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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PR UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS DE CURITIBA GERÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA E DE MATERIAIS - PPGEM FABIO AUGUSTO WOSNIAK ANÁLISE DO PROCESSO DE FURAÇÃO PROFUNDA NO AÇO AISI 4150 CURITIBA AGOSTO – 2011

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ … · Figura 2.7 - Concepções básicas de máquinas para a furação profunda (KÖNIG e KLOCKE, 1997). 26 Figura 2.8 - Influência

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁPR

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

CAMPUS DE CURITIBA

GERÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

E DE MATERIAIS - PPGEM

FABIO AUGUSTO WOSNIAK

ANÁLISE DO PROCESSO DE FURAÇÃO PROFUNDA

NO AÇO AISI 4150

CURITIBA

AGOSTO – 2011

ii

FABIO AUGUSTO WOSNIAK

ANÁLISE DO PROCESSO DE FURAÇÃO PROFUNDA

NO AÇO AISI 4150

Dissertação apresentada como requisito ao

Programa de Pós-Graduação em Engenharia

Mecânica e de Materiais, Área de

Concentração em Manufatura, do

Departamento de Pesquisa e Pós-Graduação,

do Campus de Curitiba, da UTFPR.

Orientador: Prof. Dr. Milton Luiz Polli. Co-orientador: Prof. Paulo A. de C. Beltrão, Ph.D.

CURITIBA

AGOSTO – 2011

iii

TERMO DE APROVAÇÃO

FABIO AUGUSTO WOSNIAK

ANÁLISE DO PROCESSO DE FURAÇÃO PROFUNDA NO

AÇO AISI 4150

Esta Dissertação foi julgada para a obtenção do título de mestre em engenharia,

área de concentração em engenharia de manufatura, e aprovada em sua forma final

pelo Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica e de Materiais.

_________________________________

Prof. Giuseppe Pintaúde, Dr. Eng.

Coordenador de Curso

Banca Examinadora

______________________________ ______________________________

Prof. Dalberto Dias da Costa, Dr. Eng. Prof. Giuseppe Pintaúde, Dr. Eng.

UFPR UTFPR

___________________________ ____________________________________

Prof. Neri Volpato, Ph. D. Prof. Paulo André de Camargo Beltrão, Ph. D.

UTFPR Co-orientador - UTFPR

______________________________

Prof. Milton Luiz Polli, Dr. Eng.

Orientador – UTFPR

Curitiba, 24 de agosto de 2011

iv

WOSNIAK, Fabio Augusto, Análise do processo de furação profunda no aço AISI

4150, Dissertação (Mestrado em Engenharia) - Programa de Pós-graduação em

Engenharia Mecânica e de Materiais, Universidade Tecnológica Federal do Paraná,

Curitiba, 2011.

RESUMO

A usinabilidade dos materiais tem um papel significativo nos custos totais de

fabricação, e estes valores podem ser ainda maiores quando se trata de processos

de furação profunda. Este processo é largamente utilizado na fabricação de

componentes de sistema de injeção diesel, como o porta-injetor, utilizado para

transportar combustível da tubulação de alta pressão até a câmara de combustão do

motor. O material utilizado na fabricação deste componente é o aço de baixa liga

AISI 4150. Este aço de alto percentual de cromo (~1%) e molibdênio (~0,2%),

confere elevada resistência através do tratamento térmico de têmpera e

revenimento, e permite trabalhar com elevadas pressões de injeção de até 2.300

bar. No entanto, sua usinabilidade é ruim para uma operação de furação profunda.

Isto se deve ao alto índice de quebra de broca, elevado desgaste da ferramenta e

formação de cavaco tipo fita. Este trabalho pesquisa a usinabilidade do aço AISI

4150 analisando a influência dos fatores: propriedades do material da peça,

velocidade de corte e avanço; diâmetro, revestimento e perfil da ferramenta, sobre o

processo de furação profunda. Os critérios de usinabilidade utilizados foram:

desgaste da ferramenta, rugosidade superficial, forças de usinagem e emissão

acústica. O método utilizado para abordar o problema é baseado na primeira lei da

usinagem (Lei de Makarow), e foi dividido nas seguintes etapas: 1º Caracterização

do material da peça e seleção do material da ferramenta; 2° Determinação da

velocidade de corte ótima; 3° Definição da geometria ótima da ferramenta. Ao final

encontrou-se a condição ótima do processo de furação profunda para o diâmetro 3

mm e material da peça AISI 4150: velocidade de corte 1,04 m/s; avanço da

ferramenta 0,016mm/rot; revestimento TiNAl; e perfil redondo para a aresta de corte

da ferramenta.

Palavras-chave: furação profunda; usinabilidade; temperatura ótima de corte.

v

WOSNIAK, Fabio Augusto, Deep drilling analysis of AISI 4150 steel, Dissertation

(Masters in Engineering) - Post-graduate in Mechanical Engineering and Materials.

Federal University of Technology Paraná, Curitiba, 2011.

ABSTRACT

The machinability of materials plays a significant role in total manufacturing costs,

and these values can be even greater when deep-hole drilling process is involved.

This process is widely used in the manufacture of diesel injection system

components, as the component nozzle-holder, used to transport fuel from the high

pressure rail to the combustion engine. The material used to manufacture this

component is the low alloy steel AISI 4150. This steel has high percentage of

chromium (~ 1%) and molybdenum (~ 0.2%), that gives high strength through

quenching and tempering, and allows working with high injection pressures up to

2,300 bar. However, its machinability is poor for a deep drilling operation. This is due

to the high rate of tool breakage, increased tool wear and formation of ribbon chips.

This work aim to analyze the AISI 4150 steel machinability by the study of the

influencing factors on deep drilling process, such as: work material properties; cutting

speed and feed; tool diameter, coating and tool profile. The machinability criteria

used were: tool wear, surface roughness, cutting forces and acoustic emission. The

method used to approach the problem is based on the first metal cutting law

(Makarow Law), and it was divided into the following steps: 1° Characterization of the

work material and to select the tool material; 2° Determination of the optimal cutting

speed; 3° Determination of the optimal tool geometry. At the end, the optimal cutting

condition for the 3 mm diameter deep drilling process and AISI 4150 work material

was found: cutting speed 1.04 m/s; feed rate 0.016 mm/rot; TiNAl coating, and round

profile for the tool cutting edge.

Keywords: deep drilling; machinability; optimal cutting temperature.

vi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 - (a) - Componente porta-injetor com uma ferramenta quebrada no interior do furo. (b) -

Broca canhão com cavaco emaranhado. ......................................................................................17

Figura 2.1 - Variantes do processo de furação com ferramentas de geometria definida (DIN 8589,

2003)..............................................................................................................................................21

Figura 2.2 - Ferramenta de furação profunda “Broca Canhão” (KÖNIG e KLOCKE, 1997). ................23

Figura 2.3 - Funcionamento da broca canhão e processo de remoção do cavaco pelo canal em “V” da

ferramenta (BOTEK, 2010)............................................................................................................23

Figura 2.4 - Detalhe do início da furação com broca canhão (BOTEK, 2010). .....................................24

Figura 2.5 - Esquema vetorial da resultante entre Ff, Fp e Fc (BOTEK, 2010).....................................24

Figura 2.6 - Tipos de guias da broca canhão (BOTEK, 2010). ..............................................................25

Figura 2.7 - Concepções básicas de máquinas para a furação profunda (KÖNIG e KLOCKE, 1997). 26

Figura 2.8 - Influência da velocidade de corte na vida de insertos revestidos com diversas camadas.

Revestimentos: (1) TiCrN, (2) AlTiN, (3) sem revestimento, (4) TiN e (5) TiCrN (ASTAKHOV,

2006)..............................................................................................................................................33

Figura 2.9 – Participação dos diferentes componentes no desgaste da ferramenta; a – deformação da

aresta de corte; b – abrasão; c – adesão; d – difusão; e – oxidação; f – resultante. (FERRARESI,

2003)..............................................................................................................................................34

Figura 2.10 - Formação do cavaco e medidas de desgaste usado em teste de usinabilidade (KÖNIG e

KLOCKE, 1997). ............................................................................................................................38

Figura 2.11 - Dinamômetro 4-componentes para medição direta da força de corte e momento torsor

para processos de furação e fresamento (KÖNIG e KLOCKE, 1997). .........................................39

Figura 2.12 - Resumo dos fatores de influência na qualidade superficial na usinagem de metais

(KÖNIG e KLOCKE, 1997). ...........................................................................................................40

Figura 2.13 - Relações geométricas que compõem o resultado de rugosidade no torneamento

(KÖNIG e KLOCKE, 1997). ...........................................................................................................41

Figura 2.14 - Comparação entre os valores medidos e a rugosidade calculada para diversos avanços

e raios de aresta de corte. Fonte: Moll und Brammertz. ...............................................................41

Figura 2.15 - Tipos de cavacos: a) cavaco contínuo; b) e b’) cavaco de cisalhamento; c) cavaco de

ruptura (FERRARESI, 2003). ........................................................................................................43

Figura 2.16 - Padrão utilizado para classificar a forma do cavaco (KÖNIG e KLOCKE, 1997). ...........45

vii

Figura 2.17 - Influência da forma do cavaco no valor do coeficiente volumétrico ω (FERRARESI,

2003)..............................................................................................................................................46

Figura 2.18 - Estrutura metalográfica do aço AISI 4150. Fonte: Laboratório metalográfico Robert

Bosch. ............................................................................................................................................49

Figura 2.19 - Primeira lei da usinagem comprovada experimentalmente para várias operações de

usinagem: (a) torneamento, (b) furação com broca helicoidal, (c) rosqueamento, (d) fresamento

(ASTAKHOV, 2006).......................................................................................................................51

Figura 2.20 - Determinação experimental da velocidade e temperatura de corte ótima na operação de

torneamento longitudinal do aço AISI 4340. Material da ferramenta: metal-duro P20. Regime de

corte: f = 0.15 mm/rot, dw =1 mm (ASTAKHOV, 2006). ...............................................................52

Figura 2.21 - Influência da temperatura nas propriedades do ferro puro (ASTAKHOV, 2006). ............53

Figura 2.22 - Mudanças na ductilidade e mecanismos típicos associados à fratura de materiais como

bronze (ASTAKHOV, 2006)...........................................................................................................55

Figura 2.23 - Influência da velocidade de corte sobre a temperatura de corte e a taxa de desgaste da

ferramenta (ASTAKHOV, 2006). ...................................................................................................57

Figura 2.24 - Influência da velocidade de corte sobre a temperatura de corte e o comprimento total da

vida da ferramenta no torneamento de três diferentes diâmetros de peça. (ASTAKHOV, 2006).

.......................................................................................................................................................58

Figura 2.25: Influência da velocidade de corte (a) e temperatura de corte (b) na taxa de desgaste da

ferramenta no torneamento de aço ferramenta (ASTAKHOV, 2006). ..........................................59

Figura 2.26 - Determinação experimental da temperatura ótima de corte através da força de corte

mínima estabilizada (SILIN, 1979). ...............................................................................................61

Figura 2.27 - Determinação da temperatura ótima de corte utilizando as curvas de dureza-temperatura

(SILIN, 1979). ................................................................................................................................62

Figura 2.28 - Modelo explicativo do funcionamento de um processo (MONTGOMERY, 2000). ..........63

Figura 2.29 - Estratégia de estudo das variáveis do processo: a) DOE Fatorial: triagem dos fatores; b)

DOE completo: interação entre fatores; c) DOE Superfície de Resposta: modelo de previsão

(WOSNIAK et al., 2007).................................................................................................................65

Figura 2.30 - Exemplo de uma interação entre as variáveis Pressão e Revestimento (WOSNIAK et al.,

2007)..............................................................................................................................................66

Figura 2.31 - Métodos de medição de processos de usinagem e sensores (SOUZA, 2004)................69

Figura 2.32: Exemplo das possíveis causas da geração de sinais de emissão acústica (SOUZA,

2004)..............................................................................................................................................72

Figura 2.33 - Derivação do sinal de emissão acústica em sinal contínuo e sinal transitório (SOUZA,

2004)..............................................................................................................................................72

viii

Figura 2.34 - Relação entre a tensão elétrica e o desgaste de flanco com base na variação da

velocidade de corte (TETI, 1989). .................................................................................................73

Figura 2.35 - Detecção da fratura a partir do sinal de EA no torneamento do aço 1045 usando

ferramenta P30 com f = 0,33 mm/rot, vc = 260 m/min e ap = 2,5 mm (JEMIELNIAK e OTMAN,

1998)..............................................................................................................................................74

Figura 3.1 - Método experimental do trabalho. ......................................................................................76

Figura 3.2 – Local da furação, sentido das linhas de segregação no aço AISI 4150 e microestrutura

com ataque nital de 2% na região das linhas de segregação. Fonte: Laboratório metalográfico

Robert Bosch. ................................................................................................................................78

Figura 3.3 – Centro de furação e fresamento do fabricante Chiron.......................................................79

Figura 3.4 – Detalhamento do perfil da broca: a) triangular; b) redonda. ..............................................80

Figura 3.5 - (a) mandril hidráulico Schunk HSK-A50; (b) aparelho de pré-ajuste Zoller Venturion 500;

(c) microscópio ótico Nikon SWZ 1000. ........................................................................................80

Figura 3.6 - Dinamômetro modelo 9272A Kistler®. ...............................................................................82

Figura 3.7 – Infra-estrutura do ensaio de EA .........................................................................................83

Figura 3.8 - Posição do sensor na peça, fixada a partir do munhão bipartido. .....................................84

Figura 3.9 - Balança e proveta utilizadas na medição da massa e do volume do cavaco coletado nos

ensaios...........................................................................................................................................86

Figura 3.10 - Montagem dos discos de segregação de cromo na amostra...........................................87

Figura 3.11 - Dispositivo utilizado no ensaio para fixação da amostra..................................................88

Figura 3.12 - Variações das amostras para análise da influência da segregação de cromo e dureza da

matéria-prima.................................................................................................................................88

Figura 3.13 - Microscópio eletrônico de varredura MEV (FEI Quanta 50 Series) .................................90

Figura 3.14 – Gráfico dos pontos para as rodadas de ensaio dos parâmetros avaliados: velocidade de

corte e avanço. ..............................................................................................................................91

Figura 3.15 - Gráfico dos pontos para as rodadas de ensaio dos parâmetros avaliados: velocidade de

corte e avanço ...............................................................................................................................93

Figura 3.16 - Distribuição dos furos no corpo-de-prova.........................................................................94

Figura 3.17 - Dispositivos utilizados para a fixação do corpo-de-prova. ...............................................94

Figura 3.18 - Gráfico dos pontos para as rodadas de ensaio dos parâmetros avaliados: velocidade de

corte e avanço. ..............................................................................................................................95

Figura 4.1 – Resultado da análise microestrutural de três amostras do aço AISI 4150. Fonte:

Laboratório metalográfico Robert Bosch. ......................................................................................98

ix

Figura 4.2 - Material considerado bom. (a) Microestrutura com ataque com reagente Nital

apresentando segregação de material na microestrutura (Regiões claras) – Martensita com teor

de cromo de ≈ 1,17%. (b) Microestrutura com ataque com reagente picral. Fonte: Laboratório

metalográfico Robert Bosch. .......................................................................................................100

Figura 4.3 - Material considerado ruim (Ataque com reagente picral). (a) alinhamento de segregação

de cromo no material com teor de 1,87% e dureza de 870 HV (a) ampliação 100 x (b) ampliação

1000x. Fonte: Laboratório metalográfico Robert Bosch..............................................................100

Figura 4.4 – Comparativo entre a morfologia: a) alinhamento de segregação – Fonte: Laboratório

metalográfico Robert Bosch; b) material AISI A2 (C~1%), contendo martensita em lâminas

(escura) e austenita retida (branca). 2% nital. 500× – Fonte: Metals Handbook........................102

Figura 4.5 - Efeito principal dos fatores de estudo na força de avanço Fz..........................................103

Figura 4.6 - Gráfico da força de avanço Fz em função do tempo para a furação do material com

segregação. .................................................................................................................................104

Figura 4.7 - Gráfico de significância dos fatores na Força de avanço Fz............................................105

Figura 4.8 - Interação dos fatores: segregação e dureza do material para o resultado de Força de

avanço Fz. ...................................................................................................................................105

Figura 4.9 - Impacto da influência dos dois grupos: influência do material (segregação e dureza da

matéria-prima) e processo (parâmetros de corte) na força de avanço Fz. .................................106

Figura 4.10 - Efeito principal dos fatores de estudo no momento torsor Mz. ......................................107

Figura 4.11 - Gráfico de momento torsor em função do tempo para a furação do material: (a) sem

segregação e (b) com segregação..............................................................................................108

Figura 4.12 - Interação dos fatores: Segregação e Dureza do material para o resultado de Momento

torsor Mz. .....................................................................................................................................109

Figura 4.13 - Efeito da Segregação no sinal de emissão acústica (RMS). .........................................110

Figura 4.14 - Morfologia da ponta da aresta de corte para as condições: a) sem revestimento e isento

de segregação; b) sem revestimento e com segregação; c) PVD TiNAl e isento de segregação;

d) PVD TiNAl com segregação....................................................................................................111

Figura 4.15 - Morfologia da quina da aresta de corte para as condições: a) sem revestimento e isento

de segregação; b) sem revestimento e com segregação; c) PVD TiNAl e isento de segregação;

d) PVD TiNAl com segregação....................................................................................................112

Figura 4.16 - Morfologia da aresta de corte para a furação do aço AISI 4150 isento de segregação

nas condições: a) sem revestimento - comprimento furado 0,5 m; b) sem revestimento -

comprimento furado 5 m; c) PVD TiNAl - comprimento furado 0,5 m; d) PVD TiNAl -

comprimento furado 5 m..............................................................................................................114

x

Figura 4.17 - Gráfico superfície de resposta para o coeficiente volumétrico do cavaco para as

condições: sem e com revestimento PVD TiNAl. ........................................................................116

Figura 4.18 - Influência do revestimento no momento torsor Mz.........................................................118

Figura 4.19 - Picos gerados no momento de ruptura da aresta postiça durante o ciclo de adesão-

remoção da aresta postiça. .........................................................................................................119

Figura 4.20 - Curva de força Fz para cinco condições de avanço: (1) 0,004; (2) 0,008; (3) 0,012; (4)

0,016; e (5) 0,020 mm/rot, para furação profunda de diâmetro 3 mm x 40 mm, no material AISI

4150 isento de segregação. ........................................................................................................120

Figura 4.21 - Curva de força Fz para avanço 0,016 mm/rot, para furação profunda de diâmetro 3 mm x

40 mm, no material AISI 4150 isento de segregação. ................................................................121

Figura 4.22 - Curva de rugosidade superficial Rz para avanço 0,016 mm/rot, para furação profunda

de diâmetro 3 mm x 40 mm, no material AISI 4150 isento de segregação. ...............................122

Figura 4.23 - Perfil de rugosidade superficial Rz para as velocidades de corte: (a) 0,22; (b) 1,04; e (c)

1,80 m/s. ......................................................................................................................................123

Figura 4.24 - Curva do sinal de emissão acústica RMS para avanço 0,016 mm/rot, para furação

profunda de diâmetro 3 mm x 40 mm, no material AISI 4150 isento de segregação. ................125

Figura 4.25 - Curva de força Fz para três condições de avanço: (1) 0,004; (2) 0,006 e (3) 0,008;

mm/rot, para furação profunda de diâmetro 1,43 mm x 20 mm, no material AISI 4150 isento de

segregação. .................................................................................................................................126

Figura 4.26 - Comparativo de desgaste na quina e ponta da aresta de corte para as geometrias de

perfil: redondo e triângulo. ...........................................................................................................128

Figura 4.27 - Perfil ótimo encontrado por Astakhov (2006) (a) e o perfil redondo (b) para broca

canhão. ........................................................................................................................................129

Figura 4.28 - Comparativo de desgaste na quina e ponta da aresta de corte para as geometrias de

perfil: redondo e triângulo. Imagens microscópio MEV – elétrons retro-espalhados..................130

Figura 4.29 - Comparativo da força de avanço Fz, momento torsor Mz, e emissão acústica RMS para

as geometrias de perfil: redondo e triângulo. ..............................................................................132

Figura A1.1 - Resultado da micro análise EDS-RX. Peça considerada Ruim. (a) Região com

segregação com teor de cromo com 1,87%. (b) Região normal com teor de cromo com 0,69%.

Fonte: Laboratório metalográfico Robert Bosch..........................................................................142

Figura A1.2 - Resultado da micro análise EDS-RX. Peça considerada Boa. (a) Região clara com

segregação (Ataque nital) com teor de cromo de 1,17%. (b) Região normal com teor de cromo

de 0,71%. Fonte: Laboratório metalográfico Robert Bosch. .......................................................142

xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 - Propriedades físicas básicas dos revestimentos PVD (ASTAKHOV, 2006). ....................31

Tabela 2.2 - Composições químicas do aço AISI 4150. Fonte: Aços Villares.......................................48

Tabela 2.3 - Parâmetros de corte e geometria da ferramenta da Figura 2.25(a) (ASTAKHOV, 2006).59

Tabela 2.4 - Parâmetros das curvas da figura 2.25(c) (ASTAKHOV, 2006)..........................................60

Tabela 2.5 - Coeficiente m da equação 2.2 (SILIN, 1979).....................................................................62

Tabela 3.1 – Experimento DOE – Influência da matéria-prima. ............................................................87

Tabela 3.2 - Parâmetros utilizados nas condições A e B. .....................................................................89

Tabela 4.1 - Resultado da análise de composição química para as amostras insentas de segregação.

.......................................................................................................................................................99

Tabela 4.2 - Resultado da análise de composição química para as amostras com e insentas de

segregação. .................................................................................................................................101

xii

LISTA DE ABREVIATURAS

UTFPR

CVD

PVD

Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Chemical vapor deposition - Deposição de vapor químico

Physical vapor deposition - Deposição de vapor físico

EA Emissão Acústica

Fc Força de Corte

Ff ou Fz

Fp

Força Avanço

Força Passiva

kS/s Kilo samples por segundo

f

Vc

v

dw

Ve

Avanço [mm/rot]

Velocidade de corte [m/min]

Velocidade de corte [m/s]

Profundidade de corte [mm]

Volume ocupado pelo cavaco [cm³]

P Peso do cavaco [kg]

ρ Peso específico do material usinado [g/cm³]

ω Coeficiente volumétrico do cavaco [adimensional]

Vp Volume correspondente ao peso do cavaco [kg]

DOE

θopt

Design of Experiment

Temperatura de corte ótima

vopt

φ1

md

VB

σUTS

ef

HV

HB

hs

Velocidade de corte ótima

Ângulo de corte externo da broca canhão [ °]

Distancia entre a ponta e o centro da broca canhão [mm]

Largura média de desgaste de flanco

Resistência mecânica do material [MPa]

Alongamento do material [%]

Microdureza [MPa]

Dureza Brinell [kgf/mm]

Taxa de desgaste superficial [µm/10³ sm²]

xiii

SUMÁRIO

RESUMO................................................................................................................................................ IV

ABSTRACT ............................................................................................................................................. V

LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................................. VI

LISTA DE TABELAS .............................................................................................................................. XI

LISTA DE ABREVIATURAS.................................................................................................................. XII

1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................................16

1.1 OBJETIVOS DA DISSERTAÇÃO...................................................................................................18

1.2 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO .............................................................................................19

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..........................................................................................................20

2.1 PROCESSO DE FURAÇÃO .........................................................................................................20

2.2 FURAÇÃO PROFUNDA ..............................................................................................................21

2.2.1 BROCA CANHÃO......................................................................................................................22

2.2.2 MÁQUINA-FERRAMENTA DE FURAÇÃO.......................................................................................25

2.3 REVESTIMENTO DA FERRAMENTA .............................................................................................27

2.3.1 TÉCNICAS DE APLICAÇÃO .........................................................................................................28

2.3.2 TIPOS DE REVESTIMENTOS À BASE PVD ...................................................................................29

2.3.3 CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DO REVESTIMENTO..............................................................................31

2.4 MECANISMO DE DESGASTE ......................................................................................................34

2.4.1 DEFORMAÇÃO PLÁSTICA ..........................................................................................................34

2.4.2 ABRASÃO................................................................................................................................35

2.4.3 ADESÃO..................................................................................................................................35

2.4.4 DIFUSÃO .................................................................................................................................35

2.4.5 OXIDAÇÃO ..............................................................................................................................36

2.5 USINABILIDADE........................................................................................................................36

2.5.1 CRITÉRIO VIDA DA FERRAMENTA ..............................................................................................37

2.5.2 CRITÉRIO FORÇA DE USINAGEM ...............................................................................................38

2.5.3 CRITÉRIO QUALIDADE SUPERFICIAL DA PEÇA .............................................................................40

2.5.4 CRITÉRIO FORMAÇÃO DE CAVACO............................................................................................41

2.5.4.1 TIPOS DE CAVACOS ............................................................................................................43

2.5.4.2 FORMA DO CAVACO ............................................................................................................44

2.5.4.3 COEFICIENTE VOLUMÉTRICO DE CAVACO .............................................................................45

2.5.5 INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS DE LIGA NA USINABILIDADE ...........................................................47

2.6 TEMPERATURA DE CORTE ÓTIMA – PRIMEIRA LEI DA USINAGEM DE METAIS................................49

xiv

2.6.1 PRINCIPAIS CONSEQÜÊNCIAS DA PRIMEIRA LEI DA USINAGEM DE METAIS (LEI DE MAKAROW)........56

2.6.2 MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO DA TEMPERATURA ÓTIMA DE CORTE.............................................60

2.7 PROJETO DE EXPERIMENTO – DOE .........................................................................................63

2.7.1 REQUISITOS BÁSICOS PARA EXPERIMENTAÇÃO DOE.................................................................67

2.8 MONITORAMENTO DE PROCESSO .............................................................................................68

2.8.1 SENSORIAMENTO ....................................................................................................................68

2.8.2 MEDIÇÃO INDIRETA..................................................................................................................69

2.8.3 FORÇA DE USINAGEM...............................................................................................................70

2.8.4 EMISSÃO ACÚSTICA.................................................................................................................70

3 MATERIAIS E MÉTODOS.............................................................................................................76

3.1 CORPOS DE PROVA .................................................................................................................77

3.1.1 Caracterização do material...................................................................................................77

3.2 MÁQUINA-FERRAMENTA ...........................................................................................................78

3.3 FERRAMENTA DE CORTE..........................................................................................................79

3.4 FLUIDO DE CORTE ...................................................................................................................81

3.5 CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DA USINABILIDADE ........................................................................81

3.5.1 VIDA DA FERRAMENTA .............................................................................................................81

3.5.2 FORÇA DE USINAGEM ..............................................................................................................82

3.5.3 SINAIS DE EMISSÃO ACÚSTICA .................................................................................................82

3.5.4 RUGOSIDADE SUPERFICIAL ......................................................................................................84

3.5.5 FORMA DO CAVACO.................................................................................................................85

3.6 INFLUÊNCIA DA MATÉRIA-PRIMA E SELEÇÃO DO MATERIAL DA FERRAMENTA...............................86

3.6.1 INFLUÊNCIA DA MATÉRIA-PRIMA ................................................................................................86

3.6.2 SELEÇÃO DO MATERIAL DA FERRAMENTA DE CORTE.................................................................89

3.6.2.1 CARACTERIZAÇÃO DA ARESTA DE CORTE.............................................................................90

3.6.2.2 ANÁLISE DA FORMA DO CAVACO ..........................................................................................90

3.6.2.3 ANÁLISE DAS FORÇAS DE USINAGEM ....................................................................................92

3.7 TEMPERATURA E VELOCIDADE DE CORTE ÓTIMA ......................................................................92

3.7.1 ENSAIO PRELIMINAR PARA IDENTIFICAÇÃO DA VELOCIDADE DE CORTE ÓTIMA ..............................93

3.7.2 ENSAIO CONFIRMATÓRIO COM AVANÇO DE 0,016 MM/ROT .........................................................95

3.7.3 INFLUÊNCIA DO DIÂMETRO DA BROCA NA VELOCIDADE DE CORTE ÓTIMA......................................96

3.8 ANÁLISE DE DESGASTE............................................................................................................96

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS .....................................................................................................98

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA MATÉRIA-PRIMA......................................................................................98

4.2 INFLUÊNCIA DA MATÉRIA-PRIMA .............................................................................................103

4.2.1 INFLUÊNCIA DA MATÉRIA-PRIMA SOBRE A FORÇA DE AVANÇO (FZ)............................................103

4.2.2 INFLUÊNCIA DA MATÉRIA-PRIMA SOBRE O MOMENTO TORSOR (MZ) .........................................107

4.2.3 INFLUÊNCIA DA MATÉRIA-PRIMA SOBRE O SINAL DE EMISSÃO ACÚSTICA (RMS) .......................110

4.2.4 ANÁLISE MORFOLÓGICA DA ARESTA DE CORTE ........................................................................110

xv

4.3 SELEÇÃO DO MATERIAL DA FERRAMENTA ...............................................................................113

4.3.1 CARACTERIZAÇÃO DA ARESTA DE CORTE DA FERRAMENTA ......................................................113

4.3.2 ANÁLISE DA FORMA DO CAVACO .............................................................................................115

4.3.3 ANÁLISE DAS FORÇAS DE USINAGEM.......................................................................................117

4.4 TEMPERATURA E VELOCIDADE DE CORTE ÓTIMA .....................................................................119

4.4.1 ENSAIO PRELIMINAR PARA IDENTIFICAÇÃO DA VELOCIDADE DE CORTE ÓTIMA ............................120

4.4.2 ENSAIO CONFIRMATÓRIO COM AVANÇO DE 0,016 MM/ROT .......................................................121

4.4.3 INFLUÊNCIA DO DIÂMETRO DA BROCA NA VELOCIDADE DE CORTE ÓTIMA....................................126

4.5 ANÁLISE DO DESGASTE – SELEÇÃO DA GEOMETRIA ÓTIMA DA FERRAMENTA .............................127

4.5.1 ENSAIO DE VIDA ÚTIL .............................................................................................................128

4.5.2 ANÁLISE MORFOLÓGICA DA ARESTA DE CORTE ......................................................................129

4.5.3 ANÁLISE COMPARATIVA DOS ESFORÇOS DE CORTE ................................................................131

5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................133

5.1 CONCLUSÕES .......................................................................................................................133

5.1.1 CONCLUSÕES REFERENTES À MATÉRIA-PRIMA ........................................................................133

5.1.2 CONCLUSÕES REFERENTES AO PROCESSO .............................................................................134

5.1.3 CONCLUSÕES REFERENTES AO MÉTODO DE ENSAIO ................................................................135

5.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ...............................................................................136

REFERÊNCIAS....................................................................................................................................138

APÊNDICES.........................................................................................................................................142

16

1 INTRODUÇÃO

A industria automotiva vem enfrentando desafios cada vez mais complexos,

particularmente na fase de fabricação, onde a integridade dos equipamentos e

componentes, e o custo de sua fabricação passam a ser os fatores mais estratégicos

para a manufatura. A usinabilidade dos materiais tem um papel significativo nos

custos totais de fabricação, cerca de 42 a 67% dos custos são originários de

processos de corte (HUCHTEMANN, 1993). Conseqüentemente, a compreensão do

efeito do material da peça na usinagem dos componentes se torna necessária,

permitindo assim a exploração dos limites tecnológicos dada por máquinas-

ferramentas, estratégias de fabricação, bem como ferramentas de corte.

O termo usinabilidade, compreende todas as propriedades de um material

que tem influência sobre o processo de usinagem. Com o termo usinabilidade são

descritas todas as dificuldades que um material apresenta na sua usinagem (KÖNIG

e KLOCKE, 1997). A usinabilidade é uma propriedade sistêmica do material, pois

depende das características do material usinado e das condições de manutenção da

aresta da ferramenta.

Entre os processos de fabricação, a furação profunda é um dos processos

que possui maior grau de complexidade, devido às condições críticas de usinagem

em que é realizada. Tais condições envolvem a dificuldade da formação e do

escoamento do cavaco, o comprimento em balanço da ferramenta, a usinagem com

aresta única e assimétrica, a qualidade da superfície e as tolerâncias geométricas do

furo.

Segundo dados do fabricante Botek, 80% das brocas canhão de diâmetro

inferior à 5 mm usadas no Brasil, são utilizadas na fabricação de componentes de

sistemas de injeção diesel (BOTEK, 2010). A empresa Robert Bosch, uma das

maiores consumidoras destas ferramentas no país, utiliza uma ampla gama de

diâmetros (Ø 1,2 mm a 3 mm) no processo de furação profunda na fabricação do

componente porta-injetor. Este componente é utilizado para transportar o

combustível da tubulação de alta pressão até a câmara de combustão e, devido à

elevada pressão de injeção, torna-se necessário a utilização de um material com alta

resistência à pressão e à fadiga.

17

De uma forma geral, o material utilizado na fabricação do porta-injetor são os

aços baixa liga da família 41XX. Esses aços são ligados ao Cromo (~1%) e ao

Molibdênio (~0,2%) e atingem alta resistência através do tratamento térmico de

têmpera e revenimento. São amplamente utilizados na indústria de componentes de

sistemas diesel, principalmente para as gerações de sistemas mais modernos, as

quais trabalham com pressões de injeção de até 2.300 bar. Os principais aços da

família são AISI/SAE 4140, 4144 e 4150, sendo os dois últimos os mais aplicados na

fabricação de porta-injetores.

No entanto, a usinabilidade destes materiais torna-se complicada para uma

operação de furação profunda de pequeno diametro, fazendo com que este

processo cause impacto no custo do produto acabado (WOSNIAK et al.,2007).

Deve-se isto ao alto índice de quebra de broca, elevado desgaste da ferramenta e

alto tempo de ciclo, impactando assim a produtividade e o prazo de entrega. A figura

1.1(a) mostra o componente porta-injetor com uma ferramenta quebrada no interior

do furo. A figura 1.1(b) apresenta uma broca canhão com cavaco tipo fita

emaranhado na broca.

Ferramenta quebrada

Furo obstruído com cavaco

a) b)

Figura 1.1 - (a) - Componente porta-injetor com uma ferramenta quebrada no interior do furo.

(b) - Broca canhão com cavaco emaranhado.

Encontrar os fatores mais apropriados para trabalhar com esta familia de

material, bem como compreender a influência dos parâmetros do processo é algo

que pode ser feito através de um estudo detalhado da usinagem. A técnica de

projeto de experimento (DOE – Design of Experiment) permite alcançar melhorias

significativas no planejamento de ensaios de usinagem (MONTGOMERY, 2000). O

estudo da usinabilidade do processo permite compreender como os fatores

envolvidos influenciam a usinagem e como estes devem ser ajustados.

18

Utilizando uma abordagem mais aprofundada, apresentada pelo estudo da

tribologia da usinagem de metais, pode-se determinar a combinação ótima dos

parâmetros de corte, bem como compreender os fenômenos físicos por traz deste

resultado. Analisando um grande número de dados experimentais, Makarow

formulou a lei que foi apresentada como a primeira lei da usinagem (Lei de

Makarow) por Astakhov (ASTAKHOV, 1998; ASTAKHOV, 2004):

“ Para uma dada combinação de material de ferramenta e peça, existe uma

temperatura de corte, referido como a temperatura de corte ótima, na qual é

atingida a combinação de: mínima taxa de desgaste da ferramenta, mínima

força de corte, e melhor qualidade superficial. Esta temperatura é

independente da forma como ela é alcançada (mesmo se a peça foi resfriada,

pré-aquecida, etc). “

Usando a teoria da temperatura de corte ótima, bem como o método de

planejamento de experimento (DOE), o presente trabalho procura abordar a

usinabilidade do aço AISI 4150, analisando a influência de determinados fatores de

entrada, no processo de furação profunda.

.

1.1 Objetivos da Dissertação

O objetivo principal desta dissertação é compreender o processo de furação

profunda para pequenos diâmetros na usinagem de aços de baixa liga, por meio da

avaliação do efeito dos fatores: velocidade de corte, avanço; revestimento, diâmetro

e geometria da ferramenta. Para tanto, o estudo da usinabilidade foi realizado

seguindo o método de planejamento de experimento DOE, de maneira a conseguir

resultados estatisticamente coerentes. Os critérios utilizados para medir a

usinabilidade foram: desgaste da ferramenta, rugosidade superficial, forças de

usinagem e emissão acústica.

O objetivo secundário é desenvolver e aplicar métodos e dispositivos

adequados para executar ensaios de usinabilidade. O presente trabalho pretende

utilizar e comprovar a teoria da primeira lei da usinagem (temperatura ótima de

corte), que para tal foi seguida as seguintes etapas: 1º Caracterizar o material da

19

peça e selecionar o material da ferramenta; 2° Encontrar a velocidade de corte

ótima; 3° Definir a geometria ótima da ferramenta.

O objetivo geral do trabalho pode ser detalhado através dos seguintes

tópicos:

a) análisar a influência das propriedades do material AISI 4150 nos esforços

de corte e desgaste da ferramenta;

b) encontrar a condição ótima do processo para a furação profunda de

diâmetro 3 mm por 60 mm de comprimento, no aço AISI 4150;

c) verificar a correlação entre a velocidade de corte ótima com os esforços de

corte, rugosidade superficial e emissão acústica;

d) análisar a influência do diâmetro da broca na velocidade de corte ótima;

e) comparar o desempenho do perfil de broca redondo e triângulo em relação

à resistência ao desgaste;

f) avaliar o método baseado na primeira lei da usinagem e comprovar sua

aplicação.

1.2 Organização da Dissertação

A dissertação está organizada em seis capítulos. O primeiro capítulo é a

introdução sobre o assunto proposto. O segundo capítulo apresenta uma revisão

bibliográfica dos conhecimentos necessários para uma boa compreensão do

trabalho. O terceiro capítulo mostra o método experimental utilizado para abordar os

objetivos específicos. O quarto capítulo apresenta os resultados e discussões

referentes aos assuntos abordados. No quinto capítulo contém as principais

conclusões e apresentar sugestões para trabalhos futuros. E por último, as

referências bibliográficas utilizadas no trabalho.

20

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Os tópicos a seguir, abordam os conhecimentos necessários para uma

melhor compreensão do trabalho realizado. Foram examinados os temas como:

processo de furação profunda; ferramentas empregadas na furação profunda;

máquina-ferramenta de furação; revestimento da ferramenta; usinabilidade;

formação do cavaco; tipos de cavaco; influência dos elementos de liga na

usinabilidade; temperatura ótima de corte; delineamento do experimento e

monitoramento do processo.

2.1 Processo de Furação

De acordo com a norma alemã DIN 8589, o processo de furação é definido

como um processo de usinagem com movimento de corte circular, ou seja, com

movimento rotativo principal. A ferramenta possui movimento de avanço apenas na

direção do seu eixo de rotação, que mantém sua posição em relação à ferramenta e

à peça.

A furação com brocas está incluída no grupo de processos de fabricação por

usinagem com arestas de geometria definida. Junto com o torneamento, é uma das

operações mais importantes, envolvendo aproximadamente 30% de todas as

operações de usinagem de metal. O processo de furação é responsável por 75% do

volume de material removido na usinagem (CASTILLO, 2005).

O processo de furação é realizado sob condições relativamente severas,

dentre as quais podem ser citadas:

• A velocidade de corte não é uniforme, variando de zero no centro do furo até

máximo na periferia;

• O processo de geração de cavaco é de difícil observação;

• O fluido de corte, que deve atuar como refrigerante, lubrificante e meio de

transporte de cavacos, chega com dificuldade à aresta da ferramenta, onde é

mais necessário;

• Há uma distribuição inadequada de calor na região de corte, ocorrendo assim

atrito e desgaste pronunciado nas quinas com cantos vivos.

21

As variações mais comuns do processo e as suas direções de movimentos

estão resumidas na figura 2.1.

Figura 2.1 - Variantes do processo de furação com ferramentas de geometria definida (DIN 8589, 2003)

É conhecido que as operações de furação apresentam dificuldades durante o

trabalho, já que a ferramenta que produz furos (seja qual for o método ou o tipo de

broca) deve, ao mesmo tempo, quebrar e extrair os cavacos o mais rápido possível

para evitar entupimento, aquecimento e danos às paredes do furo (acabamento).

Mesmo os materiais de cavacos curtos apresentam desafios para os

diferentes tipos de brocas quando se trata de furação mais profunda (CASTILLO,

2005).

2.2 Furação Profunda

Estima-se que 60% de todas as aplicações de furação na indústria mecânica

referem-se a furos curtos, com uma profundidade de até 2,5 vezes o diâmetro da

ferramenta. No entanto, um grande número de operações na indústria exige

profundidades de furos maiores que 5 vezes o diâmetro. Esse tipo de operação,

denominada furação profunda, normalmente requer o emprego de ferramentas e

equipamentos especiais. A furação profunda é um processo que possui um grau de

22

complexidade maior do que a furação convencional, devido às condições críticas de

usinagem em que é realizada. Tais condições envolvem a dificuldade da formação e

do escoamento do cavaco, o comprimento em balanço da ferramenta, a qualidade

da superfície e as tolerâncias geométricas e de forma do furo. Em alguns casos,

pode-se executar a furação profunda com brocas helicoidais convencionais,

utilizando ciclos de interrupção do processo para a retirada dos cavacos (pica-pau).

O processo de furação profunda distingue-se da furação convencional pelos tipos de

ferramentas empregadas e pela alimentação do fluido de corte, que é fornecido sob

pressão diretamente sobre as regiões de corte, já que este é o principal responsável

pela remoção dos cavacos (CASTILLO, 2005).

A furação profunda é amplamente utilizada, principalmente na fabricação de

equipamentos bélicos, componentes mecânicos como virabrequins, bielas, cilindros

hidráulicos, elementos para motores a diesel, turbinas, trocadores de calor, etc. A

importância deste processo está na sua grande utilização, pois uma ampla gama de

componentes mecânicos (citados acima) requer furos profundos para sua fabricação

(CASTILLO, 2005)

2.2.1 Broca Canhão

É possível executar a furação profunda com um único ciclo de avanço

empregando brocas especiais, chamadas de brocas canhão (Figura 2.2). Para se

realizar furações com brocas do tipo canhão, pode-se observar alguns aspectos

específicos: a assimetria da aresta de corte da ferramenta, o fluido de corte é

direcionado sob pressão diretamente na aresta de corte, que conseqüentemente

arrasta o cavaco pelo canal em “V” da ferramenta (KÖNIG e KLOCKE, 1997). Outra

particularidade está no uso de metal-duro como material de corte, isto permite utilizar

alta velocidade de corte durante a usinagem. O diâmetro típico das brocas canhão

está situado na faixa de 1 a 32 mm. A seção transversal para os canais de

alimentação do fluido de corte para brocas de diâmetros inferiores a 1 mm são tão

pequenos que não podem mais realizar a sua função com eficiência (KÖNIG e

KLOCKE, 1997).

23

Haste furada Haste cheia

Cabeça de metal duro

Cabeça com pastilha

Carcaça (Elemento de fixação)

Haste

Cabeça

Haste furada Haste cheia

Cabeça de metal duro

Cabeça com pastilha

Carcaça (Elemento de fixação)

Haste

Cabeça

Figura 2.2 - Ferramenta de furação profunda “Broca Canhão” (KÖNIG e KLOCKE, 1997).

Basicamente uma broca canhão é constituída de três partes: a cabeça, o tubo

e a haste de fixação. Como material de ferramenta, é empregado o metal-duro, onde

se pode ter tanto cabeças de metal-duro como cabeças de aço revestidas com

pastilhas de metal-duro. O tipo de metal-duro empregado é de importância

considerável para a vida da ferramenta. Como mostra a figura 2.3, é possível

compreender o seu funcionamento. A broca remove o material e na seqüência o

cavaco é retirado pelo canal em “V” através do arraste do fluido de corte (BOTEK,

2010).

Figura 2.3 - Funcionamento da broca canhão e processo de remoção do cavaco pelo canal em “V” da ferramenta (BOTEK, 2010).

Pelo fato de ter apenas uma aresta cortante assimétrica, torna-se necessária

a utilização de uma bucha guia ou um pré-furo para iniciar o furo. O diâmetro da guia

ou pré-furo deve corresponder exatamente ao diâmetro da ferramenta para que no

24

início do furo não ocorra um aumento excessivo do diâmetro e para evitar que o furo

termine deslocado em relação à trajetória projetada (figura 2.4).

Figura 2.4 - Detalhe do início da furação com broca canhão (BOTEK, 2010).

Já durante a furação, a broca é guiada pelas guias laterais. A posição e a

forma destas guias têm grande influência no acabamento superficial e na qualidade

dimensional da peça. A força de corte é divida em componentes de força que

pressionam a guia da ferramenta contra a parede do furo, resultando assim no

acabamento superficial e qualidade de circularidade típica de um processo de

furação profunda, sendo superior aos obtidos com brocas helicoidais (Figura 2.5)

(BOTEK, 2010).

Figura 2.5 - Esquema vetorial da resultante entre Ff, Fp e Fc (BOTEK, 2010).

O formato da guia é determinado conforme o material a ser usinado. Por

isto, o próprio fabricante da ferramenta recomenda alguns formatos específicos para

cada tipo de material. Na figura 2.6 o fornecedor BOTEK recomenda alguns formatos

de guia quanto ao material, ou característica do furo (BOTEK, 2010).

Guia Lateral

Ff = Força de Avanço

Fp = Força Passiva

Fc = Força de Corte

Fp

Fc

Ff

Bucha Guia

Pré-Furo

Bucha Guia

Pré-Furo

25

Figura 2.6 - Tipos de guias da broca canhão (BOTEK, 2010).

Outro fator de influência na ferramenta é a qualidade superficial das faces de

corte após o processo de afiação. Uma afiação com acabamento ruim pode provocar

um aumento no desgaste da aresta de corte ou até levar à quebra prematura da

ferramenta (WOSNIAK et al., 2007).

2.2.2 Máquina-ferramenta de Furação

O processo de furação profunda apresenta uma série de particularidades. A

utilização de máquinas dedicadas deve cumprir, principalmente, os seguintes

requisitos: rigidez, estabilidade, precisão no movimento de avanço da ferramenta e

disponibilidade de sistemas de injeção de fluido de corte a alta pressão. Quanto às

concepções da máquina-ferramenta, as configurações básicas podem ser

observadas na figura 2.7. De acordo com a forma de trabalho, o movimento principal

de giro pode ser executado pela ferramenta e ou pela peça, bem como por ambas

as partes (KÖNIG e KLOCKE, 1997).

- Todos os materiais; - compatível com a maioria dos requisitos de furação;

- furos com tolerância fechada; - mínimo desvio.

- Aço, aço inoxidável; - materiais de difícil usinabilidade;

- recomendado para uso de refrigerantes de óleo solúvel (emulsões).

- Ferro fundido, materiais maleáveis; - furação de furos cruzados;

- entrada e saída de furos em ângulo.

- Alumínio, cobre; - furos com tolerância fechada.

26

Figura 2.7 - Concepções básicas de máquinas para a furação profunda (KÖNIG e KLOCKE, 1997).

Para ferramentas rotativas e peças paradas, a máquina pode ser

empregada para uma ampla variedade de peças. As máquinas que são construídas

com dispositivos de alimentação e descarga, que eventualmente possuem vários

fusos, são mais adequadas para a produção de grandes lotes (KÖNIG e KLOCKE,

1997).

No processo com peças rotativas, só podem ser empregadas peças com

simetria de rotação e com pequena massa, já que um pequeno desbalanceamento

da peça rotativa pode levar a resultados não adequados na furação profunda

(KÖNIG e KLOCKE, 1997).

As máquinas de furação profunda devem ter uma estrutura rígida para

garantir uma isenção de vibração em todas as faixas de rotação da máquina

ferramenta. A potência da máquina deve ser grande em decorrência da utilização de

brocas de metal-duro.

27

As situações nas quais o processo de furação profunda é aplicado com

vantagens são apresentadas abaixo (GRÜBE et al., 1974):

- Exigência de elevada potência de usinagem (volume usinado na unidade de

tempo).

- Usinagem de materiais com alta composição de elementos de liga, que são

considerados como difícil usinagem.

- Usinagem de materiais de alta resistência, acima de 1200N/mm.

- Exigências elevadas à tolerância e qualidade superficial, bem como

qualidade geométrica do furo.

2.3 Revestimento da Ferramenta

Basicamente, o principal objetivo da aplicação de qualquer revestimento é

melhorar as condições tribológicas nas interfaces ferramenta-cavaco e ferramenta-

peça. No entanto, para melhor aproveitar as propriedades proprocionadas pelo

revesitmento, o mecanismo de desgaste predominante da ferramenta deve ser

identificado, e assim selecionado o revestimento adequado capaz de reduzir a

severidade deste tipo de desgaste. Por exemplo, quando a difusão é identificada

como o principal mecanismo de desgaste da ferramenta, um revestimento que reduz

o atrito de contato (para um determinado material da peça) e, assim, a temperatura

na interface, pode ser usado, pois o mecanismo de difusão ocorre apenas em altas

temperaturas de contato.

Uma grande tentativa de correlacionar os materiais de revestimento e seu

desempenho foi feito por Arnold (2000). Foi salientado que, basicamente, existem

quatro grandes grupos de materiais de revestimento no mercado. O grupo mais

popular é o dos materiais de revestimento à base de titânio como TiN, TiC e Ti(C,N).

A fase metálica é frequentemente complementada por outros metais como Al e Cr,

que são adicionados para melhorar algumas propriedades específicas, como dureza,

resistência à oxidação, etc. O segundo grupo representa revestimentos cerâmicos

como Al2O3 (óxido de alumínio). O terceiro grupo inclui revestimentos super-duros

como diamante CVD, e o quarto grupo inclui o revestimento de lubrificantes sólidos

como metal-carbono amorfo.

28

2.3.1 Técnicas de aplicação

Os revestimentos são aplicados por dois tipos básicos de técnicas

(ASTAKHOV, 2006):

• deposição de vapor químico (Chemical vapor deposition - CVD): envolve

uma reação química entre uma fase gasosa (por exemplo, titânio e nitrogênio) e a

superfície de um substrato (uma pastilha de corte ou uma ferramenta de corte),

aquecida a cerca de 1000ºC. Como o revestimento CVD é um processo gasoso,

toda a superfície do substrato pode ser uniformemente revestida.

• deposição de vapor físico (Physical vapor deposition - PVD): neste processo

o componente metálico do revestimento é produzido a partir de sólidos, em um

ambiente de alto vácuo. A geração dos átomos do metal é feito por métodos de

evaporação ou bombardeamento de íons, em temperaturas de cerca de 500°C.

Os revestimentos CVD estão disponíveis comercialmente a cerca de 30 anos,

e o fato de que mais da metade das pastilhas vendidas são revestimentos CVD,

demonstra a eficácia desses revestimentos. Os revestimentos CVD geralmente são

depositados na composição multi-camada. Um revestimento multi-camada TiC-TiN,

por exemplo, fornece a lubrificação do TiN e a resistência à abrasão do TiC. A

espessura do revestimento fica na faixa de 5 - 10 µm (ASTAKHOV, 2006).

No entanto, as altas temperaturas (cerca de 1000°C) envolvidas no processo

CVD criam uma fragilização chamada de "fase eta" na interface substrato-

revestimento. Dependendo de sua extensão, a fragilização pode afetar o

desempenho operacional em usinagens de corte interrompido e de materiais que

possuem inconsistência na microestrutura, tais como a encontrada em alguns ferros

fundidos nodulares. Recentemente o desenvolvimento de revestimentos CVD de

média temperatura (MTCVD) têm mostrado uma tendência de redução na formação

da fase eta. As ferramentas revestidas com MTCVD oferecem maior resistência ao

choque térmico e lascamento de aresta em comparação com as ferramentas

revestidas pelo CVD convencional. O resultado é uma maior vida útil da ferramenta,

bem como o aumento na resistência em comparação com os revestimentos CVD de

alta temperatura (SEGAL e TOVBIN, 1999).

Revestimentos PVD também oferecem vantagens sobre revestimentos CVD

em determinadas operações e / ou materiais. Comercializadas em meados dos anos

29

1980, o processo de revestimento PVD envolve temperaturas de deposição

relativamente baixas (cerca de 500°C), e permite o revestimento de arestas afiadas

de insertos (a aresta de corte dos insertos revestidos por CVD são geralmente

arredondados antes do revestimento para minimizar o efeito da fase eta). Arestas de

corte fortes e afiadas são essenciais em operações como brochar, usinagem de

engrenagens, fresagem, furação, rosqueamento e para a usinagem de materiais de

difícil usinabilidade como o titânio, aços alta ligas à base de níquel e materiais não-

ferrosos. Do ponto de vista da estrutura do material da peça, arestas de corte

afiadas reduzem as forças de corte, assim ferramentas revestidas por PVD oferecem

uma grande vantagem quando a usinagem de componentes de parede fina ou as

tensões residuais geradas na usinagem são o problema (ASTAKHOV, 2006).

O primeiro revestimento PVD foi o nitreto de titânio (TiN), mas as tecnologias

PVD desenvolvidas mais recentemente incluem carbonitretos de titânio (TiCN) e o

nitreto de titânio alumínio (TiAlN), que oferecem maior dureza, e aumento da

resistência ao desgaste. As ferramentas TiAlN em particular, devido a sua maior

estabilidade química, oferecem maior resistência ao desgaste químico e, assim, é

possível aumentar a capacidade para trabalhar com velocidades mais altas.

Recentes desenvolvimentos em revestimentos PVD incluem revestimentos "macios",

tais como revestimentos de dissulfeto de molibdênio (MoS2) para aplicações de

perfuração à seco. A combinação de revestimento macio-duro, como MoS2 sobre

PVD TiN ou TiAlN, também demonstraram grande potencial. O revestimento duro

(TiN ou TiAlN) proporciona resistência ao desgaste enquanto os mais macios,

oferecem maior lubrificação para o escoamento do cavaco (SEGAL e TOVBIN, 1999;

SRIVASTAVA e QUINTO, 2005; BUSHMAN e GUPTA, 1991).

2.3.2 Tipos de revestimentos à base PVD

Os revestimentos de base PVD estão listados na abaixo e suas propriedades

são mostradas na Tabela 2.1 (ASTAKHOV, 2006).

• Nitreto de titânio (TiN)

Os revestimentos dourados TiN oferecem excelente resistência ao desgaste

para uma vasta gama de materiais, e permite o uso de maiores avanços e

velocidades de corte. Operações de conformação pode conseguir uma diminuição

no desgaste e na soldagem de material da peça na ferramenta, consequentemente

30

uma melhoria no acabamento superficial das peças conformadas. Uma estimativa

conservadora de aumento de vida útil é de 200-300%, apesar de haver algumas

aplicações com aumentos de até 800%.

• Carbonitreto de titânio (TiN (C, N))

Revestimento (Ti (C, N)) cor bronze, oferece maior resistência ao desgaste

para materiais abrasivos, adesivos, ou materiais difíceis de usinar, como o ferro

fundido, aços de alta liga, aços ferramenta, cobre e suas ligas, inconel e ligas de

titânio. Tal como acontece com o TiN, avanços e velocidades de corte podem ser

aumentados e a vida da ferramenta pode melhorar em até 800%. Operações de

conformação com material abrasivo deve ter resultados melhores do que os

encontrados com TiN.

• Nitreto de titânio alumínio ((Ti, Al) N)

Cor Roxo / Preto, ((Ti, Al) N) é um revestimento de alta performance que se

sobressai na usinagem de materiais abrasivos e de difícil usinagem como ferro

fundido, ligas de alumínio, aços ferramenta e ligas de níquel. A ductilidade

melhorada do ((Ti, Al) N) torna-o uma excelente escolha para usinagens de corte

interrompido, enquanto a sua resistência à oxidação, fornece inigualável

desempenho em usinagem de alta temperatura.

• Nitreto de cromo (CrN)

Na cor prata, CrN oferece alta estabilidade térmica, que ajuda na fundição de

alumínio e aplicações de fundição profunda. Ela também pode reduzir a formação de

aresta postiça comumente associado com usinagem de ligas de titânio com

revestimentos à base de Titânio.

• Multi-camadas CrN-CrC

Na cor prata, o revestimento tem boa dureza e uma alta resistência a

rachaduras e lascas. É apropriado para a usinagem de alumínio e ligas de titânio.

• Multi-camadas TiN-TiCN

Na cor bronze / cinza ou azul / cinza, o revestimento é recomendado para

aplicações de usinagem dura como usinagem de aços alto carbono, aços ferramenta

e de ligas de alumínio com alta porcentagem de silício.

31

• Nitreto de zircônio (ZrN)

Na cor dourada pálida, este revestimento de propósito geral é recomendado

para usinagem de ferro fundido e materiais não ferrosos como ligas de alumínio e

titânio.

Tabela 2.1 - Propriedades físicas básicas dos revestimentos PVD (ASTAKHOV, 2006).

Propriedade Nitreto de titânio (TiN)

Carbonitreto de tintânio (Ti(C,N))

Nitreto de titanio alumínio ((Ti,Al)N)

Nitreto de cromo (CrN)

Cor Ouro Bronze Roxo/preto Prata

Dureza (HV) 2800 3000 2800 2000 - 2200

Espessura do revestimento (µm) 2 - 4 2 - 4 2 - 4 3 - 5

Estabilidade química em

(°C) 550 400 750 800

(°F) 1000 750 1330 1470

Lubricidade TiN/aço 0,4 - 0,55 0,5 - 0,6 0,5 - 0,6 0,55 - 0,65

Temperatura de deposição em

(°C) 500 500 500 350

(°F) 930 930 930 660Comparação de custo Base 1,5 x base 2 x base 1,75 x base

2.3.3 Critérios de seleção do revestimento

Deve-se salientar, entretanto, que devido a grande variedade de

revestimentos disponíveis no mercado torna-se dificil a seleção dos mais adequados

para um determinada aplicação (ASTAKHOV, 2006). O método de tentativa e erro é

amplamente utilizado para a seleção tão simplesmente porque as propriedades do

revestimento (como a tensão residual, a topologia, a morfologia, a dureza,

condutividade térmica, a adesão do revestimento no substrato, resistência à

abrasão, resistência à tribooxidação, a resistência à adesão, etc) são pouco

correlacionados com as condições de corte. No entanto, os métodos existentes e

regimes utilizados não se assemelham às condições tribológicas encontradas nas

interfaces ferramenta-cavaco e ferramenta-peça em termos de tensões e suas

distribuições, distribuições de temperatura, velocidades, etc. Como resultado, pode

haver muitas opiniões controversas sobre o mesmo revestimento utilizado em

aplicações semelhantes, porque nenhum critério de similaridade tribológico é

utilizado.

32

A seguir são apresentados alguns aspectos importantes para a aplicação de

revestimentos (ASTAKHOV, 2006):

• Um revestimento específico, quando aplicado corretamente, pode aumentar a

vida útil da ferramenta revestida em 2-3 vezes comparado ao da ferramenta sem

revestimento. Além disso, os aumentos de 10-50% na produtividade têm sido

demonstradas em algumas aplicações.

• Revestimento normalmente acrescenta 0,6 - 1 µm na rugosidade superfícial.

Polimento pós-revestimento é possível, com isso removem-se as macro-partículas

formadas sobre o revestimento durante o processo de deposição (SEGAL e

TOVBIN, 1999).

• Revestimento muda as dimensões da ferramenta de corte. A mudança

depende do revestimento, sua espessura especificada e o processo de

revestimento. Normalmente, o PVD é recomendado para ferramentas de menor

tolerância e CVD para ferramentas de maior tolerância. A maioria dos revestimentos

PVD adiciona 2-3 µm de cada lado de uma ferramenta ou componente. CVD e PVD

CrN são mais espessas e podem adicionar 10 µm ou mais, em alguns casos. A

temperatura de processamento pode prejudicar o material do substrato. As

temperaturas de CVD, em particular, afetam as condições de tratamento térmico de

ferramentas e componentes, e podem causar alterações dimensionais (ASTAKHOV,

2006).

• Os revestimentos são aplicados em várias camadas alternadas. Isso ocorre

porque o aumento da dureza ocorre com a diminuição do tamanho do grão, e o

tamanho do grão diminui simultaneamente com a diminuição da espessura da

camada (OUTEIRO et al., 2002). Isto é especialmente verdadeiro para revestimentos

de alumina: camadas finas de revestimento de alumina são mais duras.

Revestimentos mais duros proporcionam uma melhor resistência ao desgaste. A

espessura máxima desejável, tamanho de grão mínimo, só é possível com a

introdução do método de multi-camadas alternadas (OUTEIRO et al., 2002). O

método mais comum de obtenção da redução do tamanho de grão em camadas

Al2O3 é periodicamente interromper a sua deposição, aplicando uma fina camada de

TiC, TiCN e TiN. O crescimento de grãos de Al2O3 é inibido após a aplicação

subseqüente de cada camada. A aplicação de mais camadas desta forma pode ser

33

usada para construir o revestimento com a espessura total desejada, mantendo o

crescimento de grãos em camadas Al2O3 ao mínimo.

• A eficácia das diversas camadas depende do tipo de operação e do regime de

usinagem. No fresamento de topo de baixa velocidade, a resistência ao desgaste é

determinada pela presença de cromo no revestimento, enquanto em alta velocidade

o revestimento TiAlN assegura elevada resistência ao desgaste. No torneamento, a

eficácia dos diferentes revestimentos depende da velocidade de corte. A figura 2.8

mostra a vida da ferramenta T (min) para o processo de torneamento longitudinal

sem fluido de corte na peça de aço AISI 4140, dureza HB 200, avanço f =

0,26mm/rot, profundidade de corte dw = 3mm, geometria da ferramenta: ângulo da

aresta de corte κr = 60◦, ângulo do flanco normal αn = 7,5°, ângulo de corte normal

γn = −7,5° e substrato de metal-duro M30, para os revestimentos: (1) TiCrN, (2)

AlTiN, (3) sem revestimento, (4) TiN e (5) TiCrN.

• Os melhores resultados são obtidos quando a camada de revestimento de

multi-camadas (TiAl) N, (AlTi) N e revestimentos (AlTiCr) N são usados. A sua

utilização: (a) reduz a resistência das ligações de adesão na interface ferramenta-

cavaco e, portanto, reduz a severidade dos atritos nesta interface, (b) melhora a vida

da ferramenta, (c) aumenta as tensões residuais superficiais e profundas, pois a

maior parte da energia térmica gerada na usinagem flui para a peça (ASTAKHOV,

2006).

Figura 2.8 - Influência da velocidade de corte na vida de insertos revestidos com diversas camadas. Revestimentos: (1) TiCrN, (2) AlTiN, (3) sem revestimento, (4) TiN e (5) TiCrN

(ASTAKHOV, 2006).

34

2.4 Mecanismo de desgaste

Os principais mecanismos de desgaste das ferramentas de corte são: i) a

deformação da aresta; ii) abrasão; iii) adesão; iv) difusão; e v) oxidação

(FERRARESI, 2003). A figura 2.9, apresenta a contribuição de cada componente no

desgaste total em função da temperatura ou velocidade de corte.

Figura 2.9 – Participação dos diferentes componentes no desgaste da ferramenta; a – deformação da aresta de corte; b – abrasão; c – adesão; d – difusão; e – oxidação; f –

resultante. (FERRARESI, 2003).

Percebe-se, em velocidades de corte baixas, que os desgastes das

ferramentas ocorrem predominantemente devido à adesão, ou seja, por causa do

cisalhamento da aresta postiça de corte. Na medida em que se eleva a velocidade

de corte, aumenta a participação das componentes que dependem da temperatura,

tais como a abrasão, difusão e a oxidação. Os únicos mecanismos de desgaste

presentes em todas as faixas de velocidade de corte são a deformação e a abrasão

(FERRARESI, 2003).

2.4.1 Deformação plástica

A deformação plástica ocorre quando a aresta da ferramenta atinge

temperaturas elevadas e o material da ferramenta amolece a ponto de escoar devido

aos esforços de usinagem. A redução na dureza do aço rápido começa a ocorrer em

temperaturas de usinagem superiores a 500 ºC (ASM, 1995).

35

Segundo ASM, a dureza a quente é uma propriedade que o material possui de

manter elevada dureza em elevadas temperaturas. No caso dos aços rápidos, com o

aumento dos teores dos elementos de liga: V, W e Co, têm-se uma melhora na

propriedade do material, mantendo sua dureza em temperaturas maiores do que

500°C (ASM, 1995).

2.4.2 Abrasão

A abrasão é uma das principais causas de desgaste de ferramenta. Tanto o

desgaste de flanco quanto o de cratera podem ser gerados por abrasão. O desgaste

gerado pela abrasão é incentivado pela presença de partículas duras no material da

peça e pela temperatura de corte, que reduz a dureza da ferramenta. Assim, quanto

maior a dureza a quente da ferramenta, maior sua resistência à abrasão. Às vezes,

partículas duras arrancadas de outras regiões da ferramenta por aderência ou

mesmo por abrasão, são arrastadas pelo movimento da peça, causando desgaste

abrasivo em uma área adjacente da ferramenta (DINIZ et al., 2003).

2.4.3 Adesão

O fenômeno da adesão está presente na formação da aresta postiça, mas

pode ocorrer o desgaste por aderência mesmo sem a formação da mesma. Em

geral, na área de saída de cavacos, o corte interrompido, a profundidade de

usinagem irregular ou a falta de rigidez, promovem o fluxo irregular de cavaco,

causando micro-caldeamentos do cavaco à superfície de saída da ferramenta. O

material devido à solicitação intermitente sofre a fadiga removendo parte da

superfície de contato da ferramenta (DINIZ et al., 2003).

2.4.4 Difusão

A difusão consiste na transferência de átomos de um material para o outro, o

que causa variações nas propriedades na camada superficial da ferramenta. Estas

reações químicas provocam a formação de carbonetos menos resistentes à abrasão.

Para que ocorra o desgaste por difusão são necessários três fatores combinados: i)

elevadas temperaturas na região de contato; ii) afinidade química entre a ferramenta

e o material da peça; e iii) tempo de contato. A difusão é responsável pelo desgaste

de cratera em altas velocidades de corte, pois na superfície de saída da ferramenta

é gerada uma condição necessária para a difusão dos materiais, que vem a ser,

36

altas temperaturas (devido a altas velocidades e a zona de aderência) e tempo de

contato cavaco-ferramenta (DINIZ et al., 2003).

2.4.5 Oxidação

A oxidação é a formação de um filme de óxido como resultado da exposição

das superfícies aquecidas ao ar. Este filme recobre todas as regiões nas quais o

oxigênio da atmosfera tem acesso, atacando principalmente as regiões vizinhas das

superfícies de saída, incidência primária e incidência secundária. A ação destrutiva

da oxidação ocorre devido a diferença de volumes dos óxidos formados, criando

saliências nas superfícies da ferramenta, levando facilmente ao lascamento e quebra

da quina da mesma (SCHRÖETER, WEINGERTNER, 2001).

2.5 Usinabilidade

O termo usinabilidade, compreende todas as propriedades de um material que

tem influência sobre o processo de usinagem. Com o termo usinabilidade são

descritas todas as dificuldades que um material apresenta na sua usinagem (KÖNIG

e KLOCKE, 1997).

A usinabilidade é uma propriedade sistêmica do material, pois depende das

características do material usinado e das condições de manutenção da aresta da

ferramenta. A manutenção da aresta é definida como sendo a propriedade da aresta

de uma ferramenta de resistir aos esforços na separação dos cavacos de um

material da peça, por um determinado tempo. A usinabilidade de um material sempre

é vista no contexto do processo de fabricação, do material da ferramenta e das

condições de corte.

Para a descrição da usinabilidade muitas vezes são empregados os símbolos

(Zv) e (Zs), onde o índice “v” está para o desgaste, e o índice “s” para o formato do

cavaco (VIEREGGE, 1970).

A usinabilidade (Zv), se baseia na posição e no comportamento do desgaste

em relação a velocidade de corte, trabalhando-se com velocidade de corte acima da

faixa de formação de aresta postiça. Para determinada operação, a usinabilidade

(Zv) deve ser aceita como boa, quando o material pode ser usinado com velocidade

de corte elevada e com seção de cavaco grande, resultando um pequeno desgaste

37

da ferramenta. Com a usinabilidade (Zv), é descrito basicamente o comportamento

de desgaste (VIEREGGE, 1970).

A determinação da usinabilidade (Zs), se baseia em observações na formação

do cavaco. (Zs) é tido como bom, quando a adesão do material é pequena e não se

formam cavacos em forma de fita ou enrolados, e a superfície é isenta de rebarbas.

Zs também depende da velocidade de corte, geralmente com o aumento da

velocidade de corte obtemos uma melhora na qualidade superficial (VIEREGGE,

1970).

Para mensurar a usinabilidade geralmente são usados quatro critérios (KÖNIG

e KLOCKE, 1997):

-Vida da ferramenta

- Força de usinagem,

- Qualidade superficial da peça,

-Formação de cavacos, como forma e tamanho dos cavacos.

No julgamento e no teste da usinabilidade, são empregados vários critérios que

necessariamente não interdependem um do outro e sim devem ser determinados um

de cada vez.

2.5.1 Critério Vida da ferramenta

Para a caracterização da usinabilidade de um material, é utilizada a vida da

ferramenta como sendo o termo de maior importância. A vida “T”é o tempo mínimo

durante o qual uma ferramenta resiste do início do corte até a sua utilização total,

relacionada a um certo critério de fim de vida sob certas condições de usinagem. A

figura 2.10 apresenta a formação do cavaco e as formas de desgaste.

Para a determinação da vida da ferramenta, na prática são empregados testes

de longa duração, com as velocidades de corte usuais, em máquinas ferramenta,

que, no entanto exigem um elevado tempo de ensaio e grande quantidade de

material.

38

Figura 2.10 - Formação do cavaco e medidas de desgaste usado em teste de usinabilidade (KÖNIG e KLOCKE, 1997).

Testes rápidos são empregados para obter uma informação rápida com o

mínimo gasto de material possível, permitindo valores de comparação de

usinabilidade de diversos materiais. Porém os valores característicos obtidos nos

ensaios rápidos, só permitem comparações vagas com os resultados obtidos nos

testes de longa duração. Os testes rápidos são empregados no controle de

qualidade de entrada de material da peça e da ferramenta, bem como para a

supervisão da usinabilidade (KÖNIG e KLOCKE, 1997).

2.5.2 Critério Força de usinagem

A grandeza da força de usinagem é um critério para medir a usinabilidade de

um material, já que geralmente a usinagem de materiais de difícil usinabilidade,

também apresenta forças de usinagem maiores (KÖNIG e KLOCKE, 1997).

Além do material da peça em si, uma série de outros fatores influenciam a

grandeza e a orientação da força de usinagem, como: velocidade, avanço e

profundidade de corte, ângulos da aresta de corte da ferramenta, revestimentos da

ferramenta, etc.

Os equipamentos utilizados para a determinação das componentes da força de

usinagem devem preencher as seguintes exigências (KÖNIG e KLOCKE, 1997):

• Elevada rigidez, para garantir que o sistema de medição não influencie o

processo de usinagem;

• Alta sensibilidade, que garante a medição da força com precisão;

Zona de corte

Face de corte Inserto

Desgaste de

Flanco

Desgaste de

Cratera

39

• Elevada freqüência natural, para que também possam ser determinados os

componentes dinâmicos da força de usinagem.

Essas exigências são preenchidas da melhor forma pelos equipamentos de

medição com base piezoelétrica. A figura 2.11, mostra um sistema de medição de

força piezelétrica, com qual é possível medir quatro componentes, três componentes

de força e um momento torsor. Um sistema de medição desse tipo é recomendado

para determinação das componentes da força na furação (KÖNIG e KLOCKE, 1997).

Figura 2.11 - Dinamômetro 4-componentes para medição direta da força de corte e momento torsor para processos de furação e fresamento (KÖNIG e KLOCKE, 1997).

A vantagem desse sistema de medição é a separação fácil das componentes, a

rigidez elevada, que está na ordem de grandeza de 1.000 a 10.000 N/µm, e a

freqüência natural elevada de 2,5 a 4 kHz. Outra característica e propriedade são os

valores pequenos de solicitação necessários para obter-se uma resposta de

aproximadamente 0,01N e a grande faixa de medição (aproximadamente 1:106).

40

2.5.3 Critério qualidade superficial da peça

A qualidade de superfície obtidas por usinagem com remoção de cavaco, pode

ser um critério para a determinação dos parâmetros de entrada na usinagem, caso

não haja outros critérios específicos (KÖNIG e KLOCKE, 1997).

Como fatores influentes sobre a qualidade superficial, de início serão

consideradas as condições de corte e a geometria da ferramenta. Os fatores que

influenciam de forma característica a superfície estão resumidos na figura 2.12

(KÖNIG e KLOCKE, 1997).

Figura 2.12 - Resumo dos fatores de influência na qualidade superficial na usinagem de metais (KÖNIG e KLOCKE, 1997).

A rugosidade cinemática é decorrente da forma da quina da ferramenta e do

movimento relativo entre a peça e ferramenta. No torneamento, ela é influenciada

principalmente pela forma da aresta de corte e pelo avanço. A figura 2.13 mostra as

relações geométricas, a figura 2.14, mostra a comparação entre os valores medidos

e a rugosidade calculada para diversos avanços e raios de aresta de corte. O desvio

entre a rugosidade real e a rugosidade teórica, é correlacionado com a espessura

mínima de usinagem, que aumenta com o aumento do raio da aresta de corte.

ê

41

Figura 2.13 - Relações geométricas que compõem o resultado de rugosidade no torneamento

(KÖNIG e KLOCKE, 1997).

Figura 2.14 - Comparação entre os valores medidos e a rugosidade calculada para diversos avanços e raios de aresta de corte. Fonte: Moll und Brammertz.

2.5.4 Critério Formação de Cavaco

A forma e o tamanho do cavaco, tem uma importância predominante

principalmente em processos que apresentam um volume de espaço reduzido para o

cavaco (por exemplo, furação, brochamento e fresamento ) e em máquinas

42

automáticas de usinagem, em decorrência do pequeno espaço disponível para o

trabalho e o grande volume de cavaco. Além disso, existe possibilidade de analise

da usinabilidade pelo fator de recalque do cavaco. As principais influências sobre a

formação de cavaco são as condições de corte e a geometria da ferramenta. A

quebra adequada do cavaco pode ser obtida pela diminuição da deformabilidade do

material da peça ou pelo aumento da deformação do cavaco. Como a capacidade de

deformação do material é dependente da temperatura na região do corte, uma

redução da velocidade de corte ou a refrigeração da região de corte, tornam os

cavacos mais quebradiços (KÖNIG e KLOCKE, 1997).

De importância maior, no entanto é o aumento do grau de deformação por uma

curvatura maior do cavaco. Para esta finalidade, ou reduz-se o ângulo de saída ou

emprega-se um quebra cavaco. Também um aumento da espessura de usinagem,

para o mesmo raio de curvatura do cavaco, leva a um grau de deformação maior na

região externa do cavaco, que por sua vez propicia a quebra do cavaco (KÖNIG e

KLOCKE, 1997).

A formação do cavaco é basicamente influenciada pela deformabilidade,

ductilidade e resistência, ou estado metalúrgico do material da peça. Um aumento da

resistência ou uma diminuição da ductilidade, geralmente levam a uma quebra

melhor do cavaco. A deformabilidade do material da peça é verificada pela

resistência ao cisalhamento como função do alongamento. Estruturas que tenham

embutidos em sua constituição básica componentes duros (por exemplo obtidos por

um tratamento térmico de crescimento de grão) levam a formação de cavaco com

recalque irregular de quebra mais fácil (KÖNIG e KLOCKE, 1997).

Uma influência muito grande sobre o mecanismo de formação de cavaco é

propiciada pelos elementos químicos: fósforo, enxofre e chumbo. Estes materiais

levam a um cavaco de quebra fácil e em decorrência disso, são considerados aços

de boa usinabilidade (KÖNIG e KLOCKE, 1997).

O desgaste da ferramenta, principalmente a formação de uma cratera durante

a usinagem, tem uma influência imediata sobre a geometria da ferramenta. Em

decorrência disso, o desgaste tem uma influência sobre o mecanismo de formação

de cavaco. Ferramentas de metal-duro sem ranhuras de quebra de cavacos

sinterizados na pastilha, apresentam um raio de curvatura menor com o aumento da

profundidade de cratera, isto é, o grau de deformação do cavaco é aumentado. Em

43

funcão disso, em geral, tem-se uma quebra de cavaco melhor (KÖNIG e KLOCKE,

1997).

Com o aumento do tempo de corte, ferramentas com ranhura de quebra

cavaco sinterizada na pastilha, apresentam modificação nesta geometria. Em

decorrência disso, o raio de curvatura do cavaco pode aumentar e em função deste

aumento a quebra de cavaco torna-se menos propícia. O critério da formação de

cavacos, normalmente é correlacionado com o ensaio de vida da ferramenta pela

observação dos cavacos produzidos. Recomendações para os critérios e a medição

de cavacos, estão recomendados na folha de critérios Stahl-Eisen 1178/69 (KÖNIG

e KLOCKE, 1997).

2.5.4.1 Tipos de Cavacos

Podemos classificar os cavacos de uma usinagem em três tipos principais

(figura 2.15) (FERRARESI, 2003):

• Cavaco contínuo

• Cavaco de cisalhamento

• Cavaco de ruptura

Figura 2.15 - Tipos de cavacos: a) cavaco contínuo; b) e b’) cavaco de cisalhamento; c) cavaco de ruptura (FERRARESI, 2003).

44

Cavaco contínuo:

Constitui-se de lamelas justapostas numa disposição contínua e agrupadas

em grupos lamelares. Entenda-se por lamela a camada de material de cavaco

constituída pelos grãos cristalinos deformados. No cavaco contínuo, a disposição

entre estes grupos lamelares não é tão nítida como nos outros tipos de cavacos. Há

apenas um deslizamento desses elementos de cavacos. O cavaco contínuo forma-

se na usinagem de materiais dúcteis e homogêneos, com pequenos e médios

avanços e em sua formação geralmente é usada velocidade de corte superior a 60

m/min (valor referente ao material aço).

Cavaco de cisalhamento ou cisalhado:

Apresenta-se constituído de grupos lamelares bem distintos e justapostos.

Estes elementos de cavaco foram cisalhados na região de cisalhamento e

parcialmente caldeado em seguida. Forma-se quando houver diminuição da

resistência do material no plano de cisalhamento, devido ao aumento da

deformação, à heterogeneidade da estrutura metalográfica, ou a vibrações externas

que conduzem às variações da espessura de cavaco. Este tipo de cavaco também

se forma empregando-se grandes avanços, velocidades de corte geralmente

inferiores a 100 m/min (valor referente ao material aço) e ângulo de saída pequeno.

Cavaco de ruptura ou fragmentado:

Apresenta-se constituído de fragmentos arrancados da peça usinada. Há uma

ruptura completa do material em grupos lamelares (na região de cisalhamento), os

quais permanecem separados. Forma-se na usinagem de materiais frágeis ou de

estrutura heterogênea, tais como ferro fundido ou latão. Verifica-se que não há uma

distinção perfeitamente nítida entre os tipos de cavaco contínuo e de cisalhamento.

Conforme as condições de usinagem (avanço, velocidade de corte e ângulo de

saída) pode-se passar do cavaco contínuo ao de cisalhamento ou vice-versa.

2.5.4.2 Forma do Cavaco

Pode-se ainda diferenciar o cavaco quanto à sua forma. Certas formas de

cavaco dificultam a operação de usinagem, prejudicam o acabamento superficial da

peça, desgastam mais ou menos a ferramenta ou até mesmo danificam e quebram a

mesma. A figura 2.16, mostra diversas formas de cavaco e sua designação.

45

Cavacos helicoidais planos, preferencialmente apresentam a sua saída

tangenciando o flanco da ferramenta, e em decorrência disso danificam o suporte da

ferramenta e a quina da ferramenta. Cavacos de fitas, cavacos emaranhados e

cavacos fragmentados, apresentam um perigo para ao operador da máquina

ferramenta (KLUFT et al., 1979).

Figura 2.16 - Padrão utilizado para classificar a forma do cavaco (KÖNIG e KLOCKE, 1997).

O cavaco em fita pode provocar acidentes, ocupa muito espaço e é difícil de

ser transportado. Geralmente a forma de cavaco mais conveniente é o espiral curto.

O cavaco em lascas é preferido somente quando houver pouco espaço disponível,

ou quando o cavaco deve ser removido por fluido de corte, como no caso da furação

profunda (KÖNIG e KLOCKE, 1997).

2.5.4.3 Coeficiente Volumétrico de Cavaco

Define-se coeficiente volumétrico de cavaco (ω) a relação entre o volume

ocupado pelo cavaco (Ve) e o volume correspondente ao seu peso (Vp)

(FERRARESI, 2003).

Eq. 2.1:

ω = Ve / Vp = (ρ . Ve) / (P . 1000)

onde:

Vp = volume correspondente ao peso do cavaco (kg);

Ve = volume ocupado pelo cavaco (cm³);

P = peso do cavaco (kg);

ρ = peso específico do material usinado (g/cm³).

Cavaco Fita

Cavaco Fita em-bolado

Cavaco Helicoi-

dal chato

Cavaco Helicoi-

dal inclinado

Cavaco Helicoi-

dal longo

Cavaco Helicoi-

dal espiral

Cavaco Espiral

Cavaco Vírgula

Cavaco Vírgula curto

Cavaco Helicoi-dal curto

46

Este coeficiente fornece apenas um valor relativo das diferentes formas de

cavaco, pois depende da maneira com que o mesmo é armazenado. A figura 2.17

fornece os valores de ω para diferentes formas de cavaco, considerando um

armazenamento manual de cavaco (FERRARESI, 2003).

Figura 2.17 - Influência da forma do cavaco no valor do coeficiente volumétrico ω (FERRARESI, 2003).

Pode-se provocar a mudança da forma do cavaco sob diferentes maneiras:

• Alterando-se as condições de usinagem;

• Dando-se uma forma especial à superfície de saída da ferramenta;

• Colocando-se elementos adicionais na superfície de saída (quebra cavaco).

Do ponto de vista da fabricação de furos, presume-se dificuldades no

transporte do cavaco. Para furação convencional com broca helicoidal esta função

pode ser realizada pelos diversos canais de transporte de cavaco. Em furação

profunda a função do fluido de corte não se resume apenas ao resfriamento e à

lubrificação da aresta de corte da ferramenta e guia lateral, mas também para um

transporte contínuo do cavaco para fora do furo. Estudos recentes mostram que uma

determinada pressão do fluido de corte, juntamente com um avanço adequando e

47

modificações na afiação da ferramenta (por exemplo, distribuição do corte) propicia

cavacos curtos em forma de vírgula (WOSNIAK et al., 2007). Em furação profunda a

forma do cavaco tem uma função bastante importante, pois em alguns casos a

alternância de um cavaco curto para um cavaco longo (forma helicoidal longo ou

fita), pode gerar o entupimento do canal de saída do cavaco, podendo provocar a

quebra da ferramenta. A forma do cavaco representa em primeiro lugar a condição

do processo de furação profunda, e permite através da sua identificação encontrar a

combinação ótima dos parâmetros de usinagem (WOSNIAK et al., 2007).

2.5.5 Influência dos elementos de liga na usinabilidade

Uma das principais fontes de melhoria das condições tribológicas em

usinagem (redução do desgaste da ferramenta e melhoria da qualidade da superfície

usinada), e assim reduzir o custo unitário por peça usinada, está nas propriedades e

estrutura da matéria-prima. Porém, esta fonte não tem a devida atenção de

pesquisadores e profissionais na área de usinagem de metais, embora as

propriedades do material de trabalho possam definir, em grande medida

(ASTAKHOV, 2006):

• Propriedades da superfície de contato do cavaco que está em contrapartida

com a superficie de corte da ferramenta ao longo do comprimento de contato

ferramenta-cavaco;

• Propriedades do material de trabalho na interface peça-ferramenta (a

superfície de flanco), que definem as condições de contacto e de desgaste da

ferramenta através desta interface.

A presença de elementos de liga influência a usinabilidade do material pela

alteração da estrutura do aço, ou pela formação de lubrificantes assim como

incrustações abrasivas. Pode-se compreender melhor a influência dos elementos de

liga do aço AISI 4150 visualizando os elementos presentes neste material (Tabela

2.2), bem como a influência de cada elemento na usinabilidade.

48

Tabela 2.2 - Composições químicas do aço AISI 4150. Fonte: Aços Villares

AçoC

[%] Si

[%] Mn [%]

Mo [%]

Cu [%]

Ni [%]

Cr [%]

P [%]

S [%]

Al [%]

Sn [%]

AISI 4150 0,54 0,21 0,68 0,2 0,18 0,12 0,94 0,03 0,01 0,02 0,03

Pode-se citar a influência de cada elemento de liga na usinabilidade (KÖNIG

e KLOCKE, 1997):

• Silício: juntamente com o oxigênio, resulta no dióxido de silício. O resultado

dessa reação pode causar inclusões duras no aço, o que resulta em um aumento do

desgaste da ferramenta.

• Manganês: em aços com baixo teor de carbono, o manganês melhora a

formação do cavaco. Já em aços com alto teor de carbono, este elemento prejudica

a usinabilidade, pois aumenta o desgaste da ferramenta.

• Fósforo: até 0,1% o fósforo é bom para a usinabilidade. Para uma proporção

maior que 0,1%, este elemento propicia um melhor acabamento superficial, mas

eleva o desgaste da ferramenta.

• Enxofre: reagindo com manganês pode resultar em sulfeto de manganês

(MnS). O resultado desta reação favorece a formação de cavacos curtos em forma

de vírgula, o que é benéfico para a usinabilidade, pois melhora a qualidade

superficial da peça e reduz a formação de aresta postiça.

• Chumbo: devido ao seu baixo ponto de fusão, durante a usinagem o chumbo

forma um filme líquido entre a peça e a ferramenta, reduzindo, assim, o desgaste da

ferramenta e possibilitando a formação do cavaco curto em forma de vírgula. A força

de corte pode cair em até 50%.

• Alumínio: não tem influência significativa na usinabilidade.

• Cromo e Molibdênio: para aços com elevado teor de carbono e alto teor de

liga, este elemento forma carbonetos duros mistos e especiais. Estes podem

prejudicar a usinabilidade. O cromo também pode formar fases de segregação de

elevada dureza, que leva a danificações severas na aresta de corte da ferramenta.

• Níquel: em geral o níquel prejudica a usinabilidade.

49

Analisando a influência dos elementos de liga do material, pode-se observar

que o AISI 4150 tende a ter desempenho ruim durante a usinagem, pois tem alto

teor de Cromo, Níquel e Molibdênio, e estes elementos formam carbonetos duros

que prejudicam a usinabilidade.

A estrutura do aço AISI 4150 também prejudica a usinabilidade, pois possui

martensita fina revenida, que tende a produção de cavacos contínuos de forma

helicoidal e fita (Figura 2.18).

Figura 2.18 - Estrutura metalográfica do aço AISI 4150. Fonte: Laboratório metalográfico Robert Bosch.

2.6 Temperatura de corte ótima – Primeira Lei da Usinagem de Metais

A temperatura de corte é entendida como a temperatura integral na interface

cavaco-ferramenta e ferramenta-peça, medida através de um termopar. Como

provado conclusivamente por Makarow (1976), esta temperatura é o parâmetro mais

adequado para correlacionar as condições tribológicas nas interfaces com o

desgaste da ferramenta. Portanto, a correlação desta temperatura com parâmetros

de corte deve ser estabelecida.

Analisando um grande número de dados experimentais, Makarow (1976)

formulou a lei que foi apresentada como a primeira lei da usinagem (Lei de

Makarow) por Astakhov (ASTAKHOV, 1998; ASTAKHOV, 2004):

“Para uma dada combinação de material de ferramenta e peça, existe uma

temperatura de corte, referida como a temperatura de corte ótima, na qual é atingida

20 µm

50

a combinação de: mínima taxa de desgaste da ferramenta, mínima força de corte, e

melhor qualidade superficial. Esta temperatura é independente da forma como ela é

alcançada (mesmo se a peça for resfriada, pré-aquecida, etc).”

A primeira lei da usinagem, determinada inicialmente para a operação de

torneamento longitudinal para diferentes tipos de materiais, foi comprovada

experimentalmente para várias outras operações de usinagem. O exemplo da figura

2.19 (a), apresenta o torneamento do aço AISI 1045 com ferramenta de metal-duro

P30, profundidade de corte dw = 1,5 mm utilizando diferentes avanços: 1 – 1,4; 2 -

0,87; 3 - 0,61; 4 - 0,39 e 5 - 0,21 mm/rot. A figura 2.19 (b) mostra a aplicação para

furação com broca helicoidal no material da peça - AL 610 liga, com a ferramenta de

aço HSS T15, diâmetro da broca 15 mm, critério de vida da ferramenta VB = 0,3

mm, usando diferentes avanços: 1 - 0,28; 2 - 0,17 e 3 - 0,10 mm/rot. A figura 2.19 (c)

mostra a aplicação para o rosqueamento do material da peça AISI 303, com uma

ferramenta de ponta única de corte constituída do material metal-duro, com critério

de vida da ferramenta VB = 0,5 mm, utilizando diferentes avanços: 1 – 1,0; 2 - 1,5 e

3 - 2,0 mm/rot. A figura 2.19 (d) apresenta o fresamento de engrenagem de aço AISI

4140, sendo o material da ferramenta o aço HSS T15, com módulo da engrenagem

m = 2 mm, número de dentes Z = 61, critério de vida de da ferramenta VB = 0,7 mm,

utilizando diferentes avanços axiais: 1 – 4,0; 2 - 2,5 e 3 - 1,7 mm/rot.

Considerando a Figura 2.19 (a), pode-se verificar que quando aumenta-se o

avanço, a taxa de desgaste superficial diminui (hs). No entanto mesmo quando são

utilizados diversos avanços de corte, a mínima taxa de desgaste da ferramenta

ocorre na mesma temperatura de corte ótima θopt, embora a taxa de desgaste

superficial varie mais de 2 vezes. Este mesmo efeito, de forma ainda mais

pronunciada, pode ser observado na figura 2.19 (b), onde o avanço tem uma

influência muito forte na vida da ferramenta, representada pelo comprimento total da

vida da ferramenta para alcançar a marca de desgaste de flanco VB = 0,3mm. Como

demonstrado, há uma combinação específica de velocidade de corte e avanço em

que a vida da ferramenta é a máxima. Alterando-se a velocidade de corte e / ou o

avanço pode-se aumentar a vida útil da ferramenta, e obter a taxa de desgaste

mínima da ferramenta em uma dada combinação desses parâmetros, quando estes

conduzirem à temperatura ótima de corte. A figura 2.19 (c) mostra que a vida da

ferramenta de rosqueamento, representada pelo comprimento total usinado (L [m])

51

para alcançar VB = 0,5 mm, tem o seu máximo na temperatura ótima de corte (θopt)

sob diferentes combinações de velocidade de corte e avanços. Figura 2.19 (d)

mostra que a mesma conclusão pode ser tirada dos dados para a fresamento de

engrenagens.

Figura 2.19 - Primeira lei da usinagem comprovada experimentalmente para várias operações de usinagem: (a) torneamento, (b) furação com broca helicoidal, (c) rosqueamento, (d)

fresamento (ASTAKHOV, 2006).

A figura 2.20 mostra que a usinagem na temperatura de corte ótima resulta

não somente na taxa mínima de desgaste da ferramenta, mas também leva à

obtenção da mínima de força de corte e a menor rugosidade da superfície usinada.

Conforme apresentado no gráfico, sob estas condições de corte, a temperatura de

corte ótima de θopt = 875°C pode ser diretamente correlacionada à assim chamada

velocidade ótima de corte vopt = 1,28 m/s (ASTAKHOV, 2006).

52

Figura 2.20 - Determinação experimental da velocidade e temperatura de corte ótima na operação de torneamento longitudinal do aço AISI 4340. Material da ferramenta: metal-duro

P20. Regime de corte: f = 0.15 mm/rot, dw =1 mm (ASTAKHOV, 2006).

Para entender a fundamentação teórica e física da temperatura ótima de

corte, deve-se entender o que acontece com o material a esta temperatura. A figura

2.21 apresenta as respostas para esta questão em um nível mecânico e metalúrgico.

Esta figura mostra o que acontece com as mais relevantes características mecânicas

do material (para usinagem) quando este é levado à temperatura igual à temperatura

de corte ótima. Particularmente, a mínima resistência σUTS e alongamento ef (que

representa a deformação na ruptura) resultará no mínimo trabalho realizado na

fratura da camada a ser removida. A mínima micro-dureza HV garante o mínimo de

tensão normal na interface ferramenta-cavaco. O mínimo valor do módulo de Young

garante o mínimo trabalho da deformação elástica, enquanto o mínimo de hr-s resulta

em mínimo desgaste de flanco da ferramenta (ASTAKHOV, 2006).

53

Figura 2.21 - Influência da temperatura nas propriedades do ferro puro (ASTAKHOV, 2006).

Para entender os fenômenos discutidos ao nível da metalurgia física, deve-se

reconhecer que o corte de metais é a fratura intencional do material, tal como

definido por Astakhov (1998). O trabalho gasto na fratura intencional da camada a

ser removida, ou seja, a sua tenacidade à fratura deve ser considerada como o

Temperatura

54

principal parâmetro na determinação da força de corte e a energia gasta na

usinagem. Por isso, deve-se considerar a mecânica da fratura e a importância da

temperatura do processo nesta mecânica (ATKINS e MAI, 1985). Outro aspecto

importante da usinagem de metais é a deformação plástica que deve ser

considerada como um desperdício de energia. Em usinagem, é desejável que os

materiais tenham a menor deformação possível na ruptura (ASTAKHOV, 2006).

De acordo com Atkins e Mai (1985) e Komarovsky e Astakhov (2002), há um

acentuado aumento da deformação na fratura e também no trabalho de fratura, em

torno de 0,18 - 0,25 do ponto de fusão (Tm), mudanças semelhantes ocorrem em

outras medidas de ductilidade, tais como valores de Charpy (CVN), como mostrado

na figura 2.22(a), onde para temperaturas menores que 0,3 Tm ocorrem: (A) trincas

intergranulares a baixa temperatura, (B) fratura ou deslizamento levando à clivagem,

(C) fratura de cisalhamento nas partículas, (D) cisalhamento de baixa energia nas

partículas. Este fenômeno explica a grande dimensão da zona de deformação

plástica observadas em baixas velocidades de corte, e incorporadas ao modelo

discutido por Astakhov (1998). A assim conhecida “aresta postiça” é o resultado da

região de alta plasticidade gerada à frente da superfície de corte da ferramenta no

comprimento de contato. As exceções são alguns metais e ligas FCC (Al, Cu, Ni, Pb)

que normalmente não sofrem clivagem.

O aumento da ductilidade acima da "faixa de temperatura de transição" é

seguido por uma queda gradual quando a temperatura está aproximadamente em

0,35 Tm. Acredita-se que isso acontece devido à contínua queda na tensão de

Peierls-Nabarro, que se opõe ao movimento de discordâncias, em conjunto com o

surgimento de discordâncias cruzadas (em oposição às fontes de Frank-Read) como

um gerador de discordâncias, assim que a temperatura se eleva (ATKINS e MAI,

1985). Na opinião de Astakhov (2006), a causa está em reações de compressão-

dilatação, como explicado na referência (KOMAROVSKY e ASTAKHOV, 2002).

55

Figura 2.22 - Mudanças na ductilidade e mecanismos típicos associados à fratura de materiais como bronze (ASTAKHOV, 2006).

Em elevadas temperaturas, os contornos de grão tornam-se significativos. A

figura 2.22 (b) apresenta as mudanças na ductilidade para temperaturas superiores

à 0,3 Tm: (C) cisalhamento de partículas, (D) cavidades ao longo da superfície dos

grãos, (E) recristalização suprime a cavitação. Abaixo de aproximadamente 0,45 Tm

os contornos de grãos passam a agir principalmente como barreiras de inibição de

clivagem e causam discordâncias pile-ups. Em temperaturas mais elevadas, as

regiões de intensa deformação, que estão contidos dentro dos grãos em

temperaturas mais baixas, agora mudam para os contornos de grãos. As vacâncias

são nucleadas e então desenvolvem-se trincas nos contornos de grãos. Tensão de

56

cisalhamento nos contornos causam deslizamento entre os grãos, e as vacâncias

são reduzidas na região de concentração de tensões (ver Figura 2.22(b) -. posição

D). Portanto, a região em torno desta temperatura pode ser denominada como o vale

de ductilidade. Experimentos realizados por Makarow (1976) mostraram que a

redução da plasticidade pode chegar a duas vezes e ainda mais para os aços de

alta liga (MAKAROW, 1976). A presença deste vale é a causa física da existência da

temperatura ótima de corte.

Em temperaturas à 0,5 - 0,6 Tm, o processo de recuperação e recristalização

começa a ocorrer, como mostrado na Figura 2.24(b) (recuperação refere-se a uma

redistribuição das fontes de discordâncias assim o movimento de discordâncias é

mais fácil, e na recristalização, a energia dos geradores de discordâncias durante a

deformação prévia é usado para nucleação e crescimento de grãos novos, assim

afetando a estrutura recozida durante um longo tempo).

2.6.1 Principais conseqüências da primeira lei da usinagem de metais (lei de

Makarow)

As seguintes conseqüências da primeira lei da usinagem de metais são de

grande importância na tribologia da usinagem de metais (ASTAKHOV, 2006).

Conseqüência 1: Para ferramentas de corte com diferentes combinações de

geometrias de corte – superfície de corte, de flanco, ângulos de ponta da

ferramenta, e raios de ponta, etc - a temperatura ótima de corte corresponde a

pontos de mínimo sobre as curvas que representam a dependência da taxa de

desgaste da ferramenta com a velocidade de corte, enquanto a velocidade de corte

ótima correspondente a cada caso específico varia em uma ampla gama. A figura

2.23(a) e tabela 2.3 mostram um exemplo de verificação experimental sobre essa

conseqüência, para o desgaste no torneamento de ligas AL610 com ferramenta de

metal-duro P10 (14% TiC, 8% Co). As combinações dos parâmetros e geometria da

ferramenta são mostradas na Tabela 2.3

Conseqüência 2: A taxa de mínimo desgaste da ferramenta é realizada na

mesma temperatura ótima no corte à seco e em corte com diferentes fluidos de

corte, utilizando diferentes métodos de fornecimento de fluido de corte. A figura

2.23(b) demonstra um exemplo de dados obtidos em experimentos, onde o desgaste

no torneamento da liga Haynes 263 (29% Cr, 2,5% Ti) para o material da ferramenta

57

metal-duro M20 (92% WC, 8% Co), profundidade de corte dw = 0,5 mm, corte,

avanço f = 0,08 mm/ver, são apresentados nas curvas: (1) corte à seco, (2) emulsão

à base de água e óleo (6%), (3) fluido de corte à base de óleo com cloro e enxofre.

Como demonstrado, a temperatura ótima é a mesma para usinagem à seco, bem

como para usinagem utilizando diferentes fluidos de corte.

Figura 2.23 - Influência da velocidade de corte sobre a temperatura de corte e a taxa de desgaste da ferramenta (ASTAKHOV, 2006).

Conseqüência 3: A temperatura ótima de corte é a mesma para várias

combinações de temperaturas, para peça pré-aquecida, e espessuras de cavaco.

Isso é ilustrado através de um exemplo mostrado na figura 2.23(c), onde o desgaste

foi avaliado no torneamento de liga Haynes 263 com pré-aquecimento da peça, para

o material da ferramenta metal-duro M10 (92% WC, 8% Co), profundidade de corte

dw = 0,5 mm, e diferentes avanços e temperaturas de pré-aquecimento, conforme

58

mostrado na tabela 2.4. Em outras palavras, a temperatura de corte ótima não

depende ou é invariável para um determinado método pelo qual foi alcançada.

Conseqüência 4: Variação do diâmetro da peça no torneamento e do

diâmetro da broca na furação, leva a uma mudança significativa na velocidade de

corte ótima (ou seja, a velocidade de corte correspondente à taxa de desgaste

mínimo da ferramenta). A razão para isso são as interações de deformação e as

ondas térmicas propagadas no material. A temperatura ótima, no entanto,

permanece no mesmo valor. Isto é ilustrado por um exemplo mostrado na figura

2.24, onde o comprimento total da vida da ferramenta foi avaliado para três

diferentes diâmetros de peça no torneamento da liga Haynes 263 (29% Cr, 2,5% Ti),

para o material da ferramenta metal-duro micro-grão M10 (94% WC, 6% Co),

profundidade de corte dw = 0,25 mm e avanço f = 0,09 mm/rot, para o critério de vida

desgaste radial da ferramenta VB = 30µm.

Figura 2.24 - Influência da velocidade de corte sobre a temperatura de corte e o comprimento total da vida da ferramenta no torneamento de três diferentes diâmetros de peça. (ASTAKHOV,

2006).

Conseqüência 5: Se a estrutura e / ou a dureza do material da peça forem

alteradas, a velocidade de corte ótima sofre alteração correspondentemente, mas a

temperatura ótima, permanece a mesma. A influência da velocidade de corte e

temperatura de corte na taxa de desgaste da ferramenta são apresentados pelo

exemplo mostrado nas figuras 2.25 (a), e (b), respectivamente, para o torneamento

do aço ferramenta HVG (1% C, 1% de Cr, 1,5% W, 1% de Mn) em três diferentes

59

durezas, com ferramenta de metal-duro M20 (92% WC, 8% Co), profundidade de

corte dw = 0,25 mm e avanço de corte f = 0,10 mm/rot. Como demonstrado, existem

mudanças de velocidade de corte ótima com a dureza e estrutura metalúrgica do

material (Figura 2.27 (a)), enquanto a temperatura ótima de corte permanece a

mesma (Figura 2.27 (b)).

Figura 2.25: Influência da velocidade de corte (a) e temperatura de corte (b) na taxa de desgaste da ferramenta no torneamento de aço ferramenta (ASTAKHOV, 2006).

Tabela 2.3 - Parâmetros de corte e geometria da ferramenta da Figura 2.25(a) (ASTAKHOV, 2006).

60

Tabela 2.4 - Parâmetros das curvas da figura 2.25(c) (ASTAKHOV, 2006).

O resumo das conseqüências consideradas é a seguinte (ASTAKHOV, 2006):

“A temperatura ótima de corte depende apenas das composições do material

da ferramenta e da peça, esta pode ser determinada uma vez, e depois usado para

otimizar a usinagem de vários processos em que é utilizada a mesma combinação

de materiais para ferramentas / peça. Esta temperatura não depende do tipo de

operação de usinagem, geometria da ferramenta, parâmetros de usinagem, tipo de

regime, e o método de aplicação do fluido de corte.”

2.6.2 Métodos de determinação da temperatura ótima de corte

A temperatura ótima de corte pode ser determinada experimentalmente

através de um teste de vida útil da ferramenta, onde a taxa de desgaste da

ferramenta hs é medida como uma função da temperatura de corte. A temperatura

correspondente à taxa mínima de desgaste da ferramenta é considerada como a

temperatura de corte ótima. No entanto, um teste de vida da ferramenta completo é

caro e demorado, embora tenha de ser realizado apenas uma vez para uma dada

combinação de material da ferramenta e da peça. Foi sugerido, portanto, que tal

teste seja realizado em uma profundidade de corte e avanço constante, variando a

velocidade de corte e medindo a taxa de desgaste hs da ferramenta. Como se segue

a partir dos dados mostrados na figura 2.20, a força de corte e acabamento

superficial podem também ser medidos para determinar a temperatura ótima de

corte. Como mostrado na figura, a temperatura ótima de corte foi determinada como

sendo 875°C.

Realizando uma série de testes com materiais de difícil usinagem, Silin (1979)

mostrou que a temperatura ótima de corte pode ser determinada como

correspondendo à mínima força de corte estabilizada, como mostrado na figura 2.26

para a peça de liga base de níquel (0,08% C, 1% de Cr, 56% de níquel, 1% Co, Al

1%), no torneamento com ferramenta de metal-duro M20 (92% WC, 8% Co),

61

geometria da ferramenta: γ = 12°, α = 12°, κr = 45°, κr1 = 45°, rn = 1 mm,

profundidade de corte dw = 1,0 mm, e avanços como correspondentes às curvas: (1)

f = 0,074, (2) 0.11, (3) 0.15, (4) 0.25, (5) 0,30 (6), 0,34 e (7) 0,39 mm/rot.

Figura 2.26 - Determinação experimental da temperatura ótima de corte através da força de corte mínima estabilizada (SILIN, 1979).

Como demonstrado, a temperatura ótima de corte não depende de um regime

especial de corte.

A temperatura ótima de corte também pode ser determinada se a correlação

das curvas "dureza - temperatura" são conhecidos para os materiais da ferramenta e

peça. Como tal, a temperatura ótima de corte é determinada como a temperatura

correspondente à máxima diferença destas durezas, como mostrado na figura 2.27.

62

Realizando um estudo de similaridade de parâmetros de usinagem, Silin

sugeriu a seguinte equação teórica para a determinação da temperatura ótima de

corte para ferramentas de metal-duro (SILIN, 1979):

Eq. 2.2:

onde Tmp-c é a temperatura de fusão de cobalto, Tmp-c = 1490°C, kct e kw são a

condutibilidade térmica dos materiais da ferramenta e da peça, respectivamente, CP-

ct e CP-w são o calor específico dos materiais da ferramenta e da peça,

respectivamente, e ρct ρw são as densidades dos materiais da ferramenta e da peça,

respectivamente, a ef é o alongamento à ruptura do material da peça e m é um

coeficiente na Tabela 2.5.

Figura 2.27 - Determinação da temperatura ótima de corte utilizando as curvas de dureza-

temperatura (SILIN, 1979).

Tabela 2.5 - Coeficiente m da equação 2.2 (SILIN, 1979).

Grupo de materias de trabalho m Grupo de materias de trabalho m

aço carbono 0,925 aço resistente à quente base-niquel 1,100

aço ferramenta e aço cromo 0,800 ligas de titânio 0,6 - 0,7

aço cromo-molibidenio 0,970 aluminio alta liga 0,95

aço cromo-tungstenio

aço inox e aço resistentes 1,300 cobre, latão 1,25 à quente bronze 1,05

63

2.7 Projeto de Experimento – DOE

Quando se procura uma melhoria de processo em um ambiente fabril ou

busca-se a solução de um problema de processo, várias dificuldades são

encontradas durante a realização dessas tarefas, como por exemplo: tempo

disponível para testes, investimento para compra de ferramentas de teste, além da

dificuldade técnica e falta de conhecimento técnico para solucionar o problema.

Outra grande dificuldade é a falta de um método adequado para solucionar o

problema, pois no anseio em resolver um problema muitos testes são feitos de forma

desorganizada, gerando pouco conhecimento devido à mistura de informações e a

inconfiabilidade do experimento (LANGLEY et al., 1996).

O método é o caminho a ser trilhado até encontrar a resposta do problema.

Por isso desde o inicio é preciso manter organizados os parâmetros do experimento

para garantir uma conclusão eficiente. Um determinado processo é composto por

entradas, saídas, fatores de controle e ruídos (MONTGOMERY, 2000). As entradas

normalmente são: a matéria-prima, ferramenta, parâmetros, condições da máquina,

energia elétrica, fluido de corte, etc. As saídas são: a peça usinada, ferramenta

desgastada, qualidade geométrica da peça, cavaco, calor, vibração, etc. Os fatores

de controle são: avanço, velocidade de corte, revestimento da ferramenta,

viscosidade do fluido de corte, etc. Os ruídos são: temperatura ambiente, vibração,

etc. Para compreender como o processo funciona, é necessário monitorar as

entradas e o ruído, variar os fatores de controle e medir as saídas do processo para

compreender como os fatores interferem no processo (Figura 2.28).

Figura 2.28 - Modelo explicativo do funcionamento de um processo (MONTGOMERY, 2000).

64

Normalmente, os ensaios de usinagem incluem um grande número de

variáveis independentes. No ensaio de furação profunda, por exemplo, há uma série

de variáveis da geometria da ferramenta (o número de arestas cortantes, ângulos de

inclinação, ângulos de flanco, etc) e variáveis de conceito (o formato do canal de

fluido de corte, a área transversal e localização, ângulo do perfil do canal de

remoção do cavaco, o comprimento e diâmetro da haste, etc) que afetam o

desempenho da broca. No entanto, quando muitos fatores são usados no DOE, o

experimento torna-se caro e demorado. Portanto, há sempre um dilema. Por um

lado, é conveniente levar em consideração apenas um número limitado de

elementos essenciais cuidadosamente selecionados pelos especialistas. Por outro

lado, mesmo se um fator essencial é perdido, o modelo estatístico final pode não ser

adequado ao processo em estudo (ASTAKHOV e GALITSKY, 2005).

No entanto, não há nenhuma maneira simples e viável para justificar as

decisões tomadas na fase de pré-processamento sobre o número de variáveis

essenciais antes dos testes. Se um erro for feito nesta fase, pode mostrar-se apenas

na fase final do DOE quando os critérios estatísticos correspondentes são

examinados. Caso este erro ocorra, torna-se impossível corrigir os resultados do

teste adicionando o fator desprezado (ASTAKHOV e GALITSKY, 2005).

A teoria do DOE oferece algumas maneiras de lidar com este problema. O

primeiro se baseia na experiência coletiva do experimentalista (s) e da equipe de

pesquisa na determinação dos fatores significativos. O problema com essa

abordagem é que fatores para um ou mais podem ser significativo ou não,

dependendo dos objetivos do teste e condições particulares. Por exemplo, o ângulo

do encosto traseiro da broca canhão não é um fator significativo na

furação de materiais moles ou ferro fundido, mas torna-se altamente significativa na

usinagem de ligas de titânio e aços inoxidáveis martensíticos duros. Uma segunda

maneira é a utilização do DOE de triagem. Este método parece ser mais promissor

em termos de sua objetividade. Vários DOEs de triagem são utilizados quando um

grande número de fatores devem ser investigados com número relativamente

pequeno de testes. Este tipo de teste é realizado para identificar os fatores

significativos para análise posterior (MONTGOMERY, 2000; MASON, GUNST e

HESS, 1989).

O DOE fatorial fracionário é comumente usado como DOE de triagem

(MONTGOMERY, 2000). Usando este método, o pesquisador deve estar

65

plenamente consciente de que ele não consegue detectar todas as interações entre

os fatores envolvidos. Este fato torna inviável o uso deste DOE para estudar as

interações entre as variáveis (STEPHENSEN, 1989). Portanto, se algum fator de

interação pode ser significativo, este teste não deve ser usado. No entanto, há uma

série de interações significativas entre os parâmetros de processo, sendo assim

dificilmente este DOE pode ser aceitável em usinagem de metais.

Existem vários tipos de experimentos (DOE) que podem ser utilizados, todos

com uma indicação específica: Experimentos fatoriais fracionados, para fazer a

triagem dos fatores; Experimentos completos, para identificar interações entre

fatores; Métodos de Superfície de Resposta, para otimizar a resposta do

experimento gerando um modelo matemático que permite encontrar pontos de

máximo e mínimo. A figura 2.29 mostra um exemplo de estratégia para encontrar os

fatores de maior influência sobre o processo e descartar fatores de menor relevância

(WOSNIAK et al., 2007). Nesta são utilizado os três tipos de experimento, inicia-se

pelo DOE fatorial fracionado, o qual avalia mais fatores, mas gera conclusões

genéricas. Em seguida utiliza-se o DOE fatorial completo e “afunila” até o DOE

superfície de resposta que avalia um número reduzido de fatores, mas com ênfase

sobre a influência dos mesmos na resposta do experimento.

Figura 2.29 - Estratégia de estudo das variáveis do processo: a) DOE Fatorial: triagem dos fatores; b) DOE completo: interação entre fatores; c) DOE Superfície de Resposta: modelo de

previsão (WOSNIAK et al., 2007).

66

Na área industrial o objetivo primário da experimentação é extrair a maior

quantidade possível de informação confiável, observando os fatores que afetam um

processo produtivo, no menor número possível de observações. Em geral, cada

máquina usada em um processo produtivo permite que seu operador faça vários

ajustes, afetando a qualidade do produto manufaturado resultante. A

experimentação permite que a máquina seja preparada de maneira a descobrir quais

fatores têm o maior impacto na qualidade resultante. Usando essa informação os

ajustes podem ser constantemente aperfeiçoados até atingir a qualidade pretendida.

Na pesquisa científica há uma preocupação muito grande com a interação entre os

fatores (figura 2.30); muitas vezes um problema não é provocado pelo efeito isolado

de um fator principal, mas sim pela soma do efeito de mais fatores. Se o

comportamento de um fator não é o mesmo para ambos os níveis de outro fator, isto é,

o efeito de um fator depende do nível em que se encontra o outro fator, diz-se que há

nesse sistema uma interação entre esses dois fatores. Por isso a análise de interação

de fatores é importante (ANDERSON, 2000).

Pressão

Cobertura

SemCom

1,50

1,25

1,00

0,75

0,50

160140

Pressão

140

160

Cobertura

Com

Sem

Figura 2.30 - Exemplo de uma interação entre as variáveis Pressão e Revestimento (WOSNIAK et al., 2007).

Se o experimento for mal planejado, ou mal executado, quaisquer conclusões

obtidas terão pouca validade, e as decisões por elas motivadas poderão levar a

resultados indesejados. Por esse motivo o processo de aprendizado do projeto de

experimentos é crucial para que a técnica seja corretamente aplicada, com o

agravante de que os conceitos necessários não sejam triviais (ANDERSON, 2000).

67

2.7.1 Requisitos básicos para experimentação DOE

O projeto de experimento DOE requer uma atenção especial para a precisão

do procedimento de teste. Uma variação relativamente alta que ocorra durante os

testes de usinagem, e a baixa reprodutibilidade destes testes força o especialista a

aumentar o número de repetições do experimento. Portanto, em primeiro lugar é

necessário garantir uma mínima variação da resposta no teste (ASTAKHOV, 2006).

Embora haja um grande número de fontes de erros e imprecisões durante um

teste de usinagem, é importante ressaltar algumas fontes gerais presentes em

praticamente todo teste de usinagem (ASTAKHOV, 2006):

• Erros associados com a peça podem ser relacionados com o material da peça,

montagem e fixação. As imprecisões e erros relacionados ao material da peça

originam-se a partir de variações mecânicas, físicas e microestruturais. Para reduzir

esta fonte de erros, é aconselhável usar as peças com as mesmas propriedades

mecânicas e metalúrgicas, de preferência a partir do mesmo lote de fabricação.

Além disso, essas propriedades devem ser testadas e registradas antes do teste.

Quando não for possível, essas propriedades devem ser solicitadas ao fornecedor

de aço. A dureza de cada peça deve ser medida antes do ensaio e o teste deve ser

realizado apenas se a peça tiver uma variação que não exceda ± 10%. Para reduzir

os erros de montagem e fixação, é necessário garantir a montagem e fixação da

peça com a mesma precisão (excentricidade) e força de fechamento. O erro de

dimensão relacionados devem ser contabilizados quando peças de vários diâmetros

e comprimentos são usados.

• Erros associados à ferramenta de corte podem ser classificados como relacionados

ao material da ferramenta, porta-ferramenta e montagem da ferramenta (fixação). O

material da ferramenta selecionados para a DOE deve ser do mesmo lote de

fabricação. Se for viável, essas ferramentas devem ser calibradas antes dos testes.

• Erros associados com o planejamento experimental. Devem ser usados

equipamentos e aparelhos devidamente calibrados. As condições de ensaio devem

estar sempre dentro da faixa de calibração.

• Erros associados ao meio ambiente. Para reduzir a influência das condições de

mudança lenta (temperatura do fluido de corte, desgaste da ferramenta,

temperatura ambiente, etc), o teste deve ser realizado em uma seqüência aleatória.

68

2.8 Monitoramento de Processo

Para identificar anomalias em algum processo de usinagem, geralmente

conta-se com a intervenção humana por meio da inspeção da qualidade da peça e

no controle do processo. Isto implica que para a tomada de decisões corretivas que

visam à otimização do processo, a habilidade do operador é crucial. Para que essa

identificação torne-se menos dependente da interpretação humana, a utilização de

sensores no monitoramento do processo apresenta-se como uma alternativa

bastante considerável. Os sensores, além de serem mais precisos e estarem bem

menos sujeitos a erros que a interpretação humana sob tal evento, coletam

informações específicas sobre determinadas características do processo no decorrer

de um evento (SOUZA, 2004).

Um sistema de monitoramento de processo é basicamente um conjunto de

elementos que primeiramente selecionam e adquirem informações de uma fonte

específica (sensores), depois tratam e refinam tais informações (extração de

características) e em seguida, tomam a decisão baseada nas informações refinadas

(SOUZA, 2004).

2.8.1 Sensoriamento

O monitoramento do processo pode ser independente do tempo de execução,

durante os intervalos do processo, ou dependente do tempo, ocorrendo em tempo

real, simultaneamente ao processo. Esta classificação pode ser relacionada com os

métodos de medição das falhas do processo, respectivamente, medição direta (off-

line) e medição indireta (on-line) (figura 2.31). O primeiro método interrompe o

processo e então quantifica diretamente dados do que se está querendo medir com

o equipamento apropriado (como exemplo: desgaste da ferramenta, acabamento da

peça, distância ferramenta-peça, etc). O segundo método acompanha e avalia

grandezas físicas – mensuráveis em tempo real – que podem ser correlacionadas

com o nível de ruído durante o processo, por exemplo. Ambos os sistemas de

medição requerem um certo grau de habilidade para os devidos ajustes e

interpretações das informações obtidas (SOUZA, 2004).

69

Figura 2.31 - Métodos de medição de processos de usinagem e sensores (SOUZA, 2004).

A técnica de medição direta acarreta em um custo elevado, além de ser

suscetível a falhas por causa das condições de usinagem atuantes na máquina-

ferramenta. Por outro lado, a medição indireta utiliza parâmetros que são

relativamente fáceis de mensurar, mas os recursos computacionais envolvidos são

mais caros.

2.8.2 Medição indireta

Por causa das desvantagens dos métodos de medição direta atualmente

empregados, especialmente nas aplicações em chão-de-fábrica, os métodos de

medição indireta têm sido investigados nos últimos anos (SOUZA, 2004).

Os métodos indiretos de monitoramento baseiam-se no fato de que o estado

de um determinado processo de usinagem está associado a um grande número de

fenômenos físicos, relacionados com o material usinado, o tipo de ferramenta, as

condições do processo, etc., e que estes fenômenos podem ser detectados através

de sensores que, posicionados em locais estratégicos da máquina, qualificam

elástica

70

indiretamente as falhas, principalmente pelos sinais de força, potência, emissão

acústica, vibração ou ultra-som gerados no próprio processo (SOUZA, 2004).

A aquisição de sinais é realizada por sensores que fornecem um sinal elétrico

de baixa intensidade em resposta a alguma grandeza física adquirida. Para o

monitoramento da ferramenta ou do processo, técnicas indiretas de sensoriamento

tais como força de usinagem, vibração e emissão acústica são usualmente

aplicadas. Teoricamente esses sinais contêm informação necessária para distinguir

os diferentes estados da usinagem e da ferramenta de corte (SOUZA, 2004).

2.8.3 Força de usinagem

A força de usinagem é um parâmetro que pode ser medido com relativa

facilidade. Ela se altera com o desgaste da ferramenta e, principalmente, com a

quebra ou lascamento. Por isso, é um dos primeiros parâmetros a ser utilizado no

monitoramento indireto do processo de usinagem.

A força de usinagem pode ser representada por três componentes: força

principal de corte, força de avanço e força passiva. Alguns trabalhos mostraram que

as forças de avanço e passiva são mais influenciadas pelo desgaste da ferramenta

que a força principal de corte (TAKEYAMA et al., 1970; KÖNIG, LANGHAMMER e

SCHEMMEL, 1972; JETLY, 1984).

No momento de fratura da ferramenta as componentes de força de usinagem

apresentam grande variação. Inicialmente o valor cresce e logo em seguida cai

abruptamente a zero.

Uma desvantagem do monitoramento das forças usando dinamômetro

piezoelétricos (principal maneira de monitoramento) é a alta intrusividade deste

instrumento, devido a suas grandes dimensões e seu posicionamento junto à

ferramenta.

2.8.4 Emissão Acústica

A utilização da emissão acústica no monitoramento de processos de

fabricação tem sido discutida desde a sua descoberta na década de 50, na

Alemanha. Mesmo assim, sua primeira aplicação em máquinas-ferramenta ocorreu

no Japão somente cerca de vinte anos mais tarde (ARNOLD, 2000).

71

Diversos trabalhos definem a emissão acústica (EA) como sendo ondas de

tensão elástica de baixa amplitude e alta freqüência geradas por atuações dinâmicas

sobre os materiais. Conforme o material é submetido a um estímulo externo

qualquer (como a formação de cavaco), o atrito entre ferramenta e peça, ou mesmo

o simples contato, faz com que ocorra a deformação e a reordenação da estrutura

cristalina do material. Isto libera uma quantidade de energia suficiente para produzir

ondas de tensão que provocam mais deslocamentos sobre a superfície do mesmo,

os quais se atenuam exponencialmente à medida que se afastam da superfície para

dentro do material (SOUZA, 2004).

Com relação à geração do sinal de emissão acústica durante o processo de

corte em metais, as quatro principais áreas são resumidas abaixo e exemplificadas

na figura 2.32.

• Zona Primária (I): à frente da ferramenta, onde ocorre a deformação plástica

principal durante a formação do cavaco com o cisalhamento do material;

• Zona Secundária (II): ao longo da face da ferramenta, onde acontece a maior

taxa de deformação do cavaco na zona de escorregamento (atrito), gerando

desgaste de cratera;

• Zona Terciária (III): no flanco da ferramenta, devido ao atrito da ferramenta

com a peça, gerando desgaste de flanco;

• Região de Fratura do Cavaco (IV): na formação de fragmentos descontínuos

de material.

A figura 2.32 mostra um exemplo das possíveis causas da geração de sinais

de emissão acústica durante o processo de corte ortogonal de um determinado

processo de torneamento.

72

Figura 2.32: Exemplo das possíveis causas da geração de sinais de emissão acústica (SOUZA, 2004).

A formação do cavaco (deformação plástica de materiais dúcteis), o desgaste

de flanco e de cratera estão associados a sinais regulares contínuos de emissão

acústica, enquanto que o rompimento do cavaco, o lascamento, o crescimento de

trincas e a quebra da ferramenta associam-se a sinais transitórios de pico de alta

amplitude e curta duração (figura 2.33).

Figura 2.33 - Derivação do sinal de emissão acústica em sinal contínuo e sinal transitório (SOUZA, 2004).

Na interface flanco-peça, o sinal de emissão acústica vai sofrendo alterações

significativas conforme o desgaste vai aumentando, pois esta falha promove um

crescimento do atrito na região de contato entre as duas superfícies, provocando um

aumento do nível do sinal. Com isso, o monitoramento do sinal permite identificar

diferentes níveis de desgaste. Na interface cavaco-face, as alterações no ângulo de

(I) (II)

(III)

(IV)

73

saída poderiam ser controladas com auxílio do sinal de emissão acústica, uma vez

que com o desgaste de cratera, torna-se mais positivo, proporcionando uma

diminuição no fator de recalque e a conseqüente redução do nível do sinal de

emissão acústica. Assim, se forem registrados desgastes no flanco e na face da

ferramenta simultaneamente, poderá haver uma superposição de efeitos (TETI,

1989). Os parâmetros de corte têm influência decisiva sobre a intensidade do sinal

de emissão acústica no monitoramento do estado da ferramenta de corte nos

processos de usinagem, em geral. O estudo realizado por Blum e Inasaki mostrou

um crescimento da emissão acústica com o aumento da velocidade de corte, uma

redução do sinal com o aumento do avanço e a indiferença do sinal às alterações na

profundidade de corte (figura 2.34) (BLUM e INASAKI, 1990).

Figura 2.34 - Relação entre a tensão elétrica e o desgaste de flanco com base na variação da velocidade de corte (TETI, 1989).

O aumento da velocidade de corte faz com que haja uma diminuição do fator

de recalque, mas a quantidade de material deformado na unidade de tempo cresce,

fazendo com que o sinal aumente de intensidade. Já o aumento do avanço faz com

que esta ocorrência reduza, fazendo a emissão acústica também diminuir; esta

diminuição pode ser associada ao comportamento da força de usinagem (F),

principalmente das componentes “Fc” (corte) e “Ff” (avanço). Assim, é preciso que se

74

faça uma aferição do sistema de aquisição de sinais de emissão acústica para cada

condição de usinagem utilizada dificultando, portanto, sua utilização (TETI, 1989).

Dornfeld (1994) afirma que nos processos convencionais de usinagem que

utilizam ferramentas com geometria definida, a emissão acústica possibilita a

detecção de desgastes e fraturas na ferramenta, falhas na lubrificação do processo,

formação do cavacos e vibrações (DORNFELD, 1994). O trabalho de Beggan (1999)

mostra que a ocorrência desses fenômenos está relacionada aos seguintes defeitos

que podem ser encontrados nas peças: acabamento superficial deficiente e

variações dimensionais. Assim, com o uso da emissão acústica no monitoramento

dos processos, os fenômenos citados poderiam ser evitados e, por conseguinte, os

defeitos também (BEGGAN, 1999).

Os sistemas que utilizam emissão acústica são capazes de detectar até

microlascamentos (alta sensibilidade), mas apresentam a limitação de serem

eficientes somente em operações de corte contínuos (torneamento, furação) (figura

2.35). No corte intermitente (fresamento), o ruído induzido na operação perturba a

discriminação fidedigna do sinal de emissão acústica sobre a avaria detectada

(JEMIELNIAK e OTMAN, 1998).

Figura 2.35 - Detecção da fratura a partir do sinal de EA no torneamento do aço 1045 usando ferramenta P30 com f = 0,33 mm/rot, vc = 260 m/min e ap = 2,5 mm (JEMIELNIAK e OTMAN,

1998).

75

Por se tratar de um sinal que se propaga tanto longitudinal quanto

transversalmente na estrutura do material, a emissão acústica permite que o sensor

seja colocado em qualquer posição, desde que em contato com o material e em uma

localização onde não hajam muitas interfaces que tendem a distorcer e enfraquecer

o sinal, dificultando sua avaliação.

O sensoriamento dos sinais de emissão acústica se justifica pela alta

sensibilidade ao material da peça, à geometria da ferramenta, aos desgastes da

ferramenta e aos parâmetros de corte (ex: avanço e velocidade de corte) em

diferentes condições de usinagem. A principal vantagem deste sensoriamento está

na supervisão de diversos fenômenos ocorridos simultaneamente durante o

processo de corte, utilizando-se um único sensor, visto que os sinais de EA são

excelentes para avaliar a existência de contato entre superfícies em movimento, o

que ocorre de forma intensa na usinagem de metais (JEMIELNIAK e OTMAN, 1998).

76

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Este capítulo traz uma descrição dos materiais, ferramentas, equipamentos e

métodos utilizados na realização dos experimentos, assim como a sistemática

utilizada para sua realização. O método utilizado para estudar a usinabilidade do

processo de furação profunda está baseado na primeira lei da usinagem a qual

define que a temperatura ótima de corte depende apenas das composições do

material da ferramenta e da peça, e que esta pode ser determinada uma vez, e

depois usada para otimizar a usinagem de processos para a mesma combinação de

materiais para ferramenta e peça. O estudo está estruturado de forma que

primeiramente será caracterizado o material da peça e será definido o material da

ferramenta. Após isto é identificada a velocidade de corte ótima correspondente a

temperatura ótima de corte para determinados avanços. Por fim é feito o

experimento para identificar a geometria ótima da ferramenta que irá conferir maior

resistência ao desgaste (figura 3.1).

Figura 3.1 - Método experimental do trabalho.

Em resumo os experimentos são realizados com os seguintes propósitos:

• Caracterização do material AISI 4150, e seleção do material da ferramenta de

corte mais adequado para o processo de furação profunda;

• Determinação da velocidade de corte ótima, a qual corresponde a

temperatura de corte ótima para os materiais da peça e ferramenta

selecionados;

77

• Definição da geometria da ferramenta mais adequada e que garanta maior

resistência ao desgaste.

Durante as etapas a usinabilidade do processo foi analisada de acordo com

os parâmetros: rugosidade superficial, desgaste da ferramenta, forças de usinagem,

forma do cavaco e emissão acústica. Ao final foi também determinado o material e

geometria da ferramenta, e os parâmetros ideais para a furação do aço AISI 4150.

3.1 Corpos de Prova

Os corpos-de-prova utilizados nos ensaios foram cilindros com a dimensão de

74 mm de comprimento e 26 mm de diâmetro do aço AISI 4150, com dureza de 37

HRc. Estes foram preparados para poderem ser fixados na máquina de furação

profunda.

3.1.1 Caracterização do material

Para a caracterização do aço AISI 4150, foi realizada a análise microestrutural

seguindo os procedimentos normais de preparação de amostras metalográficas,

através do lixamento progressivo, polimento e ataque com reagente Nital com

concentração de 2%. As imagens foram registradas com uma câmera Olympus

QColor3, acoplada a um microscópio Olympus BX 51M com aumento mínimo de 100

e máximo de 1.000 vezes. Também foi realizada a medição da dureza na escala

Rockwell com o auxílio de um durômetro convencional Reicherter. Os valores

médios de dureza correspondem a uma série de três medições.

De acordo com relátos de empresas que manufaturam o mateiral AISI 4150,

este material apresenta em determinados lotes de fornecimento, falhas na

microestrutura que prejudicava o desempenho da ferramenta de furação. Através de

análises preliminares da microestrutura, foi possível comprovar a presença de linhas

de segregação no sentido longitudinal da peça, conforme apresentado no desenho

esquemático da figura 3.2. A figura 3.2 também mostra o sentido de penetração da

ferramenta, nela é possivel observar que a ferramenta cruza várias vezes com as

linhas de segregacão, sobrecarregando assim a aresta de corte da ferramenta.

78

Figura 3.2 – Local da furação, sentido das linhas de segregação no aço AISI 4150 e

microestrutura com ataque nital de 2% na região das linhas de segregação. Fonte: Laboratório metalográfico Robert Bosch.

O sentido das linhas de segregação é paralelo ao sentido de lingotamento do

material. Segundo ARAÚJO (2005), o problema pode surgir durante o processo de

lingotamento contínuo devido a parâmetros de processo não corretamente ajustados

(exemplo: velocidade de lingotamento; grau de agitação magnética do molde

(steering); seção do tarugo de lingotamento; temperatura de lingotamento; etc). A

etapa de homogeneização também pode ter influência na formação da segregação,

quando as temperaturas e tempos são inadequados e insuficientes para reduzir o

grau de segregação do material (CHEVRAND et al., 1989).

O problema da segregação não ocorre em todos os lotes de material, e o

efeito desta falha bem como sua influência no processo de furação profunda não são

suficientemente conhecidos. Por isso determinou-se selecionar lotes com

segregação e lotes isentos de segregação, e realizar um estudo mais detalhado da

microestrutura. Para isto foi realizada a análise microestrutural seguindo os

procedimentos normais de preparação de amostras metalográficas, e ataques com

reagente Nital e Picral. Na região de segregação foi feita a medição da micro-dureza

na escala Vickers com um durômetro Otto Wolpert Werke, e também a análise de

composição química através do ensaio de EDS-RaioX.

O efeito da segregação na usinabilidade foi abordado no item 3.6.

3.2 Máquina-ferramenta

A máquina utilizada no estudo foi o centro de furação e fresamento Chiron.

Esta possui dois fusos porta ferramentas, o que lhe permite usinar duas peças

simultaneamente (figura 3.3). Dispõe de dois eixos árvores verticais com rotação

máxima de 15.000 rpm. Possui comando numérico Siemens, no qual são feitos os

Sentido das linhas de segregação

100µm

Sentido da furação

79

ajustes dos parâmetros de rotação, avanço da ferramenta, pressão do fluido de

corte, profundidades de usinagem e demais controles operacionais da máquina.

Figura 3.3 – Centro de furação e fresamento do fabricante Chiron.

As peças foram fixadas em dispositivos que por sua vez foram fixados em

uma placa hidráulica na máquina, e através do movimento de giro da mesa e rotação

da placa, a peça foi posicionada para o processo de furação.

Esta máquina não possui bucha guia para guiar a broca canhão no início da

furação. Neste caso foi utilizado um furo piloto para fazer a função de guia para a

broca canhão.

3.3 Ferramenta de Corte

Para a execução deste estudo foi utilizada a broca canhão de metal-duro

classe K20, com canais retos e furos internos de refrigeração do fabricante BOTEK.

As principais características são:

• Formato de guia G;

• Diâmetro de 1,43 e 3,0 mm;

• Comprimento 150 e 200 mm.

Na primeira etapa foi avaliado o material da ferramenta, para isto a

característica a ser testada foi o revestimento da ferramenta. Foi realizada a

comparação entre a ferramenta revestida com PVD TiNAl e broca canhão sem

revestimento.

80

No terceiro experimento foi avaliada a influência da geometria de corte da

ferramenta no desgaste para furação do aço AISI 4150. Foram realizados

experimentos com duas geometrias de ponta triangular (standard) e redonda

(otimizada), conforme detalhe da figura 3.4.

Figura 3.4 – Detalhamento do perfil da broca: a) triangular; b) redonda.

Para evitar erros associados à ferramenta, foi utilizado mandril hidráulico para

fixação da ferramenta em todos os ensaios (figura 3.5 a). Este garante maior força

de fixação e menor erro de batimento. Além disso, para todas as ferramentas foi

ajustado o comprimento e conferido o batimento no equipamento de pré-ajuste Zoller

(figura 3.5 b), e também examinadas no microscópio com ampliação de 80 vezes

para detecção de defeitos visuais como lascamento, queima e micro-trincas no

microscópio Nikon da figura 3.5 (c).

Figura 3.5 - (a) mandril hidráulico Schunk HSK-A50; (b) aparelho de pré-ajuste Zoller Venturion

500; (c) microscópio ótico Nikon SWZ 1000.

c) a) b)

a) b)

81

3.4 Fluido de Corte

O fluido de corte utilizado foi o óleo integral mineral Ecocut 610B, com

viscosidade de 10 cSt, da marca Fuchs. A alimentação do fluido foi realizada através

de uma bomba de pressão agregada à máquina. O fluido é conduzido até o furo de

refrigeração da ferramenta auxiliado por uma união rotativa com vedação tipo O´ring.

A pressão de injeção do fluido de corte foi selecionada com base em informações de

catálogos de fabricantes de ferramentas, e também conforme Wosniak et al. (2007),

onde concluiu-se que quanto maior a pressão do fluido de corte, maior é o arraste do

cavaco e a expulsão do mesmo, evitando cavaco emaranhado na broca. Com isto a

pressão foi mantida constante em 130 bar, pressão máxima pressão fornecida pela

máquina.

3.5 Critérios para avaliação da usinabilidade

Conforme visto no item 2.6, o ensaio de medição da usinabilidade tem como

objetivo avaliar as dificuldades que o material apresenta na usinagem. Para avaliar a

usinabilidade foram usados cinco critérios:

- Vida da ferramenta

- Força de usinagem,

- Emissão acústica,

- Qualidade superficial da peça,

- Forma do cavacos (coeficiente volumétrico).

A seguir, serão detalhados os método de avaliação da usinabilidade seguindo

os cinco critérios mencionados acima.

3.5.1 Vida da Ferramenta

Para a determinação da vida da ferramenta, na pratica são empregados

ensaios de longa duração, com as velocidades de corte pré-estabelecidas, que, no

entanto exigem um elevado tempo de ensaio e grande quantidade de material. Por

isso nas duas primeiras etapas foram utilizados métodos de reposta rápida, como

medição de força, forma do cavaco e rugosidade. Apenas no terceiro experimento,

quando já havia sido definido o material da ferramenta e os parâmetros de corte, foi

utilizado o critério de vida da ferramenta para avaliar a influência da geometria da

ferramenta no desgaste. A medição do desgaste de flanco da ferramenta, durante

82

um comprimento de furação pré-estabelecido, foi utilizada como critério na análise

da vida da ferramenta.

3.5.2 Força de Usinagem

A força de usinagem foi utilizada nas duas primeiras etapas como critério para

a análise da usinabilidade do processo.

Os equipamentos empregados no sistema de medição de forças de usinagem

foram: uma plataforma piezelétrico Kistler® modelo 9272A (figura 3.6), um

amplificador de sinal modelo 5070A da marca Kistler®, uma placa de aquisição de

dados modelo USB 6259 BNC da National Instruments, e um microcomputador com

software de processamento de sinais Labview®.

Figura 3.6 - Dinamômetro modelo 9272A Kistler®.

Por tratar-se de um processo de furação, foram analisadas somente a

componente de força de avanço Fz e momento torsor Mz, sendo que para este último

a furação deve ocorrer exatamente no centro do dinamômetro. Para força Fz a

posição da furação em relação ao dinamômetro não influencia, com tanto que o eixo

da furação esteja paralelo ao eixo de Fz.

3.5.3 Sinais de Emissão Acústica

Com a medição de emissão acústica é possível avaliar indiretamente a

usinabilidade através da medição da raiz quadrática média RMS.

83

Os equipamentos que compõem o sistema de monitoramento de emissão

acústica empregados neste trabalho são: um sensor piezelétrico para emissão

acústica da marca Sensis® com uma faixa de freqüência de 1kHz à 1000 kHz, um

amplificador de sinal de emissão acústica Piezotron tipo 5125B com amplificação de

20 ou 40 dB, e filtro passa-baixa 500 kHz, uma placa de aquisição de dados modelo

USB 6259 BNC da National Instruments, e um microcomputador com software de

processamento de sinais Labview®.

A Figura 3.7 apresenta esquematicamente a infra-estrutura utilizada para a

realização dos ensaios de emissão acústica.

Figura 3.7 – Infra-estrutura do ensaio de EA

Os sinais de emissão acústica são ondas elásticas de baixa amplitude e alta

freqüência, por isso o sinal necessita ser condicionado antes de ser adquirido pela

placa de aquisição. É preciso que o sinal de entrada seja amplificado e filtrado para

que apresente o mínimo de ruído possível.

Quando se coletam amostras discretas de um sinal dinâmico, o fenômeno de

aliasing aparece na forma de distorções provocadas por componentes de

freqüências maiores do que a freqüência de Nyquist, levando à interpretações

erronias das freqüências mais baixas. Por isso foi utilizado um filtro analógico passa-

baixa de 500 kHz.

A freqüência de Nyquist é calculada através da seguinte equação:

(NATIONAL INSTRUMENTS, 2005)

Eq. 3.1:

fNyquist = taxa de amostragem / 2

O dispositivo utilizado para aquisição do sinal de emissão acústica foi a placa

USB 6259 BNC da National Instrument, o qual possui as seguintes configurações:

Sensor EA

84

resolução de 16 bits, taxa de amostragem máxima de 1,25 MS/s e uma amplitude de

± 10 v.

Para a realização dos experimentos foi utilizada a taxa de amostragem de 1,0

MS/s, pois utilizando a equação de Nyquist calcula-se a freqüência máxima medida

pelo equipamento, 500 kHz. A taxa de armazenamento para leitura (Sample to read)

utilizada foi de 100.000 amostras/leitura. Este parâmetro especifica o tamanho da

amostra que o equipamento devera coletar e armazenar no arquivo determinado

pelo usuário.

As aquisições e as análises dos sinais foram feitas através de dois programas

distintos. O primeiro programa adquire o sinal e grava os respectivos dados em um

arquivo de extensão TDMS. O segundo lê os dados a partir do arquivo gerado, filtra

a faixa de freqüência de interesse e calcula o valor de EA RMS.

Foi criado um dispositivo para fixar o sensor na peça a ser usinada, em uma

posição mais próxima possível da região de furação. Com isto, pretendeu-se reduzir

a quantidade de ruído indesejado no sinal adquirido. A figura 3.8 mostra a

construção do dispositivo e a posição na qual foi fixado o sensor.

Figura 3.8 - Posição do sensor na peça, fixada a partir do munhão bipartido.

3.5.4 Rugosidade Superficial

Na segunda etapa de experimentos, é feita uma correlação da rugosidade

superficial com a velocidade de corte e comparação com a curva de força de

usinagem. Este método, apresentado no item 2.6, permite encontrar a temperatura

de corte ótima através da medição da rugosidade superficial. Para a determinação

85

da rugosidade superficial, foi utilizado o equipamento Mahr Perthometer PRK,

comprimento de medição 5,60 mm e cut-off 0,80 mm.

3.5.5 Forma do Cavaco

Em furação profunda a forma do cavaco tem uma função bastante importante,

pois em alguns casos a alternância de um cavaco curto para um cavaco longo

(forma helicoidal longo ou fita), pode gerar o entupimento do canal de saída do

cavaco, podendo provocar a quebra da ferramenta. A forma do cavaco representa

em primeiro lugar a condição do processo de furação profunda, e permite através da

sua identificação encontrar a combinação ótima dos parâmetros de usinagem.

Por isso, para a avaliação da forma do cavaco foi utilizada um método que

consiste em realizar a medição do coeficiente volumétrico do cavaco de forma

quantitativa. Os cavacos serão coletados na máquina e em seguida medidos os

valores de peso e volume, para então calcular o coeficiente volumétrico (ω)

seguindo a seguinte fórmula:

Eq. 3.2:

ω = Ve / Vp = (ρ . Ve) / (P . 1000)

onde:

Vp = volume correspondente ao peso do cavaco (kg);

Ve = volume ocupado pelo cavaco (cm³);

P = massa do cavaco (kg);

ρ = peso específico do material usinado (g/cm³).

A figura 3.9 mostra o recipiente com graduação volumétrica (Pyrex 3022C,

capacidade 100 ml) e a balança (Precisa 240A) utilizados para medir o volume e

massa do cavaco, para em seguida ser utilizado no cálculo do coeficiente

volumétrico.

86

Figura 3.9 - Balança e proveta utilizadas na medição da massa e do volume do cavaco coletado nos ensaios.

3.6 Influência da Matéria-prima e Seleção do Material da Ferramenta

Conforme definido pela “primeira lei da usinagem”, a temperatura ótima de

corte depende apenas da combinação do material da ferramenta e da peça. Esta

pode ser determinada uma vez, e depois usada para otimizar a usinagem de vários

processos em que é utilizada a mesma combinação de materiais para ferramenta e

peça. Segundo Astakhov (2006), esta temperatura não depende do tipo de operação

de usinagem, geometria da ferramenta, parâmetros de usinagem, tipo de regime, e o

método de aplicação do fluído de corte, etc.

A seguir será apresentado o método utilizado para avaliar a influência da

matéria-prima sobre a usinabilidade, e o método para selecionar o melhor material

da ferramenta de corte para a furação profunda do aço AISI 4150.

3.6.1 Influência da matéria-prima

A análise da influência da matéria-prima sobre a usinabilidade do aço AISI

4150 no processo de furação profunda, teve como foco a dureza do material, bem

como a anomalia identificada na avaliação preliminar da microestrutura, linhas de

87

segregação, chamada até então de “segregação de cromo”, pois até o momento

acreditava-se ser uma segregação deste elemento.

A sistemática empregada no experimento foi realizada conforme o método de

DOE fatorial. Cada fator analisado sofreu variação em dois níveis: alto e baixo, para

parâmetros quantitativos; e duas características, para os parâmetros qualitativos,

conforme pode ser visto na tabela 3.1.

Tabela 3.1 – Experimento DOE – Influência da matéria-prima.

Fatores

Segregação de cromo com sem

Dureza da materia prima [HRc] 35 40

Parâmetros de corte A B

Níveis

Devido à característica aleatória da posição das linhas de segregação, torna-se

praticamente impossível realizar um experimento confiável no qual seja possível

controlar a variável “presença de segregação de cromo”, bem como a espessura e a

dureza da mesma, utilizando uma matéria-prima “contaminada”. Para garantir a

confiabilidade do experimento e evidenciar a influência da segregação de cromo, foi

criado um método para simular a presença da segregação. Para isto foi utilizado

uma amostra do material AISI 4150 de um lote isento de segregação, e junta a esta

foram adicionados discos de 0,2mm de espessura de aço ferramenta M2, com a

composição química e dureza próxima à encontrada na segregação de cromo

identificada no material contaminado. Na figura 3.10 é apresentada a montagem dos

discos, e na figura 3.11 o dispositivo utilizado no ensaio para fixação do corpo-de-

prova.

Figura 3.10 - Montagem dos discos de segregação de cromo na amostra.

88

Figura 3.11 - Dispositivo utilizado no ensaio para fixação da amostra.

Juntamente com a análise da segregação, foi feita a análise da influência da

dureza da matéria-prima. Para isto variou-se a dureza do material e a presença de

segregação de cromo conforme apresentado na figura 3.12.

Figura 3.12 - Variações das amostras para análise da influência da segregação de cromo e dureza da matéria-prima.

89

Para analisar a influência das propriedades do material sobre o processo, e

compará-la com a influência dos parâmetros de corte, foi acrescentado ao

experimento um terceiro fator chamado parâmetros de corte, sendo este variando

entre as condições A e B. A tabela 3.2 mostra a diferença entre as duas condições.

Tabela 3.2 - Parâmetros utilizados nas condições A e B.

Parâmetros Condição A Condição B

Velocidade de corte [mm/min] 65 57,5

Avanço de corte [mm/rot] 0,008 0,006

Revestimento PVD sem TiNAl

Pressão do óleo [bar] 130 130

Os parâmetros foram alimentados no Software de estatística MINITAB®, o

qual forneceu a combinação de rodadas para o ensaio. Para cada rodada

determinou-se executar 3 furos, sendo que para cada ciclo foram medidos os

esforços de corte (força de avanço Fz e momento torsor Mz), os sinais de emissão

acústica (RMS) e analisado a morfologia da aresta de corte da ferramenta. O

experimento foi replicado 3 vezes para aumentar a confiabilidade dos dados.

3.6.2 Seleção do Material da Ferramenta de Corte

Como visto no item 2.3, como material da cabeça da broca canhão é utilizado

o metal-duro. No entanto, existe uma grande variedade de revestimentos que

pretendem melhorar as condições tribológicas nas interfaces ferramenta-cavaco e

ferramenta-peça. Atualmente o revestimento mais utilizado em operações de furação

profunda é o revesitmento de nitreto de titânio alumínio (PVD TiAlN), que oferece

maior dureza, aumento da resistência ao desgaste, além de maior resistência ao

desgaste químico (BOTEK, 2010). Para evidenciar o benefício deste revestimento,

foi feita a comparação com ferramentas sem revestimento, pois atualmente também

é bastante comum o uso de broca canhão apenas com metal-duro, sem

revestimento (BOTEK, 2010).

Para fazer a seleção do material da ferramenta de corte foram realizados três

ensaios com os seguintes objetivos: caracterização da aresta de corte no início e

final da vida útil, análise da forma do cavaco e análise das forças de usinagem para

as ferramentas com e sem revestimento PVD TiNAl.

90

3.6.2.1 Caracterização da Aresta de Corte

Foi definido executar a análise morfológica da aresta de corte para o início da

vida da ferramenta, comprimento furado 0,5 metros, e no final da vida, comprimento

furado 5 metros, para as condições de ferramenta com e sem revestimento. A

análise morfológica foi feita no microscópio eletrônico de varredura MEV, através de

imagens obtidas pelo método de elétrons retro-espalhados. Este método tem a

vantagem de conferir maior profundidade da imagem e ainda mostra um perfil de

composição da amostra por cores diferentes para cada material. Também foi feita a

análise de composição química com a técnica de EDS-raio X para identificar os

materiais presentes na aresta de corte. O equipamento utilizado na análise é o

microscópio eletrônico de varredura MEV (FEI Quanta 50 Series) apresentado na

figura 3.13.

Figura 3.13 - Microscópio eletrônico de varredura MEV (FEI Quanta 50 Series)

3.6.2.2 Análise da Forma do Cavaco

A análise da forma do cavaco foi realizada conforme o método sugerido por

Wosniak et al. (2007), na qual se utiliza o projeto de experimento de superfície de

resposta. Neste experimento é avaliada a forma do cavaco, como coeficiente

volumétrico, conforme apresentado no item 3.5.5, para as condições de ferramenta

91

com e sem revestimento PVD TiNAl, variando os parâmetros de velocidade de corte

e avanço da ferramenta.

Para a realização do ensaio foi utilizada broca canhão Ø 1,43 mm, e foram

consideradas as faixas dos parâmetros de avanço e velocidades recomendados pelo

fabricante BOTEK para este diâmetro de ferramenta. Desta forma, definiu-se que os

parâmetros a serem avaliados no experimento DOE, foram: a velocidade de corte

com valores de 45; 48; 55,5; 63; 66 m/min (66 m/min representa a rotação máxima

oferecida pela máquina 15.000 rpm) e o avanço com os valores de 0,003; 0,0047;

0,0078; 0,0118; 0,013 mm/rot para o DOE superfície de resposta.

Os parâmetros foram alimentados no Software de estatística MINITAB®, o

qual forneceu a combinação de rodadas para o ensaio. Para cada rodada

determinou-se furar 20 peças, sendo que para cada rodada foram coletados os

cavacos e medidos os coeficientes volumétricos. A distribuição dos parâmetros

avanço e velocidade de corte está apresentada na figura 3.14.

6560555045

0,014

0,012

0,010

0,008

0,006

0,004

0,002

VC [m/min]

Avanço

[mm/rev]

Distribuição dos valores dos parametros: Avanço e VC

Figura 3.14 – Gráfico dos pontos para as rodadas de ensaio dos parâmetros avaliados:

velocidade de corte e avanço.

As demais variáveis de entrada do processo foram mantidas constantes

durante todos os experimentos, o que tornou possível descartar a possível influência

destes parâmetros nos resultados dos experimentos.

92

3.6.2.3 Análise das forças de usinagem

Para tornar mais completa (robusta) a seleção do material da ferramenta, além

das análises de caracterização e forma do cavaco, é necessária uma análise das

forças de usinagem da ferramenta. A análise das forças de usinagem contribuiu no

diagnóstico e compreensão dos fenômenos tribológicos que ocorrem na interface

cavaco-ferramenta e ferramenta-peça. Esta também é utilizada para comprovar os

resultados das análises de caracterização da aresta de corte e forma do cavaco.

Foi avaliado então as forças de usinagem da ferramenta através do ensaio de

furação profunda no aço AISI 4150, isento de segregação de cromo, onde fora

medida a força de avanço Fz e o momento torsor Mz, nas condições de ferramenta

com e sem revestimento TiNAl. No ensaio foi utilizado broca canhão Ø1,43 mm, e os

parâmetros de corte: velocidade de corte 57 m/min e avanço da ferramenta 0,006

mm/rot. Para cada condição, com e sem revestimento, foram realizados 30 furações,

para cada qual monitorado as respectivas força de avanço Fz e o momento torsor Mz

com um sistema de aquisição de forças conforme descrito no item 3.5.2.

3.7 Temperatura e Velocidade de Corte Ótima

A temperatura ótima de corte pode ser determinada experimentalmente

através da medição das forças de corte e/ou do acabamento superficial. Como

mostrado no item 2.6.2, com base na temperatura de corte ótima, é possível

encontrar a velocidade de corte ótima. Utilizando o método desenvolvido por Silin

(1979), a temperatura ótima de corte pode ser determinada como correspondendo à

mínima força de corte estabilizada, como mostrado na figura 2.26. Como

demonstrado, cada regime de corte específico tem uma determinada velocidade de

corte ótima, porém todos os regimes, considerando uma mesma combinação de

material da ferramenta e peça, tem a mesma temperatura de corte ótima.

Os ensaios referentes à definição dos parâmetros de corte foram dividos nos

seguintes tópicos: ensaio preliminar para identificação da velocidade de corte ótima;

ensaio confirmatório com avanço de 0,016 mm/rot; e influência do diâmetro da broca

na velocidade de corte ótima.

93

3.7.1 Ensaio preliminar para identificação da velocidade de corte ótima

Para a realização do ensaio foi utilizado broca canhão Ø 3,0 mm, e a

geometria de corte foi mantida constante com o formato redondo. O corpo-de-prova

foi construído em aço AISI 4150 com dureza 37HRc, isento de segregação de

cromo, conforme item 3.1. Para gerar as curvas de força, definiu-se os seguintes

parâmetros de corte, avanço da ferramenta em 5 níveis: 0,004; 0,008; 0,012; 0,016;

0,020 mm/rot; e velocidade de corte com 13 níveis: 13,2; 23,8; 34,4; 45; 55,6; 66,1;

76,7; 87,2; 97,8; 108,3; 118,9; 129,4; 140 m/min. A distribuição dos parâmetros

avanço e velocidade de corte está apresentada na figura 3.15.

Figura 3.15 - Gráfico dos pontos para as rodadas de ensaio dos parâmetros avaliados:

velocidade de corte e avanço

Os parâmetros foram alimentados no Software de estatística MINITAB®, o

qual forneceu a combinação de rodadas para o ensaio. Para cada rodada

determinou-se executar uma furação, para qual foi medida a força de avanço Fz.

Para aumentar a confiabilidade do experimento, foi replicado o mesmo três vezes,

sendo que para cada replica foi utilizada uma ferramenta exclusiva. Para evitar que o

resultado da curva fosse afetado pelo desgaste da ferramenta, foi aleatorizado a

seqüência do ensaio, de forma que os parâmetros utilizados não seguissem uma

mesma ordem durante o ensaio. A figura 3.16 mostra a distribuição dos furos no

corpo-de-prova, bem como a seqüência de furação. Esta seqüência foi definida de

forma a minimizar o efeito do calor gerado na furação de uma rodada de ensaio, na

94

rodada seguinte, assim a velocidade de corte ótima é menos afetada pelo pré-

aquecimento do próprio processo.

Figura 3.16 - Distribuição dos furos no corpo-de-prova.

As demais variáveis de entrada do processo foram mantidas constantes

durante todo o experimento, o que tornou possível descartar a possível influência

destes parâmetros nos resultados do experimento.

A fixação do corpo-de-prova foi feita com um dispositivo especial para garantir

a rigidez do sistema e para evitar a movimentação do corpo-de-prova durante o

ensaio. A figura 3.17 mostra o dispositivo usado no ensaio.

Figura 3.17 - Dispositivos utilizados para a fixação do corpo-de-prova.

Diferentemente do método de experimentação DOE - superfície de resposta,

no qual o número de rodadas é otimizado, o ensaio para construção das curvas de

força necessita de um grande número de rodadas experimentais, para que seja

possível encontrar o ponto exato em que a força de avanço apresenta o menor valor

95

estabilizado. Para facilitar a realização do ensaio, foi criado um programa principal

na máquina de furação, no qual foram introduzidas as coordenadas para a furação

da amostra, conforme a figura 3.16. Foram criados então sub-programas que

continham os parâmetros a serem experimentados. Desta forma, o ensaio foi

realizado de forma automatizada, cada furo sendo realizado com o respectivo

parâmetro pré-ajustado, e a força coletada e armazena conforme a rodada de

ensaio.

3.7.2 Ensaio confirmatório com avanço de 0,016 mm/rot

Após a realização e análise do primeiro ensaio, foi feito em seguida um

ensaio para confirmar os resultados obtidos e aprofundar a análise, acrescentando a

medição de rugosidade superficial e emissão acústica (RMS). Para este ensaio

foram utilizados os parâmetros: avanço 0,016 mm/rot, e para a velocidades de corte

foram selecionados valores mais próximos a região pré-visualizada como sendo o

ponto de velocidade de corte ótima: 13,2; 24; 39; 51; 57; 61,8; 66,6; 75; 84; 108; 138

m/min, conforme figura 3.18. As demais caracteristicas do ensaio foram mantidas

conforme o método do primeiro ensaio.

Figura 3.18 - Gráfico dos pontos para as rodadas de ensaio dos parâmetros avaliados: velocidade de corte e avanço.

96

3.7.3 Influência do diâmetro da broca na velocidade de corte ótima

Para compreender a influência do diâmetro da ferramenta na variação do

valor da velocidade de corte ótima, foi planejado um ensaio para a ferramenta com

diâmetro de 1,43 mm. Para este ensaio foram utilizados os parâmetros: avanço

0,004; 0,006 e 0,008 mm/rot, e para a velocidades de corte foram selecionados os

valores de velocidade de corte: 6; 12,6; 19,8; 26,4; 33; 40,2; 46,8; 54; 60,6; 67,2

m/min. As demais caracteristicas do ensaio foram mantidas conforme o método

utilizado nos ensaios anteriores.

3.8 Análise de Desgaste

Após definido o material da ferramenta, e os parâmetros ótimos conforme a

primeira lei da usinagem, foi feita a análise de desgaste com o objetivo de encontrar

a geometria da ferramenta que proporcionasse a maior resistência ao desgaste.

Para isto definiu-se comparar as geometrias triangular (standard) e redonda

(otimizada). A geometria triangular é o formato mais comum encontrado no mercado,

tem ângulos e comprimentos de aresta de corte típicos de ferramentas de furação

profunda, conforme mostra a figura 3.4 (BOTEK, 2010). Já a ferramenta de perfil

redondo tem uma otimização nos ângulos da aresta de corte que tem como objetivo

reduzir a incidência do desgaste nas arestas cortantes (BOTEK, 2010). Para testar e

comprovar a eficiência destas ferramentas, foram selecionadas estas geometrias

para esta etapa de ensaio.

Para a realização do ensaio foi utilizada broca canhão Ø 3,0 mm, e a geometria

de corte variando entre o formato triangular e o redondo. O corpo-de-prova foi

construído em aço AISI 4150 com dureza 37HRc, isento de segregação de cromo,

conforme item 3.1. O princípio da primeira lei da usinagem foi utilizado para definir

os parâmetros de corte, conforme a análise da velocidade de corte ótima: avanço da

ferramenta 0,016 mm/rot; e velocidade de corte 62,4 m/min.

O desgaste de flanco médio para um comprimento de furação de 1,38 metros

foi utilizado como critério de avaliação do desgaste. Para aumentar a confiabilidade

estatística, o experimento foi replicado três vezes, ou seja, cada condição de

geometria da ferramenta foi testada três vezes, cada qual com uma ferramenta. O

comprimento total de furação foi dividido em 23 furações de 60 mm de profundidade,

com relação comprimento/diâmetro = 20, distribuídos no corpo-de-prova conforme

figura 3.16.

97

Foi feita a análise morfológica da aresta de corte após o ensaio de desgaste.

Foi utilizado o microscópio eletrônico de varredura MEV e através de imagens

obtidas pelo método de elétrons retro-espalhados foi feita a análise da aresta de

corte. Também foram avaliados, e comparados para as duas geometrias, os sinais

de força de avanço Fz, momento torsor Mz, e o sinal de emissão acústica RMS.

98

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste capítulo são apresentados os resultados referentes as etapas

experimentais, seguindo os métodos apresentados no capítulo anterior.

4.1 Caracterização da Matéria-prima

As amostras metalográficas foram confeccionadas a partir do corpo-de-prova

do material aço AISI 4150 de três lotes de fabricação diferentes, não contaminado

com a presenca de segregação. Analisando as amostras dos três lotes podem ser

percebidas pequenas diferenças se tratando da estrutura metalográfica, conforme

pode ser observado na figura 4.1.

Figura 4.1 – Resultado da análise microestrutural de três amostras do aço AISI 4150. Fonte:

Laboratório metalográfico Robert Bosch.

99

Nos três lotes analisados a microestrutura identificada foi martensita fina

revenida. A dureza média identificada em cada lote foi: lote 1 - 38,5 HRc; lote 2 – 39

HRc; e lote 3 – 37,5 HRc, sendo que o especificado é dureza de 35 à 39 HRc. A

tabela 4.1 apresenta o comparativo da composição química dos elementos de liga

dos três lotes analisados.

Tabela 4.1 - Resultado da análise de composição química para as amostras insentas de segregação.

Lote 1 Lote 2 Lote 3Lote 1 Lote 2 Lote 3

Com base na análise de amostras de três lotes diferentes do aço AISI 4150

não contaminadas com a segregação, pode-se concluir que existe uma pequena

varianção das caracteristicas metalurgicas do material.

No entanto, analisando determinados lotes do aço AISI 4150, foi identificada

uma anomalia na microestrutura do material. A microestrutura nestes lotes possui

formação de alinhamentos de segregações visualizadas em toda a seção

longitudinal da amostra. Após o ataque do reagente Nital, com concentração de 3%,

é possível visualizar alinhamentos de martensita revenida com regiões preferenciais

mais claras, evidenciando certo grau de segregação de cromo (Teor aproximado de

1,17%), como mostra a figura 4.2 o comparativo entre a microestrutura revelada

após ataque com reagente nital e picral.

100

Figura 4.2 - Material considerado bom. (a) Microestrutura com ataque com reagente Nital

apresentando segregação de material na microestrutura (Regiões claras) – Martensita com teor de cromo de ≈ 1,17%. (b) Microestrutura com ataque com reagente picral. Fonte: Laboratório

metalográfico Robert Bosch.

Esse aspecto foi evidenciado tanto nas amostras consideradas ruins, quanto

nas amostras consideradas boas, porém nas amostras consideradas ruins foi

observado que o aspecto diferenciado dessas regiões claras apresentam morfologia

poligonal em algumas regiões. Devido a esse motivo, foi realizado ataque com

reagente picral, para revelar melhor as fases presentes. Assim, nas amostras

consideradas ruins, observa-se segregação alinhada no material. Em algumas

regiões desses alinhamentos a microestrutura formada é de forma poligonal, com

dureza em torno de 870 HV, conforme mostra a figura 4.3 (a) e (b).

Figura 4.3 - Material considerado ruim (Ataque com reagente picral). (a) alinhamento de

segregação de cromo no material com teor de 1,87% e dureza de 870 HV (a) ampliação 100 x (b) ampliação 1000x. Fonte: Laboratório metalográfico Robert Bosch.

101

Na região de segregação foi realizado micro-análise EDS-Raio X e encontrado

teor de cromo de 1,87% e nas regiões adjacentes o teor de cromo aproximado é de

1,25 % (Regiões claras visualizadas com reagente nital) e de 0,69% nas regiões fora

das segregações (Vide resultado na figura A1.1 no apêndice A1). Nas peças

consideradas boas, nas regiões claras (Ataque nital) o teor de cromo aproximado é

de 1,17% (Vide figura 4.2) e nas regiões normais de 0,71%. Os resultados estão

conforme a série de análise da figura A1.2. Foram examinados cinco corpos-de-

prova dos lotes considerados ruins e foi detectada segregação em duas amostras.

No lote de peças consideradas boas, foram examinadas 4 amostras e nenhuma

apresentou segregação da forma acima mencionada. A tabela 4.2 apresenta o

comparativo da composição química dos elementos de liga das amostras

consideradas “boa” e “ruim” (com segregação de cromo). Observa-se que os teores

de cromo, molibdênio e níquel do material considerado ruim são 7%, 10% e 54%

respectivamente maiores que o material considerado bom, porém todos dentro das

especificações da norma.

Tabela 4.2 - Resultado da análise de composição química para as amostras com e insentas de segregação.

Elementos Peça boa Peça ruimC 0,4 a 0,56 0,54 0,53Si Max. 0,43 0,21 0,21Mn 0,5 a 0,84 0,68 0,71P Max. 0,03 0,03 0,028S 0 a 0,019 0,011 0,01Al 0 a 0,04 0,019 0,02Cr 0,9 a 1,25 0,88 0,94Ni Max. 0,3 0,12 0,19Mo 0,1 a 0,33 0,2 0,23Cu Max. 0,3 0,18 0,18Sn Max. 0,03 0,028 0,029

Especificado

No entanto o aumento de dureza na região de segregação não é resultado do

aumento do teor de cromo. Para poder gerar uma aumento de dureza, a

porcentagem de cromo na região de segregação deveria ser maior do que 10%, e

mesmo assim a dureza não alcançaria os 870 HV medidos na amostra. O

responsável pelo aumento da dureza é o carbono, que em conjunto com o cromo

forma carboneto de cromo, este sim pode elevar a dureza ao patamar encontrado na

região de segregação. Não foi possível medir o alto teor de carbono, pois o método

de EDS-RaioX não tem capacidade de visulizar o elemento carbono. Porêm, devido

102

a alta afinidade do carbono com o cromo, podemos concluir através de uma medição

indireta que com o aumento do teor de cromo na regiao de segregação, existe

também um aumento do teor de carbono. Outro indicador que comprova esta

afirmação é a morfologia da microestrutura formada na região da segregação. A

figura 4.4 mostra o comparativo entre a morfologia encontrada na região da

segregação e a imagem de uma microestrutura formada por austenita retida, que

possui alta porcentagem de carbono.

Figura 4.4 – Comparativo entre a morfologia: a) alinhamento de segregação – Fonte:

Laboratório metalográfico Robert Bosch; b) material AISI A2 (C~1%), contendo martensita em lâminas (escura) e austenita retida (branca). 2% nital. 500× – Fonte: Metals Handbook.

Pode-se concluir então que a segregação encontrada nas amostras do aço

AISI 4150 trata-se na verdade de uma segregação de carbono. Devido a uma falha

no processo de lingotamento do material, na qual não ocorreu uma correta

homogenização da estrutura, formou-se então a segregação e o acúmulo de

carbono em forma de linhas paralelas ao sentido de lingotamento. Como

consequência da afinidade entre carbono e cromo, forma-se nestas linhas

carbonetos de cromo de alta dureza.

Este problema não pode ser corrigido com tratamento termico de revenimento.

Para eliminar a segregação é necessário fundir novamente o material e refazer o

processo de lingotamento, seguindo os parâmetros para correta homogenização.

Para comprender como a falha de segregação afeta o processo de furação e o seu

efeito na aresta de corte da ferramenta, foi realizado a serie de experimentos

conforme descrito no item 4.2 a seguir.

103

4.2 Influência da Matéria-prima

Os resultados referentes a influência da matéria-prima (segregação e dureza)

sobre a usinabilidade do processo serão apresentados nos seguintes tópicos:

influência da matéria-prima sobre a força de avanço Fz; influência da matéria-prima

sobre o momento torsor Mz; e influência da matéria-prima sobre o sinal de emissão

acústica RMS; análise morfológica da aresta de corte.

4.2.1 Influência da Matéria-prima sobre a Força de avanço (Fz)

A Figura 4.5 apresenta graficamente os efeitos que os fatores de estudo

ocasionam na força de avanço Fz.

Figura 4.5 - Efeito principal dos fatores de estudo na força de avanço Fz.

Analisando a figura 4.5, pode-se constatar que os fatores segregação e

dureza da matéria-prima apresentam influência dominante na força de avanço Fz dos

furos usinados. Já o fator parâmetros de corte apresenta uma influência pequena. A

influência dos fatores pode ser medida através das inclinações das retas.

Primeiramente observa-se que a presença da segregação é extremamente

prejudicial para ferramenta, pois causa um aumento de 80 N na força de avanço Fz.

Devido à elevada dureza da segregação, que pode chegar a 870 HV, a ferramenta

sofre um grande impacto quando atravessa a fase de segregação. Este efeito pode

ser observado no gráfico de força em função do tempo da figura 4.6, onde durante a

furação da amostra a força eleva treze vezes quando atravessa o disco de M2. Este

comsem

80

60

40

20

04035

BA

80

60

40

20

0

Segregação de Cromo

Média - Força Fz [N]

Dureza material

Parametros de Processo

Gráfico de Efeito Principal - Força Fz

A B

Veloc. de corte [mm/min] 65 57,5

Avanço de corte [mm/rot] 0,008 0,006

Revestimento PVD sem TiNAL

Pressão do óleo [bar] 130 130

CondiçãoParâmetros

104

pico ocorre exatamente no momento da transição entre a furação do material de

menor dureza (35 ou 40 HRc) com o disco de M2 que possui 62 HRc de dureza.

Este fenômeno também explica porque a dureza da matéria-prima, que também teve

influência na força de avanço, apresentou o maior valor de força para a dureza de 35

HRc, e não para a dureza maior de 40 HRc. Isto porque o pico de força esta

relacionado à diferença de dureza dos dois materiais na transição. O delta de dureza

entre a matéria-prima de 35 HRc e 62 HRc do disco de M2, é maior que para a

matéria-prima de 40 HRc. Pode-se observar também que logo após o maior pico,

existe um segundo pico de força de apenas duas vezes o valor da força de avanço.

Este segundo pico representa o momento em que a ferramenta termina a furação do

disco e volta a furar a matéria-prima de dureza menor.

Figura 4.6 - Gráfico da força de avanço Fz em função do tempo para a furação do material com

segregação.

Através do cálculo das variações obtidas nos valores de força de avanço Fz, foi

possível obter o nível de significância de cada fator estudado, como mostra a figura

4.7.

Como pode-se observar, o fator mais influente é a segregação, com coeficiente

de 69%, seguido pela interação entre segregação e dureza da matéria-prima (13%),

dureza da matéria-prima (10%), interação entre segregação e parâmetros de corte

(7%) e parâmetros de corte (4%). A soma de todos os fatores resulta em um

coeficiente 100%, que representa o total da variação obtida nos resultados de força

de avanço (Fz).

105

O gráfico de nível de significância apresenta como segundo fator de maior

influência uma interação entre o fator segregação e dureza da matéria-prima, esta

interação pode ser visualizada na figura 4.8.

BC

ABC

C

AC

B

AB

A

140120100806040200

Term

Efeito padronizado

2,2

A Segregação de C romo

B Dureza material

C Parametros de Processo

F actor Name

Gráfico de Significância - Força Fz(resposta em Força Fz, Alpha = 0,05)

Figura 4.7 - Gráfico de significância dos fatores na Força de avanço Fz.

4035

100

80

60

40

20

0

Dureza material

sem

com

de Cromo

Segregação

Gráfico de Interação - Força Fz

Média - Força Fz [N

]

Figura 4.8 - Interação dos fatores: segregação e dureza do material para o resultado de Força de avanço Fz.

106

Conforme já mencionado, esta interação se deve ao fato de que, para condição

de matéria-prima com segregação, o pico na força de avanço depende do delta de

dureza na região de transição com o disco de M2. Para a condição de matéria-prima

com dureza 35 HRc, o delta de dureza é 23 % maior do que para a condição de 40

HRc, conseqüentemente o pico de força é proporcionalmente maior. Para a condição

de material sem segregação, a dureza da matéria-prima tem efeito predominante

sobre a força de avanço. Neste caso o resultado para a dureza de 40 HRc é maior,

pois o material de maior dureza oferece maior resistência a remoção de cavaco pela

ferramenta de corte.

Os parâmetros de corte também apresentam influência sobre a força de

avanço, conforme mostra o gráfico de nível de significância da figura 4.7. No entanto

sua influência é bastante reduzida se comparada com a influência do material, ou

seja, segregação e dureza da matéria-prima. Se forem separados os fatores de

influência em dois grupos: influência do material (segregação e dureza da matéria-

prima) e processo (parâmetros de corte) conclui-se que o material é responsável,

nas condições experimentadas, por 92% da variação dos esforços de corte (figura

4.9). Ou seja, independente de qualquer otimização que seja feita nos parâmetros

de corte do processo, este irá afetar somente 8% nos esforços de corte (figura 4.9).

Isto confirma a afirmação de Astakhov (2006), de que variações na composição

química e dureza do material tornam muito difícil especificar a geometria da

ferramenta ótima, o material adequado da ferramenta e o regime ótimo de trabalho.

Além disso, é quase impossível implementar os resultados dos estudos de tribologia

nestas condições, os dados modelados e os obtidos experimentalmente não são

relevantes para uma variação das propriedades do material de trabalho.

Material92%

Parametros de Corte8%

Figura 4.9 - Impacto da influência dos dois grupos: influência do material (segregação e dureza da matéria-prima) e processo (parâmetros de corte) na força de avanço Fz.

107

4.2.2 Influência da Matéria-prima sobre o Momento Torsor (Mz)

A Figura 4.10 apresenta graficamente os efeitos que os fatores de estudo

ocasionam no momento torsor Mz.

comsem

6

5

4

3

2

4035

BA

6

5

4

3

2

Segregação de Cromo

Média - M

omento

torsor Mz [N]

Dureza material

Parametros de Processo

Gráfico de Efeito Principal - Momento torsor Mz

Figura 4.10 - Efeito principal dos fatores de estudo no momento torsor Mz.

Assim como para o resultado de força de avanço Fz, na figura 4.5 pode-se

constatar que os fatores Segregação e Dureza da matéria-prima apresentam

influência dominante no momento torsor Mz do processo de furação. O fator

Parâmetros de corte apresenta uma pequena influência, porém ela é mais

significativa do que para a força de avanço Fz. A influência dos fatores pode ser

medida através da inclinação das retas.

A diferença na influência dos parâmetros de processo e da dureza da matéria-

prima são baseados no fato de que, devido à forma construtiva da ferramenta broca

canhão, rígida no sentido de Fz, e elástica no sentido de giro Mz, o pico de força Fz

quando a ferramenta atravessa o disco de M2 é maior do que para o momento torsor

Mz, conforme figura 4.11.

108

Figura 4.11 - Gráfico de momento torsor em função do tempo para a furação do material: (a) sem segregação e (b) com segregação.

No entanto, observa-se que a presença da segregação modifica intensamente

a forma do gráfico de momento torsor Mz, levando a um aumento de 2,5 vezes. É

possível observar que após passar pelo disco de M2, o gráfico de momento torsor

apresenta um pico e em seguida desce, mas não para o mesmo patamar anterior, e

sim para um valor maior. Este efeito se repete na passagem dos discos

subseqüentes até que o torque alcança um valor tão alto que a ferramenta não

109

consegue resistir, então após algumas furações ela quebra. É possível verificar a

conseqüência deste efeito analisando a aresta de corte após a passagem pelos

discos de M2, como mostra o item 4.2.4.

A interação entre segregação e dureza da matéria-prima se mostra diferente

para o momento torsor Mz em relação o que ocorreu para a força Fz, figura 4.12.

4035

11

10

9

8

7

6

5

4

3

2

Dureza material

sem

com

de Cromo

Segregação

Gráfico de Interação - Momento torsor Mz

Média - M

omento torsor Mz [N

]

Figura 4.12 - Interação dos fatores: Segregação e Dureza do material para o resultado de Momento torsor Mz.

Devido ao fato da broca canhão possuir um comportamento mais elástico na

direção de giro (momento torsor), não foi observada a presença de picos elevados

como no resultado de força Fz. Este fato se reflete também na interação entre os

fatores segregação e dureza da matéria-prima, onde para ambas as condições, com

e sem segregação, o momento torsor aumenta para a condição de dureza da

matéria-prima maior (40 HRc). A interação mostra que o momento torsor é maior

para a condição com segregação, e torna-se bastante crítico na condição de dureza

da matéria-prima maior. No caso do momento torsor, o resultado é maior quando a

dureza da matéria-prima é maior e há a presença de segregação, pois o material de

maior dureza oferece maior resistência para a formação e remoção do cavaco pela

ferramenta de corte.

110

4.2.3 Influência da Matéria-prima sobre o Sinal de Emissão Acústica (RMS)

A Figura 4.13 apresenta graficamente o efeito que o fator de estudo

Segregação ocasiona no sinal de emissão acústica (RMS).

Figura 4.13 - Efeito da Segregação no sinal de emissão acústica (RMS).

Da mesma forma que o gráfico de força Fz, o sinal de EA permite, através da

análise gráfica do resultado para as condições com segregação, visualizar a

existência de picos no sinal de EA RMS quando a ferramenta atravessa o disco de

M2. O sinal de emissão acústica (RMS) pode ser utilizado para identificar a presença

de segregação na matéria-prima, tornando possível o diagnóstico simultâneo desta

anomalia durante a furação do material, e com a vantagem de permitir uma

instrumentação mais simples, sem a necessidade de adaptação para a plataforma

piezelétrica.

4.2.4 Análise morfológica da aresta de corte

As figuras 4.14 e 4.15 apresentam o resultado da análise morfológica da

aresta de corte para as condições com e sem segregação para as ferramentas: sem

revestimento e com revestimento PVD TiNAl.

111

Figura 4.14 - Morfologia da ponta da aresta de corte para as condições: a) sem revestimento e isento de segregação; b) sem revestimento e com segregação; c) PVD TiNAl e isento de

segregação; d) PVD TiNAl com segregação.

As imagens feitas no microscópio eletrônico de varredura, pelo método de

elétrons retro-espalhados, permite visualizar a aresta de corte com ampliação de

1200 vezes, e ainda apresenta os diferentes materiais que compõem a aresta de

corte com cores distintas. A escala de cor esta relacionada com o peso atômico do

material, desta forma a cor cinza escuro representa o revestimento TiNAl, a cor cinza

representa o material aço AISI 4150, e por fim a cor cinza clara representa o metal-

duro da ferramenta.

A figura 4.14 mostra o resultado da análise morfológica para a ponta da aresta

da ferramenta. Podemos verificar que a ferramenta sem revestimento, na condição

isenta de segregação, não apresenta desgaste, mas sim uma pequena formação de

aresta postiça, e sinais de aresta postiça removida próximo à ponta da ferramenta

(figura 4.14 a). Já para a condição com segregação, a ferramenta sem revestimento

aparece com uma formação de aresta postiça bastante grande (figura 4.14 b). O

112

melhor resultado é obtido para a ferramenta com revestimento PVD TiNAl na

condição de material isento de segregação. Nesta a aresta de corte se mostra isenta

de aresta postiça, apenas com marcas de desgaste suave (figura 4.14 c). No

entanto, quando esta ferramenta fura o material com segregação, observa-se o

surgimento de uma grande aresta postiça (figura 4.14 d). Percebe-se então, que

para ambas as condições de ferramenta o surgimento de aresta postiça está

fortemente ligado a presença de segregação no material. A presença da aresta

postiça é extremamente prejudicial, pois altera o ângulo de saída do cavaco,

diminuindo a deformação do cavaco, o que leva a formação do cavaco tipo fita.

Na figura 4.15 é possível visualizar o efeito da segregação na quina da aresta

de corte das ferramentas: sem revestimento e com revestimento PVD TiNAl.

Figura 4.15 - Morfologia da quina da aresta de corte para as condições: a) sem revestimento e isento de segregação; b) sem revestimento e com segregação; c) PVD TiNAl e isento de

segregação; d) PVD TiNAl com segregação.

De forma geral a quina da ferramenta sofre o mesmo efeito ocorrido na ponta

da ferramenta. É predominante a formação de uma grande aresta postiça na

condição de material com segregação para ambas as ferramentas, com e sem

113

revestimento (figura 4.15 b e d). No entanto, através da análise morfológica da quina

da ferramenta é possível compreender o mecanismo de formação da aresta postiça.

Para a condição sem segregação, a figura 4.15c mostra a ferramenta com

revestimento TiNAl sem aresta postiça, e a figura 4.15a apresenta a ferramenta sem

revestimento com uma pequena aresta postiça aderida à aresta de corte. Na

condição de material com segregação, ambas as ferramentas apresentam sinais de

lascamento, e sobre os danos geradas pelo lascamento, forma-se a aresta postiça.

Isto indica que os discos de M2 de elevada dureza geram lascamentos na aresta de

corte, em seguida, devido ao aumento da aspereza da superfície gerada pelo

lascamento, o material da peça adere na aresta de corte e é caldeado, o que leva a

formação de aresta postiça de grande altura nas ferramentas com e sem

revestimento (figura 4.15 b e d). Esta por conseqüência modifica os ângulos de corte

da ferramenta, e com isso modifica a forma do cavaco, de um formato virgula curto

para um formato tipo fita. Ou seja, os discos de M2 (segregação) podem provocar a

quebra da ferramenta, ou por lascamento severo, ou por modificação da forma do

cavaco, ocasionado pela formação de aresta postiça.

4.3 Seleção do Material da Ferramenta

Os resultados referentes à seleção do material da ferramenta serão

apresentados nos seguintes tópicos: caracterização da aresta de corte da

ferramenta; análise da forma do cavaco; e análise das forças de usinagem da

ferramenta.

4.3.1 Caracterização da aresta de corte da ferramenta

A figura 4.16 apresenta o resultado da análise morfológica da aresta de corte

para o inicio (0,5 m) e final (5 m) da vida da ferramenta para as condições: sem

revestimento e com revestimento PVD TiNAl, na furação profunda do aço AISI 4150

isento de segregação.

114

Figura 4.16 - Morfologia da aresta de corte para a furação do aço AISI 4150 isento de segregação nas condições: a) sem revestimento - comprimento furado 0,5 m; b) sem

revestimento - comprimento furado 5 m; c) PVD TiNAl - comprimento furado 0,5 m; d) PVD TiNAl - comprimento furado 5 m.

Pode-se verificar que a ferramenta sem revestimento apresenta um leve

desgaste inicial (figura 4.16 a), não sendo possível visualizar material da peça na

aresta de corte. No entanto, é possível visualizar marcas de desgaste por adesão-

remoção na face da corte da ferramenta. Isto representa que logo no início da vida

da ferramenta incia-se um ciclo de adesão-remoção de aresta postiça, ou seja, o

material é caldeado na aresta de corte formando a aresta postiça, que em seguida é

removida pelo próprio cavaco, levando consigo uma parte do material da aresta de

corte. A figura 4.16 (b) apresenta a mesma ferramenta já no final da vida útil com 5

metros de furação. Desta vez é possível visualizar o material da peça caldeado na

aresta de corte formando a aresta postiça. Percebe-se que o desgaste da ferramenta

já é acentuado, a aresta de corte já está arredondada devido ao ciclo de adesão-

remoção da aresta postiça.

115

Na figura 4.16 (c), é apresentado o desgaste inicial da ferramenta com

revestimento TiNAl. Apesar do pequeno comprimento furado (0,5 m), a ferramenta já

apresenta desgaste na aresta de corte. Este desgaste inicial remove o revestimento

TiNAl da ponta da aresta de corte, como pode ser visto pela coloração cinza claro

que representa o substrato de metal-duro da ferramenta. No entanto, o desgaste da

ferramenta no final da vida (figura 4.16 d) é menor que para a condição sem

revestimento (figura 4.16 b). Na figura 4.16 (d) pode-se observar a presença de

aresta postiça (cor cinza), e os canais de desgaste (cinza claro – substrato metal-

duro), porém a dimensão do desgaste permaneceu estável desde o inicio da vida da

ferramenta, mostrando que para esta condição a aresta postiça não sofre o

mecanismo de adesão-remoção que ocorre para a ferramenta sem revestimento. O

revestimento sofre um desgaste inicial e permanece estável na mesma dimensão,

em seguida surge a aresta postiça, mas de certa forma esta mantém-se fixa na

aresta de corte. Esta diferença no mecanismo de desgaste confere à ferramenta

com revestimento TiNAl uma maior resistência ao desgaste. Apesar da ferramenta

não tirar proveito das melhores propriedades proporcionadas pelo revestimento,

visto que este é removido da ponta da aresta de corte logo no início, de uma outra

forma o revestimento acabou beneficiando o comportamento tribológico na interface

ferramenta-cavaco.

4.3.2 Análise da forma do cavaco

Conforme os resultados obtidos, é possível observar na Figura 4.17 a influência

do revestimento na forma do cavaco, para uma dada combinação de velocidade de

corte e avanço da ferramenta.

116

Figura 4.17 - Gráfico superfície de resposta para o coeficiente volumétrico do cavaco para as condições: sem e com revestimento PVD TiNAl.

Os gráficos da figura 4.17 apresentam o resultado de coeficiente volumétrico

para as formas de cavaco encontradas nas condições de ferramenta sem

revestimento (figura 4.17 - esquerdo) e com revestimento PVD TiNAl (figura 4.17 -

direito). Através da diferença de cor (azul escuro representando o coeficiente

volumétrico menor, e verde escuro representando o coeficiente maior) é possível

inferir que a ferramenta com revestimento torna o coeficiente volumétrico do cavaco

menor (entre 0 e 2) para uma ampla faixa de velocidades e avanços de corte. Para a

ferramenta sem revestimento, o cavaco do tipo fita com coeficiente volumétrico

maior predomina na maior parte do gráfico. Nesta condição, para conseguir melhorar

a forma do cavaco, é preciso aumentar a velocidade de corte e o avanço da

ferramenta ao máximo da faixa, com isso consegue-se um coeficiente volumétrico

em torno de 2,7. No entanto, verificou-se durante o experimento que os esforços de

corte aumentam demasiadamente, levando à quebra da ferramenta por esforço

excessivo.

É importante notar que mesmo trabalhando na melhor condição, ferramenta

com revestimento TiNAl, é possível obter cavacos com a forma do tipo fita e com

coeficiente volumétrico maior do que 6. Esta forma de cavaco é especialmente

prejudicial para o processo de furação profunda, pois devido ao pequeno espaço

para arraste e retirada do cavaco, o alto coeficiente volumétrico do cavaco leva ao

aumento no índice de quebra da ferramenta.

117

A melhor condição de forma do cavaco é encontrada na ferramenta com

revestimento PVD TiNAl na faixa de velocidade de corte (45 à 57 m/min) e avanço

(0,002 à 0,012 mm/rot). Nesta faixa de parâmetros a quebra adequada do cavaco é

obtida pelo aumento da deformabilidade do material da peça e, conseqüentemente,

pelo aumento da deformação do cavaco. Como a capacidade de deformação do

material é dependente da temperatura na região do corte, a redução da velocidade

de corte tornam os cavacos mais quebradiços.

As regiões verde escuras visualizadas nos gráficos da figura 4.17, mostram o

maior coeficiente volumétrico representado pelo cavaco tipo fita. Este cavaco é

gerado em determinadas combinações de parâmetros (Vc e avanço), no entanto o

motivo da sua formação é a diminuição do grau de deformação por uma curvatura

menor do cavaco. Esta curvatura menor ocorre por causa do aparecimento da aresta

postiça, conforme apresentada no item anterior (4.3.1), esta aumenta o ângulo de

saída da face de corte da ferramenta, que por sua vez dificulta a quebra do cavaco.

A formação do cavaco é basicamente influenciada pela deformabilidade,

ductilidade e resistência do material da peça. O efeito dos parâmetros na queda da

ductilidade do material é justificado pela primeira lei da usinagem de Makarow (1976)

(item 2.6). Quando o material é levado à temperatura igual à temperatura de corte

ótima, é alcançado também o mínimo alongamento ef (que representa a deformação

na fratura) do material. Este menor alongamento ou diminuição da ductilidade,

geralmente leva a uma melhor quebra do cavaco.

4.3.3 Análise das forças de usinagem

A Figura 4.18 apresenta graficamente o efeito que o fator revestimento

ocasiona no momento torsor Mz.

118

Figura 4.18 - Influência do revestimento no momento torsor Mz.

A figura 4.18 apresenta o resultado da análise das forças de usinagem da

ferramenta para as condições: sem revestimento e com revestimento PVD TiNAl,

para a furação com velocidade de corte 57 m/min e avanço 0,006 mm/rot. Neste

ensaio é possível confirmar através da medição de momento torsor Mz a influência

do revestimento mencionada no item 4.3.1. O gráfico da figura 4.18 (a), mostra o

resultado da medição de torque da ferramenta para a condição sem revestimento.

Nesta condição verifica-se a existência de picos de torque, que não aparecem na

condição com revestimento (figura 4.18 b), para um mesmo ajuste de parâmetros de

corte. Desta forma, acredita-se que estes picos são gerados no momento de ruptura

da aresta postiça, durante o ciclo de adesão-remoção da aresta postiça (figura 4.19).

119

Figura 4.19 - Picos gerados no momento de ruptura da aresta postiça durante o ciclo de adesão-remoção da aresta postiça.

A figura 4.19 mostra como se comporta o sinal de torque no momento da

formação e ruptura da aresta postiça. Observa-se no gráfico um comportamento

cíclico de aumento gradativo do torque até o surgimento de um pico, logo após o

valor de torque cai, estabiliza e volta a subir, até surgir um novo pico. A este

comportamento atribui-se o mecanismo de adesão-remoção da aresta postiça,

descrito anteriormente no item 4.3.1.

A ferramenta com revestimento PVD TiNAl não apresenta estes picos, porque

a aresta postiça se forma uma vez e permanece estável na aresta de corte da

ferramenta.

4.4 Temperatura e Velocidade de corte ótima

Após a etapa de caracterização da matéria-prima, onde foi evidenciada a

influência do material; e definido o material mais adequado para a ferramenta:

revestimento PVD TiNAl; segue-se para a etapa de definição dos parâmetros de

corte conforme a primeira lei da usinagem dos metais de Makarow (1976).

Os resultados referentes à definição dos parâmetros de corte serão

apresentados nos seguintes tópicos: ensaio preliminar para identificação da

120

velocidade de corte ótima; ensaio confirmatório com avanço de 0,016 mm/rot; e

influência do diâmetro da broca na velocidade de corte ótima.

4.4.1 Ensaio preliminar para identificação da velocidade de corte ótima

Conforme os resultados obtidos, é possível observar na figura 4.20 a curva de

força Fz para cinco condições de avanço da ferramenta, para furação profunda de

diâmetro 3 mm por 40 mm de comprimento, no material AISI 4150 isento de

segregação.

Figura 4.20 - Curva de força Fz para cinco condições de avanço: (1) 0,004; (2) 0,008; (3) 0,012;

(4) 0,016; e (5) 0,020 mm/rot, para furação profunda de diâmetro 3 mm x 40 mm, no material AISI 4150 isento de segregação.

O gráfico apresenta o resultado das curvas de força de avanço Fz para os

avanços: (1) 0,004; (2) 0,008; (3) 0,012; (4) 0,016; e (5) 0,020 mm/rot. Para a

combinação de matéria-prima e material da ferramenta ensaiada, as velocidades de

corte ideais são: vopt = (1) 1,58; (2) 1,45; (3) 1,34; (4) 1,15; e (5) 0,98 m/s, respectiva-

mente. Estas velocidades, segundo o método desenvolvido por Silin (1979),

mostram respectivamente a temperatura ótima de corte, que pode ser determinada

121

como correspondendo à mínima força de avanço estabilizada, como mostrado na

figura 2.26 do item 2.6.2.

Nota-se que a medida que se aumenta o avanço da ferramenta, a velocidade

de corte ótima vopt diminui. Isto ocorre porque para um avanço maior, é possível

alcançar a temperatura de corte ótima θopt com uma velocidade de corte menor.

Considerando ainda a figura 4.20, pode-se verificar que quando se aumenta o

avanço, a força de avanço aumenta. No entanto mesmo quando são utilizados

diversos avanços, a mínima força de avanço estabilizada ocorre, segunda a

literatura, na mesma temperatura de corte ótima θopt, embora a força de avanço Fz

varie mais de 2 vezes. Como demonstrado, há uma combinação específica de

velocidade de corte e avanço em que a força de avanço é a menor estabilizada, a

qual corresponde à temperatura ótima de corte.

4.4.2 Ensaio confirmatório com avanço de 0,016 mm/rot

As figuras a seguir apresentam graficamente o efeito da temperatura de corte

ótima nas variáveis de processo: força de avanço Fz, rugosidade superficial Rz e

sinal de emissão acústica RMS, para o avanço de 0,016 mm/rot.

Figura 4.21 - Curva de força Fz para avanço 0,016 mm/rot, para furação profunda de diâmetro 3 mm x 40 mm, no material AISI 4150 isento de segregação.

2,48

2,36

2,24

2,12

2,00

1,88

1,76

1,64

1,52

1,40

1,28

1,16

1,04

0,92

0,80

0,68

0,56

0,44

0,32

0,20

87,5

85,0

82,5

80,0

77,5

75,0

72,5

70,0

67,5

65,0

Velocidade de Corte v [m/s]

Força de A

vanço

Fz [N

]

Curva da Força de Avanço Fz

Vopt = 1,04 m/s

122

Primeiramente é possível verificar que a velocidade de corte ótima para o

ensaio confirmatório do avanço de 0,016mm/rot foi de vopt = 1,04 m/s. Para o ensaio

confirmatório foram utilizados valores de velocidades de corte mais próximos a

região pré-visualizada como sendo o ponto de velocidade de corte ótima para

otimizar o resultado da curva, com isso foi encontrado um valor diferente da primeira

análise. A forma do gráfico de força de avanço Fz corresponde ao encontrado por

Astakhov (2006) para a operação de torneamento do aço AISI 4340. Naturalmente o

valor de velocidade de corte ótima vopt não corresponde, pois se trata de outra

operação e de um material diferente.

A figura 4.22 apresenta a curva de rugosidade em relação a velocidade de

corte para furação profunda com avanço 0,016 mm/rot.

Figura 4.22 - Curva de rugosidade superficial Rz para avanço 0,016 mm/rot, para furação profunda de diâmetro 3 mm x 40 mm, no material AISI 4150 isento de segregação.

Na curva da rugosidade superficial, para velocidades abaixo de 0,5 m/s o valor

de Rz está próximo de 0,31 µm, então reduz para 0,22 µm com v = 0,5 m/s, e a partir

da velocidade de corte ótima vopt = 1,04 m/s a rugosidade sobe até o valor médio de

1,2 µm para a velocidade de corte 2,3 m/s.

2,48

2,36

2,24

2,12

2,00

1,88

1,76

1,64

1,52

1,40

1,28

1,16

1,04

0,92

0,80

0,68

0,56

0,44

0,32

0,20

1,35

1,20

1,05

0,90

0,75

0,60

0,45

0,30

Velociadde de Corte v [m/s]

Rugosidade S

uperficial Rz [µ

m]

Curva da Rugosidade Superficial - Rz

Vopt = 1,04 m/s

123

A figura 4.23 apresenta o resultado do perfil de rugosidade para três velocidade

de corte para furação profunda com avanço 0,016 mm/rot.

Figura 4.23 - Perfil de rugosidade superficial Rz para as velocidades de corte: (a) 0,22; (b) 1,04; e (c) 1,80 m/s.

A figura 4.23 apresenta o resultado da rugosidade para as velocidades de

corte: (a) 0,22; (b) 1,04; e (c) 1,80 m/s. É possível observar que o perfil de

rugosidade das velocidades 0,22 e 1,80 m/s apresentam imperfeições. Já para a

velocidade de corte ótima (1,04 m/s) estas imperfeições não aparecem.

Para baixas velocidades de corte (0,22 m/s), ocorre um aumento acentuado

na deformação na fratura e também no trabalho de fratura. Para esta velocidade a

temperatura de corte está em torno de 0,18 - 0,25 do ponto de fusão (Tm),

a) VC: 0,22 m/s

b) VC: 1,04 m/s

c) VC: 1,80 m/s

124

mudanças semelhantes ocorrem em outras medidas de ductilidade, como mostrado

na figura. 2.22 (a). Este fenômeno explica a grande dimensão da zona de

deformação plástica observadas em baixas velocidades de corte, e o surgimento da

“aresta postiça”, resultando em uma condição de corte irregular gerada em frente à

superfície de corte da ferramenta, levando assim ao surgimento de imperfeições na

superfície da peça acabada.

Em velocidades de corte elevadas (1,80 m/s), a temperatura de corte

aumenta. Em temperaturas à 0,5 - 0,6 Tm, o processo de recuperação e

recristalização começa a ocorrer, como mostrado na figura 2.22 (b) (recuperação

refere-se a uma redistribuição das fontes de discordâncias assim o movimento de

discordâncias é mais fácil, e na recristalização, a energia dos geradores de

discordâncias durante a deformação prévia é usado para nucleação e crescimento

de grãos novos, assim afetando a estrutura recozida durante um longo tempo). Além

disso há o aumento da vibração da ferramenta, que por sua vez também gera

imperfeições no acabamento da peça usinada.

Observa-se no entanto, que a forma do gráfico de rugosidade da figura 4.22 é

diferente da apresentada por Astakhov (2006) na figura 2.20 do item 2.6. Na figura

2.20 percebe-se que a rugosidade começa com uma valor alto, então cai para o

valor mínimo na velocidade de corte ótima, e sobe em seguida para velocidades

maiores. Esta diferença ocorre por conta do acabamento caractersitico do processo

de furação profunda, que é diferente do encontrado no processo de torneamento

longitudinal utilizado por Astakhov (2006). Em furação profunda, a força de avanço

comprime as guias laterais da ferramenta contra a parede do furo, com isso os picos

de rugosidade são reduzidos, modificando assim a superfície gerada na remoção do

material. Por isso o valor de rugosidade inicia mais baixo em relação à literatura,

mas após a velocidade de corte ótima o valor sobe, e acompanha a mesma

tendência apresentada por Astakhov (2006).

A figura 4.24 apresenta o resultado de emissão acústica RMS correlacionada

com a velocidade de corte para furação profunda com avanço 0,016 mm/rot.

125

Figura 4.24 - Curva do sinal de emissão acústica RMS para avanço 0,016 mm/rot, para furação profunda de diâmetro 3 mm x 40 mm, no material AISI 4150 isento de segregação.

A curva de emissão acústica (RMS) apresenta o mesmo comportamento

verificado nas curvas de força Fz e rugosidade Rz. O sinal de EA (RMS) é de 1,75

vRMS para velocidades baixas, então diminui até o mínimo, 0,3 vRMS para a

velocidade de corte ótima (1,04 m/s), e em seguida sobe rapidamente até o valor

máximo (3,0 vRMS) para as velocidades 1,11 e 1,25 m/s. O valor de EA volta a cair

para a velocidade de corte 1,40 m/s, e por fim sobe até o valor de 1,25 vRMS para a

velocidade de 2,25 m/s.

O resultado de EA não é apresentado por Astakhov (2006), no entanto a forma

do gráfico corresponde ao efeito da temperatura de corte ótima, que neste caso

representa a velocidade de corte 1,04 m/s. Este resultado é bastante importante,

pois com ele surge a possibilidade de encontrar velocidade de corte ótima vopt

utilizando o sinal de emissão acústica (RMS). Este método tem vantagem em

relação à medição de força de avanço, pois possui uma instrumentação simples. Já

para o outro método que emprega as forças de usinagem, é necessária a adaptação

da plataforma piezelétrica no processo, o que muitas vezes torna-se inviável ou

altamente oneroso.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

0 0,25 0,5 0,75 1 1,25 1,5 1,75 2 2,25 2,5

Velocidade de Corte v [m/s]

EA

RM

S [v

olt]

RMS 1 RMS 2 RMS 3 RMS médio

Vopt = 1,04 m/s

126

As figuras 4.21, 4.22 e 4.23 mostram que a usinagem na temperatura de corte

ótima resulta não somente na mínima força de avanço, mas também leva à obtenção

da menor rugosidade da superfície usinada e o menor sinal de emissão acústica.

Conforme apresentado, sob estas condições de corte, a temperatura de corte ótima

de θopt pode ser diretamente correlacionada à assim chamada velocidade ótima de

corte vopt = 1,04 m/s.

4.4.3 Influência do diâmetro da broca na velocidade de corte ótima

Conforme os resultados obtidos, é possível observar na figura 4.25 a curva de

força Fz para três condições de avanço da ferramenta, para furação profunda de

diâmetro 1,43 mm por 20 mm de comprimento, no material AISI 4150 isento de

segregação.

Figura 4.25 - Curva de força Fz para três condições de avanço: (1) 0,004; (2) 0,006 e (3) 0,008; mm/rot, para furação profunda de diâmetro 1,43 mm x 20 mm, no material AISI 4150 isento de

segregação.

O gráfico apresenta o resultado das curvas de força de avanço Fz para os

avanços: (1) 0,004; (2) 0,006; e (3) 0,008 mm/rot. Para a combinação de matéria-

prima e material da ferramenta ensaiada, as velocidades de corte ideais são: vopt =

(1) 1,12; (2) 0,95; e (3) 0,78 m/s, respectivamente.

For

ça d

e A

vanç

o F

z [N

]

127

É possível observar que a velocidade de corte ótima para o avanço de 0,004

mm/rot é 1,12m/s e 1,58 m/s para os diâmetros de broca 1,43 e 3 mm, respectiva-

mente. Para o avanço de 0,008 mm/rot a vopt é 0,78m/s e 1,45 m/s para os diâmetros

de broca 1,43 e 3 mm, respectivamente. Com a diminuição do diâmetro da

ferramenta, a velocidade de corte ótima diminui 30% para o avanço de 0,004 mm/rot,

e 46% para o avanço de 0,008 mm/rot.

A variação do diâmetro da ferramenta na furação leva a uma mudança

significativa na velocidade de corte ótima (ou seja, a velocidade de corte

correspondente à força mínima estabilizada). A razão para isso são as interações de

deformação e as ondas térmicas propagadas no material. A temperatura ótima, no

entanto, permanece a mesma. Este mesmo resultado é apresentado por um

exemplo na figura 2.24.

Quando a velocidade de corte é mantida invariável, a velocidade de rotação

(rpm) muda com o diâmetro da ferramenta, que afeta a dinâmica do processo. Outro

aspecto é a interação das ondas térmicas e as deformações que ocorrem na

usinagem de metais. Como tal, se a velocidade de corte e de avanço são mantidos

invariáveis, a tempo de uma volta da ferramenta muda com a diminuição do seu

diâmetro, que afeta muito as interações mencionadas. Em outras palavras, menos

energia térmica residual deixada pela passagem anterior da ferramenta está

disponível na passagem corrente quando o diâmetro da ferramenta aumenta.

4.5 Análise do Desgaste – Seleção da geometria ótima da ferramenta

Após a etapa de seleção do material mais adequado para a ferramenta:

revestimento PVD TiNAl; a definição dos parâmetros de corte conforme a primeira lei

da usinagem dos metais de Makarow (1976): velocidade de corte ótima vopt = 1,04

m/s e avanço 0,016 mm/rot; segue-se para a etapa de análise do desgaste, para

definir a geometria ótima da ferramenta que irá conferir maior resistência ao

desgaste.

Os resultados referentes à definição da geometria da ferramenta serão

apresentados nos seguintes tópicos: ensaio de vida útil; análise morfológica da

aresta de corte; e análise dos esforços de corte.

128

4.5.1 Ensaio de vida útil

Conforme os resultados obtidos, é possível observar na figura 4.26 o

comparativo do desgaste para as duas geometrias de ferramenta na furação

profunda de diâmetro 3 mm por 60 mm de comprimento, no material AISI 4150

isento de segregação.

Figura 4.26 - Comparativo de desgaste na quina e ponta da aresta de corte para as geometrias de perfil: redondo e triângulo.

O gráfico da figura 4.26 mostra o resultado do ensaio de vida útil para duas

geometrias de broca canhão, redonda e triangular. O comprimento total furado foi de

1,38 metros, e os valores do desgaste de quina e de ponta foram medidos para as

duas geometrias de ferramenta. É possível observar que o formato redondo teve um

desgaste menor, principalmente na ponta da ferramenta, obtendo um valor médio de

129

desgaste de 8,3 µm, enquanto o formato triângulo teve 62,5 µm. Para o desgaste de

quina o resultado para a ferramenta com formato redondo também foi superior, com

desgaste de 63 µm, sendo que o formato triangular teve desgaste de quina de 85,4

µm. Além disso nota-se uma diferença na variação do valor de desgaste, este é

menor para a geometria redonda, demonstrando assim que esta ferramenta tem um

comportamento mais estável na furação profunda do material AISI 4150.

Resultado similar foi encontrado por Astakhov (2006) para a influência da

geometria da broca canhão no desgaste da ferramenta. Neste trabalho a maior

resistência ao desgaste foi alcançada com a condição de md menor (1,5 mm) e φ1

maior (45°), conforme mostra a figura 4.27.

Figura 4.27 - Perfil ótimo encontrado por Astakhov (2006) (a) e o perfil redondo (b) para broca canhão.

Considerando um valor menor de md (1,5 mm) e φ1 maior (45°) (figura 4.27 a),

chega-se a um perfil próximo ao que foi concluído como melhor perfil neste trabalho,

o perfil redondo (figura 4.27 b).

4.5.2 Análise Morfológica da Aresta de Corte

A figura 4.28 mostra a análise morfológica do desgaste de quina e frontal para

as duas geometrias de ferramenta, obtidas no microscópio eletrônico de varredura.

130

Figura 4.28 - Comparativo de desgaste na quina e ponta da aresta de corte para as geometrias de perfil: redondo e triângulo. Imagens microscópio MEV – elétrons retro-espalhados.

É possível notar a existência de lascamentos na ponta da ferramenta com

geometria triangular (figura 4.28 (b) e (f)). Estes são decorrentes de esforços

excessivos que se concentram na ponta da ferramenta. Este defeito não é visto na

ferramenta de geometria redonda (figura 4.28 (a) e (e)). De certa forma, o perfil

redondo da aresta de corte distribui melhor o esforço de corte em todo o raio do

131

perfil da ferramenta, o que evita a concentração de tensão e a geração de

lascamentos. Observar-se, no entanto, uma pequena formação de aresta postiça na

ferramenta com perfil redondo, figura 4.28(c), o que não ocorre na aresta da

ferramenta de perfil triangular (figura 4.28 d). Esta diferença deve-se ao sentido do

fluxo do material removido na ferramenta com perfil redondo. No momento do atrito

na interface cavaco-ferramenta, o cavaco acaba removendo o revestimento da

extremidade da aresta de corte. Com isso o material da peça adere na aresta de

corte, e ocorre o caldeamento da aresta postiça.

4.5.3 Análise Comparativa dos Esforços de Corte

Os gráficos da figura 4.29 a seguir apresentam o resultado da análise dos

esforços de corte para as duas geometrias de ferramenta. O resultado comparativo

para as duas geometrias está dividido em: força de avanço Fz; momento torsor Mz, e

sinal de emissão acústica RMS.

Ambos os gráficos de força de avanço Fz, momento torsor Mz, e emissão

acústica RMS, apresentam um valor menor para o perfil de ferramenta redondo. A

força de avanço Fz é 21% menor, e o momento torsor Mz é 24% menor para esta

geometria. A dispersão dos valores se manteve igual para as duas geometrias, nas

duas grandezas de força (força de avanço Fz e momento torsor Mz). O resultado de

emissão acústica RMS é 60% menor para a geometria redonda, além disso a

dispersão também é significativamente menor.

A análise comparativa dos esforços de corte pode ser usada para compreender

e confirmar os resultados de desgaste e morfologia da aresta de corte. É possível

notar que a ferramenta com perfil redondo tem um desempenho superior ao perfil

triangular, sendo assim pode-se concluir que a geometria redonda apresenta maior

resistência ao desgaste e exige menores esforços de corte durante a furação do aço

AISI 4150.

132

Figura 4.29 - Comparativo da força de avanço Fz, momento torsor Mz, e emissão acústica RMS para as geometrias de perfil: redondo e triângulo.

TrianguloRedondo

30,0

27,5

25,0

22,5

20,0

17,5

15,0

Perfil

Momento Torsor Mz [N]

24%

TrianguloRedondo

90

85

80

75

70

65

60

55

Perfil

Força de Avanço Fz [N]

21%

TrianguloRedondo

3,5

3,0

2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0

Perfil

Emissão Acústica [v RMS]

60%

133

5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Este capítulo apresenta as conclusões finais bem como propõem sugestões

de temas para prosseguimento e aprimoramento do trabalho.

5.1 Conclusões

As conclusões obtidas neste trabalho são apresentadas em três tópicos,

conclusões referentes à: matéria-prima; processo e métodos de ensaio.

5.1.1 Conclusões referentes à matéria-prima

• As amostras do material AISI 4150 consideradas ruins possuem segregação

alinhada de forma poligonal, com dureza em torno de 870 HV. O teor de cromo

na segregação é de 1,87% e nas regiões adjacentes o teor de cromo aproximado

é de 1,25 % e de 0,69% nas regiões fora das segregações. Nas amostras

consideradas boas, nas regiões de segregação o teor de cromo aproximado é de

1,17% e nas regiões normais de 0,71%.

• o aumento de dureza na região de segregação é resultado do aumento do teor

de carbono, que em conjunto com o cromo forma carboneto de cromo. Devido a

alta afinidade do carbono com o cromo, podemos medir de forma indireta que

com o aumento do teor de cromo na região de segregação, existe também um

aumento do teor de carbono. A morfologia encontrada na região da segregação

também é compativel com a encontrada na microestrutura formada por austenita

retida, que possui alta porcentagem de carbono.

• A segregação presente na microestrutura do material da peça é o fator mais

influente na força de avanço Fz, com coeficiente de 69%, seguido pela interação

entre segregação e dureza da matéria-prima (13%), dureza da matéria-prima

(10%), interação entre segregação e parâmetros de corte (7%) e parâmetros de

corte (4%);

• A segregação tem um efeito extremamente danoso para a aresta de corte da

ferramenta, esta faz com que a força de avanço aumente 13 vezes, o momento

torsor aumente 2,5 vezes, e ainda leva ao surgimento de aresta postiça de

grande altura na aresta de corte. Por tanto, a segregação pode provocar a

quebra da ferramenta, por lascamento severo, ou por modificação da forma do

cavaco, decorrente da formação de aresta postiça;

134

• A interação existente entre segregação e dureza da matéria-prima se deve ao

efeito da transição do material da peça (menor dureza) com a segregação (maior

dureza) sobre a força de avanço. Para a condição de matéria-prima com dureza

35 HRc, a variação de dureza é maior, conseqüentemente o pico de força é

proporcionalmente maior. Para a condição de material sem segregação, a dureza

da matéria-prima tem efeito predominante sobre a força de avanço, sendo que o

resultado para a dureza de 40 HRc é maior, pois o material de maior dureza

oferece maior resistência a remoção de material.

• Separando os fatores de influência em dois grupos: influência do material

(segregação e dureza da matéria-prima) e processo (parâmetros de corte)

conclui-se que o material é responsável, nas condições experimentadas, por 92%

da variação dos esforços de corte. Ou seja, independente de qualquer otimização

que seja feita nos parâmetros de corte do processo, este irá afetar somente 8%

nos esforços de corte;

5.1.2 Conclusões referentes ao processo

• A ferramenta sem revestimento apresenta um mecanismo de desgaste cíclico de

adesão-remoção de aresta postiça, onde o material é caldeado na aresta de

corte formando a aresta postiça, e em seguida é removida pelo próprio cavaco,

levando consigo uma parte do material da aresta de corte. A ferramenta com

revestimento TiNAl teve um desempenho superior por não apresentar este

mecanismo. Nesta ferramenta forma-se uma aresta postiça no inicio da vida, a

qual se mantém fixa e estável até o fim da vida da ferramenta;

• Através da aplicação da primeira lei da usinagem foi encontrada a velocidade de

corte ótima para a furação profunda de diâmetro 3 mm, no material AISI 4150,

para o avanço de 0,016 mm/ rev, vopt = 1,04 m/s. Esta combinação de velocidade

de corte e avanço correspondem, para a combinação de material de ferramenta e

peça ensaiada, a temperatura de corte ótima θopt;

• A usinagem na temperatura de corte ótima resulta não somente na mínima força

de avanço, mas também leva à obtenção da menor rugosidade da superfície

usinada (0,32 µm) e o menor sinal de emissão acústica (0,30 vRMS);

• Diminuindo o diâmetro da broca, diminui também o valor da velocidade de corte

ótima vopt. A variação do diâmetro da ferramenta de 3 mm para 1,43 mm, leva a

uma redução de 46% na velocidade de corte ótima. A razão para isso são as

135

interações de deformação e as ondas térmicas propagadas nas camadas do

material removido;

• A broca com perfil redondo apresentou menor desgaste: 86% e 26% menor na

ponta e quina da ferramenta, respectivamente. Além disso, a força de avanço Fz

(21%), o momento torsor Mz (24%) e a emissão acústica RMS (60%) são

menores para a geometria redonda;

• A broca com perfil triangular sofreu desgaste acentuado na quina e ponta da

aresta de corte devido à concentração de tensão. Na ponta da ferramenta

ocorreu lascamento.

5.1.3 Conclusões referentes ao método de ensaio

• O monitoramento do sinal de emissão acústica (RMS) pode ser utilizado para

identificar a presença de segregação na matéria-prima, tornando possível o

diagnóstico simultâneo desta anomalia durante a furação do material, e com a

vantagem de permitir uma instrumentação mais simples, sem a necessidade de

adaptação da plataforma piezelétrica.

• O método de análise morfológica da aresta de corte com imagem gerada por

elétrons retro-espalhados no microscópio eletrônico de varredura mostrou-se

adequada. Este permite visualizar a aresta de corte com grande ampliação, e

ainda apresenta os diferentes materiais que compõem a aresta de corte com

cores distintas;

• O método DOE superfície de resposta mostrou-se eficiente para a análise da

forma do cavaco (coeficiente volumétrico). Nesta análise concluiu-se que a

ferramenta com revestimento TiNAl produz cavacos pequenos em uma ampla

faixa de parâmetros de corte. Já a ferramenta sem revestimento possui uma

estreita faixa de parâmetros que proporcionam cavacos pequenos, e mesmo

assim esta faixa de parâmetro leva a quebra da ferramenta por esforço de corte

excessivo;

• O monitoramento do momento torsor foi capaz de detectar os picos de remoção e

formação da aresta postiça na ferramenta sem revestimento. Com este

monitoramento foi possível comprovar a existência do mecanismo de desgaste

cíclico de adesão-remoção da aresta postiça;

136

• O método criado para simular a presença de segregação adicionando discos de

M2 no material, foi importante para investigar a influência do mesmo na

usinabilidade do processo;

• Após a caracterização do material da peça e a seleção do material da

ferramenta, foi definido trabalhar com material da peça isento de segregação, e

como material da ferramenta o revestimento PVD TiNAl;

• O método desenvolvido por Silin para determinação da temperatura de corte

ótima, como correspondendo à mínima força de avanço estabilizada, é bastante

eficiente. Com este é possível encontrar a combinação ótima de velocidade de

corte e avanço para uma determinada combinação de material da peça e

ferramenta.

Analisando as conclusões apresentadas acima, pode-se afirmar que o método

utilizado (1º Caracterizar o material da peça e selecionar o material da ferramenta; 2°

Encontrar a velocidade de corte ótima; 3° Definir geometria ótima da ferramenta) foi

bastante adequado, pois se baseia na primeira lei da usinagem. Esta permitiu

encontrar a condição ótima do processo de furação profunda, que para o diâmetro

de 3 mm e material da peça AISI 4150, foi: velocidade de corte 1,04 m/s; avanço da

ferramenta 0,016mm/rot; revestimento TiNAl; e perfil redondo para a aresta de corte

da ferramenta. Sendo assim, o objetivo geral do trabalho foi alcançado.

5.2 Sugestões para Trabalhos Futuros

Para dar continuidade a essa linha de pesquisa, são propostos alguns temas

que completariam esta pesquisa:

a) Utilizar o método baseado na primeira lei da usinagem (1º Caracterizar o material

da peça e selecionar o material da ferramenta; 2° Encontrar a velocidade de

corte ótima; 3° Definir geometria ótima da ferramenta) para estudar a

usinabilidade de outros materiais e processos;

b) Investigar de forma mais detalhada o efeito da temperatura ótima de corte no

sinal de emissão acústica. Existe um grande potencial nesta forma de análise

para o estudo da usinabilidade e investigação de problemas de usinagem;

c) Investigar o efeito do revestimento PVD TiNAl quando depositado em todo o perfil

da ferramenta, inclusive no flanco, evitando desta forma o desplacamento inicial

da ponta da ferramenta e utilizando assim todo o potencial deste revestimento;

137

d) Comparar a usinabilidade do material com diferentes dimensões e durezas de

segregação através do monitoramento dos esforços de corte;

e) Analisar a viabilidade técnica da aplicação da usinagem com MQL (Mínima

quantidade de lubrificante) no processo de furação profunda utilizando os

métodos aplicados neste trabalho.

138

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142

APÊNDICES

APÊNDICE 1 - Resultado da micro-análise EDS-RX para a análise da

segregação.

Figura A1.1 - Resultado da micro análise EDS-RX. Peça considerada Ruim. (a) Região com

segregação com teor de cromo com 1,87%. (b) Região normal com teor de cromo com 0,69%. Fonte: Laboratório metalográfico Robert Bosch.

Figura A1.2 - Resultado da micro análise EDS-RX. Peça considerada Boa. (a) Região clara com segregação (Ataque nital) com teor de cromo de 1,17%. (b) Região normal com teor de cromo

de 0,71%. Fonte: Laboratório metalográfico Robert Bosch.