento que a compõe, sendo fundamental para a

estabilidade da edificação e dada a disponibilidade do material. De acordo com Locher e

Simmons (2012) o procedimento inicial consiste no posicionamento das pedras componentes

da fundação, a partir das quais é possível reunir a estrutura primária em madeira, de pilares e

vigas. Os autores descrevem que, com esta moldura primária, o processo de elevação do piso

acima do nível do solo é facilitado, sendo esta composição responsável por permitir a ventilação

natural e proteger de insetos e outros agentes vivos deteriorantes.

Morse (1886) complementa que, nas casas de Quioto, como no caso dos shoin da Vila de

Katsura, é comum que esta fundação apresente nos espaços entre pilares uma pequena parede

de vedação, evitando o desconforto do frio durante os períodos de inverno.

Locher e Simmons (2012) dão continuidade ao procedimento de elevação da edificação,

descrevendo que, após a etapa anteriormente mencionada, são posicionadas então as vigas que

dão suporte ao piso, denominadas obiki, sendo estas conectadas a pequenos pilares apoiados

nas soseki (pedras da base).

Camila Numazawa (2009) descreve as demais peças que compõem a fundação, nomeando

os pilares que apoiam as vigas obiki, os yuka tsuca, as vigas que fazem o travamento destes

pilares, chamadas negarami nuki, e as vigas colocadas acima do obiki, nomeadas neda, sendo

estas espaçadas nas dimensões de um tatame. Por fim, acima da neda, como explicado no

dicionário online JAANUS (2001), são posicionadas as tábuas do piso, nomeadas yuka-ita e as

soleiras nas quais correm as partições móveis, denominadas shikii, formando assim a estrutura

completa de piso encontrada predominantemente na Vila de Katsura (Ver Figuras Figura 67 e

Figura 68). No caso das varandas, esta é visível, porém, em grande parte dos ambientes internos,

acima deste piso de madeira são posicionados os tatames.

52

Figura 67: Esquema da fundação.

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Figura 68: Fundação do Chu Shoin.

Fonte: Stylepark.

Disponível em: http://bit.ly/2EP1O7y.

Paredes

Como exemplar do estilo sukiya, a Vila de Katsura tem a naturalidade da madeira bem

exposta, notada em suas estruturas. Conforme afirmado por Locher e Simmons (2012) sobre a

expressão da madeira, as vilas e casas de chá eram construídas de forma a exibir as qualidades

naturais deste material, logo a constante exposição e tendência do uso do material em estado

próximo ao encontrado na natureza (embora mencione casos de intervenção no crescimento da

árvore de forma a se obter um resultado desejado, como interferir na sua curvatura, por

exemplo).

Outra observação a ser feita com relação a esta etapa da construção, é a divisão interna

dos ambientes. A versatilidade dos espaços, como já analisada, faz dos shoin espaços sem

paredes fixas, sendo marcante o uso do fusuma e do shoji. Porém, a análise através de plantas

e fotografias aponta a existência de paredes fixas, bem como a fixidez dos pilares que pontuam

os espaços abertos (após a remoção das portas):

Figura 69: Shin Goten após a remoção das partições móveis.

Fonte: Asahi Digital. Disponível em: http://bit.ly/2HRXhrd.

53

Tratando da estrutura em si, acima do piso, há aquela que serve de suporte para o telhado,

sendo marcada pela presença dos pilares que suportam a cobertura, denominados hashira, as

vigas de amarração no perímetro dos ambientes, denominadas nageshi, e o lintel com os trilhos

para partições móveis, denominados kamoi (NUMAZAWA, 2009). No caso do lintel sem o

trilho, a denominação é alterada para magusa (JAANUS, 2001) (Ver Figura 70).

O enchimento das paredes (vedação), descrito no item 3.1.2, é composto por terra batida

em camadas, aplicada sobre o komai (trama de bambu), compondo o tsuchikabe (parede de

terra). Ainda nestas tramas, as janelas consistem em espaços não preenchidos pela massa,

podendo ou não manter o komai exposto. Quando não há a presença deste, a janela possui uma

trama externa de bambu/madeira, podendo ainda apresentar um shoji, este usado para filtrar a

entrada de luz, ou amado, ambos com trilhos próprios para sua movimentação e remoção. São

posicionadas preferencialmente de acordo com a visão do observador sentado no chão, devido

à ausência de cadeiras (LOCHER e SIMMONS, 2012). A vedação encontrada nos espaços entre

kamoi ou magusa e o forro, denominado ranma, como já analisado, pode ser composto pelo

tsuchikabe, painéis em madeira ou similares ao shoji.

Figura 70: Esquema da composição das peças nas paredes.

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

A proteção para quem circula pelo engawa é feita por corrimãos em madeira, sem

denominação especificada, embora o termo kouran possa ser usado para denominar esta

estrutura (JAANUS, 2001).

54

Forro

No forro, a preferência pela madeira em sua aparência natural é, novamente, uma das

características mais evidentes. Nos ambientes internos observados que possuem esta estrutura,

denominada tenjo (MORSE, 1886, p.107), a sua composição é feita por uma trama com ripas e

placas de madeira. Nos shoin da Vila de Katsura, há duas variedades de forro: uma característica

do próprio estilo Sukiya, na qual ripas correm paralelamente na largura da edificação e tábuas

de madeira correm acima e no sentido oposto; e outra, característica do estilo Shoin, na qual as

ripas formam uma trama e placas de madeira são fixadas acima destas (LOCHER; SIMMONS,

2012).

De acordo com o dicionário online JAANUS (2001) o forro do estilo Sukiya é

denominado saobuchi tenjou, sendo a sua composição feita por vigas denominadas saobuchi,

as tábuas denominadas tenjou-ita e o acabamento nas bordas, feito por uma peça denominada

mawaribuchi. As saobuchi são fixadas com 30 a 40 centímetros de espaçamento. A estrutura

que sustenta o forro é composta por tirantes, chamados de tsurigi, a viga que suporta os tirantes,

denominada tsurigiuke e uma ripa de apoio para o saobuchi, denominada nobuchi.

Figura 71: Esquema do forro saobuchi.

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Figura 72: Forro saobuchi no Chu Shoin.

Fonte: Photography-now. Disponível em:

http://bit.ly/2IeOVcv.

O JAANUS (2001) descreve o forro do estilo Shoin, sendo este denominado goutenjou.

A sua composição é feita por uma trama de vigas em madeira chanfrada, nomeadas goubuchi,

formando seções quadrangulares de 45 a 90 centímetros e possuindo de 6 a 7 centímetros de

espessura, sem a necessidade de tirantes, porém apoiadas na peça mawaribuchi. Estes espaços

são preenchidos por placas de madeira denominadas ura-ita, fixadas acima das goubuchi.

55

Figura 73: Esquema do forro goubuchi.

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Figura 74: Forro goubuchi no Shin Goten.

Fonte: Asahi Digital.

Disponível em: http://bit.ly/2FNSHUY.

Telhado

Dentre os elementos que compõem a edificação, o telhado é o que apresenta o maior valor

simbólico. Locher e Simmons (2012) descrevem o telhado como o objeto que determina o status

social, sendo equivalente a riqueza e o poder do dono. A principal função desta estrutura é o

abrigo contra as intempéries e a fauna local, sendo o seu tamanho e extensão um elo entre o

interior e exterior da edificação, criando uma interação entre eles; e o seu formato variando de

acordo com o clima local, definindo a inclinação e materiais utilizados.

A variedade de estilos de telhados encontrados na ATJ é descrita de acordo com Hays

(2009), sendo eles: Irimoya, Kirizuma, Hogyo e Yosemune. Nos shoin da Vila de Katsura foi

observado predominante o estilo Irimoya, apesar de algumas de suas águas se assemelharem ao

Kirizuma:

Estilo Irimoya: Também denominado irimoya-zukuri, possui uma peculiaridade que é a

fusão de dois estilos de telhados, com duas águas na parte superior e quatro águas na

parte inferior, apresentando frontão nas águas de seus ambientes centrais. Na ausência

de frontão, a continuação ou extensão das águas que recobrem o engawa é denominada

de hisashi (JAANUS, 2001).

Estilo Kirizuma: Também denominado kirizuma-zukuri, consiste em um telhado que

apresenta duas águas e frontão (JAANUS, 2001).

56

Figura 75: Estilos dos telhados.

Elaborado pela autora, 2018.

Figura 76: Vista aérea dos shoin.

Fonte: BORRAS, 1970, p. 2.

Com relação aos nomes das partes que compõem a estrutura, faz-se necessário primeiro

denominar as já mencionadas anteriormente para definir os estilos dos telhados: o frontão é

denominado tsuma; a água é denominada hira; a cumeeira é denominada mune; e o acabamento

do telhado é denominado hafu (HAYS, 2009). Locher e Simmons (2012) ao discorrer sobre o

mune, afirmam que a cumeeira, sendo uma parte frágil do telhado, pode ser feita com uma

proteção em material diferenciado neste local, utilizando cerâmica (no caso dos shoin), fixada

com massa.

Já as peças que compõem a estrutura em madeira do telhado são denominadas, conforme

JAANUS (2001) e Numazawa (2009), do seguinte modo: munagi é a terça da cumeeira,

hanamoya é o contrafrechal, moya são as demais terças; taruki são os caibros; e yane-komai

são as ripas.

Devido à ausência da tesoura nos cortes analisados dos shoin, a sua função é executada

por um conjunto de peças em madeira. Segundo o JAANUS (2001) e a página Minka Rebuild

(2015), são apresentados três tipos de estrutura de suporte ao telhado: Sasugumi, Odachigumi

e Wagoya. No caso dos shoin, foi identificado o tipo da estrutura Wagoya, na qual são utilizadas

pontaletes, e vigas que os cortam, para sustentar a estrutura anteriormente descrita. Os

pontaletes são koyazuka; as vigas que apoiam os pontaletes, hari; as vigas que cortam o

koyazuka são nuki; o frechal é keta. As peças oblíquas que fazem o contraventamento da

cobertura consistem em: ketayuki sujikai, que são as vigas paralelas à cumeeira e koya sujikai

aquelas perpendiculares à cumeeira. Ainda há uma viga em balanço que serve de apoio para a

cobertura dos engawa, denominada hanegi (Ver Figura 77).

57

Figura 77: Esquema das peças do telhado.

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Os telhados podem ser caracterizados de acordo com os materiais utilizados em sua

cobertura, podendo ser dos seguintes tipos: palha, metal, cerâmica, pedra e madeira ou somente

madeira. Nos shoin foram encontrados dois tipos de cobertura, a cerâmica e a somente em

madeira, tipos mais comuns para residências no campo (MORSE, 1886, p.78). Os telhados

cerâmicos, já analisados no tópico 3.1.2, recobrem as áreas de serviço, enquanto as demais áreas

são recobertas com telhas de madeira.

Estas telhas consistem em pequenas e finas folhas da madeira, fixadas no telhado com o

uso de pregos feitos em bambu. A fixação das telhas é feita com um martelo específico para

esta função, com cabo em madeira e um cubo metálico na ponta, utilizada especificamente para

fixar os pregos de bambu (MORSE, 1886, p. 78-80). As calhas, como descritas no tópico 3.1.4,

são feitas em bambu e madeira.

Morse (1886) complementa que, sendo as coberturas feitas com palha, nas casas de

pessoas mais abastadas era executado um sistema de drenagem da água pluvial realizado por

meio de uma valeta preenchida com pedras, possuindo aproximadamente 60 centímetros de

largura. Elas eram localizadas no chão abaixo da projeção dos beirais, vindo a sanar a

dificuldade de instalação de calhas neste tipo de telhado, coberto de palha. Entretanto, é possível

observar esta mesma composição nos shoin, com cobertura em madeira, nas quais há a valeta

preenchida com pedras sob os beirais sem calhas. Esta prática, era provavelmente providencial

58

para afastar a umidade da casa, ao evitar o acúmulo de poças de água, bem como prevenir os

furos causados pelo gotejamento da água.

2.2.2. Análise das juntas em madeira

A habilidade dos japoneses no manuseio da madeira pode ser observada na variedade de

juntas, denominadas tsugime, utilizadas na construção das edificações tradicionais. Os

encaixes, sem o auxílio de peças metálicas, fazem uso de desenhos geométricos nos entalhes,

permitindo que as peças sejam unidas de forma limpa e eficaz. As juntas foram analisadas

separadamente neste capítulo, devido a sua complexidade e recorrência.

A análise foi dividida em quatro partes, sendo estas: juntas recorrentes em um mesmo

pilar; juntas recorrentes entre pilar e viga; juntas recorrentes para uma mesma viga; e outros

tipos recorrentes de juntas. Os encaixes foram ilustrados e denominados, prezando a

possibilidade destes serem os utilizados na construção dos shoin. Houve casos em que não foi

possível encontrar o nome no decorrer desta pesquisa, ficando a junta apenas ilustrada, e casos

de apresentação de variações de uma mesma junta, dada a impossibilidade de saber qual foi

exatamente utilizada.

A seguir, estão os quadros contendo a junta antes e após a montagem, seu nome, e sua

aplicação. Dado o tempo previsto para a realização desta etapa e as dificuldades em localizar

as medidas do desenho de algumas juntas, estas foram ilustradas com desenhos encontrados nas

referências bibliográficas deste trabalho, sendo sua autoria especificada individualmente.

Tipos de juntas recorrentes em um mesmo pilar

Gengo Matsui e Torashichi Sumiyoshi (1989) descrevem alguns tipos de juntas utilizadas

na união de peças em um único pilar no Quadro 3:

Quadro 3: Juntas recorrentes para um mesmo pilar.

Junta desmontada Junta unida Aplicação

Hako Tsugi

Pode ser utilizada para

unir peças de um mesmo

pilar.

Continua

59

Junta desmontada Junta unida Aplicação

Hashira Tsugi

Pode ser utilizada para

unir peças de um mesmo

pilar.

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Tipos de juntas recorrentes entre pilar e viga

Heino Engel (1985), Matsui e Sumiyoshi (1989), JAANUS (2001), e Numazawa (2009)

descrevem alguns tipos de juntas utilizadas para unir vigas a pilares no Quadro 4:

Quadro 4: Juntas recorrentes entre pilar e viga.

Junta desmontada Junta unida Aplicação

Nimai-gama

Pode ser utilizada na união

de pilares e vigas de

amarração (p.e. vigas nos

pilaretes do telhado).

Kamasen-uchi

Pode ser utilizada na união

de pilares e vigas de

amarração (p.e. vigas nos

pilaretes do telhado).

Yonmai-gama Fonte: ENGEL, 1985, p. 85.

Pode ser utilizada na união

de pilares e vigas de

amarração (p.e. vigas nos

pilaretes do telhado).

Continua

60

Junta desmontada Junta unida Aplicação

Hirahozo

Pode ser utilizada em vigas

de amarração, para unir a

grade de madeira à moldura

no shoji e fusuma, em outras

vigas não estruturais e vigas

apoiadas em outras vigas.

Konehozo

Pode ser utilizada para

conectar as vigas da moldura

do shoji e vigas a pilares de

canto.

Wari Kusabi

Pilar encaixa na viga: pode

ser utilizada para unir

frechais no topo de pilares e

unir pilares a vigas no geral.

Viga encaixa no pilar: unir

vigas a pilares sem

especificações.

Jigoku Hozo

Pode ser utilizada em mão

francesa, encaixar pilares

nos linteis e aplicações da

junta anterior em que seja

melhor esconder o encaixe.

Continua

61

Junta desmontada Junta unida Aplicação

Yose Ari/Okuri Ari

Pode ser utilizada na união

entre pilaretes a linteis.

Ashigatame Modelada com base no Anexo

12.

Pode ser utilizada para unir

as vigas que sustentam o

piso aos pilares.

Ashigatame

Fonte: ENGEL, 1985, p. 102.

Pode ser utilizada para unir

as vigas que sustentam o

piso aos pilares.

Ashigatame

Fonte: NUMAZAWA, 2009.

Pode ser utilizada para unir

as vigas que sustentam o

piso aos pilares.

Katasege Ari

Pode ser utilizada para unir

vigas de amarração aos

pilares.

Continua

62

Junta desmontada Junta unida Aplicação

Sem denominação encontrada. Modelada com base no Anexo

10.

Pode ser utilizada para unir a

viga de acabamento do forro

ao pilar no canto.

Sem denominação encontrada. Modelada com base no Anexo

11.

Pode ser utilizada para unir a

viga de acabamento do forro

ao pilar e sustentação da

cobertura das varandas.

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Tipos de juntas para uma mesma viga

Exemplos de juntas utilizadas na união longitudinal em uma viga são descritas por Engel

(1985), Matsui e Sumiyoshi (1989) e JAANUS (2001) no Quadro 5:

Quadro 5: Tipos de juntas para uma mesma viga.

Junta desmontada Junta unida Aplicação

Ari Tsugi

Pode ser utilizada em vigas

da fundação, em terças, na

terça da cumeeira e no

frechal.

Koshikake Kamatsugi/Kama Tsugi

Pode ser utilizada em vigas

da fundação, em terças, na

terça da cumeeira e no

frechal.

Continua

63

Junta desmontada Junta unida Aplicação

Kanawa Tsugi

Pode ser utilizada em vigas

(sem especificação) e na

base de um pilar.

Okkake Daisen Tsugi

Pode ser utilizada em vigas

da fundação, vigas que

apoiam outras vigas, em

terças, na terça da cumeeira

e no frechal.

Hakosen Tsugi

Pode ser utilizada em vigas

expostas.

Hakosachi Tsugi

Pode ser utilizada em vigas

expostas como as das

varandas.

Sao Sachi Tsugi/Saotsugi

Pode ser utilizada em vigas

das varandas, do interior da

edificação e em outras vigas

em madeira natural.

Shiri Basami Tsugi

Pode ser utilizada em vigas

da fundação e vigas que

apoiam outras vigas.

Kakushi Kanawa Tsugi

Pode ser utilizada em vigas

de acabamento.

Continua

64

Junta desmontada Junta unida Aplicação

Hako Daimochi Tsugi

Pode ser utilizada em vigas

de acabamento.

Daimochi Tsugi/Koya Daimochi

Pode ser utilizada entre

vigas em madeira natural

que apoiam os pontaletes,

no frechal, entre vigas

perpendiculares no telhado

e nas vigas que apoiam o

madeiramento do piso.

Imotsugi/Imomeji

Pode ser utilizada para unir

as vigas do forro do tipo

saobuchi.

Isuka Tsugi

Pode ser utilizada nas vigas

do forro, vigas que apoiam

o madeiramento do piso e

em caibros.

Miya-jima-tsugi

Pode ser utilizada nas vigas

do forro e em outras vigas

expostas.

Sumikiri Tsugi

Pode ser utilizada nas vigas

do forro goubuchi.

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

65

Tipos de juntas recorrentes entre vigas

Engel (1985), Matsui e Sumiyoshi (1989) e JAANUS (2001) descrevem alguns tipos de

juntas entre vigas perpendiculares no Quadro 6:

Quadro 6: Tipos de juntas recorrentes entre vigas.

Junta desmontada Junta unida Aplicação

Kabuto Arikake/Kyouro Arikake

Pode ser utilizada para unir

terças a vigas no topo de

pilares e unir a viga que

apoia os pontaletes ao

frechal.

Ooire Ariotoshi/Kageire Ariotoshi/Ooire

Arikake

Pode ser utilizada para unir

terças ao acabamento do

telhado.

Watariago/Agokaki/Agokake

Pode ser utilizada para unir

vigas do madeiramento do

telhado ou para unir um

pilar a uma viga em

balanço.

Kakiuchi

Pode ser utilizada para unir

vigas perpendicularmente e

utilizada para unir as peças

da grade interna de madeira

do shoji e fusuma. Pode

fazer uso de pregos.

Continua

66

Junta desmontada Junta unida Aplicação

Kakikomi

Pode ser utilizada para unir

vigas perpendicularmente.

Sem denominação encontrada.

Utilizada para unir vigas

perpendicularmente no forro

do tipo saobuchi.

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Outros tipos de juntas recorrentes

Juntas que não estão diretamente relacionadas a vigas e pilares estão descritas nesta seção,

sendo alguns exemplos dados por Engel (1985), Matsui e Sumiyoshi (1989) e JAANUS (2001).

Quadro 7: Outros tipos de juntas recorrentes.

Junta desmontada Junta unida Aplicação

Tsugi-tsuke/Imohagi

Pode ser utilizada no

madeiramento do piso.

Aijaku-ri/Chigaihagi

Pode ser utilizada no

madeiramento do piso.

Continua

67

Junta desmontada Junta unida Aplicação

Yatoi-sane

Pode ser utilizada no

madeiramento do piso.

Hon-sane

Pode ser utilizada no

madeiramento do piso.

Shiki-me

Pode ser utilizada no

madeiramento do piso.

Enko

Pode ser utilizada no

madeiramento do piso.

Hibukurahagi

Pode ser utilizada no

madeiramento do piso.

Continua

68

Junta desmontada Junta unida Aplicação

Yosemune no Sumi Fonte: MATSUI; SUMIYOSHI,

1989.

Pode ser utilizada na

composição de vigas na

extremidade do telhado.

Engawa no Keta

Fonte: MATSUI; SUMIYOSHI,

1989.

Pode ser utilizada na

composição de vigas na

extremidade do telhado.

Hafuogami

Pode ser utilizado para unir o

encontro acabamento do

telhado na cumeeira.

Eriwadome

Pode ser utilizada para fazer

os caminhos dos trilhos e

moldura superiores das

partições móveis, unir vigas

do shoji à moldura e unir os

trilhos das partições móveis

aos pilares.

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

2.3. ACABAMENTOS

Apesar de, à primeira vista, os shoin apresentarem um desenho simples, os japoneses do

Período Edo prezavam pelos detalhes, captando a atenção de quem observa a edificação com

proximidade, como pôde ser observado nas técnicas até então observadas, assim como nos

acabamentos a serem analisados (YOUNG; YOUNG, 2012)

As pinturas encontradas nas partições móveis do tipo fusuma (portas internas) consistem

em uma das formas de acabamentos que podem ser encontrados. Como já analisado no tópico

3.1.3, são partições elaboradas com camadas de washi (papel) que apresentam carimbos ou

69

desenhos em sua extensão. Locher e Simmons (2012) explicam que as pinturas consistiam em

representações de cenários naturais ou de lugares distantes:

Figura 78: Fusuma no Ko Shoin.

Fonte: Portlandart.

Disponível em: http://bit.ly/2FMCTSA.

Figura 79: Fusuma no Chu Shoin.

Fonte: KATSURA IMPERIAL VILLA, 1988, p.12

A laca (verniz de origem vegetal) é aplicada nas peças desejadas de forma a criar uma

camada protetora contra a deterioração da madeira, e obter um efeito ornamental. Apesar de ter

influência positiva na vida útil da peça, não é comum que todas as partes em madeira recebam

este tipo de acabamento, como por exemplo os forros, sendo encontrado em elementos como o

ranma e molduras de fusuma (LOCHER; SIMMONS. 2012).

Os puxadores, denominados hikite, são encontrados em partições móveis do tipo fusuma,

utilizadas para movimentá-las sem a necessidade de tocar no papel:

Figura 80: Hikite.

Fonte: KATSURA IMPERIAL VILLA, 1988, p.

18.

Figura 81: Hikite

Fonte: Café de EL Saíto.

Disponível em:

http://bit.ly/2rzHBxL.

Figura 82: Hikite

Fonte: Café de EL Saíto.

Disponível em:

http://bit.ly/2rzHBxL.

Os acabamentos dos pinos expostos das juntas em madeira são feitos com uma peça

metálica denominada kugikakushi:

70

Figura 83: Kugikakushi no Shin Goten.

Fonte: KATSURA IMPERIAL VILLA, 1988, p. 18.

Os espaços da residência tradicional eram planejados para serem flexíveis, com o mínimo

ocupado, aproveitando de espaços embutidos e prezando por espaços de armazenamento nas

paredes, pisos e forros:

Figura 84: Armários da primeira sala do Shin Goten.

Fonte: KATSURA IMPERIAL VILLA, 1988, p. 17.

Figura 85: Armários dos quartos do Shin Goten.

Fonte: KATSURA IMPERIAL VILLA, 1988, p. 18.

Sudare é o nome dado às persianas feitas com tiras finas de bambu, tokusa (cavalinha),

yoshi (caniço) ou hagi (Lespedeza thunbergii), amarradas com um barbante e espaçadas de

forma a permitir a passagem de vento e luz (JAANUS, 2001). Diferente das demais partições

móveis citadas, o sudare não necessita de trilhos, podendo ser pendurado na extremidade do

telhado ou do ambiente o qual se encontra, e estirado no comprimento desejado. Similar ao

fusuma, estas persianas podem possuir padrões em seu comprimento, elaborados a partir das

características e propriedades naturais do material utilizado ou através de pequenos cortes

(MORSE, 1886).

71

Pequenos jardins internos compõem a planta dos shoin, denominados tsuboniwa. Não

possuem cobertura e são elementos responsáveis pela entrada de luz e ventilação em ambientes

mais interiores da edificação (LOCHER e SIMMONS, 2012).

No frontão dos telhados, a trama de madeira que o compõe é denominada kitsunegoushi,

a viga que segura esta trama é maezutsumi e há um elemento ornamental em madeira

denominado omogegyo, utilizado para cobrir a ponta exposta da cumeeira, com um adorno

metálico em forma de flor, pássaro, animal ou dragão (JAANUS, 2001).

3. DEFINIÇÕES INICIAIS DA MODELAGEM

Visto as diferentes técnicas em madeira, que é o foco deste trabalho, passamos então

para as definições pertinentes ao processo de confecção do MDI. Devemos entender de antemão

o porquê da escolha deste método de linguagem para a transmissão desta informação.

Um MDI deriva dos “modelos digitais ou numéricos que representam a forma dos

objetos”, que podem ser denominados como “modelos geométricos (geometric models),

eventualmente como modelos geométricos tridimensionais (3D geometric models)” (COSTA,

2013, p. 24). Se trata de um modelo digital geométrico, uma vez que é construído totalmente

em meio virtual, divergindo assim dos modelos físicos – as maquetes. Foi escolhida a

plataforma digital pois este tipo de modelo permite a simulação de uma visita ao espaço real, o

que é apropriado para a explanação sobre a técnica construtiva em madeira. Este tipo de

informação – somatória das técnicas construtivas em madeira – já se encontra em publicações

tradicionais, com textos e fotos que explicam o funcionamento do elemento construtivo em

estudo. Ao colocá-la em um modelo da edificação em que está aplicado, pretendeu-se expandir

as fontes originais de dados com uma segunda camada de informação e visualização, sendo esta

uma mudança de ponto de vista que elabora a percepção do elemento. Além disso, o formato

digital permite que o modelo seja facilmente divulgado pelas mídias.

3.1. REFERÊNCIAS DE MODELOS DIGITAIS INTERATIVOS

A modelagem de parte do Katsura permite que ele seja visitado, embora a visualização

dos elementos construtivos ocorra por intermédio de mecanismos de interação com este

ambiente virtual. Portanto, foi necessário investigar produtos com objetivos similares, para

entender que mecanismos foram utilizados e quais seriam os mais adequados para a Vila de

Katsura. Foram escolhidos os trabalhos:

72

Realidade Virtual e Documentação Digital do Patrimônio: Implantação de Modelos

Tridimensionais e Temporais para o Campus Mackenzie-Itambé para Ambientes

Imersivos (Pesquisa Científica);

O simulador em tempo real da Feira Mundial de Chicago de 1893 (projeto da

Universidade da Califórnia, Los Angeles);

O Digital Hadrian’s Villa Project (colaboração entre o Virtual World Heritage

Laboratory – University of Virginia, e o Institute for Digital Intermedia Arts (IDIA Lab)

Lab – Ball State University, encontrado no website: http://vwhl.soic.indiana.edu/villa/);

Os produtos Byzantine: The Betrayal, Titanic: Adventure Out of Time e a trilogia

Metroid Prime, que são jogos eletrônicos.

Todas estas referências foram escolhidas para este estudo devido aos seus resumos e/ou

descrições apontarem semelhanças entre os modelos produzidos e o protótipo que é produto

deste trabalho.

Realidade Virtual e Documentação Digital do Patrimônio

Nesta pesquisa, o Edifício Mackenzie, situado no Campus Itambé da Universidade

Presbiteriana Mackenzie (São Paulo) foi modelado no software 3ds max, seguindo medidas

exatas de sua planta baixa, e subsequentemente convertido para um formato interativo através

da linguagem Virtual Reality Modeling (Eliseo et al, 2009) (Ver Figura 86).

Figura 86: Foto e modelagem (respectivamente) do Edifício Mackenzie.

Fonte: Eliseo et al, 2009.

Deste trabalho, é importante analisar o processo geral de concepção do modelo

interativo produzido. No caso, os pesquisadores tinham a intenção da preservação do

patrimônio como justificativa, e obtiveram acesso ao prédio que seria modelado. O processo

em duas etapas é similar ao que se pretendia na modelagem do shoin da Vila de Katsura: a

modelagem geométrica em um programa apropriado, e a subsequente implementação de

73

elementos interativos. Porém, para o Katsura, prioriza-se a criação do protótipo ao invés da

disponibilização para o público, focando então nas mecânicas de interação e na simulação da

ambiência real da vila. Além disso, a localização do Katsura inviabiliza visitas e levantamentos

detalhados, tornando importante o levantamento de dados técnicos realizados anteriormente no

trabalho.

Simulação em tempo real da Feira Mundial de Chicago de 1893, e o Digital Hadrian’s Villa

Project

O Urban Simulation Team (UST) da Universidade de Chicago, Los Angeles, desenvolve

ferramentas para simulações em tempo real, utilizadas em design, planejamento urbano,

segurança e educação. Uma dessas aplicações foi a reconstituição virtual da Feira Mundial de

Chicago (conhecida oficialmente como World's Fair: Columbian Exposition), uma exposição

mundial ocorrida em Chicago/EUA, em 1893.

De acordo com o UST, o modelo tridimensional permite explorar um mundo que não

existe mais, mas não dá ao visualizador uma ampla compreensão do contexto social e das

narrativas históricas relevantes. Portanto, decidiram empregar, como uma camada informativa

extra, imagens reais da feira, recursos primários e comentários especializados dentro da

simulação, criando então um espaço virtual de aprendizado e exploração (UST, 2008).

Figura 87: Modelo da construção de Belas Artes da feira.

Fonte: UST, 2008.

Um produto similar ao do UST é a reconstituição em modelo digital 3D da Vila Adriana,

um sítio arqueológico e patrimônio histórico localizado em Tivoli/Itália. Foi inicialmente

modelado no programa 3dsmax entre 2007 e 2012 pelo Virtual World Heritage Laboratory –

University of Virginia, e em 2011 e 2012, em parceria com o IDIA Lab of Ball State University,

a modelagem foi utilizada para criar um jogo no programa Unity3D, para que o modelo fosse

visualizável online (HUMANITIES VIRTUAL WORLDS CONSORTIUM, s/ d). O projeto:

74

[...] não só recria as construções da villa, como também inclui um sistema completo

de personagens romanos, que são personagens não-controláveis com inteligência

artificial, além de mobiliário, vegetação adequada, sistema dinâmico de atmosfera e

interface do usuário sofisticada. A interface permite oportunidades de aprendizado,

navegação, avaliação e percepção, e também permite aos usuários mudar a posição do

Sol para qualquer data em 130 AC através de informações do Horizons database da

JPL NASA – permitindo o teste de proposições acerca da relação entre os alinhamentos

dos astros e características arquitetônicas durante solstícios e equinócios.

Comunidades de aprendizado são apresentadas à cultura e história da villa e tomam

conhecimento do ambiente virtual antes de se inserirem nele. O sistema de

personagens permite que os visitantes entrem no mundo selecionando classe e gênero

– já se familiarizando com os costumes e comportamentos da aristocracia, soldados,

escravos ou políticos (HUMANITIES VIRTUAL WORLDS CONSORTIUM, s/ d).3

Em conjunto ao modelo interativo, na página do projeto pode-se ter acesso a fontes de

pesquisa secundárias sobre a vila (fotos, panorâmicas do sítio arqueológico, vídeos, etc.), e ao

modelo 3D em si, dentre outras informações. Desta forma, tem-se acesso ao modelo 3D e, em

conjunto com o site, acesso ao contexto histórico do espaço digitalizado (Virtual World

Heritage Laboratory, 2012):

Figura 88: Modelo digital interativo da Vila Adriana.

Fonte: Virtual World Heritage Laboratory, 2012.

Embora o foco destes trabalhos seja a preservação do patrimônio, a metodologia por trás

deles é interessante para a modelagem do Ko Shoin, pois reforça a utilidade de um contexto

interativo em conjunto com a modelagem tridimensional tradicional. Também demonstra a

capacidade deste tipo de tecnologia na área educacional, visto que a simulação procura informar

sobre um conteúdo sem utilizar dos artifícios mais comuns como textos e figuras estáticas.

3 Tradução livre da autora do original em inglês: “[…] not only recreates the villa buildings but also includes a complete

Roman avatar system, non-player characters with artificial intelligence, furniture, appropriate vegetation, dynamic atmospheric

system and sophisticated user interface. The interface provides learning, navigation, reporting and assessment opportunities and also allows users to change the position of the sun to any date in 130 AD using data from the Horizons database at JPL

NASA – testing theses of astro-alignments of architectural features during solstices and equinoxes. Learning communities are

briefed on the culture and history of the villa and learn the virtual environment prior to immersing themselves within it. The

avatar system allows for visitors to enter the world selecting class and gender – already being aware of the customs and behavior of the Roman aristocracy, soldier, slave or politician”

75

Titanic: Adventure Out of Time e Byzantine: The Betrayal

O Titanic: Adventure out of Time é um jogo da CyberFlix, lançado em 1996 para

computadores Windows e Macintosh. Trata-se de uma aventura do tipo “apontar e clicar”, onde

o jogador interpreta um agente secreto britânico dentro do navio Royal Mail Ship (RMS) Titanic

– no caso, uma réplica do RMS Titanic real. O navio é uma réplica 3D reconstituída de forma

detalhada, com base no design original do Titanic. Além dos elementos da estrutura física básica,

o jogador pode interagir também com personagens não-controlados com opções de diálogo, e

com objetos modelados que se movem com o comando do controlador, simulando seu

funcionamento real. Isto tudo é acompanhado de uma interface que possibilita a aquisição de itens

que influenciam o cenário, e quebra-cabeças intuitivos que movem a trama (CyberFlix, 1996).

É importante destacar que a presença do enredo dentro do jogo faz com que o jogador

seja induzido a interagir com o cenário virtual enquanto procura concluir a história. Este tipo

de incentivo é importante, pois caso o jogo fosse constituído apenas pelo modelo 3D interativo,

os jogadores não teriam a motivação extra para interagir com a totalidade do Titanic.

Figura 89: Capturas de tela do jogo Titanic.

Fonte: Plataforma de jogos Steam. Disponível em: http://bit.ly/2KGEcFq

Desta forma, percebeu-se que o modelo do shoin se beneficiaria de algum tipo de

motivação inicial para a sua exploração, de modo que o usuário do MDI tivesse interesse em

adentrar o ambiente virtual, indo além da mera curiosidade sobre os aspectos construtivos. Visto

a variação de complexidade e o tempo disponível para a criação do modelo, optou-se por uma

estratégia mais simples: uma pequena mensagem no início da execução do MDI explica a

existência e quantidade de pontos interativos dentro do modelo.

O jogo Byzantine: The Betrayal, da Discovery Communications, foi lançado em 1997

para o Windows 95. Trata-se de uma narrativa com câmera em primeira pessoa controlada pelo

jogador; similar ao jogo Titanic, no Byzantine explora-se Istanbul, interpretando um jornalista

que acaba se envolvendo em um misterioso assassinato (Discovery Channel Multimedia, 1997).

76

Como o gênero é o mesmo do Titanic (aventura, apontar-e-clicar), ambos possuem

semelhanças como o inventário e a interação com o cenário, personagens (diálogo) e outros

objetos, e o uso extenso de efeitos sonoros que realçam a ambiência. O Byzantine se destaca

pelos 45 minutos de filmagens incorporadas dentro do jogo, e por sua mecânica particular de

realidade virtual – o protagonista tem acesso a um equipamento que permite acessar uma versão

digital do Palácio de Topkaki durante o reinado do sultão Solimão (1520 à 1566). Além disto,

o jogo utiliza de imagens em 360º dos espaços de Istanbul, auxiliados por modelos

tridimensionais de 16-bits, o que resulta em cenários realistas.

Explora-se nesta referência a eficácia de um cenário virtual com narrativa para a

explanação de elementos. Edifícios históricos e objetos de uso e importância pouco populares

são utilizados no jogo, sendo necessária a análise destes elementos para se prosseguir com a

narrativa. Visto a necessidade de se explanar os elementos construtivos em madeira da Vila de

Katsura em um MDI, o tipo de mecânica apresentado por Byzantine e Titanic – interação direta

com estes objetos – se mostra funcional, sendo então a forma escolhida para se lidar com estes

elementos dentro do protótipo produzido neste trabalho.

Figura 90: Capturas de tela do jogo Byzantine.

Fonte: Mobygames. Disponível em: http://bit.ly/2IVvx4M

77

Figura 91: Contra-capa da caixa do jogo Byzantine.

Fonte: Mobygames. Disponível em: http://bit.ly/2IVvx4M

Série Metroid Prime

A última referência estudada foram os jogos da trilogia Metroid Prime, desenvolvidos

pela Retro Studios e Nintendo, sendo o primeiro da série lançado em 2003. (Retro Studios,

2003). Ignorando as mecânicas de combate que são o foco do jogo, nele existe também a

possibilidade de se analisar elementos importantes do cenário para a obtenção de informação.

No caso, o objeto registrável se encontra realçado na visão do jogador, e através de um comando

simples, a personagem obtém informações sobre o objeto (Figura 92). Esta mecânica em

particular se mostrou adequada para a intenção do protótipo produzido neste trabalho, pois foca

em trazer à tona detalhes de objetos em um cenário simples.

Figura 92: Interface do registro de um objeto informativo em Metroid Prime 3.

Fonte: Metroid Prime Trilogy: Metroid Prime 3: Corruption (HD) (Part 3). Vídeo disponível em:

https://youtu.be/gwakR5TjWck?t=2m2s

78

3.2. DEFININDO A MECÂNICA DE INTERAÇÃO

Observando os métodos de interação das referências, planejou-se uma forma funcional

e possível implementação para que o MDI possa mostrar informações sobre as técnicas

construtivas. Este método consiste no aparecimento de um pequeno ícone quando o ponteiro do

mouse passar sobre algum elemento interativo no ambiente virtual. A Figura 93 foi a concepção

inicial da mecânica de interação.

Figura 93: Mockup da mecânica de interação com o modelo.

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Observando o nível de detalhamento adequado para um modelo do shoin da Vila de

Katsura, e as mecânicas necessárias para a explicação das técnicas construtivas, foi preciso

definir as ferramentas computacionais ideais para a confecção do protótipo.

Inicialmente, foi escolhido o software de modelagem tridimensional que seria utilizado.

Visto o tempo disponível para esta etapa do trabalho, a autora optou por utilizar as opções de

que já tinha conhecimento: o 3d Studio Max (3ds max), da Autodesk, em conjunto com o

Sketchup (da empresa Trimble). O 3ds max foi utilizado para a modelagem dos shoin, devido

às suas capacidades de texturização e implementação de materiais, enquanto que o Sketchup,

por ser mais ágil para modelagens menores, foi usado para a criação de pequenos modelos 3D

explicativos, que são mostrados dentro do MDI em momentos específicos da experiência do

usuário. Além das mecânicas referentes aos elementos construtivos, alguns outros detalhes de

Dentro do modelo, ao se aproximar

d de um elemento interativo, ele brilhará

azul-claro, sinalizando que se trata de

um ponto de interação. Estes podem ser

clicados com o ponteiro do mouse.

O elemento construtivo é então

apresentado como uma visualização

tridimensional em escala ampliada na

tela do computador, necessitando

apenas do apertar de uma tecla ou

clique do mouse retornar ao ambiente

virtual.

79

ambiência foram implementados, como a possibilidade de se abrir e fechar as fusuma e shoji

do modelo, pequenos efeitos sonoros para as ações de interação, e uma interface inicial simples,

que explique do que se trata o modelo.

Para a implementação destas mecânicas, a autora optou por utilizar o Unreal Engine 4,

por possuir prática anterior com o software, e pela capacidade deste de utilizar os modelos

gerados pelo 3ds max e Sketchup como base para criação do espaço interativo.

Em resumo, o modelo geométrico foi construído no 3ds max, modelagens menores, tais

como juntas de madeira, foram feitas no Sketchup, e todo o modelo foi posteriormente

exportado para o Unreal, no qual as mecânicas de interação foram implementadas e o protótipo

subsequentemente exportado para distribuição. Na Figura 94 tem-se um exemplo de inserção

do modelo tridimensional no Unreal Engine 4.

Figura 94: Exemplo de modelo no programa Unreal.

Fonte: Nazirov, 2017. Disponível em: http://bit.ly/2KMhMU0

4. DIGITALIZANDO O KO SHOIN DA VILA DE KATSURA

A montagem do MDI se deu através de diversas etapas, desde o estudo dos desenhos

das plantas e fachadas, análise de fotos e uma maquete, até a execução das interações

adicionadas através do software Unreal Engine 4. Para este trabalho, foi escolhido somente um

dos três shoin que compõem a edificação principal, o chamado Ko Shoin ou Antigo Shoin, dado

o tempo hábil para execução desta tarefa. Esta última etapa foi dividida em três fases, sendo

elas: elaboração da planta baixa adaptada do Ko Shoin, elaboração do modelo tridimensional e

adição da interação ao modelo tridimensional. O resultado de todas estas fases é o próprio MDI.

80

4.1. CONSTRUINDO A GEOMETRIA

O layout do shoin utilizado, da Vila de Katsura, foi elaborado por meio de uma pesquisa

feita em desenhos pré-existentes, de forma a se obter uma base para as dimensões aproximadas

da edificação. Apesar da dificuldade, ainda foi possível obter informações acerca de medidas

comumente utilizadas na época, por meio de estudos na bibliografia escolhida, especialmente

o livro “Japanese homes and their surroundins”. Nesta obra, Morse especifica as dimensões e

os espaçamentos utilizados na construção de uma residência comum.

A planta final foi construída com base em:

Quatro desenhos que podem ser encontrados nos Anexos 1, 2, 3 e 4;

Fotografias da maquete dos interiores dos shoin da Vila de Katsura, elaborada

por Timothy Ciccone, na escala de 1/100, disponibilizadas no website Asian

Historical Architecture;

Fotografias do livro Daitokuji Katsura, da autora Maria Lluisa Borras;

Um livro publicado possivelmente pela administração da Villa de Katsura;

E fotografias disponibilizadas nas demais referências bibliográficas e utilizadas

no decorrer deste trabalho.

No caso de incoerências entre os desenhos, é importante ressaltar que a prioridade foi

dada às fotos (caso existissem) do elemento em dúvida, uma vez que esta foi considerada fonte

mais confiável dentre as demais, por representar a própria edificação.

O primeiro passo para o início do desenho foi o posicionamento dos tatames, elemento

fundamental para o dimensionamento dos ambientes tradicionais japoneses. A planta baixa e

as fachadas foram elaboradas no formato de arquivo CAD, com o dimensionamento inicial dos

ambientes tendo como base as medidas do tatame do tipo kyoma. Tais medidas, similar ao

provável processo inicial da construção da edificação, foram usadas em todos os locais que

possuíam este elemento em seu piso, ou seja, nos ambientes em que haviam tatames. Logo, ao

serem posicionadas as medidas deste e sua geometria, o resultado são as medidas do espaço,

como pode ser observado nas imagens a seguir:

81

Figura 95: Recorte da planta-baixa doko shoin.

Fonte: Doce veces Doce.

Disponível em: http://bit.ly/2yj1T5c

Figura 96: Exemplo de adaptação da planta-baixa

para o CAD.

Fonte: Captura de tela do AutoCAD pela autora.

O tatame utilizado na região de Quioto, como já mencionado, é do tipo kyoma,

possuindo medidas padronizadas para sua fabricação. Maiko Hotehama e Sae Nagata (2015)

especificam suas dimensões, sendo elas: 0,955 m de largura por 1,91 m de comprimento. A

espessura foi especificada no JAANUS (2001), como sendo de 5 cm (Ver Figura 97)

Figura 97: Exemplo de tatame.

Fonte: Homefieldbrewing, modificado pela autora, 2018. Disponível em: http://bit.ly/2HHsNYK

O tatame é composto por palha (geralmente de arroz) amarrada com barbantes numa

espessura de 5 cm ou mais e a superfície coberta com um acabamento feito em um tapete mais

elaborado, no mesmo material. Suas bordas são aparadas retilíneas e a borda mais longa é

finalizada com tiras de linho, cobrindo toda a lateral e 2 cm da face superior e posterior

(MORSE, 1886, p.122).

Devido à falta de medidas exatas das dimensões, isto é, as cotas, houve a necessidade

de aproximar as dimensões a serem utilizadas no projeto de acordo com os desenhos obtidos

até então. Além disto, de forma a otimizar a modelagem 3D dos shoin, os ângulos encontrados

82

nas plantas foram adaptados de forma que o desenho apresentasse somente ângulos retos ou

seus derivados.

Na modelagem, a composição de um elemento tridimensional é dada por dimensões em

três eixos do espaço, diferentemente do desenho bidimensional, com apenas dois. No caso do

shoin, tendo o tatame como referência e os desenhos encontrados, as imagens foram escaladas

para o tamanho padrão do kyoma e, em seguida, o desenho em CAD foi elaborado se

sobrepondo a estes.

As plantas baixas contribuíram para as duas dimensões horizontais do modelo

tridimensional, porém, para elevar a terceira dimensão do desenho, foi necessário obter as

dimensões verticais, encontradas geralmente em cortes e fachadas. Foram utilizados três

desenhos de fachadas, com as dimensões dadas por Morse (1886) – detalhadas posteriormente

– além de um corte. Como a planta baixa final já estava de acordo com as proporções do tatame,

tornou-se necessário apenas escalar o desenho da fachada, e, neste trabalho, foi utilizada a

dimensão da ‘plataforma de observação da lua’ (Tsukimidai):

Figura 98: Exemplo de adaptação de corte esquemático

para o CAD.

Fonte: Captura de tela do AutoCAD pela autora.

Figura 99: Exemplo de adaptação de planta-baixa

para o CAD.

Fonte: Captura de tela do AutoCAD pela autora.

Apesar da obtenção de uma grande quantidade de referências, algumas medidas

continuaram sem especificação, necessitando de uma estimativa prática para este estudo. De

forma a suprir esta necessidade, as dimensões faltantes foram adequadas às utilizadas no Brasil,

especificadas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

As dimensões utilizadas em algumas das peças da edificação são especificadas por

Morse (1886, p. 23), com o formato da seção. As medidas foram organizadas e convertidas para

o sistema métrico, uma vez que no Período Edo era feito o uso do sistema tradicional de medidas

denominado Shakkanho, sendo utilizado o sun (1 sun = 3,03 cm) para o dimensionamento

83

(MAU ART & DESIGN GLOSSARY). Demais dimensões foram obtidas com os desenhos

utilizados como referência e, as sublinhadas, estão de acordo com as especificadas pela ABNT

(NBR 14807 – Peças de madeira serrada). Os Quadros 8, 9, 10 e 11 apresentam estas

informações detalhadamente:

Quadro 8: Dimensões de peças de madeiras especificadas por MORSE,

Dimensões especificadas por Morse (1886)

Nome

(Japonês)

Nome

(Português)

Dimensão

(Shakkanho)

Dimensão

(Métrico)

Seção Dimensão

arredondada

Hashira Pilar 5 sun 15,15 cm Quadrada 15 cm

Nuki Viga de

amarração

4 sun x 1 sun 12,12 cm x

3,03 cm

Retangular 12 cm x 3 cm

Neda Viga do piso 2 polegadas 5,08 cm Quadrada 5 cm

Yuka-ita Placa do piso 1 pé x 0,6 sun 30,48 cm x

1,818

Retangular 30 cm x 2 cm

Taruki Caibro 3 sun x 0,8

sun

9,09 cm x

2,448 cm

Retangular 9 cm x 2,5 cm

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Quadro 9: Dimensões das peças da fundação/paredes obtidas com os desenhos de referências.

Nome (Japonês) Nome (Português) Dimensão arredondada Seção

Obiki Viga do piso 15 cm x 12 cm Retangular

Obiki Viga do piso 15 cm Quadrada

Yuka-tsuka Pilarete da fundação 15 cm Quadrada

Negarami nuki Viga de travamento dos

pilaretes 3 cm x 12 cm Retangular

Neda Viga do piso 7 cm x 8cm Retangular

Yuka-ita Tábua do piso 3 cm x 10 cm Retangular

Shikii Trilhos inferiores das

partições móveis 5 cm x 15 cm Retangular

Hashira Pilar 15 cm Quadrada

Nageshi Viga de amarração das

paredes 12 cm x 8 cm Retangular

Kamoi Lintel com trilhos 5 cm x 15 cm Retangular

Magusa Lintel sem trilhos 5 cm x 15 cm Retangular

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

84

Quadro 10: Dimensões das peças do forro obtidas com os desenhos de referências.

Nome (Japonês) Nome (Português) Dimensão

arredondada Seção

Saobuchi Viga do forro 5 cm Quadrada (chanfrada)

Tenjo-ita Tábua do forro 5 cm x 30 cm Retangular

Mawarabuchi Acabamento/suporte

do forro 2,5c m x 5 cm Retangular

Tsurigi Tirante do forro 7 cm x 7 cm Retangular

Tsurigiuke Viga que suporta os

tirantes do forro 10 cm Ø Circular

Nobuchi Viga de apoio a viga

do forro 4 cm x 8 cm Retangular

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Quadro 11: Dimensões das peças do telhado obtidas com os desenhos de referências.

Nome (Japonês) Nome (Português) Dimensão

arredondada Seção

Munagi Terça da cumeeira 12 cm x 8 cm Retangular

Hanamoya Contrafrechal 12 cm x 5 cm Retangular

Moya Demais terças 12 cm x 5 cm Retangular

Taruki Caibro 6 cm x 10 cm Retangular

Yane-komai Ripa 2,5 cm x 5 cm Retangular

Koyazuka Pontalete 10 cm x 10 cm Quadrada

Hari Viga que apoia os

pontaletes 15 cm 24 cm Retangular

Nuki Viga que corta os

pontaletes 12 cm x 3 cm Retangular

Keta Frechal 12 cm x 8 cm Retangular

Ketayuka sujikai

Viga do

contraventamento

paralela à cumeeira

11 cm x 3 cm Retangular

Koya sujikai

Viga do

contraventamento

perpendicular à

cumeeira

11 cm x 3 cm Retangular

Hanegi Suporta da cobertura

dos corredores 13 cm x 6 cm Retangular

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

85

Este arredondamento de medidas, muitas vezes em milímetros, não implicará em perda

de experiência ou informação para o usuário, pois não são perceptíveis na experiência em

primeira pessoa. O esforço de manter as dimensões o mais próximo possível, em nível de

centímetro, proporcionará uma experiência similar ao edifício real, portanto atendendo ao

objetivo do trabalho.

Outro artifício utilizado no desenho das plantas foi a linha de referência não

corresponder ao nível real, uma vez que não foram encontradas cotas de nível. No caso, esta

serve como guia para o posicionamento vertical das componentes da edificação.

O resultado obtido nesta etapa foi uma planta baixa, três fachadas e dois cortes, itens

essenciais para a elaboração do modelo tridimensional do Ko Shoin da Vila de Katsura, podendo

estes serem encontrados no Apêndice deste trabalho. Porém, ainda para este capítulo, é

importante destacar as informações obtidas com as pesquisas e o levantamento da planta baixa.

A seguir, foi organizado um quadro com as áreas e os nomes dos ambientes, estes obtidos nos

desenhos contidos nos Anexos 1, 2, 3 e 4. Com estes dados, foi possível organizar

detalhadamente também a localização das juntas, que será tema do capítulo seguinte.

Quadro 12: Quadro de áreas do Ko Shoin.

Quadro de áreas

Nome do ambiente

(Japonês ou inglês)

Nome do ambiente

(Tradução livre) Área

Okoshiyose Entrada Imperial 7,29 m²

Veranda Room Sala com tatames 12,77 m²

Ichi no ma Primeira Sala 18,24 m²

Ni no ma Segunda Sala 27,26 m²

Irori no ma Sala da Lareira 18,24 m²

Sword Room Sala das Espadas 18,24 m²

Tsumesho Sala Auxiliar 10,94 m²

Food Preparation Room Preparo de Alimentos 13,68 m²

Liaison Corridor Corredor 12,90 m²

Veranda Varanda 22,93 m²

Tsukimidai Plataforma de observação da lua 11,64 m²

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

86

4.2. TORNAR INTERATIVO

Com a modelagem 3D elaborada, foi dado início ao processo de adição da interação,

com o uso do software Unreal Engine 4. Foram planejadas as localizações de cada interação

pretendida na planta baixa do Ko Shoin, prezando suas funções e locando-as de acordo.

As interações primárias com o protótipo do modelo – nomeação dada às ações

consideradas “comuns” a uma residência, por exemplo abrir e fechar porta – levaram em

consideração as possibilidades encontradas neste local, de forma que a visita seja próxima ao

que é encontrado nas referências do Ko Shoin. Logo, não foram adicionadas lâmpadas ou

qualquer outro elemento fora do contexto do Período Edo, pois não havia eletricidade, por

exemplo. Com estas restrições, as interações foram definidas como:

Mover-se internamente pela residência;

Abrir e fechar shoji;

Abrir e fechar fusuma;

As interações secundárias do protótipo do modelo – nomeação dada àquelas ações

consideradas como objetivo deste trabalho, porém não encontradas na realidade do Ko Shoin –

levaram em consideração o intuito de exibir ao usuário do MDI a variedade de técnicas

construtivas exploradas no decorrer deste estudo, de forma que o modelo vá além de uma

simples visita. Assim, as interações foram definidas como:

Painel informativo do tsugime (juntas);

Painel informativo do washi (papel);

Painel informativo do tsuchikabe (parede de terra);

Painel informativo do soseki (fundação em pedra).

Com relação as juntas, estas foram posicionadas nas peças do modelo de acordo com a

localização de sua aplicação na estrutura, por exemplo, juntas para trilhos foram posicionadas

em pontos interativos nos trilhos.

Do total de 46 juntas estudadas no capítulo 3.2.2, foram selecionadas dez para aplicação

no MDI, uma vez que o produto deste trabalho consiste em um protótipo, apresentando apenas

uma parte da funcionalidade total prevista. Após a escolha e definição das melhores localidades

das juntas, estas foram posicionadas na planta baixa do shoin de acordo com sua utilidade e de

forma que todos os ambientes fossem contemplados com, pelo menos, uma destas. No quadro

a seguir, estão detalhadas as juntas a serem trabalhadas na interatividade do MDI, a peça em

madeira da interação e o ambiente de localização do ponto interativo:

87

Quadro 13: Definição das juntas e posicionamento destas no MDI.

Informações da Junta Ilustração Informações da Junta Ilustração

01 – Daimochi Tsugi

Peça interativa: Viga

Localização: Primeira Sala

06 – Ashigatame

Peça interativa: Pilar e vigas

Localização: Varanda

02 – Kabuto Arikake

Peça interativa: Vigas

Localização: Entrada

Imperial

07 – Hakosachi Tsugi

Peça interativa: Viga

Localização: Varanda

03 – Hako Tsugi

Peça interativa: Pilar

Localização: Sala Auxiliar

08 – Hon-sane

Peça interativa: Madeira do

piso

Localização: Corredor

04 – Eriwadome

Peça interativa: Trilho

inferior

Localização: Sala da lareira

09 – Imotsugi

Peça interativa: Viga do forro

Localização: Segunda Sala

05 – Jigoku Hozo

Peça interativa: Pilar e Viga

Localização: Plataforma de

observação da lua

10 – Miya-jima-tsugi

Peça interativa: Viga do forro

Localização: Preparo de

Alimentos

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Os três painéis informativos, não relacionados às juntas, foram posicionados de acordo

com o seguinte quadro:

Quadro 14:

Definição dos painéis informativos e o posicionamento destes no MDI.

Informação do Painel Peça interativa Localização

11 – Washi Fusuma Sala com tatames

12 – Tsuchikabe Parede Sala das espadas

13 – Soseki Pedra da fundação Plataforma de observação da lua

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Estas informações reunidas até então foram organizadas em um esquema em conjunto

com a planta baixa, de forma a especificar o exato ponto da interação para este trabalho. Em

88

vermelho, estão os pontos interativos destacados e o painel informativo a qual se referem. Em

verde, estão as portas e janelas que possuem mobilidade.

Figura 100: Posicionamento dos pontos de interatividade do MDI.

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

Com relação à disponibilidade do modelo, uma vez que este consiste em um arquivo

executável offline4 resultado de um trabalho, tornou-se necessário definir um meio online5 de

providenciar o seu descarregamento para o usuário, de forma que seja acessível aos

4 Offline: Indisponível em uma página da internet.

5 Online: Disponível em uma página da internet.

89

interessados. Sendo assim, o arquivo está disponibilizado em uma plataforma online através de

um link para o descarregamento.6

4.3. PALÁCIO DIGITAL

Ao finalizar a elaboração do MDI, vale ressaltar o resultado deste processo, através de

um tour pela edificação. Desta forma, é possível notar a contribuição de todas as etapas

anteriores na fidelidade com o Ko Shoin da Vila de Katsura. A Figura 101 apresenta as vistas

do interior da edificação e a Figura 102 apresenta algumas das interatividades aplicadas:

Figura 101: Capturas de tela no interior do MDI.

6 Link para descarregamento do arquivo: https://drive.google.com/open?id=1FebmbJkadrvs9OBciYdd-

fsJ48w2b3q-. Não há instalador, então somente baixar a pasta “Katsura Villa” e, para executar após baixar, clicar

duas vezes no executável “katsuravilla”.

90

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

91

Figura 102: Capturas de tela das interatividades no MDI.

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo sobre a ATJ possibilitou uma pesquisa com resultados que trouxeram grande

volume de aprendizado, apesar desta área possuir poucas referências no idioma conhecido pela

autora, e as dificuldades em encontrar e traduzir as referências em japonês.

Foram propostos três objetivos para este trabalho, consistentes com as possibilidades de

tempo e de recursos, e, ainda que alterações no projeto inicial tivessem sido necessárias, todos

os objetivos pretendidos foram cumpridos. A pesquisa sobre a técnica construtiva proporcionou

uma variedade de aprendizado sobre do uso da madeira, e demais materiais, que (até onde

sabemos) não é comumente aproveitada aqui, mesmo representando uma alternativa viável e

prática. Uma das técnicas que captaram a atenção para aplicação prática local é a parede em

terra, cujo uso é observado, porém não bem aproveitado.

O desenvolvimento da pesquisa e da elaboração do MDI contribuíram para as diversas

áreas de interesse pretendidas desde o planejamento deste trabalho. Para a área de História e

Teoria, obteve-se um repertório da ATJ e da Vila Imperial de Katsura, temas interessantes para

aprofundamento, dada a importância do próprio Katsura para o movimento modernista. Na área

92

de estruturas, a vasta quantidade de juntas exploradas e uso dos demais materiais encontrados

na ATJ contribuíram não só para conhecimento próprio, como também para prováveis

aplicações futuras em projetos e similares. Por fim, para a área de Representação e Linguagem,

a que mais representou em ganho de experiência com elaboração do MDI, teve também um

ganho adicional com a modelagem das juntas, de forma a contribuir para uma melhor

compreensão das técnicas construtivas em madeira. Além disto, vale ressaltar o uso da

geometria na elaboração dos croquis para o trabalho, de forma a melhor representar a

composição de elementos arquitetônicos, já que a descrição apenas textual pode ser expandida

através deste recurso.

O produto obtido com a elaboração do MDI, bem como a modelagem tridimensional do

Ko Shoin e as informações técnicas e históricas reunidas, representam apenas uma parcela de

um universo a ser explorado. Ocorreram alguns empecilhos, como o tempo de trabalho de um

Trabalho Final de Graduação e o pouco conhecimento no idioma do país da edificação de

interesse. Pretende-se, após o fim deste trabalho, em dar continuidade a esta pesquisa e,

consequentemente, aprimorar e ampliar o MDI.

93

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Acesso em 17 jan 2018.

97

ANEXOS

Anexo 01: Planta baixa dos shoin 01.

Fonte: http://memoireblanche.blogspot.com/2011/09/la-question-de-lauteur-de-la-villa.html.

98

Anexo 02: Planta baixa dos shoin 02

Fonte: http://indayear3studio-1617s1.blogspot.com/2016/08/approaching-chronoshomes-

katsura.html.

99

Anexo 03: Planta baixa dos shoin 03.

Fonte: http://davidhannafordmitchell.tumblr.com/post/58380308771/premoderno-villa-

imperial-katsura-en-kioto

100

Anexo 04: Planta baixa dos shoin 04.

Fonte: https://docevecesdoce.wordpress.com/2015/05/01/katsura/

101

Anexo 05 e 06: Fachadas sudeste e sudoeste dos shoin.

Fonte: https://docevecesdoce.wordpress.com/2015/05/01/katsura/

102

Anexo 07: Fachada nordeste do Ko Shoin.

Fonte: https://docevecesdoce.wordpress.com/2015/05/01/katsura/

103

Anexo 08: Corte do Ko Shoin.

Fonte: http://andiarasyid.blogspot.com/2016/10/residential.html

104

Anexo 09: Fotografias da maquete elaborada por Timothy Ciccone.

Fonte: http://www.orientalarchitecture.com/sid/206/japan/kyoto/katsura-imperial-villa

105

Anexo 10: Referência para modelagem das juntas.

Fonte: https://blog.goo.ne.jp/gooogami/c/f093c9a1564de4515589b29f119f73a4/2

Anexo 11: Referência para modelagem das juntas.

Fonte: https://blog.goo.ne.jp/gooogami/c/f093c9a1564de4515589b29f119f73a4/2

106

Anexo 12: Referência para modelagem das juntas.

Fonte: https://blog.goo.ne.jp/gooogami/c/01b9526b5b54e0ae621466f84d9a6344/1.

107

APÊNDICE