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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA GERSON ROMERO DE OLIVEIRA FILHO ANÁLISE DOS IMPACTOS SÓCIO-AMBIENTAIS DA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO INDUSTRIAL DE CATAGUASES NITERÓI 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

GERSON ROMERO DE OLIVEIRA FILHO

ANÁLISE DOS IMPACTOS SÓCIO-AMBIENTAIS DA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO INDUSTRIAL DE CATAGUASES

NITERÓI

2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

GERSON ROMERO DE OLIVEIRA FILHO

ANÁLISE DOS IMPACTOS SÓCIO-AMBIENTAIS DA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO INDUSTRIAL DE CATAGUASES

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense, como requisito para obtenção do título de Mestre em Geografia. Área de concentração: Ordenamento Territorial e Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Franco da Silva

NITERÓI

2006

O48 Oliveira Filho, Gerson Romero de Análise dos impactos sócio-ambientais da organização do espaço industrial de Cataguases / Gerson Romero de Oliveira Filho. – Niterói : [s.n.], 2006. 166 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal Fluminense, 2006 . 1.Organização espacial. 2.Ordenamento territorial. 3.Indústria – Localização – Cataguases (MG). I.Título. CDD 304.23098151

ii

GERSON ROMERO DE OLIVEIRA FILHO

ANÁLISE DOS IMPACTOS SÓCIO-AMBIENTAIS DA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO INDUSTRIAL DE CATAGUASES

Dissertação apresentada ao programa de Pós-

Graduação em Geografia da Universidade Federal

Fluminense, como requisito para obtenção do título de

Mestre em Geografia. Área de concentração:

Ordenamento Territorial e Ambiental.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________ Prof. Dr. Carlos Alberto Franco da Silva – Orientador

Universidade Federal Fluminense

_________________________________________________ Prof. Dr. Ruy Moreira

Universidade Federal Fluminense

_________________________________________________ Prof. Dr. Miguel Ângelo Ribeiro

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

NITERÓI

2006

iii

Dedico esse trabalho à Ana Lúcia e Laura, amores eternos, pela presença, confiança e por acreditar que tudo vale a pena. Vocês são o meu maior estímulo.

iv

AGRADECIMENTOS

A Deus pela presença constante em minha vida. A meus pais, Gerson e Nair, que, mesmo de longe, ajudaram-me com as orações e as palavras de carinho e confiança. A vocês, minha gratidão eterna. À Ângela e Villas pela disponibilidade e auxílio nas pesquisas de campo em Cataguases.Valeu pela força! A meu irmão Gilson, que, mesmo distante, sempre torceu e acreditou. À dona Léa pelo apoio constante e pelos conselhos sempre muito importantes. A Pedro, sobrinho querido, um agradecimento pela ajuda na “informática” a tempo e a hora; A todos da família Oliveira e Conceição pela paciência e estímulo; A Leonardo Cintra, parceiro de trabalho, por toda a presença e pelo material produzido no laboratório de Geoprocessamento; Aos companheiros do corpo docente do curso de Geografia do CES-JF pelas palavras em momentos bem especiais. Aos empresários das indústrias de Cataguases que possibilitaram o meu acesso às informações em acolhidas bem receptivas; À Marina Beraldo pelo cuidado estético na produção dos mapas; Aos amigos muito especiais, Cérix, Luísa, Áurea, Darci, Welson, Ana Beraldo que, mesmo indiretamente, são fonte sempre de incentivo. À Juliana, Jaqueline e Romildo pelas informações precisas sobre a Legislação Ambiental. Ao corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFF, em especial aos que estiveram ao meu lado, orientando-me a cada desafio. Aos mestres: Carlos Alberto Franco da Silva, Ruy Moreira e Jacob Binzstock, a minha gratidão.

v

A PALAVRA MINAS

Carlos Drummond de Andrade

Minas não é palavra montanhosa. É palavra abissal. Minas é dentro e fundo. As montanhas escondem o que é Minas. No alto mais celeste, subterrânea, é galeria vertical varando o ferro para chegar ninguém sabe onde. Ninguém sabe Minas. A pedra o buriti a carranca o nevoeiro o raio selam a verdade primeira, sepultada em eras geológicas de sonho. Só mineiros sabem. E não dizem nem a si mesmos o irrevelável segredo chamado Minas.

vi

RESUMO

O município de Cataguases se destacou na economia da Zona da Mata Mineira pelo seu

pioneirismo industrial, cuja lógica de organização espacial apresenta dois padrões

industriais: o disperso e o concentrado. Esses dois arranjos espaciais revelam diferentes

impactos sócio-ambientais. No plano das ações, a ineficácia da fiscalização ambiental é

uma situação comum aos dois padrões. A falta de planejamento da prática industrial é outro

destaque tanto no padrão disperso quanto no Distrito Industrial. No tocante ao arranjo dos

objetos e dos impactos subseqüentes à prática industrial, verifica-se a importância da

indústria na extensão do tecido urbano e no desenvolvimento de atividades econômicas

correlatas à industrialização e urbanização. A singularidade de cada padrão se revela no

grau de poluição das empresas, visto que o padrão disperso é o de maior potencial poluidor.

Por fim, aspectos da organização espacial das empresas mostram diferenciações

significativas no que se refere à logística de transporte, tamanho das empresas, sítio e

posição. A fim de revelar tais aspectos a análise situa o desenvolvimento industrial de

Cataguases em escalas geográficas diversas, bem como afirma o papel da geografia física

e do espaço previamente construído como condicionantes à atividade industrial e dos

problemas ambientais que se apresentam no município.

Palavras – chave: Indústria – Localização – Cataguases(MG) – Impacto ambiental – Espaço

industrial – Política ambiental.

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ABSTRACT

The city of Cataguases has excelled in the economy of Zona da Mata for being a pioneer in

industry, whose logic of spatial organization displays two industrial patterns: the widespread

and the concentrated. These two spatial arrangements unfold different socio-environmental

impacts and, in what concerns taking actions, the two patterns are affected by the

ineffectiveness of environmental surveillance. Also, the lack of planning is enhanced in both

patterns, the widespread and the Distrito Industrial. As for the arrangement of objects and

impacts resulting from industrial practice, it is observed the relevance of industry throughout

the urban tissue, and in developing correlative economic activities to industrialization and

urbanization. The singularity of each pattern reveals itself in the degree of pollution of the

companies, in a much as the widespread pattern bears greater pollution potential. Lastly,

spatial organization aspects of the companies portray significant differentiations regarding

logistic of transport, size of the companies, site and position. In order to unveil such aspects,

the analysis places the industrial development of Cataguases in different scales, as well as it

asserts about the role of physical geography and the previously built space as conditioning

factors to industrial activity and the environmental problems observed in the city.

Keywords: Industry – Location – Environmental impact – Industrial space – Environmental

policy.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 – Crescimento da população brasileira e a taxa de urbanização ................... 29 Quadro 02 – Maiores aglomerações urbanas do mundo – ONU...................................... 30 Quadro 03 – Quadro Industrial de Cataguases ................................................................ 47 Quadro 04 – Quadro Industrial de Cataguases (1952) .................................................... 48 Quadro 05 – Cataguases: população residente ............................................................... 50 Quadro 06 – Cataguases: população ocupada por setores econômicos (2000................ 51 Quadro 07 – Indústrias de Cataguases (2001) ................................................................ 61 Quadro 08 – Principais Indústrias do Padrão Disperso (2006) ........................................ 61 Quadro 09 – Indústrias Têxteis de Cataguases (2006) .................................................... 62 Quadro 10 – Indústrias de papel de Cataguases (2006) ................................................. 63 Quadro 11 – Distritos Industriais Mineiros (Posição em 1979) ...................................... 75 Quadro 12 – Instituições e órgãos de apoio a indústrias em Minas Gerais ..................... 76 Quadro 13 – Distrito Industrial de Cataguases (2006) .................................................... 81 Quadro 14 – Indústrias do DI de Cataguases (2006) ....................................................... 83 Quadro 15 – Indústrias Têxteis (fiação) do DI (2006 ...................................................... 83 Quadro 16 – Geração de energia elétrica e atividades correlatas – CFLCL (2006)........ 84 Quadro 17 – Indústrias de reciclagem e embalagens plásticas do DI (2006)................... 85 Quadro 18 – Indústrias alimentícias do DI (2006) ........................................................... 85 Quadro 19 – Indústrias de artefatos de madeira e marcenaria do DI (2006) ................... 86 Quadro 20 – Indústrias Metalúrgicas do DI (2006) .......................................................... 87 Quadro 21 – Indústrias de confecções do DI (2006) ....................................................... 88 Quadro 22 – Indústrias eletromecânicas do DI (2006) .................................................... 88 Quadro 23 – Empresas transportadoras baseadas no DI (2006)..................................... 94 Quadro 24 – Ramos industriais e as origens das matérias-primas (2006)....................... 95 Quadro 25 – Abrangência espacial do mercado............................................................... 96 Quadro 26 – Estruturação da Legislação Ambiental no Brasil ......................................... 102 Quadro 27 – Instrumentos legais e políticas do Meio Ambiente ...................................... 103 Quadro 28 – Sistema Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais................................ 104 Quadro 29 – Impacto Ambiental da Atividade e competência legal de fiscalização ........ 106 Quadro 30 – Determinação da Classe do Empreendimento ............................................ 107 Quadro 31 – Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes ......................................... 136

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1 – Minas Gerais (Mesorregiões) – Zona da Mata Mineira .................................. 36 Mapa 2 – Cartograma Altimétrico – Município de Cataguases – MG ............................ 38 Mapa 3 – Posição Gerográfica de Cataguases .............................................................. 39 Mapa 4 – Zona da Mata Mineira – Microrregiões ........................................................... 41 Mapa 5 – Microrregião de Cataguases – Minas Gerais .................................................. 42 Mapa 6 – Evolução da Cidade de Cataguases ............................................................... 45 Mapa 7 – Área de Concessão da CFLCL e de outras Concessionárias ......................... 57 Mapa 8 – Principais indústrias do padrão disperso (2006) – Município de Cataguases.. 59 Mapa 9 – Distrito Industrial de Cataguases – Abril de 2006 ............................................ 82 Mapa 10 – A rota dos poluentes: o acidente de Cataguases – (2003) ............................ 98 Mapa 11 – Rota do vazamento da lavagem de Bauxita: acidente em Mirai (2006) ........ 100

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LISTA DE IMAGENS

Imagem de Satélite 1 – O DI de Cataguases e Trecho de Acesso à BR 120 (2006) ..... 79 Imagem de Satélite 2 – O DI de Cataguases e o Terreno da CBA (2006) ..................... 80 Imagem de Satélite 3 – Indústria Irmãos Peixoto (2006) ............................................... 111 Imagem de Satélite 4 – Companhia Industrial Cataguases (2006) ................................ 112 Imagem de Satélite 5 – Companhia Manufatora de Tecidos e Indústria Cataguases de Papel (2006) .................................................................................... 113 Imagem de Satélite 6 – Indusfil Fios e Malhas (2006) ................................................... 114 Imagem de Satélite 7 – Indústria Cataguases de Papel (2006) ..................................... 116 Imagem de Satélite 8 – Fábrica de Papelão Cataguases (2006) ................................... 117 Imagem de Satélite 9 – Fundição Cataguases Metalúrgica (2006) ................................ 118 Imagem de Satélite 10 – Indústrias Químicas Cataguases (2006) .................................. 119 Imagem de Satélite 11 – Rio Pomba Minerações (2006) ................................................. 120 Imagem de Satélite 12 – Bairro Beira Rio e o Distrito Industrial (2006) ........................... 122 Imagem de Satélite 13 – Distrito Industrial de Cataguases (2006) .................................. 123

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LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Esboço da infra-estrutura para melhoria da logística do DI de Cataguases .. 78 Figura 2 – Perfil da área do DI de Cataguases (Norte – Sul) .......................................... 90 Figura 3 –.Esboço da disposição dos terrenos no DI de Cataguases ............................. 91

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13 CAPÍTULO 1 – A QUESTÃO AMBIENTAL SOB O PRISMA DA PRÁTICA INDUSTRIAL .......................................................................................... 18 1.1 – A questão ambiental contemporânea diante do modelo de desenvolvimento Capitalista................................................................................................................. 18 1.2 - Impactos ambientais em áreas urbano-industriais .................................................. 23 1.2.1 – A noção de impactos ambientais ...................................................................... 23 1.2.2 – A problemática ambiental nos espaços urbano-industriais .............................. 28 CAPÍTULO 2 – A ANÁLISE DO PADRÃO DISPERSO DE LOCALIZAÇÃO

URBANO-INDUSTRIAL DE CATAGUASES ........................................ 35 2.1 – Sítio urbano e posição de Cataguases................................................................... 35 2.2 – A evolução urbana e industrial de Cataguases ..................................................... 44 2.3 – A organização do espaço industrial disperso de Cataguases ............................... 51 2.3.1 – Padrão urbano-industrial disperso: uma proposta de definição ......................... 52 2.3.2 – A dimensão geográfica das indústrias dispersas na cidade de Cataguases ..... 53 2.3.3 – A estrutura industrial e os procedimentos tecnológicos da indústria dispersa ... 60 CAPÍTULO 3 – O DISTRITO INDUSTRIAL DE CATAGUASES COMO PADRÃO CONCENTRADO DE LOCALIZAÇÃO DAS INDÚSTRIAS .. 67 3.1 – A noção de DI enquanto recorte analítico do espaço geográfico .......................... 67 3.2 – A gênese do Distrito Industrial de Cataguases ...................................................... 73 3.2.1 – A lógica de localização do DI de Cataguases .................................................... 77 3.2.2 – A estrutura industrial e os procedimentos tecnológicos das industrias do DI ... 81 3.3 - O arranjo espacial do DI de Cataguases ............................................................... 90 3.3.1 – As interações espaciais intra-distrito ................................................................. 93 3.3.2 – As interações espaciais externas nas quais se insere o DI de Cataguases ..... 94 CAPÍTULO 4 – A PROBLEMÁTICA AMBIENTAL ENTRE AS LÓGICAS DE ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL DISPERSA E CONCENTRADA DE CATAGUASES ...................................................................................... 98 4 1 – A (des)ordem ambiental sob o prisma da normatização ambiental ....................... 98 4.1.1 – O diagnóstico ambiental do padrão disperso das indústrias............................... 109 4.1.2 – O diagnóstico ambiental do DI e do seu entorno................................................ 121 4.1.3 – Análise comparativa da problemática ambiental entre os dois padrões de organização industrial.......................................................................................... 125 4.1.4 – O papel do poder público na questão ambiental das indústrias de Cataguases........................................................................................................ 130 4.2 – Os limites da expansão das atividades industriais em Cataguases ..................... 135 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................ 140 BIBLIOGRAFIA............................................................................................................... 144 ANEXOS ..................................................................................................................... 149

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INTRODUÇÃO

A problemática ambiental vem se firmando como uma das grandes questões de

preocupação mundial desde os anos 60 do século XX. A tomada de consciência de que

existe uma crise ambiental põe em questionamento a lógica de desenvolvimento da

sociedade industrial capitalista, cujo processo de acumulação se expande continuamente,

colocando em risco a relação sociedade/natureza. A degradação ambiental passa a ser uma

conseqüência inevitável desse modelo civilizatório que, apoiado na sociedade urbano-

industrial e no consumismo, tem reafirmado a supremacia da razão

tecnológico/desenvolvimentista sobre a organização da natureza. Nesse sentido, o processo

de industrialização ganha relevância e ocupa posição central na discussão da problemática

ambiental. A indústria é um dos centros de gravidade da economia moderna e possui papel

ativo no ordenamento do ambiente com o qual se relaciona através dos seus variados

padrões tecnológicos. E é, principalmente, no ambiente urbano onde as indústrias mais se

inserem, que os problemas ambientais se intensificam. Daí os relatos diários produzidos

pela mídia a respeito dos acidentes ambientais ocorridos nos principais centros urbanos do

Brasil.

Cataguases é um desses centros urbano-industriais que, recentemente, ganhou

destaque na imprensa nacional, quando ocorreram dois acidentes ambientais, envolvendo

duas de suas grandes indústrias em 2003 (Indústria Cataguases de Papel) e 2006 (Grupo

Química Cataguases). Esses dois grandes acidentes serviram de ponto de partida para

constituição de eixos de investigação sobre a questão ambiental no município. De um lado,

destaca-se a análise dos procedimentos tecnológicos das indústrias e, do outro, o papel do

poder público em relação à questão ambiental. Apesar da falta de visibilidade política, os

problemas ambientais sempre fizeram parte do processo de desenvolvimento industrial da

cidade ao longo de todo o século XX, principalmente, no período anterior à década de 1980,

quando ainda não existia a Política Nacional do Meio Ambiente criada pela Lei no 6938 de

1981. A partir dessa data, as indústrias se adequaram às normas técnicas de qualidade

ambiental. No entanto, as exigências legais não impediram a ocorrência de acidentes

ambientais. A grande maioria desses acidentes atingiu diretamente o rio Pomba,

estendendo a poluição até o rio Paraíba do Sul, no Estado do Rio de Janeiro. O

transbordamento do problema ambiental para o Estado do Rio de Janeiro, através das

bacias hidrográficas, acarretou conflitos entre as Secretarias de Meio Ambiente dos dois

Estados e inseriu o IBAMA (Órgão Federal) na questão, em função da abrangência espacial

do acidente. A recorrência dos acidentes ambientais e as discussões sobre as

responsabilidades dos órgãos ambientais encarregados do licenciamento e fiscalização

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desvelaram a existência de uma crise de competências que envolvem os órgãos e

secretarias do Município de Cataguases, do Estado de Minas Gerais e do Governo Federal.

Por isso, torna-se relevante uma análise da Política Nacional do Meio Ambiente para

investigar os domínios de competências e verificar a capacidade operacional dos órgãos

ambientais que atuam no Estado de Minas Gerais.

A inexistência de trabalhos acadêmicos referentes ao processo de

industrialização de Cataguases e suas implicações ambientais nos levaram a traçar um

segundo eixo de análise. Assim sendo, é mister recuperar a evolução histórica do setor

industrial para entender a sua lógica de organização espacial e os impactos socioambientais

produzidos. A abordagem de impactos não se prenderá exclusivamente à investigação dos

problemas ou efeitos deletérios. Partimos da premissa de que o ambiente não é só

receptáculo, uma vez que é social e historicamente construído. É passivo e ativo, isto é, ato

e potência, por isso exige uma abordagem dinâmica que permita compreender os impactos

socioambientais como processo de mudanças sociais e ecológicas em movimento

permanente. Daí o nosso interesse em investigar as mudanças socioespaciais que se

inscreveram em Cataguases como conseqüência da industrialização.

Ao se destacar na Zona da Mata mineira com seu pioneirismo industrial,

Cataguases produziu, internamente, dois padrões de organização espacial das indústrias: o

disperso e o concentrado. É a partir desses dois padrões de organização industrial que se

apoiará a análise dos impactos socioambientais. O disperso caracteriza-se pela ausência de

uma política de zoneamento e pela dispersão generalizada das indústrias no tecido urbano.

O padrão industrial concentrado, implantado a partir dos anos 70 do século XX, obedeceu à

lógica da indústria aglomerada materializada na forma de um Distrito Industrial. Por isso, foi

necessário trabalhar em base cartográfica com o objetivo de representar a espacialização

das indústrias e investigar suas lógicas locacionais, decifrando suas relações com o tecido

urbano. Como o Poder Público Municipal não possui esses mapas, tivemos que elaborá-los.

Obviamente, além do trabalho em laboratório de geoprocessamento, foram feitas várias

pesquisas de campo para coleta de dados indispensáveis à confecção dos mapas. A partir

de junho de 2006, inserimos as imagens de satélites (Google Earth – Digital Globe/2006)

disponibilizadas na Internet. Essas imagens foram utilizadas na fase dos diagnósticos

ambientais dos dois padrões e constituíram ferramentas importantes para referenciar nossa

base de informação cartográfica. Esse recurso nos permitiu, inclusive, obter e verificar

algumas informações que nos foram negadas durante a fase de aplicação dos questionários

nas indústrias.

As principais omissões de informações estavam relacionadas às tecnologias

utilizadas e aos equipamentos e programas de manutenção da qualidade ambiental. No

entanto, os resultados obtidos com as entrevistas nos possibilitaram conhecer os

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procedimentos tecnológicos das indústrias, a abrangência espacial dos mercados, os níveis

de articulação e complementaridade entre as empresas e a situação de cada indústria

diante das exigências legais das normatizações ambientais. Foram feitas também duas

entrevistas com o Secretário de Indústria, Comércio e Segurança e uma com o Secretário

de Agricultura e Meio Ambiente do município de Cataguases. Essas entrevistas serviram

para investigar como o poder público municipal compatibiliza as políticas

desenvolvimentistas com as necessidades da manutenção da qualidade ambiental.

Enfim, o objeto de estudo é a organização industrial de Cataguases. O elemento

problematizador da pesquisa está no grau diferenciado dos impactos socioespaciais

provocados pelas indústrias. Logo, levando-se em consideração os padrões industriais de

Cataguases, os problemas ambientais e o papel do poder público em tal temática, vale

destacar a questão central da pesquisa: qual a dimensão geral e singular dos impactos

ambientais provocados pelos padrões de organização espacial das indústrias de

Cataguases, considerando seus dois arranjos espaciais: o disperso e o concentrado? Tal

questão se afirma em face da distribuição e tipologia das indústrias e dos procedimentos

tecnológicos requeridos para o funcionamento das empresas. Neste sentido, posição e sítio,

bem como padrões diferenciados de localização e a eficácia das políticas ambientais são

suporte à análise dos aspectos singulares da problemática ambiental no espaço urbano-

industrial de Cataguases.

A partir do objeto de pesquisa em destaque, cabe assinalar o objetivo central de

tal estudo: analisar a problemática ambiental da indústria em Cataguases, a partir dos

padrões disperso e concentrado de localização industrial.

A fim de responder a questão central, a dissertação se divide em 4 capítulos. No

capítulo 1, destaca-se a questão ambiental diante do modelo de desenvolvimento capitalista,

de modo a ressaltar sua lógica de funcionamento, baseada numa racionalidade

economicista, socialmente excludente e ambientalmente insustentável. Investigaremos a

diversidade dos conceitos de impacto ambiental para adotar aquele que mais se ajusta a

nossa proposta de trabalho, uma vez que estamos interessados, não só na identificação dos

problemas, mas também nos processos de mudanças socioespaciais.

Em seguida, no capítulo 2, a pesquisa se volta para a análise da expansão

urbano-industrial de Cataguases, tendo como referência o padrão de organização da

indústria dispersa. Como foi a primeira forma de organização espacial da indústria,

analisaremos sua evolução histórica, sua estrutura e os procedimentos tecnológicos

adotados. Discutiremos como o tecido urbano foi se moldando e se estendendo em função

de uma relação complexa com o desenvolvimento das indústrias. Usaremos a

representação cartográfica para localizar as indústrias desse padrão. Nesta abordagem

investigaremos, exclusivamente, as grandes indústrias que, por serem também as mais

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antigas, fornecerão informações fundamentais para o entendimento do processo de

industrialização de Cataguases.

A criação do Distrito Industrial de Cataguases inaugura uma nova forma de

organização espacial das indústrias. Trata-se do padrão concentrado, cuja lógica de

funcionamento e estruturação será esclarecida no capítulo 3. De início, far-se-á uma

investigação das tipologias relativas à aglomeração industrial e, em seguida, um breve

resgate da noção de Distrito Industrial (DI), de modo a definir o tipo de distrito que melhor

se aplica à realidade de Cataguases. Fruto da primeira política de zoneamento urbano do

município, o DI será investigado quanto a sua gênese, organização espacial interna,

procedimentos tecnológicos das indústrias e níveis de interações internas e externas. Para

essa finalidade, foram realizadas entrevistas com os empresários ou responsáveis técnicos

das empresas. No entanto, a ausência de uma representação cartográfica do DI poderia

comprometer a qualidade da análise espacial. Assim, elaboramos um mapa atualizado do

DI que, complementado pelas imagens de satélites, nos permitirá localizar e identificar as

indústrias, a fim de fazer um balanço de ocupação da área. As imagens de satélite também

serão úteis na análise espacial do entorno, uma vez que a dinâmica de funcionamento do DI

e sua infra-estrutura produzem impactos que se projetam nos ambientes próximos.

No capítulo 4, a discussão estará centrada na problemática ambiental relativa às

lógicas de organização dos padrões industriais disperso e concentrado. Para isso, far-se-á,

em primeiro lugar, uma abordagem das normatizações ambientais de modo a revelar como

se estruturam e atuam os órgãos licenciadores e fiscalizadores, cujas competências incidem

sobre a unidade territorial em estudo. Apontaremos as causas das dificuldades operacionais

e demonstraremos como a deficiente integração entre os órgãos ambientais do Município,

Estado e Governo Federal dificultam a execução dos planejamentos econômicos e a

consolidação de uma política ambiental. Apresentaremos os diagnósticos ambientais dos

dois padrões dentro de uma perspectiva que evidencie, principalmente, os processos de

transformações espaciais induzidos pelo desenvolvimento industrial.

Esse diagnóstico ambiental será elaborado com base nos dados obtidos pelas

entrevistas, observações de campo e imagens de satélite Google Digital Globe 2006.

Nessa etapa, a consulta à listagem do Sistema Integrado de Informação Ambiental (SIAM),

disponibilizada pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

(SEMAD), anuncia a situação das indústrias em relação às exigências legais impostas pela

normatização ambiental do Estado de Minas Gerais. De posse dos dados sobre o

andamento de todos os tipos de processos relativos às solicitações operacionais que as

indústrias encaminharam à FEAM (Fundação Estadual do Meio Ambiente), IGAM (Instituto

Mineiro de Gestão das Águas) e IEF (Instituto Estadual de Floresta) será possível também

levantar o número de multas, advertências e Licenças Corretivas aplicadas, oficialmente, às

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indústrias em função de falhas operacionais ou, descumprimento de normas técnicas que

produziram algum tipo de acidente ambiental.

A partir de tais diagnósticos, a análise volta para as práticas do poder público

municipal em relação à política ambiental, já que a Constituição Federal delega ao Município

papel ativo na gestão ambiental de sua unidade territorial. Interessa-nos saber se o poder

público Municipal está preparado para desempenhar, com competência, o licenciamento e a

fiscalização ambiental, bem como investigar seu comportamento frente aos imperativos dos

grupos econômicos que atuam em Cataguases.

Por fim, analisaremos as condições para expansão das atividades industriais no

município. Nesse item, o nosso objetivo é verificar se há limites, ou não, para a expansão

das indústrias. Para responder a esse questionamento, levaremos em conta o perfil

tecnológico do atual quadro industrial, os condicionantes de ordem física, as políticas

públicas, a conjuntura macroeconômica, a qualidade das infra-estruturas disponíveis e a

capacidade de suporte ambiental.

CAPÍTULO 1 - A QUESTÃO AMBIENTAL SOB O PRISMA DA PRÁTICA INDUSTRIAL

Revelando-se como uma questão de alta complexidade, a problemática

ambiental tem se colocado como um dos principais temas do mundo contemporâneo. A

atual crise ambiental é reflexo do modelo de desenvolvimento adotado pela sociedade

moderna. Um desenvolvimento baseado na primazia do mercado e apropriação ilimitada dos

recursos naturais. Esse modelo tem acarretado problemas ambientais diversos. Portanto,

torna-se necessário compreender sua lógica de funcionamento e seus impactos,

principalmente nos espaços urbano-industriais.

1.1- A questão ambiental contemporânea diante do modelo de desenvolvimento capitalista.

A segunda metade do século XX vê surgir um intenso debate mundial sobre o

meio ambiente. Esse despertar para as questões ambientais foi motivado pela tomada de

consciência de que existe uma crise ambiental profunda provocada pelo modelo de

desenvolvimento da sociedade capitalista contemporânea. Segundo Guimarães (2003),

esse modelo de desenvolvimento, que estrutura e é estruturado pela sociedade moderna

urbano-industrial, se apóia na idéia da modernização e progresso ilimitados. Aqui a idéia de

progresso (e desenvolvimento) significa dominação da natureza e apropriação ilimitada de

seus recursos (GONÇALVES, 2004, p.24). Trata-se de um desenvolvimento baseado na

lógica privatista que produz uma acumulação desigual geradora de desigualdades sociais e

perpetuadora do subdesenvolvimento. Santos (1996), ao caracterizar o meio técnico-

científico-informacional, nos fala da união entre técnica e ciência sob o domínio do mercado.

Tal união favoreceu o surgimento e consolidação de um mercado global, aumentando as

possibilidades de acumulação em níveis jamais visto, e acelerando as relações predatórias

entre sociedade e natureza. Para Santos (1996, p. 202),

a busca de mais-valia no nível global faz com que a sede primeira do impulso produtivo (que é também destrutivo, para usar uma antiga expressão de J. Brunhes) seja apátrida, extraterritorial, indiferente às realidades locais e também às realidades ambientais. Certamente por isso a chamada crise ambiental se produz neste período histórico, onde o poder das forças desencadeadas num lugar ultrapassa a capacidade local de controlá-las, nas condições atuais de mundialidade e de suas repercussões nacionais.

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Neste ponto, Kurz (2002) ressalta que a economia moderna é totalitária. Ela

levanta uma pretensão total sobre o mundo natural e social. Tudo precisa estar submetido e

assimilado à sua lógica e essa privatização total do mundo estaria mostrando o absurdo da

modernidade. A sociedade capitalista estaria se tornando autocanibalista, pois a base

natural que sustenta sua existência é destruída com velocidade crescente. Bernardes e

Ferreira (2003) comentam que, sob o processo de acumulação, o capitalismo se expande

continuamente para sobreviver apropriando a natureza e seus recursos em escala mundial.

Globaliza-se o mercado e a produção, globaliza-se a crise ambiental. Uma vez globalizada,

a questão ambiental se coloca como uma problemática social e ecológica generalizada e de

alcance planetário. Desse modo, toda a natureza e sociedade são atingidas, pois como

afirma Gonçalves (2004, p. 48), “o meio ambiente é uma totalidade indissociável da natureza

e da sociedade. O ambiente é o lugar da convivência do que é diverso, onde natureza e

cultura são uma totalidade complexa e contraditoriamente estruturada”.

Para Santos (2000, p. 20), “os agravos à natureza são sobretudo originários do

modelo de civilização que adotamos”. “Um modelo civilizatório depredador e consumista

que, se universalizado, demandaria três planetas semelhantes ao nosso” (BOFF, 2003, p.

35 ). Leff (2001) vai além e comenta que a degradação ambiental se manifesta como

sintoma de uma crise de civilização, em que o modelo de modernidade é regido pelo

predomínio do desenvolvimento da razão tecnológica sobre a organização da natureza. Tal

crise nos obriga a pensar nos limites para o crescimento econômico, nos desequilíbrios

ecológicos, na pobreza e desigualdade social. Leff (2001, p. 62), ao explicar as origens da

atual crise ambiental, afirma que:

a problemática ambiental não é ideologicamente neutra nem é alheia a interesses econômicos e sociais. Sua gênese dá-se num processo histórico dominado pela expansão do modo de produção capitalista, pelos padrões tecnológicos gerados por uma racionalidade econômica guiada pelo propósito de maximizar os lucros e os excedentes econômicos a curto prazo, numa ordem econômica mundial marcada pela desigualdade entre nações e classes sociais. Este processo gerou, assim,efeitos econômicos, ecológicos e culturais desiguais sobre diferentes regiões, populações, classes e grupos sociais, bem como perspectivas diferenciadas de análises.

A insustentabilidade ambiental dos atuais padrões de desenvolvimento e

consumo vem produzindo uma sociedade de risco (GUIMARÃES, 2003, p. 87). Para

Gonçalves (2004), a sociedade de risco seria uma das contradições da sociedade capitalista

moderna, pois os riscos que a sociedade corre são, quase que exclusivamente, derivados

da própria intervenção (através dos sistemas técnicos) da sociedade humana no planeta.

20

Logo, esses riscos também são decorrentes do modo de vida criado pela moderna

sociedade industrial que, além de produzir em escala planetária, estimula o consumo no

mesmo nível. Para Santos (2002), as empresas hegemônicas têm como estratégia produzir

o consumidor antes mesmo de produzir os produtos. Daí a composição: publicidade +

materialidade; publicidade + serviços (SANTOS, 2002, p. 49). Sob o domínio do império da

informação e da publicidade consolida-se o processo de massificação cultural. Para

Bernardes e Ferreira (2003), a era moderna assiste ao aumento considerável do consumo,

uma vez que todas as coisas se tornaram objetos a serem consumidos num ritmo sem

precedentes. Ergue-se uma economia que se caracteriza pelo desperdício, pois os objetos

são consumidos e descartados muito rapidamente. É certo que o consumo desenfreado

força demandas por mais recursos e aumenta a produção de resíduos (lixo). Além disso,

Santos (2002) nos chama a atenção para o fato de que ser consumidor não significa

necessariamente ser cidadão. Segundo Santos (2002), o consumo seria o grande

fundamentalismo do nosso tempo com fortes conseqüências ambientais e inerciais para a

sociedade.

Esse modelo de sociedade moderna capitalista urbana, financeira, industrial,

globalizada, predadora dos recursos, neoliberal, fragmentária, reducionista, individualista,

consumista, excludente e concentradora de renda estabelece um rigoroso controle político e

econômico de forma a perpetuar a ordem hegemônica. No entanto, apesar da

insustentabilidade ambiental do atual padrão de desenvolvimento, já se percebem

movimentos de reação que poderão ajudar a abrir caminhos para a construção de uma

racionalidade produtiva alternativa (LEFF, 2001).

Bernardes e Ferreira (2003) comentam que a crise ambiental se tornou mais

evidente na segunda metade do século XX através de um dos mais importantes movimentos

sociais dos últimos anos – “a revolução ambiental“. A humanidade começa a perceber que

os recursos são finitos e que o seu uso incorreto pode representar o fim de sua própria

existência.

Segundo Capra (1982, p. 19),

As últimas duas décadas de nosso século vêm registrando um estado de profunda crise mundial. É uma crise complexa, multidimensional, cujas facetas afetam todos os aspectos de nossa vida – a saúde e o modo de vida, a qualidade do meio ambiente e das relações sociais da economia, tecnologia e política. É uma crise de dimensões intelectuais, morais e espirituais; uma crise de escala e premência sem precedentes em toda a história da humanidade. Pela primeira vez,temos que nos defrontar com a real ameaça de extinção da raça humana e de toda a vida no planeta.

A consciência ambiental surge nos anos 1960 e o livro “SILENT SPRING”,

21

escrito pela bióloga Rachel Carson, denunciando os perigos dos inseticidas e pesticidas,

tornou-se uma das primeiras marcas da “revolução ambiental“ (BERNARDES E FERREIRA,

2003, p. 27). Na seqüência, Leff (2004) relata que a consciência ambiental se expandiu nos

anos 1970, depois da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano,

celebrada em Estocolmo, em 1972. A Conferência de Estocolmo acaba induzindo a criação

do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (PNUMA). A

CMMAD é a grande responsável pela elaboração do Relatório Brundtland (1987), sob o

título “Nosso Futuro Comum”. Esse relatório lança as bases de discussão do conceito de

Desenvolvimento Sustentável: “aquele que atende às necessidades do presente sem

comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem a suas próprias

necessidades” (BARBIERI, 1997, p. 23). O ano de 1987 também registra o Protocolo de

Montreal que bane toda uma família de produtos químicos (os cloro-fluor-carbono ou CFC) e

estabelece prazos para sua substituição (OLIVEIRA e MACHADO, 2004). A RIO–92 ou

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento reafirma que

a questão ambiental deve ultrapassar os limites das ações isoladas e localizadas e envolver

toda a humanidade. Cinco temas ambientais globais estiveram no centro das discussões: a

preservação da biodiversidade, o aquecimento global, proteção da camada de ozônio,

proteção das florestas e a promoção do desenvolvimento sustentável. Para Oliveira e

Machado (2004), a assinatura da Agenda 21 foi um dos principais resultados da RIO – 92.

Aprovada por 170 países, visa um plano de ação mundial para se alcançar o

desenvolvimento sustentável a médio e longo prazos. A década de 1990 ainda vai

presenciar mais um marco ambientalista importante, o Protocolo de Kyoto. Firmado em

1997, fixa metas de redução na emissão de gases causadores do aquecimento global. As

maiores resistências vêm justamente dos países que mais poluem como é o caso dos EUA,

responsáveis por cerca de 25% das emissões de gases estufas. A matriz energética que

sustenta o dinamismo econômico norte-americano se apoia fundamentalmente no consumo

de grandes quantidades de combustíveis fósseis. No entanto, em 2005, com a adesão da

Federação Russa, o Protocolo de Kyoto entrou em vigor.

O século XXI inicia-se com a realização da RIO + 10, a terceira Conferência das

Nações Unidas sobre o Meio Ambientes e o Desenvolvimento (2002). Dessa vez os temas

para discussão foram: erradicação da pobreza; padrões insustentáveis de produção e

consumo; manejo sustentável de recursos naturais e compatibilização

GLOBALIZAÇÃO/DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.

Iniciada na Segunda metade do século XX, a “revolução ambiental“ (ou

ambientalismo) é um movimento que problematiza os padrões de produção e de consumo,

os estilos de vida e as orientações e aplicações do conhecimento no processo de

desenvolvimento. O desafio está lançado. Romper com o modelo hegemônico e globalitário

22

(SANTOS, 2002) não é tarefa fácil, daí as crescentes críticas ao conceito de

desenvolvimento sustentável proposto pela Comissão Brundtland (1987). Alguns críticos

afirmam que a proposta tem carater generalista e negligencia as diferentes condições

socioespaciais, políticas, econômicas e ambientais que caracterizam o espaço mundial.

Para Guimarães (2003), sustentabilidade ainda é um conceito ambígüo, contraditório, que

evita conflitos e não rompe com a lógica economicista e desenvolvimentista contemporânea.

Também não deixa claro como é possível conciliar (se é que é possível) preservação e

crescimento no contexto de uma racionalidade capitalista. E por não romper com a ordem

estabelecida, acredita nas forças do mercado para solucionar problemas ambientais.

Guimarães afirma que é preciso discutir profundamente as relações no interior do processo

produtivo, pois as discussões centradas exclusivamente nos seus efeitos ou externalidades

só alimentarão as soluções tecnicistas não alterando a forma social de produção. Kurz

(2002, p. 11), ao criticar a proposta do desenvolvimento sustentável, argumenta que:

Todo debate sobre o chamado “desenvolvimento sustentável” ignora o carater do princípio abstrato da valorização e do crescimento, que não possui nenhum senso para as qualidades materiais, ecológicas e sociais e, por isso, é também completamente incapaz de tomá-las em consideração. Absurdo por inteiro é o projeto de querer que a economia industrial contabilize em seus balanços os custos da destruição da natureza que ela tem acumulado.

As reflexões herdadas do ambientalismo nos orientam no sentido de

percebermos que há limites para a relação da humanidade com o planeta. Aumenta a

consciência de que os riscos não são só locais, mas globais e que nossas ações estão

reflexivamente nos atingindo. No entanto, a globalização neoliberal continua ditando as

ordens, submetendo o planeta e a humanidade à primazia do mercado, onde o imperativo é

o crescimento e a expansão, mesmo que se acelerem as relações predatórias com reflexos

negativos para o ambiente.

Estamos cientes de que a questão ambiental se revela como uma problemática

multidimensional e, portanto, de alta complexidade. Como tal exigirá uma reflexão crítica

permanente para buscar ações que efetivamente sejam capazes de deter o curso das

tendências mundiais ditadas pelo atual modelo. Acreditamos que:

23

A solução da crise ambiental – crise global e planetária não poderá surgir apenas por uma gestão racional da natureza e dos riscos da mudança global. A crise ambiental leva-nos a interrogar o conhecimento do mundo, a questionar este projeto epistemológico que tem buscado a unidade, a uniformidade; e a homogeneidade; este projeto que anuncia um futuro comum, negando o limite, o tempo, a história;a diferença, a diversidade, a outridade (LEFF, 2001, p. 194)

Após discutirmos a questão ambiental sob a lógica de funcionamento do

capitalismo, torna-se necessário investigar a natureza dos impactos produzidos nas áreas

urbano-industriais.

1. 2 - Impactos ambientais em áreas urbano-industriais

1.2.1- A noção de impactos ambientais

O atual modelo de desenvolvimento econômico, baseado numa racionalidade

econômico-tecnicista e predatória, tem provocado conseqüências socioeconômicas e

ambientais diversas. Um crescente quadro de degradação das condições ambientais

anuncia os limites ecológicos e socioeconômicos desse modelo. Analisar suas

conseqüências será de vital importância para instrumentalizar políticas e mecanismos que

contribuam para a melhoria das condições ambientais. Daí a importância dos estudos de

impactos ambientais.

Etimologicamente, a palavra impacto deriva do latim impactus que significa

impelido contra, ir de encontro a, bater contra (HOUAISS, 2000, p. 1578). Obviamente não

se trata de qualquer impacto, pois a discussão em curso centra-se na questão ambiental.

Por isso Custódio (1995, p.47) e Milaré (2002, p.54), ao discutirem a legislação ambiental

brasileira, explicam que na terminologia do Direito Ambiental a palavra impacto aparece com

o sentido de “choque ou colisão (sólidos, líquidos ou gasosos), de radiações ou de formas

diversas de energia, decorrentes das realizações de obras ou atividades com danosa

alteração do ambiente natural, artificial, cultural ou social”.

O termo ambiental significa: relativo a/ou próprio do ambiente. Ambiente,

derivado do latim ambiens, entis – part. pres. de ambire significa andar ao redor, cercar,

rodear; tudo que rodeia ou envolve os seres vivos e/ou coisas; o meio ambiente (HOUAISS,

2001, p.183). Para Art (1998, p. 22-23), “ambiente é o conjunto de condições que envolvem

24

e sustentam os seres vivos na biosfera, como um todo ou em parte desta, abrangendo

elementos do clima, do solo , da água e de organismos. Percebe-se que essas concepções

são dissociativas e fragmentárias, pois afirmam que o ambiente é tão somente o meio que

envolve, ou seja, negam o princípio fundamental da relação que existe entre sociedade e

natureza. Lima-e-Silva (2002, p. 11) define ambiente como “conjunto de fatores naturais,

sociais e culturais que envolvem um indivíduo e com os quais ele interage influenciando e

sendo influenciado por eles”. Aqui percebemos uma abordagem que trata o meio ambiente

como uma totalidade indissociável da natureza e da sociedade, resgatando uma visão

multidimensional do ambiente indispensável para uma maior compreensão da problemática

ambiental.

Coelho (2001, p. 23) conduz o debate afirmando que:

o ambiente ou meio ambiente é social e historicamente construído. Sua construção se faz no processo da interação contínua entre uma sociedade em movimento e um espaço físico particular que se modifica permanentemente. O ambiente é passivo e ativo. É, ao mesmo tempo, suporte geofísico, condicionado e condicionante de movimento, transformador da vida social. Ao ser modificado, torna-se condição para novas mudanças, modificando, assim, a sociedade.

Essa abordagem rompe de vez com a noção de que o ambiente é

exclusivamente o meio que circunda. Partindo de uma abordagem dialética, Coelho (2001)

afirma que o ambiente é uma construção social, produto de uma complexa interação entre

sociedade e natureza. Na mesma linha de raciocínio Leff (2001) trata o ambiente como um

todo dinâmico que , ao ser modificado, cria condições para novas mudanças modificando

também a sociedade.

A noção de impactos ambientais, assim como a de meio ambiente, carrega uma

diversidade de interpretações, segundo a formação ou objetivos do pesquisador.

Santos (2004, p. 110), ao abordar o estudo sobre avaliação dos impactos

ambientais, apresenta vários conceitos de impacto ambiental, segundo diferentes autores:

Qualquer alteração no sistema ambiental físico, químico, biológico, cultural e sócio-econômico que possa ser atribuída a atividades humanas, relativas às alternativas em estudo para satisfazer às necessidades de um projeto (Canter, 1977). Qualquer alteração de condições ambientais ou criação de um novo conjunto de condições ambientais, adversas ou benéficas, causadas ou induzidas pela ação ou conjunto de ações em consideração (Raw, 1980).

25

Impacto ambiental é a estimativa ou julgamento do significado e do valor do efeito ambiental para os receptores natural, socioeconômico e humano. Efeito ambiental é a alteração mensurável da produtividade dos sistemas naturais e da qualidade ambiental, resultante de uma atividade econômica (Horberry, 1984).

Diferença entre o estado futuro do meio ambiente se uma ação ocorrer e o estado se nenhuma ação ocorrer (Ortolano, 1997).

Mudança num parâmetro ambiental, dentro de um determinado período e numa determinada área, resultante de uma determinada atividade, comparada com a situação que ocorreria se a atividade não tivesse sido iniciada (Wathern, 1988).

Qualquer alteração significativa do meio ambiente – e um ou mais de seus componentes – provocada por uma ação humana (Moreira, 1992).

Qualquer alteração da qualidade ambiental que resulta da modificação de processos naturais ou sociais provocada por uma ação humana (Sánchez, 1998).

Ação modificadora causada em um ou mais atributos ambientais num dado espaço em decorrência de uma determinada atividade antropogênica. A existência ou não de impactos ambientais está diretamente relacionada com o uso e ocupação da terra e sua escala de abrangência e magnitude estão relacionadas a basicamente aos determinantes naturais e à forma como se dá a apropriação dos recursos naturais pelo homem ( Thomaziello, 1998).

Impacto ambiental é o resultado do efeito de uma ação antrópica sobre algum componente ambiental biótico ou abiótico ( Espíndola, 2000).

Nota-se que os conceitos apresentados possuem forte enfoque na relação

causa/efeito, pois em geral afirmam que os impactos são conseqüências diretas das ações

humanas sobre o meio. Os impactos seriam as alterações causadas pelas intervenções

econômicas da sociedade. Mas dois conceitos diferem um pouco do conjunto apresentado.

Raw (1980) já demonstra uma incipiente preocupação de abordar o impacto ambiental como

processo, quando afirma em seu conceito que os impactos podem criar novas condições

ambientais. Por outro lado, Horberry (1984) relativiza o conceito ao afirmar que impacto

ambiental é a estimativa ou julgamento do significado e do valor do efeito ambiental. Essa

abordagem nos chama a atenção para o fato de que os impactos terão efeitos diferenciados

sobre o meio ambiente, já que este é uma construção social e, portanto, caracterizado por

uma espacialização diferencial das classes.

26

Para Santos (2004, p. 110), impacto ambiental é “toda alteração perceptível no

meio, que comprometa o equilíbrio dos sistemas naturais ou antropizados, podendo decorrer

tanto das ações humanas como de fenômenos naturais”. Este conceito se diferencia

daquele usado pela política brasileira dos EIA/RIMA, que se refere somente às mudanças

decorrentes da realização de projetos, ou atividades de caráter econômico. Assim, a

legislação brasileira (Resolução CONAMA no 001/86) define impacto ambiental como sendo

“qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,

causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades que, direta ou

indiretamente, afetam”:

I- a saúde, a segurança e o bem estar da população; II- as atividades sociais e econômicas; III- a biota; IV- as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V- a qualidade dos recursos ambientais.

O conceito de impacto ambiental apresentado está instrumentalizando a

legislação, cujo objetivo é a normatização do ordenamento ambiental. Pode-se notar que, o

texto do EIA/RIMA trata o impacto ambiental como uma relação de causa/efeito

fragmentando também a noção de meio ambiente. Brito (1995), ao discutir os erros e

acertos da política do EIA/RIMA, critica a baixa qualidade dos estudos de impacto ambiental

aceitos pelas entidades oficiais de meio ambiente. A autora afirma que, além da baixa

qualidade, o EIA/RIMA tem se transformado em mais uma rotina burocrática com risco de

servir de aval para a degradação. Os órgãos ambientais oficiais são negligentes na

fiscalização e monitoramento da evolução dos impactos e da eficiência das medidas

mitigadoras implantadas pelas empresas (BRITO, 1995). Moreira (2002), apesar de

considerar a legislação ambiental brasileira avançada do ponto de vista normativo, sustenta

que o EIA/RIMA é um documento que precisa estar atento para incorporar as discussões

que envolvem as reformulações paradigmáticas das ciências e as transformações materiais

do mundo atual.

Lima-e-Silva (2000, p. 133) define impacto ambiental como:

qualquer alteração no ambiente causada por atividades antrópicas. Pode ser negativo, quando destrutivo ou degradador dos recursos naturais, ou positivos, quando regenerador de áreas e/ou funções naturais anteriormente destruídas. Um impacto ambiental potencial é aquele que ainda não aconteceu, mas cuja possibilidade existe em decorrência do funcionamento, normal ou acidental, e uma determinada atividade.

27

Essa definição também se refere somente às alterações provocadas pelas ações

humanas negligenciando as que podem ser provocadas por fenômenos naturais. Outro

aspecto presente nessa definição é a incorporação não relativizada dos termos positivo e

negativo. Para Coelho (2001, p. 35), “o que é positivo para uma classe social pode não ser

para outra ou o que é positivo num momento do processo pode não ser em outros”. Outro

problema nessa definição se refere à ambigüidade do que vem a ser impacto ambiental

potencial, principalmente quando se refere ao funcionamento normal ou acidental de uma

determinada atividade. A definição não esclarece o que vem a ser funcionamento acidental.

A noção de impacto ambiental que será utilizada para fundamentar o presente

trabalho é a defendida por Coelho (2001, p. 24-25):

Impacto ambiental é, portanto, o processo de mudanças sociais e ecológicas causado por perturbações (uma nova ocupação e/ou construção de um objeto novo: uma usina, uma estrada ou uma indústria) no ambiente. Diz respeito ainda à evolução conjunta das condições sociais e ecológicas estimuladas pelos impulsos das relações entre forças externas e internas à unidade espacial e ecológica, histórica ou socialmente determinada. É a relação entre sociedade e natureza que se transforma diferencial e dinamicamente. Os impactos ambientais são escritos no tempo e incidem diferencialmente, alterando as estruturas das classes sociais e reestruturando o espaço.

Essa noção rompe com as interpretações mecanicistas de causa e efeito

abordando o impacto ambiental não só como resultado de uma determinada ação sobre o

ambiente, mas como um processo de mudanças sociais e ecológicas em contínuo

movimento. Sendo um processo em movimento permanente, o impacto ambiental é, ao

mesmo tempo, produto e produtor de novos impactos, acarretando mudanças de relações

ecológicas e sociais que precisam ser investigadas incessantemente. Essa abordagem

permite incorporar a estrutura de classes à análise, pois os problemas ambientais não

atingem igualmente todo o espaço. Em geral, as classes sociais menos favorecidas são as

mais atingidas por problemas das mais diversas ordens. Para Costa e Braga (2004, 196 –

197), “ os segmentos mais pobres e com menor capacidade de se fazerem ouvir estão mais

expostos a riscos ambientais de toda ordem, em seus locais de moradia e trabalho”.

Segundo Coelho (2001), a maioria dos recentes trabalhos sobre estudos de impactos

ambientais ainda são bastantes influenciados pelos fundamentos da ciência ocidental

moderna, seguindo métodos naturalistas. Por isso separam rigidamente impactos biofísicos

de impactos sociais não estabelecendo nenhuma lógica relacional. Cristofoletti (2004), ao

discutir as abordagens da Teoria do Caos e Geometria Fractal em Geografia, comenta que

28

os fenômenos naturais e socioeconômicos, quando analisados, não são lineares. Se

comportam como sistemas dinâmicos e caóticos aumentando a complexidade para a

análise. Portanto, uma abordagem holística, como a defendida por Capra (1982), torna-se

necessária para o estudo dos impactos ambientais, pois favorecerá a análise ambiental

como um todo integrado e não como uma coleção de partes dissociadas.

Ao abordarmos o meio ambiente como social e historicamente construído,

queremos dizer que sua construção é fruto de uma interação contínua entre sociedade e espaço

(condições ecológicas). Ambos em movimento permanente. Logo, toda estrutura socioespacial

é temporal, pois impactos provocam rupturas e reestruturam o espaço e esse permanecerá

relativamente estável até que um novo impacto provoque uma nova ruptura (COELHO, 2001).

A concepção de impacto ambiental que nos interessa extrapola a preocupação

com as alterações e efeitos imediatos que determinadas ações podem provocar no meio.

Nossa abordagem não ficará centrada exclusivamente na identificação dos efeitos deletérios

provocados pelas ações impactantes. Interessa-nos, sobretudo, investigar as mudanças

socioespaciais (novas estruturas, formas e arranjos espaciais) que se inscrevem no

ambiente como conseqüência dessas ações. É dentro dessa concepção que, no próximo

item, passaremos à discussão da problemática ambiental decorrente da organização e

funcionamento dos espaços urbano-industriais.

1.2.2- A problemática ambiental nos espaços urbano-industriais

As sociedades urbanizadas, em que a maioria das pessoas vive agrupada em

cidades, representam um estágio da evolução social com características universais. É,

portanto, um fato irreversível permeando praticamente todo o planeta. “No início do século

XX apenas 10% da humanidade residiam em áreas urbanas; hoje, metade, mais de 2,9

milhões, vive em cidades” (SIRKIS, 2003, p. 215). As grandes aglomerações que

caracterizam a população urbana atual suscitam nas autoridades políticas e científicas

grandes preocupações (DAVIS, 1977 e CAVALHEIRO, 1995). Segundo o IBGE, no Censo

2000, o Brasil apresentou uma população absoluta de 169.544.443 e uma taxa de

população urbana de 81,2% (Quadro1).

29

Quadro 1 – Crescimento da população brasileira e a taxa de urbanização

Ano População em

milhões População urbana

(%)

1970 93,1 55,9

1980 118,0 68,2

1991 146,8 75,6

1996 157,1 78,4

2000 169,0 81,2

Fonte: Ministério das Cidades (2003)

Segundo o Ministério das Cidades (2003), a urbanização no Brasil tem

apresentado algumas tendências como:

- Taxa reduzida de crescimento na cidade-núcleo da área metropolitana;

- Aumento da taxa de crescimento nas áreas periféricas;

- Aumento expressivo da população em cidades médias que se constituem em pólos

regionais de crescimento econômico.

Em documento intitulado “a questão da drenagem urbana no Brasil” , o Ministério

das Cidades (2003) chama a atenção para o fato de que “ os processos inadequados de

urbanização e de impacto ambiental que se observaram nas Regiões Metropolitanas

brasileiras estão hoje se reproduzindo nessas cidades de médio porte.

Os três estados que possuem as maiores concentrações industriais do Brasil,

também possuem as maiores taxas de população urbana: São Paulo (93,4%), Rio de

Janeiro (96%) e Minas Gerais (82%) (Censo 2000). Castells (1999), ao abordar a

urbanização no terceiro milênio, lista 13 megacidades, ou seja, grandes aglomerações de

seres humanos com mais de 10 milhões de habitantes em 1992, sendo que quatro

projetadas para ultrapassar 20 milhões em 2010 (Quadro 2). Percebe-se que, a maioria das

megacidades estão localizadas em países subdesenvolvidos e são conseqüência de um

rápido e descontrolado processo de urbanização, em que o crescimento das cidades se

processou sem um adequado acompanhamento de obras infra-estruturais vitais ao

funcionamento do espaço urbano.

30

Quadro 2 – Maiores aglomerações urbanas do mundo – ONU Classificação Aglomeração Pais População (milhões)

1 Tóquio Japão 25,772 2 São Paulo Brasil 19,235 3 Nova York EUA 16,58 4 Cidade do México México 15,276 5 Xangai China 14,053 6 Bombaim Índia 13,322 7 Los Angeles EUA 11,853 8 Buenos Aires Argentina 11,753 9 Seul República da

Coréia 11,589

10 Pequim China 11,433 11 Rio de Janeiro Brasil 11,257 12 Calcutá Índia 11,106 13 Osaka Japão 10,535

Fonte: Castells (1999)

A concentração humana e as atividades a ela relacionadas provocam uma

ruptura do funcionamento do ambiente natural (CAVALHEIRO, 1995). Para Corrêa (2001, p.

156):

A grande cidade capitalista constitui, primeiramente, o lugar onde o meio ambiente é caracterizado predominantemente pela magnitude da segunda natureza. Trata-se, por excelência do meio ambiente construído, onde a importância da natureza primitiva apresenta-se, em muitos locais, muito reduzida.

Ab’ Saber (2002), ao discutir a importância dos estudos de previsão de impactos

ambientais, afirma que a produção de um espaço humanizado, como os estabelecimentos

industriais, cidades e metrópoles, não é feita no ar. Precisam de um suporte territorial físico

e ecológico consumindo grande quantidade de áreas, tamponando-as. Logo, a urbanização

e o crescimento das cidades provocam uma ruptura no funcionamento do ambiente natural

com perdas para ecossistemas raros, solos férteis e biótopos. À medida que se ampliam as

áreas urbanizadas, o ciclo hidrológico é afetado aumentando o escoamento superficial e

diminuindo a infiltração das águas no solo. Desse modo, a urbanização interfere no

rearranjo do armazenamento (estocagem hídrica) e na trajetória das águas (GONÇALVES e

GUERRA, 2001).

Ross (2005) e Ab’ Saber (2002) são unânimes em afirmar que o adensamento

urbano, conjugado com as altas taxas de impermeabilização dos solos e ocupações

irregulares das encostas, têm provocado inundações freqüentes e deslizamentos durante as

31

fortes chuvas de verão que atingem principalmente o Sudeste brasileiro.

Monte-Mor (2004), ao tratar de uma nova visão para a urbanização no Brasil

contemporâneo, contribui para ampliar o debate sobre a problemática ambiental nas áreas

urbanas. Trata-se da urbanização extensiva que ocorre de forma fragmentada, descontínua

e segmentada sobre o território (Limonad, 2003). Um processo que ocorre de modo

diferente da expansão em malha compacta e contínua que caracterizava o processo de

urbanização no século XX. A urbanização extensiva ocorre de forma difusa. Os espaços

naturais (unidades de conservação) são apropriados para fins residenciais ou industriais e

provocam, nessas novas áreas ,vários problemas ambientais devido às precárias ou

inexistentes infra-estruturas. Penna (2002), ao debater a problemática ambiental ligada à

questão urbana, comenta que novas áreas de expansão urbana estão se constituindo na

periferia das cidades como um novo e dinâmico mercado imobiliário que trás como apelo a

necessidade de habitar em contato com áreas verdes, longe do caos urbano. Essa

estratégia imobiliária induz ao consumo da natureza (áreas destinadas à preservação),

causando sua degradação. É comum, nesses casos, muitas ocupações ocorrerem sobre

áreas de mananciais, comprometendo a sustentabilidade hídrica das cidades e elevando os

custos do tratamento da água (Ministério das Cidades, 2003).

Além da preocupação com o modo de crescimento e estruturação do tecido

urbano, faz-se necessário investigar a forma de organização espacial das indústrias para um

melhor entendimento do quadro ambiental. Segundo Moreira (2003, p.23), “nas cidades

industriais, em particular, a poluição industrial se soma aos efeitos ambientais do

urbanismo”. A industrialização se caracteriza por ser um fenômeno concentrado no espaço

enquanto produto da aglomeração de meios de produção, mão-de-obra, capitais e

mercadorias, por isso as cidades se tornaram sua base territorial (SPOSITO, 1991). A

cidade se configura como o lugar que reuni as melhores condições para o desenvolvimento

do processo industrial. Esse, por sua vez, acaba provocando mudanças no papel e na

estruturação do espaço interno das cidades. Logo,o desenvolvimento industrial induz

mudanças significativas nas cidades assumindo o papel de comando na reprodução

espacial (CARLOS, 1989). Moreira (2003, p. 10), ao discutir o modelo industrial e o meio

ambiente, afirma:

Espaço de relações, o espaço industrial é por isso um todo a um só tempo diferencial e articulado em rede, ordenado numa lógica de mercado, que, por meio da técnica , se difunde e engravida o meio ambiente profundamente.

32

Estamos nos referindo a um fenômeno que gera grandes aglomerações,

articulando e subordinando outras parcelas do espaço e extrapolando os limites do local

para se inter-relacionar com espaços mais amplos de modo a permitir a integração de

vastas áreas. No entanto, Carlos (1989) e Sampaio (1988) esclarecem que a indústria

capitalista moderna não depende necessariamente da existência de uma base urbana para

se instalar podendo buscar uma localização para além dos limites das cidades, inclusive ao

longo de rodovias ou zonas rurais. Existem também vários casos em que a implantação das

indústrias é que determinou a aceleração do processo urbano. A cidade de Volta Redonda é

um exemplo de como um projeto industrial (Companhia Siderúrgica Nacional) pode provocar

a gênese de um espaço urbano a ponto de interferir em sua estruturação interna

(MOREIRA, 2003).

Carlos (1989) comenta que as indústrias modernas, para se desenvolverem,

aproveitam ao máximo as vantagens proporcionadas pelas economias de aglomeração

enquanto socializam as desvantagens como os elevados índices de poluição e

congestionamentos viários. Desse modo, ao organizarem um arranjo espacial produtivo,

exclusivamente favorável à acumulação, acabam degradando o ambiente. Por isso, Moreira

(2003, p. 25) afirma que “não por mera coincidência, o mapa da acumulação e o das

degradações é o mesmo”.

Uma outra face dos impactos que atingem os espaços urbano-industriais tem

relação direta com a matriz energética adotada pelo modelo de desenvolvimento das

economias modernas. O consumo crescente de combustíveis fósseis (petróleo e carvão

mineral), indispensáveis ao funcionamento dos setores produtivos urbano-industriais, tem

agravado o problema da poluição nos países desenvolvidos e também nos países

subdesenvolvidos de industrialização tardia, com reflexos negativos locais e globais.

Brandão (2001, p. 51), ao discutir a urbanização como processo derivador do clima, ressalta

que, “ a partir do século XX, as atividades humanas tiveram atuação decisiva na mudança

de composição da atmosfera, sobretudo em função da atividade industrial”. Os aglomerados

de edificações conjugados com o domo de poluição urbana criam uma espécie de cúpula

climática, caracterizando a existência de um verdadeiro clima urbano (CAVALHEIRO, 1995

e BRANDÃO 2001). Os sistemas urbano-industriais apresentam elevada complexidade na

relação dos seus elementos constitutivos. As indústrias, a concentração dos edifícios, o

asfaltamento, trânsito intenso de veículos, o excesso de ruídos sonoros, a grande densidade

populacional,a impermeabilização dos solos, a diminuição da cobertura vegetal e todas as

atividades que liberam os poluentes primários (SO2, NOx, CO e materiais particulados)

acabam provocando alterações na composição química original da atmosfera, no seu

comportamento térmico e em sua dinâmica de circulação. A alteração do regime

pluviométrico, as freqüentes inundações de verão, as inversões térmicas no inverno e a

33

formação de “ilhas de calor” são as conseqüências mais diretas que afetam a qualidade de

vida das populações urbanas. Segundo Brandão (2001, p.56):

Os sistemas urbano-industriais caracterizam-se pelo incremento na sua capacidade e transformação. Energia hidroelétrica, combustíveis fósseis, matérias-primas, mão de obra e água entram nas cidades sendo metabolizados em bens e serviços; porém, os processos produtivos e a urbanização geram, um ritmo acelerado, calor excedente, ruídos, gases e partículas, despejos e resíduos não reciclados nem biodegradados rapidamente pela natureza, traduzindo-se na destruição dos recursos naturais e na degradação do ambiente urbano.

Ab’ Saber (2003), discutindo a sociedade urbano-industrial e o metabolismo

urbano, comenta que o metabolismo dos grandes organismos urbanos se completa gerando

uma gama muito variada de subprodutos ou rejeitos (descartes) relacionados a processos

biológicos, produção industrial, atividades comerciais, circulação de veículos e atividades

que dão funcionalidade ao organismo urbano. Nessa abordagem o lixo é tratado como um

tipo obrigatório de descarte proveniente do metabolismo urbano de difícil solução numa

sociedade em que o consumismo virou uma espécie de regra geral. Logo, a escolha do sítio

mais apropriado para a postagem do lixo urbano (doméstico, industrial, hospitalar e entulhos

de construção civil) constitui objeto de preocupação permanente para as políticas de

saneamento básico em virtude da escassez (ou não existência) de locais seguros e da

natureza dos materiais e substâncias descartados que, em sua maioria, não são

biodegradáveis. A solução mais adequada seria o armazenamento do lixo em aterros

sanitários, situação que não ocorre na grande maioria das cidades brasileiras. No Brasil, a

escolha do local de postagem do lixo tem sido fortemente influenciada pelos interesses do

setor imobiliário que exerce pressão junto aos órgãos públicos para que se coloque os lixões

longe das áreas destinadas à especulação. Assim, as áreas destinadas a futuros

loteamentos residenciais não terão seus preços aviltados pela presença dos lixões. Isso

garante a margem de lucro dos especuladores. Por outro lado, os lixões serão instalados em

terrenos baldios nas proximidades das favelas ou bairros carentes. Para Ab’ Saber (2003),

tal escolha é socialmente injusta, pois privilegia o setor especulativo imobiliário em

detrimento das camadas sociais menos favorecidas.

Tratar o ambiente urbano como um organismo significa valorizar uma

abordagem sistêmica que contribua para a construção de um conhecimento objetivo da

dinâmica interna das cidades industriais. Para Ab’ Saber (2003), a emergência da

consciência ecológica contribuiu para uma mudança positiva no tratamento da ecologia

urbana. Para o autor, “a nova ecologia urbana compreende o estudo das formas de projeção

34

da sociedade e das funções econômico-sociais sobre o espaço e o ambiente das cidades,

envolvendo a funcionalidade do organismo urbano em todos os sentidos” (AB’ SABER,

2003, p. 55).

Quanto à gravidade dos impactos e suas implicações sociais, Brandão (2001)

comenta que é necessário considerar o nível de desenvolvimento econômico dos países.

Coelho (2001), ao defender a incorporação da estrutura de classes à análise dos impactos,

concorda com a tese de Brandão, pois argumenta que a vulnerabilidade aos efeitos

deletérios dos impactos ambientais está associada à situação socioeconômica da

população.

Os problemas ambientais não atingem, com a mesma intensidade, todo o

espaço urbano. O espaço físico das classes sociais menos favorecidas, em geral, são os

mais atingidos. Por isso Coelho (2001, p.37) afirma: “o mapeamento de impactos ambientais

certamente guardará estreita relação com a espacialização diferencial das classes sociais

na cidade”.

O estudo dos ambientes urbano-industriais tem se constituído num desafio para

os cientistas e planejadores por envolver uma realidade multidimensional, dinâmica e de

extrema complexidade, exigindo uma renovação, não só das técnicas, mas, principalmente,

dos instrumentais teórico-metodológicos. Acreditamos que, só através do conhecimento da

dinâmica de funcionamento dos espaços urbano-industriais, ou de seu metabolismo, é que

teremos condições de fornecer subsídios para uma política de ordenamento que minimize

as degradações ambientais. É desse modo que, nos próximos capítulos, estaremos

abordando, especificamente, a organização e a dinâmica de funcionamento do espaço

industrial de Cataguases para desvelar os impactos socioambientais.

CAPÍTULO 2 – A ANÁLISE DO PADRÃO DISPERSO DE LOCALIZAÇÃO URBANO-INDUSTRIAL DE CATAGUASES (MG)

Desde o início do século XX, Cataguases sempre se destacou na economia

mineira como sendo uma cidade industrial. A disponibilidade de energia, mão de obra,

recursos hídricos, transporte ferroviário e rodoviário favoreceram o desenvolvimento das

indústrias e contribuíram para o processo de urbanização da cidade. Impulsionado por

esses fatores e pela ausência de uma política de zoneamento, o desenvolvimento urbano-

industrial de Cataguases obedeceu mais aos interesses logísticos das empresas, num

período que não existiam instrumentos normativos de política ambiental. Portanto, à medida

que a indústria se dispersava, o tecido urbano também se expandia. Esse processo

produziu um padrão urbano-industrial disperso que analisaremos neste capítulo.

2.1- Sítio urbano e posição de Cataguases

Localizada na “Zona da Mata” mineira (Mapa 1), Cataguases, assim como outras

cidades do sudeste brasileiro, se instalou nos domínios dos “Mares de Morros”,

aproveitando-se de um alvéolo para esquadrinhar seu traçado urbano inicial às margens do

rio Pomba, afluente do rio Paraíba do Sul (AB’ SABER, 2003; GUERRA, 1978). Inicialmente,

a cidade edificou-se e ocupou uma seção alargada do vale do rio Pomba (um alvéolo de

forma grosseiramente triangular com terraços) e, ao longo do processo de expansão urbana,

houve a necessidade de ocupar também as encostas dos morros, uma vez que o relevo em

torno do alvéolo possui fortes ondulações, características de um modelado formado

predominantemente por agrupamento de morros com vertentes policonvexas (AB’SABER,

2003 e CARDOSO, 1955). As formações rochosas da região de Cataguases são datadas do

Pré-Cambriano Inferior, fazendo parte do Grupo Paraíba (IGA, 1981). Predominam os

gnaisses e rochas metassedimentares. Os granitos, veios de quartzo e pegmatitos, também

são encontrados. Atuando sobre estas rochas do Complexo Cristalino, o intemperismo

químico favoreceu o surgimento de um espesso manto de alteração, típico da pedogênese

tropical. Nas partes mais baixas das vertentes predomina o latossolo vermelho-amarelo,

enquanto que nas várzeas ocorrem solos hidromórficos. Nos topos e nas partes mais

elevadas das vertentes ocorrem Neossolos Litólicos de coloração vermelho-amarelo

(LEPSCH, 2002; EMBRAPA, 1999).

36

37

Na caracterização morfoestrutural, a região de Cataguases faz parte dos

Planaltos Cristalinos rebaixados com nível altimétrico médio em torno de 300m (Mapa 2).

No entanto, alguns pontos da cidade se encontram em altitudes menores como é o caso da

Estação Ferroviária que registra 167m de altitude. Esse evidente desnivelamento altimétrico

possibilita o abastecimento de água na cidade por efeito gravimétrico. O relevo

movimentado com vários desníveis acentuados e a existência de uma boa rede de

drenagem possibilitaram a construção de hidrelétricas (PCH) na região, como a Usina

Maurício (Companhia Força e Luz Cataguases Leopoldina), construída no rio Novo, afluente

do rio Pomba.

A rede de drenagem do município é densa, possuindo como principais afluentes

do rio Pomba: o rio Novo, os córregos Pirapetinga, Canadá e Lava Pés; os ribeirões Passa

Cinco, Cágado e Meia Pataca. O rio Pomba descreve meandros e, em alguns trechos, corre

em vales abertos, cortando várzeas e, em outros trechos, ele corre em vales encaixados,

obedecendo a controles estruturais. Os vales de alguns desses córregos e ribeirões também

favoreceram a expansão urbana ao promover o alongamento contínuo do tecido urbano ou

produzir povoamentos isolados que acabaram se unindo ao núcleo central.

Com um regime fluvial tropical, a bacia do rio Pomba apresenta uma maior

vazão no verão e menor vazão no inverno. Em geral, as enchentes na cidade ocorrem no

verão, mas atingem, principalmente, os córregos. O rio Pomba, na maioria das vezes, não é

o causador direto das enchentes, mas quando o seu volume aumenta, acaba represando as

águas do ribeirão Meia Pataca que transborda, provocando inundações de setores da

cidade (CARDOSO, 1955).

Posicionada na Zona da Mata de Minas Gerais, Cataguases apresenta boa

capacidade de acesso por rodovias pavimentadas aos sistemas viários que atendem os

principais centros urbanos do Sudeste brasileiro (Mapa 3).

A cidade de Cataguases está localizada a 22 Km da rodovia Rio-Bahia (BR 116);

120 Km de Juiz de Fora (onde passa a BR 040); 320 Km de Belo Horizonte; 232 Km da

cidade do Rio de Janeiro. A cidade também se beneficia de uma ferrovia (antiga RFFSA,

hoje sob concessão da Central Atlântica, transportando minério de bauxita a serviço da

CBA) pela qual se conecta a Campos (RJ) e Três Rios (RJ). Portanto, o desenvolvimento

econômico de Cataguases sempre esteve ligado às facilidades de comunicação (rodovias e

ferrovia) com a região Sudeste, principal destino das mercadorias produzidas no município.

Foi através da ferrovia (inaugurada em 1877) e depois da rodovia Rio-Bahia (1939) que a

cidade recebeu, desde cedo, os insumos materiais e tecnológicos que alavancaram o

desenvolvimento industrial e incrementaram o comércio e os serviços em geral. Essas

mesmas facilidades de comunicação com o Sudeste trouxeram, no início do século XX,

38

39

Mapa 3 – Posição Geográfica de Cataguases

Fonte: IGA (1981)

fortes influências culturais para a cidade, possibilitando uma articulação entre a

industrialização e a produção cultural (Miranda e Baraçal, 1999). Cataguases ficou marcada

por uma intelectualidade modernista que se refletiu nas produções literárias (final dos anos

1920), nos modelos arquitetônicos e artes plásticas dos anos 1940. Miranda e Baraçal

(1999, p.12), ao discutirem a arquitetura e as artes plásticas no início do século XX, em

Cataguases, argumentaram que:

Nessa efervescência pode-se conceber a inquietação intelectual do grupo que, ao findar a década de 1920, estimula a discussão modernista. Há em Cataguases um substrato cultural e empresarial propulsor de novo surto de modernidade, cerca de duas décadas adiante, na contramão da desorganização do pós-guerra.

40

Cardoso (1955, p. 60) também confirma a situação de destaque que Cataguases

apresenta nos anos 1940 em relação às cidades da Zona da Mata ao afirmar que:

Graças principalmente à grande iniciativa particular de capitais locais, é que Cataguases começa aos poucos a apresentar feições diferentes das demais cidades da Zona da Mata, não só devido à formação de um pequeno parque industrial como também em suas linhas arquitetônicas, o que demonstra, sem dúvida, alto grau de adiantamento.

Com uma população de 63900 habitantes (IBGE,2000), Cataguases se destaca

no cenário econômico pela expressividade de suas indústrias (FIGUEIREDO e DINIZ, 2000).

Apresenta um quadro bastante diversificado de atividades industriais, no qual se destacam

as indústrias têxteis, químicas, metalúrgicas, fundição, papel, tipográficas, elétrica, extrativa

mineral, embalagens e alimentícias. Atualmente, em virtude do processo de globalização,

algumas indústrias como as têxteis e metalúrgicas já exportam seus produtos. No entanto,

essa favorável localização geográfica e meios de comunicação, que contribuem para

inserção da cidade numa economia cada vez mais globalizada, também favorece a

importação dos mais diversos produtos. Esse cenário tem forçado as indústrias

cataguasenses a se reestruturarem para sobreviverem num ambiente de forte

competitividade. A expressividade do comércio e setor de serviços contribui para que a

cidade exerça uma polarização em nível da microrregião, atingindo os municípios de

Argirita, Recreio, Pirapetinga, Astolfo Dutra, Dona Euzébia, Piraúba, Itamarati, Laranjal,

Miraí, Santana e os distritos de Cataguarino, Sereno e Vista Alegre. Classificada pelo IGA

(1981) como centro microrregional (Mapa 4 e 5), Cataguases se subordina hierarquicamente

ao Centro Macrorregional de Juiz de Fora que, por sua vez, exerce forte polarização sobre

toda a mesorregião da Zona da Mata.

No contexto geral, o Estado de Minas Gerais sempre apresentou desníveis

econômicos regionais. Em recente estudo sobre a distribuição regional da indústria mineira,

Figueiredo e Diniz (2000) classificaram a mesorregião Zona da Mata como área estagnada

ou de lento crescimento. Nesse caso, atualmente, a microrregião de Cataguases também se

enquadra nessa classificação. O mesmo estudo esclarece, no entanto, que a estagnação

econômica não se deve a fatores clássicos (distância de mercados consumidores, infra-

estrutura, transportes, energia, acesso a centros tecnológicos ou serviços urbanos), mas às

41

42

apa 5

43

estruturas sociais, políticas, gerenciais (métodos de gestão empresarial superados) e

econômicas consolidadas, cuja rigidez não permite uma reestruturação produtiva compatível

com as novas tendências em curso. Os autores também colocam que o menor crescimento

da economia do Estado do Rio de Janeiro reflete nas microrregiões mineiras polarizadas

pelo mesmo. Podemos exemplificar, com o caso do transporte ferroviário. Até a década de

1980 a RFFSA conectava intensamente Cataguases com outras cidades do interior de

Minas (até Ponte Nova) e com o Rio de Janeiro, transportando uma gama variada de

produtos. Atualmente, o ramal ferroviário funciona exclusivamente até Cataguases, mas o

único produto transportado é a bauxita que segue até Sorocaba (São Paulo), usando o Rio

de Janeiro somente para transbordamento do minério para vagões maiores. Portanto, pela

ferrovia, Cataguases relaciona-se exclusivamente com São Paulo, comprador da Bauxita

produzida na Zona da Mata. Obviamente as relações com o Rio de Janeiro continuam

existindo, através do transporte rodoviário, mas a relação com São Paulo e outros Estados

se ampliaram, colocando Cataguases numa rede mais ampla de relações.

Fica patente que uma boa localização frente a fatores clássicos, anteriormente

listados, não garante um ritmo dinâmico de crescimento econômico, pois as profundas

transformações por que tem passado a economia mundial, impactam as economias locais,

exigindo destas, novas posturas frente às necessidades da acumulação capitalista. Segundo

Santos (1996, p.205), “os espaços da globalização apresentam cargas diferentes de

conteúdo técnico, de conteúdo informacional, de conteúdo comunicacional”. Essa

diferenciação da densidade e do conteúdo técnico dos lugares acaba alterando a lógica e o

padrão de localização dos equipamentos produtivos, acentuando as diferenças espaciais.

Por outro lado, a globalização, as privatizações, a desregulamentação dos mercados, a

“guerra fiscal” e a crise fiscal do Estado diminuem a capacidade de investimentos públicos

em infra-estrutura e recursos para as indústrias e regiões que foram menos favorecidas, ou

excluídas dessa nova ordem. As grandes corporações são os grandes atores hegemônicos

que, com suas verticalidades, comandam a emergência de uma mais-valia mundial. Essa

nova estrutura de comando segmenta o território. Os lugares mais ativos serão aqueles que

reúnem condições de atender as exigências impostas pelo mercado mundial. Santos (2001,

p.106) comenta que “as novas vocações regionais são amiúde produtoras de alienação,

pela pressão da ordem global sobre as populações locais”. Segundo Castells (1999, p. 159),

a arquitetura da economia global apresenta um mundo assimétrico interdependente, organizado em torno de três regiões econômicas principais e cada vez mais polarizado ao longo de um eixo de oposição entre as áreas prósperas produtivas e ricas em informação, e as áreas empobrecidas, sem valor econômico, e atingidas pela exclusão social.

Nesse quadro de economia cada vez mais competitiva e globalizada, a crise

44

(estagnação econômica) é um risco constante. Portanto, novos caminhos precisam ser

descobertos para revitalizar a economia da Zona da Mata e em especial da microrregião de

Cataguases. A ação governamental pode ser decisiva como desencadeadora de um efeito

que possa dinamizar a região estagnada, promovendo sua integração produtiva com outras

regiões do Estado e do país.

Se sítio e posição não são os únicos fatores fundamentais diante dos reclames

de novos padrões produtivos de localização industrial, vejamos de que maneira outros

fatores fazem parte do processo de evolução urbano-industrial de Cataguases.

2.2- A evolução urbana e industrial de Cataguases

A origem da cidade de Cataguases está relacionada ao projeto de abertura de

uma estrada na década de 1820 com o objetivo de ligar a província de Minas Gerais aos

campos de Goitacazes, aproveitando o vale do Rio Pomba. A obra estava sob

responsabilidade técnica da Terceira Divisão Militar do Rio Doce que havia se aquartelada

numa pequena localidade, na margem esquerda do rio Pomba. Em 1828, o então Coronel

Comandante das Divisões Militares do Rio Doce, Guido Thomaz Marlière, em visita de

inspeção aos trabalhos da estrada, recebe, em nome do governador da província, um

terreno onde é construída uma capela em homenagem a Santa Rita de Cássia. Nessa

localidade, que até então se chamava Porto dos Diamantes, foi fundado um povoado com o

nome de arraial de Santa Rita do Meia Pataca ou, arraial do Meia Pataca (COSTA, 1977 ;

CARDOSO, 1955). Esse nascente povoado se instalava no entorno da capela com algumas

choupanas que serviam, durante muito tempo, de apoio logístico aos tropeiros (pouso de

tropas).

Segundo Cardoso (1955, p. 44), nessa mesma época de fundação, o governo da

província ditou regras especiais para as futuras edificações, “ a fim de que se formasse um

povoamento bem regular”. Essas regras foram determinantes para a geometria do traçado

urbano do núcleo central como demonstra o mapa 6 sobre a evolução da cidade de

Cataguases (CARDOSO, 1955, p. 47). Nele se percebem as formas retilíneas das ruas e

cruzamentos em ângulos retos do traçado urbano original anterior a 1890. Esse traçado

geométrico regular passa a orientar a evolução urbana, à medida que a economia se

desenvolve.

Após 1830 a cultura cafeeira chega à Zona da Mata provocando mudanças

importantes na vida do arraial do Meia Pataca. Nessa época começa a aumentar o número de

fazendas de café na região gerando impactos sem precedentes na economia e no ambiente.

45

Intensifica-se a abertura de novos caminhos e estradas impulsionando o povoado que passa a

se configurar como um centro de comércio (casas comerciais) para atender às necessidades

dos fazendeiros da região (IGA, 1981). Em 1854, o arraial passa a integrar o município de

Leopoldina. O progresso proporcionado pela cultura do café e o desenvolvimento do comércio

foram decisivos para elevar o arraial à categoria de vila, constituindo sede de um município que

abrangia as freguesias mais próximas. Assim, em 1875, o arraial separa-se da comarca de

Leopoldina e a vila e o município recebem o nome de Cataguases, oficialmente instalados em 7

de setembro de 1877. No mesmo ano em que o arraial é elevado à categoria de vila, inaugura-

se a Estrada de Ferro Leopoldina conectando Cataguases com o Estado do Rio de Janeiro. A

vila de Cataguases assume a posição de linha-tronco, sendo “ponta de trilhos”, polarizando uma

grande área e ampliando sua função de centro comercial. Grande parte da produção do café da

região era escoada para o porto da cidade do Rio de Janeiro pela estação ferroviária de

Cataguases. Diante das novas perspectivas, Cataguases atraía comerciantes e algumas

indústrias pequenas como os engenhos para beneficiamento de café, fábricas de bebidas e

sabão (CARDOSO, 1955).

Mapa 6

Fonte: CARDOSO (1955)

46

Em 1881, pela Lei Provincial no 2776, a vila de Cataguases é elevada à

categoria de cidade. (IBGE/CNG, 1958)

O avanço da linha férrea para o interior de Minas Gerais tirou Cataguases da

situação de “ponta de trilhos”, mas não interrompeu o progresso da cidade que se firmava

cada vez mais como praça comercial bastante movimentada. Localizada fora do centro

comercial (Praça Rui Barbosa – antigo Largo do Comércio), a estação ferroviária contribuiu

para o expansão do tecido urbano, pois as casas comerciais começaram a se instalar

próximas à estação, principalmente o comércio atacadista. Segundo Miranda e Baraçal

(1999, p. 5), “a trama urbana sofre um deslocamento imediato, puxada para dentro do vale

pela Estação, que torna-se o novo elemento polarizador de todo o movimento. Uma intensa

atividade construtiva corresponde à nova realidade econômico-social”.

O início do século XX parece promissor e, em 1905, é organizada a primeira

indústria têxtil de maior porte da cidade. Trata-se da Cia de Fiação e Tecelagem de

Algodão. Segundo Costa (1977, p. 297), “a fábrica foi inaugurada com 20 teares, dos mais

modernos da época, fabricado na Inglaterra. A maquinaria era, inicialmente, movida por um

motor a vapor de 8 HP que, depois, foi substituído por um motor elétrico de 20 HP. E é

nessa mesma época, precisamente em julho de 1908, que Cataguases assegura o

crescimento industrial com a inauguração da energia elétrica na cidade pela Cia. Força e

Luz Cataguases Leopoldina, empresa que, atualmente, é responsável por 100% do

fornecimento de energia para a cidade e grande parte dos municípios da Zona da Mata. No

Brasil, segundo Suzigan (2000, p. 127), “a transição para a energia de origem hidrelétrica

começou nas décadas de 1900 e 1910, especialmente no Rio de Janeiro e São Paulo”.

Logo, Cataguases seria uma das poucas exceções em Minas Gerais, sendo que o acesso à

energia elétrica antes da Primeira Guerra contribuiu para colocar a cidade em condições

estruturais vantajosas.

Apesar de o café ainda ser a atividade econômica principal, em 1911,

Cataguases já apresentava um emergente processo de industrialização, cujos produtos

atendiam as demandas locais e da região (Quadro 3).

47

Quadro 3 - Quadro Industrial de Cataguases Ano: 1908 Ano: 1911

Tipo de Indústria Quantidade Tipo de Indústria Quantidade

Fábrica de tecido 1 Fábrica de tecido 4

de meias 2 Fábrica de meias 0

de macarrão 1 Fábrica de macarrão 0

de cerveja 1 Fábrica de cerveja 1

de bebida alcoólica 1 Fábrica de bebida alcoólica 0

de sabão 1 Fábrica de sabão 0

de açúcar 2 de açúcar 1

Tinturaria 1 Tinturaria 0

Serraria 0 Serraria 1

Alimentícias 0 Alimentícias 2

de cerâmica 0 de cerâmica 2

de moagem de cereais 0 de moagem de cereais 1

de laticínios 0 de laticínios 2

de beneficiamento de café 0 de beneficiamento de café 2

Fonte: Ávila (1999, p.17) e Cardoso (1955, p.56)

Predominavam indústrias de bens de consumo corrente, mas já se podia notar

que a indústria têxtil, com quatro fábricas, começava a se firmar como ramo base do setor.

Até a década de 1930, o crescimento da cidade restringia-se ao alvéolo (sítio

inicial do povoamento) do rio Pomba em sua margem esquerda, estendendo o tecido urbano

até a Estação Ferroviária, onde ocorria um intenso movimento comercial. Mas, a partir

desse período, a cidade começava a se subordinar aos vales do ribeirão Meia Pataca e

córrego Lava-Pés. No entanto, esgotadas as possibilidades de ocupação do alvéolo, as

encostas dos morros também surgiam como alternativas de ocupação.

A decadência do café, no início do século XX e a crise de 1929, inicia um

período de transição. Aproveitando uma boa infra-estrutura já existente (ferrovia, energia

elétrica e comércio) a cidade assume seu perfil industrial. Em 1936, ocupando pela primeira

vez o terraço da margem direita do rio Pomba, instala-se outra grande indústria têxtil – Cia.

Industrial Cataguases. Essa indústria foi determinante para o processo de urbanização da

margem direita, pois acompanhando a construção de uma vila operária, surgem dois bairros:

Vila Minalda e Vila Tereza, também ocupados por operários. Nessa época, mais

precisamente em 1939, a rodovia Rio-Bahia (BR116) chega à Leopoldina, distante 21 Km de

48

Cataguases. Para Cardoso (1955) a estrada de rodagem começa a provocar uma mudança

importante no sistema de comunicação – de ferrovia para rodovia – com o caminhão

despontando como o principal meio de transporte. Se a ferrovia conectava exclusivamente

Cataguases ao Rio de Janeiro, a rodovia representava uma ampliação das possibilidades de

conexões. Como afirmam Estall e Buchanan (1976, p. 46) “a utilização eficiente do

transporte rodoviário permite que a entrega seja mais intimamente coordenada com a

produção, podendo o fabricante tratar a rodovia como parte virtual do seu sistema de

esteira transportadora”.

As casas comerciais tanto varejistas como atacadistas podem mais facilmente

estabelecer contatos com São Paulo e Belo Horizonte. Cardoso (1955) ressalta que a

depressão econômica e o “cansaço da terra” contribuíram para o êxodo rural: “os campos e

fazendas foram abandonados e os capitais, que até então eram empregados nas atividade

rurais, passaram a ser empregados na cidade” (CARDOSO, 1955, p. 56). O êxodo rural

também fornecia a mão de obra que era absorvida nas indústrias.

A década de 1940, com a instalação de mais uma grande indústria têxtil (Cia

Manufatora de Fio de Algodão), registra-se a ampliação do quadro industrial com um novo

impacto na trama urbana (Quadro 4).

Quadro 4 - Quadro Industrial de Cataguases (1952) Tipo de Indústria Quantidade fábricas de fiação e tecelagem 4 de algodão hidrófilo 1 Usina de açúcar 1 de massas alimentícias 2 de bala (doces) 1 de aguardente 2 de pregos 3 de azulejos 1 de ladrilhos 1 de móveis 5 de telhas e tijolos 1 serrarias 4 pedreiras 2 de malas 2 de beneficiamento de arroz 2 de beneficiamento de café 2 Fonte: CARDOSO (1955, p. 56)

49

As empresas começavam a se afastar do núcleo central e a gerar um padrão mais

disperso, inclusive algumas empregavam mão de obra residente em suas vilas operárias,

construídas junto às fábricas. Assim, além da Cia Manufatora de Fio de Algodão (1943), a Cia.

Mineira de Papéis (1954), a Fábrica de Papelão Cataguases (1957), a Fundição Cataguases

(1958) e a Indústrias Químicas Cataguases Ltda (1961) são indústrias que se alojaram mais

distantes da área central da cidade em busca de mais espaço para suas plantas. O padrão

locacional intra-urbano, que era respaldado pelas economias de aglomeração, dá lugar a uma

nova lógica com as indústrias se afastando das áreas centrais À medida que essas indústrias se

instalavam, surgiam outras atividades complementares indispensáveis ao processo (comércio,

serviços, oficinas, restaurantes, firmas transportadoras). Por outro lado, o poder público tratava

de melhorar o acesso viário a essas novas fábricas (ruas pavimentadas, rede elétrica, água

encanada), estimulando a incorporação dessas áreas ao tecido urbano. Assim, a cidade se

expandia tendo as indústrias como catalizadores. Segundo o IGA (1981), tratava-se de uma

dispersão relativa, ou um padrão mais ou menos disperso, pois a maioria dos grandes

estabelecimentos se instalava ao longo do vale do ribeirão Meia Pataca.

A partir da década de 1970, a organização do espaço industrial da cidade começa

a obedecer a um padrão concentrado, fruto de um política de deslocamentos dirigidos ou

planejados (SAMPAIO, 1988). O congestionamento das áreas urbanas centrais e a falta

generalizada de espaço, forçaram a Prefeitura, através de Lei Municipal, a criar o Distrito

Industrial de Cataguases em 1971. Acompanhando a tendência de desconcentração, o DI se

instalou a 3 Km do centro da cidade em área de antigo imóvel rural, margeando a antiga estrada

que ligava Cataguases a Leopoldina, na margem direita do Rio Pomba (COSTA, 1977). Esse

novo padrão espacial caracteriza-do pela ”periferização concentrada” das indústrias cria um

novo eixo de urbanização, induzindo a expansão linear do tecido urbano do centro até o DI, pela

margem direita do rio Pomba. A implantação, de infra-estrutura de acesso, por parte da

Prefeitura, melhorou a conexão entre o DI e o núcleo central da cidade, favorecendo o

surgimento de novos bairros como o Beira Rio, Paraíso e Santa Clara. Dentro da área do DI a

Prefeitura autorizou a construção de um conjunto habitacional que hoje se chama bairro

Taquara Preta.

Segundo o IBGE (1980), em Cataguases havia 127 indústrias em 1980: têxtil (07);

alimentícia (33); móveis (13); papel, celulose e papelão (02); extrativismo mineral (06);utensílios

domésticos (08); energia elétrica (01); construção civil (09); química (01); madeiras (07);

fundição (03); metalúrgica (01); bombas hidráulicas (01); mancais (01); calçados (04);

serralheria (04); confecções (06); peças para indústrias (04); construção civil (08); tipográficas

(07) e plásticos (01). Dessas 127 indústrias, o DI alocava, em 1980, 10 grandes empresas, que

se instalaram na década de 1970. Obviamente, podia-se inferir que várias pequenas indústrias

50

ainda se instalavam fora do DI, obedecendo ao antigo padrão disperso, porém, intra-urbano. Em

geral, são pequenas e micro empresas (marcenarias, serralherias, oficinas de usinagem de

peças, confecções, tipografias, utensílios domésticos) que geram baixo impacto ambiental,

consomem pouco espaço e se instalam nos bairros residenciais ,aproveitando mão de obra

local. O DI estava destinado a receber empresas de maior porte.

Em 2001, segundo o IBGE e dados da Assembléia Legislativa de Minas Gerais,

Cataguases contava com 317 indústrias representadas nos seguintes ramos: confecções

de artigos de vestuário, extrativismo mineral metálico, extrativismo mineral não metálico,

fundição, fábrica de artigos de borrachas e pláticos, embalagens de papelão, mecânicas,

móveis, alimentícias, produtos de madeira, química, têxtil, metalúrgica, construção civil,

tipográficas, serralheria, energia elétrica, papel, desinfetante, calçados, sacolas plásticas,

tipográficas. Das 317 indústrias, atualmente , conforme pesquisa de campo realizada em

julho de 2005, 26 indústrias estão instaladas na área do DI. As demais se encontram

dispersas pela cidade, sendo, em sua maioria, pequenas e micro empresas. De fato as

indústrias aumentaram em número, mas mantiveram o mesmo nível de diversificação

industrial.

Cataguases apresenta elevado percentual de população urbana (94,53%),

acima do percentual nacional, que é de 83 % (IBGE, 2000), demonstrando a importância e o

peso dos setores urbanos na economia da cidade (Quadro 5).

Quadro 5 - Cataguases: população residente

Ano Urbana Rural Total Percentual

urbano 1970 33.434 10.493 43.927 76,11

1980 43.106 7.095 50.201 85,86

1991 53.439 4.728 58.167 91,87

1996 58.132 3.832 61.964 93,81

2000 60.482 3.498 63.980 94,53

Fonte: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e IBGE.

Quanto à distribuição da PEA, o quadro 6 demonstra que 7457 trabalhadores

estavam empregados no setor industrial (Secundário). Isso significa 32% da PEA e reafirma

o peso das indústrias no setor produtivo da economia, caracterizando Cataguases como

uma cidade industrial.

51

Quadro 6 - Cataguases: população ocupada por setores econômicos (2000) Setores Nº de pessoas

Agropecuário, extração vegetal e pesca 1.199

Industrial 7.457

Comércio e mercadorias 4.367

Serviços 10.387

Total 23.410

Fonte: IBGE (2000)

Para Manzagol (1985), a urbanização está diretamente associada à

industrialização. Na mesma linha de raciocínio, Carlos (1989, p. 46) afirma que, “com a

industrialização, a urbanização experimenta um impulso considerável a ponto de constituir-

se num aspecto indissociável dela”. Sendo assim, podemos considerar que a atividade

industrial é predominantemente urbana. Mesmo levando em conta que existe uma tendência

recente de desconcentração industrial por deslocamento espontâneo ou dirigido (planejado),

a indústria ainda possui papel importante na estruturação e dinâmica do sistema urbano. No

caso de Cataguases isso ficou bastante evidente, pois à medida que as indústrias se

afastavam do núcleo central, acabavam contribuindo para o crescimento do tecido urbano,

tornando a relação indústria-cidade mais diversificada e complexa.

2.3 - A organização do espaço industrial disperso de Cataguases

O padrão disperso foi a primeira forma de organização espacial das indústrias de

Cataguases. Começou a se estruturar a partir da primeira década do século XX e se

estendeu até o início dos anos 1970. Condicionado pela ausência de uma política de

zoneamento urbano, trouxe como conseqüências a expansão do tecido urbano, o

desenvolvimento de atividades econômicas correlatas e problemas ambientais diversos.

Torna-se, portanto, fundamental uma análise da organização espacial do padrão disperso

para uma melhor compreensão de sua dimensão geográfica, estrutura e procedimentos

tecnológicos.

52

2.3.1- Padrão urbano-industrial disperso: uma proposta de definição

Espaço industrial, enquanto recorte geográfico, é produto e condição de práticas

sociais. Na cidade, o espaço industrial não envolve apenas a fábrica. As práticas de

produção industrial articulam os recursos naturais, os bairros, as estradas, os serviços de

apoio técnico, energia, comunicações, sistema bancário e relação com outras indústrias e o

poder público. Desse modo, o espaço industrial demanda uma rede socioespacial e produz

outra para si próprio. Logo, em área de ocupação urbana preexistente a atividade industrial

resulta de pré-condições de um espaço geográfico em que fatores locacionais se

apresentam, de modo a influenciar a decisão empresarial. Neste sentido, a atividade

industrial dispersa em uma área urbana é constituída por uma trama de ações que integra

escalas geográficas diversas e por um arranjo de objetos que é apropriado e funcional à

dinâmica de reprodução do capital industrial, tais como a existência de mão-de-obra (capital

humano), matérias-primas, mercado consumidor, logística de transporte, energia,

comunicações, incentivos fiscais, etc. Assim sendo, em alguns casos, não podemos tomar o

espaço industrial como uma unidade espacial dissociada do espaço urbano, visto que a

atividade industrial é uma das formas de fragmentação e estruturação interna da cidade. Se

o espaço urbano é o pano de fundo à prática industrial, o padrão industrial disperso é

condicionado pela ausência de um zoneamento urbano ou pela própria atividade industrial

preexistente, que influencia a decisão ou não de novos investimentos industriais. De um

certo modo, o padrão industrial disperso decorre de decisões individuais planejadas frente a

interesses logísticos da empresa, bem como do arranjo de ações e objetos que a cidade

possua. Por outro lado, tal arranjo também pode significar práticas de relocalização

industrial se houver deseconomias de aglomerações presentes na cidade. Além disso, a

expansão urbana e industrial pode se constituir um único processo em que tanto a indústria

condiciona a extensão do tecido urbano quanto a cidade influencia a atração de indústrias.

Em linhas gerais, sítio e posição são fatores fundamentais à logística de instalação

de indústria numa área urbana. Além disso, alguns fatores weberianos (mão-de-obra, matéria-

prima, mercado e transporte) ainda são elementos considerados na decisão empresarial. Logo,

o padrão industrial disperso constitui um arranjo de indústrias distribuídas no tecido urbano em

função de tais requisitos locacionais e da dinâmica interna da cidade. Se o padrão é disperso, a

tipologia da indústria é, normalmente, diversificada e condicionada pela geografia física da

cidade e pelas formas de ocupação e disponibilidade de áreas para os requisitos locacionais da

empresa. Enfim, tal padrão corresponde a uma organização espacial de indústrias, a partir de

decisões próprias dos empresários em face da dinâmica do capital e do papel do Estado em

53

suas diversas escalas (federal, estadual e municipal).

Vale lembrar que, a dispersão das indústrias no interior da cidade não é

necessariamente uma decisão tomada pelo capital transformado em sujeito racional. Em

grande medida, o padrão resulta do nível geral e desigual de desenvolvimento das forças

produtivas e das diferentes relações inter e intra-setores e o poder público em geral. Assim,

a diferente distribuição de fatores como energia, incentivos fiscais, informação,

disponibilidade de terrenos, meios de comunicação e força de trabalho têm importância

central para as possibilidades de concentração ou dispersão.

O padrão disperso da indústria na cidade constitui uma geografia complexa em

que se incluem a busca pelo melhor sítio e posição e as tramas sociais, econômicas,

políticas e ideológico-culturais envolvidas com o processo de reprodução do capital. Neste

cenário, a decisão racional dos empresários de se localizar em determinada parte da cidade

não é o único fator principal. Isso porque muitas prefeituras através do zoneamento urbano

determinam as áreas destinadas à indústrias. Além disso, o perfil ideológico do Estado e

suas práticas de estímulo à indústria também contribuem para uma configuração singular do

espaço industrial de uma cidade.

Em resumo, pode-se definir o padrão industrial disperso como uma distribuição

desigual da indústria no espaço urbano, a partir dos seguintes fatores, a saber:

1 - Da geografia física da cidade: recursos naturais, geomorfologia,

disponibilidade de terrenos, etc;

2 - Da ausência ou presença de zoneamento urbano;

3 - Da posição da indústria em relação às redes de circulação (rodovias,

ferrovias, portos, aeroportos, energia, telecomunicações, sistema bancário, etc);

4 - Da própria dinâmica interna da cidade, que pode provocar práticas de atração

industrial.

Finalmente, demais fatores como incentivos fiscais, presença de mão-de-obra,

mercado consumidor, matérias-primas, etc podem contribuir tanto para a concentração

(caso dos distritos industriais), quanto para a dispersão no tecido urbano.

2.3.2 A dimensão geográfica das indústrias dispersas na cidade de Cataguases

O padrão disperso que caracteriza o primeiro arranjo espacial produtivo da

atividade industrial de Cataguases resulta de uma complexa interação entre diversos

54

fatores. A cidade começou a se estruturar ocupando primeiramente os terraços mais amplos

e parte das planícies de inundações formatando um tecido urbano, cujo arranjo e

funcionalidade influenciaram nas decisões locacionais tomadas pelos primeiros empresários

industriais. As primeiras indústrias, ainda na segunda metade do século XIX, eram de

pequeno porte e se localizavam na margem esquerda do rio Pomba, buscando uma maior

proximidade com o centro comercial. Eram pequenos estabelecimentos de beneficiamento

de café, produção de bebidas (cerveja), sabão, açúcar (rapadura), forjarias, cuja finalidade

era atender as demandas locais de consumo. As indústrias de maior porte só começaram a

se instalar no início do século XX (a partir de 1905), também na margem esquerda do rio

Pomba, principalmente ao longo da bacia do ribeirão Meia Pataca (afluente de margem

esquerda do rio Pomba), aproveitando a disponibilidade de amplos terrenos de baixos

custos, planos e a facilidade de obtenção de água para os processos produtivos. Essa

localização também coincidia com a rua e a linha férrea que acompanhavam o ribeirão Meia

Pataca, desde a estação ferroviária até a saída da cidade em direção a Miraí (IGA, 1981). A

margem direita do rio Pomba, no setor próximo ao núcleo central da cidade, por apresentar

terraços mais estreitos, somente recebeu uma grande indústria em 1936, sendo necessário

intensa movimentação de terra. Segundo Ab’ Saber (2003), o domínio dos “mares de

morros” constitui o meio físico e paisagístico, onde é difícil encontrar sítios favoráveis a

parques industriais avantajados. Em estudo geomorfológico sobre Cataguases, o IGA (1981)

confirma a tese de Ab’ Saber ao afirmar que o rio Pomba passa por trechos com vales mais

abertos (amplas várzeas) e trechos com vales mais encaixados. Portanto, é de se esperar

que o sítio do município, ao não favorecer as grandes aglomerações industriais, contribua

para uma maior dispersão das unidades produtivas.

A instalação dos grandes estabelecimentos próximos dos principais cursos

d’água garantia o uso da água como recurso e também como destino final dos efluentes

líquidos não tratados. Prática muito comum até o final dos anos 1980, quando a atuação de

órgãos ambientais oficiais (federal e estadual) passou a exigir uma maior adequação das

grandes empresas às legislações ambientais. Essas empresas passaram a tratar os

efluentes, através das ETEs (Estação de Tratamento de Efluentes), antes de lançá-los nos

cursos d’água. É o caso das grandes indústrias têxteis e da fábrica de papel, que utilizam

grandes quantidades de água. As grandes indústrias de Cataguases que caracterizam o

padrão disperso são também as mais antigas e não tiveram suas instalações influenciadas

por um zoneamento urbano. As decisões para instalação eram tomadas considerando, além

dos fatores de ordem física (sítio / tamanho da área física disponível), a preexistência ou

facilidade de acesso aos sistemas viários (rodovias / ferrovia), energia, comércio e mão de

obra. Um grande exemplo foi a instalação em 1905 da primeira grande indústria têxtil -

Indústria Irmãos Peixotos S A, distante aproximadamente 100 metros da estação ferroviária.

55

Além de terreno plano e proximidade do ribeirão Meia Pataca, essa indústria pioneira

buscava uma melhor localização, uma vez que, nessa época, o entorno da estação

ferroviária se consolidava como centro comercial ativo. As demais indústrias também

obedeciam à mesma lógica, porém com uma tendência ao distanciamento do centro

comercial, cujo crescimento diminuía e tornava mais caro os espaços físicos para novas

indústrias. Segundo Cardoso (1955, p 54),

a análise da planta funcional da cidade mostra a existência de várias fábricas formando um pequeno parque industrial, estando a maior parte localizada nos extremos da cidade. Este fato é perfeitamente explicável, pois os estabelecimentos industriais precisando, em geral, de muito espaço, procuraram a periferia da cidade, pois, no centro, a ocupação muito antiga já absorvera todas as áreas disponíveis; além disto, os terrenos estão muito valorizados.

Desse modo, o vale do ribeirão Meia Pataca tornou-se o eixo preferencial para

instalação das grandes indústrias, desde o início do século XX até o final dos anos 1950.

Como exemplo, temos as instalações da Cia Manufatora de Tecidos de Algodão em 1943 e

Cia Mineira de Papéis em 1954. A exceção ocorreu com a Cia Industrial Cataguases (têxtil)

e sua respectiva vila de operários (Bairro Jardim), que desde 1936, já havia se instalado e

ocupado os estreitos terraços da margem direita do rio Pomba e a encosta do morro

adjacente. Na margem direita, o povoamento já havia começado, na primeira década do

século XX, na Vila Tereza. Depois, na Vila Minalda, no início dos anos 1930. A chegada da

Cia Industrial Cataguases com sua vila operária expandiu ainda mais o tecido urbano e

transformou a margem direita do rio Pomba em uma zona proletária (CARDOSO, 1955).

Contudo, a dispersão se fazia sem grandes problemas, uma vez que existiam novos

terrenos com baixos custos e as vias de acesso garantiam ligação das novas indústrias com

o centro da cidade, onde se localizava o comércio e a estação ferroviária. Portanto, a

circulação não ficava comprometida.

A chegada da energia elétrica à cidade foi outro fator infra-estrutural importante.

Com sede administrativa e foro jurídico em Cataguases, é organizada, em 1905, a

Companhia Força e Luz Cataguazes-Leopoldina (CFLCL). A primeira usina geradora (Usina

Maurício) construída utilizava as águas do rio Novo (afluente do rio Pomba), em área

correspondente à jurisdição do município de Leopoldina. Os equipamentos entraram em

operação em 1908, fornecendo, inicialmente, energia para quatro cidades: Cataguases,

Leopoldina, São João Nepomuceno e Rio Novo (COSTA, 1977). Mas antes da unidade

geradora entrar em operação, a CFLCL registrou-se na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro

56

em 1907. A CFLCL foi a terceira S/A a obter registro na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.

Esse procedimento fortaleceu a relação da empresa com a economia de mercado

emergente e o vínculo com seus acionistas (AVE LUZ, 2005). É importante constatar que,

até esse período, segundo Suzigan (2000), a quase totalidade das indústrias têxteis do

Brasil funcionava utilizando força hidráulica ou a vapor. Ter acesso a energia elétrica, nessa

época, representava uma revolução técnica para os estabelecimentos industriais,

eliminando também os custos com a importação do carvão para usos nos maquinários a

vapor. O ingresso na geração da energia elétrica ajudava Cataguases a se consolidar como

área promissora para os investimentos no setor industrial, pois a partir dessa época podia-

se garantir a chegada da energia elétrica nos mais diversos pontos do município.

Atualmente, o município de Cataguases possui sua demanda energética plenamente

atendida e com possibilidades de garantir o fornecimento de eletricidade para novos

empreendimentos. A CFLCL, desde sua fundação, passou por diversas expansões,

modernizações tecnológicas, novas associações e incorporações que acabaram ampliando

a área de concessão (mapa 7). Outro marco estratégico da empresa foi a construção da

primeira usina termelétrica a gás natural de Minas Gerais. Trata-se da Usina Termelétrica de

Juiz de Fora (UTEJF) de 82 MW de potência, construída pela Cat Leo Energia S/A em

associação com a Alliant Energy (empresa norte-americana) em 2001. Na área ambiental, a

CFLCL criou duas RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural): a RPPN Usina

Maurício com 313 hectares e a RPPN Usina Coronel Domiciano com 212 hectares. Ambas

possuem reconhecimentos do IBAMA e IEF (Instituto Estadual de Floresta). Na área cultural,

a empresa, através da Fundação Cultural Ormeo Junqueira Botelho, criou o Museu da

Eletricidade, o CTM (Centro das Tradições Mineiras) e os projetos Usina Cultural e Café

com Pão Arte e Confusão (AVE LUZ, 2005). Ambos nas áreas de educação e valorização

da cultura e da arte.

57

Mapa 7 - Área de Concessão da CFLCL e de Outras Concessionárias do Sistema Cataguases-Leopoldina (2005)

FONTE: http://www.cenf.com.br/html/infcorpl.htm

Um outro dado importante que impactou significativamente a organização do

espaço industrial e a economia de Cataguases foi a chegada da estrada Rio-Bahia (hoje BR

– 116) em Leopoldina (cidade distante 20 Km de Cataguases) em 1939. Até essa data, a

ferrovia era quem, na verdade, garantia o desenvolvimento das indústrias, uma vez que as

matérias-primas, os insumos e os maquinários chegavam de trem. O que era produzido na

cidade e entorno também saia de trem tendo como destino principal o Rio de Janeiro. Desse

modo, durante toda a primeira metade do século XX, as indústrias que se instalavam fora da

área central procuravam se alojar próximas ao eixo ferroviário, ou criar esquemas de acesso

facilitado à estação ferroviária. Com a chegada da rodovia Rio – Bahia em Leopoldina, o

transporte rodoviário significou uma nova opção que gradativamente foi ganhando forma e

estimulando aberturas de estradas secundárias na região. Aos poucos o trem dava lugar ao

caminhão, que passaria a constituir o principal meio de transporte da produção,

principalmente depois da pavimentação da estrada que ligava Cataguases à BR – 116, em

Leopoldina. A partir dos anos 1940, com a flexibilização nos transportes, as indústrias

passaram a se beneficiar duplamente. Primeiro porque seus produtos podiam atingir um

mercado maior com repercussão positiva nos “custos de transferência” (ESTALL e

BUCHANAN, 1976). Segundo, com o desenvolvimento do transporte rodoviário, flexibiliza-se

58

ainda mais a localização industrial dando maior grau de autonomia às indústrias na escolha

dos melhores locais para instalação. Dentro dessa nova perspectiva as indústrias que mais

dispersaram foram a Fábrica de Papelão Cataguases S A, instalada em 1957 na Vila

Minalda (margem direita do rio Pomba); a Fundição Cataguases S A implantada no Bairro

Popular (antigo bairro Matadouro) em 1958; a Indústrias Químicas Cataguases Ltda que se

instalou no bairro Vila Reis em 1961 e a Rio Pomba Minerações instalada na localidade de

Barão de Camargos (distante 6 Km do centro da cidade) às margens do rio Pomba e da

ferrovia (mapa 8).

Quanto à força de trabalho, desde o início do processo de industrialização,

Cataguases era bem servida de mão de obra local. Esse contingente que ingressava nas

fábricas era formado por recém-chegados da zona rural como relata Cardoso (1955, p 59):

Como conseqüência da industrialização na cidade nota-se um verdadeiro êxodo rural no município. A mão de obra das fábricas é, na maioria, procedente do campo; são antigos lavradores que abandonam a zona rural a fim de melhorar o seu padrão de vida, fato assinalado pela Comissão Nacional de Política Agrária, em inquéritos promovidos na cidade.

No entanto, à medida que aumentava o número de indústrias, fazia-se necessário

contratar mão de obra cada vez mais qualificada em virtude da diversificação do quadro e das

mudanças tecnológicas em curso. Para suprir essa demanda, em 1950 foi inaugurada uma

Escola de Aprendizagem do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) com apoio

decisivo de empresários locais, principalmente do setor têxtil. O SENAI formava mão de obra

nos cursos de ajustagem, tornearia, mecânica geral e desenho técnica para a manutenção de

máquinas, consertos e fabricação de peças de reposição. Também se ministrava cursos para

áreas de administração, aperfeiçoamento de secretarias, treinamentos para fiação e tecelagem

e aperfeiçoamento de mestres e contramestres têxteis (COSTA, 1977). A mão de obra formada

pelo SENAI era, em sua maior parte, absorvida pelas indústrias locais. Uma parte dos que não

eram aproveitados localmente, se deslocava para trabalhar em outros estados, principalmente

São Paulo e Rio de Janeiro. Havia sempre um contingente que acabava abrindo pequenas

oficinas de tornearia, mecânica de manutenção e serralherias prestando serviços terceirizados

para diversas empresas – prática ainda muito usual na cidade. Essas pequenas oficinas e

serralherias, em geral, microempresas (SEBRAE, 2005), encontram-se dispersas por toda

cidade ocupando garagens, fundos de residências e pequenos terrenos em diversos bairros.

À medida que novas indústrias se instalavam, contribuíam para aumentar a

extensão do tecido urbano com o surgimento de novos bairros residenciais. Esses iam se

formando nos eixos de ligação das indústrias com o centro da cidade, ou no entorno dos

59

60

estabelecimentos industriais. A expansão urbana e industrial se amalgamavam

espacialmente num único e complexo processo, no qual a indústria estimulava o

crescimento da cidade e esta, por sua vez, passava a atrair mais indústrias.

O início da década de 1970 se caracterizou como um momento em que a

administração pública passou a se preocupar em desenvolver uma política para o setor

industrial, através da implantação de um zoneamento que visava disciplinar o arranjo espacial

das indústrias. Trata-se da criação do Distrito Industrial de Cataguases (1971) que inicia uma

nova lógica locacional. A partir desse momento as indústrias passaram a se instalar (ou

relocalizar), preferencialmente, na área do DI, onde a Prefeitura Municipal garantia toda infra-

estrutura de acesso (estrada calçada, energia elétrica, água encanada, rede de esgoto) e a

doação do terreno aos empresários. Desse modo concluímos que, a cidade, atualmente,

apresenta dois padrões espaciais: o disperso (relativo ao processo pioneiro da industrialização)

e o concetrado (relativo ao Distrito Industrial). No entanto, apesar do DI ser o alvo principal da

política municipal para o desenvolvimento industrial, o padrão disperso ainda é, atualmente, o

mais representativo por conter o maior número de indústrias e as de maior porte. Cabe também

ressaltar que o padrão disperso continua incorporando novas unidades de micro e pequenas

empresas que não conseguiram se instalar na área do DI. Essas empresas possuem baixo

potencial de impacto ambiental e se dispersam pelo tecido urbano se alocando em garagens,

fundos de quintais e pequenos lotes em áreas residenciais. No item seguinte estaremos

analisando a estrutura e os procedimentos tecnológicos das indústrias mais representativas da

organização espacial do padrão disperso.

2.3.3 -A estrutura industrial e os procedimentos tecnológicos da indústria dispersa.

O padrão disperso é composto por um conjunto de indústrias que se instalaram,

e ainda se instalam, fora do DI de Cataguases. Segundo o IBGE (2001), Cataguases possui

um total de 317 indústrias (Quadro 7).

61

Quadro 7 - Indústrias em Cataguases (2001)

Ramos Industriais Número de Empresas Indústria Extrativa Mineral 14

Indústria de Transformação 276

Produção e Distribuição de Energia 1

Construção Civil 26

Total 317

Fonte: Adaptado do site do IBGE/cidades @, consultado em 25/07/2005.

Aproximadamente 90% do total de indústrias se localizam no padrão disperso. A

indústria dispersa compreende, quanto ao gênero, um quadro bastante diversificado, mas

quanto ao tamanho, há uma predominância das micro e pequenas empresas (SEBRAE,

2005).

Em nosso estudo estaremos nos referindo especificamente às indústrias mais

significativas desse padrão, que também são as maiores e as mais antigas. Algumas delas,

principalmente as têxteis, por serem pioneiras da fase industrial de Cataguases, foram as

responsáveis, direta e indiretamente, pelo surgimento de outras indústrias, atividades

econômicas e serviços (Quadro 8)

Quadro 8 - Principais Indústrias do Padrão Disperso (2006)

Indústrias Gênero Ano de FundaçãoIndústrias Irmãos Peixoto* Têxtil 1905 Companhia Industrial Cataguases (matriz) Têxtil 1936 Cia. Manufatora de Tecidos de Algodão Têxtil 1943 Indústria Cataguases de Papel Papel 1954 Fábrica de Papelão Cataguases Papelão 1957 Fundição Cataguases Indústria Metalúrgica Metalúrgica 1958 Indústrias Químicas Cataguases Química 1961 Indusfil Fios e Malhas Têxtil 1967 Rio Pomba Minerações Extrativa Mineral 1961 Fonte: Costa (1977) e Prefeitura Municipal de Cataguases (2006) *A Indústria Irmãos Peixoto S/A deixou de existir efetivamente ao ser incorporada, em 1998, pela Companhia Industrial Cataguases. Atualmente, no prédio da fábrica Irmãos Peixoto funciona o Instituto Francisca de Souza Peixoto.

As indústrias têxteis representam o setor pioneiro e o mais expressivo da

industrialização de Cataguases. A primeira grande fábrica do setor foi a “Companhia de

Fiação e Tecelagem de Cataguases fundada em 1905, mas que em função de uma crise

62

financeira mudou de proprietário e de nome, passando a se chamar “Manuel Inácio Peixoto”

em 1911. No entanto, o nome definitivo só se incorpora em 1917 quando a fábrica passa a

se chamar “Indústria Irmãos Peixoto S.A.” (COSTA, 1977). Foi a primeira fábrica a utilizar

teares modernos de fabricação inglesa com sistema a vapor que, depois, ainda na primeira

década do século XX, foi substituído por motor elétrico. Essa mudança na matriz energética

só foi possível porque a Companhia Força e Luz Cataguases Leopoldina já disponibilizava

energia elétrica para a cidade desde 1908. A chegada da energia elétrica permitiu a

modernização da empresa, desde a fiação até a tecelagem e acabamento. Com a

ampliação das perspectivas de crescimento e a escassez de espaço, o setor de fiação da

empresa se transferiu para o DI em 1976. A tecelagem continuou no prédio antigo até 1998,

ano em que a empresa deixou de existir efetivamente e foi incorporada pela Cia. Industrial

Cataguases. O prédio, onde funcionava a indústria, passou a abrigar, desde 1999, o Instituto

Francisca de Souza Peixoto, onde são desenvolvidos projetos nas áreas de educação, arte,

cultura, esporte, saúde e cidadania (CATAGUASES, 2005).

O padrão disperso apresenta, atualmente, três indústrias têxteis em funcionamento

(Quadro 9).

Quadro 9 - Indústrias Têxteis de Cataguases (2006)

Empresas

Número de empregados

Produção (mês)

Classificação (SEBRAE)

Abrangência espacial do

mercado Cia Industrial Cataguases 900 2500000 m

tecidos Grande

empresa MG, RJ, SP Exportação

Cia manufatora de Tecidos de Algodão

846 1 milhão m

tecidos/ 120 ton. algodão

Grande empresa

MG, RJ, SP Exportação

Indusfil Fios e Malhas 120 80 toneladas

de malhas Média

empresa Zona da Mata (MG)

RJ e SP Fonte: Pesquisa de campo realizada em janeiro de 2006.

Trata-se de indústrias modernas características de um setor que vem avançando

com incorporações de novas tecnologias. As duas maiores indústrias (Companhia Industrial

Cataguases e Cia Manufatora de Tecidos de Algodão) têm investido em importações de

tecnologia de automação e controle informatizado de todos os segmentos, gerando

impactos positivos na produtividade e produção. Por outro lado, há uma redução gradativa

de postos de trabalho.

Por serem empreendimentos de grande porte, classificam-se, segundo a

Deliberação Normativa no 74/2004 do Conselho Estadual de Política Ambiental

(COPAM/MG), como indústrias têxteis de grande potencial poluidor. Isso obriga essas

63

indústrias a investirem em equipamentos de monitoramento, controle e tratamento de

resíduos e efluentes através, por exemplo, das ETEs. No caso de caldeiras a óleo

combustível, é necessário o uso de filtros para evitar a poluição atmosférica.

A terceira indústria têxtil, a Indusfil Fios e Malhas, é classificada pelo SEBRAE

(2005) como uma média empresa. Sem o mesmo volume de recursos das primeiras e, sem

possibilidades de expansão física, optou por fazer uma reestruturação através da aquisição

de novas máquinas para produção de malhas. São máquinas modernas, automáticas, mas a

empresa ainda não se encontra totalmente informatizada. Classificada como indústria de

baixo potencial poluidor, não precisou investir em equipamentos de controle, monitoramento

e tratamento de resíduos e efluentes.

O segundo ramo importante é o de papel e papelão representado por duas

empresas (Quadro 10).

Quadro 10 - Indústrias de Papel de Cataguases (2006) Empresas Número de

trabalhadores Produção

(mês) Classificação

(SEBRAE) Abrangência

espacial / mercado Indústria Cataguases

de Papel 250 500 ton. papel

Média Empresa

MG, SP, BA Região Sul

Fábrica de Papelão 25 50 ton.

papelão Pequena Empresa MG, SP, RJ e ES

Fonte: Pesquisa de campo realizada em janeiro de 2006.

A Indústria Cataguases de Papel foi, originalmente, fundada em 1954 com o

nome de Companhia Mineira de Papéis por empresário ligado ao ramo têxtil da cidade, Sr.

Manoel Inácio Peixoto. A fábrica produzia celulose e papéis para impressão (COSTA, 1977).

Em 1978, o Grupo Matarazzo compra a fábrica que passa a se chamar Indústria Matarazzo

de Papéis S/A. Os procedimentos tecnológicos utilizados, desde os primórdios da empresa,

consumiam muitos produtos químicos tóxicos, cujos resíduos eram lançados, sem

tratamento, no ar e no Ribeirão Meia Pataca. Foi justamente esse processo industrial que

gerou o acidente de 2003, quando ocorreu o vazamento de 1,2 bilhão de litros de resíduos

tóxicos que estavam, inadequadamente, armazenados em uma barragem (MARTINS,

2003). Em 1992, o Grupo Matarazzo, atravessando um período de dificuldades financeiras,

resolveu paralisar as atividades da unidade de Cataguases. Um novo proprietário assume a

empresa em 1994. Trata-se do Grupo IBERPAR Empreendimentos e Participações. A

fábrica passa a se chamar Indústria Cataguases de Papel. Os profissionais que trabalhavam

na antiga Matarazzo são recontratados e a empresa passa por uma reestruturação de

equipamentos e máquinas. Atualmente a empresa produz exclusivamente “papel miolo” e

64

“papel capa” a partir de “papel velho”. Não há produção de celulose. Em 2005 investiu em

laboratório de controle de qualidade e está implantando novos equipamentos de

monitoramento da produção. A madeira armazenada em seu pátio é para combustível de

caldeira. Apesar de utilizar “papel velho”, a empresa apresenta grande potencial poluidor.

Por isso investiu em equipamentos para a ETEs ( Estação de Tratamento de Efluentes),

principalmente por utilizar a água do Ribeirão Meia Pataca. A atual empresa foi

responsabilizada pelo acidente de 2003 por ter herdado um “passivo ambiental” do Grupo

Matarazzo. O Grupo IBERPAR, atual proprietário, assinou e já está cumprindo o TAC

(Termo de Ajustamento de Conduta). A empresa realiza atualmente um programa, junto à

Secretaria Municipal de Educação, na área ambiental relativo a reciclagem de papel que

envolve palestras, concursos de redação e visita das escolas à fábrica.

A Fábrica de Papelão Cataguases S/A, fundada em 1957, opera atualmente com

os mesmos procedimentos técnicos originais. A matéria-prima é o papel velho e o produto

final é o “papelão pardo”, usado em embalagens diversas e capas duras para cadernos e

livros. Atualmente a fábrica ainda utiliza tração animal (carroça) para retirar o papelão

produzido do interior da fábrica para ser secado ao ar livre no pátio da empresa. Por ser

uma pequena empresa e produzir cerca de 50 toneladas/mês possui baixo potencial

poluidor. Daí a inexistência de investimentos em monitoramento e controle ambiental.

No setor de metalmecânica, desde 1958, quando foi fundada, a Fundição

Cataguases Metalúrgica LTDA se destinava a fabricar peças de reposição das maquinarias

dos setores de fiação e tecelagem das indústrias têxteis da cidade. A principal matéria-prima

é o ferro gusa, adquirido nas guseiras do interior de Minas Gerais. Mas com a ampliação e

diversificação das demandas, a empresa passou a trabalhar também com ligas de ferro-

silício, ferro-manganês, alumínio e bronze produzindo proteções de válvulas, mancais de

carcaças, implementos agrícolas, bombas hidráulicas e peças fundidas em geral. A fundição

funciona por indução elétrica e os procedimentos tecnológicos, em geral, não são os mais

modernos. Não opera com controle de produção informatizado e não possui espectrômetro

de massa para controle de qualidade das peças produzidas. Considerada pelo SEBRAE

(2005) como empresa de médio porte, a Fundição Cataguases opera com 128 empregados,

ocupando uma área de 3200 m2 no Bairro Popular. Percebe-se que a urbanização de

entorno transformou o local em bairro residencial, envolvendo a fundição e impedindo

qualquer estratégia de expansão física da empresa. A liberação de vapores e gases dos

processos de fundição e usinagem incomodam a população do entorno. Os empresários

reconhecem, mas alegam que não têm como financiar uma relocalização da empresa.

Trata-se de um caso típico de empresa que, segundo Estall e Buchanan (1976), apresenta

elevado nível de inércia geográfica em virtude da natureza de seus equipamentos produtivos

e instalações. A empresa funciona sem nenhum procedimento de controle e monitoramento

65

de resíduos ou emissões. Atende ao mercado local e outras cidades dos estados de MG e

SP.

Em 1961, um grupo de empresários da cidade, inclusive ligados ao setor têxtil,

fundou a Indústrias Químicas Cataguases Ltda, no bairro Vila Reis. Segundo Costa (1977,

p. 314), o objetivo da empresa era “a exploração industrial e comercial de produtos

químicos, inclusive mineração”. Seu primeiro e principal produto foi o Sulfato de Alumínio,

extraído da bauxita, minério muito comum na Zona da Mata mineira. Com o passar do

tempo, a indústria empreendeu um conjunto de transformações relativas a aprimoramentos

tecnológicos (inclusive pesquisa) e expansão empresarial. Atualmente, é a empresa líder do

Grupo Química Cataguases que atua no ramo industrial, oferecendo tecnologia qualificada,

através de uma linha de produtos químicos para tratamento de água em usos industrial,

residencial (piscina, água potável), abastecimento urbano, ETEs e esgoto. Os principais

insumos utilizados pela indústria são: água, bauxita, minério de ferro, ácido sulfúrico,

hidróxido de alumínio, cloro, cal hidratada, soda cáustica líquida e outros reagentes. Os

principais produtos produzidos pela empresa são: Aluminato de Sódio, Sulfato de Alumínio,

Cloreto de Alumínio, Policloreto de Alumínio, Sais Férricos, Hipocloreto de Cálcio e Sais de

Flúor.

A fim de produzir parte dos insumos que a Indústrias Químicas Cataguases

precisa, foi constituída uma outra empresa. Trata-se da Rio Pomba Minerações, mais uma

empresa do Grupo Química Cataguases. A Rio Pomba Minerações é uma indústria extrativa

mineral e de transformação primária localizada às margens do rio Pomba, no distrito de

Barão de Camargos. Com reservas próprias de bauxita (30 milhões de toneladas) e de

calcita (240 mil toneladas), a Rio Pomba Minerações atua em Cataguases produzindo

Bauxita Ferrosa, Bauxita Branca e Cálcio.

A Indústrias Químicas Cataguases e a Rio Pomba Minerações possuem grande

potencial poluidor, por isso foram obrigadas a investir em controle e monitoramento

ambiental através de aparelhamento técnico de controle de emissões de gases, tanques

para estabilização de rejeitos de mineração e ETEs. As duas empresas atuam com

equipamentos informatizados em todos os setores, laboratórios químicos e setor de

pesquisa. Os produtos da Indústrias Químicas Cataguases atendem cerca de 1000

municípios brasileiros distribuídos pelas regiões Sudeste, Sul e Nordeste principalmente. O

Grupo Química Cataguases, controlador das duas empresas, criou a Fundação Cultural

Cataguases visando o desenvolvimento de atividades educativas, artísticas e culturais.

Atualmente, esse grupo emprega 750 funcionários em 9 unidades produtivas distribuídas

pelos Estados de SP, MG, BA e PE.

Na análise da estrutura industrial do padrão disperso ficou evidente a

importância do setor têxtil. Indutoras do processo de urbanização, as indústrias têxteis, além

66

de representarem o ramo predominante na cidade, concentram também o maior número de

pessoal ocupado. São também as indústrias que investiram significativamente em novos

procedimentos tecnológicos e empresariais para enfrentar as dificuldades conjunturais da

economia nos anos 90 do século XX. Nesse período, centenas de fábricas têxteis foram

fechadas no Brasil, segundo a ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil) em virtude da

intensificação da abertura comercial que inseriu o setor num ambiente de competitividade

globalizada (CATAGUASES, 2005).

A CFLCL (Companhia Força é Luz Cataguases Leopoldina) é outra empresa

importante que, atuando no setor de energia elétrica, garantiu o funcionamento das

indústrias e o desenvolvimento da economia regional da Zona da Mata mineira. É a empresa

que apresenta a mais complexa estrutura societária, atuando na geração, distribuição,

concessões e projetos com parcerias tecnológicas, como é o caso da associação com a

empresa norte-americana Alliant Energy, consolidada no ano 2000. Também é uma das

poucas empresas que investem nos setores ambiental (2 RPPN), artístico-cultural e

educacional da cidade.

Quase todas as principais indústrias do padrão disperso possuem área física

para expansão. A Fundição Cataguases é a única empresa que já ocupa toda extensão de

sua propriedade.

A Fábrica de Papelão e a Fundição Cataguases são indústrias que ainda operam

com maquinarias tradicionais, caracterizando um padrão produtivo de baixa eficiência.

Portanto, as empresas que possuem uma maior abrangência espacial de mercado (local,

regional, nacional e internacional) são também as que mais investiram na modernização dos

procedimentos tecnológicos. Daí o destaque para as grandes indústrias têxteis, o Grupo

Química Cataguases e a CFLCL (Companhia Força e Luz Cataguases Leopoldina).

Enfim, como é sabido, o padrão disperso é apenas uma das manifestações

espaciais da atividade industrial em Cataguases. A concentração de indústrias, na forma de

um Distrito Industrial, revela outro padrão de organização e dinâmica dos estabelecimentos

industriais. . Assim sendo, a pesquisa se volta para a análise do DI de Cataguases, onde

objetivamos analisar sua gênese, estrutura e procedimentos tecnológicos, para fins de

investigação dos impactos socioambientais.

CAPÍTULO 3 – O DISTRITO INDUSTRIAL DE CATAGUASES COMO PADRÃO CONCENTRADO DE LOCALIZAÇÃO DAS INDÚSTRIAS

A década de 1970 marcou o início de uma nova fase do processo de

industrialização em Cataguases. Trata-se da criação do Distrito Industrial aprovada pela Lei

Municipal nO 684 de 31/12/1971. Com o objetivo de ser um instrumento disciplinador e

promotor do desenvolvimento industrial, o DI inaugurou a primeira política de zoneamento

que influencia diretamente na organização espacial das indústrias de Cataguases.

Contrastando com a lógica de organização espacial do padrão disperso, o DI cria o padrão

concentrado, cuja forma, estrutura e dinâmica serão analisadas no presente capítulo.

3.1- A noção de DI enquanto recorte analítico do espaço geográfico

Os Distritos Industriais constituem formas específicas de arranjos espaciais

produtivos, que se inserem de maneira articulada, num contexto produtivo mais amplo do

espaço geográfico. Trata-se de uma das muitas configurações do espaço industrial. Sua

existência e dinâmica contribui para produzir e integrar diversas áreas e atividades gerando

uma cadeia de unidades produtivas e serviços interligados devido à capacidade de

articulação espacial inerente às indústrias. Fruto de um desenvolvimento “espontâneo” ou

planejado (política de zoneamento), os Distritos Industriais constituem espaços concretos

possuidores de uma especificidade histórica real. Caracterizados como unidades produtivas

locais, suas dinâmicas vinculam-se a um processo de industrialização espacialmente mais

abrangente e que se conecta a uma lógica reticular multi-escalar. Uma análise da

organização e funcionalidade dos DIs torna-se importante para o entendimento das

complexas redes socioespaciais construídas a partir das articulações que se estabelecem

entre esses arranjos produtivos e as economias local, regional e nacional. Logo, os DIs, do

ponto de vista espacial, resultam da divisão territorial do trabalho num dado momento da

história econômica de uma sociedade. Portanto, a análise desse arranjo produtivo nos

permitirá uma compreensão maior de como a sociedade organiza sua economia, em

especial a atividade industrial. Por isso, os estudos sobre a organização da atividade

industrial e a estruturação de seus arranjos espaciais produtivos sempre despertaram

interesses dos geógrafos, sociólogos e economistas. No que se refere especificamente ao

estudo da organização espacial da indústria concentrada , Souza (2005, p.1) afirma que

“essas concentrações geográficas de empresas vêm recebendo da literatura vários

68

nomes: Distritos Industriais, Sistemas Produtivos Locais, Arranjos Produtivos, Sistemas

Locais de Inovação, Aglomerações Industriais e Clusters”. Como o tema é alvo de diferentes

preocupações ou áreas de conhecimento, cada disciplina desenvolveu abordagens

compatíveis com seus instrumentais teórico-analíticos. Por isso os parâmetros conceituais e

tipologias são pouco consensuais. É nesse sentido que Suzigan (2005, p.4) divide em cinco

as abordagens mais relevantes para analisar as aglomerações industriais:

A da chamada Nova Geografia Econômica, cujo expoente é P. Krugman (1998); a de Economia de Empresas, na qual se destaca M. Porter (1998); a de Economia Regional, na qual há várias correntes, mas a que mais se aproxima do tema específico dos Clusters é aquela liderada por A . Scott (1998); a abordagem da Economia da Inovação, para qual contribuem muitos autores, entre os quais se destaca, pelo foco em políticas, D. B. Audrestch (1998), e finalmente a abordagem que trata de Pequenas Empresas/Distritos Industriais, com destaque para as contribuições de H. Schmitz (1997; 1999).

Garcia e Costa (2006, p.1), utilizando a expressão sistemas produtivos locais,

destacam os trabalhos de autores como Marshall (1920 [1988]), Perroux (1967), Krugman

(1991), Garofoli (1993), Markusen (1994), Langlois e Robertson (1995), Porter (1998) entre

outros. Estes autores apresentaram diversas Tipologias de Redes de Empresas localizadas

na Europa, América e Ásia.

Gorayeb (2002, p. 24) também nos alerta que as tipologias referentes às

aglomerações setoriais de PEs (Pequenas Empresas) não são homogêneas na literatura

científica e nos programas públicos de desenvolvimento regional e industrial. São várias as

designações, entre as quais:

Sistemas de Pequenas Empresas (Garofoli, 1994), Sistemas Produtivos Descentralizados (Costa, 2001), Sistemas Produtivos Localizados (Vidal, 2000), Arranjos Locais de PEs ( Cassioloato e Lastres, 1999), Modelo Comunitário (apud Souza, 1995), Clusters (vários autores), Sistemas Industriais Locais (Courlet e Pecquer, 1991 e Colletis et alli, 1990), Sistemas Produtivos Locais (Garofoli, 1993) e”Milieu Innovateurs” (Crevoisier e Maillat, 1991 e Camagni, 1991) – últimas cinco citações apud Humphrey e Schmitz, (1995), Clusters Regionais e Rede de Inovação Regional (European Communities, 2002).

Neste estudo daremos ênfase à discussão sobre a noção de Distrito Industrial (DI), uma vez que essa expressão foi oficialmente escolhida pelo poder público de

Cataguases como um marco político de ordenamento territorial para as indústrias a partir de

69

1970. Destacaremos os conceitos de externalidades positivas (economias externas) de

Marshall (1996), eficiência coletiva de Schmitz (1997) e nos apoiaremos também nas

evidências empíricas dos DI italianos (3a Itália) e na tipologia proposta por Sampaio (1988)

para o caso brasileiro.

As primeiras referências a respeito desse arranjo espacial produtivo

(concentração da produção industrial em determinados espaços – os DI) podem ser

encontradas nos estudos de Marshall (1996) sobre a dinâmica da organização espacial das

pequenas indústrias na Inglaterra. Em sua obra, Principles of Economics, publicada em

1920, Marshall destacou as economias que podem ser asseguradas pela concentração de

várias pequenas empresas, de um mesmo setor produtivo, em determinada localidade.

Segundo Garcez (2000), essas localidades foram chamadas por Marshall de Indústria localizada ou distritos industriais. Em sua obra, Marshall denominou de “economias externas” os ganhos ou economias alcançadas pelas pequenas empresas que puderam

auferir vantagens comparativas em função de participarem da formação de aglomerações

setoriais. Segundo o autor, as vantagens econômicas, também chamadas de

“externalidades positivas”, ocorrem principalmente em função de:

- acesso a trabalhadores qualificados (concentração local de mão-de-obra);

- fácil acesso a fornecedores de matérias-primas e serviços correlatos à atividade

principal. Nesse - sentido, Marshall (1996, p. 320) argumenta que:

acabam por surgir, nas proximidades desse local, atividades subsidiárias que fornecem à indústria principal instrumentos e matérias-primas, organizam seu comércio e, por muitos meios, lhe proporcionam economia de material;

- a concentração geográfica contribui para criar um ambiente propício a inovações. Para

Marshall (1996, p. 320), se um lança uma idéia nova, ela é imediatamente adotada por

outros, que a combinam com sugestões próprias e , assim, essa idéia se torna uma fonte

de outras idéias novas.

Marshall (1996), considerado chefe da chamada “escola neoclássica de

Cambridge”, deteve suas investigações especificamente sobre as causas do dinamismo de

pequenas empresas da Inglaterra , concentradas em distritos industriais na segunda metade do

século XIX e início do século XX (SATRAUCH, 1996; GORAYEB, 2002). No entanto, as

chamadas vantagens marshallianas, resultantes dos efeitos aglomerativos das indústrias, se

70

referem somente àquelas que ocorrem de forma não-intencional (incidental) (SOUZA, 2005;

GORAYEB, 2002). Para além das externalidades marshallianas e trazendo o debate para o

contexto atual, Gorayeb (2002, p. 27), apoiando-se em Schimitz (1997), ressalta que a simples

aglomeração de empresas não é suficiente para a obtenção de ganhos econômicos.

Principalmente no atual contexto da economia mundial em que as empresas e os arranjos

produtivos locais são colocados em um ambiente de competitividade internacional. Para que as

empresas adquiram competitividade real e sustentada é necessário a busca pela “eficiência coletiva”. Essa se refere às vantagens competitivas derivadas das economias externas locais

espontâneas e das ações em conjunto (relações colaborativas e planejadas das empresas e do

setor público). Estruturando ações em conjunto, as Pequenas Empresas (PEs) minimizam

deficiências operacionais, melhoram as complementaridades, compartilham tecnologia, formam

consórcios para exportação e podem criar centros para pesquisa. A busca de eficiência coletiva promove ligações e cooperações mais intensas entre as empresas, mas gera também

um ambiente de competitividade, que estimula a difusão de inovações tecnológicas e melhorias

organizacionais ao nível local. O conceito de eficiência coletiva, que também possui forte

inspiração marshalliana, foi desenvolvido por H. Schimitz (1997) em trabalhos relacionados aos

Distritos Industriais Italianos (SOUZA, 2005). Segundo Garcez (2000, p.354), a expressão

distrito industrial foi utilizada por Becattini, apud Humphrey e Schimitz (1996), para identificar

as bem sucedidas aglomerações de pequenas empresas (PEs) da “Terceira Itália”. A

expressão Terceira Itália foi utilizada como forma de distinguí-la do Norte (desenvolvido e com

grandes empresas) e do Sul (região com menor desenvolvimento econômico e ainda com sérios

problemas sociais). Fazem parte da Terceira Itália as regiões de Véneto, Trentino, Friuli-

Venezia, Giulia, Emilia-Romagna, Toscana, Marche e parte da Lombardia. Os DIs Italianos são

arranjos espaciais produtivos que cresceram rapidamente a partir dos anos 1970, chamando a

atenção dos meios acadêmicos e despertando interesses de órgãos que cuidam de políticas

setoriais e desenvolvimento regional. Para Gorayeb (2002, p. 47), os DIs Italianos ganharam

realce por constituírem:

além de uma forma de organização produtiva que torna viável a sobrevivência prolongada das pequenas empresas (PEs), também um modo de organização industrial que, em termos capitalistas, conseguiu conjugar melhorias nos indicadores econômicos das empresas e benefícios sociais para os trabalhadores, para os pequenos empresários das firmas participantes do DI e também para a região como um todo. Desse modo, identificou-se nos DIs Italianos uma característica “virtuosa”, valorizada principalmente em momentos de crise de acumulação do capital, qual seja, a união de obtenção de lucratividade e divisão relativamente equilibrada e harmoniosa dos resultados econômicos.

71

Os principais ramos identificados nos DIs Italianos são: têxtil, metal-mecânico,

confecções, artigos de couro, calçados, móveis, cerâmica, brinquedos e instrumentos musicais.

Os DIs Italianos, além de contarem com as vantagens das economias de aglomeração e com a

especialização setorial, apresentam um elevado grau de colaboração interfirmas, competição

baseada na inovação, compartilhamento de valores que fortalecem a identidade sócio-cultural

(identidade coletiva), estrutura social baseada no predomínio das pequenas empresas e

trabalhadores industriais, existência de organizações de apoio às empresas e participação dos

governos regionais e municipais (GARCEZ, 2000; GORAYEB, 2002). Os DIs Italianos foram

considerados, por muitos estudiosos, como o caso mais completo e “ideal de aglomerações

setoriais virtuosas de pequenas empresas” (Gorayeb, 2002, p. 47).

Gorayeb (2002) ressalta que a expressão “Distrito Industrial” deveria ser

utilizada somente em situações em que há muita semelhanças com as aglomerações

italianas. Obviamente, os DIs representam apenas uma das formas de organização entre

firmas localizadas. Na atual conjuntura , as exigências impostas pela competição na chamada

“nova economia” obriga as empresas a se reestruturarem em busca de novas competências

organizacionais e aumento da capacidade de inovação (GARCEZ, 2000). Por isso

assistimos a emergência de novos arranjos espaciais produtivos e o uso de novas tipologias

como os Clusters (Industrial Clustering), Sistemas Produtivos Locais e Sistemas Locais de Inovação, principalmente entre os economistas (BRITTO E ALBUQUERQUE,

2001; SOUZA 2005; SUZIGAN, 2000; GARCEZ, 2000)

No Brasil é muito comum os poderes públicos, através de seus projetos

urbanísticos e zoneamentos, utilizarem a expressão “Distrito Industrial” para se referirem a

qualquer local escolhido para instalação de indústrias dos mais diversos setores e diferentes

portes. Geralmente tratam-se de arranjos espaciais produtivos diferentes do modelo dos DI Italianos e, na maioria das vezes, não são do mesmo ramo, possuem baixa

complementaridade, não atuam em conjunto, compartilham poucos serviços comuns, não são

exclusivamente constituídos por pequenas empresas e não há relação entre o ambiente

industrial e o patrimônio sócio-cultural da localidade. Possuem, em geral, uma sistemática

organizacional pouco dinâmica e de baixa eficiência coletiva. No entanto, em relação ao nosso

trabalho, não podemos negar que o DI representa a materialização de uma política de

zoneamento que visa disciplinar e promover o desenvolvimento industrial. Mesmo não sendo

especializado (OLIVEIRA, 1976) ou mono-estruturado (SAMPAIO, 1988), o DI de Cataguases

representa uma forma de organização espacial distinta do padrão industrial disperso, cuja lógica

de estruturação e funcionamento não obedece a uma política oficial de zoneamento. Realmente

significa uma nova forma de organização do espaço industrial. Por isso uma definição de DI que

mais se ajusta ao nosso trabalho é a proposta por Oliveira (1976, p. 24):

72

Distrito Industrial é uma área reservada para indústrias, onde o planejador promove a implantação de uma infra-estrutura necessária à indução de um processo de desenvolvimento industrial. Portanto, além de oferecer lotes de boa qualidade, deve oferecer uma série de facilidades e serviços a seus ocupantes.

Complementando essa definição buscaremos subsídios operacionais

importantes em Sampaio (1988) que, ao estudar o processo de periferização das indústrias

nos espaços urbanos brasileiros, propõe uma classificação tipológica para os Distritos Industriais. Segundo Sampaio (1988, p.31), entre os diferentes tipos existentes podem ser

citados os Distritos Industriais:

a) de Relocalização: destinados a indústrias que se transferem das áreas centrais das

cidades:

b) de Atração de Novos Investimentos: destinados a novas indústrias;

c) Mistos: que abrigam estabelecimentos dos dois tipos citados, como é o caso do

Distrito Industrial de Rio Claro;

d) Reservados Exclusivamente a Indústrias Poluentes: siderúrgicas, químicas,

petroquímica;

e) Mono-estruturados: destinados a concentrar indústrias do mesmo ramo industrial,

interessadas em desfrutar de economias de aglomeração;

f) Integrados: nos quais se agrupam indústrias que se caracterizam pela integração

vertical, ou seja, pela complementaridade ou seqüência que desempenham nos

processos de produção.

Portanto, adotando as contribuições de Oliveira (1976) e Sampaio (1988) podemos

definir o DI de Cataguases como uma área reservada para instalações de indústrias (novos

empreendimentos ou relocalizações) dos mais diversos ramos e portes, onde o poder Municipal

garante a infra-estrutura necessária, permitindo que outros empreendimentos, nos setores de

serviços públicos e urbanização, também possam se instalar. Além disso, o DI de Cataguases

reflete e condiciona processos de expansão do tecido urbano-indutrial, visto que sua dinâmica

de reprodução de capital contribui para avanços da malha urbana dentro e fora de seus limites a

partir da infra-estrutura que se projeta no DI.

Com base nessa definição de DI, a pesquisa se volta para a gênese, localização,

estrutura e interações espaciais do DI de Cataguases adotando como referencial analítico

os conceitos de externalidades positivas, eficiência coletiva, e as tipologias para os DIs

brasileiros propostas por Sampaio (1988).

73

3.2 A gênese do Distrito Industrial de Cataguases

Até 1970, a industrialização de Cataguases se processou sem uma política de

zoneamento que disciplinasse a localização das indústrias. Por isso, até esse período,

podemos falar em um padrão disperso de arranjo espacial das indústrias. Esse arranjo

tornou mais complexa a relação indústria-cidade, favorecendo a expansão do tecido urbano.

Atualmente, exceto a empresa Rio Pomba Minerações, todas as indústrias do padrão

disperso encontram-se em área urbanizada, cercada por bairros residenciais. Problemas

como dificuldades de tráfego pela área central da cidade, falta de espaço físico de

ampliação, especulação imobiliária e riscos de acidentes ambientais graves acabam

gerando deseconomias de aglomeração. Mediante a ampliação de forças dispersivas, o

poder público municipal implementou, em 1971, sua primeira política de zoneamento que

afetou o ordenamento espacial das indústrias no município. Trata-se da criação de uma área

destinada a alocação de futuras indústrias, conforme atesta a Lei Municipal no 684 de

31/12/1971 que, em seu Artigo 1o, decreta:

Fica o prefeito municipal de Cataguases autorizado a adquirir a Fazenda da Saudade, com 31 alqueires de terras, nas imediações desta cidade, para ali ser localizado o novo cemitério, instalações de futuras indústrias e outros serviços públicos, inclusive loteamento e urbanização.

Para Costa (1977, p.318), “a criação de uma área para futuras instalações

industriais constituía-se numa opção necessária à já saturada zona central da cidade. O DI

teria o papel de instrumento disciplinador e promotor do desenvolvimento industrial de

Cataguases”.

Na verdade, Cataguases já refletia uma tendência nacional que era a de ter os

DIs como importante instrumento de política industrial. De acordo com Mannarino (1983),

essa tendência se fortaleceu no Brasil, no decorrer dos anos 1970, quando os DIs foram

mais incentivados após a divulgação das diretrizes do II Plano Nacional de Desenvolvimento

(1975 -1979). Em nível de política industrial nacional, o II PND, além de objetivar o aumento

do nível de crescimento industrial, buscava um efeito estratégico redistributivo, visando a

correção das desigualdades espaciais relativas ao desenvolvimento industrial brasileiro.

Segundo Moreira (2004, 134):

74

O objetivo é redistribuir a indústria excessivamente concentrada na região metropolitana de São Paulo, corrigir seus efeitos, de modo a aprovar maior repartição da infra-estrutura e interações espaciais por todo o território do Brasil em vista de projetos de integração nacional – o projeto Brasil Grande.

Nesse período, os órgãos federais Conselho de Desenvolvimento Econômico (CDE),

Conselho de Desenvolvimento Industrial (CDI), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social (BNDES) e a Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA), com seus instrumentos

normativos, creditícios e fiscais buscavam, com o apoio estratégico dos governos estaduais e

municipais, promover políticas de localização industrial. O objetivo, segundo Mannarino (1983),

era romper com os desequilíbrios regionais, promovendo simultaneamente o desenvolvimento do

setor industrial em novas áreas.

Atendendo aos imperativos da política nacional, nos vários estados da

Federação, foram criados órgãos especializados como bancos, institutos técnicos , e

Companhias de Distritos Industriais. Em Minas Gerais, Oliveira (1976, p. 57) comenta que

na década de 1970,

além da CEMIG (Centrais Elétricas de Minas Gerais), outros órgãos especializados como o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), a Companhia de Distritos Industriais (CDI - MG), o Instituto de Desenvolvimento Industrial (INDI), garantem diversas formas de apoio (financiamento, incentivos, facilidades na compra de terrenos, etc.) para a continuidade e sucesso da política de desenvolvimento industrial do Estado de Minas Gerais.

Apesar de todo esse aparato institucional e instrumental para criação dos DIs em

Minas Gerais, o poder público municipal de Cataguases assumiu, em 1971, a iniciativa da

criação de um loteamento para a instalação de indústrias, sem solicitação dos serviços de

consultoria e apoio do CDI – MG. Essa atitude já era constatada, segundo Mannarino

(1983), em vários municípios brasileiros nos anos 1970. Para Oliveira (1976), essa

proliferação dos DIs, sem o apoio das instituições e órgãos públicos especializados, trazia

um problema na origem, pois carecia de um planejamento mais cuidadoso e, ao não

incorporar uma visão regional mais ampla, acabava comprometendo seus resultados. Para a

autora, Minas Gerais sempre se destacou na política de instalação dos DIs e exemplifica o

pioneirismo do Estado mineiro com a construção, na década de 1940, do DI Coronoel

Juventino Dias, no município de Contagem. Sem dúvida, representa um dado bastante

relevante, uma vez que a política oficial de implantação dos DIs em Minas Gerais só foi

dinamizada com a criação do INDI (Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais)

75

em 1969 e da CDI-MG (Companhia de Distritos Industriais de Minas Gerais) em 1971.

Por não ter solicitado apoio institucional junto ao INDI e ao CDI-MG, o DI de

Cataguases, freqüentemente não figurava nas estatísticas oficiais de distritos industriais do

Estado mineiro. Esse fato pode ser confirmado com a listagem dos municípios mineiros que

possuíam DI em 1979 apresentada por Mannarino (1983) no Quadro 11.

Quadro 11 - Distritos Industriais Mineiros (Posição em 1979) Distritos Industriais Área (há) Ind. Implantadas Ind. em implantação Governador Valadares 37 - 5 Itajubá 130 2 4 Juiz de Fora 98 7 16 Montes Claros 202 4 13 Pirapora 205 4 5 Betim 406 6 9 Sete lagoas 124 2 1 Santa Luzia I 70 9 5 Santa Luzia II 198 10 1 Uberlândia 188 1 11 Uberaba 65 4 8 Vespasiano 124 1 3 Contagem 497 95 - Belo Oriente 1.213 1 -

Fonte: Mannarino 1983 / CDI-MG 1979.

Em 1979, segundo a Prefeitura Municipal, o DI de Cataguases já contava com 8

unidades industriais instaladas e funcionando, embora não figurasse nas estatísticas oficiais

do Estado.

De fato, ao examinarmos cuidadosamente a Lei que “criou o DI de Cataguases”,

percebe-se que não houve a preocupação com um planejamento (estudo de viabilidade

econômica e elaboração de projeto técnico-econômico e urbanístico) específico para

alocação das indústrias. A própria Lei, em seu Artigo Io, exprime que o imóvel rural

desapropriado serviria para instalação de indústrias, um cemitério, serviços públicos e

urbanização, ou seja, a princípio não seria exclusivamente para indústrias. No entanto, a

área em questão foi, aos poucos, tomando forma de um DI em função da predominância das

indústrias em relação às demais atividades não industriais. A partir da instalação das

primeiras indústrias (9, nos anos 1970), a expressão Distrito Industrial começou a ganhar

força entre empresários e políticos, incorporando-se ao discurso oficial do poder público

municipal. Desse modo, a área da “Reta da Saudade” (Av. Manoel Inácio Peixoto) se firmou

como prioritária para instalação das indústrias, consolidando-se como um DI. Atualmente

(2006), o DI de Cataguases conta com 26 indústrias dos mais variados ramos sendo, por

isso, classificado como não especializado e servindo para instalação de novos

76

empreendimentos ou relocalização. Embora tenha sido um processo autônomo de criação,

as indústrias atualmente podem recorrer, de acordo com suas necessidades, aos órgãos de

fomento e institutos de apoio ligados à Secretaria de Estado de Desenvolvimento

Econômico (SEDE) de Minas Gerais.

Minas Gerais conta com novos órgãos de apoio, financiamento, incentivos e

consultorias para estimular a política de desenvolvimento industrial nos municípios mineiros

(Quadro 12).

Quadro 12 - Instituições e Órgãos de Apoio às Indústrias de Minas Gerais

Instituição/Órgão de Fomento Forma de Atuação SEDE – Secretaria de Estado e Desenvolvimento Econômico

Planejamento e controle das atividades de promoção e incentivo ao desenvolvimento industrial

COIND – Conselho de Industrialização (ligado à Secretaria de Indústria, Comércio e Serviços)

Participa na formulação de normas básicas de política de industrialização

BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais

Disponibiliza linhas de créditos para modernização e expansão das indústrias

INDI – Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais

Órgão consultor de apoio a empreendimentos industriais

FINDI – Fundo de Incentivo à Industrialização Dar suporte financeiro para o desenvolvimento industrial e agroindustrial

CODEMIG – Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (substituiu o extinto CDI)

Planejar áreas e distritos industriais dotando-os de infra-estrutura

Fonte: SEDE (Secretaria de Estado e Desenvolvimento Econômico), 2006.

O DI de Cataguases não possui um centro administrativo. As indústrias atuam de

modo independente e se dirigem aos órgãos de fomento estaduais toda vez que necessitam

de recursos para ampliação e modernização. O poder público municipal atua apenas como

regulador das relações contratuais de instalação e relocalização.

Com uma taxa de ocupação de 90% da área, o poder público municipal já

demonstra preocupação com a capacidade limite do DI para novos investimentos. Segundo

a Secretaria Municipal de Planejamento Estratégico, uma nova área para um novo DI já faz

parte das preocupações da atual administração (2005 –2008).

Após a contextualização da gênese do DI de Cataguases, faz-se necessário

investigar a lógica de sua localização, a partir do espaço preexistente e dos condicionantes

do quadro físico.

77

3.2.1- A lógica de localização do DI de Cataguases

Como foi relatado anteriormente, o DI de Cataguases foi criado para estimular e

disciplinar (instrumento corretivo) o desenvolvimento industrial do município, uma vez que a

área central e adjacências estavam saturadas e já produziam deseconomias de aglomeração.

Portanto, para não comprometer o desenvolvimento industrial, buscava-se encontrar uma nova

área mais afastada do perímetro urbano central. Essa nova área deveria apresentar amplo

espaço plano e facilidade de acesso ao núcleo urbano e às rodovias federais. A geomorfologia

regional, com relevos de “mares de morros” sempre constituiu um fator limitante para a

implantação de áreas industriais mais amplas (Ab’Saber, 2003). No entanto, ao longo do traçado

do Rio Pomba, o relevo se alterna entre vales encaixados (controle estrutural) e algumas

poucas e amplas planícies de inundação e terraços alveolares. Os terraços dos alvéolos, por

dificilmente serem atingidos pelas cheias, constituem a topografia mais adequada à

aglomeração industrial. E foi levando em conta esse fator que o poder público municipal

escolheu a área da antiga “Fazenda da Saudade” para implementar sua política de localização

industrial. Com a aquisição da fazenda, a prefeitura disponibilizou 96,025 hectares para a

instalação das indústrias. A área fica situada na margem direita do Rio Pomba, a jusante da

cidade (3km em linha reta) acompanhando o trajeto da antiga estrada Cataguases-Leopoldina,

até hoje (2006) não pavimentada (Mapa 8).

A escolha do local foi uma decisão exclusiva do poder municipal e não teve um

estudo criterioso por parte dos órgãos estaduais competentes que já existiam no Estado

(INDI e CDI-MG). A escolha se apoiou nos conhecimentos empíricos da realidade espacial

e econômica do município por parte do poder público. Segundo Costa (1977), o apoio dos

empresários industriais da cidade, que obviamente seriam favorecidos com doações de

terrenos, foi decisivo para efetivação da escolha e desapropriação do local.

A ligação da área central da cidade com o DI precisou ser complementada com

calçamento de paralelepípedos, uma vez que nesse eixo de ligação o processo de urbanização

era menos denso e as infra-estruturas não chegavam à área do DI. A área escolhida estava fora

dos principais eixos de expansão do tecido urbano e do processo de industrialização. Mas a sua

localização a sudeste da mancha urbana lhe conferia uma posição bastante interessante e

adequada pelos seguintes motivos:

1 - A área escolhida permite conexões viárias com o padrão industrial disperso

por avenida pavimentada e iluminada. É uma localização estratégica fortemente vinculada à

área urbano-industrial da cidade.

2 – As indústrias poderão ser favorecidas pela proximidade do transporte

ferroviário, cuja linha férrea passa na margem oposta ao DI (margem esquerda do Rio

78

Pomba). Assim, a construção de uma ponte e de um terminal de transbordamento de cargas

poderá disponibilizar o transporte ferroviário às indústrias do DI (Figura 1). Atualmente a

linha férrea é de uso exclusivo para transporte de minério de bauxita da CBA (Companhia

Brasileira de Alumínio – Grupo Votorantin).

Figura 1 – Esboço da infra-estrutura para melhoria da logística do DI de Cataguases (2006)

3 – É possível reativar a saída para Leopoldina (acesso à BR 116) através da construção de um

acesso pavimentado ligando o DI à BR – 120. Para isso foi encaminhada uma Emenda ao

PLDO (Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias) feita em 2003 por um Deputado Federal de

Minas Gerais, que solicitou recursos para construção do citado trecho. Parte das obras já foram

79

feitas, conforme podemos localizar na parte inferior da imagem de satélite 1. Aguardam-se mais

recursos. Essa obra de acesso à BR – 116, uma vez concluída, possibilitará às indústrias do DI

uma rota alternativa ao já congestionado trajeto que passa pela “Vila Minalda”.

Imagem de Satélite 1- O DI de Cataguases e Trecho de Acesso à BR 120 (2006)

4 – A escolha da área foi extremamente favorável à instalação de uma subestação de

energia elétrica operada pela CFLCL (Companhia Força e Luz Cataguases Leopoldina). O

local foi considerado favorável à chegada e saída das linhas de alta tensão.

5 – O projeto de instalação de uma unidade de produção de alumina da CBA distando,

aproximadamente 5 Km à jusante do DI, na margem oposta do rio Pomba, poderá gerar um

novo eixo de desenvolvimento econômico no município através das conexões viárias e infra-

estruturas locais. O DI, à esquerda da imagem de satélite 2, funcionaria como um catalisador

desse processo tendo o rio Pomba como eixo de estruturação (Imagem de satélite 2).

80

Imagem de Satélite 2- O DI de Cataguases e o Terreno da CBA (2006)

Mesmo considerando a ausência de um estudo prévio e detalhado de viabilidade

técnica e econômica, podemos afirmar que, a localização do DI é adequada e permite uma

boa conexão com os esquemas produtivos locais, regionais e nacionais. Essas conexões

podem melhorar se ocorrerem as implementações infra-estruturais acima relatadas,

conjugando-as com instrumentos de regulação que evitem as deseconomias de

aglomeração.

É imperativo que se pense a política industrial integrada com a política urbana. O

Plano Diretor é um dos instrumentos que pode orientar no sentido de promover essa

articulação. Apesar de ter uma população de 63.980 habitantes (IBGE, Censo 2000),

Cataguases terá seu primeiro Plano Diretor em 2006. A partir desse momento, o poder

público municipal terá condições de implementar suas políticas de desenvolvimento

econômico, inclusive localização industrial, seguindo critérios mais rigorosos, apontados

pelas orientações do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e pelos órgãos estaduais de

apoio ao desenvolvimento econômico.

Uma vez analisada a lógica de localização industrial, vale destacar o estudo da

estrutura e procedimentos tecnológicos das indústrias que se instalaram no DI.

81

3.2.2 – A estrutura industrial e os procedimentos tecnológicos das indústrias do DI

O DI é composto por um conjunto de indústrias que se instalaram em terrenos

doados pela prefeitura ao longo da Avenida Manoel Inácio Peixoto, também conhecida como

“reta da saudade” . Com a instalação da primeira indústria em 1972, começa a se estruturar,

no município, um novo padrão de organização espacial, cuja finalidade é disciplinar o

desenvolvimento industrial. A destinação de uma área específica para instalação de

indústrias faz surgir um padrão espacial concentrado abrigando, principalmente, as micro e

pequenas empresas (Mapa 9).

A distribuição das indústrias se verifica no Mapa 9. No Quadro 13, observa-se a

localização das indústrias do DI, tendo como base a numeração proposta e sua associação

com a posição indicada no Mapa 9.

Quadro 13 - Distrito Industrial de Cataguases (2006) Indústrias Localização

1- Almoxarifado (CFLCL) 2- Antares 3- Tempero Soluções 4- JAS Metalúrgica 5- INDISCEL 6- Fábrica de Calçados 7- Temperos Vitalho 8- CAT-LEO 9- Subestação Geradora (CFLCL) 10- Paloosa Confecções 11- CELT Projetos Elétricos 12- Terra Embalagens 13- Mapoan Madeiras 14- Machado Eletrônica 15- CIC (Companhia Industrial Cataguases) 16- Friatec – RHEINHUTTE 17- Vellemetal 18- Premaldados Zezinho 19- Chands Confecções 20- Conpar Confecções 21- ZOLLERN Metalúrgica 22- Cinta Moderna 23- São Jorge Eletrônica 24- Biscoito No 1 25- Realplastic 26- Carpintaria e Marcenaria Simões 27-Têxtil Goitacazes 28- Reciclibem

Av. Manoel Inácio Peixoto Av. das Indústrias Av. Manoel Inácio Peixoto Av. das Indústrias

“ “ “

Av. Manoel Inácio Peixoto “ “ “ “ “ “ “ " “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “

FONTE: Pesquisa de campo realizada em janeiro de 2006

82

83

Esse padrão concentrado compreende, quanto aos ramos industriais, um quadro

bastante diversificado, já que se trata de um DI não especializado (Quadro 14)

Quadro 14 - Indústrias do DI de Cataguases (2006) RAMOS INDUSTRIAIS NÚMERO DE INDÚSTRIAS

Geração de Energia (Subestação) 1 Reciclagem e Embalagens Plásticas 3 Alimentícias 3 Artefatos de madeira/Marcenaria 3 Metalúrgicas 5 Eletromecânica 2 Pre-maldados de concreto 1 Calçados 1 Produtos Químicos de Limpeza 1 Têxteis (fiação) 2 Confecções 4 TOTAL 26

Fonte: Os dados sobre as indústrias foram obtidos através de entrevistas realizadas em janeiro fevereiro de 2006.

As indústrias têxteis estão representadas no DI com duas unidades produtivas

distintas. Ambas trabalham somente com fiação de algodão (Quadro 15).

Quadro 15 - Indústrias Têxteis (fiação )do DI (2006)

EMPRESAS Número de empregados

Produção (mês)

Classificação(SEBRAE)

Abrangência espacial

do mercado

Cia Industrial Cataguases (filial) 300 400 ton grande

Exclusiva para CIC Matriz (padrão

disperso)

Têxtil Goitacazes 45 80 ton pequena Local, RJ,SP e SC

Fonte: Pesquisa de campo realizada em janeiro de 2006.

A Têxtil Goitacazes se instalou no DI em 1980 em função da doação do terreno

por parte da prefeitura e devido à existência de infra-estrutura. Possui espaço para

ampliação, e em 2000 importou novas máquinas automáticas para fiação. Isso gerou

aumento de produtividade e redução de 50% no quadro de empregados. Os resíduos de

algodão são reaproveitados e a empresa está licenciada, junto a Fundação Estadual do

Meio Ambiente (FEAM) com uma Licença de Operação (LO).

84

A Companhia Industrial Cataguases (CIC) ocupa o prédio da antiga Indústria

Irmãos Peixoto S A e é a maior empresa do DI. Foi contemplada em 1977, ainda quando era

Irmãos Peixoto S A, com a maior doação de terreno. Opera com máquinas automáticas

modernas e importadas de países europeus sendo que toda a linha de produção está sob

controle informatizado. É filial da unidade principal (matriz) que se localiza no padrão

disperso. Toda a produção vai para tecelagem da indústria matriz. Possui Licença de

Operação e os resíduos são vendidos para gerar recursos que são aplicados em projetos na

área social, cultural, ambiental e de cidadania (Instituto Francisca de Souza Peixoto).

As duas indústrias têxteis apresentam baixo potencial poluidor por trabalharem

exclusivamente com fiação de algodão.

No setor energético, a Companhia Força e Luz Cataguases Leopoldina (CFLCL)

se faz presente ocupando três terrenos para desenvolver três atividades distintas, mas

relacionadas diretamente ao setor (Quadro 16).

Quadro 16 - Geração de Energia Elétrica e Atividades Correlatas – CFLCL (2006)

Atividades Número de Empregados Função Aumoxarifado 6 Reposição de peças Subestação 0 Redistribuição de Energia Cat-Leo Energia SA 130 Projetos e Assistência Tecnológica

Fonte: Pesquisa de campo realizada em janeiro de 2006

Como relatado anteriormente, a CFLCL foi a grande responsável por

disponibilizar a energia elétrica para o desenvolvimento industrial do município desde o

início do século XX. É na área do DI que a CFLCL instalou a subestação que redistribui a

energia elétrica para a cidade. O comando e operação da subestação são feitos à distância,

através de uma sala de controle informatizada, portanto, não há empregados fixos na

subestação. O almoxarifado ocupa o lugar da antiga fábrica de postes e funciona de modo

convencional com 6 empregados. A CAT-LEO Energia SA é uma subsidiária de geração da

CFLCL, executando projetos de geração, transmissão e distribuição de energia. Com a

CAT-LEO, a CFLCL entrou no mercado das termoelétricas construindo a Usina

Termoelétrica de Juiz de Fora (UTEJF), com 82 MW de potência. Essa usina utiliza gás

natural fornecido pela Petrobrás.

A CAT-LEO utiliza equipamentos de ponta e opera em rede com sistema totalmente

informatizado. As atividades da CFLCL instaladas no DI são classificadas como de baixo

potencial poluidor por atuarem mais na prestação de serviços e distribuição de energia.

No setor de plásticos existem três empresas operando no DI (Quadro 17).

85

Quadro 17 - Indústrias de Reciclagem e Embalagens Plásticas do DI (2006)

Empresas Número de empregados Produção(mês) Classificação

(SEBRAE)

Abrangência espacial do

mercado Reciclibem 15 40 ton polite micro Local, MG e RJ Realplastic 46 90 ton sacolas pequena Local e MG Terra Embalagens 20 50 ton sacolas pequena Local, MG e RJ

Fonte: Pesquisa de campo realizada em janeiro e fevereiro de 2006.

São empresas que utilizam maquinários convencionais não informatizados. A

Reciclibem só produz granulados de polietileno de baixa densidade, matéria-prima para

produção de sacolas. A Terra Embalagens só produz as sacolas e compra o polietileno da

Reciclibem e de outros fornecedores da região Sudeste. A Realplastic é a única mais

verticalizada, ou seja, produz o próprio polietileno (alta e baixa densidade) e as sacolas e

sacarias industriais. A Reciclibem e a Realplastic produzem resíduos das lavagens primárias

dos “plásticos velhos” usados como matérias-primas. Esses resíduos vão para a coleta de

lixo urbano feita pela prefeitura.

No ramo de indústrias alimentícias existem três empresas alojadas na área do DI

(Quadro 18).

Quadro 18 - Indústrias Alimentícias do DI (2006)

Empresas Número de empregados

Produção (mês)

Classificação(SEBRAE)

Abrangência espacial do mercado

Biscoitos no 1 80 50 ton pequena MG,RJ,SP e região SulTempero Soluções 8 20 ton micro Local e MG Temperos Vitalho 6 25 ton micro Local, MG e RJ

Fonte: Pesquisa de campo realizada em janeiro de 2006

Nesse setor predomina a produção de temperos à base de alho e sal com alguns

condimentos extras. A produção utiliza técnicas rudimentares com operações manuais e

trituradores/misturadores elétricos. Os empresários alegam que a produtividade é baixa e

precisam investir mais em maquinários para alcançar novos mercados.

A fábrica de biscoitos se destaca pelo volume de produção e abrangência

espacial do mercado. Utiliza máquinas elétricas para as misturas das massas, mas grande

parte das operações é manual, pois são fabricados biscoitos finos que precisam ser

acabados e embalados cuidadosamente. Utiliza água própria de fonte artesiana e não opera

com licença ambiental, pois possui baixo potencial de impacto. Os resíduos produzidos

86

pelas indústrias alimentícias vão para a coleta do lixo (cascas de alho, de cebola e restos de

embalagens) feita pela prefeitura.

No setor de artefatos de madeira e marcenaria três microempresas se destacam

atuando em áreas distintas (Quadro 19).

Quadro 19 - Indústrias de Artefatos de Madeira e Marcenaria do DI (2006)

Empresas Número de empregados

Produção (mês)

Classificação (SEBRAE)

Abrangência espacial do

mercado

Mapoam Madeiras 3 Não soube informar micro Local

Carpintaria e Marc. Simões 6 50 a 80 urnas

funerárias micro Local e MG

Ind. Vassouras Santa Rita 5 1500 a 2000

peças micro Local e MG

Fonte: Pesquisa de campo realizada em fevereiro de 2006

São empresas caracterizadas pela forte presença do trabalho manual técnico e

artesanal. A empresa Mapoan Madeireira fornece caibros, tábuas, retalhos e guarnições

para a construção civil sob encomendas. A Carpintaria e Marcenaria Simões Ltda produz

urnas funerárias, empregando máquinas convencionais e acabamento artesanal

diversificado. A Indústria de Vassouras Santa Rita também utiliza maquinário convencional

para produzir vassouras de piaçava/padrão. As três empresas produzem resíduos de

madeira que são doados a comunidade (cavacos e serragens) ou vão para a coleta do lixo

urbano (resíduos de piaçava).

O ramo da metalurgia é o que congrega o maior número de empresas, inclusive

com a participação de duas multinacionais européias (Quadro 20).

87

Quadro 20 - Indústrias Metalúrgicas do DI (2006)

Empresas Número de empregados

Produção (mês)

Classificação(SEBRAE)

Abrangência espacial

do mercado

Rheinhutte 78 500 a 600 itens pequena MG, SP, BA e exportação

Zollern 198 800 a 1500 tens média MG, RJ, SP, região Sul e exportação

Vellemetal 22 60 válvulas

500 contrapesos

pequena Local, RJ e SP

JAS 12 Variável micro Local e MG INDISCEL 7 Variável micro Local, RJ e SP Fonte: Pesquisa de campo realizada em janeiro/fevereiro de 2006.

A indústria Friatec- Rheinhutte do Brasil produz bombas, válvulas especiais e

conexões em polietileno de alta tecnologia. A Zollern BHW do Brasil produz vários tipos de

mancais, casquilhos, buchas, bronzinas, engrenagens, perfis de aço e fundição de precisão.

Essas empresas são as de maior porte do setor e representam investimentos do capital

internacional europeu em Cataguases.

A Zollern é a única empresa que precisou de LO (Licença de Operação junto a

FEAM-MG) por ser classificada como empresa de grande potencial poluidor. A Zollern e a

Rheinhutte operam com equipamentos modernos e importados da União Européia.

Possuem toda a produção assistida por sistema informatizado e são as únicas empresas

que exportam produtos para outros países da América do Sul.

A Vellemetal é uma fundição de ferrosos e ligas especiais que utiliza

equipamentos convencionais e forno a óleo combustível. Produz componente para as

indústrias metalúrgicas e têxteis do DI e do padrão disperso. A JAS trabalha sob encomenda

com concertos de máquinas e fabricação de novas peças para indústrias do DI e da cidade.

Trabalha com tornos modernos, mas não informatizados. A Indiscel produz discos para

refinação de celulose de papel, utilizando aparelhos e máquinas convencionais, também não

informatizados. Atende encomendas do Rio de Janeiro, São Paulo e, em Cataguases,

produz discos somente para a Indústria Cataguases de Papel. A Vellemetal, a JAS e a

Indiscel são consideradas empresas de baixo potencial poluidor. A Vellemetal é a única que

opera com óleo combustível, mas recolhe os resíduos e possui tanque receptor para evitar

contaminação do solo.

No DI estão instaladas quatro indústrias de confecções (Quadro 21)

88

Quadro 21 - Indústrias de Confecções do DI (2006)

Empresas Número de empregados

Produção (mês)

Classificação(SEBRAE)

Abrangência Espacial do

mercado Conpar 50 3500 peças pequena MG,RJ e SP Cinta Moderna* - - - - Paloosa 30 5000 peças pequena MG,RJ,SP e ES Chands 32 4500 peças pequena MG e RJ Fonte: Pesquisa de campo realizada em fevereiro de 2006. * A empresa Cinta Moderna não estava funcionando no período da pesquisa. Havia dado férias coletivas aos funcionários e realizava reformas.

Desse grupo, a Conpar é a única que produz capas para colchões, sofás, lençóis e

toalhas. A Cinta Moderna produz linha de peças íntimas femininas e peças para gestantes. A

Paloosa e a Chands trabalham com confecções utilizando tecidos de algodão e fibras sintéticas.

Todas essas empresas utilizam máquinas de costura elétricas industriais convencionais

operadas individualmente. O número de empregados contratados pode oscilar em função do

nível de encomendas. São empresas de baixo potencial poluidor e os resíduos (retalhos de

tecidos) são reaproveitados ou vão para a coleta do lixo.

No setor de eletromecânica duas empresas se destacam na prestação de

serviços às indústrias locais (Quadro 22).

Quadro 22 - Indústrias Eletromecânicas do DI (2006)

Empresas Número de empregados

Produção (mês)

Classificação (SEBRAE)

Abrangência Espacial

do mercado Machado Eletrônica 30 variada pequena Local e MG

Dragão Eletromecânica 10 variada micro Local, MG e RJ

Fonte: Pesquisa de campo realizada em fevereiro de 2006.

Essas empresas trabalham com reparos e montagens de máquinas e motores

elétricos, prestando serviços às indústrias do DI e do padrão disperso. Trabalham com

equipamentos de precisão para aferição de peças, corrente elétrica, transformadores e

fabricam algumas peças para reposição. Os resíduos plásticos vão para a coleta de lixo e

os cavacos de aço são recolhidos e vendidos para os “ferro velhos”. São empresas que,

embora não informatizadas, precisam continuamente de atualização técnica e investimentos

em equipamentos para medições e montagem.

89

A única indústria do setor químico do DI é a empresa Antares que trabalha com

produtos de limpeza em geral. É uma micro empresa (6 empregados) e opera manualmente

produzindo detergente, desinfetantes, água sanitária e HCl. Atende ao mercado local e

outras cidades de Minas Gerais. A produção não é informatizada e nem mecanizada. Os

produtos são pesados, medidos e misturados manualmente. A empresa não possui licença

ambiental apesar de trabalhar com substâncias tóxicas e ácidos.

A empresa Premaldados Zezinho Ltda produz manilhas, blocos para calçamento

e meio-fio. Opera com 8 empregados (micro empresa) e utiliza misturador de concreto

elétrico convencional. É uma empresa que utiliza o trabalho braçal e usa como matérias-

primas as britas, areias, água e cimento. Todo resíduo é reaproveitado, mas opera sem

licença ambiental. O empresário reconhece o baixo nível tecnológico, mas afirma que não

consegue recursos para modernização.

A fábrica de calçados Regina produz linha feminina com 4 empregados (micro

empresa) em época de baixa encomenda, dobrando o número quando necessário. Utiliza

máquinas convencionais com costuradeiras elétricas e trabalho manual nas colagens. O

proprietário reconhece a baixa produtividade, mas alega que mesmo assim gera lucro. Os

resíduos (curvin, pvc, latas de cola, plásticos) vão para a coleta do lixo.

A análise da estrutura industrial do padrão concentrado nos revela um quadro

bastante diversificado de ramos industriais, com larga predominância das micro e pequenas

empresas. As indústrias que mais investiram na modernização dos procedimentos

tecnológicos foram as têxteis (Têxtil Goitacazes e CIC – Companhia Industrial Cataguases),

as metalúrgicas (Zollern e Rheinhutte) e as eletromecânicas que precisam de constante

atualização de equipamentos de precisão para a prestação de serviços em máquinas

modernas.

O setor metalúrgico é o que mais utiliza água, sendo que a Zollern usa água do

Rio Pomba e a Rheinhutte possui poço artesiano. A Realplastic e a Reciclibem também

utilizam água do Rio Pomba. É cobrado um imposto pelo uso da água do rio pela ANA

(Agência Nacional das Águas).

A pesquisa revelou um dado importante. Apesar de existir um conjunto

habitacional na área do DI, a maior parte dos empregados das indústrias vem de outros

bairros. Isso prova que o DI já se encontra bem conectado ao restante da cidade sendo

atendido por várias linhas de ônibus a cada trinta minutos.

Das empresas pesquisadas, as únicas que atendem ao mercado internacional

são as metalúrgicas Zollern e Rheinhutte. São empresas multinacionais que destinam de

15% a 20% de suas linhas de produção ao mercado externo. A CIC (Companhia Industrial

Cataguases) do DI não exporta, pois o seu setor de fiação abastece, exclusivamente, a CIC

matriz/tecelagem localizada no padrão disperso.

90

Ficou constatado que todas as empresas possuem espaço físico para ampliações

de área útil.

De modo geral, predomina no DI um modelo que ainda utiliza procedimentos

tecnológicos da estrutura industrial antiga. Mesmo entre aquelas que atualizaram os

equipamentos, não há nenhuma que pertença às novas gerações que produzem tecnologias

de ponta, microeletrônica ou novos materiais. Na verdade, com exceção das duas

multinacionais, são indústrias que ainda estão presas aos tradicionais esquemas de gestão

empresarial.

Passaremos, no próximo item, à análise do arranjo espacial do DI para avaliar os

níveis de interações entre as empresas.

3.3- O arranjo espacial do DI de Cataguases

O DI de Cataguases se instalou em terraços fluviais a jusante da área urbana

central aproveitando o alargamento da margem direita do rio Pomba (Figura 2).

Figura 2 - Perfil da área do DI de Cataguases (Norte – Sul)

É realmente uma das poucas áreas mais planas do município que podem

permitir a aglomeração industrial.

Podemos dividir a área do DI em dois setores. O primeiro setor foi o pioneiro e é

91

hoje o mais importante por concentrar 90% das indústrias. Sua área é cortada ao meio pela

Avenida Manoel Inácio Peixoto. Trata-se de uma via pública de circulação em duplo sentido,

mas separada por um canteiro central que permite a instalação de indústrias dos dois lados

(Figura 3). Portanto, as indústrias se arranjaram linearmente (direção W – E), lado a lado,

ao longo da avenida central. É uma área de circulação livre, ou seja, não há impedimento

ao tráfego de pessoas ou veículos. A disposição linear das indústrias favorece o tráfego de

veículos, mas, às vezes, dificulta as manobras de entrada e saída feitas por grandes

caminhões de carga que prestam serviços de transporte no DI.

Figura 3. Esboço da disposição dos terrenos no DI de Cataguases

A ocupação legal dessa área já está em, aproximadamente, 90%, sendo que as

empresas ainda podem expandir suas áreas úteis para os fundos de seus terrenos. No

entanto, para os terrenos que estão mais próximos ao rio, o fator limitante é a planície de

inundação. Essa constitui um faixa de terrenos aluviais, abaixo dos terraços, sujeita à

inundações nos períodos chuvosos.

Para os terrenos que estão no lado oposto (à direita de quem entra no DI vindo

do centro urbano), o fator limitante seria a existência de um morro com declividade

92

acentuada (Mapa 9).

A possibilidade de expansão linear das indústrias também foi impedida devido à

construção de dois conjuntos habitacionais: o bairro residencial “Taquara Preta” e o bairro

“São Cristóvão”. A existência de um conjunto habitacional inserido na área do DI funciona

como fator limitante à instalação de indústrias de grande potencial poluidor, por representar

riscos para comunidade. Por não existir um instrumento legal de regulação, a ocupação da

área produziu uma faixa de transição, onde algumas indústrias se misturaram com as

residências do bairro “Taquara Preta”.

Nesse setor do DI, as observações de campo e as entrevistas também

constataram que faltam normas mais rígidas para aprovação de projetos. Esse fato acabou

gerando superdimensionamento dos terrenos. Foi possível constatar que as empresas

(todas) obtiveram aforamentos de áreas bem acima do que precisavam. Alegavam, em

geral, necessidades de expansão futura. No entanto, somente três empresas promoveram

expansões de área útil significativa, após instalação e funcionamento: a Zollern, a CIC e a

CAT-LEO.

O segundo setor que compõe o DI de Cataguases corresponde à Avenida das

Indústrias no bairro Santa Clara. É uma área de instalação industrial mais recente e também

linear. Apresenta 5 indústrias classificadas como micro empresas. Essas poucas indústrias

se misturam com residências, comércio e uma escola. Nesse setor a via de circulação é

precária, sem manutenção e não há mais espaço para novas indústrias.

Fazendo um balanço de ocupação da área total do DI (incluindo os dois setores),

constatamos, em janeiro de 2006, a existência de 4 áreas livres para a instalação de novas

indústrias e 7 galpões vazios que também podem abrigar novas unidades produtivas (Mapa

9).

O DI de Cataguases possui um arranjo espacial simples e de configuração linear

evidenciando a ausência de um plano urbanístico prévio e mais elaborado que pudesse

quebrar a rigidez estabelecida pela justaposição dos empreendimentos. Essa justaposição

limita a circulação à avenida central e, ao “esconder” a profundidade dos terrenos (ou

impedir o acesso), inviabiliza a possibilidade de um aproveitamento mais justo da área por

mais empresas. Principalmente devido ao fato de predominarem as micro e pequenas

empresas.

Com certeza esse arranjo espacial também influencia na qualidade das

interações intra-distrito. Assunto que estaremos abordando no próximo tópico.

93

3.3.1- As interações espaciais Intra-Distrito (2006)

Em estudo sobre a política de implantação industrial em Minas Gerais, Oliveira

(1976) afirma que, no caso dos DIs mineiros, não existe uma preferência por tipos

específicos de indústrias ou por determinados portes. Nesse sentido, o DI de Cataguases

reflete essa realidade. Com 26 indústrias e larga predominância das micro e pequenas

empresas, o DI apresenta 11 ramos industriais distintos. E como já foi apontado

anteriormente, o DI de Cataguases não passou por um estudo prévio de viabilidade técnico-

econômico e nem teve um planejamento urbanístico mais elaborado.

É notório que, um quadro tão diversificado de ramos industriais produza um

baixo nível de articulação e complementaridade entre as empresas. Tal fato acaba gerando

uma baixa eficiência coletiva e o aprofundamento do isolamento das indústrias.

No DI de Cataguases só existem dois ramos de indústrias que apresentam um

certo nível de articulação. O primeiro é o grupo comandado pelas duas metalúrgicas

multinacionais: a Zollern e a Rheinhutte. Não há articulação entre essas empresas, mas

elas contratam serviços e compram peças fabricadas pelas empresas do mesmo ramo e do

setor eletromecânico instaladas no DI: Vellemetal, JAS Metalúrgica, Machado Eletrônica e

Dragão Eletromecânica.

O segundo grupo que também possui um certo nível de articulação é o de

reciclagem e embalagens plásticas. Nesse ramo constatamos que a empresa Reciclibem é

uma das fornecedoras de polietileno de baixa densidade para a Terra Embalagens que

produz sacolas plásticas.

Obviamente, no caso da energia elétrica ocorre uma articulação forçada, pois

por necessidade e facilidade infra-estrutural, todas as empresas compram energia da

Companhia Força e Luz Cataguases Leopoldina (CFLCL), cuja subestação geradora se

encontra instalada na área do DI. É o único caso em que uma só empresa (a CFLCL) se

articula com todas. Mesmo assim, a indústria Têxtil Goitacazes já instalou um gerador

próprio de energia elétrica (a óleo combustível) com o objetivo de não ficar refém de um

único fornecedor.

No ramo têxtil, embora existam duas empresas de fiação, elas não se articulam

e nem vendem para o setor de confecções do DI. A Têxtil Goitacazes atende mercados fora

do DI e a CIC (Companhia Industrial Cataguases) é fornecedora exclusiva da CIC

matriz/tecelagem que se localiza no padrão disperso.

Um outro tipo de interação bastante relevante ocorre entre as indústrias e as

empresas de transportes baseadas no DI (Quadro 23).

94

Quadro 23 - Empresas Transportadoras Baseadas no DI (2006)

Empresas Número de empregados

Ano de instalação

% de serviçosprestados no

DI

% de sereviços prestados fora do

DI Esplanada 5 2003 50 50

Eureka 20 2002 - 100

VT transportes 90 1992 60 40

Camilo dos

Santos 20 2001 50 50

Transeguro* - - - -

Fonte: Pesquisa de campo realizada em fevereiro de 2006. *A empresa Transeguro trabalha com transporte de valores financeiros e segurança patrimonial. Alegando motivos de segurança e sigilo, não informou dados.

A maioria das indústrias dá preferência às transportadoras do DI. A Eureka é a

única transportadora que não consegue cargas no DI. A Eureka alega que a empresa VT,

por ser a maior e a mais antiga, monopoliza e impõe os valores dos fretes. Os empresários

entrevistados afirmaram que a existência das transportadoras no DI é bastante positiva,

pois ajuda na redução dos custos de frete, em função da concorrência.

O DI de Cataguases apresenta uma deficiência que acaba refletindo no baixo

nível de interação. Não possui um centro administrativo (uma entidade para gerir as

atividades jurídico-administrativas) que pudesse atuar como elemento organizador e

regulador de sua dinâmica interna. Por isso, as economias de aglomeração alcançadas se

referem basicamente àquelas geradas pelo uso das infra-estruturas que foram

disponibilizadas pelo poder público municipal. Não se produziu uma eficiência coletiva, pelo

contrário, percebe-se um elevado grau de isolamento das indústrias que, em sua grande

maioria, se instalaram nessa área porque foram contempladas com a doação de terrenos.

3.3.2 – As interações espaciais externas nas quais se insere o DI de Cataguases (2006)

No ítem anterior relatamos que o DI de Cataguases apresenta um baixo grau de

eficiência coletiva em função da pouca interatividade e complementaridade das empresas,

que numa mesma área representam 11 ramos industriais distintos. Se as interações internas

são fracas, as externas são bastante significativas, principalmente em relação à aquisição

de insumos e matérias-primas. Isso acaba deslocando a complementaridade do processo

produtivo, em sua maior parte, para as relações com as empresas externas ao DI. Tal fato

95

fica bastante evidente quando rastreamos a origem das matérias-primas e a abrangência

espacial dos mercados atendidos pelas indústrias do DI.

Quanto a origem das matérias-primas, percebe-se que a relação mais intensa

ocorre na própria região Sudeste com destaque para as compras realizadas com outras

cidades de Minas Gerais e Estado de São Paulo. As aquisições feitas no padrão disperso

estão em equilíbrio com as efetuadas com o Estado do Rio de Janeiro. As únicas compras

realizadas fora da região Sudeste se referem ao algodão proveniente da região Centro-

Oeste e a piaçava originária da região Nordeste (Quadro 24).

Quadro 24 - Ramos Industriais e as Origens das Matérias-primas (2006)

Origens das matérias-primas

RAMOS INDUSTRIAIS Local MG RJ SP ES Reg.

CW Reg.

S Reg. NE

MercadoExterno

Energia Elétrica X Plásticos/Rec. X X X X Alimenticia X X X Art.Mad/Marcenaria X X X X Metalurgia X X X X Confecções X X X Eletromecânica X X X Química/Mat. Limp. X X Premaldados/Conc. X Calçados X Têxtil X Fonte: Pesquisa de campo realizada em janeiro e fevereiro de 2006

A CFLCL, que possui sede em Cataguases e subestação no DI, obtém energia

elétrica de usinas que se instalaram fora do município de Cataguases. Por outro lado, as

indústrias de confecções do DI não compram suas matérias-primas das indústrias têxteis de

Cataguases. Como trabalham com o jeans e fibras sintéticas, optam por comprá-los de outras

cidades de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Portanto, podemos concluir que, quanto a

origem das matérias-primas, as relações do DI se circunscrevem predominantemente na região

Sudeste.

No que se refere à abrangência espacial do mercado, a região Sudeste também

concentra a maior parte das relações. Todos os ramos do DI atendem o mercado local e

outras cidades de Minas Gerais. Fora de Minas Gerais percebe-se um maior direcionamento

para os mercados do Estado do Rio de Janeiro e depois para o Estado de São Paulo

(Quadro 25).

96

Quadro 25 - Abrangência Espacial do Mercado (2006) Ramos industriais Local MG RJ SP ES Reg.

CW Reg.

S Reg. NE

MercadoExterno

Energia Elétrica X X Plásticos/ Rec. X X X Alimenticia X X X X Art.Mad./Marcenaria X X Metalurgia X X X X X X Confecções X X X X Eletromecânica X X X Química/Mat. Limp. X X Premaldados/Conc. X Calçados X X X Têxtil X X X X Fonte: Pesquisa de campo realizada em janeiro e fevereiro de 2006

Para as regiões mais distantes quem sobressai é o setor metalúrgico (Zollern e

Rheinhutte) que atende a regiões do Nordeste e também exporta para vários países da

América do Sul. A Têxtil Goitacazes é a única indústria do DI que atende a região Sul. Essa

empresa possui um contrato de exclusividade para fornecimento de fios de algodão para

uma indústria têxtil localizada no Estado de Santa Catarina.

A pesquisa revelou também que as interações de complementaridade entre as

indústrias do DI e as do padrão disperso não são bastante significativas. Se restringem a

alguns poucos ramos, caracterizando uma articulação pontual e segmentada, destacando,

mais uma vez, os setores de energia elétrica, metalurgia e têxtil. Energia elétrica porque a

subestação da CFLCL localizada no DI é quem redistribui a eletricidade para toda a cidade

e distritos do município. No setor metalúrgico a Zollern e a Rheinhutte contratam serviços de

fabricação de algumas peças da Fundição Cataguases. Já a CIC é uma filial que trabalha

exclusivamente com fiação de algodão para atender a CIC – matriz que executa a

tecelagem.

No setor de transporte de cargas, como já foi apontado no quadro 23, as

transportadoras instaladas no DI são as empresas que mais se articulam com o padrão

disperso. O volume de serviços prestados fora do DI varia de 40% a 100%, dependendo da

empresa.

Desse modo, em função do que foi exposto, concluímos que se as interações

internas do DI são fracas, as externas são bastante relevantes e, em sua maior parte,

ocorrem dentro da própria região Sudeste. Foi detectado uma maior freqüência nas

interações comerciais locais e com outros município de Minas Gerais. Embora menos

significativas na freqüência, as interações com os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo

97

são consideradas estratégicas tanto para o fornecimento de insumos e matérias-primas,

quanto no volume de compras efetuado por estes Estados, cujos valores financeiros

acabam sendo bastante expressivos.

Uma vez conhecida a forma como se estrutura e funciona a atividade industrial

de Cataguases passaremos, no próximo capítulo, a analisar os impactos sócio-ambientais

relacionados à forma de organização espacial de seus dois padrões: o disperso e o

concentrado.

CAPÍTULO 4 – A PROBLEMÁTICA AMBIENTAL ENTRE AS LÓGICAS DE ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL DISPERSA E CONCENTRADA DE CATAGUASES.

A Política Nacional do Meio Ambiente, criada em 1981, representa um marco

político importante para questão ambiental no Brasil. Por isso, nesse capítulo analisaremos

o papel do poder público no cumprimento dessa política e faremos também os diagnósticos

ambientais dos padrões industriais disperso e concentrado. 4.1 – A (Des)ordem Ambiental sob o Prisma da Normatização Ambiental

Em março de 2003, o rompimento da barragem de rejeitos da empresa Indústria

Cataguases de Papel Ltda produziu graves impactos ambientais. Os rejeitos da indústria de

papel atingiram o rio Pomba e, posteriormente, o rio Paraíba do Sul, comprometendo o

abastecimento de água das cidades ribeirinhas da Zona da Mata e norte do Estado do Rio

de Janeiro. Os agentes poluidores (soda cáustica, lignina, sulfeto de sódio, enxofre e

organoclorados ) produziram um composto de cor preta chamado de licor negro. Esse

material estava armazenado havia mais de 15 anos. Eram resíduos da produção de celulose

que remontam ao tempo em que o grupo Matarazzo comandava a fabricação de papel e

celulose em Cataguases. Todas as cidades que dependiam diretamente do uso da água

(abastecimento urbano, irrigação, piscicultura, pesca e agricultura de várzea) foram

prejudicadas, pois o acidente impediu temporariamente o desenvolvimento dessas

atividades (Mapa 10).

Mapa – 10 A Rota dos Poluentes: o acidente em Cataguases (2003)

Fonte: Folha de São Paulo 04/04/2003

99

Os debates e ações relativos a esse grave acidente ambiental, mobilizou a

imprensa, os órgãos de governos (Federal, Estaduais e Municipais), Crea-MG, sociedade

civil, universidades e ONGs ligadas ao meio ambiente. As discussões foram intensas

envolvendo os órgãos encarregados do licenciamento e fiscalização ambiental

evidenciando, nos dois Estados, uma crise de competências, principalmente em relação à

eficiência e escalas de atuação.

O acidente também produziu um conflito entre as Secretarias Estaduais de Meio

Ambiente dos Estados envolvidos, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Segundo o Jornal Estado

de Minas (02/04/2003), o Secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano do Rio de

Janeiro acusou o Secretário Estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais de omissão e

incompetência na gestão ambiental. Como o acidente ultrapassou os limites do Estado de

Minas Gerais e atingiu o Estado do Rio de Janeiro, o Governo Federal, através do Ministério

do Meio Ambiente, foi acionado e enviou técnicos do IBAMA para uma avaliação do

problema. Na mesma semana do acidente, o Ministério do Meio Ambiente anunciou a

criação de um Sistema Integrado de Prevenção e Combate aos Riscos Ambientais para

evitar novos acidentes. O sistema seria responsável por fazer o mapeamento dos

procedimentos e da estrutura técnica disponível em todo o país para o combate a danos

causados por grandes acidentes ambientais (ESTADO DE MINAS, 02/04/2003). Esse

acidente revelou como é precário o sistema de prevenção e fiscalização dos órgãos

governamentais.

Passados três anos, em março de 2006, um novo acidente de grandes

proporções envolve mais uma grande empresa de Cataguases. Dessa vez foi o vazamento

de 400 milhões de litros de rejeito de bauxita da Rio Pomba Minerações, uma empresa do

Grupo Química Cataguases que opera a lavagem desse minério no município de Miraí

(MG). O vazamento foi provocado pelo rompimento do vertedouro da barragem de rejeitos e,

mais uma vez, os impactos ambientais ultrapassaram os limites do Estado de Minas Gerais,

pois a lama da lavagem da bauxita atingiu o rio Muriaé e, posteriormente, o rio Paraíba do

Sul, no Estado do Rio de Janeiro. Embora a lama da lavagem da bauxita seja menos tóxica,

a contaminação dos rios Muriaé e Paraíba do Sul interrompeu o abastecimento de água nas

cidades de Muriaé e Patrocínio, em Minas Gerais e Lages, Itaperuna, Italva e Cardoso

Moreira, no noroeste fluminense. Mais uma vez, um acidente atingiu, através da bacia do

rio Paraíba do Sul, dois Estados da Federação – Minas Gerais e Rio de Janeiro (Mapa 11).

A proposta feita em 2003 pelo Governo Federal de criação de um Sistema Integrado de

Prevenção e Combate aos Riscos Ambientais não funcionou, deixando transparecer a

ineficiência e a falta de articulação dos órgãos municipais, estaduais e federais , em relação

à problemática ambiental.

100

Mapa 11 – Rota do Vazamento da Lavagem da Bauxita: acidente em Miraí (2006)

Fonte: Folha de São Paulo 04/03/2006

Como as empresas envolvidas nos dois acidentes, acima relatados, possuem suas

sedes em Cataguases, faz-se necessário analisar os instrumentos normativos legais e as

esferas de competências dos órgãos e entidades ambientais que, juntos, deveriam

regulamentar e fiscalizar as atividades econômicas no Estado de Minas Gerais, em especial a

atividade industrial.

A Constituição Federal é a lei principal, a base segundo a qual as demais normas

são emanadas. No que se refere ao meio ambiente, a Constituição Federal, em seu Art. 225, deixa claro que:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defende-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gerações.

No entanto, sabemos que é só através da lei que a sociedade organizada tem

condições de cumprir a obrigação constitucional de preservação e defesa do meio

ambiente. No Brasil, a norma federal cria a Política Nacional do Meio Ambiente e esta, por

sua vez, define as Diretrizes Estadual e Municipal de Meio Ambiente.

A Política Nacional do Meio Ambiente foi criada através da Lei no 6938, de 31 de

agosto de 1981, constituindo o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). O SISNAMA é

o conjunto de órgãos e instituições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

101

que são encarregados da proteção do meio ambiente. É composto pelos seguintes órgãos

(FEAM, p. 11 e 12, 2003):

1– Conselho de Governo: órgão superior que assessora o Presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente;

2- Conselho Nacional do Meio Ambiente – (CONAMA) :

órgão consultivo e deliberativo com a finalidade de assessorar o Conselho de Governo e deliberar sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado essencial à sadia qualidade de vida.

3- Ministério do Meio Ambiente – (MMA): planeja,

coordena, supervisiona e controla a política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente.

4- Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis – (IBAMA): tem a finalidade de executar e fazer executar a política e diretrizes governamentais para o meio ambiente.

5- Órgãos Seccionais – órgãos ou entidades estaduais

responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar degradação ambiental.

6- Órgãos Locais – órgãos municipais responsáveis pelo

controle e fiscalização de atividades capazes de provocar degradação ambiental.

O Art. 23 da Constituição Federal ao colocar que a proteção do meio ambiente

e o combate da poluição são competências comum da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios, acaba repartindo a responsabilidade legal, uma vez que cada

ente público terá que estabelecer os seus próprios princípios normativos.

Assim fica claro que a Constituição Federal permite que o município possa

legislar sobre o meio ambiente, conforme consta das competências dos municípios

expressas no Art. 30 :

I – legislar sobre assuntos de interesse local; II – suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

Os quadros 26 e 27 demonstram como se estrutura a legislação ambiental e os

instrumentos legais pertinentes as competências de cada ente público.

102

Quadro 26 - Estruturação da Legislação Ambiental no Brasil

Fonte: FEAM, 2003

103

Quadro 27 - Instrumentos Legais e Políticas do Meio Ambiente

Fonte: FEAM 2003

Na implementação de sua política ambiental, o Estado de Minas Gerais optou por

um sistema de administração com a participação da sociedade civil, através da Comissão de

Política Ambiental (COPAM), criada em 1977. Em 1987, a Comissão de Política Ambiental foi

transformada em Conselho Estadual de Política Ambiental, mantendo a mesma sigla - COPAM.

Trata-se de um órgão normativo, colegiado, consultivo e deliberativo, com finalidade de decidir

sobre diretrizes , políticas, normas e padrões ambientais, visando a preservação do meio

ambiente e dos recursos ambientais. O COPAM está subordinado à Secretaria de Estado de

Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SEMAD.

O COPAM é composto pelo Plenário, instância superior de deliberação, por sete

Conselhos Regionais, com sede em Diamantina, Divinópolis, Governador Valadares, Montes

Claros, Ubá, Uberlândia e Varginha e por sete Câmaras Especializadas:

1- Câmara de Política Ambiental: CPA;

2- Câmara de Atividades Industriais: CID;

3- Câmara de Atividades Minerarias: CMI;

4- Câmara de Atividades de Infra-Estrutura: CIF;

5- Câmara de Atividades de Agrossilvopastoris: CAP;

6- Câmara de Proteção da Biodiversidade: CPB;

7- Câmara de Recursos Hídricos: CRH.

Constituição Federal Leis e Decretos Federais Resoluções CONAMA

Política Nacional de Meio Ambiente

Leis e Decretos Estaduais Deliberações Normativas COPAM Resoluções COPAM

Política Estadual de Meio Ambiente

Política Municipal de Meio Ambiente

Lei Orgânica (Códigos Ambiental de Obras e Posturas) Leis e Decretos Municipais Deliberações Normativas CODEMA

104

Existem três órgãos executivos e de assessoramento técnico às Câmaras

Especializadas, aos Conselhos Regionais e ao Plenário, vinculados à SEMAD (Quadro 28):

- FEAM: Fundação Estadual do Meio Ambiente. Assessora três das sete

Câmaras do COPAM: Câmara de Atividades industriais; Câmara de

Atividades Minerarias e Câmara de Atividades de Infra-Estrutura.

- IEF: Instituto Estadual de Floresta. Assessora a Câmara de Atividades

Agrossilvopastoris e a Câmara de Proteção da Biodiversidade.

- IGAM: Instituto Mineiro de Gestão das Águas. Assessora a Câmara de

Recursos Hídricos.

Quadro 28 – Sistema Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais

Fonte: FEAM, 2003

O Sistema Estadual do Meio Ambiente criou as chamadas três agendas: Azul,

Verde e Marron. A Agenda Azul trata dos temas relacionados com as águas. O IGAM é o órgão

responsável pela concessão de outorga de direito de uso das águas estaduais e proteção

de mananciais.

105

A Agenda Verde abrange a preservação das matas e florestas, a criação e

manutenção de unidades de conservação, o controle do desmatamento, a proteção da

biodiversidade, a política de pesca, além do controle da degradação ambiental provocada

pelas atividades agrossilvopastoris. O IEF é o órgão responsável pela concessão de

autorizações de supressão de vegetação, pelo controle da pesca e pela instrução de

processos de licenciamento ambiental e de aplicação de penalidades referentes às

atividades agrícolas, pecuárias e florestais.

A Agenda Marrom trata do controle da degradação ambiental decorrente das

atividades industriais, minerarias e de infra-estrutura. A FEAM é o órgão responsável pelos

processos de licenciamento ambiental e de aplicação de penalidades relativas à indústria,

minerações e obras de infra-estrutura, tais como rodovias, ferrovias, gasodutos, usinas

hidrelétricas, loteamentos, estações de tratamento de água, estações de tratamento de

esgotos e aterros sanitários.

Fazendo valer o princípio da autonomia administrativa garantida pelo Art.30 da

Constituição Federal, o Município pode legislar sobre o meio ambiente e instituir secretarias,

órgãos municipais ou conselhos de meio ambiente para deliberarem sobre assuntos de

interesse local. De acordo com a Resolução CONAMA no 237/97, para integrar o Sistema

Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), o Município deve implementar o Conselho

Municipal de Meio Ambiente, com caráter deliberativo e participação da sociedade e ainda

possuir um órgão técnico-administrativo, com profissionais legalmente habilitados. No

entanto, a abrangência espacial de atuação se restringirá à unidade territorial administrada

pelo poder público Municipal. Segundo a FEAM (2003), em Minas Gerais já existem mais de

200 Conselhos Municipais de Meio Ambiente ou também chamados de Conselho Municipal

de Conservação e Defesa do Meio Ambiente (COMDEMA). O COMDEMA é órgão

colegiado, criado por lei municipal, formado preferencialmente por representantes da

Administração Municipal, Câmara de Vereadores e da sociedade civil organizada.

Recomenda-se a representação paritária entre o Poder Público e a sociedade civil. As

atribuições do Conselho são definidas pela lei de sua criação.

Em relação ao que foi exposto podemos sistematizar um quadro da competência

legal de fiscalização e licenciamento em função da abrangência territorial dos

empreendimentos e dos impactos ambientais por eles causados (Quadro 29).

106

Quadro 29 - Impacto Ambiental da Atividade e Competência Legal de Fiscalização e Licenciamento.

Local de maior impacto Tipo de impacto Competência para

fiscalizar e licenciar

ABRANGÊNCIA DE DOIS ESTADOS

IBAMA

Resolução CONAMA 237/97

MUNICÍPIO IMPACTO AMBIENTAL REGIONAL

COPAM/FEAM

Delib. Norm. COPAM 01/90

IMPACTO AMBIENTE LOCAL

ATIVIDADES SEM IMPACTO AMBIENTAL

PREFEITURA E CODEMA

Lei Municipal

Fonte: FEAM, 2003.

Pelo esquema apresentado no Quadro 29, fica claro que, em Minas Gerais, o

licenciamento ambiental é de competência do Conselho Estadual de Política Ambiental

(COPAM) que reúne as funções de órgão normativo e deliberativo. Junto ao COPAM, atuam

a FEAM, o IEF e o IGAM, órgãos técnicos executivos que são responsáveis pela elaboração

de pareceres técnicos e jurídicos que irão fornecer subsídios para as decisões sobre o

licenciamento ambiental e a concessão de outorgas para as atividades de grande porte e

potencial poluidor ou degradador. Esses órgãos verificarão se o empreendimento e o local

de sua instalação estão de acordo com as normas municipais, estaduais e federais de uso

do solo. Compete também a esses órgãos convocar as audiências públicas sobre os

projetos e proceder à avaliação dos seus impactos. As atividades ou empreendimentos

potencialmente modificadores do meio ambiente deverão seguir as três fases do

licenciamento que são:

- LP (Licença Prévia): é requerida na fase preliminar de planejamento

do empreendimento ou atividade. Nessa primeira fase do licenciamento

avalia-se a localização e a concepção do empreendimento, atestando a sua

viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos a serem

atendidos nas próximas fases. É durante a análise da LP que poderá ocorrer

a audiência pública.

- LI (Licença de Instalação): nesta fase são analisados os projetos

executivos de controle ambiental sendo avaliada a sua eficiência, conforme

tenha sido prevista na fase anterior. A LI concede o direito para a instalação

do empreendimento e obras como movimentação de terra, cortes e aterros,

aberturas de vias, construção de edificações, galpões, diques, barragens e

107

montagens de equipamentos técnicos necessários à execução do conjunto da

obra.

- LO (Licença de Operação): autoriza a operação do empreendimento,

após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças

anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes

determinadas para a operação. Portanto, a concessão da LO vai depender do

cumprimento daquilo que foi examinado e deferido nas fases de LP e LI.

Para os empreendimentos instalados anteriormente à legislação ambiental de

10/03/1981, regulamentada pelo COPAM, é adotado o licenciamento corretivo através de

convocação para licenciamento. No entanto, esses empreendimentos só têm obrigação de

apresentarem LO se forem convocados para licenciamento pelo COPAM ou por seus órgãos

seccionais.

A necessidade de autorização ambiental para as atividades potencialmente

poluidoras ou degradadoras do meio ambiente acaba criando uma demanda de análises e

estudos detalhados de projetos bastante elevada. Com o objetivo de agilizar e

desburocratizar as autorizações, o COPAM, através da Deliberação Normativa no 74, de 09

de setembro de 2004, estabelece critérios para classificação , segundo o porte e potencial

poluidor, dos empreendimentos e atividades modificadoras do meio ambiente que deverão

apresentar o licenciamento ambiental em todas as suas fases.

Para atingir esse objetivo os empreendimentos e atividade modificadoras do

meio ambiente foram enquadradas em seis classes que conjugam o porte e o potencial

poluidor ou degradador do meio ambiente (1,2,3,4,5 e 6), conforme o quadro 30:

Quadro 30 - Determinação da Classe do Empreendimento a partir do Potencial Poluidor da Atividade e do Porte.

Potencial poluidor/degradador geral da atividade

P M G

P 1 1 3

Porte do Empreendimento M 2 3 5

G 4 5 6

Fonte: DN no 74/2004 – COPAM (MG)

108

O potencial poluidor/degradador da atividade pode ser considerado pequeno (P),

médio (M) ou grande (G), em função das características da atividade , conforme as listagens

A,B,C,D,E,F e G:

Listagem A: Atividades Minerarias

Listagem B: Atividades Industriais/Metalúrgicas

Listagem C: Atividades Industriais/ Indústrias Químicas

Listagem D: Atividades Industriais/ Alimentícias

Listagem E: Atividades de Infra-Estrutura

Listagem F: Serviços e Comércio Atacadista

Listagem G: Atividades Agrossilvipastoris

O potencial poluidor diz respeito à capacidade que cada atividade tem de

impactar o ar, as águas e os solos.

O porte do empreendimento também se classifica em pequeno (P), médio (M) e

grande (G), de acordo com os limites fixados nas listagens (relativos à área útil do

empreendimento e a natureza e volume de produção).

A partir das informações fornecidas previamente pelas empresas através do

preenchimento do FCE (Formulário de Caracterização do Empreendimento), o órgão

responsável pelo licenciamento (FEAM) conhecerá o porte do empreendimento e seu

potencial poluidor. Para identificação da classe do empreendimento basta lançar os

dados no Quadro 30. O Art. 1o da DN no 74/2004 ratifica que os empreendimentos e

atividades modificadoras do meio ambiente sujeitas ao licenciamento ambiental no nível

estadual são aqueles enquadrados nas classes 3, 4, 5 e 6. Portanto, esses deverão cumprir

todo o processo de licenciamento obedecendo a seqüência LP - LI – LO. Os

empreendimentos enquadrados nas classes 1 e 2, como representam baixo risco para o

ambiente, precisarão obter somente o alvará de funcionamento em conformidade com as

normas e regulamentos municipais.

Podemos concluir que o Estado de Minas Gerais possui uma estrutura normativa

ambiental bastante complexa, mas que ainda enfrenta dificuldades operacionais relativas às

competências de seus órgãos seccionais. No que diz respeito aos licenciamentos

ambientais, ainda não existe uma eficiente comunicação entre os órgãos estaduais (e

destes com os municipais) para uma integração documental e operacional. O ideal seria o

licenciamento integrado para melhorar a eficiência técnica e reduzir o tempo da tramitação

do processo de licenciamento (LP, LI, LO), evitando os problemas e excessos relativos às

109

exigências documentais nos níveis municipal, estadual e federal.

No que se refere às fiscalizações, as reincidências dos acidentes ambientais no

Estado demonstram falhas e ineficiências técnicas operacionais. Segundo a FEAM, falta

maior aparelhamento e pessoal técnico para cumprir a fiscalização preventiva de forma a

evitar os problemas ambientais. Além dessas dificuldades, há de se considerar que o

Estado de Minas Gerais é uma unidade territorial bastante ampla com uma área de

586.528,3 Km2, comportando 853 municípios. Por outro lado, os Conselhos Municipais de

Defesa do Meio Ambiente (COMDEMA), além do baixo nível de articulação com os órgãos

estaduais, quando existem, operam com baixa eficiência técnica e sofrem fortes pressões

dos políticos locais e dos setores econômicos envolvidos.

É dentro desse quadro que estaremos, nos próximos itens, fazendo um

diagnóstico das condições ambientais em função da organização industrial dispersa e

concentrada de Cataguases.

4.1.1 – O diagnóstico ambiental do padrão disperso das indústrias

Caracterizado pela ausência de um zoneamento urbano, o padrão disperso foi

a primeira forma de organização espacial da indústria de Cataguases. As decisões

locacionais eram exclusivamente tomadas pelos empresários que procuravam obter

vantagens frente a fatores indispensáveis à logística de suas empresas como o sítio, a

posição, a mão de obra, os meios de transportes, o mercado e a energia. Produzia-se,

então, uma distribuição desigual da indústria no espaço urbano. Essa dispersão, à medida

que tornou mais complexa a relação indústria - cidade, favoreceu também a expansão do

tecido urbano. Atualmente, segundo a Prefeitura Municipal de Cataguases (2006), a cidade

conta com 317 indústrias dos mais variados ramos, sendo que 90% se localizam no padrão

disperso.

O diagnóstico ambiental do padrão disperso tem como referência as indústrias

mais significativas. Por serem as maiores e mais antigas, são também as primeiras da fase

industrial de Cataguases. Essas empresas contribuíram para o surgimento de outras

indústrias, várias atividades econômicas, serviços e urbanização. A análise baseia-se nas

entrevistas feitas com os empresários ou representantes técnicos das empresas, nas

imagens de satélites Digital Globe/Google 2006 e nos instrumentos legais que subsidiam as

Políticas do Meio Ambiente que direta ou indiretamente incidem sobre o Estado de Minas

Gerais, em especial o Município de Cataguases. Utilizaremos também as informações

constantes na listagem do SIAM (Sistema Integrado e Informação Ambiental) disponibilizada

110

pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD).

A proposta de diagnóstico ambiental focaliza os problemas ambientais e os

processos de mudanças sócio-espaciais causados pelo desenvolvimento industrial.

Cataguases sempre se destacou mais pelo desenvolvimento da indústria têxtil. É

o ramo pioneiro da fase industrial de Cataguases que começa com a Indústria Irmãos

Peixoto (1905), sendo seguida pela Companhia Industrial Cataguases (1936), Companhia

Manufatora de Tecidos de Algodão (1943) e Indusfio Fios e Malhas (1967). Esse é um dos

ramos que, até os anos 1980, era responsável por parte da poluição atmosférica e das

águas que atingiam diretamente o Município. A cadeia produtiva do setor têxtil envolve,

resumidamente, três etapas: a fiação, a tecelagem e o acabamento. Durante essas etapas,

numerosas operações consomem matérias-primas, insumos, água e energia, produzindo

efluentes líquidos, emissões atmosféricas e resíduos sólidos. As características dos

efluentes e o níveis de poluição dependem, principalmente, dos procedimentos tecnológicos

empregados, da qualidade dos produtos e da fonte de energia utilizada. Em geral, os

efluentes líquidos são os principais causadores de problemas ambientais. São derivados de

operações da fase de acabamento, em função da diversidade de produtos químicos e

elevado volume de água consumidos. Já as emissões atmosféricas poluidoras dependem da

fonte de energia utilizada para aquecimento de caldeiras (lenha, óleos derivados de petróleo

ou gás natural). Além dos efluentes líquidos e gasosos, o setor têxtil também produz

resíduos sólidos e poluição sonora.

Todas as indústrias têxteis de Cataguases apresentavam elevado grau de

poluição, principalmente em relação aos efluentes líquidos que eram lançados diretamente,

sem tratamento, no ribeirão Meia Pataca e rio Pomba. Mas com a obrigatoriedade do

Licenciamento Ambiental (Lei Federal 6.938/1981), o COPAM-MG (Comissão de Política

Ambiental de Minas Gerais) passou a cobrar dessas empresas a adequação às normas

técnicas e padrões de qualidade ambiental. Como essas indústrias foram criadas antes da

referida Lei Federal, o COPAM-MG exigiu o Licenciamento Corretivo. Atualmente, todas as

grandes indústrias têxteis de Cataguases possuem Estações de Tratamento de Efluentes

(ETEs) e “lavador de gases” (filtros para exaustão de caldeiras).

A imagem de satélite 3 retrata a localização da primeira indústria têxtil de

Cataguases: Companhia de Fiação e Tecelagem de Cataguases fundada em 1905 e

renomeada de Indústria Irmãos Peixoto S A em 1917.

111

Imagem de Satélite 3 – Indústria Irmãos Peixoto (2006)

Em 1905 essa área se firmava como centro comercial potencializado pela

presença da estação ferroviária, cujo prédio ainda pode ser observado na parte inferior da

imagem. Essa indústria, com sua vila operária, contribuiu para a expansão do tecido urbano

e a formação da Vila Domingos Lopes e o Bairro Haydée Fajardo Dutra. O contínuo

desenvolvimento urbano e os equipamentos residenciais instalados no entorno da indústria

limitaram sua expansão física. Em 1976 a indústria transferiu o setor de fiação para o DI,

ficando no prédio original somente a tecelagem. Posteriormente, em 1998, a Indústria Irmão

Peixoto S A foi incorporada à Companhia Industrial Cataguases e o prédio foi desocupado,

dando lugar ao centro cultural Instituto Francisca de Souza Peixoto.

A imagem de satélite 4, além de mostrar o alvéolo (margem esquerda do rio

Pomba) onde se instalou inicialmente a cidade, demonstra também a localização da

Companhia Industrial Cataguases (margem direita do rio Pomba entre as duas pontes).

Fundada em 1936, foi a segunda grande indústria têxtil a se instalar em Cataguases, mas a

primeira a ocupar a margem direita do rio Pomba.

112

Imagem de Satélite 4 – Companhia Industrial Cataguases (2006)

Como o terraço era mais estreito, foi necessário desmatamento e intensa

movimentação de terra para instalar a planta industrial e a vila operária. Além da criação do

bairro Jardins (antiga vila operária), a instalação da Companhia Industrial Cataguases

estimulou a formação da Vila Tereza e Vila Minalda, ambas na margem direita do rio

Pomba. Segundo a SEMAD (2006), a Companhia Industrial Cataguases está com a Licença

de Operação em dia e solicitação de renovação de outorga (2006) de uso da água do rio

Pomba em análise junto ao Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM).

Na parte superior da imagem de satélite 5, nós temos a Companhia Manufatora

de Tecidos de Algodão fundada em 1943 na margem esquerda do ribeirão Meia Pataca, ao

lado do antigo ramal ferroviário que ligava Cataguases a Miraí. Sua implantação contribuiu

para estender o tecido urbano da área central da cidade até o bairro Popular que se localiza

a montante dessa área, acompanhando curso do ribeirão Meia Pataca. Essa indústria faz

uso intensivo das águas do ribeirão Meia Pataca e possui Estação de Tratamento de

Efluentes. Segundo a SEMAD (2006), a Companhia Manufatora cumpriu 4 autos de

infração de 1990 a 1993 por falhas operacionais e está com a renovação da outorga/2006

113

de uso da água em análise junto ao IGAM. Faz divisa com a Indústria Cataguases de Papel

e encontra-se cercada por bairros residenciais e área comercial, mas ainda possui área

física para futuras expansões.

Imagem de Satélite 5- Companhia Manufatora de Tecidos e Indústria Cataguases de Papel (2006)

A imagem de satélite 6 nos fornece a localização da indústria Indusfil Fios e

Malhas. Ocupando o centro da imagem, em três quarteirões do bairro Vila Domingos Lopes,

percebemos que essa indústria não possui mais espaço físico para expansão. Os prédios do

entorno são, predominantemente, residenciais e essa indústria funciona somente com o

alvará junto à prefeitura. Opera principalmente com o setor de fiação. A produção de malhas

representa uma atividade que só foi incorporada à fábrica no ano de 2005. É classificada

como indústria de baixo potencial poluidor (DN no 74/2004 – COPAM). No entanto, nossa

pesquisa de campo realizada em janeiro de 2006 detectou que os moradores do entorno

reclamam do excesso de ruído (poluição sonora), principalmente à noite.

114

Imagem de satélite 6 – Indusfil Fios e Malhas (2006)

O segundo ramo importante é o de papel e papelão representado por duas

empresas. A primeira empresa é a Indústria Cataguases de Papel. Fundada em 1954 com o

nome de Companhia Mineira de Papéis, produzia, inicialmente, celulose e papéis para

impressão. É um ramo industrial que, em função de utilizar produtos tóxicos com insumos,

apresenta elevado potencial poluidor. Para obtenção da celulose, a indústria utilizava soda

cáustica e sulfeto de sódio. O cloro ativo ou hipocloreto de sódio era usado na etapa de

branqueamento da polpa de celulose. Esse procedimento tecnológico produzia grandes

quantidades de compostos organoclorados, que eram lançados, sem tratamento, no ribeirão

Meia Pataca. A substância era extremamente tóxica; tinha mal cheiro e produzia efeitos

deletérios na ictiofauna do ribeirão Meia Pataca, rio Pomba e rio Paraíba do Sul (no Estado do

Rio de Janeiro). Em 1978, o Grupo Matarazzo compra a fábrica que passa a se chamar

Indústria Matarazzo de Papéis S A . A produção aumenta e a poluição também. Mas, em

meados dos anos 1980, o COPAM-MG obriga a Matarazzo de Papéis a construir dois

reservatórios (barragens) para armazenar os efluentes tóxicos. Esses reservatórios localizam-se

a 14 Km da indústria, na zona rural de Cataguases. Segundo a SEMAD (2006), de 1970 a 1993,

a indústria recebeu oito autos de infração por inadequações técnicas e poluição. Como as

115

multas não foram pagas, o Estado as encaminhou para a dívida ativa da empresa. Em 1992, o

Grupo Matarazzo entra em crise financeira e paralisa as atividades da unidade de Cataguases.

O Grupo IBERPAR Empreendimentos e Participações assume a empresa em 1994 e troca seu

nome para Indústria Cataguases de Papel. A empresa abandona a produção de celulose e

passa a produzir “papel miolo” e “papel capa” para embalagens a partir de “papel velho”

(reciclagem). Essa mudança operacional diminuiu acentuadamente as emissões de poluentes

pela empresa. Mesmo assim, de 1996 a 2003 a Indústria Cataguase de Papel foi multada 3

vezes, mas têm pagado em dia as infrações. Embora não produza celulose, a atual empresa

herdou o “passivo ambiental” do Grupo Matarazzo. Portanto, quando um dos reservatórios

rompeu, em 2003, produzindo um vazamento de 1,2 bilhão de litros de resíduos tóxicos, o

Grupo IBERPAR passou a ser responsabilizado. A empresa foi multada e obrigada a fazer um

TAC (Termo de Ajuste de Conduta) para se adequar às normas técnicas de qualidade

ambiental. Pela imagem de satélite 5 percebemos que a Indústria Cataguases de Papel (parte

inferior) faz divisa com a Companhia Manufatora de Tecidos de Algodão. Já na imagem de

satélite 7, percebemos que a Indústria Cataguases de Papel localiza-se na margem (esquerda)

do ribeirão Meia Pataca, onde faz uso intensivo da água. É possível visualizar a ETE (na parte

superior da imagem), a lenha para aquecimento de caldeira e os fardos de aparas de papel e

“papel velho” armazenados no pátio da empresa. Os rejeito da lavagem do “papel velho” são

armazenados em tanques de estabilização em outra área pertencente à empresa, fora do

perímetro urbano. Funciona com outorga de uso da água junto ao IGAM. Percebe-se que a

indústria ainda possui espaço físico para futuras expansões, mas segundo os responsável

técnico, a empresa está passando por uma reestruturação tecnológica para melhorar a

eficiência produtiva e diminuir os riscos ambientais. Por isso desenvolve também programas na

área de educação ambiental junto às escolas da rede pública de ensino do Município.

116

Imagem de Satélite 7 – Indústria Cataguases de Papel (2006)

Como o acidente de 2003 ocorreu em área de passivo ambiental (provocado

pelos antigos donos – Grupo Matarazzo), os atuais proprietários da empresa alegam que

foram injustamente condenados pelos órgãos públicos ambientais e , principalmente, pela

imprensa.

Ocupando a porção centro-direita da imagem de satélite 8, pode-se observar a

Fábrica de Papelão Cataguases, fundada em 1957. Foi a segunda fábrica a se instalar na

margem direita do rio Pomba na encosta média de um morro do bairro Primavera. Esse

bairro cresceu no entorno da fábrica. Percebe-se, na parte superior da imagem, a estrada

asfaltada, que é a principal via de ligação de Cataguases com o município de Leopoldina,

onde passa a BR 116. Trata-se de uma estrada com precárias condições de manutenção e

muitas vezes se congestiona com o tráfego de caminhões de carga e ônibus. A Companhia

Industrial Cataguases e a Fábrica de Papelão funcionaram como vetores de uma

urbanização linear que deu origem aos bairros residenciais Vila Minalda e Primavera.

Atualmente percebe-se que a Fábrica de Papelão Cataguases está cercada por

equipamentos residenciais, mas ainda possui espaço para ampliação.

117

Imagem de satélite 8 - Fábrica de Papelão Cataguases (2006)

Seus procedimentos tecnológicos são pouco avançados e opera transformando

“papel velho” em papelão para capas (livros e cadernos) e arquivos. Possui baixo potencial

de impacto devido ao volume relativamente baixo de produção. Parte dos resíduos sólidos

vão para a coleta do lixo e a outra parte fica armazenada em tanque de rejeitos. Não produz

emissões de gases poluentes e tem formalizado outorga de uso da água junto ao IGAM

desde o ano 2000.

Acompanhando a micro bacia do ribeirão Meia Pataca, no bairro Popular, no

setor nordeste da cidade, encontramos a Fundição Cataguases Metalúrgica LTDA. A

Fundição Cataguases, com sua cobertura escura, ocupa a parte inferior da imagem de

satélite 9 numa propriedade com área útil em forma de trapézio. Opera por indução elétrica

fabricando peças de reposição para maquinarias das indústrias têxteis de Cataguases e

cidades próximas. Produz também válvulas, mancais, implementos agrícolas e peças

fundidas em geral. Percebe-se na imagem 9 que a urbanização de entorno (bairro Popular)

impede a expansão física da empresa. Os empresários reconhecem as deficiências

tecnológicas e a escassez de espaço, mas alegam não terem recursos para uma

relocalização por se tratar de um empreendimento com alta inércia geográfica.

118

Imagem de Satélite 9 – Fundição Cataguases Metalúrgica (2006)

O principal problema ambiental provocado pela empresa são os fortes odores (mal

cheiro) produzidos pelas emissões de vapores e gases dos processo de fundição e usinagem

de peças. A população do entorno reclama do mal cheiro relacionando-o, inclusive, com

problemas de saúde ligados ao aparelho respiratórios e casos de alergia. Todavia, na Secretaria

de Saúde não há registros de casos confirmando as denúncias da população do bairro Popular.

A instalação da Fundição Cataguases contribuiu, junto com a estrutura viária, para estender o

eixo de urbanização ao longo do ribeirão Meia Pataca (a montante). Na imagem de satélite 9, o

ribeirão aparece, em destaque, descrevendo um meandro. Apesar do impacto ambiental

provocado pelas emissões gasosas, a Fundição Cataguases nunca foi vistoriada pela FEAM e

opera somente com alvará de funcionamento obtido junto à Prefeitura. Em junho de 2006

encaminhou, junto à FEAM, seu primeiro pedido de licenciamento para modificação do processo

de fundidos de ferro e aço, sem tratamento químico superficial.

A porção superior direita da imagem de satélite 10 destaca a Indústrias

Químicas Cataguases LTDA. Fundada em 1961, oferece produtos químicos para tratamento

de água para indústrias, residências, abastecimento urbano, ETEs e tratamento de esgoto.

119

Imagem de Satélite 10 – Indústrias Químicas Cataguases (2006)

Teve papel importante na formação do bairro Vila Reis, localizado na porção

esquerda da imagem de satélite. Possui espaço físico para ampliação e passa

periodicamente por fiscalização da FEAM por ser considerada indústria de alto potencial de

poluição. Portanto, a empresa possui LO (Licença de Operação). Na imagem percebemos

também, dentro da área da empresa, duas represas para estabilização de rejeitos.

Segundo informações da empresa não há riscos de vazamentos, pois além do

monitoramento constante, a indústria tem possibilidades de construir novos tanques em área

da própria empresa no município de Cataguases. Opera com outorga do IGAM para uso

industrial de água e em 2005 entrou com pedido de licenciamento ambiental para produção

de novas substâncias químicas inorgânicas.

A imagem de satélite 11 registra a localização da empresa Rio Pomba

Minerações que pertence ao Grupo Química Cataguases. É classificada como indústria

extrativa mineral e de transformação primária, pois extrai bauxita e calcita, bem como

produz bauxita ferrosa, bauxita branca e cálcio.

120

Imagem de Satélite 11- Rio Pomba Minerações (2006)

Instalou-se na margem esquerda do rio Pomba na localidade de Barão de

Camargos (Fazenda do Cruzeiro), a, aproximadamente, 5 km da mancha urbana de

Cataguases. Faz uso intensivo da água em quase todas as etapas de produção e é

classificada pela FEAM como indústria de alto potencial de poluição. A imagem de satélite

11 nos permite observar tanques de estabilização de rejeitos de mineração (lavagens) em

atividade na direção Nordeste da empresa. É possível notar também a estocagem de

minério a céu aberto e, junto da empresa, antigos tanques de estabilização que já foram

esgotados. Os atuais tanques estão em posições altimétricas mais elevadas que a planta da

indústria, por isso precisam ser permanentemente monitorados para evitar vazamentos. O

vazamento desses tanques pode comprometer o abastecimento de água em Cataguases, já

que a indústria e os tanques estão localizados a montante da estação de captação e

tratamento de água da cidade. Em médio prazo a indústria terá dificuldades para construir

novos tanques de rejeitos no entorno. Por isso a Rio Pomba Minerações já opera com

outra unidade no município de Miraí, onde também faz a lavagem da bauxita contando com

um espaço maior para barragens de rejeitos. Foi justamente na localidade de Miraí que, em

março de 2006, aconteceu um acidente ambiental com vazamento de 400 milhões de litros

121

de rejeitos de bauxita. A lama da lavagem da bauxita atingiu o rio Muriaé e, posteriormente,

o rio Paraíba do Sul no Estado do Rio de janeiro. O acidente só não se estendeu mais, pois,

ao atingir o Estado do Rio de Janeiro, gradativamente o sedimento argiloso foi decantando

(assoreamento) ao longo do percurso. A empresa possui outorga de uso da água junto ao

IGAM, licença de operação e cumpre auto de infração e Licenciamento Corretivo na

unidade de Miraí em função do acidente ambiental, segundo a SEMAD (2006).

As indústrias consideradas nessa análise são as maiores e mais significativas do

processo urbano-industrial de Cataguases. Essas indústrias tiveram papel ativo na

expansão do tecido urbano da cidade e da infra-estrutura viária. Favoreceram o surgimento

de outras atividades econômicas e de serviços correlatos garantindo à Cataguases o perfil

de uma cidade industrial. As demais indústrias do padrão disperso são classificadas como

micro e pequenas empresas (oficinas de tornearia, serralherias, tipografias, alimentícias,

confecções, fundições e marcenarias). Apresentam baixo potencial de poluição e funcionam

somente com alvará obtido junto à Prefeitura.

Para completar a análise ambiental em relação à organização espacial da

indústria de Cataguases, passaremos, no próximo item, ao diagnóstico ambiental do Distrito

Industrial e do seu entorno.

4.1.2 - O diagnóstico ambiental do distrito industrial e do seu entorno.

O DI de Cataguases representa a primeira política de zoneamento implementada

pelo poder público municipal a partir dos anos 1970. O sítio escolhido é de terraço aluvial e

planície de inundação localizado na margem direita do rio Pomba. Uma das poucas áreas

mais planas capaz de receber um parque industrial exigindo pouca movimentação de terra.

A área escolhida corresponde à antiga “Fazenda da Saudade” que era cortada por uma

estrada, não pavimentada, que ligava Cataguases ao município de Leopoldina. Antes da

criação do DI, o acesso a área se fazia por estrada parcialmente calçada. O calçamento se

estendia da área central da cidade até o início do bairro Beira Rio. Portanto, foi a partir da

criação do DI que o poder público municipal estendeu o calçamento até a área onde seriam

instaladas as indústrias e disponibilizou a energia elétrica para os primeiros

empreendimentos, doando, em 1973, 77.425 m2 de terreno à Companhia Força e Luz

Cataguases Leopoldina (CFLCL) para a construção da Subestação Geradora. Essas duas

obras de infra-estrutura produziram, de imediato, dois impactos importantes. O primeiro foi a

urbanização linear que se processou, ao longo do acesso pavimentado, ligando o centro da

cidade à área do DI (Imagem de Satélite 12).

122

Imagem de Satélite 12- Bairro Beira Rio e o Distrito Industrial (2006)

A imagem de satélite 12 nos permite observar essa expansão linear do tecido

urbano desde as imediações da área central (canto superior esquerdo da imagem) até a

área do DI (canto inferior direito da imagem) pela margem direita do rio Pomba. Percebe-se

pela imagem que a existência de infra-estrutura viária e a instalação das indústrias

estimularam a ocupação da margem direita do rio, ao passo que na margem esquerda o

processo foi pouco intenso. O bairro Beira Rio se configurou como uma área residencial e

comercial. Posteriormente, já na década de 1980, como se percebe à esquerda da imagem

de satélite 12, surge o bairro residencial Paraíso quebrando um pouco a linearidade do

primeiro eixo de urbanização.

O segundo impacto importante foi a construção do conjunto habitacional Taquara

Preta, aproveitando a última secção ampla do terraço aluvial, no fim da Avenida Manoel

Inácio Peixoto, à direita da Imagem de Satélite 13.

123

Imagem de Satélite 13 – Distrito Industrial de Cataguases (2006)

A construção do conjunto habitacional Taquara Preta só foi possível após a

chegada do calçamento e, principalmente da energia elétrica em 1973. Na parte superior da

imagem, ao longo da Av. Manoel Inácio Peixoto, é que se localizam as principais indústrias

do DI. A parte central da imagem não está ocupada, pois tratam-se de terrenos elevados. O

quase esgotamento do espaço útil da área principal do DI forçou o poder público Municipal

a abrir um eixo secundário para instalação de indústrias. Trata-se da Av. das Indústrias, via

principal localizada na porção esquerda da imagem de satélite 13 , onde está o bairro Santa

Clara. Apresenta poucas indústrias em funcionamento (5 micro empresas) em setor

predominantemente residencial. A imagem também nos permite observar a movimentação

de terra junto ao bairro Taquara Preta. São obras de construção de um novo conjunto

habitacional de casas populares chamado São Cristóvão. Percebe-se, então, que o entorno

da área industrial começa a se configurar como área de ocupação residencial. O próprio

poder público municipal que administra a ocupação do DI, através da Secretaria de

Indústria, Comércio e Segurança, considera a área inviável para novos projetos industriais

de médio e grande porte.

No DI de Cataguases a maioria das indústrias são classificadas como micro e

124

pequenas empresas, funcionando somente com alvará expedido pelo poder público

municipal, por apresentarem baixo potencial de poluição. As empresas do DI que possuem

processo de licença ambiental requeridos junto à FEAM e ao IGAM são a Zollern

Metalúrgica, a Companhia Industrial Cataguases, a Têxtil Goitacazes, a Reciclibem, a

Paloosa e a Cat-Leo (CFLCL).

Segundo a SEMAD (2006), a Zollern Metalúrgica possui Licença de Operação

junto à FEAM e outorga para uso da água junto ao IGAM. Em 2003 recebeu um auto de

infração por falhas técnicas operacionais forçando a empresa cumprir Licença de Operação

Corretiva.

A Têxtil Goitacazes (indústria de fiação) teve sua Licença de Operação renovada

em 2005, mas ainda aguarda aprovação de processo, encaminhado ao IGAM, para uso da

água do rio Pomba.

No setor de reciclagem de plásticos, a Reciclibem solicitou, em 2005, junto à

FEAM autorização para utilizar processo de reciclagem à base de lavagem com água. Se

aprovado, a empresa passará a apresentar médio potencial poluidor, precisando se

submeter à Licença de Operação Corretiva para funcionar.

A Cat-Leo (CFLCL) formalizou, junto à FEAM, em 2005, Licença de Operação

para efetuar tratamento e recuperação de óleo de transformadores. Se aprovado, a empresa

também subirá na classificação de risco ambiental, passando a médio potencial poluidor.

No setor de confecções, a empresa Paloosa encaminhou, em 2006, processo

para operar com lavanderias industriais com tingimento e amaciamento de tecidos. Se o

processo for aprovado, junto à FEAM, a empresa precisará passar por processo de Licença

Corretiva.

Apesar das mudanças de procedimentos tecnológicos estarem ocorrendo em

algumas indústrias do DI, no geral, trata-se de uma área de baixo risco ambiental, em

função dos ramos industriais instalados. Grande parte dos resíduos de produção são

sólidos e vão para coleta de lixo ou reciclagem. As indústrias têxteis e as de reciclagem de

plásticos são as que mais produzem ruídos, mas estão distantes dos conjuntos

residenciais. Segundo informações da Prefeitura, através da Secretaria da Indústria,

Comércio e Segurança, nunca ocorreram acidentes ambientais na área do DI. A mesma

Secretaria reconhece que a Lei de criação do DI e a atual Lei de Concessão de Direito Real

de Uso são os únicos instrumentos legais que deliberam sobre a ocupação da área. Não há,

nas Leis, restrições quanto ao ramo e porte das indústrias que queiram se instalar ou

relocalizar no DI. Mas o perfil residencial do entorno precisará ser levado em conta, pelos

órgãos ambientais do Estado, quando forem analisar as solicitações de alterações dos

procedimentos tecnológicos das indústrias.

A imagem de satélite 1 (capítulo 3) nos permite visualizar um novo impacto

125

ambiental que está sendo produzido pela dinâmica de funcionamento do DI. Na parte

Inferior da imagem conseguimos visualizar um trecho, já pavimentado, da rodovia de acesso

à BR 120. A obra está paralisada aguardando aprovação de recurso Federal para conclusão

do projeto. A BR 120 é a rodovia de 21 Km que faz a ligação de Cataguases com a BR 116.

A construção desse acesso deverá diminuir o tráfego de caminhões de carga que servem

ao DI e que, atualmente, precisam passar por áreas mais congestionadas e de difícil

trânsito. Portanto, produzirá um efeito positivo de descongestionamento da área central da

cidade que, além do tráfego dos caminhões, também é cortada por um ramal ferroviário por

onde os vagões da Central Atlântica transportam o minério de bauxita da CBA.

O DI e sua infra-estrutura têm atuado como vetores de novas transformações

espaciais. Segundo informações da Secretaria de Indústria, Comércio e Segurança, a

tendência é realmente estender o desenvolvimento industrial de Cataguases para jusante da

área do DI, utilizando também a margem esquerda do rio Pomba.

A política da indústria aglomerada deverá ser mantida e a Prefeitura já adquiriu

área para um novo DI. No entanto, já que os Municípios têm competência legal na gestão

ambiental de sua base territorial, é preciso que os contratos de Concessão e Uso das novas

áreas industriais incorporem uma política mais criteriosa de seleção dos ramos industriais

que queiram se instalar em Cataguases. Outro aspecto importante é a execução prévia de

um planejamento urbanístico para melhor ocupação do espaço e fluidez de tráfego,

principalmente em função do porte dos empreendimentos industriais que mais procuram o

município que, em geral, são de micro e pequenas empresas.

Uma análise da dinâmica de funcionamento do atual DI deverá ser de extrema

utilidade para o planejamento e condução mais criteriosa de novas políticas industriais no

município que visem a continuidade do desenvolvimento industrial, tendo como modelo, as

aglomerações industriais.

4.1.3- Análise comparativa da problemática ambiental entre os dois padrões de organização

industrial.

A organização espacial da indústria de Cataguases apresenta dois padrões

distintos que representam lógicas locacionais diferentes configuradas ao longo da história

econômica do município. O padrão disperso começou a ganhar forma logo na primeira

década do século XX, e se caracteriza pela ausência de uma política de zoneamento

urbano e de qualquer preocupação ambiental por parte do poder público municipal.

Contando com a disponibilidade de terrenos planos (terraços), cursos d’água, ferrovia e

energia elétrica, desde 1908, Cataguases reunia condições infra-estruturais para ingressar

126

na era industrial (CARDOSO, 1955 e COSTA, 1977). Assim, de entreposto para o

escoamento do café produzido na Zona da Mata até o Rio de Janeiro, Cataguases passava,

gradativamente, a uma nova fase da economia – a fase industrial que se acelerou ainda na

primeira metade do século XX. Em 1952, Cataguases já contava com 34 indústrias de

ramos variados sendo que o setor têxtil era o mais importante e congregava as três maiores

indústrias. Até essa época, como não havia instrumentos legais de política ambiental, as

indústrias não enfrentavam restrições quanto ao uso dos recursos hídricos, desmatamentos,

movimentação de terras, emissões de gases, produção de resíduos sólidos ou lançamentos

de efluentes líquidos. As maiores indústrias têxteis sempre lançaram os efluentes líquidos

sem tratamento no ribeirão Meia Pataca e rio Pomba, situação que só começou a mudar

com a instalação obrigatória das ETEs (décadas de 1980 e 1990) que provocou uma

redução significativa dos níveis de poluição dos rios. Também na década de 1950 ocorreram

as instalações de uma fábrica de celulose e papel, uma de papelão e uma fundição. Dessa

três, a que sempre provocou maiores impactos ambientais foi a Companhia Mineira de

Papéis, fundada em 1954. Essa empresa, até os anos 1980, lançava no ribeirão Meia

Pataca, a “lixívia” ou “licor negro” (efluente líquido extremamente tóxico resultante do

processo de deslignificação da madeira e clareamento da celulose) que, além do mal cheiro

(poluição atmosférica), contaminava os rios Pomba e Paraíba do Sul, atingindo o Estado do

Rio de Janeiro. Eram descargas diárias. A poluição só foi controlada no final dos anos

1980, quando a empresa, na época já pertencendo ao Grupo Matarazzo, foi obrigada, por

efeito de Deliberação Normativa do COPAM-MG, a construir dois tanques para estocar os

efluentes. Mas foi justamente um desses tanques, localizado na zona rural de Cataguases,

que vazou o “licor negro” e produziu o acidente ambiental de março de 2003. Esse foi

considerado o maior acidente ambiental produzido por uma indústria de Cataguases. Ficou

evidente nesse acidente que houve negligência dos atuais proprietários da empresa

(Indústria Cataguases de Papel Ltda – Grupo IBERPAR Empreendimentos e Participações)

que herdaram o passivo ambiental do Grupo Matarazzo. Atualmente a empresa (Indústria

Cataguases de Papel) reduziu a poluição, pois possui ETEs e utiliza o “papel velho” como

matéria-prima na fabricação do “papel miolo” e “papel capa”. No entanto, de 1996 a 2003, a

indústria cumpriu 3 autos de infração e pagou multas por problemas operacionais, segundo

informações da SEMAD (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento

Sustentável).

No padrão disperso também se instalou a Indústrias Químicas Cataguases, em

1961, que produz sulfato de alumínio e uma linha variada de produtos químicos para

tratamento de água residencial e industrial. Essa empresa não chegou a gerar grandes

problemas ambientais no bairro Vila Reis, local onde está instalada. Mas a Rio Pomba

Minerações, empresa do Grupo Química Cataguases, operava a lavagem da bauxita

127

jogando os rejeitos do minério no rio Pomba. Nos anos 80 do século XX, a empresa foi

obrigada a construir tanques de estabilização de rejeitos na própria área de processamento

como forma de adequação às normas técnicas de qualidade ambiental, conforme exigências

deliberativas do COPAM-MG. Mas com o crescimento do Grupo Química Cataguases, a Rio

Pomba Minerações passou a atuar no Município de Miraí, onde também efetua a lavagem

da bauxita. Nesse município ocorreu, em 2006, o segundo maior acidente ambiental

provocado por uma indústria de Cataguases. Trata-se do vazamento de 400 milhões de

litros de rejeitos de bauxita que contaminaram os rios Muriaé e Paraíba do Sul. Os laudos

técnicos constataram negligência da empresa, pois o rompimento do vertedouro denotou

falha técnica operacional ou de manutenção de equipamentos. No padrão disperso, à

medida que as indústrias se distanciavam das imediações do centro comercial, puxavam

uma rede de infra-estrutura viária e de energia favorecendo a expansão do tecido urbano.

Por isso, como comentado nos itens anteriores, algumas indústrias acabaram sendo

cercadas por bairros residenciais, acarretando problemas como escassez de espaço físico

para novas expansões e conflitos com os moradores do entorno. É o caso da poluição

sonora produzida pela Indusfil Fios e Malhas e a poluição atmosférica produzida pela

Fundição Cataguases Indústria Metalúrgica que gera um forte mau cheiro e incômodo aos

moradores do Bairro Popular.

As grandes empresas do padrão disperso que possuem grande potencial

poluidor (têxteis, papel, fundição e química) foram fundadas antes de 1981. Essa data é um

marco para a questão ambiental no Brasil, pois através da aprovação da Lei no 6.938, de 31

de agosto de 1981, o Governo Federal cria a Política Nacional do Meio Ambiente. A partir

dessa data é conferido aos Estados e Municípios papel ativo no controle e fiscalização de

atividades capazes de provocar degradação ambiental. As indústrias começam a se

enquadrar nas normas técnicas de qualidade ambiental reduzindo os impactos. Tornam-se

obrigatórias as licenças ambientais (LP, LI e LO) para os novos empreendimentos e, em

2004, com a aprovação da Deliberação Normativa no 74 pelo COPAM – MG, as indústrias

passam a ser classificadas segundo o Potencial Poluidor e Degradador. Aplicando essa

metodologia no padrão disperso, podemos afirmar que todas as grandes empresas atingem

níveis elevados variando de 4 a 6. Portanto, todas as grandes empresas do padrão

disperso, mesmo tendo sido fundadas antes de 1981, precisam apresentar a LO ou a

Licença Corretiva. O caso mais crítico se refere à Fundição Cataguases que opera sem

qualquer tipo de licença ambiental e com procedimentos tecnológicos pouco modernos,

gerando poluição atmosférica.

Todas as adequações às normas técnicas de qualidade ambiental empreendidas

pelas grandes empresas foram determinadas pela FEAM-MG, após inspeção técnica. No

entanto, sabemos que os técnicos da FEAM-MG não visitaram todas as empresas. A

128

Fundição Cataguases e a Fábrica de Papelão alegaram que nunca foram fiscalizadas por

parte desse órgão ambiental.

Além das grandes empresas, no padrão disperso existem as micro e pequenas

empresas que se inserem no tecido urbano e, em geral, possuem baixo potencial poluidor.

Sempre estiveram presentes desde o início do processo de industrialização de Cataguases.

Surgiram, inicialmente, como indústrias de bens de consumo correntes, atendendo as

necessidades básicas de consumo da população. Depois se diversificaram e passaram,

inclusive, a prestar serviços às grandes empresas. São indústrias que, aparentemente,

possuem baixo potencial poluidor. Para se ter a certeza do potencial poluidor seria

necessário o preenchimento do FCE (Formulário de Caracterização de Empreendimento),

que já é um mecanismo obrigatório para todo o Estado de Minas Gerais. Através desse

formulário, entregue ao órgão competente municipal e enviado à FEAM, é possível aplicar a

metodologia proposta pela DN no 74/2004 e saber o potencial poluidor da empresa. Como a

Deliberação Normativa é recente, nenhuma micro ou pequena empresa do padrão disperso

preencheu o FCE. A Prefeitura afirmou que essa empresas operam somente com o alvará

de funcionamento. O problema é que muitas, embora classificadas como micro empresas,

manipulam linhas de produtos tóxicos como ácidos, solventes, óleos, graxas, combustíveis,

inflamáveis e caixas de lavagem de peças cujos resíduos não são recolhidos ou

acondicionados corretamente. Como o maior número de indústrias de Cataguases (90%) se

encontra no padrão disperso (inseridas das mais diversas maneiras no tecido urbano) fica

mais difícil a fiscalização, mesmo porque o poder público municipal não possui um órgão ou

secretaria específica, devidamente aparelhada, para realizar a fiscalização preventiva de

rotina.

Essa dificuldade ou inoperância da fiscalização ambiental também se aplica à

área do Distrito Industrial (padrão concentrado). Criado em 1971 com objetivo principal de

disciplinar o desenvolvimento industrial do município, o DI vai se configurar num espaço de

uso múltiplo, onde encontramos indústrias, conjuntos habitacionais, comércio, serviços e

transportadoras. Implementado sem um planejamento urbanístico mais elaborado, passou a

alocar indústrias dos mais diversos ramos e portes. Das 26 indústrias em funcionamento, 7

são anteriores 1981, ano da criação da Política Nacional do Meio Ambiente. As maiores

indústrias do DI, Rheinhutte, Zollern , Companhia Industrial Cataguases, Têxtil Goitacazes e

Companhia Força e Luz Cataguases Leopoldina fazem parte do grupo que se instalou

antes de 1981. No entanto, somente a Zollern (metalurgia), a Companhia Industrial

Cataguases e a Têxtil Goitacazes passaram por Licenciamento Corretivo para se

adequarem às normas técnicas de qualidade ambiental por apresentarem potencial poluidor.

A indústria Têxtil Goitacazes, que só trabalha com fiação de algodão, não iria precisar da

Licença Corretiva , mas como solicitou recurso junto ao BDMG (Banco de Desenvolvimento

129

de Minas Gerais) para construção de um gerador de energia elétrica a óleo combustível, foi

obrigada a cumprir a adequação à legislação ambiental como condição para liberação do

recurso financeiro. As demais indústrias só operam com alvará de funcionamento expedido

pela Prefeitura, pois são empresas de baixo potencial poluidor. Embora não haja uma

fiscalização técnica preventiva de rotina por parte dos órgãos ambientais Municipal e

Estadual, podemos afirmar que o DI de Cataguases, desde sua criação, nunca registrou

acidentes ambientais significativos. Os moradores dos dois conjuntos habitacionais que

limitam o DI, bairro Taquara Preta e bairro Santa Clara, nunca registraram queixas das

indústrias. Obviamente, vários moradores desses bairros trabalham em empresas do DI,

embora não sejam a maioria, conforme acusou o trabalho de campo e entrevista feita nas

indústrias. No entanto, constatamos que duas indústrias merecem mais atenção dos órgãos

públicos fiscalizadores. Tratam-se da Antares e da Velllemetal . A primeira, por usar

substâncias químicas variadas na confecção de produtos de limpeza. A segunda por

utilizar, no processo de fundição, forno a óleo combustível e estar localizada bem próxima

de residências. As demais indústrias do DI (alimentícias, artefatos de madeira/marcenaria,

eletromecânica, pré-moldados de concreto, calçados e confecções) produzem resíduos

sólidos que são reciclados, doados ou vão para a coleta do lixo efetuada pela Prefeitura.

São empresas que atualmente (2006), pela metodologia classificatória do COPAM-MG,

possuem baixo potencial poluidor.

O DI, por ter sido criado com o objetivo de estimular e disciplinar o

desenvolvimento industrial, acaba também criando condições mais favoráveis em relação à

implementação de políticas ambientais. Isso porque, ao contrário do padrão industrial

disperso, o padrão concentrado do DI cria condições favoráveis às ações de fiscalização

ambiental por parte dos órgãos competentes, uma vez que as indústrias encontram-se

espacialmente aglomeradas. Portanto, as ações regulatórias podem ser mais facilmente

implantadas e fiscalizadas.

Fica evidente que, ao longo da história do desenvolvimento industrial de

Cataguases, as indústrias do padrão disperso foram as que mais produziram e produzem

problemas ambientais. Primeiro porque o padrão disperso abriga 90% do universo das

indústrias de Cataguases, incluindo as de maior porte e grande potencial poluidor. Segundo,

porque todas as grandes indústrias se instalaram antes da criação da Política Nacional de

Meio Ambiente em 1981. Portanto, durante décadas ficaram fora das imposições legais dos

instrumentos de regulação que obrigam as empresas a cumprirem normas técnicas de

qualidade ambiental. Em terceiro, podemos apontar a negligência dos empresários ou a

deliberada intenção de , a qualquer custo, aumentar os lucros em detrimento de gastos com

proteção ambiental. Em quarto, podemos considerar a ineficiência ou inexistência de órgãos

ambientais qualificados tecnicamente (Municipal ou Estadual) para executar a fiscalização

130

preventiva e corretiva no padrão disperso, onde as indústrias criaram uma trama complexa

de envolvimento espacial com o tecido urbano.

Tanto o padrão industrial disperso, protagonista dos principais problemas

ambientais, quanto o DI são arranjos espaciais produtivos que, desde suas origens,

careceram de uma política ambiental consistente e duradoura. Entender como o poder

público tratou e trata a questão, torna-se indispensável. Passaremos então a investigar, no

próximo item, o papel do poderes públicos, principalmente o Municipal, na condução da

questão ambiental frente aos imperativos do desenvolvimento industrial de Cataguases.

4.1.4- O papel do poder público na questão ambiental das indústrias de Cataguases

Criada em 1981 através da Lei no 6938, a Política Nacional do Meio Ambiente

passa a representar um passo muito importante para equacionamento da problemática

ambiental. Esta política, ao estabelecer o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), determina que a União, Estados e Municípios estão encarregados da proteção do meio

ambiente. Para isso foram constituídos instituições e órgãos relativos a cada esfera do

poder. Assim, no nível Federal foi criado o IBAMA, no nível Estadual cada Estado criou seus

Órgãos Seccionais e no nível Municipal cada cidade deve ter seus Órgãos Locais.

Reforçando a Política Nacional do Meio Ambiente, a Constituição Federal do Brasil de 1988,

em seu Art. 23 deixa claro que proteger o meio ambiente e combater a poluição são

atribuições da União, Estados e Municípios. No entanto, cada ente público deverá

estabelecer os seus próprios princípios normativos, respeitando as respectivas

competências definidas em função das abrangências espaciais de seus domínios territoriais

(Quadro 29). Em Minas Gerais as atividades de impacto regional são de competência do

COPAM / FEAM (Órgãos Estaduais). Para as atividades de impactos ambientais locais ou

de baixo potencial de poluição a competência fica a cargo do poder municipal (Prefeitura e

COMDEMA). Portanto, a participação dos municípios no sistema de gestão ambiental passa

a ter muita relevância, exigindo que os governos locais se capacitem, como instâncias de

decisão e planejamento, para desenvolverem políticas econômicas e ambientais adequadas

à capacidade de suporte de seus domínios territoriais. No entanto, do ponto de vista

concreto, percebemos que mesmo os Órgãos Seccionais estaduais e, principalmente, os

municípios enfrentam dificuldades de operacionalizar as políticas ambientais. No nível

estadual falta mais aparelhamento técnico e pessoal qualificado para cumprir todas as

etapas dos processos de licenciamento, fiscalização de rotina e avaliações técnicas nos 853

municípios que formam a unidade territorial do Estado de Minas Gerais (IBGE, 2005). No

131

nível municipal, a situação é ainda mais crítica, já que, em Minas Gerais, são poucos os

que possuem Secretarias de Meio Ambiente, sendo que, em geral, quando existem,

ocorrem associadas a outras Secretarias. Dispõem de poucos profissionais capacitados e

deficiente aparelhamento, quando existe. No entanto, a criação dos COMDEMAs (Conselho

Municipal de Defesa do Meio Ambiente) já é uma realidade. Segundo a FEAM (2003), Minas

Gerais conta com cerca de 200 COMDEMAs em operação. Mas, como relatado

anteriormente, operam com dificuldades e com pouca articulação de informação com os

Órgãos Seccionais do Estado. No nível municipal as pressões políticas e de grupos

econômicos são muito fortes e acabam influenciando as decisões dos COMDEMAs.

Os dois grandes acidentes que envolveram duas grandes indústrias de

Cataguases em 2003 e 2006 (Indústria Cataguases de Papel Ltda e a Mineradora Rio

Pomba, respectivamente ) demonstram as deficiências da política ambiental no Estado tanto

no que diz respeito ao papel dos órgãos públicos fiscalizadores quanto às

responsabilidades das empresas em relação à qualidade ambiental. Em Cataguases, a

problemática ambiental sempre esteve ligada ao desenvolvimento industrial e mesmo após

a criação, em 1981, da Política Nacional do Meio Ambiente ainda eram registrados altos

índices de poluição que se refletiam diretamente nas águas do rio Pomba. O JORNAL DO

BRASIL (11/09/87, p. 5), em matéria com o título “Minas despeja soda cáustica em água que

fluminense bebe”, relatou parte dos impactos provocados pela poluição das indústrias de

Cataguases nos seguintes trechos:

Milhões de litros de produtos tóxicos – entre eles a soda cáustica – despejados diariamente pela Indústria Matarazzo de Papéis e por outras fábricas de Cataguases, no Sudeste de Minas Gerais, estão acabando com a vida num dos principais afluentes do Paraíba do Sul. A poluição causada pela fábrica de celulose e papel em Cataguases é um dos problemas mais antigos enfrentados pelo COPAM, que instaurou o primeiro processo em 1977, um ano antes de a fábrica ter sido adquirida pelo grupo Matarazzo da antiga Companhia Mineira de Papéis. O presidente da Comissão de Defesa do Meio Ambiente (CODEMA) de Cataguases, Hugo Sodré Lanna, 69, contesta a acusação, atribuindo a solução do caso Matarazzo a órgãos estaduais como a COPAM. A Matarazzo não é a única empresa a poluir em Cataguases o rio Pomba . Milhões de litros diários de poluentes, de menor toxicidade, são despejados no rio pelas têxteis Companhia Industrial de Cataguases e Companhia Manufatora de Tecidos, junto com outras empresas menores do ramo e com a Indústria Química Cataguases, produtora de bauxita. As três grandes indústrias, pressionadas pelo COPAM, estão construindo sistemas de tratamento que deverão entrar em atividade no próximo ano. Apesar da carga de poluentes que despejam no Pomba, onde as águas escuras ficam

132

barrentas quando a Indústria Química Cataguases lava o minério de bauxita.

A matéria publicada pelo Jornal do Brasil, em 1987, nos esclarece alguns pontos

fundamentais para o entendimento da problemática ambiental em Cataguases. Os ramos

mais poluidores são o têxtil, o papel/celulose e o químico, cujos impactos atingem

diretamente o rio Pomba e, posteriormente, o rio Paraíba do Sul no Estado do Rio de

Janeiro. Outro dado importante se refere à insuficiente atuação dos órgãos públicos

Estadual (COPAM) e Municipal (COMDEMA) diante dos interesses do capital industrial

instalado na cidade. O COPAM, criado em 1977, só conseguiu obrigar as empresas a

cumprirem as adequações técnicas de qualidade ambiental no final dos anos 1980. Mesmo

assim não garantiu, através da FEAM (Órgão licenciador e de assessoramento técnico),

uma rotina de monitoramento da qualidade das adequações técnicas efetuadas pelas

empresas. Por isso ocorreu o acidente em 2003 com o vazamento do reservatório de

rejeitos construído pela Matarazzo de Papéis no final dos anos 1980. A Polícia Ambiental

(antiga Guarda Florestal), a FEAM, o COMDEMA, a Prefeitura de Cataguases e os atuais

proprietários da empresa (Grupo IBERPAR) sabiam da existência dos reservatórios, mas

isso não impediu o acidente. Portanto, houve negligência de ambas as partes. Em matéria

publicada pelo jornal ESTADO DE MINAS (01/04/2003, p. 17) o Secretário Estadual de Meio

Ambiente do Estado de Minas Gerais admitiu que:

A FEAM não tem condições de atuar de forma efetiva em casos de emergência como o de Cataguases. A Secretaria não está apta a fiscalizar todas as áreas de risco ambiental no Estado já que sequer existe um cadastro de identificação dos empreendimentos que geram produtos tóxicos licenciados pelo COPAM.

Fica evidente que, em Minas Gerais, os Órgãos Seccionais ambientais

cumprem mais o papel de órgãos licenciadores do que fiscalizadores sendo que, no nível

municipal, a situação é ainda mais precária.

Para estruturação de uma política municipal de meio ambiente é necessário que

cada município incorpore a Política Estadual de Meio Ambiente dentro das normas

municipais (Lei Orgânica, Código Tributário, Lei Orçamentária, Plano Diretor, Lei de Uso e

Ocupação do Solo, Lei de Parcelamento do Solo, Código de Obras e Código de Posturas).

Portanto, isso significa ajustar a estrutura administrativa, as normas tributárias, a estrutura

do poder local, o processo de desenvolvimento e suas relações institucionais e jurídicas

133

(FEAM, 2003). Logo, as Secretarias Municipais também precisarão adequar seus

planejamentos estratégicos ao Código Ambiental Municipal para execução de seus

projetos. Obviamente o que se percebe é uma ampla distância entre a situação ideal e a

real. No caso de Cataguases, isso fica bastante evidente. Classificada como uma cidade

industrial e com um histórico de vários acidentes ambientais, era de se esperar um maior

cuidado com a questão ambiental. Percebe-se que esse cuidado ainda é bastante incipiente.

Não existe uma Secretaria de Meio Ambiente independente. O que existe é a Secretaria de

Agricultura e Meio Ambiente criada recentemente através do art. 1o Lei Municipal no

3.445/2005, cujas principais atribuições são:

I – supervisionar, coordenar e promover o desenvolvimento da área rural do Município, visando o abastecimento de produtos hortifrutigranjeiros e demais gêneros alimentícios; II – defender e preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado; III – propor adoção de estratégias, mecanismos e instrumentos econômicos e sociais para a melhoria da qualidade ambiental e do uso sustentável dos recursos naturais no âmbito do Município; IV – realização de prévio estudo de impacto ambiental para instalação de obra ou atividade potencialmente danosa ao meio ambiente; V – promover a educação ambiental e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente.

Percebe-se que é uma Secretaria que acumula duas funções. Uma nitidamente

ligada a promoção do desenvolvimento econômico na área de agropecuária e outra ligada

ao licenciamento e fiscalização ambiental. Dentro das competências da Secretaria de

Agricultura e Meio Ambiente não há nenhuma referência à necessidade de se fazer cumprir

a Lei Municipal no 2.812/1998 que instituiu o Código Ambiental Municipal de Cataguases (ANEXO 1). Trata-se do primeiro Código Ambiental do Município cuja função

principal é a liberação de alvará de localização para que a Prefeitura possa licenciar e

fiscalizar todos os empreendimentos de impacto local, que já são legalmente de sua

competência. Portanto, segundo o Código Ambiental de Cataguases, será exigida a Licença

Ambiental, a ser expedida pelo Órgão Ambiental Municipal, a todos os empreendimentos

potencialmente poluidores ou que possam causar significativa degradação ambiental.

Mediante o preenchimento de um Memorial de Caracterização de Empreendimento, o Órgão

Ambiental Municipal verifica a competência. Se ficar constatado, através da análise do

Memorial, que a atividade é de baixo potencial poluidor e impacto local, compete à

Prefeitura expedir o alvará de localização exigindo também, do empreendedor, uma

Declaração de Responsabilidade Civil. O Código trás como aspecto importante, a

necessidade de se ouvir o COMDEMA antes de qualquer homologação por parte do

Executivo. No entanto, numa análise mais criteriosa, percebemos alguns problemas

134

relativos ao Código Ambiental de Cataguases , principalmente quanto à sua aplicação.

Primeiramene, o Código Ambiental de Cataguases atribui funções importantes ao Órgão

Ambiental Municipal como: fiscalização, controle, licenciamento e imposição de penas e

multas. Mas como foi relatado anteriormente, o Órgão Ambiental Municipal é a Secretaria

de Agricultura e Meio Ambiente. Não há um Órgão específico e independente para atuar na

área ambiental. Nem a atual Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente está devidamente

aparelhada tecnicamente e com pessoal competente para cumprir as funções acima

relatadas. Assim, a referida Secretaria não terá, por exemplo, como cumprir o artigo 43 sobre a fiscalização das fontes poluidoras. Um segundo aspecto trata do CAPÍTULO II – SEÇÃO I que se refere aos padrões de coleta, tratamento e disposição dos resíduos

sólidos. Esse capítulo regulamenta a coleta, o tratamento e o acondicionamento adequado

do lixo, mas, o Município não possui uma coleta seletiva do lixo e nem aterro sanitário.

Outro ponto importante, o terceiro, se refere à Biodiversidade, em que o artigo 24 afirma

que a proteção da biodiversidade depende da atuação coordenada dos órgãos Federais,

Estaduais e Municipal. Essa ação coordenada ainda não existe. Os acidentes ambientais de

2003 e 2006, anteriormente comentados, demonstram essa ausência de coordenação.

Outro exemplo é a exigência do MCE (Memorial de Caracterização de Empreendimento)

exigido pelo poder público Municipal ao mesmo tempo em que a FEAM exige o FCE

(Formulário de Caracterização do Empreendimento), aumentando a burocracia.

Um quarto problema está ligado à própria estruturação da política municipal de

meio ambiente. Como afirmado anteriormente, é preciso que o Município incorpore a

Política Estadual de Meio Ambiente dentro das normas municipais. Nesse ponto,

Cataguases apresenta uma deficiência séria, pois apesar de possuir 63.980 habiatantes

(IBGE, 2000), ainda não tem seu Plano Diretor. Segundo a Constituição Federal do Brasil de

1988, em seu Artigo 182 / parágrafo 1o “o plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal,

obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico de política

de desenvolvimento e de expansão urbana”. O plano diretor, ao incorporar a política

ambiental, se constituirá num importante instrumento para orientar os agentes públicos e

privados na produção e gestão responsável da cidade.

Nosso trabalho constatou que as grandes indústrias, tanto do padrão disperso

quanto do padrão concentrado (DI) cumprem as exigências legais exigidas pelos órgãos

ambientais do Estado (FEAM e IGAM) quanto a adequação às normas técnicas de

qualidade ambiental. Isso porque todas as grandes empresas são classificadas pela DN no

74 /COPAM como de grande potencial poluidor. Mesmo assim, ficou constatado que o

monitoramento dessas atividades pelos órgãos públicos é bastante precário. Em geral, as

ações são mais reativas (atuações pós-acidente ambiental) do que preventivas

(fiscalizadoras). Já as micro e pequenas empresas do município operam somente com

135

alvará expedito pela Prefeitura. Como a quase totalidade das indústrias cataguasense se

instalou antes da vigência do Código Ambiental Municipal (1998), a Secretaria de

Agricultura e Meio Ambiente não possui um banco de dados com a caracterização técnica e

o potencial poluidor de cada empresa.

O poder público municipal, mais preocupado com o desenvolvimento econômico,

tem deixado a questão ambiental em segundo plano devido a ausência de um órgão

ambiental independente e tecnicamente preparado, inexistência de aterro sanitário e a falta

de um plano diretor de desenvolvimento urbano . Cataguases com um perfil de cidade

industrial demandaria mais atenção por parte do poder público local frente aos impactos

ambientais produzidos pelo desenvolvimento econômico. O histórico dos acidentes

ambientais provocados pelo desenvolvimento das indústrias no município ilustra também a

ineficiente atuação dos Órgãos Seccionais do Estado (IGAM, FEAM, IEF), cujas

competências também incidem sobre a base territorial dos Municípios. Mas esses Órgãos

Seccionais também enfrentam problemas estruturais sérios como falta de pessoal

qualificado para cumprir a fiscalização em todo o Estado; ausência de um planejamento

para licenciamento integrado; deficiente articulação com as políticas, órgãos, e secretarias

municipais de meio ambiente; deficiente aparelhamento técnico para análises e elaboração

de cadastros atualizados sobre as empresas e seus procedimentos. Em geral, os órgãos

tanto Municipais quanto Estaduais têm atuado mais como licenciadores do que

fiscalizadores.

Apesar da ineficiente atuação dos órgãos ambientais, o poder público Municipal,

através da Secretaria de Indústria, Comércio e Segurança, tem procurado criar condições

estruturais para estimular um maior crescimento econômico, principalmente industrial. Por

isso, no próximo item estaremos examinando as reais possibilidades de expansão das

atividades industriais de Cataguases, considerando o perfil de sua base tecnológica, a

atual conjuntura econômica e a capacidade de suporte ambiental.

4.2- Os limites da expansão das atividades industriais em Cataguases A indústria, desde a primeira década do século XX, passou a constituir a “marca

registrada” de Cataguases. Atualmente, mesmo sabendo que o PIB do setor de serviços

ultrapassa nominalmente os valores do PIB industrial, Cataguases ainda é uma cidade da

indústria (Quadro31).

136

Quadro 31 – Produto Interno Bruto (PIB) a Preços Correntes (Unidade R$ mil)

Ano Agropecuário Indústria Serviços TOTAL 1998 8.802 135.022 139.231 283.055 1999 9.244 123.366 141.773 274.383 2000 9.475 130.048 157.978 297.501 2001 8.653 141.603 176.089 326.345 2002 10.466 162.412 197.176 370.054

Fonte: IBGE (2002)

Grande parte do setor de serviços da cidade como o comércio, as oficinas, as

gráficas, as transportadoras de cargas (rodoviárias), o transporte ferroviário, as escolas

técnicas e as instituições bancárias se desenvolvem tendo como centro de gravidade as

indústrias. Portanto, o desempenho desses setores, bem como do conjunto da economia,

está necessariamente ligado à complexa dinâmica de evolução do setor industrial.

Desse modo, a discussão sobre as possibilidades e limites da expansão das

atividades industriais em Cataguases assume importância estratégica exigindo, no entanto,

uma abordagem multidimensional.

Se considerarmos os fatores “clássicos” (vantagens locacionais Weberianas)

que ainda influenciam nas decisões locacionais das empresas, veremos que Cataguases

reune um elenco de condições favoráveis à atração de novos empreendimentos industriais.

No que se refere à energia elétrica a Companhia Força e Luz Cataguases Leopoldina

(CFLCL), sediada em Cataguases, garante o suprimento de energia, pois a empresa tem

várias alternativas tecnológicas disponíveis. Há, atualmente, condições técnicas de dobrar o

fornecimento de energia operando com capacidade própria ou em cogeração com outras

empresas interligadas ao sistema. A CFLCL também já domina a tecnologia de construção

de usinas termoelétricas. Quanto aos acessos viários (rodovias), Cataguases encontra-se

conectada à rodovia BR 116 por acesso pavimentado com extensão de 21 Km (BR 120) . Já

o acesso à BR 040 se faz através da rodovia BR 267 com extensão de 120 Km. Tanto a BR

116 quanto a BR 0-40 são importantes eixos de conexão da cidade com aeroportos, portos

marítimos e regiões metropolitanas do Sudeste brasileiro. Além da malha rodoviária, a

cidade é cortada por um ramal ferroviário que permite a conexão direta com o Estado do Rio

de Janeiro e indireta com o Estado de São Paulo. Esses sistemas viários (rodovias /

ferrovia) acabam interferindo positivamente no desempenho da economia, pois disponibiliza

mercados mais amplos para os produtos produzidos pelas indústrias. Conforme ficou

demonstrado em nosso trabalho, os Estados que mais compram os produtos das indústrias

de Cataguases estão na região Sudeste.

No que se refere a mão de obra, a cidade apresenta um cenário bastante

favorável. Existe uma unidade do SENAI que oferece cursos de torneiro-mecânico,

137

manutenção de máquinas industriais e auto-cad para projetos industriais especiais. A

qualificação disponibilizada pela unidade do SENAI atende satisfaroriamente as

necessidades das indústrias cataguasenses que, em sua maioria, ainda utilizam

maquinários tradicionais. Por outro lado, favorece também o surgimento de diversas micro

empresas e oficinas que prestam serviços às grandes indústrias da cidade e da região da

Zona da Mata mineira. A cidade conta também com uma unidade do SEBRAE que oferece

consultorias e qualificação para micro e pequenos empreendedores nas áreas comercial e

industrial.

Para as indústrias que fazem uso intensivo da água, o município possui uma

densa rede de drenagem de regime tropical tendo o rio Pomba como principal curso d’água.

Há ainda a possibilidade de se construir poços artesianos com bom rendimento. O

município de Cataguases localiza-se no domínio dos “mares de morros”, apresentando um

relevo bastante movimentado com predomínio de elevações com encostas côncavo-

convexas. Mas uma análise da carta topográfica nos permite identificar várias áreas de

alvéolos com terraços e planícies aluviais (relevo plano) intermontanas, geralmente

próximas de cursos d’água, que favorecem a instalação de parques industriais.

Obviamente, tratam-se de pequenas unidades topográficas não contínuas. Por outro lado, é

possível ocupar as baixas e médias encostas de muitos morros, desde que se efetue

movimentação de terra.

Em relação à política industrial do Município, a Secretaria de Indústria,

Comércio e Segurança ( nova denominação dada à Secretaria de Desenvolvimento de

Projetos Especiais – Art 1 da Lei Municipal n 3.445/2005 assumiu a competência legal de:

I – estabelecer as políticas, diretrizes e programas de desenvolvimento da indústria;

II – incentivar a instalação de empresas de grande, médio ou pequeno porte no Município

.......................................................................................................

Essas são as atribuições legais relativas ao desenvolvimento industrial. As outras quatro

competências se referem às áreas de Comércio e Segurança que fazem parte da mesma

Secretaria.

Do ponto de vista prático, o desenvolvimento industrial sempre foi a prioridade

econômica do Município. Apesar de ter mais de 90% das indústrias dispersas pelo tecido

urbano, a tendência da política industrial é priorizar a lógica aglomerativa iniciada com a

construção do DI em 1971. Atualmente, com o quase esgotamento total da área do DI (a

ocupação atual é de cerca de 95%), o poder público municipal, através da Secretaria de

Indústria, Comércio e Segurança já desapropriou uma área de 360.000m2 para um novo DI.

Esse ficará localizado a uma distância de cerca de 2 Km a jusante do atual DI na margem

oposta (margem esquerda). Para estimular a instalação das indústrias o terreno será doado

138

às empresas interessadas, conforme regulamenta o Contrato de Direito Real de Uso

(ANEXO 2) em vigor no atual DI de Cataguases.

Sabemos que os fatores acima mencionados, mesmo sendo fundamentais, não

regem, sozinhos, as lógicas que orientam a dinâmica do setor industrial, principalmente na

atualidade. Nenhum arranjo produtivo local está fora dos condicionantes impostos pelas

profundas transformações da economia mundial que se acentuaram na década de 1990. As

revoluções tecnológicas, liberalização comercial e financeira, desregulamentações e abertura

dos mercados inseriram a economia brasileira num ambiente de competitividade internacional.

Segundo Mendes (2002), centenas de fábricas têxteis foram fechadas no Brasil durante a

década de 1990. A concorrência internacional afetou diretamente a indústria têxtil de

Cataguases produzindo efeitos negativos como fechamento de fábricas, demissões e férias

coletivas. As indústrias que resistiram tiveram que passar por mudanças operacionais e

modernização de equipamentos, que também produziram diminuição dos empregos como nos

casos da Companhia Industrial Cataguases e da Indústria Têxtil Goitacazes.

A incorporação da Indústria Irmãos Peixoto pela Companhia Industrial

Cataguases representou uma fusão dos parques produtivos e uma reestruturação induzidas

pelo ambiente de competição globalizada. Existe, portanto, um cenário de acirrada

concorrência e competitividade colocado pela economia globalizada que afeta diretamente

ou indiretamente as perspectivas do desenvolvimento, ou expansão, da indústria local. As

grandes empresas mais intensivas em capital, conhecimento e que utilizam métodos de

gestão modernos e flexíveis, conseguem se reestruturar para adequação às novas regras

e se manterem no mercado. Em Cataguases só as grandes empresas reunem essas

condições como a CFLCL, a Indústrias Químicas Cataguases, a Manufatora de Tecidos de

Algodão, a Companhia Industrial Cataguases, a Zollern (metalúrgica), a Indústria

Cataguases de Papel e a Friatec (metarlúrgica). As demais indústrias (micro, pequenas e

médias) operam com métodos gerenciais superados, poucos recursos financeiros e

procedimentos tecnológicos pouco modernos.

De modo geral, as indústrias de Cataguases são tradicionais e envolvem,

principalmente, os ramos têxtil, papel, químico, metalurgia e alimentício. A cidade não possui um

núcleo endógeno de geração de novas tecnologias e nem está conectada a programas de

parcerias com centros universitários. Tal ausência não permite a geração de externalidades e

acúmulo de conhecimentos, indispensáveis para expandir setores de alta tecnologia,

potencialmente mais dinâmicos e afinados com as novas demandas da atualidade.

As perspectivas de expansão industrial continuam apontando para os setores

tradicionais. Segundo a Secretaria de Indústria, Comércio e Segurança, esse perfil deve

continuar, pois as empresas que procuram a Secretaria com interesses de se instalarem no

Município são, em sua grande maioria, de pequeno porte e ligadas aos ramos acima

139

mencionados. Mas dois grandes projetos, já em andamento, estão cumprindo processo de

licenciamento junto a FEAM por possuírem grande potencial poluidor. O primeiro se refere a

uma grande fábrica de papel que deverá se instalar no novo DI de Cataguases . Essa será a

segunda indústria de papel da cidade. Utilizará a celulose já pronta para fabricar tipos de papéis

para impressão. Apesar de não fabricar celulose fará uso intensivo de água. O outro projeto em

andamento no Município é a construção de uma grande fábrica de alumina pela

CBA/VOTORANTIN numa área que já é propriedade particular da empresa, localizada no

distrito de Turiaçú. Como se percebe, a indústria extrativa mineral e de transformação primária

de minério de alumínio são ramos que têm perspectivas de expansão no Município.

Os sítios mais favoráveis à expansão das indústrias no Município de Cataguases

estão cada vez mais distantes da mancha urbana. As novas áreas escolhidas tanto pelo

poder público quanto pela iniciativa privada para expansão industrial, acompanham o curso

do rio Pomba a jusante da cidade. A expansão das indústrias tradicionais nessa direção

ampliará a área de urbanização e aumentará os riscos de poluição.

Competirá à Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente (Órgão responsável pela

área ambiental) fiscalizar os cumprimentos à legislação ambiental por parte das empresas

para que a expansão das indústrias no Município garantam o desenvolvimento, mitigando,

ao máximo, os efeitos negativos sobre o ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A decisão de analisar os impactos socioambientais provocados pela lógica de

organização espacial das indústrias de Cataguases criou a expectativa de poder contar com

vasto material bibliográfico, mapas, estatísticas e informações que pudessem subsidiar a

pesquisa. Descobrimos, logo no início, que esse apoio seria extremamente limitado. Ao

relacionar industrialização com a problemática ambiental, verificamos que não há nenhum

registro de trabalho publicado sobre Cataguases. Portanto, de posse das limitadas

informações disponíveis, tivemos que ampliar nossos esforços de investigação e gerar

dados, através de pesquisas de campo, elaboração de mapas e entrevistas. Essa escassez

de informação sobre o desenvolvimento industrial de Cataguases já produziu um equívoco

no encaminhamento de nossa pesquisa. Na fase inicial de elaboração do projeto de

pesquisa, pensávamos que as indústrias de Cataguases obedeciam a um único padrão de

organização espacial e que a forte presença do setor têxtil evidenciaria uma estrutura

industrial pouco diversificada. No entanto, a representação cartográfica, que elaboramos

para localizar as principais indústrias da cidade, revelou um quadro industrial diversificado e

a existência de dois padrões de organização espacial: o disperso e o concentrado.

Formatados por lógicas distintas e implantados em momentos diferentes, os dois

padrões coexistem e produzem um conjunto de mudanças socioespaciais e ecológicas que

o presente trabalho tratou de investigar. A fim de investigar os impactos ambientais na

escala municipal, a pesquisa se orientou em torno da questão central: qual a dimensão geral

e singular dos impactos ambientais provocados pelos padrões de organização espacial das

indústrias de Cataguases, considerando seus dois arranjos espaciais: o disperso e o

concentrado? Assim sendo, após análise e sistematização das informações, vale um esforço

de síntese das generalizações e diferenciações internas dos dois padrões frente a questão

ambiental.

O padrão disperso abriga o maior número de indústrias e os maiores

estabelecimentos. São justamente as grandes indústrias desse padrão que produziram os

maiores acidentes ambientais registrados até o ano de 2006. A maior incidência dos

problemas ambientais ocorreram desde o início do século XX até a década de 80, quando a

criação da Política Nacional do Meio Ambiente (31/03/1981) obrigou, gradativamente, as

indústrias a se adequarem às exigências técnicas de qualidade ambiental. Mesmo com suas

deficiências e lentidão, essa política ajudou a reduzir os impactos produzidos pela operação

das indústrias. Os setores que mais geraram poluição em Cataguases estavam relacionados

aos ramos, têxtil, papel e celulose, químico e fundição. As grandes empresas passaram por

adequações técnicas e foram obrigadas a tratarem os efluentes. No entanto, percebemos

que a ineficiente fiscalização dos Órgãos Seccionais do Estado (FEAM, IGAM e IEF) deixa

141

margem para que ocorram acidentes ambientais . A maior parte dos impactos registrados

foram provocados por lançamentos ou vazamentos de efluentes líquidos que atingiram as

bacias do ribeirão Meia Pataca e rio Pomba. No caso de grandes vazamentos, a poluição

alcança o rio Paraíba do Sul e transborda para o Estado do Rio de Janeiro. Isso tem gerado

conflitos políticos entre as Secretarias Estaduais de Meio Ambiente de Minas Gerais e do

Rio de Janeiro.

Em nossa abordagem de impactos ambientais, interessou também investigar o

conjunto de transformações socioespacias induzidos pelo desenvolvimento industrial no

município. Nesse sentido, ficou claro que o desenvolvimento das indústrias do padrão

disperso contribuiu para o crescimento do tecido urbano, pois, à medida que as indústrias

dispersavam, o poder público municipal estendia a infra-estrutura viária e favorecia também

o processo de urbanização no entorno da unidade fabril. As grandes indústrias têxteis, como

a Indústria Irmãos Peixoto, a Companhia Industrial Cataguases e a Cia. Manufatora de

Tecidos de Algodão tiveram papel importante nesse processo, visto que, ao construírem

suas vilas operárias, induziram o surgimento de novos bairros.

O desenvolvimento industrial produziu também efeitos multiplicadores e estimulou

o surgimento de diversas atividades correlatas como as pequenas oficinas de tornearia,

serralherias, fundições, comércio, bancos, pequenos restaurantes e inclusive uma escola

técnica do SENAI. O padrão disperso concentra 90% das indústrias, sendo que a grande

maioria é de micro e pequenas empresas que se amalgamam com o tecido urbano

utilizando as garagens, fundos de quintais e galpões construídos em terrenos baldios de

bairros residenciais. A intensa dispersão dessas indústrias dificulta as fiscalizações por parte

dos órgãos ambientais Estadual e Municipal.

O padrão concentrado de organização espacial da indústria é representado pelo

Distrito Industrial. Desde sua criação, não foram registrados acidentes ambientais, pois as

indústrias instaladas são de baixo potencial poluidor. A única exceção fica por conta da

Zollern Metalúrgica que apresenta potencial poluidor de nível médio, segundo a DN no

74/2004. No entanto, a CIC (Companhia Industrial Cataguases – fiação), a Têxtil

Goitacazes, a Reiclibem, a Paloosa Confecções e a Cat-Leo (Companhia Força e Luz

Cataguases Leopoldina) solicitaram, em 2005, modificações nos procedimentos

tecnológicos, o que aumentará seus respectivos potenciais poluidores. Essas empresas

aguardam respostas dos órgãos ambientais estaduais FEAM e IGAM, responsáveis pelo

licenciamento e outorga das solicitações.

A lógica da indústria aglomerada inaugurada pelo DI não tem produzido

economias de aglomerações significativas, pois a estrutura das indústrias instaladas é

bastante diversificada. Por isso, constatamos um baixo grau de complementaridade entre as

142

indústrias. O poder público Municipal não tem colocado restrições quanto ao tipo de

indústria que pretende se instalar no DI.

A insuficiente ação fiscalizadora dos órgãos ambientais estaduais também ocorre

em relação às indústrias do DI. Embora o padrão concentrado favoreça a fiscalização, os

empresários ou representantes técnicos das indústrias informaram que não recebem visitas

dos órgãos fiscalizadores ambientais do Estado ou do Município.

A implantação do DI produziu efeitos positivos na urbanização. A infra-estrutura

viária de acesso ao DI e a Subestação Geradora de Energia Elétrica da CFLCL permitiram

a construção dos conjuntos habitacionais Taquara Preta, Santa Clara e São Cristóvão.

Esse conjunto formado por bairros residenciais e indústrias têm estendido, linearmente, a

urbanização de Cataguases para jusante da mancha urbana central, principalmente na

margem direita do rio Pomba. Por isso, já se projeta para esta área a construção de uma

estrada que conectará o DI à BR 120 para facilitar o acesso à BR 116 e o escoamento da

produção industrial.

Os impactos socioambientais de Cataguases se colocam como um problema,

sobretudo no que diz respeito à execução da política ambiental. A competência para

licenciamento e fiscalização das atividades industriais dentro da unidade territorial de

Cataguases depende do porte e do potencial de poluição da empresa, segundo critérios

definidos pela DN no74/2004 do COPAM-MG. No entanto, conforme admitiu o Secretário

Estadual de Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais, os órgãos seccionais não têm

condições de atuar em casos de emergência e a Secretaria não possui um cadastro

atualizado de identificação dos empreendimentos que geram produtos tóxicos. Não há

também um esforço político para uma ação coordenada entre os órgãos municipais e

estaduais na área ambiental, tanto para o licenciamento integrado, quanto para as ações de

fiscalização. Em geral, a postura tem sido mais reativa do que preventiva.

Na parte de competência do Município a situação também é crítica. Apesar de

Cataguases possuir um Código Ambiental Municipal, aprovado em 1998, não existe um

órgão Municipal ambiental competente para cumprir suas deliberações normativas. A

questão ambiental em Cataguases fica a cargo da Secretaria de Agricultura e Meio

Ambiente criada em 2005. Além de dividir as competências com o setor de agricultura, a

Secretaria não se encontra em condições técnicas e de pessoal para cumprir com as

deliberações do Código Ambiental Municipal. A cidade ainda não possui uma coleta seletiva

do lixo urbano e o aterro sanitário ainda não saiu da fase de planejamento e estudo de

viabilidade. Esse é um ponto importante, pois a maioria das indústrias de micro e pequeno

porte da cidade utilizam a coleta oficial de lixo urbano para fazer os descartes de seus

resíduos.

143

Outro problema detectado se refere às rupturas de continuidade na política

pública. A cada mudança de administração, o poder executivo Municipal tem alterado a

estrutura e as competências das Secretarias. Um exemplo é a atual Secretaria de Indústria,

Comércio e Segurança que, na administração anterior, era nomeada Secretaria de

Desenvolvimento de Projetos Especiais. Tal procedimento, somado ao acúmulo de

competências numa mesma Secretaria, dificulta a consolidação e o amadurecimento das

políticas públicas no Município.

Em síntese, a relação do poder público, nas suas mais diversas escalas de poder,

com a questão dos impactos ambientais provocados pelas indústrias de Cataguases não

apresenta atitudes e práticas de controle ambiental diferenciadas para os dois padrões

industriais. A ineficácia da fiscalização é uma situação comum, apesar da legislação ter

contribuído para a redução dos impactos produzidos pelas empresas. Outro aspecto geral

aos padrões industriais investigados se refere à importância da indústria na extensão do

tecido urbano. A falta de planejamento da prática industrial é outro destaque tanto no padrão

disperso quanto no Distrito Industrial. A singularidade se verifica no grau de poluição das

empresas, visto que o padrão disperso é o de maior potencial poluidor. Por fim, alguns

aspectos da organização espacial das empresas mostram diferenciações significativas no

que se refere à logística de transporte, tamanho das empresas, sítio e posição, conforme já

assinalados na pesquisa em tela.

Enfim, o presente trabalho não tem a pretensão de esgotar a temática diante de

sua complexidade e movimento permanente. Pretendemos uma reflexão crítica sobre um

dos setores econômicos que, sem dúvida, é o mais importante da cidade. Optamos por

pesquisar a organização espacial das indústrias e seus impactos socioambientais, mas

reconhecemos que há também muitas outras possibilidades de abordagens. A indústria em

Cataguases é um tema inesgotável e precisa ser intensamente discutido. Esperamos que o

nosso trabalho possa servir de instrumento para orientação da gestão ambiental frente aos

imperativos das corporações econômicas. Não queremos negar o desenvolvimento

econômico, porém, acreditamos que é possível promovê-lo, mitigando, ao máximo, seus

efeitos deletérios sobre o ambiente.

144

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ANEXOS

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