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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE HUMINADADES E DIREITO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
RAFAEL MALISANI MARTINS
CONFLITO GERACIONAL E A IDENTIDADE DOS JOVENS
ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA: NEGAÇÃO OU
RECONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE ADVENTISTA POR PARTE
DOS JOVENS
SÃO BERNARDO DO CAMPO
2012
1
Universidade Metodista de São Paulo
Faculdade de Humanidades e Direito
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião
RAFAEL MALISANI MARTINS
CONFLITO GERACIONAL E A IDENTIDADE DOS
JOVENS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA: NEGAÇÃO
OU RECONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE ADVENTISTA
POR PARTE DOS JOVENS
Dissertação apresentada à Faculdade de Humanidades e Direito da Universidade Metodista de São Paulo, como parte dos requisitos para obtenção do Título de MESTRE pelo Programa de Pós-Graduação em CIÊNCIAS DA RELIGIÃO. Área de concentração: Religião, Sociedade e Cultura Orientação: Prof. Dr. Jung Mo Sung.
SÃO BERNARDO DO CAMPO
2012
2
FICHA CATALOGRÁFICA
M366c
Martins, Rafael Malisani Conflito geracional e a identidade dos jovens adventistas do sétimo dia: negação ou reconstrução da identidade adventista por parte dos jovens. Rafael Malisani Martins /-- São Bernardo do Campo, 2012.
139fl.
Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Faculdade de Humanidades e Direito, Programa de Pós Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo
Bibliografia
Orientação de: Jung Mo Sung
1. Missão integral da Igreja 2. Igreja e sociedade I. Título
CDD 286.732
3
A dissertação de mestrado sob o título “Conflito Geracional e a identidade dos jovens
adventistas do sétimo dia: negação ou reconstrução da identidade adventista por parte
dos jovens”, elaborada por Rafael Malisani Martins foi apresentada e aprovada em 23 de
Março de 2012, perante banca examinadora composta por Jung Mo Sung
(Presidente/UMESP), Lauri Emílio Wirth (Titula/UMESP) e Adolfo Semo Suárez
(Titular/UNASP).
____________________________________________
Prof/a. Dr/a. Jung Mo Sung
Orientador/a e Presidente da Banca Examinadora
____________________________________________
Prof/a. Dr/a. Leonildo Silveira Campos
Coordenador/a do Programa de Pós-graduação
Programa: Ciências da Religião
Área de Concentração: Religião Sociedade e Cultura
Linha de Pesquisa: Religião e dinâmicas sócio-culturais
4
Dedico este trabalho aos meus pais, meus
Irmãos e irmã e minha querida noiva.
Palavras não são o suficiente para expressar minha
gratidão por todo apoio e paciência.
Eu amo vocês!
5
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, pela sua dedicação e competência que me possibilitaram a conclusão deste trabalho, o meu muito obrigado.
Ao Pastor Erlo Braun e todos da Associação Paulista Leste da Igreja Adventista do Sétimo Dia pelo apoio, o meu muito obrigado.
Ao Professor e diretor Benedito de Carvalho Leite e todos os companheiros de trabalho do Colégio Adventista de São Miguel Paulista, pelas orações, força e
apoio, o meu muito obrigado.
À Deus que tem me guiado, instruído e protegido, meu muitíssimo obrigado.
6
RESUMO
Este presente trabalho, tem por objetivo analisar o conflito geracional e a formação da identidade dos jovens adventistas, com o objetivo de verificar se o conflito geracional é uma demonstração que os jovens estão rompendo com a igreja ou, reconstruindo a identidade. O conflito geracional pode ser notado em diversas esferas da sociedade e inclusive dentro da Igreja Adventista. Todavia, o conflito geracional não é causado por rebeldia, mas sim, por diferentes maneiras de reagir e conviver com as características contemporâneas da sociedade. Sendo assim, os mais velhos não concordam com as novas propostas dos jovens e tão pouco, os mais novos desejam continuar convivendo com as coisas antigas. A Igreja Adventista tem vivido o conflito geracional em dois aspectos principais: o primeiro se evidencia na comunicação; o segundo na cosmovisão. A linguagem sofreu alterações na hora de se comunicar; no contexto atual, a imagem tomou a função das palavras. Por essa razão, uma comunicação pode não alcançar seu objetivo, principalmente aos mais novos, quando expressa somente através de palavras. O outro aspecto que tem causado conflito é a compreensão de mundo que os mais novos possuem. Para eles, o mundo não é sinônimo de pecado como algumas pessoas mais velhas entendem. Por conta desta diferença, certas questões não são aceitáveis dentro da igreja, por serem vinculadas ao mundo e o mundo ser entendido como pecado. Porém, a constatação que faço é que, embora o jovem não entenda o mundo em si como pecado, ele compreende que existem aspectos do mundo que sejam errados. Esses aspectos não são aceitáveis para eles e por isso, eles não desejam romper com a igreja. Mas estão em busca de mudanças significativas que se encaixam com sua visão de mundo. É possível evidenciar essa mesma linha de raciocínio em alguns líderes da igreja, mas os relatos dos jovens expressam que isso não alcançou a prática local. Uma vez que, concebo o pensamento de Hervieu-Leger de que a identidade não é transmitida intacta de pai para filho, mas construída individualmente. Entendo que os jovens estão formando sua própria identidade. Para que essa identidade seja formada de maneira sólida nos princípios adventistas, e aberta as mudanças necessárias da sociedade, se faz necessário, sob minha percepção, uma releitura de Ellen White baseada no pensamento liminar de Walter Mignolo, apresentado e explanado por Adolfo S. Suárez.
Palavras-chave: conflito geracional; juventude; igreja adventista do sétimo dia; identidade.
7
ABSTRACT
This present study aims to examine the generational gap and identity formation of young Adventists, in order to verify if the generational gap is a demonstration that young people are breaking with the church or, reconstructing identity. The generational gap can be seen in various spheres of society and even within the Adventist Church. However, the generational gap is not caused by rebellion, but for different ways to react and cope with the characteristics of contemporary society. Thus, older people do not agree with the new proposals of young people and also not even the youngest wish to continue living with the old stuff. The Adventist Church has experienced the generational gap in two main aspects: The first is evident in the communication, the second in the worldview of the world. The language has changed in the time to communicate, in the present context, the image took the words function. Therefore, communication may not reach your goal, especially the younger ones, when expressed only through words. The other aspect that has caused the conflict is the world concept to the youngest. For them, the world is not synonymous with sin as some older people understand. Because of this difference, certain issues are not acceptable within the church, because they are linked to the world and the world is understood as sin. However, my conclusion is that though the young do not understand the world itself as a sin, they understand that there are aspects of the world that are wrong. These aspects are not acceptable to them and therefore they do not wish to break with the church. But they are looking for significant changes that fit with their worldview. It’s possible to show this same line of reasoning in some church leaders, but the reports of young people express that did not reach the local practice. Once I conceive the Hervieu-Leger’s thought that identity is not passed intact from father to son, but built individually, I understand that young people are forming their own identity. For this identity to be solidly formed on the Adventists principles and opened to the necessary changes in society, it does, in my perception, need to re-read Ellen White based on the thought of Walter Mignolo, presented and explained by Adolfo S. Suarez.
Keywords: generational gap; youth; seventh day adventist church; identidy.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 10 1 CAONFLITO GERACIONAL E A VISÃO DOS LÍDERES ADVENTISTAS ...................................................................................................................... 15 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ......................................................................................... 15 1.2 CONFLITO GERACIONAL E A LIDERANÇA DA IASD ............................................ 21 1.2.1 Conflito Geracional ........................................................................................................ 21 1.2.2 Os pensamentos dos líderes da IASD ............................................................................. 28 1.3 UM CASO ILUSTRATIVO .............................................................................................. 42 1.4 CONCLUSÕES PARCIAIS .............................................................................................. 44 2 O JOVEM ADVENTISTA E SUA IGREJA ........................................................................ 46 2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .......................................................................................... 46 2.2 O JOVEM E A IGREJA ADVENTISTA .......................................................................... 47 2.2.1 O jovem e as Redes Sociais ............................................................................................. 47 2.2.2 O jovem e o “ser” adventista .......................................................................................... 51 2.2.2.1 Grupos nas Redes Sociais ........................................................................................... 52 2.2.2.2 O jovem adventista nas Redes Sociais ........................................................................ 58 2.3 A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DO JOVEM ADVENTISTA ................................. 68 2.3.1 Transmissão de heranças religiosas e a formação da identidade ..................................... 68 2.3.2 O jovem e a igreja ............................................................................................................ 72 2.4 CONCLUSÕES PARCIAIS .............................................................................................. 79 3 MUDANÇAS, ELLEN WHITE E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DO JOVEM ADVENTISTA ......................................................................................................................... 81 3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .......................................................................................... 81 3.2 OS LÍDERES E A NECESSIDADE DE MUDANÇA ..................................................... 82 3.3 DICOTOMIA IGREJA X MUNDO .................................................................................. 92 3.4 ELLEN WHITE E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DO JOVEM ADVENTISTA 106 3.4.1 Ellen White e o Pensamento Liminar ........................................................................... 107 3.4.2 O jovem adventista e a formação de sua identidade ...................................................... 110 3.5 CONCLUSÕES PARCIAIS ............................................................................................ 111 CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 113 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................... 117 ANEXOS ............................................................................................................................... 122 Anexo 1 .................................................................................................................................. 123 Anexo 2 .................................................................................................................................. 123 Anexo 3 .................................................................................................................................. 124 Anexo 4 .................................................................................................................................. 114 Anexo 5 .................................................................................................................................. 125 Anexo 6 .................................................................................................................................. 125 Anexo 7 .................................................................................................................................. 126 Anexo 8 .................................................................................................................................. 126 Anexo 9 .................................................................................................................................. 127 Anexo 10 ............................................................................................................................... 128 Anexo 11 ................................................................................................................................ 129 Anexo 12 ................................................................................................................................ 130 Anexo 13 ................................................................................................................................ 131 Anexo 14 ................................................................................................................................ 132 Anexo 15 ................................................................................................................................ 133
9
Anexo 16 ................................................................................................................................ 134 Anexo 17 ................................................................................................................................ 135 Anexo 18 ................................................................................................................................ 136 Anexo 19 ................................................................................................................................ 137 Anexo 20 ................................................................................................................................ 138 Anexo 21 ................................................................................................................................ 139
10
INTRODUÇÃO
Era o dia 07 de janeiro de 2012, sábado pela manhã e eu estava assistindo ao culto na
Igreja Central de Peruíbe. Seria apenas mais um sábado típico das minhas férias, mas tudo
mudou quando meu irmão mais novo sentou-se ao meu lado, no meio de dois amigos dele, e
eu presenciei a cena, do começo até o final do culto. Os três com o celular na mão
conversando e pouco prestaram a atenção ao culto. Ele é apenas um pré-adolescente, 12 anos,
e seus amigos gêmeos com 16 anos.
Os três frequentam a Igreja Adventista desde pequenos, e eu me questiono: o que
aconteceu? Quando criança, minha mãe nunca me deixou levar um carrinho sequer para
brincar na igreja. Hoje, meu irmão encontrou os amigos e juntos mexeram no celular o culto
inteiro.
O que tem acontecido com os adolescentes e a juventude? Por que a mudança? Mudou
alguma coisa na igreja? Há mais de 20 anos, todas as férias vou à mesma igreja e nunca tinha
visto algo parecido, o que mudou?
Como pastor jovem e na atualidade capelão do Colégio de São Miguel, função que
estou desempenhado pelo terceiro ano consecutivo, tenho convivido todos os dias com
adolescentes e jovens e, a cada dia que passa, vejo o conflito geracional mais presente nos
relacionamentos.
Esse conflito se evidencia em todas as esferas de relacionamento: pais e filhos;
professores e alunos; líderes de igrejas e jovens. É normal escutar nos cultos, pedidos pelos
jovens, pois eles estão “fracos na fé”, estão “frios”, estão se afastando da igreja. O que tem
acontecido com os jovens? Deixaram de ser adventistas?
Em primeiro lugar, quero deixar claro que esta proposta de estudo só fará sentido ao
considerar os jovens adventistas que têm frequentado a igreja. É fato indiscutível que muitos
jovens se afastaram da igreja e deixaram de seguir os princípios ensinados por ela. Mas, não é
a proposta deste estudo analisar os motivos que fizeram esses jovens abandonar os princípios,
uma vez já seguidos por eles.
O objetivo principal deste estudo é analisar o conflito geracional e a formação da
identidade do jovem adventista. O conflito geracional é um assunto que está em voga nos
campos acadêmico e educacional. Encontram-se diversas revistas educacionais que falam
sobre a mudança da mentalidade nas novas gerações, focando principalmente a necessidade
11
de interatividade, interdisciplinaridade, troca de experiências entre alunos e professores, lousa
digital, tablets e computadores para os alunos, novos métodos, abordagens diferentes.
Diversos teóricos discutem sobre as gerações e a maneira de pensar de cada uma delas. Porém,
no meio adventista pouco ou quase nada se trata deste assunto do conflito geracional e como
equilibrar as distintas partes visando um bem comum.
Encontramos artigos, nos quais os líderes expressam seus medos quanto às novas
tendências que tem surgido, exortando os jovens a permanecerem firmes nos princípios
aprendidos, mas pouco se discute sobre o conflito que existe entre as gerações. Pouco se fala
sobre a maneira de pensar de cada uma das gerações; quando se fala, o foco é a juventude e a
pós-modernidade. Não se encontra reflexões com o intuito de mostrar as diferenças, para
sanar os conflitos.
Ao mesmo tempo, não encontramos nenhuma literatura que expresse a opinião do
jovem sobre sua igreja ou, o que precisa ser feito para que a mensagem atinja aos jovens. Até
mesmo as revistas que são destinadas à juventude ou o “espaço jovem” contêm artigos que
seguem a mesma linha de raciocínio dos periódicos denominacionais destinados a toda Igreja
Adventista. O “espaço jovem” é uma coluna de artigos na Revista Adventista, reservada para
os jovens escreverem, ou para escreverem a eles.
Para exemplificar este último ponto mencionado, vejamos a essência do artigo “Luta
contínua: nossa batalha é permanecer em Cristo”, escrito por uma adolescente de 15 anos, no
“espaço jovem”. A síntese deste artigo está na experiência cristã diária com Cristo e uma
reflexão sobre conflito entre o bem e o mal e do chamado que Deus faz aos cristãos.
Carnassale diz: “Somos chamados a ser Suas testemunhas, a mostrar que Deus está certo e é
justo, e o diabo está errado. E assim como Cristo tornou claro o engano quando esteve neste
mundo, também nós, pelo poder e cheios do Espírito Santo, podemos viver de modo a refletir
o verdadeiro caráter de Deus e desmascarar o inimigo.”1
Este artigo apresentado é um clássico exemplo da temática destinada aos jovens. Sobre
essa questão, apenas destaco que esse tipo de reflexão é importante e significativa, tem sua
relevância e seu papel na formação da identidade dos jovens, mas não se deve limitar a
instrução aos jovens apenas a esses assuntos. Em geral os artigos destinados aos jovens,
tratam sobre assuntos “reflexivos-devocionais” e motivação.
1 CARNASALLE, Mariana. Luta contínua: nossa batalha é permanecer em Cristo. Revista Adventista. Tatuí, ano 107, nº 1245, p. 20, fev., 2012. Casa Publicadora Brasileira.
12
Por não encontrarmos material reflexivo sobre o conflito geracional, este assunto
precisará ser analisado de maneira separada, ou seja, em um momento apresentarei o
pensamento dos líderes, e em outro o dos jovens.
Portanto, ao considerar o conflito geracional e a identidade do jovem adventista, tenho
por objetivo iniciar uma análise crítica desta questão. Com isto, desejo contribuir para que
outras reflexões sobre esse assunto possam ser realizadas, com o fim de que as gerações se
compreendam, se aceitem e se equacionem.
Para analisar o conflito geracional e a formação da identidade dos jovens, este trabalho
será dividido em três partes principais, que serão os três capítulos. O primeiro capítulo tem
por objetivo analisar a visão que os líderes da Igreja Adventista possuem sobre a juventude e
os pensamentos pós-modernos. Para tanto, em primeiro lugar apresentarei o conflito
geracional em diversas esferas da sociedade, com exceção da Igreja Adventista, isso será feito
para nos situar no conflito geracional. Tendo conhecimento desta realidade, então sim,
passaremos a ponderar os comentários que os líderes adventistas têm feito sobre a juventude.
Com isso, quero levantar as opiniões, medos, conselhos, alertas que os líderes estão fazendo
para os jovens.
Em resposta à visão dos líderes, o segundo capítulo tratará de responder a duas
questões: Os jovens se consideram adventistas ou querem romper com a Igreja? E, estão os
jovens satisfeitos com a igreja do jeito que ela está hoje? Para responder essas questões,
precisaremos pontuar um assunto importante: a formação da identidade. Sendo assim, os dois
primeiros capítulos mostram as visões dos líderes e dos jovens, tendo assim, uma visão
aproximada da realidade do conflito geracional na igreja.
Uma vez analisadas essas opiniões, o terceiro capítulo tem por objetivo apresentar
algumas reflexões visando superar, pelo menos em parte, a dificuldade de comunicação e
relacionamento entre essas gerações.
Os dizeres dos jovens e dos líderes que iremos analisar nesta pesquisa foram
encontrados em três fontes principais: livros, artigos das principais revistas adventistas e sites
de redes sociais. Nos artigos e livros, encontramos a maioria da opinião dos líderes; nas redes
sociais encontramos o pensamento da juventude. As redes sociais foram escolhidas, pois são
nelas onde os jovens expressam livremente suas opiniões sobre todos os assuntos.
Para análise dessas informações, selecionei alguns conceitos fundamentais, de acordo
com cada temática que iremos ponderar nos capítulos já mencionados. Apresento agora esses
pensamentos fundamentais que nortearão esta pesquisa.
13
O conflito geracional acontece principalmente pela diferença de pensamento entre
distintas gerações. É verdade que muitos assuntos causam divergências, mas neste estudo
concentraremos nossa atenção na visão de mundo que as gerações possuem, a necessidade de
mudança nas gerações mais novas e a mudança na comunicação.
A visão de mundo que alguns líderes adventistas possuem se diferem da visão de alguns
jovens. Queiruga 2 mostra que o pensamento cristão da idade pré-moderna defendia um
afastamento de todo avanço científico, social ou filosófico. Esse pensamento resulta na
dicotomia igreja e mundo, de um lado a igreja detentora do que é sagrado, do outro, o
“mundo” sendo a origem do pecado.
Alguns líderes adventistas, principalmente os mais velhos, tendem a pensar desta
maneira, mas esse não é um pensamento defendido por todos. Hiebert3 diz que cada geração
possui sua cosmovisão de ver o mundo. Sendo assim, da mesma maneira que algumas pessoas
podem ver o mundo como fonte para os pecados, outras observam o mundo de maneira neutra,
podendo ou não ter elementos errados.
A necessidade se baseia no pensamento de Bauman ao dizer que “a modernidade é a
impossibilidade de permanecer fixo. Ser moderno significa estar em movimento. Não se
resolve necessariamente estar em movimento – como não se resolve ser moderno.”4 Segundo
Bauman, a mudança é natural e esperada no mundo moderno. Ele ainda afirma que a questão
da mudança se intensifica nas mentes pós-modernas.5
Neste contexto de fluidez, como dito por Bauman, a mudança na comunicação se
destaca por conta das frequentes melhorias no mundo tecnológico. Como Lyon 6 diz, a
comunicação no contexto pós-moderno está muito mais ligada a imagens, do que à
transmissão por palavras. Os jovens por estarem imergidos no mundo tecnológico, onde a
interatividade é constante, sofrem com uma linguagem basicamente discursiva como
usualmente utilizada nos cultos adventistas.
2 QUEIRUGA, Andrés Torres. Fim do cristianismo pré-moderno. Tradução: Afonso Maria Ligorio Soares. São Paulo: Paulus, 2003. 110 p. Apud: Walter Kasper, Introducción a la fe, Salamanca, 1976, p. 20. 3 HIEBERT, Paul G. O evangelho e a diversidade das culturas: um guia de antropologia missionária. Tradução: Maria Alexandra P. Contar Grosso. Brasil: Vida Nova, 2010. 45 p. 4 BAUMAN, Zygmunt. O Mal-Estar da Pós-Modernidade. Tradução: Mauro Gama, Cláudia Martinelli Gama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 92. 5 Ibid., p. 22,23. 6 LYON, David. Pós-modernidade. Tradução: Euclides Luiz Calloni. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1998. 13-17 p.
14
Através destes três pontos apresentados faremos a análise do conflito geracional. Porém,
este estudo não se limita a evidenciar o conflito geracional nas relações adventistas, mas
analisar a formação da identidade do jovem adventista. Este estudo tem por objetivo
evidenciar se o conflito geracional reflete uma negação de identidade ou reconstrução por
parte dos jovens adventistas. Para tanto, precisamos analisar a formação de identidade.
Dois pensadores serão utilizados para analisar a formação da identidade: Canclini e
Hervieu-Leger. De Canclini 7 extraio o pensamento que a identidade é formada na
contemplação de quem não se é. Ou seja, um jovem adventista se vê como jovem adventista
ao ser confrontado com um adventista mais velho. Se for possível escrever a formação de
identidade sobre esta perspectiva, seria algo como: “Sou adventista, mas não como ele.”
Complemento esta ideia com o pensamento de Hervieu-Leger8, o qual apresenta a
formação da identidade religiosa, não como uma transmissão de conteúdo entre gerações, mas
uma construção individual através das experiências sociorreligiosas.
Esses dois pensamentos mostram que a identidade do jovem adventista não pode ser
considerada a mesma dos “velhos” adventistas, não apenas isso, mas que o jovem está em
formação de identidade. E para orientar essa formação de identidade analiso Suárez9 que
apresenta Ellen White e o pensamento liminar de Walter Mignolo. Suárez acredita que Ellen
White possuía um pensamento diferenciado para sua época. Ao mesmo tempo que apoiava a
Igreja Adventista, conseguia criticar o pensamento dominante de maneira construtiva.
Baseado nestas ideias principais supracitadas e através da leitura de alguns líderes
mundiais, incluindo Ellen White, quero responder a opinião dos jovens e apresentar aos
líderes a cosmovisão de mundo e a formação da identidade dos jovens. Minha esperança é que
este trabalho possa ajudar a expandir os horizontes de cada cristão, para que ao entender a
visão do outro possam se unir em um único propósito: viver o reino de Deus.
1 CONFLITO GERACIONAL E A VISÃO DOS LÍDERES ADVENTISTAS
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
7 CANCLINI, Néstor Garcia. Diferentes, desiguais e desconectados: mapas da interculturalidade. Tradução: Luiz Sérgio Henriques. 3. ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 2009. 48 p. Apud Appadurai, 1996, p. 12-13. 8 HERVIEU-LEGER, Daniele. O peregrino e o convertido. Lisboa: Gradiva, 2005. 62 p. 9 SUÁREZ, ADOLFO S. Redenção, Liberdade e Serviço: Os fundamentos da pedagogia de Ellen G. White. Engenheiro Coelho: UNASPRESS, 2010.
15
A sociedade contemporânea vive em um crescente relacionamento social, isso aflora
principalmente pela possibilidade de interconectividade entre as pessoas por meio da internet.
O que era impossível alguns anos atrás, onde os meios de comunicação se limitavam a cartas,
telegramas, telégrafos, hoje é possível se comunicar instantaneamente com pessoas em
qualquer lugar do mundo. Os requisitos para tal façanha se limitam em ter um computador
que esteja conectado à internet ou ter sinal no celular e, pronto, você está interligado ao
mundo inteiro.
Inseridos neste meio, onde os mais variados tipos de pessoas convivem e se relacionam
com todos, se faz necessário entender esses “tipos”, pois cada um possui suas características e
peculiaridades e entendê-las se tornou fundamental para um convívio harmônico e sadio.
As lideranças da nossa sociedade estão se conscientizando dessa necessidade, entender
as diferenças para que haja equilíbrio no convívio, melhor aproveitamento das habilidades e
qualidades de cada pessoa.
Um exemplo notório dessa conscientização foi a série produzida pelo Jornal da
Globo10que procurou mostrar as diferenças de pensamento, desejo, expectativa das diferentes
gerações nos ambientes de trabalho e na vida social. Nesta série de reportagens, a Globo
divide as gerações em: “baby boomers”, “geração x”, “geração y” e “geração z”. Os baby
boomers são os filhos dos soldados da segunda guerra mundial, meados dos anos 40, são
aqueles que disseram façam amor não façam guerra. Foram os jovens que lutaram contra a
ditadura, essa é a geração da bossa-nova, jovem guarda, uma ideia marcante nos “baby
boomers” era a de seguir carreira dentro de uma mesma empresa, “fidelidade à camisa”.
A geração subsequente aos “baby boomers” são os nascidos na década de 70, chamados
de Geração X. Essa geração é marcada pela entrada da tecnologia no círculo familiar.
Segundo apresentado nessa reportagem, as pessoas dessa geração são apegadas a títulos, ao
status, porque isso está vinculado ao esforço realizado. Outra característica marcante é que
tanto a inovação como mudança não são bem vistas por essa geração; são pessoas que 10 Os vídeos na íntegra estão disponíveis nos seguintes websites: <http://empreendedordecadadia.wordpress.com/2010/11/17/jornal-da-globo-serie-geracoes/> <http://empreendedordecadadia.wordpress.com/2010/11/18/jornal-da-globo-serie-geracoes-r2/> <http://empreendedordecadadia.wordpress.com/2010/11/19/jornal-da-globo-–-serie-geracoes-r3/> <http://empreendedordecadadia.wordpress.com/2010/11/19/jornal-da-globo-–-serie-geracoes-r4/> <http://www.youtube.com/watch?v=BKnohxj7r14>
16
valorizam muito a carreira e ficam à vontade em trabalhar certo prazo para depois ter um
reconhecimento e subir um degrau natural.
Os nascidos no fim da década de 80, início da década de 90 são chamados de Geração
Y; esses querem uma evolução imediata, são impacientes com coisas iguais, estão dentro do
mundo da tecnologia; dentro da empresa buscam mesmo que em pequenos passos subir de
patamar e avançar rapidamente. São pessoas que facilmente fazem mais de uma coisa ao
mesmo tempo; enquanto estão trabalhando podem acessar redes sociais e ouvir música, sem
que isso venha atrapalhar o desempenho do que estão fazendo.
Essa série de reportagens termina falando da Geração Z, os nascidos no fim dos anos 90,
virada de século e milênio. São tidos como um “Y” turbinado. Assim chamados porque as
características da Geração Y se afloram de maneira muito forte. De maneira que se a geração
Y era impaciente, essa é muito mais; um dos motivos mais marcantes é por conta da
velocidade da internet e dos meios de comunicação. O mundo dos novos adolescentes e
jovens é visto sob o mesmo prisma do mundo da tecnologia; tudo muda muito rapidamente e
as coisas são instantâneas.
Em síntese, essas são as principais informações que encontramos nessa série de
reportagem.
Independente dos termos utilizados para classificar as gerações, se são ou não os termos
utilizados pelos grandes sociólogos, o fato é que as diferenças existem isso não se pode negar.
O ponto que quero destacar é a iniciativa de uma rede de televisão em mostrar a visão de
mundo que cada geração possui. Essa iniciativa é significativa para mostrar a necessidade de
termos pelo menos uma compreensão básica da visão do outro. Não se pode esquecer que o
objetivo central desta série é a interatividade no ambiente de trabalho. Ou seja, como as
diferentes gerações podem se unir, cada uma com suas qualidades, para que a empresa possa
crescer.
Embora este exemplo esteja focando as gerações no ambiente de trabalho, podemos
extrair o objetivo de se ter um conhecimento da visão do outro. De maneira que, independente
do meio ao qual convivesse e o fim das relações, pode-se ter uma integração melhor das
gerações, pois as características marcantes são mutuamente conhecidas.
Pelo fato de vivermos em uma sociedade com diversas gerações, torna-se natural o
convívio geracional e essa realidade está presente dentro do objeto de estudo deste trabalho, a
Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD). Pode-se notar certa conscientização não apenas do
convívio geracional, mas, além disso, os líderes da IASD estão percebendo a necessidade de
incentivar as diferentes faixas etárias nas atividades da Igreja.
17
Bill Knott11, editor da Adventist World, revista que atualiza os acontecimentos da IASD
nos países que possuem membros, tratando sobre a ação e o futuro da igreja diz: “Não
profetize para um jovem que um dia ele será famoso.” A forma categórica como ele se
posiciona pode oferecer ao menos duas informações básicas, ou ele está orientando as pessoas
para não agirem desta maneira, ou está alertando uma ação no presente.
Neste breve artigo ele fala da importância dos jovens estarem na liderança da igreja
juntamente com os mais experientes. Ele apresenta a dinâmica da igreja projetando a ação dos
jovens no futuro como sendo errada e equivocada; segundo ele, quando agimos dessa maneira
minamos a atuação dos jovens no presente. Sendo assim, o objetivo da declaração de Bill
Knott foi de alertar a igreja local desse possível erro que pode estar ocorrendo. Knott termina
o artigo fazendo menção aos jovens na assembleia da Associação Geral12, em 2010 dizendo:
“Ao você ler o que disseram os adultos jovens que tão habilmente representaram sua igreja na assembleia da Associação Geral, 2010, comprometa-se a incentivar os jovens e adultos jovens da sua igreja a serem os líderes de hoje. Ajude-os a participar dos cargos – mesmo que isso signifique abrir mão do seu – por meio dos quais, os dons que receberam do Espírito, aumentarão surpreendentemente o poder do nosso testemunho!”13
Embora não tenha nenhuma declaração explícita sobre a necessidade de conhecer as
diferenças das gerações e das peculiaridades de cada grupo, é notória a preocupação de unir as
diferentes pessoas na ação da igreja. Mais ainda, para ele o papel do jovem é de ser líder, estar
dirigindo e movendo as atividades da Igreja local.
A visão apresentada por Knott é muito significativa, pois ela segue a mesma linha de
pensar do Pr. Ted Wilson, presidente da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia,
entidade que administra a IASD mundial. Ted Wilson foi entrevistado por Bill Knott a
respeito da cultura de serviço por parte dos jovens adventistas e ele afirmou:
“A iniciativa do Reavivamento e Reforma mundial tem deixado claro que há milhares, na realidade milhões de jovens adventistas, aos quais Jesus entregou tremendos dons para ajudar Sua igreja a finalizar a obra. Gostaria que a Igreja Adventista do Sétimo Dia planejasse lançar mão dessa enorme
11 KNOTT, Bill. O Futuro é Agora. Adventist World: Órgão internacional dos Adventistas do Sétimo Dia. Vol. 7, nº 9. Tatuí, p. 3, set., 2011. 12 Assembleia que reuni representantes de todos os continentes para se definir os líderes mundiais da igreja, assim como as principais diretrizes para a igreja mundial. 13 KNOTT, Bill. O Futuro é Agora. Adventist World: Órgão internacional dos Adventistas do Sétimo Dia. Vol. 7, nº 9. Tatuí, p. 3, set., 2011.
18
criatividade, energia, que Deus já colocou entre Seu povo, concedendo variados dons aos jovens fiéis.” 14
Os jovens em ação, liderando, fazendo parte do todo, têm sido a visão apresentada pela
liderança mundial da IASD, mas essa visão parece contradizer a realidade que encontramos
nas igrejas locais. Kimberly L. Maran15durante o período da assembleia da Associação geral
entrevistou jovens de diversos países com o objetivo de saber por parte destes quais as
dificuldades da igreja que frequentam, o que eles acharam de representar o país na assembleia
geral, quais pontos a igreja poderia melhorar e outras questões pertinentes a aos jovens e a
igreja local.
Quero pinçar algumas respostas dos jovens com o intuito de mostrar que a realidade da
igreja local não é a mesma apresentada por Bill Knott, o que, como vimos, apresenta a ideia
de que o jovem seja o presente da igreja. Notem a afirmação de Blessings Gonbwe,
representante de Malawi, país vizinho a Moçambique e Zambia: “Somos os líderes do futuro,
por isso temos que aprender das pessoas que têm mais experiência.”16 É nítido que a visão de
Knott não é a realidade nas atividades eclesiásticas apresentada por Gonbwe; de alguma
maneira os jovens estão sendo projetados para o futuro, fazendo com que eles aceitem essa
realidade e isso é refletido neste testemunho apresentado. Comprovando esta realidade
vejamos outros exemplos.
Quando Kimberly questionou sobre o maior desafio enfrentado pela igreja na sua parte
do mundo? Justin McNeilus representante dos Estados Unidos da América disse:
“Na América do Norte, é o envolvimento dos jovens. Muito poucos jovens se envolvem, lideram, e até mesmo estão felizes por ser adventistas. Parece haver uma cultura entre os pastores, líderes da igreja (não necessariamente os líderes jovens), de que você tem que ter cabelos grisalhos, ou algo nesse sentido. Antes que possa ser ancião, ou que possa assumir púlpito para pregar.”17
Justin ratifica sua posição dizendo: “Precisamos permitir que os jovens se envolvam. É
verdade que é arriscado, nós vamos cometer erros. Mas, se não nos envolvermos nesse
14 KNOTT, Bill. Um Ano para Mudar o Mundo. Adventist World: Órgão internacional dos Adventistas do Sétimo Dia. Vol. 7, nº 9. Tatuí, p. 8-10, nov., 2011. 15 MARAN, L. Kimberly. Conheça o Futuro. Adventist World: Órgão internacional dos Adventistas do Sétimo Dia. Vol. 7, nº 9. Tatuí, p. 16-20, set., 2011. 16 Ibid., 17. 17 Ibid., 17,18.
19
ambiente, vamos acabar deixando a igreja.”18 A realidade que Justin apresenta nos Estados
Unidos parece ser a mesma apresentada por Gonbwe na África; os jovens não possuem poder
de ação no presente e a liderança mais velha dirige a ação da igreja local. Essas realidades
similares são significativas, pois mundos tão distintos como América do Norte e África, mas
ao mesmo tempo realidades tão próximas podem nos mostrar uma mesma maneira de pensar
por parte dos líderes das igrejas locais. O resultado apresentado por ele é que existe
insatisfação e desânimo por parte dos jovens, sendo então considerado por ele o maior desafio
da igreja nos Estados Unidos na localidade que frequenta.
A última citação que destacaremos foi feita por Samia Henriette, representante de
Sheychelles, arquipélago localizado a norte e nordeste de Madagáscar19. Samia afirma: “A
igreja deveria ajudar os jovens a se sentirem parte dela, parte dos problemas, das pressões, de
tudo. Tenho a sensação de que há um abismo entre a geração mais antiga e a jovem. Talvez as
duas gerações tenham problemas pessoais que poderiam resolver juntos, uma ajudando a
outra.”20
Os três relatos apresentados mostram que os jovens não possuem voz ativa dentro das
atividades da igreja, mostrando mais uma vez a diferença entre o ideal proposto e a realidade
local. Ao que parece o alerta de Bill Knott apresentado é uma realidade em alguns lugares em
diferentes localidades do mundo.
Embora não seja objetivo deste estudo mostrar como a personalidade e nem a
consciência de ação do jovem é formada, mas a impressão que passa nos relatos deste artigo
que estamos analisando é que as crianças crescem com a mentalidade de que quando
chegarem a uma certa idade poderão agir.
Esta questão que tende projetar a ação do jovem no futuro é percebida não somente nos
dizeres relatados aqui, mas se evidencia no título do artigo: “Conheça o Futuro”, artigo este
destinado a falar da ação dos jovens na Igreja. Questiono o intuito do artigo em falar de algo
que não acontecerá no presente. Teria por objetivo a autora apresentar os jovens que serão o
futuro da Igreja para que eles sejam apenas conhecidos?
É interessante ainda pensarmos que Kimberly Maran é editora assistente da revista
“Adventist World”, revista da qual Bill Knott é editor. Enquanto a visão do editor é que o
jovem tem papel como líder no presente, a editora assistente demonstra a visão oposta, a qual 18 Ibid., 18. 19 Fonte: <http://www.worldmapfinder.com/Pt/Africa/Seychelles/> 20 MARAN, L. Kimberly. Conheça o Futuro. Adventist World: Órgão internacional dos Adventistas do Sétimo Dia. Vol. 7, nº 9. Tatuí, p. 18, set., 2011.
20
o futuro da igreja está na juventude. Não é objetivo deste estudo fazer especulações, mas a
impressão é que a editora assistente, assim como alguns jovens, carrega a ideia de que a
liderança da igreja só pode ser composta por pessoas de “cabelos grisalhos” como dito por
Justin McNeilus.
Como vimos até aqui, independente da localidade, a realidade parece indicar a mesma
direção, os jovens estão deslocados das atividades e da liderança da igreja. Se por um lado
representantes mundiais dizem que a posição do jovem deve ser de ação e de liderança, por
outro encontramos uma liderança local que não tem se encaixado nesta visão de trabalho.
Faz-se necessário ainda destacar que os jovens ao analisarem a realidade local, além de
mostrarem que estão ausentes da ação, é perceptível uma diferença de pensamento entre as
gerações, isso se evidenciou nas palavras de Samia: “Tenho a sensação de que há um abismo
entre a geração mais antiga e a jovem.”, palavras já mencionadas e que mostram uma
realidade conflitante entre as gerações.
Diante deste quadro apresentado, passaremos a analisar o conflito geracional, assim
como a visão, preocupações e medos que os líderes possuem da juventude. Embora esse
esforço de conhecer melhor a juventude seja algo mundial, queremos destacar a realidade
brasileira.
1.2 CONFLITO GERACIONAL E A LIDERANÇA DA IASD
Tratar sobre o conflito geracional não é uma tarefa fácil, porque embora seja algo que
pode-se notar, não é um assunto que se aborda de maneira franca e direta dentro da IASD. Por
este motivo, analisarei a existência do conflito geracional dentro da sociedade, não
considerando a IASD. Em seguida pinçarei dizeres dos líderes da IASD sobre a juventude e a
sociedade contemporânea, para no próximo capítulo apresentar o pensamento dos jovens.
Com isso, temos as visões das gerações que formam a realidade da vivência religiosa dentro
da IASD.
1.2.1 Conflito geracional
21
Mudança de geração é uma realidade em qualquer instituição, independente do fim que
possui. Isso acontece com times de futebol, empresas, bancos, escolas, igrejas, e todos os
outros grupos que possuem uma representação. O motivo é óbvio, nenhum ser humano é
eterno, logo um dia precisa ser substituído.
Cada geração é marcada por algumas peculiaridades que a tornam singular para aquele
momento e essas características podem perdurar, deixar de existir, ou podem ser esquecidas
por um tempo e reaparecer. Para exemplificar, basta lembrar que nos anos 70 em que a moda
ditava a calça com “boca de sino” como sendo o modelo. No presente momento, no ano de
2012, a moda traz a tendência com as calças com a barra apertada, completamente diferente.
É interessante pensar que no futuro, próximo ou distante, existe a possibilidade da tendência
dos anos 70 voltar, e depois ir embora.
Independente do que acontecerá, destacamos que em cada geração existe algo, podendo
ser novo ou não, que deixa sua marca. Mudanças são naturais, muitas vezes necessárias, e não
existe nada de errado na mudança em si. Mas muitas vezes estas causam choques, e estes
quebram uma rotina; tiram as pessoas da zona de conforto; confrontam velhos paradigmas
com novas ideias e tendências; desafiam líderes. Os choques são inevitáveis em toda mudança,
principalmente tratando de gerações distintas.
Vejamos um exemplo deste conflito de gerações nos dizeres de Renata Filippi Lindquist,
sócia-diretora da Mariaca21, entrevistada por Gama (2010, p. B23), tratando sobre a nova
geração denominada nesse artigo como “Geração Y”. Renata disse: “As empresas já
perceberam que têm de estar mais próximas desses jovens, que precisam fazer mais
avaliações de troca de expectativas, trazê-los para mais perto da estratégia.”
Somente o fato desse comentário de Renata iniciar com o verbo “perceber” significa
que no passado ou na geração anterior, não se atinava para isso. Tendo assim uma realidade
diferente, logo precisou uma mudança no agir da geração anterior para conseguir entender a
geração atual resultando em um melhor convívio e progresso dentro da empresa.
Gama apresenta uma mudança na hierarquia, do tradicional na vertical, algo como de
submissão, de cima para baixo, mandar e obedecer, para novos modelos na horizontal, uma
tendência de um relacionamento mais aberto e franco entre chefes e subordinados, troca de
experiências e valores. Nas palavras de Renata, na mesma entrevista já mencionada: “Não se
tem mais a hierarquia de maneira tão marcada como antes. Isso já começou a aparecer na
arquitetura dos escritórios.” 21 Uma empresa prestadora de serviços em: recrutamento de executivos; transição de carreira; consultoria em liderança. Mais informações no site <www.mariaca.com.br>
22
Um exemplo citado neste artigo dessa nova tendência é a Tectoy Digital22 que no seu
espaço físico possui poucas paredes de separação entre os escritórios; todos entram e saem
pela mesma porta e bebem água no mesmo bebedouro, trazendo evidências dessa nova
maneira de dinamizar o relacionamento e mostrar uma certa igualdade entre chefes e
subordinados.
Cristiano Stefenoni23 mostra como evitar o conflito geracional dentro da realidade de
trabalho. Ele contextualiza seu artigo nas gerações que dividem as atividades empresariais.
Três gerações convivem juntas, de um lado os nascidos a partir de 1978, possuem entre 20 e
30 anos, são chamados de Geração Y, pois nasceram no mundo da tecnologia e na maioria das
vezes foram criados com mães que trabalham fora, são reconhecidos por serem talentosos. Do
outro lado, os profissionais mais experientes são chamados de Geração X (1964-1977) e
baby-boomer (1946-1964). Neste entre mundos de gerações, como evitar os conflitos entre os
jovens e os mais experientes?
Ele apresenta uma situação que vivenciou dentro do jornal em que trabalha. A redação
do jornal passou por uma reformulação geral, a partir daquele momento o material do jornal
impresso, do rádio e da internet seriam produzidos todos juntos, compartilhando o conteúdo
entre si. Os jovens lideram com essa situação de maneira muito natural, mas os mais velhos
tiveram dificuldade com o momento. A diferença básica que Stefenoni diz é que a Geração Y
lida muito fácil com a mudança, já os mais experientes são mais tradicionais e cautelosos com
a mudança.
Nessa dinâmica empresarial, para se evitar o conflito geracional Stefenoni enumera
cinco dicas para as duas gerações, são elas:
1. Para a geração Y: Respeite seu chefe. Ele pode não saber tanto de tecnologia quanto
você, mas sabe exatamente como demiti-lo se for preciso; para a geração X: Tenha paciência
com os mais novos na empresa. Quando você começou, alguém também teve que ensiná-lo,
lembra?
2. Para a geração Y: Procure respeitar também os funcionários mais antigos da empresa,
demonstrando interesse, afinal, se você quiser ser um gestor algum dia, precisará do trabalho
deles; para a geração X: A melhor forma de perder o medo de ser substituído é estar sempre 22 Um braço da empresa Tectoy, fundada em 1987, por Daniel Efraim Dazcal, com objetivo de desenvolver e produzir brinquedos de alta tecnologia. A Tectoy Digital é responsável pela produção de games (jogos eletrônicos) da Tectoy. Para mais informações veja <www.tectoy.com.br> e <www.tectoydigital.com> 23 STEFENONI, Cristiano. O “Y” da questão. Revista Conexão JA. Tatuí, ano 04, nº 16, p. 6,7, out-dez., 2010. Casa Publicadora Brasileira.
23
atualizado. Portanto, faça cursos de qualificação. Não é vergonhoso reconhecer que precisa
aprender algo novo. Aliás, essa atitude demonstra humildade e respeito com seu trabalho;
3. Para a geração Y: Use suas habilidades tecnológicas para ajudar a empresa e não para
se promover; para a geração X: Ensinar também é uma ótima forma de aprender. Portanto,
ensine;
4. Para a geração Y: Não seja autossuficiente. Peça orientação, pergunte, procure
aprender, seja humilde e participativo; para a geração X: Não se esqueça de que o jovem de
hoje pode ser seu chefe de amanhã. Por isso, nada de exclusão. Trate-o bem;
5. Para a geração Y: Não se esqueça de que ninguém é promovido se não tiver
experiência. Por isso, se a ideia é ter uma carreira de sucesso, amadureça primeiro antes de
querer trocar de empresa ou de cargo. Para a geração X: As mudanças são necessárias e
inevitáveis, você gostando ou não. Esteja preparado para elas.
Essas dicas apresentadas por Stefenoni, que é por profissão jornalista e consultor de
carreiras, são significativas na maneira que mostra os possíveis conflitos pelas características
das gerações. Ou seja, analisando essas dicas podemos saber as diferenças das gerações e, por
conseguinte os conflitos mais frequentes.
Destas questões apresentadas neste artigo quero destacar a facilidade de mudança que a
chamada Geração Y possui. Zygmunt Bauman24fala dessa tendência da sociedade moderna ao
denominá-la como líquida. A ideia de Bauman25 se torna interessante por mostrar que a
fluidez das pessoas modernas não impedem de ter formas, mas de permanecer nas formas. Ele
diz “a modernidade é a impossibilidade de permanecer fixo. Ser moderno significa estar em
movimento. Não se resolve necessariamente estar em movimento – como não se resolve ser
moderno.”26 A mudança não é um empecilho para as pessoas na sociedade moderna, elas
acontecem naturalmente. Diante das mudanças, de acordo com o movimento as pessoas se
moldam e se adaptam de acordo com a necessidade.
Por isso, conseguimos entender essa diferença que Stefenoni apresentou em seu
ambiente de trabalho. Os mais tradicionais tiveram dificuldades e alguns deles tiveram que
mudar de emprego. Em contrapartida, como mencionado, os mais novos se adequaram as
novas exigências sem grandes dificuldades.
24 ZYGMUNT, Bauman. Modernidad líquida. Tradução: Mirta Rosenberg. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2004. 25 Cf. Ibid., 13. 26 BAUMAN, Zygmunt. O Mal-Estar da Pós-Modernidade. Tradução: Mauro Gama, Cláudia Martinelli Gama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 92.
24
Mudando o foco do trabalho para a área educacional, a revista “Atividades e
Experiências”27, revista produzida pela Editora Positivo, tem tratado frequentemente sobre a
nova dinâmica no relacionamento e aprendizado das novas gerações. Somente nos mês de
Setembro de 2011, dedicou dois artigos para falar das características da nova geração e os
conflitos que podem surgir por conta dessas diferenças.
O primeiro artigo escrito por Fernanda Zattar28trata sobre o relacionamento entre pais e
filhos, principalmente na fase da adolescência. Sua afirmação é que em “Diferenças de
geração, gênero, cultura ou visão de mundo podem acarretar ruídos de comunicação e
conflitos.”, mas mesmo dentro de crises e conflitos é possível com diálogo e boa vontade
manter um bom relacionamento familiar.
Para que haja esse bom relacionamento, Zattar mostra que embora as famílias de hoje
sejam menos rígidas com os filhos, aparentemente um ponto negativo, quando comparado
com a educação anterior, o relacionamento é mais aberto e democrático, trazendo “poder” de
voz para toda a família e fortalecendo assim os laços familiares.
Zattar cita Betina von Staa 29 , colunista do site da Positivo e pesquisadora em
Tecnologia Educacional, que defende a ideia de que o mundo moderno com as invenções
tecnológicas têm aproximado mais os jovens dos seus pais ao invés de afastá-los. Embora seja
uma fase na qual os jovens descobrem tudo o que podem criticar sobre os pais, e isso pode
causar afastamento, os estudos têm mostrado que nunca na história houve um período em que
os pais estivessem tão próximos dos filhos.
Um dos motivos para que o relacionamento esteja se estreitando e perdurando é que os
filhos estão retardando a saída de casa, casando mais tarde, demorando em ter sua própria
casa e assumir assim uma vida independente.
27 FORMIGHIERI, Ruben. Revista Atividades e Experiências. São Paulo, nº 16, p. 8, 30, set., 2011, Positivo. 28 ZATTAR, Fernanda. Que Fase! Revista Atividades e Experiências. São Paulo, nº 16, p. 30, 30, set., 2011, Positivo. 29 Para ter acesso a alguns textos na íntegra, consulte: <http://blog.educacional.com.br/articulistaBetina/o-que-ainda-podemos-ensinar-aos-nativos-digitais/> <http://blog.educacional.com.br/articulistaBetina/p95056/> <http://blog.educacional.com.br/articulistaBetina/p82336/>
25
Quero destacar uma citação que Zattar faz de Betina sobre a dinâmica entre as relações,
ela diz que “É importante entender por que o outro pensa de determinada forma e tentar se
fazer entender aceitando as diferenças.”30
Destaco esse pensamento, pois em gerações distintas a possibilidade de conflitos é
grande e ter a visão do outro se torna muito significativo. Significativo pelo conceito que
Todorov31 apresenta sobre ser “civilizado” que está em reconhecer a plenitude da humanidade
do outro. Assim afirmar que um determinado pensamento é o certo e o outro errado, sem ao
menos buscar entender as razões do pensamento adverso, é simplesmente desconsiderar a
visão alheia. Isso é se considerar superior e por consequência desconsiderar a plenitude da
humanidade do outro como ser civilizado. Todorov diz que ser civilizado significa o ato de
“...reconhecer plenamente a humanidade dos outros. Portanto, para atribuir tal qualificativo, é necessário transpor duas etapas: no decorrer da primeira, descobre-se que os outros têm modos de vida diferentes dos nossos; e, durante a segunda etapa, aceita-se que eles sejam portadores de uma humanidade semelhante à nossa.”32
O oposto desta atitude é denominado barbárie, atitude esta que Todorov apresenta como
o sentido absoluto de bárbaro. Para ele “os bárbaros são aqueles que, em vez de reconhecerem
os outros como seres humanos semelhantes a eles, acabam por considerá-los como
assimiláveis aos animais, ao consumi-los ou ao julgá-los incapazes de refletir e, portanto, de
negociar (eles preferem a briga)...”33. Sendo assim, a barbárie segundo Todorov34 é o negar a
plena humanidade do outro, negar também as alegrias e aos bens que são objeto de desejo.
Aplicando a essência desse pensamento de Todorov aos conflitos geracionais que
estamos analisando, considerar uma geração detentora da verdade absoluta, deve ser
entendido como barbárie, já que desconsideramos uma outra visão sobre o mesmo assunto.
O que se torna significativo é que Todorov 35 ainda afirma que a barbárie é uma
característica natural do ser humano, sendo praticamente impossível extinguir a possibilidade
da barbárie na história humana, levando-nos a pensar que em um conflito de ideologias não é
impossível que um determinado lado queira ter a razão. 30 ZATTAR, Fernanda. Que Fase! Revista Atividades e Experiências. São Paulo, nº 16, p. 30, set., 2011, Positivo. 31 TODOROV, Tzvetan. O medo dos bárbaros: para além do choque das civilizações. Tradução: Guilherme João de Freitas Teixeira. Petrópoles: Vozes, 2010. 32,33 p. 32 Ibid., p. 32,33. 33 Ibid., p. 26,27. 34 Ibid., 31,32. 35 Id.
26
Por essa característica que o ser humano tende a sobrepujar a visão do outro como
apresentado por Todorov que podemos entender mais claramente a posição de Betina
apresentada por Zattar, ideia que mostra a importância de entender o que o outro pensa,
superando a diferença de pensamento.
O segundo artigo tem por título “Te orienta garoto!”, escrito por Max Haetinger36; ele é
professor, mestre em Educação, especialista em criatividade e em tecnologias aplicadas na
educação e psicopedagogo. Este artigo fala sobre a escolha de profissão e como isso pode
causar conflitos entre as gerações (pais e filhos). Max diz que os conflitos têm surgido por
conta da pressão que os adolescentes estão sofrendo para escolher uma profissão cada vez
mais cedo. Por um lado os filhos não sabem que profissão seguir, por outro os pais vivem a
angústia da indecisão dos filhos. Para completar essa situação as carreiras são transitórias, os
jovens mudam de curso frequentemente nos primeiros anos de faculdade e novas frentes de
trabalho que rompe com as atividades tradicionais tem surgido.
Com esse choque, o conselho de Max para os pais é que eles se atualizem, entrem no
mundo dos jovens para entendê-los e muita conversa. Ele termina o artigo dizendo: “Pais,
professores e comunidade: nessas horas tão difíceis para os jovens e suas famílias, o afeto é a
melhor ferramenta para ajudar nossos filhos a decidirem sua colocação social e para nos
colocarmos no lugar de parceiros e companheiros desses jovens.”37
Mais uma vez podemos ver a necessidade de compreender a visão de mundo da outra
pessoa. Essa necessidade se acentua quando falamos de gerações distintas, pois são mundos
diferentes. A infância, a educação, os costumes, a cultura, a sociedade, a condição
socioeconômica, a tecnologia, tudo isso mudou e tem mudado e por consequências a realidade
de duas pessoas que vivem na mesma casa ou na mesma rua podem ser tão diferentes.
Esses exemplos mencionados mostram como é real o conflito de gerações e a
necessidade de desenvolver o conhecimento das novas gerações que estão surgindo e
despontando. Na atualidade, diversos termos têm sido utilizados na tentativa de explicar a
geração do momento, termos como: Modernidade, Modernidade líquida, Pós-modernidade,
Pós-colonialismo, Geração Y, Geração Z, cada qual mencionando algumas características
socioculturais.
Independente do termo designado na tentativa de definir essa geração, o que não se
pode negar é que essa geração surge com várias características que se chocam com as 36 HAETINGER, Max G. Te orienta garoto! Revista Atividades e Experiências. São Paulo, nº16, p. 8, set., 2001, Positivo. 37 Id.
27
gerações anteriores, e esses choques passam a ser realidade em todas as esferas da sociedade e
dos relacionamentos.
Mediante isso, em qualquer lugar que nos depararmos com o conflito de gerações, em
menor ou maior grau, de uma maneira ou de outra, vamos nos deparar com ideais divergentes.
Assim sendo, nas empresas, nos relacionamentos familiares, na comunidade religiosa, e em
qualquer outra instituição que tem por base o relacionamento interpessoal essa divergência
acontecerá, de maneira que um mútuo conhecimento de como o outro é e pensa se torna
imprescindível.
Uma vez tendo visto que o conflito geracional acontece em lugares distintos da
sociedade como empresas, escolas, famílias, passarei a analisar o objeto de estudo, a IASD,
pois os mesmos conflitos podem ser presenciados.
1.2.2 Os pensamentos dos líderes da IASD
Minha leitura da IASD é que assim como outras instituições, ela tem passado por
conflitos referentes à diferença de pensamentos entre as gerações. São diferenças que se
notam no convívio com pessoas de diversas idades. Analisar essas questões gera um pouco de
dificuldade, pois estamos levantando preocupações a partir de pressupostos pessoais.
Embora parto de pressupostos pessoais, a manifestação desse conflito é visível e
podemos vê-lo ocorrendo em discussões entre representantes de distintas gerações sobre
ideias controversas, assim como a produção literária por parte de alguns líderes receosos com
alguns comportamentos da geração atual.
Os escritos que partem do líderes não abordam esse assunto de forma direta; ou seja,
dificilmente vamos encontrar um texto dizendo: “Os jovens estão fazendo...” ou “Eles não
podem fazer...”. Mas podemos ver a preocupação dos líderes pela maneira como eles falam e
a quantidade de material que tem sido produzido levantando alertas e considerando questões
que focam a juventude de forma geral.
Passarei a analisar a leitura que os líderes da Igreja Adventista têm feito sobre a
juventude e a sociedade contemporânea. Lessa38, editor da Revista Adventista, escreveu um
artigo em Dezembro de 2009 tratando sobre as influências da pós-modernidade em seis 38 LESSA, Rubens. S. Influências pós-modernas. Revista Adventista. Tatuí, ano 104, nº 1219, p. 8-10, dez., 2009. Casa Publicadora Brasileira.
28
aspectos da vida cristã cotidiana: namoro, casamento, entretenimento, conversação, música,
crenças. Em todos os casos analisados, Lessa39 defende que a influência pode ser causada pela
perda de foco por parte das pessoas, isso por conta das novas ideologias propostas pela pós-
modernidade.
Outros líderes possuem essa mesma preocupação que vimos neste artigo citado. Em
entrevista para a Revista Conexão JA40, revista voltada ao público jovem, o Pastor Elias
Brenha é questionado sobre alguns pontos referentes à juventude da Igreja Adventista.
Quando questionado sobre o papel da instituição religiosa defronte a tendência dos jovens
pós-modernos buscarem a espiritualidade, mas não gostarem tanto assim de placas de Igreja,
Brenha então afirma que essa é uma tendência desse momento e ainda diz: “A igreja precisa
encontrar novos caminhos, sem ferir seus princípios. É necessário, com urgência, reavaliar
alguns conceitos e quebrar paradigmas, a fim de conduzir melhor os jovens pós-modernos,
que não têm culpa da cultura que herdaram e que exerce profunda influência sobre eles.”41
Nestes exemplos apresentados fica claro que o conflito entre gerações existe e é notório
a preocupação dos líderes. Chama-nos atenção que a cultura “pós-moderna” está sendo
apresentada como responsável pela divergência de pensamento, se possível for, podemos
concluir que as ideologias pós-modernas seriam a origem dos conflitos entre as gerações. Já
que essa “nova” maneira de pensar e viver tem gerado esses conflitos.
Nesta mesma edição da Revista Conexão JA42a matéria de capa traz por título: “Jesus
Sim, Igreja Sim”, tratando da questão da nova tendência que as pessoas possuem em buscar
espiritualidade, mas não desejam um comprometimento formal com uma igreja. Para Wendel
Lima “o homem do século 21 prefere dizer que é espiritual em vez de religioso; que crê no
sobrenatural em vez de professar alguma confissão ou se vincular a alguma denominação.”43
O fundamento para tal conceito são as ideias pós-modernas que predominam na sociedade.
Lima44 contextualiza a situação contemporânea apresentando as sociedades anteriores.
Na Idade Média a igreja era o centro da sociedade, a modernidade reagiu a essa paradigma e
instituiu a racionalidade e a ciência como os fornecedores de sentido a vida. Ele diz que neste
39 Ibid., p.10. 40 LIMA, Wendel. Autenticidade na Igreja. Revista Conexão JA. Tatuí, ano 04, nº 16, p. 6,7, out-dez., 2010. Casa Publicadora Brasileira. 41 Ibid., p. 6. 42 LIMA, Wendel. Jesus Sim, Igreja Sim. Revista Conexão JA. Tatuí, ano 04, nº 16, p. 8-11, out-dez., 2010. Casa Publicadora Brasileira. 43 Ibid., p. 9. 44 Id.
29
momento começou a secularização da sociedade, pois a vida religiosa e a fé que eram o centro
da vida foram colocadas de lado e passaram a representar aspectos da vida particular.
A pós-modernidade é a reação a essas duas fases anteriores: à religião institucional da
Idade Média e à racionalidade e ciência da Modernidade. Para Lima “A sociedade pós-
moderna valoriza e se vale do conhecimento científico, especialmente quando esse gera
tecnologia, conforto e progresso; no entanto, não acredita na utopia que vê na ciência a
solução para todos os problemas da humanidade, inclusive os éticos.”45
Concluindo este pensamento Lima46 diz que o mundo pós-moderno nega a ciência como
solução para os problemas porque carrega na história duas guerras mundiais, nas quais a
ciência mostrou que suas descobertas podem se virar contra o ser humano. Quanto a religião
tradicional, “por causa dos pecados históricos da Igreja Cristã e do testemunho de professos
cristãos, os pós-modernos associam a instituição religiosa à intolerância, arrogância,
prepotência e falsidade.”47
Diante desse quadro, Lima48 diz que o homem do século 21 “anseia encontrar sentido
para a vida e acredita que a espiritualidade pode lhe trazer respostas, função que a
racionalidade e a ciência já se mostraram ineficazes em cumprir, porém, pensa que uma igreja
tradicional é o último lugar em que poderá ter seu espírito satisfeito.” Embora essa verdade
seja mais comum nos Estados Unidos da América e na Europa, essa realidade também é
presente no Brasil. Lima49 apresenta o Censo de 2000 o qual mostra que 9,3% dos brasileiros
entre 15 a 24 anos se identificam como “sem-religião”, a maioria desse grupo não são ateus
ou agnósticos, mas pessoas que buscam espiritualidade sem formalizarem um compromisso
com uma entidade religiosa.
Quero pinçar dois últimos comentários que Lima faz em seu artigo, mas não sobre a
sociedade contemporânea e sim sobre a postura da Igreja Adventista diante desse quadro.
Primeiro ponto que destaco é que a “relevância da Igreja Adventista depende da fidelidade a
sua identidade e da ousadia de seus métodos. Traduzindo: conservar doutrinas e modernizar
as abordagens.”50 45 Id. 46 Id. 47 LIMA, Wendel. Jesus Sim, Igreja Sim. Revista Conexão JA. Tatuí, ano 04, nº 16, p. 9, out-dez., 2010. Casa Publicadora Brasileira. Apud.: Entrevista do pastor Kleber Gonçalves para a Revista Ministério jan-fev 2010, pág. 5-7. 48 LIMA, Wendel. Jesus Sim, Igreja Sim. Revista Conexão JA. Tatuí, ano 04, nº 16, p. 9, out-dez., 2010. Casa Publicadora Brasileira. 49 Ibid., p. 9,10. 50 Ibid., p. 10.
30
Para Lima a existência da Igreja se justifica em sua fidelidade a sua identidade. O risco
que ele apresenta é que a cultura pós-moderna pressiona os adventistas a se idealizarem como
mais uma religião entre muitas outras, cuja relevância está em cuidar dos pobres e aflitos,
oferecer fuga para a alma, mas deixar de pregar crenças impopulares. Ele diz que os
adventistas não podem se calar quanto à sua mensagem, mas devem pensar em variar a sua
abordagem:
“Quanto aos métodos evangelísticos, formato da adoração, e modelos administrativos, não podemos deixar que o tradicionalismo baseado no gosto pessoal ou no saudosismo de alguns, e não em princípios bíblicos, ‘engesse’ o avanço da igreja. Não é necessário pesquisar muito na Bíblia para perceber que Deus se revelou de diferentes formas em contextos distintos; que usou a linguagem de cada tempo para se fazer entender.”51
Segundo ponto que destaco é a ênfase que Lima52 dá à mudança que a Igreja Adventista
passou nos últimos 150 anos. De uma denominação rural, em 1862, com cerca de 3,5 mil
membros e 125 congregações, para uma igreja com 16,3 milhões de fiéis em 206 países. Com
o crescimento, vieram os desafios. Um dos principais desafios segundo a visão dele é alcançar
a mente urbana. Ao considerar essa questão ele diz:
“Historicamente, os adventistas têm associado a vida nas cidades ao pecado, e há razão para isso; no entanto, desde 2008, mais de metade da população mundial vive nas zonas urbanas. Entender as necessidades dos moradores dessas regiões é facilitar que a mensagem da salvação chegue a mais da metade das pessoas a que fomos chamados a salvar.”
Refletir sobre esses dois pontos considerados por Lima em seu artigo é muito
interessante, pois a impressão que temos é que ele flutua em dois contextos, ou ideologias, ao
mesmo tempo. Por um lado ele considera elementos de atualização, renovação e
contextualização de maneiras interessantes, por outro ele parece voltar no tempo e se fincar
em um paradigma pré-moderno.
Entre diversas características da pós-modernidade53, duas delas nos chamam atenção e
em poucos comentários queremos considerá-las. A primeira é a relatividade e o fim da meta-
narrativas. Esta filosofia tem por finalidade dizer que não existem verdades absolutas para 51 Ibid., p. 10,11. 52 Ibid., p. 11. 53 Vede por exemplo: LYON, David. Pós-modernidade. Tradução: Euclides Luiz Calloni. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1998. 13-17 p.
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todas as pessoas e todos os tempos, isso acontece porque uma das características marcantes é
a valorização do local ao invés do universal. Ao isso acontecer nos deparamos com conceitos
que se diziam universais, mas não dão conta no âmbito local, logo eles são desconsiderados.
Ao ver Lima abordando a necessidade de modernizar, contextualizar, “tirar o gesso”
quanto à forma, vejo uma demonstração do “local” superando o “universal”. Assim, tratar das
pessoas e das necessidades particulares se torna mais importante que conceitos pré-
estabelecidos. Por contra partida, é notório sua postura bem sólida ao manter a mensagem
(doutrinas) protegida de qualquer alteração.
Um segundo ponto que Lyon 54 menciona que está vinculado a contextualização
mencionada é a mudança na comunicação. Ele diz que existe uma mudança do livro impresso
para a tela da TV, a migração da palavra para a imagem, do discurso para a representação.
Essa realidade está cada vez mais intensificada com o avanço tecnológico e a exploração do
consumismo. Esse ponto está ligado diretamente ao que foi dito sobre a necessidade de
alcançar as pessoas onde elas estão focando o uso das tecnologias e da comunicação.
Queiruga fala sobre a dialética modernidade/pós-modernidade, ao tratar da modernidade,
ele apresenta a realidade antes desse período, ou seja, a pré-modernidade. A primeira questão
que ele menciona é a “estreiteza dogmática” que caracterizou o confronto entre a
modernidade e o cristianismo. Comentando a modernidade e tratando da realidade pré-
moderna ele diz:
“A modernidade, ao menos em uma parte muito importante, caracterizou-se por uma insatisfação direta e global em face da herança cristã [...] Por sua inculturação nos velhos esquemas teóricos que agora eram questionados e, sobretudo, por sua posição de poder e predomínio na sociedade, o cristianismo aparecia como inimigo dos novos avanços e como negador da ilusão de futuro que se abria diante da cultura emergente. Infelizmente, essa impressão ia sendo renovada a cada passo pelos conflitos provocados, de maneira quase fatal, por todo avanço científico, social ou filosófico. Até o ponto de, há algumas décadas, Walter Kasper ter chegado a escrever que ‘Não há uma só descoberta científica importante e moderna que não tenha sido condenada ou olhada com desconfiança em alguma ocasião por esta ou aquela Igreja. ’55”
54 Ibid., p. 17. 55 QUEIRUGA, Andrés Torres. Fim do cristianismo pré-moderno. Tradução: Afonso Maria Ligorio Soares. São Paulo: Paulus, 2003. 110 p. Apud: Walter Kasper, Introducción a la fe, Salamanca, 1976, p. 20.
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Esta citação de Queiruga elucida bem a realidade do mundo pré-moderno, realidade esta,
centralizada nos dogmas eclesiásticos e nas diretrizes dos líderes religiosos. Fica evidente que
Lima, ao mencionar que historicamente a Igreja Adventista vincula o viver na cidade ao
pecado, carrega esse conceito consciente ou inconscientemente. Afinal de contas, essa era a
postura da Igreja (independente da placa) ao retratar qualquer coisa que colocava em perigo a
superioridade dela. Assim também a Igreja Adventista tendia em considerar a cidade,
questões desvinculadas da igreja, como algo pecaminoso.
O que me chama muita atenção é o fato de Lima tratar tanto das questões “pós-
modernas”, mas manter esse pensamento pré-moderno, pois após dizer a atitude da igreja em
considerar a vida na cidade como “pecaminosa”, afirma que existe razão para isso. Quero
deixar claro que não é intuito deste trabalho julgar a posição do articulista; não estou tratando
de conceitos para julgá-lo; tão pouco estou me posicionando a favor ou contra a ideia
apresentada, mas o intuito é buscar entender as preocupações dos líderes quanto às novas
ideias apresentada pela sociedade contemporânea. Com isso apenas queremos destacar o fato
dele abordar esses novos conceitos, impensáveis na sociedade pré-moderna e depois abordar
um conceito pré-moderno que pode ser insustentável em um pensamento e contexto pós-
moderno.
Este artigo analisado trata diretamente da importância da igreja se contextualizar,
permanecer fiel à sua mensagem e ao mesmo tempo mostra uma preocupação existente entre
a vida na cidade e o pecado. Os próximos artigos que mencionarei não tratam de forma tão
direta essas questões, mas levantam assuntos que tem preocupado os líderes. Sendo assim,
mencionarei essas informações de forma direta com intuito de mostrar essa realidade.
Alguns artigos foram dedicados para falar sobre a TV, internet, mídias e seus perigos,
destes artigos; vejamos algumas preocupações sobre algo tão real para a sociedade e
principalmente a juventude que nasceu com essa ferramenta nas mãos.
Ozeas Moura56, editor da apostila “Intimidade com Deus” destinada à reflexão diária
durante quarenta dias consecutivos, trata sobre “Permanência versus televisão e internet – I”
no sétimo dia dessa “jornada espiritual” como assim é chamada. Em suas considerações ele
fala o quanto a internet e televisão podem prejudicar a vida espiritual de uma pessoa. Alguns
pontos destaco em sua reflexão.
Primeiro ponto: “Satanás induz as pessoas ao pecado através das avenidas da alma.” Ao
tratar de avenidas da alma, está se referindo aos sentidos: o que vemos, ouvimos, sentimos, 56 MOURA, Ozeas Caldas. Intimidade com Deus: 4º Seminário de Enriquecimento Espiritual. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2011, 22,23 p.
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etc. Segundo ponto: “Ele (referência a Satanás) utiliza nossos sentidos, estimulando o apetite,
a visão e a cobiça.” Ponto três: “Com isso ele (referência a Satanás) consegue: a. Induzir-nos
a pensamentos vãos e corruptos; b. Paralisar os sentidos para não ouvir a voz de Deus; c.
Insensibilizar a mente pela complacência com o apetite; d. Produzir familiaridade com o
pecado.”
Ao tratar sobre Televisão, internet e mente ele afirma: “Uma das características da
sociedade pós-moderna é a frase: ‘Não tenho tempo. ’ Mas essa mesma sociedade se
transformou em um importante consumidor dos programas da televisão e da internet, os quais
absorvem o tempo destinado à família, ao desenvolvimento pessoal e, especialmente, à
comunhão com Deus.”57
Moura58 ainda diz que as estatísticas entre os jovens mostram que cada vez eles são
mais dependentes, chegando a passar seis horas diárias utilizando computador, televisão,
videogames. Ele menciona pelo menos quatro efeitos que essa dependência pode produzir.
São eles:
1. A atividade da Web está criando barreiras entre pais e filhos;
2. As crianças constroem centros multimídia em seus lares, com os quais acordam de
manhã e dormem à noite;
3. A internet é menos usada para fins proveitosos, como o estudo, e mais para se
sociabilizar;
4. As crianças estão multiconcentradas59.
Terminando sua reflexão, Moura60 apresenta dois estudos referentes às consequências
da utilização dos meios de comunicação. O primeiro diz que os meios de comunicação
exercem “influências nas crenças, atitudes e conduta dos grandes setores da população...
através de mensagens positivas ou negativas [...] modificam, em maior ou menor grau, o
modo de vida de muitas famílias e contribuem para mudar, para o bem ou para o mal, as
formas de comunicação na família, sem que os afetados descubram como e em que medida.”61
57 Ibid., p. 22. 58 Ibid., p. 22, 23. 59 Para mais informações acesse: <www.theguardianmedia.com> 60 MOURA, Ozeas Caldas. Intimidade com Deus: 4º Seminário de Enriquecimento Espiritual. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2011, 23 p. 61 Para mais informações deste estudo veja: <www.dyaweb.es>
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O segundo estudo62 mostra que as pessoas que permanecem por muitas horas na internet,
podem sofrer danos cerebrais. Este estudo foi realizado pelo neurocientista Gary Small, da
Universidade da Califórnia, e mostrou que a atividade cerebral dos chamados “nativos
digitais” duplica pela necessidade de tomar decisões e do raciocínio complexo, quando
comparado com pessoas que não tinham utilizado a web. Essa intensa atividade cerebral pode
causar estresse e até mesmo danos neurológicos. Por fim esses estudos apresentados
demonstram que as pessoas que usam a internet e a TV em excesso têm algo em comum:
dedicam tempo; são induzidas a ideias, pensamentos e sensações que podem modificar a
conduta; têm percepção diferente da realidade; têm dificuldade para se concentrar e analisar
temas profundos; a comunicação e os vínculos entre as pessoas são modificados; em ambos os
meios, as ferramentas são o apelo à visão, ao apetite e à sedução da luxúria desta vida.
Outro artigo tratando sobre a internet, de maneira específica fala sobre o site de
relacionamentos: Twitter. Tales Tomaz63 o escritor deste artigo é professor de Comunicação
Social do Unasp. Twitter como dito é um site de relacionamentos no qual cada participante
possui uma conta com o intuito de enviar mensagens de 140 caracteres para os leitores. Para
que alguém possa ler suas mensagens essa pessoa precisa ser seu seguidor, assim como para
que você leia as mensagens postadas por qualquer pessoa, você precisa se tornar seguidor
dessa determinada pessoa.
Esse site se torna muito interessante pelo fato de que rapidamente todos podem ter
acesso as informações publicadas, uma vez que as mensagens são curtas e diretas.
Com isso, em poucos instantes todos podem se informar dos tweets (nome que recebem
as mensagens postadas) postados. A questão que Tomaz levanta é sobre a dependência que a
interação pode causar, sobre isso ele diz: “O tempo cada vez maior gasto no Twitter mostra
muito bem outra faceta da cibercultura: as experiências in loco, ou seja, presenciais, são
tornadas simbolicamente insuficientes. É como se dissessem: ‘Se você não for interativo, está
por fora. Se não tiver uma conta no Twitter, vai ficar para trás’.”64
Então Tomaz fala de uma luta entre a vida espiritual e a virtual, que para ele:
“É por isso que a vivência do cristianismo passa a ser um duelo espiritual travado também no mundo virtual (conflito que de virtual não tem nada, é bem real). Como as pessoas tendem a
62 Para mais informações deste estudo veja: <http://www.adn.es/tecnlogia/20081027/nws-1739-efectos-uso-internet-actividad-cerebral.html> - Informação adicional em: <www.elesctador.com> 63 TOMAZ, Tales. O pássaro hiperativo. Revista Conexão JA. Tatuí, ano 04, nº 16, p. 14, out-dez., 2010. Casa Publicadora Brasileira. 64 Id.
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priorizar as relações virtuais, a religião sente que precisa adentrar esse terreno para não perder espaço. É nesse sentido que a cibercultura transforma a vida presencial (até mesmo religiosa) em periferia, e as relações virtuais em centro.”65
As considerações finais de Tomaz são referentes à sua preocupação entre a prática
religiosa, o frequentar a Igreja e a dependência virtual. Ele diz:
“A internet não é neutra, como se diz por aí. Se para ir à igreja tenho que levar celular ou BlackBerry para ‘tuitar’ (enviar tweets) durante o culto ‘chato’, algo está errado. Quando a igreja precisa buscar seus membros no mundo virtual porque já não a ouvem dos bancos do templo, alguma coisa mudou. Os cliques interativos desqualificaram a experiência não tecnológica, a tornaram se graça. A época sugere que, para embelezar um pouco mais a vida, dar-lhe algum sentido é preciso ser interativo, acompanhar perfis do Twitter e ‘tuitar’ o máximo possível. Isso é um artifício, não acredite nele!”66
Tomaz não é claro, tão pouco deixa transparecer para quem ele está escrevendo ou até
mesmo quais pessoas têm tido esse tipo de experiência. Mas a frequência em diversas Igrejas
Adventistas podem me dar o direito de dizer que presenciei algumas vezes os jovens tendo
esse comportamento; pode ser que ele tenha visto o mesmo fato e esteja fazendo referência a
algum acontecimento desse gênero. Acreditando que Tomaz esteja fazendo uma referência
aos jovens tuitarem na Igreja é preciso responder o por quê. Por qual motivo os jovens estão
tendo este comportamento? Duas hipóteses são possíveis: A primeira é uma reação contra um
programa “chato”; a segunda é de aprovação. Se o tuitar for por conta do programa ser chato,
a maior parcela de culpa está no ouvinte ou no idealizador? Agora, o tuitar pode ser de
aprovação e, qual seria o erro disso?
Outro ponto que precisa ser ponderado é que temos um conflito de linguagem. Como
mencionado no texto de Lyon, a comunicação sofreu uma mudança em sua linguagem e
precisamos questionar se as pessoas que vivem nessa nova linguagem possuem alguma culpa
de serem imersos nesta outra realidade. Sendo assim, precisamos antes de mais nada
perguntar qual a linguagem que estou transmitindo e qual a linguagem dos participantes do
culto, caso haja algum tipo de divergência o resultado pode não ser o idealizado e tão pouco o
esperado.
65 Id. 66 Id.
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Adriana Teixeira e Fábio Braga67 escrevem sobre a nova geração e o convívio com a
internet. Importante destacar alguns questionamentos e ideias interessantes para esta
discussão. A primeira questão que destaco é sobre as influências da tecnologia e um ponto de
interrogação é: “Em meio ao excesso de informações, qual deve ser a postura do cristão que
busca adotar um estilo de vida condizente com as verdade bíblicas? É necessário abandonar
todas as conquistas da humanidade para viver à margem da sociedade em busca de
santificação?”
Essa questão levantada está ligada ao que vimos no artigo de Wendel Lima que
apresenta a visão de que viver na cidade está ligado a algo pecaminoso. Neste ponto levantado
o questionamento é se as conquistas humanas, em outras palavras o convívio e a vitória na
cidade, precisam ser deixados para viver a vontade de Deus.
Referente aos assuntos da mídia para Teixeira e Braga, é “indiscutível o fato de que a
maior parte dos valores divulgados pela mídia tem por objetivo denegrir a imagem de Deus.
Para aqueles que ainda têm dúvida disso, basta fazer uma reflexão acerca da maneira pela
quais questões como sexo, casamento, lealdade, fidelidade, religião, poder fama e dinheiro
têm sido tratadas pelos meios de comunicação.”68
Uma vez apresentado que a maioria do conteúdo na internet não é benéfico para uma
experiência religiosa, Teixeira e Braga apresentam o perigo da dependência assim como
vimos nas considerações feitas por Tomaz, eles dizem:
“Os atrativos tecnológicos que o mundo oferece hoje têm o poder de nos afastar do Criador, além de nos distanciar afetivamente das pessoas que amamos. É preciso desenvolver a consciência de que o mau uso dos recursos a que temos acesso pode se tornar um pecado vicioso. A partir do momento em que o tempo gasto compromete o relacionamento com Deus e com a família, divertimentos inocentes e despretensiosos podem nos leva a trilhar um caminho contrário ao de Cristo [...] Certos tipos de filmes, programas e sites da internet podem tornar o cristão escravo de algo que prejudica tanto sua comunhão com Deus quanto sua relação com o próximo.”69
É interessante ponderarmos que os artigos apresentados fazem referência direta ou
indiretamente aos jovens e adolescentes, isso fica claro desde o título dado para este último
67 TEIXEIRA, Adriana; BRAGA, Fábio Willian. Educados para navegar. Revista Adventista. Tatuí, ano 105, nº 1225, p. 8-11, jun., 2010. Casa Publicadora Brasileira. 68 Ibid., p. 9. 69 Ibid., p. 10.
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artigo, embora não possamos ser categóricos se são eles os leitores do que escreveram a
respeito deles e para eles.
Tirando a internet e a mídia do foco principal, trago a tona outro assunto bastante
comentado e discutido por parte dos líderes que é o consumismo.
Fábio Bergamo70 é mestre em Marketing e Estratégia e escreve na coluna “espaço
jovem” sobre consumismo, Marketing e identidade. Destaco algumas ideias que ele menciona
de maneira bem direta aos jovens. A primeira referente ao Marketing ele diz:
“Há algum tempo, os profissionais e estudiosos do Marketing descobriram que é necessário ir além da simples venda e criar uma ligação emocional do consumidor com o produto ou marca. E a estratégia tem dado certo, tanto que Michael Solomon, um dos ‘papas’ do comportamento do consumidor, declara que, hoje, ‘as pessoas compram produto não pelo que esses fazem, e sim, pelo que significam’. 71 Em termos gerais, produtos são a tradução da personalidade e do estilo de vida daqueles que os consomem.”
Este comentário é muito significativo para os jovens, e ressalta uma preocupação
bastante especial uma vez que é nesse período da juventude onde eles mais querem estar em
alta com seus amigos de grupo. Bergamo ainda faz uma análise do consumo com a busca do
autoconceito do próprio “eu”. Ele diz que existem três tipos de “eu”. O primeiro é o “eu real”,
este é a própria vida real; o segundo é o “eu ideal”, aonde a publicidade explora, uma vez que
este “eu” é o desejo de ser alguém, idealizado; por fim o último é o “eu espelho”, que é a
imagem idealizada por mim que as pessoas terão se eu consumir um determinado produto.
A problemática desta questão de acordo com Bergamo é que:
“o ‘eu espelho’ tende a refletir o ‘eu ideal’ e não o ‘eu real’. E como é moldado esse ideal? Pelo bombardeio dos anúncios de apelo duvidoso. Assim, o risco é de que, aos poucos, muitos jovens cristãos troquem seus ideais pelo conceito consumista de sucesso e valor, fazendo com que seu ‘eu espelho’ comece a refletir um modelo deturpado, centrado em roupas, aparelhos eletrônicos e entretenimentos questionáveis.”72
70 BERGAMO, Fábio. Espelho, espelho meu. Revista Adventista. Tatuí, ano 105, nº 1225, p. 18, jun., 2010. Casa Publicadora Brasileira. 71 BERGAMO, Fábio. Espelho, espelho meu. Revista Adventista. Tatuí, ano 105, nº 1225, p. 18, jun., 2010. Casa Publicadora Brasileira. Apud: SOLOMON, Michael. Comportamento do Consumido: Comprando, Possuindo e Sendo, 7ª. ed. Porto Alegre: Bookman, 2008, 34 p. 72 BERGAMO, Fábio. Espelho, espelho meu. Revista Adventista. Tatuí, ano 105, nº 1225, p. 18, jun., 2010. Casa Publicadora Brasileira.
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Esta problemática levantada por Bergamo é bastante interessante porque uma atitude
consumista desenfreada pode gerar consequências aqui apresentadas que afetam diretamente a
identidade da pessoa.
A respeito deste problema de identidade vinculado aquilo que eu tenho, Tadeu Inácio73,
apresenta que o meio que vivemos propicia uma vida ligada ao consumismo. Até o calendário,
com datas festivas para mães, pais, crianças, namorados, faz com que pensemos e vivamos
para suprir as necessidades do consumo e quem não se enquadra nesta rotina é deslocado e sai
da normalidade.
Somos tão bombardeados pela publicidade para consumirmos, que muitas pessoas
precisam passar por tratamento. Psicoterapia, medicamentos antidepressivos e Associações,
como por exemplo os “Devedores Anônimos” e “Vida sem Dívida” são alguns exemplos de
tratamento apresentados neste artigo.
Em uma coluna comentando sobre essa questão, o pastor Hugo Quiroga74 é enfático em
declarar que o consumismo “além de uma doença, é uma estratégia de Satanás para
sobrecarregar nossos corações e prejudicar nossa relação com Deus.” A razão que ele
apresenta é que ao sermos dominados pelo consumismo, o desequilíbrio financeiro pode ser
consequência, e se isso acontecer somos prejudicados não apenas financeiramente, mas de
maneira relacional também.
Fica evidente que o consumismo é outra preocupação que os líderes possuem. É bem
verdade que não se restringe aos jovens, abrange todas as pessoas, mas principalmente a eles,
uma vez que na juventude a identidade está se formando e o consumismo como vimos está
relacionado diretamente com essa questão.
O último artigo que destaco neste primeiro capítulo foi escrito por Alberto R. Timm75 e
aborda a família entre cinco revoluções que aconteceram nos últimos duzentos anos. As cinco
revoluções são: Industrial, Feminista, Sexual, Tecnológica e Cibernética, essas revoluções
mudaram a estrutura da sociedade e por consequência da família. Não farei uma análise
detalhada de cada revolução analisada por Timm, apenas destacarei alguns pontos
interessantes que mais se conectam com nosso assunto. 73 INÁCIO, Tadeu. Consumismo. Revista Mais Destaque. São Paulo, p. 28,29 jul-ago., 2009. Publicação Independente. 74 QUIROGA, Hugo. A doença do consumir. Revista Mais Destaque. São Paulo, p. 29 jul-ago., 2009. Publicação Independente. 75 TIMM, Alberto R. A família entre cinco revoluções. Revista Ministério: uma revista para pastores e líderes de Igreja. Tatuí, ano 81, nº 04, p. 26-29, jul-ago., 2010. Casa Publicadora Brasileira.
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Referente a Revolução Industrial, Timm76 mostra a mudança que aconteceu de uma
produção rural familiar para uma atividade em massa e de grande produção. Por consequência
dessa mudança a quantidade de horas de trabalho aumentou; por outro lado os bens de
consumo são mais facilmente adquiridos pela quantidade produzida e pela possibilidade de
compra dos trabalhadores. A problemática destacada está em que por conta dessa nova
dinâmica de compra e venda e busca pelos bens produzidos, pais e filhos se distanciaram do
convívio doméstico.
Iniciado no final do século 18 na França, passando na década de 30 e 40 pelos Estados
Unidos, a Revolução Feminista lutou contra discriminação e inferioridade, assim como
diferença salarial até chegar ao ponto de lutar contra a vida matrimonial, algumas mulheres
mais radicais chegaram a se declarar anti-homem, antifamília e pró-lesbianismo. Timm77
então conclui mostrando que se por um lado a Revolução Industrial afastou o pai do convívio
familiar por conta da carga horaria de trabalho, a revolução feminista afastou a mãe do lar.
Por consequência, os filhos foram confiados aos cuidados de babás, creches ou familiares.
Três fatores vitais desencadearam a Revolução Sexual no inicio do século 20 nos
Estados Unidos: primeiro, a mudança da zona rural para as cidades “libertou” as pessoas
moralizadas pelo processo de urbanização. O segundo ponto foi a possibilidade de novas
aventuras em lugares mais distantes por conta da melhoria nos transportes. Por fim, a
comunicação em massa que fez com que os sonhos sexuais se tornassem visíveis. A
Revolução Sexual trouxe algumas contribuições segundo Timm78: desmistificou o velho erro
teológico que ensina o sexo como pecado, mesmo dentro do casamento, se não for para fins
de procriação; mudou a consciência de que a mulher não é um objeto de prazer sexual do
homem; e também com ela surgiu a produção de contraceptivos a partir de 1960, ajudando a
controlar a quantidade de filhos.
Em contrapartida, Timm79 mostra alguns problemas sociais que essa revolução trouxe.
Em resposta à comunicação em massa expondo o sexo extraconjugal, sexto seguro, a
quantidade de mães solteiras aumentou. Pelo fato de muitas dessas novas mães não possuírem
uma estrutura básica para criar os filhos, muitas avós precisaram assumir a função de pais;
outros casos se tornaram mais delicados porque a mãe não possui uma família para amparar a
nova criança, a consequência foi deixar a criança aos cuidados de creches ou outras pessoas. 76 Ibid., p. 27. 77 Id. 78 Ibid., p. 27,28. 79 Ibid., p. 28.
40
Essas consequências não afetaram apenas as famílias, mas também ao governo que precisou
injetar verba para esses fins.
Timm80 termina suas considerações sobre essa revolução falando que a consequência
ultima são os filhos nascerem em uma família desestruturada. “A busca desenfreada de
satisfação sexual, sem qualquer preocupação com valores morais e implicações sociais, tem
limitado a liberdade e o direito de escolha das novas gerações. Os adeptos da Revolução
Sexual optaram por buscar para si mesmo a liberdade de não se casarem, ignorando o direito
dos seus filhos de nascerem em uma família desestruturada.”
Um dos grandes avanços da revolução tecnológica para Timm81 é o desenvolvimento da
indústria de plástico. A produção de produtos para as casas passou a alcançar uma maior
quantidade de famílias, uma vez que os produtos plásticos são mais baratos. Em contrapartida,
esse material trouxe a ideologia das coisas transitórias e descartáveis virem à tona, uma vez
que os bens de consumo por se tornarem “descartáveis” ou com prazo de validade restrito, o
desejo de ter o novo faz com que o permanente perca seu valor, incluindo a família. Por isso
Timm diz que “As novas gerações têm-se tornado cada vez mais descomprometidas em seu
relacionamento com as coisas materiais e também com os seres humanos.”
A última revolução analisada por Timm82 é a Revolução Cibernética. Para ele, o avanço
dos meios de comunicação e de maneira especial a internet modificou os relacionamentos e a
família. O lado positivo é que as distancias foram encurtadas pelo telefone e a internet, mas ao
mesmo tempo pessoas podem estar perto fisicamente, mas ao mesmo tempo distantes em
relacionamento. O tempo utilizado em checar e-mails e visitar sites afeta diretamente a
quantidade de tempo, além do que muitos pais preferem deixar os filhos diante do
computador a dedicar tempo com eles.
Estes pontos que acabamos de ver mostram como a sociedade foi afetada com as
revoluções que foram acontecendo em nossa sociedade, principalmente nos últimos dois
séculos. O que quero destacar é que a grande preocupação do autor ao falar das dificuldades
da família está nas gerações futuras. Ele termina o artigo dizendo: “O mundo precisa hoje de
mais famílias bem estruturadas, que sirvam de modelos a ser imitados pelas novas
gerações.”83
80 Id. 81 Ibid., p. 28,29. 82 Ibid., p. 29. 83 Id.
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Uma vez que sua preocupação está nas gerações futuras, suas considerações fazem
referência a problemas enfrentados também por eles, principalmente as últimas duas
revoluções analisadas, tecnológica e cibernética, que são questões ligadas diretamente as
novas gerações.
Como apresentado no início desta seção, os artigos apresentados trataram de assuntos
que têm causado preocupação para os líderes e ao mesmo tempo são questões que nos
mostram pontos de conflito geracional. Antes de realizar as considerações finais deste
capítulo, quero apresentar dois casos de conflitos por conta de ideias diferentes entre as
gerações.
1.3 UM CASO ILUSTRATIVO
Este estudo de caso tem por objetivo mostrar como algumas das ideias dos líderes das
igrejas, tanto líderes representativos como locais, conflitam com as ideias dos jovens.
Normalmente essa experiência acontece nas igrejas locais, quando as atividades precisam
acontecer e as ideias precisam ser expostas, mas antes de apresentar este caso, quero
contextualizar a realidade da Igreja Adventista.
A IASD é organizada em ministérios 84 . Assim, todas as atividades da igreja são
realizadas através da ação dos ministérios. Para conhecimento do leitor alguns ministérios
são: Ministério Pessoal; Ministério da Criança e do Adolescente; Ministério da Música;
Ministério Jovem entre outros. Estes ministérios possuem um conselheiro que é um ancião da
Igreja local, os anciãos juntamente com o pastor representam a liderança maior da Igreja.
O calendário eclesiástico é dividido entre os ministérios, os quais ficam responsáveis
juntamente com os anciãos e o pastor da Igreja local em realizar as programações. Assim,
como todos os outros departamentos, os jovens possuem suas responsabilidades dentro do
cronograma da Igreja, mas antes que alguma atividade possa ser realizado, os líderes da Igreja
precisam aproveitar o programa planejado.
O mês de Julho tem sido utilizado pela IASD para se realizar uma semana especial de
oração, liderada e destinada de maneira especial aos jovens. No ano de 2011, na IASD de 84 Para mais informações sobre os ministérios acesse: <http://www.portaladventista.org/portal/> acesso em: 11 de janeiro de 2012
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Casa Verde, Zona Norte de São Paulo, os jovens se preparavam para realizar essa semana
especial que teria por tema: “Sonhos”. Como parte da preparação para essa semana, os jovens
arrumaram uma cama dentro da igreja na parte da frente. Na cabeceira da cama colocaram
cartazes contendo escritos alguns sonhos, como formatura, família, etc., ilustrando assim o
tema da semana que estava por começar.
Quando os líderes da Igreja (anciãos) chegaram e viram a cama com os cartazes,
reprovaram a atitude dos jovens afirmando que não poderiam colocar uma cama dentro da
Igreja, pois não era o ambiente adequado para isso. Começou então uma discussão entre os
líderes da igreja e os jovens por conta desta “decoração”, se era ou não permitido deixar a
cama na igreja. Por insistência dos líderes os jovens tiveram que ceder e tirar a decoração.
Ao analisarmos esse ocorrido, nos perguntamos o motivo dos jovens desejarem colocar
a cama e os líderes tirarem. Primeiramente precisamos lembrar o que já analisamos nos
artigos citados acima sobre a diferença no pensamento entre as gerações, para
compreendermos o desejo do jovem em colocar uma cama dentro da Igreja.
A resposta está na linguagem, como vimos o que Lyon 85 explica, com relação à
mudança na comunicação. A nova geração se comunica muito mais com uma imagem do que
com palavras, textos ou pregações. É possível que se os líderes tivessem permitido deixar a
cama dentro da Igreja, daqui a alguns meses ou anos os jovens viessem a se esquecer das
mensagens ditas, mas da ideia que seria transmitida pela cama não. Porque essa é a linguagem
deles.
Em segundo lugar precisamos entender a razão dos líderes pedirem para tirar a cama. A
razão está no que lemos em Queiruga86 sobre a Igreja como o poder e o centro da vida das
pessoas. Não quero dizer que isso é certo ou errado, o problema é que esse pensamento levava
as pessoas a considerarem tudo aquilo de fora da Igreja como profano ou pecaminoso. Logo,
permitir que qualquer coisa que remonte à realidade do cotidiano não pode entrar na Igreja,
pois essa atitude seria como uma profanação do ambiente sagrado. Sendo assim, os mais
velhos da Igreja por carregarem essa “bagagem” se chocaram quando os jovens quiseram
deixar uma cama dentro da Igreja e pediram para eles tirarem.
85 LYON, David. Pós-modernidade. Tradução: Euclides Luiz Calloni. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1998. 13-17 p. 86 QUEIRUGA, Andrés Torres. Fim do cristianismo pré-moderno. Tradução: Afonso Maria Ligorio Soares. São Paulo: Paulus, 2003. 110 p.
43
1.4 CONCLUSÕES PARCIAIS
Neste capítulo vimos que o conflito geracional é realidade em diversas esferas da
sociedade. Esse conflito não se limita a experiência religiosa, mas transcende a maioria, para
não ser categórico e afirmar todo relacionamento interpessoal entre gerações diferentes. Em
nosso estudo mostramos essa realidade no âmbito profissional, educacional, familiar e
religioso.
Os líderes da IASD têm demonstrado bastante preocupação com a nova geração e aos
assuntos que a confronta diretamente. Em especial esses assuntos tratam da necessidade de
pertencer a sociedade através daquilo que se adquire, o consumismo, e dos elementos ligados
a internet e a mídia. A grande preocupação referente a mídia e a internet está no conteúdo
apresentado e ao vício pelo uso excessivo dos programas ligados a web. Essa preocupação se
tornou mais alarmante nas palavras de Talez Tomaz ao criticar a utilização desses programas
dentro da Igreja e no artigo de Timm que fala sobre as grandes transformações que afetaram
principalmente a família nas revoluções: Industrial, Feminista, Sexual, Tecnológica e
Cibernética.
Vimos também que o conflito geracional tem ocorrido principalmente pela mudança na
linguagem e a concepção de mundo como pecado por conta dos mais tradicionais e antigos.
Sobre esses dois pontos de confrontação trago alguns questionamentos sobre esse assunto:
Pelo fato dos jovens nascerem em um ambiente cuja linguagem é diferente, faz sua conduta e
acepções erradas a respeito disto? Existe uma linguagem correta para se vivenciar dentro da
Igreja?
Por conta destas questões levantadas, precisamos, antes de qualquer coisa, saber se o
conflito geracional demonstra que o jovem deseja romper com a Igreja, ou se esse conflito
está mostrando que a linguagem utilizada na Igreja não está atingindo o jovem. Para tanto, no
próximo capítulo vamos ao outro lado do conflito, assim veremos o que os jovens estão
escrevendo sobre o contexto atual e sobre o significado de ser um jovem adventista.
44
2 O JOVEM ADVENTISTA E SUA IGREJA
2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
No primeiro capítulo analisamos a leitura que os líderes da Igreja Adventista têm feito
da juventude e das ideologias contemporâneas. Apresentamos que a mudança na linguagem é
a maior causa de possíveis conflitos entre as gerações. Vimos ainda que os líderes possuem
45
uma considerável preocupação com o consumismo e a dependência da tecnologia. Um
destaque especial aos avanços tecnológicos, porque são através deles que a linguagem foi e
está se transformando. Além do que, é através da mídia e web que são lançadas as novas
tendências, modas do momento e assim também o consumismo desenfreado é incentivado
através da propaganda e marketing.
Por parte dos líderes existe essa preocupação apresentada e, como a visão deles não se
encaixa com o contexto contemporâneo, os conflitos podem surgir. O que precisamos analisar
agora é a perspectiva jovem diante deste mesmo quadro. Ou seja, embora a juventude possa
ter um comportamento, uma postura “errada”, inadequada ou indesejada sob a perspectiva dos
mais antigos e tradicionais, é preciso ver o que eles pensam sobre essas mesmas questões.
Precisamos lembrar que estamos falando de pessoas que frequentam a mesma Igreja,
mas que não possuem a mesma visão de todas as coisas e se comunicam de formas diferentes.
O questionamento a ser respondido é se essa visão oposta do jovem confronta a Igreja e com
isso eles querem romper com ela, ou se a identidade adventista do jovem está passando por
uma transformação. Caso a juventude esteja em mudança, isso seria possível e aceitável?
Com o intuito de responder essas questões levantadas, quero analisar o que a juventude
está dizendo sobre ser um jovem adventista. Através dessa análise, desejo perceber qual o
verdadeiro objetivo deles, isso é confrontar os princípios e a liderança ou formar sua
identidade. Para tanto, extrairei da internet essas informações87. Escolhi a internet por dois
principais motivos: o primeiro porque é nela que os jovens postam suas opiniões de forma
livre; o segundo, porque é onde os jovens passam mais tempo trocando ideias e discutindo
diversos temas.
Após considerarmos essa questão, se o jovem quer romper ou não com a Igreja,
analisarei o jovem e a formação da identidade, por fim levantarei as opiniões da juventude
sobre a Igreja no contexto contemporâneo. Com isso, temos as duas visões das distintas
gerações da Igreja Adventista.
2.2 O JOVEM E A IGREJA ADVENTISTA
87 Por motivos éticos e com o intuito de preservar a identidade dos jovens não mencionaremos os nomes deles. Mostrarei a referência de onde os dizeres foram tirados e colocando todos os textos na integra nos anexos.
46
Como apresentado, através das redes sociais, blogs pessoais, quero extrair a opinião dos
jovens sobre o que significa ser adventista. Portanto, através do que eles estão dizendo,
mostrar se as preocupações levantadas pelos líderes fazem referência a uma negação da
identidade adventista ou formação dela.
Em primeiro lugar, quero ser enfático em afirmar que os jovens adventistas conversam
mais sobre religião, aspectos espirituais e atividades da Igreja do que se imagina. Uma rápida
olhada nos sites de relacionamentos e vamos encontrar centenas de grupos e discussões
diversas referentes a esses assuntos. Quero exemplificar isso com dois sites de
relacionamento: Orkut e Facebook.
Após considerar os temas e os objetivos das comunidades e grupos dessas redes sociais,
quero analisar as opiniões e dizeres dos jovens adventistas. Com isso formando o quadro
completo do conflito geracional dentro da Igreja Adventista.
2.2.1 O jovem e as redes sociais
Em uma breve pesquisa no Facebook encontramos dezenas de grupos criados com o
título de jovens adventistas88, muitos destes grupos possuindo centenas de participantes. É
interessante verificar que os assuntos tratados nestes grupos de relacionamentos fazem
referência à vida espiritual, programas da Igreja, até mesmo batismo, entre outros assuntos
ligados a Igreja.
Notem, um destes grupos,89 com 193 membros, tem como últimas postagens questões
especificamente vinculadas às Igreja. Um dos jovens, inclusive, fala sobre o estudo da lição
da Escola Sabatina90, outro tenta animar os jovens sobre o grupo jovem da igreja local e o
retiro espiritual de carnaval, outro ainda, posta uma mensagem de efeito falando sobre a
felicidade em Deus. Vejam a frase de descrição do grupo: “O melhor da vida, dizem por ai, é
ser e se sentir jovem, cheio de disposição, mas... O melhor mesmo é conhecer o doador desta
vida, o melhor é conhecer JESUS.
88Vede:<http://www.facebook.com/search/results.php?q=jovens%20adventistas&type=groups&init=quick&tas=0.40054174652323127> acesso em :19 jan. 2012 89 <http://www.facebook.com/groups/jovenseadventistas/> acesso em: 19 jan. 2012. 90 Para mais informações sobre a lição da escola sabatina acesse: <http://redeadventista.com.br/escolasabatina/> acesso em: 19 jan. 2012
47
Ser Adventista do Sétimo Dia é viver a vida, e sempre jovem, aos pés do Mestre.”91
Se procurarmos por desbravadores92 no Facebook, clube que reúnem adolescentes e
jovens a partir dos 10 anos de idade, vamos encontrar resultados similares aos jovens. Vários
links de desbravadores e clubes são encontrados 93 . Faço menção a duas páginas com
resultados mais expressivos. A primeira página com o título desbravadores94, que possui mais
de mil e setecentos curtir.
No Facebook quando alguém gosta de determinada frase, foto, evento, ou página, ele
aprova isso com um curtir, que tem uma mão com um sinal de positivo como símbolo.
O segundo destaque que faço é para o grupo desbravadores paulista leste95. Esse grupo
foi formado pelos desbravadores que fazem parte de clubes pertencentes às Igrejas
Adventistas da região norte e leste de São Paulo96. Esse grupo possui no momento 613
membros.
É interessante notar os posts realizados pelos desbravadores, nos dois exemplos citados
acima encontramos versos bíblicos, lembretes sobre os eventos, frases lembrando eventos
acontecidos, fotos dos acampamentos, entre outros. Ou seja, o que vemos nestes grupos e
páginas até aqui apresentadas são demonstrações de que os jovens, pelo menos parte do
tempo que estão conectados a rede, estão conversando sobre Deus, sobre as atividades da
Igreja, sobre os assuntos interessantes a eles.
Quando passamos a pesquisar as comunidades no Orkut, os resultados são maiores e
muito mais expressivos. Embora seja importante ressaltar que o Orkut é um site de
relacionamentos mais antigo que o Facebook, tem por consequência mais participantes.
As pesquisas com o nome adventistas mostram centenas de resultados, os mais
expressivos são: “Adventistas do 7º Dia” com 86.801 membros; “Jovens Adventistas do 7º
Dia” com 73.576 membros; “Amo ser adventista!!!” com 57.063 membros; “Pra Sempre 91 Id. 92 Para mais informações sobre o clube de desbravadores vede: <http://desbravadores.org.br/> acesso em: 20 jan. 2012 93 Para consulta veja: <http://www.facebook.com/search/results.php?q=desbravadores&init=quick&tas=0.863546998007223> acesso em: 20 jan. 2012 Veja também: <http://www.facebook.com/search/results.php?q=desbravadores&type=groups&init=quick&tas=0.863546998007223> acesso em: 20 jan. 2012 94 <http://www.facebook.com/desbravadores> acesso em: 20 jan. 2012 95 <http://www.facebook.com/groups/270496649647644/> acesso em: 20 jan. 2012 96 A Associação Paulista Leste é uma das sedes administrativas da IASD em São Paulo. Para mais informações vede: <http://apl.org.br/> acesso em: 20 jan. 2012
48
Adventista!!!” com 21.851 membros. Ainda encontramos outras comunidades de jovens
adventistas solteiros, como por exemplo: “Adventistas Solteiros” com 17.633 membros e
“Adventistas Solteiros Procuram” com 5.632 membros.97
A pesquisa por desbravadores no Orkut mostrou resultados parecidos aos apresentados
acima. A comunidade Desbravadores possui 39.783 membros, a comunidade “Amo meu
clube de Desbravadores” possui 12.820, e ainda centenas de outras comunidades ligado aos
clubes, atividades para os desbravadores, e até comunidades ligado a ex-desbravadores98.
Os assuntos discutidos nas comunidades também são pertinentes à vida espiritual e as
atividades da Igreja. Vejamos alguns exemplos, começando com a comunidade “Amo ser
adventista”99. Alguns exemplos de tópicos são: Por que você é adventista? Reavivamento e
Reforma. Uso de joias. Você é um cristão verdadeiro?
A comunidade “Sou Adventista do Sétimo Dia” 100 , que possui 16.032 membros,
também possui tópicos para debates vinculados a questões bíblicas. Alguns exemplos: Você
acredita que Cristo não tarda a voltar? Onde na Bíblia ordena o cristão guardar o sábado?
Dom de línguas. Já conversou com Jesus hoje?
Encontramos no fórum de discussão da comunidade “Jovens Adventistas do 7º Dia”101,
diversos assuntos relacionados a vida espiritual, assuntos como Criacionismo Científico. O
que você sabe? 22 de Outubro de 1844. Cuidado.. Adventistas têm perdido o foco.
Nestes dois sites de relacionamentos mencionados vemos a mesma realidade: os jovens
estão presentes, mas não podemos negar que muitas vezes o assunto discutido faz referência à
vida espiritual e a realidade da Igreja. O que me faz concluir que o tempo utilizado
conectados a web não pode ser considerado como mero desperdício, pelo contrário, pode ser
um tempo de crescimento espiritual ou ao menos convívio com outras pessoas da Igreja.
97 Para conhecimento de mais comunidades acessem: <http://www.orkut.com.br/Main#UniversalSearch?searchFor=C&q=Adventistas&pno=1> acesso em: 20 jan. 2012 <http://www.orkut.com.br/Main#UniversalSearch?pno=1&searchFor=C&q=Adventista> acesso em: 20 jan. 2012 98 Para conhecimento de outras comunidades vede: <http://www.orkut.com.br/Main#UniversalSearch?searchFor=C&q=desbravadores&pno=1> acesso em: 20 jan. 2012 99 <http://www.orkut.com.br/Main#CommTopics?cmm=2537946> acesso em: 20 jan. 2012 100 <http://www.orkut.com.br/Main#CommTopics?cmm=2298645&na=1&nst=1> acesso em: 20jan. 2012 101 <http://www.orkut.com.brMain#CommTopics?cmm=240063> acesso emacesso em: 20 jan. 2012
49
Considerando que os sites de redes sociais estão repletas de comunidades, grupos e que
os jovens estão participando ativamente nesses sites, podemos supor que os jovens utilizam as
redes sociais para comentarem as programações da Igreja102. Se isso vier acontecer, em
qualquer momento que um jovem tiver acesso a internet ele pode postar comentários sobre
algo que assistiu ou que está assistindo.
Essa hipótese parece ser verdadeira. Com o intuito de provar menciono apenas dois
exemplos recentes. Sábado, 21 de janeiro de 2012, estive realizando uma palestra para os
jovens da IASD de Vila Ré sobre namoro. No mesmo dia às 21:06 na minha página pessoal
do facebook103, recebi a notificação que uma das jovens que estava assistindo a palestra
postou uma frase que eu mencionei horas atrás. Esse é apenas um de muitos casos que tenho
visto nas redes sociais.
O segundo exemplo baseia se na possibilidade do jovem possuir aparelhos celulares
com conexão à internet e durante algum programa postar mensagens sobre o mesmo. Caso
isso aconteça, não é por isso que ele está achando o programa chato ou ruim. Pelo contrário,
pode estar apreciando e repassando informações significativas para outras pessoas que não
podem estar naquele evento104.
O que vimos é que os jovens estão presentes e são ativos nas comunidades e grupos das
redes sociais. Também vimos que eles discutem muitas questões relacionadas a igreja e seus
ensinamentos. Outro ponto a destacarmos é que os jovens utilizam as redes sociais para
postarem comentários sobre os programas e atividades da Igreja, seja de maneira local ou
organizacional. Esses comentários podem ser feitos antes do programa, anunciando o que virá,
durante o programa, e após o programa. Não podemos ser categóricos em dizer a quantidade
de tempo que eles passam conectados a web, também não podemos afirmar se são viciados e
tão pouco podemos dizer que o acesso do jovem a internet seja de todo prejudicial e
comprometedor. Afinal de contas, muitos jovens estão utilizando a internet como meio de
comunicação para a própria Igreja.
Vejamos agora o que significa ser um “jovem adventista” de acordo com eles.
2.2.2 O jovem e o “ser” adventista 102 Vede anexo 2. Convite para uma programação jovem na Igreja Adventista de Vila Ré. 103 <http://www.facebook.com/profile.php?id=100000718627655> 104 Vede anexo 1. Comentário feito por uma professora de uma palestra para professores das Escolas e Colégios Adventistas da Associação Paulista Leste no dia 24 de janeiro de 2012. Importante, esse comentário foi feito enquanto a palestra estava acontecendo.
50
Uma vez visto que o tempo do jovem nas redes sociais não pode ser taxado como inútil,
analisemos o que o jovem pensa sobre ser adventista. Com isso, quero deixar bem claro se
eles se consideram Adventistas do Sétimo Dia assim como ensinado pelo corpo doutrinário da
Igreja.
Quero evidenciar essa posição através dos comentários deles sobre o ser adventista sob
uma perspectiva geral. Fazendo assim, tenho por objetivo mostrar se o jovem adventista
deseja romper com a Igreja, ou os conflitos entre gerações evidenciam que o problema não
está na sua relação com a Igreja, ou com a sua identidade de ser adventista, mas sim na
linguagem e teologia usada pelos dirigentes mais velhos da Igreja, mas sim em uma
linguagem que não alcança o jovem.
Analisarei os dizeres dos jovens de duas maneiras, a primeira através das comunidades
e grupos nas redes sociais e a segunda com os dizeres propriamente ditos de maneira
individual. As comunidades possuem pensamentos e frases que descrevem a ideia principal
do grupo, se torna subentendido, que os participantes partilham da mesma opinião ali
expressa. Sendo assim, através destas descrições pode-se capitar o pensamento que permeia a
opinião dos jovens referentes a identidade do jovem adventista.
2.2.2.1 Grupos nas Redes Sociais
Para essa análise, selecionei quatro comunidades da rede de relacionamentos Orkut e
um grupo do site Facebook. Dentre os cinco grupos, dois levam a identificação “jovem” e os
outros dois são gerais, embora centenas e milhares de jovens participem das comunidades
gerais. A escolha foi baseada em dois critérios: a quantidade de participantes e a expressão da
definição da comunidade e grupo. Isso porque nem todas as comunidades e grupos possuem
uma definição direta sobre o ser adventista.
Citarei primeiramente as três comunidades identificadas para todos, após essas três
gerais, mencionarei as feitas especificamente para os jovens. A comunidade “Pra Sempre
Adventista” possui mais de vinte e um mil membros e é definida com as seguintes palavras:
“Nós podemos perceber o crescimento assustador de um mundo blasfemo ao nosso redor, cheio de corações fechados para Deus,
51
dispostos a enganar. Cada vez mais a guerra contra Deus se intensifica, através do orgulho doentio e do amor às coisas deste mundo. Mas nós conhecemos o Deus criador, que salva e protege seus filhos. Reconhecemos seus ensinos bíblicos de forma integral, e por eles damos sentido às nossas vidas. Seguimos os preceitos de Deus, seguimos os passos de Cristo e, é claro, sonhamos em subir até Ele nas moradas celestiais. Por isso, cada um de nós pode dizer, em alto e bom som, que pertencerá eternamente ao Seu povo!”105
Essa citação é carregada de uma bagagem doutrinária adventista106.
Os ensinos adventistas vão surgindo no desenvolver do texto. Podemos ver o ensino
sobre o grande conflito na frase “a guerra contra Deus se intensifica, através do orgulho
doentio e do amor às coisas deste mundo.”
Vemos também a doutrina do homem como ser criado de Deus e o ensino da
experiência da salvação em “Mas nós conhecemos o Deus criador, que salva e protege seus
filhos.”
O ensinamento sobre a segunda vinda de Cristo é enfatizado na frase “sonhamos em
subir até Ele nas moradas celestiais.”
Por último, encontramos o ensino sobre a vida cristã nas palavras “Reconhecemos seus
ensinos bíblicos de forma integral, e por eles damos sentido às nossas vidas. Seguimos os
preceitos de Deus, seguimos os passos de Cristo”.
É notório como essa comunidade possui o objetivo de fortalecer e apoiar a Igreja
Adventista como um todo. E uma vez que alguém toma a decisão de participar desta
comunidade está de forma virtual incentivando e confessando os dizeres expostos e
comentados. Sendo assim, parece que todos os jovens, dentre esses mais de vinte mil
participantes, se enquadram nessa doutrina apresentada, ou pelo menos não se sentem
completamente desconfortáveis com ela.
É interessante ainda destacar que na página principal desta comunidade existem
algumas recomendações de links. Dos seis sites indicados um é oficial da IASD107; outro de
um dos redatores108 da Casa Publicadora Brasileira, editora da Igreja Adventista; o terceiro 105 <http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=2317472> acesso em: 20 jan. 2012 106 Para melhor conhecimento das doutrinas adventistas veja: Ministerial Association of the General Conference of Seventh-day Adventists. Nisto Cremos. Tradução: Hélio L. Grellmann. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2008. 107 Site promocional de uma atividade oficial da IASD <www.esperança.com.br> 108 Blog pessoal do Michelson Borges que possui grande ênfase em ciência e religião focando o criacionismo <www.michelsonborges.com>
52
site destacado é sobre os livros digitalizados de Ellen White109, uma das fundadoras e a maior
escritora da Igreja Adventista; dos outros três sites recomendados, dois são sobre
criacionismo110 e um sobre a Bíblia111. Esses sites mais uma vez evidenciam a conectividade
da comunidade e de todos os participantes com a Igreja Adventista e seus ensinos.
A segunda comunidade que destaco tem por título “Adventistas Brasil (AdvBr)” e
possui mais de dez mil participantes. Sua descrição inicia dizendo que não apenas pertence,
mas se denomina representante da Igreja Adventista, é dito: “Seja bem-vindo à comunidade
da Igreja Adventista Sétimo Dia”.
Sua descrição faz menção a aprendizado e discussão sobre assuntos religiosos, a
formação de novas amizades e falar sobre Jesus Cristo. Após esses dizeres introdutórios a
frase que mais marca sua apresentação é: “Lembre-se de que você é um cristão e por isso é
um testemunho vivo de Jesus Cristo para outras pessoas não adventistas que TAMBÉM
PODERÃO participar desta comunidade, portanto aja como tal. O que deve imperar nesta
comunidade é a AMIZADE e o RESPEITO para com o próximo.” 112
Assim como na comunidade “Pra Sempre Adventista” os organizadores são enfáticos
em pedir o testemunho dos adventistas, reforçamos que isto é a expressão da doutrina sobre a
vida cristã. De forma mais específica, esse pedido faz menção ao ensino intitulado à conduta
cristã. É interessante que a comunidade incentiva a amizade e o bom convívio entre as
pessoas, reforçando o que foi dito.
A conclusão não pode ser outra a não ser que essa comunidade e todos os seus
participantes desejam o crescimento da Igreja Adventista. É claro que podem ter pessoas que
buscam a contenda e desunião, tentando criar intrigas nos fóruns de debates, mas é
interessante como os moderadores buscam controlar essas questões chegando ao ponto de
retirar essas pessoas da comunidade. Sendo assim, em sua maioria encontramos milhares de
jovens adventistas no Brasil que são a favor da Igreja.
A terceira e última comunidade destinado a todas as pessoas que mencionarei é “Amo
ser Adventista”. Uma comunidade muito expressiva com mais de cinquenta e sete mil
participantes, que possuí os dizeres de saudação muito interessante, praticamente descrevendo
algumas das mais significativas doutrinas da Igreja.
109 <www.ellenwhitebooks.com> 110 <www.universocriacionista.com.br> e <www.scb.org.br> 111 <www.bibliaonline.net> 112 <www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=825203> acesso em: 20 jan. 2012
53
A frase introdutória é: “Porque não basta sermos adventistas, temos que amar, trabalhar
e unir nossas forças para que Jesus volte em breve!”113Apenas essa frase possui referência a
dois ensinos importantes da Igreja Adventista: Unidade no corpo de Cristo e a segunda vinda
de Cristo. Não bastasse isso, encontramos uma série de frases resumindo o que significa
“Amo ser adventista!”:
“Eu amo Jesus Cristo; Eu amo a Bíblia; Eu amo acordar cedo no santo Sábado, mesmo quando estou com sono ainda; Eu amo aguardar a volta de Cristo, com a certeza de que este dia está muitíssimo próximo; Eu amo não comer porcaria, não beber todas, nem fumar; Eu amo estudar a lição da Escola Sabatina; Eu amo ter acesso a música da melhor qualidade; Eu amo às vezes ter que ser interno no colégio, e fazer amigos e histórias inesquecíveis; Eu amo ir no J.A. (mesmo quando está vazio); Eu amo demais desbravador, acampar, viajar e curtir a natureza.”114
A conexão desta comunidade com os ensinos da Igreja e os departamentos é completa,
todas as frases mencionadas neta citação ou são alusão direta a uma doutrina ou faz referência
a alguma atividade da Igreja. Vejamos isso de maneira mais detalha:
“Eu amo Jesus Cristo”, referência a doutrina de Deus; “Eu amo a Bíblia”, menção a
doutrina a palavra de Deus; “Eu amo acordar cedo no santo Sábado, mesmo quando estou
com sono ainda”, baseado no ensino sobre o Sábado; “Eu amo aguardar a volta de Cristo, com
a certeza de que este dia está muitíssimo próximo”, doutrina sobre a segunda vinda de Cristo;
“Eu amo não comer porcaria, não beber todas, nem fumar”, referência direta a ensinos da
doutrina sobre conduta cristã; “Eu amo estudar a lição da Escola Sabatina”, menção à
atividade realizada todos os sábados em todas as Igrejas Adventistas, na qual se estuda um
assunto específico durante o período de três meses a cada Sábado; “Eu amo ter acesso à
música da melhor qualidade”, comentário sobre os músicos da Igreja Adventista; “Eu amo às
vezes ter que ser interno no colégio, e fazer amigos e histórias inesquecíveis”, referência a
experiência de milhares de jovens que frequentam as dezenas de internatos no Brasil e no
Mundo; “Eu amo ir no J.A. (mesmo quando está vazio)”, departamento jovem da Igreja
Adventista que significa “Jovens Adventistas”, assim um comentário sobre os programas que
normalmente acontecem semanalmente; “Eu amo demais desbravador, acampar, viajar e
curtir a natureza”, comentário sobre o departamento dos desbravadores destinado as crianças,
adolescentes e jovens.
113 < http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=2537946> acesso em: 31 jan. 2012 114 Id.
54
Esta importante comunidade no Orkut se esforça em dizer que ama ser adventista. Com
isso, a conclusão é que os milhares de jovens que participam desta comunidade também
dividem o mesmo sentimento. É possível que nem todos partilhem do mesmo sentimento em
todas as questões apresentadas pelos líderes da comunidade, mas de forma geral não se pode
esperar que alguém participe de um grupo sem ter pelo menos uma aceitação mínima do que é
defendido por ele.
No facebook encontramos um grupo novo chamado “Jovens Adventistas”. Como dito
anteriormente, o facebook é uma rede social mais recente que o Orkut, mas tem crescido
grandemente. Os grupos neste site são mais recentes ainda, por isso esse grupo possui quase
duzentos participantes. Embora poucos jovens participando, sua descrição é significativa.
Esse grupo é descrito assim: “O melhor da vida, dizem por ai, é ser e se sentir jovem,
cheio de disposição, mas... O melhor mesmo é conhecer o doador desta vida, o melhor é
conhecer JESUS. Ser Adventista do Sétimo Dia é viver a vida, e sempre jovem, aos pés do
Mestre.”115
Em primeiro lugar, esse grupo se posiciona de forma interessante como a melhor fase da
vida: a juventude. Mas, de acordo com esses jovens, a juventude se torna plena ao conhecer
Jesus. No segundo momento, duas doutrinas surgem através dos dizeres: a primeira sobre a
criação ao afirmar “O melhor mesmo é conhecer o doador desta vida, o melhor é conhecer
JESUS.”116
O ensino sobre a conduta cristã é a segunda doutrina apresentada e se fundamenta na
afirmação de que “Ser Adventista do Sétimo Dia é viver a vida, e sempre jovem, aos pés do
Mestre.”. Essa expressão “aos pés do Mestre” acontece frequentemente na realidade da Igreja
Adventista, se referindo a uma vida de conformidade com os ensinos de Jesus Cristo, que está
ligado diretamente a doutrina mencionada. Note que esse grupo é especificamente de jovens e
para eles a realização do jovem é se encontrar com Jesus e seguir seu exemplo.
A última comunidade que mencionarei neste momento é “Jovens Adventistas do Brasil”,
esta comunidade está ligada à rede social Orkut e possui mais de onze mil membros. Essa
comunidade é expressiva na quantidade de membros e na sua descrição. Em primeiro lugar, a
juventude de forma geral é descrita como pertencentes a fase à idade da inquietude, das
115 <www.facebook.com/groups/jovensadventistas/> acesso em: 20 jan. 2012 116 A IASD defende que todos os membros da Divindade estavam envolvidos na criação, mas o agente criador foi Jesus Cristo. Vede: Ministerial Association of the General Conference of Seventh-day Adventists. Nisto Cremos. Tradução: Hélio L. Grellmann. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2008. 91. p.
55
quedas e das distrações. Mas, dentre toda a juventude, existem aqueles que “se dedicam à
propaganda e à prática da bíblia”.117
Essa apresentação da juventude é muito significativa, pois estão abertamente falando de
uma tendência deles. Esse comentário feito por eles lembra a fluidez que Bauman fala em
modernidade líquida, já mencionada e em seu comentário sobre pós-modernidade que diz:
“Um número sempre crescente de homens e mulheres pós-modernos, ao mesmo tempo em que de modo algum imunes ao medo de se perderem, e sempre o tão frequentemente empolgados pelas repetidas ondas de “nostalgia”, acham a infixidez de sua situação suficientemente atrativa para prevalecer sobre a aflição da incerteza. Deleitam-se na busca de novas e ainda não apreciadas experiências, são de bom grado seduzidos pelas propostas de aventura e, de um modo geral, a qualquer fixação de compromisso, preferem ter opções abertas. Nessa mudança de disposição, são ajudados e favorecidos por um mercado inteiramente organizado em torno da procura do consumidor e vigorosamente interessado em manter essa procura permanentemente insatisfeita, prevenindo, assim, a ossificação de quaisquer hábitos adquiridos, e excitando o apetite dos consumidores para sensações cada vez mais intensas e sempre novas experiências.”118
Embora Bauman não esteja falando diretamente e apenas sobre jovens, a definição é
ampla e serve para todas as faixas etárias, a descrição sobre os pós-modernos se encaixa de
maneira precisa nas características que os jovens apresentaram sobre eles mesmos. Os jovens
destacaram que essa fase é a fase da “inquietude”, das “quedas” e “distrações”. Bauman fala
dessas características nos termos da “sedução pelas aventuras” e a “preferência pelas opções
abertas”, incentivado por um mercado que pelas diversas opções e concorrências quer levar a
insatisfação permanente para criar uma busca incessante pelo novo.
Essa leitura que os jovens fazem deles mesmos é significativa, pois revela que eles
também possuem preocupações por quem eles são. Em outras palavras, é uma demonstração
da luta que eles enfrentam, essa é a nossa fase, mas mesmo assim queremos dedicar nossa
vida a prática da Bíblia.
Dentro deste contexto de lutas a descrição continua falando aos jovens:
“Vós sois uma esperança para os mais velhos, e elementos de grande valor para os que trabalham em favor da Humanidade. Sereis a esperança do futuro. Sede constantes na tarefa iniciada,
117 <www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=474224> acesso em: 20 jan. 2012 118 BAUMAN, Zygmunt. O Mal-Estar da Pós-Modernidade. Tradução: Mauro Gama, Cláudia Martinelli Gama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. p. 22,23.
56
sede fortes, praticai as leis de Deus, sede bons discípulos, obedientes e respeitosos, se quereis ser bons mestres no futuro, sede agora bons discípulos, até que a Providência vos chame a desempenhar mais alta missão com o retorno de Cristo.”119
Mais uma vez nos deparamos com uma afirmação repleta de doutrinas adventistas. O
ensinamento sobre a vida cristã e o crescimento em Cristo está por detrás das palavras “Sede
constantes na tarefa iniciada, sede fortes, praticai as leis de Deus, sede bons discípulos,
obedientes e respeitosos, se quereis ser bons mestres no futuro, sede agora bons discípulos”.
Assim como a doutrina da segunda vinda de Cristo está clara na afirmação “até que a
Providência vos chame a desempenhar mais alta missão com o retorno de Cristo.”.
Essa análise destes grupos revelou que os ensinos adventistas estão presentes nas
descrições que os membros e de uma maneira especial os jovens têm feito deles mesmos.
Vimos ainda que a linguagem que eles utilizam é uma linguagem rotineira da Igreja,
mostrando que a juventude faz parte dessa realidade. Sendo assim, esses grupos vistos
revelam, pelo menos a primeira vista, que o intuito do jovem não está em romper com a Igreja,
mas fazer parte e como expresso nesta última comunidade ser “a esperança para os mais
velhos”.
Até aqui vimos o “pertencer” e o “ser” de forma coletiva, ou seja, os jovens pertencem
às comunidades que “vestem a camisa” da Igreja Adventista. Neste momento analisemos os
dizeres dos jovens de forma pessoal.
2.2.2.2 O jovem Adventista nas Redes Sociais
Encontramos comentários dos jovens nas redes sociais em fóruns de discussão e posts
pessoais. Sendo assim, dividirei esta parte do estudo primeiramente apresentando os
comentários que são feitos nas comunidades e depois as publicações pessoais120.
Na comunidade “amo ser adventista” encontramos uma discussão sugerida por uma
jovem com o título: “Por que você é adventista?” A justificativa para tal discussão é: “Muitos 119 <www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=474224> acesso em: 20 jan. 2012 120 Como mencionado anteriormente, estarei preservando a identidade dos jovens, não mencionando os nomes deles no trabalho. Colocarei as imagens que copiei da tela em anexo para que todos possam ter o texto na íntegra sem a necessidade de acessar os sites correspondentes.
57
adventistas de berço perderam a sua identidade, frequentam a igreja por uma questão familiar,
são adventistas porque os seus pais também foram.”121 O questionamento principal para a
discussão é se existe firmeza em ser adventista. Ou seja, se os jovens sabem exatamente em
que creem os adventistas e se esse é o motivo para eles serem adventistas.
Os comentários são significativos e interessantes. A maioria dos comentários fazem
referências diretas ou menções às doutrinas que a Igreja Adventista ensina. Alguns são diretos
e afirmam que a Igreja Adventista é a Igreja Remanescente e a Igreja que corresponde a
profecia bíblica.122 O que torna essas reações relevantes é que em primeiro lugar foram
postadas por jovens, em segundo lugar é porque elas fazem menção ao ensinamento bíblico
adventista sobre o remanescente e sua missão.
Outros jovens fazem menção à relevância doutrinária fundamentada nas escrituras e por
isso se julgam convictos nos ensinos que aprenderam na IASD123.
A postura desses jovens em defender a identidade adventista deles ligada aos
ensinamentos apresentados pela IASD revela que existe compromisso com a fé e as crenças
que eles professam. Isso nos mostra que o frequentar a Igreja não é algo vago e superficial,
mas uma resposta convicta embasada em princípios bíblicos.
Outra discussão aconteceu na comunidade “Jovens Adventistas”. Uma jovem de vinte e
cinco anos abriu uma discussão sobre ser jovem, viver momentos difíceis, travar lutas e
guardar os princípios bíblicos na atualidade.124 Essa pergunta apresenta uma jovem que tem
lutado para viver o cristianismo prático, seguir os ensinos bíblicos, mas que tem encontrado
dificuldades e lutas e gostaria de compartilhar experiências.
Um jovem respondeu “É difícil, mas quando se propõe a tentar e ter comunhão com
Deus, as dificuldades ficam mais leves. O testemunho até melhora como
consequência.” 125 Outro jovem comentou essa discussão dizendo que é dificílimo essa
realidade. Menciona ainda, sobre a dificuldade de ter amigos que não professam a mesma fé,
pois estas influenciam a sua vida, razão pela qual o relacionamento se torna difícil.
Esse jovem também fala sobre a experiência do fracasso quando todas as coisas
parecem se encaminhar bem. Ele diz que se firma em um texto bíblico de Apocalipse 2:10:
“Não temas o que hás de padecer. Eis que o Diabo está para lançar alguns de vós na prisão, 121 <www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=253794&tid=5515592440288106001> acesso em: 31 jan. 2012 – vede anexo 3 122 Vede anexos 3, 4, 5, 6 123 Vede anexos 3, 4, 5, 6 124 Vede anexo 7. 125 Id.
58
para que sejais provados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a
cora da vida.”126
A provedora da discussão responde positivamente aos dizeres desse jovem dizendo que
está de acordo e menciona o texto bíblico que se encontra em Tiago 1:12 “Bem-aventurado o
homem que suporta a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o
Senhor tem prometido aos que o amam.”127
A leitura que faço dessa troca de experiências é que os jovens se preocupam em ser fieis
aos princípios que professam. São honestos em dizer que possuem dificuldades em viver o
ideal que colocaram para suas vidas. Eles são humildes em reconhecer que caem e falham,
mas ao mesmo tempo buscam o crescimento e a vitória para o ideal. Essa posição evidencia o
desejo de permanecer na Igreja que frequentam.
Essas duas discussões apresentadas nessas comunidades diferentes nos mostram a
mesma realidade: viver o que dizem seguir é o ideal de vida almejado pelos que participaram
desses grupos.
Trago agora uma série de comentários de jovens publicados em um grupo do facebook
sobre o que significa ser um jovem adventista na opinião deles. Para analisar esses textos de
maneira mais clara possível estarei redigindo os posts tentando preservar a integridade do
texto original. O primeiro comentário foi feito por um jovem e ele diz:
“É uma batalha todos os dias, estamos propícios a cometer erros mais fácil devidos não darmos tanta importância para as coisas de Deus. Pensamos que os prazeres do mundo podem satisfazer nossos desejos passageiros, mas esquecemos que temos um Deus que é por nós. Envergonhados sempre tentamos seguir Seus passo, mesmo não sendo dignos de andar ao lado de um Deus tão misericordioso. Sendo diferentes tentamos mostrar para as outras pessoas quem somos, e porque somo assim. Muitas vezes não vivemos o que pregamos, mas todas as vezes nos sentimos despedaçados pela falta de fidelidade à um Deus tão bom assim.”128
Confesso que minha tendência é reescrever os comentários realizados no último post,
mas além da franqueza desse jovem quero destacar dois elementos que mostram vínculo com
a Igreja. O primeiro é a linguagem utilizada: o sentido que ele dá as palavras é muito real na
experiência da Igreja Adventista. Alguns exemplos: “coisas de Deus”, “desejos passageiros”,
“prazeres do mundo”, “somo diferentes”, essas expressões demonstram vínculo com a Igreja. 126 Vede anexo 8. 127 Id. 128 Vede anexo 9 – primeiro comentário.
59
O segundo destaque é que o tempo todo ele expressa sua vida como a batalha do cristão,
batalha essa tão pregada e ensinada pelos pastores e líderes da Igreja Adventista.
Seguindo essa linha que mostra uma realidade difícil de ser vivida, outro jovem
comentou que estamos sendo incentivados a viver uma vida baseada em lucros e conquistas
aqui na terra. Ele chega a afirmar que as pessoas que deveriam dar o exemplo (deduzo eu que
para os mais novos) não o fazem e o exemplo a ser seguido fica por conta de pessoas que não
são comprometidas espiritualmente. Sua última contribuição é dizer que por conta dessa falta
de exemplo e apoio o resultado é que: “o prazer carnal e outras influências passaram a fazer
parte da nossa rotina.”129
Este jovem mencionado é outro exemplo de uma pessoa que possui sua raiz na Igreja
adventista, revelando isso na sua maneira “adventista de falar”. Frases como “conquistas aqui
na terra” e “prazeres carnais” são ouvidas frequentemente nos cultos e nas conversas entre
membros adventistas. Embora esse jovem chegue a dizer que o “prazer carnal, outras
influências passaram a fazer parte da rotina”, encontramos nestes elementos apresentados uma
amostra de afinidade e o desejo de viver de conformidade com os ensinos da Igreja.
Duas jovens concordam que para ser um jovem adventista hoje é preciso estar em
íntima comunhão com Deus.130Os comentários da duas se complementam após afirmarem que
precisam de uma verdadeira comunhão com Deus. Elas falam em vencer as tentações,
escolher os amigos corretos, tomar as decisões certas, frequentarem os lugares adequados,
saber dizer não as festas erradas, bebidas, mostrar o exemplo de Jesus para as pessoas que
ainda não o conhecem.
A primeira jovem ainda afirma que temos uma razão para estarmos aqui e essa é: “ser
um cristão correto, um desbravador fiel, e um adventista de fé [...] É ter um comportamento
de respeito dentro da casa de Deus, é dar o testemunho a partir de nossas vidas, é ajudar ao
próximo e amar a todos, principalmente a Deus.”131
Essa jovem se apresenta como desbravadora e seus comentários soam como uma
adaptação da lei dos desbravadores. A lei dos desbravadores 132 é o ideal para cada
desbravadores seguir e ela ensina: 1. Observar a devoção matinal; 2. Cumprir fielmente a
129 Vede anexo 9 – terceiro comentário. 130 Vede Anexo 9 – comentários 2 e 5. Você encontra a publicação completa do comentário 5 no anexo 10. 131 Vede Anexo 9 – comentário 2. 132 <http://desbravadores.org.br/sobre-nos/ideais-dos-desbravadores/> acesso em: 31 jan. 2012
60
parte que me corresponde; 3. Cuidar do meu corpo; 3. Ser cortês e obediente; 4. Andar com
reverência na casa de Deus; 5. Ter sempre um cântico no coração; 6. Ir aonde Deus mandar.
Veja que existe conexão entre o que ela diz e a lei dos desbravadores, de maneira que
encontramos mais uma demonstração de conexão entre as atividades para os jovens, neste
caso os desbravadores, e a experiência pessoal dessa moça. Em suas palavras ela dá ênfase em
ser um testemunho, um exemplo a ser imitado tanto dentro da Igreja como fora, ajudar o
próximo e amar a todos e principalmente a Deus.
A segunda jovem citada acrescenta seus comentários dizendo:
“O mundo hoje só vive pelo sucesso, dinheiro fama... mas o que DEUS tem para nos oferecer é muito melhor do que qualquer bem aqui na Terra, por isso por mais que seja difícil, temos que persistir na missão que o Senhor nos confiou... Vamos levar a mensagem e preparar outras pessoas para o dia grande dia... Provações virão, mas DEUS está no controle de tudo, então devemos confiar no Senhor, e deixar que ele guie nossa vida neste mundo, estamos aqui de passagem, em breve veremos o nosso Senhor! Amém!”133
Estes dizeres dela também estão repletos de doutrinas, além de uma linguagem
essencialmente adventista.
Consideremos primeiramente as doutrinas que ela apresenta. A doutrina “O
Remanescente e sua Missão” é expressa nas frases “temos que persistir na missão que o
Senhor nos confiou... Vamos levar a mensagem e prepara outras pessoas para o dia grande
dia...”. Por detrás das palavras “Vamos levar a mensagem e preparar outras pessoas para o dia
grande dia...” e “estamos aqui de passagem, em breve veremos o nosso Senhor!” está a
mensagem adventista da “Segunda vinda de Cristo”.
Além desses ensinamentos doutrinários encontramos também a maneira adventista de se
expressar. Sempre são incentivados a viver uma vida que se afaste dos padrões da sociedade,
uma vida mundana e esse ensino encontraram na frase: “O mundo hoje só vive pelo sucesso,
dinheiro fama... mas o que DEUS tem para nos oferecer é muito melhor do que qualquer bem
aqui na Terra”. Outro dizer típico adventista é “estamos aqui de passagem, em breve veremos
o nosso Senhor!”
Seguindo esta tendência, temos este comentário publicado por outro jovem: “Ser
adventista pra mim é maravilhoso, por mais que vivemos em mundo pecaminoso,
bombardeados pra viver uma vida totalmente de sucesso, dinheiro, vitória, mas as vezes 133 Vede Anexo 10 – comentário 5.
61
esquecemos que com Deus conseguimos isso e muito mais, enfim ser um jovem adventista
hoje em dia pra mim é FAZER A DIFERENÇA =).”134
É possível notar que as ideias desses jovens se cruzam, e aquilo que é mais pregado e
dito nas igrejas acabam transparecendo nestes dizeres. Para este jovem, assim como para
outros já mencionados, vivemos sob a influência de um mundo contaminado pelo pecado, que
oferece um sucesso substancialmente financeiro e ligado a status. Mas, segundo ele apresenta,
pode-se conquistar mais que o mundo oferece, é preciso estar ligado a Deus. Por fim ele
resume sua ideia mostrando mais uma vez a questão do testemunho, nas palavras: “Fazer a
Diferença”.
Todos os posts lançados pelos jovens e vistos até o presente momento trilham a mesma
linha de pensamento. Eles mostram que os jovens se preocupam com sua vida espiritual e o
seu testemunho. Além da maneira deles se expressarem e revelam uma bagagem doutrinária e
cultural dos Adventistas do Sétimo Dia.
Outro comentário bastante significativo sobre o ser adventista foi escrito por um jovem
que começa suas considerações dizendo que ser cristão é uma decisão que tomamos na
juventude, e essa escolha perdura por toda a vida. Para ele aqueles que decidem viver um
cristianismo de aparência não conseguem viver dentro da Igreja o que são fora dela, logo uma
vida de frustração por conta de um coração dividido. Em contrapartida, aqueles que decidem
viver um cristianismo autêntico mostram sua luz para as pessoas que o cercam, e são taxados
como fanáticos por não aproveitar o melhor que a vida pode oferecer.
Ele então diz que se eu busco ser por conta da opinião alheia, o resultado é uma vida
dúbia, mas se decido viver de acordo com o que Deus espera posso ter inimizades com as
pessoas, mas terei as melhores oportunidades para a vida.135
Esse jovem mostra um lado diferente de ser cristão, ele apresenta as chances que um
cristão tem e que aconteceu em sua vida. Ele diz:
“A igreja nos oferece através dos seus ensinamentos, tudo aquilo que um jovem que esta lá fora deseja ter para ser alguém diferenciado. Foi na igreja que tive a primeira noção do que é música clássica, tive a oportunidade de ver uma orquestra de sinos, o que lá fora é visto como uma qualidade apenas de pessoas de alta sociedade, foi na igreja que aprendi como falar em público, o que me rendeu ótimas notas em muitos seminários na faculdade, foi na igreja que aprendi a desenvolver a minha liderança levando outras pessoas aos pés de Jesus, o que me deu a oportunidade de subir os degraus da minha carreira e gerenciar
134 Vede Anexo 9 – comentário 4. 135 Vede anexo 11
62
departamentos. Foi na igreja que aprendi a ter amor ao próximo, o que me rendeu ter boas e sinceras amizades. Foi através dos ensinos na igreja que eu aprendi a ser comedido nas minhas ideias, o que me faz ser para as pessoas um bom conselheiro.”136
Este comentário é interessante, uma vez que ele faz um agradecimento por tudo o que a
Igreja ofereceu e ainda oferece a ele. Todas as oportunidades e o crescimento mencionado
fazem entendermos que tanto o convívio, como os ensinos aprendidos na Igreja fizeram a
diferença na vida deste jovem. Ele termina suas considerações falando sobre qual a melhor
forma de viver a juventude:
“Para mim a melhor forma de viver a juventude de forma completa e real é sendo um jovem cristão, isso muda a minha personalidade, a minha história e a minha vida. Eu não preciso ir na balada a e encher a cara pra ficar feliz, basta me reunir com meus amigos, tocar o violão e cantar belas canções em nome do Senhor, eu não preciso fazer viagens de carnaval onde pessoas se entregam ao simples prazer do corpo, sendo que posso retirar-me espiritualmente para um lugar afastado desfrutando de horas intermináveis de comunhão com meus irmãos e amigos. E assim as pessoas que estão ao meu redor são atingidas por essa luz que não provém de outro lugar a não ser do trono de Deus. Sabemos que não somos perfeitos, mas sabemos que com Cristo podemos crescer e ao contrário do que acontece no mundo, nos tornamos pessoas melhores. Os jovens de Deus sempre estão um passo a frente dos jovens do mundo. Eu acredito!!!”137
A parte final destes dizeres revela sua ligação com as atividades da Igreja e com a
doutrina que professa. “Reunir os amigos”, “Retiro espiritual”, são momentos que acontecem
frequentemente no cotidiano da Igreja, como sociais de Sábado a noite, e os acampamentos
que as igrejas promovem na época do carnaval e durante o ano. Ele também fala sobre o não
viver como o mundo, saindo para festas e utilizando bebidas alcóolicas. Menciona o
testemunho que acontece ao vivermos de acordo com a vontade de Deus. Termina seu
comentário dizendo que em sua opinião, viver o cristianismo é garantia de mudança de vida
para melhor, e andar a frente dos outros jovens.
A última publicação nesta página do facebook é de um jovem que fala que ser
evangélico em nossos dias é moda, assim dizer ser evangélico não é nenhum problema. Em
sua opinião o difícil é “ser um jovem adventista verdadeiramente focado: ler a Bíblia, estudar
136 Id. 137 Id.
63
a Lição, comparecer aos cultos de quarta, evangelizar... o difícil é nós mentalizarmos a nossa
missão e seguir o exemplo de Cristo!”
Neste último comentário encontramos a definição de ser um jovem adventistas no
envolvimento com as atividades da Igreja e a comunhão com Deus. “Cultos de quarta” e
“evangelizar”, são atividades que a Igreja promove semanalmente, e o “estudo da Bíblia” e da
“Lição” é uma referência a comunhão diária com Deus. O termo “Lição” é utilizado por toda
a igreja para se referir ao estudo da lição da escola sabatina, atividade normalmente realizada
aos Sábados pela manhã nas Igrejas Adventistas.
Até o presente momento analisamos dizeres dos jovens em comunidade e grupos. Todos
os dizeres vistos seguem uma mesma linha de pensamento, em geral os jovens se preocupam
com um momento a sós com Deus, para ler a Bíblia e estudar a lição da Escola Sabatina,
procuram enfatizar a importância do testemunho dentro das atividades da igreja e no cotidiano.
É notável uma preocupação com as coisas do “mundo”, por isso vez após vez, eles dizem que
somos diferentes do mundo, e vivemos de maneira diferente.
Continuando este estudo, quero apresentar mais alguns testemunhos de jovens falando
sobre o que significa ser adventista. A diferença desses para com os outros está apenas em
que os comentários citados anteriormente foram extraídos de discussões, os próximos que
veremos são posts feito no mural do facebook. O mural do facebook é o local utilizado para
deixar suas mensagens de forma que todos os seus amigos e aqueles que entrarem em sua
página possam ver.
Uma jovem postou um comentário dizendo que ser adventista significa mostrar para as
outras pessoas que somos diferentes, e para defender isso ela menciona que não saímos a
certas horas da noite, não comemos e bebemos coisas que não devem. Observe que ela está
fazendo referência aos princípios aprendidos na Igreja, quanto ao testemunho e ao cuidar do
corpo como templo do Espírito Santo. Ela então diz que o significado de ser adventista em
sua concepção pode ser definido como: “Eu sou temente a Deus, então isso me torna diferente
e sigo meus princípios sem precisar fazer o que normalmente os outros jovens que não são da
igreja fazem. Mas o que importa realmente é ser normal porém diferente.”138
Este comentário é expressivo, não apenas por mostrar que suas ideologias são fundadas
nas crenças adventistas, mas também por mostrar que o jovem deseja ser “normal”. Em outras
palavras, embora, ela enfatize que deve ser “diferente” por conta de seus princípios e atitudes,
ela não deseja estar alheia de tudo, ou ser considerada ou sentir-se anormal. 138 Vede anexo 13 – comentário 1
64
Outra jovem disse de forma mais incisiva que ser adventista é ser diferente do mundo.
Ela afirma: “É Amar a Jesus acima de tudo, fazer sua vontade e não se importar com os que
outros possam falar, é não ter vergonha de levar o evangelho para aquele que necessitam de
um alimento espiritual, é estender a mão para o necessitado e dizer ao mundo que somos
caretas sim, mas somos feliz pois temos a salvação e a vida eterna!”139
Como dito e agora visto, essa jovem é mais enfática em dizer que os jovens adventistas
não devem temer em dizer ao mundo que são “caretas”. Essa maneira de se posicionar é uma
demonstração clara que ela está do lado da Igreja, não desejando romper com seus ensinos. É
fato que não podemos ser conclusivos, mas nota-se uma postura aparentemente mais
conservadora do que foi visto até agora. Embora nenhum comentário visto até agora
demonstre alguma negação dos ensinos adventistas.
Encontramos outro comentário interessante feito por uma jovem, ela inicia suas
considerações fazendo menção à um texto de Hebreus dizendo: “Somos uma geração eleita ao
sacerdócio real, nação santa... povo exclusivo de Deus.. para anunciarmos as suas grandezas
aquele que chamou das trevas para sua maravilhosa luz.”140 Notem como o ensinamento
adventista é presente nestas palavras, nossa missão ela diz é proclamar o conhecimento que
temos sobre Deus. Dentro desta mesma linha de pensamento um jovem comentou, ser
adventista do sétimo dia é um estilo de vida.141
Os últimos dois posts que mencionarei são de duas jovens que trazem informações
simples e profundas, mas que ainda não foram mencionadas. A primeira delas diz que ser um
jovem adventista é “andar na contramão do mundo trilhando os caminhos de Jesus, andando
como ele andou; amar como ele amou e viver como ele viveu [...] é viver sempre alegre, é
compartilhar a nossa alegria, é viver com intensidade, é ser um jovem abundante de Benção
divinas capazes de ajudar ao próximo e fazer com que os outros possam conhecer sobre o
amor de Deus através de Nós.”142
Este comentário apresentado agora caminha de uma maneira diferente dos que vimos
até agora. Pois, ao mesmo tempo em que essa jovem fala sobre seguir na contramão do
mundo e viver como Jesus viveu como os outros jovens vinham comentando, ela acrescenta a
questão da alegria. Ser um jovem adventista, sob sua perspectiva, está ligado a ter uma vida
intensa, uma vida contente e essa alegria chega até as outras pessoas no amor ao próximo. 139 Vede anexo 13 – comentário 2 140 Vede anexo 13 – comentário 4 141 Vede anexo 14 – comentário 3 142 Vede anexo 14 – comentário 2
65
Esse comentário eu julgo interessante, pois demonstra que a jovem pensa em seguir os
ensinos adventistas, mas ao mesmo tempo não se vê preso a uma realidade enfadonha, porém
alegre e contagiante.
O último comentário levanta outra questão significativa para esta pesquisa, uma jovem
aborda o ser jovem como ser diferente do adulto e da criança. Ela diz:
“Ser um jovem adventista é na atualidade diferente de ser um adulto ou uma criança adventista, uma vez que os desafios são outros, assim como as tentações, o envolvimento e eu diria que também a disposição. Há jovens dentro da igreja que querem ser apenas telespectadores e há aqueles que aproveitam a oportunidade e fazem da igreja a sua cara, afinal os jovens são alegres, são falantes, diferentes dos de dentro de outras idades muitas vezes, mas necessariamente diferente dos de fora, a medida que não há compatibilidade nos pensamentos, atividades e desejos que o mundo aprova. Ser um jovem adventista é amar a Deus e não ao mundo, amar ao próximo e seguir o exemplo de Jesus.”143
Mais uma vez encontramos o ser adventista como ser diferente do mundo, nas atitudes e
no pensamento oposto, mas ao mesmo tempo alegre como proposto pela última jovem. Outro
ponto que destaco e sob minha perspectiva é fundamental, é entender que os jovens são
diferentes das crianças e dos adultos. Sua maneira de ser é diferente, seus desafios são outros,
suas tentações como colocado são outras também. Sob essa perspectiva apresentada por essa
jovem, surge uma questão, não se pode dizer que ser jovem adventista é a mesma coisa que
ser um adulto adventista? É notório que ela não diz “não sou adventista”, mas ela diz “sou
adventista diferente dele (a)”. Ou seja, ela não quer romper com a Igreja, assim como todos os
outros não desejam, mas ao mesmo tempo, não são iguais a todo mundo, possuem suas
peculiaridades.
Após apresentar todos esses comentários feitos pelos jovens sobre o que significa ser
adventista, minha leitura dessas informações é que eles estão estritamente vinculados aos
ensinos e ao estilo de vida proposto pela Igreja. São francos e humildes em dizer que muitas
vezes possuem dificuldades em seguir tudo o que desejam e alguns momentos falham.
Entendem que ser adventista é ser alegre e devem fazer a diferença em todos os lugares, quer
sejam nas atividades da Igreja ou fora dela.
143 Vede anexo 13 – comentário 3
66
Como vimos, os jovens adventistas são e desejam continuar como adventistas, mas
surgiu uma questão referente a identidade do jovem adventista. E será esse o assunto que
estarei analisando.
2.3 A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DO JOVEM ADVENTISTA
Esta parte do trabalho será dividida em duas partes, na primeira analisarei a transmissão
de heranças religiosas e a formação da identidade, após isso, mostrarei as opiniões dos jovens
sobre mudanças na igreja em meio a uma sociedade diferente da qual a Igreja Adventista foi
fundada.
2.3.1 Transmissão de heranças religiosas e a formação da identidade
Muitas pessoas nos Estados Unidos da América pregavam e aguardavam a volta de
Jesus em 22 de outubro de 1844. Uma vez que Jesus não voltou na data prevista, esse grande
grupo se dividiu e uma das ramificações veio a se tornar o que hoje chamamos de Igreja
Adventista do Sétimo Dia.144
Dos primeiros encontros, quando não existia nenhum tipo de organização até o presente
momento em 2012, passaram mais de 160 anos. O que significa que durante todo esse tempo,
as crenças adquiridas iam passando de geração em geração.
É natural que uma Igreja após sua organização e a solidificação de suas doutrinas, passe
a transmitir o mesmo ensino, caso contrário torna-se outra igreja. Estamos falando de
transmissão de uma herança religiosa, assim com o passar dos anos, indiscutivelmente todas
as igrejas transferem suas heranças para os novos membros, sejam eles filhos dos mais
antigos ou convertidos.
144 Para mais informações sobre a história da Igreja Adventista veja: SCHWARZ, Richard; GREENLEAF, Floy. Portadores de Luz. 1. ed. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2009.
67
Ao tratar esse assunto, tendo o ponto de origem a sociedade, Daniele Hervieu-Leger145
diz que o receptor nunca é a imagem perfeita do transmissor. Ela afirma: “Se o ideal da
transmissão pretende que os filhos sejam a imagem perfeita dos pais, é claro que nenhuma
sociedade jamais o atingiu, simplesmente porque a mudança cultural não cessa de agir,
inclusive nas sociedades regidas pela tradição.”146 Uma vez que a sociedade não é estática por
conta da mudança cultural, ela diz que a continuidade não significa imutabilidade, pelo
contrário a continuidade é garantida pela mudança. A consequência é que as novas gerações
são colocadas em oposição as antigas por causa dessas mudanças.147
Por conta disto, o transmitir não se limita em passar conhecimento para outra pessoa.
Para Hervieu-Leger:
“a transmissão não consiste apenas na garantia da passagem de um determinado conteúdo de crenças de uma geração a outra, colocando os recém-chegados em conformidade com as normas e valores da comunidade. Na medida em que a transmissão se confunde com o processo de elaboração dessa ‘corrente da memória’ a partir da qual um grupo crente se realiza como grupo religioso, a transmissão é o próprio movimento pelo qual a religião se constitui como religião através do tempo: é a fundação continuada da própria instituição religiosa.”148
Sendo assim, a transmissão significa a transformação do conteúdo em uma realidade
pessoal e individual. A grande dificuldade dessa sociedade é que a sociedade está em
constante mudança, e a vivência do conteúdo transmitido será adaptado de acordo com cada
realidade.
Ao tratar sobre as mudanças, Hervieu-Leger diz que as mudanças na sociedade não se
limitaram apenas em uma adaptação por conta das inovações, mas são “verdadeiras rupturas
culturais que atingem profundamente a identidade social, a relação com o mundo e as
capacidades de comunicação dos indivíduos. Elas correspondem a um remanejamento global
das referências coletivas, a rupturas da memória, a uma reorganização dos valores que
questionam os próprios fundamentos sociais.”149 Considerando que existe essa ruptura nas
memórias, a consequência é que as religiões podem ser abaladas, pois elas se fundamentam
nos ensinos passados. 145 HERVIEU-LEGER, Daniele. O peregrino e o convertido. Lisboa: Gradiva, 2005. cap. 2, p. 57-80. 146 Ibid., p. 58. 147 Ibid., p. 57. 148 Ibid., p. 62. 149 Ibid., 58.
68
A “crise da transmissão” é o nome que se dá ao problema da transmissão religiosa para
os jovens, isso porque as sociedades modernas não podem ser mais consideradas sociedades
da memória, pelo contrário o que está em voga hoje é a decisão do momento. Bauman fala
dessa realidade ao dizer: “No jogo da vida dos homens e mulheres pós-modernos, as regras do
jogo não param de mudar no curso da disputa.”150 Essa instabilidade, mobilidade, movimento
é exemplificado por Bauman como um turista, a vida turística preocupa-se em movimentar,
não em chegar. Eles se movimentam por conta da insatisfação com a realidade de casa, mas
essa realidade foi imposta sobre eles.151 Como todas as coisas estão em movimento, não se
fala em vanguarda, não se fala em pessoas defendendo ideias absolutas, mas vemos as pessoas
se movendo, porém os movimentos “parecem aleatórios, dispersos e destituídos de direção
bem delineada.”152
A consequência dessa mobilidade é descrito nas palavras de Hervieu-Leger: “Hoje,
levado ao limite, esse processo de libertação produziu a desestruturação e o aniquilamento da
memória coletiva, a ponto de as sociedades modernas aparecerem cada vez mais incapazes de
pensar sua própria continuidade e, assim consequentemente, de se representar seu porvir.”153
Por conta de uma sociedade móvel, onde as heranças nem sempre são consideradas,
Hervieu-Leger diz que as identidades religiosas não podem mais ser consideradas identidades
herdadas. Ela afirma:
“as identidades religiosas não podem mais ser consideradas identidades herdadas, mesmo se admitirmos que a herança é sempre remanejada. Os indivíduos constroem sua própria identidade sociorreligiosa a partir dos diversos recursos simbólicos colocados a sua disposição e/ou aos quais eles podem ter acesso em função das diferentes experiências em que estão implicados.”154
A identidade religiosa então deve ser analisada como ela denomina pela “trajetória de
identificação”. Essa trajetória não se limita a experiência religiosa e a transmissão da herança
religiosa que a pessoa tem durante sua vida, mas engloba todas as questões que estão ligadas
ao que se crê, dentre vários desses pontos ela cita: práticas pertençam anteriores, maneiras de
150 BAUMAN, Zygmunt. O Mal-Estar da Pós-Modernidade. Tradução: Mauro Gama, Cláudia Martinelli Gama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. 113 p. 151 Ibid., p. 116,117. 152 Ibid., p. 121. 153 HERVIEU-LEGER, Daniele. O peregrino e o convertido. Lisboa: Gradiva, 2005. 62 p. 154 Ibid., p. 64.
69
conceber o mundo e de inserir-se ativamente nas diferentes esferas de ação que compõe o
mundo, etc.155
Revendo os conceitos apresentados temos uma sociedade em constante mudança,
mudanças que não se limitam as consequências das novas invenções. Vimos também que a
sociedade moderna tende a ser imediatista e não se preocupar com as heranças. Por conta
destas questões existe uma crise na transmissão, isso é, o ensinamento da religião para as
novas gerações é comprometido pela negação da herança e das mudanças constantes. A
última questão que vimos foi que a identidade religiosa não pode ser considerada apenas
como a transmissão da herança e a experiência religiosa pessoal, mas a junção desses com as
práticas religiosas, sua vivência passada, sua visão de mundo, etc.
Diante deste quadro quero complementar a ideia de formação de identidade com o
conceito apresentado por Néstor Canclini156 extraido de Arjun Appadurai o qual analisa a
cultura não como um substantivo, um objeto definido, mas sim como um adjetivo. “O cultural
facilita a falar da cultura como uma dimensão que se refere a ‘diferenças, contrastes, e
comparações’ permite pensá-la ‘menos como uma propriedade dos indivíduos e dos grupos,
mais como um recurso heurístico que podemos usar para falar da diferença’.157
A partir deste pensamento podemos extrair o conceito de identidade que se forma
através das diferenças, dos contrastes. Eu sei o que sou quando vejo o que não sou. Assim, um
cristão comprova que é um cristão quando se depara com um mulçumano ou um budista. Da
mesma maneira, um adventista tem convicção de suas crenças quando é confrontado com
outra religião.
Por lógica, um jovem adventista sabe o que ele é quando confrontado com o que ele não
é. Por esta razão, conseguimos entender a declaração que vimos de uma jovem que disse, ser
jovem adventista é diferente de ser um adulto adventista ou uma criança adventista. Pois,
através dos opostos se forma a identidade.
Unindo os dois pensamentos que vimos sobre a formação de identidade, chegamos ao
ponto que ao eu me deparar com o meu oposto, ou com o diferente, juntando a isso a
experiência religiosa e a transmissão da herança religiosa que tenho durante minha vida, 155 Id. 156 CANCLINI, Néstor Garcia. Diferentes, desiguais e desconectados: mapas da interculturalidade. Tradução: Luiz Sérgio Henriques. 3. ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 2009. p. 35-53. 157 CANCLINI, Néstor Garcia. Diferentes, desiguais e desconectados: mapas da interculturalidade. Tradução: Luiz Sérgio Henriques. 3. ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 2009. 48 p. Apud Appadurai, 1996, p. 12-13.
70
minhas práticas, costumes anteriores, maneiras de conceber o mundo e de inserção no mesmo
em todas as esferas de atividades que o compõe, estou formando minha identidade.
Diante desta junção de fatores, minha leitura é que a identidades do jovem adventista
está em formação. Uma vez que a sociedade vive em mudanças, e os jovens acompanham
muitos dessas mudanças, sua identidade não será igual a dos adultos. Não é por essa razão que
eles deixarão de ser adventistas, mas, talvez não seja o que os mais velhos esperam que eles
sejam. O que acontece é que se os jovens estão em formação de uma identidade, e isso por
conta das mudanças que eles passam em todos os aspectos da vida, a lógica leva a concluir
que eles esperam que a Igreja passe por mudanças. Ou seja, que a “cara” da igreja seja
transformada de acordo com as necessidades.
Quero mais uma vez utilizar as redes sociais para ver a opinião do jovem sobre essa
questão de mudança. Esperam eles que isso aconteça? Ou a Igreja tem que ficar estagnada,
pois não é necessário fazer nenhum tipo de adaptação, contextualização.
2.3.2 O jovem e a igreja
Os comentários que apresentarei foram extraídos de algumas discussões na rede social
“Orkut” e de minha página pessoal do Facebook. No Orkut encontrei algumas postagens
relevantes para nosso tema e no Facebook lancei há alguns meses atrás uma pergunta na rede
e alguns jovens estiveram comentando a respeito da Igreja Adventista e a mudança. De vários
comentários, selecionei alguns e os apresento neste momento.
Começarei com os comentários realizados no Orkut. Na comunidade “Jovens
Adventistas do 7º dia” é realizada uma discussão sobre a cultura contemporânea, onde
encontramos um comentário de um jovem de maneira interessante. Ele diz que “Precisamos
entender que é possível apreciar as artes e a cultura sem se contaminar, porque foi Deus quem
deu ao homem o poder criativo e despertou nele a necessidade de apreciar o belo[...]”158
Seu comentário continua fazendo menção a um artigo publicado na Revista Conexão JA,
escrito pelo Pr. Allan Novaes que diz: “[Temos tido adventistas] cada vez mais exclusivistas,
alheios às necessidades, ideologias e necessidades dos não convertidos e [...] despreparados
158 Vede anexo 15 – comentário 1
71
em conteúdo e linguagem para apresentar Jesus a uma geração cada vez mais
‘culturalizada’.”159
Vemos nestes comentários não uma manifestação direta de mudanças, mas a
necessidade de abrir os horizontes para a realidade da sociedade. Uma vez entendendo a
cultura, a necessidade então é de se adaptar para que a igreja fale a mesma língua das pessoas
presentes.
Os próximos cinco comentários que faço se referem a outro fórum, na mesma
comunidade “Jovens Adventistas do 7º Dia” do Orkut, que falam sobre a Igreja da Nova
Semente160. Em síntese, a proposta da Nova Semente, como normalmente as pessoas chamam,
é alcançar pessoas pós-modernas.
Então, toda a programação, linguagem, abordagem, são dirigidas para esse fim. É uma
igreja que por conta da reestruturação completa no culto, o nome diferente, se tornou motivo
de discussão, mesmo entre aqueles que nunca a haviam visitado.
Os posts que trago são referentes a uma típica discussão sobre a Nova Semente, na qual
um jovem menciona que estava assistindo o Canal Novo Tempo161, um canal da IASD, e sua
avó disse “meu filho com tanta coisa boa na TV e você fica vendo musica mundana na TV”
ele então menciona a sua avó que era o canal da Igreja e ela disse que a Novo Tempo passava
de tudo. Ele termina dizendo “Se é que me entende...”162
Outros jovens então começam a comentar em resposta a esse post. O primeiro diz:
“Enquanto isso... a NS (abreviatura para Nova Semente) continua realizando a obra.”163 Em
seguida uma jovem apoia esse comentário e diz:
“Deus tem feito grandes maravilhas através da NS! Deus seja louvado!!! O tolerar? Sinceramente acho falta de visão!! O certo seria um aceitar o outro, baseado na realidade da nossa atualidade. A ordem não é pregar a todos? A NS tá cobrindo uma área, que a IASD tradicional ignorou por anos a fio. O certo é ambos se aceitarem, entenderem que cada qual é uma parte do corpo e realiza determinadas funções.. ou atingem determinados ‘públicos’.”164
159 Id. 160 Para mais informações sobre a Igreja da Nova Semente acesse: <http://www.novasemente.org/> acesso em: 02 fev. 2012 161 Para mais informações sobre a TV Novo tempo veja: <http://novotempo.com/tv/> acesso em: 02 fev. 2012 162 Vede anexo 16 – comentário 2 163 Vede anexo 16 – comentário 3 164 Vede anexo 16 – comentário 4
72
Outra discussão dentro deste tópico foi levantada por conta do nome. Antes de me
referir aos comentários dos jovens, uma breve explicação referente a um costume que
encontramos nos nomes das Igrejas Adventistas.
As Igrejas Adventistas têm normalmente seguido uma forma na nomenclatura,
primeiramente o nome Igreja Adventista do Sétimo Dia e após vem a localidade a qual a
Igreja pertence. Por exemplo, cito a Igreja que eu vivi toda minha infância, chama-se, Igreja
Adventista do Sétimo Dia da Casa Verde, pois se localiza no bairro Casa Verde na Zona
Norte de São Paulo.
Voltando a discussão sobre o nome Nova Semente, a primeira jovem reagiu pelo fato do
nome não “seguir o padrão adventista”. Em resposta a outro comentário ela questiona e
afirma: “A Bíblia ou EGW (abreviação para Ellen Gold White, uma das fundadoras da IASD)
se ocupam em pregar nome, ou se ocupam em pregar a mensagem, o evangelho? Se alguém
está do lado da verdade, o nome é o que menos importa.”165
Apoiando esse comentário e a toda Igreja da Nova Semente um jovem diz:
“Parabéns à Administração da AP [abreviatura para Associação Paulistana, sede mantenedora da Igreja Nova Semente], por esta iniciativa. Tive a oportunidade de assistir algumas palestras do Pr. Kléber (Pastor da Nova Semente) e ouvi em suas mensagens, palavras de GRANDE conforto espiritual. Se alguns nutrem algum preconceito em relação à NS... Fiquem atentos para o verdadeiro sentido: Levar a Mensagem de Deus. E isto eles estão fazendo... Se não é da forma tradicional de nossas Igrejas, que diferença faz? A mensagem é a mesma, a luz é a mesma. O público é que se diferencia...”166
Para analisarmos esses comentários, partimos do pressuposto que a Igreja da Nova
Semente realizou várias mudanças tendo por base uma igreja tradicional, desde o nome até
sua estrutura de culto. E em sua maioria, o que vimos aqui nesta discussão foi os jovens,
apoiando uma forma diferente de “ser Igreja”, mas que possui a mesma mensagem. Ou seja,
os jovens não se apegam a uma estrutura padrão para culto, eles estão mais preocupados que a
mensagem alcance aos ouvintes do que certo “formalismo” religioso.
Passo agora a considerar os comentários em minha página pessoal do Facebook; a
pergunta que coloquei foi “Os tempos mudaram, hoje vivemos na época chamada ‘pós-
165 Vede anexo 17 – comentário 1 166 Vede anexo 17 – comentário 2
73
moderna’, e quanto a igreja? Deve permanecer a mesma? Deve mudar? O que precisa ser
mudado?”167
A primeira reação foi: “mudar não, modernizar sim, mas sem perder os valores
principais que fizeram e fazem a igreja o que ela é, e que sempre foi considerada a igreja dos
mandamentos de Deus.”168
Em reação a esse comentário um jovem postou que entendia o que ele queria dizer, mas
contrapôs com uma citação de Ellen White: “necessitam-se homens que orem a Deus pedindo
sabedoria, e que, sob a guia de Deus, introduzam nova vida nos velhos métodos de trabalho e
possam imaginar novos planos e novos métodos para despertar o interesse dos membros da
igreja e alcançar os homens e mulheres do mundo.” Esse jovem termina seu comentário
dizendo “Isso é mudança!”.169
Esses dois comentários mostram dois pontos interessantes, a primeira jovem fala sobre a
necessidade de modernizar, já o segundo é mais claro em falar sobre mudança. O comentário
do segundo jovem é significativo, por ser embasado em Ellen White uma das fundadoras da
Igreja. Este jovem não fala em contextualização, mas em algumas mudanças mais profundas.
As mudanças são sobre planos e métodos, então ele cita Ellen White que fala ser necessário a
utilização de “novos planos e novos métodos”. Veja que são novos planos e novos métodos,
não são planos e métodos atualizados. Embora a modernização e a mudança geram alterações
na Igreja, a modernização se limita em fazer a mesma coisa de maneira atualizada, mas a
mudança com novos planos e novos métodos trazem modificações mais profundas na
estrutura da Igreja. Ressalto ainda, que o fato de alguns jovens fazerem menção a Ellen White
e outros líderes da Igreja mostram o desejo de terem força nos comentários. É como se eles
dissessem, não apenas eu desejo isso, mas os fundadores apoiam o que estou dizendo.
Outro comentário feito por um jovem foi:
“Vivemos em uma época de transição aonde a grande maioria dos jovens na igreja é pós-moderna, porem convivemos com gerações anteriores que são modernas e alguns com pensamento pré-moderno. Acredito que não podemos conter essas mudanças e sim nos adaptar a elas. A igreja deve sim mudar mas sem esquecer de suas bases. A mudança esta em como atingir as pessoas nesse mundo, se modernizar na forma de conversar e entender os jovens e não adaptar a igreja para ‘facilitar a entrada’ dos jovens na igreja.”170
167 Vede anexo 18 168 Vede anexo 18 – comentário 2 169 Vede anexo 18 – comentário 4 170 Vede anexo 19 – comentário 2
74
Esse post demonstra um conhecimento no mínimo básico sobre as gerações, fazendo
alusão a diferenças de pensamento entre as novas gerações e as antigas, ele deixa claro a
existência de conflitos de ideias e a necessidade de mudanças para adequar a realidade da
Igreja. O que tem permeado os dizeres dos jovens é a essência em ser adventista. Isso ele
demonstra na frase “adaptar a igreja para ‘facilitar a entrada’ dos jovens na igreja.” Essa é
uma referência direta aos princípios e ensinamentos da Igreja. O “facilitar a entrada” é o
transformar uma Igreja com suas ideologias e normas, para uma Igreja sem nenhum padrão de
conduta.
Ao mesmo tempo em que ele fala em permanecer com “suas bases”, ele apresenta a
mudança como uma necessidade. “A mudança esta em como atingir as pessoas nesse mundo,
se modernizar na forma de conversar e entender os jovens”. Nesta frase encontramos uma
necessidade de contextualização, assim como vimos em Hervieu-Leger ao ela tratar do
assunto da transmissão de conhecimento.
Seguindo essa mesma linha de ideia, outros dois comentários foram feitos: “A igreja
deve se adaptar aos usos ou necessidades modernas;”171 o segundo comentário diz: “Se ainda
não mudou, está perdendo a oportunidade. Entenda que eu quero dizer, mudança de
comportamento e não de doutrinas.”172 Mais uma vez encontramos a mesma posição, a forma
precisa ser mudada, o comportamento precisa ser alterado, mas os ensinamentos devem
permanecer os mesmos.
Esse mesmo jovem continua suas considerações exemplificando a necessidade de
mudança, dizendo: “Um exemplo, são as novas formas de evangelizar que estão surgindo e
que vale principalmente para a geração ligada na internet/celulares.” 173 Note que a
preocupação está para com os mais novos, nova geração. Ele continua dizendo que:
“o mundo se tornou uma aldeia e uma informação pode ser recebida ou enviada em segundo. Como será o comportamento da geração Y em um ou mais anos? Talvez o culto da forma tradicional que vemos hoje tenha que passar por uma mutação, vendo que os jovens querem mais participação... ou mesmo um folheto que hoje é impresso venha aos poucos ser substituído por mídias eletrônicas (e-mails, SMS, facebook, twitter, etc...). Enquanto as doutrinas são as bases/colunas da igrejas as novas formas de evangelização devem ser as vitrines da igreja.”174
171 Vede anexo 19 – comentário 4 172 Vede anexo 20 – comentário 1 173 Id. 174 Id.
75
Vemos a mesma ideia do comentário anterior, as bases/colunas permanecem, mas a
fachada da Igreja deve ser mudada. Em outras palavras, as formas devem ser contextualizadas,
atualizadas para as necessidades. Este jovem destaca a necessidade de atingirmos a geração
tecnológica, seja via e-mails, sms, redes sociais, isso porque como ele diz os jovens “querem
mais participação”. A realidade digital é completamente interativa, todos conversando com
todos ao mesmo tempo instantaneamente, o choque se torna muito grande quando se depara
com um culto aonde se tem um narrador e um monte de telespectadores. Para essa geração, o
culto se torna monótono.
Notem a reação de uma jovem para com o culto e a estrutura da igreja: “Deve-se mudar
a liturgia arcaica, as músicas de 1800, aceitarmos os incomuns, mulheres ocuparem postos
relevantes assim como acontece no mundo.”175
A mensagem dela é clara, estamos ultrapassados. Não podemos ficar na mesma
realidade, mas ela pondera dizendo que a mudança deve ser tomada com muito cuidado
porque a linha entre a mudança e o desastre total é muito tênue. Sua visão da Igreja é que,
existe a mudança, mas “só acompanha em reação à crise adaptando-se pontualmente.”176 O
problema dessa reação paulatina, às vezes tardia é que as gerações estão cada vez mais
imediatistas, muitas das vezes precisando de algo mais rápido.
Seu último comentário é significativo, na maneira como deve acontecer as mudanças:
“O problema está nessa reação não planejada. É necessário adaptar-se mas tem-se feito isso sem se quer saber o que realmente é uma sociedade pós-moderna, sem atentar-se aos conselhos para mostrar a direção em situações como essa. Esse movimento pós-moderno atual na teoria é excelente, o problema está naqueles que o praticam sem o devido cuidado e embasamento bíblico ou inspirado. Enfim, já falaram aqui... é necessário mudar tudo já! Mas não vamos forçar a barra...”177
Observe que ela defende uma mudança, em todos os sentidos, mas com cautela e estudo.
Sua preocupação é interessante, na medida que mudanças impensadas podem ser catastróficas.
Sua visão de Igreja é no mínimo exemplar, enquanto como jovem imergida neste conflito
geracional, onde vê a necessidade de mudança, sua postura é de respeito e tolerância, “não
vamos forçar a barra”.
175 Vede anexo 20 – comentário - 4 176 Id. 177 Id.
76
Seguindo essa mesma linha de raciocínio, outra jovem entende que as mudanças
precisam acontecer, mas com as devidas precauções para não afetar as doutrinas. Sua opinião
é:
“Especificamente sobre os cristãos pós-modernos, acredito que tenham como intuito uma religião que lhe seja mais atrativa ou criativa, sem contudo se afastar dos princípios e doutrinas religiosas. Com isso pretendem também atrais os não cristãos com essa religião mais ‘atrativa’, já que no mundo atual, principalmente nos grandes centros urbanos, a religião é muitas vezes tida como antiquada e ‘passada’. Entendo como válida uma tentativa de evangelismo mais moderna, que congregue formas criativas de pregação, inclusive com uso da tecnologia. Meu receio no entanto, é que a igreja tente modernizar Jesus, como se Deus é que tivesse de se adaptar a nós e não nós a Ele. O foco jamais pode ser perdido, ou seja, a Palavra, as doutrinas. Outras questões ao meu ver podem ser revistas como hinos, liturgia e afins.”178
Embora suas preocupações são claras e relevantes, essa jovem entende que novas
questões podem ser trazidas para que o culto possa se tornar mais atrativo e dinâmico, para
tanto a estrutura do culto e os hinos precisam ser revistos, novas tecnologias podem ser
incluídas também.
2.4 CONCLUSÕES PARCIAIS
Neste capítulo ponderamos três questões principais: O jovem e o ser adventista; A
formação da identidade; O jovem e a Igreja.
Diante de tudo o que foi visto, minha conclusão neste momento é que o jovem
adventista não deseja romper com a Igreja ao que se refere as doutrinas, ensinamentos. Isso
ficou evidente em todos os comentários analisados, os quais estão repletos de doutrinas e
carregados de uma forma adventista de falar. Nas suas palavras não distinguisse apenas
ensinamentos, mas um zelo protetor pela Igreja.
Com referência à identidade, não se pode ser conclusivo em uma única sentença. Como
vimos, a formação da identidade é uma junção de fatores, e sua base está principalmente nas
práticas vivenciadas, no conteúdo recebido e na confrontação do outro. Vimos ainda, que 178 Vede anexo 21 – comentário 1
77
nenhuma pessoa pode receber uma identidade idêntica a do seu transmissor, mas a sua
identidade deve ser construída de maneira individual. Sendo assim, a identidade do jovem
adventista, por definição, não pode ser igual à identidade do adulto adventista, porque ela está
em formação. Não apenas isto, mas também pela diferença geracional e mudanças culturais e
religiosas.
Pelo fato de vivermos em uma sociedade com frequentes mudanças, a identidade do
jovem tem acompanhado essas mudanças, principalmente no campo tecnológico. Por conta
dessas mudanças, se tornam normais a contextualização e adaptação das pessoas diante das
diversas circunstâncias.
Quando analisamos o jovem e a igreja, vimos que eles não desejam que as bases sejam
trocadas. Ou seja, de uma maneira geral, estão de acordo com os ensinos apresentados pela
Igreja Adventista, mas entendem que a Igreja está estagnada e precisa de mudanças. Alguns
sugerem a modernização de algumas questões, outros levantam questões mais profundas,
porém sem romper com a estrutura da Igreja.
Feitas essas considerações, e visto que o jovem está em formação de identidade, só cabe
responder se encontramos respaldo dentro dos ensinos da liderança da Igreja Adventista para
que isso aconteça.
78
3 MUDANÇAS, ELLEN WHITE E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DO JOVEM ADVENTISTA
3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
No primeiro capítulo vimos que o conflito geracional é uma realidade em diversas
esferas da sociedade. Ou seja, onde houver o relacionamento interpessoal, existe a
possibilidade desse conflito. Dentro da Igreja Adventista isto também é verdade. Este conflito
se apresenta de duas maneiras especiais: Conflito de linguagem; conflito na concepção de
mundo.
Como vimos, a linguagem na sociedade pós-moderna é transmitida em grande parte
através da imagem. Este ponto se intensifica mais com a juventude, uma vez que eles estão
ligados a uma realidade virtual, interativa. Por conta disto, uma linguagem diferente desta,
não lhes alcança. Não é uma questão de certo ou errado, mas sim uma questão de fato, a
sociedade vai se modificando e alterando sua maneira de comunicar.
O outro ponto que causa o conflito geracional é a dicotomia “Igreja” versus “Mundo”,
causada pelo entendimento de mundo.
Esse conflito acontece por conta que o substantivo mundo se tornou para Igreja um
termo para designar pecado. Se o mundo é pecado, a igreja não pode aceitá-lo, porque a igreja
precisa se afastar do pecado. Então, quando alguém leva seu aparelho celular para dentro da
Igreja e utiliza uma rede social, isso é entendido como algo errado. Isso porque é visto como
algo do “mundo” que está entrando na Igreja.
79
No segundo capítulo analisamos o convívio dos jovens com as redes sociais. Vimos que
as comunidades e grupos falam mais sobre assuntos religiosos do qualquer outro assunto.
Uma vez que os jovens estão inseridos nesses grupos e comunidades ficam subentendidos que
eles aprovam ao menos parte do conteúdo ali apresentado e discutido.
Em seus comentários, os jovens demonstram vínculo com a Igreja e são poucas
menções de crítica ou discordância com os ensinamentos da IASD.
Embora os jovens não desejem romper com a Igreja, eles manifestam alguns
descontentamentos e desejos por mudanças. Alguns comentários que vimos mostram
exemplos de mudanças esperadas, mas não está totalmente claro todas as questões a serem
consideradas e revistas.
Diante deste quadro, onde os líderes da Igreja demonstram certas preocupações com
respeito aos jovens e aos assuntos que eles estão envolvidos e, por contrapartida os jovens
esperam uma Igreja que tenha uma visão e postura mais compreensiva com os conceitos
contemporâneos. Analisarei a visão dos líderes quanto à necessidade de mudanças, o conflito
dicotômico entre “Igreja” e “Mundo” e, por fim baseado em Ellen White apresentarei uma
sugestão de postura e visão da Igreja para a sociedade atual.
3.2 OS LÍDERES E A NECESSIDADE DE MUDANÇA
Em resposta aos comentários dos jovens mostrando a necessidade de mudança na Igreja
Adventista, apresentarei a opinião dos representantes da Igreja.
Desejo apenas esclarecer que não limitarei a comentários feitos pelos representantes do
Brasil, pelo contrário, uma vez que a Igreja Adventista é regida por uma sede mundial,
procurei levantar o pensamento dos líderes mundiais também.
No primeiro capítulo, ao abordarmos a visão dos líderes da Igreja, já encontramos
alguns indícios favoráveis às mudanças. Wendel Lima diz que a “relevância da Igreja
Adventista depende da fidelidade a sua identidade e da ousadia de seus métodos. Traduzindo:
conservar doutrinas e modernizar as abordagens.”179
179 LIMA, Wendel. Jesus Sim, Igreja Sim. Revista Conexão JA. Tatuí, ano 04, nº 16, p. 10, out-dez., 2010. Casa Publicadora Brasileira.
80
Sua posição é de que se deve ser fiel aos ensinos da Igreja, mas não se deve engessar a
maneira de transmitir o conhecimento através de um único método, por mais que esse método
tenha dado resultado no passado. Ele ainda afirma:
“Quanto aos métodos evangelísticos, formato da adoração, e modelos administrativos, não pode deixar que o tradicionalismo baseado no gosto pessoal ou no saudosismo de alguns, e não em princípios bíblicos, ‘engesse’ o avanço da igreja. Não é necessário pesquisar muito na Bíblia para perceber que Deus se revelou de diferentes formas em contextos distintos; que usou a linguagem de cada tempo para se fazer entender.”180
Para endossar seu argumento Lima diz que Deus se revelou de maneiras diferentes e
utilizou a linguagem da época. Último ponto deste artigo que destaco é que Lima menciona
uma postura diferente em algumas Igrejas que já entenderam essa necessidade. Ele diz:
“De modo geral, as igrejas que têm entendido o momento que vivemos, têm optado por cultos mais informais, simples, inspiradores e sem jargões denominacionais; tem repensado a funcionalidade de sua estrutura e incentivado a descoberta de dons e o exercício de ministérios específicos; têm usado de modo estratégico a comunicação em vídeo e pela internet; têm realizado projetos sociais contínuos e bem focados na realidade da sociedade local.”181
De acordo com esta citação, a necessidade de mudança tem se tornado uma prática em
algumas igrejas. Porém, apenas em alguns lugares, isso porque nem todos entendem essa
contextualização como uma necessidade. O que indica que muitos líderes, ou estão
acomodados com a realidade atual, ou não se preocupam com a visão e a necessidade de
outras pessoas diferentes deles. Em especial, destaco a visão da juventude.
Outro artigo que apresenta a necessidade de contextualização foi escrito por Lucas de
Lemos182, revisor da Casa Publicadora Brasileira. Neste artigo intitulado “Cristãos pensantes”,
Lucas analisa a sociedade atual sendo livre na maneira de pensar.
Sob sua ótica, a “sociedade livre” como assim ele denomina é carente de sentido para a
vida e respostas para suas inquietações. Essa realidade alcança o cristianismo e por isso, os
cristãos são desafiados a possuir uma base sólida daquilo que eles creem.
180 Ibid., p. 11. 181 Id. 182 LEMOS, Lucas Diemer de. Cristão pensantes. Revista Adventista. Tatuí, ano 106, nº 1239, p. 18,19, ago., 2011. Casa Publicadora Brasileira.
81
Ele apresenta o caso de Paulo registrado no texto bíblico em Atos 17. Neste relato, a
cultura helênica confrontou o cristianismo com perguntas e indagações semelhantes as quais
os cristãos precisam responder na atualidade. Não quero me deter na análise que ele faz do
comportamento de Paulo naquele momento, mas focar na aplicação do texto para a realidade
atual do cristianismo.
Lemos diz que “Paulo confirma a contextualização do cristianismo”.183
Para ele o Cristianismo está além de uma continuação histórica ou uma série de
obrigações teológicas, mas o cristianismo é inteligente e racional. Para o Cristianismo
continuar tendo essa característica é preciso ter respostas fundadas para as questões
levantadas pela sociedade. Ele diz:
“Como cristãos, de que modo devemos agir diante de desafios semelhantes? Como Paulo precisou entender o que está acontecendo ao redor para saber onde estamos inseridos. O que os filósofos contemporâneos nos dizem hoje? A exemplo de Paulo, cabe a nós, com base na verdade divina, expor nossa filosofia, conforme a Palavra de Deus, estando preparados para responder a todo aquele que nos pedir a razão de nossa esperança (1 Pe 3:15). Estamos preparados para apresentar um cristianismo pensante e social, em meio à mistura descuidada de fundamentos flutuantes? Estamos dispostos a levar a verdade ao mundo, com relevância, deixando de lado todo espectro de visão unilateral? Por revelação divina, conhecemos o que procede de Deus (1 Jo 4:1). Com base em nossa sólida convicção em Cristo, podemos ter uma certeza relevante e atrativa.”184
Pode-se notar diversos pensamentos significativos nesta citação. Em primeiro lugar, a
igreja não deve ficar ilhada em uma realidade alheia do “mundo”. Ao contrário disso, ele
menciona a necessidade de estar atentos aos pensamentos dominantes da sociedade, nesta
citação fazendo menção aos filósofos. Somente tendo ciência das ideias que são discutidas no
cotidiano, pode-se apresentar uma mensagem relevante para as pessoas.
Um segundo ponto a destacar vem da pergunta: “Estamos dispostos a levar a verdade
ao mundo, com relevância, deixando de lado todo espectro de visão unilateral?”. Note que
essa pergunta feita aos leitores é fundada em pelo menos dois pressupostos: o primeiro, em
uma necessidade de contextualização da mensagem.
O segundo, na preocupação de diversificar as abordagens. Assim, a mensagem precisa
ser contextualizada, caso contrário ela não alcançará os ouvintes com relevância. Por melhor 183 Ibid., p. 19. 184 Id.
82
que seja apresentada, pode até possuir um princípio interessante e importante, mas fora de
contexto, que relevância terá? Ao mesmo tempo em que deve ser contextualizada, deve ser
diversificada, não se apoiando em uma visão unilateral.
Essa ideia parece orientar pessoas que são ativas, mas centralizadoras e desejam realizar
tudo sozinhas. Por mais que elas tenham êxito, poderá correr o risco de alcançar apenas um
“tipo” de pessoa, pois uma única visão dificilmente atingirá todas as pessoas.
Estes exemplos analisados expressam não apenas uma realidade nacional, mas
corrobora com a expectativa e a visão de outros líderes em caráter internacional. Passo a
analisar alguns artigos escritos por representantes mundiais da Igreja Adventista.
Bill Knott185, editor da revista “Adventist World” entrevistou Ted Wilson, pastor e
presidente da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. Bill realizou a seguinte
pergunta a Will:
“Todo líder sonha com coisas que poderiam ajudar a realizar, enquanto estão servindo o povo de Deus. Tenho ouvido, várias vezes, o senhor falar de um sonho que soa um tanto ousado: a cultura do serviço entre os jovens da Igreja Adventista do Sétimo Dia. O que o senhor quer dizer com isso?”186
Esta pergunta está relacionada diretamente a ação do jovem dentro da Igreja Adventista.
Ted Wilson responde dizendo que o ensinamento do Novo Testamento é que todas as pessoas,
independente da faixa etária, ao aceitar a Jesus Cristo recebem por meio do Espírito Santo um
ou mais dons para utilizar em favor do restante da Igreja. Com respeito a atuação dos jovens
ele diz:
“A iniciativa do Reavivamento e Reforma mundial tem deixado claro que há milhares, na realidade, milhões de jovens adventistas, aos quais, Jesus entregou tremendos dons para ajudar Sua igreja a finalizar a obra. Gostaria que a Igreja Adventista do Sétimo Dia planejasse lançar mão dessa enorme criatividade e energia que Deus já colocou entre seu povo, concedendo variados dons aos jovens fiéis.”187
A frase que destaco de Wilson é: “Gostaria que a Igreja Adventista do Sétimo Dia
planejasse lançar mão dessa enorme criatividade e energia que Deus já colocou entre seu povo,
concedendo variados dons aos jovens fiéis.” 185 KNOTT, Bill. Um ano para mudar o mundo. Adventist World: Órgão Internacional dos Adventistas do Sétimo Dia. Vol. 7, nº 11. Tatuí, p. 8-10, nov., 2011. 186 Ibid., p. 8. 187 Id.
83
Através dessas palavras ele endossa a contextualização e as abordagens diferentes. A
necessidade de mudança é um tanto quanto lógica nessa frase, isso porque ninguém precisa de
criatividade para fazer a repetição de uma atividade. Utiliza-se a criatividade para inovar,
chamar a atenção. Não apenas isso, mas ao mesmo tempo em que Wilson fala sobre o uso da
criatividade para a contextualização, deixa nas entrelinhas a possibilidade de questões dentro
da Igreja que estão inapropriadas, por não alcançarem mais seu objetivo.
Essas abordagens que precisam ser revistas, não são erradas em si, o que acontece é que
por conta das mudanças da sociedade e na maneira de pensar das pessoas, em especial os
jovens, essas questões deixaram de cumprir seu propósito, por não transmitirem mais como
no passado.
Em outra entrevista, Bill Knott188 conversa com Ted Wilson sobre “reavivamento e
reforma” e a influência dessas duas questões na adoração.
Deste artigo intitulado “Redescobrindo o Culto Verdadeiro” quero destacar duas
respostas de Wilson que mostram a necessidade de contextualização e ao mesmo tempo
apresenta uma necessidade da Igreja se afastar das atividades do mundo.
Ao Knott questionar Wilson sobre os cristãos não se amoldarem ao padrão do mundo,
Wilson responde dizendo:
“Desde o início da igreja de Cristo, Seus seguidores eram conhecidos como ekklesia, ‘os chamados para fora.’ Pertencer a Jesus, segui-lo como Senhor e Mestre, requer abandonar alguma coisa - e isso é algo que pode ser cada vez mais identificado como as muitas maneiras em que somos tentados a imitar as práticas do mundo em nossa vida, e até em nossa adoração.”189
Esta primeira citação deixa claro que a visão do presidente da IASD tem sobre ser
cristão é abandonar algo, “sair de”. Para Wilson, os adventistas têm sido tentados a “imitar as
práticas do mundo”, assim evitar essas práticas deve ser o ideal de cada membro. Essas
práticas são apresentadas por ele como “essencialmente opostas à pureza e à verdade do
evangelho.”190 Baseado em reforma, que ele define como “renovação da mente”191 , seu
pensamento é deixar de lado as questões que ferem os princípios ensinados pela Igreja
Adventista.
188 KNOTT, Bill. Redescobrindo o culto verdadeiro. Adventist World: Órgão Internacional dos Adventistas do Sétimo Dia. Vol. 7, nº 8. Tatuí, p. 8-10, ago., 2011. 189 Ibid., p. 9. 190 Id. 191 Id.
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Essa pregação que devemos sair do “mundo” é muito comum no meio adventista, mas a
má interpretação do significado de “mundo” pode criar uma dicotomia entre Igreja versus
Mundo, ou seja, a generalização de mundo como pecado faz com que o fiel deva se excluir do
mundo para não viver uma vida de pecado.
Outro ponto levantado neste artigo foi à cultura e adoração, isso é, existe um padrão de
culto que deve ser seguido por todas as pessoas, mesmo entre culturas diferentes? Sobre esse
assunto Wilson diz:
“Em uma família mundial de adventistas, naturalmente temos muitas diferenças e variadas expressões culturais, incluindo diferenças na linguagem, estilo musical e sequência de culto. Deus não quer, e Sua igreja não deve procurar obter, apenas uma expressão de culto numa família com cerca de vinte milhões de pessoas.”192
Segundo a opinião de Wilson, cada cultura deve ser respeitada. Sendo assim, não deve
existir um padrão cultural de culto, pelo contrário de acordo com as características locais o
culto deve ser estruturado.
É bem verdade que dentro de um mesmo país, as questões culturais se assemelham, mas
isso não deve se tornar um padrão inalterável, pois o próprio Wilson deixa claro que as
“diferenças na linguagem” devem ser respeitadas. Como visto no primeiro capítulo, gerações
diferentes possuem distintas linguagens de comunicação, o que resulta em uma diversidade
dentro de um mesmo ambiente. Consequentemente, adaptações são necessárias de acordo
com a realidade local.
Com o objetivo de mostrar a necessidade da diversidade em meio à unidade, a Dra.
Cheryl Doss escreveu um artigo denominado “O Mosaico de Deus: A maravilha da unidade
na diversidade.”193 Doss é a diretora do Instituto de Missões do Mundo da Associação Geral
dos Adventistas do Sétimo Dia e neste artigo analisa uma das doutrinas fundamentais da
IASD: “Unidade no Corpo de Cristo”.
Doss defende a ideia que a Igreja pode ser comparada com um mosaico, onde cada peça
é diferente uma da outra, mas as junções de todas formam uma figura. Desta maneira, a Igreja
assim como o mosaico é “abundantemente diverso, tremendamente criativo e
192 Ibid., p. 10. 193 DOSS, Cheryl. O Mosaico de Deus: A maravilha da unidade na diversidade. Adventist World: Órgão Internacional dos Adventistas do Sétimo Dia. Vol. 7, nº 10. Tatuí, p. 14,15, Out., 2011.
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abençoadamente resistente”194 poderá ser diversificada, criativa e abençoadamente resistente
ao respeitar e valorizar as diferenças.
O problema destacado por Doss é que muitas vezes desejamos “encobrir nossas
diferenças, para negar a criatividade das pessoas, para esquecer a natureza da diversidade
humana.”195
Por conta disto nos alegramos na diversidade de Deus ao criar o ser humano, alto e
baixo, olhos pretos, castanhos, cabelos lisos e encaracolados, mas a variedade de culturas
desafia a igreja. Segundo ela, a diversidade humana divide as igrejas e nós mesmos. O
interessante diz Doss é que esse problema não é recente, Paulo já enfrentou dificuldades
semelhantes, ela apresenta o texto ao Gálatas 3:28 que diz: “não há judeu nem grego, escravo
nem livre, homem nem mulher.”
Ela diz que neste texto encontra-se o desafio da Igreja em romper com as barreiras
culturais, sejam elas de religião, sociedade, sexo, para que o resultado seja a unidade de Cristo.
Ao comentar a primeira carta de Paulo aos Coríntios no capítulo doze que aborda sobre
a diversidade de dons na Igreja, Doss diz:
“...devemos valorizar as diferenças na igreja e usar todas as partes para o bem de todos. Precisamos de pessoas cuja visão e modo de pensar diferem do nosso. Precisamos de criatividade e diversidade na adoração e no testemunho. Precisamos de apóstolos e profetas, professores, médicos e toda a variedade de dons (ref. Aos versos 27-31).”196
Notem que em todos os momentos, Doss fala sobre a necessidade de diversidade e
apoio à criatividade dentro da Igreja. Esta maneira de pensar endossa a visão apresentada de
Wilson, visão esta que entende a necessidade de contextualização das igrejas utilizando todas
as pessoas de acordo com suas habilidades, independente da idade.
A visão de Doss e Wilson se complementam, encontramos mais um exemplo na
seguinte citação:
“A Igreja Adventista do Sétimo Dia reflete a criatividade permanente da diversidade do mundo. Em nossas congregações há pessoas de muitas línguas, culturas e etnias. Há pessoas com dons distintos, com diferentes tipos de criação e com diversas formas de pensamento. Assim como as pedras de um mosaico podem ser distinguidas separadamente, mas só vemos a figura quando todas as pedras do mosaico estão juntas, somente
194 Ibid., p. 14. 195 Ibid., p. 14,15 196 Ibid., p. 15.
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quando nos unimos em amor, aceitando os princípios que permanecem – de fato, a necessidade – de nossas diferenças, poderemos ser um em Cristo. Apenas quando utilizamos criativamente cada parte de nosso corpo e os mais diferentes dons que Deus deu à Sua igreja, podemos compartilhar as boas novas com ‘toda nação, tribo, língua e povo’ (Ap 14:6) e completar o mosaico do Seu reino.”197
De acordo com Doss as Igrejas locais precisam fazer uso de cada peça do mosaico, essa
é a mesma ideia defendida por Wilson que analisamos anteriormente. Utilizar os diversos
dons, a criatividade, contextualizar as mensagens e a linguagem utilizada se faz necessário
para a sociedade contemporânea. Pode-se entender essa necessidade ao analisar a leitura que
Gary Krause198 faz das grandes cidades e a Igreja.
Antes de qualquer coisa, ele apresenta os grandes desafios missionários para os
adventistas. Entre todas as cidades mencionadas, duas são brasileiras: São Paulo e Rio de
Janeiro.
Em segundo lugar Krause diz que as igrejas nos grandes centros como Sidney
competem com diversos atrativos, por exemplo: teatros, cinemas, restaurantes, salas de
concertos, clubes e vários outros locais de entretenimento, sem contar as ocupações diárias
das pessoas.
Diante desse conflito ele diz: “Para muitos, a igreja é uma peça de museu, uma relíquia
de outra época.”199 Levanto duas impressões das duas últimas citações, a primeira é que os
comentários transparecerem a noção que o membro ou visitante precisa abrir mão de diversas
atividades para dedicar um tempo para ir a igreja, ou seja, ele não vai a igreja por falta de
opções.
Por conta desta escolha, a impressão que fica é que o culto deve transmitir e alcançar
cada pessoa individualmente, caso contrário ele terá outros atrativos chamando sua atenção.
De maneira que, os líderes mundiais da Igreja Adventista têm entendido a necessidade de
diversificar as participações dentro da Igreja e de contextualizar a mensagem considerando as
diferenças das pessoas que participam da comunidade local.
Até o presente momento analisamos a postura dos líderes diante de uma sociedade
diferente da qual a Igreja Adventista foi fundada, vimos que tanto os líderes brasileiros, como 197 Id. 198 KRAUSE, Gary. Braços de Amor: Usando os métodos de Cristo para evangelizar as maiores cidades do mundo. Adventist World: Órgão Internacional dos Adventistas do Sétimo Dia. Vol. 7, nº 10. Tatuí, p. 16-20, Out., 2011. 199 Ibid., p. 17.
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os líderes mundiais possuem a mesma opinião: A Igreja Adventista precisa utilizar todas as
frentes de trabalho, entender as mudanças da sociedade para contextualizar sua mensagem,
utilizar uma mensagem que alcance ao ouvinte, abrir espaço para a ação de todas as pessoas
da Igreja, criar um programa que seja tão atrativo quanto às atividades de consumo oferecidas
na sociedade.
Ressalto uma preocupação que David Bosch faz sobre relativismo e contextualização,
uma vez que temos visto esta questão sendo explorada pelos líderes da IASD. Ele diz:
“Não existe só o perigo do relativismo, em que cada contexto produz sua própria teologia, feita sob medida para aquele contexto específico, mas igualmente o perigo da absolutização do contextualismo. Foi isso, em verdade, o que aconteceu na atividade missionária ocidental, onde a teologia, contextualizada no Ocidente, foi, em essência, elevada ao status de evangelho e exportada para outros continentes como um ‘pacote’ ou acordo global. Contextualismo significa, pois, universalizar nossa própria posição teológica, tornando-a aplicável a todo mundo e exigindo que outras pessoas se submetam a ela.”200
Nas citações dos líderes da Igreja Adventista, temos visto a ideia da contextualização
sendo apresentada de diversas formas. Os líderes falam em criatividade, diversidade, dons
diversos, culturas diversas, linguagens diferentes, essas são expressões para se referir a
necessidade da Igreja possuir dinâmica e relevância em sua mensagem.
O comentário de Bosch levanta duas questões relevantes a respeito do relativismo e
contextualização do evangelho. Em primeiro lugar a Igreja corre o risco de se criar uma
teologia relativa a cada contexto, ou seja, cada lugar criar um ensino de acordo com o
entender das pessoas. Ao mesmo tempo, corre-se o perigo de padronizar o contextualismo, ou
seja, tornar uma realidade local padrão para todos os outros contextos e exportá-la como
sendo a verdade universal. Em outras palavras, a Igreja deve ser uniforme em sua teologia,
mas livre para adaptar sua transmissão de acordo com a necessidade local.
Em todas as citações deste estudo, a necessidade de manter uniforme o ensino
adventista tem transcorrido o pensamento de todos, tanto líderes como leigos, velhos e novos.
Ao mesmo tempo, boa parte da liderança e dos jovens tem demonstrado a necessidade de se
adaptar de acordo com a realidade local.
O risco é transformar uma realidade local em regra de fé para todos.
200 BOSCH, DAVID J. Missão transformadora: Mudanças de paradigma na teologia da missão. São Leopoldo: Sinodal, 2002, p. 512.
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Diante desta necessidade, o desafio de ser relevante continua sendo a meta a ser
alcançada para todos dentro da Igreja.
Na tentativa de alcançar esses desafios, alguns jovens de Limeira, SP, liderados por um
estudante de Teologia passaram a repensar a espiritualidade. As atividades desenvolvidas por
eles estão registradas no artigo “Plugados”201, escrito pela redação da Revista Adventista.
Antes de mencionar as atividades realizadas por estes jovens, é dito que a geração atual tem
se conscientizado que para pregar o evangelho no século 21 é preciso “traduzir as verdades
imutáveis da Bíblia numa linguagem que seja inteligível para uma sociedade cada vez mais
arredia à religião institucionalizada.”202
Encontramos nesta citação a necessidade de contextualização da mensagem, é
interessante que os jovens estão por trás desta iniciativa, mostrando certa insatisfação com os
métodos utilizados tradicionalmente.
Para alcançar a geração atual, os jovens começaram a agir em cinco frentes de ação, são
elas: 1. Espiritualidade; 2. Relacionamento; 3. Voluntariado; 4. Mídia; 5. Expansão. A agenda
deste grupo de jovens é bem definida, contando com cultos semanais, grupos de
relacionamento que visam ações práticas e intercessão, estudos bíblicos, divulgação dos
projetos pela internet e realização periódica de ações sociais. Com o intuito de manter o grupo
unido, os jovens se reúnem em encontros como “lual”, “sorvetadas”, “junta-panelas”, e
práticas esportivas que segundo eles é fundamental.
Entre as atividades desenvolvidas, uma tem chamado a atenção e dado grande resultado,
os jovens deram o nome de “Sorriso no Semáforo”.
O projeto funciona da seguinte maneira: os jovens saem para os principais semáforos da
cidade e com simpatia oferecem um cartão e um livro denominacional. Esta maneira diferente
de pregar o evangelho ganhou repercussão e tem se espalhado pelo Brasil e até no exterior.
Quando o artigo foi escrito já havia onze bases no Brasil e outro grupo em Portugal.
Este artigo ainda descreve outras iniciativas diferenciadas que os jovens têm realizados
para levar a mensagem de uma maneira diferente. Um desses projetos é realizado por alguns
coralistas do “Coral Jovem do Rio” e tem por nome “Pra Fazer uma Criança Feliz”. Os jovens
semanalmente têm ido à comunidade da Rocinha e formaram um coral para as crianças
carentes. O projeto já envolveu mais de 500 crianças da comunidade e hoje o coral tem 120 201 LESSA, Rubens. S. Plugados: Jovens tornam a mensagem adventista atrativa por meio de ações sociais, dramatizações e do uso da internet. Revista Adventista. Tatuí, ano 105, nº 1226, p. 28,29, jul., 2010. Casa Publicadora Brasileira. 202 Ibid., p. 28.
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crianças. O coral infantil já se apresentou em alguns lugares, inclusive no Theatro Municipal
do Rio de Janeiro.203
Outros dois projetos são mencionados, um grupo de drama da cidade de Pesqueira e um
congresso virtual idealizado pela liderança da Igreja Adventista para os jovens.
Seguindo a linha de usar a internet de maneira diferenciada menciono a iniciativa de
dois pastores jovens que realizam periodicamente um debate chamado “Biblecast”.
No momento, essa dupla já possui mais de setenta temas e tem encontrado bastante
aceitação e apoio por parte dos jovens.204
Nestas citações e exemplos citados acima, podemos ver que a necessidade de
contextualização demonstrada pelos jovens no segundo capítulo é vista também pela liderança
da Igreja. Vemos também que os jovens estão buscando espaço e agir de maneira diferente do
tradicional e isso tem surtido efeito principalmente para os jovens. Mas a necessidade de
contextualização dá conta de responder aos anseios de mudança que os jovens expressaram no
capítulo anterior? Para responder esta indagação passemos analisar a visão de mundo por
parte dos jovens adventistas.
3.3 DICOTOMIA IGREJA X MUNDO
A leitura que faço dos dizeres dos jovens apresentados no segundo capítulo é que eles
não desejam romper com a Igreja. Essa não é nem uma cogitação no pensamento deles, e sob
minha visão isso se evidencia ao tratarem sobre a realidade da Igreja.
Se o desejo deles fosse romper com a Igreja, não perderiam o tempo falando tanto sobre
a vida espiritual, as atividades e programações da Igreja, a necessidade de pregar a mensagem
a outras pessoas.
Frases como205:
“Para mim a melhor forma de viver a juventude de forma completa e real é sendo um
jovem cristão, isso muda a minha personalidade, a minha história e a minha vida.” “Eu sou
temente a Deus, então isso me torna diferente e sigo meus princípios sem precisar fazer o que
203 Id. 204 Para mais informações acesse: <www.confiçõespastorais.com.br> 205 Todas essas frases são citações do segundo capítulo.
90
normalmente os outros jovens que não são da igreja fazem. Mas o que importa realmente é ser
normal, porém diferente.”
“É uma batalha todos os dias, estamos propícios a cometer erros mais fácil devido não
darmos tanta importância para as coisas de Deus. Pensamos que os prazeres do mundo podem
satisfazer nossos desejos passageiros, mas esquecemos que temos um Deus que é por nós.
Envergonhados sempre tentamos seguir Seus passo, mesmo não sendo dignos de andar ao
lado de um Deus tão misericordioso. Sendo diferentes tentamos mostrar para as outras
pessoas quem somos, e porque somo assim. Muitas vezes não vivemos o que pregamos, mas
todas as vezes nos sentimos despedaçados pela falta de fidelidade à um Deus tão bom assim.”
Revelam luta, transparência e o desejo de viver o ensinamento adventista. Definitivamente
eles não querem romper com a Igreja.
Ao mesmo tempo em que os jovens adventistas desejam continuar adventista, algumas
questões não fazem mais sentido para eles.
Essas questões foram vistas e expressas no segundo capítulo, citamos algumas para
retomar o assunto:
“A mudança esta em como atingir as pessoas nesse mundo, se modernizar na forma de
conversar e entender os jovens.”
Um jovem postou um comentário de Ellen White dizendo: “necessitam-se homens que
orem a Deus pedindo sabedoria, e que, sob a guia de Deus, introduzam nova vida nos velhos
métodos de trabalho e possam imaginar novos planos e novos métodos para despertar o
interesse dos membros da igreja e alcançar os homens e mulheres do mundo.” Esse jovem
termina seu comentário dizendo “Isso é mudança!”.
“Se ainda não mudou, está perdendo a oportunidade. Entenda que eu quero dizer,
mudança de comportamento e não de doutrinas.” “Enquanto as doutrinas são as bases/colunas
da igrejas as novas formas de evangelização devem ser as vitrines da igreja.” “Deve-se mudar
a liturgia arcaica, as músicas de 1800, aceitar os incomuns, mulheres ocuparem postos
relevantes assim como acontece no mundo.”
Essas citações expressam a necessidade de mudança que não se limitam na
contextualização da mensagem. Podemos ver que a maneira de pensar do jovem é diferente de
alguns líderes, pois possuem uma maneira diferente de ver o mundo. Enquanto vimos que
para os líderes existe a tendência de classificar o “mundo” como pecado, os jovens se
expressam pedindo mudanças que estão acontecendo dentro do mundo. Alguns se expressam
de maneira mais reservada falando apenas em mudanças, outros de forma mais clara dizem:
91
“Deve-se mudar a liturgia arcaica, as músicas de 1800, aceitar os incomuns, mulheres
ocuparem postos relevantes assim como acontece no mundo.” (Ênfase minha)
Para muitos ter o “mundo” como exemplo para a Igreja é uma postura inadmissível,
seria trazer o profano para dentro do sagrado. Mas nem todos os jovens concordam com essa
linha de pensamento e esperam que a Igreja esteja mais aberta, como o mundo está se abrindo
para novas realidades. Entender essa maneira diferente de pensamento pode ser uma chave
para sanar conflitos e quebrar barreiras dentro do convívio da Igreja.
Paul Hiebert diz: “As pessoas percebem o mundo de maneiras diferentes porque
constroem pressupostos diferentes da realidade.”206 Ele exemplifica essa afirmação falando
dos ocidentais, dos orientais e de alguns povos tribais. A maioria dos ocidentais afirma que
existe um mundo real, além deles, feito de matéria inanimada. Já os habitantes do sul e do
sudeste da Ásia acreditam que esse mundo exterior não existe, mas é invenção da mente. Por
sua vez, alguns povos tribais ao redor do mundo veem a terra como um organismo vivo com o
qual devem relacionar-se.
Isso acontece porque cada povo e grupos possuem maneiras diferentes de enxergar o
mundo, isso é denominado cosmovisão. A maneira como se enxerga o mundo está ligado aos
pressupostos básicos das crenças e comportamentos culturais. As pessoas acreditam que o
mundo é exatamente aquilo que elas veem, raramente tem consciência que o fundamento do
que estão vendo é a cosmovisão.
Sendo assim, por trás da ideia de que o mundo é pecado, há sua maneira de enxergar o
mundo desta maneira. Por contra partida, aqueles que enxergam o mundo como não sendo
pecado em si, tem sua cosmovisão. Como vimos, no primeiro capítulo, a tendência de
qualificar o mundo como pecado é um pensamento da Idade Média, onde a Igreja Medieval
era contra qualquer tipo de avanço. Com o desenvolver das tecnologias e a mudança de
pensamento, nem todos possuem a visão que o mundo é pecado e isso precisa ser entendido
para que os paradigmas possam ser quebrados.
Consideremos a ideia que o mundo seja pecado, logo Deus não está no mundo. Se Deus
não está no mundo, a consequência é que Deus não tem o controle de todas as coisas e não
age na vida de todas as pessoas. A pergunta que surge é: Por qual motivo Deus interviria na
vida de uma pessoa? Seria uma pessoa merecedora da bondade de Deus?
206 HIEBERT, Paul G. O evangelho e a diversidade das culturas: um guia de antropologia missionária. Tradução: Maria Alexandra P. Contar Grosso. Brasil: Vida Nova, 2010. 45 p.
92
Queiruga trata desta questão ao falar do “Fim do ‘Deus separado do mundo’”207. Ao
analisar esse assunto, ele diz:
“Em uma mentalidade mais ou menos mitológica a transcendência divina, embora imaginada como alta e distante do céu, era compensada pela total permeabilidade do mundo às contínuas influências ‘sobrenaturais’. Na nova mentalidade, um Deus separado leva necessariamente seja ao deísmo puro e duro do ‘deus arquiteto ou relojoeiro’, que se desentende com sua criação, seja a uma espécie de deísmo intervencionista. Neste caso, trata-se da imagem de um Deus que está no céu, onde não está totalmente passivo, já que intervém de vem em quando; mas do qual, por isso, já que tentar se aproximar mediante o rito, a estrutura radical é a de que a iniciativa e a preocupação contínua estão em nós, enquanto a Ele solicitamos que intervenha de vez em quando com sua ‘ajuda’.”208
O pensamento de Queiruga nos leva a entender que se Deus está ausente do mundo, Ele
se manifestaria apenas por meio de ritos, e a constância da ação dEle estaria comprometida as
ações humanas. O que significaria que Deus só age por meio de estímulos.
A impressão que tenho é que os líderes, ao colocarem que os adventistas devem se
afastar do mundo e ao classificar o mundo como pecado, não refletem sobre todas as
consequências do que estão propondo. Até porque uma das doutrinas fundamentais da Igreja
Adventista é que Deus é Criador e Salvador, o que é o oposto ao deísmo. Mas como vimos em
Queiruga, o pensamento dicotômico, ou seja, Deus ausente do mundo resulta no deísmo, no
melhor das hipóteses o deísmo intervencionista.
Os adventistas acreditam em um Deus atuante, como dito, Deus é Criador e Salvador.
Um Deus que cria e abandona vem a ser o deísmo, mas um Deus que cria, encarna e morre
pela humanidade, como ensinam os adventistas não pode ser considerado ausente e longe do
mundo. Queiruga corrobora com esse pensamento ao dizer:
“Deus não tem que vir ao mundo, porque já está desde sempre em sua raiz mais profunda e originária; não tem de intervir, pois é sua própria ação que está sustentando e promovendo tudo; não acode e intervém quando é chamado, porque é Ele quem, desde sempre está convocando e solicitando nossa colaboração.”209
207 QUEIRUGA, Andrés Torres. Fim do cristianismo pré-moderno. Tradução: Afonso Maria Ligorio Soares. São Paulo: Paulus, 2003. p. 29, 30. 208 Id. 209 Ibid., p. 30.
93
George Knight, um dos principais filósofos e historiador do adventismo, escreveu um
livro intitulado: “Mitos na Educação Adventista”210. Neste livro destinou um capítulo para
tratar do mito do sagrado e do secular. Embora seu ponto de partida seja a educação, seus
conceitos são elucidativos para entender que essa visão dicotômica não é tão consistente.
Ao analisar a ideia que a educação está ligada aos valores do mundo aqui e agora, e a
religião faz referência ao interesse principal no mundo espiritual, ele diz: “Da perspectiva
bíblica, tais expressões dicotômicas são a linguagem de um mito difundido que tem tirado o
sentimento do viver diário cristão ao prover razões para as pessoas separarem suas atitudes e
comportamento ‘na igreja’ da maneira de pensarem e agirem pelo resto da semana no mundo
‘real’.”211
Segundo Knight, o pensamento dicotômico é fundado no pressuposto que o secular é
ligado ao mundo em oposição à igreja e aos aspectos religiosos.
O sagrado por sua vez, tem sua relação com o religioso ou a algo que pertence uma
deidade ou deus. Para ele esse pensamento cai por terra quando analisamos esta questão sob o
pressuposto que Deus é criador. Knight diz:
“A dicotomia do sagrado e do secular se desintegra, contudo, quando percebemos que ‘ao Senhor pertence a terra e tudo o que ela contém, o mundo e os que nele habita’ (Sl 24:1). Tudo tem uma relação fundamental com Deus, porque Ele e Criador e Mantenedor. De certo modo, todo arbusto é ardente e todo solo é sagrado [...] Ele é Senhor tanto da fábrica como da igreja. O cristianismo não é uma fé de compartimentos. Assim, a maneira pela qual um cristão faz seu trabalho é tão importante para Deus quanto sua adoração.”212
Sendo Deus Criador e Mantenedor como a Igreja Adventista defende, a ideia que
Knight apresenta mostra que o pensamento dicotômico é infundamentado, porque como ele
mesmo diz: “nada na Terra ou no universo está separado de Deus.”213 Após apresentar essa
maneira ampla de entender o mundo, Knight fala do desafio do cristianismo e do sistema
educacional. Para ele o desafio é:
“Desenvolver a mente de modo que os cristãos pensem de maneira cristã sobre tudo em suas vidas e sobre cada aspecto de sua existência. A mente cristã direcionada na perspectiva eterna
210 KNIGHT, George R. Mitos na Educação Adventista: Um estudo interpretativo da educação nos escritos de Elle G. White. Tradução: Curso de Tradutor e Intérprete do UNASP-EC. Engenheiro Coelho: UNASPRESS, 2010. cap. 10, p. 121-131. 211 Ibid., p. 121. 212 Ibid., p. 122,123. 213 Ibid., p. 123.
94
e, portanto, tem uma estrutura referencial totalmente diferente da mente não cristã. O cristianismo e o mundo não cristão têm visões filosóficas diferentes sobre a natureza da verdade a realidade última, o destino do homem e sobre o que é o bom, bonito e valioso.”214
Ao analisarmos os pensamentos apresentados por Knight e Queiruga entendemos que o
pensamento dicotômico, isolando a igreja do mundo e qualificando o mundo como pecado
não possui fundamento.
Ao considerarmos o que os jovens escreveram sobre mudanças e a espiritualidade,
vemos que eles tendem a generalizar o mundo como pecado, assim como alguns líderes que
vimos enfatizam. Mas, encontramos nos seus comentários sobre mudança, indícios que
existem coisas relevantes no mundo que não chocam com seus princípios e que fazem sentido
para sua realidade cotidiana. Para eles, isso não é profano ou pecaminoso, sendo assim não
encontram problemas nenhum em lidar com estas questões.
Se considerarmos que os jovens adventistas carregam uma bagagem vinda dos líderes
da Igreja Adventista, entendemos que embora sua linguagem em alguns momentos possa ser
dicotômica, seu pensamento se assemelha ao apresentado por Knight.
Sendo assim, se isolar do mundo não faz sentido aos jovens por dois principais motivos:
o primeiro é que não faz parte da cultura atual ser isolado de tudo e de todos; e o segundo é
que o mundo não é em essência pecado.
Não podemos negar que o desejo de aceitação é uma influência a todos os jovens,
porque eles vivem em um contexto que ensina a necessidade de aceitação por parte da cultura
dominante. Por isso, entendo que eles neguem, ou ao menos lutam, para não agir
contrariamente aos princípios, mas não encontram problemas com atividades que não são
vinculadas a igreja, mas que não confrontam seus princípios.
Através dos dizeres dos jovens, ainda é possível ver que, se existem determinadas
questões que são relevantes à sociedade e podem causar o mesmo impacto dentro da Igreja,
para eles não existe problema nenhum em fazer uso disso. Por exemplo, em um dos
comentários, uma jovem colocou que a Igreja deveria “aceitar os incomuns e valorizar as
mulheres, assim como no mundo”. Em outras palavras, essa jovem está questionando, se a
sociedade tem aceitado os incomuns e valorizado as mulheres, por que a Igreja não poderia
fazer o mesmo? Outro comentário visto, de um dos jovens que menciona o uso da tecnologia
e diz que a Igreja deveria fazer uso de todos os meios para alcançar outras pessoas. Por trás de 214 Ibid., p. 130.
95
sua questão, o questionamento é: se a publicidade usa, se a mídia explora essas questões, por
que a Igreja não pode utilizar os mesmos recursos para os fins eclesiásticos?
Ellen White, uma das fundadora e principal escritora da Igreja Adventista, apresenta
alguns indícios de que não devemos nos isolar do mundo. Ao comentar sobre o povo de Israel
e a obediência às leis, ela diz:
“A idolatria e todos os pecados que seguem sem seu cortejo, são aborrecíveis a Deus, e Ele ordenou a Seu povo que se não misturasse com outras nações, para fazerem ‘conforme às suas obras’ (Êxo 23:24), e se esquecerem de Deus. Proibiu-hes casamento com idólatras, para não acontecesse ser seu coração desviado dEle. Era perfeitamente tão necessário como naquele tempo, como o é hoje, que o povo de Deus fosse puro, incontaminado do mundo. Deviam conservar-se livres de seu espírito, porque é ele oposto à verdade e à justiça. Mas não era intuito de Deus que Seu povo, em seu exclusivismo de justiça própria, se subtraísse do mundo, de modo que nenhuma influência tivesse sobre ele.”215
White neste comentário é enfática que devemos nos afastar do mundo.
Na mesma proporção que é enfática, pode-se notar sua referência direta a expressão
“mundo” como sendo pecado, por se unir às nações vizinhas que possuíam costumes pagãos.
No contexto de relacionamento, entre o povo de Israel e às nações vizinhas, ela diz que os
israelitas não deveriam se misturar com outras nações para fazerem as mesmas coisas. Ao
dizer isso, ela faz um paralelo com a atualidade, dizendo aos leitores que devem ser puros e
incontaminados com o mundo. Em sua frase “perfeitamente tão necessário como naquele
tempo, como o é hoje” é possível entender que sua referência a mundo está em se unir à
pessoas que fazem as mesmas coisas que as nações vizinhas do povo de Israel faziam. Isso
não significa que o povo de Israel deveria se alienar do mundo e viver como uma ilha.
Pelo contrário, ela diz que “não era intuito de Deus que Seu povo, em seu exclusivismo
de justiça própria, se subtraísse do mundo, de modo que nenhuma influência tivesse sobre
ele.” Ellen White defende a ideia que devemos nos afastar do erro, nas palavras de Knight
“das filosofias não cristãs”, mas devemos pela nossa influência transformar a realidade do
mundo. Ela afirma:
“Como seu Mestre, os seguidores de Cristo deveriam em todo o tempo ser a luz do mundo. Disse o Salvador: ‘Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte. Nem se acende
215 WHITE, Ellen G. Patriarcas e Profetas: O conflito entre o bem e o mal, ilustrado na vida de homens santos da antiguidade. Tradução: Flávio L. Monteiro. 16. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2009. p. 369
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a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos os que estão na casa’ – isto é, o mundo. E acrescenta: ‘Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos Céus.’ Mat. 5:14-16. Isto foi precisamente o que Enoque, Noé, Abraão, José e Moisés fizeram. É precisamente o que era intuito de Deus que Seu povo Israel fizesse.”216
Destaco que esta citação é o parágrafo seguinte do outro texto lido de Ellen White.
Sendo assim, não podemos isolar parte do parágrafo anterior e considerar apenas parte dos
comentários, pois se assim o fizéssemos a análise não seria coerente com toda visão que ela
apresenta. Quero dizer com isso que seria possível isolar parte da primeira citação e dizer que
Ellen White estava dizendo que a Igreja Adventista deve se isolar do mundo, mas a primeira
visão que vimos sobre a necessidade de influenciar a realidade da sociedade, neste segundo
momento é ratificada. Sendo assim, é evidente que White ao falar que devemos nos afastar do
mundo está se referindo às ações erradas e não a sociedade e as pessoas.
Para explanar sua opinião, White faz menção a três versos do evangelho de Mateus,
versos esses que falam sobre a necessidade de iluminar uma casa e da impossibilidade de
esconder uma cidade. Se fôssemos analisar o texto mencionado pensando nos objetos atuais,
seria o mesmo que acender uma lâmpada e colocá-la embaixo da cama para iluminar toda a
casa. E quando a expressão casa é mencionada ela diz que significa o mundo. Em outras
palavras, ela está dizendo que os cristãos devem iluminar o mundo e estar presentes nele,
assim como uma lâmpada deve estar no meio do teto para clarear a casa. Confirmando essa
ideia, White menciona alguns personagens bíblicos que fizeram a diferença quando viveram e
diz: “É precisamente o que era intuito de Deus que Seu povo Israel fizesse.”
No parágrafo anterior que analisamos de Ellen White encontramos um paralelo entre o
povo de Israel e os cristãos da atualidade, sendo assim, se Deus desejava que o povo de Israel
se tornasse uma luz para as outras nações, da mesma maneira Deus deseja isso para os
cristãos.
Apenas um acréscimo pessoal: para que isso se torne realidade os cristãos precisam
estar dentro da sociedade, assim como a cidade em cima do monte, para que todos possam vê-
los.
Foi visto até aqui que os jovens adventistas em primeiro lugar não desejam romper com
a Igreja; em segundo lugar eles esperam mudanças maiores que simples contextualizações.
216 Ibid., p. 369,370.
97
Um dos pontos que levantamos para ser reconsiderado é a dicotomia entre sagrado e profano,
que coloca a igreja oposta ao mundo.
Vimos que esse pensamento, embora seja muito presente no pensamento de alguns
líderes da Igreja Adventista e por consequência de alguns jovens, não é a posição mais
coerente e tão pouco defendida pela juventude.
Ao analisarmos Ellen White, principal escritora adventista, ela é enfática em dizer que
os cristãos devem se afastar do “mundo” enquanto pecado e influências negativas, mas clara
na necessidade de fazer a diferença dentro da sociedade.
O pensamento apresentado por Ellen White, é defendido por Knight ao diferenciar o
pensamento cristão e não cristão e, na necessidade da Igreja instruir os membros a pensarem
como cristãos em todos os momentos da vida. Se assim fosse, eles seriam influenciadores em
todos os momentos.
É interessante esse pensamento, pois tem sido defendido por outros líderes. Em especial
destaco dois líderes mundiais, e neste momento apresento alguns pensamentos apresentados
por eles.
Ted Wilson, atual presidente da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia
escreveu um artigo intitulado: “Grande Visão para as Grandes Cidades”, no qual fala sobre a
necessidade dos cristãos estarem presentes no cotidiano dos não cristãos, ele diz:
“Seguir a Jesus no mundo moderno significa aprender de Seu coração compassivo por aqueles que vivem nas metrópoles populosa de hoje, compreendendo suas necessidades, estudando seus hábitos e, sim, chorando por sua condição, se não tiverem uma relação salvadora com Ele. É muito fácil permanecer em nossa zona de conforto, em lugar de ir ao encontro das massas nos grandes centros urbanos do mundo.”217
Note que o presidente da Igreja Adventista enfatiza a necessidade de conhecermos as
necessidades e hábitos dos não cristãos e, isso só é possível tendo vivência com essas pessoas.
É possível até perceber “certa reprovação” aos que preferem ficar isolados das pessoas que
não conhecem a mensagem cristã.
Dentro deste artigo ele faz menção ao que Ellen White chamou de “centros de
influência”. Estas questões que ele levanta são interessantes, pois saem do tradicional e faz a
Igreja Adventista repensar suas atividades nas cidades. 217 WILSON, Ted N. C. Grande Visão para as Grandes Cidades: Cada membro envolvido em toas as formas possíveis de evangelismo. Adventist World: Órgão Internacional dos Adventistas do Sétimo Dia. Vol. 7, nº 10. Tatuí, p. 8, out., 2011.
98
Ele exemplifica esse trabalho pelas grandes cidades de maneira bem diversificada.
Esses centros de influências podem ser:
“igrejas, livrarias/salas de leitura, vários tipos de ministérios nas ruas, restaurantes vegetarianos, centros de serviço comunitário, centro de educação em saúde ou clínicas. Pode haver novos e criativos métodos de serviço na comunidade, ou estratégias de testemunho pela internet, direcionadas a comunidades especiais. A chave do sucesso é a sustentabilidade: como podemos continuar interagindo com a comunidade prestando um serviço cristão útil e evangelizando, em vez de voltar às atividades esporádicas?”218
Dentre esses vários métodos mencionados por Wilson, uma linha permeia a todos, a
necessidade de ser presente e influenciar as pessoas onde elas se encontram.
É importante destacar que ele faz alusão a novos métodos, mas não deixa especificada
quais seriam essas novas abordagens. Parece se encaixar com a necessidade levantada pelos
jovens ao ansiarem desejo por espaço para mudanças, mesmo que rompam com paradigmas
tradicionais.
Wilson ainda faz questão de abrir as portas para o uso da tecnologia, ao contrário do
pensamento mostrado no primeiro capítulo que alguns líderes temem o uso do twitter ou do
vício nesses meios de comunicação, ele diz que:
“Vivemos na era da plataforma multimídia, e precisamos usar ao máximo, todos os meios disponíveis ao planejarmos o evangelismo urbano. Quando um morador da cidade ouve algo no rádio, vê a mensagem em diferentes sites da Internet ou Facebook, depois vê a mesma coisa impressa ou em outdoors, esse indivíduo estará muito mais receptivo ao contato pessoal.”219
Preciso dizer que particularmente me preocupo com os extremos e vícios em todos os
sentidos, inclusive e, de maneira especial com a internet. Pois esta é um meio extraordinário
de comunicação, mas ao mesmo tempo viciante, mesmo assim, não posso desenvolver um
pensamento negativo por conta que alguns fazem mal uso deste benefício.
O segundo líder é Jan Paulsen, ex-presidente da Igreja Adventista, escreve um artigo,
intrigante e significativo para nosso estudo que tem o seguinte título: “A Face do Adventismo
Está Mudando?”
218 Ibid., p. 9. 219 Ibid., p. 10.
99
Neste artigo Paulsen defende a ideia que a Igreja Adventista não pode ficar estagnada
diante das mudanças que acontecem na sociedade.
Embora, ele diga que a mudança é perturbadora, pois as pessoas tendem a preferir o
conhecido, as mudanças são vistas em diversos lugares, ele diz:
“Encontro mudança inevitável quando olho no rosto dos meus filhos e netos, o quando abro o jornal ou acesso a internet. Ouço com clareza as mudanças nas palavras dos jovens profissionais adventistas que me falam sobre seus sonhos. Vejo a força da mudança na adoração das mulheres africanas ao se movimentarem enquanto cantam com alegria ao entrar na igreja.”220
Diante deste quadro de mudanças em todos os lugares, qual deve ser a postura da
Igreja? Ele responde dizendo:
“A ilusão de que nós como igreja, podemos permanecer estáticos enquanto o resto do mundo, ao nosso redor, está em constante movimento, é exatamente isso, apenas ilusão. Nossa igreja existe dentro dos parâmetros do tempo, geográficos e culturais, e assim também deve mudar. Somos atingidos pelas forças externas – política, economia, cultura e realidades tecnológicas – que estão absolutamente além do nosso controle.”221
Segundo o que vimos nesta citação, algumas mudanças são inevitáveis porque tendem a
acontecer de fora para dentro, influenciadas pela cultura, parâmetros de tempo e geográficos.
Esse pensamento é completamente oposto ao pensamento dicotômico que distancia a igreja do
mundo.
Antes, a igreja acompanha a realidade contemporânea e está aberta a algumas mudanças.
Diante da pergunta levantada no título do seu artigo, se a face do adventismo estaria mudando,
em sua opinião em alguns sentidos sim, mesmo assim não ele pensa que não deve ser resistido
e temido.
Ele considera a postura da Igreja pressionada e circundada de tantas mudanças. Para ele
fixar-se no passado caminhando para o futuro, é passar a ver todas as mudanças como
ameaças perturbadoras, que confrontam os paradigmas da igreja e quebra a herança espiritual
adventista, quase como uma apostasia. 220 PAULSEN, Jan. A face do Adventismo Está Mudando? Como praticar os valores eternos em nossas culturas mutantes. Adventist World: Órgão Internacional dos Adventistas do Sétimo Dia. Vol. 6, nº 3. Tatuí, p. 7, mar., 2010. 221 Ibid., p. 7.
100
Outra alternativa é ter o passado como fonte de inspiração, identidade e valores, definir
o alvo que se deseja alcançar e caminhar com o passado rumo ao futuro.
Em sua opinião: “o adventista se congelou em determinado tempo ou cultura, perdeu-se
no caminho. Ele não mais responde criativamente aos desafios; perdeu a habilidade de adaptar
seu método, estrutura e o modo como usa seus recursos para levar adiante a missão para um
mundo em mudança.”222
Com o objetivo de endossar sua opinião, Paulsen faz alusão a um texto de Ellen White
no qual ela afirma que:
“Não podemos ser aceitos por Deus prestando o mesmo serviço, ou fazendo as mesmas obras que nossos pais. A fim de ser aceitos e abençoados por Deus como eles forma, cumpre-nos imitar sua fidelidade e seu zelo, aperfeiçoar nossa luz como eles fizeram à sua e fazer como eles teriam feito caso vivessem em nossos dias. Cumpre-nos viver segundo a luz que brilha sobre nós, do contrário, essa luz tornar-se-á em trevas”223
Comentando essa citação de Ellen White, ele diz que, para se andar na luz,
primeiramente não se deve temer mudanças; em segundo lugar é preciso ter capacidade de
discernir aquilo que se pode e não mudar. Paulsen destaca quatro questões que são
inegociáveis para os adventistas: Cristo; a Bíblia; o propósito de Deus para cada ser humano,
como indivíduos; e a história comum, como igreja.
Esses quatro pontos para ele se encaixam em qualquer cultura e são inegociáveis. O
significativo é que nenhuma destas questões mencionadas por Paulsen entram em conflito
com a cultura local e as necessidades pessoais. Pelo contrário são pontos fundamentais da
Igreja Adventista, mas se adaptam em qualquer local.
Paulsen analisa a igreja como navegando em um mundo em mudanças e, pontua alguns
pontos significativos. A respeito do papel na sociedade ele diz:
“O Adventismo também não pode ficar na montanha; deve ir às comunidades em que
vivemos e trabalhamos, com toda sua sujeira, desordem e mudança.”224
222 Ibid., p. 8. 223 WHITE, Ellen G. Testemunhos para Igreja vol. 1. Tradução: César Luís Pagani. 2. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2009. p. 262. 224 PAULSEN, Jan. A face do Adventismo Está Mudando? Como praticar os valores eternos em nossas culturas mutantes. Adventist World: Órgão Internacional dos Adventistas do Sétimo Dia. Vol. 6, nº 3. Tatuí, p. 9, mar., 2010.
101
Ainda sobre essa questão ele afirma: “A igreja tem que explorar o delicado equilíbrio
entre ser cidadãos da Terra obedientes e seres humanos equilibrados, sem se desviar dos
valores bíblicos. As coisas nunca foram fáceis, mas devem ser enfrentadas.”225
A opinião de Paulsen é de que a Igreja deve estar dentro da realidade social, se misturar
com as pessoas, ao mesmo tempo em que deve ser fiel com seus princípios.
As mudanças tecnológicas são consideradas por Paulsen como um grande meio de
alcançar as pessoas, principalmente os jovens que se tornam cada vez mais seletivos quanto a
fonte de informações. Ele acredita que a Igreja precisa se engajar e investir neste meio de
comunicação para alcançar outras pessoas.
Outros dois pontos são destacados por Paulsen e merece nossa análise, o primeiro faz
menção a forma de culto e o segundo sobre a maneira como abordamos a missão. Com
respeito a forma do culto, ele diz:
“Somos uma comunidade global e cada um de nós é filho de um tempo específico e de uma cultura. É natural que haja variações no formato do culto, no estilo da música ou no nível de formalidade ou espontaneidade. Nem todos necessariamente cantam acompanhados por um órgão! Tenho que ser muito cuidadoso para não rotular de pecaminoso tudo que não combina com minhas tradições, simplesmente porque é diferente. Do mesmo modo, quando encontro as pessoas, mesmo dentro da minha comunidade de fé, cuja aparência não combina com minhas expectativas, que eu não seja muito apressado em concluir que eles estão se afastando do Senhor. Sejamos gentis com as pessoas, pois no fundo, quando tudo é retirado deles, o que fica são as pessoas – não coisas, ideias ou expressões culturais – as quais Cristo irá salvar.”226
Esta citação de Paulsen é muito significativa, pois em primeiro lugar para ele estão as
pessoas, acima de ideias, planos, diferenças. Estas questões mudam com o tempo, mas as
pessoas permanecem. Sendo assim, mais importante que se apegar a fatos pontuais, está a
valorização da pessoa como ser humano.
Um segundo ponto que destaco é a visão de culturas e visões diferentes, ele mostra que
ninguém é igual a ninguém, inclusive na mesma comunidade.
O cuidado que se deve ter em rotular uma ideia pessoal como padrão de verdade é o
terceiro ponto que destaco. O descuido com isso resulta em classificar todas as ideias
contrárias a minha opinião como pecado. 225 Id. 226 Id.
102
Como dito o último ponto que veremos deste artigo de Paulsen está relacionado a
missão, sobre isso ele diz:
“Deve haver flexibilidade, elasticidade, em nosso modo de pensar que nos permita responder efetivamente às mudanças ambientais nas quais nos encontramos. Assim, as iniciativas e os programas para a missão podem mudar de ano para ano. A maneira como usamos nossos recursos, nossas prioridades de gastos, vai mudar. Políticas e estruturas não devem ser servas da tradição, e não devem ser investidas com uma aura de santidade, simplesmente porque ‘esse era o modo como sempre fizemos’. Ao contrário, a política da igreja deve servir à unidade da igreja e sua missão, e a linguagem da política deve ser moldada pela simples pergunta: ‘O que temos que realizar? O que é bom para a igreja?’”227
A visão de Paulsen sobre cultura, igreja, missão é aberta a mudanças, mesmo que elas
mexam com tradições. Fica mais que evidente que para ele, o que foi feito no passado não é
norma de qualidade e garantia de acerto. Antes, sua visão é de que, se preciso for mudar todos
os anos, que isso aconteça se for para o bem da Igreja. Vemos em suas ideias que a identidade
adventista está se moldando de acordo com os novos paradigmas, não se esquecendo da
origem do adventismo, mas não limitando o adventismo ao passado e se esquecendo do
presente e do futuro.
Quando consideramos a visão dos jovens adventistas que não desejam romper com a
Igreja, mas que não se contentam com contextualização e esperam mudanças mais profundas
na forma de pensar e agir da Igreja; eles entendem que a Igreja não pode estar antagônica ao
mundo por conta de pressupostos passados, mas deve viver junto a ele para vivenciar sua
experiência religiosa. Eu encontro em alguns líderes esse pensamento mais crítico e aberto a
realidade contemporânea e a necessidade dos jovens; em especial nos comentários de Ted
Wilson e Jan Paulsen.
É interessante que ambos pensam em manter os princípios e realizar mudanças
significativas, ao mesmo tempo em que buscam em Ellen White fundamento para as ideias
apresentadas e defendidas para a realidade atual. Sendo assim, nesta última parte deste
capítulo analisarei alguns princípios para se ler Ellen White no século XXI, o pensamento
liminar em Ellen White e a postura da Igreja Adventista diante desse conceito, concluindo
com a identidade do jovem adventista.
227 Id.
103
3.4 ELLEN WHITE E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DO JOVEM ADVENSTISTA
Como mencionado, esta última parte do capítulo trata em analisar Ellen White como
fonte de direcionamento para a Igreja Adventista. Vimos durante todo este trabalho que todos
os adventistas buscam mencionar Ellen White para mostrar confiança em suas ideias
apresentadas. E de fato isto procede por tudo o que ela foi e seus escritos continuam sendo
para os adventistas.
Por isso, recorremos a Ellen White com o fim de analisar sua postura diante dos líderes
de sua época, para entender qual deve ser a postura da Igreja Adventista neste contexto de
mudanças.
3.4.1 Ellen White e o Pensamento Liminar
Entender o pensamento de Ellen White é essencial para formação da identidade
adventista em pelo menos dois pontos: o primeiro por ela ter feito parte da formação da Igreja
e ter tido um papel fundamental na origem e no amadurecimento dos ensinos adventistas; o
segundo por ela ser a mais importante escritora adventista, sendo seus escritos base para a
grande maioria das decisões e atividades dentro da Igreja Adventista.
Para entendermos a base do pensamento de Ellen White precisamos entender sua época
e sua reação ao contexto que vivia. Walter Mignolo diz que “O mundo moderno vem sendo
descrito e teorizado de dentro do sistema, enquanto a variedade das experiências históricas e
coloniais lhe vem sendo simplesmente anexada e contemplada a partir do interior do
sistema.228
Segundo Mignolo, as ideias dominantes surgem de dentro do sistema, os pensamentos
periféricos, ou seja, dos dominados ou colonizados, são meramente vistos e anexados pelos
que estão dentro do sistema.
228 MIGNOLO, Walter. Histórias Locais/Projetos Globais: Colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Tradução: Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte: UFMG, 2003. 9p.
104
Ellen White foi uma autora que escreveu desde a periferia do sistema, uma pensadora
liminar na terminologia de Mignolo. Adolfo Suárez229 apresenta um estudo bem aprofundado
de algumas questões que marcaram a sua vida. Destacaremos os pontos principais, com o fim
de entender sua postura na sociedade e na Igreja Adventista.
Em primeiro lugar aos nove anos de idade, sofreu um acidente causado por uma pedrada
lançada por uma colega que a hostilizava depois do colégio. A pedra atingiu seu nariz que o
fraturou e desfigurou seu rosto. Não apenas isso, mas perdeu a consciência durante três
semanas, sua saúde ficou completamente comprometida e foi desenganada por algumas
pessoas.
Aos poucos entre a vida e a morte foi recobrando sua saúde, porém as sequelas
permaneceram, não apenas no seu exterior, mas na sua relação com as pessoas.
As pessoas que a visitavam tinham pena de sua situação, agravando sua vida, suas
amizades foram afetadas por conta de sua deformidade física e a rejeição passou a ser um
sentimento que a acompanhava.
Até mesmo seu pai não a reconheceu após o acidente. Por questões de negócios, seu pai
estava na Geórgia no momento em que recebeu a pedrada. Ao voltar desta viagem, seu pai
abraçou seu irmão e suas irmãs e questionou por ela, mesmo enquanto sua mãe apontava para
ela.
Adolfo então diz que os dois elementos se destacam em sua infância: “rejeição e não
reconhecimento.”230 Ao comentar esses dois elementos, ele diz que “Pessoas rejeitadas e
irreconhecíveis vivem à margem, ou, pessoas que vivem à margem costumam ser rejeitadas e
irreconhecíveis.”231 Sendo assim, Ellen White não viveu uma experiência de pertença, mas
viveu desde sua infância à margem do sistema.
Walter Mignolo apresenta um conceito interessante sobre as pessoas que vivem às
margens e desenvolvem seus conceitos afastados dos centros dominantes.
Ele entende que o pensamento liminar é uma consequência lógica da diferença colonial
e se torna incontrolável, oferecendo novas percepções críticas dos pensamentos
hegemônicos.232 Sendo assim, o pensamento liminar tem por objetivo criar alternativas para 229 SUÁREZ, ADOLFO S. Redenção, Liberdade e Serviço: Os fundamentos da pedagogia de Ellen G. White. Engenheiro Coelho: UNASPRESS, 2010. Cap. 1, p. 37-79. 230 Ibid., p. 57. 231 Id. 232 MIGNOLO, Walter. Histórias Locais/Projetos Globais: Colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Tradução: Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte: UFMG, 2003. p. 10, 11.
105
aqueles que não se encaixam na estrutura dominante, por consequência passam a ter uma
visão crítica ao pensamento hegemônico.
Adolfo Suárez entende que o pensamento de Ellen White se enquadra neste conceito:
“Minha percepção é que Ellen G. White pode ser configurada como possuidora de ‘outro pensamento’, um ‘pensamento liminar’, capaz de contestar a rigidez das fronteiras epistêmicas e práticas de sua época, no contexto da sociedade norte-americana, em geral, e da comunidade da IASD, especificamente. De igual maneira, White parece viver na ‘fronteira’, não negando seu lugar de pertença, mas sempre procurando um ‘outro lugar’. Finalmente, percebo sua luta para não permitir tornar ausente, invisível, aquilo que acreditava ser necessário e verdadeiro.”233
Esse pensamento alternativo ao dominante, segundo Mignolo, não procede do centro
dominante, mas sim das margens, já que sua ideia parte do pressuposto de um poder
colonizador central e os marginalizados buscam a emancipação através de uma realidade
conflitante. São pessoas que vivem “entre-mundos”, vivem na fronteira vivenciando
experiências de dentro e fora do poder centralizador.234
Segundo Suárez, Ellen White deve ser entendida como uma pensadora liminar e
fronteiriça:
“liminar porque sua postura revela outro pensamento, que contraria a forte liderança masculina da IASD, não apenas rejeitando as formas de autoridade estabelecidas ao longo dos últimos vinte anos, mas especialmente considerando-as espúrias e falsas; fronteiriça porque ela parece transitar livremente na fronteira erguida entre os contendores, contestando as atitudes e práticas dogmáticas e legalistas de Smith e Butler, mas não aceitando incondicionalmente as ideias dos jovens reformadores.”235
Pelo que vimos, Ellen White não pertencia a gema da sociedade norte americana, por
ser em primeiro lugar mulher e por conta de seu acidente que a deixou com sequelas físicas e
233 SUÁREZ, ADOLFO S. Redenção, Liberdade e Serviço: Os fundamentos da pedagogia de Ellen G. White. Engenheiro Coelho: UNASPRESS, 2010. 41p. 234 MIGNOLO, Walter. Histórias Locais/Projetos Globais: Colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Tradução: Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte: UFMG, 2003. p. 26, 38, 34. 235 SUÁREZ, ADOLFO S. Redenção, Liberdade e Serviço: Os fundamentos da pedagogia de Ellen G. White. Engenheiro Coelho: UNASPRESS, 2010. 72p.
106
emocionais. Ao mesmo tempo, dentro da comunidade adventista ela possuía um pensamento
de fronteira, o qual margeava dois mundos existentes dentro da Igreja.
Por um lado, ela não aceitava a posição hegemônica dos líderes, mas não apoiava
cegamente a crítica. Essa situação se evidenciou profundamente na Conferência Geral de
1888.236
O que me chama atenção nessas considerações sobre Ellen White é que sua maneira de
pensar não enrijecia e limitava o ser adventista em um único padrão global, mas permitia
reflexões de acordo com as circunstâncias, principalmente por ela viver a experiência “entre
mundos”, realidades diferentes.
Esse pensamento se faz necessário resgatar na Igreja Adventista para que, de acordo
com o contexto cultural, pessoas, necessidades, possa se atualizar a essência de ser adventista.
Para tanto, precisamos reler Ellen White sob essa perspectiva que ela possuía.
3.4.2 O jovem adventista e a formação de sua identidade
Como vimos no artigo de Jan Paulsen, a identidade adventista tem passado por uma
transformação. Isso se intensifica quando retomamos o pensamento de Hervieu-Leger que diz
que nenhuma identidade é transmitida intacta para a nova geração.
Sendo assim, os jovens estão formando sua identidade através da experiência que eles
estão passando. Porém, não podemos deixar de considerar que enquanto o jovem forma sua
identidade, ao mesmo tempo a Igreja Adventista tem passado por um momento de mudanças
como apresentado por Jan Paulsen.
Por conta das grandes mudanças que a sociedade tem passado, existe um conflito
“entre-mundos” que os jovens estão passando, por vivenciar experiências completamente
distintas dentro e fora da Igreja. Não apenas os jovens, mas muitos cristãos têm enfrentado
essa mesma realidade.
Sob essa perspectiva, esse conflito se intensifica com os jovens adventistas que muitas
vezes têm vivido a experiência de um mundo pré-moderno dentro da Igreja Adventista e um
mundo pós-moderno no cotidiano.
236 Adolfo faz uma análise detalhada deste evento e o comportamento de Ellen White, Ibid., p. 69-79
107
Não quero limitar esse conflito apenas aos jovens, pois dentro da Igreja Adventista não
são apenas os jovens que estão vivendo no mundo pós-moderno, todos vivem, mas muitos se
escondem dessa realidade se excluindo do “mundo”, vivendo a vida a parte da realidade.
Aqueles que acompanham a realidade vivem os mesmos conflitos que vemos se
intensificando com os jovens.
Por encontrar essa realidade conflitante, penso que seja necessário uma releitura dos
costumes e tradições de ambos os mundos para que possa se chegar em um denominador
comum, onde nenhum dos grupos venha a se escandalizar, se revoltar ou se afastar, mas se
unir e fortalecer.
De maneira que, assim como Ellen White vivenciou dois mundos, e a partir das
margens construiu seu pensamento “crítico-positivo”, o jovem adventista deve vivenciar essa
mesma experiência.
No viver, a margem desse “entre-mundos” deve desenvolver sua identidade de pertença,
ou seja, não esquecer sua origem como adventista. Porém não vivendo “estagnado” como Jan
Paulsen disse, mas desenvolver uma identidade “crítica-positiva” para ser a diferença como
vimos em Ellen White.
3.5 CONCLUSÕES PARCIAIS
Ao findar este capítulo, podemos concluir que é praticamente unanimidade entre os
líderes adventistas o pensamento de que existe a necessidade de contextualização das
atividades na Igreja adventista.
Entretanto, a contextualização não responde a todas as indagações dos jovens. Isso
porque, por parte de alguns líderes existe um pensamento dicotômico entre a igreja versus o
mundo, e esse pensamento não é aceito pela maioria dos jovens.
Ao analisarmos o pensamento dicotômico, em primeiro lugar vimos que cada pessoa
possui uma maneira de enxergar o mundo da sua forma, chamamos isso de cosmo visão.
Sendo assim, da mesma maneira que os líderes possuem sua cosmovisão, os jovens também
possuem. Como analisado nos capítulos anteriores, não é o mais apropriado considerar minha
visão dos fatos como padrão. No segundo momento, vimos que, embora alguns líderes
sustentam a ideia que devemos nos afastar do mundo, encontramos outros líderes mundiais
incluindo Ellen White, que falam da necessidade de estarmos presente na vida das pessoas.
108
Assim o conceito de mundo não cristão, analisado por George Knight, nos mostra que o
mundo não é pecado em sua essência, mas por escolha própria, as pessoas podem decidir
viver como não cristãos.
Uma vez visto que a igreja deve ser presente na vida das pessoas, vimos que assim
como os jovens demonstraram, alguns poucos líderes entendem que a igreja precisa passar por
mudanças profundas, tanto na sua abordagem, mas na sua maneira de ver e entender as
necessidades das pessoas onde elas estão.
Para que isto aconteça, indiscutivelmente necessita-se de envolvimento com o mundo
não cristão, quebrando o pensamento que devemos nos afastar do mundo.
Embora, seja necessário destacar que o conviver com o mundo não cristão não significa
viver as mesmas práticas que sejam contrárias aos princípios, em nosso caso de estudo,
princípios adventistas.
Finalizamos este capítulo analisando Ellen White e o pensamento liminar e a formação
da identidade do jovem adventista.
Analisamos essas razões porque entendemos que Ellen White tem papel fundamental na
formação da identidade dos adventistas. Sendo assim, é preciso em primeiro lugar saber ler
uma escritora do século passado; entender seu pensamento dentro da sociedade e da
comunidade adventista; e entender as implicações para a formação da identidade do jovem.
Como vimos, Ellen White foi uma pensadora “crítico-positiva”, crítica por não aceitar
todas as opiniões dos líderes da Igreja, mas positiva ao defender e orientar a Igreja como um
todo, no melhor caminho que deveria seguir.
Da mesma maneira, entendo que a formação da identidade do jovem adventista deve
seguir esta mesma linha de pensamento. Portanto, se faz necessário reler Ellen White
considerando esses princípios apresentados.
109
CONCLUSÃO
O propósito geral deste estudo foi mostrar o conflito geracional na Igreja Adventista e a
formação da identidade dos jovens, visando entender se os jovens estão rompendo com a
Igreja Adventista e seus princípios ou, estão formando sua identidade no interior da tradição
adventista.
No primeiro capítulo foi proposto analisar o conflito geracional na sociedade e a visão
dos líderes adventistas sobre a juventude. Como vimos, o conflito geracional é uma realidade
em todas as esferas da sociedade e tem se intensificado cada vez mais.
O pensamento diferente dos mais novos tem causado preocupação para os mais
experientes e, tem feito com que eles busquem ajustes a partir da compreensão das
características da geração emergente. Vimos essa realidade, no âmbito educacional,
empresarial e, até a mídia tem explorado essas questões produzindo programas mostrando a
diferenças das gerações e como desenvolver um bom convívio. É interessante ainda
considerar que de forma geral, no meio social não religioso, os líderes têm tomado a iniciativa
para diminuir as diferenças entre as gerações.
Os líderes adventistas também têm reagido às novas tendências da sociedade, mas as
reações têm se limitado em conselhos, orientações, alertas, correções. Ao tratarem da
realidade pós-moderna e dos jovens, o grande enfoque dos líderes é para que os jovens não se
afastem dos princípios adventistas, mas se afastem do “mundo”. Esta ênfase no afastar-se do
“mundo” acontece por conta da compreensão que o mundo é pecado.
Vimos que a tendência de qualificar o mundo como pecado é uma característica
predominante no pensamento religiosos cristão pré-moderno. Por conta disso, fica
subentendido que os líderes, ao fazerem uso da palavra “mundo” com esse significado, estão
expressando a visão cristã pré-moderna deste termo, ou seja, a compreensão deste assunto
ficou fundamentada há séculos atrás.
Para que os jovens continuem firmes na igreja e se afastem do mundo, os líderes
buscam orientá-los focando dois pontos principais: O cuidado com o vício na internet e o
consumismo.
110
Embora, seja do conhecimento de todos que a internet seja utilizada cada vez mais por
todas as pessoas, principalmente os mais jovens. Não encontramos na fala dos líderes o desejo
entender o porquê o jovem tem gasto tanto tempo na internet, tão pouco encontramos alguma
informação sobre o que os jovens têm feito na internet.
Mesmo sem demonstrar interesse em saber o “por quê”, e o “quê” eles fazem na internet,
os líderes dizem que a internet tem causado separação entre pais e filhos; cuidado com o
“pássaro”, referência a rede social twitter; entre outras observações já analisadas.
Após considerarmos a visão dos líderes, passamos a analisar a visão do jovem sobre a
Igreja Adventista. A principal conclusão desta análise é que os jovens que têm frequentado a
igreja, não desejam romper com ela. Essa constatação se evidencia pelo teor do conteúdo e a
linguagem característica adventista que eles possuem ao conversarem nos diversos grupos e
comunidades das redes sociais.
Como vimos, os jovens também estão preocupados com a espiritualidade e o
compromisso com a igreja. Embora a linguagem dos jovens se assemelhe a dos líderes, a
minha leitura é que a cosmovisão que eles possuem é diferente da maioria da liderança da
Igreja Adventista.
A linguagem dos jovens é igual a dos líderes no sentido de enfatizar que devem sair do
mundo. Diferente, pois os jovens não classificam o mundo como pecado, mas ao dizerem que
devem sair do mundo estão fazendo referência a se afastarem do que é errado e não se
alienarem do mundo como lugar de habitação e tudo que isso envolve.
Com isso, encontramos o desejo de mudança nos dizeres dos jovens. Esse desejo surge
por conta que a igreja esteve alienada da sociedade, e hoje algumas questões não fazem
sentido para os jovens. Em especial vimos o problema da linguagem e o medo de agregar
valores culturais ao serviço da igreja.
Estas duas questões chocam alguns líderes, porque vinculam a cultura ao mundo e o
mundo em sua visão é pecado. Por consequência, todas as questões que envolvem discussões
vinculadas a algo fora da igreja causam conflito. Como os mais novos não possuem a
cosmovisão como pecado, questões vinculadas à cultura e ao cotidiano que não causam
conflito com os princípios adventistas são tratados com naturalidade.
Por fim analisamos a visão de alguns líderes adventistas com referência as mudanças,
isso para responder ao anseio dos jovens. Vimos que alguns líderes entendem que a
contextualização é mais que mero gosto particular, mas uma necessidade de todas as igrejas,
seguindo as necessidades das respectivas culturas e costumes.
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Embora, a contextualização não resolveria todos os anseios dos jovens, pois eles
necessitam de mudanças mais profundas, a nível de cosmovisão. Analisamos quatro líderes
mundiais que possuem a visão bem próxima a dos jovens. Esses líderes são: George Knight,
Jan Paulsen, Ted Wilson e Ellen White; respectivamente filósofo e um dos principais
educadores da igreja adventista na atualidade, ex-presidente da Igreja Adventista, atual
presidente da Igreja Adventista e uma das fundadoras e principal escritora da Igreja
Adventista.
Ted Wilson, embora mais conservador em seus comentários, expressa a necessidade da
igreja se misturar com a sociedade para entender as reais necessidades das pessoas que
possuem uma mentalidade não cristã. Sob sua visão, a igreja deve abrir as portas para novos
métodos e não deve padronizar um estilo de culto, sendo assim flexível as características de
cada sociedade e cultura.
George Knight é enfático em mostrar que a dicotomia entre sagrado e profano é um
mito que muitos cristãos ainda carregam. Ele diz que se o pensamento dicotômico for
sustentado, os cristãos fazem distinção do viver na igreja, oposto a sua vida semanal. O que
não deve acontecer sob seu entendimento, contrário à visão dicotômica, pra ele o grande
desafio das igrejas é fazer com que o cristão tenha pensamento cristão em todos os momentos
da vida.
Jan Paulsen defende a ideia que a igreja estagnou e ficou descontextualizada. Para ele,
as mudanças devem acontecer naquilo que pode acontecer. As questões imutáveis para ele
são: Cristo; a Bíblia; o propósito de Deus para cada ser humano, como indivíduos; e a história
comum, como igreja. Todas as outras questões vinculadas a igreja, que não ferem esses
princípios, incluindo as características culturais de cada lugar devem ser mudanças de acordo
com a necessidade.
Paulsen acredita que a identidade adventista tem passado por uma transformação. Como
vimos em Hervieu-Leger a identidade é construída de maneira pessoal, não coletiva. Sendo
assim, a cada geração é entendível e até natural, que a identidade seja reconstruída. Por conta
desse tempo que a igreja se alienou as mudanças, talvez as mudanças que sejam necessárias
sejam chocantes demais para alguns.
Em Ellen White encontramos a necessidade da igreja ser a luz do mundo, para tanto a
igreja precisa estar presente no cotidiano das pessoas. Vimos que, o pensamento de Ellen
White era diferenciado da liderança. Seu pensamento denominado liminar por viver na
fronteira de duas realidades, fez com que ela tivesse uma postura crítico-positiva. Ao mesmo
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tempo que critica construtivamente a liderança, apoiava o avanço da igreja em todas as suas
áreas.
Por fim, analisamos que a juventude adventista tem construído sua identidade sem
querer romper com o adventismo. Para que essa identidade seja moldada de forma positiva, o
pensamento que permeia os escritos de Ellen White pode ser aplicado à realidade atual. Com
isso, a convivência entre a vida religiosa e a cotidiana faz com que ele viva “entre-mundos”. E
nessa experiência de fronteira, firme em seus princípios ele pode desenvolver uma identidade
“crítico-positiva”.
Sendo assim, minha conclusão é: O jovem não deseja romper com a igreja, mas
descontente com algumas questões está reconstruindo sua identidade. Encontro base nos
escritos de alguns líderes para isso, e acredito que o pensamento liminar que Ellen White
tinha e deixou registrado em seus escritos pode ser uma alternativa para a formação de uma
identidade sólida aos princípios e aberta às necessidades pessoais. REFERÊNCIAS
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ANEXOS
Os anexos foram preservados por conta da identidade das pessoas. Todos os anexos foram lidos e verificados pelos componentes da banca. Muito obrigado O autor