Upload
others
View
5
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ
CAMPUS DE CAICÓ – DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DO CERES
ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA
JUCILENE GARCIA DA SILVA
OS NEGROS DO RIACHO:
INTERVENÇÃO RELIGIOSA E POLÍTICAS PÚBLICAS ENTRE 1980 E 2014
CAICÓ
2016
2
JUCILENE GARCIA DA SILVA
OS NEGROS DO RIACHO:
INTERVENÇÃO RELIGIOSA E POLÍTICAS PÚBLICAS ENTRE 1980 E 2014
Trabalho de Conclusão de Curso, na
modalidade Artigo, apresentado ao Curso de
Especialização em História e Cultura Africana
e Afro-Brasileira, da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, Centro de Ensino
Superior do Seridó, Campus de Caicó,
Departamento de História, como requisito
parcial para obtenção do grau de Especialista,
sob orientação do Profa. Dra. Joelma Tito da
Silva.
CAICÓ
2016
3
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 04
2 DO BARRO AO CONCRETO, DO ORAL AO ESCRITO: O RIACHO COMO OBJETO
DE AÇÃO RELIGIOSA E DE CURIOSIDADE CIENTÍFICA ............................................ 07
3 POLÍTICAS PÚBLICAS E REIVENÇÃO DO RIACHO .................................................... 13
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 16
FONTES ................................................................................................................................... 16
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 17
ANEXOS .................................................................................................................................. 18
4
OS NEGROS DO RIACHO:
INTERVENÇÃO RELIGIOSA E POLÍTICAS PÚBLICAS ENTRE 1980 E 2014
Jucilene Garcia da Silva1
Joelma Tito da Silva – Orientadora2
RESUMO
Este trabalho tem como propósito mostrar o resultado da análise feita sobre a ação de instituições
públicas, religiosas e ONGs na comunidade conhecida como Negros do Riacho, localizada a 13 km da
sede do município de Currais Novos/RN. As intervenções mais sistemáticas nesta localidade começam
a partir dos anos de 1980 com a atuação da Ordem Terceira Franciscana e ganham novo fôlego no
início dos anos 2000 com o reconhecimento das antigas comunidades rurais negras enquanto
remanescentes de quilombos. Tal emergência política e jurídica possibilitou a articulação de políticas
públicas voltadas para o grupo, resultando na tentativa de reparação da arte de fazer a louça de barro,
com o objetivo de inovar técnicas de produção, de modo a transformá-las em objetos decorativos, já
que não há uso doméstico de tais utensílios na região. Metodologicamente esta pesquisa desenvolve-
se com base na produção da fonte oral, a partir dos relatos dos moradores do Riacho sobre as relações
do “eu” e do “outro” presentes nas ações de assistência religiosa ou pública que foram desenvolvidas
naquela localidade desde a década de 1980.
PALAVRAS-CHAVE
Negros do Riacho. Quilombo. Assistência.
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho pretende analisar a ação de instituições públicas, religiosas e ONGs na
comunidade conhecida como Negros do Riacho, localizada a 13 km da sede do município de
Currais Novos/RN. As intervenções nesta localidade começaram a partir dos anos de 1980
com a atuação da Ordem Terceira Franciscana e ganham novo fôlego no início dos anos 2000
com o reconhecimento das antigas comunidades rurais negras enquanto remanescentes de
quilombos. Tal emergência política e jurídica possibilitou a articulação de políticas públicas
voltadas para o grupo, resultando na tentativa de reparação da arte de fazer a louça de barro,
1 Discente do Curso de Especialização em História e Cultura Africana e Afro-Brasileira – Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN), Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES), Campus de Caicó,
Departamento de História (DHC). Graduado em Letras pela UFRN, CERES, Campus de Currais. Monitora do
Mais Educação da Rede Municipal de Ensino, na Escola Municipal São Francisco de Assis Unidade XXVIII
(Currais Novos-RN), onde ministra a disciplina de Língua Portuguesa. E-mail: [email protected]. 2 Doutora em História Social pela Universidade Federal do Ceará. E-mail: [email protected].
5
com o objetivo de inovar técnicas de produção, de modo a transformá-las em objetos
decorativos, já que não há uso doméstico de tais utensílios na região.
Através das ações governamentais foram oferecidas aos moradores do Riacho oficinas
de leitura, fotografia, cerâmica, bordado e culinária. Associada ao mundo do mercado e diante
das dificuldades econômicas ali vividas, tais políticas encontram justificativas na necessidade
de gerar renda para comunidade, através da futura inauguração do Ponto de Memória, onde
serão vendidas panelas de barro e alimentos, além de exposição de trabalhos de pesquisa que
tematizam as experiências vividas pelos chamados “negros do Riacho”.
A partir da inserção de novos agentes, que partem de lugares de interesses
institucionais, pretendemos analisar as estratégias das ações sistemáticas de assistência e de
políticas públicas, bem como a recepção dos moradores frente à tais intervenções, cuja
inserção no Riacho cria novas situações, com as quais os moradores passam a lidar.
Segundo os mais antigos, os moradores do Riacho já passaram por momentos muito
difíceis, especialmente a partir dos anos em que a venda da louça utilitária entrou em declínio.
Em razão do uso crescente de eletrodomésticos como a geladeira, que substituiu o pote, e de
utensílios em alumínio que substituíram as panelas feitas em barro. Essa mudança nos usos
cotidianos e no consumo interferiu diretamente na economia interna do Riacho e a arte de
fazer a louça perdeu, gradativamente, lugar enquanto prática utilitária. Algumas louceiras que
permaneceram a produzi-las esporadicamente o faziam como ato de memória (SILVA, 2009).
O tempo foi passando “e o governo veio ajudar a gente daqui. Hoje nós temos o Bolsa
Família, temos o nosso dinheiro todo mês”. A partir dessa fala podemos perceber que o
reconhecimento da comunidade como Remanescente de quilombola ocorrido há uma década
esteve associado à inserção de políticas públicas voltadas para melhoria das condições de vida
naquela localidade.
Tais narrativas sobre o presente e o passado evocam o cotidiano e estão no cerne do
nosso trabalho. Para realiza-lo utilizamos, portanto, a história oral como metodologia de
pesquisa e de construção de fontes, segundo as orientações sobre a elaboração do roteiro e a
execução da entrevista, conforme propõe Verena Alberti, cuja definição sucinta de história
oral é a seguinte:
(...) história oral é um método de pesquisa (histórica, antropológica,
sociológica etc.) que privilegia a realização de entrevistas com pessoas que
participaram de, ou testemunharam, acontecimentos, conjunturas, visões de
mundo, como forma de se aproximar do objeto de estudo (...). Trata-se de
estudar acontecimentos históricos, instituições, grupos sociais, categorias
6
profissionais, movimentos, conjunturas etc. à luz de depoimentos de pessoas
que deles participaram ou testemunharam. (ALBERTI, 2005, p.18).
Nesse sentido, a história oral nos aproxima das visões de mundo dos moradores do
Riacho para além da constatação de que naquele espaço rural vive uma extensa parentela em
situação de pobreza, cuja particularidade é ser formada por uma maioria de pessoas negras.
Entendemos, com Paul Thompson (1992, p.18), que a história e, em particular, a história oral,
não pode ser pensada sem levarmos em consideração à finalidade social destes estudos, uma
vez que este trabalho metodológico “amplia e enriquece” o “campo da produção histórica”,
tornando-o mais democrático.
Partindo dessa orientação metodológica e social, levantamos várias informações em
relação à comunidade através de conversas com os seus moradores, nas quais a narrativa
sobre o presente e o passado traz a memória momentos de alegrias e tristezas. Sem dúvidas,
isso deixa a narrativa cheia de pequenos detalhes a serem relembrados, já que foi dita por
alguém que participou de forma ativa desses períodos de mudança na comunidade.
Teoricamente nos baseamos nas analises de Michel de Certeau sobre a poética da
singularidade e do homem comum. Partimos, pois, da ideia de que: “a presença e a circulação
de uma representação (ensinada como o código da promoção sócio-econômica por
pregadores, por educadores ou por vulgarizadores) não indicam de modo algum o que ela é
para seus usuários” (CERTEAU, 2003, p.40). Nesta pesquisa, entendemos os moradores do
Riacho como usuários/consumidores de ações e políticas públicas institucionalmente
articuladas. Com base em Certeau, percebemos que esta posição não se confunde com aquela
do mero receptor, passivo e, portanto, aqueles que vivem no Riacho não deixam de se
apropriar de forma ativa das ações implementadas pelo poder político e entidades religiosas.
Sendo assim, o nosso trabalho foca nessa relação entre ações institutcionais e práticas
cotidianas, considerando as “maneiras de fazer” enquanto:
(...) mil práticas pelas quais os usuários se reapropriam do espaço organizado
pelas técnicas de produção sócio-cultural. (...) se trata de distinguir as
operações quase microbianas que proliferam no seio das estruturas
tecnocráticas e alteram o seu funcionamento por uma multiplicidade de
“táticas” articuladas sobre os “detalhes” do cotidiano (CERTEAU, 2003,
p.41).
Essa conceituação feita por Michel de Certeau para diferenciar a sua análise sobre os
usos cotidianos, das considerações sobre as ações microfísicas enquanto violência atomizada
7
de uma prática disciplinar, na forma como analisava Michel Foucault, nos permite pensar o
Riacho não apenas a partir dos jargôes estereótipos sobre os homens infames, mas como
sujeitos comuns, enfim, ordinários. Sendo assim, no Riacho, as novas situações geradas pela
inserção de ações de cunho religioso e de politicas públicas ocorreram de forma negociada.
Um exemplo concreto disto foi os desdobramentos gerados pela ação franciscana na
década de 1980, cujo projeto de construção de casas de alvenaria previa, de incio, a
organização dos domicílios em forma de vila. A proposta tinha como fundamento a
necessidade de operacionalizar a canalização da água e a instalação da eletricidade nas casas.
Porém, a geografia familiar formada por afetos e desafetos, gerou resistência por parte dos
moradores que não aceitaram uma nova organização espacial imposta. Dessa forma, cada um
escolheu onde a sua residencia seria erguida. Acrescente-se ainda que, durante as escavações
dos alicerces das casa, a colaboração dos moradores com trabalho foi solicitada, mas a ajuda
somente ocorreu mediante uma doação de cesta básica.
Essas histórias de negociação são o mote fundamental deste trabalho que será dividido
em duas partes. Na primeira, analisamos a inserção do Riacho como objeto de interesse de
curiosidade dos “de fora”, através da ação franciscana e das primeiras pesquisas universitárias
ali desenvolvidas. Em seguida, trataremos do contexto de reinvenção do Riacho enquanto
quilombo.
2 DO BARRO AO CONCRETO, DO ORAL AO ESCRITO: O RIACHO COMO
OBJETO DE AÇÃO RELIGIOSA E DE CURIOSIDADE CIENTÍFICA
Nos anos de 1980, com a ação franciscana e o gradual interesse do discurso
universitário pelo Riacho e seus moradores, as relações da comunidade com os “de fora”
ganham um novo capítulo. As negociações com o “outro” continuam, mas não mais por
terras, ou pela louça fabricada e vendida nas cidades e localidades vizinhas, mas nos termos
de ações que, de um lado tinham como mote o auxílio à comunidade, através do discurso da
solidariedade e, por outro lado, os moradores passaram a lidar com novas situações, ao
transformar-se em objeto de pesquisa.
Por volta de 1985, as paróquias de Santana, a Ordem Franciscana Secular, a Ordem
Terceira e a Secretaria de Obras do município de Currais Novos desenvolveram atividades
objetivando “alterar as condições (e as formas) de vida dos moradores do Riacho” (SILVA,
2009, p.157). Trata-se de um Projeto de Ação Comunitária, desenvolvido pelo PAEN- Natal-
8
RN, com o apoio da Paroquia Santana de Currais Novos, a partir do qual foi realizado um
diagnóstico sobre as condições de vida na comunidade.
Nesse estudo, ficava evidente a situação de pobreza e os graves problemas enfrentados
na localidade, como a ausência de água canalizada, energia elétrica e saneamento, além de
verificar a precariedade da estrutura de habitação, visto que as casas eram feitas em barro e
cobertas com palha. Os homens estavam desempregados e trabalhavam com a produção e
venda de carvão. A fabricação da louça de barro ainda servia como meio para ganhar
dinheiro, embora as mulheres complementassem a renda com esmolas conseguidas nos sítios
vizinhos e na cidade de Currais Novos. As crianças estavam desnutridas, com vermes e
piolhos (MEDEIROS, 2008).
Gravura 1: casa de taipa e coberta com palha. 1986, Joabel R. de Souza.
Depois desse diagnóstico social sobre a comunidade, a Ordem Terceira Franciscana,
com o apoio da Prefeitura de Currais Novos, começou os primeiros trabalhos no Riacho com
a construção de casas e de um galpão, onde seriam realizadas reuniões e serviria de Escola
para os adultos. A condução do projeto, que culminou com a perfuração de um poço artesiano
e a construção de 27 casas de alvenaria, coube ao frei alemão Fernando Schnitker (SILVA,
2009).
9
A presença da Ordem Terceira Franciscana no Riacho fundamentou-se em projetos de
cunho religioso. Por isso, com as ações materiais também tiveram lugar as ações espirituais
para que, aos poucos, os costumes cristãos fossem incorporados no modo de viver no Riacho.
Como um agente do processo civilizador, no sentido que Nobert Elias atribui ao termo (1994),
o humanitarismo franciscano pretendia reorganizar as formas de morar e reeducar os
moradores da comunidade para que estes passassem a frequentar a missa e seguir os
sacramentos (batismo, primeira eucaristia, crisma e casamento). Dessa forma:
Na realização dessas atividades, os moradores do Riacho foram civilmente
registrados e os religiosos fizeram casamentos e batismos, objetivando levar
a cristandade oficial e o direito civil para a comunidade. A Igreja Católica
desenvolveu no Riacho uma ação social e moral que visava,
deliberadamente, reabilitar os pobres sujeitos da miséria física e do
infortúnio de não viverem plenamente de acordo com os caminhos
apontados pela moral cristã. Essa parece uma velha história que reflete
enredos antigos: colonizar o outro, construí-lo pela negação, na igualdade
(todos são cristãos) e na diferença (são pobres e negros, indubitavelmente
apartados do “eu” branco (Idem, 2009, p.158).
A existência das chamadas crianças pagãs era algo recorrente entre os chamados
Negros do Riacho, como afirma um dos moradores “aqui, minha filha, morria muitos anjinho
pagão. Nascia aqui mesmo, aí não escapava, aí a gente botava na cabeça dentro de uma
caixinha e levava pra mode enterrar na rua”. (Morador da Comunidade, 2016).(morado Co
Outra prática vista como pouco católica e comum ao Riacho era a poligamia
masculina, algo que transformou-se em uma das evidências a estigmatizar os moradores da
comunidade.
Nas memórias da infância desta pesquisadora que sempre residiu em sitio próximo ao
Riacho, tais relações tecidas entre homens e mulheres vêm à tona. Lembro-me que todos iam
logo cedo para a cidade pedir nas casas. Quando retornavam, ao entardecer, as mulheres
carregavam sacos enormes amarrados na cabeça, enquanto, o homem permanecia sem levar
peso algum. Certamente, para uma jovem acostumada ao modelo cristão de relações
familiares esta cena chamava alguma atenção. Aguçava ainda mais minha curiosidade infantil
o fato dessas famílias chegarem em minha casa, todos tomavam água e café, dividindo o pão
ou o bolo em partes iguais para as mulheres de um mesmo marido, havendo, aparentemente,
aceitação e parceria em relação àquela situação.
Com a inserção do casamento religioso não verificamos atualmente a existência da
prática da poligamia. Embora, nem todas as famílias tenham aderido o estatuto do casamento
10
civil e/ou religioso, especialmente nos moldes definidos pela prática institucional cristã, cada
vez mais presente desde a década de 1980. O fim das uniões poligâmicas e, por outro lado, a
permanência de relações não amparadas pela igreja demonstram que, ao mesmo tempo em
que as ações institucionais concorrem para a criação de novos hábitos, elas também
precisaram negociar com as formas de ser dos moradores da comunidade.
Como já dissemos, a ação dos franciscanos uniu elementos espirituais e materiais
como um projeto de reinvenção das maneiras de ser e morar daquelas famílias. O primeiro
signo de mudança estaria impregnado no próprio material que servia a construção das novas
casas: no lugar da paisagem tomada por residências desordenadas erguidas em varas e barro e
cobertas de palha, com proteção precária diante das chuvas, surgiriam casas construídas com
tijolo e cimento, ordenadas em formato de vila e com acesso à água encanada e iluminação
elétrica. A proposta de reordenação do espaço, como vimos, gerou resistência, pois
significava a desarticulação territorial das lógicas familiares, afetivas e de poder que
organizavam aquele terreno.
Para os franciscanos, assim como para os “de fora”, o Riacho pode parecer um tecido
unívoco de pessoas, com as mesmas características, um tipo de comunidade ideal e isolada.
Na década de 1980, certamente esta afirmação não condiz com aquela realidade familiar,
rachada entre “negros” e “caboclos”. Estes últimos formam um núcleo familiar gerado a partir
do casamento de Antônio Lopes da Silva, neto de Trajano Passarinho (uma espécie de mito de
origem) e Joana Caboclo, oriunda da Serra de Santana (ASSUNÇÃO, 1994, QUEIROZ,
2002, SILVA, 2009). De forma geral, pode-se afirmar que nos anos de 1980, quando a Ordem
Franciscana desenvolveu o projeto de construção de casas no Riacho, as divisões familiares e
a construção da memória social se processavam da seguinte forma: “Os assim chamados
‘caboclos’ afirmam que são descentes de Joana e, portanto, se auto definem como ‘caboclos’
mas se consideram também ‘negros do Riacho’, uma vez que descendem do antigo fundador”
ASSUNÇÃO, 1994, p.21).
Sobre o contexto e as divisões motivadas pelo casamento, pode-se afirmar que, a
construção dessa diferença ocorreu:
(...) a partir das primeiras décadas do século XX, quando Joana Maria da
Conceição (1897-1989), oriunda de uma localidade na Serra de Santana, se
casou religiosamente com Antônio Lopes da Silva, morto por afogamento
em um poço no Bonsucesso aos 31 anos, no dia 09 de novembro de 1926,
deixando a viúva com cinco filhos (José Lopes ou Zé Banda, Ana, Tereza da
Conceição, Maria Alice e Augusto Lopes da Silva). Embora estivesse casada
com Antônio e, portanto, fizesse parte da família por laços rituais, Joana
11
retornou para a casa dos pais na Serra de Santana com seus filhos. Depois
começou a trabalhar em serviços domésticos no Serrote do Melo, local
próximo ao Riacho (...). Os filhos de Joana Caboclo e Antônio se criaram na
terra do pai e construíram famílias com parentes negros. Mais de meio
século depois da morte de Antônio Lopes, cerca de 60% da população era
composta por descendentes de Joana Caboclo (...)
Os conflitos entre os núcleos familiares se acirraram a partir do óbito de
Antônia, aos 93 anos, em 1958. Não por acaso, na década seguinte, um de
seus filhos, Damião Lopes, participou de uma tentativa malograda de venda
daquelas terras e, em 1973, buscou formalizar a posse individual junto ao
INCRA (SILVA, 2009, p.107-8).
O problema da herança familiar e as disputas internas conformavam as lógicas
espaciais que dividiam “negros” e “caboclos”. Assim, se para os Franciscanos aquela
disposição das residências parecia caótica, para os moradores do Riacho ela fazia todo o
sentido e permaneceu. É curioso perceber que, tanto na ação majoritariamente religiosa
desenvolvida a partir de 1985, assim como nas políticas públicas mais recentes que se
dedicaram a alterar as condições de vida dos moradores do Riacho, sempre paira certa certeza
de que há um estado inicial de desorganização que precisa ser reparado. Deve-se, entretanto,
enfatizar que as ações articuladas a partir dos anos 2000 trazem como novo elemento a
rediscussão acadêmica e jurídica do conceito de quilombo, transformando comunidades com
o Riacho em remanescentes de quilombos.
Sobre o primeiro elemento (a ação assistencial e religiosa) podemos afirmar que a
construção das casas de alvenaria mudou a paisagem, embora não tenha alterado a lógica
espacial das residências, implicou em novas formas de morar, apesar de não ter significado o
fim das residências construídas em taipa. É nesse período que a Universidade chega ao
Riacho, através da pesquisa realizada pelo antropólogo Luís Carvalho Assunção, cujo texto
evoca o tecido das construções familiares na localidade, seus modos de crer, o começo, o
cotidiano, enfim, as particularidades dos seus moradores (ASSUNÇÂO, 1994).
A vida comum, ordinária, passa a ser objeto da curiosidade alheia, cientificamente
pautada. Essa etnografia é o primeiro documento escrito a registrar as diferenças familiares
gestadas pela divisão entre “negros” e “caboclos”. Do oral ao escrito, Assunção tem como
uma de suas principais narradoras Tereza Maria da Conceição, filha de Joana Caboclo e
Antônio Lopes. A partir dela e de outros narradores, o etnógrafo registrou a narrativa sobre o
mito de origem da comunidade, concluindo que, mesmo diante das divisões familiares os
chamados “Negros do Riacho” devem ser pensados como um coletivo, pois:
12
Formam um grupo de famílias descendentes de um ex-escravo de nome
Trajano Lopes da Silva ou Trajano Passarinho – como é conhecido por essas
pessoas – que no século passado apossou-se das terras, após ter sido
alforriado por um senhor da região. É essa a visão apresentada pelos mais
velhos e repetido pelos mais moços (ASSUNÇÃO, 1994, p.17).
Segundo alguns moradores mais antigos “muitas pessoas chegaram aqui fazendo
preguntas querendo saber a vida de nós daqui bateram retrato dizendo que adepois voltava e
nunca mais apareceram” (Morador da Comunidade, 2016). Isso ocorre em razão do assédio
vivido pela comunidade que depois da década de 1980 precisou lidar com a presença de
estudiosos, como também, de estudantes de escolas locais que, de alguma forma, esperavam
encontrar no Riacho um pedaço da África. Atualmente os livros, dissertações e artigos
dedicados ao tema tornam-se, de alguma forma, dispositivos de memória com a morte dos
mais velhos e a falta de interesse dos mais novos por histórias antigas. De alguma forma, o
registro acadêmico torna-se suporte de uma memória social, que permanece pela escrita, pois,
na contingência das narrativas orais a tendência tem sido a do silenciamento gradual, como
boa parte da história e da memória social sobre as comunidades formadas por famílias de
descentes africanos no Seridó (CAVIGNAC, 2013, p.115).
Há quatro dissertações que pesquisam aspectos sobre os chamados “negros do
Riacho”. A etnografia de Luís Carvalho Assunção já apresentada aqui foi pioneira e dedicou-
se a uma análise social e cultural ampla dos negros do Riacho na década de 1980; o estudo
sobre preconceito racial no município de Currais Novos desenvolvido por Pedro Fernandes
Queiroz em 2002; a dissertação de mestrado Retratos de dignidade: Negros do Riacho, de
Maria Iglê de Medeiros sobre as imagens construídas pelas políticas públicas no Riacho e, por
fim, o estudo de Joelma Tito da Silva sobre a memória, as artes de fazer e as rearticulações
identidárias no novo contexto de reinvenção do conceito de quilombo.
3 POLÍTICAS PÚBLICAS E A REINVENÇÃO DO RIACHO
Nos anos 2000 o Governo Federal lançou novos projetos de ação social para reparação
dos anos de indiferença para com as comunidades negras do Brasil. Tais políticas fazem parte
de uma história de lutas dos movimentos sociais e da ressignificação acadêmica do termo
quilombola para fazer valer o artigo n. 68, das Disposições Constitucionais Transitórias,
presente na Carta Magna de 1988, cujo texto diz que: “Aos remanescentes das comunidades
13
de quilombo que estejam ocupando suas terras é reconhecida a posse definitiva, devendo o
Estado emitir-lhes os títulos respectivos”.
A comunidade dos Negros do Riacho foi comtemplada com tais ações que visavam
recuperar a dignidade de seus moradores, já que eram vistos como pessoas ociosas com
aversão ao trabalho.
Com a atuação governamental, o Riacho teve os holofotes das mídias locais voltados
para os seus moradores que antes eram invisíveis para o mundo. O Projeto Dignidade
concorreu para que houvesse algumas mudanças na comunidade, promovendo a emissão de
documentos, a construção de novas casas e a reforma das já existentes, perfuração de um poço
para o abastecimento, uma arena para futuros eventos, o incentivo às práticas esportivas (com
a terraplanagem de um campo de futebol e doação de uniformes para a formação de times de
futebol), a criação da Associação Comunitária para que, de forma organizada, os seus
participantes buscassem, junto aos órgãos competentes, novos projetos e melhorias. Foi
construído, também, um Centro de Artesanato para a exposição das panelas, potes e
alguidares feito com o barro. O SEBRAE promoveu cursos de aperfeiçoamento do trabalho
com o barro visando a volta da comercialização da louça, cujo declínio como utilitário não
impedia a sua comercialização com ornamento, de forma a gerar renda e abrir novos
mercados de consumo para o produto.
Com a atuação das políticas públicas, especialmente na esteira da ressignificação do
conceito de quilombola, os Negros do Riacho foram reinventando identidades e reafirmando
direitos depois de anos de invisibilidade histórica, política e jurídica. Os negros do Riacho
foram reconhecidos como remanescentes das comunidades de quilombos em 2006, sob a
liderança de Tereza da Conceição Filha, descendente de Joana Caboclo.
Hoje a Comunidade é composta por 47 famílias, 42 casas, sua população é de 130
adultos e 78 crianças. Os moradores vivem em casas de alvenaria, com luz elétrica e água.
Algumas delas são acrescidas por um pequeno vão feito em taipa, servindo como anexo, e nos
remetemos aos saberes sobre a edificação de casas anteriores às ações religiosas e políticas.
A configuração política atual teve como divisor de águas a morte de Tereza Maria da
Conceição Filha em 2007, deixando a liderança da comunidade a sua filha Silmara. Aos
poucos, outro jovem, por nome de Paulo, ganha destaque entre os moradores e assume o posto
de líder, tendo conseguido, nesse período, a construção de uma grande caixa de água, capaz
de abastecer todo a comunidade.
De 13 de março 2013 até os dias de hoje, quem lidera o Riacho é José da Silva, que
vem conseguido alguns benefícios para a Comunidade. Segundo ele, a sua posição de poder
14
foi alcançada da seguinte forma: “Primeiro foi a confiança dos moradores. Consegui junto aos
órgãos públicos que durante um ano a comunidade recebesse uma cesta básica, o peixe da
semana santa”. Aquele que consegue criar uma interlocução entre as necessidades da extensa
família e os “de fora”, ganha notoriedade. José tem sido um líder ativo participando de
reuniões e eventos ligados a causa quilombola.
Sobre as dificuldades enfrentadas até hoje pelos moradores da comunidade a liderança
segue a cobrar um posto de saúde para atendimento qualificado, uma vez que quando o
médico e sua equipe se deslocam para a comunidade o serviço é oferecido no Centro
Comunitário, sem qualquer estrutura. Não há área de lazer para as crianças assim como uma
escola na própria comunidade, as crianças estudam na Escola São Francisco de Assis que fica
no vizinho sítio Serrote do Melo e os adolescentes na cidade. Em geral, as políticas
defendidas pelos líderes tratam da melhoria de estrutura dentro da comunidade. Parece ser
pouco preferível o deslocamento à cidade. A dificuldade de transporte e a memória dos
preconceitos sofridos historicamente parecem pesar nesta escolha.
Em entrevista com José da Silva declara perceber interesse de igrejas (evangélicas e
católicas), de ONGs e da universidade, no desenvolvimento de atividades e ações na
comunidade. Sem nenhum pudor ou barreiras, os moradores do Riacho dialogam com essa
pluralidade de instituições, fazendo uso das intenções de catequese religiosa (dividia em
igrejas diferentes), a ação política das ONGs e intenções das pesquisas universitárias.
Segundo ele:
Os crentes a 11 anos têm um projeto de futebol durante o final de semana. O
Pastor Marconi Silva e os seus colaboradores fazem bazar, oficinas de
artesanato para as mulheres, realizam festividades no dia das crianças e no
natal. Leva a palavra de Deus, faz palestras para os moradores.
A ONG RPTV atuando a cinco anos desenvolve o trabalho com oficinas de
fotografia, criação do ponto de memória, arborização da comunidade e da
escola São Francisco de Assis com o apoio dos funcionários da mesma,
oficinas de cinema com exibição de filmes na escola e comunidade, oficinas
de cerâmica com artesão de outros estados e oficina de gastronomia.
Em 2016, a igreja resgatou o padroeiro oficial do Riacho São Sebastião com
a realização de batizados e a proposta de missas mensais na própria
comunidade.
As universidades realizaram a festa do dia das crianças ano passado.
Com o apoio da RPTV, na pessoa de Raimundo Melo e colaboradores, foi feito um
trabalho de retomada da fabricação de louça com o barro extraído na região. Participaram
desta atividade as louceiras Iralice (Pretinha), Aparecida, filha de Maria Anunciada (Maria de
Nego) que é louceira, Ana, Valdirene (Nininha) e José Pereira (Veinha). Foi estimulada a
15
realização de visitas à comunidade por parte de estudantes tanto de Currais Novos, quanto de
outras cidades vizinhas, com o objetivo de comprar produtos fabricados com o barro,
motivando, assim, a retomada do oficio de fazer a louça.
Assim como aconteceu com o Projeto Dignidade, no qual o SEBRAE levou a
comunidade artesãos para ensinar novas técnicas de trabalho com o barro, houve a resistência
das louceiras em aprender a manejar o barro de outras maneiras para fazer peças para uso
decorativo, nos dias de hoje não mudou pois, o que as antigas louceiras aprenderam com os
mais velhos continuará a ser repetido na hora de construir as peças com o barro.
Enquanto estava sendo realizado as pesquisas de campo, tivemos então, a
oportunidade de participar de uma oficina de cerâmica decorativa promovida pela RPTV, com
o intuito de apresentar novas técnicas trazida por uma artesã mineira na construção e na
queima das peças que era feita com um forno que era alimentado por um botijão de gás,
diferente do que é utilizado na comunidade que é um forno alimentado por lenha e garranchos
secos. Na primeira fase da oficina cada um fazia o trabalho com o barro de forma livre, e na
segunda o trabalho era feito de acordo como a artesã mineira ensinava. Foi perceptível como
cada um dos participantes de seu jeito nato de construção, desde o jeito que pega no barro
para iniciar a peça como o seu acabamento, na primeira foram feitas peças em um curto
espaço tempo e saíram peças perfeitas, na segunda fase saíram peças que ficaram tão
uniformes apesar do empenho dos participantes.
Nesse sentido, tentou-se ensinar aos que moram na comunidade um novo jeito de
viver, apontando o mercado ornamental da louça como uma saída, como podemos perceber na
construção do Centro de Artesanato direcionado à comercialização desse produto antigo, mais
que precisava ser repaginado. Por isso, o SEBRAE procurou introduzir uma nova forma de
produção que envolvia técnicas estranhas ao saber das louceiras, mas, afinadas com o gosto
do potencial consumidor de cerâmica decorativa. Sobre essa questão, uma moradora do
Riacho diz o seguinte: “Olhe minha filha, eu cresci vendo os mais velhos fazendo a loiça de
um jeito e eu aprendi. Agora esse povo que vem de fora querendo ensinar a nós. Acho muito
bonito, mas já tô acostumada a fazer do meu jeito. (Depoimento de uma louceira da
comunidade, 2016).
Essa iniciativa não funcionou, pois as louceiras não conseguiram trabalhar com o
torno, instrumento utilizado pelos técnicos do SEBRAE para facilitar o trabalho com o barro.
O Centro de Artesanato também foi abandonado pelos moradores. Fica claro que tais projetos
encontram dificuldades em se efetivar. Parece haver um hiato entre as linguagens e interesses
dos moradores do Riacho a tais ações. Não podemos negligenciar nesta interpretação os anos
16
de exclusão e submissão dessas populações rurais às diversas formas de mandonismo local
que permanecem nas configurações políticas do Município. Por último, ressalte-se a
participação desses grupos políticos enraizados na política local na implementação das ações
afirmativas no Riacho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Depois das políticas públicas, permanece o trabalho com o carvão como uma das
principais atividades econômicas desenvolvidas pelos homens, ao lado do cultivo de
hortaliças. Algumas mulheres continuam a pedir gêneros alimentícios e roupas na cidade.
Sobre a posse coletiva da terra, no INCRA não há qualquer processo de demarcação
daquele território quilombola. Há, apenas uma escritura em nome de Dameâo Lopes e datada
dos anos de 1970. “O mencionado documento de propriedade teria sido conferido pelo
INCRA, na data 31.05.73 a Dameão Lopes em seu próprio nome. Ele era filho da velha
Antônia, neto do velho Trajano e cunhado de Joana Cabocla.” (ASSUNÇÃO, 1994, p: 23).
Em relação ao reconhecimento e reconstrução da identidade a partir da inserção do
termo quilombola, percebe-se que há uma reapropriação, apesar do estranhamento em relação
à nova denominação. Ser quilombola torna-se signo de acesso à direitos e à visibilidade. De
maneira significativa, esse novo momento que cria um sujeito político também novo não
parece significar a conquista pacífica de direitos, mas demarcar uma luta. Assim, o líder José
considera que as políticas públicas decorrentes do autoreconhecimento como quilombola são
“(...) importantes. Só que as leis não funcionam. Dizer que a gente tem direito a escola aqui, a
gente não tem. Diz que a gente tem direito a saúde, a gente não tem. As crianças têm direito
ao lazer, a gente não tem. O preconceito diminuiu, a gente se aceita e procura os nossos
direitos”.
Tendo uma história de perdas e conquistas, a comunidade Negros do Riacho segue em
busca de uma vida melhor.
FONTES
FELIX, José Leandro, 18 anos. Entrevistadora: Jucilene Garcia da Silva. Áudio: MP3.
OLIVEIRA, José da Silva. 23 anos. Entrevistadora: Jucilene Garcia da Silva, Áudio: MP3,
data: 16/02/2016.
17
REFERÊNCIAS
ALBERTI, Verena. Manual de história oral. 3.ed. Rio de Janeiro: FGV, 2005.
ASSUNÇÂO, Luis Carvalho de. Os Negros do Riacho: estratégias de sobrevivência e
identidade social. Natal/RN: CCHLA,1994.
CAVIGNAC, Julie. As voltas da história: terra, memória e educação patrimonial na Boa
Vista dos negros. Vivência. n. 42, Natal: UFRN, 2013. p.116-23.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano I – artes de fazer. 9ª ed. Petrópolis/ RJ:
Vozes, 2003.
ELIAS, Norbert. O processo civilizador, volume 1: uma história dos costumes. Rio de
Janeiro: Zahar, 1994.
MEDEIROS, Maria Iglê. Retrato e Dignidade Negros do Riacho- Identidade, Educação e
Fotografia (2005-2007) UFRN: 2008.
QUEIROZ, Pedro Fernandes. O sertão: negros e brancos – uma amostra do preconceito racial
no município de Currais Novos. Dissertação de Mestrado. Campina Grande/PB: UFPB, 2002.
SILVA, Joelma Tito. O Riacho e as Eras: memórias, identidade e território em uma
comunidade rural negra no Seridó potiguar. Mestrado (Dissertação). Fortaleza/CE: Programa
de Pós-Graduação em História Social - UFC, 2009.
THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
THE BLACKS OF THE STREAM :
RELIGIOUS INTERVENTION AND PUBLIC POLICY BETWEEN 1980 AND 2014
ABSTRACTY
This work showed the result of analysis on the performance of public institutions, NGOs and
religious community known as the Negros do Riacho, located 13 km from the seat of the
municipality of Currais Novos/ RN. Interventions in this location start from the 1980s with
the work of the Third Order Franciscan and gain new momentum in the early 2000s with the
recognition of the old rural black communities as quilombo remnants. Such a policy and legal
emergency allowed the articulation of public policies for the group, resulting in an attempt to
art repair to the crockery, in order to innovate production techniques in order to turn them into
decorative objects since that there is no domestic use of such tools in the region.
Methodologically this research is developed based on the production of oral source, from the
18
reports of Riacho residents about the relationship of "I" and "other" present in religious or
public assistance measures that were developed in that area since the decade 1980.
KEY-WORDS
Negros do Riacho. Quilombo. Assistance.
Gravura 2: Centro Comunitário dos Negros do Riacho. Acervo pessoal de Jucilene G. da Silva, 2015.
19
20
Gravura 4: Oficina realizada para ensinar novas técnicas para a produção de peças ornamentais com o
barro em parceria com uma artesã de Minas Gerais e a RPTV. Acervo da RPTV, 2015.
21
Gravura 5: trabalhando com o barro. Acervo pessoal de Jucilene G. da Silva, 2015.
22
Gravura 6: trabalho com o barro feito pelos alunos da Escola São Francisco de Assis Unidade XXVIII
que atende aos alunos vindo do Riacho, com o Projeto Mais Educação implantado na escola onde os
alunos tem aulas para desenvolver as habilidades com o barro. Acervo pessoal de Jucilene G. da Silva,
2015.