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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA DEPARTAMENTO DE TURISMO LEANDRO DOS SANTOS REZENDE A FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO DE PARATY (RJ) COMO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL E SUA RELEVÂNCIA PARA O TURISMO DA CIDADE NITERÓI 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA

DEPARTAMENTO DE TURISMO

LEANDRO DOS SANTOS REZENDE

A FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO DE PARATY (RJ) COMO PATRIMÔNIO

CULTURAL IMATERIAL E SUA RELEVÂNCIA PARA O TURISMO DA CIDADE

NITERÓI

2017

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LEANDRO DOS SANTOS REZENDE

A FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO DE PARATY (RJ) COMO PATRIMÔNIO

CULTURAL IMATERIAL E SUA RELEVÂNCIA PARA O TURISMO DA CIDADE

Niterói

2017

Trabalho de Conclusão de Curso, do Curso

de Turismo, como requisito parcial de

avaliação para obtenção do grau de

Bacharel em Turismo.

Orientador: Profa. D.Sc. Valéria Lima

Guimarães

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Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá

R467 Rezende, Leandro dos Santos.

A festa do Divino Espírito Santo de Paraty como patrimônio cultural imaterial e sua relevância para o turismo da cidade / Leandro dos Santos Rezende. – 2017.

105 f. ; il.

Orientadora: Valéria Lima Guimarães.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Turismo) – Universidade

Federal Fluminense. Faculdade de Turismo e Hotelaria, 2017.

Bibliografia: f. 86-90.

1. Turismo. 2. Religião. 3. Patrimônio cultural. 4. Festa do Divino. 5. Paraty

(RJ). I. Guimarães, Valéria Lima. II. Universidade Federal Fluminense. Faculdade

de Turismo e Hotelaria. III. Título.

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A FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO DE PARATY (RJ) COMO PATRIMÔNIO

CULTURAL IMATERIAL E SUA RELEVÂNCIA PARA O TURISMO DA CIDADE

LEANDRO DOS SANTOS REZENDE

.

BANCA EXAMINADORA

Prof. D.Sc Valéria Lima Guimarães-Orientadora

___________________________________________________________________

Prof. M.Sc Guilherme de Azevedo Mendes Correa Guimarães

___________________________________________________________________

Prof.D.Sc Erly Maria de Carvalho e Silva

Niterói

2017

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Curso de Graduação

em Turismo da Faculdade de Turismo

e Hotelaria da Universidade Federal

Fluminense como requisito parcial

para obtenção do título de Bacharel

em Turismo.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pela oportunidade que me foi dada de realizar

um curso de ensino superior. Depois, a minha família, em especial a quatro pessoas:

Minha querida mãe Sueli, que com muito esforço e dificuldade me criou e hoje posso

dar um pouco de alegria à ela, ao cursar uma faculdade, a minha companheira Renata

Silva, que desde que começamos nosso relacionamento acompanhou a minha luta

para ter a oportunidade de cursar uma graduação e continua comigo nos momentos

de alegria e tristeza e aos meus pais Acácio e George. O primeiro, que também

sempre me apoiou e respeitou em todas as decisões, também sendo relevante no

momento em que mais precisei. O segundo, por ser meu pai biológico e, mesmo um

longo período em que ficamos afastados por divergências, nos reconciliamos e hoje

lutamos para recuperar esse tempo perdido.

Dedico também esse Trabalho de Conclusão de Curso ao meu querido

sobrinho Kevin Müller, por quem tenho um grande apreço.

Menção especial deve ser feita a minha orientadora, querida professora Valéria

Lima Guimarães, que com toda sua gentileza, humildade e conhecimento acadêmico,

sempre proporcionou aos seus alunos aulas interessantes, que com certeza

agregaram muito valor para minha formação acadêmica.

Também meus elogios à professora Erly Maria Carvalho, da qual tive o grande

prazer de ser monitor de sua disciplina, Metodologia do Trabalho Científico, no ano de

2016.

A todo o corpo docente da Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade

Federal Fluminense, que com muito amor, paciência e dedicação nas suas

respectivas disciplinas, passa seus conhecimento para seus discentes.

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RESUMO

Este trabalho tem como foco o estudo a respeito da Festa do Divino Espírito

Santo de Paraty, de que forma a sua classificação como Patrimônio Cultural Imaterial

pelo IPHAN auxilia na divulgação da festa e também na captação de turistas para o

evento, consequentemente para a cidade de Paraty. Por meio de uma pesquisa

qualitativa-descritiva, em que foram utilizadas entrevistas com grupos específicos,

como responsáveis por meios de hospedagem, trabalhadores, moradores e turistas e

em cada uma dessas categorias, questões chave foram selecionadas, a fim de obter

um resultado que mostre como a Festa do Divino Espírito Santo de Paraty pode ajudar

no desenvolvimento turístico da cidade, assim como sugestões para que este evento

religioso possa melhorar e utilizar com mais intensidade o título de Patrimônio Cultural

Imaterial. Ao longo das pesquisas, realizadas durante dois anos consecutivos, mais

precisamente no mês de maio dos anos 2016 e 2017, observou-se que a Festa do

Divino de Paraty é um acontecimento feito principalmente por moradores de cidade.

Palavras Chave: Turismo religioso. Patrimônio Cultural. Festa do Divino. Paraty (RJ).

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ABSTRACT

This academic work talk about one religious event, called Paraty’s Divine Holy

Party and how your new classification, since 2013, when this party received from

Historical, Artistic and National Institute (IPHAN), help this party to divulgate yourself

better, and how this classification can help to catch more tourists to Paraty.To take the

results, we did one descritive and qualitative survey, interviewing specifics groups, like

tourists, workers, hospitalitys and people that live in Paraty.In each group, we took

specific questions to demonstrate after how Paraty’s Divine Holy Party can help in a

tourism development of Paraty. Each people that were interviewed had a chance to

give sugestions for this event to be better and approach better also your Intangible

Cultural Heritage’s title.These surveys were realized in two years consequently,more

specific in may’s month.During this time and interviews,was noted that Paraty’s Divine

Holy Party is make for Paraty’s residentes.

Keywords:Religious Tourism.Cultural. Patrimony,Divine’s Holy Party. Paraty

(RJ).

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1-Mapa de Paraty _____________________________________________26

Figura 2-Calendário de eventos de Paraty no ano 2017_____________________ 32

Figura 3-Procedência dos turistas entrevistados em 2016 ___________________ 50

Figura 4-Faixa etária dos turistas em 2016_______________________________ 51

Figura 5-Motivação dos turistas para participar da festa em 2016_____________ 52

Figura 6-Ponto forte da festa na opinião dos turistas em 2016________________ 52

Figura 7-Sugestões dos turistas pra melhorar a festa em 2016________________53

Figura 8-Faixa etária dos moradores entrevistados em 2016_________________ 54

Figura 9-Contribuição da festa na opinião dos moradores em 2016____________ 55

Figura 10-Ponto forte da festa para os moradores em 2016__________________ 56

Figura 11-Ocupação dos meios de hospedagem na festa em 2016____________ 57

Figura 12-Perfil dos hóspedes na Festa do Divino de Paraty em 2016__________ 58

Figura 13-Sugestões dos meios de hospedagem para a festa em 2016_________ 58

Figura 14-Faixa etária dos trabalhadores entrevistados em 2016______________ 59

Figura 15-Religião dos trabalhadores entrevistados em 2016_________________ 60

Figura 16-Ponto forte da festa na opinião dos trabalhadores em 2016__________ 61

Figura 17-Ponto fraco da festa na opinião dos trabalhadores em 2016__________ 62

Figura 18-Festa do Divino como Patrimônio Cultural Imaterial em 2016_________ 63

Figura 19-Sugestões dos trabalhadores para a Festa do Divino em 2016_______ 64

Figura 20:Procedência dos turistas entrevistados em 2017 __________________ 65

Figura 21:Faixa etária dos turistas em 2017______________________________ 66

Figura 22:Escolaridade dos turistas em 2017_____________________________ 67

Figura 23:Motivação para participar da festa em 2017______________________ 67

Figura 24:Ponto forte da festa em 2017_________________________________ 68

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Figura 25:Ponto fraco da festa em 2017__________________________________ 69

Figura 26:Infraestrutura da cidade______________________________________ 69

Figura 27:Sugestão dos turistas em 2017_________________________________ 70

Figura 28:Faixa etária dos moradores em 2017____________________________ 71

Figura 29:Escolaridade dos moradores em 2017___________________________ 71

Figura 30:Significado da festa para os moradores em 2017___________________ 72

Figura 31:Ponto forte da festa em 2017__________________________________ 73

Figura 32:Ponto fraco da festa em 2017_________________________________ 73

Figura 33:Contribuição da festa pra cidade para os moradores em 2017________ 74

Figura 34:Faixa etária dos trabalhadores entrevistados em 2017______________ 75

Figura 35:Escolaridade dos trabalhadores em 2017________________________ 75

Figura 36:Ponto forte da festa para os trabalhadores em 2017________________76

Figura 37:Ponto fraco da festa para os trabalhadores em 2017________________76

Figura 38:Contribuição da festa para o trabalho____________________________77

Figura 39:Sugestão__________________________________________________ 78

Figura 40:Festa do Divino de Paraty como Patrimônio Cultural Imaterial_________ 78

Figura 41:Taxa de ocupação em 2017___________________________________ 79

Figura 42:Perfil do hóspede em 2017____________________________________ 80

Figura 43:Sugestão__________________________________________________ 80

Figura 44:Centro Histórico de Paraty enfeitado na Festa do Divino_____________ 97

Figura 45:Igreja da Matriz e missa na Festa do Divino_______________________ 98

Figura 46:Bando precatório____________________________________________ 98

Figura 47:Almoço do Divino___________________________________________ 99

Figura 48:Imperador da Festa do Divino 2017_____________________________ 99

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Figura 49:Congada na Festa do Divino de Paraty em 2017___________________100

Figura 50:Boi, Cavalinho e Miota_______________________________________100

Figura 51:Dança das Fitas____________________________________________101

Figura 52:Dança dos Velhos__________________________________________ 101

Figura 53:Jongo do Quilombo do Campinho da Independência_______________ 102

Figura 54:Libertação simbólica do preso_________________________________ 102

Figura 55:Procissão do Divino no encerramento da festa____________________ 103

Figura 56:Representação de outros santos na procissão de encerramento da festa103

Figura 57: Foto tirada com o Sr Diuner Mello, morador de Paraty e escritor do livro:

Festa do Divino Espírito Santo de Paraty, manual do festeiro________________ 104

Figura 58: Foto tirada com o pároco da Igreja da Matriz, Padre Roberto_______ 104

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LISTA DE ABREVIATURAS

ABEOC-Associação Brasileira de Empresas e Eventos

ACIP-Associação Comercial e Industrial de Paraty

DPI-Departamento de Patrimônio Imaterial

FLIP-Festa Literária Internacional de Paraty

IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IHAP-Instituto Histórico e Artístico de Paraty

IPHAN-Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico e Nacional

JMJ-Jornada Mundial da Juventude

SPHAN-Serviço do Patrimônio Histórico, Artístico e Nacional

TDT-Trindade Desenvolvimento Territorial

UNESCO-Organização para Educação, Ciência e Cultura das Nações Unidas

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................8

1 O TURISMO RELIGIOSO NO BRASIL .................................................................12

1.1 A INFLUÊNCIA DA IGREJA CATÓLICA NO BRASIL E NAS FESTAS

POPULARES ......................................................................................................... 17

1.2.1 O Círio de Nazaré ..................................................................................... 22

2 PARATY, SEUS PATRIMÔNIOS CULTURAIS E SEUS EVENTOS ....................26

2.1 PARATY COMO PATRIMÔNIO CULTURAL ................................................... 28

2.2 EVENTOS ........................................................................................................ 30

2.3 FLIP .............................................................................................................. 35

2.4 FESTIVAL DA CACHAÇA ............................................................................ 37

2.5 AS FESTAS RELIGIOSAS ............................................................................... 38

2.5.1 Festa de Santa Rita .................................................................................. 39

2.5.2 Festa de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito ........................... 39

3.A FESTA DO DIVINO DE PARATY E O TURISMO ..............................................41

3.1 A FESTA DO DIVINO NO PERÍODO COLONIAL DO RIO DE JANEIRO ....... 42

3.2 A FESTA DO DIVINO EM PARATY ................................................................. 43

3.3 O FESTEIRO ................................................................................................... 45

3.4 PARTE RELIGIOSA E PARTE PROFANA ...................................................... 46

3.5 CLASSIFICAÇÃO DA FESTA DO DIVINO DE PARATY COMO PATRIMÔNIO

CULTURAL IMATERIAL ........................................................................................ 47

3.6 A CONTRIBUIÇÃO DA FESTA DO DIVINO PARA O TURISMO EM PARATY

............................................................................................................................... 49

3.7 FESTA DO DIVINO DE PARATY:PESQUISA DE CAMPO ............................. 49

3.8 VISÃO DOS DIVERSOS ATORES SOCIAIS NA FESTA DO DIVINO DE 2016

............................................................................................................................... 50

3.8.2 Moradores ................................................................................................ 54

3.8.3 Meios de Hospedagem ............................................................................ 57

3.8.4 Trabalhadores na festa............................................................................ 59

3.9 VISÃO DOS DIVERSOS ATORES SOCIAIS NA FESTA DO DIVINO NO ANO

DE 2017 ................................................................................................................. 64

3.9.1 Turistas ..................................................................................................... 65

3.9.2 Moradores ................................................................................................ 71

3.9.3 Trabalhadores .......................................................................................... 74

3.9.4 Meios de hospedagem ............................................................................ 79

3.9.5 Comparação entre as Festas do Divino nos anos de 2016 e 2017 ...... 81

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................84

5.REFERÊNCIAS ......................................................................................................86

6 APÊNDICE .............................................................................................................91

A:TRANSCRIÇÃO DE TRECHOS ENTREVISTA COM O SECRETÁRIO DE

TURISMO DE PARATY, SR GABRIEL RAMOS COSTA.. .................................... 91

B:PERGUNTAS FEITAS NA FESTA DO DIVINO DE PARATY EM 2016 ............. 95

C:PERGUNTAS FEITAS NAS ENTREVISTAS DURANTE A FESTA DO DIVINO

DE PARATY EM 2017 ........................................................................................... 96

D:FOTOS DA FESTA DO DIVINO DE PARATY .................................................... 97

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INTRODUÇÃO

Este trabalho de conclusão de curso trata a respeito da importância da Festa

do Divino Espírito Santo para a cidade de Paraty, no estado do Rio de Janeiro, tanto

como acontecimento religioso, em que os moradores locais se engajam na preparação

da festa quanto para o turismo local, após receber do Instituto do Patrimônio Histórico,

Artístico e Nacional (IPHAN), a classificação no ano de 2013 de Patrimônio Cultural

Imaterial do Brasil.

A escolha do tema ocorreu durante as aulas de Turismo e Desenvolvimento

Cultural II, quando se discutiu ao longo de uma das aulas, o turismo religioso e sua

relevância cultural para o turismo. Colaborou também para despertar o interesse pelo

tema a viagem técnica a Paraty, realizada sempre no segundo período do curso de

turismo da Universidade Federal Fluminense. Na época em que o autor realizou a

viagem técnica, no primeiro semestre de 2014, estavam próximos os festejos do

Divino em Paraty, então pôde-se perceber a relevância cultural da festa para a cidade,

com algumas ruas sendo enfeitadas com bandeirinhas nas cores vermelho e branco

e também a decoração da Igreja da Matriz, local em que são realizadas as missas

durante a festa.

Considerada Patrimônio Histórico Nacional, com atrativos naturais e culturais,

Paraty é uma cidade turística que proporciona a quem a visita vários tipos de

entretenimento.Com forte influência portuguesa, em especial da maçonaria, o

município recebe turistas de diferentes partes do mundo, sendo um dos destinos

indutores do turismo no estado do Rio de Janeiro.

Dentre algumas oportunidades de se fazer turismo em Paraty, os turistas e

excursionistas têm a chance de conhecer o seu centro histórico por meio de

caminhada pelas suas ruas de pedra, por meio de guias de turismo que prestam

serviços para as agências de turismo da cidade ou com o guiamento de charreteiros

que, com seus conhecimentos empíricos e memórias sobre Paraty, apresentam aos

turistas e/ou excursionistas a história da cidade.

Além de sua riqueza histórica e cultural estar disponível ao conhecimento dos

visitantes, tem-se a chance de explorar a parte gastronômica e seus atrativos naturais,

visto que dispõe de praias, trilhas, cachoeiras e a própria Baía de Ilha Grande, na qual

são realizados passeios de barcos com turistas, com paradas para mergulho, além do

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Parque Nacional da Serra da Bocaina, Parque Estadual da Serra do Mar, Área

Ambiental do Cairuçú e a Reserva da Joatinga.(PREFEITURA DE PARATY,2016).

No quesito gastronomia, conta com uma boa variedade de restaurantes em seu

centro histórico e tem seu pólo gastronômico que desenvolve eventos, promovendo

os sabores da cidade e organiza projetos educativos em prol da comunidade local.

Uma ação importante do pólo gastronômico de Paraty que merece ser comentada é a

Folia Gastronômica, que ocorre normalmente na metade do mês de novembro e

consiste num evento que reúne chefs de cozinha de todo o Brasil. Dentro da Folia

Gastronômica ocorre o Programa Educativo Folia Gastronômica, em que alunos,

professores e merendeiras das escolas públicas de Paraty participam do evento a fim

de conhecer mais sobre produtores locais de alimentos e com o intuito também de se

ter uma alimentação melhor nas escolas.Com isso, ocorre o fortalecimento do setor

gastronômico local, em que o Sebrae atua de forma a oferecer consultorias para os

participantes do pólo, além de ofertar cursos na área de gastronomia. Outra

contribuição do pólo gastronômico de Paraty está na requalificação das praças de

alimentação da Festa do Divino e do Festival da Cachaça, como por exemplo, uma

variedade maior de produtos e apresentação mais requintada, com maior fiscalização

na parte de limpeza (PÓLO PARATY,2017). Além dos restaurantes, merecem

destaque os doces artesanais, vendidos por ambulantes em seus carrinhos de

madeira no centro histórico e os alambiques que produzem cachaças reconhecidas

nacionalmente.

No tocante aos atrativos culturais, a cidade dispõe do seu próprio centro

histórico, que com seus casarios e sobrados dão um charme a mais à Paraty. Outras

fontes de atrativos culturais seriam suas igrejas, ricas em história, dentre as quais

destacam-se a Igreja da Matriz, em que se realizam as missas da Festa do Divino, a

Igreja de Santa Rita, em que se localiza também o Museu de Arte Sacra de Paraty, a

Igreja de Nossa Senhora dos Remédios e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e de

São Benedito. Aponta-se também o Teatro Espaço, que de quarta-feira a sábado, faz

apresentação do Teatro de Bonecos, organizado pelo grupo Contadores de Estórias.

Um outro atrativo cultural interessante, que conta a história do Caminho do Ouro na

cidade, mas que infelizmente não está disponível por conta da falta de visitação, é a

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Mini Estrada Real, que localiza-se na estrada Paraty-Cunha 1(informação verbal). Vale

destacar também a Casa de Cultura de Paraty, onde qualquer pessoa pode conhecer

mais sobre a história e cultura da cidade.

Paraty tem investido fortemente no turismo de eventos, destacando-se alguns,

como a Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), Festival Blue Jazz, Festival da

Cachaça e as Festas Religiosas, dentre as quais, a principal é a Festa Do Divino

Espírito Santo, segundo moradores da cidade 2.

A Festa do Divino Espírito Santo é motivo de muito orgulho para os paratienses,

pois foi trazida junto com a colonização portuguesa e perdura por mais de trezentos

anos na cidade, sendo incorporada pelos moradores, que se encarregam da

organização do evento religioso junto com o Festeiro, que é a pessoa escolhida para

a organização da Festa do Divino, com a tarefa de arrecadar fundos para a festa.

Pelo fato de ser uma Festa com tradições locais e também por ter recebido do

IPHAN, no ano de 2013, o título de Patrimônio Cultural Imaterial, deve-se tomar o

cuidado para se evitar os impactos negativos decorrentes da falta de um planejamento

adequado que oriente o processo de turistificação da festividade, retirando o

protagonismo dos moradores que organizam e participam da festa.

A fim de discutir sobre a Festa do Divino Espírito Santo de Paraty, será

abordado no primeiro capítulo o turismo religioso no Brasil e a influência portuguesa

no catolicismo brasileiro, assim como o início das festas religiosas no país, com

destaque para do Círio de Nazaré, também classificada pelo IPHAN como Patrimônio

Cultural Imaterial e conhecida pela sua importância no segmento religioso, haja vista

a enorme devoção dos fiéis para com a santa e a forma como tal evento impacta no

que se refere ao turismo religioso na cidade de Belém do Pará.

O segundo capítulo discorrerá a respeito da cidade de Paraty, seu contexto

histórico, sua classificação como patrimônio cultural nacional, seus principais eventos

turísticos que movimentam um fluxo de turistas relevantes para a cidade e o processo

de turistificação desses eventos.

No terceiro capítulo, a Festa do Divino Espírito Santo de Paraty será

relacionada, com todo o seu contexto histórico, sua importância para o turismo da

1 Notícia fornecida na entrevista com o Sr Juan, guia de turismo da Free Walk Tour em Paraty, em junho de 2017. 2 Fato observado nas entrevistas com moradores da cidade,que abordavam a questão dos eventos como essencial pro turismo da cidade.

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cidade de Paraty e como o título de Patrimônio Cultural Imaterial pode ajudar na

captação de turistas para a festa. Além disso, será mencionada também a Festa do

Divino na cidade do Rio de Janeiro, no século XIX.

Como fontes, serão citados livros, documentos extraídos da internet e artigos

que falam a respeito da introdução do catolicismo no Brasil e a influência portuguesa

no processo de colonização do país, da formação da cidade de Paraty e documentos

que falam a respeito desta festa religiosa como Patrimônio Cultural Imaterial.

Sobre a metodologia, é de caráter qualitativo descritivo, dividida em três etapas:

Levantamento bibliográfico, entrevistas e análise de dados. O levantamento

bibliográfico será utilizado para dar embasamento nas entrevistas realizadas no

campo; as entrevistas foram obtidas com moradores da cidade, turistas, trabalhadores

do comércio local e representantes dos meios de hospedagem. As entrevistas têm

como objetivo recolher informações de campo a respeito da questão problema do

presente trabalho, que é saber de que forma a Festa do Divino, a partir do momento

em que foi classificada como Patrimônio Cultural Imaterial pode ajudar no turismo em

Paraty, mais especificamente o segmento religioso, assim como deixar o entrevistado

livre para expressar suas opiniões sobre a Festa do Divino de Paraty, bem como dar

sugestões para o aprimoramento da Festa. Na parte de análise de dados, as

entrevistas serão separadas em blocos, a fim de que os dados recolhidos na mesma

temática possam ser analisados e comparados.

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1 O TURISMO RELIGIOSO NO BRASIL

O turismo religioso pode ser considerado como turismo cultural, mas existem

diferenças entre os dois segmentos. Enquanto o turismo religioso é motivado pela fé,

o cultural refere-se mais a atrações históricas, artísticas ou determinado modo de vida

de uma população (SILBERBERG,1995, apud KÖHLER; DURAND,2007). Dentre

alguns exemplos ofertados pelo turismo cultural, destacam-se museus, festivais de

gastronomia, eventos, mercados tradicionais, dentre outras ofertas de turismo cultural

(KÖHLER; DURAND,2007).

No caso do turismo religioso, este também necessita ser visto com atenção, já

que a religiosidade se faz presente em qualquer parte do planeta, o que acarreta no

deslocamento de fiéis em nome daquilo que acreditam, de suas crenças. De acordo

com Souza e Corrêa, (2000, apud Oliveira, 2004, p.16), turismo religioso é “o tipo de

turismo motivado pela cultura religiosa, cuja característica principal é a ida a locais

que possuam conotação fortemente religiosa”. A partir dessa motivação que faz com

que fiéis se desloquem de seu local de origem até o atrativo religioso, destacam-se as

excursões, que muitas dessas pessoas realizam no popularmente chamado “bate e

volta”, visto que chegam ao destino religioso e vão embora no mesmo dia, caso muito

comum aos que visitam a basílica de Nossa Senhora Aparecida.

No Brasil, o caso mais emblemático de turismo religioso é na cidade de

Aparecida (mais conhecida como Aparecida do Norte), no estado de São Paulo, com

a economia local fortemente influenciada por este segmento turístico, cujo ápice das

visitações se dá no dia 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do

Brasil. Seus fiéis a reverenciam por meio da imagem de Nossa Senhora da Conceição

Aparecida, coberta com manto azul.

Sua história se remete à crença popular de que um grupo de pescadores,

incumbidos de conseguir peixes para uma festa a ser dada em homenagem ao Conde

de Assumar, que passava pela cidade de Guaratinguetá, depois de várias tentativas

frustradas de pegar peixes, foi surpreendido com o achado de um pescador de nome

João Alves, que lançou ao mar sua rede e encontrou a imagem de Nossa Senhora da

Conceição sem a cabeça. Ao jogar novamente sua rede ao mar, encontrou a cabeça

da Santa e completou assim a imagem de Nossa Senhora da Conceição. A partir

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desse fato, o grupo de pescadores obteve grande êxito na pescaria e voltou à terra

com uma grande quantidade de peixes (CRUZ; TERRA SANTA ,2017).

Atualmente, o atrativo turístico religioso de Aparecida conta com duas basílicas,

conhecidas como Basílica Menor e Basílica Maior, unidas por uma ponte. A Basílica

Maior foi construída devido ao fato do número de fiéis ter aumentado

consideravelmente e a primeira basílica não comportou tamanha quantidade de

pessoas. No ano de 1980, a nova basílica foi consagrada pelo Papa João Paulo II

(CRUZ; TERRA SANTA,2017).

Como outros destinos turísticos de destaque, vale mencionar a cidade de Nova

Trento, ao sul de Santa Catarina, local que ganhou grande projeção no turismo

religioso nacional após a beatificação, no ano de 1991 e canonização, na data de 19

de maio de 2002, de Madre Paulina, considerada a primeira santa brasileira (A ARTE

DO TURISMO E DA HOTELARIA,2014).

Fora do espectro do turismo religioso católico, encontra-se na cidade de

Uberaba, o Memorial Chico Xavier, que impulsiona a movimentação religiosa local

principalmente por parte de pessoas ligadas ao espiritismo.

Dentre outras religiões que promovem visitações, encontram-se o budismo e

seus templos, como o Gonpa Khadro Ling, localizado na cidade de Três Coroas, no

estado do Rio Grande do Sul, único templo budista tibetano da América do Sul

(QUANTO CUSTA VIAJAR, 2016) ,o candomblé, com seus vários terreiros

espalhados pelo país, com destaque para a Mãe Menininha do Gantois , com o

Terreiro Gantois, na cidade de Salvador e que enfrentou preconceitos sociais com

relação ao candomblé, além de intervenções policiais, que só diminuíram com a Lei

de Jogos e Costumes, que liberava o funcionamento das casas de candomblé (A COR

DA CULTURA,2017). Atualmente, com o apoio da comunidade local, existe o

memorial do terreiro de Mãe Menininha do Gantois que a fim de captar turistas,

passará por reformas estruturais.

Culturalmente, tanto os destinos turísticos religiosos quanto as atrações que

envolvem a religião nos eventos representam uma forma de preservação da fé e

histórias relacionadas à religiosidade, o que auxilia também na renovação de crenças

por parte das novas gerações de pessoas interessadas num determinado segmento

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religioso. No caso dos turistas, mais precisamente aqueles que são do segmento

religioso, junta-se a esse sentimento de fé o lazer, por meio das festas religiosas

locais, uma mistura de cultura popular e religiosa (CHAVES,2013). Sendo assim, o

turista religioso fica numa posição intermediária entre um turista comum e o peregrino,

já que não é apenas o motivo de fé que o leva a um determinado local. Outras

características também o atraem, como a cultura desse determinado destino turístico,

entretenimento, lazer, dentre outras formas de distração (CHAVES,2013). Já o

peregrino, busca uma satisfação espiritual, algo como um ato de sacrifício, a fim de

pagar alguma promessa, por exemplo. Mas isso não o exclui, necessariamente, da

apreciação cultural em seu tempo livre, apenas uma forma de classificação que ajuda

a compreender diferentes formas de comportamento no que tange aos deslocamentos

por motivação religiosa, podendo-se encontrar tipos de pessoas que se encontram ao

mesmo tempo em duas ou mais classificações aqui mencionadas.

Assim, a religião foi aos poucos se transformando numa atividade rentável,

voltada tanto para o lazer, quanto para uma cultura consumista, como souvenirs do

destino turístico religioso, imagem de santos, dentre outros acessórios religiosos, o

que traz renda para destinos turísticos que têm neste segmento sua principal fonte de

receita.

Atualmente, percebe-se também um trabalho mais intenso em eventos

religiosos de grande magnitude, como a Jornada Mundial da Juventude, que em todo

local que é sediado reúne uma quantidade considerável de pessoas, principalmente

jovens de toda a parte do mundo, tendo sua 28ª edição realizada no Rio de Janeiro

no ano de 2013 (FSB COMUNICAÇÃO, 2017).

Com início no ano de 1985,a JMJ é um evento criado pela igreja católica, no

período em que o pontífice representante da Igreja Católica era João Paulo II.A JMJ

reúne fiéis católicos de várias partes do mundo, sobretudo jovens e o evento, que em

seu início era anual, atualmente ocorre de três em três anos (OBSERVATÓRIO DO

TURISMO,2013).Para o turismo da cidade do Rio de Janeiro, a JMJ contribuiu de

forma relevante, pois durante aproximadamente duas semanas,1,5 milhão de

peregrinos estiveram na cidade, o que gerou impactos econômicos pro município do

Rio de Janeiro (OBSERVATÓRIO DO TURISMO,2013).Além dos valores deixados

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pelos turistas, um evento da magnitude da JMJ colocou em evidência internacional a

cidade do Rio de Janeiro.

Outras religiões, como a evangélica, por exemplo, passaram a ter mais

expressividade atualmente. Estima-se que no ano de 2040 o número de evangélicos

supere o de católicos no país (REVISTA EXAME,2013). Dentre algumas formas de

turismo religioso evangélico, há o recente Templo de Salomão, pertencente à Igreja

Universal, na cidade de São Paulo.

Conhecido no turismo religioso como Caminhos da Fé, refere-se ao

deslocamento do profano ao sagrado, feito pelos peregrinos, que por meio da questão

do misticismo, são capazes de enfrentar longas viagens e adversidades no trajeto,

tudo para praticar sua religiosidade (OLIVEIRA, 2004). No caso do Brasil, segundo

dados do Ministério do Turismo, no ano de 2014, as viagens motivadas pela fé

representavam 17,7 milhões de pessoas, o equivalente a 3,6% de todas as viagens

realizadas no país (O ECONOMISTA,2015). Já no Portal Brasil (2016) afirma-se que

no país existem 96 destinos religiosos, com um número de viajantes em torno de 18

milhões de pessoas por conta da fé e que movimentam algo em torno de R$15 bilhões

por ano. Vale destacar que no ano de 2017 esse número de turistas e excursionistas

deve aumentar, visto que por conta dos 300 anos da descoberta da imagem de Nossa

Senhora Aparecida no rio Paraíba, a imagem da santa percorrerá várias cidades

brasileiras (PORTAL BRASIL, 2016). Sendo assim, o turismo religioso, além de

impulsionar o fenômeno da mobilidade em escala mundial, motivada por uma

profissão de fé, é um segmento que movimenta muito dinheiro.

O turismo religioso no Brasil, em especial o católico, que será abordado neste

capítulo, envolve milhões de pessoas que percorrem vários cantos do país para

cultuar suas crenças, pagar promessas, frequentar uma festa religiosa tradicional ou

simplesmente lazer. Nesse caso, a questão do simbolismo religioso se faz presente,

visto que é acreditar naquilo que não se vê, mas que sua força existe e é capaz de

atuar em favor de quem crê. Independentemente do meio de transporte utilizado e das

horas gastas até se chegar ao destino religioso desejado, o que vale para o fiel é

exercer a aliança com a sua religião. Como afirma Oliveira (2004), o turismo encontra

na religiosidade uma multiplicação dos atrativos turísticos, por meio da palavra fé.

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Dinâmico e diversificado, o fenômeno do turismo tem a capacidade de

proporcionar para qualquer localidade que o planeje e desenvolva de maneira

adequada, uma ótima oportunidade de receita financeira que tem a chance de ser

utilizada em melhorias do determinado destino turístico. Com vários segmentos, ao

longo do tempo e de acordo com a demanda das pessoas, novas oportunidades no

turismo surgem e com isso, precisa-se de mão-de-obra especializada para cada um

destes setores.

Dentre alguns problemas enfrentados pelo turismo religioso, um que pode ser

destacado é a pouca quantidade de agências especializadas em turismo deste tipo de

segmento, assim como a falta de um inventário a respeito do turismo religioso, a fim

de facilitar pesquisas para melhorar o setor.

No Brasil existe o chamado roteiro da fé católica, que são as várias atrações

da religião católica nos estados brasileiros, com manifestações sacro-profanas, visto

que estas festas religiosas do catolicismo aqui no país têm a sua parte profana,

entendida como um momento de lazer, após o cumprimento das obrigações religiosas.

Há de se destacar que também existe a possibilidade de espetacularização da festa

religiosa e o evento então ganha proporções maiores, como por exemplo, a festa em

homenagem a Padre Cícero, no Estado do Ceará, as Cavalhadas de Corumbá, no

Estado de Goiás, as festas de São João em Caruaru e Campina Grande, nos Estados

de Pernambuco e Paraíba, respectivamente. Vale ressaltar também a

espetacularização das representações religiosas, caso da encenação da Paixão de

Cristo na cidade de Nova Jerusalém, no estado de Pernambuco, que conta com atores

famosos na teatralização. Cercada de polêmicas, essas teatralizações religiosas para

grandes públicos, acabam também projetando a imagem de cidades e as convertendo

ou reforçando os destinos turísticos.

Outro aspecto que denota a riqueza da religiosidade brasileira e possui grande

diferencial turístico é o sincretismo religioso, tendo um dos principais exemplos a

lavagem das escadas da Igreja do Senhor do Bonfim, na cidade de Salvador, que

conta com representantes católicos e do candomblé.

Para que exista essa quantidade tão grande de fiéis católicos no Brasil, há de

se voltar no tempo e buscar fatos que colaboraram para o desenvolvimento do

catolicismo no país e com isso, o ponto importante passa a ser a chegada dos

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portugueses ao novo mundo, consequentemente, a descoberta do Brasil, a

transformação desse novo território em colônia de Portugal e com isso, a nação

europeia insere em sua nova área descoberta a sua influência cultural-religiosa, o que

será visto adiante.

1.1 A INFLUÊNCIA DA IGREJA CATÓLICA NO BRASIL E NAS FESTAS

POPULARES

A Igreja Católica tem grande participação no processo de formação da cultura

do Brasil em diferentes campos: No artístico, com pinturas e esculturas de obras

jesuíticas; na arquitetura, com as cidades sendo construídas ao redor das Igrejas

Católicas e com o estilo Barroco, e principalmente no campo religioso, que será

discutido a seguir.

Devido ao fato das nações ibéricas terem se lançado ao mar em busca de

novos parceiros comerciais e também, para adquirirem territórios em que pudessem

fincar suas bandeiras e colonizar determinado local a sua forma, a religião católica

estava inserida nesse interesse em expansão de seus domínios, a fim de agregar mais

fiéis e aumentar suas doutrinas, evitando assim o avanço dos protestantes em outras

partes do mundo, uma maneira de realizar a Contra-Reforma fora da Europa. Para

tanto, por meio da Santa Sé, os Papas oferecem aos monarcas portugueses

documentos oficiais católicos, mais conhecidos como Bula. Nesses documentos,

Portugal tinha autonomia para indicar candidatos ao episcopado, cabendo à Igreja a

aceitação das indicações lusitanas. No entanto, Portugal deveria implantar o

catolicismo em todos os seus territórios conquistados e, além da responsabilidade de

construir e manter paróquias, caberia à Coroa arcar com custos de missionários,

remuneração do clero e recolhimento de dízimo por parte dos fiéis da Igreja Católica

(VIEIRA, 2016).

A priori, considera-se o ano de 1500 como o ano de descoberta do Brasil. No

entanto, existem distintos comentários a respeito de quem foi de fato a primeira nação

europeia a pisar em solo brasileiro. Ocorre que mesmo que tenha chegado ao território

do novo mundo, nenhuma dessas nações fez o registro dessas parcelas de terra,

muito menos colocou de forma intensa suas características, sejam elas sociais e

culturais nessa nova terra, apenas os portugueses, de fato, é que realizaram

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determinada tarefa.Com isso, Pedro Álvares Cabral, com sua expedição, foi o grande

responsável pelo início da versão conhecida da história do Brasil, tendo a nova terra

sido relatada nos escritos de Pero Vaz de Caminha, em que descrevia a nova terra, a

data de chegada e suas observações a respeito do local (VIEIRA, 2016).

Na data de 9 de março de 1500, ano jubilar da Igreja, uma frota bem estruturada

para os padrões da época, com 13 naus e 1200 homens, dos quais 17 missionários,

sendo oito franciscanos e nove padres seculares, deixava Portugal, tendo um dia

antes uma celebração religiosa na Igreja de Nossa Senhora do Restelo, em Lisboa,

conduzida por Dom Diogo Ortiz de Vilhegas, bispo de Ceuta, e presença do Rei Dom

Manuel I, “O Venturoso”, que tinha como um dos objetivos da expedição, a dilatação

da fé em Cristo. Em 22 de abril de 1500, a cruz portuguesa chega à nova terra, mais

precisamente no Monte Pascoal, 44 dias após ter deixado Lisboa, dando-se assim o

“achamento do Brasil” (MATOS,2011). Em 26 de abril do mesmo ano, Frei Henrique

de Coimbra, um dos franciscanos que junto com Cabral em sua expedição, auxiliado

por padres e frades seculares, realizou a primeira missa no Brasil, na praia da Coroa

Vermelha, em Santa Cruz Cabrália, litoral sul da Bahia e no dia 1°de maio de 1500,

uma Grande Cruz, de aproximadamente 7 metros de altura foi fincada no território

descoberto pelos portugueses, declarando a posse oficial da terra em nome da Coroa

Portuguesa.Com isso, Frei Henrique realiza a segunda missa no Brasil, desta vez com

o ritual católico sendo observado pelos anfitriões da terra, os índios, que ao mesmo

tempo curiosos e fascinados, observavam a missa transcorrer (MATOS, 2011).

Dentre os primeiros tempos de ocupação do território no continente americano,

Cabral denomina a nova localidade como “Ilha de Santa Cruz” e no ano de 1501,muda

o nome do local para “Terra de Santa Cruz”, terra em que “[...]gentes [vivem] nuas

como na primeira inocência, mansas e pacíficas”(MATOS, 2011, p.27).A partir do ano

de 1503, Pedro Álvares Cabral muda novamente o nome do local para “Terra do

Brasil”, também sendo chamada de “Brasil”, nome este dado em homenagem à

primeira descoberta e possível fonte de riqueza para a Coroa Portuguesa, o pau-

brasil, madeira usada para tingir tecidos de vermelho.

A descoberta dessa nova terra fez com que o rei de Portugal atribuísse o fato

a um milagre de Deus, visto que era de grande relevância para se chegar às Índias.

Sendo assim, Dom João III acabou por decretar o descobrimento oficial do Brasil, a

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fim de que nenhuma outra nação viesse a reivindicar depois o direito à terra. Como

forma de se estabelecer no local, acabou incentivando o povoamento da terra, além

de expulsar intrusos que não fossem de nacionalidade portuguesa. Estabelecido

oficialmente o descobrimento do Brasil, tem-se um outro momento no processo de

ocupação da terra, com o início da influência da Igreja Católica.

Para que houvesse maior facilidade de penetração na nova terra descoberta,

fez-se uso das missões religiosas, por meio da Companhia de Jesus, ordem religiosa

criada em 1534 por Santo Inácio de Loyola, em que seus discípulos, os inacianos,

formam uma companhia que tem como ferramenta de trabalho os exercícios

espirituais realizados para Cristo, contrapondo-se ao mal (MATOS,2011). Com o

objetivo de introduzir a religião católica nas colônias portuguesas ultramarinas, a

Companhia chega ao Brasil no ano de 1549, época em que Tomé de Sousa, primeiro

governador-geral, exerce seu poder na colônia e o padre Manuel da Nóbrega como o

superior dos missionários inacianos neste período. Todo custo dos religiosos era

financiado pela Coroa Portuguesa, como forma de acordo no Padroado com a Igreja

Católica. À primeira vista, o objetivo era catequizar os índios, mas escondia-se dentro

dessa ideologia a questão político-econômica, com interesses expansionistas e

vantagens comerciais para a Metrópole. (MATOS,2011).

Dentre algumas formas de aproximação dos jesuítas para com os índios,

faziam-se presente os aldeamentos, uma espécie de acampamento em que os

jesuítas ficavam e com isso, estreitavam os laços com os nativos. Aliado a esse fato,

os religiosos utilizavam a própria cultura indígena a seu favor, como língua e música

dos índios e com isso, passavam a introduzir os ideais da Igreja Católica e, aos

poucos, acabando com a cultura dos anfitriões. A fim de intensificar um pouco mais

esse domínio, começou-se a fazer uso da intimidação aos indígenas, além de um

etnocentrismo como paradigma (MATOS,2011).

Outra forma de cativar dos jesuítas, na tentativa de dominar os índios, foram os

ensinamentos musicais e, para isso, fizeram uso da chegada, no ano de 1550, dos

meninos órfãos, advindos do Colégio dos Órfãos de Lisboa, que se adaptaram

rapidamente ao modo de vida indígena, fazendo até mesmo uso de instrumentos

musicais dos índios e usando as mesmas roupas destes. Com a chegada desses

meninos, inicia-se aos poucos uma forma de comemoração profano religiosa, já que

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aumentou o convívio com os índios, principalmente os mais jovens e estes aceitaram

com mais facilidade os folguedos lusitanos. Essas comemorações não tinham caráter

liberador, eram apenas forma de diversão popular (TINHORÃO,2000).

Mas não eram apenas os índios que tiveram a oportunidade de participar

desses folguedos populares. Existiam também aqueles portugueses dotados de

menor condição financeira e os negros escravos, que em seus raros momentos

ociosos, preenchiam com festas e cantos de sua cultura.

Inúmeras foram as festas medievais ocorridas no período colonial, mais

precisamente entre os séculos XVI e XVII, tendo como destaque o Torneio das

Cavalhadas, em que monarcas, príncipes e fidalgos homenageavam o período da

Reconquista. Vinda de Portugal, essa festa tornou-se com o tempo uma atração do

povo. Outro bom exemplo de festa foi a do Boi Voador, período de ocupação

holandesa no nordeste brasileiro em que, a fim de recuperar o dinheiro investido na

construção de uma ponte sobre o rio Capibaribe, na cidade de Recife, o conde

Maurício de Nassau, antes de se retirar do Brasil, prometeu como atratividade um boi

que voaria. Para realizar tal façanha, mandou preencher de palha o couro de um boi,

semelhante a um boi que era conhecido na cidade de Recife por sua mansidão. A fim

de convencer a população de que era aquele o boi que voaria, ordenou que trouxesse

o tal boi manso e mostrou para o povo. A seguir, retirou de cena este boi e, por meio

de uma corda que ligava o alto de seu jardim até a outra parte da rua, fez com que o

falso boi “voasse” de um ponto a outro (TINHORÃO,2000).

Com relação às festas populares, a maioria das pessoas era apenas

espectadora, com privilégios para as classes mais abastadas. Somente nas

celebrações religiosas era que a população mais pobre tinha a oportunidade de

participar, principalmente nas procissões. Por meio da herança medieval do

cristianismo, com dramatizações e atos sacros de propagação, os mais humildes eram

mais ativos (TINHORÃO,2000). Com a criação da festa de Corpus Christi, também

conhecida como Corpo de Deus, as procissões serviam como resposta ao poder

espiritual da Igreja contra as heresias. Aos poucos, ganhou caráter teatral, o que

ajudava na participação das camadas mais populares, até chegar ao período Barroco,

no século XVIII.

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Nessa nova etapa do período colonial, as festas ganharam um destaque ainda

maior com a encenação sobre rodas e das alegorias, com acabamentos mais

detalhados e melhores esteticamente. Tinham o intuito de representar melhor as

encenações religiosas, assim como mostrar o poder da Igreja Católica. Esse tipo de

representação religiosa fazia com que as pessoas de camada mais humilde se

divertissem bastante.

Com o fim do período colonial, apenas as festas tradicionais da Igreja Católica

conseguiram se manter interessantes para o apelo da população, que se entregava

aos festivos profanos e religiosos, numa espetacularização da religião. Como forma

de atrair mais pessoas e, consequentemente novos fiéis para a Igreja Católica, os

padres também eram vistos nos momentos de lazer das festas.

Assim, surge a chamada religiosidade popular, em que o povo mais humilde

passa a ter um forte apelo à fé cristã, encarnação da religião em seu cotidiano, uma

mistura de cristianismo medieval advindo da Europa misturado com tradições

religiosas dos povos nativos da colônia, no caso, os indígenas. Adiciona-se à essa

mistura de religiosidade popular a influência africana na religião e tem-se um

catolicismo multifacetado, pluralista e rico em história.

Há uma nítida ligação entre fé e vida, manifestada, por exemplo, em orações para afastar inimigos, curar doenças ou em atos penitenciais para pedir chuva em época de seca prolongada. Semelhante experiência é testemunhada e comunicada aos outros mediante sinais externos e, muitas vezes, públicos. Mas não se trata apenas de exterioridades, vazias de conteúdo espiritual e hipertrofiadas por emoções ou direcionadas essencialmente ao prático e ao imediato. Pelo contrário, na autêntica religiosidade popular—não obstante parecerem suas formas, às vezes, um tanto bizarras—esconde-se uma impressionante profundidade religiosa (MATOS, 2011, p.198).

A respeito das imagens dos santos, esse tipo de culto tem um ponto importante,

pois faz com que as pessoas tenham alguma referência para problemas específicos

e cria uma relação de divindade maior entre imagem e fiel. Dentre essas imagens, a

de maior propagação no período colonial foi a do Bom Jesus, filho de Deus que morre

na cruz para salvar dos pecados da humanidade. Além da imagem de um homem

pregado na cruz e sua simbologia, serve para as pessoas se conformarem com seus

problemas e suportar seus sofrimentos diários. Após o culto do Bom Jesus, já em fins

do período colonial, tem-se a imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida,

considerada hoje a padroeira do Brasil.

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Tendo essa influência da Igreja Católica na colônia de forma mais intensa,

aparecem também manifestações religiosas de homenagem a imagens de santos

católicos. Vale destacar que na questão das festas religiosas, esses eventos de certa

forma já começaram desde que a primeira missa foi realizada em Santa Cruz Cabrália

e com o passar do tempo, agregando mais características sacras, com as adorações

das imagens.

Dentre algumas festas que se originaram do catolicismo e apresentam

relevância no segmento religioso brasileiro, têm-se a Festa de Nossa Senhora

Aparecida, comemorada no dia 12 de outubro, a Festa de Nossa Senhora dos

Navegantes, na região sul do país e festejada no dia 2 de fevereiro, as Festas Juninas,

em especial a de São João, em 24 de junho e a Festa do Círio de Nazaré que, assim

como a Festa do Divino Espírito Santo de Paraty, é considerada pelo IPHAN como

Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil e será descrita com mais detalhes a seguir.

1.2.1 O Círio de Nazaré

Considerado um acontecimento religioso de grandes proporções, é realizado

na cidade de Belém do Pará no mês de outubro, sendo de grande relevância cultural

para a população, em especial os católicos, além de envolver fortemente a fé e

tradição local. Toda a cidade acaba envolvida com o Círio de Nazaré, que influencia

em questões sociais, econômicas e religiosas. Na parte social, com a chegada de

pessoas para o evento; na parte econômica, ao atuar no turismo local e comércio

ligados ao turismo, como restaurantes e meios de hospedagem; no religioso, com o

evento em si, marcado pela intensa manifestação de fé.

Nome originário do latim Cereus, que significa vela de cera, por conta das

romarias em Portugal que levavam os devotos até o santuário de Nossa Senhora de

Nazaré com velas de cera acesas ao longo da caminhada, a história do Círio de

Nazaré inicia-se no país luso, quando pastores encontram a imagem de Nossa

Senhora de Nazaré numa gruta. No século XII, o fidalgo Dom Fuas Roupinho cai num

abismo, mas acaba sendo salvo e atribui tal fato a um milagre de Nossa Senhora de

Nazaré. A partir do ocorrido, o fidalgo passa a difundir sua fé em Portugal

(IPHAN,2006).

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O município de Saquarema, no estado do Rio de Janeiro, é considerado o

primeiro local no Brasil a reverenciar a imagem de Nossa Senhora de Nazaré. No

entanto, foi no estado do Pará, por meio dos jesuítas, que começou a intensa

adoração à imagem da Santa no país. Nesta cidade, encontravam-se colonos

advindos das regiões portuguesas dos Açores e Algarves, locais que tinham uma

ligação com o culto à imagem de Nossa Senhora de Nazaré e seus navegantes

(NOSSA SENHORA DE NAZARÉ, 2017).

Numa ligação entre história e mito, existe a versão de que o caboclo Plácido

encontra a imagem de Nossa Senhora às margens do Igarapé Murucutu. Ao encontrar

a imagem, Plácido a leva para casa e, ao amanhecer, percebe que a Santa não está

mais em sua residência, encontrando-a novamente às margens do Igarapé. Ao ser

resgatada, foi levada para a Capela do Palácio do Governo da Província, sendo

escoltada, mas no dia seguinte, havia desaparecido novamente. Entendendo que o

desejo da Santa era ficar na margem do Igarapé, lá foi construída uma ermida para a

imagem, iniciando assim a romaria da Santa pela população local. (CÍRIO DE

NAZARÉ-PARÁ-CULTURA, FAUNA E FLORA,2006).

Realizado há mais de dois séculos, o primeiro Círio de Nazaré aconteceu na

data de 8 de dezembro de 1793, visto que o número de fiéis aumentava cada vez

mais, o que fez com que eclesiásticos se apressassem em oficializar o evento

religioso. Somou-se a tal fato a necessidade do presidente da Província do Pará,

Francisco Coutinho, de realizar a primeira procissão do Círio de Nazaré naquele ano,

como forma de pagamento de promessa (IPHAN,2006). Atualmente, a festa ocorre no

mês de outubro, com o segundo domingo deste mês sendo definido como o dia exato

para comemoração a partir do ano de 1901.A procissão segue um roteiro que vai da

Catedral de Belém até a Praça Santuário de Nazaré, num percurso de 3,6 quilômetros,

sendo percorrido num tempo aproximado de 9 horas local em que fica exposta por um

período de quinze dias aos seus fiéis e demais pessoas interessadas em cultuar a

imagem da Santa, além de receber no dia da procissão, aproximadamente dois

milhões de pessoas (DOSSIE IPHAN-CÍRIO DE NAZARÉ,2006)

Dentre algumas atividades proporcionadas pelo evento religioso, algumas

acabam ocorrendo antes do dia exato da procissão do Círio de Nazaré, como por

exemplo na noite de sexta-feira que antecede o Círio o Traslado para a cidade de

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Ananindeua, em que a imagem da Santa fica sob vigília na cidade; a Romaria

Rodoviária, realizada no sábado que antecede o Círio, em que por esta romaria a

imagem da Santa é levada até o distrito de Icoaraci e lá são realizados eventos

religiosos para homenagear a imagem de Nossa Senhora de Nazaré; a Romaria

Fluvial, realizada no sábado à noite, logo após a saída da imagem do distrito de

Icoaraci, até chegar na escadinha do Cais do Porto, já na cidade de Belém do Pará; a

Moto Romaria, em que ao chegar a imagem da Santa na escadinha do Cais do Porto,

romeiros com motocicletas conduzem a imagem até o colégio Gentil Bittencourt e por

fim a Trasladação, em que romeiros, já na cidade de Belém do Pará realizam também

no sábado à noite uma procissão em sentido inverso até a Igreja de Nazaré, na

contramão da procissão realizada no domingo festivo e por fim, no dia exato da festa,

o segundo domingo do mês de outubro, ocorre de fato a festa religiosa do Círio de

Nazaré, em homenagem à Nossa Senhora de Nazaré. Outro ponto a ser considerado

na procissão é a corda, utilizada pelos romeiros para acompanhar a romaria. Nessa

ocasião, as pessoas aproveitam para agradecer a milagres e graças alcançadas

(DOSSIE IPHAN-CÍRIO DE NAZARÉ,2006).

No fim de semana posterior ao Círio ocorrem atividades como a ciclo romaria,

romaria da juventude, romaria dos corredores, a romaria das crianças e por fim o

Recírio, em que uma missa é realizada numa segunda-feira, quinze dias após a

procissão do Círio de Nazaré. Nessa missa, as súplicas, que são os pedidos dos fiéis,

são queimadas no Altar Monumento da Praça Santuário (DOSSIE IPHAN-CÍRIO DE

NAZARÉ,2006).

Toda essa grandiosidade na representação do Círio de Nazaré está

relacionada principalmente à enorme fé que seus fiéis depositam em Nossa Senhora

de Nazaré, o que faz com que católicos de diferentes partes do Brasil realizem uma

viagem até Belém do Pará a fim de participar dos festejos religiosos, além dos próprios

fiéis que residem na cidade. No dia exato da procissão, a corda é parte importante, já

que muitos dos fiéis desejam tocá-la, visto que tal ato representa para esses devotos

uma ligação maior entre eles e a santa (G1.GLOBO.COM, 2015).

Não sendo diferente das demais cidades que apresentam alguma característica

no turismo que seja incorporada por sua população residente, o Círio de Nazaré

também enfrenta a turistificação, em que, ao receber uma quantidade considerável de

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turistas, esses visitantes, de alguma forma, acabam por alterar a rotina dos paraenses

que frequentam o Círio e estão acostumados com um tipo de evento religioso.

De acordo com Fratucci ([s.d]), os agentes sociais são grupos de pessoas,

sociais, empresas e instituições que têm a capacidade de gerar efeito sobre fenômeno

ou atividade turística, podendo intervir ou modificar suas formas. Na comemoração do

Círio de Nazaré, esses agentes sociais atuam de maneira a cada um obter os seus

respectivos interesses. Especificamente no Círio de Nazaré, esses agentes seriam o

poder público, a Igreja Católica, a comunidade local e os agentes de mercado

(SERRA,2014).No caso do poder público, este procura atender as exigências dos

outros agentes sociais, em especial da Igreja a fim de obter vantagens em campanhas

eleitorais; a Igreja Católica, com o intuito de ampliar a divulgação da Festa do Círio de

Nazaré, o que acaba por transformar numa espetacularização do evento, além do fato

de tornar a festa como atrativo durante todo o ano; a comunidade local, que participa

da turistificação no processo de convidar e receber os turistas , oferecendo o seu local

para quem vem da área emissiva usar e por fim, os agentes de mercado, que investem

no Círio de Nazaré com o intuito de passar uma boa imagem para os moradores,

poder público e representantes da Igreja (SERRA,2014).

No próximo capítulo, será abordada a cidade de Paraty, seus principais

eventos, como a FLIP e o Festival da Cachaça, assim como o processo de

turistificação e suas tensões envolvendo os atores do processo.

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2 PARATY, SEUS PATRIMÔNIOS CULTURAIS E SEUS EVENTOS

Localizada na região da Costa Verde do estado do Rio de Janeiro, a

aproximadamente 250 quilômetros de distância da capital fluminense, Paraty é uma

cidade que dá a quem a visita um leque de opções turísticas, seja na parte natural,

cultural e principalmente no seu diversificado calendário de eventos, que aliás é uma

forma de manter o turismo e diminuir a ociosidade de uma baixa temporada para um

destino turístico. Além disso, Paraty é rica em história, haja vista o centro da cidade,

que oferta aos visitantes seus casarões em estilo barroco, suas igrejas e ruas de

pedra, o que inevitavelmente desperta a curiosidade dos turistas a respeito do

passado da cidade. Vale destacar também o fato de Paraty ser considerada uma

cidade Patrimônio Histórico Nacional (PARATY, TURISMO E ECOLOGIA, 2016). Um

outro ponto interessante a ser abordado sobre Paraty, é que a cidade é uma das que

a mais recebem turistas internacionais (MORAES; TRENTIN,2011).

Segundo o IBGE, Paraty apresentou no ano de 2010 um quantitativo de 37.533

residentes, com uma estimativa para o ano de 2016 de 40.975 pessoas. e o município,

com uma área de 925,392 Km², conta com três distritos: Paraty, Paraty-Mirim e

Tarituba.

Figura 1- Mapa Satélite de Paraty

Fonte: Google imagens

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Com distintas informações e algumas lendas, acredita-se que o território em

que se encontra atualmente Paraty tenha sido descoberto pelos lusitanos, no ano de

1531, mais precisamente no dia 16 de agosto, dia de São Roque. Quanto ao nome da

cidade, alguns atribuíram o nome ao peixe Pirati ou que a tradução do nome Paraty é

golfo, de acordo com a língua indígena Tupi (NADRUZ,2008). Na parte escrita do

nome, este já sofreu algumas modificações em sua grafia, sendo escrito como

“Paratii”, “Parathy”, “Parati” e por fim, “Paraty” (NASCIMENTO,2015).

Divergências ocorrem entre historiadores com relação à fundação da cidade.

Conforme Gurgel e Edelweiss (1973, apud MAIA; MAIA,2015, p.20) enquanto uns

acreditam ser o ano de 1600, quando paulistas de São Vicente povoavam a cidade,

outros historiadores acreditam ser o ano de 1606 o ano de fundação de Paraty,

momento este em que os primeiros sesmeiros chegaram ao local, beneficiados com

doações feitas pelo Conde da Ilha do Príncipe, donatário da Capitania de São Vicente.

Existe também a versão de que Paraty foi fundada no ano de 1667, ao redor da Igreja

de Nossa Senhora dos Remédios, padroeira da cidade. Economicamente, teve grande

importância, já que do seu porto se escoava o ouro e pedras preciosas de Minas

Gerais para Portugal e além disso, os engenhos de cana-de-açúcar, que chegaram a

ser mais de 250 e trouxeram a fama de boa produtora de cachaça para a cidade,

também contribuíram para a economia local. (PARATY, CULTURA E TURISMO

,2016).

Com uma rota comercial importante, em que se utilizava as trilhas feitas pelos

índios Guaianás, o ouro trazido de Minas Gerais era enviado por esse caminho até

chegar ao porto de Paraty e posteriormente ser enviado à Portugal. No entanto,

ladrões agiam durante o caminho acidentado, empurrando os animais ribanceira

abaixo e, a seguir, descendo para pegar tudo o que encontrassem de valioso

(NADRUZ,2008). Devido a esses problemas, foi criado em 1726 o “Caminho Novo da

Freguesia da Piedade para o Rio de Janeiro”, uma maneira de ligar a Capitania de

São Paulo ao Rio de Janeiro e evitar assim a ação dos corsários que atuavam no

litoral paratiense. Nessa mesma época, engenhos começaram a surgir, o que fez com

que Paraty começasse a ter produção de cachaça, bebida que é uma das referências

da cidade pela sua produção de qualidade (MAIA,2015).

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Outros pontos relevantes a serem considerados são o fato de Paraty também

ter se destacado por ter sido escoadora da produção do café vindo do Vale do Paraíba,

assim como de mercadorias como vinho, seda, cristais, dentre outros produtos que

agradavam aos Barões do Café (NADRUZ,2008).

Vale destacar também a influência da maçonaria no processo de urbanização

e arquitetura de Paraty, em que se nota cunhais de pedras nas esquinas do centro

histórico, em que três das quatro casas recebem esses cunhais, formando assim um

triângulo imaginário, símbolo da maçonaria. Outros pontos que lembram a maçonaria

podem ser observados, como a cor azul hortênsia, típica da maçonaria, faixas

decoradas em formas geométricas e o espaço entre janelas das fachadas das casas,

dentre outras características que lembram a maçonaria (NADRUZ,2008).

Pouco depois da segunda metade do século XIX, por volta de 1870, foi

construída a estrada de ferro que ligava São Paulo ao Rio de Janeiro, o que fez com

que a cidade ficasse praticamente isolada e sua economia perdesse força, além do

fato de em 1888 ter ocorrido a abolição dos escravos, o que agravou ainda mais a

situação econômica de Paraty. Apenas no século XX, mais precisamente na década

de 70, com a construção da rodovia Rio-Santos, foi que Paraty voltou a ter ligação

intensa com Rio de Janeiro e São Paulo, e o turismo sendo o grande responsável pela

geração de receitas para a cidade (NADRUZ,2008).

A seguir, será abordada Paraty e a sua relação com o patrimônio cultural.

2.1 PARATY COMO PATRIMÔNIO CULTURAL

Uma das formas de orgulho para um determinado destino turístico é quando se

tem alguma boa referência e, uma destas referências é a identificação de um

patrimônio cultural, que pode ser tanto material quanto imaterial. No caso do

patrimônio cultural material, tal classificação faz referência a bens tombados móveis

ou imóveis, como por exemplo as cidades históricas, os sítios arqueológicos e

paisagísticos, acervos documentais, bibliográficos, museológicos, dentre outros bens

(IPHAN, 2017). Já os bens patrimoniais imateriais , referem-se às práticas e domínios

de determinada população, como seus conhecimentos, sua forma de fazer tal ofício,

celebrações, como por exemplo festas populares, dentre outras maneiras intangíveis

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de se analisar o comportamento de uma localidade (IPHAN,2017).No caso de Paraty,

percebe-se tanto as características dos bens culturais materiais e o seu centro

histórico com belos exemplos a ser citados, como também a presença dos bens

culturais imateriais, caso da Festa do Divino Espírito Santo, o que faz com que os

habitantes desse destino turístico tenham carinho e prazer ao falar sobre determinada

característica de sua cidade em termos patrimoniais e, no caso dos turistas, estes

buscam os principais atrativos da localidade visitada.

Com a criação em 1937 do Serviço de Patrimônio Histórico Artístico e Nacional

(SPHAN), hoje Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (IPHAN), era mais

valorizado o patrimônio conhecido como “pedra e cal”, que era tudo o que se referia

ao conjunto arquitetônico do período colonial português, referenciado mais pelas

cidades históricas, com estilo Barroco e influência de uma elite branca e católica

(SILVA,2015). Atualmente, o termo patrimônio tem um sentido bem mais amplo,

incluindo também o meio ambiente Contabiliza-se também o meio ambiente, a

diversidade e elementos característicos das pessoas que compõem uma determinada

localidade, como danças, festas, gastronomia, dentre outros elementos de natureza

imaterial.

Dentre um dos principais marcos da influência e ocupação portuguesa no

Brasil, principalmente no período do caminho do ouro e do café, Paraty é hoje uma

cidade que apresenta a quem a visita uma vasta opção de atrativos, sejam eles

naturais e culturais, com rico patrimônio nas áreas citadas. No ano de 1958, seu

conjunto arquitetônico e paisagístico foi tombado pelo IPHAN. Já no ano de 1966,

Paraty recebeu o título de Monumento Nacional e em 1974, houve um novo

tombamento, que desta vez incluía o entorno do conjunto arquitetônico e paisagístico

do município3 (IPHAN, 2017).

Em Paraty, muitas são as opções de turismo, como por exemplo, o turismo

cultural, ecoturismo, turismo de eventos e o turismo religioso. Destaca-se

principalmente a parte cultural, vista com maior frequência nos cartões postais da

cidade. Além disso, a fauna e flora local recebem uma política de preservação em

termos paisagísticos, além de estratégias de preservação de povoado caiçara e

escravos, no caso quilombo, assim como características culturais desses grupos

3 Nota informativa retirada do site do IPHAN. Disponível em:<http://zip.net/bxtFnm>.Acesso em 07.fev.2017.

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citados (SILVA,2015). Como principal observação turística, a cidade apresenta o seu

centro histórico como um desses patrimônios. Considerado pela Organização das

Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) como o conjunto

arquitetônico colonial mais harmonioso, o centro histórico de Paraty também é

tombado pelo IPHAN como Patrimônio Nacional e a cidade de Paraty candidata a

Patrimônio da Humanidade. Vale destacar algumas características dessa parte

patrimonial de Paraty, como as ruas com calçamento pé de moleque, em que a água

invade essas ruas em período de maré cheia, visto que ao ser construída a parte

central, a cidade não dispunha de saneamento básico e todos os dejetos eram jogados

na rua e levados pela maré, as ruas protegidas por correntes que impedem a

passagem de carros, o comércio e expressões culturais e artísticas que embelezam e

encantam quem passa pelo centro histórico (PARATY.COM.BR,2016) .

Dentre os espaços da religião católica em Paraty, vale destacar as quatro

principais Igrejas da cidade: A Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, a Igreja de

Nossa Senhora do Rosário, a Igreja de Nossa Senhora das Dores e a Igreja de Santa

Rita, esta última sendo a mais antiga construção religiosa da cidade e que atualmente

abriga o Museu de Arte Sacra de Paraty.

A seguir, será abordada a questão dos eventos na cidade e a parte da

turistificação, em que serão utilizados como exemplo a FLIP e o Festival da Cachaça,

visto que são acontecimentos de grande relevância para a cidade e o turismo local.

2.2 EVENTOS

Uma das formas de se gerar receitas no turismo e também de causar uma boa

impressão para quem visita uma localidade pela primeira vez é por meio de eventos.

Não à toa várias cidades competem ferozmente para sediar encontros que causam

uma visibilidade considerável para seu destino, haja vista que não é só o evento em

si, mas a oportunidade de fazer com que esse turista que possivelmente não conhecia

o local, volte outras vezes. Em Paraty, além de sua riqueza histórico-cultural e belos

atrativos naturais, mais um segmento ganha destaque: o de eventos.

Ao perceber que eventos poderiam dar vida e rotatividade no turismo, o poder

público de Paraty, por meio da Secretaria de Turismo e da Casa de Cultura, começou

a trabalhar de maneira mais intensa nesse tipo de segmento. Somados os eventos

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tradicionais da cidade, como as festas religiosas locais e os eventos que surgiram a

partir do momento em que se pensou numa política mais consistente nesse segmento,

tem-se pelo menos uma atração por mês em Paraty.

Aproximadamente 42 finais de semana do ano são dedicados a eventos em

Paraty e dos eventos que a Secretaria de Cultura organiza, que seriam os eventos

menores e voltados para a área cultural, 80% dos recursos repassados à Secretaria

de Cultura pela Prefeitura são destinados para esse fim. Além disso, pesquisas são

feitas pela Secretaria de Turismo em cada evento, a fim de colher opiniões dos

participantes e com isso, melhorar os próximos eventos (SILVA,2015).

Mais precisamente no ano de 2014, o governo local assinou um acordo com o

Convention & Visitors Bureau, na tentativa de promoção do destino turístico Paraty. O

Convention & Visitors Bureau tem como objetivo a atração de turistas de eventos,

negócios, lazer e entretenimento para uma determinada localidade e tem

representação em várias cidades brasileiras que desejam alavancar seu turismo.

Dentre algumas contribuições que esse órgão privado ofereceu a Paraty vale destacar

a participação em feiras nacionais e internacionais, cuja divulgação do destino turístico

Paraty se faz importante e a captação de eventos para a cidade. Dentre alguns desses

eventos, tem-se o Bourbon Festival Paraty, mais conhecido como o Festival de Jazz

de Paraty e o Paraty Latino, com seu festival de música latina (SILVA,2015).

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Figura 2-Calendário de eventos de Paraty ano 2017

Janeiro

06-Folia de Reis

01 a 24-Viva Verão

Paraty

Fevereiro

24 a 28-Carnaval

28-Aniversário de

Paraty

Março

10 a 19-FestJuá

26-Mini Maratona

Abril

13 a 16-Encontro de

Ceramistas

14-Paixão de Cristo

16-Circuito de Ciclismo

21-Tiradentes

Maio

1-Dia do Trabalho

26/5 a 4/6-Festa do

Divino

Junho

9 a 11-Bourbon

Festival

15-Corpus Christi

Julho

07 a 16-Festa de Santa

Rita

26 A 30-FLIP

Agosto

17 a 20-Festival da

Cachaça, Cultura e

Sabores de Paraty

Setembro

7-Independência

13 a 17-Festival de

Aves de Paraty

13 a 17-Paraty em

Foco

Outubro

06 a 08-MIMO

12-Nossa Senhora

Aparecida

18 a 22-Paraty Eco

Festival

Novembro

02-Finados

15-República

Dezembro

01 a 03-X Terra Paraty

09 a 10-Action Paraty

25-Natal

31-Reveillon

Fonte: Prefeitura de Paraty,2017

No que se refere aos eventos realizados em Paraty, atenção deve ser dada

para a questão de uma possível turistificação desses acontecimentos, em que a

população local acaba por receber as consequências, como se fosse um estranho em

próprio terreno. Conforme afirma Knafou [s.d], as três fontes de turistificação dos

lugares e dos espaços seriam: Os turistas, que se apresentam na origem do turismo,

já que esse próprio turista pode investir na descoberta de um novo local; o mercado,

que seria a segunda fonte de criação de lugares turísticos, pois traz a concepção e

colocação dos produtos turísticos, devendo tomar o cuidado de não analisar tarde

demais a evolução das práticas turísticas de um determinado destino turístico em que

teve influência; a terceira e última fonte de turistificação de lugares e espaços seria a

dos planejadores e promotores territoriais, que são ligados ao lugar turístico. Um

perigo que pode ocorrer é o fato de esses planejadores ignorarem as características,

demandas e conflitos que envolvem todos os agentes inseridos no processo.

Vale adicionar entre os fatores que ampliaram o fluxo de turistas à cidade,

inerentes ao processo de turistificação da mesma, a expansão da BR 101, na década

de 1970 (o que fez com que o acesso ao município ficasse mais fácil); o próprio

tombamento do centro histórico, que valorizou demais os imóveis, consequentemente

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encarecendo o custo de vida de quem mora pelas redondezas; e recentemente a

conclusão da obra na estrada Paraty-Cunha, o que acarreta em mais uma rota de

turistas.

O turismo de massa também acaba ajudando no processo de turistificação de

um lugar. Quando se tem uma grande demanda de turistas por um destino turístico e

esse não comporta uma quantidade elevada de visitantes, acaba a população local

sofrendo as consequências, como a degradação do lugar, problemas de estrutura

como falta de luz e água, preços abusivos no comércio que infelizmente os moradores

também acabam pagando e na verdade, apenas o trade turístico acaba se

beneficiando com o lucro e uma pequena parte do montante arrecadado indo de fato

para a comunidade local. Pouco se pensa em quem vive na cidade, sendo estes

moradores, para muitos empresários, apenas para preencher as vagas de trabalho

em período de alta temporada, com baixos salários e comissões. Nesse caso, ocorre

o efeito contrário. Em vez de o turismo ser uma oportunidade de desenvolvimento

local, acaba se tornando um problema. Na verdade, o que se espera do turismo é

exatamente o contrário, que este seja uma oportunidade de desenvolvimento

econômico e social para uma determinada comunidade e valorização da cultura local

(MENDONÇA,2008).

A violência é um outro problema social que assola Paraty, visto que o município

possui um altíssimo índice de homicídios no estado do Rio de Janeiro. A taxa de

mortes por armas de fogo é de 60,9 pessoas para um grupo de 100 mil habitantes,

enquanto que na cidade do Rio de Janeiro, esse número é de 13,1 pessoas para um

grupo de 100 mil habitantes (G1.GLOBO.COM,2016). O turismo, principalmente os

eventos, da mesma forma que auxilia bastante na divulgação da cidade, também cria

problemas, como este percebido em Paraty, pois ao verificar um potencial em vendas

de drogas e grande fluxo de turistas, traficantes se instalam nas periferias da cidade

e começam a dividir o território com a população caiçara.

Outro fato que incomoda os moradores locais, mais precisamente os do vilarejo

de Trindade é a especulação imobiliária. Um grupo de empresas, conhecido como

Trindade Desenvolvimento Territorial (TDT), praticamente toma conta do vilarejo, com

seus seguranças, a mando de pessoas interessadas na especulação imobiliária local,

possivelmente empresários que decidem se apropriar de um território que não é seu,

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acabam expulsando a população caiçara e com isso toma-se posse do terreno para a

construção de casas e condomínios de luxo. No ano de 2015, um jovem trindadeiro

foi morto por um desses seguranças do TDT, por conta de ter desacatado a “ordem”

de deixar a sua residência que, segundo esses seguranças, foi construída numa área

pertencente ao TDT (RACISMO AMBIENTAL,2016). Com isso, tanto os trindadeiros,

quanto os moradores mais próximos ao centro histórico de Paraty, também

aproveitam a oportunidade de eventos de grande divulgação da cidade para

protestarem contra abusos que ocorrem com a população local, uma forma de alerta

para todas as pessoas. Além do caso do vilarejo de Trindade, vale acrescentar

também o que ocorre no condomínio de luxo Laranjeiras, que dá acesso à praia do

Sono e praia de Laranjeiras. Nesse local, há uma comunidade que sofre restrições de

acesso à praia, em função dos horários delimitados para tal ação pelo condomínio,

ficando o acesso à praia, bastante controlado e a própria população caiçara refém em

seu próprio território. (PRESERVAR E RESISTIR,2016). Ao longo do período em que

a pesquisa foi realizada, houve a oportunidade de conhecer a praia de Laranjeiras e,

para se chegar até lá, é necessário passar por um posto de identificação do

condomínio, em que o visitante precisa deixar dados como número de sua identidade.

Ao ser autorizado o acesso à praia, percorreu-se uma trilha de aproximadamente 1

quilômetro. Ao chegar a praia, notou-se que praticamente a praia é uma extensão do

condomínio, em que não existe nenhum tipo de barreira separando o jardim das casas

até a faixa de areia da praia, apenas seguranças que fazem a ronda do condomínio

circulam pelo local.

Uma tentativa de evitar a turistificação e o turismo de massa, é o turismo de

base comunitária, no qual os protagonistas são os sujeitos e não objetos da ação, com

favorecimento da coletividade e vida em sociedade

(BARTHOLO,SANSOLO,BURSZTYN, 2009), realizado em determinadas localidades

de Paraty, dentre os quais, pode ser citada: Aldeia Paraty – Mirim, localizada logo na

estrada que dá acesso ao distrito de Paraty-Mirim, que conta com loja de artesanato

e as visitas têm que ser agendadas (VISITE PARATY,2017). Outro exemplo de

turismo de base comunitária é o do Quilombo do Campinho da Independência,

localizado às margens da BR 101, no trecho entre as cidades de Paraty e Ubatuba,

que é uma comunidade de descendentes de escravos e fez parte do roteiro de

visitações na viagem técnica do curso de Turismo da UFF à Paraty.

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2.3 FLIP

A Festa Literária Internacional de Paraty, conhecida internacionalmente como

FLIP, ocorreu pela primeira vez em Paraty no ano de 2003 e atualmente é considerado

o principal evento literário da América Latina (BLOG DE PARATY,2014). Até então,

era um projeto corajoso realizado pela escritora inglesa Liz Calder que, ao visitar

Paraty pela primeira vez se encantou com o local e, posteriormente, resolveu

contribuir com seu conhecimento na idealização da festa literária. Inicialmente, não

despertou tanto o interesse, tanto da iniciativa privada, principalmente da pública,

assim como dos moradores, céticos quanto ao plano da escritora inglesa. O que não

se imaginava era de que o evento, que em sua primeira edição ocorreu de forma

discreta, mesmo com a participação de escritores conhecidos, tornar-se-ia o principal

evento do calendário turístico da cidade num curto espaço de tempo. Em menos de

uma década, a FLIP conseguiu trazer num período de apenas quatro dias, uma grande

concentração de turistas para a cidade, como no ano de 2014, em que 26 mil pessoas

passaram pelas tendas da FLIP, segundo dados da Associação Brasileira de Empresa

de Eventos (ABEOC) 4 (ABEOC,2014) . A FLIP também ofertou uma grande

contribuição para que o Ministério do Turismo indicasse Paraty como um destino de

referência cultural no Brasil (NASCIMENTO,2015).

Vários escritores de diferentes partes do mundo prestigiam o evento, com

várias mesas de debate sobre temas distintos, cujos ingressos, assim que

disponibilizadas as vendas, esgotam-se rapidamente. A cada ano, um escritor

nacional é homenageado na FLIP, o que prestigia e resgata a literatura brasileira.

Atualmente, a FLIP representa uma grande fonte de receita para o trade

turístico de Paraty e as reservas nas pousadas da cidade começam com meses de

antecedência, bares e restaurantes cheios e durante os quatro dias de festa, o

comércio informal também obtém seu lucro, haja vista o grande número de pessoas

que circulam por Paraty na época do evento.

Além da FLIP, há também a FLIPINHA, voltada para o público infantil e que,

com o auxílio da biblioteca Azul, da Casa Azul, que ajuda na organização da FLIP e

4 Nota informativa retirada do site da ABEOC. Disponível em:<http://zip.net/bvtCNB> Acesso em:16.jan.2017

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também contribui com oficinas literárias para as crianças. Músicas, teatro, artes

visuais e contação de estórias são algumas das atividades desenvolvidas na

FLIPINHA. Tem também a ciranda dos autores, que visitam as escolas de Paraty e

realizam trabalhos voltados na área de literatura, a fim de despertar o hábito de leitura

em crianças e adolescentes (FLIPINHA,2017). Existe, inclusive, uma cota de

ingressos para professores da rede pública de ensino.

Mesmo com todas as contribuições da FLIP para a cidade de Paraty, nem tudo

é benefício para os moradores da comunidade local. Segundo algumas pessoas

entrevistadas na pesquisa de campo, apesar da divulgação e de movimentar a

economia da localidade, a FLIP, por tomar grandes proporções, acabou por se tornar

um evento mais para os turistas do que para os moradores locais, que vêem sua

cidade ser invadida por turistas e, durante o período da festa acabam por ter que pagar

o mesmo preço que turistas pagam no comércio

Durante a FLIP, a cidade tem um grande reforço de policiamento, mas ao que

parece, é por conta dos turistas e não dos moradores, já que esse patrulhamento

ocorre principalmente na região do centro histórico e do Pontal, locais em que os

turistas circulam e não na periferia. Eventos como a FLIP acabam sendo uma

oportunidade para que os moradores de Paraty mostrem aos turistas a realidade, o

lado que não é divulgado a quem visualiza apenas as belezas da cidade. Na FLIP de

2015, o protesto se deu mais a respeito da questão da falta de policiamento e da alta

taxa de violência (JORNAL O GLOBO,2015). Quem fica é que sofre com os problemas

locais. O visitante está de passagem, apenas por alguns dias

Muito se fala a respeito do turista que invade a cidade e tira a liberdade dos

moradores. No entanto, o turista também é vítima, já que acaba sendo extorquido pelo

trade turístico local, com altas diárias nas pousadas, restaurantes e comércio local,

que inflacionam os preços de suas mercadorias na tentativa de obter um lucro maior

num curto período de tempo. Como exemplo tem-se a FLIP de 2016, em que

dependendo do meio de hospedagem, um pacote numa suíte superior chegava a

custar R$ 8.600,00 pelos cinco dias de evento (JORNAL O GLOBO, 2016).

Para o ano de 2017, ficou decidido meses antes que, para cortar gastos com o

evento, os debates com os escritores da FLIP serão realizados dentro da Igreja da

Matriz, que terá que se adaptar para o recebimento da FLIP, como a retirada do

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sacrário e do altar, para a instalação do palco de debates. Tal medida tem como

objetivo a redução de custos para o evento e a tentativa de juntar com outras

atividades culturais que ocorrem na Igreja (JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO,

2017).

2.4 FESTIVAL DA CACHAÇA

Com sua primeira edição no ano de 1982, levava inicialmente o nome de

Festival da Pinga, mas teve o nome modificado por meio de uma reunião de

alambiqueiros associados da ACIP (Associação Comercial e Industrial de Paraty),

com o intuito de fortalecer a imagem cultural de Paraty e divulgar melhor um de seus

principais produtos, a cachaça. É realizado no mês de agosto, próximo da Igreja da

Matriz, num amplo espaço no qual são montadas uma grande tenda e várias barracas

para os expositores. O evento conta com uma boa programação musical e, numa

tentativa de incentivar o turista a conhecer outros atrativos de Paraty, como a

possibilidade de passeios de Jeep por cachoeiras e alambiques da cidade 5.

Ao longo da pesquisa de campo realizada em Paraty por conta deste TCC, ao

serem abordados com relação aos eventos dos quais visualizavam problemas, alguns

dos entrevistados disseram que no Festival da Cachaça, muitas pessoas prestigiam a

festa mais no intuito de beberem bastante. Consequentemente, o que se vê são

pessoas alcoolizadas pelo centro histórico, muitas vezes urinando em determinados

locais públicos. No que se refere à turistificação, esse tipo de comportamento dos

turistas que participam do Festival da Cachaça, não é o que os paratienses desejam

e algumas pessoas entrevistadas disseram que preferem ficar em casa ou pedir férias

em seu serviço para que não tenham que, de certa forma, participar do Festival da

Cachaça. “A pior que tem é a festa da cachaça, não em termos de turismo, mas porque

as pessoas bebem” (entrevistado A); “Os paratienses que eu conheço não saem da

festa da pinga, pois todo mundo vem, suja a cidade e não sabe mais o que está

fazendo (entrevistado B); “eu não trabalho no Festival da Pinga, eu tenho pavor, eu

trabalho com turismo, mas não gosto de atender os turistas no festival da pinga, pois

são pessoas sem educação” (entrevistado C).

5 Nota informativa retirada do site Paraty.com.br.Disponível em:<http://zip.net/bdt.CQV >.Acesso em:17.jan.2017

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2.5 AS FESTAS RELIGIOSAS

A cidade de Paraty também possui uma forte influência do catolicismo que, traz

consigo as adorações aos seus santos e expõe a fé de seus devotos para com estes

santos. Por conta de haver muitas igrejas, estas eram de certa forma divididas por

classe social e “cor” (MAIA,2015).

Dentre suas principais igrejas, Paraty conta com quatro: A Igreja de Nossa

Senhora do Rosário, a Igreja de Santa Rita de Cássia, a Igreja de Nossa Senhora das

Dores e a Igreja da Matriz, que tem como padroeira Nossa Senhora dos Remédios.

Até o final do século XIX, cada uma dessas igrejas levava em conta a divisão

da “cor”. Isso representava ter até cemitérios próprios para cada um dos

representantes de determinada igreja.

Assim, a Matriz de Nossa Senhora dos Remédios era a igreja da burguesia branca. A igreja do Rosário era a dos escravos, enquanto que a de Santa Rita acolhia os pardos forros. Já a de Nossa Senhora das Dores, localizada entre a Matriz e o mar, era frequentada pela elite local (MAIA,2015, p.32).

Essa chamada divisão de cor ocorre desde a época colonial, em que havia um

tipo de catolicismo para os índios, um para os escravos, um para os brancos

burgueses e outro para a elite. Perante Deus, todos os homes são iguais. No entanto,

a Igreja Católica como instituição social diferenciava os homens de acordo com sua

classe social e nível cultural (MAIA,2015).

A respeito das festas religiosas na cidade, cada uma delas faz referência ao

seu santo padroeiro e seus devotos participam ativamente de toda a organização do

evento, desde a coleta de donativos para auxiliar na festa, decoração de certos pontos

do centro histórico com bandeirinhas, até chegar na data da festa religiosa em si.

Brincadeiras como pau-de-sebo, porco ensebado, são algumas das atrações que

normalmente se vê nessas festas, a fim de ter uma forma de entretenimento para as

pessoas, além de barraquinhas com bebidas e jogos (MAIA, 2015). É a chamada parte

profana, praticada depois do ato religioso e que serve de entretenimento para todas

as pessoas, independentemente de ser devoto do santo homenageado ou não, uma

forma de lazer e integração entre turistas e moradores da cidade. Na verdade, todas

essas brincadeiras conservam até hoje valores da nossa cultura. Segundo

Tinhorão(2000), a “arraia miúda”, composta por pessoas de menor posse, infiltrava-

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se nas solenidades e acabava por utilizar essas brincadeiras populares como forma

de participação nas festas. A seguir, será abordado um pouco de algumas festas

religiosas tradicionais em Paraty.

2.5.1 Festa de Santa Rita

Normalmente realizada no dia 22 de maio, desde que não coincida com a Festa

do Divino. Tal fato mostra a questão da subordinação da padroeira das cores pardas

de Paraty com a festa dos “brancos”, o que remete à questão da divisão por “cor”, que

perdurou até o final do século XIX, mas de certa forma ainda tem influência no que se

refere à marcação da data da festa. Por meio dos homens pardos libertos do distrito,

a Igreja de Santa Rita foi fundada em 30 de junho de 1722 (MAIA,2015).

2.5.2 Festa de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito

Com sua devoção desde os tempos da descoberta de Angola, no ano de 1486

e aceitação do catolicismo, em que o Papa da época ofereceu ao rei Mobembe

Muzinga e seus súditos a sua bênção, Nossa Senhora do Rosário “tornou-se a virgem

padroeira dos negros em Angola e depois no Brasil” (MAIA,2015, p.91). Por meio das

primeiras divergências entre escravos e seus senhores, a Igreja criou um catolicismo

para os escravos, o que era uma forma também de integração entre estes escravos.

Tanto a festa de Nossa Senhora do Rosário como a Festa de São Benedito

ocorrem no dia 27 de dezembro, sendo que o dia 26 do mesmo mês também é

dedicado a Nossa Senhora do Rosário, pois segundo informações de alguns católicos

paratienses, Nossa Senhora do Rosário é madrinha de São Benedito, já que este era

muito devoto de Nossa Senhora do Rosário (MAIA,2015).

Já a Festa de São Benedito, esta é considerada a Festa do Divino dos “pretos

de Paraty”, segundo populares. Antigamente, como os negros de Paraty não eram

autorizados a participar da Festa do Divino, criaram então seu próprio rei e rainha, em

alusão ao imperador do Divino e suas roupas eram parecidas com a roupa usada pelo

imperador (MAIA,2015).

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Outra forma de comparar a Festa de Nossa Senhora do Rosário e a Festa de

São Benedito com a Festa do Divino é quanto aos atos de cada uma. Na Festa do

Divino há a folia que canta, enquanto que nas outras duas festas há a folia muda. Na

Festa do Divino há a carne e refrigerante. Já na Festa de Nossa Senhora dos

Remédios e na de São Benedito, nem sempre se tem a oportunidade da carne.

Na Festa de São Benedito, assim como na Festa do Divino, existe também a

presença dos festeiros, responsáveis diretos por organizarem o evento. Estes

festeiros devem escolher um rei e uma rainha, sob a condição de serem crianças e de

“cor” (MAIA,2015).

Outra festa religiosa de grande importância para a cidade de Paraty é a Festa

do Divino Espírito Santo, que será relatada no próximo capítulo.

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41

3.A FESTA DO DIVINO DE PARATY E O TURISMO

Principal festa religiosa no calendário de eventos de Paraty, a Festa do Divino

é um bom exemplo da influência portuguesa para o Brasil em termos religiosos. Por

meio da Rainha Isabel e com a construção da Igreja do Divino na cidade de Alenquer,

em que, “após a missa festiva, a Rainha convidava os pobres e desvalidos ao seu

palácio e oferecia comida e esmola” (MELLO, 2003, p.12). Outra versão defendida por

estudiosos do campo religioso afirma que as comemorações ao Divino surgiram com

o monge cisterciense Joaquim de Fiore, na Itália, mais precisamente na cidade de

Corezzo e aos poucos foi se espalhando por todo o continente europeu

(MELLO,2003).Além dessa possibilidade para o surgimento da Festa do Divino,

existem estudos que afirmam ter sido na Alemanha, entre os anos de 936 e 1218,no

período da dinastia otoniana do país e, depois a festa foi para a França, até chegar

em Portugal (SILVA,2015).Contudo, foi no país da Península Ibérica que a Festa do

Divino ganhou maior representatividade, com destaque para a Ilha dos Açores.

O Divino representa a terceira pessoa da Santíssima Trindade. A primeira é o

pai, a segunda o filho e a terceira é o espírito santo. Tem como referência a pomba

branca, uma auréola de três raios e a cor vermelha da bandeira. A pomba representa

a forma como o Espírito Santo apareceu no batismo de Jesus. Já o raio significa que

o Espírito Santo faz parte da Santíssima Trindade e o vermelho da bandeira significa

a língua de fogo que descia sobre a cabeça dos apóstolos e preparava-os para a

missão evangelizadora (NADRUZ,2008).

De acordo com os portugueses, o “Tempo do Espírito Santo” seria o segundo

milênio, com sua capital espiritual em Portugal. Toda a tradição da festa foi trazida

com a colonização portuguesa em território brasileiro, mais precisamente pelos

açorianos. Inicialmente, era realizada numa tentativa de arrecadar e distribuir doações

para o período de difícil colheita.Com isso, a Festa do Divino tinha um perfil de

solidariedade entre parentes e moradores próximos (SILVA,2015).

Realizada 50 dias após a Páscoa, no domingo de Pentecostes, a Festa do

Divino tem um significado muito importante para os católicos, pois representa a

descida do Espírito Santo sobre os apóstolos de Cristo.

Aproximadamente cinquenta dias após a Páscoa, outras celebrações de

cunho religioso e agrícola marcam a vida dos judeus: o “Tora Teinu”

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comemora a entrega das tábuas da Lei de Deus a Moisés, no Monte Sinai; o

Shavuot, que é a Festa das Sete Semanas, festeja a libertação do povo judeu

e sua confirmação como povo eleito de Deus; o “Chag Hakatsir” é a Colheita

do Trigo, cereal da estação e o “Yom Há Bikurim”,que é a Festa das Primícias,

quando os primeiros frutos e cereais colhidos são oferecidos a Deus, no

Templo (MELLO,2003,p.9).

A Festa do Divino existe em várias cidades do Brasil, como em Pirenópolis, São

Luiz do Paraitinga, Alcântara e São José de Ribamar, São João del Rey, Angra dos

Reis, Saquarema e Paraty, objeto deste estudo.

3.1 A FESTA DO DIVINO NO PERÍODO COLONIAL DO RIO DE JANEIRO

A Festa do Divino Espírito Santo na cidade do Rio de Janeiro, mais

especificamente ao longo do século XIX, representou uma forma de interação social

entre os que viveram nesse período na cidade, já que conseguia reunir em seus

eventos pessoas de diferentes classes sociais e gênero, que aproveitavam ao máximo

a festa e suas atrações. Dentre o que era ofertado ao público como entretenimento,

Abreu (1999) destaca principalmente a Barraca do Teles, localizada na Festa do

Campo da Aclamação, atual Campo de Santana e que tinha a programação das 3

Cidras do Amor como referência. Tratava-se de um grupo teatral montado unicamente

para a Festa do Divino, em que se recriavam produtos culturais, o que de certa forma

ajudava na composição da cultura popular. Além das 3 Cidras do Amor, a barraca

ofertava atividades como danças, teatro de bonecos, dentre outras atividades

(ABREU,1999).

Frequentada por pessoas de diferentes classes sociais da época, em especial

os escravos, a Festa do Divino na cidade do Rio de Janeiro era uma forma de refúgio

para os problemas daquele período, como a escravidão e as epidemias. Ganhou

maior importância com a chegada da Família Real ao Brasil, no ano de 1808, assim

como o aumento populacional da cidade e chegada dos Açorianos, local em que a

Festa do Divino é muito forte. Dentre os principais pontos de celebração do Divino,

citam-se o do Largo da Lapa, Largo de Santa Rita, Largo do Estácio e o do Campo de

Santana, sendo este último o principal.

Em cada uma dessas festas em diferentes pontos do centro do Rio de Janeiro,

as irmandades de cada uma delas divulgavam o evento em jornais da cidade,

principalmente os eventos de cunho religioso, com grande influência barroca.

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O estilo Barroco foi de grande relevância para a realização das festas religiosas

na cidade no período colonial, já que tratava da questão de decoração e até mesmo

de alegorias que de certa forma incentivaram o carnaval do Rio de Janeiro, numa

forma de ligação entre as festas religiosas e uma festa profana como o carnaval. Como

principais divulgadores do catolicismo barroco, a própria população da época assumia

esse trabalho, já que era essa mesma população que prestigiava as festas, com

criação de irmandades e confrarias que organizavam os eventos litúrgicos e profanos.

Esse mesmo estilo barroco também foi fundamental para o desenvolvimento das

festas de santos e procissões, que eram manifestações em nome da fé

(ABREU,1999).

Aos poucos, devido ao grande sucesso que a Festa do Divino fazia, alguns

obstáculos para sua realização ocorreram, como no caso do poder público, que

aumentou a fiscalização policial, a fim de evitar exageros nas comemorações,

bebedeiras e jogos de azar; as elites políticas e intelectuais, que passaram associar

as festas ao atraso na sociedade e obscurantismo; os médicos, que viam com certo

receio esses eventos, pois acreditavam ser maléfico à saúde pública e a própria Igreja

Católica, que percebia uma forma diferente de condução por parte da cúpula católica

brasileira de lidar com a Festa do Divino, em detrimento aos cânones oficiais

(ABREU,1999).

Aliado aos fatores expostos no parágrafo anterior, uma política de urbanização

no centro do Rio de Janeiro, atrelado à reformas no Campo de Santana, como a

colocação de grades e melhorias paisagísticas do espaço, a Festa do Divino nessa

área foi perdendo força, até não ser realizada mais no Campo de Santana e sim em

arredores, mas sem a mesma intensidade e energia de outrora. No entanto, serviu de

base para a formação de outras festas religiosas na cidade do Rio de Janeiro.

3.2 A FESTA DO DIVINO EM PARATY

Principal festa religiosa da cidade, a Festa do Divino Espírito Santo de Paraty

é um exemplo de como os paratienses religiosos cultuam sua fé e apresentam sua

devoção quanto à terceira pessoa da Santíssima Trindade. Por meio da chegada dos

portugueses ao local no século XVI e que trouxeram consigo aspectos culturais,

principalmente na religião, estes ofertaram Paraty com a Festa do Divino, que até hoje

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mantém suas tradições, passadas de geração em geração e fortalece a cultura da

cidade de Paraty, contribuindo para a identidade do lugar.

No período que ocorre a festa, o que pode ser entre os meses de maio e junho,

já que depende de quando será a Páscoa, os principais pontos do evento seriam a

Igreja da Matriz, (local em que são realizadas as missas) e a Praça da Matriz, em

frente à Igreja da Matriz, em que muitas pessoas se reúnem para acompanhar a

chegada da procissão das bandeiras e assistir a missa, já que muitas vezes não se

encontra lugar na igreja. Este também é o local em que, ao final das missas,

acontecem divertimentos para as pessoas, a chamada parte profana da festa, que

será detalhada mais adiante.

Uma maneira de perceber a proximidade e anunciação da festa é com o

levantamento do mastro, ao lado da Igreja da Matriz, que ocorre no domingo de

Páscoa. Uma procissão com as bandeiras do Divino sai da casa do Festeiro em

direção à Praça da Matriz, além de contar com a folia do Divino para esta atividade.

Ao longo da pesquisa, não foi possível obter com precisão o número de turistas

que visitam a festa, mas segundo o Secretário de Turismo de Paraty, Sr.Gabriel

Ramos Costa, a festa recebe em torno de 16 mil pessoas durante os 10 dias de

comemoração. Tal informação foi obtida por e-mail, antes da segunda pesquisa de

campo, quando o autor entrou em contato com a secretaria de turismo da cidade a fim

de obter materiais para consulta do trabalho de conclusão de curso.6

A população local se faz presente na Festa do Divino de Paraty. Participam de

toda a etapa de organização do evento, doando o que podem, seja dinheiro,

mantimentos ou qualquer outra coisa que possam ofertar, em nome da fé, lotam as

missas durante os todos os 10 dias da festa, ajudam na decoração da cidade, mais

precisamente do centro histórico, com bandeirinhas nas cores vermelho e branco e,

em conjunto, fazem parte das procissões que vão da casa do festeiro para a Igreja,

em que se apanham as bandeiras do Divino e posteriormente, retornam da igreja para

a casa do festeiro, recolocando as bandeiras, e assim sucessivamente, até o final da

festa. Há de se destacar também que é um ritual religioso que reúne pessoas de

6 Nota informativa do Sr.Gabriel Ramos Costa, Secretário de Turismo de Paraty. Disponível em:<[email protected]>.Acesso em:28.mar.2017.

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classes sociais diferentes, além de receber moradores tanto de sua parte urbana,

quanto da área rural.

Para os paratienses, a Festa do Divino é motivo de muito orgulho. De acordo

com entrevistas realizadas em campo, constatou-se a maneira carinhosa como alguns

moradores falavam do evento e também esse sentimento de pertencimento da Festa

pela população de Paraty. Alguns dos entrevistados chegaram a afirmar que a festa

ocorre com a presença do turista ou não, já que são os moradores de Paraty que

fazem a festa. Claro que o turista é sempre bem-vindo, mas sua presença não se faz

necessária para o acontecimento da festa.

3.3 O FESTEIRO

Figura importante na festa do Divino, o Festeiro é a pessoa que carrega durante

um ano inteiro a responsabilidade de fazer com que tudo dê certo na Festa do Divino,

a qual se candidatou a organizar. Sempre ao final de cada Festa do Divino, na última

missa, o sacerdote anuncia quem terá o prazer de conduzir a Festa do Divino do ano

seguinte e o novo festeiro recebe então a Bandeira do Festeiro das mãos de quem

organizou a Festa do Divino que se encerra naquele dia. Pode ser uma única pessoa,

casal ou até mesmo um grupo de pessoas, que contam também com sua comissão

organizadora, que trabalha em diferentes partes designadas pelo festeiro, seja a parte

financeira, divulgação, arrecadação de donativos, dentre outras tarefas.

Ao longo do ano, durante eventos que ocorrem na cidade, sempre há um

espaço disponível para que os responsáveis por organizar a Festa do Divino possam

arrecadar fundos para a festa religiosa. Assim, o festeiro tem que se preocupar em

criar eventos que contribuam para a arrecadação de dinheiro pra festa, vendas de

doces que também ocorrem no centro histórico e com divulgação da Festa do Divino

do ano seguinte, local frequentado por turistas e estes acabam comprando sempre

algo. Além disso, o festeiro deve cuidar da decoração da igreja, contratar folia e banda

de música, preparação do almoço do Divino, que necessita de uma boa quantidade

de comida para atender às pessoas, escolha do imperador do Divino, dentre outros

afazeres (MELLO,2003). Existe também o Bando Precatório, que é uma banda de

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música que percorre os bairros da cidade, a fim de arrecadar donativos. É

acompanhado de populares e com as bandeiras do Divino.

Para se candidatar a festeiro, a pessoa que tem interesse deve enviar uma

carta à Comissão Paroquial e informar o motivo pelo qual tem vontade de ser festeiro,

citar as pessoas que farão parte da comissão organizadora, uma declaração em que

afirma se sujeitar às normas da paróquia no que se refere à organização das festas

religiosas e populares e a obrigatoriedade de passar pra paróquia a quantia em

dinheiro que porventura sobre ao final da festa (MELLO,2003).No último dia de festa,

na missa de encerramento da Festa do Divino, o sacerdote anuncia o casal festeiro

do ano seguinte. Pode ocorrer também de ser uma comissão de festeiros e não

necessariamente um casal.

A Prefeitura Municipal ajuda no oferecimento de metade da área ocupada pelas

barracas da quermesse nos festejos e, ao invés desses barraqueiros pagarem a

prefeitura pela área utilizada, pagam ao festeiro, como forma de contribuição para a

festa (MELLO,2003).

Um ponto interessante a ser observado é quanto aos acontecimentos da festa,

principalmente no segundo final de semana, em que ocorre a coroação do Imperador

e a libertação do preso, além de toda a parte profana do evento, que serão relatados

a seguir.

3.4 PARTE RELIGIOSA E PARTE PROFANA

Nem só da parte religiosa vive a Festa do Divino de Paraty. A fim de ter uma

forma dos moradores se encontrarem e ter um momento de descontração e lazer,

assim como uma atração para turistas, existe a parte profana da festa, que também é

muito importante e ajuda no enriquecimento do evento.

A parte profana acontece em três principais pontos, que são a praça da Matriz,

uma quadra localizada ao lado da Igreja da Matriz e num outro terreno maior, do outro

lado da Igreja da Matriz. Tanto na praça da Matriz quanto na quadra, é comum ver

gincanas organizadas por jovens moradores de Paraty, a maioria deles católicos e

participantes da Festa do Divino. Bonecos folclóricos como o Boi de Pano, a Miota e

Cavalinho, personagens conhecidos na festa, também alegram as crianças no entorno

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da igreja, além de outras brincadeiras como corrida de saco, ovo na colher, dentre

outras atividades infantis. Outras formas de representação profana são os shows que

ocorrem num grande terreno ao lado da Igreja da Matriz, com um palco em que se

apresentam músicos, a maioria deles religiosos e acontece também o show de

calouros, muito aguardado pelos moradores da cidade, com cada comunidade tendo

o seu respectivo representante no show, o que talvez seja

o momento de maior descontração dos paratienses na festa. Existe também a ciranda,

outra influência portuguesa na formação cultural brasileira. Mais comum em locais do

interior, é uma dança no estilo de quadrilha de festa junina, só que em roda.

Dentro da parte profana, mas com um toque de religiosidade destaca-se outra

atividade, como o Marrapaiá, também chamada de Congada, grupo de dança de

origem afro-brasileira que se faz presente na Festa do Divino de Paraty. Formado por

um grupo que vem da cidade de Cunha, estado de São Paulo e atuam também na

Festa de Nossa Senhora do Rosário e na de São Benedito, este último, santo ao qual

fazem referência, haja vista o estandarte que carregam, com a imagem de São

Benedito. Leva o nome de Marrapaiá por conta do acessório de dança paiá, feito de

bronze e amarrado por uma correia de couro, um pouco abaixo do joelho (MAIA,2015).

Além de cavaquinhos, violeiros-pares e pandeiro, contam com bastões que “se

entrechocam e que, outras vezes, colocados no chão, formam desenhos sobre os

quais os moçambiqueiros dançam (MAIA,2015, p.71). Há relatos de que esse grupo

dança na Praça da Matriz porque antigamente não podia entrar na Igreja 7 (VIAGEM

COM FAROFA,2017).

3.5 CLASSIFICAÇÃO DA FESTA DO DIVINO DE PARATY COMO

PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL

Classificada no ano de 2013 pelo IPHAN como Patrimônio Cultural Imaterial,

tal título deu novo fôlego para a Festa do Divino de Paraty, já que passou a figurar de

forma mais intensa no aspecto cultural, além da responsabilidade de manter este

prestígio, dividindo espaço com outras festas que têm a mesma classificação, caso

do Círio de Nazaré, citado no primeiro capítulo deste trabalho de conclusão de curso.

7 Informação obtida no site viagem com farofa.Disponível em:< http://zip.net/bdtKzx >.Acesso em:25.maio.2017

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Com o apoio do Instituto Histórico e Artístico de Paraty (IHAP) e com

consentimento da comunidade local, a proposta de classificação da Festa do Divino

de Paraty foi encaminhada ao Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI/IPHAN). O

principal argumento foi de que a Festa representa muito para a identidade da cidade,

com uma celebração representativa da diversidade e da singularidade 8

(PARATY.COM.BR,2013).

De acordo com Pelegrini e Funari (2008), o termo patrimônio cultural está

relacionado com identidades sociais e vem primeiramente de políticas de estado

nacional, posteriormente no quadro de defesa de diversidade, com a relação do termo

de tudo aquilo que se faz referência a alguma nacionalidade. Pode ser uma forma de

expressão, monumento, edifício, dentre outras características que melhor lembre

alguma população.

Já o termo imaterial relaciona-se com a parte intangível, é tudo aquilo que não

se pode tocar ou experimentar, apenas ser sentido ou percebido. No caso dos festejos

brasileiros, seriam as nossas danças e formas de expressão musical, como samba,

frevo e maracatu. Nas festas religiosas, a recitação de versos, como na Festa do

Divino, por exemplo.

Todas essas formas de expressão cultural apresentam uma grande

identificação com a população local, que deve fiscalizar de forma intensa tudo aquilo

a que se refere a sua cultura, a fim de que nada seja perdido com o tempo ou alguma

influência externa, principalmente do turismo, como um determinado turismo de

massa a alguma localidade, algo que venha a ferir ou mudar determinada tradição

local. O patrimônio imaterial é transmitido entre as gerações e ao longo do tempo sofre

algumas alterações, de acordo com o estilo de vida de certa população (FUNARI;

PELEGRINI,2008).

O fato da Festa do Divino estar em Paraty por aproximadamente três séculos

mostra como tal evento religioso é importante para a cidade. Não é apenas a questão

religiosa que se verifica na festa, em que pessoas pagam promessas por conta de

alguma graça alcançada ou mesmo por ser um evento que é tratado com muito

carinho pelo paratiense. A Festa do Divino também apresenta um caráter social, algo

8 Informação obtida do site Paraty.com.br.Disponível em:< http://zip.net/bjtJZ0> .Acesso em:25.maio.2016

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do tipo dar, receber e retribuir, em que não necessariamente católicos são os únicos

participantes do evento. Percebe-se pessoas de outras religiões, como protestantes e

messiânicos. Mas isso ocorre por conta da grande representatividade que a festa

proporciona na cidade (DOSSIE IPHAN,2010).

3.6 A CONTRIBUIÇÃO DA FESTA DO DIVINO PARA O TURISMO EM

PARATY

A Festa do Divino de Paraty, que ocorre durante 10 dias, é mais procurada

pelos turistas, especialmente os que apreciam o segmento religioso, na sua segunda

semana, considerada o ponto alto do evento, já que acontecem o almoço comunitário,

coroação do Imperador e libertação do preso, além da apresentação do

Marrapaiá.Com isso, ao fazer a pesquisa de campo, percebeu-se um fluxo muito maior

de pessoas que não são moradoras de Paraty. Grupos de pessoas nas portas das

pousadas com camisa do Divino Espírito Santo, câmera em mãos foram percebidos

com mais frequência. Turistas de várias partes do país, que todo o ano prestigiam o

principal evento religioso de Paraty. De acordo com dados disponíveis no site da

Prefeitura de Paraty, a ocupação dos meios de hospedagem na primeira semana da

Festa do Divino é de 52%, enquanto que na segunda semana de festa, esse número

sobe para 74%.

De certa forma, o evento contribui para o turismo da cidade, ao mesmo tempo

que se pratica a religião, também existe a oportunidade de visitar outras partes de

Paraty. Para o comércio, alguns dos entrevistados afirmaram que as vendas

aumentam, enquanto que outros declararam não haver tanta diferença assim no

aumento das vendas.

3.7 FESTA DO DIVINO DE PARATY:PESQUISA DE CAMPO

Para coletar dados sobre a Festa do Divino, foram elaboradas perguntas que

serviram de base para realização de entrevistas semiestruturadas, com moradores,

turistas, funcionários de meios de hospedagem, prestadores de serviço do comércio

local. As entrevistas foram realizadas nos dias 13,14 e 15 de maio do ano de 2016,

mais precisamente na sexta-feira, sábado e domingo, dias em que havia maior fluxo

de turistas na cidade. Além das entrevistas, o pesquisador fez uso de observação livre

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sobre a Festa. Já em 2017, as pesquisas de campo foram realizadas nos dias 31 de

maio,1,2 e 3 de junho.

As informações coletadas por meio das entrevistas e da observação subsidiam

a discussão que se segue.

3.8 VISÃO DOS DIVERSOS ATORES SOCIAIS NA FESTA DO DIVINO DE

2016

Nesta seção incluem-se as respostas das pessoas que foram entrevistadas,

divididas pelas classificações turistas, moradores, meios de hospedagem e demais

prestadores de serviço do comércio local envolvidos diretamente na festa,

subdivididos por categorias. Além de representar dados por meio dos gráficos, as

cores utilizadas nestes representam os sete dons do Divino Espírito Santo, que são:

Azul (sabedoria), prata (entendimento), verde (conselho), vermelho (fortaleza),

amarelo (ciência), azul escuro (piedade), roxo (temor de Deus) (GRUPO PADRÃO,

2017).

3.8.1 Turistas

Figura 3:Procedência dos Turistas Entrevistados em 2016

Fonte: Elaboração própria

Espírito Santo10%

São Paulo30%

Rio de Janeiro60%

PROCEDÊNCIA

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A respeito dos turistas entrevistados na Festa do Divino de Paraty (figura 3), no

ano de 2016, verificou-se que a região Sudeste foi o grande pólo emissor, em que

60% desses turistas declararam ser procedentes do Rio de Janeiro,30% de São Paulo

e 10% do Espírito Santo.

Figura 4:Faixa Etária dos Turistas em 2016

Fonte: Elaboração Própria

Sobre a faixa etária (figura 4), a maior parte das pessoas é de adultos entre 30

e 40 anos de idade, o que representa 50% dos entrevistados, 30% entre 41 e 50 anos

de idade e 20% entre 51 e 60 anos de idade.

Na questão de gênero dos entrevistados, as mulheres têm maior

representatividade, com 60 %, enquanto que 40% são do sexo masculino.

No quesito escolaridade, percebeu-se que o número de pessoas com nível

superior se fez mais presente, com 60 % dos entrevistados, enquanto que 40 %

declararam ter ensino médio. Sobre a religião, todos os entrevistados disseram ser

católicos.

30 a 40 anos50%

41 a 50 anos30%

51 a 60 anos20%

FAIXA ETÁRIA

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Figura 5:Motivação dos Turistas para Participar da Festa em 2016

Fonte: Elaboração Própria

Quanto à parte de motivação para participar da festa (figura 5), existiram vários

motivos, mas de acordo com os turistas entrevistados, 30% revelaram ser a tradição

da festa o fator motivador, enquanto 30% relataram ser movidos pela fé, 10% pelo

significado da festa e 30% por aspectos ligados à religiosidade.

Figura 6:Ponto Forte da Festa na Opinião dos Turistas em 2016

Fonte: Elaboração Própria

Tradição30%

Fé30%

Significado da festa10%

Religiosidade30%

MOTIVAÇÃO PARA PARTICIPAR DA FESTA

Toda a festa20%

Beleza20%

Procissão das Bandeiras

20%

Coroação do Imperador

10%

Libertação do preso10%

Missa10%

Almoço do Divino

10%

PONTO FORTE DA FESTA

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53

Sobre o ponto forte da festa (Figura 6), distintas etapas contribuíram para dar

grandiosidade à festa e 20% dos turistas entrevistados apontaram a beleza da festa,

20% disseram ser toda a festa, 20% a procissão das bandeiras,10% a coroação do

imperador,10% a libertação do preso,10% a missa e 10% o almoço do Divino. Na

visão como observador do evento, há de se destacar principalmente a procissão das

bandeiras, que circula pelo centro histórico e percorre algumas ruas de Paraty,

parando em algumas casas de pessoas que agradecem por alguma graça alcançada,

até chegar à casa do Festeiro, para ser resgatada no dia seguinte e seguir todo o ritual

novamente.

Quanto ao ponto fraco da festa, 90 % dos turistas disseram não haver

problemas, enquanto que 10 % afirmaram que a alimentação na cidade é cara.

Na infraestrutura da festa, 20% opinaram ser regular, enquanto que 80%

afirmaram ser boa.

Ao comparar com outras festas religiosas em Paraty,100% dos entrevistados

acreditaram ser a Festa do Divino a principal festa religiosa da cidade. Obviamente,

todas as outras festas religiosas são importantes para a cidade, mas dentre estas

representações religiosas católicas, a Festa do Divino é a que traz maior impacto, até

porque é a que mais concentra turistas de todas as festas católicas locais.

Figura 7:Sugestões dos Turistas pra Melhorar a Festa em 2016

Fonte: Elaboração Própria

MELHORAR INFRAESTRUTU

RA DA FESTA10%

MELHORAR DIVULGAÇÃO

DA FESTA…MELHORAR PARTE DE

ALIMENTAÇÃO DA FESTA

10%

NÃO DIVULGAR MUITO A FESTA

10%

NENHUMA40%

SUGESTÃO

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54

No quesito sugestão para os próximos eventos (figura 7),10% disseram que a

infraestrutura da festa deve melhorar, 30% apontaram trabalhar melhor a

divulgação,10% sugeriram modificações na parte de alimentação da festa, com preços

mais acessíveis,10% sugeriram menos divulgação da festa, a fim de que não atraia

muitos turistas e 40% disseram não ter sugestão a apontar. Quanto à parte de preços

mais acessíveis, há de se destacar principalmente a parte da praça de alimentação,

em que restaurantes locais e que participam do pólo gastronômico, cobram um valor

mais elevado nos seus pratos típicos, o que de certa forma inibe os consumidores.

3.8.2 Moradores

Com relação aos moradores entrevistados (figura 8), percebeu-se que pessoas

de faixa etária distintas integram-se em prol do sucesso do evento, o que demonstra

também um ambiente mais familiar à festa e a maior concentração foi vista

exatamente na Praça da Matriz e Igreja do mesmo nome. Desses moradores,20%

estão na faixa de 10 a 20 anos,30% entre 21 a 30 anos,40% entre 31 a 40 anos e 10

% entre 41 a 50 anos.

Figura 8:Faixa Etária dos Moradores Entrevistados em 2016

Fonte: Elaboração Própria

A respeito do gênero,70% dos moradores entrevistados são do gênero

feminino, enquanto que 30 % do masculino.

10 A 20 ANOS20%

21 A 30 ANOS30%

31 A 40 ANOS40%

41 A 50 ANOS10%

FAIXA ETÁRIA

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55

Quanto à escolaridade, 70 % afirmaram ter o ensino médio e 30% possuem o

ensino superior.

Figura 9:Contribuição da Festa na Opinião dos Moradores em 2016

Fonte: Elaboração Própria

Na contribuição da festa pra cidade (figura 9), 10% dos moradores

entrevistados disseram que ajuda na divulgação de Paraty,10% opinaram que

mantém a tradição da festa no local,30 % declararam fortalecer a cultura da cidade e

50 % afirmaram que auxilia no turismo da cidade. Ao falar da contribuição da Festa

do Divino pra Paraty, mais uma vez verificou-se um sentimento de orgulho e

pertencimento por parte dos moradores, principalmente em alguns casos, em que

diziam que a Festa do Divino é feita pelos paratienses.

Sobre a religião dos entrevistados,90% apontaram ser católicos, enquanto que

10 % disseram ser evangélicos. Em nenhum momento os evangélicos criticaram a

Festa do Divino, muito pelo contrário, até elogiaram o evento.

Quanto ao significado da festa,80 % concordaram que a religiosidade é o que

mais tem significado, enquanto que 20 % disseram que a importância da Festa do

Divino é o fator mais significativo. Há de se destacar relatos de moradores que

esperam a época da Festa do Divino para pagar alguma promessa e/ou agradecer

por alguma graça alcançada.

TURISMO50%CULTURA

30%

DIVULGAÇÃO10%

TRADIÇÃO10%

CONTRIBUIÇÃO DA FESTA PRA CIDADE

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56

Figura 10:Ponto Forte da Festa para os Moradores em 2016

Fonte: Elaboração Própria

No que se refere ao ponto forte da festa (Figura 10), 11 % disseram ser a

coroação do imperador,11 % o almoço do Divino e também a coroação do

imperador,11% a procissão das bandeiras,11 % a parte social, 23 % a gincana e as

missas, e por fim, 22% dos entrevistados disseram que gostam de tudo na festa. Mais

precisamente na coroação do imperador, as luzes da Igreja da Matriz se apagam e

apenas a iluminação do altar é mantida, local em que o imperador recebe a Coroa do

Divino Espírito Santo, momento este registrado em fotos e vídeos feitos pelos

presentes à missa do segundo sábado da festa, em que ocorre esta celebração.

A respeito do ponto fraco da festa,10 % não souberam apontar um ponto fraco,

enquanto que 90 % dos moradores entrevistados disseram não haver nenhum ponto

fraco na festa.

Sobre participar de outra festa religiosa,80 % dos entrevistados participam de

outro evento católico, podendo ser tanto em Paraty quanto em alguma outra

localidade, enquanto que 20 % não participam de outra festa religiosa, apenas a do

Divino.

GINCANA E MISSA

23%

GOSTA DE TUDO NA FESTA

22%PARTE SOCIAL

11%

PROCISSÃO DAS BANDEIRAS

11%

BANDA E ALMOÇO DO

DIVINO…

ALMOÇO DO DIVINO E

COROAÇÃO DO IMPERADOR

11%

COROAÇÃO DO IMPERADOR

11%

PONTO FORTE DA FESTA

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57

Quanto à classificação da Festa do Divino de Paraty como Patrimônio Cultural

Imaterial do Brasil, os moradores entrevistados foram unânimes em afirmar que tal

fato ajuda no turismo religioso da localidade. Há de ressaltar também a preocupação

que os moradores têm de manter as tradições da festa, para que nada seja esquecido.

Infelizmente, devido à questões financeiras, nem todas as festas acabam tendo todos

os detalhes, o que varia de ano para ano.

3.8.3 Meios de Hospedagem

Com relação aos meios de hospedagem, foram realizadas entrevistas com

estabelecimentos em diferentes pontos do Centro de Paraty. As informações

coletadas estão dispostas nas figuras que se seguem (11,12 e 13).

Figura 11:Ocupação dos Meios de Hospedagem na Festa em 2016

Fonte: Elaboração Própria

Dentre os meios de hospedagem (figura 11) ,20 % dos representantes desses

meios de hospedagem apontaram ser baixa a taxa de ocupação durante a Festa do

Divino, 30 % disseram ser a taxa de ocupação média, 40 % declararam ser alta e 10

% afirmaram ser total a taxa de ocupação no período da festa (Figura 9).Todos os

meios de hospedagem visitados apresentaram boas condições de higiene e quanto à

recepção por parte de seus representantes, todos eles foram atenciosos com relação

à entrevista.

Baixa20%

Média30%

Alta40%

Lotada10%

TAXA DE OCUPAÇÃO

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58

Figura 12:Perfil dos Hóspedes na Festa do Divino de Paraty em 2016

Fonte: Elaboração Própria

A respeito do perfil dos hóspedes na época da Festa do Divino (Figura 10), 20

% dos representantes dos meios de hospedagem entrevistados disseram ser de

católicos e idosos, 30 % seriam de católicos e 50 % variados.

Figura 13:Sugestões dos Meios de Hospedagem para a Festa em 2016

Fonte: Elaboração Própria

Na parte de sugestões (figura 11) ,10 % dos entrevistados disseram ser

importante manter a tradição da festa,10 % apontaram a segurança como fator a

Católico30%

Católicos e idosos

20%

Variados50%

PERFIL DOS HÓSPEDES

Manter tradição

10%

Melhorar segurança

10%

Melhorar infraestrutura das barracas

10%

Maior divulgação

70%

SUGESTÃO

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59

melhorar ,10 % afirmaram que precisa melhorar a infraestrutura das barracas e 70 %

concordaram que é necessário haver maior divulgação da festa.

Todos os representantes dos meios de hospedagem entrevistados

concordaram que a Festa do Divino tem um grande potencial na cidade para o turismo

religioso, principalmente por ser considerada Patrimônio Cultural Imaterial, daí a

necessidade de se fazer uma divulgação maior do evento.

3.8.4 Trabalhadores na festa

Ao entrevistar trabalhadores de Paraty, que de alguma forma participavam dos

serviços oferecidos durante a festa, houve a oportunidade de obter informações tanto

por parte dos trabalhadores formais quanto da parte de ambulantes.

Figura 14:Faixa Etária dos Trabalhadores Entrevistados em 2016

Fonte: Elaboração Própria

Sobre a faixa etária dos trabalhadores entrevistados (Figura 14),31% estão

entre 31 e 40 anos de idade,44 % entre 41 e 50 anos e 25 % entre 51 e 60 anos.

31 A 40 ANOS31%

41 A 50 ANOS44%

51 A 60 ANOS25%

FAIXA ETÁRIA

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60

Desses trabalhadores, nem todos são paratienses. Como toda cidade turística,

algumas destas mão-de-obra são de fora da cidade.

Quanto ao gênero,47 % são do gênero masculino, enquanto que 53 % são do

gênero feminino.

Figura 15:Religião dos Trabalhadores Entrevistados em 2016

Fonte: Elaboração Própria

Quando perguntados a respeito de sua opção religiosa (Figura 15) ,79% dos

entrevistados disseram ser católicos,16 % evangélicos e 5 % afirmaram não possuir

religião. Mesmo os que afirmaram não possuir religião não se opõem as festas

religiosas católicas na cidade.

CATÓLICA79%

EVANGÉLICA16%

NÃO POSSUI5%

RELIGIÃO

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61

Figura 16:Ponto Forte da Festa na Opinião dos Trabalhadores em 2016

Fonte: Elaboração Própria

Sobre os pontos fortes da Festa do Divino (figura 16) ,26 % dos trabalhadores

afirmaram que a beleza da festa é o que mais chama a atenção no evento. De fato, a

decoração da festa é muito bonita.Com a cor vermelha, que representa o fogo do

Divino Espírito Santo, seguido do branco e da pomba do Divino que simboliza a paz,

quem transita pelo centro histórico pode notar bandeiras espalhadas nas sacadas das

casas e bandeirinhas nas cores citadas acima decorando as ruas, amarradas ao alto

de uma ponta a outra das ruas.

0%5%

10%15%20%25%30%

PONTO FORTE DA FESTA

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62

Figura 17:Ponto Fraco da Festa na Opinião dos Trabalhadores em 2016

Fonte: Elaboração Própria

No que diz respeito aos pontos negativos da festa (Figura 17) ,63 % dos

trabalhadores entrevistados disseram não haver pontos fracos no evento religioso.

Nas entrevistas com os trabalhadores, constatou-se que dentre os eventos de

Paraty, a FLIP é aquele que financeiramente dá mais retorno financeiro, fato este

indicado por 95 % dos entrevistados. Ao pensar economicamente, a FLIP é o evento

que traz mais retorno financeiro e divulgação para a cidade, mas dentre os

trabalhadores entrevistados, alguns apontaram problemas nos eventos da cidade,

principalmente na FLIP, em que têm que competir com trabalhadores de fora da

cidade e o encarecimento de produtos ao longo do evento. “Quanto ao fato de trazer

comércio de fora, eu acho isso um horror, pois pra gente já tá difícil” (entrevistada D);

“pessoas de fora vir competir com a gente, isso é muito ruim” (entrevistado E);

“prefeitura faz mais por pessoas de fora do que por nós, que somos daqui”

(entrevistado F).

Também sobre a Festa do Divino ser a principal festa religiosa da cidade,95 %

dos entrevistados concordaram que é a festa de maior relevância neste tipo de

segmento.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

PONTO FRACO DA FESTA

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63

Figura 18:Festa do Divino como Patrimônio Cultural Imaterial em 2016

Fonte: Elaboração Própria

Quando foi abordada a importância da Festa do Divino ter sido classificada

como Patrimônio Cultural Imaterial (Figura 18) ,57 % dos entrevistados disseram que

tal fato ajuda no turismo religioso local e que ajudaria bastante na movimentação de

turistas na cidade.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

ORGULHO PROPARATIENSE

SIMBOLIZA FÉ AJUDA NOTURISMO

REFORÇA APARTE CULTURAL

FESTA DO DIVINO COMO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL

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64

Figura 19:Sugestões dos Trabalhadores para a Festa do Divino em 2016

Fonte: Elaboração Própria

No quesito sugestões (Figura 19) ,42 % dos trabalhadores disseram não ter

nenhuma sugestão para a melhoria da festa. No entanto, dentre as sugestões

oferecidas ,15 % dos entrevistados disseram que maior divulgação da festa seria

necessária para a obtenção de um número maior de turistas.

3.9 VISÃO DOS DIVERSOS ATORES SOCIAIS NA FESTA DO DIVINO NO ANO

DE 2017

Sobre as entrevistas realizadas na Festa do Divino de 2017, a fim de comparar

com as informações obtidas no evento de 2016, também foram abordados turistas,

moradores, pessoas que representavam os meios de hospedagem na entrevista e

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

SUGESTÃO

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65

trabalhadores do comércio da cidade. As entrevistas foram realizadas nos dias 31 de

maio,1,2,3 e 4 de junho de 2017.

3.9.1 Turistas

Figura 20:Procedência dos turistas entrevistados em 2017

Fonte: Elaboração Própria

Nas entrevistas realizadas na Festa do Divino de Paraty do ano de 2017 com

os turistas, houve uma maior variação de pessoas vindas de outras localidades, se

comparado com os turistas entrevistados no ano de 2016. Mais recentemente, pode-

se observar uma quantidade maior de turistas estrangeiros, em especial os europeus.

No que se refere a visitantes nacionais, as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo

continuam a ser os dois maiores pólos emissores. Alguns turistas vieram de cidades

próximas a Paraty, como Angra dos Reis e Ubatuba, por exemplo.

0%

5%

10%

15%

20%

25%

PROCEDÊNCIA

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66

Figura 21:Faixa Etária dos Turistas em 2017

Fonte: Elaboração Própria

A respeito da faixa etária, houve um fracionamento maior em relação a 2016,

com predominância para um público entre 31 e 40 anos, representado por 32 % dos

entrevistados seguido de pessoas que se encontram entre 61 e 70 anos, com 21 %.

De acordo com a observação na pesquisa, esses turistas apresentam uma apreciação

maior por questões culturais e muitos ficaram curiosos em saber mais detalhes sobre

a festa e o que ela representa.

Sobre o gênero,61% dos turistas entrevistados são do gênero feminino,

enquanto que 39% são do gênero masculino. No que se refere a religião dos turistas

entrevistados, todos afirmaram ser católicos.

15 a 20 anos11%

21 a 30 anos14%

31 a 40 anos32%

41 a 50 anos11%

51 a 60 anos11%

61 a 70 anos 21%

FAIXA ETÁRIA

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67

Figura 22:Escolaridade dos turistas em 2017

Fonte: Elaboração Própria

No quesito escolaridade, houve um predomínio do nível superior, declarado por

68 % dos entrevistados, seguido de 25% daqueles que possuem nível médio e 7 %

que afirmaram ter o nível fundamental.

Figura 23:Motivação para participar da festa em 2017

Fonte: Elaboração Própria

Na parte de motivação para participar da festa, observou-se diversas

declarações, algumas até inusitadas, como por exemplo um turista austríaco, que ao

Nível Fundamental

7%

Nível Médio25%

Nível Superior68%

ESCOLARIDADE

Beleza da festa11%

Trabalho7%

Não sabia da festa53%

Religiosidade7%

Casamento4%

Curiosidade14%

Tradição4%

MOTIVAÇÃO PARA PARTICIPAR DA FESTA

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68

ser entrevistado disse que conheceu sua namorada numa outra edição da Festa do

Divino e estava de volta para se casar justamente no período da Festa do Divino desse

ano. Muitos dos turistas entrevistados infelizmente não sabiam que a festa estava

ocorrendo, o que representou 53 % dos entrevistados nessa parte.

Figura 24:Ponto Forte da Festa em 2017

Fonte: Elaboração Própria

Outra parte em que também ocorreram diversas respostas foi no quesito ponto

forte da festa. No entanto, como citado anteriormente a respeito da motivação em

participar da festa, no qual muitos turistas não sabiam do evento religioso, isso se fez

refletir no momento em que foram argumentados no ponto forte da festa, com 25 %

dos entrevistados não sabendo informar algo sobre esta pergunta. Dos quesitos mais

apontados, há destaque para as missas e beleza da festa.

0%

5%

10%

15%

20%

25%

PONTO FORTE DA FESTA

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69

Figura 25:Ponto Fraco da festa

Fonte: Elaboração própria

A respeito do ponto fraco da festa, 89% dos turistas entrevistados disseram não

ter algo a declarar. Dentre aqueles que opinaram a respeito do ponto fraco, apontaram

a competição entre vendedores de passeios, falta de ciranda, que é uma dança típica

da cidade e também a segurança.

Figura 26:Infraestrutura da cidade

Fonte: Elaboração Própria

Não se aplica89%

Competição entre

vendedores de passeios

3%

Falta da Ciranda

4%Segurança

4%

PONTO FRACO DA FESTA

Pode melhorar11%

Não se aplica21%

Boa57%

Muito boa4%

Excelente7%

INFRAESTRUTURA DA CIDADE

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70

Como toda cidade turística, a parte da infraestrutura é algo a ser analisado

criticamente por turistas e excursionistas. No caso de Paraty, a maior parte dos turistas

entrevistados na Festa do Divino apontou como boa a questão da infraestrutura, o que

representou 57 % dos entrevistados e 11 % afirmaram que a cidade pode melhorar

mais, sobretudo na questão de informações para turistas em língua estrangeira.

Figura 27:Sugestão dos turistas em 2017

Fonte: Elaboração Própria

No ponto das sugestões, 57 % dos turistas entrevistados apontaram não ter

sugestões a declarar com relação a algo que pudesse ser melhor aproveitado na festa,

até porque a maioria desses turistas entrevistados ainda não conheciam a Festa do

Divino. Dentre algumas sugestões a destacar, tem-se a questão da reparação da

fachada da Igreja da Matriz, apontada por um dos turistas estrangeiros e a colocação

de um mirante na cidade, sugestão esta dada pelo mesmo turista austríaco que estava

na cidade mais pelo seu casamento do que pela festa.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

SUGESTÃO

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71

3.9.2 Moradores

De acordo com os moradores entrevistados na Festa do Divino de Paraty,56 %

são do sexo feminino, enquanto que 44% do sexo masculino.

Figura 28:Faixa etária dos moradores em 2017

Fonte: Elaboração Própria

Na parte de faixa etária, metade dos moradores entrevistados estão na faixa

entre 31 e 40 anos, com 50 % dos entrevistados.

Figura 29:Escolaridade dos moradores em 2017

Fonte: Elaboração Própria

18 a 20 anos5%

21 a 30 anos22%

31 a 40 anos50%

41 a 50 anos6%

51 a 70 anos17%

FAIXA ETÁRIA

Nível Fundamental

11%

Nível Médio61%

Nível Superior28%

ESCOLARIDADE

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72

No que se refere ao nível de escolaridade,61 % dos moradores entrevistados

na festa declararam possuir o ensino médio, com 11 % tendo nível fundamental e 28

% com nível superior.

Figura 30:Significado da festa para os moradores em 2017

Fonte: Elaboração própria

A respeito do significado da Festa do Divino, várias opiniões foram colhidas na

entrevista, mas dentre as duas principais justificativas, tem-se a tradição da festa, com

22 % e a religiosidade, com 16 %. Ao questionar os moradores nessa parte, percebeu-

se que havia em todos eles um sentimento de propriedade sobre o evento e o tamanho

da importância da Festa do Divino pros paratienses.

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

SIGNIFICADO DA FESTA

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73

Figura 31:Ponto forte da festa para os moradores em 2017

Fonte: Elaboração própria

No ponto forte da festa, várias partes foram apontadas. No entanto,

destacaram-se o almoço do Divino, a religiosidade por parte das pessoas que

participam da festa e as missas realizadas diariamente, todos com 22 % cada.

Figura 32:Ponto fraco da festa para os moradores em 2017

Fonte: Elaboração própria

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

PONTO FORTE DA FESTA

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

PONTO FRACO DA FESTA

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74

Sobre o ponto fraco da festa, a maior parte dos moradores, representadas por

61 % dos entrevistados, disse não haver algum ponto fraco.

Quando perguntados se participam de outra festa religiosa na cidade, todos os

entrevistados afirmaram que de alguma forma prestigiam algum evento religioso em

Paraty, mesmo que não seja de uma maneira tão intensa.

Figura 33:Contribuição da festa pra cidade para os moradores em 2017

Fonte: Elaboração Própria

Uma das formas que a festa contribui para a cidade, segundo os moradores

entrevistados, é na captação de turistas, tópico representado por 78%. Mesmo sendo

uma festa em que a participação dos moradores é percebida de forma mais intensa,

ainda sim estes entrevistados acreditam que o turismo é beneficiado pela Festa do

Divino.

Quando perguntados se o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Festa do

Divino de Paraty ajuda na captação de turistas,95 % dos moradores entrevistados

disseram que sim. Os outros 5 % não souberam responder.

3.9.3 Trabalhadores

Nas entrevistas com os trabalhadores, houve um número de respondentes

maior por parte das mulheres, que representam 75 % das pessoas entrevistadas,

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Boa para acidade

Traz turistaspara a cidade

Traz turistas emelhora acultura da

cidade

Manutençãodo

PatrimônioCultural eReligioso

Não se aplica

CONTRIBUIÇÃO DA FESTA PRA CIDADE

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75

enquanto que 25 % são homens. São prestadores de serviço do comércio local, como

lojas, restaurantes e agências de viagem, todas elas localizadas no centro histórico

da cidade.

Figura 34:Faixa etária dos trabalhadores entrevistados em 2017

Fonte: Elaboração própria

Com relação à faixa etária, verificou-se que 60 % da mão-de-obra entrevistada

possuem entre 21 e 30 anos. Apenas uma pequena parte, representada por 5%,

possuem entre 51 a 60 anos de idade.

Figura 35:Escolaridade dos trabalhadores em 2017

Fonte: Elaboração própria

21 a 30 anos60%

31 a 40 anos20%

41 a 50 anos15%

51 a 60 anos5%

FAIXA ETÁRIA

Nível Fundamental

5%

Nível Médio60%

Nível Superior35%

ESCOLARIDADE

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76

Quanto ao nível de escolaridade, a maior parte dos trabalhadores possui nível

médio, com 60 %, seguido de nível superior, que representa 35% e apenas 5 % com

nível fundamental.

Figura 36:Ponto forte da festa para os trabalhadores em 2017

Fonte: Elaboração própria

Sobre o ponto forte da festa,35 % dos trabalhadores entrevistados não

souberam responder a essa questão. Daqueles que justificaram o ponto forte do

evento, apontaram as barracas localizadas ao redor da Igreja da Matriz e a tradição

da festa,20 % e 15 % respectivamente.

Figura 37:Ponto fraco da festa para os trabalhadores em 2017

Fonte: Elaboração própria

0%5%

10%15%20%25%30%35%

PONTO FORTE DA FESTA

Vendas30%

Não se aplica55%

Parte profana15%

PONTO FRACO DA FESTA

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77

No que se refere ao ponto fraco da festa,55 % dos entrevistados não souberam

responder a essa pergunta. No entanto,30 % apontaram que as vendas não são boas

no período da festa, já que é um evento mais para moradores locais e estes se

concentram mais ao redor da Igreja da Matriz. Já 15 % dos entrevistados disseram

ser a parte profana o ponto fraco.

Figura 38:Contribuição da festa para o trabalho

Fonte: Elaboração própria

A grande maioria dos trabalhadores, representadas nesse quesito por

80 % dos entrevistados, afirmou que a Festa do Divino não contribui para o seu

trabalho, visto que é mais para moradores locais.

Não contribui80%

Ajuda no turismo

15%

Aumenta a venda do comércio

5%

CONTRIBUIÇÃO DA FESTA PARA O TRABALHO

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78

Figura 39:Sugestão

Fonte: Elaboração própria

Quando perguntados a respeito da sugestão para melhorar a festa, duas partes

foram as mais citadas, no caso uma maior divulgação do evento e também uma

melhora nos shows da parte profana. Segundo esses trabalhadores, deveriam ter

artistas mais conhecidos, o que atrairia mais pessoas à festa, em especial os turistas.

Figura 40:Festa do Divino como Patrimônio Imaterial

Fonte: Elaboração própria

Nesta parte, os entrevistados ficaram um pouco mais divididos na resposta.

Enquanto que 50 % dos trabalhadores acreditam que tal título da festa pode ajudar no

Não se aplica15%

Maior divulgação

45%

Manutenção da festa,sem

muita divulgação

5%

Melhorar shows35%

SUGESTÃO

Ajuda pouco no turismo

40%

Não se aplica10%

Ajuda no turismo

50%

FESTA DO DIVINO COMO PATRIMÔNIO IMATERIAL

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79

turismo local, desde que haja uma maior divulgação do evento,40 % disseram ainda

ser pouca a contribuição que o título de Patrimônio Cultural Imaterial pode dar ao

turismo na Festa do Divino, consequentemente ao turismo de Paraty.

3.9.4 Meios de hospedagem

Figura 41:Taxa de ocupação em 2017

Fonte: Elaboração própria

Na taxa de ocupação, considerou-se como baixa uma porcentagem de no

máximo 60 % de ocupação; média com uma ocupação entre 61 e 80 %; alta entre 81

e 95% e lotada com 100 %. No caso das entrevistas com recepcionistas dos meios de

hospedagem,53% afirmaram ser baixa a taxa de ocupação ao longo da festa,

enquanto que 26 % disseram ser lotada a ocupação de seus respectivos meios de

hospedagem, mas tal fato só ocorre aos finais de semana.

Baixa53%

Média16%

Alta5%

Lotada26%

TAXA DE OCUPAÇÃO

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80

Figura 42:Perfil do hóspede em 2017

Fonte: Elaboração própria

No perfil dos hóspedes,52 % dos entrevistados disseram ser hóspedes de perfil

variado, não necessariamente religiosos que visitam a cidade por conta da festa. Logo

a seguir,29 % dos entrevistados disseram ser um público de terceira idade e religioso

a se hospedar em seus estabelecimentos ao longo do evento.

Figura 43:Sugestão

Fonte: Elaboração própria

Terceira idade e religioso

29%

Familiar14%

Variado52%

Religioso5%

PERFIL DO HÓSPEDE

Maior divulgação e melhorar a

estrutura da festa5%

Não se aplica45%

Diminuir o barulho do som

5%

Maior divulgação

40%

Melhorar os shows

5%

SUGESTÃO

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81

No quesito sugestão, houve praticamente empate entre duas opiniões:45% dos

entrevistados disseram não ter sugestões a dar para a festa, enquanto que 40%

disseram que uma divulgação maior ajudaria bastante na captação de turistas para a

Festa do Divino.

Assim como em 2016, os representantes entrevistados no ano de 2017

afirmaram que o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Festa do Divino pode ajudar

no turismo de Paraty, mesmo que de uma forma mais discreta, já que é um evento

mais comemorado pela população local.

3.9.5 Comparação entre as Festas do Divino nos anos de 2016 e 2017

Nos dois anos em que foram realizadas as pesquisas, pode-se fazer uma

comparação entre os turistas, trabalhadores, moradores e meios de hospedagem.

A respeito dos turistas, no ano de 2016, as entrevistas foram feitas com turistas

nacionais. Já em 2017, houve a oportunidade de entrevistar vários turistas

estrangeiros, a maioria deles pela primeira vez na cidade; Na faixa etária, permaneceu

nos dois anos um público entre 30 a 40 anos de idade; Sobre a escolaridade, o ensino

superior continuou como o mais divulgado; No gênero, em 2016, o feminino foi o mais

presente, enquanto que em 2017 o público masculino foi maioria; Sobre a motivação

em participar da festa, em 2016, os turistas afirmaram que a tradição, fé e religiosidade

eram os motivos, enquanto que em 2017,a maior parte dos turistas não soube

responder; No ponto forte da festa, em 2016, foram votadas à beleza, procissão das

bandeiras e toda a festa, enquanto que em 2017, a maior parte dos turistas também

não soube responder; Na comparação com outras festas religiosas da cidade, os

turistas entrevistados em 2016 apontaram a Festa do Divino como a principal,

enquanto que a maior parte dos turistas de 2017 também não soube responder; Na

infraestrutura da cidade observada pelos turistas, nos dois anos de pesquisa os

entrevistados afirmaram ser boa; Na sugestão para a festa, no ano de 2016,a maior

parte dos entrevistados não soube responder, assim como em 2017.

Quanto aos moradores, em ambos os anos, a faixa etária permaneceu a

mesma, sendo de 31 a 40 anos de idade; no gênero, predominou o feminino também

nos dois anos de pesquisa; na escolaridade, o nível médio se fez presente na maioria

dos entrevistados, sem alteração; na religião, o catolicismo foi o mais votado nos dois

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anos; Sobre o significado da festa, em 2016 a religiosidade foi a parte mais declarada,

enquanto que em 2017 a tradição foi o item mais escolhido; No ponto forte da festa,

em 2016, os entrevistados falaram mais da gincana das crianças e adolescentes, além

de citarem que tudo na festa se faz importante, enquanto que em 2017, o ponto mais

apontado foi o almoço do Divino; No ponto fraco da festa, nos dois anos não houve

tópicos a serem abordados; quando perguntados se participavam de outras festas

religiosas na cidade, os entrevistados disseram que sim, mas não apontavam

claramente quais eram as festas religiosas.

Em 2017 também foi perguntado para os moradores qual a contribuição da

festa para a cidade e o turismo foi o ponto mais citado e o fato da festa ser classificada

como Patrimônio Cultural Imaterial foi apontado como relevante para o auxílio no

turismo da cidade.

No grupo dos trabalhadores, em 2016, a faixa etária maior foi entre 31 a 40

anos, enquanto que em 2017 verificou-se um público entre 21 a 30 anos com maior

representatividade; na religião, nos dois anos, presenciou-se o catolicismo como o

mais citado; no gênero, em 2016 foram entrevistados mais o público masculino,

enquanto que em 2017, o feminino foi maior; no ponto forte da festa, em 2016 a beleza

da festa foi a mais votada, enquanto que em 2017, um número maior de entrevistados

não soube responder; no ponto fraco da festa, nos dois anos a maior parte dos

entrevistados não soube responder; na sugestão para melhorar a festa, em 2016, os

pontos mais indicados foram o de não se ter uma sugestão, seguido de uma maior

divulgação para atrair mais turista, enquanto que em 2017 os pontos mais citados na

sugestão foram maior divulgação e também melhorar os shows, a fim de trazer mais

turistas.

Também no ano de 2017, foi questionada a parte da contribuição da festa para

o trabalho desses prestadores de serviço e boa parte dos entrevistados disse que a

Festa do Divino não contribui para a melhora no seus serviços em termos de aumento

de venda; Sobre a escolaridade dos trabalhadores, o nível médio foi o mais apontado

e quando perguntado de que forma a Festa do Divino como Patrimônio Cultural

Imaterial auxilia a cidade, o ponto mais abordado foi o de ajudar no turismo.

Nos meios de hospedagem, no ano de 2016, os entrevistados disseram ser

alta a ocupação, o que representa uma média de 80 % da ocupação e no ano de 2017,

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apontou-se uma ocupação baixa, de no máximo 60 % dos leitos. Essas ocupações

são mais verificadas no último fim de semana da festa, em que ocorrem mais

atividades no evento. Sobre o perfil dos hóspedes, tanto no ano de 2016 quanto em

2017 foi declarado que é um perfil variado, sem ser necessariamente religioso; Nas

sugestões, a maior divulgação foi ponto comum nos dois anos em que as entrevistas

foram realizadas.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesses dois anos consecutivos em que foram realizadas as pesquisas na Festa

do Divino de Paraty, percebeu-se que é um evento que conta muito mais com a

participação dos moradores da cidade, que se engajam na realização da festa,

cuidando com orgulho como algo que lhe pertencesse. Isso ficou muito claro nas

entrevistas, quando os moradores falavam da festa e o que esta representava para

eles. Alguns dos entrevistados chegavam a afirmar que mesmo que não houvesse

turista, a festa aconteceria da mesma forma, isso sem contar a defesa de uma

divulgação menor do evento, a fim de que o turismo não se aproprie e altere a rotina

da festa. Nas ruas, toda a decoração que ao mesmo tempo era simples, transmitia

toda a beleza e sentimento de devoção pela cidade, com suas bandeirinhas em

vermelho e branco, cruzando todo o centro histórico, além de toalhas estendidas nas

janelas de estabelecimentos comerciais ou algo que lembrasse que era época da

Festa do Divino em Paraty. No entanto, mesmo tendo a festa um maior apelo local,

esta pode ajudar no turismo da cidade.

A Festa do Divino Espírito Santo, por ser muito rica em história, é uma grande

referência em termos de festa religiosa. No caso de Paraty mais especificamente, essa

festa, que tem a duração de dez dias corridos, pode ajudar muito no turismo local,

principalmente o de segmento religioso. Não necessariamente o turista que vai

prestigiar a Festa do Divino em Paraty tem como lazer a parte religiosa.Com diversos

atrativos naturais e culturais, esse mesmo turista pode aproveitar outros atrativos em

Paraty. Dessa forma, os segmentos turísticos em conjunto movimentam a economia

da cidade. No que se refere especificamente à festa, é necessário que haja um

trabalho de divulgação adequado da oferta turística, tanto de seus atrativos quanto de

serviços, como meios de hospedagem e transporte, por exemplo.

Paraty conta com uma vantagem, que é o fato de localizar-se entre as duas

principais cidades brasileiras, que são Rio de Janeiro e São Paulo, dois grandes pólos

emissores de turistas. Sendo assim, tanto poder público quanto privado, juntamente

com o IPHAN, deveriam trabalhar para uma melhor divulgação da Festa do Divino.

Sobre seus valores, a Festa do Divino apresenta muito para quem decide descobri-la

em detalhes, sua rica história e a forma como chegou ao Brasil, em especial Paraty,

como este festejo mexe com a rotina dos religiosos paratienses, em especial os

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católicos, que procuram manter a sua tradição, ofertando o que há de melhor e de

acordo com as condições de cada um. Procura-se também trabalhar num turismo de

qualidade e que todas as classes sociais possam participar, a fim de mostrar a

interessante parte cultural que a Festa proporciona, com o trabalho dos moradores de

Paraty sendo respeitado, já que estes são os protagonistas da festa.

Com isso, conclui-se que a Festa do Divino Espírito Santo de Paraty contribui

com o turismo local, mas com uma melhor divulgação do evento e o controle a respeito

do turismo, a fim de que problemas relacionados a este fenômeno não ocorram, a

Festa pode contribuir de forma muito positiva para o fortalecimento do turismo

religioso local. Obviamente que para um aumento no número de turistas, o poder

público não pode ficar restrito apenas à divulgação, tendo que cuidar também de

questões básicas pra cidade, como saneamento básico, abastecimento de água para

toda a cidade, a fim de que não se corra o risco de faltar água (um problema comum

em cidades turísticas e que possuem um pequeno número de habitantes), segurança,

dentre outras medidas que possam tranquilizar tanto os turistas quanto os moradores.

Sobre as outras festas religiosas da cidade, o poder público local pode aproveitá-las

e também, de forma planejada, colocar Paraty como uma das cidades referências em

turismo religioso no país.

Esta pesquisa também não esgota em si mesma, mostra apenas uma face da

questão na Festa do Divino e dá a possibilidade de estudo para outros pesquisadores

que tenham o interesse em investigar o tema ou dedicar-se mais a questões pouco

exploradas neste trabalho.

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86

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6 APÊNDICE A

A:Transcrição de trechos entrevista com o Secretário de Turismo de Paraty, Sr Gabriel

Ramos Costa. Entrevista com autorização do Sr Gabriel Ramos Costa gravada na

própria entrevista.

Dia:01/06/2017

Leandro:Sr Gabriel, até que ponto a Festa do Divino ajuda na divulgação de Paraty,

em especial o turismo religioso na cidade?

Sr Gabriel: A nossa paróquia é bem festeira e a Festa do Divino é a principal delas,

é até maior do que a festa da padroeira da cidade, o que é bem engraçado isso. Ela

ajuda bastante no segmento, ela tem o registro no livro de festividade do IPHAN, o

que ajuda ainda mais essa questão de divulgação e ela é muito tradicional, é muito

forte, o Vale do Paraíba vem pra cá, diversas regiões consomem essa festa, ela é

linda, é única e peculiar e ela ajuda bastante no turismo, na divulgação e no

fortalecimento do turismo religioso, sem sombra de dúvidas.

Leandro: Existe algum planejamento por parte da prefeitura pra divulgar ainda mais

a Festa do Divino, melhorar alguma condição dela?

Sr Gabriel: Então, as festas que a gente mais divulga quando a gente vai pra feira de

turismo, quando a gente tem alguma publicação, alguma coisa nesse sentido, com

mais tradicional e característica definitivamente são: Festa do Divino ,FLIP, Festival

da Cachaça e Jazz, acho que eles são os carros chefes, acho que a gente tem eventos

tão bons quanto, como MIMO, Paraty em foco e tantos outros mas, genuinamente

paratiense acho que a Festa do Divino é mais que carnaval, mais que réveillon, ela é

muito paratiense, muito enraizada na nossa cultura.

Leandro: Essas feiras que vocês divulgam esses eventos são nacionais e

internacionais?

Sr Gabriel: É, internacional a gente vai só pra Buenos Aires, mas a gente divulga ela

nos eventos e sempre que a gente tem alguma reportagem, a gente faz questão de

reforçar isso dai.

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Leandro: Dentre os eventos religiosos da cidade, como Santa Rita, da padroeira da

cidade, dentre outros, você considera a Festa do Divino como a principal dessas festas

religiosas de Paraty?

Sr Gabriel: Sem sombra de dúvidas. Acho que é a festa que mais mobiliza a cidade,

mais do que a própria padroeira, que é Nossa Senhora dos Remédios, que mais

movimenta, é aquela festa que quando você é criança a sua mãe compra uma roupa

nova pra você ir no sábado na Festa do Divino na praça. É a festa que todo paratiense

espera chegar, na verdade não sei se todo, mas a maioria é aquela festa que todo

mundo se emociona, que bota a bandeira da Festa do Divino na janela. Quando você

vê o almoço do Divino, no sábado, é aquele momento em que você encontra com todo

mundo na praça, um momento único. Você tem também o Bingão do Divino, que serve

pra arrecadar fundos pra festa e a praça fica um formigueiro, em que todo mundo se

diverte, é um momento bem paratiense.

Leandro: Com relação a organização e benefícios econômicos pra cidade, como pode

caracterizar?

Sr Gabriel: Em termos de receita, de volume turístico, ela não é e não bate, até porque

não é a pretensão, já que é uma festa religiosa e não comercial, o Festival de Jazz,

ela não bate taxa de ocupação do Festival da Cachaça, até mesmo por uma questão

de apelo, já que a maioria das pessoas consomem mais álcool do que vão a Igreja,

mas ela aquece bem o comércio local, ela traz um público grande, principalmente no

segundo final de semana, então ela é bem importante sim, ela tem esse apelo bem

forte também, movimenta bem a economia da cidade, gera renda, temos em média

de dez a doze pessoas de Paraty que montam stands de alimentação, então dá uma

aquecida sim.

Leandro: O senhor tem alguma idéia da taxa de ocupação da festa?

Sr Gabriel: Ela gira em torno de 80 a 85 % nos meios de hospedagem, isso no

segundo final de semana. No primeiro final de semana essa taxa de ocupação é

menor, mas claro que nesse ano a gente já sente um efeito da recessão no país.

Leandro: Quantos turista passam em média passam em Paraty ao longo da Festa do

Divino?

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Sr Gabriel: Eu não tenho esse número exato, mas estima-se que entre 20 a 25 mil

turistas.

Leandro: Desde o momento que o senhor está como Secretário de Turismo de Paraty,

já detectou algum problema na Festa do Divino que tenha sido apresentado e que a

prefeitura esteja tentando solucionar?

Sr Gabriel: Eu estou como secretário há cinco meses e como adjunto por três anos e

meio. Na Festa do Divino a gente tinha uma reclamação constante de não ter um

grande show como Paula Fernandes e Michel Teló, por exemplo, mas era uma

questão orçamentária. Mas na parte religiosa a gente não tem como entrar pra dar

palpite porque é religiosa e quem realiza é a paróquia e ela é belíssima né, ela é muito

bem feita, a paróquia realiza um belo trabalho. Mas em geral as maiores reclamações

são a falta de um grande show, que as pessoas cobram mas não tem recurso e

também a algumas tradições que estão se perdendo, tradições estas como o pau-de-

sebo, a luta das canoas, o porco sujo de graça, miota, brincadeira de bingo e da

argola, algumas coisas a gente já conseguiu resgatar, que é a barraca do bingo, que

não tinha, a barraca das argolas que a gente conseguiu e a gente tá fazendo parceria

com o SESC pra resgatar o Boi ,a Miota e o Cavalinho, que são coisas que já haviam

se perdido e são coisas que estão sendo encaminhadas as escolas municipais.

Leandro: Com relação a inciativa privada, existe alguma tentativa de aproximação

desta com o poder público de colaborar com a festa?

Sr Gabriel: Poder público não, o que acontece é que por ser muito paratiense, por ser

muito nossa, há uma mobilização natural das pessoas ajudarem a festa. Por exemplo

eu, Gabriel, muito antes de estar como Secretário de Turismo de Paraty, eu já doava

uma caixa de tomate para o almoço; tem o açougue do João que oferece carne; um

grupo de mulheres que ajuda na decoração da Igreja, cada um doa o que pode,

mesmo não sendo financeiramente, mas ajuda com um trabalho, por exemplo.

Leandro: Até que ponto o fato da Festa do Divino ser Patrimônio Cultural Imaterial

ajuda a captar mais turistas?

Sr Gabriel: Acredito que seja mais um reconhecimento de um trabalho de uma cidade

que faz mais por fé e tradição, é ser reconhecido. Não conheço ninguém que faça

caridade pra ser reconhecido, mas quando é as pessoas ficam lisonjeadas, ninguém

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é católico e devoto do Divino por querer esse reconhecimento, mas quando é fica feliz.

Esse reconhecimento de fora é interessante nesse sentido. Em termos práticos, o que

ele trouxe de fato, pra paróquia eu não sei, mas pra Secretaria de Turismo, que realiza

a parte profana, que é a parte de shows, não mudou absolutamente nada, mas talvez

pra paróquia tenha agregado valor, ela agrega valor a algo que é imaterial, é

intangível, um prêmio, um reconhecimento, então não tem como muito agregar valor

e como não é uma relação comercial, a prefeitura não visa lucro.

Leandro: Mudando um pouco o foco, com relação a FLIP, nesse ano de 2017 ela

ocorrerá dentro da Igreja da Matriz?

Sr Gabriel: Algumas pessoas em Paraty ainda não se deram conta do caos financeiro

e político que o país tá vivenciando, né, então a FLIP tem que se reinventar, ela não

conseguiu captar todos os recursos que ela gostaria de captar e ela está se

reinventando, ela fez uma parceria com o Padre Roberto pra poder fazer as mesas de

debates dentro da Igreja. Eu particularmente, Gabriel, achei genial, pois a Igreja é um

lugar lindo, de fé e de convivência, não é intocável, é um lugar que se faz amizades e

tudo mais e levar o debate pra dentro da Igreja é superválido, já que nos dias atuais a

fé vai diminuindo e isso traz proximidade. É uma valorização de um patrimônio nosso,

é a casa de Deus e tem tudo a ver.

Leandro: O senhor gostaria de realizar algum comentário sobre o trabalho que a

Secretaria de Turismo de Paraty vem fazendo, alguma novidade que esteja por vir?

Sr Gabriel: A Secretaria de Turismo de Paraty é responsável pela geração de

emprego e renda na cidade, é um desafio você hoje, por toda a questão e desgaste

político, eu como secretário, sou um agente político, então é um desafio você estar a

frente de um cargo político num momento tão complexo, numa crise política, financeira

e ética tão grande. A gente trabalha na parte de capacitação, na parte de ordenamento

do centro histórico, na promoção da cidade, com os eventos, o que consome a cidade

e a secretaria. Estamos muito empenhados no ordenamento e captação de eventos.

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APÊNDICE B

B:PERGUNTAS FEITAS NA FESTA DO DIVINO DE PARATY EM 2016

Turistas

1. Qual a sua procedência?

2. Qual a sua idade?

3. Qual sua escolaridade?

4. Qual a sua religião?

5. Qual a sua motivação pra participar da Festa do Divino?

6. Qual o ponto forte da festa?

7. Qual o ponto fraco da festa?

8. O que acha da infraestrutura da festa?

9. Dá pra fazer alguma comparação com outras festas religiosas de Paraty?

10. Sugestões para a Festa do Divino de Paraty?

Moradores

1. Qual a sua idade?

2. Qual a sua escolaridade?

3. Qual a contribuição da Festa do Divino pra cidade?

4. Qual a sua religião?

5. Qual o significado da Festa do Divino?

6. Qual o ponto forte da Festa do Divino?

7. Qual o ponto fraco da Festa do Divino?

8. Participa de outra festa religiosa?

9. Festa do Divino de Paraty como Patrimônio Cultural Imaterial ajuda no turismo

local?

Trabalhadores

1. Qual sua idade?

2. Qual sua religião?

3. Qual o ponto forte da festa?

4. Qual o ponto fraco da festa?

5. Dentre os eventos em Paraty, qual você considera melhor para o seu

trabalho?

6. Festa do Divino é a principal festa religiosa da cidade?

7. Festa do Divino como Patrimônio Cultural Imaterial ajuda no turismo local?

8. Sugestões

Meios de hospedagem

1. Taxa de ocupação do estabelecimento na Festa do Divino?

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2. Perfil dos hóspedes?

3. Festa do Divino como Patrimônio Cultural Imaterial ajudaria no turismo local?

4. Sugestões

C:PERGUNTAS FEITAS NAS ENTREVISTAS DA FESTA DO DIVINO DE PARATY

EM 2017

Turistas

1. Qual a sua procedência?

2. Qual a sua idade?

3. Qual a sua escolaridade?

4. Qual a sua motivação pra participar da Festa do Divino?

5. Qual o ponto forte da festa?

6. Qual o ponto fraco da festa?

7. O que acha da infraestrutura da cidade?

8. Qual sugestão daria para Festa do Divino?

Moradores

1. Qual a sua idade?

2. Qual a sua escolaridade?

3. Qual o significado da Festa do Divino?

4. Qual o ponto forte da festa?

5. Qual o ponto fraco da festa?

6. Participam de outra festa religiosa?

7. Qual a contribuição da Festa do Divino pra cidade de Paraty?

8. Classificação da Festa como Patrimônio Cultural Imaterial ajuda no turismo

local?

Trabalhadores

1. Qual a sua idade?

2. Qual a sua escolaridade?

3. Qual o ponto forte da festa?

4. Qual o ponto fraco da festa?

5. Qual a contribuição da festa para seu trabalho?

6. Festa do Divino de Paraty como Patrimônio Cultural Imaterial ajuda no turismo

local?

7. Sugestão

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Meios de hospedagem

1. Qual a taxa de ocupação na Festa do Divino de Paraty?

2. Qual o perfil dos hóspedes?

3. Sugestão

D:FOTOS DA FESTA DO DIVINO DE PARATY

Figura 44:Centro Histórico de Paraty enfeitado na Festa do Divino

Fonte: Elaboração Própria

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Figura 45:Igreja da Matriz e missa na Festa do Divino

Fonte: Elaboração Própria

Figura 46:Bando precatório

Fonte: Elaboração Própria

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Figura 47:Almoço do Divino

Fonte: Elaboração Própria

Figura 48:Imperador da Festa do Divino 2017

Fonte: Elaboração Própria

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Figura 49:Congada na Festa do Divino de Paraty em 2017

Fonte: Elaboração Própria

Figura 50: Boi, Cavalinho e Miota

Fonte: Elaboração própria

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Figura 51:Dança das fitas

Fonte: Elaboração Própria

Figura 52:Dança dos Velhos

Fonte: Elaboração Própria

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102

Figura 53:Jongo do Quilombo do Campinho da Independência

Fonte: Elaboração própria

Figura 54:Libertação simbólica do preso

Fonte: Elaboração Própria

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Figura 55:Procissão do Divino no encerramento da festa.

Fonte: Elaboração própria

Figura 56:Representação de outros santos na procissão de encerramento da festa

Fonte: Elaboração própria

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Figura 57:Foto tirada com o Sr Diuner Mello, morador de Paraty e escritor do livro:

Festa do Divino Espírito Santo de Paraty, manual do festeiro.

Fonte: Elaboração Própria

Figura 58:Foto tirada com o pároco da Igreja da Matriz, Padre Roberto.

Fonte: Elaboração própria

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