40
1 UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES URI CAMPUS DE ERECHIM DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA – CURSO DE MATEMÁTICA ANGÉLICA NOVELI MATERIAIS PEDAGÓGICOS CONCRETOS NO ENSINO-APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA PARA ALUNOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL: CEGOS ERECHIM 2008

UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

1

UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES

URI CAMPUS DE ERECHIM

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA – CURSO DE

MATEMÁTICA

ANGÉLICA NOVELI

MATERIAIS PEDAGÓGICOS CONCRETOS NO ENSINO-APRENDIZAGEM DE

MATEMÁTICA PARA ALUNOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL:

CEGOS

ERECHIM

2008

Page 2: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

2

ANGÉLICA NOVELI

MATERIAIS PEDAGÓGICOS CONCRETOS NO ENSINO-APRENDIZAGEM DE

MATEMÁTICA PARA ALUNOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL:

CEGOS

Trabalho de conclusão de curso, apresentado ao Curso de Matemática, Departamento de Ciências Exatas e da Terra da URI – Campus de Erechim. Orientadora: Profa. Dra. Neila Tonin Agranionih

ERECHIM

2008

Page 3: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

3

DEDICATÓRIA

Dedico esta pesquisa ao Lucas, aluno que

despertou em mim o interesse pelo tema desta

monografia.

Page 4: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço sinceramente à minha orientadora, Profa. Dra. Neila Tonin Agranionih, pelo

interesse e estímulo que dispensou a minha pesquisa durante as diferentes fases de sua

elaboração. Agradeço a todos os professores que nesses nove semestres ministraram aulas no

Curso de Matemática e que, de uma forma ou outra, contribuíram com o suporte teórico desta

idéia.

Também expresso meu agradecimento ao Charles que, junto comigo, realizou o estágio na

sala de recursos de deficiência visual e aos demais familiares pela compreensão e pelo apoio

destinado na realização desta tarefa.

Page 5: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

5

RESUMO

Este estudo sobre os materiais pedagógicos concretos no ensino-aprendizagem de matemática para alunos portadores de deficiência visual: cegos, objetiva verificar as contribuições da utilização desses materiais a este público, em específico, contextualizar historicamente e caracterizar a referida deficiência, verificar a importância dos materiais concretos para a aprendizagem de matemática e criar e construir materiais concretos para o ensino da matemática para deficientes visuais, cegos. Apóia-se em pesquisa bibliográfica ao buscar respaldo teórico sobre a deficiência e os materiais, a fim de elaborar a proposta final. A utilização dos materiais concretos no ensino-aprendizagem de cegos mostrou ser relevante, em específico, na apresentação de dois materiais propostos neste trabalho, sólidos geométricos e discos fracionários, sua eficácia foi constatada na prática pedagógica. Além de auxiliar o aluno a construir o conhecimento através da ação facilita a compreensão de conceitos antes sem sentido para o aluno.

Palavras-chave: Deficiente Visual. Material Pedagógico Concreto.

Page 6: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

6

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................07

2 DA EXCLUSÃO À INCLUSÃO: UM BREVE HISTÓRICO.........................................09

3 DEFICIÊNCIA VISUAL.....................................................................................................13

4 MATERIAIS PEDAGÓGICOS CONCRETOS...............................................................19

5 PROPOSTA DE MATERIAIS PEDAGÓGICOS CONCRETOS..................................25 5.1 SÓLIDOS GEOMÉTRICOS..................................................................................................27 5.1.1 Planificações dos Sólidos Geométricos............................................................................30 5.2 DISCOS FRACIONÁRIOS................................................................................................31

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................33

REFERÊNCIAS......................................................................................................................35

APÊNDICES............................................................................................................................37

APÊNDICE A – Planificações e seus respectivos sólidos geométricos construídos em cartoplex e sulfite 60................................................................................38

APÊNDICE B – Planificações e seus respectivos sólidos geométricos construídos em cartoplex e sulfite 60................................................................................38

APÊNDICE C – Planificações e seus respectivos sólidos geométricos construídos em cartoplex e sulfite 60................................................................................39

APÊNDICE D – Planificações e seus respectivos sólidos geométricos construídos em cartoplex e sulfite 60................................................................................39

APÊNDICE F – Planificações e seus respectivos sólidos geométricos construídos em cartoplex...................................................................................................40

APÊNDICE E – Planificações e seus respectivos sólidos geométricos construídos em cartoplex e sulfite 60................................................................................40

Page 7: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

7

1 INTRODUÇÃO

Há muito tempo já se discute sobre mudanças na educação de pessoas com necessidades

educacionais especiais. Várias declarações a respeito foram feitas e a mais importante delas é

a Declaração de Salamanca, na Espanha, em 1994. A partir dessas declarações, as pessoas que

antes estavam excluídas das atividades sociais e escolares devido às suas condições físicas ou

mentais, conquistaram mais direitos.

Em conformidade com o novo panorama mundial, no Brasil, surgiu o Programa Educação

Inclusiva: Direito à Diversidade. Esse programa do governo federal trouxe uma nova

realidade para as salas de aula das escolas em todo o país. A responsabilidade, até então, das

escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos

diferentes, alunos portadores de necessidades educacionais especiais, uma vez que o objetivo

do programa é alusivo a esta prática: disseminar a política inclusiva nos municípios brasileiros

e apoiar a formação de gestores e educadores para atuarem como multiplicadores no processo

de transformação dos sistemas educacionais inclusivos; a meta de abrangência do programa

para o ano de 2006 era atingir 83,5% dos municípios brasileiros.

O comprometimento dos professores não deve existir somente porque a legislação obriga,

mas sim, porque os professores precisam ter consciência de que uma vida está em suas mãos e

esse aluno nada tem a ver com o apoio ou, talvez, a falta de apoio ao professor. Se o

comprometimento não existir, esse aluno será privado de seu direito à educação e alienado a

condições de vida inferiores às que poderia usufruir, se seu potencial fosse trabalhado. É

imprescindível evitar o detrimento dos direitos e da auto-estima dos alunos com necessidades

educacionais especiais.

No caso específico da educação matemática para deficientes visuais, cegos, o empenho

precisa ser ainda maior, pois como a matemática é explorada visualmente, torna-se

indispensável a elaboração de materiais tateáveis, o que exige tempo e criatividade do

educador. O professor que atua em salas de recursos para cegos, mesmo com formação

específica, depara-se carência de materiais e sugestões para trabalhar com a matemática junto

Page 8: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

8

a esta realidade. O trabalho monográfico que nos propomos a realizar insere-se na

necessidade de quebra de paradigmas da educação regular em conformidade com o Programa

Educação Inclusiva e também na realidade das atuais salas de recursos para cegos, buscando

contribuir tanto para o processo de ensino, apresentando sugestões para o trabalho com a

matemática através de materiais pedagógicos concretos, quanto para a aprendizagem da

matemática para deficientes visuais.

Por isso, procuramos investigar quais contribuições a utilização de materiais concretos

proporciona ao ensino-aprendizagem de matemática para alunos portadores de deficiência

visual, cegos, tendo como objetivo verificar essas contribuições, caracterizando a referida

deficiência e verificando a importância dos materiais concretos para a aprendizagem de

matemática.

Na segunda seção, apresentamos o contexto histórico desde o início da era cristã em

Roma, até os dias atuais, mostrando as mudanças significativas na aceitação e educação dos

alunos com necessidades educacionais especiais.

A terceira seção aborda as particularidades da deficiência visual sob dois aspectos

diferentes: quando a criança nasce cega e quando a cegueira é adquirida. Também traz

aspectos sobre a leitura, a matemática e, naturalmente, o tato.

A quarta seção enfatiza os materiais pedagógicos concretos, levando em consideração dois

pontos de vista opostos, autores que valorizam sua utilização e autores que os repudiam.

Aborda cuidados necessários ao uso dos mesmos em sala de aula.

Na quinta seção, apresentamos duas propostas de materiais pedagógicos concretos

construídos e já utilizados com eficácia pelos acadêmicos desta Universidade, Angélica

Noveli e Charles Luis Batistella, na sala de recursos de deficiência visual da Escola Estadual

de Ensino Médio Professor João Germano Imlau.

A última seção traz as considerações finais, ou seja, as conclusões desta pesquisa.

Page 9: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

9

2 DA EXCLUSÃO À INCLUSÃO: UM BREVE HISTÓRICO

Antes de falar sobre o tema deste trabalho monográfico, materiais concretos e o ensino de

matemática para cegos, torna-se necessário fazer um panorama histórico sobre a educação de

alunos com necessidades educacionais especiais. Buscamos com isto evidenciar a relevância

do tema.

É fato conhecido que desde a antiguidade os indivíduos portadores de algum tipo de

deficiência são discriminados. Em alguns povos eles chegavam a ser assassinados, episódios

comprovados nas palavras de Misés (1977, p. 14 apud CARDOSO, 2006, p. 15) sobre o início

da era cristã em Roma

Nós matamos os cães danados e touros ferozes, degolamos ovelhas doentes, asfixiamos recém-nascidos mal constituídos; mesmo as crianças se forem débeis ou anormais, nós as afogamos, não se trata de ódio, mas da razão que nos convida a separar das partes sãs aquelas que podem corrompê-las.

Em determinadas culturas indígenas, ainda hoje, crianças são abandonadas para morrer.

Esses povos justificam que elas, as crianças “imperfeitas”, não sobreviveriam na mata.

Percebemos então que a luta das pessoas com Necessidades Educacionais Especiais (NEE) foi

sempre muito árdua. Enquanto na antiguidade lutavam para se manterem vivas, em nossa

época, lutam para serem aceitas na sociedade, estão vivos, contudo isolados, desprovidos de

apoio social e condenados a uma realidade que não almejaram, sem perspectivas de melhora.

Ao longo dos séculos, ocorreram mudanças, conforme Bianchetti e outros (1998, p. 45

apud CARDOSO, 2006, p. 16):

De todo modo, diversas vantagens se ofereceram para o deficiente ao passar das mãos do inquisidor às mãos do médico. Passando pelas instituições residenciais no século XIX e as classes especiais no século XX. No século XIX, os médicos passaram a dedicar-se ao estudo desses seres diferentes - os deficientes, como eram chamados.

Page 10: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

10

Cardoso (2006) refere que Jean Itard (1775-1838) foi considerado o pai da Educação

Especial, pois dedicou-se por muito tempo à tentativa de educar Vitor, menino portador de

deficiência mental profunda. Itard acreditava que Vitor, também denominado menino lobo,

não havia recebido, durante sua infância, estímulos sensoriais, o que vem ao encontro de uma

concepção evolucionista da inteligência. Esta foi a primeira tentativa de educar uma criança

com NEE (CARDOSO, 2006).

O surgimento da Educação Especial proporcionou um grande avanço na vida das pessoas

com NEE, todavia, ao mesmo tempo que assumiu sozinha a responsabilidade da sua

educação, fortaleceu a separação desta parcela da população dos ditos normais. Podemos

notar que, apesar de todos os esforços, a segregação continuou. Percebendo-se isso, na década

de 70, aconteceu grande mobilização dos países no intuito de mudar essa realidade. Na década

de 80, foi trocada por um movimento de integração no qual todas as pessoas deveriam ser

educadas na rede regular de ensino. Também nessa década, a utilização da expressão

excepcionais foi substituída por outra, alunos com necessidades educacionais especiais

(CARDOSO, 2006).

A United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, UNESCO, ou seja,

Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura, define a nova

designação:

Falar de necessidades educacionais especiais implica enfatizar aquilo que a escola pode fazer para compensar as dificuldades do/a aluno/a, já que, neste enfoque, entende-se que as dificuldades para aprender têm um caráter interativo e dependem não apenas das limitações dos/as alunos/as, mas também da condição educacional que lhe é oferecida (UNESCO, 1994, p. 14 apud CARDOSO, 2006, p. 18).

A partir desta conceituação fica explícito o papel e a responsabilidade da comunidade

escolar, porque o sucesso da integração fica à mercê do comprometimento da sociedade em

relação à educação dos estudantes com NEE. A escola precisa abandonar seu caráter elitista

para acolher um novo público que até então era de responsabilidade única e exclusiva da

Educação Especial.

Foram realizadas muitas conferências para discutir esse assunto e a mais importante delas

Page 11: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

11

foi a Conferência Mundial de Educação, na Espanha, em 10 de junho de 1994, que contou

com a participação de noventa e dois países e vinte e cinco organizações internacionais,

constituindo-se na Declaração de Salamanca. Nessa declaração, são assegurados os direitos

dos alunos com necessidades educacionais especiais de participarem do processo educativo

em escolas regulares e, mais, não desconsiderando as especificidades de cada aluno, garante

que cada criança será respeitada e estimulada a fim de obter nível satisfatório de

aprendizagem. Esta declaração não é um simples documento, pois chama a responsabilidade

da integração, inclusão para toda a sociedade e, principalmente, apela para os órgãos

financeiros, para que estes ajudem a tornar realidade esta proposta e afirma: “Escolas

regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de

combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma

sociedade inclusiva e alcançando educação para todos[...]” (DECLARAÇÃO DE

SALAMANCA, 1994).

A Declaração de Salamanca repercutiu em muitos países. No Brasil, em resposta ao novo

panorama da educação mundial, iniciou em 2003 o Programa Educação Inclusiva: Direito à

Diversidade, que contou com cento e quarenta e quatro municípios-pólo que funcionaram

como multiplicadores da formação para os demais municípios. O objetivo do programa é

disseminar a política de educação inclusiva nos municípios brasileiros e apoiar a formação de

gestores e educadores para atuarem como multiplicadores no processo de transformação dos

sistemas educacionais em sistemas educacionais inclusivos. Em 2003, os dirigentes da

educação especial dos municípios-pólo participaram do I Seminário Nacional de Formação de

Gestores e Educadores e, em 2005, do II Seminário. Em 2004, os municípios-pólo assinaram

o Termo de Adesão e assim receberam apoio financeiro para iniciar as mudanças. O programa

tinha como meta atingir, em 2006, 83,5% dos municípios brasileiros. A esperança de

educação melhor através da inclusão ocasionou crescimento de 76,4% da matrícula de alunos

com NEE na rede regular de ensino (PROGRAMA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: DIREITO À

DIVERSIDADE – DOCUMENTO ORIENTADOR, 2006).

Conforme notícias disponíveis no portal MEC, (SEESP – Altas Habilidades/

Superdotação a Inclusão Escolar, BRASIL, 2008) até março deste ano, 2008, serão trinta e

três mil professores da rede pública qualificados para trabalhar com alunos com NEE.

Segundo este órgão, com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em

Page 12: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

12

1996 – Lei nº 9.393 de 20 de dezembro de 1996 – e Plano Nacional de Educação em 2001, o

atendimento foi reconhecido legalmente. No Art. 59, a lei dispõe que os sistemas de ensino

assegurarão aos educandos com necessidades especiais, a terminalidade específica para

aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do Ensino Fundamental, em

virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar

para os superdotados.

Em suma, há muito tempo, a educação de pessoas com NEE vem sendo repensada, ou

melhor, discussões sobre o assunto têm obtido resultados, tornando-se leis que visam a incluir

os alunos com NEE no processo educacional. Mesmo quando os alunos não puderem alcançar

o nível exigido para conclusão, como acima mencionado, a LDB apresenta um caminho para

terminalidade específica para cada caso. A seguir, abordamos as especificidades dos alunos

deficientes visuais.

Page 13: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

13

3 DEFICIÊNCIA VISUAL

Em tempos antigos, tempos bíblicos e mitológicos, a cegueira era considerada um castigo

por um passo mal dado ou então pelo destino. Um exemplo bem conhecido é o de Santa Luzia

que, ao ser presa por optar abandonar o noivo e entregar-se à vida religiosa, teve seus olhos

arrancados como castigo; por milagre, seus olhos voltaram ao normal. Ainda hoje pessoas

cegas sofrem com dois extremos, o repúdio ou a superproteção da família, em geral.

Quando falamos em deficientes visuais, generalizamos inúmeros tipos de distúrbios

visuais. Conforme Gil (2000), denominam-se deficientes visuais as pessoas que têm cegueira

até visão subnormal. Pessoas com miopia, estrabismo, astigmatismo, hipermetropia e outras

patologias desta magnitude não se encaixam nesta denominação. A visão subnormal ou baixa

visão constitui-se na alteração da capacidade funcional da acuidade visual, redução

importante do campo visual e da sensibilidade aos contrastes e limitações de outras

capacidades, em outras palavras, o portador de visão subnormal é incapaz de enxergar com

clareza para contar os dedos da mão a uma distância de três metros, à luz do dia: é uma pessoa

que tem resíduos da visão. Há pouco tempo essas pessoas deixaram de ser tratadas como

cegas e tiveram seu potencial aproveitado (GIL, 2000).

Neste trabalho nos detemos na cegueira completa. Portanto, quando falarmos em

deficientes visuais, estaremos nos referindo somente aos cegos. Os indivíduos que nascem

cegos desenvolvem-se normalmente até os quatro meses de idade, exceto ao desenvolvimento

relativo à visão. A partir daí apresentam diferenças em relação ao desenvolvimento dos

indivíduos videntes. Seu mundo limita-se ao alcance de seus braços, mesmo porque não

podem ter interesse por objetos que não podem sentir, pois se não os sentem nem sabem da

sua existência. Apenas terão conhecimento da existência de algo além de seu mundo, além do

alcance de seus braços, se os objetos emitirem sons, no entanto, nem todos, ou melhor, a

maioria dos objetos não possui essa propriedade e mesmo ouvindo o som emitido pelos

objetos, aos quatro meses estão imaturos para procurá-los. Conforme estudos, a coordenação

audiomanual ocorre com atraso de seis meses em relação à coordenação audiovisual. Devido

Page 14: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

14

a isso, demoram para movimentar-se: consta que somente com 12 meses se tornam hábeis

para procurar um objeto guiado pelo som que este emite e começam caminhar, sem

engatinhar, aos 19 meses (OCHAITA; ROSA, 1995).

De acordo com os autores, quando a criança nasce cega são os pais que ficam com muitas

dúvidas, a frustração não é do deficiente que ainda não entende a cegueira, pois não conheceu

outra forma de vida, a frustração é dos pais que jamais esperavam tal realidade. A criança

cega precisa ser orientada e incentivada pelos pais. O diálogo, a explicação e o detalhamento

dos objetos e acontecimentos são indispensáveis para seu desenvolvimento. Proporcionar à

criança a vivência de diferentes situações é ainda mais vantajoso, pois experiências reais têm

mais significado que a descrição, na verdade, uma complementa a outra. Devemos também

prestar atenção se apenas está nomeando objetos ou está descrevendo, cada palavra deve levar

informação à criança, por exemplo, ao descrever uma cadeira, podemos informar que este

objeto tem utilidade diária, e qual sua utilidade, que possui um acento e um encosto, informar

que existem outros modelos, porém sua utilidade e características básicas não se alteram de

modelo para modelo.

A expressão gestual depende exclusivamente de orientação. Por exemplo, ao mencionar a

expressão “lá em cima”, a criança não erguerá o braço espontaneamente. Antes de saber o

significado deste gesto, será necessário que alguém pegue em seu braço e ensine o gesto para

que a criança repita. Os bebês cegos ficam quietos para ouvir tudo que acontece ao seu redor,

por isso, assustam-se, quando são retirados do lugar onde estavam, não se sentem seguros no

que ainda desconhecem. Para amenizar essa aflição, o melhor a fazer é narrar o que está

acontecendo, por exemplo, porque foi retirado do berço, que brincadeira você pretende

realizar, onde está indo. Isso proporcionará segurança e a agonia diminui (FERREL, 2008).

Através do tato a criança vai conhecendo o mundo, entretanto não exclusivamente pelo

tato passivo, sensações não intencionais como, por exemplo, a produzida em nossa pele pela

roupa, mas também pelo tato ativo, também chamado de sistema háptico. O tato ativo é

intencional, a pessoa procura conhecer algo através do toque. Envolvem-se nessa procura

além do tato passivo os receptores de pele e os tecidos subjacentes, bem como os receptores

dos músculos e dos tendões. É ingenuidade imaginar que o tato pode substituir a visão,

porém, o tato auxiliado pela audição é o recurso de que os cegos dispõem para conhecer o

mundo. Neste sentido, o conhecimento através do tato é tão necessário ao deficiente visual

Page 15: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

15

como a atividade perceptiva é necessária à percepção visual dos videntes (OCHAITA; ROSA,

1995).

As informações chegam às pessoas deficientes visuais através de dois canais principais, a

linguagem e a exploração tátil, que depende principalmente das mãos, portanto, levando em

consideração a importância destas, elas devem ser estimuladas e aprimoradas como

instrumento de percepção, sempre lembrando que continuam com sua função preênsil, ou

seja, tirar, colocar, abrir, fechar e outras funções deste gênero. Para exemplificar, falaremos

do bebê deficiente visual, é com as mãos que ele entende que um objeto existe e qual sua

serventia, consegue localizar-se, analisar e conhecer objetos como os brinquedos, também

através do tato, conhece o rosto da mãe e seu próprio corpo. Ao longo de toda a existência, o

tato desempenha papel fundamental, contudo, nos primeiros anos de vida, enquanto a

linguagem está num estado rudimentar, seu papel é ainda mais relevante (GIL, 2000).

Adams (1980 apud BARCZINSKI, 2008) esclarece que quando a cegueira não é

congênita, e sim, adquirida, a pessoa passa por um trauma denominado estado de imobilidade

psicológica e, quanto mais longo este estado, mais difícil torna-se o processo de reabilitação.

Após este período há depressão com sentimentos que vão desde a autopiedade até mesmo

desejos de suicídio. Essas fases são dramáticas, porém necessárias para lidar melhor com a

cegueira.

Fitzgerald (1970 apud BARCZINSKI, 2008) estudou a cegueira de maneira mais

moderna, sistemática e científica, apresentando quatro fases desta. A primeira é a descrença,

quando a pessoa não aceita a nova condição, depois o protesto, quando procura outros

médicos ou ainda não quer utilizar a bengala para locomover-se, seguida da fase depressiva e,

finalmente, a última fase é a recuperação. É importante salientar que a quarta fase somente

ocorre, quando o paciente deixa de negar sua situação e assume a cegueira como condição

permanente em sua vida. Quando o paciente não passa por este processo, ele assume uma

negação maníaca, causando reações neurológicas moderadas ou severas. Juntamente com a

perda da visão, a pessoa sofre outras perdas, como a integridade física, os sentidos

remanescentes, ou seja, apresenta desorientação inicial, o contato com o meio ambiente, as

habilidades básicas da vida prática, muitas vezes a profissão, a auto-estima, entre outras

(BARCZINSKI, 2008).

Page 16: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

16

De todas as perdas acima descritas, podemos considerar como a mais significativa a perda

da auto-estima, pois ela é indispensável para superar as demais perdas. Se o paciente não

sentir vontade de recuperar sua autonomia, a reabilitação ficará comprometida. Segundo

Barczinski (2008), a pessoa necessita morrer como vidente e renascer como cego e este não é

um processo fácil.

Além das peculiaridades que a deficiência visual acarreta, existe ainda a conduta social

que tende a subestimar ou superestimar o cego, acreditam que são incapazes de aprender e ter

certa autonomia ou que possuem sexto sentido. Souza (2007) fala sobre o assunto, apoiando-

se em Moura, citado por Veit:

A verdade é uma só: tanto o olhar de piedade como o olhar de admiração partem de um princípio único – o preconceito. Preconceito nada mais é do que a falta de conhecimento. A ignorância do que é de fato uma deficiência e suas reais implicações, leva a um incrível viés de percepção, que é o principal fator de marginalização da pessoa com deficiência, seja na forma de “coitadinho” – forma mais degradante da condição humana – seja na forma de “super-herói”, elemento mítico distante da condição humana (1994, p. 15).

Assim, o preconceito cria um estereótipo no qual o deficiente visual é generalizado, ou é

digno de piedade ou é um ser com surpreendentes aptidões, ainda, se um cego é tido como

pessoa simpática, todos são assim considerados, desprezando a diversidade do ser humano,

sendo cego ou vidente, todos somos diferentes, pensamos e agimos conforme nossas

concepções, nossa história de vida, meio no qual crescemos e estamos inseridos.

É imprescindível a aceitação da deficiência pela família, pois este é o primeiro e talvez o

mais importante passo para o desenvolvimento da criança. Apenas ao aceitar a condição do

filho, os pais irão procurar conhecer melhor a deficiência e procurar os melhores métodos

para proporcionar certa autonomia e qualidade de vida para ele.

Referindo-nos à leitura, Louis Braille, educador francês, inovou a educação dos

deficientes visuais com o sistema de leitura-escrita Braille. A leitura é realizada através do

tato, com a ponta do dedo indicador, porém a leitura Braille também apresenta diferenças em

relação à leitura visual. Ochaita e Rosa (1995) referem que a velocidade de leitura que um

leitor cego experiente não supera 114 palavras por minuto, enquanto a média dos videntes

Page 17: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

17

experientes encontra-se em torno de 280 palavras por minuto. Em relação à leitura Braille, no

entanto, afirmam que parece existir um limite absoluto, pois todas as tentativas em aumentar a

velocidade de leitura mediante programas de treinamento fracassaram até o momento.

É necessário esforço físico para realizar a leitura Braille, a pessoa cega não consegue ler

por um longo período de tempo como a vidente, pois os dedos indicadores, mais utilizados

para a leitura, perdem a sensibilidade tornando a leitura difícil, também o movimento

realizado pelas mãos, bem como a posição em que é necessário manter os braços são

cansativos. Outro fator é a temperatura ambiente, no inverno, é comum amortecer os dedos

por causa da baixa temperatura, tirando a sensibilidade do tato (GIL, 2000, p. 45).

Crianças videntes deparam-se com as letras muito antes de aprenderem a ler, nas

embalagens de alimentos, nas propagandas nas ruas, nas estampas de roupas, enfim, nosso

mundo é cercado de informação. Além de as crianças cegas não terem acesso a estes recursos

visuais antes do ingresso escolar, Gil (2000) refere que o material Braille não é atraente ao

tato como os livros coloridos são à visão e por este motivo não é fácil despertar o interesse da

criança deficiente visual, pela leitura. Em casa também fica difícil para os pais acompanharem

o progresso do filho e apreciar seu empenho, também as frases comumente usadas para

estímulo do estudante ficam em desuso, ou seja, a criança não ouvirá de alguém que sua letra

é bonita e seu caderno é organizado.

Também, segundo Gil (2000), quanto ao aprendizado de matemática, o estudante

deficiente visual tem as mesmas condições dos demais alunos videntes para aprender e

acompanhar idênticos conteúdos, porém é mister fazer adaptações das representações gráficas

e dos demais recursos didáticos. Simultaneamente, ao amparar o aluno deficiente visual, ao

criar recursos didáticos específicos à deficiência, o professor favorece toda a turma, ao passo

que apela a diferentes materiais concretos, facilitando assim a compreensão dos conceitos. O

professor não necessita trocar os procedimentos, mas sim, intensificar a utilização de

materiais concretos para auxiliar o aluno a abstrair os conceitos.

Ainda na área da matemática, o professor conta com o auxílio do sorobã, um tipo especial

de ábaco. A utilização deste recurso é indispensável ao aluno cego, sendo que estes

estudantes, apesar de utilizarem os mesmos procedimentos para realizar os cálculos realizados

pelos videntes, não podem empregar a mesma representação, por exemplo, o “empresta um”,

Page 18: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

18

não fica visível então precisa ser lembrado e, para isso, igualmente indispensável é a

estimulação do cálculo mental, pois sem ele não é possível realizar os cálculos com o sorobã.

No geral, podemos perceber que o aluno deficiente visual possui plenas capacidades de

aprender, o que o diferencia dos demais estudantes é o fato de necessitar de mais apoio

pedagógico, materiais apropriados e incentivo de toda a comunidade escolar.

Page 19: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

19

4 MATERIAIS PEDAGÓGICOS CONCRETOS

Ao observar aulas de matemática, é possível encontrar três concepções predominantes

orientando o processo de ensino-aprendizagem, conforme afirma Santos (2002). A seguir,

apresentamos as caracterizações das mesmas conforme o autor:

− Concepção baldista, considera o aluno sem conhecimentos prévios sobre um novo

objeto de estudo, ou seja, que o aluno não possui nenhum conhecimento que possa ajudá-lo a

compreender o novo conteúdo. Seu aprendizado é semelhante ao ato de encher um balde

vazio, isto é, o conhecimento é despejado em sua cabeça e, quando o balde estiver

completamente cheio, o aluno aprendeu tudo. Nesta concepção, o papel do professor é de

mero transmissor de conhecimento e o aluno é o receptor passivo. Após as definições e alguns

exemplos, o professor passa uma bateria de exercícios de fixação. O aprendizado se dá pela

palavra do professor e se o aluno não aprender é porque não prestou a devida atenção, outras

vezes a culpa pelo insucesso do processo é atribuída ao professor que não soube se expressar.

Nesta visão, o bom professor é aquele que explica bem o conteúdo. A vantagem dessa

concepção é que se poupa tempo, pois se ensinam vários alunos ao mesmo tempo e não exige

muito do professor.

− Concepção escadinha, baseada no behaviorismo, acredita que é possível modificar o

comportamento do indivíduo a partir de situações de estímulo e reforço de respostas positivas,

no campo da educação é representada por Skinner. Essa concepção passa por três etapas, na

primeira, o professor define o que pretende com a atividade, ou seja, os objetivos, na segunda,

elabora situações em que o aluno apresenta um novo comportamento e esse é recompensado

pelo professor e, por último, são oferecidas ao aluno situações de treinamento para consolidar

o novo comportamento. Essa concepção, como todas as outras, possui limitações, contudo,

estudos mostram que ela é eficiente, aqui o aluno está no centro do processo e o professor

favorece a ação do aluno.

− Concepção socioconstrutivista, apóia-se no processo histórico de construção do

conhecimento científico descrito por Piaget, onde os objetos foram construídos em resposta a

Page 20: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

20

problemas específicos. Passa por quatro idéias, começa pela idéia da ação, o sujeito deve ser

ativo no processo, pois, conforme Piaget, a aprendizagem ocorre com a ação, sendo que para

adquirir novos conhecimentos o aluno necessita interagir com o objeto de estudo; idéia do

desequilíbrio, é oferecida ao aluno uma situação onde ele percebe que seus conhecimentos são

insuficientes, sendo importantíssimo o encontro de obstáculos para que ele tome consciência

de que ainda tem algo a aprender, do contrário, conserva suas concepções e impede o avanço

do processo de aprendizagem; complementa a idéia da representação espontânea, onde ele

utilizará seus conhecimentos, embora insuficientes, para representar a situação. Finaliza com

a idéia do conflito sociocognitivo, aqui o aluno passa de uma concepção antiga para uma nova

concepção, e este fato, dentro dessa perspectiva, significa aprender, o aluno tem uma

concepção antiga que lhe serve de apoio ou de obstáculo para chegar a uma nova concepção.

Em suma, nessa concepção coloca-se o aluno em conflito para que através de seus

conhecimentos prévios construa um novo entendimento.

Explicitamos as concepções acima com o objetivo de mostrar um cenário das práticas em

sala de aula.

O quadro-negro e o giz são companheiros dos professores e dos alunos há muito tempo,

muitos não conhecem outra forma de aprender ou de ensinar senão esta. Também há muito

tempo foi apresentado um outro modo de ensino-aprendizagem, os materiais pedagógicos

concretos ou materiais didáticos manipuláveis. Esta maneira de ensino-aprendizagem vem

sendo defendida há tempo, porém, por vários motivos, alguns professores não fazem uso

desse riquíssimo material. Essa prática exclusiva de quadro-negro e giz precisa ser

abandonada imediatamente em benefício de todos os alunos, e, principalmente, essa prática

deverá ser deixada de lado com a inclusão de alunos cegos em sala de aula regular, por ser

totalmente ineficaz para esse público. Levando em consideração o ponto de vista de Piaget

mostrado anteriormente, se a aprendizagem se dá através da ação, que melhor maneira de

aprender senão pela interação aluno-materiais didáticos que favoreçam a construção dos

conhecimentos?

Pensando em educação matemática, e na peculiaridade do público ao qual dedicamos esta

pesquisa, a utilização de materiais concretos para o processo de ensino-aprendizagem é

fundamental. Cabe esclarecer que consideramos que os materiais concretos em questão são

recursos pedagógicos que oferecem a possibilidade de manuseio e de ações reflexivas a partir

Page 21: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

21

deles. O emprego destes materiais no ensino de matemática vem sendo discutido há muito

tempo. Como existem educadores e pensadores que defendem o seu uso, também existem os

que os questionam.

Conforme Carraher e Schilemann (1988, p. 79 apud FIORENTINI; MIORIM, 2007), “não

precisamos de objetos na sala de aula, mas de objetivos na sala de aula, mas de situações em

que a resolução de um problema implique a utilização dos princípios lógico-matemáticos a

serem ensinados”. Acreditam que estes objetos, os materiais pedagógicos concretos, não

existem na vida dos alunos fora da escola, sendo “abstratos” por existirem unicamente na

escola, neste sentido, criticam a utilização dos mesmos, uma vez que não encontram

benefícios em tais materiais.

Na escola tradicional, esses materiais eram repudiados, pois perturbavam o silêncio da

classe e a transmissão do conhecimento matemático já sistematizado, tido como pronto e

acabado, seguindo o programa escolar. Prática duramente criticada nas palavras do filósofo

escolanovista John Dewey (1859-1952), quando diz que “a origem de tudo que é morto,

mecânico e formal em nossas escolas, está precisamente ai: na subordinação da vida e da

experiência da criança ao programa, é por isso que “estudo” tornou-se sinônimo da fadiga, e

“lição”, sinônimo de tarefa” (1978, p. 46).

Conforme já mencionado, também existem educadores a favor da utilização deste recurso

nas aulas. Grande contribuição proporcionou, neste sentido, a educadora e médica Maria

Montessori (1870-1952), ao construir, entre outros materiais, o “material dourado”,

empregado até hoje por muitos professores em suas aulas de matemática. É importante

destacar que o material dourado, assim como os demais materiais concretos construídos por

Montessori, foi elaborado pensando na educação matemática de crianças excepcionais. Mais

tarde, eles acabaram sendo utilizados no ensino regular (FIORENTINI; MIORIM, 2007).

A importância da utilização desses materiais é evidenciada na fala de Azevedo (1979, p.27

apud FIORENTINI; MIORIM, 2007), diz que “nada deve ser dado à criança, no campo da

matemática, sem primeiro apresentar-se a ela uma situação concreta que a leve a agir, a

pensar, a experimentar, a descobrir, e daí, a mergulhar na abstração”.

A matemática é uma ciência utilizada por todos no dia-a-dia e é desta forma que deve ser

apresentada para os alunos em sala de aula; não tem sentido iniciar um conteúdo

Page 22: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

22

abstratamente, pois se trata de simples transmissão de conhecimento, se existem maneiras de

introduzi-lo de forma investigativa e/ou dinâmica onde os alunos constroem o conhecimento.

Glasersfeld (1995, p. 302) descreve o emprego de materiais manipulativos na perspectiva

construtivista e afirma que

[...] os conceitos não são inerentes às coisas e têm de ser construídos individualmente por abstração reflexiva; e a abstração reflexiva não é uma questão de olhar de mais perto mas de operar mentalmente de forma que seja compatível com o material perceptual disponível. Por conseguinte, os materiais físicos são, na verdade, úteis, mas devem ser vistos como dando oportunidades de refletir e de abstrair, e não como manifestações evidentes de conceitos desejados. As barras cuisenaire, por exemplo, não são materializações de números, mas as suas propriedades físicas são de tal ordem que convidam à construção de unidades e à iteração atencional.

Portanto, os materiais não possuem significados em si mesmos, mas sim, na representação

que oportunizam, na posterior reflexão que exigem para assim o aluno construir o

conhecimento, descobrir e entender conceitos. As barras Cuisenaire, referidas por Glasersfeld,

são um conjunto de dez barras coloridas, conforme Alves e Morais (2008), feito originalmente

em madeira. O conjunto é constituído de prismas retangulares pintados em dez cores e

comprimentos diferentes. As cores foram selecionadas após várias pesquisas e de acordo com

algumas relações com os números. As barras são usadas no ensino da aritmética para as

crianças. O idealizador do material Cuisenaire foi o professor belga Georges Cuisenaire

Hottelet que, durante vinte e três anos, o estudou e o experimentou antes da sua divulgação.

Não nos cabe julgar quem está certo ou errado em ser a favor ou contra o recurso

concreto, mas sim, verificar quais contribuições eles podem proporcionar ao ensino-

aprendizagem de matemática para cegos. É inegável que antes de introduzir um material na

aula, é indispensável, antes, estabelecer os objetivos que pretendemos atingir com sua

utilização. Depois dos objetivos definidos, vem a escolha do material que melhor se adapta ao

alcance destes objetivos. Muitas vezes, especialmente se a realidade na qual o trabalho irá

desenvolver-se for a deficiência visual, os materiais não existem ou são escassos, então se

torna necessária a adequação de materiais já existentes ou, em situações não raras, a

elaboração, criação de materiais que satisfaçam as particularidades desse público.

Page 23: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

23

Para a elaboração destes materiais, os educadores devem ultrapassar um pensamento

muito comum entre os mesmos: o de que os materiais concretos servem unicamente para

deixar a aula mais atraente e divertida, mesmo porque a propriedade visual dos materiais

perde completamente a importância, quando o material é utilizado para a educação de

deficientes visuais. Com tanta responsabilidade e utilidade em jogo, não podemos reduzir o

uso do material concreto à simples brincadeira.

Temos conhecimento de que o tato é limitado em comparação com a visão. Ochaita e

Rosa (1995) revelam que a percepção tátil é muito mais lenta que a visual e usam como

exemplo a exploração de uma mesa, um objeto relativamente grande, onde o cego precisará

juntar inúmeras pequenas informações até obter a imagem, o que, na exploração visual, é

imediato, conseqüentemente os materiais “criados” precisam ser extremamente detalhistas e o

relevo é importantíssimo para a percepção deles. Por exemplo, o relevo pode ser usado para

fazer o contorno de uma figura expressando os limites que a compõem.

O fato de linhas não representarem o que é puramente visual, e representarem bordas de superfície – um aspecto que também é perceptível ao tato – sugere que a habilidade de transformar linhas planas em veículos de representação pode residir em algum caminho perceptivo comum à visão e ao tato (KENNEDY, 1983, p.21, apud DUARTE, 2007).

A exploração dos materiais pedagógicos concretos, seja na educação de alunos com

necessidades educacionais especiais ou de alunos ditos normais, não deve ser para simples

demonstração, nem podem ser miniaturas ou ampliações de objetos sem sentido para o aluno.

Precisam ser explorados de maneira a promover a construção do conhecimento e que o aluno,

a partir do material, seja capaz de chegar às conclusões previamente objetivadas pelo

educador.

Não são todos os conteúdos matemáticos que podem beneficiar-se com esses recursos.

Contudo, os que podem devem ser trabalhados da melhor forma possível, propiciando ao

deficiente visual fazer uso do tato-ativo para explorar o material, e, seguindo as orientações

faladas pelo professor, construir seus conhecimentos e ter uma aprendizagem significativa.

Deste modo mostrará que, apesar de sua condição de não-vidente, possui plenas capacidades

para aprender elevando sua auto-estima.

Page 24: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

24

Existem muitos tipos de materiais manipuláveis, alguns são estáticos, permitindo somente

a exploração em sua forma original, os sólidos geométricos são um bom exemplo desse tipo

de material. Outros permitem maior interação do aluno, como é o caso do ábaco, material

dourado e jogos. Outros ainda são dinâmicos, com os quais o aluno pode mudar sua forma

para fazer novas descobertas (LORENZATO, 2006).

O material concreto não deve ser superestimado, pois seu sucesso depende mais do

professor, do aproveitamento e dos objetivos por ele estabelecidos, do que do próprio

material. Além disso, esse material deve representar algo para o estudante, proporcionando-

lhe construir o conhecimento, portanto, conforme Schiemann, Santos e Costa (1995, p. 101)

[...] embora esses materiais possam ser úteis se fazem parte de situações significativas que provoquem a reflexão por parte da criança. Não é uso específico do material concreto mas, sim, o significado da situação, as ações da criança e sua reflexão sobre essas ações que são importantes na construção do conhecimento matemático. Esta reflexão é que levará à construção do conhecimento lógico-matemático.

Podemos perceber que o material pedagógico concreto não é garantia de sucesso por si só,

além de o professor saber trabalhar com ele é necessário estabelecer objetivos para a atividade

e significados para o material. Muitas vezes, o que é evidente para o docente não faz sentido

para o educando.

No próximo capítulo apresentamos algumas sugestões de materiais concretos destinados

para toda classe, que satisfazem as peculiaridades do público deficiente visual.

Page 25: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

25

5 PROPOSTA DE MATERIAIS PEDAGÓGICOS CONCRETOS

A melhor maneira de realizar o trabalho pedagógico com alunos deficientes visuais não

está exposta em cartilhas, muito menos em livros didáticos, não há receita a ser seguida. Cada

professor, com seu conhecimento sobre a disciplina, munido de informações das mais

diferentes áreas que envolvem a cegueira, saúde física e psicológica, conseguirá encontrar um

caminho, um norte para direcionar a forma de atuar com eficácia neste contexto, “para isso, o

professor titular deverá, sim, buscar suporte junto ao professor de apoio a fim de que possa

adequar os recursos, os métodos e estratégias para atender aos alunos, com deficiência visual,

em suas necessidades específicas (SOUZA, 2007, p. 101).” Portanto, é necessário ser um

trabalho em conjunto, professores, profissionais de saúde, psicólogos. Todo o conhecimento

formal e vivência social podem e devem ser aproveitados visando ao melhor aproveitamento e

aprendizado desses alunos.

Souza salienta que é de extrema importância ouvir o aluno, este será a fonte mais rica,

ninguém melhor que o próprio aluno para dizer como é sua percepção de mundo e qual suas

dificuldades quanto à aprendizagem e métodos utilizados pelo professor. O aluno precisa

saber da vontade do professor de ensiná-lo, também necessita sentir-se seguro, pois, muitas

vezes, com medo da reação adversa do professor, por vergonha, pode recolher-se ao silêncio,

guardando para si suas dúvidas e falando suas necessidades a outra pessoa com quem se sinta

mais à vontade. É imprescindível que o professor fique atento às atitudes do aluno em sala de

aula e fora dela, quando possível, que leve em consideração suas falas e intenções, pois assim

poderá tornar a aprendizagem mais rica e significativa.

É desta forma que os materiais concretos poderão ser adaptados, criados e aprimorados,

ouvindo todos os profissionais que, de alguma forma, conhecem a deficiência, principalmente

através da convivência e do diálogo com o aluno cego. As contribuições destas pessoas

aliadas ao conhecimento específico do professor ajustarão detalhes importantes nos materiais,

proporcionando maior relevância a este e ao processo de ensino-aprendizagem do deficiente

visual.

Page 26: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

26

Por meio do tato e da audição, orientado pelo professor, o aluno deficiente visual poderá

explorar cada material de maneira mais eficaz, favorecendo a construção do conhecimento

matemático.

Masini (1993, p. 67) refere que

a análise da bibliografia especializada (de livros sobre a educação do deficiente visual, bem como de livros e cartilhas para uso dos deficientes visuais) revelou que esta tem como base o referencial perceptual da visão (Masini, 1994). Como conseqüência, em lugar de o programa educacional partir das possibilidades (características próprias do portador de deficiência visual) parte dos limites (do não dispor ele de visão, ou dispor apenas de um resíduo visual). Assim, a programação tem sido guiada pela ausência e se faz sob um referencial de programa compensatório ou de recuperações.

Esta análise nos confirma a importância do diálogo e da observação do aluno a fim de

deixar que ele exponha sua própria forma de ser e aprender, para que o professor inicie do que

o aluno tem para oferecer e não para a compensação da falta de visão. Isto não quer dizer que

o deficiente não deva receber atenção especial e materiais específicos, mas quer dizer que

mesmo com a limitação visual, ele tem uma bagagem de conhecimentos que pode e deve ser

aproveitada da melhor maneira possível.

Sujeitos cegos devem ser primeiro aceitos como sujeitos e depois como cegos. Muitos

problemas poderiam ser evitados se os educadores, pais e professores tivessem acesso à

maneira de o deficiente visual perceber e relacionar-se com o mundo, se percebessem que a

criança cega tem mais pontos em comum com as demais crianças do que pontos diferentes.

Ao educador, cabe buscar as vias de entendimento que o cego tem com o mundo sob dois

ângulos diferentes, o primeiro, para transmitir conhecimentos por meio de dados que se

refiram aos sentidos de que ele dispõe e, segundo, para propiciar condições para que ele

descubra, compreenda e organize o mundo ao seu redor. A coordenação visuomotora é

substituída pela audiomotora, bem mais lenta, pois as informações visuais são em maior

número que as auditivas, isto implica em mais tempo para a realização de atividades

orientadas somente pela audição, sendo necessário respeitar o tempo do deficiente visual.

Também se deve evitar a proteção demasiada, pois esta prejudica o desenvolvimento da

criança que precisa ser estimulada a esforçar-se a buscar por si própria os seus objetivos

(MASINI, 1993).

Page 27: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

27

As orientações apresentadas acima nos mostram outro fator para levar em consideração na

realização das atividades, o tempo levado pelo deficiente para chegar ao término das

atividades, muitas vezes, pode ser maior que o levado pelos alunos videntes, por este motivo,

o tempo de cada aluno deve ser respeitado. Assim como alunos videntes apresentam tempos

diferentes, os deficientes visuais também. Em decorrência deste fato, o educador deve ter

cuidado para não prejudicar o aluno, fazendo parte das atividades dele. Como afirmam Masini

(1993) e outros tantos autores, o excesso de proteção é prejudicial ao aluno, impede que ele

realize, por si próprio, atividades que dispõe de plenas capacidades para realizar.

Os materiais aqui propostos e apresentados são sugestões, não devem ser encarados como

prescrições. Possibilitam amplas adaptações, dependendo da série e dos objetivos almejados

pelo professor e não esgotam as escolhas de planejamento e execução pedagógica necessária

nesta área. Esses materiais foram construídos e utilizados pelos acadêmicos Angélica Noveli e

Charles Luis Batistella, no estágio curricular em ensino de matemática II, na sala de recursos

de deficiência visual da Escola de Ensino Médio Professor João Germano Imlau. Sua

utilização ocorreu com um aluno da quarta série do Ensino Fundamental, alcançou resultados

satisfatórios, sendo depois doados a essa escola para serem aproveitados por outros

estudantes. Por se tratar de um aluno de quarta série, na oportunidade não foram

confeccionados todos os sólidos aqui apresentados.

5.1 SÓLIDOS GEOMÉTRICOS

A seguir, apresentamos possibilidades de trabalho com sólidos geométricos com

deficientes visuais, com materiais concretos. Em especial, sólidos geométricos construídos em

cartoplex.

Este material tem muita flexibilidade de utilização, possibilitando seu uso em diferentes

séries. Por exemplo, o professor poderá fazer uso deste material a fim de explorar as figuras

planas e iniciar o estudo dos sólidos, como áreas, volume, número de arestas, número de

faces, no Ensino Fundamental. No Ensino Médio, além de trabalhar todas as características

destes sólidos, pode calcular áreas e volumes. Como, por exemplo, no caso do cone, calcular

o lado de um setor circular, bem como a área deste setor e o volume deste sólido.

Page 28: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

28

Através da exploração tátil das figuras planas e dos sólidos, o aluno poderá comparar as

diferentes formas geométricas e identificar quais suas características, diferenças e

semelhanças. Através da exploração dos sólidos geométricos, o aluno poderá identificar quais

figuras planas os compõem e suas características como as arestas e vértices. Com o manuseio

das planificações dos sólidos geométricos, o aluno poderá também identificar as figuras

planas, calcular as áreas da base, lateral e total de cada sólido. Outros objetivos poderão ser

elaborados pelo professor, de acordo com a série do aluno ao trabalhar com este material.

Sugere-se que todas as figuras planas (retângulo, paralelogramo, triângulo, pentágono,

quadrado e hexágono) que compõem os sólidos que serão trabalhos tenham suas

características exploradas individualmente antes de enunciar o trabalho com o sólido, para que

o aluno possa distinguir as figuras e/ou conhecê-las.

As figuras podem ser construídas em sulfite 60 ou em outro material semelhante, como o

cartoplex. Todas devem ser delimitadas por contorno perceptível ao tato, como a tinta relevo,

pois como já mencionamos através das palavras de Kennedy (1983 apud DUARTE, 2007), as

linhas representam bordas de superfícies e assim poderemos delimitar as figuras. É importante

confeccionar as figuras do mesmo tamanho que serão construídos os sólidos, assim o aluno

poderá fazer constatações sobre as figuras que os constituem. Se houver alguma dúvida,

bastará ele sobrepor o sólido à figura e comprovará se realmente esta corresponde à face do

sólido. Sugere-se esclarecer para o aluno que existem diversos tamanhos da mesma figura e

que suas características não mudam.

A seguir, na figura 1, da esquerda para a direita, temos uma foto com o círculo, retângulo,

paralelogramo, os triângulos isósceles, eqüilátero e escaleno, triângulo retângulo, pentágono,

quadrado e hexágono confeccionados em sulfite 60.

Da mesma forma que as figuras planas, sugerimos a construção dos sólidos geométricos

em sulfite 60 ou cartoplex. Como os sólidos são delimitados pelas arestas, fica dispensado o

uso da tinta relevo.

Page 29: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

29

Figura 1 – Figuras planas construídas em cartoplex

Na figura 2, estão dispostos os sólidos confeccionados para a realização do estágio

referido: cilindro, cone, prisma reto de base triangular, pirâmide reta de base triangular,

pirâmide reta de base quadrangular, prisma reto de base retangular, prisma reto triangular,

prisma reto de base pentagonal, tetraedro, dodecaedro, icosaedro, prisma reto de base

hexagonal, cubo, octaedro e prisma oblíquo de base quadrada. Se o professor preferir incluir

entre os materiais a esfera, sugerimos que seja utilizada uma de isopor, encontrada em

livrarias, pois pode ser cortada ao meio sem deformar.

Figura 2 – Sólidos geométricos construídos em cartoplex e sulfite 60

Page 30: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

30

Na figura 3, os sólidos geométricos estão dispostos sob outro ângulo.

Figura 3 – Sólidos geométricos construídos em cartoplex e sulfite 60

5.1.1 Planificações dos sólidos geométricos

As planificações dos sólidos geométricos também poderão ser confeccionadas em sulfite

60 ou cartoplex e delimitadas com tinta relevo. É importante que as planificações sejam do

mesmo tamanho que os sólidos, pois, da mesma maneira que as figuras planas, se houver

dúvidas sobre a qual sólido pertence a planificação, o aluno poderá envolver o sólido na

planificação e fazer suas constatações. Uma dica é confeccionar duas planificações idênticas,

montar uma, obtendo o sólido e a outra contornar com tinta relevo.

A Figura 4 mostra a situação em que o aluno envolve o cone em sua planificação e

constata que realmente a planificação corresponde ao sólido.

Figura 4 – Cilindro envolto pela sua planificação

Page 31: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

31

Em apêndices estão as figuras das planificações dos sólidos geométricos aqui propostos.

5.2 DISCOS FRACIONÁRIOS

Ao elaborar ou adaptar materiais para trabalhar com alunos deficientes visuais, devemos

levar em consideração todas as características dos materiais. Um exemplo claro está no

conteúdo frações: temos mais de um material manipulativo para trabalhar esse assunto:

quadro de tiras (tábuas fracionárias) e discos fracionários. Consideramos que o disco

fracionário proporciona melhor a visão do inteiro e das partes do todo. Exemplificando, com

uma tira de dez centímetros podemos representar um inteiro, com outra tira de nove

centímetros, nove décimos, e assim por diante, porém, quando um aluno cego estiver com os

nove décimos em mãos, como saberá que não se trata de um inteiro? Poderá fazê-lo, se estiver

sempre comparando com a tira referente a um inteiro. Já com o disco fracionário, seja

qualquer fração, o aluno poderá perceber que não se trata de um inteiro, pois o disco não

estará completo. Também, mais facilmente para o aluno cego, com os discos fracionários

podem-se trabalhar as frações equivalentes e todas as demais operações com frações.

Trabalhando com este material, o professor proporcionará ao aluno desenvolver o

conhecimento das frações também através do tato. O material sugerido na Figura 5 permite

trabalhar frações de um inteiro até um sexto, comparar as diferentes frações, estabelecendo as

relações possíveis entre elas, realizar operações matemáticas com frações, entre outras.

Figura 5 – Discos fracionários construídos em cartoplex e contornados com tinta relevo

Page 32: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

32

Por exemplo, as frações equivalentes podem ser exploradas inicialmente sobrepondo uma

na outra, um meio sobre dois quartos, o aluno perceberá que são do mesmo tamanho,

portanto, são equivalentes, como mostra a figura 6, incentivando o aluno a refletir sobre a

constatação a fim de generalizar a idéia.

Figura 6 – Ilustração da equivalência das frações: um meio e dois quartos

Recomendamos que os discos sejam confeccionados em sulfite 60 ou cartoplex e

delimitados com tinta relevo, como mostra a Figura 7. É importante fazer todos os discos do

mesmo tamanho.

Figura 7 – Discos fracionários fragmentados, construídos em cartoplex e contornados com tinta relevo

Page 33: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

33

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os materiais pedagógicos concretos como recursos de ensino-aprendizagem de

matemática já foram amplamente discutidos entre educadores, porém, no caso específico

deste estudo, materiais pedagógicos para deficientes visuais, cegos, podemos considerá-los de

grande utilidade, levando em consideração que o tato auxiliado pela audição é necessário ao

cego como a visão ao não-cego. Além de auxiliar o aluno a construir o conhecimento através

da ação deste sobre o material, auxilia o processo de compreensão de conceitos contribuindo

gradativamente para a construção dos mesmos. É claro que o professor precisa incentivar o

aluno a libertar-se, gradativamente, do material concreto buscando alcançar níveis de

abstração mais elevados.

No caso de materiais propostos para o ensino de pessoas cegas, no momento em que o

educador decidir elaborar ou adaptar um material para utilizar na sua prática com os alunos,

deverá escolhe-lo a partir dos objetivos da atividade que pretende desenvolver, considerando

que o significado óbvio para o educador nem sempre é perceptível ao aluno, o que exige

colocar-se na perspectiva deste para adaptar os materiais às suas necessidades. É o que

procuramos fazer no processo de construção dos dois materiais propostos neste trabalho.

A realização do trabalho tornou claro que: ao elaborar ou adaptar materiais para trabalhar

com alunos deficientes visuais, devemos levar em consideração todas as características dos

materiais e também as características do aluno que irá fazer uso dele; a melhor maneira de

realizar o trabalho pedagógico com alunos deficientes visuais não está exposta em cartilhas,

muito menos em livros didáticos, não há receita a ser seguida; cada professor, com seu

conhecimento sobre a disciplina, munido de informações das mais diferentes áreas que

envolvem a cegueira, saúde física e psicológica, conseguirá encontrar um caminho, um norte

para direcionar a forma de atuar com eficácia neste contexto; o professor precisa contar com o

apoio de outros profissionais para elaborar materiais e estratégias pedagógicas eficientes à

aprendizagem; todo o conhecimento formal e vivência social podem e devem ser aproveitados

visando ao melhor aproveitamento e aprendizado desses alunos e conhecer melhor o aluno

auxiliará o professor com indicadores sobre como adequar os materiais às suas

Page 34: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

34

necessidades; os materiais em si não detém conhecimentos matemáticos – estes serão

construídos pelo aluno à medida que refletir sobre as propriedades dos materiais e estabelecer

relações matemáticas a partir dos mesmos; o material é um dos recursos possíveis a serem

usados pelo professor e o aluno no processo de ensino-aprendizagem dentre outros a serem

explorados.

É de conhecimento popular que as pessoas videntes possuem memória visual, portanto,

não adianta o docente fechar os olhos e imaginar o mundo do deficiente visual, pois ao

deparar-se com um objeto, ao tocá-lo, imediatamente, sua memória visual o auxiliará. Por

isso, faz-se necessário apoiar-se teoricamente em estudos realizados, no intuito de preparar-se

para proporcionar um ambiente favorável e assim oferecer o melhor para a educação dos

deficientes visuais. Uma preciosa fonte de dados disponível está bem perto: é o aluno. Este

poderá, em conversa aberta com o professor, falar sobre suas dificuldades e através destas

falas o professor se orientará a melhorar o material.

Além dos benefícios na aprendizagem do aluno cego esses materiais são objetos de

inclusão, pois, se o aluno não estiver na sala de recursos, e sim, na sala de aula regular, o

professor poderá trabalhar com toda a turma simultaneamente, não é necessário parar a aula

para atender somente ao aluno cego, sendo que todos podem explorar o mesmo material.

Deixamos também o incentivo para estudos futuros sobre este importantíssimo tema:

materiais concretos e o ensino de matemática para cegos, buscando uma educação cada vez

mais significativa, inclusiva, e melhoria de vida social aos alunos deficientes visuais.

Page 35: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

35

REFERÊNCIAS

ALVES, C.; MORAIS, C. M. Recursos de apoio ao processo de ensino aprendizagem da matemática. Disponível em <http://www.spce.org.pt/sem/21ca.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2008. BARCZINSKI, M. C. C. Reações psicológicas à perda da visão. Disponível em <http://www.ibc.gov.br/?itemid=100>. Acesso em: 14 fev. 2008. BRASIL. Ministério da Educação. Portal MEC – Sitio SEESP – Altas Habilidades/Superdotação e a Inclusão Escolar. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/index2.php?option=com_content&view&id=130. Acesso em: 24 out. 2007.

______. Ministério da Educação. Programa de Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade. 2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/index.php?option=content&task=view&id=67&Itemid=196>. Acesso em: 24 out. 2007. ______. Ministério da Educação. Programa de Programa Educação Inclusiva: Documento orientador. 2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/orientador2006.pdf>. Acesso em: 24 out. 2007. CARDOSO, M. S. Aspectos históricos da Educação Especial: da exclusão à inclusão – uma longa caminhada. In: STOBÄUS, C. D.; MOSQUEIRA, J. J. M. Educação Especial: em direção à Educação Inclusiva. 3. ed. Porto Alegre: Edipucrs, 2006. DEWEY, J.; TEIXEIRA, A. S. (Trad.). Vida e educação: I a criança e o programa escolar - II interesse e esforço. 10. ed. São Paulo: Rio de Janeiro: Melhoramentos, Fundação Nacional de Material Escolar, 1978. DUARTE, M. L. B. O desenho como elemento de cognição e comunicação ensinado crianças cegas. Net, Rio Grande do Sul, out. 2007. Disponível em: <http://www.anped.org.br/reunioes/27/gt16/t1612.pdf>. Acesso em: 30 out. 2007. ESPANHA. Declaração de Salamanca: sobre princípios, políticas e práticas em educação especial. Espanha, 1994.

Page 36: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

36

FERREL, K. A. A criança deficiente visual e seus pais. Disponível em: <http://www.ibc.gov.br/?itemid=107>. Acesso em: 12 fev. 2008. FIORENTINI, D.; MIORIM M. A. Uma reflexão sobre o uso de materiais concretos e jogos no Ensino de Matemática. Net, Rio Grande do Sul, out. 2007. Disponível em: <http://www.matematicahoje.com.br/telas/sala/didaticos/recursos_didaticos.asp?aux=C>. Acesso em 30 out. 2007. GIL, M. (Org.). Deficiência visual. Brasília: MEC, 2000. GLASERSFELD, E. V. Construtivismo radical: uma forma de conhecer e aprender. Lisboa: Instituto Piaget, 1995. LORENZATO, S. (Org.). O laboratório de ensino de matemática na formação de professores. Campinas: Autores Associados, 2006. MASINI, E. F. S. Educação do portador de deficiência visual: as perspectivas do vidente e do não vidente. Em Aberto, Brasília, ano 13, n. 60, p. 60-77, dez. 1993. OCHAITA, E.; ROSA A. Percepção, ação e conhecimentos nas crianças cegas. In: COLL, C.; PALACIOS, J.; MARCHESI, A. (Org.). Desenvolvimento psicológico e educação: 3: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. p. 183 – 197. SANTOS, M. C. Algumas concepções sobre o ensino-aprendizagem de matemática. Educação Matemática em Revista, São Paulo, ano 9, n. 12, p. 11-15, 2002. SCHLIEMANN, A. D.; SANTOS, C. M. dos; COSTA, S. C. Da compreensão do sistema decimal à construção de algoritmos. In: ALENCAR, E. M. S. S. de (Org.). Novas contribuições da psicologia aos processos de ensino e aprendizagem. São Paulo: Cortez, 1995. p. 097 – 117. SOUZA,O. S. H. A repercussão da deficiência visual no desenvolvimento e na aprendizagem. In: ENRICONE, J. R. B.; GOLDBERG, K. (Org.). Necessidades Educativas Especiais: subsídios para a prática educativa. Erechim: Edifapes, 2007. p. 099 – 116.

Page 37: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

37

APÊNDICES

Page 38: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

38

APÊNDICE A – Planificações e seus respectivos sólidos geométricos construídos em cartoplex e sulfite 60

APÊNDICE B – Planificações e seus respectivos sólidos geométricos construídos em cartoplex e sulfite 60

Page 39: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

39

APÊNDICE C – Planificações e seus respectivos sólidos geométricos construídos em cartoplex e sulfite 60

APÊNDICE D – Planificações e seus respectivos sólidos geométricos construídos em cartoplex e sulfite 60

Page 40: UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS ... · escolas especiais foi compartilhada com as escolas regulares, estas receberam alunos ditos ... materiais concretos e o

40

APÊNDICE E – Planificações e seus respectivos sólidos geométricos construídos em cartoplex e sulfite 60

APÊNDICE F – Planificações e seus respectivos sólidos geométricos construídos em cartoplex