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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE EDUCAÇÃO, FILOSOFIA E TEOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, ARTES E HISTÓRIA DA CULTURA GABRIEL RENAN NEVES BARROS A DISCIPLINA DE ESTUDOS AMAZÔNICOS E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL: uma experiência no munícipio de Marabá-PA São Paulo 2016

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CENTRO DE EDUCAÇÃO, FILOSOFIA E TEOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, ARTES E HISTÓRIA DA

CULTURA

GABRIEL RENAN NEVES BARROS

A DISCIPLINA DE ESTUDOS AMAZÔNICOS E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

DO ENSINO FUNDAMENTAL: uma experiência no munícipio de Marabá-PA

São Paulo

2016

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GABRIEL RENAN NEVES BARROS

A DISCIPLINA DE ESTUDOS AMAZÔNICOS E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

DO ENSINO FUNDAMENTAL: uma experiência no munícipio de Marabá-PA

Dissertação apresentada à Universidade

Presbiteriana Mackenzie, como parte dos requisitos

para obtenção do título de mestre em Educação,

Artes e História da Cultura.

Orientador: Prof. Dr. João Clemente de Souza Neto

São Paulo

2016

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B277d Barros, Gabriel Renan Neves.

A disciplina de estudos amazônicos e a formação de professores

do ensino fundamental : uma experiência no munícipio de Marabá-PA

/ Gabriel Renan Neves Barros – São Paulo , 2016.

158 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura)

- Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2016.

Orientador: Prof. Dr. João Clemente de Souza Neto

Referência bibliográfica: p. 87-91.

1. Estudos amazônicos. 2. Formação de professores. 3. Meio

ambiente. 4. Geografia. 5. Currículo. I. Título.

CDD 370.71

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GABRIEL RENAN NEVES BARROS

A DISCIPLINA DE ESTUDOS AMAZÔNICOS E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

DO ENSINO FUNDAMENTAL: uma experiência no munícipio de Marabá-PA

Dissertação apresentada à Universidade

Presbiteriana Mackenzie, como parte dos requisitos

para obtenção do título de mestre em Educação,

Artes e História da Cultura

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________

Prof. Dr. João Clemente de Souza Neto

Universidade Presbiteriana Mackenzie

___________________________________________________________

Profª. Drª. Maria de Fátima R. de Andrade

Universidade Presbiteriana Mackenzie

___________________________________________________________

Prof. Dr Erineu Foerst

Universidade Federal do Espírito Santo

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A Deus pelo sustento e inspiração; à

minha esposa pela paciência e incentivo

nos momentos de vacância intelectual.

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AGRADECIMENTOS

A Deus pela fonte de inspiração e conhecimento que me concedeu durante o período de

realização deste trabalho.

À Luciana Kinoshita Barros, minha esposa, que nos momentos mais árduos me incentivou a

buscar motivação para continuar este trabalho.

À minha mãe e avó, pelas orações e incentivo.

Ao professor Me. Davison Hugo Rocha Alves pela entrevista e esclarecimentos.

À professora Drª. Violeta Refkalefsky Loureiro pela receptividade em sua residência e por

conceder umas das entrevistas que estruturou esta pesquisa.

A todos os professores da rede municipal de Marabá que participaram desta pesquisa, seja no

momento de responder os questionários ou as entrevistas.

À professora Drª Petra Sanchez Sanchez, pelo empenho e dedicação nas primeiras orientações.

Ao professor Dr. João Clemente de Souza Neto que me acolheu como seu orientando e me

ajudou substancialmente para finalização desta pesquisa.

Às minhas companheiras de jornada acadêmica, Vanessa Zinderski Guirado, Eloisa Camargo

Penna e Flávia Rodrigues, pela paciência e apreço por esta pesquisa.

A todos os professores do Programa de Pós-graduação em Educação, Artes e História da

Cultura, em especial ao prof. Dr. Marcos Rizolli que ajudou, incentivou e acreditou nesta

pesquisa.

À professora Joyce Cordeiro Rebelo pela ajuda em conseguir intermediar os dados perante a

Secretaria Municipal de Educação.

Aos professores Dr. Erineu Foerst e Drª. Maria de Fátima pelas orientações na banca de

qualificação.

À CAPES e à Universidade Presbiteriana Mackenzie pela bolsa de estudos que foi concedida

para realização deste estudo.

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LISTA DE TABELAS

p.

Tabela 1 – Perfil profissional dos professores de Estudos Amazônicos 65

Tabela 2 – Resposta à pergunta 1 67

Tabela 3 – Resposta à pergunta 2 69

Tabela 4 – Resposta à pergunta 3 70

Tabela 5 – Resposta à pergunta 4 71

Tabela 6 – Resposta à pergunta 5 72

Tabela 7 – Resposta à pergunta 6 72

Tabela 8 – Resposta à pergunta 7 73

Tabela 9 – Resposta à pergunta 9 75

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LISTA DE SIGLAS

BR-230 - Rodovia Transamazônica

CEE – Conselho Estadual de Educação

CME – Conselho Municipal de Educação

CNE – Conselho Nacional de Educação

CVRD - Companhia Vale do Rio Doce

DCN’s - Diretrizes Curriculares Nacionais

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDESP - Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social do Pará

IDHM - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

JPEG - Joint Photographics Experts Group

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação

MEC – Ministério da Educação

ONU - Organizações das Nações Unidas

PA-150 - Rodovia Paulo Fontelles

PGC - Projeto Grande Carajás

PIB - Produto Interno Bruto

PNLD - Programa Nacional do Livro Didático

SEDUC – Secretaria de Estado de Educação

SEMED - Secretaria Municipal de Educação de Marabá

SEMESP- Sindicato das Mantenedoras do Ensino Superior

SPVEA - Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia

UFPA - Universidade Federal do Pará

Unifesspa - Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará

SIG – Sistema de informação Geográfica

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RESUMO

Essa pesquisa trata da disciplina de Estudos Amazônicos e a formação de professores desta

disciplina no Ensino Fundamental II do munícipio de Marabá/PA. Ao realizar nossa

investigação, desenvolvemos um estudo que explica o surgimento da disciplina no estado do

Pará e, consequentemente, em Marabá, identificando o perfil do profissional que trabalha com

a disciplina e investigando a percepção dos professores no que concerne à contribuição dos

conteúdos constantes no currículo e que reforce os conhecimentos quanto à sensibilização

para as questões socioambientais. A relevância social consiste em entender a disciplina como

resistência às práticas de exploração e ocupação do solo, subsolo e águas amazônicas, pois as

características peculiares da região amazônica nos tornam participantes de diferentes disputas

de poder e nós, enquanto pesquisadores, entendemos que a existência de uma disciplina que

aborde a diversidade da região amazônica fortaleça a identidade do sujeito que reside na região

com o seu próprio território. O referencial teórico é composto de Apple, Goodson, Almeida,

Silva, Paulo Freire, Milton Santos, Rodrigues, Pontuschka, entre outros autores que nos

ajudaram a entender a concepção de currículo, as dinâmicas de (re)produção do espaço

urbano, a educação no contexto amazônico e a formação de professores. Empregamos um

estudo de caso com análise de documental, adotando os seguintes procedimentos

metodológicos: pesquisa documental, aplicação de questionários e entrevistas a professores

que atuam/atuaram com Estudos Amazônicos no município de Marabá-PA, e entrevistas com

a mentora da disciplina (Prof.ª Drª. Violeta Refkalefsky Loureiro), com o autor da primeira

dissertação sobre a disciplina (Prof. Me. Davison Hugo Rocha Alves) e também com a

representante Conselho Municipal de Educação (Prof.ª Jaide das Graças Barreiros).

Concluímos esta pesquisa entendendo a importância dos Estudos Amazônicos para o contexto

regional, entretanto, identificamos que a disciplina, de acordo com o discurso dos professores,

não alcança uma de suas finalidades; a sensibilização das questões socioambientais.

Palavras-chave: Estudos Amazônicos, Formação de professores, Meio ambiente, Geografia,

Currículo.

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ABSTRACT

This research is about the school subject Amazon Studies and the elementary school teachers

education in the municipality of Marabá-Pa. In carrying out our research, we developed a

study that explains the emergence of the discipline in the state of Pará and, consequently, in

Marabá, identifying the profile of the professional that works with the subject and

investigating the teachers' perception regarding the contribution of the contents contained in

the curriculum and to reinforce the awareness of socioenvironmental issues. Social relevance

consists of understanding the subject as resistance to the practices of exploration and

occupation of the Amazonian soil, subsoil and waters, because the peculiar characteristics of

the Amazon region make us participants in different power disputes and we, as researchers,

believe that the existence of a discipline that addresses the diversity of the region strengthen

the identity of the subject that resides in the region with its own territory. The theoretical

framework consists of Apple, Goodson, Almeida, Silva, Paulo Freire, Milton Santos,

Rodrigues, Pontuschka, among other authors who have helped us to understand the curriculum

concept, urban space dynamic (re)production, education in the Amazon context and teachers’

education. We used a case study with documentary analysis, adopting the following

methodological procedures: documentary research, questionnaires and interviews with

teachers who work/worked with Amazon Studies in the municipality of Marabá-Pa, and

interviews with the mentor of subject (Violeta Refkalefsky Loureiro, Phd), with the author the

first dissertation on the subject (Davison Hugo Rocha Alves, Msc.) and also with the

Municipal Educational Council representor (Jaide das Graças Barreiros). We concluded this

survey understanding the importance of the Amazon Studies to the regional context, however,

we have identified that the subject, according to the teachers’ speech, does not reach one of

its goals; the awareness of the socioenvironmental issue.

Keywords: Amazon Studies, Education Teacher, Environment, Geography, Curriculum.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 11

Justificativa ..................................................................................................................................... 12

Problemática .................................................................................................................................... 14

Objetivos ......................................................................................................................................... 15

Geral ............................................................................................................................................ 15

Específicos .................................................................................................................................. 15

Metodologia .................................................................................................................................... 15

Estrutura da dissertação ................................................................................................................... 17

1 POR QUE ENSINAR SOBRE AMAZÔNIA? ................................................................ 19

1.1 Fatos históricos e caracterização do ambiente amazônico .................................................. 19

1.2 Amazônia Legal e suas multiplicidades ................................................................................. 22

1.3 Entroncamento de Marabá .................................................................................................... 28

2 O MARCO REFERENCIAL DA DISCIPLINA DE ESTUDOS AMAZÔNICOS .... 34

2.1 Parte Diversificada do currículo e a disciplina de Estudos Amazônicos ............................ 34

2.2 Surgimento da disciplina de Estudos Amazônicos ............................................................... 37

2.3 Estudos Amazônicos e a interdisciplinaridade ..................................................................... 40

3 FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE ESTUDOS AMAZÔNICOS ....................... 44

3.1 Quem é o professor de Estudos Amazônicos? ....................................................................... 44

3.2 A proposta curricular da disciplina de Estudos Amazônicos: a quem compete ensinar? 52

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ANÁLISE DOS DADOS ..................... 60

4.1 Tipo de pesquisa ...................................................................................................................... 60

4.2 Contexto e sujeitos ................................................................................................................... 60

4.3 Análise de dados ...................................................................................................................... 62

4.3.1 Entrevistas estruturantes ..................................................................................................... 63

4.3.2 Questionários ...................................................................................................................... 64

4.3.2.1 Perfil profissional dos professores .............................................................................. 64

4.3.2.2 Questões semiestruturadas ......................................................................................... 67

4.3.3 Entrevistas dialogadas ........................................................................................................ 76

5 CONCLUSÕES .................................................................................................................. 83

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 87

APÊNDICES ......................................................................................................................... 92

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APÊNDICE A – Questionário para professor de Estudos Amazônicos em Marabá....................... 93

APÊNDICE J – Transcrição da entrevista com a Prof.ª Dr.ª Violeta Refkalefsky Loureiro ........... 95

APÊNDICE K – Transcrição da entrevista com o Prof. Me. Davison Alves (Unifesspa) ............ 105

APÊNDICE L – Transcrição da entrevista com a Prof.ª Jaide das Graças Barreiros (Conselho

Municipal de Educação) ................................................................................................................ 128

APÊNDICE M – Transcrição da entrevista com o Prof. A1 ......................................................... 131

APÊNDICE N – Transcrição da entrevista com o Prof. A2 ......................................................... 134

APÊNDICE O – Transcrição da entrevista com o Profª A3 ......................................................... 144

APÊNDICE P – Transcrição da entrevista com o Prof. A4 .......................................................... 152

ANEXOS ............................................................................................................................. 157

ANEXO A – Resolução Nº 01 de 20 de fevereiro de 2003 ........................................................... 158

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa trata da disciplina de Estudos Amazônicos e a formação de seus

professores do Ensino Fundamental, com foco no munícipio de Marabá/PA, onde buscamos

entender a importância de estudar o ambiente amazônico mediante a uma disciplina específica

e, também, como se dá a formação deste professor.

Para tal, é importante entender a Amazônia como um espaço de múltiplos contrastes e

contradições, haja vista a diversidade sociocultural e ambiental que a região proporciona

devido ao seu território de dimensões continentais. No entanto, o processo de

integração/ocupação dos últimos quarenta anos do espaço amazônico tem sido caracterizado

pela destruição de suas florestas e, consequentemente, do espaço vivido pelas comunidades

amazônicas. Tal processo motiva uma preocupação no cenário nacional e internacional, com

a possibilidade de intensificação da crise ambiental que vivenciamos em escala global. Essa

reordenação espacial, especialmente nas últimas décadas, tem, como fator propulsor, a

apropriação e extração de riquezas por parte de grandes empreendimentos como o Projeto

Grande Carajás, de ordem mineralógica.

Neste contexto, e baseando-se na Lei nº 12.796, de 04 de abril de 2013, que altera o

art. 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), surge, no estado do Pará, a disciplina

de Estudos Amazônicos, que integra a Parte Diversificada de disciplinas elaboradas pelo

Conselho Estadual de Educação (CEE), conjuntamente com diversas unidades educacionais

e, inicialmente, buscava-se, subsidiar a disciplina de Geografia naquilo em que seu conteúdo

não abarcava.

No município de Marabá, sudeste do Pará, a disciplina tornou-se obrigatória a partir

de instrução normativa de 01 de fevereiro de 2003. Porém, não foram criados critérios para

trabalhar com a disciplina no Ensino Fundamental II, o que, possivelmente, ocasiona diversas

problemáticas no processo de ensino.

Assim, estudamos a influência de aspectos relacionados à formação do professor no

processo de ensinar a disciplina de Estudos Amazônicos no munícipio de Marabá/PA, uma

vez que se faz imprescindível que o docente domine o conteúdo que ensina. Entretanto, até a

presente data da realização da pesquisa, não encontramos critérios específicos para escolha do

profissional que pode ser de diferentes áreas do conhecimento, independentemente de ter tido

contato ou não com o conteúdo durante a sua formação inicial ou continuada, podendo

influenciar na prática de ensino.

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Justificativa

Meu percurso acadêmico iniciou-se em 2007, aos 17 anos de idade, quando ingressei

na Universidade Vale do Acaraú (UVA), localizada em Belém, estado do Pará, no curso de

Licenciatura em Geografia. Inspirado pelos professores de Geografia com os quais tive

contato tanto no Ensino Fundamental quanto no Médio. Minha escolha pela área foi pela

facilidade para lidar com temáticas relacionadas à Geografia, tais como Geopolítica,

Geografia Física, Urbanização e Geografia Agrária.

No decorrer do curso fui me familiarizando com teóricos essenciais para formação de

um Geógrafo, como exemplo: Milton Santos, Ana Fani Carlos Alessandri, Roberto Lobato

Correa, Marcelo Lopez de Souza, Saint-Clair Cordeiro da Trindade Junior, Rosa Acevedo

Marin etc. Também professores do próprio curso como Dalva França, Mário Benjamin Dias

e Fabiano Oliveira Bringel, me inspiraram a seguir carreira como Geógrafo.

O professor Mário Benjamin Dias, em sua disciplina Urbanização e mobilidade sócio-

espacial, convidou-me para participar do seu grupo de pesquisa Urbanização das Micro Bacias

Urbanas de Belém, quando tentamos produzimos conjuntamente vários artigos acadêmicos,

tendo sido um deles1 publicado nos anais do XVI Encontro Nacionais os Geógrafos (ENG),

em 2010.

Assim, iniciava-se a vocação como pesquisador de temáticas relacionadas ao meio

ambiente urbano. No ano de 2011, à luz da tese de doutoramento da então discente Gerusa

Gonçalves Moura, fui inspirado a escrever meu trabalho de conclusão de curso sobre a

seguinte temática: Segregação sócio-espacial na rodovia Augusto Montenegro, na cidade de

Belém-PA.

Neste mesmo ano fui aprovado em concurso público no município de Marabá, sudeste

do Pará, para o cargo de professor de Geografia. Foi quando vi que minha formação como

professor foi deficitária, pois tinha me tornado um Geógrafo e não um professor de Geografia.

No ano seguinte, iniciei um curso de pós-graduação lato sensu em Geotecnologias e

suas aplicações, ofertado na modalidade semipresencial pelo Instituto de Geologia da

Universidade Federal do Pará (UFPA). Foi quando tive meu primeiro contato com o

1 Urbanização e condições de vida da população residente nas micro bacias urbanas no distrito administrativo de

Icoaraci, Belém-PA.

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Sensoriamento Remoto, Sistema de Informação Geográfica (SIG) e outras ferramentas que

me possibilitavam analisar o espaço geográfico.

Em 2013, comecei a cursar outra especialização Lato Sensu pelo Centro Universitário

Leonardo da Vinci (Uniasselvi) em Metodologia de Ensino de Geografia, onde defendi, em

junho de 2015, a monografia intitulada “O uso das Geotecnologias no Ensino Básico da

disciplina de Geografia: A potencialidade do Google Earth no ensino da Cartografia”.

Meu percurso acadêmico até aqui me credenciava como pesquisador na área de

Geotecnologias e sua utilização na urbanização. Entretanto, voltando ao ano de 2011, quando

passei no concurso público e fui convocado a assumir o cargo de professor de Geografia,

deparei-me com uma disciplina chamada Estudos Amazônicos, para qual recebi uma carga

horária de 50 horas, o que correspondia a quatro turmas de 6º ao 9º ano do Ensino

Fundamental.

Essa disciplina me tirava o sono. Não era habilitado para lecionar assuntos

concernentes à temática amazônica. Em toda grade curricular da minha graduação, tive apenas

uma disciplina que trabalhava especificamente esta temática. Porém, fui desafiado pelo meu

próprio instinto a encarar os Estudos Amazônicos. A matriz curricular da disciplina era algo

desafiador; Temáticas que envolvem principalmente assuntos concernentes à história do

município de Marabá, do sudeste paraense, do estado do Pará e da Amazônia em suas diversas

multiplicidades.

A formação deficitária não foi o único problema encontrado neste caso. O fato de não

ser fornecido livro didático específico para a disciplina também incomodava bastante. Há

apenas um material paradidático que, nem sempre, atende às necessidades, recaindo sobre o

professor a grande responsabilidade de adaptar e criar materiais didáticos para utilizar na

disciplina.

Enfim, três anos de estágio probatório se passaram e estava livre, segundo o Plano de

Cargos e Carreiras do Município de Marabá, para continuar minha vida acadêmica. Foi

quando decidir encarar, no ano de 2014, o processo seletivo de mestrado do Programa de Pós-

graduação em Educação, Artes e História da Cultura da Universidade Presbiteriana

Mackenzie. Por se tratar de um programa interdisciplinar com linhas de pesquisa na área da

formação de professores, artes e história da cultura, visualizei uma real possibilidade de

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pesquisar a Formação do professor de Estudos Amazônicos e tentar minimizar minhas

inquietudes em relação a esta disciplina.

Buscando entender como se deu/dá a formação do professor de Estudos Amazônicos,

acreditamos que é possível saber os problemas relacionados a essa disciplina e assim

possivelmente elenca-los e tentar compreender o que se ensina em sala de aula, não como

forma de vigilância, mas se os objetivos e finalidades para qual a disciplina foi criada estão

sendo compridos.

Acreditamos na existência de relevância acadêmica e social desta pesquisa. Em relação

à questão acadêmica podemos afirmar que a bibliografia referente à disciplina de Estudos

Amazônicos é escassa, o que dificulta pesquisas que se proponham a investigar tal tema.

Sendo assim, ao realizar a presente investigação, estaremos desenvolvendo um estudo que

poderá fornecer subsídios para que outros pesquisadores possam melhorar o processo de

formação do professor que ministra a disciplina.

Problemática

Partindo-se do pressuposto de que existem dificuldades a serem vencidas, tanto na

formação inicial dos professores da disciplina de Estudos Amazônicos, quanto no espaço

escolar, na realidade local e no ambiente amazônico, dada a invisibilidade na qual a Amazônia

estava e ainda está inserida, buscamos compreender como a disciplina de Estudos Amazônicos

vem sendo ministrada no município de Marabá/PA, para isto, propomos algumas questões que

compõem a problemática do presente estudo. São elas:

Qual a formação acadêmica dos docentes que ministram a disciplina na rede pública

do município de Marabá/PA?

O que é proposto a partir da legislação nas esferas federal, estadual e municipal em

relação à formação e aos critérios de seleção de professores para disciplinas que

compõem a parte diversificada do currículo da Educação Básica, em especial no que

diz respeito à disciplina Estudos Amazônicos?

De que maneira a experiência dos professores que ministram a disciplina podem

colaborar no desenvolvimento de uma proposta com vistas à formação dos

professores?

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Objetivos

Geral

A partir da estimativa de que existem dificuldades a serem superadas no ensino da

disciplina de Estudos Amazônicos quanto à formação acadêmica, investigamos a contribuição

da formação dos professores que ministram essa disciplina de Estudos Amazônicos para os

discentes de 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental no município de Marabá-PA, frente ao que

consta na legislação, propondo assim, alternativas no processo de aperfeiçoamento e formação

continuada dos docentes.

Específicos

Refletir sobre o que é proposto pela legislação nas esferas federal, estadual e municipal

em relação à formação e critérios de seleção de professores para disciplinas que

compõem a parte diversificada do currículo da Educação Básica, em especial, no que

diz respeito à disciplina de Estudos Amazônicos.

Analisar os diferentes perfis dos profissionais que ministram a disciplina de Estudos

Amazônicos;

Investigar a percepção dos professores da disciplina de Estudos Amazônicos no que

concerne à contribuição dos conteúdos constantes no currículo e que reforce seus

conhecimentos quanto à sensibilização para questões socioambientais.

Metodologia

Para responder aos questionamentos propostos e, desse modo, alcançar os objetivos

traçados, desenvolvemos um estudo de caso com análise documental, para que assim

fizéssemos a triangulação dos dados. Segundo Gil (2008) o estudo de caso aponta alguns

propósitos que se enquadram em nossa pesquisa, são eles: 1) explorar situações da vida real

cujos limites não estão claramente definidos; 2) preservar o caráter unitário do objeto

estudado; 3) descrever a situação do contexto em que está sendo feita uma determinada

investigação. Utilizamos diversas fontes de dados, como análise documental, questionários e

entrevistas para alcançar nossos objetivos propostos.

A pesquisa documental, de acordo com Gil (2008), analisa materiais e documentos que

ainda não tiveram um tratamento analítico ou que, futuramente, podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa. Utilizamos esse tipo de análise para fazer um levantamento

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histórico de fatos referentes ao surgimento das disciplinas da parte diversificada do currículo

e os critérios de seleção de professores para disciplina de Estudos Amazônicos. Para tanto,

investigamos documentos oficiais das esferas federal, estadual e municipal. É importante

ressaltar que analisamos diversos documentos e não resolvemos destinar uma única subseção

nos procedimentos metodológicos apenas a eles por entender ser necessário utilizá-los para

fundamentar as bases epistemológicas para delineamento desta pesquisa, logo, é possível

encontrar a análise documental no decorrer dos capítulos.

Além da pesquisa documental, realizamos três entrevistas que chamamos de

estruturantes, pois os entrevistados nos forneceram dados para que pudéssemos iniciar esta

pesquisa de forma satisfatória, haja vista que uma das entrevistadas foi concedida pela

mentora da disciplina, Profª. Drª Violeta Refkalefsky Loureiro e o outro foi o responsável pela

única dissertação de mestrado que conta um pouco da história da disciplina de Estudos

Amazônicos, o Prof. Me. Davison Hugo Rocha Alves. Ainda nesta fase, entrevistamos a

professora Jaide das Graças Barreiros, membro do Conselho Municipal de Educação de

Marabá.

Os questionários e as entrevistas dialogadas foram aplicados a professores da

disciplina de Estudos Amazônicos da rede pública municipal de Marabá-PA. Ao todo foram

aplicados oito questionários e quatro entrevistas dialogadas para identificar o perfil do

profissional, e, consequentemente, entender como este profissional visualiza a disciplina.

Inicialmente foram aplicados os questionários compostos de perguntas abertas e fechadas e,

posteriormente, as entrevistas que chamamos de dialogadas, pois, com a impossibilidade de

realizar as entrevistas com todos os profissionais que responderam o questionário, devido à

incompatibilidade de horários, buscamos outros profissionais que pudessem nos dar

informações substanciais sobre a disciplina.

Optamos por utilizar sujeitos vinculados somente à rede pública municipal de

Marabá/PA devido ao número de docentes no Ensino Fundamental ser o mais significativo

nesta rede que, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em

2015, dentre os 1566 docentes do Ensino Fundamental, 1265 são do ensino público.

Após a coleta dos dados, partimos para sua triangulação que, segundo Maxwell (1996),

significa olhar para o mesmo fenômeno ou questão de pesquisa, a partir de mais de uma fonte

de dados. Informações advindas de diferentes ângulos podem ser usadas para corroborar,

elaborar ou iluminar o problema de pesquisa. Limita os vieses pessoais e metodológicos e

aumenta a generalização de um estudo.

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Para formulação desta pesquisa utilizamos referencial teórico de diversos autores e

áreas do conhecimento para que pudéssemos discutir os principais conceitos que constam

neste trabalho. Conceitos como desenvolvimento sustentável, que nos levaram a entender qual

desenvolvimento queremos para Amazônia ou se necessitamos de um modelo de

desenvolvimento. O conceito de disciplina escolar e seu contexto histórico e se de fato Estudos

Amazônicos pode ser considerado uma disciplina. Além dos conceitos de formação inicial e

continuada que nos deram base para entender a importância dos critérios para escolha do

professor da disciplina em questão.

Estrutura da dissertação

No primeiro capítulo dissertamos sobre ‘POR QUE ENSINAR SOBRE

AMAZÔNIA’, aonde fizemos uma caracterização historiográfica do território amazônico

afim de mostrar o ambiente de tensão no qual a população está inserida. Elucidamos os

variados contextos e a multiplicidade no qual o espaço geográfico amazônico vem sendo

(des)territorializado e, por fim, categorizamos o município de Marabá/PA mediante o seu

processo de ocupação e a condição socioeconômica de sua população. Este capítulo nos

permitiu um diálogo entre a práxis das problemáticas verificadas no espaço amazônico e a

importância de criar um capítulo que falasse sobre a contexto em que a disciplina de Estudos

Amazônicos foi criada.

No capítulo dois ‘O MARCO REFERENCIAL DA DISCIPLINA DE ESTUDOS

AMAZÔNICOS’, abordamos a LDB/96, mais especificamente seu artigo 26 que trata da Parte

Diversificada do currículo, analisamos o parecer 06/2001 do Ministério da Educação, bem

como dissertamos sobre o surgimento da disciplina de Estudos Amazônicos e a

interdisciplinaridade que a envolve.

O capítulo três ‘FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE ESTUDOS

AMAZÔNICOS’, dissertamos sobre como se deu a formação inicial dos professores de

Estudos Amazônicos que lecionam no município de Marabá, localizado no Sudeste do Pará.

O capítulo aborda quem é o professor de Estudos Amazônicos no município de Marabá/PA e

qual a proposta curricular da disciplina de Estudos Amazônicos. Abordamos a matriz

curricular da disciplina com o intuito de saber se os professores de Geografia e História são

os mais competentes a ministrar aulas de Estudos Amazônicos. No capítulo quatro

‘PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ANÁLISE DOS DADOS’, expomos as

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abordagens, técnicas e processos utilizados no desenvolvimento de nossa investigação, logo,

foi dividia nas seguintes subseções: ‘Tipo de pesquisa’, ‘Contexto e sujeitos’ e ‘Análise de

dados’. É importante ressaltar que neste capítulo usamos questionários, entrevistas

estruturantes e dialogadas, utilizando o método de triangulação dos dados para analisá-los.

Em nosso último capítulo, intitulado ‘CONCLUSÕES’, fizemos um breve resumo da

investigação, expomos as dificuldades e limitações encontradas durante a sua realização,

elencamos os objetivos alcançados, retomamos e respondemos as perguntas que nos levaram

a realizar esta pesquisa, e também propomos novos questionamentos que podem ser

respondidos em próximas explorações do mesmo tema que contribuirão como diretrizes para

estes estudos.

Após o capítulo conclusivo trazemos uma lista com as referências utilizadas para

elaboração desta pesquisa. Em seguida temos, como apêndices, o modelo do questionário

utilizado com os professores de Estudos Amazônicos, os questionários respondidos por eles e

a transcrição das entrevistas estruturantes e dialogadas. Ao final, como anexo, há a resolução

nº 01 de 20 de fevereiro de 2003.

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1 POR QUE ENSINAR SOBRE AMAZÔNIA?

O objetivo deste capítulo é elencar e apresentar as dinâmicas que tornam relevantes o

estudo da região amazônica de modo interdisciplinar. Para tanto, ele é abordado em três

subseções: 1.1 Fatos históricos e caraterização do meio ambiente amazônico; 1.2 Amazônia

legal e suas multiplicidades; 1.3 O entroncamento de Marabá.

1.1 Fatos históricos e caracterização do ambiente amazônico

Nesta subseção abordaremos o percurso histórico e caracterizaremos a região

amazônica em diversas perspectivas, apresentado a nomenclaturas mais utilizada para

designar o ambiente amazônico, bem como exemplificamos a importância dessa região para

o Brasil, América do Sul e outros continentes.

Segundo Figueiredo (2006), as pesquisas históricas revelam que a Amazônia começou

a ser explorada pelos colonizadores através do navegador espanhol Vicente Yañez Pinzón, no

início do século XVI, precisamente, nos primeiros dias de fevereiro de 1500, portanto, quase

três meses antes da chegada das caravelas de Cabral. Esta fase ficou conhecida como

Amazônia Espanhola, que perdurou até meados de 1640, quando ocorreu a separação das

Coroas de Portugal e Espanha, período em que vigorava o Tratado de Tordesilhas2.

A região amazônica vivenciou e ainda vivencia diversas fases econômicas,

geopolíticas e de poder. Uma dessas fases foi o período da Amazônia Luso-Espanhola, quando

a Espanha exercia um domínio jurídico-formal e Portugal, efetivamente, exercia o domínio

territorial, situação que se prolongou até meados de 1750, encerrando-se com o Tratado de

Madri3.

Após a independência do Brasil, a região amazônica passou por um longo período de

esquecimento, “vazio demográfico” quando autoridades passaram a centralizar suas ações no

eixo Sudeste e Sul. Esse período foi superado a partir da importância geopolítica dada à Pan-

2 O Tratado de Tordesilhas exerceu sua importância na região amazônica do Brasil colônia. Logo, os portugueses

efetivamente trataram, antecipadamente de exercer o domínio sobre a maior parte da região sem ter o respaldo

jurídico. 3 O Tratado de Madri, assinado em 1750, objetivou juridicamente o domínio de Portugal, situação que perdurou

até 1822 com à Independência do Brasil.

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Amazônia (Amazônia Continental), pelos países que compõem o G7, grupo dos sete países

mais ricos do mundo.

[...] No entardecer do século XX e no alvorecer do século XXI, em relação

a Amazônia, cujo território se distribui por oito países da América do Sul.

Para isso invoca concepções modernas de Geopolíticas, infladas pelas

variáveis ecológicas, com o objetivo de pretensamente assegurar o equilíbrio

climático do planeta Terra. Objetivamente, propõe que os países amazônicos

renunciem parte da soberania que possuem sobre o seu território, entregando

a gestão ambiental da Amazônia a uma entidade supranacional, como foi

alvitrado na cúpula de Haia, em 1989. (RIBEIRO. 2006, p. 21)

Nota-se, que, por ter havido a globalização das questões ambientais, a soberania da

região foi posta em xeque, pois a Amazônia passou a ser objeto de um clamor público

internacional, pois sua devastação provocaria o desequilíbrio no clima da Terra e, portanto,

uma ameaça para sobrevivência do ser humano; a solução para o problema deveria ser a

internacionalização da região.

Coincidentemente, em relação a esse clamor público, a Amazônia começou a ser

valorizada na área educacional a partir da década de 90 do século XX, quando surgiu a

disciplina de Estudos Amazônicos no estado do Pará e, consequentemente, em Marabá.

Neste âmbito, a floresta amazônica é essencial para a existência do planeta Terra.

Composto por nove países da América do Sul, a área florestal tem sua maior área concentrada

no Brasil. Devido às várias nomenclaturas designadas para caracterizar a região, (exemplo:

Pan-Amazônia, Amazônia Internacional e região Norte), escolhemos o termo Amazônia

Legal4 como padrão e passaremos a utilizá-lo no decorrer do texto. Esta terminologia nomeia

uma região que:

[...] foi criada inicialmente como área de atuação da Superintendência do

Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), em 1953.

Atualmente, ela corresponde à área dos Estados da Região Norte (Acre,

Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), acrescidos da

totalidade do Estado de Mato Grosso e dos municípios do Estado do

Maranhão situados a oeste do meridiano 44º O. Em sua configuração atual,

equivale a área de atuação da SUDAM. (IBGE, 2015)

A Amazônia Legal foi instituída por necessidade de diferenciar o que, no imaginário

das pessoas, confunde-se com a região Norte e, principalmente, no nível de desenvolvimento,

4 Utilizamos essa nomenclatura com base nas referências jurídicas e administrativas criadas a partir de 1953, tais

como: Lei 1.806, de 06 de janeiro de 1953 (criação da SPVEA), Lei 5.173, de 27 de outubro de 1966 (extinção

da SPVEA e criação da SUDAM), Lei Complementar nº 31, de 11 de outubro de 1977, Medida Provisória nº

2.146, de 04 de maio de 2001, Lei Complementar nº 124, de 03 de janeiro de 2007.

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usa-se essa nomenclatura para incluir parte do estado do Maranhão e, em sua totalidade, o

estado de Mato Grosso que são caracterizados por pertencer ao domínio amazônico, como

podemos observar no mapa a seguir:

Mapa 1 - Mapa da Amazônia Legal

Fonte: IBGE 2014

O mapa acima representa a área de delimitação dos municípios e estados que abarcam

a Amazônia Legal. Essa divisão é necessária para fins estratégicos e de desenvolvimento da

região. Escolhemos este mapa por representar a territorialidade do espaço amazônico. Logo,

quando falamos dessa Amazônia, a Legal, pensamos em uma região homogênea e

demograficamente vazia. Entretanto, apesar de ser a segunda região menos habitada do país

(IBGE, 2015), temos uma grande diversidade natural, cultural e territorial, tornando o espaço

amazônico brasileiro extremamente complexo em seus vários contextos. Segundo Araújo:

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Vidal de la Blache, Jean Bruhnes, Demolins, Ratzel, Reclus e muitos outros,

nos estudos dos fatores geográficos que realizaram, demostraram a

importância desses fatores sobre o social. Solo, clima, água ventos, chuvas,

temperatura, flora, fauna determinam a conduta humana, os seus processos

sociais, o nascimento das instituições, o desenvolvimento dos grupos sociais.

Os agentes geográficos podem agir direta ou indiretamente, produzindo

fenômenos sociais, no espaço social. Sem ser através de uma ação rígida e

quase sempre indiretamente, os fatores geográficos não deixam de influir

nos fenômenos sociais de uma área geográfica. (ARAÚJO, 2003, p. 29)

Devido a essa diversidade natural, cultural e territorial, faz-se necessário optarmos por

um eixo temático que nos leve a esclarecer a importância do ambiente amazônico, como

explicitaremos nas próximas subseções.

1.2 Amazônia Legal e suas multiplicidades

Como este estudo trata da criação da disciplina de Estudos Amazônicos e a formação

de seus professores, faz-se necessário uma delimitação da caracterização do ambiente

amazônico, pois, diante de várias multiplicidades e vertentes que poderíamos seguir, optamos

por entender a importância do ambiente amazônico a partir da urbanização, como veremos

nesta subseção e na próxima.

A grande expansão urbana no Brasil, como um componente fundamental das

mudanças estruturais na sociedade brasileira, ocorreu na segunda metade do século XX.

Somente na década de 1960, a população urbana tornou-se superior à rural. Portanto, o rápido

processo de urbanização é um fenômeno estrutural relativamente recente, tendo o seu auge

medido pela velocidade do crescimento da população urbana, entre os anos 1950 e 1970.

O fenômeno da urbanização é, hoje, avassalador nos países do Terceiro

Mundo. A população urbana dos países subdesenvolvidos (tomadas apenas

as cidades com mais de vinte mil habitantes) é multiplicada por 2,5 entre

1920 e 1980, enquanto nos países subdesenvolvidos o multiplicador se

aproxima de 6. O retardo da urbanização nos países do "Sul" é seguido por

uma verdadeira revolução urbana. No caso do Brasil, a população urbana é

praticamente multiplicada por cinco nos últimos trinta e cinco anos e por

mais de três nos últimos vinte e cinco anos. (SANTOS, 1988, p.15)

Com o espaço amazônico não tem sido diferente. Desde a colonização, a Amazônia

brasileira tem sido submetida a uma ação sistemática de retirada de riquezas, que se

configurou em diferentes modos de apropriação, produção/organização social e política do

espaço. Segundo Bertha Becker:

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Foi com a formação do moderno aparelho de Estado, associada à sua

crescente intervenção na economia e no território, que se acelerou e se tornou

contínuo o processo de ocupação da Amazônia, com base na dominância

absoluta da visão externa e privilégio das relações com o centro de poder

nacional. (BECKER 2001, p.136)

A extração de parte dessas riquezas propiciou um fomento da urbanização da

Amazônia brasileira, mesmo que tenha sido efêmera, baseada em ciclos econômicos. Um traço

relevante que marca as diferentes atividades que prevaleceram em momentos distintos é, em

geral, o não encerramento de cada um deles. O que houve foi uma alternância da hegemonia.

Assim, o chamado ciclo das drogas do sertão, que muito marcou o período dominado pelos

jesuítas e a época da colônia até o fim do século XIX, está ainda vigente. Da mesma forma, o

ciclo da borracha, que começou na segunda década do século XIX e teve seu apogeu na

primeira década do século XX, não se encerrou, embora tenha perdido boa parte de seu vigor

e, sobretudo, tenha passado a um plano bem mais secundário no panorama na economia

regional.

Ao estudar o padrão de ocupação do espaço geográfico da região, fica claro que, ao

longo de séculos, os núcleos de povoamento sempre obedeceram às características impostas

pela natureza. Os rios serviam de vias de interiorização e as terras mais afastadas das margens

ficavam despovoadas. Até hoje, parte significativa da produção do extrativismo é

comercializada pelos rios, entretanto, vale ressaltar que o padrão rio-várzea-floresta5 dá

espaço a um novo padrão, estrada-terra firme-subsolo6 a partir da década de 60 do século XX,

o que proporciona uma (re)produção do espaço amazônico. De acordo com Trindade Junior:

O quadro regional da Amazônia brasileira das últimas décadas nos faz

concluir pela existência de uma nova dinâmica de urbanização que toma

forma difusa e diversa na região. Há uma mudança no padrão de organização

do espaço que desemboca, igualmente, em uma maior complexidade,

relacionada não só às formas da cidade, como também aos seus conteúdos,

confirmando o processo diferenciado de produção do espaço. (TRINDADE

JÚNIOR, 2011, p.135)

Se a Amazônia dos rios foi o padrão que marcou mais de quatro séculos de ocupação

europeia, o cenário começa a mudar de figura nas três últimas décadas do século XX. A era

desenvolvimentista, inaugurada ainda nos anos 1950, no governo de Juscelino Kubitschek,

chega de fato à Amazônia após a retomada da dinâmica da economia no final da década de

1960, já no regime militar. Uma série de fatores convergia para a promoção de um arrojado

5 Nomenclatura proposta por Carlos Walter Porto-Gonçalves (2008). 6 Idem.

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projeto de integração da região, reproduzindo na escala nacional um fenômeno semelhante ao

que ocorria também nos outros países da Pan-Amazônia

Políticas de planejamento para Amazônia, a partir da criação da Superintendência do

Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), em 1953, tomaram a região como

tendo uma estrutura econômica deficitária, necessitando de ações transformadoras para

resgatá-la de seu atraso e subdesenvolvimento. Para isso, seria necessário estimular a

industrialização, desenvolver uma agricultura voltada para o mercado local e ainda promover

a integração econômica daquela região ao Sudeste e Sul mais desenvolvido.

No mesmo período, ganhavam força os objetivos geopolíticos de também efetivar a

ocupação da região, que, supostamente, estaria ameaçada por interesses hegemônicos de

outros Estados. O Regime Militar de 1964 deu sustentação aos argumentos de soberania

nacional, que serviram de justificativa para as políticas implantadas, a partir de então, na

Amazônia Legal Brasileira, mas que também encobriram as várias formas de atuação do

capital estrangeiro, no sentido de obter a um baixo custo as possíveis riquezas minerais

disponíveis na região, conforme diz Bertha Becker:

O Estado tomou a si a iniciativa de um novo e ordenado ciclo de

devassamento amazônico, num projeto geopolítico para a modernidade

acelerada da sociedade e do território nacionais. Nesse projeto, a ocupação

da Amazônia assumiu prioridade por várias razões. Foi percebida como

solução para as tensões sociais internas decorrentes da expulsão de pequenos

produtores do Nordeste e do Sudeste pela modernização da agricultura. Sua

ocupação também foi percebida como prioritária, em face da possibilidade

de nela se desenvolverem focos revolucionários. (BECKER, 2001, p.137).

Todas essas iniciativas acabaram por colocar definitivamente a Amazônia Oriental no

contexto da economia de mercado liderada pelo Centro-Sul mais desenvolvido, com boas

oportunidades para investimentos por parte de empresários e de grupos econômicos dessa

região e também do exterior.

As prospecções realizadas por iniciativas governamentais e por subsidiárias de

empresas estrangeiras permitiram um levantamento dos recursos minerais, culminando com a

descoberta das reservas de minério de ferro na Serra dos Carajás, no Sul do Pará, área então

pertencente ao município de Marabá.

A inclusão da Amazônia, preponderantemente do sudeste do Pará, no cenário

econômico nacional, após a década 1960, fez-se em função desses estímulos governamentais,

em decorrência do grande capital nacional e internacional ou por meio de associação entre os

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dois. A participação do Estado ocorreu, inicialmente, por meio de incentivos fiscais e, depois

para subsidiar a infraestrutura, sobretudo por meio de estradas, construção de aeroportos,

fornecimento de energia elétrica, construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí e também por

meio de empresas estatais, como a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), incumbida pelo

Governo Federal de implantar o Projeto Grande Carajás (PGC), a partir de 1980.

A inserção de políticas públicas direcionadas à Amazônia Oriental trouxe uma grande

quantidade de migrantes, principalmente para cidade de Marabá, desse modo, modificando e

(re)produzindo o espaço urbano da cidade. Para Santos (1998, p.52), “Quanto mais intensa é

a divisão do trabalho numa área, tanto mais cidades surgem e tanto mais diferentes são umas

das outras”. Dentro desta perspectiva, quanto mais uma região produz, mais ela vai se

desenvolver, pois criará um maior número de necessidades.

Entretanto, desenvolvimento não é sinônimo de progresso. Por esse motivo, o

desenvolvimento regional aconteceu de forma facetada, segregando e excluindo os que não

foram absorvidos pelos Grandes Projetos, formando bolsões de miséria em todo Sudeste

paraense. A soberania nacional foi garantida em detrimento das mazelas sociais evidenciadas

no espaço de várias cidades envolvidas num verdadeiro negócio da China7 proposto pelo

Governo Federal.

Neste contexto é importante ressaltar as políticas públicas que estavam sendo

implementadas em âmbito internacional para que se chegasse a um “Desenvolvimento

Sustentável”. Fala-se em crise ambiental, e não temos dúvida de que a crise exista. Entretanto,

preocupamo-nos com os modelos adotados para solucionar esta crise. Desde a Conferência de

Estocolmo (1972) ou Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente Humano,

organizado pelas Organizações das Nações Unidas (ONU), na Suécia, busca-se um modelo

ideal de exploração dos recursos naturais e a harmoniosa convivência entre o homem e o meio

ambiente.

Em 1992, aconteceu no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro/RJ, a Segunda Conferência

das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92), que envolveu o

número recorde de delegações de 178 países e promoveu a celebração do Desenvolvimento

Sustentável através de documentos como a Agenda 21. Em primeiro plano, a ECO-92 foi o

7 Com a privatização da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), atualmente conhecida como VALE, a empresa

tornou-se uma das maiores exportadoras do minério de ferro para China, fazendo com que o município de

Parauapebas-PA, fosse o maior exportador do Brasil no mês de janeiro de 2014.

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lugar onde celebrou-se o modelo de Desenvolvimento Sustentável que seria adotado pelos

países signatários.

Desenvolvimento Sustentável: suas origens remetem à obra do liberal norte-

americano do final do século XIX, Gifford Pinchot, responsável pela

teorização acerca do que se convencionou chamar de conservacionismo (uso

racional da natureza através de pequenos estoques), mas somente na década

de 1960 houve uma aproximação dos movimentos ambientalistas nascentes

e das estratégias geopolíticas, de matriz neomalthusiana, para adequação da

natureza-combustível a um novo ritmo de desenvolvimento que mantivesse

as relações exploratórias entre centro e periferia no sistema-mundo. Ou seja,

tornou-se necessário, sob o viés hegemônico, cuidar da natureza para evitar

seu esgotamento e não prejudicar a continuidade do ritmo capitalista. Tudo

isso gerou uma grande celeuma, que originou estratégias aparentemente

sinceras de cuidado ambiental, como o Ecodesenvolvimento, e outras de

caráter claramente dominante, como o Crescimento Zero, que pregava o

congelamento econômico dos países intitulados de “Terceiro Mundo”. O

Desenvolvimento Sustentável é o corolário deste processo de encontro de

interesses, que eclipsou as antigas divergências, e simboliza o fracasso da

Conferência de Estocolmo, onde houve grande dissenso de idéias, e o

sucesso da ECO – 92. (OLIVEIRA, 2005, p. 26)

A região amazônica estava/está inserida nesta lógica de pensamento, pois, partindo do

pressuposto que somos considerados um país que busca seu desenvolvimento e que a

Amazônia brasileira é localizada na região de menor desenvolvimento econômico do país,

busca-se, a todo e qualquer custo, um modelo de desenvolvimento que não é pensado para

população residente na região, um modelo esgotado de exploração onde os maiores

beneficiados são os países considerados desenvolvidos economicamente.

Cabe ressaltar as diversas tipologias das concepções do Desenvolvimento Sustentável

elencadas por Sauvé (1997): Desenvolvimento Contínuo, com inovação tecnológica e

mercado livre baseado no crescimento econômico; Desenvolvimento Dependente da Ordem

Mundial; Desenvolvimento Alternativo; Desenvolvimento Autônomo (Desenvolvimento

Indígena).

O Desenvolvimento Contínuo é baseado na produtividade e competitividade, onde a

ciência e a tecnologia estarão a serviço do Estado para o crescimento econômico. O ambiente

é visto como recurso para o desenvolvimento e o gerenciamento do uso racional dos recursos

para sustentabilidade.

Entre as diversas ferramentas de gerenciamento requeridas para o aumento

da produtividade num mundo altamente competitivo, Langlois (1995) e Orr

(1992) identificam o seguinte: privatização, desregulamentação, liberalismo,

menos intervenção governamental (i.e., redução dos serviços sociais),

flexibilidade nos serviços (empregos sem estabilidade), enfraquecimento

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dos sindicatos, etc. Cada ator deverá "perseguir" seus objetivos no mercado

de trabalho: isso é essencial para criar empregos e aumentar as riquezas. A

ideologia neoliberal cria uma forma de Darwinismo social, favorecendo os

mais adaptados para esse tipo de desenvolvimento baseado na competição

orientada, onde as regras do jogo estão a priori determinadas pelos e para os

mais ricos. Não obstante, Mead (1994) observa que alguns acreditam que

somente o significante crescimento econômico no Norte pode gerar uma

riqueza necessária para criar um equilíbrio entre o Norte e o Sul. (SAUVÉ,

1997)

Neste modelo, o desenvolvimento é pensado para o aumento da produtividade sem

exaurir os recursos naturais e estimulando a competitividade. Acreditamos que não seja o

modelo a ser seguido para a Amazônia, logo, o crescimento econômico, com princípios

neoliberais, não irão resolver os problemas sociais e ambientais de nossa região.

O Desenvolvimento Dependente da Ordem Mundial e dos Modelos de Produção é

baseado no livre comércio em grandes escalas, inovações científicas e tecnológicas para

reestruturação das condições sociais. Neste modelo, o ambiente é pensado como uma biosfera

de recursos a serem geridos por organizações mundiais, pactos regionais, acordos nacionais e

legislações locais. Segundo Sauvé (1997):

Essa concepção baseia-se em que o mercado livre e a inovação tecnológica

trazem o desenvolvimento. Todavia, ela deve reconhecer que os mecanismos

da distribuição da "nova riqueza" (empregos, qualidade de vida) são

anacrônicos ou pouco desenvolvidos. Por causa disso, a polarização social

está aumentando tanto no Norte como no Sul. Enquanto os tomadores de

decisão empregam a retórica da sustentabilidade, os autônomos desafiam a

habilidade governamental para o controle do consumo e da poluição.

(SAUVÉ, 1997)

Este modelo de desenvolvimento é considerado excludente. Os problemas sociais não

foram resolvidos pelo crescimento econômico e o controle pelas organizações superiores

foram questionados por movimentos autônomos.

No Desenvolvimento Alternativo é estruturado um modelo de desenvolvimento bio-

regional econômico com distinção das necessidades e dos desejos, reduzindo a dependência e

utilizando os recursos renováveis, estimulando assim, os processos democráticos, a

participação e a solidariedade. O Ambiente é visto como um projeto comunitário.

Esse tipo de desenvolvimento enfatiza a economia bio-regional, baseado nos

seguintes princípios (segundo Orr, 1992): distinção entre as necessidades

reais e os desejos, redução de dependência e aumento da autonomia,

favorecimento dos recursos renováveis, utilização dos recursos locais,

reestruturação da economia local, favorecimento das condições sociais para

o fortalecimento das sociedades e a promoção da participação e da

solidariedade. (SAUVÉ, 1997)

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O modelo de desenvolvimento alternativo é pensado por comunidades regionais que

visa o fortalecimento da relação social em prol do ambiente. Podemos considerar este modelo

como endógeno.

No Desenvolvimento Autônomo prevalece a economia de subsistência, baseada na

solidariedade e associada às distintas cosmologias. É conhecido também como

desenvolvimento indígena, por ressaltar os valores culturais sem a perda da identidade

territorial dos povos, fato comumente visto em um mundo globalizado.

O desenvolvimento dessa concepção, adotada pelas comunidades indígenas,

constitui-se uma alternativa para o próprio desenvolvimento, que é

percebido como um negócio inadequado e indesejado. "Para muitos

representantes das comunidades indígenas, a noção de desenvolvimento é

irrelevante". A identidade cultural, associada à ocupação territorial, bem

como a integridade dos recursos (preservação ou regeneração), constituem-

se como únicos valores seguros que garantem o verdadeiro

desenvolvimento. (SAUVÉ, 1997)

Este modelo desenvolvimento adotado por comunidades indígenas é fundamental para

pensarmos o modelo que a região amazônica necessita, haja vista que a Amazônia é o território

de permanência não só dos indígenas, mas de diversas comunidades tradicionais, como os

ribeirinhos, quilombolas, pescadores, jangadeiros, sertanejos etc.

Pensando nas concepções de desenvolvimento apresentadas até aqui, entendemos que

a interconexão dos modelos de Desenvolvimento Alternativo e Desenvolvimento Autônomo,

elencados por Sauvé (1997), sejam os mais propícios a serem adotados para região amazônica,

pois além de integrar toda uma região que é constituída de diversos povos, não exclui as

comunidades tradicionais.

Neste sentido é importante entender quando surgem as primeiras pesquisas voltadas à

disciplina de Estudos Amazônicos e qual sua finalidade. Porém, antes de dissertamos sobre o

surgimento da disciplina, necessitamos compreender as dinâmicas que o Sudeste do Pará, mais

especificamente o município de Marabá, está inserido.

1.3 Entroncamento de Marabá

A cidade de Marabá, situada no sudeste do estado do Pará, é o local onde foi

desenvolvido o nosso estudo; portanto, nesta subseção, apresentamos um breve histórico

político, econômico e social da região, pois entendemos que esses fatores auxiliaram no

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tratamento dos dados produzidos e podem ser preponderantes para os resultados de nossa

pesquisa.

FIGURA/Mapa 2 – Localização da cidade de Marabá

Fonte: IBGE 2016

O título desta subseção, Entroncamento de Marabá, deve-se ao encontro das duas

principais vias de acesso à cidade: as rodovias Transamazônica (BR-230) e Paulo Fontelles

(PA-150), rodovias que foram e continuam sendo fundamentais para o desenvolvimento da

cidade e da região de Carajás8. Além destas duas rodovias, a cidade é banhada, principalmente,

pelos rios Itacaiúnas e Tocantins que também exercem sua importância desde a fundação da

cidade.

Segundo Almeida (2008), o processo de ocupação da área onde hoje se encontra

Marabá deve-se à fundação do Burgo Agrícola, instaurado por Carlos Gomes Leitão9 que é

pertencente de um grupo de famílias provenientes de Goiás em 1895. Inicialmente, a ideia era

estabelecer um núcleo dedicado à agropecuária para assentar colonos que fugiam das lutas

8 O Carajás é uma proposta para uma nova unidade federativa do Brasil, que seria fruto do desmembramento do

Pará. A região abrange uma população de aproximadamente 1,7 milhão de habitantes, e 289.799 km² de área.

9 Conhecido como coronel Leitão foi um político, militar, magistrado e agricultor brasileiro que se fixou nos

estados do Pará, Goiás (hoje Tocantins) e Maranhão.

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políticas na cidade de Boa Vista10 que, até então, pertencia a Goiás. Entretanto, o local

escolhido para a fundação da cidade, junto ao encontro do rio Itacaiúnas com o rio Tocantins,

próximo de onde hoje se encontra o bairro Marabá Pioneira, apresentou problemas de

insalubridade e parte da população foi acometida por febres. Em consequência disso, alguns

moradores migraram para um outro ponto do burgo, acompanhando Carlos Leitão, 18

quilômetros rio abaixo. Segundo o engenheiro Ignácio Baptista de Moura, que em 1896

percorreu a região comissionado pelo Governo do Pará, as condições no novo local eram bem

melhores, inclusive no que se referia às enchentes11.

Figura 1 – Enchente na década de 80

Fonte: Casa da Cultura

Após o estabelecimento do Burgo Agrícola, foi descoberto o caucho (borracha) nas

matas em torno da bacia do rio Itacaiúnas. A exploração do caucho12 impôs a necessidade de

ocupar o pontal pela facilidade de se controlar o acesso à mata, sobre os caucheiros que

extraiam o produto e também do trafego fluvial por parte dos comerciantes que negociavam

o produto na capital, Belém. Nesse pontal formou-se um núcleo a partir de uma casa comercial

fundada por um maranhense chamado Francisco Coelho, em 1898.

10 Segundo IBGE (2015), a cidade de Boa Vista, atualmente conhecida como Tocantinópolis, foi alvo de intensas

disputas políticas geradas pelo coronel Leitão que inclusive em sua época já almejava a criação do estado do

Tocantins. 11 A cidade de Marabá, desde a sua fundação, sofre anualmente com problemas de enchentes. Esse problema

deve-se ao local de fundação da cidade, que foi justamente no encontro dos rios Itacaiúnas e Tocantins. 12 Um dos atrativos para ocupação da cidade de Marabá foi a descoberta do Caucho (Castilla ulei Warb), uma

árvore que se extrai o Látex de qualidade inferior ao da Seringueira.

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Segundo Rodrigues (2010), o extrativismo do caucho ganhou impulso atraindo levas

de migrantes, comerciantes donos de embarcações e distribuidores de mercadorias. Muitos

deles também se estabeleceram na condição de aviadores por adiantarem ou aviarem recursos,

utensílios e alimentação aos caucheiros para que estes penetrassem na mata. O acerto era feito

na entrega do produto para embarque em Marabá em direção a Belém. Essa relação de trabalho

conhecida como aviamento, acabou se consolidando e depois se manteve durante o ciclo da

castanha.

Por meio do aviamento a mão de obra era submetida a uma relação de dependência,

antes e depois do trabalho de extração do caucho, uma vez que, sem o adiantamento em

produtos e a estadia mantida pelo patrão, o caucheiro não tinha como iniciar o seu serviço.

Dentro desse processo, constituiu-se o núcleo urbano, onde uma parte da população

deslocava-se para outras regiões na entressafra do caucho e outra se dedicava a serviços

temporários, praticando uma agricultura de subsistência ou roçado. Durante essa época do ano

o movimento na cidade diminuía, nas pensões, no comércio e no porto às margens do rio

Tocantins, pois a navegação durante o “verão” era mais difícil com a vazante dos rios.

No início do segundo decênio do século XX, a crise da borracha provocada pela

concorrência asiática derrubou os preços da goma elástica brasileira, afetando a extração do

caucho na área de Marabá. Contudo, um outro produto já bem conhecido na região encontrava

boas possibilidades no mercado internacional, a castanha-do-pará, fruto da castanheira

(bertholetia excelsa). A presença de castanhais nas áreas do Baixo Tocantins já era bem

conhecida e a sua extração também. O que notabilizou a área do município de Marabá foi a

grande concentração dessas árvores, também na bacia do rio Itacaiúnas e de seus igarapés. A

castanha era muito apreciada na Europa e nos Estados Unidos, sobretudo para confecção de

doces e bolos.

A castanha colocou Marabá em uma situação favorável para poder superar

rapidamente a decadência do comércio da goma elástica. Além da localização, próxima aos

castanhais mais produtivos, Marabá possuía um porto já instalado e o sistema de aviamento

em vigor na época do caucho e que se perpetuou nessa atividade.

Marabá presenciou outros ciclos, como a exploração de diamantes próximo ao rio

Itacaiúnas e do ouro em Serra Pelada, que até aquela época fazia parte do território

marabaense, posteriormente emancipando-se e surgindo um novo município, Eldorado do

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Carajás. Atualmente, a cidade vive o ciclo da agropecuária, principalmente a pecuária

extensiva.

Hoje o município de Marabá é o quarto mais populoso do Pará, contando com

aproximadamente 266.032 habitantes, segundo o IBGE (2016), e com o 4º maior Produto

Interno Bruto (PIB) do estado, com seu Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

(IDHM) é de 0,668. É o principal centro socioeconômico do sudeste paraense e uma das

cidades mais dinâmicas da região Norte.

A evolução histórica da urbanização da cidade de Marabá, desde seu surgimento, tem

sido condicionada pelas atividades econômicas e políticas de desenvolvimento que, por si,

conduziram a um elevado aumento populacional, em alguns momentos, que deu origem a uma

ocupação e uso do solo conflitantes, em algumas áreas, com as condições ambientais locais.

Devido a dinâmica da migração, impulsionada pelos ciclos econômicos outrora

verificados na região e a perspectiva da instalação da Aços Laminados do Pará (ALPA)13, que

seria implantado pela mineradora VALE, além dos núcleos14 de povoamento já existentes

(São Félix, Cidade Nova, Nova Marabá, Morada Nova), foi possível verificar o surgimento

da expansão do núcleo Nova Marabá.

13 Inicialmente projetado para ser implantado pela mineradora VALE, a siderúrgica ALPA motivou a vinda de

migrantes da própria região e de diversas regiões do Brasil, principalmente do Nordeste. Criou-se uma estrutura

para implantação do projeto, mas a mineradora VALE doou o terreno à multinacional Cevital, que promete

investir U$ 2 bilhões e gerar 2.500 empregos diretos até 2019. 14 A cidade de Marabá, inicialmente devido a topografia e depois pela expansão do mercado imobiliário é

considera polinucleada, ou seja, devido a fatores diversos a cidade se expandiu de forma descontinua.

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Figura 2 – Imagem de satélite dos núcleos de Marabá

Fonte: Google Maps 2016

Na imagem acima é possível identificar os núcleos de ocupação da cidade de Marabá.

O círculo em vermelho representa o primeiro núcleo de povoamento, São Félix, que

posteriormente se expandiu para Cidade Nova (círculo em lilás), Nova Marabá (círculo em

azul) e atualmente a expansão se dá pela BR-230 (Transamazônica), sentido Tocantins

(círculo em vermelho escuro).

Ainda segundo o IBGE (2015), o município possui 1265 docentes da rede pública de

ensino municipal, 219 escolas municipais e 43.035 alunos matriculados no Ensino

Fundamental da rede pública de ensino. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

(IDEB), referente ao 9º ano é de 4,0. (INEP, 2015)15. Estes fatores e os outros expostos até

aqui nos credenciam pela escolha do município de Marabá para realização desta pesquisa, haja

vista a necessidade de entender o processo de formação do professor que atua com uma

disciplina específica sobre a temática amazônica e a sua importância para disseminação dos

conhecimentos relacionados a nossa região.

15 O IDEB é apenas um dos mecanismos de avaliação da Educação Básica, o que não reflete realidade da

qualidade de ensino no Brasil, devendo ser levado em consideração outros mecanismos.

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2 O MARCO REFERENCIAL DA DISCIPLINA DE ESTUDOS AMAZÔNICOS

Neste capítulo abordaremos a LDB/96, mais especificamente seu artigo 26 que trata

da Parte Diversificada do currículo, analisaremos o parecer 06/2001 do Ministério da

Educação (MEC), bem como dissertaremos sobre o surgimento da disciplina de Estudos

Amazônicos e a interdisciplinaridade que a envolve. Para tanto, dividimos este capítulo nas

subseções: 2.1 Parte diversificada do currículo e a disciplina de Estudos Amazônicos; 2.2

Surgimento da disciplina de Estudos Amazônicos e 2.3 Estudos Amazônicos e a

Interdisciplinaridade.

2.1 Parte Diversificada do currículo e a disciplina de Estudos Amazônicos

Antes de conhecermos a história da disciplina de Estudos Amazônicos, necessitamos

definir como surgiram as disciplinas escolares e entender o real objetivo e significado que a

disciplina tem para a Amazônia.

Por isso, começamos com uma indagação de Bittencourt (2004) “afinal, o que é uma

disciplina escolar”? E qual a importância de criar-se uma disciplina que aborde a temática

amazônica?

Responder à pergunta “o que é uma disciplina escolar?” não é simples, e

existe séria polêmica a respeito desse conceito, a qual pode parecer

meramente acadêmica e teórica, mas está relacionada a concepções mais

complexas sobre a escola e o saber que ela produz e transmite assim como

sobre o papel e o poder do professor e dos variados sujeitos externos à vida

escolar na constituição do conhecimento escolar. (BITTENCOURT, 2004,

p. 35)

Analisando os principais estudos sobre a história das disciplinas escolares, é possível

destacar os trabalhos de Chervel (1990) e de Chevallard (1991), aos quais foram atribuídos os

créditos como marco referencial nessa área de pesquisa.

Os conceitos discutidos por Yves Chevallard contribuíram para o embasamento de

várias pesquisas, pois o autor entende a disciplina escolar como resultado da transposição

didática, ou seja, a disciplina tem o objetivo de criar formas para transpor o conhecimento.

André Chervel (1990) pesquisa sobre a história da língua francesa, afirmando que o

estudo da história das disciplinas escolares não foram intencionalmente objeto de reflexão

aprofundada nas ciências da educação, mas a história de cada uma das disciplinas é

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fundamental para identificação, classificação e organização das finalidades do ensino escolar.

Para Chervel o termo “disciplina” até o início de século XX era tido como uma vigilância e

uma punição as crianças, porém com o fim da primeira guerra mundial o termo perde a força

que o caracterizava anteriormente e torna-se uma simples matéria de ensino.

Neste sentido cabe pensarmos qual foi o intuito da criação da disciplina de Estudos

Amazônicos. Houve relação de poder? A disciplina tornou-se um movimento de resistência

ou apenas uma disciplina resistida a velha lógica do pensamento hegemônico de dominação

social? Tentaremos entender se esses questionamentos são respondidos ao logo dessa

dissertação, mas, para isso, necessitamos saber a base legal na qual surgiu a disciplina.

Para entendermos esta base legal é necessário fixarmos nosso olhar para currículo

escolar dos Ensinos Fundamental e Médio que é composto por dois eixos, o da Base Nacional

Comum e a Parte Diversificada. A Base Nacional Comum é obrigatória em âmbito nacional

e as disciplinas são fixadas pelo Conselho Federal de Educação. A Parte Diversificada do

currículo é composta de disciplinas que serão escolhidas com base em relação elaborada pelos

Conselhos de Educação, para os respectivos sistemas de ensino.

A Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013, que altera o Art. 26 da LDB de 1996, diz que:

Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio

devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de

ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada,

exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da

economia e dos educandos. (BRASIL, 2013)

É importante ressaltarmos que existiam muitas dúvidas referentes à diferenciação dos

termos Base Nacional Comum e Parte Diversificada. Tanto é que, o Conselho Estadual de

Educação do Rio Grande do Sul, através do oficio CEED/ N. 761, consulta a Câmara de

Educação Básica do Conselho Nacional de Educação sobre o entendimento que há de ter sobre

os termos Base Nacional Comum e Parte Diversificada.

Segundo o Conselho Estadual de Educação do Rio Grande do Sul, as expressões Base

Nacional Comum e Parte Diversificada são resquícios da Lei nº 5.692/71 que, na atual LDB,

com bastante acuidade, tornam a Parte Diversificada sem o sentido que deveria ter no contexto

da educação local.

Entretanto, a autonomia que é dada às instituições educacionais, muitas vezes é

suprimida pela vontade de grupos políticos locais e até regionais. O Conselho Nacional de

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Educação é bem claro em relação a como deve ser elaborada a Parte Diversificada a partir da

LDB de 1996:

A lei n. 9.394/96 das diretrizes e bases da educação nacional contém

mudanças significativas com relação ao ordenamento educacional anterior.

A nova lei em seu art, 92, chega mesmo a revogar as leis de educação

precedente. Isto significa mais do que a instituição de uma outra lei.

Significa um projeto que contenha uma mudança significativa, nova. Esta

novidade atende na lei n. 9.394/96 pelo nome de autonomia [...] (BRASIL,

2006)

Dessa forma, precisamos deixar claro que as disciplinas que compõem a Parte

Diversificada devem servir os educandos e, prioritariamente, envolver as características

locais, culturais e da economia de cada região. Portanto, cada escola pode elaborar e escolher

qual disciplina atende as necessidades dos educandos, para dar complementaridade e sentido

a Parte Diversificada do currículo.

É necessário entender a proposta da parte diversificada analisando os variados

conceitos de currículo existentes. A palavra currículo vem da palavra latina scurrere (correr)

e refere-se a curso (ou carro de corrida), o que leva etimologicamente a uma definição de

currículo como um curso a ser seguido, ou mais especificamente, apresentado (GOODSON,

1995).

Apple (2006, p. 32) afirma que “o currículo nunca é um conjunto neutro de

conhecimentos, ele é parte de uma tradição seletiva, resultado da seleção de alguém, da visão

de algum grupo acerca do que seja conhecimento legítimo”. Sendo assim, podemos entender

o currículo como a base cultural de determinado grupo social, em diversas temporalidades,

entrelaçando-se entre o tradicional e o moderno.

A Secretária de Estado e Educação do Pará explicita o currículo como:

O currículo deve ser definido a partir das necessidades específicas de cada

realidade escolar, por todos os sujeitos envolvidos no contexto em questão.

Isto implica dizer que na definição do currículo deve-se partir da “realidade”,

da “necessidade” dos alunos para a seleção dos “saberes” e “conhecimentos”

a serem por eles apropriados. (PARÁ, 2003)

Neste contexto, o currículo deve atender às especificidades de cada comunidade

escolar, partindo de uma escala local ao global. A importância dos grupos sociais e de suas

culturas necessitam ser compreendidas para que haja uma valorização da cultura local em

detrimento ao movimento de aculturação que permeia a sociedade globalizada. Porém, muito

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além de um currículo que vise apenas atender necessidades, devemos almejar um currículo

crítico-libertador.

Não reduzimos, por isso mesmo, sua compreensão, a do currículo explícito,

a uma pura relação de conteúdos programáticos. Na verdade, a compreensão

do currículo abarca a vida mesma da escola, o que nela se faz ou não se faz,

as relações entre todos e todas as que fazem a escola. Abarca a força da

ideologia e sua representação não só enquanto idéias mas como prática

concreta. No currículo oculto o “discurso do corpo”, as feições do rosto, os

gestos, são mais fortes do que a oralidade. A prática autoritária concreta põe

por terra o discurso democrático dito e redito (FREIRE, 2000, p. 123).

Assim, o entendimento do que é currículo torna-se fundamental para que seja

desenvolvida uma matriz curricular para disciplina de Estudos Amazônicos e,

consequentemente, entender as necessidades dos discentes em relação ao porque estudar uma

disciplina de características regionais.

2.2 Surgimento da disciplina de Estudos Amazônicos

Em meados da década de 80 do século XX, houve a necessidade da inclusão das

disciplinas História do Pará e Estudos Paraenses na grade de disciplinas da Secretaria Estadual

de Educação do estado do Pará e Secretaria Municipal de Educação de Belém, com a

justificativa do fortalecimento dos conteúdos concernentes ao estado do Pará e baseados em

um programa do MEC que instituiu um programa chamado “Educação para Todos – Caminho

para Mudança”. A partir da implementação deste programa o curso acadêmico de História,

principalmente na Universidade Federal do Pará (UFPA), reorganizou sua grade curricular e,

posteriormente, sugeriu a implementação das disciplinas supracitadas.

Como as disciplinas História do Pará e Estudos Paraenses não são o foco desta

pesquisa, vamos partir para o surgimento da disciplina de Estudos Amazônicos, deixando

claro que houve sim, importância das disciplinas, mas em um outro período, já no final da

década de 80 do século XX, começou-se a pensar na possiblidade de uma disciplina com

abrangência regional, sem desmerecer os conteúdos locais.

Segundo entrevista concedida por Loureiro (2016)16, a disciplina de Estudos

Amazônicos começou a ser pensada em meados da década de 80 a partir da elaboração de um

16 Violeta Refkalefsky Loureiro, doutora em Sociologia - Institut Des Hautes Etudes de Amérique Latine (1994).

Professora Associado. Foi a mentora da disciplina de Estudos Amazônicos. Concedeu entrevista a este

pesquisador no dia 07 de abril de 2016. A transcrição da entrevista encontra-se no apêndice desta dissertação.

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livro chamado 'Amazônia estudos e problemas sociais', onde vários professores foram

convidados para sua elaboração e o mesmo visava elucidar temas referentes à Amazônia. O

livro foi desenvolvido para os professores do Ensino Médio, especificamente para os

professores de Geografia, História e Sociologia, para que os temas relacionados à Amazônia

fossem disseminados no Ensino Básico.

Você só consegue defender uma região, do ponto de vista de agressões

ambientas e mesmo agressão de direitos humanos e tudo, se você conhece

os problemas da região e os alunos conheciam muito pouco, então, eu

comecei a discutir duas questões básicas: era a falta de conhecimento sobre

a Amazônia e a importância da Sociologia e da Filosofia no Ensino Médio.

(LOUREIRO, 2016)

Partindo desse pressuposto, entendemos que o surgimento da disciplina se deu em um

período oportuno no qual a professora Violeta Loureiro era diretora de ensino na SEDUC/PA

e, segundo Alves (2016):

Os debates na Secretaria de Educação do Estado do Pará e a elaboração da

disciplina Estudos Amazônicos, começaram a ser discutido em 1987,

quando esta secretaria organizou um evento em Belém voltado para os

professores da rede estadual, neste encontro os professores ressentiam-se da

falta de material didático, que dialogasse com temas amazônicos para a

escola. Neste sentido a SEDUC em parceria com o IDESP (Instituto de

Desenvolvimento Econômico-social do Pará), publicou uma coletânea de

textos voltados para os professores da rede estadual, que discutisse alguns

acontecimentos recentes na região amazônica, processos sociais que até

então eram silenciados no espaço escolar. (ALVES, 2016)

A partir da resolução nº 630/97, aprovado pelo Conselho Estadual de Educação

(CEE/PA), a disciplina de Estudos Amazônicos passar a existir em substituição à disciplina

Estudos Paraenses. Vale ressaltar que a professora Violeta Loureiro também era membro do

CEE/PA e, prioritariamente, tinha-se pensado que a disciplina seria ofertada para o Ensino

Médio. Entretanto, por falta de recursos a disciplina foi e continua sendo ofertada apenas no

Ensino Fundamental II, com exceção de algumas escolas com jurisprudência do governo do

Estado do Pará que ofertam a disciplina no Ensino Médio, fruto de muitas lutas e conquistas

por parte de professores e alunos. Apesar da resolução ter sido publicada no ano de 1997,

segundo Alves (2016), somente no ano de 1999 a disciplina torna-se obrigatória no Ensino

Fundamental II :

Em Ofício encaminhado para as escolas públicas do Estado do Pará a

diretora de Ensino deste estado Violeta Refkalefsky Loureiro encaminha as

novas matrizes curriculares para o Ensino Fundamental e Médio para o ano

de 1999, no qual faz uma alteração na parte diversificada do currículo com

a inclusão da disciplina Estudos Amazônicos em substituição a disciplina

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Estudos Paraenses, com duas aulas semanais na 5ª e 6ª séries e três aulas

semanais na 7ª e 8ª séries, tendo a seguinte justificativa "pela imperiosa

necessidade da escola contribuir para a formação de uma consciência nos

cidadãos sobre a Amazônia como uma questão nacional e ser a Amazônia o

maior e mais rico sistema natural do planeta Terra" (ALVES, 2016)

A Secretaria de Estado de Educação do Pará (SEDUC/PA) propõe um novo modelo

curricular para o Ensino Fundamental e Médio, com base no Artigo 26 da LDB/96 e nas novas

Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental e Médio. As referidas Diretrizes

estabelecem uma Base Nacional Comum a ser complementada, em cada estabelecimento

escolar, por uma Parte Diversificada, exigida pelas características regionais e locais da

sociedade, da cultura, da economia e dos educandos, lançando-se mão da interdisciplinaridade

e da contextualização como recursos para ampliar as inúmeras possibilidades de interação

entre as disciplinas e entre as áreas de conhecimento.

A LDB/96 destaca que a organização curricular do Ensino Médio deve ser orientada

por alguns pressupostos onde a formação básica se realizará pela constituição de

competências, habilidades e disposição de condutas do que pela quantidade de informações.

Assim, aprender a aprender e a pensar, a relacionar o conhecimento com dados da experiência

cotidiana, a dar significado ao aprendido e a captar o significado do mundo, a fazer a ponte

entre a teoria e a prática, a fundamentar a crítica, a argumentar com base em fatos, a lidar com

o sentimento que a aprendizagem desperta, são desafios que a nova matriz curricular pretende

dar conta.

A SEDUC-PA elencou alguns critérios para que os estabelecimentos de ensino

escolhessem disciplinas da parte diversificada do currículo. Nesta proposta o profissional de

Estudos Amazônicos habilitado para lecioná-la seriam os que possuíssem licenciatura plena

em História, Geografia ou Ciências Sociais ou, na falta destes profissionais, é possível acolher

os bacharéis da mesma área.

Baseando-se na resolução nº 630/97 que criou a disciplina de Estudos Amazônicos a

nível estadual e, segundo Jaíde das Graças Barreiros (2016), na municipalização do Ensino

Fundamental, a Prefeitura Municipal de Marabá publicou a Resolução nº 01 de 20 de fevereiro

de 200317, normatizada pelo Conselho Municipal de Educação (CME), que estabelece a

17 Ver anexo A - Instrução normativa que regulamenta a criação da disciplina Estudos Amazônicos em Marabá.

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disciplina de Estudos Amazônicos na grade de disciplinas da proposta curricular do munícipio

de Marabá, no estado do Pará.

Em nível municipal, a disciplina foi normatizada com intuito de atender as

especificidades regionais, locais, e aspectos relacionados à cultura dos discentes. Porém, ao

ser criada, não são estabelecidos critérios para escolha do professor habilitado para lecioná-

la. Todavia, professores com licenciatura em Geografia costumam ser os mais lotados pela

Secretaria Municipal de Educação (SEMED) de Marabá para ministrar a disciplina.

A proposta curricular de 2003 da disciplina, elaborada pela SEMED, trata da sua

finalidade que deve, entre outras coisas, levar o aluno a:

[...] conhecer e compreender o espaço amazônico a partir da perspectiva

regional, ou seja, o processo de ocupação/integração da Amazônia ao

mercado nacional e global, analisando e refletindo sobre suas múltiplas

inter-relações; contribuído assim para a construção de cidadãos conscientes,

aptos a decidir e a atuar na realidade sócio-ambiental em que vive, de modo

comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade em

escala local e global. Para isso é necessário desmistificarmos mitos e

preconceitos interligados em nossas mentes, mais do que isto: propormos a

trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e a

aprendizagem de habilidades e procedimentos (MARABÁ, 2003)

Assim, pela proposta curricular referida, não há nenhuma restrição legal que impeça

professores de outras áreas (que não seja a Geografia) a lecionarem a disciplina, pois a lei

entende a Amazônia como uma temática abrangente e um ambiente tão complexo, não um

saber restrito a nenhuma área de conhecimento, o que permite entender que não apenas os

licenciados em História ou Geografia estão aptos a assumirem única e somente a

responsabilidade de ministrar a disciplina. Desta maneira, podemos compreender a afirmação

de Vilson Leffa “O grande paradoxo da educação pública brasileira no ensino fundamental e

médio é que o professor ensina ao aluno algo que ele mesmo não conhece”. (LEFFA, 2011,

p. 21).

2.3 Estudos Amazônicos e a interdisciplinaridade

Iremos traçar um breve percurso sobre a questão interdisciplinar para que possamos

pensar se a disciplina de Estudos Amazônicos pode ser tratada de forma interdisciplinar pelos

professores do município de Marabá/PA.

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Somos levados a pensar o ambiente amazônico de uma forma interdisciplinar, não só

em um contexto de uma disciplina escolar, mas nas variadas formas de produção do

conhecimento, logo, partimos da perspectiva que o conhecimento produzido sobre a

Amazônia se faz necessário para além do espaço escolar.

No contexto educacional, são cada vez mais inseridos os debates em torno da questão

da interdisciplinaridade, principalmente no âmbito do ensino Fundamental e Médio. Há uma

necessidade emergente de integrar as disciplinas e de contextualizar os conteúdos de ensino

de forma mais significativa. Em virtude disso, a palavra interdisciplinaridade está mais

presente em referenciais teóricos, documentos oficiais e no próprio vocabulário dos

profissionais da educação. Contudo, a construção de um trabalho verdadeiramente

interdisciplinar no contexto educacional, seja na educação básica ou no ensino superior, ainda

encontra muitas dificuldades.

Fazenda (2008) afirma que as discussões sobre a temática interdisciplinar surgiram na

Europa, mais especificamente na França e, posteriormente, na Itália, no início década de 1960,

num período de debates e embates políticos proporcionados pelos movimentos estudantis que

reivindicavam, principalmente, um ensino mais sincronizado com as demandas de ordem

social, política e econômica da época. Mediante o acontecido, o ensino de forma

interdisciplinar teria sido uma resposta ao que os estudantes tanto reivindicavam, na medida

em que os problemas sociais não poderiam ser resolvidos por uma única disciplina ou área do

saber, pregava-se a interdisciplinaridade como uma possível saída para os problemas em

questão. Naquele período os estudantes lutavam por uma universidade renovada e,

consequentemente, escola com pensamentos e ideologias novas.

No fim da década de 60, a interdisciplinaridade começou a ser pensada no Brasil e

exerceu, de imediato, influência na construção da LDB Nº 5.692/71. Desde então, sua

presença no cenário educacional brasileiro tem sido considerada de extrema importância e

Ivani Fazenda é considerada uma das mais importantes teóricas de como pensar a

interdisciplinaridade no contexto brasileiro intensificado o que fica evidente com a LDB nº

9.394/96, com os PCNs e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores

da educação básica. No Brasil, Hilton Japiassu já alertava para a necessidade de uma postura

interdisciplinar do cientista: postura crítica, sendo este um sujeito que pensa na sua produção

como uma totalidade, não como o fragmento de um processo unilateral.

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É válido ressaltar que, com relação às discussões sobre interdisciplinaridade,

destacamos que Japiassu (1976) veio a trabalhar o conceito de campo epistemológico,

enquanto Ivani Fazenda continua a produzir uma obra extensa no campo pedagógico. Na

ideologia de Japiassu (1976), a interdisciplinaridade exige uma reflexão profunda e inovadora

sobre o conhecimento, que demonstra a insatisfação com o saber fragmentado que está posto.

Para tal, a interdisciplinaridade propõe um avanço em relação ao ensino tradicional, com base

na reflexão crítica sobre a própria estrutura do conhecimento, com o intuito de superar o

isolamento entre as disciplinas e repensar o próprio papel dos professores na formação dos

alunos para o contexto atual em que estamos inseridos.

Pontuschka (2009) define a interdisciplinaridade na escola como possibilidade de

interação entre outras áreas do conhecimento, mas reconhece que existem dificuldades.

“Pensar e agir interdisciplinaridade não é fácil, pois passar de um trabalho individual e

solitário, no interior de uma disciplina escolar, para um trabalho coletivo faz emergirem as

diferenças e as contradições do espaço social que é a escola” (PONTUSCHKA, 2009, p. 31).

Entretanto, quando tratamos da disciplina Estudos Amazônicos, buscamos compreender se a

disciplina é trabalhada de forma compartimentalizada ou se os professores formados em

determinadas áreas do conhecimento, ensinam somente aquilo que foi aprendido durante sua

formação inicial, sem percorrer caminhos interdisciplinares.

Almeida (2013) traz pontos de reflexão fundamentais para compreendermos o

estreitamento criado entre a disciplina de Estudos Amazônicos e sua relação com a Geografia,

uma vez que destaca que a primeira é parte da matriz curricular obrigatória das escolas da rede

municipal de ensino de Marabá, desde 2003, e que tem dentre suas finalidades a compreensão

do espaço amazônico, pensando suas dinâmicas de ocupação, organização e reorganização,

em escala local e global, chama a atenção, bem como, para a desconstrução de conceitos

preconcebidos sobre a região, valorização do multicultural, da biodiversidade e a construção

de valores individuais e coletivos. Elementos que parecem caminhar na perspectiva da prática

da cidadania.

Silva (2014) comenta que tal disciplina é também componente curricular obrigatório

do Ensino Fundamental II no Município de Belém, como determinado pela SEDUC-PA e

aprovado pelo Conselho Estadual de Educação, em documento de 2003. Em seu trabalho, a

autora analisa a disciplina de Estudos Amazônicos no contexto da disciplina de História,

mostrando que a História Regional é importante e que, de acordo com os conteúdos indicados

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pela SEDUC-PA, a História da região deve ser compreendida a partir de um olhar externo,

como diz a pesquisadora:

Deixa-se assim de explorar estudos importantes sobre a participação

indígena e negra no contexto da sociedade da região, como sujeitos sociais

participantes do processo histórico e de formação da identidade cultural,

fundamentados pelo respeito às diferenças étnicas, ambientais, religiosas,

linguísticas dentre outras. (SILVA, 2014, p. 32)

É de fundamental importância os estudos históricos e das ciências geográficas para

compreensão da Amazônia. Porém, talvez seja necessário criar uma identidade própria para a

disciplina e não apenas entendê-la como complementação de outras áreas de ensino, trabalha-

la de forma interdisciplinar ou até mesmo de forma transversal.

Retomaremos a discussão sobre a interdisciplinaridade na seção 4.3.3, entrevistas

dialogadas, onde abordaremos a concepção dos professores participantes da entrevista.

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3 FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE ESTUDOS AMAZÔNICOS

Neste capítulo pretendemos dissertar sobre como se deu a formação inicial dos

professores de Estudos Amazônicos que lecionam no município de Marabá, Sudeste do Pará.

O capítulo será dividido da seguinte forma: 3.1 Quem é o professor de Estudos Amazônicos

e 3.2 A proposta curricular da disciplina de Estudos Amazônicos: a quem compete ensinar?

3.1 Quem é o professor de Estudos Amazônicos?

Nos propomos a discutir sobre a formação do professor de Estudos Amazônicos e é

importante ressaltar o caminho que nos fez chegar até aqui. Ao fazer a caracterização e o

histórico do ambiente amazônico, nos preocupamos em descrever o contexto de sua

colonização e como fora ocupado o território amazônico. Partimos do viés da urbanização por

entender que a nossa formação em Geografia nos condicionava a seguir por este rumo.

Ao descrever a Amazônia Legal e suas multiplicidades, chegamos até o nosso local de

pesquisa, o município de Marabá/PA. Justificamos a escolha deste local devido sermos

funcionário público, no cargo de professor de Geografia e Estudos Amazônicos, logo, desde

a nossa chegada, trabalhamos com a disciplina da parte diversificada.

Como o Sul e Sudeste do Pará são regiões de intensos conflitos, seja pela posse da

terra ou pelas agressões sofridas ao meio ambiente, principalmente, através dos ciclos

econômicos que se renovam e modificam a forma de ocupação do solo, entendemos que foi

necessário a contextualização do surgimento do município de Marabá para que enfim

entendêssemos a importância de pensar na formação inicial e continuada do professor de

Estudos Amazônicos.

A formação inicial do professor é relacionada com as diversas facetas na qual este

profissional está envolvido, seja no ambiente acadêmico ou no espaço geográfico. Antes de

ser professor, todos os sujeitos participes de nossa pesquisa moravam no ambiente amazônico,

mas somente um obteve a sua formação inicial em Marabá. Os demais vieram da capital do

estado, Belém, e outro veio de Palmas, no estado do Tocantins. Tencionaremos a falar mais

desses sujeitos a parir do capítulo ‘Procedimentos metodológicos e análise dos dados’.

Trouxemos essas informações para entender que o processo de formação inicial dos

professores depende da formação acadêmica, mas como nenhum sujeito chega no ambiente

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acadêmico como uma folha em branco, esses sujeitos já são constituintes de diversos conceitos

da ciência e dos saberes populares.

Segundo o Sindicato das Mantenedoras do Ensino Superior (SEMESP), no ano de

2013, a região Norte era a que menos tinha matriculas no Ensino Superior, com 423,6 mil

matriculas, tanto no ensino público quanto no privado, conforme mostra a figura a seguir:

Figura 3 - Número de matrículas no Ensino Superior

Fonte: SEMESP 2015

Segundo o IBGE (2016), região Norte ocupa o segundo lugar em número quantitativo

de pessoas residentes, perde apenas para região Centro-Oeste. Porém, levando em

consideração o número de matriculas no Ensino Superior, é a região com menos pessoas

matriculadas.

Outro dado importante é número de professores com graduação na região Norte, no

Ensino Fundamental dos anos finais que, segundo o INEP (2015), é de 60,9 %, e na cidade de

Marabá/PA é de 77,8 %, portanto, acima da média regional. Acreditamos que este percentual

seja elevado devido ao último concurso público Nº 001/2010.

Estes dados nos fazem refletir na formação inicial dos professores da região Norte,

mais especificamente de Marabá. Pensar em formação inicial com base nos dados já expostos

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é entender que a qualidade da educação não se refere apenas ao conhecimento adquirido ao

longo da graduação. É pensar que este professor reside em um território marcado por

contradições no decorrer dos tempos.

Contextualizando, na Universidade do Minho18, mas perfeitamente aplicável a

realidade brasileira, Pacheco (2003) elenca três objetivos a serem redefinidos, haja vista uma

proposta de formação de professores, são eles: de natureza organizacional, de natureza

curricular e de natureza metodológica:

De natureza organizacional: não se torna crucial discutir o modelo, mas sim

os processos e práticas de formação. A formação inicial é um percurso dos

diferentes caminhos de uma aprendizagem ao longo da vida e torna‐se numa

vertente de outras saídas profissionais. De natureza curricular: se uma

profissão se fundamenta num corpo sistemático de conhecimentos a do

professor exige um plano curricular que contemple as seguintes

componentes de formação, variáveis em função do nível de ensino em que o

futuro docente vai exercer: de formação pessoal, social, cultural, científica,

tecnológica, técnica ou artística ajustada à futura docência; de ciências da

educação; de prática pedagógica orientada pela instituição formadora, com

a colaboração do estabelecimento de ensino em que essa prática é realizada

(privilegiar‐se‐á, neste caso, a lógica de situação de formação porque ligada

às actividades desenvolvidas na universidade). ‐ De natureza metodológica:

aprender a ser professor exige uma formação centrada nas dimensões

“teórica” da universidade e “prática” da escola, instituições jamais

entendidas como sobrepostas, mas articuladas em função de um perfil de

formação. (PACHECO, 2003)

Podemos entender a natureza organizacional como os vários caminhos que o sujeito

percorre antes, durante e depois do seu processo de formação. Acreditamos que, mesmo

depois que o professor encerre o seu ciclo na graduação, ele não para de se formar. Poderíamos

então chamar de formação continuada, onde o processo continua constantemente, o sujeito

inserido no contexto educacional é levado, mesmo que subjetivamente, a (re)pensar sua

própria prática.

Antes de continuarmos a dissertar sobre os objetivos elencados por Pacheco, faz-se

necessário diferenciar o que é formação inicial da formação continuada. Formação inicial

corresponde ao ensino escolar e universitário que leva o indivíduo a um nível de formação

que determinará qual profissão será capaz de exercer. Segundo Papi (2005):

[...] para que haja um entendimento sobre a profissionalidade docente, é

necessário que se entenda o conceito de prática educativa, a qual deve ser

18 A Universidade do Minho foi fundada em Braga em 1973 e integrou-se no chamado grupo das "Novas

Universidades" que vieram alterar o panorama do ensino superior em Portugal. Iniciou as suas atividades

académicas em 1975/76

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entendida de forma ampla e não apenas delimitada pela prática didática dos

professores. A educação envolve outras esferas, sejam elas de determinações

políticas, econômicas ou culturais e isso faz com que os professores não

tenham domínio total sobre a prática, uma vez que tais setores interferem na

vida escolar. (PAPI, 2005)

Papi nos faz refletir que profissão docente e que essa profissionalidade, ao longo dos

tempos, são carregadas de outras práticas, sejam elas políticas, econômicas ou culturais. A

institucionalização da formação inicial do profissional professor foi necessária para que o

saber fosse regulamentado pelo Estado, assim não se tem qualquer um sujeito ensinando, mas

um profissional formado para isto.

Imbernón (2000) considera a formação importante para o profissional da educação,

lembra que a formação é elemento para o desenvolvimento profissional, mas não é o único,

pois há outros fatores, como salário, a demanda do mercado, o clima de trabalho nas escolas,

o plano de carreiras da profissão, as estruturas hierárquicas e a formação permanente do

professor.

Já a formação continuada contribui o desenvolvimento profissional do professor, de

forma a suscitar a aquisição de conhecimentos que o torne capaz de desenvolver as habilidades

vitais para o exercício pleno da função de ensinar.

Acreditamos que, assim como Gatti (2008), a escola é o principal espaço de formação

do professor, onde ele passa a atuar refletindo sobre a sua prática de forma constante e

permanente, rompendo com antigos paradigmas que tinham a formação continuada como uma

ação mecanizada, isto nos permite entender o porquê termos como, treinamento, capacitação,

reciclagem e aperfeiçoamento eram usados para explicitar a formação continuada.

Segundo Freire (2002), o homem é um ser inconcluso e deve ser consciente de sua

(in)conclusão, através do movimento permanente de ser mais:

A educação é permanente não por que certa linha ideológica ou certa posição

política ou certo interesse econômico o exijam. A educação é permanente na

razão, de um lado, da finitude do ser humano, de outro, da consciência que

ele tem de finitude. Mas ainda, pelo fato de, ao longo da história, ter

incorporado à sua natureza não apenas saber que vivia, mas saber que sabia

e, assim, saber que podia saber mais. A educação e a formação permanente

se fundam aí. (FREIRE, 1997, p. 20)

A partir do pensamento de Freire, a formação continuada é entendida como um

processo contínuo e permanente de desenvolvimento profissional, onde a formação inicial e a

continuada são concebidas de forma contextualizada e interconectada, em que a primeira

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corresponde ao período de aprendizado nas instituições formadoras e a segunda é referente à

aprendizagem dos professores que estejam no exercício da profissão, mediante ações dentro e

fora das escolas.

Elucidados os conceitos de formação inicial e continuada, voltemos aos objetivos

propostos por Pacheco (2003). O objetivo dois, natureza curricular, nos remete à discussão de

currículo, mas em nível da formação inicial do docente. O professor necessita de bases

epistemológicas, baseados na ciência em que estuda, para forma-se e ser capaz de exercer a

profissão docente, sem levar em consideração a sua formação enquanto sujeito.

O terceiro objetivo é de natureza metodológica. O profissional docente exercerá a

função na escola, cabe à instituição formadora estabelecer que o currículo da graduação

proporcione a inserção do futuro professor no ambiente escolar, isto se dá, dependendo do

Plano Político Pedagógico de cada curso, pelas disciplinas de Estágio Docente e Prática

Pedagógica.

Estes três objetivos, de natureza organizacional, natureza curricular e natureza

metodológica, nos dão base para pensar o processo de formação inicial e continuada na qual

o professor deve estar inserido.

Baseados nos pressupostos elencados acima é necessário entendermos como se dá a

formação do professor de Estudos Amazônicos e quem são esses profissionais. Segundo a

SEDUC/PA, os profissionais aptos a trabalhar com a disciplina são prioritariamente os que

possuem licenciatura em História, Geografia ou Ciências Sociais e, quando não houver

profissionais suficientes, poderão trabalhar os bacharéis das respectivas áreas.

Partindo deste pressuposto, sabemos que em nível estadual existem critérios, mesmos

que sejam mínimos e não fundamentados, para escolha do profissional que pode trabalhar com

a disciplina de Estudos Amazônicos. E é com base nesta escolha que iremos entender a relação

que a área na qual o professor fez sua graduação e a disciplina de Estudos Amazônicos tem

em comum, ou até mesmo não tem.

Como nossa pesquisa engloba apenas os profissionais que atuam com a disciplina no

município de Marabá/PA, é preciso compreender quais são os critérios para escolha do

profissional neste município e qual a sua formação para então, com base na matriz curricular

da disciplina, entendermos as competências exigidas para ministrar os conteúdos e a

competência que os profissionais têm para ensinar Estudos Amazônicos.

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Neste sentindo, a busca dos estudos sobre formação dos professores que atuam com a

disciplina em Marabá/PA, iniciou-se com uma análise de documentos solicitados à SEMED,

onde, em carta endereçada ao secretário de educação, foram solicitados dados referentes à

lotação dos professores na zona urbana, regime de contratação (concursado ou contratado),

data de admissão, área de formação inicial, se possuem pós-graduação em nível de

especialização, mestrado e/ou doutorado, se o profissional trabalha com outra disciplina além

de Estudos Amazônicos, carga horária em Estudos Amazônicos e na outra disciplina, se

houver.

A partir do recebimento desses dados foi possível identificar que os profissionais que

ministram aula de Estudos Amazônicos no município de Marabá, em sua grande maioria, são

professores de Geografia 73%, seguido de professores de História 18% e Pedagogia 9%.

Com base na identificação desses profissionais, buscamos, mais uma vez entender o

que os teóricos dizem a respeito da formação de professores e como essa ‘Formação’ contribui

para que os profissionais identificados ministrem a disciplina de Estudos Amazônicos.

A compreensão da concepção de formação, segundo Garcia (1999, p.19), diz que o

conceito de formação é passível de múltiplas perspectivas, das quais é destacado: ‘função

social’, que representa a transmissão de um saber-fazer ou do saber-ser; ‘um processo de

desenvolvimento e estruturação da pessoa’, que visa atender tanto as necessidades pessoais;

‘formação como instituição’, quando a referência é a estrutura organizacional que planeja e

desenvolve as atividades de formação.

Dessa maneira, a formação organiza-se de uma perspectiva do objeto, observando uma

correlação pensada e estruturada exteriormente ao sujeito, contribuindo, de certa forma, com

o desenvolvimento pessoal e social de um indivíduo ou de um grupo, partindo das

representações criadas pelo próprio sujeito e as competências que ele já possui.

A prática docente e os saberes ensinados são fundamentais para a compreensão do

processo formativo do profissional docente, haja vista que o espaço da sala de aula é

fundamental para que se estabeleça um processo de múltiplas interações, não só no espaço em

sala de aula, mas também o espaço escolar, a vivência com a comunidade escolar (através de

reunião de pais e/ou responsáveis), as formações continuadas oferecidas pela SEMED/Marabá

e os eventos científicos realizado pelas universidades públicas e privadas são essenciais para

o desenvolvimento do sujeito enquanto professor. Segundo Freire:

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Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos apesar

das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do

outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.

Quem ensina ensina alguma coisa a alguém. Por isso é que, do ponto de vista

gramatical, o verbo ensinar é um verbo transitivo-relativo. Verbo que pede

um objeto direto – alguma coisa – e um objeto indireto – a alguém. (FREIRE,

2009, p. 23)

Tratar o sujeito como objeto, seja ele o docente ou discente, que faz ou não parte da

comunidade escolar, é, no mínimo, entender que o ‘objeto’ é mero receptáculo de

informações, contrariando o processo de construção do conhecimento. Entretanto, cabe

ressaltar, a importância e relevância de um processo formativo para os sujeitos que querem se

tornar professores, lembrando que esse processo de formação não é finito, tem a capacidade

(dependendo do sujeito), de se (re)construir.

[...] nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se

transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber

ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo. Só assim

podemos falar realmente de saber ensinado, em que o objeto ensinado é

aprendido na sua razão de ser e, portanto, aprendido pelos educandos.

(FREIRE, 2009, p. 26)

Essa relação não é só de interação entre os sujeitos e objetos, mas, em grande parte,

ocorre a correlação com a ideologia, com a sociedade, a cultura, a escola, nos desafios do

porvir e com o contraditório. Segundo os estudos de García (1999), é necessário expandir o

entendimento da necessidade de articulação no processo de formação de professores, as

características pessoal e social que são preponderantes na ação docente, pois são tais

caraterísticas que ajudam na construção do sujeito enquanto professor.

Pensar o processo de formação de professores pressupõe uma visão diferenciada para

formação inicial e para formação continuada. Nesta pesquisa buscamos entender quais

subsídios da formação inicial são importantes para que o professor de Estudos Amazônicos

construa, mediante o processo formativo em sua graduação, competências para lidar com uma

disciplina, relativamente nova e complexa.

Para tal, buscamos entender o que norteia o conceito de competência e como este

conceito poderia ser aplicado no contexto educacional. Segundo o dicionário Webster,

competência é: "qualidade ou estado de ser funcionalmente adequado ou ter suficiente

conhecimento, julgamento, habilidades ou força para uma determinada tarefa". Esta definição,

bastante genérica, menciona dois pontos principais ligados à competência: conhecimento e

tarefa. O dicionário Aurélio enfatiza, em sua definição, aspectos semelhantes: capacidade para

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resolver qualquer assunto, aptidão, idoneidade e introduz outro: capacidade legal para julgar

pleito

Com a LDB/96, surgem as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN’s) que fornecem,

para cada área de formação acadêmica, bases para o exercício da profissão, definindo o perfil

e competências a serem alcançados, e ressaltando a necessidade de flexibilidade dos currículos

de graduação, de modo a permitir projetos pedagógicos inovadores, formando pessoas mais

críticas, reflexivas, ativas, dinâmicas, adaptáveis às demandas do mercado de trabalho. Neste

sentido o conceito de competência necessita ser abordado nesta pesquisa já que a mesma trata

da formação de professores em áreas do conhecimento que não abrangem os conceitos

mínimos para trabalharem com a disciplina de Estudos Amazônicos.

De acordo com Perrenoud (1999, p.7), o conceito de competência pode ser considerado

“uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em

conhecimentos, mas sem limitar-se a eles”. As pessoas valem-se deles, estabelecem sua

integração e mobilizam-nos no momento em que exercem determinada ação. “É na

possibilidade de relacionar, pertinentemente, os conhecimentos prévios e os problemas que se

reconhece uma competência”, esclarece Perrenoud (1999, p.32). Logo, as competências vêm

a ser aquisições ou aprendizados construídos que necessitam dos recursos do conhecimento e

de sua assimilação para mobilizá-los. É tratado com um processo complexo, cujo significado

não é simplesmente o de somar conteúdos de modo a usá-los; envolve, isto sim, discerni-los,

selecioná-los, organizá-los e, especialmente, fazer conexões entre eles antes de empregá-los

na ação solicitada.

Partindo desse pressuposto, o conceito de competência é abordado na educação de

forma ampla e construtiva e, segundo como Nóvoa (1995) ressalta, a relação dos professores

com o saber constitui um dos capítulos principais na história da profissão docente: os

professores são portadores e produtores de um saber próprio ou são apenas transmissores e

reprodutores de um saber alheio? O saber de referência dos professores é fundamentalmente

científico ou técnico? O autor destaca que é na resposta a estas e muitas outras questões que

se encontram visões distintas da profissão docente e, portanto, projetos contraditórios de

desenvolvimento profissional.

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3.2 A proposta curricular da disciplina de Estudos Amazônicos: a quem compete

ensinar?

Devido o percentual dos professores de Geografia e História representarem 91% do

total que ministram a disciplina de Estudos Amazônicos no município de Marabá/PA,

abordaremos a proposta curricular da disciplina baseado na possível competência desses

profissionais, mas para isso é necessário definir o que é conteúdo de ensino, que não é

relativamente fácil, mais ainda como foi elaborado a seleção destes conteúdos em determinada

matriz curricular.

Os conteúdos, como construções histórico-sociais sofrem mudanças no decorrer do

percurso histórico da Educação no Brasil e no mundo. O termo conteúdo, segundo Sacristán

(1998, p 149), é carregado de uma significação intelectualista e culturalista própria da tradição

dominante das instituições nas quais foi forjado e utilizado.

A partir da construção do entendimento de competência elencados por Perrenoud e

contextualizado por Nóvoa, utilizaremos tal conceituação para exploramos a proposta

curricular da disciplina de Estudos Amazônicos e a competência dos professores para

trabalharem determinado conteúdo, levando em consideração a formação inicial do docente.

Para isto, iremos explicitar os conteúdos sugeridos na proposta curricular (SEMED, 2006) do

município de Marabá para os 6º ao 9ºanos.

Conteúdos Sugeridos para o 6º ano:

O Espaço Geográfico Amazônico

O que é o espaço geográfico;

O trabalho do homem constrói o espaço geográfico;

As várias Amazônias:

Segundo IBGE: Amazônia Legal, Amazônia Internacional, Região

Geoeconômica da Amazônia;

O processo de Construção do Espaço Marabaense:

O espaço geográfico marabaense;

Aspectos naturais;

Os índios: verdadeiros donos da terra;

A chegada do homem branco: conflitos e perda de identidade;

O burgo do Itacaiúnas e a gênese do município de Marabá;

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As lutas políticas no processo de emancipação do município;

Atividades econômicas: caucho, castanha, pecuária, garimpagem, etc...

As transformações recentes e suas implicações sócio-ambientais:

O projeto de Integração Nacional e seus reflexos na construção do espaço regional

A dinâmica urbana em Marabá e suas contradições:

O processo de ocupação espontânea

O surgimento dos núcleos

As consequências dessas ocupações: social, econômica e cultural;

Os impactos ambientais no município;

As enchentes;

Poluição (da água, ar, lixo visual e sonora);

Assoreamento dos rios.

No conteúdo sugerido para o 6º ano do Ensino Fundamental II, é possível observar que

a temática ‘Espaço Geográfico19 Amazônico’ é a que introduz os primeiros conceitos sobre o

espaço amazônico e suas diversas peculiaridades, tratando assim, a Amazônia de uma forma

heterogênea. Entretanto, na temática ‘O processo de construção do espaço marabaense’, é

possível identificar conteúdos referentes à disciplina de História e, até mesmo que não foram

estudados na graduação por nenhuma das Licenciaturas, sejam elas, Geografia ou História,

pois temos que levar em consideração o local onde o professor que atua com a disciplina de

Estudos Amazônicos fez sua graduação (região, estado e município).

De acordo com dados enviados pela SEMED/Marabá, no ano de 2015, existiam 76

professores de Estudos Amazônicos atuando na zona urbana e, no ano de 2016, até o mês de

abril, existem o total de 93 professores atuando na zona urbana, dentre estes professores a

maioria são de Geografia, História e Pedagogia.

Como grande parte dos conteúdos do 6º ano é de competência do profissional de

Geografia, seria coerente que os profissionais de História e Pedagogia que trabalham com a

19 Milton Santos(1982) vai se referir a esta categoria dizendo: "o espaço é acumulação desigual de tempos". O

que significa conceber espaço como heranças. O mesmo Milton Santos (1997) vai se referir a espaço–tempo

como categorias indissociáveis, nos permitindo uma reflexão sobre espaço como coexistência de tempos. Desta

forma, num mesmo espaço coabitam tempos diferentes, tempos tecnológicos diferentes, resultando daí inserções

diferentes do lugar no sistema ou na rede mundial (mundo globalizado), bem como resultando diferentes ritmos

e coexistências nos lugares. Constituindo estas diferentes formas de coexistir, materializações diversas, por

consequência espaço(s) geográfico(s) complexo(s) e carregado(s) de heranças e de novas possibilidades.

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disciplina de Estudos Amazônicos, passassem por um processo de formação continuada ou

comprovassem, através de cursos de extensão, especialização, mestrado e/ou doutorado que

não teriam problemas ao lidar com esses conteúdos em sala de aula.

Conteúdos sugeridos para o 7º ano

As sociedades indígenas na Amazônia antes do contato com os europeus;

Belém na conquista da Amazônia: antecedentes à fundação e os primeiros anos;

A vida nas cidades da Amazônia;

Uma colônia de ocupação (do início do século XVII a meados do século XVIII);

As primeiras atividades econômicas; drogas do sertão;

A política pombalina na Amazônia e o projeto de transformação do índio em colono;

A importação da mão-de-obra negra na região (substituição da mão-de-obra indígena

pela negra);

O Pará: a independência e o império;

Do patriotismo à revolução: história da Revolução Cubana20

A Amazônia em meados do Séc. XIX e XX;

O extrativismo da Borracha;

A castanha do Pará: um produto precioso que durou tão pouco;

Nosso estado, nossa gente;

Dividindo as terras do Pará para produzir;

Meso regiões e micro-regiões paraenses;

Formação das cidades paraenses;

As maiores cidades;

Demografia Paraense;

A miscigenação do povo paraense.

Já, nos conteúdos referentes ao 7º ano, é possível percebermos que as temáticas são

predominantemente de cunho da disciplina de História, com pequenos momentos de abertura

para a disciplina de Geografia.

No contexto do município de Marabá, esta seria uma situação problemática, uma vez que

a quantidade de professores com formação em História que ministraram a disciplina de

20 Acreditamos que houve um erro de digitação. Na verdade, ao invés de Cubana, leia-se Cabana, tratando-se da

Revolução Cabana mais conhecida como a ‘A Revolta da Cabanagem’, movimento de revolta social ocorrido no

Brasil Império, no período de 1835 até 1840, na então província do Grão-Pará, hoje o estado do Pará.

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Estudos Amazônicos é mínima: até o ano de 2015, existiam apenas 10 professores com

graduação em Licenciatura em História ou que ainda estavam concluindo o curso.

Conteúdos sugeridos para o 8º ano:

Amazônia: Espaço e Região;

As diversas maneiras de regionalizar o espaço amazônico;

Divisão Política do Brasil. Região Amazônica Oriental e Ocidental; Região

Amazônica Internacional; Região de Planejamento e Região Geoeconômica da

Amazônia;

O Espaço Amazônico de ontem: ciclo da borracha;

O Espaço Amazônico de hoje;

Órgão Federal de Planejamento;

SUDAM, SUFRAMA, Distrito Industrial de Manaus, Refinaria RENAN; hidrelétrica

de Balbina e Tucuruí;

Pólo Petrolífero de Coari;

Polamazônia;

Impactos e consequências sócio-ambientais dos grandes projetos.

Produção econômica e a apropriação da natureza

A Amazônia e suas relações econômicas;

A produção extrativista: madeira, garimpeira;

Agricultura;

Pecuária;

Questão ambiental na Amazônia

Muitas áreas da Amazônia estão desmatadas;

Consequências do desmatamento para os solos, os rios e para a população local;

Políticas públicas voltadas para a questão sócio-ambiental dos Grandes Projetos.

As relações da sociedade com o espaço já ficam mais evidentes a partir dos conteúdos

sugeridos para o 8º ano, logo, é importante ressaltar que, segundo a professora Violeta

Loureiro (2016), inicialmente, a disciplina de Estudos Amazônicos tinha sido pensada para o

Ensino Médio, mas, por falta de verba, a disciplina tornou-se obrigatória somente para o

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Ensino Fundamental II. Isto talvez explique um maior adensamento do conteúdo da disciplina

a partir do 8º ano.

Conteúdos sugeridos para o 9º ano

A Amazônia na divisão territorial do trabalho;

A Amazônia no contexto global;

A política da integração da Amazônia ao resto do Brasil: abertura da Belém-

Brasília;

Crescimento urbano

Explosão demográfica

Ocupação militar: A Guerrilha do Araguaia;

A estrutura agrária:

Conflitos fundiários ´Chico Mendes´;

Movimentos Sociais – MST;

Trabalho Escravo;

Impactos Ambientais;

Biodiversidade;

Assoreamento dos rios;

Poluição da água e do ar;

Biopirataria;

O narcotráfico na Amazônia;

Desenvolvimento sustentável na Amazônia;

Industrialização na Amazônia pós-90;

Incentivos fiscais e investimentos em infra-estrutura;

Agropecuária mecanizada;

Nos conteúdos referentes ao 9º ano é possível identificar uma mescla entre os

conteúdos já vistos no 6º, 7º e 8º anos e o aprofundamento com a temática do meio ambiente.

É possível acreditar que este aprofundamento se deve às grandes questões ambientais na qual

a Amazônia está inserida, gerando preocupações para os moradores da região e também do

Brasil e do mundo.

Baseando nesta perspectiva da temática ambiental, acreditamos que a disciplina de

Estudos Amazônicos é fundamental para debater e conscientizar os discentes da relevância de

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explorar os recursos naturais de uma forma a não prejudicar as presente e futuras gerações e,

segundo a resolução Nº 2, de 15 de julho de 2012, que estabelece as Diretrizes Curriculares

Nacionais para Educação Ambiental, a Constituição Federal (CF), de 1998, no inciso VI do §

1º do artigo 225 determina que o Poder Público deve promover a Educação Ambiental em

todos os níveis de ensino, pois “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”, impondo-se

ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e

futuras gerações.

A LDB/96 prevê que na formação básica do cidadão seja assegurada a compreensão

do ambiente natural e social; que os currículos do Ensino Fundamental e do Médio devem

abranger o conhecimento do mundo físico e natural; que a Educação Superior deve

desenvolver o entendimento do ser humano e do meio em que vive; que a Educação tem como

uma de suas finalidades, a preparação para o exercício da cidadania.

Entendemos que, acima de uma mera “transposição didática”, o papel do professor de

Estudos Amazônicos e formar um cidadão capaz de refletir sobre a sua prática na sociedade,

fazendo com que essa prática se permeie pela sociedade afim de criar uma consciência

preservacionista. Não se trata apenas de preservar para as futuras gerações, mas internalizar

nos sujeitos a relevância que a região amazônica tem para ele e para os outros, logo, a

importância de mostrar a proposta curricular nos levou a entender de quem é a competência

profissional para ministrar a disciplina de Estudos Amazônicos em sala de aula. Foi observado

que grande parte dos conteúdos são de competência do professor de Geografia. Entretanto, o

professor de História, com as suas competências, é fundamental para exercer a atividade

docente, haja vista que parte dos conteúdos são de propriedade do profissional licenciado em

História. Segundo Freire (1996):

A segurança com que a autoridade docente se move implica uma outra, a que

se funda na sua competência profissional. Nenhuma autoridade docente se

exerce ausente desta competência. O professor que não leve a sério sua

formação, que não estude, que não se esforce para estar à altura de sua tarefa,

não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe. Isto não

significa, porém, que a opção e a prática democrática do professor ou da

professora sejam determinadas por sua competência científica. Há

professores e professoras cientificamente preparados mas autoritários a toda

prova. O que quero dizer é que a incompetência profissional desqualifica a

autoridade do professor. (FREIRE, 1996, p. 92)

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O que nos leva a crer que os profissionais de Geografia e História são os mais

competentes a trabalharem com a disciplina, pela aproximação dos conteúdos descritos acima,

com a área de conhecimento na qual os docentes tiveram sua formação inicial. Temos que

levar em consideração o saber construído ao longo do processo formativo dentro do espaço

escolar, e, principalmente no espaço de formação continuada da disciplina de Geografia e

História. Como pesquisador e professor da disciplina no município de Marabá, presenciamos

alguns momentos de discussão da proposta curricular da disciplina de Estudos Amazônicos

no espaço de formação continuada. Estes momentos serviram, minimamente, para que os

professores presentes questionassem a forma como a disciplina é tratada pela SEMED/Marabá

e, consequentemente, propor uma nova matriz curricular para tentar equalizar e, até mesmo,

geografizar a disciplina de Estudos Amazônicos, o que nós somos contrários, por entender

que a disciplina tem um contexto interdisciplinar.

Neste sentido o papel do professor de Estudos Amazônicos é extremamente importante

para continuidade da floresta Amazônica.

Um professor de profissão não é somente alguém que aplica

conhecimentos produzidos por outros, não é somente um agente

determinado por mecanismos sociais: é um ator no sentido forte do

termo, isto é, um sujeito que possui conhecimentos e um saber-fazer

provenientes de sua própria atividade e a partir dos quais ele a

estrutura e a orienta. (TARDIF, 2003, p. 230)

Dada essa importância ao professor de Estudos Amazônicos, cabe a ele, instrumentar

sua prática ao cotidiano do espaço amazônico, fazendo com que haja um estreitamento entre

o espaço vivido e o espaço pensado21.

Segundo Vygotsky (1991), a mente humana reflete primordialmente na prática

pedagógica, considerando o desenvolvimento da inteligência e da cognição como um processo

ligado ao desenvolvimento social, fruto da interação social. Vygotsky destaca um ser humano

capaz de criar suas próprias condições de existência. É o mesmo homem que Paulo Freire

apresenta, um ser que não existe sozinho, mas que existe nos e pelos outros, que é capaz de

21 A ciência geográfica, definida pelo viés do espaço vivido, não tenta criar leis nem observar regularidades

generalizadoras. Seu ponto de partida é, ao contrário, a singularidade e a individualidade dos espaços estudados.

Ela também não procura avançar resultados prospectivos e normativos, como as ciências ditas racionalistas. Seu

objetivo principal é fornecer um quadro interpretativo às realidades vividas espacialmente. A objetividade não

provém de regras estritas de observação, mas do uso possível das diversas interpretações na compreensão do

comportamento social dos atores no espaço. Por seu contato e por sua participação direta no conjunto de

significações criadas em uma comunidade espacial, o geógrafo torna-se um personagem ativo no próprio

desenvolvimento desta comunidade. Contudo, ele deve ter a consciência explícita de seu engajamento pessoal e,

portanto, da impossibilidade de um distanciamento ‘objetivo’ com relação ao seu campo de pesquisa. (GOMES,

1996, p. 320)

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mudar a sua história e a história do mundo. É o mesmo homem que Milton Santos destaca,

aquele que, ao agarrar-se ao seu lugar, para não se perder num mundo globalizado tão

perversamente que não lhe dá chances de se humanizar. É no lugar e no cotidiano que o

homem se percebe como sujeito.

Neste sentido, busca-se um professor de Estudos Amazônicos que entenda o seu papel

no lugar vivido, para que através deste professor, seja construído um pensamento

preservacionista da floresta amazônica e partindo desse pensamento preservacionista,

possamos agregar sentimentos entre os sujeitos e a floresta. Cremos assim, que podemos

iniciar um novo processo de como ensinar conteúdos referentes à Amazônia.

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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ANÁLISE DOS DADOS

Neste capítulo da dissertação expomos as abordagens, técnicas e processos utilizados

no desenvolvimento de nossa investigação, assim como a análise dos dados, logo, dividiremos

nas seguintes subseções: ‘Tipo de pesquisa’, ‘Contexto e sujeitos’ e ‘Análise de dados’.

4.1 Tipo de pesquisa

Segundo Gil (2008), nossa pesquisa é classificada como estudo de caso seguido de

análise documental, pois tem o objetivo de proporcionar uma maior familiaridade com o

problema, torná-lo mais explícito ou construir hipóteses. A pesquisa envolve levantamento

bibliográfico, aplicação de questionários e entrevistas com sujeitos que tiveram experiências

práticas com o problema pesquisado.

Trata-se também de uma pesquisa de cunho documental, pois foram analisados

diversos documentos para que entendêssemos o surgimento da disciplina de Estudos

Amazônicos e o seu processo de elaboração e implementação, tanto no Pará, quanto em

Marabá.

Neste sentido, com base na análise documental, entrevistas e aplicação de

questionários, levantamos dados que nos possibilitaram responder nossa problemática,

levando em consideração as peculiaridades descritas por cada sujeito participante.

4.2 Contexto e sujeitos

Devido ao contexto no qual estávamos inseridos, foi necessário o deslocamento para

as cidades de Belém e Marabá, ambas cidades localizadas no estado do Pará. Primeiramente

fomos em Belém para conseguir o documento que criou a disciplina de Estudos Amazônicos.

Fomos pessoalmente à SEDUC, no Departamento de Ensino, aonde nos foi informado que

deveríamos ir até o Conselho Estadual de Educação (CEE), para que enfim conseguíssemos o

documento que cria a disciplina.

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Em Marabá, conseguimos diversos documentos por meio de carta endereçada22 ao

secretário de educação, Pedro Souza. Esperávamos ter obtido mais dados, porém devido a

greves, trocas de secretários e suspenção dos direitos políticos do prefeito, infelizmente não

foi possível. Também em Marabá, aplicamos os questionários e realizamos as entrevistas

dialogadas com os professores.

Os sujeitos23 que participaram da pesquisa foram: pesquisadores da temática, uma

representante do Conselho Municipal de Educação (CME) e professores que atuam ou já

atuaram com a disciplina.

Os pesquisadores, que também são professores e atuam no nível superior, são: Violeta

Refkalefsky Loureiro e Davison Hugo Rocha Alves. A primeira é professora do Programa de

Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Pará (UFPA) e foi

a mentora da disciplina Estudos Amazônicos. O segundo é professor de História da

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e obteve o título de mestre ao

defender sua dissertação de mestrado intitulada “Contando a História do Pará: A história da

disciplina Estudos Amazônicos e os livros didáticos (1990-2000)”. Obtivemos as entrevistas

de ambos os professores quando nos deslocamos de São Paulo/SP a Belém/PA justamente

para coletar dados.

A representante do CE, Jaíde das Graças Barreiros, já atuou como professora da

disciplina de Estudos Amazônicos e nos trouxe informações relevantes a respeito da criação

da disciplina no município de Marabá. Sua entrevista foi concedida após a reunião do CME,

em Marabá, aonde este pesquisador fora convidado para debater sobre a disciplina de Estudos

Amazônicos.

Ainda em Marabá, após obtenção dos dados24, foi constatado que no município,

segundo dados da SEMED, existem 76 professores atuando com a disciplina de Estudos

Amazônicos, no ano de 2016. Deste total, 46 são professores concursados. Entregamos,

presencialmente, questionários a 16 destes professores. Explicamos como deveria ser o

22 Foi enviado uma carta via email para uma professora que intermediou a coleta de dados referente ao perfil

profissional dos professores que trabalham com a disciplina de Estudos Amazônicos no município de

Marabá/PA. 23 Os sujeitos que participaram desta pesquisa assinaram um termo de consentimento livre e consentido que

consta na base dados do autor da pesquisa. 24 Apesar de termos dados de 2016, optamos por trabalhar com os dados de 2015, pois são dados conclusivos do

corrente ano.

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preenchimento e combinamos de o questionário ser entregue no prazo de 7 dias. Somente 08

professores responderam o questionário25, sendo que alguns entregaram no mesmo dia e

outros enviaram por e-mail ou pelo aplicativo WhatsApp, no formato Joint Photographics

Experts Group (JPEG)26.

Após a aplicação dos questionários, entrevistamos quatro professores. Dois de

Geografia e dois de História. O intuito da entrevista era colher informações mais precisas e o

critério de escolha foi a experiência e se o professor(a) tinha alguma pós-graduação.

Justificamos que não houve a possibilidade de realizar a entrevista com os mesmos professores

que responderam o questionário devido a incompatibilidade de horário. Os professores de

Geografia foram entrevistados na Escola Municipal de Ensino Fundamental Rio Tocantins,

localizado na Folha 1327, quadra especial, no bairro Nova Marabá. Já os professores de

História foram entrevistados no condomínio Total Ville, localizado as margens da rodovia

Transamazônica, onde residiam.

4.3 Análise de dados

A análise contextualizou-se a partir da formulação teórica que consta nesta pesquisa,

mediante ao método de triangulação dos dados obtidos pelo referencial teórico que consta ao

longo dos três primeiros capítulos, análise documental, aplicação dos questionários e

realização de entrevistas. Para Maxwell (1996) a triangulação “reduz o risco de que as

conclusões de um estudo reflitam enviesamentos ou limitações próprios de um único método”

pelo que conduz a “conclusões mais credíveis”.Logo, nesta subseção, tencionamos analisar os

dados coletados mediante a aplicação do questionário28 e realização das entrevistas, para isto,

dividi-la-emos em três subseções: ‘Entrevista Estruturante’, ‘Questionários aplicado aos

professores’ e ‘Entrevistas dialogadas’.

25 Os questionários respondidos constam na base dados do pesquisador. 26 JPEG é um acrônimo de Joint Photographics Experts Group, é um método de compressão de imagens

fotográficas e também é considerado como um formato de arquivo. 27 Bairro organizado por folhas 28 Ver APÊNDICE A – Questionário para professor de Estudos Amazônicos em Marabá.

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4.3.1 Entrevistas estruturantes

Optamos por este título por acreditarmos que as três primeiras entrevistas realizadas

são fundamentais para que possamos entender a criação da disciplina de Estudos Amazônicos,

no estado do Pará e no município de Marabá/PA.

A entrevista concedida pela Profª. Drª. Violeta Refkalefsky Loureiro foi estruturante

para o desenvolvimento desta pesquisa, pois foi ela que iniciou a discussão para que disciplina

de Estudos Amazônicos fosse criada no estado do Pará.

Bom, na verdade, a disciplina surgiu porque eu comecei, eu era na época

conselheira do Conselho Estadual de Educação e também fui diretora de

ensino da SEDUC/PA. Mas a primeira iniciativa minha neste sentido foi

ainda na década de 80. Eu fui diretora geral do antigo Instituto de

Desenvolvimento Econômico e Social do Pará - IDESP. (Entrevista – Profª

.Violeta)

Neste período, por iniciativa da professora, foi elaborada uma revista com recursos do

IDESP para que se publicasse artigos que falassem sobre os grandes projetos na Amazônia.

Segundo a profª. Violeta, “Na época, se discutia muito a questão dos grandes projetos e os

alunos não sabiam coisa nenhuma sobre esses grandes projetos que estavam se instando aqui

e nem mesmo sobre projetos menores, assim, de agropecuária e etc. Não entendiam nada

daquilo”.

Já, na entrevista concedida pelo Prof. Me. Davison Hugo Rocha Alves, ele deixa claro

que a criação da disciplina de Estudos Amazônicos foi devido a um contexto específico:

Dentro daquele contexto dos anos 90, a perspectiva era: mostrar que havia

uma invisibilidade da Amazônia no espaço escolar. Ou seja, os

universitários, nem a educação básica, discutia a Amazônia. Ou seja, a gente

não conhecia nem a Amazônia em si, enquanto aspectos físicos e

geográficos, e também não conhecia os problemas sociais e ambientais,

quando se fala da Amazônia. (Entrevista – Prof. Davison)

É importante ressaltar que a disciplina de Estudos Amazônicos surgi efetivamente no

ano de 1997, e que as discussões para seu surgimento vêm desde a década de 80, período onde

a Amazônia viveu um intenso processo de ocupação de seu território. Este processo trouxe

migrantes de diversas regiões do Brasil para região Norte, migrantes que não conheciam a

realidade desta região.

No município de Marabá, segundo entrevista concedida pela professora Jaide das

Graças Barreiros, representante do Conselho Municipal de Educação, a disciplina de Estudos

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Amazônicos, até então obrigatória no estado do Pará, permaneceu na grade curricular após a

municipalização do Ensino Fundamental.

A partir das três primeiras entrevistas concedidas, entendemos que o surgimento da

disciplina de Estudos Amazônicos no estado do Pará e, consequentemente, em Marabá, estão

atrelados à “invisibilidade” na qual a Amazônia estava e ainda está inserida. Entretanto, nossa

preocupação é como a disciplina de Estudos Amazônicos vem sendo ministrada no município

de Marabá. Para compreendermos a real situação da disciplina aplicamos questionários e

entrevistas a professores que trabalham ou trabalharam com a disciplina.

4.3.2 Questionários

Neste momento da pesquisa, decidimos aplicar os questionários aos professores que

trabalham e/ou trabalharam com a disciplina em Marabá/PA. Elaboramos nove perguntas

abertas e fechadas. Lembramos que, no período que antecedeu nossa qualificação, foram feitos

os testes com os questionários e, após o teste, decidimos retirar quatro questões e reformular

algumas. Para melhor exposição, vamos tabular o perfil profissional dos professores e, questão

a questão, analisar as respostas obtidas.

4.3.2.1 Perfil profissional dos professores

Um dos objetivos de nossa pesquisa é traçar o perfil do profissional que trabalha com

a disciplina de Estudos Amazônicos no município de Marabá. Para isto, enviamos uma carta

à SEMED solicitando dados que pudessem caracterizar este perfil. Os dados foram enviados

e foi constatado que, no ano de 2015, 73% dos professores que ministram aulas na disciplina

de Estudos Amazônicos possuem licenciatura em Geografia. Enquanto 18% possuem

Licenciatura em História e, os 9% restantes possuem Licenciatura em Letras, Licenciatura em

Pedagogia ou graduação em Ciências Naturais. E os sujeitos participantes da pesquisa

possuem um perfil semelhante a este, como demonstrado na tabela a seguir:

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Tabela 01 – Perfil profissional dos professores de Estudos Amazônicos

Nome (Professores) A, B, C, D, E, F, G e H

Graduação

A (Licenciatura em Geografia); B

(Licenciatura em Geografia); C (Licenciatura

em Geografia); D (Licenciatura em História);

E (Licenciatura em Geografia); F

(Licenciatura em Geografia); G

(Licenciatura em Letras); H (Licenciatura em

História)

Pós-Graduação

A (Especialização em Metodologia do

Ensino de Geografia); B (Especialização em

Metodologia do Ensino de Geografia); C

(Não informado); D (Não possui); E

(Especialização em Educação e Meio

Ambiente); F (Especialização em

Metodologia do Ensino de Geografia); G

(Não possui); H (Especialização em

Educação de Jovens e Adultos e mestrando

em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na

Amazônia)

Tempo de trabalho com a disciplina

A (05 anos); B (05 anos); C (05 anos); D (02

anos); E (05 anos); F (05 anos); G (01 ano);

H (01 ano)

A fim de preservar a identidade dos sujeitos participantes, optamos por identificá-los

apenas com letras do alfabeto romano. Assim, durante toda a análise, vamos nos referir a eles

como professor A, professor B, professor C etc, para que, desta maneira, possamos garantir o

anonimato das respostas fornecidas por cada um deles.

Dentre os professores participantes, cinco deles possuem Licenciatura em Geografia,

dois, Licenciatura em História e um, Licenciatura em Letras. Esta informação converge com

os dados enviados pela SEMED e, podemos entender o porquê predomina conteúdos

concernentes a Geografia no ensino da disciplina de Estudos Amazônicos.

A formação inicial dos professores é um dos objetivos de nossa pesquisa. Para isto

desenvolvemos, no capítulo três, um arcabouço teórico que nos proporcionasse entender a

importância da formação inicial e as competências que o profissional tem em trabalhar com a

disciplina.

É importante ressaltar o que Apple (1973) diz sobre o saber escolar, como apresentado,

é um dos seis aspectos básicos como parte integrante do currículo escolar:

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As habilidades do professor, considerando-o o sujeito próprio do currículo,

fonte de estimulação particular. Daí resulta o entendimento de que sua

formação cultural e pedagógica seja o primeiro elemento determinante da

qualidade de ensino. O professor é tanto o executor de diretrizes definidas

desde fora quanto o criador das condições imediatas da experiência

educativa. (APPLE, 1973 apud PONTUSCHKA, 2009, p 115.)

A relação do profissional com as diversas temáticas relacionadas ao meio ambiente

amazônico, tanto na sua formação inicial quanto na sua construção enquanto sujeito, é

fundamental para existência de uma disciplina específica. Entendemos, a partir da construção

teórica que percorremos e das respostas dos questionários, que o saber-ser é tão importante

quanto o saber-fazer.

Em relação à formação em pós-graduação dos professores que responderam o

questionário, somente um não possui especialização, o que nos levou a pensar que possa

existir influência da qualificação profissional para o processo de ensino/aprendizagem, bem

como o tempo que o profissional atua como professor da disciplina de Estudos Amazônicos

É importante ressaltar o significado da formação continuada, termo este que adotamos

sem nos aprofundar em um debate sobre a semântica, mas com a preocupação de entender se

a qualificação profissional do professor que atua em sala de aula, com a disciplina de Estudos

Amazônicos é relevante para processo de ensino.

Neste sentindo resgatamos o que Bernadete Gatti entende por formação continuada:

Nos últimos dez anos, cresceu geometricamente o número de iniciativas

colocadas sob o grande guarda-chuva do termo “educação continuada”. As

discussões sobre o conceito de educação continuada nos estudos

educacionais não ajudam a precisar o conceito, e talvez isso não seja mesmo

importante, aberto que fica ao curso da história. Apenas sinalizamos que,

nesses estudos, ora se restringe o significado da expressão aos limites de

cursos estruturados e formalizados oferecidos após a graduação, ou após

ingresso no exercício do magistério, ora ele é tomado de modo amplo e

genérico, como compreendendo qualquer tipo de atividade que venha a

contribuir para o desempenho profissional – horas de trabalho coletivo na

escola, reuniões pedagógicas, trocas cotidianas com os pares, participação

na gestão escolar, congressos, seminários, cursos de diversas naturezas e

formatos, oferecidos pelas Secretarias de Educação ou outras instituições

para pessoal em exercício nos sistemas de ensino, relações profissionais

virtuais, processos diversos a distância (vídeo ou teleconferências, cursos via

internet etc.), grupos de sensibilização profissional, enfim, tudo que possa

oferecer ocasião de informação, reflexão, discussão e trocas que favoreçam

o aprimoramento profissional, em qualquer de seus ângulos, em qualquer

situação. Uma vastidão de possibilidades dentro do rótulo de educação

continuada. (GATTI, 2008, p. 57)

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Optamos continuar nos referindo ao termo “formação continuada”, por entendermos

que não buscamos aqui nesta pesquisa formular uma nova concepção do que seja essa

formação continuada, mas sim ter a percepção se há alguma influência da qualificação

profissional, em nível de pós-graduação lato sensu e stricto sensu, no processo de ensino.

Pretendemos, na subseção a seguir, analisar se há alguma relação entre a qualificação

profissional e a formação continuada dos professores que responderam o questionário, bem

como analisar aspectos relativos aos objetivos desta pesquisa.

4.3.2.2 Questões semiestruturadas

O questionário é composto por nove questões semiestruturadas. Estas questões foram

elaboradas para que pudéssemos compreender a importância de uma disciplina que ressalta as

características regionais, bem como as dificuldades encontradas na sala de aula, o processo de

formação do professor e a capacidade da disciplina ser tratada interdisciplinarmente.

Tabela 02 – Respostas à pergunta 01 do questionário

PROF RESPOSTAS

A Sim, apesar da grande associação com a Geografia e com a História

B Sim. É uma disciplina de fundamental importância para a população, vista que a

maioria não sabe que estão na Amazônia.

C Sim. Pois esta disciplina tem o seu próprio objeto de estudo.

D Sim. Estudos Amazônicos é essencial para a educação da região, pois através desta

disciplina de caráter importante, os profissionais darão todo o conhecimento desta

região com conteúdo histórico e geográfico.

E Sim. Pois a disciplina aproxima o povo amazônico de sua realidade.

F Não, até porque muitos dos seus assuntos e temas estão presentes em outras

disciplinas como Geografia e história por exemplo.

G Ainda não. Os objetos de análise estão sendo delineados através dos espaços de

pesquisas e aplicação das concepções teóricas. A partir daí, e com auxilio

interdisciplinar, busca-se compreender a formação do homem na Amazônia.

H Não. Pois ela não apresenta um currículo próprio, e o seu conteúdo na maioria é

elaborado apenas pelo professor.

A pergunta número 01 ‘Você acha que Estudos Amazônicos é constituída de uma

identidade como disciplina?’ foi realizada no intuito de entender se a disciplina de Estudos

Amazônicos tinha uma identidade própria ou apenas era a extensão das disciplinas de

Geografia e História. No entanto, coube a nós, explicitar aos professores o nosso entendimento

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sobre o conceito de identidade29, o que foi feito ao entregarmos pessoalmente o questionário

a cada um deles, para que assim, as respostas obtidas pudessem satisfazer a necessidade de

nossa pesquisa.

Quatro professores responderam sim. Entretanto, as respostas nos remetem a

associação que as disciplinas de Geografia e História exercem sobre a disciplina de Estudos

Amazônicos.

Dois professores responderam não. O professor G respondeu que “os objetos de

análises estão sendo delineados” e o professor H disse que não existe um currículo para

disciplina. Entretanto, “a disciplina de estudos amazônicos tem como finalidade conhecer e

compreender o espaço amazônico a partir da perspectiva regional, ou seja, o processo de

ocupação/integração da Amazônia ao mercado nacional e global [...]” (MARABÁ, 2006).

Segundo o marco referencial da disciplina de Estudos Amazônicos, existe um objetivo

delineado que seria: “conhecer e compreender o espaço amazônico” e, neste mesmo marco

referencial, são explicitados competências, habilidades e conteúdos da disciplina.

Apesar da matriz curricular da disciplina trazer objetivos e finalidades de Estudos

Amazônicos, vemos que nem todos os professores demonstraram, em suas respostas, ter

ciência disto, o que indica que o acesso a este documento ainda não foi universalizado entre

os profissionais responsáveis em ministrar a disciplina no município de Marabá por motivos

que a pergunta não foi capaz de alcançar.

As respostas dos professores participantes apresentam argumentos contra e a favor da

existência de uma identidade da disciplina que, com base no pensamento de Bauman, ainda

não pode ser considerada uma área de estudos suficientemente autônomo, a ponto de ser capaz

de categorizar seus próprios conceitos, portanto valendo-se de categorizações e concepções

de ciências estabelecidas há mais tempo, por exemplo, a Geografia e a História, como vimos

ao detalhar a matriz curricular de Estudos Amazônicos na seção 3.2, ‘A proposta curricular

da disciplina de Estudos Amazônicos: a quem compete ensinar?’.

29 Trabalhamos o conceito de identidade de Bauman (2005) aonde o autor diz que o pertencimento e a identidade

não possuem a solidez perpétua, mas sim a finitude de um mecanismo que exerce um poder de transformação

contínua. As identidades estão em constante trânsito, provenientes de diversas fontes, quais sejam aquelas

disponibilizadas por terceiros ou acessíveis através de nossa própria escolha. Esse fenômeno humano se fortalece

pela centralidade que o homem assume como indivíduo considerado portador de cultura, inteligente,

biologicamente maduro e ligado a outros seres humanos na ação e no sentimento coletivo.

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Tabela 03 – Respostas à pergunta 02 do questionário

PROF RESPOSTAS

A Mapas, textos, vídeos, músicas, poemas e outros.

B Utilizo o livro da disciplina, conteúdo de outros livros que falam do tema e/ou

outros específicos, como Cabanagem, história do Pará e etc.

C Livros, textos, revistas, mapas e vídeos.

D Em relação aos aspectos didáticos, o conhecimento histórico, mais a ausência de

conteúdos “livros” didáticos dificulta a qualidade do aprendizado, utilizo através

de pesquisa os conteúdos atualizados em cada série determinada.

E Equipamentos tecnológicos.

F Material próprio, elaborado por mim, uma vez que são poucos os livros que

trabalham esse tema. Até mesmo na net, encontramos dificuldades para encontrar

materiais sobre a região mais detalhado.

G Equipamentos tecnológico.

H Equipamentos tecnológicos

Na pergunta 02 ‘Quais materiais/recursos didáticos você utiliza nas aulas de Estudos

Amazônicos?’, foi possível obter um leque diversificado de respostas, mas também algumas

reclamações referentes à falta do livro didático e a dificuldade para encontrar material da

disciplina nos chamaram atenção.

Não existe um livro didático aprovado pelo Programa Nacional do Livro Didático

(PNLD) para disciplina que possa ser gratuitamente distribuído aos alunos, como acontece

com as demais disciplinas, o que nós temos são livros paradidáticos elaborados por autores da

própria região e que são adquiridos pela SEMED sem a consulta prévia dos professores.

Isso acaba incentivando o professor a pesquisar sobre os conteúdos a serem

trabalhados em sala de aula e elaborarem o seu próprio material, como na situação dos

professores D e E. Ainda que as tarefas de pesquisar e estudar sobre os assuntos da disciplina

a ser ministrada também sejam inerentes à atividade profissional docente. “O grande paradoxo

da educação pública brasileira no ensino fundamental e médio é que o professor ensina ao

aluno algo que ele mesmo não conhece”. (LEFFA, 2011, p. 21).

A ausência de um material didático comercial disponível para usar em sala pode, em

muitos casos, levar o professor produzir materiais de qualidade duvidosa, seja por falta de

tempo e/ou mesmo domínio/acesso de recursos editoriais e tecnológicos, o que pode vir a

prejudicar o processo de ensino/aprendizagem.

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Tabela 04 – Respostas à pergunta 03 do questionário

PROF RESPOSTAS

A Sim. Algumas disciplinas cursadas como Geografia da Amazônia nos

apresentaram autores que são referências no debate sobre a Amazônia.

B Sim. Durante o curso trabalhamos bastante teoria e prática sobre a Amazônia.

Riquezas, população, problemas ambientais, sociais e etc.

C Sem resposta

D Sim. Em muitos casos a disciplina não é somente assuntos diretamente a geografia

regional em sua grande maioria inclui relatos históricos que corresponde a melhor

qualidade da disciplina.

E Sim. As disciplinas de Geografia Amazônica foram de fundamental importância.

F Sim. Algumas disciplinas estavam voltadas para assuntos que se encaixavam

dentro da região, Geografia Agrária onde trabalha-se a atividade econômica, mas

também as tensões no campo.

G Sim. Durante a graduação em letras defini a formação na Literatura com a linha de

pesquisa dos “Estudos culturais” (Identidade/Culturas/Hibridismo)

H Sim. Na minha graduação tive aula sobre o estudo da Amazônia. Além de fazer

um mestrado sobre a região amazônica.

Na pergunta ‘Sua graduação contribuiu para que hoje você fosse professor de Estudos

Amazônicos? Em caso de resposta afirmativa, especifique as contribuições’, estávamos em

dúvida se a formação inicial proporcionou elementos para o exercício da profissão docente.

Todos os professores responderam sim, inclusive o professor G, que é licenciado em Letras.

Todos os professores consultados obtiveram sua formação inicial no estado do Pará, o

que supomos, colaborou para que as respostas fossem positivas. Observamos também, que os

professores tiveram contato com disciplinas que tratam da temática amazônica.

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Tabela 05 – Respostas à pergunta 04 do questionário

PROF RESPOSTAS

A Existe uma relação direta entre a Geografia e Estudos Amazônicos e esta relação

está na forma de entender e analisar a região. Considero a Geografia como uma

ferramenta necessária para se compreender a Amazônia.

B A Geografia possibilitou-me compreender bastante sobre a Amazônia, sendo que,

essa disciplina abrange outros temas ligados à nossa região.

C Conhecimentos sobre o espaço geográfico.

D Em ter habilidade em ministrar aulas com conteúdos históricos.

E Minha formação aborda bastante a região amazônica

F Bastante ampla, uma vez que a disciplina Estudos Amazônicos até pouco tempo

era parte da disciplina de Geografia onde o objeto de estudo coincidem, uma de

uma forma global, outra de uma forma regional.

G Se dá fortemente pela necessidade de formar indivíduos capazes de pensar e

refletir o espaço e o contexto histórico amazônico com todo arcabouço teórico-

linguístico-literário da região. (autores e suas produções).

H O meu curso possibilitou o conhecimento sobre a história da Amazônia.

Na pergunta número 04, ‘Qual a relação entre a sua área de formação inicial

(graduação) com a disciplina de Estudos Amazônicos?’, acreditamos ser uma extensão da

pergunta número 03.

É importante que o professor seja capaz de relacionar a sua formação inicial com a

disciplina que ministra, a fim de que possa intermediar o processo de ensino/aprendizagem de

maneira adequada e, com base nas respostas, podemos observar que todos os professores

foram coesos em falar que a sua formação contribuiu para o exercício da profissão e, inclusive

que, as disciplinas da graduação contribuíram neste processo, como no caso do professor G,

o que demonstra que eles, ao menos em nível discursivo, conseguem estabelecer esta relação.

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Tabela 06 – Respostas à pergunta 05 do questionário

PROF RESPOSTAS

A Sim. Visto que nossos alunos precisam ter um conhecimento mais próximo da

região em que vive

B Sim. Todos os livros falam de Amazônia apenas superficialmente, necessitamos

de livros que discutam profundamente sobre a Amazônia.

C Sim. Por tratar-se de uma enorme região e de ter sua própria identidade.

D Sim. Nas disciplinas de História e Geografia não há conteúdo sobre a região e leva

o conhecimento para os alunos sobre a nossa região.

E Sim. As pessoas não sabem que moram na Amazônia

F Sim. É importante termos conhecimento de todas as regiões de nosso país, mesmo

não estando nelas.

G Sim. Pois estamos inseridos no centro dos debates acerca das relações de

transformação dos recursos do planeta de forma racional ou desumanizada.

H Sim. Pois o discente pode compreender a sua vida e a relação com o ambiente em

que vive.

Na pergunta 06 ‘Na sua opinião, uma disciplina que contemple a região amazônica é

necessária? Por quê?’, queríamos entender a necessidade da existência da disciplina, haja vista

o grande número de disciplinas do Ensino Fundamental II e a similaridade com outras áreas

do conhecimento. No entanto, todos os professores responderam positivamente e ressaltaram

que Estudos Amazônicos é muito mais que uma disciplina escolar, é uma resistência contra

um pensamento hegemônico que predomina em nossa região, além de fortalecer os laços

identidade entre o discente e o seu território.

Tabela 07 – Respostas à pergunta 06 do questionário

PROF RESPOSTAS

A Por entender que minha formação me oferece subsídios para lecionar sobre o tema.

B Gosto da disciplina e vejo que a população precisa conhecer o meio em que vive.

Muitos não sabem que moram em uma região rica e que somos lesados por

empresas que só nos exploram. Éramos para ser uma região muito bem

desenvolvida.

C Por falta de carga horária exclusiva de Geografia

D Não sou formado na área de Geografia para ter a ‘habilidade’ em ministrar aulas

de Estudos Amazônicos, porém gosto dos conteúdos que a cada dia tenho mais

experiência.

E Porque preciso complementar minha carga horária

F Devido a aproximação da disciplina com aquela em que eu sou formado

(Geografia) e ainda favorece o feito de morar na região

G Pela identificação com sua proposta diversificada de abordagem e pela formação

na área de literatura.

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H Gosto da disciplina. Entendo que seja importante o aluno adquirir conhecimento

sobre a região em que mora.

Consideramos a pergunta número 06 ‘Por que você é professor de Estudos

Amazônicos?’, mais intimista. Com ela tencionamos que os professores respondam sobre o

motivo de eles trabalharem com a disciplina. Cabe ressaltar, que não existe concurso público

para o provimento do cargo de professor de Estudos Amazônicos, no município de

Marabá/PA, diferente de outros municípios do estado, como em Acará/PA.

Os professores A, F, G e H disseram que gostam da proximidade que a disciplina tem

com a sua formação inicial e ressaltaram a importância da população conhecer melhor a região

aonde vive. Já os professores C e E, mostraram-se insatisfeitos e disseram que são professores

da disciplina para complementar a carga horária.

Tabela 08 – Respostas à pergunta 07 do questionário

PROF RESPOSTAS

A Sim. Para o aprofundamento sobre as questões da disciplina.

B Sim. Melhorar meu conhecimento para poder para poder ensinar muito mais aos

alunos. Se faz necessário esse estudo.

C Sim. Para ampliar meu (conhecido) conhecimento de mundo.

D Sim. É sempre bom ter mais conhecimento sobre a região para levar uns conteúdos

com mais qualidade para sala de aula.

E Sim. Para aprofundar meus conhecimentos na área

F Sim. Pelo fato de que há muito que se aprender sobre a nossa região

G Sim

H Sim. A troca de conhecimento entre os professores é de extrema importância para

desenvolver os métodos de ensino.

Atualmente, no município de Marabá/PA, as formações estão paralisadas devido à

falta de recursos financeiros. Porém, os professores de Estudos Amazônicos nunca foram

contemplados com uma formação continuada específica para disciplina, logo, essa

problemática nos levou a fazer a pergunta número 07 ‘Você faria uma formação continuada

em Estudos Amazônicos? Por quê?’. Todos professores responderam sim, o que demostra a

necessidade de discutir e compartilhar as necessidades e demandas que a disciplina tem.

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Gráfico 01 – Respostas à pergunta 08 do questionário

O gráfico acima representa os dados da pergunta número 08 ‘Em quais disciplinas é

possível trabalhar temas relacionados à Amazônia?’.

60% dos professores entendem que é possível trabalhar temas relacionados à

Amazônia nas disciplinas de Geografia e História. Acreditamos que a resposta tendeu a ser

essa devido ao número de professores destas disciplinas que atuam com os Estudos

Amazônicos.

A colocar esta questão para os participantes, tínhamos o intuito de saber se o conteúdo

de Estudos Amazônicos poderia, na opinião dos sujeitos, ser trabalhado a partir de temas

transversais que, segundo o MEC,

[...] são temas que estão voltados para a compreensão e para a construção da

realidade social e dos direitos e responsabilidades relacionados com a vida

pessoal e coletiva e com a afirmação do princípio da participação política.

Isso significa que devem ser trabalhados, de forma transversal, nas áreas e/ou

disciplinas já existentes. (BRASIL, 2001)

Porém, cabe ressaltar a Lei nº 11.645, de 10 março de 2008, que trata da

obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas do Ensino

Fundamental e Médio, das redes públicas e particulares de ensino, pois a lei diz que o conteúdo

será abordado em todo currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de

literatura e história brasileiras, portanto, de forma transversal.

43%

17%

8%

7%

5%

5%5%

5% 5%

8. Em quais disciplinas é possível trabalhar temas relacionados à Amazônia?

Geografia

História

Artes

Matemática

Português

Inglês

Ensino Religioso

Ciências

Ed. Física

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Nossa preocupação é que o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena não

é tratado de forma transversal em grande parte das escolas em que trabalhamos no município

de Marabá/PA, logo, entendemos que não há efetivação do cumprimento desta lei, por isto

entendemos que a obrigatoriedade da disciplina de Estudos Amazônicos no Ensino

Fundamental II é importante para que as temáticas amazônicas sejam abordadas com maior

clareza e tempo.

Tabela 09 – Respostas à pergunta 09 do questionário

PROF RESPOSTAS

A Sim. Por me sentir atraído pelo tema e por entender que a diversificação de

assuntos é positivo para qualquer profissional.

B Sim. Essa é uma disciplina de grande importância. Estamos “presos” aos

conteúdos dos livros didáticos que vem de fora, como se lá, fosse mais importante

do que aqui. Temos nossa história, economia, comida, riqueza, danças, etc. e

precisamos conhecer e dar valor ao que é nosso.

C Não. Pois não me identifico com a disciplina.

D Sim. Continuaria porque gosto do conteúdo histórico da região amazônica, apesar

das dificuldades.

E Não faria.

F Não. Devido à falta de material, principalmente nas escolas onde atuamos, apesar

de estarmos na Amazônia, o acervo é muito limitado, ainda.

G Sim

H Sim

A pergunta de número 09 ‘Se pudesse preencher toda a sua carga horária

exclusivamente com disciplina(s) da(s) sua(s) área(s) de formação, você continuaria

ministrando a disciplina de Estudos Amazônicos? Por quê?’ Foi realizada esta pergunta para

sabermos o grau de afinidade do professor com a disciplina.

Ficou claro, de acordo com as respostas dos professores, que mesmo com os desafios

de estrutura, organização e material didático mais da metade dos professores que continuaria

ministrando aulas de Estudos Amazônicos, justificando suas escolhas por questões de

afinidade pessoal com os temas abordados e também a importância deles para a região.

Enquanto que os que, se pudessem, optariam por não mais trabalhar com a disciplina alegam

a falta de identificação própria com ela, ou escassez de material didático e de pesquisa, ou até

mesmo não justificaram.

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4.3.3 Entrevistas dialogadas

Após a aplicação dos questionários, escolhemos quatro professores (A1, A2, A3 e A4)

para responder alguns questionamentos que surgiram durante a pesquisa. Usamos letras para

identificá-los afim de preservar a identidade dos entrevistados.

Escolhemos este nome ‘Entrevistas dialogadas’, por se tratar de uma oitiva com

professores de Geografia e História a respeito de sua prática docente e a percepção a respeito

da disciplina de Estudos Amazônicos, assim pretendemos responder uma das questões

problema de nossa pesquisa ‘De que maneira a experiência dos professores que ministram a

disciplina pode colaborar no desenvolvimento de uma proposta com vistas à formação dos

professores?’ e alcançar um dos nossos objetivos propostos: ‘investigar a percepção dos

professores da disciplina de Estudos Amazônicos no que concerne à contribuição dos

conteúdos constantes no currículo e que reforce seus conhecimentos quanto à sensibilização

para questões socioambientais’.

Quando propomos esta questão em nossa pesquisa, pensávamos que encontraríamos

dificuldades na formação inicial dos professores. A partir das respostas dos questionários,

entendemos que os professores pesquisados, mesmo não tendo disciplinas específicas que

trate da disciplina de Estudos Amazônicos em seu currículo30, nos relataram que muitas

disciplinas da graduação abordaram de forma direta ou indireta temas relacionados à temática

amazônica.

Além disso, cabe ressaltar, que o discurso dos professores entrevistados nos remete a

pensar na divisão que ainda permeia a disciplina de Estudos Amazônicos. Segundo, a fala do

professor A1, licenciado em História, que é: “Porque, quando você fala de Estudos

Amazônicos né... é... às vezes, só querem, só tratam de um viés, que é da questão geográfica.

E na realidade, Estudos Amazônicos não é só questão geográfica, né? É a questão

historiográfica, né?” Quando perguntamos sobre a experiência do professor A2, também

licenciado em História e mestrando no programa de Pós-graduação em Dinâmicas Sociais e

Territoriais da Amazônia, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), com

a disciplina de Estudos Amazônicos, sua resposta foi a seguinte:

Dentro de Estudos Amazônicos eu trabalhei durante sete meses só apenas,

porque, aqui no município, eles não dão possibilidade para os professores

em História de trabalhar com a disciplina. Há uma grande dificuldade dessa

liberação. No entanto, como eu já tinha experiência no meu currículo sobre

30 O tempo não nos permitiu fazer a análise da grade curricular da graduação dos professores. Baseamo-nos nas

respostas dos questionários e, posteriormente, nas entrevistas dialogadas.

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Amazônia eu requisitei essa possibilidade de ministrar essa disciplina e, a

partir de muito trabalho, muita discussão, a Secretaria acabou liberando,

fazendo uma exceção para mim, mas, normalmente, essa disciplina é dada

por geógrafos e, boa parte, por pedagogos... (Entrevista – Professor A2).

O discurso dos professores A1 e A2, nos levam a pensar na organização e critérios

estabelecidos para escolha do profissional competente a trabalhar com a disciplina. Se, com a

municipalização do Ensino Fundamental no município de Marabá/PA, houve a

obrigatoriedade da oferta da disciplina de Estudos Amazônicos, por que não foram adotados

os mesmos critérios que eram adotados antes da municipalização? Ou seja, os profissionais

habilitados a trabalharem com a disciplina seriam: os licenciados em Geografia, História ou

Ciências Sociais e, na falta destes, os bacharéis nas mesmas áreas, respectivamente.

Até o final desta pesquisa não encontramos nenhum documento que estabeleça

critérios para escolha do profissional de Estudos Amazônicos no município de Marabá/PA.

Os professores de Geografia são os preferidos e, na falta destes, a escolha é feita por afinidade

com conteúdo ou indicação política.

A professora A3, que obteve a Licenciatura em Geografia, em seu discurso, afirma o

que já tínhamos percebido com as respostas do questionário: “Bom, a minha formação é em

Geografia, né? Então, através da vertente da Geografia que eu comecei a trazer a possibilidade

de dar aula para Estudos Amazônicos”. A geografização do ensino da disciplina de Estudos

Amazônicos talvez seja um problema para que se aproxime da proposta pedagógica da

disciplina, pois segundo a proposta curricular elaborada pela SEMED:

[...] o trabalho didático/pedagógico com a Disciplina de Estudos

Amazônicos deve contribuir para que o educando tenha uma postura de

valorização do multiculturalismo, da sócio-biodiversidade amazônica,

desenvolvendo assim valores pessoais e coletivos, tais como: senso crítico,

respeito mútuo, consciência ambiental, cidadania planetária, dentre outros.

(MARABÁ, 2006. p. 96).

Para que se desenvolva um discente com esta postura de valorização do meio ambiente

amazônico, acreditamos que não seja o caminho geografizar o ensino de Estudos Amazônicos,

ou seja, a permeabilidade entre as diversas disciplinas escolares seria um caminho a ser

seguido.

Assim, as reflexões dos estudos amazônicos devem ter como referência, o

trabalho transversal e interdisciplinar com a temática ambiental, valorizando

e contribuindo por uma educação ambiental que incorpore a perspectiva dos

sujeitos sociais, permitindo estabelecer uma prática pedagógica

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contextualizada e crítica, que explica os problemas estruturais da nossa região,

causas do baixo padrão qualitativo de vida que levamos e da utilização do

patrimônio natural como uma mercadoria e uma “externalidade” em relação a

nós. (MARABÁ, 2006. p. 96)

Já o professor A4, Licenciado em Geografia, foi o único que mencionou a importância

em trabalhar a disciplina de Estudos Amazônicos de forma não compartimentalizada: “Bom,

Gabriel, essa disciplina, ela tem uma... ela tem um caráter importante mesmo porque ela já

começa, ela une as duas disciplinas História e Geografia, né? A geografia aqui da região à

história no contexto regional mesmo”.

Além disso, podemos identificar no discurso dos professores uma preocupação com o

material didático, pois, por se tratar de uma disciplina da Parte Diversificada do currículo, não

existe um livro didático específico para ser trabalhado em sala de aula.

[...] ao longo da disciplina, o que eu senti a dificuldade, ao ministrar o

conteúdo de Estudos Amazônicos, é que, infelizmente, ainda não há um

parâmetro curricular adequado, que possa trazer um uma simulação, né? De

assuntos ordenados para a gente poder tá desenvolvendo, né? Alguns se

baseiam em uns livros muito antigos e outros nem têm material, ou

organizado ainda para ministrar aula. (Entrevista – Professora A3)

A professora A3, comenta que não há um parâmetro curricular adequado, porém existe

um marco referencial, no qual contem a proposta curricular da disciplina, no entanto, a palavra

“adequado”, utilizada por ela, remete-nos a pensar na compartimentalização da disciplina e,

consequentemente, na diversidade que a temática amazônica abrange, ocasionando uma

preocupação com o material didático.

Desde que chegamos à Marabá/PA em 2011, nos deparamos com a falta de material

didático para disciplina de Estudos Amazônicos. Em meados de 2012, a editora Estudos

Amazônicos, localizada em Belém/PA, elaborou uma coleção de livros do 6º ao 9º ano do

Ensino Fundamental:

Uma coleção inédita com conteúdo inteiramente voltado à realidade

amazônica. A proposta dos professores Mauro Cezar Coelho, Amélia

Bemerguy, Luana Guedes e Márcia Pimentel é oferecer aos estudantes e

professores um material de qualidade para atender as disciplinas de

Geografia, História e Estudos Amazônicos. A coleção é dividida em quatro

volumes voltados para o 6º, 7º, 8º e 9º ano do Ensino Fundamental, e

abordam desde o início da colonização até o século XXI, tratando sobre os

diversos aspectos históricos, geográficos, sociais e culturais da Amazônia

(http://www.editoraestudosamazonicos.com.br/livro_ensinof.php)

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Esta coleção foi comprada pela SEMED e distribuída nas escolas do Ensino

Fundamental. Os professores da disciplina não foram consultados a respeito da qualidade do

material, assim como é feito com os livros aprovados pelo Programa Nacional do Livro

Didático (PNLD). Isto gerou críticas por parte dos professores e, principalmente por parte

deste pesquisador. Nossa crítica é fundamentada na divisão que consta no livro, pois o mesmo

é dividido em sua parte Histórica e Geográfica. Acreditamos que esta divisão, mais uma vez,

remete-nos a pensar na compartimentalização do saber, do saber de uma temática que perpassa

transversalmente, interdisciplinarmente e porque não, transdiciplinarmente?

O professor A2 também comenta que a principal dificuldade a ser vencida na disciplina

é a falta de material didático:

Maior dificuldade? Eu acho que é material. Dentro dos Estudos Amazônicos

[inaudível] no município não se há um uma formação específica, não há

currículo, uma formação específica para Estudos Amazônicos. Então, cada

professor ele entra numa sala e ele faz literalmente a partir da perspectiva

que ele acha correto. Não se há um planejamento voltado especificamente

no município, ele só foi colocado a disciplina, olha ela existe, esse professor

tem que dar aula e acabou. Diferente com História, por exemplo, que

anteriormente tinha formação, Geografia, outras disciplinas inclusive. Agora

Estudos Amazônicos ele acabou sendo colocado não tendo um planejamento

mesmo para a própria disciplina.

A falta do material didático faz com que o professor busque em fontes variadas o seu

próprio material. Os livros da coleção Estudos Amazônicos foram comprados em poucas

quantidades, não sendo possível a distribuição para todos os alunos. Alguns professores não

trabalham somente com o livro da coleção. Porém, para muitos professores, não há tempo de

fazer uma pesquisa a respeito do material a ser utilizado em sala de aula. Não existe formação

continuada para disciplina de Estudos Amazônicos. As trocas de informações e, a elaboração

de um material didático que, talvez seria possível neste espaço, não acontece devido à falta de

importância à disciplina.

O espaço de formação continuada também colaboraria para uma discussão de como

ensinar a disciplina de uma forma interdisciplinar. Perguntamos, para a professora A3, ‘Você

acredita que a disciplina Estudos Amazônicos pode ser trabalhada de forma interdisciplinar?’

e a sua resposta foi:

Olha, acredito que sim. Em alguns casos eu acho até muito interessante,

como essa parceria de História e de Geografia, né? Eu acho que a Amazônia

ela contempla a nossa região. Ela está instalada dentro da nossa realidade. E

ela precisa ser ainda explorada em conhecimento, principalmente, por conta

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de nós termos muitas áreas ribeirinhas que a gente pode estar tendo a

dinâmica e cruzando a realidade com o patamar histórico até econômico

mesmo da região. (Entrevista – Professora A3).

Vimos, na subseção 2.3 ‘Estudos Amazônicos e a interdisciplinaridade’, que, de uma

forma geral, a interdisciplinaridade é o diálogo entre diferentes disciplinas.

A interdisciplinaridade mostra-se de fundamental importância em algumas áreas de estudo,

principalmente nas áreas que tangem a temática ambiental, logo, a disciplina de Estudos

Amazônicos, por ter essa preocupação com o meio ambiente, é passível de ser estudada

interdisciplinarmente. Nosso intuito em fazer essa pergunta, não só para professora A3, mas

para os demais, era justamente entender qual a percepção que estes professores tinham sobre

a interdisciplinaridade.

Olha! É, a interdisciplinaridade em si, ela, pode ser feita em qualquer viés

do conhecimento, no meu ponto de vista, entendeu? E estudos amazônicos

não é diferente. Dá para se trabalhar sim. Mas aí, a grande questão para você

trabalhar estudos amazônicos de uma forma interdisciplinar, não é somente

a um pedagogo, a um historiador, a um geógrafo, não é isso não, entendeu?

É justamente um grupo de professores se reunir, né? E dentro daquela

reunião eles pegarem várias, vou usar esse termo mesmo, várias variáveis,

dentro, né? Do programa que é requisitado. Como assim? Digamos tá, eu

sou História, né? Aí eu vou pegar todo processo historiográfico de formação

daqui da região. Aí eu pego um outro amigo de geografia, ele vai trabalhar

a parte do quê, territorialidade, beleza! Aí eu pego por exemplo uma

professora de artes e ela vai trabalhar aquilo ali, através do quê? Através dos

resquícios arqueológicos que foram deixados justamente pelas comunidades

negras e indígenas [...] (Entrevista – Professor A1)

Todos profissionais creio que podem ter possibilidade de ministrar a

disciplina sem problemas, o professor de Artes, de Língua Portuguesa,

porque é a Amazônia em si é diversa. Tanto por o meu mestrado, que é

interdisciplinar, então tem profissionais de Direito, de Administração e todos

trabalham com seus projetos de pesquisa voltados para a Amazônia. Então,

a disciplina Estudos Amazônicos, eu creio que também pode ser de uma

forma interdisciplinar. (Entrevista – Professor A2)

Na fala dos professores A1 e A2, foi possível perceber que eles sabem o significado

da interdisciplinaridade. Entretanto, o professor A1 ressaltou a importância do diálogo entre

os professores para que pudessem de fato pensar a disciplina interdisciplinarmente. O

professor A2 fala da possibilidade de todos os profissionais trabalharem com a disciplina, mas

mostra-se preocupado com a competência de que teriam para isso e também, que a disciplina

poderia não existir, mas ser trabalhada transversalmente entre as áreas do conhecimento.

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Em relação à interdisciplinaridade, podemos chegar à conclusão que os professores

entrevistados reconhecem a importância de trabalhar interdisciplinarmente, mas, ao mesmo

tempo, criticam a SEMED por não disponibilizar um espaço de formação continuada onde

poderiam ser feitos os diálogos sobre essa temática.

Retomamos à pergunta de nossa pesquisa: ‘De que maneira a experiência dos

professores que ministram a disciplina pode colaborar no desenvolvimento de uma proposta

com vistas à formação dos professores?’

Acreditamos que a experiência do professor em sala de aula é o principal agente motriz

de uma formação continuada, mas entendemos, a parir do discurso dos professores que

existem dificuldades a serem vencidas, como: o material didático e um espaço de diálogo entre

os professores da disciplina de Estudos Amazônicos.

Em relação ao objetivo: ‘investigar a percepção dos professores da disciplina de

Estudos Amazônicos no que concerne à contribuição dos conteúdos constantes no currículo e

que reforce seus conhecimentos quanto à sensibilização para questões socioambientais’,

entendemos que somente a professora A3 nos remeteu essa percepção de preocupação com a

sensibilização para questões socioambientais, talvez porque no desenvolvimento de sua

monografia de graduação trabalhou sobre a questão ambiental.

O currículo da disciplina Estudos Amazônicos é muito claro ao abordar as temáticas

ambientais, mas entendemos que levar os alunos a sensibilização é um fator que vai além do

ensinar. Segundo Masini (2012, p. 1), “Compreender as especificidades e singularidades

perceptuais na existência humana requer uma complexidade de conhecimentos. O ponto de

partida para essa compreensão é a abertura do ser humano ao que circunda”. Partindo desse

pressuposto, faz-se necessário entender qual o papel do professor no ato de ensinar. Ensinar

uma disciplina, que talvez não tenha identidade, porém o seu nome, Estudos Amazônicos,

leva o imaginário, seja do professor ou do aluno, a criar estreitas relações com ambiente em

que vive.

O ato de ensinar, fundamentado na ação docente, vai além do que apenas transmitir

conhecimentos, é fator primordial para que sejam estabelecidas relações humanas com

pessoas capazes de iniciativa e uma certa capacidade de resistir ou de envolver-se na ação dos

docentes. Com os professores de Estudos Amazônicos não é diferente, entretanto, muito mais

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do que um processo de ensino/aprendizagem, ensinar a disciplina de Estudos Amazônicos na

região amazônica, é um ato de cidadania.

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5 CONCLUSÕES

Esta pesquisa tratou da disciplina de Estudos Amazônicos e a formação de professores

do Ensino Fundamental, com foco em uma experiência no munícipio de Marabá-PA, onde

buscamos compreender a importância de estudar a temática amazônica como uma disciplina

escolar.

Para tal, começamos esta pesquisa descrevendo o espaço amazônico carregado de

múltiplas relações sociais, enfatizando a importância de estudar as temáticas referentes ao

ambiente amazônico, partindo da vertente da urbanização. Abordamos e categorizamos a

Amazônia Legal brasileira e o município de Marabá/PA, afim de entender como se deu/dá a

construção deste território, que é o local onde realizamos nossa pesquisa. Isto se fez necessário

para que pudéssemos entender qual a relação dos sujeitos com a floresta, ou melhor, existe

essa relação?

Em determinado período, este pesquisador esteve como professor da disciplina de

Estudos Amazônicos na rede pública municipal de ensino marabaense (2011-2014) e isso

contribuiu para o desenvolvimento desta pesquisa, pois muitos fatores aqui relatados surgiram

devido a experiência do professor com a disciplina supracitada.

Ressaltamos também, o contato que tivemos com a prof. Drª. Violeta Refkalefsky

Loureiro, que, mediante a uma entrevista concedida, nos ajudou a construir uma narrativa

cronológica a respeito do surgimento da disciplina, haja vista, que no período de cinco anos,

a professora atuou como diretora geral de Ensino da SEDUC/PA e, simultaneamente, foi

membro do Conselho Estadual de Educação. Uma experiência que proporcionou a criação e

a obrigatoriedade da disciplina de Estudos Amazônicos.

O Prof. Msc. Davison Hugo Rocha Alves, atualmente docente do curso de História da

Unifesspa, nos ajudou a compreender a dinâmica em que se construiu uma disciplina voltada

para as temáticas amazônicas, principalmente nos direcionando aos atores responsáveis por

esta construção.

Contudo, para realização da pesquisa nos deparamos com certas dificuldades como a

obtenção de dados mais específicos por parte da SEMED e a burocracia para obter o

documento que cria a disciplina no estado do Pará, documento elaborado pelo CEE.

Mesmo com as dificuldades encontradas, os dados que foram enviados pela SEMED

em 2015, nos permitiu uma análise, que, complementados com a aplicação de questionários e

realização de entrevistas, chegamos à conclusão que 73% dos professores que ministram aulas

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na disciplina de Estudos Amazônicos possuem licenciatura em Geografia, enquanto 18%

possuem Licenciatura em História e os 9% restantes possuem Licenciatura em Letras,

Licenciatura em Pedagogia ou graduação em Ciências Naturais.

Com base na análise da legislação federal, da matriz curricular da SEDUC/PA do ano

de 2003, e dos documentos envidados pela SEMED e pelo CME, descobrimos que a falta de

critério para escolha do profissional que trabalha no município de Marabá se dá pela

interpretação dada às normativas criadas após a municipalização do Ensino Fundamental. Para

chegarmos a essa conclusão, foi de essencial importância a entrevista concedida pela

professora Jaide das Graças Barreiros, membro do CME, pois a mesma já pertencia ao

Conselho Municipal de Educação na época da municipalização. Na ausência de uma nova

legislação que determinasse (novas) regras para escolha dos professores, o que deveria ter sido

feito é seguir as mesmas regras de antes da municipalização, ou seja, os profissionais

licenciados em Geografia, História ou Ciências Sociais e, na falta dos licenciados, os bacharéis

das mesmas áreas respectivamente.

Observamos que a desorganização estrutural, baseada pela falta de material didático,

orientação pedagógica e de uma falta de identidade da disciplina, acaba desmotivando uma

parcela dos professores que participaram desta pesquisa, mas que essa mesma desorganização

acaba fomentando uma outra parcela a discutir a disciplina com mais seriedade. Logo, as

experiências destes profissionais se tornam primordial para uma discussão que vise à

formação continuada dos professores que já atuam com a disciplina e que até mesmo se

estabeleça critérios para os futuros profissionais atuarem com a disciplina.

Cabe ressaltar que existia um espaço de formação continuada e que foi severamente

criticado pelos professores que participaram de nossa pesquisa. Até meados de junho de 2015,

existia uma formação continuada para grande parte dos docentes da rede municipal de ensino.

Mesmo com a existência desse espaço, o modelo adotado era criticado por eles, pois, muitas

vezes, os responsáveis pelas formações (professores formadores) não tinham, segundo os

sujeitos, a formação adequada para estar à frente de uma formação continuada. Apesar de

todas as problemáticas envolvidas, o espaço era fundamental para que houvesse discussões

relacionadas às disciplinas escolares. Lembrando que a disciplina de Estudos Amazônicos não

tinha sua formação continuada. Com a justificativa da crise financeira que assola o país e,

consequentemente, a grande maioria dos municípios brasileiros, a SEMED resolveu suspender

a formação continuada por tempo indeterminado.

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Também nos propomos, em nosso estudo, evidenciar o perfil do docente que trabalha

com a disciplina e descobrimos que 91% possuem formação inicial em Geografia ou História

e 27% possui pós-graduação Lato Sensu, o que pode influenciar na qualidade das aulas e no

processo de ensino/aprendizagem. Como nossa pesquisa não se propôs a analisar este

processo, deixamos como sugestão para futuras investigações estudar o que é ensinado de fato

nas aulas de Estudos Amazônicos. O que fizemos foi analisar a matriz curricular da disciplina

e saber qual era o profissional competente para ministrar as aulas e, conforme a triangulação

dos dados, as áreas de Geografia e História são as que mais se aproximam dos conteúdos da

disciplina. Porém, chegamos à conclusão de que há uma geografização da disciplina e que

isso pode comprometer o objetivo e a finalidade para os quais a disciplina foi criada.

De acordo com a matriz curricular de Estudos Amazônicos, uma das suas finalidades

é a sensibilização socioambiental. Entendemos que isso pode ser alcançado levando o discente

a refletir sobre sua própria prática no ambiente amazônico, fazendo com que se desenvolva

uma consciência socioambiental capaz de não (re)produzir modelos de desenvolvimento

visando apenas a exploração econômica da região. Contudo, esta sensibilização não esteve

presente no discurso da maioria dos professores da Educação Básica que participaram da

pesquisa, o que nos leva a crer que a sensibilização também não esteja presente na sala de

aula, fazendo com que a finalidade em questão não seja satisfatoriamente contemplada.

Respondemos as questões e alcançamos os objetivos propostos nesta pesquisa, porém

ficamos com um questionamento: Será que Estudos Amazônicos realmente pode ser

considerado uma disciplina? Ou é simplesmente uma extensão das disciplinas de Geografia

e História?

Outros questionamentos surgiram ao longo dessa pesquisa como: A disciplina

realmente está cumprindo com o seu real objetivo? Quais conteúdos são ensinados em sala de

aula pelos professores? Como estes conteúdos são ensinados? O modelo de disciplina escolar,

adotado para ensinar os Estudos Amazônicos, tem sido efetivo? Esperamos que estes

questionamentos sejam respondidos em outras pesquisas a fim de contribuir com o

pensamento que está sendo construído a respeito dos Estudos Amazônicos e com o próprio

conceito de disciplina escolar.

A aproximação inicial que tínhamos com o tema tornou-se ainda maior a partir do

desenvolvimento da investigação e a nossa aprendizagem foi muito mais aprofundada do que

esperávamos. Por termos nos dedicado a um objeto pouco estudado até o momento,

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certamente, muito mais poderia ter sido dito sobre ele, mas acreditamos ter aqui cumprido

com a delimitação a que nos propomos respondendo a questões e objetivos traçados, o que

nos permitiu deixarmos aqui informações e dados relevantes que poderão contribuir para

próximas pesquisas que também se disponham a estudar mais sobre a disciplina Estudos

Amazônicos.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – Questionário para professor de Estudos Amazônicos em Marabá

IDENTIFICAÇÃO

Nome:

Escola(s) em que atua:

Data de nascimento: Sexo: M () F ( )

Email: Celular:

ESTUDOS AMAZÔNICOS COMO DISCIPLINA NO ENSINO FUNDAMENTAL31

01. Você acha que Estudos Amazônicos é constituída de uma identidade como disciplina?

02. Quais materiais/recursos didáticos você utiliza nas aulas de Estudos Amazônicos?

03. Sua graduação contribuiu para que hoje você fosse professor de Estudos Amazônicos?

( )Sim ( ) Não ( ) Talvez

Em caso de resposta afirmativa, especifique as contribuições.

04. Qual a relação entre a sua área de formação inicial (graduação) com a disciplina de Estudos

Amazônicos?

05. Na sua opinião, uma disciplina que contemple a região amazônica é necessária?

( ) Sim ( ) Em partes ( ) Definitivamente não

Por quê?

06. Por que você é professor de Estudos Amazônicos?

07. Você faria uma formação continuada em Estudos Amazônicos?

( ) Sim ( ) Talvez ( ) Não

Por quê?

31 Caso seja necessário, escreva também no verso da página.

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08. Em quais disciplinas é possível trabalhar temas relacionados à Amazônia?

( ) Geografia ( ) História ( ) Artes ( ) Matemática ( ) Português ( ) Inglês ( ) Ensino Religioso

( ) Ciências ( ) Educação Física

09. Se pudesse preencher toda a sua carga horária exclusivamente com disciplina(s) da(s)

sua(s) área(s) de formação, você continuaria ministrando a disciplina de Estudos Amazônicos?

Por que?

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APÊNDICE J – Transcrição da entrevista com a Prof.ª Dr.ª Violeta Refkalefsky Loureiro

Bom, na verdade, a disciplina surgiu porque eu comecei, eu era na época conselheira do

Conselho Estadual de Educação e também fui diretora de ensino da SEDUC mas a primeira

iniciativa minha neste sentido foi ainda na década de 80. Eu fui diretora geral do antigo IDESP

(Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social do Pará) não sei se chegaste a ouvir falar.

Sim, sim eu sei.

[...] ali em frente ao Colégio Nazaré, aquele prédio lá. IDESP era um órgão de pesquisa de

estatísticas de indicadores sociais, desde aquela época eu já me espantava com o fato de os

alunos até da universidade, eles sabiam muita pouca coisa a respeito da Amazônia, tanto no

que diz respeito à história e, principalmente, no que diz respeito à questão ambiental. E, na

época, se discutia muito a questão dos grandes projetos e os alunos não sabiam coisa nenhuma

sobre esses grandes projetos que estavam se estalando aqui e nem mesmo sobre projetos

menores, assim de agropecuária etc. Não entendiam nada daquilo. Então, o que eu fiz: eu

arranjei um dinheiro do próprio IDESP para publicar e consegui que alguns professores da

universidade cada um deles escrevesse um capítulo de um livro que eu coordenei sobre a

Amazônia. Eu tratei da parte de formação da sociedade e história da Amazônia. A Edna

Castro, por exemplo, tratou da parte urbana, o Paes Loureiro tratou da questão cultural e assim

por diante. Era mais ou menos uns 8 ou 10 professores, nós fizemos 10 capítulos. O dinheiro

que eu arranjei foi muito pouco, mas deu para pagar esses professores de fora. Lógico eu

estava organizando, eu ia receber. E aí, eu consegui pagar metade da publicação e a outra

metade a própria Secretaria de Educação do Estado do Pará (SEDUC) pagou, mas este livro

que se chamava 'Amazônia estudos e problemas sociais', ele era para professores de ensino

Médio, para ver se introduzia no programa de história e de geografia, até mesmo de sociologia,

algumas questões relativas à Amazônia. Entende? Porque me espantava que ninguém

estivesse estudando. Você só consegue defender uma região, do ponto de vista de agressões

ambientas e mesmo agressão de direitos humanos e tudo, se você conhece os problemas da

região e os alunos conheciam muito pouco, então, eu comecei a discutir duas questões básicas:

era a falta de conhecimento sobre a Amazônia e a importância da sociologia e da filosofia no

Ensino Médio e aí surgiu este primeiro livro que tirou até 4 edições e foi distribuído por várias

instituições, pela SEDUC aliás, foi distribuído pela SEDUC, foi feito pelo IDESP até a 4ª

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edição, é... mas sempre para os professores, era distribuído gratuitamente, no período de 95 a

2000 e... Quando foi o governo da Ana Júlia? Tu te lembras?

Acho que foi de 2006, não? Até 2009 se eu não me engano.

Então, de 1995 até 2000 e [..] um ano antes da gestão da Ana Júlia, eu fui conselheira do

Conselho Estadual de Educação, então eu consegui introduzir três disciplinas no programa: a

primeira delas foi as duas primeiras foi sociologia e filosofia, porque [...]

Qual foi o ano?

Vou te explicar, quando foi aprovada a Lei de Diretrizes e Bases, a Lei 9394 de 1996, que é a

Lei de Diretrizes e Bases, ela foi aprovada pelo congresso com as duas disciplinas filosofia e

sociologia no Ensino Médio e, quando chegou com o Fernando Henrique para homologar, ele

vetou as duas disciplinas alegando que isso ia encarecer a educação, como se algum país

pudesse fazer educação sem gastar dinheiro, né? Aí o que que eu fiz, mas deixou a critério de

quem quisesse instituir, então, uma vez que a lei não fala em nada, você podia instituir então,

eu estava na época na SEDUC como diretora de ensino e no Conselho Estadual de Educação

como conselheira, então eu propus ao Conselho colocar nos currículos das escolas da SEDUC

de Ensino Médio, a Filosofia e a Sociologia, que são disciplinas da mais extrema importância

numa sociedade como a nossa, com enorme desigualdade social, com problemas éticos dos

mais graves, você não estuda Filosofia, você não estuda nada sobre ética, então o Brasil está

em uma crise moral que já vem há mais de 50 anos para cá. Então, eu consegui que o Conselho

aprovasse essa introdução na rede estadual. A outra conquista que eu queria era introduzir

alguma disciplina que tratasse da Amazônia. E eu consegui isto com [...] tornando obrigatória

no Ensino Fundamental, nas últimas quatro séries do Ensino Fundamental, Estudos

Amazônicos. Não consegui como obrigatória no Ensino Médio, porque, na verdade, os

conselheiros achavam que outras disciplinas, como Direito do Consumidor, eram mais

importantes, o que eu achava um absurdo, porque se você não tem nem direitos humanos vai

tratar de direito do consumidor que é uma relação puramente mercantil, de interesse privado,

é você com a empresa, sua relação, se nós não estávamos nem sequer discutindo direitos

humanos, para que introduzir a disciplina Direito do Consumidor? Que é um interesse

puramente pecuniário do consumidor, é enxergar o ser humano como consumidor antes de

pensar nele como um ser social, então eu questionei isso, mas perdi esta questão no conselho,

mas felizmente consegui convencer os conselheiros da importância da disciplina Estudos

Amazônicos, então o conselho aprovou como obrigatória nas quatro séries do Ensino

Fundamental, e como nas quatro últimas séries do Ensino Fundamental e como optativa no

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Ensino Médio. Depois que foi aprovado veio o primeiro problema: o conselho perguntou:

sim? Mas qual é o conteúdo programático dessa disciplina? Então eu fiz uma minuta de

programa discutindo com os professores de História, de Geografia e já de Sociologia, na

SEDUC. Então, eu introduzi a disciplina de Filosofia e Sociologia na rede pública do Estado

em 97 e só foi aprovada como obrigatória como uma lei federal em 2007, 10 anos depois,

então o Pará começou antes nesse aspecto, Estudos Amazônicos que eu consegui aprovar

também nesta gestão de 95 a 2000, 95, 96, 97, 98, na gestão do Dr. Almir Gabriel de 95 a 98,

eu estava lá na SEDUC como diretora de ensino. Não foi tão difícil conseguir a aprovação no

Conselho, foi mais difícil conseguir que o governador aprovar, porque o governador achava

que isso ia encarecer a folha de pagamento, entende? Então, realmente foi muito difícil. Eu

pedi para a presidente do Conselho, na época também presidente do Conselho, primeiro foi o

prof. Moreira Gomes. Pedi que o prof. Moreira Gomes fosse comigo com o governador para

discutir, consegui que alguns conselheiros fossem junto e, depois de muitas idas e vindas

minhas, e o secretário de educação lutando para conseguir, ele no fim capitulou, não aprovou

de boa vontade, mas expliquei para ele que era uma disciplina que não tinha muitas horas de

aula e, finalmente, ele concordou, então, aí eu fiz o conselho aprovou, introduzi dentro do

programa, da grade curricular da SEDUC, e aí o conselho me colocou a seguinte questão: ok,

nós aprovamos, mas não existe um programa conteúdo curricular e, pior: não existe livro

didático. Aí realmente..

Complicou.

Complicou a situação.

Uma perguntinha em relação a uma questão de uma matriz curricular, chegou a ser criada essa

matriz curricular a nível estadual?

Sim, sim, tá lá no conselho. É só pedi no conselho. E tá na SEDUC também, a SEDUC tem.

E existe até hoje. Aí o que que eu fiz? Eu formulei um programa que inseria itens de história

da Amazônia, mas pegando basicamente só o século XX, só da borracha para cá. E era uma

disciplina de poucas horas de aula por semana, então não dá para você colocar um bocado de

itens no programa e não conseguir aprofundar nada, então pegando mais o século XX, mas

basicamente só o período da borracha para mostrar as raízes da desigualdade social na

Amazônia e depois eu peguei o quê? Já basicamente é 60 para cá, quer dizer da Belém-Brasília

para cá. O governo do Juscelino Kubitschek que é quando é construída a Belém-Brasília,

inaugurada, construída e inaugurada a Belém-Brasília. Então pegava praticamente da metade

do século para o final do século XX e aí tentei fazer uma mescla das políticas públicas, a

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questão social e a questão ambiental neste programa. Então foi aí que eu produzi aqueles dois

livrinhos que você talvez conheça que foram feitos...

Olá.

Tudo bem?

Tudo joia.

[12:60]

Que foram feitas, digamos assim, por mim e entregues para a SEDUC publicar. Entende? Não

houve nenhum interesse particular nisso. Aí a SEDUC publicou e distribuiu para os

professores da disciplina de Estudos Amazônicos e, na época, também distribuiu para

professores de Sociologia. Aí a SEDUC tirou algumas edições. A Vale do Rio Doce comprou

uma parte para distribuir para os professores daquela área de influência da Vale, até que o

superintendente leu e viu que eu criticava muito os grandes projetos e mandou suspender.

Entende?

Entendo.

[13:45]

E nunca mais publicou nada pela Vale. Mandou recolher os livros. Recolher não, não distribuir

mais. Entende? Esse livro foi republicado várias vezes, os dois: o de história da Amazônia da

borracha aos dias atuais e o outro sobre meio ambiente e políticas de desenvolvimento foram

distribuídos pela SEDUC duas ou três edições. A SEDUC parou de publicar e o Genges Freire,

através da SEJUP, publicou mais umas duas edições. Mais aí eu comecei a observar que havia

muito poucos livros sobre isso na região e que os livros que eu tinha feito para professores de

Ensino Fundamental estavam sendo usados assim por políticos, por intelectuais, e eu até fiquei

encabulada porque eles já estavam desatualizadíssimos, entende? E continuava ser utilizados.

Aí o que eu fiz? De uns cinco anos para cá eu resolvi atualizar os dois livros e produzi dois

outros volumes que saíram, não uma atualização daqueles, mas eu diria dois livros novos bem

mais aprofundados e aí sim abordando profundamente determinados problemas amazônicos,

dando sugestões, analisando potencialidades da Amazônia, sempre com o enfoque nas

políticas públicas, nos impactos sobre as populações pobres, as populações regionais e as

populações tradicionais como índios, caboclos, ribeirinhos etc. Entende? E a questão da

desigualdade social sempre, os conflitos sociais, essa coisa toda. Então eu publiquei mais esses

dois que saíram no ano passado, no fim do ano passado, eu posso buscar para ti. Para aí que

eu vou buscar para tu veres.

...

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Engraçado, a Secretaria de Educação devolveu. Já é o quinto ano seguido que ela devolve

dinheiro para compra de livro e não [...]

Nossa.

Os biomas brasileiros, né? Equilíbrio e fragilidade de natureza amazônica.

Eu não sei se você vai concordar comigo, mas eu fiquei um pouco irritado com aquele livro

que foi publicado pela editora Estudos Amazônicos que dividi Estudos Amazônicos em sua

parte geográfica e histórica. Você viu esse livro? É até da própria editora Estudos Amazônicos

que tem a parte da Geografia e a parte da História. Aí se resume nisso: a Geografia e a História.

O nome do livro é Estudos Amazônicos. Foi até seriado, sexto, sétimo, oitavo e nono ano.

...

Eu tenho mais umas três perguntinhas para você. Uma delas é foi que eu cheguei a mencionar

no início, se teve algum embate político na criação da disciplina, se teve alguma problemática

que...

Não, teve isso que eu estou lhe dizendo, quer dizer, uma certa discussão, no caso do Conselho

Estadual de Educação, o conselho achou que não dava para colocar no Ensino Médio como

obrigatória porque isso ia encarecer a folha de pagamento do estado, entende? E o estado por

sua vez também, no caso, o governador, achou que isso ia encarecer a folha do estado, então

fez com que o conselho seria apenas no Ensino Fundamental, como obrigatória no Ensino

Fundamental. Ora a rede de Ensino Médio é maior, muito maior, que a rede do Ensino

Fundamental no estado. O estado tem muitas escolas de Ensino Fundamental aqui na região

metropolitana de Belém, mas, no interior, já não tem mais quase, entende? Nos outros

municípios, então, na verdade, onde era mais necessário que é para o aluno que já tem um

certo discernimento que é o adolescente, que é o jovem, que já podia ter um espírito crítico

sobre a sua região, isso daí não foi atingido, porque o governador achou que isso ia aumentar

a folha de pagamento dos professores, entende? E não consentiu, pelo menos eu consegui

colocar a Sociologia e a Filosofia desde 1997.

Para o Médio, né, também?

[29:24]

Pro Médio.

Fundamental não.

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Pro Médio. E eu coloquei como obrigatória, entende? Quando a lei só surgiu em 2007, né?

Mas no caso de Estudos Amazônicos eu não consegui botar no Ensino Médio, quando o meu

objetivo era colocar no Ensino Médio, muito mais que no Ensino Fundamental, porque o

objetivo básico do Ensino Fundamental é ensinar o aluno a ler, escrever, contar, interpretar o

que ele lê. São coisas, como a gente diz, é fundamentais e básicas, mas o espírito crítico ainda

não está desenvolvido. Então, está mais desenvolvido já no jovem, não é?

A gente já vê um pouco já lá no nono ano, né? Que já é essa transição pro Ensino Médio.

É. Exato, mas aí o ideal seria que fosse para o Ensino Médio e isso eu não consegui.

A minha outra pergunta é em relação à formação continuada, você acredita que os municípios,

por exemplo, no caso de Marabá. Hoje Marabá, estava em uma reunião com o Conselho

Municipal de Educação que eles queriam inclusive no passado retirar a disciplina. Não sei se

você sabe, mas alguns municípios vem justificando a crise para retirar a disciplina, a disciplina

de Estudos Amazônicos e outras disciplinas que são da parte diversificada. Eles queriam tirar

a disciplina de Estudos Amazônicos e os professores de Geografia...

Isso é muito dispolitização.

Os professores de Geografia e de História se uniram lá em Marabá e conseguiram conter a

disciplina e esse ano a crise acelerou muito lá em Marabá e novamente foi para pauta a retirada

da disciplina da parte diversificada. Vamos retirar que vai diminuir os custos. E na conversa

não tem um concurso específico para Estudos Amazônicos, quem é o professor lá, não tem

critério, não adotaram o critério do estado, ficou solto, então, quando você vai na Secretaria

de Educação pegar sua carga horária, eles optam pelo profissional de Geografia para trabalhar

com a disciplina de Estudos Amazônicos, se o professor de História pedir ele não consegue,

mas o que que acontece, quando vai lá um contratado, joga a sua questão política, né? Tem

muito isso, do vereador ter 10 cotas de contrato com a Secretaria de Educação, o que acontece:

vai muito pedagogo trabalhar com a disciplina de Estudos Amazônicos, que nunca teve

contato com Sociologia, não teve contato com História, não teve contato com Geografia, e

tem muito pedagogo trabalhando com a disciplina.

É aquilo que o Raimundo falou, na década de 30, o patrimonialismo faz parte da forma de

governar da elite e da tecno-burocracia brasileira, essa indistinção entre o público e o privado,

né? Então a Secretaria promete para o vereador, olha o senhor tem direito de indicar 10

professores, né? Aí ele indica aqueles que são de interesse político dele, quer dizer, ele faz da

coisa pública uma coisa privada.

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É isso mesmo.

É um absurdo. Então, eu acho o seguinte, do que o Raimundo falou para os dias atuais, o que

aconteceu foi uma sofisticação do patrimonialismo, mas ele está tão presente como quando

ele escreveu 'Donos do poder', está tão presente, apenas mais sofisticado, que ver o seguinte,

esse caso aí do impeachment da Dilma vão os opositores, depois foi o ministro da Cardoso

fez uma defesa antológica. Então, isso não vai mudar a opinião de ninguém porque todo

mundo já definiu seu voto pelos seus interesses político-partidários, ninguém está aberto para

ouvir argumento nenhum, todo mundo está fazendo da coisa pública, vendo na coisa pública

seu interesse privado, não é? Ninguém vai mudar não, quem vai votar no governo vai votar

no governo, quem vai votar no impeachment vai votar no impeachment, independente do que

falam, né? É o patrimonialismo na forma mais sofisticada, mais está presente no mesmo modo.

Eu tenho essa ideia também. Agora na comparação Marina, por exemplo, puxando novas

eleições, já entra o interesse dela...

De se candidatar porque, na época, o partido dela não estava regularizado, né?

E o IBOPE divulgou uma pesquisa que, se tivesse uma eleição hoje, ela seria ganhadora.

Então é, quer dizer, é o patrimonialismo disfarçado de outro modo, ela lança uma ideia que

parece de interesse público, porque ela está visando o privado, o interesse privado.

Mas em relação à formação continuada, você acredita que uma formação continuada para os

profissionais de Estudos Amazônicos, os professores de Estudos Amazônicos, seria

interessante.

Interessantíssimo. Não só para a disciplina, para interessantíssimo socialmente. Seria uma

forma de o professor não apenas desenvolver, desempenhar bem seu trabalho na escola, mas

uma forma de se tornar mais participativo, mais ativo socialmente, entende? Acho que é da

maior importância.

E a última pergunta é em relação às suas perspectivas para a disciplina de Estudos Amazônicos

e para a Amazônia. Qual é as suas perspectivas? Quais são?

Isso aí é acho meio difícil de responder, sabia. Eu não tenho...

Trazendo um pouco para essa questão, por exemplo, para a própria Base Nacional como você

acha que pode acabar essa parte diversificada, está sendo suprimida...?

[3

Olha, eu não posso entender essa justificativa de retirar uma justificativa de retirar uma

disciplina com base em recurso pelo seguinte, o custo alunos está pré-fixado, não importa o

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que aconteça, esse dinheiro do governo federal e do governo estadual serão transferidos para

os municípios. Então qual é a justificativa? Custo aluno não diminuiu, ao contrário, ele tem

sido aumentado a cada ano, para você ter ideia, em 1997, quando foi criado o FUNDEF, o

custo-aluno era R$315,00 por ano, por ano, ou seja, dava menos de R$30,00 por mês, por

aluno, era uma coisa mínima, mínima, mínima. Hoje em dia, gira em torno de 1.500,00,

1.600,00 por ano. Então repara quantas vezes ele se multiplicou, mais de 500% nesse período,

500% em termos reais, entendeu? Então não há justificativa. No meu entendimento existe um

desinteresse com relação à Amazônia.

E por trás disso tem motivações políticas também.

Eu acho que tem, porque o Brasil veio, a sociedade brasileira tem uma posição claramente

voltada para a centra direita, você está vendo aí, em todo canto a desigualdade social mostra

isso, o fato de que você não tinha políticas sociais de peso, né? Até muito recentemente, de

uns 10, 12 anos para cá. Você não tinha antes disso, políticas sociais você não tinha. Qual era

o que que você tinha de bolsa família? Antes? Você tinha, se eu não me engano, 500 mil bolsas

famílias. Hoje em dia você tem 11 milhões. Então, 11 milhões de pessoas beneficiadas com o

bolsa família, quer dizer, não havia antes. E não há nenhum interesse em questionar modelos

de desenvolvimento da Amazônia, porque isso daí vai conflitar com os interesses de

pecuaristas, de madeireiros, dos grandes empreendimentos da siderurgia aqui do estado do

Pará, entendeu? Então não há interesse em polemizar a questão amazônica. Quanto mais você

deixar de lado melhor, as coisas se acomodam entre aspas, a gente permanece no status quo e

conserva a situação caótica como está. Vamos vivendo uma situação neo-colonial na

Amazônia, isso é bem claro, quer dizer, a Amazônia está servindo para quê? A contribuição

da Amazônia para os estados amazônicos é superavitários, especialmente o Pará é

superavitário na balança comercial, mas o Pará tem um dos piores indicadores sociais do

Brasil, quer dizer,...

A gente tira o exemplo lá de Parauapebas.

...quer dizer, tem os mais altos rendimentos para o País e tem um dos mais baixos padrões de

vida do Brasil, é o estado do Pará. Então, quer dizer, a União está sugando da Amazônia a sua

vitalidade, seja em termos de sacrificar a sua população, sacrificar o padrão de vida, sacrificar

a natureza, e mais: violando a constituição, porque a constituição brasileira é muito clara, ela

diz que os planos de desenvolvimento devem ser voltados para diminuir as desigualdades

regionais e sociais e, na verdade, todos os planos, não só no período da ditadura, mas de lá

para cá, nos mesmos governos ditos democráticos, o que está havendo é uma exploração da

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Amazônia em favor da União. Então não há nenhum interesse em polemizar a questão

amazônica.

Será que ainda existe aquele receio da internacionalização?

Não, acho que isso não.

Sim, mas é meio que...

É que mas não existe mais nenhum receio de internacionalização da Amazônia nos moldes

que se falava no passado. Hoje em dia ela está internacionalizada. As grandes empresas que

estão aqui são grandes enclaves econômicos multinacionais. Então está internacionalizada,

entende? Mas está internacionalizada...

Ela se deu de outra forma, né?

De outra forma, não há, não se vai voltar àquele modelo de internacionalização do passado.

Já estão tranquilamente explorando, fazendo o que querem da Amazônia sem a bandeira da

internacionalização, entendeu?

Eu agradeço professora. O que eu queria mesmo saber era justamente essa questão da

disciplina que gerou muitas controvérsias que a gente não encontra. Eu fui na SEDUC, foi um

pouco difícil de eles até...

Não, mas não houve. Só houve o seguinte: esse embate da parte do governador por achar que

isso ia encarecer a folha de pagamento. Então, por isso que ele convenceu o conselho a

restringir só ao Ensino Fundamental, porque a rede estadual de Ensino Fundamental é muito

menor que a rede de Ensino Médio.

Já tinha ocorrido a municipalização nesse período.

Olha, quando o Paes Loureiro estava na Secretaria de Educação e eu lá era diretora de ensino

foi que nós fizemos a municipalização. Acho que foi 96, 97, 98. Entende?

Depois da LDB...

É.

É que são pouquíssimos os municípios que não são municipalizados hoje.

É. Exatamente.

Agora dá para entender um pouco porquê. Só não entendo porque eles adotaram os mesmos

critérios para a escolha dos professores, porque eles, segundo a presidente do conselho que

está até hoje lá em Marabá...

Ah não sei.

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... Lá em Marabá, ela disse que eles só fizeram adotar o que estava posto antes da

municipalização, mas eu não sei porque não adotaram os critérios, né? Porque é bem

específico: professor de geografia, história e o de sociologia.

É.

Estranho.

Tem uns interesses políticos aí.

Claro.

Mas então, professora, eu agradeço mais uma vez, foi muito bom estar aqui conversando com

você e eu espero que, ao terminar o meu trabalho, vou enviar uma cópia se você quiser.

Tá.

Para o seu e-mail, para que você possa desfrutar um pouco do meu pouco ainda conhecimento

sobre essa nossa Amazônia.

É, mas é bom, mas é bom ir estudando, rapaz, né?

Você conhece mais alguma pessoa que trabalha com essa temática da disciplina.

Não, eu estou agora só na pós-graduação.

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APÊNDICE K – Transcrição da entrevista com o Prof. Me. Davison Alves (Unifesspa)

Gabriel: Bom dia, Davison.

Davison: Bom dia!

Gabriel: Meu nome é Gabriel, sou professor da disciplina estudos amazônicos, eu sou

professor de geografia. Atualmente eu pesquiso sobre a formação de professores de estudos

amazônicos no município de Marabá, no estado do Pará. E, primeiramente eu peço a sua

autorização para gravar a nossa conversa.

Davison: Sim, autorizo.

Gabriel: Brigado. É, eu vou fazer algumas perguntas relacionadas ao seu ponto de vista, da

relação da disciplina com o professor. Qual é essa relação que você acha da disciplina com o

professor? É... e algumas outras perguntas referentes a questão da disciplina de estudos

amazônicos, se ela hoje constitui uma identidade como disciplina. Questões também

relacionadas a história da disciplina, da criação da disciplina. E, qual você acha que será a

perspectiva da disciplina para o futuro, ne? Se você acha que essa disciplina ela ainda tem gás

para sobreviver, devido a esses grandes cortes que nós estamos tendo na educação? Não sei

se você sabe, mas, muitos municípios tão cortando a disciplina, porque tão vendo ela como

gasto ne? Como a redução da carga horária, nós temos a problemática não só a respeito da a

disciplina de estudos amazônicos, mas, as disciplinas que compõem a parte diversificada do

currículo, infelizmente. Mas, primeiramente eu quero saber qual é o seu ponto de vista a

respeito da disciplina. O que você acha da disciplina estudos amazônicos?

Davison: Bem Gabriel, primeiramente bom dia. Recentemente eu defendi minha dissertação

de mestrado no Rio de Janeiro, tentando contar a história da disciplina estudos amazônicos no

Pará, ne? E, eu partí de dois movimentos: primeiro, a criação dela dentro do conselho estadual

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da educação, como se arquitetou, se formulou, e se pensou ne? A disciplina de estudos

amazônicos. E depois, a partir de dois livros didáticos regionais lançados, um em 1998 e outro,

2000. Como se tentou construir essa identidade para disciplina, tá? Que aí é que vem gerar o

problema central, que eu acho que tu também é... ta dialongando mais pela parte da formação

de professores, que não é o meu caso ne? Que é a questão do conceito de [inaudível]. E aí

entra a palavra chave interdisciplinar, ta? Que posteriormente a gente pode chegar em um

denominados comum. Em relação a disciplina, ela é criada primeiramente pós a LDB de 96

ne? Junto aquele movimento que teve da criação dos parâmetros curriculares nacionais. Que

foi lançado em 97 e 98. Nesse mesmo eixo, ne? Então, quem me relata isso é a professora

Violeta Lorelo, quando ela faz a entrevista comigo, ne? E segundo a professora ne? Dentro

daquele contexto dos anos 90, a perspectiva era: mostrar que havia uma invisibilidade da

Amazônia no espaço escolar. Ou seja, os universitários, nem a educação básica, discutia a

Amazônia. OU seja, a gente não conhecia nem a Amazônia em si, enquanto aspectos físicos

e geográficos, e também não conhecia os problemas sociais e ambientais, quando se fala da

Amazônia. Então, diante desse desconhecimento da Amazônia no espaço escolar

propriamente dito, que era o foco da disciplina, é que em 97, na verdade no final de 97 há o

primeiro movimento na secretaria, mas em 98 se consolida os estudos amazônicos, ne? No

conselho estadual de educação. Diante disso, a professora Violeta, ela assumiu um

protagonismo vamos assim dizer, frente a disciplina, por que? O marido dela era secretário da

educação na época, do primeiro mandato também Gabriel, ne? E ela era também diretora de

ensino da SEDUC. Então, ela tinha um papel privilegiado, vamos assim dizer, pra discutir a

questão curricular na secretaria de educação. Isso é importante. Ou seja, ela é a peça chave,

vamos assim dizer, dos anos 90 nessa questão do currículo. Então, o primeiro capítulo da

minha dissertação, vem discutir isso. Os debates que se geraram em torno da discussão dessa

disciplina escolar na secretaria de educação. E isso daí, é fruto de um contexto pós ditadura

militar ne? Anos 90, que vem debater a Amazônia. Ou seja, é... as questões ambientais, as

questões sociais, a volta lá, cita também a volta da a internacionalização da Amazônia, início

dos anos 90 ne? Então, é... discutir isso, levar isso pra escola, era o principal objetivo que a

professora Violeta tinha quando ela arquiteta a criação da disciplina de estudos amazônicos.

Gabriel: Ela foi então a grande mentora da disciplina?

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Davison: Sim, sim. Foi ne? E o que ela faz? Ela faz a partir de dois movimentos: Ela, é...

ancorada na LDB, artigo 26, conhece ne? Ancorada naquele artigo 26 da LDB, ela leva a

proposta para o conselho estadual de educação, é aprovado, e eles criam a partir de um rol de

disciplinas, o que eles chamaram de parte diversificada do currículo, ne? Esse rol de

disciplinas, é... Em primeiro lugar, ele não aparece a palavra estudos amazônicos, aparece a

palavra estudos regionais ne? Nesse rol de disciplina. [Gabriel: Isso em que ano?] Em 97. Em

98 ne? Quando eles lançam, a... uma nova resolução, aí já ta um movimento em torno dos

estudos amazônicos. O que ela faz? Em 99, ela lança, a própria Violeta, ela lança um ofício

pras escolas públicas do estado, ne? Criando a disciplina de estudos amazônicos.

Determinando que a disciplina de estudos amazônicos voltada para o Ensino Fundamento II,

e que ela vai substituir a disciplina estudos paraenses. Tá escrito bem... se tu quiseres depois,

eu te dou esse ofício, em substituição da disciplina estudos paraenses ne? Então, aí veio um

questionamento assim na minha cabeça na época, ne? Se ta substituindo os estudos paraenses,

que era a disciplina que existia no currículo ne? Então, o que aconteceu no estado do Pará nos

anos 90? Aconteceu, o que a gente chama, uma quebra de tradição. Ou seja, existia uma

disciplina consolidada em torno da história do Pará. Que ela serviu em um momento pós

ditadura militar, questões ambientes da Amazônia que ela não se tinha mais uma identidade.

E cria-se os estudos amazônicos ne? A partir desse movimento ne? Iniciado na secretaria

estadual da educação, houve a tentativa do que a gente chama, de consolidar isso, dentro da

SEDUC. Qual foi a forma que a professora encontrou? Ela, na tentativa de consolidar a

disciplina, a nível estadual, ela cria, na verdade ela não, a SEDUC cria o projeto “Stand

Amazônia”, que é, tipo, um projeto piloto em 96, que vai fazer com que os professores, não

só de história e de geografia e de sociologia, mas também, os de língua portuguesa, eles

debatam no espaço escolar a história, a literatura amazônica e debata as questões sociais e

ambientais da nossa região, ne? E a SEDUC elabora esse projeto piloto ne? Conhecido como

“Stand Amazônia” e os dois primeiros livros que eu analiso como proposta de história, pra ser

trabalhada pelos professores da disciplina [inaudível]... É o primeiro, vamos assim dizer, obra

lançada por essa coleção ou, por esse projeto “Stand Amazônia”. [Gabriel: Já pra trabalhar

com estudos amazônicos?] Com estudos amazônicos?

Gabriel: Esse do [inaudível] é da história do Pará?

Davison: Que foi lançado pelo [inaudível]. Então, esse é... que uma coisa curiosa. Esse livro

do Gerrá, ele é um livro coordenado, na verdade subsidiado pela Violeta. Como diz a história,

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ela cria a disciplina, ela cria um livro dela, mas ela também coordena um livro lançado pelos

historiadores, subsidiado por ela. E ela não abre mão disso ta?

Gabriel: Tu vai entrar nessa questão, mas, é... nessa questão da criação da disciplina, uma

primeira pergunta que meu novo orientador fez, que me fez levar a surgir vários

questionamentos, foi a questão da disputa de poder em torno da criação da disciplina. Tu acha

que houve um interesse mercadológico ao criar a disciplina? Ou foi simplesmente a

necessidade de ter material didático pra disciplina? Que posteriormente a própria professora

Violeta criou esse material. Ou ela já, por uma acaso já teve também ao criar a disciplina, essa

visão de “ah, vou criar a disciplina, porque também eu posso ganhar dinheiro criando um

livro”. Tu teve essa pegada assim, ou tu acha que não? Ou foi pela necessidade de ter o

material didático e por ela ser uma ampla conhecedora da Amazônia que se criou o material

didático?

Davison: Olha Gabriel, isso aí, é uma questão. Eu perguntei isso pra ela também. [Gabriel: tu

perguntou pra ela?] Perguntei. Porque a gente que estuda a história do livro e da leitura, a

história do impresso e tal... a gente tem aquela ideia de que o bordô do livro didático ele ganha

dinheiro em cima daquela obra. Hoje, vamos dizer que a nível nacional, o nosso grande carro

chefe, as pessoas que ficam mesmo, que da uma coisa rentável é ser autor de livro didático do

PNDD, porque o governo federal ele é, podemos dizer o maior comprador de livro didático

ne? O FNDE ne, que o órgão que gerencia isso, ne? O mercado de livro didático a nível do

governo federal, ele é o maior mercado, do governo federal atualmente. De consumo ne? De

venda mesmo e de articulação com as editoras. Então, um livro didático regional, nas nossas

atuais condições, não é uma coisa assim, que vai fazer o professor, o pesquisador a ganhar

dinheiro assim com isso. Pode ser que seja uma aposta. Eu acho, acredito eu que ela teve isso

como uma aposta, ne? É... Não sei se tu sabes, mas, o livro dela, o primeiro foi lançado em

2000, e o último foi lançado em 2015, a 5ª edição. E se tu ver a diferença do primeiro volume

pro último, de 2015, tu vai ver que é enorme, enquanto qualidade, a estética, a forma como o

livro foi elaborado, ne? Eu analiso os dois livros, que foi o primeiro lançado pra não

descaracterizar o contexto da época. Mas, se tu for ver o livro de 2015, é um livro muito

parecido com um livro didático lançado pelo MEC. Coisa que se tu for pegar o livro de 2000

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é totalmente diferente. Tanto a questão da estética mesmo, tem mais imagens o atualmente...

o livro de 2000 é muito denso, bastante texto... é.... uma coisa que por exemplo, eu, como sou

um pesquisador da área, basicamente do ensino de história e pesquiso os livros didáticos de

história também, ne? E leio muito, ne? Por exemplo a primeira coisa que eu senti falta no livro

didático regional dela, basicamente era a falta de um manual para o professor. Não tem uma

orientação, não tem um subsídio, isso daí é um ponto, que a gente tem que ter, na minha

concepção, ne? Então, sempre que, as poucas vezes que já dei aula, pra turma de estágio

supervisionado, eu sempre digo isso pra turma: o professor de história ou de qualquer

disciplina, tem que ler o manual do professor! É lá que tu vai saber a concepção do livro, a

concepção do autor. Quais são as diretrizes, o que a gente tem que fazer? E quase ninguém

ler. Isso aí é uma coisa meio preocupante, por que? Porque é onde a gente vai ter uma

facilidade, em relação a como trabalhar aquele material didático, como encontrar outras fontes

ne? Tá esquecido. Então, a nossa dificuldade em relação a disciplina, primeiro: não tem um

manual do professor, não tem uma diretriz. Existe é... somente, experiências, vamos assim

dizer, compartilhadas em relação a disciplina, que é o que se tem hoje, ne? Ou seja, a

disciplina estudos amazônicos ela tem uma ideia, como a geografia, a história, a sociologia

tem. Mas essa ideia, ela não é colocada em prática. Ou seja, os discursos eles não se

encontram, eles divergem. Acaba acontecendo experiências isoladas dos professores, daquilo

o que ele aprendeu pra ensinar aquilo o que ele entende sobre a Amazônia. Eu vejo muito isso

hoje. E se o problema nos anos 90 era a consolidação, nessa primeira década do XXI ela não

acontece. E a gente ver o problema aumentar. De que forma? Nos anos 90, existia só o livro

da Violeta e o livro do Gerrá, no estado. Em 2000, quando a Violeta lança o dela, na secretaria,

eu fiquei sabendo através de uma entrevista, que o professor Benedito Monteiro, queria lançar

o dele, de história do Pará, ne? O historiador [Inaudível]... Benedito Monteiro, ele um

professor que participa da coleção, da elaboração, melhor dizendo, do livro do Gerrá, ele me

disse que o Bené foi lá com a Violeta para pedir para ela lançar o dele, ne? Aí ela desconversou

e disse: “Não Benedito. Os professores da SEDUC tão fazendo o dele, junto com Gerrá, pá...”

Aí o que acontece, ela não dá credibilidade pro Benedito Monteiro, lança o livro do Gerrá,

chancelado por ela que eu te falei ne? Ela assina na capa também, como consultora de

diretoria, pá... aí o que é que ele faz? Em 2003, a liberal, ela pega e compra o livro do Gerrá.

E lança os fassículos, do jornal Liberal. E em 2003, o governo do estado pega e publica o livro

dele por uma gráfica, ne? Então, desde 2003 ne? Há um aumento da produção desses livros

didáticos para disciplina ne? Umas propostas, com bem... [pausa longa] abordagens parecidas.

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[inaudível]... pegando, o pessoal da história. Por exemplo, o professor Gerrá lança o dele em

98, aí depois a Violeta lança o dela em 2000, o Benedito Monteiro, 2003. A professora Edilza

aqui, da faculdade de história, lança com um grupo de professores historiadores, contando a

história do Pará, que ficou muito famoso, por sinal até hoje me arrependo por não ter comprado

na época, porque não tem mais, ne? Em 2003, ela lança o da história do Pará. Aí [inaudível]

lança em 2009, aí depois uma editora [Gabriel: estudos amazônicos?], estudos amazônicos

lança também em 2010, e a professora Leila Lucia, lança também em 2014, uma outra

proposta, ne? Então, é... ah, ainda tem um livrinho do professor da UNPI, geografia, sociedade

e meio ambiente um livrinho pequenininho amarelo, é o livro do [inaudível]... Sociedade e

meio ambiente. Então, o que é que aconteceu? Houve uma grande proliferação de produção?

Não houve um direcionamento do governo do estado. O que eu conversei com a Violeta, o

que ela me diz na entrevista dela? Que a grade curricular que a disciplina tem, é o livro dela.

É o sumário do livro dela. Essa é grade da disciplina de estudos amazônicos.

Gabriel: Tu encontrou alguma grade curricular que tenha os conteúdos pras séries?

Davison: Não. Eu fui na SEDUC, não tem nada. Um absurdo. Eu fui na secretária do

fundamental e do médio, aí a moça que trabalha lá me disse que a única coisa que tem na

SEDUC, aqui é de 2009 pra cá. Não tem um arquivo, não tem nada. [Gabriel: então, não tem

matriz curricular?] Não tem.

Gabriel: Basicamente, os professores é que eles chegam e trabalham o que quiser...

Davison: É. É uma coisa muito estranha isso...

Gabriel: Sabe uma coisa que o Sanclé me falou, eu não sei, ele me disse que a disciplina já

existia no Munícipio? De estudos amazônicos?

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Davison: Na verdade não existia com esse nome, existia com o nome de... estudos e questões

regionais. Essa disciplina já existia na prefeitura de Belém, se eu não me engano ela é de 92,

91...

Gabriel: Tu acha então que a Violeta pode ter se baseado nessa disciplina pra criar a nível

estadual? Tu pegasse essa informação com ela?

Davison: Na verdade eu não consegui fazer essa ponte. Sabe por que Gabriel? A Violeta já é

uma estudiosa antiga da região, ne? Então, como ela é uma estudiosa antiga, ela tem, se eu

não me engano, a dissertação de mestrado dela é um pouco dos estudos amazônicos, ne? E se

tu for parar pra pensar, eu acho que tu pode fazer essa relação bem, coisa que eu não fiz muito

na minha dissertação até por conta da questão do tempo, pegar os discursos dos livros de

geografia que tem o tema da Amazônia e ver que é a mesma coisa dos estudos amazônicos. É

a mesma coisa. Então, pode ser que ela tenha pegado, a proposta da disciplina e tenha

colocado, semelhante o que discute os livros de geografia. É a mesma ideia. Pegar os aspectos

geográficos, os aspectos fisícos. E perceber como a ocupação do homem, a partir da década

de 60 mudou essa ocupação essa relação, tá? E cada vez mais, eu me convenço que a disciplina

de estudos amazônicos, ela é voltada pra região sul e sudeste do Pará. Por que? Porque, ela é

uma disciplina, pra se conhecer a Amazonia. E nesse momento da anos 60 e 70 com a chegada

dos imigrantes, eles não conheciam essa região. Então, primeiro a gente tem que conhecer,

pra depois saber de onde somos, pra onde a gente veio? Pá... Então, por ela ser um recorte,

uma leitura do tempo presente, vê dos anos 60 pra cá, ela se identifica mais com essa nova

conjuntura que se configurou nessa região, com a formação desses novos municípios, dessa

nova identidade, com essa nova perspectiva sobre o que é e o que será a Amazonida, ne? Que

é o que a Violeta concorda. Por exemplo, se tu for pegar o livro dela, o segundo volume que

é a [pausa longa] A Amazônia: história vai exigir problemas (?), se tu for pegar o primeiro

capítulo ela discute a mudança de concepção do modo de vida na Amazônia. Ou seja, como a

gente deixou de ser uma sociedade ribeirinha, pra ser uma sociedade da mineração, da.... que

se constrói a beira da estrada? [inaudível] ... essa mudança de concepção, pra ela, os estudos

amazônicos começa aí. Ou seja, mas por que tu tem que entender isso? Só vai entender isso,

essa nova mudança, se tu entender o que é Amazônia. Ou seja, conhecer a Amazônia, conhecer

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que a Amazônia ela tem um solo pobre, que ela possui, uma... apesar do solo ser pobre, o

equilíbrio do sistema da Amazônico, ele depende da chuva, depende do sol, da harmonia da

natureza, se desmatar, esse sistema criado entra em desequilíbrio e quem sofre, quem perde

as florestas são as pessoas que vivem, dependem da floresta. Então, percebe que há uma lógica

na compreensão que ela tem? [Gabriel: sim]. Pra entender a gente precisa, primeiro, ver,

conhecer, pra saber quais são os problemas sociais. E ela escolhe como recorte, um momento

que ela considera, que foi, vamo dizer, que crucial, para essa mudança de lógica da história

da Amazônia que é a abertura da [inaudível] Brasil, nos anos 60, ne? Ela deixa bem claro isso

ne? Ela demarca isso. A mudança. Então, é... penso eu, que a partir dessa perspectiva dela ne?

É possível a gente nomear a sociologia, nos aspectos sociais, a questão, como na sociedade

aparece isso, com os problemas sociais a partir das queimadas, das hidrelétricas, das estradas,

e os impactos disso sobre a sociedade amazônica, ne? E história, [Gabriel: o contexto]... não

tem como não ter ne? E como isso, mudou as relações sociais e qual o impacto disso com a

natureza. Aí entra o tempo e o espaço. A mudança do espaço. Então, a história, a geografia e

a sociologia, elas são contempladas basicamente nisso.

Gabriel: Isso é basicamente, a tríade que sustenta a disciplina não é?

Davison: Então, eu acho que o que falta hoje qual é a concepção. E também compreender que

a gente não pode ensinar tudo. A gente tem que ter um recorte. E o recorte, que eu considero,

na perspectiva daquele contexto. Por que que se criou essa disciplina? Por que nos anos 70

não tinha [inaudível]? Que é fruto daquele debate. [inaudível] Entender que Amazônia é essa.

Essa Amazônia, que a gente também não possa estudar os temas, e outros eventos. Mas, pra

ser coerente com a proposta que foi pensada, a gente precisa demilitar o espaço, tem

Gabriel: É... isso que tá na sua fala, já ficou um pouco identificado essa questão da identidade.

Mas, pelo o que você falou lá até no carro comigo, tem alguma parte na sua dissertação que

você trata a identidade da disciplina de estudos amazônicos? Se ela tem uma constituição de

identidade ou se tá aflorando, ou ainda falta muito pra essa disciplina, ter sua identidade? O

que que tu acha em relação a isso?

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Davison: Olha, na minha dissertação o que faço? Eu pego assim: eu mostro que nos 90 tentou

criar-se essa identidade, ne? E ela hoje, em 2016, ela não existe. Ou seja, existem múltiplas

identidades sobre a Amazônia e sobre o que se entende de estudos amazônicos. Fruto desse

desencontro que há entre a prática dos professores e a ausência de currículo da SEDUC. Diante

disso, existe, se nos anos 90 a SEDUC tentou criar essa identidade e não conseguiu, agora, ela

ficou mais complexa ainda por que? Porque as prefeituras elas acabam assumindo esse

protagonismo no estado do Pará. Ou seja, a SEDUC ela acaba saindo de cena. Ela sai de cena

com as produções e ela sai de cena com a questão do currículo. E quem tem essa atuação? As

prefeituras, ne? Ou seja, por exemplo, eu não conheci, mas fiquei próximo de um amigo meu,

ele é professor do IFPA de Marabá, de história, da rural. [Gabriel: qual o nome dele?].

Raimundo Neto. Ele é meu amigo. Ele conhece o secretário da cidade de Tupiranga. Ele me

mandou a grade dos estudos amazônicos de lá. De Tupiranga. Aí ele disse, aqui a gente

convence os professores de história e de geografia, e sociologia e cria a nossa grade, de forma

independente porque a SEDUC não dá, segundo ele. E, o que eles fazem? É uma história

regional ligada a uma história local. Que acho que deve ser a mesma coisa que deve acontecer

em Marabá. [Gabriel: marabá. É. Eles pegam o 6º ano e começam se desmembrando da

história local, vão pro Pará, vão pra parte da Amazônia oriental, e depois parte pro outro lado

da Amazônia e assim vai. Até chegar no 9º ano que eles pegam mais a pegada social dos

grandes projetos]. Pois é. Então, é...[pausa longa] essa diversidade que existe na disciplina de

estudos amazônicos, que aí que tá o problema. Por que? Porque a região sul e sudeste do Pará,

ela é uma região de migração, de formação recente. Que [inaudível] com a história do Pará,

ne? Então, era aquela ideia que eu acho que eu vou acabar desenvolvendo não sei, talvez no

doutorado. Há uma consciência histórica regional diferenciada no estado do Pará em relação

a disciplina de estudos amazônicos. Por que? Porque a nossa região ela é fruto de diversos

momentos de colonização. Ou seja, o pessoal de Marabá, não se identifica com a história de

Belém. [Gabriel: não. Eles se identificam mais com o Maranhão, com Goiás, com Mato

Grosso], ne? Ou seja, é, como é que você vai levar uma história vista de... [Gabriel: deixa eu

só te contar um “causo” aqui. Um professor de geografia na época comentou isso. Uma vez o

Jota Quest foi tocar lá em Marabá, tava lotado lá o show. Aí o vocalista da banda falou assim:

“vamos povos da floresta, cantem junto comigo.” E foi o maior ba fá fá na cidade. “Eu sou

povo da floresta?” Então, isso depois foi levado pra discussão, que, eles não se identificam

como amazônicos, como da floresta amazônica. E é muito interessante você pegar o que vem

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de fora pra falar isso, e a maioria das pessoas que vem pra Marabá, não são de Marabá... são

da região, Tocantins, Mato Grosso, Goiás... pode continuar]. Pois é, é muito isso, é isso foi

um ponto interessante como te falei da disciplina de estudos amazônicos, porque eu tava

comentando com uma amiga minha, que tá estudando a formação dos professores de Belém,

da disciplina de estudos amazônicos, e ela falou assim: “mas como assim? Na tua concepção

a gente não tem que estudar os jesuítas, a cabanagem? A pelepoque, a fundação de Belém?”

Eu disse não. A disciplina de estudos amazônicos não tem essa finalidade. Ela é fruto de um

contexo específico que tem duas características: a urgência do presente, e a relação passado-

presente. Ou seja, eu posso fazer essa relação passado- presente dos anos 60 pra cá? Posso.

Eu posso fazer com que os alunos percebem que, é... há uma historicidade a ser contada e as

transformações da Amazônia elas ocorreram violentamente em relação ao modo de vida, em

relação a construção de estrada, sim eu posso fazer isso, ne? Ou seja, eu não posso ter aquela

leitura, de que pra mim entender a Amazônia do presente, eu preciso voltar lá desde a

Amazônia antes dos europeus e vim contando a história do Pará desde a formação da cidade

de Belém até 1980, 1990, ne? Tenho é que me desprender dessa concepção ne? Em relação a

disciplina de estudos amazônicos. Não vamos dar conta de tudo. É tanto que tenho uma

história engraçada, eu estudei a disciplina de estudos amazônicos, eu estudei com o livro do

Gerrá, ne? Na época, isso foi em 2002, 2003 e eu estudei o livro do Gerrá e dentro daquela

proposta de história mesmo. Ou seja, estudar os estudos amazônicos a partir da história da

cidade Belém. Era uma história de Belém mesmo, ne? A Ênfase era essa. Então, é muito, eu

vejo que o problema hoje só aumenta em relação a disciplina de estudos amazônicos, por que?

Por causa daquilo que tu comentastes em relação a algumas prefeituras, estão deixando de

lado, não querendo discutir a [inaudível]... eu acho que, pra disciplina a expectativa da daqui

é discutir um currículo pra ela, chegar a um denominador comum. Ou seja, ela não é um

monopólio nem dos historiadores, nem dos sociólogos nem dos geógrafos. Mas, ela é um

encontro de saberes. [Gabriel: Tem que haver essa construção]. Ne ?

Gabriel: algo muito interessante que o professor Irineu comentou, quando ele estava na minha

banca de qualificação foi, é... os saberes da população. Porque muitas vezes a gente procura

saber mais a questão de fugir do senso comum, de buscar os grandes pesquisadores e esquece

muito o saber local, o saber da população. Eu achei interessante isso, porque o saber local da

Amazônia, se a gente for buscar um pouco daquela Amazônia tradicional e trazer pra teoria

tudo se encaixa ne? O que o povo quer saber ne? Porque se tu for ver lá o artigo 26 da LDB,

fala muito da cultura local ne? Mas, eu acredito que uma a disciplina de estudos amazônicos,

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qual é o momento que ela rompe com os estudos paraenses? Porque eu to falando de uma

grade curricular lá de Marabá. É... basicamente você só vai fugir do Pará lá no 9º ano. Porque

do 6º, 7º e 8º ano praticamente é só história do Pará, geografia do Pará, só. Não sei como é

que funciona aqui em Belém. Mas como tu me falastes... eu estudei estudos amazônicos aqui

também... Aí, era basicamente a história de Belém. Então, como criar uma disciplina com

aspectos e características regionais e esquecer de Rondônia, esquecer do Acre. Eu não sei se

tu vai de acordo com essa minha concepção, mas, se é uma disciplina que tem o nome de

estudos amazônicos, baseada na LDB, que fala de aspectos regionais, por que a gente

concentra só no estado do Pará? No sudeste do estado do Pará? Ta certo que a gente tem que

dar talvez o maior grau de importância, ne? Mas, porque também não estudar outras regiões.

A gente trabalha pouco com essas outras regiões da Amazônia. Tem até livro didático que

estuda a Amazônia como homogêneo. Cara, isso é um crime. Falar do clima, do solo... essa

questão da diversidade, a gente acaba esquecendo de falar da heterogeneidade da Amazônia...

Esse é que é o grande x da questão, ao meu ver da disciplina. Que ao formar o currículo da

disciplina, tem que colocar exatamente isso. Pelo menos eu sinto falta disso. Não sei qual é a

tua visão em relação a isso.

Davison: Também. É porque é aquela questão. Concordo contigo também, mas...

Gabriel: Deixa só eu te fazer perguntinha que tem tudo a ver: por acaso existe uma disciplina

com características semelhantes em outros estados aqui da Amazônia?

Davison: Não.

Gabriel: Só aqui no Pará?

Davison: Só no Pará.

Gabriel: Nem no Amazonas?

Davison: Porque existe...

Gabriel: Uma disciplina assim de 'Estudos da Amazônia'...?

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Davison: Não, porque eu, na verdade, eu fiz uma pesquisa sobre isso né? Por exemplo,

existem só temas, por exemplo, História e Geografia sobre o estado, não é nem sobre a

Amazônia, é sobre o estado, por exemplo, aspectos recentes de Rondônia, entendeu? Tipo

assim, dentro da História e da Geografia, entendeu?

Gabriel: Ah sim.

Davison: Só coisas bem pontuais, mas não existe uma disciplina que contemple isso, né?

Gabriel: Ah, sei.

Davison: Em relação à tua pergunta, isso é um problema até mesmo em nossos cursos de

formação de professores, né? Por exemplo, aqui na História, eu tive História da Amazônia I,

II e III, mas a História da Amazônia era a História do Pará, pouquíssima coisa se estudava

sobre Roraima, sobre Manaus, sobre Acre, sobre outros estados. Era a História da História do

Pará. Então, a própria formação ela induz isso, a gente a fazer isso, né? Ou seja, o professor

vai achar que a disciplina Estudos Amazônicos é se resumir a contar a História do Pará.

Gabriel: É por isso que eu te fiz aquela pergunta: qual é o momento então que a disciplina de

Estudos Amazônicos rompe com os Estudos Paraenses?

Davison: Não rompe.

Gabriel: Se for pensar nessa lógica, né?

Davison: Há uma junção, ou seja, acaba se reproduzindo a mesma prática, né? Porque eles

acham, por exemplo, uma coisa que me incomodava muito quando eu estava no estágio é 'não

tem material para a disciplina', 'não tem material para a disciplina', o que não é verdade.

Material tem, mas o problema é mercadológico, ou seja, não existe uma produção suficiente

que atenda a demanda do estado. Então, devido esse problema mercadológico, por exemplo,

pouquíssimas pessoas conhecem hoje, em 2016, o livro do Gerrá, porque foi uma produção

pequena, né? Tirada bastante pequena, então pouca gente conhece o livro dele, né? O livro da

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Violeta tem mais, vamos se dizer mais fôlego devido àquilo que já comentei, ela tem aquela

posição de destaque, mas é um livro bastante criticado, sofreu muitas críticas o livro dela,

devido ser um livro denso, livro que alguns professores me disseram que não é um livro

apropriado para trabalhar com aluno de 6º ano, de 7º ano...

Gabriel: É porque você tem um problema como sempre num livro desse... [inaudível]. Esse

livro é considerado um livro paradidático?

Davison: Não, é um livro didático, né? Porque...

Gabriel: Qual é a diferença do livro didático e o paradidático?

Davison: Um livro paradidático, ele é um livro de tema. Um tema, por exemplo, vou escolher

estudar grandes projetos. É um tema, um livro de tema, esse é o paradidático. O livro didático,

ele tem capítulo, tem exercícios, é um livro comum que a gente vê.

Gabriel: Mas assim qual é a diferença? Ela cria um livro que subsidia, querendo ou não, a

disciplina, mas só que, quando você tem um livro didático para a disciplina de Geografia,

História, você tem um ano específico que você deve trabalhar com aquele determinado

conteúdo. Quando você cria um livro assim solto...

Davison: Sem divisão que você tá falando.

Gabriel: Sem divisão de séries.

Davison: Fica meio estranho, né?

Gabriel: Aí fica meio estranho porque a responsabilidade caí para cima do professor. E o

professor já é acostumado...

Davison: A ter tudo certinho, tudo arrumadinho.

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Gabriel: Nem é bem isso. É a usar um livro como se fosse o seu suporte, o seu deus. Muitos

professores usam o livro didático como se fosse o seu deus. Coloca debaixo do braço e...

Davison: E leva...

Gabriel: Ou não se preocupam em buscar outras fontes de conhecimento, até contestar se

aquilo ali que tá no livro é verdade ou não. Então, o professor...

Davison: Ter o livro como a verdade.

Gabriel: É. O professor, quando ele pega um livro desse que não é dividido em séries, ele

fica, já fica, já entra em crise porque: "nossa não tem divisão aqui". Então, ele vai recorrer,

vai recorrer não, ele vai ser induzido a um erro, ele vai, como não tem um currículo, ele vai

passar um conteúdo que não era para aquela série, que é, por exemplo, grandes projetos, que

é algo muito denso, se você não souber como trabalhar com aluno do 6º ano, eu acho que é

quase impossível você pegar e falar sobre grandes projetos pra eles que é trabalho, no caso de

Marabá. Você pega um livro desse que não te indica qual a turma que tem que trabalhar, aí já

entra um complicador bem interessante.

Davison: Pois é. Isso é, apesar... Eu fiquei pensando aqui depois que eu... que o meu

orientador me escreveu sobre isso, né? Sobre qual era a distinção dos livros de Geografia e o

da disciplina e eu percebi que é a mesma coisa daquele capítulo de Amazônia que tem no livro

de 7º ano. Como é que o professor de Geografia no 7º ano ele consegue, vamos dizer, ter a

habilidade de debater a Amazônia, né? Por exemplo, eu fui no CENTUR, mas não encontrei

muito. Encontrei só dois livros de Geografia dos anos 90, né? Passei manual do professor.

Seria interessante ter o livro...

Gabriel: Pode continuar.

Davison: Pegar esses livros e fazer, ver o manual do professor, para ver qual era a proposta

metodológica, didática que o professor tem para trabalhar aquele capítulo, né? Um ou dois

capítulos, dependendo da obra, sobre a Amazônia, né? E ver, por exemplo, se no, atualmente,

7º ano acontece isso, vamos dizer assim se esse conflito. Claro, não pode esquecer que está

dentro de um contexto maior, de uma obra, de um debate maior, que é da Geografia, que eu

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não conheço, mas alguém da área poderia explicar melhor como é que professor dá conta ali

disso, trabalhar essa concepção, né? E vem a professora Violeta, com a mesma ideia, mas com

a proposta maior, né? Pegar aquele [inaudível] e expandir para dois ou quatro anos.

Gabriel: Posso te contar a minha experiência pessoal, quando se trabalha no 7º ano, no 8º

ano, com a Amazônia, o pessoal pega mais os estudos regionais, de blocos econômicos, já, no

8º/9º ano, cara, é muito complicado, se não existisse a disciplina de Estudos Amazônicos, você

ia ensinar sobre a região Amazônica praticamente em quatro aulas que é o que a disciplina

nos permite. Lógico que tem professores que não se apoiam e tem um estilo livre e acabam se

estendendo um pouco mais, mas, como existe a disciplina de Estudos Amazônicos, esse

capítulo do livro que fala sobre a região, às vezes ele nem é muito... é às vezes é até deixado

de lado, porque você já vê isso mais abrangentemente na disciplina de Estudos Amazônicos,

mas é interessante pegar esse ponto de vista também.

Davison: É que é meio assim... é meio estranho trazer assim. É... quando eu trabalhei a

disciplina, isso no estágio, né?

Gabriel: Na graduação ainda?

Davison: Isso, na graduação, foi a única contato que eu tive com a Educação Básica. Eu

trabalhei um ano com a disciplina de Estudos Amazônicos, no Deodoro de Mendonça, e o que

a gente fez, na verdade, eu já tinha meu plano de curso, que foi o mesmo que eu estudei, e a

base era o livro do Gerrá. A base do curso era o livro dele, né? E aquela história que tu conhece,

pegar a Amazônia dos europeus até os dias atuais.

Gabriel: Deixa eu te fazer algumas perguntas aqui. [Inaudível] Em relação à

interdisciplinaridade, a gente acabou comentando, né? Mas o que que tu acha da disciplina de

Geografia, desculpa, de Estudos Amazônicos, e a interdisciplinaridade? Você acredita que ela

é uma disciplina interdisciplinar? E até que ponto a gente pode sair um pouco também da

História, da Geografia, das Ciências Sociais e cair para outras disciplinas, como por exemplo,

a Matemática, Artes, Português, será que existe essa possibilidade? Será que o tema Amazônia

nos permite isso?

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Davison: Sim. Olha interdisciplinaridade na teoria, na prática não. Ela é uma disciplina

interdisciplinar e eu acho que a grande sacada da interdisciplinaridade dentro dos Estudos

Amazônicos é o meio ambiente, não tem como fugir disso. O meio ambiente, ele é o, vamos

se dizer, a palavra-chave para a disciplina. É impossível tu falar é Amazônia e não falar de

meio ambiente, né? Seja em relação a conhecer a Amazônia, ou em relação aos problemas

atuais, né? As questões que a gente vê nos noticiários, fazendo uma abordagem sobre isso.

Em relação a Artes, eu acho que seria legal, sabe o que o pessoal lá em Itupiranga faz? Eles

trabalham o Círio de Nazaré, na disciplina Estudos Amazônicos, com os alunos. Ele me

mandou uma vez várias imagens no Whatsapp com vários desenhos com professores de Artes

trabalhando Estudos Amazônicos pegando o Círio de Nazaré, os alunos desenhando a

passagem da santa, os aspectos [inaudível] do Círio. Então, é isso que, às vezes, por exemplo,

isso que ficou faltando nos anos 90, esqueceu da cultura amazônica, que eu acho importante.

Gabriel: O próprio livro do Benedito Monteiro, aquele História do Pará, ele trata sobre a

questão das pinturas rupestres, por exemplo. Talvez você poderia trabalhar em Artes também

um pouco dessa questão da pintura, como os indígenas trabalhavam.

Davison: Então é, por exemplo, eu senti falta disso no livro da Violeta e no livro do Gerrá, a

questão da cultura amazônica. Ah tem uma coisa interessante também nesse mesmo contexto

aqui, da elaboração da disciplina, em 88, o IDESP junto com a Secretaria de Educação, eles

lançaram um livro chamado História Social e Econômica da Amazônia, não sei se você já

ouviste falar.

Gabriel: Eu já ouvi falar, mas eu não conheço o livro.

Davison: Nesse livro tem um artigo da Violeta, tem um artigo, se eu não me engano, do Saint

Clair, tem um artigo do Paes Loureiro sobre cultura amazônica, tem um artigo de uma

professora de índio, tem um artigo de negro, tem um artigo sobre grandes projetos, tem um

artigo... É um livro texto, né? Organizado em 2009, se eu não me engano, e que eles vão

debater a Ama... os problemas da Amazônia e eles estão com essa questão dos Estudos

Amazônicos. Já nesse momento eles dizem...

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Gabriel: Já se cogita a possibilidade de uma disciplina?

Davison: Já. Eu acho que eu cito aqui no início. Eu acho que eu não sei se é nesse ou em um

artigo que eu fiz que eles colocam com a seguinte ideia: que a Amazônia, ela não pode ser

somente vista como um apêndice nos livros de Geografia, um capítulo só. A gente precisa

conhecer mais a Amazônia e que o livro deles. Esse livro texto, ele servia para gente conhecer

mais a Amazônia. Aí eles pegam a Amazônia a partir dos anos 60 para cá, aí tá tudo a cultura

do índio, do negro, tem igual os grandes projetos, pegam a questão da mineração, tá?

Gabriel: Mas eu acho que nesse momento então a discussão está mais em âmbito da Educação

Superior, né?

Davison: Isso.

Gabriel: Na Educação Superior traz bem o básico. Essa discussão foi fundamental para depois

a Violeta...

Davison: Depois.

Gabriel: Posteriormente surgir...

Davison: E quem assina o livro é a Violeta. Antes desse dela...

Gabriel: Tu tens esse livro? Tem ele disponível?

Davison: Tenho. Eu tenho.

Gabriel: Mas é em pdf ou...?

Davison: Não. Eu tenho impresso. Agora para achar... que lá em casa é uma loucura, mas eu

posso... eu tenho esse livro, na verdade, a Violeta me deu esse livro. Ela, eu tava me lembrando

agora, ela me disse que esse livro base foi uma discussão que teve. Ela disse que reunião vários

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pesquisadores da universidade, do NAIA, do NUMA e construíram esse livro coletivo para

debater sobre a Amazônia pós-ditadura militar, as perspectivas. Aí os professores que eu

entrevistei me comentaram que a partir disso, desse livro feito aí, eles organizaram vários

seminários aqui em Belém, isso no início dos anos 90, antes da disciplina.

Gabriel: É daí que tu cita aquela questão da estante dos livros? Foi daí que surgiu a ideia dos

livros, de produzir material?

Davison: Isso, é depois. É isso, depois. Aí teve tipo encontros, seminários em Belém, isso nos

anos 90, que professores de várias regiões do estado debateram a Amazônia e depois que teve

a ideia da disciplina. Então, em relação à interdisciplinaridade, por exemplo, nesse dos livros

aqui é muito pouco. A gente não se vê interdisciplinaridade, ou seja, o diálogo...

Gabriel: Tu já viu aquele livro de Estudos Amazônicos que é por disciplina? Tu já viu ele?

Que é da editora Estudos Amazônicos?

Davison: Aquele que tem coleção de Estudos Amazônicos?

Gabriel: É. Tu já viu ele?

Davison: Já. Eu tenho o primeiro e o segundo, eu não tenho o tercei...

Gabriel: Eu tenho eles. Lá em Marabá ele foi adotado para a disciplina.

Davison: E aí?

Gabriel: E o que eu achei, ao meu ver, visualizando a disciplina no contexto da

interdisciplinaridade, eu já achei muito irritante ver o livro dividido na sua parte histórica e

geográfica, aquilo me causou uma irritação muito grande, em ver assim né? Porque a gente

sabe que a questão da interdisciplinaridade, hoje, ela não é muito bem vista por muitos

pesquisadores, tem muita gente que é contra a questão da interdisciplinaridade, pelo menos

no ambiente lá aonde eu estou agora, o meu mestrado é um mestrado interdisciplinar e eu

escuto que muitos ainda hoje são meio avessos à questão da interdisciplinaridade,

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transdisciplinaridade, mas já está havendo essa ruptura. E hoje você coloca um livro didático

separado o histórico do geográfico que ele não... sabe dá um nó na garganta assim, mas, enfim,

continuando...

Davison: Não. Sabe o que é engraçado, é bem mais. Isso daí é um ponto só, né? Foi muito de

crítica em relação a esse livro. E quando, por exemplo, eu fiz uma entrevista com um professor

do Justo Chermont que ele me disse que ele era geografo e que o outros professor, eles

trabalhavam na mesma série, ele em uma turma e o outro professor na outra, e um era

historiador e o outro era geografo só que os dois não dialogavam em Estudos Amazônicos e

eles ensinavam coisas diferentes. Ele disse que, fora esse problema desse livro que foi debate

na escola, ainda tem isso ainda, os próprios professores não dialogam, eles não conversam,

eles acabam se fechando no seu ambiente: 'ah eu vou ensinar o que eu conheço'.

Gabriel: Eles puxam para a sua própria sardinha.

Davison: É. Eles não querem construir eu acho que tá faltando tanto a questão da internalidade

que acontece na escola, onde os professores não querem debater, não querem discutir, o que

vamos fazer em relação ao currículo da disciplina. Tanto interno e o problema se agrava maior

quando externamente, seja as secretarias, tantos as municipais, quanto a estadual, elas acabam

fechando os olhos para essa invisibilidade que é o que acaba acontecendo hoje, ou seja, há

uma grande lacuna sobre o dito, o que é a disciplina e o que é feito nas escolas.

Gabriel: É lógico que olhando só por esse ponto de vista a gente acha esse complicador, né?

Davison: Muito complicado, muito.

Gabriel: Tu tocou no ponto da questão do professor de história, o professor de geografia da

mesma escola que não dialogam, quando tu conversou com a professora Violeta, ela te falou

de alguns interesses por trás da disciplina, assim a respeito dos profissionais de geografia, dos

profissionais de história, de tentar impor alguma coisa para a disciplina, teve essa briga entre

os dois ou essa briga só veio surgir depois enquanto assumem a disciplina? Que, pelo que tu

falou, quando se criou a disciplina não se criou um currículo para a disciplina, só se criou.

Então, eu acredito que não houve, naquele momento em que se cria, essa disputa entre o

profissional de geografia e o profissional de história, essa disputa foi surgir depois...

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Davison: Depois.

Gabriel: É isso?

Davison: É, que na verdade o que ela comentou comigo e que também os próprios professores

de história que participaram do livro do Gerrá comentaram, é que existia uma briga antiga

deles na Secretaria de Educação e que não tinha tempo para estudar temas amazônicos. Então,

uma forma de eles criarem uma disciplina em que estudasse era também distribuir carga

horária. Então, assim, a primeira briga foi a luta pela criação da disciplina e ter mais carga

horária e, depois somente, é que se configurou essa disputa de currículo, ou seja, não ter um

currículo oficial então...

Gabriel: O professor de História vai lá e dá aula de História da Amazônia...

Davison: Existem vários currículos.

Gabriel: O professor de Geografia vai lá e Geografia da Amazônia. Mais ou menos isso?

Davison: É, currículo para o social, não é? Então eles acabaram fazendo o que eu acabei

chamando, depois que eu terminei de escrever o primeiro capítulo, existe um diálogo de

surdos, né? Dentro da disciplina Estudos Amazônicos. Ninguém ouve ninguém, cada um fica

no seu.

Gabriel: Acho que a nossa conversa... o que já pode me passar ficou muito bom, não sei se

você quer falar mais alguma coisa.

Davison: Não, é.... Em relação à disciplina eu acho bom, muito bom a gente, por exemplo,

sair dessa, vamos se dizer, dessa nossa zona de conforto, quer dizer, fazer uma pesquisa que

nos inquieta, né? Eu acho que a grande função da nossa vida de pesquisador é fazer aquilo

que é vá depois também levar a uma reflexão para onde nós estamos. Eu acho que a discussão

da disciplina Estudos Amazônicos, ela vem num momento oportuno, num momento muito

oportuno porque é o momento de a gente estar discutindo a nossa Base Nacional Curricular

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Comum. Nós estamos em 2016, nós não temos uma base curricular comum e nós percebemos

que essa perspectiva, ela, vamos se dizer, acabou gerando olhares aqui no estado do Pará,

dentro de uma disciplina regional dos anos 90, e que ela ainda é reflexos de várias disputas

atualmente, ou seja, se nos anos 90 o governo do estado tentou se consolidar e isso não

acontece, e hoje há dois mercados: o mercado das editoras privadas, que acabaram assumindo

essa responsabilidade de debater e de produção de Amazônia, e o outro é a falta da

interdisciplinaridade que não acontece nas escolas, nos espaços escolares.

Gabriel: Foi muito bom ter contato, tocado nesse assunto da Base porque uma das

preocupações é em relação das disciplinas com esses contextos regionais. Se cria uma base

nacional. Essa Base Nacional Comum se a gente se for se basear no ENEM, baseia o que é o

ENEM e o que é, por exemplo, uma prova de vestibular da UFPA antigamente, da UEPA,

onde você tinha mais esses conteúdos regionais. No ENEM você vê uma duas três questões

de Amazônia é muito. Isso te causa preocupação? Por que o que será da disciplina Estudos

Amazônicos com a criação de uma Base Nacional Comum? Sabe que ela não vai deixar de

existir, que ela tá lá no artigo 26, esse artigo 26, baseado no artigo 26, ela tem sua existência

garantida, mas será que, aos poucos, uma implementação de uma Base Nacional Comum,

Curricular Comum, ela não vai deixar ainda de lado esses aspectos regionais?

Davison: Sim, por exemplo, a grande preocupação e isso foi a perspectiva que o pessoal da

História criticou muito, né? Eu acho que, com certeza, tu ficaste sabendo.

Gabriel: A Geografia criticou muito também. Eu tava num encontro nacional de professores

de Geografia foi o bafafá, foi a questão da Base Curricular Nacional do Ensino Médio.

Davison: Em relação à proposta de História, na verdade, acaba-se com as questões regionais.

Acho que já desde esta última formatação do ENEM, de 2009 para cá, não existe mais, por

exemplo, a única parte que tem sobre a Amazônia é borracha e mais nada da História, nem

Cabanagem, Cabanagem sumiu, nem Cabanagem não existe, não entra mais conteúdo a ser

ministrado para os professores.

Gabriel: Querendo ou não isso privilegia muito o Sul e Sudeste, né?

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Davison: É. Então aí o que que acontece? Em relação à Base, sumiu, ou seja, a grande

discussão que se tem hoje e que se estava questionando é que, desde 2003 para cá, há um

movimento em torno das identidades. Isso é evidente. Isso é claro. E primeiro, de 2008 para

cá, atacaram as licenciaturas, ou seja, História da África, discussões étnicas, o que eu acho

válido, eu acho interessante, mas a gente não pode resumir a questão do ensino de História,

no nosso caso, às identidades. Não é isso. E a grande discussão foi que agora recentemente

girou em torno só de identidade. E o grande nó, o grande problema ficou todo no Ensino

Médio, ou seja, os alunos do 1º, 2º e 3º ano, eles vão ver o que eles chamam de mundos

Americanos, mundos Africanos e mundos Ameríndios, ou seja, se fechou o ensino de História

no Ensino Médio por tema e esqueceu a história regional. A Amazônia sai, ou seja, a

Amazônia que eles entendem é só a Amazônia só pré-colombiana, aquele período inicial, ou

seja, os índios antes dos europeus, antes do contato e enquanto que as questões atuais, mais

recentes da Amazônia, elas acabam sendo deixadas de lado no Ensino Médio. Então, eu acho

que, em relação a esse debate da História Regional, ou seja, como isso se configurou nos

últimos anos só foi percas pra gente. Antes a gente ainda tinha o vestibular local que ainda

tinha vários temas que...

Gabriel: Hoje a UEPA ainda tenta resistir, né? A UEPA ainda tem o seu vestibular.

Davison: Tem, mas parece que esse é o último ano, né?

Gabriel: É, então, ainda tenta resistir. Quando acabar é que vai ser que a História Regional, a

Geografia Regional...

Davison: Então acaba ficando muito localizado esse debate e cada vez a gente vê mais

diminuir. Eu acho que seria interessante a gente fazer um movimento, né? Trazer os

pesquisadores das universidades do Norte, ver o que que a gente pode construir em relação a

isso, para levar isso, até mesmo para o Exame Nacional do Ensino Médio, ver como isso é

construído. O que eu fiquei sabendo é que vai ter um edital do PNLD para livro de História

Regional do 6º ao 9º ano. Parece, se eu não me engano, em 2017/2018. Não sei como é que

vai, como é que eles estão arquitetando isso. Eu só sei que do último PNLD de 2013, se eu

não me engano, não sei se foi 2013 ou 2014, que foi para 1ª a 4ª série, eles mudaram de

concepção. Antes era História do Pará e, no último, ficou Amazônia, Amazônia Legal, foi a

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única coleção aprovada que foi até uma professora de Goiás, Bianca Amaral, que foi a única

coleção dela que foi aprovada para trabalhar na 1ª a 4ª série. Eles tiraram o título História do

Pará e colocaram Amazônia Legal. Eu mandei e-mail para ela, não consegui o livro dela. É

muito difícil. Fui na FTD já tinha esgotado. O que ela me disse? Ela tem um núcleo de

produção de livro didático regional lá em Goiás. Eles têm um núcleo de pesquisa e esse núcleo

de produção de livro didático regional. Eles construíram esse livro didático e levaram pro

MEC e foi aprovado. Foi o único aprovado. Foi esse dela. Mas é importante a gente ver esse

movimento, essa mudança, essa mudança de movimento em relação a essa nova concepção

que é a Base. Seria interessante tu, eu acho que tu leres qual é a proposta que ela tem de

Amazônia.

Gabriel: Qual é o nome dela?

Davison: Bianca Amaral.

Gabriel: Bianca Amaral.

Davison: Qual é a proposta de Amazônia que ela tem, o que que ela tá pensando. Que eu acho

que vai muito nessa ideia que a gente tá desenvolvendo. Com certeza a interdisciplinaridade,

a questão da justiça do presente, fazer a relação com a sabedorias antigas, mas também

escolher um recorte, porque é imposs..., não é, vamos se dizer, viável ensinar tudo, pensar que

a gente vai dar conta de tudo que acaba não dando sentido pra disciplina, que eu acho que isso

é o grande problema hoje: a disciplina, ela não tem um sentido, ela tem um significado, tem

uma importância, ela tem uma historicidade, mas que é esse sentido ele acaba não existindo

na prática. Eu vejo muito isso. Acho que a perspectiva é a gente mesmo se aprofundar nas

práticas de ensino, ou seja, como os professores eles encaram isso, como eles veem essa

formação, como eles veem a partir da prática deles a disciplina, né?

Gabriel: Acho que você me passou as informações talvez que eu queria. Eu agradeço a sua

presença aqui. Ter lhe tirado da sua casa para conceder essa entrevista. Muito obrigado.

Davison: Obrigado.

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APÊNDICE L – Transcrição da entrevista com a Prof.ª Jaide das Graças Barreiros

(Conselho Municipal de Educação)

Jaide: Tu perguntou se existe perspectiva. Eu acredito que sim. Ela já vem desde quando foi

municipalizado em 2000. Quando foi municipalizado nós [inaudível] no estado a grade

curricular, que a gente chama de grade curricular ne? Outros chamam de matriz curricular,

desenho, num sei o quê, mas nós chamamos de grade curricular. O que foi colocado? Foi

aumentar ou diminuir o número de aulas. [Gabriel: a carga horária da disciplina?] A carga

horária da disciplina. Mas, eu vejo estudos amazônicos, uma disciplina muito influente pra

nossa região. Desde que, os profissionais que vão trabalhar, conheçam um pouco da nossa

região. Não é só da nossa história, mas da nossa região. Eu entendo, com três grandes aspecto

nos estudos amazônicos. Um seria a própria história a nossa. A nossa história amazônida. Que

nós somos, é... antes, um Brasil que era dividido em duas parte? O Brasil e o Grã Pará

Maranhão. Que era desde o Maranhão, que era, que era, que era, desde que quando começou,

nós tínhamo o Grão Pará Manhã, nera? Então, nesse aspecto, é a primeira grande parte da

nossa divisão. O, quando, nós vamos estudar a história da amazonia, nós não podemo pegar a

história da Amazônia só um pedacinho não. Nós temo que ver, 1750 a Amazônia já existia. E

o que é mais importante: Nós eramos praticamente um estado livre. Nós não eramos um estado

do Brasil. Que o Brasil era pra baixo, não era pra cima, aqui pro Norte. Então, depois disso,

quando houve a independência, é que houve a fusão. Vcs sabem, que teve até, nós não

aceitamos ne? Logo de início fazer parte do Império, e a gente queria continuar pertencendo

a Portugal e houve aquela questão do grito [inaudível], a nossa adesão para independência que

teve uma tragédia [inaudível]... tudo isso. Então, essa parte da nossa história, poucos registros.

Sem contar que a nossa história tem uma grande questão, é... [pausa longa]... artística ou

melhor cultural mesmo. Você tem, o pessoal do Marajó, nossos índios, que escreviam. Nós

temos, o pessoal de Santarém, também que tinham suas artes. Tem as artes rupestres, que

existia aqui nosso. Então, a Amazônia, é muito rica!

Gabriel: Você acredita que a disciplina Estudos Amazônicos, tem um contexto

interdisciplinar?

Jaide: Tem. Em todas as áreas ela perpassa. Então, isso é um grande foco da nossa história.

A nossa arte, em todos os aspectos tem nossa arte. E a nossa economia. Sempre uma história,

eu acredito assim: sempre, um...[pausa longa] aqui no nosso setor da Amazônia, Pará, o

Amazônias, Acre, nós sempre contribuímos definitivamente pra economia, do Brasil, de si. A

gente começou com droga do sertão, depois nós passamos pra borracha, pro setor madeireiro,

pra castanha do Pará... [Gabriel: exploração do diamante aqui também.] Exploração do

diamante, depois a mineração, agropecuária e agora os grãos que tão chegando, aliados

também a nossa, a... questão do minério em si. Do grão, do minério. Agora, eu só gostaria de

dizer o seguinte: que é outra parte que é muito importante ainda na economia. Como era a

nossa região a tantos anos atrás? Como ela foi se moldando, mudando? E ainda nós ainda

temos pessoas, grupos de pessoas que vivem ainda aquela mesma forma de anos atrás, até de

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centelha de anos atrás. [Gabriel: Coronelismo?]. É. E isso foi mudando. A gente vai ver, que

o quanto a gente é importante, quando pega a economia. Se tu pegar, quem era que começava

a trabalhar na borracha, o caos, aqui em Marabá? E por onde é que estão essas pessoas? Elas

morreram, tudinho? Não. Elas continuam vivas em outro setor. Elas continuam desenvolvendo

outra coisa em outro setor. Aí a gente pensa que agora começou tudo, que só tem o que tá por

aí. Não gente. Nós vamo ter a nossa história. E economicamente, nós vamos ver que aquele

Queirós, que tava no ano de 50 aqui, o Almeida que tava no ano de 50, o Américo que tava

no ano de 50 aqui, ele continua vivo. Ele não continua vivo daquele jeito que nós vimo ele lá

atrás. Ele tá vivo em outro setor. Quando ele trabalhava no diamante, na castanha, era uma

coisa. Aí só isso que o pessoal ver. Aí diz que acabou. Não acabou. Ele continua. As vezes,

se ele não continua nessa produção, ele continua na produção acadêmica, ele continua como

chama? Na questão econômica, em outros setores diferentes, mudou. Então, eu acho que os

estudos amazônicos ele poderia contribuir muito, muito mesmo, se todos os profissionais

levassem em consideração o desenvolvimento nosso. Não ficar só pegando, vamos estudar

então agora, como é que eles fazem? Só coisas folclóricas, comida... Isso é importante? É.

Mas, vamo vê nosso desenvolvimento. [Gabriel: existem muito mais coisas que podem ser

estudadas]. Muito mais coisas. Sem contar com a nossa história, com o acidente geográficos,

essas coisas todinha que a gente pode estudar...

Gabriel: Deixa eu te fazer uma outra pergunta aqui. Até então, não existia nenhum critério

para escolha do professor de Estudos Amazônicos aqui no município de Marabá. O que existia

era uma questão de favorecimento ao profissional de geografia, que por ter uma similaridade

com a área, trabalha com a disciplina. [Jaide: exatamente]. Você enquanto conselheira acredita

que, isso deve ficar bem amarrado? Deve existir sim critério aqui no municípios para o

profissional trabalhar com essa disciplina, como por exemplo um profissional de geografia,

de história?

Jaide: Como ela é uma disciplina que ela não tem uma formação acadêmica e que a formação

dela se dá em, se perpassa em todos os níveis na nossa região aqui, na UFPA, na UEPA, ne?

Das nossas universidades existem disciplinas voltadas pra isso. No entanto, a gente sabe que

não existe um curso especifico pra isso. Então, o que é que acho? Eu acho que, em todas as

vezes que você for dar estudos amazônico, a primeira coisa que devemos levar em

consideração, era a graduação do profissional. Eu, continuo achando que o professor de

geografia ele é muito próximo. Não só porque ele estuda a questão da territoriedade, mas

porque ele estuda a questão social. A geografia ela é física e humana e espaço. Ela estuda as

três coisa ao mermo tempo. Então, o que é que acontece? Nós temos só que fazer uma análise,

cada vez que for ter um professor, saber a análise do, ne do currículo não... [Gabriel: do

histórico da graduação]. Do histórico da graduação dele. Porque, se eu for um professor

formado no Rio Grande De Sul, de geografia, eu vou ter n’s problemas de dar aula de geografia

no Pará. Mas, se é uma professora, que foi formada conosco aqui, é mais fácil. Porque ela só

basta se inteirar aqui conosco, se apossar do que tá escrito. Como é que chama? [pausa longa]

Do nosso acervo bibliográfico. Existe muita coisa. Gente, tanta gente que escreve sobre a

Amazônia, coisa linda! Muito, muito mesmo. Boa mesmo, que a gente não conhece. E que as

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vezes a gente vê mais passa por cima. Mas nosso acervo bibliográfico é muito bom. Nós temos

um grupo de estudos na Universidade Federal do Pará, sobre a nossa região, que vale a pena

a gente fomentar uma ligação com eles, pra poder desenvolver um bom trabalho, nos estudos

da amazônicos... Então eu acho, que ela continua sendo muito importante pra nós sim. Desde

que a gente possa desenvolver um bom trabalho. Se tu for pegar, projeto Grande Carajás,

como ele foi fundado, quanto tempo irá durar, e tu ver agora. Vai ver como um disparate, que

não é mais o que foi planejado em 1985. Agora ele já vai acabar em menos anos do que era

previsão. A previsão era 400 anos. Agora já tão falando em menos de 100 anos.... E isso, aí o

professores amazônicos seriam capaz de trabalhar isso. Ela é uma disciplina que ela perpassa

nas outras, mas , ela pode ter um fundamento maior, melhorado. Os professores de estudos

amazônicos deviam se juntar pra estudar o que é que ta acontecendo com nossa região, porque

eles podem dar subsídio, isso pode dar subsídio pro desenvolvimento que fale em cidade

sustentada, como ele vai se sustentar na cidade? Mas se tu pegar estudos amazônicos que ta

acontecendo tu consegue colocar. [Gabriel: E até mesmo pra criar uma consciência diante dos

alunos ne?]. Exatamente. [Gabriel: Porque é daí que a gente vai fortalecer ainda mais essa,

essa questão da apresentação, da consciência.] Exatamente, é isso mesmo.

Gabriel: Obrigado, Jaide.

Jaide: Risos...

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APÊNDICE M – Transcrição da entrevista com o Prof. A1

Gabriel: Bom dia, professor “A1”

A1: Bom dia.

Gabriel: Eu só vou fazer algumas perguntas para você. Eu sou pesquisador da disciplina

Estudos Amazônicos a nível de mestrado. Eu quero saber, você já foi professor da disciplina,

qual é a importância da disciplina aqui no município de Marabá, ao seu ver?

A1: Bom, ao meu ver, é justamente observar primeiro a questão territorial, né? E também

trabalhar com aquilo que é a matéria-prima no campo da sociedade que é tanto a questão

indígena que também nós temos resquícios aqui, né? Quanto também a questão, vamos dizer

assim, da parte cultural, porque quando você fala de Estudos Amazônicos, né? Às vezes só

tratam de um viés que é a questão geográfica, na realidade Estudos Amazônicos não é só a

questão geográfica, né? É a questão historiográfica, né? A mapeação da história que ocorre

aqui desde meados do século XVII basicamente, né? E aqui para Marabá tem o resquício

também muito importante porque esta região aqui do Sul e Sudeste do Pará, né? Elas têm

algumas diferenças, né? Algumas diferenças territoriais e de regionalidade, por exemplo,

quando você analisa o Nordeste, né? O Oeste do Pará você vê essas diferenças. Então, no

ensino dos Estudos Amazônicos é justamente para mostrar, né? No caso dos nossos alunos

daqui, as diferenciações que existem dentro do mesmo estado, né? É nesse ponto de vista que

eu analiso que é sim muito importante o ensino de Estudos Amazônicos.

Gabriel: Você acha que a disciplina de Estudos Amazônicos poderia ser trabalhada de forma

interdisciplinar? Por um dos professores como além do de História e do de Geografia, como

pedagogo, profissional de Artes, o de Ciências, você acredita que essa disciplina ela pode ser

trabalhada por estes outros profissionais de uma forma interdisciplinar.

A1: Olha, a interdisciplinaridade, em si, ela pode ser feita em qualquer viés de conhecimento,

no meu ponto de vista, entendeu? Estudos Amazônicos não é diferente. Dá para si trabalhar

sim, mas aí a grande questão para se trabalhar Estudos Amazônicos de uma forma

interdisciplinar não é somente ah um pedagogo, ah um historiador, ah um geografo. Não, não

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é isso não, entendeu? É justamente um ou um grupo de professores se reunir, né? E, dentro

daquela reunião, eles pegarem vários, vamos usar assim esse termo mesmo, várias variáveis

dentro do programa que é requisitado, como assim? Digamos eu sou um histórico, né? Aí eu

vou pegar todo o processo historiográfico de formação aqui da região. Aí eu pego um outro

amigo que é de Geografia e ele vai trabalhar a parte do quê? Territorialidade. Beleza. Aí eu

pego, por exemplo, uma professora de Artes e ela vai trabalhar aquilo ali através de quê? Dos

resquícios arqueológicos que foram deixadas justamente pelas comunidades negras e

indígenas.

Gabriel: Como as pinturas rupestres...

A1: Justamente, justamente. Aí, por exemplo, eu pego um professor de Biologia, né? Vai

justamente trabalhar o quê? O que nessa parte? Vai trabalhar, por exemplo, sobre a parte de

(como é que a gente diz, meu deus?) as doenças tropicais próprias da nossa região, né? Então,

tudo isso está interligado, mas o grande problema da interdisciplinaridade hoje é a própria

visibilidade que dão para ela. Quando o pedagogo fala de interdisciplinaridade ele pensa que

é para falar tudo ao mesmo tempo e, quando nós pegamos a interdisciplinaridade, nós

percebemos o quê? Que eu, como professor de história que sou, eu consigo analisar várias

vertentes ao mesmo tempo trabalhando o conceito historiográfico, entendeu? Então dá, dá,

não tenha dúvida em relação a isso, dá. Agora vai muito de quê? Da formação e organização

do programa que, por exemplo, o nosso programa aqui, na realidade, foi um livro bolado por

alguns autores da região e tal que mandaram para a SEMED e mandaram para a escola. E,

assim, é um programa interessante, é um livro interessante, para o que a gente atende aqui, é

muito interessante, mas eu acho que poderia melhorar e muito. E outra coisa que também

poderia melhorar: a carga horária, entendeu? Muito complicado, muito complicado trabalhar

vários assuntos. Aí que eu te digo: trabalhar a interdisciplinaridade, sendo que tu tem o quê?

Duas aulas, né? Eram três aulas antes, né?

Gabriel: Ainda tem.

A1: Duas e três, né? É. Tá certo. Três aulas dá para ti trabalhar muito bacana, né? Mas, no

caso, se vier de acontecer de cair uma aula, duas aulas, aí já fica um pouco mais complicado,

mas não vamos entrar nesse mérito agora. Hahahaha

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Gabriel: Para encerrar, então, acho que até você pode concordar, pelo seu estudo, eu não sei.

Você acredita que é importante uma formação continuada na disciplina de Estudos

Amazônicos?

A1: Cara, eu acho que é importante em todas as áreas, entendeu? Em todas as áreas. Que

ocorra uma discussão, não só de Estudos Amazônicos, entendeu? Eu sempre achei e sempre

vou achar importante a interação, né? Entre os professores, mas eu sempre afirmo uma coisa,

vamos dizer assim, eu acho interessante uma formação continuada quando você trabalha

vários pontos diferentes, certo? Dentro de um programa. Agora quando você faz uma

formação que se diz continuada que só aborda uma coisa, uma coisa, uma coisa, uma coisa,

isso não é continuada, isso é emperrada, para mim, entendeu?

Gabriel: É.

A1: Então, assim, eu sempre concordei e sempre vou concordar que a necessidade existe e é

muito grande, até porque, Gabriel, a nossa região ela tem muitos professores de História,

muitos professores de Geografia, né? Só que não ocorre justamente uma discussão mais

ampla, né? Sobre isso, sobre essas questões, né? Sobre essas questões, porque, vamos dizer

assim, ao invés de a gente se unir para fazer essas discussões ultimamente o que a gente mais

tem visto é só questões de brigas políticas que estão prejudicando a gente diretamente, como:

acabou a nossa formação, a nossa formação continuada basicamente ela foi excluída.

Gabriel: Extinta.

A1: É, ela foi extinta, né? De fato, e aí? Quem é que sai prejudicado?

Gabriel: Somo nós.

A1: Lógico.

Gabriel: Os alunos.

A1: Lógico. Logicamente isso, entendeu? E infelizmente, para os nossos governos, estudo é

gasto. Coisas da política brasileira.

Gabriel: Muito obrigado, professor A1, por ceder seu tempo.

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APÊNDICE N – Transcrição da entrevista com o Prof. A2

Gabriel: A2, no teu ponto de vista, qual é a importância da disciplina Estudos Amazônicos

no município de Marabá?

A2: Eu acredito que seja para a população aqui que mora, aqui nessa região, não só aqui em

Marabá, que é o município que eu tô, como no Norte em si. Ele conhecer a região que ele

mora, porque se a pessoa não conhecer onde mora, quais são as possibilidades que essa região

possa possibilitar a ela, ela não tem como agir a favor e procurar melhorias para a própria

região e pra si mesmo.

Gabriel: Se você pode falar um pouco da sua experiência em sala de aula, quando você foi

professor de Estudos Amazônicos, contar um pouco da sua formação?

A2: Eu sou formado em História. Fiz minha pesquisa foi sobre aqui a região, mas no contexto

político. Atualmente eu faço mestrado em Dinâmicas Territoriais sobre a Amazônia. Aqui

nessa região, eu pesquiso sobre os processos de territorialidade aqui na região a partir do

processo de ocupação e, especificamente, o GETAT com a regulação fundiária e...

Gabriel: Eh... sua experiência na sala de aula com Estudos Amazônicos.

A2: Ah tá. Dentro de Estudos Amazônicos eu trabalhei durante sete meses só apenas, porque,

aqui no município, eles não dão possibilidade para os professores em História de trabalhar

com a disciplina. Há uma grande dificuldade dessa liberação. No entanto, como eu já tinha

experiência no meu currículo sobre Amazônia eu requisitei essa possibilidade de ministrar

essa disciplina e, a partir de muito trabalho, muita discussão, a Secretaria acabou liberando,

fazendo uma exceção para mim, mas, normalmente, essa disciplina é dada por geógrafos e,

boa parte, por pedagogos que eles acabam liberando por uma estrutura do município mesmo,

ou por contrato, concursado...

Gabriel: Quando você trabalhava com a disciplina, qual foi a contribuição que você acha que

você passou para os seus alunos a respeito da disciplina de Estudos Amazônicos, da

importância da Amazônia para esses alunos?

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A2: Olha, eu acredito que o conhecer da região, que riquezas têm aqui na região, porque isso

passa pela valorização desse aluno no local que ele vive, se a pessoa não conhecer ela não tem

como valorizar, se ela não valorizar, ela dificilmente lutará por melhorias, ou, especialmente,

buscará outras formas de dar continuidade no que existe já que não sabe nem o que existe.

Outra questão é que, querendo ou não, essa região Norte, por ser nacional, é sempre colocado

como um entrave para a nação, né? E o que literalmente contrário a isso. Boa parte da nação

acaba vivendo a partir dos recursos naturais que existe aqui nessa região que historicamente

é, desde o seu início, produziu várias riquezas aqui para essa região, não só para aquela região

como para o Brasil todo. Então, essa valorização e esse conhecer a região eu acredito que

possibilita esse aluno valorizar mais o que ele tem e onde ele tá. Outra questão é que,

especificando Marabá, boa parte de quem mora aqui é de outras regiões, que não são da região

Norte. Então, eles não conhecem literalmente a região. Então, é uma forma desse povo

também aprender, porque quem mora aqui no contexto Amazônico e, apesar de só é aqueles

que não moram nos centros urbanos, ele tem vivência, mas ter vivência não é conhecedor de

uma maneira mais geral, mais global. E quem é de fora, quem é do Nordeste, quem é do

Centro-Sul, que vem muita gente para cá, ele acaba conhecendo especificamente, já que era

um ambiente alheio à vivência dele, essas regiões.

Gabriel: Eh... É interessante na tua fala porque eu identifiquei também isso. Essas pessoas

que vem de fora, que não são da região, elas não têm aquele sentimento de pertencimento da

região, eles não se sentem amazônidas. Já que os que já estão aqui, já nasceram aqui você já

encontra um pouco de dificuldade deles se sentirem amazônidas, até mesmo por causa da

nossa região aqui. A nossa região é uma região meio que de transição, onde você tem

influência muito mais do próprio Maranhão, que é do Nordeste, do Centro-Oeste ali com

Goiás, do que da própria região metropolitana de Belém. Acho que isso também acaba

influenciando, né?

A2: É uma questão cultural também, não é uma questão só de Amazônia. Eu acho que é uma

característica já nacional, às vezes até mundial, com a globalização, com a facilidade com a

internet, com os meios de comunicação, há dentro do processo cultural uma, vamos dizer, não

é uma cultura igual, mas há uma formação de uma cultura um pouco mais, mais conhecedora

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de outras, né? É isso aí se imbrica na sua cultura também. Não é que tu deixa a tua cultura,

mas tu vai angariando certo pertencimento de outros também e isso é um processo de

globalização. Mas aí é que eu acho que vem Estudos Amazônicos, apesar de estar inserido

nesse ambiente global tu não pode esquecer o local. Aí nesse ponto ela é extremamente

importante, de ver o teu local, deixar importante, valorizar, mas não excluindo que esses

outros nesse interlaço que tanto pode ser local, regional, inter-regional... ou de outras várias

regiões que há.

Gabriel: Você falou da sua graduação, né? Em História. Você falou também que,

preferencialmente, os professores de geografia eles são os escolhidos para trabalhar com a

disciplina, mas você tocou na parte do seu mestrado que é Dinâmicas Territoriais e Sociais da

Amazônia, é isso né?

A2: Isso.

Gabriel: É... até que ponto você acha que o programa de mestrado que você estuda ele pode

ajudar a criar um fortalecimento também para a disciplina de Estudos Amazônicos?

A2: Como o mestrado é aqui na região e ele literalmente é voltado para a Amazônia

literalmente, ele é de extrema importância. Todos os que se formam no programa de mestrado

que eu tô, eles têm a dentro do seu projetos de pesquisa, vários estudos, várias formas de

conhecer a Amazônia. Isso é da parte ambiental, da parte de assentamento, ocupações rurais,

formação de cidade, das cidades dentro da Amazônia. Lá da Geografia [inaudível] dedos, né?

Como é? Eu esqueci o nome, que é os principais polos urbanos que são voltados. Então, eu

creio que é extremamente importante, tendo que em vista que vários mestrados aqui na região

norte começaram a surgir em Cametá e trabalhar especialmente a região. Ele é voltado mesmo

pra região.

Gabriel: Voltando agora mais um pouco para a sua prática na sala de aula, qual foi a maior

dificuldade que você encontrou ao ministrar a disciplina de Estudos Amazônicos?

A2: Maior dificuldade? Eu acho que é material. Dentro dos Estudos Amazônicos [inaudível]

no município não se há um uma formação específica, não há currículo, uma formação

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específica para Estudos Amazônicos. Então, cada professor ele entra numa sala e ele faz

literalmente a partir da perspectiva que ele acha correto. Não se há um planejamento voltado

especificamente no município, ele só foi colocado a disciplina, olha ela existe, esse professor

tem que dar aula e acabou. Diferente com História, por exemplo, que anteriormente tinha

formação, Geografia, outras disciplinas inclusive. Agora Estudos Amazônicos ele acabou

sendo colocado não tendo um planejamento mesmo para a própria disciplina.

Gabriel: É. Atualmente existe uma preocupação muito grande, né? Com a questão dos

pedagogos, essa preocupação já existia antes, porque não é de hoje que os pedagogos eles

trabalham com essa disciplina, não só os pedagogos, os profissionais de outras áreas do

conhecimento também. Alguns mais familiares, outros não, porém, atualmente, acho que essa

preocupação ela veio à tona com essa permissibilidade, acho que essa é a palavra, desses

profissionais atuarem com a disciplina de Estudos Amazônicos. Aí a gente entrou na questão

da competência desses profissionais trabalharem com essa disciplina e, ao fazer um pequeno

levantamento, eu te pergunto: tu acha, o que que tu acha da entrada desses outros profissionais

que não são da História e da Geografia para trabalharem com essa disciplina, qual é o teu

ponto de vista a respeito desses outros profissionais?

A2: Todos profissionais creio que podem ter possibilidade de ministrar a disciplina sem

problemas, o professor de Artes, de Língua Portuguesa, porque é a Amazônia em si é diversa.

Tanto por o meu mestrado, que é interdisciplinar, então tem profissionais de Direito, de

Administração e todos trabalham com seus projetos de pesquisa voltados para a Amazônia.

Então, a disciplina Estudos Amazônicos, eu creio que também pode ser de uma forma

interdisciplinar. O certo, eu creio que a disciplina em si, poderia até não existir, que o conteúdo

em si poderia tá inserido em cada disciplina, mas seria utópico dizer que isso iria acontecer,

né? Isso se não tivesse uma disciplina em si, muitos professores não iriam trabalhar, o

professor de Matemática, até de História porque ele tem um conteúdo que é fechado e que tem

que fechar ele até o final do ano, né? É te dado um livro didático, é te dado um trabalho, né?

E, às vezes, a Amazônia ela, às vezes, fica de lado e 'não, tem que terminar isso', 'não, isso é

um conteúdo básico, Fulano tem que aprender' e nas escolhas internas, se não tiver essa

disciplina, se bobear, pode não haver a possibilidade de ele não, nem entrar no conteúdo sobre

a Amazônia. Outro sentido é que esses professores que queiram ministrar a disciplina eles têm

que ter um conteúdo para ministrar, porque chegar um professor que ele não tenha nenhum

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tipo de conhecimento sobre a região tanto histórico, como geográfico, como artística de forma

diversa, ele vai ter muito mais dificuldade para ministrar a disciplina ou ele vai apenas

reproduzir o que está sendo dito no livro que ele leu e organizou sem, no mínimo, fazer uma

forma crítica do que é aquilo ali, porque uma coisa é o que tá no jornal, outra coisa é fazer

uma análise sobre a região de uma forma mais adequada, que eu acho que isso que falta nos

alunos, é uma leitura, uma análise mais crítica dos próprios assuntos, porque só dá mastigado,

né? 'Olha é isso que tá escrito aqui então essa é a verdade', né? E vim ver as possibilidades

que existem. A Amazônia não é uma só. A Amazônia é literalmente diversa. E cada ponto de

vista dela, ela te insere em um outro mundo e esses mundo tem que dar possibilidade do aluno

perceber, porque isso que vai fazer, para mim, valorizar o conhecimento que tem sobre a

Amazônia e ver as possibilidades que podem ser feitas aqui na região.

Gabriel: Legal. Qual era a sua metodologia em sala de aula?

A2: Olha, as turmas que eu peguei eram muito boas. Eram turmas de 7º ano, 7º ano e outra de

8º ano, antiga 6ª e 7ª série, 8ª série. Não, 6ª série e 8ª série. E elas eram muito boas. Isso é

difícil de se encontrar no município, mas... Eles eram muito bons esses alunos. Então discutia

bastante com eles. Pegava o conteúdo, jogava um pouco no quadro. Como eu acredito que

eles escrevendo, eles conseguem gravar isso, porque a gente tenta passar para eles. Eu escrevia

no quadro, eles copiavam, pegava o livro... No Estudos Amazônicos, na disciplina que eu

tinha, tinha um livro lá que eles utilizavam e, a partir dali, a gente ia discutindo e, como eu

sou historiador também, eu ia formando a ideia dele do que tem no livro no que existe lá nas

outras disciplinas. Na parte geográfica também eu vendo que aprenderam com o professor tal

e aí ir intercalando um pouco, por exemplo, dentro de Estudos Amazônicos a gente trabalha,

em História, sobre povos pré-colombianos, sobre a pintura rupestre e isso tem também na

parte de Estudos sobre a Amazônia. Então, eu acho que um pouco intercalando, porque dentro

do 8º ano, que é melhor, que já tem os projetos que já foram implantados aqui, que já tem os

projetos e, dentro disso aqui, eles podem ver a realidade deles mesmo aqui: trabalho escravo

que até hoje em dia existe, que tá mais bonito, agora é análogo à escravidão e isso eles

vivenciam isso e, quando tu trabalha esses conteúdos no EJA, que já não tem Estudos

Amazônicos, mas que tu vai trabalhar em História sobre a região, é extremamente importante,

porque tu já consegue perceber que eles visualizam isso, porque o amigo dele já foi ou ele

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participou daquilo e as escolas mesmo, aqui em Marabá, muitos pais, ou primos, ou tios

trabalharam nas principais empresas ou obras aqui, ou eles foram fundadores dessa forma de

ocupação aqui na região, eles vivenciam isso, então, alguns percebem isso mesmo na

realidade.

Gabriel: Se você tivesse a oportunidade de pegar toda a carga horária que você pode pegar,

segundo o nosso PPCR que hoje é 200h e pode extrapolar mais 25h, hoje, né? Você toparia

pegar toda essa carga horária só com Estudos Amazônicos?

A2: Eu creio que sim, mas apesar também de gostar também da minha disciplina. Intercalar

as duas, ou, se tivesse possibilidade, de pegar tudo Estudos Amazônicos também não teria

problema, caso não tivesse da minha.

Gabriel: Vamos lá. Vou reformular a pergunta. Se você tivesse 200h de História e 200 de

Estudos Amazônicos, logicamente que você ia preferir de História?

A2: É.

Gabriel: Certo né? Agora se você tivesse 100h de História e 100h de Estudos Amazônicos

sem nenhum problema pegar 100/100?

A2: Eu pegaria.

Gabriel: Pegaria.

A2: Pegaria, sem problemas.

Gabriel: Porque essa pergunta assim ela é direcionada mais para o professor de Geografia

que ele tem essa opção de trabalhar com Estudos Amazônicos as 200h. E eu identifiquei um

pouco que os professores eles trabalham com Estudos Amazônicos não porque eles gostam,

não é a maioria, é uma parte, mas sim porque eles complementam a carga horária com a

disciplina. Não tô falando que o professor, ele é culpado disso, existe toda uma conjuntura por

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trás disso, né? Que é uma disciplina que, querendo ou não, ela não é complicada, mas a forma

com que ela posta no município torna ela complicada, né?

A2: Ela é trabalhosa de ser ministrada por não ter o conteúdo específico, não haver um

comprometimento da própria coordenação, né? De pontuar essa disciplina como importante

também, eu acho que perpassa por aí e ver métodos para a disciplina, já que ela não tem um

conteúdo específico do que ela pode ser mudada, quais são os assuntos que podem ser

ministrados. Então, o professor ele tem que correr atrás e tu vai num município que não tem

hora atividade, que tudo é feito de forma imediata, é mais fácil, mais cômodo, ele pegar uma

disciplina que ele já tem conhecimento daquilo, que ele não precisa ir atrás, porque uma coisa

é tu morar na Amazônia e se formar aqui na região, outra coisa é tu conseguir adquirir assuntos

que discutam, que vá discutir na região. Têm alguns professores na universidade de falam que

já tamos pesquisando há 30 anos e até hoje a gente não conhece. Imagine alguém que, apesar

de fazer uma faculdade aqui, não se interessou, foi mais fazer assuntos globais e nunca se

interessou de pesquisar a região? Fica extremamente complicado. E mais complicado ainda

quem não é da região, que literalmente nunca viu dentro do seu currículo universitário

assuntos sobre a Amazônia.

Gabriel: Certo. Tem duas perguntas ainda para encerrar. Uma delas é a questão da formação

continuada. Você acredita que é necessário uma formação continuada para a disciplina de

Estudos Amazônicos?

A2: Eu acredito que sim. A formação continuada creio que ela pode tirar, realizar alguns

subsídios em relação ao pensamento do professor, caminhos, propostas que podem ser. Eu

acho que a interação dos professores da disciplina, não só com os teóricos da Amazônia, mas

com outros também, é importante para o desenvolvimento da educação porque a educação

nunca é fechada e parada literalmente, é um processo. Nenhum sociedade é igual e nenhum

processo de ensino é igual, né? E esses mudanças as escolas tem que acompanhar e ela só

consegue acompanhar se tiver diálogo com aqueles que tão literalmente envolvidos na

educação que são os professores, coordenadores... Então, no dia a dia, ver que esses métodos

há 30, 50 anos funcionavam, mas agora não tá funcionando, o que a gente pode fazer? Qual

são conteúdos que podem ser abordados que podem ser interessantes para determinado grupo?

Então, esse eu creio que é o principal papel: questão de conteúdo em si, as formações. Eu creio

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que hoje em dia, pelo menos no município, boa parte já são formados, já têm um conhecimento

específico na sua área, porém, em Amazônia, o conteúdo de Estudos Amazônicos, já é um

pouco mais difícil, né? Porque muitos não, nunca perpassaram as suas pesquisas acadêmicas

próximo do estudo literalmente sobre Amazônia. Alguns podem ter sido sobre educação em

si, né? Mas não literalmente voltado para o contexto social político educacional da Amazônia,

então, a formação ela pode tentar fazer essa contribuição em tentar ver e ajustar quais são as

possibilidades que podem ser apontadas para a disciplina.

Gabriel: Eu tenho uma visão um pouco parecida. Eu acredito que a formação, ela não vai ser

a salvação, mas ela pode dar alguns encaminhamentos importantes. Assim, você até falou no

seu discurso, que a disciplina acaba sendo uma disciplina interdisciplinar, né? E, para trabalhar

com a disciplina de Estudos Amazônicos, você precisa fazer com que os professores entendam

o que é interdisciplinaridade e como trabalhar a interdisciplinaridade em sala de aula. Lógico,

pegando um pouco de cada um desses profissionais, o profissional de Artes, de História, de

Geografia, de Matemática, de Ciências, colocasse a galera para refletir sobre a importância da

Amazônia e a importância deles na formação de uma consciência ambiental, uma consciência

política, dessa galera aí que tá saindo no Ensino Fundamental, tá entrando no Ensino

Fundamental, que tá indo pro Ensino Médio para eles terem uma consciência um pouco mais

reflexiva do que é a Amazônia e do que é morar na Amazônia e qual é a importância da

Amazônia. E, para finalizar, uma pergunta até um pouco polêmica, diante de tudo o que a

gente conversou aqui, você acha que a disciplina de Estudos Amazônicos, ela é constituída de

uma identidade como disciplina? Se ela tem, assim como a disciplina de Geografia, de

História, que tem a sua identidade a partir da sua formação de seu processo histórico como

disciplina? Você acha que a disciplina de Estudos Amazônicos, que, ano que vem, vai fazer

20 anos, ela hoje ela tem essa identidade como disciplina?

A2: Olha, como disciplina em si, até mesmo porque é literalmente obrigatório fazer provas

para ela. Ela reprova, né? Então, ela, como estrutura, ela é colocada como uma disciplina. Eu

até mesmo vejo que, nas escolas, os professores atualmente não vejo eles identificando como

que seja uma disciplina que 'tanto faz', como a disciplina de religião, já acho que creio que tá

um consenso que 'não, só passa'. Agora Estudos Amazônicos não, por eu acho que ela já é

uma visão mesmo dos professores de que ela também é importante, e ver que os conteúdos

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que são dela são necessários eles consideram uma disciplina, não em grau de importância,

hierarquização das próprias disciplinas e isso não é só com Estudos Amazônicos, né?

Comparado Estudos Amazônicos com Matemática, com certeza, eles vão botar Matemática

mais importante. Estudos Amazônicos e Língua Portuguesa, vão botar, assim como História,

Língua Portuguesa, Matemática, mais importante. Diga em vários estados que querem

diminuir essas disciplinas de Humanas, né? E valorizar as disciplinas Exatas. Que há uma

hierarquia entre as disciplinas existe, né? Não é de agora, mas Estudos Amazônicos está

inserido nesse contexto, não é que ela não seja considerada uma disciplina.

Gabriel: Você tem mais alguma, alguns questionamento que, durante a nossa entrevista você,

por um acaso, surgiu em sua mente que queira me perguntar, que queira rolar um debate,

alguma coisa do tipo ou você acha que as perguntas, elas possa ser...

A2: Tu acredita que a disciplina de Estudos Amazônicos possa ser feito um ensino de terminar

a disciplina e ser feito de forma interdisciplinar? Tu acredita que isso pode ser feito?

Gabriel: Tu fala assim de uma forma transdisciplinar? Transversalmente? Acredito, porém

vai recorrer naquilo que tu falou dos professores não terem a mesma responsabilidade do que

uma disciplina como ela existe, porque, por exemplo, se você deixar que a disciplina de

Estudos Amazônicos deixe de existir, você exclui ela e coloque para ela funcionar de forma

transversal, eu acredito que ela vai perder em grau de importância e os professores que já não

eram preparados, principalmente os de História e Geografia, você tira esses dois profissionais,

que já têm um certo preparo, os outros professores já não têm esse preparatório para trabalhar

com essa disciplina e você coloca essa temática transversal para eles, eu acredito que não

funcionaria. A gente tira como exemplo sabe o quê? A questão da/dos conteúdos da afro, que

tem aquela lei lá dez mil e não sei o que, então que você tem a obrigação de trabalhar esses

conteúdos de forma transversal, isso é trabalhado? Eu confesso que, na Geografia, isso é pouco

trabalhado. Acredito que até o profissional de Geografia, ele pode até trabalhar em

determinado momento, mas ele vê isso como um caso do professor de História que tem a

obrigação de trabalhar. Ele não entende que ele também pode trabalhar de forma transversal

e tem uma lei que praticamente obriga ele fazer isso. Então, eu acredito que se a disciplina

deixasse de existir e fosse para ir para uma forma transversal iria acontecer a mesma coisa. Aí

a gente ia perder um instrumento muito importante, até mesmo de resistência. A disciplina

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hoje ela só não é mais importante, em termo de resistência, resistência da própria população,

é porque ela é mal estruturada, no meu ver, porque, se ela fosse melhor estruturada, lógico

que não depende só da disciplina, depende de todo outro contexto de estrutura da escola, da

nossa educação pública que não é uma educação pública, não vou nem tocar na questão da

qualidade, mas ela não é levada a sério, entendeu? Mas eu acredito que, se cada um de nó

fizermos o nosso papel de levar a disciplina de Estudos Amazônicos a sério, levar esse

conteúdo, não nem dizer a sério, mas levar ele como uma proposta de reflexão pros alunos,

para fazerem esses alunos refletir no que esse profissional, no que esse profissional, a

importância da Amazônia pra essa juventude aí, talvez essa consciência, ela se aflore e a gente

possa viver em um ambiente mais saudável futuramente. Essa é a importância, ao meu ver.

Só? Muito obrigado, A2.

A2: Espero ter ajudado.

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APÊNDICE O – Transcrição da entrevista com o Profª A3

Gabriel: Estou aqui, neste momento, agora, com a professora A3 da EMEF Rio Tocantins -

CAIC. Primeiramente vou pedir autorização dela pra gravar essa entrevista, que trata-se da

pesquisa de mestrado do pesquisador Gabriel Renan Neves Barros, e a pesquisa do professor

de Estudos Amazônicos e a sua formação no município de Marabá, estado do Pará. Professora

A3, você permite que eu grave essa conversa? A título de pesquisa para ser usada na

dissertação de mestrado, sendo que eu não vou usar o seu nome, vou apenas usar as iniciais

para preservar a sua identidade? Sim ou não?

A3: Sim, permito.

Gabriel: Obrigado. É o seguinte: nós vamos ter uma conversa informal agora, tá? Nada de

formalidade. Só o início que era formal. Então, A3, como eu falei, a minha pesquisa é sobre

os professores de Estudos Amazônicos, estou pesquisando um pouco sobre a formação desses

professores. Eu quero saber quem são esses professores. Eu quero saber como é que a

disciplina é tratada aqui em Marabá e tenho algumas perguntas para fazer para você. A

primeira pergunta é se quando você trabalhava com a disciplina você gostava de trabalhar com

a disciplina ou era apenas para você complementar sua carga horária.

A3: Bom, a minha formação é Geografia, né? Então, através da vertente da Geografia que eu

comecei a trazer a possibilidade de dar aula pra Estudos Amazônicos. Inicialmente eu comecei

a trabalhar pra complemento de carga horária. E, ao longo da disciplina, o que eu senti a

dificuldade, ao ministrar o conteúdo de Estudos Amazônicos, é que, infelizmente, ainda não

há um parâmetro curricular adequado, que possa trazer um uma simulação, né? De assuntos

ordenados para a gente poder tá desenvolvendo, né? Alguns se baseiam em uns livros muito

antigos e outros nem têm material, ou organizado ainda para ministrar aula. Então eu comecei

a ter um carinho com a disciplina, no momento em que eu comecei a ver a necessidade de

organização, e aí eu fui em busca de materiais, vídeos, documentários para poder utilizar

dentro da sala de aula. Hoje em dia a maior dificuldade, eu acredito, de todos os professores

de Estudos Amazônicos na rede municipal de Marabá é justamente ter esse currículo de

Estudos Amazônicos preparado, por quê? Observo que alguns professores, por não ter esse

ordenamento ainda definido, utilizam assuntos que são lá do 6º ano, que é da etapa ainda do

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início da colonização da Amazônia e trazem esses assuntos para abordar, por exemplo, num

8º ano que já deveria tá falando dos órgãos, né? Que foram programados para a organização

da Amazônia, como a SUDAM, como o SPEVIA, como outros órgãos também. E aí saber

distinguir essas divisões que a Amazônia passou a ter ao longo do tempo. Eu comecei a ter

um carinho maior, um olhar diferenciado, quando eu vi as dificuldades e ia em busca de um

ordenamento e uma solução para as aulas, mas, de fato, ainda há uma carência muito grande.

Os livros que têm pra serem utilizados são limitados, muitos deles não contemplam, de fato,

as abordagens, principalmente que são levadas pro futuro estudante de vestibular. Eles não

trazem uma preparação tão grande assim, de vestibular mesmo. E eu acho que ainda há muito

para ser feito e discutido sobre a organização dos temas para cada ano e série, né? E,

posteriormente, entrar em um acordo até de fazer um uma preparação para os profissionais,

pois o que eu observo é que não são profissionais só da área de geografia, que a gente tem

uma afinidade maior na Geografia? Sim. O professor de História também tem, de certa forma,

mas Geografia ela abrange muito a questão amazônica. E a questão amazônica

ambientalmente e em patrimônio, ela é uma questão muito abrangente, por isso a vertente

Estudos Amazônicos ela traz os vestígios históricos e geográficos da Amazônia. Então, tanto

os professores de Geografia quanto os professores de História acabam fazendo essa,

ministrando essa disciplina, não é?

Gabriel: Você acredita que a disciplina Estudos Amazônicos que pode ser trabalhada de

forma interdisciplinar?

A3: Olha, acredito que sim. Em alguns casos eu acho até muito interessante, como essa

parceria de História e de Geografia, né? Eu acho que a Amazônia ela contempla a nossa região.

Ela está instalada dentro da nossa realidade. E ela precisa ser ainda explorada em

conhecimento, principalmente, por conta de nós termos muitas áreas ribeirinhas que a gente

pode estar tendo a dinâmica e cruzando a realidade com o patamar histórico até econômico

mesmo da região. O que eu ainda fico pensativa é sobre profissionais de outras áreas que

assumem as cargas horárias de Estudos Amazônicos sem a definida preparação, por respaldo

mesmo do conhecimento, que assumem verdadeiramente as carga horárias e não abraçam a

disciplina. Temos alguns profissionais de outras áreas como Língua Portuguesa, pedagogos,

não só aqui no município de Marabá, mas também em outros municípios acabam assumindo

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essa disciplina e que eu vejo que, na verdade, essa falta de profissional e essa falta de

organização e cuidado com a disciplina de Geog... Estudos Amazônicos gera um

consequências para a educação, porque deveria ter uma preparação, uma formação melhor

para esses profissionais e até as nossas áreas, não só aí vertentes da nossa floresta amazônica,

a biodiversidade, os nossos produtos e os nossos rios que tão agora sendo auges de assuntos

na mídia, no mundo inteiro, isso deve ser mais explorado, porque, dentro da população

ribeirinha, existem ainda muitas comunidades carentes de conhecimento. Então eles não

sabem a verdadeira riqueza da Amazônia e a verdadeira importância desse local que eles

habitam. Então, para a gente que tá na educação, já é difícil a gente conseguir abraçar a nossa

região amazônica com verdade, mesmo tendo conhecimento, imagine para quem não tem esse

conhecimento, né? O quanto que se perde não só da cultura, dos costumes, mas também das

nossas riquezas e das possibilidades de crescimento intelectual na linha de conhecimento e

informação.

Gabriel: Então, você acredita que se não for um profissional de Geografia e o de História fica

um pouco complicado para os profissionais de outras áreas trabalharem com a disciplina, é

isso?

A3: Sim, porque a disciplina de Estudos Amazônicos, ela demanda muito tempo para

organização, como eu já relatei, ela não tem grandes arquivos já preparados, livros com

grandiosos conteúdos. São poucos os autores que ousaram fazer uma ordenação desses

assuntos. Então, um profissional que não é da área nem de História, nem de Geografia, que

Geografia é a abordagem muito ampla sobre a questão da Amazônia, esses professores vão

demandar um tempo ainda muito grande para fazer uma organização desse material. Não estou

falando da capacidade intelectual e sim da demanda de tempo, em planejamento de aula que

aquele professor de Geografia já veio com essas bases, apesar de não ter tido uma formação

específica no assunto, mas teve disciplinas complementares direcionadas para a Amazônia,

assim como o professor de História tem aqueles fatos históricos amazônicos que ele também

traz essa vertente já de organização e outros profissionais já vão sentir essa dificuldade.

Primeiro que o conteúdo é grande, não é pequeno. A forma de organizar os detalhes cada

situação, de cada assunto vinculado à Amazônia, são assuntos que um puxa o outro, é uma

cadeia histórica e geográfica. Então se a pessoa vai ministrar sem uma linha de pensamento,

sem uma cadeia de formação e uma linha de raciocínio contínuo, aonde uma coisa puxa a

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outra, o profissional se perde e aí ele perde muito tempo, se ele é um pedagogo, se ele é um

da área das línguas, ele vai perder muito tempo, demandando essa organização desse material.

E aí, de certa forma, ele é só com o tempo que ele vai desenvolver uma habilidade para tá

tratando as minúcias da Amazônia com esses alunos.

Gabriel: Você acha, então, que, na sua graduação, no currículo da sua graduação, houveram

disciplinas que hoje te dão conta de ser profissional da área de Estudos Amazônicos?

A3: Sim, dentro da graduação de Geografia, a gente teve uma disciplina que era voltada para

a Amazônia, era 'O desenvolvimento da Amazônia - etapa I' e teve a 'etapa II', mas eu não

recordo agora o nome da etapa II qual era, mas era voltado para os recursos, para o

desenvolvimento, para entender a regionalização, os povos e até mesmo a cultura. Então, além

dos registros históricos que a gente já vem vendo no decorrer do curso, tem a pesquisa em

campo que a gente faz porque, apesar de ser muitas vezes a pesquisa em campo voltado para

a Geografia Física, ela acaba perpassa pela Geografia Humana, né? Que traz a cultura, os

costumes, e, como a gente tá na região amazônica, a gente faz a correlação do nosso espaço

amazônico das disciplinas com a pesquisa de campo, né? A vida dos ribeirinhos, a fauna, o

foco de renda deles, como é que eles trabalham, o remanejamento e tudo, e uma série de

questões, inclusive territoriais, né? A própria questão do MST, a própria questão da reforma

agrária tratam dessas realidades dentro da Amazônia. Então a gente tem um leque, uma

vertente de assuntos vinculados à Amazônia, é a nossa realidade maior. Então o profissional

de geografia, ele realmente tem uma visão bem mais ampla, ele não vai trazer só a linha de

pensamento das correntes geográficas, mas como de fato a vivência no território amazônico e

como ele se desenvolveu. Então esse olhar é importante. Dentro dos cursos de Geografia a

gente tem a oportunidade de contemplar isso.

Gabriel: Legal. Muito legal a sua fala. E a respeito das disciplinas? Você acha que a disciplina

ela é fundamental na grade de disciplinas do município de Marabá? Você acha que é relevante

a existência dela?

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A3: Bom, quanto a essa pergunta, é até importante a gente citar que, há um tempo atrás, eles

estavam pensando em extinguir a disciplina Estudos Amazônicos, o que eu acho um absurdo,

se o Brasil quer tá querendo mudar o quadro e a realidade que ele se encontra hoje, ele tem

que investir na educação e reduzir carga horária ou extinguir disciplinas como Estudos

Amazônicos é um crime, né? Porque a Amazônia, ela é uma riqueza, pro mundo, então, a

partir do momento em que a gente veda os olhos das nossas crianças que trazem a base da

educação e a gente desvaloriza, dentro da própria educação, a Amazônia, para mim isso é um

crime a nível mundial, porque nós sabemos que a Amazônia, ela tem trata de várias questões,

a divisão pelo IBGE dentro do Brasil, a divisão sobre a Amazônia Legal e as suas inclusões

de estados, a questão da divisão Pan-Amazônica, que é a Amazônia internacional. Então,

quando a gente trata com esse olhar internacional, que ela precisa ser compreendida

nacionalmente para depois ter essa compreensão mais ampla, e se, dentro do nosso território,

nós que moramos aqui, vivemos essa realidade, temos acesso a ela, ao conhecimento da

grandiosa riqueza que é a Amazônia, nós não valorizamos, a gente abre o patamar de o externo

ter um olhar mais criterioso sobre a Amazônia do que nós mesmo, então, é até perigoso se

tratar da Amazônia com desprezo, porque a Amazônia, ela é uma riqueza mundial e, se nós

estamos dentro dela e acabamos com essa disciplina, vamos acabar então com diversos

olhares, críticas, visões de conhecimento, de economia, de possibilidades de desenvolvimento

do país, né? Como não só como o Brasil, mas como outros países que fazem parte da

Amazônia e abrangem certa parte da Amazônia. Então, assim, eu vejo que há uma necessidade

de um cuidado maior com essa disciplina. Ela precisaria sim desse carinho dos educadores e,

principalmente, dos gestores e de quem está a frente da educação não só no município de

Marabá, mas no Brasil, em diversos estados, porque até os estados que não estão contemplados

com a nossa floresta amazônica, eles precisam desse conhecimento, porque a Amazônia, ela

traz recursos financeiros e econômicos para o mundo inteiro, não é só para o Brasil. E as

pessoas que não têm esse conhecimento, elas não vão saber discutir, não vão ter bases para

discussões futuras e até para, vamos dizer, uma questão governamental ter uma postura de

decisões, né? Vamos imaginar que tenha algo relacionado com as águas da Amazônia, que

são águas doces, a gente sabe que o mundo brevemente vai sofrer questões sérias de redução

drásticas de consumo de água. A Amazônia vai ser o foco e, se a gente não tiver conhecimento,

a gente não vai ter argumento e nem análise crítica para poder defender a nossa Amazônia.

Então, é importante e infelizmente ainda não vejo essa real preocupação por parte da educação

de fato e isso a nível governamental âmbitos estaduais, municipais, até chegar nos nossos

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municípios e até mesmo nas zonas rurais de interiores, eu acho que é fundamental essa

discussão sobre Amazônia.

Gabriel: Legal. Interessante. Para encerrar, você sente falta de uma formação continuada em

Estudos Amazônicos?

A3: Sinto. Sinto falta. Por quê? Porque o material, como eu já disse, o recurso que a gente

busca é um recurso de um acervo praticamente particular do professor. A gente não tem um

acervo tão grandioso assim para explorar muitos livros, muitas vertentes. Então, o nosso ponto

de apoio acaba sendo vídeos, documentário, né? Que a gente traz para a realidade da sala de

aula, até para exemplificar melhor as disciplinas, mas ainda tem alguns assuntos que ainda são

muito carentes de material. Então, se tivesse um profissional que tivesse condições de fazer a

capacitação desse professor e trazer novas formas de abranger o conteúdo, de ministrar e até

mesmo de trazer materiais que ainda não são disponíveis na área do município, com uma

formação específica sobre os assuntos amazônicos, eu tenho certeza que o aproveitamento

seria muito grande dentro de sala de aula com o repasse de conhecimento para os alunos e

informações sobre todo histórico da nossa amazônia e aqui principalmente que a gente tá

diante da Transamazônica, que foi uma grande revolução de transformação no nosso espaço

amazônico e que pode ser muito utilizado como material vivo e histórico geográfico para

conhecimento na sala de aula.

Gabriel: Eu falei que ia encerrar, mas eu tenho que fazer essa pergunta para ti.

A3: Tá.

Gabriel: O que é que tu espera da disciplina?

A3: Estudos Amazônicos?

Gabriel: O que que tu espera assim, no futuro? Tu acredita que pode melhorar? Tu acredita

que a gente tem uma perspectiva quando a gente fala da disciplina de Estudos Amazônicos?

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A3: Bom, a partir do momento que a gente faz essa luta para que a disciplina de Estudos

Amazônicos, ela não seja encerrada, esse olhar muitas vezes é criticado porque as pessoas

acreditam que a gente tá lutando pela carga horária e, na verdade, não é, a luta não é a carga

horária. A luta é poder mostrar pro mundo o valor da disciplina, principalmente, voltada para

os olhares de quem vive na Amazônia. Então, a gente tem que fazer essa valorização aqui, né?

E a importância dela é como, eu posso dizer, ela saiu das vertentes da Geografia, da História,

justamente por ela ser muito ampla e, quando você traz uma disciplina que, na verdade, ela

foi derivada de outra, por ela ter uma grandiosa importância, uma grandiosa extensão, você

implanta ela na linha educacional, vê que realmente ela é uma disciplina que necessita dessa

abordagem de valorização nacional e internacional, começa a atuar com a disciplina, ela é

foco de vários vestibulares, em vários estados, e internacionalmente também ela é muito

discutida em conta da biodiversidade, da grandiosa riqueza que tem na Amazônia, e aí agora

no patamar que ela já estar implantada, apesar de todas as dificuldades que tem, ela surtiu um

efeito na visão crítica em debates de conhecimento pros cidadãos que estão se formando, ser

encerrada e ser eliminada da linha educacional seria a gente tá tirando a possibilidade de um

olhar mais analítico crítico e tirando até a visão de fato de futuros cientistas e pesquisadores

se aprofundarem nesse conhecimento amazônico e trazerem até novas ideias para serem

implantadas com relação à Amazônia. Então você tá vedando olhares, tá vedando

possibilidades de crescimento, então, a minha expectativa, quando eu estou em sala de aula

ministrando, claro que num âmbito público você tem diversas dificuldades de infraestrutura,

utilização de recursos didático, a falta às vezes até mesmo do próprio material como papel,

como aparelhos para a gente poder ministrar aulas com vídeos e documentários, mas se eu

tenho a possibilidade de abrir a visão de um aluno e esse aluno sair daqui para um vestibular

e lá dum curso, seja qual seja qual curso ele esteja fazendo, ele traçar a transdisciplinaridade

e puxar alguma abordagem amazônica e trazer um benefício para a Amazônia, seja na

biodiversidade, seja no âmbito do PH da água, seja na área pesqueira, seja na área do

remanejamento, do florestamento, reflorestamento ou em qualquer área do meio ambiente ou

da produção econômica, até política e territorial, esse aluno ele vai tá utilizando o

conhecimento que ele teve aqui na base. Então, uma grandioso advogado que trata das

questões territoriais, se ele tá dentro da Amazônia e ele vê essa disciplina como base, ele vai

ter argumentos, ideias críticas e vai saber trabalhar melhor essas questões dentro da profissão

dele. Um engenheiro de pesca vai ter a oportunidade de conhecer sobre os rios, sobre a

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biodiversidade. Assim como também os profissionais da educação, meio ambiente, que

trabalham muito com a questão do desmatamento, da problemática do impacto ambiental na

Amazônia. E os políticos, a questão da economia que geral a Amazônia com essa grandiosa

riqueza para o mundo inteiro. Então, assim, são olhares que vem a partir da Geografia que se

intensificam quando a gente trata da questão amazônica e, se isso morrer, morre aí uma série

de possibilidades infinitas de uma melhoria para a nossa Amazônia, para o nosso território.

Gabriel: Muito obrigado, professora A3. Agradecemos por sua entrevista e você pode ter

certeza que você contribuiu muito para essa pesquisa.

A3: Muito obrigada, você.

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APÊNDICE P – Transcrição da entrevista com o Prof. A4

Gabriel: É, estou aqui com o professor A4 nesse momento e eu peço permissão dele pra

gravar essa entrevista. Essa entrevista tem um caráter de pesquisa e é justamente da pesquisa

de mestrado do professor Gabriel que se intitula “A formação do professor de estudos

amazônicos no município de Marabá do estado do Pará”. Professor A4 você autoriza a gravar

essa entrevista?

A4: Claro, sim autorizo sim

Gabriel: É... professor, eu tenho algumas perguntas pra fazer a respeito da disciplina, eu sei

que você já tá a bastante tempo é...ministrando a disciplina no município e...você tem muito

a contribuir com essa entrevista. A primeira pergunta que eu faço a você é a respeito da

importância que a disciplina tem a...pra o município de Marabá. Qual a importância que essa

disciplina tem?

A4: Bom Gabriel, essa disciplina, ela tem uma...ela tem um caráter importante mesmo porque

ela já começa, ela une as duas disciplinas História e Geografia né, a geografia aqui da região

à história no contexto regional mesmo. E pra Marabá que é um...que é um polo de

desenvolvimento aonde tem várias cidades adjacentes aqui próximo ao município, tem ela

como polo. E...Marabá tem muita história, tem muita história que já vem desde o período

colonial ainda passando pela/pelo império, pela república e é importante que essa população,

principalmente os alunos aí do ensino fundamental, saiba e tenha a compreensão desse

passado. Que foi um passado né, que a gente viu muita exploração, a exploração dos produtos

é...naturais, a exploração do trabalho assim como o negro os indígenas também e essa...e isso

tem que ficar na memória né, isso...isso...é...possa ter esse, esse passado e ficar na memória

dessa po/desses alunos, dos alunos justamente pra que... saber que a sua região tem uma

história e uma história que não foi sempre uma historia de...de muita alegria de muito êxito

não. Tem uma história pra chegar a esse momento de exploração, teve conflitos e mortes na

região rica em produtos naturais e que sempre foi vista com olhar de exploração econômica

pelos...pelas pessoas e assim como os países que vieram aqui nessa enorme região que compõe

aí mais de cinquenta por cento do território é...do território brasileiro

Gabriel: Okay. É...então a pergunta é relacionado a questão da formação continuada. Você

acha que é...seria importante uma formação continuada, não aos moldes, aos moldes do que

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nós vemos hoje. Mas você acha que seria importante uma formação continuada na disciplina

de estudos amazônicos?

A4: Não só acho importante como eu acho que ela deveria ser titulada. Essas formações,

inclusive aí da...da própria instituição, da própria prefeitura eu acredito muito assim que

aquela...aquelas formações né, que acontecem, ela tinha que ser TITULADO, ela tinha que

tentar título no final do ano né pra ir...pra valer como uma...até mesmo como respaldo pra

prefeitura né. E assim como também as instituições que o faz

Gabriel: É...no caso da sua graduação. A sua graduação é em Geografia certo? Foi pela

universidade de Tocantins?

A4: Foi pela Universidade Federal do Estado do Tocantins

Gabriel: Tocantins né. Você acha que ela contribuiu muito pra que hoje você seja professor

de estudos amazônicos?

A4: Contribuiu, porque o Estado do Tocantins é um Estado novo, é recente né, aí oriundo da

divisão do Estado do Goiás e essa região, tanto é que não se houve, não houve na verdade uma

recla/uma queixa na divisão por quê? Porque a região lá do Estado do Tocantins, Araguaína,

Palmas é recentemente e Gurupi e Porto Nacional essa, essas cidades elas sempre tiveram

uma...uma...um diferenciado e realmente É diferenciada pelo fato cultural né ou seja, e pelo

impacto migratório principalmente de muitos, dos nordestinos na região assim como aqui tem

também muitos nordestinos na região Norte, no Tocantins né e quando se fez a...a...a divisão

do Estado se pensou exatamente neles né. De fazer um Estado justamente com as

características de uma população que veio oriunda de alguns outros Estados né. Tanto é que

hoje pode-se dizer que o Estado do Tocantins não tem uma...uma cultura definida, pois

justamente pelo fato dessa migração acentuada de várias regiões. Mais a tua pergunta a

contribuição ela...ela foi fundamental, foi fundamental sim, porque ela também foi alvo de

discussões aí no decorrer da história principalmente essa população é mais...é...mais antiga,

idosa que participou justamente com a formação do Estado, do Estado do Goiás na...quer

queira no gado, nos produtos naturais porque tem um pouco de vegetação ainda do cerrado

mas ainda tem ainda um pouquinho dessa vegetação de grande porte que é aí a mata, que é

justamente isso a selva. Então, ela agrega sim conhecimento, isso é importante

Gabriel: É, uma pergunta fundamental pra esse/essa pesquisa é a respeito da disciplina se

você acha que ela, a disciplina de estudos amazônicos ela tem uma identidade. Você acha que

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ela é constituída de uma identidade ou essa forma que a disciplina é trabalhada interdisciplinar,

ela acaba fazendo com que a disciplina não tenha uma identidade?

A4: Gabriel, ela tem, ela tem uma identidade sim, aí isso aí é... a gente vê as instituições como

uma...a...a Semed já e...inclusive em caráter nacional quando você vai falar hoje, mudando

lá, querendo incluir na grade a questão da África né, a questão aí da...da convivência, a

chegada e... pra que isso fique na memória da população atual que houve aí a...a participação

africana, isso tá colocado no conteúdo, na...na grade escolar MESMO né, então isso tem uma

é...tem um caráter mesmo de...de contribuição você olhar pra...pra região norte e ter é....ver

que essa região, ela pode é...ela pode contribuir e contribui sim aos olhares muito tímido de

outras regiões do país, principalmente a centro-sul. Olhando pra cá né, muita gente vindo

realmente pra cá porque essa região ela...né desprovida de rodovias assim de...de...de estrutura

física né pra poder é...fazer com que as empresas possam vim pra cá né e ser também

reconhecidas né. Então, ela é sim uma...uma disciplina que tem esse caráter de contribuição

sim

Gabriel: É, duas perguntas pra encerrar, uma delas é em relação a...carga horária. Se você

tivesse disponibilidade pra trabalhar sua, toda a sua carga horária somente com a disciplina

para qual você foi formado, Geografia, é...você trabalharia só com Geografia ou...ou você

trabalha com a disciplina de estudos amazônicos porque você gosta?

A4: Olha, porque na Geografia...no curso de Geografia é...no final do curso nós tivemos uma

disciplina no curso e que ela foi importante pra...abrir o interesse pra você ir mais além né,

porque a...a... a disciplina de estudos amazônicos ela, aliás de Geografia, quando você tá na

faculdade, ela abre um horizonte pra você, não pode se falar que ela... a disciplina, ela é um

horizonte porque você pega a questão biológica quer queira quer não, dentro da Geografia e

você quer é...a questão florestal né, aí a questão, vamos dizer assim, hídrica, a questão dos

rios, então ela é uma disciplina importante e que fez com que olhasse pra....pra estudos

amazônicos, talvez a importância dos geógrafo dar aula de estudos amazônicos justamente

por isso. Tem um impacto sim histórico, a questão da história mais tem o...o geomorfológico,

a questão aí dos rios, a questão realmente da cultura de identidade principalmente da cultura

indígena né. E aí eu,eu coloraria assim...pra responder a tua pergunta, se eu tivesse uma

oportunidade de ampliar a carga horária nessa, nessa disciplina eu não veria problema nenhum

de ter porque eu trabalho com essa disciplina em Geografia também. O PSS3 que é do, que é

de... que é inclusive da própria Ceduc, o terceiro ano tem um conteúdo só de estudos

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amazônicos, eu trabalho. A questão aí da exploração mineral né, o impacto político, o impacto

financeiro né, isso tudo é trabalhado no terceiro ano né, que é...faz parte do PSS3, que tá aí se

esvaindo né, mais faz parte sim. Então, pode-se dizer que eu colocaria sim estudos amazo/

aumentaria sim a carga horária se fosse, porque dá pra ver o horizonte que é a Geografia ao

ponto de pegar...fazer com que o...o profissional, o discente, o docente é...faça aí a...a...o

trabalho né interdisciplinar, interdisciplinar mesmo né porque você, pra você tá chamando

professores pra né esclarecer sobre uma questão de química, de ciência... né, saber que tipo

de minério que já é uma área né...ou seja, saber os elementos atômicos, quantas vezes eu tive

que recorrer ao professor de química pra saber a composição mineral né, pra saber realmente

que tipo de exploração é essa de minério, qual a importância econômica dele. Nossa, isso é

extremamente importante, eu vejo como...como um avanço essa...essa união entre a...os

estudos amazônicos e a disciplina de Geografia, um avanço mesmo. Mas eu colocaria sim, me

colocava a disposição da carga horária pra aumentar né nesse, nesse contexto

Gabriel: Pra encerrar, é...qual é a sua perspectiva em relação a Amazônia e em relação a

disciplina de estudos amazônicos aqui no município de Marabá?

A4: Gabriel, eu já tive que viajar só por...talvez eu não teria tanta curiosidade se eu tivesse só

naquele livro né de Geografia, eu tive que viajar pra conhecer a região amazônica, esse meio

do ano agora, passado de dois mil e quinze eu fui conhecer o encontro do rio Tapajoz, aquilo

que...eu saí dos livros sabe? Ver a questão política, a questão da própria identidade social

daquela região e econômica também porque houve período de exploração né, a gente vê a

questão da borracha, e eu fui realmente nessas regiões né, fui também na ilha do Marajó pra

conhecer o museu né lá ne Cachoeira do Ararí que realmente tem uma história. Então eu vejo

isso como essencial, importante...uma importância enorme e contribuiu. Então eu saí dos

livros, saí dos livros pra ter uma referência, na verdade o aluno gosta de referencia, você sente

que o aluno na hora que você fala “eu fui lá, eu vi, eu peguei, eu toquei, eu conversei... nossa,

fui no teatro de Manaus, no teatro da Paz”, tudo isso é herança econômica de um período de

glamour na região e o alunado gosta disso, gosta do professor, aquele que...né...interclasse,

fora, extra classe, faz sua pesquisa né. E isso é importante, é muito importante sim Gabriel

Gabriel: Professor A4 eu agradeço pela sua contribuição, é...são poucas perguntas mesmo

mas a...a sua contribuição foi excelente para a constituição desse/dessa dissertação de

mestrado. Muito obrigado

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A4: Bom, eu desejo sucesso

Gabriel: Obrigado, professor.

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ANEXOS

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ANEXO A – Resolução Nº 01 de 20 de fevereiro de 2003

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