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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA
QUÍMICA E DE PETRÓLEO – TEQ
RECURSOS NATURAIS E HEGEMONIA: UMA REFLEXÃO
SOBRE A UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS PETROLÍFEROS
PARA O DESENVOLVIMENTO
MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PETRÓLEO
JONATHAN BASTOS BARROSO
1
JONATHAN BASTOS BARROSO
RECURSOS NATURAIS E HEGEMONIA: UMA REFLEXÃO
SOBRE A UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS PETROLÍFEROS
PARA O DESENVOLVIMENTO
Monografia apresentada ao Curso de Engenharia de Petróleo da Universidade Federal Fluminense como parte dos requisitos para a obtenção de Grau de Engenheiro de Petróleo.
Orientador: Prof. Geraldo de Souza Ferreira
3
Este trabalho é dedicado a minha professora Josinete, que me acompanhou da 1 ª série até a 4ª série, além da minha professora de matemática Nádia e o de física, José Carlos. A todos vocês meu muito obrigado.
6
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus por me permitir chegar até aqui
Aos meus pais e meus avós por estarem sempre presentes na minha vida
Ao meu irmão William, por ser muito mais que um simples irmão.
A minha noiva Gisele, por estar sempre ao meu lado, apesar dos semestres estressantes que todos os engenheiros experimentam.
Ao professor Geraldo de Souza Ferreira, mestre, incentivador e orientador, sempre disposto a ajudar nas dificuldades extremas.
Ao professor Roberto Meigikos por me proporcionar o primeiro contato com um laboratório.
Ao professor Arlindo, mais que professor, um amigo, sempre pronto a ajudar e acrescentar muito no desenvolvimento de um engenheiro.
7
EPÍGRAFE
Vários judeus piedosos rezavam numa sinagoga, quando começaram a escutar uma voz de criança dizendo:
A, B, C, D, E ...
Tentaram concentrarse nos versos sagrados, mas a voz repetia:
A, B, C, D, E ...
Aos poucos foram parando de rezar. Quando olharam para trás, viram um menino que continuava dizendo:
A, B, C, D, E ...
O rabino aproximouse do garoto:
Por que você está fazendo isto?
Porque não sei os versos sagrados – respondeu o menino. – Então, tenho a esperança de que, recitando o alfabeto, Deus pegue estas letras e forme as palavras corretas.
Obrigado por esta lição – disse o rabino. – E que eu possa entregar a Deus os meus dias nesta terra da mesma maneira que você entrega suas letras.
9
RESUMO
As descobertas recentes da Petrobrás na camada do présal deixaram o Brasil com a
possibilidade de alcançar uma posição privilegiada no âmbito econômico mundial num
futuro próximo. Neste contexto, é fundamental uma análise precisa de como o país deve
se comportar para que toda essa expectativa se concretize. Este trabalho realiza um
estudo de alguns países que no passado tiveram tal oportunidade de crescimento, e que
não conseguiram se desenvolver conforme a expectativa da população, devido
principalmente, ao fato do país ter sido afetado pelo “Mal dos Recursos Naturais”. Por
outro lado, outros países conseguiram um crescimento econômico de sucesso, evitando
este problema em suas economias. Por fim, é avaliado como o político brasileiro utiliza
os recursos provenientes do petróleo. Como o país ainda não é um grande exportador de
petróleo, esta análise foi realizada com municípios brasileiros, comparando a evolução
do IDHM dos cinco municípios que mais receberam royalties no período de 19912007
com outros municípios do mesmo estado que apresentavam esses índices próximos.
Palavraschave: Mal dos Recursos Naturais, desenvolvimento econômico, exploração do
présal.
11
ABSTRACT
Recent discoveries of oil in prelayer of salt left Brazil with the possibility of achieving
a privileged position in the economic world in the near future. In this context it is
essential an accurate analysis of how the country should behave so that all this
expectation is fulfilled. This work makes a study of some countries that previously had
such an opportunity, and could not develop as the expectation of the population, due
mainly to the fact the country has been affected by the "Dutch Disease." On the other
hand, other countries have achieved an economic growth success, avoiding this problem
in their economies. Finally, it is evaluated as the Brazilian politician uses the income
from oil. As the country is not yet a major exporter of oil, this analysis was performed
with the Brazilian cities, comparing the evolution of the HDIM of the five cities that
received more royalties for the period 19912007 with other municipalities in the same
state that had these indices next.
Keywords: Dutch disease, economic development, exploration of the presalt.
12
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 – Esquema de Fundo de Estabilização.......................................................... 13
Figura 3.1 – Alterações no Sistema de Tributação no Setor do Petróleo – 1999 a 2005................................................................................................................................ 26
13
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 2.1 – Relação para 144 países entre taxa média de crescimento da economia (19752005) e participação de produtos primários na exportação de bens em 2005................................................................................................................................ 14 Gráfico 2.2 – Exemplo numérico do modelo Sachs e Warner (1995) – A maldição dos recursos naturais............................................................................................................. 16 Gráfico 2.3 – Oferta e procura........................................................................................ 18 Gráfico 3.1 – Produção de petróleo da Nigéria ao longo de 1990 a 2008...................... 31 Gráfico 3.2 – Produto Interno Bruto da Nigéria............................................................. 32 Gráfico 3.3 – Índice de Desenvolvimento Humano da Nigéria e de países vizinhos..... 33 Gráfico 3.4 – Valor de mercado do GPF e taxa de câmbio – 2001 a 2008.....................36 Gráfico 3.5 – Evolução do IDH da Noruega no período 19752007...............................37 Gráfico 3.6 – Evolução do IDH da Rússia no período 19752007................................. 39 Gráfico 3.7 – PIB da Venezuela a preços de mercado, 1908/1935.................................40 Gráfico 3.8 – Exportações de petróleo e exportações totais da Venezuela, 1920/1973 (em milhões de bolívares)............................................................................................... 41 Gráfico 3.9 – Evolução do IDH da Venezuela e sua posição no ranking mundial no período 19752007.......................................................................................................... 42 Gráfico 4.1 – Evolução da produção de petróleo e gás natural no Brasil em mil BEP (barris equivalentes de petróleo)..................................................................................... 47 Gráfico 4.2 – Evolução da arrecadação dos royalties (19982009)................................ 48 Gráfico 4.3 – Evolução da arrecadação dos royalties por beneficiário (19982009)..... 48 Gráfico 4.4 – Evolução da arrecadação da participação especial................................... 49 Gráfico 4.5 – Evolução da arrecadação da participação especial entre a União, os Estados e os Municípios entre 2000 e 2009................................................................... 49 Gráfico 4.6 – Evolução do pagamento de royalties entre 19912007............................ 50 Gráfico 4.7 – Evolução da composição das receitas correntes do município de Campos dos Goytacazes no período de 20002005...................................................................... 51
14
Gráfico 4.8 – Evolução da composição das receitas correntes do município de Macaé no período de 20002005..................................................................................................... 51 Gráfico 4.9 – Evolução da composição das receitas correntes do município de Rio das Ostras no período de 20002005..................................................................................... 52 Gráfico 4.10 – Evolução da composição das receitas correntes do município de Cabo Frio no período de 20002005........................................................................................ 53 Gráfico 4.11 – Evolução da composição das receitas correntes do município de Quissamã no período de 20002005............................................................................... 53 Gráfico 4.12 – Comprometimento da receita dos municípios com a máquina administrativa................................................................................................................. 54 Gráfico 4.13 – Grau de investimento dos municípios entre 2000 e 2005...................... 54 Gráfico 4.14 – Investimento per capta dos municípios entre 2000 e 2005.................... 55 Gráfico 4.15 – Dependência de transferência de recursos dos municípios (sem royalties) entre 2000 e 2005........................................................................................................... 56 Gráfico 4.16 – Dependência de transferência de recursos dos municípios (incluindo royalties) entre 2000 e 2005........................................................................................... 56 Gráfico 4.17 – Autonomia financeira dos municípios entre 2000 e 2005...................... 57 Gráfico 4.18 – Comparativo do IDHM entre o município de Quissamã e outros seis municípios do Rio de Janeiro com valores de IDHM próximos................................... 59 Gráfico 4.19 – Comparativo do IDHM entre o município de Campos dos Goytacazes e outros seis municípios do Rio de Janeiro com valores de IDHM próximos................. 60 Gráfico 4.20 – Comparativo do IDHM entre o município de Campos dos Goytacazes e outros seis municípios do Rio de Janeiro com valores de IDHM próximos................. 62 Gráfico 4.21 – Comparativo do IDHM entre o município de Cabo Frio e Macaé e outros seis municípios do Rio de Janeiro com valores de IDHM próximos................. 63
15
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1 – Classificação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).................. 25 Tabela 3.2 – Formas de apropriação da renda proveniente do petróleo entre 19982007. ........................................................................................................................................ 27 Tabela 3.3 – Maiores exportadores líquidos de petróleo – 2006 (em mil barris/dia)..... 29
Tabela 3.4 – As vinte maiores reservas de petróleo do mundo – 2009.......................... 29
Tabela 3.5 – Rússia Balança Comercial (em US$ Bilhões)......................................... 37
Tabela 3.6 – PIB e exportações da Venezuela e preço do petróleo, 1990/2006............. 43 Tabela 4.1 – Distribuição dos royalties de 5%............................................................... 46 Tabela 4.2 – Distribuição dos royalties acima de 5%..................................................... 46 Tabela 4.3 – IDHM dos cinco municípios que mais receberam royalties no Brasil (19912000).................................................................................................................... 58 Tabela 4.4 – Evolução da posição do ranking nacional de IDHM do município de Quissamã e outros com IDHM próximos...................................................................... 59 Tabela 4.5 – Evolução da posição do ranking nacional de IDHM do município de Quissamã e outros com IDHM próximos...................................................................... 61 Tabela 4.6 – Evolução da posição do ranking nacional de IDHM do município de Quissamã e outros com IDHM próximos...................................................................... 62 Tabela 4.7 – Evolução da posição do ranking nacional de IDHM do município de Cabo Frio, Macaé, e outros com DHM próximos.................................................................. 64
16
Sumário CAPÍTULO 1 – APRESENTAÇÃO DO TRABALHO
1.1 – INTRODUÇÃO
1.2 – OBJETIVO
1.3 – RELEVÂNCIA E CONTEXTUALIZAÇÃO DO TRABALHO
1.4 – JUSTIFICATIVA
1.5 – METODOLOGIA
1.6 – ESTRUTURAS DO TRABALHO
CAPÍTULO 2 – A “DOENÇA HOLANDESA” OU “MAL DOS RECURSOS NATURAIS”
2.1 – INTRODUÇÃO
2.2 – ORIGENS E O CONCEITO DO TERMO “DOENÇA HOLANDESA”
2.3 – SINTOMAS DA DOENÇA HOLANDESA
2.4 – NEUTRALIZAÇÕES DA DOENÇA HOLANDESA
2.5 – CARACTERÍSTICAS/SÍNTESE DA DOENÇA HOLANDESA
2.5 – CONCLUSÃO
CAPÍTULO 3 – EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL COM A EXPLORAÇÃO DO PETRÓLEO
3.1 – INTRODUÇÃO
3.2 – ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH)
3.2.1 – Classificação dos países através do Índice de Desenvolvimento Humano
3.3 – ARRECADAÇÃO DE DIVISAS PELO GOVERNO PROVENIENTES DO PETRÓLEO
3.4 – PAÍSES PRODUTORES E EXPORTADORES DE PETRÓLEO
3.4.1 – Nigéria
3.4.2 – Noruega
3.4.3 – Rússia
3.4.4 – Venezuela
3.5 – CONCLUSÃO
CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DO BRASIL
4.1 – INTRODUÇÃO
4.2 – A HISTÓRIA DO PETRÓLEO NO BRASIL
4.3 – CÁLCULO E DISTRIBUIÇÃO DOS ROYALTIES
4.4 – INFLUÊNCIAS DO PETRÓLEO NA ECONOMIA BRASILEIRA
17
4.5 – OS CINCOS MUNICÍPIOS QUE MAIS SE BENEFICIARAM COM OS ROYALTIES ENTRE 1991 – 2007.
4.6 – ANÁLISES DO IDH DOS CINCO MUNICÍPIOS QUE MAIS RECEBERAM ROYALTIES DO PETRÓLEO NO BRASIL.
4.7 – CONCLUSÃO
CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ANEXOS
ANEXO 2.1
ANEXO 4.1
18
CAPÍTULO 1 – APRESENTAÇÃO DO TRABALHO
1.1 – INTRODUÇÃO
No final do ano de 2007, a Petrobrás anunciou a descoberta de um mega
campo localizado em Santos. Seria uma descoberta relativamente normal, se não fosse o
fato deste reservatório se localizar na camada conhecida como présal (tratase da área
de rochas abaixo de uma camada de sal com cerca de dois quilômetros de espessura e
que se estende no oceano desde em frente ao Espírito Santo até Santa Catarina). No ano
seguinte, a Petrobrás anunciaria novas duas descobertas na mesma bacia, tendo uma
estimativa de 33 bilhões de barris, classificandoo como o terceiro maior campo do
mundo. Após sucessivas descobertas de novos campos realizadas por nossa estatal no
ramo petroleiro, as previsões atuais chegam a se aproximar de 100 bilhões de barris . 1
A partir deste fato, grande euforia, por partes da população, políticos e
mídia, tem ocorrido, com a possibilidade de um rápido desenvolvimento econômico no
Brasil, o que pode levar o país a uma posição privilegiada no âmbito econômico
mundial num futuro próximo. Mas como alerta Augusto:
“O desenvolvimento econômico é um processo complexo de mudanças e transformações sociais, através do qual a sociedade tornase capaz de produzir maior quantidade de bens e serviços, destinados a satisfazer as sempre crescentes e diversificadas necessidades humanas. De modo mais simples, podese dizer que o desenvolvimento econômico é o processo de crescimento da economia de uma nação, que implica mudanças qualitativas associadas, como melhores condições de vida para a população.” 2
Ou seja, para um desenvolvimento econômico que transforme o Brasil
em uma das grandes potenciais econômicas mundiais e beneficie toda a população
brasileira, é necessária uma cooperação entre o governo e as empresas, sempre com o
objetivo de desenvolver o país como um todo, e não só uma região ou um setor
1 http://www.revistabrasileiros.com.br/edicoes/14/textos/282/, acesso em 25 março 2010. 2 AUGUSTO, C. A aplicação e os impactos dos royalties do petróleo no desenvolvimento econômico dos municípios confrontantes da Bacia de Campos. Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense, 2003. (Monografia de bacharelado em Economia), p.12.
19
específico. Como afirma Furtado : “O projeto de desenvolvimento brasileiro deveria 3
conciliar a preservação de uma das propriedades fundamentais do sistema industrial a
integração das cadeias com a consolidação de posições competitivas cada vez mais
sólidas, fundadas em competências dinâmicas, de base tecnológica e inovativa”.
Com o início da produção e exploração das reservas de petróleo da
camada do présal, o Brasil pode aumentar em muito seu Produto Interno Bruto (PIB), 4
sendo uma excelente oportunidade para o Brasil usar esses recursos para reduzir as
desigualdades regionais e sociais.
Para um projeto desse porte é necessário grande investimento em
pesquisa e tecnologia para viabilizar essa retirada do óleo na camada do présal,
podendo ser um ótimo estimulo para a criação de tecnologia de ponta, além de favorecer
outros setores da economia do país, como por exemplo, o setor naval . Em 5
contrapartida, estudos indicam que países ricos em recursos naturais freqüentemente
apresentam um nível de desenvolvimento humano muito baixo. Um exemplo para este
fato são países membros da OPEP: “indicadores relativos ao ano de 2005 apontam que
apenas quatro deles puderam ser considerados de alto desenvolvimento humano e dois
estão entre as nações mais pobres do mundo e consideradas de baixo desenvolvimento.
Além disso, a desigualdade de renda nestes países tende a ser mais elevada” . 6
Este fenômeno foi identificado pela primeira vez na década de 1960,
quando a Holanda descobriu um grande depósito de gás natural. Conseqüentemente,
este país começou a exportálo, acarretando um aumento de renda significativo.
Entretanto, com a entrada de divisas externas provenientes das vendas deste recurso
natural, houve uma forte apreciação do florim holandês (moeda local), o que acarretou
3 FURTADO, J. Muito além da especialização regressiva e da doença holandesa oportunidades para o desenvolvimento brasileiro. Novos Estudos, CEBRAP, Edição 81 Julho de 2008, p.46.
4 O PIB representa a soma de todos os bens e serviços, em valores monetários, produzidos no país durante um determinado período. Este indicador é um dos mais utilizados na macroeconomia, e o seu objetivo é de mensurar a atividade econômica de uma região.
5 CARVALHAES, F. & PINTO, A. L. O petróleo do présal: os desafios e as possibilidades de uma nova política industrial no Brasil. Pesquisa & Debate, SP, volume 19, número 2 (34), 2008, p. 257.
6 OLIVEIRA, B. & BRUNO, M. Sobre Maldições e Bênçãos: é possível gerir recursos naturais de forma sustentável? Uma análise sobre os royalties e as compensações financeiras no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Texto para discussão No 1412, p.7.
20
em menor competitividade das exportações dos outros produtos do referido país. Este
cenário foi denominado “mal dos recursos naturais” ou “doença holandesa” . 7
Para evitar tal problema, muitos países têm adotado a criação de fundos
soberanos e de estabilização, que, de acordo com Carvalhaes , “servem basicamente a 8
dois propósitos: controlar a demanda, para evitar a inflação de custos que se segue ao
aumento de preços e salários, e evitar que a taxa de câmbio sofra apreciação uma vez
que os recursos advindos da venda do petróleo não entram na economia doméstica”.
Com esta medida e uma política eficaz, alguns países conseguiram
transformar o sonhado desenvolvimento em uma realidade com a utilização dos recursos
provenientes do petróleo. Atualmente a Noruega, que possui o maior Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) no mundo, mostrou a todos os países que é possível 9
transformar todos esses recursos em um legado para toda a população atual e futura.
Este trabalho procura compreender as diversas questões envolvidas para
um adequado aproveitamento das oportunidades geradas pelas recentes descobertas de
petróleo, devido aos recursos financeiros que o mesmo possa receber e, ao mesmo
tempo, entender alguns aspectos relacionados à administração eficiente de tais recursos,
de modo que as futuras gerações também recebam esse benefício, evitando erros que no
nosso passado foram tão freqüentes.
1.2 – OBJETIVO
Este trabalho visa realizar um estudo de casos de alguns países que
tinham como objetivo, por meio dos recursos provenientes da produção de petróleo,
crescer e se desenvolver economicamente, sonhando, em pouco tempo, conseguir uma
economia forte e estável. Porém poucos são os exemplos dos países que conseguiram tal
sucesso.
7 NAKAHODOS, S. N.; JANK, M. S. A falácia da doença holandesa no Brasil. Instituto do Comércio e Negociações Internacionais: Documento de Pesquisa. São Paulo, 2006, p.2.
8 CARVALHAES, F. & PINTO, A. L. O petróleo do présal: os desafios e as possibilidades de uma nova política industrial no Brasil. Pesquisa & Debate, SP, volume 19, número 2 (34) pp. 255271, 2008, p.261.
9 O cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) será explicado no Capítulo 3.
21
Por meio desse estudo, esperase, como objetivo principal, colaborar com
a produção de material fonte para futuros debates relativos às atitudes que o Governo
brasileiro deva implementar com relação às reservas de petróleo do présal, de modo a
identificar o seu potencial para o fortalecimento e crescimento da indústria petrolífera e
outros setores do país.
Como primeiro objetivo específico, este trabalho apresenta uma melhor
compreensão da postura adotada pela Noruega, que conseguiu obter altas taxas de
desenvolvimento econômico por meio da exploração do petróleo, sendo, neste assunto,
uma referência mundial de caso bem sucedido, diante de tantos casos de fracassos,
encontrados na literatura.
O segundo objetivo específico a ser explorado é uma explicação da falha
de mercado que ficou conhecido como doença holandesa ou mal dos recursos naturais.
Buscase compreender quando este fenômeno ocorre, quais os países que correm o risco
de adquirir esta doença, além de analisar os países que já sofreram ou apresentam tal
problema.
Como terceiro e último objetivo específico, analisase como têm sido
utilizados os recursos provenientes da exploração do petróleo no Brasil, enfocandose
alguns exemplos de municípios que têm recebido royalties de petróleo. Além disso,
apresentamse algumas perspectivas para a utilização dos recursos financeiros, para o
caso do petróleo encontrado na camada do présal.
1.3 – RELEVÂNCIA E CONTEXTUALIZAÇÃO DO TRABALHO
Após as descobertas de grandes reservas de petróleo na camada do
présal, o Brasil se encontra em um momento de grande euforia, fato que pode entrar
como marco na história deste país. Após anos dependentes de dinheiro externo, o Brasil
pode, por meio deste recurso natural, se firmar e se estabelecer como uma potência
econômica mundial. Para isso terá que conseguir vencer grandes desafios na parte
econômica, como dito por Celso Furtado para o caso da Venezuela, e que se encaixa
perfeitamente nos dias atuais:
22
“As etapas de rápido crescimento com base em estímulos externos, quando não produzem mudanças estruturais no sistema econômico, tendem necessariamente a um ponto de estagnação. Temse observado casos de economias que, com o impulso da expansão de suas exportações, crescem com inusitada intensidade durante um ou dois decênios para afogaremse depois em permanente estagnação. Esta é tanto mais difícil de vencer quanto se constituem poderosos mecanismos de defesa de uma ordem de privilégios que se vê ameaçada pelas mudanças estruturais que uma nova fase de desenvolvimento exigiria” . 10
Com isso, percebese a importância de um estudo que avalie
cuidadosamente como o país pode utilizar os recursos financeiros provenientes do
petróleo, com o objetivo de desenvolver sua economia de forma sustentável, fazendo
com que após a escassez deste recurso natural, o país possa continuar se desenvolvendo
economicamente. Na parte social, também fazendo referência a Celso Furtado:
“Em pequenos países, nos quais as vantagens comparativas se baseiam na exploração dos recursos não renováveis — caso extremo são os emirados petroleiros —, pode ocorrer que a modernização conduza a homogeneização social mediante ação redistributiva do Estado. São sociedades que vivem de renda auferida sobre um patrimônio que receberam como dádiva. Para atender as exigências dos custos crescentes das formas de vida que adotaram num processo rápido de aculturação, essas sociedades são levadas a depredar as suas reservas de bens não renováveis. São sociedades que não vivem do próprio trabalho, de hoje ou do passado. Nasceram sobre uma mina de ouro. Quanto mais alto o nível de vida das gerações presentes, maiores problemas deverão enfrentar as futuras, quando começar a esgotarse o tesouro que receberam” . 11
Assim, reservas que seriam usadas durante décadas para melhoria de
qualidade de vida de toda a população de um país, são exaustivamente exploradas,
fazendo com que a reserva resista poucos anos, em benefício de pequena parcela da
população, que recebem grandes quantidades de dinheiro, enquanto a maior parte da
população não percebe melhorias em sua qualidade de vida.
Estes mesmos problemas já foram encarados por países como a Holanda,
Nigéria, Venezuela, Noruega e outros, uns conseguindo sucesso nos seus objetivos,
tendo uma economia estabilizada e passando a figurar entre os países com maior Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH), enquanto outros colhem profundos problemas
10 FURTADO, C., 19202004. Ensaios sobre a Venezuela: subdesenvolvimento com abundância de divisas. Rio de Janeiro: Contraponto: Centro Internacional Celso Furtado, 2008, p.160.
11 FURTADO, C. Globalisation ET exclusion: Le Brésil dans l’order mondial émergent. Paris: Publisud, 1995, p.40.
23
acarretados por falta de planejamento correto, como desindustrialização do país,
estagnação de sua economia, e uma série de outros problemas.
Tal desafio consiste em saber administrar esse grande volume de recurso
que o país irá receber, proveniente do petróleo, alocando esta quantidade de dinheiro em
investimentos, e não a ajudar o Estado em gastos públicos ou especulações, o que
acarreta numa atrofia no sistema fiscal tradicional. Um passo importante é analisar a
maior quantidade possível de países que passaram por situações semelhantes e avaliar
suas atitudes em relação a esse assunto.
A Holanda passou a exportar gás natural em grandes proporções, o que
provocou uma maciça entrada de divisas decorrente de suas receitas de exportação. O
efeito da entrada de moeda estrangeira foi a forte valorização de sua moeda local (na
época, o florim). A valorização cambial atingiu de maneira direta o setor industrial,
afetando sua competitividade externa, estimulando as importações, o que levou a um
processo de desindustrialização . 12
A partir deste problema enfrentado pela Holanda, houve um extenso
estudo sobre o ocorrido neste país. O fenômeno de declínio pelo qual passava o setor
industrial na Holanda após a descoberta de grande fonte de gás natural foi denominado
“doença holandesa” ou “mau dos recursos naturais” (o termo em inglês, “dutch disease”,
parece ter sido utilizado inicialmente pela revista The Economist).
Os governantes têm que ter muita cautela em relação à doença holandesa.
Devido à sua difícil detecção, devem ser realizados estudos regulares sobre: a
desindustrialização do país, a avaliação de sua economia, avaliação do impacto da
exportação do petróleo no PIB e avaliação do Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH). Atualmente já há a preocupação se o Brasil esta sofrendo desse mal. Affonso
Celso Pastore e Maria Cristina Pinotti dizem ser “tentadora a analogia da situação 13
brasileira com o fenômeno ocorrido na Holanda”.
12 SOUZA, G. L. J. Doença holandesa: o Brasil corre este risco? Disponível: http://www.viannajr.edu.br/site/menu/publicacoes/publicacao_economia/artigos/edicao8/holandesa.pdf. Acessado em: 20 fev. de 2009.
13 PASTORE, A. C. & PINOTTI, M. C. Câmbio, reservas e doença holandesa, Jornal Valor Econômico, 2006. Citado por NAKAHODOS, S. N.; JANK, M. S. A falácia da doença holandesa no Brasil. Instituto do Comércio e Negociações Internacionais: Documento de Pesquisa. São Paulo, 2006. p.2.
24
Outro país que passa por problemas semelhantes é a Nigéria, que possui
uma reserva de petróleo estimada em 36,2 bilhões de barris . Estimase que o país já 14
tenha recebido cerca de 400 bilhões de dólares de 1960 até 2008. Atualmente este setor
é responsável por 95% do valor das exportações. Porém, o país se encontra em 85.°
lugar na classificação do Índice de Desenvolvimento Humano (0,47) elaborado pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. A expectativa de vida é de 43,3
anos e o índice de mortalidade infantil é de 98 por mil, um dos mais altos da África. Ou
seja, todo este recurso não está melhorando a qualidade de vida da população, sendo
este um típico caso de fracasso na utilização dos recursos provenientes do petróleo pelo
Estado. Alguns autores estão chamando o que está ocorrendo neste país de doença
nigeriana, devido ao fato de as petrolíferas estarem destruindo as terras agricultáveis,
além de esgotar o seu petróleo e fazer com que a população continue vivendo na
miséria, cada vez mais séria e com menores quantidades de reservas de petróleo e
esperança de um futuro melhor.
A Venezuela possui uma reserva de petróleo estimada em 99 bilhões de
barris. Como o petróleo representa 75% da receita de exportação e é responsável por 1/3
do PIB , percebese claramente que não houve ao longo das décadas um investimento 15
visando à substituição da importância da exploração do petróleo, sendo claramente uma
economia muito dependente deste recurso natural.
A Noruega ficou em 1o lugar no IDH em 2007, atingindo um patamar de
0,971. Esse país apresenta uma reserva atual de 7,8 bilhões de barris de petróleo . O 16
governo norueguês, com a preocupação de não ficar apenas dependente da exploração
do petróleo, criou em 1990 o Fundo Petrolífero Estatal Norueguês. Este fundo tem como
objetivo a garantia da estabilidade macroeconômica, além da construção de uma
poupança. O patrimônio deste fundo estava avaliado em US$ 213 bilhões, em 2005 , 17
14 ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION (EIA) NIGÉRIA, Country Analysis Briefs, 2009, p.1. Disponível em: www.eia.doe.gov/cabs/nigeria.htm. Acessado em: 22 fev. de 2009.
15 ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION (EIA) VENEZUELA, Country Analysis Briefs, 2009, p.2. Disponível em: www.eia.doe.gov/cabs/venezuela/background.html. Acessado em: 22 fev. de 2010.
16 ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION (EIA) NORWAY, Country Analysis Briefs, 2009, p.2. Disponível em: www.eia.doe.gov/cabs/Norway/Background.html. Acessado em: 22 fev. de 2010.
17 ENRIQUEZ, M. A.. “Equidade intergeracional na partilha dos benefícios dos recursos minerais: a alternativa dos Fundos de Mineração”. Revista Iberoamericana de Economia Ecológica, v. 5, 2006, p. 67. Citado por INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI).Estudo
25
sendo que sua receita é aplicada em ações e títulos no exterior numa eventual elevação
do preço do petróleo, fazendo com que a Noruega não sofra impacto em suas atividades
econômicas.
Com isso, o fundo protege a economia norueguesa da volatilidade do
preço do petróleo. Fasano argumenta que o fundo tem logrado êxito na tarefa de 18
amenizar os ciclos dos preços do petróleo, bem como de promover a poupança. Medidas
prudentes têm permitido a manutenção de superávits orçamentários, mesmo nos
períodos em que o preço do petróleo cai. Portanto, a Noruega tem demonstrado uma
preferência por poupar os recursos do petróleo, sendo referência mundial de um caso
bem sucedido de exploração de recursos naturais.
De acordo com o IEDI : 19
O Brasil se encontra numa posição extremamente privilegiada com relação à oferta de petróleo de gás natural. As recentes descobertas na área do présal deverão conduzir o país a uma posição relevante como exportador no mercado internacional. Esta condição poderá se constituir numa excepcional oportunidade para alcançar programas estruturadas visando supriras carências nacionais, em matéria de saneamento básico, saúde, educação e infraestrutura. Mesmo que os preços internacionais venham a cair, o incremento da produção permitirá a geração de níveis elevados de royalties. Este aumento pode proporcionar uma base nova de recursos para a União, estados e municípios. Qualquer forma de financiar novos programas federais de desenvolvimento envolveria o redesenho da estrutura de royalties. Foi demonstrado que alternativas nesta direção são possíveis, conciliando o interesse nacional e preservando as condições de arrecadação dos municípios e estados limítrofes das jazidas de petróleo.
A tarefa de promoção do desenvolvimento utilizando os recursos naturais
é, portanto, extremamente complexa. São necessárias, ao menos, duas etapas
fundamentais para a consecução dos objetivos: a criação do fundo soberano e a criação
de mecanismos de controle da aplicação dos royalties.
sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.81. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
18 FASANO, U. (2000) Review of the experience with oil stabilization and savings funds in selected countries. IMF Working Paper, n. 112. Washington, D.C.: International Monetary Fund. Disponível em: http://www.imf.org. Acessado em: 02 mar. de 2010. P.45. Citado por INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.81. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
19 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.98. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
26
O presente trabalho é motivado pela relevância associado a esta temática
e procura contribuir para a compreensão dessa questão.
1.4 – JUSTIFICATIVA
Algumas nações que tinham o petróleo como uma grande oportunidade
de esperança para o futuro de suas populações, como melhorias de condições e
qualidade de vida, por exemplo, viramse em algumas décadas posteriores sem esse
recurso natural, sem o desenvolvimento esperado e, em alguns casos, lidando com a
ocorrência de desindustrialização, fatos que causaram forte frustração na população, que
passou a não ter esperança num futuro próximo.
Outros países, com a utilização dos recursos proveniente do petróleo,
conseguiram crescer e se firmar economicamente. Por meio de uma política cuidadosa e
específica, fortaleceram outros setores da economia e conseguiram o desenvolvimento
esperado.
Com base nos fatos ocorridos em outras regiões, fica evidente a
importância da discussão do tema, das análises de problemas e soluções encontradas em
outros países, além de se antecipar e prever possíveis problemas que o Brasil possa
enfrentar no futuro.
Com o estudo aqui realizado esperase entender a dinâmica associado ao
uso dos recursos do petróleo e seu impacto sobre o desenvolvimento, buscandose
elementos para a compreensão das iniciativas e decisões que constituam numa lógica
necessária para que o país entre nas estatísticas futuras como um caso de sucesso das
utilizações dos recursos provenientes do petróleo.
1.5 – METODOLOGIA
Este trabalho baseouse em pesquisa bibliográfica, utilizando teses de
mestrado, doutorado, monografias, além de artigos disponíveis na internet.
27
Desejase analisar países que possuíam (ou ainda possuem) grande produção de
petróleo, avaliando os que sofreram da “doença holandesa” e os que conseguiram um
desenvolvimento econômico significativo. Os dados obtidos podem ser usados como
referência para futuros trabalhos de apoio a discussões e debates em relação ao présal,
no Brasil.
1.6 – ESTRUTURAS DO TRABALHO
Este trabalho se encontra dividido em 5 capítulos. Neste capítulo inicial é
apresentado um breve resumo do problema que esta monografia irá estudar, mostrase o
objetivo do trabalho, a sua justificativa, além da metodologia utilizada. Também será
apresentada a relevância e contextualização do trabalho, além de uma introdução ao
assunto.
O segundo capítulo aborda o conceito de doença holandesa ou mal dos
recursos naturais. Mostramse as estratégias e ações adotadas pelos países abundantes
em recursos naturais, antes e durante a produção de petróleo, destacandose, em
especial, os tipos de fundos existentes, bem como o seu funcionamento. Também é
realizada uma comparação entre os países abundantes em recursos naturais e os que não
apresentam tal abundância com relação ao PIB. Por fim, é discutido como os países
podem neutralizar a doença holandesa.
O terceiro capítulo desta monografia explica os diferentes métodos
utilizados pelos países para se apropriarem dos recursos provenientes do petróleo. Em
seguida é realizada uma análise de como alguns países estão utilizando tais recursos
apropriados para o seu desenvolvimento, sendo avaliados quais destes países estão
sofrendo da forma mais grave da doença holandesa.
No quarto capítulo é mostrada uma breve história do petróleo no Brasil,
explicando como o país tem se apropriado da renda do petróleo e avalia como os
governantes brasileiros estão utilizando tais recursos para poder avaliar se o país está
preparado para utilizar de forma correta a quantidade de recursos provenientes do
présal que está por vir num futuro próximo. Como o país ainda não se apresenta como
28
um grande exportador de petróleo, foram analisados os cinco municípios que mais
arrecadaram com os royalties para se ter uma visão geral do comportamento dos
políticos brasileiro.
Nesta etapa do trabalho serão feitas as considerações finais, chegando a
uma conclusão de qual caminho trilhado no Brasil até o momento e tentar construir um
referencial para análise das atitudes que o Governo brasileiro deve implementar com
relação às reservas de petróleo do présal, de modo a identificar o seu potencial para o
fortalecimento e crescimento da indústria petrolífera e outros setores do país.
29
CAPÍTULO 2 – A “DOENÇA HOLANDESA” OU “MAL DOS RECURSOS NATURAIS”
2.1 – INTRODUÇÃO
Este capítulo apresenta o conceito de doença holandesa, ou mal dos
recursos naturais, explicando os fatores que levam alguns dos países a contrair este mal,
além de indicar as dificuldades enfrentadas pelos governos que são afetadas por esta
doença.
Serão mostrados métodos para a sua neutralização e os sintomas que este
mal apresenta quando um país está contaminado.
2.2 – ORIGENS E O CONCEITO DO TERMO “DOENÇA HOLANDESA”
O termo doença holandesa foi utilizado pela primeira vez pela revista
“The Economist”, no ano de 1977, para descrever o fenômeno ocorrido na Holanda, que
sofreu forte declínio no setor industrial. Após a descoberta de grandes reservas de gás
natural em seu território, a Holanda passou a explorar e a exportar grande quantidade
deste recurso natural, fazendo com que suas receitas referentes à exportação tivessem
um grande aumento. Este fato proporcionou uma entrada maciça de dinheiro
estrangeiro, ocasionando forte valorização da moeda local, na época o florim. Esta
valorização afetou diretamente o setor industrial, o que inviabilizou suas exportações,
estimulou a importação e conseqüentemente, levou a Holanda a um processo de
desindustrialização . 20
Após este estudo, vários outros trabalhos foram realizados para esclarecer
o fenômeno. Apesar de um grupo de pesquisadores se referir à doença holandesa como
sendo “maldição dos recursos naturais”, há outra linha de pesquisa , que diferencia 21 22
20 NAKAHODOS, S. N.; JANK, M. S. A falácia da doença holandesa no Brasil. Instituto do Comércio e Negociações Internacionais: Documento de Pesquisa. São Paulo, mar 2006, p.2.
21 SACHS, J. D. AND A. M. WARNER “The big push, natural resource booms and growth”. Journal of Development Economics, 59: 4376, 1999. Citado por: BRESSERPEREIRA, L. C. The Dutch Disease and its neutralization: a Ricardian approach. Revista de Economia Política, v. 28, n. 1:4771,São Paulo, 2008, p.7.
30
estes dois problemas: enquanto a doença holandesa seria uma falha de mercado, onde a
exportação de grande quantidade de recursos naturais baratos por um país seria a causa
de uma taxa de câmbio maior quando comparado a taxa de câmbio média que viabiliza
o setor econômico do determinado país, a maldição dos recursos naturais seria uma
conseqüência do rent seeking e corrupção, fato constatado em países dotados de uma 23
sociedade atrasada e de instituições fracas . O presente autor não fará distinção entre as 24
duas nomenclaturas, considerando equivalentes a utilização de maldição dos recursos
naturais ou doença holandesa.
A doença holandesa é uma falha de mercado, ocorrendo principalmente
em países que possuem abundância em recursos naturais. Tratase da entrada de grande
quantidade de dinheiro em determinado país, acarretando numa alta taxa de câmbio que
equilibra a contacorrente (que é a taxa de mercado) e a taxa de câmbio que viabiliza
setores econômicos eficientes e tecnologicamente sofisticados. Como a maior parte
deste recurso é basicamente proveniente de um setor específico, o aumento desta taxa de
câmbio se resume em menor competitividade para outros setores da economia,
acarretando numa desestimulação e uma possível desindustrialização do país produtor e
explorador de tais recursos . 25
Países abundantes em recursos naturais devem levar em conta alguns
fatores antes ou durante a exploração destes bens para neutralizar ou minimizar seus
efeitos. Como primeira estratégia, devese diminuir a velocidade de produção quando há
incapacidade de gestão das receitas provenientes da exploração deste recurso natural.
Com esta medida, grande parte desta riqueza permaneceria guardada e seriam
diminuídas as distorções macroeconômicas provenientes da doença holandesa. Como
segunda medida, seria importante implementar uma política de investimento, fazendo
22 BALAND, JEANMARIE & FRANCOIS, P. “Rentseeking and resource booms”. Journal of Development Economics, 61: 527542, 2000. Citado por: BRESSERPEREIRA, L. C.The Dutch Disease and its neutralization: a Ricardian approach. Revista de Economia Política, v. 28, n. 1:4771,São Paulo, 2008, p.7.
23 Orent seekingé a tentativa de um grupo específico obter vantagens sobre a esfera governamental, fazendo com que a renda proveniente dos recursos naturais seja investida, por exemplo, para reforçar seu poder político, ou promover luta armada contra grupos nacionais rivais ou países vizinhos, fato ocorrido com as elites do Oriente Médio e países africanos (IEDI, 2008, p.6). Este tipo de atitude impede o investimento para o desenvolvimento da nação, como investimento em infraestrutura e na indústria.
24 BRESSERPEREIRA, L. C. The Dutch Disease and its neutralization: a Ricardian approach. Revista de Economia Política, v. 28, n. 1:4771,São Paulo, 2008, p.7.
25 Ibidem. p.6.
31
com que essas economias diminuíssem suas dependências em função das atividades
relacionadas ao recurso natural. O ideal que ocorra em países que exploram
commodities é, com o passar do tempo, apresentar dependência desta receita cada vez
menor, por meio de fortalecimento de outros setores. Como terceira medida está a
criação de um fundo cambial proveniente das receitas geradas pela exploração dos
recursos naturais. Em época de alta dos preços das exportações, esses recursos são
aplicados no fundo, e durantes as épocas de queda do preço das exportações, os recursos
do fundo são utilizados para eliminar ou atenuar os impactos dessa queda ∙. 26
De acordo com o Fundo Monetário Internacional , os fundos se dividem 27
em cinco grupos, dependendo dos seus interesses:
a. Fundos de estabilização (stabilization funds): os países que constituem
este grupo são ricos em recursos naturais. Este fundo tem o objetivo de
proteger o orçamento fiscal e a economia doméstica das oscilações dos
preços dos produtos primários (sobretudo petróleo). Durante a alta dos
preços dos recursos naturais, a receita proveniente da exploração destes é
aplicada no fundo, preparando o país para um período de queda dos
preços;
b. Fundos de poupança (saving funds for future generations): este fundo
tem o objetivo de compartilhar as riquezas geradas atualmente para as
futuras gerações. Este processo consiste na transferência de ativos não
renováveis para um portfólio diversificado de ativos financeiros
realizados pelos países ricos em recursos naturais para suprir futuras
gerações ou outro objetivo de longo prazo;
c. Companhias de investimentos de reservas (reserve investment
corporations): este tipo de fundo tem o objetivo de seguir políticas de
investimento com alto retorno;
26 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.68. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
27 FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (2007). Global Financial Stability Report, September 2007, Annex 1,2. Sovereign Wealth Funds. Washington, D.C., p.4551. Disponível em: http://www.imf.org. Citado por: INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI).Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.8. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
32
d. Fundos para o desenvolvimento (development funds): tem como objetivo
alocar recursos para financiamento de projetos socioeconômicos
prioritários – em infraestrutura ou em política de desenvolvimento
industrial – a fim de ampliar o potencial de crescimento dos países;
e. Fundos de reserva para o sistema de aposentadoria (contingente pension
reserve funds): este fundo tem o objetivo de alocar recursos para o
sistema de aposentadoria na contabilidade do setor público.
A aplicação dos recursos destes fundos de estabilização é,
usualmente, feita em moeda estrangeira. Assim, com a tendência de apreciação da
moeda local em época em que as exportações são altamente favoráveis, esses recursos
são transferidos ao sistema financeiro internacional. Em períodos adversos, quando a
receita do Estado sofre grande queda, o recurso do fundo é direcionado para o Estado,
diminuindo o déficit público e contrabalanceando a queda das divisas.
A Figura 2.1 abaixo exemplifica este esquema de estabilização utilizando
o fundo . O Anexo 2.1 apresenta informações de alguns países que possuem fundos, 28
com os seus respectivos nomes, ativos, ano de criação além de informar a riqueza per
capita.
28 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.10. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
33
Figura 2.1 – Esquema de Fundo de Estabilização Fonte: IEDI
Os autores Sachs & Warner perceberam que os países com abundância 29
em recursos naturais tendiam a mostrar uma queda no crescimento econômico, devido à
doença holandesa, mostrando uma menor taxa de crescimento do PIB que os demais
países, como por exemplo, a Nigéria e a Venezuela, apesar de existirem histórias de
sucessos quando se observa países como a Noruega e Botsuana. Esses casos serão
estudados mais detalhadamente no próximo capítulo. Em contrapartida, países pobres
em recursos naturais apresentaram um bom crescimento econômico nas últimas
décadas, como foram os casos dos países localizados no Sudeste Asiáticos.
Para ilustrar este fato, o gráfico 2.1 mostra a distribuição de 144 países,
quando considerados, no eixo das abscissas, a participação de produtos primários na
exportações em 2005, e nas ordenadas, a taxa de crescimento médio da economia entre
1975 e 2005.
29 SACHS, J. D. & WARMER, A. M. Natural Resources Abundance and Economic Growth. NBER Working Paper 5398, 1995. Citado por: OLIVEIRA, B. & BRUNO, M. Sobre Maldições e Bênçãos: é possível gerir recursos naturais de forma sustentável? Uma análise sobre os royalties e as compensações financeiras no Brasil.Texto para discussão No 1412, 2009, p.3.
34
Gráfico 2.1 – Relação para 144 países entre taxa média de crescimento da economia (19752005) e participação de produtos primários na exportação de bens em 2005 Fonte: Sachs & Warner 30
Na construção do gráfico, os eixos das abscissas e das ordenadas se
cruzam em 42%, relativo ao dobro da média mundial da participação dos produtos
primários no total das exportações em 2005, e 1,4%, que é a média mundial de
crescimento do PIB per capita no período de 19752005. Esta distribuição facilita a
visualização no gráfico de países com abundância em recursos naturais, que estão
localizados a direita do eixo das ordenadas, enquanto que os países com escassez em
recursos naturais se localizam à esquerda. Os países que apresentam taxa de crescimento
do PIB acima da média, estão localizados acima do eixo das abscissas, enquanto que os
países que apresentam crescimento do PIB abaixo da média mundial se localizam
abaixo deste eixo.
O gráfico 2.1 apresenta claramente uma correlação negativa entre
abundância relativa de recursos naturais e o crescimento do PIB per capita. Traçando
uma reta de melhor ajuste pelo gráfico, obtémse a equação:
. Esta equação mostra que, para cada aumento unitário de x
30 Ibidem. p.3.
35
(aumento de 1% nas exportações de bens primários), há uma queda de 0,0315% no PIB
per capita. Isto mostra uma tendência mundial de decréscimo do PIB per capita em
países com abundância em recursos naturais.
Ainda pelo gráfico, percebese que, no 2º quadrante (acima do eixo das
abscissas e à esquerda do eixo das ordenadas) encontrase uma quantidade expressiva de
países que exibem escassos recursos naturais e um crescimento do PIB acima da média
mundial. Em situação oposta, os países que se encontram no 4º quadrante (abaixo do
eixo das abscissas e à direita do eixo das ordenadas) mostram abundância em recursos
naturais, mas apresentam crescimento do PIB abaixo da média mundial. Esses são os
países que possuem a tendência de estarem contaminados pela doença holandesa . 31
Sachs & Warner também construíram um modelo em que explicam que 32
um aumento de recursos naturais leva a uma queda na taxa de crescimento. Para tais
autores, a elevação da exploração dos recursos naturais faz com que haja uma maior
demanda por trabalhadores para bens e serviços nãotransacionáveis, levando a uma
situação inusitada dentro do país abundante em recursos naturais: se por um lado, parte
da população está sendo deslocada para este tipo de trabalho, a quantidade de
trabalhadores qualificados no setor transacionável diminui consideravelmente.
Como este modelo se baseia no fato de a economia de um país crescer
dependendo da quantidade de trabalhadores no setor transacional, ou melhor, na
alocação de capital humano no setor dinâmico, temos que, nesse contexto, o
crescimento deste país será menor, pois há menos mãodeobra deslocada para este
setor. Abaixo se encontra o Gráfico 2.2 utilizando este modelo. A economia 1 é
simulada como não possuindo recursos naturais. A economia 2 explorou os recursos
naturais por dois períodos, e a economia 3 explorou durante 20 períodos os recursos
naturais. Todas as economias possuem como ponto de partida uma taxa de crescimento
de 5% por período (para visualizar toda a formulação do problema, inclusive as
equações do modelo, consultar).
31 OLIVEIRA, B. & BRUNO, M. Sobre Maldições e Bênçãos: é possível gerir recursos naturais de forma sustentável? Uma análise sobre os royalties e as compensações financeiras no Brasil.Texto para discussão No 1412, 2009, p.4.
32 SACHS, J. D. & WARMER, A. M. Natural Resources Abundance and Economic Growth. NBER Working Paper 5398, 1995. Citado por: OLIVEIRA, B. & BRUNO, M. Sobre Maldições e Bênçãos: é possível gerir recursos naturais de forma sustentável? Uma análise sobre os royalties e as compensações financeiras no Brasil.Texto para discussão No 1412, 2009, p.79.
36
Gráfico 2.2 – Exemplo Numérico modelo Sachs e Warner (1995) – A maldição dos recursos naturais Fonte: OLIVEIRA, B. & BRUNO . 33
Podese perceber que de acordo com este modelo, na economia 1, onde
não há exploração de recursos naturais ocorre um ajuste crescente para a taxa de
crescimento, atingindo um valor de longo prazo próximo de 7%. Para a economia 2, há
duas fases distintas: a primeira que se estende até o 2º período, que é justamente
enquanto esta economia explora recursos naturais, percebese que a taxa de crescimento
econômico desta economia tende para 4,5%. Após a exploração de tais recursos, a taxa
de crescimento volta a crescer até atingir a taxa próxima de 7%, que é a taxa de
crescimento de uma economia sem recursos naturais. É importante frisar que esta
economia demora cerca de mais 5 períodos para atingir a trajetória da economia 1, fato
ocorrido apenas no 7 período. Neste intervalo, a taxa de crescimento fica abaixo do
alcançado pela economia sem recursos. Para a economia 3, que explora os recursos
33 OLIVEIRA, B. & BRUNO, M. Sobre Maldições e Bênçãos: é possível gerir recursos naturais de forma sustentável? Uma análise sobre os royalties e as compensações financeiras no Brasil.Texto para discussão No 1412, 2009, p.9.
37
durante todo o processo, percebese a condenação a maldição dos recursos naturais, pois
a taxa de crescimento desta economia estabiliza perto de 4,5%.
2.3 – SINTOMAS DA DOENÇA HOLANDESA
Um país que possua a doença holandesa pode ter sido afetado por duas
situações distintas: a primeira é aquela onde sempre existiu tal doença impedindo sua
industrialização; uma segunda maneira seria um país que neutralizou durante um
período o mal dos recursos naturais, porém em algum momento, essa neutralização
parou, fazendo o país crescer a taxas muito menores. No primeiro caso o país nunca
neutralizou a doença holandesa, como é o caso de países petroleiros. Um dos principais
sintomas neste caso é a do país em questão não produzir outros bens comercializáveis
além dos causadores da doença holandesa. Bons exemplos para este tipo de caso são a
Venezuela e a Arábia Saudita.
No segundo caso, apesar do país explorar os recursos naturais, ele
conseguiu se industrializar, fazendo com que a doença holandesa fosse neutralizada,
através do uso de tarifas de importação e subsídios à exportação. Contudo, após sofrer
grande pressão internacional sob alegação de prática de protecionismo, tais países
realizaram a liberalização comercial deixando de neutralizar uma falha de mercado, o
que acarretou a possibilidade de serem afetados pelo mal dos recursos naturais. São
exemplos deste caso os países latinoamericanos que, a partir dos anos 1990
abandonaram seus mecanismos de neutralização e sofreram uma desindustrialização . 34
De acordo com Oomes & Kalcheva , são quatro as maneiras de perceber 35
se o país em questão possui a doença holandesa ou não:
a) A percepção da taxa cambial estar sobreapreciada;
b) Baixo crescimento no setor manufatureiro;
c) Rápido crescimento do setor de serviços;
34 BRESSERPEREIRA, L. C. The Dutch Disease and its neutralization: a Ricardian approach. Revista de Economia Política, v. 28, n. 1:4771,São Paulo, 2008, p.4.
35 OOMES, NIENKE & KATERINA KALCHEVA. Diagnosing Dutch disease: does Russia have the symptoms?, IMF Working Paper 07/102, 2007. Citado por: BRESSERPEREIRA, L. C. The Dutch Disease and its neutralization: a Ricardian approach. Revista de Economia Política, v. 28, n. 1:4771,São Paulo, 2008, p.19.
38
d) Salários médios elevados dos trabalhadores e alto desemprego.
Apesar de essas características serem conhecidas, países que sofrem uma
desindustrialização causada pela doença holandesa possuem grandes dificuldades em
sua identificação e neutralização, sendo até mesmo previsível que economistas
convencionais e dos associados aos interesses de curto prazo de manutenção do sistema
recusem tal diagnóstico, sendo inclusive este fato um dos sintomas desta doença.
Utilizando demonstrações empíricas para negar o mal dos recursos naturais presente no
país, ou mesmo ciente dos fatos e afirmando que, mesmo com a desindustrialização, o
país pode apresentar taxas de crescimento econômico elevadas, fica evidente que essa
região sofre e deve utilizar recursos viáveis para neutralizar este problema . 36
2.4 – NEUTRALIZAÇÕES DA DOENÇA HOLANDESA
Como visto anteriormente, percebese uma tendência que os países que
mais exploraram os recursos naturais foram os que apresentaram a menor taxa de
desenvolvimento. Com a constatação da doença holandesa, e várias pesquisas
diagnosticandoa em países variados, começou a busca do “antídoto”, que seria sua
neutralização. Atualmente, sabese que isso só é possível com uma administração da
taxa de câmbio, ou seja, apesar do câmbio ser flutuante, ele deve ser sempre
administrado.
Praticamente todos os países administram suas taxa de câmbio por meio
da manutenção de um nível de taxa de juros baixo, internamente, ou da compra de
reservas internacionais, apesar de as autoridades negarem que estejam administrando a
taxa de câmbio. Uma terceira medida só seria necessária caso o país estivesse com o
mau dos recursos naturais: uma taxação sobre os bens que geram a doença holandesa.
Neste caso, o imposto deve ser equivalente à percentagem da diferença entre a taxa de
câmbio de equilíbrio corrente que seu custo mais baixo proporciona e a taxa de câmbio
de equilíbrio industrial que viabiliza setores comercializáveis. Uma última medida para
36 BRESSERPEREIRA, L. C. The Dutch Disease and its neutralization: a Ricardian approach. Revista de Economia Política, v. 28, n. 1:4771,São Paulo, 2008, p.21.
39
países que se encontram gravemente atingidos por esta doença seria a imposição de
controles de entrada de capitais . 37
A arrecadação relativa aos impostos dos recursos naturais não deve ficar
no país, e sim ir para um fundo de investimentos de ativos financeiros, evitando assim a
reapreciação da taxa de câmbio. Apesar de todos os países produtores de petróleo
taxarem suas exportações, em geral, essa taxação está em um nível insuficiente para a
neutralização do mal dos recursos naturais. Esse imposto deve ser tal que eleve a curva
da oferta do bem para cima de forma a trazer seu custo marginal próximo para o nível
dos demais bens, corrigindo e equilibrando as duas taxas de câmbio, a de equilíbrio
corrente e a taxa de câmbio de equilíbrio industrial. A primeira equilibra
intertemporalmente a contacorrente do país, sendo a taxa de câmbio que o mercado
tende a determinar. A segunda viabiliza setores industriais relativos a esse país.
As dificuldades dos Governos que sofrem do mal dos recursos naturais
são claros: os exportadores dos bens causadores da doença holandesa vão se opor a
taxação de seus produtos, apesar do objetivo desta medida não ser de reduzir o lucro e
sim de evitar a apreciação da moeda local. Como o imposto desloca a curva de oferta
para cima (Gráfico 2.3) faz com que o seu custo marginal se aproxime dos demais bens,
equilibrando as duas taxas de câmbio existentes, fazendo com que o exportador receba
de volta em termos de aumento de sua receita em moeda local o imposto pago. Caso o
país seja grande exportador mundial deste bem, este imposto pode aumentar o preço do
produto internacionalmente, fato que acarretaria num processo mais severo da doença
holandesa.
Um segundo problema enfrentado pelos governos é devido ao fato de,
enquanto a moeda está sobreapreciada pela doença holandesa, a população apresenta
um salário artificialmente elevado. Com a tentativa de neutralização deste mal dos
recursos naturais, temse a diminuição dos rendimentos reais dos trabalhadores que
habitam essa região, fazendo com que estes moradores tenham que comprar a preços
mais caros os bens comercializáveis, além de inviabilizar futuras viagens, etc.
37 BRESSERPEREIRA, L. C. The Dutch Disease and its neutralization: a Ricardian approach. Revista de Economia Política, v. 28, n. 1:4771,São Paulo, 2008, p.14.
40
Gráfico 2.3 – Oferta e procura Fonte: QUIJANO, F. & Y 38
Um segundo problema enfrentado pelos governos é devido ao fato de,
enquanto a moeda está sobreapreciada pela doença holandesa, a população apresenta
um salário artificialmente elevado. Com a tentativa de neutralização deste mal dos
recursos naturais, temse a diminuição dos rendimentos reais dos trabalhadores que
habitam essa região, fazendo com que estes moradores tenham que comprar a preços
mais caros os bens comercializáveis, além de inviabilizar futuras viagens, etc.
Outro problema apresentados por esses países é o fato de que, com a
criação do fundo no exterior e um fundo de estabilização das commodities, apenas os
países desenvolvidos ou que possuem fortes instituições são capazes de reservar toda a
receita proveniente dos impostos. Em países que não possuem tais características, esta
receita acaba sendo utilizada para financiar gastos do Governo, fazendo com que tal
doença não possa ser neutralizada.
38 QUIJANO, F. & Y. Agregando Todos os Mercados: O Modelo ASA. Disponível em: vsites.unb.br/face/.../OFERTA%20BLANCHARD%20CAP07.ppt. Acessado em: 10 fev de 2010.
41
De acordo com Sachs & Warner , o principal problema dos países que 39
sofrem deste mal é a utilização das verbas provenientes da exploração dos recursos para
fins nãoprodutivos, enquanto deveriam ser alocados para a criação de infraestrutura e
diversificação produtiva. Ainda de acordo com os autores, a abundância de recursos
tende a proporcionar uma falsa sensação de segurança e riqueza, desestimulando os
governos nacionais a implementar reformas e políticas voltadas para a obtenção de
maior nível de crescimento e desenvolvimento econômico.
2.5 – CARACTERÍSTICAS/SÍNTESE DA DOENÇA HOLANDESA
De acordo com BresserPereira , a doença holandesa pode ser resumida 40
em oito itens (não levando em consideração a noção de doença holandesa ampliada que
não foi tratada neste trabalho):
i. a doença holandesa ou mal dos recursos naturais afeta países que sofrem uma
sobreapreciação relativamente permanente da taxa de câmbio, devido à
exploração de grandes quantidades de recursos naturais, cujo custo marginal
baixo é compatível com uma taxa de câmbio de mercado substancialmente mais
apreciada do que a taxa de câmbio de equilíbrio industrial;
ii. há duas situações distintas de manifestação da doença holandesa: a primeira
seria permanente, quando o país explora recursos naturais desde sempre,
impedindo sua revolução industrial; a segunda se refere a algum fato que levou o
país a deixar de neutralizar a doença, apesar de ser industrializado, acarretando
em uma futura desindustrialização;
iii. para se neutralizar a doença holandesa é necessário aplicar um imposto tanto
sobre a venda interna quanto a venda externa dos bens causadores desse mal, e
39 SACHS, J. D. & WARNER, A. M. (1999). Natural resource intensity and economic growth. In MAYER, Jörg; CHAMBERS, Brian & FAROOQ, Ayisha (Org.). Development policies in natural resource economies, Cap. 2. Edward Elgar, Cheltenham, UK, e Northampton, Massachusetts. Citado por: INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.6. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
40 BRESSERPEREIRA, L. C. The Dutch Disease and its neutralization: a Ricardian approach. Revista de Economia Política, v. 28, n. 1:4771,São Paulo, 2008, p.3032.
42
esse imposto deve ser proporcional à diferença da taxa de câmbio de equilíbrio
industrial necessária para que as empresas industriais utilizando tecnologia
sejam competitiva e a taxa de câmbio de equilíbrio corrente;
iv. a neutralização da doença holandesa depende da gravidade com que esta doença
se apresenta em determinado país, ou seja, se o país apresenta uma grave doença
holandesa, sua neutralização será muito difícil, assim como será menor a
probabilidade de que esse país se industrialize e cresça;
v. os recursos provenientes dos impostos que têm como objetivo neutralizar a
doença holandesa não devem ser internalizados, exceto para estabilizar os preços
dos bens ao qual incide, sendo aplicados em um fundo financeiro internacional
para evitar a reapreciação da moeda local com a entrada dos recursos na
economia interna;
vi. as principais dificuldades encontradas pelos países que apresentam a doença
holandesa em neutralizála se devem a resistência à taxação por partes dos
exploradores de commodities; além da própria população, que enfrenta uma
baixa real de seus salários;
vii. os países que sofreram a doença holandesa sem ao menos conhecêla no
passado, e mesmo assim conseguiram se industrializar, realizaram tal feito
apenas pelo fato de, na prática, neutralizarem a doença holandesa por meio de
aplicação de impostos aos produtos importados e subsídio aos produtos
exportados, disfarçando o imposto sobre as commodities;
viii. a doença holandesa é uma grave falha de mercado porque sua ocorrência não
neutralizada implica uma externalidade negativa causada pelos recursos baratos;
2.5 – CONCLUSÃO
Este capítulo teve por objetivo esclarecer ao leitor sobre a doença
holandesa, que é um problema característico de vários países, principalmente os que
apresentam grande exportação de recursos naturais.
No próximo capítulo serão analisados os países que apresentam este mal
e outros que conseguiram controlar ou neutralizar este problema.
43
CAPÍTULO 3 – EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL COM A EXPLORAÇÃO DO PETRÓLEO
3.1 – INTRODUÇÃO
Neste capítulo será explicado o conceito de Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH), além do seu cálculo. Também serão analisados os métodos de
arrecadação dos recursos provenientes do petróleo utilizados pelos países produtores
desta commodity.
Em seguida serão analisados alguns países exportadores de petróleo e
avaliadas suas atitudes em relação à prevenção da possibilidade de adquirirem a doença
holandesa. Ao final, será feita uma análise da evolução do IDH desses países.
3.2 – ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH)
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi desenvolvido em1990
pelos economistas Amartya Sen e Mahbub ul Haq. Desde 1993, este índice vem sendo
utilizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no seu relatório
anual. É uma maneira padronizada de avaliação e medida do bemestar de uma
população. Todo ano, ospaíses membros da ONU são classificados de acordo com essas
medidas. Apesar de ter sido publicado pela primeira vez em 1990, o índice foi
recalculado para os anos anteriores, desde 1975. O IDH tratase de uma medida
comparativa que engloba três dimensões:riqueza(R),educação(E) eesperança média de
vida(L) . 41
a. Índice de educação (E): para avaliar a dimensão da educação o cálculo do IDH
considera dois indicadores. O primeiro, com peso dois, é ataxa de alfabetização
de pessoas com 15 anos ou mais de idade — na maioria dos países, uma criança
já concluiu o primeiro ciclo de estudos (no Brasil, o Ensino Fundamental) antes
dessa idade. Por isso a medição doanalfabetismo se dá, tradicionalmente a partir
41 http://pt.wikipedia.org/wiki/Indice_de_Desenvolvimento_Humano. Acessado em: 20 fev. de 2010.
45
dos 15 anos. O segundo indicador é a taxa de escolarização: somatório das
pessoas, independentemente da idade, matriculadas em algum curso, seja ele
fundamental, médio ou superior, dividido pelo total de pessoas entre 7 e 22 anos
da localidade. Também entram na contagem os alunos do supletivo, de classes
de aceleração e de pósgraduação universitária. Apenas classes especiais de
alfabetização são descartadas para efeito do cálculo.
b. Longevidade(L): O item longevidade é avaliado, considerando a esperança de
vida ao nascer. Esse indicador mostra a quantidade de anos que uma pessoa
nascida em uma localidade, em um ano de referência, deve viver.
c. Renda(R): A renda é calculada tendo como base o PIB per capita (por pessoa)
do país. Como existem diferenças entre o custo de vida de um país para o outro,
a renda medida pelo IDH é em dólar PPC (Paridade do Poder de Compra), que
elimina essas diferenças . 42
Para calcular o IDH de uma localidade, fazse a seguinte média
aritmética:
(1)
Onde: L = Longevidade; E = Educação; R = Renda
O valor L provém de:
(2)
Onde: EV = Esperança média de vida;
O valor de E provém de:
42 http://pt.wikipedia.org/wiki/Indice_de_Desenvolvimento_Humano. Acessado em: 20 fev. de 2010.
46
(3)
Onde: TA = Taxa de Alfabetização; TE = Taxa de Escolarização;
E finalmente:
(4)
Onde: log10PIBpc = logaritmo decimal do PIB per capita.
nota: podese utilizar também a renda per capita (ou PNB per capita) . 43
3.2.1 – Classificação dos países através do Índice de Desenvolvimento Humano
A classificação dos países através do Índice de Desenvolvimento
Humano varia de 0 (nenhum desenvolvimento humano) até 1 (desenvolvimento humano
total).
As quatro diferentes formas de o país ser classificado dependente deste
índice são apresentadas pela Tabela 3.1.
Tabela 3.1 – Classificação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
Fonte: Elaboração própria.
3.3 – ARRECADAÇÃO DE DIVISAS PELO GOVERNO PROVENIENTES DO PETRÓLEO
43 http://pt.wikipedia.org/wiki/Indice_de_Desenvolvimento_Humano. Acessado em: 20 fev. de 2010.
47
O Governo, por meio de negociações com as empresas privadas
nacionais e estrangeiras, define a parcela de apropriação dos recursos provenientes do
petróleo. Essas negociações devem levar em conta os diferentes cenários para as
tendências futuras do setor, tais como estimativas de preços, custos, capacidade de
produção, tamanho da reservas e introdução de novas tecnologias. Havendo frustração
de parte dos agentes, sempre há pressão para a reformulação dos contratos estabelecidos
anteriormente.
Um exemplo deste fato foi verificado ao longo das décadas de 1980 e
1990, quando houve uma elevação nos preços do petróleo forçando os governos
nacionais a ampliarem as cargas tributárias sobre as atividades relativas ao petróleo. As
empresas, em contrapartida, intensificaram suas queixas alegando crescente custo de
produção devido à expansão da demanda por bens e serviços específicos à extração e
refino de petróleo, fato que ocorre nas altas de preços do petróleo. Assim, a legislação
do país deve ser tal que viabilize ampliar a participação do Estado através de tributação
sobre o setor e, ao mesmo tempo, garantir a competitividade das empresas . 44
No Figura 3.1 é apresentados os países que sofreram tais alterações ao
longo dos últimos anos.
Figura 3.1 – Alterações no Sistema de Tributação no Setor do Petróleo – 1999 a 2005 Fonte: Johnston 45
44 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.1112. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
45 JOHNSTON, D. (2008) Changing fiscal landscape. Journal of World Energy Law & Business, vol. 1, n. 1.Citado por: INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI).
48
Segundo Johnston , existe três formas de apropriação da renda 46
proveniente do petróleo pelo Estado:
i. Royalties e impostos
ii. Contrato de partilha de produção (Producting Sharing Contracts)
iii. Contratos de cooperação (Service Agreement)
Na da Tabela 3.2, a seguir o autor expõe o tipo de apropriação para vários
países.
Tabela 3.2 – Formas de apropriação da renda proveniente do petróleo entre 19982007.
Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.12. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
46 Ibidem. p.13.
49
Fonte: IEDI 47
As formas de arrecadação do tipo royalties constituem uma das mais
antigas formas de arrecadação do mundo, consistindo num pagamento a sociedade pela
47 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.14. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
50
utilização de recursos naturais escassos e não renováveis . Nos dias atuais, os royalties 48
e os impostos são as principais formas utilizadas pelos governos para a apropriação da
renda do petróleo, o que é demonstrado na tabela 3.2. Essa taxação tende a aumentar
quando há um aumento na exploração e uma diminuição nos riscos e nos custos.
Os governos utilizam várias formas para o cálculo dos royalties que
devem ser pagos pelas empresas, que pode ser sobre o volume produzido, sobre o lucro
das empresas, sobre o volume e a variação do preço de mercado de petróleo, além de
outros parâmetros.
O tipo de arrecadação no contrato de partilha de produção consiste em
um contrato entre o governo detentor dos recursos naturais e as empresas responsáveis
pela exploração. Neste contrato se estabelece a divisão do petróleo extraído entre esses
dois agentes, acompanhado de um acordo que encarrega a empresa da venda da parcela
do petróleo de propriedade do governo.
O terceiro e último tipo de arrecadação é o de contratos de cooperação,
onde o governo contrata a empresa para realizar os serviços desejados. Neste modelo, o
governo é proprietário de todo o petróleo extraído, tendo que pagar para as empresas
pelos serviços realizados. Como geralmente os governos entregam parte da produção de
petróleo como pagamento pelos serviços realizados, esse modelo acaba se assemelhando
com o modelo contrato de partilha.
Enquanto que, nos dois primeiros modelos, o risco das operações é
geralmente suportado pelas empresas, pois elas são as responsáveis pela maior parte dos
investimentos, o risco das operações no terceiro modelo é suportado pelo governo,
sendo função das empresas apenas operar como prestadora de serviços. Neste último
modelo permitese que os governos, assumindo o risco de preço da operação, participem
do mercado de petróleo, definindo diretamente a quantidade a ser comercializada ou
mantida como reservas. Geralmente o que ocorre é um país adotar mais de um modelo,
sendo relevante para tal decisão a localização da jazida (continental ou marítima) e
profundidade da reserva . 49
48 AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.52.
49 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.17. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
51
Para os modelos de arrecadação dos tipos contratos de partilha de
produção e contrato de cooperação, a arrecadação do governo estará associada à
evolução do preço do petróleo, já que nesses casos o governo possui parte da produção e
a vende a preço de mercado. Enquanto que no caso da arrecadação por meio de royalties
e impostos está vinculado ao método de cálculo utilizado . 50
3.4 – PAÍSES PRODUTORES E EXPORTADORES DE PETRÓLEO
O país que apresenta o maior volume de produção de petróleo é a Arábia
Saudita, seguida pela Rússia e o Emirados Árabes. Abaixo encontrase uma tabela com
os maiores exportadores de petróleo mundiais.
Tabela 3.3 – Maiores Exportadores Líquidos de Petróleo – 2006 (em mil barris/dia)
Fonte: IEDI 51
A tabela 3.4 apresenta a localização das maiores reservas de petróleo no
mundo. A Arábia Saudita apresenta a maior reserva seguida pelo Canadá e Irã.
50 Ibidem. p.17. 51 Ibidem. p.47.
52
Tabela 3.4 – As vinte maiores reservas de petróleo do mundo – 2009
Fonte: EIA . 52
Em seguida, serão apresentados alguns países que são grandes produtores
e exportadores de petróleo, sendo analisado como os mesmos têm utilizado a renda
proveniente deste recurso para desenvolver o país. Os países analisados serão Nigéria,
que foi o 8º maior exportador de petróleo em 2006 e possuía uma reserva de 36,2
bilhões de barris de petróleo, a Rússia, que foi o 2º maior exportador de petróleo em
2006 e possuía uma reserva de 60 bilhões de barris de petróleo, a Venezuela, que foi o
7º maior exportador de petróleo em 2006 e possuía uma reserva de 80 bilhões de barris
de petróleo e a Noruega, que foi o 4º maior exportador de petróleo em 2006 e possuía
uma reserva de 7,8 bilhões de barris de petróleo.
3.4.1 – Nigéria
52 US ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION (EIA). Disponível em <http://www.eia.doe.gov>. Acessado em 25 mar. 2010.
53
Em 1956, a ShellBP, que possuía exclusividade de concessão na região,
descobriu o primeiro campo petrolífero da Nigéria, em Oloibiri, localizado no Delta do
Níger, fato ocorrido após meio século de exploração. A produção deste campo foi
realizada dois anos depois, alcançando 5100 barris por dia. Após 1960, os direitos de
exploração dos campos petrolíferos deixaram de ser exclusivos para a ShellBP, sendo
permitidas outras empresas . 53
País mais populoso da África com cerca de 140 milhões de pessoas, parte
expressiva da população da Nigéria (54% ou cerca de 72 milhões de pessoas) vive com
menos de $1 dólar por dia . 54
Entretanto, este país se apresenta desde 1971 entre os países que mais
exportam petróleo, fazendo parte, inclusive, da Organização de Países Exportadores de
Petróleo (OPEP). A quantidade de petróleo exportado superou 2,5 milhões de barris por
dia em 2005 (gráfico 3.1).
Gráfico 3.1 – Produção de petróleo da Nigéria ao longo de 1990 a 2008. Fonte: EIA 55
Apesar desta grande quantidade de exportação e, conseqüentemente de
recursos para o país, a Nigéria não conseguiu um crescimento econômico satisfatório
53 http://www.nnpcgroup.com/history. Acessado em 15 de abril 2010. 54 FINAL REPORT TO CANADIAN INTERNATIONAL DEVELOPMENT AGENCY (CIDA) AND DEPARTMENT FOR INTERNATIONAL DEVELOPMENT (DFID), Gender and growth Assessment – Nigeria, 2009, p 4.
55 ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION (EIA) NIGERIA, Country Analysis Briefs, 2009, p.3. Disponível em: www.eia.doe.gov/cabs/nigeria.htm. Acessado em: 22 fev. de 2009.
54
nas últimas quatro décadas, vários fatores contribuíram para esse problema:
instabilidade política, corrupção, baixos investimentos em infraestrutura, mal dos
recursos naturais, etc. Entre 19702000, o país cresceu a uma média anual de 0,12% ao
ano, ou seja, ficou praticamente estagnada. A partir de 2000, o desempenho econômico
da Nigéria começou a melhorar, passando a crescer em média a 6% ao ano. Este
crescimento tem sido atribuído ao crescimento da produção agrícola e das exportações,
porém, uma análise mais profunda, percebese que também se deve a um aumento
expressivo ao aumento do preço do petróleo, principalmente em meados de 2008 . 56
O petróleo representa cerca de 40% do Produto Interno Bruto (PIB)
nigeriano (Gráfico 3.2), 98% das exportações e cerca de 85% da receita do governo
(Collier et al., 2008). Ainda neste gráfico, é possível perceber a o aumento da
importância do petróleo para o PIB do país, enquanto há uma queda na participação dos
produtos manufaturados. Segundo Gary & Karl , a Nigéria estaria gastando muito e 57
poupando pouco os recursos do petróleo, além de estar aplicando os recursos em
benefício de uma minoria, o que não gera benefícios através da melhora de sua
economia, tampouco proporciona rentabilidade para as futuras gerações com a aquisição
de ativos.
Apesar de representar quase 40% do PIB, o setor petroleiro na Nigéria é
responsável por apenas 4% dos empregos, ou seja, grande parte da população não se
beneficia da boa remuneração proveniente deste trabalho. Já a agricultura representa
60% do emprego no país e a 28% do PIB nigeriano. A economia não petroleira cresceu
entre 20042007 a uma taxa de 10% a.a. e não criou muitos empregos formais, pelo
contrário, aumentou o número de trabalhadores informais na região. O desemprego
entre os jovens é próximo de 60% . 58
56 FINAL REPORT TO CANADIAN INTERNATIONAL DEVELOPMENT AGENCY (CIDA) AND DEPARTMENT FOR INTERNATIONAL DEVELOPMENT (DFID), Gender and growth Assessment – Nigeria, 2009, p.6.
57 GARY, Ian. KARL, Terry L. Bottom of the barrel: Africa’s oil boom and the poor. Baltimore: Catholic Relief Press, 2003. Citado por: INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.77. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
58 FINAL REPORT TO CANADIAN INTERNATIONAL DEVELOPMENT AGENCY (CIDA) AND DEPARTMENT FOR INTERNATIONAL DEVELOPMENT (DFID), Gender and growth Assessment – Nigeria, 2009, p 4.
55
A Nigéria tem investido menos que 10% de seu PIB internamente. Tal
investimento tende a construir maior infraestrutura do país, aumentando a capacidade
produtiva e ajudando no desenvolvimento econômico. Com baixo investimento, tal
crescimento tende a se realizar com taxas bem pequenas . O gráfico 3.3 mostra a 59
evolução do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) na Nigéria em comparação com
países vizinhos. Percebese que países nos quais os recursos naturais não são
abundantes, apresentam maior IDH quando comparados com a Nigéria, além de um
crescimento muito parecido.
Gráfico 3.2 – Produto Interno Bruto da Nigéria Fonte: CIDA & DFID , modificado pelo autor. 60
59 FINAL REPORT TO CANADIAN INTERNATIONAL DEVELOPMENT AGENCY (CIDA) AND DEPARTMENT FOR INTERNATIONAL DEVELOPMENT (DFID), Gender and growth Assessment – Nigeria, 2009, p.8.
60 Ibidem. p.47.
56
Gráfico 3.3 – Índice de Desenvolvimento Humano da Nigéria e países vizinhos. Fonte: CIDA & DFID , modificado pelo autor. 61
Infelizmente, a Nigéria é estudada
nos dias atuais como exemplo de um país que sofre do “mal dos recursos naturais” e que
não soube aproveitar da melhor maneira os recursos provenientes do petróleo,
encontrandose ainda como país de desenvolvimento médio de acordo com a
classificação do IDH.
3.4.2 – Noruega
A Noruega apresenta uma gestão dos recursos naturais provenientes da
exploração do petróleo muito bem sucedido, sendo inclusive o país referencia de como
evitar grande parte dos efeitos da doença holandesa. As primeiras descobertas
importantes de reservas de petróleo foram realizadas na década de 1970 nos campos
Tor, Ekofish e Eldfisk, no mar do Norte. A partir de 1975 o volume de exploração se
tornou relevante . 62
61 FINAL REPORT TO CANADIAN INTERNATIONAL DEVELOPMENT AGENCY (CIDA) AND DEPARTMENT FOR INTERNATIONAL DEVELOPMENT (DFID), Gender and growth Assessment – Nigeria, 2009, p.47.
62 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.26. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
57
Com o aumento da exploração deste recurso, o país tratou rapidamente de
discutir sobre a taxação e utilização dos mesmos. Desde o início das atividades as
autoridades já se mostravam conscientes dos possíveis efeitos da exploração do petróleo
na economia interna. Uma das medidas adotadas foi à utilização de uma estratégia
gradualista na extração, por meio de controle do nível de produção, devido ao receio do
tipo de resposta da economia norueguesa, provenientes da demanda de trabalhador e do
investimento necessário no setor, além da preocupação em redefinir como deveria ser
absorvida a renda adicional. Assim, ficou decidido que a produção anual seria mantida
entre 25 e 90 milhões de toneladas . 63
As crises do petróleo, ao longo da década de 1970, e, conseqüentemente,
o seu elevado valor até meados de 1980, expuseram a dependência da receita do
governo ao ciclo do petróleo. O controle sobre a produção se mostrava ineficiente. Com
o valor deste recurso valorizado no mercado internacional, o governo passa a ver o setor
petrolífero, não mais como uma ameaça à economia, mas como uma locomotiva para a
mesma. Verificouse que o mercado de trabalho não era um fator limitante para a
expansão da atividade petroleira, exceto em algumas ocupações altamente
especializadas. Com essa nova visão de mercado, a Noruega flexibilizou o limite de
produção anual, além de criar um fundo de estabilização com o intuito de isolar a
economia interna dos ciclos do preço do petróleo . 64
O fundo de estabilização criado pela Noruega serviu de modelo sobre
como isolar a economia interna. De acordo com Larsen , além do fundo, outros fatores 65
foram responsáveis pela redução do impacto da doença holandesa no país, como a
negociação salarial, que dependia da produtividade da indústria, como um todo e não só
do setor petroleiro, além do fortalecimento do balanço patrimonial do setor público, que
reduziu suas dívidas.
63 Ibidem. p.27. 64 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.27. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
65 LARSEN, E. R. (2004) Escaping the Resource Curse and the Dutch Disease? When and Why Norway Caught up with and Forged ahead of Its Neighbors. Statistics Norway, Discussion Papers n. 377, 2004. Citado por: INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI).Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.52. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
58
Com o intuito de depender cada vez menos dos recursos provenientes do
petróleo, o governo norueguês lançou mão de política industrial favorável a
diversificação produtiva e fortaleceu o desenvolvimento de setores. Atualmente, existem
três instituições que operam a política industrial, voltadas para criar um ambiente
propício à inovação tecnológica: Innovation Norway, Industrial Development
Corporation of Norway (SIVA) e Research Council of Norway . 66
A Innovation Norway foi criada em janeiro de 2004, a partir da fusão de
quatro outras instituições. Por meio de financiamentos, consultorias, criação de
networks e promoções internacionais, o objetivo de sua criação foi que as empresas
norueguesas tivessem o incentivo para o desenvolvimento de novos produtos e se
internacionalizassem. A SIVA foi criada, em 1968, com o objetivo de incentivar a
formação de agrupamentos industriais regionais por meio da compra de participações
em companhias e de projetos de infraestruturas e centros de inovação, auxiliando o
desenvolvimento econômico de regiões remotas. As ações da SIVA são nas áreas de
construção, indústria, inovação e cooperação internacional. A Research Council foi
fundada em 1993 com a fusão de cinco instituições diferentes. Seu objetivo é fornecer
suporte aos projetos de investimentos avaliados como estratégicos, em função do
potencial de criação de valor, dados as atividades de maior vantagem competitiva na
Noruega . 67
O fundo de Estabilização Norueguês
Para evitar que a economia interna do país sofresse com o ciclo do preço
do petróleo, o parlamento criou, em 1990, um fundo de reservas capaz de captar receitas
obtidas com a exploração deste recurso natural, o Government Petroleum Fund. Em
2006, o fundo foi renomeado para Government Pension Fund (GPF), que reúne o 68
66 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.27. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
67 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.28. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
68 Como afirma Gronvik (2006), não existe nenhuma vinculação legal entre os recursos do fundo e o pagamento de pensões; a alteração de nome teve por objetivo indicar à sociedade norueguesa que os recursos acumulados nesses fundos fazem parte de um direito da coletividade e não será gasto pelo governo.
59
Government Pension FundNorway (GPFN) e o Government Pension Fund – Global
(GPFG), com o objetivo de facilitar a poupança do setor público para os gastos futuros
com a seguridade social (pensões e aposentadorias), além de garantir a gestão de longo
prazo das receitas provenientes do petróleo . 69
Os objetivos do GPFG são : 70
a) proteger a política fiscal e monetária de desdobramentos das oscilações
do preço do petróleo (meta de estabilidade);
b) transformar recursos naturais de ativos reais em ativos financeiros, a fim
de permitir que as gerações futuras possam ser beneficiadas (meta
intergeracional);
c) evitar a apreciação cambial e o demasiado aquecimento da demanda
interna, com possíveis repercussões nos preços internos (meta de
competitividade).
Os tipos de arrecadação que o governo Norueguês utiliza são os royalties,
dividendos, taxas sobre emissão de CO2, e, principalmente, pela taxação de
rentabilidade proveniente da propriedade e licenciamento das reservas de petróleo e gás
natural, apropriada por meio do State’s Direct Financial Interest (SDFI) . 71
Pelo Gráfico 3.4 conseguese perceber que o fundo norueguês conseguiu
evitar a sobrevalorização da moeda local, pois, em 2001, a relação NOK (moeda
local)/US$ valia nove, enquanto que em 2008 este valor caiu cerca de 40%, alcançando
5.1. Ao mesmo tempo, as reservas no fundo GPF aumentaram mais que oito vezes,
chegando a 382 bilhões de dólares . 72
69 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.28. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
70 Ibidem. p.28. 71 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.29. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
72 Ibidem. p.29.
60
Gráfico 3.4 – Valor de mercado do GPF e taxa de câmbio – 2001 a 2008 Fonte: IEDI 73
Uma das principais medidas adotadas pelo país foi limitar as
transferências anuais para o orçamento público em 4% do patrimônio do fundo, desde
que possa ser capaz de financiar a política fiscal em momentos de recessão ou
desaceleração da economia, além de conseguir estabilizar a taxa de câmbio. Essa taxa de
4% representa o retorno real esperado anualmente sobre seus ativos, o que conservaria o
valor do estoque de riqueza para as gerações futuras . 74
Ao longo dos anos, é notável o crescimento do IDH norueguês. Desde
2000, a Noruega vem apresentando o melhor IDH mundial, sendo classificado como
país de desenvolvimento muito alto. O gráfico 3.5 apresenta a evolução do IDH da
Noruega e a posição deste país no ranking do índice.
73 Ibidem. p.29. 74 Ibidem. p.31.
61
Gráfico 3.5 – Evolução do IDH da Noruega no período 19752007. Fonte: Elaboração própria. 3.4.3 – Rússia
Como pode ser verificado na tabela 3.5, a Rússia apresentou a segunda
maior produção e exploração de petróleo do mundo em 2006, perdendo apenas para a
Arábia Saudita. O Fundo Monetário Internacional estima que o setor tenha sido
responsável por 20% do PIB no país no ano de 2005, desempenhando um importante
papel no equilíbrio das contas do governo. Ainda neste ano, este setor foi responsável
por 61% das exportações do país (Tabela 3.5) . 75
O governo utiliza uma elevada tributação sobre as atividades
relacionadas à exploração de petróleo e gás natural desde a crise cambial de 1998,
evitando pressões inflacionarias devido ao crescimento interno elevado. A Rússia
também criou um fundo internacional em 2004 (Oil Fund Stabilization), fato que
garantiu uma maior disciplina fiscal, evitou uma brusca apreciação da moeda nacional
(rublo) e reduziu as de pressões inflacionárias . 76
75 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.38. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
76 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.39. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
62
Tabela 3.5 – Rússia Balança Comercial (em US$ Bilhões)
Fonte: IEDI 77
De acordo com Owen , a partir da criação do fundo de estabilização, foi 78
possível uma maior transparência em relação aos recursos provenientes do petróleo, já
que, anteriormente à sua fundação, as receitas do petróleo e do gás eram integradas ao
orçamento fiscal do governo.
O fundo consiste em um fundo de estabilização, em moeda estrangeira,
evitando a apreciação da moeda local. Os recursos são provenientes dos impostos sobre
a extração de recursos naturais e no imposto sobre exportação do petróleo bruto a partir
de um limite estabelecido para o preço internacional do produto, que corresponderia a
um preço de equilíbrio de longo prazo . 79
No ano da criação do fundo, foi estabelecido um preço limite de US$
20/barril. Assim, toda vez que o preço do petróleo ultrapassasse este valor, os recursos
captados por meio de impostos deveriam ser depositados no fundo. Além disso, todo o
dinheiro previsto para o orçamento do governo, que não era utilizado, deveria ser
depositado no fundo. O governo só poderia retirar recursos do fundo se o mesmo
alcançasse 500 bilhões de rublos, valor alcançado em 2005. Os valores excedentes
foram utilizados para o pagamento antecipado da dívida externa ao FMI . 80
77 Ibidem. p.38. 78 OWEN, D. Russia: Revenue Management without an Oil Fund. Fundo Monetário Internacional, Washington DC, 2002. Citado por: INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.41. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
79 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.41. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
80 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o présal. Análise IEDI, 2008, p.42. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.
63
A falta de clareza com que o governo utiliza para definir o preço limite
vem sendo motivo de criticas, pois há a possibilidade deste preço ser estabelecido
propositalmente alto de forma a reduzir o comprometimento das receitas fiscais com a
injeção de capital no fundo . 81
Devido ao rápido crescimento do patrimônio do fundo, o governo russo
dividiu esse fundo em dois: Reserve Fund e o National Wealth Fund. O Reserve Fund,
cujo patrimônio deve ser mantido em 10% do PIB, funciona como um fundo de
estabilização, pois realiza investimentos em títulos públicos estrangeiros de baixo risco
e pode ser utilizado se os preços do petróleo e do gás caírem, não afetando o orçamento
do governo. Já o National Wealth Fund tem como objetivo investir em ativos de maior
risco e que proporcionem maiores retornos sobre o investimento, ou seja, é um fundo do
tipo investimento de reserva . 82
Em relação à diversidade de produção russa, o setor industrial continua
concentrando um número pequeno de empresas. Cerca de 50% de toda a produção
industrial no país são provenientes de cerca de 12 empresas, entre elas estão as grandes
estatais de gás e de eletricidade.
Em 2007, o governo criou o Russian Development Bank, a partir da
reestruturação do banco estatal Vnesheconombank, com objetivo de contribuir para o
desenvolvimento de infraestrutura no país . 83
Em relação à evolução do IDH, a Rússia não tem conseguido um
crescimento contínuo e uma posição de destaque, apesar de ser classificado como país
de desenvolvimento alto.
No gráfico 3.6 é apresentada a evolução do IDH da Rússia, bem como a
posição deste país no ranking. A posição do ranking só é apresentada a partir de 2000,
devido à inclusão de vários países no ranking este ano, levando a conclusões incorretas
caso fosse colocado nos anos anteriores.
81 Ibidem. p.43. 82 Ibidem. p.43. 83 Ibidem. p.45.
64
Gráfico 3.6 – Evolução do IDH da Rússia no período 19752007. Fonte: Elaboração própria.
3.4.4 – Venezuela
Em 1912, iniciaramse os primeiros estudos geológicos na Venezuela.
Dois anos depois foi perfurado o primeiro poço. Em meados da década de 1920 o país já
era o segundo maior país produtor de petróleo no mundo. Em 1922, o Congresso
venezuelano promulgou a lei do petróleo, que ditava os termos para as concessões,
impostos e royalties. As decisões políticas tomadas pelos diferentes governos a respeito
do petróleo e da indústria petrolífera constituem os fatores determinantes do
desenvolvimento econômico da Venezuela. Em 1928, o país se tornou o maior
exportador de petróleo do mundo e permaneceu neste posto até 1970 . 84
Nos primeiros anos pós descoberta de petróleo, o PIB venezuelano teve
forte aumento, exceto próximo ao ano de 1929, quando a economia mundial sofreu com
a queda da bolsa de Nova York (Gráfico 3.7) . 85
84 BATISTA, R. O desenvolvimento econômico da Venezuela 1920/2006. Rio Grande do Sul: Faculdade de Ciência Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (PósGraduação em Economia), 2008, p.58.
85 Ibidem. p.62.
65
Em 1948, o governo impôs um imposto adicional, segundo o qual os
lucros da exploração petroleira seriam divididos em partes iguais entre o Estado e as
companhias estrangeiras (acordo fiftyfifty). Houve um aumento na receita que
possibilitou que o governo investisse em educação, saúde, obras de saneamento,
agricultura e indústria . 86
Gráfico 3.7 – PIB da Venezuela a preços de mercado, 1908/1935 Fonte: Batista, R. 87
Em 1959, o novo governo rompeu o acordo fiftyfifty, passando a ficar
com a maior parte da renda petrolífera e abrindo espaço para a estatização das indústrias
petrolíferas. Com esta possibilidade, as empresas começaram a explorar as reservas de
forma predatória. O país estava cada vez mais dependente do petróleo, principalmente
após o primeiro e o segundo choques do petróleo, ocorridos em 1973 e 1979. No gráfico
3.8 conseguese perceber esta dependência: se por um lado as exportações cresciam a
cada ano, por outro era fortemente dependente do petróleo . 88
Em 1988, apesar do país crescer 6,1%, o preço do petróleo estava em
queda, o endividamento externo crescendo, as reservas internacionais se exaurindo e a
inflação chegava quase aos 100%. Batista argumenta ainda que o aumento da renda 89
86 BATISTA, R. O desenvolvimento econômico da Venezuela 1920/2006. Rio Grande do Sul: Faculdade de Ciência Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (PósGraduação em Economia), 2008, p.68.
87 Ibidem. p. 61. 88 Ibidem. P.71. 89 Ibidem. p.98.
66
petrolífera, decorrente dos dois choques do petróleo, aumentou a burocracia estatal e os
subsídios, gastos que não se reduziram nos momentos desfavoráveis da atividade
petrolífera.
Após 1973, houve uma desaceleração econômica devido a desequilíbrios
econômicos, sobretudo inflação alta, fato agravado pela queda da renda petrolífera. Este
fato se deveu à redução das exportações para os EUA, que era seu principal mercado.
Até o ano de 1999, a Venezuela não conseguiu promover um crescimento econômico
com melhorias sociais, fato que facilitou a chegada de Hugo Chaves ao poder . 90
Gráfico 3.8 – Exportações de petróleo e exportações totais da Venezuela, 1920/1973 ( em milhões de bolívares) Fonte: Batista, R . 91
Em 1999, o governo venezuelano criou um Fundo de Investimento para a
Estabilização Macroeconômica (FIEM), composto pelos excedentes das divisas do setor
do petróleo. Com este fundo, seria possível manter a estabilidade do país, apesar das
futuras quedas de preço ou queda nas exportações. Em 2002, o governo criou a nova lei
90 BATISTA, R. O desenvolvimento econômico da Venezuela 1920/2006. Rio Grande do Sul: Faculdade de Ciência Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (PósGraduação em Economia), 2008, p.140.
91 Ibidem. p.82.
67
dos hidrocarbonetos, e a estatal PDVSA passou a ter participações obrigatórias em todas
as atividades da indústria petrolífera. Esta lei tinha cinco objetivos . 92
a) recuperar o papel central do governo na questão petrolífera, através do
Ministério de Energia e Minas;
b) aumentar as receitas fiscais, em franca decadência desde os anos 1970;
c) fortalecer a OPEP, com a firme adesão da Venezuela;
d) romper com as tendências favoráveis à privatizações da PDVSA;
e) estimular a participação de empresários petrolíferos nacionais.
O Gráfico 3.9 mostra que, antes de 2000, o crescimento do IDH da
Venezuela foi pequeno ao longo dos anos, chegando a 69o posição no ano de 2000,
sendo classificado como país de desenvolvimento médio. A partir deste ano, houve um
aumento considerado do IDH a cada ano, até se chegar a 0,844 em 2007, quando a
Venezuela alcançou o 58º lugar no ranking mundial de IDH, o que classifica o país
como em desenvolvimento alto.
.
Gráfico 3.9 – Evolução do IDH da Venezuela e sua posição no ranking mundial no período 19752007. Fonte: Elaboração própria.
92 SEVERO, Luciano.Petróleo e Venezuela: 19202002. São Paulo: PUC. (Monografia para Bacharelado em Economia), 2003, p. 8283. Citado por: BATISTA, R. O desenvolvimento econômico da Venezuela 1920/2006. Rio Grande do Sul: Faculdade de Ciência Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (PósGraduação em Economia), 2008, p.115.
68
Contudo, a Venezuela ainda não conseguiu diminuir a dependência do
petróleo nas suas exportações, fato que aumenta a cada ano e se agravou com o aumento
do preço do petróleo na década de 2000 (Tabela 3.6).
Segundo Corden & Neary , foi identificado à doença holandesa na 93
Venezuela no período de 1973 a 1982, pois o impacto do petróleo neste período na
economia passou a ser negativo pela valorização da moeda local. Já o estudo realizado
por Souza & Alvim , no período de 1950 a 1998, envolvendo várias determinantes do 94
crescimento econômico venezuelano, não comprovou a presença da doença holandesa.
Tabela 3.6 – PIB e exportações da Venezuela e preço do petróleo, 1990/2006
Fonte: BATISTA, R. 95
Obs: PIB e exportações em US$ milhões a preços de 1995 (1990 a 2002) e a preços de 2000 (2003 a 2006).
3.5 – CONCLUSÃO
93 CORDEN. W.M. & NEARY, J.P. Booming sector and Dutch disease economics: a survey. Economic Journal, Vol.92. 1982. Citado por: BATISTA, R.O desenvolvimento econômico da Venezuela 1920/2006. Rio Grande do Sul: Faculdade de Ciência Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (PósGraduação em Economia), 2008, p.149.
94 SOUZA, R. B. L., Souza, Nali de J., ALVIN, A. Fatores do crescimento econômico da Venezuela, 1950/1998. Revista Análise Econômica. Porto Alegre. Ano 26, n. 49, 2008, p. 6586. Citado por: BATISTA, R. O desenvolvimento econômico da Venezuela 1920/2006. Rio Grande do Sul: Faculdade de Ciência Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (PósGraduação em Economia), 2008, p.140.
95 Ibidem. p.140.
69
Este capítulo monstrou as atitudes de alguns países em relação à
arrecadação dos recursos provenientes dos royalties. Ficou evidenciada a preocupação
de alguns governantes, como no caso da Noruega, onde, havendo a possibilidade de
contração da doença holandesa, o governo tomou atitudes em prol do bem da nação,
sempre com um pensamento de desenvolvimento sustentável.
Já em outros países, como no caso da Nigéria, não se verificou esforço
neste sentido, fazendo com que a população não obtivesse benefícios com a riqueza
gerada pelo petróleo.
No próximo capítulo será feita uma análise de como o Brasil está
tratando as receitas provenientes do petróleo.
70
CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DO BRASIL
4.1 – INTRODUÇÃO
Este capítulo apresenta uma breve história do petróleo no Brasil e explica
a forma com que o país arrecada os recursos petrolíferos. Em seguida, é feita uma
análise de como o país utiliza tais recursos para o desenvolvimento. Como o Brasil não
se apresenta ainda como grande exportador de petróleo, esta avaliação foi feita com base
em um estudo dos cinco municípios que mais receberam estes recursos. Esperase ser
possível delinear uma tendência de como os governantes brasileiros utilizarão o dinheiro
proveniente do petróleo.
4.2 – A HISTÓRIA DO PETRÓLEO NO BRASIL
Em 1881, no estado de Alagoas, foram realizadas as primeiras pesquisas
diretamente relacionadas ao petróleo no Brasil. As pesquisas foram motivadas pela
existência de sedimentos argilosobetuminosos no litoral deste estado. Contudo, o
primeiro poço só foi perfurado seis anos depois, no município de BofeteSP, alcançando
uma profundidade de 488 metros, sendo extraídos dois barris de óleo . 96
Em 1907, foi criado o Serviço Geológico e Mineralógico Brasileiro
(SGMB), e, em 1933, o Departamento Nacional da Produção Mineral, órgão do
Ministério da Agricultura, fatos que mostram a tentativa de organização,
profissionalização e especialização dos órgãos públicos voltados para a prospecção do
petróleo. Porém, a grande dificuldade encontrada pelo Brasil para o desenvolvimento da
exploração e produção no Brasil foi a ausência de capital humano especializado e
qualificado, como geólogos e engenheiros, e a falta de recursos e equipamentos . 97
96 AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.20.
97 Ibidem. p.20.
71
Em 1939, no governo Getúlio Vargas, foi criado o Conselho Nacional do
Petróleo (CNP), órgão gestor do setor petrolífero. Também foi assinada a primeira lei
que estruturava e regularizava as atividades petrolíferas no país. Com estas medidas,
foram realizadas mais perfurações e, conseqüentemente, mais descobertas. Em 1941, em
CandeiasBA, foi descoberto o primeiro poço comercial do país . 98
Em 1953, após forte apelo popular com a campanha “O Petróleo é
nosso”, quando grande parte da população ficou a favor do controle nacional do
petróleo, foi criada a Petróleo Brasileiro S/A Petrobrás, por meio da Lei 2004. Em 1954,
a Petrobrás já se encontrava em operação . 99
Em 2006, a Petrobrás conseguiu a autosuficiência na produção de
petróleo. Em 2007, anunciou a descoberta de petróleo na camada présal.
4.3 – CÁLCULO E DISTRIBUIÇÃO DOS ROYALTIES
No Brasil, o pagamento de royalties foi estabelecido em 1953, na mesma
lei em que foi criada a Petrobrás. Esta lei previa o pagamento de royalties na proporção
de 4% sobre o valor de produção terrestre de petróleo e gás natural aos estados e 1% aos
municípios onde se encontravam e exploravam esse recurso natural . 100
Atualmente, os royalties da produção de petróleo no Brasil são
calculados pela fórmula : 101
(5)
(6)
Sendo:
98 AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.21.
99 Ibidem. p.22. 100 Ibidem. p.59. 101 Ibidem. p.59.
72
i. Royalties = valor decorrente da produção do campo no mês de
apuração, em reais;
ii. Alíquota = percentual previsto no contrato de concessão do
campo (entre 5% e 10%);
iii. V petróleo = volume da produção de petróleo do campo no mês
de apuração, em m³;
iv. P petróleo = é o preço de referência do petróleo produzido no
campo no mês de apuração, em R$/m³;
v. P gn = preço de referência do gás natural produzido no campo no
mês de apuração, em R$/m³;
Com a arrecadação dos royalties, os mesmos devem ser distribuídos da
seguinte maneira, conforme estabelecido na legislação pertinente:
Tabela 4.1 – Distribuição dos royalties de 5%
Fonte: Amélia . Modificado pelo autor. 102
102 AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.58.
73
Para a distribuição dos royalties que exceder os 5% obrigatórios, a
distribuição é dada conforme a tabela 4.2.
Além dos Royalties, os concessionários estão sujeitos ao pagamento de
Participação Especial, compensação financeira extraordinária estabelecida pela Lei do
Petróleo para campos de grande volume de produção ou de grande rentabilidade, e ao
pagamento pela ocupação ou retenção de área . 103
Tabela 4.2 – Distribuição dos royalties acima de 5%
Fonte: Amélia . Modificado pelo autor. 104
4.4 – INFLUÊNCIAS DO PETRÓLEO NA ECONOMIA BRASILEIRA
103 AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO (BRASIL). Tabelas contendo dados de pagamento dos royalties aos municípios. Disponíveis em: <http://www.anp.gov.br/participação_gov/royalties.asp>. Acesso em 11 maio 2010.
104 AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.58.
74
Com o aumento da produção de petróleo, que em 2000 estava próxima de
470000 mil BEP (Barris equivalentes de petróleo) e em 2008 já se aproximava de
700000 mil BEP (gráfico 4.1), também houve o aumento da arrecadação dos royalties,
que passaram de R$ 284 milhões em 1998 para R$ 7,984 bilhões em 2009 (gráfico 4.2).
Como o estado do Rio de Janeiro é responsável por cerca de 80% da produção de
petróleo nacional, este foi o estado que mais se beneficiou com este aumento de
arrecadação, recebendo, em 2009, um total de R$ 2,61 bilhões.
Gráfico 4.1 – Evolução da produção de Petróleo e Gás natural no Brasil em mil BEP (barris equivalentes de petróleo) Fonte: ANP . Modificado pelo autor. 105
105 AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO (BRASIL). Tabelas contendo dados de pagamento dos royalties aos municípios. Disponíveis em: <http://www.anp.gov.br/participação_gov/royalties.asp>. Acesso em 11 maio 2010.
75
Gráfico 4.2 – Evolução da arrecadação dos Royalties (19982009) Fonte: ANP 106
Esta arrecadação dos royalties está distribuída entre os Estados,
Municípios, União e o Fundo Especial. O Fundo Especial é responsável pela
distribuição entre todos os estados, territórios e municípios. A arrecadação de cada um
dos beneficiários no período de 1998 a 2009 está representada no gráfico abaixo:
106 Ibidem.
76
Gráfico 4.3 – Evolução da arrecadação dos Royalties por beneficiário (19982009) Fonte: ANP 107
Em regiões onde há grande volume produzido ou grande rentabilidade
das empresas, outra taxação, denominada Participação Especial (PE), além dos royalties,
é aplicada pelos municípios e pela União aos produtores de petróleo e gás natural. O
gráfico 4.4 mostra quanto o país arrecadou por meio da PE desde 2000, ano de sua
criação. Pelo gráfico percebese que, em 2000, a arrecadação da PE foi de 1039 milhões
de reais, e que, em 2009, esse valor foi superior em 8 vezes, chegando a 8453 milhões
de reais.
Gráfico 4.4 – Evolução da arrecadação da Participação Especial Fonte: ANP 108
Do valor arrecadado pela PE, parte é destinada para a União, parte para o
estado e parte para o município. O gráfico 4.5 mostra a distribuição da PE entre os anos
de 2000 a 2009.
107 AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO (BRASIL). Tabelas contendo dados de pagamento dos royalties aos municípios. Disponíveis em: <http://www.anp.gov.br/participação_gov/royalties.asp>. Acesso em 11 maio 2010.
108 AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO (BRASIL). Tabelas contendo dados de pagamento dos royalties aos municípios. Disponíveis em: <http://www.anp.gov.br/participação_gov/royalties.asp>. Acesso em 11 maio 2010.
77
Gráfico 4.5 – Evolução da arrecadação da Participação Especial entre a União, os Estados e os Municípios entre 2000 e 2009 Fonte: ANP 109
4.5 – OS CINCOS MUNICÍPIOS QUE MAIS SE BENEFICIARAM COM OS ROYALTIES ENTRE 1991 – 2007.
A Bacia de Campos produz atualmente cerca de 85% de todo o petróleo
produzido no Brasil, além de ser responsável por mais de 40% da produção de gás
nacional. Em conseqüência deste fato, os municípios localizados nesta região são os
principais beneficiários dos royalties do petróleo.
Neste trabalho serão analisados os municípios de Rio das Ostras, Cabo
Frio, Quissamã, Macaé e Campos, os principais municípios beneficiados com os
royalties provenientes do petróleo no período de 1991 a 2007. O gráfico 4.6 mostra a
evolução do pagamento de royalties a esses municípios neste período. Percebese um
crescimento acentuado da receita a partir de 1998, principalmente de Campos e de
Macaé.
109 AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO (BRASIL). Tabelas contendo dados de pagamento dos royalties aos municípios. Disponíveis em: <http://www.anp.gov.br/participação_gov/royalties.asp>. Acesso em 11 maio 2010.
78
Gráfico 4.6 – Evolução do pagamento de royalties entre 19912007. Fonte: AMÉLIA 110
Em relação à dependência dos royalties para a composição das receitas
correntes para os cinco municípios pesquisados no período de 2000 a 2005, percebese
um crescimento da participação dos royalties e uma diminuição das participações das
receitas tributárias. Assim, tais municípios se encontram na contramão de uma situação
ideal, onde se diminui a dependência do petróleo com o tempo e tornase o município
cada vez mais sustentável, evitando um futuro colapso no caso deste recurso natural
acabar, ou mesmo se tal recurso sofrer grande queda de valor internacionalmente.
No município de Campos dos Goytacazes, em 2000, os royalties
representavam 56,9% das receitas totais, já em 2005 representavam 71,6%. A receita
tributária sofreu uma queda de 6,5% em 2000 para 3,4% em 2005. O gráfico 4.7 mostra,
a cada ano, a evolução desta composição.
110 AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.81.
79
Gráfico 4.7 – Evolução da composição das Receitas Correntes do município de Campos dos Goytacazes no período de 20002005. Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro 111
No município de Macaé os royalties representavam 53% das receitas
correntes em 2000, passando para 56,6% em 2005. Já as receitas tributárias cresceram
de 10,1% em 2000 para 16,1% em 2005. O gráfico 4.8 mostra a evolução desta
composição entre os anos de 2000 a 2005.
No município de Rio das Ostras, em 2000, os royalties representavam
74,8% das receitas totais, já em 2005 representavam 73,6%. A receita tributária sofreu
uma queda de 4,6% em 2000, para 4,3% em 2005. O gráfico 4.9 mostra a evolução
desta composição entre os anos de 2000 a 2005.
111 TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Econômico 2006. Rio de Janeiro, 2006. Citado por: AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.82.
80
Gráfico 4.8 – Evolução da composição das Receitas Correntes do município de Macaé no período de 20002005. Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro 112
Gráfico 4.9 – Evolução da composição das Receitas Correntes do município de Rio das Ostras no período de 20002005. Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro 113
112 TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Econômico 2006. Rio de Janeiro, 2006. Citado por: AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.82.
113 Ibidem. p.83.
81
No município de Cabo Frio, em 2000, os royalties representavam 29,7%
das receitas totais, já em 2005 representavam 50,7%. A receita tributária sofreu uma
queda de 17,3% em 2000, para 9,8% em 2005. O gráfico 4.10 mostra a evolução desta
composição entre os anos de 2000 a 2005.
Gráfico 4.10 – Evolução da composição das Receitas Correntes do município de Cabo Frio no período de 20002005. Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro 114
No município de Quisamã, em 2000, os royalties representavam 58,5%
das receitas totais, já em 2005 representavam 62,8%. A receita tributária sofreu um
pequeno aumento percentual de 1,4% em 2000 para 2,2% em 2005. O gráfico 4.11
mostra a evolução desta composição entre os anos de 2000 a 2005.
114 TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Econômico 2006. Rio de Janeiro, 2006. Citado por: AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.83.
82
Gráfico 4.11 – Evolução da composição das Receitas Correntes do município de Quissamã no período de 20002005. Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (2006)
A administração pública deve buscar o equilíbrio entre suas receitas
(previstas e realizadas) e suas despesas (fixadas e realizadas). Quanto menor forem os
gastos com a máquina administrativa, mais dinheiro sobra para outros tipos de
investimentos. O gráfico 4.12 mostra o comprometimento da receita dos municípios
com a máquina administrativa no período de 20002005.
Gráfico 4.12 – Comprometimento da receita dos municípios com a máquina administrativa Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro 115
115 TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Econômico 2006. Rio de Janeiro, 2006. Citado por: AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.84.
83
Podese notar que todos os municípios analisados tiveram um aumento
do comprometimento de suas receitas com a máquina administrativa. O município que
teve o menor crescimento foi o de Rio das Ostras, que também apresenta a menor
porcentagem de comprometimento de suas receitas.
O grau de investimento é dado pela relação dos investimentos públicos
divididos pela receita total. Percebese, pelo gráfico 4.13, que esta relação chegou a
aproximadamente 17% em 2005 para os municípios estudados, com exceção de Rio das
Ostras, que obteve resultado acima de 40%.
O gráfico 4.14 mostra o investimento per capita dos municípios, que é a
razão entre o investimento do município e sua população, calculando assim o montante
que cada habitante recebeu através de benefícios e direitos. Como se percebe, a partir de
2002, Rio das Ostras apresenta o melhor grau de investimento dos municípios
analisados, enquanto Campos e Cabo Frio apresentam os piores índices. Também se
percebe uma evolução do indicador de 2002 para 2004 e queda de 2004 para 2005.
Gráfico 4.13 – Grau de Investimento dos municípios entre 2000 e 2005 Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro 116
116 TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Econômico 2006. Rio de Janeiro, 2006. Citado por: AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.85.
84
Gráfico 4.14 – Investimento per capita dos municípios entre 2000 e 2005 Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro 117
Dividindose as transferências correntes e de capital , sem royalties, 118 119
pela receita realizada dos municípios da pesquisa conforme gráfico 4.15 verificase uma
aparente redução na dependência do repasse de outros entes da federação no período de
2000 a 2005.
Gráfico 4.15 – Dependência de transferência de recursos dos municípios (sem royalties) entre 2000 e 2005
117 Ibidem. p.82. 118 Transferências correntes são dotações para despesas às quais não corresponda contraprestação direta em bens ou serviços, inclusive para contribuições e subvenções destinadas a atender à manutenção de outras entidades de direito público ou privado. (Lei 4320/64, Art. 12 § 2 °). Ou seja, uma entidade transfere a outra entidade dinheiro sem um fim específico.
119 Transferências de capital são as dotações para investimentos e inversões financeiras que outras pessoas de direito público ou privado deve realizar, independentemente de contraprestação direta em bens ou serviços, constituindo essas transferências auxílios ou contribuições, segundo derivem diretamente da Lei do Orçamento ou de lei especial anterior, bem como as dotações para amortização da dívida pública. (Lei 4320/64, Art. 12 § 6 °).
85
Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro 120
Contudo, quando se soma os royalties nestes cálculos, percebese que a
dependência de recursos transferidos foi acima de 80% nos municípios pesquisados em
2005, sendo que Quissamã alcançou uma dependência de 95%, conforme mostra o
gráfico 4.16.
Gráfico 4.16 – Dependência de transferência de recursos dos municípios (incluindo royalties) entre 2000 e 2005 Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro 121
A autonomia financeira dos municípios estudados pode ser compreendida
a partir de contribuição da receita tributária própria do município no atendimento às
despesas com a manutenção dos serviços da máquina administrativa, dividindose a
receita tributária própria pelas despesas de custeio. A partir do gráfico 4.17, constatase
que, na maioria destes municípios analisados, houve uma queda de autonomia no
período de 2000 a 2005, sendo exceção apenas o município de Macaé. Com isso,
podese concluir que houve uma tendência à menor capacidade de gestão dos
municípios em manter as atividades e serviços próprios da administração com recursos
oriundos de suas competências tributárias, o que os torna mais dependentes de
transferências de recursos financeiros dos demais entes governamentais.
120 TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Econômico 2006. Rio de Janeiro, 2006. Citado por: AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.86.
121 TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Econômico 2006. Rio de Janeiro, 2006. Citado por: AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.86.
86
Gráfico 4.17 – Autonomia financeira dos municípios entre 2000 e 2005 Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro 122
4.6 – ANÁLISES DO IDH DOS CINCO MUNICÍPIOS QUE MAIS RECEBERAM ROYALTIES DO PETRÓLEO NO BRASIL.
Quando se analisa a evolução do IDH –M (Índice de Desenvolvimento
Humano nos municípios) entre 1991 e 2000, percebese que os cinco municípios que
mais receberam royalties do petróleo no Brasil continuam na categoria de municípios
com médio desenvolvimento humano (tabela 4.3).
Campos dos Goytacazes caiu 221 posições no ranking nacional de 2000,
quando comparado com 1991, passando da posição 1591ª para a 1812ª. Macaé caiu 200
colocações neste mesmo ranking, passando do 606ª para a 806ª colocação. Cabo Frio
subiu 126 posições no ranking nacional e é o município que possui a melhor
classificação entre os cinco estudados, passando da colocação 871ª para a 745ª.
Quissamã evoluiu 130 posições no ranking nacional, apesar de possuir a pior colocação
entre os municípios pesquisados, passando de 2519ª para 2389ª colocação. Rio das
Ostras foi o município que mais melhorou sua posição no ranking, subindo 453
posições, passando de 1641ª para 1188 ª colocação.
Tabela 4.3 – IDHM dos cinco municípios que mais receberam royalties no Brasil (19912000)
122 Ibidem. p.87.
87
Fonte: Elaboração própria.
Em seguida foi realizada uma comparação da evolução do IDHM, entre
1991 e 2000, desses municípios com outros municípios do estado do Rio de Janeiro que
possuam IDHM próximos (ANEXO 4.1).
O primeiro município a ser analisado foi Quissamã, que em 1991 possuía
um IDHM de 0,641 e em 2000 passou a 0,732. Os municípios escolhidos para a
comparação foram: Guapimirim, que em 1991 possuía um IDHM de 0,639 e em 2000
passou a 0,739, Carapebus, que em 1991 possuía um IDHM de 0,649 e em 2000 passou
a 0,740, Japeri, que em 1991 possuía um IDHM de 0,643 e em 2000 passou a 0,724,
Tanguá, que em 1991 possuía um IDHM de 0,625 e em 2000 passou a 0,722, Italva,
que em 1991 possuía um IDHM de 0,659 e em 2000 passou a 0,724 e Silva Jardim, que
em 1991 possuía um IDHM de 0,628 e em 2000 passou a 0,731. No gráfico 4.18
percebese que Guapimirim, que possuía um IDHM próximo de Quissamã em 1991,
conseguiu uma evolução maior que a obtida por esse município. Também percebese
que Italva não cresceu conforme os outros municípios, estando em primeiro na análise
de 1991 entre os municípios analisados, e ficou em quinto em 2000.
88
Gráfico 4.18 – Comparativo do IDHM entre o município de Quissamã e outros seis municípios do Rio de Janeiro com valores de IDHM próximos. Fonte: Elaboração própria.
Quando se analisa a evolução do ranking, percebese que Guapimirim
evoluiu 376 posições, Carapebus, evoluiu 210 posições, Italva caiu 367 posições, Silva
Jardim evoluiu 325 posições, Japeri caiu 55 posições e Tanguá evoluiu 184 posições
(tabela 4.4). Com esses dados conseguese perceber que, apesar de uma evolução de 130
posições no ranking nacional, vários municípios do estado do Rio de Janeiro que se
encontram com os valores de IDHM próximos ao de Quissamã conseguiram uma
evolução maior na posição do ranking nacional.
Tabela 4.4 – Evolução da posição do ranking nacional de IDHM do município de Quissamã e outros com IDHM próximos
89
Fonte: Elaboração própria.
O segundo município a ser analisado foi Campos dos Goytacazes, que em
1991 possuía um IDHM de 0,684 e em 2000 passou a 0,752. Os municípios escolhidos
para comparação foram: Seropédica que, em 1991, possuía um IDHM de 0,688 e em
2000 passou a 0,759, Macuco que, em 1991, possuía um IDHM de 0,671 e em 2000
passou a 0,769, Cachoeira de Macacu que, em 1991, possuía um IDHM de 0,664 e em
2000 passou a 0,752, Magé que, em 1991, possuía um IDHM de 0,663 e em 2000
passou a 0,746, Bom Jesus do Itabapoana que, em 1991, possuía um IDHM de 0,662 e
em 2000 passou a 0,746 e Porto Real que, em 1991, possuía um IDHM de 0,677 e em
2000 passou a 0,743.
No gráfico 4.19 percebese que Macuco conseguiu uma maior evolução
entre os sete municípios analisados, sendo o quarto colocado em 1991 e indo para
primeiro em 2000. Campos dos Goytacazes estava em segundo entre os municípios
analisados e foi para terceiro, empatado com Cachoeira de Macacu, um município que
se encontrava com seu IDHM menor que Campos dos Goytacazes em 1991.
Gráfico 4.19 – Comparativo do IDHM entre o município de Campos dos Goytacazes e outros seis municípios do Rio de Janeiro com valor de IDHM próximos.
90
Fonte: Elaboração própria.
Quando se analisa a evolução do ranking percebese que Seropédica caiu
122 posições, Macuco evoluiu 530 posições, Cachoeira de Macacu evoluiu 231
posições, Bom Jesus do Itabapoana evoluiu 109 posições, Magé evoluiu 75 posições e
Porto Real caiu 320 posições (tabela 4.5). Com esses dados, conseguese perceber que
Campos dos Goytacazes retroagiu em relação à evolução de IDHM entre 1991 e 2000.
Alguns dos municípios que apresentaram uma posição no ranking nacional de IDHM
próximos de 1800, provêm de posições acima de 2000 no ranking anterior.
Tabela 4.5 – Evolução da posição do ranking nacional de IDHM do município de Quissamã e outros com IDHM próximos
Fonte: Elaboração própria.
O terceiro município a ser analisado, Rio das Ostras, em 1991 possuía um
IDHM de 0,681 e em 2000 passou a 0,775. Os municípios escolhidos para a
comparação foram: Itaguaí que, em 1991, possuía um IDHM de 0,687 e em 2000
passou a 0,768, Vassouras que, em 1991, possuía um IDHM de 0,678 e em 2000
passou a 0,781, Mendes que, em 1991, possuía um IDHM de 0,694 e em 2000 passou a
0,775, São João de Meriti que, em 1991, possuía um IDHM de 0,707 e em 2000 passou
a 0,774, Paracambi que, em 1991, possuía um IDHM de 0,681 e em 2000 passou a
0,771 e Rio Bonito que, em 1991, possuía um IDHM de 0,694 e em 2000 passou a
0,772.
91
No gráfico 4.20 percebese que o único município, dentre os analisados,
que obteve uma evolução no IDHM melhor que o de Rio das Ostras foi Vassouras.
Todos os outros municípios demonstraram uma evolução menor.
Quando se analisa a evolução do ranking percebese que Itaguaí evoluiu
144 posições, Vassouras evoluiu 680 posições, Mendes evoluiu 195 posições, São João
de Meriti caiu 134 posições, Paracambi evoluiu 341 posições e Rio Bonito evoluiu 101
posições (tabela 4.6). Com esses dados, conseguese perceber que Rio das Ostras, que
subiu no ranking nacional em 453 posições, evoluiu de forma considerável no período
de 19912000.
Gráfico 4.20 – Comparativo do IDHM entre o município de Rio das Ostras e outros seis municípios do Rio de Janeiro com valor de IDHM próximos. Fonte: Elaboração própria.
Tabela 4.6 – Evolução da posição do ranking nacional de IDHM do município de Quissamã e outros com IDHM próximos
92
Fonte: Elaboração própria.
O município de Cabo Frio, que em 1991, possuía um IDHM de 0,716 e
em 2000 passou a 0,792, e será analisado juntamente com Macaé, já que esses dois
municípios apresentam valores de IDHM próximos. Macaé apresentou, em 1991,
IDHM de 0,730, e em 2000, passou para 0,790.
Os municípios escolhidos para a comparação foram: Iguaba Grande que,
em 1991, possuía um IDHM de 0,708 e em 2000 passou a 0,796, Pinheiral que, em
1991, possuía um IDHM de 0,727 e em 2000 passou a 0,796, Armação de Búzios que,
em 1991, possuía um IDHM de 0,691 e em 2000 passou a 0,791, Arraial do Cabo que,
em 1991, possuía um IDHM de 0,723 e em 2000 passou a 0,790, Mangaratiba que, em
1991, possuía um IDHM de 0,706 e em 2000 passou a 0,790 e Teresópolis que, em
1991, possuía um IDHM de 0,700 e em 2000 passou a 0,790.
No gráfico 4.21 percebese que vários municípios tiveram crescimento
melhor que Cabo Frio e Macaé, como é o caso de Iguaba Grande, Teresópolis e,
principalmente, Armação de Búzios. Macaé, que possuía o melhor IDHM dentre os
municípios analisados, em 1991, passou a um dos piores em 2000.
93
Gráfico 4.21 – Comparativo IDHM entre o município de Cabo Frio e Macaé e mais seis municípios do Rio de Janeiro com valor de IDHM próximos. Fonte: Elaboração própria.
Quando se analisa a evolução do ranking, percebese que Iguaba Grande
evoluiu 409 posições, Pinheiral evoluiu 7 posições, Armação de Búzios evoluiu 666
posições, Arraial do Cabo caiu 55 posições, Mangaratiba evoluiu 301 posições e
Teresópolis evoluiu 433 posições (tabela 4.5). Com esses dados conseguese perceber
que Cabo Frio, apesar de ter evoluído 126 posições, percebese que outros municípios
conseguiram evoluir muito mais. O caso de Macaé é ainda pior, pois não conseguiu
evoluir no ranking nacional e caiu 200 posições.
Tabela 4.7 – Evolução da posição do ranking nacional de IDHM do município de Cabo Frio, Macaé, e outros com DHM próximos
94
Fonte: Elaboração própria.
Com estas análises fica evidente que o único município, dentre os cinco
que mais receberam royalties, que obteve uma evolução no ranking nacional de IDHM
compatível com a quantidade arrecada proveniente do petróleo foi Rio das Ostras, que
conseguiu uma evolução de 453 posições. Cabo Frio e Quissamã, apesar de evoluírem,
conseguiram menos posições que outros municípios que se encontravam com o IDHM
próximos e não tinham os recursos provenientes dos royalties. Macaé e Campos dos
Goytacazes não conseguiram evoluir, e caíram no ranking nacional.
4.7 – CONCLUSÃO
Neste capítulo foi mostrado como o Brasil arrecada o dinheiro
proveniente do petróleo e distribui para os municípios. Foi apresentada a dependência
das economias dos cincos municípios que mais arrecadaram os royalties no período de
1990 a 2007, sendo verificado que estas economias não apresentam uma tendência de
diminuir a dependência da arrecadação de tais recursos. Também foi mostrado como
ocorreu a evolução do IDHM destes municípios entre 1991 e 2000, chegandose à
conclusão que apenas Rio das Ostras conseguiu uma evolução compatível com o
esperado para um município que arrecada grande quantidade de recursos, enquanto
Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Macaé e Quissamã tiveram um desenvolvimento
no IDHM abaixo do esperado.
95
CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES
Quando se analisa os grandes produtores de petróleo, no período
posterior a década de 1970, podese perceber que a existência da riqueza mineral não foi
suficiente para estimular o desenvolvimento econômico destes países. Este fato pode
ser explicado pela contração da “doença holandesa” ou “mal dos recursos naturais” por
esses países.
A “doença holandesa” ou “mal dos recursos naturais” são diferentes
fatores econômicos que afetam um país, como distorções na taxa de câmbio, perda de
competitividade dos setores industriais não associados ao petróleo e ao gás natural,
oportunismo das elites contemporâneas, além de conflitos armados.
Um dos grandes problemas deste mal é a falsa sensação de segurança e
riqueza que a abundância deste recurso proporciona aos governantes, desestimulando
implementações de reformas e políticas voltadas para a obtenção de maior nível de
crescimento e desenvolvimento econômico.
Como foi visto neste trabalho, um exemplo de país que sofreu do “mal
dos recursos naturais” foi a Nigéria, fato caracterizado pela utilização das verbas
provenientes da exploração dos recursos para fins nãoprodutivos, ou seja, o governo
não investiu em infraestrutura e diversificação produtiva, o que resultou num
desenvolvimento de IDH incompatível com a arrecadação do país.
A análise de alguns países demonstrou a dependência de suas receitas
com a arrecadação da renda do petróleo, uma situação em que uma variação no preço da
commodity afeta diretamente a receita de alguns desses países.
Para evitar estes problemas, muitos países estão criando fundos
intergeracional ou de estabilização, onde deve ser depositada grande parte da receita do
petróleo em moeda estrangeira, diminuindo a dependência da receita do país com esta
arrecadação, além de se preparar para futuras quedas de renda provenientes do petróleo
e a apreciação da moeda local.
Atualmente, os recursos provenientes da arrecadação do petróleo estão
sendo utilizados para redução da dívida pública externa; investimentos em
96
infraestrutura, em especial àquela vinculada aos setores de petróleo e gás natural;
reinvestimento nas empresas petrolíferas; apoio à agregação de valor à cadeia do
petróleo, sobretudo à indústria petroquímica; políticas de diversificação produtiva, ainda
que de caráter limitado; financiamento de política de bemestar social; e ao orçamento
público anual, de forma a complementar as receitas tributarias não vinculadas às
atividades do petróleo.
Com as descobertas recentes na camada do présal e com uma estimativa
de cerca de 50 bilhões de barris de petróleo nas reservas brasileiras, o governo brasileiro
tem que planejar formas de utilização eficiente da renda futura proveniente da
arrecadação do petróleo, para um desenvolvimento sustentável.
Para avaliar a situação atual de como os políticos brasileiros agem,
analisouse os cinco municípios que mais arrecadaram royalties no Brasil (Campos dos
Goytacazes, Macaé, Cabo Frio, Rio das Ostras e Quissamã). Apesar de uma evolução
extraordinária no recebimento das receitas dos royalties entre 1991 e 2006, ao
compararse a evolução dos indicadores sociais (IDHM) destes cinco municípios com
os indicadores sociais dos municípios que apresentavam IDHM próximos a estes,
verificase que apenas a evolução de Rio das Ostras foi compatível com o esperado para
um município que arrecada grande quantidade de recursos, enquanto Cabo Frio,
Campos dos Goytacazes, Macaé e Quissamã tiveram um desenvolvimento no IDHM
abaixo do esperado.
Quando se analisa os IDHM dos cinco municípios, percebese que os
cinco permanecem na categoria de municípios com médio desenvolvimento humano.
Apesar de Campos dos Goytacazes ser o município que mais recebe royalties do
petróleo no Brasil, foi o que apresentou o pior desempenho, apresentando queda de 221
posições no ranking nacional de IDHM..
O présal apresenta ao Brasil uma oportunidade única de se tornar uma
das grandes economias mundiais em alguns anos. Para isso, o país deve rever a relação
entre o Estado e os demais agentes do setor petrolífero, com o intuito de maximizar o
aproveitamento. Deve ser criado um fundo soberano para auxiliar na prevenção dos
efeitos adversos da nova riqueza, além de perpetuar os seus benefícios. Além disso,
devese evitar a corrupção na administração pública.
97
Enfim, é preciso que haja um planejamento sustentável para a aplicação
dos recursos públicos para que o país consiga, no futuro, o sonhado desenvolvimento.
98
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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99
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100