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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL NA NATURA: UM OLHAR DOS LÍDERES E MEMBROS DE EQUIPES DE DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS Roberto Zardo São Paulo 2005

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS

A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL NA NATURA: UM OLHAR

DOS LÍDERES E MEMBROS DE EQUIPES DE DESENVOLVIMENTO DE

NOVOS PRODUTOS

Roberto Zardo

São Paulo

2005

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ROBERTO ZARDO

A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL NA NATURA:

UM OLHAR DOS LÍDERES E MEMBROS DE EQUIPES DE

DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS

Dissertação apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Administração

de Empresas da Universidade

Presbiteriana Mackenzie para

obtenção do título de Mestre em

Administração de Empresas.

Orientadora: Profª. Drª. Darcy Mitiko Mori Hanashiro

São Paulo

2005

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REITOR DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Professor Doutor Manassés Claudino Fontele

DECANA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

Professora Doutora Sandra Maria Dotto Stump

COORDENADOR GERAL DE PÓS-GRADUAÇÃO

Professor Doutor José Geraldo Simões Júnior

COORDENADORA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

DE EMPRESAS

Professora Doutora Eliane Pereira Zamith Brito

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha mãe Amélia (in memoriam) pela sua visão de futuro,

pela sua dedicação e por ter me mostrado o caminho da eterna aprendizagem.

À minha avó Margarida (in memoriam) pela sua forma carinhosa e sutil

de me incentivar a estudar.

À minha esposa Jussara pelo amor, compreensão e apoio incondicional

durante toda a jornada do meu curso de mestrado.

Aos meus filhos Cintia, Alisson (genro), Roberto Orlando, Iago, Maria Gabriela

e Marcelo pela possibilidade de estarem constantemente aprendendo e me ensinando.

Aos meus netos Rodrigo e Henrique, meus promissores mestres e aprendizes, pela

oportunidade que me proporcionam de vivenciar a beleza da renovação da vida.

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AGRADECIMENTOS

A conclusão deste trabalho foi uma grande conquista pessoal e profissional que possibilitará

outras ainda maiores.

Agradeço em primeiro lugar a Deus pela paciência que teve com este seu humilde filho e ao

mesmo tempo por ter estado sempre ao meu lado em todos os momentos deste trabalho.

Agradeço amorosamente:

Aos meus mestres e facilitadores educacionais do Mackenzie Prof.o(a)s

Doutor(a)s: Arilda, Eliane,

Isabella, Mallú, Leonardo, Mário, Masseto, Reynaldo e Silvio.

Aos mestres Prof.o(a)s

Doutor(a)s Mallú e Roberto Ruas pelo incentivo, críticas e indicação de

caminhos que possibilitaram a melhoria deste trabalho.

As famílias Zatta, Zardo, Veiga e Silva que me apoiaram e torceram juntos pelo êxito do meu

trabalho.

A todos os colaboradores da Natura, em especial aos dirigentes pelo incentivo e permissão para

que a pesquisa fosse realizada, a Bianca, a Gláucia e a Roseli pela dedicação e apoio e aos doze

colaboradores que dedicaram parte de seu precioso tempo nas entrevistas.

Ao Sebastião pela inestimável ajuda na observação não participante e a Dagmar pela preciosa

cooperação em todos os momentos.

Aos meus parceiros de aprendizagem Prof.o(a)s

Doutor(a)s: Maria Cristina, Guiomar de Mello,

Joel Dutra e Bertero, as amigas Amália Giolo e Yara e ao amigo Paulo Giolo que tanto me

apoiaram e incentivaram para que eu pudesse concluir este trabalho.

Aos meus colegas de mestrado do Mackenzie: Gislaine, Gislene, Ione, Laura, Leni, Míriam,

Rejane, Vera, Caê, Celso, Edson, Eduardo, Luís, Luís Campos, Macau, Marcelo, Maurício,

Ricardo, Rogério, Sarkis e Walmon pelo companheirismo, ajuda e incentivo.

A todos que não citei mas que de alguma forma contribuíram para o êxito deste trabalho, minhas

desculpas pela omissão e meu eterno reconhecimento pela ajuda.

Um agradecimento especial à Prof.a Doutora Darcy Hanashiro que me fez compreender em toda a

amplitude o significado do que é uma exemplar orientação e sentir orgulho de ter sido seu

orientado.

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RESUMO

A célere inserção das organizações em uma economia globalizada tem exigido uma capacidade

de aprender e aplicar conhecimentos mais rápido que os concorrentes e de desenvolver e

disponibilizar continuamente novos produtos e serviços para um mercado ávido por inovações.

Os processos de aprendizagem organizacional e liderança surgem como alternativas para que as

pessoas e as organizações possam melhorar a competitividade. O objetivo geral deste trabalho foi

compreender a atuação do líder no processo de aprendizagem organizacional em equipes de

desenvolvimento de novos produtos em uma empresa de grande porte na indústria cosmética. A

pesquisa de campo, de natureza exploratória, do tipo qualitativa, constitui-se de entrevistas em

profundidade, com roteiro pré-definido, com doze profissionais, incluindo quatro líderes e suas

equipes de desenvolvimento de novos produtos. Os dados obtidos foram submetidos a técnica de

análise de conteúdo, usando-se a abordagem qualitativa com categorização temática. Os

resultados revelaram que a atuação do líder é o grande diferenciador no processo de

aprendizagem organizacional. O líder, na organização pesquisada, atua direcionando, facilitando

e administrando o processo de aprendizagem, que mostrou-se integrado e circular,

compreendendo as etapas de aquisição, compartilhamento e retenção do conhecimento. Os

resultados permitiram depreender que a cultura de trabalho, que prioriza a rapidez e ciclos cada

vez mais curtos, aliada às variáveis do ambiente externo atuam como barreiras no processo de

aprendizagem. De forma oposta, a cultura da organização pesquisada, com base em um sólido

conjunto de crenças e de valores, mostrou-se nutridora do processo de aprendizagem e

facilitadora da atuação do líder, auxiliando-o na criação de um clima propício à aprendizagem.

Constatou-se que compartilhar foi o aspecto que se mostrou presente nas três etapas do processo

de aprendizagem e, que a organização pesquisada, por meio da vivência de crenças e de valores,

evidenciou que é uma organização que estimula seus colaboradores a compartilharem o

conhecimento. A atuação do líder como facilitador teve destaque em relação aos outros papéis de

orientador e administrador.

Palavras-chave: aprendizagem organizacional, liderança em equipes de desenvolvimento de

novos produtos, barreiras à aprendizagem organizacional, fatores facilitadores, cultura de

trabalho.

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ABSTRACT

The rapid insertion of organizations in a global economy demands a capacity to learn and apply

knowledge faster than the competitors, continuously developing and offering new products and

services for a market that demands innovations. The processes of organizational learning and

leadership appear as an alternative for people and organizations to improve their competitiveness.

The general objective of this study was to understand the performance of the leader in the process

of organizational learning, focused in teams of new products‟ development in a large cosmetic

industry company. The field research, explorative and qualitative, consisted of twelve profound

interviews, based on pre-defined scripts, that included four leaders and theirs teams of new

products‟ development. The acquired data was submitted to a technique of content analysis, using

a qualitative approach with thematic categorization. The results disclosed that the performance of

the leader is the most important success topic in the process of organizational learning. The

leader in the studied organization conducts, facilitates and manage the learning process, which

revealed itself integrated and circular, including the stages of acquisition, sharing and retention of

the knowledge. The study infers that the work culture, which prioritizes velocity and shorting

cycles, allied with external environment variables act as barriers to the learning process. On the

other hand the culture of the studied organization, based in solid beliefs and values, encourages

the learning process and facilitates the leader‟s performance, assisting him to establish a

propitious environment for learning. The evidences point that “sharing” was an aspect presented

in all three stages of the learning process and that the studied organization, based on its beliefs

and values, encourages its associates to share the knowledge. The leader‟s performance as a

facilitator overshadowed his roles as an advisor or manager.

Keywords: organizational learning, leadership in new products development team, barriers to

organizational learning, factors that promote learning, organizational culture.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................... 14

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Aprendizagem individual................................................................................................ 19

2.2 Criação do conhecimento................................................................................................ 24

2.3 Aprendizagem organizacional....................................................................................... 28

2.4 Resumo........................................................................................................................... 49

2.5 O conceito de liderança................................................................................................... 51

2.6 O líder em uma equipe de trabalho................................................................................ 55

2.7 Elos entre aprendizagem organizacional, criação do conhecimento e liderança de

equipes..................................................................................................................................

2.8 Resumo...........................................................................................................................

66

72

3. PROBLEMA DE PESQUISA, DELIMITAÇÃO E OBJETIVOS................................ 75

4. PROCEDIMENTO METODOLÓGICOS

4.1 Sobre a pesquisa qualitativa......................................................................................... 80

4.2 Explicitação do paradigma........................................................................................... 83

4.3 Tipo de pesquisa........................................................................................................... 85

4.4 O estudo de caso como estratégia de pesquisa............................................................. 87

4.5 Estratégia de amostragem............................................................................................. 91

4.6 O papel do pesquisador................................................................................................ 94

4.7 Técnica de coleta de dados........................................................................................... 97

4.8 Análise de dados...........................................................................................................

4.9 Resumo.........................................................................................................................

103

108

5. PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS

5.1 Contextualização da empresa pesquisada..................................................................... 109

5.2 Desenvolvimento de novos produtos na empresa pesquisada...................................... 116

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5.3 Resumo ........................................................................................................................ 120

6. O PROCESSO DE TRATAMENTO DOS DADOS

6.1 Organização da análise................................................................................................... 121

6.2 Codificação................................................................................................................... 124

6.1 Categorização................................................................................................................. 126

7. A ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

7.1 O multi-método (intra método) na prática............................................................................. 131

7.2 A caracterização da organização pesquisada e indicadores da cultura de trabalho................ 133

7.3 A caracterização dos entrevistados......................................................................................... 135

7.4 A aprendizagem organizacional: o processo, os fatores facilitadores, as barreiras e os

aspectos da cultura de trabalho da organização............................................................................

138

7.5 A atuação do líder no processo de aprendizagem organizacional........................................... 153

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................... 176

LIMITAÇÕES DO ESTUDO................................................................................................ 187

RECOMENDAÇÕES................................................................................................................ 188

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................... 189

APÊNDICE A – Roteiro de entrevistas...................................................................................... 196

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Modelos de aprendizagem experiencial: ciclos de aprendizagem.......................... 23

Figura 2 Modelo de cinco fases do processo de criação do conhecimento........................... 27

Figura 3 Modelo integrado de aprendizagem organizacional e seus ciclos incompletos de

aprendizagem........................................................................................................................

32

Figura 4 Fatores contextuais que afetam a probabilidade de ocorrência da aprendizagem. 40

Figura 5 Culturas de trabalho................................................................................................ 41

Figura 6 Mudança e aprendizagem...................................................................................... 43

Figura 7 Os 4I‟s da aprendizagem organizacional............................................................... 46

Figura 8 Representação esquemática da teoria caminho-objetivo........................................ 63

Figura 9 Funções de desempenho do líder que contribuem para a eficácia da

equipe....................................................................................................................................

68

Figura 10 Modelo básico conceitual do trabalho................................................................. 74

Figura 11 A escada de abstração analítica............................................................................ 104

Figura 12 Representação esquemática do processo de aquisição do conhecimento............. 143

Figura 13 Representação esquemática do processo de compartilhamento do

conhecimento........................................................................................................................

146

Figura 14 Representação esquemática do processo de retenção do conhecimento.............. 149

Figura 15 Relação entre crenças, valores da organização pesquisada e o processo de

aprendizagem........................................................................................................................

150

Figura 16 Esquema do processo de aprendizagem em equipes de desenvolvimento de

novos produtos......................................................................................................................

151

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11

Figura 17 Atuação do líder no processo de aprendizagem organizacional........................... 174

Figura 18 Conjunto de crenças e valores da organização pesquisada e sua relação com a

forma de atuação do líder no processo de aprendizagem......................................................

175

Figura 19 Representação esquemática da atuação do líder no processo de aprendizagem

em equipes de desenvolvimento de novos produtos.............................................................

185

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Enfoques teóricos à aprendizagem e ao ensino..................................................... 21

Quadro 2 Condições capacitadoras da criação do conhecimento organizacional................ 26

Quadro 3 Níveis de aprendizagem organizacional.............................................................. 29

Quadro 4 Tipologia do conhecimento.................................................................................. 33

Quadro 5 Teorias em uso – Modelos I e II.......................................................................... 36

Quadro 6 Constructos e processos relacionados com aprendizagem organizacional.......... 37

Quadro 7 Atributos chave de culturas de trabalho................................................................ 42

Quadro 8 Blocos constitutivos do desenvolvimento da teoria de aprendizagem

organizacional.......................................................................................................................

44

Quadro 9 Fatores orientadores e facilitadores da aprendizagem......................................... 48

Quadro 10 Tarefas básicas para o líder de equipes de aprendizagem organizacional......... 56

Quadro 11 Espectro de respostas em discussões de aprendizagem...................................... 57

Quadro 12 Liderança no processo de aprendizagem organizacional.................................... 59

Quadro 13 Dimensões dos atributos da liderança e alguns exemplos de comportamento

ou ações ................................................................................................................................

61

Quadro 14 Comportamentos observados de acordo com os estilos de liderança................. 64

Quadro 15 Comparativo entre comunidades de prática e outras equipes............................. 65

Quadro 16 Comparação dos três modelos gerenciais no processo de criação do

conhecimento........................................................................................................................

66

Quadro 17 Proposições para o processo de liderança funcional........................................... 71

Quadro 18 Perguntas essenciais para o planejamento adequado de uma pesquisa............... 75

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Quadro 19 Estágios cognitivos possibilitadores de ações intelectuais................................. 78

Quadro 20 A estrutura de premissas básicas que caracterizam o debate entre objetividade

e subjetividade nas Ciências Sociais.....................................................................................

84

Quadro 21 Testes, táticas e referências recomendadas para estudo de caso......................... 89

Quadro 22 Estratégias de amostragem na pesquisa qualitativa............................................ 92

Quadro 23 Fontes de evidências e seus pontos fortes e fracos............................................. 97

Quadro 24 Enfoques da entrevista de pesquisa..................................................................... 100

Quadro 25 Síntese das principais etapas e procedimentos metodológicos........................... 108

Quadro 26 Conjunto dos valores da Natura.......................................................................... 113

Quadro 27 Conjunto das crenças da Natura.......................................................................... 114

Quadro 28 Funil de Inovação da Natura............................................................................... 118

Quadro 29 Principais responsabilidades das equipes de projetos......................................... 119

Quadro 30 Etapa de tratamento dos dados............................................................................ 124

Quadro 31 Etapa de categorização........................................................................................ 125

Quadro 32 Categorias de análise para aquisição, compartilhamento e retenção do

conhecimento........................................................................................................................

127

Quadro 33 Categorias de análise da atuação do líder........................................................... 128

Quadro 34 Caracterização da organização pesquisada......................................................... 133

Quadro 35 Caracterização dos entrevistados........................................................................ 135

Quadro 36 O Funil de Inovação nos processos de aquisição, compartilhamento e

retenção do conhecimento.....................................................................................................

152

Quadro 37 Categorias de análise da atuação do líder no processo de aprendizagem........... 154

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1. INTRODUÇÃO

As organizações que atuam no Brasil têm experimentado um processo acelerado de

inserção em uma economia globalizada, exigindo que busquem incessantemente alcançar altos

índices de competitividade. A aprendizagem organizacional surge como um meio para auxiliar

nessa tarefa. Para Loiola e Bastos (2003), o tema aprendizagem organizacional é alvo de intensa

pesquisa na comunidade científica internacional e objeto de vasta literatura de divulgação

científica para gestores e consultores. Segundo os autores, esse interesse crescente pelo tema

objetiva encontrar, na produção acadêmica, resultados que possam ser úteis no delineamento de

agenda de pesquisa para equacionar os dilemas chave e preencher lacunas claramente

perceptíveis na área de aprendizagem organizacional. Os autores ao examinarem artigos sobre

aprendizagem organizacional chegaram a algumas conclusões: a) concentração da produção

acadêmica em seis instituições de pós graduação, b) as bases conceituais têm um domínio de

autores de origem anglo-saxônica, c) uso de métodos empíricos e desenvolvidos, em sua maioria

em macro processos organizacionais e d) debate teórico entre aprendizagem organizacional e

organizações de aprendizagem. Zardo (2003), ao estudar a produção brasileira de artigos sobre

aprendizagem organizacional, publicados nos Anais do Encontro Nacional da Associação

Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração (ENANPAD) no período de 1997

a 2003, constatou que a aprendizagem organizacional continua sendo objeto de estudo e de

produção crescente de artigos. O estudo confirmou a existência de um polo produtor de artigos e

que doze autores respondem por dois terços dessa produção, sendo que Argyris, Senge e Fleury

foram os mais citados. Todavia, ficaram evidenciadas algumas lacunas, dentre elas a falta de

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trabalhos científicos analisando o processo de aprendizagem organizacional, dentro das

organizações e a atuação dos líderes nesse processo.

Segundo Nevis, DiBella e Gould (1998), o interesse pela aprendizagem organizacional

tem crescido nos últimos anos. Esse crescimento é em função do declínio de algumas empresas

bem estabelecidas e pelo acirramento da concorrência, que acaba diminuindo a capacidade das

empresas fazerem frente ao fenômeno da globalização. Stata (1997) afirma que o ritmo em que as

pessoas e as organizações aprendem pode ser a única vantagem competitiva sustentável. Portanto,

existe hoje uma preocupação sobre aprendizagem organizacional enquanto ferramenta, um meio

para a competitividade.

Easterby-Smith e Araujo (2001), ao discorrerem sobre a literatura de aprendizagem

organizacional, argumentam a existência de uma concentração na observação e análise

distanciada dos processos envolvidos em aprendizagens individuais e coletivas dentro das

organizações.

Para De Geus (1997), talvez a única vantagem competitiva das organizações atuais seja a

capacidade de seus líderes em promoverem o processo de aprendizagem e aplicarem esse

aprendizado mais rápido do que os concorrentes.

Senge (2002) argumenta que cabem, aos líderes, três novos papéis em substituição ao

velho clichê do líder “herói salvador da pátria”. O primeiro é o líder atuando como designer das

idéias, crenças, valores e propósitos da organização, ou nas palavras de Senge, o líder projetista.

O segundo, o líder professor, reforça o trabalho do líder como facilitador do processo em que as

pessoas reestruturam suas visões da realidade. O terceiro, o líder como regente (steward), é mais

sutil que os dois anteriores e pressupõe que o líder atue tanto servindo suas equipes de liderados

quanto ao propósito maior da organização.

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Garvin (2002) menciona três tarefas básicas do líder no processo de aprendizagem

organizacional. A primeira é projetar cenários e eventos que induzam a criação de oportunidades

de aprendizagem, ou seja, similar aquela apontada por Senge como o líder projetista. A segunda é

aquela na qual o líder estabelece clima e tom adequados para que a aprendizagem ocorra,

nutrindo normas e comportamentos de engajamento adequados. A terceira tarefa é a de liderar o

processo de discussão.

Nonaka e Takeuchi (1997) chamam a atenção para o papel desempenhado pelos gerentes

de nível médio no processo de liderança facilitadora da criação do conhecimento organizacional.

Os autores argumentam que o conhecimento é criado pelos líderes de equipe que se encontram no

nível hierárquico intermediário das organizações. Nonaka (2000) menciona três papéis que um

gerente/líder deve desempenhar. O primeiro, apontado pelo autor como o mais importante, é o de

direcionador do caos para criação de conhecimentos predeterminados. O segundo é na articulação

de metáforas, símbolos e conceitos orientatativos das atividades de criação de conhecimento entre

os colaboradores. O terceiro é a definição de padrões para justificar o valor do conhecimento em

contínuo desenvolvimento pelos colaboradores.

Ambos os temas mencionados anteriormente, aprendizagem organizacional e liderança,

possuem uma vasta gama de possibilidades de estudo. Portanto, é mister focalizar alguns de seus

aspectos. Garvin (2002) e Kim (1993) argumentam a existência de um processo de transição

entre a aprendizagem individual para a organizacional. Garvin (2002) afirma que cabe tanto aos

gerentes quanto aos líderes terem como meta a melhoria do processo de aprendizagem

organizacional. Lyles (2001) argumenta que o conhecimento pode ser transferido entre

indivíduos, equipes e organizações. Para Nonaka e Takeuchi (1997), o conhecimento é um

processo dinâmico com base nas dimensões ontológica e epistemológica. Huber (1991) por sua

vez, afirma que uma organização aprende quando, por meio do processamento de informação,

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incrementa a probabilidade para que suas ações futuras resultem em uma melhoria de

desempenho.

Considerando o que foi exposto até este ponto, parecem existir algumas lacunas na

produção de pesquisas sobre os temas aprendizagem organizacional e liderança. Percebe-se

também que o processo de desenvolvimento de produtos é uma área interessante para pesquisar-

se conjuntamente os temas mencionados. Outro ponto que emerge dos posicionamentos de

autores clássicos é o relacionamento entre a criação do conhecimento e a aprendizagem

organizacional. Os autores que escrevem sobre criação do conhecimento (Nonaka, Takeuchi,

Terra, Prusak, Davenport, Klein entre outros) têm um foco amplo no conhecimento. Pouco ou

quase nada é escrito sobre aprendizagem organizacional. Por outro lado, os autores clássicos que

escrevem sobre aprendizagem organizacional (Argyris, Schön, Senge, Lyles, Fiol, DiBella,

Nevis, Gould, Huber, Garvin, De Geus, Valença, Kim entre outros) têm abordagens que

transcendem o conhecimento. Para esses autores, o cerne da aprendizagem organizacional está no

relacionamento entre as pessoas, ou seja, aprendizagem organizacional é algo maior do que a

simples criação e transferência de conhecimento.

O objetivo deste trabalho é contribuir para as organizações por meio da compreensão da

atuação do líder no processo de aprendizagem organizacional do conhecimento criado em

equipes de desenvolvimento de produtos. O problema de pesquisa deste trabalho é: De que forma

a atuação do líder contribui para o processo de aprendizagem organizacional do conhecimento

criado nas equipes de desenvolvimento de novos produtos? Será estudada a aprendizagem

organizacional e a atuação do líder em equipes de uma empresa na indústria cosmética. A escolha

considerou a necessidade mercadológica que esta indústria tem de lançar, regularmente, uma

grande quantidade de novos produtos. Normalmente uma empresa nesse segmento industrial

desenvolve, anualmente, novos produtos em média de 20% a 40% do seu portifólio. Esses novos

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produtos são geralmente desenvolvidos por meio de equipes de projetos. Cada equipe de projeto

tem alguém atuando como líder. Acredita-se que os temas aprendizagem organizacional da

criação do conhecimento e atuação do líder no processo de desenvolvimento de novos produtos

possam ser adequadamente estudados ao serem analisadas algumas equipes de projetos de

desenvolvimento de novos produtos.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

“Mestre é aquele de repente, aprende”.

Guimarães Rosa

Será construída uma linha de raciocínio com base em autores clássicos que escrevem a

respeito dos temas aprendizagem, criação do conhecimento e liderança. Serão discutidas

definições de aprendizagem individual e organizacional. Procurar-se-á estabelecer um elo entre

os processos de criação do conhecimento e a aprendizagem organizacional. Será discutida a

relação entre liderança e aprendizagem organizacional. Também serão abordados aspectos

facilitadores e orientadores da aprendizagem organizacional. Modelos de aprendizagem

experiencial e ciclos de aprendizagem também serão mencionados.

2.1. Aprendizagem Individual

Senge (2003), ao pesquisar o significado de aprendizagem individual, encontrou no

ideograma chinês que representa esse conceito, composto por dois caracteres, uma pista

interessante. O primeiro caracter, composto por duas partes, significa estudar. Na primeira parte é

encontrada a simbologia do conhecimento acumulado e a segunda parte, sobreposta à primeira,

simboliza uma criança na soleira de uma porta. O segundo caractér, também composto de duas

partes, significa praticar constantemente. Na primeira, isto é representado por um pássaro

desenvolvendo habilidades para deixar o ninho, também representando a juventude. A segunda

simboliza o vôo desse pássaro. Em resumo, parece que os orientais entendem aprendizagem

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como um processo contínuo de estudo e prática conjunta, talvez remetendo também à idéia de

liberdade e autonomia. Senge (2003) sintetiza que a aprendizagem para a mente do oriental tem o

significado de maestria na forma de se auto-desenvolver. No entanto, para Nonaka e Takeuchi

(1997), a tradição intelectual japonesa difere da ocidental, fundamentada no racionalismo e na

fragmentação, por considerar três premissas básicas: a unidade do homem e da natureza; a

unidade do corpo e da mente; e a unidade do eu e do outro.

Tomando “emprestado” alguns conceitos de eminentes educadores sobre o processo de

aprendizagem individual e criação do conhecimento, pode-se fazer uma ponte com o tema

aprendizagem organizacional. Morin (2003, p. 20) afirma que o “conhecimento não é um espelho

das coisas ou do mundo externo. Todas as percepções são, ao mesmo tempo, traduções ou sinais

captados e codificados pelos sentidos”. O autor aponta que o conhecimento quando assume a

forma de palavras, de idéias, de teorias é fruto de uma tradução/reconstrução por meio da

linguagem e do pensamento. Consequentemente sujeito ao erro. Mello (1998) complementa as

afirmações de Morin, agregando o conceito de contextualização de conteúdo, que, segundo a

autora, significa primordialmente, assumir que todo conhecimento envolve uma relação entre

sujeito e objeto. Por esta razão, quase sempre o conhecimento se vale de uma transposição

didática, na qual a linguagem assume papel decisivo. A autora acrescenta que é possível

generalizar a contextualização como recurso possibilitador da aprendizagem ao associá-la com

experiências de vida cotidiana ou com os conhecimentos adquiridos de forma espontânea.

Dierkes et al. (2003) indicam que aprendizagem individual geralmente é mencionada

como um elo muito próximo da psicologia. Para os autores, existem abordagens sociológicas,

antropológicas, econômicas, políticas e históricas quando se estuda o processo de aprendizagem.

Este trabalho utilizará a abordagem psicológica em virtude da aderência com os temas que serão

pesquisados. Maier, Prange e Rosenstiel (2003) afirmam que todos os organismos são capazes de

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aprender de diferentes formas, em um processo evolutivo ou adaptativo. Para as autoras, a

aprendizagem é vista como um processo, que a literatura de aprendizagem organizacional

enquadra em três conceitos básicos: teorias comportamentais, baseadas em condicionamento

clássico e instrumental; teorias de aprendizagem sociais; e teorias de processamento de

informação e memória.

Para Moreira (1999), existem três vertentes teóricas sustentando os principais modelos de

aprendizagem individual. A primeira baseia-se no modelo comportamentalista com foco nos

comportamentos observáveis e mensuráveis. A segunda, com base no modelo cognitivo que

enfatiza o ato de conhecer e trata, principalmente, dos processos mentais. A terceira é a vertente

do humanismo, em que o aprendiz é visto em sua totalidade (sentimentos, pensamentos e ações).

O Quadro 1 resume de forma sintética as três filosofias subjacentes às teorias de aprendizagem,

segundo o autor.

Quadro 1 Enfoques teóricos à aprendizagem e ao ensino

Comportamentalismo Cognitivismo Humanismo

Ênfase Comportamentos

observáveis.

Cognição. Pessoa.

Conceitos básicos Estímulo, resposta,

condicionamento,

reforço, objetivo

comportamental.

Esquema, signo,

modelo mental,

constructo pessoal.

Aprender a aprender,

liberdade para

apreender, ensino

centrado no aluno,

crescimento pessoal.

Idéia-chave O comportamento é

controlado por suas

conseqüências.

O conhecimento é

construído.

Pensamentos,

sentimentos e ações

estão integrados.

Autores Pavlov, Watson,

Guthrie, Thorndike,

Skinner.

Piaget, Bruner,

Vigotsky, Johnson-

Laird, Ausubel, Kelly.

Rogers.

Fonte: Adaptado de Moreira (1999, p. 18)

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Para Kolb (1976), a aprendizagem organizacional está baseada em uma abordagem de

aprendizagem individual, que propõe que a aprendizagem ocorra baseada na experiência, e é

concebida como um processo de quatro fases. Segundo esse autor, o ciclo se constitui em: “A

experiência concreta imediata é a base para observação e reflexão. Essas observações são, então

assimiladas em uma teoria, da qual novas implicações para a ação podem ser deduzidas. Essas

implicações ou hipóteses servem então como guias para a ação, para criar novas experiências.”

(KOLB, 1976, p. 21).

Essa teoria pressupõe que o aprendiz precisa ter diferentes habilidades para que seu

processo de aprendizagem seja eficaz. As habilidades compreendem: envolver-se em

experiências novas, concretas de maneira aberta e sem preconceitos; ser capaz de refletir e

observar essas experiências de diferentes pontos de vista; ser capaz de criar conceitos e integrar

suas observações em teorias lógicas ou coerentes; e ser capaz de usar essas teorias para decidir e

resolver problemas. Assim, no processo de aprender, o indivíduo oscila em diversos graus entre

ser ator e ser observador, vivenciando momentos de um envolvimento específico e momentos de

afastamento analítico genérico. Segundo o autor, desenvolver igualmente todas essas capacidades

é difícil. O que ocorre freqüentemente é as pessoas desenvolverem um estilo de aprendizagem

que enfatiza algumas habilidades de aprendizagem em detrimento de outras.

Kim (1993), ao analisar os modelos de aprendizagem experiencial, provoca uma reflexão

ao discutir autores como Lewin, Deming, Schein, Argyris & Schön e Kofman. Os modelos de

aprendizagem desses cinco autores são sintetizados na Figura 1, na qual se observa uma certa

aproximação entre os modelos de Lewin, Kofman, Schein e Argyris & Schön que, de acordo,

com Argyris, poderiam ser considerados como modelos de circuito duplo. Esses modelos têm

como estratégia básica a busca pela inovação e pela diferenciação. O modelo de Deming, embora

com ciclo similar aos demais, é na realidade um modelo típico de circuito simples, ou seja, de

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manutenção e de busca da excelência operacional. Os termos usados na Figura 1 foram mantidos

na língua original (inglesa) para preservar a fidedignidade da informação. Os números que

precedem os termos indicam a seqüência original nos modelos dos autores. As cores procuram

agrupar as etapas similares.

Figura 1 Modelos de aprendizagem experiencial: ciclos de aprendizagem

Fonte: Elaborado pelo Autor com base em Kim (1993, p. 38-39).

Deming

1. Plan

2. Do

3. Check

4. Act

Argyris

& Schön

1. Discovery

3. Production4. Generalization

2. Invention

Kofman

1. Observe

3. Design

2. Asses

4. Implement

Lewin

2. Observation

1. Concrete

experience

3. Generalization

4. Testing

Schein

1. Observation

2. Emotional

3. Reaction

4. Judgment

5. Intervention

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2.2. Criação do Conhecimento

O processo de aprendizagem individual pode, de acordo com Garvin (2002), ser encarado

como uma atividade natural dos seres humanos que ocorre ao longo do tempo. Como possível

resultado desse processo emerge, a criação do conhecimento, ou seja, uma pessoa ao apreender

está de certo modo criando algum tipo de conhecimento. Nonaka e Takeuchi (1997), ao

compararem as empresas ocidentais com as japonesas afirmam que as últimas obtêm sucesso por

criarem conhecimento e, dessa forma, inovarem e se diferenciarem em um ambiente globalizado

competitivo. Os autores complementam colocando que as empresas ocidentais têm uma visão

mecanicista da organização, focadas nos conhecimentos explícitos, ao passo que as japonesas têm

uma visão de empresa como organismo vivo, focadas nos conhecimentos tácitos. Os autores

consideram o conhecimento como um processo humano dinâmico de justificar a crença pessoal

com relação à “verdade”. Consideram também que o aprendizado mais poderoso é aquele que

vem da experiência direta.

Nonaka e Takeuchi (1997) indicam que a criação do conhecimento possui duas

dimensões. A primeira é a ontológica, em que o conhecimento só é criado por indivíduos e,

posteriormente é compartilhado em níveis grupais, organizacionais e interorganizacionais. A

segunda é a epistemológica, que os autores se basearam em Polanyi (1966) que estabeleceu a

distinção entre conhecimento tácito e explícito. A conversão do conhecimento tácito para o

explícito é um processo social entre pessoas, possui quatro possibilidades que apresentam cada

qual um conteúdo de conhecimento:

A primeira é chamada de socialização e visa o compartilhamento do conhecimento tácito,

por exemplo, por meio de treinamento. O conteúdo gerado nessa possibilidade é o

conhecimento compartilhado;

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A segunda é a externalização que objetiva explicitar o conhecimento tácito por meio de

metáforas, analogias, conceitos, hipóteses ou modelos. O conteúdo gerado nessa segunda

possibilidade é o conhecimento conceitual;

A terceira é a combinação de conjuntos distintos de conhecimentos explícitos, que pode

ser operacionalizado por meio de documentos, reuniões, conversas ou redes de

comunicação via computador. Conhecimento sistêmico é o conteúdo gerado nessa terceira

possibilidade de conversão;

A quarta possibilidade é a internalização, na qual o conhecimento explícito é incorporado

no tácito, com um forte apelo ao aprender fazendo. O conteúdo gerado é o conhecimento

operacional (know how).

Nonaka e Takeuchi (1997) indicam cinco condições capacitadoras da criação do

conhecimento organizacional explicitadas no Quadro 2 e suas respectivas formas de

operacionalização. Condições capacitadoras promovem a criação do conhecimento dentro das

organizações, fornecendo o contexto apropriado para facilitar as atividades em equipe, a criação e

o acúmulo do conhecimento individual.

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Quadro 2 Condições capacitadoras da criação do conhecimento organizacional

Condição Definição Operacionalização

Intenção Aspiração de uma organização às suas

metas. A essência da estratégia está no

desenvolvimento na capacidade

organizacional de adquirir, criar, acumular

e explorar o conhecimento.

Estimular o compromisso dos

colaboradores, mediante de

perguntas como: “O que é

verdade? O que é ser humano?

O que é vida?”

Autonomia Capacidade de todos os colaboradores de

uma organização para agir de forma

autônoma de acordo com as circunstâncias.

Estímulo a criação de equipes

auto-gerenciadas, equipes de

projetos.

Flutuação e

caos criativo

Adoção de atitude aberta em relação aos

sinais ambientais, explorando a

ambigüidade para aprimorar o sistema de

conhecimento.

Enfrentamento de crises, visões

ambíguas, estabelecimento de

metas arrojadas.

Redundância Superposição consciente de informação,

atividades e responsabilidades que

transcendem as exigências operacionais

imediatas dos colaboradores da

organização.

Estímulo a competição sadia

interna , uso de job rotation,

livre acesso as informações.

Variedade de

requisitos

Capacidade da organização em

corresponder à variedade e à complexidade

do ambiente de modo a permitir que ela

enfrente os desafios impostos pelo

ambiente.

Adoção de estruturas

organizacionais do tipo

biofuncional, flexibilidade e

rapidez no acesso às

informações.

Fonte: Adaptado de Nonaka e Takeuchi (1997, p. 83-95).

Após a análise das quatro formas de conversão e das cinco condições capacitadoras que

promovem a criação do conhecimento organizacional, Nonaka e Takeuchi (1997) propuseram um

modelo de cinco fases do processo de criação do conhecimento. A primeira fase é o

compartilhamento do conhecimento tácito, que demanda um “campo” adequado onde os

colaboradores possam interagir uns com os outros por meio de diálogos pessoais. A segunda fase

é a criação do conhecimento ou externalização (passagem do conhecimento tácito para o

explícito), que é facilitada pelo uso de múltiplos métodos de raciocínio, como dedução, indução e

abdução. A terceira fase é a justificativa de conceitos, ou seja, a justificação das crenças

verdadeiras em procedimentos. A formulação conjunta da estratégia e visão é um processo

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facilitador dessa fase. A quarta fase é a construção de um arquétipo: algo tangível ou concreto,

por exemplo, um protótipo no caso de desenvolvimento de produtos. A cooperação dinâmica

entre todas as áreas de uma organização é indispensável para o sucesso dessa construção. A

quinta fase é a difusão interativa do conhecimento, aonde o conhecimento que se torna real pode

desencadear novos ciclos de criação, alimentando, dessa forma, a espiral do conhecimento. A

Figura 2 explicita o modelo das cinco fases.

Figura 2 Modelo de cinco fases do processo de criação do conhecimento

Fonte: Nonaka e Takeuchi (1997, p. 96)

Comparti-

lhamento do

conhecimento

Criação

de

conceitos

Construção

de um

arquétipo

Justificação

de

conceitos

Novo ciclo

de criação do

conhecimento

Condições capacitadoras

Intenção

Autonomia

Flutuação/Caos criativo

Redundância

Variedade de requisitos

Socialização Externalização Combinação

Internalização

Conhecimento explícito

na organização

Conhecimento tácito

na organização

De organizações

colaboradoras

Conhecimento de usuários

tácito

Mercado

Internalização

pelos usuários

Conhecimento explícito como

anúncios, patentes, produto/serviço

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2.3. Aprendizagem Organizacional

Vimos que as pessoas aprendem naturalmente por meio de um processo de aprendizagem

individual. Notamos também que o “produto” dessa aprendizagem pode ser a criação do

conhecimento. Mas será que: “a aprendizagem organizacional poderia ser pensada com base na

mesma lógica do processo de aprendizagem individual?” ou “a aprendizagem é eminentemente

um processo individual que transita para grupos e organizações, ou existiria efetivamente um tipo

de „aprendizagem coletiva‟?” (RUAS, In: FLEURY e OLIVEIRA JÚNIOR, 2001, p. 253).

Responder essas questões será o foco desta parte do referencial teórico.

Dierkes et al. (2003) mencionam que Argyris, Schön, March e Olsen são freqüentemente

citados como os pioneiros nos estudos sobre aprendizagem organizacional. Para Argyris e Schön

(1978), a aprendizagem organizacional é um processo pelo qual os colaboradores detectam erros

ou desvios e os corrigem ao reestruturar a teoria em uso da organização. Argumentam, também,

que ela ocorre de duas formas. Uma é chamada de circuito simples, em que basicamente é feita

uma pergunta de única dimensão para que seja deduzida uma resposta unidimensional. O

exemplo utilizado por Argyris é o termostato, aparelho que mede a temperatura ambiente em

relação a um valor que foi padronizado por alguém e que irá ligar e/ou desligar toda vez que a

temperatura estiver fora dos padrões determinados. A transição é binária e a maior preocupação é

com a manutenção de um determinado estado. A outra chamada de aprendizagem em circuito

duplo, usa uma ou mais etapas adicionais. Nesse tipo de aprendizagem a pergunta é devolvida ao

seu proponente. Voltando ao exemplo do termostato, a aprendizagem em circuito duplo questiona

o valor definido como padrão e, também, se a fonte de calor presente seria o meio mais eficaz

para alcançá-lo. Na aprendizagem de circuito duplo, as perguntas são feitas não apenas sobre

fatos objetivos, mas também sobre as razões e motivos existentes por trás deles.

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Para Lyles (2001), existe o pressuposto que o conhecimento pode ser transferido entre

pessoas, equipes e organizações. A autora descreve a estrutura da aprendizagem como cíclica.

Fiol e Lyles (1985) agregam o conceito de dois níveis de aprendizagem organizacional à

discussão. O primeiro, chamado de nível mais baixo (lower-level), é aquele no qual a

aprendizagem ocorre por mera repetição das experiências passadas. Geralmente é um nível

baseado no curto prazo, na superficialidade e na temporalidade. Esse nível também pode ser

caracterizado como de circuito simples, baseado em rotinas e em conhecimento explícito. O

segundo nível, denominado mais alto (higher-level), considera o desenvolvimento de regras

complexas e associações com ações inovadoras. O entendimento das causas é primordial e o

desenvolvimento e o aprendizado envolvem toda a organização. O modelo de circuito duplo é

usado, já que as normas, estruturas, referências e premissas são constantemente mudadas. Esse

conhecimento de nível mais alto é o tácito. O Quadro 3 reflete esses dois níveis de aprendizagem

organizacional, suas características, conseqüências e apresenta alguns exemplos de cada um dos

níveis.

Quadro 3 Níveis de aprendizagem organizacional

Nível mais baixo (lower-level) Nível mais alto (higher level)

Definições Foca aprendizagem como mera

repetição de comportamentos passados

– geralmente de curto prazo,

superficial, temporária, mas com

associação sendo formadas. Captura

apenas certos elementos – ajustamentos

de parte daquilo que a organização faz.

Circuito simples. Nível de rotina.

Desenvolvimento de regras complexas e

associações relativas à novas ações.

Desenvolvimento do entendimento de causa

e efeito. Aprendizagem afetando a

organização em seu todo. Circuito duplo.

Regras gerais, estruturas de referência e

mudança de premissas.

Características Ocorre através da repetição;

Rotina;

Controle sobre tarefa imediata,

regras, estruturas;

Contexto bem entendido;

Ocorre em todos os níveis da

organização.

Ocorre através do uso de insights e

houristics;

Não rotineira;

Desenvolvimento de estruturas e regras

diferenciadas, para lidar com a falta de

controle;

Contexto ambíguo;

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Nível mais baixo (lower-level) Nível mais alto (higher level)

Maior ocorrência nos níveis mais altos.

Conseqüências Resultados comportamentais Insights, houristics e conscientização

coletiva

Exemplos Institucionalização de regras

formais;

Ajustamentos nos sistemas

gerenciais;

Habilidades de resolução de

problemas.

Novas missões e novas definições de

direcionamento;

Agendamento;

Habilidades para definir problemas;

Desenvolvimento de novos mitos,

histórias e cultura.

Fonte: Adaptado de Fiol e Lyles (1985, p. 810)

A exemplo de Lyles (2001), Kim (1993) defende que o aprendizado organizacional é um

processo de transferência do aprendizado individual e que a organização pode aprender

independentemente de pessoas específicas, mas não de todas as pessoas. O autor resgata o papel

da memória, buscando na psicologia o conceito de que aprendizagem é equivalente a aquisição de

conhecimento e que a memória é o processo pelo qual esse conhecimento adquirido é retido.

Visto de forma linear, poder-se-ia dizer que a memória armazenada cria uma estrutura que afeta o

processo mental e as ações do indivíduo, desembocando no que se conhece como modelo mental

individual, em que a pessoa desenvolve sua visão de mundo. Visão essa baseada em estruturas e

rotinas que provem o contexto, a codificação dos recursos e identificam o que faz sentido para o

indivíduo. Na seqüência, ocorre a transferência do que a pessoa aprendeu para a organização.

Kim (1993) afirma que as organizações também têm modelos mentais, rotinas, memórias,

procedimentos, e que esse conjunto permite que elas tomem suas decisões. O autor chama a

atenção para o que define como elo perdido entre a aprendizagem individual e a aprendizagem

organizacional, que nada mais é do que a falta de consideração na maioria dos modelos sobre o

papel dos indivíduos e suas interações com os demais e com o ambiente.

Kim (1993) propõe um modelo integrado de aprendizagem organizacional, conforme a Figura

3. Nesse modelo é explorado o processo de transferência da aprendizagem individual para a

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organizacional. O autor observa ainda, como identificado pelos números na Figura 3, sete

desconexões que tornam a aprendizagem organizacional incompleta:

1. Aprendizagem limitada pelo papel – quando a aprendizagem individual não é efetiva no

indivíduo, em função de seu papel restritivo (rompimento do círculo de aprendizagem);

2. Aprendizagem pela audiência – indivíduo pode afetar a ação da organização de modo

ambíguo;

3. Aprendizagem supersticiosa – falta de conexão entre a ação organizacional e a resposta do

ambiente;

4. Aprendizagem sob ambigüidade – falta de clareza na relação de causa e efeito entre ações

organizacionais e respostas ambientais;

5. Aprendizagem situacional – rompimento entre a aprendizagem individual e o modelo

mental individual. Por exemplo, gerenciamento de crise;

6. Aprendizagem fragmentada – os indivíduos aprendem, mas as organizações nem sempre.

Por exemplo, algumas Universidades;

7. Aprendizagem oportunística – ocorre quando pessoas ou pequenos grupos “desobedecem”

os padrões normais da organização. Por exemplo, o desenvolvimento do carro Saturn da

GM e o computador pessoal da IBM.

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Figura 3 Modelo integrado de aprendizagem organizacional e seus ciclos incompletos de

aprendizagem

Fonte: Adaptado de Kim (1993, p. 47)

Lyles (2001) considera a aprendizagem como um fluxo contínuo que se auto reproduz, ou

seja, é algo dinâmico, um processo. Para a autora a natureza da aquisição do conhecimento pode

ser descrita em quatro pontos:

A aquisição do conhecimento está baseada em percepção;

Conhecimento explícito pode ser conquistado e codificado;

A aprendizagem depende de modelos mentais compartilhados;

As pessoas necessitam se envolver ativamente.

Aprendizagem individual

1. Observar

4. Implementar

Operacional (know how)

2. Avaliar

3. Projetar

Conceitual (know why)

Estruturas

Rotinas

Modelos mentais - Individuais

Weltanschauung

Rotinas organizacionais

Modelos mentais compartilhados Ação organizacional

Ação individual

Resposta do ambiente

7

Aprendizagem oportunística

5 55

Aprendizagem situacional

6 6 Aprendizagem fragmentada

AOCS

AICS

AOCD

AICD

ACD

ACS

1

2

3

4

Aprendizagem limitada

pelo papel

Aprendizagem pela

audiência

Aprendizagem sob

ambigüidade

3

Aprendizagem supersticiosa

AICD = Aprendizagem individual de circuito duplo

AICS = Aprendizagem individual de circuito simples

AOCD = Aprendizagem organizacional de circuito duplo

AOCS = Aprendizagem organizacional de circuito simples

ACD = Aprendizagem de circuito duplo

ACS = Aprendizagem de circuito simples

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Oliveira Jr., Fleury e Child (2001) apontam que a aprendizagem é um processo que muda o

estado do conhecimento de uma pessoa ou de uma organização.

Considerando o que foi mencionado anteriormente, parece conveniente uma classificação

dos distintos tipos de conhecimento. Choo (2003) apresenta uma tipologia do conhecimento com

base em Boisot (1995), conforme o Quadro 4. O autor amplia a tipologia criando uma

diferenciação do conhecimento em três níveis:

Tácito, conhecimento implícito usado pelas pessoas da organização para realizarem seus

trabalhos e darem sentido ao seu mundo;

Explícito, conhecimento que pode ser expresso formalmente com uso de sistema

simbólico e com facilidade de comunicação;

Cultural, estruturas cognitivas e emocionais que normalmente são usadas pelas pessoas da

organização para perceber, explicar, avaliar e construir a realidade.

Quadro 4 Tipologia do conhecimento

Codificado: pode ser

escrito/armazenado sem

perdas significativas de

informação

Privado: conhecimento desenvolvido

e codificado que faz sentido somente

para seus criadores. Conhecimento

explícito.

Público: conhecimento em

sociedade e que pode ser

encontrado de forma

estruturada e registrada.

Conhecimento explícito.

Não codificado: não pode

ser escrito/armazenado

sem perdas essenciais

Pessoal: é aquele que nasce da

experiência própria, não acessível

aos outros e sem contexto para

debate. Conhecimento tácito.

Senso comum: é aquele

adquirido gradualmente ao

longo da vida por meio de

experiências pessoais e sociais.

Não disseminado: conhecimento que

permanece fechado dentro de

alguém.

Disseminado: conhecimento

compartilhado amplamente.

Conhecimento cultural.

Fonte: Adaptado de Choo (2003, p. 187)

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Choo (2003), com base em Cyert e March (1963, 1992), aponta quatro tipos de

procedimentos baseados em regras, quando o tema é conhecimento explícito:

Regras para o desempenho de tarefas – especificam os métodos para a conclusão de

tarefas da organização, como Normas e Procedimentos. Isto é importante porque

incorpora e facilita a transferência do conhecimento adquirido no passado. Essa regra

também facilita a coordenação, permitindo que a solução encontrada por uma equipe é

coerente com muitas outras que estejam sendo desenvolvidas em outro local ou

projeto da organização;

Regras para manutenção de registros – especificam quais registros devem ser feitos e

mantidos pela organização. No curto prazo, esses registros são usados com a

finalidade de controle. No longo prazo, para prever o ambiente por meio de hipóteses

relacionando o passado e o futuro;

Regras de uso da informação – especificam o sistema de comunicação da organização,

explicitando características, regras de distribuição e sumarização das informações

internas e externas;

Regras de planejamento – especificam o processo de planejamento periódico e a

alocação de recursos entre as atividades da organização.

Ampliando o entendimento de modelos mentais mencionado por Lyles (2001), Kleiner

(2003) afirma que o conceito de modelo mental se reporta à antigüidade e foi criado, na

atualidade, pelo psicólogo escocês Kenneth Craik nos anos 40. Os modelos mentais se referem a

duas situações: os “mapas” tácitos semipermanentes do mundo, que as pessoas carregam em sua

memória de longa duração (long-term); as percepções imediatas (short-term) que as pessoas

constróem como parte de seus processos racionais cotidianos. Decorre daí, que a aprendizagem

de circuito simples não implica em uma revisão extensa dos modelos mentais ou em outros

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termos a desconstrução dos modelos mentais, enquanto que essa desconstrução ocorre

verdadeiramente na aprendizagem de circuito duplo.

Ao aprofundar nos aspectos interpessoais do processo de aprendizagem organizacional,

Argyris e Schön (1977) desenvolveram uma teoria de aprendizagem altamente prescritiva

chamada de teoria de ação. Os autores argumentam que quando as pessoas são confrontadas com

situações interpessoais ameaçadoras, elas confiam em “teorias em uso” tácitas que, embora sejam

efetivas, acabam inesperadamente tolhendo a capacidade de aprendizado. Esse hiato, em que as

pessoas não estão conscientes, é decorrente da diferença entre o modo como elas acreditam que

se comportam (“teoria esposada”) e como elas realmente se comportam (“teoria em uso”).

Argyris (1977) criou o termo “Modelo I” para situações em que uma pessoa faz inferências sobre

o comportamento de outra, sem verificar se estas são válidas e, ao defender suas próprias visões

de modo abstrato, sem preocupação de explicar ou ilustrar seu raciocínio. Esse modelo é guiado

por uma mentalidade defensiva, da qual o “ator” não tem consciência e acaba provocando

“rotinas defensivas” (ações para “livrar a cara”) na organização. Para mudar de patamar, Argyris

(1977) propõe o “Modelo II”, que visa desenvolver uma capacidade organizacional a partir de

dados observáveis, fatos a partir dos quais se possa então extrair inferências. No Quadro 5 pode-

se observar as diferenças entre os dois modelos.

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Quadro 5 Teorias em uso – Modelos I e II

Variáveis de

governança em uso

Ações estratégicas

para o “ator”

Conseqüências para o

“ator” e seus associados

Conseqüências para

a aprendizagem

Eficácia

Modelo I

1. Atingir os

propósitos como

eu os percebo.

2. Maximização dos

ganhos e

minimização das

perdas.

3. Minimização dos

sentimentos

negativos

escolhidos.

4. Ser racional e

minimizar

emotividade.

1. Desenvolver e

gerenciar o

ambiente de

forma que o

“ator” esteja no

controle dos

fatores relevantes

para mim.

2. Propriedade e

controle da tarefa.

3. Auto proteção

unilateral.

4. Proteção

unilateral para

que os outros não

se “machuquem”.

1. “Ator” percebe-as

como defensivas.

2. Relacionamento

interpessoal e

grupal , defensivo.

3. Normas defensivas.

4. Pouca liberdade de

escolha,

comprometimento

interno e assumir

riscos.

1. Processo

“lacrado”.

2. Aprendizado de

circuito simples.

3. Poucos testes da

teoria publicada.

Decrescente.

Modelo II

1. Informação válida.

2. Escolha livre e

informada.

3. Comprometimento

interno pela

escolha e

monitoramento

constante da

implementação.

1. Desenvolver

situações ou

enfrentamento

onde os

participantes

podem originar e

experimentar

elevadas

motivações

pessoais.

2. Tarefa controlada

conjuntamente.

3. A auto proteção é

um

empreendimento

conjunto e

orientado em

direção ao

crescimento.

4. Proteção bilateral

dos outros.

1. “Ator” percebe-as

como minimamente

defensivas.

2. Relações

interpessoais

minimamente

defensivas e

dinâmicas de grupo.

3. Normas de

aprendizado

orientado.

4. Alta liberdade de

escolha,

comprometimento

interno e riscos

assumidos.

1. Processos

testáveis.

2. Aprendizado de

circuito duplo.

3. Testes

freqüentes da

teoria publicada.

Aumentada.

Fonte: Argyris (1977 p. 118, apud Argyris e Schön, 1974)

Huber (1991) afirma que uma organização aprende quando por meio do processamento de

informação ela aumenta a probabilidade para que suas ações futuras resultem numa melhoria do

desempenho. Visando contribuir para a elucidação dos estudos sobre aprendizagem

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organizacional, Huber (1991) pesquisou duzentos e dois trabalhos, publicados em língua inglesa

no período de 1957 a 1991, de cento e sessenta e três diferentes autores. O autor elaborou quatro

construtos integralmente ligados a aprendizagem organizacional: aquisição do conhecimento;

distribuição da informação; interpretação da informação; e memória organizacional. No Quadro

6, pode-se observar os quatros constructos e os dezenove subconstructos e subprocessos,

desenvolvidos pelo autor.

Quadro 6 Constructos e processos relacionados com aprendizagem organizacional

Constructos e processos Sub-constructos e sub-processos

1 Aquisição de conhecimento

Processo pelo qual o conhecimento é obtido.

Exemplos: pesquisas com clientes, análise de

produtos da concorrência (benchmarking e business

intelligence), revisão de desempenho (balanced

scorecard), atividades de desenvolvimento e

pesquisa, curva de aprendizagem.

1.1 Aprendizagem congênita

1.2 Aprendizagem experiencial

1.2.1 Experiências organizacionais

1.2.2 Auto avaliação organizacional

1.2.3 Organizações experimentais

1.2.4 Aprendizagem não intencional e não sistemática

1.2.5 Curvas de aprendizagem baseadas na experiência

1.3 Aprendizagem substitutiva

1.4 Aprendizagem “transplantada”

1.5 Pesquisa e informação

1.5.1 Exame detalhado

1.5.2 Pesquisas focadas

1.5.3 Monitoramento do desempenho

2 Distribuição da informação

Processo pelo qual as informações de distintas

fontes são compartilhadas e que conduzem a uma

nova informação ou novo entendimento.

Exemplos: benchmarking interno e externo, trocas

de experiências.

3 Interpretação da informação

Processo pelo qual a distribuição da informação

propicia um ou mais entendimentos comuns da

interpretação, ou processo através do qual a

informação ganha significado.

Exemplos: Reuniões de resultados, focus group,

aprendizagem de circuito simples e/ou duplo etc.

3.1 Estruturas e mapas cognitivos

3.2 Mídia intensiva

3.3 Excesso de informação

3.4 Desaprender

4 Memória organizacional

Processo de estocagem do conhecimento para uso

futuro.

Exemplos: banco de dados, arquivos, minutas de

reuniões, CBT (computer based training)

4.1 Armazenamento e recuperação da informação

4.2 Memória organizacional baseada em computação

Fonte: Adaptado de Huber (1991, p. 90)

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Aparentemente Huber (1991) usa indistintamente informação e conhecimento como conceitos

similares. Já Davenport e Prusak (1998) fazem uma distinção entre dados, informação e

conhecimento. Esses autores definem dados como um conjunto de fatos distintos e objetivos,

relativos a eventos, que se transformam em informação quando seu criador lhes acrescentam

significado. Os métodos possibilitadores da transformação de dados em informação são:

Contextualização (saber a finalidade dos dados coletados);

Categorização (conhecimento das unidades de análise ou os componentes essenciais dos

dados);

Cálculo (análise estatística ou matemática dos dados);

Correção (eliminação de erros dos dados);

Condensação (resumo dos dados em forma concisa).

Finalmente, os autores definem conhecimento como “uma mistura fluida de experiência

condensada, valores, informação contextual e insight experimentado, a qual proporciona uma

estrutura para a avaliação e incorporação de novas experiências e informações” (DAVENPORT e

PRUSAK, 1998, p. 6). Os autores afirmam que o conhecimento é originado e aplicado na mente

dos conhecedores, e que nas organizações esse conhecimento geralmente fica embutido em

rotinas, processos, práticas e normas além da parte documental. A transformação da informação

em conhecimento ocorre, segundo Davenport e Prusak (1998) por meio de quatro processos:

Comparação (forma como as informações relativas em uma determinada situação são

comparadas com outras situações conhecidas);

Conseqüências (análise das implicações que as informações trazem para o processo

decisório);

Conexões (relação entre o novo e o conhecimento já acumulado);

Conversação (o pensamento de outras pessoas em relação à nova informação).

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Nonaka e Takeuchi (1997) também destacam as semelhanças e diferenças entre conhecimento

e informação. O conhecimento ao contrário da informação, diz respeito às crenças e aos

compromissos. Tanto o conhecimento como a informação possuem significado, isto é, são

específicos e relacionais ao contexto. Porém o conhecimento, ao contrário da informação, indica

ação. Para esses autores, a informação é um meio necessário para adquirir e construir o

conhecimento. DiBella e Nevis (1999) reforçam a distinção entre conhecimento e informação.

Para esses autores, o conhecimento é gerado quando é atribuído significado à informação ou

experiência. Ampliando o raciocínio, Garvin (2002) define conhecimento organizacional como

sendo a capacidade de execução coletiva de tarefas, agregadoras de valores para a organização, e

que as pessoas não conseguiriam fazer sozinhas. Para Oliveira Jr., Fleury e Child (2001), o

conhecimento organizacional é um ativo socialmente construído como resultado das interações

específicas que ocorrem entre as pessoas e a organização.

Buscando construir um elo de ligação entre o aprendizado individual e o organizacional,

Fiol e Lyles (1985) afirmam que as pessoas entram e saem das organizações, a liderança pode

mudar, porém a memória da organização retém certos comportamentos, mapas mentais, normas e

valores ao longo do tempo. Quando analisam os fatores contextuais que afetam a probabilidade

de ocorrência da aprendizagem, as autoras apontam para quatro fatores:

a) A cultura, que pode ser usada para prever ações futuras;

b) A estratégia, criadora do momentum para a aprendizagem organizacional;

c) A estrutura, que se complexa e formal demais pode afetar negativamente a aprendizagem;

d) O ambiente, com o uso adequado do estresse como vetor para a aprendizagem.

Esses quatro fatores são dispostos circularmente na Figura 4.

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Figura 4 Fatores contextuais que afetam a probabilidade de ocorrência da aprendizagem

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Fiol e Lyles (1985, p. 804-805)

Os fatores contextuais apontados por Fiol e Lyles (1985) são complementados por

Flannery et alii (1997) que introduzem o conceito de cultura de trabalho, que abrange a forma

como o trabalho é realizado e como as pessoas são selecionadas, desenvolvidas, gerenciadas,

reconhecidas e recompensadas. Didaticamente dividem a cultura em quatro elementos: cultura

voltada para funções, cultura voltada para processos, cultura baseada no tempo e cultura baseada

em redes, conforme esquematizado na Figura 5.

Cultura

Corporativa

Estratégia

Estrutura

Organizacional

AmbienteA

prendizagem

Flex

ibili

dade

Inovação

Nov

osIn

sigh

ts

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Figura 5 Culturas de trabalho

Fonte: Adaptado de Flannery et alii (1997, p.45)

No Quadro 7 são explicitados os principais atributos das culturas: funcional, voltada para

processos, baseada em tempo e em redes, suas respectivas metáforas (M) relacionadas a esportes,

considerando a realidade norte americana, e uma escala que mede o grau de extensão, variando

de grande (+) a pouca (-).

Flannery et alii (1997, p. 57) afirmam que a analogia com esportes é uma maneira mais

eficaz de explicar a confusa retórica gerencial. Os autores consideram que nas empresas e

também nos esportes não existe apenas uma cultura, mas sim várias delas em funcionamento.

Exemplificam usando o atletismo como uma mescla de várias culturas.

Clientes

Flexi

bilid

ade

Tecnologia

Con

fiabi

lidad

e

Cultura

baseada

em redes

Cultura

baseada

no tempo

Cultura

voltada

para

funções

Cultura

voltada

para

processo

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Quadro 7 Atributos chave de culturas de trabalho

Funcional Processual Temporal Redes

M Futebol americano Futebol Basquete Beisebol

- Ser altamente organizada

- Utilizar métodos comprovados para

atender aos mercados existentes

- Manter linhas claras de autoridade e

responsabilidade

- Limitar o lado ruim dos riscos

- Minimizar a imprevisibilidade dos

resultados no negócio

- Maximizar a satisfação do cliente

- Demonstrar a compreensão do ponto

de vista do cliente

- Manter sempre os compromissos

assumidos com os clientes

- Aperfeiçoar continuamente as

operações

- Conquistar a confiança dos clientes

- Reduzir significativamente os ciclos

- Desenvolver novos produtos ou

serviços

- Manter alto senso de urgência

- Capitalizar oportunidades

- Adaptar-se rapidamente às

mudanças no ambiente de negócios

- Desenvolver novos produtos ou

serviços

- Capitalizar oportunidades

- Estabelecer novos empreendimentos

ou novas linhas de negócios

- Formar alianças estratégicas com

outras empresas

- Utilizar recursos externos à empresa

para realizar projetos

E

X

T

E

N

S

Ã

O

- Fornecer emprego seguro

- Estabelecer processos de trabalho

claros e bem documentados

- Tratar os colaboradores com justiça

e coerência

- Estabelecer descrições e requisitos

claros para os cargos

- Respeitar a cadeia de comando

- Agir com precisão

- Minimizar os erros humanos

- Fornecer recursos aos colaboradores

para que satisfaçam os clientes

- Manter os clientes atuais

- Estabelecer processos de trabalho

claros e bem documentados

- Responder ao feedback do cliente

- Participar de treinamento e educação

continuada

- Adquirir conhecimentos e

habilidades interfuncionais

- Forçar a tomada de decisões até

pelos níveis inferiores

- Ser flexível e adaptável na forma de

pensar e na abordagem

- Antecipar mudanças no ambiente

dos negócios

- Aumentar a velocidade da tomada

de decisões

- Ser pioneiro em novas formas de

fazer as coisas

- Agir apesar da incerteza

- Defender energicamente seu ponto

de vista

- Aplicar tecnologia inovadora a

novas situações

- Adaptar-se rapidamente a mudanças

no ambiente de negócios

- Ser flexível na forma de pensar e na

abordagem

- Ser pioneiro em novas formas de

fazer as coisas

- Aplicar tecnologia inovadora a

novas situações

- Capitalizar a criatividade e a

inovação

- Encorajar a inovação

- Atrair os melhores talentos

- Apoiar as decisões da chefia

- Maximizar a satisfação do cliente

- Fornecer recursos aos colaboradores

para que satisfaçam os clientes

- Manter sempre os compromissos

assumidos com os clientes

- Usar recursos limitados com eficácia

- Participar de treinamento e educação

continuada

- Verificar a qualidade do trabalho

dos colaboradores

- Apoiar as decisões da alta gerência

- Ser leal e comprometido com a

empresa

- Alcançar objetivos orçamentários

- Utilizar métodos comprovados para

atender aos mercados existentes

- Tratar os colaboradores com justiça

e consistência

- Tolerar erros bem intencionados

- Limitar o lado ruim dos riscos

- Encorajar o trabalho em equipes

- Capitalizar a criatividade e a

inovação

- Organizar os cargos em torno das

capacidades das pessoas

- Agir com precisão

- Ser leal e comprometido com a

empresa

- Alcançar objetivos orçamentários

- Maximizar a satisfação dos clientes

- Demonstrar compreender o ponto de

vista do cliente

- Adquirir conhecimentos e

capacidades interfuncionais

- Organizar cargos em torno das

capacidades das pessoas

- Encorajar inovações

- Recompensar desempenhos

superiores

- Tomar iniciativas

- Atrair os melhores talentos

- Estabelecer novos empreendimentos

ou novas linhas de negócio

- Manter alto senso de urgência

- Antecipar mudanças no ambiente de

negócios

- Agir apesar da incerteza

- Defender energicamente seu ponto

de vista

- Maximizar a satisfação dos clientes

- Organizar os cargos em torno das

capacidades das pessoas

- Recompensar o desempenho

superior

- Conquistar a confiança dos clientes

- Vender com sucesso

- Descobrir novas formas de

capitalizar as habilidades das pessoas

Fonte: Adaptado de Flannery et alii (1997, p. 47-56)

-

+

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43

Segundo Fiol e Lyles (1985) existem duas dimensões básicas a respeito dos conceitos

de aprendizagem organizacional. Uma refere-se ao conteúdo da aprendizagem, em que o

desenvolvimento comportamental e cognitivo é analisado. As autoras afirmam que as

mudanças comportamentais podem ocorrer sem nenhum desenvolvimento cognitivo

associado e, de modo similar, o conhecimento pode ser obtido sem qualquer acompanhamento

de mudança comportamental. A outra dimensão refere-se à extensão do desenvolvimento

cognitivo. Essas duas dimensões e suas possibilidades podem ser observadas na Figura 6.

Figura 6 Mudança e aprendizagem

Fonte: Adaptado de Fiol e Lyles (1985, p. 807)

Até esse momento foram discutidos alguns autores que focam seus trabalhos tanto na

aprendizagem individual quanto na organizacional e na criação do conhecimento. Visando a

Alto

Bai

xo AltoDesenvolvimento comportamental

ou nível de mudança

Des

envolv

imen

to

cognit

ivo o

u n

ível

de

apre

ndiz

agem

1 2

3 4

1 = Organizações sem aprendizagem e mudanças quase nulas. Empresas “burocráticas”. Ambiente previsível e estável

2 = Organizações que agem, mudam estratégias e se reestruturam, mas com pouca aprendizagem.

3 = Organizações que agregam novas crenças e desenvolvem novas estruturas, porém sem grandes mudanças.Ambiente turbulento.

4 = Organizações com alta propensão à aprendizagem e mudança. Organizações “holográficas”.

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busca de um foco para o trabalho, foram recortados, com base em Prange (2001), três autores

e suas respectivas propostas para seis questões chaves nas teorias de aprendizagem

organizacional. Dentre essas seis questões, serão destacadas no Quadro 8 o que e como os

indivíduos aprendem.

Quadro 8 Blocos constitutivos do desenvolvimento da teoria de aprendizagem organizacional

Autores (ano) => Argyris e Schön (1978) Fiol e Lyles (1985) Huber (1991)

Definição de AO

- Aprendizagem

Organizacional

Processo pelo qual os membros

organizacionais detectam erros ou

anomalias e os corrigem ao

reestruturar a teoria em uso da

organização.

Processo de aperfeiçoar

ações por meio de melhor

compreensão e

conhecimento.

Uma entidade aprende se,

por meio do

processamento de

informações, o âmbito de

seus comportamentos

potenciais se modificam.

Vamos assumir que uma

organização aprende se

qualquer de suas unidades

adquire conhecimento que

ela reconhece como útil

para a organização.

Quem? Sujeito da

AO

Aprendizagem individual em

organizações.

Não é apenas a soma de

aprendizagens individuais.

Conceito de entidade, que

inclui pessoas, equipes,

organizações, indústrias,

sociedade.

O quê? Conteúdo

da AO

Teorias em uso ou de ação

organizacionais.

Padrões de associações

cognitivas e/ou novas

respostas ou ações

(mudança cognitiva x

comportamental).

Informação/conhecimento.

Quando?

Incentivos para

AO

Compatibilidade ou

incompatibilidade dos resultados

esperados que confirmam ou

desacreditam as teorias em uso da

organização.

Tensão entre estabilidade

e mudança; crise

(especialmente para

aprendizagem de nível

mais alto).

Provavelmente, não

pretendidos, uma vez que

o autor busca descrever

um amplo conjunto de sub

categorias de

aprendizagem.

Com que

resultados?

Eficiência da AO

Elo entre aprendizagem e ação

aperfeiçoada.

Alinhamento ambiental;

melhoria do desempenho

futuro.

Âmbito de mudança de

comportamento potencial,

não necessariamente

resultando em mudanças

observáveis.

Como? Processos

de AO

Compartilhamento de suposições;

pesquisa individual e coletiva

constrói e modifica teorias em uso;

processo exato permanece obscuro.

Aprendizagem de nível

mais baixo como repetição

do comportamento

passado; aprendizagem de

nível mais alto como o

desenvolvimento de

associações complexas.

Processamento de

informação: aquisição,

distribuição, interpretação

e armazenagem de

informação; os processos

relacionados de

aprendizagem

organizacional

permanecem não

especificados.

Fonte: Adaptado de Prange (2001) In: Easterby-Smith, Burgoyne e Araujo (2001, p. 46-48)

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Objetivando entender os diferentes níveis em que ocorre a aprendizagem

organizacional, Vera e Crossan (2004) afirmam que ela ocorre em três níveis:

individual/pessoal; grupal/equipe; e organizacional. As autoras apresentam um modelo teórico

(Figura 7) no qual explicitam quatro mecanismos: intuição; interpretação; integração; e

institucionalização e seus respectivos inputs e resultados. Esse modelo descreve como o

conhecimento individual é compartilhado em uma equipe e/ou organização. Nela a intuição é

um processo subconsciente que ocorre no nível individual, que difere daquela defendida por

Kolb e Lewin. A intuição é o ponto de partida da aprendizagem e deve acontecer como um

insight pessoal. Nesse mecanismo, aprender significa reconhecer e identificar diferenças e

similaridades entre padrões e possibilidades, em conformidade com Argyris. Na seqüência o

indivíduo, valendo-se de elementos conscientes, faz a interpretação e compartilha o

aprendizado com a equipe, por meio de mapas conceituais, conversação, diálogo e linguagem.

A linguagem tem valor chave, pois, por meio dela os insights são verbalizados. Faz-se então

uma ponte entre a equipe e a organização, aonde aquilo que foi aprendido pela equipe é

integrado à empresa por meio de um processo de construção da compreensão compartilhada.

Finalmente, a institucionalização garante que as ações rotinizadas aconteçam, ou seja,

certifica a incorporação do aprendizado na organização. Esse aprendizado entrará na “corrente

sangüínea” (embedding) da empresa, por meio de sistemas, estruturas, rotinas e práticas de

trabalho. As autoras observam, porém, que existem limites sobre aquilo que pode ser

rotinizado: se não houver uma estratégia deliberada de transferência do

aprendizado/conhecimento tácito, acabam sendo rotinizados apenas os aprendizados/

conhecimentos explícitos.

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46

Figura 7 Os 4I‟s da aprendizagem organizacional

Fonte: Adaptado de Vera e Crossan (2004, p. 225)

Ao se buscar uma estrutura integrada sobre aprendizagem organizacional, DiBella e

Nevis (1999) propõem uma que é baseada em três ciclos. Cada ciclo tem seus critérios

específicos. O primeiro refere-se a criação/aquisição do conhecimento. Novas habilidades,

atitudes, valores e comportamentos são criados ou adquiridos com o passar do tempo. O

segundo refere-se a disseminação do conhecimento. Tudo aquilo que é aprendido

individualmente torna-se propriedade coletiva. O terceiro diz respeito ao uso do

conhecimento. Tudo aquilo que foi aprendido deve permanecer com a equipe ou a

organização, mesmo que a equipe e/ou a organização acusem saída de pessoas. Os autores

dividem a capacidade de aprendizagem organizacional em duas partes. A primeira, chamada

PIntuindo

E

OInstituciona-

lizando

Fluxo do feed-forward da aprendizagem

Pessoa

Equipe

Organização

Flu

xo

do

fee

db

ack

da

apre

nd

izag

em Interpretando (Linguagem, mapa conceitual

conversação/diálogo)

Integrando (Compreensão

compartilhada, ajustamentos

mútuos, sistemas interativos)

Pessoa Equipe Organização

P = estoque individual de aprendizagem: competências individuais, capacidade e motivação para cumprir as tarefas demandadas

E = estoque grupal de aprendizagem: dinâmica da equipe e desenvolvimento de entendimento compartilhado

O = estoque organizacional de aprendizagem: alinhamento entre o conteúdo não humano de aprendizagem, incluindo sistemas, estruturas,

estratégias, procedimentos, e a cultura considerando o ambiente competitivo

= fluxo do feed-forward da aprendizagem: Se e como a aprendizagem individual é repassada para a aprendizagem da equipe e da

organização (exemplos: mudanças na estrutura, sistemas, produtos, estratégias, procedimentos, cultura)

= Fluxo do feedback de aprendizagem: Se e como a aprendizagem é gravada na memória da organização (exemplos: sistemas, estruturas,

estratégia) afeta a aprendizagem individual e da equipe.

(Rotinas, sistemas

de diagnósticos,

regras e

procedimentos)

(Experiências,

imagens e

metáforas)

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de orientações para aprendizagem, descreve como a aprendizagem ocorre e o que se aprende,

baseado na cultura e no conhecimento básico. Essas orientações de aprendizagem: refletem

onde e como o conhecimento é adquirido, disseminado e usado; representam o que é

aprendido ou considerado importante para aprender; indicam onde a equipe está investindo

para realizar a aprendizagem; indicam onde existe uma conjugação bi-polar contínua que une

as duas abordagens opostas; e determinam o estilo de aprendizagem. A segunda, denominada

de fatores facilitadores da aprendizagem, especifica os elementos que promovem a

aprendizagem. A base deste componente são as melhores práticas (benchmarks) e processos

rotineiros. O Quadro 9 sintetiza os três ciclos e as duas etapas de facilitação e orientação da

aprendizagem.

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Quadro 9 Fatores orientadores e facilitadores da aprendizagem

Ciclo da

aprendizagem

Orientações para aprendizagem Fatores facilitadores da aprendizagem

Aquisição Fonte de conhecimento: a

preferência por desenvolver o

conhecimento internamente

versus externamente.

Foco conteúdo-processo:

comparação da ênfase sobre o

conhecimento sobre o que

representam os produtos/serviços

versus como estes

produtos/serviços são

desenvolvidos e disponibilizados

para o mercado.

Investigação imperativa: busca de

informações sobre as

condições/procedimentos fora do

próprio ambiente.

Defasagem de desempenho:

percepção de que existe diferença

entre o desempenho real e o

desejado.

Preocupação com medição: a

discussão de critérios de medição é

considerada como aprendizagem.

Curiosidade organizacional: o

interesse pela criatividade e

novidade propiciam a

experimentação.

Disseminação Reserva de conhecimento:

comparação entre conhecimento

de domínio particular versus

público.

Modo de disseminação:

comparação entre o

compartilhamento do

conhecimento de forma

formal/rígida versus informal.

Clima de abertura: comunicação

aberta; livre compartilhamento de

erros e lições.

Educação continuada: organização

provendo recursos de alta

qualidade para aprendizagem.

Uso Escopo da aprendizagem:

comparação entre a preferência

por aperfeiçoar aquilo que existe

versus desenvolver algo novo.

Foco na cadeia de valores:

Comparação entre a ênfase em

atividades tipo projete-e-execute

versus comercialize-e-entregue.

Variedade operacional: valorização

da diversidade de métodos,

procedimentos e competências.

Defensores múltiplos:

envolvimento pessoal dos

funcionários e líderes encorajando

o desenvolvimento de novas idéias

e métodos de trabalho.

Aquisição,

disseminação

e uso

Foco aprendizagem: comparação

do desenvolvimento do

conhecimento pertinente ao

desempenho individual versus

grupal.

Envolvimento das lideranças:

envolvimento pessoal das

lideranças nas iniciativas de

aprendizagem, garantindo a

manutenção de ambiente propício.

Perspectiva sistêmica: reconhecer a

interdependência das diversas

unidades e grupos organizacionais.

Fonte: Elaborado pelo Autor com base em DiBella e Nevis (1999, p. 26-86)

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2.4. Resumo

A linha de raciocínio construída até este ponto contemplou uma descrição dos

processos de aprendizagem individual e coletiva, bem como do processo de criação do

conhecimento. Ao serem estudadas as diferentes abordagens teóricas, emerge uma rota que

parece abrir caminhos para a compreensão de como as pessoas e as equipes aprendem e como

o líder atua nesse processo. Alguns elos entre esses processos e o processo de liderança de

equipes foram pontuados e sua discussão será contemplada mais adiante.

O aprofundamento do modelo conceitual desse trabalho aponta para um circuito que

tem início na criação do conhecimento. O indivíduo inicia o processo de aprendizagem

fortemente baseado em experiências pessoais vivenciadas. Para a maioria dos autores

mencionados, o produto dessa aprendizagem é o conhecimento. Segundo Sanchez e Heene

(1997), o processo de aprendizagem muda o estado do conhecimento das pessoas e das

organizações. Para Kolb (1976), o processo de aprendizagem reflete uma relação causal entre

uma experiência concreta do indivíduo e a formulação de um conceito. De acordo com

Nonaka e Takeuchi (1997), o conhecimento é criado a partir de um ciclo composto de cinco

etapas. Na seqüência, ocorre o processo de aprendizagem organizacional. Neste trabalho

optou-se pelo modelo de Huber (1991) que usa um ciclo de quatro etapas contemplando a

aquisição do conhecimento, a distribuição e a interpretação da informação e a memória

organizacional. A abordagem de Huber (1991) foi escolhida pela sua abrangência, por ter sido

usada por autores clássicos com DiBella e Nevis e pela exploração de aspectos relevantes ao

processo de aprendizagem organizacional. Fechando o circuito, tem-se o resultado da

aprendizagem organizacional, ou seja, o conhecimento coletivo. Não é escopo deste trabalho

avançar na análise da próxima etapa que é a organização de aprendizagem. No centro desse

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processo está a figura do líder de uma equipe de trabalho. Na seqüência serão analisados os

referencias teóricos do tema liderança e seus elos com o processo de aprendizagem

organizacional em equipes de trabalho de desenvolvimento de novos produtos.

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2.5. O conceito de Liderança

“O líder ruim é aquele que as pessoas desprezam. O bom líder é o que as pessoas

elogiam. O grande líder é aquele sobre quem as pessoas dizem „nós fizemos sozinhos‟.”

Lao Tsé

Quando se estuda o tema liderança deve-se tomar um cuidado especial, devido a

grande variedade de definições, podendo-se afirmar que não existe uma definição correta,

talvez todas estejam. Para Conger (1992), a liderança é geralmente um conceito intuitivo e

que nunca existirá uma definição simples e aceita sobre esse tema. Para exemplificar sua linha

de raciocínio, o autor cita o livro Leaders na qual Bennis e Nanus relataram trezentas e

cinqüenta definições de liderança que os pesquisadores da área elaboraram nos últimos trinta

anos. Vergara ( 2003) apresenta uma citação de Bennis dizendo que a liderança é como

beleza: difícil de definir, fácil de reconhecer. Este trabalho focará inicialmente o conceito de

liderança. Na seqüência será abordado o papel do colaborador que atua como líder de uma

equipe de projeto. Em seguida, serão retomadas as discussões sobre os elos entre

aprendizagem organizacional, criação do conhecimento e liderança de equipes. Para tanto,

serão considerados os referenciais teóricos com base em Garvin (2002), Senge (2002),

Argyris (1957), Ulrich (2000), Nonaka e Takeuchi (1997), DiBella e Nevis (1999), Zaccaro,

Rittman e Marks (2001), House (1996) e Wenger e Snyder (2000). Essa escolha foi baseada

no reconhecimento que estes autores têm quando se discute a atuação do líder no processo de

aprendizagem organizacional.

Ao analisar organizações em especial como são formadas e geridas, Argyris (1957) as

enxergou como organizações racionais, ou seja, existe a premissa básica feita pelos criadores

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da organização formal que dentro de certas tolerâncias o ser humano irá se comportar de

forma racional, ou seja, de acordo com o planejado. Como conseqüência, surge a

especialização da tarefa (trabalho), aonde quem é você torna-se menos importante do que

aquilo que você pode fazer. Para gerir esta organização racional, surge a necessidade de uma

cadeia de comando explicitada com a função de liderança ou gerenciamento. Em função desse

relacionamento líder/liderado, surgem vários impactos que são minimizados por meio de

recompensas para quem desempenha bem em uma organização formal tecnicamente

competente, objetiva, racional e com lealdade dos líderes e, finalmente, com estímulo a

competição entre os liderados. Naturalmente, surge o dilema típico de unidade de direção que

busca a melhor forma entre deixar a pessoa definir os objetivos versus imposição dos

objetivos pelos líderes. Como desdobramento, na extensão do controle a eficiência é

aumentada com a limitação da extensão de controle por parte dos líderes.

Segundo Argyris (1957), se os princípios da organização formal forem usados, as

pessoas tenderão a terem mínimo controle sobre seu dia-a-dia; a serem passivas, dependentes

e subordinadas; a terem perspectivas de curto prazo; a usarem superficialmente algumas

habilidades; e a produzirem em condições que conduzam para as falhas psicológicas. Em

resumo, Argyris (1957) defende a existência de incongruência entre as necessidades de

pessoas maduras e das organizações formais/racionais. Visando elucidar seu ponto de vista de

que as empresas infantilizam as pessoas, Argyris (1957) cita dois exemplos que pessoas com

retardamento mental foram classificadas como excelentes trabalhadores por seus líderes. A

razão? Os retardados mentais faziam exatamente tudo aquilo que os chefes demandavam.

Esse ponto remete para uma cena do filme Forrest Gump, na qual um recruta (papel vivido

por Tom Hanks) do exército americano, com QI próximo de setenta, é considerado como

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gênio pelo seu sargento. Por quê? Porque o recruta seguia cegamente as ordens do seu

superior.

Argyris (1957) afirma que existe incongruência entre as necessidades de pessoas

saudáveis e as demandas da organização formal. Como resultados dos distúrbios entre pessoas

e organização formal surgem frustrações, falhas, perspectivas de curto prazo e conflitos. Em

suma, a natureza dos princípios da organização formal causa, em qualquer nível, competição,

rivalidade, insubordinação hostil e preocupação com as partes ao invés do todo. Segundo o

autor, as pessoas tendem adaptar suas frustrações e falhas, agindo de uma ou de várias das

seguintes possibilidades: deixando a organização; escalando a “escada” da estrutura (sendo

promovidas); manifestando reações de defesa (fantasiando, sendo agressivas, ambivalentes

etc.); tornando-se apáticas e desinteressadas (reduzem a quantidade e potência das

necessidades que devem ser atendidas no trabalho, “vendem gato por lebre”, produzem erros,

fraudam etc.); criando grupos informais para sancionar a apatia e o desinteresse; formalizando

o grupo informal; desenvolvendo normas grupais para perpetuar os comportamentos

apontados anteriormente; desenvolvendo uma postura psicológica em que os aspectos

materiais são mais importantes que os humanos e aculturando os novatos para aceitarem as

normas estabelecidas. Os gerentes tendem a responder por esses nove comportamentos,

aumentando o nível de pressão exercido sobre os subordinados, o nível do uso de controles

gerenciais e o número de “pseudo” participação e de programas de comunicação.

Como mencionado na introdução deste referencial teórico existem inúmeras definições

de liderança. Conger (1992) define líder como aquele indivíduo que estabelece orientação

para uma equipe, que obtém comprometimento dessa equipe em relação a orientação dada, e

que motiva os membros da equipe para alcançar resultados. Para Drucker (2001), a liderança

é um meio e sua essência é o desempenho, ou seja, qual é a finalidade da liderança? Segundo

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o autor, a liderança é o próprio trabalho de identificar qual é a missão da organização,

definindo-a e estabelecendo-a com clareza e visibilidade. Outra exigência nesse processo é

que o líder encare-o com responsabilidade e não como privilégio. Drucker (2001), assim

como Kotter (2000), descarta o carisma e o conjunto de traços de personalidade como

variáveis a serem consideradas na definição de liderança. Kotter (2000) diferencia claramente

o gerenciamento (lidar com a complexidade) de liderança (promover mudança), argumentado

que somente os líderes conseguem produzir mudanças, os gerentes conseguem apenas

cumprir as rotinas, algumas complexas, do seu dia-a-dia.

Não é objetivo deste trabalho aprofundar-se no processo de liderança e suas

respectivas definições, mas sim na atuação de um colaborador que lidera uma equipe de

desenvolvimento de novos produtos. O próximo tópico focará o processo de liderança com

ênfase na atuação de um colaborador liderando uma equipe de trabalho.

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55

2.6. O Líder em uma Equipe de Trabalho

Garvin (2002) aponta três tarefas básicas para o colaborador que lidera equipes de

trabalho:

Criação de oportunidades para aprendizagem por meio da projeção de cenários e

eventos que induzem às atividades necessárias;

Cultivo do tom correto como forma de nutrir normas e comportamentos de

engajamento desejáveis;

Liderança pessoal do processo de discussão enquadrando o debate, fazendo perguntas,

ouvindo com atenção e fornecendo feedback.

Para a primeira tarefa básica, o autor propõe a criação de fóruns de aprendizagem

(atividades objetivando nutrir a aprendizagem), o uso de atribuições exploratórias (criação de

ambiente que permita questionamento aberto e um clima de mútuo feedback) e experiências

compartilhadas (encorajamento para que todos possam compartilhar novas e diferentes formas

de aprendizagem). Para a segunda tarefa Garvin (2002), aponta para a necessidade do líder

criar um ambiente desafiador, oferecer sensação de segurança para que as pessoas não tenham

receio de descartar velhos paradigmas e praticar um processo aberto de comunicação. Para a

terceira, o autor recomenda o questionamento (processo adequado de se perguntar), o ouvir

ativo e, finalmente, o responder. As três tarefas mencionadas anteriormente dizem respeito

aos fatores facilitadores de aprendizagem, ou seja, a criação de uma ambiência de

oportunidade à aprendizagem organizacional. As tarefas com exemplos, operacionalização e

perguntas estão sintetizadas no Quadro 10.

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56

Quadro 10 Tarefas básicas para o líder de equipes de aprendizagem organizacional

Tarefas básicas Operacionalização Exemplos Perguntas

Criando

oportunidades

Fóruns de aprendizagem – tarefas,

atividades e eventos cuja finalidade

primária é nutrir a aprendizagem.

Auditorias de sistemas,

projetos de benchmarking

interno, missões de estudos,

reuniões, encontros rotineiros,

telefonemas semanais etc.

O que está

acontecendo? O que

precisamos fazer?

Atribuições exploratórias – reuniões

de pessoas em torno de um desafio

comum e com tempo e espaço

adequados para exercitar o

pensamento verdadeiro.

Wokshops , Work-Out (GE). Quais sucessos e

fracassos vocês

gostariam de

compartilhar?

Experiências compartilhadas –

processo de aprendizagem imitando

uma experiência vivenciada.

Reuniões específicas e fora do

local normal de trabalho da

equipe.

Quais informações e

insights vocês

gostariam de

compartilhar?

Estabelecendo

um clima e tom

adequados para

que a

aprendizagem

ocorra

Desafio e dissensão – aprendizagem

canalizada e dirigida de forma a

evitar acomodação dos líderes e

equipes.

Avaliações de negócios,

estabelecimento de visões.

Por quê? Quais

nossos critérios de

escolha? Por que

pensamos desta

forma? Que

alternativas devemos

considerar?

Segurança e suporte – formação de

ambiente que ofereça proteção e

apoio para que as pessoas possam

descartar velhos paradigmas.

Sessões de brainstorming, job

rotation, substituição

temporária do superior

hierárquico.

Como podemos fazer

diferente e a

diferença? Porque

não?

Comunicação aberta – acesso livre a

informações.

Avaliação e remuneração com

base nas contribuições dos

colaboradores para o banco de

conhecimentos da empresa,

reuniões informais para troca

de conhecimentos.

O que devemos

adicionar ao nosso

banco de

conhecimentos? O

que você aprendeu e

que pode ser útil para

nós?

Liderando a

discussão

Questionar – perguntas e não

respostas certas.

Uso de perguntas para:

enquadrar questões, oferecer

instruções, solicitar

informações, sondar em busca

de análise, inferir conexões,

buscar opiniões e ratificar

decisões.

Estamos todos de

acordo com isto? Por

que não

consideramos a

proposta XYZ? O

que você pensa disto?

O que aconteceria

se...?

Ouvir – ouvir ativamente o que está

sendo dito e como é dito.

Prática da empatia e rapport

no processo de comunicação.

Você quis dizer ...?

Responder – capacidade de resposta

na hora e em tempo real.

Reuniões de trabalho,

processo de comunicação

informal e formal.

Você entendeu meu

ponto de vista?

Fonte: Elaborado pelo Autor com base em Garvin (2002, p.209-235)

Garvin (2002), ao discorrer sobre o papel que o líder tem no processo de conduzir a

discussão com sua equipe, aponta para as possibilidades de respostas que ele pode usar nas

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discussões sobre aprendizagem. As possibilidades de respostas do líder vão desde seu

silêncio até a sua ameaça aos liderados. O Quadro 11 resume o espectro de possibilidades de

respostas.

Quadro 11 Espectro de respostas em discussões de aprendizagem

Resposta Característica Posição no espectro

Silêncio

Reafirmação

Esclarecimento

Mantém o foco em quem fala

Reflexiva, facilitação

Encorajamento

Sugestão

Injeta um ponto de vista apoiador

Desacordo

Crítica

Injeta um ponto de vista negativo

Ridicularização

Negação

Ameaça

Envolve o uso aberto de poder e autoridade

Intrusiva, intervencionista

Fonte: Garvin (2002, p. 234)

Para Senge (2002), também existem três papéis que os lideres devem desempenhar no

processo de aprendizagem organizacional: líderes projetistas, líderes professores e líderes

regentes (steward). O autor refuta os mitos de liderança ligados a imagens de “heróis e

salvadores da pátria” e propõe um processo de liderança focado em forças sistêmicas e no

aprendizado coletivo. Para o primeiro papel, o líder como projetista, Senge (2002) usa a

metáfora de um transatlântico para demonstrar a importância do papel do “projetista” que

envolve a projeção de políticas, estratégias e sistemas organizacionais. Os demais papéis,

“capitão”, “navegador”, “engenheiro” e “diretor social” são legítimos, porém, nenhum deles

têm maior influência no “transatlântico” do que aquele desempenhado pelo “projetista”. É

inútil ser líder em uma organização que não foi bem projetada.

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58

Em suma, Senge (2002) afirma que o papel essencial do líder é projetar processos de

aprendizagem, por meio dos quais os colaboradores em toda a organização poderão trabalhar

de modo produtivo com os problemas críticos que enfrentam no cotidiano. Nesse papel, o

líder assume três atribuições essenciais para criar a “arquitetura social”: propósito e valores

essenciais, ou as idéias governantes; elaboração de políticas, estratégias e estruturas que

reflitam o propósito/valores; e, finalmente, desenvolvimento de processos organizacionais que

possibilitem que essas políticas, estratégias e estruturas sejam aprimoradas constantemente,

tornando efetivos os processos de aprendizagem. O líder como projetista cria uma

visão/propósito compartilhado, desenvolve sistemas para traduzir essa visão/propósito e cria

processos, nos quais se baseiam esses sistemas, com a essência da aprendizagem.

Metaforicamente, pode-se comparar a essência da aprendizagem como um dínamo em que as

políticas se transformam em aprendizagem de circuito duplo.

No segundo papel, o líder como professor, Senge (2002) começa enfatizando que não

é papel do líder ser um especialista autoritário que procura ensinar a visão correta da

realidade. O papel é de um professor que ajuda as pessoas a reestruturarem suas visões da

realidade, de modo a ampliar seus olhares para verem além das condições que apenas tocam a

superfície e permitir enxergar as causas subjacentes dos problemas. De modo específico, os

líderes podem ajudar os colaboradores a verem a realidade em três níveis distintos: eventos

(reativo), padrões de comportamento (responsivo) e estrutura sistêmica (generativo), é neste

último que se deve concentrar o foco de atuação do líder como professor. O terceiro papel, o

líder como regente (steward), é mais sutil que os outros dois já apontados, pois esse papel é

uma questão de atitude da pessoa em praticar um estilo de liderança servidor (servant

leadership), ou seja, o líder deve servir em primeiro lugar. Senge (2002) afirma que os líderes

regentes (steward) operam tanto no nível de servir as pessoas que ele lideram como servir ao

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propósito maior que sustenta a organização. O Quadro 12 retrata os papéis apontados por

Garvin (2002) e Senge (2002).

Quadro 12 Liderança no processo de aprendizagem organizacional

Autor Papel do líder na aprendizagem organizacional

Garvin (2002) 1. Criando oportunidades de aprendizagem

1.1. Criando fóruns de aprendizagem

1.2. Usando atribuições exploratórias

1.3. Facilitando o compartilhamento de experiências

2. Estabelecendo clima e tom adequados

2.1. Estabelecendo desafios

2.2. Oferecendo segurança e apoio

2.3. Praticando comunicação aberta

3. Liderando a discussão

3.1. Questionando

3.2. Ouvindo

3.3. Respondendo

Senge (2002) 1. Projetista

1.1. Estabelecendo propósito e valores essenciais

1.2. Elaborando políticas, estratégias e estruturas

1.3. Desenvolvendo processos organizacionais

2. Professor

3. Regente (Steward)

Fonte: Elaborado pelo Autor com base em Garvin (2002), Senge (2002)

Visando ampliar a discussão a respeito do líder de uma equipe, serão usados os conceitos

de Ulrich (2000) que apresentam quatro referenciais e catorze dimensões em relação aos

atributos dos líderes.

1) Definição da trajetória:

Compreensão dos eventos externos;

Foco no futuro;

Conversão da visão em ação.

2) Mobilização do comprometimento pessoal:

Construção de relacionamentos colaborativos;

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Compartilhamento do poder e da autoridade;

Gerenciamento da atenção.

3) Desenvolvimento das capacidades organizacionais:

Construção da infra-estrutura organizacional;

Alavancagem da diversidade;

Organização e posicionamento de equipes;

Desenho de sistemas de recursos humanos;

Promoção de mudanças.

4) Demonstração de caráter pessoal:

Vivência dos valores mediante a prática da pregação;

Auto-imagem positiva e criação da auto-estima em terceiros;

Elevada capacidade cognitiva e grande carisma pessoal.

Dentre os quatro referenciais, existem seis dimensões que têm maior aderência com o

trabalho de um colaborador, atuando como líder em uma equipe de desenvolvimento de novos

produtos. Essas dimensões estão explicitadas no Quadro 13.

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Quadro 13 Dimensões dos atributos da liderança e exemplos de comportamentos ou ações

Referenciais

Dimensões Exemplos de comportamentos ou ações.

Em que extensão o líder atua da seguinte maneira?

Definição da

trajetória

Conversão da

visão em ação

Alinha o desempenho com a visão.

Inspira a visão compartilhada.

Arregimenta outros para atingir essa situação futura.

Transforma a estratégia em resultados.

Inspira um propósito compartilhado.

Cria uma clima propício ao sucesso.

Mobilização do

comprometimento

pessoal

Compartilhamento

do poder e da

autoridade

Demonstra disposição e capacidade para compartilhar o poder e o

controle.

Ouve mais do que fala.

Manifesta disposição e capacidade para envolver outras pessoas e

para estimular a participação.

Exerce o poder com dignidade.

Potencializa os outros para darem o melhor de si mesmos.

Fortalece os outros mediante o compartilhamento do poder e da

informação.

Usa uma variedade de abordagem para conseguir o melhor de cada

um.

Cria oportunidades para que todos contribuam com os seus

melhores talentos pessoais para o esforço da equipe.

Desenvolvimento

das capacidades

organizacionais

Construção da

infra-estrutura

organizacional

Demonstra liderança formal capaz de integrar, prover recursos e

coordenar as atividades de vários grupos de projetos.

Forma lideranças locais, conforme as exigências de um desses

grupos de projetos.

Alinha e assegura a compatibilidade entre a organização e a

estratégia.

Divulga ativamente entre todos os empregados uma vasta gama de

informações.

Compromete-se integralmente com uma estratégia de longo prazo

para o desenvolvimento de uma instituição valiosa.

Proporciona os estímulos e os recursos necessários à melhoria

contínua.

Promove o apoio entusiástico às metas do negócio.

Organização e

posicionamento de

equipes

Desenvolve equipes de projetos autogerenciáveis.

Promove a fertilização cruzada e movimenta os melhores de um

lugar para outro.

Seleciona as pessoas mais talentosas para a composição das

equipes.

Proporciona feedback específico e freqüente que ajuda a melhorar

o desempenho da equipe.

Apoia a equipe mesmo durante as perdas.

Demonstração de

caráter pessoal

Vivência dos

valores mediante a

prática da pregação

Vive os valores da sua unidade.

Submete-se ao teste do espelho e sente-se à vontade com a

imagem refletida.

Lidera com exemplos.

Auto-imagem

positiva e criação

da auto-estima em

terceiros

Crê em si mesmo: é autoconfiante, com humildade.

Demonstra uma notável capacidade de percepção e insight sobre

as realidades do mundo, sobre o grupo e sobre os membros da

unidade.

Exibe níveis extraordinários de motivação para capacitar os

membros do grupo a superar a dor do aprendizado e da mudança.

Fonte: Adaptado de Ulrich (2000, p. 24-29)

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62

House (1996) por sua vez defende a teoria, denominada caminho-objetivo (path goal),

que parte da premissa de que os membros das equipes de trabalho atingem seus objetivos a

partir da ajuda que o líder lhes proporciona, por meio de ações de direção e apoio, de modo

que esses objetivos sejam compatíveis com aqueles da equipe toda. O ponto central dessa

teoria é que os membros das equipes farão aquilo que o líder solicitar, desde que pelo menos

duas condições sejam atendidas. A primeira é que os líderes devem assegurar que os membros

das equipes compreendam como devem atingir os objetivos dele. A segunda é o processo de

previsão que os líderes devem ter para que os membros atinjam seus objetivos pessoais nesse

processo. Para House (1996), a teoria do caminho-objetivo reforça que o comportamento do

líder pode ser motivacional para os membros das equipes quando ele:

a) Tornar a necessidade de satisfação dos membros da equipe contingencial ao

desempenho eficaz;

b) Fornecer treinamento, direcionar e recompensar para a eficácia do desempenho;

c) Adotar postura flexível, se comportando de modo diferente conforme a situação.

A teoria do caminho-objetivo considera que os comportamentos do líder, associados à

fatores contingenciais ambientais e dos membros das equipes é que proporcionam resultados

de desempenho e satisfação, conforme esquematizado na Figura 8. A análise da Figura 8

mostra duas classes de variáveis situacionais, moderando a relação entre o comportamento do

líder e os resultados conseguidos. A primeira variável está fora do controle das pessoas, por

exemplo, a estrutura da tarefa, o sistema formal de autoridade e a própria equipe de trabalho.

A outra variável faz parte das características das pessoas, como, por exemplo, o centro de

controle e a experiência percebida. Esses fatores ambientais determinam o comportamento

requerido do líder como um adendo para que os resultados obtidos pela equipe possam ser

otimizados. Por outro lado, as características das pessoas são fatores decisivos para

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determinar como o ambiente e os comportamentos do líder ( diretivo, apoiador, participativo e

orientado para realização) são interpretados.

Figura 8 Representação esquemática da teoria caminho-objetivo

Fonte: Adaptado de Robbins (202, p.314)

Os vários tipos de ações do líder, que auxiliam no entendimento de cada um dos

quatro estilos estudados por House, estão descritos no Quadro 14.

Comportamentos do líder:

liderança diretiva

liderança de apoio

liderança participativa

liderança orientada para a realização

Fatores contingenciais ambientais:

estrutura da tarefa

sistema formal de autoridade

equipe de trabalho

Fatores contingenciais do membro da equipe:

centro de controle

experiência

capacidade percebida

Resultados:

desempenho

satisfação

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Quadro 14 Comportamentos observados de acordo com os estilos de liderança

Estilo Ações do líder

Diretivo - Informar os membros da equipe o que se espera deles;

- Programar e coordenar o trabalho;

- Fornecer orientação específica;

- Esclarecer políticas, normas e procedimentos.

Apoiador - Mostrar que se importa com o bem estar dos membros da equipe;

- Criar um ambiente de trabalho amigável e psicologicamente apoiador;

- Ser fonte confiável nos processos de diálogo;

- Ser fonte confiável para redução do estresse e diminuição da frustração

dos membros da equipe.

Participativo - Consultar a equipe no processo de tomada de decisão;

- Considerar as opiniões e sugestões dos membros da equipe no processo

de tomada de decisão;

- Esclarecer a relação entre esforço versus alcance do objetivo e alcance do

objetivo versus recompensas extrínsecas;

- Aumentar a congruência entre os objetivos dos membros da equipe e os

da empresa;

- Aumentar a autonomia e as habilidades dos membros da equipe de modo

que eles consigam ver a relação entre esforço e desempenho;

- Aumentar a pressão por resultados da organização por meio do

envolvimento e comprometimento dos membros da equipe e dos demais

colaboradores da empresa.

Orientado

para

realização

- Estabelecer objetivos desafiadores;

- Buscar melhorias;

- Enfatizar a excelência do desempenho;

- Demonstrar confiança que os membros obterão altos níveis de

desempenho.

Fonte: Adaptado de House (1996, p. 4-5)

Até este ponto foram apresentados referenciais teóricos com ênfase na atuação do líder

em uma equipe de projetos. Parece oportuno acrescentar algum referencial que possa ampliar

as possibilidades de análise dessas equipes. Wenger e Snyder (2000) afirmam que as

organizações há muito tempo foram reinventadas usando equipes. Entretanto, os autores

acreditam que exista uma forma de evolução e propõe a abordagem das comunidades de

prática que pode ajudar as organizações a reinventarem o conceito de equipes de trabalho.

Segundo Wenger e Snyder (2000), as comunidades de prática podem agregar às organizações

de várias maneiras: ajudando no alcance das estratégias, iniciando novos negócios, resolvendo

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65

rapidamente problemas, transferindo as melhores práticas, desenvolvendo habilidades

profissionais e ajudando as organizações a recrutarem e reterem talentos. Os autores definem

de forma resumida que as comunidades de prática são grupos de pessoas que se juntam

informalmente para compartilhar, com paixão e comprometimento, experiências e

conhecimentos. Valença (1997, p. 266) acrescenta que a comunidade de prática “é a reunião

de profissionais que têm uma prática comum, dispostos a regularem sua prática de acordo

com as mesmas normas de conduta pessoal, relacional, técnica e de proficiência operativa”.

Wenger e Snyder (2000) elaboram um quadro comparativo entre as comunidades de

prática e as outras formas de se trabalhar em equipe (força tarefa, equipes de projetos,

comunidades de interesse e redes informais). Os autores elencaram respostas a respeito do

propósito, de quem faz parte, de quais limites, do que mantém as pessoas juntas e qual é a

duração de cada uma das formas de se trabalhar em equipe. O Quadro 15 resume essas

respostas.

Quadro 15 Comparativo entre comunidades de prática e outras equipes

Qual é o

propósito?

Quem

pertence?

Limites O que os mantém

juntos?

Quanto tempo

dura?

Comunidades

de prática

Criar e

compartilhar

conhecimento.

Membros que

se auto

selecionam.

Confuso. Paixão,

comprometimento,

aprendizagem e

identificação.

Evolui e acaba

organicamente.

Força tarefa Endereçar

uma questão e

recomendar

soluções.

Qualquer

pessoa que se

reporte ao

gerente da

força tarefa.

Claro. Requisitos do

trabalho e objetivos

comuns.

Tem fim pré

determinado,

até a próxima

tarefa.

Equipe de

projetos

Cumprir uma

tarefa

específica.

Pessoas

indicadas pela

gerencia

sênior da

organização.

Claro. Objetivos e

milestones do

projeto.

Até o término

do projeto.

Comunidades

de interesse

Ser

informado.

Qualquer um

que estiver

interessado.

Confuso. Senso de

alinhamento com

novas idéias.

Evolui e acaba

organicamente.

Network Receber e Amigos e Não Necessidades e Na realidade

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66

informal repassar

informação

companheiros

de trabalho.

definido.

relacionamentos

mútuos.

nunca começa e

nunca termina.

Fonte: Wenger e Snyder 2000, p. 142 e Wenger 2004, p. 8

2.7. Elos entre Aprendizagem Organizacional, Criação do Conhecimento e Liderança de

Equipes

Até este ponto foram discutidos os referenciais teóricos de aprendizagem individual e

organizacional, da criação do conhecimento, de liderança e do líder em uma equipe de

trabalho. Usando essa discussão como pano de fundo, emerge a necessidade da construção de

elos entre os referenciais mencionados. Na construção do elo entre gerenciamento/liderança e

criação do conhecimento, Nonaka e Takeuchi (1997) apresentam três modelos. O primeiro

denominado top-down é indicado para o gerenciamento do conhecimento explícito. O

segundo, bottom-up é indicado para gerenciar o conhecimento tácito. O terceiro, middle-up-

down é adequado ao gerenciamento da interface entre o conhecimento tácito e o explícito.

Para os autores, cabe aos gerentes de nível médio (middle-up-down) a liderança de equipes ou

forças tarefas para a criação do conhecimento nas organizações. O Quadro 16 apresenta a

comparação e o contraste das características relevantes dos três modelos apontados.

Quadro 16 Comparação dos três modelos gerenciais no processo de criação do conhecimento

Top-down Bottom-up Middle-up-down

Quem? Agente de criação

do conhecimento

Alta gerência Indivíduo

empreendedor

Equipe (com os

gerentes de nível

médio como

engenheiros do

conhecimento)

Qual? 1. Papel da alta

gerência

2. Papel da média

gerência

3. Conhecimento

acumulado

4. Conversão do

1. Comandante

2. Processadora de

informações

3. Explícito

4. Conversão parcial

na combinação/

internalização

1. Patrocinadora/

Mentora

2. Intra

empreendedora

autônoma

3. Tácito

4. Conversão parcial

1. Catalisadora

2. Líder de equipe

3. Explícito e tácito

4. Conversão da

espiral de

internalização/

externalização/

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67

Top-down Bottom-up Middle-up-down

conhecimento focalizada na

socialização/

externalização

combinação/

socialização

Onde? Armazenamento do

conhecimento

Banco de dados

computadorizado/

manuais

Personificado no

indivíduo

Base do

conhecimento

organizacional

Como? 1. Organização

2. Comunicação

3. Tolerância à

ambigüidade

4. Ponto fraco

1. Hierarquia

2. Ordens/

instruções

3. Não permite caos/

flutuação

4. Grande

dependência da

alta gerência

1. Equipe de projeto

e rede informal

2. Princípio de auto-

organização

3. Caos/ flutuação

como premissas

4. Consome muito

tempo; custo de

coordenação dos

indivíduos

1. Hierarquia e força

tarefa (hipertexto)

2. Diálogo e uso de

metáfora/

analogia

3. Cria e amplifica

caos/ flutuação

4. Exaustão

humana; custo da

redundância

Fonte: Nonaka e Takeuchi (1997, p. 149)

Garvin (2002) explora outro elo entre aprendizagem individual, aprendizagem

organizacional e os fatores facilitadores da liderança nesses dois processos. O autor enumera

quatro requisitos para que os líderes possam desenvolver suas próprias habilidades como

aprendizes:

Abertura a novas perspectivas – os líderes devem aceitar a natureza provisória do

conhecimento. Dois indicadores são recomendados: atitude em relação às perguntas

desafiadoras; quantidade de exposição que se tem a ambientes desconhecidos e

provocadores de raciocínio;

Consciência de viéses pessoais – líderes precisam ter consciência de seus estilos

preferidos e devem buscar aderência às tarefas designadas para a equipe. Algumas

regras práticas são recomendadas: manter listas atualizadas de suas previsões para

superar viéses de conhecimento posterior; solicitar feedback crítico visando combater

o excesso de confiança; revisar escolhas para aflorar suposições ocultas; buscar ajuda

de coaches e de terceiros para assegurar que seus atos reflitam suas palavras; montar

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bancos de experiências visando enriquecer seu rol de analogias e incrementar sua

habilidade em reconhecer padrões; utilizar processos formais de tomada de decisão

para calibrar seus julgamentos e melhorar a consistência das decisões tomadas;

Exposição a dados não filtrados – ampliação do contato direto do líder com dados

brutos. A aprendizagem, geralmente, melhora significativamente quando os líderes

estão perto da “linha de frente”;

Senso de humildade – os líderes devem reconhecer que não possuem todas as

respostas e que essas, geralmente, estão fora do seu local habitual de trabalho.

DiBella e Nevis (1999), ao discutirem os fatores facilitadores da aprendizagem, chamam a

atenção para a falta de participação dos líderes nos processos de disseminação e uso do

conhecimento. Para os autores, isso decorre do fato dos líderes não se envolverem

adequadamente nesses estágios, preferindo atuar com maior ênfase no estágio da aquisição

do conhecimento. Os autores recomendam que os líderes sejam os primeiros a estudar e a

desenvolver o conhecimento de forma que possam ser reconhecidos como demonstradores

vivos daquilo que aprenderam, afim de servirem de exemplo para os liderados também

aprenderem.

Outro elo que merece atenção é aquele que discute o desempenho do líder para a eficácia

da equipe. Zaccaro, Rittman e Marks (2001) apresentam um esquema conceitual sobre a

atuação do líder funcional. Os autores definem líder funcional como aquela pessoa cuja

principal tarefa é realizar ou fazer com que um trabalho seja feito. Para os autores, a eficácia

da equipe é obtida por meio de processos de equipe e esses são influenciados por processos de

liderança, conforme esquema da Figura 9.

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Figura 9 Funções de desempenho do líder que contribuem para a eficácia da equipe

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Zaccaro, Rittman e Marks (2001, p. 458)

Os quatro processos de liderança a definem como um processo social de resolução de

problemas. Nesse processo os líderes são responsáveis pelo diagnóstico de qualquer desvio

que possa impedir a equipe e/ou organização de alcançar seus objetivos, pela geração e

planejamento adequados das soluções e pela implementação de soluções dentro dos domínios

sociais complexos. As treze dimensões desses quatro processos são descritas da seguinte

forma:

a) Busca e estruturação da informação:

i) Aquisição da informação;

ii) Organização e avaliação da informação;

iii) Feedback e controle.

b) Uso da informação para solução de problemas:

i) Identificação das necessidades e requisitos;

ii) Planejamento e coordenação;

iii) Comunicação da informação.

c) Gerenciamento de recursos humanos:

i) Obtenção e alocação de recursos humanos;

ii) Desenvolvimento dos recursos humanos;

iii) Motivação dos recursos humanos;

Processos

de liderança

Processos

de equipe

Eficácia

da equipe

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iv) Utilização e monitoramento dos recursos humanos.

d) Gerenciamento de recursos materiais:

i) Obtenção e alocação dos recursos materiais;

ii) Manutenção dos recursos materiais;

iii) Utilização e monitoramento dos recursos materiais.

Em relação aos quatro processos de equipe, os autores afirmam que as estratégias de

desempenho usadas pelos membros das equipes surgem a partir daquilo que foi planejado e

coordenado pelo líder. Do mesmo modo, a motivação e as escolhas por parte dos membros da

equipe são influenciadas, em parte, pela exortação e encorajamento do líder. As dez

dimensões desse processo são listadas a seguir:

a) Processos cognitivos da equipe:

i) Compartilhamento dos modelos mentais da equipe;

ii) Processamento da informação coletiva da equipe;

iii) Metacognição da equipe.

b) Processos motivacionais da equipe:

i) Coesão da equipe para cumprir as tarefas;

ii) Eficácia coletiva.

c) Processos afetivos da equipe:

i) Controle dos conflitos;

ii) Normas de controle das emoções da equipe;

iii) Contágio emocional pela presença/ausência;

iv) Composição “emocional” da equipe.

d) Processo de coordenação da equipe:

i) Coordenação da equipe.

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Em suma, Zaccaro, Rittman e Marks (2001) apresentam um esquema com vinte e três

dimensões para auxiliar na compreensão do papel do líder na eficácia da equipe. Os autores

classificam a influência das funções do desempenho do líder em quatro categorias: cognitiva,

motivacional, afetiva e de coordenação. Com base nessas categorias, os autores formularam

sete proposições. Essas proposições foram baseadas em estudos e pesquisas realizadas pelos

próprios autores e uma dezena de outros. O Quadro 17 sintetiza as seis proposições que

objetivam analisar a influência das funções de desempenho do líder.

Quadro 17 Proposições para o processo de liderança funcional

Influência das funções de

desempenho do líder

Proposições

No processo cognitivo da

equipe

1. Equipes com líderes que desenvolvem nos membros a capacidade de

processar informações e encorajam a participação deles na resolução

de problemas da equipe, se envolverão em mais processos de

informação coletivos do que aqueles líderes com um estilo mais

diretivo.

2. Equipes com líderes que desenvolvem e motivam a

metacognitividade dos membros da equipe e proporcionam feedback

adequado do desempenho tenderão a se envolver mais numa

metacognição efetiva do que aqueles líderes que não apresentam estes

comportamentos de liderança.

No processo motivacional

da equipe

1. Equipes cujos líderes estabelecem objetivos elevados de desempenho,

exortam e encorajam os membros a adotarem e alcançarem esses

objetivos, fornecendo estratégias de desempenho, apresentarão uma

eficácia e uma coesão maior da equipe do que aqueles líderes que não

se envolvem em atividades desse tipo.

No processo afetivo da

equipe

1. Equipes cujos líderes proporcionam objetivos claros de desempenho,

designação de papéis e estratégias de desempenho reagirão de forma

menos emocional nas circunstâncias estressantes e apresentarão

menos reações emocionais contagiantes do que aquelas equipes cujos

líderes proporcionam pouca ou nenhuma estrutura e direcionamento.

2. Equipes cujos líderes estabelecem e encorajam normas de controle

emocional apresentarão menores conflitos afetivos do que aqueles

líderes que não estabelecem esse tipo de normas.

Na coordenação da equipe 1. Equipes cujos líderes combinem as capacidades individuais dos

membros com os papéis requeridos, ofereçam estratégias claras de

desempenho, monitorem e forneçam feedback sobre o cumprimento

dessas estratégias e recalibrem as ações dos membros da equipe em

virtude das mudanças nas condições do ambiente coordenarão melhor

e mais efetivamente do que aqueles líderes que não apresentam essas

atividades.

Fonte: Elaborado pelo Autor com base em Zaccaro, Rittman e Marks (2001, p. 458-476)

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2.8. Resumo

O tema liderança foi discutido em três blocos complementares. No primeiro, foram

apresentadas algumas definições de liderança e do líder. Buscou-se em Argyris (1957),

compreender os primórdios do surgimento da função liderança nas organizações. Mostrando a

amplitude desse tema, Conger (1992) afirma que a liderança é um conceito intuitivo e com

baixa probabilidade de se encontrar uma definição simples e aceita. Ao se buscar o

pragmatismo, encontrou-se, em Drucker (2001), uma linha que define a liderança como sendo

o próprio trabalho de identificar e definir a missão da organização. Kotter (2000) acrescenta à

discussão, as diferenças entre gerenciamento (lidar com a complexidade do dia-a-dia) e

liderança (promover a mudança). Ambos refutam a idéia de lideres carismáticos e “salvadores

da pátria”.

No segundo bloco, foi discutido o papel do líder em uma equipe de trabalho. Tanto

Garvin (2002) como Senge (2002) apontam para três tarefas/papéis que a pessoa que lidera

uma equipe deve ter. A primeira tarefa, apontada por Garvin (2002), é a criação de

oportunidades para aprendizagem por meio da projeção de cenários e eventos que induzem às

atividades necessárias. A segunda, cultivo do tom correto como forma de nutrir normas e

comportamentos de engajamento desejáveis. E a terceira, liderança pessoal do processo de

discussão enquadrando o debate, fazendo perguntas, ouvindo com atenção e fornecendo

feedback. Os três papéis, que os lideres devem desempenhar no processo de aprendizagem

organizacional, mencionados por Senge (2002) são: líderes projetistas, líderes professores e

líderes servidores (steward). Senge (2002), assim como Drucker (2001) e Kotter (2000),

refuta os mitos de liderança ligados a imagens de “heróis e salvadores da pátria” e, propõe um

processo de liderança focado em forças sistêmicas e no aprendizado coletivo. Ulrich (2000)

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complementa os autores mencionados com quatro referenciais e seis dimensões dos atributos

que um líder de equipe deve apresentar. Os referenciais são: definição da trajetória;

mobilização do comprometimento pessoal; desenvolvimento das capacidades organizacionais;

e demonstração de caráter pessoal. As dimensões: conversão da visão em ação;

compartilhamento do poder e da autoridade; construção da infra-estrutura organizacional;

organização e posicionamento de equipes; vivência dos valores; auto-imagem

positiva/criação da auto-estima em terceiros.

Alguns elos entre os processos de aprendizagem individual, organizacional, criação do

conhecimento e o processo de liderança de equipes foram pontuados. Para uma discussão

mais ampla, buscou-se em Nonaka e Takeuchi (1997) três modelos de liderança que permitem

um elo entre o processo de liderança e criação do conhecimento. O primeiro, top-down é

indicado para o gerenciamento do conhecimento explícito. O segundo, bottom-up é indicado

para gerenciar o conhecimento tácito. O terceiro, middle-up-down é adequado ao

gerenciamento da interface entre o conhecimento tácito e o explícito. Para os autores, cabe

aos gerentes de nível médio (middle-up-down) a liderança de equipes ou forças tarefas para a

criação do conhecimento nas organizações.

Garvin (2002) faz referência ao elo entre aprendizagem (individual e organizacional) e

os fatores facilitadores de liderança nesses dois processos. O autor indica quatro requisitos

para o desenvolvimento das habilidades dos líderes: abertura a novas perspectivas;

consciência de viéses pessoais; exposição aos dados in natura; e senso de humildade. DiBella

e Nevis (1999) acrescentam que o líder deve dar o exemplo e fazer aquilo que fala. Os autores

reforçam que os líderes devem ser os primeiros a estudar e a desenvolver o conhecimento de

forma que possam ser reconhecidos como exemplo daquilo que aprenderam e, com isso,

sirvam de exemplo para que os liderados também aprendam. Zaccaro, Rittman e Marks

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(2001), assim como Drucker (2001), têm uma visão prática do processo de liderança. Estes

autores buscam a eficácia da equipe por meio de processos de liderança e de equipe. Zaccaro,

Rittman e Marks (2001) apresentaram um esquema com vinte e três dimensões para auxiliar

na compreensão do papel do líder na eficácia da equipe. Os autores categorizaram a influência

das funções do desempenho do líder em: cognitiva, motivacional, afetiva e de coordenação.

Com base nessas categorias, os autores formularam sete proposições que podem ser usadas

para se conseguir a eficácia de equipes.

Retomando o modelo conceitual discutido no referencial sobre aprendizagem (Figura

10), parece ficar evidenciado que a atuação do líder em uma equipe de trabalho merece

estudos adequados, em especial nos elos com a distribuição do conhecimento, a interpretação

da informação, a memória organizacional e o conhecimento coletivo. Parece também existir

possibilidades de aprofundamento desse modelo básico e prévio , estudando-o em séries

seqüenciais, que poderiam ser denominadas modelos 1, 2 e assim sucessivamente.

Figura 10 Modelo conceitual prévio do trabalho

Fonte: Elaborado pelo Autor com base em Huber (1991), Nonaka e Takeuchi (1997)

Aquisição do

conhecimento

Distribuição

do “conhecimento”

Interpretação

do “conhecimento”

Memória

organizacional

Conhecimento

individual

Conhecimento

coletivo

Criação do conhecimento

• Compartilhamento do conhecimento

• Criação de conceitos

• Justificação de conceitos

• Construção de um arquétipo

• Novo ciclo de criação do conhecimento

L

í

d

e

r

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75

3. PROBLEMA DE PESQUISA, DELIMITAÇÃO E OBJETIVOS

Laville e Dionne (1999) pesquisaram as origens da palavra “problema” e chegaram a

conclusão que ela tem raízes nas palavras gregas pro (na frente) e ballein (jogar), ou seja

problema seria algo como jogar na frente. Para Barros e Lehfeld (1986), o processo de

investigação científica origina-se com a escolha de um assunto. Para uma adequada escolha,

os autores colocam que fatores externos (pressão da realidade circundante e política

institucional) e internos (curiosidade, imaginação, experiência e filosofia) do pesquisador

devem ser utilizados para a seleção e formulação do problema. Os autores afirmam que o

projeto de pesquisa deve responder a oito perguntas essenciais para o planejamento adequado

de uma pesquisa, explicitadas no Quadro 18.

Quadro 18 Perguntas essenciais para o planejamento adequado de uma pesquisa

1. O que fazer? Definição do tema e problema.

2. Por que fazer? Justificativa da escolha do problema.

3. Para que fazer? Objetivos gerais e específicos.

4. Quando fazer? Cronograma de execução.

5. Onde fazer? Local. Campo da pesquisa.

6. Com que fazer? Recursos de custeio.

7. Como fazer? Metodologia.

8. Feito por quem? Pesquisador (es).

Fonte: Adaptado de Barros e Lehfeld (1986, p. 97)

De acordo com Ferreira (1998), um problema de pesquisa se caracteriza pela

proposição de algo que deve ser resolvido. Esse algo pode ser tanto de ordem prática

(problemas empíricos) quanto de ordem teórica (problemas de revisões ou validações

conceituais). Gil (1994) afirma que o problema deve ser formulado como pergunta, ser claro,

preciso, empírico, suscetível de solução e delimitado a uma dimensão viável. Kerlinger (1980)

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também coloca que o problema de pesquisa deve ser expresso em forma de pergunta. Laville

e Dionne (1999, p. 87) acrescentam à discussão a variável conhecimento, ao afirmarem que:

“um problema de pesquisa é um problema que se pode „resolver‟ com conhecimentos e dados

já disponíveis ou com aqueles factíveis de serem produzidos”. Os autores argumentam que

um problema de pesquisa não é algo que pode ser resolvido pela tradição, experiência,

intuição ou bom senso. Ele requer informações suplementares que precisam ser obtidas a fim

de delimitá-lo, compreendê-lo e resolvê-lo. Em resumo, pode-se considerar que o problema de

pesquisa é uma questão ainda não resolvida, relacionando pelo menos duas variáveis e objeto

de discussão e comprovação em um determinado domínio do conhecimento.

Em relação à delimitação do problema de pesquisa, Cervo e Bervian (1996) e Vergara

(1998) concordam que o foco está no processo de seleção de tópicos ou partes que devem ser

focalizadas, deixando claro ao leitor interessado o que o estudo contém e aquilo que não

contém. Vergara (1998) afirma que a realidade é muito complexa por um lado e histórica de

outro. Não se pode analisar seu todo, então cuida-se apenas de parte dessa realidade, ou seja,

delimita-se essa realidade. A autora alerta que a delimitação do problema de pesquisa não

pode ser confundida com a definição do universo e da amostra de pesquisa. A delimitação

trata de limites concernentes a variáveis aos pontos que serão estudados, de cortes transversais

e/ou longitudinais no problema de pesquisa, do tempo destinado ao objeto, entre outros.

Cervo e Bervian (1996) contextualizam a delimitação do problema de pesquisa,

partindo de um esquema em que de um lado têm-se os vários objetivos extrínsecos elencados

para posterior escolha do assunto e de outro têm-se listados os vários critérios de seleção. Para

auxiliar o pesquisador na escolha do assunto, entram em cena as técnicas de delimitação:

decomposição em partes; circunstâncias de tempo e espaço; definição dos termos e

tratamento. Esses mesmos autores argumentam que o pesquisador pode dar distintos

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tratamentos (psicológico, sociológico, histórico, filosófico, estatístico, etc.) para um mesmo

assunto. Esses tratamentos indicam qual a direção que o assunto está alinhado.

Köche (1997, p. 106) agrega o relacionamento de variáveis as definições vistas até este

ponto, afirmando que “um problema de investigação delimitado expressa a possível relação

que possa haver entre, no mínimo, duas variáveis conhecidas”. Segundo o autor, quando o

pesquisador delimita seu problema, usando a imaginação e seus conhecimentos que possui,

ele estabelece uma possível ordem na relação entre os fatos. Em outras palavras, a delimitação

do problema de pesquisa é resultado de um trabalho mental, com bases teóricas, com o

objetivo de estruturar as peças soltas do quebra cabeças, buscando o entendimento da rede de

relações que existe entre os fatos. Triviños (1987) reforça que a delimitação do problema não

é a mesma coisa que a formulação do mesmo. A delimitação é algo muito mais específico do

que a formulação.

O problema de pesquisa deste trabalho é: De que forma a atuação do líder contribui

para o processo de aprendizagem organizacional do conhecimento criado nas equipes de

desenvolvimento de novos produtos? As delimitações do problema deste trabalho são:

1) Não será objeto deste trabalho o estudo do processo de liderança como um todo,

mas sim a atuação do líder em equipes de projetos de desenvolvimento de novos

produtos;

2) Os temas aprendizagem organizacional e desenvolvimento de novos produtos

também não serão explorados em suas totalidades;

3) O processo de criação do conhecimento também não será foco deste trabalho.

Santos (2002), Richardson (1989), Santos e Parra (1998) usam a mesma classificação

para objetivos, definindo-os em gerais e específicos. Santos (2002) compara o objetivo geral

de um projeto de pesquisa científica com uma espinha dorsal. O autor pretende reforçar que o

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estabelecimento do objetivo é o fio condutor que o pesquisador deve seguir para atingir seus

intentos de pesquisa. O autor argumenta também, que na prática, montar o objetivo geral

consiste numa escolha subjetiva por parte do pesquisador, que é antepor um verbo que

expresse a sua ação intelectual de escolha. Essa escolha é baseada em seis estágios cognitivos

que possuem graus crescentes de complexidade, conforme demonstrados no Quadro 19.

Quadro 19 Estágios cognitivos possibilitadores de ações intelectuais

Estágios Verbos Complexidade

Conhecimento Apontar, citar, classificar, conhecer, definir, descrever,

identificar, reconhecer, relatar.

1 = Baixa

Compreensão Compreender, concluir, deduzir, demonstrar, determinar,

diferenciar, discutir, interpretar, localizar, reafirmar.

2

Aplicação Aplicar, desenvolver, empregar, estruturar, operar,

organizar, praticar, selecionar, traçar.

3

Análise Analisar, comparar, criticar, debater, diferenciar,

discriminar, examinar, investigar, provar.

4

Síntese Compor, construir, documentar, especificar, esquematizar,

formular, produzir, propor, reunir, sintetizar.

5

Avaliação Argumentar, avaliar, contrastar, decidir, escolher, estimar,

julgar, medir, selecionar.

6 = Alta

Fonte: Adaptado de Santos (2002, p. 66)

Para Santos (2002, p.64-65, 68) o objetivo geral “deve expressar claramente aquilo

que o pesquisador pretende conseguir com sua investigação. Não é o que ele „vai fazer

braçalmente‟ (isto se prevê nos procedimentos), mas o que pretende conseguir como resultado

intelectual final de sua investigação”. O mesmo autor define objetivos específicos como

aqueles que “indicam as partes do conteúdo do futuro texto, a ser produzido na fase de

redação”. Segundo Richardson (1989, p. 23-24), objetivos gerais são aqueles que “definem de

modo geral, o que se pretende alcançar com a realização da pesquisa”. Para esse mesmo autor

objetivos específicos são aqueles que “definem aspectos determinados que se pretende estudar

e que contribuem para alcançar o objetivo geral”. Santos e Parra (1998, p.210) definem

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objetivo geral como aquele que “procura dar uma visão geral do assunto da pesquisa. O

pesquisador deve mostrar a importância do assunto, tendo em vista o conhecimento geral do

mesmo e a temática proposta. Ele deve mostrar a importância do trabalho a ser desenvolvido e

sua contribuição para a ampliação do conhecimento geral relativo ao mesmo”. Para objetivo

específico esses autores o definem como sendo algo “intrínseco ao objetivo geral, que define

o ponto central do trabalho. Isso quer dizer que dentro de uma idéia geral do trabalho, deve-se

ressaltar a idéia específica a ser desenvolvida”.

O objetivo geral deste trabalho é compreender a atuação do líder no processo de

aprendizagem organizacional do conhecimento em equipes de desenvolvimento de novos

produtos. Os objetivos específicos são:

1) Explicitar como os membros das equipes de desenvolvimento de novos produtos

adquirem um determinado conhecimento;

2) Explicitar como o conhecimento é compartilhado entre os membros das equipes de

desenvolvimento de novos produtos;

3) Explicitar como o conhecimento criado é retido na memória organizacional;

4) Entender as ações que o líder deve tomar para criar um clima propício à

aprendizagem.

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4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.1. Sobre a Pesquisa Qualitativa

Godoy (1995) analisa historicamente a evolução da pesquisa qualitativa, em três

períodos. No primeiro que compreende a segunda metade do século XIX, com o estudo

sociológico de Fréderic Le Play (1806-1882) Les ouvries européens, publicado em 1855, que

discorria sobre as famílias das classes trabalhadoras da Europa, pode ser considerado como

pioneiro na abordagem qualitativa. O segundo de 1930 a 1960, embora nesse período tivesse

ocorrido um declínio no uso da abordagem qualitativa, houve importante contribuição da

Escola de Chicago em relação aos pontos de vista metodológico (por exemplo, a aceitação da

entrevista) e conceitual (por exemplo, o aparecimento do interacionismo simbólico,

desenvolvido por Herbert Blumer em 1937). O terceiro a partir dos anos 60, em que a

pesquisa qualitativa foi incorporada em outras áreas (psicologia, educação, administração, por

exemplo) além da sociologia e antropologia. O aparecimento de publicações específicas sobre

essa metodologia, reforçou seu uso pelos pesquisadores.

Segundo Flick (2004), tradicionalmente as ciências sociais e a psicologia adotam como

modelo as ciências naturais e seus aspectos exatos e padronizados. Surge então o uso de

metodologia quantitativa para entender os fenômenos pesquisados. Todavia, esse método não

se mostra efetivo em todas as situações, pois a ciência já não pode mais produzir “verdades

absolutas” que podem ser usadas de forma indiscriminada. Passa então a existir a necessidade

de uma metodologia que possa estudar as relações sociais considerando a pluralização das

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esferas de vida. A metodologia qualitativa, cujas idéias centrais divergem daquelas

empregadas na quantitativa, se baseia em quatro aspectos:

Apropriabilidade de métodos e teorias – o modelo de relacionamento causa e efeito já

não é mais suficiente para os estudos empíricos, pois se fossem usados todos os

objetos complexos deveriam ser excluídos dos estudos;

Perspectivas dos participantes e sua diversidade – a pesquisa qualitativa deve estudar o

conhecimento e as práticas dos participantes de um estudo e considerar as diversas

perspectivas subjetivas e ambientes sociais relacionados;

Reflexividade do pesquisador e da pesquisa – as subjetividades do pesquisador e dos

pesquisados fazem parte do processo de pesquisa. A comunicação do pesquisador com

o campo e seus membros é parte explícita da produção do conhecimento;

Variedade de abordagens e métodos na pesquisa qualitativa – distintas abordagens e

métodos caracterizam as discussões e as práticas da pesquisa. O ponto de partida são

as visões subjetivas.

Segundo Godoy (1995), Godoy e Alves (2004) existem cinco características básicas que

identificam os estudos denominados qualitativos:

A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta de dados e o

pesquisador como instrumento fundamental – valorização do contato direto e

prolongado do pesquisador com o ambiente e situação estudada;

A pesquisa qualitativa é descritiva – o foco do pesquisador está no processo ao invés

de resultados e/ou produto;

O significado que as pessoas dão as coisas e à sua vida são a preocupação essencial do

investigador – tentativa de compreensão dos fenômenos a partir da perspectiva dos

participantes;

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Pesquisadores utilizam o enfoque indutivo na análise de seus dados – pesquisadores

partem de questões ou focos de interesse amplos ao invés de hipóteses estabelecidas a

priori;

A palavra organizada por meio de textos é a forma como os dados são expressos em

estudos qualitativos – os textos são então submetidos a um processo analítico.

Triviños (1987) afirma que o processo da pesquisa qualitativa não admite visões isoladas,

parceladas e estanques. Esse tipo de pesquisa se desenvolve de modo dinâmico, ora

realimentando-se ora reformulando-se continuamente. Para Alves-Mazzotti (2002), o

planejamento de estudos qualitativos não é uma tarefa fácil. As investigações qualitativas

devido ao seu caráter diverso e por requer flexibilidade não são aderentes à regras precisas e

aplicáveis a uma ampla variedade de casos. Outro ponto relevante diz respeito ao grau de

estruturação prévia. A autora menciona autores como Lincoln e Guba (1985) que defendem

um mínimo de estruturação e autores como Marshall e Rossman (1989), Milles e Huberman

(1984) que argumentam em favor de um maior grau de estruturação. De acordo com Alves-

Mazzotti (2002), um projeto de pesquisa não é uma “camisa de força”, mas sim um guia que

orienta o pesquisador aonde ele quer chegar e os respectivos meios que pretende utilizar.

A opção deste trabalho é adotar um certo grau de estruturação pelas seguintes razões:

O pesquisador tem em mente o objetivo geral e os específicos. Dessa forma

acredita-se que esses objetivos devam ser explicitados, mesmo correndo-se o risco

de reajustá-los posteriormente;

Foram estudadas e contempladas teorias sobre os temas aprendizagem

organizacional e liderança. Por que não explicitá-las?;

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Se não houver foco e critérios, mesmo que não suficientemente precisos, corre-se o

risco de se perder tempo, levantar dados de forma excessiva e, consequentemente,

dificultar a etapa de análise e interpretação destes dados.

4.2 Explicitação do Paradigma

Alves-Mazzotti (2002) afirma que não existem metodologias “boas” ou “más”, mas

sim metodologias adequadas ou não adequadas para estudar determinado problema. A autora

recomenda ao pesquisador que antes de iniciar a descrição dos procedimentos ele demonstre a

adequação do paradigma que será adotado no trabalho proposto. De acordo com Morgan e

Smircich (1980), os debates relativos a metodologia de pesquisa no campo das Ciências

Sociais está diretamente ligado as premissas sobre ontologia, epistemologia e a natureza

humana. Para estes autores, a Ciência Social contemporânea é dominada pelo uso de métodos

de pesquisa mais preocupados com o resultado final do que com o processo da pesquisa em si.

Argumentam que a pesquisa qualitativa é uma abordagem e não um conjunto de técnicas. A

decisão pela escolha da pesquisa qualitativa é derivada da própria natureza dos fenômenos

sociais estudados. Os autores ao analisarem as premissas ontológicas constróem uma escala

que considera a realidade como algo que transita entre o subjetivo (“one‟s mind is one‟s

world”) e o concreto (algo real/concreto que afeta todos de uma forma ou de outra). Do

mesmo modo, criam uma escala para as premissas sobre a natureza humana considerando

desde o homem como um ser de espírito puro e consciente até o homem como produto de

forças externas do ambiente onde está exposto. Em relação à postura epistemológica, os

autores constróem uma escala que varia desde a obtenção de uma visão fenomenológica até a

construção de uma ciência de caráter positivista. A metáfora referenciada para a subjetividade

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é a transcendental e para a objetiva é a da máquina. Os métodos de pesquisa variam desde a

exploração da subjetividade em seu estado puro até experimentos em laboratórios e pesquisas

que retratam aspectos objetivos. No Quadro 20, os autores explicitam um esquema sugerindo

que todas as abordagens das Ciências Sociais são baseadas em um conjunto interrelacionado

de premissas relativas aos aspectos ontológicos, epistemológicos e de natureza humana.

Quadro 20 A estrutura de premissas básicas que caracterizam o debate entre objetividade e

subjetividade nas Ciências Sociais

Subjetividade Objetividade

Principais

premissas

ontológicas

Realidade como

projeção da

imaginação

humana.

Realidade

como

construção

social.

Realidade

como

domínio do

discurso

simbólico.

Realidade

como campo

contextual da

informação.

Realidade

como um

processo

concreto.

Realidade

como

estrutura

concreta.

Premissas sobre

a natureza

humana

Homem como

um ser de

espírito puro e

consciente.

Homem como

construtor

social; o

criador da

simbologia.

Homem

como um

ator; o

usuário da

simbologia.

Homem

como

processador

de

informação.

Homem

como

adaptador.

Homem

como

respondente.

Postura

epistemológica

básica

Obter visão

fenomenológica,

revelação.

Entender como

a realidade

social é criada.

Entender

padrões de

discurso

simbólico.

Mapear

contextos.

Estudar

sistemas,

processos,

mudança.

Construir

ciência

positivista.

Algumas

metáforas

favoritas

Transcendental. Jogo de

linguagem,

performance,

texto.

Teatro,

cultura.

Cibernética. Organismo. Máquina.

Métodos de

pesquisa

Exploração da

subjetividade

pura.

Hermenêutica. Análise

simbólica.

Análise

contextual

gestáltica.

Análise

histórica.

Experimento

laboratorial,

pesquisa.

Fonte: Morgan e Smircich (1980, p. 492)

A natureza do fenômeno a ser estudado frente a estrutura proposta por Morgan e

Smircich (1980) tende para uma posição intermediária entre a abordagem subjetiva e a

objetiva. Easterby-Smith e Araujo (2001) indicam que as pesquisas empíricas sobre o tema

aprendizagem organizacional estão centradas em processos que o pesquisador é um

observador distanciado ou participante ativo. Esse tipo de pesquisa acaba favorecendo o

levantamento do tipo survey, privilegiando resultados, ao invés de estudos de caso em

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detalhes, que se ocupam do processo em si. Na opinião dos autores, existe escassez de estudos

que: buscam induzir teoria, considerando às práticas existentes; utilizam pequena amostra de

casos estudados em profundidade; focalizam em micropráticas dentro do âmbito

organizacional ou transorganizacional; e estudam processos conducentes de aprendizagem

organizacional.

4.3. Tipo de Pesquisa

Segundo Triviños (1987), existem três tipos de estudos com finalidades distintas:

exploratórios (permitem ao pesquisador aumentar sua experiência em relação a um dado

problema); descritivos (foco central no desejo do pesquisador de conhecer determinadas

características de uma comunidade); e experimentais (o pesquisador está preocupado em

estabelecer causas dos fenômenos com vistas a produzir modificações).

Quanto aos estudos qualitativos Godoy e Alves (2004), apontam uma extensa

variedade de tipos. Com base em levantamento feito nos Anais do ENANPAD de 2003 os

autores identificaram nove tipos de pesquisa: estudo de caso; estudo etnográfico; história de

vida/de empresa/oral; pesquisa fenomenológica; pesquisa documental; pesquisa-ação; análise

de narrativas; análise de discurso e grounded theory.

O tipo de pesquisa escolhido será um estudo de caso que investigará os fenômenos:

aprendizagem organizacional e atuação do líder em equipes de desenvolvimento de novos

produtos em uma empresa na indústria cosmética. A opção pelo estudo de caso foi baseada

em Yin (2001) que afirma que esse método tem uma aderência adequada para perguntas do

tipo como e por quê, além de não requerer controle sobre o comportamento dos eventos e

focalizar eventos contemporâneos. A opção de escolher uma empresa na indústria cosmética

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considerou a necessidade mercadológica que essa indústria tem de lançar, regularmente, uma

grande quantidade de novos produtos. Normalmente uma empresa, nesse segmento,

desenvolve anualmente novos produtos numa média de 20% a 40% do seu portifólio. A

escolha da empresa Natura Cosméticos S/A considerou as informações contidas no prospecto

Oferta Pública Inicial de Ações, publicado em 2004, no qual a inovação é citada como uma

busca constante em todas suas atividades e a habilidade contínua em renovar o portifólio com

produtos inovadores é considerado um ponto essencial de sua estratégia. Considerou também

que a Natura acredita que o sucesso obtido nos lançamentos de linhas de produtos como

Chronos, Natura Ekos, Vitaplant, Tododia entre outras, demonstra sua capacidade em

desenvolver produtos e conceitos inovadores. A empresa avalia a vitalidade desse processo de

acordo com a parcela da receita decorrente de produtos novos, que ela considera inovadores,

lançados nos últimos 24 meses. Em 2003 esse indicador foi de 37,4%, 29,2% em 2002 e

28,6% em 2001.

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4.4. O Estudo de Caso como Estratégia de Pesquisa

Yin (2001) menciona que o estudo de caso, assim como outras estratégias de pesquisa,

representa um modo de investigar um problema empírico, seguindo-se um conjunto de

procedimentos pré-especificados. Para o autor, um estudo de caso é uma investigação

empírica que:

Investiga um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real,

especialmente quando os limites entre esse fenômeno e o contexto não tem clara

definição;

Enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de

interesse do que pontos de dados. Como conseqüência, se baseia em diversas fontes de

evidências, com os dados necessitando convergir em forma de triangulação. E,

beneficia-se do desenvolvimento a priori de proposições teóricas para conduzir a

coleta e análise de dados.

Quanto a triangulação, Flick (2004) afirma que essa palavra é adequada para indicar a

combinação de distintos métodos, grupos de estudos, ambientes locais e temporais, bem como

distintas teorias usadas no tratamento de um fenômeno. Denzin (2000) apresenta quatro tipos

de triangulação:

De dados – uso de distintas fontes de dados, em que o ponto de partida é o

envolvimento intencional e sistemático dos entrevistados, de ambientes locais e

temporais de estudo;

Do investigador – uso de mais do que um investigador visando minimizar os viéses

pessoais e tendenciosos, típicos dos seres humanos;

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Da teoria – uso de vários pontos de vistas teóricos, permitindo ao pesquisador várias

perspectivas e hipóteses;

Metodológica – uso da triangulação dentro do método (por exemplo, usar subescalas

distintas para medir uma questão do questionário) e uso da triangulação entre métodos

(por exemplo, combinar questionário com entrevista semi estruturada).

Neste trabalho será usado o primeiro tipo, a triangulação de dados, pelo uso de

documentos, entrevistas semi-estruturadas e observação não participante. O tipo metodológico

também deverá ser usado, pois se pretende usar o intramétodo, combinando as entrevistas

com Notas de Campo.

Yin (2001) afirma que um projeto de pesquisa usando o estudo de caso deve representar

um conjunto lógico de proposições e ter uma preocupação com a qualidade. O autor aponta

quatro testes que devem ser usados para a determinação da qualidade de qualquer pesquisa

social empírica:

Validade do constructo – estabelecimento de medidas operacionais adequadas para os

conceitos que estão sendo estudados;

Validade interna – estabelecimento de uma relação causal por meio da qual são

evidenciadas certas condições que levam a outras;

Validade externa – estabelecimento do domínio sob o qual as descobertas de um

estudo podem ser generalizadas;

Confiabilidade – demonstração que as operações de um estudo podem ser repetidas,

apresentando os mesmos resultados.

O Quadro 21 apresenta os quatro testes mencionados, as táticas recomendadas e a

referência à fase da pesquisa em que a tática deve ser usada.

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Quadro 21 Testes, táticas e referências recomendadas para estudo de caso

Testes Táticas do estudo de caso Fase da pesquisa na qual a

tática deve ser aplicada

Validade do

constructo

Utiliza fontes múltiplas de evidências;

Estabelece encadeamento de evidências;

O rascunho do relatório do estudo de caso é

revisado por informantes-chave.

Coleta de dados;

Coleta de dados;

Composição.

Validade

interna

Faz adequação ao padrão;

Faz construção da explanação;

Faz análise de séries temporais.

Análise de dados;

Análise de dados;

Análise de dados.

Validade

externa

Utiliza lógica de replicação em estudos de

casos múltiplos.

Projeto de pesquisa.

Confiabilidade Utiliza protocolo de estudo de caso;

Desenvolve banco de dados para estudo de

caso.

Coleta de dados;

Coleta de dados.

Fonte: Yin (2001, p. 55)

Neste trabalho serão usadas algumas táticas visando garantir a qualidade da pesquisa.

Em relação a validade interna, a tática será a confrontação dos dados com a proposição teórica

deste trabalho (Figura 10). Lincoln e Guba (1985) recomendam o uso de duas técnicas para

melhorar a validade do estudo. A primeira, peer debriefing, como forma efetiva de aumentar a

credibilidade por meio de discussões entre o pesquisador e as pessoas consideradas como

pares. Neste estudo será usada essa técnica, por meio da submissão de textos às pessoas com

reconhecido expertise nos temas aprendizagem organizacional, liderança e desenvolvimento

de novos produtos. O trabalho feito pela orientadora, de leitura crítica, correção e

estabelecimento de novos desafios é uma forma de peer debriefing. A segunda técnica,

member checks, recomendada pelos autores consiste em envolver os participantes da pesquisa,

por meio de perguntas adicionais, verificação de entendimento, cruzamento de respostas etc.

Em relação a validade externa, pretende-se no futuro replicar esse estudo de caso em outras

empresas. De acordo com Yin (2001), a lógica da replicação é análoga àquela usada em

experimentos múltiplos e, pode ser tanto teórica (produção de resultados que contrastem

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apenas por razões previsíveis) ou literal (previsão de resultados semelhantes) . Quanto a

confiabilidade será usado um banco com os dados relevantes deste estudo de caso.

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4.5. Estratégia de Amostragem

Para Alves-Mazzotti (2002), é fundamental que o pesquisador defina a população a ser

pesquisada e o tipo de amostra escolhido. Schwandt (2000) afirma que em uma pesquisa

qualitativa a amostra não é uma questão de representatividade, mas sim de relevância.

Segundo o autor, a relevância pode advir de três situações típicas:

A escolha das unidades de análise é determinada em função da curiosidade do

pesquisador e por ele acreditar que o fenômeno compreendido nelas é crítico para a

compreensão do processo, conceito ou teoria explicativa;

O conhecimento apriorístico do pesquisador determina a escolha das unidades de

análise. O pesquisador então, busca uma situação típica ou um caso desviante, único;

A necessidade de comparação é determinante para a escolha das unidades de análise.

Para Flick (2004), a questão da amostragem emerge em distintos pontos do processo de

pesquisa. Em um estudo para entrevistas, a amostragem relaciona-se à decisão sobre quais

sujeitos serão entrevistados e quais serão seus grupos de origem. Em conseqüência disso,

surge a decisão sobre quais entrevistados devem ter seus dados transcritos e interpretados. Na

seqüência, surge outra decisão sobre quais as partes de um texto devem ser selecionadas para

a adequada interpretação da pesquisa. E, finalmente surge a indagação: quais casos ou partes

de texto são mais adequados para a apresentação das descobertas da pesquisa? Para o autor,

existem dois pólos determinantes da amostragem. O primeiro baseado em critérios mais ou

menos abstratos. E, o segundo em critérios mais ou menos concretos.

Flick (2004) apresenta doze estratégias de amostragem na pesquisa qualitativa. As duas

primeiras são a determinação a priori e coleta completa. As oito seguintes são amostragens:

teórica, de caso extremo, de caso típico, de variedade máxima, da intensidade, de caso crítico,

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de caso delicado e de conveniência. As duas restantes são a seleção primária e a secundária.

O Quadro 22 retrata as doze estratégias propostas pelo autor.

Quadro 22 Estratégias de amostragem na pesquisa qualitativa

Estratégia Resumo

1. Determinação a

priori

Decisões são tomadas com vistas a selecionar casos ou grupos de

casos.

2. Coleta completa Busca de dados por meio de uma coleta completa.

3. Amostragem teórica Processo, controlado pela teoria em formação, de coletar, codificar

e analisar dados para a geração da teoria.

4. Amostragem de caso

extremo

O campo de estudo é revelado a partir das suas extremidades,

visando a compreensão do todo.

5. Amostragem de caso

típico

Seleção de casos nos quais o sucesso ou fracasso são típicos na

média ou maioria dos casos. Campo revelado de dentro e do seu

centro.

6. Amostragem da

variação máxima

Integração daqueles casos que forem os mais diferentes possíveis

visando revelar o alcance da variação e da diferenciação no campo.

7. Amostragem da

intensidade

Escolha de casos que tenham maior intensidade, ou integram-se e

comparam-se sistematicamente casos com diferentes intensidades.

8. Amostragem de caso

crítico

Seleção de casos nos quais as relações a serem estudadas tornam-se

especialmente claras ou importantes para a avaliação da pesquisa.

9. Amostragem de caso

delicado

Seleção de casos politicamente importantes ou delicados, a fim de

apresentar descobertas positivas na avaliação mais eficaz.

10. Amostragem de

conveniência

Seleção daqueles casos mais fáceis de serem acessados em

determinadas condições.

11. Seleção primária Integração dos critérios gerais para um “bom informante”

(respondente): conhecimento, experiência, capacidade de refletir e

articular, disponibilidade de tempo e prontidão para participar da

pesquisa.

12. Seleção secundária Casos onde nem todos os critérios satisfazem aqueles mencionados

na seleção primária, especialmente conhecimento e experiência.

Fonte: Elaborado pelo Autor com base em Flick (2004, p. 76-86)

As estratégias da escolha da amostra deste trabalho serão baseadas nos critérios de

amostragem de caso crítico, de conveniência e seleção primária. Serão entrevistados

aproximadamente três membros, sendo um obrigatoriamente o líder, de três equipes de

projetos de desenvolvimento de novos produtos. Há cerca de doze equipes de projetos de

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desenvolvimento de novos produtos que serão consideradas como a população desta pesquisa.

Os aproximadamente nove membros de três equipes de projetos que serão entrevistados são a

amostra desta pesquisa.

Será adotado como unidade de análise as equipes de projeto, conforme será explicitado

no item desenvolvimento de novos produtos na empresa pesquisada. Cada equipe é composta

por um líder com mínimo três e no máximo cinco membros fixos. Membros adicionais são

incorporados à equipe de acordo com a complexidade do projeto e a decisão cabe ao líder do

projeto.

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4.6. O Papel do Pesquisador

Cabe ao pesquisador buscar acesso adequado ao campo de pesquisa, praticar a

interação com os entrevistados e ter claro o critério de quando deixar o campo. Segundo Yin

(2001), o pesquisador necessita possuir habilidades de elaboração de perguntas, assimilação

de informações e interpretação das respostas. O pesquisador também deve ser flexível,

rigoroso com os aspectos metodológicos e ter uma base sólida de conhecimento sobre o

objeto de estudo. O autor acrescenta a essas habilidades o cuidado que o entrevistador deve

ter para não influenciar sua pesquisa pelo uso de viéses pessoais.

De acordo com Yin (2001), o pesquisador necessita possuir pelo menos quatro

habilidades:

Elaborar perguntas adequadas e interpretar as respostas. A curiosidade deve estar

sempre presente, de modo que o pesquisador se pergunte o tempo todo o porque que

os eventos aconteceram. Isto, na realidade é um ciclo em que uma pergunta

desencadeia outras;

Assimilar as informações de forma isenta e ser bom ouvinte. As ideologias devem ser

postas de lado e os acontecimentos devem ser vistos de modo genérico;

Usar a flexibilidade e adaptabilidade, sem contudo perder o rigor da metodologia;

Usar uma base sólida de conhecimentos que exigem interpretação clara daquilo que é

necessário ao estudo. Esse não é um trabalho mecânico.

Yin (2001) acrescenta a essas habilidades o cuidado que o entrevistador deve ter para não

influenciar sua pesquisa pelo uso de viéses pessoais. Para reduzir essa possibilidade e

aumentar a confiabilidade do estudo, o autor recomenda a elaboração de protocolo que oriente

a pesquisa. O autor recomenda um protocolo com as seguintes seções:

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Visão geral do projeto do estudo de caso – objetivos e patrocínios do projeto,

perguntas do estudo de caso e leituras relevantes sobre o tema que está sob

investigação;

Procedimentos de campo – credenciais de acesso aos locais de estudo de caso, fontes

de informações e advertências de procedimento;

Questões do estudo de caso – questões específicas que o pesquisador deve manter em

mente ao coletar os dados. Uma planilha para disposição específica dos dados e as

fontes de potencial de informações, quando cada pergunta é respondida;

Guia para o relatório do estudo de caso – resumo, formato das narrativas,

especificações de informações bibliográficas e demais documentos.

Convém ressaltar que o pesquisador deste estudo de caso trabalha na empresa pesquisada,

embora em área distinta de onde irá ocorrer o estudo. O pesquisador atua na área da

Qualidade e o estudo de caso será realizado na área de Inovação. Para franquear o acesso do

pesquisador ao campo, neste trabalho, foi feita uma solicitação, via e-mail, para o diretor

responsável. A resposta foi positiva. Também foi mantido contato com o gerente responsável

pela administração de todos os projetos de desenvolvimento de novos produtos. O objetivo

deste contato foi estabelecer uma interação com a área a ser pesquisada e também obter

maiores informações sobre os projetos atualmente em curso na empresa. Foi definido o

critério da saturação como indicador que será usado para interromper as entrevistas. De

acordo com Machado (2002), as entrevistas devem ser interrompidas quando elas deixam de

oferecer informações suplementares.

Cuidados especiais deverão ser tomados, uma vez que o pesquisador por fazer parte da

força de trabalho da empresa pesquisada pode apresentar viéses indesejáveis à pesquisa.

Recomenda-se uma postura de outsider e total isenção de partido, bem como respeitar e

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mencionar as fontes de dados disponibilizados, em alguns casos até de forma privilegiada.

Outro aspecto que merece cuidado do pesquisador neste trabalho é sua posição hierárquica.

Ela pode “mascarar” algumas respostas dos entrevistados. Caberá ao pesquisador buscar uma

postura de neutralidade e ter a compreensão de que a neutralidade completa é um “ideal”

praticamente impossível de ser alcançado. Caberá também ao pesquisador reforçar aos

entrevistados o caráter acadêmico da pesquisa.

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4.7. Técnica de Coleta de Dados

De acordo com Alves-Mazzotti (2002), as pesquisas qualitativas usam vários

procedimentos e instrumentos de coleta de dados. A autora ressalta que as técnicas mais

utilizadas são: observação participante; observação não participante; entrevistas em

profundidade; e análise de documentos.

4.7.1. TIPOS DE FONTES DE EVIDÊNCIAS

Yin (2001) indica seis tipos de fontes de evidências usadas em estudos de caso:

registros em arquivos, entrevistas, observação direta, observação participante, artefatos físicos

e documentação. Na investigação da documentação podem ser consideradas as seguintes

fontes: cartas, memorandos e outros tipos; agendas, avisos e minutas de reuniões, e outros

relatórios escritos de eventos em geral; documentos administrativos; estudos e/ou avaliações

formais do mesmo “local” sob estudo; e recortes de jornais e outros artigos publicados na

mídia. Yin (2001) recomenda que sejam considerados os pontos fortes e fracos de cada uma

das seis fontes de evidências descritas. No Quadro 23 são apontados os pontos fortes e fracos

para as três fontes de evidências a serem utilizadas na pesquisa.

Quadro 23 Fontes de evidências e seus pontos fortes e fracos

Fonte de evidência Pontos fortes Pontos fracos

Documentação Estável – pode ser revisada inúmeras

vezes.

Discreta – não foi criada como resultado

do estudo de caso.

Exata – contém nomes, referências e

detalhes exatos de um evento.

Ampla cobertura – longo espaço de

tempo, muitos eventos e muitos

ambientes distintos.

Capacidade de recuperação pode ser

baixa.

Seletividade tendenciosa, se a coleta

não estiver completa.

Relato de visões tendenciosas – reflete

idéias preconcebidas (desconhecidas)

do autor.

Acesso pode ser deliberadamente

negado.

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Fonte de evidência Pontos fortes Pontos fracos

Entrevistas Direcionadas – enfocam diretamente o

tópico do estudo de caso.

Perceptivas – fornecem inferências

causais percebidas.

Visão tendenciosa devido a questões

mal elaboradas.

Respostas tendenciosas.

Ocorrem imprecisões devido à

memória fraca do entrevistado.

Reflexibilidade – o entrevistado dá ao

entrevistador o que ele quer ouvir.

Observação não

participante

Realidade – tratam de acontecimentos em

tempo real.

Contextuais – tratam do contexto do evento.

Consomem muito tempo.

Seletividade – salvo ampla cobertura.

Reflexibilidade – o acontecimento

pode ocorrer de forma diferenciada

porque está sendo observado.

Custo – horas necessárias pelos

observadores humanos.

Fonte: Yin (2001, p. 108)

Para maximizar os benefícios obtidos a partir das fontes de evidências e controlar a

qualidade do estudo de caso, Yin (2001) apresenta três princípios. O primeiro é o uso de

várias fontes de evidência. O segundo é a criação de um banco de dados para o estudo de

caso. Esse banco de dados aumenta a confiabilidade do estudo. O terceiro princípio é manter o

encadeamento de evidências. Para Yin (2001), essa técnica objetiva abranger a máxima

amplitude na descrição, explicação e compreensão do tema da pesquisa. Essa técnica tem

como princípio básico que é impossível conceber a existência isolada de um fenômeno social,

sem considerar suas raízes históricas, significados culturais, vinculações estreitas e

fundamentais com o entorno social. O autor resume a técnica em três etapas:

Processos e produtos centrados no sujeito – pelo pesquisador por meio de percepções

(entrevista, questionário), comportamentos e ações; pelo próprio sujeito e por

documentos internos e/ou externos;

Elementos produzidos pelo meio do sujeito – instrumentos legais (leis, decretos,

regimentos etc.) e oficiais (diretrizes, dados estatísticos, etc.);

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Processos e produtos originados pela estrutura sócio-ecônomica cultural do macro

organismo social do sujeito – modos de produção (capitalismo, socialismo etc.) e

forças e relações de produção, prioridade dos meios de produção e classes sociais.

A coleta de dados nesta pesquisa será realizada por meio de entrevistas em profundidade,

apoiadas em roteiro semi-estruturado, por observação não participante e análise da

documentação disponibilizada pela empresa pesquisada.

4.7.2. ENTREVISTA SEMI ESTRUTURADA EM PROFUNDIDADE

Para Godoy e Alves (2004), a entrevista é um método de coleta de dados que busca

resposta para as questões sobre o que as pessoas fazem, pensam ou sentem. Fontana e Frey

(2000) complementam, afirmando que a entrevista é o mais comum e poderoso meio usado

para entender os seres humanos. Segundo os autores, o tipo mais comum de entrevista é a

individual, face a face. As entrevistas podem ser estruturadas, semi-estruturadas ou

desestruturadas. A entrevista estruturada refere-se a uma situação na qual o entrevistador

pergunta para cada respondente uma série de questões pré-estabelecidas e com um conjunto

limitado de categorias de respostas.

Para Queiroz (1991), o registro da informação viva, por meios eletrônicos de gravação,

realça a observação que provém diretamente do respondente e de suas motivações específicas.

A autora chama a atenção para o significado da técnica do gravador e suas fases. Em uma

fase, embora captada a fala do respondente com fidelidade, existe um recorte pela não

captação do não verbal. Na outra fase, que é a passagem daquilo que foi gravado para forma

escrita, ainda se perde algo. Porém, o documento escrito será, mesmo não retratando a

realidade em sua totalidade, a base para o trabalho seqüencial do pesquisador.

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Machado (2002) apresenta três enfoques no processo de entrevista de pesquisa. Para o

primeiro enfoque, o interesse do pesquisador está na obtenção de respostas quantificáveis.

Esse enfoque tem como base o desenvolvimento de técnicas de construção de questionários e

de escalas de medidas e atitudes. No segundo enfoque, o interesse do pesquisador é apreender,

a partir das representações feitas pelos sujeitos da pesquisa. Nesse enfoque o pesquisador

deve ser compreensivo e não se preocupar com a padronização da pergunta e sim no seu

significado para o entrevistado. Como conseqüência, a análise das informações obtidas na

pesquisa também passa por etapas de desenvolvimento. Em uma primeira etapa, a técnica de

análise do conteúdo do material qualitativo torna-se útil para a delimitação das categorias

temáticas. Na seqüência essas categorias podem ser quantificadas ou sofrerem tratamento de

forma menos atrelada a uma contagem de ocorrências. No terceiro enfoque, o entrevistado é o

sujeito central. O discurso é obtido preferencialmente com pouca interferência do

entrevistador. As informações obtidas são tratadas por meio da análise do discurso. No

Quadro 24 estão sintetizados os pontos principais dos três enfoques.

Quadro 24 Enfoques da entrevista de pesquisa

Enfoque I Enfoque II Enfoque III

Roteiro de perguntas ou

questionário.

Não diretiva. Não diretiva.

Entrevistador Formula questões. Escuta benevolente. Escuta benevolente.

Sujeito Escolhido aleatoriamente,

por procedimentos de

amostragem.

Selecionado como

representando um

grupo.

Central, expressando

uma formação

discursiva.

Objeto Passível de medida e de

quantificação.

Representação social. Discurso.

Análise Estatística: freqüência,

correlação etc.

Análise de conteúdo. Análise de discurso.

Qualidade Depende de padronização. Depende de facilitação. Depende de interação.

Fonte: Machado (2002, p. 58)

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101

No presente trabalho será adotado o Enfoque II, com uso de roteiro semi-estruturado

para a condução da entrevista em profundidade. As entrevistas serão gravadas e

posteriormente transcritas e analisadas. Adicionalmente, será analisada a documentação de

desenvolvimento de novos produtos e dados de negócio, disponibilizados pela empresa.

4.7.3. OBSERVAÇÃO NÃO PARTICIPANTE

Flick (2004) afirma que a observação é uma habilidade metodologicamente

sistematizada e aplicada na pesquisa qualitativa. A observação reúne as percepções baseadas

na audição, tato e olfato. Quanto a flexibilidade da observação, Yin (2001) e Alves-Mazzotti

(2002) apontam a existência de dois tipos: formal (estruturada, sistemática) e informal (não

estruturadas, assistemáticas, livres). Na formal são desenvolvidos protocolos do estudo de

caso que incluem observação de reuniões, atividades de trabalho, entre outras. Alves-Mazzotti

(2002) identifica três níveis de quantificação possíveis na observação formal: sistema de sinal

(quando é registrado apenas a presença ou ausência do comportamento durante a observação,

sem preocupação com freqüência e grau em que ocorre); registro de freqüência; e escalas que

permitem estimar o grau de ocorrência de um determinado comportamento. Na informal, são

realizadas observações ao longo da visita de campo, incluindo situações durante as quais estão

sendo coletadas outras evidências. Yin (2001) recomenda a existência de mais do que um

observador com o objetivo de aumentar a confiabilidade das evidências observacionais.

Alves-Mazzotti (2002) enumera as principais vantagens da observação não

participante:

Não depende da capacidade verbal ou do nível de conhecimento dos sujeitos;

Possibilita verificar, na prática, a sinceridade de algumas respostas que, algumas

vezes, são dadas somente para causar “boa impressão”;

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Possibilita a identificação de comportamentos não-intecionais e explorar tópicos

que os sujeitos não se sentem a vontade para discutir;

Permite registrar o comportamento em seu contexto temporal-espacial.

Para Flick (2004) existem sete fases que devem ser consideradas durante o processo de

observação:

Selecionar adequadamente o ambiente. Onde e quando os processos e os sujeitos

que forem significativos para a pesquisa podem ser observados;

Definir aquilo que deve ser documentado, caso a caso, durante a observação;

Treinar os observadores visando a padronização dos focos;

Desenvolver observações descritivas que ofereçam uma representação geral inicial

do campo;

Desenvolver observações focadas que se concentrem nos aspectos relevantes à

questão de pesquisa;

Desenvolver observações seletivas visando a apreensão intencional apenas dos

aspectos focais da pesquisa;

Decidir quando finalizar a observação. Um critério pode ser o da saturação teórica,

ou seja, quando outras observações não estiverem mais agregando conhecimento

adicional.

A observação não participante será realizada e registrada por meio de Notas de Campo

para depreender, especialmente, a atuação do líder. A base teórica que fundamentará a

elaboração do instrumento será o “espectro” de respostas em discussão de aprendizagem de

Garvin (2002), conforme mencionado no referencial teórico. O autor analisa o espectro de

respostas do líder em discussões de aprendizagem variando de posicionamentos que vão

desde a reflexão e facilitação até a intrusão e a intervenção, por parte do líder. Quatro

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características serão observadas (manutenção do foco em quem fala, injeção de pontos de

vista apoiador e/ou negativo e envolvimento do uso aberto de poder e autoridade) em uma

escala de respostas que varia desde o silêncio até a ameaça.

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104

4.8. Análise de Dados

Para Flick (2004), a interpretação de dados é o cerne da pesquisa qualitativa. Freitas e

Janissek (2000) recomendam a análise léxica e de conteúdo para se tratar qualquer forma de

texto, não importando sua natureza. Para os autores, a análise de conteúdo é constituída por

uma leitura profunda de cada uma das respostas, que codificadas individualmente, chega-se a

uma idéia sobre o todo. Na análise léxica, passa-se da análise do texto para a análise do

conjunto de todas as palavras transcritas dadas pelos respondentes. Os autores reforçam que

as análises léxica e de conteúdo são técnicas que se complementam, são seqüenciais e

recorrentes quando se busca explorar os dados em estudos qualitativos. Em suma, Freitas e

Janissek (2000) descrevem esse processo de análise de conteúdo em três etapas: leitura e

decomposição de um texto, construção e documentação de uma grade temática e uma

avaliação e comparação dos temas que levam ao conhecimento sobre o objetivo da pesquisa.

4.8.1. ANÁLISE DE CONTEÚDO

Bardin (1977) descreve seis etapas sucessivas para análise exploratória do texto: pré-

análise; codificação; categorização; tratamento dos dados; inferência e interpretação. Segundo

a autora, a análise de conteúdo pode seguir tanto uma perspectiva objetivista, por meio de

enfoque quantitativo, ou uma tradição qualitativa em que o pesquisador visa compreender as

características, estruturas e/ou modelos que permeiam os fragmentos de mensagens que são

tomadas em consideração. Miles e Huberman (1994) recomendam elaborar a análise de

conteúdo em três níveis: sumarizando e ordenando os dados; reclassificando e agregando os

dados; e desenvolvendo e testando proposições para a construção de uma estrutura

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explanatória. Os autores com base em Carney (1990) sugerem que esses três níveis sejam

escalonados por meio de uma escada de abstração analítica, conforme demonstrado na Figura

11.

Figura 11 A escada de abstração analítica

Fonte: Miles e Huberman (1994, p. 92)

A discussão envolvendo a evolução da análise de conteúdo pode ser dividida em duas

etapas. Numa primeira, anterior as décadas de 50 e 60, em que predominava o método

quantitativo e uma segunda na qual o método qualitativo passou a ser aceito e usado no

campo das ciências sociais. Segundo o autor, a discussão na primeira metade do século XX

era marcada pela defesa do rigor nas análises, o que de certa forma demandava o uso de

métodos quantitativos. Porém, os pesquisadores começaram a perceber que a inferência

Fazer verificação cruzada. Montar

matriz com os temas chave.

Sintetizar: integrar os

dados em uma

estrutura explanatória.

Criando um

texto

para ser

trabalhado

Buscando

codificação

para um conjunto

adequado de

categorias

Identificando

temas

e tendências no

conjunto de

dados

Testando hipóteses e

reduzindo a quantidade

de dados para

análise de tendência

Delineando

uma

estrutura

profunda

1. Sumarizando e

ordenando os dados

Reconstruir os transcrições em notas escritas. Fazer sinopse das

entrevistas individuais.

Codificar os dados. Escrever notas analíticas conectando

comas varias estruturas de interpretação.

Buscar relacionamento nos dados: escrever

notas analíticas. Encontrar as ênfases e as

lacunas nos dados levantados.

2. Reclassificando e agregando

os dados

Níveis

3. Desenvolvendo e testando

proposições para a construção de uma

estrutura explanatória

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(variáveis inferidas partindo-se de variáveis de inferência ao nível da mensagem) era uma

característica significativa na análise de conteúdo e, nesse caso, o método quantitativo

apresentava limitações. Começa-se aí uma nova etapa aonde o uso do método qualitativo

passou a ser reforçado, principalmente, em áreas como psicologia, educação e administração.

Para entender as diferenças entre estas duas metodologias, buscou-se na literatura

definições de cada uma delas. No caso da metodologia quantitativa, Bardin (1977, p. 114)

afirma que “a abordagem quantitativa fundamenta-se na freqüência de aparição de certos

elementos da mensagem”. Para a definição da metodologia qualitativa, Bardin (1977, p. 114)

diz que “a abordagem não quantitativa, recorre a indicadores não frequenciais susceptíveis de

permitir inferências; por exemplo, a presença (ou a ausência), pode constituir um índice tanto

(ou mais) frutífero que a freqüência de aparição”. Godoy (1995, p. 58) acrescenta que “de

maneira diversa, a pesquisa qualitativa não procura enumerar e/ou medir os eventos

estudados, nem emprega instrumental estatístico na análise dos dados. Parte de questões ou

focos de interesses amplos, que vão se definindo à medida que o estudo se desenvolve”. Nesse

ponto, cabe questionar se existe predominância de uma abordagem em relação a outra. Bardin

(1977) menciona que as duas abordagens não têm o mesmo campo de ação. A abordagem

quantitativa obtém dados descritivos com o uso de método estatístico, que permite uma

análise mais objetiva, fiel e exata. Para a abordagem qualitativa usa-se um procedimento mais

intuitivo, maleável e adaptável, para índices não previstos ou mesmo para analisar a evolução

das hipóteses.

De acordo com Machado (2002), a análise de conteúdo foi criada inicialmente como uma

técnica de pesquisa visando uma descrição objetiva, sistemática e quantitativa de mídias como

jornais, revistas, filmes, rádio, TV. Na atualidade a análise de conteúdo é cada vez mais usada

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para análise de material qualitativo oriundo de entrevistas de pesquisa. A autora argumenta

que a análise de conteúdo em sua forma clássica, quantitativa, demandava nove etapas:

1) Delimitação do universo de onde seria extraída a amostra;

2) Desenho da amostra sobre a qual a análise se realizará, feito por meio de técnicas de

amostragem;

3) Formulação, clara, precisa e sucinta do problema de pesquisa;

4) Exame cuidadoso do material a ser analisado;

5) Levantamento de hipóteses de trabalho;

6) Levantamento de variáveis e categorias de análise baseadas no problema de pesquisa;

7) Escolha das unidades de análise;

8) Pré-teste e melhoramento do esquema de análise construído;

9) Tabulação dos resultados e realização das análises pertinentes.

Machado (2002) afirma que no uso mais recente a análise conteúdo requer: uma definição

clara do problema em estudo; tratamento das entrevistas em profundidade; seleção explicitada

e justificada dos entrevistados com base nos objetivos que se pretende alcançar; e tratamento

do material da entrevista de acordo com os temas que surgem do próprio conteúdo obtido. A

autora aponta que o resultado da análise de conteúdo pode ser apresentado em forma de

tabela, na qual as células conteriam as falas particulares dos entrevistados. O simples

levantamento dos temas abordados nas entrevistas, em muitos casos, é o próprio objetivo da

pesquisa.

Neste trabalho será adotada a linha contemporânea da análise de dados, proposta por

Machado (2002). Serão feitas entrevistas semi-estruturadas em profundidade com três líderes

e alguns membros de equipes de desenvolvimento de novos produtos. Na seqüência os dados

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serão analisados à luz da análise de conteúdo qualitativa (Bardin 1977), segundo uma

categorização temática.

4.8.2. O USO DE SOFTWARE EM PESQUISA QUALITATIVA

Flick (2004) afirma que o caráter essencial da pesquisa qualitativa vem sendo

influenciado pela mudança tecnológica ocorrida nos últimos anos. O autor menciona quatorze

possibilidades para uso de softwares no contexto da pesquisa qualitativa, que vai desde

anotações do campo, passando pela análise de conteúdo e culminando com a redação do

relatório. Flick (2004) menciona dois tipos de softwares. O primeiro ATLAS.ti, baseado na

abordagem da grounded theory e da codificação teórica segundo Strauss. Esse software

desenvolvido por Muhr na década de 90 é um programa construtor de redes conceituais que

auxilia operações no nível textual e conceitual. O outro software, o NUD.IST (atualmente

NVIVO), desenvolvido por Richards e Richards, também na década de 90, é um programa

construtor de teorias com base em códigos.

Freitas e Moscarola (2000) apresentam o software SPHINX em três versões. A

primeira, SPHINX PRIMO que permite definir o questionário, digitar as respostas, tratar e

analisar os resultados. A outra versão, SPHINX PLUS, é um programa que permite a

concepção e o tratamento de enquêtes, de análise estatística e de gestão de dados. A versão

SPHINX LÉXICA, integra funções de concepção e edição de enquêtes, de análise e gestão de

dados das versões anteriores, enriquecendo suas funções de navegação lexical e ofertando

novas alternativas de leitura, análise e quantificação de dados textuais.

Tentativamente, durante a fase de análise de dados, será testado o uso do software

NVIVO.

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109

4.9. Resumo

Do exposto até este ponto, observa-se uma seqüência de etapas essenciais para o

planejamento da pesquisa. Essa seqüência está resumida no Quadro 25, juntamente com a

síntese dos procedimentos metodológicos.

Quadro 25 Síntese das principais etapas do trabalho e dos procedimentos metodológicos

Definição do

tema e

problema

O problema de pesquisa deste trabalho é: De que forma a atuação do líder contribui

para o processo de aprendizagem organizacional nas equipes de projetos de

desenvolvimento de novos produtos?

Justificativa da

escolha do

problema

Compreender a aprendizagem organizacional de criação do conhecimento e, a

atuação do líder nesse processo, em equipes de projetos de desenvolvimento de novos

produtos em uma empresa de grande porte na indústria cosmética.

Objetivos

gerais e

específicos

O objetivo geral deste trabalho é compreender a atuação do líder no processo de

aprendizagem organizacional do conhecimento em equipes de desenvolvimento de

novos produtos. Os objetivos específicos são:

1. Explicitar como os membros das equipes de desenvolvimento de novos

produtos adquirem um determinado conhecimento.

2. Explicitar como o conhecimento é compartilhado entre os membros das

equipes de desenvolvimento de novos produtos.

3. Explicitar como o conhecimento criado é retido na memória organizacional.

4. Entender as ações que o líder deve tomar para criar um clima propício à

aprendizagem.

Local/Campo

de pesquisa

Na área de desenvolvimento de novos produtos de uma empresa de grande porte na

indústria de cosméticos.

Procedimentos

metodológicos

1. Pesquisa qualitativa e uso do estudo de caso

2. Técnica de coleta de dados

2.1. entrevista semi-estruturada (em profundidade) com base em roteiro pré-

determinado

2.1.1. registro das entrevistas

2.1.2. transcrição das entrevistas

2.2. observação não participante

2.3. análise da documentação

3. Confiabilidade: Notas de Campo

4. Validade: triangulação de dados intra-métodos e várias fontes de evidências

5. Seleção da amostra: quatro equipes de projetos de desenvolvimento de novos

produtos compostas por quatro líderes e oito membros.

6. Análise de conteúdo, abordagem qualitativa com categorização temática

7. Relatório final

Pesquisador Roberto Zardo, Mestrando em Administração de Empresas

Fonte: Elaborado pelo Autor com base em Barros e Lehfeld (1986, p. 97)

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5. PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS

“Para que o pessoal seja inovador e motivado, é preciso levar em conta as necessidades

humanas. Alguém que se sinta bem e se ache admirado, torna-se muito mais aberto a várias

coisas do quem sempre precisa defender-se”.

Andreas Rihs, CEO, Phonak

Inicialmente serão abordados alguns dados relevantes da empresa escolhida, Natura

Cosméticos S.A. Isto é necessário para que se possa entender a conexão entre aprendizagem

organizacional, criação do conhecimento e atuação do líder no processo de desenvolvimento

de novos produtos. Na seqüência, será abordado de forma sucinta o processo de

desenvolvimento de novos produtos da empresa, conhecido como Funil de Inovação. Não é

objetivo deste trabalho um aprofundamento teórico desse processo, mas sim possibilitar seu

entendimento quanto às interfaces com os processos de aprendizagem organizacional da

criação do conhecimento e a atuação do líder de equipes de projetos nesse processo.

5.1. Contextualização da Empresa Pesquisada

Visando contextualizar a empresa e o ambiente onde será feito este estudo de caso é

importante resgatar um breve histórico da Natura, que didaticamente foi dividido em três

ciclos. O primeiro ciclo reflete o nascimento da Natura em 1969, com uma loja e um

laboratório em São Paulo. Surgem duas grandes paixões: pelos cosméticos e seu poder de

transformação; e pelo cultivo das relações. Em 1974 inicia-se a opção pela venda direta, que

viabiliza o crescimento da empresa. Nasce a Consultora de beleza Natura (CN) e expande-se o

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atendimento personalizado. Em 1979 novas empresas se juntam ao sistema. Na década de

oitenta a Natura ganha força com novos produtos e conquista novos mercados regionais no

Brasil. Ao contrário do que acontece com grande parte das empresas nesse período, a Natura

registra crescimento de trinta e cinco vezes em dez anos.

No segundo ciclo existe a fusão das quatro empresas que formavam o sistema Natura e

a ampla reorganização interna deram início à constituição da companhia. No início da década

de 90 ocorre a explicitação das Crenças e a formalização do compromisso social. A empresa

prepara-se para a abertura do mercado brasileiro. De 1993 a 1997 atinge um crescimento de

5,5 vezes em cinco anos. A internacionalização da Natura é iniciada em 1994 e expande

gradualmente, com Centros de Distribuição e formação de CN‟s na Argentina, Bolívia, Chile

e Peru. O terceiro ciclo tem início a partir de 2000 com o lançamento de nova marca; entrada

na área da saúde; novo posicionamento de mercado da Flora Medicinal, laboratório de

produtos fitoterápicos; início da utilização de princípios ativos da flora brasileira; lançamento

do site www.natura.net; e mudança da fábrica e áreas administrativas para o Novo Espaço

Natura em Cajamar. Uma ampla ação de relançamento da marca Natura na Argentina alcança

grande repercussão e causa impacto positivo nos indicadores de desempenho da operação.

Em maio de 2004, a Natura abre seu capital ao divulgar uma oferta pública de ações

ordinárias. A oferta é concretizada por meio de ações ordinárias negociadas no segmento do

Novo Mercado da BOVESPA (Bolsa de Valores de São Paulo).

Em relação à natureza das atividades, a Natura é uma empresa que produz cosméticos,

produtos de higiene, perfumaria e de saúde com marcas reconhecidas pelos consumidores,

como Chronos, Natura Ekos, Faces de Natura, Natura Fotoequilíbrio, Natura Maquilagem,

Natura Mamãe & Bebê e Natura Criança. Também merecem destaque as marcas de

perfumaria Essencial de Natura, Sintonia e Kaiak. Há, ainda, a linha Crer para Ver, que conta

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com a participação de designers, artistas e fornecedores para a produção de camisetas,

embalagens e cartões, vendidos voluntariamente pelas CN‟s, com o objetivo de obter recursos

que financiem projetos voltados para as escolas da rede pública.

Os produtos chegam aos consumidores principalmente por meio de mais de trezentas e

cinqüenta mil CN‟s, que realizam a venda direta em aproximadamente cinco mil municípios

em todas as regiões do Brasil e no mercado latino-americano. Portanto, a Natura tem dois

clientes básicos: as 357.000 CN‟s e os 11.000.000 de consumidores finais. Ambos os dados

baseados nas informações fornecidas pela empresa referentes ao período encerrado em 31 de

março de 2004.

Em 2003, a Natura obteve uma receita bruta de R$ 1,9 bilhão. Em suas fábricas foram

produzidos mais de cento e quarenta milhões de itens e no Centro de Distribuição foram

processados, diariamente, cerca de dezessete mil pedidos. A estrutura organizacional,

analisada sob a ótica dos conceitos da cadeia de valor de Porter (1985), é composta por quatro

atividades primárias e seis de apoio. As primárias são: operações e logística (suprimentos,

planejamento e controle da produção, produção, manutenção, armazenagem e distribuição),

marketing de produtos e do canal (desenvolvimento de produtos, desenvolvimento do canal de

venda direta), comercialização (vendas diretas, planejamento mercadológico, operações nos

países da América Latina e atendimento aos clientes) e operações internacionais

(desenvolvimento de mercados, exceto o latino americano). As atividades de apoio são:

planejamento estratégico, gestão da qualidade, gestão de recursos humanos, gestão de

assuntos corporativos e responsabilidade social, gestão financeira e de assuntos jurídicos e

gestão da tecnologia da informação.

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Para facilitar o processo de determinação e entendimento do processo de

desenvolvimento de novos produtos, é conveniente analisar o institucional da Natura,

composto por sua visão, razão de ser, estratégia, crenças e valores.

A visão da empresa:

“A Natura, por seu comportamento empresarial, pela qualidade das relações que

estabelece e por seus produtos e serviços, será uma marca de expressão mundial,

identificada com a comunidade das pessoas que se comprometem com a construção

de um mundo melhor através da melhor relação consigo mesmas, com o outro, com

a natureza da qual fazem parte, com o todo”. NATURA (2003, p. 6).

Sua razão de ser:

“Criar e comercializar produtos e serviços que promovam o bem-estar/estar-bem.

Bem estar é a relação harmoniosa, agradável, do indivíduo consigo mesmo, com seu

corpo. Estar bem é a relação empática, bem-sucedida, prazerosa, do indivíduo com o

outro, com a natureza da qual faz parte, com o todo”. NATURA (2003, p. 6).

Em relação a estratégia, ela declara:

“A Natura continuará ampliando sua participação no mercado, por meio do

aperfeiçoamento constante das suas relações com seus diversos públicos e do

desenvolvimento de produtos e serviços inovadores. Ao mesmo tempo, ampliará sua

presença internacional, seja por meio da consolidação dos atuais mercados, seja com

a conquista de novos na América Latina. Prospectar os mercados dos Estados

Unidos e da Europa, principalmente com a linha Natura Ekos, está igualmente entre

os objetivos da empresa. O uso sustentável dos recursos da biodiversidade brasileira

é a principal plataforma de crescimento dos negócios, tanto no Brasil quanto no

exterior. A opção pela venda direta, no Brasil e na América Latina, implica o

compromisso sempre renovado de estimular e participar do desenvolvimento

pessoal, material, social e profissional das consultoras Natura. A empresa continuará

investindo no estreitamento do vínculo com esse importante público e na ampliação

do número de consultoras em atividade. Ao estabelecer prioridades, a Natura

reafirma a diretriz de crescer com base em sua Razão de Ser – criar e comercializar

produtos que promovam o Bem-Estar e o Estar Bem. São princípios, por sua vez,

norteados pelas Crenças e Valores da empresa. Na condução dos seus negócios, a

Natura continuará adotando práticas de gestão baseadas nos conceitos do

desenvolvimento sustentável, observando os impactos econômicos, sociais e

ambientais de suas atividades. Como forma de disseminar esses princípios, a Natura

permanecerá investindo na educação e no conhecimento das diversas comunidades

com as quais se relaciona”. NATURA (2003, p. 7).

O conjunto dos quatro valores e das seis crenças da Natura explicitados no documento

visão de mundo Natura (2000) estão descritos nos Quadros 26 e 27, respectivamente.

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Quadro 26 Conjunto dos valores da Natura

Humanismo – Cultivo

das relações.

Valoriza ao máximo as relações e o potencial humano. Respeita e

estimula a individualidade que enriquece a diversidade. Busca

contribuir para o aperfeiçoamento da sociedade e da qualidade das

relações com cada uma de suas ações.

Criatividade - Ousar,

inovar.

Busca soluções inovadoras com alegria, ousadia, determinação e

paixão. Objetiva o aperfeiçoamento contínuo com intuição,

sensibilidade e conhecimento.

Equilíbrio - Harmonia,

interdependência.

Inspira-se no equilíbrio e na dinâmica da natureza. Percebe o Homem

como parte da natureza, com a qual deve harmonizar-se, e valoriza a

interação com ela. Busca aliar consciência e competência. Discurso e

prática. Saber e fazer. Ética e Estética.

Transparência - Claro,

evidente, que se deixa

conhecer.

Vive seus processos abertamente. É franca, à vontade. É contra

ambigüidades, manipulações e discriminação em todas as relações.

Busca com determinação a qualidade e reconhece suas imperfeições.

Compartilha suas dúvidas e a busca de respostas.

Fonte: Visão de mundo Natura (2000)

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Quadro 27 Conjunto de crenças da Natura

A vida é um encadeamento de

relações.

Nada no universo existe por si só. Tudo é interdependente.

Acreditamos profundamente que na percepção da

importância das relações exista a oportunidade de uma

grande revolução humana na busca da paz, da harmonia, da

beleza do ser.

A busca permanente do

aperfeiçoamento é que

promove o desenvolvimento

dos indivíduos, das

organizações e da sociedade.

No mundo, cada ser, cada organização, cada país tem

potencial para se aperfeiçoar e para aperfeiçoar suas ações.

Acreditamos que o processo de busca desse aperfeiçoamento

é sempre gerador de conquistas, enriquecimento e sabedoria.

O compromisso com a verdade

é o caminho para o

aperfeiçoamento e a qualidade

das relações.

Na sociedade de consumo em geral, e no mundo dos

cosméticos em particular, têm prevalecido o engano, o

ilusório, o falso na busca do êxito a qualquer preço. A

sociedade perde assim a oportunidade de viver relações

baseadas em verdades que personalizam e aperfeiçoam

indivíduos e organizações. Acreditamos que o compromisso

com a verdade é o caminho para uma evolução

transformadora em todas as relações, tanto pessoais quanto

de mercado.

A vida se manifesta através da

diversidade.

Quanto maior a diversidade, maior a riqueza e vitalidade de

todo o sistema, de toda a rede de relações. É assim na

ecologia ambiental. Assim é também na ecologia das

relações humanas. Acreditamos que o cultivo da interação

entre os diferentes gera-se a energia necessária à evolução

dos indivíduos, das organizações e da sociedade.

A busca da beleza, enquanto

aspiração da alma, da mente e

do corpo, deve estar liberta de

preconceitos e manipulações.

A beleza é um legítimo anseio de todo ser humano. Em

nossa sociedade esse anseio é manipulado com a imposição

de estereótipos e preconceitos que estabelecem para a beleza

padrões de idade, raça e comportamento. Acreditamos que

na desmistificação desta atitude e na relação harmoniosa de

nossa mente, cultivando e preservando nosso corpo, existe a

possibilidade de a beleza cada vez mais se manifestar e ser

percebida.

A empresa é um dinâmico

conjunto de relações. Seu valor

e sua perpetuação estão ligados

a sua capacidade de contribuir

para o aperfeiçoamento da

sociedade.

As empresas existem para atender às necessidades dos

indivíduos e da sociedade através de produtos, serviços e

ações que contribuam para um desenvolvimento econômico

e ambientalmente sustentável, além de socialmente mais

justo. Acreditamos que seu valor se amplia

proporcionalmente à sua capacidade de estabelecer relações

de qualidade com consumidores, consultoras, colaboradores,

fornecedores, acionistas e toda a comunidade, promovendo

seu enriquecimento material, emocional e espiritual.

Fonte: Visão de mundo Natura (2000)

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Para entender como a Natura se posiciona no processo de relacionamento com as

pessoas, internamente chamados de colaboradores, foi-se buscar no documento Vivendo a

Marca Natura (2000) a definição do Ser Natura e como ela define o indivíduo:

“Ser você mesmo tem sido um desafio numa sociedade tão cheia de regras, de

expectativas e de modelos de comportamento. No entanto, a nossa felicidade

depende do desenvolvimento pleno de nossa individualidade, da nossa evolução e da

possibilidade de sermos aceitos e amados pelo que de fato somos. Lutar por mudar

essa sociedade e ajudar as pessoas na busca de sua felicidade é colocar em prática a

Visão de Mundo Natura. É ser Natura. Por isso a presença do nome Natura num

produto, num evento, num lugar, num gesto qualquer deve sempre significar que ali

tem também um compromisso com o desenvolvimento pleno do indivíduo, seja

dirigido a ele mesmo, seja dirigido ao meio com o qual ele interage. Quando isso

acontece, a marca Natura ganha realidade, força, magnetismo e as pessoas podem

viver uma Experiência Natura”.

“O Indivíduo é isso: um ser não dividido, indivisível. É assim que a Natura vê uma

pessoa: um ser integral, com mil faces, mil papéis, mil compromissos, visões e

reações que mudam e variam no tempo e no espaço. Mudam porque as pessoas são

vivas e as relações também. Viver Natura através das relações é apaixonar-se por

essa riqueza do ser humano, reconhecendo a importância do outro em nossa vida e a

importância que cada um de nós tem na vida do outro. É aí que reside a

possibilidade de criar uma rede de relações que nos acolha, nos alimente e nos

promova, que suporte e embale nosso desenvolvimento e nossos sonhos. Ao atrair

consumidores, consultoras, parceiros, fornecedores, profissionais da saúde, da

beleza, da imprensa, do Brasil e de fora, e tantos outros que conosco se relacionam,

somos colaboradores e acionistas, responsáveis por aproximar, estimular, enriquecer

e fortalecer essa extensa e crescente rede de relações que conosco sonha e constrói

um mundo melhor”.

Buscando elucidar porque a Natura prefere chamar de colaboradores todas as pessoas

que fazem parte da sua força de trabalho, buscou-se no documento vivendo a marca Natura

(2000) como ela construiu este termo:

“Colaborar: laborar junto; trabalhar na mesma obra. Uma definição mais próxima

para a mais essencial das relações da Natura. Ao compartilhar com um grupo

crescente de pessoas sua Razão de Ser e Visão de Mundo, a Natura entende estarem

na dinâmica das relações humanas a força e a energia necessárias a sua contínua

evolução. Essa dinâmica se inicia e se norteia pela qualidade das relações que

somos capazes de construir com nossos colaboradores mais diretos. Criar um

ambiente propício à diversidade de idéias e visões e ao respeito à individualidade, à

liberdade de expressão e à criatividade, ao estímulo ao espírito empreendedor e à

confiança mútua, ao aprendizado e ao desenvolvimento pessoal e profissional, ao

reconhecimento e á recompensa e, fundamentalmente, à transparência nas relações é

antes de tudo nosso desejo e nosso dever. É viver a marca através das relações em

nossa casa. Só assim, com consciência e competência, poderemos almejar ser a

escolha voluntária de nossos colaboradores para juntos, prazerosamente, vivermos

nossos sonhos e ousarmos levar cada vez mais longe o projeto Natura”.

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117

5.2. Desenvolvimento de Novos Produtos na Empresa Pesquisada

O objetivo deste tópico é fornecer conceitos básicos sobre o processo de desenvolvimento

de novos produtos na Natura. Os dados foram obtidos por meio de entrevista com a gerente

responsável pelo gerenciamento de projetos de desenvolvimento de novos produtos da Natura

e pela disponibilização de documentação específica mencionada nas referências

bibliográficas. Não é foco deste trabalho a análise do processo de desenvolvimento de novos

produtos de uma forma ampla. O modelo Natura (1999) para a gestão do processo de

inovação, que compreende o desenvolvimento de novos produtos, tem como objetivos:

Alinhar os projetos de desenvolvimento de novos produtos com as estratégias dos

Segmentos de Produtos;

Aumentar a eficiência na conclusão de projetos;

Encurtar o tempo necessário para a realização dos projetos;

Introduzir um modelo de aproveitamento de idéias advindas das áreas técnicas, para

inovações orientadas pela tecnologia;

Disciplinar as atividades dos projetos em cada uma das fases do processo. Evitar

investimentos e gestos desnecessários;

Tornar claro para todos como e qual é o processo decisório.

O modelo é composto por três elementos: Funil de Inovação; Comitês de decisão; e

Ferramentas de Tecnologia da Informação (TI). Para efeitos deste trabalho será considerado

apenas o Funil de Inovação. A Natura define projeto como uma atividade organizada e

realizada em equipe por um prazo determinado, que consome recursos da empresa e origina

um novo produto, que atende uma necessidade estratégica do negócio. Todos os projetos de

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118

novos produtos são executados por meio de equipes de projeto. Essas equipes têm sempre

um(a) líder, membros fixos e convidados. O líder é nomeado pela diretoria e/ou vice-

presidência da Área de Negócios da Natura. Esse líder tem como principal responsabilidade o

resultado prático do que se deseja obter na execução do projeto. Cabe ao líder responder pelo

projeto desde seu início até o 6.o mês após o lançamento, verificar se os objetivos foram

atingidos de acordo com os planos e recomendar melhorias no processo.

O Funil de Inovação da Natura, baseado nos trabalhos de Clark e Wheelwright (1993) e

Wheelwright e Clark (1995), é uma representação gráfica de cincos fases que vai desde o

desenvolvimento de idéias exploratórias até o lançamento do produto e sua avaliação do 1.o ao

6.o mês. Com base em Clark e Wheelwright (1993), a Natura classifica seus projetos em três

categorias: inovador, plataforma e extensão. Os critérios para essa classificação consideram

duas variáveis: tecnologia (que pode variar entre: nova, derivada ou existente) e criação da

necessidade para os clientes (que pode variar entre: latente, extensão ou reformulação de

linha). No Quadro 28 estão explicitadas as cinco fases, os objetivos de cada uma delas, os

resultados esperados e as respectivas responsabilidades.

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119

Quadro 28 Funil de Inovação da Natura

Pré-briefing Briefing Plano Executivo I Pl. Executivo II Avaliação 1.o ao 6.

o mês

Pesquisas;

competitive

intelligence;

hábitos do

consumidor;

ciência;

tendências

Desenvolvimento

de idéias

exploratórias.

Desenvolvimento

de idéias

factíveis.

Operacionalização

da idéia.

Implementação

da idéia.

Lançamento.

Objetivos de

cada fase

Criar idéias e

buscar

oportunidades de

uso e

desenvolvimento

de novas

tecnologias para

novos produtos.

Converter a

tecnologia em

protótipos;

definir conceito

técnico e

demonstrar

interesse pelo

consumidor e

comercial.

Desenvolver os

componentes do

mix do produto;

quantificar

interesse pelo

consumidor e a

robustez comercial

do produto.

Adquirir

moldes e

equipamentos;

definir mix

final do

produto;

produzir.

Atividades de

lançamento;

acompanhar indicadores

até 6.o mês.

Resultado Plano de

aquisição de

tecnologia; pré-

briefing

Protótipos;

conceitos

técnicos;

briefing.

Design; conceito;

plano executivo I.

Mix final;

plano executivo

II.

Avaliação do 1.o ao 6.

o

mês.

Responsável Grupo de

tecnologia de

conceitos

avançados

Diretoria de

Inovação.

Equipe de projetos. Equipe de

projetos.

Equipe de projetos.

Fonte: Adaptado do Modelo Natura para a gestão do processo de inovação (1999, p. 10)

Para este trabalho serão consideradas apenas as três fases aonde existe

responsabilidade da equipe de projeto: operacionalização e implementação da idéia e

lançamento do produto. Nessas três fases as principais responsabilidades da equipe do projeto

estão resumidas no Quadro 29.

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120

Quadro 29 Principais responsabilidades das equipes de projetos

Fase Atividades

Operacionalização da

idéia.

Definição da data de lançamento e cronograma;

Pesquisa qualitativa/quantitativa de componentes do mix do

produto;

Definir e registrar marca;

Desenvolver design e gerar protótipos de embalagem;

Elaboração do plano executivo I;

Submeter plano executivo I à aprovação.

Implementação da idéia. Elaboração do briefing integrado de comunicação;

Pesquisa quantitativa do mix de produto;

Avaliação financeira do projeto;

Definição das estratégias finais de lançamento;

Elaboração do plano executivo II;

Submeter plano executivo II à aprovação.

Lançamento. Finalização do plano de vendas e marketing;

Suporte ao treinamento de vendas e eventos de lançamento;

Avaliação financeira e de investimentos do projeto;

Elaboração da avaliação do 1.o ao 6.

o mês;

Submeter avaliação do 1.o ao 6.

o mês à aprovação.

Fonte: Adaptado do Modelo Natura para a gestão do processo de inovação (1999, p. 22-24)

Convém ressaltar que a Natura é uma empresa que se preocupa em vivenciar suas

crenças e valores em todas suas atividades e, em especial, no processo de desenvolvimento de

novos produtos, conforme pode ser verificado no trecho no documento Vivendo a Marca

Natura (2000):

“Os produtos Natura devem ser instrumentos de informação, ampliadores de

consciência e de busca de aperfeiçoamento do indivíduo. Cumprir sua função

específica, com qualidade e eficácia, é pré-requisito. É o ponto de partida para

construir uma experiência que deve despertar as sensações, emoções e reflexões

capazes de transformar hábitos automáticos do cotidiano em momentos conscientes

e prazerosos. Por isso, os produtos Natura são sempre inspirados pela busca do

equilíbrio, da transparência, da criatividade e do humanismo. Utilizam o estado da

arte em tecnologia para criar soluções aos problemas que se propõem resolver.

Ousam inovar sob todos os aspectos e exploram com consciência e propósito o uso

das cores, das fragrâncias, das texturas, dos sons, das temperaturas; tudo o que for

necessário para garantir uma experiência completa e gratificante desde o primeiro

contato. As embalagens, os cartuchos, as bulas, os anúncios, toda a comunicação dos

produtos também estão comprometidos com a criação das melhores condições, de

atitude e informação, para que a experiência seja bem-sucedida. Num produto

Natura tudo é detalhe, nada é por acaso”.

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5.3 Resumo

A escolha do processo de desenvolvimento de novos produtos baseou-se na aderência

com os temas desenvolvidos no presente trabalho: aprendizagem organizacional da criação do

conhecimento e atuação do líder em equipes de desenvolvimento de novos produtos. O

critério de escolha da empresa a ser pesquisada foi o reconhecimento que a Natura

Cosméticos tem quando o tema é lançamento de novos produtos. Em média, mais do que 30%

da receita gerada nos últimos três anos foi proporcionada por lançamentos de novos produtos

inovadores. Foi elaborada uma contextualização da empresa e discorrido brevemente sobre o

processo formal de gerenciamento de projetos de lançamentos de novos produtos (Funil de

Inovação).

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122

6. O PROCESSO DE TRATAMENTO DOS DADOS

O processo de tratamento consistiu-se de três fases: 1) organização da análise; 2)

codificação e 3) categorização. Os dados foram analisados com base em Bardin (1977) e

Miles e Huberman (1994).

6.1 Organização da análise

Nesta fase foram completadas três atividades, sendo a primeira delas relativa à doze

entrevistas realizadas. Originalmente pensou-se em um conjunto de nove entrevistas,

consistindo de uma entrevista com o líder de equipe de projetos de desenvolvimento de novos

produtos e dois liderados seus. Definiu-se como unidade de análise o grupo de entrevistados

(líder e dois liderados), doravante chamado de cluster. Em função do depoimento espontâneo

de um membro de equipe de projetos que, mencionou, ao ser entrevistado, um líder de

projetos como sendo benchmark no processo de liderança e aprendizagem organizacional, foi

incluído mais um cluster de entrevistas para que esse líder mencionado e dois membros de sua

equipe também pudessem ser entrevistados. Foi usada a técnica do gravador para registro das

entrevistas conduzidas por um roteiro pré-definido. Ao longo das primeiras entrevistas, o

roteiro foi sendo constantemente aprimorado para facilitar o entendimento das perguntas. Ao

total foram feitas seis revisões, sendo que a última foi avaliada por três juízes, mestrandos de

Administração de Empresas da Universidade Presbiteriana Mackenzie. As entrevistas foram

transcritas integralmente por um terceiro e revisadas pelo pesquisador. Esses cuidados

consistiram em uma etapa importante pois “concede” ao instrumento de coleta de dados maior

fidedignidade e validade. Ao final das transcrições, chegou-se a duzentas e vinte e três

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páginas que foram lidas e relidas várias vezes. Esse processo permitiu ao pesquisador um

contato mais aprofundado com o material o que contribuiu para um melhor entendimento do

conteúdo das entrevistas. De acordo com Bardin (1977), a etapa de leitura flutuante é

fundamental para deixar vir a tona as idéias emergentes para que o pesquisador possa fazer

uma adequada identificação das unidades de registro e posteriormente categorizá-las.

A segunda atividade foi a constituição de um corpus com a escolha do conjunto de

documentos adicionais com base nas regras de exaustividade, representatividade,

homogeneidade e pertinência propostas por Bardin (1977). Foram analisados os relatórios

anuais da Natura (2002 e 2003), o modelo para a gestão do processo de inovação (1999), a

oferta pública inicial de ações (2004), além de dossiês, monografias e das telas do software de

acompanhamento dos projetos por meio do Funil de Inovação.

Foi realizada observação não participante em uma reunião típica de equipe de projetos

de desenvolvimento de novos produtos. Esse tipo de reunião semanal conta com a

participação do líder de projetos, membros fixos e convidados, totalizando aproximadamente

oito pessoas. Essa observação foi acompanhada pelo pesquisador deste trabalho e por outro

pesquisador, mestrando em Administração de Empresas da Universidade Presbiteriana

Mackenzie. Foi registrada por meio de Notas de Campo para depreender, especialmente, a

atuação do líder da equipe. Foram observados os comportamentos, a comunicação verbal e

não verbal do líder e da equipe em relação aos processos de aquisição, compartilhamento,

retenção do conhecimento e clima de aprendizagem. Para tanto, apoiou-se em Porter (1969) o

qual aponta quatro categorias de comunicação não verbal: físicas (incluindo coisas como

expressões faciais, tato, olfato, linguagem corporal), estética, simbólica e sinais. Foram

observados na reunião comportamentos do líder e da equipe visando depreender como o líder

desempenha as três tarefas básicas no processo de condução de equipe de projeto de

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124

desenvolvimento de novos produtos: a) criação de oportunidades para aprendizagem por meio

da projeção de cenários e eventos que induzem às atividades necessárias, b) cultivo do tom

correto como forma de nutrir normas e comportamentos de engajamento desejáveis e c)

liderança pessoal do processo de discussão orientando o debate, fazendo perguntas, ouvindo

com atenção e fornecendo feedback. Especificamente, procurou-se observar as características

do líder no processo de condução e discussão com sua equipe de projetos: manutenção do

foco em quem fala, injeção de pontos de vista apoiador e/ou negativo e envolvimento do uso

aberto de poder e autoridade em uma escala de respostas que varia desde o silêncio até a

ameaça. O critério usado para finalizar a única observação não participante foi o da saturação

teórica, ou seja, quando outras observações não estavam mais agregando conhecimento

adicional. Em virtude das dificuldades de agenda dos líderes e equipes de projetos, não foi

possível realizar outras observações não participante.

A terceira atividade foi a geração de algumas afirmações provisórias, fruto de leitura

flutuante e das observações que foram paulatinamente se tornando em suposições com alguma

consistência. Essas foram se constituindo em premissas durante o processo de análise.

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125

6.2 Codificação

A unidade de registro adotada foi o tema. Nas atividades de referenciação, elaboração de

índices e preparação do material bruto para posterior análise foram preparados quatro

quadros, um para cada cluster, com seis colunas nas quais foram agrupadas as entrevistas por

temas. Na primeira coluna, foram listados os aspectos da aprendizagem abordando os temas

conforme descrito no roteiro de entrevista. As colunas dois, três e quatro apresentam os

núcleos temáticos extraídos das falas do líder e dos liderados, respectivamente. A quinta

coluna exibe o conteúdo do agrupamento desses temas concernentes à cada um dos aspectos

da aprendizagem. A sexta coluna identifica os fatores facilitadores e barreiras à aprendizagem

e cultura de trabalho de acordo com a abordagem de Flannery et alii (1997). O Quadro 30

exemplifica o procedimento adotado.

Quadro 30 Etapa de tratamento dos dados

Aspectos da aprendizagem Líder Membro 1 Membro 2 Agrupamento Observações

Como um determinado

conhecimento é adquirido.

Fatores facilitadores e barreiras

à aprendizagem e aspectos da

cultura de trabalho.

Como o conhecimento é

compartilhado entre os membros

de uma equipe.

Como o conhecimento é retido na

equipe e/ou organização.

Atuação do líder no processo de

aquisição do conhecimento.

Atuação do líder no processo de

compartilhamento do

conhecimento.

Ações que o líder deve fazer para

que o conhecimento fique retido

na equipe e/ou organização.

Ações que o líder deve criar para

estabelecer um clima adequado à

aprendizagem na equipe.

Influência do Funil de Inovação

na aquisição, compartilhamento e

retenção do conhecimento.

Fonte: Elaborado pelo autor

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126

Na seqüência foi elaborado mais um conjunto de quatro quadros (um por cluster) com

cinco colunas. A primeira coluna contendo aspectos da aprendizagem. A segunda

representando o conteúdo das falas dos entrevistados em relação ao processo de como o

conhecimento é adquirido, compartilhado e retido e a atuação e as ações do líder nestes três

processos. A terceira coluna identifica a fonte de aquisição interna ou externa e o que era

compartilhado e retido. A terceira coluna apresenta o agrupamento das falas dos entrevistados

em relação ao Funil de Inovação. A quarta coluna exibe alguma característica pessoal do

membro e/ou do líder e se o conhecimento é compartilhado e retido formal ou informalmente.

A quinta coluna exibe um primeiro esboço de categorização. O Quadro 31 exemplifica o

trabalho realizado nessa etapa.

Quadro 31 Etapa de categorização

Como um determinado conhecimento é

adquirido.

Como

(Processo).

Fonte (interna

ou externa)

Característica pessoal do

respondente.

Esboço de

categorias.

Como o conhecimento é compartilhado

entre os membros de uma equipe.

Como

(Processo).

O quê? Estruturado/ Não

estruturado.

Esboço de

categorias.

Como o conhecimento é retido na equipe

e/ou organização.

Como

(Processo).

O quê? Estruturado/ Não

estruturado.

Esboço de

categorias.

Atuação do líder no processo de

aquisição do conhecimento.

Forma de

atuação.

Não se aplica

(NA).

Característica pessoal do

respondente.

Esboço de

categorias.

Atuação do líder no processo de

compartilhamento do conhecimento.

Forma de

atuação.

NA. Característica pessoal do

respondente.

Esboço de

categorias.

Ações que o líder deve fazer para que o

conhecimento fique retido na equipe e/ou

organização.

Forma de

atuação.

NA. Característica pessoal do

respondente.

Esboço de

categorias.

Ações que o líder deve criar para

estabelecer um clima adequado à

aprendizagem na equipe.

Forma de

atuação.

NA. Característica pessoal do

respondente.

Esboço de

categorias.

Influência do Funil de Inovação na

aquisição, compartilhamento e retenção

do conhecimento.

Antes do

Funil de

Inovação.

Depois do

Funil de

Inovação.

NA. Esboço de

categorias.

Fonte: Elaborado pelo autor

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127

6.3 Categorização

Nesta etapa foram feitos repetidos reagrupamentos, tomando-se como base referencial

os critérios de categorização propostos por Bardin (1977): semântico (categorias temáticas);

sintático (verbos e adjetivos); léxico (classificação das palavras segundo o seu sentido) e

expressivo. Neste trabalho foi adotado o critério semântico. A categorização foi feita por

“caixas” aonde os temas foram alocados de acordo com a estrutura teórica do processo de

aprendizagem. Tomou-se o cuidado em observar as regras de qualidade de uma categorização:

a) da exclusão mútua, evitando-se que um elemento estivesse presente em mais de uma

categoria; b) da homogeneidade, que visa dar estabilidade às categorias; c) da objetividade e

fidelidade e d) da produtividade, aonde se buscou suprir dados e resultados que permitam ao

pesquisador fazer inferências e levantar novas premissas. Os Quadros 32 e 33 sintetizam as

categorias de análise para a aquisição, compartilhamento e retenção do conhecimento e a

atuação do líder e a influência do Funil de Inovação nestes processos, para cada um dos

clusters (C1, C2, C3 e C4).

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Quadro 32 Categorias de análise para aquisição, compartilhamento e retenção do

conhecimento

Aspectos da aprendizagem Categorias C1 C2 C3 C4

Aquisição do

conhecimento

Ações

- Enfrentar desafios

- Aprender empiricamente

- Pesquisar

- Compartilhar

- Inquirir

Atitudes

- Ter vontade e curiosidade para aprender

- Não ter vergonha de tirar dúvidas

Comportamentos

- Pedir ajuda quando necessário

- Buscar outros meios de aprendizagem

- Procurar quem tem mais experiência

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X

X

X

X

X

Compartilhamento do

conhecimento entre os

membros de uma equipe

Reunir a equipe

Inquirir

Compartilhar

X

X

X

X

X

X

X

X

X

Retenção do conhecimento Praticar

Documentar

Reter talentos

Compartilhar

Reunir a equipe

Inquirir

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X

X

Fonte: Elaborado pelo Autor

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Quadro 33 Categorias de análise da atuação do líder

Tema Categorias C1 C2 C3 C4

Atuação do líder no

processo de aquisição

do conhecimento

Direcionar

- Gerar necessidade

- Dar exemplos (exemplificar)

- Propor novas abordagens

Facilitar o processo de aprendizagem

- Usar as competências da equipe

- Dialogar

- Compartilhar riscos

- Dar oportunidades para praticar

- Acreditar nas idéias das pessoas

Envolver-se com a equipe

- Ajudar

- Ter orgulho de falar que algo foi feito

- Não ter medo de fazer o trabalho

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x

Atuação do líder no

processo de

compartilhamento do

conhecimento

Facilitar o processo de compartilhamento

- Orientar a equipe

- Fazer reunião de aprendizado

- Contatar pessoas experientes

- Cobrar a equipe

- Estar junto com a equipe

- Dar espaço para a equipe

- Estimular a equipe

Valorizar a equipe

Criar relacionamento baseado na confiança

Disseminar as idéias da equipe

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X

Ações que o líder deve

fazer para que o

conhecimento fique

retido na equipe e/ou

organização

Orientar a equipe para documentar o conhecimento

Estimular a equipe para compartilhar

Estimular a equipe para praticar

Fazer “rescaldo” do projeto

Disponibilizar recursos e conhecimento

X

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X

X

X

X

Ações que o líder deve

criar para estabelecer

um clima adequado à

aprendizagem na equipe

Criar oportunidades de aprendizagem

Criar clima adequado à aprendizagem

- Dar liberdade para errar

- Motivar e envolver a equipe

- Suportar a equipe

- Confiar na equipe

Dialogar

- Dar e receber feedback

- Construir relacionamento com equipe

Estabelecer critérios para escolha da equipe

Respeitar a diversidade

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X

Fonte: Elaborado pelo Autor

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Para Bardin (1977), o processo de tratamento de dados é complementado pelas fases

de inferência e interpretação. A autora define a etapa de inferência como sendo uma espécie

de interpretação controlada composta de duas etapas: pólos de análise que fornecem

informações suplementares ao leitor e processo/variáveis de inferência em que é estabelecido

o processo de indução a partir de fatos. A fase da inferência é fundamental para que o

pesquisador possa fazer uma adequada interpretação dos dados, cabendo ao pesquisador

utilizar os resultados de análise com finalidades teóricas e/ou pragmáticas, fornecer subsídios

e orientações para uma nova análise.

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131

7. A ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

O processo de análise e interpretação foi estruturado em cinco partes:

I. O multi-método (intra método) na prática;

II. A caracterização da organização pesquisada e indicadores da cultura de

trabalho;

III. A caracterização dos entrevistados;

IV. A aprendizagem organizacional: o processo, os fatores facilitadores, as

barreiras, os aspectos da cultura de trabalho da organização;

V. A atuação do líder no processo de aprendizagem organizacional.

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7.1 O multi-método (intra método) na prática

Foram usadas na coleta de dados as técnicas de entrevistas semi-estruturadas, a

observação não participante e a análise documental disponibilizada pela organização

pesquisada. A confiabilidade dos dados da observação não participante foi obtida por meio

das Notas de Campo elaboradas por dois observadores. A aplicação da triangulação dos dados

intra-métodos demandou do pesquisador um esforço contínuo de confrontar as diferentes

fontes de evidência, buscando coerências, convergências, incoerências e ambigüidades. Esse

processo possibilitou uma validade maior aos resultados. Usou-se a técnica peer debriefing

recomendada por Lincoln e Guba (1985) em que as entrevistas transcritas foram comentadas e

compartilhadas com experts em análise de conteúdo, os textos foram compartilhados por

pessoas de reconhecida capacidade nos temas aprendizagem organizacional, liderança e

equipes de desenvolvimento de novos produtos. O próprio trabalho da orientadora criticando,

indicando caminhos e desafiando o pesquisador a “ver outros ângulos”, constitui-se em uma

etapa importante do peer debriefing. Adicionalmente foi usado o modelo circular do processo

de pesquisa, proposto por Flick (2004). Esse modelo orienta o pesquisador a estar

constantemente fazendo comparações entre as unidades de análise, as suposições preliminares

e as teorias.

Para as entrevistas, foi usado um roteiro pré-definido com oito questões amplas e

abertas. Esse roteiro foi adaptado ao longo das primeiras entrevistas, visando facilitar o

entendimento das perguntas por parte dos entrevistados. As entrevistas transcritas foram

constantemente usadas e comparadas com a observação não participante e com os

documentos disponibilizados pela organização pesquisada.

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O critério usado para finalizar a observação foi o da saturação teórica, ou seja, quando

outras observações não estavam mais agregando conhecimento adicional. Para orientar os

observadores em relação as três tarefas básicas para o líder da equipe de projeto de

desenvolvimento de novos produtos foram usados os referencias de Garvin (2002, p. 209-234,

235).

Os documentos disponibilizados e/ou públicos da organização pesquisada usados

foram: site na internet, relatórios anuais (2002 e 2003), o modelo de gestão do processo de

inovação (1999) que explicita em detalhes o Funil de Inovação, a visão de mundo Natura

(2000), o folder vivendo a marca Natura (2000), o folder preparado pela empresa para a oferta

pública inicial de ações (2004), três dossiês e duas monografias elaborados pela área de

Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) contendo detalhes do desenvolvimento de projetos de

desenvolvimento de novos produtos. Foi permitido ao pesquisador navegar pelas telas de um

software específico do Funil de Inovação, que registra o andamento dos projetos de

desenvolvimento de novos produtos.

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7.2 Caracterização da organização pesquisada e indicadores da cultura de trabalho

A organização pesquisada atua na indústria de cosméticos onde é reconhecida como a

maior empresa de capital brasileiro em termos de receita bruta. É uma empresa integrada que

desenvolve, produz, distribui e comercializa cosméticos, fragrâncias e produtos de higiene

pessoal, usando primordialmente o canal de venda direta realizada por autônomas chamadas

de Consultoras. Em 2003 a empresa produziu mais de cento e trinta milhões de unidades,

oferecendo aos clientes um portifólio de mais de quinhentos e dez produtos. A organização

atende o mercado brasileiro em mais de cinco mil municípios, por meio da rede de

aproximadamente trezentas e cinqüenta e cinco mil Consultoras. Atua na América Latina com

operações comerciais na Argentina, Chile e Peru e, distribui produtos via dealer na Bolívia. O

Quadro 34 apresenta alguns dados da empresa pesquisada.

Quadro 34 Caracterização da organização pesquisada

Unidade 2001 (1)

2002 (1)

2003 (1)

Receita operacional bruta Milhões de R$ 1.168,0 1.411.2 1.901,1

Receita operacional líquida Milhões de R$ 875,5 993,1 1.328,9

Lucro líquido Milhões de R$ 9,5 21,7 63,9

EBIDTA ajustado Milhões de R$ 120,3 199,2 295,7

Consultoras Natura no Brasil Milhares 287 307 355

Colaboradores no Brasil Pessoas 3.041 2.641 2.696

Colaboradores na Argentina Pessoas 134 129 157

Colaboradores no Chile Pessoas 58 54 61

Colaboradores no Peru Pessoas 60 60 72

Colaboradores - Total Pessoas 3.293 2.884 2.986

Fonte: Elaborado pelo autor com base na oferta pública inicial de ações (Natura, 2004 p. 30,

120).

(1) =

dados referentes ao exercício social encerrado em 31 de dezembro de cada ano

mencionado.

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135

A análise de aspectos da cultura de trabalho na organização pesquisada aponta que a

empresa tem uma cultura baseada na flexibilidade e no que Flannery et alii (1997) definem

como cultura baseada no tempo, aonde se evidencia uma preocupação muito grande com o

desenvolvimento de novos produtos e serviços com ciclos cada vez mais curtos. Os autores

afirmam que a analogia com esportes é uma maneira eficaz de explicar a confusa retórica

gerencial. Todavia, deve-se tomar o cuidado para não reforçar a percepção machista existente

na maioria dos esportes. Consideram que nas empresas e também nos esportes não existem

apenas uma cultura, mas sim várias delas em funcionamento. Exemplificam usando o

atletismo como uma mescla de várias culturas. Analisando metaforicamente aspectos da

cultura de trabalho da organização pesquisada, depreende-se das análises das entrevistas, dos

documentos e da observação não participante que a empresa opera com maior ênfase na

combinação de basquete e beisebol, ou seja, com foco acentuado na cultura baseada no tempo,

buscando a flexibilidade, e com menor intensidade em redes, buscando o atendimento aos

clientes. Conseqüentemente, as metáforas do futebol americano e futebol são menos

observadas. Ou seja, as culturas voltadas para funções, com foco em tecnologia, e para

processos, com foco na confiabilidade, não têm a mesma força das outras duas mencionadas

anteriormente.

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136

7.3 Caracterização dos entrevistados

Os dados de idade média, de tempo médio de empresa, de tempo médio como

participante de equipe de projetos e da formação acadêmica dos doze entrevistados, sendo

oito membros e quatro líderes de equipes de projetos de desenvolvimento de novos produtos

estão sintetizados no Quadro 35.

Quadro 35 Caracterização dos entrevistados

Idade média

(anos)

Tempo

médio de

empresa

Tempo

médio em

projetos

Função Formação

Membros

(8)

31 6,5 4 Gerente = 1

Coordenador = 4

Pesquisador = 3

Engenharia/Desenho Industrial = 3

Administração/Comércio Exterior = 2

Farmácia e Bioquímica/Química = 3

Líderes

(4)

30,5 7 4 Gerente = 4 Engenharia/Desenho Industrial = 1

Administração/Comércio Exterior = 2

Farmácia e Bioquímica/Química = 1

Todos

(12)

31 7 4 Gerente = 5

Coordenador = 4

Pesquisador = 3

Engenharia/Desenho Industrial = 4

Administração/Comércio Exterior = 4

Farmácia e Bioquímica/Química = 4

Fonte: Elaborado pelo autor

Caracterização dos entrevistados do cluster 1

Os três respondentes deste cluster atuam em equipe de projetos de desenvolvimento de

novos produtos. Um dos entrevistados tem a função de gerente e lidera a equipe e os outros

dois são coordenadores das áreas de marketing e desenvolvimento de embalagens,

respectivamente. Não existem variações significativas quando se compara esse cluster com o

conjunto dos quatro clusters em relação a idade, o tempo de empresa e o tempo de trabalho

em projetos. Uma diferença observada nesse cluster em relação aos outros três é que nenhum

respondente atua na função de pesquisador. Outra constatação é que nesse cluster temos os

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extremos em relação idade (trinta e nove anos que é a maior e vinte e seis anos que é a

menor), tempo de empresa (nove anos, um dos mais altos e, seis meses que é o menor tempo)

e tempo em projetos (nove anos que é o maior tempo e, seis meses que representa o menor

tempo). Não existem variações significativas na formação dos respondentes desse cluster em

relação aos demais.

Caracterização dos entrevistados do cluster 2

Um dos entrevistados, neste cluster, tem a função de gerente e lidera a equipe e os

outros dois são: uma coordenadora de desenvolvimento de embalagens e uma pesquisadora de

P&D. Não existem variações significativas quando se compara esse cluster com o conjunto

dos quatro clusters em relação a idade, o tempo de empresa, o tempo de trabalho em projetos

e a formação dos respondentes.

Caracterização dos entrevistados do cluster 3

Neste cluster um dos entrevistados tem a função de gerente e lidera a equipe, os outros

dois são: uma coordenadora de logística e uma pesquisadora de P&D. A idade média (trinta e

três anos) e o tempo de empresa (dez anos) desse cluster é o mais alto quando comparado com

o conjunto dos quatro clusters. O tempo médio trabalhado em projetos e a formação estão em

linha com os demais clusters. Não existem variações significativas na formação dos

respondentes desse cluster em relação aos demais.

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Caracterização dos entrevistados do cluster 4

Foram entrevistados três colaboradores que atuam em equipe de projetos de

desenvolvimento de novos produtos. Um dos entrevistados tem a função de gerente e lidera a

equipe, os outros dois são: um gerente de desenvolvimento de embalagem e uma pesquisadora

de P&D. Esse cluster apresenta as menores médias de idade (vinte e oito anos) , tempo de

empresa (cinco anos) e tempo em projetos (três anos) quando comparado com o conjunto dos

quatro clusters. É também o único cluster que tem um liderado com a função de gerente. Não

existem variações significativas na formação dos respondentes desse cluster em relação aos

demais.

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139

7.4 A aprendizagem organizacional: o processo, os fatores facilitadores, as barreiras e os

aspectos da cultura de trabalho da organização

A leitura flutuante, processo de idas e vindas algumas vezes angustiante para o

pesquisador, permitiu o delineamento de duas estruturas para análise. A primeira composta

pelos temas aquisição, compartilhamento e retenção do conhecimento tanto para os membros

quanto para os líderes das equipes de desenvolvimento de novos produtos. Nessa estrutura

também foram consideradas as respostas dos entrevistados em relação a influência do Funil de

Inovação nesses três processos. A segunda estrutura, que será discutida mais adiante, foi

composta pelas respostas sobre a atuação dos líderes nos processos de aquisição,

compartilhamento e retenção do conhecimento e ações que os líderes devem fazer para a

criação de um clima propício à aprendizagem.

No processo de aquisição do conhecimento, as respostas apontam para cinco

categorias. Para os respondentes dos quatro clusters analisados, enfrentar desafios, aprender

empiricamente, pesquisar, compartilhar e inquirir foram as formas como o líder e os liderados

adquirem um determinado conhecimento. Houve uma uniformidade nos clusters exceto para a

ação de inquirir, que foi observada em dois dos quatros clusters. Nas cinco categorias

mencionadas, ficou evidenciado que ter vontade e curiosidade para aprender é uma atitude no

processo de aquisição do conhecimento. Foram observados três comportamentos (pedir ajuda

quando necessário, buscar outros meios de aprendizagem e procurar quem tem mais

experiência) mencionados apenas pelos respondentes do cluster 3. Para facilitar a visualização

foram usadas auto-formas (desenhos) para representar cada uma das categorias. O desenho em

forma de raio (algo nem sempre previsível porém inerente ao ambiente) representa enfrentar

desafios, o octógono (indicando que o processo de “desbastar” arestas é feito por tentativa e

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erro) foi usado para representar o processo de aprender empiricamente, o texto explicativo em

elipse (indicativo do pensamento do pesquisador) foi usado para representar a categoria

pesquisar, o texto explicativo em setas cruzadas (indicativo da “distribuição aos quatro

quadrantes” de um determinado conhecimento) representa a categoria compartilhar e o

losango (usado na elaboração de fluxogramas indicando uma etapa que demanda decisão)

representa a categoria inquirir.

Analisando-se a categoria, enfrentar desafios, depreende-se da leitura das entrevistas

transcritas que o processo de aquisição começa quando um membro ou a equipe toda recebe

ou percebe um desafio que pode ser tanto interno (solicitação de um líder de projeto, por

exemplo) como externo à organização (demanda de clientes ou do mercado, por exemplo).

Deve-se considerar que a organização analisada faz parte da indústria cosmética que é

altamente demandante de novidades. Para atender a essa demanda, a organização lança no

mercado novos produtos todos os anos, em média 30% no portifólio, que são conduzidos

pelas equipes de projetos de desenvolvimento de novos produtos. Convém ressaltar que a

organização pesquisada, por meio de seu conjunto de crenças e valores, em especial a

criatividade e o aperfeiçoamento contínuo, reforça que seus colaboradores e equipes devem

constantemente enfrentar desafios. Para esse grupo de respondentes, o enfrentar desafios é um

processo de superação das pressões externas e internas. Os membros das equipes aprendem

pela complexidade dos projetos e necessidades dos clientes, pela pressão exercida por estes

mesmos clientes e pela busca da ampliação de um determinado conhecimento. Segundo Fiol e

Lyles (1985) a tensão entre estabilidade, mudança e a crise são incentivos para que a

aprendizagem organizacional ocorra. O ponto levantado pelos autores pode ser observado

quando um dos respondentes mencionou que “sabia que o processo era crítico para atender as

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necessidades dos clientes” e que “conhecia pouco, não tinha o mínimo conhecimento do

assunto do projeto”. Foram observados dois fatores facilitadores. O primeiro, “o problema

(desafio) acabou unindo ainda mais a equipe para buscar o conhecimento que levasse ao

atendimento da demanda criada”. Outro fator facilitador observado foi que a organização

pesquisada tem que gerar os próprios conhecimentos o que a diferencia de outras que

possuem “casas matrizes no exterior” que dispõem de centros dedicados à pesquisa. Em

relação a barreira à aprendizagem, foi relatado pelos respondentes que o tempo destinado ao

desenvolvimento de projetos é curto, ou seja, não existe tempo suficiente para o aprendizado,

pois tão logo um projeto é terminado já existem vários aguardando vez na “fila”. Esse ponto

também pode ser considerado como um aspecto da cultura de trabalho (Flannery et alii, 1997)

da organização que é baseada no tempo na qual a flexibilidade é altamente valorizada.

O aprender empiricamente foi a categoria que apresentou a maior freqüência de

citações dentre as cinco categorias. Os respondentes afirmam que aprendem na prática

cotidiana, fazendo e refazendo, errando e acertando, “fomos trabalhando e tudo que podia dar

errado deu errado”. Para Nonaka e Takeuchi (1997) e Kolb (1976), o aprendizado é um

processo que ocorre baseado na experiência, sendo que os primeiros autores consideram que o

aprendizado mais poderoso é aquele que vem da experiência direta. O aprender

empiricamente é reforçado pela crença do compromisso com a verdade e do valor

transparência que são evidenciados na organização pesquisada. Em outras palavras, o erro é

considerado parte do processo de aprendizado e as pessoas são incentivadas a não “varrerem

erros para debaixo do tapete”. Outro aspecto ressaltado pelos respondentes é que eles

aprendem “vendo como outras pessoas mais experientes fazem”, “repetindo o conhecimento

adquirido”, “sentando, fazendo juntos”. Depreende-se pelos depoimentos dos sujeitos que

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existe um aprendizado pela imitação. Segundo Huber (1991), o aprendizado vicário é um

processo de aquisição de conhecimento por meio da imitação do que outras pessoas fazem e

por processos de imitação do que outras organizações fazem, por exemplo benchmarking e

business intelligence.

Pesquisar é uma categoria em que as fontes externas foram citadas com uma

freqüência maior que as internas. É importante ressaltar que nesse tipo de indústria, a prática

do benchmarking é utilizada freqüentemente como admite um respondente: “buscava muita

coisa na concorrência, pois o objetivo era tentar usar um selo (parte da embalagem) parecido

com o do concorrente”. Outras formas de pesquisar, relatadas pelos sujeitos, são a busca

estruturada de patentes, “aprendo fazendo rastreamento de patentes (sic) ”, a navegação em

sites específicos “a internet é uma fonte muito rica em informação”. Os fornecedores também

foram apontados como fontes externas de pesquisa, com a finalidade de “conhecer novas

matérias primas” um dos sujeitos afirmou que visitava constantemente fornecedores externos.

Segundo Huber (1991), o exame detalhado, a pesquisa focada e o monitoramento do

desempenho são etapas do processo de aquisição do conhecimento. Argyris e Schön (1978)

afirmam que a pesquisa tanto individual quanto coletiva constrói e modifica as teorias em uso

e auxilia no processo de aquisição do conhecimento.

A categoria compartilhar foi evidenciada tanto no processo de aquisição, como nos

processos de compartilhamento e retenção, que serão explorados mais adiante neste trabalho.

Uma premissa plausível neste momento é que a aquisição de um determinado conhecimento é

uma etapa embutida nas etapas do compartilhamento e retenção desse conhecimento

adquirido. Essa premissa pode ser referendada teoricamente com autores citados por Kim

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(1993), Argyris, Schön, Lewin, Kofman e Schein, que afirmam que o processo de

aprendizagem organizacional é cíclico e não linear. Ficou evidenciado que o

compartilhamento está subjacente à praticamente todas as crenças e valores (relacionamento,

humanismo, diversidade, aperfeiçoamento contínuo, criatividade, compromisso com a

verdade e transparência) da organização pesquisada. Depreende-se que uma forma efetiva de

se aprender determinado conhecimento é por meio do compartilhamento em que “todo mundo

trocava” experiências e conhecimentos. A existência do “dividir com o outro grupo, bater um

papo, trocar experiência com outras pessoas”, mostrando que “as pessoas conseguem interagir

entre elas, participando dos times de projetos” e ainda, “tendo a oportunidade de estar com

pessoas de diversas áreas” são a essência do processo relatado pelos respondentes.

Inquirir também é uma categoria presente nos processos de aquisição,

compartilhamento e retenção do conhecimento. Em função do aspecto relacional forte entre as

pessoas na organização pesquisada essa categoria de aquisição de um determinado

conhecimento tem relação com as crenças e valores do aperfeiçoamento contínuo e da

criatividade. Para os respondentes, inquirir é uma forma de aquisição de conhecimento, como

pode ser observado por alguns depoimentos dos sujeitos: “fui perguntando, pedindo

explicação”, “perguntar para outra pessoa que entende”, “discutir tudo, questionar”.

A atitude de ter vontade e curiosidade para aprender foi um aspecto importante

relatado pelos respondentes dos quatro clusters, pois “você aprende quando tiver com vontade

de aprender”. Conforme relatado, poder-se-ia afirmar que na realidade a atitude de ter vontade

e curiosidade para aprender é uma condição, um pré-requisito para quem busca adquirir um

determinado conhecimento. No cluster 3 um respondente ressalta a importância de “não ter

vergonha de tirar dúvidas”, assim como “pedir ajuda quando necessário”, “buscar outros

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meios de aprendizagem” e “procurar quem tem mais experiência” foram comportamentos

valorizados. Pode-se argumentar que as atitudes e comportamentos observados reforçam a

importância do significado no processo de aquisição de um determinado conhecimento. Morin

(2003) e Mello (1988) mencionam que todo o conhecimento envolve uma relação entre o

sujeito e o objeto, e que o sujeito aprende quando o objeto tem significado para ele. Adquirir

determinado conhecimento tem relação direta com o conjunto de atitudes e comportamentos

que expressam a vontade e a curiosidade do sujeito em aprender algo. Em suma, para os

respondentes a aquisição de um determinado conhecimento é um processo de enfrentar

desafios, aprender empiricamente, pesquisar, compartilhar e inquirir, conforme

esquematizado na Figura 12.

Figura 12 Representação esquemática do processo de aquisição do conhecimento

Fonte: Elaborado pelo Autor

Adquirir

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Para o processo de compartilhamento do conhecimento entre os membros de uma

equipe de projetos de desenvolvimento de novos produtos, as respostas apontam para três

categorias: reunir a equipe, inquirir e compartilhar. Observa-se que inquirir e compartilhar

também estão presentes no processo de aquisição e serão mencionadas como essenciais para o

processo de retenção do conhecimento que será apresentado na seqüência. Foi usado a auto-

forma, desenho do sol (esquematicamente pode-se ver uma mesa redonda e oito pessoas ao

redor dela. Oito é o número médio de membros em uma equipe de projetos na empresa

pesquisada) para facilitar a visualização da categoria de reunir a equipe .

O compartilhar acontece quando se reúne a equipe, tanto de forma estruturada/

formalizada (fóruns, reuniões semanais) como não estruturada/informal (reunião no

“cafezódromo”, no corredor etc.). Essa resposta foi a mais enfática das oito questões do

roteiro de entrevistas. Após as primeiras entrevistas, o pesquisador já “antecipava” as

respostas das pessoas quando eram questionadas sobre a forma de compartilhar o

conhecimento entre elas. Analisando-se a quantidade de categorias, fica evidenciado que o

menor número, três, foi evidenciado no processo de compartilhamento. Para o processo de

aquisição, foram observadas cinco categorias e seis para o processo de retenção. Para a

empresa pesquisada, a reunião de equipe é o foro adequado para discutir as atividades da

equipe pois “a reunião de time é o momento que você (membro e líder) senta, fala,

compartilha”, é o momento também usado para “apresentar (para a equipe) aquilo que eu

(membro) estava trabalhando”. O ato de reunir a equipe é talvez a representação mais

fidedigna das crenças e dos valores de relacionamento, humanismo e diversidade da

organização pesquisada. Na observação não participante, feita por dois pesquisadores em uma

reunião típica de equipe de projetos, também ficou evidenciado que essa forma é a mais usada

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para compartilhar conhecimentos entre os membros da equipe. Para Huber (1991), as

reuniões de trabalho, são exemplos de processos de compartilhamento do conhecimento, pois

elas propiciam um entendimento comum e um ganho de significado desse mesmo

conhecimento.

No processo de compartilhamento do conhecimento, depreende-se que a reunião de

equipe faz parte dos aspectos da cultura de trabalho da organização, enfatizando que, “tudo

acontece em reunião de time aqui”. Outro aspecto da cultura de trabalho evidenciado é que

“as pessoas procurarem darem as dicas (sic)”. Depreende-se, em função da recorrência desse

tipo de resposta, que na organização pesquisada as pessoas têm a predisposição para trocarem

com certa facilidade observações que podem ser úteis para a realização do trabalho em uma

equipe de projetos para desenvolvimento de novos produtos. Algumas barreiras à

aprendizagem foram mencionadas pelos respondentes, como é a caso do retrabalho ressaltado

por um sujeito que cita: “... retrabalhei, chequei, rechequei inúmeras vezes ...”. Isto, no

entanto, é distinto da redundância defendida por Nonaka e Takeuchi (1997), pois ficou

evidenciado que o retrabalho mencionado é feito de modo não planejado. Outra barreira que

merece destaque é a falta de atitude para consultar o que já foi desenvolvido e registrado por

outras pessoas ou equipes. Esse ponto ficou evidenciado quando um respondente ressaltou

que “as pessoas não têm o hábito de consultar o que está definido, o que foi decidido e que

está registrado no Funil (de Inovação)”. Depreende-se dessa afirmação que as pessoas apesar

de terem a sua disposição uma ferramenta específica para registrar e compartilhar o

conhecimento não a tem utilizado regularmente.

Uma premissa a ser levantada é que provavelmente pela necessidade de se lançar

novos produtos em uma velocidade acelerada (em média a organização pesquisada lança um

novo produto a cada três dias) existe um apelo mais forte para se iniciar um novo projeto, que

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já está na fila, do que “parar” por alguns momentos, registrar e compartilhar o conhecimento

de um projeto concluído. Em resumo, para os respondentes o compartilhamento do

conhecimento é um processo de reunir a equipe, compartilhar e inquirir, conforme

representado esquematicamente na Figura 13.

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Figura 13 Representação esquemática do processo de compartilhamento do conhecimento

Fonte: Elaborado pelo Autor

Para o processo de retenção do conhecimento na memória organizacional as respostas

evidenciam seis categorias, sendo três delas já apontadas e discutidas nos processos

anteriores, (compartilhar, reunir a equipe e inquirir) e as outras três são específicas: praticar,

documentar e reter talentos que foram representadas pelas auto-formas de retângulo de

ângulos arredondados (que é usado na elaboração de fluxogramas para indicar ação), de

conjunto de folhas de papel (que esquematicamente representa uma série de documentos) e

disco de armazenagem (usado em fluxogramas para representar a armazenagem de dados),

respectivamente. Para os respondentes dos quatro clusters analisados, praticar e documentar

foram as formas apontadas pelos líderes e liderados usadas para a retenção do conhecimento.

A retenção de pessoas foi evidenciada nos clusters 1 e 3. Reunir a equipe foi evidenciada no

cluster 2 e inquirir no 4.

O depoimento de um respondente reflete o ato de praticar como sendo o processo

usado para retenção do conhecimento, quando menciona que se “eu compartilho, aumento a

minha retenção porque estou aplicando e, ao mesmo tempo, aumentando meu conhecimento”.

Compartilhar

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Outro sujeito reforça este ponto ao se expressar: “eu retenho reaplicando, repetindo isto em

outros projetos. Vou solidificar mesmo esse conhecimento fazendo é na prática”. Depreende-

se que praticar é uma atividade que pode ser útil tanto na aquisição, no compartilhamento e

também na retenção do conhecimento. Kim (1993) afirma que aprendizagem é equivalente a

aquisição de conhecimento e que a memória é o processo pelo qual esse conhecimento

adquirido é retido. A crença do aperfeiçoamento contínuo vivenciada na organização

pesquisada enfatiza a prática como uma das possibilidades de retenção do conhecimento.

O documentar foi enfatizado pelos respondentes como decorrente da introdução do

processo do Funil de Inovação, em que o depoimento de um sujeito atesta esse argumento,

“escrevendo, documentando no briefing técnico. Registrando no Funil (de Inovação)”.

Constatou-se que o Funil de Inovação é o método mais usado para a retenção do

conhecimento na organização pesquisada. Antes da existência do Funil, segundo os

respondentes, o conhecimento era retido de forma desorganizada e totalmente dependente do

líder do projeto. A análise de monografias e dossiês atesta que, em especial, nas funções

desempenhadas por pesquisadores, existe uma preocupação constante no registro dos

conhecimentos adquiridos e compartilhados, para eventual uso posterior e retenção na

memória organizacional. Um dos dossiês analisados, que por questões de confidencialidade

não pode ser explicitado, continha descrições detalhadas, com desenhos e esquemas do

conhecimento adquirido e era de fácil leitura, mesmo para leigos como é o caso do

pesquisador deste trabalho. Durante a observação não participante, foi constatado que a

equipe usa uma planilha eletrônica para documentar as atividades de cada projeto que está

desenvolvendo. Percebeu-se que essa planilha é semanalmente atualizada e fica disponível

para todos os membros e demais equipes em um arquivo de rede denominado Y comum.

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Portanto, o conhecimento explícito além de documentado permite ser acessado livremente.

Segundo Choo (2003), o conhecimento explicito é aquele que pode ser escrito, estruturado e

armazenado sem perdas significativas de informação. Davenport e Prusak (1998) reforçam

que o conhecimento é originado e aplicado na mente das pessoas e que nas organizações isso

fica embutido em rotinas, processos, práticas e normas além da parte documental.

Ficou evidente para os respondentes a necessidade de reter talentos, que detém o

conhecimento tácito, como parte do processo de retenção do conhecimento. O depoimento de

um respondente reforça que reter talentos significa reter o conhecimento: “a pessoa de P&D

saiu, trocou a pessoa de P&D e as pessoas que ficaram como elo não foram capazes de passar

isso. A comunicação não foi efetiva, ficou no tácito”. Para Fiol e Lyles (1985), os líderes

podem mudar ou serem mudados, as pessoas podem entrar e sair das organizações, porém, a

memória da organização retém certos comportamentos, mapas mentais e valores ao longo do

tempo. Cabe aqui outra indagação: Reter talentos significa reter conhecimento na

organização? A retenção pura e simples de talentos não garante por si só a retenção do

conhecimento. É necessário que as pessoas detentoras do conhecimento adquirido o

compartilhem com os demais e, que continuem praticando como forma de melhorar ainda

mais a retenção. Outro ponto é a necessidade que os detentores do conhecimento têm de se

manter atualizados, pesquisando, enfrentando desafios, aprendendo empiricamente,

compartilhando e inquirindo continuamente.

Não obstante, a iniciativa de desenvolvimento de atividades visando a retenção do

conhecimento, foram identificadas barreiras à aprendizagem tais como a falta de processos

formais para retenção do conhecimento, em que ao se expressar o sujeito disse: “as

apresentações que ficavam com as pessoas, se trocavam as pessoas, desaparecia tudo”. Outro

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aspecto que pode ser classificado tanto como barreira ou aspecto da cultura de trabalho da

organização está explicitado no depoimento de um respondente: “... nós não devemos fazer

isso, nós não devemos fazer aquilo. Mas a gente sempre vem fazendo. E ... se você continua

fazendo isso, o risco de você correr de novo (sic) em um problema desse continua ...

eminente”. Os dois depoimentos e a observação não participante reforçam que na organização

pesquisada a cultura de trabalho que privilegia a flexibilidade e o tempo tem maior apelo que

àquelas voltadas para processos, funções e redes (Flannery et alii, 1997). Em suma, para os

respondentes a retenção do conhecimento é um processo de praticar, documentar, reter

talentos, compartilhar, reunir a equipe e inquirir, conforme demonstrado esquematicamente na

Figura 14.

Figura 14 Representação esquemática do processo de retenção do conhecimento

Fonte: Elaborado pelo Autor

Reter

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Conclusão parcial dos processos de aquisição, compartilhamento e retenção do conhecimento

No processo de aquisição, compartilhamento e retenção do conhecimento não foram

evidenciadas variações significativas entre os quatro clusters analisados. Preliminarmente

poder-se-ia concluir que esse processo é relativamente universal na organização pesquisada.

Uma premissa que deve ser analisada é a relação entre o conjunto de crenças e de

valores da organização pesquisada e sua influência nos processos de aquisição,

compartilhamento e retenção do conhecimento. A organização ao estimular o relacionamento,

humanismo, diversidade, aperfeiçoamento contínuo, criatividade, compromisso com a

verdade e transparência, acaba estimulando também as pessoas para a aprendizagem.

Depreende-se daquilo que foi observado nas entrevistas, documentos e observação não

participante que o conjunto de crenças e de valores atua como facilitador no processo de

aprendizagem organizacional. A Figura 15 sintetiza essa influência.

Figura 15 Relação entre crenças e valores da organização pesquisada e o processo de

aprendizagem

Relacionamento,

humanismo,

diversidade

Compromisso

com a verdade,

transparência

Aperfeiçoamento

contínuo,

criatividade

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153

Fonte: Elaborado pelo Autor

Poder-se-ia neste ponto levantar outra premissa. O processo de aprendizagem nas

equipes de desenvolvimento de novos produtos na organização pesquisada é um processo

circular na qual o compartilhamento tem papel fundamental ao conectar-se simultaneamente

com a aquisição e a retenção. A Figura 16 esquematiza essa premissa.

Figura 16 Esquema do processo de aprendizagem em equipes de desenvolvimento de novos

produtos na organização pesquisada

Fonte: Elaborado pelo Autor

Finalizando, os respondentes apontaram em todos os clusters que o Funil de Inovação

ajudou a documentar e melhorar o compartilhamento do conhecimento. Houve menção que o

Funil de Inovação permite adicionar coisas novas, facilitando, dessa forma, a aquisição do

conhecimento. A melhoria da comunicação, com livre acesso as informações foi apontada

como facilitadora do compartilhamento do conhecimento. Para os respondentes do cluster 4, o

Adquirir Reter

Compartilhar

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154

Funil de Inovação ajudou a organizar e a simplificar o processo de desenvolvimento de novos

produtos, gerando ganhos de tempo. O Quadro 36 sintetiza a influência do Funil Inovação nos

processos de aquisição, compartilhamento e retenção do conhecimento.

Quadro 36 O Funil de Inovação nos processos de aquisição, compartilhamento e retenção do

conhecimento

Categorias Cluster 1 Cluster 2 Cluster 3 Cluster 4

Aquisição do conhecimento

- Permitir que coisas novas sejam acrescentadas

Compartilhamento do conhecimento

- Melhorar o compartilhamento do conhecimento

- Proporcionar livre acesso ao conhecimento

- Melhorar processo de comunicação

Retenção do conhecimento

- Documentar o conhecimento

Outros

- Organizar o processo

- Simplificar o processo

- Gerar ganho de tempo

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

Fonte: Elaborado pelo Autor

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155

7.5 A atuação do líder no processo de aprendizagem organizacional

No tópico anterior foi discutido o processo de aquisição, compartilhamento e retenção

do conhecimento. Neste tópico será discutida a atuação do líder nestes processos e ações que

ele deve criar para obter um clima adequado à aprendizagem. Diferentemente da estrutura

processual analisada, a estrutura que foca a atuação do líder apontou para uma variação que

merece ser destacada entre os clusters de entrevistados. Observou-se que o cluster 4

apresentou características diferenciadas em relação aos demais como, por exemplo, envolver-

se com a equipe no processo de aquisição, valorizar a equipe no processo de

compartilhamento, fazer “rescaldo” do projeto, disponibilizar recursos e conhecimento no

processo de retenção e respeitar a diversidade visando a criação de clima propício à

aprendizagem.

A leitura flutuante das entrevistas transcritas, a análise dos documentos e a observação

não participante foram fundamentais para a construção e desconstrução no processo de

categorização, partindo-se do Quadro 33 (p. 128) que, tentativamente, classificara a atuação e

ações do líder nos processos de aquisição, compartilhamento e retenção do conhecimento em

um conjunto de dezessete categorias. O processo foi evoluindo por meio de agrupamento em

etapas de idas e vindas, que se por um lado angustiava o pesquisador, por outro acabou

mostrando um encadeamento coerente que resultou em um conjunto de três categorias:

direcionar, facilitar e administrar. Analogamente ao que foi feito na discussão do processo de

aprendizagem, optou-se por auto-formas, desenhos, para representar as categorias e facilitar a

visualização. A seta (dando a idéia orientadora de rumo) foi escolhida para representar a

categoria direcionar, o símbolo de agrupar (dois triângulos em forma de ampulheta)

representa a categoria facilitar e o símbolo de somador (um círculo dividido em quatro partes,

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156

que podem ser interpretados esquematicamente como os processos de planejamento,

organização, direção e controle usados pelo líder) foi escolhido para representar a categoria

administrar. O Quadro 37 sintetiza o processo de categorização para a atuação e as ações do

líder nos processos de aquisição, compartilhamento e retenção do conhecimento.

Quadro 37 Categorias de análise da atuação e ações do líder no processo de aprendizagem

Direcionar

Facilitar

Administrar

Adquirir - Gerar necessidade

- Exemplificar

- Propor novas

abordagens

- Dialogar

- Compartilhar riscos

- Dar oportunidades para praticar

- Acreditar nas idéias da equipe

- Ajudar

- Ter orgulho de falar que algo foi

feito

- Não ter medo de fazer o trabalho

- Usar as

competências da

equipe

Compartilhar - Contatar pessoas experientes

- Estar junto com a equipe

- Dar espaço para a equipe

- Estimular a equipe

- Valorizar a equipe

- Criar relacionamento de

confiança

- Disseminar as idéias da equipe

- Orientar a equipe

à compartilhar

- Fazer reunião de

aprendizado

- Cobrar a equipe

Reter - Orientar a equipe

para documentar

- Estimular a equipe à

compartilhar

- Estimular a equipe à praticar

- Disponibilizar

recursos e

conhecimento

- Fazer “rescaldo”

do projeto

Criar clima

adequado à

aprendizagem

- Criar oportunidades de

aprendizagem

- Dar liberdade para errar

- Motivar e envolver a equipe

- Suportar a equipe

- Confiar na equipe

- Dar e receber feedback

- Construir relacionamento com

equipe

- Respeitar a diversidade

- Estabelecer

critérios para

escolha da equipe

Fonte: Elaborado pelo Autor

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157

O líder no papel de direcionador revelou-se como alguém que, no processo de

aquisição de um determinado conhecimento, gera necessidades e direciona a equipe, que usa

adequadamente exemplos para mostrar à equipe o caminho e que propõem novas abordagens

para a equipe. Esse líder orienta a equipe a documentar o conhecimento adquirido e

compartilhado, objetivando a retenção na memória organizacional.

A atuação do líder como gerador de necessidade foi ressaltada por um membro de

equipe que relatou:

“O líder „brifa‟ um projeto qualquer, dentro desse briefing existem algumas

necessidades técnicas, já especificadas, onde a área de P&D está contribuindo (...) .

É gerando essa necessidade, o papel dele (líder) é super importante no sentido de

querer ver os protótipos, de avaliar aquele conhecimento e protótipos gerados por

P&D”.

Para outro membro de equipe, o líder atua como organizador e orientador “cabendo ao

líder direcionar, orientar. Sem o líder, vira bagunça”. Todavia, durante a observação não

participante ficou evidenciado que o líder não é assim tão direcionador e que a equipe acaba

se auto coordenando.

Dar exemplos foi abordado de dois modos distintos. Por um lado, os membros

esperam que o líder contribua com exemplos práticos de como desenvolver um produto por

exemplo, “para desenvolver este protótipo eu (líder) recomendo que você use este caminho

(...) que nós já usamos no passado e deu certo”. Por outro lado, os membros têm uma

expectativa que o líder deva “ser referência para a equipe”, portanto, sendo um exemplo a ser

seguido. Para Ulrich (2000), o líder ao liderar mediante exemplos, dá à equipe uma

demonstração de caráter pessoal dando a dimensão vivencial dos valores e das crenças por

meio da prática. DiBella e Nevis (1999) são enfáticos, acrescentando que o líder deve dar o

exemplo fazendo aquilo que fala.

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A mais significativa contribuição do líder direcionando, segundo os respondentes, é a

proposição de novas abordagens, levando a equipe “a pensar fora do quadrado”, a “fazer com

que a equipe faça de uma forma diferente”. Uma das formas diferentes relatada por um sujeito

é a do líder “propondo que os membros das equipes se tornassem Consultores” para que

pudessem “ver ao vivo e a cores” o que acontece no dia-a-dia dos clientes. Consultor(a) é a

denominação dada pela organização pesquisada para quem, de forma autônoma, vende seus

produtos e se relaciona com os consumidores finais. Outra forma de estímulo dada pelo líder

direcionador é que as equipes “olhem para fora, fazendo benchmarking”.

Em relação a atuação do líder direcionador no processo de retenção do conhecimento

na memória organizacional, percebeu-se um leque de possibilidades. Em um extremo

observou-se a postura menos democrática em que o líder “exige que a equipe documente e

formalize os conhecimentos”. No outro, o líder “desafiando a equipe a documentar e

disponibilizar para toda a organização”.

Os relatos dos respondentes confirmam o que alguns autores descrevem sobre o

processo de direcionar a equipe. Para Ulrich (2000), um dos atributos dos líderes no processo

de aprendizagem organizacional é direcionar, dar clara definição da trajetória (compressão

dos eventos externos, foco no futuro e conversão da visão em ação). Conger (1992) define

líder como alguém que estabelece orientação para uma equipe. House (1996) aponta quatro

comportamentos definidores do estilo de liderança: diretivo, apoiador, participativo e

orientado para resultados. Dois dos estilos apontados pelo autor foram observados na atuação

do líder direcionador. Um é o estilo diretivo do líder que se materializa por meio de ações tais

como: informar os membros da equipe o que se espera deles, programar e coordenar o

trabalho, fornecer orientação específica e esclarecer políticas, normas e procedimentos. O

outro é o estilo orientado para resultados em que o líder estabelece objetivos desafiadores,

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159

busca melhorias, enfatiza a excelência do desempenho e demonstra confiança que os

membros obterão altos níveis de desempenho.

A atuação do líder como facilitador será analisada no processo de aquisição,

compartilhamento, retenção do conhecimento na memória organizacional e estabelecimento

de um clima propício à aprendizagem.

Atuação do líder no processo de aquisição de um determinado conhecimento

O líder facilitador mostrou ser aquele que promove o diálogo, que compartilha riscos

com a equipe, que dá oportunidades para a equipe praticar e que acredita nas idéias da

equipe. No cluster 4, diferentemente dos demais, o líder tem a predisposição para ajudar a

equipe e revelou atitudes de como conduzir a equipe a ter orgulho pelo trabalho realizado e

não ter medo de fazer um trabalho desafiador.

O líder facilitador procura criar oportunidades para dialogar com a equipe “dando

feedback” e “consultando a equipe para ter as respostas” necessárias ao andamento de uma

determinada etapa do projeto. O líder busca obter a opinião da equipe quando existem

demandas por propostas alternativas na condução do projeto, conforme ressaltado por um

sujeito que afirmou que “o líder sempre fica pedindo nossa contraproposta”. Nonaka e

Takeuchi (1997) enfatizam o processo de interação entre líderes e liderados por meio de

diálogos pessoais. Lyles (2001) reforça a importância das pessoas se envolverem ativamente

no processo de aquisição do conhecimento.

Observou-se que a determinação do líder em compartilhar os riscos em um

determinado projeto, pode ser entendida como uma forma de apoiar a equipe mesmo durante

as eventuais perdas que esses riscos venham acarretar. Em função da organização pesquisada,

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desenvolver uma significativa quantidade de novos produtos por meio de equipe projetos e

pela sua crença do aperfeiçoamento contínuo e do valor criatividade, os riscos são vistos

como inerentes ao próprio processo. Cabe ao líder “preparar as pessoas, porque o tempo

inteiro a empresa incentiva o time a correr risco” e cabe ao líder “falar, explicar e

compartilhar os riscos” inerentes aos projetos que são desenvolvidos. Segundo Ulrich (2000),

o processo de apoiar a equipe para que compartilhe riscos é um atributo da liderança no

processo de aprendizagem organizacional.

Dar oportunidades para a equipe praticar foi uma forma de atuação do líder observada

tanto nas entrevistas quanto na observação não participante. Nas entrevistas foi ressaltado por

vários sujeitos que o líder “estimula a equipe a fazerem (sic) apresentações” objetivando

praticar aquilo que foi aprendido e possibilitando que “os membros façam o máximo” para

que o conhecimento possa ser adquirido constantemente. Durante a observação não

participante ficou evidenciado que a equipe, de modo lúdico e estimulada pelo líder, investe

parte significativa do tempo cheirando, tocando, manuseando, vendo amostras de vários

produtos da organização pesquisada e de concorrentes. Outro aspecto observado foi que o

líder “dá funções de maior responsabilidade” estimulando que as “pessoas possam sentirem-se

(sic) livres para errar e saber quais as conseqüências de um possível erro”. Isso pode ser

referendado pelo relato de um sujeito que afirmou que o líder “é tolerante quando a pessoa

não sabe trabalhar com esse tipo de material” e que “acredita nas idéias colocadas pela

equipe” e dando “legitimidade para a pessoa que vai atrás do conhecimento”.

Observou-se que a atuação do líder, na categoria de facilitar a aquisição de um

determinado conhecimento, no cluster 4 é diferenciada dos demais. O relato de um sujeito

evidenciou que o líder tem a disposição para fazer perguntas tais como “o que eu (líder)

preciso fazer para te ajudar” na aquisição de um determinado conhecimento? Uma premissa é

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analisar até que ponto essa disposição do líder em oferecer ajuda pode de alguma forma

desencorajar a equipe a ir “mais fundo” na busca de um determinado conhecimento, pois caso

a equipe não consiga, tem sempre a opção de pedir ajuda para o líder. Por outro lado, essa

disposição pode ser chave para que a equipe sinta-se estimulada a desafiar e em caso de

dúvidas saber que pode contar com a ajuda do líder. Esse processo lembra aquele ditado

popular que diz que devemos ensinar a pessoa a pescar ao invés de simplesmente lhe darmos

o peixe. Entende-se que o ajudar nesse contexto é ensinar a pescar e não o entregar o peixe.

Observou-se que o líder desse cluster tem atitudes reforçadoras para o processo de aquisição

do conhecimento, conforme relatado por um sujeito ao afirmar que o líder faz com que “você

tenha orgulho de falar que algo foi feito”. Esse líder reforça, segundo um respondente, que as

pessoas “não devem ter medo de fazer qualquer tipo de trabalho” para que o projeto seja

concluído com qualidade. Finalizando, o depoimento de um sujeito reforça a diferenciação

desse líder em relação aos demais, pois “é uma pessoa apaixonada pelo que faz. O brilho nos

seus olhos acaba contaminando um pouco a equipe, motivando as pessoas, fazendo as pessoas

sentirem vontade, tesão, gostarem da coisa”.

Atuação do líder no processo de compartilhamento

Cabe ao líder facilitar o compartilhamento, segundo os respondentes, contatando

pessoas mais experientes, estando junto com a equipe, dando espaço e estimulando a equipe a

compartilhar, valorizando a equipe, criando relacionamento baseado na confiança e

disseminando as idéias da equipe.

O contato com pessoas mais experientes foi observado no depoimento de um sujeito

que afirmou que “o líder busca trazer para as reuniões algumas pessoas experientes” e pela

aproximação do líder “com determinada pessoa experiente”. Durante a observação não

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participante, esse aspecto ficou evidenciado pela presença de um profissional técnico que foi

consultado em todas as questões relativas ao seu campo de expertise, não dominado pelos

demais membros da equipe. Não obstante, a participação desse expert ficou restrita apenas a

alguns momentos da reunião observada. Pode-se levantar a premissa que o conhecimento

técnico e a experiência sejam fundamentais, mas ao mesmo tempo limitam a participação

dessas pessoas quando o tema foge da alçada do leque de conhecimentos técnicos,

provocando uma certa “apatia” e baixa participação durante a maior parte no processo de

compartilhamento.

Estar junto com a equipe, dando espaço para que as pessoas compartilhem os

conhecimentos adquiridos, foi observado tanto nas entrevistas quanto na observação não

participante. O relato de um respondente reforça que o líder “dá espaço e abertura” para que a

equipe possa compartilhar e, esse mesmo líder senta junto com a equipe visando “dividir,

explicar” para melhorar o processo de tomada de decisão. Não obstante, durante a observação

não participante ficou evidenciado que no processo de tomada de decisão existe um

desconforto do líder e dos membros com esse tema, pois em três oportunidades e em tom de

desabafo foram ouvidas expressões tais como: “e aí a gente pergunta para as „meninas‟

(fazendo referência as superiores hierárquicas)”, a gente “leva para o gerente da Fábrica

decidir”, e “a impressão a laser (...) vou ter que aprovar com minha chefe e com o pessoal do

departamento X”. Depreende-se que existem oportunidades para a melhoria do processo de

tomada de decisão, fazendo com que a equipe possa assumir maiores responsabilidades e

possa compartilhar o conhecimento de um modo menos hierarquizado.

Para os sujeitos entrevistados, cabe ao líder facilitador do processo de

compartilhamento do conhecimento “pedir, estimular a participação de todos” e mostrar que

“o time faz a diferença”. Esse processo de estimular a equipe é o mesmo defendido por

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DiBella e Nevis (1999) que afirmam que os líderes devem encorajar o desenvolvimento de

novas idéias e métodos de trabalho. Todavia, isto não foi evidenciado na observação não

participante, em que um dos observadores afirmou que “não vi o líder buscando a

participação” das pessoas técnicas que faziam parte da reunião e de outras que estavam tendo

uma participação limitada. Por outro lado, esse mesmo observador, constatou a existência de

um processo de “conversas paralelas” que não era obstado pelo líder e que, na ótica do

observador, era um processo positivo, pois ao concluírem as trocas por meio de conversas

paralelas, compartilhavam a informação com os demais membros da equipe.

Valorizar a equipe foi evidenciado no relato de um respondente que afirmou que o

líder “valoriza cada pessoa dentro do seu grupo”. Isto foi complementado por outro sujeito

que acrescentou que cabe ao líder “acreditar que os recursos internos da empresa eram

capazes” de fazerem determinada tarefa vital para o andamento do projeto. Nas palavras desse

mesmo respondente, o líder “deveria ter confiança que aquelas pessoas ali reunidas eram

capazes”. Depreende-se desse depoimento a existência de uma crítica “velada” (ou o não dito

da lingüistica) de que em algumas vezes existe uma preferência do líder por pessoas externas

em detrimento daquelas que podem ser consultadas dentro da própria organização pesquisada.

O líder facilitador do compartilhamento do conhecimento deve, segundo os

respondentes, criar relacionamento baseado na confiança. Esse ponto foi ressaltado por um

sujeito que afirmou que “agora ele (líder) nem participa mais porque foi naquele momento

que a gente estava começando a nossa relação, agora a gente estabeleceu essa relação de

confiança, então ele quase não participa mais”. Não foi possível para o pesquisador

aprofundar a questão de como era o processo antes, pois a palavra “agora” pode ser

interpretada como um rompimento na forma como o líder agia anteriormente. Outro detalhe

que merece aprofundamento da análise é em relação ao tempo e às atividades necessárias para

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que a relação de confiança possa ser construída entre o líder e os membros da equipe. A

confiança pode ser evidenciada na observação não participante, em que se percebeu que a

condução da reunião estava sendo feita por um membro da equipe, com anuência do líder, e

que o líder depositava confiança no membro que estava liderando de fato a reunião.

Convém ressaltar que o conjunto de crenças e de valores da organização pesquisada

reforça o processo de compartilhamento baseado na confiança, por meio do relacionamento,

humanismo, aperfeiçoamento contínuo, compromisso com a verdade e a transparência.

Segundo Teixeira (2004), a conceituação de confiança vem sendo objeto de estudos de vários

autores há décadas. A autora cita Sheppard e Sherman (1998, p. 422) que afirmam que a

confiança consiste na “aceitação dos riscos associados ao tipo e à profundidade da

interdependência inerente a um dado relacionamento”. Depreende-se nos depoimentos que o

líder facilitador permite, após um período de convivência com a equipe, que um membro

assuma riscos que em tese deveriam ser de responsabilidade do líder. Cria-se, dessa forma,

um aprofundamento e uma interdependência relacional entre o líder e sua equipe.

Disseminar as idéias da equipe é uma das formas de atuação do líder no processo de

compartilhamento. Para os respondentes, isso é uma característica pessoal do líder e a

expectativa dos membros, expressada pelo depoimento de um sujeito, é que “ele (líder)

divulgue nossas idéias” para outras equipes, para os gestores e demais colaboradores da

empresa. DiBella e Nevis (1999) chamam a atenção, ao discutirem os fatores facilitadores no

processo de disseminação, para a falta de participação dos líderes na disseminação e uso do

conhecimento. Para os autores, isso é decorrente da preferência dos líderes em enfatizar mais

o processo de aquisição do conhecimento em detrimento dos demais. O alerta dos autores não

foi observado nas entrevistas e na observação não participante, porque o aspecto relacional da

organização pesquisada, expresso pelo conjunto de crenças e valores calcados no

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relacionamento e no humanismo, mostraram ser fatores facilitadores da disseminação de

idéias e trocas de experiências.

Atuação do líder no processo de retenção

A atuação do líder para facilitar a retenção do conhecimento na memória

organizacional advém do estímulo dado às equipes para compartilharem e praticarem o

conhecimento adquirido. O estímulo à pratica apresentou a dimensão do líder praticando e

buscando que sua equipe o acompanhe nesse processo. O depoimento de um líder reforça esse

estímulo por meio de exemplo, aonde afirmou que “o primeiro produto que sai da máquina,

pego e levo para o centro de memória”. Outra dimensão observada foi a atuação do líder

“mantendo as pessoas por algum tempo realizando” com o objetivo de implementar as idéias

e fazer com que elas funcionem. Um ponto destoante foi observado por meio do depoimento

de um sujeito que afirmou que “bateu a cabeça, fazendo um projeto que a gente já tinha feito

mil vezes e está sempre dando errado”, evidenciando que houve dificuldade de retenção de

conhecimento. Pode-se depreender que o líder contribuiu para tal pelo tom irônico apreendido

na entrevista, por meio da declaração: “a gente já tinha feito mil vezes”.

Durante a observação não participante, os dois observadores constataram que

“ninguém registrou mais nada” além das providências que deveriam ter sido feitas no

acompanhamento das atividades de um determinado projeto. Em nenhum momento, foi

percebido pelos observadores a preocupação do líder da equipe em estimular os membros a

registrarem o conhecimento demonstrado, compartilhado informal e abertamente por meio de

várias experiências relatadas. Analisando-se sob a ótica da informalidade, algumas

declarações dos entrevistados evidenciaram a existência de processos informais de

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compartilhamento, tais como: “eu ficava observando o que o colega estava fazendo na

bancada ao lado da minha”; “eu uso muito o cafezódromo para trocar idéias com os colegas”.

Ações para criar clima propício à aprendizagem

O líder para criar um clima que favoreça à aprendizagem deve, segundo os sujeitos

entrevistados, criar oportunidades de aprendizagem, dar liberdade para errar, motivar,

envolver, suportar e confiar na equipe, dar e receber feedback, construir relacionamento com a

equipe e respeitar a diversidade. O desenho da “carinha alegre” foi escolhido pela

demonstração de alegria observada ao longo das entrevistas, da observação não participante e

por um trecho da visão da organização pesquisada que declara seu comprometimento na

construção de um mundo melhor (representado pelo círculo). A alegria é uma característica

evidenciada na organização pesquisada.

A criação de oportunidades de aprendizagem mostrou uma ambigüidade entre o que

foi declarado e aquilo que foi verificado na observação não participante. Os depoimentos dos

líderes e membros apontam para atividades do líder “provocando a discussão”, “pedindo

opinião de todo mundo”, “envolvendo a equipe no processo decisório, alinhando

expectativas” que não foram evidenciadas na observação não participante. Foi constatado

pelos dois observadores uma falta de discussão, que poderia ter sido provocada pelo líder,

visando criar oportunidades de aprendizagem. O que aconteceu na reunião observada foi o

uso de métodos de estabelecimento e acompanhamento de objetivos e de atividades de

projetos. A exceção observada foi a discussão sobre o tema nanoemulsão o qual o líder

ironicamente perguntou: “O que é isso? Observou-se uma breve discussão sobre o inquirido

pelo líder, porém, praticamente nada foi acrescentado à aprendizagem da equipe.

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Segundo Garvin (2002), cabe ao líder criar oportunidades de aprendizagem por meio

de tarefas, atividades e eventos que têm a finalidade primária de nutrir a aprendizagem. Cabe

a ele reunir a equipe em torno de um desafio comum com tempo e espaço adequados para que

a equipe exercite o verdadeiro pensamento, praticando, dessa forma, um processo de

aprendizagem por meio do compartilhamento de experiências. Embora a equipe tenha trocado

experiências em alguns momentos da reunião observada, em nenhum deles percebeu-se a

intenção do líder e dos membros em registrar aquilo que estava sendo discutido e aprofundar a

discussão visando ampliar o aprendizado. Então, pergunta-se onde se realizam as discussões?

Encontros informais seriam o foro mais privilegiado de discussões? É no dia-a-dia, sem

horário e local determinado? Estaria, a informalidade, assim, impregnada a ponto de uma

reunião formal não agregar conhecimento?

O estabelecimento de um clima propício à aprendizagem na qual o líder dá liberdade

para a equipe errar, que motiva e envolve as pessoas, que suporta e confia nas decisões da

equipe, foi observado tanto nas entrevistas como na observação não participante. O clima

“descontraído, com muita risada, divertido” declarado por um sujeito, foi comprovado na

observação não participante em que os observadores constataram “um clima agradável, com

brincadeiras na medida certa e muita risada”. Esse clima reflete a prática no dia-a-dia das

crenças e dos valores da organização pesquisada, que reforça o aspecto relacional entre as

pessoas atuando como facilitador da aprendizagem.

DiBella e Nevis (1999) afirmam que um clima de abertura aonde exista o livre

compartilhamento de erros e lições é um fator facilitador do processo de aprendizagem

organizacional. A afirmação dos autores foi observada no depoimento de um respondente que

confirmou a existência de liberdade para errar em especial quando o líder “deixa a equipe um

pouco mais livre, dando liberdade para errar”. Convém ressaltar que as equipes de projetos na

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168

organização pesquisada têm que alcançar vários objetivos, tais como: desenvolvimento dos

componentes do mix do produto, quantificação do interesse dos clientes, aquisição de moldes

e equipamentos, realização de lotes pilotos, etc. Esses objetivos são cumpridos por meio de

centenas de atividades em cada projeto, sendo praticamente impossível a inexistência de

desvios/erros, que são vistos como inerentes ao processo. Todavia, percebeu-se na

organização pesquisada a liberdade para errar e ao mesmo tempo a não conivência com o

erro, explicitada na crença do aperfeiçoamento contínuo e que foi depreendida ao longo das

entrevistas e da observação não participante. Para Conger (1992), cabe ao líder obter

comprometimento da equipe em relação a orientação dada e, motivar as pessoas para

alcançarem os objetivos. Senge (2002) reforça a característica do líder de injetar pontos de

vista apoiadores para motivar e envolver a equipe. Esse papel motivacional foi explicitado

quando um sujeito declarou que seu líder “não deixa o time perder a auto-estima. Ele trata as

pessoas de igual maneira”.

Alguns fatores facilitadores da aprendizagem, assim como barreiras e aspectos da

cultura de trabalho puderam ser depreendidos. A informalidade, o clima de abertura e

tolerância ao erro e a descontração da equipe foram os pontos mencionados nos depoimentos

dos respondentes como facilitadores da aprendizagem. Em relação a barreira, a fala recorrente

dos respondentes: “as vezes você tem que fazer isso em prazos muito pequenos, você tem que

entregar o trabalho rapidamente” denota aspectos da cultura de trabalho da organização, que

tem uma demanda elevada pelo lançamento de novos produtos por meio da equipe de

projetos.

Complementando os aspectos da cultura de trabalho, alguns depoimentos indicam que

o líder tem autoridade limitada uma vez que as equipes de projeto se reportam apenas

funcionalmente e não hierarquicamente ao líder. Apontam que o líder tem uma função mais

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169

administrativa do que executiva nos projetos. Os times de projetos são formados por

profissionais de diversas áreas e, na maioria, não têm subordinação direta com o líder do

projeto. Um depoimento chama a atenção sobre a forma como “a empresa supervaloriza a

liderança de marketing”. Depreendeu-se do depoimento, a existência de crítica do modo como

é conduzido o processo de liderança em equipes de desenvolvimento de novos produtos,

aonde os profissionais da área de marketing têm sido mais valorizados que os demais.

Segundo o depoimento do gerente responsável pelo gerenciamento de projetos de

desenvolvimento de novos produtos, todas as equipes de projetos são lideradas por pessoas da

área de Marketing.

Segundo os respondentes, os líderes reforçam que deveriam dialogar com a equipe por

meio do processo de dar e receber feedback. A maioria dos relatos apontam apenas uma via

nesse processo, que é o líder dando feedback aos indivíduos e à equipe. A exceção foi o

depoimento de um respondente que disse que o líder “faz reuniões individuais, pergunta o que

as pessoas pensam dele”. Tomando-se por base esse depoimento, poder-se-ia estabelecer uma

premissa de que um clima agradável, amigável e descontraído observado entre o líder e a

equipe não seja o suficiente para que os liderados sintam-se a vontade para dar feedback ao

líder. Talvez pelo estilo observado, na maioria dos depoimentos e na constatação feita durante

a observação não participante, por ser predominantemente diretivo e orientado para

realização, os líderes pesquisados têm dificuldades em abrir espaço para que os liderados

possam oferecer feedback. Outra premissa que pode ser levantada é verificar se existe, por

parte dos líderes, excesso de confiança na equipe que possa dificultar a solicitação de

feedback por parte do líder. Segundo Garvin (2002), cabe ao líder solicitar feedback crítico

visando combater o excesso de confiança.

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Construir relacionamento com a equipe é uma ação, segundo os respondentes, que o

líder deve ter para criar um clima propício à aprendizagem. A maioria dos depoimentos e a

observação não participante mostraram que existe, por parte dos líderes, uma “política de

portas abertas”. Os observadores, ao visitarem os escritórios da organização pesquisada,

constataram que o layout não contempla salas fechadas, exceto as de reuniões que têm

paredes e portas envidraçadas, o que denota a vivência do valor transparência e reforça a

crença do relacionamento. Vários sujeitos declararam em seus depoimentos que os lideres

“permitem brincadeiras, proporcionam um clima amigável, permitem que as pessoas se

sintam à vontade”. Esses depoimentos foram comprovados na observação não participante.

Todavia, um sujeito deu um depoimento destoante dos demais ao afirmar que “o clima „ideal‟

para aprendizagem é aquele que existe muita compreensão e tolerância. Acho que falta aqui,

em alguns momentos, um pouco de tolerância”. Depreende-se do depoimento desse sujeito

que, provavelmente, pela necessidade da organização em lançar significativas quantidades de

novos produtos no mercado todos os anos, exerça sobre os líderes de projeto uma pressão por

ciclos cada vez mais curtos que acabam criando barreiras no relacionamento e,

consequentemente, afetando a aprendizagem.

O respeito à diversidade é uma das crenças mais valorizadas na organização

pesquisada. Isso pode ser constatado na reunião observada, nas entrevistas, nas leituras dos

documentos que explicitam o institucional da organização declarado pelos seus principais

executivos. O líder do cluster 4 chamou a atenção pela emoção demonstrada e pelo

depoimento que “não adianta querer que todo mundo seja risonho como eu e que tenha tesão

para fazer as coisas assim como eu faço. Eu tenho que respeitar a diversidade da minha

equipe”. Embora a diversidade seja uma das crenças da organização pesquisada, foi

observado que apenas o líder do cluster 4 fez menção a ela durante as entrevistas. Na

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observação não participante foi constatado pelos dois observadores que sempre houve por

parte do líder um respeito pela diversidade de idéias, comportamentos e atitudes de todos os

participantes. A própria constituição da equipe com pessoas de várias áreas, formações,

distintos níveis de experiência e expertise é um exemplo do respeito à diversidade. Ulrich

(2000) afirma que um dos atributos de um líder no processo de aprendizagem organizacional

é desenvolver as capacidades da organização visando a alavancagem da diversidade. Para Cox

e Blake (1991), as organizações podem alcançar vantagens competitivas nos processos de

criatividade e inovação , resolução de problemas e gerenciamento de mudanças, se souberem

capitalizar os benefícios potenciais da diversidade nas equipes de trabalho. Adicionalmente,

podem criar vantagens competitivas em custos, melhorar os processos de atração de pessoas e

obterem sucesso em marketing, por meio do adequado gerenciamento da diversidade.

Administrar é uma categoria em que o líder, de acordo com os respondentes, usa as

competências da equipe, orienta a equipe à compartilhar, faz reuniões de aprendizado, cobra a

equipe e estabelece critérios para escolha dos membros da equipe. Observou-se no cluster 4

depoimentos exclusivos em especial para o processo de retenção do conhecimento, que além

dos pontos mencionados foi constatado que o líder disponibiliza recursos, conhecimento e faz

“rescaldo” do projeto.

O líder utiliza as competências da equipe para “aproveitar a expertise e a senioridade

de uma pessoa que conhece bem o processo, porque ela já tinha passado por situações

semelhantes”, objetivando aproveitar o que cada “membro tem de melhor” para transmitir aos

outros membros da equipe. Depreendeu-se desse depoimento que o líder estava buscando usar

as competências de cada membro para resolver determinado problema ou propor

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oportunidades de melhoria. Para Ulrich (2000), cabe ao líder criar oportunidades para que

todos contribuam com seus melhores talentos pessoais para o esforço da equipe.

“O líder me orientava chamando minha atenção para alguns pontos relevantes do

projeto” foi o depoimento de um sujeito ao ser questionado sobre a atuação do seu líder no

processo de compartilhamento do conhecimento. Outro depoimento reforça a atuação do líder

dentro e fora da sua equipe de projetos, pois ele “alertava as pessoas da equipe e os outros

líderes de equipe”. Observou-se que o líder atua orientando individualmente cada participante

da equipe, conforme relatado por um respondente ao afirmar que “o líder me acompanhava

muito, me orientava, me ensinava”. Não obstante, durante a observação não participante um

observador constatou que o líder da equipe não reforçava o processo de compartilhamento que

acontecia dentro da equipe. Para esse observador o líder deveria fazer questionamentos à sua

equipe, tais como: “nossa, isso que você está falando é muito importante, você deveria

explorar mais este ponto”.

Provavelmente, a maior ambigüidade observada neste trabalho diz respeito a

percepção dos líderes e membros das equipes em relação às reuniões de aprendizagem. Os

depoimentos afirmam que o líder faz reuniões de aprendizado “conversando com a equipe,

reunindo as pessoas, questionando, endossando, transmitindo o que havia sido vivenciado,

disseminando o histórico do projeto”. Para Huber (1991), a reunião da equipe é uma forma de

compartilhamento do conhecimento. Todavia, durante a observação não participante, os dois

observadores constataram que a reunião em si não revelou os aspectos salientados pelos

respondentes, em que a aprendizagem ocorre predominantemente na informalidade e não nas

reuniões formais. Teve sim um processo de follow-up das atividades da equipe em relação ao

conjunto de projetos que eles eram responsáveis. Um dos observadores afirmou que “não

senti que os questionamentos do líder levavam à equipe para refletir. Não observei perguntas

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tais como: com base no que você está falando isso? De onde você tirou isso? O que senti é o

líder demostrando que precisamos providenciar coisas!”. Outro observador ressaltou o

depoimento em tom de desabafo de um membro da equipe ao afirmar que “aqui a gente é

rápido” referindo-se a pressão exercida sobre a equipe para que o tempo do projeto fosse

reduzido. Um observador constatou que:

“Várias coisas que foram passadas e que são importantes „passaram batido‟ porque

tem a pauta e tem que correr com ela (sic). Não sei se isso vai ser retomado outras

vezes, talvez vai ser, porque como é uma reunião de acompanhamento de

providências, acho que deve voltar em outros momentos”.

Uma premissa é verificar até que ponto a pressão por um volume elevado de projetos

para lançar novos produtos atua como barreira ao aprendizado das equipes e da organização

pesquisada. Outra premissa é até que ponto o retrabalho, declarado por vários respondentes,

feito atualmente nos projetos é reflexo da falta de aprendizado obtido com os projetos

anteriores. O provérbio oriental: “para chegar mais longe você deve ir mais devagar”, pode

ser inspirador para a análise e comprovação dessa premissa.

O depoimento do líder do cluster 4 comprova a fragilidade das reuniões de

aprendizado. O líder fez uma tentativa frustrada de reunião de aprendizado a qual denominou

de rescaldo do projeto. Rescaldo é um sinônimo masculino que pode ser usado como “a cinza

que ainda conserva algumas brasas” ou como o “ato de jogar água nas cinzas de um incêndio

para evitar que o fogo se inicie novamente” (MICHAELIS, 1998, p. 1069). É interessante

observar que ambos significados são reveladores. No primeiro, depreende-se que o rescaldo

serviria para manter viva a chama do conhecimento (compartilhamento e retenção do

conhecimento) possibilitando que outras equipes a usassem para iniciar um novo “fogo”

(projeto). No segundo, o sinônimo remete para o não aprendizado, pois as pessoas não

gostariam de se “queimar” novamente lembrando das “dores de cabeça” enfrentadas nos

projetos recém terminados e, portanto, jogariam “água” (evitar o sofrimento) para extinguir o

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“fogo” (aquilo que foi aprendido, porém não compartilhado e retido na memória

organizacional). A tentativa relatada pelo líder, em linha com o segundo significado, não deu

certo porque “cada uma das pessoas não estavam (sic) mais naquele time” e, quando

procuradas alegavam que “o meu trabalho já foi cumprido e não quero voltar a „dor de

cabeça‟ que tive na época”.

Segundo os respondentes, cabe ao líder cobrar a equipe “fazendo cumprir as regras,

acompanhando os cronogramas, não deixando o processo solto” com o objetivo de

administrar o processo de compartilhamento do conhecimento. Um sujeito declarou que o

líder “puxa de forma a trazer todo o conhecimento para o grupo, ele sabe acompanhar

exatamente em que passo está o projeto”. Durante a observação não participante foi

constatado que o líder chama o grupo para cumprir determinadas providências como, por

exemplo, “gente a conversa tá boa, mas tem uma providência, então volta prá cá (sic)”. Esse

aspecto de cobrar a equipe está coerente com o observado em relação as reuniões de

aprendizado que são na realidade reuniões de acompanhamento de providências que deveriam

ser tomadas nos projetos.

Um dos líderes entrevistados declarou que “tem critérios bem definidos na escolha das

pessoas” que irão compor a sua equipe. Segundo esse líder este processo é importante para

criar um clima propício à aprendizagem:

“Se você pegar uma pessoa que tenha uma atitude assim mais bacana de

compartilhar acho que é o primeiro passo na hora de selecionar as pessoas. Porque

se a pessoa for ótima mas destruindo o clima, o clima para aprendizagem vai ficando

cada vez mais difícil. Então eu acho que peguei pessoas, assim, que têm jeito legal,

que são fáceis de lidar, que gostam de trabalhar em grupo e que trabalham com

muita transparência”.

Ulrich (2000) afirma que cabe ao líder ao organizar e posicionar as equipes, selecionar

as pessoas mais talentosas para a composição das equipes. O depoimento do líder chama a

atenção para aspectos de alinhamento com as crenças e valores da organização pesquisada,

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como, por exemplo, a transparência e o relacionamento. Todavia, não está sendo observada a

crença da diversidade.

O depoimento do líder do cluster 4 em relação a sua atuação no processo de retenção

do conhecimento ressalta que ele procura “garantir que o conhecimento criado e

compartilhado na equipe vai ser disponibilizado” para a equipe e para a organização. Seu

depoimento é complementado quando afirma que “disponibiliza recursos para garantir que

esse conhecimento seja armazenado de alguma forma” na memória organizacional. Os

depoimentos de respondentes apontam que o líder do cluster 4 tem como características

pessoais ser “muito abelhudo”, “ser muito objetivo e claro” e ser “muito transparente”. Os

depoimentos reforçam que esse líder demonstra seu caráter pessoal ao vivenciar as crenças e

valores da organização, o que segundo Ulrich (2000) é um atributo da liderança no processo

de aprendizagem organizacional. A premissa a ser verificada é porque somente nesse cluster

foi observada uma disposição do líder em aportar recursos visando garantir a retenção do

conhecimento. Convém frisar que esse cluster foi incluído após depoimento espontâneo de

um sujeito, durante as entrevistas, que apontou o líder como sendo exemplo de atuação no

processo de aprendizagem organizacional.

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Conclusão parcial da atuação e ações do líder nos processos de aquisição, compartilhamento e

retenção do conhecimento.

Para os respondentes a forma de atuação e ações do líder nos processos de aquisição,

compartilhamento, retenção e a criação de clima propício à aprendizagem podem ser

sintetizadas em três categorias. A primeira é direcionar as ações da equipe por meio da

geração de necessidades, pelos exemplos vividos pelo líder, pelo estímulo que o líder dá às

pessoas para “pensarem fora do quadrado” e pela orientação para que a equipe documente os

conhecimentos adquiridos e compartilhados. A segunda, que se mostrou a mais significativa,

é o papel do líder como facilitador, que compreende uma vasta gama de ações e atitudes que

vão desde dialogar com os membros da equipe, passando pela criação de relacionamento de

confiança e chegando até o processo de criação de oportunidades de aprendizagem. A terceira

é o processo de administrar usando as competências da equipe, orientando a equipe a

compartilhar, disponibilizando recursos e conhecimento, cobrando a equipe e estabelecendo

critérios bem definidos para a formação da equipe. De forma simplificada, as observações

apontam para uma participação pequena do líder, direcionando o processo de retenção e uma

participação média no processo de aquisição de um determinado conhecimento. A forma de

atuação do líder é mais significativa na facilitação dos processos de compartilhamento e

criação de clima propício à aprendizagem e moderada nos processos de aquisição e retenção.

A atuação administrativa do líder é moderada nos processos de aquisição, compartilhamento e

retenção e, pequena no processo de criação de clima propício à aprendizagem. A Figura 17

sintetiza a forma de atuação do líder nos processos de aquisição, compartilhamento, retenção

e criação de clima adequado à aprendizagem.

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Figura 17 Atuação do líder no processo de aprendizagem organizacional

Fonte: Elaborado pelo Autor

Ao relacionar-se o conjunto de crenças e de valores da organização pesquisada com a

forma de atuação do líder nos processos de aquisição, compartilhamento, retenção e ações

para criação de clima propício à aprendizagem, verifica-se que o papel de facilitador é comum

para todo o conjunto de crenças e de valores, o papel de administrador é comum para as

crenças de relacionamento, humanismo, diversidade, aperfeiçoamento contínuo e criatividade

e, o papel de direcionador tem relação com as crenças e os valores do aperfeiçoamento

contínuo e da criatividade. A Figura 18 sintetiza estas relações.

Direcionar Facilitar Administrar

Adquirir

Compartilhar

Reter

Criar clima de

aprendizagem

ProcessoAtuação do líder

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Figura 18 Conjunto de crenças e valores da organização pesquisada e sua relação com a forma

de atuação do líder no processo de aprendizagem

Fonte: Elaborado pelo Autor

Rel

acio

nam

ento

,

hum

anis

mo,

dive

rsid

ade

Compromisso

com a verdade,

transparência

Aperfeiçoam

ento

contínuo,

criatividade

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de análise possibilitou conclusões de aspectos significativos a respeito da

atuação do líder no processo de aprendizagem organizacional em equipes de desenvolvimento

de novos produtos, bem como da explicitação dos processos de aquisição, compartilhamento e

retenção do conhecimento nessas equipes. Flick (2004) chama a atenção dos pesquisadores

qualitativos em relação a habilidade de redigir e a capacidade de assumir posições assertivas

em suas conclusões. O autor com base em Becker (1986) menciona que os pesquisadores são

temerosos em assumir posições próprias. Esse temor acaba levando à redações inócuas, cujo

objetivo é evitar ser apanhado em erros crassos. Mesmo correndo o risco de ser apanhado em

erros, o pesquisador deste trabalho permitiu-se alçar vôos intelectuais mais audaciosos em

suas conclusões.

Não foram observadas variações significativas entre os conteúdos das respostas nas

quatro unidades de análise, clusters, em relação aos processos de aquisição, compartilhamento

e retenção do conhecimento. De forma sumarizada, pode-se afirmar que, para esse grupo de

respondentes, enfrentar desafios, aprender empiricamente e pesquisar são categorias

exclusivas para a aquisição de um determinado conhecimento. Para a retenção do

conhecimento, observou-se que praticar, documentar e reter talentos foram as categorias

exclusivas encontradas. Em relação ao processo de compartilhar, não foram observadas

categorias exclusivas e sim coincidentes (compartilhar e inquirir) com o processo de aquisição

e reunir a equipe que é coincidente com o processo de retenção. O inquirir e o compartilhar

foram categorias observadas nas três etapas do processo de aprendizagem organizacional:

aquisição, compartilhamento e retenção do conhecimento.

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Uma conclusão é que o processo de aprendizagem, para esse grupo de respondentes, é

circular, aonde o compartilhar foi evidenciado de forma destacada em relação ao adquirir e

reter. O compartilhar mostrou-se de forma espontânea nos depoimentos dos sujeitos e na

observação não participante, levando o pesquisador a concluir que esse aspecto é fortemente

vivenciado na organização pesquisada. A análise de dados históricos, do conjunto de crenças

e valores e da observação não participante reforçam continuamente o compartilhamento na

organização pesquisada. Poder-se-ia afirmar que o compartilhar faz parte do DNA da

organização e que este é um fator facilitador do processo de aprendizagem organizacional.

Assim, o pagamento do 14.o salário, antes da existência de lei específica, o pagamento de

bônus em ações (phantom stock options) para dezenas de executivos, mesmo antes da abertura

de capital da empresa, a gestão participativa de reuniões, a existência de locais como

“cafezódromos”, “praças” e bancos dispostos em vários locais, o layout aberto dos escritórios,

a necessidade das pessoas estarem trocando experiências, etc. são exemplos que materializam

o compartilhamento na empresa pesquisada. Para Schein (2001), os artefatos visíveis

(ambiente físico na organização, como, por exemplo, a arquitetura, o layout, o modo como as

pessoas se vestem, os documentos, etc.) materializam um dos três níveis em que a cultura

organizacional pode ser apreendida.

O compartilhamento mostrou-se como o eixo do processo de aprendizagem

organizacional na pesquisa ao figurar como elo comum da aquisição e retenção. Quanto à esse

último aspecto, verificou-se que ele conduz à uma memória tácita ou explícita. A ferramenta

do Funil de Inovação foi introduzida visando a última, mas não há como negar que o tácito

existe na mente e nos corações dos líderes. O aspecto informal tende a socialiazá-lo. Nonaka e

Takeuchi (1997) reforçam que o compartilhamento é um processo social entre pessoas, tanto

na dimensão ontológica como na epistemológica. Kim (1993) chama a atenção para a falta de

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consideração na maioria dos modelos de aprendizagem organizacional em relação ao papel

das pessoas e suas interações, fenômeno de compartilhamento socialmente construído, com as

demais e com o ambiente.

Capra (2002) lança o questionamento se o aprendizado é um fenômeno individual ou

é também um fenômeno social. O autor reforça que o conhecimento tácito é fruto da dinâmica

cultural que desemboca em uma rede de comunicações, tanto verbais como não verbais,

dentro do que ele denomina como comunidades de prática. Capra (2002) afirma que o meio

mais eficaz para potencializar o aprendizado em uma organização é obtido pelo apoio e

fortalecimento de suas comunidades de prática. As definições de Wenger e Snyder (2000) e

Valença (1997) sobre comunidades prática foram referendadas pelo trabalho de Moura

(2004), que estudou esse fenômeno considerando a realidade brasileira. Segundo Moura

(2004, p. 15), uma comunidade de prática é “qualquer grupo de pessoas, que possuindo uma

prática em comum e uma referência epistemológica em comum, se reúnem duradoura e

regularmente para refletir coletivamente sobre essa prática, aprendendo uns com os outros a

entendê-la e, principalmente, a fazê-la melhor”.

Ao se comparar as equipes de projetos observadas com as comunidades de prática,

percebe-se à luz dos conceitos de Wenger e Snyder (2000) que idealmente as comunidades de

prática têm como objetivo criar e compartilhar conhecimento e que as equipes de projetos

objetivam cumprir uma determinada tarefa. Percebe-se a existência de lacunas relativas ao

propósito, ao processo de formação das equipes, ao que mantém as pessoas unidas e a duração

entre equipes de projetos e comunidades de prática. As principais lacunas são em relação aos

propósitos e o que mantém a equipe unida. Nas comunidades de prática, o propósito maior é a

criação e compartilhamento do conhecimento, ao passo que nas equipes de projetos o objetivo

é concluir adequadamente um determinado projeto. O que mantém as pessoas unidas nas

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equipes de projetos são os objetivos e os milestones, que difere das comunidades de prática

em que a união é mantida pela paixão, pela oportunidade de aprendizado e pela identificação

entre as pessoas e os objetivos. A duração das comunidades de prática é orgânica e depende

do interesse das pessoas ao passo que nas equipes de projetos existe um fim pré determinado,

que é o encerramento de um projeto.

Algumas perguntas poderiam ser feitas para verificar qual seria o ganho se as equipes

de projetos da organização pesquisada fossem “transformadas” em comunidades de prática.

Qual caminho a empresa deveria percorrer para alcançar esse propósito? Quais pessoas

deveriam participar dessa transformação e onde seriam mais úteis as comunidades de prática

na organização pesquisada? Em função daquilo que foi constatado nas entrevistas, na

observação não participante e nos documentos analisados, depreende-se que os conceitos

puros e integrais de comunidades de prática não seriam efetivos se aplicados nas equipes de

projetos. Dificilmente a empresa pesquisada abriria mão de ter datas definidas para lançar

novos produtos, bem como deixaria que as equipes de auto selecionassem. Todavia, um

caminho possível seria a incorporação de aspectos das comunidades de prática nas equipes de

projetos como, por exemplo, a ampliação do propósito com a inclusão da criação e

compartilhamento do conhecimento e por ações e exemplos que estimulassem nas pessoas a

paixão e o interesse pelo aprendizado. Em alguns depoimentos dos respondentes foi

mencionado que a organização pesquisada usa uma metodologia denominada Funil de

Tecnologia, cujo estudo não é escopo deste trabalho, aonde pequenos grupos de técnicos,

pesquisadores e cientistas se unem para desenvolver idéias e conceitos que posteriormente

serão transformados em projetos de lançamento de novos produtos. Percebe-se que o Funil de

Tecnologia está mais próximo do que Wenger e Snyder (2000) definem como comunidades

de prática.

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Outra conclusão é que o conjunto de crenças e valores da organização pesquisada e,

provavelmente de outras organizações, tem uma relação significativa com o processo de

aprendizagem organizacional. Neste estudo ficou claro que a vivência das crenças e valores

atuam como facilitadores da aprendizagem. Estudos em outras organizações seriam

convenientes estudos para verificar a validade dessa premissa. A crença do aperfeiçoamento

contínuo e o valor criatividade mostraram estar relacionadas com as categorias de enfrentar

desafios, inquirir, pesquisar, documentar, praticar, aprender empiricamente e compartilhar.

Deve-se ressaltar que a organização pesquisada é desafiada pelo mercado a lançar uma grande

quantidade de novidades todos os anos e, isto é materializado por equipes de projetos de

lançamento de novos produtos. Portanto, a melhoria contínua e a criatividade são

fundamentais para que ela possa ter êxito em um mercado altamente demandante e

competitivo. A crença do compromisso com a verdade e o valor transparência mostraram ter

relação com as categorias compartilhar e aprender empiricamente. O mercado de cosméticos

tem forte apelo para aspectos intangíveis como beleza, por exemplo, e a organização

pesquisada prima por lançar produtos que cumpram o prometido. Esse aspecto ficou

evidenciado na leitura dos documentos da organização pesquisada, em especial no seu

conjunto de crenças (2000) que explicita:

“A beleza é um legítimo anseio de todo ser humano. Em nossa sociedade esse anseio

é manipulado com a imposição de estereótipos e preconceitos que estabelecem para

a beleza padrões de idade, raça e comportamento. Acreditamos que na

desmistificação desta atitude e na relação harmoniosa de nossa mente, cultivando e

preservando nosso corpo, existe a possibilidade de a beleza cada vez mais se

manifestar e ser percebida”.

Para cumprir isso, as equipes de projetos têm embutido na sua forma de agir um forte

compromisso com a verdade e a transparência é um valor de diferenciação da organização

pesquisada. As crenças do relacionamento, a diversidade e o valor do humanismo

apresentaram evidências de relação com as categorias reunir a equipe e reter talentos.

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Depreende-se que para lançar novos produtos em um mercado altamente competitivo, a

organização usa a estratégia de criar equipes de projeto para cumprir essa tarefa e com isso, o

êxito dessas equipes tem dependência da forma de relacionamento entre os membros, que são

um exemplo de diversidade de idéias e formação acadêmica, entre outros.

Finalizando as conclusões do processo de aprendizagem, foi observado que a

introdução da ferramenta Funil de Inovação pode ser analisada por vários ângulos. Constatou-

se que ela contribuiu para a melhoria dos processos de compartilhamento e acesso ao

conhecimento, de padronização na documentação e, ajudou a organizar e simplificar o

processo, gerando ganhos de tempo para as equipes de projetos. Todavia, foi constatado que a

exiguidade de tempo para registrar os aprendizados aliada a falta de disciplina em seguir as

etapas propostas pela ferramenta acaba atuando como uma barreira à aprendizagem. Poder-se-

ia concluir que a ferramenta em si, por melhor que possa ser, é necessária mas não é suficiente

para melhorar o processo de aprendizagem dos membros das equipes de projeto na empresa

pesquisada. Seria importante analisar a influência de ferramentas similares em outras

empresas, a fim de verificar se o fenômeno observado é típico da empresa pesquisada ou é um

padrão em equipes de projetos que são altamente demandadas por quantidades crescentes de

novos produtos todos os anos.

Sinteticamente o líder no processo de aprendizagem organizacional, nas equipes

pesquisadas, atua como direcionador, facilitador e administrador de ações que objetivam

melhorar os processos de aquisição, compartilhamento e retenção do conhecimento e criação

de clima adequado à aprendizagem. A similaridade entre as unidades de análise observadas

nos processos de aquisição, compartilhamento e retenção do conhecimento não foi

evidenciada quando foram analisadas a atuação e as ações dos líderes nesses processos. O

cluster 4 diferenciou-se dos demais, que mantiveram uma similaridade na atuação do líder,

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por meio do envolvimento do líder com a equipe, pela valorização dada pelo líder à equipe,

pela iniciativa do líder em fazer reunião de aprendizado, pela disponibilização de recursos e

conhecimento e pelo respeito à diversidade.

Foi observado que todos os líderes pesquisados se envolvem com a equipe, por meio

de incentivo, estando junto em todos os momentos cruciais do projeto e entendendo as

dificuldades de cada membro. Todavia, a combinação envolvimento e valorização da equipe,

em especial fora do âmbito da própria equipe, foi observado apenas no cluster 4, aonde os

depoimentos dos liderados e do líder estiveram sempre alinhados evidenciando que os

liderados sentiram-se mais valorizados que nos outros clusters pesquisados. A valorização

pode ser resumida, segundo os respondentes, em ações do líder demostrando que acredita na

capacidade das pessoas da sua equipe e da organização e, que estabelece um clima de

confiança entre os membros da equipe. Pode-se concluir que o envolvimento do líder com a

equipe é condição essencial e que o resultado é amplificado se os membros tiverem clara

demonstração de que são valorizados não somente “intra muros” mas também no âmbito

organizacional.

É razoável e esperado que o líder deve disponibilizar recursos para que sua equipe

possa conduzir e concluir adequadamente os projetos que lhes são atribuídos. Todavia, isso

não foi evidenciado nas entrevistas e na observação não participante, exceto no caso do

cluster 4, em que tanto os liderados quanto o líder afirmaram que recursos tais como

softwares, metodologias, orçamento, pessoas etc. foram disponibilizados de forma adequada

pelo líder. Os liderados acrescentaram que o líder estimula e cobra da equipe o registro dos

aprendizados no Funil de Inovação. Esse líder disponibiliza talvez o recurso mais escasso na

empresa pesquisada, segundo os depoimentos dos respondentes, que é o tempo das pessoas

para “darem uma paradinha” e registrarem os conhecimentos que foram aprendidos. O líder

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do cluster 4 foi o único a relatar uma experiência de reunião efetivamente de aprendizado, a

qual chamou de “rescaldo do projeto”. Nessa reunião fora do local normal de trabalho o líder,

segundo o relato dos respondentes, conduziu atividades nutridoras da aprendizagem

formulando perguntas tais como: “o que precisamos fazer?; quais sucessos e fracassos vocês

gostariam de compartilhar?; quais informações, „sacadas‟ vocês gostariam de compartilhar?”.

Segundo Garvin (2002), perguntas como as efetuadas pelo líder são exemplos adequados de

como conduzir uma reunião de aprendizado.

O respeito à diversidade foi espontaneamente declarado pelo líder e confirmado pelos

depoimentos dos liderados apenas no cluster 4. Ao entrevistar o líder desse cluster o

pesquisador sentiu que as respostas foram dadas com uma dose de emoção não observada

com a mesma intensidade nos demais líderes entrevistados, aonde ficou mais evidente a razão.

Constatou-se que o líder desse cluster consegue transitar entre emoção e razão de forma

equilibrada, ora “protegendo e defendendo os filhotes”, por exemplo, valorizando-os perante

as demais equipes e a organização, ora desafiado os “filhotes a alçarem vôo livre”, por

exemplo, ao exigir que um determinado protótipo fosse feito em tempo record. Segundo Cox

e Blake (1991), a capitalização da diversidade em equipes de trabalho alavanca a capacidade

competitiva das organizações por meio da melhoria nos processos de criatividade, solução de

problemas, gerenciamento de mudanças e maior flexibilidade organizacional.

O pesquisador deste trabalho percebeu que o alinhamento do líder do cluster 4 com as

crenças e valores da organização pesquisada foi constatado de uma maneira espontânea,

aonde as palavras e exemplos fluíam, durante as entrevistas, naturalmente. A percepção é de

que este líder tem fortemente internalizado as crenças e valores da organização pesquisada e

transmite naturalmente isso aos seus liderados estimulando-os a fazerem o mesmo.

Entendendo-se que a liderança é um processo socialmente construído, poderia ser objeto de

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investigação, por parte da empresa pesquisada, compreender esse processo, a fim de formar

outros líderes com características similares às observadas no líder desse cluster.

Pode-se afirmar que o processo de aprendizagem, na organização pesquisada é

circular e composto de três etapas: aquisição, compartilhamento e retenção de um

determinado conhecimento. Foram evidenciadas barreiras como, por exemplo, rapidez

excessiva, falta de tempo e alta flexibilidade, que por sua vez são afetadas tanto pela cultura

de trabalho como pelas variáveis do ambiente externo. Os resultados observados podem ser

expressos em um modelo de aprendizagem similar àquele defendido por Huber (1991). Para

esse autor uma organização aprende quando consegue que seus membros adquiram,

distribuam, interpretem e retenham na memória organizacional um determinado

conhecimento. Todavia, o modelo de Huber (1991) não enfatiza a atuação do líder no

processo de aprendizagem.

Neste estudo ficou evidente que a atuação do líder é determinante no processo de

aprendizagem organizacional. De forma sintética, constatou-se que os líderes, na organização

pesquisada, atuam direcionando, facilitando e administrando o processo de aprendizagem,

também de forma circular. Depreendeu-se que a cultura organizacional é nutridora de fatores

facilitadores à atuação do líder no processo de aprendizagem, aonde o clima organizacional

aliado ao conjunto de crenças e valores têm papel destacado. O modelo circular de atuação do

líder no processo de aprendizagem apresentou similaridades com os modelos de Garvin

(2002) e Senge (2002). Para esses autores cabe ao líder criar oportunidades de aprendizagem,

estabelecer clima e tom adequados à aprendizagem, liderar as discussões, atuar nos papéis de

projetista, professor e servidor (steward).

A Figura 19 representa o modelo de aprendizagem organizacional emergido dos

dados, que pouca similaridade se observou na literatura pesquisada, no que tange à atuação do

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líder no processo de aprendizagem. Convém ressaltar a evolução ocorrida no modelo

“quadrado”, com forte visão de processos, com foco interno e elaborado com base em

modelos teóricos, proposto no referencial teórico (Figura 10, p. 74). Já o modelo concebido,

por meio de pesquisa, mostrou ser mais aberto, considerando variáveis do ambiente externo,

aspectos da cultura de trabalho, níveis de cultura organizacional, barreiras e fatores

facilitadores da aprendizagem e, principalmente, um modelo que foi sendo construído a partir

das constatações nas entrevistas, na observação não participante e na análise dos documentos.

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Figura 19 Representação esquemática da atuação do líder no processo de aprendizagem em

equipes de desenvolvimento de novos produtos

Fonte: Elaborado pelo Autor

Em suma, este trabalho apontou que o processo de aprendizagem organizacional

composto pelas atividades de adquirir, compartilhar e reter o conhecimento pode ser

considerado como standard e a diferença ficou evidenciada na atuação e nas ações do líder

nesses processos e na criação de um clima propício à aprendizagem. Poder-se-ia afirmar que

os esforços no processo de aprendizagem devem ser feitos, entretanto, deve-se focar na

atuação do líder. Cabe ao líder produzir a diferença na busca incessante das organizações em

alcançarem índices de competitividade comparáveis aos benchmarks mundiais. Para De Geus

(1997), a capacidade dos líderes em promover a aprendizagem e incentivar suas equipes a

aplicar mais rápido que os concorrentes é talvez a única vantagem competitiva das

organizações inseridas em uma economia globalizada. As conclusões apontadas neste trabalho

podem ser usadas, com a devida crítica e adaptação necessária, por organizações que

necessitem desenvolver novos produtos, em uma velocidade e quantidade acima da média da

indústria, por meio de equipes de projeto, em especial naquelas que estão experimentando o

Variáveisdo ambiente

externo

Cultura organizacional

Culturade

trabalho

Adquirir Reter

Compartilhar

Barreiras:

rapidez, tempo,

flexibilidade

Fatores facilitadores:

clima, crenças,valores

Direcionar Facilitar

Administrar

Processo deaprendizagem

Atuação dolíder

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processo acelerado de inserção em uma economia globalizada, como é o caso da organização

objeto de pesquisa neste trabalho.

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LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Este estudo foi desenvolvido tendo como base quatro líderes e oito liderados, em

equipes de projetos de desenvolvimento de novos produtos, de uma empresa nacional de

grande porte que atua na indústria cosmética. Convém ressaltar que a empresa pesquisada tem

um total de oito líderes de equipes de projetos, portanto, mesmo sendo uma pesquisa

exploratória, pode-se considerar que o número pesquisado de líderes foi representativo.

Portanto, o contexto e o ambiente desta pesquisa evidenciaram resultados específicos

para as equipes de projetos de desenvolvimento de novos produtos da empresa pesquisada.

Não se pode generalizar os resultados, quer seja para outras equipes da mesma organização,

ou mesmo de outras organizações.

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RECOMENDAÇÕES

Em função das limitações deste estudo, outras pesquisas poderiam ser feitas visando

explorar e aumentar a variedade de interpretações sobre o tema, comprovar as premissas

apontadas e buscar respostas às indagações feitas durante a etapa de análise:

Verificar se as conclusões deste trabalho podem ser validadas dentro da mesma

organização e em outras organizações na mesma indústria;

Verificar a atuação do líder de projetos no processo de aprendizagem em outros

tipos de indústria;

Analisar as vantagens e métodos para transformação de equipes de projetos em

comunidades de prática;

Aprofundar o estudo da aprendizagem organizacional considerando outras

variáveis além da atuação do líder;

Aprofundar os estudos sobre a influência da cultura de trabalho e cultura

organizacional na atuação de líderes de projeto no processo de aprendizagem

organizacional.

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APÊNDICE A – Roteiro de entrevistas

Roteiro 1 Entrevista com líder de equipe de projetos

Idade: Tempo de empresa: Tempo como líder de projetos:

Função:

Formação:

1. De que maneira você diria que uma equipe apreende determinado conhecimento adquirido

no desenvolvimento de um projeto? E na sua opinião qual seria a influência do líder nesse

processo? Agora, pensando/lembrando o último projeto que você liderou, de um modo

geral, de que maneira sua equipe apreendeu determinados conhecimentos? E qual foi a sua

influência nisso? Cite pelo menos um exemplo.

2. Em sua opinião como seria o compartilhamento do conhecimento entre os membros de

uma equipe de projeto de desenvolvimento de novos produtos? E como seria a atuação do

líder? Agora, pensando/lembrando o último projeto que você liderou, como foi o

compartilhamento do conhecimento entre a equipe? E como foi a sua atuação nisso? Citar

exemplo.

3. Como um líder deveria proceder para reter os conhecimentos adquiridos pela equipe nesse

processo? Agora pensando em sua experiência, como você se preocupa em reter esse

conhecimento adquirido? Você poderia relatar uma experiência sua aonde houve a

retenção de conhecimento? Porque você considera que isso ocorreu? Agora você poderia

contar uma experiência em que não houve a retenção de conhecimento? Na sua opinião

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como e porque nesse caso não houve a retenção de conhecimento? Agora pensando nessas

duas situações o que você pode aprender?

4. Que ações você usa para criar um clima que promova a aprendizagem? Quão perto ou

longe estas ações estão do “clima desejado/esperado” que você considera importante para

a criação de um clima promotor da aprendizagem?

5. Conte como ocorria a aprendizagem antes da existência do Funil de Inovação. O que

mudou com a introdução do Funil de Inovação?

6. Tem mais alguma coisa sobre os temas aprendizagem e liderança que você gostaria de

acrescentar?

Roteiro 2 Entrevista com membro de equipe de projeto

Idade: Tempo de empresa: Tempo como membro de equipe de projetos:

Função:

Formação:

1. De que maneira você diria que uma equipe apreende determinado conhecimento adquirido

no desenvolvimento de um projeto? E na sua opinião qual seria a influência do líder nesse

processo? Agora, pensando/lembrando o último projeto que você participou, de um modo

geral, de que maneira você apreendeu determinados conhecimentos? E qual foi a

influência do líder de projeto nisto? Citar exemplo.

2. Em sua opinião como seria o compartilhamento do conhecimento entre os membros de

uma equipe de projeto de desenvolvimento de novos produtos? E como seria a atuação do

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líder? Agora, pensando/lembrando o último projeto que você participou, como foi o

compartilhamento do conhecimento entre a equipe? E como foi a atuação do seu líder de

projeto nisso? Citar exemplo.

3. Como um líder deveria proceder para reter os conhecimentos adquiridos pela equipe nesse

processo? Agora pensando em sua experiência, como você se preocupa em reter esse

conhecimento adquirido? Você poderia relatar uma experiência sua aonde houve a

retenção de conhecimento? Porque você considera que isso ocorreu? Agora você poderia

contar uma experiência que não houve a retenção de conhecimento? Na sua opinião como

e porque nesse caso não houve a retenção de conhecimento? Agora pensando nessas duas

situações o que você pode aprender?

4. Que ações seu líder de projeto usa para criar um clima que promova a aprendizagem?

Quão perto ou longe estas ações estão do “clima desejado/esperado” que você considera

importante para a criação de um clima promotor da aprendizagem?

5. Conte como ocorria a aprendizagem antes da existência do Funil de Inovação. O que

mudou com a introdução do Funil de Inovação?

6. Tem mais alguma coisa sobre os temas aprendizagem e liderança que você gostaria de

acrescentar?