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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PR UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS PONTA GROSSA GERÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PPGEP IVANA MÁRCIA OLIVEIRA MAIA AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES POSTURAIS DOS TRABALHADORES NA PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL EM CILINDROS METÁLICOS VERTICAIS PONTA GROSSA FEVEREIRO - 2008

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁlivros01.livrosgratis.com.br/cp078917.pdf · A Adriana e Ageu, pelo carinho e amizade; A Sueli, companheira de pesquisa, pela sua alegria

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁPR

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

CAMPUS PONTA GROSSA

GERÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

PPGEP

IVANA MÁRCIA OLIVEIRA MAIA

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES POSTURAIS DOS

TRABALHADORES NA PRODUÇÃO DE CARVÃO

VEGETAL EM CILINDROS METÁLICOS VERTICAIS

PONTA GROSSA

FEVEREIRO - 2008

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IVANA MÁRCIA OLIVEIRA MAIA

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES POSTURAIS DOS

TRABALHADORES NA PRODUÇÃO DE CARVÃO

VEGETAL EM CILINDROS METÁLICOS VERTICAIS

Dissertação apresentada como requisito parcial

à obtenção do título de Mestre em Engenharia

de Produção, do Programa de Pós-Graduação

em Engenharia de Produção, Área de

Concentração: Gestão Industrial, da Gerência

de Pesquisa e Pós-Graduação, do Campus

Ponta Grossa, da UTFPR.

Orientador : Prof. Dr. Antonio Carlos de

Francisco

PONTA GROSSA

FEVEREIRO - 2008

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Dedico este trabalho aos meus filhos:

Amanda Márcia, Rafael Kim, Rodrigo Ian

e Alana Márcia.

Filhos, não guardem na memória a

saudade, mas o exemplo.

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

AGRADECIMENTOS

A Deus, que me conduz;

Ao meu marido Ronaldo Junior, pelo seu amor e compreensão;

Aos meus pais, Inaldo e Maria Antonina, por tudo;

Ao meu orientador, Prof. Dr. Antonio Carlos de Francisco, pela dedicação e paciência;

Ao Prof. Dr. Antonio Augusto de Paula Xavier, pela sua valiosa contribuição;

Aos meus sogros, Ronaldo e Heliana, pelo seu amor incondicional;

À UTFPR e ao CEFET MA;

Ao Prof. Dr. Kazuo Hatakeyama, querido amigo e grande educador;

Aos professores do PPGEP;

Aos amigos da secretaria;

Aos colegas do PIQDTec, pelo companheirismo;

A Adriana e Ageu, pelo carinho e amizade;

A Sueli, companheira de pesquisa, pela sua alegria e cumplicidade;

Ao Prof. Dr. Alexandre Santos Pimenta;

À CAPES e ao PIQDTec;

Aos meus amigos pela parceria. Amigos para sempre.

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

"O prazer do trabalho aperfeiçoa a obra."

Aristóteles.

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

RESUMO

Considerando a importância da postura na saúde do trabalhador no processo produtivo do carvão vegetal, esta pesquisa ergonômica de enfoque biomecânico tem por objetivo avaliar as posturas adotadas pelos trabalhadores da produção de carvão vegetal em cilindros metálicos verticais. Para tanto, verificou a incidência de dores e/ou lesões musculoesqueléticas nos trabalhadores da produção, avaliou as cargas (kg) a que são submetidos em exercício de suas tarefas diárias e avaliou as posturas adotadas pelos trabalhadores durante a execução das tarefas. A pesquisa é qualitativa e quanto à natureza, aplicada. Quanto aos objetivos é descritiva, prevalecendo o método indutivo. Através da aplicação de Análise Ergonômica do Trabalho – AET, a coleta de dados foi feita a partir da observação direta dos trabalhadores, registro de imagens, entrevistas e aplicação do Diagrama de Áreas Dolorosas proposto por Corlett e Manenica e a análise dos dados feita a partir do sistema de análise postural do método OWAS, aplicando o software WinOWAS específico da pesquisa ergonômica. Os principais resultados da pesquisa revelam a existência de posturas com riscos nos quatro níveis de lesões musculoesqueléticas classificados pelo OWAS, concluindo-se que o método é imperativo de recomendações ergonômicas para a minimização ou erradicação dos sofrimentos lombares e constrangimentos posturais dos trabalhadores.

Palavras-chave: Ergonomia, saúde do trabalhador, postura, biomecânica.

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

ABSTRACT

Considering the posture importance to the health of workers in the production process of charcoal, this ergonomic research based on a biomechanical focus aims on the evaluation of the posture adopted by these workers on the production of charcoal in vertical metal cylinders. Thus, it was verified the incidence of pain and/or musculoskeletal injuries to the workers in charcoal production. Also, it was evaluated the weight carried by the worker performing their daily tasks and the positions taken by workers during these tasks execution. The research is qualitative and applied, and their goals are descriptive, what is associated to the inductive method. Applying the Ergonomic Analysis of Labor, the data collection was done from workers direct observation, registration of images, interviews, application of a Diagram proposed by Corlett and Manenica and analysis of data made with a system posture analysis based on the OWAS method: the software WinOwas specific for ergonomic research. The main results of the research show that there postures with risks in the four levels of musculoskeletal injuries classified by OWAS, concluding that the method is imperative for ergonomic recommendations for minimizing or eradication of suffering injury and worker’s postural constraints.

Keywords: Humans factors, worker healthy, posture, biomechanics.

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Posições da mão: A em extensão e flexão - B posição neutra ................31

Figura 2 - Trabalhadores “A” e “B” com diferentes afastamentos da carga em relação

ao corpo .............................................................................................................32

Figura 3 – Exemplo de atividade estática..................................................................37

Figura 4 - Trabalho com predominância estática dos músculos das costas, ombros e

braços ................................................................................................................38

Figura 5 - Esquema de uma Intervenção ergonômica (Vidal, 2001) .........................45

Figura 6- Esquema postural do sistema OWAS. Fonte: Iida (2005)..........................48

Figura 7- Diagrama de Corlett e Manenica . Fonte Iida (2005) ................................49

Figura 8 – Croquis da planta industrial – Praça de carbonização .............................61

Figura 9- Desenvolvimento da pesquisa. Adaptado de Oliveira (2007).....................62

Figura 10 - Fluxograma do Método de Pesquisa e Avaliação Postural. Adaptado de

Couto (1996) ......................................................................................................63

Figura 11 – Carregamento do cilindro Figura 12 – Ignição da câmara..............66

Figura 13 - Verificação das câmaras Figura 14 - Seleção do carvão ........66

Figura 15 - Limpeza da praça....................................................................................66

Figura 16 – Características do cilindro ......................................................................69

Figura 17 - Carregamento do carrinho transportador – seqüência de movimentos do

trabalhador .........................................................................................................70

Figura 18 - Carregamento do cilindro a partir do carrinho transportador – seqüência

de movimentos de um trabalhador.....................................................................70

Figura 19 - Atividade 1.1 – Etapas do carregamento do cilindro com auxílio do

carrinho transportador........................................................................................71

Figura 20 - Seqüência de movimentos de um trabalhador no carregamento do

carrinho transportador. Subatividade 1.a ...........................................................73

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Figura 21 - Seqüência de movimentos de um trabalhador no transporte do carrinho.

Subatividade 1.b ................................................................................................74

Figura 22 - Seqüência de movimentos de um trabalhador no carregamento do

cilindro. Subatividade 1.c ...................................................................................75

Figura 23 - Seqüência de movimentos de um trabalhador no carregamento do

cilindro sem auxílio do carrinho transportador....................................................77

Figura 24 - Carregamento do cilindro sem o auxílio do carrinho transportador.........78

Figura 25 - Diferentes posturas do trabalhador no carregamento do cilindro............78

Figura 26 - Seqüência de movimentos de um trabalhador para pegar a peça de

lenha no piso. Subatividade 2.a .........................................................................80

Figura 27 - Seqüência de movimentos de um trabalhador para transportar a peça de

lenha até o cilindro. Subatividade 2.b ................................................................81

Figura 28 - Postura adotada na acomodação das primeiras camadas de lenha, com

flexão dorsal.......................................................................................................83

Figura 29 - Análise da postura sem flexão dorsal .....................................................84

Figura 30 - Carregamento do cilindro por dois trabalhadores em atividades

consecutivas ......................................................................................................85

Figura 31 - Posições assumidas pelo trabalhador na verificação das câmaras. .......88

Figura 32 - Seqüência de movimentos do trabalhador na verificação das câmaras .89

Figura 33 - Postura assumida pelo trabalhador na abertura da janela......................90

Figura 34 - Posição do trabalhador na verificação das câmaras...............................91

Figura 35 - Desenho esquemático do trabalhador em deslocamento .......................93

Figura 36 - Seqüência de movimentos do trabalhador para provocar a ignição da

câmara de carbonização....................................................................................94

Figura 37 - Posturas dos operadores de carbonização na distribuição do carvão na

tela do silo ..........................................................................................................96

Figura 38 - Desenho esquemático do movimento do tronco de um trabalhador na

tarefa de distribuição do carvão na tela do silo. .................................................97

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Figura 39 - Seqüência de movimentos de um trabalhador ao varrer o piso da praça

de carbonização.................................................................................................99

Figura 40 - Movimentos básicos do uso da vassoura. ............................................100

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Capacidades de levantamento. Fonte: Iida (2005)...................................33

Tabela 2 - Aplicação de forças no trabalho sentado .................................................40

Tabela 3 – Tempo do carregamento do cilindro ........................................................68

Tabela 4 - Avaliação das atividades por categoria ..................................................101

Tabela 5 – Categorias dos eventos das subatividades ...........................................103

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Utilização do carvão na produção do ferro-gusa ...................................19

Gráfico 2 - Análise do carregamento do cilindro com auxílio do carrinho – Sistema

OWAS ................................................................................................................72

Gráfico 3 - Análise da subatividade 1.a – Carregamento do carrinho .......................73

Gráfico 4 - Análise da subatividade 1b - Transporte da lenha...................................74

Gráfico 5 - Análise da subatividade 1c – Carregamento do cilindro ..........................76

Gráfico 6 - Análise individual das subatividades que compõe a atividade 1.1 ..........76

Gráfico 7 - Análise do carregamento do cilindro sem auxílio do carrinho – Sistema

OWAS ................................................................................................................79

Gráfico 8 - Análise da subatividade 2 a – Postura ao pegar a lenha.........................81

Gráfico 9 - Análise da subatividade 2b - Transporte da madeira até o cilindro .........82

Gráfico 10 - Análise da postura adotada ao colocar as peças de madeira nas

primeiras camadas.............................................................................................83

Gráfico 11 - Análise da postura sem flexão dorsal ....................................................84

Gráfico 12 - Análise individual das subatividades que compõem a atividade 1.2......85

Gráfico 13 - Análise da acomodação da lenha no cilindro ........................................86

Gráfico 14 - Análise individual das subatividades que compõem a atividade 1.2 e 1.3

...........................................................................................................................87

Gráfico 15 - Análise da verificação das câmaras ......................................................89

Gráfico 16 - Análise da subatividade 2.a - Abrir a janela...........................................91

Gráfico 17 - Análise da subatividade 2.b - verificação propriamente dita..................92

Gráfico 18 - Análise da subatividade 2.c - deslocamento..........................................93

Gráfico 19 - Análise das subatividades da verificação ..............................................94

Gráfico 20 - Análise da ignição..................................................................................95

Gráfico 21 - Análise da atividade de distribuição.......................................................97

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Gráfico 22 - Análise da postura 1 ..............................................................................98

Gráfico 23 - Análise da postura 2 ..............................................................................98

Gráfico 24 - Análise individual das subatividades que compõem a atividade de

distribuição .........................................................................................................99

Gráfico 25 - Análise da limpeza da praça de carbonização ....................................100

Gráfico 26 - Categorias das ações na limpeza da praça.........................................101

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABERGO Associação Brasileira de Ergonomia

AET Análise Ergonômica do Trabalho

NIOSH National Institute for Safety and Health

NR Norma Regulamentadora

OWAS Owako Analisys Sistem

RULA Rapid Upper Limb Assessment

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS

RESUMO

ABSTRACT

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 16 1.1 Problema da Pesquisa..........................................................................................................17 1.2 Objetivos da Pesquisa ..........................................................................................................17

1.2.1 Objetivo Geral...................................................................................................................17 1.2.2 Objetivos Específicos .......................................................................................................18

1.3 Justificativas..........................................................................................................................18 2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................. 20

2.1 O Trabalho ............................................................................................................................20 2.2 A Organização do Trabalho ..................................................................................................22 2.3 A Norma Regulamentadora 17 – NR 17...............................................................................23 2.4 Saúde do Trabalhador ..........................................................................................................23 2.5 A Ergonomia .........................................................................................................................27 2.6 Biomecânica..........................................................................................................................29

2.6.1 A Postura Sentada............................................................................................................39 2.6.2 A Postura Em Pé ..............................................................................................................41

2.7 A Pesquisa Ergonômica........................................................................................................42 2.7.1 Análise Ergonômica do Trabalho - AET ...........................................................................43 2.7.2 Análise dos métodos utilizados em AET ..........................................................................46

2.8 O Segmento Produtivo em Estudo – Produção do Carvão Vegetal.....................................52 2.9 A Importância do Segmento Para a Economia Nacional .....................................................52

2.9.1 Método Convencional .......................................................................................................52 2.9.2 A Carbonização com Utilização de Cilindros Metálicos Verticais ....................................55

3 METODOLOGIA ................................................................................................. 56 3.1 O estudo de caso..................................................................................................................57 3.2 Análise Ergonômica do Trabalho..........................................................................................58

3.2.1 Análise da demanda.........................................................................................................58 3.2.2 Análise da tarefa...............................................................................................................58 3.2.3 Análise das atividades......................................................................................................59

4 ANÁLISES E DISCUSSÕES .............................................................................. 64 4.1 O Processo Produtivo em Estudo.........................................................................................64 4.2 Avaliação biomecânica dos trabalhadores da praça de carbonização.................................66

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

5 CONCLUSÕES..................................................................................................105 5.1 Contribuições da pesquisa..................................................................................................107 5.2 Sugestões para trabalhos futuros .......................................................................................107

REFERÊNCIAS........................................................................................................109 APÊNDICE A – DIAGRAMA DE ÁREAS DOLOROSAS..........................................112 APÊNDICE B – MAPA DE AVALIAÇÃO DOS EVENTOS POSTURAIS..................113 ANEXO A – ROTEIRO AVALIAÇÃO DO POSTO DE TRABALHO..........................114 ANEXO B – ROTEIRO AVALIAÇÃO DO RISCO DE LOMBALGIAS .......................115

Capítulo 1 Introdução 16

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

1 INTRODUÇÃO

Na produção do carvão vegetal no Brasil, o trabalho apresenta-se sob forma de

pena e sofrimento; além da conotação etimológica deste conceito, esta referência

tem a ver com algumas características do ambiente de trabalho e das tarefas a que

esses trabalhadores são sujeitos. A inadequação do posto de trabalho e a natureza

árdua das tarefas são fatores que comprometem a saúde do trabalhador e seu

desempenho. Nesse sentido, Dul e Weerdmeester (1995) afirmam que as condições

de insegurança, insalubridade, desconforto e ineficiência são eliminadas quando

adequadas às capacidades e limitações físicas e psicológicas do homem.

Segundo Guimarães Neto (2005), o Brasil é o maior produtor mundial de

carvão vegetal. A produção do carvão é uma atividade econômica que se

desenvolve em todas as regiões do país, em especial no sudeste e no nordeste

brasileiros, mais precisamente em Minas Gerais; na região que compreende o sul

dos Estados do Pará e Maranhão e no Estado da Bahia. Sendo de suma importância

na produção do ferro gusa, o carvão vegetal é um produto de grande valor para a

economia brasileira, mas sua produção tem sido conduzida com freqüência de forma

irregular tanto no que tange ao meio ambiente como aos direitos de cidadania dos

trabalhadores. Não obstante, trata-se de uma atividade econômica de relevância

para o país, que pode vir a gerar empregos dignos se conduzida de forma distinta.

O sistema convencional de produção de carvão vegetal dá-se em fornos de

superfície e contempla com maior afinco o processo produtivo e a qualidade do

produto e trata com menor importância a saúde do trabalhador e do meio ambiente.

As conseqüências dos riscos à saúde dentro dos ambientes de trabalho são

provenientes das condições a que são submetidos os trabalhadores em função das

suas tarefas. A atuação da ergonomia se dá na interface que se projeta do ambiente

de trabalho em direção ao trabalhador, adaptando-se às condições e limitações. A

premissa ergonômica de adaptação do trabalho ao homem busca justamente o

caminho no qual o homem trabalhará sem sofrimento, seja físico ou mental e

auxiliará esse mesmo homem a atingir sua máxima produtividade como trabalhador

e cidadão (XAVIER, 2006).

Capítulo 1 Introdução 17

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Sob esta ótica, esta pesquisa avalia as condições posturais dos trabalhadores

envolvidos no processo produtivo do carvão vegetal com carbonização em cilindros

metálicos verticais.

A biomecânica postural foi escolhida como tema central da pesquisa por tratar-

se de um problema frequentemente presente em um grande número de atividades

produtivas, porém nem sempre percebido. Para Dul e Weerdmeester (1995), a

pesquisa ergonômica trata a biomecânica postural como a associação da postura

adotada pelo trabalhador com a carga (kg) a que ele é submetido. Portanto, a

postura do trabalhador pode ser uma ferramenta de produtividade, caso seja objeto

de atenção da organização.

Ainda que utilize equipamentos de proteção de acidentes, tenha domínio do

conhecimento que envolve a execução da tarefa e atue dentro das normas de

higiene e segurança do trabalho, o trabalhador pode estar sujeito a riscos

ergonômicos caso adote posturas inadequadas na execução de suas tarefas. Sendo

a postura uma atividade individual, o trabalhador assume a que lhe convém de

acordo com sua capacidade, vontade e principalmente segundo a natureza da

tarefa.

A inadequação postural pode ter conseqüências imediatas ou pode levar algum

tempo até que se manifestem. Por isso pesquisa documental de casos médicos

antecedentes não é visualizada com grande importância neste tipo de estudo. A

pesquisa postural, ainda que parte de um estudo ergonômico corretivo, preocupa-se

com a prevenção de problemas de saúde que podem ser evitados ou corrigidos com

a intervenção imediata à identificação do problema.

1.1 Problema da Pesquisa

A metodologia de obtenção do carvão vegetal em cilindros metálicos verticais

propicia condições posturais favoráveis à saúde do trabalhador?

1.2 Objetivos da Pesquisa

1.2.1 Objetivo Geral

Avaliar as posturas adotadas pelos trabalhadores da produção de carvão

vegetal em cilindros metálicos verticais.

Capítulo 1 Introdução 18

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

1.2.2 Objetivos Específicos

São objetivos específicos desta pesquisa:

• Verificar a incidência de dores e/ou lesões musculoesqueléticas nos

trabalhadores da produção de carvão vegetal em cilindros metálicos,

associadas à atividade profissional, diagnosticando as condições de trabalho

em relação à postura requerida;

• Relacionar as posturas adotadas pelos trabalhadores com as do sistema de

análise de posturas do Método OWAS;

• Avaliar a carga (kg) a que são submetidos os trabalhadores em exercício de

suas tarefas diárias;

• Oferecer alternativas ergonômicas, visando a minimização ou erradicação dos

sofrimentos lombares e constrangimentos posturais.

1.3 Justificativas

Este estudo se justifica pela proposta de prevenção ou minimização dos

constrangimentos posturais e redução do sofrimento a que trabalhadores do setor

especificado são submetidos. Mas tão importante quanto a preocupação com a

saúde do trabalhador deste segmento produtivo, é contribuir com os estudos

científicos sobre um método de produção do carvão vegetal por carbonização que

apresenta proposta de ação sustentável, como cita o Jornal da Ciência, órgão da

Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência – SBPC (2007).

A literatura cita a indústria carvoeira como um dos segmentos produtivos que

mais afetam negativamente o meio ambiente e desrespeitam os direitos básicos do

trabalhador no Brasil, porém trata-se de uma atividade em ascensão na economia do

país, fundamental na produção do ferro-gusa. Segundo Homma et al. (2006), da

produção total de ferro-gusa no país, 66,8% envolvem o uso de carvão mineral e

33,2% de carvão vegetal e o Brasil figura no cenário internacional como o maior

produtor e consumidor de carvão vegetal.

Capítulo 1 Introdução 19

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Gráfico 1 - Utilização do carvão na produção do f erro-gusa

Em 2003 chegou a produzir e consumir 29.202 milhões de mdc (metros cúbicos de

carvão), afirma Guimarães Neto (2005).

Dias et al (2002) afirmam que os problemas lombares aparecem como a

segunda causa de demanda de consulta médica na rede de serviços de saúde,

sendo expressivo o número de trabalhadores precocemente incapacitados para o

trabalho. Contribuir com estudos envolvendo a saúde ocupacional do trabalhador

nesse processo produtivo é uma proposta que vai ao encontro das ações em busca

de mudança da realidade social que envolve a indústria carvoeira nacional.

A pesquisa apresenta-se descrita em cinco capítulos, assim estruturados:

Capítulo 1: Introdução;

Capítulo 2: Referencial teórico

Capítulo 3: Metodologia

Capítulo 4: Análises e discussões;

Capítulo 5: Conclusões, seguido de apêndices e anexos.

66,8% Carvão mineral

33,2 % Carvão vegetal

Capítulo 2 Referencial Teórico 20

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O Trabalho

O trabalho, em sua concepção original está diretamente associado à pena,

esforço e sofrimento. Do ponto de vista etimológico, é originário do latim popular

tripaliare, que significa torturar com o tripalium, instrumento de tortura e

constrangimento (XAVIER 2006). Esse histórico atribui ao trabalho uma conotação

de martírio, envolvendo o sofrer e o fazer sofrer. Portanto, entendendo o trabalho

como toda atividade que gera algum tipo de produção inerente à condição humana,

cabe então dissociar a relação com sofrimento.

As disciplinas que estudam o trabalho, como: sociologia, economia, ergonomia,

as engenharias, psicologia – abordam diferentes concepções a respeito. Para alguns

trata-se, sobretudo, de uma relação social (relação salarial); para outros, trata-se do

emprego; em outros casos, caracteriza uma atividade de produção social,

intelectual. Wisner (1987) define como uma atividade obrigatória que acrescenta um

valor e entra para o circuito monetário.

Este estudo adota a definição de Dejours (2004) que se refere ao trabalho

como aquilo que implica, do ponto de vista humano, o fato de trabalhar: gestos,

saber-fazer, um engajamento do corpo, a mobilização da inteligência, a capacidade

de refletir, de interpretar e de reagir às situações; é o poder de sentir, de pensar e de

inventar. Esta concepção é interessante por não relacionar o trabalho em primeira

instância a questão salarial ou emprego; aborda o ato de trabalhar, que segundo

Dejours (2004), é um modo de engajamento da personalidade para responder a uma

tarefa delimitada por pressões (materiais e sociais). Nesse aspecto, Abrahão e

Torres (2004) enfatizam: O trabalho revela características especificamente humanas,

como a capacidade de criação e produção de bens específicos, bem como permite a

inserção do sujeito em um contexto social, em função de uma atividade a ser

executada.

Para adaptar o trabalho aos seres humanos é necessário ter-se conhecimento

o máximo possível sobre eles. Rio e Pires (2001) recomendam que adaptações

sejam feitas no trabalho para que o ato de trabalhar não seja entrópico, não leve ao

Capítulo 2 Referencial Teórico 21

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

desgaste desnecessário. Mas evitar o desgaste não é suficiente. É necessário o

desenvolvimento de políticas organizacionais que conduzam ao prazer no trabalho.

Ao executar a tarefa, o trabalhador que encontra satisfação em sua atividade produz

mais com maior segurança com menor estresse.

Na física, o termo estresse caracteriza o grau de deformidade que a estrutura

sofre quando submetida a um esforço. Segundo Limongi e Rodrigues (2002, p.27),

“Hans Selye utilizou esse termo para denominar o conjunto de reações que um

organismo desenvolve ao ser submetido a uma situação que exige esforço de

adaptação”.

A definição do estresse no trabalho corresponde ao desalinhamento entre as

condições do trabalho e as individualidades dos trabalhadores. É visto por Baker e

Karasek (2000) como as respostas físicas e emocionais prejudiciais que ocorrem

quando as exigências do trabalho não estão em equilíbrio com as capacidades,

recursos ou necessidades do trabalhador.

O sociólogo Gilberto Freire (1983) afirma que o ser humano é um ser biológico,

ecológico e socialmente determinado e seu bem-estar – além de físico, psicossocial

- está dependente e relacionado a situações que o envolvem.

Para Abrahão e Torres (2004), o trabalho constitui um elemento fundamental

da existência humana, podendo contribuir para o bem-estar ou para a manifestação

de sintomas que afetam a saúde. A organização do trabalho é visualizada como

fator mediador desse processo. Ela é compreendida como a divisão do trabalho,

incluindo a divisão das tarefas, a repartição, a definição das cadências, o modo

operatório prescrito e a divisão de homens, repartição de responsabilidades,

hierarquia, comando e controle.

As condições de trabalho englobam todos os aspectos passíveis de influenciar

a produção, sem limitar-se a postos de trabalho ou aspectos físicos do ambiente,

mas enfocando as relações do homem com a sua tarefa.

A forma como ocorre a interação nesse sistema configura a condição de

trabalho. Com esse sentido, a ergonomia dispõe-se a estudar formas de viabilizar a

melhor maneira do homem executar as suas tarefas.

Capítulo 2 Referencial Teórico 22

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

2.2 A Organização do Trabalho

A organização do trabalho é o eixo da ergonomia organizacional e está

relacionado com a maneira como o trabalho é distribuído no tempo e no espaço

físico; define quem faz o quê, como, quando e quanto. Abrange também aspectos

mais específicos do trabalho em relação ao trabalhador, que devem responder a

questionamentos como os sugeridos por Rio e Pires (2001, p.193):

1. O trabalho é predominantemente físico ou psíquico?

2. Quais os segmentos musculoesqueléticos mais envolvidos? Como?

3. Que tipo de exigência é feito sobre o sistema óptico?

4. Como é feita a estimulação sensorial?

A resposta desses questionamentos deve ser feita a partir de análises dos

seguintes aspectos:

O ciclo de trabalho é importante na organização do trabalho. Consiste numa

seqüência de ações para a execução de uma atividade, que pode ser de alta

repetitividade ou de baixa repetitividade, de acordo com a seqüência de repetição

das ações. A ergonomia se preocupa em evitar as atividades altamente repetitivas,

sugerindo o balanceamento delas.

Em linhas de montagem é típico os cargos exigirem repetição da mesma tarefa,

que se forem tarefas muito curtas e rápidas pode vir a provocar alienação mental e

concentrar a fadiga em alguns músculos específicos. O tempo do ciclo, ou seja, da

repetição da mesma tarefa, segundo Rio e Pires (2001) não deve ser inferior a um

minuto e meio.

A carga , segundo Rio e Pires (2001, p.84) “é constituída por um conjunto de

exigências que atua como um todo”. Pode ser dividida em: sensorial, cognitiva,

afetiva, visual e musculoesquelética. É função de todas as áreas da ergonomia. A

carga de trabalho ideal mistura equilibradamente as exigências físicas e cognitivas e

alterna tarefas fáceis e difíceis.

As exigências de um trabalho composto só por tarefas difíceis comprometem a

estabilidade do trabalhador, pois pode provocar estresse e esgotamento mental. Da

Capítulo 2 Referencial Teórico 23

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

mesma forma, um trabalho composto somente por tarefas fáceis pode desestimular

o trabalhador, levando-o à monotonia pela falta de desafios.

A duração relaciona-se ao tempo consumido pela atividade.

A autonomia é o controle que o trabalhador pode ter sobre seu trabalho.

Para que as organizações se adeqüem e viabilizem boas condições de trabalho

aos atores da produção, a legislação estabelece normas que contemplam aspectos

relacionados à minimização ou exclusão do sofrimento no desenvolver da tarefa.

2.3 A Norma Regulamentadora 17 – NR 17

A Norma Regulamentadora 17 (NR17) que aborda a ergonomia foi concebida

no sentido de estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de

trabalho às características dos trabalhadores, proporcionando conforto, segurança e

desempenho eficiente. (NR17). Nesse aspecto, visa estabelecer parâmetros cabíveis

às condições favoráveis de trabalho.

Com o objetivo de subsidiar a atuação dos profissionais responsáveis pelo

cumprimento da norma, foi desenvolvido um manual de aplicação da NR17, que a

comenta item a item, caracterizando o esperado por cada enunciado e

estabelecendo os principais aspectos a serem considerados ao elaborar uma

Análise ergonômica do Trabalho, AET.

O que caracteriza a necessidade da presença de um ergonomista, apontado no

subitem 17.1.2 da norma, faz deste o subitem mais polêmico da norma. Não se trata

apenas de solicitar uma AET de maneira protocolar, a análise deve contribuir para a

melhora das condições de trabalho, deve partir de uma demanda clara, enfocando

um problema específico. Como documento oficial, o manual não se propõe a

apresentar soluções efetivas para todos os problemas oriundos de condições de

trabalho desfavoráveis, mas caracteriza a existência de uma legislação que aplica

princípios ergonômicos na segurança e saúde dos trabalhadores.

2.4 Saúde do Trabalhador

A saúde do trabalhador pode ser definida como o processo de saúde e doença

dos grupos humanos, em sua relação com o trabalho (MENDES e DIAS, 1991).

Capítulo 2 Referencial Teórico 24

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Estudos caracterizam um esforço de compreensão do desenvolver deste

processo – como e porque ocorre - e do desdobramento de alternativas de

intervenção que levem à satisfação das expectativas em torno da evolução da

relação homem trabalho.

As funções fisiológicas que influem no trabalho, segundo Iida (2003) são:

• Função neuromuscular : Composta pelo sistema nervoso. O sistema nervoso

central é equipado para receber, interpretar e processar as informações,

transformando-as em movimentos musculares como gestos, fala e demais

movimentos. Essa transformação dos estímulos em reações ocorre por

descargas elétricas.

• Músculos : Deles dependem todos os movimentos do corpo. Transformam a

energia armazenada no corpo em contrações concêntricas ou excêntricas,

reproduzindo um sistema de alavancas, pois para cada movimento do corpo

há dois músculos envolvidos, ao contrair um, ocorre distensão no outro.

• Metabolismo : Aborda aspectos energéticos do corpo humano. É responsável

pela transformação da alimentação em energia, que deve ser satisfatória para

que a pessoa possa manter-se viva e execute atividades.

• A visão: É o sentido relacionado à percepção de formas e cores. A percepção

visual consciente consiste em interpretar estímulos visuais no córtex cerebral.

É um aspecto a ser bastante considerado na interface homem-tarefa,

preocupações com a função visão mobilizam desde aspectos físicos do posto

de trabalho, como iluminação e proteções em forma de EPI’s a aspectos

cognitivos afetados pelo desconforto visual.

Dos aspectos que influenciam a visão dos indivíduos, dois merecem especial

destaque:

1. A acuidade , que é a capacidade visual para discriminar pequenos

detalhes. Depende, entre outros aspectos, da iluminação e do tempo

de exposição. Iluminações fortes ou fracas prejudicam a acuidade

visual, pois provocam variações na pupila.

Capítulo 2 Referencial Teórico 25

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

2. A legibilidade , que é um modo de percepção ligado à recepção de

uma informação e o seu reconhecimento, está associada aos aspectos

mnemônicos da percepção, pois se trata da comparação da informação

recebida com a informação armazenada na memória.

Os problemas ergonômicos relativos a esse fator ocorrem na dificuldade de ver

e/ou na não compreensão e decodificação da informação.

• A audição: É a captação de sons pelo aparelho auditivo. A sua função básica

é captar e converter ondas de pressão em sinais elétricos que são

transmitidos ao cérebro para produzir sensações sonoras. Pode ser

prejudicada por sons muito altos ou constantes.

O posto de trabalho deve ser projetado de forma que a audição dos

trabalhadores não seja afetada nem por sons muito altos ou estridentes nem por

sons constantes sob forma de ruídos ou vibrantes.

Essa recomendação somente pode ser alterada em caso da necessidade de

utilização de sinais auditivos, inerentes ou emitidos pelo objeto ou máquina em uso.

Os sinais auditivos são utilizados quando existem situações de alerta ou nas quais é

exigido muito da capacidade visual. Nesses casos, os sinais auditivos

complementam, reforçam ou substituem os sinais visuais.

• O senso cinestésico: É o sentido que fornece informações sobre movimentos

de partes do corpo, sem a exigência de acompanhamento visual. Para efeito

de estudos ergonômicos, o senso cinestésico tem sua importância no que se

refere à realização de uma determinada tarefa de trabalho ou função de uso

de um objeto qualquer que dispense o acompanhamento ou controle visual,

por exemplo, digitar sem olhar as teclas.

• Coluna vertebral : Tem função de sustentação e proteção da medula espinhal,

que faz parte do sistema nervoso central. Devido a sua natureza delicada,

está sujeita a deformidades, que podem ser congênitas ou adquiridas.

Esforços físicos e má postura são aspectos consideráveis na origem dos

problemas adquiridos.

Capítulo 2 Referencial Teórico 26

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Entendendo a gama de aspectos que podem vir a influenciar no bem estar do

trabalhador à execução da sua tarefa, um em especial torna-se agente de

desconforto e mal estar: a postura.

Como reflexo das posturas inadequadas e movimentos mal executados, têm-se

as lombalgias, cuja identificação é fator facilitador no diagnóstico postural. Para o

trabalhador é simples apontar o local dolorido e ao pesquisador associá-lo aos

instrumentos de pesquisa ergonômica.

Dorsalgia é um termo que designa as dores que ocorrem na região dorsal e

lombalgia designa as dores da região lombar. A união dos dois termos,

dorsolombalgia, denomina dores nas costas de maneira mais ampla. Esses termos

não caracterizam doenças, mas sintomas de dor que podem ou não estar

relacionados a quadros específicos de doenças.

Dentre os fatores que contribuem na formação de lombalgias, Rio e Pires

(2001) apontam quatro que podem ser diretamente relacionados ao trabalho:

1. Insuficiência muscular : causado por sedentarismo, que leva a uma

musculatura flácida. A posição sentada por longos períodos compõe quadro

de alto risco de lombalgias.

2. Traumas e microtraumas : Contusões e mal uso crônico da coluna configuram

causas de lesão das estruturas cujo sofrimento expressa-se como lombalgia.

3. Posição ortostática : a posição em pé, que por período prolongado pode ser

lesiva.

4. Estresse psíquico : Fonte importante de disfunções posturais e de movimentos

e de hipertonia da musculatura lombar.

Inúmeras situações no cotidiano, incluindo ou não o trabalho, podem originar

lombalgias agudas como torção na coluna, forte extensão da musculatura dorsal,

tração do tronco para um dos lados, falta de condicionamento físico, levantamento

de cargas pesadas, inclinação do lombo, desarmonia do ritmo lombo pélvico,

vibrações etc. Localizar a presença dessas situações na execução das tarefas de

trabalho é fundamental para o processo de reversão de condições posturais

inadequadas.

Capítulo 2 Referencial Teórico 27

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Ainda que divididas em dois grupos: dentro e fora do trabalho, as

recomendações para prevenção de dorsolombalgias devem ser acatadas de forma

geral, pois se tornam menos eficientes, em caso de ações isoladas.

A qualidade da vida fora do ambiente de trabalho é fator promovedor e ao

mesmo tempo resultante da qualidade de vida no trabalho e vice-versa.

2.5 A Ergonomia

De forma direta, Iida (2005, p.2) conceitua ergonomia como “O estudo da

adaptação do trabalho ao homem” essa adaptação é referente a toda a situação em

que ocorre o relacionamento entre o homem e uma atividade produtiva.

Ainda que não seja considerada uma ciência, a ergonomia é uma área de

conhecimento que envolve diversas ciências no sentido de adequar o trabalho ao

homem que o vivencia. Nesse aspecto, a Associação Brasileira de Ergonomia

ABERGO (2000) define a ergonomia como uma atitude profissional que objetiva

modificar sistemas de trabalho para adequar as atividades nele existentes às

características, habilidades e limitações das pessoas com vistas ao seu

desempenho eficiente, confortável e seguro.

A visão mais recomendada, segundo Rio e Pires (2001), não deve partir

primeiramente da análise dos componentes do posto de trabalho, mas do corpo

humano, das suas características anatômicas e fisiológicas. Essa afirmação é

considerada neste estudo visto que a saúde do trabalhador, foco principal da

ergonomia, é a condição indispensável para o desempenho e produtividade ótimos,

fundamentais para a alta produtividade.

Em um sentido mais amplo, a ergonomia estende-se a estudar não somente

aspectos físicos, embora sejam estes os mais visados pela legislação e pelos

empresários que elegem a antropometria e biomecânica como os estudos mais

necessários para que o bem-estar do trabalhador se reflita em produtividade.

Xavier (2006) enfatiza que para atingir os objetivos apontados nas definições, a

ergonomia conjuga estudos dos seguintes elementos, que compõem o sistema

produtivo:

Capítulo 2 Referencial Teórico 28

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

• O homem : Abrangendo suas características físicas, fisiológicas e sociais. Tem

influência do sexo, idade, treinamento etc.

• A máquina : Todas as ajudas materiais que auxiliam o homem na execução da

tarefa.

• O ambiente : Contempla as características físicas do ambiente: temperatura,

ruídos, vibrações, luz, cores, gases e outros.

• A informação : A comunicação entre os elementos de um sistema produtivo.

Transmissão, processamento e tomada de decisão.

• A organização : Representa a conjugação dos elementos citados no sistema

produtivo, analisando aspectos como horários, turnos, formação de equipes,

estratégias de recursos humanos, etc.

• Conseqüências do trabalho : Saúde do trabalhador, acidentes de trabalho,

estudos de erros, estudos sobre gastos energéticos, questões de controle em

geral.

O marco teórico adotado neste estudo aponta os aspectos cognitivos e

organizacionais como de igual consideração no equilíbrio homem-tecnologia-

organização. Quanto à ergonomia organizacional, que atualmente recebe

denominação de macroergonomia, tem caráter abrangente e envolve a estrutura da

organização empresarial. Conjuga todos os outros aspectos ergonômicos e vem ser

citada por estudiosos como a terceira geração da ergonomia, que em primeiro

momento enfocou a relação homem - máquina, depois ampliou seu foco para

homem-máquina-tarefa, para em seguida acrescentar a organização a esse universo

de estudo.

Para a ergonomia, a postura e o movimento são muito significantes. Tanto no

cotidiano como na execução do trabalho, eles são determinados pela atividade em

função da tarefa e pelo posto de trabalho.

Daniellou (1999) propõe a expressão "patologia organizacional" ao refletir

sobre intervenções de natureza ergonômica no enfrentamento de situações de

trabalho contendo alta prevalência de problemas musculoesqueléticos. Tais

problemas se estabelecem de forma a gerar redução de produtividade do

Capítulo 2 Referencial Teórico 29

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

trabalhador e causar os fatores geradores deste evento. Segundo Jackson Filho

(2004) esse funcionamento paradoxal é caracterizado por:

1. Fonte de perda de produtividade não detectada pela empresa;

2. Tentativa de compensação dessa perda de produtividade através de pressão

direta sobre os ritmos de trabalho ou sobre os efetivos;

3. Agravação da perda de produtividade devida aos efeitos secundários dessa

pressão. Uma postura defeituosa está envolvida em todas as condições

patológicas dolorosas devidas a lesões, excesso de uso, mal uso e

envelhecimento (CAILLIET, 1999).

2.6 Biomecânica

A biomecânica do trabalho analisa as interações e as conseqüências da

relação homem-trabalho, do ponto de vista dos movimentos músculoesqueletais

(XAVIER 2006). Contempla as posturas corporais associadas à aplicação de forças.

O sangue funciona como combustível nas movimentações dos músculos, conduzido

até eles pelos vasos capilares. Ao contrair um músculo, ocorre o estrangulamento

dos capilares, o que vem a diminuir a quantidade de sangue, consequentemente

causando a fadiga muscular. Com a contração e distensão do músculo essa

situação pode vir a ser revertida, pois o músculo toma aspecto de bomba sanguínea.

O que explica a fadiga causada pelo trabalho estático com longo tempo de

contração e favorece o equilíbrio ao trabalho dinâmico.

No estudo dos princípios biomecânicos, as leis físicas da mecânica são

associadas ao corpo humano, assim sendo, pode-se verificar as tensões musculares

e de articulações durante um movimento ou uma determinada postura. Dul e

Weerdmeester (1995, p.18) recomendam: “Para manter uma boa postura ou realizar

um movimento as articulações devem ser conservadas o tanto quanto possível na

sua posição neutra”.

Uma postura defeituosa está envolvida em todas as condições patológicas

dolorosas devidas a lesões, excesso de uso, mau uso e envelhecimento (CAILLIET,

1999). A postura trata-se de uma atitude. Não uma tarefa. Nessa diferença reside a

característica específica da postura.

Capítulo 2 Referencial Teórico 30

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Postura é a atitude assumida pelo ser humano na posição sentada ou em pé,

que vem a influenciar todos os aspectos musculoesqueléticos, (CAILLIET 1999). Do

desenvolvimento e das modificações posturais podem surgir doenças, traumas e

fatores de alteração psicológicos.

A postura correta faz a pessoa sentir-se bem. Estudos como de Dul e

Weerdmeester (1995) e Iida (2005) apontam para a afirmação de que a postura

correta é a postura sem esforço, esteticamente correta e indolor. Alguns dos maus

hábitos posturais ocorrem pela atividade do ser humano em função da tarefa que

exerce. A periodicidade leva a acomodação. Segundo Rio e Pires (2001) são vários

os fatores que tem relevante importância sobre a postura:

• Fatores hereditários: alterações musculoesqueléticas congênitas como joelhos

voltados para dentro ou encurtamento de membros;

• Distúrbios do crescimento: como a cifose torácica, anomalias estruturais:

hemivértebras, spina bífida;

• Hábito e treino: fundamental na manutenção da boa postura no trabalho e no

cotidiano;

• Doenças da coluna e da região pélvica;

• Solicitação muscular diária excessiva ou insuficiente;

• Fatores psíquicos: geradores de tensões musculares, instabilidade postural e

movimentos.

A postura modifica os aspectos mecânicos, estáticos e cinéticos das funções

musculoesqueléticas, explica Cailliet (1999). Associada diretamente à má postura,

está a dor. Em curto, médio ou longo prazo, a dor e o sofrimento estão entre os

fatores agravantes do baixo rendimento produtivo do ser humano.

A movimentação se faz necessária, a mudança de posturas durante o trabalho

é fundamental na saúde do sistema musculoesquelético, pois possibilita alternância

do uso de articulações e dos segmentos musculoligamentares.

Para avaliar a biomecânica da tarefa, com finalidade de minimizar os efeitos ou

dores originados por má postura, convém inicialmente observar e registrar a postura-

base adotada pelo trabalhador em função da atividade exercida. A postura-base ou

Capítulo 2 Referencial Teórico 31

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

postura principal é determinada pelas exigências das atividades: em pé, sentado,

deitado, parado ou não. Dela derivam as posturas secundárias que são adotadas

consciente ou inconscientemente para variar as exigências musculoesqueléticas,

através da flexibilidade postural. Mas não é fácil determinar a postura ideal, em

termos de coluna vertebral. Considera-se boa postura aquela cuja configuração

estática natural da coluna é mantida, respeitando suas curvaturas originais e não

exige esforço.

Diversos são os princípios importantes na ergonomia que procedem de outras

áreas do conhecimento. Esses princípios são elementares nas recomendações

sobre movimentos e posturas. Os princípios mais notáveis na biomecânica,

amparados por Dul e Weerdmeester, (1995) são comentados a seguir:

• As articulações devem ocupar uma posição neutra.

A posição neutra, neste caso é aquela que não exige esforço para ser mantida.

A neutralidade da posição é conseguida quando os músculos e ligamentos situados

entre as articulações são tensionados minimamente. As posturas neutras impõem a

menor carga possível sobre as articulações e segmentos musculoesqueléticos, além

disso, a posição neutra das articulações possibilita aos músculos liberarem força

máxima, quando solicitados. Toma-se como exemplo, o movimento das mãos. Na

fig. 1 A temos a mão nas posições de extensão e flexão, onde é exigido esforço dos

músculos para sustentação da posição. A figura 1B apresenta a mão em seu estado

neutro, cujo posicionamento das articulações permite maior aproveitamento das

forças musculares.

A B

Figura 1 - Posições da mão: A em extensão e flexão - B posição neutra Desenhos da autora. Adaptados de Dul e Weerdmeester (1995)

O aumento da distância entre as mãos e o eixo do corpo ocasiona aumento da

tensão nas costas. Com o peso e as mãos afastados do eixo do corpo, há exigência

Capítulo 2 Referencial Teórico 32

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

de articulações como cotovelo, ombro, punhos e costas aumentando a tensão sobre

elas e os respectivos músculos.

Segundo Dul e Weerdmeester (1995) Uma carga de 20 kg carregada de forma

em que as mão estejam afastadas a aproximadamente 35 cm do eixo do corpo

(como sugere o trabalhador “A” da Figura 2) corresponde a uma tensão

musculoesquelética dorsal de 700N. Já a posição do trabalhador “B”, essa tensão

nas costas aumenta para 950N.

A B

Figura 2 - Trabalhadores “A” e “B” com diferentes afastamentos da carga em relação ao corpo

Desenhos da autora. Adaptados de Dul e Weerdmeester (1995)

• A curvatura do corpo para frente deve ser evitada.

Sabe-se que a parte superior do corpo de um adulto acima da cintura, tem

massa média de aproximadamente 40 kg. Quando o tronco do indivíduo pende para

frente, exige contração dos músculos e dos ligamentos das costas com finalidade de

manter essa posição. A tensão nessa posição é maior na região lombar, causando

dores.

O leiaute do posto de trabalho deve ser projetado a fim de evitar que o

trabalhador precise se curvar para execução de tarefas. Caso seja imprescindível, o

movimento de curvatura do tronco pode ser substituído pelo agachamento do

trabalhador.

“Se o movimento exigir levantamento de cargas, é importante sempre que

possível que a carga sobre a coluna seja feita no sentido vertical, evitando-se as

cargas com as costas curvadas”, recomenda Xavier (2006, p.33).

Capítulo 2 Referencial Teórico 33

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

A capacidade de carga máxima que uma pessoa pode levantar varia conforme

o uso das musculaturas do dorso, das pernas e dos braços, além da distância do

peso em relação ao corpo.

Tabela 1 - Capacidades de levantamento. Fonte: Iida (2005)

Distância (m) a partir do Capacidade de levantamento

Mulheres Homens Corpo

(horizontal)

Piso

(vertical) 50% 95% 50% 95%

0,3

0,3

0,9

1,5

23

19

11

7

11

5

51

44

47

45

39

29

0,6

0,3

0,9

1,5

9

6

5

0

1

0

24

28

21

9

15

11

0,9

0,3

0,9

1,5

0

1

0

0

0

0

5

10

7

0

1

0

• A inclinação da cabeça deve ser evitada.

É recomendável que a cabeça seja mantida o mais próximo possível da postura

vertical. Inclinar a cabeça mais que 30° para frent e implica da submissão dos

músculos do pescoço a uma tensão para manter a posição. Essa tensão, na altura

da região cervical ocasiona dores na nuca e nos ombros.

• As torções do tronco devem ser evitadas.

Torções do tronco tensionam os discos elásticos existentes entre as vértebras.

Essa tensão submete os músculos e articulações situadas nos dois lados da coluna

vertebral a cargas assimétricas prejudiciais à saúde, por isso a torção deve ser

evitada. Girar o corpo por completo em lugar de torcer só o tronco é a alternativa

mais indicada nessa situação.

Capítulo 2 Referencial Teórico 34

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

• Os movimentos bruscos devem ser evitados, pois podem produzir picos de

tensão.

O pico de tensão é resultante da aceleração do movimento em curta duração.

Para fazer um grande esforço físico com uso de força muscular é necessário

previamente aquecer a musculatura e o movimento de levantamento do peso deve

ser feito contínua e gradativamente com ritmo suave. Os levantamentos de pesos

executados rapidamente podem produzir fortes dores nas costas.

• Alternância entre posturas e movimentos.

A repetição de movimentos continuamente, assim como as posturas

prolongadas são muito fatigantes e sujeitam o trabalhador a lesões

musculoesqueléticas ou nas articulações que podem se manifestar em curto, médio

ou longo prazo.

A ergonomia sugere a adoção, no máximo possível, das posições neutras, que

impõe a menor carga sobre as articulações e segmentos musculoesqueléticos.

Quando não é completamente possível, é aconselhável ao trabalhador alternar entre

posturas e movimentos, explorando a flexibilidade postural do corpo humano.

O trabalho do médico clínico, citado por Rio e Pires (2001, p.166) ilustra essa

recomendação:

[...] ele se levanta e recebe o paciente, senta-se e divide seu tempo

entre conversar com este e redigir/digitar dados, levanta-se e dirigi-

se ao local do exame clínico, examina o paciente utilizando certos

equipamentos, retorna à mesa, senta-se, redige/digita, conversa com

o paciente, levanta-se e despede-se deste.

O rodízio periódico entre os postos de trabalho também é uma alternativa para

trabalhadores envolvidos em tarefas que exigem movimentos de muita repetição,

desde que os movimentos exigidos nesses postos de trabalho sejam diferentes.

• Restrição da duração do esforço muscular contínuo.

A duração do esforço muscular localizado deve ser limitada. O trabalho estático

prolongado ou com movimentos muito repetitivos suscita uma tensão contínua de

Capítulo 2 Referencial Teórico 35

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

certos músculos do corpo, provocando fadiga muscular localizada. Este processo

resulta em dores, desconforto e queda de desempenho.

Segundo Dul e Weerdmeester (1995, p.20) “quanto maior o esforço muscular,

menor se torna o tempo suportável [...] Com 50% do esforço muscular máximo o

tempo suportável é de aproximadamente dois minutos”.

Kroemer e Grandjean (2005) recomendam que os esforços estáticos

impossíveis de serem evitados devam ser reduzidos a menos de 15% do máximo e

a 10% para esforços de longa duração. E enfatizam que os estudos de Wely em

1970 determinam que o esforço dinâmico de natureza repetitiva não deve exceder

30% do máximo, embora possa ser de até 50% se o esforço não se prolongar por

mais de 5 minutos.

• Prevenção da exaustão muscular.

São necessários vários minutos para a recuperação do músculo afetado por

exaustão. Estudos apontam para a necessidade de cerca de trinta minutos para a

recuperação de 90% da capacidade de desempenho em um músculo exausto.

Músculos meio exaustos atingem o mesmo índice de recuperação em quinze

minutos. Para recuperar um músculo em exaustão completa podem ser necessárias

várias horas.

A organização do trabalho deve evitar a exaustão muscular a fim de não afetar

o desempenho do trabalhador e consequentemente a produtividade.

• Pausas curtas e freqüentes são melhores.

O próprio ciclo do trabalho pode contemplar naturalmente o trabalhador com pausas

curtas nas tarefas. O intervalo entre tarefas, o ciclo de máquinas e equipamentos, o

deslocamento do trabalhador entre setores, são exemplos de pausas curtas.

Diversas pequenas pausas ao longo da jornada de trabalho evitam que o

músculo vá à exaustão, por isso são mais recomendadas que as pausas só ao final

do período. Caso não haja intervalos naturais no desenvolver da tarefa, Dul e

Weerdmeester (1995) recomendam a programação de pausas periódicas para evitar

a exaustão muscular do trabalhador.

Capítulo 2 Referencial Teórico 36

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Todas as recomendações para prevenção de problemas na saúde do

trabalhador devem ser acatadas ao mesmo tempo, pois contempladas isoladamente

se tornam menos eficazes e eficientes. A qualidade da vida fora do ambiente de

trabalho é fator promovedor e ao mesmo tempo resultante da qualidade de vida no

trabalho e vice-versa.

As características da pesquisa ergonômica permitem visualizar duas vertentes:

a prática e a cientifica. Os resultados práticos se traduzem nas mudanças

implantadas nas organizações onde as intervenções são realizadas.

Do ponto de vista científico, os resultados das intervenções ergonômicas vão

interagir nos diversos campos e áreas de conhecimento.(VIDAL, 2001). Em ambas

as situações, as contribuições se fazem de grande interesse tanto em nível pessoal

(trabalhador) como organizacional (empresa) e refletem na produtividade geral.

O trabalho muscular se apresenta de duas formas: estático e dinâmico.

Kroemer e Grandjean (2005, p.15) exemplificam como: “O trabalho de girar uma

roda é dinâmico e segurar um peso com o braço esticado, estático”. Nesse exemplo

podemos perceber o estático como o tipo de trabalho menos aconselhável quanto ao

conforto postural do trabalhador.

Ainda Kroemer e Grandjean (2005, p.15) descrevem essa diferença da

seguinte forma:

1. O trabalho dinâmico caracteriza-se por tensão e relaxamento;

2. O trabalho estático, ao contrário, caracteriza-se por um estado de

contração prolongada da musculatura.

Na atividade dinâmica, o trabalho é expresso como o produto resultante de

peso multiplicado pela altura que é levantado. No trabalho estático, os músculos

mantêm-se em estado de alta tensão, produzindo força em todo período de esforço.

A capacidade estática torna possível manter o corpo em qualquer posição.

Para manter a postura de pé, por exemplo, uma série de grupos musculares é

continuamente pressionada, porém quando uma pessoa permanece de pé por um

tempo prolongado, as exigências musculares provocam dores e desconforto

postural. Ao sentar, há redução das tensões dos músculos de todo o corpo,

Capítulo 2 Referencial Teórico 37

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

principalmente das pernas, já o deitar elimina quase todo o trabalho estático, por

isso esta é a posição mais recomendada para o repouso.

Apesar das diferenças pontuais, não há uma separação rígida entre trabalho

estático e trabalho dinâmico. Geralmente uma atividade é caracterizada pela

predominância dos esforços musculares. Em linhas gerais, Kroemer e Grandjean

(2005) caracterizam trabalho estático significativo nas seguintes condições:

1. Esforço grande por 10s ou mais;

2. Esforço moderado por 1 min ou mais;

3. Esforço leve (1/3 força máxima.) por 5 min ou mais.

Nenhuma postura estática ou movimento repetitivo pode ser mantido por longo

período sem causar danos à saúde do trabalhador. Posturas prolongadas e

movimentos repetitivos são muito fatigantes, em longo prazo, podem lesionar

músculos, ligamento ou articulações.

A tensão contínua de determinados músculos do corpo humano resultante de

uma postura prolongada e de movimentos repetitivos pode provocar fadiga muscular

localizada, vindo a gerar dor, desconforto e menor desempenho produtivo.

A recuperação da capacidade de desempenho satisfatória pode demorar vários

minutos para recuperação. Para Dul e Weerdmeester (1995) são necessários cerca

de trinta minutos para a recuperação de 90% do músculo exausto. Músculos meio

exaustos atingem a mesma recuperação em quinze minutos. “As posturas forçadas

são as formas mais freqüente de trabalho muscular estático” (KROEMER E

GRANDJEAN, 2005, p.17). De acordo com estes autores, a causa mais comum é a

manutenção do tronco, cabeça ou membros em posturas não naturais.

Figura 3 – Exemplo de atividade estática

Capítulo 2 Referencial Teórico 38

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Em comparação com o trabalho dinâmico, o trabalho estático (exemplificado na

figura 3), leva a maior consumo de energia, favorece freqüências cardíacas mais

altas e necessita de períodos de repouso mais prolongados, pois quanto maior for a

tensão do músculo, mais rápido se instala a fadiga muscular.

Alguns estudiosos acreditam que um trabalho pode ser mantido por várias

horas por dia, sem sintoma de fadiga, desde que a força exercida não exceda 10%

da força máxima do músculo envolvido.

Para a ergonomia, a postura e o movimento têm grande importância. Tanto no

cotidiano como na execução do trabalho, eles são determinados pela atividade em

função da tarefa e pelo posto de trabalho.

Figura 4 - Trabalho com predominância estática dos músculos das costas, ombros e braços

Segundo Kroemer e Grandjean (2005), os esforços estáticos excessivos (figura

4 ) e repetitivos estão associados ao aumento de riscos de:

1. Inflamação nas articulações devido a estresse mecânico;

2. Inflamação nos tendões;

3. Inflamação nas bainhas dos tendões;

4. Processos crônicos degenerativos;

5. Cãibras;

6. Doenças dos discos intervertebrais.

Como prevenção destes problemas de saúde, o trabalhador pode adotar uma

alternância de posturas ou tarefas. Podem-se fazer também rodízios periódicos, com

Capítulo 2 Referencial Teórico 39

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

a troca de trabalhadores de um posto de trabalho para outro. Posturas prolongadas

podem prejudicar os músculos e articulações.

Os principais itens a serem ressaltados na interação homem-ambiente de

trabalho, conforme Couto (1996, p. 174), são:

1. O corpo deve trabalhar na vertical, na medida do possível;

2. Os braços devem estar na vertical e os antebraços na horizontal, com apoio

nos punhos e antebraços;

3. Todos os instrumentos de uso freqüente devem estar dentro da área de

alcance normal;

4. Todos os instrumentos de uso ocasional devem estar no máximo dentro da

área de alcance máximo;

5. O tronco não deve se curvar rotineiramente para executar a tarefa;

6. No caso do trabalho sentado, o trabalhador não deve afastar as costas do

encosto da cadeira para atingir o objeto de trabalho;

7. Os pés devem estar apoiados;

8. O mobiliário de trabalho não deve comprimir nenhuma parte do corpo do

trabalhador;

9. Os movimentos e posturas devem ser feitos em condição adequada de

conforto;

10. A adequação do posto de trabalho, caso não seja possível o ideal, é preferível

um pouco mais alto. É mais prejudicial ao trabalhador ficar com o tronco

encurvado que com os antebraços mais verticalizados.

2.6.1 A Postura Sentada

Embora a postura sentada seja menos fatigante que a em pé, deve ser evitada

por períodos prolongados. As tarefas que exigem postura sentada devem permitir

essa alternância, oferecendo para o trabalhador cadeiras mais altas, com apoio para

os pés.

Em geral, na posição sentada o pescoço e as costas ficam submetidos às

longas tensões, que podem provocar dores localizadas,.

Capítulo 2 Referencial Teórico 40

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Muitas tarefas exigem acompanhamento visual dos movimentos manuais.

Nesse caso a altura da superfície de trabalho deve ser determinada pelo

compromisso entre a melhor altura para as mãos e a melhor posição para os olhos,

que vai determinar a postura da cabeça e dos ombros. (DUL E WEERDMEESTER,

1995).

Conclusões como essas apontam para a necessidade de um estudo

aprofundado da atividade exercida na posição sentada. Adquirir um assento

ergonômico não é determinante para o conforto na postura do trabalho sentado.

A altura da bancada deve estar de acordo com a altura da visão do trabalhador

e os braços não devem ser mantidos erguidos. As alturas ajustáveis permitem

sempre maior conforto postural ao trabalhador. As manipulações fora de alcance das

mãos exigem movimentos do tronco, o que pode causar lesões e desconfortos.

Segundo Kroemer e Grandjean (2005), os estudos de Caldwell em 1959

viabilizaram a elaboração de regras de força máxima para o trabalho sentado (com

apoio nas costas):

Tabela 2 - Aplicação de forças no trabalho sentado

Exerce maior força Exerce menor força

Mão com rotação para dentro - pronação

(180N)

Mão com rotação para fora - supinação

( 110N)

A rotação da mão operando 30 cm a frente

do eixo do corpo

A rotação da mão operando a menos de

30cm a frente do eixo do corpo

Mão puxando para baixo (370N) Mão puxando para cima (160N)

Força de empurrar a mão (600N) Força de puxar a mão (360N)

Empurrar operando a 50 cm a frente do eixo

do corpo

Empurrar operando a menos de 50cm a

frente do eixo do corpo

Puxar operando a uma distancia de 70 cm

do eixo do corpo

Puxar operando a uma distancia menor de

70cm do eixo do corpo

Fonte: Adaptado de Kroemer e Grandjean (2005)

A Tabela 2 compara as forças necessárias para movimentos em posição

sentada, de dentro e fora e de puxar e empurrar, tais informações podem ser úteis

Capítulo 2 Referencial Teórico 41

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

na identificação de posturas inadequadas e nas sugestões de ajustes posturais no

trabalho sentado. Isso permite a definição de alguns princípios próprios para o

projeto do posto de trabalho e desenvolvimento da tarefa.

Para Kroemer e Grandjean (2005, p.33) “Em todas as atividades é necessário o

exercício da força muscular com o máximo de eficiência com esforço mínimo”.

2.6.2 A Postura Em Pé

O trabalho em pé está, a princípio, condicionado á disposição do posto de

trabalho. Segundo Couto (1996), o corpo humano deve trabalhar na vertical, pois

nesta posição ele encontra seu melhor ponto de equilíbrio, com baixo nível de

tensão dos músculos em geral.

Ainda Couto (1996) recomenda que para valer este princípio algumas medidas

devam ser tomadas. A saber:

1. Adequar a altura das bancadas de trabalho da seguinte forma:

• Para trabalhos pesados, bancada na altura do púbis;

• Para trabalhos moderados, bancada na altura dos cotovelos (braços

na vertical);

• Para trabalhos leves, bancada a 30 cm dos olhos;

• Para trabalhos de escrita, bancada ou mesa na altura da linha

epigástrica.

2. Quando o trabalho envolver mais de um tipo de tarefa, calcular pela tarefa que

ocorrer por mais tempo;

3. Na medida do possível, dotar o posto de trabalho de regulagem de alturas;

4. Na dúvida entre instalar um equipamento mais alto ou mais baixo, instala-lo

mais alto;

5. Ao planejar um ambiente de trabalho, considerar os dados antropométricos da

população trabalhadora.

A força máxima no trabalho em pé, segundo Kroemer e Grandjean (2005, p.31)

foi detalhadamente estudada por Rohmert em 1966 e Rohmert e Jenik (1970) e

Capítulo 2 Referencial Teórico 42

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Walkim et al em 1950. Dos estudos de Rohmert em 1966 tiraram-se as seguintes

conclusões:

• Estando de pé, na maioria das posições do braço, a força de empurrar é maior

do que a força de puxar.

• As forças de empurrar e de puxar são maiores na posição vertical e menores

na posição horizontal.

• As forças de empurrar e de puxar são da mesma ordem de magnitude tanto se

a posição do braço é estendido para os lados ou para frente do corpo (plano

sagital).

• A força de empurrar no plano horizontal é de 160 a 170N para homens e 80 a

90N para mulheres.

2.7 A Pesquisa Ergonômica

A ergonomia contemporânea sugere métodos de análise de trabalho ou a

Análise Ergonômica do Trabalho (AET) que prevê mecanismos de identificação de

dores, desconforto e insatisfação do trabalhador.

A identificação e o registro são as maiores dificuldades quando se trata de

analisar e corrigir as más posturas do trabalho. Esse inconveniente levou alguns

pesquisadores a proporem métodos práticos de registro e análise de postura que

possam validar os resultados das pesquisas nessa área.

O nascimento da ergonomia deu-se pela necessidade de apresentar soluções

para os problemas originários de situações de trabalho que não condizem com a

satisfação do trabalhador no momento da realização da tarefa.

Em face à inicial falta de referencial teórico, os estudos ergonômicos se

desenvolveram com base em experimentos, o que caracteriza uma atitude científica.

Historicamente, a ergonomia surgiu a partir do desenvolvimento de duas

correntes distintas: Uma com influências das ciências aplicadas, surgiu na Inglaterra

em 1947 e concentra-se nas características físicas e psicológicas do homem. A

outra se originou na França praticamente com a publicação do livro de A.

Ombredane e J. Faverge, intitulado A Análise do Trabalho, em 1955, conforme

Wisner (1994) e sem desconsiderar as características psicofisiológicas, dá

Capítulo 2 Referencial Teórico 43

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

importância para a análise da atividade do trabalhador, priorizando o processo do

trabalho e o homem como elemento desse processo. A partir desta publicação, as

características da tarefa deixam de ser descritas pela direção da organização e

passam a ser pela análise da atividade do trabalho. Daí a recomendação de que

uma análise ergonômica deve partir de um problema específico, identificado como

efeito de uma situação ergonomicamente insatisfatória.

Segundo Abrahão e Pinho (1999) os critérios de avaliação do trabalho são

sustentados por três eixos:

1. A segurança dos homens e equipamentos;

2. A eficiência do processo produtivo;

3. Bem estar dos trabalhadores nas situações de trabalho.

A avaliação ergonômica visa confrontar as situações reais de trabalho com os

conhecimentos em torno desses três eixos. Sendo assim, torna-se necessário a

apreciação do modelo de trabalho, das características do trabalhador e da relação

homem-trabalho na situação estudada.

Afirma Wisner (1994) que o método experimental permitiu progressos

espetaculares na concepção e no melhoramento das situações de trabalho. Em

alguns casos, a observação do trabalho favorece a identificação e solução de

problemas que tendem a afetar a saúde do trabalhador.

No que se refere à análise de postura, diversos métodos foram desenvolvidos

baseados em relatos e queixas de trabalhadores que apresentavam dores ou lesões

musculoesqueléticas. A análise é feita com objetivo de identificar a origem do

problema. Para tanto, todas as atividades devem ser observadas, independentes de

serem atividades prescritas, imprevistas ou inconscientes por parte do indivíduo.

(WISNER, 1994).

2.7.1 Análise Ergonômica do Trabalho - AET

A ergonomia é uma área de conhecimento que estuda as relações entre o

homem e o seu trabalho. Quanto à perspectiva, de acordo com a ação ergonômica

pode dividir-se em ergonomia de concepção e ergonomia de intervenção. A

abordagem desse estudo está relacionada com a vertente de intervenção.

Capítulo 2 Referencial Teórico 44

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

É inconcebível conduzir uma AET de todo um complexo industrial de grande

porte, pois se trata de um meio a serviço de um laudo ou uma recomendação, no

que se entende que há de haver um foco. Torna-se necessário a identificação de

pontos problemáticos para então trabalhar-se caso a caso.

2.7.1.1 Análise Macroscópica

A análise macroscópica é geralmente a primeira análise feita, ocorre quando o

ambiente problemático é visitado pelo pesquisador, que visualmente vai

identificando determinados detalhes como má utilização de equipamentos,

carregamentos de cargas pesadas, etc. ou através de questionários pouco

detalhados. Devido à sua superficialidade, geralmente precisa ser completada com

uma análise mais microscópica, onde o problema será visualizado mais

detalhadamente. Neste contexto serão avaliadas posturas e suas conseqüências,

métodos de trabalho, etc. inclusive os fatores ocultos, que não estão visíveis na área

analisada, como horas extras, dados do ambulatório médico, revezamentos, etc.

Não existe um padrão oficial de Relatório de AET, porém Couto (1996) sugere

a seguinte seqüência:

1.Introdução

Justifica-se o porquê da análise naquela área.

2.Explicitação dos objetivos da pesquisa;

Descreve-se o que se pretende com a pesquisa.

3.Descrição da tarefa;

Detalha-se a tarefa realizada naquele ambiente.

4.Descrição da metodologia da tarefa;

5.Descrição dos resultados encontrados;

6.Conclusões;

7.Recomendações.

Couto (1996) ainda recomenda atenção a cinco critérios essenciais a uma

solução ergonomicamente correta:

Capítulo 2 Referencial Teórico 45

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

1.Biomecânico: se a mecânica do ser humano funciona melhor na nova situação;

2.Fisiológico: o indivíduo se cansa menos;

3.Epidemiológico: ocorre redução de lesões na nova situação;

4.Psicofísico: os trabalhadores aceitam bem a situação;

5.Critério de produtividade: aumenta o rendimento;

Tem-se que observar a reação do trabalhador, visto que, em geral, as

recomendações em sua maioria alteram sua rotina de trabalho. O laudo deve relatar

o que deve ser feito e o que não deve ser feito, utilizando clareza e objetividade. A

bibliografia deve sempre ser apresentada, é ela que dá suporte técnico ao trabalho.

Segundo Vidal (2001) o que caracteriza uma intervenção ergonômica é a

construção que vai viabilizar a mudança necessária, e que possa inserir os

resultados da ergonomia nas crenças e valores das organizações que as demandam

e recebem seus resultados. Esta construção divide a intervenção e ocorre em etapas

distintas:

1.Instrução da demanda, conforme figura 5.

2.Análise da atividade e dos riscos;

3.Concepção de soluções ergonômicas;

4.Implementação ergonômica.

ATALHO ILUSÓRIO -SOLUÇÃO PRONTA

Figura 5 - Esquema de uma Intervenção ergonômica (V idal, 2001)

IMPLEMENTAÇÃO DAS SOLUÇÔES ERGONÔMICAS

ANÁLISE DA ATIVIDADE E DOS RISCOS

ERGONÔMICOS

INSTRUÇÃO DA DEMANDA

CONCEPÇÃO DE SOLUÇÕES

ERGONÔMICAS

CONTRATO PARA AÇÃO ERGONÔMICA

SOLUÇÃO ERGONÔMICA

INCORPORADA À ORGANIZAÇÃO

Capítulo 2 Referencial Teórico 46

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

A Figura 5 apresenta a instrução da demanda, que compreende todo o

encaminhamento contratual da intervenção, desde o foco do problema, ajustes,

levantamento de recursos humanos para formar a consultoria interna, etc.

A análise da atividade e dos riscos ergonômicos consiste no conjunto de

coletas de dados e informações que permitem ao ergonomista realizar as

modelagens necessárias para promover mudanças no ambiente de trabalho.

A implementação ergonômica se constitui na fase final de uma intervenção

ergonômica.

A AET é um instrumento de avaliação pontual, onde serão analisados

problemas de forma individual, para proporcionar maior probabilidade das

recomendações posteriores virem a ser implementadas com sucesso.

Na avaliação da implementação de uma AET, Dul e Weerdmeester (1995)

recomendam a utilização de uma lista de verificação, que deve ser preparada pelo

próprio ergonomista, de acordo com as necessidades específicas. Também podem

ser utilizadas listas já existentes, desde que atendam as seguintes finalidades:

• Evitar o esquecimento de algum aspecto;

• Prever problemas que podem surgir;

• Medir efeitos da implementação;

• Obter idéias ou soluções alternativas.

Basicamente a AET é uma avaliação qualitativa, embora utilize dados

quantitativos em suas análises. Consiste em uma seqüência de coletas de dados e

informações que viabilizem as mudanças necessárias para a melhoria do ambiente

de trabalho, contemplando a satisfação do trabalhador.

2.7.2 Análise dos métodos utilizados em AET

Os métodos analisados e comparados neste estudo são: O sistema OWAS de

autoria de Karhu, Kansi e Kuorinka desenvolvido em 1977 (Iida, 2005), o diagrama

de áreas dolorosas proposto por Corlett e Manenica em 1980 (Iida, 2005), o registro

eletromiográfico e a lista de verificação proposta por Dul e Weerdmeester (1991) e o

método RULA de análise da postura dos membros superiores.

Capítulo 2 Referencial Teórico 47

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Ainda que datem de épocas remotas, os métodos analisados ainda são

utilizados com segurança nas AETs atuais.

Essa comparação se fez necessária para definição dos métodos de registro e

análise postural utilizados nesta pesquisa ergonômica com foco na postura do

trabalhador.

As vertentes prática e científica são características da pesquisa ergonômica. Os

resultados práticos se traduzem nas mudanças implantadas nas organizações onde

as intervenções são realizadas.

Do ponto de vista científico, os resultados das intervenções ergonômicas vão

interagir nos diversos campos e áreas de conhecimento (VIDAL, 2001). Neste caso,

em ambas as situações, as contribuições se fazem de grande interesse tanto a nível

pessoal (trabalhador) como organizacional (empresa) refletindo na produtividade

geral e poderão aportar futuras pesquisas enfocadas em trabalhadores de outras

áreas.

2.7.2.1 O Sistema OWAS

O Ovako Working Posture Analysing System ou método OWAS, trata-se de um

sistema prático de registro, é uma técnica de amostra que permite a análise dos

dados posturais com os seguintes objetivos:

• Para catalogar as posturas combinadas entre as costas, braços, pernas e

forças exercidas e determinar o efeito resultante sobre o sistema músculo

esquelético;

• Para examinar o tempo relativo gasto em uma postura específica para cada

região corporal e determinar o efeito resultante sobre o sistema músculo

esquelético (GUIMARÃES E PORTICH, 2002).

É possível obter os dados por observação direta ou por vídeo ou registro

fotográfico (observação indireta) possibilitando a análise através do conhecimento

do método pelo pesquisador ou usando os softwares específicos (Método

WinOWAS).

Segundo Iida (2005), é baseado em 72 posturas típicas que resultaram de

diferentes combinações das posições do dorso (4 posições típicas), braços (3

Capítulo 2 Referencial Teórico 48

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

posições típicas) e pernas (7 posições típicas). Essas posturas são classificadas em

quatro categorias:

Classe 1 - Postura normal, que dispensa cuidados a não ser em casos excepcionais;

Classe 2 – Postura que deve ser verificada durante a próxima revisão rotineira dos

métodos de trabalho;

Classe3 – Postura que deve merecer atenção em curto prazo;

Classe 4 – Postura que deve merecer atenção imediata.

Figura 6- Esquema postural do sistema OWAS. Fonte: Iida (2005)

A aplicação do sistema consiste em observar visualmente e registrar as

posturas do trabalhador e confrontar com as posturas apresentadas na Figura 6

atribuindo-lhe um código, que vai ser classificado de acordo com as categorias já

mencionadas.

2.7.2.2 Diagrama de áreas dolorosas de Corlett e Ma nenica

Esse diagrama facilita a localização de áreas dolorosas. Nele a imagem do

corpo humano de costas está dividida em diversos segmentos e após a jornada de

trabalho do trabalhador em foco, o pesquisador faz com que ele aponte as regiões

onde sente dores.

O índice de desconforto é classificado em 8 níveis, com variação de 0

(extremamente confortável) a 7 (extremamente desconfortável). Com base na

localização feita pelo trabalhador no diagrama apresentado na Figura 7, o

Capítulo 2 Referencial Teórico 49

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

pesquisador pede que ele (o trabalhador) avalie subjetivamente o grau de

desconforto de cada segmento apontado.

Dessa forma, podem-se identificar máquinas, equipamentos e postos de

trabalho que promovem maior desconforto postural.

Figura 7- Diagrama de Corlett e Manenica . Fonte I ida (2005)

Este método pode ser aplicado com ou sem auxílio de softwares específicos, o

que pode vir a ser vantajoso em algumas situações de pesquisa. Utiliza-se de uma

metodologia simples e não necessita de interrupção do trabalho na coleta de dados.

Porém baseia-se exclusivamente na colaboração do trabalhador entrevistado, que

pode vir a omitir ou aumentar alguma queixa.

2.7.2.3 Registro Eletromiográfico

Nesse método não há relatórios de observações subjetivas, o que atribuiria

maior precisão e confiabilidade aos dados coletados. A atividade muscular é

identificada através de registros eletrônicos, onde obtém-se gráficos denominados

de eletromiogramas (EMG).

Capítulo 2 Referencial Teórico 50

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Tais registros são obtidos introduzindo-se eletrodos nos músculos do

trabalhador, registrando a atividade elétrica dos mesmos. Segundo Iida (2005) esse

método tem a vantagem de fornecer informações objetivas pelo registro direto da

atividade muscular, mas tem a desvantagem de exigir um equipamento eletrônico

relativamente dispendioso. Essa, portanto, não é considerada a maior desvantagem

desse método, que apesar de preciso, despreza a espontaneidade da atividade. A

inserção de eletrodos ou outros instrumentos e/ou equipamentos durante a

realização da tarefa faz criar um cenário diferente do cotidiano do trabalhador, o que

pode interferir na atividade, alterando os resultados da pesquisa.

2.7.2.4 Método RULA

Ou Análise Rápida dos Membros Superiores, foi desenvolvido por Mctamney e

Corllet em 1993 para o uso em pesquisas ergonômicas de locais de trabalho

centradas nos riscos dos membros superiores. Segundo seus idealizadores, este

método não requer equipamento especial e oferece uma rápida análise das posturas

de pescoço, tronco e membros superiores junto com a função muscular e a carga

externa recebida pelo corpo.

Com o propósito de investigar a exposição de trabalhadores aos fatores de

risco associados às doenças dos membros superiores associadas ao trabalho, este

método usa diagramas das posturas corpóreas, o que assegura que todas as

posturas do corpo são observadas de forma que quaisquer posturas

constrangedoras das pernas, tronco ou pescoço que possam influenciar as posturas

dos membros superiores estão incluídas na avaliação.

Dentre as vantagens do método estão: a não exigência de equipamentos

especiais e a possibilidade de treinamento dos investigadores sem a necessidade de

nenhum equipamento especial nem experiência profissional e a possibilidade da

pesquisa ser feita sem a interrupção do trabalho.

Sua desvantagem consiste no fato de ser específico para análise de membros

superiores, mesmo trabalhando com observações do corpo como um todo, necessita

a associação com outros métodos para análise do corpo humano.

Capítulo 2 Referencial Teórico 51

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

2.7.2.5 Lista de Verificação Proposta por Dul e Wee rdmeester

Na avaliação de posturas e movimentos, Dul e Weerdmeester (1995) sugerem

uma lista de questionamentos que o pesquisador irá responder ao observar o

trabalhador em atividade em seu posto de trabalho. São contempladas as bases

biomecânicas, fisiológicas e antropométricas. Trata-se de uma seqüência de 64

perguntas classificadas de acordo com seu foco: Biomecânica (9 questões),

Fisiologia (2 questões), Antropometria (2 questões).

A postura subdivide-se em: trabalho sentado (10 questões), trabalho em pé (7

questões), mudança de postura (4 questões), postura de mãos e braços (7

questões). Os movimentos subdividem-se em: Levantamento de pesos (10

questões), transporte de cargas (6 questões), puxar e empurrar cargas (5 questões).

Embora abrangente, a lista de verificação é parte de uma AET onde

prevalecerão as conclusões técnicas do pesquisador a partir da observação direta

do trabalhador e seu posto de trabalho. Não é um questionamento feito ao

trabalhador, não são consideradas as queixas ou reclamações do elemento em foco.

Nesse tipo de análise corre-se o risco de desconhecer alguma informação

importante, ao desprezar a intervenção do trabalhador. Vale como cheklist, porém

insuficiente para localizar e corrigir problemas posturais.

Em vista da natureza da pesquisa ergonômica voltada para a identificação e

localização de posturas inadequadas decorrentes de algumas atividades em função

das tarefas na produção, verificou-se que o uso isolado de qualquer um dos

métodos citados acarretará em insuficiência de informações para a validação dos

resultados do estudo.

A lista de verificação proposta por Dul e Weerdmeester não se mostrou

eficiente para este tipo de estudo, mas pode complementar as informações obtidas

com a associação dos métodos do Sistema OWAS, do Diagrama de áreas dolorosas

de Corlett e Manenica e do método RULA, onde o primeiro classificaria as posturas

de acordo com as categorias propostas pelo método e os outros viriam a confirmar

tal disposição, localizando e classificando o nível de dor e desconforto resultante

daquela atividade. Com base nessas informações podem-se propor alterações em

máquinas, equipamentos e postos de trabalho, além da própria postura do

Capítulo 2 Referencial Teórico 52

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

trabalhador. Este é, portanto, o procedimento sugerido por este estudo para a coleta

de dados referentes à análise postural.

2.8 O Segmento Produtivo em Estudo – Produção do Ca rvão Vegetal

Este estudo é dirigido ao segmento de produção do carvão vegetal, sendo que

esta análise se reporta ao processo de fabricação do carvão através da

carbonização com utilização de cilindros metálicos para a obtenção do produto.

Com a pesquisa procura-se avaliar as vantagens em torno da saúde do

trabalhador com foco específico na questão postural, visto que segundo a literatura,

o processo oferece vantagens sobre produtividade (no que tange o maior

aproveitamento da matéria prima) e sobre a questão ambiental.

2.9 A Importância do Segmento Para a Economia Nacio nal

O carvão vegetal é um produto de importância relevante para a economia

nacional. Segundo Guimarães Neto (2005), em 2003 o Brasil foi o maior produtor e

maior consumidor mundial do carvão vegetal, chegando a consumir 29.202 milhões

de mdc (metros cúbicos de carvão) aqui produzidos.

Desse consumo, 23.608 milhões de mdc foram utilizados somente na produção

do ferro gusa. Esses números evidenciam a importância da produção do carvão

vegetal no contexto econômico brasileiro. Em grande parte, carvão vegetal do Brasil

é produzido em carvoarias de alvenaria a céu aberto em fornos do tipo “rabo-quente”

sem condições favoráveis à saúde do trabalhador.

Não obstante, trata-se de uma atividade econômica de relevância para o país,

que pode vir a gerar empregos dignos se conduzida de forma distinta.

2.9.1 Método Convencional

Estudos como de Dias et al (2002) e Pimenta et al (2005) comprovam que a

produção de carvão vegetal através da carbonização com utilização de fornos tipo

“rabo-quente” apresenta inúmeros prejuízos à saúde do trabalhador. As condições

muitas vezes subumanas de trabalho chegam a envolver além de homens e

mulheres capazes, crianças e idosos, que movidos pela necessidade de

sobrevivência se deixam explorar pelas empresas carvoeiras.

Capítulo 2 Referencial Teórico 53

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

A observação direta do ambiente de trabalho na carvoaria faz perceber as

precárias condições a que os trabalhadores são submetidos.

Todos os sentidos do observador são tocados ao se aproximar de

uma carvoaria. Em um local plano, escolhido por exigência do

processo em meio à mata, depara-se com a fileira de fornos

semelhantes a iglus envolvidos pela fumaça, cujo cheiro forte faz

arder os olhos e impregna tudo e todos ao redor. Pilhas de madeira

esperam a vez de ir para o forno e montes de carvão, às vezes,

ainda fumegantes, pelo ensacamento. Os trabalhadores, geralmente

seminus, têm o corpo coberto pela fuligem e deles, muitas vezes,

somente se vêem os olhos e os dentes (DIAS et al. 2002).

Nos meses de março a junho de 2003, Pimenta et al (2005) desenvolveram

uma pesquisa no ambiente de trabalho da produção de carvão vegetal em bateria de

fornos de superfície do tipo "rabo-quente”, em uma empresa localizada no Estado de

Minas Gerais. Tal pesquisa concluiu que, dentre outros aspectos, a dor é fator

constante na vida de alguns daqueles trabalhadores.

Na análise de dados sobre a saúde dos trabalhadores, 40% dos entrevistados

queixaram-se de dores pelo corpo e 30% sentem muito cansaço físico após a

jornada de trabalho.

Do total dos trabalhadores analisados que apresentaram alguma queixa de dor,

25% sentem dores localizadas na coluna, 5% sentem dores na cabeça, 5% nos

braços, 5% nas pernas e 55% em outras localizações no corpo. Sem que essas

queixas viessem a causar problemas ao ponto de ser motivo de absenteísmo

registrado na empresa (PIMENTA et al, 2005). Essa realidade é reproduzida por

todo país, pois segundo Dias et al, (2002), as etapas da produção do carvão pelo

método de carbonização em fornos tipo “rabo-quente” envolve o mesmo

procedimento em quase todas as regiões em que é adotado.

A etapa inicial dá-se pelo enchimento do forno, onde o trabalhador executa as

seguintes tarefas: (a) preparação do forno para a queima; (b) transporte manual da

madeira estocada na área externa até a porta do forno já preparado; (c) transporte

manual da madeira empilhada da porta do forno até o interior deste; (d) enchimento

do forno, organizando cuidadosamente as madeiras; (e) fechamento do forno.

Capítulo 2 Referencial Teórico 54

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

“Durante a operação de enchimento do forno, o trabalhador assume posturas

penosas. Ele sobe e permanece sobre a pilha de toras de madeira e as lança ao

solo, o mais próximo possível da entrada do forno” comenta Dias et al (2002). Já

nessa primeira etapa percebe-se a gravidade da falta de organização do trabalho,

que expõe o trabalhador a risco de acidentes e a tarefas que envolvem esforço físico

e repetitivo.

A segunda etapa envolve a carbonização, quando o trabalhador denominado

carbonizador supervisiona o processo, no mínimo de hora em hora pelo tempo da

carbonização que é de aproximadamente três dias. A responsabilidade nesse

procedimento é grande, pois dele depende a qualidade do produto.

Em seguida dá-se a retirada do carvão do forno, que feita com as seguintes

etapas: (a) quebra da parede do forno, na abertura anterior, que fora vedada com

barro; (b) transferência do carvão da parte interna para a “grade” colocada na porta

do forno; (c) transporte da “grade” contendo o carvão, da porta do forno para a área

externa, e derramamento deste no solo. A partir daí ocorre o ensacamento e

transporte manual das sacas até os caminhões.

Em todas as etapas do processo de produção do carvão vegetal estão

presentes o esforço físico excessivo e o trabalho em posições forçadas, Dias et al

(2002) afirma que “em 41 minutos e 24 segundos, o trabalhador transportou cerca de

7.357 kg para encher o forno, realizando movimentos repetitivos de torção e flexão

do tronco”. E a situação se agrava na etapa de retirada do carvão, quando o esforço

físico desprendido soma-se à repetitividade de movimentos, à diversidade de

temperaturas a que o trabalhador é submetido e às condições mínimas de higiene e

conforto.

Ainda é Dias et al (2002) que afirma: “Os problemas lombares aparecem como

a segunda causa de demanda de consulta médica na rede de serviços de saúde,

sendo expressivo o número de trabalhadores precocemente incapacitados para o

trabalho”. O que aponta para o desalinhamento entre as condições biomecânicas

favoráveis para a execução da tarefa e as condições reais a que esses

trabalhadores são submetidos.

Capítulo 2 Referencial Teórico 55

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

2.9.2 A Carbonização com Utilização de Cilindros M etálicos Verticais

A pesquisa constatou que o processo produtivo adotado nesse método oferece

diferentes condições de trabalho aos empregados em relação ao método que adota

fornos convencionais.

A constante vigilância dos fornos para a medição do tempo correto de queima,

feita normalmente pelos carvoeiros nos fornos convencionais do tipo “rabo quente”,

os expõe ao calor e à fumaça constantemente além de obrigá-los a permanecer no

posto por horas seguidas, inclusive durante a noite.

Na carbonização em cilindros metálicos, essa tarefa conta com termopares

(espécie de termômetro) implantados dentro dos cilindros, que transmitem para um

computador a temperatura exata dentro dos fornos. O método conta também com

um sistema mecanizado de descarga do carvão, para que não seja necessário que o

operador entre nos fornos para retirar o material.

A redução de emissão de resíduo o caracteriza como um sistema produtivo de

produção mais limpa (PmaisL) porém a literatura que trata dessa técnica tem

abrangência restrita às condições ambientais, não contemplando a saúde do

trabalhador.

Por tratar-se de um método produtivo há pouco tempo utilizado, ainda não é

conhecida a realidade sobre a saúde do trabalhador na carbonização em cilindros

metálicos verticais.

Capítulo 3 Metodologia 56

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

3 METODOLOGIA

Este capítulo tem o objetivo de expor o método adotado na pesquisa para

coleta e análise de dados como base científica para o estudo. O trabalho trata-se de

uma pesquisa ergonômica com enfoque biomecânico específico nas posturas

adotadas pelo trabalhador da produção do carvão vegetal em cilindros metálicos

verticais. Pesquisar, segundo Silva e Meneses (2001, p. 19) “é procurar respostas

para indagações propostas”.

Para Lakatos e Marconi (2001), a pesquisa é um procedimento formal, com

método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui

no caminho para conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais.

Estes autores ainda sugerem que o planejamento da pesquisa seja feito a partir

da elaboração de quatro momentos distintos: a preparação da pesquisa, a

determinação das fases da pesquisa, da execução da pesquisa e, finalmente, o

relatório da pesquisa, com os resultados, se possível, com detalhes para que

possam alcançar sua relevância.(LAKATOS E MARCONI, 2001)

“O método utilizado para esta pesquisa foi o método indutivo, pois nesse

método, a generalização deriva de observações de casos de realidade concreta”

(SILVA E MENESES, 2001, p.26). Através da observação das posturas adotadas

pelos trabalhadores em execução da tarefa, a pesquisa avaliou se a empresa que

utiliza o método produtivo de carvão vegetal em cilindros metálicos adota um

processo produtivo que não agride a natureza humana no que diz respeito aos

limites biomecânicos posturais dos trabalhadores.

Esta pesquisa quanto à natureza é aplicada, de acordo com Silva e Meneses

(2001), por gerar conhecimentos para aplicação prática dirigido à solução de

problemas especificamente ergonômicos posturais.

Quanto a forma de abordagem do problema, é uma pesquisa qualitativa. Trata

da relação entre o trabalhador e o trabalho que executa. O foco da investigação é a

atitude postural do homem em função da sua tarefa.

Ainda segundo Silva e Meneses (2001), a pesquisa qualitativa é descritiva, a

fonte direta para a coleta de dados é o ambiente natural em que se desenvolve o

Capítulo 3 Metodologia 57

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

processo. Dessa forma, a coleta dos dados para a análise do processo nesta

pesquisa desenvolveu-se no setor de produção de uma empresa que produz carvão

vegetal em cilindros metálicos verticais.

Os problemas biomecânicos posturais foram apontados a partir da observação

do pesquisador, através da interpretação dos fenômenos de acordo com seus

conhecimentos e do marco teórico adotado. Nesta forma de abordagem considera-

se que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito da pesquisa, de

acordo com Silva e Meneses (2001).

Para este estudo, entende-se essa relação dinâmica como a interação homem-

máquina-tarefa, onde o sujeito da pesquisa é o homem e o mundo real está

relacionado com o seu posto de trabalho, composto pelas máquinas e equipamentos

que opera e, especificamente, pela tarefa que executa. Através do estudo de como

se desenvolve a integração neste sistema, foi feita a identificação da existência ou

não de problemas biomecânicos posturais no método produtivo em questão.

Quanto aos seus objetivos, é uma pesquisa descritiva. Visa descrever as

características das posturas adotadas pelos trabalhadores do método produtivo já

citado e envolvem técnicas padronizadas de coleta de dados como questionários,

formulários e observação sistemática, próprias da pesquisa ergonômica.

3.1 O estudo de caso

O estudo de caso é uma das muitas maneiras de fazer pesquisa em ciência

social, e segundo Yin (2005, p.19) “é a estratégia preferida pelos estudiosos quando

se colocam questões do tipo “como” e “por que”, quando o pesquisador tem pouco

controle sobre os acontecimentos e quando o foco se encontra em fenômenos

contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real”.

Nesta pesquisa, a estratégia do estudo de caso foi escolhida por tratar-se de

um estudo em torno de um fenômeno que se desenvolve em uma empresa, cujo

processo produtivo atende aos critérios legais de sustentabilidade e

desenvolvimento e tende a ser adotado por empresas do segmento carvoeiro

brasileiro.

Capítulo 3 Metodologia 58

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

3.2 Análise Ergonômica do Trabalho

A pesquisa ergonômica está condicionada a uma metodologia específica desta

área de conhecimento. A AET é um conjunto de procedimentos metodológicos com

intuito de analisar, diagnosticar e corrigir uma situação real de trabalho, segundo Iida

(2005) e está dividida em três fases observadas e aplicadas na obtenção de

resultados mais interessantes à pesquisa: análise da demanda; análise da tarefa e

análise das atividades.

3.2.1 Análise da demanda

Neste caso, a pesquisa trata-se de demanda externa, uma vez que sua origem

parte de uma proposta acadêmica e não de uma necessidade identificada pela

empresa. O estudo das posturas adotadas na execução da tarefa de produzir o

carvão vegetal em cilindros verticais parte da necessidade de verificar se as

alternativas produtivas sustentáveis contemplam também a saúde do trabalhador (no

que tange a biomecânica), agregando valor à organização e produzindo diferencial

competitivo.

3.2.2 Análise da tarefa

Consiste basicamente na análise das condições de trabalho na organização.

Dados como: tipos de trabalho (com exigências físicas ou cognitivas), ritmos,

horários ou cargas foram avaliados conforme a finalidade da pesquisa.

Neste caso, como se trata de uma pesquisa biomecânica foram avaliados os

itens:

• Posto de trabalho;

• Horários e ritmos de trabalho;

• Cargas (kg) a que são submetidos os trabalhadores.

O início da pesquisa na empresa ocorreu com a identificação das etapas do

processo produtivo do carvão vegetal em fornos cilíndricos verticais de maior

exigência postural e quais funções no processo produtivo são mais acometidas por

lesões, dores ou incômodos musculoesqueléticos.

Através de registros fotográficos e filmagens foram avaliadas as relações dos

móveis, máquinas e equipamentos com os trabalhadores em estudo.

Capítulo 3 Metodologia 59

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

A pesquisa antropométrica é importante na determinação de aspectos

relacionados às dimensões do posto de trabalho no sentido de que o trabalhador

mantenha uma boa postura. As variações de alcances, alturas e movimentos exigem

uma análise da relação métrica entre o homem e as máquinas, móveis e

equipamentos em seu posto de trabalho, essa relação pode ser determinante para a

postura adequada.

3.2.3 Análise das atividades

Segundo Santos e Fialho (1997), um método de análise das atividades de

trabalho pode ser definido como um conjunto de meios e procedimentos práticos de

análise que permitem dar um conteúdo às categorias de um modelo. Neste sentido,

cada método de análise ergonômica corresponde a um objetivo.

Um dos princípios da pesquisa ergonômica é a descrição do real (atividades

desenvolvidas pelo homem na execução da tarefa). Assim, a determinação de

métodos e técnicas de análise deve ser relativa a determinadas situações de

trabalho e permitir a obtenção de resultados concretos.

O método de análise aplicado consistiu em conhecer os aspectos

fundamentais da biomecânica do trabalho: os movimentos, o conteúdo, o tempo e o

processo do trabalho.

Na empresa pesquisada, foi observada a população de trabalhadores da

produção do carvão vegetal. Foram observados três grupos de operadores de

carbonização, cada grupo composto de quatro trabalhadores que se revezam por

turnos de trabalho. A pesquisa enfocou o aspecto biomecânico da execução da

tarefa. Para tanto foram identificados os movimentos e tempos de execução. Os

movimentos foram fragmentados em posturas (seqüenciais) e tempos de

permanência. Assim, a partir da identificação destes aspectos pôde-se ter uma idéia

global do conteúdo e do processo de trabalho.

As atividades sem predominância de exigência postural, observadas pelo

pesquisador, foram suprimidas da pesquisa.

A análise se deu a partir do método OWAS com aplicação do software

WinOwas.

Capítulo 3 Metodologia 60

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

3.2.3.1 A análise através do método OWAS:

A identificação das tarefas pesquisadas partiu, a princípio, da observação

macroscópica onde os postos de trabalho foram observados diretamente pelo

pesquisador. As conclusões oriundas da aplicação do método OWAS têm origem na

observação (feita pelo pesquisador) do trabalhador em seu posto de trabalho, em

execução da tarefa. Esta etapa consistiu na observação direta com registros de

imagens por filmagens e fotografias para análise comparativa subseqüente.

Na seqüência, os trabalhadores, cuja postura foi classificada na observação

macroscópica como merecedora de atenção, foram entrevistados e, com base no

Diagrama de Corlett e Manenica deveriam ser localizados dor e desconforto e em

que nível se manifestam. Esse instrumento, portanto, não se mostrou eficaz na

identificação de distúrbios musculoesqueléticos. Em sua totalidade, a população

pesquisada não apresentou dores, desconforto, constrangimentos ou lesões

musculoesqueléticas mesmo admitindo dificuldade em algumas posturas.

No decorrer da pesquisa foram utilizados instrumentos como formulários

respondidos pelos trabalhadores; formulários respondidos pelo pesquisador com

base em suas observações; o registro de imagens e a comparação das posturas

registradas com as referenciadas no método através do software WinOwas.

Essas etapas da pesquisa identificaram e localizaram os efeitos da má postura.

Ainda que a postura seja uma atitude do trabalhador, muitas vezes é derivada

da organização do posto de trabalho. As conseqüências dos problemas posturais

quase sempre se manifestam com a repetição por tempo prolongado das ações

posturais incorretas. Algumas situações só são percebidas com mais de um ano de

persistência no erro.

A pesquisa de campo ocorreu em uma empresa carvoeira que utiliza o método

de carbonização em cilindros metálicos verticais na obtenção do carvão vegetal

Por tratar-se de um método produtivo de utilização recente, não existem

registros de históricos médicos relevantes na empresa que contribuam com este

estudo. A pesquisa de campo aconteceu entre os meses de setembro e outubro de

2006, quando a empresa tinha aproximadamente sete meses de funcionamento. A

figura 8 representa o croquis da planta industrial adotada na empresa pesquisada,

Capítulo 3 Metodologia 61

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

adotada também em outras empresas que utilizam o mesmo método na produção do

carvão.

Figura 8 – Croquis da planta industrial – Praça de carbonização

Para demonstração mais clara e objetiva da estrutura adotada no

desenvolvimento deste projeto é apresentado na Figura 9 o fluxograma de

desenvolvimento da pesquisa, que demonstra a conexão entre o problema da

pesquisa, as variáveis e objetivos propostos.

Trilho da ponte móvel Carregamento dos cilindros

Silo 1

Silo 2

Câmaras de carbonização

Resfriamento dos cilindros Local de descarga de lenha

Trilho da ponte móvel

escritório

Capítulo 3 Metodologia 62

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Figura 9- Desenvolvimento da pesquisa. Adaptado de Oliveira (2007)

CONTEXTUALIZAÇÃO Condições Ergonômicas de Trabalho

Organização do trabalho Humanização do trabalho

Produtividade

ERGONOMIA Saúde do Trabalhador

REFERENCIAL TEÓRICO

INSTRUMENTO DE PESQUISA

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

PROBLEMA: Quais as condiçõ es posturais dos trabalhadores na produção do carvã o vegetal em cilindros metálicos verticais?

VARIÁVEIS Independente :

Condições Ergonômicas

Dependente : Saúde do

trabalhador

OBJETIVO GERAL : Avaliar as posturas adotadas pelos trabalhadores da produção de

carvão vegetal em cilindros metálicos verticais em exercício de suas tarefas.

Verificar a incidência de dores e/ou lesões musculoesqueléticas nos trabalhadores, associadas a atividade profissional e diagnosticar as condições posturais de trabalho requerida pela tarefa.

Oferecer recomendações ergonômicas, visando a minimização ou erradicação dos sofrimentos lombares e constrangimentos posturais.

Avaliar a carga (kg) a que são submetidos os trabalhadores em exercício de suas tarefas diárias.

Relacionar as posturas adotadas pelos trabalhadores com as do sistema de análise de posturas.

Interveniente : Método de produção do

Carvão Vegetal

Produção de Carvão Vegetal

Capítulo 3 Metodologia 63

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Instrumento de Pesquisa - Fluxograma do Método de P esquisa

Visita à empresa – Observação macroscópica

SIM

NÃO

SIM

NÃO

NÃO

SIM

NÃO Não

Figura 10 - Fluxograma do Método de Pesquisa e Aval iação Postural. Adaptado de Couto (1996)

O trabalho é feito em linha de produção?

Envolve manuseio, levantamento e carregamento de carga ?

Envolve muitos movimentos dos membros superiores?

É feito junto a máquina ou bancada?

6- Roteiro de avaliação do posto de trabalho

7- Avaliação do risco de lombalgias

É observada a má postura no trabalho?

SIM

NÃO

DOR

SIM

OWAS SIM

RULA

Avaliação dos Resultados

Más condições posturais Boas condições posturais

Sugestões de adequação ergonômica

O MÉTODO ATENDE ÀS EXIGÊNCIAS ERGONÔMICAS

AÇÃO

Diagrama de

Corlett e Manenica

Capítulo 4 Análises e Discussões 64

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

4 ANÁLISES E DISCUSSÕES

Este capítulo apresenta as análises dos dados coletados durante a pesquisa

em uma empresa do segmento produtivo de carvão vegetal através do método de

carbonização em cilindros metálicos verticais. A coleta dos dados ocorreu a partir de

observação e registro de imagens, entrevistas e aplicação de formulários específicos

da pesquisa ergonômica, como o diagrama de áreas dolorosas proposto por Corlett

e Manenica. O método utilizado na análise dos dados foi o Sistema OWAS (Ovako

Working Analysis System) através da aplicação do software WinOwas.

Na pesquisa foram observados três grupos compostos por quatro

trabalhadores cada, que trabalham em alternância de turnos e mantêm a produção

ininterrupta. Observou-se que a população pesquisada é caracterizada por

trabalhadores do sexo masculino, na faixa etária entre 20 e 31 anos, alfabetizados,

com grau de instrução entre curso fundamental incompleto e curso médio

incompleto. Todos os trabalhadores têm jornada de trabalho de seis horas, com

intervalo de 15 minutos após as três primeiras e intervalo de 2h para as refeições e

estão a serviço da empresa no cargo de operador de carbonização desde fevereiro

de 2007, o que corresponde a sete meses de atividades até o período da pesquisa.

Os resultados das análises são apresentados em três abordagens: a primeira

avalia os resultados das análises dos eventos posturais individuais localizados, a

partir das atividades identificadas como propensas a risco biomecânico. O

referencial teórico adotado no estudo forneceu subsídios para a esta identificação,

feita a partir de observação direta. Na seqüência, são apresentadas as análises e

discussões dos resultados por categoria de classificação do método e finalmente,

são discutidos os resultados por atividades exercidas, que por sua vez estão

divididas em subatividades.

4.1 O Processo Produtivo em Estudo

A carbonização da madeira em cilindros verticais para a produção do carvão

vegetal, atende a seguinte seqüência de tarefas:

1. Descarga da lenha;

2. Abastecimento de Lenha na Praça de carbonização;

Capítulo 4 Análises e Discussões 65

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

3. Posicionamento do Cilindro para carregamento;

4. Carregamento do Cilindro;

5. Fechamento do cilindro;

6. Posicionamento do cilindro em espera;

7. Ignição da câmara de carbonização;

8. Enfornamento do cilindro;

9. Carbonização;

10. Verificação da carbonização;

11. Desenfornamento do Cilindro;

12. Resfriamento do Cilindro;

13. Posicionamento Descarga do Cilindro;

14. Seleção do produto;

15. Retirada do tiço;

16. Limpeza da Praça de Carbonização.

No início da pesquisa na empresa foram identificadas as funções com maior

exigência postural nas etapas do processo produtivo e quais funções dentro da

empresa são acometidas por riscos de lesões, dores ou incômodo

musculoesqueléticos. Esta identificação foi feita através de observação direta e

registros de imagens por fotografias e filmagens. Na avaliação, o diagrama de Áreas

Dolorosas de Corlett e Manenica não manifestou registro de desequilíbrio

biomecânico em toda a população estudada.

Avaliadas as tarefas, foram identificadas as de maior exigência postural, as

quais encontram-se ilustradas na seqüência de figuras 11 a 15:

• Carregamento do cilindro;

• Ignição da câmara;

• Verificação das câmaras de carbonização;

• Seleção do carvão;

Capítulo 4 Análises e Discussões 66

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

• Limpeza da praça;

Figura 11 – Carregamento do cilindro Figura 12 – Ignição da câmara

...................

Figura 13 - Verificação das câmaras Figura 14 - Seleção do carvão

Figura 15 - Limpeza da praça

4.2 Avaliação biomecânica dos trabalhadores da pra ça de carbonização

Na pesquisa, foi observado o desempenho biomecânico de três equipes de

trabalhadores entre as quatro que atuam diretamente na produção do carvão vegetal

em cilindros metálicos verticais.

Ainda que todos os trabalhadores estejam registrados na empresa com a

mesma função, um deles desempenha o papel de líder da equipe, organizando a

Capítulo 4 Análises e Discussões 67

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

produção e operando o equipamento que permite o transporte de grandes cargas

em toda a extensão da planta. Assim, podemos identificar dois papéis para os

trabalhadores na praça de carbonização: líder de equipe e operador de

carbonização.

• Líder de equipe

Esse elemento tem a responsabilidade fundamental de manter o desempenho

da equipe durante o turno de trabalho. Além disso, também estão sob sua

responsabilidade: o monitoramento dos fornos e cilindros em relação ao peso,

temperatura e tempo de carbonização (permanência do cilindro no forno), além da

colocação dos cilindros nos fornos, sua retirada, o derramamento do carvão do

cilindro no silo e o carregamento do caminhão carvoeiro. Observa-se então que esse

elemento sofre forte exigência mental oriunda do conteúdo do trabalho. Segundo

Iida (2005), uma das maiores causas de estresse do trabalho é a pressão para

manter um determinado ritmo de produção.

Observou-se que a natureza da atividade exige da equipe constante atenção

para evitar a carbonização da lenha além do tempo previsto fora do forno, que pode

levar ao incêndio e desperdício da produção. Tal fator exige do líder atenção

constante e decisão rápida no controle dos imprevistos.

O trabalho biomecânico do líder é parcialmente estático, em pé. Porém,

periodicamente ele percorre, andando, toda a extensão da planta de produção.

Segundo Kroemer e Grandjean (2005, p. 15), “o trabalho estático caracteriza-se por

um estado de contração prolongada da musculatura, o que geralmente implica um

trabalho de manutenção da postura”. Ao andar, o trabalhador passa a desempenhar

esforço dinâmico, quando os músculos recebem um grande afluxo de sangue,

agindo como uma bomba na circulação sanguínea. Estudos de autores como Dul e

Weerdmeester (1995), Iida (2005) e Kroemer e Grandjean (2005) afirmam que a

alternância entre trabalho estático e dinâmico propicia equilíbrio biomecânico à

atividade.

Observou-se na pesquisa que o líder executa tarefas não caracterizadas por

levantamento de cargas nem por movimentos repetitivos.

Capítulo 4 Análises e Discussões 68

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

• Operadores de Carbonização

Os demais trabalhadores da equipe de produção se dividem em tarefas

peculiares ao método produtivo em estudo. Dentre as tarefas observadas, as

identificadas como de maior exigência postural foram o carregamento do cilindro

metálico, a verificação da carbonização, a ignição da câmara, a seleção do carvão e

a limpeza da praça de carbonização. Essas tarefas, segundo o marco teórico

adotado neste estudo, apresentam situações de comprometimento biomecânico em

alguns eventos posturais.

A seguir, as descrições das tarefas e das atividades correspondentes:

Tarefa 1: Carregamento do cilindro metálico com len ha de forma organizada.

Observou-se na pesquisa que em cada equipe são destacados dois elementos

com a tarefa de carregar os cilindros com lenha para a carbonização A execução

desta tarefa ocorre de três diferentes formas pelas duplas de trabalhadores. Neste

estudo, emprega-se a denominação de atividades às formas de execução da tarefa:

1.1 O carregamento do cilindro com auxílio do carrinho;

1.2 O carregamento do cilindro sem auxílio do carrinho;

1.3 O carregamento do cilindro com atividades alternadas.

Foram observados e registrados os carregamentos de 10 cilindros, com tempo

médio de 1h05min, conforme a Tabela 3.

Tabela 3 – Tempo do carregamento do cilindro

CARREGAMENTO DO CILINDRO

INÍCIO FIM TEMPO 09:20 10:32 01:12 08:40 09:50 01:10 10:42 11:40 00:58 14:43 15:45 01:02 16:20 17:34 01:14 20:47 21:45 00:58 22:02 23:01 00:59 23:13 00:11 00:58 00:33 01:48 01:15 03:25 04:30 01:05

MÉDIA 01:05

Capítulo 4 Análises e Discussões 69

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Análise da Tarefa: Carregamento do cilindro

O cilindro metálico deve ser completamente preenchido com lenha em duas

camadas, organizadas de tal forma que comporte o maior volume de madeira possível.

Durante o carregamento, o cilindro fica posicionado horizontalmente, acomodado em

uma base que o mantém imóvel.

O cilindro metálico apresenta as seguintes características:

Diâmetro: 240 cm

Profundidade: 280 cm

Figura 16 – Características do cilindro

Descrição da atividade 1.1 - O carregamento do cili ndro com auxílio do

carrinho:

Observou-se durante a pesquisa que esta atividade se desenvolve a partir de

três ações:

1.a – Carregar o carrinho transportador;

1.b - Transportar a lenha no carrinho para o local onde se encontra o cilindro;

1.c - Transferir a lenha do carrinho para o cilindro – carregamento do cilindro.

As subatividades 1.a e 1.b juntas compreendem um tempo médio de execução

de 12 min, tempo esse que varia de acordo com a localização da lenha a ser

recolhida. Quando o caminhão basculante descarrega a lenha em local mais distante

do cilindro, a tarefa chega a ser realizada em 16 min.

Nessa operação, observou-se que o trabalhador submete-se ao esforço

biomecânico em dois momentos:

a) Ao recolher a lenha, ele flexiona a coluna para erguer a peça. Não torna a

flexioná-la para colocar a tora no carrinho porque ele a joga.

240

280

Capítulo 4 Análises e Discussões 70

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

b) No carregamento do cilindro, o trabalhador flexiona a coluna para pegar a

peça no carrinho e com a coluna na posição vertical ele a arremessa.

Figura 17 - Carregamento do carrinho transportador – seqüência de movimentos do trabalhador

A seqüência de movimentos demonstrada na Figura 17 corresponde às

posturas assumidas por um trabalhador no carregamento do carrinho. O tempo

médio desta seqüência de movimentos é 3,8 s. Observa-se que ocorrem torção e

flexão dorsal do trabalhador ao pegar a peça de madeira. A colocação sobre o

carrinho ocorre com o dorso e pernas eretos.

Na subatividade do transporte da lenha até o cilindro, o trabalhador empurra o

carrinho carregado até o destino. Segundo relato dos trabalhadores, o esforço

exercido nessa atividade corresponde a transporte de carga maior que 20 kg.por

uma distância média de aproximadamente 12 m.

A subatividade seguinte corresponde ao carregamento do cilindro. A seqüência

de movimentos registrada na Figura 18 demonstra o movimento dorsal do

trabalhador.

Figura 18 - Carregamento do cilindro a partir do ca rrinho transportador – seqüência de movimentos de um trabalhador.

Com o carrinho em frente ao cilindro, o trabalhador transfere a lenha

organizando cada uma das duas camadas comportadas pelo cilindro, a fim de

acomodar o maior volume de lenha possível. A Figura 18 demonstra a seqüência de

Capítulo 4 Análises e Discussões 71

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

movimentos desta subatividade. O tempo médio desta seqüência é de 4,12s.

Observa-se que ocorrem eventos posturais com torção e flexão dorsais

concomitantes e elevação dos braços acima do ombro do trabalhador.

Figura 19 - Atividade 1.1 – Etapas do carregamento do cilindro com auxílio do carrinho transportador

Obs: A figura é o desenho esquemático da seqüência das subatividades de um trabalhador no carregamento do cilindro com auxílio do carrinho transportador

A análise pelo Sistema OWAS foi feita a partir da divisão da atividade em três

subatividades:

1.a) O carregamento do carrinho transportador;

1.b) O transporte do carrinho até o cilindro;

1.c) O carregamento do cilindro.

O Gráfico 2 é resultante da avaliação da atividade como um todo (representada

na Figura 18 e 19) pelo Sistema OWAS, englobando todas as subatividades que a

compõe.

Capítulo 4 Análises e Discussões 72

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Gráfico 2 - Análise do carregamento do cilindro com auxílio do carrinho – Sistema OWAS

A leitura do Gráfico 2 indica que as combinações das subatividades inserem a

postura das pernas na categoria 2. O método de avaliação sugere que mesmo não

apresentando risco imediato à saúde do trabalhador, essa categoria merece

verificação na próxima revisão rotineira dos métodos de trabalho (IIDA, 2005).

Nesta atividade, o dorso do trabalhador permanece ereto em 50% do tempo e

apresenta flexão em 25% e flexão e rotação simultâneas em 25% do período. Essa

movimentação não solicita atenção imediata, porém a flexão e rotação dorsal

concomitantes podem vir a causar lesão musculoesquelética em médio ou longo

prazo (categoria 2).

A carga aplicada e a movimentação dos braços do trabalhador nessa atividade

dispensam cuidados, por não serem passíveis de riscos biomecânicos.

As avaliações seguintes correspondem às análises individuais de cada subatividade

em que a atividade descrita foi decomposta:

Subatividade 1.a - O carregamento do carrinho

O carregamento do carrinho ocorre em tempo médio de 25 minutos e 33

segundos para cada cilindro. Na condução da análise, esta subatividade também foi

dividida em três subatividades:

• Pegar a lenha no piso;

• Transportar a lenha até o carrinho;

dorso

braços

pernas

carga

50%%%%

88%%%%

25%%%%

88%%%%

88 %%%%

flexionado

ereto

em rotação flexão e rotação

ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros

ambos acima dos ombros

sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna

Em pé 2 joelhos flexionados Em pé 1 joelho flexionado

ajoelhado andando

< 20 kg < 10 kg

> 20 kg

Análise do carregamento do cilindro com auxílio do carrinho

Categ. 1

Categ. 2

Categ. 3

Categ. 4

25%%%%

12%%%%

12 %%%%

12 %%%%

Capítulo 4 Análises e Discussões 73

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

• Colocar a lenha no carrinho.

A Figura 20 apresenta a seqüência de movimentos do trabalhador na

subatividade correspondente ao carregamento do carrinho.

Figura 20 - Seqüência de movimentos de um trabalhad or no carregamento do carrinho transportador. Subatividade 1.a

Na seqüência de movimentos demonstrada na Figura 20 percebe-se a

associação de movimentos de rotação e flexão no tronco do trabalhador na

execução da tarefa. O Gráfico 3 apresenta a análise da subatividade 1.a conforme

análise feita no Sistema OWAS.

Gráfico 3 - Análise da subatividade 1.a – Carregame nto do carrinho

A associação da flexão e rotação do dorso em 33% da subatividade está

incluída na categoria 3 e o posicionamento ereto das pernas, na categoria 2.

Segundo a avaliação do OWAS, a posição dos braços e a carga dispensam

cuidados.

dorso

braços

pernas

carga

67%%%%

100%%%%

33%%%%

100%%%%

100 %%%%

flexionado

ereto

em rotação flexão e rotação

ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros

ambos acima dos ombros

sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna

Em pé 2 joelhos flexionados Em pé 1 joelho flexionado

ajoelhado andando

< 20 kg < 10 kg

> 20 kg

Análise carregamento do carrinho

Categ. 1 Categ. 2

Categ. 3 Categ. 4

Capítulo 4 Análises e Discussões 74

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Subatividade 1.b - O transporte da lenha até o cili ndro

O trabalhador se movimenta de forma que em alguns momentos ele empurra o

carrinho e em outros, ele puxa. Pode ocorrer em tempo médio de 3 minutos e 08

segundos quando a lenha está mais longe ou em tempo médio de 2 minutos e 30

segundos, quando a lenha está situada mais próxima ao cilindro a ser carregado.

Figura 21 - Seqüência de movimentos de um trabalhad or no transporte do carrinho. Subatividade 1.b

Mesmo empurrando a lenha sobre rodas, o trabalhador relata que a força

exercida equivale ao transporte de carga maior que 20 kg. Através do OWAS, esta

seqüência de movimentos tem a análise apresentada no Gráfico 4.

Gráfico 4 - Análise da subatividade 1b - Transporte da lenha

A análise do Gráfico 4 demonstra que o dorso flexionado pode levar o

trabalhador a dores ou lesões musculoesqueléticas, portanto este evento está

situado na categoria 3, merecedora de atenção em curto prazo. Eventos envolvendo

braços, pernas e carga caracterizam postura não sujeita a riscos.

dorso

braços

pernas

carga

100%%%%

100 %%%%

flexionado

ereto

em rotação flexão e rotação

ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros

ambos acima dos ombros

sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna

Em pé 2 joelhos flexionados Em pé 1 joelho flexionado

ajoelhado andando

< 20 kg < 10 kg

> 20 kg

Análise transporte da lenha

Categ. 1

Categ. 2

Categ. 3

Categ. 4

100%%%%

100 %%%%

Capítulo 4 Análises e Discussões 75

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Subatividade 1.c – O carregamento do cilindro

O carregamento de um cilindro a partir da lenha situada no carrinho se dá em

tempo médio de 27 minutos e 46 segundos. Para cada cilindro carregado, foi

observada a média de 402 peças de lenha, que corresponde a aproximadamente

200 repetições de movimento por trabalhador em cada cilindro.

Figura 22 - Seqüência de movimentos de um trabalhad or no carregamento do cilindro. Subatividade 1.c

Para estudo a subatividade 1.c apresentada na Figura 22 também foi dividida

em três subatividades:

• Pegar a peça de lenha no carrinho;

• Transportar a lenha;

• Colocar a lenha no cilindro. No estudo desta subatividade foram consideradas

as diferentes alturas da camada de lenha.

A análise do OWAS determina o gráfico que caracteriza a subatividade

conforme apresentado no Gráfico 5.

Capítulo 4 Análises e Discussões 76

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Gráfico 5 - Análise da subatividade 1c – Carregamen to do cilindro

O método OWAS avalia a seqüência de posturas como não merecedora de

atenção imediata, porém o posicionamento das pernas está na categoria 2, que

segundo Iida (2005), deve ser acompanhada durante a próxima revisão rotineira dos

métodos de trabalho.

Permanecer em 25% do tempo da atividade em flexão e rotação dorsal, com

braços acima dos ombros em 25% do tempo e em pé, ainda que apoiado em duas

pernas em 100% do tempo são os fatores merecedores de atenção neste

procedimento.

As subatividades estão classificadas individualmente pelo OWAS conforme o

gráfico apresentado no Gráfico 6.

Gráfico 6 - Análise individual das subatividades qu e compõe a atividade 1.1

dorso

braços

pernas

carga

50%%%%

75%%%%

25%%%%

100%%%%

100 %%%%

flexionado

ereto

em rotação flexão e rotação

ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros

ambos acima dos ombros

sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna

Em pé 2 joelhos flexionados Em pé 1 joelho flexionado

ajoelhado

andando

< 20 kg < 10 kg

> 20 kg

Análise do carregamento do cilindro

Categ. 1

Categ. 2

Categ. 3

Categ. 4

25%%%%

25%%%%

Capítulo 4 Análises e Discussões 77

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

O Gráfico 6 que demonstra as categorias das subatividades individualmente,

insere o carregamento do carrinho e o carregamento do cilindro na categoria 2 e o

transporte na categoria 3. Especificamente, na atividade de transporte, ocorre a

necessidade de atenção em curto prazo devido à flexão dorsal do trabalhador

associada à carga e à forma de conduzir a lenha (andando e empurrando o

carrinho).

Atividade 1.2: Carregamento do cilindro sem auxílio do carrinho transportador

A observação direta possibilitou verificar que durante o turno matutino o

caminhão basculante deixa a lenha dentro da praça de carbonização, em frente ao

cilindro a ser carregado. A proximidade da lenha em relação ao cilindro, faz com que

os trabalhadores dispensem o uso do carrinho e desenvolvam as mesmas atividades

simultaneamente no carregamento.

Figura 23 - Seqüência de movimentos de um trabalhad or no carregamento do cilindro sem auxílio do carrinho transportador

A seqüência de movimentos nesta atividade tem tempo médio de 9,7 s e ocorre

com flexão e torção dorsal além de levantamento de braços acima da altura dos

ombros, com carga menor que 20 kg. Como os dois trabalhadores executam a

mesma tarefa simultaneamente, a observação centrou-se em um dos trabalhadores.

Capítulo 4 Análises e Discussões 78

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Figura 24 - Carregamento do cilindro sem o auxílio do carrinho transportador

Obs: A figura é o desenho esquemático da seqüência de atividades de um trabalhador no carregamento do cilindro sem auxílio do carrinho transportador.

Descrição da atividade:

Na pesquisa foi observado que o trabalhador se desloca até o local onde foram

deixadas as peças de lenha, flexiona a coluna para pegar a lenha, a carrega até o

cilindro e coloca a lenha dentro dele em uma seqüência que tem duração média de

9,7 s. Para análise pelo Sistema Owas, a atividade 1.2 foi desmembrada em três

subatividades:

2.a Pegar a peça de lenha;

2.b Transportar a lenha até o cilindro;

2.c Colocar a lenha no cilindro.

Verificou-se que a acomodação da lenha no cilindro envolve posturas

diferentes do trabalhador, variando de acordo com a altura que atinge a camada.

Cada cilindro acomoda duas camadas de lenha, devido ao tamanho que é cortada a

madeira. O peso individual da peça de lenha não ultrapassa 15 kg.

Figura 25 - Diferentes posturas do trabalhador no c arregamento do cilindro

Capítulo 4 Análises e Discussões 79

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

A Figura 25 demonstra que conforme vai carregando o cilindro com as toras, o

trabalhador varia o ângulo de flexão da coluna vertebral, chegando ao alongamento

musculoesquelético para atingir maior altura na atividade.

O Método OWAS apresenta a seguinte análise postural da atividade como um

todo, conforme mostrado no Gráfico 7.

Gráfico 7 - Análise do carregamento do cilindro sem auxílio do carrinho – Sistema OWAS

Na análise do movimento que envolve o carregamento do cilindro sem auxílio

do carrinho de transporte apresentada no Gráfico 7, observou-se que o dorso em

flexão e rotação e as pernas paradas em pé em flexão estão inseridos na categoria

3, segundo Iida (2005) merecedora de atenção por poder provocar lesões

musculoesqueléticas em curto prazo. Esta avaliação é decorrente da relação entre

as posturas e tempos de permanência, onde o trabalhador, nessa atividade

encontra-se:

• 67% do tempo com o dorso ereto e 33% com o dorso em flexão e rotação;

• 67% do tempo com os braços abaixo dos ombros e 33% acima destes;

• 33% do tempo com pernas paradas em pé apoiadas em 2 pernas, 33% com

joelhos flexionados e em 33% do tempo ele anda. Em todas as análises de

posturas foi considerada carga menor que 20 kg.

Para análise, o movimento foi dividido em três subatividades:

dorso

braços

pernas

carga

67%%%%

67%%%%

33%%%%

33%%%%

33%%%%

33%%%%

33%%%%

100 %%%%

flexionado

ereto

em rotação

flexão e rotação

ambos abaixo dos ombros

Um acima dos ombros

ambos acima dos ombros

sentado

em pé em 2 pernas

Em pé em 1 perna

Em pé 2 joelhos flexionados

Em pé 1 joelho flexionado

ajoelhado

andando

< 20 kg

< 10 kg

> 20 kg

Análise do carregamento do cilindro sem auxilio do carrinho

Categ. 1

Categ. 2

Categ. 3

Categ. 4

Capítulo 4 Análises e Discussões 80

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

2.a Pegar a peça de lenha;

2.b Transportar a lenha até o cilindro;

2.c Colocar a lenha no cilindro.

Considerando que o tempo médio do movimento completo (envolvendo as três

subatividades) é de 9.7 s e o carregamento do cilindro se dá em média em 1hora e 5

minutos, percebe-se a média de 402 repetições do movimento em cada cilindro

carregado. Executado por dois trabalhadores, define aproximadamente 200

repetições de movimento por trabalhador no período de uma hora.

Subatividade 2.a – Pegar a peça de lenha

Observou-se no decorrer da pesquisa, que para pegar a peça de lenha no piso

ou no monte deixado pelo caminhão basculante, o trabalhador assume a postura

descrita no desenho esquemático a seguir:

Figura 26 - Seqüência de movimentos de um trabalhad or para pegar a peça de lenha no piso. Subatividade 2.a

Devido a lenha ser deixada diretamente sobre o piso, o trabalhador tem que

curvar-se para alcançá-la. Na seqüência de movimentos apresentada na Figura 26

observa-se a flexão dos joelhos e o movimento dos braços abaixo da altura dos

ombros. Segundo o Sistema OWAS, esta seqüência de posturas é caracterizada

conforme o Gráfico 8.

Capítulo 4 Análises e Discussões 81

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Gráfico 8 - Análise da subatividade 2 a – Postura a o pegar a lenha

A leitura do Gráfico 8 demonstra que o evento que corresponde à flexão dos

joelhos no ato de pegar a peça de lenha está inserido na categoria 4, o que

comprometendo a postura de forma que mereça atenção urgente, pois esse

movimento associado à carga, trás risco de lesão musculoesquelética imediata.

Subatividade 2.b – Transportar a lenha até o cilind ro

Na pesquisa foi observado que a seqüência de posturas assumidas durante

esta subatividade associadas à carga menor que 20 kg, não comprometem a

biomecânica da atividade. Através do desenho esquemático apresentado na

percebe-se as posturas adotadas nesta subatividade:

Figura 27 - Seqüência de movimentos de um trabalhad or para transportar a peça de lenha até o cilindro. Subatividade 2.b

dorso

braços

pernas

carga

100%%%%

100%%%%

100%%%%

100 %%%%

flexionado

ereto

em rotação

flexão e rotação

ambos abaixo dos ombros

Um acima dos ombros

ambos acima dos ombros

sentado

em pé em 2 pernas

Em pé em 1 perna

Em pé 2 joelhos flexionados

Em pé 1 joelho flexionado

ajoelhado

andando

< 20 kg

< 10 kg

> 20 kg

Análise da postura ao pegar

Categ. 1

Categ. 2

Categ. 3

Categ. 4

Capítulo 4 Análises e Discussões 82

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Este movimento não envolve flexão de pernas ou de tronco. De acordo com o

Sistema OWAS, o transporte da lenha até o cilindro não oferece riscos imediatos à

saúde do trabalhador, conforme o Gráfico 9.

Gráfico 9 - Análise da subatividade 2b - Transporte da madeira até o cilindro

O Gráfico 9 demonstra que a postura das pernas adotada no transporte da

lenha até o cilindro, situam esta atividade como categoria 2 na análise do OWAS,

que sugere verificação da postura em inspeção rotineira. Segundo o método de

análise, os demais eventos posturais não correspondem a riscos de lesões ou

desconforto

Subatividade 2.c – Colocar a lenha no cilindro

A colocação das peças de lenha dentro do cilindro ocorre com variação na

postura do trabalhador de acordo com a altura da pilha de peças já arrumadas. Nas

camadas mais altas, não há flexão dorsal, porém nas primeiras camadas, o

trabalhador flexiona visivelmente o dorso para acomodar as peças, conforme Figura

28.

dorso

braços

pernas

carga

100%%%%

100%%%%

100%%%%

100 %%%%

flexionado

ereto

em rotação

flexão e rotação

ambos abaixo dos ombros

Um acima dos ombros

ambos acima dos ombros

sentado

em pé em 2 pernas

Em pé em 1 perna

Em pé 2 joelhos flexionados

Em pé 1 joelho flexionado

ajoelhado

andando

< 20 kg

< 10 kg

> 20 kg

Análise da postura ao transportar

Categ. 1

Categ. 2

Categ. 3

Categ. 4

Capítulo 4 Análises e Discussões 83

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Figura 28 - Postura adotada na acomodação das prime iras camadas de lenha, com flexão dorsal.

O desenho esquemático da Figura 28 caracteriza a postura com flexão dorsal e

o Gráfico 10 apresenta a análise desta postura pelo Método OWAS.

Gráfico 10 - Análise da postura adotada ao colocar as peças de madeira nas primeiras camadas

Segundo a análise do OWAS, a flexão do dorso nesta atividade pode vir a

comprometer a saúde do trabalhador, estando, portanto, inserida na terceira

categoria do sistema, que solicita atenção em curto prazo.

Verificou-se na observação da atividade, que ao atingir a altura acima do

ombro do trabalhador, o empilhamento exige uma postura alongada, sem flexão de

dorso ou pernas, mas com braços acima da linha dos ombros, conforme a Figura 29.

dorso

braços

pernas

carga

100%%%%

100%%%%

100 %%%%

flexionado

ereto

em rotação

flexão e rotação

ambos abaixo dos ombros

Um acima dos ombros

ambos acima dos ombros

sentado

em pé em 2 pernas

Em pé em 1 perna

Em pé 2 joelhos flexionados

Em pé 1 joelho flexionado

ajoelhado

andando

< 20 kg

< 10 kg

> 20 kg

Análise da postura de colocar com flexão dorsal

Categ. 1

Categ. 2

Categ. 3

Categ. 4

100%%%%

Capítulo 4 Análises e Discussões 84

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Figura 29 - Análise da postura sem flexão dorsal

Gráfico 11 - Análise da postura sem flexão dorsal

Segundo o Sistema OWAS, a análise da postura aponta a posição dos braços

como merecedora de atenção em curto prazo por atingir altura acima dos ombros,

conforme Gráfico 11. O dorso ereto e a carga adotada são elementos que não

oferecem riscos à saúde do trabalhador nesta seqüência, porém o posicionamento

das pernas está inserido na categoria 2 e os braços ao atingirem a altura acima da

linha dos ombros, na categoria 3.

Contemplando a atividade como um composto de subatividades, o Sistema

OWAS localiza pontualmente o aspecto merecedor de maior atenção na atividade. O

Gráfico 12 classifica as ações por categoria.

dorso

braços

pernas

carga

100%%%%

100%%%%

100%%%%

100 %%%%

flexionado

ereto

em rotação

flexão e rotação

ambos abaixo dos ombros

Um acima dos ombros

ambos acima dos ombros

sentado

em pé em 2 pernas

Em pé em 1 perna

Em pé 2 joelhos flexionados

Em pé 1 joelho flexionado

ajoelhado

andando

< 20 kg

< 10 kg

> 20 kg

Análise da postura de colocar sem fl exão dorsal

Categ. 1

Categ. 2

Categ. 3

Categ. 4

Capítulo 4 Análises e Discussões 85

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Gráfico 12 - Análise individual das subatividades q ue compõem a atividade 1.2

Observa-se que enquanto as subatividades de transportar e colocar a lenha no

cilindro não incorrem em risco biomecânico, as posturas assumidas para pegar a

lenha inserem esta subatividade na categoria 4, que conforme análise do OWAS,

merece atenção imediata por tratar-se de risco iminente de lesões. Esta

classificação deve-se a flexão e rotação do dorso associadas à flexão dos joelhos na

posição em pé.

Atividade 1.3 – Carregamento do cilindro em ativida des consecutivas

Nesta realização da tarefa, os dois trabalhadores se alternam na execução da

atividade de carregamento do cilindro com a lenha.

Descrição das atividades:

Um trabalhador recolhe a peça e a leva até o cilindro, lá o segundo trabalhador

recebe a peça e a acomoda dentro do cilindro, conforme a Figura 30.

Figura 30 - Carregamento do cilindro por dois traba lhadores em atividades consecutivas

Capítulo 4 Análises e Discussões 86

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

As seqüências de movimentos nesta atividade envolvem posturas já avaliadas

neste estudo. Como os dois trabalhadores desempenham as atividades em

alternância, considerou-se a atividade como seqüência única na análise.

A atividade foi dividida em três subatividades, assim descritas:

3.a - Pegar a lenha;

3.b - Transportar a lenha até o cilindro;

3.c - Acomodar a lenha. Esta subatividade também está subdividida na colocação

em menores alturas envolvendo flexão dorsal e em alturas maiores, sem flexão da

coluna.

A seqüência de movimentos que envolvem as subatividades de pegar a lenha e

transportar até o cilindro correspondem a avaliação já feita na atividade 1.2, que

inclui a subatividade de pegar a lenha na categoria 4 devido a rotação e flexão do

dorso e flexão dos joelhos e a subatividade de transportar a lenha na categoria 1. A

subatividade que corresponde ao recebimento da lenha e acomodação no cilindro

envolve também flexão e rotação simultâneas do dorso. De acordo com o OWAS,

atende a análise apresentada no Gráfico 13.

Gráfico 13 - Análise da acomodação da lenha no cili ndro

O movimento do tronco ocorre em três posturas distintas, em 33% do tempo do

movimento ele permanece ereto. Na seqüência do movimento, ocorre a rotação em

dorso

braços

pernas

carga

100%%%%

33%%%%

100%%%%

100 %%%%

flexionado

ereto

em rotação

flexão e rotação

ambos abaixo dos ombros

Um acima dos ombros

ambos acima dos ombros

sentado

em pé em 2 pernas

Em pé em 1 perna

Em pé 2 joelhos flexionados

Em pé 1 joelho flexionado

ajoelhado

andando

< 20 kg

< 10 kg

> 20 kg

Análise da acomodação da lenha no cilindro

Categ. 1

Categ. 2

Categ. 3

Categ. 4

33%%%%

33%%%%

Capítulo 4 Análises e Discussões 87

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

33%, seguida de flexão e rotação simultâneas também em 33% do tempo do

movimento. Esta seqüência atinge a categoria 3 durante a postura do dorso em

rotação e flexão simultâneas. Os outros eventos posturais estão inseridos nas

categorias 1 e 2.

A análise das categorias das ações fornecida pelo OWAS desta atividade

também é igual à análise feita da atividade 1.2, segundo gráfico 14.

Gráfico 14 - Análise individual das subatividades q ue compõem a atividade 1.2 e 1.3

As três atividades analisadas correspondem às três diferentes formas de

atuação utilizadas no carregamento do cilindro. A seguir serão analisadas as demais

atividades dos trabalhadores na produção do carvão.

Análise da tarefa: Tarefa do operador de carbonizaç ão no acompanhamento da

produção.

O quarto componente da equipe divide seu trabalho durante o turno em

diversas tarefas, que apresentam variação entre exigências físicas e cognitivas.

Durante a pesquisa observou-se que, dentre as tarefas desse elemento, a

verificação da carbonização envolve posturas passíveis de risco de constrangimento

musculoesquelético.

Capítulo 4 Análises e Discussões 88

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Atividade 2: Verificação da carbonização

Esta atividade tem o objetivo de, através da observação visual, verificar o

estado da queima da lenha que mantém o aquecimento do cilindro durante a

carbonização e movimentar as brasas da ignição.

A tarefa é observar através de janelas de aproximadamente 0.50 m x 0.30 m

que estão localizadas a 0.50 m do piso da praça e inserir através dela a pá, para

movimentar as lenhas em brasa. O trabalhador percorre todo o perímetro da câmara

de carbonização em atividade e flexiona o corpo para olhar através de janelas que

estão situadas em cada uma das quatro paredes da câmara.

Na praça de carbonização pesquisada, estão dispostas dez câmaras, sendo

que, durante a pesquisa apenas oito estavam em funcionamento.

Cada câmara é verificada uma vez a cada hora de carbonização. Observou-se

que o procedimento completo em cada verificação dura cerca de 01min16,6s e

nessa atividade o trabalhador assume as diversas posturas apresentadas na Figura

31.

Figura 31 - Posições assumidas pelo trabalhador na verificação das câmaras.

A altura das janelas dificulta o acesso da pá e a observação do trabalhador. Em

média ele permanece em posição de dorso e pernas flexionadas na verificação de

cada janela, com movimentos nos braços que conduzem os movimentos horizontais

da pá, conforme Figura 32.

Capítulo 4 Análises e Discussões 89

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Figura 32 - Seqüência de movimentos do trabalhador na verificação das câmaras

Na aplicação do Diagrama de Corlett e Manenica, o trabalhador não acusou

dores ou desconfortos musculoesqueléticos. Porém os resultados da observação

macroscópica baseados no referencial teórico deste trabalho, apontaram para riscos

biomecânicos no desempenho destas atividades. Segundo o Sistema OWAS, esta

atividade como um todo atende análise apresentada no Gráfico 15.

Gráfico 15 - Análise da verificação das câmaras

A análise descrita no gráfico 15 demonstra que na seqüência de posturas

assumidas pelo trabalhador na verificação das câmaras, o evento relativo à postura

das pernas em 33% do tempo do movimento (mantém-se de pé com joelhos

flexionados) é classificado como categoria 3 e a postura ajoelhada em 33% do

movimento, como categoria 2. A flexão dorsal em 33% do movimento, foi inserida na

categoria 2. Posturas de braços e dorso e a carga aplicada não configuram esforço

biomecânico considerável.

dorso

braços

pernas

carga

67%%%%

100%%%%

33%%%%

100 %%%%

flexionado

ereto

em rotação flexão e rotação

ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros

ambos acima dos ombros

sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna

Em pé 2 joelhos flexionados Em pé 1 joelho flexionado

ajoelhado andando

< 20 kg < 10 kg

> 20 kg

Análise da verificação das câmaras

Categ. 1

Categ. 2

Categ. 3

Categ. 4

33%%%%

33z%%%%

33%%%%

Capítulo 4 Análises e Discussões 90

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Para análise o movimento foi desmembrado em três subatividades:

2.a - A abertura da janela;

2.b - A verificação propriamente dita;

2.c - O deslocamento do trabalhador em torno da câmara.

Subatividade 2.a - A abertura da janela

Para a abertura da janela, que se encontra a aproximadamente 0.50m do piso,

observou-se que o trabalhador flexiona o tronco e as pernas. O desenho

esquemático representado na Figura 33 demonstra a postura que o trabalhador

assume nessa atividade:

Figura 33 - Postura assumida pelo trabalhador na ab ertura da janela

Apesar da posição aparentemente incômoda demonstrada na Figura 33, na

aplicação do Diagrama de Corllet e Manenica, o trabalhador não relatou dor ou

desconforto postural.

O Sistema OWAS assim analisa esta subatividade, conforme apresentado no

Gráfico 16.

Capítulo 4 Análises e Discussões 91

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Gráfico 16 - Análise da subatividade 2.a - Abrir a janela

A flexão dorsal em 100% do tempo da postura acusa categoria 3, associada á

flexão dos joelhos se insere na categoria 4, merecedora de atenção imediata pelos

sérios riscos de lesão musculoesquelética consecutiva à postura.

Subatividade 2.b - Verificação propriamente dita

Após a abertura da janela, o trabalhador flexiona o dorso de forma a baixar a

cabeça a uma altura próxima ao nível do piso. Nesta posição, ele ajoelha-se e

flexiona o tronco para atingir a altura necessária para a verificação. O desenho

esquemático da Figura 34 demonstra esta posição:

Figura 34 - Posição do trabalhador na verificação d as câmaras

A análise desta subatividade pelo Sistema OWAS determinou o Gráfico 17.

dorso

braços

pernas

carga

100%%%%

100%%%%

100 %%%%

flexionado

ereto

em rotação flexão e rotação

ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros

ambos acima dos ombros

sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna

Em pé 2 joelhos flexionados Em pé 1 joelho flexionado

ajoelhado andando

< 20 kg < 10 kg

> 20 kg

Análise da abertura janela

Categ. 1

Categ. 2

Categ. 3

Categ. 4

100%%%%

Capítulo 4 Análises e Discussões 92

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Gráfico 17 - Análise da subatividade 2.b - verifica ção propriamente dita

Na verificação das câmaras, o trabalhador posiciona-se ajoelhado no piso com

o dorso totalmente flexionado, para alcançar a altura da janela. Estes dois eventos

posturais são classificados pelo OWAS como categoria 3, sujeitos a riscos

ergonômicos em curto prazo. Observa-se que os outros eventos como braços e

carga não necessitam atenção por não serem passíveis de riscos iminentes de

lesões musculoesqueléticas ocupacionais.

Subatividade 2.c – Deslocamento do trabalhador

Nesta subatividade o trabalhador se desloca entre as janelas para a verificação

da carbonização. A forma prismática da câmara de carbonização conduz à

necessidade de verificação nas quatro faces.

Durante a pesquisa observou-se que ele faz uso de EPI (Equipamento de

Proteção Individual) e conduz uma pá de peso aproximado de 4,8 kg.

dorso

braço

s

pernas

carga

100%%%%

100%%%%

100 %%%%

flexionado ereto

em rotação flexão e rotação

ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros

ambos acima dos ombros

sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna

2 joelhos flexionados 1 joelho flexionado

ajoelhado andando

< 20 kg < 10 kg

> 20 kg

Categ. 1

Categ. 2

Categ. 3

Categ. 4

100%%%%

Análise da verificação

Capítulo 4 Análises e Discussões 93

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Figura 35 - Desenho esquemático do trabalhador em d eslocamento

O deslocamento do trabalhador entre as janelas, representado na Figura 35,

não o predispõe a riscos imediatos de ordem biomecânica, conforme o Gráfico 18.

Porém a análise é pertinente ao acompanhamento deste movimento em inspeções

rotineiras, prevenindo danos futuros.

Gráfico 18 - Análise da subatividade 2.c - deslocam ento

Nesta subatividade, somente o evento relativo às pernas do trabalhador

andando sugere necessidade de atenção na próxima inspeção rotineira, por estar

inserido na categoria 2. Os demais eventos estão classificados na categoria 1, sem

riscos biomecânicos ao trabalhador. De acordo com o Sistema OWAS, estas

subatividades individualmente estão classificadas nas categorias descritas no

Gráfico 19.

dorso

braços

pernas

carga

100%%%%

100%%%%

100 %%%%

flexionado

ereto

em rotação

flexão e rotação

ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros

ambos acima dos ombros

sentado

em pé em 2 pernas

Em pé em 1 perna Em pé 2 joelhos flexionados

Em pé 1 joelho flexionado

ajoelhado

andando

< 20 kg < 10 kg

> 20 kg

Análise do deslocamento

Categ. 1

Categ. 2

Categ. 3

Categ. 4

100%%%%

Capítulo 4 Análises e Discussões 94

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Gráfico 19 - Análise das subatividades da verificaç ão

A leitura do Gráfico 19 demonstra o risco biomecânico das subatividades de

abrir a janela e da verificação propriamente dita. A inclusão na categoria 2 sugere

necessidade de atenção, devido ao risco de lesão musculoesquelética ao

trabalhador em longo prazo.

Observa-se que o deslocamento não implica em riscos posturais.

Atividade 3 - Ignição da câmara

A tarefa consiste em transportar a lenha do pátio para a câmara e lá, provocar

a ignição (acender o fogo). Nessa operação são utilizados aproximadamente 117 kg

de lenha (média aproximada). E a movimentação desde a coleta até o depósito da

lenha na câmara ocorre em tempo médio de 23min.

Figura 36 - Seqüência de movimentos do trabalhador para provocar a ignição da câmara de carbonização

Para análise, esta atividade foi dividida em três subatividades:

3.a - O trabalhador recolhe lenha e carrega o carrinho transportador. Ao recolher as

peças de lenha, ele flexiona a coluna para erguer a peça, mas não torna a flexioná-

Capítulo 4 Análises e Discussões 95

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

la para colocá-la no carrinho. Esta subatividade é analisada pelo OWAS como

categoria 2 (Gráfico 3), passível de atenção na próxima inspeção de rotina.

3.b - O trabalhador empurra o carrinho até a câmara de ignição. Segundo a análise

do OWAS, esta subatividade de forma geral, está inclusa na categoria 3 (Gráfico 4).

Em 100% desta subatividade, o dorso encontra-se flexionado ao empurrar o

carrinho, o que inclui este evento na categoria 3. O deslocamento andando está

classificado na categoria 2.

3.c - O trabalhador arremessa as peças uma a uma do carrinho no espaço próprio

para a ignição da câmara e provoca a ignição ateando fogo à lenha. Este movimento

equivale à seqüência de posturas adotadas no carregamento do cilindro a partir do

carrinho, já analisada no Gráfico 2 como categoria 2.

Toda a seqüência da ignição da câmara é analisada pelo OWAS, conforme o

Gráfico 20.

Gráfico 20 - Análise da ignição

Os movimentos adotados pelo trabalhador durante a ignição da câmara

envolvem posturas de dorso ereto em aproximadamente 50% do tempo total do

movimento, flexionado em 25% e em flexão e rotação em 25%. O dorso, nesta

seqüência, não apresenta comprometimento postural imediato, porém a análise do

dorso

braços

pernas

carga

50%%%%

100%%%%

25%%%%

88%%%%

88 %%%%

flexionado

ereto

em rotação flexão e rotação

ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros

ambos acima dos ombros

sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna

Em pé 2 joelhos flexionados Em pé 1 joelho flexionado

ajoelhado andando

< 20 kg < 10 kg

> 20 kg

Análise da ignição da câmara

Categ. 1 Categ. 2

Categ. 3 Categ. 4

25%%%%

12 %%%%

12 %%%%

Capítulo 4 Análises e Discussões 96

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

OWAS sugere que a flexão associada à rotação dorsal, assim como o

posicionamento das pernas, sejam verificados na próxima inspeção rotineira.

A terceira tarefa cotidiana deste elemento na produção é a distribuição do

carvão na tela dos silos e a retirada do tiço.

Atividade 4 – Distribuição do carvão no silo

Esta atividade consiste em distribuir o carvão sobre a tela do silo e envolve

dois trabalhadores em movimento simultâneo.

Descrição da tarefa :

Para que a qualidade do carvão atenda as exigências do mercado, o

carregamento tem que apresentar características como uniformidade de tamanho do

carvão e não deve conter tiço. Nesse sentido, o trabalhador, ao descarregar o

cilindro sobre o silo, movimenta o carvão com enxada ou ancinho para que os

pedaços passem pela tela e caiam no silo em tamanho uniforme e o tiço (carvão

inacabado) seja separado para nova carbonização.

Figura 37 - Posturas dos operadores de carbonização na distribuição do carvão na tela do silo

A Figura 37 apresenta a atividade de dois trabalhadores na distribuição do

carvão. A enxada tem peso aproximado de 8 kg e o silo tem altura de 0,80 m acima

do piso da praça. Tronco e pernas aparentemente não apresentam exigência

biomecânica, o que é visível nos membros superiores.

Capítulo 4 Análises e Discussões 97

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Figura 38 - Desenho esquemático do movimento do tro nco de um trabalhador na tarefa de distribuição do carvão na tela do silo.

Durante essa operação o trabalhador caminha em volta do silo, para atingir

toda a carga em toda sua extensão. Em média, essa operação tem duração total de

07 minutos 28 segundos e o trabalhador pára, em média, em cinco pontos

diferentes. Em cada ponto ele repete o movimento.

A análise do movimento foi feita considerando individualmente as duas

posturas apresentadas na Figura 38.

Gráfico 21 - Análise da atividade de distribuição

Verifica-se no Gráfico 21 que a flexão dorsal em 100% do tempo é o evento

que causa constrangimento musculoesquelético nesse movimento, classificado

como categoria 3.

dorso

braços

pernas

carga

100%%%%

50%%%%

100%%%%

100 %%%%

flexionado

ereto

em rotação flexão e rotação

ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros

ambos acima dos ombros

sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna

Em pé 2 joelhos flexionados Em pé 1 joelho flexionado

ajoelhado andando

< 20 kg < 10 kg

> 20 kg

Análise distribuição

Categ. 1

Categ. 2

Categ. 3

Categ. 4

50%%%%

Capítulo 4 Análises e Discussões 98

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

As posturas avaliadas diferem entre si pelo movimento dos braços do trabalhador,

enquanto os demais eventos posturais não alteram. Na postura 1, analisada no

Gráfico 22, o trabalhador apresenta ambos os braços abaixo da altura dos ombros,

em um evento postural classificado pelo OWAS na categoria 1.

Gráfico 22 - Análise da postura 1

A postura 2, representada no

Gráfico 23, representa a execução do movimento com os dois braços acima da

altura dos ombros e é classificada na categoria 3.

Gráfico 23 - Análise da postura 2

Observa-se que as duas posturas têm evento dorsal classificado na categoria 3

devido à flexão. A posição em pé com apoio nas duas pernas é classificada na

categoria 2.

dorso

braços

pernas

carga

100%%%%

100%%%%

100%%%%

100 %%%%

flexionado

ereto

em rotação flexão e rotação

ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros

ambos acima dos ombros

sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna

Em pé 1 joelho flexionado

ajoelhado andando

< 20 kg < 10 kg

> 20 kg

Análise distribuiçã o

postura 2

Categ. 1 Categ. 2

Categ. 3

Categ. 4

Em pé 2 joelhos flexionados

dorso

braços

pernas

carga

100%%%%

100%%%%

100%%%%

100 %%%%

flexionado

ereto

em rotação flexão e rotação

ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros

ambos acima dos ombros

sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna

Em pé 2 joelhos flexionados

ajoelhado andando

< 20 kg < 10 kg

> 20 kg

Análise distribuição

postura 1

Categ. 1

Categ. 2

Categ. 3 Categ. 4

Em pé 1 joelho flexionado

Capítulo 4 Análises e Discussões 99

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

A análise destas posturas de forma geral, se faz a seguir no Gráfico 24 :

Gráfico 24 - Análise individual das subatividades q ue compõem a atividade de distribuição

Observa-se que as ações das subatividades individualmente estão

classificadas como categoria 2, que segundo o Sistema OWAS necessita de

verificação na próxima análise rotineira do método de trabalho, devido à

possibilidade de riscos biomecânicos em longo prazo.

Atividade 5 - Limpeza da Praça de Carbonização

Esta tarefa consiste em retirar os resíduos sólidos produzidos durante o turno e

deixar a praça limpa e pronta para a próxima equipe dar prosseguimento ao

processo produtivo.

Descrição da tarefa:

Ao analisar a tarefa, verificou-se que o trabalho é basicamente varrer o carvão

deixado no piso, recolhê-lo em recipientes e colocá-lo nos silos. Todos os

funcionários são encarregados dessa tarefa que dura tempo médio de 15 minutos ao

final de cada turno. Na tarefa são usadas vassouras, pás e jatos de água, além do

carrinho transportador.

Figura 39 - Seqüência de movimentos de um trabalhad or ao varrer o piso da praça de carbonização

Capítulo 4 Análises e Discussões 100

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Figura 40 - Movimentos básicos do uso da vassoura. Tempo desta seqüência: 00h00min03,6s

Na observação, registrou-se média de 6 minutos e 28 segundos na execução

desta tarefa ininterruptamente, pelo trabalhador. A atividade como um todo não

representa comprometimento biomecânico imediato, de acordo com a análise do

Gráfico 25.

Gráfico 25 - Análise da limpeza da praça de carboni zação

Na análise da seqüência de movimentos na limpeza da praça, o Sistema

OWAS inclui a flexão do dorso ao recolher os resíduos no piso, na categoria 2, que

segundo Iida (2005) deve ser verificada na próxima inspeção rotineira dos métodos

de trabalho. O posicionamento dos braços acima da altura dos ombros no ato de

colocar os resíduos em tonéis sobre o carrinho, que ocorrem em 33% do tempo,

também estão na categoria 2 e podem vir a comprometer a biomecânica do

movimento em longo prazo. Os demais eventos são avaliados como não passíveis

de comprometimento biomecânico.

dorso

braços

pernas

carga

67%67%67%67%

67%%%%

33%%%%

67%%%%

100 %%%%

flexionado

ereto

em rotação flexão e rotação

ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros

ambos acima dos ombros

sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna

2 joelhos flexionados 1 joelho flexionado

ajoelhado andando

< 20 kg < 10 kg

> 20 kg

Análise limpeza da praça

Categ. 1

Categ. 2

Categ. 3

Categ. 4

33%%%%

33%%%%

Capítulo 4 Análises e Discussões 101

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

A avaliação por ação individual determina o Gráfico 26.

Gráfico 26 - Categorias das ações na limpeza da pra ça

Observou-se que na avaliação do OWAS, a ação de varrer não implica em

comprometimento postural, mas o recolher está inserido na categoria 2, sugerindo a

necessidade de verificação na próxima inspeção rotineira dos métodos de trabalho.

Resultados por categoria de classificação do método OWAS

Os resultados das análises das atividades de carregamento do cilindro, ignição

da câmara, verificação das câmaras de carbonização, seleção do carvão e limpeza

da praça, determinam a Tabela 4.

Tabela 4 - Avaliação das atividades por categoria

Categoria 1 Categoria 2 Categoria 3 Categoria 4

dorso 59,7% 16,57% 23,71%

braços 83,42% 16,58%

pernas 33,73% 56,73% 9,47%

carga 100%

A análise dos eventos posturais demonstra que em 23,71% das atividades o

dorso apresenta postura que pode comprometer a saúde do trabalhador em curto

prazo; o mesmo ocorrendo com as pernas em 9,47% das atividades desenvolvidas.

Observa-se que em 16,57% das atividades a postura dorsal se insere na

categoria 2, assim como os braços em 16,58% e as pernas em 56,73% das

atividades. O Sistema OWAS classifica a categoria 2 como passível de atenção na

próxima inspeção rotineira do método, ou sujeita a riscos em longo prazo.

Capítulo 4 Análises e Discussões 102

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Os eventos classificados na categoria 1 não predispõem o trabalhador a riscos

de lesões musculoesqueléticas.

Os resultados apresentados na Tabela 4 são referentes à análise das

atividades como um todo, relacionando o tempo da postura ao tempo de execução

da atividade.

A Tabela 5 apresenta a avaliação das posturas das subatividades de forma

isolada e demonstra que o trabalhador assume durante a execução das

subatividades, posturas que são classificadas pelo OWAS nos quatro níveis de

categorias inclusive na categoria 4, sujeitas a riscos imediatos de lesões

musculoesqueléticas.

Capítulo 4 Análises e Discussões 103

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

Tabela 5 – Categorias dos eventos das subatividades

CATEGORIA 1 CATEGORIA 2 CATEGORIA 3 CATEGORIA

4

CARREGAMENTO

DO CILINDRO

COM AUXÍLIO DO

CARRINHO E

IGNIÇÃO

CARREGAMENTO

DO CILINDRO

SEM AUXÍLIO DO

CARRINHO E

COM ATIVIDADES

CONSECUTIVAS

VERIFICAÇÃO DA

CARBONIZAÇÃO

DISTRIBUIÇÃO

LIMPEZA DA PRAÇA

A diferença entre as avaliações das atividades e subatividades deve-se ao

método OWAS avaliar as posturas assumidas nas atividades considerando o tempo

Capítulo 4 Análises e Discussões 104

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

de execução de cada subatividade em relação ao tempo de execução da atividade

como um todo e faz a avaliação das posturas nas subatividades e dos eventos que

as compõem de acordo com o tempo de permanência do trabalhador na postura

analisada.

Capítulo 5 Conclusões 105

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

5 CONCLUSÕES

Este capítulo ressalta o objetivo geral e os objetivos específicos e os compara

com os resultados obtidos através da pesquisa. Na seqüência, apresenta algumas

manifestações sobre a contribuição da pesquisa e sugestões para trabalhos futuros.

Relação entre objetivos propostos e resultados alca nçados

a) Quanto à avaliação das posturas adotadas pelos trabalhadores da produção de

carvão vegetal em cilindros metálicos verticais em exercício de suas tarefas.

Os 96 eventos posturais analisados neste estudo pelo Método OWAS

constituem 7 atividades e 17 subatividades. As atividades estão descritas na Tabela

4 e as subatividades foram classificadas 12,9% na categoria 3 e 4,3% na categoria

4. Essas posturas são caracterizadas por movimentação do tronco em flexão e

rotação simultâneas, posicionamento de pé com flexão dos joelhos e/ou posturas

exigindo posicionamento dos braços acima da altura dos ombros. A categoria 2

aparece em 22,6% dos eventos enquanto a categoria 1 em 60,2% das posturas

analisadas. A incidência de 39,8% de posturas com algum tipo de estresse

biomecânico alerta para a necessidade de atenção para as condições posturais de

trabalho a que esses trabalhadores são submetidos.

b) Quanto à verificação da incidência de dores e/ou lesões musculoesqueléticas nos

trabalhadores.

Atendendo aos objetivos específicos desta pesquisa, foi aplicado o Diagrama

de Corllet e Manenica com toda a população em estudo, para informação e

localização de áreas dolorosas, porém, não foram relatadas incidências de dores

e/ou lesões musculoesqueléticas, o que pode ser justificado pelo período de

exposição dos trabalhadores a essas atividades profissionais. O método produtivo

em estudo é utilizado desde outubro de 2006, não havendo registros de

absenteísmo por lesões musculoesqueléticas ou reclamações por parte dos

trabalhadores. Outrossim, foi observado que a idade e o temor pela insegurança no

emprego desses profissionais também são fatores que podem contribuir para a

dissonância entre os resultados entre os dois métodos utilizados na pesquisa.

Capítulo 5 Conclusões 106

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

c) Avaliar a carga (kg) a que são submetidos os trabalhadores em exercício de suas

tarefas diárias;

Observou-se durante a pesquisa que os trabalhadores não são submetidos à

carga acima da determinada pela legislação brasileira (Lei 6514 da CLT de 22/12/77

ainda em vigor) que estipula a carga de 60 kg como peso máximo que um

empregado do sexo masculino adulto pode remover individualmente. Nem

ultrapassa o limite de carga recomendado pelo NIOSH, que estabelece em 23 kg o

limite para levantamento de cargas individuais.

A carga, portanto, ainda não constitui item agravante na classificação das

atividades e subatividades pelo método OWAS.

d) Oferecer recomendações ergonômicas, visando a minimização ou erradicação

dos sofrimentos lombares e constrangimentos posturais.

As recomendações ergonômicas partem da modificação dos postos de trabalho

onde se executam tarefas que admitem posturas com risco à saúde do trabalhador.

As posturas envolvendo flexão associada à rotação dorsal, apoio nas pernas com

flexão dos joelhos e que exigem braços acima da altura dos ombros são apontadas

pelo OWAS como as de maior risco de lesões e comprometimentos

musculoesqueléticos.

O movimento de flexão dorsal do trabalhador deve ser atenuado com a

modificação do posto de trabalho de forma que a altura da base onde se encontra o

objeto que ele irá pegar não corresponda ao nível do piso. No caso desta empresa,

a lenha deve ser descarregada em uma base com altura aproximada de 0,50m do

piso, onde o trabalhador possa ficar sobre ela para pegar a lenha do alto da pilha e

ficar na altura do piso para pegar a lenha da parte mais baixa. Pode-se considerar

também o carregamento do cilindro de forma mecanizada.

As posturas envolvendo braços acima da altura dos ombros devem ser

modificadas a partir da utilização de bases onde o trabalhador possa subir para

atingir a altura apropriada para o movimento confortável dos braços.

Conclui-se que, de modo geral, o método de produção de carvão vegetal em

cilindros verticais contempla em parte a preservação da saúde ocupacional e

segurança do trabalhador, oferecendo condições de trabalho inerentes à legislação

Capítulo 5 Conclusões 107

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

em vigor. Porém o aspecto postural não é contemplado em sua totalidade, o que

constituiu riscos e pode levar ao comprometimento musculoesquelético dos

trabalhadores em curto, médio ou longo prazo (conforme natureza da atividade),

afetando a saúde e a produtividade do trabalhador.

Através da pesquisa percebeu-se que as empresas que adotam o método em

estudo, podem melhorar a saúde ocupacional postural dos trabalhadores, através da

implementação de práticas mais expressivas quanto à biomecânica do trabalho, com

revisões no método produtivo a partir de enfoques macroergonômicos, como

reestruturação dos postos de trabalho e adoção de cultura de esclarecimento e

disseminação dentro da organização, da importância da boa postura para a saúde e

segurança do trabalhador.

Também pode-se concluir que o Diagrama de Áreas Dolorosas proposto por

Corlett e Manenica não constitui instrumento de pesquisa apropriado para este

estudo, não apenas por abordar um método produtivo novo, mas pelo diagrama

basear-se em informações de dores e desconfortos já existentes; não se mostrando

eficaz na prevenção de lesões, dores e desconfortos musculoesqueléticos. O

Sistema OWAS corresponde satisfatoriamente a este requisito.

5.1 Contribuições da pesquisa

A pesquisa contribui com a avaliação das condições posturais dos

trabalhadores, uma vez que não existiam estudos com esta abordagem sobre este

método produtivo, que comparado ao método tradicional é muito menos agressivo á

saúde do trabalhador.

Contribui também com a avaliação de um método produtivo que surge como

uma ação de mudança na produção do carvão vegetal brasileiro no que tange a

saúde e segurança do trabalhador.

O estudo pode ser aplicado a outros segmentos produtivos com características

compatíveis com as abordadas nesta pesquisa.

5.2 Sugestões para trabalhos futuros

Como sugestões para trabalhos futuros propõem-se:

Capítulo 5 Conclusões 108

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

- Avaliar os movimentos dos membros superiores a partir de outros sistemas de

avaliação postural como RULA;

- Avaliar a saúde do trabalhador no método produtivo estudado, enfocando outros

aspectos da ergonomia, com abordagens tanto no desempenho físico como

sensorial (cognitivo) dos trabalhadores.

- Desenvolver o estudo em outros segmentos produtivos, visando a minimização do

sofrimento musculoesquelético do trabalhador.

- Desenvolver um instrumento que possa ser utilizado na empresa pelos próprios

trabalhadores na identificação e correção da má postura durante a execução da

atividade.

Referências 109

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

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Apêndice A Diagrama de Áreas Dolorosas 112

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

APÊNDICE A – DIAGRAMA DE ÁREAS DOLOROSAS

Apêndice B Mapa de Avaliação dos Eventos Posturais 113

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

APÊNDICE B – MAPA DE AVALIAÇÃO DOS EVENTOS POSTURAI S

ATIVIDADES

EVENTOS

dorso ereto

flexionado Em rotação

Rotação e flex

braços Ambos abaixo

Um acima Ambos acima

pernas sentado

Em pe em 2 Em pe em 1 Em pe 2 flex Em pe 1 flex

ajoelhado andando

carga <10 <20 >20

Categoria 1

Categoria 2

Categoria 3

Categoria 4

Anexo B Roteiro Avaliação do Posto de Trabalho 114

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

ANEXO A – ROTEIRO AVALIAÇÃO DO POSTO DE TRABALHO

Roteiro de avaliação simplificada das condições biomecânicas do posto de trabalho (Couto 1996, v I,

p.161).

1. A bancada de trabalho/máquina está localizada em altura correta (trabalho pesado, em nível

do púbis; trabalho moderado, em nível do cotovelo; trabalho leve, a 30 cm dos olhos)? Não

(0) sim (1)

2. A bancada ou máquina tem regulagem de altura de forma a possibilitar o trabalhador adequar

a altura do posto de trabalho à sua? Não (0) sim (1)

3. Tem-se que sustentar pesos com os membros superiores para evitar seu deslocamento seja

na vertical ou na horizontal? Sim (0) não (1)

4. Tem-se que apertar pedais estando de pé, em freqüência maior que três vezes por minuto?

Sim (0) não (1)

5. O trabalho exige a elevação dos braços acima do nível dos ombros? Sim (0) não (1)

6. O trabalho exige ficar parado na posição de pé durante grande parte do tempo (mais que

60%)? Sim (0) não (1)

7. No caso de trabalhar sentado, há espaço suficiente para as pernas? Não (0) sim (1)

8. A cadeira tem inclinação correta, compatível com o trabalho executado?

Não (0) sim (1)

9. O corpo trabalha no eixo vertical natural ou em ângulo de 100° entre as coxas e o tronco?

Não (0) sim (1)

10. Os membros superiores têm que sustentar pesos? Sim (0) não (1)

11. Fica-se de pé, parado, na maior parte da jornada? Sim (0) não (1)

12. Estando sentado, fica-se em posição estática? Sim (0) não (1)

13. Existem pequenas contrações estáticas, porém por muito tempo (por ex. pescoço

excessivamente estendido, braços suspensos, sustentação dos antebraços pelos braços,

falta de apoio para os antebraços)? Sim (0) não (1)

14. Os objetos e materiais de uso freqüente estão dentro da área de alcance? Não (0) sim (1)

Critérios de interpretação:

10 a 14 pontos: boas condições biomecânicas;

10 pontos e abaixo: condição biomecânica sujeita a intervenção.

Anexo C Roteiro Avaliação do Risco de Lombalgias 115

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

ANEXO B – ROTEIRO AVALIAÇÃO DO RISCO DE LOMBALGIAS

Check-list para avaliação simplificada do risco de lombalgia (COUTO, 1996 p.228).

1. O trabalho envolve posicionamento estático do tronco em posição fletida entre 30° e 60°?

2. O trabalhador tem que, frequentemente atingir o chão com as mãos, independente da carga?

3. O trabalho envolve pegar cargas maiores que 10 kg em freqüência maior que uma vez a cada 5 minutos?

4. O trabalho envolve pegar cargas no chão, independente do peso, com freqüência maior que uma vez por minuto?

5. O trabalho envolve fazer esforço com ferramentas ou com as mãos estando o tronco curvado?

6. O trabalho envolve a necessidade de manusear (levantar, puxar ou empurrar) com o ronco em posição assimétrica?

7. O trabalho envolve a necessidade de manusear (levantar, puxar ou empurrar) as cargas estando longe do tronco?

8. O trabalho envolve a necessidade de carregar cargas mais pesadas que 10 kg frequentemente?

9. O trabalho envolve a necessidade de carregar cargas mais pesadas que 20 kg mesmo ocasionalmente?

10. O trabalho envolve a necessidade de carregar cargas na cabeça? 11. O trabalho envolve a necessidade de ficar constantemente com os braços longe do

tronco em posição suspensa? 12. O trabalho exige que o trabalhador fique com o tronco em posição estática, sem apoio? Critérios de interpretação:

Sim (0) Não (1)

8 a 12 pontos: baixo risco de lombalgia;

Abaixo de 8 pontos: risco de lombalgia;

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