87
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani Stochero ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA 2011

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Paula Giovani Stochero

ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

CURITIBA

2011

Page 2: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

CURITIBA

2011

Page 3: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

Paula Giovani Stochero

ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como quesito parcial para a obtenção do grau de bacharel. Orientadora: Sìlvia Fráguas

CURITIBA 2011

Page 4: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

TERMO DE APROVAÇÃO

Paula Giovani Stochero

ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção de grau em Bacharel no Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ___ de maio de 2011.

____________________________________

Direito Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Profª. Drª. Sìlvia Fráguas (Instituição e Departamento) Prof°. Dr°. (Instituição e Departamento) Prof°. Dr°. (Instituição e Departamento)

Page 5: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

Para minha avó.

Por ter me dito que as estrelas às vezes são inalcançáveis e,

ainda assim ter sido a primeira a me ajudar

a construir uma escada para elas.

Page 6: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

Como não agradecer em lugar primeiro àquele que em sua infinita

bondade e constante presença tornou possível essa minha experiência inigualável

chamada vida e me cobriu de oportunidades para que eu chegasse até esse

momento? Obrigada, Deus. Por tudo, por todas as minhas vivências, mas,

sobretudo, por ter me dado forças e iluminado meu caminho para que pudesse

concluir mais uma etapa da minha vida.

E como deixar de agradecer aos meus maiores exemplos, representados

em minha mãe Denise e em minha avó Julia, por serem tão dedicadas e amigas?

Obrigada, minhas meninas. Obrigada, por serem as pessoas que mais me apoiaram

e acreditaram em minha capacidade. Meu sincero agradecimento pelas horas em

que ficaram ao meu lado não me deixando desistir e me mostrando que sou capaz

de chegar onde desejo. Sem dúvida, foram quem me deram o maior incentivo para

conseguir concluir essa pesquisa.

Também jamais poderia deixar de dizer obrigada a você, Mauricio.

Companheiro pelos caminhos da vida e do coração. Obrigada pelo amor em cada

pequeno momento e por ter suportado magistralmente meus rompantes nos

instantes de estresse e de crise. Sua presença foi essencial para que eu

conseguisse transpor as horas de desânimo e cansaço. Como já dizia Santo

Agostinho, a medida do amor é amar sem medida.

Por fim, mas não menos importante, minha imensa gratidão à mestra

Sìlvia Fráguas pela orientação e pelo incentivo que tornaram possível a conclusão

desta monografia. Obrigada! Mais do que uma professora você é o meu exemplo.

Obrigada por ter me guiados pelos árduos, e às vezes confusos, caminhos do

direito, até que eu pudesse dar meus primeiros passos sozinha.

Page 7: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

Ah! Eu muito,

até saíres da penosa infância,

sofri contigo e trabalhei bastante,

na doce esperança de que um dia,

já que irados os Deuses me negavam

sucessão, adotando-te como filho,

meu amparo e meu consolo tu serias.

HOMERO. Ilíada. Canto IX, Discurso de Félix a Aquiles

Page 8: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 09

PARTE I – DA ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1 ADOÇÃO ............................................................................................................... 12

1.1 LINEAMENTOS HISTÓRICOS ........................................................................ 12

1.2 CONCEITO E FINALIDADE DA ADOÇÃO ..................................................... 15

1.3 NATUREZA JURÍDICA DA ADOÇÃO ............................................................ 18

1.4 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS BASILARES DA ADOÇÃO ...................... 20

1.4.1 Igualdade entre filhos naturais e adotivos ................................................................................ 20

1.4.2 Dignidade da Pessoa Humana na Paternidade Sócio-afetiva ................................................... 22

1.5 FAMÍLIA SUBSTITUTA ................................................................................... 23 2 REQUISITOS GERAIS PARA ADOTAR ............................................................... 26

2.1 QUANDO PODE SE DAR A ADOÇÃO ............................................................ 27

2.2 QUEM PODE ADOTAR .................................................................................. 29

2.2.1 Idade Mínima para adotar ........................................................................................................ 29

2.2.2 Diferença de Idade entre adotante e adotado ......................................................................... 30

2.3 QUEM PODE SER ADOTADO ....................................................................... 30

2.3.1 Limite de Idade .......................................................................................................................... 31

2.3.2 Consentimento dos pais ou do representante legal do adotando ........................................... 31

2.3.3 Consentimento do adotando maior de doze anos de idade ..................................................... 32

PARTE II – MODIFICAÇÃO DA SISTEMÁTICA DA ADOÇÃO PELA LEI

12010/2009

1 CONTEXTUALIZAÇÃO E NOÇÕES GERAIS ....................................................... 33 2 ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA ............................................................................... 35 3 SENTENÇAS E REGISTROS ............................................................................... 37

3.1 SENTENÇAS .................................................................................................... 38

Page 9: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

3.2 REGISTROS .................................................................................................... 39

4 CADASTRO NACIONAL DE ADOÇÃO ............................................................... 40

4.1 DISPOSIÇÕES DA RESOLUÇÃO Nº. 54/08 .................................................... 42

4.2 IMPLANTAÇÃO DO CADASTRO NACIONAL DE ADOÇÃO PELA LEI

12010/2009 ............................................................................................................ 43

5 ADOÇÃO INTERNACIONAL ................................................................................ 47 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 55 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 59 ANEXOS COMPLEMENTARES ............................................................................... 62

ANEXO A – LEI 12010/2009 .................................................................................. 63

ANEXO B – RESOLUÇÃO 54/2008 ...................................................................... 84

Page 10: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

RESUMO Cada linha da presente pesquisa possui o claro intuito de analisar as novas feições com que o instituto da adoção foi brindado com o advento da Lei 12010/2009, que promoveu reformas no Estatuto da Criança e Adolescente. Para tal, adotou-se uma metodologia embasada no estudo comparativo da visão sócio-jurídica que se emprestou à adoção no decorrer do tempo, sobretudo, no ordenamento jurídico brasileiro. Não há como se ignorar a tendência ao caráter de função social que tem permeado o instituto da adoção, bem como a tutela primordial dos interesses do que será adotado, o que leva a um procedimento de adoção cada vez mais detalhado e regulado. Todavia, ainda que com todas as modificações e evoluções que tem sido implementadas na legislação pátria referente ao assunto supracitado, seria, no mínimo, ingênuo acreditar que o instituto se encontra aperfeiçoado de modo tal que funcione à perfeição e não necessite mais de modificações. Ainda que a Lei 12010/2009 tenha esboçado iniciativas realmente louváveis, não foi capaz de reduzir a burocracia que dotam de uma morosidade exacerbada os processos de adoção e que culminam em extensas filas à espera da adoção, que, por sua vez podem nunca ser efetivadas. Palavras-chave: Adoção; Estatuto da Criança e do Adolescente; Lei 12010/2009; Modificações; Adotado.

Page 11: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

9

1 INTRODUÇÃO

A presente monografia pretende focar-se no instituto da adoção, mais

especificamente, nos contornos dados a ele pelo direito brasileiro positivado,

sobretudo pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pelas modificações inseridas

a ele pela Lei 12010/2009.

Contudo, antes de dar um profundo mergulho no ordenamento jurídico e nas

legislações supracitadas, é necessária uma análise atenta do que vem a ser a

adoção e a que se presta. Somente de posse dessas informações será possível

analisar o direito positivo no que tange à adoção e formular questionamentos e

críticas que levem a um aperfeiçoamento do processo de adoção.

Com esse intuito deve se atentar para as imensas transformações que

sofreu o instituto da adoção ao longo do tempo e da história, adaptando-se aos mais

diversos contextos e flexibilizando seus parâmetros a fim de que se obtivesse o

melhor resultado não só para os particulares, como para a sociedade em um todo.

A adoção deixou de buscar sua justificativa no misticismo e na religião e

passou a exercer uma função social, tendo em vista o melhor interesse da criança e

do adolescente, a quem o Estatuto da Criança e do Adolescente tutela.

Entre os direitos que floresceram com a Lei 8069/1990, o Estado se

comprometeu de forma inequívoca a garantir os direitos fundamentais, propagados

pela Constituição Federal de 1988, às crianças e adolescentes, inclusive, àquelas

que não se encontram inseridas num nicho familiar. E somente com a inserção

destas em uma entidade familiar é que esses direitos fundamentais podem se

desenvolver a contento.

Page 12: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

10

Com a importância que o instituto da adoção adquiriu na sociedade atual, é

normal que o ordenamento jurídico se debruce sobre ele na tentativa de aperfeiçoá-

lo, para que seja executado da forma menos traumática e mais benéfica possível.

Numa realidade cada vez mais plural e mutante, onde um dia jamais se

repete no outro e em que os institutos se modificam a cada instante, o direito

positivado precisa estar sempre atento para não tornar-se desatualizado e até

mesmo obsoleto. É em razão disso que foi promulgada a Lei 12010/2009, que visa

atualizar o Estatuto da Criança e do Adolescente, cerca de dezenove anos após a

sua criação.

Com o advento da nova lei, o instituto da adoção também passou por sérias

mudanças, englobando novas justificativas e restrições e salientando a sua função

social de garantir o bem-estar do adotado.

Esta monografia busca proceder uma análise detalhada da nova Lei,

contemplando as transformações que causou no processo de adoção, salientando

ainda os benefícios que causou e apontando eventuais falhas que possam ser

supridas em um futuro, espera-se, próximo.

O trabalho será elaborado com base, sobretudo, em pesquisas

bibliográficas, em uma investigação de cunho científico que abordará doutrinas,

legislações e jurisprudências.

A título didático, a presente monografia se divide em duas partes, a primeira

composta por dois capítulos, e a segunda por cinco. Cada capítulo é repartido em

seções. Ao final da última parte apresentam-se as considerações finais e os anexos

a título de simples complementação.

A primeira parte abrange o instituto da adoção como um todo, sendo que o

primeiro capítulo traça os lineamentos históricos da adoção, suas transformações ao

Page 13: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

11

longo dos séculos, bem como seu conceito, e seus aspectos mais gerais. Já o

segundo capítulo abrange os requisitos apontados pela lei para que a adoção possa

ocorrer sem qualquer óbice.

Na segunda parte é abordado o foco dessa monografia, com a análise das

mudanças que a Lei 12010/2009 trouxe ao Estatuto da Criança e do Adolescente no

tocante à adoção. O primeiro capítulo abrange o contexto em que se deram as

mudanças na legislação, o capítulo dois aborda o estágio de convivência nos termos

da lei, o capítulo três debruça-se sobre a questão das sentenças e registros, o

capítulo quatro trata do Cadastro Nacional de Adoção e, por fim, o capítulo cinco

aponta as modificações ocorridas na adoção internacional.

O presente trabalho visa, por meio de toda essa metodologia, mostrar o que

melhorou e o que ficou mais complexo com o advento da nova Lei, sem, é claro,

incorrer em qualquer pretencionismo exagerado, de modo que eventuais falhas

possam posteriormente ser sanadas e o instituto da adoção aperfeiçoado.

Page 14: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

12

PARTE I – DA ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.

1 ADOÇÃO

É necessária apenas uma visão um pouco mais aprofundada do mundo para

a certificação de que verdades tidas como absolutas e formas consideradas

imutáveis, de tempos em tempos, passam por rupturas paradigmáticas e adquirem

contornos distintos, desviando-se pouco ou completamente do caráter original que

possuíam. Juridicamente, pode-se afirmar que tal mutação ocorreu com o instituto

da adoção, que encontra na atualidade uma justificativa muito diferente do pretexto

dado ao seu surgimento. Com abundantes mudanças históricas e legislativas, o

instituto da adoção revestiu-se de novas cores e formas para adequar-se à realidade

atual.

1.1 LINEAMENTOS HISTÓRICOS

A adoção, como é notório, é forma constitutiva de vínculo de filiação, como

se observa na definição oficial obtida por meio do dicionário Houaiss1:

“Adoção: s. f. 1. Ato ou efeito de adotar 2. Processo legal em que uma pessoa ou um casal aceita criança ou jovem como seu próprio filho.” (2004, p. 16)

Todavia, nem sempre foi assim. Ao longo dos séculos sua essência sofreu

significativas mutações.

Na Antiguidade, esse instituto era utilizado somente como forma de

perpetuar o culto doméstico. Segundo Fustel de Coulanges:

1 Essa definição também é similar no Dicionário Aurélio.

Page 15: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

13

“O dever de perpetuar o culto doméstico foi o princípio do direito de adoção entre os antigos. [...] Adotar um filho era, portanto, vigiar pela perpetuidade da religião doméstica, pela salvação do lar, pela continuidade das oferendas fúnebres, pelo repouso dos manes dos antepassados. A adoção, tendo apenas a sua razão de ser na necessidade de prevenir a extinção de um culto, só se permitia a quem não tinha filhos. [...] Quando alguém adotava um filho precisava, antes de mais nada, inicia-lo no seu culto, „introduzi-lo na sua religião doméstica, aproximá-lo dos seus Deuses do Lar‟.” (2005, p. 39 e 40)

Deduz-se pelos escritos bíblicos que a adoção já era uma prática constante

entre os povos hebreus. Antônio Chaves (1994) aponta os casos de Efraim e Manes,

adotados por Jacó; Moisés, por Térmulos, filha do Faraó; Ester, por Mardoqueu; e

Sara, adotando os filhos de sua serva Agar.

A adoção também foi disciplinada pelo Código de Hamurabi, a primeira

codificação de que se tem conhecimento, e que em seus artigos, decretava a

irrevogabilidade de tal instituto.

Na Antiga Grécia, esse instituto era forma de manutenção da religião, ou

seja, do culto familiar, restringindo-se exclusivamente à descendência masculina. A

adoção gerava uma obrigação mútua. O pater famílias se comprometia a passar ao

adotado seu nome e seus direitos sucessórios e, em contrapartida, o adotado se

vinculava à obrigatoriedade de continuar o culto familiar após a morte daquele.

Já na Roma Antiga, o instituto da adoção adquiriu efeitos mais plenos,

deixando de ser meramente uma questão religiosa e aproximando-se também do

prisma político. Constituiu-se assim a divisão da adoção em duas categorias: a ad

rogatio, que consistia na adoção de uma família por outra família através da adoção

do pater famílias por um cidadão romano e que ocorria principalmente por motivos

políticos e possibilitava a mobilidade de classes, e a adoção propriamente dita que

se aproximava das outras figuras de adoção da antiguidade, correspondendo ao ato

de uma pessoa ser submetida ao poder de um pai, sobretudo por fins religiosos. A

adoção correspondia a um processo altamente burocrático no direito romano antigo,

Page 16: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

14

todavia, com o Direito Justinianeu, essa formalidade foi flexibilizada e suavizou sua

complexidade.

No período medieval, com a superação dessas tradições religiosas antigas

pelo Direito Canônico, o instituto da adoção perdeu força, sendo remetido ao

ostracismo. Embora tal instituto não tenha desaparecido por completo, restringiu

imensamente o direito dos adotados, tolhendo a eles, inclusive, os direitos de

sucessão.

Entre os povos germânicos a adoção se dava por motivos bélicos e não

gerava vínculos de parentesco para fins matrimoniais e tampouco direitos

sucessórios ao adotado.

Na Idade Moderna, tendo como panorama a revolução Francesa, a adoção

ressurgiu de forma tímida na França, com o advento do Código Napoleônico de

1804. Posteriormente, legislação de 1923 intensificou a adoção, submetendo-a,

entretanto, aos vínculos biológicos do adotado. O aprimoramento do instituto,

contudo, ocorreu com a edição da Lei de 1939 que o ampliou a ponto de equiparar a

adoção da filiação legítima (VENOSA, 2004).

No Brasil, a adoção não era regulamentada no período Imperial, todavia, as

Ordenações Filipinas, que regulavam o país nessa época, fazem inúmeras

referências a tal instituto, como decorre dos ensinamentos de Gonçalves, utilizando-

se das palavras de Clóvis Beviláqua2:

“No Brasil, o Direito pré-codificado, embora não tivesse sistematizado o instituto da adoção, fazia-lhe, no entanto, especialmente as Ordenações Filipinas, numerosas referências, permitindo, assim, a sua utilização. A falta de regulamentação obrigava, porém, os juízes a suprir a lacuna com o direito romano, interpretado e modificado pelo moderno.” (2006, p. 330)

2 Beviláqua em citação de Carlos Roberto Gonçalves (2006, p. 330).

Page 17: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

15

No diploma Civil de 1916, a adoção começou a ser regulamentada, mais

especificamente nos artigos 368 a 378. Todavia passou por inúmeras modificações

legislativas para chegar à forma atual, como sustenta Venosa:

“A Lei nº 3.133/57 representa um divisor de águas na legislação e na filosofia da adoção no direito pátrio. Esse diploma aboliu o requisito da inexistência de prole para possibilitar a adoção e diminuiu a idade mínima do adotante. A segunda inovação marcante em nosso ordenamento foi, sem dúvida, a introdução da legitimação adotiva, pela Lei nº 4.655/65. Pela legitimação adotiva, estabelecia-se um vínculo profundo entre o adotante e o adotado, muito próximo da família biológica. O Código de Menores, Lei nº 6.697/79, substituiu a legitimação adotiva pela adoção plena, com quase idênticas características.” (2004, p. 339)

Com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8069/90,

potencializou-se os requisitos exigidos para a prática da adoção, que passou por

sucessivas alterações até chegar a que vige atualmente, qual seja, a Lei nº

12010/09, que aprimorou ainda mais esse instituto de acordo com o cenário

brasileiro atual. Vale lembrar que o Código Civil de 2002 continuou disciplinando tal

matéria, com consideráveis distinções do Diploma anteriormente vigente.

Por fim, resta salientar que, atualmente, a adoção é uma filiação puramente

jurídica, que se baseia na presunção de uma realidade afetiva, despindo-se de laços

biológicos. Contudo, nas legislações modernas, adquiriu um caráter fortemente

humanitário, e foi dotado da função primordial de garantir o bem-estar do adotado.

1.2 CONCEITO E FINALIDADE DA ADOÇÃO

Adotar é pedir à religião e à lei aquilo que da natureza não se pôde obter.

Cícero3

3 Cícero citado por Chaves (1995, p. 23)

Page 18: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

16

Existem diversas tentativas dos doutrinadores de conceituar o instituto da

adoção, tanto na esfera subjetiva quanto na objetiva. Uma das definições mais

dotadas de completude corresponde a de Marmitt, que salienta as mudanças no

instituto da adoção, de modo a adequar-se ao contexto em que se insere:

“Com o fluir do tempo a instituição perdeu sua primitiva finalidade, que era a de precipuamente dar um filho a quem a natureza o negara, para perpetuar a descendência, para ter um arrimo no futuro, ou para os outros intuitos. Agora a ratio essendi transmudou-se para ser mais nobre e mais humana, sublime às vezes, com características eminentemente assistenciais, objetivando sempre amparar o adotado com liames afetivos e familiares, cercando-o de solidariedade humana e cristã.” (1993, p. 07)

E continua:

“Adoção é ato jurídico bilateral, solene e complexo. Através dele criam-se relações análogas ou idênticas àquelas decorrentes da filiação legítima, um status semelhante ou igual entre filho biológico e adotivo. Os laços de filiação e de paternidade são estabelecidos pela vontade de particulares, das pessoas entre as quais esta relação inexiste naturalmente. Não se trata de mero contrato, mas de um ato jurídico, de um ato-condição, que transforma a situação do adotado, tornando-o filho de quem não é seu pai, com toda a gama de direitos e deveres que tal ato gera, e cujos efeitos decorrem da lei, não das partes, que não poderão alterá-los. Pelo relevante conteúdo humano e social que encerra, a adoção muitas vezes é um verdadeiro ato de amor, tal como o casamento, não simples contrato.” (1993, p. 07)

Nessa vertente, também os ensinamentos propostos por Eunice Ferreira

Rodrigues Granato4, utilizando-se da definição de João Seabra Diniz:

“Podemos definir a adoção como inserção num ambiente familiar, de forma definitiva e com aquisição de vínculo jurídico próprio da filiação, segundo as normas legais em vigor; de uma criança cujos pais morreram ou são desconhecidos, ou, não sendo esse o caso, não podem ou não querem assumir o desempenho das suas funções parentais, ou são pela autoridade competente, considerados indignos para tal.” (2005, p. 26)

4 Diniz citado por Granato (2005, p. 26)

Page 19: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

17

Ainda, o conceito de adoção proposto por Maria Helena Diniz que se

aproxima dos supracitados:

“Adoção vem a ser o ato jurídico solene pelo qual, observados os requisitos legais, alguém estabelece, independentemente de qualquer relação de parentesco consangüíneo ou afim, um vínculo fictício de filiação, trazendo para a sua família na condição de filho, pessoa que, geralmente, lhe é estranha.” (1995, p. 282)

Utilizando-se dos ensinamentos de Antonio Chaves (1994), conclui-se que a

adoção norteia-se antes pela liberdade do que por fatores biológicos e genéticos,

uma vez que corresponde à vontade dos indivíduos envolvidos, que se sobrepõe ao

vínculo gerado pelo nascimento. O referido autor utiliza-se das palavras de Mário

Aguiar Moura5:

“Diferentemente da paternidade fisiológica ou natural, a adoção é fenômeno jurídico acausal, quanto a estar desvinculado da verdade material da geração. Nisso se diferencia do reconhecimento, o qual, primeiro, precisa da existência do fenômeno biológico, no mundo dos fatos, para, depois, ingressar no mundo jurídico. De vez que a adoção dispensa esse substrato material, aparece ela como puro recurso da técnica jurídica para o fim de realizar, no plano legal, o que seria próprio da geração fisiológica sempre produtora do efeito, quando for possível apontar-se o pai carnal, mesmo contra a vontade do gerador.” (1985 apud Chaves, 1994, p. 24)

Quanto à finalidade do instituto da adoção, o enfoque da legislação do

Estatuto da Criança e do Adolescente e do Código Civil de 2002, gira em torno da

proteção do interesse da criança desamparada, deslocando o foco tão somente da

figura de adotantes que, por fatores biológicos, não puderam gerar seus filhos. A

adoção, portanto, deve culminar em benefícios incontestáveis para o adotado, sendo

o ponto central na sua decretação (VENOSA, 2004).

Consoante a isso, é o entendimento defendido por Marmitt:

5 Chaves cita: MOURA, Mario Aguiar. Adoções no Direito Brasileiro. Revista de Direito Civil, v. 34,

1985.

Page 20: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

18

“A adoção caracteriza-se atualmente como instituto de solidariedade social, com singular conteúdo humano, impregnado que está de altruísmo, de carinho e de apoiamento.” (1993, p. 10)

Na realidade fática, observa-se que a adoção tem interesses muito mais

profundos do que sugere a lei, uma vez que se constitui no entrelaçamento da

vontade de ambas as partes envolvidas: adotado e adotante. De um lado, o adotante

busca a completude de sua família, por motivos biológicos, solidários ou mesmo

particulares, e do outro, o adotado que necessita de um suporte emocional e

financeiro para que todas as suas necessidades básicas, afetivas, físicas e

psicológicas sejam garantidas de modo satisfatório.

Por fim, as palavras pronunciadas por Granato, sintetizam de forma

irretocável o afirmado até aqui, a saber:

“Esta é, realmente, a finalidade da moderna adoção: oferecer um ambiente familiar favorável ao desenvolvimento de uma criança, que, por algum motivo, ficou privada da sua família biológica. [...] O que se pretende com a adoção é atender às reais necessidades da criança, dando-lhe uma família, onde ela se sinta acolhida, protegida, segura e amada.” (2005, p. 26)

1.3 NATUREZA JURÍDICA DA ADOÇÃO

Com o decorrer do tempo e as transformações da história jurídica, com o

surgimento e mutações de inúmeras legislações, verifica-se que a natureza jurídica

do instituto da adoção também passou por grandes modificações. Todavia, mesmo

na atualidade este não é um assunto pacificado, constituindo uma das maiores

controvérsias do Direito de Família.

Basicamente, encontramos três correntes com posições distintas. A primeira,

defendida por grandes mestres do mundo jurídico, tais como Pontes de Miranda

(1917) e Clóvis Beviláqua (1938), aponta a natureza jurídica da adoção como sendo

Page 21: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

19

um contrato solene. Já a segunda, propagada por doutrinadores do calibre de

Carnelutti (1935), vê a adoção como uma relação jurídica que apresenta uma

mescla entre uma base essencialmente contratual, fundamentada na vontade das

partes, com muitos aspectos de direito público. Por fim, a terceira corrente, que é

também a nosso ver a mais coerente, sustenta a idéia de adoção como um instituto

de ordem pública que em cada caso concreto depende de um ato jurídico individual,

nas palavras de Antônio Chaves, a adoção “é pois um instituto de ordem pública,

cuja plena virtualidade jurídica, em cada caso particular, depende de um ato jurídico

individual” (1994, p. 31).

Com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, a nosso ver,

já não se sustenta a idéia de adoção como um contrato total ou predominantemente,

uma vez que a adoção já não se embasa simplesmente na bilateralidade de

manifestações de vontade. O Estatuto intensificou a participação do Estado de

maneira ativa em tal processo, vez que a adoção somente pode ocorrer com

sentença judicial. Também o Código Civil de 2002 se curvou nessa direção e

ostentou o caráter público da adoção.

Se abordarmos a questão por um cunho mais sociológico, também não

parece adequado considerar a adoção como um contrato, já que o objeto deste

normalmente possui conteúdo econômico. Crianças a serem adotadas não podem

de forma alguma ser tratadas como mercadoria, sobretudo porque a adoção não

busca estabelecer algum tipo de lucro econômico, mas tão somente um vínculo de

afetividade.

Todavia, deve-se cuidar para que a adoção se embase numa mescla de lei e

liberdade individual das partes, sob risco de se alcançar o autoritarismo de um

estatismo exacerbado (CHAVES, 1994)

Page 22: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

20

1.4 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS BASILARES DA ADOÇÃO

Quando se trata da adoção, nos termos em que é adotada hoje na legislação

brasileira, torna-se indispensável a percepção de que tal instituto encontra suas

bases contemporâneas em princípios constitucionais, agregados ao ordenamento

jurídico pátrio com o advento da Constituição da República de 1988.

Ora, sendo a Magna Carta o ápice do direito positivado brasileiro, diante da

qual se curvam todas as outras legislações pátrias, é essencial que se tracem os

contornos em que a adoção se mescla e se conforma ao predisposto nesse

documento.

Necessário é, no entanto, ressaltar que nem sempre o instituto da

adoção se fundou nos princípios em que se sustenta hoje, a saber, o princípio da

igualdade entre os cidadãos e o princípio da dignidade da pessoa humana e que o

despertar da concepção de adoção que se tem hoje somente se deu com a

Constituição Federal de 1988, e posteriormente, com a criação do Estatuto da

Criança e do Adolescente, com suas produtivas modificações, e com a promulgação

do Código Civil de 2002.

1.4.1 Princípio da Igualdade entre filhos naturais e adotivos

O artigo 227, § 6, da Constituição Federal de 1988, disciplina que:

“Art. 227, § 6: Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.”

Page 23: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

21

Tal dispositivo, ao impossibilitar qualquer distinção moral ou patrimonial

em relação aos filhos, representa relativo avanço no ordenamento jurídico, posto

que contribui para uma edificação mais consistente do Princípio da Igualdade, em

seu sentido amplo. Trata-se, assim, de coroar uma evolução social no cenário

brasileiro que se deu de modo lento e gradativo, chegando em alguns momentos a

ser penoso, já que nem sempre a igualdade entre os filhos, independentemente da

raiz jurídica que os vincula aos seus pais, imperou.

A dificuldade para que a igualdade entre a filiação natural e

socioafetiva fosse reconhecida encontra na legislação brasileira inúmeros exemplos.

O maior deles, talvez, corresponda à Lei 6.015/73, Lei de Registros Públicos, que

estabelecia uma desigualdade entre os filhos, ao estipular que no registro de

nascimento deveria constar a identificação biológica e a condição de adotado, de

modo a expor tal situação para toda a sociedade e evidenciar as disparidades na

condição de filho legítimo e de filho adotado.

Com o advento da Constituição da República foi estabelecida nova

ordem social, e através do princípio da igualdade foi imposta a ausência de

discriminação entre filhos, quaisquer que tenham sido suas origens. Posteriormente

o próprio artigo 1.596 do Código Civil de 2002 consolidou essa posição e, mesmo a

Lei de Registros Públicos, foi modificada para se anular todo e qualquer

autoritarismo discriminatório.

Com o princípio da Igualdade entre os filhos, o vínculo de filiação

deixou de se fixar no casamento, e deslocou-se para os parentes em primeiro grau

da linha reta, em que se inclui o instituto da adoção, pouco importando o status civil

que os pais socioafetivos mantenham entre si.

Page 24: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

22

As palavras do ilustre professor Facchin6, sintetizam de forma magistral

a essência do princípio da isonomia entre os filhos:

“Vê-se, agora, que a superação dos óbices injustificáveis nos reconhecimentos dos filhos extramatrimoniais revelou, pelo princípio da igualdade, que a relação de filiação não mistifica nem isola a noção de filho. O filho é sujeito na mesma medida que o outro (o adotivo, ou o extramatrimonial) também o é; acaba a perfilhação ilhada na definição a priori da filiação, abrem-se as portas da revelação do liame genético, mediante reconhecimento voluntário ou forçado.” (2010)

1.4.2 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana na Paternidade Sócio-afetiva

Ao se tratar do instituto da adoção é possível mesmo considerar que o

seu princípio fundamental é o da dignidade da pessoa humana, traduzido no artigo

1º, III da Constituição Federal de 1988.

Importante salientar que tal princípio abrange em seu seio uma série de

direitos fundamentais, sem os quais, não encontraria sua plenitude. O princípio da

Dignidade da Pessoa Humana visa manter incólumes a honra e o bem-estar do

indivíduo e corresponde não só a aspectos patrimoniais, como também psicosociais.

Na adoção, tem-se a figura do adotado, que é o principal protegido pela

legislação atual. É visando o pleno bem-estar e a dignidade do indivíduo que por

algum motivo não pode estar inserido no conforto de sua família natural, que se

prevê a possibilidade de que possa ser inserido em outra família, que supra nele as

necessidades imprescindíveis para seu completo desenvolvimento e para a

manutenção da sua dignidade.

A família é o território ideal para que as necessidades biológicas,

afetivas e econômicas dos indivíduos se proliferem e atinjam seu ápice, vez que

6 Facchin apud Birchal, Alice de Souza. (2010)

Page 25: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

23

possui, independente de sua forma jurídica ou origem, ampla proteção

constitucional. A filiação socioafetiva insere-se nesse contexto de família, e

respaldada pelo princípio da igualdade entre filhos naturais e filhos adotivos, garante

o satisfatório desenvolvimento pessoal não só do adotado como de cada partícipe

da entidade familiar, possibilitado pelo “afeto, a solidariedade, a união, o respeito, a

confiança, o amor e o projeto da vida em comum” entre seus membros. (DIAS, 2006,

p. 53)

Seguindo-se essa vertente, torna-se incontestável que o princípio da

dignidade da pessoa humana confere à família a possibilidade, senão a justificativa,

de zelar e proteger seus membros, sobretudo os filhos independente da sua origem

ou de seu vínculo sanguíneo.

1.5 FAMÍLIA SUBSTITUTA

A família, figura tão presente na realidade social que chega a

confundir-se com seu cenário, é registrada desde os primórdios dos tempos e

encontra as mais diversas definições, dentre elas a de Carlos Roberto Gonçalves,

que a retratou com uma simplicidade comovente, e ainda assim, de forma

surpreendentemente completa:

“Lato sensu, o vocábulo família abrange todas as pessoas ligadas por vínculo de sangue e, que procedem, portanto, de um tronco ancestral comum, bem como as unidas pela afinidade e pela adoção. Compreende os cônjuges e companheiros, os parentes e os afins”. (2008, p. 01) [grifo nosso]

A família, como figura essencial do desenvolvimento social, encontra

proteção tanto no ordenamento jurídico brasileiro, quanto nas mais diversas religiões

Page 26: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

24

e culturas. Segundo Tepedino (1991, p. 265 e ss.), a “família-instituição” foi

substituída pela “família-instrumento” na Constituição Federal de 1988. Isso porque,

a família passou a preocupar-se mais com o desenvolvimento da personalidade dos

seus membros e a dignidade destes, na “qual o vínculo biológico e a unicidade

patrimonial são aspectos secundários”.

Com essa nova concepção de família, a qual José Bernardo Ramos

Boeira (1999, p. 23 e 24) denomina “repersonalização”, a entidade familiar passou a

se embasar “nas relações de autenticidade, afeto, amor, diálogo e igualdade.”

Sob essa mesma perspectiva de “repersonalização”, explana Facchin:

“(...) da família matrimonializada por contrato chegou-se à família informal, precisamente porque afeto não é dever e a coabitação uma opção, um ato de liberdade. Da margem para o centro: os interesses dos filhos, qualquer que seja a natureza da filiação, restam prioritariamente considerados.” (1996, p. 68).

Nesse contexto de família, Gama (2003, p. 480) classifica os diversos

tipos de filiação em:

- Legal ou jurídica: é aquela “relacionada à ficção jurídica criada na lei”,

notadamente no Código Civil de 2002 “no âmbito da filiação matrimonial do lado

paterno”;

- Biológica: aquela em que o “fato natural é fonte imediata do vínculo jurídico

de filiação”;

- Afetiva: é aquela “atinente à verdade socioafetiva”, que consiste

primordialmente no afeto existente entre seus membros, não levando em conta os

vínculos genéticos e sanguíneos.

Tratando-se da família afetiva, verifica-se que esta se encontra solidamente

embasada no artigo 1.593 do Código Civil de 2002, vejamos:

Page 27: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

25

“Art. 1.593: O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem.” [grifo nosso]

Quando se verifica a escolha pelos vocábulos “outra origem” se torna

evidente que o legislador reconhece outros tipos de filiação que não a sanguínea,

sobretudo a socioafetiva, como se depreende do exposto por Regina Beatriz

Tavares Silva:

“É na expressão „outra origem‟ que se encontra o respaldo legal para diversas situações em que não existe relação biológica ou consaguínea entre filho e pai, mas, em face do tratamento dado por um homem a uma criança – de pai perante a sociedade e da afetividade entre eles existente – podem ser reconhecidos direitos e deveres como se fossem oriundos de uma verdadeira relação de paternidade.” (2008)

Ainda nessa linha, Boeira (1999, p. 23 e 24) é feliz em sua definição

dos aspectos da paternidade socioafetiva, ao considerá-la como uma relação que

garante ao filho um lar, afeto, atenção, amor, bem como um nome, motivos mais do

que suficientes para justificar uma autêntica relação de paternidade.

Todavia, a formação de uma entidade familiar afetiva, na visão de Silva

(2008), não prescinde de dois requisitos básicos: a vontade livre de vício daquele

que será denominado pai e o tratamento condizente com a relação pai-filho por parte

do pai para com seu filho perante a sociedade, incluindo-se aí deveres e direitos.

Para Welter (2004, p. 64 e 65), a paternidade socioafetiva se molda a

uma das quatro distintas classificações de filiação apontados por ele, a saber:

- Adoção judicial: “um ato jurídico, de vontade, de amor e de

solidariedade (...) tão real como a que une o pai ao seu filho de sangue”. (2004, p.

64);

Page 28: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

26

- Filho de criação: “mesmo não havendo vínculo biológico, alguém

educa uma criança ou adolescente por mera opção” (2004, p. 65);

- Adoção à brasileira: corresponde ao registro de nascimento da

criança pelo pai adotivo em seu nome, como se fosse seu filho biológico;

- Reconhecimento voluntário ou judicial da paternidade: “faz com que

se estabeleça o estado de filho efetivo acarretando todos os direitos e deveres de

um filho biológico” (2004, p. 65) e também pode ser denominada de “eudemonista”.

Jurisprudencialmente, tem-se o entendimento do Superior Tribunal de

Justiça, que consolida a existência da filiação socioafetiva, conferindo a ela

supremacia maior do que aquela emprestada à filiação meramente biológica, e que

resta a seguir ementada na REsp 878941 - DF:

RECONHECIMENTO DE FILIAÇÃO - AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE -INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO SANGÜÍNEA ENTRE AS PARTES – IRRELEVÂNCIA DIANTE DO VÍNCULO SÓCIO-AFETIVO. [...] O reconhecimento de paternidade é válido se reflete a existência duradoura do vínculo sócio-afetivo entre pais e filhos. A ausência de vínculo biológico é fato que por si só não revela a falsidade da declaração de vontade consubstanciada no ato do reconhecimento. A relação sócio-afetiva é fato que não pode ser, e não é, desconhecido pelo Direito. Inexistência de nulidade do assento lançado em registro civil. O STJ vem dando prioridade ao critério biológico para o reconhecimento da filiação naquelas circunstâncias em que há dissenso familiar, onde a relação sócio-afetiva desapareceu ou nunca existiu. Não se pode impor os deveres de cuidado, de carinho e de sustento a alguém que, não sendo o pai biológico, também não deseja ser pai sócio-afetivo. A contrario sensu, se o afeto persiste de forma que pais e filhos constroem uma relação de mútuo auxílio, respeito e amparo, é acertado desconsiderar o vínculo meramente sanguíneo, para reconhecer a existência de filiação jurídica. Recurso conhecido e provido. (STJ, REsp 878941 DF -Relatora: Minª. Nancy Andrighi, 17 de setembro de 2009).

2 REQUISITOS GERAIS PARA ADOTAR

Ao se considerar a importância e o impacto de um instituto da

magnitude da adoção, que interferirá significativamente na vida de diversas pessoas,

Page 29: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

27

percebe-se que especial atenção deve ser dispensada a ele na hora de sua

consumação.

É natural que se interponham alguns requisitos mínimos à sua

execução de modo que funcionem como dispositivos de proteção e segurança que

assegurem que a adoção está se dando dentro das melhores condições possíveis.

Só assim se pode garantir que o adotado bem como o adotante estarão em plena

sintonia e contribuirão para a formação de uma família harmoniosa que traga

benefício e bem-estar para ambas as partes.

Por muito tempo, tais requisitos foram muito laboriosos e burocráticos,

chegando mesmo a dificultar, senão tornar praticamente impossível, todo o processo

de adoção. A promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente contribuiu

imensamente para que essas barreiras fossem minimizadas e os requisitos antes de

servirem de empecilho ao instituto da adoção prestem-se simplesmente ao papel a

que foram criados, a saber, a proteção da integridade psicofísica dos envolvidos, de

modo que a adoção atinja toda a sua eficácia, sem quaisquer distorções.

2.1 QUANDO PODE SE DAR A ADOÇÃO

Preliminarmente, faz-se mister salientar que a adoção só tem espaço a

partir da destituição do pátrio poder da família de onde a criança se origina. A

desconstituição do pátrio poder exige diversas formalidades previstas na legislação

pátria, e não pode se dar por todo e qualquer motivo.

Nesse panorama, tem-se, por exemplo, que o estado de pobreza não

pode ser considerado elemento essencial para possibilitar a adoção, como se

depreende do artigo 23 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Page 30: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

28

“Art. 23: A falta ou carência de recursos materiais não constituem motivo suficiente para a perda ou suspensão do pátrio poder.”

A perda do pátrio poder só é válida e produz efeitos quando decretada

através de sentença judicial, nos moldes do artigo 24 do referido diploma:

“Art. 24: A perda e a suspensão do pátrio poder serão decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22.”

Por sua vez, o artigo 22 do Estatuto, declara que:

“Art. 22: Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.”

Além dessas causas, o poder familiar pode ser suprimido em razão do

disposto no artigo 1.638 do Código Civil de 2002:

“Art. 1.638: Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que: I – castigar imoderadamente o filho; II – deixar o filho em abandono; III – praticar atos contrários à moral e aos bons costumes; IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.”

A título de complementação, o artigo 1.637 do Diploma Civil disciplina

que:

“Art. 1.637: Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles inerente ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha. § único: Suspende-se igualmente o exercício do poder familiar ao pai ou à mãe condenados por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos de prisão.”

Page 31: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

29

Todavia, Venosa (2004) salienta que não é lícito que se conceda a

supressão do poder familiar em qualquer ocasião, com a simples alegação de que

tal está ocorrendo tendo em vista o melhor benefício para a figura do adotado. Não

se pode ignorar o poder dos pais biológicos, que podem se opor a adoção a

qualquer momento. A regra geral é que os pais sempre consintam com a adoção.

2.2 QUEM PODE ADOTAR

Só podem ser adotantes pessoas consideradas idôneas, ou seja,

aquelas que “estejam em condições morais e materiais de desempenhar a função de

extrema sensibilidade que lhes é delegada de verdadeiros pais de uma criança

infortunada, cujo destino e felicidade lhes são entregues” (CHAVES, 1994, p. 225).

São inidôneas, nos termos da Lei 8069/90, mais especificamente nos

artigos 29 e 50, §2º, pessoa não apta a oferecer ambiente familiar adequado ou

incompatibilidade com a adoção, bem como aquelas que não satisfaçam os

requisitos legais, explanados a seguir.

2.2.1 Idade Mínima para Adotar

Com a modificação dada pela Lei 12010/09 ao Estatuto da Criança e

do Adolescente, a idade mínima para se efetuar a adoção passou a ser de dezoito

anos, independentemente do estado civil.7

Anteriormente à modificação, a Lei estipulava como data mínima para a

adoção a idade de 21 anos, já considerada muito superior à grande maioria dos

7 Segundo o artigo 42

Page 32: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

30

ordenamentos jurídicos. Todavia, tal idade foi minorada, tendo-se em vista o

contexto sociológico, buscando a maior quantidade de lares possíveis em que uma

criança desafortunada possa ser agasalhada.

2.2.2 Diferença de Idade entre Adotante e Adotado

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo

42, § 3º, o adotante necessita ter pelo menos dezesseis anos a mais do que o

adotado.

Segundo Clovis Beviláqua, citado por Antonio Chaves, essa é uma

distância de idade fundamental, posto que se trata de:

“uma diferença de idade suficiente para dar ao pai ou a mãe adotiva a distância que infunde respeito e pressupõe maior experiência, e põe cada um em seu lugar próprio; o pai para velar e dirigir, o filho para venerar e confiar (1994, p. 231)”.

Já Pontes de Miranda, em consonância com José Soares de Arruda,

defende que tal diferença de idade consiste ao tempo em que o adotado poderia ser

filho biológico do adotante (CHAVES, 1994, p. 231).

2.3 QUEM PODE SER ADOTADO

Quando se analisa os critérios em que a adoção pode ocorrer, deve-se

ter em conta, sobretudo a figura do adotando. A adoção só deve ocorrer quando

preencher todos os requisitos e ainda assim resultar no melhor interesse da criança,

trazendo-lhe benefícios.

Page 33: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

31

Em termos gerais, verifica-se que os requisitos principais para que um

adotando esteja em condições de ser adotado baseiam-se em dois pontos

principais: que a criança ou adolescente esteja dentro do limite de idade previsto na

legislação, e que esteja se desenvolvendo em situação de abandono.

2.3.1 Limite de Idade

Com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, a idade

máxima estabelecida para a adoção plena corresponde à dezoito anos incompletos.

Todavia, ressalvas são feitas pela lei para os casos em que o adotando

já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes, quando esse limite de idade poderá

ser acrescido.

Nos termos da Lei8:

“Art. 40: O adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos a data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes.”

2.3.2 Consentimento dos pais ou do representante legal do adotando

Para que a adoção se dê de forma satisfatória e estritamente dentro

dos requisitos da Lei é obrigatório o consentimento dos pais do adotando ou, na

ausência daqueles, do representante legal deste.

Antonio Chaves (1994) salienta três hipóteses a respeito de quando

será necessário o consentimento dos responsáveis pelo menor que ainda não

apresentar sequer capacidade relativa:

8 Estatuto da Criança e do Adolescente

Page 34: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

32

- deve haver obrigatório e indispensável o consentimento dos pais

quando esses se encontram no exercício normal do poder familiar sobre o adotando;

- não será obrigatório o consentimento dos pais quando estes

estiverem no exercício do pátrio poder sobre o adotando, mas na eminência de ser

privados ou suspensos dele por motivo a que deram causa;

- não será obrigatório o consentimento dos pais quando o adotando

estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes, que manifestam em relação a ele o

poder familiar e não há qualquer vínculo com os pais biológicos.

Ressalte-se ainda que no caso de adotandos abandonados, cuja

origem biológica seja desconhecida, esse consentimento também é dispensável.

2.3.3 Consentimento do Adotando maior de 12 anos de Idade

Para que a adoção ocorra é imprescindível a oitiva do adotando maior

de dezoito anos de forma que ele expresse seu consentimento. Tal exigência é

prevista em lei, mais especificamente no artigo 45, § 2º, nos seguintes termos: “em

se tratando de adotando maior de doze anos de idade, será também necessário o

seu consentimento”.

Essa é também uma inovação benéfica do Estatuto da Criança e do

Adolescente, uma vez que na data de sua promulgação estava vigente o Código

Civil de 1916, que não autorizava que esses adotandos fossem sequer ouvidos, a

menos que já ultrapassassem os dezesseis anos.

Com o Estatuto da Criança e do Adolescente, além da oitiva dos

adotandos maiores de doze anos, também se tornou necessário que ocorresse o

seu consentimento, não mais essa manifestação sendo apenas a título consultivo.

Page 35: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

33

PARTE II – MODIFICAÇÃO NA SISTEMÁTICA DA ADOÇÃO PELA LEI

12010/2009

1 CONTEXTUALIZAÇÃO E NOÇÕES GERAIS

Diante das incessantes e fervilhantes modificações que brotam no seio

da sociedade, foi necessária a criação de uma lei que atualizasse o Estatuto da

Criança e do Adolescente, desengessando-o do cenário em que foi criado e

modificando-o a ponto de que voltasse a abranger a realidade em que se insere. Foi

esse o contexto em que surgiu a Lei 12.010/2009, que introduziu novos paradigmas

no Direito Positivado, sobretudo na seara do Direito de Família, conforme Alice de

Souza Birchal (2010).

O propósito da Lei foi garantir “o aperfeiçoamento da sistemática

prevista para o direito à convivência familiar a todas as crianças e adolescentes”

registrado no art. 87 do Estatuto da Criança e do Adolescente.9

Essa nova lei visa proteger a saúde física, mental e psicológica de

todas as pessoas envolvidas no processo de adoção, como exemplo o artigo 19 do

Estatuto da Criança e do Adolescente, que passa a exigir uma reavaliação

semestral, feita por equipes especializadas, daqueles que participarem do Programa

de Adoção, havendo a possibilidade de que o adotado seja reinserido em sua família

natural, respeitando-se “o princípio do melhor interesse”. Também, a nova lei

possibilita um procedimento de habilitação para que os adotantes possam ser

admitidos e devidamente preparados para obter a adoção.10

9 Estatuto da Criança e do Adolescente

10 Idem.

Page 36: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

34

A fim de conter eventuais abusos em relação as crianças e

adolescentes à espera de adoção, a nova lei limitou a dois anos o período de sua

permanência em programa de acolhimento institucional, excetuando-se casos em

que se comprove a necessidade de se distender tal prazo, que deverá ser definida

através de decisão fundamentada pelo juiz. Além disso, ainda visando a celeridade

no processo de adoção, o caput do art. 163 do Estatuto da Criança e do Adolescente

foi modificado no sentido de estabelecer o prazo de 120 dias, no máximo, para o

julgamento de ações de destituição do poder familiar.

Quanto à oitiva do candidato à adoção, é obrigatória, segundo a nova

lei no artigo 28, § 1º e 2º, sua opinião não constitui elemento definitivo para a

decisão a cerca de seu futuro, uma vez que sua capacidade jurídica é limitada

parcial ou totalmente. Além disso, caso a modificação no prenome seja requerida

pelo adotante, é obrigatória a oitiva do adotando.

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, após a recente

alteração do artigo 39, § 1º, a adoção ainda é considerada um regime irrevogável e

de exceção, bem como a família substituta, devendo ser adotada apenas quando

esgotadas todas as tentativas de reintegração da criança junto à sua família

biológica (BIRCHAL, 2010).

A nova Lei, no art. 42, do Estatuto da Criança e do Adolescente,

pincelou ainda, as noções gerais da adoção na seguinte esfera: “a adoção deve

obedecer ao princípio do melhor interesse; o adotante deve ter dezoito anos

completos; a adoção conjunta só por pessoas casadas ou em união estável;

divorciados e separados podem adotar, estabelecendo o direito de guarda (inclusive

conjunta), visitas e quantum dos alimentos; além de possibilitar a adoção post

Page 37: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

35

mortem do adotando, desde que este tenha se manifestado expressamente pela

adoção” (BIRCHAL, 2010).

O artigo 48 e § único da nova Lei garante ao adotado, após atingir a

maioridade, o direito de conhecer suas raízes biológicas e genéticas, obtendo

acesso irrestrito a documentação que remete ao processo de adoção, bem como de

todas as circunstâncias que o envolveram. Ao menor de dezoito anos também é

garantido o acesso a esses documentos, todavia, com a devida orientação e

assistência jurídica e psicológica. É importante ainda a percepção de que em

momento algum os registros biológico e de adoção se confundem, posto que apenas

esse último é dotado de eficácia jurídica.

Incontestavelmente, a grande contribuição da Lei 12010/09 foi

transformar o sentimento de afeto como um valor jurídico e, portanto, o principal

vínculo jurídico da adoção. A família deixou de corresponder unicamente a figura

dos genitores e se estendeu a todos aqueles com que a criança ou o adolescente

mantém um relacionamento de afinidade. Lembre-se ainda, que a intenção maior

dessa Lei é garantir um processo de adoção indolor, todavia, caso isso não

aconteça, os problemas que possam advir deverão ser minorados através de

programas que os reintegrem à família de origem ou os reloquem a uma família

substituta.

2 ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA

O estágio de convivência tem como função precípua a adaptação do

adotado à nova família. Segundo Venosa, o “estágio é um período em que se

consolida a vontade de adotar e de ser adotado” (2004, p. 352).

Page 38: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

36

É durante esse período que se faz o acompanhamento do adotado e

dos adotantes e verifica-se a real conveniência de que a adoção seja efetivada.

De acordo com o artigo 46, § 1º e 2º da Lei 12010/09, tem-se que:

“Art. 46, § 1º: O estágio de convivência poderá ser dispensado se o adotando já estiver sobre a tutela ou guarda legal do adotante durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da constituição do vínculo. § 2º: A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a dispensa da realização do estágio de conveniência.”

Vale lembrar que, anteriormente, o Estatuto da Criança e do

Adolescente em seu artigo 46, § 1º, previa casos de dispensa também à criança com

idade inferior ou igual a um ano de idade do estágio de convivência, sob a alegação

de que esta, por ser ainda muito pequena, se adaptaria com facilidade a nova

família.

O Estágio de Convivência não possui um prazo regulado por lei, sendo

papel do juiz fixa-lo de acordo com o caso concreto, como se defere do caput do

artigo 46 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

“Art. 46: A adoção será precedida de estágio de convivência com a criança ou adolescente, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, observadas as peculiaridades do caso.” [grifo nosso]

A Lei 12010/09 estabeleceu em seu artigo 46, § 3º, que o prazo do

estágio de convivência, para adotantes residentes e domiciliados fora do país, será

de no mínimo trinta dias, com cumprimento no território nacional,

independentemente da idade da criança. Na redação anterior, a previsão abrangia

apenas estrangeiros residentes e domiciliados fora do país, e o prazo do estágio era

de no mínimo quinze dias de cumprimento no território nacional para crianças com

Page 39: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

37

até dois anos de idade e de no mínimo trinta dias quando o adotado possuísse mais

de dois anos de idade.

A referida lei incluiu ainda no § 4º, do mesmo artigo 46, que o estágio

de convivência deve ser acompanhado por equipe interprofissional da Justiça da

Infância e da Juventude, com a presença de pessoal especializado, que apresentará

relatório a seu devido tempo.

Tal imposição da lei reafirmou que guarda de fato não é capaz de gerar

direitos, podendo propiciar simplesmente a dispensa desse estágio de convivência,

quando verificado que entre adotante e adotado já está estabelecido vínculo de

afetividade, de modo a conferir celeridade a todo o processo de adoção.

3 SENTENÇAS E REGISTROS

A adoção, dentro dos moldes legais, se dá unicamente por sentença judicial,

que deverá ser posteriormente inscrita no Registro Civil mediante mandado para que

possa gerar seus efeitos. A esse respeito, tem-se o caput do artigo 47 do Estatuto

da Criança e do Adolescente, senão vejamos:

“Art. 47: O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão.”

A doutrina, a exemplo de Silva Filho (1997, p. 104), defende que são

necessários dois mandados emergentes da sentença de adoção. O primeiro que

visa cancelar o registro anterior do adotado e o segundo, que se faz necessário para

a nova inscrição.

Page 40: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

38

3.1 SENTENÇAS

A decisão de adoção possui caráter predominantemente constitutivo,

sendo por esse motivo considerada constitutiva. Marinoni e Arenhart a esse respeito

definem que:

“A chamada sentença constitutiva pode criar, modificar, ou extinguir uma relação jurídica. Nesse sentido, ela pode ser uma sentença constitutiva positiva, ou uma sentença constitutiva negativa, também ditas, em outra terminologia, mas no mesmo sentido, sentenças constitutiva e desconstitutiva”. (2010, p. 431)

Já o ensinamento de Moacyr Santos explicita que:

“essas sentenças, como as demais contém declaração de certeza de relação ou situação jurídica preexistente, mas a isso, como conseqüência, acrescentam um quid, consistente na criação de nova relação, ou modificação, ou extinção da mesma relação ou situação jurídica. Há nela uma declaração de certeza do direito preexistente, das condições necessárias e determinadas em lei para se criar nova relação, ou alterar a relação existente, e aí se manifesta a função declaratória, comum a todas sentenças; e acrescentam a criação, a modificação ou a extinção da relação jurídica, como decorrência daquela declaração, e nisso consiste o seu efeito específico, que a caracteriza – efeito constitutivo”. (1963, p. 18)

Quando proferida a sentença de adoção pelo juiz, tem-se ao mesmo

tempo, a supressão do pátrio poder. É o que afirma Liberati no trecho a seguir

transcrito:

“A destituição do pátrio poder constitui, na verdade, sanção aplicada aos pais biológicos (ou adotivos) pelo fato de terem desprezado o dever de criar, assistir e educar seus filhos, conforme determina a lei”. (1995, p. 162)

Com relação a fundamentação, ou motivação, da decisão, a lei é

omissa quanto a sua necessidade. Contudo, Chaves (1994) entende que a decisão

que julgue o processo de adoção deve ser motivada, posto que a devida

Page 41: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

39

fundamentação pode permitir uma análise mais esclarecedora nas instâncias

superiores.

Embora a doutrina sempre tenha sido controvertida a respeito da coisa

julgada da sentença constitutiva de adoção, com o advento do Estatuto da Criança e

do Adolescente essa divergência foi pacificada, já que no antigo § 6º do artigo 47 e

atual § 7º do mesmo artigo, ficou estipulado que “a adoção produz seus efeitos a

partir do trânsito em julgado da sentença constitutiva”.

No tocante à sentença, a Lei 12010/09 alterou o § 5º do artigo 47, que

estipulava que a sentença conferiria ao adotado o nome do adotante e, a pedido

deste, poderia determinar a modificação do prenome. A nova redação apresenta

uma sutil modificação ao estabelecer que tanto o adotado quanto o adotante

poderão solicitar a modificação do prenome.

3.2 REGISTROS

A inscrição do adotado no Registro Civil “consignará o nome dos

adotantes como pais, bem como o nome de seus ascendentes”, conforme o § 1º, do

artigo 47 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Através de um mandado judicial

será cancelado o registro original do adotado que por sua vez será arquivado. Não

poderá haver qualquer observação sobre a origem deste ato nas certidões do

Registro, nos termos do § 2º e 4º do Estatuto e diferentemente do que disciplinava o

Código Civil de 1916, que previa a obrigatoriedade de uma ressalva contendo a

origem biológica do adotado em seu registro.

A Lei 12010/09 inovou ao inserir o § 3º no artigo 47 do Estatuto. Tal

parágrafo explicita a possibilidade de que o registro seja lavrado no Cartório de

Page 42: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

40

Registro Civil do Município da residência do adotante, sempre e quando este assim

o deseje.

A nova lei revogou o antigo § 4º deste mesmo artigo, que definia que a

critério de qualquer autoridade judiciária, poderia ser fornecida uma certidão que

garantisse eventuais direitos. Em seu lugar, despontou o atual § 8º, com a seguinte

redação:

“Art. 47, § 8: O processo relativo à adoção assim como outros a ele relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se seu armazenamento em microfilme ou por outros meios, garantida a sua conservação para consulta a qualquer tempo.”

Por fim, como destaque Alice de Souza Birchal (2010), o Brasil adota

na atualidade dois registros: o biológico e o afetivo. Todavia, com efeitos jurídicos

distintos. O primeiro, sem gerar qualquer vínculo jurídico, tem por finalidade apenas

garantir ao adotado a possibilidade de conhecer suas raízes genéticas, e o segundo,

dotado de eficácia jurídica, visa a instituição de uma relação de parentesco que é a

filiação adotiva.

4 CADASTRO NACIONAL DE ADOÇÃO

Antigamente, ainda antes do advento do Estatuto da Criança e do

Adolescente, alguns juizes já estimulavam o cadastro de adotantes em potencial,

ainda que não houvesse qualquer obrigatoriedade legislativa nesse sentido. Está aí

as bases ancestrais do Cadastro que passou a ser previsto pelo Estatuto, no artigo

50, como se confere abaixo e que foi inicialmente regulamentado pelas Justiças

Estaduais:

Page 43: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

41

“Art. 50: A autoridade judiciária manterá em cada comarca ou foro regional um registro de crianças e adolescentes em condições de serem adotados e outro de pessoas interessadas na adoção”.

O Cadastro Nacional de Adoção é um aparato relativamente recente no

cenário jurídico brasileiro. Sua criação data apenas de 29 de abril de 2008, por meio

da resolução nº 5411.

Foi criado com o intuito de facilitar os processos de adoção, pois

consiste numa ferramenta de auxílio para os Juízos das Varas de Infância e

Juventude na condução de processos de adoção, por meio de um mapeamento de

informações unificadas tanto dos dados de crianças e adolescentes a serem

adotados, quanto de pessoas com intenções e capacidade para adotar.

Além disso, o Cadastro Nacional de Adoção é um instrumento de

acordo com o qual, em longo prazo, espera-se implementar diversas políticas

públicas, que possibilitem um processo de adoção mais eficaz e veloz.

O referido Cadastro encontra escopo no artigo 227 da Magna Carta,

que institui a prioridade das políticas de atendimento à infância e à juventude.

Considera ainda normas referentes a adoção estabelecidas pelo Estatuto da Criança

e do Adolescente e pelo Código Civil.

Ademais, espera-se que, com a consolidação desse banco de dados

unificado para todo o território nacional, seja possível exaurir-se a busca de pessoas

dotadas dos pré-requisitos legais que preencham a posição de adotantes e residam

no Brasil, de modo a que essas tenham preferência sobre as famílias estrangeiras,

consoante o artigo 31 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

A respeito desse assunto, manifesta-se o ilustre disciplinador Venosa

ao afirmar que “é importante que o sistema de triagem seja suficientemente

11

Anexo B.

Page 44: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

42

criterioso, sério e veraz, pois a colocação de menor em família substituta é ato da

mais alta responsabilidade. (2004, p. 358)”

4.1 DISPOSIÇÕES DA RESOLUÇÃO Nº. 54/08

O artigo primeiro dessa resolução institui a criação do Banco Nacional

de Adoção e aponta a finalidade a que este se destina, vejamos:

“Art. 1º: O Conselho Nacional de Justiça implantará o Banco Nacional de Adoção, que tem por finalidade consolidar dados de todas as comarcas das unidades da Federação referentes a crianças e adolescentes disponíveis para adoção, após o trânsito em julgado dos respectivos processos, assim como dos pretendentes à adoção domiciliados no Brasil e devidamente habilitados”.

O artigo 2º da mesma resolução assegura o sigilo dos dados contidos

no Banco Nacional de Adoção, que ficará sob a responsabilidade do Conselho

Nacional de Justiça e a veiculação de seus dedos somente será permitida pelos

órgãos autorizados. Apesar disso, as Corregedorias dos Tribunais de Justiça

possuirão integral acesso aos cadastros, uma vez que atuarão como

administradoras do sistema do respectivo Estado e deverão cadastrar e liberar o

acesso ao juiz competente de cada uma das comarcas e zelar pela credibilidade do

sistema, de modo que seus dados correspondam sempre à realidade, conforme o

artigo 3º da resolução.

A alimentação diária desse sistema de cadastro será realizada pelas

Corregedorias Gerais de Justiça e pelos juizes responsáveis, que encaminharão os

dados ao Banco Nacional de Adoção por via eletrônica, nos moldes do artigo 4º da

resolução. Nesse quesito, também o artigo 5º da resolução aponta que serão

assessorados pelo Conselho Nacional de Justiça.

Page 45: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

43

O parágrafo único do artigo 6º desta resolução anuncia o convênio do

Conselho Nacional de Justiça com a Secretaria Especial de Direitos Humanos da

Presidência da República – SEDH visando a troca de dados e consultas do Cadastro

Nacional de Adoção. Além disso, o caput do referido dispositivo prevê que o

Conselho Nacional de Justiça, as Comissões Estaduais Judiciárias de Adoção –

CEJAS/CEJAIS e as Corregedorias Gerais de Justiça devem promover campanhas

de ampla divulgação que incentivem o instituto da adoção daqueles que já não

possuem a perspectiva de reinserção na família biológica e que residem em abrigos.

4.2 IMPLANTAÇÃO DO CADASTRO NACIONAL DE ADOÇÃO PELA LEI

12010/2009

No que tange ao Cadastro Nacional de Adoção no Estatuto da Criança

e do Adolescente, verifica-se que a Lei 12010/09 nada modificou no caput do artigo

50 já supracitado, bem como em seus parágrafos 1º e 2º que dispõe o seguinte:

“Art. 50, § 1º: O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia consulta aos órgãos técnicos do Juizado, ouvido o Ministério Público. § 2º: Não será deferida a inscrição se o interessado não satisfizer os requisitos legais ou verificada qualquer das hipóteses previstas no artigo 29.”

As modificações, no tocante a essa matéria, que foram trazidas pela

Lei 12010/09 consistem na inclusão dos parágrafos 3º ao 14 nesse mesmo

dispositivo.

A primeira inclusão do § 3º determina que se faz necessária uma

preparação psicossocial e jurídica antes da inscrição do postulante ao Cadastro

Nacional de Adoção. Essa preparação conta com a orientação de uma equipe

Page 46: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

44

especializada da Justiça da Infância e da Juventude e contará com a convivência

com crianças e adolescentes em acolhimento institucional ou familiar que possam

ser adotados em potencial, de acordo com o estipulado pelo § 4º do mesmo artigo.

O § 5º do artigo 50 faz questão de esclarecer a essência do Cadastro e

no que ele consiste, salientando que serão inscritos nele as crianças e adolescentes

em condições de serem adotadas e as pessoas habilitadas à adoção. Haverá um

cadastro distinto somente para pessoas que residam fora do país, que apenas serão

selecionados na ausência de adotantes nacionais habilitados, conforme o § 6º deste

dispositivo.

O § 7º coroa o elencado nos artigos 3º e 6º, § único da Resolução

54/2008 já anteriormente citadas, que consiste na afirmação da troca de

informações e na cooperação mútua entre as autoridades estaduais e federais.

O § 8º do artigo 50 dispõe acerca de uma série de formalidades que

deverão ser seguidas quando da inscrição no Cadastro Nacional de Adotantes fora

da Comarca de Origem, nos seguintes termos:

“Art. 50, § 8º: A autoridade judiciária providenciará, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e adolescentes em condições de serem adotados que não tiveram colocação familiar na comarca de origem, e das pessoas ou casais que tiveram deferida sua habilitação à adoção nos cadastros estadual e nacional referidos no § 5º deste artigo, sob pena de responsabilidade”.

Já o § 9º do artigo 50 consolida o já mencionado nos artigos 3º a 5º da

Resolução 54/2008, ao atentar que é competência da Autoridade Central Estadual

zelar pela manutenção e correta alimentação dos Cadastros.

Enquanto a criança ou adolescente não é inserido em uma família

adotante, a sua guarda será conferida à família que possua cadastro em programa

de acolhimento familiar, de acordo com o § 11, artigo 50 da Lei.

Page 47: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

45

Quanto à fiscalização da alimentação cadastral bem como da

convocação dos adotantes de maneira criteriosa será efetuada pelo Ministério

Público, conforme inova o artigo 50 em seu § 12.

Encontra-se, doutrinariamente, a posição de destaque defendida por

Venosa de que “o fato de um pretendente à adoção não estar cadastrado não é, no

entanto, óbice para o pedido” (2004, p. 358). Todavia, essa pretensão passa a ser

regulada pelo § 13 e 14 do artigo 50 da Lei 12010/2009, a saber:

“Art. 50, § 13: Somente poderá ser deferida adoção em favor de candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previamente nos termos desta Lei quando: I – se tratar de pedido de adoção unilateral; II – for formulada por parente com o qual a criança ou adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade; III – oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a ocorrência de má-fé ou qualquer das situações previstas nos art. 237 ou 238 desta Lei.”

A título de complementação, o artigo 237 do Estatuto da Criança e do

Adolescente prevê pena de reclusão de dois a seis anos e multa no caso de

subtração de criança ou adolescente do poder de quem a tem sob sua guarda, em

razão de lei ou ordem judicial com a finalidade de colocá-la em lar substituto. Já o

artigo 238 do mesmo Diploma estipula que aquele que prometer ou efetivar entrega

de filho ou pupilo a terceiro, com intenção de obter recompensa ou pagamento terá

pena de reclusão de um a quatro anos e multa.

Ao se analisar o art. 50, § 13, III verifica-se que ele revogou o artigo 1.624 do

Código Civil, que exigia que o menor órfão não tivesse sido reclamado pelo período

de, no mínimo, um ano.

Uma vez que o postulante à adoção não tenha sido cadastrado e se

enquadre em qualquer das hipóteses formuladas pelo § 13 e seus incisos, deverá

Page 48: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

46

apresentar comprovação durante o curso da adoção de que preenche todos os

requisitos necessários previstos em Lei, em atenção ao § 14 do artigo 50 do Estatuto

da Criança e do Adolescente.

Por último e não menos importante, destaca-se a inovação trazida pelo § 10º

do artigo 50 da Lei 12010/09 ao Estatuto da Criança e do Adolescente, abaixo

transcrita:

“Art. 50, § 10º: A adoção internacional somente será deferida se, após consulta ao cadastro de pessoas ou casais habilitados à adoção, mantido pela Justiça da Infância e da Juventude na comarca, bem como aos cadastros estadual e nacional referidos no § 5º desse artigo, não for encontrado interessado com residência permanente no Brasil.”

Assim, infere-se que ainda há uma prioridade do postulante que reside

no Brasil ao que habita em território estrangeiro. Essa disposição encontra coerência

quando se verifica que é evidente que a predisposição natural do Estado seja

manter no Brasil, as crianças e adolescentes que sejam cidadãos brasileiros, de

modo que possam ter contato direto com a cultura e a tradição do local onde

nasceram.

Todavia, esse posicionamento não deve ser de forma alguma

radicalizado e levado às raias da intolerância. Deve-se antes de tudo considerar a

preservação do melhor interesse do adotado, e é verdade que no contexto brasileiro

os adotantes estipulam maiores condições para a adoção do que os estrangeiros,

como se depreende da análise de Granato:

“Enquanto entre os brasileiros dispostos a adotar, poucos se encontram que desejam fazê-lo em relação a pretos, pardos, deficientes físicos ou mentais e a crianças de mais idade ou adolescentes, os estrangeiros adotaram duzentos e quarenta e nove pretos e novecentos e setenta e dois pardos e também portadores de deficiências físicas ou mentais. Em relação à idade, setecentas e setenta e sete crianças tinham entre quatro e seis

Page 49: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

47

anos; quinhentas e trinta e oito, de sete a dez anos e cento e quarenta e três de onze a dezesseis anos. (2006, p. 124)”

Ora, a dignidade do adotado, bem como sua integridade psicofísica

estão acima de quais divergências a respeito de nacionalidade. Com a perda dessa

percepção corre-se o risco de comprometer o bem-estar do adotado e mesmo de

negar-lhe o direito a fazer parte de uma família no sentido mais autêntico da palavra.

Aos mais ferrenhos opositores da adoção por pessoas residentes fora

do Brasil, fica o argumento indiscutível de que a maior parte das adoções

internacionais, realizadas obedecendo estritamente ao disposto na legislação,

alcançaram grande êxito ao adaptar a criança ao seu novo contexto familiar e

sociológico, o que, por si só, já é motivo para que se calem as preocupações mais

alarmantes (SPRING-DUVOISIN, 1986) e o instituto da adoção internacional passe a

ser mais aceito e respeitado.

Ao se analisar o conjunto de modificações implementadas pela Lei

12010/09 no referente ao Cadastro Nacional de Adoção, ressalta-se a louvável

preocupação do legislador para com a figura tanto do adotante, como do adotado,

oferecendo-lhes assistência e orientação tanto na esfera jurídica quanto na

psicológica, que se verifica em todas as fases do processo de adoção, e mesmo

antes da inscrição no Banco Nacional de Adoção.

5 ADOÇÃO INTERNACIONAL

A adoção internacional é uma realidade crescente no cenário brasileiro

atual. Desde que despontou no panorama jurídico do país já foi considerada um

tema de imensa complexidade e grandes controvérsias. Há, portanto, um cuidado

especial da lei no sentido de se evitar fraudes e quaisquer desvirtuamentos no

Page 50: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

48

instituto da adoção internacional, visando, sobretudo, impedir o tráfico internacional

de crianças, que infelizmente se prolifera nos tempos atuais. Talvez por isso, a

adoção internacional só seja permitida com expressa autorização judicial, com

período de estágio de convivência obrigatório a ser cumprido em território nacional.

Também por isso, a adoção com destino ao exterior é muito abordada pelos tratados

e acordos internacionais.

Afora isso, o estrangeiro domiciliado no país, submete-se as regras

brasileiras da adoção e, a princípio, pode adotar como qualquer brasileiro.

A Lei 12010/09 trouxe intensas modificações para o instituto da adoção

internacional no Estatuto da Criança e do Adolescente. O artigo 51 e seus quatro

parágrafos, que trazia requisitos para que a adoção internacional tivesse lugar foram

inteiramente modificados. Em seu lugar, o novo artigo 51 estipulou novos requisitos,

inteiramente distintos dos primeiros. O caput do referido artigo passou a conceituar a

adoção internacional nos termos do artigo 2º da Convenção de Haia, a saber

“considera-se adoção internacional aquela na qual a pessoa ou casal postulante é

residente ou domiciliado fora do Brasil”.

Já o parágrafo 1º do artigo 51, bem como seus incisos, passaram a

conter literalmente os requisitos para que a adoção internacional possa efetivar-se a

contento:

“Art. 51, § 1º: A adoção internacional de criança ou adolescente brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar quando restar comprovado: I – que a colocação em família substituta é a solução adequada ao caso concreto; II – que foram esgotadas todas as possibilidades de colocação da criança ou adolescente em família substituta brasileira, após consulta aos cadastros mencionados no art. 50 desta Lei; III – que, em se tratando de adoção de adolescente, este foi consultado, por meios adequados ao seu estágio de desenvolvimento, e que se encontra preparado para a medida, mediante parecer elaborado por equipe interprofissional, observado o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 28 desta Lei.”

Page 51: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

49

O parágrafo 2º do referido artigo contempla aos brasileiros domiciliados

no exterior a ordem de preferência na adoção de brasileiros em relação aos

adotantes estrangeiros também domiciliados fora do Brasil.

Além disso, o parágrafo 3º do mesmo dispositivo expõe a

pressuposição de que haverá a intervenção de Autoridades Centrais Estaduais e

Federal em matéria de adoção internacional.

Com o advento da Lei 12010/09 também o antigo artigo 52 do Estatuto

da Criança e da Adolescente, bem como seu parágrafo único, foram revogados. A

nova redação desse artigo modifica a colocação em família substituta, nos seguintes

termos:

“Art. 52: A adoção internacional observará o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as seguintes adaptações: I – A pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em matéria de adoção internacional no país de acolhida, assim entendido aquele onde está situada sua residência habitual; II – Se a Autoridade Central do país de acolhida considerar que os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar, emitirá um relatório que contenha informações sobre a identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio social, os motivos que os animam e sua aptidão para assumir uma adoção internacional; III – a Autoridade Central do país de acolhida enviará o relatório a Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal Brasileira; IV – o relatório será instruído com toda a documentação necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada da legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova de vigência; V – os documentos em língua estrangeira serão devidamente autenticados pela autoridade consular, observados os tratados e convenções internacionais e acompanhados da respectiva tradução, por tradutor público juramentado; VI – a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigências e solicitar complementação sobre o estudo psicossocial do postulante estrangeiro à adoção, já realizado no país de acolhida; VII – verificada, após estudo realizado pela Autoridade Central Estadual, a compatibilidade da legislação estrangeira com a nacional, além do preenchimento por parte dos postulantes à medida dos requisitos objetivos e subjetivos necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe essa Lei como da legislação do país de acolhida, será expedido laudo de habilitação à adoção internacional, que terá validade por, no máximo, 1 (um) ano;

Page 52: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

50

VIII – de posse do laudo de habilitação, o interessado será autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança ou adolescente, conforme indicação efetuada pela Autoridade Central Estadual.”

Uma análise mais atenta da Lei 12010/09 e da anterior redação do

Estatuto da Criança e do Adolescente permite observar que o atual inciso V do artigo

52 corresponde ao antigo parágrafo 3º do artigo 51.

O parágrafo 1º do artigo 52 aventa a possibilidade de intermediação do

processo de adoção internacional por uma entidade credenciada, desde que a lei do

país de acolhida não contenha obstáculo a isso. É a Autoridade Central Federal

Brasileira responsável pelo credenciamento destas entidades nacionais ou

estrangeiras, além de comunicar as Autoridades Centrais Estaduais e proporcionar a

publicação nos órgãos oficiais de imprensa e por meio da internet, conforme dispõe

o parágrafo 2º do artigo 52.

Os parágrafos 3º e 4º trazem o rol de condições para que tais

entidades possam ser credenciadas, como se afere da transcrição a seguir:

“Art. 52, § 3º: Somente será admissível o credenciamento de organismos que: I – sejam oriundos de países que ratificaram a Convenção de Haia e estejam devidamente credenciados pela Autoridade Central do país onde estiverem sediados e no país de acolhida do adotando para atuar em adoção internacional no Brasil; II – satisfizerem as condições de integridade moral, competência profissional, experiência e responsabilidade exigidas pelos países respectivos e pela Autoridade Central Federal Brasileira; III – forem qualificados por seus padrões éticos e sua formação e experiência para atuar na área de adoção internacional; IV – cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Autoridade Central Federal Brasileira. § 4º: Os organismos credenciados deverão ainda: I – perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições e dentro dos limites fixados pelas autoridades competentes do país onde estiverem sediados, do país de acolhida e pela Autoridade Central Brasileira; II – ser dirigidos e administrados por pessoas qualificadas e de reconhecida idoneidade moral, com comprovada formação ou experiência para atuar na área de adoção internacional, cadastradas pelo Departamento de Polícia Federal e aprovadas pela Autoridade Central Federal Brasileira, mediante publicação de portaria do órgão federal competente;

Page 53: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

51

III – estar submetidos à supervisão das autoridades competentes do país onde estiverem sediados e no país de acolhida, inclusive quanto à sua composição, funcionamento e situação financeira; IV – apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, a cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas, bem como relatório de acompanhamento das adoções internacionais efetuadas no período, cuja cópia será encaminhada ao Departamento de Polícia Federal; V – enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) anos. O envio do relatório será mantido até juntada de cópia autenticada do registro civil estabelecendo a cidadania do país de acolhida para o adotado; VI – tomar as medidas necessárias para garantir que os adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal Brasileira cópia da certidão de registro de nascimento estrangeira e do certificado de nacionalidade tão logo lhes sejam concedidos.”

A ausência dos relatórios explicitados no § 4º do supracitado artigo

pela entidade credenciada poderá culminar na suspensão desse credenciamento. O

credenciamento dessas entidades, por sua vez, terá validade máxima de dois anos e

sua renovação pode ser requerida através de protocolo na Autoridade Central

Federal Brasileira num prazo de sessenta dias que antecedem o término do

respectivo prazo de validade, conforme previsão dos parágrafos 5º ao 7º do referido

dispositivo. Já no parágrafo 11 prevê-se que a cobrança de valores exorbitantes,

que configurem abuso, por parte da entidade credenciada pode levar ao seu

descredenciamento. Também pode acarretar esse desligamento o repasse de

recursos por parte dessas entidades à organismos nacionais ou mesmo pessoas

físicas. Sempre e quando for necessário algum repasse financeiro, que estará

sujeito a deliberações do Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente, este só

poderá se dar via Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente, conforme o art.

52-A e parágrafo único.

A Autoridade Central Federal Brasileira tem competência para limitar

ou suspender concessão de novos credenciamentos quando julgar necessário,

através de ato administrativo devidamente fundamentado, conforme previsão do

parágrafo 15 do artigo 52.

Page 54: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

52

Vale lembrar que o artigo 52, § 12 veda a possibilidade de que uma

mesma pessoa, ou seu cônjuge, sejam representados por mais de uma organização

credenciada.

O parágrafo 8º do artigo 52 encontra semelhanças no antigo parágrafo

4º do artigo 51, ao vedar a saída do adotando do território nacional antes do trânsito

em julgado da decisão que concedeu a adoção internacional. Após esse trânsito em

julgado, o juiz deverá expedir um alvará com autorização de viagem e outro para a

obtenção de passaporte, constando obrigatoriamente as características pessoais da

criança ou adolescente adotado, como explicitado no parágrafo 9º desse mesmo

artigo.

O artigo 52, § 10º dispõe que a Autoridade Central Federal Brasileira

pode solicitar informações a respeito dos adotados a qualquer tempo e pretexto.

A habilitação de adotante estrangeiro ou domiciliado fora do Brasil tem

validade máxima de um ano, podendo esta ser renovada a qualquer tempo, como se

depreende do parágrafo 13 do artigo 52 da nova Lei.

A fim de evitar vícios no processo de adoção, é proibido o contato

direto de representantes de entidades de adoção, seja ela nacional ou não, com

dirigentes de programas de acolhimento institucional ou familiar, bem como com

crianças e adolescentes em condições de serem adotados, salvo quando haja a

devida autorização judicial, nos termos do parágrafo 14 do mesmo dispositivo.

O artigo 52-B e seus parágrafos preocupam-se com a questão da

adoção efetuada por brasileiro residente fora do país, conformando-a aos termos da

Convenção de Haia:

“Art. 52-B: A adoção por brasileiro residente no exterior em país ratificante da Convenção de Haia, cujo processo de adoção tenha sido processado em conformidade com a legislação vigente no país de residência e

Page 55: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

53

atendido o disposto na alínea “c” do artigo 17 da referida Convenção, será automaticamente recepcionada com o reingresso no Brasil. § 1º: Caso não tenha sido atendido o disposto na alínea “c” do artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça. § 2º: O pretendente brasileiro residente no exterior em país não ratificante da Convenção de Haia, uma vez reingressado no Brasil, deverá requerer a homologação da sentença estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça.”

Visando-se a maior completude possível no presente trabalho,

transcreve-se abaixo o artigo 17, c, da Convenção de Haia:

“Art. 17: Toda decisão de confiar uma criança aos futuros pais adotivos somente poderá ser tomada no Estado de origem se: (...) c) as Autoridades Centrais de ambos os Estados estiverem de acordo em que se prossiga com a adoção;”

Nos casos em que o Brasil for o país de acolhida do adotado a decisão da

autoridade competente do país de origem do adotado deverá ser conhecida pela

Autoridade Central Estadual que tiver recebido a requisição de habilitação dos

adotantes, comunicando o fato à Autoridade Central Federal que, por sua vez,

determinará as providências necessárias no sentido da expedição do Certificado de

Naturalização Provisório. A Autoridade Central Estadual, depois da oitiva do

Ministério Público, só poderá deixar de reconhecer os efeitos daquela decisão se

restar demonstrado que a adoção é manifestamente contrária à ordem pública, ou

não atende ao interesse maior da criança e do adolescente. Caso a adoção não seja

reconhecida, o Ministério Público tem o dever imediato de resguardar os interesses

da criança e do adolescente, comunicando a providência tomada à Autoridade

Central Estadual, que comunicará à Autoridade Central Federal Brasileira e à

Autoridade Central do país de origem, conforme o artigo 52-C e seus parágrafos 1º e

2º.

Page 56: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

54

Já na hipótese de o Brasil ser o país de acolhida e a adoção não tenha sido

deferida no país de origem por a sua legislação delegar ao país de acolhida, ou

ainda no caso de mesmo com decisão o adotado ser oriundo de país que não tenha

aderido à Convenção de Haia, o processo seguirá as regras de adoção nacional,

como finaliza o artigo 52-D da Lei 12010/09.

Em razão das diversas controvérsias que sempre floresceram em torno da

adoção internacional, em decorrência da omissão legislativa, a Lei 12010/09 a

regulamentou de modo exaustivo e detalhista, sempre respeitando e salientando os

contornos pincelados inicialmente pela Convenção de Haia, o que consiste em uma

atitude notável e de relevante importância para que o instituto da adoção seja levado

a cabo de maneira eficiente e transparente. Ademais, foca primordialmente o

princípio do melhor interesse do cidadão brasileiro, motivo pelo qual a Autoridade

Central Federal Brasileira poderá a qualquer momento solicitar informações acerca

das crianças e adolescentes adotados no exterior.

Page 57: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

55

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta monografia foi o instrumento para uma análise mais detalhada das

contribuições que a Lei 12010/2009 implantou no instituto da adoção, ao reformar o

Estatuto da Criança e do Adolescente.

Com o presente estudo ficou clara a mudança paradigmática por que passou

a adoção nos últimos anos, resultado de uma sociedade mais moderna e mais

voltada para a satisfação dos indivíduos que começou a despontar com o

Iluminismo. Atualmente a adoção se curva perante a Carta Magna Brasileira e

diante dos Direitos Humanos em ascensão no mundo Ocidental, adquirindo feições

mais afetivas e com profundo cunho sociológico, ressaltando-se sua importância e

função social.

A Lei 12010/2009 veio reforçar o que o Estatuto da Criança e do

Adolescente já havia proposto quando da sua criação: o bem-estar do adotado se

sobrepondo a todos os demais valores, inclusive os de cunho econômico e religioso.

É um grande progresso para o ordenamento jurídico e para a sociedade como um

todo.

Todavia, apesar dos abundantes aperfeiçoamentos que a nova Lei trouxe,

engana-se quem pensa que o instituto da adoção alcançou um estado de plenitude

em que já não apresenta faceta alguma que ainda precise ser melhorada. A

realidade passa por mutações diárias e tão intensas que o Direito positivado não tem

condições de acompanhar, estando sempre um passo (ou muitos) atrás. Por mais

que a Lei da Adoção de 2009 tenha inculcado no ordenamento pátrio uma feição

mais moderna, ainda há diversas alterações necessárias – e provavelmente sempre

Page 58: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

56

haverão – até que a adoção se dê de forma satisfatória, que não cause desgaste a

todos envolvidos no processo.

Analisando-se a nova Lei conclui-se que apesar da flagrante preocupação

em proteger a figura do adotado, acabou por agravar a burocracia que envolve o

procedimento de adoção. O processo, dificultado por inúmeras restrições e

exigências, tornou-se ainda mais moroso do que antes, o que leva as crianças e os

adolescentes à ficarem anos na fila de espera, mesmo com pessoas interessadas a

adotá-los.

Aqui, há que se fazer um alerta: Não se trata da defesa de fazer ruir todos os

requisitos exigidos para a adoção, sob pena de que tal instituto se desvirtue e já não

possa ser garantido o bem-estar do adotado, e sim de atenuá-los até onde o

adotando continue sob ampla proteção, porém com mais chances reais de ser

inserido no seio familiar o mais rápido possível.

Uma das modificações mais impactantes da nova Lei, sem dúvida alguma,

foi a regulamentação do Cadastro Nacional de Adoção. É uma iniciativa louvável,

posto que unifica os sistemas estaduais e federais de adoção numa grande rede

interconectada, todavia, ainda há um grande caminho a se percorrer para que esse

sistema funcione a contento, alavancando o procedimento de adoção, ao invés de

simplesmente retardá-lo, e acabar por desembocar em medidas drásticas, tais como

a famosa “adoção à brasileira”, que é ilegal.

Outra grande vantagem da nova Lei foi a consagração da não necessidade

de matrimônio para que a adoção possa se efetivar. É um grande avanço que

inclusive pessoas solteiras possam adotar. Sabe-se bem que a fila de crianças e

adolescente à espera de uma família é superior à demanda de adotantes e,

Page 59: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

57

portanto, qualquer esforço que se faça no sentido de aumentar aqueles que querem

adotar é bem-vindo.

Por outro lado, a nova Lei deixou de tratar de mudanças que eram muito

esperadas na realidade atual. Simplesmente omitiu-se sobre a adoção por casais

homossexuais. Ora, sabe-se que esse novo tipo de entidade familiar é uma

realidade no cenário mundial, e é hora de a legislação começar a absorver essas

mudanças. Se é verdade que o interesse da criança e do adolescente está acima de

qualquer outro quando se trata de adoção, já é hora de regularizar a adoção por

homossexuais, inserindo as crianças em famílias sem se importar sua composição

(se homem-homem, mulher-mulher e homem-mulher) desde que estejam

preparadas para proporcionar tudo aquilo que a Constituição Federal e o Estatuto da

Criança e do Adolescente propagam ser direito delas.

A adoção internacional, por sua vez, também apresentou restrições maiores

para ocorrer, com a promulgação da Lei 12010/2009. É perfeitamente compreensível

que o Brasil tente manter em seu solo e sob sua tutela crianças e adolescentes que

nascerão aqui, cidadãos brasileiros, portanto. Todavia, essa visão não deve ser tão

inflexível ao ponto de praticamente impossibilitar essa modalidade de adoção. O

interesse de crianças e adolescentes ainda está acima da nacionalidade dos

adotados, e é essa a percepção que não se pode perder. Além do mais, exigências

excessivas aliada à pouca fiscalização que, sabe-se, existe no país, tente a fomentar

o tráfico internacional de crianças. E nesses casos, a possibilidade de assegurar

como estão sendo tratadas essas crianças inexiste.

Por fim, ao analisar-se a Lei minuciosamente, o balanço geral é positivo,

uma vez que a figura do adotado encontra-se no centro de seu foco e todos os

interesses convergem para ela. Apesar de ainda apresentar falhas e lacunas e

Page 60: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

58

mesmo escolhas que, interpretadas errônea ou radicalmente, possam dificultar a

adoção, trata-se de um grande avanço ao Direito Positivado Brasileiro, pois cada vez

mais temos um Estatuto da Criança e do Adolescente em conformidade com os

princípios constitucionais, sobretudo o da Igualdade e da Dignidade da Pessoa

Humana.

Ainda assim, faz-se necessário novas e abundantes mudanças, que devem

acontecer constantemente, de forma a alcançar as mutações sociais. O Direito

jamais encontrará um ponto final, de perfeição e completude absolutas, assim como

a sociedade não alcançará. Enquanto as transformações se proliferarem no seio

onde vivemos (e creio que isto sempre ocorrerá, pois é da natureza humana

modificar-se) o Direito deverá correr atrás do prejuízo e tentar adaptar-se a essas

novas realidades. E com a adoção não será diferente, e somente quando os

homens, e sobretudo os juristas e legisladores, compreenderem a complexidade

dessa situação, é que se conseguirá que esse instituto apresente a maior eficiência

possível, ainda que a perfeição seja uma utopia impossível de ser alcançada.

Page 61: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

59

REFERÊNCIAS BEVILÁQUA, Clóvis. Direito de Família. 6. Ed., Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1938, p. 377-390 BIRCHAL, Alice de Souza. Novos Paradigmas Jurídicos da Filiação e da Adoção: A afetividade como perfil da Lei n 12.010, de 3 de agosto de 2009. Minas Gerais. Maio 2010. Disponível em: http://www.alicebirchal.com.br/?pag=textos_vendo&id_texto=9. Acesso em: 27/01/2011. BOEIRA, José Bernardo Ramos. Investigação de Paternidade: posse de estado de filho: paternidade sócioafetiva. Porto Alegre: Livraria dos Advogados, 1999. BRASIL. Convenção de Haia. UNICEF. Resolução 41/85 de 03 de dezembro de 1986. Convenção relativa a proteção das crianças e a cooperação em matéria de adoção internacional. Disponível em: http://www.mp.rs.gov.br/infancia/documentos_internacionais/id115.htm. Acesso em: 10/02/2011. ______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 21/01/2011. ______. Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o estatuto da criança e do adolescente e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm. Acesso em: 13/01/2011. ______. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/LEIS/2002/L10406compilada.htm. Acesso em: 20/01/2011. ______. Lei 12.010, de 03 de agosto de 2009. Dispõe sobre adoção e altera a Lei nº8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/Ccivil_Ato2007-2010/2009/Lei/L12010.htm. Acesso em: 22/02/2011. ______. Resolução nº 54/2008. Dispõe sobre a implantação e funcionamento do Cadastro Nacional de Adoção. Diário de Justiça, p. 1. Maio de 2008. ______. Superior Tribunal de Justiça. Reconhecimento de Filiação. Recurso Especial nº 878941 DF. Relatora: Ministra Nancy Andrighi. 21 de agosto de 2007. Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=n ull&livre=%28%22NANCY+ANDRIGHI%22%29.min.&processo=878941&b=ACOR. Acesso em: 02/02/2011. CHAVES, Antônio. Adoção. Belo Horizonte: Del Rey, 1994. CARNELUTTI, Francesco. Teoría del falso. Pádua: Cedam, 1935.

Page 62: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

60

COULANGES, Numa Denis Fustel de. A Cidade Antiga. São Paulo: Rideel, 2005. (Biblioteca Clássica). DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 3. ed. São Paulo: RT, 2006. DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 10. ed. aum. e atual. São Paulo: Saraiva, 1995, 5 v. FACCHIN, Luiz Edson. Da Paternidade: relação biológica e afetiva. Belo Horizonte: Del Rey, 1996. GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. A Nova Filiação: o biodireito e as relações parentais: o estabelecimento da parentalidade-filiação e os efeitos da reprodução assistida heteróloga. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. ______. Direito Civil Brasileiro, Direito de Família. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, 6 v. GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues. Adoção doutrina & prática: com abordagem o novo código civil. Curitiba: Juruá, 2005. ______. Adoção - Doutrina & Prática. 1. ed., 4. tir. Curitiba: Juruá, 2006. HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Mello. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004. LIBERATTI, Wilson Donizetti. Adoção Internacional. São Paulo: Malheiros, 1995. MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Processo de Conhecimento. 8. ed. rev., atual. São Paulo: RT, 2010. (Curso de Processo Civil; v.2) MARMITT, Arnaldo. Adoção. Rio de Janeiro: Aide, 1993. MIRANDA, Pontes de. Direito de Família. Rio de Janeiro: Ribeiro dos Santos, 1917, p. 337-353 SANTOS, Moacir Amaral. Primeiras linhas do direito processual civil. São Paulo: Max limonad, 1963, v. 3. SILVA, Regina Beatriz Tavares. Paternidade Sócio-afetiva. Última Instância Revista Jurídica. Disponível em: http://ultimainstancia.uol.com.br/colunas/ler_noticia.php/idn oticia=13611&kw=s%f3cio-afetiva. Acesso em: 25/01/2011. SILVA FILHO, Artur Marques da. O regime jurídico da adoção estatutária. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.

Page 63: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

61

SPRING-DUVOISIN, Denise. L’adoption internacionale: que sont-ils devenus? Lausanne (Suíça):Editions Advimark, 1986. TEPEDINO, Gustavo. A Tutela Jurídica da Filiação – Aspectos Constitucionais e Estatutários. In: Pereira, T. Silva (Coord.). Estatuto da Criança e do Adolescente – Estudos Sócio-jurídicos. Rio de Janeiro: Renovar, 1991. p. 265 e ss. VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Direito de Família. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004 (Coleção Direito Civil, v.6). WELTER, Belmiro Pedro. Inconstitucionalidade do processo de Adoção Judicial. In: _____. Direitos Fundamentais do Direito de Família. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004. p. 70.

Page 64: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

62

ANEXOS COMPLEMENTARES

Page 65: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

63

ANEXO A

LEI Nº 12.010, DE 3 DE AGOSTO DE 2009.

Vigência

Dispõe sobre adoção; altera as Leis nos 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, 8.560, de 29 de dezembro de 1992; revoga dispositivos da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, e da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943; e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Esta Lei dispõe sobre o aperfeiçoamento da sistemática prevista para garantia do direito à convivência familiar a todas as crianças e adolescentes, na forma prevista pela Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, Estatuto da Criança e do Adolescente.

§ 1o A intervenção estatal, em observância ao disposto no caput do art. 226 da Constituição Federal, será prioritariamente voltada à orientação, apoio e promoção social da família natural, junto à qual a criança e o adolescente devem permanecer, ressalvada absoluta impossibilidade, demonstrada por decisão judicial fundamentada.

§ 2o Na impossibilidade de permanência na família natural, a criança e o adolescente serão colocados sob adoção, tutela ou guarda, observadas as regras e princípios contidos na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, e na Constituição Federal.

Art. 2o A Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, Estatuto da Criança e do Adolescente, passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 8o .............................................................................

........................................................................................

§ 4º Incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências do estado puerperal.

§ 5o A assistência referida no § 4o deste artigo deverá ser também prestada a gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção.” (NR)

“Art. 13. ...........................................................................

Parágrafo único. As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude.” (NR)

“Art. 19. ...........................................................................

Page 66: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

64

§ 1º Toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de acolhimento familiar ou institucional terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 6 (seis) meses, devendo a autoridade judiciária competente, com base em relatório elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei.

§ 2o A permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional não se prolongará por mais de 2 (dois) anos, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária.

§ 3o A manutenção ou reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em relação a qualquer outra providência, caso em que será esta incluída em programas de orientação e auxílio, nos termos do parágrafo único do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei.” (NR)

“Art. 25. .........................................................................

Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade.” (NR)

“Art. 28. .........................................................................

§ 1o Sempre que possível, a criança ou o adolescente será previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações da medida, e terá sua opinião devidamente considerada.

§ 2o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será necessário seu consentimento, colhido em audiência.

§ 3o Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida.

§ 4o Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos fraternais.

§ 5o A colocação da criança ou adolescente em família substituta será precedida de sua preparação gradativa e acompanhamento posterior, realizados pela equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar.

§ 6o Em se tratando de criança ou adolescente indígena ou proveniente de comunidade remanescente de quilombo, é ainda obrigatório:

I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade social e cultural, os seus costumes e tradições, bem como suas instituições, desde que não sejam incompatíveis com os direitos fundamentais reconhecidos por esta Lei e pela Constituição Federal;

Page 67: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

65

II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia;

III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão federal responsável pela política indigenista, no caso de crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, perante a equipe interprofissional ou multidisciplinar que irá acompanhar o caso.” (NR)

“Art. 33. ...........................................................................

.......................................................................................

§ 4º Salvo expressa e fundamentada determinação em contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando a medida for aplicada em preparação para adoção, o deferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros não impede o exercício do direito de visitas pelos pais, assim como o dever de prestar alimentos, que serão objeto de regulamentação específica, a pedido do interessado ou do Ministério Público.” (NR)

“Art. 34. O poder público estimulará, por meio de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente afastado do convívio familiar.

§ 1o A inclusão da criança ou adolescente em programas de acolhimento familiar terá preferência a seu acolhimento institucional, observado, em qualquer caso, o caráter temporário e excepcional da medida, nos termos desta Lei.

§ 2o Na hipótese do § 1o deste artigo a pessoa ou casal cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá receber a criança ou adolescente mediante guarda, observado o disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei.” (NR)

“Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos.

.............................................................................” (NR)

“Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qualquer documento autêntico, conforme previsto no parágrafo único do art. 1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias após a abertura da sucessão, ingressar com pedido destinado ao controle judicial do ato, observando o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei.

Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão observados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta Lei, somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada na disposição de última vontade, se restar comprovado que a medida é vantajosa ao tutelando e que não existe outra pessoa em melhores condições de assumi-la.” (NR)

“Art. 39. ...........................................................................

§ 1o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei.

§ 2o É vedada a adoção por procuração.” (NR)

Page 68: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

66

“Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente do estado civil.

.......................................................................................

§ 2o Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família.

........................................................................................

§ 4o Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros podem adotar conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância do período de convivência e que seja comprovada a existência de vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade da concessão.

§ 5o Nos casos do § 4o deste artigo, desde que demonstrado efetivo benefício ao adotando, será assegurada a guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil.

§ 6o A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a sentença.” (NR)

“Art. 46. ............................................................................

§ 1o O estágio de convivência poderá ser dispensado se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da constituição do vínculo.

§ 2o A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a dispensa da realização do estágio de convivência.

§ 3o Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência, cumprido no território nacional, será de, no mínimo, 30 (trinta) dias.

§ 4o O estágio de convivência será acompanhado pela equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política de garantia do direito à convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso acerca da conveniência do deferimento da medida.” (NR)

“Art. 47. ..........................................................................

.......................................................................................

§ 3o A pedido do adotante, o novo registro poderá ser lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua residência.

§ 4o Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá constar nas certidões do registro.

§ 5o A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a modificação do prenome.

Page 69: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

67

§ 6o Caso a modificação de prenome seja requerida pelo adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.

§ 7o A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese prevista no § 6o do art. 42 desta Lei, caso em que terá força retroativa à data do óbito.

§ 8o O processo relativo à adoção assim como outros a ele relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se seu armazenamento em microfilme ou por outros meios, garantida a sua conservação para consulta a qualquer tempo.” (NR)

“Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos.

Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica.” (NR)

“Art. 50. ...........................................................................

........................................................................................

§ 3o A inscrição de postulantes à adoção será precedida de um período de preparação psicossocial e jurídica, orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar.

§ 4o Sempre que possível e recomendável, a preparação referida no § 3o deste artigo incluirá o contato com crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou institucional em condições de serem adotados, a ser realizado sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de acolhimento e pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar.

§ 5o Serão criados e implementados cadastros estaduais e nacional de crianças e adolescentes em condições de serem adotados e de pessoas ou casais habilitados à adoção.

§ 6o Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais residentes fora do País, que somente serão consultados na inexistência de postulantes nacionais habilitados nos cadastros mencionados no § 5o deste artigo.

§ 7o As autoridades estaduais e federais em matéria de adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-lhes a troca de informações e a cooperação mútua, para melhoria do sistema.

§ 8o A autoridade judiciária providenciará, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e adolescentes em condições de serem adotados que não tiveram colocação familiar na comarca de origem, e das pessoas ou casais que tiveram deferida sua habilitação à adoção nos cadastros estadual e nacional referidos no § 5o deste artigo, sob pena de responsabilidade.

Page 70: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

68

§ 9o Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela manutenção e correta alimentação dos cadastros, com posterior comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira.

§ 10. A adoção internacional somente será deferida se, após consulta ao cadastro de pessoas ou casais habilitados à adoção, mantido pela Justiça da Infância e da Juventude na comarca, bem como aos cadastros estadual e nacional referidos no § 5o deste artigo, não for encontrado interessado com residência permanente no Brasil.

§ 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal interessado em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre que possível e recomendável, será colocado sob guarda de família cadastrada em programa de acolhimento familiar.

§ 12. A alimentação do cadastro e a convocação criteriosa dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo Ministério Público.

§ 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor de candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previamente nos termos desta Lei quando:

I - se tratar de pedido de adoção unilateral;

II - for formulada por parente com o qual a criança ou adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade;

III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a ocorrência de má-fé ou qualquer das situações previstas nos arts. 237 ou 238 desta Lei.

§ 14. Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o candidato deverá comprovar, no curso do procedimento, que preenche os requisitos necessários à adoção, conforme previsto nesta Lei.” (NR)

“Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na qual a pessoa ou casal postulante é residente ou domiciliado fora do Brasil, conforme previsto no Artigo 2 da Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, aprovada pelo Decreto Legislativo no 1, de 14 de janeiro de 1999, e promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21 de junho de 1999.

§ 1o A adoção internacional de criança ou adolescente brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar quando restar comprovado:

I - que a colocação em família substituta é a solução adequada ao caso concreto;

II - que foram esgotadas todas as possibilidades de colocação da criança ou adolescente em família substituta brasileira, após consulta aos cadastros mencionados no art. 50 desta Lei;

III - que, em se tratando de adoção de adolescente, este foi consultado, por meios adequados ao seu estágio de desenvolvimento, e que se encontra preparado para a medida, mediante parecer elaborado por equipe interprofissional, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.

Page 71: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

69

§ 2o Os brasileiros residentes no exterior terão preferência aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional de criança ou adolescente brasileiro.

§ 3o A adoção internacional pressupõe a intervenção das Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria de adoção internacional.” (NR)

“Art. 52. A adoção internacional observará o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as seguintes adaptações:

I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em matéria de adoção internacional no país de acolhida, assim entendido aquele onde está situada sua residência habitual;

II - se a Autoridade Central do país de acolhida considerar que os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar, emitirá um relatório que contenha informações sobre a identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio social, os motivos que os animam e sua aptidão para assumir uma adoção internacional;

III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal Brasileira;

IV - o relatório será instruído com toda a documentação necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada da legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova de vigência;

V - os documentos em língua estrangeira serão devidamente autenticados pela autoridade consular, observados os tratados e convenções internacionais, e acompanhados da respectiva tradução, por tradutor público juramentado;

VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigências e solicitar complementação sobre o estudo psicossocial do postulante estrangeiro à adoção, já realizado no país de acolhida;

VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade Central Estadual, a compatibilidade da legislação estrangeira com a nacional, além do preenchimento por parte dos postulantes à medida dos requisitos objetivos e subjetivos necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe esta Lei como da legislação do país de acolhida, será expedido laudo de habilitação à adoção internacional, que terá validade por, no máximo, 1 (um) ano;

VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado será autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança ou adolescente, conforme indicação efetuada pela Autoridade Central Estadual.

§ 1o Se a legislação do país de acolhida assim o autorizar, admite-se que os pedidos de habilitação à adoção internacional sejam intermediados por organismos credenciados.

§ 2o Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira o credenciamento de organismos nacionais e estrangeiros encarregados de intermediar pedidos de habilitação à adoção internacional, com posterior comunicação às Autoridades Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de imprensa e em sítio próprio da internet.

Page 72: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

70

§ 3o Somente será admissível o credenciamento de organismos que:

I - sejam oriundos de países que ratificaram a Convenção de Haia e estejam devidamente credenciados pela Autoridade Central do país onde estiverem sediados e no país de acolhida do adotando para atuar em adoção internacional no Brasil;

II - satisfizerem as condições de integridade moral, competência profissional, experiência e responsabilidade exigidas pelos países respectivos e pela Autoridade Central Federal Brasileira;

III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua formação e experiência para atuar na área de adoção internacional;

IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Autoridade Central Federal Brasileira.

§ 4o Os organismos credenciados deverão ainda:

I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições e dentro dos limites fixados pelas autoridades competentes do país onde estiverem sediados, do país de acolhida e pela Autoridade Central Federal Brasileira;

II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualificadas e de reconhecida idoneidade moral, com comprovada formação ou experiência para atuar na área de adoção internacional, cadastradas pelo Departamento de Polícia Federal e aprovadas pela Autoridade Central Federal Brasileira, mediante publicação de portaria do órgão federal competente;

III - estar submetidos à supervisão das autoridades competentes do país onde estiverem sediados e no país de acolhida, inclusive quanto à sua composição, funcionamento e situação financeira;

IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, a cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas, bem como relatório de acompanhamento das adoções internacionais efetuadas no período, cuja cópia será encaminhada ao Departamento de Polícia Federal;

V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) anos. O envio do relatório será mantido até a juntada de cópia autenticada do registro civil, estabelecendo a cidadania do país de acolhida para o adotado;

VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal Brasileira cópia da certidão de registro de nascimento estrangeira e do certificado de nacionalidade tão logo lhes sejam concedidos.

§ 5o A não apresentação dos relatórios referidos no § 4o deste artigo pelo organismo credenciado poderá acarretar a suspensão de seu credenciamento.

§ 6o O credenciamento de organismo nacional ou estrangeiro encarregado de intermediar pedidos de adoção internacional terá validade de 2 (dois) anos.

Page 73: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

71

§ 7o A renovação do credenciamento poderá ser concedida mediante requerimento protocolado na Autoridade Central Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores ao término do respectivo prazo de validade.

§ 8o Antes de transitada em julgado a decisão que concedeu a adoção internacional, não será permitida a saída do adotando do território nacional.

§ 9o Transitada em julgado a decisão, a autoridade judiciária determinará a expedição de alvará com autorização de viagem, bem como para obtenção de passaporte, constando, obrigatoriamente, as características da criança ou adolescente adotado, como idade, cor, sexo, eventuais sinais ou traços peculiares, assim como foto recente e a aposição da impressão digital do seu polegar direito, instruindo o documento com cópia autenticada da decisão e certidão de trânsito em julgado.

§ 10. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a qualquer momento, solicitar informações sobre a situação das crianças e adolescentes adotados.

§ 11. A cobrança de valores por parte dos organismos credenciados, que sejam considerados abusivos pela Autoridade Central Federal Brasileira e que não estejam devidamente comprovados, é causa de seu descredenciamento.

§ 12. Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem ser representados por mais de uma entidade credenciada para atuar na cooperação em adoção internacional.

§ 13. A habilitação de postulante estrangeiro ou domiciliado fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) ano, podendo ser renovada.

§ 14. É vedado o contato direto de representantes de organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com dirigentes de programas de acolhimento institucional ou familiar, assim como com crianças e adolescentes em condições de serem adotados, sem a devida autorização judicial.

§ 15. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá limitar ou suspender a concessão de novos credenciamentos sempre que julgar necessário, mediante ato administrativo fundamentado.” (NR)

“Art. 52-A. É vedado, sob pena de responsabilidade e descredenciamento, o repasse de recursos provenientes de organismos estrangeiros encarregados de intermediar pedidos de adoção internacional a organismos nacionais ou a pessoas físicas.

Parágrafo único. Eventuais repasses somente poderão ser efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente e estarão sujeitos às deliberações do respectivo Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente.”

“Art. 52-B. A adoção por brasileiro residente no exterior em país ratificante da Convenção de Haia, cujo processo de adoção tenha sido processado em conformidade com a legislação vigente no país de residência e atendido o disposto na Alínea “c” do Artigo 17 da referida Convenção, será automaticamente recepcionada com o reingresso no Brasil.

§ 1o Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea “c” do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça.

Page 74: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

72

§ 2o O pretendente brasileiro residente no exterior em país não ratificante da Convenção de Haia, uma vez reingressado no Brasil, deverá requerer a homologação da sentença estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça.”

“Art. 52-C. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país de acolhida, a decisão da autoridade competente do país de origem da criança ou do adolescente será conhecida pela Autoridade Central Estadual que tiver processado o pedido de habilitação dos pais adotivos, que comunicará o fato à Autoridade Central Federal e determinará as providências necessárias à expedição do Certificado de Naturalização Provisório.

§ 1o A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério Público, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela decisão se restar demonstrado que a adoção é manifestamente contrária à ordem pública ou não atende ao interesse superior da criança ou do adolescente.

§ 2o Na hipótese de não reconhecimento da adoção, prevista no § 1o deste artigo, o Ministério Público deverá imediatamente requerer o que for de direito para resguardar os interesses da criança ou do adolescente, comunicando-se as providências à Autoridade Central Estadual, que fará a comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira e à Autoridade Central do país de origem.”

“Art. 52-D. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no país de origem porque a sua legislação a delega ao país de acolhida, ou, ainda, na hipótese de, mesmo com decisão, a criança ou o adolescente ser oriundo de país que não tenha aderido à Convenção referida, o processo de adoção seguirá as regras da adoção nacional.”

“Art. 87. ..........................................................................

......................................................................................

VI - políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar o período de afastamento do convívio familiar e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência familiar de crianças e adolescentes;

VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de guarda de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos.” (NR)

“Art. 88. ...........................................................................

.......................................................................................

VI - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e encarregados da execução das políticas sociais básicas e de assistência social, para efeito de agilização do atendimento de crianças e de adolescentes inseridos em programas de acolhimento familiar ou institucional, com vista na sua rápida reintegração à família de origem ou, se tal solução se mostrar comprovadamente inviável, sua colocação em família substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei;

VII - mobilização da opinião pública para a indispensável participação dos diversos segmentos da sociedade.” (NR)

Page 75: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

73

“Art. 90. ...........................................................................

.......................................................................................

IV - acolhimento institucional;

.......................................................................................

§ 1o As entidades governamentais e não governamentais deverão proceder à inscrição de seus programas, especificando os regimes de atendimento, na forma definida neste artigo, no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual manterá registro das inscrições e de suas alterações, do que fará comunicação ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária.

§ 2o Os recursos destinados à implementação e manutenção dos programas relacionados neste artigo serão previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos públicos encarregados das áreas de Educação, Saúde e Assistência Social, dentre outros, observando-se o princípio da prioridade absoluta à criança e ao adolescente preconizado pelo caput do art. 227 da Constituição Federal e pelo caput e parágrafo único do art. 4o desta Lei.

§ 3o Os programas em execução serão reavaliados pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, no máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se critérios para renovação da autorização de funcionamento:

I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei, bem como às resoluções relativas à modalidade de atendimento prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, em todos os níveis;

II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido, atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e pela Justiça da Infância e da Juventude;

III - em se tratando de programas de acolhimento institucional ou familiar, serão considerados os índices de sucesso na reintegração familiar ou de adaptação à família substituta, conforme o caso.” (NR)

“Art. 91. .........................................................................

§ 1º Será negado o registro à entidade que:

......................................................................................

e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e deliberações relativas à modalidade de atendimento prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, em todos os níveis.

§ 2o O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos, cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de sua renovação, observado o disposto no § 1o deste artigo.” (NR)

“Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de acolhimento familiar ou institucional deverão adotar os seguintes princípios:

I - preservação dos vínculos familiares e promoção da reintegração familiar;

Page 76: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

74

II - integração em família substituta, quando esgotados os recursos de manutenção na família natural ou extensa;

.......................................................................................

§ 1º O dirigente de entidade que desenvolve programa de acolhimento institucional é equiparado ao guardião, para todos os efeitos de direito.

§ 2o Os dirigentes de entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institucional remeterão à autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, relatório circunstanciado acerca da situação de cada criança ou adolescente acolhido e sua família, para fins da reavaliação prevista no § 1o do art. 19 desta Lei.

§ 3o Os entes federados, por intermédio dos Poderes Executivo e Judiciário, promoverão conjuntamente a permanente qualificação dos profissionais que atuam direta ou indiretamente em programas de acolhimento institucional e destinados à colocação familiar de crianças e adolescentes, incluindo membros do Poder Judiciário, Ministério Público e Conselho Tutelar.

§ 4o Salvo determinação em contrário da autoridade judiciária competente, as entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institucional, se necessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos órgãos de assistência social, estimularão o contato da criança ou adolescente com seus pais e parentes, em cumprimento ao disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo.

§ 5o As entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institucional somente poderão receber recursos públicos se comprovado o atendimento dos princípios, exigências e finalidades desta Lei.

§ 6o O descumprimento das disposições desta Lei pelo dirigente de entidade que desenvolva programas de acolhimento familiar ou institucional é causa de sua destituição, sem prejuízo da apuração de sua responsabilidade administrativa, civil e criminal.” (NR)

“Art. 93. As entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação da autoridade competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da Infância e da Juventude, sob pena de responsabilidade.

Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessário com o apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas necessárias para promover a imediata reintegração familiar da criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for isso possível ou recomendável, para seu encaminhamento a programa de acolhimento familiar, institucional ou a família substituta, observado o disposto no § 2o do art. 101 desta Lei.” (NR)

“Art. 94. .............................................................................

.........................................................................................

§ 1o Aplicam-se, no que couber, as obrigações constantes deste artigo às entidades que mantêm programas de acolhimento institucional e familiar.

..............................................................................” (NR)

Page 77: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

75

“Art. 97. ..........................................................................

.......................................................................................

§ 1o Em caso de reiteradas infrações cometidas por entidades de atendimento, que coloquem em risco os direitos assegurados nesta Lei, deverá ser o fato comunicado ao Ministério Público ou representado perante autoridade judiciária competente para as providências cabíveis, inclusive suspensão das atividades ou dissolução da entidade.

§ 2o As pessoas jurídicas de direito público e as organizações não governamentais responderão pelos danos que seus agentes causarem às crianças e aos adolescentes, caracterizado o descumprimento dos princípios norteadores das atividades de proteção específica.” (NR)

“Art. 100. ........................................................................

Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas:

I - condição da criança e do adolescente como sujeitos de direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos direitos previstos nesta e em outras Leis, bem como na Constituição Federal;

II - proteção integral e prioritária: a interpretação e aplicação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve ser voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que crianças e adolescentes são titulares;

III - responsabilidade primária e solidária do poder público: a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo nos casos por esta expressamente ressalvados, é de responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas de governo, sem prejuízo da municipalização do atendimento e da possibilidade da execução de programas por entidades não governamentais;

IV - interesse superior da criança e do adolescente: a intervenção deve atender prioritariamente aos interesses e direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da consideração que for devida a outros interesses legítimos no âmbito da pluralidade dos interesses presentes no caso concreto;

V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada;

VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo seja conhecida;

VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e à proteção da criança e do adolescente;

VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve ser a necessária e adequada à situação de perigo em que a criança ou o adolescente se encontram no momento em que a decisão é tomada;

IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres para com a criança e o adolescente;

Page 78: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

76

X - prevalência da família: na promoção de direitos e na proteção da criança e do adolescente deve ser dada prevalência às medidas que os mantenham ou reintegrem na sua família natural ou extensa ou, se isto não for possível, que promovam a sua integração em família substituta;

XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e capacidade de compreensão, seus pais ou responsável devem ser informados dos seus direitos, dos motivos que determinaram a intervenção e da forma como esta se processa;

XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o adolescente, em separado ou na companhia dos pais, de responsável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar nos atos e na definição da medida de promoção dos direitos e de proteção, sendo sua opinião devidamente considerada pela autoridade judiciária competente, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.” (NR)

“Art. 101. .........................................................................

.......................................................................................

VII - acolhimento institucional;

VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;

IX - colocação em família substituta.

§ 1o O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade.

§ 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar é de competência exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.

§ 3o Crianças e adolescentes somente poderão ser encaminhados às instituições que executam programas de acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre outros:

I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de seu responsável, se conhecidos;

II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, com pontos de referência;

III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los sob sua guarda;

IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio familiar.

Page 79: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

77

§ 4o Imediatamente após o acolhimento da criança ou do adolescente, a entidade responsável pelo programa de acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano individual de atendimento, visando à reintegração familiar, ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em contrário de autoridade judiciária competente, caso em que também deverá contemplar sua colocação em família substituta, observadas as regras e princípios desta Lei.

§ 5o O plano individual será elaborado sob a responsabilidade da equipe técnica do respectivo programa de atendimento e levará em consideração a opinião da criança ou do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável.

§ 6o Constarão do plano individual, dentre outros:

I - os resultados da avaliação interdisciplinar;

II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável; e

III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja esta vedada por expressa e fundamentada determinação judicial, as providências a serem tomadas para sua colocação em família substituta, sob direta supervisão da autoridade judiciária.

§ 7o O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no local mais próximo à residência dos pais ou do responsável e, como parte do processo de reintegração familiar, sempre que identificada a necessidade, a família de origem será incluída em programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção social, sendo facilitado e estimulado o contato com a criança ou com o adolescente acolhido.

§ 8o Verificada a possibilidade de reintegração familiar, o responsável pelo programa de acolhimento familiar ou institucional fará imediata comunicação à autoridade judiciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo.

§ 9o Em sendo constatada a impossibilidade de reintegração da criança ou do adolescente à família de origem, após seu encaminhamento a programas oficiais ou comunitários de orientação, apoio e promoção social, será enviado relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual conste a descrição pormenorizada das providências tomadas e a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos da entidade ou responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar, para a destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou guarda.

§ 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o prazo de 30 (trinta) dias para o ingresso com a ação de destituição do poder familiar, salvo se entender necessária a realização de estudos complementares ou outras providências que entender indispensáveis ao ajuizamento da demanda.

§ 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um cadastro contendo informações atualizadas sobre as crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar e institucional sob sua responsabilidade, com informações pormenorizadas sobre a situação jurídica de cada um, bem como as providências tomadas para sua reintegração familiar ou colocação em família substituta, em qualquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei.

Page 80: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

78

§ 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e da Assistência Social, aos quais incumbe deliberar sobre a implementação de políticas públicas que permitam reduzir o número de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar e abreviar o período de permanência em programa de acolhimento.” (NR)

“Art. 102. ..........................................................................

........................................................................................

§ 3o Caso ainda não definida a paternidade, será deflagrado procedimento específico destinado à sua averiguação, conforme previsto pela Lei no 8.560, de 29 de dezembro de 1992.

§ 4o Nas hipóteses previstas no § 3o deste artigo, é dispensável o ajuizamento de ação de investigação de paternidade pelo Ministério Público se, após o não comparecimento ou a recusa do suposto pai em assumir a paternidade a ele atribuída, a criança for encaminhada para adoção.” (NR)

“Art. 136. .........................................................................

.......................................................................................

XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural.

Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orientação, o apoio e a promoção social da família.” (NR)

“Art. 152. .....................................................................

Parágrafo único. É assegurada, sob pena de responsabilidade, prioridade absoluta na tramitação dos processos e procedimentos previstos nesta Lei, assim como na execução dos atos e diligências judiciais a eles referentes.” (NR)

“Art. 153. .....................................................................

Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica para o fim de afastamento da criança ou do adolescente de sua família de origem e em outros procedimentos necessariamente contenciosos.” (NR)

“Art. 161. .....................................................................

§ 1o A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das partes ou do Ministério Público, determinará a realização de estudo social ou perícia por equipe interprofissional ou multidisciplinar, bem como a oitiva de testemunhas que comprovem a presença de uma das causas de suspensão ou destituição do poder familiar previstas nos arts. 1.637 e 1.638 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, ou no art. 24 desta Lei.

Page 81: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

79

§ 2o Em sendo os pais oriundos de comunidades indígenas, é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe profissional ou multidisciplinar referida no § 1o deste artigo, de representantes do órgão federal responsável pela política indigenista, observado o disposto no § 6o do art. 28 desta Lei.

§ 3o Se o pedido importar em modificação de guarda, será obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da criança ou adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações da medida.

§ 4o É obrigatória a oitiva dos pais sempre que esses forem identificados e estiverem em local conhecido.” (NR)

“Art. 163. O prazo máximo para conclusão do procedimento será de 120 (cento e vinte) dias.

Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou a suspensão do poder familiar será averbada à margem do registro de nascimento da criança ou do adolescente.” (NR)

“Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do poder familiar, ou houverem aderido expressamente ao pedido de colocação em família substituta, este poderá ser formulado diretamente em cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes, dispensada a assistência de advogado.

§ 1o Na hipótese de concordância dos pais, esses serão ouvidos pela autoridade judiciária e pelo representante do Ministério Público, tomando-se por termo as declarações.

§ 2o O consentimento dos titulares do poder familiar será precedido de orientações e esclarecimentos prestados pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, em especial, no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade da medida.

§ 3o O consentimento dos titulares do poder familiar será colhido pela autoridade judiciária competente em audiência, presente o Ministério Público, garantida a livre manifestação de vontade e esgotados os esforços para manutenção da criança ou do adolescente na família natural ou extensa.

§ 4o O consentimento prestado por escrito não terá validade se não for ratificado na audiência a que se refere o § 3o deste artigo.

§ 5o O consentimento é retratável até a data da publicação da sentença constitutiva da adoção.

§ 6o O consentimento somente terá valor se for dado após o nascimento da criança.

§ 7o A família substituta receberá a devida orientação por intermédio de equipe técnica interprofissional a serviço do Poder Judiciário, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar.” (NR)

“Art. 167. ...................................................................

Parágrafo único. Deferida a concessão da guarda provisória ou do estágio de convivência, a criança ou o adolescente será entregue ao interessado, mediante termo de responsabilidade.” (NR)

Page 82: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

80

“Art. 170. ...................................................................

Parágrafo único. A colocação de criança ou adolescente sob a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhimento familiar será comunicada pela autoridade judiciária à entidade por este responsável no prazo máximo de 5 (cinco) dias.” (NR)

“Seção VIII

Da Habilitação de Pretendentes à Adoção

„Art. 197-A. Os postulantes à adoção, domiciliados no Brasil, apresentarão petição inicial na qual conste:

I - qualificação completa;

II - dados familiares;

III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou casamento, ou declaração relativa ao período de união estável;

IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas;

V - comprovante de renda e domicílio;

VI - atestados de sanidade física e mental;

VII - certidão de antecedentes criminais;

VIII - certidão negativa de distribuição cível.‟

„Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá:

I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe interprofissional encarregada de elaborar o estudo técnico a que se refere o art. 197-C desta Lei;

II - requerer a designação de audiência para oitiva dos postulantes em juízo e testemunhas;

III - requerer a juntada de documentos complementares e a realização de outras diligências que entender necessárias.‟

„Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá subsídios que permitam aferir a capacidade e o preparo dos postulantes para o exercício de uma paternidade ou maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios desta Lei.

§ 1o É obrigatória a participação dos postulantes em programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventude preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar, que inclua preparação psicológica, orientação e estímulo à adoção inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos.

Page 83: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

81

§ 2o Sempre que possível e recomendável, a etapa obrigatória da preparação referida no § 1o deste artigo incluirá o contato com crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar ou institucional em condições de serem adotados, a ser realizado sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, com o apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de acolhimento familiar ou institucional e pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar.‟

„Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da participação no programa referido no art. 197-C desta Lei, a autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, decidirá acerca das diligências requeridas pelo Ministério Público e determinará a juntada do estudo psicossocial, designando, conforme o caso, audiência de instrução e julgamento.

Parágrafo único. Caso não sejam requeridas diligências, ou sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária determinará a juntada do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo.‟

„Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será inscrito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de crianças ou adolescentes adotáveis.

§ 1o A ordem cronológica das habilitações somente poderá deixar de ser observada pela autoridade judiciária nas hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando comprovado ser essa a melhor solução no interesse do adotando.

§ 2o A recusa sistemática na adoção das crianças ou adolescentes indicados importará na reavaliação da habilitação concedida.‟”

“Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz efeito desde logo, embora sujeita a apelação, que será recebida exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de adoção internacional ou se houver perigo de dano irreparável ou de difícil reparação ao adotando.”

“Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qualquer dos genitores do poder familiar fica sujeita a apelação, que deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo.”

“Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de adoção e de destituição de poder familiar, em face da relevância das questões, serão processados com prioridade absoluta, devendo ser imediatamente distribuídos, ficando vedado que aguardem, em qualquer situação, oportuna distribuição, e serão colocados em mesa para julgamento sem revisão e com parecer urgente do Ministério Público.”

“Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em mesa para julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, contado da sua conclusão.

Parágrafo único. O Ministério Público será intimado da data do julgamento e poderá na sessão, se entender necessário, apresentar oralmente seu parecer.”

“Art. 199-E. O Ministério Público poderá requerer a instauração de procedimento para apuração de responsabilidades se constatar o descumprimento das providências e do prazo previstos nos artigos anteriores.”

“Art. 208. ..........................................................................

Page 84: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

82

........................................................................................

“IX - de ações, serviços e programas de orientação, apoio e promoção social de famílias e destinados ao pleno exercício do direito à convivência familiar por crianças e adolescentes.

...........................................................................................” (NR)

“Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de providenciar a instalação e operacionalização dos cadastros previstos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei:

Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais).

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autoridade que deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de adolescentes em condições de serem adotadas, de pessoas ou casais habilitados à adoção e de crianças e adolescentes em regime de acolhimento institucional ou familiar.”

“Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso de que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada em entregar seu filho para adoção:

Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais).

Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário de programa oficial ou comunitário destinado à garantia do direito à convivência familiar que deixa de efetuar a comunicação referida no caput deste artigo.”

“Art. 260. ...........................................................................

.........................................................................................

§ 1º-A. Na definição das prioridades a serem atendidas com os recursos captados pelos Fundos Nacional, Estaduais e Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente, serão consideradas as disposições do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar, bem como as regras e princípios relativos à garantia do direito à convivência familiar previstos nesta Lei.

........................................................................................

§ 5o A destinação de recursos provenientes dos fundos mencionados neste artigo não desobriga os Entes Federados à previsão, no orçamento dos respectivos órgãos encarregados da execução das políticas públicas de assistência social, educação e saúde, dos recursos necessários à implementação das ações, serviços e programas de atendimento a crianças, adolescentes e famílias, em respeito ao princípio da prioridade absoluta estabelecido pelo caput do art. 227 da Constituição Federal e pelo caput e parágrafo único do art. 4o desta Lei.” (NR)

Art. 3o A expressão “pátrio poder” contida nos arts. 21, 23, 24, no parágrafo único do art. 36, no § 1º do art. 45, no art. 49, no inciso X do caput do art. 129, nas alíneas “b” e “d” do parágrafo único do art. 148, nos arts. 155, 157, 163, 166, 169, no inciso III do caput do art. 201 e no art. 249, todos da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, bem como na Seção II

Page 85: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

83

do Capítulo III do Título VI da Parte Especial do mesmo Diploma Legal, fica substituída pela expressão “poder familiar”.

Art. 4o Os arts. 1.618, 1.619 e 1.734 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, passam a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 1.618. A adoção de crianças e adolescentes será deferida na forma prevista pela Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.” (NR)

“Art. 1.619. A adoção de maiores de 18 (dezoito) anos dependerá da assistência efetiva do poder público e de sentença constitutiva, aplicando-se, no que couber, as regras gerais da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.” (NR)

“Art. 1.734. As crianças e os adolescentes cujos pais forem desconhecidos, falecidos ou que tiverem sido suspensos ou destituídos do poder familiar terão tutores nomeados pelo Juiz ou serão incluídos em programa de colocação familiar, na forma prevista pela Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.” (NR)

Art. 5o O art. 2o da Lei no 8.560, de 29 de dezembro de 1992, fica acrescido do seguinte § 5o, renumerando-se o atual § 5o para § 6o, com a seguinte redação:

“Art. 2o .................................................

.........................................................................................

§ 5º Nas hipóteses previstas no § 4o deste artigo, é dispensável o ajuizamento de ação de investigação de paternidade pelo Ministério Público se, após o não comparecimento ou a recusa do suposto pai em assumir a paternidade a ele atribuída, a criança for encaminhada para adoção.

§ 6o A iniciativa conferida ao Ministério Público não impede a quem tenha legítimo interesse de intentar investigação, visando a obter o pretendido reconhecimento da paternidade.” (NR)

Art. 6o As pessoas e casais já inscritos nos cadastros de adoção ficam obrigados a frequentar, no prazo máximo de 1 (um) ano, contado da entrada em vigor desta Lei, a preparação psicossocial e jurídica a que se referem os §§ 3o e 4o do art. 50 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, acrescidos pelo art. 2o desta Lei, sob pena de cassação de sua inscrição no cadastro.

Art. 7o Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias após a sua publicação.

Art. 8o Revogam-se o § 4o do art. 51 e os incisos IV, V e VI do caput do art. 198 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, bem como o parágrafo único do art. 1.618, o inciso III do caput do art. 10 e os arts. 1.620 a 1.629 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, e os §§ 1o a 3o do art. 392-A da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943.

Brasília, 3 de agosto de 2009; 188o da Independência e 121o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Tarso Genro Celso Luiz Nunes Amorim

Page 86: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

84

ANEXO B

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

PRESIDÊNCIA

RESOLUÇÃO Nº 54, DE 29 DE ABRIL DE 2008

Dispõe sobre a implantação e funcionamento do Cadastro Nacional de Adoção.

O PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, no uso de suas atribuições conferidas pela Constituição da República, especialmente o disposto no inciso I, §4º, art. 103-B;

CONSIDERANDO a prioridade das políticas de atendimento à infância e juventude, preconizada pelo art. 227 da Carta Constitucional;

CONSIDERANDO as normas referentes ao instituto da adoção contidas no Estatuto da Criança e do Adolescente e no Código Civil;

CONSIDERANDO que a consolidação em Banco de Dados, único e nacional de informações, sobre crianças e adolescentes a serem adotados e de pretendentes à adoção, viabiliza que se esgotem as buscas de habilitados residentes no Brasil, antes de se deferir a sua adoção por família estrangeira, em atenção ao disposto no artigo 31, da Lei 8.069/90;

RESOLVE: Art. 1º. O Conselho Nacional de Justiça implantará o Banco Nacional de

Adoção, que tem por finalidade consolidar dados de todas as comarcas das unidades da federação referentes a crianças e adolescentes disponíveis para adoção, após o trânsito em julgado dos respectivos processos, assim como dos pretendentes a adoção domiciliados no Brasil e devidamente habilitados.

Art. 2º. O Banco Nacional de Adoção ficará hospedado no Conselho Nacional de Justiça, assegurado o acesso aos dados nele contidos exclusivamente pelos órgãos autorizados.

Art. 3º. As Corregedorias dos Tribunais de Justiça funcionarão como administradoras do sistema do respectivo Estado, e terão acesso integral aos cadastrados, com a atribuição de cadastrar e liberar o acesso ao juiz competente de cada uma das comarcas, bem como zelar pela correta alimentação do sistema, que deverá se ultimar no prazo de 180 dias da publicação desta Resolução.

Art. 4 º. As Corregedorias Gerais da Justiça e os juízes responsáveis pela alimentação diária do sistema encaminharão os dados por meio eletrônico ao Banco Nacional de Adoção.

Art. 5 º. O Conselho Nacional de Justiça prestará o apoio técnico necessário aos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal para alimentar os dados no Banco Nacional de Adoção.

Parágrafo único- Os Tribunais poderão manter os atuais sistemas de controle de adoções em utilização, ou substituí-los por outros que entendam mais adequados, desde que assegurada a migração dos dados, por meio eletrônico, contidos nas fichas e formulários que integram os anexos desta Resolução.

Art. 6 º. O Conselho Nacional de Justiça, as Comissões Estaduais Judiciárias de Adoção - CEJAS/Cejais e as Corregedorias Gerais da Justiça devem fomentar campanhas incentivando a adoção de crianças e adolescentes em abrigos e sem perspectivas de reinserção na família natural. Fonte: Diário da Justiça, p. 1, 8 maio 2008.

Page 87: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paula Giovani …tcconline.utp.br/.../05/ADOCAO-NO-ESTATUTO-DA-CRIA… ·  · 2016-03-28ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CURITIBA

85

Parágrafo único- O Conselho Nacional de Justiça celebrará convênio com a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República -SEDH para troca de dados e consultas ao Banco Nacional de Adoção.

Art. 7 º. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação.

Ministro GILMAR MENDES - Presidente do CNJ