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ESTADO DE SAÚDE ORAL DE CRIANÇAS ENTRE OS 3 E 5 ANOS, A FREQUENTAR AS ESCOLAS DO CACÉM, COM PAIS
Co-orientador: Prof. Drª Ma
Dissertação para obtenção do grau de mestre em Saúde e Desenvolvimento
UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
DE SAÚDE ORAL DE CRIANÇAS ENTRE OS 3 E 5 ANOS, A FREQUENTAR AS ESCOLAS DO CACÉM, COM PAIS PORTUGUESES
IMIGRANTES
Rosa Cristina Oliveira Ferreira
Orientador: Prof. Drª Sónia Dias
orientador: Prof. Drª Maria do Rosário Martins
Dissertação para obtenção do grau de mestre em Saúde e Desenvolvimento
MAIO DE 2012
UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
DE SAÚDE ORAL DE CRIANÇAS ENTRE OS 3 E 5 ANOS, A PORTUGUESES E
ria do Rosário Martins
Dissertação para obtenção do grau de mestre em Saúde e Desenvolvimento
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“Matar o sonho é matar-nos.
É mutilar a nossa alma.
O sonho é o que temos de realmente nosso,
de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.”
Fernando Pessoa
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AGRADECIMENTOS
Este trabalho é o culminar de um percurso difícil mas prazeroso. A vontade de querer sempre mais tem-me acompanhado ao longo da vida, estabelecendo objectivos que, felizmente, tenho vindo a conquistar.
Tenho o privilégio de conhecer pessoas fantásticas, que me têm enriquecido como pessoa e como profissional. Sendo assim, não posso deixar de agradecer:
À minha filha e ao meu marido por serem o meu porto de abrigo e por perdoarem a minha ausência durante esta etapa,
À minha família, e principalmente aos meus pais pela disponibilidade constante e por, algumas vezes segurarem as minhas lágrimas,
Aos meus amigos, por darem um brilho tão especial à minha vida,
Aos colegas do V Mestrado em Saúde e Desenvolvimento, pela riqueza humana e diversidade de conhecimentos que tornou este curso tão especial,
À Prof. Drª Sónia Dias e Prof. Drª Maria do Rosário Martins pela orientação deste trabalho e pela vontade de, entre os inúmeros compromissos, terem disponibilidade para estarem presentes,
À Drª Inês Rodrigues, pela sua preciosa ajuda na minha introdução ao SPSS,
Ao Investigador Dr. Vitor Rosado Marques pela amizade e apoio em todo este percurso,
Á Drª Teresa Agostinho pela sua disponibilidade e rigor,
Às direcções das IPSS que integraram este estudo, a todas as educadoras, e em especial às coordenadoras de cada Jardim-de-Infância, Drª Sónia Joaquim, Drª Anabela Fialho, Drª Alcina e Drª Tânia Ferreira,
À Directora Executiva, DrªClara Pais e ao Conselho Clínico do ACES X por autorizarem a realização deste trabalho,
E aos Higienistas Orais: Dr. Mário Rui Araújo, Prof. Dr. Henrique Luís, Drª Sandra Ribeiro e Drª Fátima Duarte por serem, para mim, uma referência de qualidade técnica e humana e por tanto dignificarem a profissão de Higienista Oral em Portugal.
OBRIGADA!
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RESUMO
Contexto: A cárie dentária é um problema de saúde pública, com elevada prevalência em todo o mundo. Ao longo das últimas décadas, várias investigações revelam que a cárie dentária está relacionada com factores sociais e comportamentais. Condições sociais e económicas deficientes, diminuem o acesso à informação e conhecimento, bem como limitam o acesso a serviços especializados de saúde. Os migrantes são um grupo populacional em que estes factores têm especial relevo. Este trabalho tem como objectivo descrever o estado de saúde oral relativamente à cárie dentária, de crianças dos 3 aos 5 anos, filhas de pais imigrantes e portugueses, a frequentar jardim-de-infância, na zona do Cacém- Sintra.
Métodos: A amostra deste estudo é composta por 183 crianças, dos 3 aos 5 anos, a frequentar os jardins-de-infância de 3 Instituições Particulares de Solidariedade Social, situadas no Cacém. Os dados foram recolhidos através de um questionário dirigido aos pais e de uma ficha individual de rastreio dentário realizado às crianças. Para aferir a associação entre as variáveis foram aplicados: o teste do Qui-Quadrado de Person, o teste t de Student e o modelo de regressão logística, com o cálculo dos respectivos odds-ratio. O nível de significância estatístico foi de 5%.
Resultados: Nas famílias estudadas 36,1% dos pais e 38,3% das mães são imigrantes; 44% das crianças têm pelo menos um progenitor de origem estrangeira. A maioria das famílias tem 2 filhos (45%) e 54,6% das crianças do estudo são primeiros filhos; 48,6% das crianças já foram a uma consulta de saúde oral, e igual percentagem nunca foi a uma consulta desta especialidade; 89% das crianças da amostra escovam os dentes diariamente. A prevalência de cárie na dentição decídua encontrada nesta amostra foi de 25,1%, com um cpo’d grupo de 0,7. Estão livres de história de cárie 84,7% das raparigas e 66,3% dos rapazes (p= 0,004). Verifica-se que os rapazes têm um risco 2,3 vezes maior (OR=2,34) de não ter saúde oral do que as raparigas (p=0,02) e que as crianças que já foram à consulta de saúde oral têm um risco, cerca de 3 vezes maior (OR=3,21) de apresentar um cpo ≠0 do que as crianças que nunca foram à consulta.
Conclusão: Nesta amostra não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas no cpo’d individual das crianças filhas de imigrantes e de portugueses. O cpo’d demonstrou estar associado à idade, sexo e ida à consulta de saúde oral. Existe uma necessidade emergente de um maior conhecimento do estado de saúde oral destas comunidades, avaliando até que ponto estão mais vulneráveis ao aparecimento de doenças orais.
Palavras chave: cárie dentária, índice cpo’d, imigrante, utilização dos serviços saúde oral
5
ABSTRAT
Background: Dental caries is a public health problem with high prevalence worldwide. Over the past decades, several investigations show that dental caries is related to social and behavioral factors. Social and economic poor conditions, reduce access to information and knowledge as well as limited access to specialized health services. Migrants are a population group in which these factors have particular importance. This study aims to describe the state of oral health in relation to dental caries in children from 3 to 5 years, with immigrant and portuguese parents, attending garden-schools in the region of Sintra-Cacém.
Methods: The sample consists of 183 children, from 3 to 5 years, to attend the garden-care 3 Private Institutions of Social Solidarity, located in Cacém. The data collection instruments were a questionnaire addressed to parents and individual records of dental screening done to children. To assess the association between the variables were used: the chi-square Person, Student's t test and logistic regression model, calculating the odds ratio. The statistical significance level was 5%.
Results: In the families studied, 36.1% of fathers and 38.3% of mothers are immigrants, 44% of children have at least one parent of foreign origin. Most families have two children (45%) and 54.6% of children in the study are first children, 48.6% of children have been to an oral health consultation, and an equal percentage has never been to a query of this specialty; 89% of sample children brush their teeth daily. The prevalence of caries in deciduous teeth found in this sample was 25.1% with a dmf’t group of 0,7. Are free of a history of caries 84.7% of girls and 66.3% of boys (p = 0.004). It appears that the boys have a risk 2.3 times higher (OR = 2.34) of not having oral health than girls (p = 0.02) and children who have been to have oral health consultation risk, almost three times higher (OR = 3.21) to introduce a dmf’t ≠ 0 than children who were never consulted. Conclusion: In this sample there were no statistically significant differences in individual dmf’t of immigrants and Portuguese children. The dmf’t showed to be associated with age, sex and oral health consultation. There is an emerging need for greater knowledge of oral health status of these communities, assessing the extent to which they are most vulnerable to the onset of oral diseases. Keywords: dental caries, dmf’t index, immigrant, use of oral health services
6
ÍNDICE
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 10
1- ENQUADRAMENTO TEÓRICO ...................................................................................... 13
1.1 Saúde Oral e seus determinantes ................................................................................. 13
1.2 Cárie dentária na infância ............................................................................................ 14
1.3 Plano Nacional de Promoção de Saúde Oral ............................................................... 19
1.4 Migração ..................................................................................................................... 20
1. 4.1 Imigração em Portugal .................................................................................................. 21
1. 4.2 Determinantes de Saúde Oral dos imigrantes ............................................................... 23
1.4.3 Acesso aos cuidados de saúde dos imigrantes em Portugal ........................................... 25
1.4.3.1 Acesso aos cuidados de saúde oral dos imigrantes em Portugal ................................. 28
1.4.4 Imigração no concelho de Sintra .................................................................................... 29
2 - OBJECTIVOS DO ESTUDO ................................................................................................ 30
3- MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................... 31
3.1.População e amostra do estudo ......................................................................................... 31
3.2 Tipo de estudo ................................................................................................................... 32
3.3 Instrumentos de recolha utilizados .................................................................................... 32
3.4 Considerações éticas ......................................................................................................... 33
3.5 Descrição das variáveis ..................................................................................................... 34
3.6 Análise dos dados .............................................................................................................. 38
4- RESULTADOS ...................................................................................................................... 39
4.1 Resultados obtidos no questionário ................................................................................... 39
4.1.1 Caracterização sócio demográfica ................................................................................. 39
4.1.2 Caracterização dos indicadores de saúde oral ................................................................ 46
4.1.2.1 Acesso aos cuidados de saúde oral .............................................................................. 46
4.1.2.2 Análise de conteúdo das perguntas abertas ................................................................ 46
4.2 Resultados obtidos através da ficha de rastreio ................................................................. 48
4.3 Análise da relação entre factores sociodemográficos e o cpo’d ........................................ 48
4.4 Análise das variáveis de saúde oral e o cpo’d ................................................................... 53
4.5 Análise da relação entre factores sociodemográficos e a utilização dos serviços de saúde oral .......................................................................................................................................... 55
7
4.6 Aplicação do modelo de regressão logística ..................................................................... 57
5 – DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 59
6- CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 68
7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 70
8 - ANEXOS ............................................................................................................................... 75
Anexo I - Quadros da população residente no Concelho de Sintra segundo grupos etários e sexo; e segundo nível de ensino e sexo ................................................................................... 76
Anexo II – Questionário “Nível de Saúde Oral das crianças entre os 3 e 5 anos na população portuguesa e comunidades imigrantes nas IPSS do Cacém” .................................................. 78
Anexo III – Consentimento informado para pais/ Pedidos de autorização ............................. 82
Anexo IV – Ficha individual de rastreio dentário ................................................................... 86
Anexo V – Tabelas das nacionalidades encontradas (pai e mãe) ............................................ 88
ÍNDICE DE FIGURAS
1 – Modelo de factores de risco para a análise de cárie dentária .................................... 18
2 – Distribuição das crianças estudadas de acordo com sexo ......................................... 39
3 – Distribuição do pai de acordo com a naturalidade .................................................... 42
4 - Distribuição da mãe de acordo com a naturalidade ................................................... 43
5 – Distribuição dos pais imigrantes de acordo com anos de residência ........................ 44
6 – Distribuição do nível de ensino do pai de acordo com a naturalidade ..................... 44
7 – Distribuição do nível de ensino da mãe de acordo com a naturalidade .................... 45
8 – Hábitos de escovagem dentária de acordo com o sexo ............................................. 47
8
ÍNDICE DE TABELAS
1 – Critérios de diagnóstico de cárie dentária (OMS, 1997) .......................................... 37
2 – Distribuição etária das crianças estudadas ................................................................ 40
3 – Número de filhos nas famílias estudadas .................................................................. 40
4 – Ordem de nascimento das crianças estudadas .......................................................... 41
5 – Situação dos pais de acordo com a naturalidade ....................................................... 42
6 – Prevalência de carie dentária, cpo’d e seus componentes nas crianças dos 3 aos 5 anos ......................................................................................... 48
7 – Relação entre a variável cpo’d (categorizada)/ sexo e idade .................................... 49
8 - Relação entre a variável cpo’d (categorizada)/ nº de filhos e ordem nascimento ..... 50
9 - Relação entre a variável cpo’d (categorizada)/ origem dos pais ............................... 51
10 - Valores médios e desvio padrão do cpo’d individual nos
dois grupos (com pais portugueses vs. pais imigrantes) .......................................... 51
11 - Relação entre a variável cpo’d (categorizada)/ tempo de residência dos pais......... 52
12 - Relação entre a variável cpo’d (categorizada)/ nível de ensino dos pais ................ 52
13 - Relação entre a variável cpo’d (categorizada)/ consulta de saúde oral ................... 53
14 - Relação entre a variável cpo’d (categorizada)/ razão da não consulta .................... 54
15 – Consulta de saúde oral segundo sexo, idade, origem e nível de ensino dos pais ... 56
16 – Modelo de regressão logística com as variáveis sexo, idade, origem dos pais,
nível de ensino dos pais, nºfilhos, higiene oral e consulta de saúde oral ................. 58
9
SIGLAS E ABREVIATURAS
ACES X – Agrupamento de Centros de Saúde Cacém/Queluz
ACIDI – Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, IP
cpo’d – índice de dentes cariado, perdidos e obturados
DGS- Direcção Geral da Saúde
IGE – Inspecção Geral da Educação
IOM – International Organization for Migration
IPSS- Instituição Particular de Solidariedade Social
JI – Jardim de Infância
OMS /WHO- Organização Mundial de Saúde
PNPSO - Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral
SEF – Serviços de Estrangeiros e Fronteiras
SNS- Serviço Nacional de Saúde
SPSS- Statistical Package for Social Sciences
10
INTRODUÇÃO
“Não é o mais forte que sobrevive,
nem o mais inteligente, mas sim o que
melhor se adapta às mudanças.”
Charles Darwin
A globalização e urbanização do mundo actual têm intensificado as alterações nos
níveis de desenvolvimento das sociedades, emergindo novos desafios na área da saúde,
em particular na saúde oral (Peterson e Kwan, 2010).
As doenças crónicas continuam a dominar os países de média e alta renda, no entanto a
sua prevalência tem aumentado nos países subdesenvolvidos, o que a par com as
doenças infecciosas representa uma sobrecarga para os sistemas de saúde destes países
de baixa renda, que por si já estão debilitados (WHO, 2008).
Uma parte significativa da população mundial sofre de doenças na cavidade oral, sendo
que populações mais desfavorecidas vêem essa situação agravada e frequentemente não
recebem os tratamentos orais adequados. A promoção da saúde oral e a prevenção das
doenças orais é uma área de elevada importância, mas muitas vezes negligenciada,
particularmente nos países de média e baixa renda (Peterson e Kwan, 2010).
Os tratamentos orais estão no quarto lugar na lista de tratamentos mais dispendiosos em
todo o mundo. O Programa de Saúde Global da Organização Mundial de Saúde enfatiza
que a saúde oral é uma condição determinante para a qualidade de vida, destacando que
a promoção de saúde oral é uma estratégia, que sob o ponto de vista do
custo/efectividade, reduz a carga das doenças orais nos sistemas e mantém a saúde oral
(WHO, 2008).
A cárie dentária continua a ser um problema relevante nos países industrializados,
afectando a maioria dos adultos e entre 60 a 90% das crianças em idade escolar
(Petersen et al, 2005). É uma doença multifactorial, crónica, prevenível e uma das mais
11
comuns na infância, mantendo-se a susceptibilidade ao longo da vida (Selwitz, Ismail e
Pitts, 2007).
O desenvolvimento da criança e a sua saúde em geral é influenciada pelas condições
socioeconómicas onde vive, pelo grau de instrução dos pais, pelo tamanho do agregado
familiar, pela percepção que os pais têm da própria saúde, crenças e hábitos culturais
(WHO, 2011).
Vários são os factores que influenciam a prevalência e severidade da doença,
nomeadamente os comportamentos (hábitos de higiene oral e alimentação), condições
sociais e económicas, predisposição genética, entre outros (Fejerskov, 2004).
Alguns estudos têm demonstrado que crianças inseridas em comunidades com fracos
recursos ou de minorias étnicas apresentam níveis de cárie mais elevados (Pine et al,
2004). Condições sociais e económicas deficientes, diminuem o acesso à informação e
conhecimento, bem como limitam o acesso a serviços especializados de saúde. Os
migrantes são um grupo populacional em que estes factores têm especial relevo (Emilio
et al, 2008).
O concelho de Sintra é dos mais importantes em termos de imigração, em cerca de 370
mil habitantes, 6,5% são cidadãos estrangeiros (INE, 2001).
Neste contexto a realização deste estudo revela-se de elevada importância, uma vez que
a população estudada é composta por crianças filhas de pais de diversas nacionalidades,
em que a análise das variáveis propostas poderá trazer uma mais-valia na elaboração de
estratégias de educação para a saúde oral e prevenção das doenças orais. Para além
disso, vem colmatar uma enorme escassez de informação que existe em Portugal na área
da saúde oral dos imigrantes.
Este trabalho tem como objectivo geral descrever o estado de saúde oral relativamente à
cárie dentária, de crianças dos 3 aos 5 anos, filhas de pais imigrantes e portugueses, a
frequentar jardins-de-infância de IPSS na zona do Cacém – Sintra. Os objectivos
específicos são: avaliar a prevalência de cárie dentária destas crianças, analisar a
associação entre factores sociodemográficos e o índice de cpo’d, caracterizar os hábitos
de higiene oral das crianças, caracterizar a utilização das consultas de saúde oral e
12
avaliar a relação entre factores sociodemográficos e a utilização dos serviços de saúde
oral.
13
1- ENQUADRAMENTO TEÓRICO
1.1 Saúde Oral e seus determinantes
As disparidades actuais na área da saúde oral reflectem diferenças no desenvolvimento
socioeconómico entre países, regiões ou até mesmo entre grupos populacionais. Na
generalidade, os determinantes de saúde oral são os mesmos da saúde em geral (Hobdell
et al, 2002).
Os determinantes em saúde são factores que determinam o estado de saúde dos
indivíduos (Andrade, 2008).
Os determinantes de saúde oral podem ser divididos em primários e secundários. Os
determinantes primários ou biológicos são factores preponderantes, pois influenciam
directamente as alterações do pH da saliva, nomeadamente o efeito tampão, qualidade e
quantidade de saliva, estrutura do biofilme, a dieta, a concentração de fluoretos nos
fluidos orais, entre outros. São considerados determinantes secundários da saúde oral a
classe social, rendimento familiar, conhecimentos, atitudes, comportamentos e nível de
educação (Fejerskov, 1997).
Na 7ª Conferência Mundial de Promoção de Saúde, realizada em Nairobi (2009) foi
dado grande destaque à necessidade das políticas públicas considerarem adequadamente
as evidências científicas do impacto dos determinantes sociais na saúde oral. Desta
conferência resultaram 5 directivas para a promoção de saúde oral: o “empowerment”
das comunidades, a educação em saúde e comportamentos saudáveis, o fortalecimento
dos sistemas de saúde, as parcerias e acções intersectoriais, e desenvolver a capacidade
de promover saúde. O nível educacional, a situação económica, as condições de
habitação, emprego e ambiente são determinantes sociais que influenciam
significativamente o estado de saúde, afectando uma serie de “out comes” em saúde
oral. São também muitas vezes os responsáveis pelas desigualdades no acesso e
utilização dos serviços de saúde oral (Peterson e Kwan, 2010).
14
As crianças oriundas de estratos socioeconómicos mais baixos e de grupos minoritários
têm cerca de três vezes mais cáries quando comparadas com crianças vindas de estratos
sociais mais elevados, em parte porque têm menos acesso a cuidados de saúde oral
(Szilagyi, 2009).
São também as crianças de níveis socioeconómicos mais baixos que têm um maior
número de cáries não tratadas e que mais sofrem de restrições nas actividades de vida
diária provocadas por doenças orais (Hughes et al., 2005).
Um estudo qualitativo realizado nos Estados Unidos, revela que o factor demográfico
mais fortemente associado à utilização dos serviços de saúde oral é a educação dos pais.
Dentro de um grupo de pais com o mesmo nível socioeconómico, os que têm mais
formação procuram mais os serviços e demonstram ter uma maior percepção da saúde
oral como integrante da saúde geral, reconhecimento da importância de recorrer a um
profissional para actividades preventivas e maior conhecimento dos cuidados
preventivos a adoptar (Kelly et al., 2005).
A saúde oral das crianças está a cargo dos pais, pois são estes que tomam as decisões no
que diz respeito à saúde dos filhos, sendo assim é importante conhecer as percepções
dos pais acerca das doenças orais, sintomas, tratamento e prevenção (Pahel et al., 2007).
As escolhas individuais e comportamentos de risco estão intimamente ligados à base
sociodemográfica e cultural (Garcia et al., 2008).
1.2 Cárie dentária na infância
A cárie dentária é um problema de saúde pública, com elevada prevalência em todo o
mundo, embora tenha vindo a diminuir nos países industrializados (Sheiham, 2005).
É, por definição, uma doença dos tecidos mineralizados do dente, causada pela acção
dos microorganismos existentes no biofilme bacteriano. Este biofilme forma-se na
superfície do dente desde a sua erupção e, quando removido, acumula-se novamente
após algumas horas. A cárie desenvolve-se num continuo de estadios de destruição
15
dentária, de severidade aumentada, desde alterações sub-clinicas até ao envolvimento
dentinário, com ou sem cavitação (Featherstone, 2008).
Os microorganismos mais directamente associados à cárie são os streptococos mutans
que metabolizam a sacarose, produzindo um ácido que desmineraliza a superfície do
dente, sucessivas desmineralizações resultam numa cavidade (Douglass et al., 2004).
Douglass e colegas (2004) referem que a cárie dentária é a doença crónica mais comum
na primeira infância, sendo cinco vezes mais prevalente do que a asma. Consideram
como principais factores de risco associados à cárie: fracos hábitos de higiene oral, mãe
com cáries, elevado consumo de açúcares (principalmente sacarose), presença de
defeitos no esmalte dentário, crianças prematuras, crianças com necessidades especiais
de saúde e crianças que pertencem a grupos socioeconómicos mais baixos.
Também Jackson e colegas (2011) reforçam a ideia de que, dentro do grupo de doenças
mais prevalentes na infância, como a asma, obesidade e diabetes, a cárie dentária é a
mais comum. Estas doenças interferem no desenvolvimento da criança e no seu
desempenho escolar. Neste estudo verificaram que crianças com baixo nível de saúde
oral têm um risco 3 vezes maior (OR=3,89) de faltar à escola como resultado de dores
de dentes comparativamente às crianças com melhor nível de saúde oral.
A OMS publicou em 2003 o Relatório Mundial de Saúde Oral, onde revela a
distribuição mundial da cárie dentária, através do índice DMFT (Decayed, Missing and
Filled Teeth), em português, CPO’D (Cariados, Perdidos, Obturados por dente). Este
índice refere-se aos dentes definitivos. Para fazer referência aos dentes temporários
utiliza-se a sigla em letras minúsculas, cpo’d. Este índice pode ser calculado
individualmente, fazendo o somatório dos dentes cariados, perdidos e obturados e
dividindo pelo número de dentes presentes na boca da criança ou índice de grupo,
fazendo o somatório dos dentes cariados, perdidos e obturados de todas as crianças
observadas e dividindo pelo número de crianças (WHO, 2003).
O índice de CPO’D aos 12 anos em Portugal é considerado baixo, apresentando valores
entre 1,2 e 2,6. Este relatório defende que o declínio da doença em vários países
desenvolvidos se deve à implementação de programas na área da saúde pública,
16
acompanhados das alterações das condições e estilos de vida, e aumento do auto
cuidado (WHO, 2003).
Em 2006 a Direcção Geral de Saúde realizou o “Estudo Nacional de Prevalência das
Doenças Orais”, estando abrangidas 2612 crianças dos 6, 12 e 15 anos, a frequentarem
escolas públicas do Continente e das Regiões Autónomas. Este estudo teve como
objectivo avaliar a prevalência da cárie dentária, das doenças periodontais e fluorose,
bem como identificar hábitos alimentares e de higiene oral. Os resultados demonstraram
que 51% das crianças de 6 anos estavam livres de cárie, valor que, apesar de positivo
ainda está longe da meta prevista pela OMS para o ano 2020, que prevê que 80% das
crianças de 6 anos da Região Europeia estejam livres de cárie. Verificou-se que, dentro
das várias regiões, Lisboa e Vale do Tejo apresenta a percentagem mais alta de crianças
livres de cárie nesta idade. O valor de cpo’d (dentição temporária) aos 6 anos foi de
2,10 e de CPO’D (dentição permanente) aos 12 anos foi de 1,48. Este valor aos 12 anos,
coloca Portugal entre os países de baixa prevalência de cárie uma vez que já foram
atingidos os valores preconizados pela OMS para o ano 2010 na Região Europeia:1,50.
Relativamente aos hábitos de higiene oral, nomeadamente à escovagem com pasta
fluoretada, 50% das crianças de 6 anos e 67% das de 12 anos dizem escovar os dentes
duas vezes por dia. No que diz respeito à utilização dos serviços 40% das crianças de 6
anos foram a pelo menos uma consulta com médico dentista ou higienista oral no último
ano, e aos 12 e 15 anos 85% dos jovens tiveram acesso a cuidados de saúde oral (DGS,
2008).
Um estudo realizado na Suécia com crianças de 3 anos revela que a probabilidade de
desenvolver cárie dentária está relacionada com vários factores de risco, nomeadamente,
condições socioeconómicas, condições microbianas, hábitos alimentares, hábitos de
higiene oral e exposição ao flúor. Verificou-se que os factores que mais influenciam o
aparecimento da doença até aos 2 anos e meio eram, a presença de certos
microrganismos (streptococos mutans), a origem imigrante e o consumo de açúcares.
Entre os 2 anos e meio e os 3 anos e meio, juntam-se a estes factores o nível
educacional da mãe e o consumo de bebidas açucaradas. Os hábitos alimentares pouco
saudáveis, a baixa frequência da escovagem dentária e a colonização precoce de
17
bactérias cariogénicas foram mais evidentes em crianças de origem imigrante
(Grindefiord, 1996).
Em outro estudo realizado com 277 crianças de 5 países, que tinha como objectivo
investigar se o padrão bacteriológico da cárie era diferente em crianças de diversas
etnias e estratos sociais, verificou-se que a composição da placa bacteriana colhida era
semelhante em crianças dos diversos estratos, no entanto o grupo de crianças com cáries
oriundas de famílias desfavorecidas tinham lesões de cárie mais severas e uma
alimentação mais cariogénica. Este estudo destacou o facto de a raça/etnicidade e o tipo
de cultura revelarem terem impacto na composição da flora microbiana (Beighton et al.,
2004).
Pine e colegas (2004) realizaram um trabalho em 17 países, com pais e crianças de 3 e 4
anos, onde foi encontrada uma associação entre as crenças e atitudes dos pais e o
aparecimento de cárie dentária nas crianças. Os autores também verificaram, que as
crenças e comportamentos variavam de acordo com o grupo étnico e condições
socioeconómicas.
Ao longo das últimas décadas, várias investigações revelaram que a cárie dentária está
relacionada com factores sociais e comportamentais (Peterson, 2005). Com base neste
pressuposto a OMS publica o modelo de factores de risco para a análise de cárie
dentária (Figura1).
18
Figura 1. Modelo de factores de risco para a análise de cárie dentária
(WHO, adaptado por Peterson et al., 2005)
Sistema de Saúde e Serviços de Saúde Oral
-Disponibilidade
-Orientação preventiva ou curativa
-Centralizados ou descentralizados
Factores de risco socioculturais
-Educação
-Ocupação
-Renda
-Etnia
-Estilo de vida
Factores de risco ambientais
-Água potável
-Saneamento
-Higiene
-Estado nutricional
Utilização dos serviços de Saúde Oral
-Procura dos serviços
-Razão da consulta
-Frequência das consultas
Comportamentos de Risco
-Práticas de higiene oral
-Consumo de açúcares
(quantidade, frequência e tipo)
Resultados
• Estado de saúde:
-Prevalência de cárie
-Risco relativo /odds ratio
-cpo’d ou CPO’D
-Severidade da cárie
-Dentes perdidos
• Qualidade de vida:
-Auto-avaliação dentária
-Dor/desconforto
19
1.3 Plano Nacional de Promoção de Saúde Oral
Desde 1986 que em Portugal se desenvolvem programas na área da promoção da saúde
oral e prevenção das doenças orais, dirigidos essencialmente para crianças e jovens em
idade escolar. As actividades em ambiente escolar estavam centradas na administração
de fluoretos (comprimidos ou bochechos quinzenais), promoção da escovagem bidiária
e alimentação saudável, bem como a aplicação de selantes de fissura em molares
permanentes aos 7 e 13 anos. Estes procedimentos clínicos foram realizados
maioritariamente por higienistas orais que começaram a ser integrados no Sistema
Nacional Saúde (SNS). Em 1999 surge o Programa de Promoção da Saúde Oral em
Crianças e Adolescentes onde é introduzida a contratualização médico-dentária, ou seja,
contratualizar serviços de médicos dentistas e estomatologistas do sector privado,
permitindo tratar lesões de cárie e também aplicar selantes de fissura, quando os centros
de saúde não dispunham de higienistas orais. Para além disso a população abrangida
aumentou, integrando as faixas etárias: 6/7 anos, 9/10, 12/13 e 16 anos (DGS, 2008).
Em 2005 é aprovado o Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral (PNPSO)
através do despacho ministerial nº153/2005, incluído no Plano Nacional de Saúde. O
quadro conceptual do programa corresponde a uma estratégia global de intervenção,
assente na promoção da saúde e na prevenção primária e secundária da cárie dentária. A
prestação de serviços assenta numa base público-privada. Ao sector público compete
assegurar a promoção da saúde oral e a prevenção da doença, para além da prestação de
cuidados dentários sempre que existam higienistas orais nos centros de saúde. Ao sector
privado compete prestar os cuidados médico-dentários não satisfeitos no SNS. Em 2009
entra em vigor a portaria nº301/2009 do DR.I série, que regula o funcionamento do
PNPSO relativamente à prestação de cuidados de saúde oral preventivos e curativos,
ministrados por profissionais especializados (médicos dentistas, estomatologistas e
higienistas orais). O PNPSO destina-se a quatro grupos populacionais: grávidas
seguidas no SNS, beneficiários do complemento solidário para idosos, crianças e jovens
até aos 16 anos e utentes infectados com VIH/SIDA (estes últimos integrados em 2010).
A referenciação para tratamentos é feita pelos médicos de família com a atribuição de
um “cheque dentista” ao utente, que quando o entrega ao profissional de saúde oral
convencionado com o programa, este realiza os tratamentos dentários de acordo com o
20
preconizado. As crianças com menos de 6 anos têm direito a um cheque dentista por
ano para tratar situações de urgência em dentes temporários. As crianças entre os 7 e 14
anos são triadas pelos higienistas orais dos agrupamentos de centro de saúde (ACES) e
encaminhadas para consulta médico- dentário (“cheque dentista”) ou para consulta no
centro de saúde (“referenciação para higienista oral”). Os tratamentos são totalmente
gratuitos para o utente. A emissão destes documentos de referenciação é feita através do
SISO – Sistema de Informação de Saúde Oral, o qual requer o número de utente do SNS
para emitir os documentos, o que significa que indivíduos que se encontrem em
situações irregulares e não estejam inscritos no SNS, não podem usufruir destes
serviços. O SISO disponibiliza dados sobre a oferta de cuidados, o número e tipo de
beneficiários, a utilização dos cheques-dentista, e a saúde oral dos utentes. Para além
disso permite o acompanhamento da execução do programa na vertente da sua
integração com o Programa de Saúde Escolar, o controlo da facturação, pagamento dos
actos terapêuticos e a emissão dos cheques-dentista (Ministério da Saúde, 2011).
Analisando a evolução das estratégias, intervenções e indicadores na saúde oral em
Portugal, verifica-se que, após cerca de 20 anos de programas de saúde dirigidos
essencialmente a crianças e jovens, os ganhos em saúde oral são notórios. Segundo
dados da DGS a percentagem de crianças livres de cárie aos 6 anos passou de 10% em
1986 para 51% em 2006, e o índice de CPO’D aos 12 anos passou de 3,97 para 1,48
(DGS, 2008).
Na zona do Cacém o programa de saúde oral é desenvolvido há cerca de 12 anos, pelas
equipas de saúde oral e de saúde escolar, realizando todas as actividades de promoção e
prevenção inerentes ao programa.
1.4 Migração
No último século tem-se assistido a um aumento exponencial do fluxo migratório
internacional de países menos desenvolvidos para os mais desenvolvidos. Entre 1970 e
2002 o número de pessoas a viver em países onde não nasceram passou de 80 para 185
milhões em todo o mundo, facto que tem alterado as características das populações,
aumentando a diversidade racial e cultural (Gao e McGrath, 2011).
21
Segundo a Internacional Organization for Migration, o processo de migração pode ser,
per si, um determinante de saúde pois este potencia uma serie de determinantes sociais
que podem interferir no estado de saúde dos migrantes, nomeadamente factores
políticos, económicos, ambientais e culturais (IOM, 2009).
As Nações Unidas definem migrante como um indivíduo que tenha residido num país
estrangeiro por mais de um ano, independentemente das causas, voluntária ou
involuntária. A migração é definida como o movimento de uma pessoa ou um grupo de
pessoas, seja através de uma fronteira internacional, ou dentro de um Estado. É um
movimento da população, abrangendo qualquer tipo de movimento de pessoas, qualquer
que seja a sua duração, composição e causas, que inclui a migração de refugiados,
pessoas deslocadas, os migrantes económicos e pessoas que se deslocam para outros
fins, incluindo o reagrupamento familiar (IOM, 2012).
Os processos migratórios envolvem aspectos variados tais como a globalização, o
envelhecimento da população, a segurança, os direitos humanos, a ajuda ao
desenvolvimento e a democracia (SEF, 2008).
1. 4.1 Imigração em Portugal
Portugal foi até à década de 60 do século passado um país de emigrantes que se
mobilizavam predominantemente para a Europa e províncias ultramarinas. Com a
revolução do 25 de Abril de 1974 o cenário alterou-se com o regresso de muitos destes
cidadãos. No início dos anos 80 acentua-se o fluxo de entrada de indivíduos das ex-
colónias, sendo que na década de 90 encontramos um número significativo de
estrangeiros residentes, oriundos dos países africanos de língua portuguesa (PALOP). É
também nesta altura que começa a ser evidente a entrada de cidadãos do Leste da
Europa (SEF, 2008).
Em 2010, segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, existiam em Portugal 445
262 imigrantes, mais concentrados nos distritos de Lisboa, Faro e Setúbal, sendo apenas
na área de Lisboa cerca de 189 220. Os países de origem com maior representação são
(por ordem decrescente): Brasil, Ucrânia, Cabo Verde, Roménia, Angola, Guiné-bissau,
22
Reino Unido, China, Moldávia e S. Tomé e Príncipe. O grupo etário predominante são
adultos em idade activa (20-39 anos), em que o sexo masculino é 2% mais numeroso do
que o sexo feminino. A percentagem de jovens entre os 0 e 14 anos é de 10,2% da
população estrangeira (SEF, 2010).
O conceito de estrangeiro residente em Portugal define-se como sendo todos os
estrangeiros detentores de título de residência (Lei nº23/2007 de 4 de Julho) e
estrangeiros a quem foi prorrogada a permanência de longa duração (pelo menos 1 ano)
(SEF, 2010). Este residente estrangeiro é considerado um imigrante de primeira geração
e os seus filhos e netos, imigrantes de segunda e terceira geração, respectivamente
(IOM/ACIDI, 2007).
As políticas portuguesas de imigração assentam em quatro grandes pilares: a regulação
dos fluxos migratórios, a promoção da imigração legal, a luta contra a imigração ilegal e
a integração dos imigrantes. Estas são implementadas e monitorizadas pelo Ministério
da Administração Interna. A sua regulamentação é feita com base em leis e decretos dos
quais se destacam: a Lei 23/2007 de 4 de Julho – Lei de Estrangeiros e o II Plano para a
integração dos imigrantes aprovado em Conselho de Ministros nº74/2010 e que visa a
integração dos imigrantes no que diz respeito às áreas da cultura e língua, emprego e
formação e habitação (SEF, 2008).
Para aceder a informações relativas à população de estrangeiros residentes, é possível
fazê-lo através do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) que desde 2007 possui um
sistema de informação (SIISEF) que constitui uma fonte de informação, actualizada
anualmente, sobre a população de estrangeiros. O Instituto Nacional de Estatística (INE)
tem as informações resultantes dos recenseamentos, que apesar de serem muito
completas, realizam-se de 10 em 10 anos.
23
1. 4.2 Determinantes de Saúde Oral dos imigrantes
Os migrantes são um dos grupos populacionais com maior vulnerabilidade aos
problemas de saúde, devido ao impacto das diferenças ambientais e sociais, da cultura e
hábitos, da barreira linguística, das diferenças dos sistemas de saúde, da dificuldade de
acesso à informação e aos serviços, entre outros factores (IOM/ACIDI, 2007).
O nível de saúde oral reflecte diferenças na disponibilidade do acesso e aceitabilidade
dos cuidados. As desigualdades sociais afectam várias áreas da saúde e por conseguinte,
a saúde oral também é influenciada por efeitos adversos (Hobdell et al., 2002).
Os imigrantes ao chegarem a uma nova sociedade ficam expostos a um processo de
aculturação. A aculturação é um fenómeno que ocorre quando dois grupos de
indivíduos, com diferentes culturas, entram em contacto, com consequentes alterações
dos padrões culturais de origem de um ou dos dois grupos. É um processo contínuo,
bidireccional e recíproco, não estando limitado aos grupos minoritários (Gao e
McGrath, 2011). A aculturação é um processo intimamente ligado aos comportamentos
de saúde e ao estado de saúde dos imigrantes (Chakraborty, 2010).
Numa revisão sistemática realizada por Gao e McGrath (2011) verifica-se que uma
aculturação parcial do indivíduo, que está alienado da sua cultura tradicional, mas que
ainda não está integrado na cultura dominante, torna-o mais susceptível ao
aparecimento de doenças. No que diz respeito à saúde oral, existe uma enorme escassez
de informação acerca do impacto da aculturação nos comportamentos ligados à saúde
oral, o que dificulta a elaboração de estratégias adequadas nesta área.
As investigações na área da saúde oral nos imigrantes revelam dificuldades e barreiras
no relacionamento entre profissionais e pacientes com outras culturas. Os conceitos de
saúde oral, práticas de higiene oral, reacção à dor, hábitos alimentares e a utilização dos
serviços de saúde oral são influenciados pela cultura. Estes factores devem ser tidos em
conta aquando da elaboração de programas de promoção e prestação de serviços em
saúde oral. O isolamento cultural, a falta de comunicação e as dificuldades da língua
dificultam o acesso à informação e aos serviços (Adair et al., 2004; Selikowitz, 1994).
24
Num estudo realizado nos USA com 1417 indivíduos entre os 18 e 65 anos, oriundos da
Ásia e América Central foi aplicado o questionário “Andersen Behavioral Modelo of
Health Services Use”. Este modelo, elaborado por Andersen e Davidson em 1997
sugere que o acesso e utilização dos serviços de saúde oral podem ser explicados por
uma serie de variáveis que representam o indivíduo e a sua predisposição para procurar
os cuidados de saúde, nomeadamente os factores predisponentes (factores
socioeconómicos, crenças, condição biológica e social, possível necessidade de
utilização e a probabilidade de utilizar os serviços de saúde), factores favoráveis
(rendimentos, nível educacional, seguro de saúde e fonte de cuidados), factores de
necessidade (necessidade auto-percebida ou indicada pelo prestador) e factores ligados à
imigração (local de nascimento, anos de permanência, preferência linguística e idade na
altura da imigração). Os resultados revelaram que a necessidade auto percebida é
fortemente influenciada pela cultura e que o idioma mais utilizado é o de origem,
sublinhando a barreira da comunicação. Neste estudo, apesar de 70% considerar que
tem uma saúde oral média ou abaixo da média, apenas 30% visitou um profissional de
saúde oral no ano anterior (Cruz et al., 2010).
Outro estudo realizado em Nova Iorque com 1318 imigrantes de vários países, verificou
que o país de origem tem um papel fundamental na experiência de saúde oral, tendo
encontrado variações significativas nos níveis de doença e necessidade de tratamento
oral de acordo com a nacionalidade. O país de origem determina o background cultural
dos imigrantes, pois estes trazem para o país de acolhimento, comportamentos, hábitos
alimentares, valores e atitudes particulares, que acrescidos da sua exposição ao
ambiente e factores socioeconómicos diferentes, influenciam a sua saúde oral. Também
as diferenças biológicas entre os diversos grupos populacionais, nomeadamente, a
morfologia dentária e a microflora oral, podem influenciar a susceptibilidade dos
imigrantes às doenças orais (Cruz et al., 2009).
Hiramatsu e col.(2006) realizaram um estudo no Brasil com dois grupos de imigrantes
japoneses de primeira e segunda geração. Verificaram que a aculturação atinge ambos
os grupos, com mais intensidade nos de segunda geração, no entanto esse factor não
demonstrou influenciar a auto-percepção de saúde oral.
25
1.4.3 Acesso aos cuidados de saúde dos imigrantes em Portugal
O acesso aos sistemas de saúde e os resultados em saúde são indicadores da integração
dos imigrantes. A igualdade de acesso aos serviços de saúde é um dos domínios da
equidade em saúde, a par da igualdade de: utilização dos serviços, saúde e distribuição
de recursos e serviços de acordo com as necessidades de saúde (Culyer e Wagstaff,
1993).
A saúde é um dos motores do desenvolvimento económico e os imigrantes assumem um
papel cada vez mais relevante no mercado de trabalho (Fonseca et al., 2007).
O crescente papel dos imigrantes na sociedade portuguesa fez emergir a necessidade de
criar medidas políticas concretas no sentido de promover o acolhimento e integração
dos imigrantes. Neste seguimento, em 2007 é publicado, em Portugal, o Plano para a
Integração dos Imigrantes (Diário da República, Resolução de Conselho de Ministros
nº63- A/2007). Este plano define estratégias de integração a vários níveis, entre eles a
saúde. Neste âmbito são estabelecidos vários objectivos, dos quais se destacam:
promover a realização de sessões de formação e esclarecimento acerca do Sistema
Nacional de Saúde (serviços e como utilizá-los); promover o acesso dos imigrantes aos
serviços de saúde (incentivo à utilização dos serviços de saúde primários); garantir o
acesso à saúde de cidadãos estrangeiros em situação irregular, com a possibilidade de
integrar o SNS mediante documento emitido pelo ACIDI, IP em alternativa ao atestado
de residência passado pelas Juntas de Freguesia; implementar um plano de formação
para a interculturalidade dos profissionais do SNS, entre outros (Diário da República,
2007).
A Lei de Bases da Saúde determina que são beneficiários do Serviço Nacional de Saúde
todos os cidadãos portugueses, cidadãos nacionais de Estados membros da EU, do
Espaço Económico Europeu e da Suíça, bem como os cidadãos estrangeiros residentes
em Portugal (Lei nº48/90, 24 Agosto,D.R. I série).
Em 2009 a Direcção Geral de Saúde publica uma circular informativa onde clarifica os
procedimentos relacionados com o acesso dos cidadãos estrangeiros ao SNS. São
considerados imigrantes os cidadãos estrangeiros nacionais de países não pertencentes
26
ao Espaço Europeu ou Espaço Económico Europeu e Suíça, e que residam no território
nacional de acordo com a legislação da imigração. Os imigrantes que sejam titulares de
autorização de residência podem inscrever-se no SNS e usufruir de todos os serviços
disponibilizados pelo sistema.
Os cidadãos estrangeiros menores de 16 anos que se encontrem em território nacional e
não estejam legalizados, ao abrigo do Decreto-Lei nº 67/2004 de 25 de Março, têm
acesso aos cuidados de saúde prestados pelo SNS. Este decreto permitiu criar um
registo nacional de menores estrangeiros que se encontrem em situação irregular,
possibilitando o acesso destas crianças aos cuidados de saúde e à educação pré-escolar e
escolar.
Num trabalho realizado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, IP acerca
da Saúde dos Imigrantes com base nos resultados do Inquérito Nacional de Saúde 2005-
2006, foi possível aferir que de uma forma geral os imigrantes apresentam indicadores
de estado de saúde mais favoráveis do que os portugueses, 85 % dos imigrantes estão
inscritos no SNS comparativamente aos 79,9% dos portugueses, e são também mais os
imigrantes que têm seguro de saúde (Dias et al., 2008).
No que diz respeito aos determinantes de saúde, verificou-se que mais portugueses
referiram restrições alimentares por dificuldade económica do que imigrantes. O
consumo de tabaco e de cerveja é maior nos imigrantes, o consumo de vinho é maior
nos portugueses (Dias et al., 2008).
Num estudo realizado numa comunidade migrante na área da grande Lisboa verificou-
se um nível de escolaridade relativamente alto entre os inquiridos. Destes, 73%
afirmaram já ter ido pelo menos uma vez ao hospital e 53% ao centro de saúde. Os
resultados deste estudo demonstram que o número de anos vividos em Portugal e a
situação de legalidade condicionam a utilização dos serviços (Gonçalves et al., 2003).
Dias e colegas (2008) realizaram um estudo, também na área de Lisboa, que tinha como
objectivo descrever o acesso dos migrantes aos cuidados de saúde e seus determinantes.
A amostra foi composta por 1513 imigrantes dos quais 53% eram homens. Verificou-se
que 3,6% dos inquiridos não sabiam onde se dirigir em caso de doença, 20% nunca
usaram o SNS, e dos que já tinham utilizado, 35,6% foram ao centro de saúde, 12% ao
27
hospital e 54,4% a ambos. Os autores encontraram uma associação entre a utilização
dos serviços de saúde pelos imigrantes homens e a duração da estadia, a condição legal
e o país de origem. Relativamente às mulheres imigrantes apenas encontraram essa
associação com a duração da estadia e o país de origem. Na utilização dos serviços são
as mulheres que mais utilizam e no que diz respeito à satisfação, são os imigrantes de
Leste que se manifestam mais insatisfeitos (Dias, Severo e Barros, 2008).
• Barreiras no acesso aos cuidados de saúde dos imigrantes em Portugal
A análise das questões relacionadas com o acesso à saúde e aos serviços de saúde obriga
a uma abordagem multifactorial. São várias as condicionantes do acesso e utilização dos
cuidados de saúde. Estas podem ser agrupadas em 2 grupos: por um lado, os factores
ligados à oferta e por outro, os factores ligados à procura. Do lado da oferta estão as
características dos serviços, ou seja, as especificidades do sistema de saúde,
nomeadamente a disponibilidade de oferta de profissionais e serviços, o pagamento das
taxas moderadoras, localização geográfica, horário de atendimento, entre outros. É de
salientar a importância das características dos profissionais de saúde relativamente ao
género, idade, formação, experiência, personalidade, religião e etnia, pois estes factores
influenciam a qualidade e assertividade do serviço prestado. Os profissionais de saúde
revelam muitas vezes desconhecimento acerca dos direitos dos imigrantes e da
diversidade cultural. (Fonseca et al., 2007). Do lado da procura estão os factores
relacionados com o indivíduo, que podem ser divididos em características imutáveis, ou
seja, que não são controladas por políticas de saúde (género, idade, cultura e
nacionalidade) e características mutáveis (que podem ser manipuladas) nomeadamente
o rendimento, escolaridade, área de residência e actividade profissional (Andersen,
1995; Andrade, 2008).
A condição de imigrante, em resultado da sua situação legal, do desconhecimento
acerca do funcionamento dos serviços de saúde, das dificuldades linguísticas e de
atitudes discriminatórias por parte dos profissionais, coloca este grupo numa posição de
desvantagem no acesso aos cuidados de saúde (Fonseca et al., 2007).
28
Um estudo feito em Portugal com migrantes, revela que as barreiras culturais e
linguísticas entre profissionais e utentes determinam a utilização diferencial dos
serviços hospitalares em detrimento dos cuidados de saúde primários, uma vez que os
cuidados nos centros de saúde são mais normalizados e burocratizados, enquanto que o
serviço hospitalar está mais centrado no atendimento médico urgente,
independentemente do estatuto legal do utente. Também se verificou que os factores
étnicos podem condicionar a necessidade percebida de aceder aos serviços, enfatizando
a importância dos hábitos tradicionais e crenças de saúde de cada comunidade
(Gonçalves et al.,2003).
1.4.3.1 Acesso aos cuidados de saúde oral dos imigrantes em Portugal
Em Portugal os cuidados de saúde oral, à excepção dos grupos abrangidos pelo PNPSO,
são prestados, quase exclusivamente, por profissionais do sector privado. Os pacientes
pagam a totalidade dos tratamentos podendo ser reembolsados através de seguros ou
subsistemas de saúde (Almeida et al., 2003).
Num dos poucos estudos realizados em Portugal sobre o acesso aos cuidados de saúde
oral e nível de saúde oral nas comunidades imigrantes africana e brasileira, foram
realizadas 4243 entrevistas e 200 observações da cavidade oral, a indivíduos dos 6 aos
74 anos, verificando-se que apenas 31,7% realizaram consulta de saúde oral nos 12
meses anteriores. As principais razões da consulta foram higiene oral (25,1%),
extracção dentária (21,5%) e dores (14,1%). As principais razões por não terem ido a
consulta de saúde oral foram a não necessidade (63,3%) e ser muito caro (24,5%). O
cpo’d encontrado aos 6 anos foi de 2,5. Este estudo revela que os imigrantes apresentam
indicadores de estado de saúde oral desfavoráveis comparativamente à população
portuguesa, especialmente ao nível periodontal. Neste estudo destaca-se a importante
influência do baixo nível socioeconómico na adopção de estilos de vida menos
saudáveis e no baixo acesso aos cuidados de saúde oral, principalmente pela natureza
privada dos serviços de saúde oral. Segundo a autora, o acesso aos cuidados de saúde
oral é baixo e pouco regular nas comunidades estudadas (Abukumail, 2009).
29
1.4.4 Imigração no concelho de Sintra
Conforme os resultados provisórios do XV Recenseamento Geral da População, o
concelho de Sintra mantém-se como o segundo município mais populoso de Portugal,
com um total de 377 249 habitantes, representando cerca de 3,6% da população total de
Portugal (10 555 853 habitantes) e 26,7 % da população da área metropolitana de
Lisboa (2 815 851 habitantes) (Plácido, 2011). Os resultados dos censos de 2001
revelam que a população do concelho de Sintra era de 363 749 habitantes, sendo que 23
470 são de nacionalidade estrangeira, o que corresponde a 6,5% da população (INE,
2001). De acordo com os resultados provisórios dos Censos 2011, a população residente
na cidade do Cacém é de 79 805 habitantes, distribuídos pelas 4 freguesias: Agualva,
Cacém, Mira-Sintra e S. Marcos. A faixa etária dos 0 aos 14 é representada por 14 361
rapazes e raparigas. Nas habilitações literárias desta população predomina o ensino
básico (os 3 ciclos), 8,4% tem o ensino superior, 17,4% tem o ensino secundário e, de
destacar que 17% não tem nenhum nível de ensino (INE,2011) (Anexo I).
Segundo o INE, em 2010 a população estrangeira com estatuto legal de residente no
concelho de Sintra era de 37 133, sendo que a comunidade brasileira é a mais numerosa
(8 217), seguida dos oriundos de Cabo Verde, Angola, Guiné-Bissau, Roménia,
Ucrânia, São Tomé e Príncipe, Moldávia, China e Reino Unido (INE, 2011).
O Cacém é uma das zonas da linha de Sintra onde há maior concentração de imigrantes,
7,6% da população residente (INE, 2001). Estes cidadãos confrontam-se com muitas
dificuldades, nomeadamente precariedade no emprego, dificuldades de acesso a
serviços e entidades estatais. As suas fracas qualificações profissionais e escolares
levam, muitas vezes, a situações de pobreza enraizada que acabam por se reproduzir ao
longo das gerações, aumentando a vulnerabilidade deste grupo aos problemas de saúde
em geral, e de saúde oral em particular (Emilio, 2008).
30
2 - OBJECTIVOS DO ESTUDO
Objectivo Geral:
Descrever o estado de saúde oral relativamente à cárie dentária em crianças dos 3 aos
5anos, filhas de portugueses e de imigrantes, a frequentar escolas do Cacém no
Concelho de Sintra
Objectivos Específicos:
1) Avaliar a prevalência e experiência de cárie dentária nas crianças
2) Analisar a relação entre factores sócio demográficos, tais como, sexo, origem,
ordem de nascimento, nível de educação dos pais, duração de estadia em
Portugal e o índice de cpo’d das crianças
3) Caracterizar os hábitos de higiene oral das crianças
4) Caracterizar a utilização de consultas de saúde oral
5) Avaliar a relação entre factores sociodemográficos, tais como, sexo, origem,
ordem de nascimento, nível de educação dos pais, duração de estadia em
Portugal e a utilização dos serviços de saúde oral
31
3- MATERIAL E MÉTODOS
3.1.População e amostra do estudo
A Rede Nacional de Educação Pré-Escolar integra 2 redes complementares, a pública e
a privada. A privada integra os jardins-de-infância que funcionam em estabelecimentos
de ensino particular e cooperativo, e em IPSS (Instituição Particular de Solidariedade
Social). Em 1998 foi celebrado um Protocolo de Cooperação em que o Estado se
compromete a apoiar financeiramente o funcionamento dos estabelecimentos de
educação pré-escolar das instituições, permitindo o acesso ao ensino pré-escolar a todas
as crianças, independentemente do nível socioeconómico das famílias (IGE, 2005).
A população alvo deste estudo são 530 crianças dos 3 aos 5 anos a frequentar os jardins-
de-infância das IPSS da área geográfica do Cacém. O PNPSO nesta zona abrange 6
destas instituições.
Optou-se pelos jardins-de-infância das IPSS porque, ao contrário dos jardins-de-
infância da rede pública que têm crianças maioritariamente com 5 anos, estes integram
as crianças entre os 3 e 5 anos, aumentando a diversidade dos grupos etários.
Para a escolha das 3 instituições a integrar o estudo, foi utilizada uma técnica de
amostragem aleatória simples (Fortin, 2003). As 6 instituições abrangidas pelo PNPSO
foram identificadas e numeradas em pequenos papeis que foram colocados numa urna,
de seguida foram misturados e retiraram-se 3: O Centro Social e Paroquial do Cacém, o
Centro Social e Paroquial da Agualva - Seminário e o Jardim de Infância Popular.
Assim, a amostra deste estudo é composta por todas as crianças, com idades
compreendidas entre os 3 e 5 anos, que se encontravam a frequentar os jardins-de-
infância das 3 IPSS selecionadas durante o período em que decorreu o estudo e, cujos
pais aceitaram participar, assinando o consentimento informado, e que preencheram o
questionário “Nível de Saúde Oral das crianças entre os 3 e 5 anos da população
portuguesa e comunidades imigrantes”.
32
Como critérios de inclusão foram considerados as crianças com rastreio dentário
realizado, questionário preenchido (Anexo II) e consentimento informado assinado
(Anexo III).
3.2 Tipo de estudo
Este é um estudo observacional e transversal (Porta, Greenland e Last,2008).
O método de abordagem utilizado foi o quantitativo
3.3 Instrumentos de recolha utilizados
Os dados foram recolhidos através da ficha individual de rastreio dentário efectuado no
âmbito das actividades do PNPSO e através do questionário preenchido pelos pais.
• Ficha individual de rastreio dentário
No âmbito do PNPSO foram realizados rastreios dentários na instituição de ensino, com
a prévia autorização dos pais, nos meses de Dezembro de 2010 e Janeiro de 2011, tendo
como objectivos determinar o risco à cárie dentária, informar os pais do estado de saúde
oral dos filhos e encaminhar para consultas de especialidade, caso necessário. A
avaliação do estado dentário foi feita segundo os critérios da OMS (WHO, 1997) e
registada em ficha concebida para o efeito (Anexo IV).
Não foi realizada avaliação do estado periodontal e índices de placa bacteriana uma vez
que o rastreio dentário foi realizado anteriormente à elaboração deste trabalho, no
âmbito do PNPSO que não obriga à recolha destes dados.
33
• Questionário
O questionário foi elaborado tendo como base as questões contidas no 4ºInquérito
Nacional de Saúde 2005/2006, relacionadas não só à área da saúde oral mas também às
características sociodemográficas. Sendo assim, as questões contemplaram dados sobre:
sexo, idade, número de filhos do agregado familiar, nacionalidade dos pais e da criança,
anos de residência em Portugal, nível de literacia dos pais, se já foi a uma consulta de
saúde oral, quais as razões para ter ido à consulta ou não, e a frequência da escovagem
dentária.
Não foi realizado um pré teste do questionário, uma vez que este já tinha sido validado
aquando da aplicação do 4ºINS e no âmbito da elaboração de uma tese de mestrado que
integrou este inquérito (Abukumail, 2009).
Os questionários foram preenchidos pelos pais, na escola, com o auxílio das educadoras.
Posteriormente foram anexados ao questionário os dados clínicos resultantes do rastreio.
3.4 Considerações éticas
A participação foi voluntária, os dados recolhidos são estritamente confidenciais, os
resultados em nenhuma altura terão identificação dos participantes, sendo utilizados
apenas para fins académicos e de investigação. Os pais foram informados que seriam
livres para deixar de participar no estudo em qualquer fase da investigação.
Para a obtenção das informações necessárias à realização do estudo, foram obtidas
autorizações: da Directora Executiva, da Presidente do Conselho Clínico e da
Coordenadora da URAP do ACES X Cacém/Queluz para a utilização dos dados dos
rastreios dentários; das direcções de cada instituição de ensino para a aplicação do
questionário aos pais e, dos pais de cada criança.
Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética do Instituto de Higiene e Medicina
Tropical da Universidade Nova de Lisboa.
34
3.5 Descrição das variáveis
Considera-se como variável dependente (variável de interesse) o índice de cpo’d
(WHO, 2003) das crianças do estudo e como variáveis independentes as variáveis
obtidas pelo questionário, nomeadamente, sexo, nº filhos do agregado familiar, ordem
de nascimento da criança, naturalidade da criança, naturalidade dos pais, tempo de
residência em Portugal, literacia dos pais, acesso a cuidados de saúde oral e hábitos de
escovagem dentária.
a) Variáveis obtidas pelo questionário
Caracterização sociodemográfica
• Sexo
É uma variável nominal, sendo masculino ou feminino.
• Grupo etário
Com base nas datas de nascimento das crianças foi criada uma variável ordinal com 3
categorias: 3, 4 e 5 anos.
• Número de filhos do agregado familiar
Foi criada uma variável ordinal com 5 categorias: 1 filho, 2 filhos, 3 filhos, 4 filhos e 5 filhos.
• Ordem de nascimento
Corresponde à ordem de nascimento da criança abrangida pelo estudo, dentro do
agregado familiar. Foi criada uma variável ordinal com 5 categorias: 1ºfilho, 2º filho, 3º
filho, 4ºfilho e 5º filho.
• Naturalidade da criança, do pai e da mãe
De acordo com a naturalidade e com base nas informações contidas no questionário,
foram criadas 2 variáveis:
35
- Uma variável nominal com 5 categorias: Portugueses, Africanos, Brasileiros, Leste da
Europa e Outros
- Uma variável dicotómica: português / imigrante
• Anos de residência em Portugal
A pergunta correspondente a esta variável só era colocada aos pais que na pergunta
anterior tivessem respondido não ter nacionalidade portuguesa. Foi criada uma variável
ordinal com 3 categorias: entre 0 e 4 anos; entre 5 e 9 anos e 10 ou mais anos.
• Nível de ensino
Com base nas informações contidas no questionário, foram criadas duas variáveis:
- Uma variável dicotómica: sabe ler/ não sabe ler
- Uma variável ordinal com 4 categorias: nenhum, básico, secundário e superior. O
ensino básico engloba o 1º, 2º e 3º ciclo, o secundário engloba o 10º, 11º e 12º ano de
escolaridade e o superior refere-se a bacharelato, licenciatura, mestrado e doutoramento.
Variáveis de Saúde Oral
• Consulta de saúde oral
Foi criada uma variável dicotómica sobre se a criança já foi a uma consulta de saúde
oral: Sim ou não.
• Principal razão da consulta de saúde oral
Esta questão é respondida pelos participantes que responderam afirmativamente à
pergunta anterior. É uma variável nominal com 5 categorias: 1) Porque estava com
dores ou outra situação de urgência, 2) Para extrair um dente, 3) Porque queria conhecer
o estado de saúde da boca, 4) Para fazer uma higienização (“limpeza”) da boca, 5) Outra
razão.
36
• Principal razão da não consulta de saúde oral
Esta questão é respondida pelos participantes que responderam não à pergunta anterior.
É uma variável nominal com 6 categorias: 1) Porque não precisou, 2) Porque não há
dentista na localidade onde mora, 3) Porque é difícil marcar consulta, 4) Porque é muito
caro, 5) Por ter medo de tratamentos dentários, 6) Outra razão.
• Hábitos de escovagem
Pretende avaliar os hábitos de escovagem da criança. É uma variável ordinal com 2
categorias: “Nunca” ou “às vezes “ e “todos os dias”.
• Frequência da escovagem
Esta variável permite identificar o período em que a escovagem é realizada durante o
dia. É uma variável ordinal com 4 categorias: ao pequeno-almoço, ao almoço, ao jantar
e antes de deitar.
b) Variáveis obtidas pela ficha de rastreio dentário
• Índice de cpo’d
Com as informações recolhidas no rastreio foi contabilizado o índice de cpo’d. Este
índice pode ser calculado individualmente, fazendo o somatório dos dentes cariados,
perdidos e obturados e dividindo pelo número de dentes presentes na boca da criança ou
índice de grupo, fazendo o somatório dos dentes cariados, perdidos e obturados de todas
as crianças observadas e dividindo pelo número de crianças. O cpo’d refere-se apenas
aos dentes deciduais (temporários). É uma variável numérica criada tendo como base os
critérios de diagnóstico do estado dentário observados durante a observação intra oral.
Esta variável permite avaliar a prevalência de cárie dentária (cpo diferente zero) e a
gravidade da cárie (média de cpo). Para possibilitar a aplicação de alguns testes
estatísticos, foi criada uma variável denominada “cpo’d categorizado” com duas
categorias: se cpo´d igual a zero “Ter saúde oral” e se cpo’d diferente de zero “Não tem
saúde oral”.
37
Tabela 1: Critérios de Diagnóstico de Cárie Dentária, segundo a OMS (1997)
Código decíduo
Código permanente
Estado Descrição
A 0 São
- Dente sem cárie cavitada ou não - Estadios de cárie que precedem a cavitação
(manchas brancas) - Superfícies, fossas ou fissuras (escuras, duras
e com depressões) - Superfícies com sinais de fluorose -Superfícies com sinais de abrasão ou atricção - Lesões duvidosas quanto à existência de cárie
B 1 Cariado
- Cavidade indubitável, esmalte não suportado, fundo ou paredes amolecidas
- Obturação provisória - Selante de fissura com cárie
C 2 Rest/com cárie - Presença de uma ou mais restaurações com
uma ou mais cáries primárias ou secundárias
D 3 Rest/sem cárie
- Presença de uma ou mais obturações sem cárie
- Coroa restaurada com prótese fixa, colocada devido a cárie
E 4 Extraído por
cárie
- Nos dentes decíduos ausentes este código é registado quando a idade da criança exclui a ausência do dente devido a esfoliação normal
- 5 Ausente por outra razão
- Dentes ausentes por razões que não sejam a cárie: extraídos por ortodontia, ausências congénitas, avulsão, doença periodontal
F 6 Selante fissura - Dentes selados com cárie devem receber o
código B ou 1
G 7 Pilar de ponte
ou coroa
- Nos dentes que servem como pilares de pontes, apresentam coroas fixas ou facetas não colocadas por cárie
- Os dentes substituídos pelo pôntico recebem o código 4 ou 5
- 8 Não
erupcionado - Código atribuído quando o dente decíduo já
esfoliou mas o definitivo não erupcionou
T T Trauma
(fractura) - Perda de superfície dentária por trauma,
restauradas ou não e sem sinais de cárie
- 9 Não registado
- Quando o dente definitivo não pode ser avaliado por alguma razão (bandas ortodônticas, hipoplasia grave, etc)
38
3.6 Análise dos dados
Foi criada uma base de dados no programa Microsoft Office Excel 2007, onde foram
inseridos os dados resultantes do questionário e da ficha de rastreio dentário.
Posteriormente estes dados foram exportados para o programa IBM SPSS Statistics 19.
Foi feita a análise de estatística descritiva, sendo calculadas as frequências, médias e
desvio padrão. Para aferir a associação entre as variáveis explicativas e a variável de
interesse foi utilizado o teste do Qui-Quadrado de Person (através de análises
bivariadas) e o teste t de Student na comparação de médias em amostras independentes.
Foi também estimado o modelo de regressão logística, assim como os respectivos odds-
ratio.
O nível de significância estatístico foi de 5%.
4- RESULTADOS
Os resultados foram obtidos através
pelos pais e da ficha individual de rastreio dentário efectuado às crianças da amostra
Foram entregues 320 questionários
uma taxa de adesão de 57%
4.1 Resultados obtidos
4.1.1 Caracterização sócio demográfica
• Sexo
A amostra é composta por 85 crianças do sexo feminino
masculino (53,6%) (Figura 2
Figura 2. Distribuição das crianças estudadas de acordo com o sexo.
53,60%
foram obtidos através da análise dos dados do questionário preenchido
pelos pais e da ficha individual de rastreio dentário efectuado às crianças da amostra
Foram entregues 320 questionários tendo sido preenchidos 183, o que corresponde a
uma taxa de adesão de 57%.
no questionário
1.1 Caracterização sócio demográfica
A amostra é composta por 85 crianças do sexo feminino (46,4%) e por
(53,6%) (Figura 2).
. Distribuição das crianças estudadas de acordo com o sexo.
46,40%
53,60% feminino
masculino
39
s dados do questionário preenchido
pelos pais e da ficha individual de rastreio dentário efectuado às crianças da amostra.
preenchidos 183, o que corresponde a
por 98 do sexo
. Distribuição das crianças estudadas de acordo com o sexo.
feminino
masculino
40
• Grupo etário
As crianças foram agrupadas em três grupos etários, sendo o grupo dos 4 anos o
mais representado (42,1%), seguido do grupo dos 5 anos e por fim o grupo dos 3
anos (Tabela 2).
Tabela 2. Distribuição etária das crianças estudadas
Grupo Etário N %
3 anos 50 27,3
4 anos 77 42,1
5 anos 56 30,6
Total 183 100,0
• Número de filhos do agregado familiar
As famílias com 2 filhos são as mais representadas (45,4%), seguidas das famílias
com apenas 1 filho (38,1%) (Tabela 3).
Tabela 3. Número de filhos nas famílias estudadas
Nº de Filhos N %
1 71 38,8
2 83 45,4
3 19 10,4
4 8 4,4
5 2 0,5
Total 183 100,0
41
• Ordem de nascimento
Na tabela 4 é apresentada a distribuição das crianças estudadas, de acordo com a sua
ordem de nascimento, verificando-se que mais de metade das crianças estudadas era
o primeiro filho.
Tabela 4. Ordem de nascimento das crianças estudadas
Ordem de Nascimento N %
1 100 54,6
2 66 36,1
3 10 5,5
4 5 2,7
5 1 0,5
Total 182 100,0
• Naturalidade dos pais
Na tabela 5 é apresentada a situação dos pais de acordo com a sua origem. Observamos
que existe uma predominância dos pais de origem portuguesa relativamente aos que se
encontram na situação de imigrantes. As mães e os pais imigrantes são em número
semelhante, embora com uma ligeira vantagem das mães.
42
Tabela 5. Situação dos pais, de acordo com a sua naturalidade
Origem Pai Mãe
N % N %
Português 117 63,9 113 61,7
Imigrante 66 36,1 70 38,3
Total 183 100,0 183 100,0
Relativamente à origem do pai, 36,1% é de origem imigrante. Depois da nacionalidade
portuguesa, seguem-se os cidadãos dos PALOP com maior representação, oriundos de
Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Guiné Bissau (Figura 3; Anexo V)
Figura 3. Distribuição do pai de acordo com a naturalidade
43
As mães de origem imigrante são, em número, ligeiramente maior do que os pais, 70
mães de origem imigrante para 66 pais. As nacionalidades são muito semelhantes às dos
pais, com destaque para um maior número de mães de origem brasileira (Figura 4;
Anexo V)
Figura 4. Distribuição da mãe de acordo com a naturalidade
• Naturalidade da criança
A grande maioria das crianças (178) tem nacionalidade e naturalidade portuguesa, o que
corresponde a 97,3% da amostra total.
• Anos de residência em Portugal
Estes resultados revelam que os pais imigrantes que estão em Portugal há mais de 10
anos são os que estão em maior percentagem, comparativamente aos que estão há
menos tempo (Figura 5).
44
Figura 5. Distribuição dos pais imigrantes de acordo com os anos de residência
• Nível de ensino do pai
O grupo mais representativo é o que tem o ensino secundário (50,3%), seguido do que
tem o ensino superior (25,1%) e por fim o ensino básico (22,4%) (Figura 6). Analisando
o nível de ensino e a nacionalidade do pai, são os pais portugueses que, dentro do grupo
que tem ensino superior, os mais representativos com 60,9%, seguidos dos africanos
com 23,9%. Os pais oriundos do Leste da Europa representam 8,7% e os brasileiros
2,2%.
Figura 6- Distribuição
do nível de ensino do pai
de acordo com a
naturalidade
45
• Nível de ensino da mãe
No caso das mães também é o ensino secundário o nível de escolaridade mais frequente
(50,3%), 18% tem o ensino básico e 29,5% o ensino superior. Dentro do grupo que tem
um nível de ensino superior, à semelhança com os pais, também são as mães
portuguesas que têm maior percentagem (64,8%), enquanto entre as mães africanas se
verifica que 14,8% têm este nível de ensino, frequência idêntica apresentam as mães
oriundas da Europa de Leste e nenhuma mãe brasileira com este nível de ensino (Figura
7)
Figura 7. Distribuição do nível de ensino da mãe de acordo com a naturalidade
A pergunta onde se questiona se os pais sabiam ler e escrever mostrou-se desadequada a
esta população, uma vez que se verificou que todos os pais frequentaram pelo menos o
ensino básico.
46
4.1.2 Caracterização dos indicadores de saúde oral
4.1.2.1 Acesso aos cuidados de saúde oral
• Consulta de saúde oral
Os pais de 48,6% da amostra referem que o (a) filho (a) já foi a uma consulta de saúde oral, e igual percentagem nunca foi a uma consulta desta especialidade.
• Razão da ida à consulta de saúde oral
Os motivos que levaram 48,6% das crianças a uma consulta de saúde oral foram:
30,6% para uma consulta de controlo, 5,5% para fazer uma limpeza dentária, 4,9% por
dores, 2,7% para extracção dentária.
• Razão da não ida à consulta de saúde oral
Os motivos referidos para que 48,6% das crianças ainda não tivessem ido a uma
consulta de saúde oral foram:
43,7% diz que não precisou, 1,1% diz ser caro e ninguém (0%) assinalou as opções
“não há dentista”, “é difícil marcar consulta” e “por medo”
4.1.2.2 Análise de conteúdo das perguntas abertas
O questionário integra duas respostas abertas relativas à razão porque a criança foi ou
não foi à consulta de saúde oral, caso a resposta não esteja nas opções apresentadas.
Sendo assim, para a pergunta sobre a razão pela qual a criança foi à consulta de saúde
oral, 7 pais responderam que foi para tratamento de cáries, 1 respondeu que foi devido a
traumatismo dentário, 1 devido a alterações de posicionamento dentário e outro para
fazer aplicação de selantes.
47
Para a pergunta que se refere à razão da criança nunca ter ido a uma consulta de saúde
oral, 2 pais responderam que não foi possível, 1 respondeu que a criança é seguida por
um oncologista, 2 responderam que nunca foi porque é realizado o rastreio anual na
escola, 1 refere que não é prioritário e outro por incompatibilidade de horário.
4.1.2.3 Hábitos de escovagem
Globalmente 89% das crianças da amostra escovam os dentes diariamente (Figura 8).
No grupo das raparigas 93,9% escova os dentes diariamente e 89,6% dos rapazes
também realizam a escovagem todos os dias.
Figura 8. Hábitos da escovagem de acordo com o sexo
• Frequência da escovagem
Relativamente aos momentos do dia em que é realizada a escovagem, 74,9% das
crianças escovam os dentes ao pequeno-almoço, 2,7% escovam ao almoço, 19,1%
escovam ao jantar e 81,4% escovam ao deitar.
48
4.2 Resultados obtidos através da ficha de rastreio
• Índice de cpo’d
Analisando os valores individuais da variável relativa ao índice de cpo’d, , sem recorrer
a categorização, verifica-se que o cpo’d de grupo é de 0,7. A variável cpo’d individual
tem uma média de 0,4, com um desvio padrão de 0,83. Foram observados 3629 dentes e
registados 102 cariados, 25 obturados e 2 dentes perdidos. A prevalência de cárie na
dentição decídua encontrada nesta amostra foi de 46 (25,1%) (Tabela 6)
Tabela 6. Prevalência de cárie dentária, cpo’d e seus componentes nas crianças dos 3 aos 5 anos
N Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
Cariados 183 0 8 ,56 1,377
Perdidos 183 0 1 ,01 ,104
Obturados 183 0 7 ,14 ,754
cpo'd individual 183 ,00 ,45 ,0359 ,08303
Prevalência de cárie 46 (25,1%) - - - -
4.3 Análise da relação entre factores sociodemográficos e o cpo’d
• cpo’d , sexo e idade
Relativamente ao sexo, e recorrendo à variável cpo’d categorizada (cpo’d= 0 “tem
saúde oral”; cpo’d ≠0 “não tem saúde oral”), verificámos que as raparigas têm uma
prevalência de saúde oral superior à encontrada nos rapazes, 84,7% e 66,3% ,
respectivamente (p= 0,004).
49
No que diz respeito à idade, observámos uma diminuição de prevalência de saúde oral
com a idade. No grupo dos 3 anos 84% “tem saúde oral”, sendo inferior no grupo dos 4
anos (77,9%) e no grupo dos 5 anos (62,5%) (p= 0,028).
Em ambos os casos a associação é estatisticamente significativa (Tabela 7).
Tabela 7. Relação entre a variável cpo’d (categorizada)/ sexo e idade
“Tem saúde oral” (cpo’d = 0)
“Não tem saúde oral” (cpo’d ≠ 0)
p*
n % n %
Sexo 0,004
Feminino 72 84,0 13 15,3 Masculino 65 66,3 33 33,7
Idade 0,028
3 anos 42 84,0 8 16 4 anos 60 77,9 17 22,1 5 anos 35 62,5 21 37,5
* Teste Qui Quadrado de Pearson
• cpo’d, número de filhos e ordem de nascimento
Nas crianças inseridas em famílias com 1 filho, 83,1% têm “saúde oral”, com 2 filhos e
3 filhos os valores são, respectivamente,71,1% e 68,4%, no entanto esta diferença não é
significativa (p˃ 0,05).
Quanto à ordem de nascimento, e apesar de não ser significativo, verificámos que
primeiros filhos têm com mais frequência (79%) saúde oral, os segundos filhos
apresentam uma percentagem de 69,7% e os terceiros filhos 80% (p˃ 0,05).
Deste modo, não foi encontrada associação estatisticamente significativa entre o cpo’d e
as variáveis “número de filhos” e “ordem de nascimento” (Tabela 8).
50
Tabela 8. Relação entre a variável cpo’d (categorizada)/ Nºde filhos e ordem nascimento
“Tem saúde oral”
(cpo’d = 0) “Não tem saúde
oral” (cpo’d ≠ 0) p*
n % n %
Nº Filhos 0,147
1 filho 59 83,1 12 16,9 2 filhos 59 71,1 24 28,9 3 filhos 13 68,4 6 31,6
Ordem de Nascimento 0,317
1º 79 79,0 21 21,0 2º 46 69,7 20 30,3 3º 8 80,0 2 20,0
* Teste Qui Quadrado de Pearson
• cpo’d e a nacionalidade dos pais
Analisando a variável cpo’d categorizada e origem do pai, verifica-se que não existe
associação estatisticamente significativa entre estas variáveis (p˃ 0,05). Relativamente à
origem da mãe, também não se encontrou associação estatisticamente significativa entre
o cpo’d e naturalidade da mãe (p˃ 0,05).
No entanto, apesar da diferença não ser estatisticamente significativa, observa-se um
valor relativamente maior no grupo “ Ter saúde oral” nas crianças filhas de pais
portugueses, comparativamente às crianças filhas de pais imigrantes (Tabela 9).
51
Tabela 9. Relação entre a variável cpo’d (categorizada)/ Origem dos pais
“Tem saúde oral” (cpo’d = 0)
“Não tem saúde oral” (cpo’d ≠ 0)
p*
n % n %
Origem do pai 0,61
Portuguesa 89 76,1 28 23,9 Imigrante 48 72,7 18 27,3
Origem da mãe 0,23
Portuguesa 88 77,9 25 22,1 Imigrante 49 70,0 21 30,0
* Teste Qui Quadrado de Pearson
Para aferir a diferença entre o cpo’d das crianças filhas de portugueses vs. imigrantes,
foi aplicado o teste de t de student, confirmando o facto de que não é possível afirmar
existir diferença entre o cpo’d das crianças filhas de portugueses e imigrantes (Tabela
10).
Tabela 10. Valores médios e desvio padrão do cpo’d individual nos dois grupos (com pais portugueses vs. pais imigrantes)
Portugueses Imigrantes t p
N Média DP N Média DP
Pai 117 0,035 0,079 66 0,038 0,090 0,294 0,769
Mãe 113 0,031 0,077 70 0,043 0,090 0,974 0,341
• cpo’d e o tempo de residência
Analisando a variável cpo’d categorizada e as categorias da variável “tempo de
residência” do pai e da mãe, não se encontraram diferenças estatisticamente
significativas (p˃ 0,05)
52
Tabela 11. Relação entre a variável cpo’d (categorizada)/ Tempo de residência dos pais
“Tem saúde oral”
(cpo’d = 0) “Não tem saúde
oral” (cpo’d ≠ 0) p*
n % n %
Tempo de Residência Pai
0,59
0-4 anos 2 66,7 1 33,3 5-9 anos 8 88,9 1 11,1 Mais de 10 anos 26 74,3 9 25,5
Tempo de Residência
Mãe 0,46
0-4 anos 1 50,0 1 50,0 5-9 anos 12 85,7 2 14,3 Mais de 10 anos 23 74,2 8 25,8
* Teste Qui Quadrado de Pearson
• cpo’d e o nível de ensino
Apesar das crianças filhas de pais e mães com o ensino secundário existirem em maior
número absoluto, ao efectuarmos a análise bivariada das variáveis em questão, não
encontrámos uma diferença estatisticamente significativa da saúde oral entre os grupos
(p˃ 0,05) (Tabela 12).
Tabela 12. Relação entre a variável cpo’d (categorizada)/ nível de ensino dos pais
“Tem saúde oral”
(cpo’d = 0) “Não tem saúde
oral” (cpo’d ≠ 0) p*
n % n %
Nível de ensino
Pai 0,78 Básico 31 23,1 10 22,2 Secundário 67 50,0 25 55,6 Superior 36 26,9 10 22,2
Nível de ensino
Mãe 0,83 Básico 24 17,9 9 20,0 Secundário 68 50,7 24 53,3 Superior 42 31,3 12 26,7
* Teste Qui Quadrado de Pearson
53
4.4 Análise das variáveis de saúde oral e o cpo’d
• Consulta de saúde oral e cpo’d
Tabela 13. Relação entre a variável cpo’d (categorizada)/ consulta de saúde oral
“Tem saúde oral”
(cpo’d = 0) “Não tem saúde
oral” (cpo’d ≠ 0) p*
n % n %
A criança foi a consulta de saúde oral
0,04
Sim 57 64,0 32 36,0 Não 76 85,4 13 14,4 Não responde 4 80,0 1 20,0
* Teste Qui Quadrado de Pearson
Verifica-se que 85,4% das crianças que nunca foram a uma consulta de saúde oral “têm
saúde oral” ou seja, um cpo’d individual igual a zero. Apenas 64% das crianças que já
foram a uma consulta de saúde oral têm um cpo’d igual a zero, ou seja, 36% têm
história de cárie. Com um nível de significância de 5% é possível afirmar que existe
associação estatisticamente significativa entre estas duas variáveis (Tabela 13).
Se analisarmos apenas a variável “cariados” e as idas à consulta, constata-se que das
crianças que já foram à consulta, 70,8% estão livres de cáries activas e dos que não
foram à consulta, 85,4% não apresentam lesões de cárie. No entanto esta diferença não é
estatisticamente significativa (p˃ 0,05).
Analisando o grupo que nunca foi a consulta de saúde oral e que assinalaram o motivo
“não precisou”, e se cruzarmos os valores com a variável cpo (categorizada), verifica-se
que 88,8% “tem saúde oral” e 11,3% “Não tem saúde oral” (p=0,001) (Tabela 14).
54
Tabela 14. Relação entre a variável cpo’d (categorizada)/ razão da não consulta de saúde oral
“Tem saúde oral”
(cpo’d = 0) “Não tem saúde
oral” (cpo’d ≠ 0) p*
n % n %
A criança não foi a consulta de saúde oral
0,001
Não precisa 71 88,8 9 11,3 Outra razão 3 42,9 4 51,7
* Teste Qui Quadrado de Pearson
Ao analisar a componente “cariados” da variável cpo’d, verifica-se que os 11,3%
encontrados anteriormente correspondem à percentagem de crianças com cáries activas
no grupo que nunca foi à consulta porque “não precisou”.
Dentro do grupo que já foi a consulta de saúde oral e o fez por “controlo”, 83,9% têm
um cpo’d igual a zero (p= 0,001). Dos que já foram à consulta devido a dores, 88,9%
têm cpo’d individual diferente de zero ( p˃ 0,05)
• Hábitos de higiene oral e cpo’d
Apesar dos resultados não serem estatisticamente significativos, no grupo que afirmou
escovar os dentes todos os dias, 74,2% têm um cpo’d individual igual a zero, bem como
79,4% dos que escovam ao jantar e 73% dos que escovam ao pequeno-almoço e ao
deitar ( p˃ 0,05)
55
4.5 Análise da relação entre factores sociodemográficos e a utilização dos serviços de saúde oral
Analisando a tabela 15, verifica-se que as variáveis “idade" e “nível de ensino do pai”
estão associadas com a variável “ida à consulta de saúde oral” (p< 0,05)
Relativamente à idade verifica-se que, com o aumento na idade aumenta a percentagem
de crianças que teve acesso à consulta de saúde oral (p= 0,006).
As crianças filhas de pai com ensino básico são as mais representativas no grupo que
nunca foi a uma consulta de saúde oral. As crianças filhas de pais com ensino
secundário são as que mais recorreram à consulta (p=0,014)
As variáveis sexo, nacionalidade do pai e mãe, e nível de ensino da mãe, não
demonstraram estar associadas com a variável “ida à consulta de saúde oral”
Dentro das várias nacionalidades, e mais uma vez, apesar de serem resultados
estatisticamente pouco significativos, os grupos que mais procuraram os serviços de
saúde oral foram, por ordem decrescente: brasileiros, portugueses, europeus de leste e
africanos.
56
Tabela 15. Consulta de saúde oral segundo sexo, idade, origem e nível de ensino dos pais
Não Sim Total p
Sexo
Feminino n 44 38 85
0,552 % 51,8 44,7 100,0
Masculino n 45 51 98
% 45,9 52,0 100,0
Idade
3 anos n 34 16 50
0,006
% 68,0 32,0 100,0
4 anos n 37 37 77
% 48,1 48,1 100,0
5 anos n 18 36 56
% 32,0 64,0 100,0
Nac
iona
lidad
e Pai
Portugal n 51 62 117
0,172 % 43,6 53,0 100,0
Imigrante n 38 27 66
% 57,6 40,9 100,0
Mãe
Portugal n 51 58 113
0,389 % 45,1 51,3 100,0
Imigrante n 38 31 70
% 54,3 44,3 100,0
Ens
ino
Pai
Ensino básico n 28 12 40
0,014
% 70 30 100,0 Ensino
secundário n 38 52 90
% 42,2 57,8 100,0
Ensino
superior
n 22 23 45
% 48,9 51,1 100,0
Mãe
Ensino básico n 18 13 31
0,570
% 58,1 41,9 100,0 Ensino
secundário n 45 46 91
% 49,5 50,5 100,0
Ensino
superior
n 24 28 52
% 46,2 53,8 100,0
* Teste Qui Quadrado de Pearson
57
4.6 Aplicação do modelo de regressão logística
Aplicou-se o modelo da regressão logística, onde considerámos o Y=0 como “Ter saúde
oral” (ou seja cpo=0) e Y=1 como “Não ter saúde oral” (ou seja cpo≠0)
Na regressão logística foram utilizadas 9 variáveis explicativas, onde se verificou que
apenas a variável sexo e ida à consulta de saúde oral apresentam valores de p<0,05.
Verifica-se que os rapazes têm um risco 2,34 vezes maior (OR=2,34) de não ter saúde
oral do que as raparigas (para p=0,02)
As crianças que já foram à consulta de saúde oral têm um risco, cerca de 3 vezes maior
(OR=3,21) de “não ter saúde oral” do que as crianças que nunca foram à consulta.
As restantes variáveis apresentam valores de p muito superiores a 0,05, não tendo por
isso, interesse analisar os OR, pois não são estatisticamente significativos. (Tabela 16)
58
Tabela 16. Modelo de regressão logística com as variáveis: sexo, idade, origem dos pais, nível de
ensino do pais, nº filhos, higiene oral, consulta saúde oral
OR p-value 95% CI
Sexo
Feminino 1
Masculino 2,34 0,021 1,073 5,123
Idade
3 anos 1
4 e 5 anos 1,445 0,438 0,570 3,667
Filhos
1 filho 1
2ou mais filhos 1,939 0,112 0,856 4,392
Pai
Ensino básico/ secundário 1
Ensino superior 0,751 0,582 0,271 2,081
Mãe
Ensino básico / secundário 1
Ensino superior 0,727 0,514 0,279 1,896
Pai
Português 1
Imigrante 1,113 0,845 0,380 3,261
Mãe
Portuguesa 1
Imigrante 1,385 0,541 0,488 3,929
Criança – Consulta Saúde Oral
Não 1
Sim 3,211 0,005 1,424 7,239
Higiene Oral
Todos os dias 1
Nunca ou às vezes 1,813 0,418 0,429 7,656
Constant 0,030 0,000
59
5 – DISCUSSÃO
“A migração é o meio mais poderoso
para reduzir a desigualdade global”
Branko Milanovic
A crescente movimentação das populações e suas implicações na saúde desafiam a
compreensão deste tema. A investigação na área da saúde nos migrantes tem sido, nos
últimos anos, bastante desenvolvida. A nível internacional são vários os estudos que
abordam o tema da saúde oral nos migrantes, no entanto em Portugal existe uma enorme
escassez de informação epidemiológica acerca do estado de saúde oral dos imigrantes e
do seu acesso aos serviços de saúde oral, razão que motivou a realização deste trabalho.
A exploração deste tema surgiu na necessidade de melhor compreender a população que
é abrangida pelo Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral, procurando redefinir
estratégias de intervenção futuras que sejam cada vez mais assertivas e adaptadas.
Este estudo foi assim desenhado com o intuito de caracterizar e melhor conhecer a
saúde oral das crianças dos jardins-de-infância da zona do Cacém, situado na linha de
Sintra, uma das zonas com maior concentração de imigrantes do distrito de Lisboa
(Emilio et al., 2008).
• Caracterização sociodemográfica
Pela caracterização sociodemográfica da amostra pode verificar-se que, 45% das
famílias têm 2 filhos, 38,8% apenas 1 filho, podendo-se realçar que 54,6% das crianças
do estudo são primeiros filhos. É também de destacar que, do total da amostra, 44% das
crianças têm pelo menos um progenitor de origem estrangeira, 36,1% dos pais e 38,3%
das mães são imigrantes. Estes valores são indicativos da elevada concentração de
imigrantes nesta zona periférica da Grande Lisboa. As nacionalidades estrangeiras mais
frequentes, são as dos cidadãos dos PALOP, seguidos dos oriundos do Leste da Europa
e dos brasileiros. A percentagem de mães de origem brasileira é ligeiramente maior do
que pais de a mesma nacionalidade. A maioria das crianças da amostra (97,3%) é de
60
naturalidade portuguesa. No que diz respeito ao tempo de permanência 74,5% dos pais e
66% das mães imigrantes estão a residir em Portugal há mais de 10 anos.
Relativamente ao nível de ensino, o grupo mais representativo são os progenitores com
o ensino secundário. No grupo com o ensino superior, 39,1% dos pais e 35,2% das mães
são imigrantes. Estes resultados são semelhantes aos encontrados num estudo realizado
na zona de Lisboa com um grupo de 1513 imigrantes, onde se verificou que 45,3% tinha
entre 10 a 12 anos de escolaridade e 19,4% mais de 13 anos de escolaridade, o
equivalente ao ensino superior (Dias, Severo e Barros, 2008).
O mesmo se observa na análise dos resultados do 4º Inquérito Nacional de Saúde, de
onde se destaca que 6,3% da população estudada é imigrante, 27,5% reside em Portugal
há menos de 5 anos e 19,5% há mais de 30 anos. Ao nível da escolaridade, dentro do
grupo que possui 10 ou mais anos de escolaridade, são os imigrantes que estão em
maior proporção (43,2% de imigrantes para 23,5% de portugueses).
Na área dos determinantes de saúde, os imigrantes revelaram indicadores de estado de
saúde mais favoráveis do que os portugueses. A nível da saúde oral 84,7% dos
imigrantes e 85,1% dos portugueses já tinham recorrido a um profissional da área (Dias
et al., 2008).
Comparando estes dados com os resultados do Inquérito Nacional de Saúde, verifica-se
que também no grupo de pais estudados se encontram em maior proporção os pais
imigrantes com mais de 10 anos de escolaridade No entanto, a maioria é residente em
Portugal há mais de 10 anos e na procura de serviços de saúde oral observa-se uma
maior procura dos pais portugueses, apesar de não serem valores estatisticamente
significativos.
• Cárie dentária e cpo’d
A prevalência de cárie encontrada nesta amostra foi de 25,1% com um índice de cpo’d
de grupo de 0,7. Analisando os componentes do cpo’d, verifica-se que do total de dentes
observados, 2,81% apresentam cárie, 0,68% obturações e 0,06% foram perdidos.
61
Um estudo realizado em 17 países, com 2822 crianças de 3 e 4 anos, revela um índice
de cpo’d de 6,1, valor claramente superior ao encontrado neste estudo. O referido
estudo também encontrou diferenças entre os grupos étnicos e socioeconómicos no que
diz respeito aos comportamentos de saúde oral, bem como encontrou valores de cpo’d
mais elevados em filhos de imigrantes (Pine et al.,2004), o que não se verificou no
presente estudo.
O estudo realizado por Almeida e colaboradores (2003), revela que na sua amostra de
799 crianças portuguesas de 6 anos, encontrou um cpo’d de 2,1 e uma prevalência de
cárie de 46,9%.
Dados do relatório de actividades do PNPSO na cidade do Cacém no ano lectivo
2008/2009 permitem verificar que o cpo’d das crianças de 5/6 anos a frequentar as
escolas públicas e IPSS (n=800) foi de 1,3 (Ferreira, 2009). A percentagem de crianças
livres de cárie aos 6 anos foi de 64,1%, uma percentagem superior à nacional, que se
situa nos 51%, segundo o último estudo nacional de prevalência de cárie (DGS, 2008).
Os baixos valores encontrados podem reflectir o trabalho realizado pelas equipas locais
de saúde escolar e saúde oral, que desde há cerca de 12 anos desenvolvem actividades
de promoção de saúde oral e prevenção das doenças orais em todo o parque escolar da
cidade do Cacém.
No âmbito do PNPSO, estão implementados nas escolas do Cacém, os suplementos de
flúor (bochechos quinzenais de soluções fluoretadas para as crianças dos 6 aos 10 anos;
comprimidos de flúor a todas as crianças consideradas de risco à cárie dos 3 aos 6 anos
com a prévia avaliação de risco realizada anualmente pela higienista oral local), é
desenvolvido o projecto da escovagem na escola, são realizadas acções de formação na
área da saúde oral para crianças, pais, educadores/professores e também para os
profissionais de saúde e são atribuidos “cheques- dentista/higienista” que possibilitam o
acesso das crianças (das coortes estabelecidas) a tratamentos preventivos/curativos.
62
• Factores sociodemográficos e cpo’d
Analisando a associação entre o cpo’d e as variáveis sociodemográficas, verifica-se que
no que diz respeito ao sexo, são as raparigas que têm maior percentagem de índice de
cpo’d individual igual a zero (84,7%) comparativamente aos rapazes (66,3%)
(p=0,004).
Em relação à idade, verificámos que a percentagem de crianças com o cpo’d individual
diferente de zero aumenta com a idade (p=0,028). A associação encontrada entre a idade
e o nível de saúde oral pode ser sustentada pelo facto de que o passar do tempo aumenta
a exposição aos factores de risco à cárie, podendo haver um efeito cumulativo destes
factores.
Em relação às diferenças entre sexos, verifica-se que os rapazes têm um risco 2,3 vezes
maior (OR=2,34) de não ter saúde oral do que as raparigas (para p=0,02). Resultados
semelhantes foram encontrados por Abukamail (2009) que observou uma prevalência
de cárie e uma média de cpo’d maiores nos rapazes quando comparadas com as
raparigas, apesar de as diferenças não terem sido estatisticamente significativas.
Um outro estudo feito em Portugal com crianças de 6 e 12 anos revela que o índice de
cárie era maior no grupo de crianças não portuguesas e nas crianças que vivem em
zonas rurais. O sexo não demonstrou influenciar a história de cárie (Almeida et al.,
2003).
Em relação à escolaridade, no presente estudo não foi encontrada associação estatística
entre o cpo’d das crianças e a escolaridade dos pais, muito provavelmente por não haver
grandes discrepâncias entre os pais deste grupo. No entanto, esta associação foi
encontrada em outros estudos, como é o caso de um estudo realizado na Dinamarca com
crianças de 7/9 anos, que revela que os filhos de pais com níveis de escolaridade mais
baixos, têm um OR=2,5 (p<0,05) para o aparecimento de cárie, comparado com os
níveis de educação superior (Peterson,2005).
Harris e colaboradores (2004), fizeram uma revisão sistemática, onde encontraram que a
força de associação entre a classe social e a experiência de cárie é 2 vezes maior do que
a associação entre escovagem e cárie, e três vezes maior do que o consumo de açúcar e
cárie. Revelam também que os grupos com um nível socioeconómico mais baixo
63
apresentam níveis mais altos de consumo de açúcares. O presente estudo não fez
avaliação da classe social das crianças nem avaliou o consumo de ingestão de açúcares,
sendo dois factores a considerar numa futura investigação.
No nosso estudo não foram encontradas associações estatisticamente significativas entre
o cpo’d e a ordem de nascimento, nacionalidade dos pais, tempo de residência, nível de
ensino dos pais e a frequência da escovagem.
• Acesso aos serviços de saúde oral
Quando analisado o acesso destas crianças às consultas de saúde oral, a distribuição é
igual, ou seja, 48,6% dizem já ter ido a uma consulta e a mesma percentagem refere
nunca ter ido. As razões pelas quais já foram à consulta são em 30,6% para realizar um
controlo, 5,5% para fazer uma limpeza dentária, 4,9% devido a dores e 2,7% para
extracção de dentes.
A razão mais assinalada para nunca ter ido a uma consulta desta especialidade foi o não
ter havido necessidade (43,7%), seguido de 1,1% que refere ser muito caro. Nenhum
dos pais assinalou o “não haver dentista”, “difícil marcar consulta” e “medo”.
Resultados semelhantes foram encontrados no trabalho realizado por Abukumail
(2009), excepto o facto de 5,8% das crianças dos 2 aos 5 anos não terem ido à consulta
por ser uma consulta muito dispendiosa e 0,4% por ser difícil marcar consulta.
Dado interessante é que, também no presente estudo não se obtiveram respostas
relativas ao medo como razão para não ter ido à consulta, o que vai ao encontro da
mudança de paradigma da consulta de saúde oral associada a dor e desconforto.
Em Portugal o acesso às consultas de saúde oral aumentou exponencialmente nos
últimos anos com a entrada em vigor do “Cheque-Dentista” integrado no PNPSO.
Entre 2009 e 2011 foram emitidos, a nível nacional, 33 723 “Cheques- Dentista /Saúde
Infantil”, para as crianças com menos de 6 anos. Destes foram utilizados 17 759,
representando uma taxa de utilização de 53% (Ministério da Saúde, 2011).
64
Dados da DGS (2008) revelam que 40% das crianças de 6 anos já foram a uma consulta
com um médico dentista ou higienista oral.
Ao relacionar o índice de cpo’d (variável categorizada) e o acesso à consulta de saúde
oral verificou-se que 85,4% das crianças que nunca foram à consulta desta especialidade
têm um cpo’d igual a zero, comparativamente aos 64% que apresentam a mesma
condição mas que já recorreram a um profissional de saúde oral (p=0,04). Dentro do
grupo que já foi à consulta e o fez por “controlo” 83,9% tem um cpo’d igual a zero
(p=0,001). Ao estimar modelo de regressão logística, verificou-se que as crianças que já
foram à consulta de saúde oral têm um risco, cerca de 3 vezes maior (OR=3,21) de ter
um cpo ≠0 (“Não ter saúde oral”) do que as crianças que nunca foram à consulta
(p=0,005)
O facto das crianças que já foram à consulta de saúde oral terem uma percentagem
maior de índice de cpo’d (história de cárie) está relacionado com os tratamentos
efectuados, por vezes em cáries que apenas são detectadas com o auxilio de meios
complementares de diagnóstico, aumentando assim o valor do cpo’d.
Dentro do grupo que já foi à consulta para fazer o controlo, existe uma elevada
percentagem de crianças com cpo’d igual a zero, enfatizando a importância da
vigilância do estado de saúde oral como um dos factores determinantes para uma boa
saúde oral.
Relacionando os factores sociodemográficos e a utilização dos serviços de saúde oral, o
factor idade demonstrou ter associação estatística (p=0,006) verificando-se que é o
grupo etário dos 5 anos que mais recorreu a um profissional da área.
A associação encontrada entre a idade e a utilização dos serviços de saúde oral pode
justificar-se com o facto de que, com o passar do tempo aumenta a exposição aos
factores de risco das doenças orais, para além da aproximação da idade em que
começam a erupcionar os dentes definitivos, aumentando eventualmente a preocupação
dos pais em levar os filhos a uma consulta desta especialidade.
O nível de ensino do pai também demonstrou estar associado com a ida à consulta de
saúde oral, as crianças cujos pais têm o ensino secundário são as que mais recorreram
65
aos serviços de saúde oral comparativamente aos filhos dos que têm o ensino básico
(p=0,014).
Destaca-se o facto de que os pais de 11,3% das crianças que têm cáries activas,
assinalaram que nunca foram a consulta de saúde oral porque “não precisa” (p=0,001).
Esta percepção de necessidade referida por parte dos pais pode estar relacionada com a
ausência de situações de urgência, como dores ou traumas. No entanto a necessidade
auto percebida é influenciada pela cultura, crenças, sintomas e nível socioeconómico
(Cruz et al., 2010; Adair et al., 2004), factores que não foram estudados neste trabalho
mas que demonstram ser de elevado interesse em investigações futuras.
Também Pine e colaboradores (2004) verificaram que as crenças e atitudes dos pais
influenciam os comportamentos de saúde oral e o aparecimento de cárie dentária em
crianças de 3 e 4 anos, propondo que o desenvolvimento das competências parentais em
grupos socialmente desfavorecidos, independentemente da etnia, poderia reduzir o
aparecimento desta doença nas crianças.
• Hábitos de higiene oral
Relativamente aos hábitos de higiene oral, 89% dos pais referem que as crianças
escovam os dentes diariamente, 93,9% das raparigas e 89,6% dos rapazes. As respostas
obtidas num questionário podem ser sempre influenciadas pela intenção de dar uma
resposta que seja socialmente aceite representando um possível viés de informação, no
entanto tendo em conta o baixo valor de cpo’d destas crianças, esta percentagem poderá
estar muito próxima da realidade.
Os dados do 4ºINS (INE, 2009) referem que 85,5% da população imigrante e 76,7% da
população portuguesa escovam os dentes antes de deitar, valores que estão em
concordância com os resultados encontrados neste estudo, onde se verificou que 81,4%
das crianças escova os dentes antes de deitar.
Também no estudo realizado por Abukumail (2009) sobre o acesso aos cuidados de
saúde oral e nível de saúde oral nas comunidades imigrantes africanas e brasileiras em
66
Portugal se verificou que no grupo de crianças dos 2 aos 5 anos, 79,1% escovava os
dentes uma ou mais vezes por dia.
Dados do último estudo da DGS, referem que 50% das crianças com 6 anos escova os
dentes diariamente (DGS,2008). Uma percentagem significativamente mais baixa foi
encontrada num estudo feito em Portugal em 2003, que refere que apenas 31% das
crianças de 6 anos escova os dentes duas vezes por dia (Almeida et al., 2003).
• Limitações do estudo
Os resultados têm de ser analisados tendo em conta as limitações do estudo.
A população alvo inicialmente pensada para este estudo era composta por todas as
crianças dos 3 aos 5 anos dos jardins-de-infância das IPSS e do ensino público,
representando cerca de 1250 crianças. No entanto não foi possível integrar todas as
crianças, principalmente pela indisponibilidade de tempo, nomeadamente, para a
entrega e recolha dos questionários aos pais, obtenção das autorizações dos directores
dos estabelecimentos escolares, associação dos dados dos rastreios dentários aos
questionários e posterior introdução dessas informações na base de dados.
Sendo assim optou-se pela realização do estudo nas IPSS por terem crianças dos 3
grupos etários de interesse e por ser uma população mais acessível, na medida em que
estas instituições têm os recursos humanos mais centralizados comparativamente aos
(mega) agrupamentos de escolas da rede pública, facilitando assim toda a logística
inerente à implementação do estudo.
A população alvo do estudo foram 530 crianças a frequentar os jardins-de-infância das 6
IPSS da zona do Cacém. Destas foram escolhidas 3 instituições através da técnica de
amostragem simples (Fortin, 2003). No entanto, ao delimitar o estudo para as IPSS,
reduziu-se o número de crianças abrangidas, o que poderá não representar a totalidade
da população. Estas instituições, apesar de terem apoio do estado, implicam uma
mensalidade para a frequência das crianças. As famílias com menos recursos optam
muitas vezes por deixar as crianças a cargo de amas ou familiares até à idade pré-
67
escolar, altura em que ingressam no ensino público (gratuito), pois a mensalidade
associada é insustentável financeiramente para algumas famílias.
Os instrumentos de recolha de dados utilizados foram um questionário e a ficha
individual de rastreio dentário. As perguntas do questionário foram adaptadas do 4ºINS,
tendo sido seleccionadas as questões mais prementes para o presente estudo, tal como já
tinha sido feito no estudo realizado em Portugal por Abukumail (2009). Foi introduzida
uma questão nova no questionário relativamente à frequência da escovagem (em que
momento do dia), por ser considerada relevante para a descrição dos hábitos de higiene
oral. Outras questões consideradas de interesse poderiam ter sido incluídas,
nomeadamente os hábitos alimentares relacionados com as questões culturais, mas iriam
tornar o questionário muito extenso e obrigaria à realização de um pré-teste, sendo a
limitação de tempo um factor determinante.
Relativamente às informações da ficha de rastreio esta apenas continha a informação do
número de dentes presentes, dos que apresentavam cárie, dos dentes perdidos e dos
dentes obturados, não estando registados dados relativos ao estado gengival nem à
presença/ausência de placa bacteriana, o que permitiria ter informação acerca da
eficácia da escovagem. No entanto estes rastreios foram realizados numa fase anterior à
elaboração do desenho deste estudo e no âmbito das actividades do PNPSO, para o qual
apenas são necessários os dados que foram recolhidos.
Os critérios utilizados do estado dentário foram os preconizados pela OMS (1997).
Estes critérios são utilizados mundialmente em vários estudos, permitindo a
comparabilidade dos resultados. No entanto estes critérios têm a limitação de
considerarem cárie apenas as lesões cavitadas, excluindo as lesões iniciais de cárie,
levando a subestimar do número de cáries encontradas.
68
6- CONCLUSÃO
Os resultados deste estudo permitem verificar que:
• 84,7% das raparigas e 66,3% dos rapazes estão livres de história de cárie (p=
0,004)
• os rapazes têm um risco 2,34 maior (OR=2,34) de ter história de cárie (cpo’d≠0)
do que as raparigas ( p=0,02)
• o cpo’d demonstra estar associado à idade, o grupo dos 3 anos têm maior
percentagem de crianças com cpo’d igual a zero, comparativamente ao grupo
dos 4 e 5 anos (p= 0,028).
• não foram encontradas diferenças significativas entre o cpo’d das crianças filhas
de portugueses e imigrantes
• existe associação entre as variáveis cpo’d e a ida à consulta de saúde oral. A
percentagem de crianças livres de história de cárie (cpo’d=0) é maior no grupo
que nunca foi à consulta, comparativamente ao grupo que já foi a uma consulta
de saúde oral (p=0,04)
• com o aumento na idade aumenta a percentagem de crianças que teve acesso à
consulta de saúde oral (p= 0,006).
• as crianças filhas de pai com ensino básico são as mais representativas no grupo
que nunca foi a uma consulta de saúde oral. As crianças filhas de pais com
ensino secundário são as que mais recorreram à consulta (p=0,04)
• as crianças que já foram à consulta de saúde oral têm um risco, cerca de 3 vezes
maior (OR=3,21) de ter um índice de cpo’d diferente de zero do que as crianças
que nunca foram à consulta (p=0,005)
É de elevado interesse a realização de mais estudos com esta temática, não só nas
crianças mas também em adultos. As crianças são um grupo privilegiado, pois têm
acesso a cuidados de saúde oral através do SNS que os adultos não têm, sendo assim
existe uma necessidade emergente de um maior conhecimento do estado de saúde oral
destas comunidades, avaliando até que ponto estão mais vulneráveis ao aparecimento de
doenças orais.
69
Seria importante a implementação de projectos locais, com directivas nacionais, que
comtemplassem a identificação dos determinantes de saúde oral das populações,
promoção da saúde oral e redução de factores de risco às doenças orais, alargada à
população em geral. O PNPSO está direcionado para grupos específicos,
nomeadamente, crianças, grávidas, idosos e indivíduos HIV positivo, estando excluída a
restante população. Parece-nos importante a elaboração de políticas de saúde oral mais
alargadas, de forma a reduzir a carga das doenças orais, principalmente nos grupos mais
desfavorecidos e marginalizados.
70
7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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75
8 - ANEXOS
76
Anexo I - Quadros da população residente no Concelho de Sintra segundo grupos etários e sexo; e segundo nível de ensino e sexo
77
78
Anexo II – Questionário “Nível de Saúde Oral das crianças entre os 3 e 5 anos na população portuguesa e comunidades imigrantes nas IPSS do Cacém”
79
V Mestrado em Saúde e Desenvolvimento
Nº____
Questionário
Nível de Saúde Oral das crianças entre os 3 e 5 anos na população portuguesa e comunidades imigrantes nas IPSS do Cacém
1. Sexo da criança: Masculino □ Feminino □
2. Data de Nascimento da criança :__/__/__
3. Número de filhos do agregado familiar:____
4. Qual a ordem de nascimento do seu filho? _____ (ex. 1º filho, 2ºfilho)
5. A criança é natural de que país? ________________
6. O pai é natural de que país? __________________
7. A mãe é natural de que país? ________________
Responda à pergunta 8 apenas se não nasceu em Portugal
8. Há quantos anos reside em Portugal:
8.1 A criança: ____ anos
8.2 O pai: ____ anos
8.3 A mãe: ____ anos
9. Sabe ler e escrever?
9.1 O pai: Sim □ Não □
9.2 A mãe: Sim □ Não □
80
10. Qual o nível de ensino mais elevado que o pai frequentou:
11. Qual o nível de ensino mais elevado que a mãe frequentou:
Nenhum □ Ensino básico- 1º ciclo □ Ensino Básico- 2ºciclo□ Ensino básico – 3ºciclo □ Ensino Superior □ Não sabe □
Nenhum □ Ensino básico- 1º ciclo □ Ensino Básico- 2ºciclo□ Ensino básico – 3ºciclo □ Ensino Superior □ Não sabe □
12. Já levou o (a) seu (sua) filho (a) alguma vez a uma consulta com um estomatologista,
dentista, higienista ou outro técnico de saúde dentária?
Sim □ Não □ Não sabe □
12.1 Se sim, qual a razão principal da ultima consulta:
Porque estava com dores ou outra situação de urgência □ Para extrair um dente □
Porque queria conhecer o estado de saúde da boca □
Para fazer uma higienização (“limpeza”) da boca □
Por outra razão □ Qual? _________
12.2 Se não, qual a razão porque não consultou:
Porque não precisou □
Porque não há dentista na localidade onde mora □
Porque é difícil marcar uma consulta □
Porque é muito caro □
Por ter medo dos tratamentos dentários □
Por outra razão □ Qual? _________
13. O seu filho escova os dentes?
81
Nunca □ Às vezes □ Todos os dias □
13.1 Se escova, quando:
Pequeno-almoço □ Almoço □ Jantar □ Antes de deitar □
Data: __/__/__
MUITO OBRIGADO PELA SUA COLABORAÇÃO!
82
Anexo III – Consentimento informado para pais/ Pedidos de autorização
83
V Mestrado em Saúde e Desenvolvimento
Consentimento Informado
Tema de Investigação: Estudo do nível de saúde oral das crianças dos 3 aos 5 anos
filhas de pais portugueses e pais imigrantes
Exmos.Pais/Encarregados de Educação
Solicito a vossa colaboração num estudo sobre o nível de saúde oral em crianças dos 3-5 anos,
através da realização de um questionário que aborda várias questões relacionadas com a
problemática do estudo. Os resultados do questionário serão cruzados com os dados recolhidos
durante os rastreios dentários realizados no âmbito do Programa Nacional de Promoção de
Saúde Oral.
Este trabalho tem como objectivo estudar o nível de saúde oral das crianças dos 3 aos 5 anos
filhas de pais portugueses e pais imigrantes, a frequentar os jardins-de-infância das IPSS da
zona do Cacém (ano lectivo 2010/2011)
A vossa participação é voluntária, os dados recolhidos são estritamente confidenciais, os
resultados em nenhuma altura terão identificação dos participantes e serão utilizados apenas
para fins académicos e de investigação. Para além disso, este estudo em nenhum momento
apresenta riscos para os participantes, sendo livres para deixar de participar em qualquer fase da
investigação.
A realização deste trabalho revela-se de elevado interesse, uma vez que a população estudada é
composta por crianças com pais das mais diversas origens, em que a análise das variáveis
propostas poderá trazer uma mais-valia na elaboração de estratégias de educação e prevenção
das doenças orais.
Coloco-me á inteira disposição para esclarecer qualquer dúvida ou informação mais detalhada
Higienista Oral Rosa Ferreira: 21 9138900/37 (Unidade de Saúde do Olival do ACES X-
Cacém/Queluz) Obrigado pela sua colaboração
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Aceitamos participar no estudo sobre o nível de saúde oral em crianças dos 3 aos 5 anos, descendentes de pais portugueses e imigrantes.
Assinatura Enc.Educação __________________do aluno ________________
84
Exmo. Senhor Director (IPSS)
Assunto: Pedido de autorização para realização de um trabalho de investigação
Exmo (a). Sr(a). Director(a)
O meu nome é Rosa Cristina de Oliveira Ferreira, sou Higienista Oral no ACES X –
Cacém/Queluz, unidade de saúde do Olival, e encontro-me a frequentar o V Mestrado em Saúde
e Desenvolvimento do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de
Lisboa. Venho por este meio apresentar o meu pedido formal para realizar um trabalho de
investigação, utilizando informações referentes a alunos da V. instituição.
Este trabalho tem como objectivo estudar o nível de saúde oral das crianças dos 3 aos 5 anos
filhas de pais portugueses e pais imigrantes, a frequentar os jardins-de-infância das IPSS da
zona do Cacém (ano lectivo 2010/2011)
A população alvo serão todas as crianças dos 3 aos 5 anos a frequentar os jardins-de-infância
das IPSS da zona do Cacém, abrangidas pelo Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral
desenvolvido pelo ACES X Cacém /Queluz.
O meu pedido vai no sentido de me autorizarem a recolha de dados através da aplicação de um
questionário aos pais, para o qual eu peço colaboração das educadoras de cada sala, no sentido
de ajudar os pais com mais dificuldade em entender a língua portuguesa. O questionário não
deve ser levado para casa, deverá ser preenchido na escola.
Os dados recolhidos são confidenciais. Junto ao questionário estará um pedido de autorização
(consentimento informado), e apenas as crianças autorizadas pelos pais poderão integrar o
estudo.
A realização deste estudo revela-se de elevado interesse, uma vez que a população estudada é
composta por crianças com pais das mais diversas nacionalidades, em que a análise das
variáveis propostas poderá trazer uma mais-valia na elaboração de estratégias de educação e
prevenção das doenças orais.
Coloco-me á inteira disposição para esclarecer qualquer dúvida ou informação mais detalhada
pelo telefone 966111791 ou por e-mail [email protected] pela sua colaboração
85
Exma. Sra., Directora Executiva do ACES X – Cacém / Queluz
Dra. Clara Pais
Assunto: Pedido de autorização para realização de um trabalho de investigação
O meu nome é Rosa Cristina de Oliveira Ferreira, sou Higienista Oral no ACES X –
Cacém/Queluz, unidade de saúde do Olival, e encontro-me a frequentar o V Mestrado em Saúde
e Desenvolvimento do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de
Lisboa. Venho por este meio apresentar o meu pedido formal para a realização de um trabalho
de investigação, utilizando informações resultantes dos rastreios dentários efectuados nas
escolas.
Este trabalho tem como objectivo estudar o nível de saúde oral das crianças dos 3 aos 5 anos
filhas de pais portugueses e pais imigrantes, que frequentam os jardins-de-infância das IPSS da
zona do Cacém (ano lectivo 2010/2011)
A população alvo serão todas as crianças dos 3 aos 6 anos a frequentar os jardins-de-infância
das IPSS da zona do Cacém, abrangidas pelo Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral
desenvolvido pela Unidade de Saúde do Olival do ACES X Cacém /Queluz.
O meu pedido vai no sentido de me autorizarem a utilização de dados obtidos durante os
rastreios dentários (nº de dentes cariados, perdidos e obturados). Estes dados vão ser cruzados
com as informações recolhidas de um questionários que irá ser aplicado aos pais destas crianças
A realização deste estudo revela-se de elevado interesse, uma vez que a população estudada é
composta por crianças com pais das mais diversas nacionalidades, em que a análise das
variáveis propostas poderá trazer uma mais-valia na elaboração de estratégias de educação e
prevenção das doenças orais.
Coloco-me á inteira disposição para esclarecer qualquer dúvida ou informação mais detalhada
pelo telefone 966111791 ou por e-mail [email protected].
Obrigado pela sua colaboração
86
Anexo IV – Ficha individual de rastreio dentário
87
PNPSO- ACES X – Cacém/Queluz Rastreio dentário no Jardim-de-Infância
Nome:______________________________ JI:_____________Educadora:__________ Data de Nascimento:__/__/__ Data da Observação:__/__/__
55 54 53 52 51 61 62 63 64 65 17 16 15 14 13 12 11 21 22 23 24 25 26 27
85 84 83 82 81 71 72 73 74 75 47 46 45 44 43 42 41 31 32 33 34 35 36 37
Obs.________________________________________________________________________________________________________________________________________
Risco de Cárie Dentária: Alto � Baixo � Indicação para comprimido flúor: Sim � Não � Encaminhamentos: Aplicação de Selantes: Sim � Não � /Tratamentos: Sim � Não �
Higienista Oral:_____________
PNPSO- ACES X – Cacém/Queluz Rastreio dentário no Jardim-de-Infância
Nome:______________________________ JI:_____________Educadora:__________ Data de Nascimento:__/__/__ Data da Observação:__/__/__
55 54 53 52 51 61 62 63 64 65 17 16 15 14 13 12 11 21 22 23 24 25 26 27
85 84 83 82 81 71 72 73 74 75 47 46 45 44 43 42 41 31 32 33 34 35 36 37
Obs.________________________________________________________________________________________________________________________________________ Risco de Cárie Dentária: Alto � Baixo � Indicação para comprimido flúor: Sim � Não � Encaminhamentos: Aplicação de Selantes: Sim � Não � /Tratamentos: Sim � Não �
Higienista Oral:_____________
88
Anexo V – Tabelas das nacionalidades encontradas (pai e mãe)
89
Nacionalidade do pai
Frequency Percent Valid Percent
Cumulative
Percent
Valid Angola 18 9,8 9,8 9,8
Brasil 8 4,4 4,4 14,2
Cabo Verde 11 6,0 6,0 20,2
China 1 ,5 ,5 20,8
Equador 1 ,5 ,5 21,3
Guiné-Bissau 5 2,7 2,7 24,0
India 1 ,5 ,5 24,6
Moçambique 1 ,5 ,5 25,1
Moldávia 1 ,5 ,5 25,7
Portugal 117 63,9 63,9 89,6
Roménia 3 1,6 1,6 91,3
Rússia 3 1,6 1,6 92,9
São Tomé 7 3,8 3,8 96,7
Suiça 1 ,5 ,5 97,3
Ucrânia 4 2,2 2,2 99,5
Venezuela 1 ,5 ,5 100,0
Total 183 100,0 100,0
90
Nacionalidade de mãe
Frequency Percent Valid Percent
Cumulative
Percent
Valid Angola 14 7,7 7,7 7,7
Argélia 1 ,5 ,5 8,2
Brasil 11 6,0 6,0 14,2
Cabo Verde 10 5,5 5,5 19,7
China 1 ,5 ,5 20,2
França 1 ,5 ,5 20,8
Guiné-Bissau 5 2,7 2,7 23,5
India 1 ,5 ,5 24,0
Moçambique 4 2,2 2,2 26,2
Moldávia 1 ,5 ,5 26,8
Portugal 113 61,7 61,7 88,5
Rep.Checa 1 ,5 ,5 89,1
Roménia 3 1,6 1,6 90,7
Russia 1 ,5 ,5 91,3
São Tomé 7 3,8 3,8 95,1
Suazilandia 1 ,5 ,5 95,6
Ucrânia 7 3,8 3,8 99,5
Venezuela 1 ,5 ,5 100,0
Total 183 100,0 100,0