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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
AMÁLIA DIAS
ENTRE LARANJAS E LETRAS: PROCESSOS DE ESCOLARIZAÇÃO NO
DISTRITO-SEDE DE NOVA IGUAÇU (1916-1950)
ORIENTADORA: CLÁUDIA ALVES
COORIENTADOR: OSMAR FÁVERO
NITERÓI
2012
Entre laranjas e letras: processos de escolarização no distrito-sede de Nova
Iguaçu (1916-1950) Amália Dias
Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Educação da Universidade
Federal Fluminense – UFF, como requisito
parcial à obtenção do grau de doutor em
Educação.
Orientadora: Profª Drª Claudia Alves (UFF)
Coorientador: Osmar Fávero
Niterói, 2012
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá
D541 Dias, Amália.
Entre laranjas e letras: processos de escolarização no distrito-sede de
Nova Iguaçu (1916-1950) / Amália Dias. – 2012.
338 f. ; il.
Orientador: Claudia Alves.
Co-orientador: Osmar Fávero.
Tese (Doutorado) – Universidade Federal Fluminense, Faculdade de
Educação, 2012.
Bibliografia: f. 313-337.
1. Escolarização. 2. Nova Iguaçu (RJ). 3. Citricultura. I. Alves,
Claudia. II. Universidade Federal Fluminense. Faculdade de Educação.
III. Título.
CDD 370.98153
1. 371.010981
Agradecimentos
Pensar em agradecer é pensar na trajetória da pesquisa. Ou, ainda, lembrar percursos
anteriores que colaboraram para o ponto de chegada. A tentativa e a honestidade de
reconhecer instituições, funcionários e professores, concorrem com o apelo afetivo de lançar
as âncoras na família, nos amigos e nos colegas conquistados ao longo do trabalho.
O suporte financeiro à pesquisa dispôs do auxílio da agência de fomento CAPES e da
Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ).
O curso realizado no Instituto de Pesquisas Históricas e Análises Sociais da Baixada
Fluminense (IPAHB), sobre a História da Baixada Fluminense, em 2009, foi fundamental
para iniciar o contato com pesquisadores e instituições pertinentes aos estudos sobre a história
local. Agradeço a esta instituição, em especial ao professor Gênesis Torres, pelo zelo em
preservar e abrir à consulta o acervo de documentos e a biblioteca da instituição.
Agradeço ao Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ), nas pessoas do
seu diretor, Prof. Paulo Knauss, e das funcionárias Mariana Nascimento e Patrícia Mello que
me auxiliaram diretamente no trabalho com os mapas de frequência, em 2010.
Ao Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu (IHGNI), nas pessoas de Ney
Alberto Gonçalves de Barros (in memoriam) e de Marcos Paulo Mendes de Araújo, recordo
os incentivos recebidos, o auxílio com a documentação, a confiança depositada no
empréstimo de livros, pastas etc. Foi importante, também, a disponibilidade de Sheila Botelho
em facilitar o acesso à parte da documentação do IHGNI, que estava sob a guarda, naquele
momento, do professor Marcos Paulo.
Do Sr. Robinson de Azeredo, do Correio da Lavoura, recebi a permissão para
pesquisar o acervo desse jornal e a disponibilidade em fornecer a própria redação do jornal
para a consulta e a autorização para a digitalização. Serei sempre grata ao funcionário José
Rocha (in memoriam), que se dispôs a me receber na redação, até mesmo fora dos dias e
horários normais de funcionamento, a fim de que eu agilizasse a coleta de dados. Sem que eu
esperasse, o nosso querido “Reco” separava os livros, trazia café e frutas, montava aparatos
para facilitar a digitalização, segurava os livros, as máquinas, as pilhas, contava histórias do
jornal, tudo com muita gentileza e alegria...
Ao professor Manoel Ricardo Simões agradeço o apoio, tanto por sua própria
produção, quanto pelos mapas por ele elaborados e cedidos para a pesquisa. Ao professor
Mário Luiz Bezerra Feitosa Matheus, pela tradução do resumo da tese. Ao professor Marcio
Pinon de Oliveira, pelas indicações importantes de leitura e o acompanhamento e interesse no
desenvolvimento desse trabalho. Ao professor Marcus Monteiro, por disponibilizar parte de
seu acervo da Coleção Arruda Negreiros. Ao professor Paulo de Tarso, por autorizar a
pesquisa no acervo da Secretaria do Colégio Leopoldo, em Nova Iguaçu.
Ao Programa de Pós-Graduação em Educação na UFF, agradeço a acolhida renovada,
principalmente na pessoa da orientadora desse trabalho, professora Claudia Alves, por saber
lidar com o que eu era e com o que eu sou, enquanto aluna e pessoa, ao longo de seis anos de
convivência. Pela leitura atenta, pelas longas conversas, pelos silêncios pacientes, pelas
intervenções sábias, pelos questionamentos deliberadamente instigantes, pela paz
pacientemente preservada, pelo respeito e confiança mutuamente cultivados.
Para Osmar Fávero, coorientador da pesquisa, meus agradecimentos pela disposição
incondicional em ajudar, por compartilhar comigo e com todos os seus alunos sua experiência
de vida, suas aulas e sua disposição em revisar as últimas versões deste trabalho. Agradeço-o
por tornar a vida acadêmica mais digna, mais fraterna, mais bela e por tornar, também, as
minhas estantes mais cheias de livros...
Sou bastante agradecida, também, aos professores Álvaro Pereira do Nascimento,
Sonia Regina de Mendonça, Luciano Mendes de Faria Filho e Alessandra Frota Martinez de
Schueler pela participação atenciosa no exame final do trabalho. Luciano Mendes e
Alessandra de Schueler participaram, também, do exame de qualificação.
Muito trabalho e horas de isolamento. Isso, de certa forma, já requer companheirismo
e resignação dos amigos e da família, já é contar com o apoio daqueles que, compreendendo
ou não, esperam pelo seu retorno. Pesquisa, portanto, é feita de solidariedade. Aos familiares
e à minha mãe, Glória Virgínia, minha gratidão por todos os esforços depositados, há muitas
jornadas, na minha escolarização. Para tia Birina e tia Ada, pelas muitas acolhidas em suas
casas. Para os padrinhos-professores Geminiana e José Augusto, aqui está, de certa forma, o
resultado de tantos incentivos à leitura, daquelas cartas divertidas enviadas quando eu era
criança, pelos livros trazidos, pelas histórias contadas.
Para Nilson, Iolanda, Djanira, Anderson, Graziela, Ana Lúcia, D. Isabel e seu Nilton,
meu carinho por terem ampliado meu universo familiar de modo mais alegre.
Aos novos amigos encontrados na jornada, Rubens Machado e Carlos Costa, agradeço
os textos prontamente disponibilizados. Para Angélica Borges, Alexandra Lima, Cíntia
Almeida, Gisele Teixeira, Jordânia Guedes, Juliana Vidal, Marcelo Gomes. Para Alessandra
Nicodemos, Diego Ferreira, Edinaldo Medeiros, Helô Strega, Lídia Ferreira, Márcia Cristina,
Mônica Ribeiro, Paulo Bretas, Roberto Marques, Rosana Lopis, Virgínia Schindhelm, Vitor
Fraga, Yolanda Rodriguez. Para Beatriz Costa, Deise Arenhart, Licia Hauer, Manna Nunes,
Milena Candiá, Zuleide Silveira, Rubia-Mar Pinto Nunes. Para estes amigos dos congressos e
das disciplinas cursadas na UERJ e na UFF, meu carinho pela companhia, pelas dúvidas,
frustrações e descobertas descortinadas nos seminários e nas confraternizações, nas caronas,
nas aulas, nas leituras, nos e-mails, na vida. Pela troca e pela soma e, também, por tudo que
foi dividido.
Aos amigos reunidos a partir da graduação em História da UFRJ, agora enlaçados sob
o singelo apelido de “crème de la crème”: Adriano, Aline, Ana Paula, Beto, Douglas,
Eleomar, Marcos, Rafael, Ricardo, Sérgio Henrique, Valéria, eu preciso repetir, vocês são o
que há!!! Para Anita Leocadia Prestes e Márcia dos Passos Neves, pelos ensinamentos
envoltos em amizade e exemplo.
Enfim, mas sem significar menor importância, ao contrário, consagro a Ilton Telles a
gratidão pelo amor devotado, pela lealdade e por todas as caronas, lado a lado, nessa e em
tantas empreitadas, pelas quais, juntos, conduzimos os nossos desejos e compromissos,
sonhos e missões, impasses e superações. Assumindo todos os limites e responsabilidades
desta pesquisa, mas também por reconhecer nela os meus melhores esforços, dedico a você
este trabalho, com amor.
Resumo
Entre laranjas e letras: processos de escolarização no distrito-sede de Nova Iguaçu
(1916-1950). Orientadora: Cláudia Alves. Coorientador: Osmar Fávero. 29/08/2012. Tese
(Doutorado em Educação). Campo de Confluência: Diversidade, Desigualdades Sociais e
Educação; Linha de Pesquisa : História Social da Educação.338 páginas.
A pesquisa tomou como objeto os processos de escolarização no distrito-sede de Nova
Iguaçu, município do estado do Rio de Janeiro. O marco inicial demarca a mudança do nome
da cidade de Maxambomba, sede do município desde 1891, para Nova Iguaçu. O período foi
marcado por mudanças econômicas e sociais devido ao desenvolvimento das atividades de
cultivo e comercialização de laranjas. Os grupos vinculados à atividade procuraram reordenar
os usos do território em função da citricultura, que se tornou o principal eixo estruturante da
economia local, ocupando também importância na economia estadual.
A construção do lugar da cidade no distrito-sede deu-se em permanente interação com as
zonas rurais, em função da citricultura. Esta imbricação entre rural e urbano, que se
identificou ao delimitar o distrito-sede como posição de análise, semeou a problemática de
pesquisa e permitiu a construção de uma escala de observação diferenciada. Apresentamos
alguns modos pelos quais a instrução escolar permeou as estratégias e as disputas na
construção de Nova Iguaçu, e, dialeticamente, como as especificidades desta localidade
impregnaram as funções atribuídas à educação e as experiências de escolarização no
município.
A questão central concentrou-se em investigar o desenvolvimento diversificado de níveis de
ensino na região, que vivia, fundamentalmente, da citricultura. Buscou-se identificar as forças
atuantes na sociedade e suas formas de participação, adesão ou resistência na organização de
escolas. Deste modo, foram recuperados os projetos, as concepções e conflitos a respeito das
funções sociais e econômicas da escolarização, nos grupos da própria região, analisados na
teia de relações que se estendiam aos planos estadual e nacional.
Sustenta-se que a compreensão dos diferentes movimentos de gestação da Nova Iguaçu
precisa considerar as funções que se buscou conferir aos processos de escolarização na
constituição da região, tanto na formação das paisagens quanto na organização das funções
rurais e urbanas do distrito-sede.
Na proposta de pesquisa adotada, o exame dos processos de escolarização implica conhecer
os processos e políticas que engendram a constituição de uma rede de escolas, as funções
sociais e a ação da escola enquanto organizadora da cultura no seu entorno, num raio de ação
que transborda as relações escolares para outros setores da vida social.
A partir da articulação entre o princípio da “variação de escalas” apresentado por Jaques
Revel e o referencial sobre os processos de escolarização proposto por Luciano Faria Filho,
entende-se que adotar o regional como escala analítica e epistemológica e investigar o
fenômeno da escolarização é, também, refletir sobre como estrutura e processo se articulam
na história. Esta posição de análise resultou numa composição de tipos documentais
diferentes, conforme a operação historiográfica realizada na delimitação do objeto: imprensa,
legislação, fotografias e mapas escolares foram as principais fontes utilizadas.
Palavras-chave: processos de escolarização; Nova Iguaçu; citricultura;
Abstract
Between oranges and letters: schooling processes in the headquarters district1 of Nova
Iguaçu
The current research has as its object the schooling processes in the headquarters district of
Nova Iguaçu, a city in Rio de Janeiro state. The starting point marks the change of the name
of the city from Maxambomba, headquarters of the city since 1891, to Nova Iguaçu. It’s a
period of social and economic changes due to the development of activities related to the
cultivation, processing and marketing of oranges. The groups involved in the activity tried to
rearrange the occupation of the territory which was conditioned to the citriculture activity that
became the main axis of Iguaçu’s local economy, in addition to having a relevant role in the
state economy.
The establishment of the area of the city in the headquarters district was settled in permanent
interaction with the rural areas, submitted to the citriculture development. This imbrication
between rural and urban, that was identified when the headquarters district was delimitated as
the point of analysis, prompted the research question and permitted the elaboration of a
distinct scale of observation. This paper presented some manners in which the schooling
instruction permeated the strategies and disputes involved in the establishment of Nova
Iguaçu, and, dialectically, how the peculiarities of this location impregnated the social
functions attributed to education and schooling experiences in the city.
The central question focused on investigating the development of diverse school levels in the
region which fundamentally lived on citriculture. We attempted to identify the active forces in
society and their ways of participation, adherence or resistance in the process of organizing
schools. By this way, we recovered the projects, concepts and conflicts concerning the social
and economic functions of schooling among the groups located in the region, which were
analyzed in the net of relations that reached the state and national plans.
It’s supported that to comprehend different movements of Nova Iguaçu’s gestation we need to
consider the functions attributed to education in the constitution of the region, both in the
landscape formation and in the organization of the rural and urban functions of the
headquarters district.
In the research proposal adopted, it was considered that examining the schooling processes
involves understanding the processes and policies that take part in the constitution of a chain
of schools, their social functions and role as a cultural organizer in its surrounding area, in a
radius of action that surpasses school relations to other sectors of social life.
From the articulation between the principle of “scale variation” presented by Jacques Revel
and referential about schooling processes proposed by Luciano Faria Filho, it’s understood
that adopting the regional one as analytic and epistemological scale and investigating the
phenomena of schooling is also a way of reflecting about how the structure and process are
articulated in history. This analysis position resulted in an array of different sorts of
documents, according to the historiographical operation promoted in the object’s delimitation:
press, legislation, photographs and school maps were the main sources used.
Key words: Nova Iguaçu, schooling, education, historiography.
1 The main district of a region
Lista de Figuras
Figura 1 Mapa de limites atuais do município de Iguaçu e limites de 1932. ........................... 24 Figura 2 Mapa do município de Nova Iguaçu, 1948. ............................................................... 24 Figura 3 Aspecto da Carta do estado do Rio de Janeiro. Maxambomba e Distrito Federal,
1893. ......................................................................................................................................... 41 Figura 4 Fotografia da vista parcial de Nova Iguaçu, distrito-sede do município, 1919.......... 54
Figura 5 Fotografia da vista parcial de Nova Iguaçu, distrito-sede do município, 1932.......... 54 Figura 6 Fotografia da vista parcial do distrito-sede, 1940. ..................................................... 55 Figura 7 Mapa da Divisão territorial após as emancipações – 1947. ....................................... 57
Figura 8 Fotografia do Grupo Escolar Rangel Pestana. ......................................................... 122 Figura 9 Fotografia do Grupo Escolar Rangel Pestana. ......................................................... 123 Figura 10 Fotografia do Grupo Escolar Rangel Pestana. ....................................................... 123 Figura 11 Fotografia da Escola Barão de Mesquita. .............................................................. 124
Figura 12 Fotografia da Escola mista nº 5. ............................................................................. 125 Figura 13 Fotografia da Escola Coronel França Soares. ........................................................ 125
Figura 14 Fotografia da Escola mista nº 34. ........................................................................... 126 Figura 15 Fotografia da Escola mista nº 33. ........................................................................... 127 Figura 16 Fotografia da Escola mista nº9. .............................................................................. 127
Figura 17 Fotografia da Escola feminina nº 10. ..................................................................... 128
Figura 18 Fotografia da Escola mista nº 8 – Primeiro Turno. ................................................ 129 Figura 19 Fotografia da Escola mista nº 8 – Segundo Turno. ................................................ 130 Figura 20 Fotografia da Escola mista nº 3 – Primeiro Turno. ................................................ 131
Figura 21 Fotografia da Escola mista nº 3 – Segundo Turno. ................................................ 131 Figura 22 Fotografia da Escola Noturna nº 2. ........................................................................ 133
Figura 23 Crescimento da Ocupação urbana no 1º distrito de Nova Iguaçu. ......................... 194 Figura 24 Fotografia da Praça Ministro Seabra. Monumento ao Centenário do município. .. 211
Figura 25 Fotografia da Escola mista nº 13 em José Bulhões. ............................................... 224 Figura 26 Fotografia da Escola Dr. Tavares Guerra, em São João de Meriti. ........................ 224 Figura 27 Fotografia da Escola Mista n.16............................................................................. 225 Figura 28 Fotografia da Escola mista n.26, em Vila Rosaly. ................................................. 225 Figura 29 Fotografia da Escola mista n. 31, em São João de Meriti. ..................................... 226
Figura 30 Fotografia da Escola mista n. 31, em São João de Meriti. ..................................... 227
Figura 31 Fotografia da Escola mista n.31, em São João de Meriti. ...................................... 227
Figura 32 Fotografia da Escola Municipal Andrade de Araújo.............................................. 228 Figura 33 Fotografia da Escola municipal Arruda Negreiros................................................. 229 Figura 34 Fotografia da Estrada do Gimbaú, Serviço Municipal, 1933. ................................ 250 Figura 35 Fotografia da Estrada Plínio Casado, Serviço Municipal, 1933. ........................... 251 Figura 36 Fotografia do calçamento da Rua Getúlio Vargas, Serviço Municipal. ................. 251
Figura 37 Fotografia do lançamento da Pedra Fundamental do hospital de Iguaçu, 1931..... 256 Figura 38 Fotografia do Hospital de Iguassú em construção. ................................................ 257
Lista de Tabelas
Tabela 1 Distribuição de escolas estaduais no município de Iguaçu, em 1898. ....................... 93 Tabela 2 Distribuição de escolas estaduais no município de Iguaçu, em 1911. ....................... 93 Tabela 3 Distribuição de escolas estaduais no município de Iguaçu, 1925. ............................. 95 Tabela 4 Atribuições de notações quanto à localização e classificação (1929-1949). ............. 99
Tabela 5 População do município de Iguaçu 1940. ................................................................ 100 Tabela 6 Fotografias de escolas do município. Coleção Arruda Negreiros [1932-1933]. ..... 101 Tabela 7 População do município de Iguaçu 1892/1920. ....................................................... 189 Tabela 8 Classificação de 42 notações do Distrito-Sede, por localização e tipo.................... 192 Tabela 9 Comércio e Exportação da Laranja (1941-1945)..................................................... 300
Lista de Siglas
APERJ Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro
CEPEMHEd Centro de Pesquisa, Memória e História da Educação da Cidade de Duque de
Caxias e Baixada Fluminense
INEP Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos
IHGNI Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu
IPAHB Instituto de Pesquisas Históricas e Análises Sociais da Baixada Fluminense
MAIC Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio
MES Ministério da Educação e Saúde
MESP Ministério da Educação e Saúde Pública
MTIC Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio
SNA Sociedade Nacional de Agricultura
Sumário
Introdução ................................................................................................................................. 13 Capítulo 1 ................................................................................................................................. 25
Pela Causa da Instrução Agrícola ............................................................................................. 25
Ao correr da pena: lavoura, higiene e instrução ....................................................... 25
Silvino de Azeredo: percursos de formação ......................................................... 26
O Correio da Lavoura e o ruralismo no estado do Rio de Janeiro ........................... 31
Saneando territórios e governos: a instauração da prefeitura em Nova Iguaçu .... 40
A citricultura e o distrito-sede .................................................................................. 49
A Instrução agrícola e a ordenação social do campo ................................................ 57
Pelo “salutar manejo da enxada e do arado”: alfabetização e instrução primária 67
Capítulo 2 ................................................................................................................................. 73 Fazer-se Estado fazendo escolas: experiências de escolarização ............................................. 73
Experiências de construção da escolarização elementar .......................................... 73
Os serviços de inspeção e estatísticas e a administração estadual ............................ 79
A identificação e os critérios de localização das escolas ...................................... 91
Agências e instâncias na oferta do ensino primário .............................................. 98
Escolas isoladas e práticas de seriação: imbricações nas escolas do Distrito-sede 105
O grupo escolar de Nova Iguaçu e as experiências de escola primária .............. 114
Vértices da seriação do ensino: docentes, classes, tempos e espaços escolares ..... 134
Entre aluguéis, reparos e construções: composições de escolas ......................... 143
A presença dos inspetores em Nova Iguaçu e o Departamento de Educação ........ 149
Capítulo 3 ............................................................................................................................... 161 Entre a lavoura e as letras ....................................................................................................... 161
Escolas Típicas Rurais em Nova Iguaçu ................................................................ 164
Escolarizar o rural: o tempo do trabalho e o lugar das letras .............................. 180
Rural e urbano compondo o Distrito-sede, os debates e as políticas de escolarização
............................................................................................................................................ 188
As disputas pelo poder no cenário local ................................................................. 199
O centenário e a “vocação agrícola” de Iguaçu: visões do passado e construções do
moderno .............................................................................................................................. 209
Escolas e estradas: caminhos da modernidade iguaçuana .................................. 218
Sujeitos da escolarização: interrogações............................................................. 230
Capítulo 4 ............................................................................................................................... 238
“Atenas Fluminense”: fazer-se cidade fazendo escolas, fazer-se escola fazendo a cidade .... 238
Erguendo e educando a Nova Iguaçu: higiene, saneamento e equipamentos urbanos
............................................................................................................................................ 238
A “Maior Campanha”: o Hospital de Iguaçu ...................................................... 252
A campanha pelo Grupo Escolar de Nova Iguaçu .............................................. 261
Educação e política na ação municipal ............................................................... 266
Disputas pela formação da juventude: o ensino secundário ................................... 271
“Bem ensaiados”: cânticos, preleções, ginásticas e desfiles ................................... 275
O “vigor cívico” das escolas nas “artérias” de Nova Iguaçu .............................. 287
Conclusão ............................................................................................................................... 303
Referências ............................................................................................................................. 313
13
Introdução
Esta pesquisa sobre os processos de escolarização no município de Nova Iguaçu, com
ênfase sobre seu distrito-sede, emerge de um conjunto de percepções acerca da produção em
história da educação sobre o estado do Rio de Janeiro e dos estudos sobre a história da
Baixada Fluminense, região geopolítica onde está situado o município de Nova Iguaçu.2
O volume de pesquisas sobre história da educação no Rio de Janeiro é expressivo,
porém, frequentemente, estes trabalhos se debruçam sobre a sede da administração colonial,
do Império ou sobre o Distrito Federal enquanto capital da República. Como exceção, há
trabalhos acadêmicos sobre instituições escolares ou experiências educacionais em algumas
cidades, como Niterói e Campos. Pouco ainda se conhece em pesquisas históricas sobre este
entorno e sobre o interior do estado, sobre a ação dos governos estaduais e das
municipalidades (SCHUELER, 2010).
Quanto ao conhecimento sobre a história da Baixada Fluminense, é relevante o
trabalho de associações de pessoas interessadas em conhecer e preservar o patrimônio e a
memória da Baixada, como, por exemplo, o Instituto de Pesquisas Históricas e Análises
Sociais da Baixada Fluminense (IPAHB), o Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu
(IHGNI), o Centro de Pesquisa, Memória e História da Educação da Cidade de Duque de
Caxias e Baixada Fluminense (CEPEMHEd), o Centro de Memória de Nova Iguaçu. Existe
uma produção memorialística legada por moradores da região, o empenho em reunir fontes e
relatos da história regional e também uma produção de viés acadêmico e institucional,
crescente nas últimas décadas.
Marcos políticos e econômicos são constantes, em geral, nesta produção, mas são
menos presentes os estudos sobre história dos processos de escolarização na região. Entre as
exceções, pelo que foi levantado, estão os estudos de Jordânia Guedes (2009 a,b; 2012), sobre
a história da educação na Vila de Iguaçu no século XIX, e os estudos sobre a experiência da
Escola Regional de Meriti, ícone da atuação de setores do movimento escolanovista em
Duque de Caxias, a partir dos anos de 1920 (MIGNOT, 2002; PERES, s/d; SANTOS, 2008;
SILVA, 2008).
Pretende-se com esta pesquisa agregar subsídios à historiografia da Baixada
Fluminense e à história da educação do estado do Rio de Janeiro, pois trata-se de deslocar o
2
O distrito-sede foi denominado Nova Iguaçu em 1916 e todo o município foi designado de Nova Iguaçu, em
1938. Ao longo do texto, conforme o período a que se refere, procura-se destacar a denominação em uso, Iguaçu
para o município e Nova Iguaçu para o distrito-sede. Ver, ao fim desta introdução, Figura 1 e Figura 2.
14
eixo de observação para além da cidade do Rio de Janeiro, e dos marcos políticos e
econômicos da história do município de Nova Iguaçu. Busca-se, também, agregar, às
reflexões sobre escolarização e urbanização, contribuições sobre as relações entre o rural e a
escolarização. Basicamente, trata-se de uma pesquisa sobre a história dos processos de
escolarização em Nova Iguaçu.
O enquadramento de um estudo sobre história da educação em um município suscita
algumas questões teóricas e metodológicas que são relevantes discutir. É pertinente
problematizar a caracterização deste estudo como história regional. As noções de “região” e
“regional” são recorrentemente empregadas para delimitar fronteiras geográficas, culturais e
políticas, estabelecer identidades e distinções entre espaços, sujeitos e práticas sociais
radicadas a um pertencimento. Servem, também, como expediente estruturante das reflexões
sobre o nacional e o local, sobre o país, muitas vezes comparecendo no debate como um
pressuposto, sem serem problematizadas, de forma que se compreende um estudo sobre uma
cidade ou município como de interesse restrito, tendo um caráter específico, enquanto outros
recortes são percebidos como mais abrangentes, quando se fundam em temas nacionais
(FARIA FILHO, 2009).
Longe de ser uma noção a-histórica, Faria Filho alerta para o aspecto polissêmico dos
entendimentos sobre o que vem a ser a região e o regional. Por isto, a noção de região não
deve ser pensada como algo natural, dado, e que será submetido ao estudo e investigação, mas
sim como resultado de uma atribuição de sentidos e características, comportando
intencionalidades políticas e sociais. Luciano Faria Filho defende o uso crítico da noção de
região nas pesquisas em história da educação, como unidade de análise. Propõe pensar qual o
sentido de mobilizar esta noção para o estudo de um objeto:
[...] o que torna possível a realização de uma história regional é a maneira pela qual
eu produzo teórica e metodologicamente o meu objeto de pesquisa. Mas também
aqui, como em todo trabalho historiográfico, o regional será o resultado de minhas
operações, e a pertinência de sua utilização, seja como substantivo, seja como
adjetivo, deve ser demonstrada (Ibidem, p.63-64).
Sob esta ótica procuramos evidenciar, na delimitação do objeto, a compreensão de
Nova Iguaçu para além de um território geográfico circunscrito, mas de um espaço
socialmente construído. Isto significa conhecer a história de constituição desta região, as
dinâmicas econômicas, populacionais, sociais e políticas que configuram este território no
período estudado, o que corresponde, segundo parte da produção da historiografia local, seja
acadêmica ou memorialística, ao período “áureo” da história do município, em função do
desenvolvimento da citricultura. Além de problematizar esta construção sobre a história local,
15
buscamos refletir sobre as possibilidades teóricas e metodológicas de analisar os processos de
escolarização a partir do cenário de um município e de notar como os processos de
escolarização constituem e engendram a construção da Nova Iguaçu. Dialeticamente, os
projetos em disputa sobre os usos do território incidem sobre as funções atribuídas aos
processos de escolarização.
O deslocamento do centro administrativo do município, da antiga Vila de Iguassú para
as margens da ferrovia, no arraial de Maxambomba, foi oficializado em 1891. Em 1916, o
novo núcleo administrativo, Maxambomba, foi nomeado Nova Iguassú. Assumimos este
marco e, esta questão, os interesses possivelmente inscritos na mudança do nome, como
baliza dos investimentos de pesquisa.
Mas, em verdade, a delimitação cronológica e espacial não pode deter o olhar do
historiador que precisa estar atento a diversas temporalidades que atravessam seu objeto,
alargando, então, os horizontes de seu observatório. Assim, divisas temporais flexíveis não
devem ser entendidas como busca de “origens” do objeto estudado, mas permitem lembrar
que os recortes são metodologias a que o historiador precisa recorrer e que não
necessariamente correspondem a fronteiras existentes na experiência dos sujeitos e da
história, enquanto totalidade complexa e dinâmica. A periodização da pesquisa expõe os
limites e alcances do que se quer visualizar e por isto, tem estreitas relações com o marco
teórico do trabalho, com os objetivos da pesquisa (NUNES, 2005).
Assim, pelo enquadramento realizado nesta pesquisa, focalizaram-se os processos de
escolarização no município entre o período de deslocamento do centro administrativo da
cidade para Maxambomba, o que criou a Nova Iguaçu (distrito-sede), que foi, também, um
período de transformações econômicas e sociais devido ao desenvolvimento das atividades de
cultivo, beneficiamento e comercialização de laranjas. Nesse período, grupos vinculados à
atividade procuraram reordenar as funções do município, a ocupação e os usos do espaço, em
função da citricultura. A citricultura foi o principal eixo estruturante da economia no
município de Iguaçu entre as décadas de 1920 e 1940, sobretudo no distrito-sede.
Luciano Mendes de Faria Filho propõe a utilização do regional na história da
educação, como posição de análise: pensar a região como lugar epistemológico, isto é, o uso
da noção de regional como escala analítica:
[...] o regional seria uma das maneiras pelas quais eu busco entender e dar
inteligibilidade a objetos que, em outras escalas e de acordo com minhas pretensões
(ou possibilidades), não dariam o resultado que espero alcançar. A pretensão não
seria de circunscrever um objeto a uma região e mostrar a forma como ele se realiza
ali, em sua particularidade, mas qual inteligibilidade é possível produzir para aquele
16
fenômeno quando me disponho a ‘observá-lo’ de determinada posição, ou escala,
em sua universalidade (FARIA FILHO, 2009, p.65).
Por isto, neste trabalho, a investigação sobre os processos de escolarização no
município de Nova Iguaçu não é apenas uma escolha temática, mas pretende-se explorar as
possibilidades teóricas e metodológicas que aparecem quando um município é demarcado
como escala analítica. Opera-se ainda um segundo enquadramento quando, dentro do
município, a pesquisa procurará enfocar a análise a partir do distrito-sede, que é a cidade de
Nova Iguaçu. No município de Iguaçu, o distrito-sede se construiu como cidade em
permanente interação com as zonas rurais do município, em função do desenvolvimento da
citricultura. Esta imbricação entre rural e urbano, que se identifica ao delimitar o distrito-sede
como posição de análise, semeia a problemática de pesquisa.
A questão central é investigar por que e como ocorria o desenvolvimento diversificado
de níveis de ensino na região do município que vivia, fundamentalmente, de atividades de
cultivo e de beneficiamento de laranjas para exportação. Estas confluências entre os temas da
escolarização, do urbano e do rural no distrito-sede, permitem construir uma escala de
observação singular e diferenciada, posto que na historiografia da educação há um acúmulo
maior de reflexões sobre as relações entre escola e cidade. A partir do município de Nova
Iguaçu como posição de análise, com ênfase no distrito-sede, o que é possível conhecer sobre
a história dos processos de escolarização? Naquele contexto histórico, por que meios e
motivos se procurava inscrever a instrução na vida do município, sendo este movimento
incentivado por diversos grupos sociais na cidade?
O objetivo geral consiste em identificar as forças atuantes na sociedade e suas formas
de participação, adesão ou resistência na organização de escolas no município de Nova
Iguaçu, entre os anos de 1916-1950. Na proposta de pesquisa adotada, foi considerado que
examinar os processos de escolarização implica conhecer os processos e políticas que
engendram a constituição de uma rede de escolas, as funções sociais atribuídas à escola, além
de pensar a escola enquanto organizadora da cultura no seu entorno, num raio de ação que
transborda as relações escolares para outros setores da vida social, de como a instituição se
instrumentaliza para tal, e as tensões desse processo (FARIA FILHO; BERTUCCI, 2009,
p.14). Pela investigação das funções sociais que eram atribuídas à escolarização da sociedade
para a organização da cultura e dos comportamentos sociais, pretende-se conhecer os projetos
dos grupos sociais que disputavam imprimir seus interesses na condução da sociedade
iguaçuana.
17
A educação é arena de disputas em razão de sua importância como lócus de
disseminação de ideias e práticas. É uma trincheira de embates pela adesão às concepções de
mundo que os diferentes grupos interessados na direção da sociedade buscavam arregimentar
(BUTTIGIEG, 2003, p.47). A atuação destes grupos no interior das agências de poder local e
nas formas de associação presentes na sociedade civil remete à tese do Estado Ampliado de
Antonio Gramsci (2002; 2007). Compreender o Estado como uma correlação de forças, como
resultado de disputas entre projetos de poder diferentes, implica atentar para como as
iniciativas no âmbito educacional são perpassadas por contradições, confrontos e negociações.
Sob este referencial, a educação é compreendida em sentido amplo, tanto nas expectativas
depositadas sobre a instrução escolar como modo privilegiado de socialização e de
disseminação de novos códigos e práticas de sociabilidade nas sociedades capitalistas, quanto
na compreensão de que os projetos de poder, movidos por sujeitos coletivamente organizados,
são projetos que buscam impor, por operações de hegemonia, suas concepções de mundo
sobre o conjunto social.
Nesta medida, há que se considerar que o período em foco foi relevante na divulgação
de um consenso sobre a importância da difusão da educação para inserir o país na marcha do
“progresso” econômico e das sociedades “civilizadas”. Podem esses contextos explicar as
experiências e ações em instrução promovidas em Nova Iguaçu? Como as discussões sobre a
construção da nação, relembradas pela República, rediscutidas na década de 1920 e que
encontraram uma forma específica nos grupos que chegaram ao poder no pós-1930 incidiram
sobre o estado do Rio de Janeiro, especialmente no município de Iguaçu?
Pode-se explicar como o município de Nova Iguaçu desenvolveu os níveis de ensino,
uma rede de escolas que é significativa no cenário estadual nos anos de 1940? Que tipos de
escolas a sociedade iguaçuana conheceu, que projetos de escolarização procurou implementar,
e que tipo de sociedade estas escolas almejaram a produzir? Quais as funções da escolarização
para aquela sociedade?
Nesse sentido, pensar a história da educação e a história regional envolve refletir sobre
as conexões entre o local e o global, o particular e o geral, a parte e o todo, de forma que se
trata mais de uma postura metodológica do que um recorte temático. Observa-se que esse
mote de questões esteve presente nos estudos produzidos sob o viés da micro-história.
Ainda que não possa ser concebida como um movimento unificado, como uma escola
historiográfica, a experiência da micro-história possibilitou o questionamento e revisão de
cânones da prática historiográfica. Ao aprofundar o diálogo com o campo da historiografia
social inglesa e com a antropologia, a micro-história recolocou a compreensão das relações
18
entre indivíduo e estrutura no processo histórico. Retomou a importância da cultura como
dimensão importante para a compreensão do social, permitindo rever as ênfases no
econômico, no político, nas estruturas e conjunturas e reconsiderando a experiência vivida
pelos atores sociais. Em geral, os estudos de micro-história “reduziram” a escala de
observação, privilegiando novos atores sociais, novas periodizações e temas, assim como
novas metodologias e fontes de pesquisa, o que contribuiu para revisão do significado e da
importância dos estudos de história local e regional. Porém, na perspectiva defendida por
Revel, este exercício ocorria:
Não para ceder novamente à vertigem do individual, quando não do excepcional,
mas com a convicção de que essas vidas minúsculas também participam, à sua
maneira, da ‘grande’ história da qual elas dão uma versão diferente, distinta,
complexa. O problema aqui não é tanto opor um alto e um baixo, os grandes e os
pequenos, e sim reconhecer que uma realidade social não é a mesma dependendo do
nível de análise (REVEL, 1998, p.12-13).
Interessa aqui a proposição epistemológica de “variação de escalas” proposta por
Revel, a fim de pensar as relações entre história da educação e história “regional”, posto que:
[...] a escolha de uma escala de observação produz efeitos de conhecimento, e pode
ser posta a serviço de estratégias de conhecimentos. Variar a objetiva não significa
apenas aumentar (ou diminuir) o tamanho do objeto no visor, significa modificar sua
forma e sua trama (Ibidem, p.20).
Por isto, tomou-se o recorte com base no município de Nova Iguaçu como um
movimento de redução da escala de observação na história dos processos de escolarização.
Enquanto característica da história ocidental, desde o século XVI, como processo de
transformação de sociedades sem escolas para a sociedade contemporânea escolarizada
(FARIA FILHO; BERTUCCI, 2009, p.13), a história dos processos de escolarização é uma
temática ampla. Mas pretende-se observar este fenômeno de uma determinada “posição de
análise”, sob a perspectiva da história local.
Contudo, nesta operação historiográfica não se busca “isolar” o objeto; ao contrário, a
proposta é “variar a objetiva”, porque a escolarização está imbricada com os aspectos
políticos, econômicos e sociais, de maneira que a perspectiva macro auxilia a compreensão do
objeto. Até porque, no que se refere à administração do ensino, há oscilações nas
responsabilidades entre as esferas municipal, estadual e federal, assim como convênios e
interdições. Por isto, não se trata de inverter as hierarquias entre macro e micro, ou buscar
reflexos, ressonâncias ou confirmações da esfera macro/nacional na escala de observação da
história local.
Entre os deslocamentos que a micro-história realiza, é significativa a redefinição da
noção de contexto: a micro-história recusa partir de um contexto global e unificado para situar
19
uma realidade particular, “o que é proposto, ao contrário, é constituir a pluralidade dos
contextos que são necessários à compreensão dos comportamentos observados” (REVEL,
1998, p.27). Por meio do procedimento de variação de escalas se afastam as noções da
sociedade e do contexto histórico como homogêneos e estáticos, e as possibilidades de
escolhas, o caráter relacional das redes sociais, as ações e estratégias dos sujeitos retomam sua
importância na análise do processo histórico (LIMA, H., 2006, pp.260-261).
Sob essa ótica, busca-se perceber, na variação de escalas, “nas dinâmicas de interação
entre o micro e o macro na escrita da história” (SCHUELER; SILVA, 2008, p.236), as
possibilidades de diversidade e heterogeneidade no desenvolvimento dos processos de
escolarização, posto que “cada ator histórico participa, de maneira próxima ou distante, de
processos – e, portanto se inscreve em contextos – de dimensões e de níveis variáveis, do
mais local ao mais global” (REVEL, 1998, p.28).
Quando se considera a diversidade e heterogeneidade dos processos de escolarização,
nota-se que, além das transformações históricas que configuram uma região, é preciso rever
também a aparente homogeneidade que uma delimitação administrativa ou territorial – (como
a de município) pode induzir. As dimensões do urbano e do rural, do centro e da periferia
foram vértices importantes para compreender a distribuição das escolas no município, a maior
ou menor participação das esferas do poder público e da iniciativa privada.
Neste trabalho, o distrito-sede, Nova Iguaçu, se apresenta com a especificidade de ser
mobilizado pelo rural e pelo urbano. Em que medida o rural e o urbano implicaram
experiências de escolarização diferentes ou semelhantes, em tipos de instituições, níveis de
ensino, em circulação de modelos, sujeitos, práticas diferentes dentro do mesmo município?
Como a experiência do urbano e a experiência do rural incidem nos processos de
escolarização? Ademais, para o caso de Nova Iguaçu, além dos processos de emancipação que
desmembraram o território do município, ocorreram sucessivas remarcações das fronteiras do
perímetro urbano e das zonas rurais.
Em função do problema de pesquisa formulado, tomamos por hipótese que aprofundar
a análise das relações entre urbano e rural, centro e periferia, retomando o jogo de escalas,
poderia fornecer elementos para compreender a importância da escolarização para aquele
município e elucidar o estranhamento causado em notar a importância que um município
agrário-exportador conferiu à escolarização. Afinal, é possível estabelecer relações entre
agricultura e processos de urbanização e modernização? Buscou-se investigar as imbricações
entre a conjuntura histórica e o desenvolvimento do processo de escolarização, analisando as
20
imbricações entre cidade, campo e escola, entre projetos de sociedade e projetos de
escolarização no município.
No entanto, as escalas do rural e do urbano não foram tidas como antagônicas. A
periodização adotada abarca dois momentos diferentes na correlação de forças entre os setores
da agricultura e da industrialização no país. Ainda que a crise das oligarquias agrárias, nos
anos de 1920, tenha concorrido para que novos projetos tenham sido acionados para a
economia do país no pós-1930, o processo de implantação do capitalismo industrial dependeu
das divisas geradas pelo setor agrário-exportador. As teses da oposição entre rural e urbano,
agricultura e indústria não se sustentam diante das recentes teses sobre o desenvolvimento
econômico do país (MENDONÇA, s/d;OLIVEIRA, 2003).
Ademais, no estado do Rio de Janeiro, durante a primeira metade do século XX, a
recuperação das atividades agropastoris foi o centro da pauta da recuperação econômica,
defendida pelos sucessivos governos (FERNANDES, 2009; MENDONÇA, 1997). Parte da
estratégia de pesquisa consistiu em recuperar e analisar, por meio das fontes de constituídas,
os significados que eram atribuídos, em diferentes contextos, por diferentes vozes, às noções
de rural e urbano, dos distintos usos que se buscou impor, as confluências e oposições
forjadas, portanto socialmente construídas, em face de processos e interesses em curso, entre
rural-agricultura; urbano-cidade-urbanização, enfim, dos modos que se procurou construir a
Nova Iguaçu. Rural e urbano, então, mais do que paisagens naturais e fixas, revelaram-se
móveis, impregnadas de historicidade e especificidades em função dos diferentes contextos
que engendravam a Nova Iguaçu e a relação deste distrito com os demais espaços do
munícipio.
Para desenvolver essa intenção de análise demarcou-se como os objetivos da pesquisa
identificar as forças atuantes na sociedade civil e na sociedade política e suas formas de
participação, adesão ou resistência no estabelecimento de processos e políticas para a
organização de escolas de ensino primário e de ensino secundário na cidade de Nova Iguaçu,
públicas e de iniciativa particular. Deste modo, buscou-se examinar os projetos, as
concepções e conflitos a respeito das funções sociais e econômicas da escolarização para o
município, nos grupos da própria região. Foi pertinente recuperar informações e registros das
interações ou interdições das atividades escolares no município, sobretudo no distrito-sede,
relacionando-os com sua ambiência política e aspectos de sua inter-relação econômica com a
atividade de exportação de laranjas.
Na reflexão desenvolvida, a partir da articulação entre o princípio da “variação de
escalas” apresentado por Revel e o programa de pesquisa sobre os processos de escolarização
21
proposto por Faria Filho, entende-se que instrumentalizar o macro e micro; adotar o regional
como escala analítica e epistemológica; investigar o fenômeno da escolarização é também
refletir sobre como estrutura e processo se articulam na história (FARIA FILHO;
BERTUCCI, 2009, p.12).
Esta posição de análise correspondeu a um trabalho de composição de tipos
documentais diferentes, conforme a operação historiográfica realizada na delimitação do
objeto. O universo de composição das fontes reflete a “variação de escalas” adotada como
princípio teórico, com suas implicações metodológicas. Afinal, é o contorno teórico que
informa a maneira como o historiador vai abordar as fontes, quais serão privilegiadas, como
serão trabalhadas. A concepção do ofício do historiador e a prática com as fontes devem se
articular, beneficiando-se a pesquisa desta mediação, que além de influenciar o trabalho nos
arquivos, deve se expressar na elaboração textual (NUNES, 2005).
A exploração inicial de localização e seleção de fontes apresenta dificuldades comuns
aos estudos da “história local”, posto que as políticas e administrações municipais, em geral,
sofrem com a descontinuidade, de forma que não houve um compromisso da administração
municipal em preservar, organizar e permitir o acesso aos acervos. Maiores são os obstáculos
acerca dos atos do Poder Executivo Municipal e da Câmara de Vereadores. Mesmo na esfera
estadual, não há uma política de acessibilidade ao acervo da Secretaria de Educação do
estado.
Por isto, o levantamento de fontes, quando se trata da história regional, possui uma
trajetória diferenciada, porque foi maior a dependência dos acervos de particulares, ou de
instituições privadas. A ausência de um ordenamento, de um arquivo público municipal etc.
repercutiu em estratégias distintas na constituição das fontes. A consulta ao acervo do jornal
local Correio da Lavoura, na sede de sua redação, foi essencial para a realização da pesquisa.
Na Biblioteca Estadual de Niterói e no Centro de Memória Fluminense foram
localizados relatórios de diretores da instrução pública no estado, regulamentos do ensino
primário, e legislação pertinente. A Biblioteca Nacional e a Biblioteca da Assembleia
Legislativa do Estado foram percorridas em busca de legislação do ensino – municipal e
estadual. O acervo de mapas de frequência, do fundo Departamento de Educação do Arquivo
Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ), possibilitou a lida com um tipo documental
ainda pouco explorado, a construção de uma metodologia específica de coleta de dados e o
cotejamento de informações sobre parte da rede de escolas do município. No APERJ também
foram localizados relatórios de interventores do estado no pós-1930 e legislação pertinente ao
tema. Os acervos disponibilizados por particulares e instituições locais foram imprescindíveis
22
para a pesquisa sobre a história local, desde filme, fotografias, livros e outros tipos de
documentos.
A composição da narrativa procurou atender ao princípio da “variação de escalas” e da
redefinição da noção de contexto. Isto posto, procuramos compor o cenário no movimento da
cena. Construímos no primeiro capítulo um “primeiro ato” sobre os debates acerca da
instrução agrícola. Em Iguaçu, este tema integrou a plataforma de ação de um jornal local, o
Correio da Lavoura. Enquanto fonte e objeto de pesquisa, a investigação da função deste
veículo como difusor de projetos presentes em grupos políticos locais, nos levou a restituir a
inserção de Iguaçu nos projetos políticos e econômicos defendidos pelos governos
fluminenses, e por setores da sociedade civil, acerca da modernização das atividades
agropastoris para o desenvolvimento econômico do estado.
Questões que fomentaram os debates ao longo da Primeira República, como a
destinação da mão-de-obra pós-abolição, a correlação de forças entre os estados da Federação
e os debates sobre a disseminação da instrução elementar permearam os debates ruralistas.
Apresentamos, no seio do projeto ruralista, como a instrução, em sentido amplo, foi
instrumentalizada como plataforma de um novo ordenamento das atividades agropastoris,
para garantir a hegemonia dos grupos agrários.
Em seguida, o exercício de recompor a constituição de uma rede de escolas em Iguaçu,
colocou em relevo a construção de um aparato burocrático, pelo governo estadual, para
mediar o processo de expansão da escola primária no estado. Foi possível observar o processo
de construção do governo, da afirmação do estado, concomitante aos processos de expansão
da escola primária, como escalas congruentes. Um perfil de parte das escolas existentes em
Nova Iguaçu, nas décadas de 1930 e 1940, permitiu flagrar aspectos dinâmicos, em
constituição, em movimento, das experiências de elaboração desse modo de socialização. Nas
contradições que permearam este processo, observava-se o contraste entre a homogeneidade
pretendida pelos projetos de normatização elaborados pelo estado, e a pluralidade das
experiências, a instabilidade, as estratégias promovidas para povoar as escolas de alunos,
professores, modos e condições de funcionamento.
Variando a escala de observação, após alguns pontos de chegada nos exercícios
anteriores, no terceiro capítulo, tencionamos o projeto ruralista e a ação do governo estadual
com o olhar sobre como os debates e ações em prol da instrução e do desenvolvimento do
município pautaram a ação municipal. O móvel da análise, neste ponto, foi aprofundar o
cotejamento da construção das escalas do urbano e do rural, em Iguaçu, sobretudo no distrito-
sede, com os processos de escolarização e com a afirmação da citricultura. A visita de Getúlio
23
Vargas ao munícipio em 1931 e as comemorações pelo centenário de fundação da Vila de
Iguaçu, em 1933, foram examinados enquanto momentos importantes da redefinição das
relações de força e das alianças dos grupos locais citricultores no pós-1930. As experiências
das escolas típicas rurais possibilitaram examinar as apropriações do projeto ruralista para a
instrução escolar no pós-1930.
Os temas da higiene, do saneamento, dos “melhoramentos urbanos” e da instrução
escolar são trazidos como vértices da construção de Nova Iguaçu, e de suas escolas, no quarto
capítulo. Foi possível recuperar outros significados atribuídos à cidade, ao urbano, e seus
vínculos com as atividades produtivas da região. Examinamos como as práticas, campanhas,
discursos e encenações pelo progresso, pela higiene e pelo civismo, no território do município
e no interior das escolas, configuraram a interseção entre quais funções foram atribuídas à
escolarização dos sujeitos e a construção de uma identidade local e nacional, e de que modos,
a vida da cidade/campo foi estabelecendo um papel a ser representado pelas escolas. Na
organização do texto, optamos também, por utilizar o sistema autor, data, no corpo do texto,
para as fontes bibliográficas, enquanto as notas de rodapé foram preservadas para as demais
fontes de consulta e pequenas notas explicativas.
O que emerge da análise, no eixo entre os quatro capítulos, é que a construção da
Nova Iguaçu e os processos de escolarização, da década de 1920 a fins dos anos de 1940,
integraram um mesmo processo – heterogêneo e dinâmico – de ordenação do social, das
funções rurais e urbanas, em face da introdução de relações capitalistas no campo, porém,
pela manutenção de formas arcaicas de dominação. Não é possível compreender os diferentes
movimentos de gestação da Nova Iguaçu sem compreender as funções atribuídas à educação,
tanto na formação das paisagens rurais quanto urbanas do município e atentar para as
distinções entre a defesa e a propaganda pela citricultura como veículo do progresso e a
manutenção de precariedades e contradições que assolavam a vida da população trabalhadora.
24
Figura 1 Mapa de limites atuais do município de Iguaçu e limites de 1932.
Limites atuais do município
Fonte: Gentilmente produzido e cedido pelo geógrafo e professor Manoel Ricardo Simões.
Figura 2 Mapa do município de Nova Iguaçu, 1948.
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sinopse Estatística do Município de Nova Iguaçu.
Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Serviço Gráfico do IBGE, 1948.
25
Capítulo 1
Pela Causa da Instrução Agrícola
“A educação rural constituía-se em princípio de ordenação social do campo
[...]” (MENDONÇA, 2010, p.36).
Ao correr da pena: lavoura, higiene e instrução
Entre 1917 e 1935, estima-se que 45 jornais haviam sido criados em Nova Iguaçu,3
distrito-sede do município de Iguaçu,4 mas apenas um não havia sido extinto: O Correio da
Lavoura.5 Na opinião dos colaboradores do Jornal, isto era devido à condução impressa ao
semanário por seu fundador, o capitão Silvino de Azeredo. Em sucessivas ocasiões, ratificava-
se a linha “independente”, “apartidária” adotada no Jornal, compromissado apenas com o
programa de objetivos inscrito na primeira edição.6 As bandeiras proclamadas do Jornal
consistiam na defesa da lavoura, da higiene e da instrução. Estas causas foram apresentadas e
correlacionas pelo Jornal, buscando propiciar um consenso acerca da importância destas
frentes para o desenvolvimento do município. Por este programa acreditava-se defender os
interesses do povo do município e contribuir para a grandeza da pátria e da terra fluminense.
Mas quem era o capitão Silvino de Azeredo e por que este programa? Como a
fundação do Jornal poderia contribuir para o progresso do município? O que pode explicar o
sucesso de seu empreendimento jornalístico, em um ambiente político que próprio Jornal
reconhecia como hostil, desconfiado, e mesmo em uma localidade que não oferecia o recurso
financeiro necessário para sustentar os custos do Jornal?
Neste capítulo, a partir da pesquisa no Correio da Lavoura,7 e do cruzamento com
outras fontes e bibliografia, foi possível recompor o movimento de uma nova ordenação
daquela sociedade para o desenvolvimento das atividades agrícolas. Este movimento pautou a
3 Adota-se neste trabalho a ortografia atual para o nome do município. A grafia original é mantida em
alguns subtítulos e na citação direta de fontes. 4 Ao longo do texto, conforme o período a que se refere, utiliza-se Iguaçu para o município (até 1938) e
Nova Iguaçu para o distrito-sede, a partir de 1916. Todo o município passaria à denominação de Nova
Iguaçu, provisoriamente pelo Decreto-lei n. 392-A, de 31 de março de 1938 e definitivamente a partir
da reforma da divisão territorial do estado do Rio de Janeiro, pelo Decreto n. 641 de 15 de dezembro de
1939. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro. APERJ. 5 LOUVÁVEL ESFORÇO. Jota Hess, 28 mar 1935.
6 NOSSO OBJETIVO, 22 mar. 1917.
7 O Jornal Correio da Lavoura continua a existir, atualmente, no município de Nova Iguaçu. É dirigido
pelo Sr. Robinson Belém de Azeredo, neto de Silvino de Azeredo, auxiliado pelo filho Vinícius
Menezes Azeredo. Agradeço ao Sr. Robinson a gentileza de ter disponibilizado a consulta na redação do
Jornal ao acervo de números encadernados do Jornal e ao funcionário José Rocha, o querido “Reco” (in
memoriam), pelo auxílio na fase de pesquisa e digitalização do acervo selecionado.
26
gestação da Nova Iguaçu, disputou a condução dos usos daquele território e daquela gente a
partir da década de 1910, principalmente no distrito-sede. A instrução, em sentido amplo, foi
um dos eixos deste processo, pois integrava os projetos de recuperação da agricultura, como
ferramenta que fundaria uma nova ordem, propiciando, concomitantemente, mudanças no
mundo da produção.
Nesta pesquisa, o Jornal Correio da Lavoura foi adquirindo vulto para além das
informações que comporta sobre a educação escolar em Iguaçu, sendo o mesmo um ícone do
movimento de parte da sociedade local pela construção da Nova Iguaçu. Recupera-se, por
meio do Jornal, a campanha promovida de incentivo à lavoura e como esse movimento era
realizado. Porque, de fato, Nova Iguaçu integrou, pela via da citricultura, uma estratégia
ruralista de recuperação econômica do estado do Rio de Janeiro. Os debates sobre a educação
escolar e a instrução agrícola constituíram estes esforços.
Enquanto congregava sujeitos e setores que procuravam mobilizar a defesa da lavoura
para os destinos do município, o Jornal permite ver uma experiência de parte da sociedade
civil organizada, que utiliza a imprensa como plataforma de ação. É pertinente examinar a
função intelectual exercida por Silvino de Azeredo, diretor-proprietário do jornal local
fundado em 1917.
Silvino de Azeredo: percursos de formação
Nas páginas do Correio da Lavoura as bandeiras da higiene, instrução e lavoura
flamavam como ferramentas de edificação do desenvolvimento econômico e do progresso
moral do país. Mais do que isso, se instrução e higiene eram indispensáveis para a superação
da crise agrícola, o eram, também, para o soerguimento do país em nação. Situar-se como
“órgão independente” era, ainda, uma estratégia de distinção e de afirmação de relativa
autonomia face às oscilações e acordos da política local em Iguaçu. Nos números
comemorativos do aniversário do Jornal ou do aniversário natalício de seu proprietário,
encontram-se elogios à firmeza de Silvino de Azeredo na condução da Folha, posto que ele
defendia com retidão o programa do Jornal, “num meio onde, insidiosamente, o partidarismo
tacanho e desenfreado tudo arrasta pra o mephico terreno das baixas paixões”.8 Sob a ótica
dos editoriais, a autonomia era assegurada pelo apoio do público, a contribuição dos
assinantes, anunciantes e leitores avulsos.
8 JUSTO GALARDÃO. Especial para o anniversario do Correio da Lavoura, 22 mar 1930.
27
As fotografias do capitão9 Silvino de Azeredo publicadas no Jornal, assim como de
seus familiares e de seu colaborador Silvino Silveira, alertam para uma condição nunca
mencionada nos textos: são intelectuais negros. Esta condição nos impõe a pensar a trajetória
desse intelectual e sua escolha/possibilidade por atuar na imprensa. É recente em nossa
historiografia o conhecimento e a compreensão sobre as possibilidades que homens, mulheres
e crianças negras podem ter tido de acesso à escolarização e à condição social de não-
escravos, ainda durante o regime escravista. Para não incorrer nos efeitos de compor uma
trajetória homogênea, encadeada, autoexplicativa, apenas alguns itens serão retomados sobre
o capitão Silvino de Azeredo e sua trajetória escolar e profissional. A opção feita é dar a ver a
experiência de formação e escolarização desse intelectual negro, nascido na Vila de Iguaçu
em junho de 1859.
Quando fundou o Correio da Lavoura, o capitão Silvino Hypolito de Azeredo
Coutinho tinha a idade de 58 anos e uma trajetória intelectual relevante. Notas biográficas
esparsas, comentários e homenagens feitos por colaboradores do Jornal revelam parte da
trajetória deste intelectual, que passou por diversas instituições de ensino e de formação
profissional, exerceu diversos tipos de trabalho, incluindo o ensino, e circulou pelo ambiente
literário da cidade do Rio de Janeiro.
Tendo ficado órfão aos oito anos de idade e tendo herdado uma “honrosa pobreza”,
Silvino fez os estudos preliminares com o tutor Antonio Manoel de Castro Portugal,
concluídos em Belém10
, onde tinha parentes. Trabalhou no comércio da localidade e depois
em Barra do Piraí. Precisou retornar por motivo de doença e depois foi para Paty do Alferes,
trabalhar na Agência dos Correios.11
De 1880 a 188[2] matriculou-se no Externato Jasper, no Rio de Janeiro e em seguida,
até 1884, estudou no “reputado” Collegio Aquino “onde sempre se distinguiu por exemplar
comportamento [e] invejavel applicação”. O ingresso nestas instituições teria ocorrido
“auxiliado por fazendeiros locais”.12
Nessa época, o Externato Aquino era um reconhecido curso de instrução secundária e
de ciências físicas que funcionava na Corte, conduzido pelo professor João Pedro de Aquino.
Além do curso de instrução secundária e de ciências físicas, desde 1870, oferecia os cursos de
agrimensura, o comercial e o acadêmico (este curso consistia no auxílio às matérias cursadas
9 Não foram localizadas informações sobre a adoção da denominação de “capitão”.
10 Atual município de Japeri, emancipado de Nova Iguaçu em 1991.
11 HOMENAGEM AO NOSSO DIRETOR. O HERÓE DO DIA, 17 jun 1920.
12 SILVINO DE AZEREDO. Dados biográficos. Por Luiz Martins de Azeredo, 24 mar 2007. Luiz
Martins de Azeredo era filho de Silvino de Azeredo.
28
pelos alunos do 1º e do 2ª ano da Escola Central, e do 1º ano da Faculdade de Medicina). A
instituição obteve grande prestígio pelo número de aprovações de alunos nos cursos de
medicina, engenharia e para a Escola de Marinha. Pelo Externato passaram e foram formados
importantes professores. O próprio Aquino era estudante da Escola Central quando se reuniu
com outros alunos para o estudo das matérias do primeiro ano, o que fomentou a criação do
curso.13
A nota biográfica sobre Silvino de Azeredo informa que ele foi companheiro de José
do Patrocínio na causa abolicionista. Além da causa abolicionista há outro ponto comum
nessas trajetórias: a relação com o curso de farmácia. José do Patrocínio também frequentou o
Externato Aquino para cursar as matérias preparatórias para os cursos de farmácia e de
medicina (SILVA, 2006, p.2). Porém Silvino e Patrocínio não estudaram ali no mesmo
momento.
Consta que Silvino de Azeredo “passou” do Colégio Aquino para o “Laboratorio
Chimico e Pharmaceutico Militar”. Até 1877, o Laboratório Farmacêutico, que era um anexo
ao Hospital Militar da Guarnição da Corte, fornecia medicamentos aos pacientes. Naquele
ano, foi autorizado a funcionar em nova sede, passando a denominar-se Laboratório Químico
Farmacêutico. Sob a administração do alferes Augusto Cezar Diogo, houve modernização e
ampliação dos serviços do Laboratório, que iniciou a produção e distribuição de
medicamentos para colônias agrícolas, casas de correção, corpo de bombeiros e outros
hospitais e instituições. Em 1887, foi denominado Laboratório Químico Farmacêutico Militar,
pois também era encarregado de atender às farmácias e forças expedicionárias militares e
quaisquer demandas do Ministério da Guerra (DICIONÁRIO HISTÓRICO-BIOGRÁFICO
DAS CIÊNCIAS DA SAÚDE NO BRASIL 1832-1930). Segundo as notas bibliográficas
sobre Silvino de Azeredo, ainda que se refiram ao Laboratório Químico Farmacêutico Militar,
ele deve ter passado pela instituição nesse período de modernização, porque é mencionada a
administração do general Augusto Cezar Diogo.
Ainda nessa época, Silvino de Azeredo tornou-se aluno do Instituto Farmacêutico do
Rio de Janeiro. Essa instituição, criada em 1858, compartilhava dos objetivos da Sociedade
Farmacêutica Brasileira, fundada em 1851 com o intuito de defender a “classe” dos
farmacêuticos e a regulamentação deste ofício no Brasil. Foi a associação de farmacêuticos
mais importante do séc. XIX, contando com o patrocínio da princesa Isabel (Ibidem).
13
Informações sobre o Externato Aquino foram consultadas no site:
http://www.cbg.org.br/arquivos_genealogicos_e_01.html. Acessado em 20 dez 2011.
29
Pelo desenvolvimento e legitimidade da farmácia, o Instituto comportava um projeto
educativo, que previa a organização de um corpo de praticantes-pensionistas, a criação de
uma biblioteca, de um gabinete de ciências naturais, de um periódico trimestral e de cursos
preparatórios. Pretendia, também, estimular pesquisas e conceder premiações. Pela atuação do
Instituto, buscou-se intervir no ensino de farmácia - que era subordinado à Academia Imperial
de Medicina - e criar um curso superior de farmácia com maior influência de farmacêuticos
do que de médicos.
Os alunos ingressavam no Instituto como pensionistas de segunda classe, precisavam
apresentar atestado de moralidade, ter mais de dez anos e saber ler, escrever e contar. A
prática da farmácia em algum laboratório era obrigatória por dois anos, e, a cada três meses, o
empregador deveria subscrever um certificado de conduta e aproveitamento do pensionista.
Após os dois anos e aprovação nos exames de habilitação, o pensionista era promovido à
primeira classe, podendo frequentar gratuitamente os cursos de francês e matemática do
Instituto. Havia premiações aos alunos que em um ano ou dois se habilitassem a algum curso
superior de farmácia nas faculdades de medicina (DICIONÁRIO HISTÓRICO-
BIOGRÁFICO DAS CIÊNCIAS DA SAÚDE NO BRASIL 1832-1930).
Posto isto, é provável que Silvino Azeredo tenha trabalhado no Laboratório Químico
Farmacêutico para exercer a prática exigida pelo Instituto Farmacêutico. Segundo as notas
bibliográficas, concorreu e foi contemplado pelo Instituto com o prêmio “Rubens Tavares”.
Aqui há uma imprecisão entre a informação do Jornal e o verbete sobre o Instituto
Farmacêutico. Segundo o periódico, o prêmio consistia nos livros e na matrícula para o
primeiro ano de farmácia na Faculdade de Medicina. No verbete, o prêmio já era concedido
quando o aluno se habilitava no curso.
O prêmio foi entregue a Silvino de Azeredo pelo imperador D. Pedro II, acompanhado
do ministro dos Negócios do Império, Pedro Leão Velloso e do ministro da Guerra, Carlos
Afonso de Assis Figueiredo.14
Nesse caso, Silvino de Azeredo pode ter recebido a premiação
entre 1882 e 1883, quando os citados ministros exerciam estes cargos. Se as datas do Jornal
estão certas, ele também estudava no Externato Aquino quando foi premiado e habilitado ao
curso de Farmácia.
Silvino de Azeredo teria cursado um período da Faculdade de Medicina. É possível
imaginar que essa passagem exitosa pelo Instituto Farmacêutico do Rio de Janeiro tenha
mobilizado o premiado aluno para a importância de temas relacionados à saúde das
14
HOMENAGEM AO NOSSO DIRETOR. O HERÓE DO DIA, 17 jun 1920.
30
populações, como a profilaxia e o atendimento clínico. Mas, antes de concluir o curso “em
plena floração de sua mocidade radiosa, cheia a alma de generosos ideaes”,15
Silvino
ingressou no curso geral da Escola Politécnica, em 1887. Seria interessante investigar se o
premiado aluno Silvino não teria ingressado a partir de 1884/1885 na Escola Superior de
Farmácia criada pelo Instituto. No entanto, por falta de recursos suficientes e de alunos, há
indícios de que a escola não tenha funcionado regularmente entre 1887 (ano em que ele
ingressou na Escola Politécnica) e 1889.
Naquele efervescente período político, Silvino circulava pelo Rio de Janeiro,
ensinando matemática no Liceu Literário Português e trabalhando na revisão do Diario do
Brazil, fundado e dirigido pelo deputado Antônio Alves de Sousa Carvalho. Segundo
Lusirene Ferreira (2010), o Diario do Brazil era fortemente conservador, anti-abolicionista e
representava os interesses dos fazendeiros. No entanto, a nota biográfica publicada no Correio
da Lavoura afirma que Silvino:
Ao lado do inesquecível Patrocinio luctou pela derrota da escravatura, narrando as
mais interessantes peripécias dessa sublime campanha. Muitas vezes o grande
abolicionista, para conter-lhe o ímpeto de certos actos em prol da extincção dessa
nodoa das paginas da Historia, batia-lhe nos hombros com affeição paternal: -
Socega menino, socega!..É que Azeredo queria que o captiveiro tivesse uma só
cabeça, como desejava celebre impera[i] [r]omano para o seu povo, [i] de decepal-a
de um só golpe.16
Silvino de Azeredo também lecionou na Escola Pública em Paty de Alferes por volta
de 1891, onde, já casado, dedicou-se à hotelaria e ao ramo de secos e molhados em Tatuí. Em
1904 tornou-se funcionário da Alfândega e voltou ao Rio de Janeiro, estabelecendo-se, em
1908, em um sítio em Maxambomba, sede administrativa do município de Iguaçu.17
Foi
funcionário nos trabalhos de Serviço de recebimento, guarda e conservação dos volumes nas
alfândegas, tendo presidido a comissão de revisão dos Estatutos da Caixa Auxiliadora dos
Empregados das Capatazias. Somente após deixar a função pública, fundou o Correio da
Lavoura, em 1917.18
Na primeira edição, Silvino de Azeredo assinava os compromissos do Jornal: [...]“
Será um jornal sério, proprio para o interior, adequado aos pequenos povoados que vivem em
família; dedicado mais ao nobre e honrado lavrador – gente feliz e independente – qual a
divisa d’este jornal”.19
15
HOMENAGEM AO NOSSO DIRETOR. O HERÓE DO DIA, 17 jun 1920. 16
Ibidem. 17
SILVINO DE AZEREDO. Dados biográficos. Por Luiz Martins de Azeredo, 24 mar 2007. 18
Idem. 19
NOSSO OBJETIVO, 22 mar. 1917.
31
O Correio da Lavoura e o ruralismo no estado do Rio de Janeiro
Os aniversários do Semanário eram celebrados em edições comemorativas, com
publicações de fotografias do fundador, com artigos que parabenizavam e saudavam a
continuidade da Folha. Nessas ocasiões o programa do Jornal era sempre mencionado,
repetido, como a causa que o identificava. Além dessa afirmação de continuidade, a análise da
publicação, desde a fundação até os anos 1950, comprova a permanência da defesa destes
ideais.
Sobretudo nas décadas de 1910 e 1920, as comparações entre jornalismo e sacerdócio,
imprensa e devoção, foram acionadas para justificar a importância da existência do Jornal
naquela cidade, para elogiar, homenagear, destacar o empenho, o esforço do diretor-
proprietário e de seus colaboradores. A imprensa era tratada como uma obra penosa, de
recompensas simbólicas, e não necessariamente financeiras... Apelava-se à colaboração dos
anunciantes, dos assinantes e dos leitores avulsos para a manutenção da Folha, como obra de
importância para aquela sociedade.
Em 1918, Silvino de Azeredo (diretor-proprietário), integrou o grupo que recebeu na
cidade o “Comitê de Propaganda pró-lavoura” e participou da mesa de conferência, realizada
no edifício da Câmara. Os palestrantes foram o “coronel” Plínio Machado, o advogado
Benjamim Magalhães, o “lavrador” Vianna Ferraz e o senhor Francisco Antonio Corrêa. Na
conferência, os palestrantes trataram do financiamento da agricultura e destacaram o bem
estar do trabalhador do campo em relação ao operário da cidade. O lavrador Viana Ferraz se
referiu a falta de recursos “para os da sua classe” e à ausência de caixas de empréstimo para a
lavoura. A comissão visitou a redação do Correio da Lavoura e Silvino de Azeredo foi
parabenizado “pela nobre campanha que se empenhou e feliz escolha do título dado ao
jornal”.20
Quanto à ação do Jornal e dos sujeitos nele organizados, foram diversos os meios de
atuação. Em tom prescritivo, colunas como “Calendario do Agricultor” e “Seção Agricola”
informavam sobre quais gêneros cultivar, como semear, adubar ou colher, conforme a época
do ano e a especificidade regional. Os resultados de pesquisas agronômicas, sobre o plantio,
beneficiamento e comercialização de produtos no país eram arrolados constantemente, assim
como as sugestões sobre a adoção dos cultivos de novos produtos: banana; trigo, milho, arroz,
por exemplo. O trato com as criações de animais e os procedimentos para combater as pragas
das lavouras também eram prescritos. É corrente a menção elogiosa e o tom de exemplo a ser
20
COMITÊ DE PROPAGANDA PRÓ-LAVOURA, 29 nov. 1917.
32
seguido de ações adotadas em benefício da lavoura em outras localidades, cidades, estados e
países. Na primeira edição do Jornal, figurava um artigo de Francisco Dias Martins sobre a
importância do lavrador “intelligente e desciplinado” para obtenção de bons resultados na
produção agrícola.21
Francisco Dias Martins integrava os quadros da Sociedade Nacional de
Agricultura e foi um dos expoentes das propostas mais detalhadas sobre o ensino agrícola no
país durante a Primeira República (MENDONÇA, 2010; 1997).
A divulgação de congressos, exposições, eventos, a menção de matérias publicadas em
outros periódicos, assim como o registro do recebimento de revistas e jornais afins
consubstanciavam outros expedientes de dar visibilidade ao tema da produção agrícola.
Tendo criado uma folha destinada a “concorrer para o progresso intelectual, moral e
material deste municipio” Silvino de Azeredo estabeleceu e propôs um programa, a ser
defendido e realizado, que era uma plataforma de ações para o desenvolvimento do
município.22
Além da iniciativa de fundação da Folha, no seu primeiro número divulgava sua
ação particular de criação de uma escola primária noturna, gratuita, para adultos.23
A
repercussão desta iniciativa resultou no convite recebido para ser delegado da Liga Brasileira
Contra o Analfabetismo. O telegrama transcrito no Jornal, recebido do presidente da Liga, Dr.
Antonio Ennes de Souza, também mencionava Luiz Palmier como sócio do diretor Silvino na
empreitada, por quem a Liga ficou sabendo da criação da escola.24
O médico Luiz Palmier era membro fundador da Liga e atuou intensamente na Liga
Fluminense Contra o Analfabetismo, uma seção da mesma. Incentivou o estabelecimento de
escolas nos municípios do interior do estado pela criação de cursos noturnos gratuitos,
procurou obter a adesão das administrações municipais e conquistar espaço de propaganda
para o combate ao analfabetismo e a defesa da obrigatoriedade do ensino primário nos jornais
locais (NOFUENTES, 2008, p.113). Ao que parece, o Correio da Lavoura foi um dos
veículos da ação de Luiz Palmier.
Cabe situar que o engenheiro politécnico Antonio Ennes de Souza, primeiro presidente
da Liga Brasileira Contra o Analfabetismo, foi o idealizador dos comícios agrícolas. Por meio
de assembleias e exposições volantes de produtos e implementos agrícolas, os comícios
pretendiam incentivar a agricultura e debater as consequências do fim da escravidão na
ordenação do trabalho. Da experiência desses comícios, um grupo de 47 pessoas organizou, a
partir de 1896, a fundação da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), formalizada em
21
A BOA SEMENTE. Dr. Dias Martins, 22 mar 1917. 22
NOSSO OBJETIVO, 22 mar. 1917. 23
PELA INSTRUCÇÃO, 22 mar. 1917. 24
LIGA BRAZILEIRA CONTRA O ANALPHABETISMO, 09 ago 1917.
33
1897, na qual Antonio Ennes25
foi também o primeiro presidente (MENDONÇA, 1997, p.41-
42).
A SNA formou-se por associação de “amigos e lavradores” para “o exame, o estudo e
a colaboração para a solução dos problemas dos agricultores, dos pecuaristas e dos industriais
das indústrias extrativas correlatas” (ESTATUTOS DA SNA, apud MENDONÇA, 2002, p.5).
Entre seus fundadores estavam grandes proprietários diplomados ou docentes da Escola
Politécnica do Rio de Janeiro (MENDONÇA, 2002, p.5). A SNA foi uma grande propulsora
do ensino agrícola no país, e propugnou também pela alfabetização e por mudanças na
organização dos demais ramos de ensino, conforme os interesses da lavoura. Há muita
semelhança entre o programa do Correio da Lavoura e os projetos de incentivo à agricultura
desenvolvidos pela SNA.
Ainda que o Jornal fosse publicamente um Correio da Lavoura, em campanha pelo
desenvolvimento da mesma, sua ação estava ancorada em diagnósticos de crise e de atraso da
lavoura. Pelas páginas do Jornal, era tecida e disseminada uma construção discursiva de certo
estado de coisas que precisava ser superado. Os recursos de solução também eram arrolados
pelo Semanário, entre os quais a instrução/educação, em sentido amplo, era a base das
soluções.
Alfredo Jardim,26
colaborador da Folha desde a fundação, ao celebrar o aniversário de
Silvino de Azeredo e destacar o espírito combativo do jornalista, justificava a defesa da
lavoura como uma opção “natural”: “E como a agricultura é ainda a base da riqueza nacional
e a terra é a mãe carinhosa, cujo seio fecundo se desata em frutos saborosos para regalo do
genero humano, era mais que natural que o novo jornal se fizesse defensor dos interesses da
lavoura. E assim foi”.27
25
O maranhense Antonio Ennes de Souza (1848-1920) diplomou-se em Ciências Físicas e Naturais na
Alemanha, foi professor de Engenharia de Minas na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, atuou nas
causas republicana e abolicionista, e participou da fundação da Sociedade Brasileira de Ciências,
fundada em 1916, com a participação de médicos e engenheiros. Além da intensa participação na Liga
Brasileira Contra o Analfabetismo, consta que organizou a fundação de uma Biblioteca Popular no
Maranhão por volta de 1871 (NOFUENTES, 2008, p.47-48). 26
As informações sobre Alfredo Jardim foram colhidas nas citações do Correio da Lavoura. Consta que foi
jornalista, diretor e proprietário do jornal Correio de Iguassú, que parece ter antecedido o Correio da Lavoura.
Silvino de Azeredo também trabalhou neste jornal (HOMENAGEM AO NOSSO DIRETOR. O HERÓE DO
DIA, 17 jun 1920). Alfredo Jardim publicou no jornal até 1930, quando era elogiado pelo Jornal como
“infatigavel batalhador das boas causas do jornalismo” (CAP. ALFREDO JARDIM, 16 out 1930). Em 1932,
Alfredo Jardim, numa nota de congratulações pelo aniversário do Correio da Lavoura, justificava seu
afastamento “voluntario” das “pugnas” do jornalismo, em função de certo “cansaço da longa vida de luctas” que
o forçaram a manter a “penna emmudecida e o silencio perfeito em volta do meu nome” (FAZ ANNOS, HOJE,
O CORREIO DA LAVOURA, 22 mar. 1932 ). 27
CHRONICA. Alfredo Jardim. 17 jun 1920.
34
Nos enquadramentos realizados pelo Jornal, por seus diversos autores, os significados
atribuídos ao território rural e ao seu uso pela agricultura moveram-se de forma dialética.
Eram perenes as alusões à terra, ao solo, à natureza, como fontes de recursos abundantes,
profícuos, fecundos para a produção de alimentos, fosse pela agricultura (principalmente) ou
pela pecuária, de modo que o uso do solo deveria ser necessariamente destinado à agricultura,
a fonte da riqueza “nacional”.
Observa-se uma fusão entre rural, o território, e a atividade da agricultura como
sinônimos, o que sinaliza uma disputa pelo controle do uso do espaço. A questão fundiária é
estruturante das relações de poder e isso estava em disputa naquele período de surtos
industriais no país e, no pós-1930, de consolidação do capitalismo (Cf. MENDONÇA, 2000b;
OLIVEIRA, 2003). Assim o Correio da Lavoura, referindo-se ao programa proposto desde
1917, definia:
LAVOURA quer dizer augmento de producção, barateamento da vida, opulência do
erario nacional, riqueza do productor, em summa, a felicidade humana. São os
campos, outr’ora estereis, desatando-se em estrias de ouro, esmantando-se de flores,
ostentando frutos variados e saborosos, tentando a gula dos contemporaneos como
na creação do mundo a maça do Eden despertou a cobiça do homem primitivo...28
Sob esta ótica, aumentar o cultivo derivava prosperidade para o produtor, para os
consumidores e para as finanças nacionais. Transformar a “questão agrária”, os problemas e
interesses dos proprietários rurais, em problema de interesse “nacional”, resultava exigir o
empenho e as finanças dos governos, das agências de estado, e da própria população no
desenvolvimento da atividade.
Na construção feita pelo Jornal, defender os “lavradores” (o que foi diversas vezes
repetido) significava defender a totalidade, o coletivo, o povo:
Cumprindo, pois, à risca, um programma que bem concretisa o ideal de um povo, o
nosso jornal se vem batendo denodadamente pela difusão do ensino, pela
intensificação da instrucção ainda tão deficiente em nosso paiz; tem sido tambem o
protector da lavoura desamparada e o defensor accerrimo de todas as causas justas
cuja natureza se relacione com os interesses mais vitaes dos pequenos lavradores.
Quanto à Hygiene, a sua campanha tem sido proveitosa, não se descuidando jamais
de aconselhar e incentivar o esforço do nosso Governo, em proveito da saude dos
nossos conterraneos.29
Constantemente, os colaboradores e as notas sem assinatura do Correio da Lavoura
(mas que continham um tom de “editorial”), enquadravam o Jornal como órgão alheio a
ligações partidárias. Delineava-se uma imagem idônea e imparcial do órgão e de seu
proprietário (mutuamente), em contraste com os jornais da capital federal que se entregavam a
28
O NOSSO ANIVERSARIO, 22 mar 1921. Grifo no original. 29
O NOSSO 5º ANIVERSÁRIO, 22 mar 1922.
35
interesses particulares, à política partidária: “Folha independente, sem filiação partidaria nem
côr politica, fundada exclusivamente para tratar dos altos interesses sociaes, tem ella
procurado ser util, batalhando, dentro do seu programma, em beneficio da collectividade de
que faz parte”.30
Assim como se observa no Correio da Lavoura, os argumentos sobre a “vocação
eminentemente agrícola do Brasil” foram reiterados pelas classes agrárias no pós-abolição.
Foi tecido por estes grupos um diagnóstico de atraso na agricultura que seria responsável
também pelo atraso no desenvolvimento do país, o que tornava, assim, a questão agrária em
questão nacional, de interesse de “todos”:
Ventilando os problemas que se relacionam com a prosperidade da terra iguassuana,
com o florescimento do solo fluminense, com a feitura da patria brasileira, partimos
das necessidades do povo, dos anhelos da collectividade, e julgamos deste modo
corresponder às considerações que o nosso esforço com jubilo vai registrando.31
É pertinente destacar a organização da SNA e do Jornal Correio da Lavoura como
organizações da sociedade civil que agregavam pessoas, articulavam interesses e produziam
opiniões sobre as virtudes e mazelas da atividade agrícola. Eram recursos pelos quais os
grupos agrários e seus partidários buscavam disseminar e defender a sua própria visão de
mundo, seus interesses, requerendo a inscrição de suas demandas nas agências da sociedade
política, procurando adquirir o auxílio financeiro, econômico e político do estado para os
próprios interesses.
A recuperação econômica, por meio da recuperação agrícola, foi uma perspectiva
assumida por sucessivos governos no estado do Rio de Janeiro, sob a liderança de Nilo
Peçanha. Nesse caso, esses grupos fluminenses compartilhavam do movimento do ruralismo
proclamado por todos os setores agrários do país. O ruralismo construiu uma representação de
crise na lavoura, respaldado na desorganização das relações de trabalho, na aquisição de mão-
de-obra, após a Abolição. Mas a chamada “reação ruralista” do pós-abolição não foi um
movimento homogêneo, e nem ficou apenas no campo das ideias. Implicou movimentos
políticos, de sujeitos coletivamente organizados vinculados à agricultura que buscaram
recompor a organização do trabalho e fazer face à redefinição do papel da agricultura
(MENDONÇA, 1997, p.13).
Sob o discurso aparentemente homogêneo da vocação agrícola do país, veiculado
pelas classes agrárias, houve apontamentos divergentes para a realização desta vocação, o que
significa destacar, também, os conflitos intra-oligárquicos que caracterizam a composição das
30
O NOSSO ANIVERSARIO, 22 mar 1928. 31
13 ANNOS. 22 mar 1930.
36
forças políticas durante a Primeira República. Esses conflitos, entre os setores dominantes,
permitem ressaltar que o Estado não é um ente homogêneo, monolítico, que paira, age
violentamente e prevalece sobre a sociedade apática e fluida, perspectiva bastante presente no
pensamento social brasileiro (MENDONÇA, 2006). Ao contrário, o Estado é aqui entendido
como uma relação social entre sujeitos coletivamente organizados que, nas casamatas da
burocracia estatal, mas também por meio de instituições e agências da sociedade civil, fazem
representar seus interesses e concepções de mundo na condução de questões que lhe são
afetas e que dizem respeito à direção da sociedade. É na correlação de forças entre estes
grupos e agências que se configura o Estado (GRAMSCI, 2007).
Em sua análise sobre o ruralismo, Sonia Regina de Mendonça (1997) prioriza os
significados que a vocação agrícola assumiu nas práticas e discursos das frações não
pertencentes ao eixo paulista (que era núcleo hegemônico da classe dominante agrária, em
função da cafeicultura).
No interior das frações secundarizadas no bloco de poder agrário, a adoção da
diversificação da produção – em oposição à hegemonia do café - foi propalada como saída
para a “crise”. A diversificação produtiva e o fomento ao consumo interno dos gêneros
produzidos foram divulgados como recursos menos vulneráveis às oscilações do mercado
internacional.
Dessa forma, os estados que tinham menor assento na prioridade da política
econômica da Federação poderiam ser vistos de nova maneira. Nesse sentido, criticava-se a
importação de gêneros que poderiam ser produzidos no país, como o trigo, por exemplo. O
jornalista Alfredo Jardim, colaborador no Correio da Lavoura, fazia coro a essas demandas
que foram assumidas no estado do Rio de Janeiro: “Precisamos deixar por completo a
monocultura e mesmo emancipar-nos dos mercados norteamericano e argentino” [...]
Argumentava que todos os ramos da produção, como o comércio e a indústria, precisavam da
agricultura: “É necessario repetir com insistencia em voz alta que, sem o trabalho dos campos,
não poderá prosperar nenhum outro ramo de actividade humana.”32
Sob esta ótica, os projetos de superação do atraso que caracterizaram o ruralismo
brasileiro se ancoraram nos temas do “povoamento/colonização; educação;
modernização/racionalização produtiva e crédito/cooperativismo” (MENDONÇA, 1997, p.
83). De diversas formas e por repetidas vezes é possível localizar esta campanha do
movimento ruralista nas edições do Correio da Lavoura.
32
CHRONICA. Alfredo Jardim, 07 mar 1918.
37
É um projeto de formação social em andamento que vemos ser defendido e
experimentado. A campanha promovida pelo Jornal buscava produzir um consenso sobre a
importância econômica da agricultura. Apropriando-se do discurso da mecanização da
lavoura, da adoção de novos métodos de cultivo e beneficiamento buscava-se assegurar a
manutenção daquela atividade econômica, reorganizada em novas bases. Mas como se tratava
de um problema de interesse “nacional”, do estado deveria advir uma série de auxílios à
lavoura. E a agenda era extensa.
Para que a produção agrícola alavancasse o progresso, o discurso da modernização dos
meios de produção foi acionado pelos grupos agrários. A lavoura arcaica, identificada com o
passado colonial, devia ser superada por uma moderna agricultura. Trata-se ao mesmo tempo,
de defender pela ação política a reorganização da cultura para um novo modo de produção.
Cultura, economia e política, dimensões imbricadas para fazer face aos novos contornos do
pós-abolição, do capitalismo, do urbanismo e da industrialização. O rompimento com a
lavoura arcaica se construía à medida que a agricultura era propagandeada como indústria,
como a principal indústria do país, a pioneira, da qual dependeriam todos os outros ramos.
Baseados no desenvolvimento “nacional”, os interesses privados dos grupos agrários
reclamavam a atuação do governo pela isenção de taxas, pela realização de obras de
infraestrutura (o saneamento, por exemplo), a criação de bancos de crédito agrícola e a
facilitação de empréstimos a baixos juros e a longos prazos.
O Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio era o principal condutor da
projeção política das frações dominadas no conjunto dos grupos agrários dominantes do país.
A recriação do MAIC foi uma demanda da SNA, através do qual procurou relacionar-se para
intervir por meio da sociedade política.33
Essa agência representava o esforço desses setores
em construir canais de ação junto ao Estado, de se inserir dentro da estrutura estatal, fazer-se
Estado, e defender suas demandas para além das diretrizes da cafeicultura paulista. A criação
do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio em 1910, e sua condução nas décadas
seguintes, demonstram estreita relação com a SNA.
A eficácia da SNA na organização das frações dominadas dos grupos agrários pode ser
demonstrada no quadro de associados que passou de 4000 em 1911 para 8000 em 1929, e
alçou ao reconhecimento como entidade de utilidade pública pelo governo federal em 1918
(MENDONÇA, 1997, p.57). A análise da composição dos quadros dirigentes de ambas as
agências demonstra o intercâmbio de sujeitos comprometidos com os interesses das frações
33
O Ministério havia sido extinto em 1892, e a Pasta da Agricultura foi parcialmente absorvida pelo
Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas (MENDONÇA, 1997, p.55).
38
não-hegemônicas dos grupos agrários e a adoção das mesmas diretrizes. Segundo Sonia
Mendonça, todos os 11 titulares do MAIC pertenciam à SNA além da maciça participação de
seus integrantes em órgãos do ministério, nas “comissões ministeriais a que ela seria instada a
participar, bem como na atribuição de vagas a serem por ela preenchidas nos Conselhos
criados no âmbito da Pasta ao longo da década de 1920” (MENDONÇA, 1997, pp.55-56).
No interior do Ministério da Agricultura eram criados serviços de fomento à
agricultura, organizava-se a distribuição de sementes para novas experiências, eram
realizados, com o apoio da SNA, congressos e exposições dos produtos. O desenvolvimento
de uma nova ordem de saberes acerca da produção também se colocava, porque foi valorizado
o uso de pesquisas e estudos sistemáticos sobre as práticas. O Instituto Biológico de Defesa
Agrícola, por exemplo, foi criado para pesquisar as doenças e pragas dos vegetais e criar
soluções de prevenção e combate, para a “defesa sanitaria” da produção: “é evidente que
muito lucrará com isso a nossa lavoura e, consequentemente, as finanças nacionaes pelo maior
aproveitamento da producção”.34
Em 1929, após um congresso nacional realizado em São Paulo para debater o combate
à saúva, as resoluções dos agricultores consistiram em exigir regulamentação legislativa
nacional para o assunto, constando também do auxilio federal para as atividades: a criação e
difusão do ensino técnico profissional para o combate da praga e emprego das técnicas; que o
Estado arcasse com os custos de transportes do material destinado ao combate e estimulasse
pesquisas sobre o tema.35
O curioso é que, nesse caso, o Correio da Lavoura, ávido por
soluções, desconfiava do sucesso das intenções, ponderando que fosse provável que a praga
continuasse a danificar a lavoura se a comissão esperasse de “braços cruzados”
exclusivamente as ações do governo.
A aquisição e o desenvolvimento de saberes que tornassem o empreendimento mais
seguro em seus resultados, conferindo maior qualidade aos produtos e maior volume de
produção, era pauta do projeto de “modernização” da agricultura. Foi valorizada a figura do
agrônomo, o especialista, o técnico como o detentor do discurso legítimo, o portador dos
saberes e das orientações para a condução dos procedimentos na produção e solução de
problemas. Em meados dos anos de 1920 já se buscava a regulamentação da profissão no
Brasil, por iniciativa do Ministério da Agricultura.36
34
CHRONICA, Alfredo Jardim. 28 out 1920. 35
COMBATE A SAUVA. 04 jul 1929. 36
O ENSINO AGRONOMO NO BRASIL. 11 jun 1925.
39
A Sociedade Nacional de Agricultura fazia a propaganda dos benefícios da ciência
para uma nova organização da produção e tinha agrônomos em seus quadros. Os Estados
Unidos geralmente era o exemplo a seguir e de onde vários agrônomos foram convidados a
visitar e trabalhar no Brasil. Por meio de A Lavoura, seu boletim mensal, a SNA orientava a
classe para adoção dos métodos científicos, da mecanização e da formação da mão-de-obra a
fim de transformar o “atraso” do país pelo desenvolvimento da agricultura científica. Os
colaboradores do Boletim eram sujeitos conhecidos nos círculos agrários, além de contar com
a participação crescente de agrônomos:
A Lavoura seria simultaneamente difusora e ratificadora de uma dada concepção do
campo que viria a cristalizar-se no imaginário sócio-político brasileiro: a que o
representa como espaço do atraso, da rotina e da apatia. A seu combate deveriam
aplicar-se as ditas forças vivas da nação – os proprietários de terra – de modo a
reabilitar a vocação eminentemente agrícola do país, dando sentido ao Ruralismo da
Primeira República (MENDONÇA, 1997, p.61;grifo da autora).
Em função da precariedade do desenvolvimento de pesquisas no Brasil, causaram
preocupação as medidas adotadas em alguns países sobre restrições acerca da divulgação dos
resultados de pesquisas sobre o cultivo dos produtos. Em 1931, o agrônomo Thomaz Coelho
Filho, professor da Escola Superior de Agricultura, proferiu palestra na Sociedade Nacional
de Agricultura, sobre os problemas decorrentes no Brasil, caso houvesse impedimentos à
exportação de maquinário e o acesso às melhores sementes obtidas com pesquisa. Na ocasião,
Arthur Torres, diretor do serviço de Fomento Agrícola do MAIC e membro da SNA,
agradeceu a comunicação e ratificou a importância do alerta sobre as disputas mundiais pela
produção agrícola e a necessidade do país desenvolver esta área: “Está convencido e tem
incontaveis vezes affirmado que a prosperidade agricola do Brasil só será assegurada quando
as nossas lavouras estiverem, de facto, sob o dominio da technica”.37
Pelas páginas do Correio da Lavoura, muito se propagava da importância de técnicos
e agrônomos. Como a região de Limeira em São Paulo também desenvolveu a citricultura, as
informações que lá circulavam interessavam aos citricultores em Nova Iguaçu. Por esse
motivo, o Jornal divulgou as considerações do agrônomo Emilio Moreira, técnico da
Secretaria de Agricultura de São Paulo, publicadas no boletim daquela secretaria, sobre a
distância entre as laranjeiras, instruções, prescrições de cuidados para obtenção da qualidade e
quantidade dos frutos.38
Mas as medidas para solucionar a “crise” e o “atraso” não se restringiam à
transformação da produção pela adoção de mecanismos e métodos mais eficazes, resultantes
37
AS COMPETIÇÕES MUNDIAIS EM TORNO DA AGRICULTURA, 23 abr 1931. 38
CONSELHO AOS CITRICULTORES IGUAÇUANOS. 12 nov 1936.
40
de pesquisas e da orientação técnica dos agrônomos. Era necessária a intervenção, ainda,
sobre as condições do território a ser cultivado e sobre a formação da população para o
trabalho em atividades rurais.
De diversas formas e por repetidas vezes é possível localizar esta campanha do
movimento ruralista nas páginas do Correio da Lavoura. No município de Iguaçu, no estado
do Rio de Janeiro, o incremento das atividades agrícolas pautou parte do uso daquele território
e dos projetos de escolarização ali inscritos.
Saneando territórios e governos: a instauração da prefeitura em Nova Iguaçu
Em Iguaçu, é provável que a defesa da lavoura tenha encontrado interlocutores nos
proprietários rurais que enfrentavam problemas econômicos desde fins do século XIX.
Em 1858, a partir da inauguração do primeiro trecho da estrada de ferro D. Pedro II, o
escoamento do café passou a ocorrer pelos trilhos, também na região de Iguaçu, havendo
decadência na importância dos portos e caminhos de terra firme. A Vila de Iguaçu, sede
administrativa do município de Iguaçu, situada às margens do porto de Iguaçu e da Estrada
Real, até então pontos estratégicos, ficava situada distante da ferrovia, o que abalou
fortemente sua função de entreposto (OLIVEIRA, 2007).
Outros fatores concorreram para a derrocada da Vila de Iguaçu. A própria construção
da ferrovia afetou a passagem das embarcações pelos rios, por conta de novas pontes
construídas para os trilhos. A Câmara Municipal procurou embargar as obras, alegando os
prejuízos para o trânsito fluvial, mas não foi vitoriosa. Com o impedimento da navegação em
alguns trechos, foram se formando mais pântanos, suscetíveis à disseminação de doenças
(PEREIRA, 1997, p.75).
A Vila foi constantemente afetada, ao longo do século XIX, por crises de malária e
cólera, que causaram muitas mortes, afugentaram a população sobrevivente, levaram
fazendeiros à falência. Enquanto isso ganhava força o arraial de Maxambomba, situado às
margens da nova ferrovia, que atraiu moradores e os serviços da antiga vila (SIMÕES, 2004).
Em 1891, a sede administrativa da Vila de Iguaçu foi transferida para as margens da
ferrovia onde havia a parada de trens “Maxambomba”, que foi elevada à categoria de vila e
ganhou foros de cidade.39
Até então, tratava-se de localidade de pouca importância, ocupada
por fazendas, que ganharia expressão após a construção da parada de trens. Outro fator que
favoreceu esta região foi a localização em terrenos que não eram inundados periodicamente
39
Pelo Decreto n. 204, de 1º de maio de 1891 houve a transferência legal da sede do município e da comarca de
Iguaçu para a povoação de Maxambomba, que foi elevada à categoria de Vila. Pelo Decreto n.º 263, de 19 de
junho do mesmo ano, Maxambomba foi elevada à categoria de cidade (PEREIRA, 1969, p.31).
41
nem se tornavam brejos (SIMÕES, 2007, p.119). Em 1892, foi extinto o município de Estrela,
sendo parte deste incorporado a Iguaçu.40
Em 1893, o termo “Maxambomba” aparece
denominando todo o município, na Carta do estado do Rio de Janeiro.
Figura 3 Aspecto da Carta do estado do Rio de Janeiro. Maxambomba e Distrito Federal, 1893.
Fonte: Carta do estado do Rio de Janeiro. Organizada por J.P. Favilla Nunes de acordo com a divisão
administrativa de 1893. Gentilmente cedida por Manoel Ricardo Simões.
No primeiro quartel do século XX, Maxambomba era um pequeno núcleo urbano,
marcada pela estagnação econômica “e pela escassez e pobreza de sua população rural”,
panorama que seria alterado com o desenvolvimento da citricultura, quando a localidade
passaria a exercer “novas e importantes funções” (SOARES, 1962, p.52).
O cultivo e a comercialização da laranja foram incentivados pelo governo do Rio de
Janeiro, em prol da recuperação econômica do estado. Na Primeira República, o estado do Rio
de Janeiro não possuía a importância econômica nem a relevância política que exerceu
durante o Império. Os projetos assumidos por sucessivos governos para a superação da crise
econômica enfatizaram a “tradição agrarista” da região, pela promoção das atividades
agropastoris (FERNANDES, 2009, p.18). Ademais, enquanto o Distrito Federal representava
o centro político, urbano, financeiro, industrial e operário do país, o estado do Rio de Janeiro
era “eminentemente rural, agrário e campesino” (Ibidem, p.22). Mesmo após a Revolução de
1930 e a recomposição das forças políticas no Estado Novo, a recuperação econômica pela
atividade agropastoril perdurou na agenda do estado.
A atuação de Nilo Peçanha41
no governo do estado incentivou a retomada da
agricultura, por meio de redução de impostos, criação de prêmios, concursos e exposições.
40
O município de Iguaçu ficou formado pelos seguintes distritos: (1º) Santo Antonio de Jacutinga, (2º)
Marapicu; (3º) Piedade, (4º) Meriti, (5º) Santana das Palmeiras, (6º) Pilar (FORTE, 1933, p.18).
42
Após o governo federal de Nilo Peçanha ter firmado acordo comercial com os governos
platinos, estabelecendo melhores condições de comercialização, as exportações de laranjas de
Iguaçu, foram reiniciadas, em 1910, para Buenos Aires e Montevidéu, com 500 mil laranjas.42
Em 1915, “a citricultura já firmava como novo elemento na economia municipal” de Iguaçu
(PEREIRA, 1997, p.67-68).
Em 1916, por iniciativa do deputado estadual Manoel Reis43
, foi aprovado o projeto de
lei que mudou, de Maxambomba para “Nova Iguassú”44
, o nome da nova sede administrativa
do município de Iguaçu, passando a antiga sede a ser conhecida como Iguaçu Velho. O nome
Iguaçu foi conservado pelos grupos dirigentes políticas de Maxambomba, ainda que “nova”
acenasse para as mudanças em curso, onde a nascente cultura da laranja afirmaria uma nova
elite rural (SIMÕES, 2007, p.118).
Em 1917 Manoel Reis exercia o cargo de presidente da Câmara Municipal45
e em
janeiro era sancionado o Código de Posturas da Câmara Municipal de Iguaçu.46
Compreende-se que a mudança da sede administrativa em 1916 e as transformações
ocorridas pela implantação da citricultura foram marcos na configuração da história de
Iguaçu, com repercussões importantes sobre os projetos e sentidos atribuídos para a instrução
escolar no município e para os rumos impressos ao desenvolvimento do lugar.
Parte da história do município de Nova Iguaçu apreende-se pelo desenvolvimento da
citricultura na região, que foi o principal produto da economia em alguns distritos de Nova
Iguaçu entre as décadas de 1920 e 1940. As condições de solo e clima em Iguaçu
beneficiaram o cultivo da laranja já em fins do século XIX, que se tornou a primeira em
qualidade no mundo durante um certo período (PEREIRA, 1977, p.118).
Além dos incentivos governamentais, um ponto fundamental do projeto ruralista era a
fixação da mão-de-obra no campo. As frações agrárias secundarizadas não tinham recursos
para implementar a imigração estrangeira, optando pela colonização do elemento nacional.
41
O primeiro governo de Nilo Peçanha no Rio de Janeiro ocorreu entre 1904-1906 e o segundo entre
1915-1917, após ter assumido a Presidência da República, entre 1909-1910. 42
NOVA IGUAÇU. Polyanthéa Comemorativa ao Primeiro Centenário do Município no Governo de
Arruda Negreiros, 1933. 43
Manoel Reis nasceu em Nova Iguaçu. Foi deputado federal entre 1912 e 1914. Foi deputado estadual e
vereador em Iguaçu, e presidente da Câmara Municipal no ano de 1917, e novamente deputado federal pelo Rio
de Janeiro de 1919-1923 (DICIONÁRIO Histórico-Biográfico Brasileiro Pós-30. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001,
Vol V, pp.4956-4957). Maia Forte (1933, p.69) se refere a Manoel Reis como “proprietário e lavrador em Nova
Iguaçu”. 44
Lei n. 1.331, de 9 de novembro de 1916. 45
Correio da Lavoura, 31 mai 1917. 46
CODIGO DE POSTURAS, 27 set 1917.
43
Procurava-se atrair o trabalhador para a agricultura disseminando ou ressignificando as
oposições entre a vida urbana e a vida rural. Por exemplo, no artigo “O horror da roça”, o
autor “Helius”(codinome) ponderava que as condições de vida do trabalhador do campo eram
mais seguras e saudáveis, porque aquele recebia abrigo, comida e trabalho na lavoura. O
operário encontrava-se numa situação mais vulnerável de trabalho e logo, de sustento, sujeito
aos “perigos” que a cidade apresentava e à repressão dos policiais. A defesa de braços para a
lavoura é evidente:
A terra, essa mãe sempre fecunda, esse cofre de thesouros nunca esgotados, sempre
dá a quem lhe péde, sempre paga com juros aquillo que a ella se confia. O paiz passa
por uma crise medonha actualmente, temos a fome às portas. [...] A lavoura acolhe
quem a procura, porque não devemos procural-a? Mas tambem, porque os nossos
homens publicos não estimulam, não ajudam, não olham como merecem, aos
lavradores e agricultores?47
Neste artigo são refutadas as opiniões que desmerecem o trabalhador rural, quando o
lavrador é visto como um “rústico, um roceiro, um tabaréo”, e que, concomitantemente,
valorizam os “doutores”. Em contraposição, o autor identificava os “doutores” como
responsáveis pela fabricação de impostos, pelo esvaziamento dos cofres públicos, alheios ao
encaminhamento de braços estrangeiros para o campo, aqueles “que não fornecem meios
fáceis de communicação entre o campo e a cidade e que depreciam tudo quanto é produzido
no paiz”.48
Mas, em outros momentos, através da propaganda ruralista, era pertinente afirmar a
situação de precariedade em que se encontrava o trabalhador rural e seu entorno. Além de
escasso, este trabalhador também não era produtivo. Isto porque era afanado de suas
potencialidades devido às doenças contraídas, à falta de estrutura sanitária adequada e à
presença majoritária do analfabetismo na população. Em consonância com outros discursos
vigentes, emanados de diversos setores sociais, até urbanos, era preciso reformar este
brasileiro em suas condições físicas e cognitivas. Pelas ideias estabelecidas, tanto o
trabalhador rural quanto a lavoura estavam abandonados pelos poderes públicos, o que
resultava na “crise” e no “atraso” da agricultura.
Sob essa ótica, a fundação da Liga Pró-Saneamento do Brasil, em 1918, também foi
muito comemorada nas páginas do Correio da Lavoura. É pertinente destacar que a liga foi
instalada na sede da Sociedade Nacional de Agricultura, segundo a matéria, que também
atribuía a organização da campanha aos esforços do médico Belisário Penna, que obteve mais
adeptos após a publicação do livro Saneamento do Brasil.
47
O HORROR DA ROÇA, 06 set 1917. 48
Idem.
44
A Liga Pró-Saneamento do Brasil tinha por fim “extinguir as molestias de caracter
endemico que dizimam as populações do interior do Brasil, por meio da distribuição gratuita
dos medicamentos apropriados”.49
O dr. Plinio Cavalcanti, “fez discurso enthusiastico,
discurso de moço que quer a Patria muito forte”, no qual comparava a ação da liga com a
campanha da abolição: “por isso que defende com fervor a abolição dos papudos e dos idiotas
mostrando-se confiante na ação da mocidade e no auxilio dos grandes e dos humildes, e
dizendo que precisamos ser uma raça sadia e linda, e que é preciso se promover redempção
da mulher pela hygiene”.50
A Liga Pró-Saneamento do Brasil foi uma das agências que defendeu a ideia de que a
situação de abandono dos sertões constituía uma ameaça, tão relevante ao progresso nacional,
que necessitava da intervenção urgente do governo federal, no âmbito do saneamento e da
saúde (NOFUENTES, 2009, p. 65). Como analisa Rubia-Mar Nunes Pinto, os projetos de
nação idealizados se ergueram por oposição aos sertões:
Lugar do nada, metáfora da ausência, território da barbárie, reino da doença e da
preguiça, o sertão e o povo que o habitava aparecia, especialmente até as primeiras
cinco décadas dos novecentos, tal qual um estranho perigoso, mas promissor se
fosse domesticado, uma ameaça a qual era preciso fazer desaparecer para que o país
finalmente civilizado, finalmente integrado - se constituísse nação (2008, p. 1-2).
A matéria informava que havia sido aprovado no Congresso Nacional o orçamento
para o saneamento do sertão, mas advertia que outros municípios, como o de Iguaçu,
necessitavam do apoio da União para o combate ao impaludismo, “que mais de uma vez tem
sido assumpto do ‘Correio da Lavoura’”. E prosseguia sua campanha que relacionava os
temas da profilaxia e do saneamento com o argumento da recuperação econômica, via
agricultura:
Do saneamento depende o exito das medidas concernentes ao progresso agrícola do
Brasil. Não nos faltam scientistas para tão humanitario fim. O que tem faltado – é
iniciativa, coordenação de energias, adstrictos que temos estado a cogitações de toda
ordem sobre o futuro da nacionalidade, sem cogitarmos de lhe dar o homem são e
capaz de desbravar as grandes riquezas que formam o imenso patrimonio material
do paiz. Serão, ainda no corrente ano, attenuados ao menos em parte os terriveis
efeitos da malaria, da ancylostomiose, do impaludismo e outras doenças espalhadas
pelo interior e litoral? Aguardamos os auxilios do governo e da patriotica Liga.51
Cabe destacar que Belisário Penna, fundador da Liga, preconizava a fixação do
trabalhador no meio rural e o saneamento como “medidas fundamentais da prosperidade
econômica do Brasil” (PENNA apud CARVALHO, 1998, p.162). A defesa da pequena
propriedade rural como célula de organização das famílias pelo interior do país devia ser o
49
O SANEAMENTO DO BRASIL, 21 fev 1918. 50
Idem. O advogado Plinio Cavalcanti foi um dos fundadores da Liga Pró-Saneamento do Brasil. 51
Idem.
45
eixo de organização do trabalho. O médico defendia que era preciso rever o abandono dos
campos e o congestionamento das cidades, pelo máximo aproveitamento da terra
(CARVALHO, 1998, p.164-165).
A Baixada Fluminense,52
área predominantemente rural do estado do Rio de Janeiro,
foi alvo do conjunto de políticas públicas que se associaram às propostas de construção da
nação brasileira, nas décadas de 1910 e 1920, no bojo das reflexões sobre o centenário da
Independência e dos resultados dos ideários republicanos (FADEL, 2009). O status da
Baixada Fluminense como região insalubre ficou mais evidente após as reformas urbanas no
Distrito Federal; a região passou a ser denunciada como uma “ameaça” para a cidade
reformada. O saneamento rural foi utilizado como ferramenta de intervenção, para a
recuperação de regiões insalubres, pretendendo torná-las habitáveis e produtivas
economicamente, além de gerar melhorias nas condições de saúde das populações. Isto posto,
não apenas centros urbanos como a cidade do Rio de Janeiro, mas também os “sertões” foram
alvo da agenda republicana.
Nesse contexto, inseriu-se a tentativa do governo estadual de instaurar o regime de
prefeituras no estado do Rio de Janeiro, no bojo das políticas da Liga Pró-Saneamento do
Brasil. No município de Iguaçu, embora houvesse consenso entre os grupos dirigentes locais e
estaduais sobre a importância de introduzir uma estrutura sanitária adequada na região, a
intervenção estadual provocou conflitos pelo controle do poder local. Portanto, trata-se de um
evento revelador das forças que integravam a sociedade política no município e de seus
projetos de poder, assim como evidencia algumas das tensões que perpassaram a constituição
da almejada modernidade para Iguaçu.
A prefeitura foi criada pelo decreto n. 1.716, de 26 de novembro de 1919, o mesmo
que autorizava a execução dos serviços para instalação da rede de águas e esgoto no distrito-
sede. Na exposição de motivos da lei são apresentados os encadeamentos que suscitaram a
criação da prefeitura.53
A proposição inicia-se abalizando o valor que o tema da saúde da população adquiriu
na sociedade brasileira, de modo que o combate às endemias foi elevado como meio de
suprimir os entraves ao crescimento econômico do país. Neste sentido, foi criado, em abril de
52
Há diferentes conceitos e delimitações sobre o que é a Baixada Fluminense, ainda que exista entre os
especialistas o consenso de que Nova Iguaçu e Duque de Caxias são núcleos desta região que tem um
passado histórico comum, sendo satélites os municípios de Belford Roxo, São João de Meriti, Nilópolis,
Mesquita, Queimados e Japeri (SIMÕES, 2007, p.22). O termo “Baixada Fluminense” já era utilizado
no período em foco, designando aspectos geográficos dessa região. 53
A CRIAÇÃO DA PREFEITURA DE NOVA IGUASSÚ. A installação da rede de esgotos desta
cidade, 04 dez 1919.
46
1919, o Serviço de Profilaxia Rural, pelo decreto federal n. 13.538, que estabelecia
modalidades de ação conjunta da União e dos estados. Em decorrência, o Serviço de
Profilaxia Rural foi instalado em Nova Iguaçu, sede do município. Porém, para a eficiência do
Serviço, os encarregados do mesmo julgaram necessária a construção de uma rede de esgotos,
o que foi informado, pelo governo federal, ao governo estadual. Mas os recursos orçados para
a obra, pela Comissão de Saneamento do estado, excediam as possibilidades do município,
sendo esses assumidos pelo governo do estado, por se tratar de “interesse geral”. Em razão
dessa dependência pecuniária do município em relação ao governo estadual, o mesmo estava
autorizado a criar a prefeitura e designar um prefeito, de acordo com a reforma constitucional
de 1903.
Setores do município, defensores da causa do saneamento, como os dirigentes do
Jornal local Correio da Lavoura, comemoraram a solução, especialmente com a nomeação do
Dr. Mário Pinnoti para o cargo. O médico sanitarista era chefe do posto de profilaxia rural no
município e esperava-se que sua administração fosse um programa de reformas sanitárias. Sob
essa ótica, o Correio da Lavoura sugeria ao prefeito nomeado que se tornasse para o
município o que Pereira Passos foi para o Distrito Federal: “um grande reformador”.54
Por julgar “patriotico e louvável” o decreto de instalação do regime de prefeitura e a
designação do chefe do posto de profilaxia rural para o cargo, o Correio da Lavoura
expressava suas expectativas de ver introduzidas mudanças na infraestrutura local: “Não
podemos calar a nossa satisfação ao ver que esta cidade vai, enfim, ser dotada com obras de
extraordinario valor hygienico, e de real utilidade para o bem estar de seus moradores”.55
No entanto, a decisão do governo estadual não agradou ao grupo político que presidia
a Câmara Municipal e, até então, acumulava as funções legislativa e executiva, através do
coronel Ernesto França Soares, membro de antiga família estabelecida em Iguaçu. Os
vereadores procuraram sustar a decisão, preferindo assumir os custos com a instalação da rede
de esgotos através de concorrência pública. A resistência dos vereadores resultou na
contratação de um advogado para alegar que a decisão do governo estadual era
inconstitucional e defender a autonomia municipal (PEREIRA, 1997, p.115).
O Correio da Lavoura procurava remover a resistência da Câmara ao novo prefeito,
argumentando sobre os benefícios que as obras de saneamento significavam para a localidade:
“[...] e si ha patriotismo ou antes amor ao Municipio, ficam os elementos que
constituem a Camara Legislativa na obrigação moral de um entendimento regular,
54
A CRIAÇÃO DA PREFEITURA DE NOVA IGUASSÚ. A installação da rede de esgotos desta
cidade, 04 dez 1919. 55
A CRIAÇÃO DA PREFEITURA DE NOVA IGUASSÚ, 11 dez 1919.
47
leal e sincero com o Prefeito afim de elevar a situação politico-administrativa e
político-progressiva do Municipio”.56
Enquanto isso, na posse do prefeito Mario Pinotti, Manoel Reis, dirigente de uma das
correntes políticas do município e adversário do coronel França Soares, recebia com
entusiasmo o novo prefeito em sua chegada à estação, acompanhado, entre outros, de
representantes dos citricultores. Todavia, a condução ao cargo no prédio do Paço Municipal
ocorreu sob “formal protesto” do coronel Ernesto França Soares.57
Em 1919 as disputas entre Manoel Reis e o coronel Ernesto França Soares sobre a
presidência da Câmara Municipal ganharam o noticiário do Distrito Federal, onde o primeiro
justificava sua derrota eleitoral por obstáculos colocados à inscrição de seus correligionários
nos cartórios do município, pertencentes à família Soares.58
O coronel França Soares tentou dificultar a ação do novo prefeito, concitando a
população a não pagar os impostos municipais59
, além de utilizar sua influência junto à
Câmara Municipal para impor restrições orçamentárias à ação da prefeitura.60
O Correio da
Lavoura expressou críticas à ação judicial impetrada pelo coronel Ernesto França Soares
contra a nomeação de Mario Pinotti, através de extenso artigo, sem assinatura, em era
examinado o memorial que justificava as razões de criação da prefeitura em Iguaçu em função
das obras de saneamento da região:
É lamentável que o nosso zelo jurídico só defenda a Constituição quando sentimos
feridos interesses políticos-pessoaes, não o fazendo quando a ofensa beneficia esses
mesmos interesses, o que temos visto já por muitas vezes. Se, no caso presente, o
Governo lembrasse de nomear prefeito do Municipio, o Sr. Cel. França Soares, a
Constituição poderia dormir tranqüila, sem o incommodo de ser chamada ao
Supremo Tribunal ou a qualquer outro juizo, porque, a medida seria perfeitamente
legal, patriótica e até altruística! [...] O Governo do Estado, nomeando o Dr. Mario
Pinotti, prefeito de Iguassú, alem de escolher um cidadão que corresponde aos
requisitos da moral, intelligencia e patriotismo, evidenciou a luz da razão, que o seu
intuito foi dar homogeneidade na direcção do saneamento, homogeneidade tanto
mais necessaria quando se tratava de dois serviços para um só fim. 61
Em junho de 1920, Ernesto França Soares retomava o poder executivo, por meio de
habeas-corpus concedido pelo Supremo Tribunal, mas que havia sido negado pelo juiz federal
do estado.62
Em contrapartida, as obras para a distribuição de água e instalação da rede de
esgotos foram paralisadas.
56 A CONDUTA DA CAMARA MUNICIPAL, 11 dez. 1919. 57
PREFEITURA MUNICIPAL, 04 dez 1919. 58
O NOVO GOVERNO MUNICIPAL , 19 jun 1919; A PEDIDOS, 10 jul 1919. 59
A CONDUTA DA CAMARA MUNICIPAL. 11 dez. 1919. 60
PREFEITURA DE NOVA IGUASSÚ. 22 mar. 1920. 61
PUBLICAÇÕES, 22 jan 1920. 62
GOVERNO MUNICIPAL,03 jun 1920.
48
A presença de coronéis na política em Iguaçu e a instauração do regime de prefeituras
remetem a um formato de relações políticas que predominou no arranjo político oligárquico
da Primeira República. O caso de criação das prefeituras é um desses momentos de embates
entre poderes locais e o crescimento do poder estadual.
O coronelismo resultava numa troca de barganhas entre municípios, governo estadual
e União. Numa conjuntura econômica desfavorável, os proprietários rurais dependiam do
apoio do governo estadual para a sobrevivência de sua influência política. O governo, por sua
vez, no regime federalista, precisava se impor ao conjunto das oligarquias de seu estado, para
o controle das eleições.
No coronelismo, os proprietários rurais, dirigentes das oligarquias locais,
encontravam-se de fato numa posição desigual de forças. Dialeticamente, à medida que
necessitavam do apoio do governo para influir no poder local, possibilitavam também maior
inserção da política estadual nos municípios. Por isso, o coronelismo significou o
“fortalecimento do poder do Estado antes que o predomínio do coronel” (CARVALHO,
1997).
No breve tempo da administração de Mario Pinotti, a cobertura feita pelo Correio da
Lavoura destacou os trabalhos realizados para a canalização de esgotos; serviços de limpezas
de valas e ruas; reformas e construção de pontes; as ações do posto de profilaxia rural e as
medidas destinadas à instrução, como o plano de dotar o município de uma escola modelo.63
Os despachos entre o prefeito e o governador do estado Raul Veiga sobre o andamento do
saneamento, “cujos serviços vão bem adiantados”, eram comemorados nas páginas do
Correio da Lavoura, pela importância do tema para o “desenvolvimento do município”.64
Com a saída da prefeitura, o médico continuou atuando como chefe do posto de saúde
em Nova Iguaçu65
e recebeu algumas manifestações e homenagens.66
Pelo Correio da Lavoura, no entanto, anos depois das ações da Liga Pró-saneamento,
a insuficiência das condições de saneamento do território e de profilaxia da população
perduravam como entraves ao desenvolvimento do município. Nota-se que, se o Jornal
mantinha o mesmo programa, era porque os problemas também persistiam:
A baixada em volta da capital da Republica, de que Iguassú occupa a maior
extensão, aguarda o saneamento da terra infectada, onde seus habitantes, de sangue
empobrecido, ainda assim fazem do municipio um dos baluartes da riqueza
fluminense. Batendo-nos pela restauração physica do homem, vamos ao encontro do
63
PREFEITURA DE NOVA IGUASSÚ, 22 mar. 1920. 64
NOVA IGUASSÚ VAE EM PROGRESSO, 29 abr 1920. 65
Correio da Lavoura, 10 jun. 1920. 66
Correio da Lavoura, 01 jul. 1920.
49
pendor das populações para a actividade. Entendemos que na organização do paiz o
agricultor se ha de destacar como o soldado do trabalho por excellencia, bravo e
triumphador, e, como Antheu, avigorando-se ao contacto da mãe gleba. E desse
modo fazemos côro com os que preconizam uma politica economica, capaz de
empolgar o animo docil das massas trabalhadoras, levando-as à visão do interior, ao
labor grandioso da terra, porque é essa coragem blindada do sereno heroismo que
tira do solo os thesouros imcomparaveis do reino verde. [...] Esse o dever que nos
impuzemos. Continuaremos a cumpril-o.67
Apostava-se na necessidade de profilaxia e saneamento como instrumentos para
revigorar e conquistar a adesão dos trabalhadores aos projetos de desenvolvimento
econômico.
A citricultura e o distrito-sede
Como foi citada anteriormente, a introdução do cultivo de laranjas no município de
Iguaçu foi fomentada pelo governo de Nilo Peçanha com o apoio do Ministério da
Agricultura, Indústria e Comércio (MAIC). Entre os grupos agrários dos Estados
secundarizados na correlação de forças no cenário nacional, o combate à monocultura na
campanha pela diversificação dos produtos, o fomento à produção em propriedades
parceladas, a adoção da mão-de-obra nacional e a modernização dos modos de cultivo, eram
os pilares do movimento ruralista.
A princípio, não foi a administração municipal que promoveu a valorização da
citricultura, posto que as leis oriundas da Câmara visavam apenas à arrecadação de impostos
sobre os lucros da atividade. Somente após os investimentos do governo de Nilo Peçanha
surgiram ações da administração municipal para amparar a citricultura. No município, as
vozes que ecoaram em defesa da citricultura foram as vozes dos próprios produtores, que
passaram a se destacar no cenário municipal desde a década de 1910 (PEREIRA, 1997, p.118-
123). Esses produtores encaminharam suas reivindicações aos poderes públicos, às agências
do estado, reclamando melhorias no transporte ferroviário; conservação e abertura de
estradas; obtenção de maquinário; incentivos ao ensino agrícola; diminuição de impostos e
uma tabela de preços uniforme (Ibidem, p.118-123).
Em 1923, era fundado o Sindicato Agrícola de Iguaçu, que expressava o grau de
organização alcançado pelos plantadores e exportadores de laranja. O primeiro presidente foi
o farmacêutico Sebastião Herculano de Mattos.
Os acordos para a criação do Sindicato foram enfaticamente apoiados pelo Correio da
Lavoura, que anunciava as conclusões da concorrida reunião realizada em 1923 na sede do
67
O CORREIO DA LAVOURA ENTROU NO 19º ANNO, 28 mar 1935.
50
“Club dos Progressistas de Iguaçu”68
: “Devemos olhar com mais interesse e com mais carinho
[a] classe dos lavradores que é aquella que mais contribue para a riqueza do nosso municipio
e portanto para a prosperidade individual de seus habitantes”.69
O interesse em obter o financiamento do governo para as atividades da citricultura era
explicitado pelo Jornal: “O principal objetivo do sindicato é adquirir machinismos modernos,
por intermedio do governo, para o aperfeiçoamento de seus productos e principalmente da
laranja que representa, neste municipio, uma vultuosa fortuna”.70
O sindicato também
pretendia
pleitear junto dos poderes publicos os varios favores de que carece a nossa lavoura
local, taes como estradas de rodagem, carros refrigeradores, para transporte
conveniente dos frut[os] [e] campos experimentaes com pessoal techinico e enfim
tudo quanto mais fôr preciso para o aperfeiçoamento da fonte de grandeza que são a
nossa pomicultura e lavoura em geral.71
A associação dos lavradores pretendia melhorar as condições de colheita,
acondicionamento e classificação da fruta; encarregar-se do transporte e venda das frutas, no
país e no exterior; apoiar as iniciativas governamentais na melhoria das estradas de rodagem;
combater a contaminação da produção por pragas. Segundo Waldick Pereira:
A laranja revolucionou a estrutura social de Nova Iguaçu sem mudar suas
características rurais. O fenômeno social nascido nos laranjais conservou, por muito
tempo, sua autonomia, sua independência política marcada pela influência
econômica dos laranjeiros (1977, p.118).
Em 1924, por sugestão do Ministério da Agricultura, o sindicato mudou a
denominação para “Associação dos Fruticultores de Nova Iguaçu”. A Associação dirigia-se
aos poderes instituídos para defesa de suas demandas:
Deve-se à Associação dos Fruticultores de Iguaçu (sic) considerável parcela de
contribuição na formação econômica do ciclo da laranja. [...] Relatórios minuciosos
e incisivos eram despachados ao Ministro da Agricultura, ao governo do estado e às
autoridades municipais (Ibidem, p.131).
O município também recebeu apoio do estado e do governo federal por conta das
relações políticas estabelecidas no pós-1930. Em 1939, por sugestão do Ministério da
Agricultura, os estatutos da Associação dos Fruticultores foram reformulados, tendo assumido
a nova denominação de “Associação Rural de Nova Iguaçu”, sendo mantido na presidência o
farmacêutico Sebastião Herculano de Matos (PEREIRA, 1997, p.133).
De 1930 a 1939, a produção de laranjas fez com que Nova Iguaçu fosse
internacionalmente conhecida, chegando a ser apelidada de Cidade Perfume (BARROS, 2004,
68
Não foram encontradas outras referências que revelassem os membros e interesses dessa associação. 69
SYNDICATO AGRICOLA, 16 ago 1923, pág. 2. 70
Idem. 71
Idem.
51
p.102). Em 1927, 46 milhões de laranjas eram exportadas para o Rio da Prata e 10 milhões de
laranjas para o mercado europeu, havendo também o abastecimento do mercado interno no
Rio de Janeiro, São Paulo e Santos (FORTE, 1933, p.124).
Em 1931, das 1.218.461 caixas de laranjas exportadas pelo porto do Rio de Janeiro,
700.181 caixas foram procedentes do município de Iguaçu, sendo do distrito de Nova Iguaçu,
319.641; Morro Agudo, 159.137; Mesquita, 93.456; Cabuçu,70.623; Austin, 57.324, arcando
o distrito-sede com cerca de 55% da exportação (Ibidem, p.125). O desenvolvimento da
atividade no município, naquele ano, atraía os interesses do governo municipal e do governo
estadual em captar recursos da atividade pela criação e/ou aumento de taxas e impostos.
Contudo, os interesses dos lavradores eram defendidos pela Sociedade Nacional de
Agricultura que, dirigia-se ao estado e a município para averiguar informação de novos
impostos taxados à laranja. 72
Em 1933, havia 14 packing-houses no município, sendo 6 em Nova Iguassú, 5 em
Morro Agudo e 3 em Cabuçu e Austin. O censo do Serviço de Inspeção e Fomento Agrícola
apresentou o número de 855 citricultores, distribuídos pelos distritos de Nova Iguaçu (330);
Morro Agudo (163) Mesquita (145); Austin, (76); Cabuçu, (64); Queimados (59); Nilópolis,
(25); e Belford Roxo, (23) (Idem). Em 1935, havia 24 estabelecimentos para o beneficiamento
e acomodação do fruto para a exportação (Ibidem, p.141). Em 1940 registrava-se que 22,3%
da superfície total do município era destinada ao cultivo de laranjas (PEREIRA, 1969, p.
23).Os dados sobre a arrecadação municipal, ainda que não sejam exatos, possibilitam inferir
o universo de crescimento da receita municipal, que muito se beneficiou com a citricultura
(Ibidem, p.41-42; PEREIRA, 1977, p.126).
A implantação da citricultura demandou transformações importantes no município de
Nova Iguaçu, principalmente em alguns distritos, como o distrito-sede. O aproveitamento de
terras antes improdutivas, recuperadas pelas obras de saneamento; as estradas de ferro; a
proximidade dos grandes centros consumidores e exportadores; os incentivos governamentais
à produção e exportação e o “tradicionalismo de famílias de origem rural” foram fatores
importantes para o desenvolvimento da citricultura (PEREIRA, 1977, p.118).
Outro marco a ser assinalado refere-se à mudança da estrutura fundiária. As escolhas
feitas para o cultivo do solo resultaram numa intensa fragmentação das propriedades
fundiárias em chácaras. Eram denominados “chacreiros” os proprietários, arrendatários,
parceiros ou ocupantes das chácaras, sendo a alcunha de “fazendeiro” restrita aos que
72
MAIS UMA SOBRE A LARANJA DE NOVA IGUASSÚ, 20 ago 1931.
52
controlavam maior extensão de terra por compra ou arrendamento e que, geralmente, não
habitavam nas chácaras (SOUZA, S., 2004, p.141).
Como os grandes latifundiários estavam descapitalizados e sem condições de arcar
com o assalariamento, o arrendamento ou venda de pequenas parcelas do solo para lavradores
foi a solução para o cultivo e a captação de mão-de-obra. A cultura da laranja exigia constante
observação e trato, o que demandava um volume grande de trabalhadores (SIMÕES, 2007,
p.121). O resultado desse processo foi uma mudança considerável na estrutura agrária do
município, onde “o número de estabelecimentos de até 40 hectares passou de 213, em 1920,
para 1.451, em 1940; os de 41 a 200 hectares passaram de 29 a 62; os de mais de 200 hectares
reduziram-se de 38 para 18” (SOARES, 1962, p.54).
Houve intenso processo migratório para a região da produção de laranjas, que atraiu
assalariados e meeiros. Em geral, estes trabalhadores passaram a morar e trabalhar nas
chácaras, o que resultou em acelerado crescimento da população rural, tendo sido maior nas
áreas produtoras do distrito-sede.73
Para além das atividades de plantio e colheita, o setor também empregava na cidade,
nas atividades e serviços secundários relacionados às packing houses. O mercado de trabalho
expandia-se com novas categorias de operários que não mais se limitavam ao trabalho nos
pomares (PEREIRA, 1977, p.140).
A população não se fixou no núcleo urbano, posto que os trabalhadores residissem nas
chácaras. Mas a proximidade deste núcleo das áreas de produção agrícola viabilizava o
deslocamento diário dos trabalhadores “ao centro”, a cavalo ou charrete:
A população que dava vida e movimento à cidade, principalmente em época de safra
e, normalmente em certos dias da semana – sábados e domingos – residia em suas
imediações ou em áreas mais distantes do município. Eram porém, os habitantes das
imediações, isto é, dos inúmeros sítios e chácaras [...] que com frequência maior se
utilizavam de Nova Iguaçu para o provimento de todas as suas necessidade. Essa
área, às portas mesmo da cidade era, justamente, a principal zona citrícola
(SOARES, 1962, p. 56).
A centralidade da função exercida pelo núcleo urbano se projetava na organização
espacial da cidade, que se edificava em duas ruas de frente para as margens da ferrovia, em
ambos os lados: “e nelas se alinhavam residências e estabelecimentos comerciais, sendo que
estes, assim com a praça, o cinema, a prefeitura e a Matriz, se situavam nas proximidades da
estação” (SOARES, 1962, p.60). Para além desses espaços, a cidade estava envolta de
laranjais:
73
O distrito de Nova Iguaçu contava, em 1932, com 83% das laranjeiras do município e dentro do
distrito, a área vizinha à cidade contava com metade do total de número de pés (SOARES, 1962, p.56).
53
[...] os primeiros esboços de ruas transversais perdiam-se dentro dos laranjais, e
qualquer progressão da cidade só se fazendo em detrimento dos mesmos, isto não
acontecia com frequência, pois a riqueza era representada pela laranja e nada havia
ainda que justificasse ou compensasse o abandono dessa lavoura (Ibidem, p.60).
O dinamismo que alcançou o distrito-sede e sua centralidade no beneficiamento e
escoamento da produção dependeu bastante das melhorias introduzidas na rede de estradas.
Por essas vias chegavam à sede não apenas a produção, mas os trabalhadores e moradores.
Algumas fábricas e depósitos se instalaram no distrito-sede, que também realizava a função
de distribuidor de mercadorias e de abastecedor das pequenas vendas dos distritos rurais
(Ibidem, p. 58).
Embora o distrito-sede tenha servido a diferentes funções no período da citricultura,
poucos foram os citricultores que residiram na cidade ou que nela aplicaram seus
rendimentos:
[...] só mesmo um pequeno grupo enriquecido com o arrendamento das terras ou
com o negócio de beneficiamento e exportação da laranja aí construiu belas
residências. A Nova Iguaçu capital da laranja nada mais era que a velha
Maxambomba, acrescida de respeitável número de estabelecimentos comerciais, de
packing-houses de algumas indústrias de âmbito quase local e de certo número de
residências de pessoas ligadas a essas atividades (Ibidem, p. 59).
Os prédios desta época, no distrito-sede, eram essencialmente comerciais, no máximo
com um segundo andar destinado à moradia do proprietário do estabelecimento. A estrada de
ferro continuava a ser a principal via de ligação com o Distrito Federal: “Esta era a Nova
Iguaçu do apogeu da fase citrícola, pequena cidade que se salientou no cenário nacional,
exclusivamente devido à sua condição de capital de uma área onde se verificou um dos muitos
booms da agricultura brasileira” (Ibidem, p. 60).
54
Figura 4 Fotografia da vista parcial de Nova Iguaçu, distrito-sede do município, 1919.
Fonte: Pereira, 1978. Álbum Fotográfico de Nova Iguaçu. Os laranjais se estendem pela sede do município.
Figura 5 Fotografia da vista parcial de Nova Iguaçu, distrito-sede do município, 1932.
Fonte: Pereira, 1978. Álbum Fotográfico de Nova Iguaçu. A estrada de ferro corta o distrito no sentido
horizontal e, ao centro, a rua Capitão Chaves, em sentido transversal.
55
Figura 6 Fotografia da vista parcial do distrito-sede, 1940.
Fonte: http://www.cemobafluminense.com.br/cemobafotos/displayimage.php?album=1&pos=0
Enquanto, desde fins do século XIX, a citricultura configurava os usos do solo no
distrito-sede de Nova Iguaçu, em outros distritos do município sucediam modos diferentes de
ocupação e de uso das ferrovias e outras funções econômicas demarcavam a urbanização
naqueles distritos.
Até início dos anos de 1940, o município apresentou três tipos de ocupação: em Cava,
Queimados, Xerém e Estrela predominavam latifúndios com fraco povoamento, devido às
condições desfavoráveis do solo: montanhas, pântanos e mangues; em Nova Iguaçu (distrito-
sede) a terra era explorada pela citricultura e abrigava maior contingente populacional; nos
distritos de Caxias, São João de Meriti e Nilópolis, “havia expressiva densidade populacional
já no início da década de 1930, com características urbanas” (SOUZA, S. 2004, p. 142). Esta
última região era autossuficiente em relação à sede administrativa, no setor de comércio e
serviços, além de apresentar incipiente função industrial (SOARES, 1962, p. 58).
Os cenários dos distritos de Caxias, Nilópolis e São João de Meriti possuem vínculos
com os impactos das reformas urbanas que aconteceram no Distrito Federal nas primeiras
décadas do século XX. A reordenação dos usos dos espaços das áreas centrais da cidade do
Rio de Janeiro, com a expulsão dos trabalhadores e classes populares que ali viviam,
56
fomentou a ocupação da região suburbana da cidade, que mantinha ligação com o centro
urbano pelas ferrovias. Os loteamentos populares e a autoconstrução foram os meios de
fomentar a habitação no entorno das estações ferroviárias do subúrbio da cidade, atraindo
populações com menos recursos para custear a habitação. Nesse processo, a Baixada
Fluminense “deixa de ser um mero local de passagem para ser definitivamente integrada na
condição de espaço urbano periférico subordinado ao núcleo” (SIMÕES, 2007, p.102).
Na década de 1910, a Baixada Fluminense foi inserida na extensão da mancha urbana
da cidade do Rio de Janeiro, tendo por base as estações ferroviárias em localidades limítrofes
ao Distrito Federal. Os loteamentos também foram viabilizados pelos projetos de saneamento
destinados à região. Desde meados do século XIX foram registradas, nos Relatórios da
Província, medidas destinadas a socorrer os problemas que o território enfrentava com
terrenos alagadiços, pantanosos, mangues e a necessidade de desobstrução dos rios
(TORRES, 2004b, p. 183). Mas foi o governo federal de Nilo Peçanha que esboçou ações
mais consistentes para o saneamento da baixada, condição fundamental também para a
recuperação das atividades agrícolas. No pós-1930, a região continuaria a ser incluída nas
políticas de saneamento do governo federal.
Em virtude dos resultados das políticas de saneamento e da expansão dos loteamentos,
em 1940 não havia mais terras disponíveis para loteamento nos distritos de Nilópolis, São
João de Meriti e Caxias. Nessa década, exatamente as localidades que serviram aos
loteamentos e que abrigavam maior contingente populacional do que o distrito-sede, iniciaram
processos de emancipação do município de Nova Iguaçu: “não fazia mais sentido que a
administração dessas localidades ficasse subordinada ao pequeno núcleo semi-rural de Nova
Iguaçu, muito menos a uma elite política fundamentalmente agrária” (SIMÕES, 2007, p. 117).
Desta forma, emanciparam-se do município de Nova Iguaçu, os distritos de Caxias, em 1943,
e São João de Meriti e Nilópolis, em 1947. A recomposição dos limites territoriais do
município em função das emancipações revela, também, os conflitos políticos entre as elites
locais.
57
Figura 7 Mapa da Divisão territorial após as emancipações – 1947.
Fonte: Produzido e gentilmente cedido pelo geógrafo e professor Manoel Ricardo Simões.
A Instrução agrícola e a ordenação social do campo
Para além das mudanças introduzidas na ordenação do território, na administração
política local e na promoção de infraestrutura para a produção, a aquisição de saberes sobre a
agricultura e a formação dos diversos tipos de trabalhadores agrícolas constituía o cerne de
construção e disseminação de uma nova ordem social para o mundo rural. E esses saberes, as
novas técnicas, as pesquisas, deveriam ser empregados no processo produtivo; ou seja, sua
adoção já devia resultar em resultados práticos na produção. Concomitantemente,
reorganizava-se a cultura e a produção na gestação de uma nova civilização rural, moderna
porque científica. A especificidade da função da instrução nesse cenário era a imediata
aplicação desses novos saberes que deveriam ser dominados e difundidos, daí a centralidade
do ensino agrícola.
Em 1922, o Correio da Lavoura assinalava a necessidade de conquistar a adesão dos
trabalhadores rurais para adoção das novas técnicas de cultivo, alegando que havia
dificuldades em compatibilizar o “nosso lavrador”, o “sertanejo” com os “modernos
doutrinamentos agrícolas”, porque aqueles resistiam em abandonar suas rotinas: “Todo o
esforço, no sentido de arrancar ao sertanejo as suas idéas rotineiras e de fazel-o um cidadão
58
util, esboroa-se de encontro a multiplas hostilidades”.74
A atuação de Belisário Penna era
tratada como exemplo desta situação, porque na campanha pela disseminação da higiene,
obteve como resposta, segundo o Jornal, o indiferentismo com que o “povo rude e rebelde
recebe os seus ensinamentos”.75
Por isso tão somente o doutrinamento agricola e sanitario popular não pode preceder
o ensino primario. Antes de tudo, pois, devem as autoridades governamentaes
derramar pelos sertões a indispensavel luz, como base, onde apoiar-se-á então, uma
nova casta de agricultores mais forte e mais consciente. Sem esse ponto
fundamental, todas as propagandas, em prol de ensinamentos populares, não surtirão
o almejado effeito.76
Pela higiene, pelo saneamento e pela instrução argumentava-se favorecer uma
população rural em situação de “abandono”, “atrasada”, a fim de inseri-la em um projeto de
ordenação do campo que interessava à manutenção da dominação dos setores agrários e de
suas atividades econômicas: “A elevação moral das massas rurais inertes era o pretexto para
um projeto de educação agrícola destinado a legitimar um novo tipo de intelectual qualificado
a intervir sobre o espaço social rural” (MENDONÇA, 2000, p.10, grifos da autora).
Silvino Silveira foi um assíduo colaborador do Jornal por décadas. O conteúdo de suas
participações demonstra seu engajamento da defesa do ruralismo. Em “O ensino agrícola”,
Silvino Silveira engrossava o coro: “A educação é a chave de todos os problemas sociaes”.
Lembrava que há cinco anos ele repetia no Correio da Lavoura que “Rumo ao campo”
deveria ser a legenda das escolas, porque a riqueza oriunda da agricultura é o fundamento da
“evolução social”. O cerne de suas ideias relacionava o desenvolvimento da lavoura com o
progresso da sociedade:
O abandono dos campos – é o perecimento da agricultura, é a miseria do paiz, é a
impossibilidade de qualquer tentativa de progresso moral ou intellectual, pois a
riqueza é a pedra angular de toda evolução social. A agricultura, podemos dizer, é o
‘nó vital’ de todo o organismo politico. Si ella soffre ou perece, perecem e soffrem
as industrias e o commercio, soffre e perece a nação inteira.77
Citava, duas vezes, Assis Brasil na obra Cultura dos Campos, retomando os
argumentos de que os estudantes deveriam voltar-se para o cultivo da terra, ao contrário de
pretenderem empregos públicos. Joaquim Francisco de Assis Brazil foi um precursor do
ruralismo no Brasil. Foi atuante na propaganda pela diversificação da produção agrícola e
pecuária no país, a fim de alcançar a diminuição da dependência da importação de grãos e
74
ENTRAVES À PROPAGANDA AGRÍCOLA, 22 jun 1922. 75
É possível que o Jornal estivesse se referindo à experiência que ocorria, desde 1918, da instalação de
Postos de Profilaxia Rural em Iguassú. A implantação de postos de saúde integrava as ações da Liga
Pró-Saneamento do Brasil. Belisário Penna também esteve presente na cidade, promovendo palestras. 76
ENTRAVES À PROPAGANDA AGRÍCOLA, 22 jun 1922. 77
O ENSINO AGRÍCOLA, 21 dez. 1922.
59
carnes e remover os riscos de manter apenas um produto, o café, como base de sustentação
econômica. Demonstrava muito interesse pelo modelo norte-americano de produção baseado
na agricultura científica (MENDONÇA, 1997).
Assim, a formação especializada de técnicos e agrônomos era preconizada como
necessária para difundir esse novo modo de produção, essa nova mentalidade acerca da
produção. Além da criação de instituições para o ensino agrícola, havia uma hierarquização
das funções realizadas de modo que, segundo Artur Torres Filho, um dos ícones do
movimento, em obra sobre o ensino agrícola no Brasil, “... a ciência caiba ao agrônomo; a
arte, ao chefe de culturas; e o ofício, ao trabalhador rural” (TORRES FILHO, 1926 Apud
MENDONÇA, 2000, p.10).
Esses argumentos estavam constantemente presentes no Correio da Lavoura. Em
artigo sem assinatura intitulado, “Ensino Agricola pratico”, ponderava-se que no Brasil, de
onde a riqueza emana da terra, era fundamental cuidar do ensino agrícola, constituindo
“problema vital da economia nacional” a instrução da mocidade que vive no campo.
Argumentava-se que a falta de “trabalhadores adestrados e capazes” era um dos entraves ao
“desenvolvimento de nossas industrias ruraes”. Dever-se-ia, então, difundir o ensino agrícola
prático nas zonas ruraes para formação “do homem que conhece praticamente os trabalhos
ruraes e sabe executal-os e que é uma especie de intermediario indispensavel entre o technico
que dirige e o trabalhador braçal, que age apenas pela sua força physica.”78
Os
estabelecimentos como aprendizados e patronatos deveriam servir a esse tipo de formação do
trabalhador braçal, porque destinavam-se a ministrar “um ensino racional, mas limitado à
capacidade mental e ao preparo geral do educando”. Concluía-se que: “Encarado como
essencialmente de applicações immediatas, o ensino agrícola pratico preparará, sem duvida,
homens sem pretensões, porem conscientes de seu saber pratico e de sua aptidão para o
trabalho agrícola”.79
Afinado com um projeto específico de sociedade, oriundo das classes dominantes
agrárias, no programa de ensino agrícola defendido por esses setores, tanto a infância quanto
os adultos eram alvos de projetos que procuravam convencer, pela educação, sobre a
importância do trabalho agrícola, orientado em novas bases. Em artigo transcrito no Correio
da Lavoura, o professor Graccho Cardoso, da Escola Superior de Agricultura, debatia o
78
ENSINO AGRICOLA PRATICO, 28 ago 1932. 79
Idem.
60
ensino agrícola extensivo: “O ensino agrícola antes de ser ensinado cumpre que seja
comprehendido”.80
Argumentava sobre a importância de diversos fomentos para a produção, como a
infraestrutura para o escoamento dos gêneros, a organização do crédito, de cooperativas e do
sindicalismo rural, mas que o corolário de todos os incentivos era a “systematização e
generalisação do ensino technico profissional”. Assim, considerava que já não seria
necessário discutir a importância da atuação dos poderes públicos no progresso agrícola, para
a prosperidade das nações. Contudo, nesse tema, pouco havia sido feito: “fallece-nos estimulo
scientifico e orientação pratica agronomica”.81
Lembrava que há 20 anos defendia que a instrução primária não poderia se limitar a
noções elementares de instrução geral, mas deveria iniciar a criança nos princípios da
profissionalização futura. Ponderava que o governo colaboraria se o ensino atraísse a atenção
das crianças para o campo, “por maneira a inculcar-lhe à intelligencia mal desperta as virtudes
e compensações da vida do campo, habitual-o, enfim, com as plantas, os animaes domesticos,
as industrias agricolas da região.”
Contudo, segundo o professor, a escola primária não satisfazia a esse critério. A
educação para o campo, tanto da criança quanto do trabalhador fora da idade escolar, exigiria
métodos especiais de alcance e sucesso. De maneira que o ensino extensivo, de caráter prático
e destinado à disseminação sistemática, de generalização progressiva pelas massas rurais,
seria o indicado:
No estado social moderno a riqueza economica depende de que o trabalho evolua
pela transformação do trabalhador. Engenhemos as reformas que bem quizermos,
melhoremos, como bem imaginarmos, a technica agronomica, introduzamos os
inventos mais recentes, fundemos gabinetes, laboratorios, museus, estações
experimentaes, ponhamos a funccionar os apparelhos mecanicos mais minimamente
acabados, tudo será debalde sem o preparo rudimentar daquele que lavra e semeia o
solo, isto é, se a mente do operario agricola não estiver desbravada para que possa
perceber a razão das operações que realiza.82
Em 1936, Renato S. Fleury, autor da Cartilha Rural de Alfabetização lançada no ano
anterior, publicava no Correio da Lavoura o artigo “Que é ruralismo”.83
Defendia que a
educação da infância deveria ter sentido “marcadamente ruralista”. O ruralismo pretendia o
“progresso das zonas ruraes” e em consequência a elevação do “padrão da existencia roceira”.
Para isso seriam necessários saneamento rural, facilitação de transportes e comunicação,
80
PELO ENSINO AGRICOLA EXTENSIVO. Graccho Cardoso. 28 jul 1932. 81
Idem. 82
Idem. 83
QUE É RURALISMO, Renato Fleury, 10 dez 1936.
61
“renovação dos processos de trabalho agrario”, além de “polycultura, reflorestamento,
cooperativismo, industrias agricolas e pastoris”. Inscrevia sob a rubrica do ruralismo “tudo
que se refere à vida do campo e tudo quanto coutribue, directamente, para melhora-la”.
Contudo, uma palavra resumia o problema: “a ‘educação’. Mas educação rural, capaz de
orientar exclusivamente para as actividades campezinas.” Nesse sentido, o ruralismo era uma
oposição ao urbanismo, o mal que respondia “pela situação de impasse da civilização
comtemporanea”.84
Citando Oliveira Vianna, o professor fazia coro às críticas aos administradores, aos
prefeitos municipais que embelezavam as cidades enquanto abandonavam os campos:
“Occupemo-nos dos nossos homens do campo, lavradores e criadores porque é nos braços
desses verdadeiros heroes que se esteia o futuro desta immensa patria”.
Em função da situação, a “sociologia rural” procurava resolver os problemas do
campo, contando com a colaboração de higienistas, engenheiros, médicos, dentistas,
agrônomos, técnicos industriais e dos sacerdotes, “porque todos têm participação nessa obra
grandiosa de salvação”. Contudo, caberia à escola rural a base do trabalho: “Mas o
embasamento desse trabalho gigantesco está na escola rural. É ao professor da roça que
imcumbe orientar as populações ruraes para que elevem seu padrão de vida”.85
Dessa forma, ocorria a atribuição de uma função social específica para a escola rural,
que seria a promoção de um nova ordenação social para campo, a fim de assegurar a
manutenção das atividades agrícolas e pastoris.
É fundamental perceber neste projeto de reordenação das relações de produção no
campo a relevância da instrução da população campesina, em sentido amplo. Cabe retomar o
pensamento de que a educação equivale às operações fundamentais da hegemonia
(BUTTIGIEG, 2003, p.47). As “operações de hegemonia” são meios pelos quais a concepção
de mundo e os valores de um grupo são difundidos, reforçados e estimulados “capilarmente”
pela sociedade, tornando-se hegemônicos.
A teoria do Estado Ampliado tem como fundamento a percepção de que o poder não é
exercido apenas e pela coerção, mas pela capacidade da classe dominante de obter e manter
seu poder sobre a sociedade por sua capacidade de produzir e organizar o consenso e a
direção econômica, política, intelectual e moral dessa sociedade (ACANDA, 2006).
Dentro do movimento ruralista, a instrução agrícola era um meio para “desbravar” a
mente do trabalhador, convencê-lo dos benefícios da adoção de novas práticas de cultivo, do
84
QUE É RURALISMO, Renato Fleury, 10 dez 1936. 85
Idem.
62
interesse pelo trabalho no campo. Sob essa perspectiva, a educação atua na divulgação e
interiorização do arcabouço ideológico das classes hegemônicas, transformando valores
particulares em senso comum. Com base na afirmação de que “toda relação de hegemonia é
necessariamente uma relação pedagógica” e que toda conceituação de educação é
necessariamente uma estratégia política (GRAMSCI, 1981: p. 38), compreende-se os esforços
do Correio da Lavoura e dos intelectuais da SNA em sustentar a bandeira da instrução
agrícola da população.
Nesse sentido o Correio da Lavoura, pelos intelectuais que reunia em sua redação,
pelo espaço destinado ao tema, exercia a propaganda ruralista no município de Nova Iguaçu.
Contudo, o próprio Jornal, situando-se em prol da propaganda agrícola, afirmava os limites de
sua atuação para modificar imediatamente a situação: “A nossa propaganda cinge, apenas, o
vasto e fertil municipio de Iguassú”,86
de modo que conclamava à ação também a imprensa da
capital.
Na construção da hegemonia, a imprensa é um recurso de defesa de propostas e visões
de mundo, e sua ação busca disseminá-las. É notável o Jornal exercer essa função educativa
pela forma como, por seus artigos, viabilizava a voz e a prática de sujeitos e experiências que
buscavam construir o ruralismo, enquanto ele mesmo atuava pedagogicamente no município.
E isso não ocorria de modo aleatório, porque os setores letrados daquela sociedade, mas,
também, os que podiam ouvir comentários, conversas, etc. sabiam da função da imprensa
enquanto partido de interesses, plataforma de defesas e combates, como já haviam
demonstrado as campanhas abolicionista e republicana.
Tanto Silvino de Azeredo quanto seus colaboradores já tinham larga experiência no
ambiente literário do Distrito Federal. Principalmente Silvino Silveira e Alfredo Jardim, que
foram os intelectuais mais constantes no Jornal no período em foco, eram sempre
mencionados e elogiados como antigos jornalistas87
e mostravam-se convencidos do poder
instrutivo da imprensa e de sua potencialidade pedagógica de difusão de ideias e práticas, em
novos modos de socialização. No caso da imprensa, seu uso agrega significado à crença
disseminada sobre a capacidade da instrução de expurgar os problemas da sociedade e de
modificar situações. Festejando o aniversário do Jornal, dizia Silvino Silveira:
86
ENTRAVES À PROPAGANDA AGRÍCOLA, 22 jun 1922. 87
Cf. NOVOS ELEMENTOS, 04 out 1917; CAP. ALFREDO JARDIM, 16 out 1930. CAP. ALFREDO
JARDIM, 15 out 1931; PERFIL PERIODISTICO DE SILVINO SILVEIRA, 11 mai 1947. Em 1932,
Alfredo Jardim estava afastado voluntariamente da Folha. FAZ ANNOS, HOJE, O CORREIO DA
LAVOURA, Alfredo Jardim, 22 mar 1932.
63
Um jornal, innegavelmente, é uma pequenina bibliotheca, onde encontramos a voz
do poeta, do orador, do philosopho, do historiador e do litterato. A sua fundação
abre uma nova época de illustralção ao povo e muito contribue para o progresso da
localidade. Preciso em toda parte, - penetra o palacio do rico, como no albergue do
pobre; no recinto dos tribunaes, onde os sacerdotes da Justiça desempenham sua
missão, como no interior do carcere, onde estão encerrados os infratores da Lei. Si
tivesse jornaes o mundo inteiro, menor seria o numero dos ignorantes e dos
criminosos.88
A comparação entre a instrução escolar e a função da imprensa, elaborada por Silvino
Silveira é sintomática dos interesses em atuar na imprensa. Por ocasião do aniversário do
Semanário e da inauguração de uma nova coluna, Silvino Silveira comentava a importância
da invenção da imprensa, sua capacidade de instruir, informar, dar a ver as mudanças em
diversos campos, e de sua disseminação na sociedade:
Influe na educação domestica por essa continua convivencia, por essa intervenção
avassaladora de todo jornalismo, com a mesma força absorvente com que as lições
de um educador são capazes de operar, por meio de methodico trabalho de inducção,
sensivel modificação de indole no caracter de seus educandos.89
Em função do programa anunciado desde o primeiro número em 1917, de lutar pela
lavoura, higiene, instrução, os temas acerca da instrução, do ensino e da educação são
fartamente encontrados nas páginas do semanário. A partir do exame do que, no curso do
tempo, é publicado sobre instrução agrícola, apreende-se quais sujeitos são legitimados a
expor sobre o assunto, as visões de mundo divulgadas, as experiências recomendadas, as
iniciativas para o ensino agrícola. O que o exame das matérias demonstra é que os debates e
as experiências sobre instrução agrícola noticiados guardam vínculo com as representações
sobre o ensino regular e a construção do movimento ruralista no distrito-sede, pela
citricultura.
O exame dos debates e práticas sobre a instrução rural naquele distrito desvela a
função social da escola para esses grupos e como as categorias do rural e do urbano eram
significadas; como as concepções sobre elas eram disputadas e modificadas, conforme os
interesses em jogo se organizavam. Longe de definições estanques, elas ganham nuances e
usos diferentes no tempo e conforme o enunciador, se contradizem, rivalizam ou são
sobrepostas.
A instrução não aparecia somente nas notícias diretamente relacionadas ao assunto. O
tema comparecia como argumento, solução, ou a sua ausência era sintoma das razões, quando
se abordavam outros problemas cotidianos da população da cidade, do país e da lavoura. A
campanha pela instrução agrícola pode ser acompanhada pelo que era divulgado em termos de
88
O JORNAL, 28 out 1920. 89
A LAPIS – O ANNIVERSARIO DO CORREIO. 22 mar 1926.
64
acontecimentos e mobilizações, mas também é possível observar como ela era realizada pelo
próprio Jornal, através de seus artigos.
Sonia Mendonça (2010), num balanço historiográfico sobre a educação rural, se
contrapõe a duas ênfases predominantes: a avaliação de que o ensino rural só foi considerado
no Brasil no pós-1930 e no âmbito do Ministério da Educação. Sua pesquisa revela que o
tema habitava a pauta de ações do Ministério da Agricultura desde sua criação na década de
1910, e que este órgão continuou a disputar a condução das políticas da educação no campo,
após a criação do Ministério da Educação e Saúde. Mesmo os estudos sobre educação rural,
ou no campo, constituem uma frente de trabalho menos privilegiada, e por vezes apartada das
demais discussões, como se fosse algo muito específico, deslocado, à margem dos grandes
temas, dos grandes movimentos, da história da educação.
Tanto as ações do Ministério da Agricultura quanto, de forma mais ampla, a atuação
da SNA e de seus intelectuais estão presentes, ecoam, fundamentam, são compartilhados pelo
Correio da Lavoura em todo o período encoberto nesta pesquisa. Além das experiências
realizadas e dos propósitos do ensino organizado pelo Ministério, intelectuais da SNA
publicavam no Correio da Lavoura e eram constantemente citados, transcritos, mencionados.
Outro alerta muito importante é que o ensino rural foi alvo de políticas e intenções por
vezes conflitantes nos direcionamentos a serem impressos, e não apenas uma campanha
homogênea de grupos agrários. Interessa compreender a função que o ensino rural
comportava nos projetos e debates dos grupos agrários e urbanos. A quem se destinava, como
era organizado, quais os seus objetivos?
Nesse sentido, a notícia de criação de um Aprendizado Agrícola na zona rural do
Distrito Federal era recebida com ânimo nas páginas do Semanário. No projeto dos
Aprendizados Agrícolas havia uma comunhão de interesses entre ordenação do mundo rural e
do urbano. Destinava-se a receber “grande numero de menores que vagueiam em completo
abandono pelas ruas da capital”90
, ou ainda, em tom mais punitivo: “destinado aos menores
apanhados em vadiagem pela policia”91
e empregá-los no ensino prático da agricultura:
Além da instrucção primaria e das noções de educação civica, será ministrado o
ensino exclusivamente pratico de agricultura elementar, bem como de profissões
anexas, como o trato do gado, reparações de instrumentos de trabalho e de arreios,
construções de bemfeitorias ruraes, etc. 92
Assim buscava-se retirar do espaço urbano os problemas que maculavam o almejado
progresso, e de oferecer mão-de-obra para o campo, que enfrentava o problema de
90
APRENDIZADO AGRÍCOLA, 17 jan 1918. 91
APRENDIZADO AGRÍCOLA, 28 fev 1918. 92
Idem.
65
reorganização do trabalho desde o pós-abolição. Outros Aprendizados Agrícolas seriam
criados nos estados da União, “segundo informações que nos foram concedidas por um alto
funccionario do Ministerio da Agricultura” e o semanário defendia a iniciativa:
O Estado do Rio não pode ficar indifferente ao desenvolvimento do trabalho
agricola [...] A agricultura constitue a maior fonte de riqueza, é a base da nossa
economia, é o factor mais importante da nossa grandeza. [...] Ao agricultor laborioso
e patriota cumpre estudar os modernos apparelhos de preparar a terra afim de que
seja possivel obter o maximo da producção com o relativo minimo de esforço.
Até 1930 foram criados oito aprendizados agrícolas distribuídos entre Minas Gerais,
Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Alagoas, Pará e Maranhão, mas, como tinham
autonomia quanto aos regimentos internos, desenvolveram especificidades de funcionamento
conforme a região. A localização correspondia ao atendimento da demanda das frações
agrárias subordinadas que, ao contrário de São Paulo, optavam pela colonização com o
elemento nacional, por falta de recursos para arcar com a imigração. Nessas instituições, o
público alvo tinha entre 14 e 18 anos e era recrutado para o trabalho nas fazendas do entorno.
Ainda que tenham alcançado “importância relativa” pelo baixo número de alunos e de
unidades, os Aprendizados Agrícolas expressavam o interesse em formar um fluxo de mão-
de-obra treinada (MENDONÇA, 2010, p. 34-35).
Experiências anteriores aos aprendizados agrícolas também vinculavam a assistência a
crianças com a inserção ou conservação das mesmas no mundo do trabalho rural. O Asilo
Agrícola Santa Isabel, fundado em 1886, na província do Rio de Janeiro, resultou da
associação93
de pessoas interessadas em fundar uma instituição que abrigasse menores
“desamparados” e os filhos de escravas, libertos pela lei de 1871, de forma a conservar a mão-
de-obra para o campo (SCHUELER, 2000, p.122). As primeiras letras, educação religiosa e
noções práticas de agricultura integravam o corpo de ensinamentos que procuravam
conformar o destino das crianças, consubstanciando, também, o controle social dessas
populações (Ibidem, p.131).
Pelo regulamento expedido em 1919, foram organizados os patronatos agrícolas,
instituições criadas para a “educação moral, cívica, física e profissional de menores
desvalidos”. Enquanto instituto de “assistência, proteção e tutela moral aos menores”,
recorria-se ao trabalho agrícola “sem outro intuito que não o de utilizar sua ação educativa e
regeneradora, com o fim de os dirigir e orientar, até incorporá-los no meio rural” (apud
NAGLE, 1974, pp.183-184) .
93
Associação Brasileira Protetora da Infância Desamparada. Ver Schueler, 2000, p.121.
66
Foi intensa a ação do Ministério da Agricultura durante a Primeira República, que
buscava aumentar o orçamento para a criação de escolas de ensino prático no Brasil, de
agricultura, veterinária, mecânica, eletricidade, agronomia e encontrava apoio em
parlamentares partidários da economia agrícola.94
O ensino agronômico foi regulamentado,
ainda que inicialmente pouco tenha sido realizado, com pequeno investimento oficial e maior
participação de escolas privadas.95
O texto normativo, contudo, comporta a extensão da ação
pretendida. Ao longo de 591 artigos, eram estabelecidas onze divisões do ensino: superior,
ensino médio, ensino prático, aprendizados agrícolas, ensino primário agrícola, escolas
especiais de agricultura, escolas domésticas agrícolas, cursos ambulantes, cursos conexos com
o ensino agrícola, consultas agrícolas e conferências agrícolas (NAGLE, 1974, pp.182-183).
Na edição comemorativa do 5º aniversário do Correio da Lavoura, um extenso artigo
sobre ensino agrícola, argumentava que o Brasil, considerado como “essencialmente agrícola”
conforme a “classica phrase”, ainda apresentava uma agricultura atrasada que adotava
“processos primitivos”. A escassa difusão das ciências naturais no ensino secundário e a
predominância de conteúdos de humanidades, eram arroladas como uma das causas, porque
não formava os dirigentes que poderiam introduzir métodos inovadores na agricultura. Pela
estrutura do ensino secundário, que formava futuros empregados para ofícios urbanos, pouco
se desenvolvia o estudo das ciências naturais. Enquanto isso, nas nações avançadas na
produção agrícola, como nos Estados Unidos, o conteúdo do ensino secundário privilegiava as
ciências naturais e o conhecimento das características geográficas e históricas do país:
Enquanto somos um povo culto, o americano do Norte, alem disso, é
‘essencialmente agricola’; e devido ao estudo systematico das ‘sciencias naturaes’ e
da ‘agricultura’ que se faz nesse paiz admiravel, é elle o colosso que a Europa e o
mundo inteiro admira e respeitam. A sua ‘agricultura’ aperfeiçoa-se sempre pela
difusão do ‘ensino agrícola’, a sua producção se avantaja de anno para anno e o seu
commercio cresce aos olhos dos outros povos. E temos nós a agricultura mais
primitiva que é possivel e importamos de outros paizes os gêneros de primeira
necessidade que entretanto podemos produzir com vantagem.96
A partir do exemplo dos Estados Unidos, concluía-se pela urgência de difusão do
ensino agrícola, por meios práticos e não teóricos, como o costume do ensino no Brasil.
Argumentava-se que, para os lavradores, seria preciso que o ensino agrícola apresentasse
resultados imediatos e a baixo custo.
Nesse período, os discursos modernizantes seriam utilizados justamente para ratificar
a vocação agrícola e combater a industrialização e a urbanização. A ênfase também recaía
94
ENSINO ESSENCIALMENTE PRATICO, 04 set 1919. 95
Decreto nº 8.319 de 20/10/1910 (NAGLE, 1974, p.182). 96
ENSINO AGRICOLA, 22 mar 1922.
67
sobre a organização do ensino e o descaso ou a morosidade das ações estatais. Silvino Silveira
argumentava que, embora se insistisse que o país fosse essencialmente agrícola, a lavoura era
abandona pelos governantes.
Nos congressos sobre os ramos de ensino, a ausência de discussão categórica sobre a
intensificação do ensino agrícola aliado ao ensino profissional, e a teorização deste ensino em
densos livros e relatórios do Ministério da Agricultura, seriam entraves ao desenvolvimento
da lavoura, não serviam para o lavrador analfabeto. O lavrador permanecia sem conhecer “as
innovações da agrologia moderna e cultiva o solo pelos methodos prehistoricos!”.97
Silvino
Silveira defendia a necessidade de intensificar a propaganda do ensino agrícola por meio da
criação de escolas.
Pelo “salutar manejo da enxada e do arado”: alfabetização e instrução primária
O combate ao analfabetismo e a defesa por uma lei do ensino primário obrigatório
estiveram inscritos nas campanhas do Correio da Lavoura. Além da disseminação e defesa da
importância da instrução agrícola para fixar o homem no campo em atividades agrárias, e, por
meio disto, imprimir novas diretrizes à produção agrícola, os intelectuais engajados no
ruralismo também postulavam posições no amplo debate sobre a escolarização, sobre as
orientações a serem impressas ao ensino regular.
Nas páginas do Correio da Lavoura, o analfabetismo era situado como um sintoma do
atraso da população. A escolarização da sociedade era prevista como meio de reordenar o
social, fosse nos campos ou nas cidades. A campanha do Jornal pela disseminação da
educação primária, pontuava, por vezes, críticas contundentes aos impasses burocráticos, à
morosidade dos grandes projetos legislativos. Silvino de Azeredo avaliava que, apesar da
sucessão de anúncios de grandes projetos para o ensino primário e profissional, por vezes
projetos relevantes eram arquivados, de forma que não era resolvido o problema de oferta da
instrução pública, primária e profissional no país.98
Além da insuficiência na oferta de escolas, o custo com exames de admissão,
enxovais, atestados de saúde etc. eram denunciados como encarecedores do ensino, o que
também limitava o acesso à instrução pública.99
O aniversário da Independência do país e os avanços e recuos dos projetos
republicanos eram acenados como convites à ação para sanar a principal causa de atraso
97
O ENSINO AGRICOLA, Silvino Silveira, 21 dez 1922. 98
O PROBLEMA DO ENSINO. Silvino Azeredo, 11 ago 1921. 99
INSTRUÇÃO SÓ PARA OS RICOS, 10 abr 1924.
68
moral e econômico do país.100
O recurso às estatísticas da disseminação do ensino, taxas de
analfabetismo, tudo servia de comparação para dar a ver a situação do Brasil.101
Algumas
iniciativas governamentais ou de âmbito privado, em outras cidades, estados e países, eram
comemoradas e apontadas como exemplos a serem repetidos.
A historiografia sobre a Primeira República no Brasil tornou conhecidas as
experiências e práticas ensaiadas, por distintos setores da sociedade brasileira, de repensar o
Brasil e a construção da nacionalidade (Cf. GOMES; FERREIRA, 1989). Compete assinalar
que esse cenário não foi específico da Primeira República, posto que o rompimento dos laços
coloniais também impôs uma agenda de construção da nação para o período imperial. O
repertório sobre a construção da civilização brasileira, em concomitância a construção do
aparato de estado, estava em curso desde o Império. Desde então, a instrução e a
escolarização constituíam ingredientes relevantes nos projetos de formação da população, do
“povo” brasileiro (Cf. FARIA FILHO, 2007; GONDRA; SCHUELER, 2008).
Na avaliação dos alcances e limites destas experiências, na década de 1920, o tema da
educação foi reiterado à condição de principal “vacina” para curar os problemas de uma
população que continuava “atrasada” em seu processo “civilizatório”.
Foi produzido um consenso, reverberado por décadas do projeto republicano, de que o
analfabetismo da imensa maioria da população representava um obstáculo à construção da
nação moderna, que deveria ser provida por cidadãos com uma nova mentalidade cívica,
prontos a contribuir com a prosperidade econômica e social do país. Na sociedade civil, a
atuação de agremiações, ligas, batalhões patrióticos, de intelectuais dos setores religiosos, da
iniciativa particular e da imprensa também encadearam esse processo.
A urbanização, enquanto plano de intervenção no espaço, comportava, também, um
projeto de disseminação da urbanidade, enquanto modo de comportamento. Sob essa ótica, a
instrução foi concebida como uma ferramenta para disseminação destes novos modos de
socialização (FARIA FILHO, 2005a). O conceito de modernidade, característico deste
conjunto de intervenções, sintetiza essas aspirações.
André Paulilo (2010), avaliando a presença dos termos moderno e modernidade na
historiografia da educação brasileira, adverte para as diferentes apropriações que foram dadas
aos termos, ora sendo acriticamente incorporadas, ora situadas como recursos de legitimação
e da instituição de memórias sobre as reformas da instrução pública ocorridas nos anos de
1920 e 1930. É marcante, contudo, a permanência destes termos no debate historiográfico. A
100
CRUZADA SANTA, 23 out 1919. 101
O MAIOR PROBLEMA NACIONAL, 27 jun 1926.
69
partir da renovação de perspectivas e métodos de pesquisa, o tema ganhou novos enfoques na
historiografia. Marta Carvalho (1998), ao rever as impregnâncias da interpretação de
Fernando de Azevedo sobre as reformas da instrução, alerta para a operação realizada em que
o sentido modernizador, atrelado ao novo e à ruptura com o passado, expurga a percepção do
que havia, no interior do movimento, de compromisso com a manutenção da ordem e da
sociedade capitalista (PAULILO, 2010, p.32).
O discurso pela modernidade comportava um projeto educacional amplo, de
conformação social da população, elaborado por alguns grupos dominantes da sociedade
(Ibidem, p.33). Marlos Bessa Rocha (2004) também ressaltou que não havia uma conotação
homogênea para os discursos pela modernidade, havendo até concepções dissonantes. Por sua
vez, Clarice Nunes (1998) descortinou o “movimento contraditório da gestação do moderno
no país”, recuperando as relações entre o espaço urbano e o espaço escolar nas reformas da
instrução da capital federal (PAULILO, 2010, p.33).
Porém, as propostas de modernidade, de modernização e de construção de uma nova
ordem não transitaram somente nos meios intelectuais vinculados à cidade, pois repercutiram
em discursos sobre o rural, ora vinculando-o ao atraso, ao arcaico, ora idealizando-o como
lugar da pureza, de estilos de vida menos conturbados. Nesses discursos propagados no
Jornal, a situação da população rural era enfatizada, pela ausência maior, em comparação com
as cidades, de iniciativas em prol da instrução.
O Correio da Lavoura conclamava à realização da “Cruzada Santa”, isto é, o combate
ao analfabetismo e a difusão da instrução, a ser levado a efeito por todos os setores sociais, a
despeito da morosidade dos governantes. Mas o que é especifico deste discurso são as
aproximações e recuos que vão se constituindo na relação entre instrução primária e educação
rural:
O resurgimento do Brasil promanará da sua instrucção. As escolas proliferam nas
cidades e capitaes. Necessitamos de escolas ruraes em todos os recantos das zonas
productoras do paiz, onde, com o salutar manejo da enxada e do arado seja
introduzido o ‘a b c’. Não se trata de fabricar bachareis, mas sim de preparar
cidadãos conscientes, cumpridores de seus deveres político-sociaes, e que
comprehendam a grandeza do nosso invejavel paiz.102
Ainda que fosse defendida a obrigatoriedade da instrução primária para o combate ao
analfabetismo103
, havia diretrizes a serem impressas a esse ensino. Assim, o ensino primário
livresco era combatido porque não preparava para o trabalho no campo. Ao contrário,
segundo o Jornal, formava pessoas mais propensas ao urbanismo.
102
CRUZADA SANTA, 23 out 1919. 103
CHRONICA. Alfredo Jardim, 09 set 1920.
70
Silvino Silveira, refletindo sobre o ensino agrícola, preferia ter homens sem instrução
do que homens mal instruídos, posto que as escolas rurais não resultavam no que deveriam.
Em visita a escolas rurais do estado de São Paulo, Silvino Silveira observou que as escolas
isoladas são tal qual funcionam nas cidades, “com os mesmos professores, com os mesmos
methodos, com os mesmo horários, com as mesmas férias, como os mesmos hynos e até com
os mesmos, com os mesmissimos livros”. Citava positivamente os casos dos Estados Unidos e
do México, pela implantação da educação prática.104
Por isso, o ensino profissional obrigatório também era defendido na propaganda
ruralista do Correio da Lavoura, desde que vinculado à instrução agrícola e primária, para a
formação de braços e quadros técnicos para a lavoura. Nos debates sobre a obrigatoriedade do
ensino, o Jornal, em tom de indignação, destacava que a lei do ensino profissional obrigatório
não poderia prescindir de uma lei do ensino primário obrigatório, sendo vexatório, para um
país com 100 anos de independência e 33 anos de República, não possuir a lei que
“garantiria” o progresso.105
Denunciava-se ainda os desacordos entre os discursos dos
parlamentares sobre a regulamentação do financiamento da instrução primária que
postergavam a solução do problema e a adoção de “realizações praticas”.106
É possível identificar na ação do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio
iniciativas de cooperação com as escolas primárias, buscando desenvolver experiências de
dotá-las de estrutura física e conteúdos práticos que servissem ao ensino da lida no campo,
com a perspectiva da adoção dos novos métodos de cultivo. Outra frente de trabalho era a
criação de instituições específicas para o ensino agrícola, face aos parcos resultados de
“ruralização” do ensino primário, ou seja, do interesse de dotá-lo de conteúdos pertinentes à
formação para o trabalho agrícola.
Desse modo, ocorriam iniciativas como os entendimentos entre o Ministro da
Agricultura e o diretor da instrução do Distrito Federal para adaptação de escolas primárias
em escolas rurais modelos. O Correio da Lavoura, reproduzindo matéria que circulou no
Jornal do Brasil, destacava que o ministro Miguel Calmon estava “bastante interessado pela
instalação dessas escolas”. Pretendia-se criar o tipo de escola rural modelo em Campo Grande
e Santa Cruz (Distrito Federal), e nelas também ocorreriam palestras aos técnicos e
distribuição de sementes, tendo ampliadas as suas funções: “Organizadas assim essas escolas
104
O ENSINO AGRICOLA, Silvino Silveira, 11 jan 1923. 105
O ENSINO PROFISSIONAL OBRIGATORIO, 24 jan 1924. 106
INSTRUCÇÃO PUBLICA, 24 jan 1924.
71
ruraes modelos, nellas se poderão pôr em execução e com efficiencia os melhores planos para
a intensificação e engrandecimento da nossa lavoura.”107
A introdução de aulas práticas de agricultura nas escolas primárias foi um dos alvos do
Ministério da Agricultura. Frequentemente o modelo de educação rural dos Estados Unidos
era exposto, como a criação dos clubes agrícolas, em que os alunos aprendiam produzindo,
com os lucros provenientes da produção restituindo os gastos da escola. Fazendo coro a esta
campanha, o Correio da Lavoura preconizava a adoção desse modelo no Brasil, citando uma
experiência ocorrida no Rio Grande do Norte: “Se a toda a população rural brasileira fosse
facultado o ensino techinico das culturas apropriadas às regiões em que vive e dos principios
de organização commercial, qual não seria, dentro de poucos annos, o surto economico do
Brasil?”108
A experiência ocorrida no Rio Grande do Norte estabelecia que as escolas tivessem
terrenos para o ensino do cultivo. Essa orientação prática deveria reformular o ensino
primário e secundário no Brasil para uma feição industrial e comercial, como ocorria nos
“paizes que estão à frente da civilisação”: Inglaterra, EUA, Japão, Alemanha. Assim, seriam
ensinados saberes úteis para o trabalho, ao contrário de programas literários que só criavam
nos alunos expectativas em torno de empregos públicos: “É um inútil a mais um ocioso que
accresce a cifra dos inactivos ou então um revoltado contra as instituições, contra esse
regimen de ensino que o inutilisou. Impõe se dar um fim a essa peccaminosa organização
pedagógica.”109
Nessa perspectiva, também eram elogiadas as realizações do governo de
Minas Gerais para o incremento do trabalho agrícola, como os diversos campos de sementes,
além do Instituto João Pinheiro e Fazenda da Gameleira, “obedecendo aos preceitos modernos
de agronomia”.110
Nas formas como o tema da alfabetização e da escola primária foram apropriados nos
debates ruralistas, há um empenho em delinear a função da instrução primária para uma
educação rural. Não se tratava apenas de educar as populações rurais, de introduzir mais
escolas no meio rural, mas de ruralizar o ensino de modo a sustentar o desenvolvimento da
agricultura.
Na construção do objeto principal desta pesquisa, conhecer e problematizar aspectos
dos processos de escolarização a partir da posição de análise do distrito-sede de Nova Iguaçu,
107
O ENSINO AGRICOLA NAS ESCOLAS, 26 fev 1925. 108
O ENSINO PRATICO DE AGRICULTURA NAS ESCOLAS, 23 ago 1928. 109
A INSTRUCÇÃO AGRICOLA, 13 set 1928. 110
PELA AGRICULTURA, 20 jun 1929.
72
os temas do desenvolvimento da citricultura na cidade e os debates sobre a instrução agrícola
trouxeram para o centro dos estudos e análises, as relações entre o rural, urbano e instrução.
O movimento ruralista e o tema da instrução agrícola possibilitaram restituir e criar os
contextos dos usos do território no município, e os debates acerca da importância da instrução
para aquela sociedade. Esta primeira aproximação não encerra o assunto. Na proposição da
variação de escalas, a investigação da construção de uma rede de escolas expressa os
dinamismos dos processos de escolarização.
Assim, foi preciso proceder ao exercício que se segue de recompor e explicar quais
experiências de criação, organização e manutenção de escola primária foram vivenciadas em
Nova Iguaçu, naquelas décadas. Interessava conhecer essa rede para, também, verificar em
que medida o movimento ruralista teria influenciado este processo, e quais outros grupos
disputavam essa operação no município.
73
Capítulo 2
Fazer-se Estado fazendo escolas: experiências de escolarização
“A educação hodierna é essencialmente de base social e daí considerar-se a
Escola como um problema de previsão social. E, como preparação para a
vida, a Escola carece de atuar e agir sempre como órgão da sociedade, o
laboratório onde se preparam os decisivos construtores do Estado moderno”.
Manuel Duarte, Mensagem 1929, p.68.
Experiências de construção da escolarização elementar
No capítulo anterior, operar com a dimensão da região enquanto “lugar
epistemológico”, implicou observar que o município não é um cenário inerte, previamente
dado ao pesquisador, no qual se observaria como ali se realizaram os processos de
escolarização. Foi importante restituir os contextos históricos múltiplos que conferiram
sentido às disputas e usos daquele território. Nesse exercício, o distrito-sede do município
apresenta a especificidade de ser constituído pelo rural e pelo urbano, em torno da atividade
de cultivo e comercialização de laranjas.
No exame do Jornal Correio da Lavoura, foi constatado o movimento de alinhamento
de parte daquela sociedade com o projeto ruralista de recuperação econômica do estado do
Rio de Janeiro, pelas atividades agrícolas. No bojo do projeto ruralista, a instrução, em
sentido amplo, constituía o veículo disseminador das transformações requeridas nos modos de
cultivar a terra, pela adoção de novos saberes e mecanismos, na fixação dos trabalhadores no
campo e na adesão “salutar ao manejo da enxada e do arado”. Mas o próprio Jornal, como foi
visto, denunciava os limites e impasses na execução daquele projeto de ruralização do ensino
e de expansão do ensino agrícola. Teria aquele projeto ruralista repercutido nas escolas de
ensino regular em Iguaçu?
Ao cotejar o desenvolvimento do ensino primário em Nova Iguaçu, encontram-se
sujeitos, políticas, situações e práticas diversas de institucionalização deste nível de
escolaridade. Portanto, neste capítulo, foi preciso investigar outras agências, sujeitos e
contextos que atuaram sobre os processos de escolarização, além dos defensores do ruralismo.
A intenção não é “restituir” um panorama a partir do cotejamento de diversos contextos, mas,
a partir de novos enquadramentos, necessários, restabelecer outros movimentos e atores que
revelam os sentidos e as direções assumidas pelos processos de escolarização em Iguaçu.
Assim, na perspectiva teórica assumida, o estudo dos processos de escolarização deve
examinar, simultaneamente, “o estabelecimento de processos e políticas concernentes à
‘organização’ de uma rede, ou redes, de instituições, mais ou menos formais, responsáveis
74
seja pelo ensino elementar, seja pelo atendimento em níveis posteriores e mais aprofundados”
(FARIA FILHO; BERTUCCI, 2009, p.14). No enfoque aqui realizado, será priorizada a
análise do estabelecimento de uma rede regular de escolas pelas agências da sociedade
política, não tendo sido viável aprofundar a investigação sobre os outros modos de
disseminação da escolarização, desde a educação doméstica até as ações de associações da
sociedade civil, como partidos, campanhas, associações religiosas, clubes, etc.
Os levantamentos preliminares para esta pesquisa destacaram a relevância da
participação municipal na instituição de escolas regulares no município de Iguaçu. O
mapeamento das fontes, além da exígua bibliografia, revelou o crescimento da rede de escolas
municipais em Iguaçu. Se em 1893 o município possuía apenas uma escola ofertada pela
municipalidade e 15 escolas do estado (não se sabe o número de escolas particulares)111
, em
1920 existiam 9 escolas municipais.112
Em 1928 a ação municipal em prol da instrução era
ressaltada no relatório do Diretor da Instrução Pública, com 14 escolas municipais.113
Em
1933, havia 33 escolas municipais e 40 escolas singulares mantidas pela administração
estadual, sendo 4 subvencionadas e 1 grupo escolar.114
Em 1934, o município ocupava o 4º
lugar em número de escolas municipais no estado.115
Em 1948, a rede escolar era formada por
100 escolas municipais, 20 estaduais, além de 3 grupos escolares e muitas escolas
particulares, o que, segundo o prefeito Sebastião de Arruda Negreiros, justificava o apelido
por ele conferido ao munícipio de “Atenas Fluminense”.116
Havia ainda escolas de ensino
secundário particulares, subvencionadas pela prefeitura, desde a década de 1930.117
Em Nova Iguaçu a ação estadual também foi relevante na construção da rede de
escolas primárias. Esta constatação, talvez em função do tipo de fontes manuseadas (não
houve acesso ao acervo documental da ação municipal, executiva ou legislativa), nos levou a
ampliar a escala de observação, e deter a análise, como será apresentado a seguir, na
111
O 1º CENTENÁRIO DO MUNICÍPIO DE IGUASSÚ, 15 jan. 1933. 112
Informação retirada da Tabela Orçamentária da Câmara Municipal, publicada no Correio da
Lavoura, 30 dez. 1920, Ano IV, n.198. 113
Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director
da Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1928. Niterói,
Officinas Graphicas da Escola Profissional, 1928, pág.16. Centro de Memória Fluminense, UFF. 114
Estado do Rio de Janeiro. O governo do Estado do Rio de Janeiro e de suas municipalidades durante
o ano de 1933. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Ary Parreiras, Niterói,
1934, pp.248-249. 115
Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Período
de 1931-1934. Ary Parreiras, Niterói, 1935.p.120. 116
Prefeitura de Nova Iguaçu. Comemorações da Semana da Pátria. Filme Jornal.170x15. A. Botelho
Filme.1948. 117
Estado do Rio de Janeiro. O governo do Estado do Rio de Janeiro e de suas municipalidades durante
o ano de 1933. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Ary Parreiras, Niterói,
1934, pág.249.
75
condução dos governos estaduais sobre a organização do ensino primário no estado do Rio de
Janeiro. Não se perde, entretanto, a perspectiva de examinar os motivos e modos da
participação do governo municipal na distribuição de escolas no município.
Parte do universo de escolas primárias que existiram no município de Iguaçu é
conhecido pela análise dos “mapas de frequência” do serviço de inspeção estadual.118
Consistiam em documentos preenchidos pelos professores regentes das escolas, fornecendo as
informações requeridas em diversos campos dispostos no documento impresso. Os mapas
deveriam ser enviados mensalmente aos inspetores do ensino da respectiva região escolar em
que se inseria o município onde funcionava a escola.
Os mapas de frequência lançaram pistas sobre o serviço de inspeção escolar realizado
pelo governo estadual e evidenciam “o grau de controle do estado sobre a educação escolar”
(KNAUSS, 2001, p. 215). No exame dessa documentação, e no cruzamento com outras
fontes, espreita-se o movimento de liderança da ação estadual na fiscalização do ensino
primário público, subvencionado e particular no estado do Rio de Janeiro. Como importa
precisar as esferas de atuação dos governos municipais e do governo estadual para
compreender algumas dinâmicas da institucionalização do ensino primário, a compreensão
das funções destes mapas, compondo os serviços de inspeção escolar e de estatísticas,
evidencia aspectos do processo de institucionalização da escola primária e de construção do
aparelho de estado republicano no Rio de Janeiro.
O mapa de frequência de alunos e de professores era uma ferramenta das atividades
dos serviços de inspeção e de estatística do ensino. Desde o século XIX, a produção de um
saber acerca da população, por meio das estatísticas, pelo recolhimento de informações de
ordem econômica, social e demográfica, tornou-se uma prática adotada pelos governos para
substanciar as estratégias de ação política (VIDAL, 2008). Procurava-se, pelo
desenvolvimento de uma ciência moderna, organizar, ordenar e classificar uma realidade que
se pressupunha ser apreendida de modo objetivo pelos recenseamentos e pela elaboração de
estatísticas. A própria produção dessa sistematização já implicava a definição de categorias,
de nomeações, a imposição de critérios, de valores, de modos de mensurar e julgar a
“realidade” que se pretendia flagrar pelos números. Tanto a produção de estatísticas quanto os
discursos e práticas pela disseminação da educação escolar constituem a construção dos
Estados Modernos, tanto da configuração do aparelho burocrático quanto nas formas de
governo de população.
118
Fundo Departamento de Educação, Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro.
76
Na administração do ensino, os mapas de frequência e os mapas estatísticos foram
sintomas dessa “vontade de poder” já nos oitocentos, por exemplo, em São Paulo (VIDAL,
2008, p.45). A inspeção do ensino e dos professores permeava as intenções e ações das
autoridades responsáveis pela promoção da escolarização durante o séc. XIX em diversas
províncias. Angélica Borges (2009) examinou as intenções dos agentes públicos em elaborar
os serviços de inspeção na Corte Imperial a partir de reforma ocorrida em 1854. Outras
tentativas haviam sido inscritas na Lei Geral de Ensino de 1827 e nas determinações do
Capítulo X no Regulamento da Instrução Primária da província do Rio de Janeiro em 1849
(BORGES, 2009, p.9).
Havia certo consenso sobre a importância da inspeção da instrução entre os sujeitos de
distintos pertencimentos políticos no Império, de liberais a conservadores, preocupados com a
vigilância sobre o professor. A supervisão sobre a disseminação e os modos de funcionamento
da instrução, prerrogativa que as autoridades públicas procuravam deter pelos serviços de
inspeção, emergia do interesse de civilizar a população e consolidar o Estado tendo a escola
como “unidade de referência civilizatória” (Ibidem, p.3). Para tanto, era preciso que as escolas
funcionassem de modo controlado, sob um padrão homogêneo, com medidas avaliativas,
corretivas e punitivas. A intenção era evitar desvios nos rumos que se desejava imprimir à
instrução da população, rumos estes também disseminados nas orientações aos inspetores, nas
recompensas e premiações concedidas aos docentes (Ibidem, p.7).
Natália Gil (2009) recuperou a trajetória de construção de um sistema nacional de
estatística entre 1871 e 1931 no Brasil. O regulamento da Diretoria Geral de Estatística, criada
em 1871, já previa a realização de estatísticas nacionais da situação do ensino, mas houve
pouco avanço por falta de recursos. Durante a Primeira República, novas reformas foram
efetuadas para garantir o desenvolvimento da coleta e tratamento dos dados, mas foi no pós-
1930, com a crescente centralização administrativa e a burocratização dos serviços e das
agências de estado, que se estruturou um sistema nacional de estatísticas da instrução (GIL,
2009).
A escala de análise aqui adotada, pela perspectiva dos governos do estado do Rio de
Janeiro, desde a Primeira República, demonstra que o esforço em produzir dados a partir da
fiscalização do ensino esteve presente na preocupação dos dirigentes. Mas o que se pretende
enfatizar, nesse exame, é que o serviço de inspeção e de estatísticas, mais do que buscar
mensurar uma realidade, procurava instituí-la ao definir critérios para a criação e permanência
de escolas, ao subsidiar as iniciativas para o funcionamento do ensino, o povoamento das
escolas e a distribuição do magistério. Exatamente por isso, inspeção e elaboração de
77
estatística eram atividades muito próximas. Sustenta-se, neste capítulo, que os serviços de
inspeção e de estatísticas consubstanciaram o principal eixo da ação estatal estadual na
organização e administração do ensino primário no Rio de Janeiro.
O Fundo Departamento de Educação, do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro
(APERJ), apresentava para o município de Nova Iguaçu, quando a documentação foi
pesquisada, 136 códigos de referência que correspondem a uma notação para cada conjunto
de mapas de frequência. Estes dossiês estão alocados em 20 caixas de polionda. Porém, não é
correto afirmar que se tratam de 136 escolas.
O critério de localização das escolas por município orientou o trabalho de organização
do Fundo Departamento de Educação. Não é conhecido se o critério para divisão dos
conjuntos de mapas respeitou alguma disposição anterior dos mesmos, a partir do modo como
eram organizados pelas repartições que os recebiam. Para o caso de Nova Iguaçu, quando
uma escola passava a pertencer a outro município, devido às emancipações de Nilópolis e
Caxias, os mapas destas escolas, a partir do ano da emancipação ou do ano posterior, foram
alocados em outros códigos de referência, sob o arranjo das escolas do novo município.
Assim, figura no município Nilópolis apenas escolas a partir de 1947. Em Duque de Caxias,
há registro de escolas a partir de 1944. Concomitantemente, há uma interrupção dos mapas de
escolas localizados nestas localidades, no arranjo de Nova Iguaçu.
Sob este enquadramento, presente na organização do acervo, foi preciso estabelecer
outros, conforme os interesses desta pesquisa e das escolhas metodológicas. Foi examinada a
documentação de todas as notações que podiam ser consultadas como pertencentes a Nova
Iguaçu, mas foi preciso priorizar a análise das que se concentraram, ao longo do período em
estudo, no distrito-sede Nova Iguaçu, o 1º distrito do município.
O acervo do Fundo Departamento de Educação está datado entre 1926 e 1950. Para o
município de Iguaçu só há mapas a partir de maio de 1929 e nota-se um padrão repetitivo de
lacunas na documentação. Muitas notações só apresentam, para o ano de 1929, o mapa do
mês de maio, e a sequência da documentação ocorre a partir do ano de 1931. Não há mapas
para os anos de 1930 e de 1934. Para o ano de 1941, a maioria dos dossiês só apresenta os
mapas dos meses de outubro e novembro. A documentação encerra-se no final de 1949.
Ademais, há mapas de apenas alguns anos para algumas escolas, e não de todo período
coberto, 1929-1950. Isso também ocorre, obviamente, conforme a data de criação da escola,
mas o padrão repetitivo de lacunas alude a fatores da administração ou conservação desses
mapas.
78
Dificilmente a própria documentação sugere o motivo das lacunas. É prudente
ressaltar que as escolas que constam no Fundo Departamento de Educação não podem ser
consideradas como constituindo a totalidade de escolas existentes na região. Há os limites,
omissões e negligências do próprio serviço de fiscalização, assim como as questões da
trajetória de conservação deste acervo documental. Além dessas condições, parece
fundamental tomar distância da finalidade deste tipo de fonte, impregnada por um esforço de
produzir um efeito de verdade ao dispor informações que pretendem mensurar e fiscalizar o
desenvolvimento da rede escolar em todo o estado.
Tanto as agências de governo quantos os docentes, inspetores e funcionários que
lidavam com esses mapas estavam vinculados a esse objetivo da escrita dos mapas. Dessa
forma, o preenchimento também segue normas, tanto estabelecidas pelas informações
definidas pelos campos a preencher, quanto dos efeitos que se espera produzir ou ocultar com
o preenchimento e análise das respostas. Dado que a matrícula e a frequência de alunos eram
índices para avaliar a manutenção de uma escola/e dos seus professores em dada localidade,
deve-se presumir os interesses dos docentes e dos inspetores na oferta dessas informações.
Os mapas de frequência analisados apresentam formatos diferentes ao longo dos anos.
Crescem em tamanho físico, adquirem campos no verso, há mais dados a preencher. Os
professores deixam de utilizar as margens para inserir pequenas informações, e passam a se
servir do campo “Observações”, no mapa de frequência dos adjuntos, no verso do documento,
para registrar acontecimentos na escola, justificar baixas de frequência, informar a
movimentação dos professores (posses, licenças, transferências etc.). Parte destes registros é
obrigatória, outros acréscimos são recursos de comunicação utilizados pelos docentes.
A titularidade da agência de governo que produz os mapas também sofre mudanças.
Entre 1929 e 1933 figura a “Directoria de Instrucção Publica do Estado do Rio de Janeiro”, e
em 1935 e 1937, “Departamento de Educação e Iniciação do Trabalho”. A partir de 1938 a
agência é o Departamento de Educação (que nomeia o fundo no APERJ), e por vezes, “Estado
do Rio de Janeiro - Secretaria de Educação e Saúde/Departamento de Educação” (1948) ou,
Departamento de Educação/Divisão de Estatística e Pesquisas Educacionais (1949). Todas são
agências integrantes do governo estadual. Há apenas um formato de mapa, no acervo sobre
Nova Iguaçu, sob a autoria de “Estado do Rio de Janeiro – Secretaria de Educação e
Saúde/Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu/Serviços Auxiliares de Educação Pública” o que
atesta uma coparticipação da prefeitura no serviço de inspeção.
Essa diversidade na nomenclatura das agências mencionadas remete às experiências de
organização e de estruturação do aparelho burocrático em torno do ensino. Interessa, portanto
79
situar o serviço dos mapas de frequência dentro desse movimento no estado do Rio de
Janeiro. Nesse sentido, recuperar a história administrativa desses órgãos – a partir das
titularidades impressas nos mapas - permite conhecer a estrutura da organização da instrução
escolar, as relações entre diferentes esferas de poder e suas funções na regulação da oferta e
da fiscalização de escolas. Observar o processo de estruturação de aparatos de administração
do ensino evidencia outra face inerente aos processos de escolarização, que é a afirmação e o
desenvolvimento do próprio Estado.
Nas primeiras décadas da República, a difusão da civilização e do progresso pela
escola perdurou nos projetos políticos, mas não foi construída uma plataforma nacional de
políticas educacionais. As ações locais “ou mesmo políticas republicanas essencialmente de
âmbito estadual” (VEIGA, 2011, p.153) é que encenaram as primeiras experiências em
educação escolar do novo regime. No lento curso desse processo de predomínio da
“característica federalista das ações educacionais” e de seus impasses, é que foi sendo
amadurecido “o entendimento da educação como um problema nacional” (Idem).
Na presente pesquisa, num jogo de escalas (REVEL, 1998), pelo uso dos mapas de
frequência, foi pertinente focalizar ora a estrutura normativa de institucionalização da
instrução primária no estado do Rio de Janeiro, ora os processos de escolarização em Nova
Iguaçu. Neste exercício foi adequado explicitar as convergências entre a construção do Estado
Republicano, no nível estadual, e a escolarização. A partir do perfil das escolas primárias do
município, foi possível delinear um panorama sobre a instrução elementar.
Portanto, neste capítulo, concomitante ao exercício de recompor a estrutura da
administração do ensino que procurou mediar a institucionalização das escolas no estado do
Rio de Janeiro, examina-se o que os mapas de frequência coletados pelo serviço estadual de
inspeção escolar em Nova Iguaçu (município e distrito-sede), entre 1929-1949, revelam o tipo
de ensino primário que se buscou institucionalizar no município. Que questões emergem e
quais respostas anunciam acerca dos processos de escolarização da sociedade? O que é
possível observar sobre a construção da Nova Iguaçu a partir das informações sobre estas
escolas?
Os serviços de inspeção e estatísticas e a administração estadual
Para contextualizar a posição dos mapas de frequência como ferramentas da
administração estadual do ensino primário, foi preciso reconstituir a organização do aparato
burocrático do governo e acompanhar a construção de ensaios dessa administração que
alimenta também a construção do próprio Estado. Por isso, os regulamentos da instrução,
80
relatórios e as mensagens presidenciais serviram de fonte para recompor esse enredo da
administração, para conhecer os rumos que foram sendo impressos ao ensino primário, via
aparato normativo, e, principalmente, restituir a construção dos serviços de inspeção. Mas
essas fontes são também objetos inscritos nesta pesquisa, sendo examinados em suas
intenções de normatizar, anunciar e promover, obter apoio, incutir consensos sobre a
importância da responsabilidade e da atuação estatal na disseminação dos processos de
escolarização.
A importância da inspeção do ensino, das escolas e de seus sujeitos é defendida por
diversos agentes do governo, e as sucessivas reformas da instrução no estado do Rio de
Janeiro agregam as iniciativas para efetivar e aperfeiçoar este serviço. As reformas
administrativas e as mudanças de nomenclatura do Departamento de Educação constituem
esse processo. O reformismo das instituições nas administrações estaduais, com o objetivo de
acessar e modificar indivíduos e sociedade, foi um aspecto distinto das políticas educacionais
nas primeiras décadas republicanas (VEIGA, 2011, p.155).
Segundo Jorge Nagle, durante a Primeira República, “foi geral o esforço para
estabelecer e definir as atribuições de um órgão central e para traçar normas que regulassem
todo o funcionamento dos sistemas escolares estaduais” (1974, p.202). Outra característica
dessas novas configurações foi a procura em dotar os sistemas de administração do ensino, em
construção, de atribuições técnico-pedagógicas (NAGLE, 1974, p.203).
A citação do número de escolas existentes, do contingente do professorado, dos
índices de matrícula e frequência são os principais argumentos apresentados nas mensagens
dos presidentes de Província, nos relatórios dos secretários de estado e dos diretores da
Instrução para “demonstrar” a situação do ensino e de seu desenvolvimento. Em função disto,
sustentava-se a necessidade de investimentos nas atividades de inspeção do ensino.
Em 1924, o presidente do estado, Feliciano Pires de Abreu Sodré, argumentava que o
combate ao analfabetismo dependia da criação de escolas em cada povoado, mas também da
obrigatoriedade da matrícula e da frequência, assim como a importância da melhoria dos
serviços de inspeção:
A assídua fiscalização permitirá avaliar do [sic] encaminhamento do ensino e dará
ao Estado o índice da competência dos mestres, da sua dedicação na ingente e
patriótica luta contra a ignorância, como permitirá localizar acertadamente escolas e
ter critério seguro na distribuição de material escolar.119
119
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no
dia 1º de agosto de 1924 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de Janeiro, 1924, p.44.
Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial.
81
O Regulamento da Secretaria do Estado do Interior e Justiça, em 1924, situava a
Diretoria de Instrução Pública como um departamento administrativo.120
Os assuntos acerca
da saúde pública, da segurança (regimento policial) e do sistema penitenciário também
pertenciam a esta Secretaria. Foi localizada no setor de periódicos da Biblioteca Nacional uma
coleção chamada “Estado do Rio de Janeiro – Expediente”, que informa os atos diários da
administração do estado referentes a municípios, conforme o órgão administrativo expedidor.
Essa documentação afirma a Diretoria de Instrução Pública como subordinada à Secretaria do
Interior e Justiça, nos anos de 1925 e 1926.121
Há menção, ainda, a uma Inspetoria Geral do
Ensino Primário.
A comparação entre algumas reformas estaduais da instrução ocorridas naqueles anos
revela o empenho comum dos governos em estruturar um aparato normativo e de organização
de órgãos de administração das escolas. O esforço de remodelar e ampliar as antigas
Inspetorias do ensino em Diretorias implicou uma mudança do caráter, antes apenas de
inspeção e fiscalização, para o de assessoria, de assistência: “sinais mais evidentes da
tentativa para submeter os serviços educacionais a uma direção eficaz, do ponto de vista
burocrático e administrativo” (NAGLE, 1974, p.201-202).
Entre as atribuições da Diretoria de Instrução Pública cabia dirigir e inspecionar,
conforme a legislação vigente, o ensino primário, secundário, normal e profissional. A
organização dos “trabalhos estatísticos” sobre a instrução pública do estado deveriam ser
remetidos por este órgão à Diretoria de Estatísticas e Informações. Entre as atividades, o
regulamento previa “a demonstração mensal da matricula e frequencia média das escolas”,
assim como a elaboração da “estatística geral do ensino público” ao final do ano letivo. O
serviço de inspeção escolar seria executado pelo inspetor do ensino primário, auxiliado por
oito inspetores regionais e pelo inspetor do ensino profissional, distribuídos por cada uma das
oito circunscrições escolares definidas.122
O município de Iguaçu integrava a 6ª região escolar com sede em Petrópolis, que
abrangia Teresópolis, Magé, Itaguaí, Angra dos Reis e Paraty. O inspetor estadual de ensino
primário seria responsável pelas escolas primárias do município de Niterói. Caberia aos
120
Estado do Rio de Janeiro. Decreto 2.037 de 23/07/1924.Regulamento da Secretaria do Estado de
Interior e Justiça. Tipografia do Jornal do Comércio, 1924. Biblioteca Estadual de Niterói. 121
Estado do Rio de Janeiro – Expediente. Anos de 1925; 1926;1931. Biblioteca Nacional, Setor de
Periódicos. 122
Estado do Rio de Janeiro. Regulamento da Secretaria do Estado de Interior e Justiça. Decreto 2.037
de 23/07/1924. Tipografia do Jornal do Comércio, 1924. p.12. Biblioteca Estadual de Niterói.
82
inspetores regionais, por meio do envio mensal de relatórios e termos de visita, informar o
andamento do trabalho realizado nas demais regiões.123
Nota-se que o controle da movimentação do quadro docente, previsto como um
serviço da Diretoria de Instrução, integrava as tarefas dos inspetores, assim como a coleta de
informações sobre os prédios e o mobiliário escolar. O serviço de inspeção habilitava o
inspetor do ensino primário, a “propor ao director a melhor distribuição das escolas pelos
diversos municipios, attendento ao recenseamento da população escolar”.124
Em 1925, aconteceu no estado do Rio de Janeiro uma nova reforma dos serviços de
inspeção com a reestruturação da organização do ensino primário, do formato do serviço de
inspeção e do serviço de estatística escolar. O presidente do estado, Feliciano Pires de Abreu
Sodré, justificava a reforma por ter sido “preocupação do Governo dotar a instrução publica
com um perfeito aparelhamento destinado à inspecção do ensino”.125
Com a nova estrutura de fiscalização, era coordenado o trabalho de coleta dos mapas
preenchidos pelos professores e as tarefas de cada agente, que passava pelos inspetores
regionais, delegados municipais e distritais. Nota-se que, por meio desses delegados, o estado
buscava estar presente na condução do funcionamento das escolas.126
Para garantir a oferta do ensino primário, que se tornava obrigatório, acreditava-se que
o serviço de estatística precisava executar “completo estudo dos meios de locomoção de que
possam dispor as localidades do interior do estado, a fim de poder bem situar as novas
escolas, como tornar efetivo aquele dispositivo regulamentar”.127
Assim, por depender do
funcionamento do novo serviço de inspeção, a obrigatoriedade do ensino só entraria em vigor
em 1926. É possível inferir que são os resultados desse novo serviço de inspeção que
implicam a existência de mapas, no Fundo Departamento de Educação, a partir de 1926, ainda
que, a documentação de Nova Iguaçu, só apresente mapas a partir de 1929.
Pelo novo Regulamento da Instrução Pública Primária,128
a direção da instrução
pública caberia ao governador, auxiliado pelo secretário do Interior e Justiça e pelo diretor da
instrução. O diretor da instrução conduziria a fiscalização e inspeção dos estabelecimentos de
123
Estado do Rio de Janeiro. Regulamento da Secretaria do Estado de Interior e Justiça. Decreto 2.037
de 23/07/1924. Tipografia do Jornal do Comércio, 1924. p.13. Biblioteca Estadual de Niterói. 124
Idem. 125
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no
dia 1º de agosto de 1925 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de Janeiro,1925.Inclui
Anexos.p.44. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 126
Ibidem, p.45. 127
Idem. 128
Estado do Rio de Janeiro. Regulamento da Instrucção Publica Primaria. Decreto 2.105 de 02/03/1925.
Tipografia do Jornal do Comércio, 1925. Biblioteca Estadual de Niterói.
83
ensino primário públicos, particulares ou subvencionados, assessorado pelos inspetores
regionais, delegados municipais e delegados distritais.129
Entre as competências do diretor de instrução, constavam:
resolver acerca da localização das escolas dentro dos respectivos municipios, e do
gráo de ensino a ser ministrado nas mesmas; designar as escolas ou grupos onde os
professores adjuntos devam servir, e transferil-os no mesmo município, de accôrdo
com a frequencia média verificada nas séries; transferir qualquer escola no mesmo
municipio, e, com approvação do Governo, de um para outro.130
O envio da estatística dos institutos de ensino ao secretário do Interior e Justiça, a
lotação dos professores públicos por escolas, além da relação da situação dos contratos de
aluguel das “casas escolares”131
eram tarefas do diretor da instrução. Muitas dessas atividades,
em verdade, eram realizadas em cada região de inspeção escolar pelos inspetores regionais,
que sugeriam as medidas a serem adotadas ao diretor geral da instrução.
A Inspetoria Geral era sediada em Niterói, enquanto o inspetor regional, cargo de livre
nomeação, era obrigado a residir no município sede da região sob sua inspeção. Os inspetores
regionais enviavam relatórios mensais ao diretor da instrução e poderiam sugerir a criação ou
transferência de escolas, assim como a suspensão do ensino. O inspetor geral do ensino seria o
principal auxiliar do diretor geral, e cabia-lhe a inspeção dos estabelecimentos de ensino
primário em Niterói.132
Os inspetores regionais estavam incumbidos de organizar a “estatística escolar”; de
contratar ou indicar os prédios para as escolas e de “attestar o exercício dos professores,
depois de verificada a exatiddão dos mappas mensaes de frequência remettidos pelo delegado
districtal ou municipal”.133
Os próprios inspetores regionais deveriam receber dos professores
do distrito-sede da região os mapas mensais enviados no último dia de cada mês. Os
inspetores municipais e distritais também eram responsáveis pelo recebimento dos mapas em
suas localidades de atuação. A lotação do professorado, as ocorrências de posse, vacância,
licenças etc. estavam sob a fiscalização dos inspetores regionais.
O capítulo da Reforma acerca “Da direção e inspeção do ensino”,134
ao dispor, ao
longo de dez capítulos, sobre a estrutura, as atribuições dos inspetores e do diretor da
instrução, descortina a organização de um trabalho de comunicação entre escolas e
129
Estado do Rio de Janeiro. Regulamento da Instrucção Publica Primaria. Decreto 2.105 de
02/03/1925. Tipografia do Jornal do Comércio, 1925, pág. 6. Biblioteca Estadual de Niterói. 130
Ibidem, pág. 8. 131
Ibidem, pág. 9. 132
Ibidem, pág. 10. 133
Ibidem, pág. 12. 134
Estado do Rio de Janeiro. Regulamento da Instrucção Publica Primaria. Decreto 2.105 de
02/03/1925. Tipografia do Jornal do Comércio, 1925, pág. 6-20. Biblioteca Estadual de Niterói.
84
administração estadual. Aos inspetores não cabia apenas verificar o funcionamento de uma
estrutura de ensino estabelecida, mas, também, contribuir para a criação dessa rede, para
sustentar o funcionamento das escolas. Por meio da aferição de matrícula e frequência de
alunos e do exercício de professores, eram subsidiadas as iniciativas para distribuição das
escolas e designação de professores. Estes dados também deveriam consubstanciar a adoção,
distribuição e conservação do mobiliário escolar, aquisição de estabelecimentos para o
funcionamento das escolas, para o efetivo exercício docente e para o cumprimento das normas
e dos procedimentos pedagógicos estabelecidos nas reformas do ensino.
A estrutura de administração do ensino prevista pelo Regulamento da Instrução
Primária de 1925 espelhava o esforço do governo estadual em edificar um aparelho
administrativo que mediasse a oferta, o funcionamento e a organização do ensino primário.
Seriam os inspetores, além de fiscais, os agentes responsáveis para que, de fato, o
regulamento e a nova organização do ensino entrassem em vigor, dispondo sobre a
localização das escolas, dos alunos e dos professores. Em contrapartida, a elaboração de um
consenso sobre a necessidade de escolarização da sociedade fomentava o aparelhamento de
agências do estado.
O diretor da instrução pública entre 1926 e 1930, José Duarte Gonçalves da Rocha,
também trabalhou para dotar a Diretoria de Instrução Pública de maior eficácia. Quando
assumiu o cargo, criticou a situação encontrada. Dirigindo-se ao Secretário de Interior e
Justiça, defendia a reforma do tipo de material usado na diretoria, alegando que os livros se
deterioravam no tempo, estando sujeitos a poeiras e suor. A adoção de fichas e de
sistematização seriam recursos para melhorar a lida com os documentos.135
Sobre a inspeção técnica, o diretor da instrução considerava que esta “constitue a
pedra de toque de todo o progresso e da moralidade do ensino publico, ao mesmo tempo que
se poderá considerar o eixo de seu movimento, o principio salutar regulador de sua efficiencia
ou productividade”.136
Aos seus argumentos, o diretor alinhava um trecho de um relatório da
instrução de 1888, em que se afirmava o mesmo principio de que com “um bom systema de
inspecção o ensino se desenvolverá com maior segurança”.137
135
Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do Interior e Justiça pelo Diretor da
Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal do Comércio, 1927.
Biblioteca Estadual de Niterói. 136
Ibidem, pág.243. 137
Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do Interior e Justiça pelo
Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal do
Comércio, 1927. apud pág.243, Biblioteca Estadual de Niterói.
85
O diretor José Duarte, parafraseando Ruy Barbosa, sustentou que a inspeção eficaz
poderia oferecer maiores resultados do que grandes inovações e reformas do ensino. Mas, ao
se deter na situação da inspeção do ensino no estado, avaliou que alguns inspetores eram
pouco interessados no serviço, o que demandava uma intervenção para solucionar o entrave,
por exemplo, da frequência de visitas aos estabelecimentos de ensino.138
Novas instruções foram adicionadas ao serviço de inspeção, em 1927, dispondo sobre
a obrigatoriedade de duas visitas anuais a cada escola. A inspeção era dotada de objetivos de
orientação pedagógica. Além da frequência, matrícula e condições dos prédios escolares, as
funções de caráter pedagógico, sobre as aulas, o desenvolvimento do docente, os recursos e
métodos utilizados, seriam observados pelos inspetores. Os inspetores regionais precisavam
atuar na realização de reuniões junto aos professores de uma localidade, no Grupo Escolar
onde houvesse,
para tratar de assumptos que interessem ao ensino publico, dando aulas modelo,
offerecendo e explicando quaes os processos e methodos mais convenientes ao
ensino e proporcionando ensejo para uma uniforme e proveitosa orientação nas
escolas de sua região.139
Para assegurar a exatidão das informações coletadas nos mapas de frequência, “porque
tenha esta Directoria em grande apreço a questão da estatística escolar”,140
os inspetores
deveriam estar atentos ao exame dos mapas, de modo “que sejam escrupulosamente
examinados os mappas fornecidos pelos professores a fim de que se punam disciplinarmente
os que simularem dados ou fornecerem índices fictícios”.141
O diretor justificava as medidas
adotadas como tentativas para sanar o problema de mais de 50% das escolas das oito regiões
escolares ficarem sem visitas, sendo raras as visitas a estabelecimentos municipais e
particulares.142
Na proporção em que crescia o número de escolas, o serviço de inspeção também se
avolumava. Por esse motivo, era sugerida a ampliação da divisão do território para dez
regiões escolares. Por exemplo, a 1ª e a 6ª região (que incluía Iguaçu) mantinham grande
desproporcionalidade numérica, tendo a primeira, 121 estabelecimentos,143
a segunda, 166,
138
Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do Interior e Justiça pelo
Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal do
Comércio, 1927, pág.244. 139
Ibidem, pág.245. 140
Idem. 141
Idem. 142
Idem. 143
Segundo o regulamento de 1925, a Primeira Região escolar funcionava com sede em São Gonçalo e
abrangia Maricá, Saquarema, Araruama, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio, Itaboray, Rio Bonito. Estado
do Rio de Janeiro. Regulamento da Instrucção Publica Primaria. Decreto 2.105 de 02/03/1925.
Tipografia do Jornal do Comércio, 1925, pág 54. Biblioteca Estadual de Niterói.
86
enquanto as demais regiões abarcavam de 46 a 88 estabelecimentos a serem visitados. O
funcionamento da sede da 6ª região em Petrópolis prejudicava as visitas, devido a abranger
viagens a Angra dos Reis e Parati, o que dificultava a assiduidade da inspeção.144
Na continuidade das atividades de inspeção, através das visitas a escolas e do apoio
pedagógico ao desenvolvimento do ensino, os inspetores atuavam no serviço de estatística.
Para o diretor da Instrução, sobre as garantias dessa tarefa, “nada se há feito nesse sentido e
que se considere trabalho definitivo em se repouse confiante”.145
Por isso, novo instrumento
normativo foi elaborado em 1927, para assegurar maior eficiência ao “mais alto e mais útil
auxiliar do ensino publico”.146
A simplificação dos mapas era um recurso favorável para superar algumas
dificuldades e evitar “omissões, equivocos e erros” no preenchimento. Na própria Diretoria,
um serviço mais prático seria adotado para lidar com a documentação, destacando dois
funcionários para averiguar a falta dos dados mensalmente fornecidos por inspetores e
professores. A exigência de um boletim mensal de estatística estabeleceria o controle desse
processo.147
O diretor de instrução argumentava sobre a importância conferida aos problemas
do serviço de estatística:
Tenho considerado com particular attenção esse serviço porque não comprehendo se
possa fazer ensino publico, oriental-o, palpar-lhe as necessidade (sic) e progresso,
sem uma estatistica bem organizada, que reflicta a efficiencia do aparelhamento,
indique a natural localisação das escolas, apresente o coefficiente de alphabetisados,
dê-nos a percentagem da população escolar sobre a população global infantil.148
Ao apresentar o número de escolas e comentar os números de matrícula, o diretor
ponderava que um serviço de estatística mais eficiente demonstraria maior vulto, pois havia
os problemas enfrentados no prazo de remessa dos mapas e as omissões e erros que
aconteciam em muitos deles. Contudo, com os dados disponíveis, o diretor José Duarte
oferecia um diagnóstico sobre um dos fatores que prejudicava o aumento das matrículas, que
seria
o facto de se acharem innumeras escolas mal localizadas em centro de população
infantil escassa, proximas de outros estabelecimentos, quase agrupadas na mesma
rua 2 e 3 escolas, não dispondo a localidade de elementos para manter a freqüência
144
Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do
Interior e Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro,
Tipografia do Jornal do Comércio, 1927, pág.246. Biblioteca Estadual de Niterói. 145
Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do
Interior e Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro,
Tipografia do Jornal do Comércio, 1927, pág.247. Biblioteca Estadual de Niterói. 146
Idem. 147
Ibidem, PP. 247-248. Trata-se do Decreto 2.037 de 23/07/1927. 148
Ibidem, pág.248.
87
regulamentar, de todas ellas, emquanto há cidades, villas, districtos outros de
população mais densa, que reclamam escolas.149
Este é apenas um exemplo de como as autoridades em matéria de ensino definiam
“problemas” e “soluções” a partir de dados fornecidos pelos serviços de inspeção e de
estatística. Embora os regulamentos do ensino adotassem as classificações de “rural” e
“urbano” com critérios para distribuição e classificação de escolas, a análise desta
distribuição, a partir dos dados coletados pelas agências do governo, apontavam disparidades.
Certamente, outros fatores concorriam para a criação e extinção de escolas, como as relações
entre as esferas dos poderes públicos, os poderes locais, as mobilizações na sociedade civil e
as circunstâncias da destinação dos recursos financeiros para estes empreendimentos.
Em 1927, o presidente do estado do Rio de Janeiro elencava o conjunto de reformas
empreendidas na educação escolar como recursos necessários para o desenvolvimento da
sociedade. Por isso buscava intervir
na organização moral e política da escola primária – o que é fundamental para o
regimem – e dedicar-lhe assistência consciente, labor profícuo, justificáveis desvelos
oficiais, carinhosa atenção, concretizados em benefícios incontáveis, em medidas de
ordem administrativa e de interesse didático; ou cristalizados na abundância de
providências salutares, que me pareceram idôneas por assegurar à escola fluminense
a preponderância que lhe caberá na melhoria das nossas condições sociais, morais e
políticas.150
Nos anos seguintes, os relatórios e mensagens exploravam os resultados obtidos, em
matéria de inspeção e estatísticas, a partir da reforma de 1925. Mas os limites do serviço e o
empenho em seu aprimoramento são constantemente lembrados.
Em 1926 e 1927 o presidente desconfiava da exatidão dos dados fornecidos pelo
serviço de inspeção, posto que a reforma era recente e que havia obstáculos à execução do
serviço, “pelos embaraços encontrados nos meios de transporte, sobretudo, para as escolas
rurais, localizadas em pontos longínquos, afastados de ferrovias, muitos mapas se extraviam e
se não computam vários estabelecimentos de ensino primário”.151
149
Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do
Interior e Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro,
Tipografia do Jornal do Comércio, 1927, pág.253. Biblioteca Estadual de Niterói. 150
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no
dia 1º de agosto de 1927 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de Janeiro,1927.pág.83-84.
Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. As reformas citadas são: Regulamento com o Decreto 2.105
de 02/03/1925; Reg. da Escola Normal (Decreto n. 2.017 de 05/04/1924 com alterações da Le 1.872 de
18/11/1924); Reg. Liceu Humanidades – Decreto n. 2181 de 12/07/1926, aprovado pela lei n. 2.117 de
27/11/1926; Reg. Ensino Profissional anexo ao Decreto n. 2.160 de 31/01/1926; Regimento Interno das Escolas
Públicas (Deliberação n.130, de 14/04/1926). pp.85-86. 151
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro no dia 1º de agosto de 1927 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de
Janeiro,1927.pág.93. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial.
88
Apesar das lacunas, era mantido o interesse do governo no serviço de estatística
escolar, afirmado numa pretensa objetividade dos dados coletados:
porque convencido de que ela será o único meio idôneo de que dispõe para auscultar
o progresso e desenvolvimento do ensino público, conhecendo-lhe, com informes
fidedignos, reais, positivos, todos os fatos da vida escolar para tomar as providências
que se fizerem mister.152
Em fins de 1927, uma nova eleição para o governo fluminense não interrompeu a
política sodrelista. Eleito Manuel Duarte, líder político ligado a Feliciano Sodré e articulado
ao governo federal de Washington Luís, mais uma reforma do ensino entraria em pauta. A
modernização da educação no estado do Rio de Janeiro, de um lado, relacionava-se, então, às
tentativas de recuperação da economia e do prestígio político do estado no concerto da
federação. De outro, as mudanças no sistema de ensino visavam tornar a escola fluminense
partícipe das novas propostas pedagógicas, postas em voga pelos movimentos reformistas
chamados de Escola Nova, presentes em vários estados (FERNANDES, 2009).
Em 1928, o diretor da instrução encontrava-se mais satisfeito com o serviço de
inspeção escolar do estado do Rio de Janeiro: “Agora é possivel confiar-se, integralmente, no
serviço de inspecção technica, que terá inquestionavel efficiencia, mostrando-se o melhor
collaborador da producencia das escolas primarias”.153
O serviço de inspeção foi mais
produtivo no número de visitas às escolas, tendo o próprio diretor da instrução visitado
algumas escolas para melhor conhecer a situação do ensino: “Não concebo, e não há quem o
conceba, instrucção publica sem o apoio seguro, firme, verdadeiro da estatistica, e da
inspecção”.154
Em 1926, havia 728 escolas no estado, tendo sido inspecionadas 495. Ao longo do ano
de 1927, 944 visitas foram realizadas.155
O aumento do número de visitas foi destacado na
mensagem do governador sobre o mesmo período, quando procurava ressaltar a maior
eficiência do serviço de inspeção.156
José Duarte, diretor da instrução, esteve nos municípios
de Araruama, São Pedro de Aldeia, Cabo Frio, Valença, Santa Thereza, São Gonçalo, Barra
152
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro no dia 1º de agosto de 1927 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de Janeiro,
1927. pág.94. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 153
Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director
da Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1928. Niterói,
Officinas Graphicas da Escola Profissional, 1928, pág.16. Centro de Memória Fluminense, UFF. 154
Ibidem, pág.12. 155
Ibidem, pág.12-13. 156
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no
dia 1º de agosto de 1928 pelo Presidente Dr. Manuel de Mattos Duarte Silva. Rio de Janeiro, 1928. Disponível
em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial.
89
Mansa, “visitando todas as unidades escolares da respectiva séde e algumas que se achavam
em zonas ruraes ou em Villa”.157
Os dados sobre o número de escolas, matrícula, frequência e professorado são os
argumentos que “demonstram” o crescimento do ensino público primário no estado do Rio de
Janeiro: “Pelo que respeita à estatística, que aprecia quantitativamente os factos escolares, os
elementos colhidos com critério, expurgados de quaesquer duvidas, são animadores e
asseguram o nosso progresso”.158
A reorganização do número de regiões escolares foi um dispositivo importante para a
reorganização do serviço de inspeção.159
O impulso do trabalho de inspeção contou com a
colaboração de algumas prefeituras, que disponibilizaram transporte para os inspetores,
fossem automóveis, ou cavalos e guia.160
O apoio dos municípios no serviço de inspeção, pela
garantia de dotação de orçamentos para instrução, a criação de escolas municipais e a oferta
de prédios para o funcionamento de escolas era comemorado:
Já alguns municipios se tem relevado supremamente preoccupados com este
problema, sendo para destacar-se S. Fidelis, Cambucy, Nova Iguassú, Campos (sem
desmerecer na acção dos demais), onde se há assegurado ao ensino municipal
apreciáveis dotações orçamentarias para manutenção de escolas, nas quaes se
observam os programmas officiaes do Estado e adoptam-se os livros didacticos
approvados pela Junta Pedagógica.161
Em 1928, o presidente Manuel Duarte enfatizava a participação dos municípios na
oferta de escolas: “Para que possa ser ajuizada a patriótica contribuição dos municípios no
combate persistente e profícuo contra o analfabetismo devo informar-vos de que são em
número de 373 as escolas municipais”.162
O próprio êxito do serviço de inspeção e estatística era avaliado pelo crescimento do
número de visitas, como um sinal da eficácia da administração do ensino, o que resultava
numa sensação de maior controle sobre as instituições escolares. Em 1929, o governador
informava a realização do total de 1.728 visitas de inspeção das escolas do Rio de Janeiro,
157
Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director
da Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1928. Niterói,
Officinas Graphicas da Escola Profissional, 1928, pág.14. Centro de Memória Fluminense, UFF. 158
Ibidem, pág.10. 159
Estado do Rio de Janeiro. Lei 2.139 de 7/11/1927. 160
Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director
da Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1928. Niterói,
Officinas Graphicas da Escola Profissional, 1928, pág.45. Centro de Memória Fluminense, UFF. 161
Ibidem, pág.46, Grifo nosso. 162
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro no dia 1º de agosto de 1928 pelo Presidente Dr. Manuel de Mattos Duarte Silva. Rio de Janeiro,
1928, pág.63. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial.
90
sendo 815 no primeiro semestre e 913 no segundo.163
Ao apresentar os dados do movimento
escolar do primeiro semestre de 1929, Manuel Duarte concluía: “Se eloqüentes e
inconfundíveis são os números; se a estatística fala com profundo cunho de verdade, tereis na
resenha que aqui se consigna a documentação valiosa do assinalado melhoramento de nossa
atividade escolar, da expressiva produtividade do ensino público fluminense”.164
Jorge Nagle, ao analisar as reformas estaduais da instrução nos anos de 1920, notava
que as divisões do estado em regiões de inspeção, as medidas para definir a carreira do
magistério, o serviço de inspeção e os recursos aos recenseamentos para elaborar de
planejamento foram recursos experimentados “para proporcionar maior eficiência ao
funcionamento dos sistemas escolares” (1974, p.204).
Cabe notar, no curso de sucessivas reformas, o empenho das agências do governo em
aparelhar a inspeção do ensino como plataforma de controle da distribuição da rede de escolas
e professores. E, ainda, por meio desse serviço, ter um retorno e apresentar diagnósticos do
que ia sendo feito, e, assim, respaldar a própria atuação do Estado.
Esse aparato normativo, recuperado aqui entre regimentos, relatórios e mensagens de
governo, demonstra a proeminência que as agências de estado vão exercendo na organização
do ensino primário. E a expansão da rede de escolas vai ocasionando novas demandas ao
aparelho burocrático. Novas experiências de administração vão sendo implementadas. Em
1929, o Departamento de Educação é reformado novamente. O diretor da instrução pública,
José Duarte Gonçalves da Rocha, discorrendo sobre as realizações do estado do Rio de
Janeiro, enquadrava as reformais parciais da instrução realizadas no ensino, em 1929, como
respostas à demanda por
imprimir à complexa e sensível engrenagem uma feição nova compativel com o
renovador movimento pedagogico que se espraiava por todo o mundo, abrangendo a
America Latina e exigindo que o nosso paiz se incorporasse a esse impulso
reconstructor e se affeiçoasse a esse rithmo que accelera os anseios culturaes e
educacionaes das communhões civilizadas, em todos os continentes.165
É deste ano em diante que se localizam mapas de escolas do município de Nova
Iguaçu no Fundo Departamento de Educação do APERJ.
163
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no
dia 1º de outubro de 1929 pelo Presidente Dr. Manuel de Mattos Duarte Silva. Rio de Janeiro,1929, pág.75.
Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 164
Ibidem, pág.77. 165
Estado do Rio de Janeiro. Exposição apresentada pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha,
representante do Estado do Rio, á primeira reunião educacional, levada a efeito sob o patrocinio da
Federação Nacional das Sociedades de Educação, em 20 de setembro de 1930.pág. 5.
91
A identificação e os critérios de localização das escolas
Na análise do cabeçalho do mapa de frequência, onde é identificado o estabelecimento
de ensino, emerge uma noção de escola, que denota aspectos de construção – física,
semântica, e heterogênea, sobre os modos de organização das instituições escolares de ensino
primário em Nova Iguaçu. E, concomitantemente, pela ótica que preside a existência dos
mapas, nota-se o empenho das agências de governo em participar e fiscalizar o
estabelecimento dessas “escolas”, instituindo e disseminando descritores que classificam a
organização das mesmas.
O cabeçalho recolhe informações sobre o endereço, o tipo e, caso exista, a
“Denominação Especial” da escola. Para o início da década de 1930, a principal referência de
endereço era o nome da localidade, do distrito e do município onde a escola estava situada.
Outro critério de localização era o “Correio”, o que significava informar o nome do ramal
ferroviário próximo da escola, assim como a estação, a parada do trem.
A repetição de um modo de preenchimento dos mapas insinua, exceto quando as
escolas possuem “Denominação Especial” (que, ainda assim, é o último item deste campo),
que era a localidade que emprestava nome à escola. Desta forma, por exemplo, encontra-se
Escola mista de 2º grau de São João de Meriti, nº 31, assim denominada em maio de 1929, e
depois em 1931, 1932 e 1933. A partir de 1935 encontra-se o registro, no mesmo dossiê,
Escola mista de 1º grau de São João de Meriti. Em março de 1938 estava identificada como
Escola isolada de São João de Meriti, n.º 18.166
Porém, em maio de 1929, e nos anos 1931 a 1933 e em 1935, encontra-se outro dossiê,
sobre uma Escola mista de 2º grau de São João de Meriti; n.º 32.167
O número e o exame da
organização dos turnos, do número de alunos e, principalmente do quadro docente,
demonstram que as escolas acima citadas, da localidade de São João de Meriti, eram escolas
distintas.
Este é apenas um exemplo que se repete em outras notações. Um dos itens que
diferenciavam as escolas públicas era a atribuição de um número, que também poderia
apresentar modificações no curso do tempo. Mesmo algumas escolas com “Denominação
Especial” recebiam um número. Contudo, os números são atributos apenas das escolas
públicas, municipais ou estaduais, o que sugere ter sido um recurso para mapear a distribuição
de uma “cadeia” de escolas. A propósito, nas escolas particulares e/ou subvencionadas não
havia atribuição de uma numeração mas sim de um nome que tornava cada estabelecimento
166
Fundo Departamento de Educação, 02742, APERJ. 167
Fundo Departamento de Educação, 02743, APERJ.
92
distinto de outro, sem constituir uma “rede”, posto que eram iniciativas singulares,
independentes entre si.
Em anos posteriores, foram inseridos nos mapas de frequência os endereços de praças,
estradas, ruas e números dos prédios, resultando maior precisão do local de funcionamento
das escolas. O detalhamento das informações prestadas sinaliza a ampliação da racionalização
e dos dispositivos de mapeamento e de controle do espaço. As duas escolas mistas de São
João de Meriti, citadas anteriormente, foram nomeadas em março de 1942 como Escola
isolada da rua da Matriz, nº 561, em São João de Meriti, nº 18168
e Escola isolada situada à rua
da Matriz, nº 308, em Vila Meriti, nº 17.169
No cabeçalho estavam inscritas as atribuições que caracterizavam as escolas, e isto
viabiliza a análise comparada de parte das instituições de ensino primário existentes em Nova
Iguaçu. As escolas eram identificadas como “pública”, “primária”, “municipal”, “mixta”,
“feminina”, “masculina”, “noturna”, “isolada”, “subvencionada”, assim como ocorre, em
alguns casos, a atribuição de uma numeração. Esses atributos eram inscritos no campo de
identificação, separados por vírgulas, como na Escola “Pública, Mixta, Primária, Municipal”
situada em Andrade de Araújo, com denominação especial Andrade de Araújo.170
Antes de se
tornarem monumentos, distinguidas por sua arquitetura e nome específico, as escolas públicas
foram identificadas por números e por características de seu funcionamento e órgão
responsável.
A legislação do ensino também fixava parâmetros para a distribuição das escolas. Na
Reforma de 1897, regulamentada em 1900, a oferta dos tipos de curso das escolas primárias
no Rio de Janeiro dependia da localização das mesmas. O curso elementar era oferecido nas
escolas rurais, “o curso médio em escolas de perímetro urbano de vilas ou cidades e o curso
superior para os grupos escolares e escolas modelo”, geralmente situados em espaços mais
urbanizados (SCHUELER, 2010, p.540).
No relatório apresentado pelo Diretor da Instrução Pública no Estado, em 1898, as
escolas do Estado do Rio de Janeiro foram identificadas pelo número que portavam na
localidade em que funcionavam, com a indicação dos distritos e municípios em que se
localizavam. O sexo dos alunos também era mencionado. A numeração atribuída tinha
vínculos com a criação da escola no município, a partir do distrito-sede. 171
168
Fundo Departamento de Educação, 02742, APERJ. 169
Fundo Departamento de Educação, 02743, APERJ. 170
Fundo Departamento de Educação, 02630, APERJ. Mapa de Julho de 1949. 171
Estado do Rio de Janeiro. Relatório Apresentado ao Dr. Martinho Alvares da Silva Campos,
Secretario do Estado dos Negocios do Interior e Justiça pelo Director da Instrucção Publica Luiz Alves
93
Tabela 1 Distribuição de escolas estaduais no município de Iguaçu, em 1898.
Distrito Localidade Número Sexo
Santo Antônio de Jacutinga Maxambomba 1 M
Maxambomba 2 F
Brejo 3 F
Brejo - M
Riachão 4 F
Riachão - M
2ª distrito, Marapicu Sede 5 M
Sede 6 F
Queimados 7 M
Queimados 8 F
3º distrito, Piedade Sede 9 M
Sede 10 F
Figueira 12 (sic) M
4º distrito, Merity Sede 13 M
Sede 14 F
Sarapuhy 15 M
S. Matheus - F
6º (sic) distrito, Pilar Sede 19 F Fonte: Elaborado a partir do Quadro das escolas do Estado do Rio de Janeiro em 31 de julho de 1898,
compreendendo os professores, predios onde ellas funccionam e respectivos proprietários. Estado do Rio de
Janeiro. Relatório Apresentado ao Dr. Martinho Alvares da Silva Campos, Secretario do Estado dos Negocios do
Interior e Justiça pelo Director da Instrucção Publica Luiz Alves Monteiro. Rio de Janeiro, Tuyp. Do Jornal do
Commercio, de Rodrigues & Comp., 1898.
Com a reforma de 1911, as escolas elementares se distinguiam das escolas
complementares (grupos escolares e escolas-modelo) (SCHUELER, 2010, p.542). No
Regulamento da Instrução Primaria do estado do Rio de Janeiro, de 1911, a numeração das
escolas elementares também evidenciava vínculos com a localização no município.
Tabela 2 Distribuição de escolas estaduais no município de Iguaçu, em 1911.
Distrito Localidade Número
1º, Maxambomba Maxambomba 1ª
Maxambomba 2ª
Riachão 3ª
Belford Roxo 4ª
Jeronymo Mesquita 5ª
2ª distrito, Marapicu Queimados 6ª
Marapicu 7ª
3º distrito, Piedade Cava 8ª
4º distrito, Merity Pavuna 9ª
5º distrito, Sant’Anna de Palmeiras Tinguá 10ª
6º distrito, Pilar Merity 11ª Fonte: Estado do Rio de Janeiro. Decreto n. 1.200 de 07/07/1911. e Regulamento da Instrucção Publica do
Estado do Rio de Janeiro. In: Estado do Rio de Janeiro. Instrucção Publica. Leis e Decretos de 1911 a 1916.
Tipografia do Jornal do Comércio, 1917. Biblioteca Estadual de Niterói, p.62.
Monteiro. Rio de Janeiro, Tuyp. Do Jornal do Commercio, de Rodrigues & Comp., 1898. Quadro das
escolas do Estado do Rio de Janeiro em 31 de julho de 1898, compreendendo os professores, predios
onde ellas funccionam e respectivos proprietários.
94
Assim, em 1911, o distrito-sede, denominado de Maxambomba, já abrigava a maioria
das escolas públicas estaduais distribuídas no município de Iguaçu, como também ocorria em
1898, e a sequência de numeração das escolas estava referida ao pertencimento ao conjunto de
escolas e ao vínculo com a localização. 172
A classificação conforme a localização perdurava em 1924, quando o ensino primário,
regido pelo Regulamento baixado pelo do Decreto n.1723 de 29/12/1919, era ministrado em
grupos escolares, escolas isoladas rurais e urbanas e em cursos noturnos.173
O Regulamento da
Instrução Pública Primária de 1925 previa que: “as escolas de cada municipio terão numero
de ordem e serão classificadas conforme o sexo a que se destinem, podendo excepcionalmente
ter denominação especial em homenagem a pessoa que tenha prestado serviço relevante à
causa da instrucção”.174
O Correio da Lavoura publicou, por decorrência da reforma de 1925, a classificação
das escolas públicas do município de Iguaçu.175
Seis escolas, sendo uma masculina e as
demais mistas, estavam sediadas no distrito-sede, que continuava a ser o distrito com maior
número de escolas públicas. As outras vinte e três escolas estavam distribuídas pelo
munícipio, que acolhia escolas de 1º e 2º graus. Além da identificação pela localização e a
classificação entre mista, feminina ou masculina, o nome do professor regente acrescentava a
distinção entre as escolas.
Pelo exame da tabela abaixo, nota-se que as escolas das localidades que só possuíam
uma escola pública eram mistas, enquanto as escolas de localidades com mais
estabelecimentos dividiam-se entre masculinas, femininas e mistas.
Cabe ressaltar, também, que as localidades fora do distrito-sede, que contavam com
mais de uma escola, correspondiam, em 1925, às áreas que se tornavam populosas no
município porque vivenciavam, desde a década de 1910, os processos de parcelamento do
solo e venda de terrenos para construção de moradias.
172
Estado do Rio de Janeiro. Decreto n. 1.200 de 07/07/1911. e Regulamento da Instrucção Publica do
Estado do Rio de Janeiro. In: Estado do Rio de Janeiro. Instrucção Publica. Leis e Decretos de 1911 a
1916. Tipografia do Jornal do Comércio, 1917. Biblioteca Estadual de Niterói. 173
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro no dia 1º de agosto de 1924 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de Janeiro,
1924, p.44. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 174
Estado do Rio de Janeiro. Regulamento da Instrucção Publica Primaria. Decreto 2.105 de
02/03/1925. Tipografia do Jornal do Comércio, 1925, pág.32. Biblioteca Estadual de Niterói. 175
CLASSIFICAÇÃO DE ESCOLAS, 09 abr 1925.
95
Tabela 3 Distribuição de escolas estaduais no município de Iguaçu, 1925.
Localidade Classificação Professor
Nova Iguaçu
(“cidade”)
2º grau, masculina Augusto José Rodrigues Da Silva Junior
2º grau, mista Arlinda Rosa Barros Calino
Carmem de Castro Torres
Emilia Pontes Vieira
Venina Correa
Amelia Feliciana da Silva Kelly
Austin 1º grau, mista Rita Leal de Abreu
Morro Agudo 1º grau, mista Alvarina Teixeira de Carvalho
Jeronymo de
Mesquita
1º grau, masculina Erydina Belisario Soares de Souza
1º grau, feminina Joaquina Isabel Duque Estrada
Queimados 1º grau, masculina Augusto Falcão Duque Estrada
1º grau, feminina Januária Rosa Surville
José Bulhões 1º grau, mista Zulmira Jesuína Netto
Retiro 1º grau, mista Iracema Cunha Sá Rego
São João de Merity 2º grau, masculina Amelia Spindola Pralon
2º grau, feminina Alzira Santos
Coqueiro 2º grau,mista Elvira Gomes dos Santos
Thomazinho 1º grau, masculina Rita de Cassia Araujo
1º grau, feminina Helena Wrenn Garrido
Parada de Belford 1º grau, mista Marinha [sic] da Cunha Andrade
São Matheus 1º grau, mista Alcidia Isolina Magalhães
Merity 1º grau, masculina Cordelia Adelino de Paiva
1º grau, feminina Lupercia Peçanha
Belford Roxo 1º grau, mista Aurora Domingues Maia
Bomfim 1º grau, mista Laura Rosa
Tinguá 1º grau “Vago”
Nilópolis 2º grau, masculina Maria Apparecida Cruz Saldanha
2º grau, feminina Hercilia Bastos do couto
2º grau,mista Clara de Abreu Sodré Fonte: Correio da lavoura, Classificação de Escolas, 09 abr 1925.
O vínculo das escolas com o local de funcionamento apreende-se ainda em outras
circunstâncias, nos mapas de frequência. Por exemplo, há uma escola que se apresenta em
1931 como: Escola masculina de 2º grau de Merity; nº 22.176
Porém, devido a mudanças
legislativas na organização dos limites do município, foi mencionada nos mapas de 1933
como: Escola masculina de 2º grau de Caxias; nº 22. 177
Isto é, foi a localidade que mudou de
nome e passou a representar novo distrito do município.
A escola municipal primária mista Antônio da Silva Chaves estava sediada no 1º
distrito entre 1944 e 1947, mas foi transferida de localidade em 1948, acusando endereço no
4º distrito, em Miguel Couto. Outro sinal da transferência da escola provém da informação
exposta pela professora no começo do ano letivo: “As turmas não estão discriminadas por
176
Fundo Departamento de Educação, 02689, APERJ. 177
Fundo Departamento de Educação, 02689, APERJ.
96
falta de frequência dos alunos. As aulas foram iniciadas nessa data por falta de casa para a
escola”.178
Outro exemplo foi constatado na documentação da escola pública municipal Alzira
Vargas179
, que mudou de localidade algumas vezes, mantendo, contudo, a denominação
especial. Foi instalada em Nilópolis (1944), Miguel Couto (1945-1946) e Figueira (1947).
As transformações no registro da localização das escolas denotam os processos de
reordenamento espacial em curso. No município de Iguaçu, as revisões de limites, criação e
extinção de distritos expressavam os arranjos de poder entre os grupos locais, as fissuras e
diferenças que existiram no desenvolvimento, nos usos e ocupação do território. Em Nova
Iguaçu, distrito-sede, a próspera atividade econômica do cultivo dos laranjais preservou a
maior parte do território para a atividade agrícola. Os processos de loteamentos urbanos
ocorridos nos distritos limítrofes ao Distrito Federal, como Duque de Caxias, Nilópolis, São
João de Meriti, foram diferentes dos usos de ocupação do solo que ocorreram no 1º distrito.
A dificuldade de contabilizar o número de escolas presente no acervo do
Departamento de Educação – o que dependeria de estabelecer um critério de unidade de
conceito – aumenta pela existência de dossiês de mapas, com códigos de referência próprios,
que apontam para seções de ensino que funcionam em um mesmo endereço.
Por exemplo, a Escola mista de 2º grau n.º 6, estabelecida no 1º distrito de Nova
Iguaçu em 1929, foi classificada, em 1931, como Grupo Escolar. Em 1932, era inscrita no
mapa de frequência a denominação especial Rangel Pestana. É no curso do tempo que o grupo
escolar de Nova Iguaçu passou a ser conhecido como o Grupo Escolar Rangel Pestana.180
Mas, relacionadas ao Grupo Escolar, há outras 3 notações, sendo duas sobre a Seção
profissional feminina anexa ao Grupo Escolar181
e outra sobre o Jardim de infância anexo ao
Grupo Escolar Rangel Pestana.182
A separação das seções de ensino por notação sinaliza a
concepção vigente naquele período de unidade escolar, ou terá sido este apenas um critério de
trabalho do serviço de estatística?
Ainda nessa perspectiva, encontra-se um conjunto de mapas para a Escola mista de 1º
grau de São Matheus; nº 21,183
que possui mapas de 1929; 1931 a 1933; 1935; 1937 a 1940;
10-11/1941; 1942; 08/1943; 10/1943. Mas existe outro arranjo de mapas da Escola Noturna
masculina de 1º grau de S. Matheus, nº 21184
, para alguns meses de 1933. É possível localizar
178
Fundo Departamento de Educação, 02717, março de 1948, APERJ. 179
Fundo Departamento de Educação, 02629, APERJ. 180
Fundo Departamento de Educação, 02715, APERJ. 181
Fundo Departamento de Educação, 02749 e 02750, APERJ. 182
Fundo Departamento de Educação, 02760, APERJ. 183
Fundo Departamento de Educação, 02646, APERJ. 184
Fundo Departamento de Educação, 02647, APERJ.
97
a mesma professora lecionando neste ano nestas “duas” escolas, tendo sido separados os
mapas do turno noturno. Neste caso, trata-se de turnos ou unidades distintas de ensino?
Do mesmo modo, foram identificados conjuntos de mapas que aparentavam tratar de
escolas distintas. Porém, pela observação dos endereços, do quadro de professores, etc. eram
conjuntos separados de notações de uma da mesma escola, em anos diferentes.
Por exemplo, para os anos 1929 a 1935, há documentação para a Escola pública mista
de 2º grau de Jeronymo Mesquita, nº 9. Nesse período, a documentação não permite inferir se
é escola municipal ou estadual.185
Mas existe outra série de mapas para a Escola masculina
noturna de 2º grau de Jeronymo Mesquita186
, nº 3. A partir de março de 1937, esta escola se
apresenta como Escola mista de 2º grau de Jeronymo Mesquita, nº 9. É possível inferir uma
continuidade com os mapas da escola anterior, coberta até 1935, de mesma denominação? É
possível que a escola masculina nº 3 tenha sido reunida ou incorporada pela Escola mista nº
9? No caso de ser inferida tal continuidade, é possível então situar a Escola pública mista de
2º grau de Jeronymo Mesquita nº 9, como estadual, como fica explícito na documentação dos
anos posteriores (1944-1946), mas que não era possível afirmar na primeira série de mapas
(entre 1929 e 1935).
As descrições acima, de situações verificadas no exame da documentação, são aqui
mencionadas com o intuito de alertar sobre as especificidades dos mapas de frequência
enquanto fonte de pesquisa. Conforme apresentado, as mudanças na identificação das
instituições escolares, no curso do tempo, sugerem não engessar a organização previamente
dada ao Fundo, ou, pelo menos, suscita interrogações.
O que se evidencia mais importante do que precisar quantas são as escolas, é notar a
dinâmica, a mudança, o processo de disseminação da educação escolar. Há escolas que são
“reunidas”, outras são extintas, algumas são vizinhas na localidade, porém atendendo
separadamente meninos e meninas. Os mapas, que são utilizados para fiscalizar e produzir
estatísticas, panoramas, instituir quadros homogêneos, estabelecer conclusões, também
testemunham a dimensão do processo no curso do tempo, o movimento, o provisório, o
efêmero, o transitório. Os mapas deixam pistas, também, sobre as tentativas de afirmação das
agências do governo como condutoras do processo de institucionalização da escola primária,
pela mediação dos serviços de inspeção.
185
Fundo Departamento de Educação, 02673, APERJ. 186
Fundo Departamento de Educação, 02675, APERJ.
98
Agências e instâncias na oferta do ensino primário
No acervo de mapas de frequência das escolas do município de Iguaçu, todos os
documentos registram o funcionamento do ensino primário em escolas municipais, estaduais,
particulares ou subvencionadas. Por exemplo, mesmo instituições como a Escola Santo
Antonio nº 1, com denominação especial “Ginásio Santo Antonio”,187
fornece dados somente
do curso complementar para meninas188
(1944-1946); do curso primário misto, do turno
matutino189
(1944-1946); do instituto infantil; e do curso primário misto do turno
vespertino190
(1944-1946). Foi localizado um mapa, de setembro de 1937, para a Escola Santo
Antonio de 3º grau,191
funcionando no mesmo distrito de Nova Iguaçu, mantendo 280 alunos
da 1ª a 5ª série do ensino primário. Portanto, o Ginásio Santo Antônio mesmo oferecendo o
ensino secundário, só há mapas, neste acervo, de classificações da escola primária.
A partir do cabeçalho dos mapas de cada notação, onde algumas informações
denominavam as escolas, do endereço ao tipo (primária, mista, municipal, estadual, isolada,
etc.), foi possível identificar ou inferir quais agências participavam na oferta do ensino
primário regular em Iguaçu. Para muitos casos, nos anos iniciais da documentação, os
descritores pública, mista, etc., não esclareciam se eram escolas estaduais ou municipais. A
menção do descritor “estadual”, quando surgia em anos posteriores, foi utilizada para inferir
que a escola era estadual desde o início da documentação. Quando, nos mapas de uma escola
“pública”, mesmo em anos posteriores, não constava o registro de estadual ou municipal, o
cruzamento da numeração atribuída à escola, num dado ano, era comparado com a numeração
das outras escolas estaduais e municipais, no mesmo ano, para verificar alguma lógica de
sucessão entre os números, a possibilidade de pertencerem a uma mesma rede. Isto porque foi
visto na legislação que a atribuição de um número referia-se à distribuição de escolas da
mesma rede em um mesmo município. Em outros casos, a presença de professoras
catedráticas, no quadro de adjuntos, era mais um indício da possibilidade de se tratar de escola
pública, e a presença da mesma professora, em outras escolas municipais ou estaduais,
agregou pistas sobre a identificação da escola.
Todos os recursos metodológicos anteriores, por vezes, foram utilizados
concomitantemente, com o interesse de delinear, ainda que de modo incompleto, e sob os
riscos de atribuições feitas na pesquisa, um perfil de escolas existentes na região, das agências
187
Fundo Departamento de Educação, 02735; 02736, 02737, APERJ. 188
Fundo Departamento de Educação, 02735, APERJ. 189
Fundo Departamento de Educação, 02736, APERJ. 190
Fundo Departamento de Educação, 02737, APERJ. 191
Fundo Departamento de Educação, 02738, APERJ.
99
responsáveis pelas escolas e localização das escolas pelo território do município. Situar a
distribuição espacial da escola também apresentou algumas dificuldades, devido a mudança
de distritos ao longo dos anos, revisões de limites etc., mas cada escola só foi classificada, na
metodologia estabelecida, uma única vez.
Depois das atribuições feitas para as 136 notações, de localização e órgão responsável,
foi possível distinguir as notações referentes a escolas localizadas no do distrito-sede e as
escolas localizadas nos demais distritos (1929-1949), assim como a classificação das escolas:
Tabela 4 Atribuições de notações quanto à localização e classificação (1929-1949).
Atribuições de notações quanto à localização e classificação
Distritos Municipal Estadual Subvencionada Sem
classificação do
órgão
responsável
Total de
notações
por
distrito
Distrito-sede 25 24 8 (1) 02665 58
2º 5 2 7
3º 4 5 9
4º 15 13 5 33
5º 7 7
6º 2 2
7º 3 7 1 11
8º 2 3 2 7
9º 1 1
Sem localização
de distrito
1 1
Total de
notações por
classificação
63 56 16 1 136
Fonte: Elaborado a partir dos mapas de Frequência do Fundo Departamento de Educação, APERJ, município
de Nova Iguaçu, notações 02629 a 02764.
58 notações referem-se a seções de ensino, turnos ou escolas localizadas no distrito-
sede, para 1 notação não foi identificada a localização em distrito, e as demais 77 estavam
alocadas entre os outros distritos do município. Mesmo não havendo correspondência entre
escola (enquanto unidade de ensino) e notação (que em alguns casos trata-se de uma seção de
ensino dentre outras da instituição), atesta-se, nessa documentação, maior localização de
escolas no distrito-sede.
Na identificação do distrito, foi mantido o número registrado no mapa inicial de cada
dossiê. A tabela acima, portanto, não considerou as mudanças da configuração dos distritos,192
192
Os nove distritos apresentados na tabela não correspondem às mudanças na divisão administrativa que
ocorreram entre 1929 e 1949, tendo ocorrido, neste período, emancipações de algumas localidades. Por exemplo,
em 1931 parte do Distrito de Meriti tornou-se o 8º Distrito do município, com o nome Caxias. O distrito de
Caxias foi emancipado em 1943, compondo o município de Duque de Caxias e integrando em seu território São
100
houve apenas o empenho em precisar quais escolas foram mantidas, em todo o período, no
distrito-sede. Deve-se lembrar, ainda, que a ausência de um tipo de escola, na documentação
do Fundo, não significa de fato a inexistência do tipo de escola na região. Deve ser ponderada,
pelas lacunas do serviço de inspeção, a presença menor de mapas de frequência de escolas
subvencionadas ou particulares.
Entre 1929-1949, das 58 notações do Distrito-sede, 8 referem-se a escolas
subvencionadas, 25 são de escolas municipais e 24 de estaduais. Para os demais distritos, há 8
notações de escolas subvencionadas, 38 municipais e 31 estaduais. Por essas informações, em
um quadro geral (não foi feita análise ano a ano) há certo equilíbrio no número de notações da
ação municipal e estadual, sendo reduzido o envio de mapas de frequências de escolas
particulares ou subvencionadas. Comparativamente, foi maior o acúmulo de mapas de
frequência de escolas do distrito-sede.
Nos dados organizados a partir dos mapas de frequência, a classificação das notações
pelos demais distritos do município revelou, ainda, maior número de notações para o 4º (33
notações) e o 7º distrito (11 notações). Essas regiões correspondem às localidades de São
Mateus, Eden, Tomazinho, Vila Meriti (Caxias), Coelho da Rocha e Nilópolis, que
correspondiam às áreas de maior densidade populacional do município, juntamente com o
distrito-sede. Naquele período, estas regiões, limítrofes ao Distrito Federal, sofriam o intenso
processo de loteamentos e urbanização para habitações populares.
Tabela 5 População do município de Iguaçu 1940.
Nova Iguaçu População Urbana e
suburbana
Rural
Nova Iguaçu 34.680 20.598 14.082
Belfor Roxo 7.434 4.051 3.383
Bonfim 1.232 61 1.171
Cava 3.048 455 2.593
Caxias 24.711 23.707 1.004
Estrela 3.617 256 3.361
Meriti 39.569 38.194 1.375
Nilópolis 22.341 22.341 _
Queimados 3.974 1.016 2.958
Total: 140.606 110.679 29.927 Fonte: IBGE, 1948b, p. 17 (grifo nosso).
É fundamental ressaltar, porém, que as informações apresentadas acima não abrangem
toda a rede de escolas primárias do município, e que não foi realizada uma análise diacrônica
nem sincrônica da evolução desse fragmento da rede escolar, ao longo dos anos. A
comparação entre quais tipos de escolas existiam, ano a ano, por distrito, poderia revelar a
João de Meriti. Em 1947 esta localidade também se emancipou, juntamente com o distrito de Nilópolis
(TORRES, 1997).
101
gradativa instauração da rede de escolas e dos órgãos responsáveis. Mas tal exercício
dependeria também, de um mapeamento das transformações na tipologia – mista, feminina,
masculina – e, principalmente, nas modificações dos turnos existentes por instituição, o que
revelaria, ao fim, a expressão da demanda de matrículas acolhida por cada órgão responsável.
Portanto, uma análise mais pormenorizada, sobre quais escolas existiam, ano a ano, seus
turnos e matrículas, aprofundaria a proporção da disseminação de escolas na região, e da
maior ou menor presença destas agências na oferta de escolas.
A conclusão que se chega pelo exame da documentação do Departamento de
Educação, de que havia maior número de escolas no distrito-sede em comparação com o
restante do município, também se repetiu na análise de outro acervo, datado entre 1932-1933.
Nas 76 fotografias de escolas da Coleção Arruda Negreiros (mas que, sabe-se, está
incompleta),193
através das legendas e do cruzamento com informações do Fundo
Departamento de Educação, também foi possível identificar a localização das escolas
fotografadas. Neste caso, também o número de 76 fotografias não corresponde ao número de
escolas, não apenas pelo caráter lacunar, mas porque há escolas que foram fotografadas mais
vezes. Para as 39 fotografias de escolas do distrito sede, 25 são de responsabilidade do
governo estadual, sendo, entre as 25, 10 sobre do Grupo Escolar Rangel Pestana. Nove
fotografias são de escolas municipais e outras cinco de escolas subvencionadas, sendo que, 4,
do Ginásio Leopoldo.
Tabela 6 Fotografias de escolas do município. Coleção Arruda Negreiros [1932-1933].
Distritos Municipal Estadual Subvencionada Total
Distrito-sede 9 25 5 39
Demais distritos 9 27 1 37
Total: 18 52 6 76
Fonte: Acervos IPAH, IHGNI, Acervo Pessoal Marcus Monteiro.
Tanto as classificações das fotografias de 1933, quanto o resultado do trabalho com os
mapas (1929-1949), revelam a presença expressiva da ação municipal e estadual na oferta de
escolas.
Embora tendo em vista as dificuldades para a inspeção do ensino subvencionado e
particular, e sendo pouco conclusivo contabilizar o número de instituições registradas na
documentação do APERJ, é relevante a desproporção entre a incidência de escolas
subvencionadas e/ou particulares e as escolas “públicas” (no sentido estatal) de ensino
193
Também não há informação se houve algum tipo de seleção prévia de quais escolas seriam
fotografadas.
102
primário em Iguaçu. Em primeiro lugar, cabe sustentar que foi mais assídua a fiscalização dos
estabelecimentos de ensino público.
Em segundo lugar, cabe considerar que o ensino público também predominou no
modo de disseminação da escola primária para o estado do Rio de Janeiro (SCHUELER,
2010). Isso também se verifica, (ainda que seja um efeito do trabalho de estatística e de seus
limites), nos números de escolas informados nas mensagens presidenciais, nos relatórios dos
Secretários de Interior e Justiça e dos Diretores da Instrução Pública.
No acervo dos mapas de frequência, há 15 notações para escolas subvencionadas e/ou
particulares no município. Essas classificações não são necessariamente sinônimas, e nem
sempre distintas... A imbricação entre as ações pública e privada integrou modos diversos de
disseminação e financiamento de escolas, desde o século XIX. Pelo regime de subvenções, a
ação pública legitimava a iniciativa de associações da sociedade civil em prol do ensino.
Esses acordos de apoio mútuo não ocorreram, contudo, sem desconfianças, contendas e
cobranças entre ambas as partes (LIMEIRA, 2011 a,b).
Nos conjuntos de mapas de frequência do Ginásio Santo Antonio identifica-se notas,
por vezes a lápis, como “particular” (03/1944).194
Esses mapas também portam o visto e
carimbo do prefeito entre os anos de 1944 a 1946, o que demonstra que são subvencionadas
pela prefeitura.195
Isto também foi verificado na como a Escola subvencionada de 1º grau,
com denominação especial “Humildade e Caridade”196
, que contém diversos mapas
rubricados entre 1944 e 1947.
Como nos exemplos citados, os mapas de escolas particulares e/ou subvencionadas
registram denominações que remetem à iniciativa de associações religiosas na oferta de
escolas primárias, como Escola Parochial São José,197
Escola Mista Coração de Maria,198
Escola do Centro Espírita Estrada de Damasco,199
Ginásio Santo Antônio. 200
A participação do poder público no auxílio a essas escolas também é flagrada mesmo
quando a identificação não ostenta a condição de “subvencionada”. A Escola João Batista201
,
identificada como “particular”, funcionava entre 1945 e 1949 sob a regência da professora
Ilza Chaves de Almeida, que assinava os mapas como “professora municipal-interina”.
194
Fundo Departamento de Educação, 02736, 02737APERJ. 195
Fundo Departamento de Educação, 02737, APERJ. 196
Fundo Departamento de Educação, 02631, APERJ. 197
Fundo Departamento de Educação, 02724, APERJ. 198
Fundo Departamento de Educação, 02654, APERJ. 199
Fundo Departamento de Educação, 02650, APERJ. 200
Fundo Departamento de Educação, 02735; 02736, 02737, APERJ. 201
Fundo Departamento de Educação, 02676, APERJ.
103
Na Escola Regional de Meriti202
, particular, o quadro docente era composto, entre os
anos de 1937 e 1939, por professoras catedráticas do estado, professoras municipais e
professoras contratadas pela diretora.
A “Escola particular do Centro Espírita Estrada de Damasco”, com a denominação
especial “Escola Primária Paulo de Tarso”, possuía, em 1945, “professora particular” e
“professora municipal” lecionando, e em 1946, contava com “professora particular custeada
pela Escola”.203
O governo do estado informava, em 1925, a adoção do estabelecimento do regime de
subvenção para escolas diurnas ou noturnas de ensino elementar, mantidas por associações ou
particulares.204
Em 1927, o presidente do estado defendia o recurso da escola subvencionada
como auxiliar na causa da ampliação do ensino, porque era menos dispendiosa do que a
construção de prédios escolares.205
Este era um dos argumentos que sustentavam o regime de
subvenções desde as políticas educacionais do Império (LIMEIRA, 2011a).
Certamente as 15 notações que identificam escolas particulares e subvencionadas não
representam todo o universo de escolas particulares e subvencionadas do município de
Iguaçu. Há conhecimento de outras escolas existentes, mencionadas no Correio da Lavoura,
mas que não possuem representação no Fundo do Departamento de Educação.
Em 1932, havia 3 escolas subvencionadas pela prefeitura em Nova Iguaçu: Escola São
José, no distrito de Nilópolis, Escola Humildade e Caridade, na localidade de Andrade Araujo
e o Ginásio Leopoldo, sediado no distrito-sede.206
Este Ginásio, fundado em 1930, ofertava
ensino primário, mas não constam mapas sobre ele no Fundo Departamento de Educação do
APERJ.
Porém, mapas de frequência em branco e outros preenchidos foram localizados no
arquivo do Colégio Leopoldo. Os mapas deveriam ser preenchidos em 3 vias, sendo uma
delas arquivada no estabelecimento, o que pode explicar a existência destas vias na escola. Há
mapas do ano de 1946, que informam 5 séries do ensino primário com 372 alunos, e classes
202
Fundo Departamento de Educação, 02685, APERJ. Para a Escola Regional de Meriti, ver SILVA,
2008; MIGNOT, 2002; SANTOS, 2008. 203
Fundo Departamento de Educação, 02650, APERJ. Também há mapas desta escola na notação
02725. 204
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro no dia 1º de agosto de 1925 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de Janeiro,
1925. Inclui Anexos.p.44 Disponível em: Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 205
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro no dia 1º de agosto de 1927 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de
Janeiro,1927.pág.94. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 206
PREFEITURA MUNICIPAL DE IGUASSÚ, 22 MAR 1932. Relatório apresentado ao Exmo. Sr.
Comandante Ary Parreiras, interventor do Estado do Rio, pelo Exmo Sr. Dr. Sebastião de Arruda
Negreiros, Prefeito de Iguaçu, durante o ano de 1931.
104
do curso ginasial e do curso de contabilidade. Há mapas preenchidos do ano de 1947, com
410 alunos entre as 5 séries do ensino primário (10/1947) e também há mapas das seções do
curso comercial, do curso de contabilidade e do ciclo ginasial do ensino secundário.
A existência da Escola Primária do Ginásio Leopoldo, anexa ao Ginásio, também é
atestada por mapas do ano de 1948, acusando 365 alunos dispostos em 5 séries do ensino
(mapa de junho de 1948), funcionando em 2 turnos.207
Além das lacunas, há maior incidência de mapas entre os anos de 1944-1946 para
estas escolas subvencionadas e/ou particulares, o que pode representar que houve nesse
período maior êxito da administração pública na fiscalização de escolas particulares. Por
exemplo, o ensino primário no Ginásio Santo Antônio era ministrado desde 1935, mas a
documentação do APERJ cobre apenas o período entre 1944-1946208
e há uma notação para o
ano de 1937.209
Em 1927, o diretor da Instrução Pública do estado do Rio de Janeiro, José Duarte,
reclamava da situação da estatística do ensino em geral. Não era sabido o número de
estabelecimentos particulares existentes porque os municípios não remetiam os dados e as
escolas particulares também não atendiam ao que estabelecia o Regimento do Ensino. 210
Dessa avaliação, com a reforma da instrução pública em 1927,211
buscava-se assegurar
maior eficiência ao “mais alto e mais útil auxiliar do ensino publico”.212
Em 1929, o
presidente do Estado dava destaque à iniciativa de atribuir ao Inspetor Geral do Ensino a
“fiscalização direta e assídua” do ensino particular, “ainda que para o simples efeito da
estatística”, dado seu crescimento, sobretudo na capital do estado.213
Além da distribuição das escolas pelo município e das agências presentes na oferta de
escolas, os mapas de frequência informam sobre a distribuição dos alunos, dos professores,
dos turnos e das séries do ensino. A observação, a cada notação, de como se configuraram
207
Acervo Privado da Secretaria do Colégio Leopoldo. Consultado na sede da escola, sob autorização e
auxílio do diretor Paulo de Tarso. Foram consultados também documentos do acervo particular do
diretor Paulo de Tarso, sobrinho do fundador da escola, Leopoldo Machado. 208
Fundo Departamento de Educação, 02735; 02736, 02737, APERJ. 209
Fundo Departamento de Educação, 02738, APERJ. 210
Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do
Interior e Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro,
Tipografia do Jornal do Comércio, 1927, pág.247. Biblioteca Estadual de Niterói. 211
Decreto nº 2.037 de 23/07/1927. 212
Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do
Interior e Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro,
Tipografia do Jornal do Comércio, 1927, pág.247. Biblioteca Estadual de Niterói. 213
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no
dia 1º de outubro de 1929 pelo Presidente Dr. Manuel de Mattos Duarte Silva. Rio de Janeiro, 1929, pág.57.
Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial.
105
estas variáveis, demarcou algumas possibilidades de compreensão sobre as experiências de
escola implementadas em Iguaçu, principalmente no distrito-sede.
Escolas isoladas e práticas de seriação: imbricações nas escolas do Distrito-sede
A partir do cruzamento de informações dos campos dos mapas e da análise comparada
entre as notações, demarca-se um perfil de escolas existentes na região e dos modos de
organização do ensino primário. O interesse de examinar a existência de uma “rede” de
instituições é motivado pela possibilidade de conhecer aspectos da instalação, distribuição,
organização e funcionamento das escolas.
Neste tópico, pretende-se recuperar a descrição de algumas escolas, quanto à
denominação e funcionamento, para apresentar o tipo de escolas existentes em Nova Iguaçu,
nas décadas de 1930 e 1940, e as reflexões suscitadas por esse enquadramento. Será preciso
apresentar, em detalhes, informações de algumas escolas, pois foi a coleta detalhada de dados,
o cruzamento de informações entre os campos nos mapas e a comparação entre as notações
que permitiu delinear um perfil das escolas e problematizar questões sobre a
institucionalização da escola primária. Para os efeitos da narrativa e da argumentação, serão
recuperados apenas alguns exemplos, sintomáticos, de situações recorrentes encontradas na
análise da documentação do Fundo Departamento de Educação.
Cabe ressaltar que há uma defasagem entre a organização do ensino pressuposta pelos
campos requeridos para preenchimento nos mapas, de autoria da administração
governamental, e a diversidade de situações encontradas a partir das informações fornecidas
pelos professores. Por outro lado, a semelhança de algumas ocorrências, por notação, permite
afirmar certas características do processo de institucionalização da escola primária no
município, a partir do distrito-sede.
Num primeiro exercício, a compreensão sobre o tipo de escolas que aparece nos mapas
foi cotejado com os regulamentos do ensino primário no estado, conforme o ano do mapa. Foi
constatado que as mudanças nas denominações das escolas sinalizavam as transformações que
ocorriam nas sucessivas reformas do ensino empreendidas no período.
Pela reforma do ensino em 1925, a distinção entre escola de 1º grau e escola de 2º grau
consistia na seriação do ensino ofertado. O grau elementar era ministrado em escolas de 1º
grau, com duas séries; o grau médio era ministrado em escolas de 2º grau, com três séries; as
106
escolas de 3º grau eram equipadas com o curso integral, de 5 séries de ensino (grupos
escolares).214
Por exemplo, em 1929, a escola mista de 1º grau de Bomfim, nº 34, tinha sede no 5º
distrito do município de Iguaçu.215
Em maio de 1931, localizava-se em Rancho Novo, no
mesmo distrito, ainda com classes na 1ª e 2ª séries e 23 alunos. Em março de 1932, a escola
funcionava com 3 classes na 1ª série e um total de 57 alunos. Em 1935, possuía 27 alunos
distribuídos entre 3 classes na 1ª série e 1 classe na 2ª série, com a 2ª série formada por 2
alunas. Em março de 1937, a escola era identificada como mista de 2º grau de Nova Iguaçu,
nº 6, e passava a ofertar também a 3ª série do ensino.216
Em 1927, os estabelecimentos de 1º e 2º grau formavam as escolas elementares, ou
ainda, escolas isoladas.217
A reforma da instrução pública primária, em 1929, manteve a
distinção entre escolas de 1º grau e escolas de 2º grau, cabendo aos grupos escolares a oferta
do ensino primário completo.218
Em 1937, a escola mista de Nova Iguaçu nº 34, era designada como escola isolada nº
6, de 2º grau.219
A classificação de “isolada”, sob a reforma de 1936,220
era a condição de
escolas do ensino primário com até 3 séries de ensino, enquanto os grupos escolares
funcionavam com 5 séries (ABREU, 1955, p.215). Em 1937, foi registrada essa mudança no
campo de identificação das escolas também em outras notações. Desde outubro de 1940, a
escola isolada nº 6 ampliou o funcionamento para 2 turnos, com a chegada de uma professora
adjunta. A menção “estadual” aparece nos mapas a partir de 1944, ainda que se mantenha a
designação isolada até 1947, quando o cabeçalho indica “Escolas Reunidas nº 6”, iniciando o
ano com 84 alunos distribuídos entre as 3 primeiras séries do ensino.221
A denominação “escola reunida” foi prevista pela Lei Orgânica Estadual do Ensino
Primário em 1946, como tipo de estabelecimento em que havia duas a quatro turmas, cada
uma com um docente e com oferta do curso elementar (4 séries do ensino). Já a escola isolada
214
Estado do Rio de Janeiro. Regulamento da Instrucção Publica Primaria. Decreto 2.105 de
02/03/1925. Tipografia do Jornal do Comércio, 1925. Biblioteca Estadual de Niterói. 215
Fundo Departamento de Educação, 02644, APERJ. 216
Fundo Departamento de Educação, 02644, APERJ. 217
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro no dia 1º de agosto de 1927 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de Janeiro,
1927, pág.93. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 218
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro no dia 1º de outubro de 1929 pelo Presidente Dr. Manuel de Mattos Duarte Silva. Rio de
Janeiro, 1929, pág.55. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 219
Fundo Departamento de Educação, 02644, APERJ. 220
Estado do Rio de Janeiro. Decreto 196-A de 20/02/1936. Aprova o regulamento do Departamento de
Educação e da Instrução Pública Primária. Estado do Rio de Janeiro. Indicador de Legislação e Administração,
1936. 221
Fundo Departamento de Educação, 02644, APERJ.
107
seria o estabelecimento com a oferta do curso elementar, mas com apenas uma turma a cargo
de um professor. Porém, essas classificações poderiam mudar, caso uma escola “isolada”
recebesse mais um docente, passava a ser considerada “reunida”, e, no caso de voltar a ter
apenas um regente, também voltava à condição de “isolada” (ABREU, 1955, p. 221). Essa
variação da nomenclatura foi observada em diversas escolas em Nova Iguaçu.
A partir da Lei Orgânica Estadual do Ensino Primário, que ampliou a grade do ensino
primário de escolas elementares de 3 séries (conforme Regulamento de 1936) para 4 séries
(Idem), algumas escolas em Nova Iguaçu matricularam alunos na 4ª série nos anos de 1947-
1949.222
Outro dado importante para análise dos mapas de frequência é que o formato dos
mapas é o mesmo para todas as escolas, exceto os mapas das seções profissionais do Grupo
Escolar Rangel Pestana.223
Todos os mapas pressupõem a seriação do ensino, pois exigem
informações sobre a distribuição dos alunos por série e o número de classes, por turno e série,
em cada escola, o que dá a ver, pelo exame destes mapas, os modos de organização e
funcionamento das escolas de ensino primário no município.
A adoção da seriação e a configuração do ensino primário como um curso graduado,
no estado do Rio, estavam previstas na reforma de 1929.224
Em outros estados do país, a
seriação do ensino e a classificação homogênea dos alunos em classes, por idade e nível de
conhecimento, pautavam as principais mudanças em curso na configuração administrativa e
pedagógica da escola primária. É interessante notar que o termo classe adquire novas
conotações na organização das escolas primárias na República, com a implantação do regime
seriado.
Na Europa, desde fins do século XVIII, e no Brasil, desde o século XIX, o termo
classe participava das propostas de aplicação dos métodos de ensino na educação elementar,
sobretudo a partir dos debates sobre o método mútuo (LESAGE, 1999, p.11). Durante o séc.
XIX a definição de programas e currículos escolares esteve relacionada “à organização e à
utilização dos tempos escolares e, daí, com os métodos pedagógicos, ou, mais
especificamente, com a organização das turmas e das classes” (FARIA FILHO, 2007, p.149).
Os debates sobre o método mútuo vincularam a aplicação do método com os modos de
disposição dos alunos em classes (Ibidem, p.142). No método mútuo, os alunos eram
222
Por exemplo, 02665 (1947,1949); 02711 (1947); 02692 (1949); 02706 (1947). Fundo Departamento
de Educação, APERJ. 223
Fundo Departamento de Educação, 02749 e 02750, APERJ. 224
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro no dia 1º de outubro de 1929 pelo Presidente Dr. Manuel de Mattos Duarte Silva. Rio de
Janeiro, 1929, pág.55. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial.
108
agrupados conforme a disciplina e o nível de conhecimento em que estavam, sem critérios de
organização pela idade: “a atribuição a uma classe é unicamente resultado do nível de
conhecimento” (LESAGE, 1999, p.13). O termo classe designava um “conjunto de aquisições
e conhecimentos”, possuindo um ritmo de estudos e um programa a desenvolver, sendo cada
classe dirigida por um instrutor, que era um dos alunos em estado mais avançado do
conhecimento sob estudo (BASTOS, 1999, p.97) As classes em que se dividia a escola
deveriam ser percorridas pelos alunos, mas o aluno poderia cursar mais de uma classe, e estar
em posições diferentes em cada uma, conforme seu nível de conhecimento. Como todas as
classes funcionavam distribuídas em um mesmo espaço contíguo, por vezes em grande galpão
ou celeiro, não havia relação entre classe e arquitetura (LESAGE, 1999, p.13).
À medida que se avolumavam as propostas pedagógicas, os métodos de ensino, a
produção de mobiliário, utensílios e materiais impressos destinados a imprimir maior
resultado às relações de ensino-aprendizagem na escola, amadurecia a concepção da
necessidade de construção de um espaço adequado para o funcionamento da escola. O local
deveria atender também aos preceitos da higiene e favorecer, conforme a localização, a
inspeção por parte das agências de governo. Em fins do século XIX, os Grupos Escolares
espelhavam as tentativas, pelos governos republicanos, de atender a estas demandas, assim
como o esforço por instituir um novo modelo de escola primária, vinculado ao advento da
República (FARIA FILHO, 2007, p.147). Os grupos escolares colocaram em circulação “o
modelo definitivo da educação do século XIX: o das escolas seriadas” (Idem). Este processo
ecoaria sobre os modos de entendimento e de organização das classes e séries do ensino nos
diversos tipos de instituições de ensino primário.
Sobre a criação de grupos escolares em Minas Gerais, Faria Filho ressalta que, em
termos de reorganização dos modos de funcionamento da escola, a principal mudança
introduzida consistia na possibilidade de disposição dos alunos em turmas, classes ou aulas
em um mesmo ano do curso, o que estabelecia condições para o ensino simultâneo (FARIA
FILHO, 2000, p.152). A homogeneização dos alunos pela graduação do ensino era uma
aposta em tornar a aprendizagem mais rápida e eficiente.
A escola primária graduada pressupunha o agrupamento dos alunos mediante a
classificação pelo nível de conhecimento. O edifício escolar dividido em várias salas
de aula, a divisão do trabalho docente, a ordenação do conhecimento em programas
distribuídos em séries, o emprego do ensino simultâneo, o estabelecimento da
jornada escolar e a correspondência entre classe, sala de aula e série (SOUZA;
FARIA FILHO, 2006, p.27).
Contudo, essa mudança precisou ser compreendida, implantada, defendida, para
tornar-se um meio efetivo de organização dos Grupos. Reunir “escolas” em um Grupo Escolar
109
significava, pela reforma, efetuar novos significados, equivalências e deslocamentos ao
entendimento que havia sobre “escola” e “classe”, por exemplo. Os termos escola, cadeira,
turma, classe e aula eram apropriados de modos distintos, sem a precisão como são
conhecidos atualmente (FARIA FILHO, 2000, p.153). Descrições sobre a organização das
turmas, classes e aulas, demonstram certas diferenças de significado e mesmo de organização
entre os grupos escolares. Contudo, o termo classe “era o que mais parecia identificar o
esforço de homogeneização que se realizava” (Ibidem, p.155), havendo expressivas
recomendações para que as classes fossem introduzidas e abrigassem alunos do mesmo ano
do curso. A homogeneização recaía, também, nas prescrições em separar em classes, e até em
turnos, meninos e meninas (Ibidem, p.157).
Para o estado do Rio de Janeiro, os mapas de frequência são fontes importantes que
revelam as apropriações realizadas dos termos classe, série, turno, em face da implantação do
novo regime de organização das escolas e de classificação dos alunos.
Em Iguaçu, a comparação da movimentação de alunos, classes e séries, numa mesma
escola ou no universo das escolas de Nova Iguaçu, restitui um cotidiano diversificado, de
bastante mobilidade na organização das escolas primárias, pelo ingresso mensal de novos
alunos, exclusão de outros tantos, mudanças no quadro docente, com a chegada, saída ou
licenciamento de professores... Quadro de adjuntos, turno, série e classe eram variáveis
agregadas de diferentes modos, revelando a coexistência de tipos diferentes de escolas em
Iguaçu, de escolas isoladas a grupos escolares. Essas alterações evidenciam um momento de
construção da escola primária, da experimentação de modos de funcionamento, das
possibilidades dos professores, dos alunos, do uso dos prédios alugados, das condições de
acesso e transporte.
Observam-se a seguir, algumas combinações entre quadro de adjuntos, turnos, séries e
classes em outras escolas do distrito-sede. Nessas situações, ainda que os campos do mapa
sejam dispostos de forma que o professor informe, separadamente, a organização dos turnos,
das séries, e das classes, o efeito de seriação implícito nos mapas pode não corresponder de
fato ao cotidiano da escola.
São poucos os mapas da escola pública primária municipal de 1º grau de Rancho
Novo, de junho a novembro de 1933, e, depois, em maio de 1935. Em 1933, a escola, de
denominação especial José dos Reis, abrigou de 38 a 40 alunos em um turno, em 3 classes na
1ª série, e, em 1935, informava, novamente 38 alunos matriculados, distribuídos em 3 classes
110
na 1ª série e 1 classe na 2ª série do ensino primário.225
A professora Lais de Carvalho Cartago
lecionava nesta escola, sem adjuntos. Portanto, lecionava para mais de uma classe, de níveis
distintos, no mesmo turno, sendo maior o número de classes e de alunos na primeira série.
Na escola mista de 2º grau nº 1,226
entre 1929 e 1935, havia 3 classes na primeira série,
oscilando a oferta entre uma e duas classes para a 2ª e 3ª séries. Entre 1929 e 1938, a escola
foi regida apenas pela professora Celina de Rezende Silva.227
Deve-se considerar, ainda, que
não há um número fixo de distribuição de alunos. Mesmo quando há uma classe para cada
série (como acontece no funcionamento do 1º turno, em 1943), geralmente era maior o
número de alunos na 1ª série.
A escola “mixta da cidade” de 2º grau, nº 2, entre 1931 e 1947, foi regida
frequentemente em mais de um turno, oferecendo até a 3ª série, e agregando desde 1929 de 3
a 4 docentes. Apenas o ano de 1947 iniciou com alunos na 4ª série. Esta escola também
apresenta um número maior de classes para a 1ª série. Por exemplo, entre 1929 e 1932, os
anos letivos foram lotados com 3 classes na 1ª, 2 ou 1 classe na 2ª série e 1 classe na 3ª
série.228
A escola foi classificada como “estadual” em 1944 e 1946 (mas também como
“isolada”) e “reunida nº 2”, em março de 1947, porém, as indexações “isolada” ou “estadual”
não repercutiram em mudanças na reorganização dos turnos. A existência de mais de um
docente, nesta escola “isolada”, aponta para uma diversidade nos modos de organização das
escolas isoladas.
Na escola mista de 2º grau nº 3, entre 1931 e 1935, todos os anos letivos229
foram
iniciados com 4 classes para a 1ª série, 2 classes na 2ª e 1 classe na 3ª série. Entre 1937 e
1947, a escola sempre acolheu mais classes na 1ª série.230
Desde 1929, a escola funcionava
com uma professora catedrática acompanhada de professoras adjuntas, e geralmente ofertou
aulas em mais de um turno.
Os Mapas de 1929 e 1931 da escola mista de 2º grau nº 4, em Nova Iguaçu,
apresentam classes de alunos da 1ª a 3ª série. Entre março e maio de 1931 foi acrescida uma
classe à 1ª série, continuando a existir 2 classes para a 2ª série e 1 classe para a 3ª, estando as
classes sob a regência de uma única professora catedrática. Assim como ocorria nesta escola,
o aumento da matrícula nos primeiros meses do ano e um esvaziamento nos meses finais do
225
Fundo Departamento de Educação, 02679, APERJ. 226
Fundo Departamento de Educação, 02710, APERJ. 227
Celina de Rezende Silva Figueiredo, a partir do mapa de 04/1931. 228
Fundo Departamento de Educação, 02711, APERJ. 229
A disposição de turnos e séries poderia ser modificada de um mês a outro, com foi possível observar
no exame da documentação. Isto posto, procura-se na exposição citar o mês de referência da informação
apresentada. 230
Fundo Departamento de Educação, 02712, APERJ.
111
primeiro e do segundo semestre, são circunstâncias notadas em diversas escolas, localizadas
em áreas urbanas ou rurais.231
A escola municipal situada em Rocha Sobrinho232
reúne mapas de 1944-1948. Neste
intervalo, a escola funcionou no 2º turno, sob a regência de uma única professora. Em março
de 1944, abrigava 20 alunos em 2 classes na 1ª série, e, em março de 1947, ofertava a 1ª, 2ª, 3ª
e 4ª série, com 46 alunos no total. Contudo, em 1948, no começo do ano letivo, só havia
classes na 1ª e 2ª série, com 52 alunos, o que também demonstra as flutuações que ocorriam
na organização das escolas, conforme o número de matrículas e a classificação dos alunos.
Para a escola municipal Ministro Rodrigo Otávio, situada em Austin, há mapas de
1945 e de 1948 com a descrição “rural” ou a letra “R”, comparecendo a citação “urbana” em
1949. Entre 1944 e 1946, funcionou geralmente em 2 turnos com 2 professoras. Em março de
1946, a escola funcionava com 1 classe na 1ª série em cada turno. Em 1948 e 1949, estava
aberta em 3 turnos, com alunos nas 4 primeiras séries do ensino, e com três professoras.233
A escola mista de 2º grau da localidade do “K-11”, em 1947, inscrevia alunos na 4ª
série desde o começo do ano letivo, tendo iniciado todos os anos entre 1931-1946 com classes
entre a 1ª e 2ª séries, e ocasionalmente com a 3ª série. Era a escola mista de 2º grau, entre
1931 e 1935, sendo identificada como isolada em 1937, sediada em uma rua da área central
do distrito sede. Esta escola, geralmente, entre 1931-1946, funcionou com mais de uma
docente e em mais de um turno. 234
O exame da documentação revela a existência de escolas mistas, de 1º e 2º graus, que
funcionavam em um único turno, com classes das distintas séries do ensino sob a regência de
uma mesma professora; escolas que funcionavam em mais de um turno, sob a regência de
uma mesma professora; escolas que funcionavam em um único turno, lotadas com mais de
uma docente; escolas mistas que funcionavam em até três turnos, lotadas com mais de uma
docente.
Além das escolas isoladas de 1º e 2º graus, seis notações referem-se a escolas noturnas
existentes no distrito-sede e, no restante do município, foram localizadas 4 escolas noturnas,
em Nilópolis235
e nas localidades de São Mateus e Tomazinho, áreas populosas do
231
Fundo Departamento de Educação, 02713, APERJ. 232
Fundo Departamento de Educação, 02732, APERJ. 233
Fundo Departamento de Educação, 02692, APERJ. 234
Fundo Departamento de Educação, 02706, APERJ. 235
Fundo Departamento de Educação, 02646, APERJ: Escola Brasil, subvencionada noturna, com as 5
séries do ensino primário entre 1944-1946. Fundo Departamento de Educação, 02662, APERJ: Escola
Municipal Francisco Portella (1944-1946).
112
município.236
A criação de cursos noturnos oficiais vinha atender à “campanha meritória de
alfabetizar os adultos”,237
porque, até então, o governo estadual apenas subvencionava cursos
noturnos de iniciativa particular.
A escola noturna masculina nº 1, municipal, funcionava no turno de 18h30 às 21h,
com 76 alunos na 1ª e 2ª séries em junho de 1933. Em maio de 1935 também abrigava alunos
entre a 1ª e 2ª série, com cerca de 75 alunos.238
A segunda “Escola municipal de Nova Iguaçu”239
e, ainda, “Escola Noturna masculina
nº 2” apresenta mapas de julho a novembro de 1933 e de julho a novembro de 1935. No mapa
do mês de julho de 1933 consta a seguinte nota: “A divisão em séries constará do próximo
mapa, por se tratar duma escola de recente creação. O professor”.240
O docente é Jarbas
Cordeiro. Este professor também foi inspetor nas escolas municipais, no mesmo período
(1933; 1935). Em 1935, a escola estava a cargo de nova regente, e a escola noturna masculina
municipal de 1º grau, nº 2, oferecia a 1ª e 2ª séries.
Em março de 1931, há uma escola masculina noturna de 1º grau241
que aparece como
subvencionada. Entre 1931 e 1936, a escola esteve sob a regência da mesma professora. A
partir de maio é denominada escola masculina noturna de 1º grau, nº 2, até 1933. Em 1931,
apresentava alunos na 1ª série, e, a partir de julho, também constava a 2ª série (provavelmente
com alunos promovidos no primeiro semestre). Em 1933, acolhia alunos na 1ª e 2ª séries, com
número mais expressivo de alunos na 1ª série. Em novembro de 1933, acusava 54 alunos
matriculados na 1ª série e 4 alunos na 2ª série. Funcionou apenas com a 1ª série durante 1935.
Em 1936, acolhia 38 alunos na 1ª série e 3 alunos na 2ª série.
A Escola Noturna Masculina,242
identificada como de 2º grau, em 1938, funcionou
entre 1937 e 1940, na rua Bernardino de Mello nº 329, e em 1942, no nº 1595. Em 1938, foi
classificada com o nº 36. Deixou de funcionar em 1943, voltando ao mesmo endereço em
1947. Desde 1937, apresentou alunos nas três primeiras séries do ensino, abrindo classe na 4ª
série em 1949, funcionando sempre sob a regência de uma docente.
236
Fundo Departamento de Educação, 02747;02756, APERJ. 237
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro no dia 1º de outubro de 1929 pelo Presidente Dr. Manuel de Mattos Duarte Silva. Rio de
Janeiro, 1929, pág.57. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 238
Fundo Departamento de Educação, 02684, APERJ. 239
Fundo Departamento de Educação, 02718, APERJ. 240
Fundo Departamento de Educação, 02684, APERJ. 241
Fundo Departamento de Educação, 02707, APERJ. 242
Fundo Departamento de Educação, 02708, APERJ.
113
Para a escola masculina noturna de 2º grau nº 3 de Jerônimo Mesquita, 243
há mapas de
frequência de 1931, mas a escola deixou de ser noturna e tornou-se a escola mista nº 9, em
1937.
Para a escola noturna feminina de 2º Grau,244
os mapas de 1929 apresentam as 3 séries
do ensino primário. Foi classificada como escola de 1º grau entre 1931 e 1935. Os anos
letivos foram iniciados com classes na 1ª e 2ª série, sempre com número maior de classes na
1ª série e sob a regência da mesma professora.
Entre as descrições feitas acima, tomadas como exemplos de situações encontradas no
exame da documentação, é relevante notar que, em geral, nas escolas do município de Iguaçu,
tanto do distrito sede quanto nos demais distritos, era recorrente a existência de um número
maior de classes e alunos na 1ª série, e um número menor de classes e alunos, na 2ª, 3ª e 4ª
séries. Por vezes, as classes de 2ª, 3ª e 4ª séries eram constituídas de 1 a 2 alunos. Importa
advertir que as promoções no fim do primeiro semestre alteravam a organização dos turnos e
classes no 2º semestre. Algumas classes eram extintas, outras acrescidas em alunos.
O crescimento anual de matrículas (mas que também era mensal) e a demanda pela
alfabetização podem explicar a oferta constante e maior de classes na 1ª série, situação
verificada para a maioria da documentação. Porém, esse ingresso crescente de alunos não
progride nas séries posteriores, o que coloca em questão os limites da progressão dos alunos,
ao menos nas escolas de Iguaçu, ou ainda, dos usos que as crianças e famílias decidiram, ou
puderam fazer, destas escolas primárias.
Quando se observa a distribuição das turmas entre os professores, ou quando uma
escola agregava várias classes num mesmo turno, sob a regência de um único professor, pode-
se imaginar que alunos de “classes” diferentes estivessem juntos, na mesma “aula”. Desse
modo, a institucionalização da seriação, mesmo que observada pelos docentes – que
frequentemente informavam a progressão de alunos e os dividiam em classes e séries – não
foi imediatamente acompanhada das necessárias mudanças na estrutura física das instituições
e não esteve garantida a correspondência de uma classe (da mesma série) para um docente.
As mudanças registradas nos endereços das escolas, que foram frequentes em diversas
notações, indicam ainda o caráter da mobilidade dos locais de ensino, fator este que,
provavelmente, também repercutia nos números de matrícula e nas possibilidades de
organização dos turnos e das classes. Ademais, a análise das mudanças de nomenclatura, em
várias escolas, não implicava necessariamente mudanças na seriação do curso primário. Isto é,
243
Fundo Departamento de Educação, 02675, APERJ. 244
Fundo Departamento de Educação, 02709, APERJ.
114
verifica-se, nos mapas, que nem sempre acontecia alteração imediata no quadro da
organização dos turnos e séries quando havia mudanças no campo de classificação da escola.
Outras mudanças na organização escolar foram registradas em diversas instituições.
Por vezes as escolas abriam durante um ano no mesmo turno, e no ano seguinte, em outro.
Entre 1944 e 1946, a escola mista Granja Esperança245
estava equipada com as 3 séries do
ensino primário, havendo alunos na 4ª série em 1947 e 1949, contando com uma ou duas
professoras, ocasionalmente. Todas as classes eram reunidas em um único turno, ainda que o
horário de funcionamento do turno fosse alterado ao longo dos anos. A escola Granja
Esperança também sofreu modificações em sua nomenclatura. Em 1944, era a Escola mista
Granja Esperança de 2º grau. Em 1945, funcionava no mesmo endereço, mas o distrito passou
a ser o 2º do município, e a escola recebeu a denominação especial “Armando Chaves”. Em
1949, era identificada como “Escolas Reunidas situadas no km 34 da estrada Rio-São Paulo”.
Não foi possível atestar se a escola era subvencionada ou pública, ainda que contasse com
catedráticas e substitutas em seu quadro.246
A entrada de novos professores, a substituição, o licenciamento, a mudança de
catedráticas, costumavam alterar a organização dos turnos, os horários de funcionamento, a
distribuição das séries e classes em qualquer mês do ano. Dada a repetição dessas ocorrências
– alteração no quadro docente/ mudanças nos turnos – cabe ponderar que os professores
participavam ativamente da dinâmica do funcionamento das escolas (ainda que sob a
autorização dos inspetores e talvez com maior autonomia nas escolas menos visadas pelas
visitas da inspeção). Nota-se que a repetição registrada das alterações nos turnos e
organização de séries nos mapas, pela ausência de debates e medidas “corretivas”, parece ser
constituinte deste processo de institucionalização da escola primária.
O grupo escolar de Nova Iguaçu e as experiências de escola primária
Se o exame da distribuição dos alunos em séries e classes, conforme consta nos mapas
de frequência, aponta a predominância da existência de escolas isoladas de 1º e 2º graus no
município de Iguaçu, tanto no distrito-sede quanto nos demais (mesmo nas áreas de
loteamentos urbanos), com uma ocupação maior de classes e de alunos na 1ª série, o Grupo
Escolar Rangel Pestana247
representava a escola mais “completa” da região.
Os grupos escolares constituíam-se em escolas graduadas nos quais o “ensino seriado
e sequencial substituía as classes de alunos em diferentes níveis de aprendizagem”, com
245
Fundo Departamento de Educação, 02665, APERJ. 246
Fundo Departamento de Educação, 02665, APERJ. 247
Fundo Departamento de Educação, 02715, APERJ.
115
adoção da correspondência entre série escolar e ano civil (VIDAL, 2006, p.8). Em geral, estas
instituições eram formadas a partir do agrupamento de escolas isoladas existentes. Os grupos
escolares significaram a “reorganização administrativa e pedagógica” da escola elementar e “a
redefinição do lugar ocupado pela escola no traçado das cidades, posto que os grupos
escolares se constituíram numa realidade essencialmente urbana” (Ibidem, p. 10).
Há um conjunto de notações, no Fundo Departamento de Educação, que remetem ao
Grupo Escolar situado no distrito-sede. Inicialmente, existe um mapa para a escola mista de 2º
grau nº6, em 1929, com até a 3ª série e o número de 327 alunos, uma catedrática e 5 adjuntos,
funcionando em 2 turnos. É uma estrutura de relevo, comparada às demais escolas, mesmo as
situadas no centro do distrito-sede. Como já foi atestado pela historiografia: “Os grupos
escolares constituíram-se numa nova modalidade de escola primária, uma organização escolar
mais complexa, racional e moderna” (SOUZA; FARIA FILHO, 2006, p.24).
No ano de 1931, sob a regência da mesma professora de 1929 – Venina Corrêa
Torres– a instituição foi denominada de Grupo Escolar de Nova Iguaçu, situado no distrito
sede, com 350 alunos. Venina Corrêa foi, então, a diretora da instituição no período entre
1929 e 1945, restando apenas um mapa por ela assinado em 1946. Essa professora acumulou
o cargo de direção com o cargo de auxiliar de inspeção, constando suas visitas em escolas de
Iguaçu nos anos de 1933 e 1935. Também lecionou na escola noturna feminina de 2º Grau,
entre 1929 e 1935.
De acordo com a estrutura prevista pela legislação, esse “Grupo Escolar” abrigava as 5
séries do ensino primário. No grupo escolar de Nova Iguaçu o maior ingresso de alunos
continuou a ocorrer na 1ª série, em comparação com os registros de alunos nas demais séries
do ensino primário. Em 1932, o Grupo recebeu a denominação especial Rangel Pestana. Entre
1942 e 1947, esteve em funcionamento na rua Marechal Floriano, nº 2476, e, em 1949, a
escola era instalada na rua 13 de maio s/n.248
Ambos endereços são centrais no núcleo urbano
do distrito sede.
A documentação do Grupo Escolar incorre nas mesmas lacunas da maioria das
notações do Fundo Departamento de Educação. Os mapas correspondem aos anos de 1931-
1933; 1935; 1937-1940; 1942-1949 e aos meses de outubro e novembro de 1941. O exame da
distribuição das séries e classes denota uma estrutura maior do que a das demais escolas, pelo
contingente de alunos, de professores, e o funcionamento em 2 a 3 turnos. Durante os anos de
1942 e 1943 o Grupo Escolar comportou de 12 a 13 classes, crescendo para 15 a 16 classes e
248
Fundo Departamento de Educação, 02715, APERJ.
116
pouco mais de 500 alunos no período 1944-1947. Chegou a abrigar 31 classes e pouco mais
de 1.000 alunos em 1949.249
A comparação entre o Grupo Escolar Rangel Pestana e outras escolas contemporâneas
a ele no mesmo distrito, embora evidencie pontos em comum, demarca também experiências
diferentes de escola primária.
As diferenças se destacam não apenas pela distinção da oferta do curso primário
completo, mas pelo volume que parece ter atraído de alunos, por provavelmente receber os
egressos da 3ª série das demais escolas e pelo que representava enquanto escola-modelo.
Há outros indícios da “centralidade” desta escola, além de sua localização no centro do
distrito-sede. A ida de professoras para reuniões no Grupo Escolar foi flagrada em mapas de
frequência de diversas escolas do município. Entre as alegações de faltas dos docentes,
ocorria que professoras justificavam a ausência pela ida ao Grupo Escolar: “porque fui assistir
a aula do Inspetor”;250
ou porque houve “convocação dos professores”;251
“reunião no Grupo
Escolar”;252
“reunião no Grupo Escolar Rangel Pestana”;253
“não dei aula a 4 por ter de
comparecer a uma reunião no Grupo Escolar”.254
O quadro de docentes e funcionários lotados no Grupo Escolar era mais volumoso,
com a presença de pessoas encarregadas, por exemplo, da merenda e da biblioteca escolar. A
relevância da “diretora” é marcante. Nos relatórios dos diretores de instrução e nas estatísticas
apresentadas nas mensagens dos governadores do período, o cargo de diretor é restrito aos
Grupos Escolares. Contudo, nota-se que a professora que assinava o mapa nas notações de
outras escolas parecia ser também a regente principal, encarregada de acusar e justificar a
movimentação de professores, as faltas, as atividades realizadas e os motivos da baixa de
frequência dos alunos, quando ocorria. Contudo, a titulação “diretora” é reservada ao Grupo
Escolar.
Na disposição dos campos dos mapas de frequência, é em meados de 1933 que surgem
informações detalhadas sobre os professores “adjuntos”, como os nomes completos, a
titulação, datas de posse, exercício, licença, transferência, e as séries e classes que regiam por
escola. Entre 1929 e 1932, os campos dos mapas questionavam apenas se havia adjuntos,
quantos, e se eram diplomados. Ocasionalmente algumas professoras lançavam os nomes
249
Fundo Departamento de Educação, 02715, APERJ. 250
Fundo Departamento de Educação, 02729, APERJ. Mapa de 09/1933. 251
Fundo Departamento de Educação, 02729, APERJ. Mapa de 04/1937. 252
Fundo Departamento de Educação, 02675, APERJ. Mapa de 06/1938. 253
Fundo Departamento de Educação, 02717, APERJ. Mapa de 11/1946. 254
Fundo Departamento de Educação, 02726, APERJ. Mapa de 07/1946.
117
completos das adjuntas nas margens do mapa de frequência, avisando sobre faltas ou
exercício integral.
Para o Grupo Escolar Rangel Pestana, havia 5 adjuntos em 1929, 10 adjuntos em
novembro de 1931; De 13 a 15 professores ao longo do ano de 1933; De 17 a 19 em 1935; 14
a 12 funcionários (professores e outros cargos) em 1937; 14 em 1938; de 6 a 13 ao longo de
1939; De 14 a 18 em 1940; 20 em 1941 e 1942; 21 em 1943; 21 a 24 em 1944; 26 a 28 em
1945; Encontra-se cerca de 30 nomes relacionados nos mapas de 1946 e 1947, entre docentes
em funções de ensino ou licenciados, e pessoas em outras funções. Este crescimento é
paralelo ao crescimento do número de alunos e de classes. Contudo, deve-se considerar que
nem todos os nomes arrolados nos mapas estavam em exercício efetivo na escola.
Para efeitos da análise foi preciso acompanhar as mudanças no quadro de adjuntos,
pois era recorrente a mudança da situação, de mês a mês. Sempre há menção de professores
que assumiam o exercício, outras que eram transferidos, estavam licenciadas, a serviço da
Inspetoria, outras que faltavam etc. Havia informes sobre professoras que estavam lotadas no
Grupo, mas que estavam frequentando cursos,255
outras que auxiliavam a direção, além dos
informes de ausência dos professores “por motivo de moléstia”, bastante recorrentes.
Para todos os anos, o quadro docente é composto por mulheres (a presença feminina
predomina ainda em todas as demais escolas identificadas nos conjuntos de mapas do
município).
O “mapa de adjuntos” do Grupo Escolar expõe todas as categorias docentes da
instrução pública do período. No Grupo Escolar Rangel Pestana estavam lotadas professoras
efetivas, isto é, ”adjuntas” (concursadas) que integravam o quadro fixo de professores
juntamente com a diretora. As professoras “substitutas” (que atuam na ocorrência de licenças,
transferências, ou de professoras em comissão) também eram docentes concursadas. Além das
professoras concursadas, que naquela escola exerciam a função de substitutas ou adjuntas,
havia uma série de interinas contratadas. Em ambos os casos há professoras diplomadas ou
sem diploma.
O exame da titulação do quadro docente entre 1933 e 1947 revela um certo padrão de
formação. É muito mais significativa, para todos os anos, a presença de professoras
concursadas e diplomadas (efetivas e substitutas) do que interinas sem diploma do curso
normal. Em março de 1949, dos 30 nomes mencionados, todos eram de funcionários efetivos,
e apenas 3 não eram diplomados.
255
Fundo Departamento de Educação, 02715, APERJ. Por exemplo, mapas de setembro a novembro de
1933.
118
Em anexo ao Grupo Escolar funcionava a Seção profissional feminina256
e o Jardim de
infância.257
Foi localizada, ainda, uma notação para outro Jardim de Infância, situado à rua
Marechal Floriano, nº 2366, entre 1943-1947.258
A professora efetiva e diplomada, Alcida
Flora Rocha de Oliveira, assinava os mapas de 1945 a 1947 do jardim de infância da rua
Marechal Floriano e, também, dos mapas de 1949, do jardim anexo ao Grupo Escolar.259
Como o grupo escolar Rangel Pestana funcionou na mesma rua marechal Floriano, entre 1942
e 1947, é provável que este Jardim de Infância estivesse vinculado ao Grupo Escolar.
A estrutura “anexa” aos Grupos estava prevista na legislação do ensino primário. A
iniciativa estadual na implantação da “educação preliminar” pela criação de jardins de
infância e escolas maternais era ressaltada na mensagem do governo do estado em 1925.260
Em 1926, das 4 escolas de “educação preliminar” criadas pelo governo estadual apenas uma
estava funcionando,261
e, em 1929, havia 4 institutos de educação preliminar abertos pela
iniciativa estadual.262
No município de Iguaçu, a partir dos mapas de frequência, foram localizadas outras
escolas transformadas em grupos escolares criados durante as décadas de 1930 e 1940, em
áreas de grande densidade populacional do município.
Na década de 1930, esteve em funcionamento a Escola Primária Mista Municipal, de
1º grau, sob denominação especial “Barão de Mesquita”.263 Em 1935, a escola ofertava 3
séries do ensino primário distribuídas em 2 turnos. Depois, só há registros de mapas de
frequência a partir de 1944, quando a escola funcionava em 3 turnos e continuava a oferecer 3
séries. A 4ª série do ensino primário foi indicada no mapa de março de 1947. No mês
seguinte, a escola foi designada como “Grupo Escolar Barão de Mesquita”. Porém, ainda no
mesmo ano, reapareceu a titulação Escola “mista, primária, municipal”, sendo o “Grupo
Escolar” uma denominação especial até o ano de 1949, com oferta de até a 4ª série do ensino
primário e o funcionamento em 3 turnos.
256
Fundo Departamento de Educação, 02749 e 02750, APERJ. 257
Fundo Departamento de Educação, 02760, APERJ. 258
Fundo Departamento de Educação, 02671, APERJ. 259
Fundo Departamento de Educação, 02670, APERJ. 260
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no
dia 1º de agosto de 1925 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de Janeiro,1925.Inclui Anexos.
p.45. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 261
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no
dia 1º de agosto de 1926 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de Janeiro,1926.p.50.
Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 262
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no
dia 1º de outubro de 1929 pelo Presidente Dr. Manuel de Mattos Duarte Silva. Rio de Janeiro,1929.pp. 72-73.
Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 263
Fundo Departamento de Educação, 02633, APERJ.
119
Uma escola mista primária em Belford Roxo, no 5º distrito, foi transformada em
Grupo Escolar Municipal Professor Paris, em 1947.264
Em agosto de 1948, a escola registrava
mais de 600 alunos e 17 nomes constavam no mapa de adjuntos, com apenas 2 professoras
concursadas.
A escola isolada de 2º grau nº 27, situada no distrito de Nilópolis, recebeu a
denominação Grupo Escolar de Nilópolis, em 1938, mudando do endereço da Praça Paulo de
Frontin para a rua Maria de Albuquerque, nº1337. Em 1946, era classificada como escola em
“Regime de Grupo”, nº 22.265
Desse modo, entre 136 códigos de referências, apenas quatro dizem respeito a grupos
escolares, sendo dois estaduais e dois municipais (outras quatro notações referem-se a seções
anexas ao Grupo Escolar Rangel Pestana). Ainda que o acervo dos mapas recolhidos não
corresponda à totalidade das instituições de ensino primário do município, naquele período, é
de pouca expressão – se comparada às escolas isoladas – a presença de Grupos Escolares no
município.
Alessandra Schueler (2010, p.538), examinando as mensagens dos presidentes do
estado do Rio de Janeiro na Primeira República, observa que a escola isolada ou singular era
predominante na organização da escola primária, em unidades e no número de matrículas,
ainda que o modelo do grupo escolar inspirasse os horizontes das sucessivas administrações e
de algumas iniciativas nesse sentido.
Ainda que houvesse um consenso, em vários estados, sobre a importância do grupo
escolar para a modernização do ensino, os custos do empreendimento restringiram os limites
da implantação dos grupos, de forma que São Paulo e Minas Gerais, estados com
prosperidade econômica no período, é que foram pioneiros na adoção dos grupos escolares
(SOUZA; FARIA FILHO, 2006, p.31). Por exemplo, em São Paulo, em 1929, os grupos
escolares acolhiam mais matrículas do que as escolas isoladas. Havia 297 grupos escolares,
com um total de 4.249 classes, com 191.320 matrículas, o que correspondia a cerca de dois
terços dos alunos matriculados nas demais escolas públicas primárias do estado (Ibidem,
p.27).
O ritmo de crescimento da implantação de grupos escolares em estados como a
Paraíba, Piauí e Rio Grande do Sul foi menor em relação à expansão de outros tipos de escola
primária, de escolas “reunidas” e isoladas. No Espírito Santo, Mato Grosso, Paraná foi lenta a
expansão dos grupos escolares; em Santa Catarina e na Bahia, por exemplo, em meados da
264
Fundo Departamento de Educação, 02642, APERJ. 265
Fundo Departamento de Educação, 02700, APERJ.
120
década de 1920, a escola isolada prevalecia como modalidade de escola primária, em
unidades e alunos acolhidos (SOUZA; FARIA FILHO, 2006, p.31-34).
Desse modo, em outros estados, a difusão da escola primária ocorrida no mesmo
período foi pautada pela expansão das escolas isoladas e outros tipos de instituições, como as
escolas reunidas: “é preciso, portanto, reconhecer o papel preponderante e central
desempenhado por essas escolas primárias na disseminação da instrução elementar na
primeira metade do século XX” (ibidem, p.31).
A difusão do modelo da escola primária graduada no estado do Rio de Janeiro ganhou
maior fôlego a partir da década de 1910, sob a orientação dos governos alinhados ao projeto
político de Nilo Peçanha, que buscava defender maior participação do estado na correlação de
forças que caracterizou o pacto oligárquico na Primeira República (SCHUELER, 2010,
p.542). Entre as especificidades da criação dos grupos escolares no Rio de Janeiro destaca-se
que os prédios, na maioria, eram alugados ou cedidos por particulares. Nas últimas reformas
do ensino primário, durante a Primeira República, os grupos escolares foram mantidos como
modelos de escolas urbanas com ensino graduado e completo (Ibidem, p.545).
A análise dos relatórios de diretores de instrução e das mensagens dos governadores
demonstra o crescimento da criação desses grupos, ainda que a matrícula não tenha
ultrapassado o contingente de alunos agregados nas escolas isoladas. Nas sucessivas reformas
do ensino que ventilavam os projetos de poder destes grupos, o grupo escolar sempre figurou
como o modelo desejado, mas foi a partir dos anos 1920 que houve maior empenho na
disseminação deste tipo de estabelecimento, com o apoio de particulares e dos municípios
(Ibidem, p.547).
As frequentes reformas estaduais na instrução pública primária pretendiam sanar os
problemas que dificultavam o funcionamento regular das escolas, a matrícula e a frequência
dos alunos, a oferta e a qualidade da instrução ofertada. No entanto, as mesmas mensagens
atestavam a continuidade de um diagnóstico que não atendia às expectativas de difusão do
modelo de escola graduada, tampouco das escolas isoladas (Ibidem, p.541).
Mas é patente, também, que a expansão da instrução primária, além de ter contado
com a predominância da ação estadual, também ocorreu quantitativamente pelo aumento de
matrículas nas escolas isoladas, superior ao contingente de alunos acolhidos em grupos
escolares:
De fato, em todo o período, é possível notar que a coexistência de duas modalidades
de escola – a escola isolada e o grupo escolar - foi uma característica marcante no
caso fluminense. De forma majoritária, as escolas isoladas continuaram a se
expandir no território fluminense, recebendo a maior quantidade de matrículas, o
121
que corresponde inclusive às características de densidade demográfica regional
(SCHUELER, 2010, p.547).
Esse panorama de predomínio da escola isolada é encontrado no município de Nova
Iguaçu, mesmo na área urbanizada do distrito-sede, nas décadas de 1930 e 1940. A
distribuição dos tipos de escolas conforme a localização rural ou urbana, que era um critério
previsto nos instrumentos normativos sobre a instrução primária, constitui um dos fatores
desse cenário, porque o estado do Rio de Janeiro permanecia agrário e rural. O município de
Nova Iguaçu, sob esta ótica, também se aproximava mais do cenário estadual do que do
contexto histórico do Distrito Federal, porque a capital federal representava um núcleo urbano
dinâmico.
Pelo perfil de escolas restituído pela análise dos mapas de frequência, sustenta-se que
a escola isolada pública – municipal ou estadual – foi o principal tipo de escola presente no
município de Iguaçu, tanto em áreas rurais quanto urbanas. Porém, ressalta-se o aspecto de
composição híbrida destas escolas, porque diversas situações foram encontradas nestas
escolas. A maioria delas apresentava características do modelo seriado, funcionavam em
turnos, classificavam os alunos por série, possuíam mais de um professor. Este modelo
coexistia com o Grupo Escolar.
O exame das fotografias da Coleção Arruda Negreiros, que atribuímos datação entre
1932 e 1933, também subsidia esta argumentação sobre a coexistência de tipos diversificados
de escolas em Iguaçu. Cabe lembrar que as fotografias, assim como as outras fontes de
pesquisa, se devem ser problematizadas pelo historiador, sendo pertinente demarcar a própria
historicidade que as compõe, não impede – sobretudo no cotejamento com outras fontes – de
revelar parte da experiência vivida pelos sujeitos.
Nesse sentido, os indícios, a partir das fotos, também ajudam a problematizar o perfil
de escolas da região de Iguaçu, principalmente no cotejamento com os mapas de frequência.
Como não houve acesso à disposição original e completa da Coleção, outros arranjos foram
realizados para tratar do que estas fotografias informam enquanto documentos.
Na análise das legendas do conjunto total de fotografias, atesta-se o mesmo perfil de
escolas que emergiu da análise dos mapas de frequência (1929-1949). Todas as fotografias
são sobre o ensino primário ou a ele vinculado. Mesmo para o Ginásio Leopoldo, as quatro
imagens reunidas são de aspectos do ensino infantil, do ensino primário e do curso de
admissão. É pequeno o registro de escolas particulares e/ou subvencionadas.
A identificação da maioria das escolas nas legendas das fotografias ocorreu pelos
atributos de mista, feminina, masculina, noturna, com atribuição de números e da localidade
122
de funcionamento. Com o cruzamento das informações dos mapas de frequência nota-se a
predominância de escolas públicas – estaduais e municipais, no acervo de imagens.
A importância conferida ao Grupo Escolar, como foi visto em outras passagens,
retorna no maior número de fotografias do acervo reunido (10 imagens). As legendas e o tema
fotografado demarcam como também era diferenciado o tipo de organização dos alunos e dos
professores, no modelo de seriação aplicado ao Grupo Escolar.
As legendas das imagens do Grupo Escolar são mais precisas, identificam classes e
seções de ensino existentes no Grupo. Enquanto duas legendas são apenas “G. E. Rangel
Pestana – N. Iguassú” e “Grupo Escolar - Rangel Pestana- N. Iguassú”, outras identificam as
professoras e a classificação da turma: “G. E. Rangel Pestana – Nova Iguassú 1º serie classe
B”; “G. E. Rangel Pestana – Nova Iguassú- Adjuncta Alice R. René -1ª série classe c”; “G. E.
Rangel Pestana – Nova Iguassú- Adjuncta Dulce Lacerda 1ª série classe [B]”; “G. E. ‘Rangel
Pestana’ – Nova Iguassú 3º 4º 5ª serie”.266
Pelas fotos reunidas sobre o Grupo Escolar, destaca-se que as fotografias de alunos
distribuídos em classes videnciam a aplicação da seriação do ensino. Assim como foi
verificado nos mapas de frequência, mesmo no Grupo Escolar – de seriação completa – é
maior a incidência de alunos nas primeiras séries do ensino. Em uma única fotografia foram
reunidas as 3ª, 4ª e 5ª séries do Grupo Escolar:
Figura 8 Fotografia do Grupo Escolar Rangel Pestana.
Fonte: Acervo IHGNI. Coleção Arruda Negreiros.
266
As fotografias do Grupo Escolar Rangel Pestana foram consultadas no acervo do IHGNI.
123
Há mais fotografias de classes na primeira série do ensino, também mais numerosas.
Esta condição, que emerge deste conjunto de fotografias, também se repete nos mapas de
frequência do Grupo Escolar, nos anos de 1929 e 1935, isto é, há maior número de classes e
de alunos nas primeiras séries do ensino primário.267
Figura 9 Fotografia do Grupo Escolar Rangel Pestana.
Fonte: Acervo IHGNI. Coleção Arruda Negreiros.
Figura 10 Fotografia do Grupo Escolar Rangel Pestana.
Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.
267
Fundo Departamento de Educação, 02715, APERJ.
124
Há que ressaltar outros aspectos sobre a seriação do ensino na comparação entre as
fotos. As classes do Grupo Escolar reúnem alunos que aparentam idades mais próximas do
que os alunos fotografados de outras escolas.
A comparação das imagens do Grupo Escolar com as imagens das demais escolas
adiciona um efeito “visual” ao que está sendo sustentado sobre o aspecto heterogêneo e
híbrido das escolas do distrito-sede. Enquanto o Grupo Escolar possui diversas fotografias,
dos alunos e professores divididos em série, assim se apresentam as imagens das escolas
“isoladas”:
Figura 11 Fotografia da Escola Barão de Mesquita.
Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.
Visualmente, a “Escola Barão de Mesquita”, corresponde, comparativamente, ao que
seria apenas uma classe nas fotografias do Grupo Escolar. E essa é uma diferença estrutural
entre os grupos escolares e as escolas isoladas, em seus modos de organização. Pelas
informações dos mapas de frequência, a escola mista municipal Barão de Mesquita
funcionava em junho de 1933 em um turno, com uma professora e com 47 alunos na 1ª série;
10 alunos na 2ª série e 3 alunos na 3ª série do ensino primário. Assim, a professora lecionava
no mesmo turno, sozinha, a alunos entre as 3 classes do ensino, de modo que é provável que
os alunos estudassem juntos.268
Na fotografia, é também de supor que todas as “classes”
foram fotografadas juntas.
268
Fundo Departamento de Educação, 02633, APERJ.
125
Também só foi localizada uma fotografia da escola mista nº 5. Nos mapas de
frequência desta escola, entre 1929 e 1940, apenas uma professora assinava os mapas.269
Em
1932 e 1933, a escola funcionava em um turno, com alunos nas 3 séries do ensino, com mais
classes na 1ª série, o que remete à mesma experiência de organização da escola anterior.
Figura 12 Fotografia da Escola mista nº 5.
Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.
Figura 13 Fotografia da Escola Coronel França Soares.
Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.
269
Fundo Departamento de Educação, 02714, APERJ.
126
Na escola municipal Coronel França Soares, registrada acima, em junho de 1933 a
professora concursada Célia Pacheco Rocha270
acusava não ter adjuntos, estando a seu cargo
do ensino 52 alunos, em um turno, divididos entre 2 classes na 1ª e uma classe na 2ª e 3ª série.
Desse modo, foram os alunos das distintas classes fotografados juntos? A fotografia
deixa pistas de que, ainda que as professoras informassem e utilizassem critérios de
classificação e divisão em classes, a experiência possível na escola, pelo número de turnos e
professores, fazia perdurar as características da antiga escola isolada. A presença de um único
docente para reger, no mesmo turno, “classes” de séries diferentes, também ocorria na escola
mista n. 34, situação “retratada”, abaixo:
Figura 14 Fotografia da Escola mista nº 34.
Fonte: Acervo IPAHB, Coleção Arruda Negreiros.
Não há mapas de frequência do ano de 1933 para a escola mista nº 34. Mas os mapas
dos outros anos permitem saber que em março de 1932 a escola funcionava com 3 classes na
1ª série e um total de 57 alunos271
. Em 1935, funcionava no 1º turno com 27 alunos
distribuídos entre 3 classes na 1ª série e 1 classe na 2ª série, sendo a classe de 2ª série
integrada por 2 alunas. Nair Bastos, catedrática diplomada, lecionava sozinha nesta escola
entre 1929 e 1947.
Foi localizada apenas uma imagem para a escola mista nº 33, de Nova Iguaçu, que
funcionava com 115 alunos em 1929, o que é expressivo em comparação com as demais
270
Fundo Departamento de Educação, 02657, APERJ. 271
Fundo Departamento de Educação, 02644, APERJ.
127
escolas mistas do mesmo período. Abrigava 2 turnos em março de 1933, com 2 classes na 1ª
série, e 1 classe na 2ª e na 3ª série, com 107 alunos matriculados. No mesmo mapa constam
duas professoras.272
Na comparação das fotografias da escola mista n.34 e da escola mista
n.33, há uma proximidade entre o número de alunos matriculados informados nos mapas.
Figura 15 Fotografia da Escola mista nº 33.
Fonte: Acervo IPAHB, Coleção Arruda Negreiros.
Figura 16 Fotografia da Escola mista nº9.
Fonte: Acervo privado de Marcus Monteiro, Coleção Arruda Negreiros.
272
Fundo Departamento de Educação, 02716, APERJ.
128
É reduzido o número de alunos na fotografia da escola mista n.º 9, registrada acima,
que funcionava em um turno em abril de 1933, sob a regência da professora catedrática
Camilla Leonidia Netto, com 37 alunos na 1ª série, 4 alunos na 2ª e 1 menina na 3ª. Durante o
ano, consta o nome de mais uma professora adjunta.273
No conjunto de fotografias acima, de escolas localizadas no distrito-sede, cabe
destacar que, o que era “escola” era identificado como “classe” no Grupo Escolar. Ao
focalizar toda a “escola”, com alunos e professores juntos, é possível notar a diferença de
idade entre os alunos. Com o cruzamento dos dados dos mapas de frequência, sabe-se que a
fotografia da “escola” está reunindo alunos de classes e séries diferentes. Cabe advertir, ainda,
que os deslocamentos operados sobre os termos classe e escola, por exemplo, no regime
seriado, também estão relacionados às operações de distinção que se buscava realizar entre a
escola isolada, que passou a ser pejorativamente identificada com o passado, o arcaico, o
insuficiente, em contraposição ao novo, ao moderno, aos grupos escolares (FARIA FILHO,
2000, p.31).
Outro caso interessante, que também sustenta a argumentação sobre a diversidade das
situações encontradas, é a incoerência entre a fotografia e a legenda, na seguinte imagem:
Figura 17 Fotografia da Escola feminina nº 10.
Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.
273
Fundo Departamento de Educação, 02673, APERJ.
129
Ainda que seja minoria, há meninos na fotografia da escola feminina nº 10. Todavia,
nos mapas de frequência, a matrícula de meninos era registrada a partir de outubro de 1932,274
quando a identificação, no cabeçalho, foi alterada para “Escola mixta de 2º grau de Jeronymo
Mesquita – N. 10”. Entre 1929 e abril de 1935 a professora catedrática Herminia de Aquino
assinava os mapas, sendo a única regente da escola. Em 1932 e 1933 a escola estava
organizada em 1 turno com 70 alunos distribuídos em 2 classes na 1ª e na 2ª série, o que
permite concluir novamente que os alunos, ainda que classificados em séries e classes,
estavam juntos sob a regência da mesma professora, no mesmo horário de funcionamento da
escola. Outro aspecto interessante pontuou as fotografias da Escola mista n.8, de Morro
Agudo, onde, as fotografias dos turnos da escola flagram a separação entre meninos e
meninas.
Figura 18 Fotografia da Escola mista nº 8 – Primeiro Turno.
Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.
274
Fundo Departamento de Educação, 02674, APERJ.
130
Figura 19 Fotografia da Escola mista nº 8 – Segundo Turno.
Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.
No ano de 1932 e até junho de 1933 a escola mista nº 8 funcionava em um turno, a
cargo de uma professora, com as crianças distribuídas entre a 1ª e a 2ª séries em 1932, e
também entre a 3ª série, em 1933.275
O registro do funcionamento dos turnos oscila nestes
anos, e, em 1933, a escola é mencionada funcionando em 2 turnos a partir de julho. Mas a
divisão dos turnos em função do sexo dos alunos, como demonstram as fotos e as legendas,
não pode ser aprendida nos mapas de frequência. Interessante notar que, sob a denominação
de escola mista, a coeducação não era garantida.
Enquanto isso, as fotografias dos turnos da escola mista n.º 3,276
com a presença da
mesma professora, Carmem Maldonado, revela a manutenção do princípio da coeducação.277
275
Fundo Departamento de Educação, 02694, APERJ. 276
Fotografias consultadas no acervo do IHGNI. 277
Fundo Departamento de Educação, 02712, APERJ.
131
Figura 20 Fotografia da Escola mista nº 3 – Primeiro Turno.
Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.
Figura 21 Fotografia da Escola mista nº 3 – Segundo Turno.
Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.
132
Além da presença de meninos e meninas frequentando escolas primárias no município,
sendo predominante a tipologia de escolas isoladas mistas, outro fator que também é
evidenciado pelas fotografias é a presença de alunos e professores negros compondo estas
escolas. Esta questão, caríssima à historiografia da educação e à historiografia do pós-
abolição, será retomada no próximo capítulo, mas cabe ressaltar que é uma característica
importante da composição das escolas de ensino primário em Nova Iguaçu, e lança
interrogações sobre a origem social e as possibilidades de acesso à educação regular durante
as décadas de 1930 e 1940.
Outra característica importante apreendida pelas fotografias é que, apesar das
diferenças que emergem na comparação entre as variadas fotografias do Grupo Escolar e as
imagens de escolas “isoladas”, outros conjuntos de fotografias atestam a existência de escolas
isoladas com estrutura quantitativa também mais expressiva de turnos, alunos e docentes.
É o que ocorre nas cinco fotografias da Escola mista nº 15, de São João de Meriti.278
Em três fotografias há apenas uma docente com cada grupo de alunos. Nas outras duas, há
uma em que aparecem, entre os alunos, quatro docentes, e, na outra, os alunos estão
acompanhados por duas professoras. Os mapas de frequência também atestam, para esta
escola, no ano de 1933, o funcionamento em dois turnos em março, em três turnos em
setembro, e a matrícula expressiva de 404 alunos.279
Há quatro fotografias da escola mixta n.2, instalada no distrito sede.280
A mesma
docente aparece nas 4 imagens, sendo que duas imagens contam com mais duas docentes. Os
mapas de frequência281
desta escola acusam, para o ano de 1933, o funcionamento em 2
turnos. A professora Maria Paula de Azevedo assinava os mapas e informava trabalhar com
mais 3 interinos. Em agosto de 1933, quatro nomes de professoras eram mencionados nos
mapas. Nota-se também, que há uma mesma professora que figurou em todas as fotografias
da escola mixta n. 2, que também participou da fotografia da Escola noturna nº 2, de Nova
Iguaçu. Recorrendo aos mapas de frequência, foi localizado o nome da mesma professora,
Maria Paula de Azevedo, da escola mista nº2, lecionando na escola noturna municipal n.º2
entre 1931 e 1936, que é o período coberto dessa documentação.282
Na escola mista nº 2, o
nome de Maria Paula perdurou nos mapas até 1938, quando Elza Cerqueira, que passou a
278
Fotografias consultadas no acervo do IPABH. 279
Fundo Departamento de Educação, 02740, APERJ. 280
Fotografias consultadas no acervo do IHGNI. 281
Fundo Departamento de Educação, 02711, APERJ. 282
Fundo Departamento de Educação, 02707, APERJ.
133
assinar os mapas, informava que a saída da catedrática acarretou a retirada de muitos alunos
da escola, de modo que a matrícula estava sendo novamente organizada. 283
Figura 22 Fotografia da Escola Noturna nº 2.
Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.
Os aspectos que emergiram da análise da documentação, permitem sustentar a
hipótese de que esta escola isolada, principal meio da expansão da escola primária no estado
do Rio e em Nova Iguaçu, apresenta características, em seus aspectos materiais, de
organização, na experiência dos sujeitos nela imersos, e com a localidade em que estão
inscritas, que esboçam um tipo de escola em composição.
Não é exatamente, sem mudanças, a casa-escola do séc. XIX (Cf. VILLELA, 2007;
CARDOSO, 1999). Durante o século XIX, “foi comum o funcionamento de escolas de
primeiras letras ou cadeiras isoladas públicas na residência dos próprios professores”
(SOUZA; FARIA FILHO, 2006, p.35).
As escolas isoladas que foram identificadas em Iguaçu, nas décadas de 1930 e 1940,
apresentam outras especificidades, que foram sendo gestadas num processo. A configuração
da escola primária fluminense não estava estabelecida neste período; estava sendo construída,
experimentada, entre os projetos, interesses e expectativas de diversos grupos sociais, e os
condicionantes de ordem material, daquilo que era possível viver. O consenso acerca da
expansão da escolarização e de sua importância para a formação da população, para sustentar
283
Fundo Departamento de Educação, 02711, APERJ. Mapa de 08/1938.
134
projetos de hegemonia e de socialização, ainda que impresso em mensagens, relatórios,
campanhas e jornais, não correspondia exatamente ao que se construía, porque tudo aquilo
ainda estava sendo realizado, sendo experimentado, ensaiado. É na dinâmica da história, face
aos problemas emergidos, aos resultados, aos recursos disponíveis, que aquele modo de
socialização ia integrando a vida, ia escolarizando a sociedade.
Foi relevante, nesta pesquisa, tomar distância crítica das oposições entre grupos
escolares e escolas isoladas, que, nos debates contemporâneos ao período em foco,
engessavam a compreensão da escola isolada como símbolo do atraso, como aquilo que devia
ser superado. Compartilha-se da noção de que é preciso “considerar as inovações introduzidas
nessas escolas primárias na transição do século XIX para o século XX e a relevância que elas
tiveram na escolarização da população brasileira” (SOUZA; FARIA FILHO, 2006, p.44).
Na metodologia adotada, abrindo mão de identificar previamente, em função da
bibliografia existente, se as escolas do distrito-sede em Iguaçu eram casas escolas e/ou escolas
seriadas, sem procurar atribuir um estágio de “forma escolar” (VINCENT, G., LAHIRE, B. &
THIN, D., 2001) para aquelas instituições, o que se surpreende, a partir das fontes, é um
processo de composição, de imbricação, com permanências, rupturas e hibridismos entre a
escola isolada e modelos de seriação.
Se havia um consenso, era sobre a necessidade de instrução elementar. Os conteúdos,
modos e formatos deste modo de socialização, que seria inscrito materialmente na construção
da escola, na identificação de uma materialidade singular, ainda eram um ensaio. O grupo
escolar era modelo, sim. Era a forma melhor delineada do ensino primário, almejada em
diversas reformas estaduais da instrução no período. Mas, em Iguaçu, a presença do “modelo”
numa das principais ruas do distrito-sede, coexistia com outros modos de realização da
inserção no universo das letras.
Vértices da seriação do ensino: docentes, classes, tempos e espaços escolares
Além da seriação do ensino prevista pelos regulamentos do ensino primário, das
alterações nas classificações das escolas (o que permitia acrescentar ou reduzir a oferta de
séries) outras dinâmicas configuravam o funcionamento das escolas.
Como foi demonstrado, os mapas de frequência registravam a composição do quadro
de professores das escolas e a distribuição dos turnos, séries e classes pelos docentes. Esses
eram identificados no mapa de adjuntos pelos nomes completos, cargos/nível de carreira, e se
eram, ou não, diplomados. Foi constatado, com certa constância, que os registros de
135
oscilações na organização dos turnos, das séries e classes, correspondiam a mudanças nos
registros de quadros de adjuntos.
Houve reincidência de situações nas quais as professoras mudavam de turno e levavam
consigo suas classes e a oferta de determinada série do ensino. Pode-se observar uma divisão
do trabalho em que algumas professoras estavam sempre lecionando nas classes de 1ª série,
outras na 2ª e 3ª séries.
A redistribuição do trabalho, em escolas com mais de 1 docente, era demarcada pelas
substituições, pelas licenças de professoras, e nem sempre a professora que assumia o
exercício em substituição à outra recebia exatamente as mesmas turmas, porque as demais
professoras em exercício redefiniam o funcionamento dos turnos e classes. Em contrapartida,
há notações que demonstram a permanência, por anos, de uma mesma professora na mesma
escola.
Por exemplo, a Escola mista pública municipal Valério Rocha,284
na localidade da
Prata, esteve sediada na estrada Plínio Casado. Há um intervalo na documentação, havendo
mapas de 1935 e, depois, só a partir de 1944, mas a mesma professora continuava a lecionar
na escola, Jurema Dias (que também assinou os mapas até 1948). Em meados de 1944, a
chegada de mais uma professora possibilitou o funcionamento da escola em 2 turnos.
Até 1946, essa escola acolheu maior número de alunos em classes de 1ª série. Em
junho de 1947, há indicação de classe na 4ª série, com o total de 70 alunos na instituição. Em
1948 e 1949, quando esteve aberta em 3 turnos, também foi ofertada a 4ª série, e a escola
contava com 3 professoras em 1948 e 4 professoras em 1949, com matrícula de 89 alunos nos
dois anos.
O exame das alterações no quadro docente desta escola, ao longo dos meses e anos,
evidencia a circulação de parte das professoras entre as escolas na região, pois há vários
nomes de professoras que comparecem em diferentes escolas, em anos diferentes. Isso
acontece com professoras extranumerárias, que são contratadas e parece que ficam mais
suscetíveis às demandas das escolas. Pode-se esquadrinhar, também, a movimentação de
professoras concursadas. Além disso, essas alocações não acontecem apenas no começo do
ano, mas são constantes e, por vezes, mensais. No exame comparativo entre as escolas de
Nova Iguaçu, nas escolas públicas estaduais, principalmente, há sempre menção de docentes
concursadas que não compareceram para tomar posse e entrar em exercício, outras que se
apresentaram na escola um dia, mas não voltaram. E outras, muitas outras, que começaram a
284
Fundo Departamento de Educação, 02727, APERJ.
136
trabalhar, mas que foram logo “transferida[s] para Niterói”, ou ficaram sob a disponibilidade
da Inspetoria, entraram em longas licenças, faltaram com frequência.
A catedrática Carmen Torres Maldonado assinava os mapas da escola mista de 2º grau
nº 3,285
na qual trabalhou auxiliada por professoras adjuntas, entre maio de 1929 e novembro
de 1942. A última vez que o nome da catedrática foi mencionado, em novembro de 1942,
consta “licenciada com 2/3 dos vencimentos para tratamento de saúde”. Não é mais citada nos
mapas dessa escola nos anos seguintes.286
A professora municipal efetiva, não diplomada, Marina Soares Sampaio lecionou
sozinha na escola mista pública, primária, municipal, Monsenhor Pizarro, entre 1944 e 1949,
que oscilou entre as numerações 2 e 3. Pelas anotações inscritas nos mapas, era uma escola de
localização urbana, com 4 a 3 classes divididas entre a 1ª, 2ª e 3ª série. O ano letivo de 1949
comportava classes também na 4ª série.287
A professora catedrática Maria Candida Gloria (depois de 1942, Maria Cândida Glória
de Azevedo) regia a escola mista de 1º grau de Morro Agudo288
entre 1931 e setembro de
1942, sendo em alguns momentos substituída, por motivo de licenças. Durante esse período, a
escola foi classificada como de 2º grau, recebendo a numeração 7 e sendo intitulada “isolada”
em 1937. A escola recebeu adjuntas em setembro de 1942, quando também funcionou em
mais de um turno. Em maio de 1947, a professora extranumerária Luiza Garcia de Araújo
informava o falecimento da professora Maria Cândida.
Arrolam-se aqui poucos exemplos. Mas o exame de muitas séries de conjuntos de
escolas permitiu flagrar, com certa frequência, professoras catedráticas ou professoras
municipais que atravessavam anos, lotadas no mesmo estabelecimento. Em contrapartida,
também há nomes de professoras que eram sempre transferidas entre escolas, ou outras,
interinas não diplomadas, que circulavam entre escolas do mesmo distrito substituindo
professoras adjuntas ou catedráticas.
Em 1927, o diretor da instrução pública, José Duarte, fazia uma distinção pejorativa
em relação ao quadro de professoras interinas, porque essas docentes não eram formadas em
escolas normais.289
A necessidade de manter essas professoras contratadas, mantinha-se,
segundo o Diretor, pela falta de interesse das professoras diplomadas pelas escolas oficiais em
285
Fundo Departamento de Educação, 02712, APERJ. 286
Idem, APERJ. 287
Fundo Departamento de Educação, 02693, APERJ. 288
Fundo Departamento de Educação, 02694, APERJ. 289
Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director da
Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1927. Niterói, Officinas
Graphicas da Escola Profissional, 1927, pág.259.
137
ocupar “escolas do interior – nem mesmo para a séde de municípios adeantados e manifestam
suas preferencias pela capital”.290
Por isso, eram as professoras interinas que amparavam o
“trabalho de alphabetisação”, mesmo utilizando o “anachronico methodo de soletração”.291
Para resolver a situação, o governo promoveu concurso para as escolas vagas no interior, a
fim de ocupá-las com professoras efetivas e diplomadas. Porém, o concurso foi encerrado sem
inscrições para um grande número de escolas, de modo que a prática da nomeação de
interinas precisou continuar para que escolas não fossem fechadas.292
Deve-se considerar,
também, a influência das redes de sociabilidade e da ação política local, a atuação de
deputados e vereadores na manutenção da nomeação e exoneração de professoras sem
concurso nas escolas públicas, subvencionadas e particulares.
Tanto a intensa movimentação dos docentes nas escolas públicas, municipais e
estaduais, as variações da organização dos turnos e séries, quanto o ingresso mensal de novos
alunos e o registro de alunos que deixavam as escolas no campo “alunos eliminados neste
mês”, indicam o dinamismo dos processos de escolarização, dos esforços, das tentativas e das
dificuldades, respondidas conforme às demandas, da institucionalização da escola primária.
Quando assumiu a Diretoria de Instrução, José Duarte ficou impressionado com o
regime de licenças vigente em 1926.293
Para se esquivar da inspeção médica do governo, os
docentes conseguiam, por meio de atestado médico, uma licença de até 2 meses. Alguns
docentes costumavam reassumir o exercício por um mês, e utilizavam novamente o mesmo
expediente. A interrupção do afastamento da escola em novembro, também, era um meio de
assegurar a remuneração durante as férias. A propósito, no exame dos mapas de frequência de
adjuntos foi comum encontrar a menção a licenças de professoras e vários casos de
professoras que retornavam ao exercício em novembro, ou que estavam frequentemente
licenciadas.
Para o diretor da instrução, o aumento do ônus no erário público, que precisava arcar
com a contratação de professores substitutos e manter o pagamento de aluguéis de escolas que
ficavam vagas, era um das consequências destes recorrentes “abusos”, de “proporções
290
Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director
da Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1927. Niterói,
Officinas Graphicas da Escola Profissional, 1927, pág.260. 291
Ibidem, pág.259. 292
Ibidem, Apud pág.243. 293
Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do Interior e
Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal
do Comércio, 1927, pág. 9.
138
escandalosas”294
, além dos prejuízos ao ensino. Como as professoras catedráticas tinham o
direito de residir na casa da escola ou receber auxílio para aluguel de moradia, ficar sem os
vencimentos não era impedimento ao regime de licenças. O diretor defendia a adoção de
medidas restritivas a esta situação.295
O interesse em aumentar o número de visitas às escolas, meta perseguida pela
Diretoria de Instrução, buscava assegurar a vigilância sobre os professores e evitar as burlas,
como o caso da professora que assinava os mapas de frequência, mas não lecionava na escola:
É, felizmente, mui reduzido o numero de professores displicentes, não affeiçoados
ao seu mistér, desquitados de seus deveres, que, como a de Tinguá, em Nova
Iguassú, abandonam a escola à sorte de uma pessôa leiga, como sua representante,
com a cumplicidade criminosa do proprio delegado districtal – esta entidade innutil
em nossa organização escolar – figurando com se presente à sua diaria tarefa
escolar, assignando mappas e recebendo seus vencimentos. Mas estes tresmalhos são
inevitaveis em todas as organizações, confortando-nos a certeza de que constituem
excepções desoladoras, mas, todavia, reduzidas e raras excepções.296
No ano de 1927, medidas eram adotadas para amenizar a “deserção da regencia das
classes”, com a exigência da inspeção de saúde para quaisquer licenças acima de 15 dias, o
que ocasionou a diminuição no número de requerimentos e de concessões, segundo o diretor
da Instrução.297
Tanto o regime de licenças, quanto o funcionamento do ano letivo eram alvos da
disputa sobre a organização das escolas. Desse modo, o governo também empenhava medidas
para combater os usos que os docentes imprimiam ao tempo escolar.
Além dos casos de professores que prolongavam as férias escolares com a obtenção de
licenças no começo do ano letivo,298
os regulamentos da instrução pública procuravam fixar a
duração do ano escolar, mas o próprio diretor da Instrução Pública do Estado do Rio
reconhecia, em 1928, que: “Annos seguidos uma bôa avença entre o professorado e a
directoria considerara letra morta o preceito regulamentar, pois entrára em nossos hábitos o
inicio das aulas em 1º de Março”,299
quando o previsto era no mês de fevereiro.
294
Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do
Interior e Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro,
Tipografia do Jornal do Comércio, 1927, pág. 248. 295
Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do
Interior e Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro,
Tipografia do Jornal do Comércio, 1927, pág.249. 296
Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director da
Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1928, Niterói, Officinas
Graphicas da Escola Profissional, 1928, pp.41-42. 297
Ibidem, pp.23-24. 298
Ibidem, pág.21. 299
Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director
da Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1928. Niterói,
Officinas Graphicas da Escola Profissional, 1928, pp.26.
139
A diminuição do período letivo era desfavorável ao ensino, segundo o diretor. Em
primeiro lugar, os professores e alunos ficariam sobrecarregados em lidar com os programas
de ensino, organizados para um ano letivo maior. A maior duração das férias prejudicava a
fixação dos conhecimentos obtidos na escola pelos alunos, aumentando o trabalho do
professor no retorno das atividades. No relatório enviado ao presidente do estado, a
comparação com a duração do ano letivo em São Paulo (9 meses e 10 dias); Minas Gerais (10
meses), Distrito Federal (9 meses) e Santa Catarina (10 meses) justificava a preocupação do
diretor em garantir a supressão da burla ao regulamento da instrução no estado do Rio de
Janeiro, porque era um dos estados que adotava menor período. Ponderava ainda, que mesmo
no Rio de Janeiro, regulamentos anteriores previam uma duração maior ao ano letivo.300
Contudo, em Nova Iguaçu, os mapas de frequência, entre 1929-1949, continuaram a
ser preenchidos a partir de março, com vários indícios de algumas semanas até sem aulas,
porque era naquele mês que os professores iniciavam o trabalho de matrículas.301
Controlar a movimentação dos docentes e assegurar a permanência em exercício nas
escolas também guardava relação direta com a “contabilidade” da expansão do ensino. Nos
documentos produzidos para dar a ver as realizações do governo na oferta de escolas, era
comum, além da apresentação do crescimento do número de instituições, aumentar este efeito
pela comparação com o número de classes existentes. Por isto, “Povoar” as escolas implicava
não apenas na matrícula e frequência dos alunos, mas dependia da lotação e da frequência dos
professores, pois a cada um deveria caber uma classe, que era, por sua vez, o critério para
aferição do número de escolas existentes:
Se attendermos a que a cada professor corresponde, normalmente, uma classe, seja
em Grupos, seja em escolas isoladas, quando ocorre o excesso de matricula,
poderemos dizer que o Estado do Rio possuía no ano findo [1926] 1.181 escolas, por
isso que do número acima referido, deduzidos os 64 directores de Grupo, que não
teem classe a seu cargo, os demais professores são regentes de classes. Aliás, seja a
escola de dois turnos, com a cathedratica e uma adjunta, seja de um só turno,
funccionando com dois professores em salas diversas, somente não será considera
duas escolas no sentido estricto, porque o predio é comum, porém, no sentido amplo
corresponde a duas unidades escolares.302
300
Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director
da Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1928. Niterói,
Officinas Graphicas da Escola Profissional, 1928, pág.22. 301
Fundo Departamento de Educação, 02699 (03/1939); 02710 (03/1947); 02659 (03/1947), APERJ. 302
Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do Interior e
Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal
do Comércio, 1927, pág.252.
140
No relatório do ano seguinte o diretor da Instrução fazia o mesmo exercício para
contabilizar o número de escolas a partir da existência de 738 “escolas de letras elementares”,
sendo 60 grupos escolares, 614 escolas isoladas, 64 subvencionadas.
Esses 738 estabelecimentos de ensino primario [...] respondem sobejamente a 1.289
escolas, porque consoante o modo de apurar-se em outros Estados, eram 1.289 as
classes de nossas escolas publicas em o anno de 1927. Para elucidação dos que não
são technicos explica-se que cada classe tem um professor podendo funccionar uma
ou mais classe no mesmo instituto, como ocorre nos Grupos Escolares: só existe de
commum, além do prédio, o mobiliário.303
Nesse mesmo relatório, retomava-se o recurso da comparação com o número de
classes entre alguns estados para demonstrar a relevância do ensino público no estado do Rio
de Janeiro, que ocupava o 5º lugar no “ranking”: São Paulo: 6.601 classes; Minas Gerais:
4.518; Rio Grande do Sul: 2.505; Bahia: 1.347; estado do Rio de Janeiro: 1.181 classes.304
Por
esses argumentos, o diretor da instrução alegava: “Pelo que respeita à estatística, que aprecia
quantitativamente os factos escolares, os elementos colhidos com critério, expurgados de
quaesquer duvidas, são animadores e asseguram o nosso progresso”.305
Interessante notar, como foi visto da análise dos mapas de frequência, que a classe era
utilizada como núcleo de ordenação da seriação do ensino, ainda que, a correspondência
classe-professor-sala de aula, sustentada pelo diretor da instrução, não fosse a regra das
escolas em Iguaçu.
Segundo Rosa Fátima de Souza, o modelo da escola graduada foi a solução
experimentada em vários países europeus e nos Estados Unidos, desde o século XIX, para a
questão da universalização da educação elementar. Os esforços pela racionalização da
“organização pedagógica”, tal como foi compreendida em diversos países, teve como
consenso a adoção da classificação homogênea dos alunos, conferindo novos contornos às
concepções sobre classe escolar e o surgimento da série (SOUZA, 2006, p.38). Contudo, foi
longo e complexo o processo de definição da classe enquanto estrutura organizativa da escola
graduada, porque havia o debate sobre a disposição das classes no espaço, se deveriam ser
fisicamente separadas por salas de aula, se ficariam a cargo de professores ou monitores etc.
(SOUZA, 2006, p.38). No Brasil, a ênfase sobre o modelo da escola graduada foi maior sobre
os métodos e processos de ensino do que, imediatamente, sobre as transformações físicas da
303
Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director da
Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1928. Niterói, Officinas
Graphicas da Escola Profissional, 1928. 304
Ibidem, pág.10. 305
Idem.
141
escola e da correlação entre várias salas de aulas e professores, sob alegação dos custos do
empreendimento (Ibidem, p.50).
Ademais, sob a ótica do diretor da instrução, se o número de classes evidenciava os
esforços promovidos na expansão da escola primária no estado, se normatizações eram
adotadas para estender o tempo de permanência dos alunos na escola e outras providências
eram tomadas contra “deserção da regência”, os mapas de frequência ainda revelam, no
entanto, que crianças eram matriculadas, mas aguardavam em casa a chegada de novas
professoras.
Em maio de 1939, na escola isolada de 2º grau de Caxias, nº 32, a professora
informava no campo de observações do mapa de adjuntos que “Mais de 100 alunos se acham
inscritos à espera de educadores”. Por ocasião da matrícula, em março de 1943, também era
enviado o aviso de que “Estão matriculados mais quarenta e uma crianças. Aguardando em
seus lares o momento de comparecem às aulas. São todas de 1ª série”.306
Na escola isolada de 2º grau nº 33, da rua José Alvarenga, nº 569, em Caxias, no 8º
distrito, mesmo contando com 6 professoras adjuntas, era registrado no campo de observações
do mapa de adjuntos, em julho de 1942, que ”Há um número excedente de alunos para mais
uma professora”.307
Em 1932, na escola mista de 2º Grau de Nilópolis,308
a catedrática efetiva Aimê de
Mello informava, no mês de julho, que “Só frequentaram a escola 100 alunos”. Em abril e
maio de 1933, a mesma professora relatava: “Só frequentam a escola 110 alunos por falta da
professora.” Em maio de 1937, a professora voltava a informar: “Frequentam a escola
somente 42 alunos, os demais não comparecem as aulas por falta de adjuntos”.
Na escola isolada da rua Eloi Teixeira s/n, em Queimados (2º distrito), a professora
alegava em março de 1940: “Achando-se a escola desprovida de adjunta, ha 20 alunos
aguardando matricula”.309
Na escola mista de 1º grau de S. João de Meriti, nº 31, em 1935, a professora
informava: “Acham-se matriculados aguardando nomeação das adjuntas 80 escolares”. Anos
depois, quando a escola estava sob a denominação Escola Isolada da rua da Matriz, n.213, em
de S. João de Meriti, n.º 18, a mesma professora efetiva, Sylvia Rosas Machado, então
306
Fundo Departamento de Educação, 02643, APERJ. 307
Fundo Departamento de Educação, 02689, APERJ. 308
Fundo Departamento de Educação, 02698, APERJ. 309
Fundo Departamento de Educação, 02728, APERJ.
142
acompanhada de mais uma professora na escola, relatava: “aguardam nomeação das adjuntas
82 escolares”.310
Também na localidade de São João de Meriti, em 1942, na escola isolada n.º 17,
situada à rua da Matriz, nº 308, a professora explicava que “Só estão freqüentando as aulas os
alunos da 1ª série visto achar-se vaga a escola e desprovida de professora para o outro turno”.
Neste caso, a outra professora da escola estava licenciada.311
Importa destacar que os exemplos coletados na documentação são de escolas situadas
em regiões populosas do município de Iguaçu. Contudo, a inscrição das demandas por mais
docentes, registradas nos mapas, não significa que apenas estas escolas precisassem de mais
professoras. Algumas professoras eram mais assíduas no preenchimento dos mapas, relatavam
diversas ocorrências. Há sequência de mapas, preenchidos por uma mesma docente, que
descreve diversas atividades ocorridas na escola. Mas essas descrições são abruptamente
interrompidas, ou se tornam mais ocasionais, quando outras docentes são encarregadas do
preenchimento. Assim, o silêncio, a omissão ou excesso de informações adicionais,
características das formas de comunicação e escrita das professoras, pontuam certa
diferenciação entre os mapas, dependendo da autoria.
As condições materiais de funcionamento das escolas em Nova Iguaçu, eventualmente
comentadas nas observações feitas pelas professoras nos mapas de frequência, evidenciam
alguns dos problemas enfrentados na institucionalização das escolas e do regime seriado. Os
usos e a conformação do tempo escolar também concorriam, além das práticas dos docentes e
dos instrumentos normativos dos governos, com o mundo do trabalho e as condições de
acesso e salubridade da própria localidade em que estavam as escolas. A situação das escolas
em Iguaçu permite considerar os descompassos, a paradoxal relação entre a adoção da
seriação a partir da classificação dos alunos em classes, e a inviabilidade dessa
correspondência no espaço físico das escolas.
Naquele período, os debates que existiam sobre a construção de um lugar específico
para as escolas, sobretudo a partir da crítica às escolas existentes em lugares precários, sem
mobiliário etc., não repercutiram em ações eficazes para a transformação dos espaços
existentes. Apenas os estados com condições econômicas mais favoráveis é que levaram a
cabo reformas da organização escolar que integravam a construção de espaços específicos
para a nova escola graduada (SOUZA, 2006, p.60).
310
Fundo Departamento de Educação, 02742, APERJ. 311
Fundo Departamento de Educação, 02743, APERJ. Mapa de 08/1942.
143
Em Minas Gerais, a oposição entre escolas isoladas e Grupos Escolares foi
materializada, ainda, na concepção arquitetônica impressa aos grupos, sendo erguidos nas
áreas centrais da capital, integrando parte do processo de modernização e urbanização dos
projetos republicanos, nos quais a instrução pública ocupava posição relevante. Enquanto as
escolas isoladas eram classificadas como pardieiros, os grupos eram os palácios da instrução:
“Um lugar é sempre definido, ou constituído, em referência a outro lugar, estabelecendo-se
sempre uma relação de lugares identificados singularmente.” (FARIA FILHO, 2000, p.39).
No estado do Rio de Janeiro, no período em foco, ainda que a construção de grupos
escolares estivesse em pauta e ocorressem, mesmo de forma vagarosa, as soluções
empreendidas pela administração estadual, perduraram entre o aluguel de prédios, a parceria
com municípios, particulares, associações, e, somente na década de 1940, haveria maior
esforço pela edificação de prédios escolares.
Entre aluguéis, reparos e construções: composições de escolas
No estado do Rio de Janeiro, a situação dos prédios escolares e do mobiliário escolar
consubstanciava parte das preocupações da administração estadual do ensino e repercutia na
cobertura da imprensa sobre a instrução escolar. As reflexões sobre a destinação e construção
de espaços regidos pelos imperativos do ensino escolar permeavam a organização da
instrução elementar no Brasil desde o século XIX, fosse pela denúncia da inadequação dos
espaços, mobiliário e recursos ausentes ou pela experimentação de novas configurações e
métodos. A definição de parâmetros de higiene e salubridade, a inserção de suportes materiais
para leitura e escrita, a escassez de recursos econômicos e a construção de consensos acerca
da função social e política da educação foram pontuando a produção do espaço escolar como
um espaço com identidade própria (VIDAL; FARIA FILHO, 2005).
Em 1898, das 18 escolas públicas do estado em Iguaçu, apenas a 4ª Escola feminina de
Riachão não funcionava por falta de prédio. Entre as demais, a 10ª escola feminina, situada no
distrito de Pilar, não funcionava, por falta de frequência, e a 2ª escola feminina, no distrito-
sede de Maxambomba, estava vaga de professor. As escolas estavam instaladas em prédios
alugados, por contratos de 3 ou 5 anos, e até alugadas “sem contracto”.312
312
Estado do Rio de Janeiro. Relatório Apresentado ao Dr. Martinho Alvares da Silva Campos,
Secretario do Estado dos Negocios do Interior e Justiça pelo Director da Instrucção Publica Luiz Alves
Monteiro. Rio de Janeiro, Tuyp. Do Jornal do Commercio, de Rodrigues & Comp., 1898. Quadro das
escolas do Estado do Rio de Janeiro em 31 de julho de 1898, compreendendo os professores, predios
onde ellas funccionam e respectivos proprietários.
144
Anotações eventualmente realizadas pelas professoras nos mapas de frequência, ao
serem comparadas no conjunto da documentação, evidenciam as circunstâncias em que as
escolas estavam instaladas em Nova Iguaçu nas décadas de 1930 e 1940.
O atraso no começo das aulas, em 1947, na escola pública, municipal, mista, Dr.
França Carvalho ocorreu porque “o prédio estava em obras”.313
Na escola pública municipal
Dr. Thibau, em março de 1945, com 35 alunos matriculados, “as aulas só foram iniciadas dia
8 por não terem chegado as carteiras”.314
Reparos nos prédios escolares também foram registrados na escola mista pública
primária municipal Paulino de Souza;315
na escola mista publica, primária, municipal
“Monsenhor Pizarro”;316
na escola primária, mista, municipal, “D. Maria de Souza”;317
na
escola isolada da rua Marechal Floriano nº. 472;318
e na escola municipal primária mista
Antônio da Silva Chaves.319
Na Escola Noturna Masculina de 2º Grau, que esteve sediada,
entre 1937 e 1940, na rua Bernardino de Mello nº 329, também “esteve o ensino suspenso, de
9 a 23, por motivo de obras”.320
Em outras ocasiões, a falta de conservação justificava a suspensão das aulas. Uma
fechadura quebrada impediu a Escola Municipal “Guinle” de funcionar por três dias em
1947...321
A “Escola estadual reunida” nº 8 teve as atividades encerradas em agosto de 1947,
exatamente o último mapa do dossiê da escola, sendo assinalado no campo de frequência: “as
aulas foram suspensas devido o mau estado do prédio escolar”. Entre 1938 e 1945, a escola
funcionou no mesmo endereço, e os mapas de frequência cobrem o funcionamento desde
1929, quando era denominada escola feminina de 2º grau de Jeronymo Mesquita nº 10,
tornando-se mista de 2º grau a partir de 1932.322
Na mesma localidade do distrito-sede, em Mesquita, uma enchente “invadiu o prédio
escolar” da escola isolada situada à rua Baronesa nº 52, impedindo o funcionamento das
313
Fundo Departamento de Educação, 02659, APERJ. Mapa de 03/1947. 314
Fundo Departamento de Educação, 02681, APERJ. Mapa de 03/1945. 315
Fundo Departamento de Educação, 02691, APERJ. Mapa de 08/1944: “Não houve aula do dia 09 ao
dia 18 porque a escola esteve em obras” 316
Fundo Departamento de Educação, 02693, APERJ. Mapa de 04/1947: “Nos dias 16, 17 e 18 deixou
de haver aulas, porque o prédio da escola estava em reformas”. 317 Fundo Departamento de Educação, 02693, APERJ. Mapa de 10/1947: “Não funcionou a escola nos dias 8 e 9,
por achar-se o prédio por limpeza e reparo por ordem o Sr. Dr. Prefeito”. 318
Fundo Departamento de Educação, 02710, APERJ. Mapa de 07/1939: “Não houve aula nos 1, 3 e 4
por estar o prédio escolar em concertos”. 319
Fundo Departamento de Educação, 02717, APERJ. Mapa de 04/1947: “Dia 11 estavam pintando a
escola”. 320
Fundo Departamento de Educação, 02708, APERJ. Mapa de 03/1940. 321
Fundo Departamento de Educação, 02666, APERJ. Mapa de 10/1947. 322
Fundo Departamento de Educação, 02674, APERJ.
145
aulas.323
Nesta mesma escola, “por falta de carteiras”, 20 alunos foram matriculados como
excedentes em março de 1944, enquanto só havia assentos para 80 alunos.
As ocorrências citadas acima sucederam em escolas do distrito-sede. Para as demais
escolas do município também há situações relevantes.
Na escola isolada nº 12, situada na rua Eloi Teixeira s/n, em Queimados, um dia de
aula foi suspenso “por ter o Sr. Proprietário mandado concluir os reparos do predio
escolar”.324
Porém, no ano seguinte, em novembro, “As aulas não funcionaram nos dias 12 e
13 porque desabou uma parte do telhado da sala de aula e o proprietário precisou de dois dias
afim de fazer os necessários reparos”.325
Anos depois, a escola estava localizada no mesmo
endereço, quando “As aulas foram suspensas pelo snr. Técnico Escolar devido o
desmoronamento de uma parte do prédio escolar e o restante ameaça perigo”.326
No mês
seguinte, a professora informava “Do dia 1º ao dia 10 as aulas não funcionaram por
desabamento do predio escolar”327
e em maio a escola funcionava em novo endereço, “devido
antigo predio estar em ruínas”.328
A execução de reparos no “predio escolar” também foi assinalada em escolas em Vila
de Cava,329
Cabuçu,330
e Nilópolis.331
Em Nilópolis, na escola municipal mista Francisco
Portella, nos mapas do turno noturno, a professora informava em março de 1946: “A
frequência está reduzida pela falta de iluminação elétrica no prédio; a qual foi ligada no dia 28
do corrente, dia em que foram iniciadas às aulas regulamentares. Nos dias anteriores, só
estavam sendo efetuadas as chamadas”.332
Nota-se que a menção a reparos nos prédios ou suspensão de aula por condições
insuficientes não foram encontradas em escolas subvencionadas ou privadas. Isto não
significa necessariamente que eram escolas melhor providas, porque os mapas destas escolas,
frequentemente, só informam os dados indispensáveis dos mapas, não sendo utilizado o
campo de observações e o de alegação de faltas de professores.
Além da inadequação dos espaços alugados para o funcionamento das escolas, as
autoridades políticas reclamavam constantemente da majoração dos aluguéis. José Duarte,
323
Fundo Departamento de Educação, 02675, APERJ. Mapa de 03/1939. 324
Fundo Departamento de Educação, 02678, APERJ. Mapa de 03/1940. 325
Fundo Departamento de Educação, 02678, APERJ. Mapa de 11/1941. 326
Ibidem. Mapa de 03/1946. 327
Ibidem. Mapa de 04/1946. 328
Ibidem. Mapa de 05/1946. 329
Ibidem. Mapa de 04/1947. 330
Fundo Departamento de Educação, 02683, APERJ. Mapa de 10/1944. 331
Fundo Departamento de Educação, 02698, APERJ. Mapa de 07/1938. 332
Fundo Departamento de Educação, 02662, APERJ. Mapa de 03/1946.
146
diretor da instrução do estado, em 1927, julgava que a solução do problema consistia na
construção, pelo governo, de prédios adequados, ainda que isso significasse um custo
financeiro maior. Desde 1893, estava o governo autorizado a contrair empréstimos para esse
fim, mas poucos avanços tinham ocorrido.333
Ademais, o alto custo dos aluguéis não correspondia à situação das instalações, posto
que “as escolas se acham mal installadas, em salas dificientes, pedagógica e hygienicamente
condemnadas, sem ar e luz que correspondam à frequencia regulamentar, sem installações de
apparelhos sanitarios e muita vez, sem agua encanada”.334
Porém, o diretor compensava o
diagnóstico citando o andamento da construção de grupos escolares no interior do estado e
destacava que o problema das instalações das escolas ainda persistia mesmo em estados como
São Paulo.
A distribuição das escolas estaduais por prédios, no ano de 1927, contabilizava 47
prédios próprios do poder estadual, 40 cedidos gratuitamente, 4 instalações alugadas por
municípios, e 563 “prédios” alugados “a particulares”.335
O presidente do Rio de Janeiro
referendava o diagnóstico de que o problema dos prédios escolares era tão antigo, que, mesmo
com o crescimento do crédito destinado a este fim, não encontrava solução: “as escolas
permanecem mal instaladas porquanto os prédios não satisfazem, em sua quase totalidade, às
exigências da pedagogia e da higiene”. 336
Em 1929, o chefe do governo estadual lamentava a continuidade dos custos com
aluguéis de casas para escolas, “sem que tenhamos conforto, hygiene e condições
pedagógicas”.337
As escolas do governo estavam distribuídas entre 47 prédios próprios do
estado, 113 cedidos gratuitamente; 4 pertencentes ao município e 575 instalações alugadas de
particulares.
O recurso ao aluguel de prédios para a instalação de escolas é revelador das soluções
que foram colocadas em prática na medida em que se expandia a criação de escolas. O
enraizamento da “forma escolar” (VINCENT, G., LAHIRE, B. & THIN, D., 2001) para a
instrução primária era um processo em curso, concomitante à expansão do ensino, submetido
333 Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do Interior e
Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal
do Comércio, 1927. Pág. 258-259. 334
Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do
Interior e Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro,
Tipografia do Jornal do Comércio, 1927, pág. 259. 335
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro no dia 1º de agosto de 1928 pelo Presidente Dr. Manuel de Mattos Duarte Silva. Rio de Janeiro,
1928. Pág. 57. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 336
Idem. 337
Ibidem, pág.76.
147
às especificidades locais. O reconhecimento da condição inadequada dos prédios, a falta da
identificação entre prédio/arquitetura escolar/escola é notada no campo de identificação dos
mapas de frequência, quando são a localidade e a numeração que precisam onde a escola
funcionava.
O aluguel é um aspecto da instabilidade da existência das escolas, que poderiam ser
removidas de prédios, despejadas, transferidas, devido à interferência da lógica imobiliária.
De fato, para a rede de escolas isoladas públicas, os professores e as classes, a condição de
mista, masculina ou feminina, o grau de ensino ofertado e o nome da localidade eram
referências mais sólidas para identificar a existência do ensino ali sediado do que os prédios
nos quais estavam alocadas as escolas. É no curso do processo que a identidade entre escola-
prédio, com atribuições também de denominações singulares (homenagens a pessoas, lugares,
datas etc.), vai indicar a conformação e identificação de um espaço específico que abarca
modos específicos de socialização.
O problema dos prédios escolares atravessou anos sem solução. Em 1935, Ari
Parreiras, interventor do estado, fazia coro ao problema da destinação de espaços para escolas,
considerando complexos “os problemas da localização e installação dos predios escolares”.338
Na mensagem enviada à Assembleia no ano de 1937, a insatisfação com os prédios escolares
era reconhecida pelo interventor Protógenes Guimarães: “A maioria das escolas funcciona em
casas velhas e inadaptaveis, sem as necessarias condições hygienicas e pedagogicas, pelas
quaes paga o Estado, na maioria dos casos, elevado aluguel, com pedidos constantes de
augmentos pelos respectivos proprietários”.339
Em função disto, foi apresentado pelo diretor
de educação, Gastão Gouvêa, um projeto de construção de “pavilhões de linhas simples”, em
colaboração financeira com os municípios.340
A propósito, o novo diretor de educação do
estado, Gastão Gouvêa, visitou escolas em Iguaçu durante o ano de 1937.
Em 1937, o estado era proprietário apenas de 86, dos prédios escolares existentes. Em
oito anos foram construídos mais 66 novos prédios. Em 1940, o secretário de Educação e
Saúde reclamava dos gastos com aluguéis, embora acenasse para outra ordem de problemas,
que eram as dificuldades de encontrar espaços disponíveis para instalar escolas. Em Niterói,
foi sugerida a reunião de escolas e grupos escolares numa mesma região para os casos de
338
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada a Assembléa Constituinte do Estado do Rio de Janeiro pelo
interventor Ary Parreiras. Setembro de 1935. Niterói, Officinas Graphicas do Diario Official, 1935. Pág. 15.
APERJ. 339
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada a Assembléa Legislativa pelo Sr. Governador do Estado,
Almirante Protogenes Pereira Guimarães, na sessão de 1º de agosto de 1937. Niterói, Officinas Graphicas do
Diario Official, 1937. pp.29-30. 340
Ibiem, pág.30.
148
faltas de prédios. Um novo plano de construção de prédios escolares foi adotado, tanto para
grupos, escolas isoladas e escolas típicas rurais em 1941.341
A escola típica rural Santa Rita
foi a única construção do município de Iguaçu inserida neste plano.342
Em 1945, iniciou-se a
construção do edifício do Grupo Escolar Rangel Pestana, em Nova Iguaçu, entre outras
construções previstas pelo governo estadual. A prefeitura de Nova Iguaçu é mencionada entre
as prefeituras que auxiliavam o estado, com a realização de reformas ou reconstrução de
outros prédios escolares.343
Na década de 1940, o empenho dos governos para a construção de prédios escolares
no estado do Rio de Janeiro ganhou impulso. Além das mudanças registradas nos relatórios
dos interventores e atos normativos344
, a repercussão do tema na imprensa pontuava esse
processo. O consenso que se estabelecia sobre a necessidade de uma arquitetura própria ao
funcionamento das atividades escolares e a promoção de condições de saneamento e higiene
adequados, subsistia no horizonte das novas soluções esboçadas, que esbarravam, em última
instância, nas decisões de ordem financeira e política, segundo ponderava o diretor do
Departamento de Educação, Rubens Falcão, entre 1942 e 1945:
O prédio escolar, projetado em conformidade com as exigências da pedagogia
científica, é, sem dúvida, um edifício simples. A preocupação do suntuário é que o
torna, muita vez, oneroso; como se a simplicidade excluísse a idéia de conforto e
bem-estar... O educador, o médico escolar e o arquiteto, como o quer o Sr. Fernando
de Azevedo, devem cooperar como fôrças solidárias na interpretação e solução do
magno assunto.345
A situação dos prédios escolares em Iguaçu e a permanência, no horizonte das
sucessivas administrações estaduais, do problema da instalação das escolas, agregam
subsídios ao exame do perfil de escolas existentes na região.
Longe de ser um processo linear, a casa-escola, característica do séc. XIX, subsistiu
nas escolas isoladas do séc. XX, que coexistiram com o modelo do Grupo Escolar, ícone da
arquitetura – pedagógica e higiênica – adequada ao acolhimento dos sujeitos da educação. No
Estado do Rio Janeiro, assim como em Nova Iguaçu, a escola isolada, instalada em prédios e
salas alugados, foi o principal veículo de disseminação da instrução primária. Contudo, as
341
Estado do Rio de Janeiro. Decreto-lei nº 292 de 23/07/1941. “Abre crédito especial de cinco mil
contos de réis para ocorrer à construção imediata de prédios escolares e execução de outros
melhoramentos no Estado”. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro, 1941, APERJ. 342
FALCÃO, 1946, p.56. 343
Ibidem, p.57. 344
Estado do Rio de Janeiro. Decreto nº 2.967 de 26/11/1946: “Incumbindo as prefeituras a entrarem em
entendimento com o Departamento de Educação no sentido de obter áreas necessárias à construção de prédios
para escolas primárias, com auxílio federal, e dando outras providências”; Lei n.46 de 02/12/1947: “Aprovando
termo do acordo especial com o MEC e o estado para execução do plano de construções destinadas à ampliação
e melhoria do ensino primário no Rio de Janeiro”. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro. 345
FALCÃO, 1946, p.58.
149
escolas “isoladas” em Nova Iguaçu, frequentemente estavam a cargo de mais de um docente,
funcionavam em mais de um turno. A análise da distribuição de alunos por classes, séries, e
turnos, como já foi apresentado, revela casos híbridos, em que, apesar da seriação e classes
registradas, é possível inferir que os alunos de classes e séries diferentes estavam sob a
regência da mesma docente, nos mesmos horários. Enquanto os mapas do Grupo Escolar
Rangel Pestana sustentam uma organização mais fixa da seriação, as escolas isoladas –
municipais, estaduais – eram mais intensamente submetidas às alterações de turno e seriação
promovidas pelas docentes, pela chegada e saída de professoras na escola, em qualquer mês
do ano.
A presença dos inspetores em Nova Iguaçu e o Departamento de Educação
As intenções e iniciativas da administração estadual para conformar o trabalho dos
professores e garantir o cumprimento dos regulamentos do ensino, além de serem apreendidas
nas reflexões presentes nos relatórios da Diretoria de Instrução e dos presidentes do estado,
consubstanciavam os serviços de inspeção. A recorrência das visitas de representantes da
inspeção é comum a todas as escolas do município de Nova Iguaçu em todo o período coberto
pela documentação (1929-1949).
O campo “Autoridades que visitaram as escolas” informava o nome, o cargo e a data
em que o visitante esteve na escola, além do número de alunos encontrados. A comparação
dos dados deste campo entre os conjuntos de notações revela os mesmos sujeitos realizando
as visitas, nos mesmos anos. Nota-se que de uma a duas pessoas estavam encarregadas das
visitas a todas as escolas no município, a cada ano.
Apenas 26 notações do distrito-sede não acusam o recebimento de visitas, das quais
são 11 notações de escolas particulares e/ou subvencionadas, sendo 4 notações de uma mesma
instituição particular. Além da recorrência da ausência de visitas em escolas particulares, fato
que era reconhecido nos relatórios e mensagens dos governadores, a ausência do registro, em
outros casos, não necessariamente assegura que não tenham acontecido a visita. Isto porque
há em comum, entre as notações que não registraram visitas, o caráter bastante lacunar da
documentação existente, havendo escola com apenas um mapa (02753), e outras com mapas
de alguns meses ou intervalos de anos. Duas notações referem-se a seções profissionais do
Grupo Escolar Rangel Pestana, para o qual há registros de visitas nos mapas do curso
primário.
No ano de 1929, encontra-se Joaquim M. Moraes e José Ulysses de Moraes visitando
as escolas. No transcurso dos eventos da chamada “Revolução de 1930”, Ari Parreiras
150
assumiu a interventoria do estado do Rio em meio a um cenário de crise econômica e
decadência. Stanley Gomes foi nomeado secretario do Interior e Justiça, e Celso Kelly foi
designado Diretor da Instrução Pública. Na estrutura administrativa dos serviços de instrução,
encontrava-se a mesma situação da organização do ensino em 1931. A denominação Diretoria
de Instrução Pública é mantida nos mapas nos anos de 1932 e 1933. Em 1931 e 1932, José
Neves Paula de Leite é mencionado no campo de visitas das escolas.
Segundo Paschoal Lemme, que foi inspetor do ensino do estado do Rio de Janeiro,
entre 1933 e 1935, a estrutura da administração era precária, e um dos principais problemas
enfrentados pelo diretor da Instrução, Celso Kelly, foi a deficiência do serviço de inspeção.
Sob a ótica de Paschoal Lemme, os inspetores não atendiam às expectativas, “de acordo com
a nova orientação que Celso Kelly pretendia imprimir aos serviços de Educação do
Estado”.346
A maioria dos inspetores, “tal com era em outros Estados”, era nomeada “mais por
influência política do que por qualquer qualificação que apresentasse para o exercício de
cargo tão importante”.347
Para imprimir novos rumos à administração, os inspetores em
exercício foram afastados dos cargos e um concurso foi providenciado para adoção do novo
quadro.
No pós-1930, foi iniciada a reestruturação do aparelho governamental em diversas
esferas da administração pública, buscando impor uma centralização e racionalização
administrativa que canalizasse a direção política para as instâncias decisórias do governo
federal (DINIZ, 1997), de modo a combater as práticas políticas clientelistas das oligarquias
dominantes durante a Primeira República. É notório como esse processo foi intenso na esfera
educacional, apoiado por diversos setores que defendiam a intervenção da ação pública na
institucionalização da instrução no país. A perspectiva de reforma das agências do governo,
sob os auspícios da racionalização do trabalho e da administração técnica, de forte influência
norte-americana, repercutiu em mudanças no aparelho burocrático do estado.
Paschoal Lemme situava os inspetores como “peça fundamental da administração do
ensino, pois é o elo que liga a administração central a cada parte do sistema escolar,
transmitindo a orientação assentada, estimulando o professorado, que deve executá-la, em
vista do desenvolvimento do ensino”.348
Como foi demonstrado, as sucessivas administrações do ensino almejaram assegurar a
eficácia do serviço de inspeção. Em 1932, o curso-concurso dirigido por Lourenço Filho,
346
LEMME, 1988, vol. 2, p.176. 347
Idem. 348
Ibidem, p.177.
151
“constava das teorias modernas da aprendizagem e da orientação e da prática do ensino dentro
dos princípios da chamada ‘escola nova’”.349
Os candidatos, cerca de 600 inscritos, receberam
aulas no Liceu e na Escola Normal de Niterói sobre “princípios gerais da administração”;
“medidas educacionais” (sobre verificação dos resultados de aprendizagem, do rendimento do
ensino, testes de inteligência e elaboração de provas); higiene escolar (sobre construção e
instalação dos edifícios). Além das provas, os candidatos, ao fim do curso, redigiriam um
trabalho sobre os problemas da inspeção escolar.350
Os candidatos ao cargo de inspetor frequentaram o curso de especialização, durante
três meses, no transcurso do qual prestaram as provas de seleção. O primeiro colocado ocupou
a vaga de inspetor geral de ensino; as três colocações seguintes serviram aos cargos de
inspeção do ensino secundário e normal e as dez colocações restantes foram destinadas a
inspetores do ensino primário e profissional.351
Paschoal Lemme foi o último colocado. Foi designado inspetor do ensino primário
apenas em 1933, porque os antigos inspetores afastados tentaram impugnar o concurso. Em
função de sua colocação, começou o exercício nos três municípios mais afastados da capital
fluminense: Itaperuna, Pádua e Cambuci.352
Em Nova Iguaçu, o candidato aprovado, Milton Fontenelle, inspecionou as escolas em
1933. Em 1933, Venina Corrêa353
é mencionada nos mapas como “auxiliar do ensino” e
“auxiliar de inspeção”. Segundo Paschoal Lemme, os auxiliares da inspeção eram escolhidos
entre os diretores de grupos escolares, e foram encarregados das visitas às escolas, para que os
inspetores pudessem investir nos cursos de aperfeiçoamento dos professores.
Jarbas de Azevedo Cordeiro, “inspetor”, “diretor da instrução”,354
visitou
frequentemente escolas municipais no ano de 1935, e, nas páginas do Correio da Lavoura
figurava como Diretor da Instrução Municipal.
349
LEMME, 1988, vol. 2, p.177. 350
Ibidem, p.178. 351
Ibidem, p.177. 352
Ibidem, p.180. 353
Venina Corrêa Torres era a diretora do Grupo Escolar de Nova Iguaçu, criado em 1931. Lecionou na
escola noturna feminina de 2º Grau entre 1929 e 1935 e na escola mista de 2º grau nº6, em 1929. Seu
nome consta até 1945 como diretora do Grupo Escolar. Pelas páginas do Correio da Lavoura, esta
professora, diplomada pela Escola Normal de Niterói, lecionava em 1920 na 14ª escola pública de
Paracambi, (PARACAMBY. Correio da Lavoura, 29 /07/1920 – Ano IV, n.176). Notas biográficas
informam que era nascida em 1891, (RECORDAÇÕES DA PROFESSORA VENINA CORRÊA
TORRES. Luiz Martins de Azeredo, Correio da Lavoura, 30/08/1997, pág 3), filha da professora Elvira
de Carvalho (nascida em 1869) com Zeferino José Corrêa, fazendeiro. E neta do professor José
Gregório de Carvalho (nascido em 1837). (Disponível em
http://www.origem.biz/ver_cadastro1.asp?id=4414). 354
Fundo Departamento de Educação, 02681, 02684, APERJ.
152
A passagem de Paschoal Lemme pelas escolas de Nova Iguaçu não é citada em suas
memórias de inspetor do ensino. Suas visitas estão registradas em mapas do ano de 1935,
sempre acompanhado da professora Venina Corrêa. No distrito-sede, foram seis escolas
visitadas355
e outras 14 escolas mistas de 1º e de 2º grau nas localidades de Caxias, São João
de Meriti e Nilópolis, áreas mais próximas ao Distrito Federal.356
Contudo, suas impressões
do serviço realizado em outras regiões informam sobre parte do cotidiano desses inspetores
naqueles anos.
A principal atividade dos inspetores era visitar mensalmente as escolas; um termo de
visita informava as condições do estabelecimento, matrícula, frequência, providências
adotadas e ocorrência de irregularidades. O caráter burocrático e rotineiro destas visitas não
ecoava na “melhoria das condições de ensino” que, segundo Paschoal Lemme, era o principal
objetivo da inspeção, na administração de Celso Kelly. Dessa avaliação, discutida nas
reuniões da inspetoria, foi traçado um novo plano de ação para a inspeção. O
“aperfeiçoamento cultural e profissional do professor” passou a pontuar as atividades de
inspeção com a criação de cursos para os professores, colocando as visitas rotineiras em
segundo plano.357
Os cursos, que contavam com aulas dos inspetores, eram realizados em locais que
pudessem reunir o maior número de docentes, sem prejuízo do exercício das aulas.358
O
desenvolvimento desse trabalho também contou com a realização de palestras e conferências.
Paschoal Lemme acumulava as funções de inspetor do ensino com suas atividades de
colaborador na administração de Anísio Teixeira no Distrito Federal.359
Tanto Paschoal Lemme, quanto Jayme Abreu, intelectuais participantes dos ventos
reformistas na educação naquelas décadas, destacavam a perspectiva modernizante da
administração de Celso Kelly. O Plano de Educação de 1932 é situado por Jayme Abreu
(1955) entre as principais propostas dessa administração, posto que preconizava o aumento da
escolaridade mínima nas escolas elementares e pretendia atrelar a educação elementar à
iniciação ao trabalho. Contudo, não houve continuidade com a saída de Celso Kelly da
direção da instrução pública fluminense.
Pelo Plano Estadual de Educação, a educação elementar passou a ser ministrada em
cinco anos nas escolas elementares, podendo existir escolas elementares com até o 3º ano. Em
355
Fundo Departamento de Educação, 02673, 02674, 02710, 02711, 02714, 02715, APERJ. 356
Fundo Departamento de Educação, 02643, 02688, 02689, 02698, 02699, 02700, 02740, 02741,
02742, 02743, 02745, 02755, 02757, 02758, APERJ. 357
LEMME, 1988, vol. 2, p.181. 358
Idem. 359
ibidem, p.182.
153
1933 a própria Diretoria da Instrução Pública sofria reforma em sua organização, sendo
adotada a denominação de Departamento de Educação e Iniciação do Trabalho360
que é a
titulação dos mapas de frequência dos anos de 1935 e 1937.
Ao novo Departamento competia a supervisão do ensino primário, secundário,
profissional e normal e estava constituído pelo Gabinete do Diretor e a Inspetoria Geral do
Ensino e Administração. A inspetoria do ensino possuía uma “seção de organização do
trabalho” com serviços de iniciação da pesca, iniciação agrícola, iniciação industrial e
iniciação comercial (ABREU, 1955, p.112).
Os auxiliares de inspeção realizavam as tarefas de visitar as escolas, atestar o exercício
do magistério, autorizar os atos de nomeação e dispensa dos substitutos, licenças até oito dias,
justificativas de faltas; atestavam o uso dos prédios alugados; faziam o controle da estatística,
assinavam certificados de habilitação dos alunos e organizavam os exames. Ficou a cargo dos
inspetores do ensino primário e profissional a coordenação dos trabalhos nas regiões
escolares, sobretudo exercendo atividades de direcionamento pedagógico, promoção de
reuniões, palestras e cursos (Ibidem, p.113).
Paschoal Lemme relembrava com prazer a “árdua” tarefa da inspeção, já que os
inspetores tinham de se submeter a longas viagens, em trens não muito confortáveis, para
chegar a regiões distantes, onde eram recebidos pelas “professorinhas rurais”. Sob seu ponto
de vista, aquelas eram “verdadeiras heroínas, perdidas naqueles locais de difícil acesso,
trabalhando nas condições as mais precárias, sem a assistência de ninguém, e freqüentemente
sendo vítimas de perseguições e até de violência por parte dos poderosos”.361
A falta de
estrutura nessas “escolinhas”, a situação de pobreza e de doença nas crianças, os problemas
criados pela “politicagem local” dificultavam o trabalho das docentes. Ao citar situações com
as quais se deparou, Paschoal Lemme testemunhava um cenário desolador, no qual se via
impedido de agir em algumas ocasiões.
Em contrapartida, a situação “era sempre melhor” nas sedes dos municípios e nos
principais centros urbanos, onde, em geral, havia um grupo escolar, dotado de melhores
condições de materiais e de pessoal qualificado, o que possibilitava a ação dos inspetores em
orientar o “emprego de métodos mais modernos de administração e ensino”.362
O contato com
os prefeitos consistia na primeira ação dos inspetores na chegada aos municípios, porque estes
360
Decreto n.2.923 de 26/06/1933. “Reforma a organização dos serviços afetos à antiga Diretoria da
Instrução Pública; substitui essa denominação pela de Departamento de Educação e Iniciação do
Trabalho”. O regulamento é aprovado pelo Decreto n.º 2.929 de 05 de julho. “Indicador de Legislação e
Administração”. Ano de 1933. Biblioteca da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. 361
LEMME, 1988, vol. 2, p.183. 362
Ibidem, p.185.
154
forneciam informações das escolas e auxiliavam na locomoção dos inspetores. Os sacerdotes
também eram fontes de informação sobre as professoras, as escolas e a relação com a
comunidade local.363
Os grupos escolares também serviam de sede para a realização de cursos de
aperfeiçoamento. Essa avaliação feita por Paschoal Lemme, da situação “sempre melhor” nas
cidades e a valorização do Grupo Escolar, deve considerar que o seu julgamento estava
ancorado em suas expectativas e em sua própria militância pelos métodos de renovação do
ensino.
Em 1934, Paschoal Lemme foi transferido para Campos e São João da Barra. Como
também se observa no exame dos mapas de frequência de Nova Iguaçu, Paschoal Lemme
ressaltava a existência de escolas, mesmo nas zonas urbanas, instaladas em pequenas salas,
nas quais uma professora lecionava para alunos de diferentes séries, reunidos numa mesma
classe. O espaço da escola continuava a ser compartilhado com o espaço da casa, assim como
o tempo escolar e do ofício docente eram divididos com o tempo do lar e da família:
Frequentemente, quando visitávamos tais escolinhas, encontrávamos as respectivas
professoras atarefadas em atender, ao mesmo tempo, aos alunos, aos filhos menores,
até recém-nascidos, e aos afazeres domésticos. Muitas vezes, tinha que abandonar às
pressas uma aula para correr à cozinha, onde um cheiro intenso indicava que o feijão
estava queimando na panela...364
Como acontecia em Nova Iguaçu, na cidade de Campos havia escolas abertas numa
mesma rua. Em Campos, Paschoal Lemme procurou adotar nova organização do ensino, pela
reunião destas escolas isoladas em grupos escolares. Interessante notar que, pelo que ele
informa, isso dependia ainda do convencimento das professoras, porque, com a mudança,
perderiam o auxílio das locações onde moravam e lecionavam.... As professoras mais idosas,
e também mais antigas no magistério, alegavam dificuldades de locomoção aos novos prédios
escolares. Para superar essas resistências, foi elaborado um decreto estadual que concedia
aposentadoria especial às professoras atendidas por essas medidas.365
Porém, com a abertura de novo regime constitucional, em 1934, e a reabertura das
assembleias estaduais, houve rearticulação dos antigos grupos locais, que não se coadunavam
com o governo de Ari Parreiras. Os antigos inspetores, afastados com o golpe civil-militar de
1930, alcançaram o apoio do novo interventor, o Almirante Protógenes Guimarães, e
conseguiram o afastamento dos inspetores aprovados por concurso, pela acusação de que não
363
LEMME, 1988, vol. 2, p.185. 364
Ibidem, p.191. 365
Ibidem, p.192.
155
eram realizadas as visitas escolares. Com a saída de Ari Parreiras, Celso Kelly e Stanley
Gomes também deixaram a administração do ensino.366
Em meio a tais disputas políticas, os inspetores concursados lançaram, em abril de
1934, um manifesto com os títulos: “A Reconstrução Educacional no Estado do Rio de
Janeiro” e “Os inspetores de Ensino do Estado do Rio de Janeiro ao Magistério e à Sociedade
Fluminense”. Nesse documento, os inspetores desmentiram as acusações que estavam
enfrentando e explicitaram o plano de ações idealizado na Diretoria de Instrução, inspirado
nas conclusões da V Conferência Nacional de Educação, realizada em Niterói.367
Essas disputas sobre quais critérios adotar para a seleção do pessoal da inspeção são
expressivas das tensões e correlações de forças desiguais, entre distintos grupos, que
buscavam inscrever, dentro das agências de governo, suas visões de mundo e seus projetos de
condução do governo. Informam, também, sobre a profissionalização deste serviço.
Em função das mudanças geradas por estes conflitos, outros atos normativos foram
expedidos para regular o serviço de inspeção e de elaboração de estatísticas escolares em
1936.368
Na mensagem daquele ano, o novo interventor Protógenes Guimarães comentava as
mudanças no serviço de inspeção escolar, “Foram aproveitados para inspectores regionais
antigos inspectores, sendo designados, tambem interinamente, para esse serviço, alguns
professores durante o impedimento dos inspectores actualmente afastados”.369
Na remarcação
das circunscrições escolares realizada pela nova reforma, o município de Iguaçu passou a ser
a sede de uma das circunscrições.
A partir desta regulamentação desapareceram os auxiliares de inspeção, existentes
entre 1933-1936 e as inspetorias escolares passaram de 10 a 18 regiões e inspetores. Os
inspetores foram requisitados entre os professores primários, alguns diretores ou antigos
auxiliares de inspeção. Segundo Jayme Abreu essa nova regulamentação sacrificou a
orientação pedagógica, porque se adotava o critério do inspetor residir na sede da região, para
assegurar a assiduidade das visitas nos estabelecimentos estaduais, municipais, particulares e
366
LEMME, 1988, vol. 2, p.197. 367
Ibidem, p.198. 368
Atos do Departamento de Educação. De 06/03/1936 pub. D.O.E de 18. – “Organiza para o efeito da
fiscalização e inspeção do ensino as circunscrições escolares e designa os respectivos inspetores”. Portaria do
Departamento de Educação de 13/03/1936 pub. D.O.E de 15. – “Baixa instruções gerais de serviço aos
inspetores regionais do ensino e do professor em geral”. Circular do Departamento de Educação n.2, de
24/03/1936 pub. D.O.E de 24. – “Expede instruções aos inspetores acerca da concessão de licença, justificação
de faltas dos professores e, bem assim sobre nomeação de professor substituto”. Fonte: Estado do Rio de Janeiro.
Indicador de Legislação e Administração, 1936. Biblioteca da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro. 369
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada a Assembléa Legislativa pelo Sr. Governador do Estado,
Almirante Protogenes Pereira Guimarães, na sessão inaugural de 1º de agosto de 1936. Niterói, Officinas
Graphicas do Diario Official, 1936. Pág.17. APERJ.
156
subvencionados. Cabia também a fiscalização das escolas normais equiparadas. Entre 1936 e
1940, os inspetores de ensino eram nomeados em comissão dentre professoras normalistas
com três anos de magistério público ou particular; ou, não sendo diplomada, com mais de
cinco anos de exercício (ABREU, 1955, p.114). Entre 1937 e 1949, o técnico de educação
Mário José Chaves Campos foi presença frequente nas escolas de Nova Iguaçu, auxiliado por
Ayxa Faria Soares,370
de 1944 a 1949.
Em 1937, o interventor no estado do Rio de Janeiro transcrevia os elogios recebidos
do ministro da educação, Gustavo Capanema, aos serviços de estatística sobre ensino primário
no ano de 1935. 371
Era um recurso de divulgar e buscar a legitimação aos rumos impressos à
administração estadual.
A análise da presença da ação das agências do governo estadual na conformação de
um aparato para institucionalização da instrução primária evidenciou a posição dos serviços
de inspeção e estatística como ferramentas centrais para fazer chegar a normatização pública
às diversas localidades do estado. A sucessão de governos não fez cessar as iniciativas para
aperfeiçoar, equipar, definir e expandir esse aparato burocrático. Contudo, divergências entre
concepções e demandas impostas pelo próprio desenvolvimento do serviço foram pontuando
redefinições, avanços e recuos na configuração desta ferramenta. Ademais, cabe considerar as
disputas que se anunciavam na vida política nacional e na configuração das relações entre as
esferas de poder e as agências de estado, no período. O compromisso em dotar a ação política
e cultural de uma roupagem “técnica”, “científica”, “moderna”, “isenta”, esteve cada vez mais
presente nos discursos dos dirigentes políticos pós-1930:
Problema fundamental nas sociedades modernas, o ensino publico, em nosso meio,
ha de ser encarado no conjunto de sua orientação technica, de suas possibilidades
didacticas e, sobretudo, de sua organização. Impõe-se, sob este aspecto, abolir o
sentido livresco e acentuadamente romântico da educação intellectual, afim de
integrar as modernas directrizes do ensino no panorama das nossas realidades
Moraes e das necessidades objectivas da vida fluminense. Essa ha sido a orientação
firmada pelo actual Governo, no propósito só, não de subtrahir tão importante
serviço às inflencias perniciosas do partidarismo absorvente, como no elevado
objectivo de dar ao problema educacional um sentido pratico, efficiente e
consentâaneo com as possibilidades precarissimas do Thesouro.372
370
Ayxha Faria Soares foi professora da escola municipal n.º1 Dr. Thibau nos anos de 1933 e 1935.
Fundo Departamento de Educação, 02681, APERJ. 371
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada a Assembléa Legislativa pelo Sr. Governador do
Estado, Almirante Protogenes Pereira Guimarães, na sessão de 1º de agosto de 1937. Niterói, Officinas
Graphicas do Diario Official, 1937, pág.30. 372
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada a Assembléa Legislativa pelo Sr. Governador do
Estado, Almirante Protogenes Pereira Guimarães, na sessão inaugural de 1º de agosto de 1936. Niterói,
Officinas Graphicas do Diario Official, 1936, pág.16-17.
157
Pelo Decreto nº 527 de 6/09/1938373
os Departamentos de Educação e de Saúde
Pública foram desligados da Secretaria do Interior e Justiça e passaram a ser subordinados
diretamente ao chefe do governo. As atribuições pertinentes, anteriormente exercidas pelo
secretário do Interior e Justiça, tornaram-se responsabilidade do secretário do governo.
Conforme os considerandos do decreto, a mudança justificava-se pela ampliação dos deveres
do poder público para com a educação e saúde, em virtude da Constituição de 1937, e pela
constatação da necessidade de descongestionar os serviços da Secretaria do Interior e Justiça.
Ainda que fosse patente a necessidade de criação de uma Secretaria específica para estas
atividades, a medida foi adiada por controle orçamentário, daí a solução “intermediaria”
encontrada, mas com intenções futuras de ampliação e reforma dos departamentos de
Educação e de Saúde Pública.
Meses depois era criada a Secretaria da Educação e Saúde Pública,374
como “medida
que imperiosamente hoje se impõe para a realização dos altos postulados do Estado Novo” e
para que funcione “como verdadeiro órgão especializado de impulsão e orientação”. A criação
da agência era justificada como uma necessidade administrativa, pois os problemas da
educação e saúde eram situados como “os de maior relevância da administração pública”.
Em 1939, o Departamento de Educação integrava a estrutura da Secretaria de
Educação e Saúde.375
Ao Departamento de Educação competia: “orientar e fiscalizar as
atividades referentes à educação, bem como zelar pela fiel execução e eficiência da ação
educacional da Secretaria”. Após instalada a Divisão de Pesquisas Educacionais, deveria ser
desmembrada do Departamento de Educação a seção de Estatística Educacional, passando a
ser atribuição da Divisão de Pesquisas Educacionais “a elaboração das estatísticas
educacionais e trabalhos conexos, de acordo com o Convênio firmado com o Governo
Federal, bem como os serviços técnicos e representações que lhe forem peculiares.” Pela
legislação posterior, a Divisão de Pesquisas educacionais foi mantida no Departamento de
Educação.
É possível notar as constantes tentativas de conformação das atividades dos inspetores,
os mecanismos para tentar controlar a gerência sobre o funcionamento de uma rede de escolas
em expansão. Nesse sentido, as recorrentes reformas no aparelho burocrático revelam
concomitantemente o esforço em produzir mecanismos de controle do funcionamento das
escolas e, contraditoriamente, o insucesso das tentativas. Ao recuperar o percurso de
373
Arquivo Público do Estado do Rio de janeiro. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro. 374
Pelo Decreto nº 605, de 9/11/1938. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro. 375
Estado do Rio de Janeiro. Decreto nº 806 de 30/06/1939 – Dando nova organização à Secretaria de
Educação e Saúde [sic] e dando outras providências. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro.
158
funcionamento do Departamento de Educação, mais importante do que recompor o percurso
administrativo, é analisar as formas como o desenvolvimento dos processos de escolarização
também incidem sobre os modos de organização do aparelho burocrático, conformando,
também, a estrutura estatal e delineando o próprio Estado.
O exame das visitas dos inspetores nas escolas do distrito-sede evidencia o hábito de
uma a duas visitas por ano a cada escola. Nos primeiros anos da década de 1930, uma visita
por ano é o mais habitual. Depois de 1939, na maioria das escolas, houve maior incidência de
visitas ao longo de cada ano. Pelo cruzamento das informações entre os mapas, é notável a
rotina do trabalho de visitas, porque os inspetores percorriam diversas escolas. Venina Corrêa,
por exemplo, é mencionada visitando diversas escolas de julho a novembro de 1933, depois
de março a outubro de 1935, o que revela a circulação e a presença destes sujeitos pelas
escolas da região.
Outra autoridade recorrente em visitas a escolas em Nova Iguaçu foram os prefeitos da
cidade. No período coberto pelos mapas, visitas do prefeito Sebastião de Arruda Negreiros
são registradas no distrito-sede a 10 escolas, sendo um jardim de infância e as demais escolas
municipais. Nas demais regiões do município, há registro de visitas em 14 escolas municipais
e uma Escola Típica Rural. As visitas, no primeiro mandato, se concentram no ano de 1933,
que foi o ano do centenário do município, outras visitas aconteceram em 1935, e depois, já no
segundo mandato, as visitas ocorreram principalmente nos anos de 1948 e 1949.
Tendo em perspectiva a lógica da existência desses mapas, e sabendo que não há
mapas sobre todas as escolas do município, cabe considerar que o registro recorrente das
visitas nesse corpus documental possa sinalizar que eram essas as escolas que conseguiram
manter maior comunicação com a administração estadual e, sob maior vigilância, tenham sido
mais constrangidas a cumprir a obrigatoriedade do preenchimento dos mapas. Mas, pelos
mapas, percebe-se ainda que a comunicação entre inspetores e professores não ocorria apenas
por ocasião das visitas. Em algumas ocasiões, as professoras se referem a informes,
comunicados, tanto recebidos quanto enviados, entre a escola e o inspetor.
Como foi apresentado neste capítulo, a construção de agências estaduais da
administração do ensino foi uma mediação importante na disseminação da instrução escolar
primária nos primeiros tempos republicanos. A construção de um aparato normativo não
antecede, mas sim integra, compõe e constitui a escolarização da sociedade. Os serviços de
inspeção, enquanto procuravam fiscalizar, contabilizar e mapear a distribuição de escolas,
alunos, professores, conteúdos e métodos, viabilizavam a participação da ação pública no
159
desenvolvimento dos processos de escolarização. No mesmo movimento, a mobilização, o
aperfeiçoamento, o acúmulo de experiências dentro do aparelho estatal vai ampliando e
definindo as esferas de atuação do estado, colaborando para a própria afirmação do Estado
Republicano. Construção do governo e escolarização foram escalas congruentes.
A estruturação e reestruturação da administração escolar no âmbito dos estados foi
uma das principais tarefas executadas nos anos de 1920, em paralelo à tarefa imposta de
combate ao analfabetismo, que significou, além das campanhas, a criação de um consenso
pela difusão da escola primária: “Pode-se mesmo dizer que a montagem de um aparelho
administrativo e técnico foi realizada com o propósito de criar as condições necessárias para a
perfeita execução desta tarefa: distribuir a escola primária para a massa da população em
idade escolar” (NAGLE, 1974, p.207).
Contudo, restituir a ação do estado para homogeneizar, normalizar e conduzir a
institucionalização da escola primária reflete também a heterogeneidade, as burlas, os
impasses, os recuos, as negociações e conflitos em curso.
As experiências de escolarização primária em Nova Iguaçu, ainda que tenham sido
trazidas em seus aspectos de organização e tipos de escolas, permitem problematizar a
pretensão normalizadora das agências de governo, e revelam a diversidade de modos de
escola, de lotação de professores e alunos, do uso de prédios. Experiências híbridas. Denotam,
também, a função alfabetizadora da escola primária, naquele município, de comportar
frequentemente mais alunos na primeira série do ensino. Atestam a especificidade da escola
isolada como modo predominante de expansão da escola primária no estado do Rio de
Janeiro.
Se os mapas de frequência foram ferramentas para controlar a institucionalização
destas escolas, o exame denso e comparado, mês a mês, ano a ano, das informações prestadas,
ainda que previamente selecionadas pelos campos a preencher, também revelam espectros
nada lineares ou controlados desses modos de escola primária. Enquanto documentos de
preenchimento obrigatório, para controle dos docentes, os mapas de frequência também
retornaram situações, explicações e demandas desses sujeitos, espelharam a insuficiência da
ação estatal em atender a contento a todas as demandas. Os limites do trabalho de inspeção,
desde o aspecto lacunar da documentação até a heterogeneidade que comporta, as sucessivas
tentativas de tornar eficiente a administração, os regulamentos para controlar inspetores,
professores, alunos, saberes, tempos, os recursos para convencer sobre a expansão do ensino,
sinalizam o dinamismo de um processo em curso.
160
Neste exercício de pesquisa, tendo como posição de análise o distrito-sede de Nova
Iguaçu, a administração estadual aparece como sujeito importante da institucionalização da
escola primária, tendo sido necessário ampliar a escala de observação para além do município
e recuperar as competências das agências estaduais na organização do ensino. O movimento
ruralista parece, a princípio, não ter sido tão atuante na conformação da maioria desse tipo de
escolas regulares, com exceção de duas notações sobre “escolas típicas rurais”. Porém, as
escalas do rural e do urbano também estavam inscritas em diversos regulamentos, como
parâmetros de distribuição dos tipos de escola e da seriação do ensino ofertada. A bibliografia
pertinente também ressalta os temas da regionalização do ensino e da ruralização do ensino
como presentes nos debates sobre a escolarização do período.
Assim, no capítulo seguinte, por outra escala de observação dos processos de
escolarização, através dos projetos locais, e - sob os vértices das noções de “rural” e “urbano”
– examina-se as funções sociais e as posições que a escolarização assumiu na construção de
Nova Iguaçu. Busca-se tencionar os projetos ruralistas, em Iguaçu, com a ação municipal e o
perfil de escolas delineado neste segundo capítulo. Ao fazer-se estado fazendo escolas, os
temas da formação escolar da sociedade, da escolarização de comportamentos, do trabalho e
do corpo, tangenciam a construção da almejada “modernidade” para Nova Iguaçu, confluindo
e confrontando projetos diversos para a ordenação social da população e para os usos do
território.
161
Capítulo 3
Entre a lavoura e as letras
A construção de Nova Iguaçu, a partir da citricultura, resulta, em parte, das
experiências de diversificação do cultivo e do apoio técnico oferecido pelo Ministério da
Agricultura, no bojo do projeto ruralista fluminense, que foi abraçado por grupos da sociedade
iguaçuana e por sujeitos que, atraídos pela citricultura, enriqueceram na cidade e engrossaram
o coro da defesa da lavoura ou que para lá afluíram em busca de trabalho e sobrevivência.
No cenário estadual, houve um investimento na ressignificação da memória histórica
acerca da importância do estado do Rio de Janeiro no panorama nacional, em função da
posição de menor evidência durante a Primeira República. Percebe-se uma forte ação política
e cultural, com apoio dos governantes, que buscou construir uma visão de passado glorioso da
antiga província, a ser recuperado, naquele presente, pelo investimento em sua vocação
agropastoril e pela habilitação da população para essa tarefa, pela escolarização. Os
sucessivos governos fluminenses investiram na criação de agências e normas que regulassem
a oferta do ensino primário no estado.
Contudo, a repercussão do projeto ruralista não resultou em homogeneidade nos
modos como foi institucionalizada a educação primária no estado. Apesar da presença do
ruralismo fluminense, durante a Primeira República e até fins do Estado Novo, especialmente
no distrito-sede de Nova Iguaçu, a escala de observação sobre os processos de escolarização
primária, como foi estruturada no capítulo anterior, não revelou um formato ruralista de
escolas, quanto aos objetivos, modos de funcionamento e práticas empreendidas. Ainda
assim, a importância e a especificidade da educação rural estavam inscritas nos debates dos
presidentes de província, dos diretores de instrução, e no âmbito público, efervescente durante
a Primeira República, sobre as relações entre escolarização, cidade e campo.
Sob a análise de Jorge Nagle o fenômeno do ruralismo:
penetrou nos modos de pensamento sobre a escolarização, embora a penetração não
tenha sido tão intensa nos padrões de funcionamento da escola brasileira; [...] o
processo da ruralização do ensino apresentava um ideário que apenas parcialmente
influenciou a legislação escolar e as práticas escolares (1997, p. 233).
A partir da propaganda do país essencialmente agrícola, “o passo foi pequeno para
chegar à pregação de que a escola deve constituir um instrumento de fixação do homem no
campo” (NAGLE, 1997, p.273). Este autor identifica a “ruralização do ensino” como um tema
“que se inicia na década dos anos 20” (Idem), nas reformas estaduais da instrução primária e
nas escolas normais.
162
Mas é pertinente deslocar essa periodização, tendo em perspectiva as ações do
Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio (1910) e da SNA (1897) em propaganda,
práticas e experiências em instrução agrícola, como os patronatos e aprendizados. O
enquadramento da análise na ação das reformas estaduais é que constrói a impressão de ser
um tema novo a partir dos anos de 1920.
Do mesmo modo, nesta pesquisa, deve-se considerar que a escolha metodológica de
lançar holofotes sobre a ação do governo estadual sobre a institucionalização da escola (ainda
que essa “escolha” tenha sido orientada pelo conjunto documental constituído) pode ofuscar
outras formas de inserção do ruralismo. Outro exercício de pesquisa, a partir das ações do
Ministério da Agricultura em escolas do estado, da ação da Sociedade Nacional de
Agricultura, poderia resultar em outros enquadramentos, ampliar o foco.
Ademais, não foram apenas os proprietários rurais os investidores de atividades
agropastoris que prescreveram projetos de dominação sobre as populações localizadas nos
campos. A partir das cidades, as demandas trazidas pelo fenômeno da urbanização pontuavam
os debates e relações estabelecidas entre o rural e o urbano, as migrações e os usos destes
territórios.
A visibilidade das políticas para a educação rural como resultado de embates e
disputas entre projetos distintos não pode prescindir de analisar “os problemas estruturais que
perpassam a relação cidade-campo”. Desta forma, é preciso atentar para as “múltiplas
determinações das políticas voltadas para o ensino rural já que, muitas delas, não
responderam, mecanicamente, como o supõe a historiografia estabelecida, a interesses
imediatos de grupos dominantes agrários” (MENDONÇA, 2006, p.140).
Entre as décadas de 1920 e 1930 os debates sobre a educação rural oscilaram entre o
tema da alfabetização e da função da escola rural para formação do trabalhador (Ibidem,
p.137). Sob essa perspectiva, as proposições de “ruralização do ensino” e “escola regional” ou
“regionalização do ensino” presentes na historiografia, sinalizam modos diversos de
apropriação das relações de escolarização entre o campo, o rural, e suas populações (Cf.
NAGLE, 1974; 9997; CARVALHO, 1998). Jorge Nagle observa, para a década de 1920,
maior acentuação das propostas sobre a “regionalização do ensino” enquanto esta era
entendida como “diversificação da escola de acordo com as características regionais”; (1974,
p.234). O autor situa a “ruralização do ensino” como orientação que apareceu “associada ou
não ao fenômeno da regionalização, e reflete, antes de tudo, uma tentativa para transformar a
‘natureza’ da escolarização” (Idem).
163
Sônia Mendonça propõe uma análise dos consensos e divergências no interior das
políticas educacionais rurais, de forma a analisá-las “enquanto instrumentos da organização
de interesses de grupos sociais empenhados na obtenção de demandas específicas, tanto no
âmbito rural quanto no urbano, em contextos históricos chave, tal como a década de 1930”
(2006, p.142).
Nesta pesquisa, há interesse em perceber como rural e urbano são abarcados pelos
processos de escolarização em Nova Iguaçu. A análise recai sobre as propostas de educação
da população rural – em sentido amplo, de construção de consensos, de operação de
hegemonia. A perspectiva macro, neste enquadramento, evidencia um amplo projeto político,
econômico e cultural de ordenação social do campo. Neste projeto, compartilhado e defendido
por parte da sociedade iguaçuana, a escolarização dos trabalhadores rurais assumiu relevância
pelo empenho em disseminar novos códigos de comportamento e de trabalho, uma visão de
mundo que valoriza as atividades agrícolas como pilar da economia e exige recursos das
agências públicas.
Nos debates ruralistas sobre a instrução, houve a defesa da regionalização da escola,
isto é, alinhar os objetivos e modos de funcionamento das escolas com o meio em que
estavam inseridas, o que adensava, naquele período, as discussões sobre as especificidades
das escolas rurais e urbanas, quanto à localização e função social do ensino. Ocorreu,
também, a defesa da “ruralização do ensino”, isto é, buscou-se permear a função social da
escola de um compromisso com a vocação agrícola do país, com a educação das populações
rurais para tornarem-se trabalhadores rurais, fixados no campo e portadores de novas técnicas
de cultivo. Tratava-se, enfim, de escolarizar o rural, pela apropriação de um discurso de
modernização do campo, da agricultura, dos modos de cultivo.
No estado do Rio de Janeiro, a existência das “Escolas Típicas Rurais” despontou
como a experiência mais sistematizada entre o movimento ruralista e a ação das agências
estaduais em matéria de escolarização. As escolas típicas rurais sinalizam, também, a
continuidade, no Estado Novo, da importância da vocação agropastoril para a economia do
Rio de Janeiro e a instrumentalização da educação como um dos vértices de fixação desta
orientação política.
Neste capítulo, a partir de questões que emergem das escolas típicas rurais existentes
em Nova Iguaçu e na permanência da “vocação agrícola” nos horizontes da política
econômica do estado do Rio de Janeiro, vamos adensar a análise, ressaltando as
descontinuidades na continuidade, as contradições que permeiam este processo. Será preciso
enfrentar as relações entre cidade e campo, entre urbano e rural no período do pós-1930 e do
164
Estado Novo, a partir da escala dos grupos políticos que disputavam, no cenário local, a
construção da Nova Iguaçu, para compreender como a escolarização integrava estas ações
para inserção do município nos trilhos de uma almejada “modernidade”, que parece ter sido
significada de um salvo-conduto para as escolhas políticas, econômicas e culturais produzidas
no distrito-sede.
Escolas Típicas Rurais em Nova Iguaçu
A correlação de forças que nutriu as relações de poder no pós-1930 foi diversa do
período anterior. A crise de hegemonia do setor agrário exportador, que deslocou a tradicional
oligarquia paulista do centro do poder, não implicou a reposição imediata de outro grupo
dirigente. As oligarquias alijadas dos acordos políticos da República Velha e os segmentos de
camadas médias civis e militares, envolvidos no movimento de 1930, não tiveram condições,
individualmente, de se estabelecer no poder (MENDONÇA, s/d, p.16). No estado do Rio de
Janeiro houve um “fracionamento das forças políticas tradicionais”, que se espelhou, por
exemplo, na rotatividade de interventores no período (PANTOJA, 1992, p.3).
Essa arena aberta interessa aqui para compreender os investimentos que diferentes
grupos fizeram, no período, para inserir suas demandas na composição das agências de
governo. No pós-1930 a administração estadual passou a funcionar sob o regime de
interventoria. Houve uma crescente centralização administrativa e burocratização das
agências estatais. Nessa nova correlação de forças do pós-1930, no estado, é possível que os
grupos ruralistas tenham alcançado maior oportunidade de inscrever, nas agências de governo,
a penetração do ideário ruralista em políticas educacionais, como revela o projeto das escolas
típicas rurais.
No estado do Rio de Janeiro, envolvido em instabilidade política nas relações com o
governo federal durante a Primeira República, sobretudo no episódio da Reação Republicana
(1922), fora mantida, na pauta de governo, a recuperação econômica através das atividades
agrícolas, especialmente na interventoria de Ernani do Amaral Peixoto, entre 1937 e 1945
(FERNANDES, 2009, p.129). Os problemas causados com a crise de 1929 para o setor
agrário-exportador intensificaram os problemas financeiros do estado e aumentaram as
demandas do setor pelo auxílio estatal à lavoura. No seu discurso de posse, Amaral Peixoto
elogiava Nilo Peçanha e exaltava as riquezas agrícolas do norte fluminense (PANTOJA,
1992, p.6).
No âmbito nacional, medidas foram adotadas para proteção das diversas atividades
agrícolas, não somente do café, o que era uma das principais críticas feitas pelos setores
165
agrários menos privilegiados à política econômica da Primeira República. Não é pertinente
porém, considerar, que a Revolução de 1930 significava a realização do projeto ruralista.
Tampouco significou, imediatamente, a adoção de um projeto industrialista para o país.
Durante esse período de crise de hegemonia dos setores oligárquicos agro-
exportadores, embora nenhum outro grupo tenha se tornado hegemônico, as “mudanças postas
em prática teriam uma direção, que seria representada pelo descenso político do grupo
agroexportador e a ascensão gradual e simultânea dos interesses urbano-industriais” (DINIZ,
1997: p. 86). O conceito de “industrialização restringida” busca caracterizar a especificidade
do conjunto de medidas econômicas adotadas no pós-30, destinadas a implantar as bases do
capitalismo industrial no Brasil, dependendo, contudo, das divisas geradas pelo setor agrário-
exportador.
Para esse fim, o governo federal adotou medidas que preservaram a capacidade
produtiva do setor agrário exportador, mas, pela diferenciação das taxas de juros, penalizava a
exportação e transferia recursos da agricultura para a indústria (DINIZ, 1978 e 1997;
MENDONÇA, s/d). Portanto, é preciso notar as distinções entre o projeto ruralista e o
atendimento de parte de suas demandas por agências estatais. No curso do processo, sob uma
arena aberta de conflitos, o rural estava sendo instrumentalizado em benefício da
industrialização do país.
Durante a interventoria de Amaral Peixoto, foi maior o volume de medidas destinadas
à recuperação do setor produtivo agropastoril, ainda que se tenha buscado incentivar a
indústria.
Entre 1931 e 1937 ocorreu o crescimento da produção anual de alimentos como o
arroz, a batata, o feijão e a mandioca, para consumo no próprio estado, enquanto a Baixada
Fluminense destacou-se na produção de laranjas para exportação: “Em 1934, a laranja
representava o principal item da arrecadação estadual” (PANTOJA, 1992, p.15). A indústria
pastoril e do sal também eram relevantes na produção de riquezas do estado e foram
expressivos os esforços pela lavoura canavieira do norte fluminense. Contudo, houve um
declínio na receita proveniente das atividades exportadoras no Estado Novo, de 20,06% em
1937 para 4,24% em 1946 (Ibidem, p.55).
Outro estudo sobre as atividades produtivas do estado do Rio, ao longo do século XX,
também demonstra mudanças na participação das atividades agropastoris. A organização
territorial do espaço fluminense, nesse período, sofreu importantes transformações e inflexões
entre o rural e o urbano. A hegemonia do capital agrário e mercantil na organização do
espaço, expressiva no começo do século, seria redefinida em função da “metropolização” e da
166
“desruralização” do estado, a partir da década de 1940 (ALENTEJANO, 2005, p.51-52),
ocorrendo a “perda de influência do capital agrário no Estado” (Ibidem, p.58).
No pós-1930, embora as atividades industriais “não tenham sido objeto de maior
atenção por parte do governo”, também apresentaram taxa de crescimento, sendo a indústria
têxtil a principal do ramo (PANTOJA, 1992, p.16). No entanto, o “surto de crescimento”,
entre 1930 e 1937, não foi suficiente para saldar a crise econômica e financeira do estado
(Idem).
Tratava-se, como ocorria na política nacional, de redefinir a correlação de forças entre
vários grupos de interesses, incorporando novos atores sem desalojar os antigos: “No caso do
Rio de Janeiro, esta diretriz permitiu à política econômica ceder às pressões ligadas à
redefinição das alianças políticas, fortemente arraigadas no setor agrário, embora não se tenha
verificado [...] uma opção exclusiva pela agricultura e a pecuária” (PANTOJA, 1992, p.46).
Ademais, o programa de revitalização apresentado pelo governo não repercutiu no incremento
anunciado, e houve, ainda, certas dificuldades que abateram o setor agrícola, porque a política
financeira, em última instância, acabava transferindo recursos do setor.
Devido à dificuldade financeira do estado, não foram destinados muitos recursos, na
forma de créditos, para o setor. Houve, contudo, o incentivo a obras de infraestrutura e a
criação de cooperativas agrícolas, e de alguns estabelecimentos de crédito, principalmente
destinados ao norte fluminense (Ibidem, p.48). As medidas adotadas pelo governo que
“viabilizaram um certo incremento” enfatizaram a “organização da produção e do consumo e,
em menor escala, da modernização dos métodos de produção” (Ibidem, p.49).
Através do lema de que o problema da agricultura “não é plantar, é organizar”
(PEIXOTO apud PANTOJA, 1992, p.52), ocorreu o fortalecimento do poder público neste
processo, por meio de reformas administrativas “que promoveram a criação de órgãos
voltados para a fiscalização, organização e controle do sistema produtivo, bem como de
intensificação do movimento cooperativista” (PANTOJA, 1992, p.50). A modernização dos
métodos de cultivo foi propagandeada pela criação do Serviço de Monocultura, em 1939, com
assistência material e técnica. Expressivo do vulto das medidas adotadas foi a criação, em
1944, de sete fazendas experimentais, em regiões rurais do estado, para assistir aos lavradores,
funcionando como laboratórios de pesquisa para o estudo de diferentes culturas e distribuição
de mudas e sementes (Ibidem, p.53-54).
Por essas concessões, o governo estabelecia os vínculos com os principais grupos
agrários, abrindo, pelos departamentos e secretarias criadas nas sucessivas reformas
administrativas, os canais de acesso e influência das suas demandas, mas que, dessa forma,
167
centralizavam as ações e decisões no aparelho do estado: “atraindo para o seu seio os
principais grupos de produtores rurais, o governo arrefecia os conflitos e procedia à tarefa de
cooptação política” (PANTOJA, 1992, p.52).
Entre as medidas adotadas para a recuperação agrícola do estado, durante a
interventoria de Amaral Peixoto, Silvia Pantoja inclui a experiência das Escolas Típicas
Rurais. Em 1945 constavam 43 unidades distribuídas em 40 municípios (Ibidem, p.55).
No estado do Rio de Janeiro, no pós-1930, nas associações que o governo buscou tecer
entre agrarismo e instrução, a zona rural foi idealizada como espaço detentor da identidade
fluminense, lócus de formação do trabalhador necessário ao engrandecimento do estado e da
pátria:
No campo educacional/cultural, as iniciativas da interventoria seguiram orientações
que buscavam convergir com as articulações políticas e com as idéias econômicas
implementadas pelo interventor. O grande alvo era a região agropecuária do estado
(FERNANDES, 2009, p.130).
Para arregimentar bases de sustentação junto aos grupos políticos do estado, Amaral
Peixoto investiu na construção da imagem de defensor da história e das tradições do estado.
Seu projeto político foi difundido a partir das agências da sociedade política, principalmente
pelo Departamento de Educação, mas também junto a movimentos e associações culturais da
sociedade civil:
Tradição e modernidade também estão na base das ações implementadas no campo
educacional e cultural. Os projetos educacionais, as Missões Culturais, a criação do
Museu Antonio Parreiras e a edição de livros de autores e de temáticas fluminenses
foram algumas das iniciativas que afirmavam Amaral Peixoto como defensor das
tradições e da história fluminense e também como aquele capaz de reerguer o
estado, recuperando a Idade de Ouro local (Ibidem, p.232).
Diretrizes centralizadoras foram impressas às políticas educacionais, tornando o
ensino primário obrigação primordial do poder público estadual. Através de convênios
realizados entre o estado e os municípios, a interventoria procurou ampliar, orientar e
fiscalizar a rede escolar, na implementação do seu plano educacional. Em troca de dotações
orçamentárias para manter ou transferir seus estabelecimentos de ensino para o estado, os
municípios deveriam seguir orientações da interventoria em matéria educacional (Ibidem,
p.131). A ampliação da intervenção dos governos estaduais sobre os governos municipais não
aconteceu apenas em matéria de políticas educacionais.
No estado do Rio de Janeiro, a centralização administrativa foi realizada por
sucessivas reformas desde o Governo Provisório. Em 1932, os Conselhos Consultivos foram
criados para fiscalizar e verificar as administrações municipais; em 1936, foi promulgada a
Lei Orgânica dos Municípios (PANTOJA, 1992, p.17) e, em 1937, o Departamento das
168
Municipalidades representava a “instância máxima decisória sobre todos os aspectos da
administração municipal” (PANTOJA, 1992, p.29).
Na reforma administrativa de Amaral Peixoto foi criada a Secretaria de Educação e
Saúde Pública, em 1938, com os Departamentos de Educação e de Saúde. Ruy Buarque de
Nazareth foi nomeado secretário, tendo como chefe de gabinete Rubens Falcão, que exerceu
esse cargo até ser conduzido à direção do Departamento de Educação, em 1942. A Secretaria
foi extinta em 1943, tornando-se o Departamento de Educação o órgão máximo de
regulamentação no estado, ligado ao interventor. Nesse cargo Falcão permaneceu até a saída
de Amaral Peixoto, no fim do Estado Novo (FERNANDES, 2009, p.130).
Houve orientações para padronização dos programas pedagógicos de cada série
primária e para a formação dos alunos das escolas normais do estado. Em 1938, foi
revitalizado o programa sobre as Escolas Típicas Rurais, criadas pelo regulamento de 1936, e
foi criada uma escola normal destinada à formação de professores para as escolas rurais
(Ibidem, p.132-133). Nas escolas urbanas foi incentivada a introdução de hortas e criação de
pequenos animais. Rui Aniceto conclui que, durante o Estado Novo, “o projeto educacional
formal do estado priorizou o ensino rural, seguindo as diretrizes políticas e econômicas da
administração estadual” (Ibidem, p.135).
No estado do Rio, o regulamento da instrução pública primária de 1936 (decreto 196-
A, de 24/12/1936) dedicou um capítulo sobre a criação de escolas típicas rurais. De acordo
com o texto normativo,376
essas escolas seriam “organizadas de acôrdo com a concepção do
ensino regional, assegurando a educação elementar básica dos educandos e sua iniciação
profissional agrícola, por métodos racionais”.377
Para essa finalidade, deveria ser adotada a
estrutura de “escolas-granjas”, e conforme as características locais deveriam comportar
jardim, pomar, horta, área de criação de animais, “criação do bicho da seda e instalações para
a prática de pequenas indústrias domésticas ou artes populares”.378
As primeiras escolas foram construídas em 1938, e deveriam servir de modelo para as
escolas isoladas de seu entorno. Os professores dessas escolas foram orientados a educar
nossos futuros homens do campo, sob todos os aspectos – técnico, moral, físico e
intelectual – incutindo-lhes o amor patriótico ao seu habitat ao mesmo tempo que
lhes dariam os conhecimentos indispensáveis ao trabalho do engrandecimento
nacional a que se dedicam, tirando-lhes, por outro lado, a concepção hereditária em
que vivem – de colonos dentro da sua própria terra.379
376
Decreto 196-A, 24/12/1936. 377
Apud FALCÃO, 1946, p.20. 378
Decreto 196-A, de 24/12/1936 Apud FALCÃO, 1946, p.22. 379
FALCÃO, 1946, p.23.
169
Em Nova Iguaçu, a inauguração de uma Escola Típica Rural na localidade de Santa
Rita, no distrito-sede, em 1940, foi festivamente noticiada pelas páginas do Correio da
Lavoura, Jornal que tanto propugnava pela instrução agrícola no ensino primário.380
O
prefeito Ricardo Xavier da Silveira esteve na solenidade, acompanhado do secretário do
governo estadual, Heitor Gurgel.
Nos anos seguintes, outros atos eram expedidos para criação de escolas típicas rurais,
e de dispositivos auxiliares ao seu funcionamento.381
A intenção de que as escolas típicas disseminassem um novo modelo de educação
regional estava anunciada no regulamento expedido em 1941: “as escolas típicas rurais
constituirão, nas regiões a que servirem, institutos padrões, do qual deverão aproximar-se, na
orientação do ensino, todas as escolas primárias de zona rural, valendo-se de suas
experiências e resultados”.382
O aparato normativo, ao longo de 31 artigos, tratava da organização destas escolas,
dos conteúdos a serem ensinados, da formação e dos deveres dos docentes para elas
designados. A educação elementar básica e a iniciação profissional agrícola constituíam o
currículo das escolas-granjas, que seriam construídas atendendo às especificidades requeridas
pelo ensino agrícola. “Na motivação da aprendizagem deverá o professor tirar todo o proveito
dos assuntos relacionados com as atividades rurais”.383
O regulamento das Escolas Típicas Rurais enfatizava a importância do professor
instruído sobre o ensino regional e engajado no desempenho de suas funções, para a
realização da especificidade das escolas típicas:
O professor norteará o seu magistério no mais alto sentido social, para que a escola
se torne instrumento de civilização rural, atenta sempre, às necessidades da vida no
campo, cujo nível moral, econômico e intelectual procurará elevar. O amor à Gleba,
a nobreza dos trabalhos agrícolas, o sentimento de disciplina, o espírito de iniciativa,
380
INAUGURADAS NOVE ESCOLAS TÍPICAS RURAIS EM DIFERENTES MUNICÍPIOS
FLUMINENSES, NO DIA 13 DO CORRENTE, 19 mai 1940. 381
Decreto-lei nº 1.023 de 15/04/1941 “Distribuindo, pelos diversos municípios fluminenses, 35 escolas típicas
rurais das que se refere o decreto nº 607, de 09/11/1938, atribuindo-se a cada uma a denominação da localidade
em que foram instaladas”. Decreto-lei nº1. 537 de 15/12/1945. “Aprova as instruções referentes ao
funcionamento das Escolas Típicas Rurais.” Decreto-lei nº 1.585 de 28/01/1946. “Cria o cargo isolado de
secretário da Inspetoria do Ensino das Escolas Típicas Rurais, para provimento efetivo, independente de
concurso”. Decreto-lei nº 2.571 de 30/01/1946 “Aprovando tabela numérica anexa de extranumerários
mensalistas da Inspetoria das Escolas Típicas Rurais do Departamento de Educação.” Coleção de Leis do Estado
do Rio de Janeiro. APERJ. 382
Decreto nº 1.214 de 20 /12/1941 “Aprovando o regulamento das Escolas Típicas Rurais como neste se
insere”. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro, 1941. APERJ. 383
Idem.
170
o ânimo de cooperação, os hábitos higiênicos constituirão, dentre outros, motivos de
especial atenção do professor na educação da criança.384
Um curso de atividades rurais com prova de seleção ao término, organizado pelo
Departamento de Educação no período de férias, seria ministrado aos docentes candidatos à
lotação nas escolas típicas. Poderia ocorrer ainda que os professores classificados prestassem
estágios junto aos órgãos técnicos das Secretarias de Agricultura e de Educação e Saúde. Os
docentes aprovados nesses estágios teriam preferência no preenchimento das vagas das
escolas típicas. Mas o governo teria, também, a prerrogativa de dispensar ou transferir dessas
escolas professores que revelassem não ter “aptidões para o ensino rural”.385
No Fundo Departamento de Educação há mapas da Escola Típica Rural em Santa Rita,
entre os meses de julho de 1940 e novembro de 1949. Nos mapas de julho e agosto de 1940
consta a seguinte informação no campo de frequência de alunos: “matrícula e organização da
escola”.386
Em setembro e no começo de outubro de 1940, também, não houve aulas por falta de
água na escola, e a professora esteve ausente um dia para visitar o Ministério da Agricultura e
“buscar ferramenta”. Nos primeiros meses de funcionamento, a escola foi visitada por Mário
Campos, técnico de educação, e pelo Chefe da inspetoria agrícola da 4ª região, Dr. Alberto
Goulart Wucherer. No ano seguinte, a professora registrava: “Esta escola tem sido
frequentemente visitada pelo Dr. José Ignacio Marinho, Agronomo chefe que vem tomando
particular interesse pelo seu desenvolvimento agrícola”.387
Os órgãos técnicos da Secretaria de Educação e Saúde e da Secretaria de Agricultura
atuariam conjuntamente nos projetos de construção dos edifícios e eram previstas, no
regulamento das escolas, a cooperação e assistência de técnicos da Secretaria de Agricultura
aos professores. Caberia à Secretaria de Agricultura, Indústria e Comércio organizar nas
escolas típicas “campos permanentes de experimentação” com hortos florestais e frutícolas.
Esses “campos” auxiliariam na solução de problemas agrícolas da região da escola, produção
de mudas, e nas atividades das escolas rurais. Todo o aparato desses campos, providos pela
Secretaria de Agricultura, seria compartilhado com as atividades rurais da escola.388
O modelo dos mapas da Escola Típica Rural em Santa Rita é igual aos mapas das
demais escolas. Os campos sobre o funcionamento de turnos, de classes e a distribuição dos
384
Decreto nº 1.214 de 20 /12/1941 “Aprovando o regulamento das Escolas Típicas Rurais como neste
se insere”. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro, 1941. APERJ. 385
Idem. 386
Fundo Departamento de Educação, 02734, APERJ. 387
Fundo Departamento de Educação, 02734, APERJ. Mapa de 10/1941. 388
Decreto nº 1.214 de 20 /12/1941 “Aprovando o regulamento das Escolas Típicas Rurais como neste
se insere”. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro, 1941. APERJ.
171
alunos por série indica que a escola funcionava em um turno. Em outubro de 1940, 51 alunos
estavam matriculados distribuídos entre duas classes na 1ª série e 1 classe na 3ª série. No ano
seguinte, no mapa do mês de novembro, estava na mesma situação, com 53 alunos.
O ano letivo de 1942 foi iniciado com 25 alunos distribuídos em 3 classes na 1ª série.
Mas, ao longo do ano, houve crescimento de matrículas e foram formadas classes de 2ª e 3ª
séries, sempre com mais classes no primeiro ano do ensino primário. Em 1943 e 1944, os
mapas apresentavam 2 classes de 1ª série e 1 classe de 2ª série, reunindo de 45 a 60 alunos.
Entre 1945 e 1947, predominou o arranjo de 1 classe de 1ª, 2ª e 3ª séries, mas com mais
alunos na 1ª série. Em março de 1949, a escola matriculava 58 alunos, com 1 classe de 1ª, 2ª,
3ª e 4ª séries. Em junho, com 85 alunos, constavam 3 classes de 1ª; 1 classe de 2ª, 3ª, 4ª séries,
e, em agosto, funcionava no 1º turno, com 90 alunos, distribuídos entre 3 classes de 1ª ; 2
classes de 2ª, 3ª e 1 classe de 4ª série. O crescimento do alunado, em 1949, levou a professora
regente a assinalar, no mês de abril: “Continua a escola sem adjunta com grande prejuízo para
o ensino e sobrecarga para a diretora”. No mês seguinte, voltava a solicitar: “Torna-se
necessário a nomeação urgente de uma adjunta”.389
Outra Escola Típica Rural, “Carlos Souza Duarte”, foi localizada em Tinguá, no 3º
distrito do município, mas os mapas disponíveis são apenas de maio a novembro de 1947. Em
seu quadro docente, havia professoras municipais e professoras pagas pelo Ministério da
Agricultura. Neste caso, a criação da escola foi atribuição do governo estadual, mas contou
também com a colaboração da administração pública local e do ministério da Agricultura, na
manutenção do quadro docente. Em maio, a escola funcionava em um turno, com 38 alunos
entre a 1ª e a 2ª séries. No fim do ano, em outubro, os 48 alunos matriculados eram
distribuídos em 2 turnos, com 2 classes de 1ª e 1 classe de 2ª série no primeiro turno, e no
segundo turno com 2 classes de 1ª série.390
É pertinente comparar as informações colhidas nos mapas de frequência dessas escolas
com todo o aparato normativo que pretendia definir os modos de funcionamento das escolas
típicas rurais.
A organização dessas escolas típicas em Nova Iguaçu, na maneira como é apresentada
pelo mapa, é semelhante ao funcionamento de outras escolas primárias do município. Talvez
este seja um efeito causado pela estrutura do mapa de frequência. Cabe sinalizar, contudo, que
o regimento das escolas típicas previa uma organização diferenciada das demais escolas
primárias. Do mesmo modo, a criação de escolas “típicas” aponta que os outros modelos de
389
Fundo Departamento de Educação, 02734, APERJ. 390
Fundo Departamento de Educação, 02648, APERJ. Mapa de 10/1947.
172
escola não atendiam às expectativas de ruralizar ou regionalizar o ensino. Buscava-se, a partir
das escolas típicas, irradiar um modelo para as escolas isoladas do entorno.
O curso das escolas típicas estava organizado em dois ciclos, o fundamental, de três
anos, e o pré-vocacional, de dois anos. No ciclo pré-vocacional seriam privilegiadas as
atividades rurais, que compreendiam agricultura, avicultura, apicultura, sericultura,
silvicultura e criação de animais de pequeno porte. As “pequenas indústrias e artes
domésticas” também poderiam ser incluídas no programa das atividades rurais.391
Segundo os mapas de frequência, entre 1940 e 1942, a Escola Típica Rural em Santa
Rita estava a cargo de uma professora. Entre 1943 e março de 1945, estavam lotados na
escola [Genuina] Manhães França (professora classe D); Alfredo França Vieira (não
diplomado); Cassia Manhães Marques (não diplomada). O ano letivo de 1946 ficou a cargo de
uma nova professora, e, nos anos seguintes, duas professoras levavam adiante o ensino. A
relação entre a disposição dos turnos, o número de alunos e o quadro docente, portanto,
mantinha semelhanças com a organização das escolas isoladas, ainda que a escola típica
houvesse sido pensada, no ordenamento legislativo, com uma estrutura mais relevante.
A Escola Típica Rural em Santa Rita enfrentava sério problema comum a escolas do
município, que era a enfermidade dos alunos, o que concorria, segundo os professores, para a
baixa registrada na frequência. A professora substituta Laís Nola informava, em outubro de
1941: “Por motivo de se acharem acometidos de coqueluche, varíola, sarampo e febre
palustre, muitos alunos deixaram de comparecer as aulas durante este mês. Essas crianças
estão em tratamento no Posto de Saúde sob os cuidados do Dr. Manhães Filho.” Naquele mês,
o Dr. Vasco Barcelos, Diretor da Casa de Saúde de Nova Iguaçu, visitou a escola.
No mês seguinte, uma junta de seis “médicos sanitaristas” esteve na escola, deixando
registrado, segundo a professora, “um expressivo termo de [visita]”.392
Em 1942, o “médico sanitário” Dr. José Manhães Filho visitou a escola entre março e
junho, chegando a realizar quatro visitas mensais em abril e maio. Em junho, o prefeito
Ricardo Xavier da Silveira compareceu à escola, acompanhado de “muitos outros doutores
(médicos)”. O parecer do termo de visita do Dr. José Manhães, foi transcrito pela professora:
No curso de minhas atribuições visitei a Escola Típica Rural de Santa Rita e
examin[an]do os alunos presentes verifiquei 8 casos de malaria (exame clinico), 1 de
verminosas, 2 de anemia, 1 de amigdalite cronica e [1] de influensa e providenciei
391
Decreto nº 1.214 de 20 /12/1941 “Aprovando o regulamento das Escolas Típicas Rurais como neste
se insere”. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro, 1941. APERJ. 392
Fundo Departamento de Educação, 02734, APERJ. Mapa de 11/1941. Os médicos: Dr. Carlos Sá,
Samuel Libanio, Manoel J. Ferreira Adelino de Mendonça, Marcolino [Cardosos] Vasco Barcelos,
Oswaldo Costa, José Manhães.
173
afim de que o(sic) Posto de Higiene de Santa Rita fosse enviado o medicamento
necessario. Santa Rita, 26 -3-042.
São 13 casos de doenças para 25 alunos matriculados. Na continuidade da
documentação, ainda que a escola contasse com o apoio da intervenção de médicos e do posto
de saúde da localidade, novas anotações apontavam questões estruturais que assolavam aquela
localidade com surtos de doenças: “Continua baixa a freqüência em virtude da maior parte
dos alunos ainda estar convalescentes das molestias citadas nos mapas anteriores”;393
maio de
1944:“A freqüência continua baixa em virtude de se encontrarem a maior parte dos alunos
atacados de impaludismo e gripe forte e outros trabalhando”; maio de 1947: “Dois meninos
faleceram em conseqüência do surto epidêmico de malária reinante nas imediações da escola
dado o mau estado das valas escoadouras de água e três meninas se acham acamadas bem
como o zelador da E.T.R e seu filho”; novembro de 1949: “2 alunos afastados
temporariamente por conselho médico”.
Naquele ano de 1942, a escola foi visitada em setembro pelo diretor do Departamento
de Educação – Dr. Rubens Falcão, e no mês seguinte por Alzira Vargas do Amaral Peixoto,
esposa do interventor, acompanhada do Secretário de Educação, Dr. Rui Buarque e “outras
autoridades”, quando encontraram 36 alunos presentes, do total de 70 matriculados.394
Para a educação “social e cívica” dos alunos o regulamento recomendava o
aproveitamento da cultura local e a instalação, na escola, do Clube Agrícola, da Cooperativa
Escolar, do Pelotão de Saúde, do Círculo de Pais e Professores e da Biblioteca Escolar.395
Na Escola Típica Rural em Santa Rita foi instalado um Clube Agrícola, com
denominação “Alberto Torres”. Essas organizações eram patrocinadas pelo Serviço de
Informação Agrícola do Ministério da Agricultura, que, em 1941, incentivava a disseminação
dos mesmos pela elaboração de um estatuto e a distribuição de “sementes, ovos, casais de
animais, estacas de amoreiras, mudas de essências florestais, árvores de sombra e frutíferas,
material agrário, etc.”.396
O aniversário da instituição do Estado Nacional, a Proclamação da República e o dia
da Bandeira foram comemorados em novembro de 1941 “com vivo entusiasmo” na Escola
Típica Rural em Santa Rita. As “festividades” foram promovidas pelo Clube Agrícola Alberto
393
Fundo Departamento de Educação, 02734, APERJ. Mapa de 08/1943. 394
Ibidem. Mapa de 09/1942. 395
Decreto nº 1.214 de 20 /12/1941 “Aprovando o regulamento das Escolas Típicas Rurais como neste
se insere”. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro, 1941. APERJ. 396
FALCÃO, 1946, p.63.
174
Torres, “que conseguiu atrair a presença de varios oradores que emprestaram expressivo
brilhantismo pelas orações produzidas cheias de civismo e ardor patriótico”.397
No estado do Rio de Janeiro, os investimentos em Clubes Agrícolas foram maiores nas
escolas típicas rurais, em colaboração entre órgãos do governo estadual e do Ministério da
Agricultura: “Apesar de terem a mesma orientação que os demais, os clubes das ‘típicas’
recebem material em quantidade maior e mais variada e o aproveitam em área de diversos
hectares, enquanto os das outras unidades só podem fazê-lo em espaço quase nunca superior a
100 ms2”.398
Na documentação do Fundo Departamento de Educação há menção à inauguração de
clubes agrícolas em São João de Meriti, na escola isolada nº16399
e na escola isolada nº 18.400
Ambas escolas funcionavam na rua da Matriz, na área distrital de São João, e os Clubes foram
inaugurados na comemoração do aniversário natalício do presidente Vargas, em 19 de abril de
1943. Em 1944, no estado, foram expedidas instruções para o funcionamento de clubes
agrícolas em grupos escolares.401
A disseminação do ideário ruralista em políticas de governo ocorria, também, no
mesmo período, em outros estados (Cf. LIMA, 2009; NERY; STANISLAVSKI, 2001;
PEREIRA, 2011; WERLE, 2011; 2010; 2099; 2007). Por exemplo, foi localizada em Goiás,
no pós-1930, a introdução das atividades educacionais defendidas pelo movimento ruralista,
como os debates pela criação de um patronato agrícola, em 1935. Entre os fomentadores das
iniciativas, estava a professora Amália Hermano Teixeira, que, formada pela Escola Normal
Oficial, representou o estado de Goiás, em um curso de Extensão Ruralista do Ministério da
Educação, realizado na Universidade do Brasil, na capital federal, em 1935 (PINTO, 2009,
p.295). A partir de 1936, a educadora participou da organização de eventos da fundação de
clubes agrícolas em diversos municípios do estado. Os clubes agrícolas, sendo um deles
fundado na Escola Normal Oficial, promoviam sessões solenes, eventos como a semana da
árvore, semana ruralista etc., ocupando, também, o espaço urbano, como ocorria em Goiânia.
A partir de 1937, com a política federal da Marcha para o Oeste, houve “uma intensificação
da diretriz ruralista na educação em Goiás” (Ibidem, p.294). Em 1938, 21 clubes agrícolas
funcionavam no estado (HERMANO apud PINTO, 2009, p.295).
397
Fundo Departamento de Educação, 02734, APERJ. Mapa de 11/1941. 398
FALCÃO, 1946, p.64. 399
Fundo Departamento de Educação, 02741, APERJ. 400
Fundo Departamento de Educação, 02742, APERJ. 401
FALCÃO, 1946, p.64.
175
Naquele estado, alguns intelectuais, como a educadora Amália Hermano, classificaram
os clubes agrícolas como integrantes do modelo da escola nova, posto que a valorização do
ensino rural, como era recomendada, fugia do ensino tradicional, preconizando a introdução
de modos práticos de educar e aprender, com a criação de animais, hortas, pomares. Desse
modo, segundo Rubia-Mar, em Goiás ocorreram “empréstimos e apropriações” entre
escolanovismo e ruralismo, compondo uma mesma orientação pedagógica: “Penso, ainda
mais, que tal aproximação não ficou restrita à educação rural, mas incrementou também a
organização de grupos escolares e escolas normais das áreas urbanas, particularmente, nas
escolas públicas e privadas da cidade-capital” (PINTO, 2009, p.298).
Essa especificidade do “ruralismo pedagógico” em Goiás, como situa Rubia-Mar, é
pertinente para lembrar que o movimento ruralista, construído na Primeira República, vai
experimentando apropriações, adere e rejeita outras diretrizes e debates educacionais. Afinal,
são sujeitos, em diferentes contextos, que tornam os projetos em ação. No Rio de Janeiro, o
ruralismo permeou, nas políticas educacionais, o projeto das escolas típicas, dos clubes
agrícolas e, ainda como será tratado adiante, as “missões culturais” durante o Estado Novo.
Adonia Prado (1995) analisa a presença do “ruralismo pedagógico” no “pensamento
educacional do Estado Novo”, ressaltando como a política nacional de
interiorização/colonização do país, representada pelo programa da “Marcha para o Oeste”,
criado em 1938, atrelou-se a debates sobre a educação das populações do interior do país.
Houve confluência entre a construção de um projeto de nacionalidade que identificava nas
populações do sertão e do interior do país, em oposição aos citadinos do litoral, os “genuínos”
aspectos da brasilidade. Esta autora ressalta, ainda, como o discurso sobre a educação destas
populações era articulado a preocupações de ordem demográfica, de segurança nacional, e,
novamente, da vocação agrícola do país. Representações do campo como reduto da pureza,
em oposição às cidades, foram também acionadas (Ibidem, p.8).
No cenário nacional, a confluência entre nacionalismo, território e “ruralismo
pedagógico” é notável, ainda, na simbologia e nos conteúdos promovidos pela realização do
VIII Congresso Brasileiro de Educação, em 1942 (PRADO, 1995; 2001). Esse Congresso, que
foi o primeiro durante o Estado Novo, serviu como evento de “batismo” da fundação da
cidade de Goiânia. A cidade, criada no centro do território nacional, representou a confluência
dos esforços de grupos dirigentes em Goiás para se inserirem, valorativamente, no debate da
questão nacional, vigente no período. A nova capital do estado, feita ícone da modernidade no
sertão do país, representava a negação do sertão como lugar do atraso, sua superação (PINTO,
2009). O Congresso Brasileiro de Educação foi o elo entre o projeto de nação defendido pelo
176
governo federal e projeção buscada pelos idealizadores de Goiânia para sinalizar o processo
civilizatório da região.
O tema geral do Congresso foi “A educação primária fundamental – objetivos e
organização: a) nas pequenas cidades e vilas do interior; b) na zona rural comum; c) nas zonas
rurais de imigração; d) nas zonas do alto sertão”. Entre os “temas especiais” e todos os
trabalhos e relatórios apresentados, é predominante o assunto do ensino rural. As “‘colônias-
escolas’ como recurso de colonização intensiva”; as “Missões culturais” e “o professor
primário das zonas rurais: formação, aperfeiçoamento, remuneração e assistência” integravam
os nove “temas especiais” do evento. Dos 32 trabalhos sobre o tema principal, nove citam o
termo “rural” no título; três trabalhos citam “zonas do alto sertão”, um trabalho cita no título o
“ensino agrícola” e outros dois contam no título com a expressão “zonas rurais”.402
Segundo Adonia Prado (1995, p.12), ainda que não houvesse uma orientação única
sobre o “ruralismo pedagógico”, alguns pontos em comum despontavam nas conclusões do
Congresso. A autora destaca, em sua análise, uma presença marcante do consenso sobre
vocação agrícola do país, o que descortinava a importância de preparar, via escola, o homem
rural para servir adequadamente ao seu meio, através do trabalho no campo (1995, p. 13).
Contudo, era preciso valorizar o “homem rural”, “fazendo do Jeca-Tatu, essa indiferença
acocorada, um elemento enérgico, ativo, no enriquecimento nacional” (ABE apud PRADO,
p,14).
Em função da especificidade prevista para a escola rural, havia propostas de limitação
dos conteúdos das escolas rurais, e a reorientação dos mesmos para a aprendizagem dos
recursos de trabalho, de caráter científico (PRADO, 1995, p.14). Depois de devidamente
escolarizado, o sertanejo teria condições, por meio do seu trabalho, de se fixar onde vivia,
contribuindo para o fortalecimento da pátria. Deste modo, o ensino rural ocupava função
importante no projeto de “integração nacional”, de ocupação do interior do país e de
recuperação das atividades agrícolas:
A preocupação com o interior do Brasil apresentava um duplo caráter: de um lado,
era econômica e tinha como objetivo a expansão de mercados e a criação destes em
áreas onde a presença do capitalismo se dava de forma descompassada em relação
aos centros urbanos. Em outras palavras, tratava-se de atualizar o capitalismo no
meio rural, de trazê-lo aos anos 30/40. Concomitante, o projeto político do Estado
não poderia abrir mão da incorporação das áreas rurais ao seu campo de influência e
de controle, especialmente em período de guerra (Ibidem, p.18).
402
ANAIS DO OITAVO CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO, Serviço Gráfico do IBGE,
Rio de Janeiro, 1944, p. VI-VII.
177
Para tanto, contudo, de pouco valia a simples existência de escolas em zonas rurais.
Parte da argumentação dos diversos trabalhos apresentados no Congresso consistia em
desqualificar a escola rural existente, porque não era organicamente funcional à formação
pretendida ao homem do campo. Chegava-se mesmo a destacar os prejuízos que causava,
quando promovia a valorização da vida urbana, estimulando o êxodo para as grandes capitais
(PRADO, 1995, p.20). Na continuidade da construção do argumento da insuficiência da
escola rural existente, também se tingia negativamente as imagens sobre o homem do interior,
o sertanejo, o camponês. Reverberavam, nessas teses, a matriz da doença, da ignorância, da
pobreza, da incapacidade e da falta de civilidade. Caberia à escola formar em novos moldes a
mentalidade do homem do interior (Idem).
Os temas presentes nos Anais do VIII Congresso Brasileiro de Educação, além do seu
cenário de realização, apresentam, certamente, a amplitude que o tema da educação rural
assumiu no Estado Novo, nos debates nacionais sobre a educação. Assim como outros temas
em educação, a escolarização foi instrumentalizada como ingrediente aglutinador na
nacionalidade, da formação da nação. Rubens Falcão cita, entre suas tarefas no Departamento
de Educação, a participação neste Congresso, no qual apresentou filmes e fotografias das
atividades das Escolas Típicas Rurais do estado do Rio de Janeiro.403
Numa comparação com os relatórios dos diretores da instrução de fins da década de
vinte, é interessante notar que Rubens Falcão, ao publicar um livro no qual relata o que julgou
ser de maior relevância em realizações em matéria educacional no período em que dirigiu o
Departamento de Educação (1942-1945), utilizava-se de citações a eventos, trabalhos de sua
autoria etc., para apresentar e legitimar os rumos impressos à política educacional. Rubens
Falcão iniciou seu livro pelo capítulo “Educação rural”. Do VIII Congresso Brasileiro de
Educação, realizado em Goiânia, no ano 1942, pela ABE, retomava as conclusões do relator
Sud Mennucci404
sobre a formação dos professores das escolas rurais. Ao tomar parte no
debate, Rubens Falcão compartilhava de certa imagem disseminada da população rural e da
função da instrução:
À falta de educação conveniente, o homem rural não se desenvolve nem se atreve a
trabalhar a terra de modo proveitoso. A ignorância em que vive o converteu, nas
zonas principalmente do sertão, em um indivíduo supersticioso e cheio de abusões,
com o círculo mental limitadíssimo, quando não se torna promotor de desordens ou
adepto do cangaceirismo.405
403
FALCÃO, 1946, p.23. 404
Sud Mennucci ocupou cargos na administração do ensino em São Paulo, foi jornalista e escritor e
destinou especial atenção ao tema das escolas normais rurais e da ruralização do ensino. (DICIONÁRIO
de Educadores no Brasil, 2002, pp.962-963). 405
FALCÃO, 1946, p.19.
178
O diagnóstico que promovia um enquadramento que desqualificava a população rural,
também era argumentado com base em importantes intelectuais imersos nestes temas, e
sustentava a necessidade de intervenção pelo poder público:
Segundo Artur Neiva e Belisário Pena, que viajaram a nossa hinterlândia, domina
imensa extensão desta uma população decadente de papudos e cretinos. Só, pois,
uma ação educativa, enérgica, poderá salvar êsses nossos patrícios. E para isto é
preciso, preliminarmente, que cada região se dê o adequado tipo de escola.406
A situação de abandono e de atraso da população justificava a necessidade de oferecer
uma educação diferenciada entre citadinos e camponeses, porque a “escola universal” só
agravava a crise de urbanismo que comprometia a lavoura. Nessa confrontação entre rural e
urbano, as funções da cidade e do campo são tensionadas. A insistência em caracterizar o
“urbanismo” com fenômeno de desordem, que “comprometia a lavoura” insinua a perspectiva
de controle da distribuição de mão-de-obra em ambos espaços.
Dentro do projeto ruralista, os setores agrários defenderam a “vocação agrícola” do
país a partir da construção de um discurso sobre o atraso da agricultura desde o pós-abolição.
Na defesa da agricultura enquanto principal atividade econômica do país (e não de um setor),
buscavam atrelar o campo, enquanto território, com a agricultura, enquanto emprego do
território. Porém, em função da “crise”, aquele território rural, a atividade agrícola e os
sujeitos nela inseridos, deveriam sofrer alterações.
Na compreensão do aprofundamento da ruralização do ensino, no pós-1930, não se
pode considerar a necessidade de contenção do êxodo rural e da Marcha para o Oeste como
únicas justificativas dos rumos impressos às políticas nacionais para o ensino rural. Essas
políticas aprofundaram a intenção de “ruralização do ensino” porque portavam, também,
projetos de “disseminar, através do ensino agrícola elementar e médio, códigos de
comportamento e de percepção” que assegurassem a conformação da força de trabalho e de
seu consenso político no reconhecimento de uma liderança nacional, em detrimento do poder
das oligarquias locais, do localismo político (MENDONÇA, 2006, p.142).
As propostas de intervenção sobre a conformação das populações rurais do estado a
um determinado projeto de sociedade, desde as atividades econômicas até o comportamento
público e privado das pessoas, a partir de um convencimento obtido pela educação dessas
pessoas (em sentido amplo) foram ensaiadas ainda, durante o Estado Novo, pela experiência
das “missões culturais”.
As missões culturais consistiam em caravanas de “missionários” que percorreram o
“interior” do estado do Rio, “principalmente a zona rural”. A partir de 1944, a comissão
406
FALCÃO, 1946, p.19.
179
formada de técnicos de educação, jornalista, professoras (L.B. A); professora de educação
física; dois técnicos de caça e pesca; uma enfermeira; um fotógrafo e técnico de som; dois
operadores cinematográficos; um contínuo; um médico e uma médica percorreu os municípios
de Itaguaí, Mangaratiba, Angra do Reis, Parati; Maricá, Saquarema, Araruama, São Pedro da
Aldeia, Cabo Frio, Campos e São João da Barra407
.
As caravanas de “missionários” organizavam palestras e conversas junto à população,
utilizando recursos de rádio e cinema, para tratar de assuntos previstos no roteiro elaborado
pelo Departamento de Educação. A vida escolar, saúde; agricultura e zootecnia; economia
doméstica; educação social e política eram os grandes vértices que comportavam os assuntos
a serem disseminados junto à população do interior.
Sobre a vida escolar, cabia ressaltar o interesse pela organização dos clubes agrícolas,
dos pelotões de saúde, das associações de pais e professores, das caixas escolares; a
importância da escola “como órgão renovador de técnicas de vida”.408
Sobre saúde, tratava-se da profilaxia do corpo e das habitações contra epidemias; os
hábitos de alimentação. Sob o tema da agricultura, havia um extenso programa acerca das
“necessidades e vantagens da organização da produção”, a cooperação, a introdução de novas
técnicas – “modernos recursos agronômicos”; razões contra a monocultura, o combate a
pragas na lavoura, sugestão de atividades agropecuárias conforme a região....
Hábitos cotidianos como o uso da horta, o aproveitamento de tecidos em costura, a
produção de sabão para a lavagem de roupa eram assuntos da economia doméstica. No campo
da educação social e política previa-se a abordagem do tema do “ambiente moral e material
do lar, que é a base de prosperidade social”,409
o registro civil, a importância do país na guerra
e sua posição nas Américas e no mundo, a constituição, a construção do direito social
brasileiro; “aspectos da vida fluminense”.
Esse amplo programa comportava a intenção de intervir nos modos de viver da
população rural, desde os cuidados com o corpo e a casa, atingindo os modos de trabalhar e
do que e de como produzir. Ademais, interessava preencher esse corpo e ambiente de valores
éticos, morais e políticos em consonância com um projeto de cidadania.
Contudo, a documentação das Escolas Típicas Rurais em Nova Iguaçu, ainda que
sugira os investimentos políticos depositados na escola típica rural, pelas visitas constantes de
autoridades estaduais e municipais, de médicos sanitaristas, de técnicos da educação e
407
FALCÃO, 1946, p.130. 408
Ibidem, p.128. 409
Ibidem, p.129.
180
inspetores do serviço estadual, do próprio Diretor do Departamento de Educação, também
descortina as dificuldades de institucionalização do projeto.
Escolarizar o rural: o tempo do trabalho e o lugar das letras
Se a Escola Típica Rural em Santa Rita, em 1940, havia retardado o começo das aulas
por falta d’água, a professora reclamava, em julho de 1949: “Ainda não está normalizada a
questão da água, na escola, nem foram atendidas, até a presente data, as necessidades
indispensáveis tais como: fogão, instalação sanitária e luz”.
A baixa de frequência devido a doenças nos alunos procurava ser combatida pela ação
sanitária dos médicos, assim como pela educação profilática divulgada pelos Pelotões de
Saúde. A escola era frequentemente visitada pela esposa do prefeito, Sra. America Xavier da
Silveira “patrona [ilegível] [de] um dos Pelotões da Saúde que [i] vem contribuindo pelo
engrandecimento dessa escola”.410
Outra circunstância registrada nos mapas de frequência é muito expressiva das
defasagens entre projetos e realizações e das contradições que se evidenciam nas tentativas de
escolarizar o rural para alavancar a produção agrícola. Ocorria que o próprio trabalho dos
alunos, nas lavouras, com os pais, obstaculizava a frequência à escola. Concomitantemente,
na Escola Típica Rural em Santa Rita, um dos pilares do projeto ruralista era recorrentemente
dispensado pelos alunos e familiares, qual seja, a educação escolar específica para o trabalho
agrícola.
A primeira dificuldade enfrentada, comum a outras escolas da região, era a diminuição
na frequência dos alunos no período de trabalhos agrícolas. Ainda em 1940, a escola perdia 12
alunos, “que não compareceram à escola por estarem apanhando laranjas; só virão frequental-
a no proximo ano vindouro”. No campo de movimentação mensal, onde são assinalados os 12
alunos eliminados, nota-se que são 4 meninos e 8 meninas, sendo 2 alunos menores de 8 anos,
5 alunos entre 8 e 11 anos e outros 5 alunos maiores de 11 anos.411
Em Nova Iguaçu, a colheita das laranjas afastava das escolas crianças e adultos. Cabe
ressaltar a permanência desse problema nas escolas típicas rurais, embora o regimento dessas
escolas, no interesse de conciliar as lidas rurais e o ensino, concedia, sob supervisão do
Departamento de Educação, bastante flexibilidade à organização da duração do ano letivo e
dos horários e dias de funcionamento da escola típica rural.412
410
Fundo Departamento de Educação, 02734, APERJ. Mapa de 11/1941. 411
Ibidem. Mapa de 10/1940. 412
Decreto nº 1.214 de 20 /12/1941 “Aprovando o regulamento das Escolas Típicas Rurais como neste
se insere”. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro, 1941. APERJ.
181
Na Escola Típica Rural em Santa Rita, a baixa na frequência também sinalizava outros
rebatimentos entre a função social da escola e as relações sociais de trabalho. Em outubro de
1943, a professora registrava no campo de frequência, nos mesmos dias de cada semana: “não
compareceram”. Os alunos não frequentavam a escola na segunda-feira, quando eram
oferecidas aulas de Educação Física, e nos sábados, quando havia catecismo e trabalhos
manuais. A professora oferecia a explicação: “só querem os pais que os filhos aprendam
somente leitura, escrita e conta, conforme suas palavras”.413
No ano seguinte, em março e abril, a professora voltava a informar: “O não
comparecimento dos alunos às 2as. e aos sábados é motivado por ser estes dias: 2as trabalhos
manuais e sábados, trabalho no campo”. Em maio alguns alunos estavam doentes de “gripe
forte e outros trabalhando”, o que justificava a ausência de aulas.
Em julho de 1944, no campo frequência era registrado, nas segundas e sábados: “não
houve minimo”. O trabalho dos alunos era o principal motivo de faltas:
Sendo época de capina nos laranjais os alunos têm faltado para satisfazer (sic)
trabalhar na mesma e continuarão faltando si não houver uma providência pois
depois virá a colheita e continuará a frequência baixíssima. Apezar de não haver
numero foram dadas aulas aos que compareceram (freq. de 8 a 12 alunos). A
professora já falou aos pais e a resposta é a mesma de todos: ‘faltam porque
precisam trabalhar’.414
Desse modo, mesmo sendo uma escola numa localidade rural, pretensamente atenta à
especificidade regional, não se buscou adequar o funcionamento ao período de trabalho nas
lavouras, apesar desta possibilidade ter sido prevista do Regimento. A professora é
contundente em criticar a decisão dos pais de empregar os filhos nos laranjais e afastá-los da
escola. Ademais, os pais não se interessavam pelo ensino agrícola ofertado da escola, e
preferiam que os alunos frequentassem as aulas de ler, escrever e contar.
As demandas das famílias eram da ordem do letramento escolar, e resistiam à ordem
de saberes ensinados em outros locais como catecismo e trabalhos manuais. As famílias
resistiam à escolarização do saber sobre o “trabalho no campo”, um saber que julgavam que
as crianças já detinham e poucas expectativas apresentava em termos de ascensão social ou
funcional no mundo do trabalho.
Nos meses seguintes, a situação perdurava. Em agosto, no campo frequência, observa-
se a anotação “não houve minimo”. No mapa de adjuntos consta: “A maior parte dos alunos
está na capina dos laranjais e depois irão para a colheita das laranjas, porém outros faltam por
negligência. Apezar de não haver número foram dadas aulas aos que compareceram em
413
Fundo Departamento de Educação, 02734, APERJ. Mapa de 10/1943. 414
Idem. Mapa de 07/1944.
182
número de 10, 11 e 12”, estando matriculados 50 alunos. Em setembro e outubro, a professora
repetia o texto: “Durante todo êste mês a escola funcionou sem número. Os motivos são os
mesmos dos mêses anteriores”.415
As escolas típicas rurais são exemplares da proporção, da extensão da intervenção que
se buscava realizar sobre as populações rurais e sobre seus modos de vida e trabalho a partir
dos processos de escolarização. O que estava em jogo, nos processos de escolarização do rural
(território e população) era “ato ou efeito de tornar escolar, ou seja, o processo de
submetimento de pessoas, conhecimentos, sensibilidades e valores aos imperativos escolares”
(FARIA FILHO; BERTUCCI, 2009, p.15).
Pela escolarização do trabalho agrícola, sob os moldes de um discurso modernizador
dos saberes e práticas, desqualificava-se, esvaziava-se o saber daquelas populações,
menosprezado como arcaico, e buscava-se disseminar um novo modo de organização social
do campo. Contudo, por questões de ordem material e do modo como aquelas famílias usaram
a escola, também é possível notar o campo de escolhas e apropriações que as famílias faziam
das escolas.
É pertinente, portanto, perceber como a escolarização constitui, integra estes
investimentos para a transformação, no caso aqui observado, das populações rurais
trabalhadoras. Mas essa intenção de “tornar escolar” tenciona o social e é tensionada pelas
formas de socialização pré-existentes, porque apresenta novas formas de organização do
trabalho e mesmo das relações familiares (FARIA FILHO; SANTOS, 2006, p.165).
A escolarização da infância, sobretudo das populações pobres, campesinas, vai
problematizar e condenar o trabalho infantil, que, nos modos de socialização daquelas
famílias, compõe as relações familiares e de sobrevivência. Por vezes, mais do que
necessidade, o trabalho das crianças é próprio daquela socialização, é a experiência de
constituição do ser humano:
É por meio da experiência do trabalho – vivida como lazer e labor – que se dão as
trocas/aprendizagens, fundamentais para a incorporação das novas gerações no
mundo adulto. Desse modo, o aprendizado de saberes, valores e sensibilidades
necessários à vida social se dá na experiência mesma do trabalho e do convívio
social. Ou seja, apesar de, na maioria das vezes, não serem codificados, os processos
de ensino/aprendizagem no/do mundo do trabalho são realizados segundo normas
tacitamente aceitas, às quais reafirmam e legitimam as hierarquias da sociedade
como um todo (Ibidem, p.154).
A escolarização irá, portanto, responder a um “importante e definitivo questionamento
às formas de socialização centradas no trabalho e na vida familiar” (Idem). Trata-se de um
415
Fundo Departamento de Educação, 02734, APERJ.
183
embate de modos antagônicos de socialização, posto que as famílias, os alunos, são também
constituintes desse processo e atuam de modos distintos, criando, por vezes, recuos e
impasses.
Como foi visto no capítulo 2, o processo de institucionalização da escola primária
mobilizou debates e ações para assegurar, além da criação de escolas, a matrícula e frequência
dos alunos. Os representantes do governo estadual buscavam verificar a frequência de alunos
e professores às escolas, inibir interdições à duração do ano letivo e à presença dos docentes.
Os problemas de frequência nas escolas localizadas em zonas rurais eram visto sob certas
especificidades.
Nas mensagens presidenciais e nos relatórios sobre a Instrução Pública, eram
mencionados os problemas que dificultavam a permanência dos alunos nas escolas. Em 1927,
o presidente de Estado Feliciano Sodré identificava como entraves à frequência regular de
alunos “nas zonas rurais, as chuvas abundantes depois de setembro e a época das colheitas,
em que os pais lavradores reclamam o auxílio dos filhos no trabalho da lavoura, retirando-os
da escola”.416
Na mesma ocasião, Feliciano Sodré afirmava a importância do ensino primário e a
necessidade de intensificar a oferta e a qualidade das escolas para enfrentar o analfabetismo,
“levando-se sobretudo, às zonas rurais, aos centros de civilização mais rudimentar, porém, a
maior reserva de energias fecundas, a benéfica atuação da Escola para melhorar as condições
sociais de vida de nossa gente”.417
A importância conferida à escolarização das zonas rurais
justificava-se pelo seguinte argumento: “É no interior que avulta a massa anônima e
analfabeta, a população rural a quem se recusam educação sanitária e escolas primárias”.418
O problema da frequência, na forma como é colocado pelo presidente Feliciano Sodré,
estava presente no relatório do Diretor da Instrução Pública (enviado ao presidente). Em
função da concomitância entre o horário escolar e o emprego dos alunos, pelos pais, em
atividades agrícolas, José Duarte defendia a dualidade de programas entre escolas urbanas e
rurais, sugerindo a adoção de programa reduzido e a adequação dos horários devido à
especificidade do trabalho agrícola:
O operario agricola, o homem do campo, reclama o auxilio do filho, logo que elle
possa prestar-lhe serviços, sobretudo nas epocas de colheitas e plantações. O horario
escolar corresponde agora ao periodo do trabalho agricola e como consequencia o
416
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro no dia 1º de agosto de 1927 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de
Janeiro,1927.pág.93-94. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 417
Ibidem, pág.88. 418
Idem.
184
alumno se afasta da escola, para attender ao que lhe parece se afigura ao seu
progenitor ou parente necessidade maior. O regime da obrigatoriedade ainda nada
poderá no assumpto, decisivamente, porque não temos lei reguladora do trabalho
dos menores, nem as instituições de assistência escolar tem merecido o conveniente
desenvolvimento de modo a ir ao encontro do alumno pobre em situações taes lhe
proporcionando auxílios que o attraiam à escola e nellas os mantenham.419
No ano seguinte, o assunto voltava ao horizonte do diretor, que repetia a mesma
explicação para a oscilação da frequência de alunos em escolas de zonas rurais, a partir do
diagnóstico que emergia da análise das taxas de frequência escolar. Para solução do problema,
ponderava que mais satisfatórios seriam os resultados se as escolas rurais “que são a maioria,
servindo a zonas agrícolas, teem seu horario inconvenientemente estabelecido, identico ao da
escola de cidade ou Villa. Ora, o labor agricola reclama, diariamente, que os filhos prestem
seu auxilio aos Paes afim de assegurar-lhes melhores salários”.420
O sucessor de Feliciano Sodré, Manuel de Mattos Duarte Silva, destacava, na reforma
do ensino de 1929, a permissão para adequação do horário escolar conforme especificidades
climáticas e do trabalho na lavoura (colheitas, semeadura etc.) como meio de adaptar a escola
ao meio a que servia: “Essa maleabilidade assegura um horario mais racional e uma maior
porcentagem de assiduidade dos discentes”.421
Nesse movimento de enraizamento da escola na vida social, é possível notar, também,
que se buscava adaptar o meio à escola. Na mesma mensagem em que Manuel de Mattos
Duarte Silva informava das adaptações dos horários das escolas em zonas rurais, era
comemorada a inserção, nos grupos escolares, do “Ensino prático profissional e agrícola”. A
nova reforma do ensino previa ainda, na disseminação da educação agrícola, a implantação de
campos de experiência agrícola junto às escolas públicas e a criação de cadeira de Agricultura
e Economia Rural na escola normal.422
Manuel Duarte discorria sobre a importância da
preparação de professores para o ensino agrícola, da importância de evitar o êxodo rural e de
adaptar a educação aos interesses do meio do aluno.423
419
Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do
Interior e Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro,
Tipografia do Jornal do Comércio, 1927, pág.261. Biblioteca Estadual de Niterói. 420
Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director
da Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1928. Niterói,
Officinas Graphicas da Escola Profissional, 1928, pág.44. 421
Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no
dia 1º de outubro de 1929 pelo Presidente Dr. Manuel de Mattos Duarte Silva. Rio de Janeiro, 1929, pág.58.
Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 422
Ibidem, pág.61. 423
Ibidem, pág.68.
185
Em Nova Iguaçu, a concorrência entre o tempo escolar e o tempo do trabalho de
crianças e adultos, nas atividades de citricultura, é mencionada ainda em algumas ocasiões
nos mapas de frequência, além das ocorridas na Escola Típica Rural em Santa Rita.
Na Escola Noturna masculina municipal, no distrito-sede, o professor Jarbas Cordeiro
avisava, em setembro de 1933:“Observa-se baixa freqüência, em virtude da maioria dos
alunos entregar-se, deste mês em diante, à safra de laranjas, como embaladores, etc.”424
Em outra escola noturna, de 2º grau, situada na área urbana do distrito-sede, a
professora catedrática Cid do Couto Pereira, justificava a baixa na frequência de alunos em
setembro de 1938, porque a “maioria dos alunos matriculados nesta escola, trabalha a noite
em estabelecimentos destinados a exportação de laranja que é a principal atividade econômica
do município e cuja safra vai de fins de Agosto a Novembro”.425
Na mesma época da colheita, em setembro de 1939, seis alunos foram “eliminados” da
escola isolada rua Eloi Teixeira s/n em Queimados, no 2º distrito da cidade, porque “saíram
da escola para trabalhar na Cooperativa”.426
Anos depois, a mesma escola perdia 13 alunos “para trabalhar no serviço de
exportação de laranja isto é na Cooperativa que se acha funcionando nas proximidades da
escola”. Pela idade dos alunos eliminados (que consta no campo do movimento mensal de
matrículas) eram cinco alunos entre oito e onze anos de idade enquanto oito eram maiores de
onze anos.427
Em setembro de 1947, a professora da escola isolada de Queimados voltava a
registrar: “Este mês a matrícula está bastante reduzida devido ao tempo chuvoso e ao desvio
das crianças para a colheita das laranjas”.428
É provável que não foram apenas estes casos, registrados nos mapas de frequência, as
únicas ocorrências em Iguaçu nas quais adultos e crianças deixavam as atividades de alunos
pelas atividades de trabalhadores da citricultura, desde atividades nos campos até o setor de
beneficiamento do produto, para exportação.
Entre os trabalhos apresentados no VIII Congresso Brasileiro de Educação da ABE,
em 1942, foi citado o resultado de uma pesquisa realizada nas zonas rurais dos municípios de
Barra Mansa, Resende e Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro, acerca das “Atividades
Sociais do Aluno Rural”. Entre 1.520 casos examinados, 80% das crianças foram encontradas
em situações de trabalho, colaborando com o sustento da família. As tarefas eram diversas,
424
Fundo Departamento de Educação, 02718, APERJ 425
Fundo Departamento de Educação, 02708, APERJ. 426
Fundo Departamento de Educação, 02728, APERJ. 427
Ibidem. Mapa de 10/1944. 428
Fundo Departamento de Educação, 02728, APERJ.
186
desde a lida na lavoura, trabalhos domésticos, cuidar dos irmãos, carregar água, cortar e
vender lenha, vender alimentos, fazer entregas (PRADO, 1995, p.21). Além da fadiga
provocada pelo trabalho, o autor do trabalho, Alcimar Terra, “técnico de educação”,
condenava também os valores sociais, culturais e as condições locais que ambientavam o
universo das crianças, pela ausência de higiene, de técnica e de um apego pela religiosidade
(Idem).
No curso do processo de institucionalização da escola primária, o lugar e o tempo da
escola na vida cotidiana das pessoas, desde a infância, esbarraram nos modos como a vida
estava organizada, precisaram inserir-se, tornar-se prioritários, condição prévia para o
exercício de outras atividades. Foi preciso considerar e enfrentar a dimensão do trabalho
infantil nos modos de organização da escola “tendo em vista a necessidade de dotar os
camponeses e seus filhos de utensílios materiais e mentais que os possibilitem interagir
ativamente e, no mais das vezes subalternamente, com as inovações que se queria introduzir
no mundo rural brasileiro do período” (FARIA FILHO;SANTOS, 2006, p.154).
Ampliando a escala de observação, percebe-se, no pós-1930, não apenas a
continuidade, ainda que sob novos moldes, das imbricações entre projetos de escolarização e
projetos de conformação da classe trabalhadora, mas que a presença dessas propostas ocorria,
também, quanto ao controle das populações urbanas. O novo panorama político do pós-1930,
ao construir o argumento da “nação” e da “causa nacional”, arregimentou essas intenções
como pautas de políticas nacionais para a educação, presentes desde os debates, sobretudo
regionais, durante a Primeira República. À medida que as redefinições em aberto foram
censuradas ou canalizadas para o interior de um estado cada vez mais corporativo e
autoritário, os debates sobre educação revelam o caráter de imposição do trabalho regular
como meio de exercer a cidadania, as intenções de subordinação da classe trabalhadora - das
cidades e dos campos - aos requisitos do “homem novo” para o Estado Novo.
O Estado Novo é a consolidação dos grupos aliados a Vargas no poder, após a
desmobilização, pela repressão, das forças que haviam proposto projetos distintos de
sociedade nos anos anteriores, como os integralistas, organizados na Ação Integralista
Brasileira e a frente antifascista, partidária de um governo popular, nacional, e revolucionário,
organizada na Aliança Nacional Libertadora (PRESTES, 1997).
Entre os pilares do projeto de hegemonia do grupo varguista nota-se a valorização do
homem brasileiro como essencial à construção da “nova” nação brasileira. No discurso dos
ideólogos do novo regime, o liberalismo das décadas anteriores havia separado o brasileiro
simples – portador do genuíno espírito e cultura nacional – da cidadania e das decisões
187
políticas. O novo Estado deveria resgatar este homem do povo, engajando-o no
desenvolvimento político, econômico e social do país (GOMES, 2005a, p.197).
A conformação do trabalhador brasileiro a esse projeto político-econômico de nação
se daria por medidas dirigidas não apenas para as relações de produção, mas que atingiam
outras dimensões de sua vida: a casa, a família, o lazer, saúde e educação.
Em função desse projeto, Ângela de Castro Gomes (2005a, p.242) situa a criação do
Ministério da Educação e Saúde Pública (MESP) e do Ministério do Trabalho Indústria e
Comércio (MTIC) como organismos destinados a superar todos os problemas que se
colocavam à exploração da força de trabalho no país, ou seja, as questões relacionadas à
qualificação profissional do trabalhador e a manutenção de sua capacidade produtiva. Para
usar uma expressão própria do Ministro da Educação e Saúde de 1934 a 1945, Gustavo
Capanema, o Ministério da Educação e Saúde Pública (MESP) visava “melhorar o homem, na
sua saúde, nas suas qualidades morais, nas suas aptidões intelectuais, para dele fazer um
eficiente trabalhador” (1935 apud CUNHA, 1983: p. 466).
Nos termos da legislação e da propaganda ideológica do governo no período, a
intervenção do Estado deveria elaborar um referencial normativo, a fim de amparar o
trabalhador brasileiro. Trabalhar não era apenas um meio de sustento próprio, mas sobretudo
um meio de servir à pátria (GOMES, 2005a, p. 239). A construção da nação passaria
necessariamente pelo controle da classe trabalhadora (MENDONÇA, s/d, p. 42).
Em estudo anterior demonstramos (DIAS, 2005) como o processo de “industrialização
restringida” que viabilizou a industrialização do país pôs em pauta a elaboração de uma
política educacional e nacional para a profissionalização da força de trabalho, começando
justamente pelo ensino industrial. Portanto, tratava-se de trabalho que servisse ao
desenvolvimento econômico do país. No Estado Novo, sob a ótica dos ideólogos do regime,
as classes trabalhadoras deveriam constituir-se em elemento da ordem e do trabalho,
tornarem-se um elemento de colaboração com o capital, “no esforço espontâneo de realizar a
grandeza nacional e a harmonia entre as classes” (VARGAS, 1938 apud VIANNA, 1978,
p.213).
A importância conferida à educação pelo Estado esteve imbricada com os projetos e
disputas pela construção da hegemonia de um grupo sobre a direção da sociedade. Afinal, o
poder não se exerce apenas pela coerção, mas também se apoia “no controle das instituições
que conferem sentido: aquelas que definem e justificam o indivíduo, ensinam-no a pensar de
certa maneira e não de outra, indicam-lhe os valores que deve compartilhar, as aspirações
permitidas e as fobias imprescindíveis” (ACANDA, 2006, p.176). A escola é uma destas
188
instituições que “sempre foram objetivos do poder, que tentou instrumentalizá-los em
benefício próprio” (ACANDA, 2006, p.176).
Deve-se lembrar, contudo, como revela o caso da Escola Típica Rural em Santa Rita,
das distâncias entre prescrições e realizações, a participação ativa, as reelaborações e
apropriações que os sujeitos – submetidos ao processo de escolarização – também submetem
à escola.
Ademais, as políticas educacionais para escolarizar o trabalhador rural não eram
propagandeadas nem realizadas pelos mesmos grupos de interesses. Ainda que tenha ocorrido
um aprofundamento de políticas emanadas do Ministério da Educação e Saúde para a
ruralização do ensino, apontando certas continuidades com o ruralismo da Primeira
República, os objetivos e orientações divergiam quanto à prioridade que deveria revestir a
agricultura e a pretensa “vocação agrícola” do país.
Rural e urbano compondo o Distrito-sede, os debates e as políticas de
escolarização
Em Iguaçu, os registros dos embates entre escolarização e trabalho foram apreendidos
pelas queixas e denúncias dos professores acerca dos alunos que deixavam a escola, ou a
frequentavam sazonalmente, em função da colheita das laranjas e dos serviços de
beneficiamento para exportação (realizado nas packing-houses).
Como foi visto no capítulo 1, o distrito de Nova Iguaçu, além de sede da cidade, de
centro urbano, era também a maior zona citrícola do município e o mais densamente povoado.
Essa fração do município apresentou características rurais e urbanas, sendo ambas
importantes para o distrito. Afinal, se a historiografia da educação é mais farta em apresentar
as vinculações entre modernidade, urbanização e escolarização, o que ocorre nos processos de
escolarização quando o rural também é dimensão estruturante da economia e dos projetos de
poder de um município, ou de parte dele? Em Nova Iguaçu, como as escalas do urbano e do
rural ecoaram sobre os processos e projetos de escolarização?
Na expectativa de adotar o regional como posição de análise, foi adequado não
considerar o município como espaço-fronteira homogêneo. Desse modo, o esforço em
conhecer a história do município de Nova Iguaçu, a partir dos marcos dos usos econômicos de
seu espaço e da configuração de seu território revelou os diversos processos que dinamizaram
as transformações no distrito-sede da cidade, Nova Iguaçu.
As transformações que afetaram a economia do município de Nova Iguaçu também se
confirmaram nos índices de crescimento populacional. Ainda que não haja a intenção de
189
utilizá-los como dados precisos, servem como balizas para dimensionar o contingente
populacional da região e os usos do território.
Entre 1892 e 1920, quando houve a reordenação da sede do município para
Maxambomba, ocorreu pouca perda territorial e a diminuição da população que habitava a
antiga sede (Cava). Verifica-se o crescimento populacional no distrito que recebe a nova sede
e que é o principal polo de cultivo e de beneficiamento da laranja (Jacutinga).
Tabela 7 População do município de Iguaçu 1892/1920.
1892 1920
Iguaçu:1.499 km2 Iguaçu:1.315 km
2
Distritos Recenseamento
estadual
Distritos
correspondentes
Recenseamento
nacional
Jacutinga 6.840 Iguaçu 12.382
Marapicu 5436 Queimados 3.063
Cava (ant. Iguassu) 4372 Cava 2001
Meriti 2761 Pavuna 8255
Palmeiras 2342 Santa Branca 1261
Pilar 2475 Xerém 2823
Nilópolis ------ São Mateus 3611
Total: 24.226 33.396
Fonte: Adaptado de Maia Forte, 1933; Soares, 1962.
A comparação com os dados de 1940 (Tabela 2, p.91) permite dimensionar as
transformações ocorridas nessas décadas no município. Não houve perda territorial, e a
população passou de 33.396 habitantes para 140.606, isto é, quadruplicou. Entre 1920 e 1940
houve crescimento populacional em todos os distritos do município. Os principais distritos
que atestam o crescimento são Nova Iguaçu, devido à citricultura, Meriti, Nilópolis e Caxias,
devido ao processo de loteamentos. O crescimento populacional no município, que foi
vertiginoso no período, ocorreu pelo afluxo de trabalhadores, tanto do estado do Rio de
Janeiro, das regiões próximas do Vale do Paraíba (COSTA, 2011), quanto de nordestinos e
estrangeiros.
Para o ano de 1940, há dados disponíveis sobre a distribuição da população (Tabela 2,
p.91). A fonte consultada não esclarece os conceitos de “urbano e suburbano”, mas interessa
observar o resultado do processo de loteamentos no município, que resultou numa população
“urbana e suburbana” maior do que a rural, inclusive no distrito sede, ainda bastante ancorado
na citricultura na década de 1940.
Contudo, é o distrito-sede que concentra expressivamente a maior parcela da
população rural do município. A comparação entre os dados acerca da população “urbana e
suburbana” e “rural” entre os distritos mais populosos do município em 1940, Nova Iguaçu,
Caxias, Meriti e Nilópolis, apresenta maior equilíbrio entre o número da população urbana e
190
rural no distrito-sede, Nova Iguaçu, do que a proporção verificada nos distritos de Caxias,
Meriti e Nilópolis (Tabela 2, p.91).
Maria Soares (1962) destaca o crescimento da população, entre 1920 e 1940, devido à
“suburbanização” dos distritos limítrofes ao Distrito Federal, mas ressalta, também, o
expressivo crescimento populacional nos distritos “essencialmente agrícolas”, Nova Iguaçu,
Cava, Queimados e Bonfim, que foi da ordem de 18.707 habitantes em 1920, para 43.167 em
1940. Esse aumento devia-se à citricultura, que atraiu pessoas principalmente para o distrito-
sede, posto que para esse distrito afluíram 22.585 dos 24.467 habitantes a mais registrados
pelo censo de 1940:
Tais números expressam bem o grande afluxo de pessoas para as lides agrícolas na
região mais próxima da cidade [...] Fracionamento intenso da terra, afluxo da
população para a zona rural, laranjais que se multiplicavam cada vez mais, fortunas
que surgiam rapidamente, ligadas, principalmente, ao beneficiamento e à exportação
da laranja, tudo, enfim, representava riqueza para uns, prosperidade para outros,
trabalho para muitos. Ano para ano, crescia, em grandes proporções, a área ocupada
pelos laranjais (Ibidem, pp.55).
Em outra escala de comparação, entre os dados populacionais do município com os do
estado do Rio de Janeiro, a partir dos dados de 1940, nota-se que o estado apresentava
1.847.857 habitantes, sendo urbana e suburbana, 693.201 e rural, 1.154.656. O município de
Nova Iguaçu, com 140.606 habitantes, possuía população urbana e suburbana de 110.679 e
população rural de 29.927 (IBGE, 1948a, p. 17). Logo, o estado do Rio de Janeiro, em 1940,
apresentava população rural maior do que a urbana, enquanto o município de Nova Iguaçu
apresentava população urbana e suburbana maior do que a rural, estando a população rural
bastante concentrada no distrito-sede.
A tese de livre docência de Maria Segadas Soares (1962) é um importante estudo
sobre as funções rurais e urbanas exercidas pelo distrito-sede na primeira metade do século
XX. No campo da discussão geográfica, a tese aborda o processo de integração da cidade de
Nova Iguaçu (distrito-sede) com a área metropolitana do Rio de Janeiro, após a crise da
citricultura. Desse estudo, importa destacar a análise que apresenta o centro administrativo da
cidade de Nova Iguaçu como o substrato urbano que catalisava as demandas das áreas rurais
do município, produtoras de laranjas na primeira metade do séc. XX:
Este substrato, deve-o Nova Iguaçu ao exercício, durante longo tempo, de funções
de caráter eminentemente urbano. Foi pela soma de funções variadas que ela se
tornou, nas primeiras décadas do Séc. XX, uma cidade, isto é, uma aglomeração
bem individualizada quanto ao meio rural circundante e um centro de relações a
servir determinada área e a colocá-la em contato com o resto do mundo (Ibidem, p.
45).
A autora defende que a citricultura foi o fator de consolidação da célula urbana em
Nova Iguaçu. Importante considerar a historicidade da função urbana exercida pelo distrito-
191
sede, em função da citricultura, e dos outros distritos limítrofes ao Distrito-Federal. Nova
Iguaçu, Nilópolis, São João, Caxias, conhecem processos de urbanização, são dotados de
características citadinas, mas o distrito-sede possui a especificidade da citricultura. A
urbanização, nesse caso, é em função das atividades agrícolas, da laranja, tornando-se
mercadoria valorizada para a economia local, regional e nacional. Rural e urbano, no distrito-
sede, confluem num mesmo projeto ruralista de recuperação econômica pela modernização
das atividades agrícolas. Todo um aparato urbano, moderno, industrial, assim como a
construção e conservação de estradas, conformou o uso do distrito-sede para o cultivo dos
laranjais, seu beneficiamento e exportação.
A sede administrativa integrava as atividades de beneficiamento e escoamento da
produção: “Daí resultava uma relação íntima entre o núcleo urbano e o meio rural
circundante, crescendo aquele em função, principalmente, das necessidades desse” (SOARES,
1962, p. 57). Assim, na recomposição dos diferentes contextos que demarcam as fronteiras e a
história do município entre as décadas de 1910 e 1940, as dimensões do rural e do urbano, e
suas interações, emergiram como eixos fundadores da problemática de pesquisa.
Como foi apresentado no capítulo 2, as fontes utilizadas para esboçar um perfil dos
tipos de escolas existentes no município revelaram, para o intervalo entre 1929-1949, maior
presença e diversidade de escolas primárias no distrito-sede, em comparação com o conjunto
de escolas que se soube existir nos demais distritos, durante o mesmo intervalo de tempo.
A localização de parte das escolas existentes no município de Nova Iguaçu foi
verificada nos mapas de frequência do Fundo Departamento de Educação, desde o endereço
de ruas, praças, distritos. Mas, no percurso de coleta de dados dos mapas, chamou atenção um
tipo de anotação neles inscrita, por vezes a lápis, ou com giz de cera: “rural”; “urbana”, “urb.”
“R”, “r”, adicionavam informações sobre as escolas. Essas observações aparentam ter sido
feitas posteriormente ao recolhimento dos mapas, porque, geralmente, é uma mesma
caligrafia em mapas de diferentes localidades. A inscrição é feita nas margens, por cima de
outros escritos, parecendo funcionar como um “carimbo”, uma classificação. Contudo, não
era uma aparição sistemática, ainda que tenham todas ocorrido entre os anos de 1944 a 1949.
É pertinente apresentar o resultado de um estudo exploratório destas classificações que
recaem sobre a localização das escolas. Das 58 notações para escolas situadas no distrito-sede,
pelo menos 25 receberam a classificação de rural ou urbana. Destas 25 notações, 7 casos
apresentaram oscilação na designação rural ou urbana. Essas oscilações podem demonstrar a
mudança da classificação das escolas, no curso do tempo em função das mudanças ocorridas
na localidade em que estavam situadas. Mas há também possibilidade de erros ou imprecisão
192
de atribuição, como na escola municipal Dr. Thibau, que foi classificada de rural em um mês,
e urbana no mês seguinte.429
Para 12 notações houve atribuição “urbana”, e para outras 7, a atribuição “rural”. No
conjunto das notações do distrito-sede, pela denominação das escolas e/ou pelo endereço,
mesmo sem constar o tipo de anotação em giz de cera ou lápis, foi possível atribuir a
conotação de urbana para outras 13 escolas e de “rural” para mais 4 notações. Portanto, de 58
notações foi possível trabalhar com 42 atribuições de rural ou urbano (incluindo os casos de
oscilações entre rural e urbano) para o distrito-sede. Por este recorte haveria no distrito-sede,
pelo exame nesta documentação específica (e lacunar, como já foi advertido), uma
predominância de escolas situadas em área urbana. Isso no que tange à localização.
Entre as 77 notações situadas nos demais distritos, o mesmo exercício revela 29
notações classificadas por anotações em lápis ou giz de cera. Destas, 16 com atribuição de
“rural”, 3, “urbana”; 9, “distrital” e um caso de oscilação rural/urbano. Considerando a
proximidade das classificações “distrital” e “urbano”, neste recorte, haveria o predomínio de
escolas rurais. Esse pequeno exercício excluiu, contudo, a maioria das notações classificadas
como localizadas fora do distrito-sede, devendo ser considerado pouco conclusivo.
Um segundo estudo exploratório, em sequência deste primeiro, foi cotejar a
classificação “rural” e “urbana” do distrito-sede com os tipos de escolas, o que revelou o
seguinte quadro, para o conjunto das 42 notações (para as demais 16 notações do distrito-
sede, mesmo tendo sido classificadas como 10 municipais, 5 estaduais e uma subvencionada,
não foi possível situar o tipo de localização, se urbana ou rural):
Tabela 8 Classificação de 42 notações do Distrito-Sede, por localização e tipo.
Classificação de 42 notações do Distrito-Sede, por localização e tipo
Rural Urbana Oscilação
Rural / Urbano
Total de
notações
Estadual 1 16 2 19
Municipal 6 5 4 15
Subvencionada 2 4 1 7
S/classificação 1 1
Total de
notações por
classificação
10
25
7
42
Fonte: Fundo Departamento de Educação, Nova Iguaçu (1929-1949)
429
Fundo Departamento de Educação, 02681, APERJ. Mapas de outubro e novembro de 1945.
193
Assim, neste recorte, haveria uma predominância de escolas urbanas no distrito-sede, e
de escolas rurais nos demais distritos, na segunda metade da década de 1940. Cabe considerar
que este estudo exploratório dos dados do Fundo Departamento de Educação abarca, apenas,
parte das escolas “oficiais”, estaduais, municipais e particulares e/ou subvencionadas
localizadas no distrito-sede. O Jornal Correio da Lavoura deixa pistas, ainda a serem
seguidas, sobre uma ampla rede de cursos e aulas particulares e de outras escolas em
funcionamento.
Contudo, além deste estudo pelas classificações inseridas de “urbano”, “U”, “urb”,
muitos endereços de escolas atestam o funcionamento das mesmas em ruas centrais do
distrito-sede, e, ainda, para escolas de outros distritos, em ruas das áreas centrais do distrito,
provavelmente mais urbanizadas. É possível sustentar, para o distrito-sede, que a presença de
mais escolas nas áreas urbanizadas, na “sede da sede”, é constituinte das funções exercidas
pela pequena área urbana do distrito-sede. As fotografias do distrito sede, incluídas no
capítulo 1, como foi visto, demonstram a presença de áreas plantadas permeando, envolvendo,
se misturando, com a pequena área urbanizada, identificada pelos traçados das ruas e as
construções. O emprego do solo para o cultivo agrícola pode ainda ter desempenhado um
obstáculo a implantação de escolas “oficiais” nas áreas rurais.
O centro do distrito, a “sede da sede”, construído no entorno da estação de trens,
interligado com as demais regiões pela construção das estradas para escoamento da produção
até os packing-houses, e dali para os portos e o mercado interno, agrupava as funções dos
serviços de comércio, instrução, saúde e lazer, além do aparato público administrativo de todo
município – prefeitura, câmara, cadeia, fórum, etc. Assim, esse pequeno núcleo urbano do
distrito-sede, às margens da estação ferroviária de Nova Iguaçu, também estava voltado para o
atendimento da população rural de seu entorno:
[...] que na pequena cidade se vinham aprovisionar em gêneros, fazer compras,
cumprir os seus deveres religiosos, educar seus filhos e divertir-se. Com isso, cada
vez mais Nova Iguaçu via crescer a área e o número de pessoas a que servia,
ampliando a sua função de centro de relações. A cidade passou a existir,
predominantemente, para servir o campo e era este, por sua vez, que vivificava a
cidade (SOARES, 1962, p. 56).
Parte das mudanças que ocorrem na estrutura espacial do município podem ser
pensadas a partir do mapa que apresenta o crescimento da ocupação urbana no distrito de
Nova Iguaçu, entre as décadas de 1930 e 1960.
194
Figura 23 Crescimento da Ocupação urbana no 1º distrito de Nova Iguaçu.
Fonte: Simões, 2007, p. 132.
É provável que o espraiamento do urbano, em função da atividade citrícola, seja
explicativo do número de escolas encontradas no distrito sede e a da diversidade dos tipos das
mesmas (grupo escolar, escolas isoladas, escolas noturnas, escolas particulares).
Um Boletim Municipal do ano de 1935, “órgão oficial da municipalidade”, fazia a
propaganda dos aparatos da modernidade que possuía o município de Iguaçu. Sob a chamada
“V. Excia. ainda não conhece o Municipio de Iguassú?!...” fazia-se um convite a conhecer o
mesmo, posto que possuísse em seu perímetro urbano “12.125 casas, quase todas edificadas
nos moldes modernos”, era cortado por grandes ferrovias, rodovias e exibia
boas estradas de rodagem, iluminação em todos os seus 9 distritos, boa lavoura,
industria e comércio prósperos. Suas terras são fertilíssimas e dúcteis a qualquer
espécie de cultura. Exportação, em grande escala. A citricultura, nele, é um fato.
Iguassú é a Califórnia Brasileira.430
Quanto ao distrito-sede, a propaganda municipal destacava que a cidade de Nova
Iguaçu “é a urbs, no sentido romano do termo” e contabilizava seus dotes urbanos:
Gymnasio, Curso, Grupo Escolar, 74 escolas primárias, afora as particulares, 1
cinema, 4 jornais, Fórum, (varas civil e criminal); 5 cartórios, Hospital e Assistência
Pública, 2 bancos, 2 importantes sociedades esportivas, 1 Liga federada, além de
430 V. EXCIA. AINDA NÃO CONHECE O MUNICIPIO DE IGUASSÚ?!... NOVA IGUAÇU. Boletim
Municipal, 31/03/1935, Acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu.
195
muitas outras associações. Cursos de datilografia e de alta costura; templos de vários
cultos, etc..431
A perspectiva de assumir as escalas de urbano e rural como “lugar epistemológico”
(FARIA FILHO, 2009a) permite pensar as possibilidades de diversidade e heterogeneidade no
desenvolvimento dos processos de escolarização. Mas lidar com essas categorias requer situar
algumas questões.
Em primeiro lugar, a historicidade destes termos, as disputas em curso, naquele
momento, sobre os significados assumidos, os significados atribuídos, os contrastes forjados,
por diferentes vozes, aos mesmos termos.
Nesta perspectiva, por exemplo, foi observado, na propaganda ruralista exercida pelo
Jornal Correio da Lavoura, as identificações promovidas entre campo (território) e atividade
agrícola. Ao tornar sinônimos os significados de rural, campo, agricultura, argumentava-se em
prol da “vocação” agrícola do país, devido a suas paisagens rurais. No interior desse mesmo
movimento ruralista, ora eram disseminadas ilustrações e adjetivações valorativas do campo
como reflexo da pureza, da natureza, da vida social estável, segura, promissora, em oposição à
vida conturbada nas cidades. Por outras frentes, o campo também era identificado com o
atraso, com o arcaico, com o improdutivo, o que, contudo, servia para sustentar um cenário de
crise, para o qual já se avolumavam sugestões de solução, que resultariam, finalmente, na
recuperação econômica e na continuidade da vocação agrícola do país. As concepções sobre
os trabalhadores, aventadas nesses discursos, também oscilavam entre a síntese do “jeca tatu”
e o “salvador da Pátria”, subsidiando projetos de educação do habitante destas paisagens, para
torná-lo um trabalhador produtivo e um cidadão obediente à pátria.
Na perspectiva adotada pelo Jornal, mas também percebida nas relações entre os
citricultores e agências de governo estadual e federal (MAIC), a citricultura representava, em
Nova Iguaçu, a recuperação econômica pela via da modernização dos modos de cultivo e
beneficiamento do produto. Dialeticamente, a luta pela lavoura, higiene e instrução, também,
pontuava os impasses, as defasagens entre as condições de vida na região e o almejado
progresso, que devia ser materializado em escolas, saneamento, abastecimento de água,
iluminação pública, postos de saúde e de trabalho.
A citricultura em Iguaçu nos possibilita pensar tanto a historicidade quanto o
imbricamento entre rural e urbano na constituição dos usos do território. Abre possibilidades
431
NOVA IGUASSÚ. NOVA IGUAÇU. Boletim Municipal, 31/03/1935, Acervo do Instituto Histórico
e Geográfico de Nova Iguaçu.
196
também de refletir sobre estas relações entre rural e urbano em um momento importante das
relações capitalistas no país.
Ao criticar as teses dualistas do pensamento social brasileiro que opuseram rural e
urbano, campo e cidade, como ícones, respectivamente, do arcaico e do novo, do antigo e do
moderno, na forma de expansão do capitalismo no Brasil, Francisco de Oliveira (2003)
retoma estas relações em novas bases:
[...] expansão do capitalismo no Brasil se dá introduzindo relações novas no arcaico
e reproduzindo relações arcaicas no novo, um modo de compatibilizar a acumulação
global, em que a introdução de relações novas no arcaico libera força de trabalho
que suporta a acumulação industrial-urbana e em que a reprodução de relações
arcaicas no novo preserva o potencial de acumulação liberado exclusivamente para
os fins de expansão do próprio novo (OLIVEIRA, 2003, p.60, grifos do autor).
A passagem acima sintetiza a especificidade, no pós-1930, da função qualitativamente
distinta que é exercida pela agricultura no processo de acumulação genética e estrutural de
capitais que antecede e mantém a industrialização. O setor agrário-exportador precisou ser
mantido para “suprir as necessidades de bens de capital e intermediário de produção externa”,
porém, não deveria ser alimentado como unidade central do sistema (Ibidem, p.42). Exercia,
também, a função de abastecer o consumo interno, devendo suprir as necessidades das massas
urbanas, sem elevar os custos de alimentação e de matérias primas, fomentando o processo de
acumulação urbano-industrial (Idem).
As relações de produção do campo foram essenciais ao modo de acumulação urbano-
industrial. No campo ocorreu, no Brasil, a “expropriação do excedente”: o trabalhador rural
ocupa provisoriamente a terra, prepara-a para o cultivo e as áreas de pastagem e mantém,
também, roças de subsistência. Esse trabalho favorece a baixa cotação nos preços dos
produtos que abastecem as cidades, contribuindo para a acumulação, por manter baixo
também o valor de reprodução da mão-de-obra urbana (OLIVEIRA, 2003, p.43). Há vínculos
importantes para a acumulação urbano-industrial, nas composições entre “agricultura
primitiva” e a implementação de técnicas modernas de cultivo. A articulação, manutenção e
por vezes ampliação do modelo da “agricultura primitiva”, tanto dos modos de cultivo quanto
da ausência de custos com legislação trabalhista no campo, permitiu a manutenção dos baixos
custos de reprodução da força de trabalho rural. Além disso, não havendo repasse dos custos
de produção para os preços dos alimentos, também concorria para manter rebaixados os
custos de alimentação dos trabalhadores urbanos, liberando, também, mão-de-obra para as
cidades. Nota-se, assim, que a acumulação dependeu de uma “alta taxa de exploração da força
de trabalho” (Ibidem, p.46).
197
O autor destaca que a introdução de novas relações entre capital e trabalho no setor da
indústria, sobejamente mediadas pelas agências estatais, não implicou a exportação das
mesmas relações para a agricultura. No modelo brasileiro de expansão do capitalismo, houve
uma tendência em perpetuar “relações não-capitalistas na agricultura”, de forma estrutural, a
colaborar com a sustentação e alimentação “dos setores estratégicos nitidamente capitalistas”
(OLIVEIRA, 2003, p.69).
Contudo, as tendências que foram verificadas acerca da expansão do capitalismo no
Brasil, no pós-1930, numa perspectiva retrospectiva, não encobrem a percepção de uma
correlação de forças de debates e disputas, vigente, no período, além da gestação de um
projeto próprio, no seio das frações agrárias, que não pensava em subordinar a “vocação
agrícola” aos imperativos da industrialização.
Neste sentido, a experiência da citricultura nos distritos agrícolas do município de
Iguaçu é reveladora do movimento, do processo em curso. A existência, no município, de
experiências distintas do uso do território e da população, como ocorria nos distritos vizinhos
ao Distrito Federal, lançados ao loteamento, urbanizando-se e recebendo ampla gama de
trabalhadores urbanos, revela a presença de outros grupos locais não vinculados ao ruralismo.
Maria Soares destaca que Nilópolis, São João, Caxias, conformavam uma região que “era
autossuficiente em relação à sede administrativa, no setor de comércio e serviços, além de
apresentar incipiente função industrial” (SOARES,1962, p.58).
É possível imaginar que a mudança do nome do município de Iguaçu, para Nova
Iguaçu, em 1938,432
projetando, portanto, o nome da sede para todo o território, fosse uma
tentativa de integrar o que já era repartido, de projetar o sentido da sede para o município.
Seriam justamente as primeiras áreas de loteamentos urbanos que se emancipariam do
município na década de 1940, a partir do amadurecimento de grupos e lideranças locais nesses
distritos.
A propósito, tanto nessas áreas que receberam grandes levas de trabalhadores urbanos,
quanto o distrito-sede, que recebeu também contingente de trabalhadores vinculados à
citricultura, foram as regiões que apresentaram, a partir das fontes consultadas, o maior
número de escolas, estaduais, municipais e subvencionadas. O distrito-sede, onde o perímetro
urbano cresceu em função da citricultura, sediou o maior número de escolas.
432
Todo o município passaria à denominação de Nova Iguaçu, provisoriamente pelo Decreto-lei n. 392-
A, de 31 de março de 1938 e definitivamente a partir da reforma da divisão territorial do estado do Rio
de Janeiro, pelo Decreto n. 641 de 15 de dezembro de 1939. Coleção de Leis do Estado do Rio de
Janeiro. APERJ.
198
Existem diversos trabalhos em história da educação que se debruçaram sobre as
relações entre escola e cidade, com destaque para os significados e funções que ambos
representavam nos projetos de modernidade, de construção do espírito público, na criação de
uma nova ordem social e política em diferentes tentativas de construir e reinventar a nação
brasileira, especialmente no pós-abolição e na Primeira República (NUNES, 2007).
A escola foi sujeito e produto desse processo de construção da modernidade e, por
isso, esteve alinhada aos temas da civilidade, da urbanização, da cultura letrada. Mas esse
alinhamento não adveio sem conflitos. Por vezes, o próprio processo de institucionalização da
rede de escolas evidenciava as defasagens entre programas e realizações. As reformas da
instrução pública dos anos de 1920 e 1930 representam esse movimento, em que os
problemas de funcionamento das escolas espelhavam os problemas urbanos de habitação,
transporte, insalubridade, doenças e falta de estrutura. As reformas e as novas arquiteturas
escolares adotadas eram o investimento em promover a profilaxia e homogeneizar os
comportamentos sociais (Idem).
Dessa forma, a escola se constituía na teia das relações urbanas, e sobre essas também
intervinha, ao estabelecer classificações e modelos de funcionamento da cidade. A cidade é o
cenário de enraizamento da escola, mas também de conflitos e negociações com outros modos
de socialização e de usos do espaço social (FARIA FILHO, 2005a, p.34). Ademais, a
“experiência do escolar”, que busca normatizar, homogeneizar e racionalizar modos de viver,
se depara com o contexto heterogêneo da cidade:
Contra a pretensão homogeneizadora da escola, a cidade se lhe apresenta
continuamente como uma experiência do heterogêneo e do múltiplo. É assim,
também, que a cidade se impõe à escola: como uma pluralidade de sujeitos, de
culturas, de instituições, de estímulos, de sensibilidades..., ou seja, como experiência
de aprendizagem muito diversificada e descontrolada para os padrões escolares,
exigindo sempre e sempre a atualização dos mecanismos, das estratégias, de
inclusão e exclusão, controle, os quais, por outro lado, dando lugar mais e mais a
astúcias, a práticas, a táticas de subversão, apropriação e novos empregos das
experiências, culturas e saberes compartilhados (FARIA FILHO, 2005a, p.36).
Contudo, na posição de análise que se constitui neste trabalho, na cidade de Nova
Iguaçu, a escola também se constituía na teia das relações rurais. Assim, no desenvolvimento
da pesquisa, busca-se atentar para as relações entre município e escolarização. Toma-se por
hipótese que os investimentos em criação de escolas no município e a relevância que o tema
da instrução assume nos eventos, nas realizações e debates da cidade guardam vínculos com o
processo de construção da “Nova” Iguaçu. A instrução também foi uma ferramenta nos
esforços em desenvolver novas concepções e usos do espaço do município e das formas como
os diferentes grupos sociais experimentavam esse espaço. Isto posto, considera-se importante
199
investigar as alianças e disputas que pautavam a constituição das instâncias de governo locais,
como a Câmara de vereadores e a prefeitura e suas relações com os grupos sociais da região.
À medida que o município despontava como importante polo produtor do estado do
Rio ia conhecendo investimentos para sua modernização e para o escoamento da produção,
como o saneamento (fundamental por ser uma região de baixada cortada por rios e
apresentando pântanos e brejos em muitas localidades), construção de estradas, calçamento de
ruas, combates a epidemias, doenças etc. Por meio do desenvolvimento da citricultura,
expresso também na modernização do distrito-sede, buscava-se inserir o município no
caminho do “progresso” almejado. O exame do conjunto de reformas e modernizações
pretendidas apresenta-se, no seio dos grupos que foram hegemônicos, como recursos
destinados a suscitar o desenvolvimento econômico por meio das atividades agrícolas, quando
se tem em foco o distrito-sede. No entanto, outros projetos de modernidade, de caráter mais
urbanizador, incidiam sobre os distritos limítrofes ao Distrito Federal, que acolhiam, por meio
dos loteamentos, a mão-de-obra assalariada que servia ao Distrito Federal e a Niterói.
As disputas pelo poder no cenário local
Ao tomar distância da perspectiva do regional como um dado prévio, exterior à
pesquisa, foi preciso recompor os diversos contextos que conformavam aquele território.
Deste modo, além dos usos distintos do território, das mudanças administrativas, políticas e
econômicas que delineavam Nova Iguaçu, foi preciso identificar os sujeitos que,
coletivamente organizados, em agências da sociedade política ou da sociedade civil,
participavam da construção da região. Restituir a correlação de forças entre os grupos
dominantes na cidade, e suas relações com as demais instâncias de poder foi um exercício
indispensável para a problematização e compreensão dos significados que a escolarização
assumia para aquela sociedade, ou para parte dela. As disputas pelo poder no cenário local
informam sobre a construção, a invenção da “Nova Iguaçu”, sobretudo no pós- 1930.
Como foi tratada no primeiro capítulo, a criação da prefeitura em Iguaçu compôs parte
da política estadual em agenciar obras de infraestrutura na região. Ainda que os grupos locais
acordassem sobre o imperativo de implementar a rede de águas e esgotos da cidade, a
imposição de um prefeito, pelo governo estadual, encontrou resistências por parte de setores
locais.
Em Iguaçu, a deposição do prefeito indicado, Mário Pinotti, ainda sob a presidência
estadual de Raul de Moraes da Veiga (1919-1922), aliado de Nilo Peçanha, reconduzia ao
200
poder parte dos grupos locais liderados por Ernesto França Soares, vinculados ao
situacionismo federal.
Nilo Peçanha era um representante das “frações dominadas da classe dominante
agrária” no Brasil durante a Primeira República, isto é, defendia os interesses de setores dos
proprietários agrários que buscavam pressionar a atenção da ação pública para o
favorecimento de outros complexos agrários, para além da cafeicultura paulista. Seu projeto
de poder pretendia restabelecer a influência política do estado do Rio de Janeiro na órbita
nacional e obter maior capital político no pacto oligárquico (MENDONÇA, 1997, p. 32).
O movimento da Reação Republicana, em 1920, expressara as tensões do pacto
oligárquico e lançara Nilo Peçanha como candidato, apoiado por Rio Grande do Sul, Bahia,
Pernambuco, Distrito Federal e Rio de Janeiro, tendo disputado as eleições com Artur
Bernardes, representante das oligarquias paulista e mineira. Esse movimento inaugurou um
ciclo de questionamentos da ordem vigente e desestabilizou o regime político da Primeira
República (FERREIRA, 1993, p. 10).
Em Iguaçu, membros do Partido Municipal, liderados por Octavio Ascoli, sucessor de
Ernesto França Soares, manifestaram o apoio à candidatura de Artur Bernardes.433
Na
oposição, a corrente política liderada por Manoel Reis, organizada no Partido Republicano do
município, estava alinhada à candidatura de Nilo Peçanha e também lançava um candidato à
prefeitura, Manoel Francisco Salles Teixeira, que foi eleito e assumiu o cargo em dezembro
de 1922.
No cenário estadual, a candidatura de Raul Fernandes, representante da reação
republicana, também foi vitoriosa, mas uma articulação de deputados partidários de Feliciano
Sodré não reconheceu o pleito e empossou Sodré no cargo. A situação propiciou uma
intervenção federal no estado do Rio de Janeiro. O presidente da república eleito, Artur
Bernardes, empenhou-se em desmontar o movimento da reação republicana e nomeou como
interventor Aurelino Leal, ex-chefe da polícia da capital do país. Em Iguaçu, o candidato
eleito pelos partidários do movimento da reação republicana, o Dr. Manoel Francisco de
Salles Teixeira, foi substituído interinamente pelo cel. João Telles Bittencourt, ligado às
forças partidárias de Artur Bernardes e do Partido Municipal de Iguaçu.434
A posse de Feliciano Sodré (1923-1927) significou o rompimento com a hegemonia
política de Nilo Peçanha, que preponderava no estado do Rio de Janeiro desde 1904. Dessa
forma, o novo governante se colocava como regenerador do regime e “esforçava-se para criar
433
POLITICA, 13 out. 1921. 434
O NOVO PREFEITO PARA A PREFEITURA LOCAL, 30 ago. 1923.
201
uma imagem de dirigente empreendedor e investidor na recuperação fluminense”
(FERNANDES, 2009, p.76).
Em Iguaçu, as forças do Partido Municipal continuaram no poder. Octavio Ascoli
assumiu a prefeitura, enquanto João Telles Bittencourt, antes prefeito interino, tornou-se
presidente da câmara municipal.435
Manoel Reis e as forças do Partido Republicano voltaram a disputar as eleições
estaduais em 1927436
, mas foi vitorioso Manuel Duarte, que imprimiu ao seu governo um tom
de continuidade e manteve as relações políticas do estado harmonizadas com a presidência
federal de Washington Luís (FERNANDES, 2009, p. 81).
Washington Luís visitou Iguaçu em 1928, acompanhado do governador Manoel
Duarte, do ministro da Agricultura e de membros do Serviço de Fomento Agrícola. Na
ocasião, o grupo inspecionou brevemente os laranjais e foi recebido pelo deputado estadual
Alberto Melo e pelo coronel João Telles com um banquete oferecido no Paço Municipal.437
Segundo Waldick Pereira, esta visita atendeu ao convite promovido pela Associação de
Fruticultores de Nova Iguaçu para um debate sobre a citricultura. O evento serviu também, no
âmbito local, para dirimir a resistência de alguns pomicultores em participar da Associação
(PEREIRA, 1997, p.130).
A Associação de Fruticultores foi bastante atuante em reivindicar medidas em prol da
citricultura, enviando minuciosos relatórios ao Ministério da Agricultura, ao governo do
Estado e ao poder público municipal (Ibidem, p.131). No ano seguinte à visita de Washington
Luis, na qual os citricultores obtiveram o apoio do governo federal na importação de
maquinário adequado ao acondicionamento das laranjas para exportação, a Associação
recorria ao auxílio da municipalidade para construir o prédio para instalação das máquinas,
após o pedido ter sido recusado pelo governo estadual (Idem).
Em Iguaçu, nas eleições municipais de 1929, parte da oposição do município começou
a alinhar-se em torno da candidatura de Getulio de Moura para vereador, jovem acadêmico da
cidade, de família de “importantes” negociantes. O Correio da Lavoura fez relevante
campanha por sua eleição, publicando entrevistas do candidato, manifestos de apoio etc.438
O
pretendente ao cargo foi publicamente apoiado por funcionários públicos e “comerciantes
435
A POSSE DO NOVO PREFEITO, 19 jun. 1924. 436
O CASO DOS PREFEITOS, 08 jul. 1926. 437
VISITA DO PRESIDENTE WASHINGTON LUIS, 01 nov. 1928. 438
O CANDIDATO DO POVO; A CANDIDATURA DE GETULIO DE MOURA DESPERTA
GRANDE ENTUSIASMO; OUVINDO O CANDIDATO DO POVO – UMA LIGEIRA
ENTREVISTA COM GETULIO MOURA, O ARDOROSO TRIBUNO; 16 out. 1930.
202
proprietários”. No entanto, Getulio de Moura não foi eleito, ainda que tenha contestado os
resultados eleitorais.439
Nas eleições de 1929 venceu o coronel Alberto Soares de Souza e Mello para a
prefeitura em Iguaçu, “illustre e prestigioso chefe político do partido dominante”.440
Era
membro do “Partido republicano fluminense de Iguassú”, que congregava Octavio Ascoli e
João Telles Bittencourt, antigas forças da situação. Porém, essa correlação de forças e o
alinhamento do município com os grupos no poder no estado e na presidência seria alterada
com o golpe civil militar de 1930.
No estado do Rio de Janeiro, o começo da década de 1930 foi de instabilidade política
porque Manuel Duarte se manteve alinhado a Washington Luis e resistiu ao golpe civil-militar
de 1930 (FERNANDES, 2009, p.127).
Na eclosão do movimento, Getúlio de Moura, candidato derrotado, teve papel
relevante na coalizão dos grupos que apoiaram a Revolução, enquanto o poder municipal, na
figura do Coronel Alberto Soares de Souza e Mello, criava a Legião de Iguaçu, batalhão
patriótico para defender a ordem constitucional.
Na recomposição das forças políticas em Nova Iguaçu, devido ao golpe de 1930, foi
fundado, sob a liderança de Getulio de Moura, o “Partido Revolucionário de Iguassu”, que
teve adesão também do Prefeito interino.441
A reunião para a fundação do partido ocorreu na
sede da União das Classes Conservadoras e foi presidida por Silvino de Azeredo, diretor do
Correio da Lavoura, acompanhado pelo prefeito interino, o coronel Carlos Antonio de
Mattos, por Getulio de Moura, Dr. Alberto Nunes Brigadão e José Pedro Cardoso, integrantes
da União das Classes Conservadoras. Getulio Moura foi aclamado presidente do partido e
agradeceu a indicação referindo-se “aos postulados da Aliança Liberal, dos princípios de
Getulio Vargas e ao evangelho de Juarez Távora”.442
A “União das Classes Conservadoras”, na qual foi acolhida a fundação do Partido
Revolucionário, havia sido criada em 1928. Silvino de Azeredo foi um dos suplentes do
conselho diretor da instituição que, segundo o Jornal Correio da Lavoura, pretendia “sem
ligação política, a pugnar pelos interesses de classes e privados dos seus associados”.443
A
instituição funcionava nos salões do Clube dos Progressistas e sede dos “Fruticultores de
Iguassú”. Entre os membros do conselho diretor e do quadro dos suplentes havia pessoas
439
ECOS DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS, 10 out. 1929. 440
O NOVO GOVERNO DO MUNICIPIO, 09 jan. 1930. 441
PARTIDO REVOLUCIONÁRIO DE IGUASSU, 13 nov. 1930. 442
Idem. 443
UNIÃO DAS CLASSES CONSERVADORAS DE IGUASSÚ, 16 ago 1928.
203
vinculadas à produção e comercialização da citricultura no município, como Sebastião
Herculano de Mattos, Francisco Gentil Baroni, Carmine Papaléo Montoura, José Esteves
Cardoso. Getulio Moura também integrava a instituição em 1928 e de integrantes da mesma
recebeu o apoio público nas eleições para vereador que disputou em 1929.
Nas páginas do Correio da Lavoura, há descrições das manifestações em prol da
Revolução, quando da passagem dos revoltosos pelo município, a caminho do Distrito
Federal. A essa altura, o governo do estado já estava sob controle do interventor federal e, no
município de Iguaçu, o coronel Carlos Antonio de Mattos, coletor estadual que havia apoiado
a eleição de Getulio de Moura para vereador, exercia interinamente o cargo de prefeito.444
A cobertura do Correio da Lavoura reflete o apoio do mesmo ao movimento de 1930,
ao descrever com detalhes e em tom de entusiasmo a passagem das forças revolucionárias
pela cidade.445
O evento, que teria proporcionado à população “intensa vibração cívica”,
contou com a decoração da estação ferroviária, a participação de escolas públicas, com a
presença de “jovens escoteiras” e a aglomeração das pessoas que aguardaram a passagem do
“valoroso chefe civil da revolução”. Quando o trem parou na estação, sob aplausos e foguetes,
Getúlio Vargas e sua comitiva foram recebidos pelo Prefeito interino e pela Junta
Governativa, sendo também saudado, em nome da Junta e do Prefeito, por um discurso
proclamado por Getulio de Moura.
A manifestação de apoio aos revolucionários continuou em Nilópolis, a estação
seguinte rumo ao Distrito Federal, onde o trem apenas passou lentamente, a tempo de ouvir os
morteiros e foguetes, ver os cartazes e bandeiras que enfeitavam a estação e as ruas, observar
as pessoas que ali esperavam para saudar a comitiva.446
Quando Plínio Casado assumiu a interventoria do estado, recebeu indicações das
correntes políticas do município para a escolha do prefeito da cidade.447
Porém, a escolha de Sebastião de Arruda Negreiros, 448
indicado por Manoel Reis, não
obteve apoio dos grupos liderados por Getulio de Moura, “indicado pelas classes
444
PREFEITURA MUNICIPAL DE IGUASSÚ, 06 nov. 1930. 445
A REVOLUÇÃO TRIUNFANTE.A CHEGADA DOS LIBERTADORES. A PASSAGEM DO DR.
GETULIO VARGAS POR ESTA CIDADE E POR NILÓPOLIS, 06 nov. 1930. 446
Idem. 447
PREFEITURA DE IGUASSÚ, 27 nov. 1930. 448
Sebastião de Arruda Negreiros nasceu em Piracicaba, São Paulo, em 1884. Formou-se pela escola
normal e lecionou em Cachoeira Paulista, onde dirigiu o Grupo Escolar da cidade. Veio para o estado
do Rio de Janeiro em 1912, encarregado de reformar a instrução primária do Ministério da Marinha.
Passou a morar no município de Iguaçu na década de 1910, na localidade de Meriti, onde ocupou o
posto de subdelegado, tornou-se vereador em 1922, tendo assumido a presidência da Câmara em 1923
(PREFEITURA DA CIDADE DE NOVA IGUAÇU, 2003, p.41). A POSSE DA NOVA CAMARA
MUNICIPAL DE IGUASSÚ, 22 mar 1933.
204
conservadoras, liberaes independentes”.449
Esses conflitos eclodiram no dia da posse do
prefeito, quando Getulio de Moura liderou um movimento armado para impedir a posse, e ser,
ele mesmo, nomeado prefeito. Todavia, a sublevação foi detida pelas forças do exército da
Vila Militar, que não encontraram resistência. Autoridades da polícia fluminense chegaram à
cidade na parte da tarde, interrogaram as partes envolvidas e reconduziram o coronel Carlos
Mattos ao cargo de prefeito interino. No dia seguinte, foi aberto inquérito na Chefatura da
Polícia Fluminense, e o interventor Plínio Casado teve reunião com Getúlio Vargas para tratar
do acontecido em Iguaçu.450
Apesar do ocorrido, Sebastião de Arruda Negreiros tomou
posse.451
No cenário estadual, a instabilidade se expressava na sucessão de interventores. No
primeiro ano da gestão de Arruda Negreiros (1930-1936), passaram pela interventoria do
estado, Plínio Casado, o general Menna Barreto, o coronel Pantaleão da Silva Pessoa, e por
último, o comandante Ary Parreiras, que recebeu de Nova Iguaçu um abaixo-assinado pela
permanência de Arruda Negreiros na prefeitura. O documento continha assinaturas de
representantes do comércio local e de outras categorias, incluindo sócios e diretores da União
das Classes Conservadoras do município, o que levou o presidente da entidade, José Pedro
Cardoso, partidário de Getulio de Moura, a também assinar o documento.452
Enquanto os grupos liderados por Manoel Reis ocupavam a administração municipal,
Getulio de Moura se tornava o principal mobilizador da criação de núcleos do Clube 3 de
Outubro na região, organização que, emanada de setores das lideranças do golpe civil-militar
de 1930, buscava defender o Governo Provisório. Em 1932, o Correio da Lavoura noticiava
que o Partido Revolucionário de Iguassú “acaba de transformar-se em Club 3 de Outubro,
adoptando o programma e idéas da grande agremiação partidaria com séde na Capital do
paiz”. Do diretório do Clube em Iguaçu presidido por Getulio Moura participavam, entre
outros, Silvino de Azeredo Filho e José Pedro Cardoso.453
O que se observa, na composição da sociedade política em Nova Iguaçu no pós-1930,
é que correntes políticas da região, ambas alinhadas ao movimento revolucionário, buscavam
obter maior expressão junto ao Governo Provisório e aos interventores federais no estado.
Enquanto Sebastião de Arruda Negreiros representava a força do antigo político Manoel Reis,
449
EM TORNO DA NOMEAÇÃO DO PREFEITO DESTE MUNICIPIO, 18 DEZ. 1930. 450
EM TORNO DA NOMEAÇÃO DO PREFEITO DESTE MUNICIPIO, 18 DEZ. 1930. 451
O NOVO GOVERNO DO MUNICIPIO, 25 dez. 1930. 452
O ABAIXO-ASSINADO PARA MANTER O PREFEITO SEBASTIÃO DE ARRUDA
NEGREIROS, 04 fev. 1932. 453
CLUB 3 DE OUTUBRO DE IGUASSSÚ, 10 mar 1932.
205
aliado de Nilo Peçanha no estado, Getulio de Moura também crescia no cenário político da
cidade como liderança local.
No estado do Rio de Janeiro, a recuperação econômica pela atividade agropastoril
perdurou na agenda dos governos durante a Primeira República, foi reiterada na década de
1930 e assumida pela interventoria de Ernani do Amaral Peixoto, durante o Estado Novo
(FERNANDES, 2009, p. 127). Os discursos e práticas para esse soerguimento permaneceram
ancorados nas ferramentas da mecanização da produção, na adoção de métodos autorizados
por agrônomos e engenheiros e em propostas de educação agrícola.
É sintomática desta conjuntura a visita que Getúlio Vargas fez ao município.
Realizada em junho de 1931, foi a primeira visita oficial que o Chefe do Governo Provisório
fez fora do Distrito Federal.454
A comitiva era integrada pelo Dr. Arthur Torres Filho, chefe
do Serviço de Fomento Agrícola (vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura) e
por integrantes do Ministério de Agricultura. O presidente Getúlio chegou ao município de
carro, transitando por estradas recém-construídas, fazendo paradas nas localidades de
Nilópolis e Belford Roxo, e sendo recebido por Manoel Reis e pelo prefeito Sebastião de
Arruda Negreiros.
A aparição do chefe do Governo Provisório no município integrava a programação dos
festejos pela comemoração do aniversário de 40 anos de fundação da cidade de Nova Iguaçu,
segundo o Correio da Lavoura:
Na impossibilidade de serem realizados alguns actos que o governo local pretendia
festejar no dia 19 e para os quaes havia convidado a assistil-os o dr. Getulio Vargas,
chefe do governo provisório, foram realisados no dia 21 com a assitencia do dr
Getulio Vargas e outras autoridades superiores do Paiz.455
Essa visita, segundo Waldick Pereira, também resultava dos apelos promovidos pela
Associação dos Fruticultores de Iguaçu (1977, p.136). É importante notar que o evento, com
uma extensa agenda de inaugurações no distrito-sede, acenava para as possibilidades de
manutenção da importância das atividades econômicas dos setores agrários fluminenses na
correlação de forças do pós-1930. Pelos sujeitos envolvidos, representantes do Ministério da
Agricultura, ficavam patentes as relações mantidas entre as agências estatais que
representavam interesses dos setores agrários menos privilegiados durante a Primeira
República e os grupos políticos e econômicos locais defensores da citricultura.
454
A VISITA DO DR. GETÚLIO VARGAS A NOVA IGUASSÚ, 25 jun. 1931. 455
PASSOU, NO DIA 19 DO CORRENTE, O 40º ANNO DE FUNDAÇÃO DESTA CIDADE, 25 jun
1931.
206
No distrito-sede, Nova Iguaçu, o Chefe do Governo Provisório inaugurou a rua
Presidente Vargas (antiga rua França Soares), participou do lançamento da pedra fundamental
do Hospital Iguaçu onde ocorreu missa campal. Por fim, iniciou o funcionamento da primeira
packing-house para o beneficiamento de laranjas, instalada em um prédio construído, enfim,
pelo Ministério da Agricultura, sob a direção do Dr. Torres Filho. Meses antes o
estabelecimento havia sido inspecionado pelo ministro da Agricultura, Assis Brasil, que foi
acompanhado, entre outras pessoas, por Arthur Torres Filho, diretor do Fomento Agrícola e
Antônio Torres, diretor do Instituto Biológico.456
Na inauguração da packing-house, Arthur Torres fez uma “bella oração technica,
salientando o que o governo já fez e o que ainda é preciso fazer em prol da pomicultura
nacional”.457
Sebastião Herculano de Mattos, fundador e presidente da Associação de
Fruticultores, também discursou, apresentando dados da exportação de laranjas e acentuando
os relevantes serviços prestados aos citricultores pelo Ministério da Agricultura, por meio dos
diretores do Fomento Agrícola e do Serviço de Defesa Sanitária Vegetal:
Incansaveis têm sido os agrônomos dessas Directorias, que sob a orientação de seus
chefes, desde 1922 veem estudando os nossos pomares e instruindo os nossos
citricultores, no sentido de dar uma diretriz scientifica as novas culturas de
laranjeiras. É bem digna dos cuidados dos governos, é essa nova fonte de riqueza
nacional.458
Compartilhando dos mesmos interesses pela mecanização da lavoura, o representante
dos citricultores congratulava-se com o presidente Vargas, em nome da Associação dos
Fruticultores de Iguassú, “que desde a sua fundação se bate pelo progresso da cultura da
laranjeira, adopção dos methodos mmodernos (sic) de embalagem e à conquista de novos
mercados”.459
Iguaçu passou a receber para beneficiamento a produção de laranjas de Campo
Grande, Santa Cruz e Bangu (PEREIRA, 1977, p.128). Além da inauguração oficial da
packing-house, que implementava tecnologia para baratear a produção e a exportação das
laranjas, cabe ressaltar iniciativas particulares promovidas para a mecanização da agricultura.
Alberto Cocozza já havia introduzido maquinaria na seleção e tratamento das frutas na década
de 1920, acompanhado pelos irmãos Guinle, proprietários de moderno barracão em Cabuçu,
que adotaram o uso de máquinas para fabricação de caixas apropriadas ao acondicionamento
dos frutos (Ibidem, p.139-140). No final do ano de 1931, outras 13 packing-houses já estavam
456
O SR. MINISTRO DA AGRICULTURA EM VISITA A ESTA CIDADE, 12 mar 1931. 457
A VISITA DO DR. GETÚLIO VARGAS A NOVA IGUASSÚ, 25 jun. 1931. 458
Idem. 459
Idem
207
instaladas no município. E, em 1935, eram 24 estabelecimentos, além do aumento do número
de barracões destinados à confecção das caixas para acondicionamento dos frutos (Ibidem,
p.141). Postos de embalagem e beneficiamento também eram sustentados pelos principais
exportadores da região.
Há registros de outra visita do presidente Vargas, em 1932, na localidade da Fazenda
de São Bento, por ocasião das obras de saneamento da Baixada e da inauguração, ali, de uma
colônia agrícola. Naquela ocasião, o presidente também foi acompanhado pelo deputado
estadual Manoel Reis “proprietário e lavrador”.460
O ministro da Agricultura também voltou
à cidade, em 1934 e 1937 (PEREIRA, 1977, p.142).
A importância da citricultura para a economia fluminense e nacional é reafirmada na
arena política e econômica que se abre com Revolução de 1930. Em benefício da produção
agrícola e da recuperação econômica foram justificadas e defendidas ações para modernização
e reformas no município, introdução de métodos e maquinário na produção, além de intenso
debate promovido em torno da instrução.
É possível afirmar que Iguaçu representa uma experiência desse projeto de sociedade
que concatenou modernidade, ruralismo e instrução como eixos de seu “progresso”. Pelo
menos, na parte de seu território onde a citricultura se afirmou e retardou os processos de
loteamentos e urbanização. Pelas expectativas em escolarizar e modernizar as relações sociais
de produção – sujeitos, maquinário, métodos - a agricultura era revestida de função
qualitativamente distinta, nova, ainda que, também interessasse, manter parte do “arcaico”,
como a questão da remuneração dos trabalhadores (OLIVEIRA, 2003).
Dialeticamente, nota-se, neste movimento, que a “modernidade”, definida pela
introdução de alguns melhoramentos, era um argumento utilizado para sustentar, justificar e
disputar a primazia da citricultura para o desenvolvimento do município, mesclando,
equiparando e projetando, nessas operações, os interesses de grupos locais como interesses da
população local, do município, do estado e da nação.
Pelas lentes do Correio da Lavoura, nota-se que o entusiasmo pela administração do
Dr. Mario Pinotti, no começo da década de 1920, voltou à tona na avaliação da administração
do prefeito Sebastião de Arruda Negreiros, no pós-1930. Em ambos os casos, o que a
cobertura jornalística divulga são as intervenções que incidem sobre as condições de
infraestrutura do município, especialmente em sua sede, como as medidas destinadas ao
saneamento, obras públicas, instrução e profilaxia para a população local. Obviamente, o
460
FORTE, 1933, p. 69.
208
destaque que estas ações ocuparam nas notícias do Correio da Lavoura explica-se por suas
bandeiras, reiteradas a cada aniversário do Jornal, de lutar pela higiene, lavoura e instrução.
Por isso, a análise das reportagens buscou estar alerta para não se deixar capturar pelas suas
lentes. Por outro lado, como não dar crédito ao mesmo, enquanto agente fiscalizador do
alcance de suas próprias lutas no município? Ademais, os principais dirigentes do Jornal, que
tanto saudaram a administração do prefeito Sebastião de Arruda Negreiros, eram partidários
de Getulio de Moura, líder de outra fração do poder local.
Sustenta-se, neste trabalho, que as medidas pela modernização do município, desde
reformas no distrito-sede até a ampla intervenção sobre o saneamento da região da Baixada,
com forte atuação da interventoria estadual e do governo federal, propiciaram a gestação, em
concomitância com os grupos locais, de um movimento político pela construção da “Nova
Iguaçu”. Além das medidas modernizantes para beneficiar o escoamento da produção de
laranjas, favorecendo o barateamento da produção e da exportação, nota-se um forte
empenho, nos grupos locais do município, em tornar Nova Iguaçu, de um espaço, em um
lugar. Isto é, há fortes investimentos em construir uma identidade local entre a história do
município (a partir da história do distrito-sede) e a valorização da função da citricultura para o
almejado progresso da região. Estes movimentos ficam mais evidentes em toda a simbologia e
ações práticas que revestem as comemorações do centenário do município, em 1933.
Natália Crivello (2011), ao analisar a produção de uma memória local de valorização
da citricultura em Nova Iguaçu, identifica este processo a partir de ações dos setores
interessados na citricultura, ao vincularem mudanças no espaço urbano da cidade de Nova
Iguaçu com o progresso trazido pela citricultura. Esses setores operaram uma apropriação de
“elementos modernos” para perpetuar seus espaços de representação: “Em Iguaçu, as frações
de classe se apropriam de repertórios de modernidade para legitimar seu poder, sua
dominação no campo político” (CRIVELLO, 2011, p.67).
Nessa sobreposição do interesse de parte dos grupos locais pela afirmação da
citricultura – citricultores, produtores, exportadores – reside a construção do mito de ouro,
ainda hoje ressonante no município, da importância da citricultura para a história da cidade. A
produção de uma modernidade ancorada na produção agrícola, visualizada em reformas,
melhorias, ampliação do perímetro urbano, depositou, na criação de uma rede de escolas,
parte integrante dessa operação.
209
O centenário e a “vocação agrícola” de Iguaçu: visões do passado e construções
do moderno
A gestão do prefeito Arruda Negreiros distinguiu-se por um amplo programa de obras
públicas. No relatório do primeiro ano de sua administração, dirigindo-se ao interventor Ary
Parreiras, afirmava que trabalhara procurando incentivar as fontes de riqueza do município.
Segundo o prefeito, por ter obtido o apoio de “todas as classes produtoras”, cumpriu seu
trabalho num ambiente tranquilo, no qual pode realizar “innumeros serviços de alta relevancia
que muito têm contribuido para o rapido e brilhante desenvolvimento do municipio”.461
No tocante às vias de comunicação da cidade, o prefeito lembrava que as estradas de
ferro eram as principais vias de transporte do município, porque as poucas estradas existentes
estavam abandonadas e “intransitáveis.” Esta situação prejudicava a citricultura, “grande
riqueza” do município, pela insuficiência de estradas para transporte do produto. Por isso,
ordenou a construção de 14 estradas de rodagem ligando as principais povoações à sede do
município e ao Distrito Federal.
No relatório, o prefeito inventariava a extensão das obras em cada estrada construída,
sempre destacando os benefícios que originavam para a citricultura. Para esse fim, as obras
nas estradas resultavam em atividades de aterro e alargamento, construção de pontes, de
passagens de nível das ferrovias, modificação de cursos e traçados, remoção de atoleiros,
construção de valas e usos de manilhas para escoamento de águas estagnadas; O relatório
assinalava, ainda, o trabalho de conservação das estradas e as melhorias realizadas em cada
distrito, com o calçamento de ruas, a construção de drenos para evitar enchentes, construção
de jardim público na Praça João Pessoa (com serviço de aterro), melhorias do serviço de
distribuição de águas, serviços de capinação. No distrito-sede, foi realizado o serviço de
“remodelação geral de quase todas as ruas da cidade”, e o prefeito concluía que: “a cidade
está em perfeito estado de limpeza.”462
Os serviços de iluminação pública e particular também foram alvo de melhorias,
porque o contrato firmado pela Prefeitura, em 1903, para o serviço, já era obsoleto em função
do crescimento populacional no município, principalmente na cidade de Nova Iguaçu, e pela
“formação de grandes centros de população e commercio na zona limitrophe com o Districto
Federal”. Devido à relevância da iluminação pública, “este importantíssimo factor do
461
PREFEITURA MUNICIPAL DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano XVI, n.784, 22 MAR
1932. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Comandante Ary Parreiras, interventor do Estado do Rio, pelo Exmo
Sr. Dr. Sebastião de Arruda Negreiros, Prefeito de Iguaçu,durante o ano de 1931. Iguaçu, 1932. Publicado no
Correio da Lavoura, em 22 mar. 1932, Ano XVI, n.784. 462
Idem.
210
progresso”, o relatório indicava detalhadamente os distritos e localidades que receberam a
distribuição e os que estavam por receber.463
Outra realização importante foi o início das obras de construção do hospital do
município. No capítulo sobre “Hygiene e saude publica”, o prefeito abordava o problema do
saneamento, posto que a inexistência do serviço de esgotos no distrito-sede era um obstáculo
ao embelezamento das ruas e prejudicava as condições de “higiene da cidade”. Diversas
turmas de trabalhadores eram empregadas nos serviços de saneamento, enquanto a Diretoria
de Higiene fazia a inspeção de casas particulares, a fiscalização dos gêneros alimentícios e
exames do leite para consumo. O relatório informava sobre a existência do matadouro
modelo, a organização das feiras livres e os problemas do abastecimento de água.
Um capítulo especial foi destinado à citricultura “que é a grande riqueza do
municipio”, e apontava os melhoramentos impressos à produção devido aos ensinamentos
recebidos de técnicos, sobre a preparação dos terrenos e semeadura dos pomares, o
crescimento da produção e da arrecadação, e o desenvolvimento de indústrias para a
fabricação de caixas para o acondicionamento das frutas.464
A importância do extenso programa de obras concretizado foi reiterada nas
comemorações de aniversário da gestão de Arruda Negreiros, que se realizaram por excursões
de comitivas de automóveis que inauguraram estradas e visitaram praças, como a Praça
Getúlio Vargas, inaugurada em Belford Roxo.465
Em meio a essas modificações na infraestrutura do município, no ano de 1932, o
prefeito iniciava os preparativos para a comemoração do centenário de fundação do
município, por ocasião da fundação da Vila de Iguaçu, em 1833. Várias comissões se
estabeleceram, com a participação de membros da sociedade local, pertencendo a esse
movimento, também, Sebastião Herculano de Mattos, representante dos citricultores e Silvino
de Azeredo, diretor-proprietário do Correio da Lavoura. Nota-se, ainda, que Getulio de
Moura não participou de nenhuma das comissões.466
O Correio da Lavoura deu visibilidade à execução do imenso programa comemorativo
do centenário, que começou com missa em homenagens póstumas a personagens consideradas
importantes, nascidas no município. Contou com missa campal na escadaria do hospital em
463
PREFEITURA MUNICIPAL DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano XVI, n.784, 22
MAR 1932. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Comandante Ary Parreiras, interventor do Estado do
Rio, pelo Exmo Sr. Dr. Sebastião de Arruda Negreiros, Prefeito de Iguaçu,durante o ano de 1931.
Iguaçu, 1932. Publicado no Correio da Lavoura, em 22 mar. 1932, Ano XVI, n.784. 464
Idem. 465
O PRIMEIRO ANIVERSÁRIO DA GESTÃO ARRUDA NEGREIROS, 24 dez. 1931. 466
1º CENTENÁRIO DO MUNICIPIO DE IGUASSU, 22 dez. 1932.
211
obras; parada esportiva organizada pelo Sport Club Iguassú; banquete oferecido pela
municipalidade às altas autoridades. No banquete, discursaram Sebastião de Arruda
Negreiros, Sebastião Herculano de Mattos; Manoel Reis e o Dr. Mario Guimarães.467
Foi
inaugurado o monumento comemorativo ao centenário, erguido na Praça Ministro Seabra,
defronte à estação de trens do distrito-sede, ocasião na qual Getulio de Moura também
discursou. Houve batalha de confetes entre os populares nas ruas e praça do distrito-sede,
além de baile noturno na sede do Sport Club Iguassú.468
Figura 24 Fotografia da Praça Ministro Seabra. Monumento ao Centenário do município.
Fonte: Estado do Rio de Janeiro. O governo do Estado do Rio de Janeiro e de suas municipalidades durante o
ano de 1933. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Ary Parreiras, Niterói, 1934,
p.249.
No programa de comemorações do centenário, o prefeito Sebastião de Arruda
Negreiros encomendou um livro sobre a história do município. Essa ação nos remete à prática
corrente no período, contida nos projetos da intelectualidade fluminense, de construir a
história do estado do Rio do Janeiro, movimento que interessou e envolveu os dirigentes
políticos do estado e participantes de movimentos culturais. José Matoso Maia Forte, a quem
foi encomendado o livro sobre a história de Nova Iguaçu, integrava o rol de autores que
467
Mario Guimarães era advogado e exerceu a função de delegado regional de polícia. Tornou-se
opositor de Getúlio de Moura e líder da UDN local, seguindo carreira política no poder legislativo a
partir de meados da década de 1930 (PREFEITURA DA CIDADE DE NOVA IGUAÇU, 2003, p.38). 468
CENTENÁRIO DO MUNICIPIO DE IGUASSÚ, 19 jan. 1933.
212
participaram de um movimento que marcou a escrita da história do estado do Rio de Janeiro, a
partir da década de 1920.
Rui Aniceto Fernandes (2009), ao examinar as publicações fluminenses das primeiras
décadas republicanas, produzidas sob a égide do projeto de Nilo Peçanha, avalia que eram
obras compromissadas em oferecer dados e argumentos que sinalizassem um novo futuro em
construção, negando o passado imperial como relevante, enfatizando o presente como tempo
de grandes avanços. Nessa linha, o Álbum do Estado do Rio de Janeiro, encomendado para os
festejos do Centenário da Independência, apresentava um passado de crise que estava sendo
superado pela atuação de Nilo Peçanha. No Álbum, se construía uma imagem progressista
para o estado, garantida por uma geografia propícia ao desenvolvimento econômico e pelos
esforços em promover a instrução (FERNANDES, 2009, p. 72).
Após a intervenção federal de 1923 no estado e a afirmação de novos grupos no poder,
outro tipo de visão da história local passou a ser valorizada pelos dirigentes políticos. Os
debates e reflexões que permearam a década de 1920 também provocaram os intelectuais
fluminenses em novas direções na forma de lidar com a história local. Surgiu no estado a
agremiação “Renascença Fluminense”, que recebeu o apoio de Feliciano Sodré, governante
que buscava desmantelar o prestigio de Nilo Peçanha. Esse projeto se anunciou na elaboração
de livros sobre a história do estado do Rio de Janeiro, destinados às escolas primárias e ao
ensino normal, escritos por João Ribeiro Pinheiro, Antônio Figueira de Almeida, Clodomiro
Rodrigues de Vasconcellos e José Mattoso Maia Forte.
O movimento renascentista não buscou o passado recente (nilista), mas o passado
colonial e provinciano para contar a história regional do estado, construindo uma visão de
constante centralidade e importância do Rio de Janeiro na história da colônia, do império e da
República, reabilitando o Império como período de esplendor da província. Esses livros,
assim como a construção de monumentos históricos pomposamente inaugurados, a realização
de palestras e as reformas na instrução pública, integravam a elaboração de uma “pedagogia
cívica”, que pretendia dar visibilidade à contribuição da história local fluminense para a
história pátria (Ibidem, p. 124). Observa-se, também, que esse projeto integrava um empenho
em divulgar positivamente o estado do Rio de Janeiro no cenário nacional, no qual o pacto
oligárquico secundarizava a importância política do estado em comparação com Minas Gerais
e São Paulo.
O livro Memoria da Fundação de Iguassú. Comemorativa do Primeiro Centenario da
Fundação da Villa em 15 de janeiro de 1833 exibe as marcas desse modo de fazer a história.
O autor é apresentado como membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da
213
Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, da Academia Fluminense de Letras e da
Associação Brasileira de Imprensa e justificava o livro como “incumbência” recebida do
prefeito Sebastião de Arruda Negreiros.
A narrativa do livro revela os compromissos do autor com a pesquisa em história, ao
procurar amparar-se em estatísticas, fontes e informações de procedência citada, geralmente
documentos “oficiais”. José Matoso Maia Forte preocupava-se igualmente em avisar ao leitor
sobre “omissões ou falhas”, sugerindo que fossem relevadas, em face do tempo de realização
da obra, vinte dias, mesmo que o autor “já possuísse numerosas notas sobre Iguassú” .469
Outra marca presente é o esforço em reconstituir detalhes da formação territorial, de
forma que o livro de Maia Forte informa sobre a construção administrativa e judiciária da
região, desde o período das capitanias hereditárias até a formação das freguesias e vilas,
buscando informações sobre o processo de povoamento e o crescimento populacional nestas
localidades. A configuração dos marcos territoriais e da jurisdição do local denotam, segundo
o autor, “o embryão do futuro municipio de Iguassú”.470
A recomposição dos limites
territoriais, da formação de distritos, da perda de territórios persiste durante toda a obra.
Para a história da Vila de Iguaçu, o autor recupera o aparato legislativo de criação da
mesma, tecendo um tipo de história política, posto que “o território era tido como dado
primordial de definição da identidade de um local” (FERNANDES, 2009, p. 233). O capítulo
“Freguezias de ontem, districtos de hoje”, adensa o trabalho de detalhar a dinâmica de
configuração do território, o que acaba por produzir um efeito de identidade territorial que
perpassa os séculos e entrelaça os diversos distritos. A história da “Formação religiosa”, com
a criação de capelas, igrejas e freguesias é contada de forma a ressaltar a dimensão e a difusão
do cristianismo no município. O capítulo sobre “Antigas familias” lança um efeito de
valorização da história do município, devido a seus ilustres “filhos”, pertencentes a famílias
de nobres, militares, bacharéis, proprietários etc.
Além dos marcos territoriais, Maia Forte estabelece uma periodização específica para
a história da localidade. Desta forma, a criação da vila e a transferência de sua sede, em 1891,
são apontados como marcos do início de uma “nova phase para a vida do municipio”.471
A
mudança do nome Maxambomba para Nova Iguaçu e a criação de comarcas judiciárias são,
do mesmo modo, “registros” do desenvolvimento. Como explica Rui Fernandes, nesse modo
de fazer história,
469
FORTE, 1933, p. 131. 470
Ibidem, p.11. 471
Ibidem, p.17.
214
A rápida evolução político-administrativa era tida como um indício de progresso.
Nesse sentido, a história possuía um sentido progressista, em que a localidade
possuía fases demarcadas de desenvolvimento, no qual um estágio superaria o outro
pelo grau de crescimento que possuía (Ibidem, p. 233).
Maia Forte destaca algumas mudanças introduzidas em Maxambomba, Nova Iguaçu, a
partir de 1916 como representativas do desenvolvimento da localidade, tais como a
iluminação elétrica, o abastecimento de água potável, o estabelecimento de fossas
biológicas.472
A menção à existência de escolas é sintomática da identificação entre instrução
e modernidade: “Ha na cidade, varios estabelecimentos de ensino primario, publicos,
custeados pelo Estado e pelo município, além de institutos de ensino particular”.473
Em
seguida, registra os edifícios existentes, os serviços de correios e telégrafos, o hospital em
construção, a rede de estradas, as casas comercias, casas de diversões e transporte freqüente e
barato, conferindo ao distrito-sede “vida própria, bastante animada”.474
É significativo o capítulo “Expansão agrícola”, no qual a “vocação” agrária da região é
delimitada desde a colonização, pela produção de seus engenhos, a função de transporte
realizada por rios, caminhos de terra firme e ferrovias. Porém, o autor não se isenta de tratar
das crises que assolaram a região em meados do século XIX, em função dos problemas
causados pelas inundações, pelo assoreamento de rios e proliferação de pântanos. Todavia,
soluções foram propostas durante o período republicano, na figura de Nilo Peçanha e,
também, por Getúlio Vargas. Nesse ponto, nota-se, ainda, a presença do marco da escrita da
história do período nilista, no qual o período Imperial é tratado como reduto de crises
solucionadas pela República. Vale lembrar, aqui, que Matoso Maia Forte foi secretário de
estado de Nilo Peçanha.
O capítulo final do livro ajuda a situar o seu significado como produto das
comemorações do centenário do município. Chama-se “Resurreição”(sic) e versa,
essencialmente, sobre o “progresso” verificado nos últimos “25 anos”, o que situava uma fase
de mudanças a partir da década de 1910. O autor retoma informações sobre a área total do
município, oferece dados do crescimento populacional e enfatiza a função das ferrovias como
fatores de desenvolvimento. Também ressalta as riquezas naturais da região e suas condições
de exploração, a fertilidade dos terrenos etc., a instalação de alguns tipos de indústrias, além
da valorização dos terrenos destinados aos loteamentos. Mas o destaque principal, de toda a
“riqueza agrícola de Iguassú”, recai sobre a citricultura, que se beneficiou pela orientação por
472
FORTE, 1933, p. 91-92. 473
Ibidem, p.92. 474
Idem.
215
“processos modernos, scientificos e commerciaes” do plantio à colheita.475
Ao utilizar dados
sobre as áreas de cultivo, o número de citricultores, as vendas do produto, a arrecadação
municipal e estadual, o autor argumentava sobre a importância da citricultura para o
desenvolvimento econômico do município. E desta forma conclui:
Assim volve para Iguassú, sob outras formas e com diversa riqueza agricola, a
antiga prosperidade rural. Aos iguassuanos, que, embora sob a constate ameaça da
malaria, da opilação, e de outros males, se aferraram ao solo, não o abandonaram e
tiveram como ponto de fé a resurreição de sua terra, e por ella deram o concurso do
seu braço e do seu espirito, deve o municipio a sua época atual de renascimento.
Honra aos vivos e curvemo-nos, neste promissor centenário da fundação da villa de
Iguassú, diante da memoria dos que, hoje, na Eternidade, a engrandeceram no
passado, quer nos seus dias de fastigio, quer nos de sua adversidade.476
Neste sentido, o livro encomendado a Matoso Maia Forte, ao legar ao município sua
própria história, ofertava muitos motivos para a comemoração, em função de um passado
longo e próspero e de revitalização sem precedentes no presente. É um esforço em construir
uma identidade para o município, em torno de sua vocação agrícola e de sua história. O
processo de loteamentos urbanos, ocorridos em outros distritos do município, por exemplo, é
pouco mencionado.477
É interessante notar que o livro tornou-se uma referência bibliográfica para diversos
trabalhos acadêmicos e memorialísticos sobre o município, nem sempre situados – o autor e a
obra – no tipo de compromissos que comporta. Assim, há estudos que acabam perpetuando
um esplendor acerca da Vila de Iguaçu e a importância da citricultura para a recuperação
econômica. Talvez isso explique a menor produção de estudos sobre os loteamentos urbanos
em outros distritos do município e o maior volume de pesquisas sobre a economia agrícola,
sobretudo do distrito-sede.
O Correio da Lavoura também publicou matérias comemorativas na data de fundação
da vila, nas quais é possível observar essa representação sobre a história do município. Na
primeira página do Jornal, publicado na data do aniversário da Fundação da Vila, encontra-se
a fotografia do prefeito e o escudo do município, criado por ocasião das comemorações. Outra
fotografia apresenta uma “Vista parcial da cidade de Nova Iguaçu”.
Por entre essas imagens, um texto discorre sobre a história do município, a partir de
um enredo que parte da colonização, ressalta a importância da Vila durante o Império, a
mudança da sede para Maxambomba e a conservação do nome Iguaçu em 1916.478
Na história
do município narrada pelo Jornal, figura a valorização de um passado esplendoroso, com
475
FORTE, 1933, p. 124. 476
Ibidem, p. 126. 477
Ibidem, p. 124. 478
O 1º CENTENARIO DO MUNICÍPIO DE IGUASSÚ, 15 jan. 1933, p.1.
216
“vestígios” na função de entreposto da Vila e pelos sujeitos “ilustres”, que nela nasceram,
“cujo valor e cultura enalteceram o município” como o Duque de Caxias, os Souza e Mello,
os Azeredo Coutinho, os Pereira Coutinho, os Pereira da Silva. Porém, a esse passado
glorioso, o enredo apresentado pelo Jornal acenava com um presente promissor, devido ao
“renascimento da antiga prosperidade agrícola”: “A terra da laranja, pelo labor de seus filhos,
está se apparelhando para um belo e grande futuro”.479
Na segunda página, o Correio da Lavoura exibe os sinais da modernidade no distrito
sede, encarnados nas fotografias das duas praças da cidade, pouco tempo antes reformadas:
São ellas, entre os logradouros públicos de uma grande cidade, elementos
imprescindiveis, factores indispensaveis de equilibrio do conjuncto urbano, pois sem
o concurso das mesmas muitos problemas hygienicos, estheticos, etc.,ficariam sem a
necessaria solução, com graves prejuizos para seus habitantes. Nova Iguassú ainda
não se pode orgulhar de constituir, actualmente, um grande centro urbano, mas
caminha incontestavelmente para tal.480
Na principal delas, a Praça Ministro Seabra, situada de frente para a estação de trens
de Nova Iguaçu, foi inaugurado o monumento comemorativo ao centenário. Em seu redor,
estão o Cine Verde e casas comerciais da região. No entorno da Praça João Pessoa,
encontravam-se as obras do hospital, o Fórum, a agência dos correios e a maioria das
repartições públicas locais.481
Foi produzida, também, em 1933, a “Polyanthéa Comemorativa ao Primeiro
Centenário do Município no Governo de Arruda Negreiros”. Trata-se de um conjunto de
textos, notas, informações, sobre assuntos diversos que dizem respeito ao município, ao seu
desenvolvimento e história, aos seus “ilustres” filhos e feitos. É um material que valoriza a
ação de Manoel Reis junto ao Governo Provisório, na obtenção de benefícios para a região
assim como a condução de Arruda Negreiros ao cargo de prefeito do município. Mesmo
sendo de autorias diversas e de outras sem assinatura, em linhas gerais, a publicação reitera a
história sobre o município que aparece em Maia Forte e no Jornal Correio da Lavoura.
Sebastião Herculano de Mattos escreve um artigo sobre a situação da laranja (“Iguassú
e sua citricultura”). Por sua vez, um texto sem assinatura intitulado: “Iguassú – o maior centro
produtor de laranjas do continente” expõe dados do crescimento da produção e da exportação,
avaliando que “Iguassú dá assim mais um motivo de orgulho ao Estado do Rio, nessa feição
de actividade agricola: é o centro maximo da cultura e exportação de fructas citricas do
Continente e um dos maiores, senão o maior do mundo”. Os dados sobre a arrecadação
479
O 1º CENTENARIO DO MUNICÍPIO DE IGUASSÚ, 15 jan. 1933 480
AS NOSSAS PRAÇAS, 15 jan. 1933, p.2. 481
Idem.
217
municipal, o desenvolvimento de casas comerciais e industriais, o número de prédios e as
estradas de rodagem construídas são citados como indícios da conquista de “um índice
admirável de vitalidade e de progresso”482
.
A instrução também é um dos argumentos deste progresso almejado. O texto “A
instrução em Nova Iguassú – índices maravilhosos do seu desenvolvimento” apresenta dados
da instrução, alegando que sempre foram destinadas verbas para a instrução no orçamento
municipal:
Aos esforços melhores em pról da instrucção publica no Brasil, deve-se juntar o que
Nova Iguassu’ patrioticamente vem dispensando sem alarde, mas com a segurança
de quem realisa uma obra efficientemente nacional, a favor da cultura do paiz.
Certo de que não se desperdiça o que se gasta no combate ao analphabetismo, antes
se ganha dando ao paiz cidadãos conscios dos seus deveres e direitos, o Municipio
reservou sempre nos seus orçamentos uma verba para a instrucção publica,
cooperando pujantemente na obra de disseminação do ensino.
E cada dia, porque a sementeira benefica na esmorece, antes, as mãos que semeiam
se multiplicam num milagre cívico, augmentam os estabelecimentos escolares
estaduaes, municipaes e particulares e consequentemente os benefícios prestados à
communhão social.
Uma demonstração rapida mostrará o esforço louvavel de Iguassu’, no proposito de
combater o analphabetismo e conquistar o logar a que faz jús dentre as unidades
brasileiras que reconhecem a necessidade de se elevar o nivel moral dos cidadãos
pela força da sabedoria. 483
Ao dispor de números sobre a instrução no município em 1933, pela existência de um
Grupo Escolar e 40 “escolas isoladas” mantidas pelo governo estadual (com 5.491 alunos), de
33 escolas municipais (com 2.125 alunos), a existência de cinco escolas particulares (total de
929 alunos), sustentava-se que “O desenvolvimento da instrucção publica em Iguassu reflete
magnificamente o seu progresso, o seu adiantamento”. A ação municipal era valorizada,
ainda, pela subvenção de três dos institutos particulares de ensino.
Examinam-se aqui todas as comemorações do Centenário do município como um
empenho de dirigentes políticos de Iguaçu e de setores organizados politicamente da
sociedade civil, em promover o desenvolvimento do município, de diagnosticar ou de
convencer sobre a inserção daquele território na corrida rumo ao progresso. O alcance da
“civilização” almejada dependia de intervenções sobre as condições infraestruturais do
município (desde o saneamento à distribuição de água e implantação da rede de esgotos,
iluminação elétrica, reforma de ruas e espaços públicos, construção e conservação de estradas
de rodagem, construção do hospital etc.). Dependia, também, do incremento econômico da
citricultura e da introdução de conhecimentos técnicos em seu cultivo; do processo de
482
NOVA IGUAÇU. Iguassú – o maior centro produtor de laranjas do continente. Polyanthéa
Comemorativa ao Primeiro Centenário do Município no Governo de Arruda Negreiros, 1933. 483
NOVA IGUAÇU. A instrução em Nova Iguassú – índices maravilhosos do seu desenvolvimento.
Polyanthéa Comemorativa ao Primeiro Centenário do Município no Governo de Arruda Negreiros,
1933.
218
loteamentos nos distritos limítrofes ao Distrito Federal e do desenvolvimento da educação
escolar.
A construção da “Nova Iguaçu” articulou a introdução do “novo” em relações sociais
de produção “arcaicas”, na evocação do passado, quando isto resultava em afirmar a “vocação
agrícola”, e na projeção da continuidade dessa “vocação” no futuro promissor, previsão que
decorria das expectativas depositadas no “presente”, sendo este ancorado nas operações
realizadas pelos grupos dirigentes e por representantes dos lavradores, proprietários e
comerciantes, na importância econômica da citricultura.
Escolas e estradas: caminhos da modernidade iguaçuana
As ações do prefeito Arruda Negreiros em prol das comemorações do centenário
incitou a produção de uma coleção de fotografias que o mesmo encomendou. Até o momento,
sabe-se que este acervo foi composto por fotografias das estradas e das escolas do município.
Os pesquisadores da região referem-se ao conjunto de fotografias como “Coleção Arruda
Negreiros”.
Percorrendo os acervos do Instituto de Pesquisas Históricas e Análises Sociais da
Baixada Fluminense (IPAHB), do Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu (IHGNI) e
de particulares, foi possível reunir e digitalizar 76 fotografias de escolas.
Este conjunto não é o acervo completo de fotografias de escolas, porque alguns
pesquisadores ficaram de disponibilizar outras fotos da coleção, mas as promessas não se
cumpriram ao prazo de término desta pesquisa...
Não houve acesso ao conteúdo do álbum na sua integridade. Em algum momento, o
álbum foi desfeito, as fotos foram distribuídas, pelo que se pode notar, conforme a área de
atuação destes pesquisadores e instituições. Assim, fotos de escolas do distrito-sede ficaram
com o Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu, fotos de escolas de São João de
Meriti foram depositadas no Instituto de Pesquisas Históricas e Análises Sociais da Baixada
Fluminense (IPAHB), porque um de seus dirigentes pesquisa essa região. De modo geral, os
interesses de acervo e pesquisa estabeleceram o critério de divisão do acervo.
Até agora, somente por ocasião desta pesquisa é que parte destas fotografias foram
novamente reunidas, sob a forma digitalizada. Não foi recomposto o acervo de fotografias das
estradas. Não foi descoberto se a prefeitura, ou outro pesquisador, possui outra edição ou
cópia da coleção. A datação das fotografias é atribuída entre 1932 e 1933, em função do
centenário de fundação da Vila ter ocorrido em janeiro de 1933 e pelo cruzamento com
informações de outras fontes de pesquisa.
219
A fotografia, tal como qualquer registro instrumentalizado como fonte pelo
historiador, precisa ser problematizada e interrogada. Recompor a origem e trajetória do
acervo e as possíveis imbricações com outros documentos ou fotografias ampliam as
possibilidades de uso para além de insuficientes, e por vezes, inadequados, recursos de
ilustração (MAUAD, 2009, p.254).
O ato de fotografar serviu para documentar acontecimentos, sendo utilizado pela
imprensa e pelos governos. O empenho das administrações públicas em registrar através de
fotografias realizações como obras e construções esteve presente desde fins do séc. XIX
(VIDAL, 1998, p.81). Em função do estatuto de credibilidade e de evidência da narrativa
imagética, utilizava-se o registro fotográfico para atestar e propagandear as ações dos
governantes em prol do progresso e da modernidade.
Essa finalidade deve ser considerada para situar o acervo fotográfico, no caso de
estradas e escolas fotografadas em Nova Iguaçu. É no rol das iniciativas pelo centenário de
fundação da Vila de Iguaçu que a prefeitura encomenda as fotografias. Tanto as escolas
quanto as estradas eram concebidas como mediações para a construção da modernidade e do
progresso em Iguaçu: “O que está em jogo, atualmente, no estudo da imagem é justamente sua
situação na sociedade que a produziu e a recebeu como forma de representação social, ou seja,
como suporte de uma experiência social passada, elaborada a partir de um conjunto de
mediações culturais específicas” (MAUAD, 2009, p.255).
O status de credibilidade e de evidência do registro fotográfico deve ser
desnaturalizado. É pertinente inserir a fotografia em seu percurso de produção, origem,
finalidade e consumos, enquanto um produto cultural, um objeto que comporta intenções e
que esteve suscetível a apropriações. A identificação dos sujeitos que encomendam as fotos,
do fotógrafo, e questões de ordem técnica ajudam a “retratar” a complexidade do artefato.
Rejeitar a singularidade do objeto e de seu conteúdo, e inseri-lo em seu contexto, descortina a
produção social da fotografia que, como as demais fontes: “são plenas de ambiguidades,
portadoras de significados não explícitos e de omissões pensadas, calculadas, que aguardam
pela competente decifração” (KOSSOY, 2002 apud LIMA, S., 2006, p.67).
Na recuperação do circuito da produção social das fotografias da Coleção Arruda
Negreiros, identifica-se que, produzidas para compor os festejos pelo centenário da Vila de
Iguaçu, em 1933, são resultado de um processo de construção de sentido (MAUAD, 2004,
p.27). Sob encomenda do prefeito, as escolas do município foram registradas pelo moderno
suporte da fotografia. A fotografia, na ótica da administração municipal, foi utilizada com um
recurso para “monumentalizar” e “documentar” as realizações no município. O registro de
220
escolas e estradas explicitava os esforços presentes no município pela escolarização da
população e pelo desenvolvimento de uma infraestrutura que viabilizasse o transporte da
produção e de trabalhadores dos laranjais.
Fotografias encomendadas por governantes não “capturam” momentos importantes;
elas auxiliam a atribuir importância, a fabricar, a tornar relevante, aquele instante que será
registrado. A “solenidade” observada em fotos “oficiais”, pelos trajes dos sujeitos, pelas
poses, pelos objetos/pessoas enquadrados pela ótica do fotógrafo acenam para a configuração
de cenários e figurinos dirigidos, escolhidos, por critérios de ordem técnica, mas também
políticos, culturais, sociais (LIMA, S., 2006, p.65). A presença da máquina e do fotógrafo
podem induzir a falta de espontaneidade ou requerer (dado limites de captação de
movimentos) certa rigidez postural dos sujeitos.
As fotografias focalizaram alunos e professores; exceto em uma imagem, feita no
Grupo Escolar Rangel Pestana, na qual aparece a diretora Venina Côrrea – no centro da
imagem - ladeada por seis professoras adjuntas. A seção de cortes e costuras e a seção
profissional feminina são registradas, e os alunos, em todas as imagens do Grupo Escolar,
estão uniformizados.484
Nas fotografias de alunos e professores de Iguaçu, a rigidez, a forma, a reunião
apertada de alunos enfileirados, em pé, ajoelhados, sentados no chão, agachados, geralmente
de braços cruzados, sem sorrisos, olhando na direção da máquina, faz imaginar o tempo
levado a reuni-los e silenciá-los, a ajuda dos docentes. Que diferenças guardariam o registro
das crianças nos momentos anteriores ou posteriores ao clique oficial?
A historicidade da fotografia informa sobre as técnicas de registro. Os tipos de
máquinas, os recursos de captura, condicionavam as possibilidades de ação dos fotógrafos. Os
retratos de estúdio foram predominantes até a criação da máquina portátil em 1881, quando
foi então impulsionado o fotojornalismo e o registro de paisagens e exteriores (VIDAL,1998).
A partir da inclusão de fotografias em revistas e jornais, os usos da mesma iam se expandindo
nas primeiras décadas no século XX (ABDALA, 2008, p.82).
O uso das fotografias como meio de comunicar e testemunhar era bastante
disseminado nas primeiras décadas do séc. XX (Ibidem, p.87). Desde sua origem, debates
sobre a condição da fotografia como arte ou documento dividiam opiniões e modos de
trabalho dos fotógrafos. Alguns se alinharam ao pictorialismo, quando a ênfase recaía nos
efeitos produzidos pelo fotógrafo, enquanto outros ao fotojornalismo, ou pendularam nas
484
Fotografias consultadas no acervo do IHGNI.
221
fronteiras entre essas propostas. O discernimento sobre a concepção do fotógrafo acerca de
seu ofício revela os sentidos atribuídos à fotografia, as escolhas de enquadramento, o uso ou a
dispensa de recursos como a trucagem (retoques, zoom etc.); pose (ensaio da postura dos
sujeitos); inclusão de objetos (que incluem informações ao momento); fotogenia
(embelezamento e melhoramentos da imagem por técnicas de iluminação, impressão ou
captura); esteticismo (fotografia como arte); sintaxe (sequência de fotografias que confere
sentido ao conjunto) (VANTI, 2006, p.129).
Os álbuns, surgidos em meados do XIX, também suscitaram a composição de fotos
que guardavam relações entre si. A partir de 1860, em São Paulo, o registro de escolas passou
a ser organizado em álbuns (VIDAL, 1998). Nas décadas de 1920, 1930 e 1940 foi ampla, em
diversas localidades, a prática do registro obras em andamento ou solenidades realizadas em
escolas. Em Uberlândia, por exemplo, entre 1933-1959 o inspetor do ensino, depois chefe do
Serviço de Educação e Saúde municipal, Jerônimo Arantes, encomendou fotografias das
escolas da região (nas quais também estava), chegando a ser constituído acervo de 1.269
imagens (LIMA, S., 2006, p.58). Para as administrações públicas, o registro do conjunto de
escolas, da extensão da rede escolar, seria argumento mais convincente dos alcances da ação
pública do que o registro de ações isoladas...
Fernando de Azevedo, enquanto foi Diretor Geral de Instrução Pública do Distrito
Federal, entre 1927-1930, serviu-se dos trabalhos de Augusto Malta para registrar o processo
de construção de prédios escolares, no bojo da reforma educacional que dirigiu no período.
Enquanto funcionário, Malta trabalhou como um repórter, “documentando” diversos aspectos
da cidade, incluindo a vida escolar. Outro renomado fotógrafo, Nicolas Alagemovits, alinhado
à concepção da fotografia como arte, foi contratado por Azevedo para registrar os prédios
escolares concluídos. Ocorreu um aumento do número de fotografias sobre instrução pública,
principalmente em 1929, no ano de entrega dos novos prédios, em comparação com as
administrações anteriores (ABDALA, 2008, p.86).
No contexto da reforma educacional era relevante o tema da especificidade da
arquitetura dos prédios escolares. Raquel Abdala sustenta, recuperando a trajetória de
Fernando de Azevedo, que este reformador deliberadamente recorreu ao registro fotográfico
como um recurso pedagógico, para colaborar na fabricação um discurso visual sobre o
andamento da reforma educacional no Rio de Janeiro. Por meio do registro das obras e dos
resultados, a ação dos fotógrafos, fomentada por Fernando de Azevedo, construía um
argumento visual de defesa dos recursos gastos nas construções (Ibidem, p.81).
222
Interessante notar que, no final da década de 1920, havia um ambiente propício de
certo privilégio concedido às imagens. No Rio de Janeiro, a ambiência com a fotografia
ocorreu praticamente em concomitância com este processo na Europa desde fins do séc. XIX
(ABDALA, 2008, p.83). No Distrito Federal, a prefeitura de Pereira Passos organizou o
primeiro laboratório fotográfico para registrar a modernização da cidade.
Raquel Abdala refere-se a uma “mobilização perceptiva” (Ibidem, p.82)
experimentada pelos sujeitos num contexto de transformações urbanísticas e sociais, de
discussões sobre a arte e a educação estética e mesmo sobre o cinema e a fotografia. Enquanto
invenção tecnológica de fins do XIX, “a fotografia firmava-se com um dos ícones de
modernidade” (Idem).
Assim, a iniciativa do prefeito Arruda Negreiros era semelhante a de outros
governantes contemporâneos seus, em que a fotografia era um recurso legitimador de suas
ações administrativas (Ibidem, p.83). Pode-se até imaginar que ele tenha sido animado pelas
ações/fotografias divulgadas na imprensa, de outras administrações. Os registros de estradas e
escolas podem ser incluídos como símbolos do empenho para dar a ver e fazer convencer
sobre o desenvolvimento do município, sobre sua inserção nos padrões da civilização e do
progresso. Foram captados, a propósito, por um dispositivo “moderno”, como a fotografia.
Não foi identificado o fotógrafo das estradas e escolas de Iguaçu. Mas seu olhar está
inscrito nas fotos, nos enquadramentos feitos por sua técnica e por suas preferências. Mesmo
encomendada e produzida para “documentar”, a fotografia é constituída pela subjetividade do
fotógrafo (Ibidem, p.87). A expressão do fotógrafo é localizada nos modos como ele dispõe o
plano, o enquadramento e a composição, conforme seus objetivos e sensibilidade, condições
técnicas e resultados previstos (Ibidem, p.101).
Por ter sido encomendado um conjunto, as fotografias de escolas e estradas devem ser
analisadas como integrando uma sequência a ser lida. No caso da Coleção Arruda Negreiros,
a perda da disposição original impede este tipo de análise de sequência que poderia reter
indícios de como as fotografias foram apresentadas, privilegiadas etc. As fotos possuem
apenas uma legenda manuscrita com o nome da escola e localização, havendo, em alguns
casos, o nome e cargo da professora. Há poucos indícios até do destino, das apropriações das
fotos, porque não há menção ao uso delas pelo prefeito ou pela imprensa local.
Outro exercício foi cotejar essas imagens com informações dos mapas de frequência
das escolas fotografadas. Na pertinência do cotejamento das imagens com outros tipos de
fontes para superar os limites da “epistemologia da prova”, Ana Mauad ressalta “a
necessidade de examinar as fontes visuais (e outras, também) na sua dimensão de documento-
223
monumento, ou seja, como ingredientes do próprio jogo social, na sua complexidade e
heterogeneidade” (MAUAD, 2009, p.256).
A escolha por trabalhar com as fotografias depois do trabalho com os mapas de
frequência, modificou nossa forma de olhar e perceber as fotos. Os investimentos em
compreender a estrutura do ensino primário e a diversidade encontrada nos mapas de
frequência certamente constituiu nossa análise das fotografias e das legendas.
Para análise do plano das formas de conteúdo da fotografia, Ana Mauad destaca a
validade do conceito de espaço como chave de leitura do campo semântico das imagens
(2004, p.33). O “espaço fotográfico” remete ao recorte espacial processado pela imagem,
conforme as condições técnicas e a escolha do que se pretendeu fotografar. As condições
técnicas e os enquadramentos promovidos por foco e nitidez conformam este recorte. O
“espaço geográfico” compreende o meio físico abarcado e o “espaço do objeto” ressalta a
observação da disposição de todos os objetos que compõe a imagem, seus atributos e a
relação com o espaço construído para a fotografia (Idem). As pessoas, a natureza do lugar e
atividades que são objetos da fotografia conformam o “espaço da figuração” e o “espaço da
vivência (ou evento)” (Ibidem, p.34). Por essa metodologia é reconhecido que a noção de
espaço é que domina o ato de fotografar, posto que diversos arranjos espaciais conformam a
imagem (Ibidem, p.35).
Nas “escolas” representadas na fotografia, as pessoas ocupam a centralidade da
imagem e as margens são pouco amplas, o que amplia a impressão de que os sujeitos são o
principal objeto e conformam a própria escola. As legendas se referem à escola, e não, a
alunos e professores da escola tal... Os sujeitos, ali reunidos, são a escola. O “zoom” da
imagem também oscila, sendo ora mais aproximado, ora mais distante, o que pode guardar
relações com os recursos técnicos disponíveis. O foco da imagem nos sujeitos no ambiente
externo é interessante se consideramos que a expansão da escola primária no estado do Rio de
Janeiro naqueles tempos ocorria predominante pelo aluguel de prédios. A maioria das escolas
públicas era alocada em espaços não construídos para escolas. A falta de mobiliário e as
condições inadequadas de higiene e conservação dos prédios escolares era um tema constante
nos horizontes da administração pública, das autoridades sanitárias e dos professores. O
prédio não era distintivo das escolas isoladas. Todas as fotografias são de ambientes externos.
O “fundo” e as “margens” das fotografias são geralmente paredes com janelas, que devem ser
os locais onde funcionavam as escolas. Na fotografia da escola mista nº 13, de José de
Bulhões, uma placa ao lado da porta do prédio, defronte estão os alunos, identifica o mesmo
como “Escola Pública”.
224
Figura 25 Fotografia da Escola mista nº 13 em José Bulhões.
Fonte: Acervo IPAHB, Coleção Arruda Negreiros.
O enquadramento realizado pelo fotógrafo demonstra pouca preocupação com as
margens da fotografia. Partes de árvores, de paredes, de objetos, e pessoas que observavam a
fotografia sendo tirada foram algumas vezes incorporados à foto. Em alguns casos, as crianças
e professores foram dispostos à frente de muros ou abaixo de árvores.
Figura 26 Fotografia da Escola Dr. Tavares Guerra, em São João de Meriti.
Fonte: Acervo IPAHB, Coleção Arruda Negreiros.
225
Figura 27 Fotografia da Escola Mista n.16.
Fonte: Acervo IPAHB, Coleção Arruda Negreiros.
Algumas fotografias também suscitam a impressão de que o fotógrafo estava numa
posição pouco confortável, entre galhos e matos, no meio da rua...
Figura 28 Fotografia da Escola mista n.26, em Vila Rosaly.
Fonte: Acervo IPAHB, Coleção Arruda Negreiros.
226
A análise do conjunto de fotografias denota que o enquadramento predominante foi
horizontal, com alunos e professores de frente para a máquina. Mas também há algumas
imagens em que o objeto foi capturado no ângulo diagonal. As professoras sempre se
destacam na imagem, seja por estarem no centro, numa posição oposta aos alunos (em pé ou
numa postura diferente, sentadas ou viradas de lado, olhando o horizonte etc.). Algumas vezes
são os alunos que ficam enfileirados de perfil, mas isso foi o que menos ocorreu. O uso de
pequenos quadros, que parecem ter sido escritos à giz, apresentam o nome da escola e são
segurados por um aluno. Mas este recurso não foi utilizado em todas as imagens. Uma
bandeira do Brasil sustentada por alunos também compôs o cenário de algumas fotos.
A comparação entre as fotos imprime certo ar de improviso na composição do lugar
fotografado. O chão é forrado com jornais ou esteiras, os alunos e professores são
acomodados em banquetas, degraus, pequenas plataformas de madeira. Algumas imagens dão
impressão de certo aperto para caber no enquadramento da máquina. Acomodar, juntar e
deixar quietas as pessoas, para compor o tema-centro da foto parece ter sido o principal
desafio do arranjo espacial produzido.
As fotografias da escola mista nº 31 expressam essa mobilidade de escolha do
fotógrafo na composição dos cenários capturados, tanto em espaço quanto o recurso de recuo
e aproximação da imagem. Nota-se novamente o recurso de fotografar meninos e meninas
separadamente. Será esse um critério apenas da fotografia ou também da escola?
Figura 29 Fotografia da Escola mista n. 31, em São João de Meriti.
Fonte: Acervo IPAHB, Coleção Arruda Negreiros.
227
Figura 30 Fotografia da Escola mista n. 31, em São João de Meriti.
Fonte: Acervo IPAHB, Coleção Arruda Negreiros.
Figura 31 Fotografia da Escola mista n.31, em São João de Meriti.
Fonte: Acervo IPAHB, Coleção Arruda Negreiros.
Interessa investigar o que as fotografias deixam entrever sobre as escolas em Nova
Iguaçu. A identificação de quais escolas pertenciam ao distrito-sede ou aos outros distritos foi
iniciada a partir da legenda manuscrita em cada das 76 fotografias. As legendas, nem sempre
precisas, informam o tipo de escola, o nome, a localidade, como, por exemplo “Escola
228
Desembargador Eloy Teixeira, Queimados”.485
O recurso a informações mais precisas, para
escolas que possuíam documentos no Fundo Departamento de Educação, completou este
mapeamento.
Ensaiando uma análise de como o espaço é recortado nas fotografias, à luz das
categorias do rural e do urbano, algumas observações emergiram. As observações foram feitas
a partir da leitura da sequência das fotos do distrito-sede, reunidas em um conjunto, e das
escolas das demais localidades do município, alocadas em outra sequência. Para as 39
fotografias de escolas do distrito-sede, 23 apresentam os alunos uniformizados. Das 37
imagens das demais escolas do município, apenas 11 apresentam alunos uniformizados.
A sequência de escolas do distrito-sede apresenta uma variação maior do tipo de
escolas: há o Grupo Escolar, o Ginásio Leopoldo, escolas noturnas, e também escolas mistas,
municipais e estaduais. Nas fotografias de outras localidades do município, predominam
escolas públicas mistas, estaduais e municipais. As fotos do distrito-sede e das demais
localidades não são tão distintas no que concerne aos aspectos da paisagem. A presença de
árvores e plantas, o chão batido, tudo isto em torno do prédio da escola, caracteriza ambos
conjuntos. Outras fotografias, do centro do distrito-sede de Nova Iguaçu, também
demonstram que os poucos equipamentos urbanos existentes coexistiam com os laranjais. Até
uma laranja integrou o cenário de uma fotografia de escola do distrito-sede:
Figura 32 Fotografia da Escola Municipal Andrade de Araújo.
Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.
485
Fotografia. Acervo do IHGNI.
229
Uma fotografia, porém, destoa do conjunto, além das diferenças já mencionadas das
fotografias do Grupo Escolar Rangel Pestana. A produção de um cenário mais cuidadoso é
explicitada na existência de elementos que decoram o ambiente, nas bandeiras, nas palavras
de ordem “applicação” e “talento” ao fundo da fotografia, nas flores que ornamentam o
quadro grande apoiado nas pernas de uns três alunos, onde está escrito “Escola Arruda
Negreiros – Coqueiros – E. do Rio”.
Figura 33 Fotografia da Escola municipal Arruda Negreiros.
Fonte: Acervo IPAHB, Coleção Arruda Negreiros.
No fundo Departamento de Educação e nas fotografias, existe uma notação para a
escola mista Arruda Negreiros e outra notação para a Escola de Coqueiros Arruda Negreiros.
Comparando as fotografias com as descrições dos mapas sobre organização dos turnos,
número de docentes e alunos, foi possível identificar para quais mapas estavam quais
fotografias. Para a fotografia acima, da Escola Arruda Negreiros, foi encontrado um arranjo
de alguns mapas, apenas de junho a novembro de 1933, nos quais a professora Dogelina Acir
Caldas assina o mapa e informa não ter adjuntas.486
486
Fundo Departamento de Educação, 02653, APERJ.
230
A escola de Coqueiros foi fotografada duas vezes,487
uma foto do 1º turno e outra do
2º turno. Estas informações já estavam presentes pelo suporte do quadro escrito inserido na
fotografia. Nos mapas, consta para os anos de 1932 e 1933 o funcionamento da mesma em 2
turnos com 150 alunos em março de 1933 e 3 classes de 1ª e 2 classes de 2ª e 1 classe de 3ª
série. As fotografias apresentam meninos e meninas nos dois turnos.488
Entre março e
novembro de 1933, a escola funcionou com 1 professora regente e de 3 a 4 adjuntos. Na
fotografia do 2º turno constam 4 docentes.
Um breve tratamento deste conjunto de fotografias já permite reafirmar a diversidade
dos tipos de escolas existentes: “escola mista”, “escola feminina”, “escola noturna”, “escola
noturna municipal” “escola estadual”, “grupo escolar”; assim como o funcionamento em
diferentes turnos, a variedade de função das escolas (“seção profissional”; “seção de corte e
costura”, ginásios etc.). Contudo, o que é mais notável são os sujeitos que aparecem nestas
fotos. Professoras negras, professoras brancas, alunos e turmas uniformizados, alunos e
turmas sem uniforme. Escolas em prédios, escolas em quintais. Alunos que aparentam mesma
idade numa mesma turma, alunos e alunas, posando juntos, das mais diferentes idades.
Algumas fotografias apresentam escolas com grande contingente de alunos se comparadas a
outras fotos, com poucos alunos em volta da professora. Essa diversidade aparente nas
fotografias remete à questão da coexistência de diversos tipos de organização dos espaços,
tempos, saberes e sujeitos da escolarização.
Sujeitos da escolarização: interrogações
Os dados acerca do impressionante crescimento populacional em Nova Iguaçu, entre
as décadas de 1920 e 1940, as pessoas capturadas nas fotografias, e os próprios interesses
desta pesquisa, demandaram a compreensão sobre quem eram os indivíduos abarcados pelo
processo de escolarização e da citricultura no distrito-sede. Na pesquisa em história, ajustar as
lentes para observar a experiência dos sujeitos é um meio de capturar como estrutura e
processo se articulam. A ordenação do mundo do trabalho naquela região esclarece sobre os
usos do território e das relações entre o rural e o urbano no distrito-sede. Qual o perfil desta
população do distrito-sede? Estava empregada em quais ramos da citricultura?
Carlos Eduardo Costa apresenta conclusões importantes de pesquisa acerca de parte da
população que aflui para a Nova Iguaçu entre as décadas de 1920 e 1940. Ao recuperar as
experiências dos egressos do cativeiro e de seus descendentes no pós-abolição, na região do
487
Fotografias consultadas no acervo do IPABH. 488
Fundo Departamento de Educação, 02652, APERJ.
231
Vale do Paraíba fluminense, Carlos Eduardo Costa identifica a migração de negros, pretos e
pardos, de Vassouras, para a região de Iguaçu no período áureo da citricultura. Sua pesquisa
abarca também um quadro do perfil populacional. Pelos registros civis de nascimentos e
óbitos foi constatada a fixação e a permanência destes migrantes pardos e pretos em Nova
Iguaçu, assim como nordestinos e estrangeiros.
No Vale do Paraíba, parte das estratégias dos ex-escravos foi manter-se nas antigas
fazendas de café, continuando suas experiências de roçado. Essa ambição era alimentada pela
perspectiva de garantir a moradia e os vínculos da família que, trabalhando junto na produção
do roçado, garantia também relativa autonomia. Os proprietários precisavam manter a mão-
de-obra para a cultura dos cafezais. Contudo, a diversificação da produção e abertura de áreas
para o eucalipto e a pecuária ia atribuindo outros usos ao solo e diminuindo a demanda por
trabalhadores no Vale do Paraíba nas primeiras décadas republicanas (COSTA, 2011, p.4).
Neste sentido, cabe considerar que o “mundo rural, da Primeira República, era novo
para todos, principalmente para ex-escravos e ex-senhores” (COSTA, 2009a, p.3), o que
incitava novas experiências do mundo do trabalho e no emprego da população e do território.
Os conflitos entre trabalhadores rurais e proprietários motivou a migração, o deslocamento
dos ex-escravos e seus descendentes, em busca de novas condições de sobrevivência e
trabalho (NASCIMENTO, 2001, p.4). Cabe ressaltar, contudo, que a migração foi uma
estratégia autoral destes grupos, como um dos recursos de construção da liberdade (COSTA,
2008, p.26).
A investigação sobre os destinos de migração de egressos de cativeiros e descendentes
de escravos da região do Vale do Paraíba para outras regiões do país, entre 1850 e 1959 revela
um crescimento expressivo do quantitativo de pessoas que afluem para a Baixada Fluminense
entre as décadas de 1910 e 1930 (COSTA, 2011, p.2). Essa constatação é pertinente com os
censos demográficos do período, que demarcam o crescimento expressivo da população em
Iguaçu a partir destas décadas, como foi visto anteriormente.
Na análise dos registros civis de nascimento e óbito feitos em cartórios de Iguaçu, e
mantendo a categoria inscrita nas fontes de identificação da cor como preto, pardo e branco,
descobre o autor “a presença expressiva da população de pretos e pardos buscando os
registros civis de nascimento e de óbitos, entre os anos de 1889 e 1940” (Ibidem, p.7). O
incentivo governamental aos registros é constante no período por mudanças na legislação que
iam removendo empecilhos como a cobrança de taxas ou pagamento de multas por registros
tardios. O crescimento no número de registros de pretos e partos representava, também, a
busca pela legitimação da família e da condição de cidadania batalhada por esses sujeitos no
232
pós-abolição (COSTA, 2011, p.8-9). Pelas informações acerca das regiões de origem, pessoas
advindas de estados do nordeste do país e do estrangeiro (principalmente portugueses,
italianos e espanhóis) também caracterizaram, em grande número, a migração ocorrida na
região (Ibidem, p.16).
Neste sentido, Carlos Costa argumenta que, além dos motivos que forçavam a saída
dos ex-escravos do Vale do Paraíba, a citricultura em Iguaçu atraiu estes migrantes e
possibilitou modos de permanência desses egressos do cativeiro e seus descendentes. A
reorganização da estrutura fundiária promovida pela citricultura, com os arrendamentos, o
trabalho em chácaras e os loteamentos pode ter facilitado a fixação desses trabalhadores
migrantes na região.
Dessa forma, a década de 30 tornou-se um dos momentos definidores da situação de
pretos e pardos no Estado do Rio de Janeiro. O avanço urbano do Município de
Nova Iguaçu possivelmente permitiu aos ex-escravos e, principalmente, aos seus
descendentes uma maior diversificação dos arranjos de trabalho, assim como, o
progresso nas questões trabalhistas, seja nas melhores condições, seja na
regularização dos ofícios. Esses elementos podem, também, ter contribuído para a
estabilização de pretos e pardos no Município de Nova Iguaçu (COSTA, 2009a,
p.9).
A migração foi uma “estratégia social” elaborada pelos ex-escravos do Vale do Paraíba,
em função das novas experiências de sobrevivência e trabalho surgidas no pós-abolição:
“Inicialmente, as migrações estão inseridas na relação campo-campo, porém, ao longo da década
de 20 para a de 30, os contextos se modificam ainda mais, dando início a uma migração de caráter
definitivo – sendo, agora, dentro de uma relação campo/cidade” (Ibidem, p.10).
É preciso considerar ainda as margens flexíveis, as relações complementares, entre
urbano e rural. Estudos sobre a Vila de Iguaçu no século XIX, percebem, durante o século
XX, a “confluência entre o espaço rural e o espaço urbano” para a compreensão do mundo do
trabalho na região, posto que ali desenvolvia-se uma economia de produção de alimentos, mas
também servia de passagem para as mercadorias que eram transportadas entre o interior serra
acima e litoral:
Este dinamismo econômico marcou decisivamente as relações sociais que
construíram na região, um lugar de entreposto, por onde, além de mercadorias,
também passavam pessoas, informações que influenciaram o modo de vida da
sociedade local, aí incluídos os escravos (BEZERRA, 2008, p.21).
A localização do recôncavo da Guanabara entre o litoral e o interior do estado do Rio
de Janeiro conferiu características específicas ao desenvolvimento da região em diversos
momentos.
A importância da região de passagem no projeto colonial pode ser verificada pelo
empenho na construção de caminhos de terra firme que diminuíssem os custos e riscos do
233
transporte do ouro, e, depois, do café. Caminhos construídos durante o século XVIII até a
Estrada Real de Comércio no XIX propiciaram intensa atividade econômica nesta região, que
assim conheceu a transformação das freguesias em algumas vilas.
A produção da região era essencialmente agrária, mas não se pode vê-la apenas
nesse contexto, pois também se forjou como área de passagem, o que permite pensar
que a sociedade que se estabeleceu, apesar de fortes características rurais, também
tinha fortes traços característicos do setor de transporte, por conta da intensa
circulação de pessoas e da proximidade com a cidade do Rio de Janeiro (BEZERRA,
2008, p.26).
Nielsen Bezerra observa que a Vila de Iguaçu se destacou pelos caminhos e portos,
isto é, pela função de entreposto comercial, enquanto outras localidades do recôncavo se
destacavam pela produção agrícola (BEZERRA, 2008, p.31). Ele faz um segundo exercício
importante, que é mostrar que no interior do recôncavo da Guanabara, vilas e freguesias
podiam conviver mais com atividades comerciais e de transporte, ou de produção agrícola em
fazendas e engenhos. Porém, “essas atividades não são excludentes, pois pode-se perceber que
as freguesias agrícolas também tinham portos, da mesma forma que as freguesias portuárias
apresentavam alguma produção agrícola” (Ibidem, p.34-35).
Exemplifica com o caso com São João de Meriti, que apresentava “diversidade das
atividades produtivas, mesmo podendo haver o predomínio de uma delas em um lugar
específico” (Ibidem, p.35). Apresenta, ainda, caso em que houve mudanças na composição
socioeconômica das freguesias, como em Pacobaíba que, predominantemente rural e
organizada em função do porto marítimo, encontrou o crescimento das atividades urbanas
com a implantação da estrada de ferro Mauá. A partir desta mudança as atividades rurais e
urbanas dividiram o cenário econômico da região (Ibidem, p.36).
Nesta análise, Nielson Bezerra demonstra que a Freguesia de Nossa Senhora da
Piedade de Iguaçu atraía lavradores e comerciantes. A ideia de confluência entre atividades
rurais e urbanas na Vila de Iguaçu é demonstrada pelo autor através da análise das atividades
que ocupavam os escravos que ali trabalhavam, conforme dados do censo de 1872. A
diversidade de ocupações, assim como a distribuição dos escravos entre elas, denota a
existência de serviços do setor urbano e do setor rural: lavradores, assalariados e jornaleiros,
serviço doméstico, costureiras, pedreiros, entre outros. Havia uma “forte confluência entre o
mundo rural e o urbano” nas relações escravistas da Freguesia de Iguaçu (Ibidem, p.39). As
ocupações dos escravos demonstram “que nestas localidades existia a presença de atividades
agrícolas, entretanto, nota-se uma predominância das atividades dos setores de transporte e
comércio” (ibidem, p.42).
234
O perfil demográfico da população das Freguesias da região de Iguaçu acusa a
predominância da população escrava sobre a livre entre 1779-1789. Em 1821, a população de
18.705 habitantes das freguesias do Pilar, Marapicu, Jacutinga, Meriti, Iguaçu apresentava
11.115 cativos, cerca de 59,7% do total. Entre 1779-1789, metade da população era formada
por escravos (GOMES, 2006, p.31-32). Em 1840 e 1850, a população escrava também era
maior que a população livre. Em 1872 percebe-se uma inversão, com 67,5% da população
livre e 32,5% de escravos nas mesmas Freguesias (Ibidem, p.33).
Jorge Silveira ressalta o significativo contingente de pessoas livres viventes na região
desde meados do XIX o que aponta para a existência, além das atividades agrícolas destinadas
a exportação, de uma produção agrícola de subsistência e para o abastecimento interno
importante entre as funções econômicas da região (SILVEIRA,1998, p.20-21).
Flávio Gomes (2006, p.61) identifica a presença de escravos, libertos e quilombolas na
região de Iguaçu durante a escravidão, que articulava mocambos, quilombos, comunidades de
senzalas, taberneiros e outros setores sociais em estratégias de negociação, conveniência e
conflito que passavam pela confluência de atividades agrícolas, extrativistas, contrabando e
comércio. Em 1878, o ministro da Justiça, Gama Cerqueira, declarava a necessidade de
destruir aquelas comunidades que se reproduziam em Iguaçu tal qual a fábula da hidra de
Lerna (Ibidem, p.25). Ao longo do séc. XIX, diversas expedições – sem êxito – perseguiram
os quilombos existentes na região, escondidos nos rios e pântanos, protegidos pelas relações
de solidariedade e de trocas comerciais que estabeleciam com grupos da região (Ibidem,
p.94).
Esses estudos mencionados acerca da população em Iguaçu, desde fins do século XIX
até as primeiras décadas republicanas, são aqui recuperados no interesse de evidenciar a
presença de uma população negra, vivenciando e construindo na região relações sociais de
produção que amalgamavam atividades de cultivo e de comércio. Funções rurais e urbanas
caracterizavam os usos do território e das fronteiras em Iguaçu (e no que viria a ser Nova
Iguaçu), desde períodos bem anteriores ao focalizado nesta pesquisa.
Este exercício de adentrar alguns aspectos da relação rural-urbano no século XIX
serve para lembrar que a construção da Nova Iguaçu, a reordenação da sede administrativa
para Maxambomba, as mudanças em curso em fins do séc. XIX, mesmo conformando a
“Nova” Iguaçu, não podem ser vistas, contudo, como rupturas insolúveis. A eficiência destes
enquadramentos da memória sobre Iguaçu, vinculada à citricultura, reverberou também em
publicações memorialistas e estudos de cunho acadêmico, principalmente até a década de
1980. Além de identificar a citricultura com o “apogeu” do município, trata-se de uma
235
produção que a ancora as explicações sobre a transferência da sede para Maxambomba, em
1891, com a “decadência” da Vila de Iguaçu. Pesquisas recentes procuram precisar melhor
essas interpretações memorialísticas e até historiográficas, deslocando marcos interpretativos.
A partir de estudos de história agrária, Jorge Luís da Silveira problematiza concepções
arraigadas na historiografia local que interpõem um diagnóstico de decadência econômica e
social no período que implicou, entre outros fatores, na decadência da Vila de Iguaçu,
inclusive com a mudança da sede administrativa do município para Maxambomba, em 1891
(SILVEIRA, 1998, p.19). A análise sobre a historiografia local, segundo Jorge Luís, reverbera
um mesmo “panorama interpretativo” que associa “o processo de desagregação de uma
determinada relação de produção (a escravidão) e o declínio econômico e político de um de
seus elementos sociais (a elite agrária)” (Ibidem, p.36).
Pela análise das conexões entre a desagregação do sistema escravista e as
transformações ocorridas na estrutura fundiária fluminense, principalmente na região de
Iguaçu, durante o século XIX (Ibidem, p.15), o autor critica estas interpretações que incidem
no aspecto da “estagnação agrícola e social” causada pelo fim da escravidão (Ibidem, p.40). A
sua pesquisa demonstra como as formas de apropriação e acesso à propriedade de terra, entre
1850 e 1890, manifestam as estratégias utilizadas, pelas elites locais, para reproduzir e manter
seu poderio econômico face à desestruturação do regime escravista, o controle sobre a terra e
sobre a mão-de-obra. Por ações destinadas a manter o latifúndio, a “elite agrária” da região
pode reproduzir as relações sociais dominantes “por muitos anos após a abolição” (Ibidem,
p.20). O controle da terra e de um “mercado” de compra e venda “tornou-se o melhor
instrumento para a elite agrária garantir a subordinação da mão-de-obra livre em um contexto
de crise do sistema escravista” (Ibidem, p.165). Através do parcelamento da terra para fins
imobiliários ou produtivos, ou pela ampliação da concentração de terras, pela compra e outros
mecanismos, as elites agrárias acionavam possibilidades de manutenção da renda por meio de
transações comerciais (Ibidem, p.205).
Portanto, a partir dos estudos que caracterizam o perfil populacional do município
desde meados do século XIX até as primeiras décadas republicanas, e considerando a
diversidade de atividades de ocupação na região, que exercia tanto funções urbanas quanto
rurais de bastante dinamismo, é possível sustentar que, naquelas fotografias e naquelas
escolas, estiveram presentes egressos do cativeiro e seus descendentes, migrados de regiões
do Vale do Paraíba ou que já habitavam Nova Iguaçu, os descendentes da população dos
libertos, os filhos de migrantes europeus, nordestinos, mineiros. Acrescente-se os filhos
descendentes de quilombolas, de taberneiros, dos jornaleiros, dos barqueiros, das
236
comunidades de senzala, das mulheres que trabalhavam com o trabalho doméstico, dos
apanhadores de laranja, dos embaladores e artesãos das caixas de acondicionamento do fruto.
Essas possibilidades de identificação dos sujeitos da escolarização que compõe estas
fotos a partir da bibliografia apontada acima, isto é, do perfil da população que formou Iguaçu
ou para ali migrou, se estabeleceu, etc. deixa em aberto novos caminhos de investigação.
Contudo, a presença marcante de pessoas negras, de alunos a professores, seja em escolas do
distrito-sede ou de outras localidades do município, seja de escolas rurais ou urbanas, já
evidencia uma questão cara à historiografia da educação, que é pensar as possibilidades de
acesso destes sujeitos aos processos formais de escolarização. Novos estudos em história da
educação têm possibilitado conhecer e refletir sobre os debates, entraves e iniciativas para o
ingresso de negros nas escolas, como alunos ou professores, desde o séc. XIX (Cf.
FONSECA, 2009; GONDRA; SCHUELER, 2008; MÜLLER, 2008; SCHUELER,1997;
SILVA, 2007; 2000; VEIGA, 2008).
O que esta pesquisa permite afirmar sobre estes sujeitos reunidos nas fotografias das
escolas de Iguaçu, é que trata-se de pessoas que experimentaram um cenário em que se
buscou articular e revestir urbano e rural de caráter do moderno, do novo, do progresso, para a
manutenção de antigas formas de hegemonia. Na confluência entre a lavoura e as letras, os
projetos de poder em disputa entre grupos da sociedade local, sobretudo no distrito-sede,
correlacionaram o desenvolvimento da citricultura com a introdução de “melhoramentos
urbanos”, principalmente no distrito-sede, núcleo administrativo do município. A instrução
escolar era um destes equipamentos que, pela ótica dos grupos locais, representava,
significava, projetava, atribuía visibilidade, ao “progresso” decorrente da lavoura, para a qual,
portanto, deveriam convergir todos os interesses e medidas que a favorecessem. A
importância da instrução figurou em Iguaçu, tanto nos debates ruralistas, quanto nos discursos
sobre a urbanização do distrito-sede. Ao lado dos temas do saneamento e da higiene, da
remodelação da cidade, a instrução escolar figurava como ingrediente da construção da Nova
Iguaçu, inscrevendo-se também no cenário urbano e sendo, por este, convidada a participar e
constituir a vida social, cultural e política da cidade, como será examinado a seguir.
Transitando pelas escolas e estradas de Iguaçu, contudo, esses sujeitos que surgem nas
fotografias e nos mapas de frequência, testemunharam as contradições deste processo,
ancorado em intensa exploração da força de trabalho, na precariedade cotidiana das condições
de funcionamento das escolas, nas faltas motivadas por doenças e por trabalho, nas estradas e
ruas que continuaram a alagar nas enchentes, na disseminação de doenças e na gestação de
um modelo de cidadania excludente sob um regime progressivamente autoritário que
237
procurava engessar as formas de participação política. No grande afluxo populacional para o
território, motivado pela citricultura, mas também pelo processo de loteamentos, esses
sujeitos engrossariam, em fins da década de 1940, os conflitos pela posse da terra e moradia
que eclodiram na região com a derrocada da citricultura.
238
Capítulo 4
“Atenas Fluminense”: fazer-se cidade fazendo escolas, fazer-se
escola fazendo a cidade
“Tudo aqui são promessas e esperanças
É belo e doce este calor sentir.
Se entrais, agora, tímidas crianças,
Saireis homens de bem para o porvir.
O livro traz suavíssimos prazeres
Ao espírito que ama a evolução.
E nos ensina os múltiplos deveres
Do patriota, do filho, do cristão.
Mãos à obra, meninos, sem demora,
Sede amigos dos livros, estudai
Quem sabe ser aluno e filho agora
Saberá ser mais tarde, mestre e pai.
Vistes que da verdade a Escola é um templo.
E do saber excelsa catedral.
Bebei nela, portanto, o suave exemplo
Da justiça, do bem e da moral.”
Trecho do Hino do Colégio Leopoldo, fundado em 1930.
Letra de Leopoldo Machado.
Erguendo e educando a Nova Iguaçu: higiene, saneamento e equipamentos
urbanos
A escala do município como posição de análise para investigar os processos de
escolarização oferece meios de observar a função social da escola como produtora de
identidades sociais e organizadora da cultura (para além da escola), num contexto histórico
específico (não necessariamente homogêneo), em que é possível encontrar a construção de
práticas importantes de intercâmbio entre cidade, campo e escola, entre política e educação.
Neste capítulo, a partir da escala do distrito-sede, principalmente usando as fontes do
Jornal Correio da Lavoura e informações colhidas dos mapas de frequência, procura-se
demonstrar o engendramento da escola e da cidade na construção da Nova Iguaçu. Não se
trata de conhecer semelhanças ou singularidades de como alguns temas – a higiene, o
saneamento e as práticas escolares de civismo se apresentaram no cenário de Nova Iguaçu,
mas, sim, de perceber que a escolarização e a cidade são compostas e compõem esse
processo, tendo como eixos tais temas.
239
No programa de pesquisa proposto por Luciano Faria Filho, para além de precisar o
estabelecimento da rede de instituições educativas, é fundamental a investigação da função
social da escola:
Isto significa entender que a escola não age apenas intra-muros, e sim tem uma
ampliada atuação social na medida em que funciona como uma instituição que
produz, divulga e legitima identidades, competências e modos de vida, ao mesmo
tempo em que deslegitima outros (FARIA FILHO; BERTUCCI, 2009, p.14).
Portanto, o estudo dos processos de escolarização abrange considerar as funções da
escola enquanto organizadora da cultura, de como a instituição se instrumentaliza para tal,
observar a “cultura escolar em ação” e as tensões desse processo:
[...] a escolarização envolve, também, uma ação mais ou menos deliberada de
educação das sensibilidades, valores e habilidades características do sujeito educado.
No entanto, longe de qualquer idealização, estas dimensões da formação devem ser
percebidas como estando intimamente relacionadas ao conjunto das experiências dos
sujeitos (Idem).
No primeiro capítulo, pelo detalhamento das bandeiras do Jornal Correio da Lavoura,
foi examinado como os assuntos sobre higiene e saneamento eram relacionados à habilitação
de territórios e pessoas para as lides agrícolas, no bojo do projeto ruralista. Durante a Primeira
República vastas regiões da Baixada Fluminense foram alvo, desde o governo de Nilo
Peçanha, de ações para remover as condições insalubres do território e amenizar os riscos de
epidemias nas populações.
Interessa aqui retomar como estes temas que eram propagandeados como mecanismos
de promoção da melhoria de vida da população trabalhadora, consistiam, também, em Iguaçu,
em aparatos da constituição do núcleo urbano. Uma vez conformado sob os parâmetros da
higiene, do saneamento e de “melhoramentos” introduzidos em sua paisagem (entre estes, a
instrução escolar), o espaço tornar-se-ia “cidade”, servindo de vitrine do progresso,
espelhando certo estatuto que deveria servir de exemplo a outros espaços, educando-os
também.
Artigos, opiniões e matérias sobre as condições precárias de habitação e saúde da
população, a ausência ou surgimento de iniciativas destinadas à promoção do saneamento e da
saúde são assuntos que compareceram com assiduidade na pauta do Correio da Lavoura,
afinal, a higiene era uma das bandeiras do Jornal.
A instalação de postos de saúde, serviços de limpeza e coleta de lixo, abastecimento de
água e canalização de esgotos incidiam sobre a configuração espacial da cidade, habilitando-
a, supunha-se, a espelhar e produzir o almejado progresso. O saneamento e a higiene
consistiam em modos de educar o espaço e os sujeitos, em adotar novos códigos de ordenação
do social. Guardavam estreitos vínculos, portanto, com o tema da instrução escolar.
240
Dialeticamente, como examina Marta Carvalho (2008), os discursos, campanhas e
ações em prol da instrução que permearam os debates durante a Primeira República também
revestiram concepções sobre a educação enquanto “terapêutica da nação”. O consenso
estabelecido de que a educação superaria o diagnóstico de crise, transformando o “Jeca-Tatu”,
síntese da “realidade lastimada” sobre o “povo”, operava também uma mudança no
pensamento social brasileiro acerca dos determinismos de uma raça mestiça. A educação
ganhava em importância como ingrediente, vacina, para a “regeneração” dos brasileiros
(CARVALHO, 1998, p. 142). O recurso de sanear a sociedade devido ao estado de doença,
tomando a nação/sociedade como um organismo, convertia “questões sociais e políticas em
questões de higiene” (Ibidem, p. 146).
Examinando a função social atribuída à educação nas correntes que constituíam a
Associação Brasileira de Educação, durante a Primeira República, a autora ressalta que “a
inexistência de fronteiras nítidas entre a ação higienista, assim concebida, e a educação,
pensada também no horizonte intelectual do determinismo como alteração do meio ambiente,
permite que a metaforização da ação educacional em obra de saneamento seja procedimento
discursivo de grande força descritiva [...]” (CARVALHO, 1998, p. 147).
Em artigo publicado em 1926, sob o título “Hygiene e Instrucção”,489
o Jornal
repercutia a centralidade que estes temas assumiram na discussão de questões sociais durante
a Primeira República. A falta de compromisso e de medidas permanentes por partes dos
“poderes públicos” com os assuntos da higiene e da instrução transformavam estes temas nos
dois “problemas” que assolavam a população. Sob a ótica do Jornal, fazendo coro ao que era
alarmado por “eminentes médicos e autorisados jornalistas”, eram explicitados os nexos entre
higiene e instrução: “De ambos dependem o bem estar e a prosperidade do nosso povo. A
hygiene é a fortaleza do corpo como a instrucção é a saúde do espírito. Não ha duvida de que
sem hygiene e sem cultura o organismo humano é uma presa fácil das doenças”. 490
Encobertos pela “absoluta falta de hygiene e pela noite eterna da cegueira
intellectual”, segundo o Jornal, a população rural e a população operária enfrentavam graves
problemas, “jugulados pelas doenças, roidos pela verminose, sacrificados pela deficiência da
alimentação e falta de conforto, numa luta sem tréguas [...]”. Sobre as relações deste tema
com a formação da força de trabalho, lembrava-se que um povo brasileiro sadio dispensaria o
uso do trabalho do imigrante.491
489
HYGIENE E INSTRUCÇÃO, 16 set 1926. 490
Idem. 491
Idem.
241
As condições de saúde e higiene da população, por sua vez, eram atreladas às
condições de habitação, aos hábitos de consumo, de cuidados com o corpo, o que apontava
para a necessidade de suprimir a insalubridade pela adoção de redes de abastecimento de água
e esgotos, casas construídas de modo a não disseminar doenças, serviços de assistência
médica e instrução para adoção de hábitos saudáveis e profiláticos. As prescrições sobre o que
era saudável e adequado circunscreviam os hábitos que deveriam ser abandonados, como, por
exemplo, o alcoolismo. Havia um entrelaçamento entre saúde, condição física, conduta moral
e disposição ao trabalho que buscava reorganizar, nas primeiras décadas pós-escravidão, a
função social do trabalho e do trabalhador.
Construir a Nova Iguaçu, portanto, demandava investimentos que viabilizassem a
construção de nova infraestrutura. O saneamento das regiões insalubres da Baixada
Fluminense era essencial para a redefinição dos usos do território. O espaço precisava ser
reorganizado, saneado, para propiciar novos modos de vida. O tratamento do solo, do curso
dos rios, para prevenir ou amenizar o assoreamento, o efeito das enchentes, das áreas
pantanosas da Baixada Fluminense sobre as áreas de cultivo, tornando também produtivas
regiões insalubres e inabitadas, liberaria regiões para o uso do território.
Em 1920, eram anunciados os preparativos para comemoração do 1º aniversário do
Posto de Profilaxia Rural de Nova Iguaçu, com conferência do Sr. Belisário Penna, chefe do
serviço de profilaxia rural e saneamento e,492
por iniciativa do Jornal, seria publicado um
suplemento do Correio da Lavoura sobre “Higiene Popular” sob a direção do médico Mário
Pinotti.493
Foi assíduo o apoio do Jornal à causa do médico sanitarista Belisário Penna. A
instalação de postos de profilaxia rural em localidades do município era noticiada depositando
esperanças na “regeneração” da população. Além do tratamento dos doentes por exames,
consultas e medicação, havia na ação destes postos uma dimensão educativa. Constantemente
eram realizadas “palestras” e “conferências” destinadas à população. As visitas e conferências
de Belisário Penna a postos no município eram fotografadas e festejadas no Jornal, que
publicava, também, os textos das suas conferências e artigos.494
A ação dos médicos sanitaristas atesta os vínculos entre saúde e saneamento
estabelecidos naquelas décadas. Cabe lembrar, como foi visto no capítulo 1, que a instauração
492
Correio da Lavoura, 29 jul 1920, Ano IV, n.176. 493
Correio da Lavoura, 02 dez 1920, Ano IV, n.194. 494
Entre outras ocorrências, cabe citar: EM PROL DE UMA CRUZADA, 22 mar 1920; PROFILAXIA
RURAL, 01 abr 1920; Correio da Lavoura, 08 jul 1920, Ano IV, n.173; Correio da Lavoura, 07 abr
1921, Ano V, n.212. O DEMÔNIO DA HUMANIDADE .CONFERÊNCIA DE BELISARIO PENNA,
22 jun 1922.
242
do regime de prefeituras no estado do Rio de Janeiro, e no município de Iguaçu, resultou da
intervenção do governo estadual na construção da rede de abastecimento de águas e
canalização dos esgotos da cidade. E um médico sanitarista foi indicado para assumir a
prefeitura de Iguaçu.
Ao aprovar o interesse do prefeito Mario Pinotti em fundar na cidade uma “Escola
Modelo” e mais outras escolas, “segundo os methodos da pedagogia moderna”, o Jornal
lembrava suas próprias bandeiras da higiene e instrução:
Quanto à primeira, aí temos a profilaxia rural, que vai conquistando a simpatia
unânime, que aos poucos vencendo a resistência do povo – esse exército de doentes
e opilados – que vai seguramente levantando o físico das populações. Sob a chefia
do Dr. Pinnoti, o Posto desta cidade muito tem feito no cumprimento desse desidera
[i]. Em boa hora, ao mesmo homem, foi entregue a Prefeitura de Iguassú.495
O interesse do prefeito pela criação de escolas evidenciava a compreensão, segundo o
Jornal, de “que não pode haver higiene completa, saneamento definitivo e organismos sãos
sem [que] se instrua o povo”.496
A partir da instauração do regime de prefeituras ficou
deliberado, entre as atribuições da administração municipal, “prover sobre a instrucção
primaria, hygiene e assistencia publica no municipio”.497
A mesma atribuição repetia-se na
lei estadual de Organização Municipal, de 1921.498
Em 1929 permaneciam as mesmas
competências para a administração municipal, desde que “sem prejuízo da competência dos
poderes públicos do Estado”.499
A necessidade do saneamento para a configuração do espaço demandava intervenções
sobre as vias de circulação e modos de transporte dos municípios. O afluxo de pessoas do
Distrito Federal que migravam para o município, expulsos pelos altos aluguéis da capital e
atraídos pelos loteamentos, ou o afluxo de trabalhadores para a citricultura e a necessidade de
circulação das mercadorias pressionavam pela melhoria das condições das estradas e dos
serviços de transporte da região.
Em muitas ocasiões há, nas páginas do Correio da Lavoura, exigências sobre a
melhoria das estradas de rodagem do município. O poder municipal e estadual eram
495
A ACÇÃO DO PREFEITO DE NOVA IGUASSÚ, 22 mar 1920. 496
Idem. 497
ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Lei n. 1620 de 11 de novembro de1 919, pág.6. Tipografia do
Jornal do Commercio, de Rodrigues & Comp., 1919. Biblioteca Estadual de Niterói. 498
Estado do Rio de Janeiro. Lei n.1734 de 14 de Novembro de 1921, pág 8. Organização Municipal.
Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal do Commercio, 1921. Biblioteca Estadual de Niterói. 499
Estado do Rio de Janeiro. Lei n.2.316 de 30 de Janeiro de 1929, pág.12. Organização Municipal. Rio
de Janeiro, Tipografia do Jornal do Commercio, 1929. Biblioteca Estadual de Niterói.
243
convocados para a construção de novas rodovias e conservação das vias, como ações
expressivas do crescimento da cidade e da produção agrícola, principalmente.500
Outras iniciativas em prol de melhorias para o município ganhavam visibilidade. A
fundação do “Centro de Melhoramentos de Iguassú”, em reunião realizada na localidade de
Belford Roxo, pretendia requerer das autoridades locais e federais as benfeitorias que
demandavam os vários distritos do município.501
Uma comissão do Centro de Melhoramentos
foi recebida pelo Ministro da Viação, um mês após a criação do mesmo. Na ocasião foi
entregue um abaixo assinado com 800 assinaturas de moradores de Belford Roxo solicitando
mais trens no ramal Rio d’Ouro, com tarifas e passagens mais baratas. A comissão também
solicitou ao presidente da Câmara a conclusão do saneamento de Belford Roxo, entre outras
exigências.502
Nos relatórios503
publicados no Correio da Lavoura, os prefeitos descreviam o
andamento de obras de infraestrutura e conservação. Os orçamentos destinavam verbas para
esses serviços. Contudo, entre os avanços registrados e os impasses nos entendimentos entre
governo municipal, estadual e federal para os serviços de saneamento e assistência médica à
população, encontram-se, também, outras descrições contrastantes sobre a situação da cidade
e das principais ruas do distrito-sede que demonstram certos significados atribuídos ao espaço
urbano, por vezes conflituosas.
Na campanha do Jornal pela higiene e saneamento, advertia-se sobre os impactos que
a passagem do verão acarretava para a cidade. Embora não tenha registrado nenhum “caso
doloroso” de doenças no verão de 1921-1922, ponderava-se sobre a necessidade de tomar
precauções para o próximo verão, devendo-se redobrar o asseio das casas. Às condições
climáticas da região era atribuído a sorte de não ter havido tais ocorrências, “mao grado
malignos propositos de nosso pessimo estado sanitario”.504
Alardeava-se sobre os perigos
trazidos pelo verão para regiões que eram “uma zona baixa e pantanosa ou em uma cidade
500
Por exemplo, ESTRADAS DE RODAGEM, 28 fev 1928. 501
CENTRO DE MELHORAMENTOS DE IGUASSÚ, 04 set 1919. 502
CENTRO DE MELHORAMENTOS DE IGUASSÚ, 16 out 1919. 503
MENSAGEM APRESENTADA PELO SNR. PREFEITO À CAMARA MUNICIPAL EM 10
CORRENTE,18 dez 1924; MENSAGEM DO SR. PREFEITO, 22 mar.1925; MENSAGEM DO EXMO
SNR. PREFEITO DE IGUAÇU,22 mar 1928; MENSAGEM DO SR. PREFEITO, 02 ago.1928;
MENSAGEM DO EXMO SNR. PREFEITO DE IGUAÇU, 31 jan 1929; MENSAGEM DO EXMO
SNR. PREFEITO DE IGUAÇU, 14 fev 1929; NEGREIROS, Sebastião de Arruda. Relatório
apresentado ao Exmo. Sr. Comandante Ary Parreiras, interventor do Estado do Rio, pelo Exmo Sr. Dr.
Sebastião de Arruda Negreiros, Prefeito de Iguaçu,durante o ano de 1931. Iguaçu, 1932. Publicado no
Correio da Lavoura, em 22 mar. 1932, Ano XVI, n.784. 504
SEJAMOS PREVIDENTES, 22 jun 1922.
244
populosa, onde são communs, em ruas movimentadas, profundas cisternas, vallas fetidas e
abertas para o despejo publico, e mais uma serie interminavel de imundicieis”.
Isso posto, entre condições climáticas favoráveis e o “péssimo” estado sanitário, a
cidade de Nova Iguaçu, sede do município, estava em situação de risco:
[...] pois, abertos em plena rua, (ruas de grande movimento como a Marechal
Floriano Peixoto, Bernardino Mello e avenida Nilo Peçanha,) ás vistas de todos,
numerosos buracos offerecem, em seu conteudo estagnado, facil viveiro para
miasmas e mais uma infinidade de microbios perigosos.505
A longa matéria de 1ª página alertava que a epidemia de tifo ocorrida na cidade de
Campos era decorrência do descaso dos campistas. Lembrava que as águas paradas eram
viveiros dos mosquitos e que era preciso combatê-los para “castigar-se o terror e a causa do
desprestigio da baixada fluminense, o transmissor das febres amarella, intermitentes e
typhoides.” Os mosquitos, os buracos e as valas eram “espantalhos” dos visitantes,
desagradavam o passar dos transeuntes.
Portanto, o “descaso sanitario” prejudicava a cidade: “Todos esses defeitos, que têm
corrido para a mais completa desmoralisação de Nova Iguassú, promettem perdurar para
maior vergonha nossa.” Apelava-se para que a Câmara mandasse entulhar os buracos abertos
para a “gorada rede de esgotos, e mantida uma turma encarregada, somente, de limpeza de
valas e ruas”. Este pedido, segundo o Jornal, não deveria deixar de ser atendido pela Câmara
que “sempre se manifestou zeloza pelo bem estar e pelos interesses da collectividade
iguassuana”.506
A “gorada rede de esgotos” era uma referência aos impasses entre ação municipal e
governo estadual, porque, após a destituição do prefeito indicado pelo governo estadual, em
1920, foram paralisados os serviços de saneamento na cidade. Quando as obras iam
adiantadas em 1920, comemorava o Jornal: Nova Iguassú vae em progresso.507
Em 1921, o
Jornal acompanhava as promessas de retomada das negociações, mas lamentava que nada
estava sendo realizado.508
Em contraste com a descrição do “pessimo estado sanitario” da cidade, na semana
seguinte o mesmo Jornal comemorava: “Nova Iguassú Progride”.509
Ao comparar a situação
das ruas da cidade com o cenário de anos anteriores, a partir de 1917, elegia-se como
sintomas do progresso as novas construções que transformavam “antigos mataréos em
505
SEJAMOS PREVIDENTES, 22 jun 1922. 506
Idem. 507
NOVA IGUASSÚ VAE EM PROGRESSO, 29 abr 1920. 508
REDE DE ESGOTOS, 06 out 1921. 509
NOVA IGUASSÚ PROGRIDE, 29 jun 1922.
245
verdadeiros e confortáveis palacetes”. A inauguração de novas casas comerciais, as novas
ruas abertas, a extensão dos domínios “de nossa já bem desenvolvida praça” e os
melhoramentos introduzidos, a iluminação elétrica, o traçado das ruas, “revestindo-se tudo de
aspecto novo e mais elegante” eram os argumentos utilizados para afirmar que “O progresso,
geralmente moroso e dificil de ser conquistado, parece entrar, ultimamente, a passos largos,
por esta cidade”.510
O “melhoramento” das ruas era visto como atrativo para o estabelecimento do
comércio e de novas residências: “A rua Bernardino Mello, ha pouco, enfeiada por numerosas
falhas de casas e por cercas de taquara, tendo ao longo infecta vala, além de uma deselegante
sinuosidade, entra agora em franca prosperidade.”
A outra rua que margeia a linha férrea, a Marechal Floriano, também apresentava
indícios de progresso, pois que nela, “surgem, também, construções novas que mais apuram o
alinhamento. Tudo, enfim, sofre reviravoltas. O progresso entra em Iguassú a olhos vistos
com os melhoramentos que se acumulam”.
Estas descrições demonstram que havia uma vinculação entre as várias transformações
deliberadas no território que eram entendidas como elementos da construção da Nova Iguaçu.
A configuração do alinhamento e calçamento das ruas em oposição às valas que cruzavam os
logradouros, a instalação de iluminação elétrica, o aparecimento de novas construções em
substituição aos “infectos casebres” e os barracões de “páo e pique” remodelavam a paisagem
e o estatuto do território. O Jornal destacava a “desenvoltura com que se apresenta a lavoura
do Municipio”, especialmente dos “opulentos laranjais” como outro índice do progresso
alcançado. Este novo estado de coisas acenava para um “horizonte de felicidades”, mesmo
quando o Jornal voltava a reconhecer: “Mas é verdade que Nova Iguassú muito deixa a
desejar e que é senhora de grandes deffeitos”.511
As mesmas ruas elogiadas em 1922 voltavam a ser alvo de críticas em 1924. As
chuvas contínuas deixavam as ruas cheias de “lodo pútrido”, situação que seria amenizada se
as duas principais vias de comunicação já estivessem sido macadamizadas. Seu mau estado
prejudicava o comércio e a locomoção das pessoas: “Ao menos que se faça o calçamento
dessas duas principaes ruas que possuímos, Bernardino Mello e Marechal Floriano Peixoto,
de que jamais podemos nos prescindir, como as principaes vias de communicação para o
commercio. Urge um esforço em beneficio desta cidade [...]”512
510
NOVA IGUASSÚ PROGRIDE, 29 jun 1922. 511
Idem. 512
A NOSSA CIDADE E O SEU ESTADO DE DECADÊNCIA, 1º jan 1924.
246
Dessa dialética entre a construção da cidade, as denúncias do estado de abandono, as
solicitações à ação dos poderes públicos, e as comemorações das mudanças introduzidas, que
revelam a dinâmica do processo, que não é linear, é válido notar que, no mesmo número sobre
as ruas prejudicadas pela falta de calçamento, era noticiada a finalização das obras do prédio
que iria sediar o novo cinema e que, numa das dependências de um “velho sobrado
reformado” da rua Marechal Floriano Peixoto, seria instalada uma nova confeitaria.513
Os
“melhoramentos locaes” eram saudados, como as obras realizadas em 1924 de limpeza e
melhoramentos em ruas do perímetro urbano e na estrada de ligação da cidade de Nova
Iguaçu com a localidade de Mesquita: “O sr. Prefeito, com essas medidas de alcance,
melhorando as nossas vias de comunicação, está imprimindo às ruas da cidade um agradavel
aspecto de limpeza e mesmo embelezamento”.514
Nesse sentido, o Correio da Lavoura incluía na pauta as notícias sobre a instalação da
nova sala de telégrafos,515
eventos pela inauguração da iluminação pública em localidades do
município, 516
inauguração de estradas etc. Ademais, de fato, esses acontecimentos eram
celebrados em solenidades e discursos que espelhavam a importância com que eram
revestidos como símbolos do progresso local.
A inauguração do Café e Bilhares Elite, na praça Ministro Seabra: “nos moldes das
casas de primeira ordem da Capital”517
, do Bar Brasil na rua Marechal Floriano,518
novas
casas de comércio, clubes, espetáculos de cinemas,519
teatro, circo, eram concebidos como
expressivos do grau de civilidade e urbanidade do distrito-sede.
A “Vida Social”,520
os bailes, os saraus nas residências de famílias abastadas, as festas
de aniversário, as comissões de organização das festas do padroeiro da cidade, as disputas
esportivas e eventos na “veterana sociedade esportiva”, o Sport Club Iguassú,521
, as bandas de
música e o transcurso ordeiro dos blocos de Carnaval, do “Pega e Deixa”, do “Contigo eu
513
DOIS MELHORAMENTOS, 1º jan 1924. 514
MELHORAMENTOS LOCAES, 10 abr 1924. 515
NOVA SALA DOS TELEGRAPHOS. A SUA INAUGURAÇÃO, 29 nov 1917. 516
Por exemplo, MESQUITA, 14 jan 1932; COELHO DA ROCHA. A INAUGURAÇÃO DA
ILUMINAÇÃO PUBLICA, 07 abri 1932. 517
O NOSSO COMMERCIO, 11 jun 1925. 518
INAUGURAÇÃO DO BAR BRASIL, 28 nov 1928. 519
OS NOSSOS CINEMAS, 03 jun 1926. Os anúncios dos espetáculos eram publicados no Correio da
Lavoura. 520
Coluna do Jornal Correio da Lavoura, que comentava nascimentos, batizados, casamentos,
aniversários, saraus, bailes, quermesses e comemorações realizadas na sociedade local. 521
Por exemplo, S. C. IGUASSÚ, 20 nov 1924.
247
posso”522
etc. dão a ver a encenação da urbanidade do distrito-sede, o engendramento de
características que constituíam aquele espaço como “cidade”.
As notas de fundação e aniversário de outros jornais, a criação de grêmios literários,523
as associações e eventos promovidos por Ligas Católicas, sociedades espíritas, partidos e
associações políticas, integravam o cotidiano da cidade. Os anúncios de dentistas, médicos,
farmácias, cursos preparatórios, aulas de música, idiomas e outros serviços, sediados nas
principais ruas do distrito-sede, concorriam para a função catalizadora exercida pela sede do
poder municipal. A cadeia, o fórum, a câmara distinguiam a formação do espaço como núcleo
das instituições políticas e administrativas do município.
É significativo observar como o Correio da Lavoura, de caráter ruralista, demandava e
fiscalizava a introdução de melhoramentos no espaço urbano como expressivos do almejado
progresso.
Ao retomar o assunto dos “melhoramentos municipais”, em 1932, era elogiada a
“arborização” da rua Getúlio Vargas. Contudo, cabia estender o benefício a outras ruas,
“igualmente necessitando do mesmo melhoramento, iniciando s.s. a urgente remodelação da
physionomia nossa urbs, cujo importante problema jamais mereceu os cuidados dos poderes
competentes”.524
A reformulação do espaço para dotá-lo de aspectos condizentes com certa
noção de cidade era assim explicitado:
O que possuimos em materia de esthetica urbana, convenhamos, é tudo o que ha de
mais archaico, monotono e de horrível mau gosto, impondo-se para sepultar essa
velharia que ainda perdura como desafio a nossa capacidade evolutiva, uma reforma
radical de conformidade com o nosso progresso, como aliás se observa em outros
centros mesmo de inferior importância ao da nossa grande cidade.525
A introdução de novas benfeitorias constituintes da paisagem urbana era festivamente
informada pelo Correio da Lavoura.526
A instalação do serviço de telefones na cidade era
compreendida como “um sensível melhoramento que, ha muito, era reclamados pelas
múltiplas necessidades derivadas do progresso a que attingiu este município”.527
A
inauguração do serviço foi celebrada, com um telefonema entre o prefeito Sebastião Arruda
Negreiros e o interventor do estado, o almirante Protógenes Guimarães, sendo depois servido
um “farto launch” confiado à confeitaria Colombo, do Rio de Janeiro (capital).528
522
Por exemplo, CARNAVAL, 03 mar 1927. 523
Por exemplo, GRÊMIO LITERÁRIO COELHO NETO, 23 out 1919. 524
MELHORAMENTOS MUNICIPAES, 02 jun 1932. 525
Idem. 526
INAUGURADA AGÊNCIA DO BB, 02 fev 1933. 527
SERVIÇO DE TELEPHONES, 12 dez 1935. 528
INAUGUROU-SE O SERVIÇO TELEPHONICO DESTA CIDADE, 23 jan 1936.
248
Não há, nas páginas do Jornal, uma oposição entre a defesa da lavoura e os
investimentos pela infraestrutura da cidade. Ao contrário, um parece favorecer o outro. A
cidade, a ser dotada de melhoramentos, deveria refletir a riqueza obtida com a citricultura, o
progresso econômico do munícipio. Em 1932, aconteceu a “1ª Feira de Amostras de Iguassú”,
que consistiria, segundo o anúncio publicado, numa “Grandiosa demonstração publica da
riqueza e prosperidade do município de Iguassú”. Os temas, ou motivos a serem “expostos”
sobre o município eram a lavoura, a indústria, o comercio e “Artes, Sciencias, Instrucção”.529
Em 1936, artigo assinado por “T.U.” argumentava que o desenvolvimento do
município era caudatário do desenvolvimento da citricultura:
Esse surto formidavel que se nota na lavoura vae se refletindo na vida urbana de
Iguassú. Com effeito, a cidade vae tomando novo aspecto. Predios de architectura
moderna vão se erguendo pelos differentes bairros e novas ruas vão se abrindo. O
commercio se expande e a industria começa a se desenvolver. 530
Além dos melhoramentos em assistência médica, em 1936, outro índice do progresso
era a “instrucção”, porque “já conta com bons institutos de ensino”. O trabalho da prefeitura
no emprego das verbas arrecadadas em “melhoramentos urbanos” era ressaltado. Contudo, o
autor lembrava que “todos esses progressos” poderiam ser maiores se fosse resolvido o
problema do saneamento do território da baixada, “a dragagem e drenagem dos seus rios e
pantanos é obra patriótica e sobretudo humanitária [...]”. Avanços e recuos, impasses e
improvisos, constituíam, portanto, o engendramento da cidade.
Ainda que as vinculações estabelecidas, nas páginas do Jornal ruralista, entre
urbanização e desenvolvimento econômico da lavoura possam evidenciar projeções que
buscavam defender a relevância da agricultura para a prosperidade do munícipio, é
interessante notar essas apropriações e convergências, que apareciam, entre urbano e rural. No
caso do distrito-sede, ambas “paisagens” e suas funções estavam bastante imbricadas.
Sobre outras áreas do município, o Jornal noticiava com gosto o processo dos
loteamentos, da fragmentação de antigas fazendas para a construção de terrenos para casas, a
abertura de ruas etc. Os benefícios de saneamento introduzidos em Nilópolis no transcurso do
governo de Nilo Peçanha eram bastante valorizados como mudanças que colocaram a
localidade na “marcha do progresso”.
Até mesmo dentro dos limites do 1º distrito, o Jornal acenava os loteamentos como
impulsionadores do progresso. Desse modo, a ação do coronel Horacio de Lemos, ao retalhar
o latifúndio que possuía em Mesquita em lotes para venda, retirava aquela região do
529
1ª FEIRA DE AMOSTRAS DE IGUASSÚ, 07 jul 1932. 530
DESPERTAR DE IGUASSÚ, 22 mar 1936.
249
“marasmo” em que se encontrava: “Já se contam nas várias ruas abertas, muitas edificações.
Muito folgamos em registrar o surto de progresso que faz florescer a velha e tradicional
Mesquita”.531
Sobre o crescimento da população e a expansão de loteamentos em alguns distritos do
município, motivado pelas construções e pelos aluguéis que atraíam as populações que não
conseguiam arcar com os altos alugueis “do Rio”, o Jornal alertava apenas para a necessidade
de melhorias de infraestrutura sanitária, e de vigilância dos padrões de higiene, em beneficio
dos moradores, para o que conclamava a atuação do prefeito.532
O saneamento, portanto, era considerado como condição primordial para o
desenvolvimento da urbanização ou do emprego do território em áreas de cultivo. Atrelado ao
tema da higiene, era assunto nacional desde a instauração da Comissão Federal de
Saneamento da Baixada Fluminense, que funcionou entre 1910 e 1916. A criação da
Comissão foi ancorada em argumentos de combate aos focos de malária e na recuperação da
região para a economia agrícola: “o saneamento é entendido não somente como higiene
pública, mas como instrumento de revitalização da região” (FADEL, 2009, p.143). Médicos e
engenheiros foram agentes importantes nesses movimentos de disseminação de uma nova
ordem de costumes e de relação com o espaço urbano e rural (Ibidem). Novas comissões
seriam implantadas nos anos de 1920 e, no pós-1930, houve forte intervencionismo do
governo de Getúlio Vargas sobre os assuntos de saneamento da Baixada Fluminense.
As pesquisas sobre o saneamento na região alertam, entretanto, para os avanços e
recuos, os impasses e entraves que permearam este processo desde fins do séc. XIX (Cf.
FADEL, 2009; SANTOS, 2006; SOUZA, 2006). As relações entre as esferas municipal,
estadual e federal do poder executivo revelaram conflitos sobre o encaminhamento do
problema. As relações estabelecidas entre as agências de governo e as empresas contratadas
para fazer os serviços, as concorrências pela posse das áreas tratadas, entre especulação
imobiliária, lavradores e industriais, além da continuidade de problemas de doenças, surtos e
epidemias, são reveladores das disputas que permearam esse processo. Cabe destacar,
contudo, as associações entre saneamento e as funções rural ou urbana, requeridas,
pretendidas, destinadas, às diferentes regiões da baixada fluminense.
Em Iguaçu, as ações da prefeitura municipal sobre o saneamento também comparecem
nos relatórios enviados pelo interventor estadual Ary Parreiras a Getúlio Vargas. O relatório
do ano de 1933, submetido ao presidente Vargas, apresentava as ações das municipalidades
531
MESQUITA, 16 ago 1928. 532
A NOSSA CIDADE, 18 fev 1926.
250
do estado do Rio de Janeiro. Assim, o interventor avaliava positivamente o “estado sanitário”
do município de Iguaçu, devido aos serviços de desobstrução de rios, capina de ruas, limpeza
e drenagem de terrenos alagadiços, trabalhos nos quais a prefeitura empregava cerca de 150
trabalhadores. O interventor federal ressaltava os números da instrução pública, a situação das
praças e das estradas de rodagem. Esse relatório, encaminhado ao presidente, ofertava
também fotografias de algumas das estradas construídas ou reformadas.533
Figura 34 Fotografia da Estrada do Gimbaú, Serviço Municipal, 1933.
Fonte: Estado do Rio de Janeiro. O governo do Estado do Rio de Janeiro e de suas municipalidades
durante o ano de 1933. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Ary Parreiras,
Niterói, 1934, p.249.
533
Estado do Rio de Janeiro. O governo do Estado do Rio de Janeiro e de suas municipalidades durante
o ano de 1933. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Ary Parreiras, Niterói,
1934.
251
Figura 35 Fotografia da Estrada Plínio Casado, Serviço Municipal, 1933.
Fonte: Estado do Rio de Janeiro. O governo do Estado do Rio de Janeiro e de suas municipalidades
durante o ano de 1933. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Ary Parreiras,
Niterói, 1934, p.260.
Figura 36 Fotografia do calçamento da Rua Getúlio Vargas, Serviço Municipal.
Fonte: Estado do Rio de Janeiro. O governo do Estado do Rio de Janeiro e de suas municipalidades
durante o ano de 1933. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Ary Parreiras,
Niterói, 1934, p.251.
252
Na esfera local, a importância conferida ao tema da higiene como elemento necessário
à afirmação da localidade como uma “cidade”, pode ser apreendida, ainda, na campanha pela
construção de um hospital.
A “Maior Campanha”: o Hospital de Iguaçu
A campanha pela fundação de um hospital no distrito-sede figurava nas colunas do
Correio da Lavoura a partir de 1922. A instituição serviria para “recolher e amparar ao menos
os nossos doentes, os indigentes que necessitam da caridade publica”. A existência de
hospitais em todas as cidades do estado, por iniciativa particular ou do poder público, era
contrastada com a situação em Nova Iguaçu: “Porque não havemos nós de fazer o mesmo em
Nova Iguassú? É preciso um esforço por parte da nossa população, e aos corações bem
formados cabe a iniciativa desse melhoramento tão urgentemente preciso e útil para uma
cidade como a nossa”.534
A descrição da morte de um homem, no banco da estação de trem, que esperava há um
mês para ser internado no hospital de Cascadura, era tomada como exemplo da imperiosa
criação de um hospital para a população local sem recursos financeiros. Para a fundação do
hospital, apelava-se tanto aos poderes públicos quanto ao “espírito de caridade”. Aos “homens
ricos, detentores da fortuna” o Jornal conclamava, num apelo religioso, pela construção de um
hospital para os “desherdados da sorte”: “Fundemos, pois, um hospital em Nova Iguaçu”.535
Pelo exemplo do realizado em outras cidades, o Jornal confiava que a construção da
casa de saúde poderia advir por auxílio da iniciativa particular e subvenção dos poderes
públicos. A “necessidade imperiosa e inadiavel” de um estabelecimento hospitalar em Nova
Iguaçu era urgente, porque “Do contrario, continuaremos, de outro lado, a offerecer um
attestado deploravel da nossa incúria, distanciando-nos das mais pequenas cidades do
interior”.536
Nas primeiras matérias da campanha, além da legitimidade da destinação de um
hospital para o atendimento aos doentes, era tecido um argumento que associava a criação da
instituição com a “elevação” da localidade ao nível compatível ao de uma cidade. Além de
promover a caridade, o hospital promoveria a constituição da cidade, o reconhecimento
daquele espaço como citadino, urbanizado. Dessa forma, deveria, portanto, contar com o
empenho da ação governamental e de doações dos abastados da sociedade local.
534
A NECESSIDADE DE UM HOSPITAL EM NOVA IGUASSÚ.UM APPELLO AO POVO, 19 out
1922. 535
Idem. 536
PRECISAMOS DE UM HOSPITAL, 09 nov 1922.
253
A criação de uma casa de saúde e de um mercado era apregoada como resposta às
“maiores necessidades” da cidade em 1923, porque repercutiriam na remediação e prevenção
dos hábitos de higiene e consumo de gêneros da população.537
Apesar da continuidade da publicação de matérias pelo estabelecimento de uma casa
de saúde, somente em 1926 houve uma primeira resposta da ação municipal, pela proposta,
aprovada na Câmara, de uma dotação orçamentária. Embora destacasse a ação do vereador
proponente da iniciativa, o Jornal alegava que os recursos aprovados eram insuficientes.538
Por ocasião da representação que a população da localidade de Morro Agudo
encaminhou ao diretor de Saúde Publica do estado, solicitando medidas urgentes para socorrer
com medicamentos o surto de paludismo na localidade, o Jornal lembrava a “necessidade de
fundação do hospital”,539
assim como aludia a situações de acidentes, nas quais o socorro de
farmacêuticos e do médico residente na cidade eram insuficientes, sendo por vezes necessária
a internação das vítimas: “Não será occasião do governo do Estado fazer alguma coisa em
beneficio desta terra, contribuindo com alguns pares de contos de réis para a fundação da
nossa Santa Casa?”.540
A proposta de edificação de um hospital na cidade foi mantida na recorrência de
matérias, em geral na primeira capa, que tratam do assunto, ora argumentando sobre as
necessidades e os benefícios que resultariam da construção do mesmo, ora apelando para que
as ideias tomassem forma, pela ação de particulares ou dos poderes públicos. Mesmo
reconhecendo que a campanha atravessava anos sem ver maiores resultados, o Jornal não
esmorecia: “Insistiremos, pois, no assumpto; malharemos hoje como hontem e do mesmo
modo amanhã e sempre, até ver convertido em confortadora realidade o sonho que nos
embala”.
A adesão simpática de outras forças, segundo o Jornal, alimentava a batalha, como a
iniciativa do vereador que propôs uma dotação orçamentária na Câmara de Vereadores.
Contudo, devido à necessidade de maior empenho, questionava: “Nesta terra tão generosa,
que tem enriquecido tanta gente, onde as laranjas representam verdadeiros pomos aureos, não
haverá meia dúzia de beneméritos, almas generosas, corações magnânimos, que queiram
assinar um ‘Livro de Ouro’ em beneficio das Obras do nosso hospital? Esperemos...” 541
537
AS NOSSAS MAIORES NECESSIDADES, 26 abr 1923. 538
O NOSSO HOSPITAL, 08 abr 1926. 539
UM HOSPITAL PARA ESTA CIDADE, 29 abr 1926. 540
CUIDEMOS DO NOSSO HOSPITAL, 08 jul 1926. 541
CUIDEMOS DO NOSSO HOSPITAL, 15 jul 1926.
254
Em um conjunto de matérias, publicadas em série sob o título “O que mais
precisamos”, a falta da casa de saúde era colocada ao lado dos problemas dos transportes e do
abastecimento de água na cidade.
Também a escassez e os atrasos constantes no serviço dos trens constituía, segundo o
Jornal, um entrave ao crescimento da cidade, que tendia a se tornar “um dos maiores nucleos
de população suburbana” em função do encarecimento de vida no Distrito Federal,
principalmente pela alta dos aluguéis. Contudo, o afluxo de pessoas para a cidade era
atrapalhado pela condição precária dos serviços de transporte, que dificultavam a mobilidade
das pessoas: “Está ahi uma das causas do nosso atraso no desenvolvimento que já deveria ter
a cidade de Nova Iguassú, digna de melhor sorte, se tivesse administradores na altura de seus
interesses”.542
O abastecimento de água era considerado outro problema sério, porque sendo o
mesmo o volume de água distribuído há dez anos, não correspondia ao crescimento da
população local. Os poderes públicos municipais eram responsabilizados pelo problema, por
agirem com imprevidência e segundo interesses pessoais, posto que era do município que saía
a água que abastecia o Distrito Federal, não sendo, portanto, um problema de escassez. A
crítica do Correio da Lavoura se fazia contumaz: “Já é tempo de se ir commentando estes
deslises, esta falta de patriotismo (digamos assim) dos que nos dirigem; a critica faz-se mistér,
porque não é possível mais permittir que serviços do valor deste continuem esquecidos, não
obstante os insistentes clamores da população.”543
Na sequência desses temas, relacionados à falta de estrutura da cidade, pleiteava-se a
captação de maior volume de recursos para a construção da casa de saúde. Além da
importante iniciativa particular, conclamava-se a participação dos poderes públicos na
empreitada, com dinheiro e materiais de construção. A participação da ação municipal
precisava estar presente no aumento das verbas destinadas e pelo uso do “seu prestigio
político” junto ao governo estadual, para obter contribuições para a construção do hospital.544
Contudo, apesar do ânimo do Jornal, o projeto de construção do hospital só
encontraria respaldo prático da prefeitura em 1931. Em janeiro daquele ano, num “box” no pé
da página, o Jornal noticiava a realização de uma reunião promovida no gabinete do prefeito,
por iniciativa do mesmo, da qual participaram “alguns cavalheiros de prestigio em nossas
varias camadas sociais”, tendo sido também convidado o diretor da Folha. Devido a esta
542
O QUE MAIS PRECISAMOS, 21 out 1926. 543
O QUE MAIS PRECISAMOS, 04 nov 1926. 544
O QUE MAIS PRECISAMOS, 18 nov 1926.
255
iniciativa aventava-se que “a velha campanha por nós encetada ha annos com o fim de se
fundar em nossa cidade um Hospital, parece que caminha para uma solução pratica”.545
Em decorrência das reuniões promovidas pelo prefeito Sebastião de Arruda Negreiros
foi constituída uma Associação de Caridade denominada “Hospital de Iguassú”. Um livro
para acolher subscrição de sócios foi disponibilizado na secretaria da prefeitura, e seriam
considerados fundadores do hospital aqueles que assinassem o mesmo até a aprovação dos
estatutos da recém-criada Associação.546
O empenho do prefeito Sebastião de Arruda Negreiros em retomar a empreitada do
Jornal pela instituição de um hospital em Iguaçu é revelador dos esforços promovidos pelo
mesmo para angariar maior aceitação ao seu governo. Ao ser nomeado interventor, em
dezembro de 1930, pela influência política de Manoel Reis, o novo prefeito enfrentou a
oposição de setores ligados a Getúlio de Moura, que havia intentado assumir a prefeitura, nas
eleições de 1929. Getúlio de Moura perdeu as eleições, e depois, pela força armada, na
ocasião do movimento revolucionário, tentou assumir o poder no munícipio. Silvino de
Azeredo, diretor-proprietário do Correio da Lavoura, era membro da União das Classes
Conservadoras de Iguaçu, da qual fazia parte, também, Getúlio de Moura.
É relevante notar como, a partir da iniciativa em prol do hospital, o Correio da
Lavoura passou a reconhecer os esforços do novo prefeito na realização de melhorias para a
cidade. Outra iniciativa que teve boa acolhida no Jornal foi a convocação de concurso para
professores destinados às escolas municipais. O movimento foi visto como uma reforma da
instrução pública.547
Por ocasião da visita do presidente Getúlio Vargas à cidade, em junho de
1931, pelo aniversário de 40 anos de fundação da Nova Iguaçu,548
o Jornal ressaltava, entre os
eventos ocorridos, o lançamento da pedra fundamental do Hospital Iguaçu, o que significava a
vitória da campanha iniciada pelo Jornal.549
545
O HOSPITAL DESTA CIDADE, 29 jan 1931. 546
HOSPITAL DE IGUASSÚ, 19 fev 1931. 547
CONCURSO DE PROFESSORES, 19 fev 1931. 548
PASSOU, NO DIA 19 DO CORRENTE, O 40º ANNO DE FUNDAÇÃO DESTA CIDADE, 25 jun
1931. 549
A VISITA DO DR. GETÚLIO VARGAS A NOVA IGUASSÚ, 25 jun. 1931.
256
Figura 37 Fotografia do lançamento da Pedra Fundamental do hospital de Iguaçu, 1931.
Fonte: Álbum Fotográfico de Nova Iguaçu, 1978. Foto 15. Lançamento da Pedra Fundamental do hospital de
Iguaçu, 1931.
O lançamento da pedra fundamental do hospital integrou a agenda do Chefe de
Governo na cidade, que também inaugurou a rua “completamente remodelada” denominada
Getulio Vargas, e a primeira packing-house do município. Eram ações que simbolizavam
diversos “melhoramentos” ocorridos na cidade que festejava 40 anos de fundação: “Honrada
com tão illustre visita e pelos elevados objectivos que a determinou a nossa população soube
cercar o chefe da Revolução na sua primeira visita a esta cidade, do carinhoso e enthusiastico
acolhimento de que é merecedor”. 550
O protagonismo do Jornal na condução da campanha pelo hospital também foi
reconhecido na eleição da diretoria da futura instituição. Na reunião de aprovação dos
estatutos do futuro hospital de Iguaçu, presidida pelo prefeito Sebastião de Arruda Negreiros,
foi eleita a nova diretoria da instituição, sendo o prefeito eleito presidente, e Silvino de
Azeredo, o vice. Além do prefeito, Silvino de Azeredo discursou destacando a disponibilidade
do prefeito em levar a cabo o ideal “porque se bateu durante longos annos”. O cap. Sebastião
Hercullano de Mattos, tesoureiro da instituição e líder da Associação dos Fruticultores da
cidade, também lembrou a importância de Silvino de Azeredo na campanha realizada. O
“lavrador” Abilio de Jesus Borges Ferreira “em nome dos seus colegas lavradores” enalteceu
os esforços do Correio da Lavoura.551
550
PASSOU, NO DIA 19 DO CORRENTE, O 40º ANNO DE FUNDAÇÃO DESTA CIDADE, 25 jun
1931. 551
HOSPITAL DE NOVA IGUASSÚ, 23 jul 1931.
257
Ao estampar em primeira página a planta do “magestoso edifício” destinando ao
hospital, o Jornal afirmava, em letras garrafais, acima da figura: “Alcançamos, felizmente, a
vitória de nossa campanha, iniciada ha nove annos, em pról desse estabelecimento hospitalar.”
Para assegurar o protagonismo do Jornal da promoção da campanha, era transcrita na íntegra a
matéria com a qual foi iniciada a campanha, em 19 de outubro de 1922.552
O interventor do estado Ary Parreiras, em relatório apresentado ao presidente Getúlio
Vargas em 1933, publicava uma fotografia do andamento das obras de construção do Hospital
de Iguaçu. A legenda da foto informava: “Iguassú –Hospital da Cidade (em construção) –
Serviço da Prefeitura em cooperação com particulares e auxiliado pelo Estado”. 553
Figura 38 Fotografia do Hospital de Iguassú em construção.
Fonte: Estado do Rio de Janeiro. O governo do Estado do Rio de Janeiro e de suas municipalidades
durante o ano de 1933. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Ary Parreiras,
Niterói, 1934, pág.253.
A inauguração do hospital aconteceu em 1935, envolta em solenidades, com a
participação de representantes das três esferas do poder executivo e “com numerosa
assistência”.554
Houve benção do edifício, missa festiva, reunião da diretoria, quermesse
beneficente ao hospital. Sebastião Hercullano de Mattos foi o orador oficial da solenidade,
que contou com a presença, entre outros, do capitão Silvino de Azeredo, do médico Luiz
552
O FUTURO HOSPITAL DE IGUASSÚ, 02 jul 1931. 553
Estado do Rio de Janeiro. O governo do Estado do Rio de Janeiro e de suas municipalidades durante
o ano de 1933. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Ary Parreiras, Niterói,
1934, pág.253. 554
HOSPITAL DE IGUASSÚ, 04 abr 1935.
258
Palmier e do deputado Manoel Reis. Um “lunch” foi servido aos convidados, e o Sport Club
Iguassú promoveu um baile comemorativo em sua sede. Ao descrever o edifício, as alas
arejadas, os equipamentos disponíveis, as “mais modernas installações sanitárias e
hygienicas”, o Jornal concluía que: “Com a relevante realização, fica este município dotado
de um hospital modelo, installado de accordo com os preceitos da nova technica, que são
imprescindiveis a uma obra de tamanho vulto”.
A construção do hospital de Iguaçu, as obras de saneamento, as ações dos postos de
profilaxia rural, as melhorias em infraestrutura relatadas pelos prefeitos nos relatórios e
notificadas pelo Correio da Lavoura, contudo, não atendiam à todas as demandas das
condições de precariedade da região. Além das denúncias feitas no Jornal sobre a
continuidade dos problemas, os mapas de frequência das escolas de Iguaçu, no período
pesquisado, também registravam a situação de alunos atingidos por surtos epidêmicos,
prédios e casas escolares em funcionamento inadequado, condições de transporte,
abastecimento de água e rede de esgotos insuficientes ou inexistentes. As condições de vida,
de moradia e circulação, portanto, constituíam o cotidiano das escolas, das instituições sobre
as quais era depositado um poder transformador da condição dos alunos, de suas famílias.
Repositórios do “progresso”, as escolas de Iguaçu não se desvencilhavam do que buscavam
dar combate...
Além das alegações de suspensão de aulas devido às condições dos prédios escolares,
outros motivos eram elencados para justificar as faltas dos alunos e das professoras. Com
maior recorrência foram citados os atrasos ou ausência de condução e trens, os dias santos
“guardados” pelos alunos, os dias chuvosos, as épocas de trabalho dos alunos nos laranjais ou
no acondicionamento dos frutos para exportação. Casamentos, dia de pagamento, doenças em
filhos ou pessoas da família, lutos e “moléstias” configuravam as faltas ocasionais dos
docentes (quando informadas). Porém, para a diminuição da frequência dos alunos, os casos
de doença eram os argumentos mais recorrentes utilizados pelas docentes, em todo município,
fosse em escolas urbanas ou rurais.
Algumas notações contêm registros mais frequentes e detalhados sobre os motivos da
“baixa frequência”. O registro mais assíduo poderia ser explicado pela maior incidência das
ocorrências na localidade, mas deve-se considerar o hábito de escrita das docentes. Portanto,
escolas sem esse tipo de registro ou com maiores intervalos talvez não signifiquem ausência
das ocorrências. As doenças mais citadas pelas professoras eram a febre, “epidemia de gripe”,
sarampo, caxumba, catapora, “doença dos olhos”, “impaludismo” (malária), pneumonia.
259
Nos mapas de frequência da escola mista estadual de 2º Grau, nº2, a baixa de
frequência devido a doenças em alunos é registrada no período de 1929-1947.555
Os endereços
indicam a localização da escola em ruas do distrito-sede, tendo funcionado até mesmo em
uma das ruas principais, a Rua Marechal Floriano, às margens da ferrovia. Era situada como
instalada na “cidade”, em 1931, e como “urbana”, em 1944. Portanto, as anotações das
professoras revelam que mesmo escolas situadas na área central do distrito-sede enfrentavam
a “epidemia na população escolar”.556
Em setembro de 1933, a “a baixa da frequência é justificada pela epidemia de
sarampo”, em abril de 1935: “A epidemia de gripe ainda continua perturbando a frequência”;
No mês seguinte, registrava-se que “Ainda perturba a frequência a febre da vacina, a gripe e
alguns casos de moléstia de olhos”.
A ocorrência de doenças voltava a ser a justificativa da baixa de presença em
novembro de 1941: “8 alunos da Professora Domingas Fonseca deixaram de comparecer neste
mês devido moléstia comprovada: coqueluche e dor de olhos”.
Em maio de 1942, a professora explicava que “A frequência media abaixou pela falta
de 20 alunos da 1ª serie e de 2 de 3ª serie se acharem doente, com coqueluche e sarampo.” No
mês seguinte, nova observação: “Pela mesma razão do mês anterior a frequência mensal
continua baixa o sarampo e a coqueluche tem vitimado os alunos de 1ª série e alguns de 3ª.” E
em julho: “A frequência media continua baixa, pois alunos de 1ª serie estão constantemente
atacados por coqueluche, sarampo, caxumba e dor de olhos.”
A doença de alunos acarretava não apenas a ausência nas aulas por alguns meses e
semanas, mas chegava também a resultar no cancelamento da matrícula dos mesmos. Em
outubro de 1942, a professora reafirmava pelo mapa uma situação que, ao que indica, já havia
sido resolvida: “Foram canceladas 4 matriculas de 1ª série e 3 de 3ª série. Todas por motivo
de moléstia comprovada como tive a oportunidade de explicar ao Snr. Técnico de Educação
por ocasião de sua p.p. visita.”
No ano seguinte, a ocorrência se repetia: “Por motivo de moléstia 2 alunos da 3ª série
e 2 da 1ª estão com suas respectivas matriculas canceladas. Razão porque as suas professoras
tiraram as percentagem com 38, 42 e 35 alunos.” 10/1943
Em maio, junho, julho e agosto de 1944 as professoras informavam o não
comparecimento de alguns alunos, “por motivo de moléstia”. Em setembro, a situação era
definitiva para alguns alunos: “Os 5 alunos eliminados cientificaram me que não mais
555
Fundo Departamento de Educação, 02711, APERJ. 556
Ibidem. Mapas de 04/1931;05/1931.
260
compareceram as aulas por motivo de moléstia, 2 ao conselho médico mudaram de
localidade.” Em outubro e novembro alguns alunos continuavam com as matrículas
canceladas.
No ano seguinte, em maio de 1945: “Por ordem de Saúde Pública estão com as
frequências suspensas por se acharem atacados da coqueluche os seguintes alunos: da 1ª série
Elsa Gonçalves, Orcalina Silva, Dulcelina P. Lemos; Antônio Lemos; Milton P. Silva, da 3ª
série Benedita dos Santos e Eliseu Gonçalves.” Em junho e julho as matrículas continuavam
canceladas. Em agosto, setembro e outubro, a professora também registrava o cancelamento
de matrículas devido a doenças em alunos.
Em 1946, durante os meses de agosto e setembro a professora destacava dois alunos
ausentes devido à doença, enquanto generalizava a situação no mês de setembro: “O sarampo
no corrente mês causou grande prejuízo à frequência da escola”.557
Em alguns comentários foi verificado que os pais avisavam aos professores os motivos
da ausência dos alunos.558
Pelo menos em 14 notações do distrito-sede e em outras 13
notações de escolas situadas nos demais distritos, foram anotados pelas docentes informes
que justificavam a baixa de frequência por motivo de doenças de alunos.
Ademais, o tema das condições de saúde dos alunos era registrado por informes do
encaminhamento de alunos e professores para a “inspeção médica”559
, o registro da criação de
pelotões de saúde, e das visitas de enfermeiros e médicos às escolas. Nas escolas do distrito-
sede do município de Iguaçu foram registradas visitas em sete560
escolas municipais, entre
1944 e 1949, da enfermeira Urania Ramos, do dentista Francisco Penha Villela, do médico
Clédon Cavalcante de Holanda Lima. Entre as sete escolas, sabe-se que quatro eram
localizadas em áreas rurais, para uma houve oscilação da atribuição entre “rural” e “urbano”,
uma não foi possível precisar, uma foi identificada como “urbana”. Apenas a Escola Típica
Rural em Santa Rita, estadual, registrou a visita de “médicos sanitaristas” em 1941 e 1942,
entre eles o Dr. José Filho Manhães.561
Em maio de 1947, visitando a escola municipal Dr. Francisco Lemos de Faria, em
Areia Branca, no 5º distrito, a enfermeira Urania é identificada como “Chefe do Pelotão de
557
Fundo Departamento de Educação, 02711, APERJ. 558
Fundo Departamento de Educação, 02714, APERJ. Mapa de 10/1939. 559
Fundo Departamento de Educação, 02675, APERJ. Mapa de 04/1939;10/1944;10/1945; 560
Fundo Departamento de Educação, 02633: Mapa de 08/1945;03/1946; 02659: Mapa de 03/1944;
06/1944; 02666: Mapa de 07/1944; 08/1848;10/1948; 08/1949;09/1949;11/1949; 02690: Mapa de
07/1944; 04/1949;02691: Mapa de 06/1944; 02692: Mapa de 09/1948; 02693: Mapa de
04/1944;05/1944;06/1944; APERJ. 561
Fundo Departamento de Educação, 02660, APERJ.
261
Saúde”. 562
A existência de pelotões de saúde foi mencionada em quatro escolas estaduais, nos
anos em 1940,563
1941,564
1947565
. Por essas iniciativas, percebe-se também, a ação das escolas
para combater os problemas causados pelas condições sanitárias e higiênicas da região, além
de induzir os alunos a novas práticas, introduzidas nas rotinas e atividades escolares.
Há uma significativa produção em história da educação que examina as diferentes
experiências, produzidas em escolas de capitais e regiões periféricas, que introduziram a
questão da higiene como dimensão educativa, cotidiana, nas escolas. Essas pesquisas,
ancoradas em diferentes contextos e temporalidades, informam sobre as confluências e
divergências entre os discursos médicos e a ação educacional na escolarização e a
“medicalização” de sujeitos, de seus corpos e famílias, ancorados em discursos pela
“regeneração” do “povo brasileiro” (Cf. FERREIRA, 2003; GONDRA, 2003; MARTINS,
2003;ROCHA, 2011, 2010;2003 a;b).
Criadas para instruir a população, o crescimento da rede de escolas e da oferta de
matrículas eram divulgados como índices do desenvolvimento do município e da cidade. A
maior existência de escolas do distrito-sede é reveladora das relações estabelecidas entre o
espaço urbano e a distribuição de escolas. Constituem sinais do “progresso” da localidade.
Contudo, a análise da forma como se configurou a rede de escolas revela permanências das
quais não foi possível se desvencilhar. A recorrência das doenças, das epidemias, das
enchentes, da falta de luz elétrica, do sistema de águas e esgotos etc. incidiam sobre as
experiências de escola primária. A existência das visitas médicas, das inspeções de saúde e
vacinação, dos pelotões de saúde, etc. também demonstram a ação da escola sobre o entorno,
o interesse em modificar a paisagem, os hábitos, os comportamentos. A permanência da
situação precária das escolas isoladas, mesmo no distrito-sede, permite refletir sobre a
importância que o Correio da Lavoura conferiu, ainda na década de 1920, à criação de um
Grupo Escolar na cidade.
A campanha pelo Grupo Escolar de Nova Iguaçu
Na campanha promovida pelo Jornal para a criação de um Grupo Escolar no distrito-
sede do município reside motivações e argumentos que refletem as funções atribuídas à
instrução escolar para o “progresso” da localidade.
562
Fundo Departamento de Educação, 02734, APERJ. 563
Fundo Departamento de Educação, 02689, APERJ. 564
Fundo Departamento de Educação, 02734,02740 APERJ. 565
Fundo Departamento de Educação, 02706, APERJ.
262
Em março de 1923, na primeira página do Jornal, sob o título “Um Grupo Escolar para
Nova Iguassú”, comparava-se a situação do estado do Rio de Janeiro com os estados de São
Paulo e Minas Gerais, afirmando que estes estavam à frente na criação de grupos escolares. O
Jornal noticiava e comemorava que seria criado um Grupo Escolar na cidade, por meio da
iniciativa particular, mas apelava para que não faltasse o apoio do Estado ao empreendimento.
Não há informações detalhadas sobre a criação deste Grupo e, ao que parece, não foi
instituído.566
O Jornal acompanhava a criação de grupos escolares pelo governo estadual, e
questionava a existência de critérios para a distribuição dos mesmos. Argumentava-se que
Nova Iguaçu apresentava problemas de falta de escolas e de oferta de matrículas insuficientes,
face ao crescimento populacional, enquanto outras cidades de menor estatuto eram
beneficiadas com a criação de grupos escolares. Em matéria de primeira página dirigida ao
interventor do estado, situava-se a criação de um grupo escolar em Nova Iguaçu como
“necessidade inadiavel”, porque “sem essa iniciativa jamais podemos ter um systema de
instrucção seriamente efficiente”.567
Ao seguir e anunciar a criação de grupos escolares em outros lugares, o Jornal
aprofundava as expectativas pelo mesmo acontecimento na cidade.568
Na pretensão de
pressionar as autoridades dirigentes, além de criticar a carência de escolas no município, o
Jornal indicava soluções para viabilizar a implantação da “escola-modelo” na cidade.
Assim, “em nome do povo”, convencido e tentando convencer que “Nova Iguassú tem
necessidade de um grupo escolar”, defendia-se a instalação do mesmo no prédio onde
funcionava o serviço de Profilaxia Rural. Tratava-se de um prédio novo, “com dependências
amplas”, com cinco “espaçosas” salas. Posto que o prédio não era totalmente utilizado pelos
serviços de profilaxia, poderia ser usado em benefício da criação de um Grupo Escolar.569
Foram recorrentes as matérias que buscavam facilitar a criação de um Grupo Escolar
fazendo crer que já havia um prédio que poderia ser destinado ao mesmo. Esta ação do Jornal
é reveladora da compreensão de que os Grupos requeriam uma estrutura física adequada. Os
custos para construção de prédios escolares eram empecilhos à disseminação dos mesmos, em
função da situação econômica do estado do Rio de Janeiro. O aproveitamento de um prédio
existente e adequado, com condições para sediar “um moderno estabelecimento de
566
UM GRUPO ESCOLAR PARA NOVA IGUASSÚ, 1º mar 1923. 567
AO SR. INTERVENTOR DO ESTADO, 31 mai 1923. 568
OUTRO GRUPO ESCOLAR PARA RESENDE, 14 jun 1923. 569
UM APPELLO AO SR. INTERVENTOR DO ESTADO, 21 jun 1923.
263
educação”,570
como era aconselhado pelo Jornal, poderia promover a criação do Grupo de
Nova Iguaçu.
Aos argumentos sobre o Grupo Escolar como estabelecimento que viria sanar os
problemas de escolas lotadas, de crianças sem matrículas, acrescentava-se que a função do
mesmo também consistia em dotar Nova Iguaçu de um estabelecimento condizente com seu
estatuto de cidade.
Portanto, é relevante observar que a campanha pela criação de um Grupo Escolar era
concomitante à campanha, também promovida pelo Correio da Lavoura, pela construção do
hospital na cidade de Nova Iguaçu. As duas instituições, que davam forma às causas da
higiene e instrução sustentadas pelo Jornal desde sua fundação, integravam um projeto de
fazer com que Nova Iguaçu fosse reconhecida como uma cidade, tornar-se cidade. Em função
dos apelos ao poder público, não atendidos, o Jornal procurava sensibilizar a iniciativa
particular local:
Já não é de hoje que nos vimos esforçando pelo alevantamento, nesta cidade, não só
de um Grupo Escolar, mas de um hospital, que tanta falta nos faz [...] Raras são as
cidades, como já accentuamos nestas columnas, que não possuem hoje o seu
estabelecimento superior de ensino. [...] Não temos, aqui, uma alma generosa que
venha arrancar a população desta situação asphyxiante em que se arrasta, ha tantos
annos, sem hygiene, sem uma casa de caridade, sem instrução, sem coisa nenhuma
que a ponha, enfim, ao nível das demais cidades.571
Em 1924, o Jornal mantinha a campanha pela criação do Grupo Escolar, voltando a se
dirigir ao governo estadual e criticando a situação da instrução pública no município. Insistia-
se na responsabilidade do poder público na criação de escolas, sendo a solução para a
demanda existente na cidade “a fundação de um novo e moderno estabelecimento de ensino
publico e esta iniciativa cabe tão somente ao governo [...]”.572
A crítica feita à existência de cidades sem escolas e outras dotadas de mais de um
grupo escolar sinalizava a insatisfação com o modo pelo qual o governo estadual distribuía as
escolas, porque “parece não obedecer a um methodo de uniformidade”. Nesse sentido, não se
compreendia porque Nova Iguaçu, “onde, dia para dia, se vae tornando precisa a fundação de
um Grupo Escolar” era preterida, enquanto cidades de menor população eram beneficiadas.573
A repetição das reclamações sobre a situação do ensino primário em Nova Iguaçu
buscava convencer sobre a repetida “necessidade inadiável” de um Grupo Escolar: “Não
temos, podemos dizer, instrucção publica nesta cidade”. O Jornal avaliava como “absurdo” e
570
O NOSSO GRUPO ESCOLAR, 19 jul 1923. 571
OS FRUTOS DA INICIATIVA PARTICULAR, 18 out 1923. 572
A NOSSA INSTRUÇÃO PÚBLICA, 28 fev 1924. 573
Idem.
264
prejudicial ao ensino a existência de estabelecimentos com 50 a 60 alunos. Apesar de lotadas,
as escolas existentes não absorviam toda a demanda: “É uma situação de verdadeiro
descalabro, esta, que atravessamos, sem instrucção no município”.574
Em tom de indignação, o Jornal argumentava sobre a importância da instrução
primária: “A nossa cidade bem merece a protecção, nesse sentido, dos órgãos officiaes do
Estado”, pela criação de um grupo escolar e pela fundação de novas “casas de ensino” para
regularizar a frequência dos alunos.
As razões da importância da instrução eram vinculadas aos seus impactos sobre a
população, sobretudo infantil: “Quem conhece o interior do Estado do Rio, o menos
desprovido de escolas publicas, tem a impressão bem dolorosa de que somos realmente um
povo sem vontade própria e tem de lamentar forçosamente o triste futuro de uma geração que
se vae embrutecendo dia para dia.” 575
No mesmo número, na segunda página, o tema voltava
a ser debatido.576
Em função da desocupação do prédio do governo estadual em que funcionava o
serviço de Profilaxia Rural, o Jornal relembrava a utilidade da destinação do mesmo para a
fundação de um Grupo Escolar, o que poderia ocorrer pelo acordo entre o estado e a
prefeitura, e até pela contribuição local. A desocupação do prédio era tida como oportunidade
para mobilizar um movimento pela criação do Grupo Escolar, posto que “a instrucção neste
município é uma das causas que estão a pedir dos dirigentes do lugar e do estado um pouco de
attenção e justiça”. Novamente era atribuída à criação de um Grupo a função de tornar melhor
a cidade, isto é, não tratava-se apenas de uma causa pela instrução, mas pela cidade: “Porque
havemos de abandonar a cidade a este estado de coisas, sem nada que a venha um dia
engrandecer, entregue, hoje e sempre, ao abandono de toda e qualquer iniciativa boa?” 577
A ação estadual na criação de Grupos Escolares era situada como um “favor”
estendido a “várias cidades do Estado”. Ao recorrer ao diretor da Instrução, argumentava-se
sobre a necessidade premente da instituição para a cidade de Nova Iguaçu: “Urge uma medida
tendente a melhorar os nossos estabelecimentos de ensino, ampliando e disseminando a
instrucção em todo o município, com o augmento de nossos professores e a dotação de um
Grupo Escolar, de que tanto necessitamos”. A situação apresentada pelo Jornal procurava
574
A NOSSA INSTRUÇÃO PÚBLICA, 28 fev 1924. 575
Idem.. 576
COM A INSTRUÇÃO LOCAL, 28 fev 1924. 577
Idem.
265
explicar o imperativo da criação de um Grupo: “É uma mentira quando não uma miséria a
instrucção publica neste município.”578
Não houve resultados imediatos para a campanha do Correio da Lavoura pela criação
do grupo escolar. Não há indícios, no Jornal, de que outras ações tenham sido realizadas, além
das matérias publicadas. Contudo, a previsão de dotar o município de um Grupo Escolar foi
inscrita por ocasião da reforma do ensino primário no Estado, em 1925.579
O novo regulamento da instrução pública foi comentado numa série de reportagens.
Na primeira matéria,580
entre as “muitas modificações introduzidas”, destacava-se a criação de
escolas maternais próximo aos centros industriais, em colaboração com estes, destinados aos
filhos dos operários; a divisão do estado em nove regiões escolares; a criação de um grupo
escolar em Nova Iguaçu, sendo diretora a professora Maria Alice Torrezão da Cunha e tendo
por adjuntas as professoras Odette Bastos da Motta, Alice Ribeiro Renne, Alzira de Zacourt
Muylaert e Maria de Lourdes Reis.
Ao comemorar a “fecunda iniciativa do governo fluminense”, o Jornal rememorava a
campanha empreendida:
O ‘Correio da Lavoura’ que sempre se bateu pela creação do grupo escolar nessa
cidade tem a satisfação de ver coroada de exito a campanha feita com esse objetivo e
que valiosos benefícios vem prestar à população, tornando mais fácil a instrucção
das crianças pobres, cujo acesso às escolas publicas estava impedido por excesso de
freqüência e coeficiente elevado da matricula.581
Contudo, no mesmo ano, o Jornal voltava à sua empreitada pela instalação do grupo
que, previsto na reforma, não havia sido instalado. Ao tratar da abertura de inscrições para
escolas vagas no estado, o semanário cobrava: “E, a propósito, quando se installa o grupo
escolar creado nesta cidade pela ultima reforma do ensino? [...] Quando quererá o governo
fluminense satisfazer a natural ansiedade do nosso povo?” 582
Não havia, segundo o Jornal,
nenhuma movimentação pela instalação do Grupo. Em tom de pouca certeza, deixava-se saber
que na passagem do Secretário do Interior pelo município, foi escolhida a “casa” para
funcionamento do grupo, mas não houve avanços: “A demora já vai desorientando os
espíritos, que tanto confiam na palavra do governo fluminense”.583
578
COM A INSTRUÇÃO, 22 mar 1924. 579
ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Regulamento da Instrucção Publica Primaria. Decreto 2.105 de
02/03/1925. Tipografia do Jornal do Comércio, 1925. Biblioteca Estadual de Niterói. 580
INSTRUÇÃO PÚBLICA, 09 abr 1925. 581
Idem. 582
ESCOLAS VAGAS, 19 nov 1925. 583
Idem.
266
Na mensagem do presidente do estado, apresentada em agosto de 1927, afirmava-se a
pretensão de inaugurar, até o fim do governo, o edifício do Grupo Escolar de Nova Iguaçu.584
Não há disponível para consulta o acervo dos números do Correio da Lavoura para o ano de
1927. O relatório do Diretor da Instrução Pública, apresentado em 1928, informa que o grupo
escolar de Nova Iguaçu era uma das instituições que haviam sido criadas, mas que não
possuíam instalação.585
Os mapas de frequência do fundo Departamento de Educação contém um dossiê sobre
o Grupo Escolar Rangel Pestana. Em 1929, tratava-se da escola mista de 2º grau nº 6. Não há
mapas para o ano de 1930 e, em 1931, a mesma professora do mapa de 1929 é a professora do
Grupo Escolar de Nova Iguaçu, situado no distrito sede.
Porém, há um indicio de que o Grupo Escolar foi instalado em 1930. Nos números do
Correio da Lavoura daquele ano, há uma matéria sobre a inauguração festiva da “primeira
exposição de trabalhos escolares do Grupo Escolar desta cidade”, dirigido por Venina Corrêa
Torres.586
A cerimônia foi presidida por Getúlio de Moura, que fez discurso alusivo ao ato,
seguindo-se visita aos trabalhos expostos “nas varias dependências do Grupo”.
A partir de então, os acontecimentos referentes ao Grupo Escolar de Nova Iguaçu
seriam acolhidos regularmente nas páginas do Jornal, que destacaria a realização de eventos
na instituição com a participação de alunos, professores e famílias, a designação de docentes,
as visitas de autoridades públicas, a presença de inspetores, enfim, a inserção da instituição no
cenário urbano, sempre funcionando em endereços centrais do distrito-sede, conferindo, ao
lado de outros “melhoramentos”, o estatuto de cidade ao distrito-sede.
Educação e política na ação municipal
Sob a ótica das relações entre escolarização e “progresso” da Nova Iguaçu,
compreende-se também porque a instrução municipal ocupava posição relevante na
plataforma de ações politicas públicas da administração municipal. Inscritas nas demandas da
imprensa, de associações da sociedade civil, a oferta da instrução escolar também figurava
como competência das agências de governo para o desenvolvimento local.
584
ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do
Rio de Janeiro no dia 1º de agosto de 1927 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de
Janeiro,1927.pág.90. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 585
Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director da
Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1928. Niterói, Officinas
Graphicas da Escola Profissional, 1928. 586
EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS ESCOLARES, 04 dez 1930.
267
Interessa, neste trabalho, observar como o tema da instrução figurava nesses projetos
de construção do “progresso” em Iguaçu. A análise da ação municipal em matéria de
instrução pública atesta um crescimento expressivo do número de escolas, ainda que, esse
crescimento, provavelmente, tenha sido irrisório face ao crescimento populacional ocorrido
no período.
Ao examinar apenas a atuação municipal, que ofertava somente uma escola em
1893,587
encontram-se nove escolas municipais em 1920588
. Em 1925, das 29 escolas públicas
do munícipio,589
onze eram municipais590
e o prefeito defendia, então, em mensagem enviada
à Câmara de Vereadores, a criação da inspeção das escolas municipais. O prefeito Octavio
Ascoli argumentava sobre a importância da fiscalização e instrução do professorado “feita por
alguem competente”, a fim de garantir que “seja eficiente o sacrifício do Municipio” e que as
escolas “deem o resultado almejado”.591
Em 1926, o munícipio comparecia em 4º lugar no número de escolas primárias do
estado, com 32 unidades, não sendo considerado, no ranking, o número de escolas da capital
do estado, Niterói.592
A colaboração do município de Iguaçu também era salientada no
relatório do diretor da Instrução Pública do estado, José Duarte Gonçalves da Rocha, em
1928, que avaliava positivamente o auxílio dos municípios para a organização eficiente e
produtiva da instrução pública. Naquele ano, o município era responsável por quatorze
escolas primárias.593
O prefeito João Telles Bittencourt, ao comentar a situação do ensino, destacava que as
quatorze escolas estavam “regularmente funcionando”, apresentado, algumas, “freqüência
superior a 50 alumnos”.594
Sobre a criação de novas escolas municipais, o prefeito valorizava
o empenho da administração municipal: “É, portanto, de franco progresso a situação da
instrução municipal, em parte devido aos esforços do actual Superintendente de ensino Dr.
Oscar Teixeira, em quem tenho encontrado um auxiliar dedicado”.595
587
O 1º CENTENÁRIO DO MUNICÍPIO DE IGUASSÚ, 15 jan. 1933. 588
Informação retirada da Tabela Orçamentária da Câmara Municipal, publicada no Correio da
Lavoura, 30 dez 1920 , Ano IV, n.198. 589
CLASSIFICAÇÃO DE ESCOLAS, 09 abr 1925. 590 MENSAGEM DO SR. PREFEITO, 22 mar.1925. 591
Idem. 592
Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do Interior e Justiça pelo
Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal do
Comércio, 1927. Biblioteca Estadual de Niterói.pp.255-257. 593
MENSAGEM DO SR. PREFEITO, 02 ago.1928. 594
Idem. 595
Idem.
268
Além da ação direta da administração municipal na criação de escolas, que foi uma
constante entre as sucessivas administrações do município, posto que a instrução integrava as
atribuições da municipalidade, outros expedientes também poderiam ser acionados para o
aumento do número de escolas. Por exemplo, em 1922, era por meio da intervenção do
deputado estadual Manoel Reis, político atuante em Iguaçu, que mais três escolas eram
criadas pelo governo estadual no município. O Correio da Lavoura parabenizava a ação do
deputado pelo “novo empreendimento” que era considerado pelo Jornal partidário da “mais
ampla generalização da instrucção em nosso Municipio”, como uma iniciativa de grande
“interesse da população” e que “não deixa de ser um grande passo no terreno de nossa
instrução pública”.596
Entre os primeiros atos da administração de Sebastião de Arruda Negreiros em 1931,
destaca-se a nova organização e localização para o conjunto das 24 escolas municipais,
distribuídas de acordo com a densidade populacional dos distritos. Todos os professores em
exercício foram exonerados dos cargos, para realização do recrutamento por concursos.597
O
Jornal Correio da Lavoura, exaltava a iniciativa municipal:
A instrucção publica sempre tão despresada, não obstante o que de importante
representava para a nossa vida de povo orgasido (sic), recebeu de s.s. um sopro de
vida com a organisado (sic) que lhe deu novos moldes, condizentes com os recursos
disponiveis e reclamos immediatos.598
Em 1932, 29 escolas eram mantidas pela municipalidade e três eram subvencionadas:
Escola S. José, em Nilópolis, Escola Humildade e Caridade, de Andrade Araujo e o Ginásio
Leopoldo.599
Em 1933, havia 33 escolas municipais, localizadas preferencialmente nos centros mais
importantes da zona rural.600
Ou seja, o número de escolas municipais foi duplicado entre
1928 e 1933. Além disso, havia no município cinco escolas particulares (sendo três delas
subvencionadas pela prefeitura) e 40 escolas isoladas mantidas pelo estado, além do Grupo
Escolar. Com este número de escolas municipais, o município de Iguaçu ocupava também o
596
O DR. MANOEL REIS AGE EM PROL DA NOSSA INSTRUÇÃO, 14 set 1922. 597
PREFEITURA MUNICIPAL DE IGUASSÚ, 12 mar. 1931. 598
O RELATÓRIO DO SR. PREFEITO DE IGUASSÚ, 27 ago. 1931. 599
Negreiros, Sebastião de Arruda. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Comandante Ary Parreiras,
interventor do Estado do Rio, pelo Exmo Sr. Dr. Sebastião de Arruda Negreiros, Prefeito de
Iguaçu,durante o ano de 1931. Iguaçu, 1932. 600
Estado do Rio de Janeiro. O governo do Estado do Rio de Janeiro e de suas municipalidades durante
o ano de 1933. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Ary Parreiras, Niterói,
1934.
269
4º lugar no ranking da rede escolar mantida pelas municipalidades do estado do Rio de
Janeiro ficando atrás apenas de Itaperuna (53), Campos (49) e Nova Friburgo (37).601
A ação administrativa do poder municipal sobre a rede de escolas do munícipio
aparenta ter sido uma constante. Em janeiro de 1937, era aprovada uma lei municipal, com
“capitulos referentes á organização e a direcção do ensino, ao professorado, às matriculas e ao
regime escolar, além do programma geral do ensino, elaborado pelo Dr. José Manhães,
director de higiene e instrucção e aprovado pelo Dr. Ricardo Xavier da Silveira”.602
Em maio daquele ano, a convite do diretor da Higiene e Instrução, o Dr. José
Manhães, o Correio da Lavoura iniciava a visita às escolas municipais. Um amplo projeto de
construção de 60 prédios escolares era previsto para solucionar os problemas de matrículas
excedentes, com a previsão, também, de criação de outras escolas, sendo que 52 estavam em
funcionamento.603
Porém, esse ritmo de crescimento da intervenção municipal sobre o ensino foi
interrompido com a instauração do Estado Novo. Na I Conferência Nacional de Educação em
1941, foi articulado um consenso sobre a competência dos estados em matéria de ensino
primário. Rubens Falcão, que foi Diretor do Departamento de Educação do estado do Rio,
argumentava sobre a incapacidade dos municípios para a administração do ensino: “O
município com autonomia educacional!.. Parece que não existe ilusão mais perigosa do que
essa”.604
Não podendo assumir imediatamente as cerca de 800 escolas municipais, o governo
fluminense celebrou um convênio com as municipalidades, em julho de 1943, que passou a
vigorar em 1944 e pretendia, gradativamente, restringir as iniciativas dos municípios e passar
ao estado a administração do ensino. Esta diretriz centralizadora em matéria educacional
coadunava-se com as relações que iam se estabelecendo, também, em outras esferas da
administração, em que os municípios, submetidos ao Departamento das Municipalidades
(PANTOJA, 1992, p.28) via suas competências serem gradativamente apropriadas ou
condicionadas pelas agências do governo estadual.
No levantamento bibliográfico não foram localizados muitos estudos sobre ações
municipais em matéria de ensino no estado do Rio de Janeiro. Há uma lacuna sobre as
601
PARREIRAS, Ary. Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da
República. Período de 1931-1934. Niterói, 1935, p.120. 602
INSTRUCÇÃO DO MUNICÍPIO DE IGUASSÚ. Folheto da Lei n. 12, 15 abr 1931. 603
VISITANDO AS ESCOLAS MUNICIPAES. A actividade que está desenvolvendo o dr. José
Manhães, director de hygiene e instrucção, 06 mai 1937. 604
FALCÃO, 1946, p.27.
270
políticas municipais que poderia descortinar universos mais heterogêneos acerca dos
processos de escolarização.
Sobre a primeira metade do séc. XX, há menções ao município de Nova Iguaçu no
estudo de Jayme Abreu (1955) sobre a administração fluminense em matéria educacional.
Trata-se de uma obra que deve ser compreendida no conjunto de ações do Instituto Nacional
de Estudos Pedagógicos (INEP) e da Campanha de Inquéritos e Levantamentos do Ensino
Médio e Elementar (CILEME). É um diagnóstico, a partir de pesquisa e análise sob a ótica de
intelectuais e agências envolvidos com a escola nova no Brasil, de compreender a organização
do ensino, para intervir no planejamento educacional do país nos anos de 1950.
A pesquisa avaliava que eram de “fraca consistência e pequena amplitude”, as
administrações municipais de educação. Entretanto, ressaltava que havia por parte de algumas
municipalidades,
[...] nítido esforço de organização e expansão em nada inferior ao Estado, se
tivermos em conta a área territorial e a arrecadação, como são os casos de Campos,
Duque de Caxias, Nilópolis, Nova Friburgo, Nova Iguaçu, Petrópolis, são Gonçalo e
São João de Meriti. (ABREU, 1955, p.147).
As prefeituras de Campos, Nova Iguaçu, Nilópolis e Petrópolis eram casos que
expressavam “densidade na rede escolar municipal, germinação de organização educacional,
escolas razoáveis” (Idem, p.102). Jayme Abreu avaliava que, com o Convênio estadual do
Ensino Primário, de 1943, houve desmantelamento dos órgãos municipais de educação,
embora o estado não tenha conseguido levar a cabo sua ação centralizadora de prover o ensino
primário. Essa situação começou a ser modificada com a constituição estadual de 1947,
quando os municípios retomaram ações na educação, “existindo algumas em que esse esforço
é digno mesmo de referência” ressaltando o que foi realizado, já no começo dos anos de 1950,
nos municípios de Campos, Petrópolis, Nova Iguaçu, Nilópolis, seguindo-se São João de
Meriti, Nova Friburgo, São Gonçalo (ABREU, 1955, p.145).
Como foi apresentado no segundo capítulo, a partir dos mapas de frequência, dos
regulamentos da instrução pública, dos relatórios de governadores, interventores, prefeitos,
diretores da instrução pública, havia maior concentração de escolas públicas – municipais,
estaduais e particulares – no distrito-sede do município. Para os outros distritos, foi possível
também perceber a localização de maior número de escolas nas regiões mais populosas e em
processo de urbanização, com as áreas limítrofes ao Distrito Federal. Progressivamente, pela
ação da administração municipal, das agências estaduais, da iniciativa particular, além de
outras formas – menos oficializadas – de oferta da instrução, esses estabelecimentos iam
271
erguendo-se e engendrando as paisagens do território, integravam os “melhoramentos” no
distrito-sede, e invadiam, progressivamente, o cotidiano de parte da população.
Disputas pela formação da juventude: o ensino secundário
A presença de instituições de ensino médio605
na cidade também era valorizada como
símbolo do progresso local. Nas páginas do Correio da Lavoura eram publicados anúncios de
cursos do ensino médio, ou de preparatórios para o Colégio Pedro II. Alguns professores
ofereciam aulas particulares de algumas disciplinas do ensino secundário na cidade. Mas,
progressivamente, foram comparecendo mais anúncios e pequenas notícias sobre instituições
de ensino secundário criadas na região. É pertinente ressaltar que estas escolas foram
localizadas nas áreas principais do distrito-sede ou em áreas centrais dos distritos mais
urbanizados do município.
Há um entrelaçamento na história das três principais instituições de ensino secundário
fundadas no distrito-sede. Contudo, não se pretende aqui adentrar minuciosamente nesta
frente de trabalho, que demanda outros investimentos de pesquisa.
Cabe notar que do Ginásio Leopoldo, fundado em 1930 pelo professor Leopoldo
Machado, surgiu o casal de professores que fundou o Curso Iguaçu, em 1944, com oferta
inicial apenas do curso primário. O curso secundário foi instalado apenas em 1954, mas é
interessante perceber a concorrência que a criação da nova instituição gerou entre os
proprietários do Ginásio Leopoldo e do Curso Iguaçu.
Um ator importante no ensino secundário em Nova Iguaçu foi, ainda, o padre João
Musch. Atuou no distrito de Nilópolis desde quando chegou, em 1928. Ali fundou uma escola
na sacristia da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição e, no ano seguinte, fundou o
Colégio São José, em prédio escolar construído para este fim. Em 1929, foi nomeado vigário
da Igreja Matriz em Nova Iguaçu, onde organizou uma nova escola. Essa escola foi entregue
às missionárias da Congregação das Irmãs Franciscanas da Imaculada Conceição de Maria,
originárias da cidade de Bonlanden, na Alemanha.
Em texto manuscrito, sob o título “O espiritismo progride em N. Iguassú”, datado de
1º de abril de 1935, o padre João Musch explicava que, ao chegar à cidade em 1929, havia
encontrado a paróquia “muito inclinada para o espiritismo”, sendo o Leopoldo Machado que
605
Em analogia com a organização atual do sistema escolar, o ensino secundário correspondia nos anos
1930 e
1940 ao que hoje conhecemos como terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental e o ensino médio.
Constituía, na década de 1940, um dos níveis do ensino médio, que abrigava os ramos do ensino
normal,
comercial, agrícola, industrial, e secundário.
272
ali já estava há três anos e, diretor do ginásio, “a cabeça dessa seita perniciosa”.606
Segundo
João Musch, ao fazer propaganda por meio de boletins e discursos, o diretor ia angariando
adesões e vendo aumentar o número de alunos no ginásio. O vigário chegou a requerer licença
para “dar doutrina” no ginásio, mas teve o pedido negado: “Ao prevenir tal perigo, resolvi
preparar uma escola. Mandei preparar um grande espaço debaixo da matriz, ainda em bruto,
para servir de aulas”.
Portanto, essa escola, criada pelo padre João Musch, foi uma resposta ao espanto que o
agitou ao chegar em Nova Iguaçu, pois não gostou da popularidade do Ginásio Leopoldo,
comandado por um espírita kardecista, o professor Leopoldo Machado. O padre procurou,
então, dar combate a uma provável disseminação da orientação espírita, por meio da criação
de uma escola de orientação católica, que, em 1936, já ofertava o curso normal e, em 1938,
possuía o curso secundário, chamando-se Ginásio Santo Antônio (AZEREDO, 1980, p.25).
A alocação destas instituições de ensino secundário, situadas em endereços centrais e
em prédios “suntuosos” da cidade, ou para este fim construídos, expõe os significados que
entrelaçavam espaço urbano, instrução e “melhoramentos” para a cidade.
Entre essas instituições de ensino secundário que surgiram no munícipio no período
coberto por esta pesquisa, o Correio da Lavoura deu especial atenção ao “Gymnasio
Leopoldo”. Por ocasião da inauguração da nova sede própria construída para o Ginásio
Leopoldo, na rua Marechal Floriano, o Correio da Lavoura ressaltava o andamento da
construção do prédio, erguido em conformidade com as diretrizes do Departamento Nacional
de Educação para a inspeção e o possível reconhecimento oficial dos estabelecimentos de
ensino secundário. Em 1935, com capacidade para 400 alunos, a escola iria sediar o curso
comercial e o ginasial. Também, nesse caso, o êxito da instituição e de sua provável
equiparação era significada, pelo Jornal, como um êxito da cidade: “O Correio da Lavoura
felicita, por isso, o povo de Nova Iguassú”.607
A importância da equiparação do Ginásio Leopoldo em Iguaçu e dos esforços
promovidos para este fim representam um momento significativo de redefinição do formato
do ensino médio no país. A Reforma Francisco Campos de 1931608
introduziu mudanças na
organização do ensino secundário que o aproximariam, gradativamente, do modo de instrução
mais institucional, isto é, o formato de cursos e aulas particulares foi perdendo lugar para a
606
Disponível em: http://www.colegioleopoldo.org.br/leopoldomachado2.html. Acessado em 20 jan 2010. 607
GYMNASIO LEOPOLDO REQUERERÁ , ESTE MEZ, A EQUIPARAÇÃO DO SEU CURSO
GYMNASIAL, 12 dez 1935. 608
BRASIL. Decreto n. 19.890, de 18 de abril de 1931. “Dispõe sobre a organização do Ensino
Secundário”. Coletânea de Legislação Federal. Disponível em: www.senado.gov.br/sicon. Acessado
em: 10/07/2007.
273
escolarização deste nível de ensino, que foi reorientado a funcionar nos estabelecimentos de
ensino. Para expedir certificados de conclusão de valor legal, as instituições de ensino
deveriam se submeter à inspeção federal do ensino, e atender a uma série de condições, como
manter um quadro docente registrado no Ministério da Educação e possuir instalações
segundo padrões definidos pela Reforma e pelas sucessivas regulamentações do assunto.
Antes, a equiparação das escolas era vinculada aos exames oficiais controlados pela União,
para o acesso ao ensino superior, ou seja, a equiparação das escolas privadas estava sujeita à
existência de escolas públicas onde seus alunos prestariam “exames oficiais” (ROCHA,
2000).
A nova reforma extinguiu a prestação destes exames para efeito de reconhecimento
das instituições de iniciativa particular e organizou um novo modelo federal de
regulamentação, fiscalização e orientação pedagógica nas escolas equiparadas. Marlos Rocha
sustenta que esta política de equiparações fomentou a expansão da rede de escolas
particulares, enquanto o poder público mantinha limitada a expansão e manutenção da rede
pública de ensino secundário, pela ausência de investimentos. Este referencial normativo,
instituído em 1931, se mantém até 1945 (ROCHA, 2000, p. 38). A ausência de uma política
de expansão da rede pública de ensino médio que atendesse a todos os ramos daquele nível de
ensino (secundário, comercial, agrícola, industrial, normal) implicou o predomínio da oferta
de ensino secundário pela iniciativa privada, o que é um fator a considerar na expansão deste
ensino nos anos 1930 e 1940 (Ibidem, p. 118).
No momento de reestruturação da atividade produtiva do país e dada a finalidade de
formar quadros para “grandes setores da atividade nacional”, a Reforma Francisco Campos
explicitou a intenção das autoridades públicas de organizar uniformemente o ensino
secundário. Em face desta intenção, a Reforma Francisco Campos determinou que as escolas
mantidas por particulares ou associações, governos estaduais ou municipais, fossem
autorizadas a expedir certificados de valor oficial aos alunos, mediante solicitação ao
Ministério da Educação e Saúde Pública, que verificaria por inspeção do Departamento
Nacional de Ensino a observância de exigências previstas na mesma lei .609
Os “requisitos mínimos” exigidos para a inspeção dos estabelecimentos de ensino
expressavam a intenção do Ministério de Educação de padronizar desde a estrutura física do
edifício escolar, suas instalações e condições de funcionamento, até os materiais didáticos
609
BRASIL. Decreto n. 19.890, de 18 de abril de 1931. “Dispõe sobre a organização do Ensino
Secundário”. Coletânea de Legislação Federal. Disponível em: www.senado.gov.br/sicon. Acessado
em: 10/07/2007.
274
utilizados por disciplina, e a qualificação do corpo docente, que deveria ser inscrito no
Registro de Professores. O atendimento destas condições colocava o estabelecimento sob
inspeção preliminar de dois anos, após os quais poderia ser prorrogada ou concedida a
inspeção permanente.
Assim, além das contendas religiosas que fomentavam rivalidades e criação de escolas
no distrito-sede, estas novas políticas de regulamentação do ensino secundário, no pós-1930,
sob a condução das agências do Ministério da Educação e Saúde, também pautavam os
processos de escolarização e de institucionalização das escolas na cidade. O acervo da
Secretaria do atual Colégio Leopoldo, na documentação preservada das décadas de 1930,
1940 e 1950, demonstra o volume de comunicações, vínculos e dependências que se
estabeleciam, naqueles anos, entre a iniciativa privada e as agências estatais de fiscalização do
ensino secundário. Uma extensa escrituração, entre termos de visita, livros de atas da
congregação, registros de boletim e de exames orais, regimentos internos, programas de
ensino, listas de docentes, telegramas, atos publicados em diário oficial, etc. iam pontuando a
institucionalização do ensino médio e de seus ramos de ensino – normal, secundário,
comercial, agrícola, industrial.
Na inauguração da sede do Ginásio Leopoldo, em 1936, o Jornal destacava a
solenidade realizada no “moderno educandario”, com a presença do prefeito e do coronel
Sebastião H. de Mattos. Após os discursos pelo momento celebrado, foram iniciadas as visitas
às “modernas e confortáveis installações do estabelecimento”.610
Naquele mesmo ano, o
Jornal se referia ao educandário como “o maior e o melhor do município”, numa alusão ao
que representava como distintivo do distrito-sede, e anunciava e elogiava, ainda, a “iniciativa
patriótica” da instituição em promover as festividades pelo Dia da Pátria.611
Nesse sentido, em Iguaçu, se as escolas serviam como componentes que valorizavam a
paisagem urbana porque eram concebidas como melhoramentos, também se serviam da
cidade e de seus recursos para se institucionalizar, para se afirmar como modo privilegiado de
socialização da juventude.
A importância das instituições escolares, enquanto “vacina civilizatória” contra os
males sociais causados pelo analfabetismo e por outros “vícios” com os quais se avaliava o
“atraso” da população, e, consequentemente, do país, fazia com que fossem criadas,
disputadas, acolhidas e inseridas na composição do cenário das cidades. Enquanto
personagem da cena urbana, as escolas contribuíam para significar este espaço de modo
610
INAUGURAÇÃO DA NOVA SEDE DO GYMNASIO LEOPOLDO, 05 mar 1936. 611
O DIA DA PÁTRIA EM NOSSA CIDADE, 27 ago 1936.
275
valorativo, dotando-o, ao lado de outros distintivos, do estatuto de “cidade”. Em consonância
com a função social do processo de escolarização estava, também, a valorização da atuação da
escola sobre o espaço público, em sua função de organizar a cultura, de interagir e intervir
com esse espaço, educando-o e aos seus habitantes, em novos códigos de conduta e
sociabilidade.
“Bem ensaiados”: cânticos, preleções, ginásticas e desfiles
Se a criação de escolas, as matrículas, a frequência escolar e a fundação de um Grupo
Escolar eram concebidas, nas bandeiras do Correio da Lavoura, como melhoramentos
urbanos, ícones do desenvolvimento local, atestados e promessas de progresso, de que forma
as instituições de ensino mobilizavam a gestação da cidade? Quais as formas de interação
entre as escolas e o espaço, com outros atores – materiais e sujeitos – que configuravam o
espaço público urbano?
A análise das solenidades e festas realizadas pelas escolas ou das quais estas
participavam descortina um universo produtivo para pensar o entrelaçamento entre a escola e
cidade, a função que se pretendia que a escola exercesse sobre a escolarização do espaço e dos
sujeitos, no interior da instituição e também no espaço público. Estes eventos apontam a
construção de uma ordenação da escola para a instrução dos sujeitos não apenas em aspectos
de letramento, mas hábitos de comportamento, valores morais, ritos de cidadania. Além dos
projetos em curso na sociedade local, compartilhava-se nas esferas estadual e nacional da
capacidade e necessidade transformadora da instrução, sendo destinados, neste sentido,
diversos projetos de escolarização às classes trabalhadoras e mesmo, em tons diferenciados,
às classes dirigentes.
Para além de examinar as imbricações entre cidade e escola, o que se compreende
como relevante é o processo concomitante em que escola e cidade, em Iguaçu, se constroem
mutuamente. Ambos são cena e cenário, vértices e aparatos de um projeto que relaciona
reformas e ordenamentos racionalizados do espaço como vertentes, elementos, mas, também,
resultados, de um “progresso” vinculado, especificamente no caso do distrito-sede, à atividade
agrícola e comercial que move a citricultura.
O que a comparação das descrições destas solenidades no curso do tempo – tanto nos
mapas de frequência quanto nas páginas do Correio da Lavoura – revela sobre permanências
e rupturas nas relações – concomitantes – entre cidade e escola? Quais as funções sociais do
processo de escolarização que essas descrições apontam no processo de construção da Nova
Iguaçu?
276
Parte das práticas que se buscava instaurar nessas escolas e, a partir delas, difundir
naquelas localidades, são apontadas pelo conjunto de comemorações, solenidades e iniciativas
anotadas pelas professoras nos mapas de frequência das escolas de Iguaçu. E algumas
notações revelam que a realização de eventos era sugerida, autorizada ou determinada por
circulares dos inspetores do ensino e por diretores das agências estaduais de fiscalização do
ensino primário. Assim são encontrados informes de comemorações realizadas nas escolas,
como:
Em obediência a circular baixada pelo Sr. Inspetor Regional, foi solenemente
comemorada a data 13 de maio, sendo, ao mesmo tempo inaugurado o retrato do
exmo Sr. Presidente da Republica. Ao ato inaugural compareceram os pais dos
alunos e o Sr. Dr. Gastão Reis que em vibrante discurso exaltou os atos do nosso
atual chefe governamental.612
Na mesma escola municipal, era informado no mês de setembro de 1938: “As datas 7
e 21 do mês passado foram condignamente comemoradas de acordo com as circulares
baixadas pelo Sr. Inspetor regional. Ao dia 21, com a assistência de quase todos os alunos fez
se o plantio da arvore simbólica entoando a seguir, hinos alusivos à data”. No ano seguinte,
por ocasião das mesmas datas, anotava-se no mapa de setembro: “As datas 7 e 22 do mês
próximo foram comemoradas de acordo com as circulares baixadas pelo Sr. Inspetor
regional”; em outubro de 1939: “De 12 a 18 de acordo com a circular do Sr. Inspetor foi
comemorada a “semana da criança” com excursões pedagógicas e jogos recreativos.” Em
agosto de 1940: “dia 25 comemorado na escola em obediência circular baixada do Dr. Diretor
do Departamento de Educação”. No mês seguinte: “os dias 7 e 21 foram comemorados em
obediência circular do técnico educação”. Em setembro de 1942: “5 e 7 comemoradas de
acordo com as respectivas circulares; entrada da primavera comemorada com plantio de
árvore ao som do hino A árvore;” Em abril de 1943: “aniversário do presidente comemorado
conforme circular do diretor do Departamento de Educação”.613
O informe mais antigo verificado nos mapas de frequência data de setembro de 1935,
na escola estadual mista de 2º grau de Caxias, nº 22: “Dia 7 os alumnos comparecem ao
Collegio em comemoração ao dia da patria conforme circular do Sr. Inspetor regional”;614
e
na escola estadual mista de 2º grau de Caxias, nº23: “Foi comemorado no dia 7 de setembro,
conforme circular do Sr. Inspetor Regional Dr. Paschoal Lemme, o dia da Pátria, tendo
comparecido 229 alunos”.615
612
Fundo Departamento de Educação, 02643, APERJ. Mapa de 05/1938. 613
Fundo Departamento de Educação, 02643, APERJ. 614
Fundo Departamento de Educação, 02689, APERJ. 615
Fundo Departamento de Educação, 02688, APERJ.
277
Além do recebimento de circulares que incutiam nas escolas a obrigatoriedade de
realizar os eventos, há indícios de prescrições quanto ao modo de realizá-los, como foi
registrado pela professora da escola municipal Barão de Mesquita, do distrito-sede: “A
‘Semana da Criança’ foi brilhantemente comemorada nesta unidade escolar, de acôrdo com o
programa fornecido pela Inspectoria de Ensino”.616
Na escola estadual “isolada” nº 6, que
funcionava no nº 61 da rua Nilo Peçanha, no distrito-sede, em outubro de 1939, a professora
anotava que “o programa da semana da criança foi executado de acordo com as determinações
do Sr. Inspetor regional”.617
Outras datas eram sugeridas e tinham a organização deliberada
por instâncias exteriores à escola: “Foi comemorada de acordo com as Instruções a passagem
do centenário de nascimento do grande tributo de Lopes Trovão”.618
O cruzamento das informações sobre comemorações citadas nas notações permite
comparar quais as solenidades eram mais comemoradas, e notar proximidades quanto ao
formato dos eventos. Vinte e duas notações do distrito-sede mencionam a realização ou a
participação da escola em eventos e solenidades, sendo dez notações de escolas municipais e
doze de escolas ou seções de ensino de escolas estaduais. Dessas escolas, onze são urbanas,
outras três são de localização rural, quatro oscilaram na atribuição entre rural e urbana, e para
outras quatro não foi possível atribuir a localização. No entanto, pelo menos, eram de
localização urbana metade das escolas do distrito-sede que mencionaram a participação de
alunos em eventos.
Cabe lembrar que outros dossiês de notações do distrito-sede possuem caráter escasso,
com mapas entre 1929-1933, ou são mapas de seções de ensino. A ausência de registro não é
suficiente para afirmar a não ocorrência de eventos. As escolas subvencionadas não
mencionam a realização ou participação dos alunos em comemorações. Talvez este tipo de
registro não fosse requisitado pela fiscalização do ensino particular e/ou subvencionado.
Os registros das solenidades e eventos nos mapas de frequência estão situados entre os
anos de 1935 e 1949. As datas repetidamente citadas foram a Semana ou Dia da Criança, 7 de
setembro, 15 e 19 de novembro, a Semana ou Dia de Duque de Caxias, e, em agosto, o dia da
Árvore. O dia da Abolição, o aniversário da instauração do Estado Novo, o aniversário do
presidente Vargas também são constantemente lembrados. O dia ou semana da Asa, o dia de
Tiradentes, o dia do Pan-Americanismo e a vitória dos países aliados na 2º Guerra, assim
como o centenário do Barão do Rio Branco (1945), também são eventos registrados em
616
Fundo Departamento de Educação, 02633, APERJ. Mapa de 10/1944. 617
Fundo Departamento de Educação, 02644, APERJ. 618
Fundo Departamento de Educação, 02706, APERJ. Mapa de 05/1947.
278
algumas escolas. No conjunto de eventos anotados nos mapas de frequência foram
predominantes as solenidades de motivação cívica.
Investigar o sentido de cívico implica conhecer o que significava civismo no contexto
específico da época. O nacionalismo era tema relevante nas escolas desde as décadas de 1910
e 1920. As comemorações de datas históricas, atividades e práticas integravam o cotidiano
escolar, mas, segundo Carlos Bertolini (2000) portavam o estatuto de atividades
complementares às atividades escolares. Sob a análise deste autor, as solenidades cívicas e
encenações de patriotismo mantinham um caráter de exterioridade face às práticas escolares
cotidianas.
Entretanto, em função do que emergiu do trabalho empírico na pesquisa também com
o Jornal, é relevante afirmar a presença cotidiana das festas escolares desde fins da década de
1910, sendo algumas movidas pelo caráter diretamente “cívico”, se “cívico” estiver
compreendido como vinculado à noção de nação, de pátria, da perspectiva do nacional.
Marta Carvalho (2008), ao examinar o “discurso cívico” promovido no interior da
Associação Brasileira de Educação, entre 1924-1931, lida com uma compreensão mais
alargada do termo e percebia como a “questão” educacional foi instrumentalizada como uma
questão “cívica”. Em um diversificado “discurso cívico” mobilizado por diferentes frentes,
em temas, discursos, conferências e ações, Marta Carvalho ressalta a função organizadora do
discurso cívico, pelo seu nível de generalização que subsumia divergências. Revestida de
civismo, a ação educacional colaborou na constituição de um modelo, de um perfil de cidadão
condizente com as expectativas de exercício de cidadania prescritas (CARVALHO, 1998,
p.137).
O discurso cívico da ABE é “discurso profilático erigindo a questão sanitária em
metáfora da situação nacional e a obra educacional em obra de saneamento” (Ibidem, p.145).
A ação educacional movida pelas projeções da insuficiência do povo, caracterizado com
amorfo, doente, improdutivo, projeções estas gestadas na organização de um pensamento
social autoritário ao longo da Primeira República, evidencia a contribuição da escolarização
na produção, “no movimento, de dispositivos de sustentação de modelos políticos fortemente
excludentes”. Marta Carvalho sustenta, pela análise do discurso cívico da ABE, “a
intervenção do discurso educacional na produção e validação de práticas autoritárias que
constituíram a figura do não-cidadão” (Ibidem, p.138).
Ao longo da década de 1930, a relação entre civismo, patriotismo, nacionalismo e
escola se modifica. Segundo Bertolini, “a luta política e a social ao longo da década de 1930
279
iriam suprir o imaginário coletivo de novos e traumáticos eventos que possibilitaram a
ressignificação e a apropriação do civismo” (2000, p.65).
Sob a ótica da ação governamental da União no pós-1930, “a formação da
nacionalidade era entendida como algo que dependia da construção de certas práticas
disciplinares de vida que, pouco a pouco, fossem introjetando no cotidiano dos cidadãos a
consciência de vida comum, a consciência cívica” (SCHWARTZMAN, BOMENY e COSTA,
2000, p.92). Para este fim, foi atribuído à educação o papel central de ensino de conteúdos e
práticas que deveriam criar “o novo cidadão, aquele que se caracterizaria pela vontade firme e
pela ação determinada, habilitado para defender a pátria e para construir a nação do futuro”
(BERTOLINI, 2000, p.70).
A associação entre patriotismo e educação gerou o civismo de novo tipo divulgado a
partir do espaço escolar, em que o civismo deixava de ser tema complementar e assumia
centralidade na organização das atividades escolares. Dessa forma, ocorreu a mobilização do
sistema de ensino para a cooptação da juventude, posto que a militarização do ensino e da
sociedade iria criar o ambiente cultural adequado aos espetáculos cívicos e à teatralização da
política. Esse movimento transbordava o espaço interno da escola, porque o governo lançaria
mão com frequência do espaço, o que também ocorreria na esfera pública externa ao espaço
urbano como sucedâneo da participação pública e do exercício das liberdades civis
(BERTOLINI, 2000, p.70). O que se compreende, no exame das fontes de pesquisa, é que, no
pós-1930, a construção da noção de “nação” será cada vez, no interior das instituições
escolares e nas comemorações públicas, identificada com o civismo. O civismo é
subordinado, no interior de uma articulada ação político-cultural do governo Vargas, a certas
práticas e concepções de nacionalidade.
Portanto, a maior incidência de registros de solenidades durante o Estado Novo,
verificada em Nova Iguaçu, é sintomática dos investimentos, feitos no período, para a
construção de um calendário escolar vinculado a disseminar, via escolas, práticas e memórias
relacionadas à formação da nacionalidade. São principalmente datas nacionais referentes a
acontecimentos e pessoas consideradas importantes para a “pátria”. A continuidade dos
eventos e da extensão das comemorações, mesmo após o fim do regime, reitera a penetração
dessas práticas nas escolas.
Porém, compete antes considerar que, se os mapas de frequência fornecem
informações sobre eventos celebrados nas escolas, sobretudo a partir de 1935, o que é
possível saber sobre atividades nas escolas em fins da década de 1910 e durante os anos de
280
1920? O que costumava ser noticiado sobre as escolas como solenidade, evento, festa, nas
páginas do Correio da Lavoura?
O processo de avaliação dos alunos e as festas pelo encerramento do ano letivo foram
constantemente noticiadas. O transcurso dos “exames finais”, a composição das bancas e a
lista dos alunos promovidos eram divulgados a cada fim de ano, desde a fundação do Jornal,
em 1917. Nos eventos específicos das escolas, a escolarização dos alunos era reverenciada
com o resultado dos exames. Imprensa local, famílias e representantes do poder público eram
convidados a assistir a esses eventos, como as exposições públicas dos trabalhos escolares. 619
O direcionamento das agências estaduais de fiscalização do ensino na inclusão de
comemorações cívicas nas escolas era replicada pelo Jornal. Em setembro de 1917, sob o
título da matéria “A ideia de Patria”, era transcrita uma circular da Diretoria dos Negócios do
Interior e Justiça do estado, enviada aos superintendentes do ensino em todos os municípios,
para que estes repassassem aos professores a ordem de explicar aos alunos os motivos da data
da Independência do País, “procurando desenvolver-lhes o amor à Patria e o culto à memoria
d'aquelles que viveram para o engrandecimento della.” A circular fazia a sugestão de que os
professores falassem aos alunos sobre o tema “A ideia de Patria”, “visando fortalecer-lhes o
civismo e o espirito de nacionalidade”.620
No primeiro ano de funcionamento do Jornal foram noticiadas as comemorações pelo
Dia da Bandeira ocorridas em Anchieta, que era uma das localidades dos limites do município
com o Distrito Federal. Foi descrita a “patriotica cerimônia” com preleção sobre o culto ao
pavilhão nacional, cânticos com músicas, hinos e poesias.621
Para 1919, há descrições de “festejos civicos” realizados na cidade, sob a direção do
professor da “1ª escola publica masculina”, Augusto José Rodrigues da Silva Junior.622
Do
evento participaram “cavalheiros” e famílias “pertencentes a nossa melhor sociedade”.
Houve o hasteamento do pavilhão nacional, com o canto do hino nacional, do hino da
619
PELA INSTRUCÇÃO, 13 dez 1917; ANCHIETA, 13 dez 1917; ANCHIETA, 20 dez 1917; PELA
INSTRUCÇÃO, 20 dez 1917; EXAMES, 27 nov 1919; MESQUITA, 04 dez 1919. ENSINO
PRIMÁRIO, 02 dez 1920. EXAMES, 16 dez 1920; COLLEGIO PARIZ, 16 dez 1920. EXAMES, 17
nov 1921. EXAMES, 08 dez 1921; EXAMES, 22 dez 1921; EXAMES, 14 dez 1922; EXAMES
ESCOLARES, 22 nov 1923; EXAMES ESCOLARES, 29 nov 1923; EXAMES ESCOLARES, 13 dez
1923; OS EXAMES NAS NOSSAS ESCOLAS, 20 nov 1924. NCERRAMENTO DE AULAS, 26 nov
1925; EXAMES E EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS, 03 dez 1925; EXAMES, 10 dez 1925; EXAMES,
16 dez 1926; EXAMES, 23 dez 1926; EXAMES, 30 dez 1926; ENCERRAMENTO DAS AULAS, 20
dez 1928; EXAMES, 10 jan 1929; EXAMES, 17 jan 1929; EXAMES DE PROMOÇÃO NA 2ª
ESCOLA MIXTA DE IGUASSU, 12 dez 1929; EXAMES FINAIS DE PROMOÇÃO DA 33 ESCOLA
MISTA DE N. IGUASSU, 26 dez 1929.
620 A IDEIA DE PATRIA, 06 set 1917. 621
A FESTA DA BANDEIRA NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE ANCHIETA, 29 nov 1917. 622
7 DE SETEMBRO. COMO A GRANDE DATA FOI COMMEMORADA NESTA CIDADE, 11 set
1919.
281
Bandeira e do hino da República pelos alunos. O professor falou sobre a data, e foi saudado
pelo Sr. Manoel Barbosa Ribeiro que elogiou o trabalho do professor e o “aproveitamento” de
seus educandos. Senhoritas e alunas recitaram poesias, sonetos e monólogos. Os alunos
também demonstraram exercícios de ginástica sueca. Após encerramento dos festejos no
edifício da 1ª escola masculina, o professor, seus alunos e auxiliares visitaram a 1ª escola
mista e a 1ª escola feminina, sendo então executados novamente os hinos nacional e da
bandeira. Na 1ª escola pública feminina, dirigida por Arlinda de Barros Calino, a aluna Ilka
Serzedello falou sobre a data. Também houve recitativo de poemas pelos alunos nas escolas
visitadas. Á noite, o professor Augusto José Rodrigues ofereceu na sua residência uma sessão
literária seguida de grande baile.
A constância e a minúcia das descrições apresentadas pelo Jornal sobre os exames
escolares, o encerramento do ano letivo, as exposições de trabalhos escolares e a realização de
solenidades cívicas não deve ser compreendida apenas pela presença de um representante do
Jornal em cada evento, geralmente convidado pela escola, mas, também, pela importância
conferida pelo Jornal a estas ocasiões. Noticiar os eventos em escolas era dar a ver o nível de
organização da sociedade local, a presença de instituições de ensino, de professores dedicados
e de alunos bem sucedidos. Dialeticamente, tornar os exames finais em atos solenes, premiar
os alunos, convidar autoridades políticas, famílias e imprensa, era um meio de projetar e
enraizar os rituais escolares na vida social, envolvê-los de expressividade, inscrevê-los na
cidade. Preparar os alunos para execução de cânticos, hinos, preleções, exercícios de
ginástica, desfiles etc. eram meios de disseminar, via escolas, concepções de mundo, de
cidadania, de nacionalismo, que se buscava enraizar em toda sociedade.
O tema da cidadania, com lembra Faria Filho é um “elo por excelência” entre cidade e
escola (FARIA FILHO, 2005a, p.32). Cidade e escola foram espaços convocados a servir de
cenário e a encenar a experiência de construção da cidadania, em diversos contextos e
apropriações. Ao longo do século XIX, porém, além das escolas estarem presentes nas festas
urbanas, houve um processo de escolarização desses eventos, e as festas cívicas tornaram-se
principalmente festas escolares: “no século XX, a festa cívica se transforma em um momento
privilegiado de a escola ocupar a cena da cidade. Nas festas, e pelas festas, a escola se mostra
como educadora da infância e da juventude e, sobretudo, dos habitantes da cidade, inclusive
de seus quadros dirigentes” (Ibidem, p.34).
A escolarização das festas cívicas vai dialogar com outras referências de socialização,
com as tradições e ritos religiosos, a parada militar e o carnaval. É, também, apropriado
compreender o civismo e as encenações de poder de caráter cívico, em face do contexto
282
cultural mais amplo do qual fazem parte, dos aspectos religiosos, rituais e culturais da
sociedade que se contempla, ou seja, atentar para as interações entre as formas rituais de que a
sociedade lança mão (BERTOLINI, 2000, p.41).
Portanto, na perspectiva de análise adotada por Luciano Faria Filho, “a festa cívica
escolar, tal como a escola como um todo, inscreve-se na cidade como uma experiência
cultural, política, estética e de aprendizagem.” (FARIA FILHO, 2005a, p.34).
Ainda que um calendário escolar mais extenso de comemorações e solenidades tenha
sido adensado no período do Estado Novo, muitas preocupações e práticas estavam presentes
nos anos de 1910 e 1920, e parte de suas formas rituais perduraram nas décadas posteriores.
Em coluna de primeira página, o tema do “Ensino Civico” era defendido pelo Jornal
em 1919: “Pelo que temos dito innumeras vezes o conhecimento do ensino civico faz com que
crianças e adultos tenham sciencia dos grandes feitos dos nossos heroes, e mesmo dos
estrangeiros, que derramaram o sangue em holocausto à integridade da terra de Santa Cruz”.
Ao dotar as pessoas de instrução, acreditava-se ser possível desfazer a situação pela qual se
fechava o comércio, à revelia da compreensão do motivo dos feriados: “A nossa historia
encerra as mais belíssimas epopéas [...] É necessario os poderes públicos, secundados por
elementos particulares, desenvolverem a mais intensa propaganda em prol do ensino
cívico”.623
Em 1923, o Correio da Lavoura registrava a passagem do dia 15 de novembro como a
data destinada ao “culto a Bandeira”, sendo previsto o hasteamento da mesma em todas
escolas públicas do país, mas não citava ocorrências no município de Iguaçu.624
O levantamento realizado no Jornal demonstra a maior frequência de notícias, entre
1917 e 1929, sobre os exames finais e o encerramento do ano letivo nas escolas, as
comemorações, entrega de prêmios e a publicação do nome dos alunos promovidos por série.
Tais registros foram mantidos nas décadas de 1930 e 1940, mas perderam importância ao lado
da maior profusão de eventos em escolas ou com a participação das mesmas, durante todo o
ano escolar. As relações de nomes de alunos e professores desapareceram das páginas do
Jornal na cobertura desses eventos.
Mas, ainda nos anos de 1920, além da ritualização das atividades escolares, a “Festa
da Bandeira” e o “Dia da Árvore” constituíam as datas mais comemoradas nas escolas. A
comparação do relato das comemorações pelo Dia da Árvore nas escolas públicas da cidade
revela um mesmo programa de hinos, bailados e recitativos de poesias, discursos sobre a
623
ENSINO CIVICO, 16 out 1919. 624
A FESTA DA BANDEIRA, 22 nov 1923.
283
importância da data, “o culto pela arvore” e o plantio de mudas. Em 1926, além do programa
executado em cada escola, houve reunião de algumas instituições na Praça Ministro Seabra,
com a presença da imprensa local, de populares e “representantes de diversas classes”, onde
foi repetido o programa ensaido nas escolas.625
Ao que parece, a citação pelo Jornal dos
nomes das professoras e dos alunos participantes, consistia numa forma de tributar certa
distinção aos mesmos no êxito dos eventos realizados.
Naquele mesmo ano, o Jornal descrevia a “Festa da Bandeira” nas escolas da cidade, a
partir do “programma de festas” da 6ª escola mista, “dirigida” pela professora Venina Corrêa
Torres. A solenidade contou com a assistência de “nossas autoridades, muitas exmas famílias
e mais pessoas gradas”. Levados pelas professoras, os alunos realizaram no edifício da
Prefeitura o juramento à Bandeira. O prefeito e professores discursaram e procedeu-se à
execução do hino nacional. Voltando à escola, o prefeito distribuiu prêmios aos alunos “que
mais se distinguiram por sua applicação e comportamento”. Outros hinos foram entoados
pelos alunos, assim como houve uma sessão literária, “prolongando-se as festas por quasi
todo o resto do dia”. Nas escolas mistas das ruas Dr. Thibau e Madureira (no distrito-sede)
também foram realizadas “solenidades civicas”, com a participação de escoteiros que
“abrilhantaram o acto”. Os alunos, “bem ensaiados”, cantaram hinos, e os professores
discursaram sobre a “festividade”. A matéria era encerrada repetindo o apoio do Jornal a este
tipo de evento, parabenizando aos professores pelo êxito dos festejos e “pelo exemplo de
civismo dado aos seus jovens alumnos”.626
Segundo Marta Carvalho, as festas escolares eram prescritas em função da “eficiência
pedagógica” que poderiam comportar sobre os escolares e sobre o meio social em que
funcionava a escola, mobilizando experiências de representação ou evocação de atos que
deveriam ser imitados, apreciados, receber e perceber a aprovação social das realizações
encenadas, constituindo lições vividas (CARVALHO, 1998, p. 178-179). Na análise que
realiza sobre as práticas comemorativas realizadas pela ABE, a autora adverte que, ainda que
fossem de diversos temas e variadas formas, e que cada evento parecesse ser uma prática
singular e pontual que se esgotava no próprio ato, na verdade, estes episódios “tecem uma
rede entre si pela repetição dos mesmos agentes, os mesmos em várias situações, e, ainda,
pela equivalência de regras de procedimento” (Ibidem, p.181). Pretendia-se que o civismo
ensaiado nas escolas servisse de “fôrma” dos modos de educação a incutir, para que a
educação ministrada não repercutisse em desestabilização social, e, sim, colaborasse na
625
A FESTA DA ARVORE, 07 out 1926. 626
FESTA DA BANDEIRA, 02 dez 1926.
284
criação de uma disciplina consciente e voluntária sem emprego da força física (Ibidem, p.150-
151)
Como foi mencionado anteriormente, nos anos iniciais da década de 1930, o Correio
da Lavoura acompanhava e valorizava, constantemente, a criação do Ginásio Leopoldo,
instalado no distrito-sede. A instituição recebeu subvenção da prefeitura e acolhia o ensino
primário e o curso ginasial, nas seções de curso comercial e secundário. Os eventos
promovidos pela escola foram propagandeados pelo Jornal, como os espetáculos teatrais,
festivais de caridade e a celebração de datas nacionais, “Commemoração cívica”, recitais,
olimpíadas esportivas, além do aniversário da instituição, que passou a ser comemorado
juntamente com o Dia de Tiradentes.627
Além dos eventos promovidos por esta instituição privada de ensino, as escolas
públicas do município também se apresentavam no repertório de eventos da cidade. Em 1931,
a “festa da primavera” ocorreu pela concentração de cerca de mil crianças, segundo o Jornal,
na Praça dr. João Pessoa, à convite do prefeito Sebastião Arruda Negreiros. “Autoridades
locais, pessoas de destaque e exmas famílias” prestaram assistência ao evento, que contou
com plantio de mudas, discursos do prefeito e de estudantes. 628
Além dos alunos do Grupo
Escolar, alunos de outras cinco escolas públicas participaram do evento.
A festa sucedida a convite do prefeito parece ter sido um ensaio para a “parada
escolar” advinda no mês seguinte. Tratava-se de comemoração da cidade pelo primeiro
aniversário da Revolução de 1930. A “parada escolar” integrava o grande programa de
festejos. Os preparativos e o programa do evento eram publicados previamente no Jornal.
Previa-se a presença de todas as escolas públicas e particulares do município, a se
concentraram na praça dr. João Pessoa, em lugares demarcados por escola. Os alunos e
professores das escolas de Queimados, Nilópolis, Austin, Mesquita e Morro Agudo seriam
transportados por trens especiais, não sendo obrigatório o uso de uniforme, cabendo às
crianças levarem a sua própria merenda e a cada escola apresentar recitativos ou discursos
alusivos à data.629
Ao comentar os festejos do aniversário da “Revolução” no país, na capital federal, e de
“varias festividades promovidas pelo governo municipal” em Iguaçu, o Jornal destacava, na
627
GYMNASIO LEOPOLDO, 23 out 1930; GYMNASIO LEOPOLDO. SEU PROGRAMMA
FESTIVAL CIVICO E DE CARIDADE, 13 ago 1931; GYMNASIO LEOPOLDO, 20 ago 1931;
GYMNASIO LEOPOLDO. COMMEMORAÇÃO CÍVICA DE 7 DE SETEMBRO, 03 set 1931;
GYMNASIO LEOPOLDO. SEU PRIMEIRO FESTIVAL TEATRAL, 27 ago 1931. 628
FESTA DA PRIMAVERA, 24 set 1931. 629
GRANDE PARADA ESCOLAR, 22 out 1931.
285
cidade, “a que mais viva impressão deixou no espírito publico a grande concentração das
Escolas estaduaes, municipaes e particulares do municipio”, na Praça João Pessoa.630
Na descrição detalhada do episódio, incluíam-se os hinos entoados pelos alunos, o
discurso do prefeito Arruda Negreiros e o agradecimento deste ao concurso prestado pelas
escolas ao evento. Foi inaugurado o jardim da praça “util e magnifico melhoramento com que
acaba s.s. de concorrer para a esthetica da cidade”. Além dos discursos e recitativos, os alunos
participaram do desfile pela rua Getúlio Vargas. As comemorações prosseguiram ao longo do
dia, com sessão cívica no Cine Verde, com participação de alunos de escolas da cidade. Os
festejos noturnos deram-se no “novo logradouro publico bem iluminado”, com a presença de
famílias e populares que apreciaram a banda de música, alojada no coreto local. Enquanto isto
um baile acontecia no salão do Fórum. Os alunos presentes às festas receberam doces e balas
da prefeitura.631
Esse evento é bastante simbólico do que se está buscando destacar sobre a participação
das escolas na vida social urbana. As escolas levavam práticas ensaiadas, da escola para as
ruas, inscrevendo-se como atores em momentos considerados importantes pela sociedade
local. A presença dos escolares no evento político de comemoração do novo regime, na
inauguração da praça com o nome do político cujo assassinato é aludido como estopim do
movimento de 1930, o desfile pela rua recém-inaugurada pelo chefe do Governo Provisório
com seu próprio nome, são eventos que possibilitam refletir sobre a função social da escola
para além de seu universo interno. A forma ensaiada como estas escolas participavam, em
lugar de destaque, previamente demarcado, com participações de oratória e demonstração
artística, sinalizam a intenção de que essas instituições produzissem e representassem um
novo ordenamento dos sujeitos e dos usos dos espaços.
A valorização dos trabalhos internos produzidos pelos alunos também repercutia na
inauguração das exposições públicas desses trabalhos, contando mesmo com a participação de
prefeito, autoridades locais e imprensa. 632
Não há volume para consulta dos anos de 1933 a 1934 no Correio da Lavoura e, pelo
formato dos mapas de frequência do ano de 1933, não havia um campo destinado ao registro
de observações pelos docentes. Na documentação do APERJ não há mapas do ano de 1934.
630
O DIA DA VITÓRIA, 29 out 1931. 631
O DIA DA VITÓRIA, 29 out 1931. 632
EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS ESCOLARES, 19 nov 1931; EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS DA
SEGUNDA ESCOLA MISTA , 03 dez 1931; GRUPO ESCOLAR, 24 nov 1932; EXPOSIÇÃO DE
TRABALHOS ESCOLARES, 01 dez 1932; EXAMES FINAIS E DE PROMOÇÃO DOS ALUNOS
DA 1ª ESCOLA MISTA DE NOVA IGUAÇU, 01 dez 1932; EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS
ESCOLARES, 08 dez 1932; GRUPO ESCOLAR RANGEL PESTANA;.EXPOSIÇÃO DE
TRABALHOS ESCOLARES, 15 dez 1932.
286
Contudo, apesar dessas lacunas, foi possível comparar com anos anteriores, percebendo-se
que, no Jornal, houve um aumento expressivo da cobertura sobre eventos, solenidades, festas
escolares, sessões cívicas, a partir de 1935. Isto se observa tanto pelo maior número de
eventos quanto pela extensão dos mesmos. Essa observação vai ao encontro do registro das
solenidades nos mapas de frequência de Nova Iguaçu que, pelos dados colhidos, passaram a
ser registradas em 1935.
As solenidades cívicas poderiam ocorrer por iniciativa das escolas ou em associação
com outras atividades ocorridas no espaço público, em função da data celebrada. Em 1935,
por convite de Leopoldo Machado, diretor do Ginásio Leopoldo, o prefeito, Jarbas Cordeiro,
diretor de instrução municipal e Silvino de Azeredo, diretor da folha, integraram a mesa
diretora das comemorações pelo Dia da Pátria. O programa foi aberto com sessão cívica, pelo
diretor Leopoldo Machado, usando em seguida da palavra o prefeito e os alunos-oradores.
Após a sessão literária, a primeira parte do programa foi encerrada com a execução do hino
nacional. Danças animadas por conjunto musical estenderam a festa até as 23h.633
Naquele mesmo dia, o prefeito participou dos festejos na localidade de Nilópolis, que
teve sua “parte central” ornamentada para o desfile das escolas. Diante do prefeito, ocorreu a
“formatura e passeata de todas as escolas locais”, promovendo “espectaculo de rara belleza”.
As escolas foram reunidas após o desfile na Praça Nilo Peçanha, “onde se fizeram ouvir
varios oradores”.634
Compete lembrar que as matérias sobre as festas escolares e festas cívicas, desfiles,
paradas e atos públicos nas ruas centrais da cidade, figuravam, no Correio da Lavoura, ao
lado de matérias sobre a instrução agrícola, a defesa da lavoura, a citricultura; das matérias
sobre denúncias de problemas infraestruturais da cidade, mas, também, de obras, reformas e
melhoramentos urbanos.
Nesse contexto múltiplo e diverso, é significativo destacar o artigo, assinado por “T.
U.”, que, ao observar a frequência pelas comemorações do Dia da Pátria, com festejos e
paradas escolares, “instituindo os dias comemorativos das grandes datas nacionais”, passava a
defender que o “humilde obreiro da roça” também mereceria ter sua data comemorativa. O
argumento principal fundava-se na ideia de que era “a lavoura o alicerce em que está
edificada a grandeza econômica da Patria”. O autor sugeria a criação da “semana rural” para
homenagear o trabalhador e “para levar-lhe ensinamento para melhor cultivar a terra e
encorajal-o para continuar no trabalho abençoado do campo, e também para promover
633
O DIA DA PÁTRIA. AS COMMEMORAÇÕES NO GYMNASIO LEOPOLDO, 12 set 1935. 634
O DIA DA PÁTRIA. OS FESTEJOS EM NILÓPOLIS, 12 set 1935.
287
exposições agrícolas e pastoris nos principaes municípios”. Nestas ocasiões seria adequado
“propagar”, pela distribuição de material ilustrado e pelo cinema, os “processos modernos de
cultura, e aconselhar o cultivo dos quintaes e chacaras”. A semana rural seria “a mais
patriótica, que muito poderá fazer em benefício da lavoura, portanto da nossa grandeza
economica e riqueza da Patria”.
Pelo tom ruralista do artigo, nota-se o reconhecimento da função educativa exercida
pelas datas comemorativas. Mais do que o ânimo em prestar homenagens ao aludido
trabalhador do campo, tratava-se, sobretudo, de abrir mais uma brecha pela disseminação dos
interesses da agricultura enquanto atividade produtiva, que, deveria ser identificada com os
interesses “nacionais”.635
Ainda que não tenha sido possível verificar os vínculos com o artigo sobre a “Semana
Rural”, no mês seguinte, o Correio da Lavoura informava que a Sociedade Nacional de
Agricultura organizava a “Semana da Laranja”, que deveria ocorrer com a participação dos
estados interessados na cultura do fruto. Os assuntos sobre a produção e a comercialização do
produto seriam debatidos no evento.636
É relevante perceber, ainda, que os festejos cívicos, as exposições e solenidades
ampliavam a ação educativa do Estado, portanto, com a participação de diversas agências,
entre elas, a escola e os processos de escolarização, a imprensa, agências de governo.
Constituía-se a esfera de atuação estatal engendrando ações coletivas, construindo e
reconstruindo espaços, moldando relações, corpos e sensibilidades.
O “vigor cívico” das escolas nas “artérias” de Nova Iguaçu
Pelo trabalho com o Correio da Lavoura, foi possível localizar densas descrições
sobre os eventos realizados nas escolas da cidade e do município ou ocorridos com a
participação dos escolares. Foi significativa a ocorrência e a cobertura jornalística das
comemorações cívicas realizadas no período do Estado Novo (1937-1945). Eram previamente
anunciados os programas dos festejos (em geral com atividades durante todo o dia ou semana)
e, posteriormente, era noticiado o transcurso dos eventos, com desfiles dos estudantes e
escoteiros por ruas da cidade, recepção de autoridades, bailes, torneios esportivos e artísticos,
sessões cívicas e hasteamento de bandeira.
Tais acontecimentos mobilizavam as escolas municipais, estaduais e particulares do
município, instituições de ensino primário, profissional e secundário, com a presença das
635
A SEMANA RURAL, 03 out 1935. 636
SEMANA DA LARANJA, 31 out 1935.
288
autoridades locais e das famílias dos alunos. As comemorações acerca da Semana da Pátria,
do Dia da Bandeira, da Semana da Criança, do Dia da Juventude e as comemorações pelo
aniversário do Presidente Getúlio Vargas e do Estado Novo ocuparam espaço de relevo no
Jornal, em geral comparecendo na primeira e segunda páginas. O hasteamento da bandeira,
canto do hino e orações de docentes foram itens recorrentes nessas sessões.
Através da análise das formas como esses eventos ocorriam na cidade de Nova Iguaçu,
muitas vezes para além do espaço das escolas, recuperam-se informações e registros das
interações ou interdições das atividades escolares com o espaço da cidade e com sua
ambiência política, cultural e social. É viável, também, pelo trabalho com a imprensa,
entrever o sentido desses cultos à pátria e ao chefe do governo como projetos de formação da
nacionalidade e a participação dos poderes municipais e de parcelas da sociedade civil
fomentando essas atividades.
No exame das comemorações, nota-se que as solenidades diretamente ligadas ao
universo escolar também se tornaram mais densas, com programas mais elaborados. No
encerramento do período letivo da 2ª escola mista da cidade, em 1935, com a presença do cel.
Sebastião Herculano de Mattos (representante dos produtores e comerciantes de laranjas do
município), o representante da folha, “e exmas senhoras de nossa sociedade”, foram
realizados discursos e recitativos. A professora Maria Paula de Azevedo regeu os alunos na
execução do canto orfeônico. Uma criança de 8 anos conduziu os colegas na execução do
“Hino ao Trabalho” e o coronel Sebastião de Mattos elogiou a professora e suas assistentes, e
estimulou aos alunos que continuassem a estudar “para o engrandecimento da patria”.637
No Grupo Escolar Rangel Pestana, no mesmo ano, o encerramento das aulas foi
celebrado na sede do “Sport Club Iguassú”, novamente com a participação do coronel
Sebastião H. Mattos, Jarbas Cordeiro, diretor de instrução municipal e de representante da
folha. O corpo docente apresentou-se quase completo. A diretora Venina Côrrea Torres
discursou, assim como alguns alunos e professoras. Homenagens foram prestadas à diretora
pelo corpo docente, e outras professoras foram homenageadas por alunos. A leitura pública
das notas dos exames e distribuição das provas é reveladora da solenidade que se buscava
imprimir às atividades escolares. Alunos foram premiados com “a nota máxima de distinção”
e um conjunto musical, canto orfeônico e recitativos animaram o final do evento.638
A inauguração da exposição dos trabalhos dos alunos da seção profissional do Grupo
Escolar também foi concorrida. Aberta à visitação pública na sede do Grupo, o ato de abertura
637
2ª ESCOLA MISTA, 05 dez 1935. 638
GRUPO ESCOLAR RANGEL PESTANA, 12 dez 1935.
289
da exposição contou com a participação do prefeito Arruda Negreiros e do diretor da
instrução municipal, Jarbas Cordeiro.639
Para além da cobertura dos eventos organizados pelas escolas, encontra-se no Jornal,
para o mesmo período, colunas, crônicas e artigos que voltam a tratar da importância do
nacionalismo e do civismo para a educação da juventude. Em 1939, o Jornal publicava um
artigo da Diretoria de Propaganda e Publicidade, do governo paulista, intitulado: “O conceito
de pátria no Estado Novo”.640
Afirmava-se que o conceito de Pátria havia sido recuperado em
seu “verdadeiro sentido”, fruto de “uma educação elaborada num período de quase nove
anos” e que significava “unidade moral dum país”.
Explicitava-se, como evidenciam as pesquisas sobre a política educacional do Estado
Novo, que foi depositado nas escolas a missão de disseminar certo tipo de civismo, de culto a
Pátria e ao Chefe da Nação, de interesse do regime autoritário. O artigo exaltava as atitudes
do presidente Vargas como exemplos de patriotismo e de união entre povo e governo, por ter
agido no sentido de melhorar as condições econômicas e educacionais do povo:
Diante de um quadro de disciplina de nossas energias espirituais e materiais a
palavra Pátria tem hoje um significado mais extenso e, por ser tão evocativa, sugere
um inadiável compromisso de fé por parte daqueles que verdadeiramente amam este
Brasil renovado e poderoso.641
Carlos Américo Bertolini analisa as formas e os conteúdos das solenidades cívicas do
Estado Novo, enquanto encenações do poder e portadoras de um projeto educativo da
sociedade, fundamentadas numa “sacralização da política” que ocorreu pela colaboração do
Estado com a Igreja (BERTOLINI, 2000, p.51). No calendário do regime receberam atenção o
“Dia da Bandeira Nacional”, a “Semana da Pátria”, o “Dia de Tiradentes” e a “Proclamação
da República”. Foram acrescidos o “Aniversário da Revolução de 1930” e do Estado Novo,
“Solenidade em Memória dos Mortos” na pejorativamente denominada “Intentona
Comunista”, além da transfiguração do “Dia do Trabalhador” em “Dia do Trabalho”, “O Dia
Nacional da Juventude” (comemorado na data de aniversário do Presidente), a Parada da
Mocidade e da Raça (ao longo da Semana da Pátria), o “Dia da Criança”, e as homenagens a
Caxias, Tiradentes, Barão do Rio Branco, entre outros “vultos da pátria”, como nos informa
Carlos Bertolini (2000).
As matérias do Jornal e dos mapas de frequência evidenciam que as escolas em Iguaçu
e as lideranças políticas locais, compartilharam dessas práticas em que as escolas elaboravam,
participavam, conduziam e repetiam, continuadamente, rituais e práticas que almejavam
639
EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS NO G.E. RANGEL PESTANA, 12 dez 1935. 640
O CONCEITO DE PÁTRIA NO ESTADO NOVO, 07 set 1939. 641
Idem.
290
educar politicamente essas populações, de forma a incutir um nacionalismo, revestido de
caráter religioso, devotado à pátria e ao chefe da nação. Parte desse calendário e do formato
dos eventos era praticado desde o final da década de 1910, o que revela traços das
continuidades das relações entre escola, cidadania e cidade, ainda que diferentes significados
tenham revestido diferentes momentos políticos.
Em 1939, na sessão solene no “Gymnasio Leopoldo” pelo Dia da Pátria, que contou
com a presença de autoridades locais, o diretor Leopoldo Machado salientou “os deveres das
escolas de verdade para a formação do caráter dos seus alunos”.642
Os festejos eram
significados como atividades importantes junto aos alunos e o Jornal destacava a impressão
causada pelos desfiles de escolares:
[...] o desfile, principalmente dos alunos do Gymnasio Leopoldo, Curso Iguassu e
Collegio Santo Antonio, marcou uma nota de puro civismo nas ruas da cidade, onde
se via grande número de famílias, além das autoridades locais. Corpo de ciclistas, de
atletas, banda de tambores, guardas de honra, corpo docente, alunos. A formatura
dos professores com os seus alunos impressionou pela grande lição de que as lições
de civismo, como de tudo, devem vir de cima, dos pais e dos mestres.643
Nos festejos de 1939, o Círculo de Pais e Professores da cidade comemorou o dia da
Pátria com uma sessão cívica. Em Nilópolis, o prefeito Ricardo Xavier da Silveira participou
da sessão cívica realizada no Instituto Educativo dr. Julio de Abreu Gomes, onde foi
inaugurado retrato de Getúlio de Moura, político local presente na ocasião. Esteve presente o
representante do interventor estadual, na pessoa de Sr. Francisco Xavier Cardoso.644
A fim de imprimir à pátria uma presença e veracidade compartilhada pela sociedade, o
Estado Novo apelou para o caráter emotivo de veneração à nação. As solenidades
comemorativas eram os momentos que materializavam, tornavam a pátria visível. Cabia à
educação preparar os cidadãos para essas ocasiões, fomentando, pela valorização da história
nacional, a necessária vinculação afetiva com as encenações, a fim de estabelecer uma base
sólida sobre a qual a veneração da pátria seria edificada (BERTOLINI, 2000, p.58). As
associações operadas entre a Igreja católica e o Estado autoritário fomentaram a projeção da
nação como objeto de culto, revestida da aura de misticismo e de enlevado devotamento,
fosse nos discursos dos ideólogos e partidários do regime, fosse nas práticas culturais das
solenidades cívicas. A nação foi erigida como objeto religioso, ente sagrado, mas dotado de
materialidade, energia, ação, constituindo um corpo único, religioso e social (Idem, p.53).
642
DIA DA PÁTRIA, 14 set 1939. 643
Idem. 644
OUTRAS SOLENIDADES, 14 set 1939.
291
Pela descrição colhida nos mapas de frequência, em Iguaçu todos os eventos eram
envoltos num ambiente de comemoração e festividade. Assim, há comumente expressões do
tipo “brilhantemente comemorada”, “comemoração solene”, “comemorado o dia”,
“solenemente comemorada”, “homenagem”, “festivamente comemorado”, “comemorações
internas”, “comemorações festivas”, “comemorou festivamente”, “festivamente comemorados
os dias [...]”, etc.
Como foi visto, também, nas descrições na imprensa, os eventos poderiam ocorrer no
interior das escolas ou no espaço da cidade, em praças e avenidas, principalmente pela
ocasião do dia da árvore e dos desfiles e paradas escolares. Alguns comentários sinalizam a
realização do evento como restrito da escola, ou com a participação, na escola, de autoridades
políticas e de familiares.
Na escola mista, pública, primária, municipal, com denominação especial “Guinle”,
em setembro de 1944, nos dia 1, 5, 6 e 7 foi “comemorada internamente na escola a Semana
da Pátria”, mas no dia 3 os alunos participaram do “desfile escolar”.645
Por vezes, parte das comemorações escolares incluíam ações fora da escola, como no
Jardim de Infância da rua Marechal Floriano, localizado numa das principais ruas do distrito-
sede, quando, por ocasião da Semana da Criança, “os escolares saíram a passeio pela
localidade”.646
Entre outras comemorações ocorridas, em junho de 1947, no mesmo jardim de
infância, a professora relatava os festejos pelo encerramento das aulas:
Foi festivamente comemorado o primeiro período letivo do ano em curso, com
números de canto e recitativos apresentados pelos alunos dêsse estabelecimento.
Compareceram à festa o Exmo. Snr. Prefeito, o Presidente da Caixa Escolar, Dr.
Arruda Negreiros, Dr. Luís Guimarães e outras autoridades, pais de alunos,
professores e a imprensa local.647
Outros informes deixaram pistas sobre a participação das escolas – sob autorização
dos inspetores – em eventos ocorridos fora das escolas. No mapa de julho de 1938, da escola
“isolada” estadual n.º 17, que funcionava na “rua da Matriz n.66” , em São João de Meriti , no
4º distrito, a professora anotava: “Por autorização do Sr. Inspetor Escolar, no dia 15 a Escola
compareceu incorporada à uma solenidade na [agência] da Estação deste distrito”.648
Ali perto, no mesmo mês, a professora da escola estadual “isolada” nº 18, que
funcionava na rua da Matriz, nº 213, detalhava a participação dos alunos da sua escola no
mesmo evento: “Ás 11 horas do dia 15, com a autorização do Sr. Inspetor Escolar, a Escola
645
Fundo Departamento de Educação, 02666, APERJ. 646
Fundo Departamento de Educação, 02671, APERJ. Mapa de 10/1945. 647
Fundo Departamento de Educação, 02671, APERJ. Mapa de 06/1947. 648
Fundo Departamento de Educação, 02743, APERJ.
292
compareceu à Estação da localidade, afim de tomar parte nas solenidades da inauguração do
retrato de de S. Excia. o snr. Presidente da República”.649
Interessante que, nessa mesma
escola, no mês de maio de 1938, outra solenidade havia ocorrido para inaugurar o retrato do
presidente da República: “Cumprindo ordem do Sr. Diretor Geral do Departamento de
Educação, a data de 13 de maio foi solenemente comemorada, tendo feito parte do programa a
inauguração do retrato de S. Excia. o Presidente da República”.650
Entre as notações que registraram a ocorrência de comemorações e eventos realizados
na escola, ou dos quais a escola participava, maior frequência e ocorrência foram verificadas
nos mapas da escola mista de 2º grau nº4, situada no “K-11”, que era uma localidade contígua
à estação de trem no distrito-sede. Entre 1941 e 1947 estava funcionando à Rua Barão de
Tinguá, nº 247. O dossiê da escola agrega mapas de frequência entre os anos de 1931 e 1947.
Retomar a descrição de alguns desses episódios é aproximar a escala de observação
dos modos de funcionamento da escola. Os primeiros registros de comemorações datam de
1938. Os eventos mais corriqueiros, como nas outras escolas, eram o Dia da Pátria, a festa da
Árvore, o Dia da Proclamação da República, o Dia da Bandeira e o Dia da Criança.651
Em
1940, o aniversário do presidente Vargas e o Dia do Soldado passavam a fazer parte das
comemorações registradas.
O aniversário do Estado Novo foi comemorado, entre outras ocasiões, em 1941:
“Foram festivamente comemorados os dias 10 pela data do aniversário do Estado Novo, com
um desfile dos escolares pelas principais ruas da cidade e o dia 19 por ser “Dia da
Bandeira”.652
No ano seguinte, a professora registrava: “Foram festivamente comemorados os
dias 14 e 19. O dia 14 por ser da ‘América’ e 19 data do aniversário natalício do Dr. Getúlio
Vargas.”653
Em agosto de 1942, “palestras” e “preleções” na Semana de Caxias
homenageavam “o vulto do nosso grande patrono do exercito”. Pela data da Independência, a
escola participava novamente de parada escolar com reunião de todos escolares pelas
principais ruas da cidade”.654
No ano seguinte, o registro da comemoração do Dia da Pátria era parecido com o
anterior: “uma parada escolar de todos os alunos estaduais e municipais pelas diversas ruas da
649
Fundo Departamento de Educação, 02742, APERJ. 650
Fundo Departamento de Educação, 02742, APERJ. 651
Fundo Departamento de Educação, 02706, APERJ. Mapas de 09-11/1938. 652
Ibidem. Mapas de 11/1941. 653
Ibidem. Mapa de 04/1942. 654
Ibidem. Mapa de 09/1942.
293
cidade, a convite do Snr. Prefeito deste Município.” No mesmo mês, numa praça da cidade os
alunos faziam o plantio de mudas e entoavam o hino à árvore.655
Em 1944, durante a Semana de Caxias, “Todos os alunos prestaram homenagem a
memoria do grande patrono do exercito”, contudo, “a data mais festiva foi o dia 25, data de
seu nascimento onde entoaram hinos e recitativos alusivos a data”.656
Na semana da criança,
ocorreram palestras, “excursões, sessões cinematográficas, distribuições de merenda e etc.”.
Em novembro ocorreram as comemorações pelo aniversário do regime político e pelo
encerramento do ano letivo.
No ano de 1945, havia registro da participação dos alunos na “Parada da Juventude”,
que era o “desfile de todas as escolas publica estaduais, municipais e particulares pelas
diversas ruas da cidade”.657
Esse evento contou com a “com assistência de altas autoridades
desse município.” Naquele mesmo mês, a escola participava do plantio de árvores na Praça
[Silvino de Azeredo], quando houve também “Comparecimento de todas as escolas fazendo
parte desta festa o Exm. Dr. Prefeito e a sua comitiva”.
Em setembro de 1946, novamente, “os alunos tomaram parte na Parada escolar” pelo
Dia da Pátria, e também comemoraram o dia da Árvore com plantio de muda de pau-Brasil,
“com a presença de autoridades locais”. No dia seguinte ao plantio da árvore, ocorreu
“concentração dos alunos para a recepção a S. EXA. o Presidente da Republica em visita a
este município, comemoração do dia da laranja e inauguração de vários melhoramentos tendo
falado a aluna desta escola Janaina Carvalho”.658
Em outubro, era “observado rigorosamente o
programa da “Semana da Criança” e foi também comemorada a Semana da Asa.
Cabe destacar, para o ano de 1947, a comemoração do aniversário de fundação do
clube agrícola da escola e do pelotão de saúde, “tendo comparecido autoridades locais,
representantes da impressa e muitas famílias de alunos”.659
Em setembro, além da “Parada
Escolar do dia 7” foi comemorado o “1º aniversário da Promulgação da Constituição do
Estado”, e a escola “Tomou parte também na concentração escolar por ocasião da visita do
Governador Dr. Macedo Soares no dia 21 do corrente [Sic].”660
Maurício Parada (2003), em seu estudo sobre as cerimônias cívicas do Estado Novo
como práticas disciplinares, destinadas à população, e, principalmente, à juventude escolar,
destaca a complementaridade das atividades escolares com as datas comemorativas do
655
Ibidem. Mapa de 09/1943. 656
Ibidem. Mapa de 08/1944. 657
Fundo Departamento de Educação, 02706, APERJ. Mapas de 09/1945. 658
Ibidem. Mapa de 09/1946. 659
Ibidem. Mapa de 06/1947. 660
Ibidem. Mapa de 09/1947.
294
calendário cívico do regime. Carlos Bertolini (2000) analisa como o civismo se transformou
em tema central das atividades escolares no pós-1930, de forma que a escola foi responsável
por ambientar a juventude aos atos públicos de enaltecimento à pátria, às datas
comemorativas etc. Esse civismo que revestiu as funções do ensino era permeado de
religiosidade: “a dimensão do sacrifício, do altruísmo e da renúncia pessoal demonstra bem a
proximidade entre o patriotismo exacerbado e a ascese cristã pelo sofrimento, num
intercâmbio de imagens e de sentidos que desembocaram na sacralização da política”
(BERTOLINI, 2000, p.70).
Maurício Parada (2003) examina como o Canto Orfeônico e a Educação Física
significaram, mais do que a propaganda ou a retórica cívica, práticas disciplinares e
pedagógicas que buscavam conformar a juventude a um modelo de cidadão. Os rituais da
Hora da Independência (enquanto expressão do resultado das classes de Canto Orfeônico) e
do Dia da Juventude (associado à introdução do ensino da Educação Física na escola), sob a
análise do autor, revelam que as cerimônias cívicas completavam o trabalho cotidiano da
escola e do hospital, já que era através da exibição ritualizada frente aos membros da
comunidade nacional que os corpos sadios e disciplinados ganhavam uma identidade e um
sentido de pertencimento a esta comunidade:
a articulação entre as cerimônias e as práticas escolares tornou-se um dos mais
importantes locus onde se definiu a participação cívica da juventude durante o
Estado Novo.[...] Através do Ministério da Educação e Saúde, o Estado usou o
sistema escolar público e as cerimônias cívicas juvenis para elevar a disciplina e a
ordem à condição de virtudes supremas a serem perseguidas pelos jovens
(PARADA, 2003, p.11).
A representação da unidade nacional foi um dos principais aspectos das solenidades
cívicas do Estado Novo que imprimiram marcas profundas na memória coletiva nacional.
Serviram para projetar as inspirações de organização de um Estado Novo e foram destinadas
principalmente à classe operária e à juventude, ambos atores fundamentais no
desenvolvimento e manutenção futura de tal aspiração (BERTOLINI, 2000).
O expressivo volume de matérias sobre festas cívicas, com participação central de
escolas, em Iguaçu, nas ruas principais da cidade, durante o Estado Novo, além de atestar as
imbricações entre escola e ordenamento, ou pelo menos, certa teatralização do espaço público,
chamou atenção, também, para a repetição dos formatos utilizados, dos sujeitos presentes, na
relação com as “autoridades” locais.
As fontes informam sobre a frequência, os motivos, os locais e os formatos das
comemorações de que as escolas participavam na vida da cidade e das que realizava em seu
próprio ambiente. Mas não é possível apreender os significados que campo e cidade jogavam
295
nestas comemorações nem o conteúdo dos discursos de professores, alunos, prefeitos. O que
se insinua é o empenho dos dirigentes políticos locais em promover esses eventos, em dar a
ver que o município participa, tem modos de demonstrar seu tônus civilizatório, sobretudo
pela participação dos escolares nas expressões de culto à pátria, à bandeira, à criança, ao chefe
de governo etc. Contudo, apropriações realizadas pelos sujeitos participantes dessas
experiências e “sentidos variados” poderiam ser construídos na experiência de aprendizagem
que as festas escolares propiciavam (FARIA FILHO, 2005a, p.34). Aos interesses, objetivos
da ação educativa das festas cívicas, e da progressiva transformação destes eventos em festas
de escolas, de escolares, deve-se ter em perspectiva os conflitos inscritos, interesses
divergentes, que podem estar depositados nas articulações dos temas da cidadania “quando se
referem ao escolar e ao urbano na modernidade” (Idem).
Em geral as datas comemoradas em Iguaçu foram as mesmas do calendário nacional.
No exame das matérias, no curso do tempo, nota-se a progressiva intensificação da frequência
dos eventos e da extensão dos mesmos. Os motivos cívicos são os mais recorrentes, e seus
rituais passaram a permear, também a ritualização das práticas escolares, como nas festas de
encerramento do ano letivo. Mais do que evidenciar a construção de uma identidade local, ao
que parece, é o sentimento de pertença a uma nacionalidade que move esses episódios, com o
interesse dos sucessivos prefeitos em demonstrar-se alinhados a certas práticas e concepções
de cidadania.
O enraizamento do calendário escolar do Estado Novo nas atividades e festas escolares
e, também, a participação dessas escolas nos eventos cívicos promovidos na cidade, podem,
ainda, ser compreendidos, em matéria educacional, nas sobreposições que foram operadas no
pós-1930, sobretudo no Estado Novo, de constante centralização administrativa que esvaziou
bastante as possibilidades de autonomia municipal. A sobreposição da “nação” no espaço não
se buscava materializar, apenas, no culto ao chefe da nação, no caráter cívico-devocional que
se buscou ensinar, mas, também, em medidas práticas de canalização das instâncias decisórias
do poder para as agências de governo da União.
A repetição e a sucessão dos eventos também revela certa pedagogia, que
espetacularizava práticas, teatralizava a participação dos sujeitos, engessava os passos, os
ditos, os cânticos, as posturas. Além das repetições, a cada ano, de um conjunto de
comemorações, pautadas por um calendário escolar, como foi visto nos mapas de frequência,
havia, também, uma certa continuidade no formato, ao longo do tempo, na comparação entre
os eventos. Por exemplo, isto pode ser apreendido em como três escolas distintas, em anos
diferentes, comemoraram a Semana da Criança.
296
Na escola estadual mista n. 9, em 1939, a semana da criança, segundo a professora foi
comemorada com o seguinte programa: “Dia 12 preleção sobre a data; Dia 13 preleção sobre
os deveres da criança no lar, na escola e na sociedade. Recitativos e poesias. Dia 14,
descanso; Dia 16 aulas, palestras e jogos. Dia 17, aulas, preleção. Dia 18 encerramento da
“semana da criança” com preleção, poesias, recitativos e hinos. Dia 23 chuvoso”.661
Em 1944, na escola mista municipal situada em Porto Sobrinho, a professora
informava: “Comemorei a semana da criança com o seguinte programa: Dia 10 palestras,
recitativos [sic] e hinos. Dia 11 hinos, brinquedos e Cantos. Dia 12 uma secção no cinema de
Nova Iguaçú. Dia 13 excursão a Quinta da Boa Vista com distribuição de merendas. Dia 16
palestras, recitativos e hinos. Dia 17 encerramento da semana com uma solene reunião em
Nova Iguaçú”.662
Na escola municipal Valério Rocha, em 1946, o programa da semana da criança
evidenciava a continuidade de um formato de comemorações ordenado: “Dia 10 Palestra
sobre a criança; Dia 11 – Excursão; Dia 12 – descanso; Dia 13 – domingo; Dia 14
pequenique; Dia 15 hora recreativa; Dia 16 cinema grátis; Dia 17 – encerramento da semana
da criança”.663
Ano após ano, a repetição do formato dos eventos buscava ensinar aos alunos, às
famílias e à cidade, um modo específico de socialização. Na escala de observação de Nova
Iguaçu, é possível acompanhar a realização local, a capilarização, via elites dirigentes, bem
como o alcance da política educacional e cultural do Estado Novo que entrelaçou
nacionalismo, civismo e instrução. Tratava-se da configuração de uma ideia de nação, do
nacional, que materializava-se nos desfiles escolares, nas sessões cívicas. Movimentos locais
que buscavam inserir a região na nação, fazê-la constituir-se em nação.
Neste sentido, compete ressaltar que o formato dos festejos e a mobilização das
escolas em algumas datas enraizaram-se mesmo após o fim do regime. Além das notícias
publicadas no Correio da Lavoura, um filme664
integrante do acervo do Colégio Leopoldo,
sobre as comemorações da semana da pátria na cidade, também evidencia tais permanências.
A narrativa do filme, de 7 minutos, não identifica o ano de realização. Mas sabe-se, por um
decreto citado na abertura, que o filme é posterior a janeiro de 1946. Como o prefeito
661
Fundo Departamento de Educação, 02675, APERJ. Mapa de 10/1939. 662
Fundo Departamento de Educação, 02690, APERJ. Mapa de 10/1944. 663
Fundo Departamento de Educação, 02727, APERJ. Mapa de 10/1946. 664
Prefeitura de Nova Iguaçu. Comemorações da Semana da Pátria. Filme Jornal.170x15. A. Botelho
Filme.1948.
297
Sebastião de Arruda Negreiros aparece nas filmagens, pode ser datado entre setembro de 1947
e setembro de 1950.665
Na abertura, após a informação de que o filme está livre de censura é que é
considerado “de boa qualidade”, segue-se o desenho de um menino, de costas, acompanhado
de um cão. Ambos olham para uma tela, que parece ter sido fixada em uma árvore, em que há
uma projeção em movimento, onde se informa: “filme jornal”, tendo ao fundo a projeção da
cidade do Rio de Janeiro. No cenário em que está o menino-espectador, vestido em trajes
comuns, segurando nas mãos um chapéu e um cajado, nota-se uma latrina. O simbolismo da
imagem parece indicar o tipo de destinatário do filme e seu caráter educativo, instrutivo.
O filme em preto e branco, apresentado pela prefeitura de Nova Iguaçu, e, intitulado,
“Comemorações da Semana da Pátria”, apresenta tomadas de imagens da cidade
concomitantes à voz do narrador-repórter que oferece informações sobre o “próspero
município” que ocupava, no estado, a 3ª posição em população e produção. As imagens da
cidade e da prefeitura são sucedidas por imagens dos prédios escolares, de cursos, do Colégio
Leopoldo, do Grupo Escolar.
Com uma música ao fundo, a voz do narrador discorre sobre a existência de 100
escolas municipais, 20 estaduais, além de 3 grupos escolares e “muitas escolas particulares”
no município.666
Dada a extensão da rede de escolas, o “prefeito-professor”, Sebastião de
Arruda Negreiros, apelidava o município de “Atenas Fluminense”.
Sob esta ótica, os desfiles escolares pela Semana da Pátria atestavam a grandiosidade
do município em matéria de instrução. A solenidade começou com cerimônia no Colégio
Leopoldo, com hasteamento da bandeira pelo diretor, enquanto os alunos entoavam o hino
nacional. Descrevendo as imagens em tom de reportagem e com entonação festiva, o narrador
informava que o diretor fez a leitura do boletim alusivo à data, seguindo-se a entrega de
“estrelinhas distintivas” aos alunos que mais se destacaram “na conduta e na aplicação”.
Bandeiras esportivas foram entregues aos alunos engajados nessas atividades, que juraram a
honra ao bom comportamento nas competições e ao uso adequado das atividades esportivas.
Após as imagens do evento ocorrido no interior do Colégio, com expressivo número
de alunos, a música de fundo é modificada e seguem-se as imagens da parada escolar nas ruas
da cidade, diante do palanque em que estava o prefeito, professores e outras personalidades.
665
Segundo o professor Paulo de Tarso, atual diretor do Colégio Leopoldo e proprietário do filme, é
referente a 1948. 666
Prefeitura de Nova Iguaçu. Comemorações da Semana da Pátria. Filme Jornal.170x15. A. Botelho
Filme.1948.
298
Segundo o “filme-jornal”, 7.500 crianças das escolas do munícipio participaram dos desfiles
nas principais “artérias” da cidade.
Seguem-se imagens dos alunos de várias idades, marchando, uniformizados,
ostentando bandeiras pelas ruas. As ruas estão ornamentadas, e, nas margens, populares
assistem à passagem marcada, espaçada, ordeira, dos alunos e professores, recebendo os
aplausos das pessoas no palanque: “A juventude de Nova Iguaçu brilhou e com todo seu vigor
cívico deu uma amostra do que será o Brasil de amanhã”. Após o desfile, os alunos foram
alimentados no Mercado Municipal Santo Antônio, sob o patrocínio da prefeitura, onde
também estiveram presentes o professor Leopoldo Machado, o jornalista Luiz Azeredo e o dr.
Luiz Guimarães.
Assim como as fotografias encomendadas em 1933, deve-se compreender esse filme
sobre a “grande festa cívica que empolgou a população do próspero município fluminense”
como um recurso, uma construção simbólica, sobre algo que se queria fazer ver, demonstrar e
dizer, sobre o “próspero município”. Em 1944, durante a prefeitura de Bento Santos de
Almeida, também foi exposto em um cinema da cidade, um filme, segundo o Correio da
Lavoura, “focalizando a riqueza e o progresso do nosso município”. As localidades de
Mesquita, Nilópolis, Belford Roxo e Queimados integraram as filmagens, juntamente com as
comemorações sobre a Semana da Pátria. O Jornal felicitava a iniciativa como uma “boa
propaganda de Nova Iguassú”.667
Além da continuidade dos rituais de desfiles escolares, sob a presença dos dirigentes
locais, nas ruas da cidade, que o filme e as matérias do Correio da Lavoura permitem notar, é
reveladora destas continuidades e apropriações, também, a criação do Dia da Laranja, no
município de Iguaçu, em 1946, marcado para o dia 22 de setembro.668
Os preparativos da
festa dirigida pela prefeitura com apoio de citricultores e exportares, revelam um interesse em
afirmar a relação entre a prosperidade do município e a atividade citrícola. Contudo, tratava-
se mais de um recurso, movido pelos grupos locais engajados em reverter a crise que se abatia
sobre a comercialização do fruto e sobre o plantio.
O programa dos festejos seria iniciado pela chegada do Presidente da República, o
general Eurico Gaspar Dutra, à cidade. O presidente seria recebido por autoridades federais,
municipais e estaduais, “escolas públicas e particulares”, associações esportivas e “o povo em
geral”. O presidente inauguraria exposição sobre a laranja e as obras de remodelação da praça
667
UM FILME SOBRE NOVA IGUAÇU, 03 nov 1944; 668
O DIA DA LARANJA VAI SER COMEMORADO, DOMINGO, PELA PRIMEIRA VEZ, NESTE
MUNICÍPIO, 15 set 1946.
299
ministro João Pessoa. Salva de tiros, queima de fogos e coroamento da “rainha da laranja”
ornamentavam o evento. Visitas a laranjais, packing-house, entre outras atividades, eram
previstas. Quinze pessoas integravam a comissão designada pelo prefeito para cuidar da
“concentração escolar”.669
Porém, a aguardada visita670
do presidente gel. Gaspar Dutra não aconteceu posto que
o mesmo enviou, no dia do evento, um bilhete ao prefeito, justificando a ausência em função
de imprevistos.671
A parada escolar ficou em formatura deste as 6 horas, à espera do
presidente, quando as 11 horas, chegava o representante, cel. Gilberto Marinho. Contudo, o
programa foi executado conforme o previsto, sendo, segundo o Jornal, bem sucedido.672
Na segunda edição do Dia da Laranja, em 1947, foi aguardada a presença do
governador do estado, Edmundo Macedo de Soares, para assistir à festa,673
participar dos
festejos do Dia da Árvore com escolares em Nilópolis, visitar as obras do Grupo Escolar,
outras obras, laranjais, uma casa de embalagem de Francisco Baroni e inaugurar uma
exposição no entorno do mercado municipal. O Jornal conclamava exportadores, citricultores
e comerciantes, “industriais e o povo” para colaborar para o êxito da festa “consagrada ao
pomo de ouro que enriquece a terra iguassuana”.674
Chegando à cidade no primeiro dia evento, o governador recebeu homenagens,
segundo o Jornal, sobretudo nas obras do Grupo Escolar, onde participou do plantio da
árvore, e no mercado municipal, no qual inaugurou a exposição sobre a laranja. Fez discursos
no Grupo Escolar e na visita à packing-house de Francisco Baroni. Visitou a prefeitura e
pomares. Apesar disso, o Jornal deixava transparecer que a festa da laranja já não fora tão
efusiva quanto no ano anterior, fazendo alusão aos problemas pelos quais passava a
citricultura.675
A comercialização da produção de laranjas foi afetada por múltiplos fatores. Com a
eclosão da Segunda Guerra Mundial, houve queda na demanda por exportações pelo mercado
europeu e empecilhos foram criados por conta do bloqueio alemão, que impediu a chegada de
navios frigoríficos ao porto do Rio de Janeiro. O mercado norte-americano não se tornou uma
669
O DIA DA LARANJA VAI SER COMEMORADO, DOMINGO, PELA PRIMEIRA VEZ, NESTE
MUNICÍPIO, 15 set 1946. 670
SERÁ COMEMORADO HOJE, FESTIVAMENTE, O DIA DA LARANJA, 22 set 1946. 671
TRANSCORREU COM RARO BRILHANTISMO A FESTA DA LARANJA, 29 set 1946. 672
Idem. 673
AMANHÃ, DIA DA LARANJA, SERÁ FERIADO MUNICIPAL, 21 set 1947;. AGUARDA-SE
HOJE, À TARDE, A HONROSA VISITA A ESTA CIDADE, DO GOVERNADOR EDMUNDO
MACEDO DE SOARES, 21 set 1947. 674
Idem. 675
DIA DA LARANJA, 28 set 1947.
300
alternativa, devido à concorrência com a produção de laranjas da Califórnia. O abastecimento
do mercado interno e da América do Sul não foi suficiente para escoar a produção e o
encarecimento do combustível dos transportes aumentou os preços, enquanto o mercado
paulista era abastecido pela produção da cidade de Limeira (PEREIRA, 1977, p.130).
Os dados da Tabela 5 demonstram a queda no comércio de exportação da laranja:
Tabela 9 Comércio e Exportação da Laranja (1941-1945).
Safras Mercados externos Mercados nacionais Caixas Valor Cr$ 1.000
1941 888.844 665.800 1.554.644 38.217
1942 533.142 690.000 1.243.142 22.810
1943 546.173 580.000 1.126.175 23.108
1944 550.161 610.000 1.160.161 22.916
1945 554.147 780.000 1.334.147 29.966
Fonte: Adaptado de Pereira, 1977, p.144.
No município de Nova Iguaçu, após a Segunda Guerra, buscou-se a revitalização da
citricultura, que àquela altura dependia também da recuperação da lavoura, condenada pela
proliferação de pragas nos frutos abandonados no pé. A imprensa iguaçuana expressava essas
reivindicações e parlamentares, como Getúlio de Moura, representavam esses interesses junto
aos poderes públicos. Promessas iam sendo renovadas, embora medidas eficazes não tenham
sido adotadas (PEREIRA, 1977, p. 149).
Os loteamentos urbanos consistiram na solução para a crise financeira dos
proprietários rurais (SIMÕES, 2004). Enquanto, entre 1926 e 1940, surgiram três loteamentos
no distrito-sede, entre 1941 e 1945, houve 18 loteamentos e 31 desmembramentos. Ademais,
ocorreu a multiplicação do número de construções durante a Segunda Guerra: entre 1936 e
1940 foram requeridas 20 licenças, enquanto entre 1941 e 1945 foram concedidas 463
licenças para construções (SOARES, 1962, p. 64). A estrutura de ocupação fundiária no
período da citricultura também facilitou a venda dos lotes, pois já havia uma rede de estradas
e de serviços que antes atendiam ao escoamento da produção (SOUZA,S. 2004, p. 145).
Outros fatores, como a modernização e ampliação das vias de ligação da cidade do Rio
de Janeiro com outras regiões, que atravessavam o município, estimularam a sua urbanização.
A eletrificação da Estrada de Ferro Central do Brasil, em 1935, a inauguração da Avenida
Brasil, em 1946, e a abertura ao tráfego da rodovia Presidente Dutra, em 1951, favoreceram o
acesso e a valorização de seus terrenos, por sua proximidade ao Distrito Federal (Ibidem,
p.139). Os fazendeiros e comerciantes foram os que mais se beneficiaram com os
loteamentos, enquanto os trabalhadores rurais enfrentavam a dispensa de seus postos e, por
vezes, de suas residências. Para os que conseguiram adquirir lotes e permanecer na região,
301
restaram as atividades do setor urbano: “Os loteamentos em Nova Iguaçu ensejaram a
descontinuidade de uma relação em que a terra passou a ser pensada sem as mediações do
trabalho agrícola e segundo os critérios de uma produção de lotes, organizada com princípios
distintos” (SOUZA,S. 2004, p. 145). Assim, Nova Iguaçu vivenciou, a partir da década de
1940, uma reestruturação econômica. Contudo, no distrito-sede foi reforçada sua função
urbana, devido à “condição prévia de cidade” que Nova Iguaçu apresentava,
[...] dotada de todos os serviços necessários à vida de uma população urbana, isto é,
de um comércio numeroso e diversificado, de estabelecimentos de ensino e diversão,
de estabelecimentos religiosos, de assistência médica, enfim de todo o arcabouço
urbano que ela possuía (SOARES, 1962, p.36).
Como foi apresentado, as funções sociais atribuídas aos processos de escolarização e a
importância exercida pelas instituições escolares na organização da cultura, na ambientação
de práticas e valores para a vida social, integraram este processo de construção da Nova
Iguaçu. Contudo, ao intitular este capítulo de “Atenas Fluminense”, tomando de empréstimo o
termo cunhado pelo “professor-prefeito” Sebastião de Arruda Negreiros, em seu segundo
mandato no executivo, longe de compartilhar ou querer projetar a ideia de que o município de
Nova Iguaçu apresentava uma expressiva rede de escolas e um universo cultural que pudesse
compará-la às representações sobre a antiga pólis grega, busca-se destacar, em verdade, as
diversas operações engendradas entre cidade e instrução, naquele município, no período
delimitado nesta pesquisa.
Para compreender a construção da “Nova Iguaçu” é preciso considerar a função social
que a escolarização representou nos projetos de poder em disputa naquela sociedade. Em
Nova Iguaçu, este processo se apresentou pela especificidade das relações urbanas serem
permeadas, no distrito-sede do munícipio, pelos impactos do ruralismo “fluminense”, pelos
empenhos promovidos em tornar a citricultura o eixo da atividade econômica de parcelas da
população local, tanto dos trabalhadores quanto dos proprietários de terra, lavradores e
comerciantes que para lá afluíram ou lá já estavam quando se firmaram as primeiras políticas
de favorecimento da atividade.
Modernização da produção, urbanização do distrito sede, instrução, eram imperativos
para alavancar a “lavoura”. As bandeiras do Jornal Correio da Lavoura e de seus intelectuais,
as convergências – em diferentes contextos e por vezes entre interesses apenas
conjunturalmente próximos – das ações de agências e políticas de governo municipal,
estadual, federal, dão mostras das confluências entre rural, urbano e instrução. É preciso
considerar estes temas nos significados que lhe foram atribuídos, nas comparações,
302
aproximações e contrastes, por vezes deliberados, outras, de forma contraditória, que foram
produzidos na gestação de Nova Iguaçu.
Natalia Crivello reflete sobre a mudança do nome de Maxambomba, em 1916, para
Nova Iguaçu, como uma construção simbólica que sugere a noção de “local herdado”, no qual
a genealogia estabelecida “é utilizada localmente como um instrumento de compreensão
social. Dessa forma configura-se localmente a expressão mais direta da herança do passado
(CRIVELLO, 2011, p. 40). Sonali Souza (2004) constata a construção social de um “mito” da
idade de ouro nas representações locais sobre a história de Nova Iguaçu, que contrasta com
um passado bucólico, de um lado, identificado com o período dos laranjais (cujo apogeu
ocorreu entre anos 1920 e 1940), e, de outro, com um estado posterior de violência, de
conflitos acerca da propriedade fundiária e de crescimento urbano desordenado. Observa
referências à citricultura em alguns elementos estruturantes da memória local, como o hino, o
brasão, e sua presença marcante na produção cultural. Este mito, produzido por antigas
famílias, produtores e grupos dominantes locais daquele período, serve para pensar as
mudanças sociais que estão subjacentes a estas representações, posto que “a presença da
oposição entre a cidade dos laranjais e a cidade dos loteamentos é um elemento de um
processo histórico” (SOUZA,S., 2004, p. 141).
A oposição entre a cidade dos laranjais e a cidade dos loteamentos, a partir dos
conflitos pela terra que invadiram o cenário na Baixada, sobretudo a partir da década de 1950,
sinaliza um marco de transformações na história da cidade e da identidade contemporânea da
Baixada Fluminense metropolitana, “quer seja pela diminuição da importância econômica que
as atividades agrárias tinham até então (entre as quais a produção de laranjas se destacava),
quer seja pelo crescimento populacional favorecido pelos loteamentos” (Ibidem, p. 140) .
Como lembra Manoel Simões:
[...] o espaço natural, o processo histórico de ocupação da cidade, em conjunto com
os processos espaciais inerentes à estrutura capitalista deram origem e modificam
constantemente a forma urbana e a estrutura espacial de Nova Iguaçu. A cidade de
desenvolveu de forma compartimentada e com usos bem distintos (2004, p.154).
Nossa pesquisa demonstra que a instrução escolar, ou a educação em sentido amplo,
permeou os recursos cultivados, em discursos e práticas, entre tentativas, fracassos e sucessos,
para subsidiar o almejado progresso, que se espelhava e resultava da atividade econômica,
mas, também, na vida social, nos modos de morar, viver, trabalhar. Escolarizar o trabalho
rural, capitalizar o agrário, cultivar a adesão e colher a fixação do trabalhador mobilizavam
significados, projetos e disputas em torno da instrução e, também, na configuração do espaço,
nas definições do uso do território.
303
Conclusão
Esta pesquisa demonstrou alguns modos pelos quais o tema da instrução escolar
permeou as estratégias e as disputas na construção de Nova Iguaçu e, dialeticamente, como as
especificidades desta localidade impregnaram as funções sociais atribuídas à educação e às
experiências de escolarização no município.
Nas operações de construção do objeto, foi preciso restituir os contextos múltiplos de
organização social dos usos do território que definiram paisagens e funções distintas entre as
localidades do município. Enquanto as regiões limítrofes ao Distrito Federal conheciam,
desde os anos de 1910, processos de loteamentos urbanos, em que antigas propriedades
fundiárias eram parceladas e geravam lucro pela venda de terrenos para habitação popular, o
distrito-sede e outras localidades do município eram instrumentalizados para as atividades
agrícolas, principalmente para o cultivo, beneficiamento e comercialização de laranjas.
Enquanto o campo do conhecimento em história da educação oferece maior produção
de trabalhos que evidenciam as imbricações da gestação da escola moderna com o cenário das
cidades, a delimitação da investigação sobre os processos de escolarização no distrito-sede
consentiu interrogar sobre as relações entre escolarização, rural e urbano, e viabilizou
entender de que modos e por quais razões um território que se ordenava para as atividades
agrícolas se ateve em debates e iniciativas em prol da instrução.
Na continuidade da perspectiva adotada de desnaturalizar o uso do “município”, não
como algo dado, mas sim como um enquadramento, uma escala constituída pelo pesquisador
conforme os interesses da pesquisa, as noções de rural e urbano foram desnaturalizadas e
trabalhadas a partir da historicidade com que foram manejadas naquele contexto histórico.
Esta escolha informou sobre as aproximações, contradições, confluências e apropriações dos
significados que foram impressos a estas noções, o que revelou intervenções e embates
relevantes movidos sobre os usos do território e de sua gente, entre projetos locais de poder de
condução da sociedade.
O exame do Correio da Lavoura, fundado no distrito-sede em 1917 sob as bandeiras
de defesa da lavoura, higiene e instrução, colocou em relevo a mobilização de setores da
sociedade local para a defesa de um projeto ruralista, em que a “vocação agrícola” da região
era defendida como condição para soerguimento econômico do munícipio e do estado do Rio
de Janeiro. A construção de um diagnóstico de “crise” na lavoura foi ancorada na crítica aos
modos “arcaicos” de cultivo, que, nas nuanças assumidas no ruralismo das oligarquias
bagageiras, dentre as quais se inseria o estado do Rio de Janeiro, condenava tanto os métodos
304
de cultivo, a ausência de técnicas, maquinário e pesquisa, quanto as opções pelo latifúndio e
pela monocultura. O trabalhador rural, assolado por doenças e falta de instrução, também
figurava nesse panorama que causava o atraso da agricultura. Nesse enredo de “crise”,
portanto, rural e agricultura eram tratados como sinônimos, sendo a atividade agrícola a
“vocação” da paisagem rural, o uso “natural” do território. Por constituírem a “vocação” do
país, os assuntos da lavoura deveriam interessar não só aos produtores e comerciantes, mas
careceriam ser defendidos como assunto de interesse nacional, do qual dependeria o progresso
da nação.
No entanto, os diagnósticos que significavam o rural como arcaico e atrasado, também
acenavam com as soluções cabíveis para reverter o problema. A modernização do rural, pela
da racionalização da produção baseada em conhecimentos científicos, em novas técnicas e
adoção de maquinário, recursos esses surgidos com a agricultura científica, resultaria em
benefícios para a recuperação da atividade. O trabalhador era alvo desse reordenamento social
requerido para o campo, porque, pela higiene e instrução, julgava-se que poderia se tornar
mais produtivo ao trabalhar de acordo com as novas expectativas de racionalização do
trabalho.
O tratamento adequado dos territórios a serem cultivados, a liberação de novas áreas
pelos resultados do saneamento, a formação desse trabalhador pela instrução agrícola e em
escolas que valorizassem a importância do campo como vocação do país, assegurariam o
progresso da atividade. O movimento ruralista pretendia escolarizar o campo, introduzir
reordenações nas políticas adotadas, nos modos de produção e de trabalho, sob a matriz de
conhecimentos científicos, para reeducar e reorientar a atividade, tornando-a mais produtiva,
competitiva e moderna. A ordenação social do campo dependia, principalmente, da captação
de braços para a lavoura, o que se buscava alcançar por uma educação que disseminasse o
consenso sobre a fixação do trabalhador na lavoura e o habilitasse para o trabalho conforme as
novas orientações científicas. Um projeto de hegemonia, de manutenção dos grupos e
interesses agrários estava em curso na construção da Nova Iguaçu.
Tanto a instrução elementar quanto a instrução agrícola, de trabalhadores, mestres e
agrônomos, deveriam conformar a população para o “salutar manejo da enxada e do arado”.
Nestas construções em prol da instrução agrícola e de que a escola elementar encampasse o
movimento ruralista, foram acionadas oposições entre campos e cidades, rural e urbano. O
campo e a agricultura foram adjetivados com os valores da ordem, da pureza, da natureza, do
trabalho, alimentação e moradia garantidos, enquanto o urbano e a cidade foram
305
transformados, nos debates em curso, em cenários da desordem, da criminalidade, da falta de
emprego e habitação, dos perigos e vícios da vida moderna.
Além da identificação entre as bandeiras do Correio da Lavoura e o movimento
ruralista da Primeira República, através deste Jornal acompanha-se, também, a introdução da
citricultura em Iguaçu como uma experiência pelo soerguimento da economia no estado, pela
diversificação produtiva, pela adoção do elemento nacional no trabalho, e por novos modos de
uso do latifúndio, com o estabelecimento de chácaras e arrendamentos. Os interesses
organizados dos produtores e comerciantes locais do produto, e as interações com as agências
de governo do estado e da União, sobretudo com o Ministério da Agricultura e, na sociedade
civil, com a Sociedade Nacional de Agricultura, revelam o processo de construção da Nova
Iguaçu, sobretudo do distrito-sede, em função da citricultura.
Mas cabe distinguir que esse processo é historicamente construído, gestado pelo
empenho daqueles setores em defender a citricultura – que engendrava a organização do
distrito-sede – como atividade essencial de todo o município. Na escala maior do município,
outros usos da região estavam em curso, de forma que a citricultura disputava territórios e a
convergência dos esforços da ação municipal para seus interesses. A citricultura não era,
apenas, uma atividade que se realizava no território de Nova Iguaçu, mas trata-se de uma
atividade que realizava a construção da Nova Iguaçu, após a transferência da sede para
Maxambomba, e se afirmava, nessa construção, concomitantemente, e em disputa com outros
movimentos no município.
As intervenções no território e nos sujeitos, pelas políticas de saneamento e profilaxia
rural, pensadas conjuntamente ao longo da Primeira República, vivenciadas em Iguaçu, foram
configurando novas paisagens para a localidade, procurando, também, disseminar na
população novos códigos de cuidados com o corpo – de ordem médica e moral – que
buscavam valorizar o trabalho, a disciplina, a obediência. Tratava-se, portanto, de um amplo
projeto educativo, que integrou os debates e práticas sobre a instrução escolar, avolumando as
defesas sobre a necessidade de instrução da população como solução para os problemas do
“atraso” do país além de escolarizar os modos de produção e trabalho, pela adoção da
moderna agronomia enquanto campo de conhecimento científico.
Os debates sobre instrução agrícola e o amplo projeto de intervenção social sobre o
campo que eram mobilizados pelo movimento do ruralismo, como foi apresentado nesta
pesquisa, apontam que as pesquisas sobre o tema da educação do campo, ou educação rural,
devem considerar a extensão da plataforma de ação organizada a partir da Sociedade Nacional
de Agricultura e do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, durante a Primeira
306
República. O “ruralismo pedagógico” inscrito nas políticas de educação do pós-1930
apropriou –se de muitas questões e ações sobre a ruralização do ensino e da instrução agrícola
gestadas nas décadas anteriores.
Mas, em Iguaçu, não gravitaram no tema da instrução apenas os discursos, ações e
interesses do movimento ruralista e dos lavradores e comerciantes de laranjas. O empenho em
recuperar o processo de instituição de uma rede de escolas, que estava entre as maiores do
estado desde final da década de 1920, trouxe para a análise a atuação das agências do governo
estadual na institucionalização e fiscalização das escolas de educação primária no município.
Foi explicitado como o movimento pela escolarização impôs demandas de organização às
agências de governo, tanto para a produção de normas a serem seguidas pelas escolas, quanto
da mobilização das próprias agências para constituir mecanismos que assegurassem a
fiscalização do ensino, estendendo o aparato burocrático de governo do estado e suas esferas
de atuação, constituindo o próprio Estado.
Os serviços de inspeção e atos normativos do ensino, os regimentos, a constituição do
professorado, etc. foram sendo gestados concomitantemente ao processo de
institucionalização de uma rede de escolas. Sucessivas reformas do ensino primário e ação
dos inspetores iam constituindo e mediando o processo de disseminação da escola primária.
Os resultados colhidos no serviço de inspeção, dialeticamente, resultantes da ação estadual em
estabelecer mecanismos de controle dos modos de expansão da escola, também atestavam os
impasses, as contradições do processo, os problemas surgidos, as burlas e ocorrências não
previstas, incitando a elaboração de novas estratégias por parte das agências estatais.
A construção de um aparato normativo para pautar a expansão da escola primária no
estado do Rio de Janeiro considerou as características regionais, tais como a população e a
paisagem rural ou urbana, como critérios para definir os tipos de escolas a serem implantadas,
os graus de ensino ofertados, a localização das escolas. As informações sobre matrícula e
frequência coletadas pelo serviço de inspeção das escolas, também, eram condições para o
fechamento ou manutenção de uma escola, ou criação de mais turnos ou escolas num lugar.
O perfil de escolas existentes, recuperado pelo trabalho sistemático realizado com os
mapas de frequência de escolas do município e no cruzamento com outras fontes, revelou a
expressiva presença de escolas públicas estaduais e municipais de ensino primário em Nova
Iguaçu – distrito-sede e município – nas décadas de 1930 e 1940. No município, a presença de
escolas foi maior no distrito-sede em todo período coberto pela pesquisa, e, ao que parece, já
era este o cenário desde fins do século XIX. A localização das escolas no distrito-sede,
conforme registrado por endereços e atribuições presentes nas fontes, mas também pelo
307
trabalho de localização realizado na pesquisa, revelou a maior presença de escolas de
localização urbana, nas principais ruas e no entorno do distrito-sede.
Quanto ao formato das escolas, da seriação de ensino ofertada, da organização de
turnos, dos professores e alunos por elas distribuídos, sustentamos a existência de múltiplas
experiências de escolas primárias no município, sendo, contudo, predominante a escola
isolada com até as três primeiras séries do ensino. “Escola isolada”, no entanto, abarca uma
diversidade de situações na composição de turnos, séries, classes, do quadro de docentes e de
alunos; e, se revela a introdução da seriação do ensino e das classes na organização do ensino,
distingue também diversas composições possíveis entre essas vertentes, revelando um modelo
híbrido de escolarização, em que coexistiram matrizes antigas e novas formas de organização
do ensino.
O constante crescimento populacional verificado entre 1920 e 1940 pode ser
explicativo do crescente ingresso de alunos na 1ª série, observado nos mapas de frequência.
Outras pesquisas poderão descortinar, ainda, a progressão irrisória de alunos para as demais
séries, comparativamente ao número de ingressos na 1ª série. As pesquisas sobre a história da
profissão docente em Nova Iguaçu também aguardam maiores investimentos. Como a rede de
escolas públicas demonstra a relevância das escolas estaduais, é preciso investigar os vínculos
das professoras com o município. Há muitas anotações de transferências nos mapas de
frequência, sobretudo para Niterói, a capital do estado, que podem sinalizar sobre escolhas e
estratégias na construção da carreira.
No perfil de escolas existentes na região, o Grupo Escolar Rangel Pestana se
apresentou como a escola primária mais “completa”, também localizada no distrito-sede. A
campanha promovida pelo Correio da Lavoura, pela instalação de um grupo escolar na
cidade, evidenciou como este tipo de escola era concebido como um “melhoramento urbano”,
que elevava o estatuto do “progresso” que a cidade deveria espelhar. Nessas operações, a
instrução escolar era tratada como constituinte, como elemento distintivo do nível de
urbanização e do caráter urbano que deveria configurar a paisagem da cidade.
Nos debates e campanhas promovidos pelo Correio da Lavoura visando a
remodelação da paisagem urbana do distrito-sede, e, também, nas descrições de obras e
modificações presentes dos relatórios de prefeitos, as alterações na infraestrutura da cidade,
pela remodelação e calçamento de ruas, os projetos de implantação do serviço de água e
esgotos, as novas construções, a abertura e conservação de estradas, o embelezamento de
praças, ruas e avenidas eram valorizados como reflexos, mas também como projetores do
almejado progresso local, que deveria estar materialmente inscrito na configuração da cidade.
308
Assim, o desenvolvimento do comércio local, de serviços de lazer, e da oferta de escolas eram
propagandeados como indícios do progresso da localidade.
Interessante notar, nas páginas de um jornal ruralista, os significados valorativos
impressos à cidade, ao distrito-sede, quando se tratava de disputar e fiscalizar a ação dos
poderes municipal, estadual e federal na promoção de melhorias para a região, fossem
estradas, escolas, hospitais, postos de profilaxia rural, reformas de ruas, de praças, etc. No
Correio da Lavoura, os “melhoramentos urbanos” foram noticiados e exigidos como
refletores dos benefícios que a atividade de citricultura promovia para o município, devendo,
portanto, o distrito-sede espelhar, por seu status de cidade urbanizada, os frutos desse
desenvolvimento. Nessas operações, a vida social citadina era incentivada por vários
elementos como os bailes, saraus, a imprensa, os grêmios literários, as associações e festas
religiosas, as competições esportivas, os festejos, as solenidades públicas.
Ao acompanhar os avanços, impasses e recuos na adoção de “melhoramentos urbanos”
na paisagem do distrito-sede, o Jornal local também transmitia as reclamações, a continuidade
de problemas surgidos da falta de infraestrutura local, como as doenças, os problemas de
abastecimento de água, de ruas sem calçamento, da precariedade dos transportes, da situação
das escolas. Os mapas de frequência também deixaram pistas do cotidiano das escolas, pelos
motivos alegados pela baixa frequência dos alunos, muitas vezes motivadas por doenças, ou
falta de professoras por falhas de transportes e, ainda, das condições precárias de higiene e de
funcionamento dos prédios.
A propaganda para dotar o município de melhoramentos urbanos e fazer convencer
sobre a importância da citricultura para o município não pode ser reproduzida, pela
historiografia, como a construção de um período áureo na cidade. Esses eram os argumentos
para angariar, cada vez mais, o apoio, inclusive da prefeitura, à atividade de citricultura.
Nota-se um empenho, em setores dos grupos locais, em requerer o apoio do estado
para a atividade da citricultura, desde políticas que favorecessem a exportação e desonerassem
o produto de taxações e impostos, quanto de auxílio financeiro – por créditos, etc. Também
havia demandas pelo apoio técnico de órgãos de fomento, na adoção de maquinário para o
beneficiamento, e por obras de saneamento e conservação das vias de escoamento do produto.
Além dos intelectuais atuantes no Correio da Lavoura, as associações como o Sindicato
Agrícola de Iguaçu, fundado em 1923, e ação de dirigentes desses grupos, como Sebastião
Herculano de Mattos, foram essenciais na defesa dos interesses da atividade, sempre
procurando projetá-la como de interesse de todo o município e atrair a cooperação da
administração municipal.
309
Contudo, mesmo que a escala adotada, de investigar os processos de escolarização
pela posição de análise do distrito-sede, tenha enfatizado o papel da citricultura em detrimento
do que ocorria em outras paragens do município, mobilizadas pelos loteamentos, não significa
que não houvesse divergências e conflitos políticos entre os grupos vinculados à citricultura
no distrito-sede. Além das disputas que rivalizaram dirigentes políticos por ocasião da
introdução do regime de prefeituras pelo governo estadual, os embates decorrentes do
processo de mudanças de governo instaurado com a Revolução de 1930 também fomentaram
estas divergências entre os grupos políticos locais, e, novamente, com a intervenção do
governo estadual, sob o regime de interventoria.
Indicado por influência de Manoel Duarte à prefeitura, Sebastião de Arruda Negreiros
precisou enfrentar e desmobilizar a resistência, no município, dos setores que preferiam
Getúlio de Moura. Ao realizar uma administração de amplas intervenções no espaço do
município, o prefeito apoiou os defensores da lavoura. Esta aliança pela promoção da
citricultura como atividade que distinguia a Nova Iguaçu ganhou maior visibilidade em 1931,
quando o chefe do Governo Provisório, Getúlio Vargas, visitou a cidade por ocasião do
aniversário de 40 anos da transformação do arraial de Maxambomba em sede do município.
Toda a programação do evento vinculou o progresso da localidade, que, materializado em
novas estradas, no hospital a ser construído, na inauguração da packing-house, acenava para a
responsabilização da citricultura como motor do progresso local.
Em contrapartida, a visita de Vargas também representava, mesmo após a crise da
República Oligárquica, que caberia ainda à agricultura uma função importante, embora
diferente do período anterior, no equilíbrio da economia nacional e na acumulação de divisas
para os investimentos na industrialização do país. Nas correlações de força que seriam
redefinidas a partir de 1930, Nova Iguaçu buscava assegurar um lugar relevante para a
agricultura no cenário estadual e nacional.
Nesse sentido é que também se compreende o conjunto de ações que permeou os
festejos pelo centenário da fundação da vila de Iguaçu, em 1933. Nas operações ali
mobilizadas, a citricultura foi projetada como alicerce de um futuro promissor para o
município, renascido, depois de um período de decadência, em sua “vocação agrícola”. As
comemorações que ocorreram no distrito-sede e a produção de uma memória e uma história
da Vila de Iguaçu, desde fotografias até livros encomendados, projetaram a citricultura como
fator de progresso no município. Tanto o rural quanto o urbano, nas comemorações do
centenário, convergiam como paisagens revestidas do caráter do progresso, a partir de uma
ordem racionalizadora que se tentou impingir tanto às paisagens rurais quanto urbanas, pelas
310
reformas em infraestrutura, pelo saneamento, por novas técnicas de cultivo e beneficiamento,
e por dotar o distrito-sede de ícones da urbanização, como o hospital, o grupo escolar, novas
estradas, iluminação elétrica etc., entre outros equipamentos urbanos. As escolas do
município, fotografadas sob encomenda da prefeitura, participavam desta aferição simbólica
do progresso atingido pelo município.
No estado do Rio de Janeiro e no horizonte da política econômica adotada no pós-
1930, a agricultura foi mantida como condição para o soerguimento econômico do estado.
Neste sentido, interessa ressaltar como os debates sobre ruralismo e instrução foram inscritos
na política educacional do estado. Rubens Falcão, que exerceu o cargo de direção do
Departamento de Educação entre 1942 e 1945, mas que da agência já participava como chefe
de gabinete desde 1938, destacou como o tema da educação das populações rurais teve
destaque nas políticas adotadas. No panorama das políticas nacionais de educação, a educação
rural também foi considerada nos projetos de integração da nação. No estado do Rio de
Janeiro as escolas típicas rurais e as missões culturais integraram as políticas de ordenação
social do campo pela escolarização e de fomento da atividade agropastoril na economia do
estado.
O exame das escolas típicas rurais criadas em Iguaçu, implicou em conhecer os
objetivos dessas instituições na forma como foram concebidas na política educacional do
estado do Rio de Janeiro no pós-1930. Mantinham-se no horizonte do projeto das escolas
típicas rurais os princípios de, através da escolarização, introduzir novas práticas de trabalho e
de concepções de mundo junto às populações rurais que colaborassem para a reordenação do
mundo rural. Mas a investigação evidenciou, também, as tensões que marcaram as tentativas
de escolarizar o trabalhador e o trabalho agrícola, a permanência de falta de estrutura nas
escolas e a frequência dificultada tanto pelas doenças que assolavam a região quanto pela
condição dos alunos trabalharem com os pais. As dificuldades de implantar a instrução
agrícola nas escolas típicas em Iguaçu, devido à resistência dos alunos em frequentarem
aquelas aulas, sinalizam para as contradições inerentes ao processo de capitalização do
campo, a permanência e a necessidade de manutenção de formas de socialização da infância
pelo trabalho.
No cenário urbano do distrito-sede, as funções sociais da escola enquanto
organizadora da cultura encontravam um ambiente favorável de expansão, tanto junto aos
alunos quanto na encenação, para a população, de novos códigos de comportamento e visões
de mundo. A participação das escolas na vida pública da cidade, ocupando e constituindo este
espaço nas solenidades, festas cívicas e paradas escolares alinhava a escola às expectativas de
311
construção da nacionalidade e configuração de um exercício de cidadania que pretendia
incutir uma submissão devotada aos interesses nacionais, à pátria revestida de caráter sagrado
e materializada no culto ao chefe do poder federal. Dialeticamente, ainda que de maneira
ensaiada e condicionada, a infância e juventude, por meio da escolarização, eram chamadas a
participar de experiências de formação política.
Os registros de eventos realizados em escolas, pelas escolas, ou com a participação das
escolas, existiam em Iguaçu desde os anos de 1910. Ao transformar em solenidades e
teatralizar atos da vida escolar, como os exames finais e a exposição de trabalhos, ao
promover as festas do dia da árvore e da bandeira, a escola operava uma valorização, plantava
um lugar de relevância de suas atividades no ambiente em que estavam localizadas,
inscrevendo a escolarização na vida do lugar. Ao conferir prêmios e aplausos aos alunos e
professores, promovia-se a valorização da cultura letrada, da progressão dos estudos e de
aspectos da vida cívica.
O que foi possível diferenciar, no pós-1930, é que os motivos nacionais, inscritos e
aumentados no calendário, sobretudo no Estado Novo, foram transbordando para a vida
pública, tornando-se sempre mais frequentes e compondo as festas cívicas em festas
escolares. Os estudantes e seus professores tornavam-se, em suas encenações de cantos, hinos,
discursos e marchas, o depósito do futuro que se almejava construir, o avesso do Jeca-tatu
(previamente forjado) que se tentava conformar, pela saúde e instrução, aos projetos
autoritários de hegemonia em curso. Para estes eventos concorriam tanto as circulares
baixadas pelas agências de governo, que buscavam incutir no cotidiano das escolas estas
festividades, quanto os convites dirigidos às escolas oriundos dos dirigentes locais, para
participação em eventos promovidos na cidade. Interesses locais e nacionais forjavam essas
experiências em que a escola disseminava e espelhava modelos de cidadania que se buscava
incutir na população.
Na “variação de escalas” adotada como recurso metodológico nesta pesquisa,
diferentes contextos se apresentaram na construção da Nova Iguaçu, e foi necessário trabalhar
com a interação da escala local com o governo estadual e federal, em diferentes momentos,
para situar os movimentos, as alianças e os impasses que iam configurando os rumos
impressos aos usos do território no distrito-sede, assim como das competências em matéria de
organização da rede de escolas.
As funções do processo de escolarização impregnavam os formatos e os conteúdos que
se buscava introduzir nas escolas, os argumentos que sustentavam a criação, manutenção e
expansão das mesmas como “vacina”, como solução para problemas econômicos, de
312
superação do atraso e de formação e conformação da classe trabalhadora aos projetos de
sociedade em curso.
Ao se examinar a educação em sentido amplo e seus vínculos com os projetos de
hegemonia sobre a sociedade, notamos que as escolas figuravam ao lado dos temas do
saneamento, da higiene, da citricultura e dos equipamentos urbanos como aspectos da
racionalização do espaço e de seus usos e do emprego das pessoas, da construção, enfim, da
Nova Iguaçu. Nesse sentido, cabe pensar a expansão da escola primária, as tentativas de
escolarização do mundo do trabalho pela instrução agrícola, a reconfiguração da paisagem
urbana sob maior controle, a ampliação progressiva da gerência do poder público sobre o
espaço (tanto em aspectos da estética da cidade ou dos usos do espaço público, como o código
de posturas, as solenidades promovidas e os modos de comportamento previstos), e os
motivos, que as escolas, bem ensaiadas, buscavam exemplificar para a população, como
momentos da construção da Nova Iguaçu e dos processos de escolarização daquela sociedade.
Mas é fundamental distinguir os movimentos pela construção da Nova Iguaçu para
aproximá-la e fazer convencer de padrões de progresso conquistados pela citricultura, da
permanência da precariedade e dos problemas na região. Mesmo estando entre os municípios
com o maior número de escolas no estado, a expansão da rede escolar ocorreu no formato de
escolas isoladas. Ademais, esta progressão deve ter sido insuficiente, posto que houve
crescimento vertiginoso, no período, da população em Iguaçu.
Ao investigar os processos de escolarização no município foi possível notar que as
relações importantes entre educação e hegemonia se constroem em processos encarnados em
sujeitos, em projetos e em espaços, e que os projetos em disputa sobre os usos destes espaços
incidem sobre os projetos de escolarização. Os vértices do rural e do urbano, da agricultura e
da urbanização, se fizeram presentes nos rumos que se procurou imprimir à instrução no local,
incidiram sobre os modos como se articularam os projetos de poder, de disseminação de
visões de mundo, da construção do consenso ativo dos dominados, na construção de uma
plataforma de dominação que estava ancorada em interesses de ordem econômica, política e
social. As contradições entre o novo e o arcaico ressaltam neste processo histórico, posto que
a construção da Nova Iguaçu, conduzida, no distrito-sede, pelos setores ligados à produção e
ao comércio das laranjas, guardava relações com a manutenção de arcaicas relações de poder,
na recomposição de relações de forças para a manutenção dos interesses de setores agrários
em face dos novos contextos republicanos e da consolidação do capitalismo no país.
313
Referências a) Acervos Documentais
Sistema de Informações do Congresso Nacional (SICON).
Disponível em: http://www6.senado.gov.br/sicon/PreparaPesquisa.action;
Mensagens dos Presidentes de Província do Estado do Rio de Janeiro (1919-1930).
Disponível em: http://www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial/rio_de_janeiro.
Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ).
Biblioteca da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
Biblioteca Estadual, Niterói.
Centro de Memória Fluminense (UFF).
Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu (IHGNI).
Instituto de Pesquisas Históricas e Análises Sociais da Baixada Fluminense (IPAHB).
Acervo Privado Professor Paulo de Tarso, Nova Iguaçu.
Acervo Privado da Secretaria do Colégio Leopoldo, Nova Iguaçu.
Acervo Privado Marcus Monteiro, Nilópolis.
b) Fontes citadas do jornal Correio da Lavoura:
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823. 22 dez. 1932.
1ª FEIRA DE AMOSTRAS DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano XVI, n.799, 07
jul 1932.
2ª ESCOLA MISTA. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano XIX, n.976, 05 dez 1935.
7 DE SETEMBRO. COMO A GRANDE DATA FOI COMMEMORADA NESTA CIDADE. Correio
da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano III, n.130, 11 set 1919.
13 ANNOS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIV, n.679, 22 mar 1930.
A ACÇÃO DO PREFEITO DE NOVA IGUASSÚ, Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano IV, n.
157, 22 mar. 1920.
A BOA SEMENTE. Dr. Dias Martins, Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano I, n. 1, 22 mar 1917.
A CANDIDATURA DE GETÚLIO DE MOURA DESPERTA GRANDE ENTUSIASMO. Correio
da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIV, n. 709, 16 out. 1930.
A CONDUTA DA CAMARA MUNICIPAL. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano III, n.142, 11
dez. 1919.
A CRIAÇÃO DA PREFEITURA DE NOVA IGUASSÚ. A INSTALLAÇÃO DA REDE DE
ESGOTOS DESTA CIDADE. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano III, n.142, p.1, 04 dez. 1919.
A CRIAÇÃO DA PREFEITURA DE NOVA IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano III,
n.143, 11 dez 1919.
A FESTA DA ARVORE. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.499, 07 out 1926.
A FESTA DA BANDEIRA, Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VII, n.349, 22 nov 1923.
314
A FESTA DA BANDEIRA NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE ANCHIETA. Correio da Lavoura,
Nova Iguaçu, Ano I, n.37, 29 nov 1917.
A IDEIA DE PATRIA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano I, n.25, 06 set 1917.
A INSTRUCÇÃO AGRICOLA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XII, n.600, 13 set 1928.
A LAPIS – O ANNIVERSARIO DO CORREIO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.471,
22 mar 1926.
A NOSSA CIDADE E O SEU ESTADO DE DECADÊNCIA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu,
Ano VII, n.358, 1º jan 1924.
A NOSSA INSTRUÇÃO PÚBLICA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VII, n.363. 28 fev
1924.
A NOSSA CIDADE. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XI, n.466, 18 fev 1926.
A NECESSIDADE DE UM HOSPITAL EM NOVA IGUASSÚ. UM APPELLO AO POVO. Correio
da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VI, n.292, 19 out 1922.
A PEDIDOS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano III, n.121, 10 jul 1919.
A POSSE DA NOVA CAMARA MUNICIPAL DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Ano VI, n.310,
22 mar 1933.
A POSSE DO NOVO PREFEITO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VIII, n. 379, 19 jun.
1924.
A VISITA DO DR. GETÚLIO VARGAS A NOVA IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu,
Ano XV, n.745, 25 jun. 1931.
ANCHIETA. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano I, n.39, 13 dez 1917.
ANCHIETA. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano I, n.40, 20 dez 1917.
APRENDIZADO AGRÍCOLA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano I, n.44,17 jan 1918.
APRENDIZADO AGRÍCOLA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano I, n.50,28 fev 1918.
A REVOLUÇÃO TRIUNFANTE. A CHEGADA DOS LIBERTADORES. A PASSAGEM DO DR.
GETULIO VARGAS POR ESTA CIDADE E POR NILÓPOLIS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu,
Ano XIV, n. 712, 06 nov. 1930.
AO ELEITORADO DO MUNICIPIO DE IGUASSU. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIII,
n.653, 19 set 1929.
AO SR. INTERVENTOR DO ESTADO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VII, n.324, 31 mai
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AS COMPETIÇÕES MUNDIAIS EM TORNO DA AGRICULTURA, Correio da Lavoura, Nova
Iguaçu, Ano XV, n.736, 23 abr 1931.
AS NOSSAS MAIORES NECESSIDADES, Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VII, n.319, 26
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EDMUNDO MACEDO DE SOARES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XXXI, n.1.592, 21
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CAP. ALFREDO JARDIM. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XV, n.761. 15 out 1931.
315
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CHRONICA. Alfredo Jardim. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano IV, n.182, 09 set 1920.
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COM A INSTRUÇÃO LOCAL. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VII, n.363, 28 fev 1924.
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COMITÊ DE PROPAGANDA PRÓ-LAVOURA, Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano I, n.37, 29
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CONCURSO DE PROFESSORES, Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIV, n.727, 19 fev 1931.
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CORREIO DA LAVOURA, Ano IV, n.194, 02 dez 1920.
CORREIO DA LAVOURA, Ano V, n.212, 07 abr 1921.
CORREIO DA LAVOURA, Nova Iguaçu, Ano VII, n.358, 24 jan 1924.
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CUIDEMOS DO NOSSO HOSPITAL. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.486, 08 jul
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CUIDEMOS DO NOSSO HOSPITAL. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.487, 15 jul
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DESPERTAR DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XX, n.991, 22 mar 1936.
316
DIA DA LARANJA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XXXI, n.1.593, 28 set 1947.
DIA DA PÁTRIA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XXIII, n.1.173, 14 set 1939.
DOIS MELHORAMENTOS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VII, n.358, 1º jan 1924.
ECOS DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIII, n. 656, 10 out.
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ENCERRAMENTO DAS AULAS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XII, n.615, 20 dez 1928.
ENSINO AGRICOLA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VI, n.262, 22 mar 1922.
ENSINO AGRICOLA PRATICO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XVI, n.803, 28 ago 1932.
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ENSINO PRIMÁRIO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano IV, n.194, 02 dez 1920.
ENTRAVES A PROPAGANDA AGRICOLA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VI, n.275, 22
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ESCOLA MUNICIPAL MAJOR SOUZA ANTUNES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIX,
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ESTRADAS DE RODAGEM. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano I, n.50, 28 fev 1928.
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