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0 UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Paula de Seixas AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: O OLHAR DE ALUNOS DO 3º ANO DO ENSINO MÉDIO São Paulo 2010

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS ... · terceiro ano do ensino médio de uma escola estadual localizada na zona central de São Paulo. Nesta atividade os alunos

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Paula de Seixas

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: O OLHAR DE ALUNOS DO 3º

ANO DO ENSINO MÉDIO

São Paulo

2010

Paula
Note
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Paula de Seixas

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: O OLHAR DE ALUNOS DO 3º

ANO DO ENSINO MÉDIO

Trabalho de Conclusão de Curso de Ciências Biológicas para obtenção de título de Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Professora orientadora: Dra. Rosana dos Santos Jordão

São Paulo

2010

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Paula de Seixas

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: O OLHAR DE ALUNOS DO 3º

ANO DO ENSINO MÉDIO

Monografia Apresentada ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como parte dos requisitos exigidos para a conclusão do Curso de Ciências Biológicas.

BANCA EXAMINADORA:

______________________________________________

Profa. Orientadora: Dra. Rosana dos Santos Jordão.

______________________________________________

Prof. Dr. Adriano Monteiro de Castro.

______________________________________________

Profa. Dra. Patrícia Fiorino.

São Paulo, 07 de dezembro de 2010

Paula
Note
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RESUMO

A avaliação da aprendizagem é de suma importancia no processo de construção do

conhecimento. Percebemos que ela vem assumindo um papel bastante diferente de

seu propósito, sendo utilizada como forma de controle sobre os alunos, assumindo,

portanto um caráter negativo para eles. Tendo isto em vista e observando os altos

índices de reprovação e consequente evasão das escolas, nota-se uma necessidade

em reverter esta situação, praticando uma reflexão sobre como a avaliação da

aprendizagem esta sendo empregada atualmente nas escolas. Com isso, o objetivo

deste trabalho é, justamente, refletirmos sobre o tema avaliação da aprendizagem,

identificando as idéias presentes em alunos do terceiro ano do ensino médio sobre

este tema e relacioná-las com as práticas usuais de avaliação nas escolas

brasileiras. Para isso, foram coletados desenhos representativos de um momento

marcante de avaliação da aprendizagem para 28 alunos do terceiro ano do ensino

médio de uma escola estadual localizada na zona central de São Paulo.

Posteriormente, estes desenhos foram analisados segundo o referencial teórico. Ao

que parece, os alunos possuem uma visão bastante tradicional do momento

avaliativo, com uma imagem estereotipada, com carteiras enfileiradas, todas

orientadas para a mesma direção e atividades individuais.

Palavras-chave: Avaliação da aprendizagem. avaliação formativa. avaliação

classificatória.

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ABSTRACT

Learning evaluation is a very important part of knowledge construction. Nowadays,

however, it is assuming a role that is different from what it was originally intended for.

Its use as a form of control over students explains the negative opinions students had

about them. With that in mind, and by observing the high failure rates and the

consequent high level of evasion, one can conclude there is a need to revert this

situation, primarily by reflecting on how learning evaluation is being used in schools.

Therefore, the objective of this work is to reflexive of learning evaluation, identify

ideas that senior high school students have about the subject and relate them to the

common practices in Brazilian schools. For that purpose, 28 drawings from senior

students were collected. These drawings represented important moments in their

learning evaluations. Later, these drawings were analyzed according to the

reference. Alarmingly, it was found that students house a traditional opinion about

evaluation – a stereotyped image with desks in rows, all oriented in the same

direction and with individual activities.

Keywords: Learning evaluation. Formative assessment. Classifying assessment.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 6

2. REFERENCIAL TEÓRICO 8

2.1. OS DESENHOS 11

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 14

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 16

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 47

6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48

APÊNDICE 1 – CARTA DE INFORMAÇÃO À INSTITUIÇÃO 49

APÊNDICE 2 – CARTA DE INFORMAÇÃO AO PROFESSOR 51

APÊNDICE 3 – INSTRUMENTO 53

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1. INTRODUÇÃO

É inegável que o processo avaliativo é de extrema importância na formação

do aluno. É durante este processo que podemos avaliar o que o aluno aprendeu e,

assim, saber se ele cumpriu com os objetivos propostos pelo professor. A avaliação

também vai fornecer estas informações ao docente para que ele possa, a partir de

reflexões, melhorar cada vez mais a sua prática avaliativa.

Este processo não foi sempre estruturado como está hoje. Apesar de ter

passado por diversas mudanças ao longo dos anos até chegar ao estado atual,

houve uma constatação de que a avaliação está sujeita a falhas e assim o

verificamos em sala de aula, com os altos índices de reprovação. Com isso, passou-

se a ter uma preocupação em como este processo está organizado. Os estudos que

tratam deste assunto começaram a questionar sua validade deixando evidente a

preocupação em mudar esta situação.

Percebemos que grande parte dos alunos, temem este processo avaliativo

devido ao seu caráter classificatório e punitivo. Isto fica muito evidente quando

perguntamos a qualquer pessoa qual sua opinião sobre avaliação, não apenas a

estudantes, mas a pessoas de diferentes faixas etárias, inclusive aos professores.

Hoffmann (1999) relata que realizou diversos encontros com professores, desde o

ensino básico até a universidade. Nestes encontros, ela conversava com eles sobre

o tema avaliação. Sua coleta de dados confirma o que já foi dito: os professores

também temem e, a grande maioria, não gosta de “provas”. Mesmo assim, dizem

não encontrar outro modo de avaliar seus alunos.

É muito importante o questionamento durante processo de construção do

conhecimento. Não podemos pensar na solução dos problemas sem antes os

detectarmos. Por tanto, acredito que seja de extrema importância que os estudos e

as pesquisas nesta área tenham continuidade, para que, em um futuro não muito

distante, possamos modificar esta realidade, contribuindo para uma melhoria na

educação em nosso país.

Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo refletirmos sobre o tema

avaliação da aprendizagem, identificando as idéias deste tema presentes em alunos

do terceiro ano do ensino médio e relacioná-las com as práticas usuais de avaliação

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nas escolas brasileiras. A principal questão que sustenta este trabalho é: o que os

alunos do terceiro ano do ensino médio pensam sobre avaliação da aprendizagem?

A fim de respondê-la, organizamos este trabalho em 6 capítulos: introdução,

referencial teórico, metodologia, resultados e discussão, considerações finais e

referencias bibliográficas. O referencial teórico trata especificamente da avaliação da

aprendizagem, dando um breve histórico da mesma e explicitando como ela está

estruturada hoje e sua importância no processo de construção do conhecimento. Ele

também contém um subitem que trata especificamente de desenhos, explicando sua

importância para, assim, entendermos o porquê da escolha de se fazer a coleta de

dados utilizando esta ferramenta. Na sequência, explicamos nossas decisões no que

se refere à metodologia.

Para a coleta dos dados, foi aplicada uma atividade em uma sala de aula do

terceiro ano do ensino médio de uma escola estadual localizada na zona central de

São Paulo. Nesta atividade os alunos tinham que fazer um desenho representativo

de um momento avaliativo realizado por eles a qualquer momento de sua vida

escolar e que tenha o marcado de alguma forma.

Pela natureza de nossos dados, optamos por apresentar os resultados

juntamente com a análise no capítulo resultados e discussão. Neste, analisamos os

resultados de acordo com o referencial teórico. Por fim temos as considerações

finais e as referências bibliográficas.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

A avaliação como prática de avaliar já é conhecida e utilizada há muito tempo,

não no ramo da educação, mas em outras áreas de conhecimento. É por essa razão

que os dicionários mais generalistas, mesmo os mais atuais, não utilizam a palavra

avaliação para a educação, mas dão seu significado para as outras áreas. A palavra

avaliação só passou a ser utilizada na área de educação por volta de 1970, na

França, com o intuito de renovar o vocabulário escolar (BARLOW, 2006).

Mas o que é um processo avaliativo? O que é a avaliação? Cada autor

procura defini-la a seu modo. Assim, Hadji (2001) afirma que o objetivo da avaliação

é contribuir para alcançar o sucesso do ensino, ou seja, contribuir no processo de

construção do conhecimento e das competências e habilidades dos alunos.

Perrenoud (2007), ao explicar como a avaliação está sendo feita hoje, diz que

ela se resume a “criar hierarquias de excelência” em que os alunos são classificados

e comparados segundo a norma de excelência que é definida pelo professor e por

aqueles considerados “melhores” alunos. Neste mesmo sentido, complementa que

antes de a avaliação regular o processo de aprendizagem, ela “regula o trabalho, as

atividades, as relações de autoridade e a cooperação em aula e, de uma certa

forma, as relações entre a família e a escola ou entre profissionais da educação.”

(PERRENOUD, 2007, p.09-11).

Para Barlow (2006, p.13), “A avaliação lembra um parente próximo da

educação”. Em latim, educare significa levar, conduzir de um ponto a outro e, o

professor, seria o “ „molde‟ que pretende imprimir sua marca no espírito ainda

maleável das jovens gerações”.

Hoffmann (2000, p.95), a partir de suas reflexões sobre o significado desta

prática a classifica de duas formas. A primeira, como “avaliação classificatória”, em

que o processo avaliativo se resume a “corrigir tarefas e provas do aluno para

verificar respostas certas e erradas” e, a partir destas, decidir se o aluno aprendeu

ou não para aprová-lo ou reprová-lo, ou seja, uma prática avaliativa tradicional. A

outra é a “avaliação mediadora”, em que se consideram todas as atividades dos

alunos, todas as situações de aprendizagem, a fim de se verificar o caminho que ele

percorreu para construir seu conhecimento. Este tipo de avaliação permite que o

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aluno erre e que aprenda com seu erro e é este processo de construção que é

considerado na avaliação mediadora para decidir sobre a sua aprovação.

Perrenoud (2007, p.18) ainda classifica a avaliação formativa, como sendo

aquela que regula a ação pedagógica. Para ele, “A avaliação tradicional, não

satisfeita em criar fracasso, empobrece as aprendizagens e induz, nos professores,

didáticas conservadoras e, nos alunos, estratégias utilitaristas”. A avaliação

formativa, defendida por ele, ao contrário da tradicional tem o papel de verificar se o

aluno está conseguindo atingir os objetivos propostos e de que forma o faz. Permite

que, a partir de seus erros, consiga aprender.

A avaliação, quando aplicada em sala de aula, atua de diversas formas.

Freitas (2009) destaca três importantes componentes da avaliação: o primeiro deles

é o aspecto “instructional” em que se avalia o conteúdo e as habilidades em provas,

trabalhos e etc. O segundo é a avaliação do “comportamento” que é um grande

aliado no controle da sala pois o professor detem do poder de aprovar ou reprovar o

aluno através dos resultados de provas, de notas, então este é tido como uma

ameaça para os alunos. O terceiro e ultimo é a avaliação de “valores e atititudes” e,

este, ocorre diariamente na sala de aula e “consiste em expor o aluno a reprimendas

verbais e físicas”. (FREITAS, 2009, p.42).

Ainda segundo Freitas (2009) a avaliação também ocorre em dois campos

distintos: um “formal” e um “informal”. Assim, neste plano formal estão todos os

trabalhos, provas e atividades, todas as ferramentas utilizadas pelo professor que

conduzem a uma nota final, enquanto que no plano informal estão todos os “juízos

de valor” que acabam por influenciar nos resultados finais, visto que estes foram

construídos das interações que ocorrem entre professores e alunos dentro da sala

de aula.

Para Barlow (2006, p.14) “avaliar é efetuar uma comparação entre o que se

constata e o que se esperava; entre um real e um ideal”. Ainda segundo esse autor,

a avaliação serve para que o professor possa ajustar seu trabalho em função do

feedback dos alunos. Isso quer dizer que ninguém “fala apenas pelo prazer de falar”,

“só um tagarela patológico” o faz e todos, na verdade, se preocupam “em ser ouvido

e compreendido”. Isso quer dizer que a avaliação tem, entre outras, a finalidade de

adaptar o discurso do professor, segundo esse feedback dos alunos.

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Como se pode notar, há uma tendência na literatura de pensar na avaliação

de modo diferenciado daquela que tradicionalmente vem ocorrendo nas escolas.

Sobre esses estudos, destacamos o trabalho de Hoffmann (1996). Ela realizou

diversos encontros com professores que atuam desde a pré-escola até a

universidade. Nestes encontros, ela costumava fazer alguns jogos para coletar

informações sobre as concepções que esses profissionais tinham acerca da

avaliação.

Tenho solicitado a esses professores, no início de nossos encontros, que relacionem a palavra „avaliação‟ a algum personagem. É um jogo interessante, cujas respostas revelam imagens de dragões, monstros de várias cabeças, guilhotina, túneis escuros, labirintos e carrascos...Outras imagens evocam objetos-surpresa ou de controle: bolo de faz-de-conta, embrulho de presente, radar, termômetro, balança...Raras vezes surgem imagens de cunho positivo relacionadas à palavra. As justificativas da escolha dessas imagens, representativas de avaliação, expressam com intensidade a concepção pejorativa inerente ao termo. O jogo é revelador e desestabilizador (HOFFMANN, 1996, pág 13-14).

Além do caráter negativo atribuído ao processo avaliativo, Hoffmann (1996)

também percebeu que a maioria dos professores, bem como os alunos, definem a

avaliação como “prova, nota, conceito, boletim, recuperação, reprovação”. Apesar

disso, grande parte dos docentes, que participou de seus encontros e que utilizou

estas representações negativas, sabe que a avaliação não deveria ser assim,

porém, dizem não encontrar outra definição.

Neste contexto, vamos então explicitar como entendemos a avaliação.

Consideramos que um processo avaliativo consiste em verificar se os alunos estão

aprendendo, isto é, se estão atingindo os objetivos propostos pelo professor, por

meio de atividades e de instrumentos adequados. É importante que essa avaliação

não seja um momento pontual, sem retorno para os alunos. Ela deve mediar a

aprendizagem. Para tanto, deve fornecer informações sobre o quê e o porquê os

alunos erraram. É nesse sentido que ela se torna um feedback para os professores,

pois é com este retorno das atividades dos alunos que eles poderão verificar se

estão cumprindo com seu objetivo e, por meio de uma reflexão acima destes

resultados, o professor poderá modificar sua prática, caso veja a necessidade.

Nesse sentido, Hadji (2001) complementa que a avaliação deve ser contínua,

formativa e individualizada, sendo ela, mais um elemento no processo ensino-

aprendizagem. Os professores devem colocar a avaliação a serviço das

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aprendizagens, de modo que a uma prática de avaliar deve auxiliar a prática de

aprender. Isto permite que o professor conheça o resultado de suas ações didáticas,

podendo assim, melhorá-las.

Mas, é fato que isto não é uma realidade, não é o que acontece no ensino

hoje. Ao falar sobre avaliação os alunos expressam valores negativos. É raro

encontrar um aluno que, ao tratar desse tema o faz expressando aspectos positivos.

Um fator que contribui para que o processo avaliativo possua este carater negativo

para os alunos é que, muitas vezes, o retorno das atividades vem em forma de nota.

Barlow (2006, p.29) acrescenta que números, por si só, não possuem nenhum valor

sentimental. Porém, no ramo da educação, “apesar das aparências, o número tem

conotações afetivas no mínimo tão fortes quanto a palavra – inclusive em sua

pretensão de objetividade absoluta”.

Este fato contribui fortemente para o grande impacto que o processo

avaliativo tem na vida escolar dos alunos. Apesar de cada caso ser um caso, a

maioria acaba por carregar consigo, ao longo de toda a vida escolar, marcas de

suas experiências em práticas avaliativas, que podem prejudicá-lo tanto em sua vida

acadêmica como em sua vida profissional.

Partindo do pressuposto de que a avaliação deixa marcas nos alunos, nosso

objetivo é verificar que marcas são essas. Desejamos investigar qual a visão de

alunos do 3º ano do Ensino Médio sobre as práticas avaliativas que mais marcaram

sua vida escolar, o que será feito por meio de desenhos.

2.1. OS DESENHOS

É necessário, antes de mais nada, entendermos o porquê dessa escolha, isto

é, entendermos qual a importância dos desenhos no processo ensino-

aprendizagem.

Para Santos (2000, p.17), “trabalhar com os desenhos é trabalhar com novas

formas de ver, compreender as „coisas‟ e verificar-comprovar as próprias idéias. O

sujeito, quando desenha, expressa uma visão e um raciocínio.” Ainda segundo esse

autor, quando pedimos para os alunos desenharem, eles se sentem inseguros pois,

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neste momento, precisam construir seu próprio conhecimento. Não há nenhuma

ferramenta ou fórmula, nada que lhes possa ser útil para ajudá-los. O desenho

depende, única e exclusivamente, da criatividade deles.

Peres (1993) acrescenta que a expressão escrita ou a oral, normalmente, é

supervalorizada nas escolas, o que acaba impedindo que o aluno se expresse de

outras formas. Em nenhum momento, autora questiona a importância da expressão

oral ou da escrita, mas salienta a necessidade da utilização de outras formas de

expressão além destas usuais, que poderiam ser bastante úteis como ferramentas

no processo ensino-aprendizagem.

Neste sentido, Piaget (1996, apud Dutra) define representações da seguinte

forma:

Usa-se o termo „representação‟ em dois sentidos muito diferentes: num sentido mais amplo, a representação é confundida com o pensamento, ou seja, com toda inteligência que se apóia num sistema de conceitos; num sentido mais estrito, reduz-se à imagem mental, isto é, às lembranças simbólicas de realidades ausentes. Essas duas espécies de representações se relacionam entre si, e, nessa relação, a imagem é um símbolo concreto, em oposição ao conceito, geralmente mais abstrato. Embora o pensamento não se reduza a um sistema de imagens, ele se faz acompanhar de imagens. „Portanto, se pensar consiste em interligar significações, a imagem será um significante, e o conceito, um significado‟ (PIAGET apud DUTRA, 1996, p.23)

Santos (2000) também faz uma classificação para os desenhos, diferente da

de Piaget, dividindo-os em “naturais” e os “imitativos”. Os naturais são os criativos,

os espontâneos. São construídos de acordo com seus conhecimentos e valores. Os

desenhos de tipo imitativo são os “copiados”, ou seja, aqueles em que a pessoa já

carrega consigo uma imagem de algum objeto e, toda vez que vai desenhar aquele

objeto, desenha-o da mesma forma, de modo condicionado. Esse autor destaca que

os desenhos revelam muito sobre a natureza do pensamento humano e sobre suas

experiências de vida.

Quando lidamos com desenhos, estamos lidando com o aspecto visual do pensamento e da memória. Os estudos de comunicação têm-se concentrado principalmente sobre os vocabulários, esquecendo o mundo visual. O desenho colabora com o potencial informacional do mundo, trazendo uma comunicação diferente da escrita: a comunicação visual. (SANTOS, 2000, p.17,18).

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As imagens, desenhos e figuras, quando representam um fato, normalmente

não precisam de legendas, elas dizem por si só o ocorrido. Além disso, quando esta

mesma ação é narrada, pode ser uma narrativa bastante extensa.

A figura, além de proporcionar a imediata compreensão da ação, parece ser mais rica em detalhes do que a linguagem escrita, facilitando a interpretação e também dando margem à criatividade pessoal (PERES, 1993, p. 16).

Tomando como base as idéias desses autores, esperamos em nosso trabalho

que, a partir de uma reflexão sobre sua experiência mais marcante de um momento

avaliativo, os alunos construam desenhos que representem sua percepção acerca

deste momento.

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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para cumprirmos com o objetivo de identificar as idéias de avaliação da

aprendizagem presentes em alunos do terceiro ano do ensino médio, foram

realizadas coletas de desenhos que expressassem momentos de avaliação

marcantes de sua vida escolar. Esta coleta foi realizada com 28 alunos regularmente

matriculados no período matutino de uma escola estadual localizada na região

central de São Paulo.

Foi utilizado o desenho como recurso de expressão pois, em muitas

situações, ao nos depararmos com uma ilustração de um fato, a escrita que

acompanha esta figura parece dizer muito pouco sobre o ocorrido. A figura dá a

imediata compreensão do ocorrido, quando retrata um fato, enquanto a narrativa

pode ser muito longa e não tão rica em detalhes. A figura além de facilitar a

interpretação, também permite que o aluno exerça sua criatividade (Peres, 1993).

Antes de realizar a coleta dos dados, foi necessário obter a aprovação da

escola. Para isso, foi entregue à direção da mesma uma carta de consentimento

(Apêndice 1). Nesta carta, constam as informações sobre a atividade a ser realizada

pelos alunos. Após a aprovação da escola foi necessário obter a aprovação do

professor pois, para a realização da coleta dos dados foi utilizado o tempo de uma

aula do mesmo. O professor também foi informado de toda a atividade por meio de

uma carta de consentimento (Apêndice 2). A atividade só foi realizada quando houve

a aprovação de todos os membros envolvidos, inclusive dos alunos que, antes da

realização da atividade, foram avisados sobre a mesma e da possibilidade de não

participar pois não eram obrigados a colaborar com esta pesquisa, podendo desistir

a qualquer momento. Não só os alunos como todos os membros da escola,

envolvidos na atividade, foram informados do livre arbítrio de desistir desta em

qualquer momento. Vale ressaltar que garantimos aos participantes o total

anonimato.

Com o intuito de conhecermos as idéias dos alunos acerca da avaliação, foi

distribuída a cada estudante uma folha sulfite com um cabeçalho no qual se

explicava a finalidade da atividade. Em seguida, informamos o objetivo do trabalho

e o destino dos dados coletados, bem como demos a garantia de anonimato dos

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participantes. Após o cabeçalho estava descrita a atividade realizada pelos alunos

(Apêndice 3).

A comanda da atividade foi a seguinte:

1. Pense em um episódio marcante de avaliação da aprendizagem vivido por

você, em qualquer época de sua vida escolar. Considere um episódio

marcante, aquele que deixou marcas em você. Essas marcas podem ser

positivas ou negativas.

2. Faça um desenho que represente este episódio.

Os alunos tiveram o tempo de uma aula para a realização da atividade, ou

seja, cinquenta minutos. Porém, se considerarmos o tempo que foi gasto com a

distribuição da atividade e com a explicação oral da mesma, eles tiveram, na

verdade, aproximadamente trinta minutos para elaborar o desenho.

Vale destacar que, no momento de apresentar a tarefa aos alunos,

ressaltamos que o desenho era livre e que não se tinha a pretensão de que fosse

artístico. O que interessava era a representação do momento avaliativo em si e só

isto seria levado em consideração nesta análise que, portanto, é uma análise de

abordagem qualitativa e não quantitativa.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com o intuito de cumprirmos com o objetivo do trabalho de identificar as

idéias de avaliação da aprendizagem presentes em alunos do terceiro ano do ensino

médio e relacioná-las com as práticas usuais de avaliação nas escolas brasileiras,

vamos analisar cada um dos 28 desenhos individualmente e relacioná-los com o

referencial teórico.

Nossos resultados mostram que grande parte dos alunos carregam consigo

uma percepção bastante tradicional do momento avaliativo. Nesta visão tradicional,

as carteiras são todas orientadas para a mesma direção, isto é, para a mesa do

professor e para a lousa. São dispostas em fileiras e os alunos fazem suas

atividades individualmente, como se observa nas figuras de 1 a 7.

Figura 1: Neste desenho pode-se observar a disposição enfileirada das carteiras voltadas para a mesma direção e isoladas e a conversa entre os alunos.

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Figura 2: Neste desenho podemos observar a disposição das carteiras enfileiradas, voltadas para a mesma direção e isoladas.

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Figura 3: Neste desenho podemos observar a organização de uma sala de aula que se encontra vazia. As carteiras estão enfileiradas, voltadas para a mesma direção e isoladas.

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Figura 4: Este desenho mostra as carteiras enfileiradas, voltadas para a mesma direção e isoladas.

Figura 5: Nesta figura podemos ver as carteiras enfileiradas, isoladas e voltadas para a mesma direção.

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Figura 6: Este desenho mostra as carteiras enfileiradas, isoladas e voltadas para a mesma direção.

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Figura 7: Este desenho mostra as carteiras enfileiradas, isoladas e voltadas para a mesma direção.

Antes de analisarmos mais detalhadamente as figuras acima, é válido

mencionar que, normalmente, nesta escola, as carteiras são dispostas em fileiras

voltadas para frente. Porém, estas fileiras são organizadas em duplas, ou seja, três

fileiras com duas carteiras em cada. Essa disposição não é a observada nos

desenhos. Neles, as carteiras são representadas de modo isolado, indicando a

realização de atividades individualizadas, o que reforça a imagem estereotipada do

momento avaliativo tradicional. Na avaliação tradicional o foco é a aprendizagem

individual, partindo-se do princípio que todos os alunos devem aprender as mesmas

coisas, na mesma velocidade e intensidade. Segundo Perrenoud (2007), esse tipo

de avaliação é classificatória e promove a competição entre os alunos. Este tipo de

avaliação tem, portanto, a ambição de situar os alunos, uns em relação aos outros.

Além da organização tradicional da sala de aula, como já mencionado

anteriormente, existe outro aspecto importante de ser mencionado que é observado

claramente nas figuras 1 e 2 e diz respeito à famosa cola. Na figura 1, notam-se dois

alunos pedindo explicitamente aos colegas: “fala mais” e “fala o resto”. Outros dois

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conversam: “blá, blá, blá”. Podemos supor que a atividade proposta é individual,

devido à disposição das carteiras e ao fato de que apenas quatro em dez alunos

estarem conversando. Concluímos, então, que estão pedindo cola. O mesmo

acontece na figura 2. Um aluno sai de seu lugar e vai à carteira do colega, enquanto

o professor está de costas, escrevendo na lousa. Nas folhas pode-se ler a palavra

“prova”. Na lousa, está escrito Prova de Geografia e se pede silêncio.

A cola é uma realidade presente nas escolas, pois os alunos estão cada vez

mais preocupados em serem aprovados, em passar de ano e, para isso, eles

precisam tirar uma boa nota, mesmo que isso implique em transgredir a regra

conversando com os colegas quando a ordem do professor é de silêncio (como

observado na figura 2). Os alunos estão cada vez mais conformados a relacionar a

aprendizagem há algo que só tem valor para conseguir notas. Não só para passar

de ano, mas também para mostrar para o professor e para os colegas, assim o

“aprender para „mostrar conhecimento ao professor‟ tomou lugar do „aprender para

intervir na realidade‟. Essa é a raiz do processo avaliativo artificializado da escola”

(FREITAS, 2009, p.40).

Por todas estas características percebemos que os alunos estão mais

interessados na nota do que em saber sobre seus avanços e dificuldades. Por isso a

cola esta sendo representada aqui. Por tanto, nos parece que ambos se aproximam

mais de uma avaliação classificatória.

A disposição das carteiras na figura 3 é a mesma já descrita nas figuras 1 e 2,

evidenciando uma avaliação tradicional. No entanto, chamou-nos a atenção o fato

da sala estar vazia e do relógio fixado na parede indicar 12h20, horário em que as

aulas já se encerraram. Há ainda, sinais de interrogação ao redor de uma das

carteiras. Considerando-se que foi pedido aos alunos que desenhassem um

momento de avaliação da aprendizagem que os tenha marcado de alguma forma,

este desenho pode representar um momento muito particular. É possível que o autor

tenha tido dificuldades em finalizar a atividade no tempo estipulado. No entanto, para

maiores esclarecimentos, seria necessária uma entrevista com o aluno que o

realizou.

Na figura 4, além de evidenciar mais uma vez um episódio de avaliação

tradicional, ela traz elementos importantes acerca da interação entre professor e

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aluno em momentos de avaliação. Neste episódio, os alunos cometem um delito.

Eles mexeram nas coisas pessoais do professor sem a sua autorização, para ver a

prova e, como diz no desenho, eles já sabiam as respostas. Ninguém assumiu a

culpa, então o professor ficou decepcionado ao perceber que haviam mexido em

suas cosias e ameaçou dar nota zero para todos os alunos, como um castigo. Por

alguma razão que não podemos inferir, mudou de idéia e “deu uma segunda

chance” aos alunos, que por essa razão afirmam que o amam, que ele é bonzinho.

Este episódio nos remete a uma pergunta: o que está sendo ensinado a estes

alunos neste episódio? Retornemos ao terceiro componente da avaliação proposto

por Freitas (2009) da avaliação de “valores e atititudes” que está presente

diariamente na sala de aula. Para relembrar, esta “consiste em expor o aluno a

reprimendas verbais e físicas” (FREITAS, 2009, p.42). Aqui nos deparamos a uma

situação em que o professor ensina a seus alunos que a nota é o mais importante,

então ele expõe os alunos a uma reprimenda, dizendo que esta “muito

decepcionado” e que vai dar uma nota zero para todos os alunos por eles terem

mexido em suas coisas sem autorização e por não revelarem o culpado. Este

episódio evidencia a valorização que os alunos dão a nota e que, por isso, buscam

meios alternativos de obtê-la, como a cola.

Ainda temos neste episódio o fato de o professor não manter o que havia dito,

ele dá uma segunda chance ao alunos não dando zero para todos e, por isso, é tido

como um professor bonzinho. Isto nos remete ao segundo componente da avaliação

proposto por Freitas (2009) que é do “„comprtamento‟ do aluno em sala” (FREITAS,

2009, p. 41) e, neste caso, a nota esta sendo a ferramenta de controle do professor

para se conseguir a obediência dos alunos.

As figuras 5 e 6 representam o mesmo momento avaliativo. Podemos fazer

essa afirmação porque os autores dos respectivos desenhos colocaram o nome do

professor nas figuras, que foi retirado para preservar a identidade do mesmo. Em

ambos, percebemos a organização tradicional da sala de aula, mas também estão

representadas algumas estratégias do professsor. Percebemos que durante a prova

os alunos representados estão com pontos de interrogação a sua volta e, devido a

fala representada no balão de um aluno, podemos inferir que não houve um diálogo

entre professor e aluno pois, os alunos estavam esperando que esta professora

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cobrasse o conteúdo trabalhado em sala e não foi isso que aconteceu, segundo a

fala representada no desenho.

Não podemos afirmar o que foi cobrado nesta prova pois, de acordo com o

desenho 5, parece que o cobrado na prova foi o conteúdo de algum filme assistido

em sala “Ah é, ela passou um filme...”, porém, quando olhamos o desenho 6, a aluna

diz que “a professora esta pedindo matéria que ela não deu”. Isso demostra que os

alunos já possuem a expectativa de serem avaliados pela matéria dada em sala de

aula e, devido a fala no desenho 5, percebemos que os alunos tem dificuldade em

reconhecer o filme como atividade pedagógica e como conteúdo de aula. Não só

filmes, outros tipos de atividades também, como passeios, diálogos, tudo que foge

deste padrão de aula expositiva. Ou seja, estes desenhos se aproximam de uma

avaliação tradicional.

A figura 7 evidencia a realização de um simulado, uma prova preparatória

para a realização de exames de vestibulares. Na lousa podemos ler: “teste aqui seus

conhecimentos”. A autora do desenho, aparentemente triste, constata: “É... acho que

eu descobri agora que não tenho muitos conhecimentos...”. O desenho mostra

como situações de exame podem ser desgastantes e desistimulantes. Percebemos

que o instrumento utilizado neste exame parece não ser compatível à forma como o

trabalho pedagógico possivelmente foi desenvolvido ao longo de sua vida

academica. Claro que a aluna representada neste desenho possui conhecimentos

porém é provável que não consiga aplicá-los neste instrumento. Daí este sentimento

expresso em seu rosto de tristeza, de impotencia por não conseguir aplicar seus

conhecimentos.

Neste sentido Hadji (2001) diz que a avaliação não tem como objetivo

eliminar os alunos, mas sim de orientá-los na construção do conhecimento. Assim, a

importância da avaliação está em ser um guia na aprendizagem e no

desenvolvimento do aluno, pois seu papel é o de informar os alunos sobre suas

dificuldades e seus erros, tornando-o capaz de verificar estes erros e buscar por

saídas para corrigi-los.

O tão discutido “erro” do aluno não é algo para se temer, não deve ser uma

reprimenda, mas sim uma fonte de informação tanto para o professor como para o

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aluno, que precisa compreender seu erro para não mais repeti-lo, adquirindo, assim,

conhecimento.

Na figura 8, a seguir, embora seja representado apenas um aluno,

percebemos que sua carteira está voltada para a mesa do professor e para a lousa,

semelhante às figuras 1 a 7, o que, conforme já discutimos, nos remete a uma

organização tradicional da avaliação. Importante destaque deve ser dado à

representação da professora. Ela usa uma saia longa e um chapéu. Sua imagem

nos lembra uma bruxa. A lágrima abaixo do olho esquerdo do aluno e o gesto que

ele faz com sua mão direita evidenciam que ele ficou bastante infeliz com a

professora. Podemos notar que a avaliação aqui representada foge de seu propósito

primordial, perdendo seu significado básico de investigação e dinamização do

processo de conhecimento. Segundo Hoffmann (1996), enquanto ela for realizada

com uma função burocrática e classificatória, vai continuar servindo ao professor,

como um simples registro de resultados e ao aluno, como um momento de terror.

Figura 8: Neste desenhos podemos notar a imagem da professora que nos remete a uma bruxa e o aluno esta com uma lágrima no olho esquerdo e gesticulando com a mão direita.

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Podemos perceber, em alguns desenhos, que a estratégia que o professor

utiliza na aula deixa marcas nos alunos. Estas estratégias podem ser positivas ou

negativas conforme podemos verificar nas figuras 9 a 17.

Figura 9: Neste desenhos percebemos uma sala de aula com as carteiras dispostas em círculo e podemos notar um projetor ligado em cima da mesa do professor.

Na figura acima, percebemos claramente que a estratégia utilizada pelo

professor deixou marcas positivas neste aluno. Esta organização das carteiras foge

completamente daquela encontrada numa sala tradicional, descrita anteriormente.

Percebemos aqui uma sala de aula modificada, com as carteiras formando uma roda

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e com uma aula não expositiva, evidenciada pela escrita do aluno: “como se fosse

um simples diálogo”. Então, devido a estas características apresentadas, concluímos

que esta representação se aproxima muito mais de uma avaliação formativa.

Figura 10: Neste desenho podemos notar a professora de pé próxima a lousa e a sua mesa, na lousa está escrito o tema da aula: “Legalização da maconha. Sim ou não? Filosofia”.

Assim como na figura 9, a figura 10 indica uma estratégia de ensino

diferenciada que, também, se aproxima mais de uma avaliação formativa. A

professora propõe a discussão sobre a “legalização da maconha”. Inferirmos que se

trata de uma discussão devido ao questionamento colocado na lousa: “sim ou não?”,

o que nos remete a um diálogo, a uma discussão e não a uma aula expositiva,

embora haja um balãozinho próximo à professora, em que constam: blá, blá, blá.

Consideramos difícil julgar se o momento registrado foi positivo ou negativo para o

aluno. Se por um lado há indicação de diálogo, por outro pode ser que a professora

tenha assumido integralmente a palavra.

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Figura 11: Neste desenhos percebemos a professora na frente da sala, ao lado de sua mesa e da lousa e ela esta um trabalho para os alunos.

A figura 11 evidencia a avaliação de modo positivo. Deixemos claro que

quando nos referimos a uma estratégia positiva, estamos dizendo que foi positiva

para o aluno que a desenhou e não, necessariamente, a todos os alunos da sala. O

desenho indica que os alunos reconhecem que estão efetivamente aprendendo: “só

agora aprendemos de verdade” e associam essa aprendizagem ao fato da

professora ser exigente e cobrar várias tarefas, o que fica reforçado pelos dizeres

apresentados ao balão que expressa o pensamento da professora: “eu sei que

passo muitos trabalhos, mas é bom para vocês”. Entretanto, vale a pena destacar

neste desenho a valorização do aprender para o vestibular pois, na fala da menina,

ela diz que foi ótimo eles terem lido muitos livros e analisado todos eles pois todos

vão “cair na FUVEST”.

Mudando um pouco o tema, os desenhos a seguir evidenciam a relevância da

nota na avaliação. O apego à nota é algo muito presente nas escolas e Barlow

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(2006) evidencia a distorção associada a seu uso. Ele questiona o uso de notas para

“medir” a aprendizagem, fazendo analogias com o uso de valores numéricos para

medir centímetros a partir um instrumento de precisão.

As figuras 12 a 17 evidenciam a alegria dos alunos ao tirarem nota dez.

Figura 12: Esta figura mostra um aluno com uma prova na mão escrito “10” e o professor sentado em sua mesa próximo a lousa.

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Figura 13: Esta figura mostra uma avaliação de inglês com 5 questões que estão todas certas e uma nota “10” no final. Mostra também um aluno com um sorriso no rosto.

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Figura 14: Este desenho mostra uma aluna com um sorriso no rosto e ela segura uma prova de matemática com a nota “10”.

Figura 15: Esta figura mostra uma prova de história com a nota “10”.

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Figura 16: Este desenho representa dois momentos, um em que o aluno diz que não foi bem na prova e esta com o rosto triste. No outro momento o aluno esta com um sorriso no rosto e esta segurando uma avaliação de química com uma nota “10” e diz que valeu a pena ter estudado.

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Figura 17: Este desenho mostra uma aluna apresentando um trabalho e a professora esta avaliando e por fim deu uma nota “10” a ela.

As figuras 12 a 14 representam momentos muito semelhantes, que é de um

aluno com uma prova em que a nota é 10. Percebemos que no desenho 12 não há

referências quanto a matéria, há apenas um professor sentado em sua mesa e a

nota escrita na prova, enquanto os desenhos 13 e 14 apresentam escrito na prova o

nome da matéria. Na 13 é prova de inglês e na 14 de matemática.

Barlow (2006) apud Geneviève Jurgensen diz que dar a nota máxima

desestimula o aluno, pois este acredita já ter alcançado a excelência enquanto que

não dar a nota máxima mostra ao aluno que ele tem sempre que melhorar, se

superar. Barlow (2006) e Freitas (2009) concordam que a nota ainda é o que detém

a autoridade do professor. Assim, se um aluno sempre tira a nota máxima, sua

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autoridade fica comprometida e o aluno começa a se achar no direito de se juntar ao

professor, no mesmo patamar.

Entretanto, um aluno, ao tirar a nota máxima, no caso das representações

acima, o tão conhecido “10”, demonstra que “„dar uma excelente nota a um trabalho

pode ser, portanto, uma verdadeira alegria para ele(...)‟ a felicidade de missão

cumprida.” (BARLOW, 2006, p. 41).

As figuras 15, 16 e 17 também representam o aluno tirando 10 porém, estas

apresentam alguns casos peculiares. Na 15 o aluno ficou feliz não só pela nota, mas

pelo fato de não ter estudado. Este caso já não se encaixa a sensação de missão

cumprida como nos desenhos anteriores, aqui encontramos uma sensação

diferente: a de ter conseguido tirar a nota máxima sem esforço algum. Se este é um

momento marcante para o autor deste desenho podemos supor que ele esta

preocupado com o resultado final, em ser aprovado e não em aprender, em construir

seu conhecimento. Portanto, podemos inferir que este aluno ficou feliz em conseguir

alcançar seu objetivo sem ter que se esforçar para isso.

A figura 16, ao contrário da 15, mostra a valorização do estudo prévio. Neste

desenhos estão representados dois momentos: um em que o aluno estudou pouco e

diz não saber se foi bem na prova e outro em que ele diz que valeu a pena estudar

pois tirou a nota 10. Neste segundo momento temos claramente a felicidade de

missão cumprida trabalhada por Barlow (2006).

A figura 17 também trata de um tema peculiar além da nota máxima

alcançada pela aluna. Neste a professora decide dar um 10 para a apresentação da

aluna e diz algumas características que a levaram a esta decisão: “você se expressa

muito bem! Tem facilidade e objetividade quando fala. Captou bem os pontos

principais do livro e de seu contexto de publicação.” Este momento mostra o caráter

subjetivo da avaliação.

Para todos estes desenhos (12 ao 17) que representam, principalmente o

apego a nota, é válido ressaltar que, como diz Perrenoud (2009), as notas escolares

não dizem muito sobre o que o aluno realmente sabe, elas apenas situam-no em

relação à sua classe, ou seja, mostram, através de notas, de números se este aluno

está acima da média, na média da sala, ou abaixo dela. Portanto, o professor

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deveria preferir uma avaliação com um carater mais qualitativo do que quantitativo, o

que seria menos classificatório (PERRENOUD, 2009).

Figura 18: Esta figura mostra uma interação entre professor e aluno. O aluno diz estar sendo ameaçado pelo professor.

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Figura 19: Esta figura mostra uma aluna sentada em uma mesa com uma boneca do lado direito representada dentro de um circulo e uma bola do lado esquerdo também dentro de um círculo.

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Figura 20: Esta figura mostra uma aluna ao lado da professora com algumas palavras e vogais escritas na lousa.

As figuras 18, 19 e 20 trazem uma característica em comum: a do controle do

comportamento relacionados a prêmio ou a punição. Na figura 18 temos a ameaça,

assim como o aluno julga em sua fala no balão, por parte do professor, ou seja, a

punição. Além disso temos a representação de uma faca pingando algum líquido

que nos sugere sangue e no outro balão temos símbolos que nos remetem a

xingamentos, palavrões.Temos ainda a representação de um raio acima da cabeça

do professor o que nos remete a raiva. Há uma seta que indica que o professor está

dirigindo a palavra a aluna e esta está com um ponto de interrogação em um balão

de pensamento. A partir destas características, este episódio nos sugere que o

professor está dando algum tipo de punição aos alunos e estes não estão

entendendo o porquê.

A figura 19 e 20 demonstram o prêmio, a recompensa. Na 19 a aluna diz ter

ganho um presente da professora por ter sido “uma aluna muito comportada e

criativa” e na 20 a professora parabeniza a aluna por ela ter conseguido ler e esta

fica feliz por ter conseguido.

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Figura 21: Este desenho mostra a mudança no pensamento do aluno em diferentes momentos ao longo do ano de 2010.

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Figura 22: Este desenho representa dois momentos, no primeiro é a busca pela vitória e, na segunda é a vitória alcançada.

Figura 23: esta figura mostra a professora elogiando o trabalho e o próprio aluno e este está representado com uma cara de assustado.

O desenho 21 mostra uma transformação nas idéias do aluno, relacionada ao

impacto do trabalho pedagógico realizado na escola. A leitura de um livro “os

maiores sábios” está relacionada a essa transformação. É Interessante notarmos

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que, ao ser pedida a representação de um momento de avaliação marcante, o aluno

tenha representado um momento de transformação marcante de seu saber,

associado a um trabalho pedagógico desenvolvido na escola. Isto nos indica,

fortemente, que este trabalho desenvolvido se aproxima de uma avaliação formativa.

Na figura 22 há a fala: “ninguém me diz até onde eu posso ir, pois só eu sei”.

Aqui existe uma forte relação com a construção da auto-estima em função da

avaliação que os outros fazem de nós. Podemos supor que este outro seja o

professor visto que a atividade pedia para o aluno representar um momento

avaliativo vivido por ele a qualquer momento de sua vida escolar. Temos aqui a

representação da influência que o professor tem de agir no plano informal. Segundo

Freitas (2009) o plano informal envolve a avaliação do comportamento e a avaliação

de valores e atitudes e, estas, quando juntas com plano formal, que é a avaliação

instrucional (conteúdo) resulta na auto-estima do estudante.

O desenho 23 também está associado a esta construção da auto-estima. O

elogio feito pela professora em outras salas dizendo que o aluno “era romântico,

inteligente e bonitinho” ultrapassa a aprendizagem conceitual pois ela elogia

características pessoais do aluno evidenciando a mesma avaliação no plano

informal, como já citada anteriomente.

Este plano informal é invisível mas ele acaba por influenciar fortemente no

plano formal. Segundo Freitas (2009) este campo informal regula a relação entre

professor e aluno e vice-versa. “Esse jogo de representações vai construindo

imagens e auto-imagens que terminam interagindo com as decisões metodológicas

do professor.” (FREITAS, 2009, p.45). Assim, os professores que não conseguem se

desvincular deste juízo de valores acabam por tratar o aluno de acordo com este e

não mais pelo plano formal o que pode prejudicá-lo ou ajudá-lo dependendo do

juízo.

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Figura 24: Neste desenho temos a representação de uma aluna em frente a um painel, olhando a lista de aprovados da ETEC.

O momento avaliativo aqui retratado mostra a aluno diante da lista de

aprovados a cursar uma ETEC. Os dizeres são dúbios. Não fica claro se a aluna de

fato foi aprovada ou não. Ao observamos a lista escrito “aprovados”, vemos um risco

mais forte o que nos sugere ser o nome dela e, a primeira frase indica que sim, que

foi aprovada. Porém, quando lemos a segunda frase, nos sugere que não. Podemos

supor que os pais desejavam seu ingresso e ela “reprovou no teste de força de

vontade” para contrariá-los. Esse episódio evidencia a avaliação utilizada como

processo seletivo, como instrumento de classificação e exclusão.

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Figura 25: Este desenho representa a transição de uma escola particular para uma escola estadual.

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Figura 26: Este desenho mostra os anos em que a aluna estudou em escola particular, os anos que estudou em escola pública e sua expectativa para o vestibular.

Os desenhos 25 e 26 tratam de contextos mais complexos. Ambos retratam o

impacto que a transição de uma escola particular para uma escola pública teve na

vida destes alunos. O 25 mostra que essa transição ocorreu em função de uma

reprovação e o 26, notamos que foi os últimos três anos, o que nos sugere ter sido

todo o ensino médio, porém não podemos afirmar isso com certeza. Teria que ser

feita uma entrevista com este aluno para descobrir.

No desenho 26, o autor deixa clara sua opinião de que a escola particular é

melhor do que a escola pública: “com certeza os anos em escola pública afetaram

meu aprendizado” e “não terei chances de concorrer igualmente com aqueles que,

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diferente de mim, continuaram em escola particular.”. Ele, ainda mostra a grande

importância que dá ao vestibular quando o chama de “principal avaliação”.

O desenho 25 mostra que esta transição foi difícil no começo, pois ele foi

rejeitado pelos amigos, “mas depois fomos nos entendendo...”. Para ele “foi muito

bom” ter se mudado para um colégio público pois ele diz que só assim começou a

“viver de veradade”. Diferentemente do desenho 26, este só relaciona a mudança

com relação a amigos e não com o aprendizado.

As figuras 27 e 28, a seguir, não representam um momento avaliativo

explicitamente. Não conseguimos decifrá-los. Poderíamos levantar uma série de

hipóteses sobre elas, porém sem uma conversa com os autores elas seriam apenas

especulações.

Figura 27: Este desenho representa uma paisagem.

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Figura 28: Este desenho mostra os pais da menina vestidos de noivos e a menina ajoelhada com lagrimas nos olhos “agradecendo a Deus”.

Finalmente, buscávamos identificar dentre os 28 desenhos apresentados,

qual a proporção de desenhos relativos a uma avaliação tradicional e a uma

avaliação formativa. Buscamos nas representações feitas pelos alunos indícios

desses dois tipos de avaliação e chegamos a conclusão que três (9,10 e 21), dos 28

desenhos, indicam avaliação formativa, ou seja, 10,7%. Dois (27 e 28), dos 28

desenhos, não foram possíveis de classificar, ou seja, 7,1% e todos os demais

desenhos indicam uma avaliação tradicional, ou seja, 82,2%.

Percebemos que a grande maioria dos desenhos possui características que o

aproximam de uma avaliação tradicional. É importante refletirmos que uma prova

tradicional não informa ao professor como se deu a aprendizagem e a construção do

conhecimento na mente do aluno, ela apenas tenta impedir que os erros ocorram

sem que o aluno se preocupe em compreender estes erros para saná-los

(PERRENOUD, 2007).

Já a avaliação formativa, que se deu em menor quantidade segundo nossa

classificação, não tem como objetivo classificar ou selecionar os alunos, ela apenas

se preocupa com o processo de aprendizagem. Por isso, segundo Hadji (2001), as

finalidades da avaliação, para o professor, devem ser: 1) conhecer melhor seu

aluno; 2) servir de ferramenta para recolher informações de forma contínua,

verificando se os alunos estão aprendendo; 3) adequar o processo de ensino ao

grupo de alunos e, em particular à aqueles que apresentam maiores dificuldades,

sem perder de vista os objetivos propostos; 4) adaptar o conteúdo e as formas de

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ensino às características dos alunos como uma pedagogia diferenciada; 5) fazer

uma análise reflexiva, ao término de uma determinada unidade, sobre o sucesso

alcançado em função dos objetivos previstos e revê-los de acordo com os resultados

apresentados.

É neste sentido que Hadji (2001) diz que a avaliação deve ser contínua,

permitindo que o professor tenha como verificar se seus alunos estão aprendendo e

não tenha o papel de quantifica-los. Isto é o que os incentiva para uma

aprendizagem mais significativa (PERRENOUD, 2007). A partir destes pressupostos

é que temos uma caracterização de uma avaliação formativa.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A principal questão que norteou este trabalho foi respondida: os alunos

possuem uma visão bastante tradicional do momento avaliativo. Percebemos isso

claramente quando vemos a proporção dos desenhos que representam uma

avaliação formativa e uma avaliação tradicional. Notamos também, a existência de

um padrão, quando são retratados os momentos de avaliação. Este padrão

correspondente àquela sala de aula com uma organização das carteiras enfileiradas,

com um apego muito forte às notas, o que remete às “colas”.

Embora em menor proporção, houve desenhos diferentes desse padrão,

retratando contextos diversos, em que os alunos não estão sentados em fileiras e

realizando atividades individuais. Também foi possível notar as diferentes

estratégias utilizadas pelo professor que acabaram por deixar marcas nos alunos.

Percebemos com isso que para o aprendizado do aluno ter significado, a

avaliação deve considerar que aprender é um processo, através do qual, o aluno

contrói seus conhecimentos a partir de seus erros. Assim, a avaliação formativa

permite que o professor de aproxime de seu aluno com a intenção de acompanhar

seu desenvolvimento, orientando-o. Neste sentido, o papel do professor deve ser o

de instigar seu aluno para, assim, construirem novos saberes juntos.

Por fim, percebemos que é essencial e urgente repensarmos sobre o

significado da ação avaliativa não só no ensino médio, que foi o foco deste trabalho,

mas na educação como um todo, desde a pré-escola até a universidade. As práticas

inovadoras que surgem poderão se desenvolver em falso se não estiverem

alicerçadas por uma reflexão profunda sobre concepções de avaliação da

aprendizagem no processo de ensino-aprendizagem.

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6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARLOW, M. Avaliação escolar: mitos e realidades. Editora Artmed, Porto Alegre, 2006, 174 p.

COLL, C. Aprendizagem escolar e construção do conhecimento. Editora Artmed, São Paulo, 2002.

FREITAS, L. C. Ciclos, seriação e avaliação: confronto de lógicas 1ª edição, Editora Moderna, São Paulo, 2009, 96 p.

HADJI, C.; RAMOS, P. C. Avaliação desmistificada. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001. 136 p.

HAYDT, R. C. Avaliação do processo ensino-aprendizagem. 6ª edição, Editora Ática, São Paulo, 2002.

HOFFMANN, J. M. L. Mito & Desafio: uma perspectiva construtiva. 27ª edição, Editora Mediação, Porto Alegre, 1996.

HOFFMANN, J. M. L. Avaliação Mediadora: uma prática em construção da pré-escola à universidade. 26ª edição, Editora Mediação, Porto Alegre, 2000, 197 p.

PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens.

Porto Alegre: Artmed, 2007, 183 p.

PERES, M. R. O Desenho no Ensino de Ciências – investigando possibilidades metodológicas. 1993. 188f. Dissertação de Mestrado. Universisdade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, 1993.

SANTOS, C. O Desenho da Paisagem Feito por Alunos do Ensino Fundamental. 2000. 86f. Dissertação de Mestrado. Universisdade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências, 2000.

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APÊNDICE 1 - CARTA DE INFORMAÇÃO À INSTITUIÇÃO

Esta pesquisa tem como intuito identificar as idéias de avaliação da aprendizagem

presentes em alunos do terceiro ano do ensino médio e relacioná-las com as práticas usuais

de avaliação nas escolas brasileiras. Os dados para o estudo serão coletados sob forma de

um desenho representativo realizado pelos alunos acerca de alguma prática avaliativa que

tenha marcado significativamente suas vidas. Este material será posteriormente analisado,

garantindo-se sigilo absoluto sobre as produções, sendo resguardados os nomes dos

participantes, bem como o nome da escola. Aos alunos cabe o direito de retirar-se do estudo

em qualquer momento, sem prejuízo algum.

Para tal solicitamos a autorização desta instituição para a aplicação de nossos

instrumentos de coleta de dados. As pessoas não serão obrigadas a participar da pesquisa,

podendo desistir a qualquer momento. Ressaltamos que todos os assuntos abordados serão

utilizados sem a identificação dos alunos e da escola. Quaisquer dúvidas que existirem

agora ou a qualquer momento poderão ser esclarecidas, bastando entrar em contato pelo

telefone abaixo mencionado. De acordo com estes termos, favor assinar abaixo. Uma cópia

deste documento ficará com a instituição e outra com os pesquisadores.

Obrigado.

..........................................................

......................................................

Nome e assinatura do pesquisador nome e assinatura do orientador

Instituição: ________________

Telefone para contato: ______________

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o(a) senhor (a)

____________________________________, representante da instituição, após a leitura da

Carta de Informação à Instituição, ciente dos procedimentos propostos, não restando

quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO de concordância quanto à realização da pesquisa. Fica claro que a

instituição, através de seu representante legal, pode, a qualquer momento, retirar seu

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da

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pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial,

guardada por força do sigilo profissional.

São Paulo,....... de ..............................de..................

_________________________________________

Assinatura do representante da instituição

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APÊNDICE 2 - CARTA DE INFORMAÇÃO AO PROFESSOR

Este trabalho faz parte do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da

Universidade Presbiteriana Mackenzie. O tema central da pesquisa é a avaliação da

aprendizagem. Buscamos identificar e compreender as idéias de avaliação presentes em

alunos do terceiro ano do ensino médio e relacioná-las com as práticas usuais de avaliação

nas escolas brasileiras. Os dados para o estudo serão coletados sob forma de desenhos

representativos realizados pelos alunos acerca de alguma prática avaliativa que tenha

marcado significativamente suas vidas. Este material será posteriormente analisado,

garantindo-se sigilo absoluto sobre as produções, sendo resguardados os nomes dos

participantes, bem como o nome da escola. Aos alunos cabe o direito de retirar-se do estudo

em qualquer momento, sem prejuízo algum.

Conforme já mencionado, os dados coletados serão utilizados no trabalho de conclusão de

curso (TCC) da licenciatura do curso de Ciências Biológicas (CB) do Centro de Ciências

Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Quaisquer dúvidas que existirem agora ou a qualquer momento poderão ser esclarecidas,

bastando entrar em contato pelo telefone abaixo mencionado. De acordo com estes termos,

favor assinar abaixo. Uma cópia deste documento ficará com a instituição e outra com os

pesquisadores.

......................................................... ..........................................................

Nome e assinatura do pesquisador nome e assinatura do orientador

Telefone para contato: __________________

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pelo presente instrumento, que atende às exigências legais, o(a) senhor(a)

_______________________________, sujeito de pesquisa, após leitura da CARTA DE

INFORMAÇÃO AO PROFESSOR, ciente dos serviços e procedimentos aos quais será

submetido, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância em participar da pesquisa

proposta.

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Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal podem, a

qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e

deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho

realizado torna-se informação confidencial, guardada por força do sigilo profissional.

São Paulo,... de ..............................de..................

Assinatura do sujeito ou seu representante legal.

________________________________________

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APÊNDICE 3 – INSTRUMENTO

São Paulo, de outubro de 2010.

Esta atividade tem finalidade acadêmica. Os dados coletados farão parte de

um trabalho de conclusão de curso, a ser apresentado no curso de Licenciatura em

Ciências Biológicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie. A coleta de

informações visa atender aos seguintes objetivos:

identificarmos as idéias de avaliação da aprendizagem presentes em

alunos do terceiro ano do ensino médio

verificarmos as possíveis relações entre essas idéias e as práticas

usuais de avaliação nas escolas brasileiras.

Todos os participantes terão seus nomes resguardados, garantindo-se,

assim, seu anonimato. O nome da escola também não será divulgado. Nenhum

participante será obrigado a colaborar com a pesquisa, podendo desistir a qualquer

momento.

Atividade:

3. Pense em um episódio marcante de avaliação da aprendizagem vivido por

você, em qualquer época de sua vida escolar. Considere um episódio

marcante, aquele que deixou marcas em você. Essas marcas podem ser

positivas ou negativas.

4. Faça um desenho que represente este episódio.

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Estou ciente do conteúdo da Monografia “AVALIAÇÃO DA

APRENDIZAGEM: O OLHAR DE ALUNOS DO 3º ANO DO ENSINO

MÉDIO”.

___________________________________________________

Professora Doutora Rosana dos Santos Jordão

(Orientadora – Universidade Presbiteriana Mackenzie)

___________________________________________________

Paula de Seixas

(Aluna – Código de Matrícula 4070406-8)

Trabalho apresentado em: dezembro/2010