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Universidade Federal Fluminense
Instituto de Ciências Humanas e Filosofia
Núcleo Fluminense de Estudos e Pesquisas
Curso de Especialização em Políticas Públicas e de Justiça Criminal Segurança Pública
MARTA MARIA DE ANDRADE GOMES
A “RAÇA” DA MULHER NEGRA NA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO
NITERÓI / AGOSTO 2017
MARTA MARIA DE ANDRADE GOMES
A “RAÇA” DA MULHER NEGRA NA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO
Monografia apresentada ao Curso de
Especialização em Políticas Públicas de
Justiça Criminal e Segurança Pública, da
Universidade Federal Fluminense - UFF,
como requisito parcial à obtenção do
Título de Especialista.
Orientadora
Professora Dra. Ana Paula Mendes de Miranda
NITERÓI /AGOSTO 2017
MARTA MARIA DE ANDRADE GOMES
A “RAÇA” DA MULHER NEGRA NA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO
Monografia apresentada ao Curso de
Especialização em Políticas Públicas de
Justiça Criminal e Segurança Pública, da
Universidade Federal Fluminense - UFF,
como requisito parcial à obtenção do
Título de Especialista.
Aprovada em_____/de____________ de_____.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________
Professora Dra. Ana Paula Mendes de Miranda
Orientadora
__________________________________________________
Prof. - UFF
__________________________________________________
Prof.
NITERÓI/ AGOSTO 2017
AGRADECIMENTOS
Ao meu Deus, porque durante todo esse processo, experimentei o Seu sustento.
Ao Curso de Especialização em Políticas de Justiça Criminal e Segurança
Pública, que me permitiu uma reflexão diferenciada sobre os caminhos e possibilidades
de minha profissão.
Aos meus companheiros de turma, pelo de conhecimento e experiências que
ultrapassavam os momentos em sala de aula. A vocês todo o meu carinho.
À minha orientadora Profª Ana Paula Miranda, que com toda sua experiência,
sabedoria e generosidade, mostrou-me outra direção, acreditando que eu seria capaz.
Aos meus amigos de perto e de longe. Aos que agora estão longe, mas de
alguma forma participaram desse processo. E aos que permaneceram ao meu lado dando
sentido á minha caminhada.
EPÍGRAFE
“(...) a gente nasce preta, mulata, parda, marrom, roxinha,
dentre tantas outras,
mas, tornar-se negra, é uma conquista.”
Lélia Gonzalez
RESUMO
GOMES, Marta Maria de Andrade Gomes. A “RAÇA” DA MULHER NEGRA NA
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Trabalho de Conclusão
de Curso. Especialização em Políticas de Justiça Criminal e Segurança Pública.
Universidade Federal Fluminense, Niterói, agosto de 2017.
O presente trabalho tem como objetivo descrever e analisar algumas situações de
discriminações raciais e de gênero na Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. O
trabalho parte da hipótese que há desafios específicos experimentados por mulheres
policiais negras, em razão da sua condição de gênero e de raça, que se tornam mais
complexos pelo modelo de gestão militar da instituição. Pretende-se explicitar as
dificuldades que as mulheres negras enfrentam para ocupar os espaços que por séculos
foram convencionados como predominantemente masculinos, e ainda compreender e
refletir sobre como estas mulheres se posicionam frente às situações de discriminação
racial e de gênero em seu cotidiano profissional. O método utilizado compreendeu em
estudo de bibliografia referente ao tema; definição do universo da pesquisa,
considerando as mulheres policiais militares autodeclaradas negras que atuam nas áreas
administrativas da Diretoria de Assistência Social da Policial Militar do Rio de Janeiro;
a elaboração de um roteiro de entrevista semiestruturada; a análise do conteúdo das
entrevistas; e a articulação da bibliografia lida aos conteúdos analisados. A pesquisa
concluiu que as mulheres policiais militares negras vêm enfrentando em seu cotidiano
profissional na PMERJ, ao longo de toda sua trajetória, desafios específicos decorrentes
única e exclusivamente de sua condição de gênero e raça, sem que haja qualquer
política de enfrentamento à discriminação ou de apoio às vítimas.
Palavras chave: mulheres, polícia militar, gênero, discriminação racial.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...............................................................................................................07
CAPÍTULO I – O RACISMO NO BRASIL...................................................................12
1.1 Delimitando os conceitos cor, raça e etnia................................................................12
1.2 Racismo, Preconceito e Discriminação.....................................................................15
1.3 Racismo no Brasil e sua especificidade....................................................................16
CAPITULO II – A MULHER NEGRA NA POLÍCIA MILITAR DO RIO DE
JANEIRO........................................................................................................................19
2.1 A questão de gênero na PMERJ................................................................................21
2.2 A mulher e sua identidade negra na Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro....23
CAPÍTULO III - SER MULHER, SER NEGRA E SER POLICIAL MILITAR..........26
3.1 Como a mulher policial negra se vê dentro da instituição policial militar................26
3.2 As práticas discriminatórias na Policia Militar no Estado do Rio de Janeiro...........29
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................35
7
INTRODUÇÃO
O presente estudo tem por objetivo descrever e analisar algumas situações de
discriminações raciais e de gênero na Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. O
trabalho parte da hipótese que há desafios específicos experimentados por mulheres
policiais negras, em razão da sua condição de gênero e de raça, que se tornam mais
complexos pelo modelo de gestão militar da instituição.
A pesquisa teve como motivação a experiência profissional da pesquisadora, em
várias unidades da corporação, incluindo alguns setores administrativos, e ainda, por
uma inquietação e preocupação com a ausência de produção científica sobre a mulher
policial militar negra da PMERJ.
A pesquisadora ingressou na corporação em 13 de março de 1991, na primeira
turma de Cabo Especialista do quadro de saúde da Polícia Militar do Estado do Rio de
Janeiro, na qual ainda continua atuando profissionalmente. E ao longo destes vinte e
seis anos de serviços foram inúmeras as formas de discriminação e preconceito racial ao
qual fui exposta, situações de preterição e diferenciação para além do grau hierárquico.
Ultrapassei barreiras institucionais que se constituíram em meu cotidiano profissional,
única e exclusivamente pelo fato de ser mulher e negra.
O interesse pelo curso de Especialização em Políticas Públicas de Justiça
Criminal e Segurança Pública ocorreu na busca por um melhor entendimento sobre qual
é o papel da PMERJ na dinâmica da segurança pública do estado do Rio de Janeiro, já
que, a instituição não é a única responsável pela execução desta política.
O interesse pelo tema do presente estudo, foi aguçado pela participação na
disciplina “Diversidade, Intolerância e Discriminação: políticas públicas de segurança e
justiça”, ministrada pelas professoras Drª Ana Paula Mendes de Miranda e Drª Lana
Lage. Disciplina que teve como o objetivo trazer o conhecimento sobre temáticas como
gênero, racismo e preconceito, bem como sobre as políticas públicas vigentes
envolvendo estas temáticas. Assim, os debates com os demais integrantes da turma e as
professoras foram decisivos para a escolha deste tema de pesquisa.
Através de levantamentos acadêmicos percebeu-se que não há nenhum estudo
que abordasse essa temática, tendo em vista que, a principal produção sobre mulheres
8
policiais1 na Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro (Musumeci et al, 2005) não
possuía o recorte racial. E numa reflexão mais aguçada, surgiu uma inquietação sobre o
porquê de não existir produção acadêmica sobre a temática “a mulher negra policial
militar”. Assim alguns questionamentos vieram à baila! Quem ousaria pesquisar um
tema tão polêmico sem ter o mínimo de comprometimento (envolvimento) com o
mesmo? Como buscar informações para complementar e finalizar a pesquisa sobre a
policial feminina negra no contexto da Polícia Militar do Estado do Rio de janeiro?
Duas situações favoreceram a concretização e finalização desse estudo: pertencer aos
quadros da PMERJ na condição de Sub Oficial e ser mulher negra. Estudar as relações
de gênero, cor e a questão racial numa instituição da qual se participa, constitui um
grande desafio, frente aos complicadores originados das condições de pesquisadora e
nativa em um mesmo campo de pesquisa. Com esse estudo objetiva-se uma produção
acadêmica sobre as possíveis situações de discriminação racial e de gênero, vivenciadas
pelas mulheres policiais militares negras em seu exercício profissional na corporação.
Estudar a trajetória da mulher policial negra no Brasil é narrar uma história de
sacrifício, pobreza, e de várias formas de desvantagens em relação às outras formas de
discriminação contra a mulher, ressaltando ainda que é sempre sobre a mulher negra que
recai todo o peso da hereditariedade colonial (Neves, 2008), na qual o sistema patriarcal
apoia-se solidamente na prática que herdou do sistema escravista, como afirma
(Vainfas, 2010). O estudo sobre a mulher negra policial militar, requer certa atenção e
cuidados especiais, visto que este se torna relevante para entendermos os impasses
gerados no trinômio cor/gênero/poder nas relações entre os pares desta atividade
profissional que até pouco tempo era exclusiva para homens.
A partir do século XIX, as mulheres começaram a buscar de forma organizada a
defesa de seus direitos. E através de movimentos como, por exemplo, o feminista, que
luta contra a maneira que eram tratadas as mulheres na sociedade. O movimento
feminista no Brasil se destacou, contemporaneamente, em meio às lutas pela
democracia que marcaram a ditadura militar (1964-1985), com a proposta de afirmação
da democracia, na busca de igualdade de direitos e oportunidade para todos (homens e
mulheres).
1 Optou-se por usar a expressão mulheres policiais para se diferenciar da forma pela qual a instituição
identifica essas profissionais – PMFEM
9
E neste contexto de luta, surgiu o campo de estudos gênero ou relações de
gênero, que tinha como preocupação a problemática da condição feminina (GROSSI,
1989). Segundo a autora, os estudos de gênero tiveram sua origem na tese defendida
por Heleieth Saffioti no final dos anos 1960, intitulada A mulher na sociedade de
classes, cujo objeto de estudo era a opressão das mulheres nas sociedades patriarcais. Já
nos anos 1970/1980, deixa-se de falar de “condição feminina” e ampliam-se as
pesquisas sobre as mulheres brasileiras, para além da condição biológica das mulheres-
morfologia do sexo feminino, que problematizaram esta determinação da “condição
feminina” (GROSSI, 1989).
Como afirma Scott (1998), o gênero é uma categoria historicamente
determinada, que não apenas se constrói sobre a diferença de sexos, mas é sobre tudo,
uma categoria que serve para dar “sentido” a esta diferença”, e que é usada para pensar
as relações sociais que envolvem homens e mulheres, expressas pelos diferentes
discursos sociais sobre a diferença sexual, ou seja, tudo que é social, cultural e
historicamente determinado.
A presente pesquisa pretende explicitar as dificuldades que as mulheres policiais
negras enfrentam para ocupar os espaços que por séculos foram convencionados como
predominantemente masculinos, bem como a capacidade de se impor nestes espaços
frente à discriminação racial que tem atuado de maneira marcante nos padrões de
exclusão social, e ainda compreender e refletir sobre como estas mulheres se
posicionam frente às situações de discriminação racial e de gênero em seu cotidiano
profissional. Situações vivenciadas especialmente pelas mulheres negras no campo de
trabalho, visto que elas sofrem tripla discriminação no mercado de trabalho: de raça, de
classe e de gênero.
O método utilizado para pesquisa compreendeu em um estudo da bibliografia
referente ao tema, durante o qual priorizei a análise dos trabalhos de: Bárbara Musumeci
Soares e Leonarda Musumeci, voltados à presença feminina na Policia Militar do Rio de
Janeiro, problematizando a questão de gênero, bem como os trabalhos de Antônio
Sérgio Alfredo Guimarães, Lívio Sansone, Oracy Nogueira e Edward Telles, por estes
autores dialogarem intimamente em suas bibliografias com a temática racial, racismo e
relações raciais no Brasil.
10
Com relação à definição do recorte do universo da pesquisa, optei por selecionar
profissionais que atuam nas áreas administrativas tendo como parâmetros definidores as
policiais militares femininas lotadas na Diretoria de Assistência Social da Policial
Militar do Rio de Janeiro, optou-se também pelas profissionais como que se auto declararam
negras nesta Unidade. Como metodologia de pesquisa foi elaborado de roteiro de
entrevista semi-estruturada que foi aplicado a seis mulheres policiais; a análise do
conteúdo das entrevistas; e a articulação da bibliografia lida aos conteúdos analisados.
Trata-se, portanto, de uma pesquisa qualitativa, que tem como
“A premissa fundamental para se realizar um trabalho que efetivamente parta
da centralidade do sujeito, e do reconhecimento da riqueza de sua
experiência, é conhecer o modo de vida das pessoas, como vivem a sua vida,
quais suas experiências sociais e que significados atribuem às mesmas”.
(MARTINELLI, 2008:34)
Foram vários os motivos que influenciaram na escolha da Diretoria de
Assistência Social como lócus de pesquisa: ser uma unidade relativamente “pequena”;
seu efetivo ser composto em sua maioria por mulheres, cujas atividades profissionais
são específicas; e por último, mas, não menos relevante, esta unidade ser identificada
na PMERJ como um local voltado para o “cuidado” em relação à da Tropa, e isto pode
ter influência na predominância de mulheres e de uma diretora e uma sub diretora
mulher . Sendo o “cuidado com o outro” um fator que é visto historicamente como algo
próprio das mulheres.
Alguns fatos ocorridos durante o processo das entrevistas foram cruciais para o
resultado obtido. Eles estão intimamente ligados à pesquisadora. Sou uma nativa, ou
seja, mulher, negra e policial militar e ainda com uma vivência em meu cotidiano
profissional de situações de discriminação racial e de gênero muito próximas às
relatadas pelas entrevistadas. Por isso durante as primeiras quatro entrevistas, ocorreram
dificuldades em construir o necessário distanciamento em relação ao objeto da pesquisa,
o que acarretou em entraves à continuidade do trabalho. Como afirma Velho “a ideia de
tentar pôr-se no lugar do outro e de captar vivências e experiências particulares exige
um mergulho em profundidade difícil de ser precisado e delimitado em termos de
tempo” (1987:124). Se isso é difícil quando às situações sociais são distintas para o
pesquisador e o observado, o que dirá quando o pesquisador ocupa o que os seus
11
interlocutores. Tais dificuldades suscitaram uma reavaliação de minha parte quanto aos
prós e contras em dar continuidade a este trabalho. Por fim, consegui entender que seria
possível continuar a pesquisa, atentando-se para aspectos relevantes que devem ser
observados por um pesquisador:
“esse movimento de relativizar as noções de distância e objetividade, se de
um lado nos torna mais modestos quanto á construção do nosso
conhecimento em geral, por outro lado permite-nos observar o familiar e
estudá-lo sem paranoias sobre a impossibilidade de resultados imparciais,
neutros”. (Velho, 1987:129)
É relevante citar que, a interrupção e reavaliação sobre as motivações desta pesquisa
foram cruciais para a concretização deste trabalho. Consequentemente as duas últimas
entrevistas, transcorreram de uma forma diferenciada. Pude, ao assumir a condição de
nativa, obter êxito na condução das mesmas, delimitando melhor o objeto da pesquisa,
apesar deste continuar me sendo “familiar”.
O trabalho está organizado da seguinte forma: no primeiro capítulo será feita uma
discussão sobre o que é racismo no Brasil, discutindo sobre os conceitos de raça, cor e
etnia, baseado em levantamentos bibliográficos.
No segundo capítulo serão abordadas as categorias que se relacionam às
questões raciais e de gênero, com base na experiência do cotidiano profissional das
entrevistadas.
E por último uma descrição de como são processadas as práticas discriminatórias
na PMERJ, identificadas a partir das entrevistas realizadas com (seis) mulheres policiais
militares autodeclaradas negras, de diferentes patentes, no que se refere às suas
experiências e suas reações, nesse contexto institucional.
12
CAPÍTULO I – O RACISMO NO BRASIL
Com relação aos trabalhos utilizados na presente pesquisa, cabe citar que os
respectivos autores escreveram suas bibliografias em épocas distintas. E em algumas
situações um autor utiliza o trabalho do outro como referência para ratificar a temática
em questão, como é o caso do autor Antônio Sérgio Alfredo Guimarães, que usa Oracy
Nogueira como referência em sua bibliografia. Há que se ressaltar também que em
nenhuma das pesquisas o recorte de gênero é privilegiado.
1.1 DEMILITANDO OS CONCEITOS RAÇA, COR E ETNIA.
Os conceitos de raça, cor e etnia, apesar de suas peculiaridades, apresentam
superposições que tornam difícil defini-los com precisão em situações concretas.
(Noronha et al, 1999)
No senso comum, “raça” e “etnia” são tidos como sinônimos. Mas, apesar do
conceito raça estar muitas vezes ligado ao de etnia, os termos não são sinônimos.
Enquanto raça engloba características fenotípicas, tais como a cor da pele, a etnia,
engloba as características culturais. Por vezes o estudo destes conceitos tem gerado
dificuldades na explicitação de suas diferenças. Guimarães (2009:25) procura esclarecer
esse debate afirmando que: “os grupos raciais são os que se julgam ter uma base
genética ou outra determinante. Os grupos étnicos são os que se supõem ter um
comportamento susceptível de mudar” (2009:25).
O termo “raça” traz uma variedade de definições, que veem sendo utilizadas
empiricamente para descrever um grupo de pessoas que compartilham caraterísticas
morfológicas (Santos et al, 2009). Porém ele é utilizado em uma perspectiva
conservadora e sem fundamentação científica. No entanto, alguns dos pesquisadores
afirmam que esta categoria está intimamente ligada a uma construção sócio histórica, e
sem qualquer base biológica, sendo ainda, objeto de estudo de um ramo próprio da
Sociologia ou das Ciências Sociais, que tem sido usado para tratar acerca das
identidades sociais. Como afirma D’ Adesky (2001), do ponto de vista da biologia ou da
genética, a ideia de raça é desprovida de valor científico, pois tal ciência afirma que não
existem “raças”, no plural, e sim raça. Todas as pessoas descenderiam de uma única
raça: a raça humana.
Nesse sentido, raças para a Sociologia
13
“são discursos sobre as origens de um grupo, que usam termos
que remetem à transmissão de traços fisionômicos, qualidades
morais, intelectuais, psicológicas, etc., pelo sangue (conceito
fundamental para entender raças e certas essências.”
(GUIMARÃES, 2008, pág.66).
Para o autor existem algumas características fenotípicas de “raça”, tal como a
cor de pele, tipo de cabelo, conformação facial, que revelam traços identitários, tal
como a ancestralidade. Entretanto, sociólogos consideraram o conceito “raça” muito
carregado de ideologia, a ponto de rejeitarem até mesmo a distinção entre “raça” e
“etnia”, se atendo a falar apenas de “etnia” (GUIMARÃES, 2009).
Atualmente, o conceito de raça quando aplicado à humanidade causa inúmeras
polêmicas, porque a área biológica comprovou que as diferenças genéticas entre os
seres humanos são mínimas, por isso não se admite mais que a humanidade é
constituída por raças. No entanto na década de 1970, o Movimento Negro Unificado
juntamente com teóricos engajados na luta contra o racismo, redefiniram o conceito de
raça, tratando-o como uma construção social forjada nas tensas relações entre brancos,
negros e indígenas.
O termo raça usado no contexto brasileiro tem uma conotação política e é
utilizado com frequência nas relações sociais, para informar como determinadas
características físicas, como cor da pele, tipo de cabelo, entre outras, influenciam,
interferem e até mesmo determina o destino e o lugar social dos sujeitos no interior da
sociedade brasileira. (GUIMARÃES, 2008). Segundo o autor, o conceito de raça ao ser
usado com conotação política permite, por exemplo, aos negros valorizar as
características que os diferenciam das outras pessoas, buscando assim romper com as
teorias raciais que foram formuladas no século XIX e até hoje permeiam o imaginário
popular. Pode-se dizer que, desde então, construiu-se no movimento social um
consenso, tal como revela MUNANGA (2008), de que o emprego do termo “raça” deve
ser usado como construção socio-histórica, não envolvendo, portanto, qualquer acepção
biológica.
Já no que se refere ao termo “etnia” o que está em foco é a dimensão cultural.
Nesse sentido são destacados os elementos que ressaltam a identidade do indivíduo, tais
14
como as relações de parentesco, a religião, o território compartilhado, a nacionalidade,
além da aparência física. Um grupo étnico é, portanto, uma comunidade definida por
afinidades linguísticas, culturais e semelhanças genéticas, que geralmente reclamam
para si uma estrutura social, política e um território. (MUNANGA, 2003).
O termo “cor”, retoma as narrativas que valorizam os elementos de origem
biológica. Consequentemente, no debate sobre a questão racial, está intimamente ligado
a um discurso classificatório, que é amplamente utilizado para análise de características
raciais. Mas vale ressaltar que a cor da pele se constitui apenas, em um dos elementos
que caracterizam a raça. (Noronha et al, 1999). Entretanto, a cor da pele estigmatiza o
sujeito a tal ponto, que se torna uma espécie de marca. No caso dos negros, em uma
sociedade racista, essa marca o difere pela suposta inferioridade, ou seja, é excludente.
No Brasil a cor da pele constitui- se em uma categoria importante de análise e é
sempre associada ao fator socioeconômico dos indivíduos. Para os brasileiros a cor da
pele está intimamente vinculada a uma hierarquia social, tornando-se um marcador de
diferenças de superioridade e inferioridade. Apontada como marca racial que exprimiu
simbolicamente e fisicamente a distância entre as duas camadas sociais, a cor da pele
além de indicar uma desigualdade social, passou a apontar a supremacia dos brancos e a
inferioridade moral, mental e social dos negros. Assim, subsistiram representações e
estereótipos associados à cor e às diferenças raciais que sustentam preconceitos e
discriminações. Entretanto a cor da pele não determina a ancestralidade, principalmente
em países altamente miscigenados como o Brasil. (GUIMARÃES, (2008).
Nos estudos sobre relações raciais no Brasil, a distinção entre “cor” e “raça”, ou
seja, aparência e ancestralidade muitas vezes se confundem. Segundo Guimarães
(2009), no Brasil os negros não são definidos pela regra “uma gota de sangue negro faz
de alguém negro”, o que segundo o autor, se constitui num dos motivos da falta de
clareza de alguns estudos sobre estas categorias. Tal dificuldade em uma definição clara
sobrea relação dessas categorias entre si, se deve ao fato de no Brasil, diferente do que
acontece nos Estados Unidos, os critérios de classificação étnico-raciais serem
relacionados à aparência externa, física, e não à ascendência das pessoas. Portanto,
nesse, contexto, o elemento “cor” passou a ser característica classificatória na definição
de raça.
15
Para Telles (2003), a raça no Brasil se baseia principalmente na cor da pele de
uma pessoa, sua aparência física, e não na descendência africana. Segundo o autor, é a
marca exterior da pele que prevalece e não o sangue, afirmando ainda, que se o critério
utilizado aqui no Brasil fosse o da ascendência, todos seriam considerados negros,
frustrando a possibilidade de alguns cidadãos quererem se considerar brancos, pois essa
possibilidade seria reduzida à zero em face da ancestralidade brasileira, igualmente
como nos Estados Unidos.
1.2 RACISMO, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
Para Guimarães (2004), o racismo é uma doutrina que prega a crença na
existência de raças com diferentes qualidades e habilidades, e sua hierarquização. E que
elas são naturalmente inferiores ou superiores a outras, em uma relação fundada na ideia
de dominação. “Além dessa doutrina, - o racismo também é referido como sendo um
corpo de atitudes, [...] instruídos pela ideia de superioridade racial, [..], seja no plano
moral, estético, físico ou intelectual (GUIMARÃES, 2004, pág. 17). Essa teoria utiliza
de características fenotípicas-cor da pele, descendência-, morais, intelectuais e até
psicológicas, atribuindo a estas, valores positivos e negativos, justificando com essas
diferenças a inferiorização de uma raça em relação à outra. Segundo o autor, o racismo
pode ser definido tanto como uma doutrina ou ainda como um sistema de atitudes.
“Chama-se ainda de racismo o sistema de desigualdade de
oportunidades, inscritas na estrutura de uma sociedade, que
podem ser verificadas estatisticamente através da estrutura de
desigualdades raciais.” (GUIMARÃES, 2004:18).
O racismo se manifesta de diferentes formas e expressões, dentre elas estão o
preconceito racial e a discriminação. E se constitui numa ferramenta que cria, mantém e
perpetua o poder de um grupo em detrimento do outro, portanto, o conhecimento sobre
as diferenças conceituais entre racismo, preconceito e discriminação se torna
imprescindível para a identificação dos mecanismos discriminatórios. Guimarães (2004:
18) afirma, que estudiosos sobre essa temática classificam preconceito, como um
conjunto de atitudes ligados a uma crença preconcebida, ou seja, um julgamento
antecipado contra pessoa, grupos ou povos, baseados na ideia de raça. O preconceito
pode ser definido como “um juízo preconcebido de uma generalização estereotipada”.
16
Já o conceito de discriminação, é caracterizado por comportamentos e ações
concretas, como o tratamento diferencial de pessoas, também baseado na ideia de raças,
ou seja, uma materialização do preconceito (MIRANDA, 2016). O autor afirma ainda,
que tais comportamentos podem gerar segregação e desigualdades raciais. Define
discriminação como “um ato intencional de efeitos públicos, que resulta em exclusão
social e marginalização. ” (MIRANDA,2016).
A lei 12.288 de julho de 2010 é considerada um marco para os militantes da
causa da “questão racial” e das relações raciais no Brasil, porque instituiu o Estatuto da
Igualdade Racial, que ao contrário das leis anteriores referentes à questão racial, buscou
promover a igualdade e a inserção da população negra em áreas como escolaridade,
mercado de trabalho, saúde, condições de moradia entre outros.
“Toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor,
descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou
restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições,
de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político,
econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou
privada.” (BRASIL,2010)
A discriminação racial se expressa de forma direta e indireta. A discriminação
racial direta é um termo empregado no Brasil, desde a década de 1990, pelo movimento
social negro, organizações internacionais e governo, visando à promoção de políticas
públicas para a promoção racial. E é definida como um a ação, ou comportamento que
prejudica aberta e explicitamente pessoa ou um grupo de pessoas em decorrência de sua
raça/cor (RODRIGUES, 2005), ou ainda outra característica que destaque tal como é o
caso do gênero.
Já a discriminação indireta se refere ao comportamento discriminatório não
explícito, manifestado por meio de condutas veladas, que resultam em exclusão racial
(JACCOUD; BEGHIN, 2002). A discriminação indireta tem sido frequentemente
associada ao “racismo institucional”, uma expressão introduzida por ativistas norte-
americanos na década 1960, e que atua de forma difusa no funcionamento das
instituições, provocando uma desigualdade na distribuição de serviços, benefícios e
oportunidades em função da raça.
1.3 RACISMO NO BRASIL E SUAS ESPECIFICIDADES
17
O Brasil é signatário de todos os pactos internacionais de defesa dos direitos
humanos e combate ao racismo. A legislação nacional já definia através da Lei Afonso
Arinos lei federa1 nº1.390/51- os primeiros conceitos sobre o racismo, apesar de não o
classificar como crime, e sim como contravenção penal. Em 1988 houve uma relevante
articulação na luta contra as desigualdades raciais, quando, a Constituição Federal de
1988, em seu artigo 5º, inciso XLII, passou a considerar crime inafiançável e
imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei. Nesse contexto deve-se
destaque à lei federal nº 7.716, de 05 de janeiro de 1989, de autoria do deputado Carlos
Alberto Oliveira. Conhecida como “Lei Caó”, tipificou o racismo como crime
inafiançável, e representou um grande avanço na luta contra a discriminação racial.
Sendo aprovada com vistas a regulamentar a disposição constitucional, definiu: “serão
punidos, na forma desta Lei, os crimes de discriminação ou preconceito de raça, cor,
etnia religião ou procedência nacional” (Brasil, 1989).
Segundo Freyre (2000), a perversidade do racismo brasileiro foi suavizada
durante anos através da ideologia da democracia racial. E por detrás dessa fantasiosa
“democracia racial”, ocorreram diversas manifestações brutais de preconceito racial no
Brasil. A questão da raça no Brasil, é enfocada por vários ângulos diferentes. Para
Telles (2003), o preconceito aqui no Brasil é baseado no fenótipo das pessoas, na
aparência externa, física de cada cidadão, chamado pelo autor de preconceito de cor,
quando mesmo sendo de descendência africana, mas possuindo a pele clara, esta pessoa,
para a sociedade brasileira, será considerada branca. Diferente do que ocorre nos
Estados Unidos, onde o que prevalece é a ascendência, pois a maioria das pessoas com
ascendência africana é classificada como negra.
No Brasil, muitas pessoas que são classificadas ou se identificam como
brancas possuem ascendência africana. Isso sem mencionar aqueles
classificados como pardos, morenos, mestiços, mulatos, pretos ou negros.
Portanto, a raça no Brasil se baseia principalmente na cor da pele de uma
pessoa e sua aparência física e não na descendência africana. (TELLES,
2003:15-16).
Os estudos sociológicos e a historiografia sobre o Brasil revelam que a sociedade
brasileira foi constituída, essencialmente, com base no sistema escravocrata. No entanto,
a escravidão não pode ser a única responsável pela discriminação racial, pela
desigualdade racial e pelo racismo na sociedade brasileira. Segundo Sansone (2002) no
Brasil a cor escura da pele tem uma estreita associação com a classe social. E
18
historicamente, os afro-brasileiros têm tido uma grande representação entre as classes
mais pobres, contexto onde a discriminação racial tem atuado de maneira marcante nos
padrões de exclusão social.
Nogueira (1954), trata dos diferentes aspectos de como se verbaliza o
preconceito racial aqui no Brasil e nos Estados Unidos, em uma situação de
discriminação racial. Para Nogueira, o preconceito que prevalece no Brasil, é aquele
baseado no preconceito de cor, denominado pelo autor de preconceito de marca.
Paralelamente, nos Estados Unidos, o preconceito racial que prevalece é aquele baseado
na origem. Ou seja, quando preconceito está relacionado à aparência física dos
indivíduos, denomina-se preconceito de marca, e quando o preconceito ocorre por
deduzir-se que o indivíduo tem uma ascendência a um determinado grupo étnico, este é
denominado preconceito de origem. Segundo Oracy, no Brasil o preconceito de marca é
explícito, e está intimamente ligado à probabilidade de ascensão social, independente
das características físicas do indivíduo negro, o que disfarça o preconceito de raça pelo
preconceito de classe social. O autor afirma ainda, que a forma velada de preconceito
racial no Brasil deve-se à natureza do preconceito existente na sociedade brasileira: o
preconceito de marca, que se constitui no elemento fundamental para se pensar as
relações raciais no Brasil hoje.
Nos capítulos I e II analisaremos a construção da identidade da mulher negra
policial militar em seu cotidiano profissional na PMERJ, e os desafios enfrentados nessa
construção, com base em algumas categorias identificadas nas entrevistas realizadas,
que perpassam pelas questões de gênero e raça.
19
CAPÍTULO II – A MULHER NEGRA NA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO
A exclusão das policiais “não negras” desta pesquisa ocorreu pelo fato do
enfoque principal ser a mulheres negras na PMERJ. Não que estas não mereçam a
devida atenção às suas demandas, é claro que há conflitos de gênero experimentados por
elas. Só que isso foge ao escopo desta monografia. O critério de escolha das
entrevistadas se deu de acordo com a sua autoclassificação como mulheres negras. De
início, foi explicado o que seria a pesquisa, o tema, os motivos e objetivos deste estudo.
Todas as entrevistadas demonstraram um grande interesse pelo tema, partilhando da
satisfação de participar da pesquisa, foram bastante solícitas em suas respostas, e ainda
manifestaram o desejo de conhecer os resultados deste trabalho.
A inserção das mulheres nas polícias militares decorreu de fatores diversos. No
Brasil, a inserção de mulheres nas instituições policiais militares data de um período da
ditadura militar, quando a maioria dos Estados já se encontrava num contexto de
democratização política, e teve como objetivos principais modernizar estas instituições
e “humanizar” sua imagem social que se encontrava desgastada pelo advento da
ditadura.
“A expectativa da inserção da mulher na polícia é da ‘humanização’, da ‘quebra
das tensões’, e da ‘melhor imagem da instituição na sociedade”. (Musumeci et al 2005:
55).
Assim, o ingresso da mulher na PM tinha a intenção de amenizar os olhares da
sociedade em relação à corporação, positivando assim a imagem da instituição,
“cobrindo certos campos de atuação em que o policiamento masculino,
fundamentalmente repressivo, estaria encontrando acentuadas dificuldades” (Musumeci
et al, 2005: 29), pois elas, no exercício da atividade policial militar, agiriam com rigidez
e com atitude, porém com menor violência.
Estes foram alguns dos fatores que demonstraram a importância, bem como a
necessidade do ingresso das mulheres nas Instituições Policiais Militares brasileiras.
A corporação Policial Militar, Força Auxiliar e Reserva do Exército brasileiro
desempenha sua atividade constitucional – Segurança Pública - (policiamento
20
ostensivo) organizada com base na hierarquia e disciplina, seguindo a orientação do
Exército Brasileiro, que somente em 1977 regulamentou, através de portaria do Estado
Maior do Exército (Musumeci et al, 2005), a admissão de mulheres nos quadros de
carreira das Polícias Militares brasileiras. Em 1984, com a nova redação dada ao
Decreto-lei Federal 667, de 2 de julho de 1969 (Musumeci et al 2005), consolidou-se a
base legal para a incorporação de policiais femininas nos quadros regulares das PMs.
O Rio de Janeiro foi um dos estados em que a incorporação das mulheres à
Polícia Militar também se deu no começo da década de 1980. Em março de 1982 foi
iniciada a primeira turma de mulheres soldados da PMERJ, composta por 153,
preparadas durante um período de seis meses no Centro de Formação e
Aperfeiçoamento de Praças (CFAP) por policiais militares masculinos, já que não
haviam oficiais femininas, para integrarem a Companhia de Polícia Militar Feminina,
criada pela lei nº 746, de 11 de novembro de 1981, durante o governo Chagas Freitas. E
no ano seguinte, abriu -se uma turma para 14 cadetes, que passaram três anos na Escola
de Formação de Oficiais (EsFO), formando assim a primeira turma de oficiais femininas
da PMERJ. A Companhia de Policia Militar Feminina, já nascia diferenciada das outras
unidades da PMERJ, entre estas diferenças estavam a configuração de seu quadro
hierárquico, que limitava a ascensão das mulheres até o posto de Capitão. Quanto às
funções estavam restritas ao policiamento de trânsito, no trato com mulheres e crianças,
em terminais marítimos, ferroviário, aeroviários e rodoviários (SOARES; MUSUMECI,
2005). O efetivo feminino era alocado na Companhia Feminina, cuja sede era no 2º
BPM, mas o emprego em atividades operacionais das policiais era decidido pelos
batalhões onde estas atuavam.
Ocorreram ainda fatos marcante no cotidiano das mulheres policiais militares.
MUSUMECI (2005) afirma que de início a dessexualização da mulher policial militar
foi tão longa que nas Escolas de Formação de Praças e Oficiais do Rio de Janeiro, as
mulheres cortavam o cabelo no estilo ‘Joãozinho’ e era proibida do uso de maquiagem,
de joias, relógio discreto e anel de grau, num intuito de minimizar os signos usuais da
feminilidade. Apesar da criação da Companhia Feminina, a corporação enfrentou uma
série de dificuldades e não foi capaz de oferecer soluções, e nem de formular uma
política efetiva de emprego das mulheres policiais militares. O que resultou na
unificação dos quadros masculino e feminino, ocorrida em 1993 (SOARES;
21
MUSUMECI, 2005) com a inclusão de oficiais femininas no Quadro de Oficiais de
Saúde. Este cenário não é diferente na Policia Militar do Estado Rio de Janeiro. Por se
tratar de uma instituição altamente hierarquizada no qual o trabalho policial foi
tradicionalmente visto como tarefa masculina, a aceitação do ingresso e permanência
das mulheres foi um processo lento, marcado por situações discriminatórias. Assim, a
conquista por espaço e igualdade tem sido a luta dessas mulheres policiais militares ao
longo de mais de 30 anos de existência.
2.1 A QUESTÃO DE GÊNERO NA PMERJ
Como já vimos no inicio deste trabalho, os estudos sobre a questão de gênero
surgiram nos anos 1970/1980, inicialmente, para problematizar a determinação
biológica da “condição feminina”, ampliando posteriormente os objetivos, incluindo o
de refletir-se sobre a constituição individual da identidade de gênero e a forma como
adquirimos nossa identidade de gênero, feminina ou masculina. (GROSSI, 1998).
A inserção das mulheres nas policias militares se deu em um contexto complexo
e decorreu de fatores diversos. Inserção, que segundo Musumeci et al (2005), sempre
esteve vinculada às hierarquias de gênero, oscilando entre a reprodução e a superação
dessas hierarquias na sociedade.
“...a presença das mulheres nas instituições militares apenas reproduz os
padrões de dominação vigentes na sociedade. Em geral ocupam cargos de
menor importância, não tem acesso aos postos de comando, desempenham
funções tipicamente associadas ao mundo doméstico e são desvalorizadas
pelos seus pares” (SOARES; MUSUMECI,2005:138).
Neste trabalho, apesar de ter tido como base sobre a discussão da questão de
gênero na PMERJ a pesquisa de Musumeci et al (2005), optei por não usar o termo PM
Fem para classificar minhas interlocutoras, mesmo sendo este, o jargão utilizado pelas
autoras. Pois compreende-se que a categoria PM Fem em si é reveladora de
discriminação de gênero. Portanto, nesta pesquisa, ao me referir às minhas
interlocutoras utilizarei o termo mulheres policiais militares.
A categoria PM Fem foi utilizada para classificar as mulheres policias militares
desde o ingresso das mulheres na PMERJ. De acordo com Musumeci et al (2005), em
1991 ocorreu o primeiro passo para unificação dos quadros, com a inclusão das oficiais
22
femininas no Quadro de Oficiais da Saúde.2 Este episódio mobilizou algumas policiais
femininas, que solicitaram uma comissão pra avaliar formalmente a proposta. Mas, a
unificação só foi efetivada em 1993, por intermédio da Lei nº 2.108, de 19 de abril, que
garantia às mulheres os mesmos direitos dos homens. Entretanto, esta categoria apesar
de extinta oficialmente, continua sendo utilizada e internalizada entre os pares em seu
cotidiano profissional no interior da corporação.
No decorrer da presente pesquisa através das falas das entrevistadas, observou-se
que algumas categorias relacionadas à questão de gênero se mostraram predominantes
no cotidiano profissional das mulheres policiais militares na PMERJ.
Uma delas tem relação á categoria respeito, em especial no que se refere à
construção do respeito á autoridade, que é percebida como algo que tem que ser
conquistado, e não construído pela relação inerente ao cargo.
“A cada dia você tem que galgar um respeito, um olhar diferenciado. Porque
dizem que não, mas preconceito ainda existe. Então através do seu trabalho,
da sua força, ter dignidade, ter respeito aos olhos dos outros... Se não
tivermos o conhecimento, estaremos sempre em segundo plano.” (Sargento,
16 anos de PMERJ)
“É uma luta contra os seus iguais, contra os seus pares, que não te
reconhecem. É uma luta. Às vezes pra mulher que está no trânsito ser
respeitada porque ela está conduzindo um trânsito. Então o tempo todo você
tem que provar que você está ali porque você merece estar. Não porque você
é bonita, ou porque você é assim ou assado. Então é isso, todo dia você tem
que tá batalhando pra provar seu lugar”. (CAP PM, 7 anos de PMERJ)
“O tratamento que é dado, no meu caso, como sou oficial, eu percebo isso. O
oficial, o comandante, ele fala de uma forma com o major masculino e
comigo ele já quer gritar, já quer botar a mão nas cadeiras...” (MAJ PM 17
anos de PMER)
“Existe essa cobrança e existe até uma comparação. Por que muitos que tem
essa cabeça machista, não aceitam o fato da mulher na polícia militar,
entendeu. Quantas vezes eu trabalhando, não sei se intencional ou por achar
que a gente não tem capacidade dizem: “Não, não, deixa que eu resolvo”...
Alguma coisa que até a gente mesmo poderia resolver. ” (Sub Ten ,17 anos
de PMERJ)
Tais relatos estão em consonância com a afirmação de Musumeci et al (2005):
“..., as policiais do Rio de Janeiro ocupam hoje um lugar ambíguo e parecem
experimentar também sentimentos contraditórios no que tange a condição da
policial militar. Não havendo política institucional de gênero, nem um ideal
defendido especificamente pelas mulheres, através de um mecanismo de
2 Lei 1891 de 21 de novembro de 1991.
23
afirmação de identidade, a imagem da PM feminina torna-se imprecisa,
individualizada e sujeita também a avaliações individuais, baseadas na
experiência empírica, quase sempre mediada por pré-noções, idealizações ou
mecanismos de resistência. (MUSUMECI et al, 2005:99)
Outro tema destacado pelas entrevistadas diz respeito ao perfil para atuação,
principalmente no que se refere às situações nas quais as mulheres policiais militares
relataram que já foram preteridas de cargos por não terem “perfil”. Cobra-se um “perfil”
aparentemente objetivo, que mascara as desigualdades de gênero.
“Eu até percebo certa postura das mulheres aqui tentando imitar o estereótipo
masculino, né. Buscando se enquadrar no perfil cobrado. Eu acho que é um
meio dela tentar falar, ou tentar se enquadrar, se encaixar nesse universo que
é predominantemente masculino. (TEN PM, 7 anos de PMERJ)
“Você pode observar que as mulheres que são colocadas em funções
importantes são as melhores das melhores, ou as que possuem o melhor
conhecimento e o melhor QI, no sentido de quem indique. E os homens não,
tanto faz ele ser um mediano, um meia boca, se ele for o da vez, ele vai, é
uma coisa natural. ” (MAJ PM, 17 anos de PMERJ)
“Do homem vão cobrar dele uma força uma virilidade, ele vai ter que provar
isso. Da mulher já é ao contrário, já espera que a gente seja frágil e
dependente deles. Então na relação na polícia isso vai aparecer. Por isso, que
qualquer coisa que a mulher faça, vão sempre ter uma expectativa de que tem
um homem que permitiu ou deu autorização.” (CAP PM, 7 anos de PMERJ)
“Parece que nunca vais ser o suficiente para o sistema. A gente sempre vai ter
que tá provando, se reinventando. E acho que eu até aprendi a ser muito boa
nisso de me reinventar. Agora eu saí de uma unidade, que eu me dediquei
dois anos nessa unidade e o parecer também, nunca vou esquecer, que era: “
O PERFIL DELA NÃO SE ADEQUA AO PERFIL DA UNIDADE”...
Então, o perfil de novo? Que perfil? Que perfil é esse que eles querem? Que
perfil de mulher que eles querem? ” (CAP PM, 7anos de PMERJ)
Apesar de não tratar especificamente da mulher policial militar, no texto ‘A
mulher militar brasileira no século XXI: antigos paradigmas, novos desafios’, as autoras
Lana Lage e Eliane Tardin afirmam que
“o discurso dessas mulheres mostra como as representações tradicionais de
gênero persistem, reproduzindo uma visão de mundo em que a mulher ainda
pertence ao lar e reiterando seus compromissos com o cuidado com filhos e o
marido. Mesmo mulheres que optaram por entrar em uma carreira
considerada tipicamente masculina, não conseguem se desvencilhar desses
estereótipos. A presença feminina no espaço público se defronta, assim, com
os limites constituídos pelas obrigações assumidas no espaço privado,
consideradas naturalmente femininas.” (LIMA; TARDIM, 2015:79)
2.2 A MULHER E SUA IDENTIDADE NEGRA NA PMERJ
SANSONE (2002) retrata a problemática da cor, especificamente na Polícia
Militar do Rio de Janeiro, e muito embora não trate da negritude feminina na
24
corporação Policial Militar, traz grandes contribuições quando aponta a interligação da
cor e classe social, bem como sobre a complexidade da criação da identidade no âmbito
policial militar. Segundo o autor, no Brasil a cor escura da pele tem estreita associação
com à classe baixa. Assim o funcionalismo público, a Polícia e o Exército foram uma
via importantíssima de mobilidade social para os negros brasileiros. (SANSONE, 2002).
Todas as entrevistadas apontam que vivenciaram e perceberam dificuldades
associadas à identidade de mulher negra:
“A mulher negra ela está na base da pirâmide. Por ela ser mulher e ser negra
e ela vai sofrer os impactos disso, dessa dupla opressão. Então assim, ela vai
ter um desafio a mais, que muitas vezes a mulher que é considerada bonita
pelo perfil dela branca, olho azul, ela vai obter algumas coisas que eu não
acho que seja bom também. Mas ela às vezes vai ser melhor tratada no dia a
dia do que uma mulher negra, que muitas vezes vão gritar com ela, vão
assedia-la de uma forma que não fariam com outra pessoa e isso
independente da patente, da graduação. ”
(CAP PM 07 anos de PMERJ)
“Lá naquela recepção, a gente nunca nem eu e outras amigas que eu posso
citar nomes aqui, nunca ficamos. Já tinham aquelas meninas certas, que eram
as bonitinhas e essas bonitinhas não tinha nenhuma pretinha, nenhuma negra,
entendeu? Só eram elas. A gente era deslocada pra limpar o mato, ou
trabalhar lá varrendo, ou trabalhar no rancho, eu nunca tive oportunidade
dentro da polícia militar de trabalhar no setor, a não ser agora na DAS né”.
(SUB TEN PM, 17 anos de PMERJ)
“Ser mulher negra é difícil, muito difícil. Eu como negra eu sinto na pele,
senti e sinto na pele. O que é que é ser negra na corporação. É uma
discriminação muito grande. Ainda mais quando começa como praça. Acho
que o preconceito é muito grande por ser negra, sendo oficial há uma
dificuldade, mas é uma dificuldade que tem que tolerar. No caso dos praças
é.. ” (SUB TEN PM 31 anos de PMERJ)
“Nesse tempo todo que passei são poucas as mulheres negras que eu vi em
cargo de comando.” (SUB TEN PM 16 anos de PMERJ)
“Eu trabalhei em uma determinada unidade como subcomandante... E ele
disse que eu não tinha o perfil que ele gostava, que ele queria para o
PROERD. Ele me tirou e colocou uma pessoa clara. E isso gerou uma
controvérsia na época, foi parar nas redes sociais... E na minha opinião a
instituição não estava preparada pra tratar esse tipo de coisa...” (MAJ PM , 17
DE PMERJ)
Em seu livro “tornar-se negro”, a autora Neuza Santos Souza, retrata a
problemática do auto reconhecimento da identidade negra:
“Saber-se negra é viver a experiência de ter sido massacrada em sua
identidade, confundida em suas perspectivas, submetida a exigências,
compelida a expectativas alienadas. Mas é também, e sobretudo a experiência
de comprometer-se a resgatar sua história e recriar-se em suas
potencialidades” (Santos Souza, 1990:17-18)
25
Observou-se a relevância de ressaltar ainda, o relato das entrevistadas, quanto à
motivação de seu ingresso e permanência na PMERJ. O principal aspecto destacado foi:
a estabilidade financeira.
“Logo que terminei o 2ºgrau, era muito jovem e não houve muitas
oportunidades. Aí acabei trabalhando durante 4 anos em uma casa como
empregada doméstica antes de ingressar pra corporação. Na época eu tinha
em mente ser militar por já ter 20 anos e sem a definição de uma carreira.
Precisava conciliar um local onde eu pudesse me manter e estudar. Por uma
questão financeira, entrei pra academia” (MAJ PM, 17 anos de PMERJ)
“Primeiramente a questão financeira, emprego público, salário e carga
horária a gente não encontra em outro lugar. E depois, mesmo nessa
instituição, tem esse preconceito, mas fora daqui também tem. Infelizmente é
estrutural. Só que pra, eu criar filhos fortes eu tenho que me fortalecer. Então,
tem que lutar (risos). Vai ter que mudar, mesmo que seja goela abaixo vai
mudar (risos)”. (TEN PM, 07 anos de PMERJ)
”Tem duas razões, a primeira é bem objetiva- o dinheiro. Não abriram muitos
concursos depois desse concurso que eu fiz, o salário é bom, a carga horária é
boa. Eu queria fazer teatro, minha mãe falou: “não, isso é coisa de quem já
tem um berço, já tem dinheiro. É, eu acho que o motivo principal foi
sobrevivência. ” (CAP PM 07 ANOS DE PMERJ)
Estes relatos se afinam com pesquisas sobre a motivação de ingresso na Polícia
Militar, como no caso de Muniz (1999), que observou em relação aos homens
“Do universo de praças entrevistados, a ‘estabilidade proporcionada por um
emprego público’, a ‘ falta de opção na vida’ e o ‘medo de ficar
desempregado’ aparecem como as principais alegações para o ingresso na
carreira policial militar, em detrimento da ‘vocação’ e ‘da tradição familiar’,
que também foram mencionadas apesar de subordinadas ao imperativo da ‘
necessidade de sobrevivência’ (Muniz, 1999:188)
Como já visto anteriormente as dificuldades enfrentadas pelas mulheres policiais
não são somente externas, ao contrário, estão no interior da própria corporação. As
mulheres enfrentam resistência do policial nas relações em seu cotidiano profissional. E
além do preconceito de cor e de gênero, enfrentam o total despreparo da instituição para
receber a mulher policial, que vão desde a falta de provisão de alojamento para
mulheres até a falta de fardamento e equipamento de proteção individual adequado á
rotina da mulher policial. Despreparo que se perpetua por exatos 36 anos.
“Há uma atmosfera que não contribui em nada com a permanência da mulher
na PMERJ, tudo aqui é para os homens, preparado para receber homens e não
mulheres. E eles até hoje, já tem mais de trinta e cinco anos da mulher na
26
instituição, eles não estão preparados pra gente.” (MAJ PM, 17 anos de
PMERJ)
“Um exemplo clássico aqui na minha unidade mesmo. Existe o alojamento
dos praças e o dos oficiais e existe o alojamento das policiais femininas. E no
entanto eu como oficial superior não tenho um alojamento, não há previsão
de alojamento para o oficial feminino. Eu já trabalhei em várias unidades
em que não havia a previsão do alojamento feminino, e eu trocava de roupa
na seção, no banheiro do pátio. E todas as vezes que questionava essa
situação, nunca fui vista com seriedade, sempre com desprezo, com
demérito, com achincalhe.” (MAJ PM, 17 anos de PMERJ)
CAPÍTULO III – SER MULHER, SER NEGRA E SER POLICIAL MILITAR
A sociedade brasileira vivencia um contexto no qual as desigualdades e as
discriminações raciais e de gênero se configuram em instrumentos de exclusão social,
no que diz respeito à condição destes como sujeitos de direitos em relação à igualdade
de oportunidades. No caso das mulheres apesar dos avanços sociais, elas continuam
sendo vítimas do preconceito e da discriminação, que se encontram arraigados na
sociedade. E esse contexto incide sobre a mulher negra uma espécie de dupla forma de
discriminação, a racial e a de gênero. Em se tratando da mulher negra, uma forma de
discriminação potencializa a outra (MUNANGA, 2009).
Ao pesquisarmos sobre a situação das mulheres negras policiais militares na
PMERJ entendemos que os desafios vivenciados por estas mulheres se tornam ainda
mais complexos devido às questões pertinentes ao modelo de gestão militar da
instituição.
3.1 COMO A MULHER NEGRA SE SENTE INSERIDA NA PMERJ?
“No Rio de Janeiro e em outras unidades da Federação, surgiram variadas
formas de resistência à incorporação das mulheres, tanto por parte de oficiais
como de praças. Resistências que se manifestam, seja na reprodução de
imagens estereotipadas da mulher, como ser emocionalmente instável, sujeito
às “borbulhações” hormonais, uma espécie de “bonequinha” frágil, capaz de
realizar tarefas subalternas, associadas á esfera doméstica ou ao universo
burocrático, seja na discriminação direta de comandantes ou subordinados
que se recusam a trabalhar com mulheres ou, finalmente, no assédio moral ou
sexual, predominante no relato das entrevistadas do Distrito Federal, embora
também mencionado, de maneira mais discreta, pelas policiais das outras
duas UFs pesquisadas diretamente” ( MUSUMECI et al, 2005:180)
.
27
No universo da pesquisa, observamos que as praças, apesar de relatarem
episódios de sofrimento e desigualdade, não citam exemplos e nem se expõem tanto
como as oficias, o que revela mais um elemento de opressão_ a hierarquia.
Identificamos algumas situações relacionadas às questões raciais e de gênero, que
demonstraram como a policial militar negra se sente inserida na instituição, que são o
assédio (moral ou sexual) e discriminação racial -
“Primeiramente, o tratamento que é dado às colegas, no grupinho dos
rapazes. A rede social da colega é observada, as fotos íntimas são colocadas
no grupinho e observadas pelos colegas, de maneira depreciativa. Assim
como eles veem uma revista pornô, eles dividem a Playboy, eles pegam no
Facebook da colega de ginástica e distribuem, isso ai é feito normalmente. ”
(MAJ PM, 17 anos de PMERJ)
“Para mim, ser mulher na polícia é todo dia você ter que provar o seu valor,
todo dia você tem que provar que você está ali porque você fez um concurso.
Não é porque você tem um rostinho, não é porque você é um corpo, você não
tá ali pra servir os homens e a instituição é masculina. Os homens veem a
mulher como você está aqui para mim servir, desde café até sexo. tratam
como.” (CAP PM, 07 anos de PMERJ)
“Ela vai ter um desafio a mais que, muitas vezes, a mulher que é considerada
bonita, pelo perfil dela (branca, olho azul) ela vai obter algumas coisas que
eu não acho que seja bom também. Mas ela às vezes vai ser melhor tratada no
dia a dia do que uma mulher negra que muitas vezes vão gritar com ela, vão
assedia-la de uma forma que não fariam com outra pessoa. E isso
independente da patente, da graduação. Eu mesma já passei por coisas que eu
nunca vi, um soldado homem passando, sendo capitão. E eu acho que tem a
ver com o fato de ser mulher negra. Acho não, eu tenho certeza, que tem a
ver.” (CAP PM, 07 anos de PMERJ)
“No momento em que eu trabalhava com uma outra oficial do mesmo nível
que eu (Capitão) também que era branca. A gente tinha uma linha parecida de
diálogo: com a chefia, com diretores, om tudo. Ela era a boa e eu a má. O
nosso chefe falava isso todo tempo na frente de outras pessoas, até de
graduações abaixo. Existe no regulamento que você só pode fazer uma
crítica ao seu subordinado se não tiver pessoas subordinadas a ele presente,
você tem que falar em particular, né. E ele falava no corredor, ele falava em
outras sessões que, uma era muito boa, que ela tinha perfil pro cargo que ela
estava. Eu era a indisciplinada que eu não tinha perfil, que ele não sabia o
que eu estava fazendo ali. E aquilo ficou na minha cabeça. Pensei: parece
que o que eu faço é menos tolerado, do que, o que ela faz. Porque menos,
tolerado? Nós não éramos iguais. Ela tinha o perfil mais pacato que o meu...
Eu fui muito perseguida por essa pessoa em específico, fui punida por ele, eu
era maltratada por ele, quando ele entrava na sala eu passava mal, por que ele
gritava comigo na frente dos outros, ele me desmerecia na frente dos outros e
com ela tinha uma espécie de assédio [ sexual] mesmo. – “Ele abraçava ela,”
–“ele passava a mão no cabelo dela”. Teve um dia que eu cheguei na sala e
ela estava toda encolhida e ele passando a mão no cabelo dela. Quer dizer: -
ela também estava sofrendo, mas são coisas diferentes. Não é querendo dizer
o que é pior ou melhor, mas no caso de ser mulher negra eu estava sendo
escorraçada, eu não estava sendo vista como algo bom, como algo positivo.
Eu era a indisciplinada, ele por várias vezes disse que eu tinha que desistir,
que aquilo não era o meu lugar, isso me marcou muito. Ali que eu vi que: eu
posso ser a melhor do mundo, mas eu sou uma mulher negra, isso algumas
28
pessoas vão fazer questão de jogar isso na minha cara sempre. E esse mesmo
oficial, ele perseguiu outras mulheres negras também do meu quadro, uma
inclusive grávida, a menina entrou na sala aos prantos, chorando, falou que
ela ia perder o emprego, porque ela tinha ido ao médico e não tinha avisado.
Uma série de violações que as meninas brancas não estavam passando e não
tem como não perceber que isso era uma questão racial. Era de GÊNERO,
porque todas sofríamos, e era racial porque umas eram a que ele gostaria, que
ele via como alguém positivo para a instituição, que ele queria se apropriar
daquilo, e a gente era escorraçada, não era nem pra estar ali. Numa das vezes
que ele me puniu, ele falou: “ Agora com essa punição ela não vai ser
promovida”. Então ele fez com a intenção de me prejudicar na minha
promoção e eu tenho certeza que é por eu ser uma mulher negra...” (CAP
PM, 7 anos de PMERJ)
O documento ‘Mulheres nas Instituições de Segurança Publica’ faz menção de
alguns relatos de episódios de assédio sexual, ocorridos principalmente nas instituições
militares onde a hierarquia contribui para a prática do crime e seu ocultamento,
afirmando que :
“Para a maior parte das entrevistadas, as instituições de segurança pública
não oferecem qualquer tipo de apoio para vítimas de assédio sexual e/ou
moral, não oferecem canais de denúncia que sejam confiáveis e que não
resultem em novas punições e constrangimentos para as vítimas. De acordo
com algumas entrevistadas, o apoio da instituição depende da postura
profissional de um ou outro chefe, que mesmo sendo homem, pode se
sensibilizar com a situação e tentar ajudar. No entanto, mencionaram que a
saída será sempre pela remoção da pessoa que é assediada para outro
departamento/batalhão/setor, nunca pela denúncia daquele que assedia. ”
(SENASP, 2013:36)
Em comum, tanto a mulher branca como a mulher negra enfrentam dilemas
relacionados à questão de gênero em seu cotidiano profissional na polícia militar. Mas
os obstáculos que envolvem a mulher negra são bem mais complexos, pois além da
questão de gênero, há fatores específicos ligados à questão racial tais como, o
preconceito, a discriminação, o racismo, a estigmatização, a vulnerabilidade, entre
outros:
Apesar dos avanços do grande investimento em ações de qualificação
profissional, organização de trabalhadoras e estímulo ao empreendedorismo,
grande parte das desigualdades verificadas no campo do trabalho está
relacionada à permanência de convenções de gênero e raça que limitam as
possibilidades de atuação de mulheres e negros (IPEA, 2012:391)
E alguns destes fatores foram identificados nos relatos das entrevistadas
descritos a seguir:
“Eu me vejo como uma profissional que teve que mostrar muita coisa pra
chegar onde chegou. A vida da gente é sempre lutando pra provar mais do
que os outros, a gente que é negro não pode descansar. E não é paranoia não,
a gente vive isso todo dia, tem que estar atento, porque se não vem com
discriminação sim, vem com preconceito sim, vem com piadinha sim..”
(SUB TEN, 17 anos de PMERJ)
29
“Quando eu estava me formando, achava que eu iria superar o racismo,
mostrando que era uma boa profissional. Então, quando as pessoas vissem
que eu era muito boa, o racismo acabaria. Mas na polícia eu descobri que
não. Sempre me esforcei no meu trabalho para fazer o melhor, mas isso é
uma coisa comum entre nós negros, a gente cresce aprendendo que tem que
ser sempre o melhor, porque vão sempre duvidar da gente. E os últimos seis
anos que estou na polícia isso teve pouco impacto no sentido de reduzir as
possibilidades de violência que sofri. Então me dei conta de que eu era
mulher negra, e que eu fizesse iria mudar isso, porque as pessoas iriam me
ver sempre como mulher negra”. (CAP PM, 07 anos de PMERJ)
“Eu acho que a polícia na minha vida é uma “Dádiva e uma Dívida”. É uma
dádiva porque as pessoas que vem de família mais humilde. Eu vi no meu
bairro outras pessoas como eu, jovens não tendo oportunidade. Então, eu
passei num concurso com vinte e um anos, coisa que muita gente não
consegue. Não consegue, não porque não tem capacidade, mas porque não
tem aquele investimento, não tem como, a pessoa precisa trabalhar, a pessoa
precisa se sustentar. E dívida porque é uma instituição muito difícil de se
estar, você se sente realmente devendo algo para todo mundo. Dentro da
instituição você se sente devendo, porque você tem que mostrar que você é
bom o bastante e meu perfil não é o perfil da instituição. Eu não vou
conseguir ser como eles querem que eu seja. Então isso vai sempre me
deixar em desvantagem. E fora que eu também preciso justificar para as
pessoas porque eu estou nessa instituição, sempre, que as pessoas não
aceitam, as pessoas acham que é uma instituição de opressão apenas. É sim
mas, tem várias camadas aí embaixo, tem várias pessoas sobrevivendo
também,. Então é isso, acho que é “ Dádiva e Dívida”. Ao mesmo tempo, eu
todo dia, eu me pergunto: Será que eu vou conseguir ficar aqui vinte e quatro
anos a mais? Será que eu vou sobreviver a essa instituição? É essa relação.”
(CAP PM, 7 anos de PMERJ)
“Eu já sofri discriminação sim, por conta do meu cabelo, sempre o cabelo,
né! A gente podia nascer bem pretinho. Deus, mas com o cabelo
melhorzinho, risos. Bem, meu cabelo tinha caído um pouco com esse negócio
de química, essas maluquices. Daí entrou um oficial, acho que major, no
alojamento da gente, e virou para mim e disse – “que cabelo e esse? ” Eu
olhei, virei a cara e continuei mexendo no meu armário, sem palavras.”
(SUBTEN PM, 17 anos de PMERJ)
Vale ainda ressaltar que, de acordo com o Guia de enfrentamento ao racismo
institucional, se configura discriminação racial:
“Qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada na raça, cor,
ascendência, origem étnica ou nacional com a finalidade ou o efeito de
impedir ou dificultar o reconhecimento e /ou exercício, em bases de
igualdade, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos
político, econômico, social, cultural ou qualquer outra área da vida pública. ”
(Convenção ratificada pelo Brasil em 27 de março de 1968).”
3.2 AS PRÁTICAS DISCRIMINATÓRIAS NA PMERJ
Sobre o cotidiano profissional das mulheres negras na PMERJ, há uma
percepção que o racismo é velado, mas se encontra presente nos critérios de seleção das
policiais para exercer funções administrativas e extra quartel, essa particularidade fica
visível quando estas mulheres têm seu acesso não dificultado por normas e regras
escritas, mas por atitudes presentes nas relações sociais que se reproduzem nos espaços
30
institucionais. Para as mulheres negras as conquistas de espaços são sempre mais
rigorosas, normalmente gerando desigualdades nas relações entre policiais militares do
mesmo gênero. Na seleção para tarefas burocráticas as características de escolhas são
sempre diferenciadas, é embutida de preconceito e discriminação, isso fica explicito em
alguns discursos:
“Alguns anos atrás... O comandante da corporação, ele descendo de uma
viagem no aeroporto. Ele viu um policiamento, e ali tinham mulheres
brancas, loiras, policias brancas, loiras, morenas e negras. Ele achou por bem
que deveria tirar as negras, porque as negras chocavam o turismo. Então
ficava feio o turista chegar e ver um grupo de policiais negras, então esse
comandante pediu pra tirar.” (SUB TEN PM, 31 anos de PMERJ)
“Assim que entrei na polícia já vi essa diferença gritante, as brancas
bonitinhas ficavam ali na recepção, para atender telefone, e ali faziam
cafezinho, essas coisas assim. A gente, as negras, eram para o rancho, para o
serviço bruto, entende?! A gente era para o “ah, pode mandar que elas
aguentam” (SUB TEN, 17 anos de PMERJ)
“Mas, parece que nunca vai ser o suficiente pro sistema, nunca vai ser o
suficiente para o sistema. A gente sempre vai ter que estar provando, se
reinventando. E acho que eu até aprendi a ser muito boa nisso de me
reinventar. Agora eu saí de uma unidade, que eu me dediquei dois anos nessa
unidade e o parecer também, nunca vou esquecer, que era: “ O PERFIL
DELA NÃO SE ADEQUA AO PERFIL DA UNIDADE”. Então, o perfil de
novo? Que perfil? Que perfil é esse que eles querem? Que perfil de mulher
que eles querem.” (CAP PM, 7 anos de PMERJ)
“A cor da minha pele teve um peso na classificação do curso, a minha nota
foi muito reduzida. Porque o COMANDO na época, avaliou pelo fato deu ser
negra que já estava bom pra mim. “Tu passou! O que tu tem já tá bom, segura
isso que está bom. ” Então, a minha nota que era muito alta foi pra baixo.
Então fiquei bastante indignada e fui até orientada a recorrer, tem o recurso
de recorrer. Eu poderia contestar a nota. Mas, só que eu fiquei com medo de
reduzir mais ainda, então ignorei, deixei para lá. Mas, fiquei bastante
magoada, bastante magoada mesmo.” (TEN PM, 7 anos de PMERJ)
“Sinto na maioria das vezes que tenho me enquadrar num mundo que não me
pertence, num mundo bem machista e que tem um preconceito racial forte,
que é o mais perigoso, porque às vezes você não consegue detectar, né.
Algumas atitudes racistas até porque o militarismo mascara bastante. E eu
acho perigoso, que eu não sei de onde vem o ataque e quando tu vê, tu já
tomando a paulada. ” (TEN PM, 7 anos de PMERJ)
As experiências acima relatadas pelas entrevistadas, remetem a uma prática
classificada como discriminação indireta, frequentemente associada ao racismo
institucional:
“o fracasso das instituições e organizações em prover um
serviço profissional e adequado às pessoas em virtude da cor,
cultura, origem racial ou étnica. Ele se manifesta em normas,
práticas e comportamentos discriminatórios adotados no
31
cotidiano do trabalho, os quais são resultantes do preconceito
racial, uma atitude que combina estereótipos racistas, falta de
atenção e ignorância. Em qualquer caso, o racismo institucional
sempre coloca pessoas de grupos raciais ou étnicos
discriminados em situação de desvantagem no acesso a
benefícios gerados pelo Estado e por demais instituições e
organizações.” (CRI, 2006:22)
Considerando como foco a sociedade brasileira, e entendendo que esta é
hierarquizada segundo estruturas raciais, é possível indicar que as opressões étnico-
raciais estejam presentes em diversos espaços da sociedade, abarcando também um
racismo institucional, que ao que tudo indica, estão presentes nas corporações policiais
militares.
32
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo do presente estudo foi descrever e analisar algumas situações de
discriminações raciais e de gênero, vividas por mulheres policiais militares negras na
Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, partindo da hipótese que há desafios
específicos experimentados por estas mulheres, em razão da sua condição de gênero e
de raça, que se tornam mais complexos pelo modelo de gestão militar da Polícia Militar
do Estado do Rio de Janeiro.
Ao longo da história assistimos a sociedade através de uma visão machista- fruto
de uma sociedade patriarcal- imputar às mulheres uma posição de submissão em relação
aos homens. Desde a infância, sempre foram educadas para falar baixo, terem bons
modos, brincarem de boneca e de “casinha”. Comportamentos que traduziam uma
subserviência, e contribuíam para que elas não tivessem voz e ação ativa para romperem
com o selo de passividade e buscassem alternativas para além do espaço convencionado
pelos homens como o espaço estritamente destinado a elas – o doméstico. E assim, as
mulheres foram silenciadas ao longo da história. Mas, a partir da década de 1960, o
mundo inteiro assistia à luta das mulheres pela ocupação de espaços na sociedade e no
mundo, antes pertencidos somente aos homens, brigando pelos seus direitos, e
conquistando seus espaços. A mulher, indo de encontro à todas as imposições, investiu
no seu potencial e galgou as mais diversas funções na sociedade brasileira. Atualmente
as mulheres estão inseridas em um contexto social, exercendo atividades nas mais
diversas áreas do conhecimento na atuação profissional. Algumas dessas participações
ainda são vistas com desconfiança, já que até bem pouco tempo era inconcebível a
mulher na linha de frente em várias situações ocupacionais. E rompendo com todas
estas barreiras, e desafiando todas as estruturas, ocupou ambientes profissionais que a
bem pouco tempo eram somente permitido aos homens, como por exemplo: a
instituição militar.
A condição de gênero foi, e ainda é, uma condicionante de discriminação em
relação à mulher na sociedade brasileira. E em se tratando da mulher negra, esta
condição é acrescida da questão racial, configurando assim uma dupla discriminação.
Em inúmeros segmentos da sociedade, a mulher negra enfrenta desafios específicos em
razão da sua condição de gênero e raça. A problemática da discriminação racial na
sociedade brasileira encontra profundas raízes históricas e está fortemente relacionada
33
com os processos de exclusão que afetam os grupos sociais marginalizados por motivos
socioeconômicos. E segundo a discussão teórica dos autores utilizados neste trabalho,
os termos raça e etnia são considerados uma construção social, o que está em
consonância com a afirmação de Neuza S. Souza em seu livro “Tornar-se negro”. Para a
autora, a identidade negra não é algo que sempre esteve com os negros, as pessoas não
nascem “negras”, elas ganham a consciência desta condição.
Na Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, a problemática vivida pela
mulher negra em seu cotidiano profissional não é diferente, já que esta instituição está
inserida nesta sociedade, reproduzindo assim esse contexto de dupla discriminação,
sendo este último complexificado pelo modelo de gestão militar da instituição.
Assim, ainda que se quisesse esconder a problemática da discriminação racial e
de gênero vividas entre os pares no cotidiano profissional da Policia Militar do Rio de
Janeiro, não seria possível, pois as falas dos policiais militares (homens e mulheres) não
deixam dúvidas de que elas existem, como em qualquer outro segmento da sociedade
brasileira.
Nas entrevistas as interlocutoras reforçam a natureza da discriminação de gênero
na instituição, que valoriza apenas os atributos tradicionais do espaço militar, que como
forma de reproduzir a relação de dominação e poder inerente à corporação militar, se
apropria de técnicas tais como as de masculinizar o feminino, fragilizar o espaço
feminino e a massificação da doutrina policial militar. Estas técnicas são caracterizadas
pelo despreparo da instituição para receber a mulher policial, e a falta de empenho em
se adequar a presença das mulheres policiais militares, que vão desde a falta de provisão
de alojamento para mulheres até a falta de fardamento e equipamento de proteção
individual adequado à rotina da mulher policial, fatos que se perpetuam desde o
ingresso da mulher na instituição.
Muito embora a PMERJ se constitua num veículo de mobilidade e ascensão
social para os negros brasileiros (SANSONE, 2002), os relatos das entrevistadas,
mostram que a questão racial tem se constituído uma barreira para ocupação de cargos
relevantes por mulheres policiais negras na corporação, em razão de sua cor. Para além
da questão de gênero existe ainda uma diferenciação no tratamento dado ás mulheres
34
negras e às não negras por parte de seus pares policiais militares, principalmente sendo
estes, seus superiores hierárquicos.
A exemplo do mito da “democracia racial”, questão abordada por Freyre (2000)
que defende a teoria que, por conta da grande miscigenação do país, todos convivem em
“harmonia”, na Polícia Militar do Rio de Janeiro as práticas discriminatórias são
mascaradas por atitudes presentes nas relações sociais que se reproduzem no cotidiano
profissional no interior da instituição, e não por normas e regras escritas.
A discriminação racial é sentida e vivida pelas mulheres negras policiais
militares na PMERJ. Fato que fica é explicito em suas entrevistas, quando relatam que
sofreram e ainda sofrem discriminação pelo fato de serem mulheres, negras e policiais.
Tal situação se torna agravante, pelo fato de ser evidente um “silêncio” por parte da
Polícia Militar do Rio de Janeiro em relação às práticas discriminatórias ocorridas na
instituição, que não dispõe de políticas de enfrentamento às discriminações raciais e de
gênero.
Por fim ressalto que, apesar de na condição de nativa, ter vivido situações bem
próximas às relatadas por minhas interlocutoras, optei por não trazer para o trabalho a
minha própria trajetória, e me debruçar mais sobre os casos, demonstrando que a
pesquisa não se constituía numa questão pessoal, e sim estrutural. O objetivo era trazer
à discussão como tema acadêmico as discriminações sofridas pelas mulheres policiais
dentro da instituição, decorrente da sua condição de gênero, chamando á atenção para o
fato de que essa discriminação é potencializada quando é acrescida da questão racial.
Neste sentido, a presente pesquisa nos leva a concluir que as mulheres policiais
militares negras vêm enfrentando em seu cotidiano profissional na PMERJ, ao longo de
toda sua trajetória, desafios específicos decorrentes única e exclusivamente de sua
condição de gênero e raça.
35
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