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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMÁLIA DIAS ENTRE LARANJAS E LETRAS: PROCESSOS DE ESCOLARIZAÇÃO NO DISTRITO-SEDE DE NOVA IGUAÇU (1916-1950) ORIENTADORA: CLÁUDIA ALVES COORIENTADOR: OSMAR FÁVERO NITERÓI 2012

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PROGRAMA DE PÓS … · jornadas, na minha escolarização. Para tia Birina e tia Ada, pelas muitas acolhidas em suas casas. Para os padrinhos-professores

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

AMÁLIA DIAS

ENTRE LARANJAS E LETRAS: PROCESSOS DE ESCOLARIZAÇÃO NO

DISTRITO-SEDE DE NOVA IGUAÇU (1916-1950)

ORIENTADORA: CLÁUDIA ALVES

COORIENTADOR: OSMAR FÁVERO

NITERÓI

2012

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Entre laranjas e letras: processos de escolarização no distrito-sede de Nova

Iguaçu (1916-1950) Amália Dias

Tese de doutorado apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Educação da Universidade

Federal Fluminense – UFF, como requisito

parcial à obtenção do grau de doutor em

Educação.

Orientadora: Profª Drª Claudia Alves (UFF)

Coorientador: Osmar Fávero

Niterói, 2012

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Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá

D541 Dias, Amália.

Entre laranjas e letras: processos de escolarização no distrito-sede de

Nova Iguaçu (1916-1950) / Amália Dias. – 2012.

338 f. ; il.

Orientador: Claudia Alves.

Co-orientador: Osmar Fávero.

Tese (Doutorado) – Universidade Federal Fluminense, Faculdade de

Educação, 2012.

Bibliografia: f. 313-337.

1. Escolarização. 2. Nova Iguaçu (RJ). 3. Citricultura. I. Alves,

Claudia. II. Universidade Federal Fluminense. Faculdade de Educação.

III. Título.

CDD 370.98153

1. 371.010981

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Agradecimentos

Pensar em agradecer é pensar na trajetória da pesquisa. Ou, ainda, lembrar percursos

anteriores que colaboraram para o ponto de chegada. A tentativa e a honestidade de

reconhecer instituições, funcionários e professores, concorrem com o apelo afetivo de lançar

as âncoras na família, nos amigos e nos colegas conquistados ao longo do trabalho.

O suporte financeiro à pesquisa dispôs do auxílio da agência de fomento CAPES e da

Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ).

O curso realizado no Instituto de Pesquisas Históricas e Análises Sociais da Baixada

Fluminense (IPAHB), sobre a História da Baixada Fluminense, em 2009, foi fundamental

para iniciar o contato com pesquisadores e instituições pertinentes aos estudos sobre a história

local. Agradeço a esta instituição, em especial ao professor Gênesis Torres, pelo zelo em

preservar e abrir à consulta o acervo de documentos e a biblioteca da instituição.

Agradeço ao Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ), nas pessoas do

seu diretor, Prof. Paulo Knauss, e das funcionárias Mariana Nascimento e Patrícia Mello que

me auxiliaram diretamente no trabalho com os mapas de frequência, em 2010.

Ao Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu (IHGNI), nas pessoas de Ney

Alberto Gonçalves de Barros (in memoriam) e de Marcos Paulo Mendes de Araújo, recordo

os incentivos recebidos, o auxílio com a documentação, a confiança depositada no

empréstimo de livros, pastas etc. Foi importante, também, a disponibilidade de Sheila Botelho

em facilitar o acesso à parte da documentação do IHGNI, que estava sob a guarda, naquele

momento, do professor Marcos Paulo.

Do Sr. Robinson de Azeredo, do Correio da Lavoura, recebi a permissão para

pesquisar o acervo desse jornal e a disponibilidade em fornecer a própria redação do jornal

para a consulta e a autorização para a digitalização. Serei sempre grata ao funcionário José

Rocha (in memoriam), que se dispôs a me receber na redação, até mesmo fora dos dias e

horários normais de funcionamento, a fim de que eu agilizasse a coleta de dados. Sem que eu

esperasse, o nosso querido “Reco” separava os livros, trazia café e frutas, montava aparatos

para facilitar a digitalização, segurava os livros, as máquinas, as pilhas, contava histórias do

jornal, tudo com muita gentileza e alegria...

Ao professor Manoel Ricardo Simões agradeço o apoio, tanto por sua própria

produção, quanto pelos mapas por ele elaborados e cedidos para a pesquisa. Ao professor

Mário Luiz Bezerra Feitosa Matheus, pela tradução do resumo da tese. Ao professor Marcio

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Pinon de Oliveira, pelas indicações importantes de leitura e o acompanhamento e interesse no

desenvolvimento desse trabalho. Ao professor Marcus Monteiro, por disponibilizar parte de

seu acervo da Coleção Arruda Negreiros. Ao professor Paulo de Tarso, por autorizar a

pesquisa no acervo da Secretaria do Colégio Leopoldo, em Nova Iguaçu.

Ao Programa de Pós-Graduação em Educação na UFF, agradeço a acolhida renovada,

principalmente na pessoa da orientadora desse trabalho, professora Claudia Alves, por saber

lidar com o que eu era e com o que eu sou, enquanto aluna e pessoa, ao longo de seis anos de

convivência. Pela leitura atenta, pelas longas conversas, pelos silêncios pacientes, pelas

intervenções sábias, pelos questionamentos deliberadamente instigantes, pela paz

pacientemente preservada, pelo respeito e confiança mutuamente cultivados.

Para Osmar Fávero, coorientador da pesquisa, meus agradecimentos pela disposição

incondicional em ajudar, por compartilhar comigo e com todos os seus alunos sua experiência

de vida, suas aulas e sua disposição em revisar as últimas versões deste trabalho. Agradeço-o

por tornar a vida acadêmica mais digna, mais fraterna, mais bela e por tornar, também, as

minhas estantes mais cheias de livros...

Sou bastante agradecida, também, aos professores Álvaro Pereira do Nascimento,

Sonia Regina de Mendonça, Luciano Mendes de Faria Filho e Alessandra Frota Martinez de

Schueler pela participação atenciosa no exame final do trabalho. Luciano Mendes e

Alessandra de Schueler participaram, também, do exame de qualificação.

Muito trabalho e horas de isolamento. Isso, de certa forma, já requer companheirismo

e resignação dos amigos e da família, já é contar com o apoio daqueles que, compreendendo

ou não, esperam pelo seu retorno. Pesquisa, portanto, é feita de solidariedade. Aos familiares

e à minha mãe, Glória Virgínia, minha gratidão por todos os esforços depositados, há muitas

jornadas, na minha escolarização. Para tia Birina e tia Ada, pelas muitas acolhidas em suas

casas. Para os padrinhos-professores Geminiana e José Augusto, aqui está, de certa forma, o

resultado de tantos incentivos à leitura, daquelas cartas divertidas enviadas quando eu era

criança, pelos livros trazidos, pelas histórias contadas.

Para Nilson, Iolanda, Djanira, Anderson, Graziela, Ana Lúcia, D. Isabel e seu Nilton,

meu carinho por terem ampliado meu universo familiar de modo mais alegre.

Aos novos amigos encontrados na jornada, Rubens Machado e Carlos Costa, agradeço

os textos prontamente disponibilizados. Para Angélica Borges, Alexandra Lima, Cíntia

Almeida, Gisele Teixeira, Jordânia Guedes, Juliana Vidal, Marcelo Gomes. Para Alessandra

Nicodemos, Diego Ferreira, Edinaldo Medeiros, Helô Strega, Lídia Ferreira, Márcia Cristina,

Mônica Ribeiro, Paulo Bretas, Roberto Marques, Rosana Lopis, Virgínia Schindhelm, Vitor

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Fraga, Yolanda Rodriguez. Para Beatriz Costa, Deise Arenhart, Licia Hauer, Manna Nunes,

Milena Candiá, Zuleide Silveira, Rubia-Mar Pinto Nunes. Para estes amigos dos congressos e

das disciplinas cursadas na UERJ e na UFF, meu carinho pela companhia, pelas dúvidas,

frustrações e descobertas descortinadas nos seminários e nas confraternizações, nas caronas,

nas aulas, nas leituras, nos e-mails, na vida. Pela troca e pela soma e, também, por tudo que

foi dividido.

Aos amigos reunidos a partir da graduação em História da UFRJ, agora enlaçados sob

o singelo apelido de “crème de la crème”: Adriano, Aline, Ana Paula, Beto, Douglas,

Eleomar, Marcos, Rafael, Ricardo, Sérgio Henrique, Valéria, eu preciso repetir, vocês são o

que há!!! Para Anita Leocadia Prestes e Márcia dos Passos Neves, pelos ensinamentos

envoltos em amizade e exemplo.

Enfim, mas sem significar menor importância, ao contrário, consagro a Ilton Telles a

gratidão pelo amor devotado, pela lealdade e por todas as caronas, lado a lado, nessa e em

tantas empreitadas, pelas quais, juntos, conduzimos os nossos desejos e compromissos,

sonhos e missões, impasses e superações. Assumindo todos os limites e responsabilidades

desta pesquisa, mas também por reconhecer nela os meus melhores esforços, dedico a você

este trabalho, com amor.

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Resumo

Entre laranjas e letras: processos de escolarização no distrito-sede de Nova Iguaçu

(1916-1950). Orientadora: Cláudia Alves. Coorientador: Osmar Fávero. 29/08/2012. Tese

(Doutorado em Educação). Campo de Confluência: Diversidade, Desigualdades Sociais e

Educação; Linha de Pesquisa : História Social da Educação.338 páginas.

A pesquisa tomou como objeto os processos de escolarização no distrito-sede de Nova

Iguaçu, município do estado do Rio de Janeiro. O marco inicial demarca a mudança do nome

da cidade de Maxambomba, sede do município desde 1891, para Nova Iguaçu. O período foi

marcado por mudanças econômicas e sociais devido ao desenvolvimento das atividades de

cultivo e comercialização de laranjas. Os grupos vinculados à atividade procuraram reordenar

os usos do território em função da citricultura, que se tornou o principal eixo estruturante da

economia local, ocupando também importância na economia estadual.

A construção do lugar da cidade no distrito-sede deu-se em permanente interação com as

zonas rurais, em função da citricultura. Esta imbricação entre rural e urbano, que se

identificou ao delimitar o distrito-sede como posição de análise, semeou a problemática de

pesquisa e permitiu a construção de uma escala de observação diferenciada. Apresentamos

alguns modos pelos quais a instrução escolar permeou as estratégias e as disputas na

construção de Nova Iguaçu, e, dialeticamente, como as especificidades desta localidade

impregnaram as funções atribuídas à educação e as experiências de escolarização no

município.

A questão central concentrou-se em investigar o desenvolvimento diversificado de níveis de

ensino na região, que vivia, fundamentalmente, da citricultura. Buscou-se identificar as forças

atuantes na sociedade e suas formas de participação, adesão ou resistência na organização de

escolas. Deste modo, foram recuperados os projetos, as concepções e conflitos a respeito das

funções sociais e econômicas da escolarização, nos grupos da própria região, analisados na

teia de relações que se estendiam aos planos estadual e nacional.

Sustenta-se que a compreensão dos diferentes movimentos de gestação da Nova Iguaçu

precisa considerar as funções que se buscou conferir aos processos de escolarização na

constituição da região, tanto na formação das paisagens quanto na organização das funções

rurais e urbanas do distrito-sede.

Na proposta de pesquisa adotada, o exame dos processos de escolarização implica conhecer

os processos e políticas que engendram a constituição de uma rede de escolas, as funções

sociais e a ação da escola enquanto organizadora da cultura no seu entorno, num raio de ação

que transborda as relações escolares para outros setores da vida social.

A partir da articulação entre o princípio da “variação de escalas” apresentado por Jaques

Revel e o referencial sobre os processos de escolarização proposto por Luciano Faria Filho,

entende-se que adotar o regional como escala analítica e epistemológica e investigar o

fenômeno da escolarização é, também, refletir sobre como estrutura e processo se articulam

na história. Esta posição de análise resultou numa composição de tipos documentais

diferentes, conforme a operação historiográfica realizada na delimitação do objeto: imprensa,

legislação, fotografias e mapas escolares foram as principais fontes utilizadas.

Palavras-chave: processos de escolarização; Nova Iguaçu; citricultura;

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Abstract

Between oranges and letters: schooling processes in the headquarters district1 of Nova

Iguaçu

The current research has as its object the schooling processes in the headquarters district of

Nova Iguaçu, a city in Rio de Janeiro state. The starting point marks the change of the name

of the city from Maxambomba, headquarters of the city since 1891, to Nova Iguaçu. It’s a

period of social and economic changes due to the development of activities related to the

cultivation, processing and marketing of oranges. The groups involved in the activity tried to

rearrange the occupation of the territory which was conditioned to the citriculture activity that

became the main axis of Iguaçu’s local economy, in addition to having a relevant role in the

state economy.

The establishment of the area of the city in the headquarters district was settled in permanent

interaction with the rural areas, submitted to the citriculture development. This imbrication

between rural and urban, that was identified when the headquarters district was delimitated as

the point of analysis, prompted the research question and permitted the elaboration of a

distinct scale of observation. This paper presented some manners in which the schooling

instruction permeated the strategies and disputes involved in the establishment of Nova

Iguaçu, and, dialectically, how the peculiarities of this location impregnated the social

functions attributed to education and schooling experiences in the city.

The central question focused on investigating the development of diverse school levels in the

region which fundamentally lived on citriculture. We attempted to identify the active forces in

society and their ways of participation, adherence or resistance in the process of organizing

schools. By this way, we recovered the projects, concepts and conflicts concerning the social

and economic functions of schooling among the groups located in the region, which were

analyzed in the net of relations that reached the state and national plans.

It’s supported that to comprehend different movements of Nova Iguaçu’s gestation we need to

consider the functions attributed to education in the constitution of the region, both in the

landscape formation and in the organization of the rural and urban functions of the

headquarters district.

In the research proposal adopted, it was considered that examining the schooling processes

involves understanding the processes and policies that take part in the constitution of a chain

of schools, their social functions and role as a cultural organizer in its surrounding area, in a

radius of action that surpasses school relations to other sectors of social life.

From the articulation between the principle of “scale variation” presented by Jacques Revel

and referential about schooling processes proposed by Luciano Faria Filho, it’s understood

that adopting the regional one as analytic and epistemological scale and investigating the

phenomena of schooling is also a way of reflecting about how the structure and process are

articulated in history. This analysis position resulted in an array of different sorts of

documents, according to the historiographical operation promoted in the object’s delimitation:

press, legislation, photographs and school maps were the main sources used.

Key words: Nova Iguaçu, schooling, education, historiography.

1 The main district of a region

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Lista de Figuras

Figura 1 Mapa de limites atuais do município de Iguaçu e limites de 1932. ........................... 24 Figura 2 Mapa do município de Nova Iguaçu, 1948. ............................................................... 24 Figura 3 Aspecto da Carta do estado do Rio de Janeiro. Maxambomba e Distrito Federal,

1893. ......................................................................................................................................... 41 Figura 4 Fotografia da vista parcial de Nova Iguaçu, distrito-sede do município, 1919.......... 54

Figura 5 Fotografia da vista parcial de Nova Iguaçu, distrito-sede do município, 1932.......... 54 Figura 6 Fotografia da vista parcial do distrito-sede, 1940. ..................................................... 55 Figura 7 Mapa da Divisão territorial após as emancipações – 1947. ....................................... 57

Figura 8 Fotografia do Grupo Escolar Rangel Pestana. ......................................................... 122 Figura 9 Fotografia do Grupo Escolar Rangel Pestana. ......................................................... 123 Figura 10 Fotografia do Grupo Escolar Rangel Pestana. ....................................................... 123 Figura 11 Fotografia da Escola Barão de Mesquita. .............................................................. 124

Figura 12 Fotografia da Escola mista nº 5. ............................................................................. 125 Figura 13 Fotografia da Escola Coronel França Soares. ........................................................ 125

Figura 14 Fotografia da Escola mista nº 34. ........................................................................... 126 Figura 15 Fotografia da Escola mista nº 33. ........................................................................... 127 Figura 16 Fotografia da Escola mista nº9. .............................................................................. 127

Figura 17 Fotografia da Escola feminina nº 10. ..................................................................... 128

Figura 18 Fotografia da Escola mista nº 8 – Primeiro Turno. ................................................ 129 Figura 19 Fotografia da Escola mista nº 8 – Segundo Turno. ................................................ 130 Figura 20 Fotografia da Escola mista nº 3 – Primeiro Turno. ................................................ 131

Figura 21 Fotografia da Escola mista nº 3 – Segundo Turno. ................................................ 131 Figura 22 Fotografia da Escola Noturna nº 2. ........................................................................ 133

Figura 23 Crescimento da Ocupação urbana no 1º distrito de Nova Iguaçu. ......................... 194 Figura 24 Fotografia da Praça Ministro Seabra. Monumento ao Centenário do município. .. 211

Figura 25 Fotografia da Escola mista nº 13 em José Bulhões. ............................................... 224 Figura 26 Fotografia da Escola Dr. Tavares Guerra, em São João de Meriti. ........................ 224 Figura 27 Fotografia da Escola Mista n.16............................................................................. 225 Figura 28 Fotografia da Escola mista n.26, em Vila Rosaly. ................................................. 225 Figura 29 Fotografia da Escola mista n. 31, em São João de Meriti. ..................................... 226

Figura 30 Fotografia da Escola mista n. 31, em São João de Meriti. ..................................... 227

Figura 31 Fotografia da Escola mista n.31, em São João de Meriti. ...................................... 227

Figura 32 Fotografia da Escola Municipal Andrade de Araújo.............................................. 228 Figura 33 Fotografia da Escola municipal Arruda Negreiros................................................. 229 Figura 34 Fotografia da Estrada do Gimbaú, Serviço Municipal, 1933. ................................ 250 Figura 35 Fotografia da Estrada Plínio Casado, Serviço Municipal, 1933. ........................... 251 Figura 36 Fotografia do calçamento da Rua Getúlio Vargas, Serviço Municipal. ................. 251

Figura 37 Fotografia do lançamento da Pedra Fundamental do hospital de Iguaçu, 1931..... 256 Figura 38 Fotografia do Hospital de Iguassú em construção. ................................................ 257

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Lista de Tabelas

Tabela 1 Distribuição de escolas estaduais no município de Iguaçu, em 1898. ....................... 93 Tabela 2 Distribuição de escolas estaduais no município de Iguaçu, em 1911. ....................... 93 Tabela 3 Distribuição de escolas estaduais no município de Iguaçu, 1925. ............................. 95 Tabela 4 Atribuições de notações quanto à localização e classificação (1929-1949). ............. 99

Tabela 5 População do município de Iguaçu 1940. ................................................................ 100 Tabela 6 Fotografias de escolas do município. Coleção Arruda Negreiros [1932-1933]. ..... 101 Tabela 7 População do município de Iguaçu 1892/1920. ....................................................... 189 Tabela 8 Classificação de 42 notações do Distrito-Sede, por localização e tipo.................... 192 Tabela 9 Comércio e Exportação da Laranja (1941-1945)..................................................... 300

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Lista de Siglas

APERJ Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro

CEPEMHEd Centro de Pesquisa, Memória e História da Educação da Cidade de Duque de

Caxias e Baixada Fluminense

INEP Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos

IHGNI Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu

IPAHB Instituto de Pesquisas Históricas e Análises Sociais da Baixada Fluminense

MAIC Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio

MES Ministério da Educação e Saúde

MESP Ministério da Educação e Saúde Pública

MTIC Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio

SNA Sociedade Nacional de Agricultura

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Sumário

Introdução ................................................................................................................................. 13 Capítulo 1 ................................................................................................................................. 25

Pela Causa da Instrução Agrícola ............................................................................................. 25

Ao correr da pena: lavoura, higiene e instrução ....................................................... 25

Silvino de Azeredo: percursos de formação ......................................................... 26

O Correio da Lavoura e o ruralismo no estado do Rio de Janeiro ........................... 31

Saneando territórios e governos: a instauração da prefeitura em Nova Iguaçu .... 40

A citricultura e o distrito-sede .................................................................................. 49

A Instrução agrícola e a ordenação social do campo ................................................ 57

Pelo “salutar manejo da enxada e do arado”: alfabetização e instrução primária 67

Capítulo 2 ................................................................................................................................. 73 Fazer-se Estado fazendo escolas: experiências de escolarização ............................................. 73

Experiências de construção da escolarização elementar .......................................... 73

Os serviços de inspeção e estatísticas e a administração estadual ............................ 79

A identificação e os critérios de localização das escolas ...................................... 91

Agências e instâncias na oferta do ensino primário .............................................. 98

Escolas isoladas e práticas de seriação: imbricações nas escolas do Distrito-sede 105

O grupo escolar de Nova Iguaçu e as experiências de escola primária .............. 114

Vértices da seriação do ensino: docentes, classes, tempos e espaços escolares ..... 134

Entre aluguéis, reparos e construções: composições de escolas ......................... 143

A presença dos inspetores em Nova Iguaçu e o Departamento de Educação ........ 149

Capítulo 3 ............................................................................................................................... 161 Entre a lavoura e as letras ....................................................................................................... 161

Escolas Típicas Rurais em Nova Iguaçu ................................................................ 164

Escolarizar o rural: o tempo do trabalho e o lugar das letras .............................. 180

Rural e urbano compondo o Distrito-sede, os debates e as políticas de escolarização

............................................................................................................................................ 188

As disputas pelo poder no cenário local ................................................................. 199

O centenário e a “vocação agrícola” de Iguaçu: visões do passado e construções do

moderno .............................................................................................................................. 209

Escolas e estradas: caminhos da modernidade iguaçuana .................................. 218

Sujeitos da escolarização: interrogações............................................................. 230

Capítulo 4 ............................................................................................................................... 238

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“Atenas Fluminense”: fazer-se cidade fazendo escolas, fazer-se escola fazendo a cidade .... 238

Erguendo e educando a Nova Iguaçu: higiene, saneamento e equipamentos urbanos

............................................................................................................................................ 238

A “Maior Campanha”: o Hospital de Iguaçu ...................................................... 252

A campanha pelo Grupo Escolar de Nova Iguaçu .............................................. 261

Educação e política na ação municipal ............................................................... 266

Disputas pela formação da juventude: o ensino secundário ................................... 271

“Bem ensaiados”: cânticos, preleções, ginásticas e desfiles ................................... 275

O “vigor cívico” das escolas nas “artérias” de Nova Iguaçu .............................. 287

Conclusão ............................................................................................................................... 303

Referências ............................................................................................................................. 313

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13

Introdução

Esta pesquisa sobre os processos de escolarização no município de Nova Iguaçu, com

ênfase sobre seu distrito-sede, emerge de um conjunto de percepções acerca da produção em

história da educação sobre o estado do Rio de Janeiro e dos estudos sobre a história da

Baixada Fluminense, região geopolítica onde está situado o município de Nova Iguaçu.2

O volume de pesquisas sobre história da educação no Rio de Janeiro é expressivo,

porém, frequentemente, estes trabalhos se debruçam sobre a sede da administração colonial,

do Império ou sobre o Distrito Federal enquanto capital da República. Como exceção, há

trabalhos acadêmicos sobre instituições escolares ou experiências educacionais em algumas

cidades, como Niterói e Campos. Pouco ainda se conhece em pesquisas históricas sobre este

entorno e sobre o interior do estado, sobre a ação dos governos estaduais e das

municipalidades (SCHUELER, 2010).

Quanto ao conhecimento sobre a história da Baixada Fluminense, é relevante o

trabalho de associações de pessoas interessadas em conhecer e preservar o patrimônio e a

memória da Baixada, como, por exemplo, o Instituto de Pesquisas Históricas e Análises

Sociais da Baixada Fluminense (IPAHB), o Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu

(IHGNI), o Centro de Pesquisa, Memória e História da Educação da Cidade de Duque de

Caxias e Baixada Fluminense (CEPEMHEd), o Centro de Memória de Nova Iguaçu. Existe

uma produção memorialística legada por moradores da região, o empenho em reunir fontes e

relatos da história regional e também uma produção de viés acadêmico e institucional,

crescente nas últimas décadas.

Marcos políticos e econômicos são constantes, em geral, nesta produção, mas são

menos presentes os estudos sobre história dos processos de escolarização na região. Entre as

exceções, pelo que foi levantado, estão os estudos de Jordânia Guedes (2009 a,b; 2012), sobre

a história da educação na Vila de Iguaçu no século XIX, e os estudos sobre a experiência da

Escola Regional de Meriti, ícone da atuação de setores do movimento escolanovista em

Duque de Caxias, a partir dos anos de 1920 (MIGNOT, 2002; PERES, s/d; SANTOS, 2008;

SILVA, 2008).

Pretende-se com esta pesquisa agregar subsídios à historiografia da Baixada

Fluminense e à história da educação do estado do Rio de Janeiro, pois trata-se de deslocar o

2

O distrito-sede foi denominado Nova Iguaçu em 1916 e todo o município foi designado de Nova Iguaçu, em

1938. Ao longo do texto, conforme o período a que se refere, procura-se destacar a denominação em uso, Iguaçu

para o município e Nova Iguaçu para o distrito-sede. Ver, ao fim desta introdução, Figura 1 e Figura 2.

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14

eixo de observação para além da cidade do Rio de Janeiro, e dos marcos políticos e

econômicos da história do município de Nova Iguaçu. Busca-se, também, agregar, às

reflexões sobre escolarização e urbanização, contribuições sobre as relações entre o rural e a

escolarização. Basicamente, trata-se de uma pesquisa sobre a história dos processos de

escolarização em Nova Iguaçu.

O enquadramento de um estudo sobre história da educação em um município suscita

algumas questões teóricas e metodológicas que são relevantes discutir. É pertinente

problematizar a caracterização deste estudo como história regional. As noções de “região” e

“regional” são recorrentemente empregadas para delimitar fronteiras geográficas, culturais e

políticas, estabelecer identidades e distinções entre espaços, sujeitos e práticas sociais

radicadas a um pertencimento. Servem, também, como expediente estruturante das reflexões

sobre o nacional e o local, sobre o país, muitas vezes comparecendo no debate como um

pressuposto, sem serem problematizadas, de forma que se compreende um estudo sobre uma

cidade ou município como de interesse restrito, tendo um caráter específico, enquanto outros

recortes são percebidos como mais abrangentes, quando se fundam em temas nacionais

(FARIA FILHO, 2009).

Longe de ser uma noção a-histórica, Faria Filho alerta para o aspecto polissêmico dos

entendimentos sobre o que vem a ser a região e o regional. Por isto, a noção de região não

deve ser pensada como algo natural, dado, e que será submetido ao estudo e investigação, mas

sim como resultado de uma atribuição de sentidos e características, comportando

intencionalidades políticas e sociais. Luciano Faria Filho defende o uso crítico da noção de

região nas pesquisas em história da educação, como unidade de análise. Propõe pensar qual o

sentido de mobilizar esta noção para o estudo de um objeto:

[...] o que torna possível a realização de uma história regional é a maneira pela qual

eu produzo teórica e metodologicamente o meu objeto de pesquisa. Mas também

aqui, como em todo trabalho historiográfico, o regional será o resultado de minhas

operações, e a pertinência de sua utilização, seja como substantivo, seja como

adjetivo, deve ser demonstrada (Ibidem, p.63-64).

Sob esta ótica procuramos evidenciar, na delimitação do objeto, a compreensão de

Nova Iguaçu para além de um território geográfico circunscrito, mas de um espaço

socialmente construído. Isto significa conhecer a história de constituição desta região, as

dinâmicas econômicas, populacionais, sociais e políticas que configuram este território no

período estudado, o que corresponde, segundo parte da produção da historiografia local, seja

acadêmica ou memorialística, ao período “áureo” da história do município, em função do

desenvolvimento da citricultura. Além de problematizar esta construção sobre a história local,

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buscamos refletir sobre as possibilidades teóricas e metodológicas de analisar os processos de

escolarização a partir do cenário de um município e de notar como os processos de

escolarização constituem e engendram a construção da Nova Iguaçu. Dialeticamente, os

projetos em disputa sobre os usos do território incidem sobre as funções atribuídas aos

processos de escolarização.

O deslocamento do centro administrativo do município, da antiga Vila de Iguassú para

as margens da ferrovia, no arraial de Maxambomba, foi oficializado em 1891. Em 1916, o

novo núcleo administrativo, Maxambomba, foi nomeado Nova Iguassú. Assumimos este

marco e, esta questão, os interesses possivelmente inscritos na mudança do nome, como

baliza dos investimentos de pesquisa.

Mas, em verdade, a delimitação cronológica e espacial não pode deter o olhar do

historiador que precisa estar atento a diversas temporalidades que atravessam seu objeto,

alargando, então, os horizontes de seu observatório. Assim, divisas temporais flexíveis não

devem ser entendidas como busca de “origens” do objeto estudado, mas permitem lembrar

que os recortes são metodologias a que o historiador precisa recorrer e que não

necessariamente correspondem a fronteiras existentes na experiência dos sujeitos e da

história, enquanto totalidade complexa e dinâmica. A periodização da pesquisa expõe os

limites e alcances do que se quer visualizar e por isto, tem estreitas relações com o marco

teórico do trabalho, com os objetivos da pesquisa (NUNES, 2005).

Assim, pelo enquadramento realizado nesta pesquisa, focalizaram-se os processos de

escolarização no município entre o período de deslocamento do centro administrativo da

cidade para Maxambomba, o que criou a Nova Iguaçu (distrito-sede), que foi, também, um

período de transformações econômicas e sociais devido ao desenvolvimento das atividades de

cultivo, beneficiamento e comercialização de laranjas. Nesse período, grupos vinculados à

atividade procuraram reordenar as funções do município, a ocupação e os usos do espaço, em

função da citricultura. A citricultura foi o principal eixo estruturante da economia no

município de Iguaçu entre as décadas de 1920 e 1940, sobretudo no distrito-sede.

Luciano Mendes de Faria Filho propõe a utilização do regional na história da

educação, como posição de análise: pensar a região como lugar epistemológico, isto é, o uso

da noção de regional como escala analítica:

[...] o regional seria uma das maneiras pelas quais eu busco entender e dar

inteligibilidade a objetos que, em outras escalas e de acordo com minhas pretensões

(ou possibilidades), não dariam o resultado que espero alcançar. A pretensão não

seria de circunscrever um objeto a uma região e mostrar a forma como ele se realiza

ali, em sua particularidade, mas qual inteligibilidade é possível produzir para aquele

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fenômeno quando me disponho a ‘observá-lo’ de determinada posição, ou escala,

em sua universalidade (FARIA FILHO, 2009, p.65).

Por isto, neste trabalho, a investigação sobre os processos de escolarização no

município de Nova Iguaçu não é apenas uma escolha temática, mas pretende-se explorar as

possibilidades teóricas e metodológicas que aparecem quando um município é demarcado

como escala analítica. Opera-se ainda um segundo enquadramento quando, dentro do

município, a pesquisa procurará enfocar a análise a partir do distrito-sede, que é a cidade de

Nova Iguaçu. No município de Iguaçu, o distrito-sede se construiu como cidade em

permanente interação com as zonas rurais do município, em função do desenvolvimento da

citricultura. Esta imbricação entre rural e urbano, que se identifica ao delimitar o distrito-sede

como posição de análise, semeia a problemática de pesquisa.

A questão central é investigar por que e como ocorria o desenvolvimento diversificado

de níveis de ensino na região do município que vivia, fundamentalmente, de atividades de

cultivo e de beneficiamento de laranjas para exportação. Estas confluências entre os temas da

escolarização, do urbano e do rural no distrito-sede, permitem construir uma escala de

observação singular e diferenciada, posto que na historiografia da educação há um acúmulo

maior de reflexões sobre as relações entre escola e cidade. A partir do município de Nova

Iguaçu como posição de análise, com ênfase no distrito-sede, o que é possível conhecer sobre

a história dos processos de escolarização? Naquele contexto histórico, por que meios e

motivos se procurava inscrever a instrução na vida do município, sendo este movimento

incentivado por diversos grupos sociais na cidade?

O objetivo geral consiste em identificar as forças atuantes na sociedade e suas formas

de participação, adesão ou resistência na organização de escolas no município de Nova

Iguaçu, entre os anos de 1916-1950. Na proposta de pesquisa adotada, foi considerado que

examinar os processos de escolarização implica conhecer os processos e políticas que

engendram a constituição de uma rede de escolas, as funções sociais atribuídas à escola, além

de pensar a escola enquanto organizadora da cultura no seu entorno, num raio de ação que

transborda as relações escolares para outros setores da vida social, de como a instituição se

instrumentaliza para tal, e as tensões desse processo (FARIA FILHO; BERTUCCI, 2009,

p.14). Pela investigação das funções sociais que eram atribuídas à escolarização da sociedade

para a organização da cultura e dos comportamentos sociais, pretende-se conhecer os projetos

dos grupos sociais que disputavam imprimir seus interesses na condução da sociedade

iguaçuana.

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A educação é arena de disputas em razão de sua importância como lócus de

disseminação de ideias e práticas. É uma trincheira de embates pela adesão às concepções de

mundo que os diferentes grupos interessados na direção da sociedade buscavam arregimentar

(BUTTIGIEG, 2003, p.47). A atuação destes grupos no interior das agências de poder local e

nas formas de associação presentes na sociedade civil remete à tese do Estado Ampliado de

Antonio Gramsci (2002; 2007). Compreender o Estado como uma correlação de forças, como

resultado de disputas entre projetos de poder diferentes, implica atentar para como as

iniciativas no âmbito educacional são perpassadas por contradições, confrontos e negociações.

Sob este referencial, a educação é compreendida em sentido amplo, tanto nas expectativas

depositadas sobre a instrução escolar como modo privilegiado de socialização e de

disseminação de novos códigos e práticas de sociabilidade nas sociedades capitalistas, quanto

na compreensão de que os projetos de poder, movidos por sujeitos coletivamente organizados,

são projetos que buscam impor, por operações de hegemonia, suas concepções de mundo

sobre o conjunto social.

Nesta medida, há que se considerar que o período em foco foi relevante na divulgação

de um consenso sobre a importância da difusão da educação para inserir o país na marcha do

“progresso” econômico e das sociedades “civilizadas”. Podem esses contextos explicar as

experiências e ações em instrução promovidas em Nova Iguaçu? Como as discussões sobre a

construção da nação, relembradas pela República, rediscutidas na década de 1920 e que

encontraram uma forma específica nos grupos que chegaram ao poder no pós-1930 incidiram

sobre o estado do Rio de Janeiro, especialmente no município de Iguaçu?

Pode-se explicar como o município de Nova Iguaçu desenvolveu os níveis de ensino,

uma rede de escolas que é significativa no cenário estadual nos anos de 1940? Que tipos de

escolas a sociedade iguaçuana conheceu, que projetos de escolarização procurou implementar,

e que tipo de sociedade estas escolas almejaram a produzir? Quais as funções da escolarização

para aquela sociedade?

Nesse sentido, pensar a história da educação e a história regional envolve refletir sobre

as conexões entre o local e o global, o particular e o geral, a parte e o todo, de forma que se

trata mais de uma postura metodológica do que um recorte temático. Observa-se que esse

mote de questões esteve presente nos estudos produzidos sob o viés da micro-história.

Ainda que não possa ser concebida como um movimento unificado, como uma escola

historiográfica, a experiência da micro-história possibilitou o questionamento e revisão de

cânones da prática historiográfica. Ao aprofundar o diálogo com o campo da historiografia

social inglesa e com a antropologia, a micro-história recolocou a compreensão das relações

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entre indivíduo e estrutura no processo histórico. Retomou a importância da cultura como

dimensão importante para a compreensão do social, permitindo rever as ênfases no

econômico, no político, nas estruturas e conjunturas e reconsiderando a experiência vivida

pelos atores sociais. Em geral, os estudos de micro-história “reduziram” a escala de

observação, privilegiando novos atores sociais, novas periodizações e temas, assim como

novas metodologias e fontes de pesquisa, o que contribuiu para revisão do significado e da

importância dos estudos de história local e regional. Porém, na perspectiva defendida por

Revel, este exercício ocorria:

Não para ceder novamente à vertigem do individual, quando não do excepcional,

mas com a convicção de que essas vidas minúsculas também participam, à sua

maneira, da ‘grande’ história da qual elas dão uma versão diferente, distinta,

complexa. O problema aqui não é tanto opor um alto e um baixo, os grandes e os

pequenos, e sim reconhecer que uma realidade social não é a mesma dependendo do

nível de análise (REVEL, 1998, p.12-13).

Interessa aqui a proposição epistemológica de “variação de escalas” proposta por

Revel, a fim de pensar as relações entre história da educação e história “regional”, posto que:

[...] a escolha de uma escala de observação produz efeitos de conhecimento, e pode

ser posta a serviço de estratégias de conhecimentos. Variar a objetiva não significa

apenas aumentar (ou diminuir) o tamanho do objeto no visor, significa modificar sua

forma e sua trama (Ibidem, p.20).

Por isto, tomou-se o recorte com base no município de Nova Iguaçu como um

movimento de redução da escala de observação na história dos processos de escolarização.

Enquanto característica da história ocidental, desde o século XVI, como processo de

transformação de sociedades sem escolas para a sociedade contemporânea escolarizada

(FARIA FILHO; BERTUCCI, 2009, p.13), a história dos processos de escolarização é uma

temática ampla. Mas pretende-se observar este fenômeno de uma determinada “posição de

análise”, sob a perspectiva da história local.

Contudo, nesta operação historiográfica não se busca “isolar” o objeto; ao contrário, a

proposta é “variar a objetiva”, porque a escolarização está imbricada com os aspectos

políticos, econômicos e sociais, de maneira que a perspectiva macro auxilia a compreensão do

objeto. Até porque, no que se refere à administração do ensino, há oscilações nas

responsabilidades entre as esferas municipal, estadual e federal, assim como convênios e

interdições. Por isto, não se trata de inverter as hierarquias entre macro e micro, ou buscar

reflexos, ressonâncias ou confirmações da esfera macro/nacional na escala de observação da

história local.

Entre os deslocamentos que a micro-história realiza, é significativa a redefinição da

noção de contexto: a micro-história recusa partir de um contexto global e unificado para situar

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uma realidade particular, “o que é proposto, ao contrário, é constituir a pluralidade dos

contextos que são necessários à compreensão dos comportamentos observados” (REVEL,

1998, p.27). Por meio do procedimento de variação de escalas se afastam as noções da

sociedade e do contexto histórico como homogêneos e estáticos, e as possibilidades de

escolhas, o caráter relacional das redes sociais, as ações e estratégias dos sujeitos retomam sua

importância na análise do processo histórico (LIMA, H., 2006, pp.260-261).

Sob essa ótica, busca-se perceber, na variação de escalas, “nas dinâmicas de interação

entre o micro e o macro na escrita da história” (SCHUELER; SILVA, 2008, p.236), as

possibilidades de diversidade e heterogeneidade no desenvolvimento dos processos de

escolarização, posto que “cada ator histórico participa, de maneira próxima ou distante, de

processos – e, portanto se inscreve em contextos – de dimensões e de níveis variáveis, do

mais local ao mais global” (REVEL, 1998, p.28).

Quando se considera a diversidade e heterogeneidade dos processos de escolarização,

nota-se que, além das transformações históricas que configuram uma região, é preciso rever

também a aparente homogeneidade que uma delimitação administrativa ou territorial – (como

a de município) pode induzir. As dimensões do urbano e do rural, do centro e da periferia

foram vértices importantes para compreender a distribuição das escolas no município, a maior

ou menor participação das esferas do poder público e da iniciativa privada.

Neste trabalho, o distrito-sede, Nova Iguaçu, se apresenta com a especificidade de ser

mobilizado pelo rural e pelo urbano. Em que medida o rural e o urbano implicaram

experiências de escolarização diferentes ou semelhantes, em tipos de instituições, níveis de

ensino, em circulação de modelos, sujeitos, práticas diferentes dentro do mesmo município?

Como a experiência do urbano e a experiência do rural incidem nos processos de

escolarização? Ademais, para o caso de Nova Iguaçu, além dos processos de emancipação que

desmembraram o território do município, ocorreram sucessivas remarcações das fronteiras do

perímetro urbano e das zonas rurais.

Em função do problema de pesquisa formulado, tomamos por hipótese que aprofundar

a análise das relações entre urbano e rural, centro e periferia, retomando o jogo de escalas,

poderia fornecer elementos para compreender a importância da escolarização para aquele

município e elucidar o estranhamento causado em notar a importância que um município

agrário-exportador conferiu à escolarização. Afinal, é possível estabelecer relações entre

agricultura e processos de urbanização e modernização? Buscou-se investigar as imbricações

entre a conjuntura histórica e o desenvolvimento do processo de escolarização, analisando as

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imbricações entre cidade, campo e escola, entre projetos de sociedade e projetos de

escolarização no município.

No entanto, as escalas do rural e do urbano não foram tidas como antagônicas. A

periodização adotada abarca dois momentos diferentes na correlação de forças entre os setores

da agricultura e da industrialização no país. Ainda que a crise das oligarquias agrárias, nos

anos de 1920, tenha concorrido para que novos projetos tenham sido acionados para a

economia do país no pós-1930, o processo de implantação do capitalismo industrial dependeu

das divisas geradas pelo setor agrário-exportador. As teses da oposição entre rural e urbano,

agricultura e indústria não se sustentam diante das recentes teses sobre o desenvolvimento

econômico do país (MENDONÇA, s/d;OLIVEIRA, 2003).

Ademais, no estado do Rio de Janeiro, durante a primeira metade do século XX, a

recuperação das atividades agropastoris foi o centro da pauta da recuperação econômica,

defendida pelos sucessivos governos (FERNANDES, 2009; MENDONÇA, 1997). Parte da

estratégia de pesquisa consistiu em recuperar e analisar, por meio das fontes de constituídas,

os significados que eram atribuídos, em diferentes contextos, por diferentes vozes, às noções

de rural e urbano, dos distintos usos que se buscou impor, as confluências e oposições

forjadas, portanto socialmente construídas, em face de processos e interesses em curso, entre

rural-agricultura; urbano-cidade-urbanização, enfim, dos modos que se procurou construir a

Nova Iguaçu. Rural e urbano, então, mais do que paisagens naturais e fixas, revelaram-se

móveis, impregnadas de historicidade e especificidades em função dos diferentes contextos

que engendravam a Nova Iguaçu e a relação deste distrito com os demais espaços do

munícipio.

Para desenvolver essa intenção de análise demarcou-se como os objetivos da pesquisa

identificar as forças atuantes na sociedade civil e na sociedade política e suas formas de

participação, adesão ou resistência no estabelecimento de processos e políticas para a

organização de escolas de ensino primário e de ensino secundário na cidade de Nova Iguaçu,

públicas e de iniciativa particular. Deste modo, buscou-se examinar os projetos, as

concepções e conflitos a respeito das funções sociais e econômicas da escolarização para o

município, nos grupos da própria região. Foi pertinente recuperar informações e registros das

interações ou interdições das atividades escolares no município, sobretudo no distrito-sede,

relacionando-os com sua ambiência política e aspectos de sua inter-relação econômica com a

atividade de exportação de laranjas.

Na reflexão desenvolvida, a partir da articulação entre o princípio da “variação de

escalas” apresentado por Revel e o programa de pesquisa sobre os processos de escolarização

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proposto por Faria Filho, entende-se que instrumentalizar o macro e micro; adotar o regional

como escala analítica e epistemológica; investigar o fenômeno da escolarização é também

refletir sobre como estrutura e processo se articulam na história (FARIA FILHO;

BERTUCCI, 2009, p.12).

Esta posição de análise correspondeu a um trabalho de composição de tipos

documentais diferentes, conforme a operação historiográfica realizada na delimitação do

objeto. O universo de composição das fontes reflete a “variação de escalas” adotada como

princípio teórico, com suas implicações metodológicas. Afinal, é o contorno teórico que

informa a maneira como o historiador vai abordar as fontes, quais serão privilegiadas, como

serão trabalhadas. A concepção do ofício do historiador e a prática com as fontes devem se

articular, beneficiando-se a pesquisa desta mediação, que além de influenciar o trabalho nos

arquivos, deve se expressar na elaboração textual (NUNES, 2005).

A exploração inicial de localização e seleção de fontes apresenta dificuldades comuns

aos estudos da “história local”, posto que as políticas e administrações municipais, em geral,

sofrem com a descontinuidade, de forma que não houve um compromisso da administração

municipal em preservar, organizar e permitir o acesso aos acervos. Maiores são os obstáculos

acerca dos atos do Poder Executivo Municipal e da Câmara de Vereadores. Mesmo na esfera

estadual, não há uma política de acessibilidade ao acervo da Secretaria de Educação do

estado.

Por isto, o levantamento de fontes, quando se trata da história regional, possui uma

trajetória diferenciada, porque foi maior a dependência dos acervos de particulares, ou de

instituições privadas. A ausência de um ordenamento, de um arquivo público municipal etc.

repercutiu em estratégias distintas na constituição das fontes. A consulta ao acervo do jornal

local Correio da Lavoura, na sede de sua redação, foi essencial para a realização da pesquisa.

Na Biblioteca Estadual de Niterói e no Centro de Memória Fluminense foram

localizados relatórios de diretores da instrução pública no estado, regulamentos do ensino

primário, e legislação pertinente. A Biblioteca Nacional e a Biblioteca da Assembleia

Legislativa do Estado foram percorridas em busca de legislação do ensino – municipal e

estadual. O acervo de mapas de frequência, do fundo Departamento de Educação do Arquivo

Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ), possibilitou a lida com um tipo documental

ainda pouco explorado, a construção de uma metodologia específica de coleta de dados e o

cotejamento de informações sobre parte da rede de escolas do município. No APERJ também

foram localizados relatórios de interventores do estado no pós-1930 e legislação pertinente ao

tema. Os acervos disponibilizados por particulares e instituições locais foram imprescindíveis

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para a pesquisa sobre a história local, desde filme, fotografias, livros e outros tipos de

documentos.

A composição da narrativa procurou atender ao princípio da “variação de escalas” e da

redefinição da noção de contexto. Isto posto, procuramos compor o cenário no movimento da

cena. Construímos no primeiro capítulo um “primeiro ato” sobre os debates acerca da

instrução agrícola. Em Iguaçu, este tema integrou a plataforma de ação de um jornal local, o

Correio da Lavoura. Enquanto fonte e objeto de pesquisa, a investigação da função deste

veículo como difusor de projetos presentes em grupos políticos locais, nos levou a restituir a

inserção de Iguaçu nos projetos políticos e econômicos defendidos pelos governos

fluminenses, e por setores da sociedade civil, acerca da modernização das atividades

agropastoris para o desenvolvimento econômico do estado.

Questões que fomentaram os debates ao longo da Primeira República, como a

destinação da mão-de-obra pós-abolição, a correlação de forças entre os estados da Federação

e os debates sobre a disseminação da instrução elementar permearam os debates ruralistas.

Apresentamos, no seio do projeto ruralista, como a instrução, em sentido amplo, foi

instrumentalizada como plataforma de um novo ordenamento das atividades agropastoris,

para garantir a hegemonia dos grupos agrários.

Em seguida, o exercício de recompor a constituição de uma rede de escolas em Iguaçu,

colocou em relevo a construção de um aparato burocrático, pelo governo estadual, para

mediar o processo de expansão da escola primária no estado. Foi possível observar o processo

de construção do governo, da afirmação do estado, concomitante aos processos de expansão

da escola primária, como escalas congruentes. Um perfil de parte das escolas existentes em

Nova Iguaçu, nas décadas de 1930 e 1940, permitiu flagrar aspectos dinâmicos, em

constituição, em movimento, das experiências de elaboração desse modo de socialização. Nas

contradições que permearam este processo, observava-se o contraste entre a homogeneidade

pretendida pelos projetos de normatização elaborados pelo estado, e a pluralidade das

experiências, a instabilidade, as estratégias promovidas para povoar as escolas de alunos,

professores, modos e condições de funcionamento.

Variando a escala de observação, após alguns pontos de chegada nos exercícios

anteriores, no terceiro capítulo, tencionamos o projeto ruralista e a ação do governo estadual

com o olhar sobre como os debates e ações em prol da instrução e do desenvolvimento do

município pautaram a ação municipal. O móvel da análise, neste ponto, foi aprofundar o

cotejamento da construção das escalas do urbano e do rural, em Iguaçu, sobretudo no distrito-

sede, com os processos de escolarização e com a afirmação da citricultura. A visita de Getúlio

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Vargas ao munícipio em 1931 e as comemorações pelo centenário de fundação da Vila de

Iguaçu, em 1933, foram examinados enquanto momentos importantes da redefinição das

relações de força e das alianças dos grupos locais citricultores no pós-1930. As experiências

das escolas típicas rurais possibilitaram examinar as apropriações do projeto ruralista para a

instrução escolar no pós-1930.

Os temas da higiene, do saneamento, dos “melhoramentos urbanos” e da instrução

escolar são trazidos como vértices da construção de Nova Iguaçu, e de suas escolas, no quarto

capítulo. Foi possível recuperar outros significados atribuídos à cidade, ao urbano, e seus

vínculos com as atividades produtivas da região. Examinamos como as práticas, campanhas,

discursos e encenações pelo progresso, pela higiene e pelo civismo, no território do município

e no interior das escolas, configuraram a interseção entre quais funções foram atribuídas à

escolarização dos sujeitos e a construção de uma identidade local e nacional, e de que modos,

a vida da cidade/campo foi estabelecendo um papel a ser representado pelas escolas. Na

organização do texto, optamos também, por utilizar o sistema autor, data, no corpo do texto,

para as fontes bibliográficas, enquanto as notas de rodapé foram preservadas para as demais

fontes de consulta e pequenas notas explicativas.

O que emerge da análise, no eixo entre os quatro capítulos, é que a construção da

Nova Iguaçu e os processos de escolarização, da década de 1920 a fins dos anos de 1940,

integraram um mesmo processo – heterogêneo e dinâmico – de ordenação do social, das

funções rurais e urbanas, em face da introdução de relações capitalistas no campo, porém,

pela manutenção de formas arcaicas de dominação. Não é possível compreender os diferentes

movimentos de gestação da Nova Iguaçu sem compreender as funções atribuídas à educação,

tanto na formação das paisagens rurais quanto urbanas do município e atentar para as

distinções entre a defesa e a propaganda pela citricultura como veículo do progresso e a

manutenção de precariedades e contradições que assolavam a vida da população trabalhadora.

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Figura 1 Mapa de limites atuais do município de Iguaçu e limites de 1932.

Limites atuais do município

Fonte: Gentilmente produzido e cedido pelo geógrafo e professor Manoel Ricardo Simões.

Figura 2 Mapa do município de Nova Iguaçu, 1948.

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sinopse Estatística do Município de Nova Iguaçu.

Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Serviço Gráfico do IBGE, 1948.

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Capítulo 1

Pela Causa da Instrução Agrícola

“A educação rural constituía-se em princípio de ordenação social do campo

[...]” (MENDONÇA, 2010, p.36).

Ao correr da pena: lavoura, higiene e instrução

Entre 1917 e 1935, estima-se que 45 jornais haviam sido criados em Nova Iguaçu,3

distrito-sede do município de Iguaçu,4 mas apenas um não havia sido extinto: O Correio da

Lavoura.5 Na opinião dos colaboradores do Jornal, isto era devido à condução impressa ao

semanário por seu fundador, o capitão Silvino de Azeredo. Em sucessivas ocasiões, ratificava-

se a linha “independente”, “apartidária” adotada no Jornal, compromissado apenas com o

programa de objetivos inscrito na primeira edição.6 As bandeiras proclamadas do Jornal

consistiam na defesa da lavoura, da higiene e da instrução. Estas causas foram apresentadas e

correlacionas pelo Jornal, buscando propiciar um consenso acerca da importância destas

frentes para o desenvolvimento do município. Por este programa acreditava-se defender os

interesses do povo do município e contribuir para a grandeza da pátria e da terra fluminense.

Mas quem era o capitão Silvino de Azeredo e por que este programa? Como a

fundação do Jornal poderia contribuir para o progresso do município? O que pode explicar o

sucesso de seu empreendimento jornalístico, em um ambiente político que próprio Jornal

reconhecia como hostil, desconfiado, e mesmo em uma localidade que não oferecia o recurso

financeiro necessário para sustentar os custos do Jornal?

Neste capítulo, a partir da pesquisa no Correio da Lavoura,7 e do cruzamento com

outras fontes e bibliografia, foi possível recompor o movimento de uma nova ordenação

daquela sociedade para o desenvolvimento das atividades agrícolas. Este movimento pautou a

3 Adota-se neste trabalho a ortografia atual para o nome do município. A grafia original é mantida em

alguns subtítulos e na citação direta de fontes. 4 Ao longo do texto, conforme o período a que se refere, utiliza-se Iguaçu para o município (até 1938) e

Nova Iguaçu para o distrito-sede, a partir de 1916. Todo o município passaria à denominação de Nova

Iguaçu, provisoriamente pelo Decreto-lei n. 392-A, de 31 de março de 1938 e definitivamente a partir

da reforma da divisão territorial do estado do Rio de Janeiro, pelo Decreto n. 641 de 15 de dezembro de

1939. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro. APERJ. 5 LOUVÁVEL ESFORÇO. Jota Hess, 28 mar 1935.

6 NOSSO OBJETIVO, 22 mar. 1917.

7 O Jornal Correio da Lavoura continua a existir, atualmente, no município de Nova Iguaçu. É dirigido

pelo Sr. Robinson Belém de Azeredo, neto de Silvino de Azeredo, auxiliado pelo filho Vinícius

Menezes Azeredo. Agradeço ao Sr. Robinson a gentileza de ter disponibilizado a consulta na redação do

Jornal ao acervo de números encadernados do Jornal e ao funcionário José Rocha, o querido “Reco” (in

memoriam), pelo auxílio na fase de pesquisa e digitalização do acervo selecionado.

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gestação da Nova Iguaçu, disputou a condução dos usos daquele território e daquela gente a

partir da década de 1910, principalmente no distrito-sede. A instrução, em sentido amplo, foi

um dos eixos deste processo, pois integrava os projetos de recuperação da agricultura, como

ferramenta que fundaria uma nova ordem, propiciando, concomitantemente, mudanças no

mundo da produção.

Nesta pesquisa, o Jornal Correio da Lavoura foi adquirindo vulto para além das

informações que comporta sobre a educação escolar em Iguaçu, sendo o mesmo um ícone do

movimento de parte da sociedade local pela construção da Nova Iguaçu. Recupera-se, por

meio do Jornal, a campanha promovida de incentivo à lavoura e como esse movimento era

realizado. Porque, de fato, Nova Iguaçu integrou, pela via da citricultura, uma estratégia

ruralista de recuperação econômica do estado do Rio de Janeiro. Os debates sobre a educação

escolar e a instrução agrícola constituíram estes esforços.

Enquanto congregava sujeitos e setores que procuravam mobilizar a defesa da lavoura

para os destinos do município, o Jornal permite ver uma experiência de parte da sociedade

civil organizada, que utiliza a imprensa como plataforma de ação. É pertinente examinar a

função intelectual exercida por Silvino de Azeredo, diretor-proprietário do jornal local

fundado em 1917.

Silvino de Azeredo: percursos de formação

Nas páginas do Correio da Lavoura as bandeiras da higiene, instrução e lavoura

flamavam como ferramentas de edificação do desenvolvimento econômico e do progresso

moral do país. Mais do que isso, se instrução e higiene eram indispensáveis para a superação

da crise agrícola, o eram, também, para o soerguimento do país em nação. Situar-se como

“órgão independente” era, ainda, uma estratégia de distinção e de afirmação de relativa

autonomia face às oscilações e acordos da política local em Iguaçu. Nos números

comemorativos do aniversário do Jornal ou do aniversário natalício de seu proprietário,

encontram-se elogios à firmeza de Silvino de Azeredo na condução da Folha, posto que ele

defendia com retidão o programa do Jornal, “num meio onde, insidiosamente, o partidarismo

tacanho e desenfreado tudo arrasta pra o mephico terreno das baixas paixões”.8 Sob a ótica

dos editoriais, a autonomia era assegurada pelo apoio do público, a contribuição dos

assinantes, anunciantes e leitores avulsos.

8 JUSTO GALARDÃO. Especial para o anniversario do Correio da Lavoura, 22 mar 1930.

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27

As fotografias do capitão9 Silvino de Azeredo publicadas no Jornal, assim como de

seus familiares e de seu colaborador Silvino Silveira, alertam para uma condição nunca

mencionada nos textos: são intelectuais negros. Esta condição nos impõe a pensar a trajetória

desse intelectual e sua escolha/possibilidade por atuar na imprensa. É recente em nossa

historiografia o conhecimento e a compreensão sobre as possibilidades que homens, mulheres

e crianças negras podem ter tido de acesso à escolarização e à condição social de não-

escravos, ainda durante o regime escravista. Para não incorrer nos efeitos de compor uma

trajetória homogênea, encadeada, autoexplicativa, apenas alguns itens serão retomados sobre

o capitão Silvino de Azeredo e sua trajetória escolar e profissional. A opção feita é dar a ver a

experiência de formação e escolarização desse intelectual negro, nascido na Vila de Iguaçu

em junho de 1859.

Quando fundou o Correio da Lavoura, o capitão Silvino Hypolito de Azeredo

Coutinho tinha a idade de 58 anos e uma trajetória intelectual relevante. Notas biográficas

esparsas, comentários e homenagens feitos por colaboradores do Jornal revelam parte da

trajetória deste intelectual, que passou por diversas instituições de ensino e de formação

profissional, exerceu diversos tipos de trabalho, incluindo o ensino, e circulou pelo ambiente

literário da cidade do Rio de Janeiro.

Tendo ficado órfão aos oito anos de idade e tendo herdado uma “honrosa pobreza”,

Silvino fez os estudos preliminares com o tutor Antonio Manoel de Castro Portugal,

concluídos em Belém10

, onde tinha parentes. Trabalhou no comércio da localidade e depois

em Barra do Piraí. Precisou retornar por motivo de doença e depois foi para Paty do Alferes,

trabalhar na Agência dos Correios.11

De 1880 a 188[2] matriculou-se no Externato Jasper, no Rio de Janeiro e em seguida,

até 1884, estudou no “reputado” Collegio Aquino “onde sempre se distinguiu por exemplar

comportamento [e] invejavel applicação”. O ingresso nestas instituições teria ocorrido

“auxiliado por fazendeiros locais”.12

Nessa época, o Externato Aquino era um reconhecido curso de instrução secundária e

de ciências físicas que funcionava na Corte, conduzido pelo professor João Pedro de Aquino.

Além do curso de instrução secundária e de ciências físicas, desde 1870, oferecia os cursos de

agrimensura, o comercial e o acadêmico (este curso consistia no auxílio às matérias cursadas

9 Não foram localizadas informações sobre a adoção da denominação de “capitão”.

10 Atual município de Japeri, emancipado de Nova Iguaçu em 1991.

11 HOMENAGEM AO NOSSO DIRETOR. O HERÓE DO DIA, 17 jun 1920.

12 SILVINO DE AZEREDO. Dados biográficos. Por Luiz Martins de Azeredo, 24 mar 2007. Luiz

Martins de Azeredo era filho de Silvino de Azeredo.

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28

pelos alunos do 1º e do 2ª ano da Escola Central, e do 1º ano da Faculdade de Medicina). A

instituição obteve grande prestígio pelo número de aprovações de alunos nos cursos de

medicina, engenharia e para a Escola de Marinha. Pelo Externato passaram e foram formados

importantes professores. O próprio Aquino era estudante da Escola Central quando se reuniu

com outros alunos para o estudo das matérias do primeiro ano, o que fomentou a criação do

curso.13

A nota biográfica sobre Silvino de Azeredo informa que ele foi companheiro de José

do Patrocínio na causa abolicionista. Além da causa abolicionista há outro ponto comum

nessas trajetórias: a relação com o curso de farmácia. José do Patrocínio também frequentou o

Externato Aquino para cursar as matérias preparatórias para os cursos de farmácia e de

medicina (SILVA, 2006, p.2). Porém Silvino e Patrocínio não estudaram ali no mesmo

momento.

Consta que Silvino de Azeredo “passou” do Colégio Aquino para o “Laboratorio

Chimico e Pharmaceutico Militar”. Até 1877, o Laboratório Farmacêutico, que era um anexo

ao Hospital Militar da Guarnição da Corte, fornecia medicamentos aos pacientes. Naquele

ano, foi autorizado a funcionar em nova sede, passando a denominar-se Laboratório Químico

Farmacêutico. Sob a administração do alferes Augusto Cezar Diogo, houve modernização e

ampliação dos serviços do Laboratório, que iniciou a produção e distribuição de

medicamentos para colônias agrícolas, casas de correção, corpo de bombeiros e outros

hospitais e instituições. Em 1887, foi denominado Laboratório Químico Farmacêutico Militar,

pois também era encarregado de atender às farmácias e forças expedicionárias militares e

quaisquer demandas do Ministério da Guerra (DICIONÁRIO HISTÓRICO-BIOGRÁFICO

DAS CIÊNCIAS DA SAÚDE NO BRASIL 1832-1930). Segundo as notas bibliográficas

sobre Silvino de Azeredo, ainda que se refiram ao Laboratório Químico Farmacêutico Militar,

ele deve ter passado pela instituição nesse período de modernização, porque é mencionada a

administração do general Augusto Cezar Diogo.

Ainda nessa época, Silvino de Azeredo tornou-se aluno do Instituto Farmacêutico do

Rio de Janeiro. Essa instituição, criada em 1858, compartilhava dos objetivos da Sociedade

Farmacêutica Brasileira, fundada em 1851 com o intuito de defender a “classe” dos

farmacêuticos e a regulamentação deste ofício no Brasil. Foi a associação de farmacêuticos

mais importante do séc. XIX, contando com o patrocínio da princesa Isabel (Ibidem).

13

Informações sobre o Externato Aquino foram consultadas no site:

http://www.cbg.org.br/arquivos_genealogicos_e_01.html. Acessado em 20 dez 2011.

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29

Pelo desenvolvimento e legitimidade da farmácia, o Instituto comportava um projeto

educativo, que previa a organização de um corpo de praticantes-pensionistas, a criação de

uma biblioteca, de um gabinete de ciências naturais, de um periódico trimestral e de cursos

preparatórios. Pretendia, também, estimular pesquisas e conceder premiações. Pela atuação do

Instituto, buscou-se intervir no ensino de farmácia - que era subordinado à Academia Imperial

de Medicina - e criar um curso superior de farmácia com maior influência de farmacêuticos

do que de médicos.

Os alunos ingressavam no Instituto como pensionistas de segunda classe, precisavam

apresentar atestado de moralidade, ter mais de dez anos e saber ler, escrever e contar. A

prática da farmácia em algum laboratório era obrigatória por dois anos, e, a cada três meses, o

empregador deveria subscrever um certificado de conduta e aproveitamento do pensionista.

Após os dois anos e aprovação nos exames de habilitação, o pensionista era promovido à

primeira classe, podendo frequentar gratuitamente os cursos de francês e matemática do

Instituto. Havia premiações aos alunos que em um ano ou dois se habilitassem a algum curso

superior de farmácia nas faculdades de medicina (DICIONÁRIO HISTÓRICO-

BIOGRÁFICO DAS CIÊNCIAS DA SAÚDE NO BRASIL 1832-1930).

Posto isto, é provável que Silvino Azeredo tenha trabalhado no Laboratório Químico

Farmacêutico para exercer a prática exigida pelo Instituto Farmacêutico. Segundo as notas

bibliográficas, concorreu e foi contemplado pelo Instituto com o prêmio “Rubens Tavares”.

Aqui há uma imprecisão entre a informação do Jornal e o verbete sobre o Instituto

Farmacêutico. Segundo o periódico, o prêmio consistia nos livros e na matrícula para o

primeiro ano de farmácia na Faculdade de Medicina. No verbete, o prêmio já era concedido

quando o aluno se habilitava no curso.

O prêmio foi entregue a Silvino de Azeredo pelo imperador D. Pedro II, acompanhado

do ministro dos Negócios do Império, Pedro Leão Velloso e do ministro da Guerra, Carlos

Afonso de Assis Figueiredo.14

Nesse caso, Silvino de Azeredo pode ter recebido a premiação

entre 1882 e 1883, quando os citados ministros exerciam estes cargos. Se as datas do Jornal

estão certas, ele também estudava no Externato Aquino quando foi premiado e habilitado ao

curso de Farmácia.

Silvino de Azeredo teria cursado um período da Faculdade de Medicina. É possível

imaginar que essa passagem exitosa pelo Instituto Farmacêutico do Rio de Janeiro tenha

mobilizado o premiado aluno para a importância de temas relacionados à saúde das

14

HOMENAGEM AO NOSSO DIRETOR. O HERÓE DO DIA, 17 jun 1920.

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populações, como a profilaxia e o atendimento clínico. Mas, antes de concluir o curso “em

plena floração de sua mocidade radiosa, cheia a alma de generosos ideaes”,15

Silvino

ingressou no curso geral da Escola Politécnica, em 1887. Seria interessante investigar se o

premiado aluno Silvino não teria ingressado a partir de 1884/1885 na Escola Superior de

Farmácia criada pelo Instituto. No entanto, por falta de recursos suficientes e de alunos, há

indícios de que a escola não tenha funcionado regularmente entre 1887 (ano em que ele

ingressou na Escola Politécnica) e 1889.

Naquele efervescente período político, Silvino circulava pelo Rio de Janeiro,

ensinando matemática no Liceu Literário Português e trabalhando na revisão do Diario do

Brazil, fundado e dirigido pelo deputado Antônio Alves de Sousa Carvalho. Segundo

Lusirene Ferreira (2010), o Diario do Brazil era fortemente conservador, anti-abolicionista e

representava os interesses dos fazendeiros. No entanto, a nota biográfica publicada no Correio

da Lavoura afirma que Silvino:

Ao lado do inesquecível Patrocinio luctou pela derrota da escravatura, narrando as

mais interessantes peripécias dessa sublime campanha. Muitas vezes o grande

abolicionista, para conter-lhe o ímpeto de certos actos em prol da extincção dessa

nodoa das paginas da Historia, batia-lhe nos hombros com affeição paternal: -

Socega menino, socega!..É que Azeredo queria que o captiveiro tivesse uma só

cabeça, como desejava celebre impera[i] [r]omano para o seu povo, [i] de decepal-a

de um só golpe.16

Silvino de Azeredo também lecionou na Escola Pública em Paty de Alferes por volta

de 1891, onde, já casado, dedicou-se à hotelaria e ao ramo de secos e molhados em Tatuí. Em

1904 tornou-se funcionário da Alfândega e voltou ao Rio de Janeiro, estabelecendo-se, em

1908, em um sítio em Maxambomba, sede administrativa do município de Iguaçu.17

Foi

funcionário nos trabalhos de Serviço de recebimento, guarda e conservação dos volumes nas

alfândegas, tendo presidido a comissão de revisão dos Estatutos da Caixa Auxiliadora dos

Empregados das Capatazias. Somente após deixar a função pública, fundou o Correio da

Lavoura, em 1917.18

Na primeira edição, Silvino de Azeredo assinava os compromissos do Jornal: [...]“

Será um jornal sério, proprio para o interior, adequado aos pequenos povoados que vivem em

família; dedicado mais ao nobre e honrado lavrador – gente feliz e independente – qual a

divisa d’este jornal”.19

15

HOMENAGEM AO NOSSO DIRETOR. O HERÓE DO DIA, 17 jun 1920. 16

Ibidem. 17

SILVINO DE AZEREDO. Dados biográficos. Por Luiz Martins de Azeredo, 24 mar 2007. 18

Idem. 19

NOSSO OBJETIVO, 22 mar. 1917.

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O Correio da Lavoura e o ruralismo no estado do Rio de Janeiro

Os aniversários do Semanário eram celebrados em edições comemorativas, com

publicações de fotografias do fundador, com artigos que parabenizavam e saudavam a

continuidade da Folha. Nessas ocasiões o programa do Jornal era sempre mencionado,

repetido, como a causa que o identificava. Além dessa afirmação de continuidade, a análise da

publicação, desde a fundação até os anos 1950, comprova a permanência da defesa destes

ideais.

Sobretudo nas décadas de 1910 e 1920, as comparações entre jornalismo e sacerdócio,

imprensa e devoção, foram acionadas para justificar a importância da existência do Jornal

naquela cidade, para elogiar, homenagear, destacar o empenho, o esforço do diretor-

proprietário e de seus colaboradores. A imprensa era tratada como uma obra penosa, de

recompensas simbólicas, e não necessariamente financeiras... Apelava-se à colaboração dos

anunciantes, dos assinantes e dos leitores avulsos para a manutenção da Folha, como obra de

importância para aquela sociedade.

Em 1918, Silvino de Azeredo (diretor-proprietário), integrou o grupo que recebeu na

cidade o “Comitê de Propaganda pró-lavoura” e participou da mesa de conferência, realizada

no edifício da Câmara. Os palestrantes foram o “coronel” Plínio Machado, o advogado

Benjamim Magalhães, o “lavrador” Vianna Ferraz e o senhor Francisco Antonio Corrêa. Na

conferência, os palestrantes trataram do financiamento da agricultura e destacaram o bem

estar do trabalhador do campo em relação ao operário da cidade. O lavrador Viana Ferraz se

referiu a falta de recursos “para os da sua classe” e à ausência de caixas de empréstimo para a

lavoura. A comissão visitou a redação do Correio da Lavoura e Silvino de Azeredo foi

parabenizado “pela nobre campanha que se empenhou e feliz escolha do título dado ao

jornal”.20

Quanto à ação do Jornal e dos sujeitos nele organizados, foram diversos os meios de

atuação. Em tom prescritivo, colunas como “Calendario do Agricultor” e “Seção Agricola”

informavam sobre quais gêneros cultivar, como semear, adubar ou colher, conforme a época

do ano e a especificidade regional. Os resultados de pesquisas agronômicas, sobre o plantio,

beneficiamento e comercialização de produtos no país eram arrolados constantemente, assim

como as sugestões sobre a adoção dos cultivos de novos produtos: banana; trigo, milho, arroz,

por exemplo. O trato com as criações de animais e os procedimentos para combater as pragas

das lavouras também eram prescritos. É corrente a menção elogiosa e o tom de exemplo a ser

20

COMITÊ DE PROPAGANDA PRÓ-LAVOURA, 29 nov. 1917.

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seguido de ações adotadas em benefício da lavoura em outras localidades, cidades, estados e

países. Na primeira edição do Jornal, figurava um artigo de Francisco Dias Martins sobre a

importância do lavrador “intelligente e desciplinado” para obtenção de bons resultados na

produção agrícola.21

Francisco Dias Martins integrava os quadros da Sociedade Nacional de

Agricultura e foi um dos expoentes das propostas mais detalhadas sobre o ensino agrícola no

país durante a Primeira República (MENDONÇA, 2010; 1997).

A divulgação de congressos, exposições, eventos, a menção de matérias publicadas em

outros periódicos, assim como o registro do recebimento de revistas e jornais afins

consubstanciavam outros expedientes de dar visibilidade ao tema da produção agrícola.

Tendo criado uma folha destinada a “concorrer para o progresso intelectual, moral e

material deste municipio” Silvino de Azeredo estabeleceu e propôs um programa, a ser

defendido e realizado, que era uma plataforma de ações para o desenvolvimento do

município.22

Além da iniciativa de fundação da Folha, no seu primeiro número divulgava sua

ação particular de criação de uma escola primária noturna, gratuita, para adultos.23

A

repercussão desta iniciativa resultou no convite recebido para ser delegado da Liga Brasileira

Contra o Analfabetismo. O telegrama transcrito no Jornal, recebido do presidente da Liga, Dr.

Antonio Ennes de Souza, também mencionava Luiz Palmier como sócio do diretor Silvino na

empreitada, por quem a Liga ficou sabendo da criação da escola.24

O médico Luiz Palmier era membro fundador da Liga e atuou intensamente na Liga

Fluminense Contra o Analfabetismo, uma seção da mesma. Incentivou o estabelecimento de

escolas nos municípios do interior do estado pela criação de cursos noturnos gratuitos,

procurou obter a adesão das administrações municipais e conquistar espaço de propaganda

para o combate ao analfabetismo e a defesa da obrigatoriedade do ensino primário nos jornais

locais (NOFUENTES, 2008, p.113). Ao que parece, o Correio da Lavoura foi um dos

veículos da ação de Luiz Palmier.

Cabe situar que o engenheiro politécnico Antonio Ennes de Souza, primeiro presidente

da Liga Brasileira Contra o Analfabetismo, foi o idealizador dos comícios agrícolas. Por meio

de assembleias e exposições volantes de produtos e implementos agrícolas, os comícios

pretendiam incentivar a agricultura e debater as consequências do fim da escravidão na

ordenação do trabalho. Da experiência desses comícios, um grupo de 47 pessoas organizou, a

partir de 1896, a fundação da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), formalizada em

21

A BOA SEMENTE. Dr. Dias Martins, 22 mar 1917. 22

NOSSO OBJETIVO, 22 mar. 1917. 23

PELA INSTRUCÇÃO, 22 mar. 1917. 24

LIGA BRAZILEIRA CONTRA O ANALPHABETISMO, 09 ago 1917.

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1897, na qual Antonio Ennes25

foi também o primeiro presidente (MENDONÇA, 1997, p.41-

42).

A SNA formou-se por associação de “amigos e lavradores” para “o exame, o estudo e

a colaboração para a solução dos problemas dos agricultores, dos pecuaristas e dos industriais

das indústrias extrativas correlatas” (ESTATUTOS DA SNA, apud MENDONÇA, 2002, p.5).

Entre seus fundadores estavam grandes proprietários diplomados ou docentes da Escola

Politécnica do Rio de Janeiro (MENDONÇA, 2002, p.5). A SNA foi uma grande propulsora

do ensino agrícola no país, e propugnou também pela alfabetização e por mudanças na

organização dos demais ramos de ensino, conforme os interesses da lavoura. Há muita

semelhança entre o programa do Correio da Lavoura e os projetos de incentivo à agricultura

desenvolvidos pela SNA.

Ainda que o Jornal fosse publicamente um Correio da Lavoura, em campanha pelo

desenvolvimento da mesma, sua ação estava ancorada em diagnósticos de crise e de atraso da

lavoura. Pelas páginas do Jornal, era tecida e disseminada uma construção discursiva de certo

estado de coisas que precisava ser superado. Os recursos de solução também eram arrolados

pelo Semanário, entre os quais a instrução/educação, em sentido amplo, era a base das

soluções.

Alfredo Jardim,26

colaborador da Folha desde a fundação, ao celebrar o aniversário de

Silvino de Azeredo e destacar o espírito combativo do jornalista, justificava a defesa da

lavoura como uma opção “natural”: “E como a agricultura é ainda a base da riqueza nacional

e a terra é a mãe carinhosa, cujo seio fecundo se desata em frutos saborosos para regalo do

genero humano, era mais que natural que o novo jornal se fizesse defensor dos interesses da

lavoura. E assim foi”.27

25

O maranhense Antonio Ennes de Souza (1848-1920) diplomou-se em Ciências Físicas e Naturais na

Alemanha, foi professor de Engenharia de Minas na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, atuou nas

causas republicana e abolicionista, e participou da fundação da Sociedade Brasileira de Ciências,

fundada em 1916, com a participação de médicos e engenheiros. Além da intensa participação na Liga

Brasileira Contra o Analfabetismo, consta que organizou a fundação de uma Biblioteca Popular no

Maranhão por volta de 1871 (NOFUENTES, 2008, p.47-48). 26

As informações sobre Alfredo Jardim foram colhidas nas citações do Correio da Lavoura. Consta que foi

jornalista, diretor e proprietário do jornal Correio de Iguassú, que parece ter antecedido o Correio da Lavoura.

Silvino de Azeredo também trabalhou neste jornal (HOMENAGEM AO NOSSO DIRETOR. O HERÓE DO

DIA, 17 jun 1920). Alfredo Jardim publicou no jornal até 1930, quando era elogiado pelo Jornal como

“infatigavel batalhador das boas causas do jornalismo” (CAP. ALFREDO JARDIM, 16 out 1930). Em 1932,

Alfredo Jardim, numa nota de congratulações pelo aniversário do Correio da Lavoura, justificava seu

afastamento “voluntario” das “pugnas” do jornalismo, em função de certo “cansaço da longa vida de luctas” que

o forçaram a manter a “penna emmudecida e o silencio perfeito em volta do meu nome” (FAZ ANNOS, HOJE,

O CORREIO DA LAVOURA, 22 mar. 1932 ). 27

CHRONICA. Alfredo Jardim. 17 jun 1920.

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Nos enquadramentos realizados pelo Jornal, por seus diversos autores, os significados

atribuídos ao território rural e ao seu uso pela agricultura moveram-se de forma dialética.

Eram perenes as alusões à terra, ao solo, à natureza, como fontes de recursos abundantes,

profícuos, fecundos para a produção de alimentos, fosse pela agricultura (principalmente) ou

pela pecuária, de modo que o uso do solo deveria ser necessariamente destinado à agricultura,

a fonte da riqueza “nacional”.

Observa-se uma fusão entre rural, o território, e a atividade da agricultura como

sinônimos, o que sinaliza uma disputa pelo controle do uso do espaço. A questão fundiária é

estruturante das relações de poder e isso estava em disputa naquele período de surtos

industriais no país e, no pós-1930, de consolidação do capitalismo (Cf. MENDONÇA, 2000b;

OLIVEIRA, 2003). Assim o Correio da Lavoura, referindo-se ao programa proposto desde

1917, definia:

LAVOURA quer dizer augmento de producção, barateamento da vida, opulência do

erario nacional, riqueza do productor, em summa, a felicidade humana. São os

campos, outr’ora estereis, desatando-se em estrias de ouro, esmantando-se de flores,

ostentando frutos variados e saborosos, tentando a gula dos contemporaneos como

na creação do mundo a maça do Eden despertou a cobiça do homem primitivo...28

Sob esta ótica, aumentar o cultivo derivava prosperidade para o produtor, para os

consumidores e para as finanças nacionais. Transformar a “questão agrária”, os problemas e

interesses dos proprietários rurais, em problema de interesse “nacional”, resultava exigir o

empenho e as finanças dos governos, das agências de estado, e da própria população no

desenvolvimento da atividade.

Na construção feita pelo Jornal, defender os “lavradores” (o que foi diversas vezes

repetido) significava defender a totalidade, o coletivo, o povo:

Cumprindo, pois, à risca, um programma que bem concretisa o ideal de um povo, o

nosso jornal se vem batendo denodadamente pela difusão do ensino, pela

intensificação da instrucção ainda tão deficiente em nosso paiz; tem sido tambem o

protector da lavoura desamparada e o defensor accerrimo de todas as causas justas

cuja natureza se relacione com os interesses mais vitaes dos pequenos lavradores.

Quanto à Hygiene, a sua campanha tem sido proveitosa, não se descuidando jamais

de aconselhar e incentivar o esforço do nosso Governo, em proveito da saude dos

nossos conterraneos.29

Constantemente, os colaboradores e as notas sem assinatura do Correio da Lavoura

(mas que continham um tom de “editorial”), enquadravam o Jornal como órgão alheio a

ligações partidárias. Delineava-se uma imagem idônea e imparcial do órgão e de seu

proprietário (mutuamente), em contraste com os jornais da capital federal que se entregavam a

28

O NOSSO ANIVERSARIO, 22 mar 1921. Grifo no original. 29

O NOSSO 5º ANIVERSÁRIO, 22 mar 1922.

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interesses particulares, à política partidária: “Folha independente, sem filiação partidaria nem

côr politica, fundada exclusivamente para tratar dos altos interesses sociaes, tem ella

procurado ser util, batalhando, dentro do seu programma, em beneficio da collectividade de

que faz parte”.30

Assim como se observa no Correio da Lavoura, os argumentos sobre a “vocação

eminentemente agrícola do Brasil” foram reiterados pelas classes agrárias no pós-abolição.

Foi tecido por estes grupos um diagnóstico de atraso na agricultura que seria responsável

também pelo atraso no desenvolvimento do país, o que tornava, assim, a questão agrária em

questão nacional, de interesse de “todos”:

Ventilando os problemas que se relacionam com a prosperidade da terra iguassuana,

com o florescimento do solo fluminense, com a feitura da patria brasileira, partimos

das necessidades do povo, dos anhelos da collectividade, e julgamos deste modo

corresponder às considerações que o nosso esforço com jubilo vai registrando.31

É pertinente destacar a organização da SNA e do Jornal Correio da Lavoura como

organizações da sociedade civil que agregavam pessoas, articulavam interesses e produziam

opiniões sobre as virtudes e mazelas da atividade agrícola. Eram recursos pelos quais os

grupos agrários e seus partidários buscavam disseminar e defender a sua própria visão de

mundo, seus interesses, requerendo a inscrição de suas demandas nas agências da sociedade

política, procurando adquirir o auxílio financeiro, econômico e político do estado para os

próprios interesses.

A recuperação econômica, por meio da recuperação agrícola, foi uma perspectiva

assumida por sucessivos governos no estado do Rio de Janeiro, sob a liderança de Nilo

Peçanha. Nesse caso, esses grupos fluminenses compartilhavam do movimento do ruralismo

proclamado por todos os setores agrários do país. O ruralismo construiu uma representação de

crise na lavoura, respaldado na desorganização das relações de trabalho, na aquisição de mão-

de-obra, após a Abolição. Mas a chamada “reação ruralista” do pós-abolição não foi um

movimento homogêneo, e nem ficou apenas no campo das ideias. Implicou movimentos

políticos, de sujeitos coletivamente organizados vinculados à agricultura que buscaram

recompor a organização do trabalho e fazer face à redefinição do papel da agricultura

(MENDONÇA, 1997, p.13).

Sob o discurso aparentemente homogêneo da vocação agrícola do país, veiculado

pelas classes agrárias, houve apontamentos divergentes para a realização desta vocação, o que

significa destacar, também, os conflitos intra-oligárquicos que caracterizam a composição das

30

O NOSSO ANIVERSARIO, 22 mar 1928. 31

13 ANNOS. 22 mar 1930.

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forças políticas durante a Primeira República. Esses conflitos, entre os setores dominantes,

permitem ressaltar que o Estado não é um ente homogêneo, monolítico, que paira, age

violentamente e prevalece sobre a sociedade apática e fluida, perspectiva bastante presente no

pensamento social brasileiro (MENDONÇA, 2006). Ao contrário, o Estado é aqui entendido

como uma relação social entre sujeitos coletivamente organizados que, nas casamatas da

burocracia estatal, mas também por meio de instituições e agências da sociedade civil, fazem

representar seus interesses e concepções de mundo na condução de questões que lhe são

afetas e que dizem respeito à direção da sociedade. É na correlação de forças entre estes

grupos e agências que se configura o Estado (GRAMSCI, 2007).

Em sua análise sobre o ruralismo, Sonia Regina de Mendonça (1997) prioriza os

significados que a vocação agrícola assumiu nas práticas e discursos das frações não

pertencentes ao eixo paulista (que era núcleo hegemônico da classe dominante agrária, em

função da cafeicultura).

No interior das frações secundarizadas no bloco de poder agrário, a adoção da

diversificação da produção – em oposição à hegemonia do café - foi propalada como saída

para a “crise”. A diversificação produtiva e o fomento ao consumo interno dos gêneros

produzidos foram divulgados como recursos menos vulneráveis às oscilações do mercado

internacional.

Dessa forma, os estados que tinham menor assento na prioridade da política

econômica da Federação poderiam ser vistos de nova maneira. Nesse sentido, criticava-se a

importação de gêneros que poderiam ser produzidos no país, como o trigo, por exemplo. O

jornalista Alfredo Jardim, colaborador no Correio da Lavoura, fazia coro a essas demandas

que foram assumidas no estado do Rio de Janeiro: “Precisamos deixar por completo a

monocultura e mesmo emancipar-nos dos mercados norteamericano e argentino” [...]

Argumentava que todos os ramos da produção, como o comércio e a indústria, precisavam da

agricultura: “É necessario repetir com insistencia em voz alta que, sem o trabalho dos campos,

não poderá prosperar nenhum outro ramo de actividade humana.”32

Sob esta ótica, os projetos de superação do atraso que caracterizaram o ruralismo

brasileiro se ancoraram nos temas do “povoamento/colonização; educação;

modernização/racionalização produtiva e crédito/cooperativismo” (MENDONÇA, 1997, p.

83). De diversas formas e por repetidas vezes é possível localizar esta campanha do

movimento ruralista nas edições do Correio da Lavoura.

32

CHRONICA. Alfredo Jardim, 07 mar 1918.

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37

É um projeto de formação social em andamento que vemos ser defendido e

experimentado. A campanha promovida pelo Jornal buscava produzir um consenso sobre a

importância econômica da agricultura. Apropriando-se do discurso da mecanização da

lavoura, da adoção de novos métodos de cultivo e beneficiamento buscava-se assegurar a

manutenção daquela atividade econômica, reorganizada em novas bases. Mas como se tratava

de um problema de interesse “nacional”, do estado deveria advir uma série de auxílios à

lavoura. E a agenda era extensa.

Para que a produção agrícola alavancasse o progresso, o discurso da modernização dos

meios de produção foi acionado pelos grupos agrários. A lavoura arcaica, identificada com o

passado colonial, devia ser superada por uma moderna agricultura. Trata-se ao mesmo tempo,

de defender pela ação política a reorganização da cultura para um novo modo de produção.

Cultura, economia e política, dimensões imbricadas para fazer face aos novos contornos do

pós-abolição, do capitalismo, do urbanismo e da industrialização. O rompimento com a

lavoura arcaica se construía à medida que a agricultura era propagandeada como indústria,

como a principal indústria do país, a pioneira, da qual dependeriam todos os outros ramos.

Baseados no desenvolvimento “nacional”, os interesses privados dos grupos agrários

reclamavam a atuação do governo pela isenção de taxas, pela realização de obras de

infraestrutura (o saneamento, por exemplo), a criação de bancos de crédito agrícola e a

facilitação de empréstimos a baixos juros e a longos prazos.

O Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio era o principal condutor da

projeção política das frações dominadas no conjunto dos grupos agrários dominantes do país.

A recriação do MAIC foi uma demanda da SNA, através do qual procurou relacionar-se para

intervir por meio da sociedade política.33

Essa agência representava o esforço desses setores

em construir canais de ação junto ao Estado, de se inserir dentro da estrutura estatal, fazer-se

Estado, e defender suas demandas para além das diretrizes da cafeicultura paulista. A criação

do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio em 1910, e sua condução nas décadas

seguintes, demonstram estreita relação com a SNA.

A eficácia da SNA na organização das frações dominadas dos grupos agrários pode ser

demonstrada no quadro de associados que passou de 4000 em 1911 para 8000 em 1929, e

alçou ao reconhecimento como entidade de utilidade pública pelo governo federal em 1918

(MENDONÇA, 1997, p.57). A análise da composição dos quadros dirigentes de ambas as

agências demonstra o intercâmbio de sujeitos comprometidos com os interesses das frações

33

O Ministério havia sido extinto em 1892, e a Pasta da Agricultura foi parcialmente absorvida pelo

Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas (MENDONÇA, 1997, p.55).

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38

não-hegemônicas dos grupos agrários e a adoção das mesmas diretrizes. Segundo Sonia

Mendonça, todos os 11 titulares do MAIC pertenciam à SNA além da maciça participação de

seus integrantes em órgãos do ministério, nas “comissões ministeriais a que ela seria instada a

participar, bem como na atribuição de vagas a serem por ela preenchidas nos Conselhos

criados no âmbito da Pasta ao longo da década de 1920” (MENDONÇA, 1997, pp.55-56).

No interior do Ministério da Agricultura eram criados serviços de fomento à

agricultura, organizava-se a distribuição de sementes para novas experiências, eram

realizados, com o apoio da SNA, congressos e exposições dos produtos. O desenvolvimento

de uma nova ordem de saberes acerca da produção também se colocava, porque foi valorizado

o uso de pesquisas e estudos sistemáticos sobre as práticas. O Instituto Biológico de Defesa

Agrícola, por exemplo, foi criado para pesquisar as doenças e pragas dos vegetais e criar

soluções de prevenção e combate, para a “defesa sanitaria” da produção: “é evidente que

muito lucrará com isso a nossa lavoura e, consequentemente, as finanças nacionaes pelo maior

aproveitamento da producção”.34

Em 1929, após um congresso nacional realizado em São Paulo para debater o combate

à saúva, as resoluções dos agricultores consistiram em exigir regulamentação legislativa

nacional para o assunto, constando também do auxilio federal para as atividades: a criação e

difusão do ensino técnico profissional para o combate da praga e emprego das técnicas; que o

Estado arcasse com os custos de transportes do material destinado ao combate e estimulasse

pesquisas sobre o tema.35

O curioso é que, nesse caso, o Correio da Lavoura, ávido por

soluções, desconfiava do sucesso das intenções, ponderando que fosse provável que a praga

continuasse a danificar a lavoura se a comissão esperasse de “braços cruzados”

exclusivamente as ações do governo.

A aquisição e o desenvolvimento de saberes que tornassem o empreendimento mais

seguro em seus resultados, conferindo maior qualidade aos produtos e maior volume de

produção, era pauta do projeto de “modernização” da agricultura. Foi valorizada a figura do

agrônomo, o especialista, o técnico como o detentor do discurso legítimo, o portador dos

saberes e das orientações para a condução dos procedimentos na produção e solução de

problemas. Em meados dos anos de 1920 já se buscava a regulamentação da profissão no

Brasil, por iniciativa do Ministério da Agricultura.36

34

CHRONICA, Alfredo Jardim. 28 out 1920. 35

COMBATE A SAUVA. 04 jul 1929. 36

O ENSINO AGRONOMO NO BRASIL. 11 jun 1925.

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39

A Sociedade Nacional de Agricultura fazia a propaganda dos benefícios da ciência

para uma nova organização da produção e tinha agrônomos em seus quadros. Os Estados

Unidos geralmente era o exemplo a seguir e de onde vários agrônomos foram convidados a

visitar e trabalhar no Brasil. Por meio de A Lavoura, seu boletim mensal, a SNA orientava a

classe para adoção dos métodos científicos, da mecanização e da formação da mão-de-obra a

fim de transformar o “atraso” do país pelo desenvolvimento da agricultura científica. Os

colaboradores do Boletim eram sujeitos conhecidos nos círculos agrários, além de contar com

a participação crescente de agrônomos:

A Lavoura seria simultaneamente difusora e ratificadora de uma dada concepção do

campo que viria a cristalizar-se no imaginário sócio-político brasileiro: a que o

representa como espaço do atraso, da rotina e da apatia. A seu combate deveriam

aplicar-se as ditas forças vivas da nação – os proprietários de terra – de modo a

reabilitar a vocação eminentemente agrícola do país, dando sentido ao Ruralismo da

Primeira República (MENDONÇA, 1997, p.61;grifo da autora).

Em função da precariedade do desenvolvimento de pesquisas no Brasil, causaram

preocupação as medidas adotadas em alguns países sobre restrições acerca da divulgação dos

resultados de pesquisas sobre o cultivo dos produtos. Em 1931, o agrônomo Thomaz Coelho

Filho, professor da Escola Superior de Agricultura, proferiu palestra na Sociedade Nacional

de Agricultura, sobre os problemas decorrentes no Brasil, caso houvesse impedimentos à

exportação de maquinário e o acesso às melhores sementes obtidas com pesquisa. Na ocasião,

Arthur Torres, diretor do serviço de Fomento Agrícola do MAIC e membro da SNA,

agradeceu a comunicação e ratificou a importância do alerta sobre as disputas mundiais pela

produção agrícola e a necessidade do país desenvolver esta área: “Está convencido e tem

incontaveis vezes affirmado que a prosperidade agricola do Brasil só será assegurada quando

as nossas lavouras estiverem, de facto, sob o dominio da technica”.37

Pelas páginas do Correio da Lavoura, muito se propagava da importância de técnicos

e agrônomos. Como a região de Limeira em São Paulo também desenvolveu a citricultura, as

informações que lá circulavam interessavam aos citricultores em Nova Iguaçu. Por esse

motivo, o Jornal divulgou as considerações do agrônomo Emilio Moreira, técnico da

Secretaria de Agricultura de São Paulo, publicadas no boletim daquela secretaria, sobre a

distância entre as laranjeiras, instruções, prescrições de cuidados para obtenção da qualidade e

quantidade dos frutos.38

Mas as medidas para solucionar a “crise” e o “atraso” não se restringiam à

transformação da produção pela adoção de mecanismos e métodos mais eficazes, resultantes

37

AS COMPETIÇÕES MUNDIAIS EM TORNO DA AGRICULTURA, 23 abr 1931. 38

CONSELHO AOS CITRICULTORES IGUAÇUANOS. 12 nov 1936.

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40

de pesquisas e da orientação técnica dos agrônomos. Era necessária a intervenção, ainda,

sobre as condições do território a ser cultivado e sobre a formação da população para o

trabalho em atividades rurais.

De diversas formas e por repetidas vezes é possível localizar esta campanha do

movimento ruralista nas páginas do Correio da Lavoura. No município de Iguaçu, no estado

do Rio de Janeiro, o incremento das atividades agrícolas pautou parte do uso daquele território

e dos projetos de escolarização ali inscritos.

Saneando territórios e governos: a instauração da prefeitura em Nova Iguaçu

Em Iguaçu, é provável que a defesa da lavoura tenha encontrado interlocutores nos

proprietários rurais que enfrentavam problemas econômicos desde fins do século XIX.

Em 1858, a partir da inauguração do primeiro trecho da estrada de ferro D. Pedro II, o

escoamento do café passou a ocorrer pelos trilhos, também na região de Iguaçu, havendo

decadência na importância dos portos e caminhos de terra firme. A Vila de Iguaçu, sede

administrativa do município de Iguaçu, situada às margens do porto de Iguaçu e da Estrada

Real, até então pontos estratégicos, ficava situada distante da ferrovia, o que abalou

fortemente sua função de entreposto (OLIVEIRA, 2007).

Outros fatores concorreram para a derrocada da Vila de Iguaçu. A própria construção

da ferrovia afetou a passagem das embarcações pelos rios, por conta de novas pontes

construídas para os trilhos. A Câmara Municipal procurou embargar as obras, alegando os

prejuízos para o trânsito fluvial, mas não foi vitoriosa. Com o impedimento da navegação em

alguns trechos, foram se formando mais pântanos, suscetíveis à disseminação de doenças

(PEREIRA, 1997, p.75).

A Vila foi constantemente afetada, ao longo do século XIX, por crises de malária e

cólera, que causaram muitas mortes, afugentaram a população sobrevivente, levaram

fazendeiros à falência. Enquanto isso ganhava força o arraial de Maxambomba, situado às

margens da nova ferrovia, que atraiu moradores e os serviços da antiga vila (SIMÕES, 2004).

Em 1891, a sede administrativa da Vila de Iguaçu foi transferida para as margens da

ferrovia onde havia a parada de trens “Maxambomba”, que foi elevada à categoria de vila e

ganhou foros de cidade.39

Até então, tratava-se de localidade de pouca importância, ocupada

por fazendas, que ganharia expressão após a construção da parada de trens. Outro fator que

favoreceu esta região foi a localização em terrenos que não eram inundados periodicamente

39

Pelo Decreto n. 204, de 1º de maio de 1891 houve a transferência legal da sede do município e da comarca de

Iguaçu para a povoação de Maxambomba, que foi elevada à categoria de Vila. Pelo Decreto n.º 263, de 19 de

junho do mesmo ano, Maxambomba foi elevada à categoria de cidade (PEREIRA, 1969, p.31).

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41

nem se tornavam brejos (SIMÕES, 2007, p.119). Em 1892, foi extinto o município de Estrela,

sendo parte deste incorporado a Iguaçu.40

Em 1893, o termo “Maxambomba” aparece

denominando todo o município, na Carta do estado do Rio de Janeiro.

Figura 3 Aspecto da Carta do estado do Rio de Janeiro. Maxambomba e Distrito Federal, 1893.

Fonte: Carta do estado do Rio de Janeiro. Organizada por J.P. Favilla Nunes de acordo com a divisão

administrativa de 1893. Gentilmente cedida por Manoel Ricardo Simões.

No primeiro quartel do século XX, Maxambomba era um pequeno núcleo urbano,

marcada pela estagnação econômica “e pela escassez e pobreza de sua população rural”,

panorama que seria alterado com o desenvolvimento da citricultura, quando a localidade

passaria a exercer “novas e importantes funções” (SOARES, 1962, p.52).

O cultivo e a comercialização da laranja foram incentivados pelo governo do Rio de

Janeiro, em prol da recuperação econômica do estado. Na Primeira República, o estado do Rio

de Janeiro não possuía a importância econômica nem a relevância política que exerceu

durante o Império. Os projetos assumidos por sucessivos governos para a superação da crise

econômica enfatizaram a “tradição agrarista” da região, pela promoção das atividades

agropastoris (FERNANDES, 2009, p.18). Ademais, enquanto o Distrito Federal representava

o centro político, urbano, financeiro, industrial e operário do país, o estado do Rio de Janeiro

era “eminentemente rural, agrário e campesino” (Ibidem, p.22). Mesmo após a Revolução de

1930 e a recomposição das forças políticas no Estado Novo, a recuperação econômica pela

atividade agropastoril perdurou na agenda do estado.

A atuação de Nilo Peçanha41

no governo do estado incentivou a retomada da

agricultura, por meio de redução de impostos, criação de prêmios, concursos e exposições.

40

O município de Iguaçu ficou formado pelos seguintes distritos: (1º) Santo Antonio de Jacutinga, (2º)

Marapicu; (3º) Piedade, (4º) Meriti, (5º) Santana das Palmeiras, (6º) Pilar (FORTE, 1933, p.18).

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42

Após o governo federal de Nilo Peçanha ter firmado acordo comercial com os governos

platinos, estabelecendo melhores condições de comercialização, as exportações de laranjas de

Iguaçu, foram reiniciadas, em 1910, para Buenos Aires e Montevidéu, com 500 mil laranjas.42

Em 1915, “a citricultura já firmava como novo elemento na economia municipal” de Iguaçu

(PEREIRA, 1997, p.67-68).

Em 1916, por iniciativa do deputado estadual Manoel Reis43

, foi aprovado o projeto de

lei que mudou, de Maxambomba para “Nova Iguassú”44

, o nome da nova sede administrativa

do município de Iguaçu, passando a antiga sede a ser conhecida como Iguaçu Velho. O nome

Iguaçu foi conservado pelos grupos dirigentes políticas de Maxambomba, ainda que “nova”

acenasse para as mudanças em curso, onde a nascente cultura da laranja afirmaria uma nova

elite rural (SIMÕES, 2007, p.118).

Em 1917 Manoel Reis exercia o cargo de presidente da Câmara Municipal45

e em

janeiro era sancionado o Código de Posturas da Câmara Municipal de Iguaçu.46

Compreende-se que a mudança da sede administrativa em 1916 e as transformações

ocorridas pela implantação da citricultura foram marcos na configuração da história de

Iguaçu, com repercussões importantes sobre os projetos e sentidos atribuídos para a instrução

escolar no município e para os rumos impressos ao desenvolvimento do lugar.

Parte da história do município de Nova Iguaçu apreende-se pelo desenvolvimento da

citricultura na região, que foi o principal produto da economia em alguns distritos de Nova

Iguaçu entre as décadas de 1920 e 1940. As condições de solo e clima em Iguaçu

beneficiaram o cultivo da laranja já em fins do século XIX, que se tornou a primeira em

qualidade no mundo durante um certo período (PEREIRA, 1977, p.118).

Além dos incentivos governamentais, um ponto fundamental do projeto ruralista era a

fixação da mão-de-obra no campo. As frações agrárias secundarizadas não tinham recursos

para implementar a imigração estrangeira, optando pela colonização do elemento nacional.

41

O primeiro governo de Nilo Peçanha no Rio de Janeiro ocorreu entre 1904-1906 e o segundo entre

1915-1917, após ter assumido a Presidência da República, entre 1909-1910. 42

NOVA IGUAÇU. Polyanthéa Comemorativa ao Primeiro Centenário do Município no Governo de

Arruda Negreiros, 1933. 43

Manoel Reis nasceu em Nova Iguaçu. Foi deputado federal entre 1912 e 1914. Foi deputado estadual e

vereador em Iguaçu, e presidente da Câmara Municipal no ano de 1917, e novamente deputado federal pelo Rio

de Janeiro de 1919-1923 (DICIONÁRIO Histórico-Biográfico Brasileiro Pós-30. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001,

Vol V, pp.4956-4957). Maia Forte (1933, p.69) se refere a Manoel Reis como “proprietário e lavrador em Nova

Iguaçu”. 44

Lei n. 1.331, de 9 de novembro de 1916. 45

Correio da Lavoura, 31 mai 1917. 46

CODIGO DE POSTURAS, 27 set 1917.

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43

Procurava-se atrair o trabalhador para a agricultura disseminando ou ressignificando as

oposições entre a vida urbana e a vida rural. Por exemplo, no artigo “O horror da roça”, o

autor “Helius”(codinome) ponderava que as condições de vida do trabalhador do campo eram

mais seguras e saudáveis, porque aquele recebia abrigo, comida e trabalho na lavoura. O

operário encontrava-se numa situação mais vulnerável de trabalho e logo, de sustento, sujeito

aos “perigos” que a cidade apresentava e à repressão dos policiais. A defesa de braços para a

lavoura é evidente:

A terra, essa mãe sempre fecunda, esse cofre de thesouros nunca esgotados, sempre

dá a quem lhe péde, sempre paga com juros aquillo que a ella se confia. O paiz passa

por uma crise medonha actualmente, temos a fome às portas. [...] A lavoura acolhe

quem a procura, porque não devemos procural-a? Mas tambem, porque os nossos

homens publicos não estimulam, não ajudam, não olham como merecem, aos

lavradores e agricultores?47

Neste artigo são refutadas as opiniões que desmerecem o trabalhador rural, quando o

lavrador é visto como um “rústico, um roceiro, um tabaréo”, e que, concomitantemente,

valorizam os “doutores”. Em contraposição, o autor identificava os “doutores” como

responsáveis pela fabricação de impostos, pelo esvaziamento dos cofres públicos, alheios ao

encaminhamento de braços estrangeiros para o campo, aqueles “que não fornecem meios

fáceis de communicação entre o campo e a cidade e que depreciam tudo quanto é produzido

no paiz”.48

Mas, em outros momentos, através da propaganda ruralista, era pertinente afirmar a

situação de precariedade em que se encontrava o trabalhador rural e seu entorno. Além de

escasso, este trabalhador também não era produtivo. Isto porque era afanado de suas

potencialidades devido às doenças contraídas, à falta de estrutura sanitária adequada e à

presença majoritária do analfabetismo na população. Em consonância com outros discursos

vigentes, emanados de diversos setores sociais, até urbanos, era preciso reformar este

brasileiro em suas condições físicas e cognitivas. Pelas ideias estabelecidas, tanto o

trabalhador rural quanto a lavoura estavam abandonados pelos poderes públicos, o que

resultava na “crise” e no “atraso” da agricultura.

Sob essa ótica, a fundação da Liga Pró-Saneamento do Brasil, em 1918, também foi

muito comemorada nas páginas do Correio da Lavoura. É pertinente destacar que a liga foi

instalada na sede da Sociedade Nacional de Agricultura, segundo a matéria, que também

atribuía a organização da campanha aos esforços do médico Belisário Penna, que obteve mais

adeptos após a publicação do livro Saneamento do Brasil.

47

O HORROR DA ROÇA, 06 set 1917. 48

Idem.

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44

A Liga Pró-Saneamento do Brasil tinha por fim “extinguir as molestias de caracter

endemico que dizimam as populações do interior do Brasil, por meio da distribuição gratuita

dos medicamentos apropriados”.49

O dr. Plinio Cavalcanti, “fez discurso enthusiastico,

discurso de moço que quer a Patria muito forte”, no qual comparava a ação da liga com a

campanha da abolição: “por isso que defende com fervor a abolição dos papudos e dos idiotas

mostrando-se confiante na ação da mocidade e no auxilio dos grandes e dos humildes, e

dizendo que precisamos ser uma raça sadia e linda, e que é preciso se promover redempção

da mulher pela hygiene”.50

A Liga Pró-Saneamento do Brasil foi uma das agências que defendeu a ideia de que a

situação de abandono dos sertões constituía uma ameaça, tão relevante ao progresso nacional,

que necessitava da intervenção urgente do governo federal, no âmbito do saneamento e da

saúde (NOFUENTES, 2009, p. 65). Como analisa Rubia-Mar Nunes Pinto, os projetos de

nação idealizados se ergueram por oposição aos sertões:

Lugar do nada, metáfora da ausência, território da barbárie, reino da doença e da

preguiça, o sertão e o povo que o habitava aparecia, especialmente até as primeiras

cinco décadas dos novecentos, tal qual um estranho perigoso, mas promissor se

fosse domesticado, uma ameaça a qual era preciso fazer desaparecer para que o país

finalmente civilizado, finalmente integrado - se constituísse nação (2008, p. 1-2).

A matéria informava que havia sido aprovado no Congresso Nacional o orçamento

para o saneamento do sertão, mas advertia que outros municípios, como o de Iguaçu,

necessitavam do apoio da União para o combate ao impaludismo, “que mais de uma vez tem

sido assumpto do ‘Correio da Lavoura’”. E prosseguia sua campanha que relacionava os

temas da profilaxia e do saneamento com o argumento da recuperação econômica, via

agricultura:

Do saneamento depende o exito das medidas concernentes ao progresso agrícola do

Brasil. Não nos faltam scientistas para tão humanitario fim. O que tem faltado – é

iniciativa, coordenação de energias, adstrictos que temos estado a cogitações de toda

ordem sobre o futuro da nacionalidade, sem cogitarmos de lhe dar o homem são e

capaz de desbravar as grandes riquezas que formam o imenso patrimonio material

do paiz. Serão, ainda no corrente ano, attenuados ao menos em parte os terriveis

efeitos da malaria, da ancylostomiose, do impaludismo e outras doenças espalhadas

pelo interior e litoral? Aguardamos os auxilios do governo e da patriotica Liga.51

Cabe destacar que Belisário Penna, fundador da Liga, preconizava a fixação do

trabalhador no meio rural e o saneamento como “medidas fundamentais da prosperidade

econômica do Brasil” (PENNA apud CARVALHO, 1998, p.162). A defesa da pequena

propriedade rural como célula de organização das famílias pelo interior do país devia ser o

49

O SANEAMENTO DO BRASIL, 21 fev 1918. 50

Idem. O advogado Plinio Cavalcanti foi um dos fundadores da Liga Pró-Saneamento do Brasil. 51

Idem.

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45

eixo de organização do trabalho. O médico defendia que era preciso rever o abandono dos

campos e o congestionamento das cidades, pelo máximo aproveitamento da terra

(CARVALHO, 1998, p.164-165).

A Baixada Fluminense,52

área predominantemente rural do estado do Rio de Janeiro,

foi alvo do conjunto de políticas públicas que se associaram às propostas de construção da

nação brasileira, nas décadas de 1910 e 1920, no bojo das reflexões sobre o centenário da

Independência e dos resultados dos ideários republicanos (FADEL, 2009). O status da

Baixada Fluminense como região insalubre ficou mais evidente após as reformas urbanas no

Distrito Federal; a região passou a ser denunciada como uma “ameaça” para a cidade

reformada. O saneamento rural foi utilizado como ferramenta de intervenção, para a

recuperação de regiões insalubres, pretendendo torná-las habitáveis e produtivas

economicamente, além de gerar melhorias nas condições de saúde das populações. Isto posto,

não apenas centros urbanos como a cidade do Rio de Janeiro, mas também os “sertões” foram

alvo da agenda republicana.

Nesse contexto, inseriu-se a tentativa do governo estadual de instaurar o regime de

prefeituras no estado do Rio de Janeiro, no bojo das políticas da Liga Pró-Saneamento do

Brasil. No município de Iguaçu, embora houvesse consenso entre os grupos dirigentes locais e

estaduais sobre a importância de introduzir uma estrutura sanitária adequada na região, a

intervenção estadual provocou conflitos pelo controle do poder local. Portanto, trata-se de um

evento revelador das forças que integravam a sociedade política no município e de seus

projetos de poder, assim como evidencia algumas das tensões que perpassaram a constituição

da almejada modernidade para Iguaçu.

A prefeitura foi criada pelo decreto n. 1.716, de 26 de novembro de 1919, o mesmo

que autorizava a execução dos serviços para instalação da rede de águas e esgoto no distrito-

sede. Na exposição de motivos da lei são apresentados os encadeamentos que suscitaram a

criação da prefeitura.53

A proposição inicia-se abalizando o valor que o tema da saúde da população adquiriu

na sociedade brasileira, de modo que o combate às endemias foi elevado como meio de

suprimir os entraves ao crescimento econômico do país. Neste sentido, foi criado, em abril de

52

Há diferentes conceitos e delimitações sobre o que é a Baixada Fluminense, ainda que exista entre os

especialistas o consenso de que Nova Iguaçu e Duque de Caxias são núcleos desta região que tem um

passado histórico comum, sendo satélites os municípios de Belford Roxo, São João de Meriti, Nilópolis,

Mesquita, Queimados e Japeri (SIMÕES, 2007, p.22). O termo “Baixada Fluminense” já era utilizado

no período em foco, designando aspectos geográficos dessa região. 53

A CRIAÇÃO DA PREFEITURA DE NOVA IGUASSÚ. A installação da rede de esgotos desta

cidade, 04 dez 1919.

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46

1919, o Serviço de Profilaxia Rural, pelo decreto federal n. 13.538, que estabelecia

modalidades de ação conjunta da União e dos estados. Em decorrência, o Serviço de

Profilaxia Rural foi instalado em Nova Iguaçu, sede do município. Porém, para a eficiência do

Serviço, os encarregados do mesmo julgaram necessária a construção de uma rede de esgotos,

o que foi informado, pelo governo federal, ao governo estadual. Mas os recursos orçados para

a obra, pela Comissão de Saneamento do estado, excediam as possibilidades do município,

sendo esses assumidos pelo governo do estado, por se tratar de “interesse geral”. Em razão

dessa dependência pecuniária do município em relação ao governo estadual, o mesmo estava

autorizado a criar a prefeitura e designar um prefeito, de acordo com a reforma constitucional

de 1903.

Setores do município, defensores da causa do saneamento, como os dirigentes do

Jornal local Correio da Lavoura, comemoraram a solução, especialmente com a nomeação do

Dr. Mário Pinnoti para o cargo. O médico sanitarista era chefe do posto de profilaxia rural no

município e esperava-se que sua administração fosse um programa de reformas sanitárias. Sob

essa ótica, o Correio da Lavoura sugeria ao prefeito nomeado que se tornasse para o

município o que Pereira Passos foi para o Distrito Federal: “um grande reformador”.54

Por julgar “patriotico e louvável” o decreto de instalação do regime de prefeitura e a

designação do chefe do posto de profilaxia rural para o cargo, o Correio da Lavoura

expressava suas expectativas de ver introduzidas mudanças na infraestrutura local: “Não

podemos calar a nossa satisfação ao ver que esta cidade vai, enfim, ser dotada com obras de

extraordinario valor hygienico, e de real utilidade para o bem estar de seus moradores”.55

No entanto, a decisão do governo estadual não agradou ao grupo político que presidia

a Câmara Municipal e, até então, acumulava as funções legislativa e executiva, através do

coronel Ernesto França Soares, membro de antiga família estabelecida em Iguaçu. Os

vereadores procuraram sustar a decisão, preferindo assumir os custos com a instalação da rede

de esgotos através de concorrência pública. A resistência dos vereadores resultou na

contratação de um advogado para alegar que a decisão do governo estadual era

inconstitucional e defender a autonomia municipal (PEREIRA, 1997, p.115).

O Correio da Lavoura procurava remover a resistência da Câmara ao novo prefeito,

argumentando sobre os benefícios que as obras de saneamento significavam para a localidade:

“[...] e si ha patriotismo ou antes amor ao Municipio, ficam os elementos que

constituem a Camara Legislativa na obrigação moral de um entendimento regular,

54

A CRIAÇÃO DA PREFEITURA DE NOVA IGUASSÚ. A installação da rede de esgotos desta

cidade, 04 dez 1919. 55

A CRIAÇÃO DA PREFEITURA DE NOVA IGUASSÚ, 11 dez 1919.

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47

leal e sincero com o Prefeito afim de elevar a situação politico-administrativa e

político-progressiva do Municipio”.56

Enquanto isso, na posse do prefeito Mario Pinotti, Manoel Reis, dirigente de uma das

correntes políticas do município e adversário do coronel França Soares, recebia com

entusiasmo o novo prefeito em sua chegada à estação, acompanhado, entre outros, de

representantes dos citricultores. Todavia, a condução ao cargo no prédio do Paço Municipal

ocorreu sob “formal protesto” do coronel Ernesto França Soares.57

Em 1919 as disputas entre Manoel Reis e o coronel Ernesto França Soares sobre a

presidência da Câmara Municipal ganharam o noticiário do Distrito Federal, onde o primeiro

justificava sua derrota eleitoral por obstáculos colocados à inscrição de seus correligionários

nos cartórios do município, pertencentes à família Soares.58

O coronel França Soares tentou dificultar a ação do novo prefeito, concitando a

população a não pagar os impostos municipais59

, além de utilizar sua influência junto à

Câmara Municipal para impor restrições orçamentárias à ação da prefeitura.60

O Correio da

Lavoura expressou críticas à ação judicial impetrada pelo coronel Ernesto França Soares

contra a nomeação de Mario Pinotti, através de extenso artigo, sem assinatura, em era

examinado o memorial que justificava as razões de criação da prefeitura em Iguaçu em função

das obras de saneamento da região:

É lamentável que o nosso zelo jurídico só defenda a Constituição quando sentimos

feridos interesses políticos-pessoaes, não o fazendo quando a ofensa beneficia esses

mesmos interesses, o que temos visto já por muitas vezes. Se, no caso presente, o

Governo lembrasse de nomear prefeito do Municipio, o Sr. Cel. França Soares, a

Constituição poderia dormir tranqüila, sem o incommodo de ser chamada ao

Supremo Tribunal ou a qualquer outro juizo, porque, a medida seria perfeitamente

legal, patriótica e até altruística! [...] O Governo do Estado, nomeando o Dr. Mario

Pinotti, prefeito de Iguassú, alem de escolher um cidadão que corresponde aos

requisitos da moral, intelligencia e patriotismo, evidenciou a luz da razão, que o seu

intuito foi dar homogeneidade na direcção do saneamento, homogeneidade tanto

mais necessaria quando se tratava de dois serviços para um só fim. 61

Em junho de 1920, Ernesto França Soares retomava o poder executivo, por meio de

habeas-corpus concedido pelo Supremo Tribunal, mas que havia sido negado pelo juiz federal

do estado.62

Em contrapartida, as obras para a distribuição de água e instalação da rede de

esgotos foram paralisadas.

56 A CONDUTA DA CAMARA MUNICIPAL, 11 dez. 1919. 57

PREFEITURA MUNICIPAL, 04 dez 1919. 58

O NOVO GOVERNO MUNICIPAL , 19 jun 1919; A PEDIDOS, 10 jul 1919. 59

A CONDUTA DA CAMARA MUNICIPAL. 11 dez. 1919. 60

PREFEITURA DE NOVA IGUASSÚ. 22 mar. 1920. 61

PUBLICAÇÕES, 22 jan 1920. 62

GOVERNO MUNICIPAL,03 jun 1920.

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A presença de coronéis na política em Iguaçu e a instauração do regime de prefeituras

remetem a um formato de relações políticas que predominou no arranjo político oligárquico

da Primeira República. O caso de criação das prefeituras é um desses momentos de embates

entre poderes locais e o crescimento do poder estadual.

O coronelismo resultava numa troca de barganhas entre municípios, governo estadual

e União. Numa conjuntura econômica desfavorável, os proprietários rurais dependiam do

apoio do governo estadual para a sobrevivência de sua influência política. O governo, por sua

vez, no regime federalista, precisava se impor ao conjunto das oligarquias de seu estado, para

o controle das eleições.

No coronelismo, os proprietários rurais, dirigentes das oligarquias locais,

encontravam-se de fato numa posição desigual de forças. Dialeticamente, à medida que

necessitavam do apoio do governo para influir no poder local, possibilitavam também maior

inserção da política estadual nos municípios. Por isso, o coronelismo significou o

“fortalecimento do poder do Estado antes que o predomínio do coronel” (CARVALHO,

1997).

No breve tempo da administração de Mario Pinotti, a cobertura feita pelo Correio da

Lavoura destacou os trabalhos realizados para a canalização de esgotos; serviços de limpezas

de valas e ruas; reformas e construção de pontes; as ações do posto de profilaxia rural e as

medidas destinadas à instrução, como o plano de dotar o município de uma escola modelo.63

Os despachos entre o prefeito e o governador do estado Raul Veiga sobre o andamento do

saneamento, “cujos serviços vão bem adiantados”, eram comemorados nas páginas do

Correio da Lavoura, pela importância do tema para o “desenvolvimento do município”.64

Com a saída da prefeitura, o médico continuou atuando como chefe do posto de saúde

em Nova Iguaçu65

e recebeu algumas manifestações e homenagens.66

Pelo Correio da Lavoura, no entanto, anos depois das ações da Liga Pró-saneamento,

a insuficiência das condições de saneamento do território e de profilaxia da população

perduravam como entraves ao desenvolvimento do município. Nota-se que, se o Jornal

mantinha o mesmo programa, era porque os problemas também persistiam:

A baixada em volta da capital da Republica, de que Iguassú occupa a maior

extensão, aguarda o saneamento da terra infectada, onde seus habitantes, de sangue

empobrecido, ainda assim fazem do municipio um dos baluartes da riqueza

fluminense. Batendo-nos pela restauração physica do homem, vamos ao encontro do

63

PREFEITURA DE NOVA IGUASSÚ, 22 mar. 1920. 64

NOVA IGUASSÚ VAE EM PROGRESSO, 29 abr 1920. 65

Correio da Lavoura, 10 jun. 1920. 66

Correio da Lavoura, 01 jul. 1920.

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pendor das populações para a actividade. Entendemos que na organização do paiz o

agricultor se ha de destacar como o soldado do trabalho por excellencia, bravo e

triumphador, e, como Antheu, avigorando-se ao contacto da mãe gleba. E desse

modo fazemos côro com os que preconizam uma politica economica, capaz de

empolgar o animo docil das massas trabalhadoras, levando-as à visão do interior, ao

labor grandioso da terra, porque é essa coragem blindada do sereno heroismo que

tira do solo os thesouros imcomparaveis do reino verde. [...] Esse o dever que nos

impuzemos. Continuaremos a cumpril-o.67

Apostava-se na necessidade de profilaxia e saneamento como instrumentos para

revigorar e conquistar a adesão dos trabalhadores aos projetos de desenvolvimento

econômico.

A citricultura e o distrito-sede

Como foi citada anteriormente, a introdução do cultivo de laranjas no município de

Iguaçu foi fomentada pelo governo de Nilo Peçanha com o apoio do Ministério da

Agricultura, Indústria e Comércio (MAIC). Entre os grupos agrários dos Estados

secundarizados na correlação de forças no cenário nacional, o combate à monocultura na

campanha pela diversificação dos produtos, o fomento à produção em propriedades

parceladas, a adoção da mão-de-obra nacional e a modernização dos modos de cultivo, eram

os pilares do movimento ruralista.

A princípio, não foi a administração municipal que promoveu a valorização da

citricultura, posto que as leis oriundas da Câmara visavam apenas à arrecadação de impostos

sobre os lucros da atividade. Somente após os investimentos do governo de Nilo Peçanha

surgiram ações da administração municipal para amparar a citricultura. No município, as

vozes que ecoaram em defesa da citricultura foram as vozes dos próprios produtores, que

passaram a se destacar no cenário municipal desde a década de 1910 (PEREIRA, 1997, p.118-

123). Esses produtores encaminharam suas reivindicações aos poderes públicos, às agências

do estado, reclamando melhorias no transporte ferroviário; conservação e abertura de

estradas; obtenção de maquinário; incentivos ao ensino agrícola; diminuição de impostos e

uma tabela de preços uniforme (Ibidem, p.118-123).

Em 1923, era fundado o Sindicato Agrícola de Iguaçu, que expressava o grau de

organização alcançado pelos plantadores e exportadores de laranja. O primeiro presidente foi

o farmacêutico Sebastião Herculano de Mattos.

Os acordos para a criação do Sindicato foram enfaticamente apoiados pelo Correio da

Lavoura, que anunciava as conclusões da concorrida reunião realizada em 1923 na sede do

67

O CORREIO DA LAVOURA ENTROU NO 19º ANNO, 28 mar 1935.

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50

“Club dos Progressistas de Iguaçu”68

: “Devemos olhar com mais interesse e com mais carinho

[a] classe dos lavradores que é aquella que mais contribue para a riqueza do nosso municipio

e portanto para a prosperidade individual de seus habitantes”.69

O interesse em obter o financiamento do governo para as atividades da citricultura era

explicitado pelo Jornal: “O principal objetivo do sindicato é adquirir machinismos modernos,

por intermedio do governo, para o aperfeiçoamento de seus productos e principalmente da

laranja que representa, neste municipio, uma vultuosa fortuna”.70

O sindicato também

pretendia

pleitear junto dos poderes publicos os varios favores de que carece a nossa lavoura

local, taes como estradas de rodagem, carros refrigeradores, para transporte

conveniente dos frut[os] [e] campos experimentaes com pessoal techinico e enfim

tudo quanto mais fôr preciso para o aperfeiçoamento da fonte de grandeza que são a

nossa pomicultura e lavoura em geral.71

A associação dos lavradores pretendia melhorar as condições de colheita,

acondicionamento e classificação da fruta; encarregar-se do transporte e venda das frutas, no

país e no exterior; apoiar as iniciativas governamentais na melhoria das estradas de rodagem;

combater a contaminação da produção por pragas. Segundo Waldick Pereira:

A laranja revolucionou a estrutura social de Nova Iguaçu sem mudar suas

características rurais. O fenômeno social nascido nos laranjais conservou, por muito

tempo, sua autonomia, sua independência política marcada pela influência

econômica dos laranjeiros (1977, p.118).

Em 1924, por sugestão do Ministério da Agricultura, o sindicato mudou a

denominação para “Associação dos Fruticultores de Nova Iguaçu”. A Associação dirigia-se

aos poderes instituídos para defesa de suas demandas:

Deve-se à Associação dos Fruticultores de Iguaçu (sic) considerável parcela de

contribuição na formação econômica do ciclo da laranja. [...] Relatórios minuciosos

e incisivos eram despachados ao Ministro da Agricultura, ao governo do estado e às

autoridades municipais (Ibidem, p.131).

O município também recebeu apoio do estado e do governo federal por conta das

relações políticas estabelecidas no pós-1930. Em 1939, por sugestão do Ministério da

Agricultura, os estatutos da Associação dos Fruticultores foram reformulados, tendo assumido

a nova denominação de “Associação Rural de Nova Iguaçu”, sendo mantido na presidência o

farmacêutico Sebastião Herculano de Matos (PEREIRA, 1997, p.133).

De 1930 a 1939, a produção de laranjas fez com que Nova Iguaçu fosse

internacionalmente conhecida, chegando a ser apelidada de Cidade Perfume (BARROS, 2004,

68

Não foram encontradas outras referências que revelassem os membros e interesses dessa associação. 69

SYNDICATO AGRICOLA, 16 ago 1923, pág. 2. 70

Idem. 71

Idem.

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51

p.102). Em 1927, 46 milhões de laranjas eram exportadas para o Rio da Prata e 10 milhões de

laranjas para o mercado europeu, havendo também o abastecimento do mercado interno no

Rio de Janeiro, São Paulo e Santos (FORTE, 1933, p.124).

Em 1931, das 1.218.461 caixas de laranjas exportadas pelo porto do Rio de Janeiro,

700.181 caixas foram procedentes do município de Iguaçu, sendo do distrito de Nova Iguaçu,

319.641; Morro Agudo, 159.137; Mesquita, 93.456; Cabuçu,70.623; Austin, 57.324, arcando

o distrito-sede com cerca de 55% da exportação (Ibidem, p.125). O desenvolvimento da

atividade no município, naquele ano, atraía os interesses do governo municipal e do governo

estadual em captar recursos da atividade pela criação e/ou aumento de taxas e impostos.

Contudo, os interesses dos lavradores eram defendidos pela Sociedade Nacional de

Agricultura que, dirigia-se ao estado e a município para averiguar informação de novos

impostos taxados à laranja. 72

Em 1933, havia 14 packing-houses no município, sendo 6 em Nova Iguassú, 5 em

Morro Agudo e 3 em Cabuçu e Austin. O censo do Serviço de Inspeção e Fomento Agrícola

apresentou o número de 855 citricultores, distribuídos pelos distritos de Nova Iguaçu (330);

Morro Agudo (163) Mesquita (145); Austin, (76); Cabuçu, (64); Queimados (59); Nilópolis,

(25); e Belford Roxo, (23) (Idem). Em 1935, havia 24 estabelecimentos para o beneficiamento

e acomodação do fruto para a exportação (Ibidem, p.141). Em 1940 registrava-se que 22,3%

da superfície total do município era destinada ao cultivo de laranjas (PEREIRA, 1969, p.

23).Os dados sobre a arrecadação municipal, ainda que não sejam exatos, possibilitam inferir

o universo de crescimento da receita municipal, que muito se beneficiou com a citricultura

(Ibidem, p.41-42; PEREIRA, 1977, p.126).

A implantação da citricultura demandou transformações importantes no município de

Nova Iguaçu, principalmente em alguns distritos, como o distrito-sede. O aproveitamento de

terras antes improdutivas, recuperadas pelas obras de saneamento; as estradas de ferro; a

proximidade dos grandes centros consumidores e exportadores; os incentivos governamentais

à produção e exportação e o “tradicionalismo de famílias de origem rural” foram fatores

importantes para o desenvolvimento da citricultura (PEREIRA, 1977, p.118).

Outro marco a ser assinalado refere-se à mudança da estrutura fundiária. As escolhas

feitas para o cultivo do solo resultaram numa intensa fragmentação das propriedades

fundiárias em chácaras. Eram denominados “chacreiros” os proprietários, arrendatários,

parceiros ou ocupantes das chácaras, sendo a alcunha de “fazendeiro” restrita aos que

72

MAIS UMA SOBRE A LARANJA DE NOVA IGUASSÚ, 20 ago 1931.

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controlavam maior extensão de terra por compra ou arrendamento e que, geralmente, não

habitavam nas chácaras (SOUZA, S., 2004, p.141).

Como os grandes latifundiários estavam descapitalizados e sem condições de arcar

com o assalariamento, o arrendamento ou venda de pequenas parcelas do solo para lavradores

foi a solução para o cultivo e a captação de mão-de-obra. A cultura da laranja exigia constante

observação e trato, o que demandava um volume grande de trabalhadores (SIMÕES, 2007,

p.121). O resultado desse processo foi uma mudança considerável na estrutura agrária do

município, onde “o número de estabelecimentos de até 40 hectares passou de 213, em 1920,

para 1.451, em 1940; os de 41 a 200 hectares passaram de 29 a 62; os de mais de 200 hectares

reduziram-se de 38 para 18” (SOARES, 1962, p.54).

Houve intenso processo migratório para a região da produção de laranjas, que atraiu

assalariados e meeiros. Em geral, estes trabalhadores passaram a morar e trabalhar nas

chácaras, o que resultou em acelerado crescimento da população rural, tendo sido maior nas

áreas produtoras do distrito-sede.73

Para além das atividades de plantio e colheita, o setor também empregava na cidade,

nas atividades e serviços secundários relacionados às packing houses. O mercado de trabalho

expandia-se com novas categorias de operários que não mais se limitavam ao trabalho nos

pomares (PEREIRA, 1977, p.140).

A população não se fixou no núcleo urbano, posto que os trabalhadores residissem nas

chácaras. Mas a proximidade deste núcleo das áreas de produção agrícola viabilizava o

deslocamento diário dos trabalhadores “ao centro”, a cavalo ou charrete:

A população que dava vida e movimento à cidade, principalmente em época de safra

e, normalmente em certos dias da semana – sábados e domingos – residia em suas

imediações ou em áreas mais distantes do município. Eram porém, os habitantes das

imediações, isto é, dos inúmeros sítios e chácaras [...] que com frequência maior se

utilizavam de Nova Iguaçu para o provimento de todas as suas necessidade. Essa

área, às portas mesmo da cidade era, justamente, a principal zona citrícola

(SOARES, 1962, p. 56).

A centralidade da função exercida pelo núcleo urbano se projetava na organização

espacial da cidade, que se edificava em duas ruas de frente para as margens da ferrovia, em

ambos os lados: “e nelas se alinhavam residências e estabelecimentos comerciais, sendo que

estes, assim com a praça, o cinema, a prefeitura e a Matriz, se situavam nas proximidades da

estação” (SOARES, 1962, p.60). Para além desses espaços, a cidade estava envolta de

laranjais:

73

O distrito de Nova Iguaçu contava, em 1932, com 83% das laranjeiras do município e dentro do

distrito, a área vizinha à cidade contava com metade do total de número de pés (SOARES, 1962, p.56).

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53

[...] os primeiros esboços de ruas transversais perdiam-se dentro dos laranjais, e

qualquer progressão da cidade só se fazendo em detrimento dos mesmos, isto não

acontecia com frequência, pois a riqueza era representada pela laranja e nada havia

ainda que justificasse ou compensasse o abandono dessa lavoura (Ibidem, p.60).

O dinamismo que alcançou o distrito-sede e sua centralidade no beneficiamento e

escoamento da produção dependeu bastante das melhorias introduzidas na rede de estradas.

Por essas vias chegavam à sede não apenas a produção, mas os trabalhadores e moradores.

Algumas fábricas e depósitos se instalaram no distrito-sede, que também realizava a função

de distribuidor de mercadorias e de abastecedor das pequenas vendas dos distritos rurais

(Ibidem, p. 58).

Embora o distrito-sede tenha servido a diferentes funções no período da citricultura,

poucos foram os citricultores que residiram na cidade ou que nela aplicaram seus

rendimentos:

[...] só mesmo um pequeno grupo enriquecido com o arrendamento das terras ou

com o negócio de beneficiamento e exportação da laranja aí construiu belas

residências. A Nova Iguaçu capital da laranja nada mais era que a velha

Maxambomba, acrescida de respeitável número de estabelecimentos comerciais, de

packing-houses de algumas indústrias de âmbito quase local e de certo número de

residências de pessoas ligadas a essas atividades (Ibidem, p. 59).

Os prédios desta época, no distrito-sede, eram essencialmente comerciais, no máximo

com um segundo andar destinado à moradia do proprietário do estabelecimento. A estrada de

ferro continuava a ser a principal via de ligação com o Distrito Federal: “Esta era a Nova

Iguaçu do apogeu da fase citrícola, pequena cidade que se salientou no cenário nacional,

exclusivamente devido à sua condição de capital de uma área onde se verificou um dos muitos

booms da agricultura brasileira” (Ibidem, p. 60).

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54

Figura 4 Fotografia da vista parcial de Nova Iguaçu, distrito-sede do município, 1919.

Fonte: Pereira, 1978. Álbum Fotográfico de Nova Iguaçu. Os laranjais se estendem pela sede do município.

Figura 5 Fotografia da vista parcial de Nova Iguaçu, distrito-sede do município, 1932.

Fonte: Pereira, 1978. Álbum Fotográfico de Nova Iguaçu. A estrada de ferro corta o distrito no sentido

horizontal e, ao centro, a rua Capitão Chaves, em sentido transversal.

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Figura 6 Fotografia da vista parcial do distrito-sede, 1940.

Fonte: http://www.cemobafluminense.com.br/cemobafotos/displayimage.php?album=1&pos=0

Enquanto, desde fins do século XIX, a citricultura configurava os usos do solo no

distrito-sede de Nova Iguaçu, em outros distritos do município sucediam modos diferentes de

ocupação e de uso das ferrovias e outras funções econômicas demarcavam a urbanização

naqueles distritos.

Até início dos anos de 1940, o município apresentou três tipos de ocupação: em Cava,

Queimados, Xerém e Estrela predominavam latifúndios com fraco povoamento, devido às

condições desfavoráveis do solo: montanhas, pântanos e mangues; em Nova Iguaçu (distrito-

sede) a terra era explorada pela citricultura e abrigava maior contingente populacional; nos

distritos de Caxias, São João de Meriti e Nilópolis, “havia expressiva densidade populacional

já no início da década de 1930, com características urbanas” (SOUZA, S. 2004, p. 142). Esta

última região era autossuficiente em relação à sede administrativa, no setor de comércio e

serviços, além de apresentar incipiente função industrial (SOARES, 1962, p. 58).

Os cenários dos distritos de Caxias, Nilópolis e São João de Meriti possuem vínculos

com os impactos das reformas urbanas que aconteceram no Distrito Federal nas primeiras

décadas do século XX. A reordenação dos usos dos espaços das áreas centrais da cidade do

Rio de Janeiro, com a expulsão dos trabalhadores e classes populares que ali viviam,

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fomentou a ocupação da região suburbana da cidade, que mantinha ligação com o centro

urbano pelas ferrovias. Os loteamentos populares e a autoconstrução foram os meios de

fomentar a habitação no entorno das estações ferroviárias do subúrbio da cidade, atraindo

populações com menos recursos para custear a habitação. Nesse processo, a Baixada

Fluminense “deixa de ser um mero local de passagem para ser definitivamente integrada na

condição de espaço urbano periférico subordinado ao núcleo” (SIMÕES, 2007, p.102).

Na década de 1910, a Baixada Fluminense foi inserida na extensão da mancha urbana

da cidade do Rio de Janeiro, tendo por base as estações ferroviárias em localidades limítrofes

ao Distrito Federal. Os loteamentos também foram viabilizados pelos projetos de saneamento

destinados à região. Desde meados do século XIX foram registradas, nos Relatórios da

Província, medidas destinadas a socorrer os problemas que o território enfrentava com

terrenos alagadiços, pantanosos, mangues e a necessidade de desobstrução dos rios

(TORRES, 2004b, p. 183). Mas foi o governo federal de Nilo Peçanha que esboçou ações

mais consistentes para o saneamento da baixada, condição fundamental também para a

recuperação das atividades agrícolas. No pós-1930, a região continuaria a ser incluída nas

políticas de saneamento do governo federal.

Em virtude dos resultados das políticas de saneamento e da expansão dos loteamentos,

em 1940 não havia mais terras disponíveis para loteamento nos distritos de Nilópolis, São

João de Meriti e Caxias. Nessa década, exatamente as localidades que serviram aos

loteamentos e que abrigavam maior contingente populacional do que o distrito-sede, iniciaram

processos de emancipação do município de Nova Iguaçu: “não fazia mais sentido que a

administração dessas localidades ficasse subordinada ao pequeno núcleo semi-rural de Nova

Iguaçu, muito menos a uma elite política fundamentalmente agrária” (SIMÕES, 2007, p. 117).

Desta forma, emanciparam-se do município de Nova Iguaçu, os distritos de Caxias, em 1943,

e São João de Meriti e Nilópolis, em 1947. A recomposição dos limites territoriais do

município em função das emancipações revela, também, os conflitos políticos entre as elites

locais.

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Figura 7 Mapa da Divisão territorial após as emancipações – 1947.

Fonte: Produzido e gentilmente cedido pelo geógrafo e professor Manoel Ricardo Simões.

A Instrução agrícola e a ordenação social do campo

Para além das mudanças introduzidas na ordenação do território, na administração

política local e na promoção de infraestrutura para a produção, a aquisição de saberes sobre a

agricultura e a formação dos diversos tipos de trabalhadores agrícolas constituía o cerne de

construção e disseminação de uma nova ordem social para o mundo rural. E esses saberes, as

novas técnicas, as pesquisas, deveriam ser empregados no processo produtivo; ou seja, sua

adoção já devia resultar em resultados práticos na produção. Concomitantemente,

reorganizava-se a cultura e a produção na gestação de uma nova civilização rural, moderna

porque científica. A especificidade da função da instrução nesse cenário era a imediata

aplicação desses novos saberes que deveriam ser dominados e difundidos, daí a centralidade

do ensino agrícola.

Em 1922, o Correio da Lavoura assinalava a necessidade de conquistar a adesão dos

trabalhadores rurais para adoção das novas técnicas de cultivo, alegando que havia

dificuldades em compatibilizar o “nosso lavrador”, o “sertanejo” com os “modernos

doutrinamentos agrícolas”, porque aqueles resistiam em abandonar suas rotinas: “Todo o

esforço, no sentido de arrancar ao sertanejo as suas idéas rotineiras e de fazel-o um cidadão

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util, esboroa-se de encontro a multiplas hostilidades”.74

A atuação de Belisário Penna era

tratada como exemplo desta situação, porque na campanha pela disseminação da higiene,

obteve como resposta, segundo o Jornal, o indiferentismo com que o “povo rude e rebelde

recebe os seus ensinamentos”.75

Por isso tão somente o doutrinamento agricola e sanitario popular não pode preceder

o ensino primario. Antes de tudo, pois, devem as autoridades governamentaes

derramar pelos sertões a indispensavel luz, como base, onde apoiar-se-á então, uma

nova casta de agricultores mais forte e mais consciente. Sem esse ponto

fundamental, todas as propagandas, em prol de ensinamentos populares, não surtirão

o almejado effeito.76

Pela higiene, pelo saneamento e pela instrução argumentava-se favorecer uma

população rural em situação de “abandono”, “atrasada”, a fim de inseri-la em um projeto de

ordenação do campo que interessava à manutenção da dominação dos setores agrários e de

suas atividades econômicas: “A elevação moral das massas rurais inertes era o pretexto para

um projeto de educação agrícola destinado a legitimar um novo tipo de intelectual qualificado

a intervir sobre o espaço social rural” (MENDONÇA, 2000, p.10, grifos da autora).

Silvino Silveira foi um assíduo colaborador do Jornal por décadas. O conteúdo de suas

participações demonstra seu engajamento da defesa do ruralismo. Em “O ensino agrícola”,

Silvino Silveira engrossava o coro: “A educação é a chave de todos os problemas sociaes”.

Lembrava que há cinco anos ele repetia no Correio da Lavoura que “Rumo ao campo”

deveria ser a legenda das escolas, porque a riqueza oriunda da agricultura é o fundamento da

“evolução social”. O cerne de suas ideias relacionava o desenvolvimento da lavoura com o

progresso da sociedade:

O abandono dos campos – é o perecimento da agricultura, é a miseria do paiz, é a

impossibilidade de qualquer tentativa de progresso moral ou intellectual, pois a

riqueza é a pedra angular de toda evolução social. A agricultura, podemos dizer, é o

‘nó vital’ de todo o organismo politico. Si ella soffre ou perece, perecem e soffrem

as industrias e o commercio, soffre e perece a nação inteira.77

Citava, duas vezes, Assis Brasil na obra Cultura dos Campos, retomando os

argumentos de que os estudantes deveriam voltar-se para o cultivo da terra, ao contrário de

pretenderem empregos públicos. Joaquim Francisco de Assis Brazil foi um precursor do

ruralismo no Brasil. Foi atuante na propaganda pela diversificação da produção agrícola e

pecuária no país, a fim de alcançar a diminuição da dependência da importação de grãos e

74

ENTRAVES À PROPAGANDA AGRÍCOLA, 22 jun 1922. 75

É possível que o Jornal estivesse se referindo à experiência que ocorria, desde 1918, da instalação de

Postos de Profilaxia Rural em Iguassú. A implantação de postos de saúde integrava as ações da Liga

Pró-Saneamento do Brasil. Belisário Penna também esteve presente na cidade, promovendo palestras. 76

ENTRAVES À PROPAGANDA AGRÍCOLA, 22 jun 1922. 77

O ENSINO AGRÍCOLA, 21 dez. 1922.

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carnes e remover os riscos de manter apenas um produto, o café, como base de sustentação

econômica. Demonstrava muito interesse pelo modelo norte-americano de produção baseado

na agricultura científica (MENDONÇA, 1997).

Assim, a formação especializada de técnicos e agrônomos era preconizada como

necessária para difundir esse novo modo de produção, essa nova mentalidade acerca da

produção. Além da criação de instituições para o ensino agrícola, havia uma hierarquização

das funções realizadas de modo que, segundo Artur Torres Filho, um dos ícones do

movimento, em obra sobre o ensino agrícola no Brasil, “... a ciência caiba ao agrônomo; a

arte, ao chefe de culturas; e o ofício, ao trabalhador rural” (TORRES FILHO, 1926 Apud

MENDONÇA, 2000, p.10).

Esses argumentos estavam constantemente presentes no Correio da Lavoura. Em

artigo sem assinatura intitulado, “Ensino Agricola pratico”, ponderava-se que no Brasil, de

onde a riqueza emana da terra, era fundamental cuidar do ensino agrícola, constituindo

“problema vital da economia nacional” a instrução da mocidade que vive no campo.

Argumentava-se que a falta de “trabalhadores adestrados e capazes” era um dos entraves ao

“desenvolvimento de nossas industrias ruraes”. Dever-se-ia, então, difundir o ensino agrícola

prático nas zonas ruraes para formação “do homem que conhece praticamente os trabalhos

ruraes e sabe executal-os e que é uma especie de intermediario indispensavel entre o technico

que dirige e o trabalhador braçal, que age apenas pela sua força physica.”78

Os

estabelecimentos como aprendizados e patronatos deveriam servir a esse tipo de formação do

trabalhador braçal, porque destinavam-se a ministrar “um ensino racional, mas limitado à

capacidade mental e ao preparo geral do educando”. Concluía-se que: “Encarado como

essencialmente de applicações immediatas, o ensino agrícola pratico preparará, sem duvida,

homens sem pretensões, porem conscientes de seu saber pratico e de sua aptidão para o

trabalho agrícola”.79

Afinado com um projeto específico de sociedade, oriundo das classes dominantes

agrárias, no programa de ensino agrícola defendido por esses setores, tanto a infância quanto

os adultos eram alvos de projetos que procuravam convencer, pela educação, sobre a

importância do trabalho agrícola, orientado em novas bases. Em artigo transcrito no Correio

da Lavoura, o professor Graccho Cardoso, da Escola Superior de Agricultura, debatia o

78

ENSINO AGRICOLA PRATICO, 28 ago 1932. 79

Idem.

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60

ensino agrícola extensivo: “O ensino agrícola antes de ser ensinado cumpre que seja

comprehendido”.80

Argumentava sobre a importância de diversos fomentos para a produção, como a

infraestrutura para o escoamento dos gêneros, a organização do crédito, de cooperativas e do

sindicalismo rural, mas que o corolário de todos os incentivos era a “systematização e

generalisação do ensino technico profissional”. Assim, considerava que já não seria

necessário discutir a importância da atuação dos poderes públicos no progresso agrícola, para

a prosperidade das nações. Contudo, nesse tema, pouco havia sido feito: “fallece-nos estimulo

scientifico e orientação pratica agronomica”.81

Lembrava que há 20 anos defendia que a instrução primária não poderia se limitar a

noções elementares de instrução geral, mas deveria iniciar a criança nos princípios da

profissionalização futura. Ponderava que o governo colaboraria se o ensino atraísse a atenção

das crianças para o campo, “por maneira a inculcar-lhe à intelligencia mal desperta as virtudes

e compensações da vida do campo, habitual-o, enfim, com as plantas, os animaes domesticos,

as industrias agricolas da região.”

Contudo, segundo o professor, a escola primária não satisfazia a esse critério. A

educação para o campo, tanto da criança quanto do trabalhador fora da idade escolar, exigiria

métodos especiais de alcance e sucesso. De maneira que o ensino extensivo, de caráter prático

e destinado à disseminação sistemática, de generalização progressiva pelas massas rurais,

seria o indicado:

No estado social moderno a riqueza economica depende de que o trabalho evolua

pela transformação do trabalhador. Engenhemos as reformas que bem quizermos,

melhoremos, como bem imaginarmos, a technica agronomica, introduzamos os

inventos mais recentes, fundemos gabinetes, laboratorios, museus, estações

experimentaes, ponhamos a funccionar os apparelhos mecanicos mais minimamente

acabados, tudo será debalde sem o preparo rudimentar daquele que lavra e semeia o

solo, isto é, se a mente do operario agricola não estiver desbravada para que possa

perceber a razão das operações que realiza.82

Em 1936, Renato S. Fleury, autor da Cartilha Rural de Alfabetização lançada no ano

anterior, publicava no Correio da Lavoura o artigo “Que é ruralismo”.83

Defendia que a

educação da infância deveria ter sentido “marcadamente ruralista”. O ruralismo pretendia o

“progresso das zonas ruraes” e em consequência a elevação do “padrão da existencia roceira”.

Para isso seriam necessários saneamento rural, facilitação de transportes e comunicação,

80

PELO ENSINO AGRICOLA EXTENSIVO. Graccho Cardoso. 28 jul 1932. 81

Idem. 82

Idem. 83

QUE É RURALISMO, Renato Fleury, 10 dez 1936.

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“renovação dos processos de trabalho agrario”, além de “polycultura, reflorestamento,

cooperativismo, industrias agricolas e pastoris”. Inscrevia sob a rubrica do ruralismo “tudo

que se refere à vida do campo e tudo quanto coutribue, directamente, para melhora-la”.

Contudo, uma palavra resumia o problema: “a ‘educação’. Mas educação rural, capaz de

orientar exclusivamente para as actividades campezinas.” Nesse sentido, o ruralismo era uma

oposição ao urbanismo, o mal que respondia “pela situação de impasse da civilização

comtemporanea”.84

Citando Oliveira Vianna, o professor fazia coro às críticas aos administradores, aos

prefeitos municipais que embelezavam as cidades enquanto abandonavam os campos:

“Occupemo-nos dos nossos homens do campo, lavradores e criadores porque é nos braços

desses verdadeiros heroes que se esteia o futuro desta immensa patria”.

Em função da situação, a “sociologia rural” procurava resolver os problemas do

campo, contando com a colaboração de higienistas, engenheiros, médicos, dentistas,

agrônomos, técnicos industriais e dos sacerdotes, “porque todos têm participação nessa obra

grandiosa de salvação”. Contudo, caberia à escola rural a base do trabalho: “Mas o

embasamento desse trabalho gigantesco está na escola rural. É ao professor da roça que

imcumbe orientar as populações ruraes para que elevem seu padrão de vida”.85

Dessa forma, ocorria a atribuição de uma função social específica para a escola rural,

que seria a promoção de um nova ordenação social para campo, a fim de assegurar a

manutenção das atividades agrícolas e pastoris.

É fundamental perceber neste projeto de reordenação das relações de produção no

campo a relevância da instrução da população campesina, em sentido amplo. Cabe retomar o

pensamento de que a educação equivale às operações fundamentais da hegemonia

(BUTTIGIEG, 2003, p.47). As “operações de hegemonia” são meios pelos quais a concepção

de mundo e os valores de um grupo são difundidos, reforçados e estimulados “capilarmente”

pela sociedade, tornando-se hegemônicos.

A teoria do Estado Ampliado tem como fundamento a percepção de que o poder não é

exercido apenas e pela coerção, mas pela capacidade da classe dominante de obter e manter

seu poder sobre a sociedade por sua capacidade de produzir e organizar o consenso e a

direção econômica, política, intelectual e moral dessa sociedade (ACANDA, 2006).

Dentro do movimento ruralista, a instrução agrícola era um meio para “desbravar” a

mente do trabalhador, convencê-lo dos benefícios da adoção de novas práticas de cultivo, do

84

QUE É RURALISMO, Renato Fleury, 10 dez 1936. 85

Idem.

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62

interesse pelo trabalho no campo. Sob essa perspectiva, a educação atua na divulgação e

interiorização do arcabouço ideológico das classes hegemônicas, transformando valores

particulares em senso comum. Com base na afirmação de que “toda relação de hegemonia é

necessariamente uma relação pedagógica” e que toda conceituação de educação é

necessariamente uma estratégia política (GRAMSCI, 1981: p. 38), compreende-se os esforços

do Correio da Lavoura e dos intelectuais da SNA em sustentar a bandeira da instrução

agrícola da população.

Nesse sentido o Correio da Lavoura, pelos intelectuais que reunia em sua redação,

pelo espaço destinado ao tema, exercia a propaganda ruralista no município de Nova Iguaçu.

Contudo, o próprio Jornal, situando-se em prol da propaganda agrícola, afirmava os limites de

sua atuação para modificar imediatamente a situação: “A nossa propaganda cinge, apenas, o

vasto e fertil municipio de Iguassú”,86

de modo que conclamava à ação também a imprensa da

capital.

Na construção da hegemonia, a imprensa é um recurso de defesa de propostas e visões

de mundo, e sua ação busca disseminá-las. É notável o Jornal exercer essa função educativa

pela forma como, por seus artigos, viabilizava a voz e a prática de sujeitos e experiências que

buscavam construir o ruralismo, enquanto ele mesmo atuava pedagogicamente no município.

E isso não ocorria de modo aleatório, porque os setores letrados daquela sociedade, mas,

também, os que podiam ouvir comentários, conversas, etc. sabiam da função da imprensa

enquanto partido de interesses, plataforma de defesas e combates, como já haviam

demonstrado as campanhas abolicionista e republicana.

Tanto Silvino de Azeredo quanto seus colaboradores já tinham larga experiência no

ambiente literário do Distrito Federal. Principalmente Silvino Silveira e Alfredo Jardim, que

foram os intelectuais mais constantes no Jornal no período em foco, eram sempre

mencionados e elogiados como antigos jornalistas87

e mostravam-se convencidos do poder

instrutivo da imprensa e de sua potencialidade pedagógica de difusão de ideias e práticas, em

novos modos de socialização. No caso da imprensa, seu uso agrega significado à crença

disseminada sobre a capacidade da instrução de expurgar os problemas da sociedade e de

modificar situações. Festejando o aniversário do Jornal, dizia Silvino Silveira:

86

ENTRAVES À PROPAGANDA AGRÍCOLA, 22 jun 1922. 87

Cf. NOVOS ELEMENTOS, 04 out 1917; CAP. ALFREDO JARDIM, 16 out 1930. CAP. ALFREDO

JARDIM, 15 out 1931; PERFIL PERIODISTICO DE SILVINO SILVEIRA, 11 mai 1947. Em 1932,

Alfredo Jardim estava afastado voluntariamente da Folha. FAZ ANNOS, HOJE, O CORREIO DA

LAVOURA, Alfredo Jardim, 22 mar 1932.

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Um jornal, innegavelmente, é uma pequenina bibliotheca, onde encontramos a voz

do poeta, do orador, do philosopho, do historiador e do litterato. A sua fundação

abre uma nova época de illustralção ao povo e muito contribue para o progresso da

localidade. Preciso em toda parte, - penetra o palacio do rico, como no albergue do

pobre; no recinto dos tribunaes, onde os sacerdotes da Justiça desempenham sua

missão, como no interior do carcere, onde estão encerrados os infratores da Lei. Si

tivesse jornaes o mundo inteiro, menor seria o numero dos ignorantes e dos

criminosos.88

A comparação entre a instrução escolar e a função da imprensa, elaborada por Silvino

Silveira é sintomática dos interesses em atuar na imprensa. Por ocasião do aniversário do

Semanário e da inauguração de uma nova coluna, Silvino Silveira comentava a importância

da invenção da imprensa, sua capacidade de instruir, informar, dar a ver as mudanças em

diversos campos, e de sua disseminação na sociedade:

Influe na educação domestica por essa continua convivencia, por essa intervenção

avassaladora de todo jornalismo, com a mesma força absorvente com que as lições

de um educador são capazes de operar, por meio de methodico trabalho de inducção,

sensivel modificação de indole no caracter de seus educandos.89

Em função do programa anunciado desde o primeiro número em 1917, de lutar pela

lavoura, higiene, instrução, os temas acerca da instrução, do ensino e da educação são

fartamente encontrados nas páginas do semanário. A partir do exame do que, no curso do

tempo, é publicado sobre instrução agrícola, apreende-se quais sujeitos são legitimados a

expor sobre o assunto, as visões de mundo divulgadas, as experiências recomendadas, as

iniciativas para o ensino agrícola. O que o exame das matérias demonstra é que os debates e

as experiências sobre instrução agrícola noticiados guardam vínculo com as representações

sobre o ensino regular e a construção do movimento ruralista no distrito-sede, pela

citricultura.

O exame dos debates e práticas sobre a instrução rural naquele distrito desvela a

função social da escola para esses grupos e como as categorias do rural e do urbano eram

significadas; como as concepções sobre elas eram disputadas e modificadas, conforme os

interesses em jogo se organizavam. Longe de definições estanques, elas ganham nuances e

usos diferentes no tempo e conforme o enunciador, se contradizem, rivalizam ou são

sobrepostas.

A instrução não aparecia somente nas notícias diretamente relacionadas ao assunto. O

tema comparecia como argumento, solução, ou a sua ausência era sintoma das razões, quando

se abordavam outros problemas cotidianos da população da cidade, do país e da lavoura. A

campanha pela instrução agrícola pode ser acompanhada pelo que era divulgado em termos de

88

O JORNAL, 28 out 1920. 89

A LAPIS – O ANNIVERSARIO DO CORREIO. 22 mar 1926.

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acontecimentos e mobilizações, mas também é possível observar como ela era realizada pelo

próprio Jornal, através de seus artigos.

Sonia Mendonça (2010), num balanço historiográfico sobre a educação rural, se

contrapõe a duas ênfases predominantes: a avaliação de que o ensino rural só foi considerado

no Brasil no pós-1930 e no âmbito do Ministério da Educação. Sua pesquisa revela que o

tema habitava a pauta de ações do Ministério da Agricultura desde sua criação na década de

1910, e que este órgão continuou a disputar a condução das políticas da educação no campo,

após a criação do Ministério da Educação e Saúde. Mesmo os estudos sobre educação rural,

ou no campo, constituem uma frente de trabalho menos privilegiada, e por vezes apartada das

demais discussões, como se fosse algo muito específico, deslocado, à margem dos grandes

temas, dos grandes movimentos, da história da educação.

Tanto as ações do Ministério da Agricultura quanto, de forma mais ampla, a atuação

da SNA e de seus intelectuais estão presentes, ecoam, fundamentam, são compartilhados pelo

Correio da Lavoura em todo o período encoberto nesta pesquisa. Além das experiências

realizadas e dos propósitos do ensino organizado pelo Ministério, intelectuais da SNA

publicavam no Correio da Lavoura e eram constantemente citados, transcritos, mencionados.

Outro alerta muito importante é que o ensino rural foi alvo de políticas e intenções por

vezes conflitantes nos direcionamentos a serem impressos, e não apenas uma campanha

homogênea de grupos agrários. Interessa compreender a função que o ensino rural

comportava nos projetos e debates dos grupos agrários e urbanos. A quem se destinava, como

era organizado, quais os seus objetivos?

Nesse sentido, a notícia de criação de um Aprendizado Agrícola na zona rural do

Distrito Federal era recebida com ânimo nas páginas do Semanário. No projeto dos

Aprendizados Agrícolas havia uma comunhão de interesses entre ordenação do mundo rural e

do urbano. Destinava-se a receber “grande numero de menores que vagueiam em completo

abandono pelas ruas da capital”90

, ou ainda, em tom mais punitivo: “destinado aos menores

apanhados em vadiagem pela policia”91

e empregá-los no ensino prático da agricultura:

Além da instrucção primaria e das noções de educação civica, será ministrado o

ensino exclusivamente pratico de agricultura elementar, bem como de profissões

anexas, como o trato do gado, reparações de instrumentos de trabalho e de arreios,

construções de bemfeitorias ruraes, etc. 92

Assim buscava-se retirar do espaço urbano os problemas que maculavam o almejado

progresso, e de oferecer mão-de-obra para o campo, que enfrentava o problema de

90

APRENDIZADO AGRÍCOLA, 17 jan 1918. 91

APRENDIZADO AGRÍCOLA, 28 fev 1918. 92

Idem.

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65

reorganização do trabalho desde o pós-abolição. Outros Aprendizados Agrícolas seriam

criados nos estados da União, “segundo informações que nos foram concedidas por um alto

funccionario do Ministerio da Agricultura” e o semanário defendia a iniciativa:

O Estado do Rio não pode ficar indifferente ao desenvolvimento do trabalho

agricola [...] A agricultura constitue a maior fonte de riqueza, é a base da nossa

economia, é o factor mais importante da nossa grandeza. [...] Ao agricultor laborioso

e patriota cumpre estudar os modernos apparelhos de preparar a terra afim de que

seja possivel obter o maximo da producção com o relativo minimo de esforço.

Até 1930 foram criados oito aprendizados agrícolas distribuídos entre Minas Gerais,

Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Alagoas, Pará e Maranhão, mas, como tinham

autonomia quanto aos regimentos internos, desenvolveram especificidades de funcionamento

conforme a região. A localização correspondia ao atendimento da demanda das frações

agrárias subordinadas que, ao contrário de São Paulo, optavam pela colonização com o

elemento nacional, por falta de recursos para arcar com a imigração. Nessas instituições, o

público alvo tinha entre 14 e 18 anos e era recrutado para o trabalho nas fazendas do entorno.

Ainda que tenham alcançado “importância relativa” pelo baixo número de alunos e de

unidades, os Aprendizados Agrícolas expressavam o interesse em formar um fluxo de mão-

de-obra treinada (MENDONÇA, 2010, p. 34-35).

Experiências anteriores aos aprendizados agrícolas também vinculavam a assistência a

crianças com a inserção ou conservação das mesmas no mundo do trabalho rural. O Asilo

Agrícola Santa Isabel, fundado em 1886, na província do Rio de Janeiro, resultou da

associação93

de pessoas interessadas em fundar uma instituição que abrigasse menores

“desamparados” e os filhos de escravas, libertos pela lei de 1871, de forma a conservar a mão-

de-obra para o campo (SCHUELER, 2000, p.122). As primeiras letras, educação religiosa e

noções práticas de agricultura integravam o corpo de ensinamentos que procuravam

conformar o destino das crianças, consubstanciando, também, o controle social dessas

populações (Ibidem, p.131).

Pelo regulamento expedido em 1919, foram organizados os patronatos agrícolas,

instituições criadas para a “educação moral, cívica, física e profissional de menores

desvalidos”. Enquanto instituto de “assistência, proteção e tutela moral aos menores”,

recorria-se ao trabalho agrícola “sem outro intuito que não o de utilizar sua ação educativa e

regeneradora, com o fim de os dirigir e orientar, até incorporá-los no meio rural” (apud

NAGLE, 1974, pp.183-184) .

93

Associação Brasileira Protetora da Infância Desamparada. Ver Schueler, 2000, p.121.

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Foi intensa a ação do Ministério da Agricultura durante a Primeira República, que

buscava aumentar o orçamento para a criação de escolas de ensino prático no Brasil, de

agricultura, veterinária, mecânica, eletricidade, agronomia e encontrava apoio em

parlamentares partidários da economia agrícola.94

O ensino agronômico foi regulamentado,

ainda que inicialmente pouco tenha sido realizado, com pequeno investimento oficial e maior

participação de escolas privadas.95

O texto normativo, contudo, comporta a extensão da ação

pretendida. Ao longo de 591 artigos, eram estabelecidas onze divisões do ensino: superior,

ensino médio, ensino prático, aprendizados agrícolas, ensino primário agrícola, escolas

especiais de agricultura, escolas domésticas agrícolas, cursos ambulantes, cursos conexos com

o ensino agrícola, consultas agrícolas e conferências agrícolas (NAGLE, 1974, pp.182-183).

Na edição comemorativa do 5º aniversário do Correio da Lavoura, um extenso artigo

sobre ensino agrícola, argumentava que o Brasil, considerado como “essencialmente agrícola”

conforme a “classica phrase”, ainda apresentava uma agricultura atrasada que adotava

“processos primitivos”. A escassa difusão das ciências naturais no ensino secundário e a

predominância de conteúdos de humanidades, eram arroladas como uma das causas, porque

não formava os dirigentes que poderiam introduzir métodos inovadores na agricultura. Pela

estrutura do ensino secundário, que formava futuros empregados para ofícios urbanos, pouco

se desenvolvia o estudo das ciências naturais. Enquanto isso, nas nações avançadas na

produção agrícola, como nos Estados Unidos, o conteúdo do ensino secundário privilegiava as

ciências naturais e o conhecimento das características geográficas e históricas do país:

Enquanto somos um povo culto, o americano do Norte, alem disso, é

‘essencialmente agricola’; e devido ao estudo systematico das ‘sciencias naturaes’ e

da ‘agricultura’ que se faz nesse paiz admiravel, é elle o colosso que a Europa e o

mundo inteiro admira e respeitam. A sua ‘agricultura’ aperfeiçoa-se sempre pela

difusão do ‘ensino agrícola’, a sua producção se avantaja de anno para anno e o seu

commercio cresce aos olhos dos outros povos. E temos nós a agricultura mais

primitiva que é possivel e importamos de outros paizes os gêneros de primeira

necessidade que entretanto podemos produzir com vantagem.96

A partir do exemplo dos Estados Unidos, concluía-se pela urgência de difusão do

ensino agrícola, por meios práticos e não teóricos, como o costume do ensino no Brasil.

Argumentava-se que, para os lavradores, seria preciso que o ensino agrícola apresentasse

resultados imediatos e a baixo custo.

Nesse período, os discursos modernizantes seriam utilizados justamente para ratificar

a vocação agrícola e combater a industrialização e a urbanização. A ênfase também recaía

94

ENSINO ESSENCIALMENTE PRATICO, 04 set 1919. 95

Decreto nº 8.319 de 20/10/1910 (NAGLE, 1974, p.182). 96

ENSINO AGRICOLA, 22 mar 1922.

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sobre a organização do ensino e o descaso ou a morosidade das ações estatais. Silvino Silveira

argumentava que, embora se insistisse que o país fosse essencialmente agrícola, a lavoura era

abandona pelos governantes.

Nos congressos sobre os ramos de ensino, a ausência de discussão categórica sobre a

intensificação do ensino agrícola aliado ao ensino profissional, e a teorização deste ensino em

densos livros e relatórios do Ministério da Agricultura, seriam entraves ao desenvolvimento

da lavoura, não serviam para o lavrador analfabeto. O lavrador permanecia sem conhecer “as

innovações da agrologia moderna e cultiva o solo pelos methodos prehistoricos!”.97

Silvino

Silveira defendia a necessidade de intensificar a propaganda do ensino agrícola por meio da

criação de escolas.

Pelo “salutar manejo da enxada e do arado”: alfabetização e instrução primária

O combate ao analfabetismo e a defesa por uma lei do ensino primário obrigatório

estiveram inscritos nas campanhas do Correio da Lavoura. Além da disseminação e defesa da

importância da instrução agrícola para fixar o homem no campo em atividades agrárias, e, por

meio disto, imprimir novas diretrizes à produção agrícola, os intelectuais engajados no

ruralismo também postulavam posições no amplo debate sobre a escolarização, sobre as

orientações a serem impressas ao ensino regular.

Nas páginas do Correio da Lavoura, o analfabetismo era situado como um sintoma do

atraso da população. A escolarização da sociedade era prevista como meio de reordenar o

social, fosse nos campos ou nas cidades. A campanha do Jornal pela disseminação da

educação primária, pontuava, por vezes, críticas contundentes aos impasses burocráticos, à

morosidade dos grandes projetos legislativos. Silvino de Azeredo avaliava que, apesar da

sucessão de anúncios de grandes projetos para o ensino primário e profissional, por vezes

projetos relevantes eram arquivados, de forma que não era resolvido o problema de oferta da

instrução pública, primária e profissional no país.98

Além da insuficiência na oferta de escolas, o custo com exames de admissão,

enxovais, atestados de saúde etc. eram denunciados como encarecedores do ensino, o que

também limitava o acesso à instrução pública.99

O aniversário da Independência do país e os avanços e recuos dos projetos

republicanos eram acenados como convites à ação para sanar a principal causa de atraso

97

O ENSINO AGRICOLA, Silvino Silveira, 21 dez 1922. 98

O PROBLEMA DO ENSINO. Silvino Azeredo, 11 ago 1921. 99

INSTRUÇÃO SÓ PARA OS RICOS, 10 abr 1924.

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moral e econômico do país.100

O recurso às estatísticas da disseminação do ensino, taxas de

analfabetismo, tudo servia de comparação para dar a ver a situação do Brasil.101

Algumas

iniciativas governamentais ou de âmbito privado, em outras cidades, estados e países, eram

comemoradas e apontadas como exemplos a serem repetidos.

A historiografia sobre a Primeira República no Brasil tornou conhecidas as

experiências e práticas ensaiadas, por distintos setores da sociedade brasileira, de repensar o

Brasil e a construção da nacionalidade (Cf. GOMES; FERREIRA, 1989). Compete assinalar

que esse cenário não foi específico da Primeira República, posto que o rompimento dos laços

coloniais também impôs uma agenda de construção da nação para o período imperial. O

repertório sobre a construção da civilização brasileira, em concomitância a construção do

aparato de estado, estava em curso desde o Império. Desde então, a instrução e a

escolarização constituíam ingredientes relevantes nos projetos de formação da população, do

“povo” brasileiro (Cf. FARIA FILHO, 2007; GONDRA; SCHUELER, 2008).

Na avaliação dos alcances e limites destas experiências, na década de 1920, o tema da

educação foi reiterado à condição de principal “vacina” para curar os problemas de uma

população que continuava “atrasada” em seu processo “civilizatório”.

Foi produzido um consenso, reverberado por décadas do projeto republicano, de que o

analfabetismo da imensa maioria da população representava um obstáculo à construção da

nação moderna, que deveria ser provida por cidadãos com uma nova mentalidade cívica,

prontos a contribuir com a prosperidade econômica e social do país. Na sociedade civil, a

atuação de agremiações, ligas, batalhões patrióticos, de intelectuais dos setores religiosos, da

iniciativa particular e da imprensa também encadearam esse processo.

A urbanização, enquanto plano de intervenção no espaço, comportava, também, um

projeto de disseminação da urbanidade, enquanto modo de comportamento. Sob essa ótica, a

instrução foi concebida como uma ferramenta para disseminação destes novos modos de

socialização (FARIA FILHO, 2005a). O conceito de modernidade, característico deste

conjunto de intervenções, sintetiza essas aspirações.

André Paulilo (2010), avaliando a presença dos termos moderno e modernidade na

historiografia da educação brasileira, adverte para as diferentes apropriações que foram dadas

aos termos, ora sendo acriticamente incorporadas, ora situadas como recursos de legitimação

e da instituição de memórias sobre as reformas da instrução pública ocorridas nos anos de

1920 e 1930. É marcante, contudo, a permanência destes termos no debate historiográfico. A

100

CRUZADA SANTA, 23 out 1919. 101

O MAIOR PROBLEMA NACIONAL, 27 jun 1926.

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partir da renovação de perspectivas e métodos de pesquisa, o tema ganhou novos enfoques na

historiografia. Marta Carvalho (1998), ao rever as impregnâncias da interpretação de

Fernando de Azevedo sobre as reformas da instrução, alerta para a operação realizada em que

o sentido modernizador, atrelado ao novo e à ruptura com o passado, expurga a percepção do

que havia, no interior do movimento, de compromisso com a manutenção da ordem e da

sociedade capitalista (PAULILO, 2010, p.32).

O discurso pela modernidade comportava um projeto educacional amplo, de

conformação social da população, elaborado por alguns grupos dominantes da sociedade

(Ibidem, p.33). Marlos Bessa Rocha (2004) também ressaltou que não havia uma conotação

homogênea para os discursos pela modernidade, havendo até concepções dissonantes. Por sua

vez, Clarice Nunes (1998) descortinou o “movimento contraditório da gestação do moderno

no país”, recuperando as relações entre o espaço urbano e o espaço escolar nas reformas da

instrução da capital federal (PAULILO, 2010, p.33).

Porém, as propostas de modernidade, de modernização e de construção de uma nova

ordem não transitaram somente nos meios intelectuais vinculados à cidade, pois repercutiram

em discursos sobre o rural, ora vinculando-o ao atraso, ao arcaico, ora idealizando-o como

lugar da pureza, de estilos de vida menos conturbados. Nesses discursos propagados no

Jornal, a situação da população rural era enfatizada, pela ausência maior, em comparação com

as cidades, de iniciativas em prol da instrução.

O Correio da Lavoura conclamava à realização da “Cruzada Santa”, isto é, o combate

ao analfabetismo e a difusão da instrução, a ser levado a efeito por todos os setores sociais, a

despeito da morosidade dos governantes. Mas o que é especifico deste discurso são as

aproximações e recuos que vão se constituindo na relação entre instrução primária e educação

rural:

O resurgimento do Brasil promanará da sua instrucção. As escolas proliferam nas

cidades e capitaes. Necessitamos de escolas ruraes em todos os recantos das zonas

productoras do paiz, onde, com o salutar manejo da enxada e do arado seja

introduzido o ‘a b c’. Não se trata de fabricar bachareis, mas sim de preparar

cidadãos conscientes, cumpridores de seus deveres político-sociaes, e que

comprehendam a grandeza do nosso invejavel paiz.102

Ainda que fosse defendida a obrigatoriedade da instrução primária para o combate ao

analfabetismo103

, havia diretrizes a serem impressas a esse ensino. Assim, o ensino primário

livresco era combatido porque não preparava para o trabalho no campo. Ao contrário,

segundo o Jornal, formava pessoas mais propensas ao urbanismo.

102

CRUZADA SANTA, 23 out 1919. 103

CHRONICA. Alfredo Jardim, 09 set 1920.

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Silvino Silveira, refletindo sobre o ensino agrícola, preferia ter homens sem instrução

do que homens mal instruídos, posto que as escolas rurais não resultavam no que deveriam.

Em visita a escolas rurais do estado de São Paulo, Silvino Silveira observou que as escolas

isoladas são tal qual funcionam nas cidades, “com os mesmos professores, com os mesmos

methodos, com os mesmo horários, com as mesmas férias, como os mesmos hynos e até com

os mesmos, com os mesmissimos livros”. Citava positivamente os casos dos Estados Unidos e

do México, pela implantação da educação prática.104

Por isso, o ensino profissional obrigatório também era defendido na propaganda

ruralista do Correio da Lavoura, desde que vinculado à instrução agrícola e primária, para a

formação de braços e quadros técnicos para a lavoura. Nos debates sobre a obrigatoriedade do

ensino, o Jornal, em tom de indignação, destacava que a lei do ensino profissional obrigatório

não poderia prescindir de uma lei do ensino primário obrigatório, sendo vexatório, para um

país com 100 anos de independência e 33 anos de República, não possuir a lei que

“garantiria” o progresso.105

Denunciava-se ainda os desacordos entre os discursos dos

parlamentares sobre a regulamentação do financiamento da instrução primária que

postergavam a solução do problema e a adoção de “realizações praticas”.106

É possível identificar na ação do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio

iniciativas de cooperação com as escolas primárias, buscando desenvolver experiências de

dotá-las de estrutura física e conteúdos práticos que servissem ao ensino da lida no campo,

com a perspectiva da adoção dos novos métodos de cultivo. Outra frente de trabalho era a

criação de instituições específicas para o ensino agrícola, face aos parcos resultados de

“ruralização” do ensino primário, ou seja, do interesse de dotá-lo de conteúdos pertinentes à

formação para o trabalho agrícola.

Desse modo, ocorriam iniciativas como os entendimentos entre o Ministro da

Agricultura e o diretor da instrução do Distrito Federal para adaptação de escolas primárias

em escolas rurais modelos. O Correio da Lavoura, reproduzindo matéria que circulou no

Jornal do Brasil, destacava que o ministro Miguel Calmon estava “bastante interessado pela

instalação dessas escolas”. Pretendia-se criar o tipo de escola rural modelo em Campo Grande

e Santa Cruz (Distrito Federal), e nelas também ocorreriam palestras aos técnicos e

distribuição de sementes, tendo ampliadas as suas funções: “Organizadas assim essas escolas

104

O ENSINO AGRICOLA, Silvino Silveira, 11 jan 1923. 105

O ENSINO PROFISSIONAL OBRIGATORIO, 24 jan 1924. 106

INSTRUCÇÃO PUBLICA, 24 jan 1924.

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ruraes modelos, nellas se poderão pôr em execução e com efficiencia os melhores planos para

a intensificação e engrandecimento da nossa lavoura.”107

A introdução de aulas práticas de agricultura nas escolas primárias foi um dos alvos do

Ministério da Agricultura. Frequentemente o modelo de educação rural dos Estados Unidos

era exposto, como a criação dos clubes agrícolas, em que os alunos aprendiam produzindo,

com os lucros provenientes da produção restituindo os gastos da escola. Fazendo coro a esta

campanha, o Correio da Lavoura preconizava a adoção desse modelo no Brasil, citando uma

experiência ocorrida no Rio Grande do Norte: “Se a toda a população rural brasileira fosse

facultado o ensino techinico das culturas apropriadas às regiões em que vive e dos principios

de organização commercial, qual não seria, dentro de poucos annos, o surto economico do

Brasil?”108

A experiência ocorrida no Rio Grande do Norte estabelecia que as escolas tivessem

terrenos para o ensino do cultivo. Essa orientação prática deveria reformular o ensino

primário e secundário no Brasil para uma feição industrial e comercial, como ocorria nos

“paizes que estão à frente da civilisação”: Inglaterra, EUA, Japão, Alemanha. Assim, seriam

ensinados saberes úteis para o trabalho, ao contrário de programas literários que só criavam

nos alunos expectativas em torno de empregos públicos: “É um inútil a mais um ocioso que

accresce a cifra dos inactivos ou então um revoltado contra as instituições, contra esse

regimen de ensino que o inutilisou. Impõe se dar um fim a essa peccaminosa organização

pedagógica.”109

Nessa perspectiva, também eram elogiadas as realizações do governo de

Minas Gerais para o incremento do trabalho agrícola, como os diversos campos de sementes,

além do Instituto João Pinheiro e Fazenda da Gameleira, “obedecendo aos preceitos modernos

de agronomia”.110

Nas formas como o tema da alfabetização e da escola primária foram apropriados nos

debates ruralistas, há um empenho em delinear a função da instrução primária para uma

educação rural. Não se tratava apenas de educar as populações rurais, de introduzir mais

escolas no meio rural, mas de ruralizar o ensino de modo a sustentar o desenvolvimento da

agricultura.

Na construção do objeto principal desta pesquisa, conhecer e problematizar aspectos

dos processos de escolarização a partir da posição de análise do distrito-sede de Nova Iguaçu,

107

O ENSINO AGRICOLA NAS ESCOLAS, 26 fev 1925. 108

O ENSINO PRATICO DE AGRICULTURA NAS ESCOLAS, 23 ago 1928. 109

A INSTRUCÇÃO AGRICOLA, 13 set 1928. 110

PELA AGRICULTURA, 20 jun 1929.

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os temas do desenvolvimento da citricultura na cidade e os debates sobre a instrução agrícola

trouxeram para o centro dos estudos e análises, as relações entre o rural, urbano e instrução.

O movimento ruralista e o tema da instrução agrícola possibilitaram restituir e criar os

contextos dos usos do território no município, e os debates acerca da importância da instrução

para aquela sociedade. Esta primeira aproximação não encerra o assunto. Na proposição da

variação de escalas, a investigação da construção de uma rede de escolas expressa os

dinamismos dos processos de escolarização.

Assim, foi preciso proceder ao exercício que se segue de recompor e explicar quais

experiências de criação, organização e manutenção de escola primária foram vivenciadas em

Nova Iguaçu, naquelas décadas. Interessava conhecer essa rede para, também, verificar em

que medida o movimento ruralista teria influenciado este processo, e quais outros grupos

disputavam essa operação no município.

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Capítulo 2

Fazer-se Estado fazendo escolas: experiências de escolarização

“A educação hodierna é essencialmente de base social e daí considerar-se a

Escola como um problema de previsão social. E, como preparação para a

vida, a Escola carece de atuar e agir sempre como órgão da sociedade, o

laboratório onde se preparam os decisivos construtores do Estado moderno”.

Manuel Duarte, Mensagem 1929, p.68.

Experiências de construção da escolarização elementar

No capítulo anterior, operar com a dimensão da região enquanto “lugar

epistemológico”, implicou observar que o município não é um cenário inerte, previamente

dado ao pesquisador, no qual se observaria como ali se realizaram os processos de

escolarização. Foi importante restituir os contextos históricos múltiplos que conferiram

sentido às disputas e usos daquele território. Nesse exercício, o distrito-sede do município

apresenta a especificidade de ser constituído pelo rural e pelo urbano, em torno da atividade

de cultivo e comercialização de laranjas.

No exame do Jornal Correio da Lavoura, foi constatado o movimento de alinhamento

de parte daquela sociedade com o projeto ruralista de recuperação econômica do estado do

Rio de Janeiro, pelas atividades agrícolas. No bojo do projeto ruralista, a instrução, em

sentido amplo, constituía o veículo disseminador das transformações requeridas nos modos de

cultivar a terra, pela adoção de novos saberes e mecanismos, na fixação dos trabalhadores no

campo e na adesão “salutar ao manejo da enxada e do arado”. Mas o próprio Jornal, como foi

visto, denunciava os limites e impasses na execução daquele projeto de ruralização do ensino

e de expansão do ensino agrícola. Teria aquele projeto ruralista repercutido nas escolas de

ensino regular em Iguaçu?

Ao cotejar o desenvolvimento do ensino primário em Nova Iguaçu, encontram-se

sujeitos, políticas, situações e práticas diversas de institucionalização deste nível de

escolaridade. Portanto, neste capítulo, foi preciso investigar outras agências, sujeitos e

contextos que atuaram sobre os processos de escolarização, além dos defensores do ruralismo.

A intenção não é “restituir” um panorama a partir do cotejamento de diversos contextos, mas,

a partir de novos enquadramentos, necessários, restabelecer outros movimentos e atores que

revelam os sentidos e as direções assumidas pelos processos de escolarização em Iguaçu.

Assim, na perspectiva teórica assumida, o estudo dos processos de escolarização deve

examinar, simultaneamente, “o estabelecimento de processos e políticas concernentes à

‘organização’ de uma rede, ou redes, de instituições, mais ou menos formais, responsáveis

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seja pelo ensino elementar, seja pelo atendimento em níveis posteriores e mais aprofundados”

(FARIA FILHO; BERTUCCI, 2009, p.14). No enfoque aqui realizado, será priorizada a

análise do estabelecimento de uma rede regular de escolas pelas agências da sociedade

política, não tendo sido viável aprofundar a investigação sobre os outros modos de

disseminação da escolarização, desde a educação doméstica até as ações de associações da

sociedade civil, como partidos, campanhas, associações religiosas, clubes, etc.

Os levantamentos preliminares para esta pesquisa destacaram a relevância da

participação municipal na instituição de escolas regulares no município de Iguaçu. O

mapeamento das fontes, além da exígua bibliografia, revelou o crescimento da rede de escolas

municipais em Iguaçu. Se em 1893 o município possuía apenas uma escola ofertada pela

municipalidade e 15 escolas do estado (não se sabe o número de escolas particulares)111

, em

1920 existiam 9 escolas municipais.112

Em 1928 a ação municipal em prol da instrução era

ressaltada no relatório do Diretor da Instrução Pública, com 14 escolas municipais.113

Em

1933, havia 33 escolas municipais e 40 escolas singulares mantidas pela administração

estadual, sendo 4 subvencionadas e 1 grupo escolar.114

Em 1934, o município ocupava o 4º

lugar em número de escolas municipais no estado.115

Em 1948, a rede escolar era formada por

100 escolas municipais, 20 estaduais, além de 3 grupos escolares e muitas escolas

particulares, o que, segundo o prefeito Sebastião de Arruda Negreiros, justificava o apelido

por ele conferido ao munícipio de “Atenas Fluminense”.116

Havia ainda escolas de ensino

secundário particulares, subvencionadas pela prefeitura, desde a década de 1930.117

Em Nova Iguaçu a ação estadual também foi relevante na construção da rede de

escolas primárias. Esta constatação, talvez em função do tipo de fontes manuseadas (não

houve acesso ao acervo documental da ação municipal, executiva ou legislativa), nos levou a

ampliar a escala de observação, e deter a análise, como será apresentado a seguir, na

111

O 1º CENTENÁRIO DO MUNICÍPIO DE IGUASSÚ, 15 jan. 1933. 112

Informação retirada da Tabela Orçamentária da Câmara Municipal, publicada no Correio da

Lavoura, 30 dez. 1920, Ano IV, n.198. 113

Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director

da Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1928. Niterói,

Officinas Graphicas da Escola Profissional, 1928, pág.16. Centro de Memória Fluminense, UFF. 114

Estado do Rio de Janeiro. O governo do Estado do Rio de Janeiro e de suas municipalidades durante

o ano de 1933. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Ary Parreiras, Niterói,

1934, pp.248-249. 115

Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Período

de 1931-1934. Ary Parreiras, Niterói, 1935.p.120. 116

Prefeitura de Nova Iguaçu. Comemorações da Semana da Pátria. Filme Jornal.170x15. A. Botelho

Filme.1948. 117

Estado do Rio de Janeiro. O governo do Estado do Rio de Janeiro e de suas municipalidades durante

o ano de 1933. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Ary Parreiras, Niterói,

1934, pág.249.

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condução dos governos estaduais sobre a organização do ensino primário no estado do Rio de

Janeiro. Não se perde, entretanto, a perspectiva de examinar os motivos e modos da

participação do governo municipal na distribuição de escolas no município.

Parte do universo de escolas primárias que existiram no município de Iguaçu é

conhecido pela análise dos “mapas de frequência” do serviço de inspeção estadual.118

Consistiam em documentos preenchidos pelos professores regentes das escolas, fornecendo as

informações requeridas em diversos campos dispostos no documento impresso. Os mapas

deveriam ser enviados mensalmente aos inspetores do ensino da respectiva região escolar em

que se inseria o município onde funcionava a escola.

Os mapas de frequência lançaram pistas sobre o serviço de inspeção escolar realizado

pelo governo estadual e evidenciam “o grau de controle do estado sobre a educação escolar”

(KNAUSS, 2001, p. 215). No exame dessa documentação, e no cruzamento com outras

fontes, espreita-se o movimento de liderança da ação estadual na fiscalização do ensino

primário público, subvencionado e particular no estado do Rio de Janeiro. Como importa

precisar as esferas de atuação dos governos municipais e do governo estadual para

compreender algumas dinâmicas da institucionalização do ensino primário, a compreensão

das funções destes mapas, compondo os serviços de inspeção escolar e de estatísticas,

evidencia aspectos do processo de institucionalização da escola primária e de construção do

aparelho de estado republicano no Rio de Janeiro.

O mapa de frequência de alunos e de professores era uma ferramenta das atividades

dos serviços de inspeção e de estatística do ensino. Desde o século XIX, a produção de um

saber acerca da população, por meio das estatísticas, pelo recolhimento de informações de

ordem econômica, social e demográfica, tornou-se uma prática adotada pelos governos para

substanciar as estratégias de ação política (VIDAL, 2008). Procurava-se, pelo

desenvolvimento de uma ciência moderna, organizar, ordenar e classificar uma realidade que

se pressupunha ser apreendida de modo objetivo pelos recenseamentos e pela elaboração de

estatísticas. A própria produção dessa sistematização já implicava a definição de categorias,

de nomeações, a imposição de critérios, de valores, de modos de mensurar e julgar a

“realidade” que se pretendia flagrar pelos números. Tanto a produção de estatísticas quanto os

discursos e práticas pela disseminação da educação escolar constituem a construção dos

Estados Modernos, tanto da configuração do aparelho burocrático quanto nas formas de

governo de população.

118

Fundo Departamento de Educação, Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro.

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Na administração do ensino, os mapas de frequência e os mapas estatísticos foram

sintomas dessa “vontade de poder” já nos oitocentos, por exemplo, em São Paulo (VIDAL,

2008, p.45). A inspeção do ensino e dos professores permeava as intenções e ações das

autoridades responsáveis pela promoção da escolarização durante o séc. XIX em diversas

províncias. Angélica Borges (2009) examinou as intenções dos agentes públicos em elaborar

os serviços de inspeção na Corte Imperial a partir de reforma ocorrida em 1854. Outras

tentativas haviam sido inscritas na Lei Geral de Ensino de 1827 e nas determinações do

Capítulo X no Regulamento da Instrução Primária da província do Rio de Janeiro em 1849

(BORGES, 2009, p.9).

Havia certo consenso sobre a importância da inspeção da instrução entre os sujeitos de

distintos pertencimentos políticos no Império, de liberais a conservadores, preocupados com a

vigilância sobre o professor. A supervisão sobre a disseminação e os modos de funcionamento

da instrução, prerrogativa que as autoridades públicas procuravam deter pelos serviços de

inspeção, emergia do interesse de civilizar a população e consolidar o Estado tendo a escola

como “unidade de referência civilizatória” (Ibidem, p.3). Para tanto, era preciso que as escolas

funcionassem de modo controlado, sob um padrão homogêneo, com medidas avaliativas,

corretivas e punitivas. A intenção era evitar desvios nos rumos que se desejava imprimir à

instrução da população, rumos estes também disseminados nas orientações aos inspetores, nas

recompensas e premiações concedidas aos docentes (Ibidem, p.7).

Natália Gil (2009) recuperou a trajetória de construção de um sistema nacional de

estatística entre 1871 e 1931 no Brasil. O regulamento da Diretoria Geral de Estatística, criada

em 1871, já previa a realização de estatísticas nacionais da situação do ensino, mas houve

pouco avanço por falta de recursos. Durante a Primeira República, novas reformas foram

efetuadas para garantir o desenvolvimento da coleta e tratamento dos dados, mas foi no pós-

1930, com a crescente centralização administrativa e a burocratização dos serviços e das

agências de estado, que se estruturou um sistema nacional de estatísticas da instrução (GIL,

2009).

A escala de análise aqui adotada, pela perspectiva dos governos do estado do Rio de

Janeiro, desde a Primeira República, demonstra que o esforço em produzir dados a partir da

fiscalização do ensino esteve presente na preocupação dos dirigentes. Mas o que se pretende

enfatizar, nesse exame, é que o serviço de inspeção e de estatísticas, mais do que buscar

mensurar uma realidade, procurava instituí-la ao definir critérios para a criação e permanência

de escolas, ao subsidiar as iniciativas para o funcionamento do ensino, o povoamento das

escolas e a distribuição do magistério. Exatamente por isso, inspeção e elaboração de

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estatística eram atividades muito próximas. Sustenta-se, neste capítulo, que os serviços de

inspeção e de estatísticas consubstanciaram o principal eixo da ação estatal estadual na

organização e administração do ensino primário no Rio de Janeiro.

O Fundo Departamento de Educação, do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro

(APERJ), apresentava para o município de Nova Iguaçu, quando a documentação foi

pesquisada, 136 códigos de referência que correspondem a uma notação para cada conjunto

de mapas de frequência. Estes dossiês estão alocados em 20 caixas de polionda. Porém, não é

correto afirmar que se tratam de 136 escolas.

O critério de localização das escolas por município orientou o trabalho de organização

do Fundo Departamento de Educação. Não é conhecido se o critério para divisão dos

conjuntos de mapas respeitou alguma disposição anterior dos mesmos, a partir do modo como

eram organizados pelas repartições que os recebiam. Para o caso de Nova Iguaçu, quando

uma escola passava a pertencer a outro município, devido às emancipações de Nilópolis e

Caxias, os mapas destas escolas, a partir do ano da emancipação ou do ano posterior, foram

alocados em outros códigos de referência, sob o arranjo das escolas do novo município.

Assim, figura no município Nilópolis apenas escolas a partir de 1947. Em Duque de Caxias,

há registro de escolas a partir de 1944. Concomitantemente, há uma interrupção dos mapas de

escolas localizados nestas localidades, no arranjo de Nova Iguaçu.

Sob este enquadramento, presente na organização do acervo, foi preciso estabelecer

outros, conforme os interesses desta pesquisa e das escolhas metodológicas. Foi examinada a

documentação de todas as notações que podiam ser consultadas como pertencentes a Nova

Iguaçu, mas foi preciso priorizar a análise das que se concentraram, ao longo do período em

estudo, no distrito-sede Nova Iguaçu, o 1º distrito do município.

O acervo do Fundo Departamento de Educação está datado entre 1926 e 1950. Para o

município de Iguaçu só há mapas a partir de maio de 1929 e nota-se um padrão repetitivo de

lacunas na documentação. Muitas notações só apresentam, para o ano de 1929, o mapa do

mês de maio, e a sequência da documentação ocorre a partir do ano de 1931. Não há mapas

para os anos de 1930 e de 1934. Para o ano de 1941, a maioria dos dossiês só apresenta os

mapas dos meses de outubro e novembro. A documentação encerra-se no final de 1949.

Ademais, há mapas de apenas alguns anos para algumas escolas, e não de todo período

coberto, 1929-1950. Isso também ocorre, obviamente, conforme a data de criação da escola,

mas o padrão repetitivo de lacunas alude a fatores da administração ou conservação desses

mapas.

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Dificilmente a própria documentação sugere o motivo das lacunas. É prudente

ressaltar que as escolas que constam no Fundo Departamento de Educação não podem ser

consideradas como constituindo a totalidade de escolas existentes na região. Há os limites,

omissões e negligências do próprio serviço de fiscalização, assim como as questões da

trajetória de conservação deste acervo documental. Além dessas condições, parece

fundamental tomar distância da finalidade deste tipo de fonte, impregnada por um esforço de

produzir um efeito de verdade ao dispor informações que pretendem mensurar e fiscalizar o

desenvolvimento da rede escolar em todo o estado.

Tanto as agências de governo quantos os docentes, inspetores e funcionários que

lidavam com esses mapas estavam vinculados a esse objetivo da escrita dos mapas. Dessa

forma, o preenchimento também segue normas, tanto estabelecidas pelas informações

definidas pelos campos a preencher, quanto dos efeitos que se espera produzir ou ocultar com

o preenchimento e análise das respostas. Dado que a matrícula e a frequência de alunos eram

índices para avaliar a manutenção de uma escola/e dos seus professores em dada localidade,

deve-se presumir os interesses dos docentes e dos inspetores na oferta dessas informações.

Os mapas de frequência analisados apresentam formatos diferentes ao longo dos anos.

Crescem em tamanho físico, adquirem campos no verso, há mais dados a preencher. Os

professores deixam de utilizar as margens para inserir pequenas informações, e passam a se

servir do campo “Observações”, no mapa de frequência dos adjuntos, no verso do documento,

para registrar acontecimentos na escola, justificar baixas de frequência, informar a

movimentação dos professores (posses, licenças, transferências etc.). Parte destes registros é

obrigatória, outros acréscimos são recursos de comunicação utilizados pelos docentes.

A titularidade da agência de governo que produz os mapas também sofre mudanças.

Entre 1929 e 1933 figura a “Directoria de Instrucção Publica do Estado do Rio de Janeiro”, e

em 1935 e 1937, “Departamento de Educação e Iniciação do Trabalho”. A partir de 1938 a

agência é o Departamento de Educação (que nomeia o fundo no APERJ), e por vezes, “Estado

do Rio de Janeiro - Secretaria de Educação e Saúde/Departamento de Educação” (1948) ou,

Departamento de Educação/Divisão de Estatística e Pesquisas Educacionais (1949). Todas são

agências integrantes do governo estadual. Há apenas um formato de mapa, no acervo sobre

Nova Iguaçu, sob a autoria de “Estado do Rio de Janeiro – Secretaria de Educação e

Saúde/Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu/Serviços Auxiliares de Educação Pública” o que

atesta uma coparticipação da prefeitura no serviço de inspeção.

Essa diversidade na nomenclatura das agências mencionadas remete às experiências de

organização e de estruturação do aparelho burocrático em torno do ensino. Interessa, portanto

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situar o serviço dos mapas de frequência dentro desse movimento no estado do Rio de

Janeiro. Nesse sentido, recuperar a história administrativa desses órgãos – a partir das

titularidades impressas nos mapas - permite conhecer a estrutura da organização da instrução

escolar, as relações entre diferentes esferas de poder e suas funções na regulação da oferta e

da fiscalização de escolas. Observar o processo de estruturação de aparatos de administração

do ensino evidencia outra face inerente aos processos de escolarização, que é a afirmação e o

desenvolvimento do próprio Estado.

Nas primeiras décadas da República, a difusão da civilização e do progresso pela

escola perdurou nos projetos políticos, mas não foi construída uma plataforma nacional de

políticas educacionais. As ações locais “ou mesmo políticas republicanas essencialmente de

âmbito estadual” (VEIGA, 2011, p.153) é que encenaram as primeiras experiências em

educação escolar do novo regime. No lento curso desse processo de predomínio da

“característica federalista das ações educacionais” e de seus impasses, é que foi sendo

amadurecido “o entendimento da educação como um problema nacional” (Idem).

Na presente pesquisa, num jogo de escalas (REVEL, 1998), pelo uso dos mapas de

frequência, foi pertinente focalizar ora a estrutura normativa de institucionalização da

instrução primária no estado do Rio de Janeiro, ora os processos de escolarização em Nova

Iguaçu. Neste exercício foi adequado explicitar as convergências entre a construção do Estado

Republicano, no nível estadual, e a escolarização. A partir do perfil das escolas primárias do

município, foi possível delinear um panorama sobre a instrução elementar.

Portanto, neste capítulo, concomitante ao exercício de recompor a estrutura da

administração do ensino que procurou mediar a institucionalização das escolas no estado do

Rio de Janeiro, examina-se o que os mapas de frequência coletados pelo serviço estadual de

inspeção escolar em Nova Iguaçu (município e distrito-sede), entre 1929-1949, revelam o tipo

de ensino primário que se buscou institucionalizar no município. Que questões emergem e

quais respostas anunciam acerca dos processos de escolarização da sociedade? O que é

possível observar sobre a construção da Nova Iguaçu a partir das informações sobre estas

escolas?

Os serviços de inspeção e estatísticas e a administração estadual

Para contextualizar a posição dos mapas de frequência como ferramentas da

administração estadual do ensino primário, foi preciso reconstituir a organização do aparato

burocrático do governo e acompanhar a construção de ensaios dessa administração que

alimenta também a construção do próprio Estado. Por isso, os regulamentos da instrução,

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relatórios e as mensagens presidenciais serviram de fonte para recompor esse enredo da

administração, para conhecer os rumos que foram sendo impressos ao ensino primário, via

aparato normativo, e, principalmente, restituir a construção dos serviços de inspeção. Mas

essas fontes são também objetos inscritos nesta pesquisa, sendo examinados em suas

intenções de normatizar, anunciar e promover, obter apoio, incutir consensos sobre a

importância da responsabilidade e da atuação estatal na disseminação dos processos de

escolarização.

A importância da inspeção do ensino, das escolas e de seus sujeitos é defendida por

diversos agentes do governo, e as sucessivas reformas da instrução no estado do Rio de

Janeiro agregam as iniciativas para efetivar e aperfeiçoar este serviço. As reformas

administrativas e as mudanças de nomenclatura do Departamento de Educação constituem

esse processo. O reformismo das instituições nas administrações estaduais, com o objetivo de

acessar e modificar indivíduos e sociedade, foi um aspecto distinto das políticas educacionais

nas primeiras décadas republicanas (VEIGA, 2011, p.155).

Segundo Jorge Nagle, durante a Primeira República, “foi geral o esforço para

estabelecer e definir as atribuições de um órgão central e para traçar normas que regulassem

todo o funcionamento dos sistemas escolares estaduais” (1974, p.202). Outra característica

dessas novas configurações foi a procura em dotar os sistemas de administração do ensino, em

construção, de atribuições técnico-pedagógicas (NAGLE, 1974, p.203).

A citação do número de escolas existentes, do contingente do professorado, dos

índices de matrícula e frequência são os principais argumentos apresentados nas mensagens

dos presidentes de Província, nos relatórios dos secretários de estado e dos diretores da

Instrução para “demonstrar” a situação do ensino e de seu desenvolvimento. Em função disto,

sustentava-se a necessidade de investimentos nas atividades de inspeção do ensino.

Em 1924, o presidente do estado, Feliciano Pires de Abreu Sodré, argumentava que o

combate ao analfabetismo dependia da criação de escolas em cada povoado, mas também da

obrigatoriedade da matrícula e da frequência, assim como a importância da melhoria dos

serviços de inspeção:

A assídua fiscalização permitirá avaliar do [sic] encaminhamento do ensino e dará

ao Estado o índice da competência dos mestres, da sua dedicação na ingente e

patriótica luta contra a ignorância, como permitirá localizar acertadamente escolas e

ter critério seguro na distribuição de material escolar.119

119

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no

dia 1º de agosto de 1924 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de Janeiro, 1924, p.44.

Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial.

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O Regulamento da Secretaria do Estado do Interior e Justiça, em 1924, situava a

Diretoria de Instrução Pública como um departamento administrativo.120

Os assuntos acerca

da saúde pública, da segurança (regimento policial) e do sistema penitenciário também

pertenciam a esta Secretaria. Foi localizada no setor de periódicos da Biblioteca Nacional uma

coleção chamada “Estado do Rio de Janeiro – Expediente”, que informa os atos diários da

administração do estado referentes a municípios, conforme o órgão administrativo expedidor.

Essa documentação afirma a Diretoria de Instrução Pública como subordinada à Secretaria do

Interior e Justiça, nos anos de 1925 e 1926.121

Há menção, ainda, a uma Inspetoria Geral do

Ensino Primário.

A comparação entre algumas reformas estaduais da instrução ocorridas naqueles anos

revela o empenho comum dos governos em estruturar um aparato normativo e de organização

de órgãos de administração das escolas. O esforço de remodelar e ampliar as antigas

Inspetorias do ensino em Diretorias implicou uma mudança do caráter, antes apenas de

inspeção e fiscalização, para o de assessoria, de assistência: “sinais mais evidentes da

tentativa para submeter os serviços educacionais a uma direção eficaz, do ponto de vista

burocrático e administrativo” (NAGLE, 1974, p.201-202).

Entre as atribuições da Diretoria de Instrução Pública cabia dirigir e inspecionar,

conforme a legislação vigente, o ensino primário, secundário, normal e profissional. A

organização dos “trabalhos estatísticos” sobre a instrução pública do estado deveriam ser

remetidos por este órgão à Diretoria de Estatísticas e Informações. Entre as atividades, o

regulamento previa “a demonstração mensal da matricula e frequencia média das escolas”,

assim como a elaboração da “estatística geral do ensino público” ao final do ano letivo. O

serviço de inspeção escolar seria executado pelo inspetor do ensino primário, auxiliado por

oito inspetores regionais e pelo inspetor do ensino profissional, distribuídos por cada uma das

oito circunscrições escolares definidas.122

O município de Iguaçu integrava a 6ª região escolar com sede em Petrópolis, que

abrangia Teresópolis, Magé, Itaguaí, Angra dos Reis e Paraty. O inspetor estadual de ensino

primário seria responsável pelas escolas primárias do município de Niterói. Caberia aos

120

Estado do Rio de Janeiro. Decreto 2.037 de 23/07/1924.Regulamento da Secretaria do Estado de

Interior e Justiça. Tipografia do Jornal do Comércio, 1924. Biblioteca Estadual de Niterói. 121

Estado do Rio de Janeiro – Expediente. Anos de 1925; 1926;1931. Biblioteca Nacional, Setor de

Periódicos. 122

Estado do Rio de Janeiro. Regulamento da Secretaria do Estado de Interior e Justiça. Decreto 2.037

de 23/07/1924. Tipografia do Jornal do Comércio, 1924. p.12. Biblioteca Estadual de Niterói.

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inspetores regionais, por meio do envio mensal de relatórios e termos de visita, informar o

andamento do trabalho realizado nas demais regiões.123

Nota-se que o controle da movimentação do quadro docente, previsto como um

serviço da Diretoria de Instrução, integrava as tarefas dos inspetores, assim como a coleta de

informações sobre os prédios e o mobiliário escolar. O serviço de inspeção habilitava o

inspetor do ensino primário, a “propor ao director a melhor distribuição das escolas pelos

diversos municipios, attendento ao recenseamento da população escolar”.124

Em 1925, aconteceu no estado do Rio de Janeiro uma nova reforma dos serviços de

inspeção com a reestruturação da organização do ensino primário, do formato do serviço de

inspeção e do serviço de estatística escolar. O presidente do estado, Feliciano Pires de Abreu

Sodré, justificava a reforma por ter sido “preocupação do Governo dotar a instrução publica

com um perfeito aparelhamento destinado à inspecção do ensino”.125

Com a nova estrutura de fiscalização, era coordenado o trabalho de coleta dos mapas

preenchidos pelos professores e as tarefas de cada agente, que passava pelos inspetores

regionais, delegados municipais e distritais. Nota-se que, por meio desses delegados, o estado

buscava estar presente na condução do funcionamento das escolas.126

Para garantir a oferta do ensino primário, que se tornava obrigatório, acreditava-se que

o serviço de estatística precisava executar “completo estudo dos meios de locomoção de que

possam dispor as localidades do interior do estado, a fim de poder bem situar as novas

escolas, como tornar efetivo aquele dispositivo regulamentar”.127

Assim, por depender do

funcionamento do novo serviço de inspeção, a obrigatoriedade do ensino só entraria em vigor

em 1926. É possível inferir que são os resultados desse novo serviço de inspeção que

implicam a existência de mapas, no Fundo Departamento de Educação, a partir de 1926, ainda

que, a documentação de Nova Iguaçu, só apresente mapas a partir de 1929.

Pelo novo Regulamento da Instrução Pública Primária,128

a direção da instrução

pública caberia ao governador, auxiliado pelo secretário do Interior e Justiça e pelo diretor da

instrução. O diretor da instrução conduziria a fiscalização e inspeção dos estabelecimentos de

123

Estado do Rio de Janeiro. Regulamento da Secretaria do Estado de Interior e Justiça. Decreto 2.037

de 23/07/1924. Tipografia do Jornal do Comércio, 1924. p.13. Biblioteca Estadual de Niterói. 124

Idem. 125

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no

dia 1º de agosto de 1925 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de Janeiro,1925.Inclui

Anexos.p.44. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 126

Ibidem, p.45. 127

Idem. 128

Estado do Rio de Janeiro. Regulamento da Instrucção Publica Primaria. Decreto 2.105 de 02/03/1925.

Tipografia do Jornal do Comércio, 1925. Biblioteca Estadual de Niterói.

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ensino primário públicos, particulares ou subvencionados, assessorado pelos inspetores

regionais, delegados municipais e delegados distritais.129

Entre as competências do diretor de instrução, constavam:

resolver acerca da localização das escolas dentro dos respectivos municipios, e do

gráo de ensino a ser ministrado nas mesmas; designar as escolas ou grupos onde os

professores adjuntos devam servir, e transferil-os no mesmo município, de accôrdo

com a frequencia média verificada nas séries; transferir qualquer escola no mesmo

municipio, e, com approvação do Governo, de um para outro.130

O envio da estatística dos institutos de ensino ao secretário do Interior e Justiça, a

lotação dos professores públicos por escolas, além da relação da situação dos contratos de

aluguel das “casas escolares”131

eram tarefas do diretor da instrução. Muitas dessas atividades,

em verdade, eram realizadas em cada região de inspeção escolar pelos inspetores regionais,

que sugeriam as medidas a serem adotadas ao diretor geral da instrução.

A Inspetoria Geral era sediada em Niterói, enquanto o inspetor regional, cargo de livre

nomeação, era obrigado a residir no município sede da região sob sua inspeção. Os inspetores

regionais enviavam relatórios mensais ao diretor da instrução e poderiam sugerir a criação ou

transferência de escolas, assim como a suspensão do ensino. O inspetor geral do ensino seria o

principal auxiliar do diretor geral, e cabia-lhe a inspeção dos estabelecimentos de ensino

primário em Niterói.132

Os inspetores regionais estavam incumbidos de organizar a “estatística escolar”; de

contratar ou indicar os prédios para as escolas e de “attestar o exercício dos professores,

depois de verificada a exatiddão dos mappas mensaes de frequência remettidos pelo delegado

districtal ou municipal”.133

Os próprios inspetores regionais deveriam receber dos professores

do distrito-sede da região os mapas mensais enviados no último dia de cada mês. Os

inspetores municipais e distritais também eram responsáveis pelo recebimento dos mapas em

suas localidades de atuação. A lotação do professorado, as ocorrências de posse, vacância,

licenças etc. estavam sob a fiscalização dos inspetores regionais.

O capítulo da Reforma acerca “Da direção e inspeção do ensino”,134

ao dispor, ao

longo de dez capítulos, sobre a estrutura, as atribuições dos inspetores e do diretor da

instrução, descortina a organização de um trabalho de comunicação entre escolas e

129

Estado do Rio de Janeiro. Regulamento da Instrucção Publica Primaria. Decreto 2.105 de

02/03/1925. Tipografia do Jornal do Comércio, 1925, pág. 6. Biblioteca Estadual de Niterói. 130

Ibidem, pág. 8. 131

Ibidem, pág. 9. 132

Ibidem, pág. 10. 133

Ibidem, pág. 12. 134

Estado do Rio de Janeiro. Regulamento da Instrucção Publica Primaria. Decreto 2.105 de

02/03/1925. Tipografia do Jornal do Comércio, 1925, pág. 6-20. Biblioteca Estadual de Niterói.

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administração estadual. Aos inspetores não cabia apenas verificar o funcionamento de uma

estrutura de ensino estabelecida, mas, também, contribuir para a criação dessa rede, para

sustentar o funcionamento das escolas. Por meio da aferição de matrícula e frequência de

alunos e do exercício de professores, eram subsidiadas as iniciativas para distribuição das

escolas e designação de professores. Estes dados também deveriam consubstanciar a adoção,

distribuição e conservação do mobiliário escolar, aquisição de estabelecimentos para o

funcionamento das escolas, para o efetivo exercício docente e para o cumprimento das normas

e dos procedimentos pedagógicos estabelecidos nas reformas do ensino.

A estrutura de administração do ensino prevista pelo Regulamento da Instrução

Primária de 1925 espelhava o esforço do governo estadual em edificar um aparelho

administrativo que mediasse a oferta, o funcionamento e a organização do ensino primário.

Seriam os inspetores, além de fiscais, os agentes responsáveis para que, de fato, o

regulamento e a nova organização do ensino entrassem em vigor, dispondo sobre a

localização das escolas, dos alunos e dos professores. Em contrapartida, a elaboração de um

consenso sobre a necessidade de escolarização da sociedade fomentava o aparelhamento de

agências do estado.

O diretor da instrução pública entre 1926 e 1930, José Duarte Gonçalves da Rocha,

também trabalhou para dotar a Diretoria de Instrução Pública de maior eficácia. Quando

assumiu o cargo, criticou a situação encontrada. Dirigindo-se ao Secretário de Interior e

Justiça, defendia a reforma do tipo de material usado na diretoria, alegando que os livros se

deterioravam no tempo, estando sujeitos a poeiras e suor. A adoção de fichas e de

sistematização seriam recursos para melhorar a lida com os documentos.135

Sobre a inspeção técnica, o diretor da instrução considerava que esta “constitue a

pedra de toque de todo o progresso e da moralidade do ensino publico, ao mesmo tempo que

se poderá considerar o eixo de seu movimento, o principio salutar regulador de sua efficiencia

ou productividade”.136

Aos seus argumentos, o diretor alinhava um trecho de um relatório da

instrução de 1888, em que se afirmava o mesmo principio de que com “um bom systema de

inspecção o ensino se desenvolverá com maior segurança”.137

135

Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do Interior e Justiça pelo Diretor da

Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal do Comércio, 1927.

Biblioteca Estadual de Niterói. 136

Ibidem, pág.243. 137

Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do Interior e Justiça pelo

Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal do

Comércio, 1927. apud pág.243, Biblioteca Estadual de Niterói.

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O diretor José Duarte, parafraseando Ruy Barbosa, sustentou que a inspeção eficaz

poderia oferecer maiores resultados do que grandes inovações e reformas do ensino. Mas, ao

se deter na situação da inspeção do ensino no estado, avaliou que alguns inspetores eram

pouco interessados no serviço, o que demandava uma intervenção para solucionar o entrave,

por exemplo, da frequência de visitas aos estabelecimentos de ensino.138

Novas instruções foram adicionadas ao serviço de inspeção, em 1927, dispondo sobre

a obrigatoriedade de duas visitas anuais a cada escola. A inspeção era dotada de objetivos de

orientação pedagógica. Além da frequência, matrícula e condições dos prédios escolares, as

funções de caráter pedagógico, sobre as aulas, o desenvolvimento do docente, os recursos e

métodos utilizados, seriam observados pelos inspetores. Os inspetores regionais precisavam

atuar na realização de reuniões junto aos professores de uma localidade, no Grupo Escolar

onde houvesse,

para tratar de assumptos que interessem ao ensino publico, dando aulas modelo,

offerecendo e explicando quaes os processos e methodos mais convenientes ao

ensino e proporcionando ensejo para uma uniforme e proveitosa orientação nas

escolas de sua região.139

Para assegurar a exatidão das informações coletadas nos mapas de frequência, “porque

tenha esta Directoria em grande apreço a questão da estatística escolar”,140

os inspetores

deveriam estar atentos ao exame dos mapas, de modo “que sejam escrupulosamente

examinados os mappas fornecidos pelos professores a fim de que se punam disciplinarmente

os que simularem dados ou fornecerem índices fictícios”.141

O diretor justificava as medidas

adotadas como tentativas para sanar o problema de mais de 50% das escolas das oito regiões

escolares ficarem sem visitas, sendo raras as visitas a estabelecimentos municipais e

particulares.142

Na proporção em que crescia o número de escolas, o serviço de inspeção também se

avolumava. Por esse motivo, era sugerida a ampliação da divisão do território para dez

regiões escolares. Por exemplo, a 1ª e a 6ª região (que incluía Iguaçu) mantinham grande

desproporcionalidade numérica, tendo a primeira, 121 estabelecimentos,143

a segunda, 166,

138

Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do Interior e Justiça pelo

Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal do

Comércio, 1927, pág.244. 139

Ibidem, pág.245. 140

Idem. 141

Idem. 142

Idem. 143

Segundo o regulamento de 1925, a Primeira Região escolar funcionava com sede em São Gonçalo e

abrangia Maricá, Saquarema, Araruama, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio, Itaboray, Rio Bonito. Estado

do Rio de Janeiro. Regulamento da Instrucção Publica Primaria. Decreto 2.105 de 02/03/1925.

Tipografia do Jornal do Comércio, 1925, pág 54. Biblioteca Estadual de Niterói.

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enquanto as demais regiões abarcavam de 46 a 88 estabelecimentos a serem visitados. O

funcionamento da sede da 6ª região em Petrópolis prejudicava as visitas, devido a abranger

viagens a Angra dos Reis e Parati, o que dificultava a assiduidade da inspeção.144

Na continuidade das atividades de inspeção, através das visitas a escolas e do apoio

pedagógico ao desenvolvimento do ensino, os inspetores atuavam no serviço de estatística.

Para o diretor da Instrução, sobre as garantias dessa tarefa, “nada se há feito nesse sentido e

que se considere trabalho definitivo em se repouse confiante”.145

Por isso, novo instrumento

normativo foi elaborado em 1927, para assegurar maior eficiência ao “mais alto e mais útil

auxiliar do ensino publico”.146

A simplificação dos mapas era um recurso favorável para superar algumas

dificuldades e evitar “omissões, equivocos e erros” no preenchimento. Na própria Diretoria,

um serviço mais prático seria adotado para lidar com a documentação, destacando dois

funcionários para averiguar a falta dos dados mensalmente fornecidos por inspetores e

professores. A exigência de um boletim mensal de estatística estabeleceria o controle desse

processo.147

O diretor de instrução argumentava sobre a importância conferida aos problemas

do serviço de estatística:

Tenho considerado com particular attenção esse serviço porque não comprehendo se

possa fazer ensino publico, oriental-o, palpar-lhe as necessidade (sic) e progresso,

sem uma estatistica bem organizada, que reflicta a efficiencia do aparelhamento,

indique a natural localisação das escolas, apresente o coefficiente de alphabetisados,

dê-nos a percentagem da população escolar sobre a população global infantil.148

Ao apresentar o número de escolas e comentar os números de matrícula, o diretor

ponderava que um serviço de estatística mais eficiente demonstraria maior vulto, pois havia

os problemas enfrentados no prazo de remessa dos mapas e as omissões e erros que

aconteciam em muitos deles. Contudo, com os dados disponíveis, o diretor José Duarte

oferecia um diagnóstico sobre um dos fatores que prejudicava o aumento das matrículas, que

seria

o facto de se acharem innumeras escolas mal localizadas em centro de população

infantil escassa, proximas de outros estabelecimentos, quase agrupadas na mesma

rua 2 e 3 escolas, não dispondo a localidade de elementos para manter a freqüência

144

Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do

Interior e Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro,

Tipografia do Jornal do Comércio, 1927, pág.246. Biblioteca Estadual de Niterói. 145

Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do

Interior e Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro,

Tipografia do Jornal do Comércio, 1927, pág.247. Biblioteca Estadual de Niterói. 146

Idem. 147

Ibidem, PP. 247-248. Trata-se do Decreto 2.037 de 23/07/1927. 148

Ibidem, pág.248.

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regulamentar, de todas ellas, emquanto há cidades, villas, districtos outros de

população mais densa, que reclamam escolas.149

Este é apenas um exemplo de como as autoridades em matéria de ensino definiam

“problemas” e “soluções” a partir de dados fornecidos pelos serviços de inspeção e de

estatística. Embora os regulamentos do ensino adotassem as classificações de “rural” e

“urbano” com critérios para distribuição e classificação de escolas, a análise desta

distribuição, a partir dos dados coletados pelas agências do governo, apontavam disparidades.

Certamente, outros fatores concorriam para a criação e extinção de escolas, como as relações

entre as esferas dos poderes públicos, os poderes locais, as mobilizações na sociedade civil e

as circunstâncias da destinação dos recursos financeiros para estes empreendimentos.

Em 1927, o presidente do estado do Rio de Janeiro elencava o conjunto de reformas

empreendidas na educação escolar como recursos necessários para o desenvolvimento da

sociedade. Por isso buscava intervir

na organização moral e política da escola primária – o que é fundamental para o

regimem – e dedicar-lhe assistência consciente, labor profícuo, justificáveis desvelos

oficiais, carinhosa atenção, concretizados em benefícios incontáveis, em medidas de

ordem administrativa e de interesse didático; ou cristalizados na abundância de

providências salutares, que me pareceram idôneas por assegurar à escola fluminense

a preponderância que lhe caberá na melhoria das nossas condições sociais, morais e

políticas.150

Nos anos seguintes, os relatórios e mensagens exploravam os resultados obtidos, em

matéria de inspeção e estatísticas, a partir da reforma de 1925. Mas os limites do serviço e o

empenho em seu aprimoramento são constantemente lembrados.

Em 1926 e 1927 o presidente desconfiava da exatidão dos dados fornecidos pelo

serviço de inspeção, posto que a reforma era recente e que havia obstáculos à execução do

serviço, “pelos embaraços encontrados nos meios de transporte, sobretudo, para as escolas

rurais, localizadas em pontos longínquos, afastados de ferrovias, muitos mapas se extraviam e

se não computam vários estabelecimentos de ensino primário”.151

149

Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do

Interior e Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro,

Tipografia do Jornal do Comércio, 1927, pág.253. Biblioteca Estadual de Niterói. 150

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no

dia 1º de agosto de 1927 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de Janeiro,1927.pág.83-84.

Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. As reformas citadas são: Regulamento com o Decreto 2.105

de 02/03/1925; Reg. da Escola Normal (Decreto n. 2.017 de 05/04/1924 com alterações da Le 1.872 de

18/11/1924); Reg. Liceu Humanidades – Decreto n. 2181 de 12/07/1926, aprovado pela lei n. 2.117 de

27/11/1926; Reg. Ensino Profissional anexo ao Decreto n. 2.160 de 31/01/1926; Regimento Interno das Escolas

Públicas (Deliberação n.130, de 14/04/1926). pp.85-86. 151

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de

Janeiro no dia 1º de agosto de 1927 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de

Janeiro,1927.pág.93. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial.

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Apesar das lacunas, era mantido o interesse do governo no serviço de estatística

escolar, afirmado numa pretensa objetividade dos dados coletados:

porque convencido de que ela será o único meio idôneo de que dispõe para auscultar

o progresso e desenvolvimento do ensino público, conhecendo-lhe, com informes

fidedignos, reais, positivos, todos os fatos da vida escolar para tomar as providências

que se fizerem mister.152

Em fins de 1927, uma nova eleição para o governo fluminense não interrompeu a

política sodrelista. Eleito Manuel Duarte, líder político ligado a Feliciano Sodré e articulado

ao governo federal de Washington Luís, mais uma reforma do ensino entraria em pauta. A

modernização da educação no estado do Rio de Janeiro, de um lado, relacionava-se, então, às

tentativas de recuperação da economia e do prestígio político do estado no concerto da

federação. De outro, as mudanças no sistema de ensino visavam tornar a escola fluminense

partícipe das novas propostas pedagógicas, postas em voga pelos movimentos reformistas

chamados de Escola Nova, presentes em vários estados (FERNANDES, 2009).

Em 1928, o diretor da instrução encontrava-se mais satisfeito com o serviço de

inspeção escolar do estado do Rio de Janeiro: “Agora é possivel confiar-se, integralmente, no

serviço de inspecção technica, que terá inquestionavel efficiencia, mostrando-se o melhor

collaborador da producencia das escolas primarias”.153

O serviço de inspeção foi mais

produtivo no número de visitas às escolas, tendo o próprio diretor da instrução visitado

algumas escolas para melhor conhecer a situação do ensino: “Não concebo, e não há quem o

conceba, instrucção publica sem o apoio seguro, firme, verdadeiro da estatistica, e da

inspecção”.154

Em 1926, havia 728 escolas no estado, tendo sido inspecionadas 495. Ao longo do ano

de 1927, 944 visitas foram realizadas.155

O aumento do número de visitas foi destacado na

mensagem do governador sobre o mesmo período, quando procurava ressaltar a maior

eficiência do serviço de inspeção.156

José Duarte, diretor da instrução, esteve nos municípios

de Araruama, São Pedro de Aldeia, Cabo Frio, Valença, Santa Thereza, São Gonçalo, Barra

152

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de

Janeiro no dia 1º de agosto de 1927 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de Janeiro,

1927. pág.94. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 153

Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director

da Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1928. Niterói,

Officinas Graphicas da Escola Profissional, 1928, pág.16. Centro de Memória Fluminense, UFF. 154

Ibidem, pág.12. 155

Ibidem, pág.12-13. 156

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no

dia 1º de agosto de 1928 pelo Presidente Dr. Manuel de Mattos Duarte Silva. Rio de Janeiro, 1928. Disponível

em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial.

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Mansa, “visitando todas as unidades escolares da respectiva séde e algumas que se achavam

em zonas ruraes ou em Villa”.157

Os dados sobre o número de escolas, matrícula, frequência e professorado são os

argumentos que “demonstram” o crescimento do ensino público primário no estado do Rio de

Janeiro: “Pelo que respeita à estatística, que aprecia quantitativamente os factos escolares, os

elementos colhidos com critério, expurgados de quaesquer duvidas, são animadores e

asseguram o nosso progresso”.158

A reorganização do número de regiões escolares foi um dispositivo importante para a

reorganização do serviço de inspeção.159

O impulso do trabalho de inspeção contou com a

colaboração de algumas prefeituras, que disponibilizaram transporte para os inspetores,

fossem automóveis, ou cavalos e guia.160

O apoio dos municípios no serviço de inspeção, pela

garantia de dotação de orçamentos para instrução, a criação de escolas municipais e a oferta

de prédios para o funcionamento de escolas era comemorado:

Já alguns municipios se tem relevado supremamente preoccupados com este

problema, sendo para destacar-se S. Fidelis, Cambucy, Nova Iguassú, Campos (sem

desmerecer na acção dos demais), onde se há assegurado ao ensino municipal

apreciáveis dotações orçamentarias para manutenção de escolas, nas quaes se

observam os programmas officiaes do Estado e adoptam-se os livros didacticos

approvados pela Junta Pedagógica.161

Em 1928, o presidente Manuel Duarte enfatizava a participação dos municípios na

oferta de escolas: “Para que possa ser ajuizada a patriótica contribuição dos municípios no

combate persistente e profícuo contra o analfabetismo devo informar-vos de que são em

número de 373 as escolas municipais”.162

O próprio êxito do serviço de inspeção e estatística era avaliado pelo crescimento do

número de visitas, como um sinal da eficácia da administração do ensino, o que resultava

numa sensação de maior controle sobre as instituições escolares. Em 1929, o governador

informava a realização do total de 1.728 visitas de inspeção das escolas do Rio de Janeiro,

157

Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director

da Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1928. Niterói,

Officinas Graphicas da Escola Profissional, 1928, pág.14. Centro de Memória Fluminense, UFF. 158

Ibidem, pág.10. 159

Estado do Rio de Janeiro. Lei 2.139 de 7/11/1927. 160

Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director

da Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1928. Niterói,

Officinas Graphicas da Escola Profissional, 1928, pág.45. Centro de Memória Fluminense, UFF. 161

Ibidem, pág.46, Grifo nosso. 162

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de

Janeiro no dia 1º de agosto de 1928 pelo Presidente Dr. Manuel de Mattos Duarte Silva. Rio de Janeiro,

1928, pág.63. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial.

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90

sendo 815 no primeiro semestre e 913 no segundo.163

Ao apresentar os dados do movimento

escolar do primeiro semestre de 1929, Manuel Duarte concluía: “Se eloqüentes e

inconfundíveis são os números; se a estatística fala com profundo cunho de verdade, tereis na

resenha que aqui se consigna a documentação valiosa do assinalado melhoramento de nossa

atividade escolar, da expressiva produtividade do ensino público fluminense”.164

Jorge Nagle, ao analisar as reformas estaduais da instrução nos anos de 1920, notava

que as divisões do estado em regiões de inspeção, as medidas para definir a carreira do

magistério, o serviço de inspeção e os recursos aos recenseamentos para elaborar de

planejamento foram recursos experimentados “para proporcionar maior eficiência ao

funcionamento dos sistemas escolares” (1974, p.204).

Cabe notar, no curso de sucessivas reformas, o empenho das agências do governo em

aparelhar a inspeção do ensino como plataforma de controle da distribuição da rede de escolas

e professores. E, ainda, por meio desse serviço, ter um retorno e apresentar diagnósticos do

que ia sendo feito, e, assim, respaldar a própria atuação do Estado.

Esse aparato normativo, recuperado aqui entre regimentos, relatórios e mensagens de

governo, demonstra a proeminência que as agências de estado vão exercendo na organização

do ensino primário. E a expansão da rede de escolas vai ocasionando novas demandas ao

aparelho burocrático. Novas experiências de administração vão sendo implementadas. Em

1929, o Departamento de Educação é reformado novamente. O diretor da instrução pública,

José Duarte Gonçalves da Rocha, discorrendo sobre as realizações do estado do Rio de

Janeiro, enquadrava as reformais parciais da instrução realizadas no ensino, em 1929, como

respostas à demanda por

imprimir à complexa e sensível engrenagem uma feição nova compativel com o

renovador movimento pedagogico que se espraiava por todo o mundo, abrangendo a

America Latina e exigindo que o nosso paiz se incorporasse a esse impulso

reconstructor e se affeiçoasse a esse rithmo que accelera os anseios culturaes e

educacionaes das communhões civilizadas, em todos os continentes.165

É deste ano em diante que se localizam mapas de escolas do município de Nova

Iguaçu no Fundo Departamento de Educação do APERJ.

163

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no

dia 1º de outubro de 1929 pelo Presidente Dr. Manuel de Mattos Duarte Silva. Rio de Janeiro,1929, pág.75.

Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 164

Ibidem, pág.77. 165

Estado do Rio de Janeiro. Exposição apresentada pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha,

representante do Estado do Rio, á primeira reunião educacional, levada a efeito sob o patrocinio da

Federação Nacional das Sociedades de Educação, em 20 de setembro de 1930.pág. 5.

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91

A identificação e os critérios de localização das escolas

Na análise do cabeçalho do mapa de frequência, onde é identificado o estabelecimento

de ensino, emerge uma noção de escola, que denota aspectos de construção – física,

semântica, e heterogênea, sobre os modos de organização das instituições escolares de ensino

primário em Nova Iguaçu. E, concomitantemente, pela ótica que preside a existência dos

mapas, nota-se o empenho das agências de governo em participar e fiscalizar o

estabelecimento dessas “escolas”, instituindo e disseminando descritores que classificam a

organização das mesmas.

O cabeçalho recolhe informações sobre o endereço, o tipo e, caso exista, a

“Denominação Especial” da escola. Para o início da década de 1930, a principal referência de

endereço era o nome da localidade, do distrito e do município onde a escola estava situada.

Outro critério de localização era o “Correio”, o que significava informar o nome do ramal

ferroviário próximo da escola, assim como a estação, a parada do trem.

A repetição de um modo de preenchimento dos mapas insinua, exceto quando as

escolas possuem “Denominação Especial” (que, ainda assim, é o último item deste campo),

que era a localidade que emprestava nome à escola. Desta forma, por exemplo, encontra-se

Escola mista de 2º grau de São João de Meriti, nº 31, assim denominada em maio de 1929, e

depois em 1931, 1932 e 1933. A partir de 1935 encontra-se o registro, no mesmo dossiê,

Escola mista de 1º grau de São João de Meriti. Em março de 1938 estava identificada como

Escola isolada de São João de Meriti, n.º 18.166

Porém, em maio de 1929, e nos anos 1931 a 1933 e em 1935, encontra-se outro dossiê,

sobre uma Escola mista de 2º grau de São João de Meriti; n.º 32.167

O número e o exame da

organização dos turnos, do número de alunos e, principalmente do quadro docente,

demonstram que as escolas acima citadas, da localidade de São João de Meriti, eram escolas

distintas.

Este é apenas um exemplo que se repete em outras notações. Um dos itens que

diferenciavam as escolas públicas era a atribuição de um número, que também poderia

apresentar modificações no curso do tempo. Mesmo algumas escolas com “Denominação

Especial” recebiam um número. Contudo, os números são atributos apenas das escolas

públicas, municipais ou estaduais, o que sugere ter sido um recurso para mapear a distribuição

de uma “cadeia” de escolas. A propósito, nas escolas particulares e/ou subvencionadas não

havia atribuição de uma numeração mas sim de um nome que tornava cada estabelecimento

166

Fundo Departamento de Educação, 02742, APERJ. 167

Fundo Departamento de Educação, 02743, APERJ.

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distinto de outro, sem constituir uma “rede”, posto que eram iniciativas singulares,

independentes entre si.

Em anos posteriores, foram inseridos nos mapas de frequência os endereços de praças,

estradas, ruas e números dos prédios, resultando maior precisão do local de funcionamento

das escolas. O detalhamento das informações prestadas sinaliza a ampliação da racionalização

e dos dispositivos de mapeamento e de controle do espaço. As duas escolas mistas de São

João de Meriti, citadas anteriormente, foram nomeadas em março de 1942 como Escola

isolada da rua da Matriz, nº 561, em São João de Meriti, nº 18168

e Escola isolada situada à rua

da Matriz, nº 308, em Vila Meriti, nº 17.169

No cabeçalho estavam inscritas as atribuições que caracterizavam as escolas, e isto

viabiliza a análise comparada de parte das instituições de ensino primário existentes em Nova

Iguaçu. As escolas eram identificadas como “pública”, “primária”, “municipal”, “mixta”,

“feminina”, “masculina”, “noturna”, “isolada”, “subvencionada”, assim como ocorre, em

alguns casos, a atribuição de uma numeração. Esses atributos eram inscritos no campo de

identificação, separados por vírgulas, como na Escola “Pública, Mixta, Primária, Municipal”

situada em Andrade de Araújo, com denominação especial Andrade de Araújo.170

Antes de se

tornarem monumentos, distinguidas por sua arquitetura e nome específico, as escolas públicas

foram identificadas por números e por características de seu funcionamento e órgão

responsável.

A legislação do ensino também fixava parâmetros para a distribuição das escolas. Na

Reforma de 1897, regulamentada em 1900, a oferta dos tipos de curso das escolas primárias

no Rio de Janeiro dependia da localização das mesmas. O curso elementar era oferecido nas

escolas rurais, “o curso médio em escolas de perímetro urbano de vilas ou cidades e o curso

superior para os grupos escolares e escolas modelo”, geralmente situados em espaços mais

urbanizados (SCHUELER, 2010, p.540).

No relatório apresentado pelo Diretor da Instrução Pública no Estado, em 1898, as

escolas do Estado do Rio de Janeiro foram identificadas pelo número que portavam na

localidade em que funcionavam, com a indicação dos distritos e municípios em que se

localizavam. O sexo dos alunos também era mencionado. A numeração atribuída tinha

vínculos com a criação da escola no município, a partir do distrito-sede. 171

168

Fundo Departamento de Educação, 02742, APERJ. 169

Fundo Departamento de Educação, 02743, APERJ. 170

Fundo Departamento de Educação, 02630, APERJ. Mapa de Julho de 1949. 171

Estado do Rio de Janeiro. Relatório Apresentado ao Dr. Martinho Alvares da Silva Campos,

Secretario do Estado dos Negocios do Interior e Justiça pelo Director da Instrucção Publica Luiz Alves

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Tabela 1 Distribuição de escolas estaduais no município de Iguaçu, em 1898.

Distrito Localidade Número Sexo

Santo Antônio de Jacutinga Maxambomba 1 M

Maxambomba 2 F

Brejo 3 F

Brejo - M

Riachão 4 F

Riachão - M

2ª distrito, Marapicu Sede 5 M

Sede 6 F

Queimados 7 M

Queimados 8 F

3º distrito, Piedade Sede 9 M

Sede 10 F

Figueira 12 (sic) M

4º distrito, Merity Sede 13 M

Sede 14 F

Sarapuhy 15 M

S. Matheus - F

6º (sic) distrito, Pilar Sede 19 F Fonte: Elaborado a partir do Quadro das escolas do Estado do Rio de Janeiro em 31 de julho de 1898,

compreendendo os professores, predios onde ellas funccionam e respectivos proprietários. Estado do Rio de

Janeiro. Relatório Apresentado ao Dr. Martinho Alvares da Silva Campos, Secretario do Estado dos Negocios do

Interior e Justiça pelo Director da Instrucção Publica Luiz Alves Monteiro. Rio de Janeiro, Tuyp. Do Jornal do

Commercio, de Rodrigues & Comp., 1898.

Com a reforma de 1911, as escolas elementares se distinguiam das escolas

complementares (grupos escolares e escolas-modelo) (SCHUELER, 2010, p.542). No

Regulamento da Instrução Primaria do estado do Rio de Janeiro, de 1911, a numeração das

escolas elementares também evidenciava vínculos com a localização no município.

Tabela 2 Distribuição de escolas estaduais no município de Iguaçu, em 1911.

Distrito Localidade Número

1º, Maxambomba Maxambomba 1ª

Maxambomba 2ª

Riachão 3ª

Belford Roxo 4ª

Jeronymo Mesquita 5ª

2ª distrito, Marapicu Queimados 6ª

Marapicu 7ª

3º distrito, Piedade Cava 8ª

4º distrito, Merity Pavuna 9ª

5º distrito, Sant’Anna de Palmeiras Tinguá 10ª

6º distrito, Pilar Merity 11ª Fonte: Estado do Rio de Janeiro. Decreto n. 1.200 de 07/07/1911. e Regulamento da Instrucção Publica do

Estado do Rio de Janeiro. In: Estado do Rio de Janeiro. Instrucção Publica. Leis e Decretos de 1911 a 1916.

Tipografia do Jornal do Comércio, 1917. Biblioteca Estadual de Niterói, p.62.

Monteiro. Rio de Janeiro, Tuyp. Do Jornal do Commercio, de Rodrigues & Comp., 1898. Quadro das

escolas do Estado do Rio de Janeiro em 31 de julho de 1898, compreendendo os professores, predios

onde ellas funccionam e respectivos proprietários.

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Assim, em 1911, o distrito-sede, denominado de Maxambomba, já abrigava a maioria

das escolas públicas estaduais distribuídas no município de Iguaçu, como também ocorria em

1898, e a sequência de numeração das escolas estava referida ao pertencimento ao conjunto de

escolas e ao vínculo com a localização. 172

A classificação conforme a localização perdurava em 1924, quando o ensino primário,

regido pelo Regulamento baixado pelo do Decreto n.1723 de 29/12/1919, era ministrado em

grupos escolares, escolas isoladas rurais e urbanas e em cursos noturnos.173

O Regulamento da

Instrução Pública Primária de 1925 previa que: “as escolas de cada municipio terão numero

de ordem e serão classificadas conforme o sexo a que se destinem, podendo excepcionalmente

ter denominação especial em homenagem a pessoa que tenha prestado serviço relevante à

causa da instrucção”.174

O Correio da Lavoura publicou, por decorrência da reforma de 1925, a classificação

das escolas públicas do município de Iguaçu.175

Seis escolas, sendo uma masculina e as

demais mistas, estavam sediadas no distrito-sede, que continuava a ser o distrito com maior

número de escolas públicas. As outras vinte e três escolas estavam distribuídas pelo

munícipio, que acolhia escolas de 1º e 2º graus. Além da identificação pela localização e a

classificação entre mista, feminina ou masculina, o nome do professor regente acrescentava a

distinção entre as escolas.

Pelo exame da tabela abaixo, nota-se que as escolas das localidades que só possuíam

uma escola pública eram mistas, enquanto as escolas de localidades com mais

estabelecimentos dividiam-se entre masculinas, femininas e mistas.

Cabe ressaltar, também, que as localidades fora do distrito-sede, que contavam com

mais de uma escola, correspondiam, em 1925, às áreas que se tornavam populosas no

município porque vivenciavam, desde a década de 1910, os processos de parcelamento do

solo e venda de terrenos para construção de moradias.

172

Estado do Rio de Janeiro. Decreto n. 1.200 de 07/07/1911. e Regulamento da Instrucção Publica do

Estado do Rio de Janeiro. In: Estado do Rio de Janeiro. Instrucção Publica. Leis e Decretos de 1911 a

1916. Tipografia do Jornal do Comércio, 1917. Biblioteca Estadual de Niterói. 173

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de

Janeiro no dia 1º de agosto de 1924 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de Janeiro,

1924, p.44. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 174

Estado do Rio de Janeiro. Regulamento da Instrucção Publica Primaria. Decreto 2.105 de

02/03/1925. Tipografia do Jornal do Comércio, 1925, pág.32. Biblioteca Estadual de Niterói. 175

CLASSIFICAÇÃO DE ESCOLAS, 09 abr 1925.

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Tabela 3 Distribuição de escolas estaduais no município de Iguaçu, 1925.

Localidade Classificação Professor

Nova Iguaçu

(“cidade”)

2º grau, masculina Augusto José Rodrigues Da Silva Junior

2º grau, mista Arlinda Rosa Barros Calino

Carmem de Castro Torres

Emilia Pontes Vieira

Venina Correa

Amelia Feliciana da Silva Kelly

Austin 1º grau, mista Rita Leal de Abreu

Morro Agudo 1º grau, mista Alvarina Teixeira de Carvalho

Jeronymo de

Mesquita

1º grau, masculina Erydina Belisario Soares de Souza

1º grau, feminina Joaquina Isabel Duque Estrada

Queimados 1º grau, masculina Augusto Falcão Duque Estrada

1º grau, feminina Januária Rosa Surville

José Bulhões 1º grau, mista Zulmira Jesuína Netto

Retiro 1º grau, mista Iracema Cunha Sá Rego

São João de Merity 2º grau, masculina Amelia Spindola Pralon

2º grau, feminina Alzira Santos

Coqueiro 2º grau,mista Elvira Gomes dos Santos

Thomazinho 1º grau, masculina Rita de Cassia Araujo

1º grau, feminina Helena Wrenn Garrido

Parada de Belford 1º grau, mista Marinha [sic] da Cunha Andrade

São Matheus 1º grau, mista Alcidia Isolina Magalhães

Merity 1º grau, masculina Cordelia Adelino de Paiva

1º grau, feminina Lupercia Peçanha

Belford Roxo 1º grau, mista Aurora Domingues Maia

Bomfim 1º grau, mista Laura Rosa

Tinguá 1º grau “Vago”

Nilópolis 2º grau, masculina Maria Apparecida Cruz Saldanha

2º grau, feminina Hercilia Bastos do couto

2º grau,mista Clara de Abreu Sodré Fonte: Correio da lavoura, Classificação de Escolas, 09 abr 1925.

O vínculo das escolas com o local de funcionamento apreende-se ainda em outras

circunstâncias, nos mapas de frequência. Por exemplo, há uma escola que se apresenta em

1931 como: Escola masculina de 2º grau de Merity; nº 22.176

Porém, devido a mudanças

legislativas na organização dos limites do município, foi mencionada nos mapas de 1933

como: Escola masculina de 2º grau de Caxias; nº 22. 177

Isto é, foi a localidade que mudou de

nome e passou a representar novo distrito do município.

A escola municipal primária mista Antônio da Silva Chaves estava sediada no 1º

distrito entre 1944 e 1947, mas foi transferida de localidade em 1948, acusando endereço no

4º distrito, em Miguel Couto. Outro sinal da transferência da escola provém da informação

exposta pela professora no começo do ano letivo: “As turmas não estão discriminadas por

176

Fundo Departamento de Educação, 02689, APERJ. 177

Fundo Departamento de Educação, 02689, APERJ.

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falta de frequência dos alunos. As aulas foram iniciadas nessa data por falta de casa para a

escola”.178

Outro exemplo foi constatado na documentação da escola pública municipal Alzira

Vargas179

, que mudou de localidade algumas vezes, mantendo, contudo, a denominação

especial. Foi instalada em Nilópolis (1944), Miguel Couto (1945-1946) e Figueira (1947).

As transformações no registro da localização das escolas denotam os processos de

reordenamento espacial em curso. No município de Iguaçu, as revisões de limites, criação e

extinção de distritos expressavam os arranjos de poder entre os grupos locais, as fissuras e

diferenças que existiram no desenvolvimento, nos usos e ocupação do território. Em Nova

Iguaçu, distrito-sede, a próspera atividade econômica do cultivo dos laranjais preservou a

maior parte do território para a atividade agrícola. Os processos de loteamentos urbanos

ocorridos nos distritos limítrofes ao Distrito Federal, como Duque de Caxias, Nilópolis, São

João de Meriti, foram diferentes dos usos de ocupação do solo que ocorreram no 1º distrito.

A dificuldade de contabilizar o número de escolas presente no acervo do

Departamento de Educação – o que dependeria de estabelecer um critério de unidade de

conceito – aumenta pela existência de dossiês de mapas, com códigos de referência próprios,

que apontam para seções de ensino que funcionam em um mesmo endereço.

Por exemplo, a Escola mista de 2º grau n.º 6, estabelecida no 1º distrito de Nova

Iguaçu em 1929, foi classificada, em 1931, como Grupo Escolar. Em 1932, era inscrita no

mapa de frequência a denominação especial Rangel Pestana. É no curso do tempo que o grupo

escolar de Nova Iguaçu passou a ser conhecido como o Grupo Escolar Rangel Pestana.180

Mas, relacionadas ao Grupo Escolar, há outras 3 notações, sendo duas sobre a Seção

profissional feminina anexa ao Grupo Escolar181

e outra sobre o Jardim de infância anexo ao

Grupo Escolar Rangel Pestana.182

A separação das seções de ensino por notação sinaliza a

concepção vigente naquele período de unidade escolar, ou terá sido este apenas um critério de

trabalho do serviço de estatística?

Ainda nessa perspectiva, encontra-se um conjunto de mapas para a Escola mista de 1º

grau de São Matheus; nº 21,183

que possui mapas de 1929; 1931 a 1933; 1935; 1937 a 1940;

10-11/1941; 1942; 08/1943; 10/1943. Mas existe outro arranjo de mapas da Escola Noturna

masculina de 1º grau de S. Matheus, nº 21184

, para alguns meses de 1933. É possível localizar

178

Fundo Departamento de Educação, 02717, março de 1948, APERJ. 179

Fundo Departamento de Educação, 02629, APERJ. 180

Fundo Departamento de Educação, 02715, APERJ. 181

Fundo Departamento de Educação, 02749 e 02750, APERJ. 182

Fundo Departamento de Educação, 02760, APERJ. 183

Fundo Departamento de Educação, 02646, APERJ. 184

Fundo Departamento de Educação, 02647, APERJ.

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a mesma professora lecionando neste ano nestas “duas” escolas, tendo sido separados os

mapas do turno noturno. Neste caso, trata-se de turnos ou unidades distintas de ensino?

Do mesmo modo, foram identificados conjuntos de mapas que aparentavam tratar de

escolas distintas. Porém, pela observação dos endereços, do quadro de professores, etc. eram

conjuntos separados de notações de uma da mesma escola, em anos diferentes.

Por exemplo, para os anos 1929 a 1935, há documentação para a Escola pública mista

de 2º grau de Jeronymo Mesquita, nº 9. Nesse período, a documentação não permite inferir se

é escola municipal ou estadual.185

Mas existe outra série de mapas para a Escola masculina

noturna de 2º grau de Jeronymo Mesquita186

, nº 3. A partir de março de 1937, esta escola se

apresenta como Escola mista de 2º grau de Jeronymo Mesquita, nº 9. É possível inferir uma

continuidade com os mapas da escola anterior, coberta até 1935, de mesma denominação? É

possível que a escola masculina nº 3 tenha sido reunida ou incorporada pela Escola mista nº

9? No caso de ser inferida tal continuidade, é possível então situar a Escola pública mista de

2º grau de Jeronymo Mesquita nº 9, como estadual, como fica explícito na documentação dos

anos posteriores (1944-1946), mas que não era possível afirmar na primeira série de mapas

(entre 1929 e 1935).

As descrições acima, de situações verificadas no exame da documentação, são aqui

mencionadas com o intuito de alertar sobre as especificidades dos mapas de frequência

enquanto fonte de pesquisa. Conforme apresentado, as mudanças na identificação das

instituições escolares, no curso do tempo, sugerem não engessar a organização previamente

dada ao Fundo, ou, pelo menos, suscita interrogações.

O que se evidencia mais importante do que precisar quantas são as escolas, é notar a

dinâmica, a mudança, o processo de disseminação da educação escolar. Há escolas que são

“reunidas”, outras são extintas, algumas são vizinhas na localidade, porém atendendo

separadamente meninos e meninas. Os mapas, que são utilizados para fiscalizar e produzir

estatísticas, panoramas, instituir quadros homogêneos, estabelecer conclusões, também

testemunham a dimensão do processo no curso do tempo, o movimento, o provisório, o

efêmero, o transitório. Os mapas deixam pistas, também, sobre as tentativas de afirmação das

agências do governo como condutoras do processo de institucionalização da escola primária,

pela mediação dos serviços de inspeção.

185

Fundo Departamento de Educação, 02673, APERJ. 186

Fundo Departamento de Educação, 02675, APERJ.

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Agências e instâncias na oferta do ensino primário

No acervo de mapas de frequência das escolas do município de Iguaçu, todos os

documentos registram o funcionamento do ensino primário em escolas municipais, estaduais,

particulares ou subvencionadas. Por exemplo, mesmo instituições como a Escola Santo

Antonio nº 1, com denominação especial “Ginásio Santo Antonio”,187

fornece dados somente

do curso complementar para meninas188

(1944-1946); do curso primário misto, do turno

matutino189

(1944-1946); do instituto infantil; e do curso primário misto do turno

vespertino190

(1944-1946). Foi localizado um mapa, de setembro de 1937, para a Escola Santo

Antonio de 3º grau,191

funcionando no mesmo distrito de Nova Iguaçu, mantendo 280 alunos

da 1ª a 5ª série do ensino primário. Portanto, o Ginásio Santo Antônio mesmo oferecendo o

ensino secundário, só há mapas, neste acervo, de classificações da escola primária.

A partir do cabeçalho dos mapas de cada notação, onde algumas informações

denominavam as escolas, do endereço ao tipo (primária, mista, municipal, estadual, isolada,

etc.), foi possível identificar ou inferir quais agências participavam na oferta do ensino

primário regular em Iguaçu. Para muitos casos, nos anos iniciais da documentação, os

descritores pública, mista, etc., não esclareciam se eram escolas estaduais ou municipais. A

menção do descritor “estadual”, quando surgia em anos posteriores, foi utilizada para inferir

que a escola era estadual desde o início da documentação. Quando, nos mapas de uma escola

“pública”, mesmo em anos posteriores, não constava o registro de estadual ou municipal, o

cruzamento da numeração atribuída à escola, num dado ano, era comparado com a numeração

das outras escolas estaduais e municipais, no mesmo ano, para verificar alguma lógica de

sucessão entre os números, a possibilidade de pertencerem a uma mesma rede. Isto porque foi

visto na legislação que a atribuição de um número referia-se à distribuição de escolas da

mesma rede em um mesmo município. Em outros casos, a presença de professoras

catedráticas, no quadro de adjuntos, era mais um indício da possibilidade de se tratar de escola

pública, e a presença da mesma professora, em outras escolas municipais ou estaduais,

agregou pistas sobre a identificação da escola.

Todos os recursos metodológicos anteriores, por vezes, foram utilizados

concomitantemente, com o interesse de delinear, ainda que de modo incompleto, e sob os

riscos de atribuições feitas na pesquisa, um perfil de escolas existentes na região, das agências

187

Fundo Departamento de Educação, 02735; 02736, 02737, APERJ. 188

Fundo Departamento de Educação, 02735, APERJ. 189

Fundo Departamento de Educação, 02736, APERJ. 190

Fundo Departamento de Educação, 02737, APERJ. 191

Fundo Departamento de Educação, 02738, APERJ.

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responsáveis pelas escolas e localização das escolas pelo território do município. Situar a

distribuição espacial da escola também apresentou algumas dificuldades, devido a mudança

de distritos ao longo dos anos, revisões de limites etc., mas cada escola só foi classificada, na

metodologia estabelecida, uma única vez.

Depois das atribuições feitas para as 136 notações, de localização e órgão responsável,

foi possível distinguir as notações referentes a escolas localizadas no do distrito-sede e as

escolas localizadas nos demais distritos (1929-1949), assim como a classificação das escolas:

Tabela 4 Atribuições de notações quanto à localização e classificação (1929-1949).

Atribuições de notações quanto à localização e classificação

Distritos Municipal Estadual Subvencionada Sem

classificação do

órgão

responsável

Total de

notações

por

distrito

Distrito-sede 25 24 8 (1) 02665 58

2º 5 2 7

3º 4 5 9

4º 15 13 5 33

5º 7 7

6º 2 2

7º 3 7 1 11

8º 2 3 2 7

9º 1 1

Sem localização

de distrito

1 1

Total de

notações por

classificação

63 56 16 1 136

Fonte: Elaborado a partir dos mapas de Frequência do Fundo Departamento de Educação, APERJ, município

de Nova Iguaçu, notações 02629 a 02764.

58 notações referem-se a seções de ensino, turnos ou escolas localizadas no distrito-

sede, para 1 notação não foi identificada a localização em distrito, e as demais 77 estavam

alocadas entre os outros distritos do município. Mesmo não havendo correspondência entre

escola (enquanto unidade de ensino) e notação (que em alguns casos trata-se de uma seção de

ensino dentre outras da instituição), atesta-se, nessa documentação, maior localização de

escolas no distrito-sede.

Na identificação do distrito, foi mantido o número registrado no mapa inicial de cada

dossiê. A tabela acima, portanto, não considerou as mudanças da configuração dos distritos,192

192

Os nove distritos apresentados na tabela não correspondem às mudanças na divisão administrativa que

ocorreram entre 1929 e 1949, tendo ocorrido, neste período, emancipações de algumas localidades. Por exemplo,

em 1931 parte do Distrito de Meriti tornou-se o 8º Distrito do município, com o nome Caxias. O distrito de

Caxias foi emancipado em 1943, compondo o município de Duque de Caxias e integrando em seu território São

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houve apenas o empenho em precisar quais escolas foram mantidas, em todo o período, no

distrito-sede. Deve-se lembrar, ainda, que a ausência de um tipo de escola, na documentação

do Fundo, não significa de fato a inexistência do tipo de escola na região. Deve ser ponderada,

pelas lacunas do serviço de inspeção, a presença menor de mapas de frequência de escolas

subvencionadas ou particulares.

Entre 1929-1949, das 58 notações do Distrito-sede, 8 referem-se a escolas

subvencionadas, 25 são de escolas municipais e 24 de estaduais. Para os demais distritos, há 8

notações de escolas subvencionadas, 38 municipais e 31 estaduais. Por essas informações, em

um quadro geral (não foi feita análise ano a ano) há certo equilíbrio no número de notações da

ação municipal e estadual, sendo reduzido o envio de mapas de frequências de escolas

particulares ou subvencionadas. Comparativamente, foi maior o acúmulo de mapas de

frequência de escolas do distrito-sede.

Nos dados organizados a partir dos mapas de frequência, a classificação das notações

pelos demais distritos do município revelou, ainda, maior número de notações para o 4º (33

notações) e o 7º distrito (11 notações). Essas regiões correspondem às localidades de São

Mateus, Eden, Tomazinho, Vila Meriti (Caxias), Coelho da Rocha e Nilópolis, que

correspondiam às áreas de maior densidade populacional do município, juntamente com o

distrito-sede. Naquele período, estas regiões, limítrofes ao Distrito Federal, sofriam o intenso

processo de loteamentos e urbanização para habitações populares.

Tabela 5 População do município de Iguaçu 1940.

Nova Iguaçu População Urbana e

suburbana

Rural

Nova Iguaçu 34.680 20.598 14.082

Belfor Roxo 7.434 4.051 3.383

Bonfim 1.232 61 1.171

Cava 3.048 455 2.593

Caxias 24.711 23.707 1.004

Estrela 3.617 256 3.361

Meriti 39.569 38.194 1.375

Nilópolis 22.341 22.341 _

Queimados 3.974 1.016 2.958

Total: 140.606 110.679 29.927 Fonte: IBGE, 1948b, p. 17 (grifo nosso).

É fundamental ressaltar, porém, que as informações apresentadas acima não abrangem

toda a rede de escolas primárias do município, e que não foi realizada uma análise diacrônica

nem sincrônica da evolução desse fragmento da rede escolar, ao longo dos anos. A

comparação entre quais tipos de escolas existiam, ano a ano, por distrito, poderia revelar a

João de Meriti. Em 1947 esta localidade também se emancipou, juntamente com o distrito de Nilópolis

(TORRES, 1997).

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gradativa instauração da rede de escolas e dos órgãos responsáveis. Mas tal exercício

dependeria também, de um mapeamento das transformações na tipologia – mista, feminina,

masculina – e, principalmente, nas modificações dos turnos existentes por instituição, o que

revelaria, ao fim, a expressão da demanda de matrículas acolhida por cada órgão responsável.

Portanto, uma análise mais pormenorizada, sobre quais escolas existiam, ano a ano, seus

turnos e matrículas, aprofundaria a proporção da disseminação de escolas na região, e da

maior ou menor presença destas agências na oferta de escolas.

A conclusão que se chega pelo exame da documentação do Departamento de

Educação, de que havia maior número de escolas no distrito-sede em comparação com o

restante do município, também se repetiu na análise de outro acervo, datado entre 1932-1933.

Nas 76 fotografias de escolas da Coleção Arruda Negreiros (mas que, sabe-se, está

incompleta),193

através das legendas e do cruzamento com informações do Fundo

Departamento de Educação, também foi possível identificar a localização das escolas

fotografadas. Neste caso, também o número de 76 fotografias não corresponde ao número de

escolas, não apenas pelo caráter lacunar, mas porque há escolas que foram fotografadas mais

vezes. Para as 39 fotografias de escolas do distrito sede, 25 são de responsabilidade do

governo estadual, sendo, entre as 25, 10 sobre do Grupo Escolar Rangel Pestana. Nove

fotografias são de escolas municipais e outras cinco de escolas subvencionadas, sendo que, 4,

do Ginásio Leopoldo.

Tabela 6 Fotografias de escolas do município. Coleção Arruda Negreiros [1932-1933].

Distritos Municipal Estadual Subvencionada Total

Distrito-sede 9 25 5 39

Demais distritos 9 27 1 37

Total: 18 52 6 76

Fonte: Acervos IPAH, IHGNI, Acervo Pessoal Marcus Monteiro.

Tanto as classificações das fotografias de 1933, quanto o resultado do trabalho com os

mapas (1929-1949), revelam a presença expressiva da ação municipal e estadual na oferta de

escolas.

Embora tendo em vista as dificuldades para a inspeção do ensino subvencionado e

particular, e sendo pouco conclusivo contabilizar o número de instituições registradas na

documentação do APERJ, é relevante a desproporção entre a incidência de escolas

subvencionadas e/ou particulares e as escolas “públicas” (no sentido estatal) de ensino

193

Também não há informação se houve algum tipo de seleção prévia de quais escolas seriam

fotografadas.

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primário em Iguaçu. Em primeiro lugar, cabe sustentar que foi mais assídua a fiscalização dos

estabelecimentos de ensino público.

Em segundo lugar, cabe considerar que o ensino público também predominou no

modo de disseminação da escola primária para o estado do Rio de Janeiro (SCHUELER,

2010). Isso também se verifica, (ainda que seja um efeito do trabalho de estatística e de seus

limites), nos números de escolas informados nas mensagens presidenciais, nos relatórios dos

Secretários de Interior e Justiça e dos Diretores da Instrução Pública.

No acervo dos mapas de frequência, há 15 notações para escolas subvencionadas e/ou

particulares no município. Essas classificações não são necessariamente sinônimas, e nem

sempre distintas... A imbricação entre as ações pública e privada integrou modos diversos de

disseminação e financiamento de escolas, desde o século XIX. Pelo regime de subvenções, a

ação pública legitimava a iniciativa de associações da sociedade civil em prol do ensino.

Esses acordos de apoio mútuo não ocorreram, contudo, sem desconfianças, contendas e

cobranças entre ambas as partes (LIMEIRA, 2011 a,b).

Nos conjuntos de mapas de frequência do Ginásio Santo Antonio identifica-se notas,

por vezes a lápis, como “particular” (03/1944).194

Esses mapas também portam o visto e

carimbo do prefeito entre os anos de 1944 a 1946, o que demonstra que são subvencionadas

pela prefeitura.195

Isto também foi verificado na como a Escola subvencionada de 1º grau,

com denominação especial “Humildade e Caridade”196

, que contém diversos mapas

rubricados entre 1944 e 1947.

Como nos exemplos citados, os mapas de escolas particulares e/ou subvencionadas

registram denominações que remetem à iniciativa de associações religiosas na oferta de

escolas primárias, como Escola Parochial São José,197

Escola Mista Coração de Maria,198

Escola do Centro Espírita Estrada de Damasco,199

Ginásio Santo Antônio. 200

A participação do poder público no auxílio a essas escolas também é flagrada mesmo

quando a identificação não ostenta a condição de “subvencionada”. A Escola João Batista201

,

identificada como “particular”, funcionava entre 1945 e 1949 sob a regência da professora

Ilza Chaves de Almeida, que assinava os mapas como “professora municipal-interina”.

194

Fundo Departamento de Educação, 02736, 02737APERJ. 195

Fundo Departamento de Educação, 02737, APERJ. 196

Fundo Departamento de Educação, 02631, APERJ. 197

Fundo Departamento de Educação, 02724, APERJ. 198

Fundo Departamento de Educação, 02654, APERJ. 199

Fundo Departamento de Educação, 02650, APERJ. 200

Fundo Departamento de Educação, 02735; 02736, 02737, APERJ. 201

Fundo Departamento de Educação, 02676, APERJ.

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Na Escola Regional de Meriti202

, particular, o quadro docente era composto, entre os

anos de 1937 e 1939, por professoras catedráticas do estado, professoras municipais e

professoras contratadas pela diretora.

A “Escola particular do Centro Espírita Estrada de Damasco”, com a denominação

especial “Escola Primária Paulo de Tarso”, possuía, em 1945, “professora particular” e

“professora municipal” lecionando, e em 1946, contava com “professora particular custeada

pela Escola”.203

O governo do estado informava, em 1925, a adoção do estabelecimento do regime de

subvenção para escolas diurnas ou noturnas de ensino elementar, mantidas por associações ou

particulares.204

Em 1927, o presidente do estado defendia o recurso da escola subvencionada

como auxiliar na causa da ampliação do ensino, porque era menos dispendiosa do que a

construção de prédios escolares.205

Este era um dos argumentos que sustentavam o regime de

subvenções desde as políticas educacionais do Império (LIMEIRA, 2011a).

Certamente as 15 notações que identificam escolas particulares e subvencionadas não

representam todo o universo de escolas particulares e subvencionadas do município de

Iguaçu. Há conhecimento de outras escolas existentes, mencionadas no Correio da Lavoura,

mas que não possuem representação no Fundo do Departamento de Educação.

Em 1932, havia 3 escolas subvencionadas pela prefeitura em Nova Iguaçu: Escola São

José, no distrito de Nilópolis, Escola Humildade e Caridade, na localidade de Andrade Araujo

e o Ginásio Leopoldo, sediado no distrito-sede.206

Este Ginásio, fundado em 1930, ofertava

ensino primário, mas não constam mapas sobre ele no Fundo Departamento de Educação do

APERJ.

Porém, mapas de frequência em branco e outros preenchidos foram localizados no

arquivo do Colégio Leopoldo. Os mapas deveriam ser preenchidos em 3 vias, sendo uma

delas arquivada no estabelecimento, o que pode explicar a existência destas vias na escola. Há

mapas do ano de 1946, que informam 5 séries do ensino primário com 372 alunos, e classes

202

Fundo Departamento de Educação, 02685, APERJ. Para a Escola Regional de Meriti, ver SILVA,

2008; MIGNOT, 2002; SANTOS, 2008. 203

Fundo Departamento de Educação, 02650, APERJ. Também há mapas desta escola na notação

02725. 204

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de

Janeiro no dia 1º de agosto de 1925 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de Janeiro,

1925. Inclui Anexos.p.44 Disponível em: Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 205

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de

Janeiro no dia 1º de agosto de 1927 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de

Janeiro,1927.pág.94. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 206

PREFEITURA MUNICIPAL DE IGUASSÚ, 22 MAR 1932. Relatório apresentado ao Exmo. Sr.

Comandante Ary Parreiras, interventor do Estado do Rio, pelo Exmo Sr. Dr. Sebastião de Arruda

Negreiros, Prefeito de Iguaçu, durante o ano de 1931.

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do curso ginasial e do curso de contabilidade. Há mapas preenchidos do ano de 1947, com

410 alunos entre as 5 séries do ensino primário (10/1947) e também há mapas das seções do

curso comercial, do curso de contabilidade e do ciclo ginasial do ensino secundário.

A existência da Escola Primária do Ginásio Leopoldo, anexa ao Ginásio, também é

atestada por mapas do ano de 1948, acusando 365 alunos dispostos em 5 séries do ensino

(mapa de junho de 1948), funcionando em 2 turnos.207

Além das lacunas, há maior incidência de mapas entre os anos de 1944-1946 para

estas escolas subvencionadas e/ou particulares, o que pode representar que houve nesse

período maior êxito da administração pública na fiscalização de escolas particulares. Por

exemplo, o ensino primário no Ginásio Santo Antônio era ministrado desde 1935, mas a

documentação do APERJ cobre apenas o período entre 1944-1946208

e há uma notação para o

ano de 1937.209

Em 1927, o diretor da Instrução Pública do estado do Rio de Janeiro, José Duarte,

reclamava da situação da estatística do ensino em geral. Não era sabido o número de

estabelecimentos particulares existentes porque os municípios não remetiam os dados e as

escolas particulares também não atendiam ao que estabelecia o Regimento do Ensino. 210

Dessa avaliação, com a reforma da instrução pública em 1927,211

buscava-se assegurar

maior eficiência ao “mais alto e mais útil auxiliar do ensino publico”.212

Em 1929, o

presidente do Estado dava destaque à iniciativa de atribuir ao Inspetor Geral do Ensino a

“fiscalização direta e assídua” do ensino particular, “ainda que para o simples efeito da

estatística”, dado seu crescimento, sobretudo na capital do estado.213

Além da distribuição das escolas pelo município e das agências presentes na oferta de

escolas, os mapas de frequência informam sobre a distribuição dos alunos, dos professores,

dos turnos e das séries do ensino. A observação, a cada notação, de como se configuraram

207

Acervo Privado da Secretaria do Colégio Leopoldo. Consultado na sede da escola, sob autorização e

auxílio do diretor Paulo de Tarso. Foram consultados também documentos do acervo particular do

diretor Paulo de Tarso, sobrinho do fundador da escola, Leopoldo Machado. 208

Fundo Departamento de Educação, 02735; 02736, 02737, APERJ. 209

Fundo Departamento de Educação, 02738, APERJ. 210

Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do

Interior e Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro,

Tipografia do Jornal do Comércio, 1927, pág.247. Biblioteca Estadual de Niterói. 211

Decreto nº 2.037 de 23/07/1927. 212

Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do

Interior e Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro,

Tipografia do Jornal do Comércio, 1927, pág.247. Biblioteca Estadual de Niterói. 213

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no

dia 1º de outubro de 1929 pelo Presidente Dr. Manuel de Mattos Duarte Silva. Rio de Janeiro, 1929, pág.57.

Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial.

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estas variáveis, demarcou algumas possibilidades de compreensão sobre as experiências de

escola implementadas em Iguaçu, principalmente no distrito-sede.

Escolas isoladas e práticas de seriação: imbricações nas escolas do Distrito-sede

A partir do cruzamento de informações dos campos dos mapas e da análise comparada

entre as notações, demarca-se um perfil de escolas existentes na região e dos modos de

organização do ensino primário. O interesse de examinar a existência de uma “rede” de

instituições é motivado pela possibilidade de conhecer aspectos da instalação, distribuição,

organização e funcionamento das escolas.

Neste tópico, pretende-se recuperar a descrição de algumas escolas, quanto à

denominação e funcionamento, para apresentar o tipo de escolas existentes em Nova Iguaçu,

nas décadas de 1930 e 1940, e as reflexões suscitadas por esse enquadramento. Será preciso

apresentar, em detalhes, informações de algumas escolas, pois foi a coleta detalhada de dados,

o cruzamento de informações entre os campos nos mapas e a comparação entre as notações

que permitiu delinear um perfil das escolas e problematizar questões sobre a

institucionalização da escola primária. Para os efeitos da narrativa e da argumentação, serão

recuperados apenas alguns exemplos, sintomáticos, de situações recorrentes encontradas na

análise da documentação do Fundo Departamento de Educação.

Cabe ressaltar que há uma defasagem entre a organização do ensino pressuposta pelos

campos requeridos para preenchimento nos mapas, de autoria da administração

governamental, e a diversidade de situações encontradas a partir das informações fornecidas

pelos professores. Por outro lado, a semelhança de algumas ocorrências, por notação, permite

afirmar certas características do processo de institucionalização da escola primária no

município, a partir do distrito-sede.

Num primeiro exercício, a compreensão sobre o tipo de escolas que aparece nos mapas

foi cotejado com os regulamentos do ensino primário no estado, conforme o ano do mapa. Foi

constatado que as mudanças nas denominações das escolas sinalizavam as transformações que

ocorriam nas sucessivas reformas do ensino empreendidas no período.

Pela reforma do ensino em 1925, a distinção entre escola de 1º grau e escola de 2º grau

consistia na seriação do ensino ofertado. O grau elementar era ministrado em escolas de 1º

grau, com duas séries; o grau médio era ministrado em escolas de 2º grau, com três séries; as

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escolas de 3º grau eram equipadas com o curso integral, de 5 séries de ensino (grupos

escolares).214

Por exemplo, em 1929, a escola mista de 1º grau de Bomfim, nº 34, tinha sede no 5º

distrito do município de Iguaçu.215

Em maio de 1931, localizava-se em Rancho Novo, no

mesmo distrito, ainda com classes na 1ª e 2ª séries e 23 alunos. Em março de 1932, a escola

funcionava com 3 classes na 1ª série e um total de 57 alunos. Em 1935, possuía 27 alunos

distribuídos entre 3 classes na 1ª série e 1 classe na 2ª série, com a 2ª série formada por 2

alunas. Em março de 1937, a escola era identificada como mista de 2º grau de Nova Iguaçu,

nº 6, e passava a ofertar também a 3ª série do ensino.216

Em 1927, os estabelecimentos de 1º e 2º grau formavam as escolas elementares, ou

ainda, escolas isoladas.217

A reforma da instrução pública primária, em 1929, manteve a

distinção entre escolas de 1º grau e escolas de 2º grau, cabendo aos grupos escolares a oferta

do ensino primário completo.218

Em 1937, a escola mista de Nova Iguaçu nº 34, era designada como escola isolada nº

6, de 2º grau.219

A classificação de “isolada”, sob a reforma de 1936,220

era a condição de

escolas do ensino primário com até 3 séries de ensino, enquanto os grupos escolares

funcionavam com 5 séries (ABREU, 1955, p.215). Em 1937, foi registrada essa mudança no

campo de identificação das escolas também em outras notações. Desde outubro de 1940, a

escola isolada nº 6 ampliou o funcionamento para 2 turnos, com a chegada de uma professora

adjunta. A menção “estadual” aparece nos mapas a partir de 1944, ainda que se mantenha a

designação isolada até 1947, quando o cabeçalho indica “Escolas Reunidas nº 6”, iniciando o

ano com 84 alunos distribuídos entre as 3 primeiras séries do ensino.221

A denominação “escola reunida” foi prevista pela Lei Orgânica Estadual do Ensino

Primário em 1946, como tipo de estabelecimento em que havia duas a quatro turmas, cada

uma com um docente e com oferta do curso elementar (4 séries do ensino). Já a escola isolada

214

Estado do Rio de Janeiro. Regulamento da Instrucção Publica Primaria. Decreto 2.105 de

02/03/1925. Tipografia do Jornal do Comércio, 1925. Biblioteca Estadual de Niterói. 215

Fundo Departamento de Educação, 02644, APERJ. 216

Fundo Departamento de Educação, 02644, APERJ. 217

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de

Janeiro no dia 1º de agosto de 1927 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de Janeiro,

1927, pág.93. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 218

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de

Janeiro no dia 1º de outubro de 1929 pelo Presidente Dr. Manuel de Mattos Duarte Silva. Rio de

Janeiro, 1929, pág.55. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 219

Fundo Departamento de Educação, 02644, APERJ. 220

Estado do Rio de Janeiro. Decreto 196-A de 20/02/1936. Aprova o regulamento do Departamento de

Educação e da Instrução Pública Primária. Estado do Rio de Janeiro. Indicador de Legislação e Administração,

1936. 221

Fundo Departamento de Educação, 02644, APERJ.

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seria o estabelecimento com a oferta do curso elementar, mas com apenas uma turma a cargo

de um professor. Porém, essas classificações poderiam mudar, caso uma escola “isolada”

recebesse mais um docente, passava a ser considerada “reunida”, e, no caso de voltar a ter

apenas um regente, também voltava à condição de “isolada” (ABREU, 1955, p. 221). Essa

variação da nomenclatura foi observada em diversas escolas em Nova Iguaçu.

A partir da Lei Orgânica Estadual do Ensino Primário, que ampliou a grade do ensino

primário de escolas elementares de 3 séries (conforme Regulamento de 1936) para 4 séries

(Idem), algumas escolas em Nova Iguaçu matricularam alunos na 4ª série nos anos de 1947-

1949.222

Outro dado importante para análise dos mapas de frequência é que o formato dos

mapas é o mesmo para todas as escolas, exceto os mapas das seções profissionais do Grupo

Escolar Rangel Pestana.223

Todos os mapas pressupõem a seriação do ensino, pois exigem

informações sobre a distribuição dos alunos por série e o número de classes, por turno e série,

em cada escola, o que dá a ver, pelo exame destes mapas, os modos de organização e

funcionamento das escolas de ensino primário no município.

A adoção da seriação e a configuração do ensino primário como um curso graduado,

no estado do Rio, estavam previstas na reforma de 1929.224

Em outros estados do país, a

seriação do ensino e a classificação homogênea dos alunos em classes, por idade e nível de

conhecimento, pautavam as principais mudanças em curso na configuração administrativa e

pedagógica da escola primária. É interessante notar que o termo classe adquire novas

conotações na organização das escolas primárias na República, com a implantação do regime

seriado.

Na Europa, desde fins do século XVIII, e no Brasil, desde o século XIX, o termo

classe participava das propostas de aplicação dos métodos de ensino na educação elementar,

sobretudo a partir dos debates sobre o método mútuo (LESAGE, 1999, p.11). Durante o séc.

XIX a definição de programas e currículos escolares esteve relacionada “à organização e à

utilização dos tempos escolares e, daí, com os métodos pedagógicos, ou, mais

especificamente, com a organização das turmas e das classes” (FARIA FILHO, 2007, p.149).

Os debates sobre o método mútuo vincularam a aplicação do método com os modos de

disposição dos alunos em classes (Ibidem, p.142). No método mútuo, os alunos eram

222

Por exemplo, 02665 (1947,1949); 02711 (1947); 02692 (1949); 02706 (1947). Fundo Departamento

de Educação, APERJ. 223

Fundo Departamento de Educação, 02749 e 02750, APERJ. 224

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de

Janeiro no dia 1º de outubro de 1929 pelo Presidente Dr. Manuel de Mattos Duarte Silva. Rio de

Janeiro, 1929, pág.55. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial.

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108

agrupados conforme a disciplina e o nível de conhecimento em que estavam, sem critérios de

organização pela idade: “a atribuição a uma classe é unicamente resultado do nível de

conhecimento” (LESAGE, 1999, p.13). O termo classe designava um “conjunto de aquisições

e conhecimentos”, possuindo um ritmo de estudos e um programa a desenvolver, sendo cada

classe dirigida por um instrutor, que era um dos alunos em estado mais avançado do

conhecimento sob estudo (BASTOS, 1999, p.97) As classes em que se dividia a escola

deveriam ser percorridas pelos alunos, mas o aluno poderia cursar mais de uma classe, e estar

em posições diferentes em cada uma, conforme seu nível de conhecimento. Como todas as

classes funcionavam distribuídas em um mesmo espaço contíguo, por vezes em grande galpão

ou celeiro, não havia relação entre classe e arquitetura (LESAGE, 1999, p.13).

À medida que se avolumavam as propostas pedagógicas, os métodos de ensino, a

produção de mobiliário, utensílios e materiais impressos destinados a imprimir maior

resultado às relações de ensino-aprendizagem na escola, amadurecia a concepção da

necessidade de construção de um espaço adequado para o funcionamento da escola. O local

deveria atender também aos preceitos da higiene e favorecer, conforme a localização, a

inspeção por parte das agências de governo. Em fins do século XIX, os Grupos Escolares

espelhavam as tentativas, pelos governos republicanos, de atender a estas demandas, assim

como o esforço por instituir um novo modelo de escola primária, vinculado ao advento da

República (FARIA FILHO, 2007, p.147). Os grupos escolares colocaram em circulação “o

modelo definitivo da educação do século XIX: o das escolas seriadas” (Idem). Este processo

ecoaria sobre os modos de entendimento e de organização das classes e séries do ensino nos

diversos tipos de instituições de ensino primário.

Sobre a criação de grupos escolares em Minas Gerais, Faria Filho ressalta que, em

termos de reorganização dos modos de funcionamento da escola, a principal mudança

introduzida consistia na possibilidade de disposição dos alunos em turmas, classes ou aulas

em um mesmo ano do curso, o que estabelecia condições para o ensino simultâneo (FARIA

FILHO, 2000, p.152). A homogeneização dos alunos pela graduação do ensino era uma

aposta em tornar a aprendizagem mais rápida e eficiente.

A escola primária graduada pressupunha o agrupamento dos alunos mediante a

classificação pelo nível de conhecimento. O edifício escolar dividido em várias salas

de aula, a divisão do trabalho docente, a ordenação do conhecimento em programas

distribuídos em séries, o emprego do ensino simultâneo, o estabelecimento da

jornada escolar e a correspondência entre classe, sala de aula e série (SOUZA;

FARIA FILHO, 2006, p.27).

Contudo, essa mudança precisou ser compreendida, implantada, defendida, para

tornar-se um meio efetivo de organização dos Grupos. Reunir “escolas” em um Grupo Escolar

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significava, pela reforma, efetuar novos significados, equivalências e deslocamentos ao

entendimento que havia sobre “escola” e “classe”, por exemplo. Os termos escola, cadeira,

turma, classe e aula eram apropriados de modos distintos, sem a precisão como são

conhecidos atualmente (FARIA FILHO, 2000, p.153). Descrições sobre a organização das

turmas, classes e aulas, demonstram certas diferenças de significado e mesmo de organização

entre os grupos escolares. Contudo, o termo classe “era o que mais parecia identificar o

esforço de homogeneização que se realizava” (Ibidem, p.155), havendo expressivas

recomendações para que as classes fossem introduzidas e abrigassem alunos do mesmo ano

do curso. A homogeneização recaía, também, nas prescrições em separar em classes, e até em

turnos, meninos e meninas (Ibidem, p.157).

Para o estado do Rio de Janeiro, os mapas de frequência são fontes importantes que

revelam as apropriações realizadas dos termos classe, série, turno, em face da implantação do

novo regime de organização das escolas e de classificação dos alunos.

Em Iguaçu, a comparação da movimentação de alunos, classes e séries, numa mesma

escola ou no universo das escolas de Nova Iguaçu, restitui um cotidiano diversificado, de

bastante mobilidade na organização das escolas primárias, pelo ingresso mensal de novos

alunos, exclusão de outros tantos, mudanças no quadro docente, com a chegada, saída ou

licenciamento de professores... Quadro de adjuntos, turno, série e classe eram variáveis

agregadas de diferentes modos, revelando a coexistência de tipos diferentes de escolas em

Iguaçu, de escolas isoladas a grupos escolares. Essas alterações evidenciam um momento de

construção da escola primária, da experimentação de modos de funcionamento, das

possibilidades dos professores, dos alunos, do uso dos prédios alugados, das condições de

acesso e transporte.

Observam-se a seguir, algumas combinações entre quadro de adjuntos, turnos, séries e

classes em outras escolas do distrito-sede. Nessas situações, ainda que os campos do mapa

sejam dispostos de forma que o professor informe, separadamente, a organização dos turnos,

das séries, e das classes, o efeito de seriação implícito nos mapas pode não corresponder de

fato ao cotidiano da escola.

São poucos os mapas da escola pública primária municipal de 1º grau de Rancho

Novo, de junho a novembro de 1933, e, depois, em maio de 1935. Em 1933, a escola, de

denominação especial José dos Reis, abrigou de 38 a 40 alunos em um turno, em 3 classes na

1ª série, e, em 1935, informava, novamente 38 alunos matriculados, distribuídos em 3 classes

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110

na 1ª série e 1 classe na 2ª série do ensino primário.225

A professora Lais de Carvalho Cartago

lecionava nesta escola, sem adjuntos. Portanto, lecionava para mais de uma classe, de níveis

distintos, no mesmo turno, sendo maior o número de classes e de alunos na primeira série.

Na escola mista de 2º grau nº 1,226

entre 1929 e 1935, havia 3 classes na primeira série,

oscilando a oferta entre uma e duas classes para a 2ª e 3ª séries. Entre 1929 e 1938, a escola

foi regida apenas pela professora Celina de Rezende Silva.227

Deve-se considerar, ainda, que

não há um número fixo de distribuição de alunos. Mesmo quando há uma classe para cada

série (como acontece no funcionamento do 1º turno, em 1943), geralmente era maior o

número de alunos na 1ª série.

A escola “mixta da cidade” de 2º grau, nº 2, entre 1931 e 1947, foi regida

frequentemente em mais de um turno, oferecendo até a 3ª série, e agregando desde 1929 de 3

a 4 docentes. Apenas o ano de 1947 iniciou com alunos na 4ª série. Esta escola também

apresenta um número maior de classes para a 1ª série. Por exemplo, entre 1929 e 1932, os

anos letivos foram lotados com 3 classes na 1ª, 2 ou 1 classe na 2ª série e 1 classe na 3ª

série.228

A escola foi classificada como “estadual” em 1944 e 1946 (mas também como

“isolada”) e “reunida nº 2”, em março de 1947, porém, as indexações “isolada” ou “estadual”

não repercutiram em mudanças na reorganização dos turnos. A existência de mais de um

docente, nesta escola “isolada”, aponta para uma diversidade nos modos de organização das

escolas isoladas.

Na escola mista de 2º grau nº 3, entre 1931 e 1935, todos os anos letivos229

foram

iniciados com 4 classes para a 1ª série, 2 classes na 2ª e 1 classe na 3ª série. Entre 1937 e

1947, a escola sempre acolheu mais classes na 1ª série.230

Desde 1929, a escola funcionava

com uma professora catedrática acompanhada de professoras adjuntas, e geralmente ofertou

aulas em mais de um turno.

Os Mapas de 1929 e 1931 da escola mista de 2º grau nº 4, em Nova Iguaçu,

apresentam classes de alunos da 1ª a 3ª série. Entre março e maio de 1931 foi acrescida uma

classe à 1ª série, continuando a existir 2 classes para a 2ª série e 1 classe para a 3ª, estando as

classes sob a regência de uma única professora catedrática. Assim como ocorria nesta escola,

o aumento da matrícula nos primeiros meses do ano e um esvaziamento nos meses finais do

225

Fundo Departamento de Educação, 02679, APERJ. 226

Fundo Departamento de Educação, 02710, APERJ. 227

Celina de Rezende Silva Figueiredo, a partir do mapa de 04/1931. 228

Fundo Departamento de Educação, 02711, APERJ. 229

A disposição de turnos e séries poderia ser modificada de um mês a outro, com foi possível observar

no exame da documentação. Isto posto, procura-se na exposição citar o mês de referência da informação

apresentada. 230

Fundo Departamento de Educação, 02712, APERJ.

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primeiro e do segundo semestre, são circunstâncias notadas em diversas escolas, localizadas

em áreas urbanas ou rurais.231

A escola municipal situada em Rocha Sobrinho232

reúne mapas de 1944-1948. Neste

intervalo, a escola funcionou no 2º turno, sob a regência de uma única professora. Em março

de 1944, abrigava 20 alunos em 2 classes na 1ª série, e, em março de 1947, ofertava a 1ª, 2ª, 3ª

e 4ª série, com 46 alunos no total. Contudo, em 1948, no começo do ano letivo, só havia

classes na 1ª e 2ª série, com 52 alunos, o que também demonstra as flutuações que ocorriam

na organização das escolas, conforme o número de matrículas e a classificação dos alunos.

Para a escola municipal Ministro Rodrigo Otávio, situada em Austin, há mapas de

1945 e de 1948 com a descrição “rural” ou a letra “R”, comparecendo a citação “urbana” em

1949. Entre 1944 e 1946, funcionou geralmente em 2 turnos com 2 professoras. Em março de

1946, a escola funcionava com 1 classe na 1ª série em cada turno. Em 1948 e 1949, estava

aberta em 3 turnos, com alunos nas 4 primeiras séries do ensino, e com três professoras.233

A escola mista de 2º grau da localidade do “K-11”, em 1947, inscrevia alunos na 4ª

série desde o começo do ano letivo, tendo iniciado todos os anos entre 1931-1946 com classes

entre a 1ª e 2ª séries, e ocasionalmente com a 3ª série. Era a escola mista de 2º grau, entre

1931 e 1935, sendo identificada como isolada em 1937, sediada em uma rua da área central

do distrito sede. Esta escola, geralmente, entre 1931-1946, funcionou com mais de uma

docente e em mais de um turno. 234

O exame da documentação revela a existência de escolas mistas, de 1º e 2º graus, que

funcionavam em um único turno, com classes das distintas séries do ensino sob a regência de

uma mesma professora; escolas que funcionavam em mais de um turno, sob a regência de

uma mesma professora; escolas que funcionavam em um único turno, lotadas com mais de

uma docente; escolas mistas que funcionavam em até três turnos, lotadas com mais de uma

docente.

Além das escolas isoladas de 1º e 2º graus, seis notações referem-se a escolas noturnas

existentes no distrito-sede e, no restante do município, foram localizadas 4 escolas noturnas,

em Nilópolis235

e nas localidades de São Mateus e Tomazinho, áreas populosas do

231

Fundo Departamento de Educação, 02713, APERJ. 232

Fundo Departamento de Educação, 02732, APERJ. 233

Fundo Departamento de Educação, 02692, APERJ. 234

Fundo Departamento de Educação, 02706, APERJ. 235

Fundo Departamento de Educação, 02646, APERJ: Escola Brasil, subvencionada noturna, com as 5

séries do ensino primário entre 1944-1946. Fundo Departamento de Educação, 02662, APERJ: Escola

Municipal Francisco Portella (1944-1946).

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112

município.236

A criação de cursos noturnos oficiais vinha atender à “campanha meritória de

alfabetizar os adultos”,237

porque, até então, o governo estadual apenas subvencionava cursos

noturnos de iniciativa particular.

A escola noturna masculina nº 1, municipal, funcionava no turno de 18h30 às 21h,

com 76 alunos na 1ª e 2ª séries em junho de 1933. Em maio de 1935 também abrigava alunos

entre a 1ª e 2ª série, com cerca de 75 alunos.238

A segunda “Escola municipal de Nova Iguaçu”239

e, ainda, “Escola Noturna masculina

nº 2” apresenta mapas de julho a novembro de 1933 e de julho a novembro de 1935. No mapa

do mês de julho de 1933 consta a seguinte nota: “A divisão em séries constará do próximo

mapa, por se tratar duma escola de recente creação. O professor”.240

O docente é Jarbas

Cordeiro. Este professor também foi inspetor nas escolas municipais, no mesmo período

(1933; 1935). Em 1935, a escola estava a cargo de nova regente, e a escola noturna masculina

municipal de 1º grau, nº 2, oferecia a 1ª e 2ª séries.

Em março de 1931, há uma escola masculina noturna de 1º grau241

que aparece como

subvencionada. Entre 1931 e 1936, a escola esteve sob a regência da mesma professora. A

partir de maio é denominada escola masculina noturna de 1º grau, nº 2, até 1933. Em 1931,

apresentava alunos na 1ª série, e, a partir de julho, também constava a 2ª série (provavelmente

com alunos promovidos no primeiro semestre). Em 1933, acolhia alunos na 1ª e 2ª séries, com

número mais expressivo de alunos na 1ª série. Em novembro de 1933, acusava 54 alunos

matriculados na 1ª série e 4 alunos na 2ª série. Funcionou apenas com a 1ª série durante 1935.

Em 1936, acolhia 38 alunos na 1ª série e 3 alunos na 2ª série.

A Escola Noturna Masculina,242

identificada como de 2º grau, em 1938, funcionou

entre 1937 e 1940, na rua Bernardino de Mello nº 329, e em 1942, no nº 1595. Em 1938, foi

classificada com o nº 36. Deixou de funcionar em 1943, voltando ao mesmo endereço em

1947. Desde 1937, apresentou alunos nas três primeiras séries do ensino, abrindo classe na 4ª

série em 1949, funcionando sempre sob a regência de uma docente.

236

Fundo Departamento de Educação, 02747;02756, APERJ. 237

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de

Janeiro no dia 1º de outubro de 1929 pelo Presidente Dr. Manuel de Mattos Duarte Silva. Rio de

Janeiro, 1929, pág.57. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 238

Fundo Departamento de Educação, 02684, APERJ. 239

Fundo Departamento de Educação, 02718, APERJ. 240

Fundo Departamento de Educação, 02684, APERJ. 241

Fundo Departamento de Educação, 02707, APERJ. 242

Fundo Departamento de Educação, 02708, APERJ.

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Para a escola masculina noturna de 2º grau nº 3 de Jerônimo Mesquita, 243

há mapas de

frequência de 1931, mas a escola deixou de ser noturna e tornou-se a escola mista nº 9, em

1937.

Para a escola noturna feminina de 2º Grau,244

os mapas de 1929 apresentam as 3 séries

do ensino primário. Foi classificada como escola de 1º grau entre 1931 e 1935. Os anos

letivos foram iniciados com classes na 1ª e 2ª série, sempre com número maior de classes na

1ª série e sob a regência da mesma professora.

Entre as descrições feitas acima, tomadas como exemplos de situações encontradas no

exame da documentação, é relevante notar que, em geral, nas escolas do município de Iguaçu,

tanto do distrito sede quanto nos demais distritos, era recorrente a existência de um número

maior de classes e alunos na 1ª série, e um número menor de classes e alunos, na 2ª, 3ª e 4ª

séries. Por vezes, as classes de 2ª, 3ª e 4ª séries eram constituídas de 1 a 2 alunos. Importa

advertir que as promoções no fim do primeiro semestre alteravam a organização dos turnos e

classes no 2º semestre. Algumas classes eram extintas, outras acrescidas em alunos.

O crescimento anual de matrículas (mas que também era mensal) e a demanda pela

alfabetização podem explicar a oferta constante e maior de classes na 1ª série, situação

verificada para a maioria da documentação. Porém, esse ingresso crescente de alunos não

progride nas séries posteriores, o que coloca em questão os limites da progressão dos alunos,

ao menos nas escolas de Iguaçu, ou ainda, dos usos que as crianças e famílias decidiram, ou

puderam fazer, destas escolas primárias.

Quando se observa a distribuição das turmas entre os professores, ou quando uma

escola agregava várias classes num mesmo turno, sob a regência de um único professor, pode-

se imaginar que alunos de “classes” diferentes estivessem juntos, na mesma “aula”. Desse

modo, a institucionalização da seriação, mesmo que observada pelos docentes – que

frequentemente informavam a progressão de alunos e os dividiam em classes e séries – não

foi imediatamente acompanhada das necessárias mudanças na estrutura física das instituições

e não esteve garantida a correspondência de uma classe (da mesma série) para um docente.

As mudanças registradas nos endereços das escolas, que foram frequentes em diversas

notações, indicam ainda o caráter da mobilidade dos locais de ensino, fator este que,

provavelmente, também repercutia nos números de matrícula e nas possibilidades de

organização dos turnos e das classes. Ademais, a análise das mudanças de nomenclatura, em

várias escolas, não implicava necessariamente mudanças na seriação do curso primário. Isto é,

243

Fundo Departamento de Educação, 02675, APERJ. 244

Fundo Departamento de Educação, 02709, APERJ.

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verifica-se, nos mapas, que nem sempre acontecia alteração imediata no quadro da

organização dos turnos e séries quando havia mudanças no campo de classificação da escola.

Outras mudanças na organização escolar foram registradas em diversas instituições.

Por vezes as escolas abriam durante um ano no mesmo turno, e no ano seguinte, em outro.

Entre 1944 e 1946, a escola mista Granja Esperança245

estava equipada com as 3 séries do

ensino primário, havendo alunos na 4ª série em 1947 e 1949, contando com uma ou duas

professoras, ocasionalmente. Todas as classes eram reunidas em um único turno, ainda que o

horário de funcionamento do turno fosse alterado ao longo dos anos. A escola Granja

Esperança também sofreu modificações em sua nomenclatura. Em 1944, era a Escola mista

Granja Esperança de 2º grau. Em 1945, funcionava no mesmo endereço, mas o distrito passou

a ser o 2º do município, e a escola recebeu a denominação especial “Armando Chaves”. Em

1949, era identificada como “Escolas Reunidas situadas no km 34 da estrada Rio-São Paulo”.

Não foi possível atestar se a escola era subvencionada ou pública, ainda que contasse com

catedráticas e substitutas em seu quadro.246

A entrada de novos professores, a substituição, o licenciamento, a mudança de

catedráticas, costumavam alterar a organização dos turnos, os horários de funcionamento, a

distribuição das séries e classes em qualquer mês do ano. Dada a repetição dessas ocorrências

– alteração no quadro docente/ mudanças nos turnos – cabe ponderar que os professores

participavam ativamente da dinâmica do funcionamento das escolas (ainda que sob a

autorização dos inspetores e talvez com maior autonomia nas escolas menos visadas pelas

visitas da inspeção). Nota-se que a repetição registrada das alterações nos turnos e

organização de séries nos mapas, pela ausência de debates e medidas “corretivas”, parece ser

constituinte deste processo de institucionalização da escola primária.

O grupo escolar de Nova Iguaçu e as experiências de escola primária

Se o exame da distribuição dos alunos em séries e classes, conforme consta nos mapas

de frequência, aponta a predominância da existência de escolas isoladas de 1º e 2º graus no

município de Iguaçu, tanto no distrito-sede quanto nos demais (mesmo nas áreas de

loteamentos urbanos), com uma ocupação maior de classes e de alunos na 1ª série, o Grupo

Escolar Rangel Pestana247

representava a escola mais “completa” da região.

Os grupos escolares constituíam-se em escolas graduadas nos quais o “ensino seriado

e sequencial substituía as classes de alunos em diferentes níveis de aprendizagem”, com

245

Fundo Departamento de Educação, 02665, APERJ. 246

Fundo Departamento de Educação, 02665, APERJ. 247

Fundo Departamento de Educação, 02715, APERJ.

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adoção da correspondência entre série escolar e ano civil (VIDAL, 2006, p.8). Em geral, estas

instituições eram formadas a partir do agrupamento de escolas isoladas existentes. Os grupos

escolares significaram a “reorganização administrativa e pedagógica” da escola elementar e “a

redefinição do lugar ocupado pela escola no traçado das cidades, posto que os grupos

escolares se constituíram numa realidade essencialmente urbana” (Ibidem, p. 10).

Há um conjunto de notações, no Fundo Departamento de Educação, que remetem ao

Grupo Escolar situado no distrito-sede. Inicialmente, existe um mapa para a escola mista de 2º

grau nº6, em 1929, com até a 3ª série e o número de 327 alunos, uma catedrática e 5 adjuntos,

funcionando em 2 turnos. É uma estrutura de relevo, comparada às demais escolas, mesmo as

situadas no centro do distrito-sede. Como já foi atestado pela historiografia: “Os grupos

escolares constituíram-se numa nova modalidade de escola primária, uma organização escolar

mais complexa, racional e moderna” (SOUZA; FARIA FILHO, 2006, p.24).

No ano de 1931, sob a regência da mesma professora de 1929 – Venina Corrêa

Torres– a instituição foi denominada de Grupo Escolar de Nova Iguaçu, situado no distrito

sede, com 350 alunos. Venina Corrêa foi, então, a diretora da instituição no período entre

1929 e 1945, restando apenas um mapa por ela assinado em 1946. Essa professora acumulou

o cargo de direção com o cargo de auxiliar de inspeção, constando suas visitas em escolas de

Iguaçu nos anos de 1933 e 1935. Também lecionou na escola noturna feminina de 2º Grau,

entre 1929 e 1935.

De acordo com a estrutura prevista pela legislação, esse “Grupo Escolar” abrigava as 5

séries do ensino primário. No grupo escolar de Nova Iguaçu o maior ingresso de alunos

continuou a ocorrer na 1ª série, em comparação com os registros de alunos nas demais séries

do ensino primário. Em 1932, o Grupo recebeu a denominação especial Rangel Pestana. Entre

1942 e 1947, esteve em funcionamento na rua Marechal Floriano, nº 2476, e, em 1949, a

escola era instalada na rua 13 de maio s/n.248

Ambos endereços são centrais no núcleo urbano

do distrito sede.

A documentação do Grupo Escolar incorre nas mesmas lacunas da maioria das

notações do Fundo Departamento de Educação. Os mapas correspondem aos anos de 1931-

1933; 1935; 1937-1940; 1942-1949 e aos meses de outubro e novembro de 1941. O exame da

distribuição das séries e classes denota uma estrutura maior do que a das demais escolas, pelo

contingente de alunos, de professores, e o funcionamento em 2 a 3 turnos. Durante os anos de

1942 e 1943 o Grupo Escolar comportou de 12 a 13 classes, crescendo para 15 a 16 classes e

248

Fundo Departamento de Educação, 02715, APERJ.

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pouco mais de 500 alunos no período 1944-1947. Chegou a abrigar 31 classes e pouco mais

de 1.000 alunos em 1949.249

A comparação entre o Grupo Escolar Rangel Pestana e outras escolas contemporâneas

a ele no mesmo distrito, embora evidencie pontos em comum, demarca também experiências

diferentes de escola primária.

As diferenças se destacam não apenas pela distinção da oferta do curso primário

completo, mas pelo volume que parece ter atraído de alunos, por provavelmente receber os

egressos da 3ª série das demais escolas e pelo que representava enquanto escola-modelo.

Há outros indícios da “centralidade” desta escola, além de sua localização no centro do

distrito-sede. A ida de professoras para reuniões no Grupo Escolar foi flagrada em mapas de

frequência de diversas escolas do município. Entre as alegações de faltas dos docentes,

ocorria que professoras justificavam a ausência pela ida ao Grupo Escolar: “porque fui assistir

a aula do Inspetor”;250

ou porque houve “convocação dos professores”;251

“reunião no Grupo

Escolar”;252

“reunião no Grupo Escolar Rangel Pestana”;253

“não dei aula a 4 por ter de

comparecer a uma reunião no Grupo Escolar”.254

O quadro de docentes e funcionários lotados no Grupo Escolar era mais volumoso,

com a presença de pessoas encarregadas, por exemplo, da merenda e da biblioteca escolar. A

relevância da “diretora” é marcante. Nos relatórios dos diretores de instrução e nas estatísticas

apresentadas nas mensagens dos governadores do período, o cargo de diretor é restrito aos

Grupos Escolares. Contudo, nota-se que a professora que assinava o mapa nas notações de

outras escolas parecia ser também a regente principal, encarregada de acusar e justificar a

movimentação de professores, as faltas, as atividades realizadas e os motivos da baixa de

frequência dos alunos, quando ocorria. Contudo, a titulação “diretora” é reservada ao Grupo

Escolar.

Na disposição dos campos dos mapas de frequência, é em meados de 1933 que surgem

informações detalhadas sobre os professores “adjuntos”, como os nomes completos, a

titulação, datas de posse, exercício, licença, transferência, e as séries e classes que regiam por

escola. Entre 1929 e 1932, os campos dos mapas questionavam apenas se havia adjuntos,

quantos, e se eram diplomados. Ocasionalmente algumas professoras lançavam os nomes

249

Fundo Departamento de Educação, 02715, APERJ. 250

Fundo Departamento de Educação, 02729, APERJ. Mapa de 09/1933. 251

Fundo Departamento de Educação, 02729, APERJ. Mapa de 04/1937. 252

Fundo Departamento de Educação, 02675, APERJ. Mapa de 06/1938. 253

Fundo Departamento de Educação, 02717, APERJ. Mapa de 11/1946. 254

Fundo Departamento de Educação, 02726, APERJ. Mapa de 07/1946.

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117

completos das adjuntas nas margens do mapa de frequência, avisando sobre faltas ou

exercício integral.

Para o Grupo Escolar Rangel Pestana, havia 5 adjuntos em 1929, 10 adjuntos em

novembro de 1931; De 13 a 15 professores ao longo do ano de 1933; De 17 a 19 em 1935; 14

a 12 funcionários (professores e outros cargos) em 1937; 14 em 1938; de 6 a 13 ao longo de

1939; De 14 a 18 em 1940; 20 em 1941 e 1942; 21 em 1943; 21 a 24 em 1944; 26 a 28 em

1945; Encontra-se cerca de 30 nomes relacionados nos mapas de 1946 e 1947, entre docentes

em funções de ensino ou licenciados, e pessoas em outras funções. Este crescimento é

paralelo ao crescimento do número de alunos e de classes. Contudo, deve-se considerar que

nem todos os nomes arrolados nos mapas estavam em exercício efetivo na escola.

Para efeitos da análise foi preciso acompanhar as mudanças no quadro de adjuntos,

pois era recorrente a mudança da situação, de mês a mês. Sempre há menção de professores

que assumiam o exercício, outras que eram transferidos, estavam licenciadas, a serviço da

Inspetoria, outras que faltavam etc. Havia informes sobre professoras que estavam lotadas no

Grupo, mas que estavam frequentando cursos,255

outras que auxiliavam a direção, além dos

informes de ausência dos professores “por motivo de moléstia”, bastante recorrentes.

Para todos os anos, o quadro docente é composto por mulheres (a presença feminina

predomina ainda em todas as demais escolas identificadas nos conjuntos de mapas do

município).

O “mapa de adjuntos” do Grupo Escolar expõe todas as categorias docentes da

instrução pública do período. No Grupo Escolar Rangel Pestana estavam lotadas professoras

efetivas, isto é, ”adjuntas” (concursadas) que integravam o quadro fixo de professores

juntamente com a diretora. As professoras “substitutas” (que atuam na ocorrência de licenças,

transferências, ou de professoras em comissão) também eram docentes concursadas. Além das

professoras concursadas, que naquela escola exerciam a função de substitutas ou adjuntas,

havia uma série de interinas contratadas. Em ambos os casos há professoras diplomadas ou

sem diploma.

O exame da titulação do quadro docente entre 1933 e 1947 revela um certo padrão de

formação. É muito mais significativa, para todos os anos, a presença de professoras

concursadas e diplomadas (efetivas e substitutas) do que interinas sem diploma do curso

normal. Em março de 1949, dos 30 nomes mencionados, todos eram de funcionários efetivos,

e apenas 3 não eram diplomados.

255

Fundo Departamento de Educação, 02715, APERJ. Por exemplo, mapas de setembro a novembro de

1933.

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118

Em anexo ao Grupo Escolar funcionava a Seção profissional feminina256

e o Jardim de

infância.257

Foi localizada, ainda, uma notação para outro Jardim de Infância, situado à rua

Marechal Floriano, nº 2366, entre 1943-1947.258

A professora efetiva e diplomada, Alcida

Flora Rocha de Oliveira, assinava os mapas de 1945 a 1947 do jardim de infância da rua

Marechal Floriano e, também, dos mapas de 1949, do jardim anexo ao Grupo Escolar.259

Como o grupo escolar Rangel Pestana funcionou na mesma rua marechal Floriano, entre 1942

e 1947, é provável que este Jardim de Infância estivesse vinculado ao Grupo Escolar.

A estrutura “anexa” aos Grupos estava prevista na legislação do ensino primário. A

iniciativa estadual na implantação da “educação preliminar” pela criação de jardins de

infância e escolas maternais era ressaltada na mensagem do governo do estado em 1925.260

Em 1926, das 4 escolas de “educação preliminar” criadas pelo governo estadual apenas uma

estava funcionando,261

e, em 1929, havia 4 institutos de educação preliminar abertos pela

iniciativa estadual.262

No município de Iguaçu, a partir dos mapas de frequência, foram localizadas outras

escolas transformadas em grupos escolares criados durante as décadas de 1930 e 1940, em

áreas de grande densidade populacional do município.

Na década de 1930, esteve em funcionamento a Escola Primária Mista Municipal, de

1º grau, sob denominação especial “Barão de Mesquita”.263 Em 1935, a escola ofertava 3

séries do ensino primário distribuídas em 2 turnos. Depois, só há registros de mapas de

frequência a partir de 1944, quando a escola funcionava em 3 turnos e continuava a oferecer 3

séries. A 4ª série do ensino primário foi indicada no mapa de março de 1947. No mês

seguinte, a escola foi designada como “Grupo Escolar Barão de Mesquita”. Porém, ainda no

mesmo ano, reapareceu a titulação Escola “mista, primária, municipal”, sendo o “Grupo

Escolar” uma denominação especial até o ano de 1949, com oferta de até a 4ª série do ensino

primário e o funcionamento em 3 turnos.

256

Fundo Departamento de Educação, 02749 e 02750, APERJ. 257

Fundo Departamento de Educação, 02760, APERJ. 258

Fundo Departamento de Educação, 02671, APERJ. 259

Fundo Departamento de Educação, 02670, APERJ. 260

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no

dia 1º de agosto de 1925 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de Janeiro,1925.Inclui Anexos.

p.45. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 261

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no

dia 1º de agosto de 1926 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de Janeiro,1926.p.50.

Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 262

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no

dia 1º de outubro de 1929 pelo Presidente Dr. Manuel de Mattos Duarte Silva. Rio de Janeiro,1929.pp. 72-73.

Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 263

Fundo Departamento de Educação, 02633, APERJ.

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119

Uma escola mista primária em Belford Roxo, no 5º distrito, foi transformada em

Grupo Escolar Municipal Professor Paris, em 1947.264

Em agosto de 1948, a escola registrava

mais de 600 alunos e 17 nomes constavam no mapa de adjuntos, com apenas 2 professoras

concursadas.

A escola isolada de 2º grau nº 27, situada no distrito de Nilópolis, recebeu a

denominação Grupo Escolar de Nilópolis, em 1938, mudando do endereço da Praça Paulo de

Frontin para a rua Maria de Albuquerque, nº1337. Em 1946, era classificada como escola em

“Regime de Grupo”, nº 22.265

Desse modo, entre 136 códigos de referências, apenas quatro dizem respeito a grupos

escolares, sendo dois estaduais e dois municipais (outras quatro notações referem-se a seções

anexas ao Grupo Escolar Rangel Pestana). Ainda que o acervo dos mapas recolhidos não

corresponda à totalidade das instituições de ensino primário do município, naquele período, é

de pouca expressão – se comparada às escolas isoladas – a presença de Grupos Escolares no

município.

Alessandra Schueler (2010, p.538), examinando as mensagens dos presidentes do

estado do Rio de Janeiro na Primeira República, observa que a escola isolada ou singular era

predominante na organização da escola primária, em unidades e no número de matrículas,

ainda que o modelo do grupo escolar inspirasse os horizontes das sucessivas administrações e

de algumas iniciativas nesse sentido.

Ainda que houvesse um consenso, em vários estados, sobre a importância do grupo

escolar para a modernização do ensino, os custos do empreendimento restringiram os limites

da implantação dos grupos, de forma que São Paulo e Minas Gerais, estados com

prosperidade econômica no período, é que foram pioneiros na adoção dos grupos escolares

(SOUZA; FARIA FILHO, 2006, p.31). Por exemplo, em São Paulo, em 1929, os grupos

escolares acolhiam mais matrículas do que as escolas isoladas. Havia 297 grupos escolares,

com um total de 4.249 classes, com 191.320 matrículas, o que correspondia a cerca de dois

terços dos alunos matriculados nas demais escolas públicas primárias do estado (Ibidem,

p.27).

O ritmo de crescimento da implantação de grupos escolares em estados como a

Paraíba, Piauí e Rio Grande do Sul foi menor em relação à expansão de outros tipos de escola

primária, de escolas “reunidas” e isoladas. No Espírito Santo, Mato Grosso, Paraná foi lenta a

expansão dos grupos escolares; em Santa Catarina e na Bahia, por exemplo, em meados da

264

Fundo Departamento de Educação, 02642, APERJ. 265

Fundo Departamento de Educação, 02700, APERJ.

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120

década de 1920, a escola isolada prevalecia como modalidade de escola primária, em

unidades e alunos acolhidos (SOUZA; FARIA FILHO, 2006, p.31-34).

Desse modo, em outros estados, a difusão da escola primária ocorrida no mesmo

período foi pautada pela expansão das escolas isoladas e outros tipos de instituições, como as

escolas reunidas: “é preciso, portanto, reconhecer o papel preponderante e central

desempenhado por essas escolas primárias na disseminação da instrução elementar na

primeira metade do século XX” (ibidem, p.31).

A difusão do modelo da escola primária graduada no estado do Rio de Janeiro ganhou

maior fôlego a partir da década de 1910, sob a orientação dos governos alinhados ao projeto

político de Nilo Peçanha, que buscava defender maior participação do estado na correlação de

forças que caracterizou o pacto oligárquico na Primeira República (SCHUELER, 2010,

p.542). Entre as especificidades da criação dos grupos escolares no Rio de Janeiro destaca-se

que os prédios, na maioria, eram alugados ou cedidos por particulares. Nas últimas reformas

do ensino primário, durante a Primeira República, os grupos escolares foram mantidos como

modelos de escolas urbanas com ensino graduado e completo (Ibidem, p.545).

A análise dos relatórios de diretores de instrução e das mensagens dos governadores

demonstra o crescimento da criação desses grupos, ainda que a matrícula não tenha

ultrapassado o contingente de alunos agregados nas escolas isoladas. Nas sucessivas reformas

do ensino que ventilavam os projetos de poder destes grupos, o grupo escolar sempre figurou

como o modelo desejado, mas foi a partir dos anos 1920 que houve maior empenho na

disseminação deste tipo de estabelecimento, com o apoio de particulares e dos municípios

(Ibidem, p.547).

As frequentes reformas estaduais na instrução pública primária pretendiam sanar os

problemas que dificultavam o funcionamento regular das escolas, a matrícula e a frequência

dos alunos, a oferta e a qualidade da instrução ofertada. No entanto, as mesmas mensagens

atestavam a continuidade de um diagnóstico que não atendia às expectativas de difusão do

modelo de escola graduada, tampouco das escolas isoladas (Ibidem, p.541).

Mas é patente, também, que a expansão da instrução primária, além de ter contado

com a predominância da ação estadual, também ocorreu quantitativamente pelo aumento de

matrículas nas escolas isoladas, superior ao contingente de alunos acolhidos em grupos

escolares:

De fato, em todo o período, é possível notar que a coexistência de duas modalidades

de escola – a escola isolada e o grupo escolar - foi uma característica marcante no

caso fluminense. De forma majoritária, as escolas isoladas continuaram a se

expandir no território fluminense, recebendo a maior quantidade de matrículas, o

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121

que corresponde inclusive às características de densidade demográfica regional

(SCHUELER, 2010, p.547).

Esse panorama de predomínio da escola isolada é encontrado no município de Nova

Iguaçu, mesmo na área urbanizada do distrito-sede, nas décadas de 1930 e 1940. A

distribuição dos tipos de escolas conforme a localização rural ou urbana, que era um critério

previsto nos instrumentos normativos sobre a instrução primária, constitui um dos fatores

desse cenário, porque o estado do Rio de Janeiro permanecia agrário e rural. O município de

Nova Iguaçu, sob esta ótica, também se aproximava mais do cenário estadual do que do

contexto histórico do Distrito Federal, porque a capital federal representava um núcleo urbano

dinâmico.

Pelo perfil de escolas restituído pela análise dos mapas de frequência, sustenta-se que

a escola isolada pública – municipal ou estadual – foi o principal tipo de escola presente no

município de Iguaçu, tanto em áreas rurais quanto urbanas. Porém, ressalta-se o aspecto de

composição híbrida destas escolas, porque diversas situações foram encontradas nestas

escolas. A maioria delas apresentava características do modelo seriado, funcionavam em

turnos, classificavam os alunos por série, possuíam mais de um professor. Este modelo

coexistia com o Grupo Escolar.

O exame das fotografias da Coleção Arruda Negreiros, que atribuímos datação entre

1932 e 1933, também subsidia esta argumentação sobre a coexistência de tipos diversificados

de escolas em Iguaçu. Cabe lembrar que as fotografias, assim como as outras fontes de

pesquisa, se devem ser problematizadas pelo historiador, sendo pertinente demarcar a própria

historicidade que as compõe, não impede – sobretudo no cotejamento com outras fontes – de

revelar parte da experiência vivida pelos sujeitos.

Nesse sentido, os indícios, a partir das fotos, também ajudam a problematizar o perfil

de escolas da região de Iguaçu, principalmente no cotejamento com os mapas de frequência.

Como não houve acesso à disposição original e completa da Coleção, outros arranjos foram

realizados para tratar do que estas fotografias informam enquanto documentos.

Na análise das legendas do conjunto total de fotografias, atesta-se o mesmo perfil de

escolas que emergiu da análise dos mapas de frequência (1929-1949). Todas as fotografias

são sobre o ensino primário ou a ele vinculado. Mesmo para o Ginásio Leopoldo, as quatro

imagens reunidas são de aspectos do ensino infantil, do ensino primário e do curso de

admissão. É pequeno o registro de escolas particulares e/ou subvencionadas.

A identificação da maioria das escolas nas legendas das fotografias ocorreu pelos

atributos de mista, feminina, masculina, noturna, com atribuição de números e da localidade

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122

de funcionamento. Com o cruzamento das informações dos mapas de frequência nota-se a

predominância de escolas públicas – estaduais e municipais, no acervo de imagens.

A importância conferida ao Grupo Escolar, como foi visto em outras passagens,

retorna no maior número de fotografias do acervo reunido (10 imagens). As legendas e o tema

fotografado demarcam como também era diferenciado o tipo de organização dos alunos e dos

professores, no modelo de seriação aplicado ao Grupo Escolar.

As legendas das imagens do Grupo Escolar são mais precisas, identificam classes e

seções de ensino existentes no Grupo. Enquanto duas legendas são apenas “G. E. Rangel

Pestana – N. Iguassú” e “Grupo Escolar - Rangel Pestana- N. Iguassú”, outras identificam as

professoras e a classificação da turma: “G. E. Rangel Pestana – Nova Iguassú 1º serie classe

B”; “G. E. Rangel Pestana – Nova Iguassú- Adjuncta Alice R. René -1ª série classe c”; “G. E.

Rangel Pestana – Nova Iguassú- Adjuncta Dulce Lacerda 1ª série classe [B]”; “G. E. ‘Rangel

Pestana’ – Nova Iguassú 3º 4º 5ª serie”.266

Pelas fotos reunidas sobre o Grupo Escolar, destaca-se que as fotografias de alunos

distribuídos em classes videnciam a aplicação da seriação do ensino. Assim como foi

verificado nos mapas de frequência, mesmo no Grupo Escolar – de seriação completa – é

maior a incidência de alunos nas primeiras séries do ensino. Em uma única fotografia foram

reunidas as 3ª, 4ª e 5ª séries do Grupo Escolar:

Figura 8 Fotografia do Grupo Escolar Rangel Pestana.

Fonte: Acervo IHGNI. Coleção Arruda Negreiros.

266

As fotografias do Grupo Escolar Rangel Pestana foram consultadas no acervo do IHGNI.

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123

Há mais fotografias de classes na primeira série do ensino, também mais numerosas.

Esta condição, que emerge deste conjunto de fotografias, também se repete nos mapas de

frequência do Grupo Escolar, nos anos de 1929 e 1935, isto é, há maior número de classes e

de alunos nas primeiras séries do ensino primário.267

Figura 9 Fotografia do Grupo Escolar Rangel Pestana.

Fonte: Acervo IHGNI. Coleção Arruda Negreiros.

Figura 10 Fotografia do Grupo Escolar Rangel Pestana.

Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.

267

Fundo Departamento de Educação, 02715, APERJ.

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124

Há que ressaltar outros aspectos sobre a seriação do ensino na comparação entre as

fotos. As classes do Grupo Escolar reúnem alunos que aparentam idades mais próximas do

que os alunos fotografados de outras escolas.

A comparação das imagens do Grupo Escolar com as imagens das demais escolas

adiciona um efeito “visual” ao que está sendo sustentado sobre o aspecto heterogêneo e

híbrido das escolas do distrito-sede. Enquanto o Grupo Escolar possui diversas fotografias,

dos alunos e professores divididos em série, assim se apresentam as imagens das escolas

“isoladas”:

Figura 11 Fotografia da Escola Barão de Mesquita.

Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.

Visualmente, a “Escola Barão de Mesquita”, corresponde, comparativamente, ao que

seria apenas uma classe nas fotografias do Grupo Escolar. E essa é uma diferença estrutural

entre os grupos escolares e as escolas isoladas, em seus modos de organização. Pelas

informações dos mapas de frequência, a escola mista municipal Barão de Mesquita

funcionava em junho de 1933 em um turno, com uma professora e com 47 alunos na 1ª série;

10 alunos na 2ª série e 3 alunos na 3ª série do ensino primário. Assim, a professora lecionava

no mesmo turno, sozinha, a alunos entre as 3 classes do ensino, de modo que é provável que

os alunos estudassem juntos.268

Na fotografia, é também de supor que todas as “classes”

foram fotografadas juntas.

268

Fundo Departamento de Educação, 02633, APERJ.

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Também só foi localizada uma fotografia da escola mista nº 5. Nos mapas de

frequência desta escola, entre 1929 e 1940, apenas uma professora assinava os mapas.269

Em

1932 e 1933, a escola funcionava em um turno, com alunos nas 3 séries do ensino, com mais

classes na 1ª série, o que remete à mesma experiência de organização da escola anterior.

Figura 12 Fotografia da Escola mista nº 5.

Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.

Figura 13 Fotografia da Escola Coronel França Soares.

Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.

269

Fundo Departamento de Educação, 02714, APERJ.

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126

Na escola municipal Coronel França Soares, registrada acima, em junho de 1933 a

professora concursada Célia Pacheco Rocha270

acusava não ter adjuntos, estando a seu cargo

do ensino 52 alunos, em um turno, divididos entre 2 classes na 1ª e uma classe na 2ª e 3ª série.

Desse modo, foram os alunos das distintas classes fotografados juntos? A fotografia

deixa pistas de que, ainda que as professoras informassem e utilizassem critérios de

classificação e divisão em classes, a experiência possível na escola, pelo número de turnos e

professores, fazia perdurar as características da antiga escola isolada. A presença de um único

docente para reger, no mesmo turno, “classes” de séries diferentes, também ocorria na escola

mista n. 34, situação “retratada”, abaixo:

Figura 14 Fotografia da Escola mista nº 34.

Fonte: Acervo IPAHB, Coleção Arruda Negreiros.

Não há mapas de frequência do ano de 1933 para a escola mista nº 34. Mas os mapas

dos outros anos permitem saber que em março de 1932 a escola funcionava com 3 classes na

1ª série e um total de 57 alunos271

. Em 1935, funcionava no 1º turno com 27 alunos

distribuídos entre 3 classes na 1ª série e 1 classe na 2ª série, sendo a classe de 2ª série

integrada por 2 alunas. Nair Bastos, catedrática diplomada, lecionava sozinha nesta escola

entre 1929 e 1947.

Foi localizada apenas uma imagem para a escola mista nº 33, de Nova Iguaçu, que

funcionava com 115 alunos em 1929, o que é expressivo em comparação com as demais

270

Fundo Departamento de Educação, 02657, APERJ. 271

Fundo Departamento de Educação, 02644, APERJ.

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127

escolas mistas do mesmo período. Abrigava 2 turnos em março de 1933, com 2 classes na 1ª

série, e 1 classe na 2ª e na 3ª série, com 107 alunos matriculados. No mesmo mapa constam

duas professoras.272

Na comparação das fotografias da escola mista n.34 e da escola mista

n.33, há uma proximidade entre o número de alunos matriculados informados nos mapas.

Figura 15 Fotografia da Escola mista nº 33.

Fonte: Acervo IPAHB, Coleção Arruda Negreiros.

Figura 16 Fotografia da Escola mista nº9.

Fonte: Acervo privado de Marcus Monteiro, Coleção Arruda Negreiros.

272

Fundo Departamento de Educação, 02716, APERJ.

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128

É reduzido o número de alunos na fotografia da escola mista n.º 9, registrada acima,

que funcionava em um turno em abril de 1933, sob a regência da professora catedrática

Camilla Leonidia Netto, com 37 alunos na 1ª série, 4 alunos na 2ª e 1 menina na 3ª. Durante o

ano, consta o nome de mais uma professora adjunta.273

No conjunto de fotografias acima, de escolas localizadas no distrito-sede, cabe

destacar que, o que era “escola” era identificado como “classe” no Grupo Escolar. Ao

focalizar toda a “escola”, com alunos e professores juntos, é possível notar a diferença de

idade entre os alunos. Com o cruzamento dos dados dos mapas de frequência, sabe-se que a

fotografia da “escola” está reunindo alunos de classes e séries diferentes. Cabe advertir, ainda,

que os deslocamentos operados sobre os termos classe e escola, por exemplo, no regime

seriado, também estão relacionados às operações de distinção que se buscava realizar entre a

escola isolada, que passou a ser pejorativamente identificada com o passado, o arcaico, o

insuficiente, em contraposição ao novo, ao moderno, aos grupos escolares (FARIA FILHO,

2000, p.31).

Outro caso interessante, que também sustenta a argumentação sobre a diversidade das

situações encontradas, é a incoerência entre a fotografia e a legenda, na seguinte imagem:

Figura 17 Fotografia da Escola feminina nº 10.

Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.

273

Fundo Departamento de Educação, 02673, APERJ.

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129

Ainda que seja minoria, há meninos na fotografia da escola feminina nº 10. Todavia,

nos mapas de frequência, a matrícula de meninos era registrada a partir de outubro de 1932,274

quando a identificação, no cabeçalho, foi alterada para “Escola mixta de 2º grau de Jeronymo

Mesquita – N. 10”. Entre 1929 e abril de 1935 a professora catedrática Herminia de Aquino

assinava os mapas, sendo a única regente da escola. Em 1932 e 1933 a escola estava

organizada em 1 turno com 70 alunos distribuídos em 2 classes na 1ª e na 2ª série, o que

permite concluir novamente que os alunos, ainda que classificados em séries e classes,

estavam juntos sob a regência da mesma professora, no mesmo horário de funcionamento da

escola. Outro aspecto interessante pontuou as fotografias da Escola mista n.8, de Morro

Agudo, onde, as fotografias dos turnos da escola flagram a separação entre meninos e

meninas.

Figura 18 Fotografia da Escola mista nº 8 – Primeiro Turno.

Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.

274

Fundo Departamento de Educação, 02674, APERJ.

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130

Figura 19 Fotografia da Escola mista nº 8 – Segundo Turno.

Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.

No ano de 1932 e até junho de 1933 a escola mista nº 8 funcionava em um turno, a

cargo de uma professora, com as crianças distribuídas entre a 1ª e a 2ª séries em 1932, e

também entre a 3ª série, em 1933.275

O registro do funcionamento dos turnos oscila nestes

anos, e, em 1933, a escola é mencionada funcionando em 2 turnos a partir de julho. Mas a

divisão dos turnos em função do sexo dos alunos, como demonstram as fotos e as legendas,

não pode ser aprendida nos mapas de frequência. Interessante notar que, sob a denominação

de escola mista, a coeducação não era garantida.

Enquanto isso, as fotografias dos turnos da escola mista n.º 3,276

com a presença da

mesma professora, Carmem Maldonado, revela a manutenção do princípio da coeducação.277

275

Fundo Departamento de Educação, 02694, APERJ. 276

Fotografias consultadas no acervo do IHGNI. 277

Fundo Departamento de Educação, 02712, APERJ.

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131

Figura 20 Fotografia da Escola mista nº 3 – Primeiro Turno.

Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.

Figura 21 Fotografia da Escola mista nº 3 – Segundo Turno.

Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.

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132

Além da presença de meninos e meninas frequentando escolas primárias no município,

sendo predominante a tipologia de escolas isoladas mistas, outro fator que também é

evidenciado pelas fotografias é a presença de alunos e professores negros compondo estas

escolas. Esta questão, caríssima à historiografia da educação e à historiografia do pós-

abolição, será retomada no próximo capítulo, mas cabe ressaltar que é uma característica

importante da composição das escolas de ensino primário em Nova Iguaçu, e lança

interrogações sobre a origem social e as possibilidades de acesso à educação regular durante

as décadas de 1930 e 1940.

Outra característica importante apreendida pelas fotografias é que, apesar das

diferenças que emergem na comparação entre as variadas fotografias do Grupo Escolar e as

imagens de escolas “isoladas”, outros conjuntos de fotografias atestam a existência de escolas

isoladas com estrutura quantitativa também mais expressiva de turnos, alunos e docentes.

É o que ocorre nas cinco fotografias da Escola mista nº 15, de São João de Meriti.278

Em três fotografias há apenas uma docente com cada grupo de alunos. Nas outras duas, há

uma em que aparecem, entre os alunos, quatro docentes, e, na outra, os alunos estão

acompanhados por duas professoras. Os mapas de frequência também atestam, para esta

escola, no ano de 1933, o funcionamento em dois turnos em março, em três turnos em

setembro, e a matrícula expressiva de 404 alunos.279

Há quatro fotografias da escola mixta n.2, instalada no distrito sede.280

A mesma

docente aparece nas 4 imagens, sendo que duas imagens contam com mais duas docentes. Os

mapas de frequência281

desta escola acusam, para o ano de 1933, o funcionamento em 2

turnos. A professora Maria Paula de Azevedo assinava os mapas e informava trabalhar com

mais 3 interinos. Em agosto de 1933, quatro nomes de professoras eram mencionados nos

mapas. Nota-se também, que há uma mesma professora que figurou em todas as fotografias

da escola mixta n. 2, que também participou da fotografia da Escola noturna nº 2, de Nova

Iguaçu. Recorrendo aos mapas de frequência, foi localizado o nome da mesma professora,

Maria Paula de Azevedo, da escola mista nº2, lecionando na escola noturna municipal n.º2

entre 1931 e 1936, que é o período coberto dessa documentação.282

Na escola mista nº 2, o

nome de Maria Paula perdurou nos mapas até 1938, quando Elza Cerqueira, que passou a

278

Fotografias consultadas no acervo do IPABH. 279

Fundo Departamento de Educação, 02740, APERJ. 280

Fotografias consultadas no acervo do IHGNI. 281

Fundo Departamento de Educação, 02711, APERJ. 282

Fundo Departamento de Educação, 02707, APERJ.

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133

assinar os mapas, informava que a saída da catedrática acarretou a retirada de muitos alunos

da escola, de modo que a matrícula estava sendo novamente organizada. 283

Figura 22 Fotografia da Escola Noturna nº 2.

Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.

Os aspectos que emergiram da análise da documentação, permitem sustentar a

hipótese de que esta escola isolada, principal meio da expansão da escola primária no estado

do Rio e em Nova Iguaçu, apresenta características, em seus aspectos materiais, de

organização, na experiência dos sujeitos nela imersos, e com a localidade em que estão

inscritas, que esboçam um tipo de escola em composição.

Não é exatamente, sem mudanças, a casa-escola do séc. XIX (Cf. VILLELA, 2007;

CARDOSO, 1999). Durante o século XIX, “foi comum o funcionamento de escolas de

primeiras letras ou cadeiras isoladas públicas na residência dos próprios professores”

(SOUZA; FARIA FILHO, 2006, p.35).

As escolas isoladas que foram identificadas em Iguaçu, nas décadas de 1930 e 1940,

apresentam outras especificidades, que foram sendo gestadas num processo. A configuração

da escola primária fluminense não estava estabelecida neste período; estava sendo construída,

experimentada, entre os projetos, interesses e expectativas de diversos grupos sociais, e os

condicionantes de ordem material, daquilo que era possível viver. O consenso acerca da

expansão da escolarização e de sua importância para a formação da população, para sustentar

283

Fundo Departamento de Educação, 02711, APERJ. Mapa de 08/1938.

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projetos de hegemonia e de socialização, ainda que impresso em mensagens, relatórios,

campanhas e jornais, não correspondia exatamente ao que se construía, porque tudo aquilo

ainda estava sendo realizado, sendo experimentado, ensaiado. É na dinâmica da história, face

aos problemas emergidos, aos resultados, aos recursos disponíveis, que aquele modo de

socialização ia integrando a vida, ia escolarizando a sociedade.

Foi relevante, nesta pesquisa, tomar distância crítica das oposições entre grupos

escolares e escolas isoladas, que, nos debates contemporâneos ao período em foco,

engessavam a compreensão da escola isolada como símbolo do atraso, como aquilo que devia

ser superado. Compartilha-se da noção de que é preciso “considerar as inovações introduzidas

nessas escolas primárias na transição do século XIX para o século XX e a relevância que elas

tiveram na escolarização da população brasileira” (SOUZA; FARIA FILHO, 2006, p.44).

Na metodologia adotada, abrindo mão de identificar previamente, em função da

bibliografia existente, se as escolas do distrito-sede em Iguaçu eram casas escolas e/ou escolas

seriadas, sem procurar atribuir um estágio de “forma escolar” (VINCENT, G., LAHIRE, B. &

THIN, D., 2001) para aquelas instituições, o que se surpreende, a partir das fontes, é um

processo de composição, de imbricação, com permanências, rupturas e hibridismos entre a

escola isolada e modelos de seriação.

Se havia um consenso, era sobre a necessidade de instrução elementar. Os conteúdos,

modos e formatos deste modo de socialização, que seria inscrito materialmente na construção

da escola, na identificação de uma materialidade singular, ainda eram um ensaio. O grupo

escolar era modelo, sim. Era a forma melhor delineada do ensino primário, almejada em

diversas reformas estaduais da instrução no período. Mas, em Iguaçu, a presença do “modelo”

numa das principais ruas do distrito-sede, coexistia com outros modos de realização da

inserção no universo das letras.

Vértices da seriação do ensino: docentes, classes, tempos e espaços escolares

Além da seriação do ensino prevista pelos regulamentos do ensino primário, das

alterações nas classificações das escolas (o que permitia acrescentar ou reduzir a oferta de

séries) outras dinâmicas configuravam o funcionamento das escolas.

Como foi demonstrado, os mapas de frequência registravam a composição do quadro

de professores das escolas e a distribuição dos turnos, séries e classes pelos docentes. Esses

eram identificados no mapa de adjuntos pelos nomes completos, cargos/nível de carreira, e se

eram, ou não, diplomados. Foi constatado, com certa constância, que os registros de

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135

oscilações na organização dos turnos, das séries e classes, correspondiam a mudanças nos

registros de quadros de adjuntos.

Houve reincidência de situações nas quais as professoras mudavam de turno e levavam

consigo suas classes e a oferta de determinada série do ensino. Pode-se observar uma divisão

do trabalho em que algumas professoras estavam sempre lecionando nas classes de 1ª série,

outras na 2ª e 3ª séries.

A redistribuição do trabalho, em escolas com mais de 1 docente, era demarcada pelas

substituições, pelas licenças de professoras, e nem sempre a professora que assumia o

exercício em substituição à outra recebia exatamente as mesmas turmas, porque as demais

professoras em exercício redefiniam o funcionamento dos turnos e classes. Em contrapartida,

há notações que demonstram a permanência, por anos, de uma mesma professora na mesma

escola.

Por exemplo, a Escola mista pública municipal Valério Rocha,284

na localidade da

Prata, esteve sediada na estrada Plínio Casado. Há um intervalo na documentação, havendo

mapas de 1935 e, depois, só a partir de 1944, mas a mesma professora continuava a lecionar

na escola, Jurema Dias (que também assinou os mapas até 1948). Em meados de 1944, a

chegada de mais uma professora possibilitou o funcionamento da escola em 2 turnos.

Até 1946, essa escola acolheu maior número de alunos em classes de 1ª série. Em

junho de 1947, há indicação de classe na 4ª série, com o total de 70 alunos na instituição. Em

1948 e 1949, quando esteve aberta em 3 turnos, também foi ofertada a 4ª série, e a escola

contava com 3 professoras em 1948 e 4 professoras em 1949, com matrícula de 89 alunos nos

dois anos.

O exame das alterações no quadro docente desta escola, ao longo dos meses e anos,

evidencia a circulação de parte das professoras entre as escolas na região, pois há vários

nomes de professoras que comparecem em diferentes escolas, em anos diferentes. Isso

acontece com professoras extranumerárias, que são contratadas e parece que ficam mais

suscetíveis às demandas das escolas. Pode-se esquadrinhar, também, a movimentação de

professoras concursadas. Além disso, essas alocações não acontecem apenas no começo do

ano, mas são constantes e, por vezes, mensais. No exame comparativo entre as escolas de

Nova Iguaçu, nas escolas públicas estaduais, principalmente, há sempre menção de docentes

concursadas que não compareceram para tomar posse e entrar em exercício, outras que se

apresentaram na escola um dia, mas não voltaram. E outras, muitas outras, que começaram a

284

Fundo Departamento de Educação, 02727, APERJ.

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trabalhar, mas que foram logo “transferida[s] para Niterói”, ou ficaram sob a disponibilidade

da Inspetoria, entraram em longas licenças, faltaram com frequência.

A catedrática Carmen Torres Maldonado assinava os mapas da escola mista de 2º grau

nº 3,285

na qual trabalhou auxiliada por professoras adjuntas, entre maio de 1929 e novembro

de 1942. A última vez que o nome da catedrática foi mencionado, em novembro de 1942,

consta “licenciada com 2/3 dos vencimentos para tratamento de saúde”. Não é mais citada nos

mapas dessa escola nos anos seguintes.286

A professora municipal efetiva, não diplomada, Marina Soares Sampaio lecionou

sozinha na escola mista pública, primária, municipal, Monsenhor Pizarro, entre 1944 e 1949,

que oscilou entre as numerações 2 e 3. Pelas anotações inscritas nos mapas, era uma escola de

localização urbana, com 4 a 3 classes divididas entre a 1ª, 2ª e 3ª série. O ano letivo de 1949

comportava classes também na 4ª série.287

A professora catedrática Maria Candida Gloria (depois de 1942, Maria Cândida Glória

de Azevedo) regia a escola mista de 1º grau de Morro Agudo288

entre 1931 e setembro de

1942, sendo em alguns momentos substituída, por motivo de licenças. Durante esse período, a

escola foi classificada como de 2º grau, recebendo a numeração 7 e sendo intitulada “isolada”

em 1937. A escola recebeu adjuntas em setembro de 1942, quando também funcionou em

mais de um turno. Em maio de 1947, a professora extranumerária Luiza Garcia de Araújo

informava o falecimento da professora Maria Cândida.

Arrolam-se aqui poucos exemplos. Mas o exame de muitas séries de conjuntos de

escolas permitiu flagrar, com certa frequência, professoras catedráticas ou professoras

municipais que atravessavam anos, lotadas no mesmo estabelecimento. Em contrapartida,

também há nomes de professoras que eram sempre transferidas entre escolas, ou outras,

interinas não diplomadas, que circulavam entre escolas do mesmo distrito substituindo

professoras adjuntas ou catedráticas.

Em 1927, o diretor da instrução pública, José Duarte, fazia uma distinção pejorativa

em relação ao quadro de professoras interinas, porque essas docentes não eram formadas em

escolas normais.289

A necessidade de manter essas professoras contratadas, mantinha-se,

segundo o Diretor, pela falta de interesse das professoras diplomadas pelas escolas oficiais em

285

Fundo Departamento de Educação, 02712, APERJ. 286

Idem, APERJ. 287

Fundo Departamento de Educação, 02693, APERJ. 288

Fundo Departamento de Educação, 02694, APERJ. 289

Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director da

Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1927. Niterói, Officinas

Graphicas da Escola Profissional, 1927, pág.259.

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ocupar “escolas do interior – nem mesmo para a séde de municípios adeantados e manifestam

suas preferencias pela capital”.290

Por isso, eram as professoras interinas que amparavam o

“trabalho de alphabetisação”, mesmo utilizando o “anachronico methodo de soletração”.291

Para resolver a situação, o governo promoveu concurso para as escolas vagas no interior, a

fim de ocupá-las com professoras efetivas e diplomadas. Porém, o concurso foi encerrado sem

inscrições para um grande número de escolas, de modo que a prática da nomeação de

interinas precisou continuar para que escolas não fossem fechadas.292

Deve-se considerar,

também, a influência das redes de sociabilidade e da ação política local, a atuação de

deputados e vereadores na manutenção da nomeação e exoneração de professoras sem

concurso nas escolas públicas, subvencionadas e particulares.

Tanto a intensa movimentação dos docentes nas escolas públicas, municipais e

estaduais, as variações da organização dos turnos e séries, quanto o ingresso mensal de novos

alunos e o registro de alunos que deixavam as escolas no campo “alunos eliminados neste

mês”, indicam o dinamismo dos processos de escolarização, dos esforços, das tentativas e das

dificuldades, respondidas conforme às demandas, da institucionalização da escola primária.

Quando assumiu a Diretoria de Instrução, José Duarte ficou impressionado com o

regime de licenças vigente em 1926.293

Para se esquivar da inspeção médica do governo, os

docentes conseguiam, por meio de atestado médico, uma licença de até 2 meses. Alguns

docentes costumavam reassumir o exercício por um mês, e utilizavam novamente o mesmo

expediente. A interrupção do afastamento da escola em novembro, também, era um meio de

assegurar a remuneração durante as férias. A propósito, no exame dos mapas de frequência de

adjuntos foi comum encontrar a menção a licenças de professoras e vários casos de

professoras que retornavam ao exercício em novembro, ou que estavam frequentemente

licenciadas.

Para o diretor da instrução, o aumento do ônus no erário público, que precisava arcar

com a contratação de professores substitutos e manter o pagamento de aluguéis de escolas que

ficavam vagas, era um das consequências destes recorrentes “abusos”, de “proporções

290

Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director

da Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1927. Niterói,

Officinas Graphicas da Escola Profissional, 1927, pág.260. 291

Ibidem, pág.259. 292

Ibidem, Apud pág.243. 293

Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do Interior e

Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal

do Comércio, 1927, pág. 9.

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138

escandalosas”294

, além dos prejuízos ao ensino. Como as professoras catedráticas tinham o

direito de residir na casa da escola ou receber auxílio para aluguel de moradia, ficar sem os

vencimentos não era impedimento ao regime de licenças. O diretor defendia a adoção de

medidas restritivas a esta situação.295

O interesse em aumentar o número de visitas às escolas, meta perseguida pela

Diretoria de Instrução, buscava assegurar a vigilância sobre os professores e evitar as burlas,

como o caso da professora que assinava os mapas de frequência, mas não lecionava na escola:

É, felizmente, mui reduzido o numero de professores displicentes, não affeiçoados

ao seu mistér, desquitados de seus deveres, que, como a de Tinguá, em Nova

Iguassú, abandonam a escola à sorte de uma pessôa leiga, como sua representante,

com a cumplicidade criminosa do proprio delegado districtal – esta entidade innutil

em nossa organização escolar – figurando com se presente à sua diaria tarefa

escolar, assignando mappas e recebendo seus vencimentos. Mas estes tresmalhos são

inevitaveis em todas as organizações, confortando-nos a certeza de que constituem

excepções desoladoras, mas, todavia, reduzidas e raras excepções.296

No ano de 1927, medidas eram adotadas para amenizar a “deserção da regencia das

classes”, com a exigência da inspeção de saúde para quaisquer licenças acima de 15 dias, o

que ocasionou a diminuição no número de requerimentos e de concessões, segundo o diretor

da Instrução.297

Tanto o regime de licenças, quanto o funcionamento do ano letivo eram alvos da

disputa sobre a organização das escolas. Desse modo, o governo também empenhava medidas

para combater os usos que os docentes imprimiam ao tempo escolar.

Além dos casos de professores que prolongavam as férias escolares com a obtenção de

licenças no começo do ano letivo,298

os regulamentos da instrução pública procuravam fixar a

duração do ano escolar, mas o próprio diretor da Instrução Pública do Estado do Rio

reconhecia, em 1928, que: “Annos seguidos uma bôa avença entre o professorado e a

directoria considerara letra morta o preceito regulamentar, pois entrára em nossos hábitos o

inicio das aulas em 1º de Março”,299

quando o previsto era no mês de fevereiro.

294

Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do

Interior e Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro,

Tipografia do Jornal do Comércio, 1927, pág. 248. 295

Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do

Interior e Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro,

Tipografia do Jornal do Comércio, 1927, pág.249. 296

Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director da

Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1928, Niterói, Officinas

Graphicas da Escola Profissional, 1928, pp.41-42. 297

Ibidem, pp.23-24. 298

Ibidem, pág.21. 299

Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director

da Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1928. Niterói,

Officinas Graphicas da Escola Profissional, 1928, pp.26.

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139

A diminuição do período letivo era desfavorável ao ensino, segundo o diretor. Em

primeiro lugar, os professores e alunos ficariam sobrecarregados em lidar com os programas

de ensino, organizados para um ano letivo maior. A maior duração das férias prejudicava a

fixação dos conhecimentos obtidos na escola pelos alunos, aumentando o trabalho do

professor no retorno das atividades. No relatório enviado ao presidente do estado, a

comparação com a duração do ano letivo em São Paulo (9 meses e 10 dias); Minas Gerais (10

meses), Distrito Federal (9 meses) e Santa Catarina (10 meses) justificava a preocupação do

diretor em garantir a supressão da burla ao regulamento da instrução no estado do Rio de

Janeiro, porque era um dos estados que adotava menor período. Ponderava ainda, que mesmo

no Rio de Janeiro, regulamentos anteriores previam uma duração maior ao ano letivo.300

Contudo, em Nova Iguaçu, os mapas de frequência, entre 1929-1949, continuaram a

ser preenchidos a partir de março, com vários indícios de algumas semanas até sem aulas,

porque era naquele mês que os professores iniciavam o trabalho de matrículas.301

Controlar a movimentação dos docentes e assegurar a permanência em exercício nas

escolas também guardava relação direta com a “contabilidade” da expansão do ensino. Nos

documentos produzidos para dar a ver as realizações do governo na oferta de escolas, era

comum, além da apresentação do crescimento do número de instituições, aumentar este efeito

pela comparação com o número de classes existentes. Por isto, “Povoar” as escolas implicava

não apenas na matrícula e frequência dos alunos, mas dependia da lotação e da frequência dos

professores, pois a cada um deveria caber uma classe, que era, por sua vez, o critério para

aferição do número de escolas existentes:

Se attendermos a que a cada professor corresponde, normalmente, uma classe, seja

em Grupos, seja em escolas isoladas, quando ocorre o excesso de matricula,

poderemos dizer que o Estado do Rio possuía no ano findo [1926] 1.181 escolas, por

isso que do número acima referido, deduzidos os 64 directores de Grupo, que não

teem classe a seu cargo, os demais professores são regentes de classes. Aliás, seja a

escola de dois turnos, com a cathedratica e uma adjunta, seja de um só turno,

funccionando com dois professores em salas diversas, somente não será considera

duas escolas no sentido estricto, porque o predio é comum, porém, no sentido amplo

corresponde a duas unidades escolares.302

300

Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director

da Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1928. Niterói,

Officinas Graphicas da Escola Profissional, 1928, pág.22. 301

Fundo Departamento de Educação, 02699 (03/1939); 02710 (03/1947); 02659 (03/1947), APERJ. 302

Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do Interior e

Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal

do Comércio, 1927, pág.252.

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140

No relatório do ano seguinte o diretor da Instrução fazia o mesmo exercício para

contabilizar o número de escolas a partir da existência de 738 “escolas de letras elementares”,

sendo 60 grupos escolares, 614 escolas isoladas, 64 subvencionadas.

Esses 738 estabelecimentos de ensino primario [...] respondem sobejamente a 1.289

escolas, porque consoante o modo de apurar-se em outros Estados, eram 1.289 as

classes de nossas escolas publicas em o anno de 1927. Para elucidação dos que não

são technicos explica-se que cada classe tem um professor podendo funccionar uma

ou mais classe no mesmo instituto, como ocorre nos Grupos Escolares: só existe de

commum, além do prédio, o mobiliário.303

Nesse mesmo relatório, retomava-se o recurso da comparação com o número de

classes entre alguns estados para demonstrar a relevância do ensino público no estado do Rio

de Janeiro, que ocupava o 5º lugar no “ranking”: São Paulo: 6.601 classes; Minas Gerais:

4.518; Rio Grande do Sul: 2.505; Bahia: 1.347; estado do Rio de Janeiro: 1.181 classes.304

Por

esses argumentos, o diretor da instrução alegava: “Pelo que respeita à estatística, que aprecia

quantitativamente os factos escolares, os elementos colhidos com critério, expurgados de

quaesquer duvidas, são animadores e asseguram o nosso progresso”.305

Interessante notar, como foi visto da análise dos mapas de frequência, que a classe era

utilizada como núcleo de ordenação da seriação do ensino, ainda que, a correspondência

classe-professor-sala de aula, sustentada pelo diretor da instrução, não fosse a regra das

escolas em Iguaçu.

Segundo Rosa Fátima de Souza, o modelo da escola graduada foi a solução

experimentada em vários países europeus e nos Estados Unidos, desde o século XIX, para a

questão da universalização da educação elementar. Os esforços pela racionalização da

“organização pedagógica”, tal como foi compreendida em diversos países, teve como

consenso a adoção da classificação homogênea dos alunos, conferindo novos contornos às

concepções sobre classe escolar e o surgimento da série (SOUZA, 2006, p.38). Contudo, foi

longo e complexo o processo de definição da classe enquanto estrutura organizativa da escola

graduada, porque havia o debate sobre a disposição das classes no espaço, se deveriam ser

fisicamente separadas por salas de aula, se ficariam a cargo de professores ou monitores etc.

(SOUZA, 2006, p.38). No Brasil, a ênfase sobre o modelo da escola graduada foi maior sobre

os métodos e processos de ensino do que, imediatamente, sobre as transformações físicas da

303

Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director da

Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1928. Niterói, Officinas

Graphicas da Escola Profissional, 1928. 304

Ibidem, pág.10. 305

Idem.

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141

escola e da correlação entre várias salas de aulas e professores, sob alegação dos custos do

empreendimento (Ibidem, p.50).

Ademais, sob a ótica do diretor da instrução, se o número de classes evidenciava os

esforços promovidos na expansão da escola primária no estado, se normatizações eram

adotadas para estender o tempo de permanência dos alunos na escola e outras providências

eram tomadas contra “deserção da regência”, os mapas de frequência ainda revelam, no

entanto, que crianças eram matriculadas, mas aguardavam em casa a chegada de novas

professoras.

Em maio de 1939, na escola isolada de 2º grau de Caxias, nº 32, a professora

informava no campo de observações do mapa de adjuntos que “Mais de 100 alunos se acham

inscritos à espera de educadores”. Por ocasião da matrícula, em março de 1943, também era

enviado o aviso de que “Estão matriculados mais quarenta e uma crianças. Aguardando em

seus lares o momento de comparecem às aulas. São todas de 1ª série”.306

Na escola isolada de 2º grau nº 33, da rua José Alvarenga, nº 569, em Caxias, no 8º

distrito, mesmo contando com 6 professoras adjuntas, era registrado no campo de observações

do mapa de adjuntos, em julho de 1942, que ”Há um número excedente de alunos para mais

uma professora”.307

Em 1932, na escola mista de 2º Grau de Nilópolis,308

a catedrática efetiva Aimê de

Mello informava, no mês de julho, que “Só frequentaram a escola 100 alunos”. Em abril e

maio de 1933, a mesma professora relatava: “Só frequentam a escola 110 alunos por falta da

professora.” Em maio de 1937, a professora voltava a informar: “Frequentam a escola

somente 42 alunos, os demais não comparecem as aulas por falta de adjuntos”.

Na escola isolada da rua Eloi Teixeira s/n, em Queimados (2º distrito), a professora

alegava em março de 1940: “Achando-se a escola desprovida de adjunta, ha 20 alunos

aguardando matricula”.309

Na escola mista de 1º grau de S. João de Meriti, nº 31, em 1935, a professora

informava: “Acham-se matriculados aguardando nomeação das adjuntas 80 escolares”. Anos

depois, quando a escola estava sob a denominação Escola Isolada da rua da Matriz, n.213, em

de S. João de Meriti, n.º 18, a mesma professora efetiva, Sylvia Rosas Machado, então

306

Fundo Departamento de Educação, 02643, APERJ. 307

Fundo Departamento de Educação, 02689, APERJ. 308

Fundo Departamento de Educação, 02698, APERJ. 309

Fundo Departamento de Educação, 02728, APERJ.

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acompanhada de mais uma professora na escola, relatava: “aguardam nomeação das adjuntas

82 escolares”.310

Também na localidade de São João de Meriti, em 1942, na escola isolada n.º 17,

situada à rua da Matriz, nº 308, a professora explicava que “Só estão freqüentando as aulas os

alunos da 1ª série visto achar-se vaga a escola e desprovida de professora para o outro turno”.

Neste caso, a outra professora da escola estava licenciada.311

Importa destacar que os exemplos coletados na documentação são de escolas situadas

em regiões populosas do município de Iguaçu. Contudo, a inscrição das demandas por mais

docentes, registradas nos mapas, não significa que apenas estas escolas precisassem de mais

professoras. Algumas professoras eram mais assíduas no preenchimento dos mapas, relatavam

diversas ocorrências. Há sequência de mapas, preenchidos por uma mesma docente, que

descreve diversas atividades ocorridas na escola. Mas essas descrições são abruptamente

interrompidas, ou se tornam mais ocasionais, quando outras docentes são encarregadas do

preenchimento. Assim, o silêncio, a omissão ou excesso de informações adicionais,

características das formas de comunicação e escrita das professoras, pontuam certa

diferenciação entre os mapas, dependendo da autoria.

As condições materiais de funcionamento das escolas em Nova Iguaçu, eventualmente

comentadas nas observações feitas pelas professoras nos mapas de frequência, evidenciam

alguns dos problemas enfrentados na institucionalização das escolas e do regime seriado. Os

usos e a conformação do tempo escolar também concorriam, além das práticas dos docentes e

dos instrumentos normativos dos governos, com o mundo do trabalho e as condições de

acesso e salubridade da própria localidade em que estavam as escolas. A situação das escolas

em Iguaçu permite considerar os descompassos, a paradoxal relação entre a adoção da

seriação a partir da classificação dos alunos em classes, e a inviabilidade dessa

correspondência no espaço físico das escolas.

Naquele período, os debates que existiam sobre a construção de um lugar específico

para as escolas, sobretudo a partir da crítica às escolas existentes em lugares precários, sem

mobiliário etc., não repercutiram em ações eficazes para a transformação dos espaços

existentes. Apenas os estados com condições econômicas mais favoráveis é que levaram a

cabo reformas da organização escolar que integravam a construção de espaços específicos

para a nova escola graduada (SOUZA, 2006, p.60).

310

Fundo Departamento de Educação, 02742, APERJ. 311

Fundo Departamento de Educação, 02743, APERJ. Mapa de 08/1942.

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143

Em Minas Gerais, a oposição entre escolas isoladas e Grupos Escolares foi

materializada, ainda, na concepção arquitetônica impressa aos grupos, sendo erguidos nas

áreas centrais da capital, integrando parte do processo de modernização e urbanização dos

projetos republicanos, nos quais a instrução pública ocupava posição relevante. Enquanto as

escolas isoladas eram classificadas como pardieiros, os grupos eram os palácios da instrução:

“Um lugar é sempre definido, ou constituído, em referência a outro lugar, estabelecendo-se

sempre uma relação de lugares identificados singularmente.” (FARIA FILHO, 2000, p.39).

No estado do Rio de Janeiro, no período em foco, ainda que a construção de grupos

escolares estivesse em pauta e ocorressem, mesmo de forma vagarosa, as soluções

empreendidas pela administração estadual, perduraram entre o aluguel de prédios, a parceria

com municípios, particulares, associações, e, somente na década de 1940, haveria maior

esforço pela edificação de prédios escolares.

Entre aluguéis, reparos e construções: composições de escolas

No estado do Rio de Janeiro, a situação dos prédios escolares e do mobiliário escolar

consubstanciava parte das preocupações da administração estadual do ensino e repercutia na

cobertura da imprensa sobre a instrução escolar. As reflexões sobre a destinação e construção

de espaços regidos pelos imperativos do ensino escolar permeavam a organização da

instrução elementar no Brasil desde o século XIX, fosse pela denúncia da inadequação dos

espaços, mobiliário e recursos ausentes ou pela experimentação de novas configurações e

métodos. A definição de parâmetros de higiene e salubridade, a inserção de suportes materiais

para leitura e escrita, a escassez de recursos econômicos e a construção de consensos acerca

da função social e política da educação foram pontuando a produção do espaço escolar como

um espaço com identidade própria (VIDAL; FARIA FILHO, 2005).

Em 1898, das 18 escolas públicas do estado em Iguaçu, apenas a 4ª Escola feminina de

Riachão não funcionava por falta de prédio. Entre as demais, a 10ª escola feminina, situada no

distrito de Pilar, não funcionava, por falta de frequência, e a 2ª escola feminina, no distrito-

sede de Maxambomba, estava vaga de professor. As escolas estavam instaladas em prédios

alugados, por contratos de 3 ou 5 anos, e até alugadas “sem contracto”.312

312

Estado do Rio de Janeiro. Relatório Apresentado ao Dr. Martinho Alvares da Silva Campos,

Secretario do Estado dos Negocios do Interior e Justiça pelo Director da Instrucção Publica Luiz Alves

Monteiro. Rio de Janeiro, Tuyp. Do Jornal do Commercio, de Rodrigues & Comp., 1898. Quadro das

escolas do Estado do Rio de Janeiro em 31 de julho de 1898, compreendendo os professores, predios

onde ellas funccionam e respectivos proprietários.

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Anotações eventualmente realizadas pelas professoras nos mapas de frequência, ao

serem comparadas no conjunto da documentação, evidenciam as circunstâncias em que as

escolas estavam instaladas em Nova Iguaçu nas décadas de 1930 e 1940.

O atraso no começo das aulas, em 1947, na escola pública, municipal, mista, Dr.

França Carvalho ocorreu porque “o prédio estava em obras”.313

Na escola pública municipal

Dr. Thibau, em março de 1945, com 35 alunos matriculados, “as aulas só foram iniciadas dia

8 por não terem chegado as carteiras”.314

Reparos nos prédios escolares também foram registrados na escola mista pública

primária municipal Paulino de Souza;315

na escola mista publica, primária, municipal

“Monsenhor Pizarro”;316

na escola primária, mista, municipal, “D. Maria de Souza”;317

na

escola isolada da rua Marechal Floriano nº. 472;318

e na escola municipal primária mista

Antônio da Silva Chaves.319

Na Escola Noturna Masculina de 2º Grau, que esteve sediada,

entre 1937 e 1940, na rua Bernardino de Mello nº 329, também “esteve o ensino suspenso, de

9 a 23, por motivo de obras”.320

Em outras ocasiões, a falta de conservação justificava a suspensão das aulas. Uma

fechadura quebrada impediu a Escola Municipal “Guinle” de funcionar por três dias em

1947...321

A “Escola estadual reunida” nº 8 teve as atividades encerradas em agosto de 1947,

exatamente o último mapa do dossiê da escola, sendo assinalado no campo de frequência: “as

aulas foram suspensas devido o mau estado do prédio escolar”. Entre 1938 e 1945, a escola

funcionou no mesmo endereço, e os mapas de frequência cobrem o funcionamento desde

1929, quando era denominada escola feminina de 2º grau de Jeronymo Mesquita nº 10,

tornando-se mista de 2º grau a partir de 1932.322

Na mesma localidade do distrito-sede, em Mesquita, uma enchente “invadiu o prédio

escolar” da escola isolada situada à rua Baronesa nº 52, impedindo o funcionamento das

313

Fundo Departamento de Educação, 02659, APERJ. Mapa de 03/1947. 314

Fundo Departamento de Educação, 02681, APERJ. Mapa de 03/1945. 315

Fundo Departamento de Educação, 02691, APERJ. Mapa de 08/1944: “Não houve aula do dia 09 ao

dia 18 porque a escola esteve em obras” 316

Fundo Departamento de Educação, 02693, APERJ. Mapa de 04/1947: “Nos dias 16, 17 e 18 deixou

de haver aulas, porque o prédio da escola estava em reformas”. 317 Fundo Departamento de Educação, 02693, APERJ. Mapa de 10/1947: “Não funcionou a escola nos dias 8 e 9,

por achar-se o prédio por limpeza e reparo por ordem o Sr. Dr. Prefeito”. 318

Fundo Departamento de Educação, 02710, APERJ. Mapa de 07/1939: “Não houve aula nos 1, 3 e 4

por estar o prédio escolar em concertos”. 319

Fundo Departamento de Educação, 02717, APERJ. Mapa de 04/1947: “Dia 11 estavam pintando a

escola”. 320

Fundo Departamento de Educação, 02708, APERJ. Mapa de 03/1940. 321

Fundo Departamento de Educação, 02666, APERJ. Mapa de 10/1947. 322

Fundo Departamento de Educação, 02674, APERJ.

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aulas.323

Nesta mesma escola, “por falta de carteiras”, 20 alunos foram matriculados como

excedentes em março de 1944, enquanto só havia assentos para 80 alunos.

As ocorrências citadas acima sucederam em escolas do distrito-sede. Para as demais

escolas do município também há situações relevantes.

Na escola isolada nº 12, situada na rua Eloi Teixeira s/n, em Queimados, um dia de

aula foi suspenso “por ter o Sr. Proprietário mandado concluir os reparos do predio

escolar”.324

Porém, no ano seguinte, em novembro, “As aulas não funcionaram nos dias 12 e

13 porque desabou uma parte do telhado da sala de aula e o proprietário precisou de dois dias

afim de fazer os necessários reparos”.325

Anos depois, a escola estava localizada no mesmo

endereço, quando “As aulas foram suspensas pelo snr. Técnico Escolar devido o

desmoronamento de uma parte do prédio escolar e o restante ameaça perigo”.326

No mês

seguinte, a professora informava “Do dia 1º ao dia 10 as aulas não funcionaram por

desabamento do predio escolar”327

e em maio a escola funcionava em novo endereço, “devido

antigo predio estar em ruínas”.328

A execução de reparos no “predio escolar” também foi assinalada em escolas em Vila

de Cava,329

Cabuçu,330

e Nilópolis.331

Em Nilópolis, na escola municipal mista Francisco

Portella, nos mapas do turno noturno, a professora informava em março de 1946: “A

frequência está reduzida pela falta de iluminação elétrica no prédio; a qual foi ligada no dia 28

do corrente, dia em que foram iniciadas às aulas regulamentares. Nos dias anteriores, só

estavam sendo efetuadas as chamadas”.332

Nota-se que a menção a reparos nos prédios ou suspensão de aula por condições

insuficientes não foram encontradas em escolas subvencionadas ou privadas. Isto não

significa necessariamente que eram escolas melhor providas, porque os mapas destas escolas,

frequentemente, só informam os dados indispensáveis dos mapas, não sendo utilizado o

campo de observações e o de alegação de faltas de professores.

Além da inadequação dos espaços alugados para o funcionamento das escolas, as

autoridades políticas reclamavam constantemente da majoração dos aluguéis. José Duarte,

323

Fundo Departamento de Educação, 02675, APERJ. Mapa de 03/1939. 324

Fundo Departamento de Educação, 02678, APERJ. Mapa de 03/1940. 325

Fundo Departamento de Educação, 02678, APERJ. Mapa de 11/1941. 326

Ibidem. Mapa de 03/1946. 327

Ibidem. Mapa de 04/1946. 328

Ibidem. Mapa de 05/1946. 329

Ibidem. Mapa de 04/1947. 330

Fundo Departamento de Educação, 02683, APERJ. Mapa de 10/1944. 331

Fundo Departamento de Educação, 02698, APERJ. Mapa de 07/1938. 332

Fundo Departamento de Educação, 02662, APERJ. Mapa de 03/1946.

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146

diretor da instrução do estado, em 1927, julgava que a solução do problema consistia na

construção, pelo governo, de prédios adequados, ainda que isso significasse um custo

financeiro maior. Desde 1893, estava o governo autorizado a contrair empréstimos para esse

fim, mas poucos avanços tinham ocorrido.333

Ademais, o alto custo dos aluguéis não correspondia à situação das instalações, posto

que “as escolas se acham mal installadas, em salas dificientes, pedagógica e hygienicamente

condemnadas, sem ar e luz que correspondam à frequencia regulamentar, sem installações de

apparelhos sanitarios e muita vez, sem agua encanada”.334

Porém, o diretor compensava o

diagnóstico citando o andamento da construção de grupos escolares no interior do estado e

destacava que o problema das instalações das escolas ainda persistia mesmo em estados como

São Paulo.

A distribuição das escolas estaduais por prédios, no ano de 1927, contabilizava 47

prédios próprios do poder estadual, 40 cedidos gratuitamente, 4 instalações alugadas por

municípios, e 563 “prédios” alugados “a particulares”.335

O presidente do Rio de Janeiro

referendava o diagnóstico de que o problema dos prédios escolares era tão antigo, que, mesmo

com o crescimento do crédito destinado a este fim, não encontrava solução: “as escolas

permanecem mal instaladas porquanto os prédios não satisfazem, em sua quase totalidade, às

exigências da pedagogia e da higiene”. 336

Em 1929, o chefe do governo estadual lamentava a continuidade dos custos com

aluguéis de casas para escolas, “sem que tenhamos conforto, hygiene e condições

pedagógicas”.337

As escolas do governo estavam distribuídas entre 47 prédios próprios do

estado, 113 cedidos gratuitamente; 4 pertencentes ao município e 575 instalações alugadas de

particulares.

O recurso ao aluguel de prédios para a instalação de escolas é revelador das soluções

que foram colocadas em prática na medida em que se expandia a criação de escolas. O

enraizamento da “forma escolar” (VINCENT, G., LAHIRE, B. & THIN, D., 2001) para a

instrução primária era um processo em curso, concomitante à expansão do ensino, submetido

333 Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do Interior e

Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal

do Comércio, 1927. Pág. 258-259. 334

Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do

Interior e Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro,

Tipografia do Jornal do Comércio, 1927, pág. 259. 335

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de

Janeiro no dia 1º de agosto de 1928 pelo Presidente Dr. Manuel de Mattos Duarte Silva. Rio de Janeiro,

1928. Pág. 57. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 336

Idem. 337

Ibidem, pág.76.

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147

às especificidades locais. O reconhecimento da condição inadequada dos prédios, a falta da

identificação entre prédio/arquitetura escolar/escola é notada no campo de identificação dos

mapas de frequência, quando são a localidade e a numeração que precisam onde a escola

funcionava.

O aluguel é um aspecto da instabilidade da existência das escolas, que poderiam ser

removidas de prédios, despejadas, transferidas, devido à interferência da lógica imobiliária.

De fato, para a rede de escolas isoladas públicas, os professores e as classes, a condição de

mista, masculina ou feminina, o grau de ensino ofertado e o nome da localidade eram

referências mais sólidas para identificar a existência do ensino ali sediado do que os prédios

nos quais estavam alocadas as escolas. É no curso do processo que a identidade entre escola-

prédio, com atribuições também de denominações singulares (homenagens a pessoas, lugares,

datas etc.), vai indicar a conformação e identificação de um espaço específico que abarca

modos específicos de socialização.

O problema dos prédios escolares atravessou anos sem solução. Em 1935, Ari

Parreiras, interventor do estado, fazia coro ao problema da destinação de espaços para escolas,

considerando complexos “os problemas da localização e installação dos predios escolares”.338

Na mensagem enviada à Assembleia no ano de 1937, a insatisfação com os prédios escolares

era reconhecida pelo interventor Protógenes Guimarães: “A maioria das escolas funcciona em

casas velhas e inadaptaveis, sem as necessarias condições hygienicas e pedagogicas, pelas

quaes paga o Estado, na maioria dos casos, elevado aluguel, com pedidos constantes de

augmentos pelos respectivos proprietários”.339

Em função disto, foi apresentado pelo diretor

de educação, Gastão Gouvêa, um projeto de construção de “pavilhões de linhas simples”, em

colaboração financeira com os municípios.340

A propósito, o novo diretor de educação do

estado, Gastão Gouvêa, visitou escolas em Iguaçu durante o ano de 1937.

Em 1937, o estado era proprietário apenas de 86, dos prédios escolares existentes. Em

oito anos foram construídos mais 66 novos prédios. Em 1940, o secretário de Educação e

Saúde reclamava dos gastos com aluguéis, embora acenasse para outra ordem de problemas,

que eram as dificuldades de encontrar espaços disponíveis para instalar escolas. Em Niterói,

foi sugerida a reunião de escolas e grupos escolares numa mesma região para os casos de

338

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada a Assembléa Constituinte do Estado do Rio de Janeiro pelo

interventor Ary Parreiras. Setembro de 1935. Niterói, Officinas Graphicas do Diario Official, 1935. Pág. 15.

APERJ. 339

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada a Assembléa Legislativa pelo Sr. Governador do Estado,

Almirante Protogenes Pereira Guimarães, na sessão de 1º de agosto de 1937. Niterói, Officinas Graphicas do

Diario Official, 1937. pp.29-30. 340

Ibiem, pág.30.

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faltas de prédios. Um novo plano de construção de prédios escolares foi adotado, tanto para

grupos, escolas isoladas e escolas típicas rurais em 1941.341

A escola típica rural Santa Rita

foi a única construção do município de Iguaçu inserida neste plano.342

Em 1945, iniciou-se a

construção do edifício do Grupo Escolar Rangel Pestana, em Nova Iguaçu, entre outras

construções previstas pelo governo estadual. A prefeitura de Nova Iguaçu é mencionada entre

as prefeituras que auxiliavam o estado, com a realização de reformas ou reconstrução de

outros prédios escolares.343

Na década de 1940, o empenho dos governos para a construção de prédios escolares

no estado do Rio de Janeiro ganhou impulso. Além das mudanças registradas nos relatórios

dos interventores e atos normativos344

, a repercussão do tema na imprensa pontuava esse

processo. O consenso que se estabelecia sobre a necessidade de uma arquitetura própria ao

funcionamento das atividades escolares e a promoção de condições de saneamento e higiene

adequados, subsistia no horizonte das novas soluções esboçadas, que esbarravam, em última

instância, nas decisões de ordem financeira e política, segundo ponderava o diretor do

Departamento de Educação, Rubens Falcão, entre 1942 e 1945:

O prédio escolar, projetado em conformidade com as exigências da pedagogia

científica, é, sem dúvida, um edifício simples. A preocupação do suntuário é que o

torna, muita vez, oneroso; como se a simplicidade excluísse a idéia de conforto e

bem-estar... O educador, o médico escolar e o arquiteto, como o quer o Sr. Fernando

de Azevedo, devem cooperar como fôrças solidárias na interpretação e solução do

magno assunto.345

A situação dos prédios escolares em Iguaçu e a permanência, no horizonte das

sucessivas administrações estaduais, do problema da instalação das escolas, agregam

subsídios ao exame do perfil de escolas existentes na região.

Longe de ser um processo linear, a casa-escola, característica do séc. XIX, subsistiu

nas escolas isoladas do séc. XX, que coexistiram com o modelo do Grupo Escolar, ícone da

arquitetura – pedagógica e higiênica – adequada ao acolhimento dos sujeitos da educação. No

Estado do Rio Janeiro, assim como em Nova Iguaçu, a escola isolada, instalada em prédios e

salas alugados, foi o principal veículo de disseminação da instrução primária. Contudo, as

341

Estado do Rio de Janeiro. Decreto-lei nº 292 de 23/07/1941. “Abre crédito especial de cinco mil

contos de réis para ocorrer à construção imediata de prédios escolares e execução de outros

melhoramentos no Estado”. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro, 1941, APERJ. 342

FALCÃO, 1946, p.56. 343

Ibidem, p.57. 344

Estado do Rio de Janeiro. Decreto nº 2.967 de 26/11/1946: “Incumbindo as prefeituras a entrarem em

entendimento com o Departamento de Educação no sentido de obter áreas necessárias à construção de prédios

para escolas primárias, com auxílio federal, e dando outras providências”; Lei n.46 de 02/12/1947: “Aprovando

termo do acordo especial com o MEC e o estado para execução do plano de construções destinadas à ampliação

e melhoria do ensino primário no Rio de Janeiro”. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro. 345

FALCÃO, 1946, p.58.

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escolas “isoladas” em Nova Iguaçu, frequentemente estavam a cargo de mais de um docente,

funcionavam em mais de um turno. A análise da distribuição de alunos por classes, séries, e

turnos, como já foi apresentado, revela casos híbridos, em que, apesar da seriação e classes

registradas, é possível inferir que os alunos de classes e séries diferentes estavam sob a

regência da mesma docente, nos mesmos horários. Enquanto os mapas do Grupo Escolar

Rangel Pestana sustentam uma organização mais fixa da seriação, as escolas isoladas –

municipais, estaduais – eram mais intensamente submetidas às alterações de turno e seriação

promovidas pelas docentes, pela chegada e saída de professoras na escola, em qualquer mês

do ano.

A presença dos inspetores em Nova Iguaçu e o Departamento de Educação

As intenções e iniciativas da administração estadual para conformar o trabalho dos

professores e garantir o cumprimento dos regulamentos do ensino, além de serem apreendidas

nas reflexões presentes nos relatórios da Diretoria de Instrução e dos presidentes do estado,

consubstanciavam os serviços de inspeção. A recorrência das visitas de representantes da

inspeção é comum a todas as escolas do município de Nova Iguaçu em todo o período coberto

pela documentação (1929-1949).

O campo “Autoridades que visitaram as escolas” informava o nome, o cargo e a data

em que o visitante esteve na escola, além do número de alunos encontrados. A comparação

dos dados deste campo entre os conjuntos de notações revela os mesmos sujeitos realizando

as visitas, nos mesmos anos. Nota-se que de uma a duas pessoas estavam encarregadas das

visitas a todas as escolas no município, a cada ano.

Apenas 26 notações do distrito-sede não acusam o recebimento de visitas, das quais

são 11 notações de escolas particulares e/ou subvencionadas, sendo 4 notações de uma mesma

instituição particular. Além da recorrência da ausência de visitas em escolas particulares, fato

que era reconhecido nos relatórios e mensagens dos governadores, a ausência do registro, em

outros casos, não necessariamente assegura que não tenham acontecido a visita. Isto porque

há em comum, entre as notações que não registraram visitas, o caráter bastante lacunar da

documentação existente, havendo escola com apenas um mapa (02753), e outras com mapas

de alguns meses ou intervalos de anos. Duas notações referem-se a seções profissionais do

Grupo Escolar Rangel Pestana, para o qual há registros de visitas nos mapas do curso

primário.

No ano de 1929, encontra-se Joaquim M. Moraes e José Ulysses de Moraes visitando

as escolas. No transcurso dos eventos da chamada “Revolução de 1930”, Ari Parreiras

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assumiu a interventoria do estado do Rio em meio a um cenário de crise econômica e

decadência. Stanley Gomes foi nomeado secretario do Interior e Justiça, e Celso Kelly foi

designado Diretor da Instrução Pública. Na estrutura administrativa dos serviços de instrução,

encontrava-se a mesma situação da organização do ensino em 1931. A denominação Diretoria

de Instrução Pública é mantida nos mapas nos anos de 1932 e 1933. Em 1931 e 1932, José

Neves Paula de Leite é mencionado no campo de visitas das escolas.

Segundo Paschoal Lemme, que foi inspetor do ensino do estado do Rio de Janeiro,

entre 1933 e 1935, a estrutura da administração era precária, e um dos principais problemas

enfrentados pelo diretor da Instrução, Celso Kelly, foi a deficiência do serviço de inspeção.

Sob a ótica de Paschoal Lemme, os inspetores não atendiam às expectativas, “de acordo com

a nova orientação que Celso Kelly pretendia imprimir aos serviços de Educação do

Estado”.346

A maioria dos inspetores, “tal com era em outros Estados”, era nomeada “mais por

influência política do que por qualquer qualificação que apresentasse para o exercício de

cargo tão importante”.347

Para imprimir novos rumos à administração, os inspetores em

exercício foram afastados dos cargos e um concurso foi providenciado para adoção do novo

quadro.

No pós-1930, foi iniciada a reestruturação do aparelho governamental em diversas

esferas da administração pública, buscando impor uma centralização e racionalização

administrativa que canalizasse a direção política para as instâncias decisórias do governo

federal (DINIZ, 1997), de modo a combater as práticas políticas clientelistas das oligarquias

dominantes durante a Primeira República. É notório como esse processo foi intenso na esfera

educacional, apoiado por diversos setores que defendiam a intervenção da ação pública na

institucionalização da instrução no país. A perspectiva de reforma das agências do governo,

sob os auspícios da racionalização do trabalho e da administração técnica, de forte influência

norte-americana, repercutiu em mudanças no aparelho burocrático do estado.

Paschoal Lemme situava os inspetores como “peça fundamental da administração do

ensino, pois é o elo que liga a administração central a cada parte do sistema escolar,

transmitindo a orientação assentada, estimulando o professorado, que deve executá-la, em

vista do desenvolvimento do ensino”.348

Como foi demonstrado, as sucessivas administrações do ensino almejaram assegurar a

eficácia do serviço de inspeção. Em 1932, o curso-concurso dirigido por Lourenço Filho,

346

LEMME, 1988, vol. 2, p.176. 347

Idem. 348

Ibidem, p.177.

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151

“constava das teorias modernas da aprendizagem e da orientação e da prática do ensino dentro

dos princípios da chamada ‘escola nova’”.349

Os candidatos, cerca de 600 inscritos, receberam

aulas no Liceu e na Escola Normal de Niterói sobre “princípios gerais da administração”;

“medidas educacionais” (sobre verificação dos resultados de aprendizagem, do rendimento do

ensino, testes de inteligência e elaboração de provas); higiene escolar (sobre construção e

instalação dos edifícios). Além das provas, os candidatos, ao fim do curso, redigiriam um

trabalho sobre os problemas da inspeção escolar.350

Os candidatos ao cargo de inspetor frequentaram o curso de especialização, durante

três meses, no transcurso do qual prestaram as provas de seleção. O primeiro colocado ocupou

a vaga de inspetor geral de ensino; as três colocações seguintes serviram aos cargos de

inspeção do ensino secundário e normal e as dez colocações restantes foram destinadas a

inspetores do ensino primário e profissional.351

Paschoal Lemme foi o último colocado. Foi designado inspetor do ensino primário

apenas em 1933, porque os antigos inspetores afastados tentaram impugnar o concurso. Em

função de sua colocação, começou o exercício nos três municípios mais afastados da capital

fluminense: Itaperuna, Pádua e Cambuci.352

Em Nova Iguaçu, o candidato aprovado, Milton Fontenelle, inspecionou as escolas em

1933. Em 1933, Venina Corrêa353

é mencionada nos mapas como “auxiliar do ensino” e

“auxiliar de inspeção”. Segundo Paschoal Lemme, os auxiliares da inspeção eram escolhidos

entre os diretores de grupos escolares, e foram encarregados das visitas às escolas, para que os

inspetores pudessem investir nos cursos de aperfeiçoamento dos professores.

Jarbas de Azevedo Cordeiro, “inspetor”, “diretor da instrução”,354

visitou

frequentemente escolas municipais no ano de 1935, e, nas páginas do Correio da Lavoura

figurava como Diretor da Instrução Municipal.

349

LEMME, 1988, vol. 2, p.177. 350

Ibidem, p.178. 351

Ibidem, p.177. 352

Ibidem, p.180. 353

Venina Corrêa Torres era a diretora do Grupo Escolar de Nova Iguaçu, criado em 1931. Lecionou na

escola noturna feminina de 2º Grau entre 1929 e 1935 e na escola mista de 2º grau nº6, em 1929. Seu

nome consta até 1945 como diretora do Grupo Escolar. Pelas páginas do Correio da Lavoura, esta

professora, diplomada pela Escola Normal de Niterói, lecionava em 1920 na 14ª escola pública de

Paracambi, (PARACAMBY. Correio da Lavoura, 29 /07/1920 – Ano IV, n.176). Notas biográficas

informam que era nascida em 1891, (RECORDAÇÕES DA PROFESSORA VENINA CORRÊA

TORRES. Luiz Martins de Azeredo, Correio da Lavoura, 30/08/1997, pág 3), filha da professora Elvira

de Carvalho (nascida em 1869) com Zeferino José Corrêa, fazendeiro. E neta do professor José

Gregório de Carvalho (nascido em 1837). (Disponível em

http://www.origem.biz/ver_cadastro1.asp?id=4414). 354

Fundo Departamento de Educação, 02681, 02684, APERJ.

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152

A passagem de Paschoal Lemme pelas escolas de Nova Iguaçu não é citada em suas

memórias de inspetor do ensino. Suas visitas estão registradas em mapas do ano de 1935,

sempre acompanhado da professora Venina Corrêa. No distrito-sede, foram seis escolas

visitadas355

e outras 14 escolas mistas de 1º e de 2º grau nas localidades de Caxias, São João

de Meriti e Nilópolis, áreas mais próximas ao Distrito Federal.356

Contudo, suas impressões

do serviço realizado em outras regiões informam sobre parte do cotidiano desses inspetores

naqueles anos.

A principal atividade dos inspetores era visitar mensalmente as escolas; um termo de

visita informava as condições do estabelecimento, matrícula, frequência, providências

adotadas e ocorrência de irregularidades. O caráter burocrático e rotineiro destas visitas não

ecoava na “melhoria das condições de ensino” que, segundo Paschoal Lemme, era o principal

objetivo da inspeção, na administração de Celso Kelly. Dessa avaliação, discutida nas

reuniões da inspetoria, foi traçado um novo plano de ação para a inspeção. O

“aperfeiçoamento cultural e profissional do professor” passou a pontuar as atividades de

inspeção com a criação de cursos para os professores, colocando as visitas rotineiras em

segundo plano.357

Os cursos, que contavam com aulas dos inspetores, eram realizados em locais que

pudessem reunir o maior número de docentes, sem prejuízo do exercício das aulas.358

O

desenvolvimento desse trabalho também contou com a realização de palestras e conferências.

Paschoal Lemme acumulava as funções de inspetor do ensino com suas atividades de

colaborador na administração de Anísio Teixeira no Distrito Federal.359

Tanto Paschoal Lemme, quanto Jayme Abreu, intelectuais participantes dos ventos

reformistas na educação naquelas décadas, destacavam a perspectiva modernizante da

administração de Celso Kelly. O Plano de Educação de 1932 é situado por Jayme Abreu

(1955) entre as principais propostas dessa administração, posto que preconizava o aumento da

escolaridade mínima nas escolas elementares e pretendia atrelar a educação elementar à

iniciação ao trabalho. Contudo, não houve continuidade com a saída de Celso Kelly da

direção da instrução pública fluminense.

Pelo Plano Estadual de Educação, a educação elementar passou a ser ministrada em

cinco anos nas escolas elementares, podendo existir escolas elementares com até o 3º ano. Em

355

Fundo Departamento de Educação, 02673, 02674, 02710, 02711, 02714, 02715, APERJ. 356

Fundo Departamento de Educação, 02643, 02688, 02689, 02698, 02699, 02700, 02740, 02741,

02742, 02743, 02745, 02755, 02757, 02758, APERJ. 357

LEMME, 1988, vol. 2, p.181. 358

Idem. 359

ibidem, p.182.

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153

1933 a própria Diretoria da Instrução Pública sofria reforma em sua organização, sendo

adotada a denominação de Departamento de Educação e Iniciação do Trabalho360

que é a

titulação dos mapas de frequência dos anos de 1935 e 1937.

Ao novo Departamento competia a supervisão do ensino primário, secundário,

profissional e normal e estava constituído pelo Gabinete do Diretor e a Inspetoria Geral do

Ensino e Administração. A inspetoria do ensino possuía uma “seção de organização do

trabalho” com serviços de iniciação da pesca, iniciação agrícola, iniciação industrial e

iniciação comercial (ABREU, 1955, p.112).

Os auxiliares de inspeção realizavam as tarefas de visitar as escolas, atestar o exercício

do magistério, autorizar os atos de nomeação e dispensa dos substitutos, licenças até oito dias,

justificativas de faltas; atestavam o uso dos prédios alugados; faziam o controle da estatística,

assinavam certificados de habilitação dos alunos e organizavam os exames. Ficou a cargo dos

inspetores do ensino primário e profissional a coordenação dos trabalhos nas regiões

escolares, sobretudo exercendo atividades de direcionamento pedagógico, promoção de

reuniões, palestras e cursos (Ibidem, p.113).

Paschoal Lemme relembrava com prazer a “árdua” tarefa da inspeção, já que os

inspetores tinham de se submeter a longas viagens, em trens não muito confortáveis, para

chegar a regiões distantes, onde eram recebidos pelas “professorinhas rurais”. Sob seu ponto

de vista, aquelas eram “verdadeiras heroínas, perdidas naqueles locais de difícil acesso,

trabalhando nas condições as mais precárias, sem a assistência de ninguém, e freqüentemente

sendo vítimas de perseguições e até de violência por parte dos poderosos”.361

A falta de

estrutura nessas “escolinhas”, a situação de pobreza e de doença nas crianças, os problemas

criados pela “politicagem local” dificultavam o trabalho das docentes. Ao citar situações com

as quais se deparou, Paschoal Lemme testemunhava um cenário desolador, no qual se via

impedido de agir em algumas ocasiões.

Em contrapartida, a situação “era sempre melhor” nas sedes dos municípios e nos

principais centros urbanos, onde, em geral, havia um grupo escolar, dotado de melhores

condições de materiais e de pessoal qualificado, o que possibilitava a ação dos inspetores em

orientar o “emprego de métodos mais modernos de administração e ensino”.362

O contato com

os prefeitos consistia na primeira ação dos inspetores na chegada aos municípios, porque estes

360

Decreto n.2.923 de 26/06/1933. “Reforma a organização dos serviços afetos à antiga Diretoria da

Instrução Pública; substitui essa denominação pela de Departamento de Educação e Iniciação do

Trabalho”. O regulamento é aprovado pelo Decreto n.º 2.929 de 05 de julho. “Indicador de Legislação e

Administração”. Ano de 1933. Biblioteca da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. 361

LEMME, 1988, vol. 2, p.183. 362

Ibidem, p.185.

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forneciam informações das escolas e auxiliavam na locomoção dos inspetores. Os sacerdotes

também eram fontes de informação sobre as professoras, as escolas e a relação com a

comunidade local.363

Os grupos escolares também serviam de sede para a realização de cursos de

aperfeiçoamento. Essa avaliação feita por Paschoal Lemme, da situação “sempre melhor” nas

cidades e a valorização do Grupo Escolar, deve considerar que o seu julgamento estava

ancorado em suas expectativas e em sua própria militância pelos métodos de renovação do

ensino.

Em 1934, Paschoal Lemme foi transferido para Campos e São João da Barra. Como

também se observa no exame dos mapas de frequência de Nova Iguaçu, Paschoal Lemme

ressaltava a existência de escolas, mesmo nas zonas urbanas, instaladas em pequenas salas,

nas quais uma professora lecionava para alunos de diferentes séries, reunidos numa mesma

classe. O espaço da escola continuava a ser compartilhado com o espaço da casa, assim como

o tempo escolar e do ofício docente eram divididos com o tempo do lar e da família:

Frequentemente, quando visitávamos tais escolinhas, encontrávamos as respectivas

professoras atarefadas em atender, ao mesmo tempo, aos alunos, aos filhos menores,

até recém-nascidos, e aos afazeres domésticos. Muitas vezes, tinha que abandonar às

pressas uma aula para correr à cozinha, onde um cheiro intenso indicava que o feijão

estava queimando na panela...364

Como acontecia em Nova Iguaçu, na cidade de Campos havia escolas abertas numa

mesma rua. Em Campos, Paschoal Lemme procurou adotar nova organização do ensino, pela

reunião destas escolas isoladas em grupos escolares. Interessante notar que, pelo que ele

informa, isso dependia ainda do convencimento das professoras, porque, com a mudança,

perderiam o auxílio das locações onde moravam e lecionavam.... As professoras mais idosas,

e também mais antigas no magistério, alegavam dificuldades de locomoção aos novos prédios

escolares. Para superar essas resistências, foi elaborado um decreto estadual que concedia

aposentadoria especial às professoras atendidas por essas medidas.365

Porém, com a abertura de novo regime constitucional, em 1934, e a reabertura das

assembleias estaduais, houve rearticulação dos antigos grupos locais, que não se coadunavam

com o governo de Ari Parreiras. Os antigos inspetores, afastados com o golpe civil-militar de

1930, alcançaram o apoio do novo interventor, o Almirante Protógenes Guimarães, e

conseguiram o afastamento dos inspetores aprovados por concurso, pela acusação de que não

363

LEMME, 1988, vol. 2, p.185. 364

Ibidem, p.191. 365

Ibidem, p.192.

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155

eram realizadas as visitas escolares. Com a saída de Ari Parreiras, Celso Kelly e Stanley

Gomes também deixaram a administração do ensino.366

Em meio a tais disputas políticas, os inspetores concursados lançaram, em abril de

1934, um manifesto com os títulos: “A Reconstrução Educacional no Estado do Rio de

Janeiro” e “Os inspetores de Ensino do Estado do Rio de Janeiro ao Magistério e à Sociedade

Fluminense”. Nesse documento, os inspetores desmentiram as acusações que estavam

enfrentando e explicitaram o plano de ações idealizado na Diretoria de Instrução, inspirado

nas conclusões da V Conferência Nacional de Educação, realizada em Niterói.367

Essas disputas sobre quais critérios adotar para a seleção do pessoal da inspeção são

expressivas das tensões e correlações de forças desiguais, entre distintos grupos, que

buscavam inscrever, dentro das agências de governo, suas visões de mundo e seus projetos de

condução do governo. Informam, também, sobre a profissionalização deste serviço.

Em função das mudanças geradas por estes conflitos, outros atos normativos foram

expedidos para regular o serviço de inspeção e de elaboração de estatísticas escolares em

1936.368

Na mensagem daquele ano, o novo interventor Protógenes Guimarães comentava as

mudanças no serviço de inspeção escolar, “Foram aproveitados para inspectores regionais

antigos inspectores, sendo designados, tambem interinamente, para esse serviço, alguns

professores durante o impedimento dos inspectores actualmente afastados”.369

Na remarcação

das circunscrições escolares realizada pela nova reforma, o município de Iguaçu passou a ser

a sede de uma das circunscrições.

A partir desta regulamentação desapareceram os auxiliares de inspeção, existentes

entre 1933-1936 e as inspetorias escolares passaram de 10 a 18 regiões e inspetores. Os

inspetores foram requisitados entre os professores primários, alguns diretores ou antigos

auxiliares de inspeção. Segundo Jayme Abreu essa nova regulamentação sacrificou a

orientação pedagógica, porque se adotava o critério do inspetor residir na sede da região, para

assegurar a assiduidade das visitas nos estabelecimentos estaduais, municipais, particulares e

366

LEMME, 1988, vol. 2, p.197. 367

Ibidem, p.198. 368

Atos do Departamento de Educação. De 06/03/1936 pub. D.O.E de 18. – “Organiza para o efeito da

fiscalização e inspeção do ensino as circunscrições escolares e designa os respectivos inspetores”. Portaria do

Departamento de Educação de 13/03/1936 pub. D.O.E de 15. – “Baixa instruções gerais de serviço aos

inspetores regionais do ensino e do professor em geral”. Circular do Departamento de Educação n.2, de

24/03/1936 pub. D.O.E de 24. – “Expede instruções aos inspetores acerca da concessão de licença, justificação

de faltas dos professores e, bem assim sobre nomeação de professor substituto”. Fonte: Estado do Rio de Janeiro.

Indicador de Legislação e Administração, 1936. Biblioteca da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de

Janeiro. 369

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada a Assembléa Legislativa pelo Sr. Governador do Estado,

Almirante Protogenes Pereira Guimarães, na sessão inaugural de 1º de agosto de 1936. Niterói, Officinas

Graphicas do Diario Official, 1936. Pág.17. APERJ.

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subvencionados. Cabia também a fiscalização das escolas normais equiparadas. Entre 1936 e

1940, os inspetores de ensino eram nomeados em comissão dentre professoras normalistas

com três anos de magistério público ou particular; ou, não sendo diplomada, com mais de

cinco anos de exercício (ABREU, 1955, p.114). Entre 1937 e 1949, o técnico de educação

Mário José Chaves Campos foi presença frequente nas escolas de Nova Iguaçu, auxiliado por

Ayxa Faria Soares,370

de 1944 a 1949.

Em 1937, o interventor no estado do Rio de Janeiro transcrevia os elogios recebidos

do ministro da educação, Gustavo Capanema, aos serviços de estatística sobre ensino primário

no ano de 1935. 371

Era um recurso de divulgar e buscar a legitimação aos rumos impressos à

administração estadual.

A análise da presença da ação das agências do governo estadual na conformação de

um aparato para institucionalização da instrução primária evidenciou a posição dos serviços

de inspeção e estatística como ferramentas centrais para fazer chegar a normatização pública

às diversas localidades do estado. A sucessão de governos não fez cessar as iniciativas para

aperfeiçoar, equipar, definir e expandir esse aparato burocrático. Contudo, divergências entre

concepções e demandas impostas pelo próprio desenvolvimento do serviço foram pontuando

redefinições, avanços e recuos na configuração desta ferramenta. Ademais, cabe considerar as

disputas que se anunciavam na vida política nacional e na configuração das relações entre as

esferas de poder e as agências de estado, no período. O compromisso em dotar a ação política

e cultural de uma roupagem “técnica”, “científica”, “moderna”, “isenta”, esteve cada vez mais

presente nos discursos dos dirigentes políticos pós-1930:

Problema fundamental nas sociedades modernas, o ensino publico, em nosso meio,

ha de ser encarado no conjunto de sua orientação technica, de suas possibilidades

didacticas e, sobretudo, de sua organização. Impõe-se, sob este aspecto, abolir o

sentido livresco e acentuadamente romântico da educação intellectual, afim de

integrar as modernas directrizes do ensino no panorama das nossas realidades

Moraes e das necessidades objectivas da vida fluminense. Essa ha sido a orientação

firmada pelo actual Governo, no propósito só, não de subtrahir tão importante

serviço às inflencias perniciosas do partidarismo absorvente, como no elevado

objectivo de dar ao problema educacional um sentido pratico, efficiente e

consentâaneo com as possibilidades precarissimas do Thesouro.372

370

Ayxha Faria Soares foi professora da escola municipal n.º1 Dr. Thibau nos anos de 1933 e 1935.

Fundo Departamento de Educação, 02681, APERJ. 371

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada a Assembléa Legislativa pelo Sr. Governador do

Estado, Almirante Protogenes Pereira Guimarães, na sessão de 1º de agosto de 1937. Niterói, Officinas

Graphicas do Diario Official, 1937, pág.30. 372

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada a Assembléa Legislativa pelo Sr. Governador do

Estado, Almirante Protogenes Pereira Guimarães, na sessão inaugural de 1º de agosto de 1936. Niterói,

Officinas Graphicas do Diario Official, 1936, pág.16-17.

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157

Pelo Decreto nº 527 de 6/09/1938373

os Departamentos de Educação e de Saúde

Pública foram desligados da Secretaria do Interior e Justiça e passaram a ser subordinados

diretamente ao chefe do governo. As atribuições pertinentes, anteriormente exercidas pelo

secretário do Interior e Justiça, tornaram-se responsabilidade do secretário do governo.

Conforme os considerandos do decreto, a mudança justificava-se pela ampliação dos deveres

do poder público para com a educação e saúde, em virtude da Constituição de 1937, e pela

constatação da necessidade de descongestionar os serviços da Secretaria do Interior e Justiça.

Ainda que fosse patente a necessidade de criação de uma Secretaria específica para estas

atividades, a medida foi adiada por controle orçamentário, daí a solução “intermediaria”

encontrada, mas com intenções futuras de ampliação e reforma dos departamentos de

Educação e de Saúde Pública.

Meses depois era criada a Secretaria da Educação e Saúde Pública,374

como “medida

que imperiosamente hoje se impõe para a realização dos altos postulados do Estado Novo” e

para que funcione “como verdadeiro órgão especializado de impulsão e orientação”. A criação

da agência era justificada como uma necessidade administrativa, pois os problemas da

educação e saúde eram situados como “os de maior relevância da administração pública”.

Em 1939, o Departamento de Educação integrava a estrutura da Secretaria de

Educação e Saúde.375

Ao Departamento de Educação competia: “orientar e fiscalizar as

atividades referentes à educação, bem como zelar pela fiel execução e eficiência da ação

educacional da Secretaria”. Após instalada a Divisão de Pesquisas Educacionais, deveria ser

desmembrada do Departamento de Educação a seção de Estatística Educacional, passando a

ser atribuição da Divisão de Pesquisas Educacionais “a elaboração das estatísticas

educacionais e trabalhos conexos, de acordo com o Convênio firmado com o Governo

Federal, bem como os serviços técnicos e representações que lhe forem peculiares.” Pela

legislação posterior, a Divisão de Pesquisas educacionais foi mantida no Departamento de

Educação.

É possível notar as constantes tentativas de conformação das atividades dos inspetores,

os mecanismos para tentar controlar a gerência sobre o funcionamento de uma rede de escolas

em expansão. Nesse sentido, as recorrentes reformas no aparelho burocrático revelam

concomitantemente o esforço em produzir mecanismos de controle do funcionamento das

escolas e, contraditoriamente, o insucesso das tentativas. Ao recuperar o percurso de

373

Arquivo Público do Estado do Rio de janeiro. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro. 374

Pelo Decreto nº 605, de 9/11/1938. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro. 375

Estado do Rio de Janeiro. Decreto nº 806 de 30/06/1939 – Dando nova organização à Secretaria de

Educação e Saúde [sic] e dando outras providências. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro.

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funcionamento do Departamento de Educação, mais importante do que recompor o percurso

administrativo, é analisar as formas como o desenvolvimento dos processos de escolarização

também incidem sobre os modos de organização do aparelho burocrático, conformando,

também, a estrutura estatal e delineando o próprio Estado.

O exame das visitas dos inspetores nas escolas do distrito-sede evidencia o hábito de

uma a duas visitas por ano a cada escola. Nos primeiros anos da década de 1930, uma visita

por ano é o mais habitual. Depois de 1939, na maioria das escolas, houve maior incidência de

visitas ao longo de cada ano. Pelo cruzamento das informações entre os mapas, é notável a

rotina do trabalho de visitas, porque os inspetores percorriam diversas escolas. Venina Corrêa,

por exemplo, é mencionada visitando diversas escolas de julho a novembro de 1933, depois

de março a outubro de 1935, o que revela a circulação e a presença destes sujeitos pelas

escolas da região.

Outra autoridade recorrente em visitas a escolas em Nova Iguaçu foram os prefeitos da

cidade. No período coberto pelos mapas, visitas do prefeito Sebastião de Arruda Negreiros

são registradas no distrito-sede a 10 escolas, sendo um jardim de infância e as demais escolas

municipais. Nas demais regiões do município, há registro de visitas em 14 escolas municipais

e uma Escola Típica Rural. As visitas, no primeiro mandato, se concentram no ano de 1933,

que foi o ano do centenário do município, outras visitas aconteceram em 1935, e depois, já no

segundo mandato, as visitas ocorreram principalmente nos anos de 1948 e 1949.

Tendo em perspectiva a lógica da existência desses mapas, e sabendo que não há

mapas sobre todas as escolas do município, cabe considerar que o registro recorrente das

visitas nesse corpus documental possa sinalizar que eram essas as escolas que conseguiram

manter maior comunicação com a administração estadual e, sob maior vigilância, tenham sido

mais constrangidas a cumprir a obrigatoriedade do preenchimento dos mapas. Mas, pelos

mapas, percebe-se ainda que a comunicação entre inspetores e professores não ocorria apenas

por ocasião das visitas. Em algumas ocasiões, as professoras se referem a informes,

comunicados, tanto recebidos quanto enviados, entre a escola e o inspetor.

Como foi apresentado neste capítulo, a construção de agências estaduais da

administração do ensino foi uma mediação importante na disseminação da instrução escolar

primária nos primeiros tempos republicanos. A construção de um aparato normativo não

antecede, mas sim integra, compõe e constitui a escolarização da sociedade. Os serviços de

inspeção, enquanto procuravam fiscalizar, contabilizar e mapear a distribuição de escolas,

alunos, professores, conteúdos e métodos, viabilizavam a participação da ação pública no

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desenvolvimento dos processos de escolarização. No mesmo movimento, a mobilização, o

aperfeiçoamento, o acúmulo de experiências dentro do aparelho estatal vai ampliando e

definindo as esferas de atuação do estado, colaborando para a própria afirmação do Estado

Republicano. Construção do governo e escolarização foram escalas congruentes.

A estruturação e reestruturação da administração escolar no âmbito dos estados foi

uma das principais tarefas executadas nos anos de 1920, em paralelo à tarefa imposta de

combate ao analfabetismo, que significou, além das campanhas, a criação de um consenso

pela difusão da escola primária: “Pode-se mesmo dizer que a montagem de um aparelho

administrativo e técnico foi realizada com o propósito de criar as condições necessárias para a

perfeita execução desta tarefa: distribuir a escola primária para a massa da população em

idade escolar” (NAGLE, 1974, p.207).

Contudo, restituir a ação do estado para homogeneizar, normalizar e conduzir a

institucionalização da escola primária reflete também a heterogeneidade, as burlas, os

impasses, os recuos, as negociações e conflitos em curso.

As experiências de escolarização primária em Nova Iguaçu, ainda que tenham sido

trazidas em seus aspectos de organização e tipos de escolas, permitem problematizar a

pretensão normalizadora das agências de governo, e revelam a diversidade de modos de

escola, de lotação de professores e alunos, do uso de prédios. Experiências híbridas. Denotam,

também, a função alfabetizadora da escola primária, naquele município, de comportar

frequentemente mais alunos na primeira série do ensino. Atestam a especificidade da escola

isolada como modo predominante de expansão da escola primária no estado do Rio de

Janeiro.

Se os mapas de frequência foram ferramentas para controlar a institucionalização

destas escolas, o exame denso e comparado, mês a mês, ano a ano, das informações prestadas,

ainda que previamente selecionadas pelos campos a preencher, também revelam espectros

nada lineares ou controlados desses modos de escola primária. Enquanto documentos de

preenchimento obrigatório, para controle dos docentes, os mapas de frequência também

retornaram situações, explicações e demandas desses sujeitos, espelharam a insuficiência da

ação estatal em atender a contento a todas as demandas. Os limites do trabalho de inspeção,

desde o aspecto lacunar da documentação até a heterogeneidade que comporta, as sucessivas

tentativas de tornar eficiente a administração, os regulamentos para controlar inspetores,

professores, alunos, saberes, tempos, os recursos para convencer sobre a expansão do ensino,

sinalizam o dinamismo de um processo em curso.

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Neste exercício de pesquisa, tendo como posição de análise o distrito-sede de Nova

Iguaçu, a administração estadual aparece como sujeito importante da institucionalização da

escola primária, tendo sido necessário ampliar a escala de observação para além do município

e recuperar as competências das agências estaduais na organização do ensino. O movimento

ruralista parece, a princípio, não ter sido tão atuante na conformação da maioria desse tipo de

escolas regulares, com exceção de duas notações sobre “escolas típicas rurais”. Porém, as

escalas do rural e do urbano também estavam inscritas em diversos regulamentos, como

parâmetros de distribuição dos tipos de escola e da seriação do ensino ofertada. A bibliografia

pertinente também ressalta os temas da regionalização do ensino e da ruralização do ensino

como presentes nos debates sobre a escolarização do período.

Assim, no capítulo seguinte, por outra escala de observação dos processos de

escolarização, através dos projetos locais, e - sob os vértices das noções de “rural” e “urbano”

– examina-se as funções sociais e as posições que a escolarização assumiu na construção de

Nova Iguaçu. Busca-se tencionar os projetos ruralistas, em Iguaçu, com a ação municipal e o

perfil de escolas delineado neste segundo capítulo. Ao fazer-se estado fazendo escolas, os

temas da formação escolar da sociedade, da escolarização de comportamentos, do trabalho e

do corpo, tangenciam a construção da almejada “modernidade” para Nova Iguaçu, confluindo

e confrontando projetos diversos para a ordenação social da população e para os usos do

território.

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Capítulo 3

Entre a lavoura e as letras

A construção de Nova Iguaçu, a partir da citricultura, resulta, em parte, das

experiências de diversificação do cultivo e do apoio técnico oferecido pelo Ministério da

Agricultura, no bojo do projeto ruralista fluminense, que foi abraçado por grupos da sociedade

iguaçuana e por sujeitos que, atraídos pela citricultura, enriqueceram na cidade e engrossaram

o coro da defesa da lavoura ou que para lá afluíram em busca de trabalho e sobrevivência.

No cenário estadual, houve um investimento na ressignificação da memória histórica

acerca da importância do estado do Rio de Janeiro no panorama nacional, em função da

posição de menor evidência durante a Primeira República. Percebe-se uma forte ação política

e cultural, com apoio dos governantes, que buscou construir uma visão de passado glorioso da

antiga província, a ser recuperado, naquele presente, pelo investimento em sua vocação

agropastoril e pela habilitação da população para essa tarefa, pela escolarização. Os

sucessivos governos fluminenses investiram na criação de agências e normas que regulassem

a oferta do ensino primário no estado.

Contudo, a repercussão do projeto ruralista não resultou em homogeneidade nos

modos como foi institucionalizada a educação primária no estado. Apesar da presença do

ruralismo fluminense, durante a Primeira República e até fins do Estado Novo, especialmente

no distrito-sede de Nova Iguaçu, a escala de observação sobre os processos de escolarização

primária, como foi estruturada no capítulo anterior, não revelou um formato ruralista de

escolas, quanto aos objetivos, modos de funcionamento e práticas empreendidas. Ainda

assim, a importância e a especificidade da educação rural estavam inscritas nos debates dos

presidentes de província, dos diretores de instrução, e no âmbito público, efervescente durante

a Primeira República, sobre as relações entre escolarização, cidade e campo.

Sob a análise de Jorge Nagle o fenômeno do ruralismo:

penetrou nos modos de pensamento sobre a escolarização, embora a penetração não

tenha sido tão intensa nos padrões de funcionamento da escola brasileira; [...] o

processo da ruralização do ensino apresentava um ideário que apenas parcialmente

influenciou a legislação escolar e as práticas escolares (1997, p. 233).

A partir da propaganda do país essencialmente agrícola, “o passo foi pequeno para

chegar à pregação de que a escola deve constituir um instrumento de fixação do homem no

campo” (NAGLE, 1997, p.273). Este autor identifica a “ruralização do ensino” como um tema

“que se inicia na década dos anos 20” (Idem), nas reformas estaduais da instrução primária e

nas escolas normais.

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Mas é pertinente deslocar essa periodização, tendo em perspectiva as ações do

Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio (1910) e da SNA (1897) em propaganda,

práticas e experiências em instrução agrícola, como os patronatos e aprendizados. O

enquadramento da análise na ação das reformas estaduais é que constrói a impressão de ser

um tema novo a partir dos anos de 1920.

Do mesmo modo, nesta pesquisa, deve-se considerar que a escolha metodológica de

lançar holofotes sobre a ação do governo estadual sobre a institucionalização da escola (ainda

que essa “escolha” tenha sido orientada pelo conjunto documental constituído) pode ofuscar

outras formas de inserção do ruralismo. Outro exercício de pesquisa, a partir das ações do

Ministério da Agricultura em escolas do estado, da ação da Sociedade Nacional de

Agricultura, poderia resultar em outros enquadramentos, ampliar o foco.

Ademais, não foram apenas os proprietários rurais os investidores de atividades

agropastoris que prescreveram projetos de dominação sobre as populações localizadas nos

campos. A partir das cidades, as demandas trazidas pelo fenômeno da urbanização pontuavam

os debates e relações estabelecidas entre o rural e o urbano, as migrações e os usos destes

territórios.

A visibilidade das políticas para a educação rural como resultado de embates e

disputas entre projetos distintos não pode prescindir de analisar “os problemas estruturais que

perpassam a relação cidade-campo”. Desta forma, é preciso atentar para as “múltiplas

determinações das políticas voltadas para o ensino rural já que, muitas delas, não

responderam, mecanicamente, como o supõe a historiografia estabelecida, a interesses

imediatos de grupos dominantes agrários” (MENDONÇA, 2006, p.140).

Entre as décadas de 1920 e 1930 os debates sobre a educação rural oscilaram entre o

tema da alfabetização e da função da escola rural para formação do trabalhador (Ibidem,

p.137). Sob essa perspectiva, as proposições de “ruralização do ensino” e “escola regional” ou

“regionalização do ensino” presentes na historiografia, sinalizam modos diversos de

apropriação das relações de escolarização entre o campo, o rural, e suas populações (Cf.

NAGLE, 1974; 9997; CARVALHO, 1998). Jorge Nagle observa, para a década de 1920,

maior acentuação das propostas sobre a “regionalização do ensino” enquanto esta era

entendida como “diversificação da escola de acordo com as características regionais”; (1974,

p.234). O autor situa a “ruralização do ensino” como orientação que apareceu “associada ou

não ao fenômeno da regionalização, e reflete, antes de tudo, uma tentativa para transformar a

‘natureza’ da escolarização” (Idem).

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Sônia Mendonça propõe uma análise dos consensos e divergências no interior das

políticas educacionais rurais, de forma a analisá-las “enquanto instrumentos da organização

de interesses de grupos sociais empenhados na obtenção de demandas específicas, tanto no

âmbito rural quanto no urbano, em contextos históricos chave, tal como a década de 1930”

(2006, p.142).

Nesta pesquisa, há interesse em perceber como rural e urbano são abarcados pelos

processos de escolarização em Nova Iguaçu. A análise recai sobre as propostas de educação

da população rural – em sentido amplo, de construção de consensos, de operação de

hegemonia. A perspectiva macro, neste enquadramento, evidencia um amplo projeto político,

econômico e cultural de ordenação social do campo. Neste projeto, compartilhado e defendido

por parte da sociedade iguaçuana, a escolarização dos trabalhadores rurais assumiu relevância

pelo empenho em disseminar novos códigos de comportamento e de trabalho, uma visão de

mundo que valoriza as atividades agrícolas como pilar da economia e exige recursos das

agências públicas.

Nos debates ruralistas sobre a instrução, houve a defesa da regionalização da escola,

isto é, alinhar os objetivos e modos de funcionamento das escolas com o meio em que

estavam inseridas, o que adensava, naquele período, as discussões sobre as especificidades

das escolas rurais e urbanas, quanto à localização e função social do ensino. Ocorreu,

também, a defesa da “ruralização do ensino”, isto é, buscou-se permear a função social da

escola de um compromisso com a vocação agrícola do país, com a educação das populações

rurais para tornarem-se trabalhadores rurais, fixados no campo e portadores de novas técnicas

de cultivo. Tratava-se, enfim, de escolarizar o rural, pela apropriação de um discurso de

modernização do campo, da agricultura, dos modos de cultivo.

No estado do Rio de Janeiro, a existência das “Escolas Típicas Rurais” despontou

como a experiência mais sistematizada entre o movimento ruralista e a ação das agências

estaduais em matéria de escolarização. As escolas típicas rurais sinalizam, também, a

continuidade, no Estado Novo, da importância da vocação agropastoril para a economia do

Rio de Janeiro e a instrumentalização da educação como um dos vértices de fixação desta

orientação política.

Neste capítulo, a partir de questões que emergem das escolas típicas rurais existentes

em Nova Iguaçu e na permanência da “vocação agrícola” nos horizontes da política

econômica do estado do Rio de Janeiro, vamos adensar a análise, ressaltando as

descontinuidades na continuidade, as contradições que permeiam este processo. Será preciso

enfrentar as relações entre cidade e campo, entre urbano e rural no período do pós-1930 e do

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Estado Novo, a partir da escala dos grupos políticos que disputavam, no cenário local, a

construção da Nova Iguaçu, para compreender como a escolarização integrava estas ações

para inserção do município nos trilhos de uma almejada “modernidade”, que parece ter sido

significada de um salvo-conduto para as escolhas políticas, econômicas e culturais produzidas

no distrito-sede.

Escolas Típicas Rurais em Nova Iguaçu

A correlação de forças que nutriu as relações de poder no pós-1930 foi diversa do

período anterior. A crise de hegemonia do setor agrário exportador, que deslocou a tradicional

oligarquia paulista do centro do poder, não implicou a reposição imediata de outro grupo

dirigente. As oligarquias alijadas dos acordos políticos da República Velha e os segmentos de

camadas médias civis e militares, envolvidos no movimento de 1930, não tiveram condições,

individualmente, de se estabelecer no poder (MENDONÇA, s/d, p.16). No estado do Rio de

Janeiro houve um “fracionamento das forças políticas tradicionais”, que se espelhou, por

exemplo, na rotatividade de interventores no período (PANTOJA, 1992, p.3).

Essa arena aberta interessa aqui para compreender os investimentos que diferentes

grupos fizeram, no período, para inserir suas demandas na composição das agências de

governo. No pós-1930 a administração estadual passou a funcionar sob o regime de

interventoria. Houve uma crescente centralização administrativa e burocratização das

agências estatais. Nessa nova correlação de forças do pós-1930, no estado, é possível que os

grupos ruralistas tenham alcançado maior oportunidade de inscrever, nas agências de governo,

a penetração do ideário ruralista em políticas educacionais, como revela o projeto das escolas

típicas rurais.

No estado do Rio de Janeiro, envolvido em instabilidade política nas relações com o

governo federal durante a Primeira República, sobretudo no episódio da Reação Republicana

(1922), fora mantida, na pauta de governo, a recuperação econômica através das atividades

agrícolas, especialmente na interventoria de Ernani do Amaral Peixoto, entre 1937 e 1945

(FERNANDES, 2009, p.129). Os problemas causados com a crise de 1929 para o setor

agrário-exportador intensificaram os problemas financeiros do estado e aumentaram as

demandas do setor pelo auxílio estatal à lavoura. No seu discurso de posse, Amaral Peixoto

elogiava Nilo Peçanha e exaltava as riquezas agrícolas do norte fluminense (PANTOJA,

1992, p.6).

No âmbito nacional, medidas foram adotadas para proteção das diversas atividades

agrícolas, não somente do café, o que era uma das principais críticas feitas pelos setores

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agrários menos privilegiados à política econômica da Primeira República. Não é pertinente

porém, considerar, que a Revolução de 1930 significava a realização do projeto ruralista.

Tampouco significou, imediatamente, a adoção de um projeto industrialista para o país.

Durante esse período de crise de hegemonia dos setores oligárquicos agro-

exportadores, embora nenhum outro grupo tenha se tornado hegemônico, as “mudanças postas

em prática teriam uma direção, que seria representada pelo descenso político do grupo

agroexportador e a ascensão gradual e simultânea dos interesses urbano-industriais” (DINIZ,

1997: p. 86). O conceito de “industrialização restringida” busca caracterizar a especificidade

do conjunto de medidas econômicas adotadas no pós-30, destinadas a implantar as bases do

capitalismo industrial no Brasil, dependendo, contudo, das divisas geradas pelo setor agrário-

exportador.

Para esse fim, o governo federal adotou medidas que preservaram a capacidade

produtiva do setor agrário exportador, mas, pela diferenciação das taxas de juros, penalizava a

exportação e transferia recursos da agricultura para a indústria (DINIZ, 1978 e 1997;

MENDONÇA, s/d). Portanto, é preciso notar as distinções entre o projeto ruralista e o

atendimento de parte de suas demandas por agências estatais. No curso do processo, sob uma

arena aberta de conflitos, o rural estava sendo instrumentalizado em benefício da

industrialização do país.

Durante a interventoria de Amaral Peixoto, foi maior o volume de medidas destinadas

à recuperação do setor produtivo agropastoril, ainda que se tenha buscado incentivar a

indústria.

Entre 1931 e 1937 ocorreu o crescimento da produção anual de alimentos como o

arroz, a batata, o feijão e a mandioca, para consumo no próprio estado, enquanto a Baixada

Fluminense destacou-se na produção de laranjas para exportação: “Em 1934, a laranja

representava o principal item da arrecadação estadual” (PANTOJA, 1992, p.15). A indústria

pastoril e do sal também eram relevantes na produção de riquezas do estado e foram

expressivos os esforços pela lavoura canavieira do norte fluminense. Contudo, houve um

declínio na receita proveniente das atividades exportadoras no Estado Novo, de 20,06% em

1937 para 4,24% em 1946 (Ibidem, p.55).

Outro estudo sobre as atividades produtivas do estado do Rio, ao longo do século XX,

também demonstra mudanças na participação das atividades agropastoris. A organização

territorial do espaço fluminense, nesse período, sofreu importantes transformações e inflexões

entre o rural e o urbano. A hegemonia do capital agrário e mercantil na organização do

espaço, expressiva no começo do século, seria redefinida em função da “metropolização” e da

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“desruralização” do estado, a partir da década de 1940 (ALENTEJANO, 2005, p.51-52),

ocorrendo a “perda de influência do capital agrário no Estado” (Ibidem, p.58).

No pós-1930, embora as atividades industriais “não tenham sido objeto de maior

atenção por parte do governo”, também apresentaram taxa de crescimento, sendo a indústria

têxtil a principal do ramo (PANTOJA, 1992, p.16). No entanto, o “surto de crescimento”,

entre 1930 e 1937, não foi suficiente para saldar a crise econômica e financeira do estado

(Idem).

Tratava-se, como ocorria na política nacional, de redefinir a correlação de forças entre

vários grupos de interesses, incorporando novos atores sem desalojar os antigos: “No caso do

Rio de Janeiro, esta diretriz permitiu à política econômica ceder às pressões ligadas à

redefinição das alianças políticas, fortemente arraigadas no setor agrário, embora não se tenha

verificado [...] uma opção exclusiva pela agricultura e a pecuária” (PANTOJA, 1992, p.46).

Ademais, o programa de revitalização apresentado pelo governo não repercutiu no incremento

anunciado, e houve, ainda, certas dificuldades que abateram o setor agrícola, porque a política

financeira, em última instância, acabava transferindo recursos do setor.

Devido à dificuldade financeira do estado, não foram destinados muitos recursos, na

forma de créditos, para o setor. Houve, contudo, o incentivo a obras de infraestrutura e a

criação de cooperativas agrícolas, e de alguns estabelecimentos de crédito, principalmente

destinados ao norte fluminense (Ibidem, p.48). As medidas adotadas pelo governo que

“viabilizaram um certo incremento” enfatizaram a “organização da produção e do consumo e,

em menor escala, da modernização dos métodos de produção” (Ibidem, p.49).

Através do lema de que o problema da agricultura “não é plantar, é organizar”

(PEIXOTO apud PANTOJA, 1992, p.52), ocorreu o fortalecimento do poder público neste

processo, por meio de reformas administrativas “que promoveram a criação de órgãos

voltados para a fiscalização, organização e controle do sistema produtivo, bem como de

intensificação do movimento cooperativista” (PANTOJA, 1992, p.50). A modernização dos

métodos de cultivo foi propagandeada pela criação do Serviço de Monocultura, em 1939, com

assistência material e técnica. Expressivo do vulto das medidas adotadas foi a criação, em

1944, de sete fazendas experimentais, em regiões rurais do estado, para assistir aos lavradores,

funcionando como laboratórios de pesquisa para o estudo de diferentes culturas e distribuição

de mudas e sementes (Ibidem, p.53-54).

Por essas concessões, o governo estabelecia os vínculos com os principais grupos

agrários, abrindo, pelos departamentos e secretarias criadas nas sucessivas reformas

administrativas, os canais de acesso e influência das suas demandas, mas que, dessa forma,

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centralizavam as ações e decisões no aparelho do estado: “atraindo para o seu seio os

principais grupos de produtores rurais, o governo arrefecia os conflitos e procedia à tarefa de

cooptação política” (PANTOJA, 1992, p.52).

Entre as medidas adotadas para a recuperação agrícola do estado, durante a

interventoria de Amaral Peixoto, Silvia Pantoja inclui a experiência das Escolas Típicas

Rurais. Em 1945 constavam 43 unidades distribuídas em 40 municípios (Ibidem, p.55).

No estado do Rio de Janeiro, no pós-1930, nas associações que o governo buscou tecer

entre agrarismo e instrução, a zona rural foi idealizada como espaço detentor da identidade

fluminense, lócus de formação do trabalhador necessário ao engrandecimento do estado e da

pátria:

No campo educacional/cultural, as iniciativas da interventoria seguiram orientações

que buscavam convergir com as articulações políticas e com as idéias econômicas

implementadas pelo interventor. O grande alvo era a região agropecuária do estado

(FERNANDES, 2009, p.130).

Para arregimentar bases de sustentação junto aos grupos políticos do estado, Amaral

Peixoto investiu na construção da imagem de defensor da história e das tradições do estado.

Seu projeto político foi difundido a partir das agências da sociedade política, principalmente

pelo Departamento de Educação, mas também junto a movimentos e associações culturais da

sociedade civil:

Tradição e modernidade também estão na base das ações implementadas no campo

educacional e cultural. Os projetos educacionais, as Missões Culturais, a criação do

Museu Antonio Parreiras e a edição de livros de autores e de temáticas fluminenses

foram algumas das iniciativas que afirmavam Amaral Peixoto como defensor das

tradições e da história fluminense e também como aquele capaz de reerguer o

estado, recuperando a Idade de Ouro local (Ibidem, p.232).

Diretrizes centralizadoras foram impressas às políticas educacionais, tornando o

ensino primário obrigação primordial do poder público estadual. Através de convênios

realizados entre o estado e os municípios, a interventoria procurou ampliar, orientar e

fiscalizar a rede escolar, na implementação do seu plano educacional. Em troca de dotações

orçamentárias para manter ou transferir seus estabelecimentos de ensino para o estado, os

municípios deveriam seguir orientações da interventoria em matéria educacional (Ibidem,

p.131). A ampliação da intervenção dos governos estaduais sobre os governos municipais não

aconteceu apenas em matéria de políticas educacionais.

No estado do Rio de Janeiro, a centralização administrativa foi realizada por

sucessivas reformas desde o Governo Provisório. Em 1932, os Conselhos Consultivos foram

criados para fiscalizar e verificar as administrações municipais; em 1936, foi promulgada a

Lei Orgânica dos Municípios (PANTOJA, 1992, p.17) e, em 1937, o Departamento das

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Municipalidades representava a “instância máxima decisória sobre todos os aspectos da

administração municipal” (PANTOJA, 1992, p.29).

Na reforma administrativa de Amaral Peixoto foi criada a Secretaria de Educação e

Saúde Pública, em 1938, com os Departamentos de Educação e de Saúde. Ruy Buarque de

Nazareth foi nomeado secretário, tendo como chefe de gabinete Rubens Falcão, que exerceu

esse cargo até ser conduzido à direção do Departamento de Educação, em 1942. A Secretaria

foi extinta em 1943, tornando-se o Departamento de Educação o órgão máximo de

regulamentação no estado, ligado ao interventor. Nesse cargo Falcão permaneceu até a saída

de Amaral Peixoto, no fim do Estado Novo (FERNANDES, 2009, p.130).

Houve orientações para padronização dos programas pedagógicos de cada série

primária e para a formação dos alunos das escolas normais do estado. Em 1938, foi

revitalizado o programa sobre as Escolas Típicas Rurais, criadas pelo regulamento de 1936, e

foi criada uma escola normal destinada à formação de professores para as escolas rurais

(Ibidem, p.132-133). Nas escolas urbanas foi incentivada a introdução de hortas e criação de

pequenos animais. Rui Aniceto conclui que, durante o Estado Novo, “o projeto educacional

formal do estado priorizou o ensino rural, seguindo as diretrizes políticas e econômicas da

administração estadual” (Ibidem, p.135).

No estado do Rio, o regulamento da instrução pública primária de 1936 (decreto 196-

A, de 24/12/1936) dedicou um capítulo sobre a criação de escolas típicas rurais. De acordo

com o texto normativo,376

essas escolas seriam “organizadas de acôrdo com a concepção do

ensino regional, assegurando a educação elementar básica dos educandos e sua iniciação

profissional agrícola, por métodos racionais”.377

Para essa finalidade, deveria ser adotada a

estrutura de “escolas-granjas”, e conforme as características locais deveriam comportar

jardim, pomar, horta, área de criação de animais, “criação do bicho da seda e instalações para

a prática de pequenas indústrias domésticas ou artes populares”.378

As primeiras escolas foram construídas em 1938, e deveriam servir de modelo para as

escolas isoladas de seu entorno. Os professores dessas escolas foram orientados a educar

nossos futuros homens do campo, sob todos os aspectos – técnico, moral, físico e

intelectual – incutindo-lhes o amor patriótico ao seu habitat ao mesmo tempo que

lhes dariam os conhecimentos indispensáveis ao trabalho do engrandecimento

nacional a que se dedicam, tirando-lhes, por outro lado, a concepção hereditária em

que vivem – de colonos dentro da sua própria terra.379

376

Decreto 196-A, 24/12/1936. 377

Apud FALCÃO, 1946, p.20. 378

Decreto 196-A, de 24/12/1936 Apud FALCÃO, 1946, p.22. 379

FALCÃO, 1946, p.23.

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Em Nova Iguaçu, a inauguração de uma Escola Típica Rural na localidade de Santa

Rita, no distrito-sede, em 1940, foi festivamente noticiada pelas páginas do Correio da

Lavoura, Jornal que tanto propugnava pela instrução agrícola no ensino primário.380

O

prefeito Ricardo Xavier da Silveira esteve na solenidade, acompanhado do secretário do

governo estadual, Heitor Gurgel.

Nos anos seguintes, outros atos eram expedidos para criação de escolas típicas rurais,

e de dispositivos auxiliares ao seu funcionamento.381

A intenção de que as escolas típicas disseminassem um novo modelo de educação

regional estava anunciada no regulamento expedido em 1941: “as escolas típicas rurais

constituirão, nas regiões a que servirem, institutos padrões, do qual deverão aproximar-se, na

orientação do ensino, todas as escolas primárias de zona rural, valendo-se de suas

experiências e resultados”.382

O aparato normativo, ao longo de 31 artigos, tratava da organização destas escolas,

dos conteúdos a serem ensinados, da formação e dos deveres dos docentes para elas

designados. A educação elementar básica e a iniciação profissional agrícola constituíam o

currículo das escolas-granjas, que seriam construídas atendendo às especificidades requeridas

pelo ensino agrícola. “Na motivação da aprendizagem deverá o professor tirar todo o proveito

dos assuntos relacionados com as atividades rurais”.383

O regulamento das Escolas Típicas Rurais enfatizava a importância do professor

instruído sobre o ensino regional e engajado no desempenho de suas funções, para a

realização da especificidade das escolas típicas:

O professor norteará o seu magistério no mais alto sentido social, para que a escola

se torne instrumento de civilização rural, atenta sempre, às necessidades da vida no

campo, cujo nível moral, econômico e intelectual procurará elevar. O amor à Gleba,

a nobreza dos trabalhos agrícolas, o sentimento de disciplina, o espírito de iniciativa,

380

INAUGURADAS NOVE ESCOLAS TÍPICAS RURAIS EM DIFERENTES MUNICÍPIOS

FLUMINENSES, NO DIA 13 DO CORRENTE, 19 mai 1940. 381

Decreto-lei nº 1.023 de 15/04/1941 “Distribuindo, pelos diversos municípios fluminenses, 35 escolas típicas

rurais das que se refere o decreto nº 607, de 09/11/1938, atribuindo-se a cada uma a denominação da localidade

em que foram instaladas”. Decreto-lei nº1. 537 de 15/12/1945. “Aprova as instruções referentes ao

funcionamento das Escolas Típicas Rurais.” Decreto-lei nº 1.585 de 28/01/1946. “Cria o cargo isolado de

secretário da Inspetoria do Ensino das Escolas Típicas Rurais, para provimento efetivo, independente de

concurso”. Decreto-lei nº 2.571 de 30/01/1946 “Aprovando tabela numérica anexa de extranumerários

mensalistas da Inspetoria das Escolas Típicas Rurais do Departamento de Educação.” Coleção de Leis do Estado

do Rio de Janeiro. APERJ. 382

Decreto nº 1.214 de 20 /12/1941 “Aprovando o regulamento das Escolas Típicas Rurais como neste se

insere”. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro, 1941. APERJ. 383

Idem.

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o ânimo de cooperação, os hábitos higiênicos constituirão, dentre outros, motivos de

especial atenção do professor na educação da criança.384

Um curso de atividades rurais com prova de seleção ao término, organizado pelo

Departamento de Educação no período de férias, seria ministrado aos docentes candidatos à

lotação nas escolas típicas. Poderia ocorrer ainda que os professores classificados prestassem

estágios junto aos órgãos técnicos das Secretarias de Agricultura e de Educação e Saúde. Os

docentes aprovados nesses estágios teriam preferência no preenchimento das vagas das

escolas típicas. Mas o governo teria, também, a prerrogativa de dispensar ou transferir dessas

escolas professores que revelassem não ter “aptidões para o ensino rural”.385

No Fundo Departamento de Educação há mapas da Escola Típica Rural em Santa Rita,

entre os meses de julho de 1940 e novembro de 1949. Nos mapas de julho e agosto de 1940

consta a seguinte informação no campo de frequência de alunos: “matrícula e organização da

escola”.386

Em setembro e no começo de outubro de 1940, também, não houve aulas por falta de

água na escola, e a professora esteve ausente um dia para visitar o Ministério da Agricultura e

“buscar ferramenta”. Nos primeiros meses de funcionamento, a escola foi visitada por Mário

Campos, técnico de educação, e pelo Chefe da inspetoria agrícola da 4ª região, Dr. Alberto

Goulart Wucherer. No ano seguinte, a professora registrava: “Esta escola tem sido

frequentemente visitada pelo Dr. José Ignacio Marinho, Agronomo chefe que vem tomando

particular interesse pelo seu desenvolvimento agrícola”.387

Os órgãos técnicos da Secretaria de Educação e Saúde e da Secretaria de Agricultura

atuariam conjuntamente nos projetos de construção dos edifícios e eram previstas, no

regulamento das escolas, a cooperação e assistência de técnicos da Secretaria de Agricultura

aos professores. Caberia à Secretaria de Agricultura, Indústria e Comércio organizar nas

escolas típicas “campos permanentes de experimentação” com hortos florestais e frutícolas.

Esses “campos” auxiliariam na solução de problemas agrícolas da região da escola, produção

de mudas, e nas atividades das escolas rurais. Todo o aparato desses campos, providos pela

Secretaria de Agricultura, seria compartilhado com as atividades rurais da escola.388

O modelo dos mapas da Escola Típica Rural em Santa Rita é igual aos mapas das

demais escolas. Os campos sobre o funcionamento de turnos, de classes e a distribuição dos

384

Decreto nº 1.214 de 20 /12/1941 “Aprovando o regulamento das Escolas Típicas Rurais como neste

se insere”. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro, 1941. APERJ. 385

Idem. 386

Fundo Departamento de Educação, 02734, APERJ. 387

Fundo Departamento de Educação, 02734, APERJ. Mapa de 10/1941. 388

Decreto nº 1.214 de 20 /12/1941 “Aprovando o regulamento das Escolas Típicas Rurais como neste

se insere”. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro, 1941. APERJ.

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171

alunos por série indica que a escola funcionava em um turno. Em outubro de 1940, 51 alunos

estavam matriculados distribuídos entre duas classes na 1ª série e 1 classe na 3ª série. No ano

seguinte, no mapa do mês de novembro, estava na mesma situação, com 53 alunos.

O ano letivo de 1942 foi iniciado com 25 alunos distribuídos em 3 classes na 1ª série.

Mas, ao longo do ano, houve crescimento de matrículas e foram formadas classes de 2ª e 3ª

séries, sempre com mais classes no primeiro ano do ensino primário. Em 1943 e 1944, os

mapas apresentavam 2 classes de 1ª série e 1 classe de 2ª série, reunindo de 45 a 60 alunos.

Entre 1945 e 1947, predominou o arranjo de 1 classe de 1ª, 2ª e 3ª séries, mas com mais

alunos na 1ª série. Em março de 1949, a escola matriculava 58 alunos, com 1 classe de 1ª, 2ª,

3ª e 4ª séries. Em junho, com 85 alunos, constavam 3 classes de 1ª; 1 classe de 2ª, 3ª, 4ª séries,

e, em agosto, funcionava no 1º turno, com 90 alunos, distribuídos entre 3 classes de 1ª ; 2

classes de 2ª, 3ª e 1 classe de 4ª série. O crescimento do alunado, em 1949, levou a professora

regente a assinalar, no mês de abril: “Continua a escola sem adjunta com grande prejuízo para

o ensino e sobrecarga para a diretora”. No mês seguinte, voltava a solicitar: “Torna-se

necessário a nomeação urgente de uma adjunta”.389

Outra Escola Típica Rural, “Carlos Souza Duarte”, foi localizada em Tinguá, no 3º

distrito do município, mas os mapas disponíveis são apenas de maio a novembro de 1947. Em

seu quadro docente, havia professoras municipais e professoras pagas pelo Ministério da

Agricultura. Neste caso, a criação da escola foi atribuição do governo estadual, mas contou

também com a colaboração da administração pública local e do ministério da Agricultura, na

manutenção do quadro docente. Em maio, a escola funcionava em um turno, com 38 alunos

entre a 1ª e a 2ª séries. No fim do ano, em outubro, os 48 alunos matriculados eram

distribuídos em 2 turnos, com 2 classes de 1ª e 1 classe de 2ª série no primeiro turno, e no

segundo turno com 2 classes de 1ª série.390

É pertinente comparar as informações colhidas nos mapas de frequência dessas escolas

com todo o aparato normativo que pretendia definir os modos de funcionamento das escolas

típicas rurais.

A organização dessas escolas típicas em Nova Iguaçu, na maneira como é apresentada

pelo mapa, é semelhante ao funcionamento de outras escolas primárias do município. Talvez

este seja um efeito causado pela estrutura do mapa de frequência. Cabe sinalizar, contudo, que

o regimento das escolas típicas previa uma organização diferenciada das demais escolas

primárias. Do mesmo modo, a criação de escolas “típicas” aponta que os outros modelos de

389

Fundo Departamento de Educação, 02734, APERJ. 390

Fundo Departamento de Educação, 02648, APERJ. Mapa de 10/1947.

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escola não atendiam às expectativas de ruralizar ou regionalizar o ensino. Buscava-se, a partir

das escolas típicas, irradiar um modelo para as escolas isoladas do entorno.

O curso das escolas típicas estava organizado em dois ciclos, o fundamental, de três

anos, e o pré-vocacional, de dois anos. No ciclo pré-vocacional seriam privilegiadas as

atividades rurais, que compreendiam agricultura, avicultura, apicultura, sericultura,

silvicultura e criação de animais de pequeno porte. As “pequenas indústrias e artes

domésticas” também poderiam ser incluídas no programa das atividades rurais.391

Segundo os mapas de frequência, entre 1940 e 1942, a Escola Típica Rural em Santa

Rita estava a cargo de uma professora. Entre 1943 e março de 1945, estavam lotados na

escola [Genuina] Manhães França (professora classe D); Alfredo França Vieira (não

diplomado); Cassia Manhães Marques (não diplomada). O ano letivo de 1946 ficou a cargo de

uma nova professora, e, nos anos seguintes, duas professoras levavam adiante o ensino. A

relação entre a disposição dos turnos, o número de alunos e o quadro docente, portanto,

mantinha semelhanças com a organização das escolas isoladas, ainda que a escola típica

houvesse sido pensada, no ordenamento legislativo, com uma estrutura mais relevante.

A Escola Típica Rural em Santa Rita enfrentava sério problema comum a escolas do

município, que era a enfermidade dos alunos, o que concorria, segundo os professores, para a

baixa registrada na frequência. A professora substituta Laís Nola informava, em outubro de

1941: “Por motivo de se acharem acometidos de coqueluche, varíola, sarampo e febre

palustre, muitos alunos deixaram de comparecer as aulas durante este mês. Essas crianças

estão em tratamento no Posto de Saúde sob os cuidados do Dr. Manhães Filho.” Naquele mês,

o Dr. Vasco Barcelos, Diretor da Casa de Saúde de Nova Iguaçu, visitou a escola.

No mês seguinte, uma junta de seis “médicos sanitaristas” esteve na escola, deixando

registrado, segundo a professora, “um expressivo termo de [visita]”.392

Em 1942, o “médico sanitário” Dr. José Manhães Filho visitou a escola entre março e

junho, chegando a realizar quatro visitas mensais em abril e maio. Em junho, o prefeito

Ricardo Xavier da Silveira compareceu à escola, acompanhado de “muitos outros doutores

(médicos)”. O parecer do termo de visita do Dr. José Manhães, foi transcrito pela professora:

No curso de minhas atribuições visitei a Escola Típica Rural de Santa Rita e

examin[an]do os alunos presentes verifiquei 8 casos de malaria (exame clinico), 1 de

verminosas, 2 de anemia, 1 de amigdalite cronica e [1] de influensa e providenciei

391

Decreto nº 1.214 de 20 /12/1941 “Aprovando o regulamento das Escolas Típicas Rurais como neste

se insere”. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro, 1941. APERJ. 392

Fundo Departamento de Educação, 02734, APERJ. Mapa de 11/1941. Os médicos: Dr. Carlos Sá,

Samuel Libanio, Manoel J. Ferreira Adelino de Mendonça, Marcolino [Cardosos] Vasco Barcelos,

Oswaldo Costa, José Manhães.

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afim de que o(sic) Posto de Higiene de Santa Rita fosse enviado o medicamento

necessario. Santa Rita, 26 -3-042.

São 13 casos de doenças para 25 alunos matriculados. Na continuidade da

documentação, ainda que a escola contasse com o apoio da intervenção de médicos e do posto

de saúde da localidade, novas anotações apontavam questões estruturais que assolavam aquela

localidade com surtos de doenças: “Continua baixa a freqüência em virtude da maior parte

dos alunos ainda estar convalescentes das molestias citadas nos mapas anteriores”;393

maio de

1944:“A freqüência continua baixa em virtude de se encontrarem a maior parte dos alunos

atacados de impaludismo e gripe forte e outros trabalhando”; maio de 1947: “Dois meninos

faleceram em conseqüência do surto epidêmico de malária reinante nas imediações da escola

dado o mau estado das valas escoadouras de água e três meninas se acham acamadas bem

como o zelador da E.T.R e seu filho”; novembro de 1949: “2 alunos afastados

temporariamente por conselho médico”.

Naquele ano de 1942, a escola foi visitada em setembro pelo diretor do Departamento

de Educação – Dr. Rubens Falcão, e no mês seguinte por Alzira Vargas do Amaral Peixoto,

esposa do interventor, acompanhada do Secretário de Educação, Dr. Rui Buarque e “outras

autoridades”, quando encontraram 36 alunos presentes, do total de 70 matriculados.394

Para a educação “social e cívica” dos alunos o regulamento recomendava o

aproveitamento da cultura local e a instalação, na escola, do Clube Agrícola, da Cooperativa

Escolar, do Pelotão de Saúde, do Círculo de Pais e Professores e da Biblioteca Escolar.395

Na Escola Típica Rural em Santa Rita foi instalado um Clube Agrícola, com

denominação “Alberto Torres”. Essas organizações eram patrocinadas pelo Serviço de

Informação Agrícola do Ministério da Agricultura, que, em 1941, incentivava a disseminação

dos mesmos pela elaboração de um estatuto e a distribuição de “sementes, ovos, casais de

animais, estacas de amoreiras, mudas de essências florestais, árvores de sombra e frutíferas,

material agrário, etc.”.396

O aniversário da instituição do Estado Nacional, a Proclamação da República e o dia

da Bandeira foram comemorados em novembro de 1941 “com vivo entusiasmo” na Escola

Típica Rural em Santa Rita. As “festividades” foram promovidas pelo Clube Agrícola Alberto

393

Fundo Departamento de Educação, 02734, APERJ. Mapa de 08/1943. 394

Ibidem. Mapa de 09/1942. 395

Decreto nº 1.214 de 20 /12/1941 “Aprovando o regulamento das Escolas Típicas Rurais como neste

se insere”. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro, 1941. APERJ. 396

FALCÃO, 1946, p.63.

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174

Torres, “que conseguiu atrair a presença de varios oradores que emprestaram expressivo

brilhantismo pelas orações produzidas cheias de civismo e ardor patriótico”.397

No estado do Rio de Janeiro, os investimentos em Clubes Agrícolas foram maiores nas

escolas típicas rurais, em colaboração entre órgãos do governo estadual e do Ministério da

Agricultura: “Apesar de terem a mesma orientação que os demais, os clubes das ‘típicas’

recebem material em quantidade maior e mais variada e o aproveitam em área de diversos

hectares, enquanto os das outras unidades só podem fazê-lo em espaço quase nunca superior a

100 ms2”.398

Na documentação do Fundo Departamento de Educação há menção à inauguração de

clubes agrícolas em São João de Meriti, na escola isolada nº16399

e na escola isolada nº 18.400

Ambas escolas funcionavam na rua da Matriz, na área distrital de São João, e os Clubes foram

inaugurados na comemoração do aniversário natalício do presidente Vargas, em 19 de abril de

1943. Em 1944, no estado, foram expedidas instruções para o funcionamento de clubes

agrícolas em grupos escolares.401

A disseminação do ideário ruralista em políticas de governo ocorria, também, no

mesmo período, em outros estados (Cf. LIMA, 2009; NERY; STANISLAVSKI, 2001;

PEREIRA, 2011; WERLE, 2011; 2010; 2099; 2007). Por exemplo, foi localizada em Goiás,

no pós-1930, a introdução das atividades educacionais defendidas pelo movimento ruralista,

como os debates pela criação de um patronato agrícola, em 1935. Entre os fomentadores das

iniciativas, estava a professora Amália Hermano Teixeira, que, formada pela Escola Normal

Oficial, representou o estado de Goiás, em um curso de Extensão Ruralista do Ministério da

Educação, realizado na Universidade do Brasil, na capital federal, em 1935 (PINTO, 2009,

p.295). A partir de 1936, a educadora participou da organização de eventos da fundação de

clubes agrícolas em diversos municípios do estado. Os clubes agrícolas, sendo um deles

fundado na Escola Normal Oficial, promoviam sessões solenes, eventos como a semana da

árvore, semana ruralista etc., ocupando, também, o espaço urbano, como ocorria em Goiânia.

A partir de 1937, com a política federal da Marcha para o Oeste, houve “uma intensificação

da diretriz ruralista na educação em Goiás” (Ibidem, p.294). Em 1938, 21 clubes agrícolas

funcionavam no estado (HERMANO apud PINTO, 2009, p.295).

397

Fundo Departamento de Educação, 02734, APERJ. Mapa de 11/1941. 398

FALCÃO, 1946, p.64. 399

Fundo Departamento de Educação, 02741, APERJ. 400

Fundo Departamento de Educação, 02742, APERJ. 401

FALCÃO, 1946, p.64.

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Naquele estado, alguns intelectuais, como a educadora Amália Hermano, classificaram

os clubes agrícolas como integrantes do modelo da escola nova, posto que a valorização do

ensino rural, como era recomendada, fugia do ensino tradicional, preconizando a introdução

de modos práticos de educar e aprender, com a criação de animais, hortas, pomares. Desse

modo, segundo Rubia-Mar, em Goiás ocorreram “empréstimos e apropriações” entre

escolanovismo e ruralismo, compondo uma mesma orientação pedagógica: “Penso, ainda

mais, que tal aproximação não ficou restrita à educação rural, mas incrementou também a

organização de grupos escolares e escolas normais das áreas urbanas, particularmente, nas

escolas públicas e privadas da cidade-capital” (PINTO, 2009, p.298).

Essa especificidade do “ruralismo pedagógico” em Goiás, como situa Rubia-Mar, é

pertinente para lembrar que o movimento ruralista, construído na Primeira República, vai

experimentando apropriações, adere e rejeita outras diretrizes e debates educacionais. Afinal,

são sujeitos, em diferentes contextos, que tornam os projetos em ação. No Rio de Janeiro, o

ruralismo permeou, nas políticas educacionais, o projeto das escolas típicas, dos clubes

agrícolas e, ainda como será tratado adiante, as “missões culturais” durante o Estado Novo.

Adonia Prado (1995) analisa a presença do “ruralismo pedagógico” no “pensamento

educacional do Estado Novo”, ressaltando como a política nacional de

interiorização/colonização do país, representada pelo programa da “Marcha para o Oeste”,

criado em 1938, atrelou-se a debates sobre a educação das populações do interior do país.

Houve confluência entre a construção de um projeto de nacionalidade que identificava nas

populações do sertão e do interior do país, em oposição aos citadinos do litoral, os “genuínos”

aspectos da brasilidade. Esta autora ressalta, ainda, como o discurso sobre a educação destas

populações era articulado a preocupações de ordem demográfica, de segurança nacional, e,

novamente, da vocação agrícola do país. Representações do campo como reduto da pureza,

em oposição às cidades, foram também acionadas (Ibidem, p.8).

No cenário nacional, a confluência entre nacionalismo, território e “ruralismo

pedagógico” é notável, ainda, na simbologia e nos conteúdos promovidos pela realização do

VIII Congresso Brasileiro de Educação, em 1942 (PRADO, 1995; 2001). Esse Congresso, que

foi o primeiro durante o Estado Novo, serviu como evento de “batismo” da fundação da

cidade de Goiânia. A cidade, criada no centro do território nacional, representou a confluência

dos esforços de grupos dirigentes em Goiás para se inserirem, valorativamente, no debate da

questão nacional, vigente no período. A nova capital do estado, feita ícone da modernidade no

sertão do país, representava a negação do sertão como lugar do atraso, sua superação (PINTO,

2009). O Congresso Brasileiro de Educação foi o elo entre o projeto de nação defendido pelo

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governo federal e projeção buscada pelos idealizadores de Goiânia para sinalizar o processo

civilizatório da região.

O tema geral do Congresso foi “A educação primária fundamental – objetivos e

organização: a) nas pequenas cidades e vilas do interior; b) na zona rural comum; c) nas zonas

rurais de imigração; d) nas zonas do alto sertão”. Entre os “temas especiais” e todos os

trabalhos e relatórios apresentados, é predominante o assunto do ensino rural. As “‘colônias-

escolas’ como recurso de colonização intensiva”; as “Missões culturais” e “o professor

primário das zonas rurais: formação, aperfeiçoamento, remuneração e assistência” integravam

os nove “temas especiais” do evento. Dos 32 trabalhos sobre o tema principal, nove citam o

termo “rural” no título; três trabalhos citam “zonas do alto sertão”, um trabalho cita no título o

“ensino agrícola” e outros dois contam no título com a expressão “zonas rurais”.402

Segundo Adonia Prado (1995, p.12), ainda que não houvesse uma orientação única

sobre o “ruralismo pedagógico”, alguns pontos em comum despontavam nas conclusões do

Congresso. A autora destaca, em sua análise, uma presença marcante do consenso sobre

vocação agrícola do país, o que descortinava a importância de preparar, via escola, o homem

rural para servir adequadamente ao seu meio, através do trabalho no campo (1995, p. 13).

Contudo, era preciso valorizar o “homem rural”, “fazendo do Jeca-Tatu, essa indiferença

acocorada, um elemento enérgico, ativo, no enriquecimento nacional” (ABE apud PRADO,

p,14).

Em função da especificidade prevista para a escola rural, havia propostas de limitação

dos conteúdos das escolas rurais, e a reorientação dos mesmos para a aprendizagem dos

recursos de trabalho, de caráter científico (PRADO, 1995, p.14). Depois de devidamente

escolarizado, o sertanejo teria condições, por meio do seu trabalho, de se fixar onde vivia,

contribuindo para o fortalecimento da pátria. Deste modo, o ensino rural ocupava função

importante no projeto de “integração nacional”, de ocupação do interior do país e de

recuperação das atividades agrícolas:

A preocupação com o interior do Brasil apresentava um duplo caráter: de um lado,

era econômica e tinha como objetivo a expansão de mercados e a criação destes em

áreas onde a presença do capitalismo se dava de forma descompassada em relação

aos centros urbanos. Em outras palavras, tratava-se de atualizar o capitalismo no

meio rural, de trazê-lo aos anos 30/40. Concomitante, o projeto político do Estado

não poderia abrir mão da incorporação das áreas rurais ao seu campo de influência e

de controle, especialmente em período de guerra (Ibidem, p.18).

402

ANAIS DO OITAVO CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO, Serviço Gráfico do IBGE,

Rio de Janeiro, 1944, p. VI-VII.

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Para tanto, contudo, de pouco valia a simples existência de escolas em zonas rurais.

Parte da argumentação dos diversos trabalhos apresentados no Congresso consistia em

desqualificar a escola rural existente, porque não era organicamente funcional à formação

pretendida ao homem do campo. Chegava-se mesmo a destacar os prejuízos que causava,

quando promovia a valorização da vida urbana, estimulando o êxodo para as grandes capitais

(PRADO, 1995, p.20). Na continuidade da construção do argumento da insuficiência da

escola rural existente, também se tingia negativamente as imagens sobre o homem do interior,

o sertanejo, o camponês. Reverberavam, nessas teses, a matriz da doença, da ignorância, da

pobreza, da incapacidade e da falta de civilidade. Caberia à escola formar em novos moldes a

mentalidade do homem do interior (Idem).

Os temas presentes nos Anais do VIII Congresso Brasileiro de Educação, além do seu

cenário de realização, apresentam, certamente, a amplitude que o tema da educação rural

assumiu no Estado Novo, nos debates nacionais sobre a educação. Assim como outros temas

em educação, a escolarização foi instrumentalizada como ingrediente aglutinador na

nacionalidade, da formação da nação. Rubens Falcão cita, entre suas tarefas no Departamento

de Educação, a participação neste Congresso, no qual apresentou filmes e fotografias das

atividades das Escolas Típicas Rurais do estado do Rio de Janeiro.403

Numa comparação com os relatórios dos diretores da instrução de fins da década de

vinte, é interessante notar que Rubens Falcão, ao publicar um livro no qual relata o que julgou

ser de maior relevância em realizações em matéria educacional no período em que dirigiu o

Departamento de Educação (1942-1945), utilizava-se de citações a eventos, trabalhos de sua

autoria etc., para apresentar e legitimar os rumos impressos à política educacional. Rubens

Falcão iniciou seu livro pelo capítulo “Educação rural”. Do VIII Congresso Brasileiro de

Educação, realizado em Goiânia, no ano 1942, pela ABE, retomava as conclusões do relator

Sud Mennucci404

sobre a formação dos professores das escolas rurais. Ao tomar parte no

debate, Rubens Falcão compartilhava de certa imagem disseminada da população rural e da

função da instrução:

À falta de educação conveniente, o homem rural não se desenvolve nem se atreve a

trabalhar a terra de modo proveitoso. A ignorância em que vive o converteu, nas

zonas principalmente do sertão, em um indivíduo supersticioso e cheio de abusões,

com o círculo mental limitadíssimo, quando não se torna promotor de desordens ou

adepto do cangaceirismo.405

403

FALCÃO, 1946, p.23. 404

Sud Mennucci ocupou cargos na administração do ensino em São Paulo, foi jornalista e escritor e

destinou especial atenção ao tema das escolas normais rurais e da ruralização do ensino. (DICIONÁRIO

de Educadores no Brasil, 2002, pp.962-963). 405

FALCÃO, 1946, p.19.

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O diagnóstico que promovia um enquadramento que desqualificava a população rural,

também era argumentado com base em importantes intelectuais imersos nestes temas, e

sustentava a necessidade de intervenção pelo poder público:

Segundo Artur Neiva e Belisário Pena, que viajaram a nossa hinterlândia, domina

imensa extensão desta uma população decadente de papudos e cretinos. Só, pois,

uma ação educativa, enérgica, poderá salvar êsses nossos patrícios. E para isto é

preciso, preliminarmente, que cada região se dê o adequado tipo de escola.406

A situação de abandono e de atraso da população justificava a necessidade de oferecer

uma educação diferenciada entre citadinos e camponeses, porque a “escola universal” só

agravava a crise de urbanismo que comprometia a lavoura. Nessa confrontação entre rural e

urbano, as funções da cidade e do campo são tensionadas. A insistência em caracterizar o

“urbanismo” com fenômeno de desordem, que “comprometia a lavoura” insinua a perspectiva

de controle da distribuição de mão-de-obra em ambos espaços.

Dentro do projeto ruralista, os setores agrários defenderam a “vocação agrícola” do

país a partir da construção de um discurso sobre o atraso da agricultura desde o pós-abolição.

Na defesa da agricultura enquanto principal atividade econômica do país (e não de um setor),

buscavam atrelar o campo, enquanto território, com a agricultura, enquanto emprego do

território. Porém, em função da “crise”, aquele território rural, a atividade agrícola e os

sujeitos nela inseridos, deveriam sofrer alterações.

Na compreensão do aprofundamento da ruralização do ensino, no pós-1930, não se

pode considerar a necessidade de contenção do êxodo rural e da Marcha para o Oeste como

únicas justificativas dos rumos impressos às políticas nacionais para o ensino rural. Essas

políticas aprofundaram a intenção de “ruralização do ensino” porque portavam, também,

projetos de “disseminar, através do ensino agrícola elementar e médio, códigos de

comportamento e de percepção” que assegurassem a conformação da força de trabalho e de

seu consenso político no reconhecimento de uma liderança nacional, em detrimento do poder

das oligarquias locais, do localismo político (MENDONÇA, 2006, p.142).

As propostas de intervenção sobre a conformação das populações rurais do estado a

um determinado projeto de sociedade, desde as atividades econômicas até o comportamento

público e privado das pessoas, a partir de um convencimento obtido pela educação dessas

pessoas (em sentido amplo) foram ensaiadas ainda, durante o Estado Novo, pela experiência

das “missões culturais”.

As missões culturais consistiam em caravanas de “missionários” que percorreram o

“interior” do estado do Rio, “principalmente a zona rural”. A partir de 1944, a comissão

406

FALCÃO, 1946, p.19.

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formada de técnicos de educação, jornalista, professoras (L.B. A); professora de educação

física; dois técnicos de caça e pesca; uma enfermeira; um fotógrafo e técnico de som; dois

operadores cinematográficos; um contínuo; um médico e uma médica percorreu os municípios

de Itaguaí, Mangaratiba, Angra do Reis, Parati; Maricá, Saquarema, Araruama, São Pedro da

Aldeia, Cabo Frio, Campos e São João da Barra407

.

As caravanas de “missionários” organizavam palestras e conversas junto à população,

utilizando recursos de rádio e cinema, para tratar de assuntos previstos no roteiro elaborado

pelo Departamento de Educação. A vida escolar, saúde; agricultura e zootecnia; economia

doméstica; educação social e política eram os grandes vértices que comportavam os assuntos

a serem disseminados junto à população do interior.

Sobre a vida escolar, cabia ressaltar o interesse pela organização dos clubes agrícolas,

dos pelotões de saúde, das associações de pais e professores, das caixas escolares; a

importância da escola “como órgão renovador de técnicas de vida”.408

Sobre saúde, tratava-se da profilaxia do corpo e das habitações contra epidemias; os

hábitos de alimentação. Sob o tema da agricultura, havia um extenso programa acerca das

“necessidades e vantagens da organização da produção”, a cooperação, a introdução de novas

técnicas – “modernos recursos agronômicos”; razões contra a monocultura, o combate a

pragas na lavoura, sugestão de atividades agropecuárias conforme a região....

Hábitos cotidianos como o uso da horta, o aproveitamento de tecidos em costura, a

produção de sabão para a lavagem de roupa eram assuntos da economia doméstica. No campo

da educação social e política previa-se a abordagem do tema do “ambiente moral e material

do lar, que é a base de prosperidade social”,409

o registro civil, a importância do país na guerra

e sua posição nas Américas e no mundo, a constituição, a construção do direito social

brasileiro; “aspectos da vida fluminense”.

Esse amplo programa comportava a intenção de intervir nos modos de viver da

população rural, desde os cuidados com o corpo e a casa, atingindo os modos de trabalhar e

do que e de como produzir. Ademais, interessava preencher esse corpo e ambiente de valores

éticos, morais e políticos em consonância com um projeto de cidadania.

Contudo, a documentação das Escolas Típicas Rurais em Nova Iguaçu, ainda que

sugira os investimentos políticos depositados na escola típica rural, pelas visitas constantes de

autoridades estaduais e municipais, de médicos sanitaristas, de técnicos da educação e

407

FALCÃO, 1946, p.130. 408

Ibidem, p.128. 409

Ibidem, p.129.

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inspetores do serviço estadual, do próprio Diretor do Departamento de Educação, também

descortina as dificuldades de institucionalização do projeto.

Escolarizar o rural: o tempo do trabalho e o lugar das letras

Se a Escola Típica Rural em Santa Rita, em 1940, havia retardado o começo das aulas

por falta d’água, a professora reclamava, em julho de 1949: “Ainda não está normalizada a

questão da água, na escola, nem foram atendidas, até a presente data, as necessidades

indispensáveis tais como: fogão, instalação sanitária e luz”.

A baixa de frequência devido a doenças nos alunos procurava ser combatida pela ação

sanitária dos médicos, assim como pela educação profilática divulgada pelos Pelotões de

Saúde. A escola era frequentemente visitada pela esposa do prefeito, Sra. America Xavier da

Silveira “patrona [ilegível] [de] um dos Pelotões da Saúde que [i] vem contribuindo pelo

engrandecimento dessa escola”.410

Outra circunstância registrada nos mapas de frequência é muito expressiva das

defasagens entre projetos e realizações e das contradições que se evidenciam nas tentativas de

escolarizar o rural para alavancar a produção agrícola. Ocorria que o próprio trabalho dos

alunos, nas lavouras, com os pais, obstaculizava a frequência à escola. Concomitantemente,

na Escola Típica Rural em Santa Rita, um dos pilares do projeto ruralista era recorrentemente

dispensado pelos alunos e familiares, qual seja, a educação escolar específica para o trabalho

agrícola.

A primeira dificuldade enfrentada, comum a outras escolas da região, era a diminuição

na frequência dos alunos no período de trabalhos agrícolas. Ainda em 1940, a escola perdia 12

alunos, “que não compareceram à escola por estarem apanhando laranjas; só virão frequental-

a no proximo ano vindouro”. No campo de movimentação mensal, onde são assinalados os 12

alunos eliminados, nota-se que são 4 meninos e 8 meninas, sendo 2 alunos menores de 8 anos,

5 alunos entre 8 e 11 anos e outros 5 alunos maiores de 11 anos.411

Em Nova Iguaçu, a colheita das laranjas afastava das escolas crianças e adultos. Cabe

ressaltar a permanência desse problema nas escolas típicas rurais, embora o regimento dessas

escolas, no interesse de conciliar as lidas rurais e o ensino, concedia, sob supervisão do

Departamento de Educação, bastante flexibilidade à organização da duração do ano letivo e

dos horários e dias de funcionamento da escola típica rural.412

410

Fundo Departamento de Educação, 02734, APERJ. Mapa de 11/1941. 411

Ibidem. Mapa de 10/1940. 412

Decreto nº 1.214 de 20 /12/1941 “Aprovando o regulamento das Escolas Típicas Rurais como neste

se insere”. Coleção de Leis do Estado do Rio de Janeiro, 1941. APERJ.

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181

Na Escola Típica Rural em Santa Rita, a baixa na frequência também sinalizava outros

rebatimentos entre a função social da escola e as relações sociais de trabalho. Em outubro de

1943, a professora registrava no campo de frequência, nos mesmos dias de cada semana: “não

compareceram”. Os alunos não frequentavam a escola na segunda-feira, quando eram

oferecidas aulas de Educação Física, e nos sábados, quando havia catecismo e trabalhos

manuais. A professora oferecia a explicação: “só querem os pais que os filhos aprendam

somente leitura, escrita e conta, conforme suas palavras”.413

No ano seguinte, em março e abril, a professora voltava a informar: “O não

comparecimento dos alunos às 2as. e aos sábados é motivado por ser estes dias: 2as trabalhos

manuais e sábados, trabalho no campo”. Em maio alguns alunos estavam doentes de “gripe

forte e outros trabalhando”, o que justificava a ausência de aulas.

Em julho de 1944, no campo frequência era registrado, nas segundas e sábados: “não

houve minimo”. O trabalho dos alunos era o principal motivo de faltas:

Sendo época de capina nos laranjais os alunos têm faltado para satisfazer (sic)

trabalhar na mesma e continuarão faltando si não houver uma providência pois

depois virá a colheita e continuará a frequência baixíssima. Apezar de não haver

numero foram dadas aulas aos que compareceram (freq. de 8 a 12 alunos). A

professora já falou aos pais e a resposta é a mesma de todos: ‘faltam porque

precisam trabalhar’.414

Desse modo, mesmo sendo uma escola numa localidade rural, pretensamente atenta à

especificidade regional, não se buscou adequar o funcionamento ao período de trabalho nas

lavouras, apesar desta possibilidade ter sido prevista do Regimento. A professora é

contundente em criticar a decisão dos pais de empregar os filhos nos laranjais e afastá-los da

escola. Ademais, os pais não se interessavam pelo ensino agrícola ofertado da escola, e

preferiam que os alunos frequentassem as aulas de ler, escrever e contar.

As demandas das famílias eram da ordem do letramento escolar, e resistiam à ordem

de saberes ensinados em outros locais como catecismo e trabalhos manuais. As famílias

resistiam à escolarização do saber sobre o “trabalho no campo”, um saber que julgavam que

as crianças já detinham e poucas expectativas apresentava em termos de ascensão social ou

funcional no mundo do trabalho.

Nos meses seguintes, a situação perdurava. Em agosto, no campo frequência, observa-

se a anotação “não houve minimo”. No mapa de adjuntos consta: “A maior parte dos alunos

está na capina dos laranjais e depois irão para a colheita das laranjas, porém outros faltam por

negligência. Apezar de não haver número foram dadas aulas aos que compareceram em

413

Fundo Departamento de Educação, 02734, APERJ. Mapa de 10/1943. 414

Idem. Mapa de 07/1944.

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número de 10, 11 e 12”, estando matriculados 50 alunos. Em setembro e outubro, a professora

repetia o texto: “Durante todo êste mês a escola funcionou sem número. Os motivos são os

mesmos dos mêses anteriores”.415

As escolas típicas rurais são exemplares da proporção, da extensão da intervenção que

se buscava realizar sobre as populações rurais e sobre seus modos de vida e trabalho a partir

dos processos de escolarização. O que estava em jogo, nos processos de escolarização do rural

(território e população) era “ato ou efeito de tornar escolar, ou seja, o processo de

submetimento de pessoas, conhecimentos, sensibilidades e valores aos imperativos escolares”

(FARIA FILHO; BERTUCCI, 2009, p.15).

Pela escolarização do trabalho agrícola, sob os moldes de um discurso modernizador

dos saberes e práticas, desqualificava-se, esvaziava-se o saber daquelas populações,

menosprezado como arcaico, e buscava-se disseminar um novo modo de organização social

do campo. Contudo, por questões de ordem material e do modo como aquelas famílias usaram

a escola, também é possível notar o campo de escolhas e apropriações que as famílias faziam

das escolas.

É pertinente, portanto, perceber como a escolarização constitui, integra estes

investimentos para a transformação, no caso aqui observado, das populações rurais

trabalhadoras. Mas essa intenção de “tornar escolar” tenciona o social e é tensionada pelas

formas de socialização pré-existentes, porque apresenta novas formas de organização do

trabalho e mesmo das relações familiares (FARIA FILHO; SANTOS, 2006, p.165).

A escolarização da infância, sobretudo das populações pobres, campesinas, vai

problematizar e condenar o trabalho infantil, que, nos modos de socialização daquelas

famílias, compõe as relações familiares e de sobrevivência. Por vezes, mais do que

necessidade, o trabalho das crianças é próprio daquela socialização, é a experiência de

constituição do ser humano:

É por meio da experiência do trabalho – vivida como lazer e labor – que se dão as

trocas/aprendizagens, fundamentais para a incorporação das novas gerações no

mundo adulto. Desse modo, o aprendizado de saberes, valores e sensibilidades

necessários à vida social se dá na experiência mesma do trabalho e do convívio

social. Ou seja, apesar de, na maioria das vezes, não serem codificados, os processos

de ensino/aprendizagem no/do mundo do trabalho são realizados segundo normas

tacitamente aceitas, às quais reafirmam e legitimam as hierarquias da sociedade

como um todo (Ibidem, p.154).

A escolarização irá, portanto, responder a um “importante e definitivo questionamento

às formas de socialização centradas no trabalho e na vida familiar” (Idem). Trata-se de um

415

Fundo Departamento de Educação, 02734, APERJ.

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embate de modos antagônicos de socialização, posto que as famílias, os alunos, são também

constituintes desse processo e atuam de modos distintos, criando, por vezes, recuos e

impasses.

Como foi visto no capítulo 2, o processo de institucionalização da escola primária

mobilizou debates e ações para assegurar, além da criação de escolas, a matrícula e frequência

dos alunos. Os representantes do governo estadual buscavam verificar a frequência de alunos

e professores às escolas, inibir interdições à duração do ano letivo e à presença dos docentes.

Os problemas de frequência nas escolas localizadas em zonas rurais eram visto sob certas

especificidades.

Nas mensagens presidenciais e nos relatórios sobre a Instrução Pública, eram

mencionados os problemas que dificultavam a permanência dos alunos nas escolas. Em 1927,

o presidente de Estado Feliciano Sodré identificava como entraves à frequência regular de

alunos “nas zonas rurais, as chuvas abundantes depois de setembro e a época das colheitas,

em que os pais lavradores reclamam o auxílio dos filhos no trabalho da lavoura, retirando-os

da escola”.416

Na mesma ocasião, Feliciano Sodré afirmava a importância do ensino primário e a

necessidade de intensificar a oferta e a qualidade das escolas para enfrentar o analfabetismo,

“levando-se sobretudo, às zonas rurais, aos centros de civilização mais rudimentar, porém, a

maior reserva de energias fecundas, a benéfica atuação da Escola para melhorar as condições

sociais de vida de nossa gente”.417

A importância conferida à escolarização das zonas rurais

justificava-se pelo seguinte argumento: “É no interior que avulta a massa anônima e

analfabeta, a população rural a quem se recusam educação sanitária e escolas primárias”.418

O problema da frequência, na forma como é colocado pelo presidente Feliciano Sodré,

estava presente no relatório do Diretor da Instrução Pública (enviado ao presidente). Em

função da concomitância entre o horário escolar e o emprego dos alunos, pelos pais, em

atividades agrícolas, José Duarte defendia a dualidade de programas entre escolas urbanas e

rurais, sugerindo a adoção de programa reduzido e a adequação dos horários devido à

especificidade do trabalho agrícola:

O operario agricola, o homem do campo, reclama o auxilio do filho, logo que elle

possa prestar-lhe serviços, sobretudo nas epocas de colheitas e plantações. O horario

escolar corresponde agora ao periodo do trabalho agricola e como consequencia o

416

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de

Janeiro no dia 1º de agosto de 1927 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de

Janeiro,1927.pág.93-94. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 417

Ibidem, pág.88. 418

Idem.

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alumno se afasta da escola, para attender ao que lhe parece se afigura ao seu

progenitor ou parente necessidade maior. O regime da obrigatoriedade ainda nada

poderá no assumpto, decisivamente, porque não temos lei reguladora do trabalho

dos menores, nem as instituições de assistência escolar tem merecido o conveniente

desenvolvimento de modo a ir ao encontro do alumno pobre em situações taes lhe

proporcionando auxílios que o attraiam à escola e nellas os mantenham.419

No ano seguinte, o assunto voltava ao horizonte do diretor, que repetia a mesma

explicação para a oscilação da frequência de alunos em escolas de zonas rurais, a partir do

diagnóstico que emergia da análise das taxas de frequência escolar. Para solução do problema,

ponderava que mais satisfatórios seriam os resultados se as escolas rurais “que são a maioria,

servindo a zonas agrícolas, teem seu horario inconvenientemente estabelecido, identico ao da

escola de cidade ou Villa. Ora, o labor agricola reclama, diariamente, que os filhos prestem

seu auxilio aos Paes afim de assegurar-lhes melhores salários”.420

O sucessor de Feliciano Sodré, Manuel de Mattos Duarte Silva, destacava, na reforma

do ensino de 1929, a permissão para adequação do horário escolar conforme especificidades

climáticas e do trabalho na lavoura (colheitas, semeadura etc.) como meio de adaptar a escola

ao meio a que servia: “Essa maleabilidade assegura um horario mais racional e uma maior

porcentagem de assiduidade dos discentes”.421

Nesse movimento de enraizamento da escola na vida social, é possível notar, também,

que se buscava adaptar o meio à escola. Na mesma mensagem em que Manuel de Mattos

Duarte Silva informava das adaptações dos horários das escolas em zonas rurais, era

comemorada a inserção, nos grupos escolares, do “Ensino prático profissional e agrícola”. A

nova reforma do ensino previa ainda, na disseminação da educação agrícola, a implantação de

campos de experiência agrícola junto às escolas públicas e a criação de cadeira de Agricultura

e Economia Rural na escola normal.422

Manuel Duarte discorria sobre a importância da

preparação de professores para o ensino agrícola, da importância de evitar o êxodo rural e de

adaptar a educação aos interesses do meio do aluno.423

419

Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do

Interior e Justiça pelo Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro,

Tipografia do Jornal do Comércio, 1927, pág.261. Biblioteca Estadual de Niterói. 420

Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director

da Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1928. Niterói,

Officinas Graphicas da Escola Profissional, 1928, pág.44. 421

Estado do Rio de Janeiro. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no

dia 1º de outubro de 1929 pelo Presidente Dr. Manuel de Mattos Duarte Silva. Rio de Janeiro, 1929, pág.58.

Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 422

Ibidem, pág.61. 423

Ibidem, pág.68.

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Em Nova Iguaçu, a concorrência entre o tempo escolar e o tempo do trabalho de

crianças e adultos, nas atividades de citricultura, é mencionada ainda em algumas ocasiões

nos mapas de frequência, além das ocorridas na Escola Típica Rural em Santa Rita.

Na Escola Noturna masculina municipal, no distrito-sede, o professor Jarbas Cordeiro

avisava, em setembro de 1933:“Observa-se baixa freqüência, em virtude da maioria dos

alunos entregar-se, deste mês em diante, à safra de laranjas, como embaladores, etc.”424

Em outra escola noturna, de 2º grau, situada na área urbana do distrito-sede, a

professora catedrática Cid do Couto Pereira, justificava a baixa na frequência de alunos em

setembro de 1938, porque a “maioria dos alunos matriculados nesta escola, trabalha a noite

em estabelecimentos destinados a exportação de laranja que é a principal atividade econômica

do município e cuja safra vai de fins de Agosto a Novembro”.425

Na mesma época da colheita, em setembro de 1939, seis alunos foram “eliminados” da

escola isolada rua Eloi Teixeira s/n em Queimados, no 2º distrito da cidade, porque “saíram

da escola para trabalhar na Cooperativa”.426

Anos depois, a mesma escola perdia 13 alunos “para trabalhar no serviço de

exportação de laranja isto é na Cooperativa que se acha funcionando nas proximidades da

escola”. Pela idade dos alunos eliminados (que consta no campo do movimento mensal de

matrículas) eram cinco alunos entre oito e onze anos de idade enquanto oito eram maiores de

onze anos.427

Em setembro de 1947, a professora da escola isolada de Queimados voltava a

registrar: “Este mês a matrícula está bastante reduzida devido ao tempo chuvoso e ao desvio

das crianças para a colheita das laranjas”.428

É provável que não foram apenas estes casos, registrados nos mapas de frequência, as

únicas ocorrências em Iguaçu nas quais adultos e crianças deixavam as atividades de alunos

pelas atividades de trabalhadores da citricultura, desde atividades nos campos até o setor de

beneficiamento do produto, para exportação.

Entre os trabalhos apresentados no VIII Congresso Brasileiro de Educação da ABE,

em 1942, foi citado o resultado de uma pesquisa realizada nas zonas rurais dos municípios de

Barra Mansa, Resende e Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro, acerca das “Atividades

Sociais do Aluno Rural”. Entre 1.520 casos examinados, 80% das crianças foram encontradas

em situações de trabalho, colaborando com o sustento da família. As tarefas eram diversas,

424

Fundo Departamento de Educação, 02718, APERJ 425

Fundo Departamento de Educação, 02708, APERJ. 426

Fundo Departamento de Educação, 02728, APERJ. 427

Ibidem. Mapa de 10/1944. 428

Fundo Departamento de Educação, 02728, APERJ.

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desde a lida na lavoura, trabalhos domésticos, cuidar dos irmãos, carregar água, cortar e

vender lenha, vender alimentos, fazer entregas (PRADO, 1995, p.21). Além da fadiga

provocada pelo trabalho, o autor do trabalho, Alcimar Terra, “técnico de educação”,

condenava também os valores sociais, culturais e as condições locais que ambientavam o

universo das crianças, pela ausência de higiene, de técnica e de um apego pela religiosidade

(Idem).

No curso do processo de institucionalização da escola primária, o lugar e o tempo da

escola na vida cotidiana das pessoas, desde a infância, esbarraram nos modos como a vida

estava organizada, precisaram inserir-se, tornar-se prioritários, condição prévia para o

exercício de outras atividades. Foi preciso considerar e enfrentar a dimensão do trabalho

infantil nos modos de organização da escola “tendo em vista a necessidade de dotar os

camponeses e seus filhos de utensílios materiais e mentais que os possibilitem interagir

ativamente e, no mais das vezes subalternamente, com as inovações que se queria introduzir

no mundo rural brasileiro do período” (FARIA FILHO;SANTOS, 2006, p.154).

Ampliando a escala de observação, percebe-se, no pós-1930, não apenas a

continuidade, ainda que sob novos moldes, das imbricações entre projetos de escolarização e

projetos de conformação da classe trabalhadora, mas que a presença dessas propostas ocorria,

também, quanto ao controle das populações urbanas. O novo panorama político do pós-1930,

ao construir o argumento da “nação” e da “causa nacional”, arregimentou essas intenções

como pautas de políticas nacionais para a educação, presentes desde os debates, sobretudo

regionais, durante a Primeira República. À medida que as redefinições em aberto foram

censuradas ou canalizadas para o interior de um estado cada vez mais corporativo e

autoritário, os debates sobre educação revelam o caráter de imposição do trabalho regular

como meio de exercer a cidadania, as intenções de subordinação da classe trabalhadora - das

cidades e dos campos - aos requisitos do “homem novo” para o Estado Novo.

O Estado Novo é a consolidação dos grupos aliados a Vargas no poder, após a

desmobilização, pela repressão, das forças que haviam proposto projetos distintos de

sociedade nos anos anteriores, como os integralistas, organizados na Ação Integralista

Brasileira e a frente antifascista, partidária de um governo popular, nacional, e revolucionário,

organizada na Aliança Nacional Libertadora (PRESTES, 1997).

Entre os pilares do projeto de hegemonia do grupo varguista nota-se a valorização do

homem brasileiro como essencial à construção da “nova” nação brasileira. No discurso dos

ideólogos do novo regime, o liberalismo das décadas anteriores havia separado o brasileiro

simples – portador do genuíno espírito e cultura nacional – da cidadania e das decisões

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políticas. O novo Estado deveria resgatar este homem do povo, engajando-o no

desenvolvimento político, econômico e social do país (GOMES, 2005a, p.197).

A conformação do trabalhador brasileiro a esse projeto político-econômico de nação

se daria por medidas dirigidas não apenas para as relações de produção, mas que atingiam

outras dimensões de sua vida: a casa, a família, o lazer, saúde e educação.

Em função desse projeto, Ângela de Castro Gomes (2005a, p.242) situa a criação do

Ministério da Educação e Saúde Pública (MESP) e do Ministério do Trabalho Indústria e

Comércio (MTIC) como organismos destinados a superar todos os problemas que se

colocavam à exploração da força de trabalho no país, ou seja, as questões relacionadas à

qualificação profissional do trabalhador e a manutenção de sua capacidade produtiva. Para

usar uma expressão própria do Ministro da Educação e Saúde de 1934 a 1945, Gustavo

Capanema, o Ministério da Educação e Saúde Pública (MESP) visava “melhorar o homem, na

sua saúde, nas suas qualidades morais, nas suas aptidões intelectuais, para dele fazer um

eficiente trabalhador” (1935 apud CUNHA, 1983: p. 466).

Nos termos da legislação e da propaganda ideológica do governo no período, a

intervenção do Estado deveria elaborar um referencial normativo, a fim de amparar o

trabalhador brasileiro. Trabalhar não era apenas um meio de sustento próprio, mas sobretudo

um meio de servir à pátria (GOMES, 2005a, p. 239). A construção da nação passaria

necessariamente pelo controle da classe trabalhadora (MENDONÇA, s/d, p. 42).

Em estudo anterior demonstramos (DIAS, 2005) como o processo de “industrialização

restringida” que viabilizou a industrialização do país pôs em pauta a elaboração de uma

política educacional e nacional para a profissionalização da força de trabalho, começando

justamente pelo ensino industrial. Portanto, tratava-se de trabalho que servisse ao

desenvolvimento econômico do país. No Estado Novo, sob a ótica dos ideólogos do regime,

as classes trabalhadoras deveriam constituir-se em elemento da ordem e do trabalho,

tornarem-se um elemento de colaboração com o capital, “no esforço espontâneo de realizar a

grandeza nacional e a harmonia entre as classes” (VARGAS, 1938 apud VIANNA, 1978,

p.213).

A importância conferida à educação pelo Estado esteve imbricada com os projetos e

disputas pela construção da hegemonia de um grupo sobre a direção da sociedade. Afinal, o

poder não se exerce apenas pela coerção, mas também se apoia “no controle das instituições

que conferem sentido: aquelas que definem e justificam o indivíduo, ensinam-no a pensar de

certa maneira e não de outra, indicam-lhe os valores que deve compartilhar, as aspirações

permitidas e as fobias imprescindíveis” (ACANDA, 2006, p.176). A escola é uma destas

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instituições que “sempre foram objetivos do poder, que tentou instrumentalizá-los em

benefício próprio” (ACANDA, 2006, p.176).

Deve-se lembrar, contudo, como revela o caso da Escola Típica Rural em Santa Rita,

das distâncias entre prescrições e realizações, a participação ativa, as reelaborações e

apropriações que os sujeitos – submetidos ao processo de escolarização – também submetem

à escola.

Ademais, as políticas educacionais para escolarizar o trabalhador rural não eram

propagandeadas nem realizadas pelos mesmos grupos de interesses. Ainda que tenha ocorrido

um aprofundamento de políticas emanadas do Ministério da Educação e Saúde para a

ruralização do ensino, apontando certas continuidades com o ruralismo da Primeira

República, os objetivos e orientações divergiam quanto à prioridade que deveria revestir a

agricultura e a pretensa “vocação agrícola” do país.

Rural e urbano compondo o Distrito-sede, os debates e as políticas de

escolarização

Em Iguaçu, os registros dos embates entre escolarização e trabalho foram apreendidos

pelas queixas e denúncias dos professores acerca dos alunos que deixavam a escola, ou a

frequentavam sazonalmente, em função da colheita das laranjas e dos serviços de

beneficiamento para exportação (realizado nas packing-houses).

Como foi visto no capítulo 1, o distrito de Nova Iguaçu, além de sede da cidade, de

centro urbano, era também a maior zona citrícola do município e o mais densamente povoado.

Essa fração do município apresentou características rurais e urbanas, sendo ambas

importantes para o distrito. Afinal, se a historiografia da educação é mais farta em apresentar

as vinculações entre modernidade, urbanização e escolarização, o que ocorre nos processos de

escolarização quando o rural também é dimensão estruturante da economia e dos projetos de

poder de um município, ou de parte dele? Em Nova Iguaçu, como as escalas do urbano e do

rural ecoaram sobre os processos e projetos de escolarização?

Na expectativa de adotar o regional como posição de análise, foi adequado não

considerar o município como espaço-fronteira homogêneo. Desse modo, o esforço em

conhecer a história do município de Nova Iguaçu, a partir dos marcos dos usos econômicos de

seu espaço e da configuração de seu território revelou os diversos processos que dinamizaram

as transformações no distrito-sede da cidade, Nova Iguaçu.

As transformações que afetaram a economia do município de Nova Iguaçu também se

confirmaram nos índices de crescimento populacional. Ainda que não haja a intenção de

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utilizá-los como dados precisos, servem como balizas para dimensionar o contingente

populacional da região e os usos do território.

Entre 1892 e 1920, quando houve a reordenação da sede do município para

Maxambomba, ocorreu pouca perda territorial e a diminuição da população que habitava a

antiga sede (Cava). Verifica-se o crescimento populacional no distrito que recebe a nova sede

e que é o principal polo de cultivo e de beneficiamento da laranja (Jacutinga).

Tabela 7 População do município de Iguaçu 1892/1920.

1892 1920

Iguaçu:1.499 km2 Iguaçu:1.315 km

2

Distritos Recenseamento

estadual

Distritos

correspondentes

Recenseamento

nacional

Jacutinga 6.840 Iguaçu 12.382

Marapicu 5436 Queimados 3.063

Cava (ant. Iguassu) 4372 Cava 2001

Meriti 2761 Pavuna 8255

Palmeiras 2342 Santa Branca 1261

Pilar 2475 Xerém 2823

Nilópolis ------ São Mateus 3611

Total: 24.226 33.396

Fonte: Adaptado de Maia Forte, 1933; Soares, 1962.

A comparação com os dados de 1940 (Tabela 2, p.91) permite dimensionar as

transformações ocorridas nessas décadas no município. Não houve perda territorial, e a

população passou de 33.396 habitantes para 140.606, isto é, quadruplicou. Entre 1920 e 1940

houve crescimento populacional em todos os distritos do município. Os principais distritos

que atestam o crescimento são Nova Iguaçu, devido à citricultura, Meriti, Nilópolis e Caxias,

devido ao processo de loteamentos. O crescimento populacional no município, que foi

vertiginoso no período, ocorreu pelo afluxo de trabalhadores, tanto do estado do Rio de

Janeiro, das regiões próximas do Vale do Paraíba (COSTA, 2011), quanto de nordestinos e

estrangeiros.

Para o ano de 1940, há dados disponíveis sobre a distribuição da população (Tabela 2,

p.91). A fonte consultada não esclarece os conceitos de “urbano e suburbano”, mas interessa

observar o resultado do processo de loteamentos no município, que resultou numa população

“urbana e suburbana” maior do que a rural, inclusive no distrito sede, ainda bastante ancorado

na citricultura na década de 1940.

Contudo, é o distrito-sede que concentra expressivamente a maior parcela da

população rural do município. A comparação entre os dados acerca da população “urbana e

suburbana” e “rural” entre os distritos mais populosos do município em 1940, Nova Iguaçu,

Caxias, Meriti e Nilópolis, apresenta maior equilíbrio entre o número da população urbana e

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rural no distrito-sede, Nova Iguaçu, do que a proporção verificada nos distritos de Caxias,

Meriti e Nilópolis (Tabela 2, p.91).

Maria Soares (1962) destaca o crescimento da população, entre 1920 e 1940, devido à

“suburbanização” dos distritos limítrofes ao Distrito Federal, mas ressalta, também, o

expressivo crescimento populacional nos distritos “essencialmente agrícolas”, Nova Iguaçu,

Cava, Queimados e Bonfim, que foi da ordem de 18.707 habitantes em 1920, para 43.167 em

1940. Esse aumento devia-se à citricultura, que atraiu pessoas principalmente para o distrito-

sede, posto que para esse distrito afluíram 22.585 dos 24.467 habitantes a mais registrados

pelo censo de 1940:

Tais números expressam bem o grande afluxo de pessoas para as lides agrícolas na

região mais próxima da cidade [...] Fracionamento intenso da terra, afluxo da

população para a zona rural, laranjais que se multiplicavam cada vez mais, fortunas

que surgiam rapidamente, ligadas, principalmente, ao beneficiamento e à exportação

da laranja, tudo, enfim, representava riqueza para uns, prosperidade para outros,

trabalho para muitos. Ano para ano, crescia, em grandes proporções, a área ocupada

pelos laranjais (Ibidem, pp.55).

Em outra escala de comparação, entre os dados populacionais do município com os do

estado do Rio de Janeiro, a partir dos dados de 1940, nota-se que o estado apresentava

1.847.857 habitantes, sendo urbana e suburbana, 693.201 e rural, 1.154.656. O município de

Nova Iguaçu, com 140.606 habitantes, possuía população urbana e suburbana de 110.679 e

população rural de 29.927 (IBGE, 1948a, p. 17). Logo, o estado do Rio de Janeiro, em 1940,

apresentava população rural maior do que a urbana, enquanto o município de Nova Iguaçu

apresentava população urbana e suburbana maior do que a rural, estando a população rural

bastante concentrada no distrito-sede.

A tese de livre docência de Maria Segadas Soares (1962) é um importante estudo

sobre as funções rurais e urbanas exercidas pelo distrito-sede na primeira metade do século

XX. No campo da discussão geográfica, a tese aborda o processo de integração da cidade de

Nova Iguaçu (distrito-sede) com a área metropolitana do Rio de Janeiro, após a crise da

citricultura. Desse estudo, importa destacar a análise que apresenta o centro administrativo da

cidade de Nova Iguaçu como o substrato urbano que catalisava as demandas das áreas rurais

do município, produtoras de laranjas na primeira metade do séc. XX:

Este substrato, deve-o Nova Iguaçu ao exercício, durante longo tempo, de funções

de caráter eminentemente urbano. Foi pela soma de funções variadas que ela se

tornou, nas primeiras décadas do Séc. XX, uma cidade, isto é, uma aglomeração

bem individualizada quanto ao meio rural circundante e um centro de relações a

servir determinada área e a colocá-la em contato com o resto do mundo (Ibidem, p.

45).

A autora defende que a citricultura foi o fator de consolidação da célula urbana em

Nova Iguaçu. Importante considerar a historicidade da função urbana exercida pelo distrito-

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sede, em função da citricultura, e dos outros distritos limítrofes ao Distrito-Federal. Nova

Iguaçu, Nilópolis, São João, Caxias, conhecem processos de urbanização, são dotados de

características citadinas, mas o distrito-sede possui a especificidade da citricultura. A

urbanização, nesse caso, é em função das atividades agrícolas, da laranja, tornando-se

mercadoria valorizada para a economia local, regional e nacional. Rural e urbano, no distrito-

sede, confluem num mesmo projeto ruralista de recuperação econômica pela modernização

das atividades agrícolas. Todo um aparato urbano, moderno, industrial, assim como a

construção e conservação de estradas, conformou o uso do distrito-sede para o cultivo dos

laranjais, seu beneficiamento e exportação.

A sede administrativa integrava as atividades de beneficiamento e escoamento da

produção: “Daí resultava uma relação íntima entre o núcleo urbano e o meio rural

circundante, crescendo aquele em função, principalmente, das necessidades desse” (SOARES,

1962, p. 57). Assim, na recomposição dos diferentes contextos que demarcam as fronteiras e a

história do município entre as décadas de 1910 e 1940, as dimensões do rural e do urbano, e

suas interações, emergiram como eixos fundadores da problemática de pesquisa.

Como foi apresentado no capítulo 2, as fontes utilizadas para esboçar um perfil dos

tipos de escolas existentes no município revelaram, para o intervalo entre 1929-1949, maior

presença e diversidade de escolas primárias no distrito-sede, em comparação com o conjunto

de escolas que se soube existir nos demais distritos, durante o mesmo intervalo de tempo.

A localização de parte das escolas existentes no município de Nova Iguaçu foi

verificada nos mapas de frequência do Fundo Departamento de Educação, desde o endereço

de ruas, praças, distritos. Mas, no percurso de coleta de dados dos mapas, chamou atenção um

tipo de anotação neles inscrita, por vezes a lápis, ou com giz de cera: “rural”; “urbana”, “urb.”

“R”, “r”, adicionavam informações sobre as escolas. Essas observações aparentam ter sido

feitas posteriormente ao recolhimento dos mapas, porque, geralmente, é uma mesma

caligrafia em mapas de diferentes localidades. A inscrição é feita nas margens, por cima de

outros escritos, parecendo funcionar como um “carimbo”, uma classificação. Contudo, não

era uma aparição sistemática, ainda que tenham todas ocorrido entre os anos de 1944 a 1949.

É pertinente apresentar o resultado de um estudo exploratório destas classificações que

recaem sobre a localização das escolas. Das 58 notações para escolas situadas no distrito-sede,

pelo menos 25 receberam a classificação de rural ou urbana. Destas 25 notações, 7 casos

apresentaram oscilação na designação rural ou urbana. Essas oscilações podem demonstrar a

mudança da classificação das escolas, no curso do tempo em função das mudanças ocorridas

na localidade em que estavam situadas. Mas há também possibilidade de erros ou imprecisão

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de atribuição, como na escola municipal Dr. Thibau, que foi classificada de rural em um mês,

e urbana no mês seguinte.429

Para 12 notações houve atribuição “urbana”, e para outras 7, a atribuição “rural”. No

conjunto das notações do distrito-sede, pela denominação das escolas e/ou pelo endereço,

mesmo sem constar o tipo de anotação em giz de cera ou lápis, foi possível atribuir a

conotação de urbana para outras 13 escolas e de “rural” para mais 4 notações. Portanto, de 58

notações foi possível trabalhar com 42 atribuições de rural ou urbano (incluindo os casos de

oscilações entre rural e urbano) para o distrito-sede. Por este recorte haveria no distrito-sede,

pelo exame nesta documentação específica (e lacunar, como já foi advertido), uma

predominância de escolas situadas em área urbana. Isso no que tange à localização.

Entre as 77 notações situadas nos demais distritos, o mesmo exercício revela 29

notações classificadas por anotações em lápis ou giz de cera. Destas, 16 com atribuição de

“rural”, 3, “urbana”; 9, “distrital” e um caso de oscilação rural/urbano. Considerando a

proximidade das classificações “distrital” e “urbano”, neste recorte, haveria o predomínio de

escolas rurais. Esse pequeno exercício excluiu, contudo, a maioria das notações classificadas

como localizadas fora do distrito-sede, devendo ser considerado pouco conclusivo.

Um segundo estudo exploratório, em sequência deste primeiro, foi cotejar a

classificação “rural” e “urbana” do distrito-sede com os tipos de escolas, o que revelou o

seguinte quadro, para o conjunto das 42 notações (para as demais 16 notações do distrito-

sede, mesmo tendo sido classificadas como 10 municipais, 5 estaduais e uma subvencionada,

não foi possível situar o tipo de localização, se urbana ou rural):

Tabela 8 Classificação de 42 notações do Distrito-Sede, por localização e tipo.

Classificação de 42 notações do Distrito-Sede, por localização e tipo

Rural Urbana Oscilação

Rural / Urbano

Total de

notações

Estadual 1 16 2 19

Municipal 6 5 4 15

Subvencionada 2 4 1 7

S/classificação 1 1

Total de

notações por

classificação

10

25

7

42

Fonte: Fundo Departamento de Educação, Nova Iguaçu (1929-1949)

429

Fundo Departamento de Educação, 02681, APERJ. Mapas de outubro e novembro de 1945.

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Assim, neste recorte, haveria uma predominância de escolas urbanas no distrito-sede, e

de escolas rurais nos demais distritos, na segunda metade da década de 1940. Cabe considerar

que este estudo exploratório dos dados do Fundo Departamento de Educação abarca, apenas,

parte das escolas “oficiais”, estaduais, municipais e particulares e/ou subvencionadas

localizadas no distrito-sede. O Jornal Correio da Lavoura deixa pistas, ainda a serem

seguidas, sobre uma ampla rede de cursos e aulas particulares e de outras escolas em

funcionamento.

Contudo, além deste estudo pelas classificações inseridas de “urbano”, “U”, “urb”,

muitos endereços de escolas atestam o funcionamento das mesmas em ruas centrais do

distrito-sede, e, ainda, para escolas de outros distritos, em ruas das áreas centrais do distrito,

provavelmente mais urbanizadas. É possível sustentar, para o distrito-sede, que a presença de

mais escolas nas áreas urbanizadas, na “sede da sede”, é constituinte das funções exercidas

pela pequena área urbana do distrito-sede. As fotografias do distrito sede, incluídas no

capítulo 1, como foi visto, demonstram a presença de áreas plantadas permeando, envolvendo,

se misturando, com a pequena área urbanizada, identificada pelos traçados das ruas e as

construções. O emprego do solo para o cultivo agrícola pode ainda ter desempenhado um

obstáculo a implantação de escolas “oficiais” nas áreas rurais.

O centro do distrito, a “sede da sede”, construído no entorno da estação de trens,

interligado com as demais regiões pela construção das estradas para escoamento da produção

até os packing-houses, e dali para os portos e o mercado interno, agrupava as funções dos

serviços de comércio, instrução, saúde e lazer, além do aparato público administrativo de todo

município – prefeitura, câmara, cadeia, fórum, etc. Assim, esse pequeno núcleo urbano do

distrito-sede, às margens da estação ferroviária de Nova Iguaçu, também estava voltado para o

atendimento da população rural de seu entorno:

[...] que na pequena cidade se vinham aprovisionar em gêneros, fazer compras,

cumprir os seus deveres religiosos, educar seus filhos e divertir-se. Com isso, cada

vez mais Nova Iguaçu via crescer a área e o número de pessoas a que servia,

ampliando a sua função de centro de relações. A cidade passou a existir,

predominantemente, para servir o campo e era este, por sua vez, que vivificava a

cidade (SOARES, 1962, p. 56).

Parte das mudanças que ocorrem na estrutura espacial do município podem ser

pensadas a partir do mapa que apresenta o crescimento da ocupação urbana no distrito de

Nova Iguaçu, entre as décadas de 1930 e 1960.

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Figura 23 Crescimento da Ocupação urbana no 1º distrito de Nova Iguaçu.

Fonte: Simões, 2007, p. 132.

É provável que o espraiamento do urbano, em função da atividade citrícola, seja

explicativo do número de escolas encontradas no distrito sede e a da diversidade dos tipos das

mesmas (grupo escolar, escolas isoladas, escolas noturnas, escolas particulares).

Um Boletim Municipal do ano de 1935, “órgão oficial da municipalidade”, fazia a

propaganda dos aparatos da modernidade que possuía o município de Iguaçu. Sob a chamada

“V. Excia. ainda não conhece o Municipio de Iguassú?!...” fazia-se um convite a conhecer o

mesmo, posto que possuísse em seu perímetro urbano “12.125 casas, quase todas edificadas

nos moldes modernos”, era cortado por grandes ferrovias, rodovias e exibia

boas estradas de rodagem, iluminação em todos os seus 9 distritos, boa lavoura,

industria e comércio prósperos. Suas terras são fertilíssimas e dúcteis a qualquer

espécie de cultura. Exportação, em grande escala. A citricultura, nele, é um fato.

Iguassú é a Califórnia Brasileira.430

Quanto ao distrito-sede, a propaganda municipal destacava que a cidade de Nova

Iguaçu “é a urbs, no sentido romano do termo” e contabilizava seus dotes urbanos:

Gymnasio, Curso, Grupo Escolar, 74 escolas primárias, afora as particulares, 1

cinema, 4 jornais, Fórum, (varas civil e criminal); 5 cartórios, Hospital e Assistência

Pública, 2 bancos, 2 importantes sociedades esportivas, 1 Liga federada, além de

430 V. EXCIA. AINDA NÃO CONHECE O MUNICIPIO DE IGUASSÚ?!... NOVA IGUAÇU. Boletim

Municipal, 31/03/1935, Acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu.

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muitas outras associações. Cursos de datilografia e de alta costura; templos de vários

cultos, etc..431

A perspectiva de assumir as escalas de urbano e rural como “lugar epistemológico”

(FARIA FILHO, 2009a) permite pensar as possibilidades de diversidade e heterogeneidade no

desenvolvimento dos processos de escolarização. Mas lidar com essas categorias requer situar

algumas questões.

Em primeiro lugar, a historicidade destes termos, as disputas em curso, naquele

momento, sobre os significados assumidos, os significados atribuídos, os contrastes forjados,

por diferentes vozes, aos mesmos termos.

Nesta perspectiva, por exemplo, foi observado, na propaganda ruralista exercida pelo

Jornal Correio da Lavoura, as identificações promovidas entre campo (território) e atividade

agrícola. Ao tornar sinônimos os significados de rural, campo, agricultura, argumentava-se em

prol da “vocação” agrícola do país, devido a suas paisagens rurais. No interior desse mesmo

movimento ruralista, ora eram disseminadas ilustrações e adjetivações valorativas do campo

como reflexo da pureza, da natureza, da vida social estável, segura, promissora, em oposição à

vida conturbada nas cidades. Por outras frentes, o campo também era identificado com o

atraso, com o arcaico, com o improdutivo, o que, contudo, servia para sustentar um cenário de

crise, para o qual já se avolumavam sugestões de solução, que resultariam, finalmente, na

recuperação econômica e na continuidade da vocação agrícola do país. As concepções sobre

os trabalhadores, aventadas nesses discursos, também oscilavam entre a síntese do “jeca tatu”

e o “salvador da Pátria”, subsidiando projetos de educação do habitante destas paisagens, para

torná-lo um trabalhador produtivo e um cidadão obediente à pátria.

Na perspectiva adotada pelo Jornal, mas também percebida nas relações entre os

citricultores e agências de governo estadual e federal (MAIC), a citricultura representava, em

Nova Iguaçu, a recuperação econômica pela via da modernização dos modos de cultivo e

beneficiamento do produto. Dialeticamente, a luta pela lavoura, higiene e instrução, também,

pontuava os impasses, as defasagens entre as condições de vida na região e o almejado

progresso, que devia ser materializado em escolas, saneamento, abastecimento de água,

iluminação pública, postos de saúde e de trabalho.

A citricultura em Iguaçu nos possibilita pensar tanto a historicidade quanto o

imbricamento entre rural e urbano na constituição dos usos do território. Abre possibilidades

431

NOVA IGUASSÚ. NOVA IGUAÇU. Boletim Municipal, 31/03/1935, Acervo do Instituto Histórico

e Geográfico de Nova Iguaçu.

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também de refletir sobre estas relações entre rural e urbano em um momento importante das

relações capitalistas no país.

Ao criticar as teses dualistas do pensamento social brasileiro que opuseram rural e

urbano, campo e cidade, como ícones, respectivamente, do arcaico e do novo, do antigo e do

moderno, na forma de expansão do capitalismo no Brasil, Francisco de Oliveira (2003)

retoma estas relações em novas bases:

[...] expansão do capitalismo no Brasil se dá introduzindo relações novas no arcaico

e reproduzindo relações arcaicas no novo, um modo de compatibilizar a acumulação

global, em que a introdução de relações novas no arcaico libera força de trabalho

que suporta a acumulação industrial-urbana e em que a reprodução de relações

arcaicas no novo preserva o potencial de acumulação liberado exclusivamente para

os fins de expansão do próprio novo (OLIVEIRA, 2003, p.60, grifos do autor).

A passagem acima sintetiza a especificidade, no pós-1930, da função qualitativamente

distinta que é exercida pela agricultura no processo de acumulação genética e estrutural de

capitais que antecede e mantém a industrialização. O setor agrário-exportador precisou ser

mantido para “suprir as necessidades de bens de capital e intermediário de produção externa”,

porém, não deveria ser alimentado como unidade central do sistema (Ibidem, p.42). Exercia,

também, a função de abastecer o consumo interno, devendo suprir as necessidades das massas

urbanas, sem elevar os custos de alimentação e de matérias primas, fomentando o processo de

acumulação urbano-industrial (Idem).

As relações de produção do campo foram essenciais ao modo de acumulação urbano-

industrial. No campo ocorreu, no Brasil, a “expropriação do excedente”: o trabalhador rural

ocupa provisoriamente a terra, prepara-a para o cultivo e as áreas de pastagem e mantém,

também, roças de subsistência. Esse trabalho favorece a baixa cotação nos preços dos

produtos que abastecem as cidades, contribuindo para a acumulação, por manter baixo

também o valor de reprodução da mão-de-obra urbana (OLIVEIRA, 2003, p.43). Há vínculos

importantes para a acumulação urbano-industrial, nas composições entre “agricultura

primitiva” e a implementação de técnicas modernas de cultivo. A articulação, manutenção e

por vezes ampliação do modelo da “agricultura primitiva”, tanto dos modos de cultivo quanto

da ausência de custos com legislação trabalhista no campo, permitiu a manutenção dos baixos

custos de reprodução da força de trabalho rural. Além disso, não havendo repasse dos custos

de produção para os preços dos alimentos, também concorria para manter rebaixados os

custos de alimentação dos trabalhadores urbanos, liberando, também, mão-de-obra para as

cidades. Nota-se, assim, que a acumulação dependeu de uma “alta taxa de exploração da força

de trabalho” (Ibidem, p.46).

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O autor destaca que a introdução de novas relações entre capital e trabalho no setor da

indústria, sobejamente mediadas pelas agências estatais, não implicou a exportação das

mesmas relações para a agricultura. No modelo brasileiro de expansão do capitalismo, houve

uma tendência em perpetuar “relações não-capitalistas na agricultura”, de forma estrutural, a

colaborar com a sustentação e alimentação “dos setores estratégicos nitidamente capitalistas”

(OLIVEIRA, 2003, p.69).

Contudo, as tendências que foram verificadas acerca da expansão do capitalismo no

Brasil, no pós-1930, numa perspectiva retrospectiva, não encobrem a percepção de uma

correlação de forças de debates e disputas, vigente, no período, além da gestação de um

projeto próprio, no seio das frações agrárias, que não pensava em subordinar a “vocação

agrícola” aos imperativos da industrialização.

Neste sentido, a experiência da citricultura nos distritos agrícolas do município de

Iguaçu é reveladora do movimento, do processo em curso. A existência, no município, de

experiências distintas do uso do território e da população, como ocorria nos distritos vizinhos

ao Distrito Federal, lançados ao loteamento, urbanizando-se e recebendo ampla gama de

trabalhadores urbanos, revela a presença de outros grupos locais não vinculados ao ruralismo.

Maria Soares destaca que Nilópolis, São João, Caxias, conformavam uma região que “era

autossuficiente em relação à sede administrativa, no setor de comércio e serviços, além de

apresentar incipiente função industrial” (SOARES,1962, p.58).

É possível imaginar que a mudança do nome do município de Iguaçu, para Nova

Iguaçu, em 1938,432

projetando, portanto, o nome da sede para todo o território, fosse uma

tentativa de integrar o que já era repartido, de projetar o sentido da sede para o município.

Seriam justamente as primeiras áreas de loteamentos urbanos que se emancipariam do

município na década de 1940, a partir do amadurecimento de grupos e lideranças locais nesses

distritos.

A propósito, tanto nessas áreas que receberam grandes levas de trabalhadores urbanos,

quanto o distrito-sede, que recebeu também contingente de trabalhadores vinculados à

citricultura, foram as regiões que apresentaram, a partir das fontes consultadas, o maior

número de escolas, estaduais, municipais e subvencionadas. O distrito-sede, onde o perímetro

urbano cresceu em função da citricultura, sediou o maior número de escolas.

432

Todo o município passaria à denominação de Nova Iguaçu, provisoriamente pelo Decreto-lei n. 392-

A, de 31 de março de 1938 e definitivamente a partir da reforma da divisão territorial do estado do Rio

de Janeiro, pelo Decreto n. 641 de 15 de dezembro de 1939. Coleção de Leis do Estado do Rio de

Janeiro. APERJ.

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Existem diversos trabalhos em história da educação que se debruçaram sobre as

relações entre escola e cidade, com destaque para os significados e funções que ambos

representavam nos projetos de modernidade, de construção do espírito público, na criação de

uma nova ordem social e política em diferentes tentativas de construir e reinventar a nação

brasileira, especialmente no pós-abolição e na Primeira República (NUNES, 2007).

A escola foi sujeito e produto desse processo de construção da modernidade e, por

isso, esteve alinhada aos temas da civilidade, da urbanização, da cultura letrada. Mas esse

alinhamento não adveio sem conflitos. Por vezes, o próprio processo de institucionalização da

rede de escolas evidenciava as defasagens entre programas e realizações. As reformas da

instrução pública dos anos de 1920 e 1930 representam esse movimento, em que os

problemas de funcionamento das escolas espelhavam os problemas urbanos de habitação,

transporte, insalubridade, doenças e falta de estrutura. As reformas e as novas arquiteturas

escolares adotadas eram o investimento em promover a profilaxia e homogeneizar os

comportamentos sociais (Idem).

Dessa forma, a escola se constituía na teia das relações urbanas, e sobre essas também

intervinha, ao estabelecer classificações e modelos de funcionamento da cidade. A cidade é o

cenário de enraizamento da escola, mas também de conflitos e negociações com outros modos

de socialização e de usos do espaço social (FARIA FILHO, 2005a, p.34). Ademais, a

“experiência do escolar”, que busca normatizar, homogeneizar e racionalizar modos de viver,

se depara com o contexto heterogêneo da cidade:

Contra a pretensão homogeneizadora da escola, a cidade se lhe apresenta

continuamente como uma experiência do heterogêneo e do múltiplo. É assim,

também, que a cidade se impõe à escola: como uma pluralidade de sujeitos, de

culturas, de instituições, de estímulos, de sensibilidades..., ou seja, como experiência

de aprendizagem muito diversificada e descontrolada para os padrões escolares,

exigindo sempre e sempre a atualização dos mecanismos, das estratégias, de

inclusão e exclusão, controle, os quais, por outro lado, dando lugar mais e mais a

astúcias, a práticas, a táticas de subversão, apropriação e novos empregos das

experiências, culturas e saberes compartilhados (FARIA FILHO, 2005a, p.36).

Contudo, na posição de análise que se constitui neste trabalho, na cidade de Nova

Iguaçu, a escola também se constituía na teia das relações rurais. Assim, no desenvolvimento

da pesquisa, busca-se atentar para as relações entre município e escolarização. Toma-se por

hipótese que os investimentos em criação de escolas no município e a relevância que o tema

da instrução assume nos eventos, nas realizações e debates da cidade guardam vínculos com o

processo de construção da “Nova” Iguaçu. A instrução também foi uma ferramenta nos

esforços em desenvolver novas concepções e usos do espaço do município e das formas como

os diferentes grupos sociais experimentavam esse espaço. Isto posto, considera-se importante

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investigar as alianças e disputas que pautavam a constituição das instâncias de governo locais,

como a Câmara de vereadores e a prefeitura e suas relações com os grupos sociais da região.

À medida que o município despontava como importante polo produtor do estado do

Rio ia conhecendo investimentos para sua modernização e para o escoamento da produção,

como o saneamento (fundamental por ser uma região de baixada cortada por rios e

apresentando pântanos e brejos em muitas localidades), construção de estradas, calçamento de

ruas, combates a epidemias, doenças etc. Por meio do desenvolvimento da citricultura,

expresso também na modernização do distrito-sede, buscava-se inserir o município no

caminho do “progresso” almejado. O exame do conjunto de reformas e modernizações

pretendidas apresenta-se, no seio dos grupos que foram hegemônicos, como recursos

destinados a suscitar o desenvolvimento econômico por meio das atividades agrícolas, quando

se tem em foco o distrito-sede. No entanto, outros projetos de modernidade, de caráter mais

urbanizador, incidiam sobre os distritos limítrofes ao Distrito Federal, que acolhiam, por meio

dos loteamentos, a mão-de-obra assalariada que servia ao Distrito Federal e a Niterói.

As disputas pelo poder no cenário local

Ao tomar distância da perspectiva do regional como um dado prévio, exterior à

pesquisa, foi preciso recompor os diversos contextos que conformavam aquele território.

Deste modo, além dos usos distintos do território, das mudanças administrativas, políticas e

econômicas que delineavam Nova Iguaçu, foi preciso identificar os sujeitos que,

coletivamente organizados, em agências da sociedade política ou da sociedade civil,

participavam da construção da região. Restituir a correlação de forças entre os grupos

dominantes na cidade, e suas relações com as demais instâncias de poder foi um exercício

indispensável para a problematização e compreensão dos significados que a escolarização

assumia para aquela sociedade, ou para parte dela. As disputas pelo poder no cenário local

informam sobre a construção, a invenção da “Nova Iguaçu”, sobretudo no pós- 1930.

Como foi tratada no primeiro capítulo, a criação da prefeitura em Iguaçu compôs parte

da política estadual em agenciar obras de infraestrutura na região. Ainda que os grupos locais

acordassem sobre o imperativo de implementar a rede de águas e esgotos da cidade, a

imposição de um prefeito, pelo governo estadual, encontrou resistências por parte de setores

locais.

Em Iguaçu, a deposição do prefeito indicado, Mário Pinotti, ainda sob a presidência

estadual de Raul de Moraes da Veiga (1919-1922), aliado de Nilo Peçanha, reconduzia ao

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poder parte dos grupos locais liderados por Ernesto França Soares, vinculados ao

situacionismo federal.

Nilo Peçanha era um representante das “frações dominadas da classe dominante

agrária” no Brasil durante a Primeira República, isto é, defendia os interesses de setores dos

proprietários agrários que buscavam pressionar a atenção da ação pública para o

favorecimento de outros complexos agrários, para além da cafeicultura paulista. Seu projeto

de poder pretendia restabelecer a influência política do estado do Rio de Janeiro na órbita

nacional e obter maior capital político no pacto oligárquico (MENDONÇA, 1997, p. 32).

O movimento da Reação Republicana, em 1920, expressara as tensões do pacto

oligárquico e lançara Nilo Peçanha como candidato, apoiado por Rio Grande do Sul, Bahia,

Pernambuco, Distrito Federal e Rio de Janeiro, tendo disputado as eleições com Artur

Bernardes, representante das oligarquias paulista e mineira. Esse movimento inaugurou um

ciclo de questionamentos da ordem vigente e desestabilizou o regime político da Primeira

República (FERREIRA, 1993, p. 10).

Em Iguaçu, membros do Partido Municipal, liderados por Octavio Ascoli, sucessor de

Ernesto França Soares, manifestaram o apoio à candidatura de Artur Bernardes.433

Na

oposição, a corrente política liderada por Manoel Reis, organizada no Partido Republicano do

município, estava alinhada à candidatura de Nilo Peçanha e também lançava um candidato à

prefeitura, Manoel Francisco Salles Teixeira, que foi eleito e assumiu o cargo em dezembro

de 1922.

No cenário estadual, a candidatura de Raul Fernandes, representante da reação

republicana, também foi vitoriosa, mas uma articulação de deputados partidários de Feliciano

Sodré não reconheceu o pleito e empossou Sodré no cargo. A situação propiciou uma

intervenção federal no estado do Rio de Janeiro. O presidente da república eleito, Artur

Bernardes, empenhou-se em desmontar o movimento da reação republicana e nomeou como

interventor Aurelino Leal, ex-chefe da polícia da capital do país. Em Iguaçu, o candidato

eleito pelos partidários do movimento da reação republicana, o Dr. Manoel Francisco de

Salles Teixeira, foi substituído interinamente pelo cel. João Telles Bittencourt, ligado às

forças partidárias de Artur Bernardes e do Partido Municipal de Iguaçu.434

A posse de Feliciano Sodré (1923-1927) significou o rompimento com a hegemonia

política de Nilo Peçanha, que preponderava no estado do Rio de Janeiro desde 1904. Dessa

forma, o novo governante se colocava como regenerador do regime e “esforçava-se para criar

433

POLITICA, 13 out. 1921. 434

O NOVO PREFEITO PARA A PREFEITURA LOCAL, 30 ago. 1923.

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201

uma imagem de dirigente empreendedor e investidor na recuperação fluminense”

(FERNANDES, 2009, p.76).

Em Iguaçu, as forças do Partido Municipal continuaram no poder. Octavio Ascoli

assumiu a prefeitura, enquanto João Telles Bittencourt, antes prefeito interino, tornou-se

presidente da câmara municipal.435

Manoel Reis e as forças do Partido Republicano voltaram a disputar as eleições

estaduais em 1927436

, mas foi vitorioso Manuel Duarte, que imprimiu ao seu governo um tom

de continuidade e manteve as relações políticas do estado harmonizadas com a presidência

federal de Washington Luís (FERNANDES, 2009, p. 81).

Washington Luís visitou Iguaçu em 1928, acompanhado do governador Manoel

Duarte, do ministro da Agricultura e de membros do Serviço de Fomento Agrícola. Na

ocasião, o grupo inspecionou brevemente os laranjais e foi recebido pelo deputado estadual

Alberto Melo e pelo coronel João Telles com um banquete oferecido no Paço Municipal.437

Segundo Waldick Pereira, esta visita atendeu ao convite promovido pela Associação de

Fruticultores de Nova Iguaçu para um debate sobre a citricultura. O evento serviu também, no

âmbito local, para dirimir a resistência de alguns pomicultores em participar da Associação

(PEREIRA, 1997, p.130).

A Associação de Fruticultores foi bastante atuante em reivindicar medidas em prol da

citricultura, enviando minuciosos relatórios ao Ministério da Agricultura, ao governo do

Estado e ao poder público municipal (Ibidem, p.131). No ano seguinte à visita de Washington

Luis, na qual os citricultores obtiveram o apoio do governo federal na importação de

maquinário adequado ao acondicionamento das laranjas para exportação, a Associação

recorria ao auxílio da municipalidade para construir o prédio para instalação das máquinas,

após o pedido ter sido recusado pelo governo estadual (Idem).

Em Iguaçu, nas eleições municipais de 1929, parte da oposição do município começou

a alinhar-se em torno da candidatura de Getulio de Moura para vereador, jovem acadêmico da

cidade, de família de “importantes” negociantes. O Correio da Lavoura fez relevante

campanha por sua eleição, publicando entrevistas do candidato, manifestos de apoio etc.438

O

pretendente ao cargo foi publicamente apoiado por funcionários públicos e “comerciantes

435

A POSSE DO NOVO PREFEITO, 19 jun. 1924. 436

O CASO DOS PREFEITOS, 08 jul. 1926. 437

VISITA DO PRESIDENTE WASHINGTON LUIS, 01 nov. 1928. 438

O CANDIDATO DO POVO; A CANDIDATURA DE GETULIO DE MOURA DESPERTA

GRANDE ENTUSIASMO; OUVINDO O CANDIDATO DO POVO – UMA LIGEIRA

ENTREVISTA COM GETULIO MOURA, O ARDOROSO TRIBUNO; 16 out. 1930.

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proprietários”. No entanto, Getulio de Moura não foi eleito, ainda que tenha contestado os

resultados eleitorais.439

Nas eleições de 1929 venceu o coronel Alberto Soares de Souza e Mello para a

prefeitura em Iguaçu, “illustre e prestigioso chefe político do partido dominante”.440

Era

membro do “Partido republicano fluminense de Iguassú”, que congregava Octavio Ascoli e

João Telles Bittencourt, antigas forças da situação. Porém, essa correlação de forças e o

alinhamento do município com os grupos no poder no estado e na presidência seria alterada

com o golpe civil militar de 1930.

No estado do Rio de Janeiro, o começo da década de 1930 foi de instabilidade política

porque Manuel Duarte se manteve alinhado a Washington Luis e resistiu ao golpe civil-militar

de 1930 (FERNANDES, 2009, p.127).

Na eclosão do movimento, Getúlio de Moura, candidato derrotado, teve papel

relevante na coalizão dos grupos que apoiaram a Revolução, enquanto o poder municipal, na

figura do Coronel Alberto Soares de Souza e Mello, criava a Legião de Iguaçu, batalhão

patriótico para defender a ordem constitucional.

Na recomposição das forças políticas em Nova Iguaçu, devido ao golpe de 1930, foi

fundado, sob a liderança de Getulio de Moura, o “Partido Revolucionário de Iguassu”, que

teve adesão também do Prefeito interino.441

A reunião para a fundação do partido ocorreu na

sede da União das Classes Conservadoras e foi presidida por Silvino de Azeredo, diretor do

Correio da Lavoura, acompanhado pelo prefeito interino, o coronel Carlos Antonio de

Mattos, por Getulio de Moura, Dr. Alberto Nunes Brigadão e José Pedro Cardoso, integrantes

da União das Classes Conservadoras. Getulio Moura foi aclamado presidente do partido e

agradeceu a indicação referindo-se “aos postulados da Aliança Liberal, dos princípios de

Getulio Vargas e ao evangelho de Juarez Távora”.442

A “União das Classes Conservadoras”, na qual foi acolhida a fundação do Partido

Revolucionário, havia sido criada em 1928. Silvino de Azeredo foi um dos suplentes do

conselho diretor da instituição que, segundo o Jornal Correio da Lavoura, pretendia “sem

ligação política, a pugnar pelos interesses de classes e privados dos seus associados”.443

A

instituição funcionava nos salões do Clube dos Progressistas e sede dos “Fruticultores de

Iguassú”. Entre os membros do conselho diretor e do quadro dos suplentes havia pessoas

439

ECOS DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS, 10 out. 1929. 440

O NOVO GOVERNO DO MUNICIPIO, 09 jan. 1930. 441

PARTIDO REVOLUCIONÁRIO DE IGUASSU, 13 nov. 1930. 442

Idem. 443

UNIÃO DAS CLASSES CONSERVADORAS DE IGUASSÚ, 16 ago 1928.

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vinculadas à produção e comercialização da citricultura no município, como Sebastião

Herculano de Mattos, Francisco Gentil Baroni, Carmine Papaléo Montoura, José Esteves

Cardoso. Getulio Moura também integrava a instituição em 1928 e de integrantes da mesma

recebeu o apoio público nas eleições para vereador que disputou em 1929.

Nas páginas do Correio da Lavoura, há descrições das manifestações em prol da

Revolução, quando da passagem dos revoltosos pelo município, a caminho do Distrito

Federal. A essa altura, o governo do estado já estava sob controle do interventor federal e, no

município de Iguaçu, o coronel Carlos Antonio de Mattos, coletor estadual que havia apoiado

a eleição de Getulio de Moura para vereador, exercia interinamente o cargo de prefeito.444

A cobertura do Correio da Lavoura reflete o apoio do mesmo ao movimento de 1930,

ao descrever com detalhes e em tom de entusiasmo a passagem das forças revolucionárias

pela cidade.445

O evento, que teria proporcionado à população “intensa vibração cívica”,

contou com a decoração da estação ferroviária, a participação de escolas públicas, com a

presença de “jovens escoteiras” e a aglomeração das pessoas que aguardaram a passagem do

“valoroso chefe civil da revolução”. Quando o trem parou na estação, sob aplausos e foguetes,

Getúlio Vargas e sua comitiva foram recebidos pelo Prefeito interino e pela Junta

Governativa, sendo também saudado, em nome da Junta e do Prefeito, por um discurso

proclamado por Getulio de Moura.

A manifestação de apoio aos revolucionários continuou em Nilópolis, a estação

seguinte rumo ao Distrito Federal, onde o trem apenas passou lentamente, a tempo de ouvir os

morteiros e foguetes, ver os cartazes e bandeiras que enfeitavam a estação e as ruas, observar

as pessoas que ali esperavam para saudar a comitiva.446

Quando Plínio Casado assumiu a interventoria do estado, recebeu indicações das

correntes políticas do município para a escolha do prefeito da cidade.447

Porém, a escolha de Sebastião de Arruda Negreiros, 448

indicado por Manoel Reis, não

obteve apoio dos grupos liderados por Getulio de Moura, “indicado pelas classes

444

PREFEITURA MUNICIPAL DE IGUASSÚ, 06 nov. 1930. 445

A REVOLUÇÃO TRIUNFANTE.A CHEGADA DOS LIBERTADORES. A PASSAGEM DO DR.

GETULIO VARGAS POR ESTA CIDADE E POR NILÓPOLIS, 06 nov. 1930. 446

Idem. 447

PREFEITURA DE IGUASSÚ, 27 nov. 1930. 448

Sebastião de Arruda Negreiros nasceu em Piracicaba, São Paulo, em 1884. Formou-se pela escola

normal e lecionou em Cachoeira Paulista, onde dirigiu o Grupo Escolar da cidade. Veio para o estado

do Rio de Janeiro em 1912, encarregado de reformar a instrução primária do Ministério da Marinha.

Passou a morar no município de Iguaçu na década de 1910, na localidade de Meriti, onde ocupou o

posto de subdelegado, tornou-se vereador em 1922, tendo assumido a presidência da Câmara em 1923

(PREFEITURA DA CIDADE DE NOVA IGUAÇU, 2003, p.41). A POSSE DA NOVA CAMARA

MUNICIPAL DE IGUASSÚ, 22 mar 1933.

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conservadoras, liberaes independentes”.449

Esses conflitos eclodiram no dia da posse do

prefeito, quando Getulio de Moura liderou um movimento armado para impedir a posse, e ser,

ele mesmo, nomeado prefeito. Todavia, a sublevação foi detida pelas forças do exército da

Vila Militar, que não encontraram resistência. Autoridades da polícia fluminense chegaram à

cidade na parte da tarde, interrogaram as partes envolvidas e reconduziram o coronel Carlos

Mattos ao cargo de prefeito interino. No dia seguinte, foi aberto inquérito na Chefatura da

Polícia Fluminense, e o interventor Plínio Casado teve reunião com Getúlio Vargas para tratar

do acontecido em Iguaçu.450

Apesar do ocorrido, Sebastião de Arruda Negreiros tomou

posse.451

No cenário estadual, a instabilidade se expressava na sucessão de interventores. No

primeiro ano da gestão de Arruda Negreiros (1930-1936), passaram pela interventoria do

estado, Plínio Casado, o general Menna Barreto, o coronel Pantaleão da Silva Pessoa, e por

último, o comandante Ary Parreiras, que recebeu de Nova Iguaçu um abaixo-assinado pela

permanência de Arruda Negreiros na prefeitura. O documento continha assinaturas de

representantes do comércio local e de outras categorias, incluindo sócios e diretores da União

das Classes Conservadoras do município, o que levou o presidente da entidade, José Pedro

Cardoso, partidário de Getulio de Moura, a também assinar o documento.452

Enquanto os grupos liderados por Manoel Reis ocupavam a administração municipal,

Getulio de Moura se tornava o principal mobilizador da criação de núcleos do Clube 3 de

Outubro na região, organização que, emanada de setores das lideranças do golpe civil-militar

de 1930, buscava defender o Governo Provisório. Em 1932, o Correio da Lavoura noticiava

que o Partido Revolucionário de Iguassú “acaba de transformar-se em Club 3 de Outubro,

adoptando o programma e idéas da grande agremiação partidaria com séde na Capital do

paiz”. Do diretório do Clube em Iguaçu presidido por Getulio Moura participavam, entre

outros, Silvino de Azeredo Filho e José Pedro Cardoso.453

O que se observa, na composição da sociedade política em Nova Iguaçu no pós-1930,

é que correntes políticas da região, ambas alinhadas ao movimento revolucionário, buscavam

obter maior expressão junto ao Governo Provisório e aos interventores federais no estado.

Enquanto Sebastião de Arruda Negreiros representava a força do antigo político Manoel Reis,

449

EM TORNO DA NOMEAÇÃO DO PREFEITO DESTE MUNICIPIO, 18 DEZ. 1930. 450

EM TORNO DA NOMEAÇÃO DO PREFEITO DESTE MUNICIPIO, 18 DEZ. 1930. 451

O NOVO GOVERNO DO MUNICIPIO, 25 dez. 1930. 452

O ABAIXO-ASSINADO PARA MANTER O PREFEITO SEBASTIÃO DE ARRUDA

NEGREIROS, 04 fev. 1932. 453

CLUB 3 DE OUTUBRO DE IGUASSSÚ, 10 mar 1932.

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aliado de Nilo Peçanha no estado, Getulio de Moura também crescia no cenário político da

cidade como liderança local.

No estado do Rio de Janeiro, a recuperação econômica pela atividade agropastoril

perdurou na agenda dos governos durante a Primeira República, foi reiterada na década de

1930 e assumida pela interventoria de Ernani do Amaral Peixoto, durante o Estado Novo

(FERNANDES, 2009, p. 127). Os discursos e práticas para esse soerguimento permaneceram

ancorados nas ferramentas da mecanização da produção, na adoção de métodos autorizados

por agrônomos e engenheiros e em propostas de educação agrícola.

É sintomática desta conjuntura a visita que Getúlio Vargas fez ao município.

Realizada em junho de 1931, foi a primeira visita oficial que o Chefe do Governo Provisório

fez fora do Distrito Federal.454

A comitiva era integrada pelo Dr. Arthur Torres Filho, chefe

do Serviço de Fomento Agrícola (vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura) e

por integrantes do Ministério de Agricultura. O presidente Getúlio chegou ao município de

carro, transitando por estradas recém-construídas, fazendo paradas nas localidades de

Nilópolis e Belford Roxo, e sendo recebido por Manoel Reis e pelo prefeito Sebastião de

Arruda Negreiros.

A aparição do chefe do Governo Provisório no município integrava a programação dos

festejos pela comemoração do aniversário de 40 anos de fundação da cidade de Nova Iguaçu,

segundo o Correio da Lavoura:

Na impossibilidade de serem realizados alguns actos que o governo local pretendia

festejar no dia 19 e para os quaes havia convidado a assistil-os o dr. Getulio Vargas,

chefe do governo provisório, foram realisados no dia 21 com a assitencia do dr

Getulio Vargas e outras autoridades superiores do Paiz.455

Essa visita, segundo Waldick Pereira, também resultava dos apelos promovidos pela

Associação dos Fruticultores de Iguaçu (1977, p.136). É importante notar que o evento, com

uma extensa agenda de inaugurações no distrito-sede, acenava para as possibilidades de

manutenção da importância das atividades econômicas dos setores agrários fluminenses na

correlação de forças do pós-1930. Pelos sujeitos envolvidos, representantes do Ministério da

Agricultura, ficavam patentes as relações mantidas entre as agências estatais que

representavam interesses dos setores agrários menos privilegiados durante a Primeira

República e os grupos políticos e econômicos locais defensores da citricultura.

454

A VISITA DO DR. GETÚLIO VARGAS A NOVA IGUASSÚ, 25 jun. 1931. 455

PASSOU, NO DIA 19 DO CORRENTE, O 40º ANNO DE FUNDAÇÃO DESTA CIDADE, 25 jun

1931.

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No distrito-sede, Nova Iguaçu, o Chefe do Governo Provisório inaugurou a rua

Presidente Vargas (antiga rua França Soares), participou do lançamento da pedra fundamental

do Hospital Iguaçu onde ocorreu missa campal. Por fim, iniciou o funcionamento da primeira

packing-house para o beneficiamento de laranjas, instalada em um prédio construído, enfim,

pelo Ministério da Agricultura, sob a direção do Dr. Torres Filho. Meses antes o

estabelecimento havia sido inspecionado pelo ministro da Agricultura, Assis Brasil, que foi

acompanhado, entre outras pessoas, por Arthur Torres Filho, diretor do Fomento Agrícola e

Antônio Torres, diretor do Instituto Biológico.456

Na inauguração da packing-house, Arthur Torres fez uma “bella oração technica,

salientando o que o governo já fez e o que ainda é preciso fazer em prol da pomicultura

nacional”.457

Sebastião Herculano de Mattos, fundador e presidente da Associação de

Fruticultores, também discursou, apresentando dados da exportação de laranjas e acentuando

os relevantes serviços prestados aos citricultores pelo Ministério da Agricultura, por meio dos

diretores do Fomento Agrícola e do Serviço de Defesa Sanitária Vegetal:

Incansaveis têm sido os agrônomos dessas Directorias, que sob a orientação de seus

chefes, desde 1922 veem estudando os nossos pomares e instruindo os nossos

citricultores, no sentido de dar uma diretriz scientifica as novas culturas de

laranjeiras. É bem digna dos cuidados dos governos, é essa nova fonte de riqueza

nacional.458

Compartilhando dos mesmos interesses pela mecanização da lavoura, o representante

dos citricultores congratulava-se com o presidente Vargas, em nome da Associação dos

Fruticultores de Iguassú, “que desde a sua fundação se bate pelo progresso da cultura da

laranjeira, adopção dos methodos mmodernos (sic) de embalagem e à conquista de novos

mercados”.459

Iguaçu passou a receber para beneficiamento a produção de laranjas de Campo

Grande, Santa Cruz e Bangu (PEREIRA, 1977, p.128). Além da inauguração oficial da

packing-house, que implementava tecnologia para baratear a produção e a exportação das

laranjas, cabe ressaltar iniciativas particulares promovidas para a mecanização da agricultura.

Alberto Cocozza já havia introduzido maquinaria na seleção e tratamento das frutas na década

de 1920, acompanhado pelos irmãos Guinle, proprietários de moderno barracão em Cabuçu,

que adotaram o uso de máquinas para fabricação de caixas apropriadas ao acondicionamento

dos frutos (Ibidem, p.139-140). No final do ano de 1931, outras 13 packing-houses já estavam

456

O SR. MINISTRO DA AGRICULTURA EM VISITA A ESTA CIDADE, 12 mar 1931. 457

A VISITA DO DR. GETÚLIO VARGAS A NOVA IGUASSÚ, 25 jun. 1931. 458

Idem. 459

Idem

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207

instaladas no município. E, em 1935, eram 24 estabelecimentos, além do aumento do número

de barracões destinados à confecção das caixas para acondicionamento dos frutos (Ibidem,

p.141). Postos de embalagem e beneficiamento também eram sustentados pelos principais

exportadores da região.

Há registros de outra visita do presidente Vargas, em 1932, na localidade da Fazenda

de São Bento, por ocasião das obras de saneamento da Baixada e da inauguração, ali, de uma

colônia agrícola. Naquela ocasião, o presidente também foi acompanhado pelo deputado

estadual Manoel Reis “proprietário e lavrador”.460

O ministro da Agricultura também voltou

à cidade, em 1934 e 1937 (PEREIRA, 1977, p.142).

A importância da citricultura para a economia fluminense e nacional é reafirmada na

arena política e econômica que se abre com Revolução de 1930. Em benefício da produção

agrícola e da recuperação econômica foram justificadas e defendidas ações para modernização

e reformas no município, introdução de métodos e maquinário na produção, além de intenso

debate promovido em torno da instrução.

É possível afirmar que Iguaçu representa uma experiência desse projeto de sociedade

que concatenou modernidade, ruralismo e instrução como eixos de seu “progresso”. Pelo

menos, na parte de seu território onde a citricultura se afirmou e retardou os processos de

loteamentos e urbanização. Pelas expectativas em escolarizar e modernizar as relações sociais

de produção – sujeitos, maquinário, métodos - a agricultura era revestida de função

qualitativamente distinta, nova, ainda que, também interessasse, manter parte do “arcaico”,

como a questão da remuneração dos trabalhadores (OLIVEIRA, 2003).

Dialeticamente, nota-se, neste movimento, que a “modernidade”, definida pela

introdução de alguns melhoramentos, era um argumento utilizado para sustentar, justificar e

disputar a primazia da citricultura para o desenvolvimento do município, mesclando,

equiparando e projetando, nessas operações, os interesses de grupos locais como interesses da

população local, do município, do estado e da nação.

Pelas lentes do Correio da Lavoura, nota-se que o entusiasmo pela administração do

Dr. Mario Pinotti, no começo da década de 1920, voltou à tona na avaliação da administração

do prefeito Sebastião de Arruda Negreiros, no pós-1930. Em ambos os casos, o que a

cobertura jornalística divulga são as intervenções que incidem sobre as condições de

infraestrutura do município, especialmente em sua sede, como as medidas destinadas ao

saneamento, obras públicas, instrução e profilaxia para a população local. Obviamente, o

460

FORTE, 1933, p. 69.

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destaque que estas ações ocuparam nas notícias do Correio da Lavoura explica-se por suas

bandeiras, reiteradas a cada aniversário do Jornal, de lutar pela higiene, lavoura e instrução.

Por isso, a análise das reportagens buscou estar alerta para não se deixar capturar pelas suas

lentes. Por outro lado, como não dar crédito ao mesmo, enquanto agente fiscalizador do

alcance de suas próprias lutas no município? Ademais, os principais dirigentes do Jornal, que

tanto saudaram a administração do prefeito Sebastião de Arruda Negreiros, eram partidários

de Getulio de Moura, líder de outra fração do poder local.

Sustenta-se, neste trabalho, que as medidas pela modernização do município, desde

reformas no distrito-sede até a ampla intervenção sobre o saneamento da região da Baixada,

com forte atuação da interventoria estadual e do governo federal, propiciaram a gestação, em

concomitância com os grupos locais, de um movimento político pela construção da “Nova

Iguaçu”. Além das medidas modernizantes para beneficiar o escoamento da produção de

laranjas, favorecendo o barateamento da produção e da exportação, nota-se um forte

empenho, nos grupos locais do município, em tornar Nova Iguaçu, de um espaço, em um

lugar. Isto é, há fortes investimentos em construir uma identidade local entre a história do

município (a partir da história do distrito-sede) e a valorização da função da citricultura para o

almejado progresso da região. Estes movimentos ficam mais evidentes em toda a simbologia e

ações práticas que revestem as comemorações do centenário do município, em 1933.

Natália Crivello (2011), ao analisar a produção de uma memória local de valorização

da citricultura em Nova Iguaçu, identifica este processo a partir de ações dos setores

interessados na citricultura, ao vincularem mudanças no espaço urbano da cidade de Nova

Iguaçu com o progresso trazido pela citricultura. Esses setores operaram uma apropriação de

“elementos modernos” para perpetuar seus espaços de representação: “Em Iguaçu, as frações

de classe se apropriam de repertórios de modernidade para legitimar seu poder, sua

dominação no campo político” (CRIVELLO, 2011, p.67).

Nessa sobreposição do interesse de parte dos grupos locais pela afirmação da

citricultura – citricultores, produtores, exportadores – reside a construção do mito de ouro,

ainda hoje ressonante no município, da importância da citricultura para a história da cidade. A

produção de uma modernidade ancorada na produção agrícola, visualizada em reformas,

melhorias, ampliação do perímetro urbano, depositou, na criação de uma rede de escolas,

parte integrante dessa operação.

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O centenário e a “vocação agrícola” de Iguaçu: visões do passado e construções

do moderno

A gestão do prefeito Arruda Negreiros distinguiu-se por um amplo programa de obras

públicas. No relatório do primeiro ano de sua administração, dirigindo-se ao interventor Ary

Parreiras, afirmava que trabalhara procurando incentivar as fontes de riqueza do município.

Segundo o prefeito, por ter obtido o apoio de “todas as classes produtoras”, cumpriu seu

trabalho num ambiente tranquilo, no qual pode realizar “innumeros serviços de alta relevancia

que muito têm contribuido para o rapido e brilhante desenvolvimento do municipio”.461

No tocante às vias de comunicação da cidade, o prefeito lembrava que as estradas de

ferro eram as principais vias de transporte do município, porque as poucas estradas existentes

estavam abandonadas e “intransitáveis.” Esta situação prejudicava a citricultura, “grande

riqueza” do município, pela insuficiência de estradas para transporte do produto. Por isso,

ordenou a construção de 14 estradas de rodagem ligando as principais povoações à sede do

município e ao Distrito Federal.

No relatório, o prefeito inventariava a extensão das obras em cada estrada construída,

sempre destacando os benefícios que originavam para a citricultura. Para esse fim, as obras

nas estradas resultavam em atividades de aterro e alargamento, construção de pontes, de

passagens de nível das ferrovias, modificação de cursos e traçados, remoção de atoleiros,

construção de valas e usos de manilhas para escoamento de águas estagnadas; O relatório

assinalava, ainda, o trabalho de conservação das estradas e as melhorias realizadas em cada

distrito, com o calçamento de ruas, a construção de drenos para evitar enchentes, construção

de jardim público na Praça João Pessoa (com serviço de aterro), melhorias do serviço de

distribuição de águas, serviços de capinação. No distrito-sede, foi realizado o serviço de

“remodelação geral de quase todas as ruas da cidade”, e o prefeito concluía que: “a cidade

está em perfeito estado de limpeza.”462

Os serviços de iluminação pública e particular também foram alvo de melhorias,

porque o contrato firmado pela Prefeitura, em 1903, para o serviço, já era obsoleto em função

do crescimento populacional no município, principalmente na cidade de Nova Iguaçu, e pela

“formação de grandes centros de população e commercio na zona limitrophe com o Districto

Federal”. Devido à relevância da iluminação pública, “este importantíssimo factor do

461

PREFEITURA MUNICIPAL DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano XVI, n.784, 22 MAR

1932. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Comandante Ary Parreiras, interventor do Estado do Rio, pelo Exmo

Sr. Dr. Sebastião de Arruda Negreiros, Prefeito de Iguaçu,durante o ano de 1931. Iguaçu, 1932. Publicado no

Correio da Lavoura, em 22 mar. 1932, Ano XVI, n.784. 462

Idem.

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210

progresso”, o relatório indicava detalhadamente os distritos e localidades que receberam a

distribuição e os que estavam por receber.463

Outra realização importante foi o início das obras de construção do hospital do

município. No capítulo sobre “Hygiene e saude publica”, o prefeito abordava o problema do

saneamento, posto que a inexistência do serviço de esgotos no distrito-sede era um obstáculo

ao embelezamento das ruas e prejudicava as condições de “higiene da cidade”. Diversas

turmas de trabalhadores eram empregadas nos serviços de saneamento, enquanto a Diretoria

de Higiene fazia a inspeção de casas particulares, a fiscalização dos gêneros alimentícios e

exames do leite para consumo. O relatório informava sobre a existência do matadouro

modelo, a organização das feiras livres e os problemas do abastecimento de água.

Um capítulo especial foi destinado à citricultura “que é a grande riqueza do

municipio”, e apontava os melhoramentos impressos à produção devido aos ensinamentos

recebidos de técnicos, sobre a preparação dos terrenos e semeadura dos pomares, o

crescimento da produção e da arrecadação, e o desenvolvimento de indústrias para a

fabricação de caixas para o acondicionamento das frutas.464

A importância do extenso programa de obras concretizado foi reiterada nas

comemorações de aniversário da gestão de Arruda Negreiros, que se realizaram por excursões

de comitivas de automóveis que inauguraram estradas e visitaram praças, como a Praça

Getúlio Vargas, inaugurada em Belford Roxo.465

Em meio a essas modificações na infraestrutura do município, no ano de 1932, o

prefeito iniciava os preparativos para a comemoração do centenário de fundação do

município, por ocasião da fundação da Vila de Iguaçu, em 1833. Várias comissões se

estabeleceram, com a participação de membros da sociedade local, pertencendo a esse

movimento, também, Sebastião Herculano de Mattos, representante dos citricultores e Silvino

de Azeredo, diretor-proprietário do Correio da Lavoura. Nota-se, ainda, que Getulio de

Moura não participou de nenhuma das comissões.466

O Correio da Lavoura deu visibilidade à execução do imenso programa comemorativo

do centenário, que começou com missa em homenagens póstumas a personagens consideradas

importantes, nascidas no município. Contou com missa campal na escadaria do hospital em

463

PREFEITURA MUNICIPAL DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano XVI, n.784, 22

MAR 1932. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Comandante Ary Parreiras, interventor do Estado do

Rio, pelo Exmo Sr. Dr. Sebastião de Arruda Negreiros, Prefeito de Iguaçu,durante o ano de 1931.

Iguaçu, 1932. Publicado no Correio da Lavoura, em 22 mar. 1932, Ano XVI, n.784. 464

Idem. 465

O PRIMEIRO ANIVERSÁRIO DA GESTÃO ARRUDA NEGREIROS, 24 dez. 1931. 466

1º CENTENÁRIO DO MUNICIPIO DE IGUASSU, 22 dez. 1932.

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obras; parada esportiva organizada pelo Sport Club Iguassú; banquete oferecido pela

municipalidade às altas autoridades. No banquete, discursaram Sebastião de Arruda

Negreiros, Sebastião Herculano de Mattos; Manoel Reis e o Dr. Mario Guimarães.467

Foi

inaugurado o monumento comemorativo ao centenário, erguido na Praça Ministro Seabra,

defronte à estação de trens do distrito-sede, ocasião na qual Getulio de Moura também

discursou. Houve batalha de confetes entre os populares nas ruas e praça do distrito-sede,

além de baile noturno na sede do Sport Club Iguassú.468

Figura 24 Fotografia da Praça Ministro Seabra. Monumento ao Centenário do município.

Fonte: Estado do Rio de Janeiro. O governo do Estado do Rio de Janeiro e de suas municipalidades durante o

ano de 1933. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Ary Parreiras, Niterói, 1934,

p.249.

No programa de comemorações do centenário, o prefeito Sebastião de Arruda

Negreiros encomendou um livro sobre a história do município. Essa ação nos remete à prática

corrente no período, contida nos projetos da intelectualidade fluminense, de construir a

história do estado do Rio do Janeiro, movimento que interessou e envolveu os dirigentes

políticos do estado e participantes de movimentos culturais. José Matoso Maia Forte, a quem

foi encomendado o livro sobre a história de Nova Iguaçu, integrava o rol de autores que

467

Mario Guimarães era advogado e exerceu a função de delegado regional de polícia. Tornou-se

opositor de Getúlio de Moura e líder da UDN local, seguindo carreira política no poder legislativo a

partir de meados da década de 1930 (PREFEITURA DA CIDADE DE NOVA IGUAÇU, 2003, p.38). 468

CENTENÁRIO DO MUNICIPIO DE IGUASSÚ, 19 jan. 1933.

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participaram de um movimento que marcou a escrita da história do estado do Rio de Janeiro, a

partir da década de 1920.

Rui Aniceto Fernandes (2009), ao examinar as publicações fluminenses das primeiras

décadas republicanas, produzidas sob a égide do projeto de Nilo Peçanha, avalia que eram

obras compromissadas em oferecer dados e argumentos que sinalizassem um novo futuro em

construção, negando o passado imperial como relevante, enfatizando o presente como tempo

de grandes avanços. Nessa linha, o Álbum do Estado do Rio de Janeiro, encomendado para os

festejos do Centenário da Independência, apresentava um passado de crise que estava sendo

superado pela atuação de Nilo Peçanha. No Álbum, se construía uma imagem progressista

para o estado, garantida por uma geografia propícia ao desenvolvimento econômico e pelos

esforços em promover a instrução (FERNANDES, 2009, p. 72).

Após a intervenção federal de 1923 no estado e a afirmação de novos grupos no poder,

outro tipo de visão da história local passou a ser valorizada pelos dirigentes políticos. Os

debates e reflexões que permearam a década de 1920 também provocaram os intelectuais

fluminenses em novas direções na forma de lidar com a história local. Surgiu no estado a

agremiação “Renascença Fluminense”, que recebeu o apoio de Feliciano Sodré, governante

que buscava desmantelar o prestigio de Nilo Peçanha. Esse projeto se anunciou na elaboração

de livros sobre a história do estado do Rio de Janeiro, destinados às escolas primárias e ao

ensino normal, escritos por João Ribeiro Pinheiro, Antônio Figueira de Almeida, Clodomiro

Rodrigues de Vasconcellos e José Mattoso Maia Forte.

O movimento renascentista não buscou o passado recente (nilista), mas o passado

colonial e provinciano para contar a história regional do estado, construindo uma visão de

constante centralidade e importância do Rio de Janeiro na história da colônia, do império e da

República, reabilitando o Império como período de esplendor da província. Esses livros,

assim como a construção de monumentos históricos pomposamente inaugurados, a realização

de palestras e as reformas na instrução pública, integravam a elaboração de uma “pedagogia

cívica”, que pretendia dar visibilidade à contribuição da história local fluminense para a

história pátria (Ibidem, p. 124). Observa-se, também, que esse projeto integrava um empenho

em divulgar positivamente o estado do Rio de Janeiro no cenário nacional, no qual o pacto

oligárquico secundarizava a importância política do estado em comparação com Minas Gerais

e São Paulo.

O livro Memoria da Fundação de Iguassú. Comemorativa do Primeiro Centenario da

Fundação da Villa em 15 de janeiro de 1833 exibe as marcas desse modo de fazer a história.

O autor é apresentado como membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da

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Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, da Academia Fluminense de Letras e da

Associação Brasileira de Imprensa e justificava o livro como “incumbência” recebida do

prefeito Sebastião de Arruda Negreiros.

A narrativa do livro revela os compromissos do autor com a pesquisa em história, ao

procurar amparar-se em estatísticas, fontes e informações de procedência citada, geralmente

documentos “oficiais”. José Matoso Maia Forte preocupava-se igualmente em avisar ao leitor

sobre “omissões ou falhas”, sugerindo que fossem relevadas, em face do tempo de realização

da obra, vinte dias, mesmo que o autor “já possuísse numerosas notas sobre Iguassú” .469

Outra marca presente é o esforço em reconstituir detalhes da formação territorial, de

forma que o livro de Maia Forte informa sobre a construção administrativa e judiciária da

região, desde o período das capitanias hereditárias até a formação das freguesias e vilas,

buscando informações sobre o processo de povoamento e o crescimento populacional nestas

localidades. A configuração dos marcos territoriais e da jurisdição do local denotam, segundo

o autor, “o embryão do futuro municipio de Iguassú”.470

A recomposição dos limites

territoriais, da formação de distritos, da perda de territórios persiste durante toda a obra.

Para a história da Vila de Iguaçu, o autor recupera o aparato legislativo de criação da

mesma, tecendo um tipo de história política, posto que “o território era tido como dado

primordial de definição da identidade de um local” (FERNANDES, 2009, p. 233). O capítulo

“Freguezias de ontem, districtos de hoje”, adensa o trabalho de detalhar a dinâmica de

configuração do território, o que acaba por produzir um efeito de identidade territorial que

perpassa os séculos e entrelaça os diversos distritos. A história da “Formação religiosa”, com

a criação de capelas, igrejas e freguesias é contada de forma a ressaltar a dimensão e a difusão

do cristianismo no município. O capítulo sobre “Antigas familias” lança um efeito de

valorização da história do município, devido a seus ilustres “filhos”, pertencentes a famílias

de nobres, militares, bacharéis, proprietários etc.

Além dos marcos territoriais, Maia Forte estabelece uma periodização específica para

a história da localidade. Desta forma, a criação da vila e a transferência de sua sede, em 1891,

são apontados como marcos do início de uma “nova phase para a vida do municipio”.471

A

mudança do nome Maxambomba para Nova Iguaçu e a criação de comarcas judiciárias são,

do mesmo modo, “registros” do desenvolvimento. Como explica Rui Fernandes, nesse modo

de fazer história,

469

FORTE, 1933, p. 131. 470

Ibidem, p.11. 471

Ibidem, p.17.

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214

A rápida evolução político-administrativa era tida como um indício de progresso.

Nesse sentido, a história possuía um sentido progressista, em que a localidade

possuía fases demarcadas de desenvolvimento, no qual um estágio superaria o outro

pelo grau de crescimento que possuía (Ibidem, p. 233).

Maia Forte destaca algumas mudanças introduzidas em Maxambomba, Nova Iguaçu, a

partir de 1916 como representativas do desenvolvimento da localidade, tais como a

iluminação elétrica, o abastecimento de água potável, o estabelecimento de fossas

biológicas.472

A menção à existência de escolas é sintomática da identificação entre instrução

e modernidade: “Ha na cidade, varios estabelecimentos de ensino primario, publicos,

custeados pelo Estado e pelo município, além de institutos de ensino particular”.473

Em

seguida, registra os edifícios existentes, os serviços de correios e telégrafos, o hospital em

construção, a rede de estradas, as casas comercias, casas de diversões e transporte freqüente e

barato, conferindo ao distrito-sede “vida própria, bastante animada”.474

É significativo o capítulo “Expansão agrícola”, no qual a “vocação” agrária da região é

delimitada desde a colonização, pela produção de seus engenhos, a função de transporte

realizada por rios, caminhos de terra firme e ferrovias. Porém, o autor não se isenta de tratar

das crises que assolaram a região em meados do século XIX, em função dos problemas

causados pelas inundações, pelo assoreamento de rios e proliferação de pântanos. Todavia,

soluções foram propostas durante o período republicano, na figura de Nilo Peçanha e,

também, por Getúlio Vargas. Nesse ponto, nota-se, ainda, a presença do marco da escrita da

história do período nilista, no qual o período Imperial é tratado como reduto de crises

solucionadas pela República. Vale lembrar, aqui, que Matoso Maia Forte foi secretário de

estado de Nilo Peçanha.

O capítulo final do livro ajuda a situar o seu significado como produto das

comemorações do centenário do município. Chama-se “Resurreição”(sic) e versa,

essencialmente, sobre o “progresso” verificado nos últimos “25 anos”, o que situava uma fase

de mudanças a partir da década de 1910. O autor retoma informações sobre a área total do

município, oferece dados do crescimento populacional e enfatiza a função das ferrovias como

fatores de desenvolvimento. Também ressalta as riquezas naturais da região e suas condições

de exploração, a fertilidade dos terrenos etc., a instalação de alguns tipos de indústrias, além

da valorização dos terrenos destinados aos loteamentos. Mas o destaque principal, de toda a

“riqueza agrícola de Iguassú”, recai sobre a citricultura, que se beneficiou pela orientação por

472

FORTE, 1933, p. 91-92. 473

Ibidem, p.92. 474

Idem.

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215

“processos modernos, scientificos e commerciaes” do plantio à colheita.475

Ao utilizar dados

sobre as áreas de cultivo, o número de citricultores, as vendas do produto, a arrecadação

municipal e estadual, o autor argumentava sobre a importância da citricultura para o

desenvolvimento econômico do município. E desta forma conclui:

Assim volve para Iguassú, sob outras formas e com diversa riqueza agricola, a

antiga prosperidade rural. Aos iguassuanos, que, embora sob a constate ameaça da

malaria, da opilação, e de outros males, se aferraram ao solo, não o abandonaram e

tiveram como ponto de fé a resurreição de sua terra, e por ella deram o concurso do

seu braço e do seu espirito, deve o municipio a sua época atual de renascimento.

Honra aos vivos e curvemo-nos, neste promissor centenário da fundação da villa de

Iguassú, diante da memoria dos que, hoje, na Eternidade, a engrandeceram no

passado, quer nos seus dias de fastigio, quer nos de sua adversidade.476

Neste sentido, o livro encomendado a Matoso Maia Forte, ao legar ao município sua

própria história, ofertava muitos motivos para a comemoração, em função de um passado

longo e próspero e de revitalização sem precedentes no presente. É um esforço em construir

uma identidade para o município, em torno de sua vocação agrícola e de sua história. O

processo de loteamentos urbanos, ocorridos em outros distritos do município, por exemplo, é

pouco mencionado.477

É interessante notar que o livro tornou-se uma referência bibliográfica para diversos

trabalhos acadêmicos e memorialísticos sobre o município, nem sempre situados – o autor e a

obra – no tipo de compromissos que comporta. Assim, há estudos que acabam perpetuando

um esplendor acerca da Vila de Iguaçu e a importância da citricultura para a recuperação

econômica. Talvez isso explique a menor produção de estudos sobre os loteamentos urbanos

em outros distritos do município e o maior volume de pesquisas sobre a economia agrícola,

sobretudo do distrito-sede.

O Correio da Lavoura também publicou matérias comemorativas na data de fundação

da vila, nas quais é possível observar essa representação sobre a história do município. Na

primeira página do Jornal, publicado na data do aniversário da Fundação da Vila, encontra-se

a fotografia do prefeito e o escudo do município, criado por ocasião das comemorações. Outra

fotografia apresenta uma “Vista parcial da cidade de Nova Iguaçu”.

Por entre essas imagens, um texto discorre sobre a história do município, a partir de

um enredo que parte da colonização, ressalta a importância da Vila durante o Império, a

mudança da sede para Maxambomba e a conservação do nome Iguaçu em 1916.478

Na história

do município narrada pelo Jornal, figura a valorização de um passado esplendoroso, com

475

FORTE, 1933, p. 124. 476

Ibidem, p. 126. 477

Ibidem, p. 124. 478

O 1º CENTENARIO DO MUNICÍPIO DE IGUASSÚ, 15 jan. 1933, p.1.

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“vestígios” na função de entreposto da Vila e pelos sujeitos “ilustres”, que nela nasceram,

“cujo valor e cultura enalteceram o município” como o Duque de Caxias, os Souza e Mello,

os Azeredo Coutinho, os Pereira Coutinho, os Pereira da Silva. Porém, a esse passado

glorioso, o enredo apresentado pelo Jornal acenava com um presente promissor, devido ao

“renascimento da antiga prosperidade agrícola”: “A terra da laranja, pelo labor de seus filhos,

está se apparelhando para um belo e grande futuro”.479

Na segunda página, o Correio da Lavoura exibe os sinais da modernidade no distrito

sede, encarnados nas fotografias das duas praças da cidade, pouco tempo antes reformadas:

São ellas, entre os logradouros públicos de uma grande cidade, elementos

imprescindiveis, factores indispensaveis de equilibrio do conjuncto urbano, pois sem

o concurso das mesmas muitos problemas hygienicos, estheticos, etc.,ficariam sem a

necessaria solução, com graves prejuizos para seus habitantes. Nova Iguassú ainda

não se pode orgulhar de constituir, actualmente, um grande centro urbano, mas

caminha incontestavelmente para tal.480

Na principal delas, a Praça Ministro Seabra, situada de frente para a estação de trens

de Nova Iguaçu, foi inaugurado o monumento comemorativo ao centenário. Em seu redor,

estão o Cine Verde e casas comerciais da região. No entorno da Praça João Pessoa,

encontravam-se as obras do hospital, o Fórum, a agência dos correios e a maioria das

repartições públicas locais.481

Foi produzida, também, em 1933, a “Polyanthéa Comemorativa ao Primeiro

Centenário do Município no Governo de Arruda Negreiros”. Trata-se de um conjunto de

textos, notas, informações, sobre assuntos diversos que dizem respeito ao município, ao seu

desenvolvimento e história, aos seus “ilustres” filhos e feitos. É um material que valoriza a

ação de Manoel Reis junto ao Governo Provisório, na obtenção de benefícios para a região

assim como a condução de Arruda Negreiros ao cargo de prefeito do município. Mesmo

sendo de autorias diversas e de outras sem assinatura, em linhas gerais, a publicação reitera a

história sobre o município que aparece em Maia Forte e no Jornal Correio da Lavoura.

Sebastião Herculano de Mattos escreve um artigo sobre a situação da laranja (“Iguassú

e sua citricultura”). Por sua vez, um texto sem assinatura intitulado: “Iguassú – o maior centro

produtor de laranjas do continente” expõe dados do crescimento da produção e da exportação,

avaliando que “Iguassú dá assim mais um motivo de orgulho ao Estado do Rio, nessa feição

de actividade agricola: é o centro maximo da cultura e exportação de fructas citricas do

Continente e um dos maiores, senão o maior do mundo”. Os dados sobre a arrecadação

479

O 1º CENTENARIO DO MUNICÍPIO DE IGUASSÚ, 15 jan. 1933 480

AS NOSSAS PRAÇAS, 15 jan. 1933, p.2. 481

Idem.

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217

municipal, o desenvolvimento de casas comerciais e industriais, o número de prédios e as

estradas de rodagem construídas são citados como indícios da conquista de “um índice

admirável de vitalidade e de progresso”482

.

A instrução também é um dos argumentos deste progresso almejado. O texto “A

instrução em Nova Iguassú – índices maravilhosos do seu desenvolvimento” apresenta dados

da instrução, alegando que sempre foram destinadas verbas para a instrução no orçamento

municipal:

Aos esforços melhores em pról da instrucção publica no Brasil, deve-se juntar o que

Nova Iguassu’ patrioticamente vem dispensando sem alarde, mas com a segurança

de quem realisa uma obra efficientemente nacional, a favor da cultura do paiz.

Certo de que não se desperdiça o que se gasta no combate ao analphabetismo, antes

se ganha dando ao paiz cidadãos conscios dos seus deveres e direitos, o Municipio

reservou sempre nos seus orçamentos uma verba para a instrucção publica,

cooperando pujantemente na obra de disseminação do ensino.

E cada dia, porque a sementeira benefica na esmorece, antes, as mãos que semeiam

se multiplicam num milagre cívico, augmentam os estabelecimentos escolares

estaduaes, municipaes e particulares e consequentemente os benefícios prestados à

communhão social.

Uma demonstração rapida mostrará o esforço louvavel de Iguassu’, no proposito de

combater o analphabetismo e conquistar o logar a que faz jús dentre as unidades

brasileiras que reconhecem a necessidade de se elevar o nivel moral dos cidadãos

pela força da sabedoria. 483

Ao dispor de números sobre a instrução no município em 1933, pela existência de um

Grupo Escolar e 40 “escolas isoladas” mantidas pelo governo estadual (com 5.491 alunos), de

33 escolas municipais (com 2.125 alunos), a existência de cinco escolas particulares (total de

929 alunos), sustentava-se que “O desenvolvimento da instrucção publica em Iguassu reflete

magnificamente o seu progresso, o seu adiantamento”. A ação municipal era valorizada,

ainda, pela subvenção de três dos institutos particulares de ensino.

Examinam-se aqui todas as comemorações do Centenário do município como um

empenho de dirigentes políticos de Iguaçu e de setores organizados politicamente da

sociedade civil, em promover o desenvolvimento do município, de diagnosticar ou de

convencer sobre a inserção daquele território na corrida rumo ao progresso. O alcance da

“civilização” almejada dependia de intervenções sobre as condições infraestruturais do

município (desde o saneamento à distribuição de água e implantação da rede de esgotos,

iluminação elétrica, reforma de ruas e espaços públicos, construção e conservação de estradas

de rodagem, construção do hospital etc.). Dependia, também, do incremento econômico da

citricultura e da introdução de conhecimentos técnicos em seu cultivo; do processo de

482

NOVA IGUAÇU. Iguassú – o maior centro produtor de laranjas do continente. Polyanthéa

Comemorativa ao Primeiro Centenário do Município no Governo de Arruda Negreiros, 1933. 483

NOVA IGUAÇU. A instrução em Nova Iguassú – índices maravilhosos do seu desenvolvimento.

Polyanthéa Comemorativa ao Primeiro Centenário do Município no Governo de Arruda Negreiros,

1933.

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loteamentos nos distritos limítrofes ao Distrito Federal e do desenvolvimento da educação

escolar.

A construção da “Nova Iguaçu” articulou a introdução do “novo” em relações sociais

de produção “arcaicas”, na evocação do passado, quando isto resultava em afirmar a “vocação

agrícola”, e na projeção da continuidade dessa “vocação” no futuro promissor, previsão que

decorria das expectativas depositadas no “presente”, sendo este ancorado nas operações

realizadas pelos grupos dirigentes e por representantes dos lavradores, proprietários e

comerciantes, na importância econômica da citricultura.

Escolas e estradas: caminhos da modernidade iguaçuana

As ações do prefeito Arruda Negreiros em prol das comemorações do centenário

incitou a produção de uma coleção de fotografias que o mesmo encomendou. Até o momento,

sabe-se que este acervo foi composto por fotografias das estradas e das escolas do município.

Os pesquisadores da região referem-se ao conjunto de fotografias como “Coleção Arruda

Negreiros”.

Percorrendo os acervos do Instituto de Pesquisas Históricas e Análises Sociais da

Baixada Fluminense (IPAHB), do Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu (IHGNI) e

de particulares, foi possível reunir e digitalizar 76 fotografias de escolas.

Este conjunto não é o acervo completo de fotografias de escolas, porque alguns

pesquisadores ficaram de disponibilizar outras fotos da coleção, mas as promessas não se

cumpriram ao prazo de término desta pesquisa...

Não houve acesso ao conteúdo do álbum na sua integridade. Em algum momento, o

álbum foi desfeito, as fotos foram distribuídas, pelo que se pode notar, conforme a área de

atuação destes pesquisadores e instituições. Assim, fotos de escolas do distrito-sede ficaram

com o Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu, fotos de escolas de São João de

Meriti foram depositadas no Instituto de Pesquisas Históricas e Análises Sociais da Baixada

Fluminense (IPAHB), porque um de seus dirigentes pesquisa essa região. De modo geral, os

interesses de acervo e pesquisa estabeleceram o critério de divisão do acervo.

Até agora, somente por ocasião desta pesquisa é que parte destas fotografias foram

novamente reunidas, sob a forma digitalizada. Não foi recomposto o acervo de fotografias das

estradas. Não foi descoberto se a prefeitura, ou outro pesquisador, possui outra edição ou

cópia da coleção. A datação das fotografias é atribuída entre 1932 e 1933, em função do

centenário de fundação da Vila ter ocorrido em janeiro de 1933 e pelo cruzamento com

informações de outras fontes de pesquisa.

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A fotografia, tal como qualquer registro instrumentalizado como fonte pelo

historiador, precisa ser problematizada e interrogada. Recompor a origem e trajetória do

acervo e as possíveis imbricações com outros documentos ou fotografias ampliam as

possibilidades de uso para além de insuficientes, e por vezes, inadequados, recursos de

ilustração (MAUAD, 2009, p.254).

O ato de fotografar serviu para documentar acontecimentos, sendo utilizado pela

imprensa e pelos governos. O empenho das administrações públicas em registrar através de

fotografias realizações como obras e construções esteve presente desde fins do séc. XIX

(VIDAL, 1998, p.81). Em função do estatuto de credibilidade e de evidência da narrativa

imagética, utilizava-se o registro fotográfico para atestar e propagandear as ações dos

governantes em prol do progresso e da modernidade.

Essa finalidade deve ser considerada para situar o acervo fotográfico, no caso de

estradas e escolas fotografadas em Nova Iguaçu. É no rol das iniciativas pelo centenário de

fundação da Vila de Iguaçu que a prefeitura encomenda as fotografias. Tanto as escolas

quanto as estradas eram concebidas como mediações para a construção da modernidade e do

progresso em Iguaçu: “O que está em jogo, atualmente, no estudo da imagem é justamente sua

situação na sociedade que a produziu e a recebeu como forma de representação social, ou seja,

como suporte de uma experiência social passada, elaborada a partir de um conjunto de

mediações culturais específicas” (MAUAD, 2009, p.255).

O status de credibilidade e de evidência do registro fotográfico deve ser

desnaturalizado. É pertinente inserir a fotografia em seu percurso de produção, origem,

finalidade e consumos, enquanto um produto cultural, um objeto que comporta intenções e

que esteve suscetível a apropriações. A identificação dos sujeitos que encomendam as fotos,

do fotógrafo, e questões de ordem técnica ajudam a “retratar” a complexidade do artefato.

Rejeitar a singularidade do objeto e de seu conteúdo, e inseri-lo em seu contexto, descortina a

produção social da fotografia que, como as demais fontes: “são plenas de ambiguidades,

portadoras de significados não explícitos e de omissões pensadas, calculadas, que aguardam

pela competente decifração” (KOSSOY, 2002 apud LIMA, S., 2006, p.67).

Na recuperação do circuito da produção social das fotografias da Coleção Arruda

Negreiros, identifica-se que, produzidas para compor os festejos pelo centenário da Vila de

Iguaçu, em 1933, são resultado de um processo de construção de sentido (MAUAD, 2004,

p.27). Sob encomenda do prefeito, as escolas do município foram registradas pelo moderno

suporte da fotografia. A fotografia, na ótica da administração municipal, foi utilizada com um

recurso para “monumentalizar” e “documentar” as realizações no município. O registro de

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escolas e estradas explicitava os esforços presentes no município pela escolarização da

população e pelo desenvolvimento de uma infraestrutura que viabilizasse o transporte da

produção e de trabalhadores dos laranjais.

Fotografias encomendadas por governantes não “capturam” momentos importantes;

elas auxiliam a atribuir importância, a fabricar, a tornar relevante, aquele instante que será

registrado. A “solenidade” observada em fotos “oficiais”, pelos trajes dos sujeitos, pelas

poses, pelos objetos/pessoas enquadrados pela ótica do fotógrafo acenam para a configuração

de cenários e figurinos dirigidos, escolhidos, por critérios de ordem técnica, mas também

políticos, culturais, sociais (LIMA, S., 2006, p.65). A presença da máquina e do fotógrafo

podem induzir a falta de espontaneidade ou requerer (dado limites de captação de

movimentos) certa rigidez postural dos sujeitos.

As fotografias focalizaram alunos e professores; exceto em uma imagem, feita no

Grupo Escolar Rangel Pestana, na qual aparece a diretora Venina Côrrea – no centro da

imagem - ladeada por seis professoras adjuntas. A seção de cortes e costuras e a seção

profissional feminina são registradas, e os alunos, em todas as imagens do Grupo Escolar,

estão uniformizados.484

Nas fotografias de alunos e professores de Iguaçu, a rigidez, a forma, a reunião

apertada de alunos enfileirados, em pé, ajoelhados, sentados no chão, agachados, geralmente

de braços cruzados, sem sorrisos, olhando na direção da máquina, faz imaginar o tempo

levado a reuni-los e silenciá-los, a ajuda dos docentes. Que diferenças guardariam o registro

das crianças nos momentos anteriores ou posteriores ao clique oficial?

A historicidade da fotografia informa sobre as técnicas de registro. Os tipos de

máquinas, os recursos de captura, condicionavam as possibilidades de ação dos fotógrafos. Os

retratos de estúdio foram predominantes até a criação da máquina portátil em 1881, quando

foi então impulsionado o fotojornalismo e o registro de paisagens e exteriores (VIDAL,1998).

A partir da inclusão de fotografias em revistas e jornais, os usos da mesma iam se expandindo

nas primeiras décadas no século XX (ABDALA, 2008, p.82).

O uso das fotografias como meio de comunicar e testemunhar era bastante

disseminado nas primeiras décadas do séc. XX (Ibidem, p.87). Desde sua origem, debates

sobre a condição da fotografia como arte ou documento dividiam opiniões e modos de

trabalho dos fotógrafos. Alguns se alinharam ao pictorialismo, quando a ênfase recaía nos

efeitos produzidos pelo fotógrafo, enquanto outros ao fotojornalismo, ou pendularam nas

484

Fotografias consultadas no acervo do IHGNI.

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fronteiras entre essas propostas. O discernimento sobre a concepção do fotógrafo acerca de

seu ofício revela os sentidos atribuídos à fotografia, as escolhas de enquadramento, o uso ou a

dispensa de recursos como a trucagem (retoques, zoom etc.); pose (ensaio da postura dos

sujeitos); inclusão de objetos (que incluem informações ao momento); fotogenia

(embelezamento e melhoramentos da imagem por técnicas de iluminação, impressão ou

captura); esteticismo (fotografia como arte); sintaxe (sequência de fotografias que confere

sentido ao conjunto) (VANTI, 2006, p.129).

Os álbuns, surgidos em meados do XIX, também suscitaram a composição de fotos

que guardavam relações entre si. A partir de 1860, em São Paulo, o registro de escolas passou

a ser organizado em álbuns (VIDAL, 1998). Nas décadas de 1920, 1930 e 1940 foi ampla, em

diversas localidades, a prática do registro obras em andamento ou solenidades realizadas em

escolas. Em Uberlândia, por exemplo, entre 1933-1959 o inspetor do ensino, depois chefe do

Serviço de Educação e Saúde municipal, Jerônimo Arantes, encomendou fotografias das

escolas da região (nas quais também estava), chegando a ser constituído acervo de 1.269

imagens (LIMA, S., 2006, p.58). Para as administrações públicas, o registro do conjunto de

escolas, da extensão da rede escolar, seria argumento mais convincente dos alcances da ação

pública do que o registro de ações isoladas...

Fernando de Azevedo, enquanto foi Diretor Geral de Instrução Pública do Distrito

Federal, entre 1927-1930, serviu-se dos trabalhos de Augusto Malta para registrar o processo

de construção de prédios escolares, no bojo da reforma educacional que dirigiu no período.

Enquanto funcionário, Malta trabalhou como um repórter, “documentando” diversos aspectos

da cidade, incluindo a vida escolar. Outro renomado fotógrafo, Nicolas Alagemovits, alinhado

à concepção da fotografia como arte, foi contratado por Azevedo para registrar os prédios

escolares concluídos. Ocorreu um aumento do número de fotografias sobre instrução pública,

principalmente em 1929, no ano de entrega dos novos prédios, em comparação com as

administrações anteriores (ABDALA, 2008, p.86).

No contexto da reforma educacional era relevante o tema da especificidade da

arquitetura dos prédios escolares. Raquel Abdala sustenta, recuperando a trajetória de

Fernando de Azevedo, que este reformador deliberadamente recorreu ao registro fotográfico

como um recurso pedagógico, para colaborar na fabricação um discurso visual sobre o

andamento da reforma educacional no Rio de Janeiro. Por meio do registro das obras e dos

resultados, a ação dos fotógrafos, fomentada por Fernando de Azevedo, construía um

argumento visual de defesa dos recursos gastos nas construções (Ibidem, p.81).

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222

Interessante notar que, no final da década de 1920, havia um ambiente propício de

certo privilégio concedido às imagens. No Rio de Janeiro, a ambiência com a fotografia

ocorreu praticamente em concomitância com este processo na Europa desde fins do séc. XIX

(ABDALA, 2008, p.83). No Distrito Federal, a prefeitura de Pereira Passos organizou o

primeiro laboratório fotográfico para registrar a modernização da cidade.

Raquel Abdala refere-se a uma “mobilização perceptiva” (Ibidem, p.82)

experimentada pelos sujeitos num contexto de transformações urbanísticas e sociais, de

discussões sobre a arte e a educação estética e mesmo sobre o cinema e a fotografia. Enquanto

invenção tecnológica de fins do XIX, “a fotografia firmava-se com um dos ícones de

modernidade” (Idem).

Assim, a iniciativa do prefeito Arruda Negreiros era semelhante a de outros

governantes contemporâneos seus, em que a fotografia era um recurso legitimador de suas

ações administrativas (Ibidem, p.83). Pode-se até imaginar que ele tenha sido animado pelas

ações/fotografias divulgadas na imprensa, de outras administrações. Os registros de estradas e

escolas podem ser incluídos como símbolos do empenho para dar a ver e fazer convencer

sobre o desenvolvimento do município, sobre sua inserção nos padrões da civilização e do

progresso. Foram captados, a propósito, por um dispositivo “moderno”, como a fotografia.

Não foi identificado o fotógrafo das estradas e escolas de Iguaçu. Mas seu olhar está

inscrito nas fotos, nos enquadramentos feitos por sua técnica e por suas preferências. Mesmo

encomendada e produzida para “documentar”, a fotografia é constituída pela subjetividade do

fotógrafo (Ibidem, p.87). A expressão do fotógrafo é localizada nos modos como ele dispõe o

plano, o enquadramento e a composição, conforme seus objetivos e sensibilidade, condições

técnicas e resultados previstos (Ibidem, p.101).

Por ter sido encomendado um conjunto, as fotografias de escolas e estradas devem ser

analisadas como integrando uma sequência a ser lida. No caso da Coleção Arruda Negreiros,

a perda da disposição original impede este tipo de análise de sequência que poderia reter

indícios de como as fotografias foram apresentadas, privilegiadas etc. As fotos possuem

apenas uma legenda manuscrita com o nome da escola e localização, havendo, em alguns

casos, o nome e cargo da professora. Há poucos indícios até do destino, das apropriações das

fotos, porque não há menção ao uso delas pelo prefeito ou pela imprensa local.

Outro exercício foi cotejar essas imagens com informações dos mapas de frequência

das escolas fotografadas. Na pertinência do cotejamento das imagens com outros tipos de

fontes para superar os limites da “epistemologia da prova”, Ana Mauad ressalta “a

necessidade de examinar as fontes visuais (e outras, também) na sua dimensão de documento-

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223

monumento, ou seja, como ingredientes do próprio jogo social, na sua complexidade e

heterogeneidade” (MAUAD, 2009, p.256).

A escolha por trabalhar com as fotografias depois do trabalho com os mapas de

frequência, modificou nossa forma de olhar e perceber as fotos. Os investimentos em

compreender a estrutura do ensino primário e a diversidade encontrada nos mapas de

frequência certamente constituiu nossa análise das fotografias e das legendas.

Para análise do plano das formas de conteúdo da fotografia, Ana Mauad destaca a

validade do conceito de espaço como chave de leitura do campo semântico das imagens

(2004, p.33). O “espaço fotográfico” remete ao recorte espacial processado pela imagem,

conforme as condições técnicas e a escolha do que se pretendeu fotografar. As condições

técnicas e os enquadramentos promovidos por foco e nitidez conformam este recorte. O

“espaço geográfico” compreende o meio físico abarcado e o “espaço do objeto” ressalta a

observação da disposição de todos os objetos que compõe a imagem, seus atributos e a

relação com o espaço construído para a fotografia (Idem). As pessoas, a natureza do lugar e

atividades que são objetos da fotografia conformam o “espaço da figuração” e o “espaço da

vivência (ou evento)” (Ibidem, p.34). Por essa metodologia é reconhecido que a noção de

espaço é que domina o ato de fotografar, posto que diversos arranjos espaciais conformam a

imagem (Ibidem, p.35).

Nas “escolas” representadas na fotografia, as pessoas ocupam a centralidade da

imagem e as margens são pouco amplas, o que amplia a impressão de que os sujeitos são o

principal objeto e conformam a própria escola. As legendas se referem à escola, e não, a

alunos e professores da escola tal... Os sujeitos, ali reunidos, são a escola. O “zoom” da

imagem também oscila, sendo ora mais aproximado, ora mais distante, o que pode guardar

relações com os recursos técnicos disponíveis. O foco da imagem nos sujeitos no ambiente

externo é interessante se consideramos que a expansão da escola primária no estado do Rio de

Janeiro naqueles tempos ocorria predominante pelo aluguel de prédios. A maioria das escolas

públicas era alocada em espaços não construídos para escolas. A falta de mobiliário e as

condições inadequadas de higiene e conservação dos prédios escolares era um tema constante

nos horizontes da administração pública, das autoridades sanitárias e dos professores. O

prédio não era distintivo das escolas isoladas. Todas as fotografias são de ambientes externos.

O “fundo” e as “margens” das fotografias são geralmente paredes com janelas, que devem ser

os locais onde funcionavam as escolas. Na fotografia da escola mista nº 13, de José de

Bulhões, uma placa ao lado da porta do prédio, defronte estão os alunos, identifica o mesmo

como “Escola Pública”.

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Figura 25 Fotografia da Escola mista nº 13 em José Bulhões.

Fonte: Acervo IPAHB, Coleção Arruda Negreiros.

O enquadramento realizado pelo fotógrafo demonstra pouca preocupação com as

margens da fotografia. Partes de árvores, de paredes, de objetos, e pessoas que observavam a

fotografia sendo tirada foram algumas vezes incorporados à foto. Em alguns casos, as crianças

e professores foram dispostos à frente de muros ou abaixo de árvores.

Figura 26 Fotografia da Escola Dr. Tavares Guerra, em São João de Meriti.

Fonte: Acervo IPAHB, Coleção Arruda Negreiros.

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Figura 27 Fotografia da Escola Mista n.16.

Fonte: Acervo IPAHB, Coleção Arruda Negreiros.

Algumas fotografias também suscitam a impressão de que o fotógrafo estava numa

posição pouco confortável, entre galhos e matos, no meio da rua...

Figura 28 Fotografia da Escola mista n.26, em Vila Rosaly.

Fonte: Acervo IPAHB, Coleção Arruda Negreiros.

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A análise do conjunto de fotografias denota que o enquadramento predominante foi

horizontal, com alunos e professores de frente para a máquina. Mas também há algumas

imagens em que o objeto foi capturado no ângulo diagonal. As professoras sempre se

destacam na imagem, seja por estarem no centro, numa posição oposta aos alunos (em pé ou

numa postura diferente, sentadas ou viradas de lado, olhando o horizonte etc.). Algumas vezes

são os alunos que ficam enfileirados de perfil, mas isso foi o que menos ocorreu. O uso de

pequenos quadros, que parecem ter sido escritos à giz, apresentam o nome da escola e são

segurados por um aluno. Mas este recurso não foi utilizado em todas as imagens. Uma

bandeira do Brasil sustentada por alunos também compôs o cenário de algumas fotos.

A comparação entre as fotos imprime certo ar de improviso na composição do lugar

fotografado. O chão é forrado com jornais ou esteiras, os alunos e professores são

acomodados em banquetas, degraus, pequenas plataformas de madeira. Algumas imagens dão

impressão de certo aperto para caber no enquadramento da máquina. Acomodar, juntar e

deixar quietas as pessoas, para compor o tema-centro da foto parece ter sido o principal

desafio do arranjo espacial produzido.

As fotografias da escola mista nº 31 expressam essa mobilidade de escolha do

fotógrafo na composição dos cenários capturados, tanto em espaço quanto o recurso de recuo

e aproximação da imagem. Nota-se novamente o recurso de fotografar meninos e meninas

separadamente. Será esse um critério apenas da fotografia ou também da escola?

Figura 29 Fotografia da Escola mista n. 31, em São João de Meriti.

Fonte: Acervo IPAHB, Coleção Arruda Negreiros.

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Figura 30 Fotografia da Escola mista n. 31, em São João de Meriti.

Fonte: Acervo IPAHB, Coleção Arruda Negreiros.

Figura 31 Fotografia da Escola mista n.31, em São João de Meriti.

Fonte: Acervo IPAHB, Coleção Arruda Negreiros.

Interessa investigar o que as fotografias deixam entrever sobre as escolas em Nova

Iguaçu. A identificação de quais escolas pertenciam ao distrito-sede ou aos outros distritos foi

iniciada a partir da legenda manuscrita em cada das 76 fotografias. As legendas, nem sempre

precisas, informam o tipo de escola, o nome, a localidade, como, por exemplo “Escola

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228

Desembargador Eloy Teixeira, Queimados”.485

O recurso a informações mais precisas, para

escolas que possuíam documentos no Fundo Departamento de Educação, completou este

mapeamento.

Ensaiando uma análise de como o espaço é recortado nas fotografias, à luz das

categorias do rural e do urbano, algumas observações emergiram. As observações foram feitas

a partir da leitura da sequência das fotos do distrito-sede, reunidas em um conjunto, e das

escolas das demais localidades do município, alocadas em outra sequência. Para as 39

fotografias de escolas do distrito-sede, 23 apresentam os alunos uniformizados. Das 37

imagens das demais escolas do município, apenas 11 apresentam alunos uniformizados.

A sequência de escolas do distrito-sede apresenta uma variação maior do tipo de

escolas: há o Grupo Escolar, o Ginásio Leopoldo, escolas noturnas, e também escolas mistas,

municipais e estaduais. Nas fotografias de outras localidades do município, predominam

escolas públicas mistas, estaduais e municipais. As fotos do distrito-sede e das demais

localidades não são tão distintas no que concerne aos aspectos da paisagem. A presença de

árvores e plantas, o chão batido, tudo isto em torno do prédio da escola, caracteriza ambos

conjuntos. Outras fotografias, do centro do distrito-sede de Nova Iguaçu, também

demonstram que os poucos equipamentos urbanos existentes coexistiam com os laranjais. Até

uma laranja integrou o cenário de uma fotografia de escola do distrito-sede:

Figura 32 Fotografia da Escola Municipal Andrade de Araújo.

Fonte: Acervo IHGNI, Coleção Arruda Negreiros.

485

Fotografia. Acervo do IHGNI.

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Uma fotografia, porém, destoa do conjunto, além das diferenças já mencionadas das

fotografias do Grupo Escolar Rangel Pestana. A produção de um cenário mais cuidadoso é

explicitada na existência de elementos que decoram o ambiente, nas bandeiras, nas palavras

de ordem “applicação” e “talento” ao fundo da fotografia, nas flores que ornamentam o

quadro grande apoiado nas pernas de uns três alunos, onde está escrito “Escola Arruda

Negreiros – Coqueiros – E. do Rio”.

Figura 33 Fotografia da Escola municipal Arruda Negreiros.

Fonte: Acervo IPAHB, Coleção Arruda Negreiros.

No fundo Departamento de Educação e nas fotografias, existe uma notação para a

escola mista Arruda Negreiros e outra notação para a Escola de Coqueiros Arruda Negreiros.

Comparando as fotografias com as descrições dos mapas sobre organização dos turnos,

número de docentes e alunos, foi possível identificar para quais mapas estavam quais

fotografias. Para a fotografia acima, da Escola Arruda Negreiros, foi encontrado um arranjo

de alguns mapas, apenas de junho a novembro de 1933, nos quais a professora Dogelina Acir

Caldas assina o mapa e informa não ter adjuntas.486

486

Fundo Departamento de Educação, 02653, APERJ.

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A escola de Coqueiros foi fotografada duas vezes,487

uma foto do 1º turno e outra do

2º turno. Estas informações já estavam presentes pelo suporte do quadro escrito inserido na

fotografia. Nos mapas, consta para os anos de 1932 e 1933 o funcionamento da mesma em 2

turnos com 150 alunos em março de 1933 e 3 classes de 1ª e 2 classes de 2ª e 1 classe de 3ª

série. As fotografias apresentam meninos e meninas nos dois turnos.488

Entre março e

novembro de 1933, a escola funcionou com 1 professora regente e de 3 a 4 adjuntos. Na

fotografia do 2º turno constam 4 docentes.

Um breve tratamento deste conjunto de fotografias já permite reafirmar a diversidade

dos tipos de escolas existentes: “escola mista”, “escola feminina”, “escola noturna”, “escola

noturna municipal” “escola estadual”, “grupo escolar”; assim como o funcionamento em

diferentes turnos, a variedade de função das escolas (“seção profissional”; “seção de corte e

costura”, ginásios etc.). Contudo, o que é mais notável são os sujeitos que aparecem nestas

fotos. Professoras negras, professoras brancas, alunos e turmas uniformizados, alunos e

turmas sem uniforme. Escolas em prédios, escolas em quintais. Alunos que aparentam mesma

idade numa mesma turma, alunos e alunas, posando juntos, das mais diferentes idades.

Algumas fotografias apresentam escolas com grande contingente de alunos se comparadas a

outras fotos, com poucos alunos em volta da professora. Essa diversidade aparente nas

fotografias remete à questão da coexistência de diversos tipos de organização dos espaços,

tempos, saberes e sujeitos da escolarização.

Sujeitos da escolarização: interrogações

Os dados acerca do impressionante crescimento populacional em Nova Iguaçu, entre

as décadas de 1920 e 1940, as pessoas capturadas nas fotografias, e os próprios interesses

desta pesquisa, demandaram a compreensão sobre quem eram os indivíduos abarcados pelo

processo de escolarização e da citricultura no distrito-sede. Na pesquisa em história, ajustar as

lentes para observar a experiência dos sujeitos é um meio de capturar como estrutura e

processo se articulam. A ordenação do mundo do trabalho naquela região esclarece sobre os

usos do território e das relações entre o rural e o urbano no distrito-sede. Qual o perfil desta

população do distrito-sede? Estava empregada em quais ramos da citricultura?

Carlos Eduardo Costa apresenta conclusões importantes de pesquisa acerca de parte da

população que aflui para a Nova Iguaçu entre as décadas de 1920 e 1940. Ao recuperar as

experiências dos egressos do cativeiro e de seus descendentes no pós-abolição, na região do

487

Fotografias consultadas no acervo do IPABH. 488

Fundo Departamento de Educação, 02652, APERJ.

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Vale do Paraíba fluminense, Carlos Eduardo Costa identifica a migração de negros, pretos e

pardos, de Vassouras, para a região de Iguaçu no período áureo da citricultura. Sua pesquisa

abarca também um quadro do perfil populacional. Pelos registros civis de nascimentos e

óbitos foi constatada a fixação e a permanência destes migrantes pardos e pretos em Nova

Iguaçu, assim como nordestinos e estrangeiros.

No Vale do Paraíba, parte das estratégias dos ex-escravos foi manter-se nas antigas

fazendas de café, continuando suas experiências de roçado. Essa ambição era alimentada pela

perspectiva de garantir a moradia e os vínculos da família que, trabalhando junto na produção

do roçado, garantia também relativa autonomia. Os proprietários precisavam manter a mão-

de-obra para a cultura dos cafezais. Contudo, a diversificação da produção e abertura de áreas

para o eucalipto e a pecuária ia atribuindo outros usos ao solo e diminuindo a demanda por

trabalhadores no Vale do Paraíba nas primeiras décadas republicanas (COSTA, 2011, p.4).

Neste sentido, cabe considerar que o “mundo rural, da Primeira República, era novo

para todos, principalmente para ex-escravos e ex-senhores” (COSTA, 2009a, p.3), o que

incitava novas experiências do mundo do trabalho e no emprego da população e do território.

Os conflitos entre trabalhadores rurais e proprietários motivou a migração, o deslocamento

dos ex-escravos e seus descendentes, em busca de novas condições de sobrevivência e

trabalho (NASCIMENTO, 2001, p.4). Cabe ressaltar, contudo, que a migração foi uma

estratégia autoral destes grupos, como um dos recursos de construção da liberdade (COSTA,

2008, p.26).

A investigação sobre os destinos de migração de egressos de cativeiros e descendentes

de escravos da região do Vale do Paraíba para outras regiões do país, entre 1850 e 1959 revela

um crescimento expressivo do quantitativo de pessoas que afluem para a Baixada Fluminense

entre as décadas de 1910 e 1930 (COSTA, 2011, p.2). Essa constatação é pertinente com os

censos demográficos do período, que demarcam o crescimento expressivo da população em

Iguaçu a partir destas décadas, como foi visto anteriormente.

Na análise dos registros civis de nascimento e óbito feitos em cartórios de Iguaçu, e

mantendo a categoria inscrita nas fontes de identificação da cor como preto, pardo e branco,

descobre o autor “a presença expressiva da população de pretos e pardos buscando os

registros civis de nascimento e de óbitos, entre os anos de 1889 e 1940” (Ibidem, p.7). O

incentivo governamental aos registros é constante no período por mudanças na legislação que

iam removendo empecilhos como a cobrança de taxas ou pagamento de multas por registros

tardios. O crescimento no número de registros de pretos e partos representava, também, a

busca pela legitimação da família e da condição de cidadania batalhada por esses sujeitos no

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pós-abolição (COSTA, 2011, p.8-9). Pelas informações acerca das regiões de origem, pessoas

advindas de estados do nordeste do país e do estrangeiro (principalmente portugueses,

italianos e espanhóis) também caracterizaram, em grande número, a migração ocorrida na

região (Ibidem, p.16).

Neste sentido, Carlos Costa argumenta que, além dos motivos que forçavam a saída

dos ex-escravos do Vale do Paraíba, a citricultura em Iguaçu atraiu estes migrantes e

possibilitou modos de permanência desses egressos do cativeiro e seus descendentes. A

reorganização da estrutura fundiária promovida pela citricultura, com os arrendamentos, o

trabalho em chácaras e os loteamentos pode ter facilitado a fixação desses trabalhadores

migrantes na região.

Dessa forma, a década de 30 tornou-se um dos momentos definidores da situação de

pretos e pardos no Estado do Rio de Janeiro. O avanço urbano do Município de

Nova Iguaçu possivelmente permitiu aos ex-escravos e, principalmente, aos seus

descendentes uma maior diversificação dos arranjos de trabalho, assim como, o

progresso nas questões trabalhistas, seja nas melhores condições, seja na

regularização dos ofícios. Esses elementos podem, também, ter contribuído para a

estabilização de pretos e pardos no Município de Nova Iguaçu (COSTA, 2009a,

p.9).

A migração foi uma “estratégia social” elaborada pelos ex-escravos do Vale do Paraíba,

em função das novas experiências de sobrevivência e trabalho surgidas no pós-abolição:

“Inicialmente, as migrações estão inseridas na relação campo-campo, porém, ao longo da década

de 20 para a de 30, os contextos se modificam ainda mais, dando início a uma migração de caráter

definitivo – sendo, agora, dentro de uma relação campo/cidade” (Ibidem, p.10).

É preciso considerar ainda as margens flexíveis, as relações complementares, entre

urbano e rural. Estudos sobre a Vila de Iguaçu no século XIX, percebem, durante o século

XX, a “confluência entre o espaço rural e o espaço urbano” para a compreensão do mundo do

trabalho na região, posto que ali desenvolvia-se uma economia de produção de alimentos, mas

também servia de passagem para as mercadorias que eram transportadas entre o interior serra

acima e litoral:

Este dinamismo econômico marcou decisivamente as relações sociais que

construíram na região, um lugar de entreposto, por onde, além de mercadorias,

também passavam pessoas, informações que influenciaram o modo de vida da

sociedade local, aí incluídos os escravos (BEZERRA, 2008, p.21).

A localização do recôncavo da Guanabara entre o litoral e o interior do estado do Rio

de Janeiro conferiu características específicas ao desenvolvimento da região em diversos

momentos.

A importância da região de passagem no projeto colonial pode ser verificada pelo

empenho na construção de caminhos de terra firme que diminuíssem os custos e riscos do

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transporte do ouro, e, depois, do café. Caminhos construídos durante o século XVIII até a

Estrada Real de Comércio no XIX propiciaram intensa atividade econômica nesta região, que

assim conheceu a transformação das freguesias em algumas vilas.

A produção da região era essencialmente agrária, mas não se pode vê-la apenas

nesse contexto, pois também se forjou como área de passagem, o que permite pensar

que a sociedade que se estabeleceu, apesar de fortes características rurais, também

tinha fortes traços característicos do setor de transporte, por conta da intensa

circulação de pessoas e da proximidade com a cidade do Rio de Janeiro (BEZERRA,

2008, p.26).

Nielsen Bezerra observa que a Vila de Iguaçu se destacou pelos caminhos e portos,

isto é, pela função de entreposto comercial, enquanto outras localidades do recôncavo se

destacavam pela produção agrícola (BEZERRA, 2008, p.31). Ele faz um segundo exercício

importante, que é mostrar que no interior do recôncavo da Guanabara, vilas e freguesias

podiam conviver mais com atividades comerciais e de transporte, ou de produção agrícola em

fazendas e engenhos. Porém, “essas atividades não são excludentes, pois pode-se perceber que

as freguesias agrícolas também tinham portos, da mesma forma que as freguesias portuárias

apresentavam alguma produção agrícola” (Ibidem, p.34-35).

Exemplifica com o caso com São João de Meriti, que apresentava “diversidade das

atividades produtivas, mesmo podendo haver o predomínio de uma delas em um lugar

específico” (Ibidem, p.35). Apresenta, ainda, caso em que houve mudanças na composição

socioeconômica das freguesias, como em Pacobaíba que, predominantemente rural e

organizada em função do porto marítimo, encontrou o crescimento das atividades urbanas

com a implantação da estrada de ferro Mauá. A partir desta mudança as atividades rurais e

urbanas dividiram o cenário econômico da região (Ibidem, p.36).

Nesta análise, Nielson Bezerra demonstra que a Freguesia de Nossa Senhora da

Piedade de Iguaçu atraía lavradores e comerciantes. A ideia de confluência entre atividades

rurais e urbanas na Vila de Iguaçu é demonstrada pelo autor através da análise das atividades

que ocupavam os escravos que ali trabalhavam, conforme dados do censo de 1872. A

diversidade de ocupações, assim como a distribuição dos escravos entre elas, denota a

existência de serviços do setor urbano e do setor rural: lavradores, assalariados e jornaleiros,

serviço doméstico, costureiras, pedreiros, entre outros. Havia uma “forte confluência entre o

mundo rural e o urbano” nas relações escravistas da Freguesia de Iguaçu (Ibidem, p.39). As

ocupações dos escravos demonstram “que nestas localidades existia a presença de atividades

agrícolas, entretanto, nota-se uma predominância das atividades dos setores de transporte e

comércio” (ibidem, p.42).

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O perfil demográfico da população das Freguesias da região de Iguaçu acusa a

predominância da população escrava sobre a livre entre 1779-1789. Em 1821, a população de

18.705 habitantes das freguesias do Pilar, Marapicu, Jacutinga, Meriti, Iguaçu apresentava

11.115 cativos, cerca de 59,7% do total. Entre 1779-1789, metade da população era formada

por escravos (GOMES, 2006, p.31-32). Em 1840 e 1850, a população escrava também era

maior que a população livre. Em 1872 percebe-se uma inversão, com 67,5% da população

livre e 32,5% de escravos nas mesmas Freguesias (Ibidem, p.33).

Jorge Silveira ressalta o significativo contingente de pessoas livres viventes na região

desde meados do XIX o que aponta para a existência, além das atividades agrícolas destinadas

a exportação, de uma produção agrícola de subsistência e para o abastecimento interno

importante entre as funções econômicas da região (SILVEIRA,1998, p.20-21).

Flávio Gomes (2006, p.61) identifica a presença de escravos, libertos e quilombolas na

região de Iguaçu durante a escravidão, que articulava mocambos, quilombos, comunidades de

senzalas, taberneiros e outros setores sociais em estratégias de negociação, conveniência e

conflito que passavam pela confluência de atividades agrícolas, extrativistas, contrabando e

comércio. Em 1878, o ministro da Justiça, Gama Cerqueira, declarava a necessidade de

destruir aquelas comunidades que se reproduziam em Iguaçu tal qual a fábula da hidra de

Lerna (Ibidem, p.25). Ao longo do séc. XIX, diversas expedições – sem êxito – perseguiram

os quilombos existentes na região, escondidos nos rios e pântanos, protegidos pelas relações

de solidariedade e de trocas comerciais que estabeleciam com grupos da região (Ibidem,

p.94).

Esses estudos mencionados acerca da população em Iguaçu, desde fins do século XIX

até as primeiras décadas republicanas, são aqui recuperados no interesse de evidenciar a

presença de uma população negra, vivenciando e construindo na região relações sociais de

produção que amalgamavam atividades de cultivo e de comércio. Funções rurais e urbanas

caracterizavam os usos do território e das fronteiras em Iguaçu (e no que viria a ser Nova

Iguaçu), desde períodos bem anteriores ao focalizado nesta pesquisa.

Este exercício de adentrar alguns aspectos da relação rural-urbano no século XIX

serve para lembrar que a construção da Nova Iguaçu, a reordenação da sede administrativa

para Maxambomba, as mudanças em curso em fins do séc. XIX, mesmo conformando a

“Nova” Iguaçu, não podem ser vistas, contudo, como rupturas insolúveis. A eficiência destes

enquadramentos da memória sobre Iguaçu, vinculada à citricultura, reverberou também em

publicações memorialistas e estudos de cunho acadêmico, principalmente até a década de

1980. Além de identificar a citricultura com o “apogeu” do município, trata-se de uma

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produção que a ancora as explicações sobre a transferência da sede para Maxambomba, em

1891, com a “decadência” da Vila de Iguaçu. Pesquisas recentes procuram precisar melhor

essas interpretações memorialísticas e até historiográficas, deslocando marcos interpretativos.

A partir de estudos de história agrária, Jorge Luís da Silveira problematiza concepções

arraigadas na historiografia local que interpõem um diagnóstico de decadência econômica e

social no período que implicou, entre outros fatores, na decadência da Vila de Iguaçu,

inclusive com a mudança da sede administrativa do município para Maxambomba, em 1891

(SILVEIRA, 1998, p.19). A análise sobre a historiografia local, segundo Jorge Luís, reverbera

um mesmo “panorama interpretativo” que associa “o processo de desagregação de uma

determinada relação de produção (a escravidão) e o declínio econômico e político de um de

seus elementos sociais (a elite agrária)” (Ibidem, p.36).

Pela análise das conexões entre a desagregação do sistema escravista e as

transformações ocorridas na estrutura fundiária fluminense, principalmente na região de

Iguaçu, durante o século XIX (Ibidem, p.15), o autor critica estas interpretações que incidem

no aspecto da “estagnação agrícola e social” causada pelo fim da escravidão (Ibidem, p.40). A

sua pesquisa demonstra como as formas de apropriação e acesso à propriedade de terra, entre

1850 e 1890, manifestam as estratégias utilizadas, pelas elites locais, para reproduzir e manter

seu poderio econômico face à desestruturação do regime escravista, o controle sobre a terra e

sobre a mão-de-obra. Por ações destinadas a manter o latifúndio, a “elite agrária” da região

pode reproduzir as relações sociais dominantes “por muitos anos após a abolição” (Ibidem,

p.20). O controle da terra e de um “mercado” de compra e venda “tornou-se o melhor

instrumento para a elite agrária garantir a subordinação da mão-de-obra livre em um contexto

de crise do sistema escravista” (Ibidem, p.165). Através do parcelamento da terra para fins

imobiliários ou produtivos, ou pela ampliação da concentração de terras, pela compra e outros

mecanismos, as elites agrárias acionavam possibilidades de manutenção da renda por meio de

transações comerciais (Ibidem, p.205).

Portanto, a partir dos estudos que caracterizam o perfil populacional do município

desde meados do século XIX até as primeiras décadas republicanas, e considerando a

diversidade de atividades de ocupação na região, que exercia tanto funções urbanas quanto

rurais de bastante dinamismo, é possível sustentar que, naquelas fotografias e naquelas

escolas, estiveram presentes egressos do cativeiro e seus descendentes, migrados de regiões

do Vale do Paraíba ou que já habitavam Nova Iguaçu, os descendentes da população dos

libertos, os filhos de migrantes europeus, nordestinos, mineiros. Acrescente-se os filhos

descendentes de quilombolas, de taberneiros, dos jornaleiros, dos barqueiros, das

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comunidades de senzala, das mulheres que trabalhavam com o trabalho doméstico, dos

apanhadores de laranja, dos embaladores e artesãos das caixas de acondicionamento do fruto.

Essas possibilidades de identificação dos sujeitos da escolarização que compõe estas

fotos a partir da bibliografia apontada acima, isto é, do perfil da população que formou Iguaçu

ou para ali migrou, se estabeleceu, etc. deixa em aberto novos caminhos de investigação.

Contudo, a presença marcante de pessoas negras, de alunos a professores, seja em escolas do

distrito-sede ou de outras localidades do município, seja de escolas rurais ou urbanas, já

evidencia uma questão cara à historiografia da educação, que é pensar as possibilidades de

acesso destes sujeitos aos processos formais de escolarização. Novos estudos em história da

educação têm possibilitado conhecer e refletir sobre os debates, entraves e iniciativas para o

ingresso de negros nas escolas, como alunos ou professores, desde o séc. XIX (Cf.

FONSECA, 2009; GONDRA; SCHUELER, 2008; MÜLLER, 2008; SCHUELER,1997;

SILVA, 2007; 2000; VEIGA, 2008).

O que esta pesquisa permite afirmar sobre estes sujeitos reunidos nas fotografias das

escolas de Iguaçu, é que trata-se de pessoas que experimentaram um cenário em que se

buscou articular e revestir urbano e rural de caráter do moderno, do novo, do progresso, para a

manutenção de antigas formas de hegemonia. Na confluência entre a lavoura e as letras, os

projetos de poder em disputa entre grupos da sociedade local, sobretudo no distrito-sede,

correlacionaram o desenvolvimento da citricultura com a introdução de “melhoramentos

urbanos”, principalmente no distrito-sede, núcleo administrativo do município. A instrução

escolar era um destes equipamentos que, pela ótica dos grupos locais, representava,

significava, projetava, atribuía visibilidade, ao “progresso” decorrente da lavoura, para a qual,

portanto, deveriam convergir todos os interesses e medidas que a favorecessem. A

importância da instrução figurou em Iguaçu, tanto nos debates ruralistas, quanto nos discursos

sobre a urbanização do distrito-sede. Ao lado dos temas do saneamento e da higiene, da

remodelação da cidade, a instrução escolar figurava como ingrediente da construção da Nova

Iguaçu, inscrevendo-se também no cenário urbano e sendo, por este, convidada a participar e

constituir a vida social, cultural e política da cidade, como será examinado a seguir.

Transitando pelas escolas e estradas de Iguaçu, contudo, esses sujeitos que surgem nas

fotografias e nos mapas de frequência, testemunharam as contradições deste processo,

ancorado em intensa exploração da força de trabalho, na precariedade cotidiana das condições

de funcionamento das escolas, nas faltas motivadas por doenças e por trabalho, nas estradas e

ruas que continuaram a alagar nas enchentes, na disseminação de doenças e na gestação de

um modelo de cidadania excludente sob um regime progressivamente autoritário que

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procurava engessar as formas de participação política. No grande afluxo populacional para o

território, motivado pela citricultura, mas também pelo processo de loteamentos, esses

sujeitos engrossariam, em fins da década de 1940, os conflitos pela posse da terra e moradia

que eclodiram na região com a derrocada da citricultura.

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Capítulo 4

“Atenas Fluminense”: fazer-se cidade fazendo escolas, fazer-se

escola fazendo a cidade

“Tudo aqui são promessas e esperanças

É belo e doce este calor sentir.

Se entrais, agora, tímidas crianças,

Saireis homens de bem para o porvir.

O livro traz suavíssimos prazeres

Ao espírito que ama a evolução.

E nos ensina os múltiplos deveres

Do patriota, do filho, do cristão.

Mãos à obra, meninos, sem demora,

Sede amigos dos livros, estudai

Quem sabe ser aluno e filho agora

Saberá ser mais tarde, mestre e pai.

Vistes que da verdade a Escola é um templo.

E do saber excelsa catedral.

Bebei nela, portanto, o suave exemplo

Da justiça, do bem e da moral.”

Trecho do Hino do Colégio Leopoldo, fundado em 1930.

Letra de Leopoldo Machado.

Erguendo e educando a Nova Iguaçu: higiene, saneamento e equipamentos

urbanos

A escala do município como posição de análise para investigar os processos de

escolarização oferece meios de observar a função social da escola como produtora de

identidades sociais e organizadora da cultura (para além da escola), num contexto histórico

específico (não necessariamente homogêneo), em que é possível encontrar a construção de

práticas importantes de intercâmbio entre cidade, campo e escola, entre política e educação.

Neste capítulo, a partir da escala do distrito-sede, principalmente usando as fontes do

Jornal Correio da Lavoura e informações colhidas dos mapas de frequência, procura-se

demonstrar o engendramento da escola e da cidade na construção da Nova Iguaçu. Não se

trata de conhecer semelhanças ou singularidades de como alguns temas – a higiene, o

saneamento e as práticas escolares de civismo se apresentaram no cenário de Nova Iguaçu,

mas, sim, de perceber que a escolarização e a cidade são compostas e compõem esse

processo, tendo como eixos tais temas.

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No programa de pesquisa proposto por Luciano Faria Filho, para além de precisar o

estabelecimento da rede de instituições educativas, é fundamental a investigação da função

social da escola:

Isto significa entender que a escola não age apenas intra-muros, e sim tem uma

ampliada atuação social na medida em que funciona como uma instituição que

produz, divulga e legitima identidades, competências e modos de vida, ao mesmo

tempo em que deslegitima outros (FARIA FILHO; BERTUCCI, 2009, p.14).

Portanto, o estudo dos processos de escolarização abrange considerar as funções da

escola enquanto organizadora da cultura, de como a instituição se instrumentaliza para tal,

observar a “cultura escolar em ação” e as tensões desse processo:

[...] a escolarização envolve, também, uma ação mais ou menos deliberada de

educação das sensibilidades, valores e habilidades características do sujeito educado.

No entanto, longe de qualquer idealização, estas dimensões da formação devem ser

percebidas como estando intimamente relacionadas ao conjunto das experiências dos

sujeitos (Idem).

No primeiro capítulo, pelo detalhamento das bandeiras do Jornal Correio da Lavoura,

foi examinado como os assuntos sobre higiene e saneamento eram relacionados à habilitação

de territórios e pessoas para as lides agrícolas, no bojo do projeto ruralista. Durante a Primeira

República vastas regiões da Baixada Fluminense foram alvo, desde o governo de Nilo

Peçanha, de ações para remover as condições insalubres do território e amenizar os riscos de

epidemias nas populações.

Interessa aqui retomar como estes temas que eram propagandeados como mecanismos

de promoção da melhoria de vida da população trabalhadora, consistiam, também, em Iguaçu,

em aparatos da constituição do núcleo urbano. Uma vez conformado sob os parâmetros da

higiene, do saneamento e de “melhoramentos” introduzidos em sua paisagem (entre estes, a

instrução escolar), o espaço tornar-se-ia “cidade”, servindo de vitrine do progresso,

espelhando certo estatuto que deveria servir de exemplo a outros espaços, educando-os

também.

Artigos, opiniões e matérias sobre as condições precárias de habitação e saúde da

população, a ausência ou surgimento de iniciativas destinadas à promoção do saneamento e da

saúde são assuntos que compareceram com assiduidade na pauta do Correio da Lavoura,

afinal, a higiene era uma das bandeiras do Jornal.

A instalação de postos de saúde, serviços de limpeza e coleta de lixo, abastecimento de

água e canalização de esgotos incidiam sobre a configuração espacial da cidade, habilitando-

a, supunha-se, a espelhar e produzir o almejado progresso. O saneamento e a higiene

consistiam em modos de educar o espaço e os sujeitos, em adotar novos códigos de ordenação

do social. Guardavam estreitos vínculos, portanto, com o tema da instrução escolar.

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Dialeticamente, como examina Marta Carvalho (2008), os discursos, campanhas e

ações em prol da instrução que permearam os debates durante a Primeira República também

revestiram concepções sobre a educação enquanto “terapêutica da nação”. O consenso

estabelecido de que a educação superaria o diagnóstico de crise, transformando o “Jeca-Tatu”,

síntese da “realidade lastimada” sobre o “povo”, operava também uma mudança no

pensamento social brasileiro acerca dos determinismos de uma raça mestiça. A educação

ganhava em importância como ingrediente, vacina, para a “regeneração” dos brasileiros

(CARVALHO, 1998, p. 142). O recurso de sanear a sociedade devido ao estado de doença,

tomando a nação/sociedade como um organismo, convertia “questões sociais e políticas em

questões de higiene” (Ibidem, p. 146).

Examinando a função social atribuída à educação nas correntes que constituíam a

Associação Brasileira de Educação, durante a Primeira República, a autora ressalta que “a

inexistência de fronteiras nítidas entre a ação higienista, assim concebida, e a educação,

pensada também no horizonte intelectual do determinismo como alteração do meio ambiente,

permite que a metaforização da ação educacional em obra de saneamento seja procedimento

discursivo de grande força descritiva [...]” (CARVALHO, 1998, p. 147).

Em artigo publicado em 1926, sob o título “Hygiene e Instrucção”,489

o Jornal

repercutia a centralidade que estes temas assumiram na discussão de questões sociais durante

a Primeira República. A falta de compromisso e de medidas permanentes por partes dos

“poderes públicos” com os assuntos da higiene e da instrução transformavam estes temas nos

dois “problemas” que assolavam a população. Sob a ótica do Jornal, fazendo coro ao que era

alarmado por “eminentes médicos e autorisados jornalistas”, eram explicitados os nexos entre

higiene e instrução: “De ambos dependem o bem estar e a prosperidade do nosso povo. A

hygiene é a fortaleza do corpo como a instrucção é a saúde do espírito. Não ha duvida de que

sem hygiene e sem cultura o organismo humano é uma presa fácil das doenças”. 490

Encobertos pela “absoluta falta de hygiene e pela noite eterna da cegueira

intellectual”, segundo o Jornal, a população rural e a população operária enfrentavam graves

problemas, “jugulados pelas doenças, roidos pela verminose, sacrificados pela deficiência da

alimentação e falta de conforto, numa luta sem tréguas [...]”. Sobre as relações deste tema

com a formação da força de trabalho, lembrava-se que um povo brasileiro sadio dispensaria o

uso do trabalho do imigrante.491

489

HYGIENE E INSTRUCÇÃO, 16 set 1926. 490

Idem. 491

Idem.

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As condições de saúde e higiene da população, por sua vez, eram atreladas às

condições de habitação, aos hábitos de consumo, de cuidados com o corpo, o que apontava

para a necessidade de suprimir a insalubridade pela adoção de redes de abastecimento de água

e esgotos, casas construídas de modo a não disseminar doenças, serviços de assistência

médica e instrução para adoção de hábitos saudáveis e profiláticos. As prescrições sobre o que

era saudável e adequado circunscreviam os hábitos que deveriam ser abandonados, como, por

exemplo, o alcoolismo. Havia um entrelaçamento entre saúde, condição física, conduta moral

e disposição ao trabalho que buscava reorganizar, nas primeiras décadas pós-escravidão, a

função social do trabalho e do trabalhador.

Construir a Nova Iguaçu, portanto, demandava investimentos que viabilizassem a

construção de nova infraestrutura. O saneamento das regiões insalubres da Baixada

Fluminense era essencial para a redefinição dos usos do território. O espaço precisava ser

reorganizado, saneado, para propiciar novos modos de vida. O tratamento do solo, do curso

dos rios, para prevenir ou amenizar o assoreamento, o efeito das enchentes, das áreas

pantanosas da Baixada Fluminense sobre as áreas de cultivo, tornando também produtivas

regiões insalubres e inabitadas, liberaria regiões para o uso do território.

Em 1920, eram anunciados os preparativos para comemoração do 1º aniversário do

Posto de Profilaxia Rural de Nova Iguaçu, com conferência do Sr. Belisário Penna, chefe do

serviço de profilaxia rural e saneamento e,492

por iniciativa do Jornal, seria publicado um

suplemento do Correio da Lavoura sobre “Higiene Popular” sob a direção do médico Mário

Pinotti.493

Foi assíduo o apoio do Jornal à causa do médico sanitarista Belisário Penna. A

instalação de postos de profilaxia rural em localidades do município era noticiada depositando

esperanças na “regeneração” da população. Além do tratamento dos doentes por exames,

consultas e medicação, havia na ação destes postos uma dimensão educativa. Constantemente

eram realizadas “palestras” e “conferências” destinadas à população. As visitas e conferências

de Belisário Penna a postos no município eram fotografadas e festejadas no Jornal, que

publicava, também, os textos das suas conferências e artigos.494

A ação dos médicos sanitaristas atesta os vínculos entre saúde e saneamento

estabelecidos naquelas décadas. Cabe lembrar, como foi visto no capítulo 1, que a instauração

492

Correio da Lavoura, 29 jul 1920, Ano IV, n.176. 493

Correio da Lavoura, 02 dez 1920, Ano IV, n.194. 494

Entre outras ocorrências, cabe citar: EM PROL DE UMA CRUZADA, 22 mar 1920; PROFILAXIA

RURAL, 01 abr 1920; Correio da Lavoura, 08 jul 1920, Ano IV, n.173; Correio da Lavoura, 07 abr

1921, Ano V, n.212. O DEMÔNIO DA HUMANIDADE .CONFERÊNCIA DE BELISARIO PENNA,

22 jun 1922.

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do regime de prefeituras no estado do Rio de Janeiro, e no município de Iguaçu, resultou da

intervenção do governo estadual na construção da rede de abastecimento de águas e

canalização dos esgotos da cidade. E um médico sanitarista foi indicado para assumir a

prefeitura de Iguaçu.

Ao aprovar o interesse do prefeito Mario Pinotti em fundar na cidade uma “Escola

Modelo” e mais outras escolas, “segundo os methodos da pedagogia moderna”, o Jornal

lembrava suas próprias bandeiras da higiene e instrução:

Quanto à primeira, aí temos a profilaxia rural, que vai conquistando a simpatia

unânime, que aos poucos vencendo a resistência do povo – esse exército de doentes

e opilados – que vai seguramente levantando o físico das populações. Sob a chefia

do Dr. Pinnoti, o Posto desta cidade muito tem feito no cumprimento desse desidera

[i]. Em boa hora, ao mesmo homem, foi entregue a Prefeitura de Iguassú.495

O interesse do prefeito pela criação de escolas evidenciava a compreensão, segundo o

Jornal, de “que não pode haver higiene completa, saneamento definitivo e organismos sãos

sem [que] se instrua o povo”.496

A partir da instauração do regime de prefeituras ficou

deliberado, entre as atribuições da administração municipal, “prover sobre a instrucção

primaria, hygiene e assistencia publica no municipio”.497

A mesma atribuição repetia-se na

lei estadual de Organização Municipal, de 1921.498

Em 1929 permaneciam as mesmas

competências para a administração municipal, desde que “sem prejuízo da competência dos

poderes públicos do Estado”.499

A necessidade do saneamento para a configuração do espaço demandava intervenções

sobre as vias de circulação e modos de transporte dos municípios. O afluxo de pessoas do

Distrito Federal que migravam para o município, expulsos pelos altos aluguéis da capital e

atraídos pelos loteamentos, ou o afluxo de trabalhadores para a citricultura e a necessidade de

circulação das mercadorias pressionavam pela melhoria das condições das estradas e dos

serviços de transporte da região.

Em muitas ocasiões há, nas páginas do Correio da Lavoura, exigências sobre a

melhoria das estradas de rodagem do município. O poder municipal e estadual eram

495

A ACÇÃO DO PREFEITO DE NOVA IGUASSÚ, 22 mar 1920. 496

Idem. 497

ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Lei n. 1620 de 11 de novembro de1 919, pág.6. Tipografia do

Jornal do Commercio, de Rodrigues & Comp., 1919. Biblioteca Estadual de Niterói. 498

Estado do Rio de Janeiro. Lei n.1734 de 14 de Novembro de 1921, pág 8. Organização Municipal.

Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal do Commercio, 1921. Biblioteca Estadual de Niterói. 499

Estado do Rio de Janeiro. Lei n.2.316 de 30 de Janeiro de 1929, pág.12. Organização Municipal. Rio

de Janeiro, Tipografia do Jornal do Commercio, 1929. Biblioteca Estadual de Niterói.

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convocados para a construção de novas rodovias e conservação das vias, como ações

expressivas do crescimento da cidade e da produção agrícola, principalmente.500

Outras iniciativas em prol de melhorias para o município ganhavam visibilidade. A

fundação do “Centro de Melhoramentos de Iguassú”, em reunião realizada na localidade de

Belford Roxo, pretendia requerer das autoridades locais e federais as benfeitorias que

demandavam os vários distritos do município.501

Uma comissão do Centro de Melhoramentos

foi recebida pelo Ministro da Viação, um mês após a criação do mesmo. Na ocasião foi

entregue um abaixo assinado com 800 assinaturas de moradores de Belford Roxo solicitando

mais trens no ramal Rio d’Ouro, com tarifas e passagens mais baratas. A comissão também

solicitou ao presidente da Câmara a conclusão do saneamento de Belford Roxo, entre outras

exigências.502

Nos relatórios503

publicados no Correio da Lavoura, os prefeitos descreviam o

andamento de obras de infraestrutura e conservação. Os orçamentos destinavam verbas para

esses serviços. Contudo, entre os avanços registrados e os impasses nos entendimentos entre

governo municipal, estadual e federal para os serviços de saneamento e assistência médica à

população, encontram-se, também, outras descrições contrastantes sobre a situação da cidade

e das principais ruas do distrito-sede que demonstram certos significados atribuídos ao espaço

urbano, por vezes conflituosas.

Na campanha do Jornal pela higiene e saneamento, advertia-se sobre os impactos que

a passagem do verão acarretava para a cidade. Embora não tenha registrado nenhum “caso

doloroso” de doenças no verão de 1921-1922, ponderava-se sobre a necessidade de tomar

precauções para o próximo verão, devendo-se redobrar o asseio das casas. Às condições

climáticas da região era atribuído a sorte de não ter havido tais ocorrências, “mao grado

malignos propositos de nosso pessimo estado sanitario”.504

Alardeava-se sobre os perigos

trazidos pelo verão para regiões que eram “uma zona baixa e pantanosa ou em uma cidade

500

Por exemplo, ESTRADAS DE RODAGEM, 28 fev 1928. 501

CENTRO DE MELHORAMENTOS DE IGUASSÚ, 04 set 1919. 502

CENTRO DE MELHORAMENTOS DE IGUASSÚ, 16 out 1919. 503

MENSAGEM APRESENTADA PELO SNR. PREFEITO À CAMARA MUNICIPAL EM 10

CORRENTE,18 dez 1924; MENSAGEM DO SR. PREFEITO, 22 mar.1925; MENSAGEM DO EXMO

SNR. PREFEITO DE IGUAÇU,22 mar 1928; MENSAGEM DO SR. PREFEITO, 02 ago.1928;

MENSAGEM DO EXMO SNR. PREFEITO DE IGUAÇU, 31 jan 1929; MENSAGEM DO EXMO

SNR. PREFEITO DE IGUAÇU, 14 fev 1929; NEGREIROS, Sebastião de Arruda. Relatório

apresentado ao Exmo. Sr. Comandante Ary Parreiras, interventor do Estado do Rio, pelo Exmo Sr. Dr.

Sebastião de Arruda Negreiros, Prefeito de Iguaçu,durante o ano de 1931. Iguaçu, 1932. Publicado no

Correio da Lavoura, em 22 mar. 1932, Ano XVI, n.784. 504

SEJAMOS PREVIDENTES, 22 jun 1922.

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populosa, onde são communs, em ruas movimentadas, profundas cisternas, vallas fetidas e

abertas para o despejo publico, e mais uma serie interminavel de imundicieis”.

Isso posto, entre condições climáticas favoráveis e o “péssimo” estado sanitário, a

cidade de Nova Iguaçu, sede do município, estava em situação de risco:

[...] pois, abertos em plena rua, (ruas de grande movimento como a Marechal

Floriano Peixoto, Bernardino Mello e avenida Nilo Peçanha,) ás vistas de todos,

numerosos buracos offerecem, em seu conteudo estagnado, facil viveiro para

miasmas e mais uma infinidade de microbios perigosos.505

A longa matéria de 1ª página alertava que a epidemia de tifo ocorrida na cidade de

Campos era decorrência do descaso dos campistas. Lembrava que as águas paradas eram

viveiros dos mosquitos e que era preciso combatê-los para “castigar-se o terror e a causa do

desprestigio da baixada fluminense, o transmissor das febres amarella, intermitentes e

typhoides.” Os mosquitos, os buracos e as valas eram “espantalhos” dos visitantes,

desagradavam o passar dos transeuntes.

Portanto, o “descaso sanitario” prejudicava a cidade: “Todos esses defeitos, que têm

corrido para a mais completa desmoralisação de Nova Iguassú, promettem perdurar para

maior vergonha nossa.” Apelava-se para que a Câmara mandasse entulhar os buracos abertos

para a “gorada rede de esgotos, e mantida uma turma encarregada, somente, de limpeza de

valas e ruas”. Este pedido, segundo o Jornal, não deveria deixar de ser atendido pela Câmara

que “sempre se manifestou zeloza pelo bem estar e pelos interesses da collectividade

iguassuana”.506

A “gorada rede de esgotos” era uma referência aos impasses entre ação municipal e

governo estadual, porque, após a destituição do prefeito indicado pelo governo estadual, em

1920, foram paralisados os serviços de saneamento na cidade. Quando as obras iam

adiantadas em 1920, comemorava o Jornal: Nova Iguassú vae em progresso.507

Em 1921, o

Jornal acompanhava as promessas de retomada das negociações, mas lamentava que nada

estava sendo realizado.508

Em contraste com a descrição do “pessimo estado sanitario” da cidade, na semana

seguinte o mesmo Jornal comemorava: “Nova Iguassú Progride”.509

Ao comparar a situação

das ruas da cidade com o cenário de anos anteriores, a partir de 1917, elegia-se como

sintomas do progresso as novas construções que transformavam “antigos mataréos em

505

SEJAMOS PREVIDENTES, 22 jun 1922. 506

Idem. 507

NOVA IGUASSÚ VAE EM PROGRESSO, 29 abr 1920. 508

REDE DE ESGOTOS, 06 out 1921. 509

NOVA IGUASSÚ PROGRIDE, 29 jun 1922.

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verdadeiros e confortáveis palacetes”. A inauguração de novas casas comerciais, as novas

ruas abertas, a extensão dos domínios “de nossa já bem desenvolvida praça” e os

melhoramentos introduzidos, a iluminação elétrica, o traçado das ruas, “revestindo-se tudo de

aspecto novo e mais elegante” eram os argumentos utilizados para afirmar que “O progresso,

geralmente moroso e dificil de ser conquistado, parece entrar, ultimamente, a passos largos,

por esta cidade”.510

O “melhoramento” das ruas era visto como atrativo para o estabelecimento do

comércio e de novas residências: “A rua Bernardino Mello, ha pouco, enfeiada por numerosas

falhas de casas e por cercas de taquara, tendo ao longo infecta vala, além de uma deselegante

sinuosidade, entra agora em franca prosperidade.”

A outra rua que margeia a linha férrea, a Marechal Floriano, também apresentava

indícios de progresso, pois que nela, “surgem, também, construções novas que mais apuram o

alinhamento. Tudo, enfim, sofre reviravoltas. O progresso entra em Iguassú a olhos vistos

com os melhoramentos que se acumulam”.

Estas descrições demonstram que havia uma vinculação entre as várias transformações

deliberadas no território que eram entendidas como elementos da construção da Nova Iguaçu.

A configuração do alinhamento e calçamento das ruas em oposição às valas que cruzavam os

logradouros, a instalação de iluminação elétrica, o aparecimento de novas construções em

substituição aos “infectos casebres” e os barracões de “páo e pique” remodelavam a paisagem

e o estatuto do território. O Jornal destacava a “desenvoltura com que se apresenta a lavoura

do Municipio”, especialmente dos “opulentos laranjais” como outro índice do progresso

alcançado. Este novo estado de coisas acenava para um “horizonte de felicidades”, mesmo

quando o Jornal voltava a reconhecer: “Mas é verdade que Nova Iguassú muito deixa a

desejar e que é senhora de grandes deffeitos”.511

As mesmas ruas elogiadas em 1922 voltavam a ser alvo de críticas em 1924. As

chuvas contínuas deixavam as ruas cheias de “lodo pútrido”, situação que seria amenizada se

as duas principais vias de comunicação já estivessem sido macadamizadas. Seu mau estado

prejudicava o comércio e a locomoção das pessoas: “Ao menos que se faça o calçamento

dessas duas principaes ruas que possuímos, Bernardino Mello e Marechal Floriano Peixoto,

de que jamais podemos nos prescindir, como as principaes vias de communicação para o

commercio. Urge um esforço em beneficio desta cidade [...]”512

510

NOVA IGUASSÚ PROGRIDE, 29 jun 1922. 511

Idem. 512

A NOSSA CIDADE E O SEU ESTADO DE DECADÊNCIA, 1º jan 1924.

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Dessa dialética entre a construção da cidade, as denúncias do estado de abandono, as

solicitações à ação dos poderes públicos, e as comemorações das mudanças introduzidas, que

revelam a dinâmica do processo, que não é linear, é válido notar que, no mesmo número sobre

as ruas prejudicadas pela falta de calçamento, era noticiada a finalização das obras do prédio

que iria sediar o novo cinema e que, numa das dependências de um “velho sobrado

reformado” da rua Marechal Floriano Peixoto, seria instalada uma nova confeitaria.513

Os

“melhoramentos locaes” eram saudados, como as obras realizadas em 1924 de limpeza e

melhoramentos em ruas do perímetro urbano e na estrada de ligação da cidade de Nova

Iguaçu com a localidade de Mesquita: “O sr. Prefeito, com essas medidas de alcance,

melhorando as nossas vias de comunicação, está imprimindo às ruas da cidade um agradavel

aspecto de limpeza e mesmo embelezamento”.514

Nesse sentido, o Correio da Lavoura incluía na pauta as notícias sobre a instalação da

nova sala de telégrafos,515

eventos pela inauguração da iluminação pública em localidades do

município, 516

inauguração de estradas etc. Ademais, de fato, esses acontecimentos eram

celebrados em solenidades e discursos que espelhavam a importância com que eram

revestidos como símbolos do progresso local.

A inauguração do Café e Bilhares Elite, na praça Ministro Seabra: “nos moldes das

casas de primeira ordem da Capital”517

, do Bar Brasil na rua Marechal Floriano,518

novas

casas de comércio, clubes, espetáculos de cinemas,519

teatro, circo, eram concebidos como

expressivos do grau de civilidade e urbanidade do distrito-sede.

A “Vida Social”,520

os bailes, os saraus nas residências de famílias abastadas, as festas

de aniversário, as comissões de organização das festas do padroeiro da cidade, as disputas

esportivas e eventos na “veterana sociedade esportiva”, o Sport Club Iguassú,521

, as bandas de

música e o transcurso ordeiro dos blocos de Carnaval, do “Pega e Deixa”, do “Contigo eu

513

DOIS MELHORAMENTOS, 1º jan 1924. 514

MELHORAMENTOS LOCAES, 10 abr 1924. 515

NOVA SALA DOS TELEGRAPHOS. A SUA INAUGURAÇÃO, 29 nov 1917. 516

Por exemplo, MESQUITA, 14 jan 1932; COELHO DA ROCHA. A INAUGURAÇÃO DA

ILUMINAÇÃO PUBLICA, 07 abri 1932. 517

O NOSSO COMMERCIO, 11 jun 1925. 518

INAUGURAÇÃO DO BAR BRASIL, 28 nov 1928. 519

OS NOSSOS CINEMAS, 03 jun 1926. Os anúncios dos espetáculos eram publicados no Correio da

Lavoura. 520

Coluna do Jornal Correio da Lavoura, que comentava nascimentos, batizados, casamentos,

aniversários, saraus, bailes, quermesses e comemorações realizadas na sociedade local. 521

Por exemplo, S. C. IGUASSÚ, 20 nov 1924.

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posso”522

etc. dão a ver a encenação da urbanidade do distrito-sede, o engendramento de

características que constituíam aquele espaço como “cidade”.

As notas de fundação e aniversário de outros jornais, a criação de grêmios literários,523

as associações e eventos promovidos por Ligas Católicas, sociedades espíritas, partidos e

associações políticas, integravam o cotidiano da cidade. Os anúncios de dentistas, médicos,

farmácias, cursos preparatórios, aulas de música, idiomas e outros serviços, sediados nas

principais ruas do distrito-sede, concorriam para a função catalizadora exercida pela sede do

poder municipal. A cadeia, o fórum, a câmara distinguiam a formação do espaço como núcleo

das instituições políticas e administrativas do município.

É significativo observar como o Correio da Lavoura, de caráter ruralista, demandava e

fiscalizava a introdução de melhoramentos no espaço urbano como expressivos do almejado

progresso.

Ao retomar o assunto dos “melhoramentos municipais”, em 1932, era elogiada a

“arborização” da rua Getúlio Vargas. Contudo, cabia estender o benefício a outras ruas,

“igualmente necessitando do mesmo melhoramento, iniciando s.s. a urgente remodelação da

physionomia nossa urbs, cujo importante problema jamais mereceu os cuidados dos poderes

competentes”.524

A reformulação do espaço para dotá-lo de aspectos condizentes com certa

noção de cidade era assim explicitado:

O que possuimos em materia de esthetica urbana, convenhamos, é tudo o que ha de

mais archaico, monotono e de horrível mau gosto, impondo-se para sepultar essa

velharia que ainda perdura como desafio a nossa capacidade evolutiva, uma reforma

radical de conformidade com o nosso progresso, como aliás se observa em outros

centros mesmo de inferior importância ao da nossa grande cidade.525

A introdução de novas benfeitorias constituintes da paisagem urbana era festivamente

informada pelo Correio da Lavoura.526

A instalação do serviço de telefones na cidade era

compreendida como “um sensível melhoramento que, ha muito, era reclamados pelas

múltiplas necessidades derivadas do progresso a que attingiu este município”.527

A

inauguração do serviço foi celebrada, com um telefonema entre o prefeito Sebastião Arruda

Negreiros e o interventor do estado, o almirante Protógenes Guimarães, sendo depois servido

um “farto launch” confiado à confeitaria Colombo, do Rio de Janeiro (capital).528

522

Por exemplo, CARNAVAL, 03 mar 1927. 523

Por exemplo, GRÊMIO LITERÁRIO COELHO NETO, 23 out 1919. 524

MELHORAMENTOS MUNICIPAES, 02 jun 1932. 525

Idem. 526

INAUGURADA AGÊNCIA DO BB, 02 fev 1933. 527

SERVIÇO DE TELEPHONES, 12 dez 1935. 528

INAUGUROU-SE O SERVIÇO TELEPHONICO DESTA CIDADE, 23 jan 1936.

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Não há, nas páginas do Jornal, uma oposição entre a defesa da lavoura e os

investimentos pela infraestrutura da cidade. Ao contrário, um parece favorecer o outro. A

cidade, a ser dotada de melhoramentos, deveria refletir a riqueza obtida com a citricultura, o

progresso econômico do munícipio. Em 1932, aconteceu a “1ª Feira de Amostras de Iguassú”,

que consistiria, segundo o anúncio publicado, numa “Grandiosa demonstração publica da

riqueza e prosperidade do município de Iguassú”. Os temas, ou motivos a serem “expostos”

sobre o município eram a lavoura, a indústria, o comercio e “Artes, Sciencias, Instrucção”.529

Em 1936, artigo assinado por “T.U.” argumentava que o desenvolvimento do

município era caudatário do desenvolvimento da citricultura:

Esse surto formidavel que se nota na lavoura vae se refletindo na vida urbana de

Iguassú. Com effeito, a cidade vae tomando novo aspecto. Predios de architectura

moderna vão se erguendo pelos differentes bairros e novas ruas vão se abrindo. O

commercio se expande e a industria começa a se desenvolver. 530

Além dos melhoramentos em assistência médica, em 1936, outro índice do progresso

era a “instrucção”, porque “já conta com bons institutos de ensino”. O trabalho da prefeitura

no emprego das verbas arrecadadas em “melhoramentos urbanos” era ressaltado. Contudo, o

autor lembrava que “todos esses progressos” poderiam ser maiores se fosse resolvido o

problema do saneamento do território da baixada, “a dragagem e drenagem dos seus rios e

pantanos é obra patriótica e sobretudo humanitária [...]”. Avanços e recuos, impasses e

improvisos, constituíam, portanto, o engendramento da cidade.

Ainda que as vinculações estabelecidas, nas páginas do Jornal ruralista, entre

urbanização e desenvolvimento econômico da lavoura possam evidenciar projeções que

buscavam defender a relevância da agricultura para a prosperidade do munícipio, é

interessante notar essas apropriações e convergências, que apareciam, entre urbano e rural. No

caso do distrito-sede, ambas “paisagens” e suas funções estavam bastante imbricadas.

Sobre outras áreas do município, o Jornal noticiava com gosto o processo dos

loteamentos, da fragmentação de antigas fazendas para a construção de terrenos para casas, a

abertura de ruas etc. Os benefícios de saneamento introduzidos em Nilópolis no transcurso do

governo de Nilo Peçanha eram bastante valorizados como mudanças que colocaram a

localidade na “marcha do progresso”.

Até mesmo dentro dos limites do 1º distrito, o Jornal acenava os loteamentos como

impulsionadores do progresso. Desse modo, a ação do coronel Horacio de Lemos, ao retalhar

o latifúndio que possuía em Mesquita em lotes para venda, retirava aquela região do

529

1ª FEIRA DE AMOSTRAS DE IGUASSÚ, 07 jul 1932. 530

DESPERTAR DE IGUASSÚ, 22 mar 1936.

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“marasmo” em que se encontrava: “Já se contam nas várias ruas abertas, muitas edificações.

Muito folgamos em registrar o surto de progresso que faz florescer a velha e tradicional

Mesquita”.531

Sobre o crescimento da população e a expansão de loteamentos em alguns distritos do

município, motivado pelas construções e pelos aluguéis que atraíam as populações que não

conseguiam arcar com os altos alugueis “do Rio”, o Jornal alertava apenas para a necessidade

de melhorias de infraestrutura sanitária, e de vigilância dos padrões de higiene, em beneficio

dos moradores, para o que conclamava a atuação do prefeito.532

O saneamento, portanto, era considerado como condição primordial para o

desenvolvimento da urbanização ou do emprego do território em áreas de cultivo. Atrelado ao

tema da higiene, era assunto nacional desde a instauração da Comissão Federal de

Saneamento da Baixada Fluminense, que funcionou entre 1910 e 1916. A criação da

Comissão foi ancorada em argumentos de combate aos focos de malária e na recuperação da

região para a economia agrícola: “o saneamento é entendido não somente como higiene

pública, mas como instrumento de revitalização da região” (FADEL, 2009, p.143). Médicos e

engenheiros foram agentes importantes nesses movimentos de disseminação de uma nova

ordem de costumes e de relação com o espaço urbano e rural (Ibidem). Novas comissões

seriam implantadas nos anos de 1920 e, no pós-1930, houve forte intervencionismo do

governo de Getúlio Vargas sobre os assuntos de saneamento da Baixada Fluminense.

As pesquisas sobre o saneamento na região alertam, entretanto, para os avanços e

recuos, os impasses e entraves que permearam este processo desde fins do séc. XIX (Cf.

FADEL, 2009; SANTOS, 2006; SOUZA, 2006). As relações entre as esferas municipal,

estadual e federal do poder executivo revelaram conflitos sobre o encaminhamento do

problema. As relações estabelecidas entre as agências de governo e as empresas contratadas

para fazer os serviços, as concorrências pela posse das áreas tratadas, entre especulação

imobiliária, lavradores e industriais, além da continuidade de problemas de doenças, surtos e

epidemias, são reveladores das disputas que permearam esse processo. Cabe destacar,

contudo, as associações entre saneamento e as funções rural ou urbana, requeridas,

pretendidas, destinadas, às diferentes regiões da baixada fluminense.

Em Iguaçu, as ações da prefeitura municipal sobre o saneamento também comparecem

nos relatórios enviados pelo interventor estadual Ary Parreiras a Getúlio Vargas. O relatório

do ano de 1933, submetido ao presidente Vargas, apresentava as ações das municipalidades

531

MESQUITA, 16 ago 1928. 532

A NOSSA CIDADE, 18 fev 1926.

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do estado do Rio de Janeiro. Assim, o interventor avaliava positivamente o “estado sanitário”

do município de Iguaçu, devido aos serviços de desobstrução de rios, capina de ruas, limpeza

e drenagem de terrenos alagadiços, trabalhos nos quais a prefeitura empregava cerca de 150

trabalhadores. O interventor federal ressaltava os números da instrução pública, a situação das

praças e das estradas de rodagem. Esse relatório, encaminhado ao presidente, ofertava

também fotografias de algumas das estradas construídas ou reformadas.533

Figura 34 Fotografia da Estrada do Gimbaú, Serviço Municipal, 1933.

Fonte: Estado do Rio de Janeiro. O governo do Estado do Rio de Janeiro e de suas municipalidades

durante o ano de 1933. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Ary Parreiras,

Niterói, 1934, p.249.

533

Estado do Rio de Janeiro. O governo do Estado do Rio de Janeiro e de suas municipalidades durante

o ano de 1933. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Ary Parreiras, Niterói,

1934.

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251

Figura 35 Fotografia da Estrada Plínio Casado, Serviço Municipal, 1933.

Fonte: Estado do Rio de Janeiro. O governo do Estado do Rio de Janeiro e de suas municipalidades

durante o ano de 1933. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Ary Parreiras,

Niterói, 1934, p.260.

Figura 36 Fotografia do calçamento da Rua Getúlio Vargas, Serviço Municipal.

Fonte: Estado do Rio de Janeiro. O governo do Estado do Rio de Janeiro e de suas municipalidades

durante o ano de 1933. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Ary Parreiras,

Niterói, 1934, p.251.

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Na esfera local, a importância conferida ao tema da higiene como elemento necessário

à afirmação da localidade como uma “cidade”, pode ser apreendida, ainda, na campanha pela

construção de um hospital.

A “Maior Campanha”: o Hospital de Iguaçu

A campanha pela fundação de um hospital no distrito-sede figurava nas colunas do

Correio da Lavoura a partir de 1922. A instituição serviria para “recolher e amparar ao menos

os nossos doentes, os indigentes que necessitam da caridade publica”. A existência de

hospitais em todas as cidades do estado, por iniciativa particular ou do poder público, era

contrastada com a situação em Nova Iguaçu: “Porque não havemos nós de fazer o mesmo em

Nova Iguassú? É preciso um esforço por parte da nossa população, e aos corações bem

formados cabe a iniciativa desse melhoramento tão urgentemente preciso e útil para uma

cidade como a nossa”.534

A descrição da morte de um homem, no banco da estação de trem, que esperava há um

mês para ser internado no hospital de Cascadura, era tomada como exemplo da imperiosa

criação de um hospital para a população local sem recursos financeiros. Para a fundação do

hospital, apelava-se tanto aos poderes públicos quanto ao “espírito de caridade”. Aos “homens

ricos, detentores da fortuna” o Jornal conclamava, num apelo religioso, pela construção de um

hospital para os “desherdados da sorte”: “Fundemos, pois, um hospital em Nova Iguaçu”.535

Pelo exemplo do realizado em outras cidades, o Jornal confiava que a construção da

casa de saúde poderia advir por auxílio da iniciativa particular e subvenção dos poderes

públicos. A “necessidade imperiosa e inadiavel” de um estabelecimento hospitalar em Nova

Iguaçu era urgente, porque “Do contrario, continuaremos, de outro lado, a offerecer um

attestado deploravel da nossa incúria, distanciando-nos das mais pequenas cidades do

interior”.536

Nas primeiras matérias da campanha, além da legitimidade da destinação de um

hospital para o atendimento aos doentes, era tecido um argumento que associava a criação da

instituição com a “elevação” da localidade ao nível compatível ao de uma cidade. Além de

promover a caridade, o hospital promoveria a constituição da cidade, o reconhecimento

daquele espaço como citadino, urbanizado. Dessa forma, deveria, portanto, contar com o

empenho da ação governamental e de doações dos abastados da sociedade local.

534

A NECESSIDADE DE UM HOSPITAL EM NOVA IGUASSÚ.UM APPELLO AO POVO, 19 out

1922. 535

Idem. 536

PRECISAMOS DE UM HOSPITAL, 09 nov 1922.

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A criação de uma casa de saúde e de um mercado era apregoada como resposta às

“maiores necessidades” da cidade em 1923, porque repercutiriam na remediação e prevenção

dos hábitos de higiene e consumo de gêneros da população.537

Apesar da continuidade da publicação de matérias pelo estabelecimento de uma casa

de saúde, somente em 1926 houve uma primeira resposta da ação municipal, pela proposta,

aprovada na Câmara, de uma dotação orçamentária. Embora destacasse a ação do vereador

proponente da iniciativa, o Jornal alegava que os recursos aprovados eram insuficientes.538

Por ocasião da representação que a população da localidade de Morro Agudo

encaminhou ao diretor de Saúde Publica do estado, solicitando medidas urgentes para socorrer

com medicamentos o surto de paludismo na localidade, o Jornal lembrava a “necessidade de

fundação do hospital”,539

assim como aludia a situações de acidentes, nas quais o socorro de

farmacêuticos e do médico residente na cidade eram insuficientes, sendo por vezes necessária

a internação das vítimas: “Não será occasião do governo do Estado fazer alguma coisa em

beneficio desta terra, contribuindo com alguns pares de contos de réis para a fundação da

nossa Santa Casa?”.540

A proposta de edificação de um hospital na cidade foi mantida na recorrência de

matérias, em geral na primeira capa, que tratam do assunto, ora argumentando sobre as

necessidades e os benefícios que resultariam da construção do mesmo, ora apelando para que

as ideias tomassem forma, pela ação de particulares ou dos poderes públicos. Mesmo

reconhecendo que a campanha atravessava anos sem ver maiores resultados, o Jornal não

esmorecia: “Insistiremos, pois, no assumpto; malharemos hoje como hontem e do mesmo

modo amanhã e sempre, até ver convertido em confortadora realidade o sonho que nos

embala”.

A adesão simpática de outras forças, segundo o Jornal, alimentava a batalha, como a

iniciativa do vereador que propôs uma dotação orçamentária na Câmara de Vereadores.

Contudo, devido à necessidade de maior empenho, questionava: “Nesta terra tão generosa,

que tem enriquecido tanta gente, onde as laranjas representam verdadeiros pomos aureos, não

haverá meia dúzia de beneméritos, almas generosas, corações magnânimos, que queiram

assinar um ‘Livro de Ouro’ em beneficio das Obras do nosso hospital? Esperemos...” 541

537

AS NOSSAS MAIORES NECESSIDADES, 26 abr 1923. 538

O NOSSO HOSPITAL, 08 abr 1926. 539

UM HOSPITAL PARA ESTA CIDADE, 29 abr 1926. 540

CUIDEMOS DO NOSSO HOSPITAL, 08 jul 1926. 541

CUIDEMOS DO NOSSO HOSPITAL, 15 jul 1926.

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Em um conjunto de matérias, publicadas em série sob o título “O que mais

precisamos”, a falta da casa de saúde era colocada ao lado dos problemas dos transportes e do

abastecimento de água na cidade.

Também a escassez e os atrasos constantes no serviço dos trens constituía, segundo o

Jornal, um entrave ao crescimento da cidade, que tendia a se tornar “um dos maiores nucleos

de população suburbana” em função do encarecimento de vida no Distrito Federal,

principalmente pela alta dos aluguéis. Contudo, o afluxo de pessoas para a cidade era

atrapalhado pela condição precária dos serviços de transporte, que dificultavam a mobilidade

das pessoas: “Está ahi uma das causas do nosso atraso no desenvolvimento que já deveria ter

a cidade de Nova Iguassú, digna de melhor sorte, se tivesse administradores na altura de seus

interesses”.542

O abastecimento de água era considerado outro problema sério, porque sendo o

mesmo o volume de água distribuído há dez anos, não correspondia ao crescimento da

população local. Os poderes públicos municipais eram responsabilizados pelo problema, por

agirem com imprevidência e segundo interesses pessoais, posto que era do município que saía

a água que abastecia o Distrito Federal, não sendo, portanto, um problema de escassez. A

crítica do Correio da Lavoura se fazia contumaz: “Já é tempo de se ir commentando estes

deslises, esta falta de patriotismo (digamos assim) dos que nos dirigem; a critica faz-se mistér,

porque não é possível mais permittir que serviços do valor deste continuem esquecidos, não

obstante os insistentes clamores da população.”543

Na sequência desses temas, relacionados à falta de estrutura da cidade, pleiteava-se a

captação de maior volume de recursos para a construção da casa de saúde. Além da

importante iniciativa particular, conclamava-se a participação dos poderes públicos na

empreitada, com dinheiro e materiais de construção. A participação da ação municipal

precisava estar presente no aumento das verbas destinadas e pelo uso do “seu prestigio

político” junto ao governo estadual, para obter contribuições para a construção do hospital.544

Contudo, apesar do ânimo do Jornal, o projeto de construção do hospital só

encontraria respaldo prático da prefeitura em 1931. Em janeiro daquele ano, num “box” no pé

da página, o Jornal noticiava a realização de uma reunião promovida no gabinete do prefeito,

por iniciativa do mesmo, da qual participaram “alguns cavalheiros de prestigio em nossas

varias camadas sociais”, tendo sido também convidado o diretor da Folha. Devido a esta

542

O QUE MAIS PRECISAMOS, 21 out 1926. 543

O QUE MAIS PRECISAMOS, 04 nov 1926. 544

O QUE MAIS PRECISAMOS, 18 nov 1926.

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iniciativa aventava-se que “a velha campanha por nós encetada ha annos com o fim de se

fundar em nossa cidade um Hospital, parece que caminha para uma solução pratica”.545

Em decorrência das reuniões promovidas pelo prefeito Sebastião de Arruda Negreiros

foi constituída uma Associação de Caridade denominada “Hospital de Iguassú”. Um livro

para acolher subscrição de sócios foi disponibilizado na secretaria da prefeitura, e seriam

considerados fundadores do hospital aqueles que assinassem o mesmo até a aprovação dos

estatutos da recém-criada Associação.546

O empenho do prefeito Sebastião de Arruda Negreiros em retomar a empreitada do

Jornal pela instituição de um hospital em Iguaçu é revelador dos esforços promovidos pelo

mesmo para angariar maior aceitação ao seu governo. Ao ser nomeado interventor, em

dezembro de 1930, pela influência política de Manoel Reis, o novo prefeito enfrentou a

oposição de setores ligados a Getúlio de Moura, que havia intentado assumir a prefeitura, nas

eleições de 1929. Getúlio de Moura perdeu as eleições, e depois, pela força armada, na

ocasião do movimento revolucionário, tentou assumir o poder no munícipio. Silvino de

Azeredo, diretor-proprietário do Correio da Lavoura, era membro da União das Classes

Conservadoras de Iguaçu, da qual fazia parte, também, Getúlio de Moura.

É relevante notar como, a partir da iniciativa em prol do hospital, o Correio da

Lavoura passou a reconhecer os esforços do novo prefeito na realização de melhorias para a

cidade. Outra iniciativa que teve boa acolhida no Jornal foi a convocação de concurso para

professores destinados às escolas municipais. O movimento foi visto como uma reforma da

instrução pública.547

Por ocasião da visita do presidente Getúlio Vargas à cidade, em junho de

1931, pelo aniversário de 40 anos de fundação da Nova Iguaçu,548

o Jornal ressaltava, entre os

eventos ocorridos, o lançamento da pedra fundamental do Hospital Iguaçu, o que significava a

vitória da campanha iniciada pelo Jornal.549

545

O HOSPITAL DESTA CIDADE, 29 jan 1931. 546

HOSPITAL DE IGUASSÚ, 19 fev 1931. 547

CONCURSO DE PROFESSORES, 19 fev 1931. 548

PASSOU, NO DIA 19 DO CORRENTE, O 40º ANNO DE FUNDAÇÃO DESTA CIDADE, 25 jun

1931. 549

A VISITA DO DR. GETÚLIO VARGAS A NOVA IGUASSÚ, 25 jun. 1931.

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Figura 37 Fotografia do lançamento da Pedra Fundamental do hospital de Iguaçu, 1931.

Fonte: Álbum Fotográfico de Nova Iguaçu, 1978. Foto 15. Lançamento da Pedra Fundamental do hospital de

Iguaçu, 1931.

O lançamento da pedra fundamental do hospital integrou a agenda do Chefe de

Governo na cidade, que também inaugurou a rua “completamente remodelada” denominada

Getulio Vargas, e a primeira packing-house do município. Eram ações que simbolizavam

diversos “melhoramentos” ocorridos na cidade que festejava 40 anos de fundação: “Honrada

com tão illustre visita e pelos elevados objectivos que a determinou a nossa população soube

cercar o chefe da Revolução na sua primeira visita a esta cidade, do carinhoso e enthusiastico

acolhimento de que é merecedor”. 550

O protagonismo do Jornal na condução da campanha pelo hospital também foi

reconhecido na eleição da diretoria da futura instituição. Na reunião de aprovação dos

estatutos do futuro hospital de Iguaçu, presidida pelo prefeito Sebastião de Arruda Negreiros,

foi eleita a nova diretoria da instituição, sendo o prefeito eleito presidente, e Silvino de

Azeredo, o vice. Além do prefeito, Silvino de Azeredo discursou destacando a disponibilidade

do prefeito em levar a cabo o ideal “porque se bateu durante longos annos”. O cap. Sebastião

Hercullano de Mattos, tesoureiro da instituição e líder da Associação dos Fruticultores da

cidade, também lembrou a importância de Silvino de Azeredo na campanha realizada. O

“lavrador” Abilio de Jesus Borges Ferreira “em nome dos seus colegas lavradores” enalteceu

os esforços do Correio da Lavoura.551

550

PASSOU, NO DIA 19 DO CORRENTE, O 40º ANNO DE FUNDAÇÃO DESTA CIDADE, 25 jun

1931. 551

HOSPITAL DE NOVA IGUASSÚ, 23 jul 1931.

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Ao estampar em primeira página a planta do “magestoso edifício” destinando ao

hospital, o Jornal afirmava, em letras garrafais, acima da figura: “Alcançamos, felizmente, a

vitória de nossa campanha, iniciada ha nove annos, em pról desse estabelecimento hospitalar.”

Para assegurar o protagonismo do Jornal da promoção da campanha, era transcrita na íntegra a

matéria com a qual foi iniciada a campanha, em 19 de outubro de 1922.552

O interventor do estado Ary Parreiras, em relatório apresentado ao presidente Getúlio

Vargas em 1933, publicava uma fotografia do andamento das obras de construção do Hospital

de Iguaçu. A legenda da foto informava: “Iguassú –Hospital da Cidade (em construção) –

Serviço da Prefeitura em cooperação com particulares e auxiliado pelo Estado”. 553

Figura 38 Fotografia do Hospital de Iguassú em construção.

Fonte: Estado do Rio de Janeiro. O governo do Estado do Rio de Janeiro e de suas municipalidades

durante o ano de 1933. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Ary Parreiras,

Niterói, 1934, pág.253.

A inauguração do hospital aconteceu em 1935, envolta em solenidades, com a

participação de representantes das três esferas do poder executivo e “com numerosa

assistência”.554

Houve benção do edifício, missa festiva, reunião da diretoria, quermesse

beneficente ao hospital. Sebastião Hercullano de Mattos foi o orador oficial da solenidade,

que contou com a presença, entre outros, do capitão Silvino de Azeredo, do médico Luiz

552

O FUTURO HOSPITAL DE IGUASSÚ, 02 jul 1931. 553

Estado do Rio de Janeiro. O governo do Estado do Rio de Janeiro e de suas municipalidades durante

o ano de 1933. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Ary Parreiras, Niterói,

1934, pág.253. 554

HOSPITAL DE IGUASSÚ, 04 abr 1935.

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258

Palmier e do deputado Manoel Reis. Um “lunch” foi servido aos convidados, e o Sport Club

Iguassú promoveu um baile comemorativo em sua sede. Ao descrever o edifício, as alas

arejadas, os equipamentos disponíveis, as “mais modernas installações sanitárias e

hygienicas”, o Jornal concluía que: “Com a relevante realização, fica este município dotado

de um hospital modelo, installado de accordo com os preceitos da nova technica, que são

imprescindiveis a uma obra de tamanho vulto”.

A construção do hospital de Iguaçu, as obras de saneamento, as ações dos postos de

profilaxia rural, as melhorias em infraestrutura relatadas pelos prefeitos nos relatórios e

notificadas pelo Correio da Lavoura, contudo, não atendiam à todas as demandas das

condições de precariedade da região. Além das denúncias feitas no Jornal sobre a

continuidade dos problemas, os mapas de frequência das escolas de Iguaçu, no período

pesquisado, também registravam a situação de alunos atingidos por surtos epidêmicos,

prédios e casas escolares em funcionamento inadequado, condições de transporte,

abastecimento de água e rede de esgotos insuficientes ou inexistentes. As condições de vida,

de moradia e circulação, portanto, constituíam o cotidiano das escolas, das instituições sobre

as quais era depositado um poder transformador da condição dos alunos, de suas famílias.

Repositórios do “progresso”, as escolas de Iguaçu não se desvencilhavam do que buscavam

dar combate...

Além das alegações de suspensão de aulas devido às condições dos prédios escolares,

outros motivos eram elencados para justificar as faltas dos alunos e das professoras. Com

maior recorrência foram citados os atrasos ou ausência de condução e trens, os dias santos

“guardados” pelos alunos, os dias chuvosos, as épocas de trabalho dos alunos nos laranjais ou

no acondicionamento dos frutos para exportação. Casamentos, dia de pagamento, doenças em

filhos ou pessoas da família, lutos e “moléstias” configuravam as faltas ocasionais dos

docentes (quando informadas). Porém, para a diminuição da frequência dos alunos, os casos

de doença eram os argumentos mais recorrentes utilizados pelas docentes, em todo município,

fosse em escolas urbanas ou rurais.

Algumas notações contêm registros mais frequentes e detalhados sobre os motivos da

“baixa frequência”. O registro mais assíduo poderia ser explicado pela maior incidência das

ocorrências na localidade, mas deve-se considerar o hábito de escrita das docentes. Portanto,

escolas sem esse tipo de registro ou com maiores intervalos talvez não signifiquem ausência

das ocorrências. As doenças mais citadas pelas professoras eram a febre, “epidemia de gripe”,

sarampo, caxumba, catapora, “doença dos olhos”, “impaludismo” (malária), pneumonia.

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259

Nos mapas de frequência da escola mista estadual de 2º Grau, nº2, a baixa de

frequência devido a doenças em alunos é registrada no período de 1929-1947.555

Os endereços

indicam a localização da escola em ruas do distrito-sede, tendo funcionado até mesmo em

uma das ruas principais, a Rua Marechal Floriano, às margens da ferrovia. Era situada como

instalada na “cidade”, em 1931, e como “urbana”, em 1944. Portanto, as anotações das

professoras revelam que mesmo escolas situadas na área central do distrito-sede enfrentavam

a “epidemia na população escolar”.556

Em setembro de 1933, a “a baixa da frequência é justificada pela epidemia de

sarampo”, em abril de 1935: “A epidemia de gripe ainda continua perturbando a frequência”;

No mês seguinte, registrava-se que “Ainda perturba a frequência a febre da vacina, a gripe e

alguns casos de moléstia de olhos”.

A ocorrência de doenças voltava a ser a justificativa da baixa de presença em

novembro de 1941: “8 alunos da Professora Domingas Fonseca deixaram de comparecer neste

mês devido moléstia comprovada: coqueluche e dor de olhos”.

Em maio de 1942, a professora explicava que “A frequência media abaixou pela falta

de 20 alunos da 1ª serie e de 2 de 3ª serie se acharem doente, com coqueluche e sarampo.” No

mês seguinte, nova observação: “Pela mesma razão do mês anterior a frequência mensal

continua baixa o sarampo e a coqueluche tem vitimado os alunos de 1ª série e alguns de 3ª.” E

em julho: “A frequência media continua baixa, pois alunos de 1ª serie estão constantemente

atacados por coqueluche, sarampo, caxumba e dor de olhos.”

A doença de alunos acarretava não apenas a ausência nas aulas por alguns meses e

semanas, mas chegava também a resultar no cancelamento da matrícula dos mesmos. Em

outubro de 1942, a professora reafirmava pelo mapa uma situação que, ao que indica, já havia

sido resolvida: “Foram canceladas 4 matriculas de 1ª série e 3 de 3ª série. Todas por motivo

de moléstia comprovada como tive a oportunidade de explicar ao Snr. Técnico de Educação

por ocasião de sua p.p. visita.”

No ano seguinte, a ocorrência se repetia: “Por motivo de moléstia 2 alunos da 3ª série

e 2 da 1ª estão com suas respectivas matriculas canceladas. Razão porque as suas professoras

tiraram as percentagem com 38, 42 e 35 alunos.” 10/1943

Em maio, junho, julho e agosto de 1944 as professoras informavam o não

comparecimento de alguns alunos, “por motivo de moléstia”. Em setembro, a situação era

definitiva para alguns alunos: “Os 5 alunos eliminados cientificaram me que não mais

555

Fundo Departamento de Educação, 02711, APERJ. 556

Ibidem. Mapas de 04/1931;05/1931.

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260

compareceram as aulas por motivo de moléstia, 2 ao conselho médico mudaram de

localidade.” Em outubro e novembro alguns alunos continuavam com as matrículas

canceladas.

No ano seguinte, em maio de 1945: “Por ordem de Saúde Pública estão com as

frequências suspensas por se acharem atacados da coqueluche os seguintes alunos: da 1ª série

Elsa Gonçalves, Orcalina Silva, Dulcelina P. Lemos; Antônio Lemos; Milton P. Silva, da 3ª

série Benedita dos Santos e Eliseu Gonçalves.” Em junho e julho as matrículas continuavam

canceladas. Em agosto, setembro e outubro, a professora também registrava o cancelamento

de matrículas devido a doenças em alunos.

Em 1946, durante os meses de agosto e setembro a professora destacava dois alunos

ausentes devido à doença, enquanto generalizava a situação no mês de setembro: “O sarampo

no corrente mês causou grande prejuízo à frequência da escola”.557

Em alguns comentários foi verificado que os pais avisavam aos professores os motivos

da ausência dos alunos.558

Pelo menos em 14 notações do distrito-sede e em outras 13

notações de escolas situadas nos demais distritos, foram anotados pelas docentes informes

que justificavam a baixa de frequência por motivo de doenças de alunos.

Ademais, o tema das condições de saúde dos alunos era registrado por informes do

encaminhamento de alunos e professores para a “inspeção médica”559

, o registro da criação de

pelotões de saúde, e das visitas de enfermeiros e médicos às escolas. Nas escolas do distrito-

sede do município de Iguaçu foram registradas visitas em sete560

escolas municipais, entre

1944 e 1949, da enfermeira Urania Ramos, do dentista Francisco Penha Villela, do médico

Clédon Cavalcante de Holanda Lima. Entre as sete escolas, sabe-se que quatro eram

localizadas em áreas rurais, para uma houve oscilação da atribuição entre “rural” e “urbano”,

uma não foi possível precisar, uma foi identificada como “urbana”. Apenas a Escola Típica

Rural em Santa Rita, estadual, registrou a visita de “médicos sanitaristas” em 1941 e 1942,

entre eles o Dr. José Filho Manhães.561

Em maio de 1947, visitando a escola municipal Dr. Francisco Lemos de Faria, em

Areia Branca, no 5º distrito, a enfermeira Urania é identificada como “Chefe do Pelotão de

557

Fundo Departamento de Educação, 02711, APERJ. 558

Fundo Departamento de Educação, 02714, APERJ. Mapa de 10/1939. 559

Fundo Departamento de Educação, 02675, APERJ. Mapa de 04/1939;10/1944;10/1945; 560

Fundo Departamento de Educação, 02633: Mapa de 08/1945;03/1946; 02659: Mapa de 03/1944;

06/1944; 02666: Mapa de 07/1944; 08/1848;10/1948; 08/1949;09/1949;11/1949; 02690: Mapa de

07/1944; 04/1949;02691: Mapa de 06/1944; 02692: Mapa de 09/1948; 02693: Mapa de

04/1944;05/1944;06/1944; APERJ. 561

Fundo Departamento de Educação, 02660, APERJ.

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261

Saúde”. 562

A existência de pelotões de saúde foi mencionada em quatro escolas estaduais, nos

anos em 1940,563

1941,564

1947565

. Por essas iniciativas, percebe-se também, a ação das escolas

para combater os problemas causados pelas condições sanitárias e higiênicas da região, além

de induzir os alunos a novas práticas, introduzidas nas rotinas e atividades escolares.

Há uma significativa produção em história da educação que examina as diferentes

experiências, produzidas em escolas de capitais e regiões periféricas, que introduziram a

questão da higiene como dimensão educativa, cotidiana, nas escolas. Essas pesquisas,

ancoradas em diferentes contextos e temporalidades, informam sobre as confluências e

divergências entre os discursos médicos e a ação educacional na escolarização e a

“medicalização” de sujeitos, de seus corpos e famílias, ancorados em discursos pela

“regeneração” do “povo brasileiro” (Cf. FERREIRA, 2003; GONDRA, 2003; MARTINS,

2003;ROCHA, 2011, 2010;2003 a;b).

Criadas para instruir a população, o crescimento da rede de escolas e da oferta de

matrículas eram divulgados como índices do desenvolvimento do município e da cidade. A

maior existência de escolas do distrito-sede é reveladora das relações estabelecidas entre o

espaço urbano e a distribuição de escolas. Constituem sinais do “progresso” da localidade.

Contudo, a análise da forma como se configurou a rede de escolas revela permanências das

quais não foi possível se desvencilhar. A recorrência das doenças, das epidemias, das

enchentes, da falta de luz elétrica, do sistema de águas e esgotos etc. incidiam sobre as

experiências de escola primária. A existência das visitas médicas, das inspeções de saúde e

vacinação, dos pelotões de saúde, etc. também demonstram a ação da escola sobre o entorno,

o interesse em modificar a paisagem, os hábitos, os comportamentos. A permanência da

situação precária das escolas isoladas, mesmo no distrito-sede, permite refletir sobre a

importância que o Correio da Lavoura conferiu, ainda na década de 1920, à criação de um

Grupo Escolar na cidade.

A campanha pelo Grupo Escolar de Nova Iguaçu

Na campanha promovida pelo Jornal para a criação de um Grupo Escolar no distrito-

sede do município reside motivações e argumentos que refletem as funções atribuídas à

instrução escolar para o “progresso” da localidade.

562

Fundo Departamento de Educação, 02734, APERJ. 563

Fundo Departamento de Educação, 02689, APERJ. 564

Fundo Departamento de Educação, 02734,02740 APERJ. 565

Fundo Departamento de Educação, 02706, APERJ.

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262

Em março de 1923, na primeira página do Jornal, sob o título “Um Grupo Escolar para

Nova Iguassú”, comparava-se a situação do estado do Rio de Janeiro com os estados de São

Paulo e Minas Gerais, afirmando que estes estavam à frente na criação de grupos escolares. O

Jornal noticiava e comemorava que seria criado um Grupo Escolar na cidade, por meio da

iniciativa particular, mas apelava para que não faltasse o apoio do Estado ao empreendimento.

Não há informações detalhadas sobre a criação deste Grupo e, ao que parece, não foi

instituído.566

O Jornal acompanhava a criação de grupos escolares pelo governo estadual, e

questionava a existência de critérios para a distribuição dos mesmos. Argumentava-se que

Nova Iguaçu apresentava problemas de falta de escolas e de oferta de matrículas insuficientes,

face ao crescimento populacional, enquanto outras cidades de menor estatuto eram

beneficiadas com a criação de grupos escolares. Em matéria de primeira página dirigida ao

interventor do estado, situava-se a criação de um grupo escolar em Nova Iguaçu como

“necessidade inadiavel”, porque “sem essa iniciativa jamais podemos ter um systema de

instrucção seriamente efficiente”.567

Ao seguir e anunciar a criação de grupos escolares em outros lugares, o Jornal

aprofundava as expectativas pelo mesmo acontecimento na cidade.568

Na pretensão de

pressionar as autoridades dirigentes, além de criticar a carência de escolas no município, o

Jornal indicava soluções para viabilizar a implantação da “escola-modelo” na cidade.

Assim, “em nome do povo”, convencido e tentando convencer que “Nova Iguassú tem

necessidade de um grupo escolar”, defendia-se a instalação do mesmo no prédio onde

funcionava o serviço de Profilaxia Rural. Tratava-se de um prédio novo, “com dependências

amplas”, com cinco “espaçosas” salas. Posto que o prédio não era totalmente utilizado pelos

serviços de profilaxia, poderia ser usado em benefício da criação de um Grupo Escolar.569

Foram recorrentes as matérias que buscavam facilitar a criação de um Grupo Escolar

fazendo crer que já havia um prédio que poderia ser destinado ao mesmo. Esta ação do Jornal

é reveladora da compreensão de que os Grupos requeriam uma estrutura física adequada. Os

custos para construção de prédios escolares eram empecilhos à disseminação dos mesmos, em

função da situação econômica do estado do Rio de Janeiro. O aproveitamento de um prédio

existente e adequado, com condições para sediar “um moderno estabelecimento de

566

UM GRUPO ESCOLAR PARA NOVA IGUASSÚ, 1º mar 1923. 567

AO SR. INTERVENTOR DO ESTADO, 31 mai 1923. 568

OUTRO GRUPO ESCOLAR PARA RESENDE, 14 jun 1923. 569

UM APPELLO AO SR. INTERVENTOR DO ESTADO, 21 jun 1923.

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263

educação”,570

como era aconselhado pelo Jornal, poderia promover a criação do Grupo de

Nova Iguaçu.

Aos argumentos sobre o Grupo Escolar como estabelecimento que viria sanar os

problemas de escolas lotadas, de crianças sem matrículas, acrescentava-se que a função do

mesmo também consistia em dotar Nova Iguaçu de um estabelecimento condizente com seu

estatuto de cidade.

Portanto, é relevante observar que a campanha pela criação de um Grupo Escolar era

concomitante à campanha, também promovida pelo Correio da Lavoura, pela construção do

hospital na cidade de Nova Iguaçu. As duas instituições, que davam forma às causas da

higiene e instrução sustentadas pelo Jornal desde sua fundação, integravam um projeto de

fazer com que Nova Iguaçu fosse reconhecida como uma cidade, tornar-se cidade. Em função

dos apelos ao poder público, não atendidos, o Jornal procurava sensibilizar a iniciativa

particular local:

Já não é de hoje que nos vimos esforçando pelo alevantamento, nesta cidade, não só

de um Grupo Escolar, mas de um hospital, que tanta falta nos faz [...] Raras são as

cidades, como já accentuamos nestas columnas, que não possuem hoje o seu

estabelecimento superior de ensino. [...] Não temos, aqui, uma alma generosa que

venha arrancar a população desta situação asphyxiante em que se arrasta, ha tantos

annos, sem hygiene, sem uma casa de caridade, sem instrução, sem coisa nenhuma

que a ponha, enfim, ao nível das demais cidades.571

Em 1924, o Jornal mantinha a campanha pela criação do Grupo Escolar, voltando a se

dirigir ao governo estadual e criticando a situação da instrução pública no município. Insistia-

se na responsabilidade do poder público na criação de escolas, sendo a solução para a

demanda existente na cidade “a fundação de um novo e moderno estabelecimento de ensino

publico e esta iniciativa cabe tão somente ao governo [...]”.572

A crítica feita à existência de cidades sem escolas e outras dotadas de mais de um

grupo escolar sinalizava a insatisfação com o modo pelo qual o governo estadual distribuía as

escolas, porque “parece não obedecer a um methodo de uniformidade”. Nesse sentido, não se

compreendia porque Nova Iguaçu, “onde, dia para dia, se vae tornando precisa a fundação de

um Grupo Escolar” era preterida, enquanto cidades de menor população eram beneficiadas.573

A repetição das reclamações sobre a situação do ensino primário em Nova Iguaçu

buscava convencer sobre a repetida “necessidade inadiável” de um Grupo Escolar: “Não

temos, podemos dizer, instrucção publica nesta cidade”. O Jornal avaliava como “absurdo” e

570

O NOSSO GRUPO ESCOLAR, 19 jul 1923. 571

OS FRUTOS DA INICIATIVA PARTICULAR, 18 out 1923. 572

A NOSSA INSTRUÇÃO PÚBLICA, 28 fev 1924. 573

Idem.

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264

prejudicial ao ensino a existência de estabelecimentos com 50 a 60 alunos. Apesar de lotadas,

as escolas existentes não absorviam toda a demanda: “É uma situação de verdadeiro

descalabro, esta, que atravessamos, sem instrucção no município”.574

Em tom de indignação, o Jornal argumentava sobre a importância da instrução

primária: “A nossa cidade bem merece a protecção, nesse sentido, dos órgãos officiaes do

Estado”, pela criação de um grupo escolar e pela fundação de novas “casas de ensino” para

regularizar a frequência dos alunos.

As razões da importância da instrução eram vinculadas aos seus impactos sobre a

população, sobretudo infantil: “Quem conhece o interior do Estado do Rio, o menos

desprovido de escolas publicas, tem a impressão bem dolorosa de que somos realmente um

povo sem vontade própria e tem de lamentar forçosamente o triste futuro de uma geração que

se vae embrutecendo dia para dia.” 575

No mesmo número, na segunda página, o tema voltava

a ser debatido.576

Em função da desocupação do prédio do governo estadual em que funcionava o

serviço de Profilaxia Rural, o Jornal relembrava a utilidade da destinação do mesmo para a

fundação de um Grupo Escolar, o que poderia ocorrer pelo acordo entre o estado e a

prefeitura, e até pela contribuição local. A desocupação do prédio era tida como oportunidade

para mobilizar um movimento pela criação do Grupo Escolar, posto que “a instrucção neste

município é uma das causas que estão a pedir dos dirigentes do lugar e do estado um pouco de

attenção e justiça”. Novamente era atribuída à criação de um Grupo a função de tornar melhor

a cidade, isto é, não tratava-se apenas de uma causa pela instrução, mas pela cidade: “Porque

havemos de abandonar a cidade a este estado de coisas, sem nada que a venha um dia

engrandecer, entregue, hoje e sempre, ao abandono de toda e qualquer iniciativa boa?” 577

A ação estadual na criação de Grupos Escolares era situada como um “favor”

estendido a “várias cidades do Estado”. Ao recorrer ao diretor da Instrução, argumentava-se

sobre a necessidade premente da instituição para a cidade de Nova Iguaçu: “Urge uma medida

tendente a melhorar os nossos estabelecimentos de ensino, ampliando e disseminando a

instrucção em todo o município, com o augmento de nossos professores e a dotação de um

Grupo Escolar, de que tanto necessitamos”. A situação apresentada pelo Jornal procurava

574

A NOSSA INSTRUÇÃO PÚBLICA, 28 fev 1924. 575

Idem.. 576

COM A INSTRUÇÃO LOCAL, 28 fev 1924. 577

Idem.

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265

explicar o imperativo da criação de um Grupo: “É uma mentira quando não uma miséria a

instrucção publica neste município.”578

Não houve resultados imediatos para a campanha do Correio da Lavoura pela criação

do grupo escolar. Não há indícios, no Jornal, de que outras ações tenham sido realizadas, além

das matérias publicadas. Contudo, a previsão de dotar o município de um Grupo Escolar foi

inscrita por ocasião da reforma do ensino primário no Estado, em 1925.579

O novo regulamento da instrução pública foi comentado numa série de reportagens.

Na primeira matéria,580

entre as “muitas modificações introduzidas”, destacava-se a criação de

escolas maternais próximo aos centros industriais, em colaboração com estes, destinados aos

filhos dos operários; a divisão do estado em nove regiões escolares; a criação de um grupo

escolar em Nova Iguaçu, sendo diretora a professora Maria Alice Torrezão da Cunha e tendo

por adjuntas as professoras Odette Bastos da Motta, Alice Ribeiro Renne, Alzira de Zacourt

Muylaert e Maria de Lourdes Reis.

Ao comemorar a “fecunda iniciativa do governo fluminense”, o Jornal rememorava a

campanha empreendida:

O ‘Correio da Lavoura’ que sempre se bateu pela creação do grupo escolar nessa

cidade tem a satisfação de ver coroada de exito a campanha feita com esse objetivo e

que valiosos benefícios vem prestar à população, tornando mais fácil a instrucção

das crianças pobres, cujo acesso às escolas publicas estava impedido por excesso de

freqüência e coeficiente elevado da matricula.581

Contudo, no mesmo ano, o Jornal voltava à sua empreitada pela instalação do grupo

que, previsto na reforma, não havia sido instalado. Ao tratar da abertura de inscrições para

escolas vagas no estado, o semanário cobrava: “E, a propósito, quando se installa o grupo

escolar creado nesta cidade pela ultima reforma do ensino? [...] Quando quererá o governo

fluminense satisfazer a natural ansiedade do nosso povo?” 582

Não havia, segundo o Jornal,

nenhuma movimentação pela instalação do Grupo. Em tom de pouca certeza, deixava-se saber

que na passagem do Secretário do Interior pelo município, foi escolhida a “casa” para

funcionamento do grupo, mas não houve avanços: “A demora já vai desorientando os

espíritos, que tanto confiam na palavra do governo fluminense”.583

578

COM A INSTRUÇÃO, 22 mar 1924. 579

ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Regulamento da Instrucção Publica Primaria. Decreto 2.105 de

02/03/1925. Tipografia do Jornal do Comércio, 1925. Biblioteca Estadual de Niterói. 580

INSTRUÇÃO PÚBLICA, 09 abr 1925. 581

Idem. 582

ESCOLAS VAGAS, 19 nov 1925. 583

Idem.

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266

Na mensagem do presidente do estado, apresentada em agosto de 1927, afirmava-se a

pretensão de inaugurar, até o fim do governo, o edifício do Grupo Escolar de Nova Iguaçu.584

Não há disponível para consulta o acervo dos números do Correio da Lavoura para o ano de

1927. O relatório do Diretor da Instrução Pública, apresentado em 1928, informa que o grupo

escolar de Nova Iguaçu era uma das instituições que haviam sido criadas, mas que não

possuíam instalação.585

Os mapas de frequência do fundo Departamento de Educação contém um dossiê sobre

o Grupo Escolar Rangel Pestana. Em 1929, tratava-se da escola mista de 2º grau nº 6. Não há

mapas para o ano de 1930 e, em 1931, a mesma professora do mapa de 1929 é a professora do

Grupo Escolar de Nova Iguaçu, situado no distrito sede.

Porém, há um indicio de que o Grupo Escolar foi instalado em 1930. Nos números do

Correio da Lavoura daquele ano, há uma matéria sobre a inauguração festiva da “primeira

exposição de trabalhos escolares do Grupo Escolar desta cidade”, dirigido por Venina Corrêa

Torres.586

A cerimônia foi presidida por Getúlio de Moura, que fez discurso alusivo ao ato,

seguindo-se visita aos trabalhos expostos “nas varias dependências do Grupo”.

A partir de então, os acontecimentos referentes ao Grupo Escolar de Nova Iguaçu

seriam acolhidos regularmente nas páginas do Jornal, que destacaria a realização de eventos

na instituição com a participação de alunos, professores e famílias, a designação de docentes,

as visitas de autoridades públicas, a presença de inspetores, enfim, a inserção da instituição no

cenário urbano, sempre funcionando em endereços centrais do distrito-sede, conferindo, ao

lado de outros “melhoramentos”, o estatuto de cidade ao distrito-sede.

Educação e política na ação municipal

Sob a ótica das relações entre escolarização e “progresso” da Nova Iguaçu,

compreende-se também porque a instrução municipal ocupava posição relevante na

plataforma de ações politicas públicas da administração municipal. Inscritas nas demandas da

imprensa, de associações da sociedade civil, a oferta da instrução escolar também figurava

como competência das agências de governo para o desenvolvimento local.

584

ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado do

Rio de Janeiro no dia 1º de agosto de 1927 pelo Presidente Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré. Rio de

Janeiro,1927.pág.90. Disponível em: www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial. 585

Estado do Rio de Janeiro. Relatório apresentado pelo Dr. José Duarte Gonçalves da Rocha. Director da

Instrucção Publica ao Exmo. Snr. Secretario do Interior e Justiça em 30 de junho de 1928. Niterói, Officinas

Graphicas da Escola Profissional, 1928. 586

EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS ESCOLARES, 04 dez 1930.

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267

Interessa, neste trabalho, observar como o tema da instrução figurava nesses projetos

de construção do “progresso” em Iguaçu. A análise da ação municipal em matéria de

instrução pública atesta um crescimento expressivo do número de escolas, ainda que, esse

crescimento, provavelmente, tenha sido irrisório face ao crescimento populacional ocorrido

no período.

Ao examinar apenas a atuação municipal, que ofertava somente uma escola em

1893,587

encontram-se nove escolas municipais em 1920588

. Em 1925, das 29 escolas públicas

do munícipio,589

onze eram municipais590

e o prefeito defendia, então, em mensagem enviada

à Câmara de Vereadores, a criação da inspeção das escolas municipais. O prefeito Octavio

Ascoli argumentava sobre a importância da fiscalização e instrução do professorado “feita por

alguem competente”, a fim de garantir que “seja eficiente o sacrifício do Municipio” e que as

escolas “deem o resultado almejado”.591

Em 1926, o munícipio comparecia em 4º lugar no número de escolas primárias do

estado, com 32 unidades, não sendo considerado, no ranking, o número de escolas da capital

do estado, Niterói.592

A colaboração do município de Iguaçu também era salientada no

relatório do diretor da Instrução Pública do estado, José Duarte Gonçalves da Rocha, em

1928, que avaliava positivamente o auxílio dos municípios para a organização eficiente e

produtiva da instrução pública. Naquele ano, o município era responsável por quatorze

escolas primárias.593

O prefeito João Telles Bittencourt, ao comentar a situação do ensino, destacava que as

quatorze escolas estavam “regularmente funcionando”, apresentado, algumas, “freqüência

superior a 50 alumnos”.594

Sobre a criação de novas escolas municipais, o prefeito valorizava

o empenho da administração municipal: “É, portanto, de franco progresso a situação da

instrução municipal, em parte devido aos esforços do actual Superintendente de ensino Dr.

Oscar Teixeira, em quem tenho encontrado um auxiliar dedicado”.595

587

O 1º CENTENÁRIO DO MUNICÍPIO DE IGUASSÚ, 15 jan. 1933. 588

Informação retirada da Tabela Orçamentária da Câmara Municipal, publicada no Correio da

Lavoura, 30 dez 1920 , Ano IV, n.198. 589

CLASSIFICAÇÃO DE ESCOLAS, 09 abr 1925. 590 MENSAGEM DO SR. PREFEITO, 22 mar.1925. 591

Idem. 592

Relatório da Diretoria da Instrução Pública apresentado ao Secretário do Interior e Justiça pelo

Diretor da Instrução Pública, José Duarte Gonçalves da Rocha. Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal do

Comércio, 1927. Biblioteca Estadual de Niterói.pp.255-257. 593

MENSAGEM DO SR. PREFEITO, 02 ago.1928. 594

Idem. 595

Idem.

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268

Além da ação direta da administração municipal na criação de escolas, que foi uma

constante entre as sucessivas administrações do município, posto que a instrução integrava as

atribuições da municipalidade, outros expedientes também poderiam ser acionados para o

aumento do número de escolas. Por exemplo, em 1922, era por meio da intervenção do

deputado estadual Manoel Reis, político atuante em Iguaçu, que mais três escolas eram

criadas pelo governo estadual no município. O Correio da Lavoura parabenizava a ação do

deputado pelo “novo empreendimento” que era considerado pelo Jornal partidário da “mais

ampla generalização da instrucção em nosso Municipio”, como uma iniciativa de grande

“interesse da população” e que “não deixa de ser um grande passo no terreno de nossa

instrução pública”.596

Entre os primeiros atos da administração de Sebastião de Arruda Negreiros em 1931,

destaca-se a nova organização e localização para o conjunto das 24 escolas municipais,

distribuídas de acordo com a densidade populacional dos distritos. Todos os professores em

exercício foram exonerados dos cargos, para realização do recrutamento por concursos.597

O

Jornal Correio da Lavoura, exaltava a iniciativa municipal:

A instrucção publica sempre tão despresada, não obstante o que de importante

representava para a nossa vida de povo orgasido (sic), recebeu de s.s. um sopro de

vida com a organisado (sic) que lhe deu novos moldes, condizentes com os recursos

disponiveis e reclamos immediatos.598

Em 1932, 29 escolas eram mantidas pela municipalidade e três eram subvencionadas:

Escola S. José, em Nilópolis, Escola Humildade e Caridade, de Andrade Araujo e o Ginásio

Leopoldo.599

Em 1933, havia 33 escolas municipais, localizadas preferencialmente nos centros mais

importantes da zona rural.600

Ou seja, o número de escolas municipais foi duplicado entre

1928 e 1933. Além disso, havia no município cinco escolas particulares (sendo três delas

subvencionadas pela prefeitura) e 40 escolas isoladas mantidas pelo estado, além do Grupo

Escolar. Com este número de escolas municipais, o município de Iguaçu ocupava também o

596

O DR. MANOEL REIS AGE EM PROL DA NOSSA INSTRUÇÃO, 14 set 1922. 597

PREFEITURA MUNICIPAL DE IGUASSÚ, 12 mar. 1931. 598

O RELATÓRIO DO SR. PREFEITO DE IGUASSÚ, 27 ago. 1931. 599

Negreiros, Sebastião de Arruda. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Comandante Ary Parreiras,

interventor do Estado do Rio, pelo Exmo Sr. Dr. Sebastião de Arruda Negreiros, Prefeito de

Iguaçu,durante o ano de 1931. Iguaçu, 1932. 600

Estado do Rio de Janeiro. O governo do Estado do Rio de Janeiro e de suas municipalidades durante

o ano de 1933. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da República. Ary Parreiras, Niterói,

1934.

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4º lugar no ranking da rede escolar mantida pelas municipalidades do estado do Rio de

Janeiro ficando atrás apenas de Itaperuna (53), Campos (49) e Nova Friburgo (37).601

A ação administrativa do poder municipal sobre a rede de escolas do munícipio

aparenta ter sido uma constante. Em janeiro de 1937, era aprovada uma lei municipal, com

“capitulos referentes á organização e a direcção do ensino, ao professorado, às matriculas e ao

regime escolar, além do programma geral do ensino, elaborado pelo Dr. José Manhães,

director de higiene e instrucção e aprovado pelo Dr. Ricardo Xavier da Silveira”.602

Em maio daquele ano, a convite do diretor da Higiene e Instrução, o Dr. José

Manhães, o Correio da Lavoura iniciava a visita às escolas municipais. Um amplo projeto de

construção de 60 prédios escolares era previsto para solucionar os problemas de matrículas

excedentes, com a previsão, também, de criação de outras escolas, sendo que 52 estavam em

funcionamento.603

Porém, esse ritmo de crescimento da intervenção municipal sobre o ensino foi

interrompido com a instauração do Estado Novo. Na I Conferência Nacional de Educação em

1941, foi articulado um consenso sobre a competência dos estados em matéria de ensino

primário. Rubens Falcão, que foi Diretor do Departamento de Educação do estado do Rio,

argumentava sobre a incapacidade dos municípios para a administração do ensino: “O

município com autonomia educacional!.. Parece que não existe ilusão mais perigosa do que

essa”.604

Não podendo assumir imediatamente as cerca de 800 escolas municipais, o governo

fluminense celebrou um convênio com as municipalidades, em julho de 1943, que passou a

vigorar em 1944 e pretendia, gradativamente, restringir as iniciativas dos municípios e passar

ao estado a administração do ensino. Esta diretriz centralizadora em matéria educacional

coadunava-se com as relações que iam se estabelecendo, também, em outras esferas da

administração, em que os municípios, submetidos ao Departamento das Municipalidades

(PANTOJA, 1992, p.28) via suas competências serem gradativamente apropriadas ou

condicionadas pelas agências do governo estadual.

No levantamento bibliográfico não foram localizados muitos estudos sobre ações

municipais em matéria de ensino no estado do Rio de Janeiro. Há uma lacuna sobre as

601

PARREIRAS, Ary. Estado do Rio de Janeiro. Relatório da Interventoria ao Exmo. Sr. Presidente da

República. Período de 1931-1934. Niterói, 1935, p.120. 602

INSTRUCÇÃO DO MUNICÍPIO DE IGUASSÚ. Folheto da Lei n. 12, 15 abr 1931. 603

VISITANDO AS ESCOLAS MUNICIPAES. A actividade que está desenvolvendo o dr. José

Manhães, director de hygiene e instrucção, 06 mai 1937. 604

FALCÃO, 1946, p.27.

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políticas municipais que poderia descortinar universos mais heterogêneos acerca dos

processos de escolarização.

Sobre a primeira metade do séc. XX, há menções ao município de Nova Iguaçu no

estudo de Jayme Abreu (1955) sobre a administração fluminense em matéria educacional.

Trata-se de uma obra que deve ser compreendida no conjunto de ações do Instituto Nacional

de Estudos Pedagógicos (INEP) e da Campanha de Inquéritos e Levantamentos do Ensino

Médio e Elementar (CILEME). É um diagnóstico, a partir de pesquisa e análise sob a ótica de

intelectuais e agências envolvidos com a escola nova no Brasil, de compreender a organização

do ensino, para intervir no planejamento educacional do país nos anos de 1950.

A pesquisa avaliava que eram de “fraca consistência e pequena amplitude”, as

administrações municipais de educação. Entretanto, ressaltava que havia por parte de algumas

municipalidades,

[...] nítido esforço de organização e expansão em nada inferior ao Estado, se

tivermos em conta a área territorial e a arrecadação, como são os casos de Campos,

Duque de Caxias, Nilópolis, Nova Friburgo, Nova Iguaçu, Petrópolis, são Gonçalo e

São João de Meriti. (ABREU, 1955, p.147).

As prefeituras de Campos, Nova Iguaçu, Nilópolis e Petrópolis eram casos que

expressavam “densidade na rede escolar municipal, germinação de organização educacional,

escolas razoáveis” (Idem, p.102). Jayme Abreu avaliava que, com o Convênio estadual do

Ensino Primário, de 1943, houve desmantelamento dos órgãos municipais de educação,

embora o estado não tenha conseguido levar a cabo sua ação centralizadora de prover o ensino

primário. Essa situação começou a ser modificada com a constituição estadual de 1947,

quando os municípios retomaram ações na educação, “existindo algumas em que esse esforço

é digno mesmo de referência” ressaltando o que foi realizado, já no começo dos anos de 1950,

nos municípios de Campos, Petrópolis, Nova Iguaçu, Nilópolis, seguindo-se São João de

Meriti, Nova Friburgo, São Gonçalo (ABREU, 1955, p.145).

Como foi apresentado no segundo capítulo, a partir dos mapas de frequência, dos

regulamentos da instrução pública, dos relatórios de governadores, interventores, prefeitos,

diretores da instrução pública, havia maior concentração de escolas públicas – municipais,

estaduais e particulares – no distrito-sede do município. Para os outros distritos, foi possível

também perceber a localização de maior número de escolas nas regiões mais populosas e em

processo de urbanização, com as áreas limítrofes ao Distrito Federal. Progressivamente, pela

ação da administração municipal, das agências estaduais, da iniciativa particular, além de

outras formas – menos oficializadas – de oferta da instrução, esses estabelecimentos iam

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erguendo-se e engendrando as paisagens do território, integravam os “melhoramentos” no

distrito-sede, e invadiam, progressivamente, o cotidiano de parte da população.

Disputas pela formação da juventude: o ensino secundário

A presença de instituições de ensino médio605

na cidade também era valorizada como

símbolo do progresso local. Nas páginas do Correio da Lavoura eram publicados anúncios de

cursos do ensino médio, ou de preparatórios para o Colégio Pedro II. Alguns professores

ofereciam aulas particulares de algumas disciplinas do ensino secundário na cidade. Mas,

progressivamente, foram comparecendo mais anúncios e pequenas notícias sobre instituições

de ensino secundário criadas na região. É pertinente ressaltar que estas escolas foram

localizadas nas áreas principais do distrito-sede ou em áreas centrais dos distritos mais

urbanizados do município.

Há um entrelaçamento na história das três principais instituições de ensino secundário

fundadas no distrito-sede. Contudo, não se pretende aqui adentrar minuciosamente nesta

frente de trabalho, que demanda outros investimentos de pesquisa.

Cabe notar que do Ginásio Leopoldo, fundado em 1930 pelo professor Leopoldo

Machado, surgiu o casal de professores que fundou o Curso Iguaçu, em 1944, com oferta

inicial apenas do curso primário. O curso secundário foi instalado apenas em 1954, mas é

interessante perceber a concorrência que a criação da nova instituição gerou entre os

proprietários do Ginásio Leopoldo e do Curso Iguaçu.

Um ator importante no ensino secundário em Nova Iguaçu foi, ainda, o padre João

Musch. Atuou no distrito de Nilópolis desde quando chegou, em 1928. Ali fundou uma escola

na sacristia da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição e, no ano seguinte, fundou o

Colégio São José, em prédio escolar construído para este fim. Em 1929, foi nomeado vigário

da Igreja Matriz em Nova Iguaçu, onde organizou uma nova escola. Essa escola foi entregue

às missionárias da Congregação das Irmãs Franciscanas da Imaculada Conceição de Maria,

originárias da cidade de Bonlanden, na Alemanha.

Em texto manuscrito, sob o título “O espiritismo progride em N. Iguassú”, datado de

1º de abril de 1935, o padre João Musch explicava que, ao chegar à cidade em 1929, havia

encontrado a paróquia “muito inclinada para o espiritismo”, sendo o Leopoldo Machado que

605

Em analogia com a organização atual do sistema escolar, o ensino secundário correspondia nos anos

1930 e

1940 ao que hoje conhecemos como terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental e o ensino médio.

Constituía, na década de 1940, um dos níveis do ensino médio, que abrigava os ramos do ensino

normal,

comercial, agrícola, industrial, e secundário.

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ali já estava há três anos e, diretor do ginásio, “a cabeça dessa seita perniciosa”.606

Segundo

João Musch, ao fazer propaganda por meio de boletins e discursos, o diretor ia angariando

adesões e vendo aumentar o número de alunos no ginásio. O vigário chegou a requerer licença

para “dar doutrina” no ginásio, mas teve o pedido negado: “Ao prevenir tal perigo, resolvi

preparar uma escola. Mandei preparar um grande espaço debaixo da matriz, ainda em bruto,

para servir de aulas”.

Portanto, essa escola, criada pelo padre João Musch, foi uma resposta ao espanto que o

agitou ao chegar em Nova Iguaçu, pois não gostou da popularidade do Ginásio Leopoldo,

comandado por um espírita kardecista, o professor Leopoldo Machado. O padre procurou,

então, dar combate a uma provável disseminação da orientação espírita, por meio da criação

de uma escola de orientação católica, que, em 1936, já ofertava o curso normal e, em 1938,

possuía o curso secundário, chamando-se Ginásio Santo Antônio (AZEREDO, 1980, p.25).

A alocação destas instituições de ensino secundário, situadas em endereços centrais e

em prédios “suntuosos” da cidade, ou para este fim construídos, expõe os significados que

entrelaçavam espaço urbano, instrução e “melhoramentos” para a cidade.

Entre essas instituições de ensino secundário que surgiram no munícipio no período

coberto por esta pesquisa, o Correio da Lavoura deu especial atenção ao “Gymnasio

Leopoldo”. Por ocasião da inauguração da nova sede própria construída para o Ginásio

Leopoldo, na rua Marechal Floriano, o Correio da Lavoura ressaltava o andamento da

construção do prédio, erguido em conformidade com as diretrizes do Departamento Nacional

de Educação para a inspeção e o possível reconhecimento oficial dos estabelecimentos de

ensino secundário. Em 1935, com capacidade para 400 alunos, a escola iria sediar o curso

comercial e o ginasial. Também, nesse caso, o êxito da instituição e de sua provável

equiparação era significada, pelo Jornal, como um êxito da cidade: “O Correio da Lavoura

felicita, por isso, o povo de Nova Iguassú”.607

A importância da equiparação do Ginásio Leopoldo em Iguaçu e dos esforços

promovidos para este fim representam um momento significativo de redefinição do formato

do ensino médio no país. A Reforma Francisco Campos de 1931608

introduziu mudanças na

organização do ensino secundário que o aproximariam, gradativamente, do modo de instrução

mais institucional, isto é, o formato de cursos e aulas particulares foi perdendo lugar para a

606

Disponível em: http://www.colegioleopoldo.org.br/leopoldomachado2.html. Acessado em 20 jan 2010. 607

GYMNASIO LEOPOLDO REQUERERÁ , ESTE MEZ, A EQUIPARAÇÃO DO SEU CURSO

GYMNASIAL, 12 dez 1935. 608

BRASIL. Decreto n. 19.890, de 18 de abril de 1931. “Dispõe sobre a organização do Ensino

Secundário”. Coletânea de Legislação Federal. Disponível em: www.senado.gov.br/sicon. Acessado

em: 10/07/2007.

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escolarização deste nível de ensino, que foi reorientado a funcionar nos estabelecimentos de

ensino. Para expedir certificados de conclusão de valor legal, as instituições de ensino

deveriam se submeter à inspeção federal do ensino, e atender a uma série de condições, como

manter um quadro docente registrado no Ministério da Educação e possuir instalações

segundo padrões definidos pela Reforma e pelas sucessivas regulamentações do assunto.

Antes, a equiparação das escolas era vinculada aos exames oficiais controlados pela União,

para o acesso ao ensino superior, ou seja, a equiparação das escolas privadas estava sujeita à

existência de escolas públicas onde seus alunos prestariam “exames oficiais” (ROCHA,

2000).

A nova reforma extinguiu a prestação destes exames para efeito de reconhecimento

das instituições de iniciativa particular e organizou um novo modelo federal de

regulamentação, fiscalização e orientação pedagógica nas escolas equiparadas. Marlos Rocha

sustenta que esta política de equiparações fomentou a expansão da rede de escolas

particulares, enquanto o poder público mantinha limitada a expansão e manutenção da rede

pública de ensino secundário, pela ausência de investimentos. Este referencial normativo,

instituído em 1931, se mantém até 1945 (ROCHA, 2000, p. 38). A ausência de uma política

de expansão da rede pública de ensino médio que atendesse a todos os ramos daquele nível de

ensino (secundário, comercial, agrícola, industrial, normal) implicou o predomínio da oferta

de ensino secundário pela iniciativa privada, o que é um fator a considerar na expansão deste

ensino nos anos 1930 e 1940 (Ibidem, p. 118).

No momento de reestruturação da atividade produtiva do país e dada a finalidade de

formar quadros para “grandes setores da atividade nacional”, a Reforma Francisco Campos

explicitou a intenção das autoridades públicas de organizar uniformemente o ensino

secundário. Em face desta intenção, a Reforma Francisco Campos determinou que as escolas

mantidas por particulares ou associações, governos estaduais ou municipais, fossem

autorizadas a expedir certificados de valor oficial aos alunos, mediante solicitação ao

Ministério da Educação e Saúde Pública, que verificaria por inspeção do Departamento

Nacional de Ensino a observância de exigências previstas na mesma lei .609

Os “requisitos mínimos” exigidos para a inspeção dos estabelecimentos de ensino

expressavam a intenção do Ministério de Educação de padronizar desde a estrutura física do

edifício escolar, suas instalações e condições de funcionamento, até os materiais didáticos

609

BRASIL. Decreto n. 19.890, de 18 de abril de 1931. “Dispõe sobre a organização do Ensino

Secundário”. Coletânea de Legislação Federal. Disponível em: www.senado.gov.br/sicon. Acessado

em: 10/07/2007.

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utilizados por disciplina, e a qualificação do corpo docente, que deveria ser inscrito no

Registro de Professores. O atendimento destas condições colocava o estabelecimento sob

inspeção preliminar de dois anos, após os quais poderia ser prorrogada ou concedida a

inspeção permanente.

Assim, além das contendas religiosas que fomentavam rivalidades e criação de escolas

no distrito-sede, estas novas políticas de regulamentação do ensino secundário, no pós-1930,

sob a condução das agências do Ministério da Educação e Saúde, também pautavam os

processos de escolarização e de institucionalização das escolas na cidade. O acervo da

Secretaria do atual Colégio Leopoldo, na documentação preservada das décadas de 1930,

1940 e 1950, demonstra o volume de comunicações, vínculos e dependências que se

estabeleciam, naqueles anos, entre a iniciativa privada e as agências estatais de fiscalização do

ensino secundário. Uma extensa escrituração, entre termos de visita, livros de atas da

congregação, registros de boletim e de exames orais, regimentos internos, programas de

ensino, listas de docentes, telegramas, atos publicados em diário oficial, etc. iam pontuando a

institucionalização do ensino médio e de seus ramos de ensino – normal, secundário,

comercial, agrícola, industrial.

Na inauguração da sede do Ginásio Leopoldo, em 1936, o Jornal destacava a

solenidade realizada no “moderno educandario”, com a presença do prefeito e do coronel

Sebastião H. de Mattos. Após os discursos pelo momento celebrado, foram iniciadas as visitas

às “modernas e confortáveis installações do estabelecimento”.610

Naquele mesmo ano, o

Jornal se referia ao educandário como “o maior e o melhor do município”, numa alusão ao

que representava como distintivo do distrito-sede, e anunciava e elogiava, ainda, a “iniciativa

patriótica” da instituição em promover as festividades pelo Dia da Pátria.611

Nesse sentido, em Iguaçu, se as escolas serviam como componentes que valorizavam a

paisagem urbana porque eram concebidas como melhoramentos, também se serviam da

cidade e de seus recursos para se institucionalizar, para se afirmar como modo privilegiado de

socialização da juventude.

A importância das instituições escolares, enquanto “vacina civilizatória” contra os

males sociais causados pelo analfabetismo e por outros “vícios” com os quais se avaliava o

“atraso” da população, e, consequentemente, do país, fazia com que fossem criadas,

disputadas, acolhidas e inseridas na composição do cenário das cidades. Enquanto

personagem da cena urbana, as escolas contribuíam para significar este espaço de modo

610

INAUGURAÇÃO DA NOVA SEDE DO GYMNASIO LEOPOLDO, 05 mar 1936. 611

O DIA DA PÁTRIA EM NOSSA CIDADE, 27 ago 1936.

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valorativo, dotando-o, ao lado de outros distintivos, do estatuto de “cidade”. Em consonância

com a função social do processo de escolarização estava, também, a valorização da atuação da

escola sobre o espaço público, em sua função de organizar a cultura, de interagir e intervir

com esse espaço, educando-o e aos seus habitantes, em novos códigos de conduta e

sociabilidade.

“Bem ensaiados”: cânticos, preleções, ginásticas e desfiles

Se a criação de escolas, as matrículas, a frequência escolar e a fundação de um Grupo

Escolar eram concebidas, nas bandeiras do Correio da Lavoura, como melhoramentos

urbanos, ícones do desenvolvimento local, atestados e promessas de progresso, de que forma

as instituições de ensino mobilizavam a gestação da cidade? Quais as formas de interação

entre as escolas e o espaço, com outros atores – materiais e sujeitos – que configuravam o

espaço público urbano?

A análise das solenidades e festas realizadas pelas escolas ou das quais estas

participavam descortina um universo produtivo para pensar o entrelaçamento entre a escola e

cidade, a função que se pretendia que a escola exercesse sobre a escolarização do espaço e dos

sujeitos, no interior da instituição e também no espaço público. Estes eventos apontam a

construção de uma ordenação da escola para a instrução dos sujeitos não apenas em aspectos

de letramento, mas hábitos de comportamento, valores morais, ritos de cidadania. Além dos

projetos em curso na sociedade local, compartilhava-se nas esferas estadual e nacional da

capacidade e necessidade transformadora da instrução, sendo destinados, neste sentido,

diversos projetos de escolarização às classes trabalhadoras e mesmo, em tons diferenciados,

às classes dirigentes.

Para além de examinar as imbricações entre cidade e escola, o que se compreende

como relevante é o processo concomitante em que escola e cidade, em Iguaçu, se constroem

mutuamente. Ambos são cena e cenário, vértices e aparatos de um projeto que relaciona

reformas e ordenamentos racionalizados do espaço como vertentes, elementos, mas, também,

resultados, de um “progresso” vinculado, especificamente no caso do distrito-sede, à atividade

agrícola e comercial que move a citricultura.

O que a comparação das descrições destas solenidades no curso do tempo – tanto nos

mapas de frequência quanto nas páginas do Correio da Lavoura – revela sobre permanências

e rupturas nas relações – concomitantes – entre cidade e escola? Quais as funções sociais do

processo de escolarização que essas descrições apontam no processo de construção da Nova

Iguaçu?

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Parte das práticas que se buscava instaurar nessas escolas e, a partir delas, difundir

naquelas localidades, são apontadas pelo conjunto de comemorações, solenidades e iniciativas

anotadas pelas professoras nos mapas de frequência das escolas de Iguaçu. E algumas

notações revelam que a realização de eventos era sugerida, autorizada ou determinada por

circulares dos inspetores do ensino e por diretores das agências estaduais de fiscalização do

ensino primário. Assim são encontrados informes de comemorações realizadas nas escolas,

como:

Em obediência a circular baixada pelo Sr. Inspetor Regional, foi solenemente

comemorada a data 13 de maio, sendo, ao mesmo tempo inaugurado o retrato do

exmo Sr. Presidente da Republica. Ao ato inaugural compareceram os pais dos

alunos e o Sr. Dr. Gastão Reis que em vibrante discurso exaltou os atos do nosso

atual chefe governamental.612

Na mesma escola municipal, era informado no mês de setembro de 1938: “As datas 7

e 21 do mês passado foram condignamente comemoradas de acordo com as circulares

baixadas pelo Sr. Inspetor regional. Ao dia 21, com a assistência de quase todos os alunos fez

se o plantio da arvore simbólica entoando a seguir, hinos alusivos à data”. No ano seguinte,

por ocasião das mesmas datas, anotava-se no mapa de setembro: “As datas 7 e 22 do mês

próximo foram comemoradas de acordo com as circulares baixadas pelo Sr. Inspetor

regional”; em outubro de 1939: “De 12 a 18 de acordo com a circular do Sr. Inspetor foi

comemorada a “semana da criança” com excursões pedagógicas e jogos recreativos.” Em

agosto de 1940: “dia 25 comemorado na escola em obediência circular baixada do Dr. Diretor

do Departamento de Educação”. No mês seguinte: “os dias 7 e 21 foram comemorados em

obediência circular do técnico educação”. Em setembro de 1942: “5 e 7 comemoradas de

acordo com as respectivas circulares; entrada da primavera comemorada com plantio de

árvore ao som do hino A árvore;” Em abril de 1943: “aniversário do presidente comemorado

conforme circular do diretor do Departamento de Educação”.613

O informe mais antigo verificado nos mapas de frequência data de setembro de 1935,

na escola estadual mista de 2º grau de Caxias, nº 22: “Dia 7 os alumnos comparecem ao

Collegio em comemoração ao dia da patria conforme circular do Sr. Inspetor regional”;614

e

na escola estadual mista de 2º grau de Caxias, nº23: “Foi comemorado no dia 7 de setembro,

conforme circular do Sr. Inspetor Regional Dr. Paschoal Lemme, o dia da Pátria, tendo

comparecido 229 alunos”.615

612

Fundo Departamento de Educação, 02643, APERJ. Mapa de 05/1938. 613

Fundo Departamento de Educação, 02643, APERJ. 614

Fundo Departamento de Educação, 02689, APERJ. 615

Fundo Departamento de Educação, 02688, APERJ.

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Além do recebimento de circulares que incutiam nas escolas a obrigatoriedade de

realizar os eventos, há indícios de prescrições quanto ao modo de realizá-los, como foi

registrado pela professora da escola municipal Barão de Mesquita, do distrito-sede: “A

‘Semana da Criança’ foi brilhantemente comemorada nesta unidade escolar, de acôrdo com o

programa fornecido pela Inspectoria de Ensino”.616

Na escola estadual “isolada” nº 6, que

funcionava no nº 61 da rua Nilo Peçanha, no distrito-sede, em outubro de 1939, a professora

anotava que “o programa da semana da criança foi executado de acordo com as determinações

do Sr. Inspetor regional”.617

Outras datas eram sugeridas e tinham a organização deliberada

por instâncias exteriores à escola: “Foi comemorada de acordo com as Instruções a passagem

do centenário de nascimento do grande tributo de Lopes Trovão”.618

O cruzamento das informações sobre comemorações citadas nas notações permite

comparar quais as solenidades eram mais comemoradas, e notar proximidades quanto ao

formato dos eventos. Vinte e duas notações do distrito-sede mencionam a realização ou a

participação da escola em eventos e solenidades, sendo dez notações de escolas municipais e

doze de escolas ou seções de ensino de escolas estaduais. Dessas escolas, onze são urbanas,

outras três são de localização rural, quatro oscilaram na atribuição entre rural e urbana, e para

outras quatro não foi possível atribuir a localização. No entanto, pelo menos, eram de

localização urbana metade das escolas do distrito-sede que mencionaram a participação de

alunos em eventos.

Cabe lembrar que outros dossiês de notações do distrito-sede possuem caráter escasso,

com mapas entre 1929-1933, ou são mapas de seções de ensino. A ausência de registro não é

suficiente para afirmar a não ocorrência de eventos. As escolas subvencionadas não

mencionam a realização ou participação dos alunos em comemorações. Talvez este tipo de

registro não fosse requisitado pela fiscalização do ensino particular e/ou subvencionado.

Os registros das solenidades e eventos nos mapas de frequência estão situados entre os

anos de 1935 e 1949. As datas repetidamente citadas foram a Semana ou Dia da Criança, 7 de

setembro, 15 e 19 de novembro, a Semana ou Dia de Duque de Caxias, e, em agosto, o dia da

Árvore. O dia da Abolição, o aniversário da instauração do Estado Novo, o aniversário do

presidente Vargas também são constantemente lembrados. O dia ou semana da Asa, o dia de

Tiradentes, o dia do Pan-Americanismo e a vitória dos países aliados na 2º Guerra, assim

como o centenário do Barão do Rio Branco (1945), também são eventos registrados em

616

Fundo Departamento de Educação, 02633, APERJ. Mapa de 10/1944. 617

Fundo Departamento de Educação, 02644, APERJ. 618

Fundo Departamento de Educação, 02706, APERJ. Mapa de 05/1947.

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algumas escolas. No conjunto de eventos anotados nos mapas de frequência foram

predominantes as solenidades de motivação cívica.

Investigar o sentido de cívico implica conhecer o que significava civismo no contexto

específico da época. O nacionalismo era tema relevante nas escolas desde as décadas de 1910

e 1920. As comemorações de datas históricas, atividades e práticas integravam o cotidiano

escolar, mas, segundo Carlos Bertolini (2000) portavam o estatuto de atividades

complementares às atividades escolares. Sob a análise deste autor, as solenidades cívicas e

encenações de patriotismo mantinham um caráter de exterioridade face às práticas escolares

cotidianas.

Entretanto, em função do que emergiu do trabalho empírico na pesquisa também com

o Jornal, é relevante afirmar a presença cotidiana das festas escolares desde fins da década de

1910, sendo algumas movidas pelo caráter diretamente “cívico”, se “cívico” estiver

compreendido como vinculado à noção de nação, de pátria, da perspectiva do nacional.

Marta Carvalho (2008), ao examinar o “discurso cívico” promovido no interior da

Associação Brasileira de Educação, entre 1924-1931, lida com uma compreensão mais

alargada do termo e percebia como a “questão” educacional foi instrumentalizada como uma

questão “cívica”. Em um diversificado “discurso cívico” mobilizado por diferentes frentes,

em temas, discursos, conferências e ações, Marta Carvalho ressalta a função organizadora do

discurso cívico, pelo seu nível de generalização que subsumia divergências. Revestida de

civismo, a ação educacional colaborou na constituição de um modelo, de um perfil de cidadão

condizente com as expectativas de exercício de cidadania prescritas (CARVALHO, 1998,

p.137).

O discurso cívico da ABE é “discurso profilático erigindo a questão sanitária em

metáfora da situação nacional e a obra educacional em obra de saneamento” (Ibidem, p.145).

A ação educacional movida pelas projeções da insuficiência do povo, caracterizado com

amorfo, doente, improdutivo, projeções estas gestadas na organização de um pensamento

social autoritário ao longo da Primeira República, evidencia a contribuição da escolarização

na produção, “no movimento, de dispositivos de sustentação de modelos políticos fortemente

excludentes”. Marta Carvalho sustenta, pela análise do discurso cívico da ABE, “a

intervenção do discurso educacional na produção e validação de práticas autoritárias que

constituíram a figura do não-cidadão” (Ibidem, p.138).

Ao longo da década de 1930, a relação entre civismo, patriotismo, nacionalismo e

escola se modifica. Segundo Bertolini, “a luta política e a social ao longo da década de 1930

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iriam suprir o imaginário coletivo de novos e traumáticos eventos que possibilitaram a

ressignificação e a apropriação do civismo” (2000, p.65).

Sob a ótica da ação governamental da União no pós-1930, “a formação da

nacionalidade era entendida como algo que dependia da construção de certas práticas

disciplinares de vida que, pouco a pouco, fossem introjetando no cotidiano dos cidadãos a

consciência de vida comum, a consciência cívica” (SCHWARTZMAN, BOMENY e COSTA,

2000, p.92). Para este fim, foi atribuído à educação o papel central de ensino de conteúdos e

práticas que deveriam criar “o novo cidadão, aquele que se caracterizaria pela vontade firme e

pela ação determinada, habilitado para defender a pátria e para construir a nação do futuro”

(BERTOLINI, 2000, p.70).

A associação entre patriotismo e educação gerou o civismo de novo tipo divulgado a

partir do espaço escolar, em que o civismo deixava de ser tema complementar e assumia

centralidade na organização das atividades escolares. Dessa forma, ocorreu a mobilização do

sistema de ensino para a cooptação da juventude, posto que a militarização do ensino e da

sociedade iria criar o ambiente cultural adequado aos espetáculos cívicos e à teatralização da

política. Esse movimento transbordava o espaço interno da escola, porque o governo lançaria

mão com frequência do espaço, o que também ocorreria na esfera pública externa ao espaço

urbano como sucedâneo da participação pública e do exercício das liberdades civis

(BERTOLINI, 2000, p.70). O que se compreende, no exame das fontes de pesquisa, é que, no

pós-1930, a construção da noção de “nação” será cada vez, no interior das instituições

escolares e nas comemorações públicas, identificada com o civismo. O civismo é

subordinado, no interior de uma articulada ação político-cultural do governo Vargas, a certas

práticas e concepções de nacionalidade.

Portanto, a maior incidência de registros de solenidades durante o Estado Novo,

verificada em Nova Iguaçu, é sintomática dos investimentos, feitos no período, para a

construção de um calendário escolar vinculado a disseminar, via escolas, práticas e memórias

relacionadas à formação da nacionalidade. São principalmente datas nacionais referentes a

acontecimentos e pessoas consideradas importantes para a “pátria”. A continuidade dos

eventos e da extensão das comemorações, mesmo após o fim do regime, reitera a penetração

dessas práticas nas escolas.

Porém, compete antes considerar que, se os mapas de frequência fornecem

informações sobre eventos celebrados nas escolas, sobretudo a partir de 1935, o que é

possível saber sobre atividades nas escolas em fins da década de 1910 e durante os anos de

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1920? O que costumava ser noticiado sobre as escolas como solenidade, evento, festa, nas

páginas do Correio da Lavoura?

O processo de avaliação dos alunos e as festas pelo encerramento do ano letivo foram

constantemente noticiadas. O transcurso dos “exames finais”, a composição das bancas e a

lista dos alunos promovidos eram divulgados a cada fim de ano, desde a fundação do Jornal,

em 1917. Nos eventos específicos das escolas, a escolarização dos alunos era reverenciada

com o resultado dos exames. Imprensa local, famílias e representantes do poder público eram

convidados a assistir a esses eventos, como as exposições públicas dos trabalhos escolares. 619

O direcionamento das agências estaduais de fiscalização do ensino na inclusão de

comemorações cívicas nas escolas era replicada pelo Jornal. Em setembro de 1917, sob o

título da matéria “A ideia de Patria”, era transcrita uma circular da Diretoria dos Negócios do

Interior e Justiça do estado, enviada aos superintendentes do ensino em todos os municípios,

para que estes repassassem aos professores a ordem de explicar aos alunos os motivos da data

da Independência do País, “procurando desenvolver-lhes o amor à Patria e o culto à memoria

d'aquelles que viveram para o engrandecimento della.” A circular fazia a sugestão de que os

professores falassem aos alunos sobre o tema “A ideia de Patria”, “visando fortalecer-lhes o

civismo e o espirito de nacionalidade”.620

No primeiro ano de funcionamento do Jornal foram noticiadas as comemorações pelo

Dia da Bandeira ocorridas em Anchieta, que era uma das localidades dos limites do município

com o Distrito Federal. Foi descrita a “patriotica cerimônia” com preleção sobre o culto ao

pavilhão nacional, cânticos com músicas, hinos e poesias.621

Para 1919, há descrições de “festejos civicos” realizados na cidade, sob a direção do

professor da “1ª escola publica masculina”, Augusto José Rodrigues da Silva Junior.622

Do

evento participaram “cavalheiros” e famílias “pertencentes a nossa melhor sociedade”.

Houve o hasteamento do pavilhão nacional, com o canto do hino nacional, do hino da

619

PELA INSTRUCÇÃO, 13 dez 1917; ANCHIETA, 13 dez 1917; ANCHIETA, 20 dez 1917; PELA

INSTRUCÇÃO, 20 dez 1917; EXAMES, 27 nov 1919; MESQUITA, 04 dez 1919. ENSINO

PRIMÁRIO, 02 dez 1920. EXAMES, 16 dez 1920; COLLEGIO PARIZ, 16 dez 1920. EXAMES, 17

nov 1921. EXAMES, 08 dez 1921; EXAMES, 22 dez 1921; EXAMES, 14 dez 1922; EXAMES

ESCOLARES, 22 nov 1923; EXAMES ESCOLARES, 29 nov 1923; EXAMES ESCOLARES, 13 dez

1923; OS EXAMES NAS NOSSAS ESCOLAS, 20 nov 1924. NCERRAMENTO DE AULAS, 26 nov

1925; EXAMES E EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS, 03 dez 1925; EXAMES, 10 dez 1925; EXAMES,

16 dez 1926; EXAMES, 23 dez 1926; EXAMES, 30 dez 1926; ENCERRAMENTO DAS AULAS, 20

dez 1928; EXAMES, 10 jan 1929; EXAMES, 17 jan 1929; EXAMES DE PROMOÇÃO NA 2ª

ESCOLA MIXTA DE IGUASSU, 12 dez 1929; EXAMES FINAIS DE PROMOÇÃO DA 33 ESCOLA

MISTA DE N. IGUASSU, 26 dez 1929.

620 A IDEIA DE PATRIA, 06 set 1917. 621

A FESTA DA BANDEIRA NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE ANCHIETA, 29 nov 1917. 622

7 DE SETEMBRO. COMO A GRANDE DATA FOI COMMEMORADA NESTA CIDADE, 11 set

1919.

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Bandeira e do hino da República pelos alunos. O professor falou sobre a data, e foi saudado

pelo Sr. Manoel Barbosa Ribeiro que elogiou o trabalho do professor e o “aproveitamento” de

seus educandos. Senhoritas e alunas recitaram poesias, sonetos e monólogos. Os alunos

também demonstraram exercícios de ginástica sueca. Após encerramento dos festejos no

edifício da 1ª escola masculina, o professor, seus alunos e auxiliares visitaram a 1ª escola

mista e a 1ª escola feminina, sendo então executados novamente os hinos nacional e da

bandeira. Na 1ª escola pública feminina, dirigida por Arlinda de Barros Calino, a aluna Ilka

Serzedello falou sobre a data. Também houve recitativo de poemas pelos alunos nas escolas

visitadas. Á noite, o professor Augusto José Rodrigues ofereceu na sua residência uma sessão

literária seguida de grande baile.

A constância e a minúcia das descrições apresentadas pelo Jornal sobre os exames

escolares, o encerramento do ano letivo, as exposições de trabalhos escolares e a realização de

solenidades cívicas não deve ser compreendida apenas pela presença de um representante do

Jornal em cada evento, geralmente convidado pela escola, mas, também, pela importância

conferida pelo Jornal a estas ocasiões. Noticiar os eventos em escolas era dar a ver o nível de

organização da sociedade local, a presença de instituições de ensino, de professores dedicados

e de alunos bem sucedidos. Dialeticamente, tornar os exames finais em atos solenes, premiar

os alunos, convidar autoridades políticas, famílias e imprensa, era um meio de projetar e

enraizar os rituais escolares na vida social, envolvê-los de expressividade, inscrevê-los na

cidade. Preparar os alunos para execução de cânticos, hinos, preleções, exercícios de

ginástica, desfiles etc. eram meios de disseminar, via escolas, concepções de mundo, de

cidadania, de nacionalismo, que se buscava enraizar em toda sociedade.

O tema da cidadania, com lembra Faria Filho é um “elo por excelência” entre cidade e

escola (FARIA FILHO, 2005a, p.32). Cidade e escola foram espaços convocados a servir de

cenário e a encenar a experiência de construção da cidadania, em diversos contextos e

apropriações. Ao longo do século XIX, porém, além das escolas estarem presentes nas festas

urbanas, houve um processo de escolarização desses eventos, e as festas cívicas tornaram-se

principalmente festas escolares: “no século XX, a festa cívica se transforma em um momento

privilegiado de a escola ocupar a cena da cidade. Nas festas, e pelas festas, a escola se mostra

como educadora da infância e da juventude e, sobretudo, dos habitantes da cidade, inclusive

de seus quadros dirigentes” (Ibidem, p.34).

A escolarização das festas cívicas vai dialogar com outras referências de socialização,

com as tradições e ritos religiosos, a parada militar e o carnaval. É, também, apropriado

compreender o civismo e as encenações de poder de caráter cívico, em face do contexto

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cultural mais amplo do qual fazem parte, dos aspectos religiosos, rituais e culturais da

sociedade que se contempla, ou seja, atentar para as interações entre as formas rituais de que a

sociedade lança mão (BERTOLINI, 2000, p.41).

Portanto, na perspectiva de análise adotada por Luciano Faria Filho, “a festa cívica

escolar, tal como a escola como um todo, inscreve-se na cidade como uma experiência

cultural, política, estética e de aprendizagem.” (FARIA FILHO, 2005a, p.34).

Ainda que um calendário escolar mais extenso de comemorações e solenidades tenha

sido adensado no período do Estado Novo, muitas preocupações e práticas estavam presentes

nos anos de 1910 e 1920, e parte de suas formas rituais perduraram nas décadas posteriores.

Em coluna de primeira página, o tema do “Ensino Civico” era defendido pelo Jornal

em 1919: “Pelo que temos dito innumeras vezes o conhecimento do ensino civico faz com que

crianças e adultos tenham sciencia dos grandes feitos dos nossos heroes, e mesmo dos

estrangeiros, que derramaram o sangue em holocausto à integridade da terra de Santa Cruz”.

Ao dotar as pessoas de instrução, acreditava-se ser possível desfazer a situação pela qual se

fechava o comércio, à revelia da compreensão do motivo dos feriados: “A nossa historia

encerra as mais belíssimas epopéas [...] É necessario os poderes públicos, secundados por

elementos particulares, desenvolverem a mais intensa propaganda em prol do ensino

cívico”.623

Em 1923, o Correio da Lavoura registrava a passagem do dia 15 de novembro como a

data destinada ao “culto a Bandeira”, sendo previsto o hasteamento da mesma em todas

escolas públicas do país, mas não citava ocorrências no município de Iguaçu.624

O levantamento realizado no Jornal demonstra a maior frequência de notícias, entre

1917 e 1929, sobre os exames finais e o encerramento do ano letivo nas escolas, as

comemorações, entrega de prêmios e a publicação do nome dos alunos promovidos por série.

Tais registros foram mantidos nas décadas de 1930 e 1940, mas perderam importância ao lado

da maior profusão de eventos em escolas ou com a participação das mesmas, durante todo o

ano escolar. As relações de nomes de alunos e professores desapareceram das páginas do

Jornal na cobertura desses eventos.

Mas, ainda nos anos de 1920, além da ritualização das atividades escolares, a “Festa

da Bandeira” e o “Dia da Árvore” constituíam as datas mais comemoradas nas escolas. A

comparação do relato das comemorações pelo Dia da Árvore nas escolas públicas da cidade

revela um mesmo programa de hinos, bailados e recitativos de poesias, discursos sobre a

623

ENSINO CIVICO, 16 out 1919. 624

A FESTA DA BANDEIRA, 22 nov 1923.

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importância da data, “o culto pela arvore” e o plantio de mudas. Em 1926, além do programa

executado em cada escola, houve reunião de algumas instituições na Praça Ministro Seabra,

com a presença da imprensa local, de populares e “representantes de diversas classes”, onde

foi repetido o programa ensaido nas escolas.625

Ao que parece, a citação pelo Jornal dos

nomes das professoras e dos alunos participantes, consistia numa forma de tributar certa

distinção aos mesmos no êxito dos eventos realizados.

Naquele mesmo ano, o Jornal descrevia a “Festa da Bandeira” nas escolas da cidade, a

partir do “programma de festas” da 6ª escola mista, “dirigida” pela professora Venina Corrêa

Torres. A solenidade contou com a assistência de “nossas autoridades, muitas exmas famílias

e mais pessoas gradas”. Levados pelas professoras, os alunos realizaram no edifício da

Prefeitura o juramento à Bandeira. O prefeito e professores discursaram e procedeu-se à

execução do hino nacional. Voltando à escola, o prefeito distribuiu prêmios aos alunos “que

mais se distinguiram por sua applicação e comportamento”. Outros hinos foram entoados

pelos alunos, assim como houve uma sessão literária, “prolongando-se as festas por quasi

todo o resto do dia”. Nas escolas mistas das ruas Dr. Thibau e Madureira (no distrito-sede)

também foram realizadas “solenidades civicas”, com a participação de escoteiros que

“abrilhantaram o acto”. Os alunos, “bem ensaiados”, cantaram hinos, e os professores

discursaram sobre a “festividade”. A matéria era encerrada repetindo o apoio do Jornal a este

tipo de evento, parabenizando aos professores pelo êxito dos festejos e “pelo exemplo de

civismo dado aos seus jovens alumnos”.626

Segundo Marta Carvalho, as festas escolares eram prescritas em função da “eficiência

pedagógica” que poderiam comportar sobre os escolares e sobre o meio social em que

funcionava a escola, mobilizando experiências de representação ou evocação de atos que

deveriam ser imitados, apreciados, receber e perceber a aprovação social das realizações

encenadas, constituindo lições vividas (CARVALHO, 1998, p. 178-179). Na análise que

realiza sobre as práticas comemorativas realizadas pela ABE, a autora adverte que, ainda que

fossem de diversos temas e variadas formas, e que cada evento parecesse ser uma prática

singular e pontual que se esgotava no próprio ato, na verdade, estes episódios “tecem uma

rede entre si pela repetição dos mesmos agentes, os mesmos em várias situações, e, ainda,

pela equivalência de regras de procedimento” (Ibidem, p.181). Pretendia-se que o civismo

ensaiado nas escolas servisse de “fôrma” dos modos de educação a incutir, para que a

educação ministrada não repercutisse em desestabilização social, e, sim, colaborasse na

625

A FESTA DA ARVORE, 07 out 1926. 626

FESTA DA BANDEIRA, 02 dez 1926.

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criação de uma disciplina consciente e voluntária sem emprego da força física (Ibidem, p.150-

151)

Como foi mencionado anteriormente, nos anos iniciais da década de 1930, o Correio

da Lavoura acompanhava e valorizava, constantemente, a criação do Ginásio Leopoldo,

instalado no distrito-sede. A instituição recebeu subvenção da prefeitura e acolhia o ensino

primário e o curso ginasial, nas seções de curso comercial e secundário. Os eventos

promovidos pela escola foram propagandeados pelo Jornal, como os espetáculos teatrais,

festivais de caridade e a celebração de datas nacionais, “Commemoração cívica”, recitais,

olimpíadas esportivas, além do aniversário da instituição, que passou a ser comemorado

juntamente com o Dia de Tiradentes.627

Além dos eventos promovidos por esta instituição privada de ensino, as escolas

públicas do município também se apresentavam no repertório de eventos da cidade. Em 1931,

a “festa da primavera” ocorreu pela concentração de cerca de mil crianças, segundo o Jornal,

na Praça dr. João Pessoa, à convite do prefeito Sebastião Arruda Negreiros. “Autoridades

locais, pessoas de destaque e exmas famílias” prestaram assistência ao evento, que contou

com plantio de mudas, discursos do prefeito e de estudantes. 628

Além dos alunos do Grupo

Escolar, alunos de outras cinco escolas públicas participaram do evento.

A festa sucedida a convite do prefeito parece ter sido um ensaio para a “parada

escolar” advinda no mês seguinte. Tratava-se de comemoração da cidade pelo primeiro

aniversário da Revolução de 1930. A “parada escolar” integrava o grande programa de

festejos. Os preparativos e o programa do evento eram publicados previamente no Jornal.

Previa-se a presença de todas as escolas públicas e particulares do município, a se

concentraram na praça dr. João Pessoa, em lugares demarcados por escola. Os alunos e

professores das escolas de Queimados, Nilópolis, Austin, Mesquita e Morro Agudo seriam

transportados por trens especiais, não sendo obrigatório o uso de uniforme, cabendo às

crianças levarem a sua própria merenda e a cada escola apresentar recitativos ou discursos

alusivos à data.629

Ao comentar os festejos do aniversário da “Revolução” no país, na capital federal, e de

“varias festividades promovidas pelo governo municipal” em Iguaçu, o Jornal destacava, na

627

GYMNASIO LEOPOLDO, 23 out 1930; GYMNASIO LEOPOLDO. SEU PROGRAMMA

FESTIVAL CIVICO E DE CARIDADE, 13 ago 1931; GYMNASIO LEOPOLDO, 20 ago 1931;

GYMNASIO LEOPOLDO. COMMEMORAÇÃO CÍVICA DE 7 DE SETEMBRO, 03 set 1931;

GYMNASIO LEOPOLDO. SEU PRIMEIRO FESTIVAL TEATRAL, 27 ago 1931. 628

FESTA DA PRIMAVERA, 24 set 1931. 629

GRANDE PARADA ESCOLAR, 22 out 1931.

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cidade, “a que mais viva impressão deixou no espírito publico a grande concentração das

Escolas estaduaes, municipaes e particulares do municipio”, na Praça João Pessoa.630

Na descrição detalhada do episódio, incluíam-se os hinos entoados pelos alunos, o

discurso do prefeito Arruda Negreiros e o agradecimento deste ao concurso prestado pelas

escolas ao evento. Foi inaugurado o jardim da praça “util e magnifico melhoramento com que

acaba s.s. de concorrer para a esthetica da cidade”. Além dos discursos e recitativos, os alunos

participaram do desfile pela rua Getúlio Vargas. As comemorações prosseguiram ao longo do

dia, com sessão cívica no Cine Verde, com participação de alunos de escolas da cidade. Os

festejos noturnos deram-se no “novo logradouro publico bem iluminado”, com a presença de

famílias e populares que apreciaram a banda de música, alojada no coreto local. Enquanto isto

um baile acontecia no salão do Fórum. Os alunos presentes às festas receberam doces e balas

da prefeitura.631

Esse evento é bastante simbólico do que se está buscando destacar sobre a participação

das escolas na vida social urbana. As escolas levavam práticas ensaiadas, da escola para as

ruas, inscrevendo-se como atores em momentos considerados importantes pela sociedade

local. A presença dos escolares no evento político de comemoração do novo regime, na

inauguração da praça com o nome do político cujo assassinato é aludido como estopim do

movimento de 1930, o desfile pela rua recém-inaugurada pelo chefe do Governo Provisório

com seu próprio nome, são eventos que possibilitam refletir sobre a função social da escola

para além de seu universo interno. A forma ensaiada como estas escolas participavam, em

lugar de destaque, previamente demarcado, com participações de oratória e demonstração

artística, sinalizam a intenção de que essas instituições produzissem e representassem um

novo ordenamento dos sujeitos e dos usos dos espaços.

A valorização dos trabalhos internos produzidos pelos alunos também repercutia na

inauguração das exposições públicas desses trabalhos, contando mesmo com a participação de

prefeito, autoridades locais e imprensa. 632

Não há volume para consulta dos anos de 1933 a 1934 no Correio da Lavoura e, pelo

formato dos mapas de frequência do ano de 1933, não havia um campo destinado ao registro

de observações pelos docentes. Na documentação do APERJ não há mapas do ano de 1934.

630

O DIA DA VITÓRIA, 29 out 1931. 631

O DIA DA VITÓRIA, 29 out 1931. 632

EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS ESCOLARES, 19 nov 1931; EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS DA

SEGUNDA ESCOLA MISTA , 03 dez 1931; GRUPO ESCOLAR, 24 nov 1932; EXPOSIÇÃO DE

TRABALHOS ESCOLARES, 01 dez 1932; EXAMES FINAIS E DE PROMOÇÃO DOS ALUNOS

DA 1ª ESCOLA MISTA DE NOVA IGUAÇU, 01 dez 1932; EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS

ESCOLARES, 08 dez 1932; GRUPO ESCOLAR RANGEL PESTANA;.EXPOSIÇÃO DE

TRABALHOS ESCOLARES, 15 dez 1932.

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Contudo, apesar dessas lacunas, foi possível comparar com anos anteriores, percebendo-se

que, no Jornal, houve um aumento expressivo da cobertura sobre eventos, solenidades, festas

escolares, sessões cívicas, a partir de 1935. Isto se observa tanto pelo maior número de

eventos quanto pela extensão dos mesmos. Essa observação vai ao encontro do registro das

solenidades nos mapas de frequência de Nova Iguaçu que, pelos dados colhidos, passaram a

ser registradas em 1935.

As solenidades cívicas poderiam ocorrer por iniciativa das escolas ou em associação

com outras atividades ocorridas no espaço público, em função da data celebrada. Em 1935,

por convite de Leopoldo Machado, diretor do Ginásio Leopoldo, o prefeito, Jarbas Cordeiro,

diretor de instrução municipal e Silvino de Azeredo, diretor da folha, integraram a mesa

diretora das comemorações pelo Dia da Pátria. O programa foi aberto com sessão cívica, pelo

diretor Leopoldo Machado, usando em seguida da palavra o prefeito e os alunos-oradores.

Após a sessão literária, a primeira parte do programa foi encerrada com a execução do hino

nacional. Danças animadas por conjunto musical estenderam a festa até as 23h.633

Naquele mesmo dia, o prefeito participou dos festejos na localidade de Nilópolis, que

teve sua “parte central” ornamentada para o desfile das escolas. Diante do prefeito, ocorreu a

“formatura e passeata de todas as escolas locais”, promovendo “espectaculo de rara belleza”.

As escolas foram reunidas após o desfile na Praça Nilo Peçanha, “onde se fizeram ouvir

varios oradores”.634

Compete lembrar que as matérias sobre as festas escolares e festas cívicas, desfiles,

paradas e atos públicos nas ruas centrais da cidade, figuravam, no Correio da Lavoura, ao

lado de matérias sobre a instrução agrícola, a defesa da lavoura, a citricultura; das matérias

sobre denúncias de problemas infraestruturais da cidade, mas, também, de obras, reformas e

melhoramentos urbanos.

Nesse contexto múltiplo e diverso, é significativo destacar o artigo, assinado por “T.

U.”, que, ao observar a frequência pelas comemorações do Dia da Pátria, com festejos e

paradas escolares, “instituindo os dias comemorativos das grandes datas nacionais”, passava a

defender que o “humilde obreiro da roça” também mereceria ter sua data comemorativa. O

argumento principal fundava-se na ideia de que era “a lavoura o alicerce em que está

edificada a grandeza econômica da Patria”. O autor sugeria a criação da “semana rural” para

homenagear o trabalhador e “para levar-lhe ensinamento para melhor cultivar a terra e

encorajal-o para continuar no trabalho abençoado do campo, e também para promover

633

O DIA DA PÁTRIA. AS COMMEMORAÇÕES NO GYMNASIO LEOPOLDO, 12 set 1935. 634

O DIA DA PÁTRIA. OS FESTEJOS EM NILÓPOLIS, 12 set 1935.

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exposições agrícolas e pastoris nos principaes municípios”. Nestas ocasiões seria adequado

“propagar”, pela distribuição de material ilustrado e pelo cinema, os “processos modernos de

cultura, e aconselhar o cultivo dos quintaes e chacaras”. A semana rural seria “a mais

patriótica, que muito poderá fazer em benefício da lavoura, portanto da nossa grandeza

economica e riqueza da Patria”.

Pelo tom ruralista do artigo, nota-se o reconhecimento da função educativa exercida

pelas datas comemorativas. Mais do que o ânimo em prestar homenagens ao aludido

trabalhador do campo, tratava-se, sobretudo, de abrir mais uma brecha pela disseminação dos

interesses da agricultura enquanto atividade produtiva, que, deveria ser identificada com os

interesses “nacionais”.635

Ainda que não tenha sido possível verificar os vínculos com o artigo sobre a “Semana

Rural”, no mês seguinte, o Correio da Lavoura informava que a Sociedade Nacional de

Agricultura organizava a “Semana da Laranja”, que deveria ocorrer com a participação dos

estados interessados na cultura do fruto. Os assuntos sobre a produção e a comercialização do

produto seriam debatidos no evento.636

É relevante perceber, ainda, que os festejos cívicos, as exposições e solenidades

ampliavam a ação educativa do Estado, portanto, com a participação de diversas agências,

entre elas, a escola e os processos de escolarização, a imprensa, agências de governo.

Constituía-se a esfera de atuação estatal engendrando ações coletivas, construindo e

reconstruindo espaços, moldando relações, corpos e sensibilidades.

O “vigor cívico” das escolas nas “artérias” de Nova Iguaçu

Pelo trabalho com o Correio da Lavoura, foi possível localizar densas descrições

sobre os eventos realizados nas escolas da cidade e do município ou ocorridos com a

participação dos escolares. Foi significativa a ocorrência e a cobertura jornalística das

comemorações cívicas realizadas no período do Estado Novo (1937-1945). Eram previamente

anunciados os programas dos festejos (em geral com atividades durante todo o dia ou semana)

e, posteriormente, era noticiado o transcurso dos eventos, com desfiles dos estudantes e

escoteiros por ruas da cidade, recepção de autoridades, bailes, torneios esportivos e artísticos,

sessões cívicas e hasteamento de bandeira.

Tais acontecimentos mobilizavam as escolas municipais, estaduais e particulares do

município, instituições de ensino primário, profissional e secundário, com a presença das

635

A SEMANA RURAL, 03 out 1935. 636

SEMANA DA LARANJA, 31 out 1935.

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autoridades locais e das famílias dos alunos. As comemorações acerca da Semana da Pátria,

do Dia da Bandeira, da Semana da Criança, do Dia da Juventude e as comemorações pelo

aniversário do Presidente Getúlio Vargas e do Estado Novo ocuparam espaço de relevo no

Jornal, em geral comparecendo na primeira e segunda páginas. O hasteamento da bandeira,

canto do hino e orações de docentes foram itens recorrentes nessas sessões.

Através da análise das formas como esses eventos ocorriam na cidade de Nova Iguaçu,

muitas vezes para além do espaço das escolas, recuperam-se informações e registros das

interações ou interdições das atividades escolares com o espaço da cidade e com sua

ambiência política, cultural e social. É viável, também, pelo trabalho com a imprensa,

entrever o sentido desses cultos à pátria e ao chefe do governo como projetos de formação da

nacionalidade e a participação dos poderes municipais e de parcelas da sociedade civil

fomentando essas atividades.

No exame das comemorações, nota-se que as solenidades diretamente ligadas ao

universo escolar também se tornaram mais densas, com programas mais elaborados. No

encerramento do período letivo da 2ª escola mista da cidade, em 1935, com a presença do cel.

Sebastião Herculano de Mattos (representante dos produtores e comerciantes de laranjas do

município), o representante da folha, “e exmas senhoras de nossa sociedade”, foram

realizados discursos e recitativos. A professora Maria Paula de Azevedo regeu os alunos na

execução do canto orfeônico. Uma criança de 8 anos conduziu os colegas na execução do

“Hino ao Trabalho” e o coronel Sebastião de Mattos elogiou a professora e suas assistentes, e

estimulou aos alunos que continuassem a estudar “para o engrandecimento da patria”.637

No Grupo Escolar Rangel Pestana, no mesmo ano, o encerramento das aulas foi

celebrado na sede do “Sport Club Iguassú”, novamente com a participação do coronel

Sebastião H. Mattos, Jarbas Cordeiro, diretor de instrução municipal e de representante da

folha. O corpo docente apresentou-se quase completo. A diretora Venina Côrrea Torres

discursou, assim como alguns alunos e professoras. Homenagens foram prestadas à diretora

pelo corpo docente, e outras professoras foram homenageadas por alunos. A leitura pública

das notas dos exames e distribuição das provas é reveladora da solenidade que se buscava

imprimir às atividades escolares. Alunos foram premiados com “a nota máxima de distinção”

e um conjunto musical, canto orfeônico e recitativos animaram o final do evento.638

A inauguração da exposição dos trabalhos dos alunos da seção profissional do Grupo

Escolar também foi concorrida. Aberta à visitação pública na sede do Grupo, o ato de abertura

637

2ª ESCOLA MISTA, 05 dez 1935. 638

GRUPO ESCOLAR RANGEL PESTANA, 12 dez 1935.

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da exposição contou com a participação do prefeito Arruda Negreiros e do diretor da

instrução municipal, Jarbas Cordeiro.639

Para além da cobertura dos eventos organizados pelas escolas, encontra-se no Jornal,

para o mesmo período, colunas, crônicas e artigos que voltam a tratar da importância do

nacionalismo e do civismo para a educação da juventude. Em 1939, o Jornal publicava um

artigo da Diretoria de Propaganda e Publicidade, do governo paulista, intitulado: “O conceito

de pátria no Estado Novo”.640

Afirmava-se que o conceito de Pátria havia sido recuperado em

seu “verdadeiro sentido”, fruto de “uma educação elaborada num período de quase nove

anos” e que significava “unidade moral dum país”.

Explicitava-se, como evidenciam as pesquisas sobre a política educacional do Estado

Novo, que foi depositado nas escolas a missão de disseminar certo tipo de civismo, de culto a

Pátria e ao Chefe da Nação, de interesse do regime autoritário. O artigo exaltava as atitudes

do presidente Vargas como exemplos de patriotismo e de união entre povo e governo, por ter

agido no sentido de melhorar as condições econômicas e educacionais do povo:

Diante de um quadro de disciplina de nossas energias espirituais e materiais a

palavra Pátria tem hoje um significado mais extenso e, por ser tão evocativa, sugere

um inadiável compromisso de fé por parte daqueles que verdadeiramente amam este

Brasil renovado e poderoso.641

Carlos Américo Bertolini analisa as formas e os conteúdos das solenidades cívicas do

Estado Novo, enquanto encenações do poder e portadoras de um projeto educativo da

sociedade, fundamentadas numa “sacralização da política” que ocorreu pela colaboração do

Estado com a Igreja (BERTOLINI, 2000, p.51). No calendário do regime receberam atenção o

“Dia da Bandeira Nacional”, a “Semana da Pátria”, o “Dia de Tiradentes” e a “Proclamação

da República”. Foram acrescidos o “Aniversário da Revolução de 1930” e do Estado Novo,

“Solenidade em Memória dos Mortos” na pejorativamente denominada “Intentona

Comunista”, além da transfiguração do “Dia do Trabalhador” em “Dia do Trabalho”, “O Dia

Nacional da Juventude” (comemorado na data de aniversário do Presidente), a Parada da

Mocidade e da Raça (ao longo da Semana da Pátria), o “Dia da Criança”, e as homenagens a

Caxias, Tiradentes, Barão do Rio Branco, entre outros “vultos da pátria”, como nos informa

Carlos Bertolini (2000).

As matérias do Jornal e dos mapas de frequência evidenciam que as escolas em Iguaçu

e as lideranças políticas locais, compartilharam dessas práticas em que as escolas elaboravam,

participavam, conduziam e repetiam, continuadamente, rituais e práticas que almejavam

639

EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS NO G.E. RANGEL PESTANA, 12 dez 1935. 640

O CONCEITO DE PÁTRIA NO ESTADO NOVO, 07 set 1939. 641

Idem.

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educar politicamente essas populações, de forma a incutir um nacionalismo, revestido de

caráter religioso, devotado à pátria e ao chefe da nação. Parte desse calendário e do formato

dos eventos era praticado desde o final da década de 1910, o que revela traços das

continuidades das relações entre escola, cidadania e cidade, ainda que diferentes significados

tenham revestido diferentes momentos políticos.

Em 1939, na sessão solene no “Gymnasio Leopoldo” pelo Dia da Pátria, que contou

com a presença de autoridades locais, o diretor Leopoldo Machado salientou “os deveres das

escolas de verdade para a formação do caráter dos seus alunos”.642

Os festejos eram

significados como atividades importantes junto aos alunos e o Jornal destacava a impressão

causada pelos desfiles de escolares:

[...] o desfile, principalmente dos alunos do Gymnasio Leopoldo, Curso Iguassu e

Collegio Santo Antonio, marcou uma nota de puro civismo nas ruas da cidade, onde

se via grande número de famílias, além das autoridades locais. Corpo de ciclistas, de

atletas, banda de tambores, guardas de honra, corpo docente, alunos. A formatura

dos professores com os seus alunos impressionou pela grande lição de que as lições

de civismo, como de tudo, devem vir de cima, dos pais e dos mestres.643

Nos festejos de 1939, o Círculo de Pais e Professores da cidade comemorou o dia da

Pátria com uma sessão cívica. Em Nilópolis, o prefeito Ricardo Xavier da Silveira participou

da sessão cívica realizada no Instituto Educativo dr. Julio de Abreu Gomes, onde foi

inaugurado retrato de Getúlio de Moura, político local presente na ocasião. Esteve presente o

representante do interventor estadual, na pessoa de Sr. Francisco Xavier Cardoso.644

A fim de imprimir à pátria uma presença e veracidade compartilhada pela sociedade, o

Estado Novo apelou para o caráter emotivo de veneração à nação. As solenidades

comemorativas eram os momentos que materializavam, tornavam a pátria visível. Cabia à

educação preparar os cidadãos para essas ocasiões, fomentando, pela valorização da história

nacional, a necessária vinculação afetiva com as encenações, a fim de estabelecer uma base

sólida sobre a qual a veneração da pátria seria edificada (BERTOLINI, 2000, p.58). As

associações operadas entre a Igreja católica e o Estado autoritário fomentaram a projeção da

nação como objeto de culto, revestida da aura de misticismo e de enlevado devotamento,

fosse nos discursos dos ideólogos e partidários do regime, fosse nas práticas culturais das

solenidades cívicas. A nação foi erigida como objeto religioso, ente sagrado, mas dotado de

materialidade, energia, ação, constituindo um corpo único, religioso e social (Idem, p.53).

642

DIA DA PÁTRIA, 14 set 1939. 643

Idem. 644

OUTRAS SOLENIDADES, 14 set 1939.

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Pela descrição colhida nos mapas de frequência, em Iguaçu todos os eventos eram

envoltos num ambiente de comemoração e festividade. Assim, há comumente expressões do

tipo “brilhantemente comemorada”, “comemoração solene”, “comemorado o dia”,

“solenemente comemorada”, “homenagem”, “festivamente comemorado”, “comemorações

internas”, “comemorações festivas”, “comemorou festivamente”, “festivamente comemorados

os dias [...]”, etc.

Como foi visto, também, nas descrições na imprensa, os eventos poderiam ocorrer no

interior das escolas ou no espaço da cidade, em praças e avenidas, principalmente pela

ocasião do dia da árvore e dos desfiles e paradas escolares. Alguns comentários sinalizam a

realização do evento como restrito da escola, ou com a participação, na escola, de autoridades

políticas e de familiares.

Na escola mista, pública, primária, municipal, com denominação especial “Guinle”,

em setembro de 1944, nos dia 1, 5, 6 e 7 foi “comemorada internamente na escola a Semana

da Pátria”, mas no dia 3 os alunos participaram do “desfile escolar”.645

Por vezes, parte das comemorações escolares incluíam ações fora da escola, como no

Jardim de Infância da rua Marechal Floriano, localizado numa das principais ruas do distrito-

sede, quando, por ocasião da Semana da Criança, “os escolares saíram a passeio pela

localidade”.646

Entre outras comemorações ocorridas, em junho de 1947, no mesmo jardim de

infância, a professora relatava os festejos pelo encerramento das aulas:

Foi festivamente comemorado o primeiro período letivo do ano em curso, com

números de canto e recitativos apresentados pelos alunos dêsse estabelecimento.

Compareceram à festa o Exmo. Snr. Prefeito, o Presidente da Caixa Escolar, Dr.

Arruda Negreiros, Dr. Luís Guimarães e outras autoridades, pais de alunos,

professores e a imprensa local.647

Outros informes deixaram pistas sobre a participação das escolas – sob autorização

dos inspetores – em eventos ocorridos fora das escolas. No mapa de julho de 1938, da escola

“isolada” estadual n.º 17, que funcionava na “rua da Matriz n.66” , em São João de Meriti , no

4º distrito, a professora anotava: “Por autorização do Sr. Inspetor Escolar, no dia 15 a Escola

compareceu incorporada à uma solenidade na [agência] da Estação deste distrito”.648

Ali perto, no mesmo mês, a professora da escola estadual “isolada” nº 18, que

funcionava na rua da Matriz, nº 213, detalhava a participação dos alunos da sua escola no

mesmo evento: “Ás 11 horas do dia 15, com a autorização do Sr. Inspetor Escolar, a Escola

645

Fundo Departamento de Educação, 02666, APERJ. 646

Fundo Departamento de Educação, 02671, APERJ. Mapa de 10/1945. 647

Fundo Departamento de Educação, 02671, APERJ. Mapa de 06/1947. 648

Fundo Departamento de Educação, 02743, APERJ.

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compareceu à Estação da localidade, afim de tomar parte nas solenidades da inauguração do

retrato de de S. Excia. o snr. Presidente da República”.649

Interessante que, nessa mesma

escola, no mês de maio de 1938, outra solenidade havia ocorrido para inaugurar o retrato do

presidente da República: “Cumprindo ordem do Sr. Diretor Geral do Departamento de

Educação, a data de 13 de maio foi solenemente comemorada, tendo feito parte do programa a

inauguração do retrato de S. Excia. o Presidente da República”.650

Entre as notações que registraram a ocorrência de comemorações e eventos realizados

na escola, ou dos quais a escola participava, maior frequência e ocorrência foram verificadas

nos mapas da escola mista de 2º grau nº4, situada no “K-11”, que era uma localidade contígua

à estação de trem no distrito-sede. Entre 1941 e 1947 estava funcionando à Rua Barão de

Tinguá, nº 247. O dossiê da escola agrega mapas de frequência entre os anos de 1931 e 1947.

Retomar a descrição de alguns desses episódios é aproximar a escala de observação

dos modos de funcionamento da escola. Os primeiros registros de comemorações datam de

1938. Os eventos mais corriqueiros, como nas outras escolas, eram o Dia da Pátria, a festa da

Árvore, o Dia da Proclamação da República, o Dia da Bandeira e o Dia da Criança.651

Em

1940, o aniversário do presidente Vargas e o Dia do Soldado passavam a fazer parte das

comemorações registradas.

O aniversário do Estado Novo foi comemorado, entre outras ocasiões, em 1941:

“Foram festivamente comemorados os dias 10 pela data do aniversário do Estado Novo, com

um desfile dos escolares pelas principais ruas da cidade e o dia 19 por ser “Dia da

Bandeira”.652

No ano seguinte, a professora registrava: “Foram festivamente comemorados os

dias 14 e 19. O dia 14 por ser da ‘América’ e 19 data do aniversário natalício do Dr. Getúlio

Vargas.”653

Em agosto de 1942, “palestras” e “preleções” na Semana de Caxias

homenageavam “o vulto do nosso grande patrono do exercito”. Pela data da Independência, a

escola participava novamente de parada escolar com reunião de todos escolares pelas

principais ruas da cidade”.654

No ano seguinte, o registro da comemoração do Dia da Pátria era parecido com o

anterior: “uma parada escolar de todos os alunos estaduais e municipais pelas diversas ruas da

649

Fundo Departamento de Educação, 02742, APERJ. 650

Fundo Departamento de Educação, 02742, APERJ. 651

Fundo Departamento de Educação, 02706, APERJ. Mapas de 09-11/1938. 652

Ibidem. Mapas de 11/1941. 653

Ibidem. Mapa de 04/1942. 654

Ibidem. Mapa de 09/1942.

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cidade, a convite do Snr. Prefeito deste Município.” No mesmo mês, numa praça da cidade os

alunos faziam o plantio de mudas e entoavam o hino à árvore.655

Em 1944, durante a Semana de Caxias, “Todos os alunos prestaram homenagem a

memoria do grande patrono do exercito”, contudo, “a data mais festiva foi o dia 25, data de

seu nascimento onde entoaram hinos e recitativos alusivos a data”.656

Na semana da criança,

ocorreram palestras, “excursões, sessões cinematográficas, distribuições de merenda e etc.”.

Em novembro ocorreram as comemorações pelo aniversário do regime político e pelo

encerramento do ano letivo.

No ano de 1945, havia registro da participação dos alunos na “Parada da Juventude”,

que era o “desfile de todas as escolas publica estaduais, municipais e particulares pelas

diversas ruas da cidade”.657

Esse evento contou com a “com assistência de altas autoridades

desse município.” Naquele mesmo mês, a escola participava do plantio de árvores na Praça

[Silvino de Azeredo], quando houve também “Comparecimento de todas as escolas fazendo

parte desta festa o Exm. Dr. Prefeito e a sua comitiva”.

Em setembro de 1946, novamente, “os alunos tomaram parte na Parada escolar” pelo

Dia da Pátria, e também comemoraram o dia da Árvore com plantio de muda de pau-Brasil,

“com a presença de autoridades locais”. No dia seguinte ao plantio da árvore, ocorreu

“concentração dos alunos para a recepção a S. EXA. o Presidente da Republica em visita a

este município, comemoração do dia da laranja e inauguração de vários melhoramentos tendo

falado a aluna desta escola Janaina Carvalho”.658

Em outubro, era “observado rigorosamente o

programa da “Semana da Criança” e foi também comemorada a Semana da Asa.

Cabe destacar, para o ano de 1947, a comemoração do aniversário de fundação do

clube agrícola da escola e do pelotão de saúde, “tendo comparecido autoridades locais,

representantes da impressa e muitas famílias de alunos”.659

Em setembro, além da “Parada

Escolar do dia 7” foi comemorado o “1º aniversário da Promulgação da Constituição do

Estado”, e a escola “Tomou parte também na concentração escolar por ocasião da visita do

Governador Dr. Macedo Soares no dia 21 do corrente [Sic].”660

Maurício Parada (2003), em seu estudo sobre as cerimônias cívicas do Estado Novo

como práticas disciplinares, destinadas à população, e, principalmente, à juventude escolar,

destaca a complementaridade das atividades escolares com as datas comemorativas do

655

Ibidem. Mapa de 09/1943. 656

Ibidem. Mapa de 08/1944. 657

Fundo Departamento de Educação, 02706, APERJ. Mapas de 09/1945. 658

Ibidem. Mapa de 09/1946. 659

Ibidem. Mapa de 06/1947. 660

Ibidem. Mapa de 09/1947.

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calendário cívico do regime. Carlos Bertolini (2000) analisa como o civismo se transformou

em tema central das atividades escolares no pós-1930, de forma que a escola foi responsável

por ambientar a juventude aos atos públicos de enaltecimento à pátria, às datas

comemorativas etc. Esse civismo que revestiu as funções do ensino era permeado de

religiosidade: “a dimensão do sacrifício, do altruísmo e da renúncia pessoal demonstra bem a

proximidade entre o patriotismo exacerbado e a ascese cristã pelo sofrimento, num

intercâmbio de imagens e de sentidos que desembocaram na sacralização da política”

(BERTOLINI, 2000, p.70).

Maurício Parada (2003) examina como o Canto Orfeônico e a Educação Física

significaram, mais do que a propaganda ou a retórica cívica, práticas disciplinares e

pedagógicas que buscavam conformar a juventude a um modelo de cidadão. Os rituais da

Hora da Independência (enquanto expressão do resultado das classes de Canto Orfeônico) e

do Dia da Juventude (associado à introdução do ensino da Educação Física na escola), sob a

análise do autor, revelam que as cerimônias cívicas completavam o trabalho cotidiano da

escola e do hospital, já que era através da exibição ritualizada frente aos membros da

comunidade nacional que os corpos sadios e disciplinados ganhavam uma identidade e um

sentido de pertencimento a esta comunidade:

a articulação entre as cerimônias e as práticas escolares tornou-se um dos mais

importantes locus onde se definiu a participação cívica da juventude durante o

Estado Novo.[...] Através do Ministério da Educação e Saúde, o Estado usou o

sistema escolar público e as cerimônias cívicas juvenis para elevar a disciplina e a

ordem à condição de virtudes supremas a serem perseguidas pelos jovens

(PARADA, 2003, p.11).

A representação da unidade nacional foi um dos principais aspectos das solenidades

cívicas do Estado Novo que imprimiram marcas profundas na memória coletiva nacional.

Serviram para projetar as inspirações de organização de um Estado Novo e foram destinadas

principalmente à classe operária e à juventude, ambos atores fundamentais no

desenvolvimento e manutenção futura de tal aspiração (BERTOLINI, 2000).

O expressivo volume de matérias sobre festas cívicas, com participação central de

escolas, em Iguaçu, nas ruas principais da cidade, durante o Estado Novo, além de atestar as

imbricações entre escola e ordenamento, ou pelo menos, certa teatralização do espaço público,

chamou atenção, também, para a repetição dos formatos utilizados, dos sujeitos presentes, na

relação com as “autoridades” locais.

As fontes informam sobre a frequência, os motivos, os locais e os formatos das

comemorações de que as escolas participavam na vida da cidade e das que realizava em seu

próprio ambiente. Mas não é possível apreender os significados que campo e cidade jogavam

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nestas comemorações nem o conteúdo dos discursos de professores, alunos, prefeitos. O que

se insinua é o empenho dos dirigentes políticos locais em promover esses eventos, em dar a

ver que o município participa, tem modos de demonstrar seu tônus civilizatório, sobretudo

pela participação dos escolares nas expressões de culto à pátria, à bandeira, à criança, ao chefe

de governo etc. Contudo, apropriações realizadas pelos sujeitos participantes dessas

experiências e “sentidos variados” poderiam ser construídos na experiência de aprendizagem

que as festas escolares propiciavam (FARIA FILHO, 2005a, p.34). Aos interesses, objetivos

da ação educativa das festas cívicas, e da progressiva transformação destes eventos em festas

de escolas, de escolares, deve-se ter em perspectiva os conflitos inscritos, interesses

divergentes, que podem estar depositados nas articulações dos temas da cidadania “quando se

referem ao escolar e ao urbano na modernidade” (Idem).

Em geral as datas comemoradas em Iguaçu foram as mesmas do calendário nacional.

No exame das matérias, no curso do tempo, nota-se a progressiva intensificação da frequência

dos eventos e da extensão dos mesmos. Os motivos cívicos são os mais recorrentes, e seus

rituais passaram a permear, também a ritualização das práticas escolares, como nas festas de

encerramento do ano letivo. Mais do que evidenciar a construção de uma identidade local, ao

que parece, é o sentimento de pertença a uma nacionalidade que move esses episódios, com o

interesse dos sucessivos prefeitos em demonstrar-se alinhados a certas práticas e concepções

de cidadania.

O enraizamento do calendário escolar do Estado Novo nas atividades e festas escolares

e, também, a participação dessas escolas nos eventos cívicos promovidos na cidade, podem,

ainda, ser compreendidos, em matéria educacional, nas sobreposições que foram operadas no

pós-1930, sobretudo no Estado Novo, de constante centralização administrativa que esvaziou

bastante as possibilidades de autonomia municipal. A sobreposição da “nação” no espaço não

se buscava materializar, apenas, no culto ao chefe da nação, no caráter cívico-devocional que

se buscou ensinar, mas, também, em medidas práticas de canalização das instâncias decisórias

do poder para as agências de governo da União.

A repetição e a sucessão dos eventos também revela certa pedagogia, que

espetacularizava práticas, teatralizava a participação dos sujeitos, engessava os passos, os

ditos, os cânticos, as posturas. Além das repetições, a cada ano, de um conjunto de

comemorações, pautadas por um calendário escolar, como foi visto nos mapas de frequência,

havia, também, uma certa continuidade no formato, ao longo do tempo, na comparação entre

os eventos. Por exemplo, isto pode ser apreendido em como três escolas distintas, em anos

diferentes, comemoraram a Semana da Criança.

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Na escola estadual mista n. 9, em 1939, a semana da criança, segundo a professora foi

comemorada com o seguinte programa: “Dia 12 preleção sobre a data; Dia 13 preleção sobre

os deveres da criança no lar, na escola e na sociedade. Recitativos e poesias. Dia 14,

descanso; Dia 16 aulas, palestras e jogos. Dia 17, aulas, preleção. Dia 18 encerramento da

“semana da criança” com preleção, poesias, recitativos e hinos. Dia 23 chuvoso”.661

Em 1944, na escola mista municipal situada em Porto Sobrinho, a professora

informava: “Comemorei a semana da criança com o seguinte programa: Dia 10 palestras,

recitativos [sic] e hinos. Dia 11 hinos, brinquedos e Cantos. Dia 12 uma secção no cinema de

Nova Iguaçú. Dia 13 excursão a Quinta da Boa Vista com distribuição de merendas. Dia 16

palestras, recitativos e hinos. Dia 17 encerramento da semana com uma solene reunião em

Nova Iguaçú”.662

Na escola municipal Valério Rocha, em 1946, o programa da semana da criança

evidenciava a continuidade de um formato de comemorações ordenado: “Dia 10 Palestra

sobre a criança; Dia 11 – Excursão; Dia 12 – descanso; Dia 13 – domingo; Dia 14

pequenique; Dia 15 hora recreativa; Dia 16 cinema grátis; Dia 17 – encerramento da semana

da criança”.663

Ano após ano, a repetição do formato dos eventos buscava ensinar aos alunos, às

famílias e à cidade, um modo específico de socialização. Na escala de observação de Nova

Iguaçu, é possível acompanhar a realização local, a capilarização, via elites dirigentes, bem

como o alcance da política educacional e cultural do Estado Novo que entrelaçou

nacionalismo, civismo e instrução. Tratava-se da configuração de uma ideia de nação, do

nacional, que materializava-se nos desfiles escolares, nas sessões cívicas. Movimentos locais

que buscavam inserir a região na nação, fazê-la constituir-se em nação.

Neste sentido, compete ressaltar que o formato dos festejos e a mobilização das

escolas em algumas datas enraizaram-se mesmo após o fim do regime. Além das notícias

publicadas no Correio da Lavoura, um filme664

integrante do acervo do Colégio Leopoldo,

sobre as comemorações da semana da pátria na cidade, também evidencia tais permanências.

A narrativa do filme, de 7 minutos, não identifica o ano de realização. Mas sabe-se, por um

decreto citado na abertura, que o filme é posterior a janeiro de 1946. Como o prefeito

661

Fundo Departamento de Educação, 02675, APERJ. Mapa de 10/1939. 662

Fundo Departamento de Educação, 02690, APERJ. Mapa de 10/1944. 663

Fundo Departamento de Educação, 02727, APERJ. Mapa de 10/1946. 664

Prefeitura de Nova Iguaçu. Comemorações da Semana da Pátria. Filme Jornal.170x15. A. Botelho

Filme.1948.

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Sebastião de Arruda Negreiros aparece nas filmagens, pode ser datado entre setembro de 1947

e setembro de 1950.665

Na abertura, após a informação de que o filme está livre de censura é que é

considerado “de boa qualidade”, segue-se o desenho de um menino, de costas, acompanhado

de um cão. Ambos olham para uma tela, que parece ter sido fixada em uma árvore, em que há

uma projeção em movimento, onde se informa: “filme jornal”, tendo ao fundo a projeção da

cidade do Rio de Janeiro. No cenário em que está o menino-espectador, vestido em trajes

comuns, segurando nas mãos um chapéu e um cajado, nota-se uma latrina. O simbolismo da

imagem parece indicar o tipo de destinatário do filme e seu caráter educativo, instrutivo.

O filme em preto e branco, apresentado pela prefeitura de Nova Iguaçu, e, intitulado,

“Comemorações da Semana da Pátria”, apresenta tomadas de imagens da cidade

concomitantes à voz do narrador-repórter que oferece informações sobre o “próspero

município” que ocupava, no estado, a 3ª posição em população e produção. As imagens da

cidade e da prefeitura são sucedidas por imagens dos prédios escolares, de cursos, do Colégio

Leopoldo, do Grupo Escolar.

Com uma música ao fundo, a voz do narrador discorre sobre a existência de 100

escolas municipais, 20 estaduais, além de 3 grupos escolares e “muitas escolas particulares”

no município.666

Dada a extensão da rede de escolas, o “prefeito-professor”, Sebastião de

Arruda Negreiros, apelidava o município de “Atenas Fluminense”.

Sob esta ótica, os desfiles escolares pela Semana da Pátria atestavam a grandiosidade

do município em matéria de instrução. A solenidade começou com cerimônia no Colégio

Leopoldo, com hasteamento da bandeira pelo diretor, enquanto os alunos entoavam o hino

nacional. Descrevendo as imagens em tom de reportagem e com entonação festiva, o narrador

informava que o diretor fez a leitura do boletim alusivo à data, seguindo-se a entrega de

“estrelinhas distintivas” aos alunos que mais se destacaram “na conduta e na aplicação”.

Bandeiras esportivas foram entregues aos alunos engajados nessas atividades, que juraram a

honra ao bom comportamento nas competições e ao uso adequado das atividades esportivas.

Após as imagens do evento ocorrido no interior do Colégio, com expressivo número

de alunos, a música de fundo é modificada e seguem-se as imagens da parada escolar nas ruas

da cidade, diante do palanque em que estava o prefeito, professores e outras personalidades.

665

Segundo o professor Paulo de Tarso, atual diretor do Colégio Leopoldo e proprietário do filme, é

referente a 1948. 666

Prefeitura de Nova Iguaçu. Comemorações da Semana da Pátria. Filme Jornal.170x15. A. Botelho

Filme.1948.

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Segundo o “filme-jornal”, 7.500 crianças das escolas do munícipio participaram dos desfiles

nas principais “artérias” da cidade.

Seguem-se imagens dos alunos de várias idades, marchando, uniformizados,

ostentando bandeiras pelas ruas. As ruas estão ornamentadas, e, nas margens, populares

assistem à passagem marcada, espaçada, ordeira, dos alunos e professores, recebendo os

aplausos das pessoas no palanque: “A juventude de Nova Iguaçu brilhou e com todo seu vigor

cívico deu uma amostra do que será o Brasil de amanhã”. Após o desfile, os alunos foram

alimentados no Mercado Municipal Santo Antônio, sob o patrocínio da prefeitura, onde

também estiveram presentes o professor Leopoldo Machado, o jornalista Luiz Azeredo e o dr.

Luiz Guimarães.

Assim como as fotografias encomendadas em 1933, deve-se compreender esse filme

sobre a “grande festa cívica que empolgou a população do próspero município fluminense”

como um recurso, uma construção simbólica, sobre algo que se queria fazer ver, demonstrar e

dizer, sobre o “próspero município”. Em 1944, durante a prefeitura de Bento Santos de

Almeida, também foi exposto em um cinema da cidade, um filme, segundo o Correio da

Lavoura, “focalizando a riqueza e o progresso do nosso município”. As localidades de

Mesquita, Nilópolis, Belford Roxo e Queimados integraram as filmagens, juntamente com as

comemorações sobre a Semana da Pátria. O Jornal felicitava a iniciativa como uma “boa

propaganda de Nova Iguassú”.667

Além da continuidade dos rituais de desfiles escolares, sob a presença dos dirigentes

locais, nas ruas da cidade, que o filme e as matérias do Correio da Lavoura permitem notar, é

reveladora destas continuidades e apropriações, também, a criação do Dia da Laranja, no

município de Iguaçu, em 1946, marcado para o dia 22 de setembro.668

Os preparativos da

festa dirigida pela prefeitura com apoio de citricultores e exportares, revelam um interesse em

afirmar a relação entre a prosperidade do município e a atividade citrícola. Contudo, tratava-

se mais de um recurso, movido pelos grupos locais engajados em reverter a crise que se abatia

sobre a comercialização do fruto e sobre o plantio.

O programa dos festejos seria iniciado pela chegada do Presidente da República, o

general Eurico Gaspar Dutra, à cidade. O presidente seria recebido por autoridades federais,

municipais e estaduais, “escolas públicas e particulares”, associações esportivas e “o povo em

geral”. O presidente inauguraria exposição sobre a laranja e as obras de remodelação da praça

667

UM FILME SOBRE NOVA IGUAÇU, 03 nov 1944; 668

O DIA DA LARANJA VAI SER COMEMORADO, DOMINGO, PELA PRIMEIRA VEZ, NESTE

MUNICÍPIO, 15 set 1946.

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ministro João Pessoa. Salva de tiros, queima de fogos e coroamento da “rainha da laranja”

ornamentavam o evento. Visitas a laranjais, packing-house, entre outras atividades, eram

previstas. Quinze pessoas integravam a comissão designada pelo prefeito para cuidar da

“concentração escolar”.669

Porém, a aguardada visita670

do presidente gel. Gaspar Dutra não aconteceu posto que

o mesmo enviou, no dia do evento, um bilhete ao prefeito, justificando a ausência em função

de imprevistos.671

A parada escolar ficou em formatura deste as 6 horas, à espera do

presidente, quando as 11 horas, chegava o representante, cel. Gilberto Marinho. Contudo, o

programa foi executado conforme o previsto, sendo, segundo o Jornal, bem sucedido.672

Na segunda edição do Dia da Laranja, em 1947, foi aguardada a presença do

governador do estado, Edmundo Macedo de Soares, para assistir à festa,673

participar dos

festejos do Dia da Árvore com escolares em Nilópolis, visitar as obras do Grupo Escolar,

outras obras, laranjais, uma casa de embalagem de Francisco Baroni e inaugurar uma

exposição no entorno do mercado municipal. O Jornal conclamava exportadores, citricultores

e comerciantes, “industriais e o povo” para colaborar para o êxito da festa “consagrada ao

pomo de ouro que enriquece a terra iguassuana”.674

Chegando à cidade no primeiro dia evento, o governador recebeu homenagens,

segundo o Jornal, sobretudo nas obras do Grupo Escolar, onde participou do plantio da

árvore, e no mercado municipal, no qual inaugurou a exposição sobre a laranja. Fez discursos

no Grupo Escolar e na visita à packing-house de Francisco Baroni. Visitou a prefeitura e

pomares. Apesar disso, o Jornal deixava transparecer que a festa da laranja já não fora tão

efusiva quanto no ano anterior, fazendo alusão aos problemas pelos quais passava a

citricultura.675

A comercialização da produção de laranjas foi afetada por múltiplos fatores. Com a

eclosão da Segunda Guerra Mundial, houve queda na demanda por exportações pelo mercado

europeu e empecilhos foram criados por conta do bloqueio alemão, que impediu a chegada de

navios frigoríficos ao porto do Rio de Janeiro. O mercado norte-americano não se tornou uma

669

O DIA DA LARANJA VAI SER COMEMORADO, DOMINGO, PELA PRIMEIRA VEZ, NESTE

MUNICÍPIO, 15 set 1946. 670

SERÁ COMEMORADO HOJE, FESTIVAMENTE, O DIA DA LARANJA, 22 set 1946. 671

TRANSCORREU COM RARO BRILHANTISMO A FESTA DA LARANJA, 29 set 1946. 672

Idem. 673

AMANHÃ, DIA DA LARANJA, SERÁ FERIADO MUNICIPAL, 21 set 1947;. AGUARDA-SE

HOJE, À TARDE, A HONROSA VISITA A ESTA CIDADE, DO GOVERNADOR EDMUNDO

MACEDO DE SOARES, 21 set 1947. 674

Idem. 675

DIA DA LARANJA, 28 set 1947.

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alternativa, devido à concorrência com a produção de laranjas da Califórnia. O abastecimento

do mercado interno e da América do Sul não foi suficiente para escoar a produção e o

encarecimento do combustível dos transportes aumentou os preços, enquanto o mercado

paulista era abastecido pela produção da cidade de Limeira (PEREIRA, 1977, p.130).

Os dados da Tabela 5 demonstram a queda no comércio de exportação da laranja:

Tabela 9 Comércio e Exportação da Laranja (1941-1945).

Safras Mercados externos Mercados nacionais Caixas Valor Cr$ 1.000

1941 888.844 665.800 1.554.644 38.217

1942 533.142 690.000 1.243.142 22.810

1943 546.173 580.000 1.126.175 23.108

1944 550.161 610.000 1.160.161 22.916

1945 554.147 780.000 1.334.147 29.966

Fonte: Adaptado de Pereira, 1977, p.144.

No município de Nova Iguaçu, após a Segunda Guerra, buscou-se a revitalização da

citricultura, que àquela altura dependia também da recuperação da lavoura, condenada pela

proliferação de pragas nos frutos abandonados no pé. A imprensa iguaçuana expressava essas

reivindicações e parlamentares, como Getúlio de Moura, representavam esses interesses junto

aos poderes públicos. Promessas iam sendo renovadas, embora medidas eficazes não tenham

sido adotadas (PEREIRA, 1977, p. 149).

Os loteamentos urbanos consistiram na solução para a crise financeira dos

proprietários rurais (SIMÕES, 2004). Enquanto, entre 1926 e 1940, surgiram três loteamentos

no distrito-sede, entre 1941 e 1945, houve 18 loteamentos e 31 desmembramentos. Ademais,

ocorreu a multiplicação do número de construções durante a Segunda Guerra: entre 1936 e

1940 foram requeridas 20 licenças, enquanto entre 1941 e 1945 foram concedidas 463

licenças para construções (SOARES, 1962, p. 64). A estrutura de ocupação fundiária no

período da citricultura também facilitou a venda dos lotes, pois já havia uma rede de estradas

e de serviços que antes atendiam ao escoamento da produção (SOUZA,S. 2004, p. 145).

Outros fatores, como a modernização e ampliação das vias de ligação da cidade do Rio

de Janeiro com outras regiões, que atravessavam o município, estimularam a sua urbanização.

A eletrificação da Estrada de Ferro Central do Brasil, em 1935, a inauguração da Avenida

Brasil, em 1946, e a abertura ao tráfego da rodovia Presidente Dutra, em 1951, favoreceram o

acesso e a valorização de seus terrenos, por sua proximidade ao Distrito Federal (Ibidem,

p.139). Os fazendeiros e comerciantes foram os que mais se beneficiaram com os

loteamentos, enquanto os trabalhadores rurais enfrentavam a dispensa de seus postos e, por

vezes, de suas residências. Para os que conseguiram adquirir lotes e permanecer na região,

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restaram as atividades do setor urbano: “Os loteamentos em Nova Iguaçu ensejaram a

descontinuidade de uma relação em que a terra passou a ser pensada sem as mediações do

trabalho agrícola e segundo os critérios de uma produção de lotes, organizada com princípios

distintos” (SOUZA,S. 2004, p. 145). Assim, Nova Iguaçu vivenciou, a partir da década de

1940, uma reestruturação econômica. Contudo, no distrito-sede foi reforçada sua função

urbana, devido à “condição prévia de cidade” que Nova Iguaçu apresentava,

[...] dotada de todos os serviços necessários à vida de uma população urbana, isto é,

de um comércio numeroso e diversificado, de estabelecimentos de ensino e diversão,

de estabelecimentos religiosos, de assistência médica, enfim de todo o arcabouço

urbano que ela possuía (SOARES, 1962, p.36).

Como foi apresentado, as funções sociais atribuídas aos processos de escolarização e a

importância exercida pelas instituições escolares na organização da cultura, na ambientação

de práticas e valores para a vida social, integraram este processo de construção da Nova

Iguaçu. Contudo, ao intitular este capítulo de “Atenas Fluminense”, tomando de empréstimo o

termo cunhado pelo “professor-prefeito” Sebastião de Arruda Negreiros, em seu segundo

mandato no executivo, longe de compartilhar ou querer projetar a ideia de que o município de

Nova Iguaçu apresentava uma expressiva rede de escolas e um universo cultural que pudesse

compará-la às representações sobre a antiga pólis grega, busca-se destacar, em verdade, as

diversas operações engendradas entre cidade e instrução, naquele município, no período

delimitado nesta pesquisa.

Para compreender a construção da “Nova Iguaçu” é preciso considerar a função social

que a escolarização representou nos projetos de poder em disputa naquela sociedade. Em

Nova Iguaçu, este processo se apresentou pela especificidade das relações urbanas serem

permeadas, no distrito-sede do munícipio, pelos impactos do ruralismo “fluminense”, pelos

empenhos promovidos em tornar a citricultura o eixo da atividade econômica de parcelas da

população local, tanto dos trabalhadores quanto dos proprietários de terra, lavradores e

comerciantes que para lá afluíram ou lá já estavam quando se firmaram as primeiras políticas

de favorecimento da atividade.

Modernização da produção, urbanização do distrito sede, instrução, eram imperativos

para alavancar a “lavoura”. As bandeiras do Jornal Correio da Lavoura e de seus intelectuais,

as convergências – em diferentes contextos e por vezes entre interesses apenas

conjunturalmente próximos – das ações de agências e políticas de governo municipal,

estadual, federal, dão mostras das confluências entre rural, urbano e instrução. É preciso

considerar estes temas nos significados que lhe foram atribuídos, nas comparações,

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aproximações e contrastes, por vezes deliberados, outras, de forma contraditória, que foram

produzidos na gestação de Nova Iguaçu.

Natalia Crivello reflete sobre a mudança do nome de Maxambomba, em 1916, para

Nova Iguaçu, como uma construção simbólica que sugere a noção de “local herdado”, no qual

a genealogia estabelecida “é utilizada localmente como um instrumento de compreensão

social. Dessa forma configura-se localmente a expressão mais direta da herança do passado

(CRIVELLO, 2011, p. 40). Sonali Souza (2004) constata a construção social de um “mito” da

idade de ouro nas representações locais sobre a história de Nova Iguaçu, que contrasta com

um passado bucólico, de um lado, identificado com o período dos laranjais (cujo apogeu

ocorreu entre anos 1920 e 1940), e, de outro, com um estado posterior de violência, de

conflitos acerca da propriedade fundiária e de crescimento urbano desordenado. Observa

referências à citricultura em alguns elementos estruturantes da memória local, como o hino, o

brasão, e sua presença marcante na produção cultural. Este mito, produzido por antigas

famílias, produtores e grupos dominantes locais daquele período, serve para pensar as

mudanças sociais que estão subjacentes a estas representações, posto que “a presença da

oposição entre a cidade dos laranjais e a cidade dos loteamentos é um elemento de um

processo histórico” (SOUZA,S., 2004, p. 141).

A oposição entre a cidade dos laranjais e a cidade dos loteamentos, a partir dos

conflitos pela terra que invadiram o cenário na Baixada, sobretudo a partir da década de 1950,

sinaliza um marco de transformações na história da cidade e da identidade contemporânea da

Baixada Fluminense metropolitana, “quer seja pela diminuição da importância econômica que

as atividades agrárias tinham até então (entre as quais a produção de laranjas se destacava),

quer seja pelo crescimento populacional favorecido pelos loteamentos” (Ibidem, p. 140) .

Como lembra Manoel Simões:

[...] o espaço natural, o processo histórico de ocupação da cidade, em conjunto com

os processos espaciais inerentes à estrutura capitalista deram origem e modificam

constantemente a forma urbana e a estrutura espacial de Nova Iguaçu. A cidade de

desenvolveu de forma compartimentada e com usos bem distintos (2004, p.154).

Nossa pesquisa demonstra que a instrução escolar, ou a educação em sentido amplo,

permeou os recursos cultivados, em discursos e práticas, entre tentativas, fracassos e sucessos,

para subsidiar o almejado progresso, que se espelhava e resultava da atividade econômica,

mas, também, na vida social, nos modos de morar, viver, trabalhar. Escolarizar o trabalho

rural, capitalizar o agrário, cultivar a adesão e colher a fixação do trabalhador mobilizavam

significados, projetos e disputas em torno da instrução e, também, na configuração do espaço,

nas definições do uso do território.

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Conclusão

Esta pesquisa demonstrou alguns modos pelos quais o tema da instrução escolar

permeou as estratégias e as disputas na construção de Nova Iguaçu e, dialeticamente, como as

especificidades desta localidade impregnaram as funções sociais atribuídas à educação e às

experiências de escolarização no município.

Nas operações de construção do objeto, foi preciso restituir os contextos múltiplos de

organização social dos usos do território que definiram paisagens e funções distintas entre as

localidades do município. Enquanto as regiões limítrofes ao Distrito Federal conheciam,

desde os anos de 1910, processos de loteamentos urbanos, em que antigas propriedades

fundiárias eram parceladas e geravam lucro pela venda de terrenos para habitação popular, o

distrito-sede e outras localidades do município eram instrumentalizados para as atividades

agrícolas, principalmente para o cultivo, beneficiamento e comercialização de laranjas.

Enquanto o campo do conhecimento em história da educação oferece maior produção

de trabalhos que evidenciam as imbricações da gestação da escola moderna com o cenário das

cidades, a delimitação da investigação sobre os processos de escolarização no distrito-sede

consentiu interrogar sobre as relações entre escolarização, rural e urbano, e viabilizou

entender de que modos e por quais razões um território que se ordenava para as atividades

agrícolas se ateve em debates e iniciativas em prol da instrução.

Na continuidade da perspectiva adotada de desnaturalizar o uso do “município”, não

como algo dado, mas sim como um enquadramento, uma escala constituída pelo pesquisador

conforme os interesses da pesquisa, as noções de rural e urbano foram desnaturalizadas e

trabalhadas a partir da historicidade com que foram manejadas naquele contexto histórico.

Esta escolha informou sobre as aproximações, contradições, confluências e apropriações dos

significados que foram impressos a estas noções, o que revelou intervenções e embates

relevantes movidos sobre os usos do território e de sua gente, entre projetos locais de poder de

condução da sociedade.

O exame do Correio da Lavoura, fundado no distrito-sede em 1917 sob as bandeiras

de defesa da lavoura, higiene e instrução, colocou em relevo a mobilização de setores da

sociedade local para a defesa de um projeto ruralista, em que a “vocação agrícola” da região

era defendida como condição para soerguimento econômico do munícipio e do estado do Rio

de Janeiro. A construção de um diagnóstico de “crise” na lavoura foi ancorada na crítica aos

modos “arcaicos” de cultivo, que, nas nuanças assumidas no ruralismo das oligarquias

bagageiras, dentre as quais se inseria o estado do Rio de Janeiro, condenava tanto os métodos

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de cultivo, a ausência de técnicas, maquinário e pesquisa, quanto as opções pelo latifúndio e

pela monocultura. O trabalhador rural, assolado por doenças e falta de instrução, também

figurava nesse panorama que causava o atraso da agricultura. Nesse enredo de “crise”,

portanto, rural e agricultura eram tratados como sinônimos, sendo a atividade agrícola a

“vocação” da paisagem rural, o uso “natural” do território. Por constituírem a “vocação” do

país, os assuntos da lavoura deveriam interessar não só aos produtores e comerciantes, mas

careceriam ser defendidos como assunto de interesse nacional, do qual dependeria o progresso

da nação.

No entanto, os diagnósticos que significavam o rural como arcaico e atrasado, também

acenavam com as soluções cabíveis para reverter o problema. A modernização do rural, pela

da racionalização da produção baseada em conhecimentos científicos, em novas técnicas e

adoção de maquinário, recursos esses surgidos com a agricultura científica, resultaria em

benefícios para a recuperação da atividade. O trabalhador era alvo desse reordenamento social

requerido para o campo, porque, pela higiene e instrução, julgava-se que poderia se tornar

mais produtivo ao trabalhar de acordo com as novas expectativas de racionalização do

trabalho.

O tratamento adequado dos territórios a serem cultivados, a liberação de novas áreas

pelos resultados do saneamento, a formação desse trabalhador pela instrução agrícola e em

escolas que valorizassem a importância do campo como vocação do país, assegurariam o

progresso da atividade. O movimento ruralista pretendia escolarizar o campo, introduzir

reordenações nas políticas adotadas, nos modos de produção e de trabalho, sob a matriz de

conhecimentos científicos, para reeducar e reorientar a atividade, tornando-a mais produtiva,

competitiva e moderna. A ordenação social do campo dependia, principalmente, da captação

de braços para a lavoura, o que se buscava alcançar por uma educação que disseminasse o

consenso sobre a fixação do trabalhador na lavoura e o habilitasse para o trabalho conforme as

novas orientações científicas. Um projeto de hegemonia, de manutenção dos grupos e

interesses agrários estava em curso na construção da Nova Iguaçu.

Tanto a instrução elementar quanto a instrução agrícola, de trabalhadores, mestres e

agrônomos, deveriam conformar a população para o “salutar manejo da enxada e do arado”.

Nestas construções em prol da instrução agrícola e de que a escola elementar encampasse o

movimento ruralista, foram acionadas oposições entre campos e cidades, rural e urbano. O

campo e a agricultura foram adjetivados com os valores da ordem, da pureza, da natureza, do

trabalho, alimentação e moradia garantidos, enquanto o urbano e a cidade foram

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transformados, nos debates em curso, em cenários da desordem, da criminalidade, da falta de

emprego e habitação, dos perigos e vícios da vida moderna.

Além da identificação entre as bandeiras do Correio da Lavoura e o movimento

ruralista da Primeira República, através deste Jornal acompanha-se, também, a introdução da

citricultura em Iguaçu como uma experiência pelo soerguimento da economia no estado, pela

diversificação produtiva, pela adoção do elemento nacional no trabalho, e por novos modos de

uso do latifúndio, com o estabelecimento de chácaras e arrendamentos. Os interesses

organizados dos produtores e comerciantes locais do produto, e as interações com as agências

de governo do estado e da União, sobretudo com o Ministério da Agricultura e, na sociedade

civil, com a Sociedade Nacional de Agricultura, revelam o processo de construção da Nova

Iguaçu, sobretudo do distrito-sede, em função da citricultura.

Mas cabe distinguir que esse processo é historicamente construído, gestado pelo

empenho daqueles setores em defender a citricultura – que engendrava a organização do

distrito-sede – como atividade essencial de todo o município. Na escala maior do município,

outros usos da região estavam em curso, de forma que a citricultura disputava territórios e a

convergência dos esforços da ação municipal para seus interesses. A citricultura não era,

apenas, uma atividade que se realizava no território de Nova Iguaçu, mas trata-se de uma

atividade que realizava a construção da Nova Iguaçu, após a transferência da sede para

Maxambomba, e se afirmava, nessa construção, concomitantemente, e em disputa com outros

movimentos no município.

As intervenções no território e nos sujeitos, pelas políticas de saneamento e profilaxia

rural, pensadas conjuntamente ao longo da Primeira República, vivenciadas em Iguaçu, foram

configurando novas paisagens para a localidade, procurando, também, disseminar na

população novos códigos de cuidados com o corpo – de ordem médica e moral – que

buscavam valorizar o trabalho, a disciplina, a obediência. Tratava-se, portanto, de um amplo

projeto educativo, que integrou os debates e práticas sobre a instrução escolar, avolumando as

defesas sobre a necessidade de instrução da população como solução para os problemas do

“atraso” do país além de escolarizar os modos de produção e trabalho, pela adoção da

moderna agronomia enquanto campo de conhecimento científico.

Os debates sobre instrução agrícola e o amplo projeto de intervenção social sobre o

campo que eram mobilizados pelo movimento do ruralismo, como foi apresentado nesta

pesquisa, apontam que as pesquisas sobre o tema da educação do campo, ou educação rural,

devem considerar a extensão da plataforma de ação organizada a partir da Sociedade Nacional

de Agricultura e do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, durante a Primeira

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República. O “ruralismo pedagógico” inscrito nas políticas de educação do pós-1930

apropriou –se de muitas questões e ações sobre a ruralização do ensino e da instrução agrícola

gestadas nas décadas anteriores.

Mas, em Iguaçu, não gravitaram no tema da instrução apenas os discursos, ações e

interesses do movimento ruralista e dos lavradores e comerciantes de laranjas. O empenho em

recuperar o processo de instituição de uma rede de escolas, que estava entre as maiores do

estado desde final da década de 1920, trouxe para a análise a atuação das agências do governo

estadual na institucionalização e fiscalização das escolas de educação primária no município.

Foi explicitado como o movimento pela escolarização impôs demandas de organização às

agências de governo, tanto para a produção de normas a serem seguidas pelas escolas, quanto

da mobilização das próprias agências para constituir mecanismos que assegurassem a

fiscalização do ensino, estendendo o aparato burocrático de governo do estado e suas esferas

de atuação, constituindo o próprio Estado.

Os serviços de inspeção e atos normativos do ensino, os regimentos, a constituição do

professorado, etc. foram sendo gestados concomitantemente ao processo de

institucionalização de uma rede de escolas. Sucessivas reformas do ensino primário e ação

dos inspetores iam constituindo e mediando o processo de disseminação da escola primária.

Os resultados colhidos no serviço de inspeção, dialeticamente, resultantes da ação estadual em

estabelecer mecanismos de controle dos modos de expansão da escola, também atestavam os

impasses, as contradições do processo, os problemas surgidos, as burlas e ocorrências não

previstas, incitando a elaboração de novas estratégias por parte das agências estatais.

A construção de um aparato normativo para pautar a expansão da escola primária no

estado do Rio de Janeiro considerou as características regionais, tais como a população e a

paisagem rural ou urbana, como critérios para definir os tipos de escolas a serem implantadas,

os graus de ensino ofertados, a localização das escolas. As informações sobre matrícula e

frequência coletadas pelo serviço de inspeção das escolas, também, eram condições para o

fechamento ou manutenção de uma escola, ou criação de mais turnos ou escolas num lugar.

O perfil de escolas existentes, recuperado pelo trabalho sistemático realizado com os

mapas de frequência de escolas do município e no cruzamento com outras fontes, revelou a

expressiva presença de escolas públicas estaduais e municipais de ensino primário em Nova

Iguaçu – distrito-sede e município – nas décadas de 1930 e 1940. No município, a presença de

escolas foi maior no distrito-sede em todo período coberto pela pesquisa, e, ao que parece, já

era este o cenário desde fins do século XIX. A localização das escolas no distrito-sede,

conforme registrado por endereços e atribuições presentes nas fontes, mas também pelo

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trabalho de localização realizado na pesquisa, revelou a maior presença de escolas de

localização urbana, nas principais ruas e no entorno do distrito-sede.

Quanto ao formato das escolas, da seriação de ensino ofertada, da organização de

turnos, dos professores e alunos por elas distribuídos, sustentamos a existência de múltiplas

experiências de escolas primárias no município, sendo, contudo, predominante a escola

isolada com até as três primeiras séries do ensino. “Escola isolada”, no entanto, abarca uma

diversidade de situações na composição de turnos, séries, classes, do quadro de docentes e de

alunos; e, se revela a introdução da seriação do ensino e das classes na organização do ensino,

distingue também diversas composições possíveis entre essas vertentes, revelando um modelo

híbrido de escolarização, em que coexistiram matrizes antigas e novas formas de organização

do ensino.

O constante crescimento populacional verificado entre 1920 e 1940 pode ser

explicativo do crescente ingresso de alunos na 1ª série, observado nos mapas de frequência.

Outras pesquisas poderão descortinar, ainda, a progressão irrisória de alunos para as demais

séries, comparativamente ao número de ingressos na 1ª série. As pesquisas sobre a história da

profissão docente em Nova Iguaçu também aguardam maiores investimentos. Como a rede de

escolas públicas demonstra a relevância das escolas estaduais, é preciso investigar os vínculos

das professoras com o município. Há muitas anotações de transferências nos mapas de

frequência, sobretudo para Niterói, a capital do estado, que podem sinalizar sobre escolhas e

estratégias na construção da carreira.

No perfil de escolas existentes na região, o Grupo Escolar Rangel Pestana se

apresentou como a escola primária mais “completa”, também localizada no distrito-sede. A

campanha promovida pelo Correio da Lavoura, pela instalação de um grupo escolar na

cidade, evidenciou como este tipo de escola era concebido como um “melhoramento urbano”,

que elevava o estatuto do “progresso” que a cidade deveria espelhar. Nessas operações, a

instrução escolar era tratada como constituinte, como elemento distintivo do nível de

urbanização e do caráter urbano que deveria configurar a paisagem da cidade.

Nos debates e campanhas promovidos pelo Correio da Lavoura visando a

remodelação da paisagem urbana do distrito-sede, e, também, nas descrições de obras e

modificações presentes dos relatórios de prefeitos, as alterações na infraestrutura da cidade,

pela remodelação e calçamento de ruas, os projetos de implantação do serviço de água e

esgotos, as novas construções, a abertura e conservação de estradas, o embelezamento de

praças, ruas e avenidas eram valorizados como reflexos, mas também como projetores do

almejado progresso local, que deveria estar materialmente inscrito na configuração da cidade.

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Assim, o desenvolvimento do comércio local, de serviços de lazer, e da oferta de escolas eram

propagandeados como indícios do progresso da localidade.

Interessante notar, nas páginas de um jornal ruralista, os significados valorativos

impressos à cidade, ao distrito-sede, quando se tratava de disputar e fiscalizar a ação dos

poderes municipal, estadual e federal na promoção de melhorias para a região, fossem

estradas, escolas, hospitais, postos de profilaxia rural, reformas de ruas, de praças, etc. No

Correio da Lavoura, os “melhoramentos urbanos” foram noticiados e exigidos como

refletores dos benefícios que a atividade de citricultura promovia para o município, devendo,

portanto, o distrito-sede espelhar, por seu status de cidade urbanizada, os frutos desse

desenvolvimento. Nessas operações, a vida social citadina era incentivada por vários

elementos como os bailes, saraus, a imprensa, os grêmios literários, as associações e festas

religiosas, as competições esportivas, os festejos, as solenidades públicas.

Ao acompanhar os avanços, impasses e recuos na adoção de “melhoramentos urbanos”

na paisagem do distrito-sede, o Jornal local também transmitia as reclamações, a continuidade

de problemas surgidos da falta de infraestrutura local, como as doenças, os problemas de

abastecimento de água, de ruas sem calçamento, da precariedade dos transportes, da situação

das escolas. Os mapas de frequência também deixaram pistas do cotidiano das escolas, pelos

motivos alegados pela baixa frequência dos alunos, muitas vezes motivadas por doenças, ou

falta de professoras por falhas de transportes e, ainda, das condições precárias de higiene e de

funcionamento dos prédios.

A propaganda para dotar o município de melhoramentos urbanos e fazer convencer

sobre a importância da citricultura para o município não pode ser reproduzida, pela

historiografia, como a construção de um período áureo na cidade. Esses eram os argumentos

para angariar, cada vez mais, o apoio, inclusive da prefeitura, à atividade de citricultura.

Nota-se um empenho, em setores dos grupos locais, em requerer o apoio do estado

para a atividade da citricultura, desde políticas que favorecessem a exportação e desonerassem

o produto de taxações e impostos, quanto de auxílio financeiro – por créditos, etc. Também

havia demandas pelo apoio técnico de órgãos de fomento, na adoção de maquinário para o

beneficiamento, e por obras de saneamento e conservação das vias de escoamento do produto.

Além dos intelectuais atuantes no Correio da Lavoura, as associações como o Sindicato

Agrícola de Iguaçu, fundado em 1923, e ação de dirigentes desses grupos, como Sebastião

Herculano de Mattos, foram essenciais na defesa dos interesses da atividade, sempre

procurando projetá-la como de interesse de todo o município e atrair a cooperação da

administração municipal.

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Contudo, mesmo que a escala adotada, de investigar os processos de escolarização

pela posição de análise do distrito-sede, tenha enfatizado o papel da citricultura em detrimento

do que ocorria em outras paragens do município, mobilizadas pelos loteamentos, não significa

que não houvesse divergências e conflitos políticos entre os grupos vinculados à citricultura

no distrito-sede. Além das disputas que rivalizaram dirigentes políticos por ocasião da

introdução do regime de prefeituras pelo governo estadual, os embates decorrentes do

processo de mudanças de governo instaurado com a Revolução de 1930 também fomentaram

estas divergências entre os grupos políticos locais, e, novamente, com a intervenção do

governo estadual, sob o regime de interventoria.

Indicado por influência de Manoel Duarte à prefeitura, Sebastião de Arruda Negreiros

precisou enfrentar e desmobilizar a resistência, no município, dos setores que preferiam

Getúlio de Moura. Ao realizar uma administração de amplas intervenções no espaço do

município, o prefeito apoiou os defensores da lavoura. Esta aliança pela promoção da

citricultura como atividade que distinguia a Nova Iguaçu ganhou maior visibilidade em 1931,

quando o chefe do Governo Provisório, Getúlio Vargas, visitou a cidade por ocasião do

aniversário de 40 anos da transformação do arraial de Maxambomba em sede do município.

Toda a programação do evento vinculou o progresso da localidade, que, materializado em

novas estradas, no hospital a ser construído, na inauguração da packing-house, acenava para a

responsabilização da citricultura como motor do progresso local.

Em contrapartida, a visita de Vargas também representava, mesmo após a crise da

República Oligárquica, que caberia ainda à agricultura uma função importante, embora

diferente do período anterior, no equilíbrio da economia nacional e na acumulação de divisas

para os investimentos na industrialização do país. Nas correlações de força que seriam

redefinidas a partir de 1930, Nova Iguaçu buscava assegurar um lugar relevante para a

agricultura no cenário estadual e nacional.

Nesse sentido é que também se compreende o conjunto de ações que permeou os

festejos pelo centenário da fundação da vila de Iguaçu, em 1933. Nas operações ali

mobilizadas, a citricultura foi projetada como alicerce de um futuro promissor para o

município, renascido, depois de um período de decadência, em sua “vocação agrícola”. As

comemorações que ocorreram no distrito-sede e a produção de uma memória e uma história

da Vila de Iguaçu, desde fotografias até livros encomendados, projetaram a citricultura como

fator de progresso no município. Tanto o rural quanto o urbano, nas comemorações do

centenário, convergiam como paisagens revestidas do caráter do progresso, a partir de uma

ordem racionalizadora que se tentou impingir tanto às paisagens rurais quanto urbanas, pelas

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reformas em infraestrutura, pelo saneamento, por novas técnicas de cultivo e beneficiamento,

e por dotar o distrito-sede de ícones da urbanização, como o hospital, o grupo escolar, novas

estradas, iluminação elétrica etc., entre outros equipamentos urbanos. As escolas do

município, fotografadas sob encomenda da prefeitura, participavam desta aferição simbólica

do progresso atingido pelo município.

No estado do Rio de Janeiro e no horizonte da política econômica adotada no pós-

1930, a agricultura foi mantida como condição para o soerguimento econômico do estado.

Neste sentido, interessa ressaltar como os debates sobre ruralismo e instrução foram inscritos

na política educacional do estado. Rubens Falcão, que exerceu o cargo de direção do

Departamento de Educação entre 1942 e 1945, mas que da agência já participava como chefe

de gabinete desde 1938, destacou como o tema da educação das populações rurais teve

destaque nas políticas adotadas. No panorama das políticas nacionais de educação, a educação

rural também foi considerada nos projetos de integração da nação. No estado do Rio de

Janeiro as escolas típicas rurais e as missões culturais integraram as políticas de ordenação

social do campo pela escolarização e de fomento da atividade agropastoril na economia do

estado.

O exame das escolas típicas rurais criadas em Iguaçu, implicou em conhecer os

objetivos dessas instituições na forma como foram concebidas na política educacional do

estado do Rio de Janeiro no pós-1930. Mantinham-se no horizonte do projeto das escolas

típicas rurais os princípios de, através da escolarização, introduzir novas práticas de trabalho e

de concepções de mundo junto às populações rurais que colaborassem para a reordenação do

mundo rural. Mas a investigação evidenciou, também, as tensões que marcaram as tentativas

de escolarizar o trabalhador e o trabalho agrícola, a permanência de falta de estrutura nas

escolas e a frequência dificultada tanto pelas doenças que assolavam a região quanto pela

condição dos alunos trabalharem com os pais. As dificuldades de implantar a instrução

agrícola nas escolas típicas em Iguaçu, devido à resistência dos alunos em frequentarem

aquelas aulas, sinalizam para as contradições inerentes ao processo de capitalização do

campo, a permanência e a necessidade de manutenção de formas de socialização da infância

pelo trabalho.

No cenário urbano do distrito-sede, as funções sociais da escola enquanto

organizadora da cultura encontravam um ambiente favorável de expansão, tanto junto aos

alunos quanto na encenação, para a população, de novos códigos de comportamento e visões

de mundo. A participação das escolas na vida pública da cidade, ocupando e constituindo este

espaço nas solenidades, festas cívicas e paradas escolares alinhava a escola às expectativas de

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construção da nacionalidade e configuração de um exercício de cidadania que pretendia

incutir uma submissão devotada aos interesses nacionais, à pátria revestida de caráter sagrado

e materializada no culto ao chefe do poder federal. Dialeticamente, ainda que de maneira

ensaiada e condicionada, a infância e juventude, por meio da escolarização, eram chamadas a

participar de experiências de formação política.

Os registros de eventos realizados em escolas, pelas escolas, ou com a participação das

escolas, existiam em Iguaçu desde os anos de 1910. Ao transformar em solenidades e

teatralizar atos da vida escolar, como os exames finais e a exposição de trabalhos, ao

promover as festas do dia da árvore e da bandeira, a escola operava uma valorização, plantava

um lugar de relevância de suas atividades no ambiente em que estavam localizadas,

inscrevendo a escolarização na vida do lugar. Ao conferir prêmios e aplausos aos alunos e

professores, promovia-se a valorização da cultura letrada, da progressão dos estudos e de

aspectos da vida cívica.

O que foi possível diferenciar, no pós-1930, é que os motivos nacionais, inscritos e

aumentados no calendário, sobretudo no Estado Novo, foram transbordando para a vida

pública, tornando-se sempre mais frequentes e compondo as festas cívicas em festas

escolares. Os estudantes e seus professores tornavam-se, em suas encenações de cantos, hinos,

discursos e marchas, o depósito do futuro que se almejava construir, o avesso do Jeca-tatu

(previamente forjado) que se tentava conformar, pela saúde e instrução, aos projetos

autoritários de hegemonia em curso. Para estes eventos concorriam tanto as circulares

baixadas pelas agências de governo, que buscavam incutir no cotidiano das escolas estas

festividades, quanto os convites dirigidos às escolas oriundos dos dirigentes locais, para

participação em eventos promovidos na cidade. Interesses locais e nacionais forjavam essas

experiências em que a escola disseminava e espelhava modelos de cidadania que se buscava

incutir na população.

Na “variação de escalas” adotada como recurso metodológico nesta pesquisa,

diferentes contextos se apresentaram na construção da Nova Iguaçu, e foi necessário trabalhar

com a interação da escala local com o governo estadual e federal, em diferentes momentos,

para situar os movimentos, as alianças e os impasses que iam configurando os rumos

impressos aos usos do território no distrito-sede, assim como das competências em matéria de

organização da rede de escolas.

As funções do processo de escolarização impregnavam os formatos e os conteúdos que

se buscava introduzir nas escolas, os argumentos que sustentavam a criação, manutenção e

expansão das mesmas como “vacina”, como solução para problemas econômicos, de

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superação do atraso e de formação e conformação da classe trabalhadora aos projetos de

sociedade em curso.

Ao se examinar a educação em sentido amplo e seus vínculos com os projetos de

hegemonia sobre a sociedade, notamos que as escolas figuravam ao lado dos temas do

saneamento, da higiene, da citricultura e dos equipamentos urbanos como aspectos da

racionalização do espaço e de seus usos e do emprego das pessoas, da construção, enfim, da

Nova Iguaçu. Nesse sentido, cabe pensar a expansão da escola primária, as tentativas de

escolarização do mundo do trabalho pela instrução agrícola, a reconfiguração da paisagem

urbana sob maior controle, a ampliação progressiva da gerência do poder público sobre o

espaço (tanto em aspectos da estética da cidade ou dos usos do espaço público, como o código

de posturas, as solenidades promovidas e os modos de comportamento previstos), e os

motivos, que as escolas, bem ensaiadas, buscavam exemplificar para a população, como

momentos da construção da Nova Iguaçu e dos processos de escolarização daquela sociedade.

Mas é fundamental distinguir os movimentos pela construção da Nova Iguaçu para

aproximá-la e fazer convencer de padrões de progresso conquistados pela citricultura, da

permanência da precariedade e dos problemas na região. Mesmo estando entre os municípios

com o maior número de escolas no estado, a expansão da rede escolar ocorreu no formato de

escolas isoladas. Ademais, esta progressão deve ter sido insuficiente, posto que houve

crescimento vertiginoso, no período, da população em Iguaçu.

Ao investigar os processos de escolarização no município foi possível notar que as

relações importantes entre educação e hegemonia se constroem em processos encarnados em

sujeitos, em projetos e em espaços, e que os projetos em disputa sobre os usos destes espaços

incidem sobre os projetos de escolarização. Os vértices do rural e do urbano, da agricultura e

da urbanização, se fizeram presentes nos rumos que se procurou imprimir à instrução no local,

incidiram sobre os modos como se articularam os projetos de poder, de disseminação de

visões de mundo, da construção do consenso ativo dos dominados, na construção de uma

plataforma de dominação que estava ancorada em interesses de ordem econômica, política e

social. As contradições entre o novo e o arcaico ressaltam neste processo histórico, posto que

a construção da Nova Iguaçu, conduzida, no distrito-sede, pelos setores ligados à produção e

ao comércio das laranjas, guardava relações com a manutenção de arcaicas relações de poder,

na recomposição de relações de forças para a manutenção dos interesses de setores agrários

em face dos novos contextos republicanos e da consolidação do capitalismo no país.

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Referências a) Acervos Documentais

Sistema de Informações do Congresso Nacional (SICON).

Disponível em: http://www6.senado.gov.br/sicon/PreparaPesquisa.action;

Mensagens dos Presidentes de Província do Estado do Rio de Janeiro (1919-1930).

Disponível em: http://www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial/rio_de_janeiro.

Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ).

Biblioteca da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.

Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.

Biblioteca Estadual, Niterói.

Centro de Memória Fluminense (UFF).

Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu (IHGNI).

Instituto de Pesquisas Históricas e Análises Sociais da Baixada Fluminense (IPAHB).

Acervo Privado Professor Paulo de Tarso, Nova Iguaçu.

Acervo Privado da Secretaria do Colégio Leopoldo, Nova Iguaçu.

Acervo Privado Marcus Monteiro, Nilópolis.

b) Fontes citadas do jornal Correio da Lavoura:

1º CENTENÁRIO DO MUNICIPIO DE IGUASSU. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano XVI, n.

823. 22 dez. 1932.

1ª FEIRA DE AMOSTRAS DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano XVI, n.799, 07

jul 1932.

2ª ESCOLA MISTA. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano XIX, n.976, 05 dez 1935.

7 DE SETEMBRO. COMO A GRANDE DATA FOI COMMEMORADA NESTA CIDADE. Correio

da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano III, n.130, 11 set 1919.

13 ANNOS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIV, n.679, 22 mar 1930.

A ACÇÃO DO PREFEITO DE NOVA IGUASSÚ, Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano IV, n.

157, 22 mar. 1920.

A BOA SEMENTE. Dr. Dias Martins, Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano I, n. 1, 22 mar 1917.

A CANDIDATURA DE GETÚLIO DE MOURA DESPERTA GRANDE ENTUSIASMO. Correio

da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIV, n. 709, 16 out. 1930.

A CONDUTA DA CAMARA MUNICIPAL. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano III, n.142, 11

dez. 1919.

A CRIAÇÃO DA PREFEITURA DE NOVA IGUASSÚ. A INSTALLAÇÃO DA REDE DE

ESGOTOS DESTA CIDADE. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano III, n.142, p.1, 04 dez. 1919.

A CRIAÇÃO DA PREFEITURA DE NOVA IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano III,

n.143, 11 dez 1919.

A FESTA DA ARVORE. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.499, 07 out 1926.

A FESTA DA BANDEIRA, Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VII, n.349, 22 nov 1923.

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A FESTA DA BANDEIRA NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE ANCHIETA. Correio da Lavoura,

Nova Iguaçu, Ano I, n.37, 29 nov 1917.

A IDEIA DE PATRIA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano I, n.25, 06 set 1917.

A INSTRUCÇÃO AGRICOLA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XII, n.600, 13 set 1928.

A LAPIS – O ANNIVERSARIO DO CORREIO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.471,

22 mar 1926.

A NOSSA CIDADE E O SEU ESTADO DE DECADÊNCIA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu,

Ano VII, n.358, 1º jan 1924.

A NOSSA INSTRUÇÃO PÚBLICA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VII, n.363. 28 fev

1924.

A NOSSA CIDADE. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XI, n.466, 18 fev 1926.

A NECESSIDADE DE UM HOSPITAL EM NOVA IGUASSÚ. UM APPELLO AO POVO. Correio

da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VI, n.292, 19 out 1922.

A PEDIDOS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano III, n.121, 10 jul 1919.

A POSSE DA NOVA CAMARA MUNICIPAL DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Ano VI, n.310,

22 mar 1933.

A POSSE DO NOVO PREFEITO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VIII, n. 379, 19 jun.

1924.

A VISITA DO DR. GETÚLIO VARGAS A NOVA IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu,

Ano XV, n.745, 25 jun. 1931.

ANCHIETA. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano I, n.39, 13 dez 1917.

ANCHIETA. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano I, n.40, 20 dez 1917.

APRENDIZADO AGRÍCOLA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano I, n.44,17 jan 1918.

APRENDIZADO AGRÍCOLA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano I, n.50,28 fev 1918.

A REVOLUÇÃO TRIUNFANTE. A CHEGADA DOS LIBERTADORES. A PASSAGEM DO DR.

GETULIO VARGAS POR ESTA CIDADE E POR NILÓPOLIS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu,

Ano XIV, n. 712, 06 nov. 1930.

AO ELEITORADO DO MUNICIPIO DE IGUASSU. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIII,

n.653, 19 set 1929.

AO SR. INTERVENTOR DO ESTADO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VII, n.324, 31 mai

1923.

AS COMPETIÇÕES MUNDIAIS EM TORNO DA AGRICULTURA, Correio da Lavoura, Nova

Iguaçu, Ano XV, n.736, 23 abr 1931.

AS NOSSAS MAIORES NECESSIDADES, Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VII, n.319, 26

abr 1923.

AS NOSSAS PRAÇAS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XVI, n.826, p.2, 15 jan. 1933.

AMANHÃ, DIA DA LARANJA, SERÁ FERIADO MUNICIPAL. Correio da Lavoura, Nova

Iguaçu, Ano XXXI, n.1.592, 21 set 1947.

AGUARDA-SE HOJE, À TARDE, A HONROSA VISITA A ESTA CIDADE, DO GOVERNADOR

EDMUNDO MACEDO DE SOARES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XXXI, n.1.592, 21

set 1947.

CAP. ALFREDO JARDIM. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIV, n.709, 16 out. 1930.

CAP. ALFREDO JARDIM. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XV, n.761. 15 out 1931.

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CARNAVAL. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.521, 03 mar 1927.

CENTENARIO DO MUNICIPIO DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XVI, n.

827, 19 jan. 1933.

CENTRO DE MELHORAMENTOS DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano III,

n.129, 04 set 1919.

CENTRO DE MELHORAMENTOS DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano III,

n.135, 16 out 1919.

CHRONICA. Alfredo Jardim, Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano I, n. 51, 07 mar 1918.

CHRONICA. Alfredo Jardim. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano IV, n.170. 17 jun 1920.

CHRONICA. Alfredo Jardim. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano IV, n.182, 09 set 1920.

CHRONICA, Alfredo Jardim. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano IV, n.189 , 28 out 1920.

CLASSIFICAÇÃO DE ESCOLAS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XI, n.421, 09 abr 1925.

CLUB 3 DE OUTUBRO DE IGUASSSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XV, n.781. 10

mar 1932.

CODIGO DE POSTURAS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano I, n.28, 27 set 1917.

COELHO DA ROCHA. A INAUGURAÇÃO DA ILUMINAÇÃO PUBLICA. Correio da Lavoura,

Nova Iguaçu, Ano XVI, n.786, 07 abri 1932.

COLLEGIO PARIZ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano IV, n.196, 16 dez 1920.

COM A INSTRUÇÃO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VIII, n.366, 22 mar 1924.

COM A INSTRUÇÃO LOCAL. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VII, n.363, 28 fev 1924.

COMBATE A SAUVA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIII, n.642, 04 jul 1929.

COMITÊ DE PROPAGANDA PRÓ-LAVOURA, Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano I, n.37, 29

nov. 1917.

CONCURSO DE PROFESSORES, Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIV, n.727, 19 fev 1931.

CONSELHO AOS CITRICULTORES IGUAÇUANOS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano

XIII, Ano XX, n.1025,12 nov 1936.

CORREIO DA LAVOURA, Ano I, n.11, 31 mai 1917.

CORREIO DA LAVOURA, Ano IV, n. 169, 10 jun. 1920.

CORREIO DA LAVOURA, Ano IV, n. 1720, 1 jul. 1920.

CORREIO DA LAVOURA, Ano IV, n.17308 jul 1920.

CORREIO DA LAVOURA, Ano IV, n.176, 29 jul 1920.

CORREIO DA LAVOURA, Ano IV, n.194, 02 dez 1920.

CORREIO DA LAVOURA, Ano V, n.212, 07 abr 1921.

CORREIO DA LAVOURA, Nova Iguaçu, Ano VII, n.358, 24 jan 1924.

CRUZADA SANTA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano III, n.136, 23 out 1919.

CUIDEMOS DO NOSSO HOSPITAL. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.486, 08 jul

1926.

CUIDEMOS DO NOSSO HOSPITAL. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.487, 15 jul

1926.

DESPERTAR DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XX, n.991, 22 mar 1936.

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DIA DA LARANJA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XXXI, n.1.593, 28 set 1947.

DIA DA PÁTRIA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XXIII, n.1.173, 14 set 1939.

DOIS MELHORAMENTOS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VII, n.358, 1º jan 1924.

ECOS DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIII, n. 656, 10 out.

1929.

EM PROL DE UMA CRUZADA, Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano IV, n. 157, 22 mar.

1920.

EM TORNO DA NOMEAÇÃO DO PREFEITO DESTE MUNICIPIO. Correio da Lavoura, Nova

Iguaçu, Ano XIV, n. 718, 18 DEZ. 1930.

ENCERRAMENTO DE AULAS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XI, n.454, 26 nov 1925.

ENCERRAMENTO DAS AULAS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XII, n.615, 20 dez 1928.

ENSINO AGRICOLA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VI, n.262, 22 mar 1922.

ENSINO AGRICOLA PRATICO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XVI, n.803, 28 ago 1932.

ENSINO CIVICO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano III, n.135, 16 out 1919.

ENSINO ESSENCIALMENTE PRATICO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano III, n.129, 04 set

1919.

ENSINO PRIMÁRIO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano IV, n.194, 02 dez 1920.

ENTRAVES A PROPAGANDA AGRICOLA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VI, n.275, 22

jun 1922.

ESCOLA MUNICIPAL MAJOR SOUZA ANTUNES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIX,

n.978, 19 dez 1935.

ESCOLAS VAGAS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XI, n.453, 19 nov 1925.

ESTRADAS DE RODAGEM. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano I, n.50, 28 fev 1928.

EXAMES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano III, n.141,27 nov 1919.

EXAMES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano IV, n.196, 16 dez 1920.

EXAMES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano V, n.244. 17 nov 1921.

EXAMES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano V, n.247, 08 dez 1921.

EXAMES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano V, n.249, 22 dez 1921.

EXAMES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VI, n.300, 14 dez 1922.

EXAMES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XI, n.456, 10 dez 1925.

EXAMES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.509, 16 dez 1926.

EXAMES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.510, 23 dez 1926.

EXAMES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.511, 30 dez 1926.

EXAMES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XII, n.617, 10 jan 1929.

EXAMES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XII, n.618, 17 jan 1929.

EXAMES DE PROMOÇÃO NA 2ª ESCOLA MIXTA DE IGUASSU. Correio da Lavoura, Nova

Iguaçu, Ano XIII, n.665, 12 dez 1929.

EXAMES E EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XI, n.455, 03

dez 1925.

EXAMES ESCOLARES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VII, n.349, 22 nov 1923.

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317

EXAMES ESCOLARES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VII, n.350, 29 nov 1923.

EXAMES ESCOLARES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VII, n.352, 13 dez 1923.

EXAMES FINAIS DE PROMOÇÃO DA 33 ESCOLA MISTA DE N. IGUASSU. Correio da

Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIII, n.667, 26 dez 1929.

EXAMES FINAIS E DE PROMOÇÃO DOS ALUNOS DA 1ª ESCOLA MISTA DE NOVA

IGUAÇU, Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XVI, n.820, 01 dez 1932.

EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIX, n.978, 19 dez 1935.

EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS ESCOLARES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIV,

n.716, 04 dez 1930.

EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS ESCOLARES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XV, n.766,

19 nov 1931.

EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS ESCOLARES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XVI,

n.820, 01 dez 1932.

EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS ESCOLARES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XVI,

n.821, 08 dez 1932.

EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS DA SEGUNDA ESCOLA MISTA, Correio da Lavoura, Nova

Iguaçu, Ano XV, n.768, 03 dez 1931.

EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS NO G.E. RANGEL PESTANA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu,

Ano XIX, n.977, 12 dez 1935.

FAZ ANNOS, HOJE, O CORREIO DA LAVOURA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XVI,

n.784, 22 mar. 1932.

FESTA DA BANDEIRA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.507, 02 dez 1926.

FESTA DA PRIMAVERA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XV, n.758, 24 set 1931.

GOVERNO MUNICIPAL. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano IV, n. 168, 03 jun. 1920.

GRANDE PARADA ESCOLAR. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XV, n.762, 22 out 1931.

GRÊMIO LITERÁRIO COELHO NETO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano III, n.136, 23 out

1919.

GRUPO ESCOLAR. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XVI, n.819. 24 nov 1932.

GRUPO ESCOLAR RANGEL PESTANA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIX, n.977, 12

dez 1935.

GRUPO ESCOLAR RANGEL PESTANA. EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS ESCOLARES, Ano

XVI, n.822. 15 dez 1932.

GYMNASIO LEOPOLDO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIV, n.710, 23 out 1930.

GYMNASIO LEOPOLDO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XV, n.753, 20 ago 1931.

GYMNASIO LEOPOLDO. SEU PRIMEIRO FESTIVAL TEATRAL. Correio da Lavoura, Nova

Iguaçu, Ano XV, n.754, 27 ago 1931.

GYMNASIO LEOPOLDO. SEU PROGRAMMA FESTIVAL CIVICO E DE CARIDADE. Correio

da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XV, n.752, 13 ago 1931.

GYMNASIO LEOPOLDO. COMMEMORAÇÃO CÍVICA DE 7 DE SETEMBRO. Correio da

Lavoura, Ano XV, n.755, 03 set 1931.

HOMENAGEM AO NOSSO DIRETOR. O HERÓE DO DIA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu,

Ano IV, n.170, 17 jun 1920.

HOSPITAL DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIV, n.727, 19 fev 1931.

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318

HOSPITAL DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIX, n.94104 abr 1935.

HOSPITAL DE NOVA IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XV, n.749, 23 jul 1931.

HYGIENE E INSTRUCÇÃO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.496, 16 set 1926.

INAUGURADA AGÊNCIA DO BB. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, Ano XVI, n.829, 02

fev 1933.

INAUGURADAS NOVE ESCOLAS TÍPICAS RURAIS EM DIFERENTES MUNICÍPIOS

FLUMINENSES, NO DIA 13 DO CORRENTE. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XXIV,

n.1.209, 19 mai 1940.

INAUGURAÇÃO DA NOVA SEDE DO GYMNASIO LEOPOLDO. Correio da Lavoura, Nova

Iguaçu, Ano XIX, n.989, 05 mar 1936.

INAUGURAÇÃO DO BAR BRASIL. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XII, n.611, 28 nov

1928.

INAUGUROU-SE O SERVIÇO TELEPHONICO DESTA CIDADE, Correio da Lavoura, Nova

Iguaçu, Ano XIX, n.983, 23 jan 1936.

INSTRUCÇÃO DO MUNICÍPIO DE IGUASSÚ. Folheto da Lei n. 12. Correio da Lavoura, Nova

Iguaçu, Ano XXI, n.1.047. 15 abr 1931.

INSTRUCÇÃO PUBLICA, Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Correio da Lavoura, Nova Iguaçu,

Ano VII, n.358, 24 jan 1924.

INSTRUCÇÃO PUBLICA, Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XI, n.421,09 abr 1925.

INSTRUCÇÃO SÓ PARA OS RICOS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VIII, n. 369, 10 abr

1924.

JUSTO GALARDÃO. Especial para o anniversario do Correio da Lavoura. Correio da Lavoura,

Nova Iguaçu, Ano XIV, n.679, 22 mar 1930.

LOUVÁVEL ESFORÇO. Jota Hess. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIX, n. 940, 28 mar

1935.

LIGA BRAZILEIRA CONTRA O ANALPHABETISMO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano I,

n.21, 09 ago 1917.

MAIS UMA SOBRE A LARANJA DE NOVA IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano

XV, n.753, 20 ago 1931.

MELHORAMENTOS LOCAES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VIII, n.369, 10 abr 1924.

MELHORAMENTOS MUNICIPAES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XVI, n.794, 02 jun

1932.

MENSAGEM APRESENTADA PELO SNR. PREFEITO À CAMARA MUNICIPAL EM 10

CORRENTE. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VIII, n.405,18 dez 1924.

MENSAGEM DO EXMO SNR. PREFEITO DE IGUAÇU. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano

XII, n.575, 22 mar 1928.

MENSAGEM DO EXMO SNR. PREFEITO DE IGUAÇU. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano

XII, n.622, 14 fev 1929.

MENSAGEM DO EXMO SNR. PREFEITO DE IGUAÇU. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano

XII, n.620, 31 jan 1929.

MENSAGEM DO SR. PREFEITO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XI, n.418, 22 mar.1925.

MENSAGEM DO SR. PREFEITO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XII, n.594, 02 ago.1928.

MESQUITA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano III, n.142, 04 dez 1919.

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MESQUITA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XII, n.596, 16 ago 1928.

MESQUITA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XV, n.774, 14 jan 1932.

NOSSO OBJETIVO. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano I, n. 1, p.1, 22 mar. 1917.

NOVA IGUASSÚ PROGRIDE. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano VI, n.276, 29 jun 1922.

NOVA IGUASSÚ VAE EM PROGRESSO. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano IV, n.163, 29

abr 1920.

NOVA SALA DOS TELEGRAPHOS. A SUA INAUGURAÇÃO. Correio da Lavoura. Nova

Iguaçu, Ano I, n.37, 29 nov 1917.

NOVOS ELEMENTOS. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano I, n.29, 04 out 1917.

O 1º CENTENARIO DO MUNICÍPIO DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XVI,

n.826, p.1, 15 jan. 1933.

O ABAIXO-ASSINADO PARA MANTER O PREFEITO SEBASTIÃO DE ARRUDA

NEGREIROS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XV, n. 777, 04 fev. 1932.

O CANDIDATO DO POVO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIV, n. 709, 16 out. 1930.

O CASO DOS PREFEITOS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.486, 08 jul. 1926.

O CORREIO DA LAVOURA ENTROU NO 19º ANNO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano

XIX, n.940, 28 mar 1935.

O CONCEITO DE PÁTRIA NO ESTADO NOVO, Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XXIII,

n.1.172, 07 set 1939.

O DEMÔNIO DA HUMANIDADE .CONFERÊNCIA DE BELISARIO PENNA. Correio da

Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VI, n.275, 22 jun 1922.

O DIA DA LARANJA VAI SER COMEMORADO, DOMINGO, PELA PRIMEIRA VEZ, NESTE

MUNICÍPIO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XXX, n.1.539, 15 set 1946.

O DIA DA PÁTRIA. AS COMMEMORAÇÕES NO GYMNASIO LEOPOLDO. Correio da

Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIX, n.964, 12 set 1935.

O DIA DA PÁTRIA. OS FESTEJOS EM NILÓPOLIS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIX,

n.964, 12 set 1935.

O DIA DA PÁTRIA EM NOSSA CIDADE. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XX, n.1014, 27

ago 1936.

O DIA DA VITÓRIA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XV, n.763, 29 out 1931.

O DR. MANOEL REIS AGE EM PROL DA NOSSA INSTRUÇÃO. Correio da Lavoura, Nova

Iguaçu, Ano VI, n.287, 14 set 1922.

O ENSINO AGRICOLA, Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VI, n.301, 21 dez. 1922.

O ENSINO AGRICOLA, Silvino Silveira. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VI, n.304, 11 jan

1923.

O ENSINO AGRICOLA NAS ESCOLAS, Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VIII, n.415, 26

fev 1925.

O ENSINO AGRONOMO NO BRASIL. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XI, n.430, 11 jun

1925.

O ENSINO PRATICO DE AGRICULTURA NAS ESCOLAS, Correio da Lavoura, Nova Iguaçu,

Ano XII, n.597, 23 ago 1928.

O ENSINO PROFISSIONAL OBRIGATORIO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VII, n.358,

24 jan 1924.

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320

O FUTURO HOSPITAL DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XV, n.746, 02 jul

1931.

O JORNAL. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano IV, n.189, 28 out 1920.

O GYMNASIO LEOPOLDO REQUERERÁ , ESTE MEZ, A EQUIPARAÇÃO DO SEU CURSO

GYMNASIAL. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIX, n.977, 12 dez 1935.

O HOSPITAL DESTA CIDADE. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIV, n.724, 29 jan 1931.

O HORROR DA ROÇA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano I, n. 25, 06 set 1917.

O MAIOR PROBLEMA NACIONAL. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.480, 27 jun

1926.

O NOSSO 5º ANIVERSÁRIO. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano VI, n.262. 22 mar 1922.

O NOSSO ANIVERSÁRIO. Ano V, n. 210, p.1, 22 mar 1921.

O NOSSO ANIVERSARIO, Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano XII, n.575, 22 mar 1928.

O NOSSO COMMERCIO. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano XI, n.430, 11 jun 1925.

O NOSSO GRUPO ESCOLAR. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano VII, n.331,19 jul 1923.

O NOSSO HOSPITAL. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano X, n.473, 08 abr 1926.

O NOVO GOVERNO DO MUNICIPIO. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano XIII, n. 669, 09

jan. 1930.

O NOVO GOVERNO DO MUNICÍPIO. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano XIV, n. 719. 25

dez. 1930.

O NOVO GOVERNO MUNICIPAL. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano III, n.118. 19 jun

1919.

O NOVO PREFEITO PARA A PREFEITURA LOCAL. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano

VII, n. 33, 30 ago. 1923.

O PRIMEIRO ANIVERSÁRIO DA GESTÃO ARRUDA NEGREIROS. Correio da Lavoura, Nova

Iguaçu, Ano XV, n.771, 24 dez. 1931.

O PROBLEMA DO ENSINO, Silvino Azeredo. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano V, n.230, 11

ago 1921.

O QUE MAIS PRECISAMOS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.501, 21 out 1926.

O QUE MAIS PRECISAMOS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.503, 14 nov 1926.

O QUE MAIS PRECISAMOS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.505, 18 nov 1926.

O RELATÓRIO DO SR. PREFEITO DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XV, n.

754, 27 ago. 1931.

O SANEAMENTO DO BRASIL. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano I, n.49, 21 fev 1918

O SR. MINISTRO DA AGRICULTURA EM VISITA A ESTA CIDADE. Correio da Lavoura, Nova

Iguaçu, Ano XIV, n.730. 12 mar 1931.

OS FRUTOS DA INICIATIVA PARTICULAR. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VII, n.344.

18 out 1923.

OS EXAMES NAS NOSSAS ESCOLAS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VIII, n.401, 20

nov 1924.

OS NOSSOS CINEMAS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.481, 03 jun 1926.

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OUVINDO O CANDIDATO DO POVO – UMA LIGEIRA ENTREVISTA COM GETULIO

MOURA, O ARDOROSO TRIBUNO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIV, n. 709, 16 out.

1930.

OUTRO GRUPO ESCOLAR PARA RESENDE. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VII, n.326,

14 jun 1923.

PARACAMBY. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano IV, n.176, 29 jul 1920.

PARTIDO REVOLUCIONÁRIO DE IGUASSU. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano XIV, n.

713, 13 nov. 1930.

PASSOU, NO DIA 19 DO CORRENTE, O 40º ANNO DE FUNDAÇÃO DESTA CIDADE. Correio

da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XV, n.745, 25 jun. 1931.

PELA AGRICULTURA. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano XIII, n.640, 20 jun 1929.

PELA INSTRUCÇÃO. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano I, n. 1, p.1, 22 mar. 1917.

PELA INSTRUCÇÃO. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano I, n.39, 13 dez 1917.

PELA INSTRUCÇÃO. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano I, n.40, 20 dez 1917.

PELO ENSINO AGRICOLA EXTENSIVO. Graccho Cardoso. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu,

Ano XVI, n.802, 28 jul 1932.

PERFIL PERIODISTICO DE SILVINO SILVEIRA. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano

XXXI, n.1.573, 11 mai 1947.

POLÍTICA. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano V, n. 239. 13 out. 1921.

PRECISAMOS DE UM HOSPITAL. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano VI, n.295, 09 nov

1922.

PREFEITURA DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano XIV, n. 715. 27 nov. 1930.

PREFEITURA DE NOVA IGUASSÚ. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano IV, n. 157, 22 mar.

1920.

PREFEITURA MUNICIPAL. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano III, n.142, p.2, 04 dez. 1919.

PREFEITURA MUNICIPAL DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano XVI, n.784, 22

MAR 1932.

PREFEITURA MUNICIPAL DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIV, n. 712,

06 nov. 1930.

PREFEITURA MUNICIPAL DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIV, n. 730,

12 mar. 1931.

PROFILAXIA RURAL. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano IV, n.158, 01 abr 1920.

PUBLICAÇÕES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano III, n.149, 22 jan 1920.

QUE É RURALISMO. Renato Fleury. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XX, n.1029, 10 dez

1936.

RECORDAÇÕES DA PROFESSORA VENINA CORRÊA TORRES. Luiz Martins de Azeredo,

Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, 30 ago 1997, pág 3.

REDE DE ESGOTOS. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano V, n.238, 06 out 1921.

S. C. IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VIII, n.401, 20 nov 1924.

SEJAMOS PREVIDENTES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VI, n.275, 22 jun 1922.

SEMANA DA LARANJA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIX, n.971, 31 out 1935.

SEMANA RURAL. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIX, n.967, 03 out 1935.

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SERÁ COMEMORADO HOJE, FESTIVAMENTE, O DIA DA LARANJA. Correio da Lavoura,

Nova Iguaçu, Ano XXX, n.1.540, 22 set 1946.

SERVIÇO DE TELEPHONES. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XIX, n.977, 12 dez 1935.

SILVINO DE AZEREDO. Dados biográficos. Por Luiz Martins de Azeredo, Correio da Lavoura,

Nova Iguaçu, Suplemento Especial, 24 mar 2007.

SYNDICATO AGRICOLA. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VII, n.335, 16 ago 1923, pág. 2.

UM APPELLO AO SR. INTERVENTOR DO ESTADO. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano

VII, n.327, 21 jun 1923.

UM FILME SOBRE NOVA IGUAÇU. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano XXVIII, n.1.446, 03

nov 1944.

UM GRUPO ESCOLAR PARA NOVA IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano VI,

n.311, 1º mar 1923, 1ª página.

UM HOSPITAL PARA ESTA CIDADE. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu, Ano X, n.476, 29 abr

1926.

UNIÃO DAS CLASSES CONSERVADORAS DE IGUASSÚ. Correio da Lavoura, Nova Iguaçu,

Ano XII, n.596, 16 ago 1928.

VISITA DO PRESIDENTE WASHINGTON LUIS. Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano XII,

n.607. 01 nov. 1928.

VISITANDO AS ESCOLAS MUNICIPAES. A actividade que está desenvolvendo o dr. José

Manhães, director de hygiene e instrucção, Correio da Lavoura. Nova Iguaçu, Ano XXI, n.1.050. 06

mai 1937.

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