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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ BONNYE BARBARA SANTOS A DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER NO AMBIENTE DE TRABALHO CURITIBA 2016

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

BONNYE BARBARA SANTOS

A DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER NO AMBIENTE DE

TRABALHO

CURITIBA

2016

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 8

2 A EVOLUÇÃO DA MULHER NO AMBIENTE DE TRABALHO ................... 9

3 PRINCIPIOS DO DIREITO DO TRABALHO .................................................. 16

3.1 PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO ............................................................................... 17

3.2 PRINCÍPIO DA ISONOMIA NO DIREITO DO TRABALHO .......................... 20

3.2.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ........................................................ 22

4 PRINCÍPIO DA NÃO DISCRIMINAÇÃO ......................................................... 24

4.1 DISCRIMINAÇÃO DIRETA E INDIRETA ........................................................ 26

4.2 DISCRIMINAÇÃO POSITIVA E NEGATIVA ................................................... 28

4.3 A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA NA DISCRIMINAÇÃO ....................... 32

5 PRINCIPAIS FORMAS DE DISCRMINAÇÃO CONTRA A MULHERNO

MERCADO DE TRABALHO ................................................................................. 35

5.1 A DISCRIMINAÇÃO NA RELAÇÃO DE EMPREGO ...................................... 35

5.2 A MATERNIDADE A LUZ DO DIREITO DO TRABALHO ............................ 44

5.3 ASSÉDIO SEXUAL NO AMBIENTE LABORAL ............................................. 49

5.4 PROTEÇÃO AO MERCADO DE TRABALHO DAS MULHERES ................. 54

6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 58

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 60

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

BONNYE BARBARA SANTOS

A DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER NO AMBIENTE DE

TRABALHO

Trabalho Monográfico de Conclusão de Curso

apresentada ao Curso de Direito da Universidade Tuiuti

do Paraná, como requisito parcial a obtenção do título

de Bacharel em Direito.

Professora Orientadora: Mariana Gusso Krieger

CURITIBA

2016

TERMO DE APROVAÇÃO

BONNYE BARBARA SANTOS

A DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER NO AMBIENTE DE

TRABALHO

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do titulo de Bacharel no Curso de Bacharelado em Direito

da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba,_______ de___________________ de 2016.

_______________________________________________

Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografia

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientadora:________________________________________

Prof. Dr. Mariana Gusso Krieger

Universidade Tuiuti do Paraná

Departamento de Ciências Jurídicas

Prof. Dr.:__________________________________________

Universidade Tuiuti do Paraná

Curso de Direito

Prof. Dr.:__________________________________________

Universidade Tuiuti do Paraná

Curso de Direito

RESUMO

O presente trabalho monográfico que se pretende desenvolver terá como objeto o

estudo à Discriminação da Mulher no Ambiente de Trabalho.

O estudo surgiu da necessidade de demonstrar a importância da figura feminina no

ambiente laboral e no desenvolvimento das Leis protecionistas no Direito do Trabalho

e a luta das mulheres pela igualdade de direitos no plano legal ao longo da história no

combate à discriminação da mulher no ambiente laboral.

O escopo inicial é explanar sobre a evolução da mulher no ambiente de trabalho,

abordando como as leis, normas e regras para o encaixe da figura feminina no

Mercado de Trabalho. A seguir, o objeto principal do estudo será a cerca da garantia à

igualdade, ou seja, a não-discriminação da mulher no emprego. Por fim, para

complementar o objeto de estudo visa demonstrar as principais formas de

discriminação contra a mulher, alguns dos percalços que as mulheres ainda enfrentam

no ambiente laborativo.

Palavras-chaves: Discriminação. Mulher. Trabalho.

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - DIFERENÇA SALARIAL ENTRE HOMENS E MULHERES

CONFORME ESCOLARIDADE.................................................................................40

LISTA DE SIGLAS

ART Artigo

CF Constituição Federal

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CP Código Penal

INC Inciso

INSS Instituto Nacional do Seguro Social

LICC Lei de Introdução ao Código Civil

OIT Organização Internacional do Trabalho

ONU Organização das Nações Unidas

SUS Sistema Único de Saúde

TST Tribunal Superior do Trabalho

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................. Erro! Indicador não definido.

2 A EVOLUÇÃO DA MULHER NO AMBIENTE DE TRABALHO .......... 9

3 PRINCÍPIOS NO DIREITO DO TRABALHOErro! Indicador não

definido.

3.1 PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO .......................... Erro! Indicador não definido.

3.2 PRINCÍPIO DA ISONOMIA NO DIREITO DO TRABALHO ............... Erro!

Indicador não definido.

3.2.1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANAErro! Indicador não

definido.

4 PRINCÍPIO DA NÃO DISCRIMINAÇÃO ..... Erro! Indicador não definido.

4.1 DISCRIMINAÇÃO DIRETA E INDIRETA ... Erro! Indicador não definido.

4.2 DISCRIMINAÇÃO POSITIVA E NEGATIVAErro! Indicador não

definido.

4.3 A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA NA DISCRIMINAÇÃO ........... Erro!

Indicador não definido.

5 PRINCIPAIS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER

NO MERCADO DE TRABALHO.................................. Erro! Indicador não definido.

5.1 A DISCRIMINAÇÃO NA RELAÇÃO DE EMPREGOErro! Indicador não

definido.

5.2 A MATERNIDADE À LUZ DO DIREITO DO TRABALHO ................ Erro!

Indicador não definido.

5.3 ASSÉDIO SEXUAL NO AMBIENTE LABORALErro! Indicador não

definido.

5.4 PROTEÇÃO AO TRABALHO DAS MULHERESErro! Indicador não

definido.

6 CONCLUSÃO .................................................... Erro! Indicador não definido.

REFERENCIAS ............................................................... Erro! Indicador não definido.

9

1 INTRODUÇÃO

A presente monografia possui como objetivo o estudo da discriminação e a

desigualdade de gênero que permeia as relações trabalhistas. Analisar-se-á o papel da

mulher no que tange a sua evolução no ambiente de trabalho, de como ganhou espaço

no ambiente laboral e como o seu papel foi importante na criação das leis

protecionistas no Direito do Trabalho. Também buscar-se-á observar os direitos

trabalhistas aplicados à mulher, na Constituição Federal, na Consolidação das Leis do

Trabalho, e leis esparsas, passando as medidas protetivas ao trabalho da mulher e dos

direitos assegurados à gestante.

A pesquisa tem como foco o princípio da isonomia e não-discriminação

aplicado ao Direito do trabalho, e como a igualdade, como participação e inclusão de

todos, requer tratamento diferenciado para grupos oprimidos ou em desvantagem1.

A discriminação supõe desigualdade, uma desigualdade ilegítima, intolerável

diante das circunstancias e dos padrões vigentes, a discriminação é uma desigualdade

arbitraria, inaceitável e injustificável2.

Passando assim para análise das formas de discriminação manifestada contra a

mulher no emprego, as formas de discriminação, direta, indireta e oculta, a

discriminação vertical e horizontal, a discriminação positiva e ações afirmativas, a

discriminação negativa e inversa, chegando a uma breve análise da inversão do ônus

da prova em casos de discriminação.

Contudo, as garantias a mulher no Direito do Trabalho não são suficientes para

que ela consiga desenvolver-se profissionalmente com tranqüilidade, ainda enfrenta

muitas dificuldades e diversos tipos de discriminação.

Por fim, passar-se-á as principais formas de discriminação contra a mulher no

ambiente laboral, na relação de emprego, a sua contratação, a desigualdade salarial, a

dificuldade a ascensão profissional, a maternidade e o assédio sexual.

1 CALIL, Léa Elisa Silingowschi. Direito do Trabalho da Mulher. São Paulo: LTr, 2007. P.61.

2 MALLET, Estevão. Igualdade e Discriminação em Direito do Trabalho. São Paulo; LTr, 2013.

P.20.

10

2 A EVOLUÇÃO DA MULHER NO AMBIENTE DE TRABALHO

Antigamente, a mulher devia total obediência aos homens e era vista tão

somente como procriadora, sua vida, basicamente, era dedicada aos deveres do lar e a

criação dos filhos. Na Idade Média, a mulher ganhou espaço como aprendiz em

determinados ofícios, como fiandeira e tecedeira de seda. Na Idade Moderna, com o

processo de industrialização das fábricas de tecido, a mulher se introduziu ao trabalho

assalariado. Com a Revolução Industrial, a mulher cumpria longas jornadas de

trabalho, com baixa remuneração salarial, e sujeita a todo tipo de exploração, sem

qualquer proteção, lançadas a própria sorte. As primeiras leis protecionistas em relação

ao trabalho feminino surgiram na Inglaterra, França e Alemanha (PANUZZIO, 2006,

pp.163-164).

A Revolução Industrial foi o marco inicial das normas de proteção ao trabalho

das mulheres. Relatos históricos deste período demonstram que a exploração do

trabalho da mulher, com péssimas condições de salário e trabalho (CAVALCANTE,

2008, p.1011). A mercê da ideologia liberal, a Revolução Industrial trouxe drásticas

consequências sobre a exploração do homem, no furor do lucro descabido. O mercado

tinha regras próprias e atuavam de forma independente, sem a intervenção do Estado

(CUNHA, 2010, p. 218).

Nesse contexto Sérgio Pinto Martins.

No decorrer da Revolução Industrial (século XIX), o trabalho da mulher foi

muito utilizado, principalmente para operação de máquinas. Os empresários

preferiam o trabalho da mulher nas indústrias porque elas aceitavam salários

inferiores aos dos homens, porém faziam os mesmos serviços que estes. Em

razão disso, as mulheres sujeitavam-se a jornadas de 14 a 16 horas por dia,

salários baixos, trabalhando em condições prejudiciais à saúde e cumprindo

obrigações além das que lhe eram possíveis, só para não perder o emprego.

Além de tudo, a mulher deveria, ainda, cuidar dos afazeres domésticos e dos

filhos. Não se observa uma proteção na fase de gestação da mulher ou de

amamentação (2009. p.581).

Com jornadas de trabalho desumanas e regimes de quase escravidão no despeito

da condição humana, com idênticas tarefas aos homens, à mulher recebia remuneração

mais baixa em relação àquela paga ao homem.

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As primeiras manifestações legislativas tiveram por objetivo uma tutela especial

às mulheres, particularmente no que se refere às jornadas e ao trabalho em condições

agressivas a saúde (CUNHA, 2010, p.219).

Surgiu na Inglaterra em 1842, o ―Coal Mining Act”, proibindo o trabalho da

mulher em subterrâneos. Limitando a jornada de trabalho da mulher para 12 horas e

proibindo o trabalho noturno, pelo “Fatory Act”, de 1844. Vedando o trabalho da

mulher em lugares perigosos e insalubres, em 1978 surgiu o “Factory and Workshop

Act‖ (NETO; CAVALCANTE, 2008, p.1011).

Houve, em 1874, na França a lei que proibiu o trabalho da mulher em minas e

pedreiras, assim como o trabalho noturno. Em 1892 surgiu a lei que limitou a jornada

de trabalho da mulher em 11 horas. Outra lei, em 1909, outorgou o direito às mulheres

grávidas do repouso não remunerado de oito semanas, vedando o carregamento de

objetos pesados (MARTINS, 2009, p.581).

A Alemanha fixou normas mínimas quanto ao trabalho da mulher com o

Código Industrial de 1891.

Com o advento da República, o Brasil passou a demonstrar efetiva necessidade

de uma regulamentação das relações de trabalho. O primeiro modelo de legislação

trabalhista aplicado aqui teve inspiração liberal de um Estado Mínimo. A aplicação

desse modelo as relações de trabalho, resultou numa completa ausência de proteção

dos trabalhadores frente aos seus empregadores. Nesta época de industrialização no

Brasil, as condições de trabalho eram degradantes, jornadas que chegavam a 18 horas

diárias e carência de políticas e assistência social (NOVAIS, 2005, p.67).

Em sua condição de ―inferiores‖ as mulheres recebiam remuneração mais baixa

que as do homem. O mesmo acontecia em relação ao trabalho prestado no campo,

onde as mulheres e crianças eram consideradas ―meia enxada‖, recebendo metade do

que a paga a um homem, embora desempenhassem funções semelhantes (CALIL,

2000, p. 21 apud NOVAIS, 2005, p.68).

Essa ausência de proteção por parte do Poder Público durou até início do Século

XX, quando começaram a ser editadas normas especificas de tutela ao trabalho das

mulheres e menores (CALIL, 2000, p.30 apud NOVAIS, 2005, p.68).

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A primeira norma que tratou do trabalho da mulher, no Brasil, foi o Decreto nº

21.417-A, de 1932, que proibia o trabalho noturno da mulher no período das 22 às 5

horas, e vedando a remoção de peso em minerações nos subsolos, nas pedreiras e nos

serviços perigosos e insalubres. Concedeu o descanso de oito semanas em razão do

parto e também dois descansos diários de meia hora para amamentação durante os seis

primeiros meses de vida dos filhos.

A fase protetora do trabalho feminino, no âmbito nacional, coincidiu com a

elaboração de instrumentos no plano internacional, contendo regras destinadas a

preservar a atividade reprodutiva da mulher e assegurar-lhe condições para atender as

obrigações relativas à família (NOVAIS, 2005, p. 69).

Em 1934, foi à primeira Constituição brasileira que versou sobre a

discriminação da mulher quanto a salários. Vedava o trabalho em locais insalubres e

garantia o repouso antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do emprego,

assegurando instituição previdenciária a favor da maternidade. Previa os serviços de

amparo a maternidade (MARTINS, 2009, p.583).

Ainda foi a primeira Constituição brasileira a inscrever expressamente o

princípio da igualdade em razão de sexo, também foi a primeira a prever o voto

feminino, direito já reconhecido desde 1932, pelo Código Eleitoral (GOSDAL, 2003,

p.143).

Também em 1934 o decreto nº 24.273, criou o Instituto de Aposentadoria e

Pensões dos Comerciários, estabelecendo o auxílio maternidade às empregadas do

comércio. No mesmo ano, o Brasil ratificou a Convenção nº. 3 da Organização

Internacional do Trabalho (OIT), de 1919, promulgada mediante o Decreto nº.423, que

estabelecia licença remunerada a gestante de 12 semanas (seis antes e seis depois do

parto), garantia de emprego no período de gravidez e licença.

No mesmo ano, o Brasil ratificou a Convenção nº. 4 da OIT, que proibia o

trabalho noturno da mulher nas indústrias públicas ou privadas. Essa Convenção foi

revista pela Convenção nº. 41 (ratificada pelo Brasil em 1936), mantendo a restrição

ao trabalho noturno das mulheres nas indústrias. Por sua vez, a Convenção nº. 41 foi

revista pela de nº. 89, em 1948, ratificada em 1957 pelo Brasil (GOSDAL, 2003, p.

143).

13

A Convenção nº. 45 da OIT, de 1935, (ratificada pelo Brasil em 1938), veda o

trabalho de mulheres em partes subterrâneas das minas.

A Constituição Federal (CF) de 1937 proibia o trabalho da mulher em indústrias

insalubres, além de assegurar a assistência médica e higiene a gestante prevendo

repouso, sem prejuízo do salário, antes e depois do parto. Manteve a Constituição o

princípio da igualdade, porem deixando de fazer menção a sexo.

A efetiva tutela do trabalho da mulher somente veio a ocorrer, com o advento

da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Com o seu surgimento, chega ao fim um

ciclo, iniciado com uma ausência de proteção ao trabalho e encerrado com a adoção,

pela Consolidação, de políticas de tutela do trabalhador: ―inaugura-se assim, a

chamada era da proteção‖ (CALIL, 2000, p.39 apud NOVAIS, 2005, p. 70).

A CLT foi editada em 1º-5-1943, consolidando a matéria existente na época. A

primeira alteração foi do Decreto-lei nº 6.353/1944, que admitiu, em algumas

atividades, o trabalho noturno da mulher apenas se ela tivesse 18 anos (MARTINS,

2009, p.583). A CLT abordava também, sobre a duração do trabalho e condições do

trabalho, períodos de descanso, métodos e locais de trabalho e proteção a maternidade.

Sobre a importância do trabalho da mulher dispõe Mozart Victor Russomano.

A lei pátria, como todas as outras legislações contemporâneas avançadas, no

terreno social, protege a mulher que, por necessidade, aluga o seu serviço, no

comercio ou na indústria. E isso deriva de dois fatores irrecusáveis e

biológicos: o organismo da mulher é mais frágil e ela é a mãe do trabalhador

de amanha; e de um fato de ordem psicológica: a sua moralidade é mais

vulnerável, pelas pesadas tradições e pelos onerosos preconceitos que a

sociedade contemporânea ainda mantém como herança dos séculos (1966

p.146 apud NOVAIS, 2005, p. 70).

Afirmava-se além da fragilidade física, que cabiam as mulheres as atividades do

lar, consideradas próprias para o seu sexo ―Refletiam uma estrutura cultural arraigada

de estereótipos sexistas, que atribuem à mulher apenas o papel secular de mãe e dona

de casa, fortalecendo o mito da fragilidade feminina e o preconceito do homem, no

tocante as atividades familiares e domesticas‖ (BARROS, 2002, p.294 apud NOVAIS,

ibidem, p.70).

Havia a possibilidade excepcional da prestação de trabalho noturno da mulher,

além do atestado médico teria que apresentar também atestado de bons antecedentes da

14

trabalhadora, essa vedação do trabalho noturno encontrava dupla função: por um lado

favorecia que ela estivesse em casa nos horários compatíveis com a criação e educação

dos filhos, de outro, cuidar dos afazeres domésticos.

Denise Pasello Valente Novais acredita que fica evidenciada a divisão sexista

das atividades desempenhadas por homens e mulheres, uma vez que não havia

explicação científica apta a fundamentar a restrição ao trabalho noturno da mulher

(2005, p.71).

A Constituição de 1946 vedava o trabalho da mulher em indústrias insalubres,

assegurava o direito da gestante a descanso antes e depois do parto, proibiu a diferença

de salário por motivo de sexo, previa a previdência em favor a maternidade e a

assistência sanitária e hospitalar e médica a gestante.

As garantias da Constituição de 1946 foram mantidas na Constituição Federal

de 1967, com a inclusão à aposentadoria aos 30 anos de trabalho da mulher, com o

salário integral.

O Estatuto da Mulher casada, com a Lei 4.121/1962, retirou a mulher do rol de

relativamente incapaz, um marco importante que ocorreu para o trabalho da mulher,

consoante com o Código Civil de 1916, refletindo na CLT, retirando o poder do

marido de autorizar o trabalho da esposa.

Entre os anos 50 e 80, um acentuado crescimento urbano e industrial obrigou a

mudanças na organização familiar. No início da década de 80 o Brasil é marcado por

uma forte crise e estagnação econômica, elevados índices de inflação e mudanças na

estrutura de emprego.

Neste período, o Brasil assistiu ao retorno do movimento sindical, o

fortalecimento dos movimentos feministas e a luta do País pela redemocratização. A

intensa mobilização da sociedade possibilitou uma reavaliação da legislação em

respeito à mulher e a busca por uma efetiva igualdade entre os sexos (NOVAIS, 2005,

p.73).

A Constituição Federal de 1988 não proibiu o trabalho da mulher em atividades

insalubres, o que tornou permitido (MARTINS, 2009, p. 585).

15

O art. 394-A incluído pela Lei nº 13.287 de 2016 dispõe que a empregada

gestante ou lactante será afastada enquanto durar este período, de qualquer atividade

em locais insalubres, devendo exercer suas atividades em local salubre.

Assegurou a licença a gestante, sem prejuízo do emprego e do salário com

duração de 120 dias, quando anteriormente era de 84 dias. Proibiu a diferença de

salários, de exercício de funções e de critérios de admissão por motivo de sexo. Passou

a haver previsão de proteção ao mercado de trabalho da mulher mediante incentivos

específicos. Assegura também a igualdade em direito e obrigações entre homens e

mulheres (MARTINS, 2009, p. 585).

A Carta Magna imprimiu uma nova afeição às relações de trabalho,

inaugurando uma era de promoção da igualdade entre homens e mulheres (NOVAIS,

2005, p. 73).

Segundo Maria Sbalqueiro Lopes:

Após a promulgação da Constituição de 1988, iniciou-se um processo de

adaptação das regras jurídicas aos novos princípios: proibição de

discriminação em relação a sexo e abolição da ―chefia da sociedade

conjugal. O primeiro passo foi à eliminação das normas pseudo protetoras

mediante revogação expressa da legislação incompatível (LOPES, 2006,

p.55).

A Lei nº 7.855/1989 revogou vários artigos da CLT relacionados à proteção do

mercado da mulher, adequando às novas necessidades do mercado de trabalho.

Em 1995 a Lei 9029 veio proibir e penalizar qualquer prática discriminatória

contra a mulher, entre elas a que tipifica como crime a exigência de atestado ou exame

de esterilização ou gravidez (GOSDAL, 2003, p.153).

Com o advento do Código Civil de 2002, que modificou diversos dos aspectos

que limitavam o papel da mulher. Aos poucos as normas que eram compreendidas

como protetoras, mas que na verdade restringiam os direitos das mulheres, foram

sendo revogadas e substituídas, aos novos padrões nas relações de gênero (GOSDAL,

2003, p.155).

A mão de obra feminina tem-se mostrado de suma importância na economia,

não podendo ela ser desprezada, por conta de discriminações, preconceitos sexistas e

16

patriarcais. O ideal a ser atingido é a igualdade nas relações de gênero, por essa razão a

mulher deve ter a efetiva proteção no mercado de trabalho.

17

3 PRINCÍPIOS NO DIREITO DO TRABALHO

O Direito do Trabalho não é constituído somente por leis, mas também por

normas e princípios específicos. Em meio destes princípios o mais significativo está o

Princípio da Proteção.

Sérgio Pinto Martins conceitua:

Como o conjunto de princípios, regras e instituições atinentes à relação de

trabalho subordinando situações análogas, visando assegurar melhores

condições de trabalho e sociais ao trabalhador, de acordo com as medidas de

proteção que lhe são destinadas. (MARTINS, 2012, p.18)

Americo Plá Rodriguez define Princípios como;

[...] linhas diretrizes que informam algumas normas e inspiram direta e

indiretamente uma série de soluções, pelo que podem servir para promover e

embasar a aprovação de novas normas, orientar a interpretação das existentes

e resolver casos não previstos (RODRIGUEZ, 1993. P.16)

Merece destaque também o conceito de Celso Antonio Bandeira de Mello

Principio é por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro

alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas,

compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão

e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema

normativo, no que lhe confere a Tonica e lhe dá sentido harmônico. [...]

Violar principio é mais grave que transgredir uma norma qualquer. A

desatenção ao principio implica ofensa não apenas a um especifico

mandamento obrigatório, mas a todo sistema de comandos (BANDEIRA DE

MELLO, 1993. P408-409).

Os princípios do direito do trabalho visam estabelecer uma ordem jurídica

endereçada a fim de atestar ao trabalhador o direito à sobrevivência de forma digna e

justa mantendo-se no emprego. (ARAÚJO, 2003, p.179).

A CLT, em seu art. 8º, protege de forma completa a atividade dos princípios, ao

revelar sua função para casos em qual há omissão legal ou contratual (MATINS, 2007,

p.60).

O artigo 8º da CLT dispõe:

18

Art. 8º da CLT – As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na

falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela

jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas

gerais do direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo

com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que

nenhum interesse da classe ou particular prevaleça sobre o interesse publico.

Observa-se pelo artigo supra que os princípios têm grande relevância no direito

do trabalho, através deles o trabalhador será protegido quando a falta de disposição

legal, como também, o direito comparado de acordo com os usos e costumes, como se

pode observar no artigo 4º da LICC: ―quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de

acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito‖.

Nesse contexto os princípios passam a ter importância com força normativa

embasando todo o Sistema Jurídico, os princípios gozam de status de norma condutora

e não somente como fontes subsidiárias, gerando direitos subjetivos.

3.1 PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO

Luiz de Pinho Pedreira da Silva define o princípio da proteção como aquele que

em virtude do Direito do Trabalho, reconhece desigualdades de fato entre sujeitos da

relação trabalhista, onde promove a atenuação da inferioridade econômica, hierárquica

e intelectual dos trabalhadores (SILVA, 1999, p.29).

O princípio da proteção ao trabalhador é o mais importante do direito do

trabalho, pois parte do pressuposto que as partes celebrantes do contrato de trabalho

acham-se em posição de igualdade jurídica, haja vista que são diferentes

economicamente e, consequentemente, há a necessidade de criação de normas capazes

de igualar este desequilíbrio (ARAUJO, 2003, p.189).

Conforme dispõe Maurício Godinho Delgado (2006, p.197)

O principio da proteção informa que o direito do trabalho estrutura seu

interior, com suas regras, institutos, princípios e presunções próprias uma

teia de proteção à parte hipossuficiente na relação empregatícia, o obreiro,

visando retificar (ou atenuar), no plano jurídico, o desequilíbrio inerente ao

plano fático do contrato de trabalho.

19

Este princípio constitui a gênese do direito do trabalho, consiste em estabelecer

igualdade jurídica entre empregado e empregador, sobre a superioridade econômica

diante daquele (LEITE, 2015, p.80).

Tal princípio divide-se em três outras regras: regra da norma mais favorável, da

condição mais benéfica e regra do ―in dúbio pro operário”.

A regra da norma mais favorável presta-se à proteção do elo mais frágil

economicamente na relação de emprego, buscando um equilíbrio que deve ocorrer na

relação entre empregado e empregador.

Art. 468 – Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das

respectivas condições por mútuo consentimento, e, ainda assim, desde que

não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de

nulidade da cláusula infringente desta garantia.

Com relação à hierarquia das normas jurídicas, havendo várias normas a serem

aplicadas, deve-se aplicar a que for mais favorável ao trabalhador (MARTINS, 2007,

p.44).

Observa Amauri Mascaro Nascimento (2005, p. 291).

Havendo duas ou mais normas jurídicas trabalhistas sobre a mesma matéria,

será hierarquicamente superior, e, portanto aplicável ao caso concreto, a que

oferecer maiores vantagens ao trabalhador, dando-lhe condições mais

favoráveis, salvo no caso de leis proibitivas.

Havendo o conflito de interesses, será aplicada a norma que melhor atenda aos

interesses do trabalhador.

A regra da condição mais benéfica garante a preservação, ao longo do contrato,

da cláusula mais vantajosa ao empregado, em caráter do direito adquirido, como

determina o art. 5º, XXXVI da CF. Pois uma vantagem já conquistada não pode ser

reduzida, respeitando-se o direito adquirido.

Como observa Sérgio Pinto Martins (2007, p. 63).

[...] a condição mais benéfica ao trabalhador deve ser atendida como fato de

que vantagens já conquistadas, que são mais benéficas ao trabalhador, não

podem ser modificadas para pior. É aplicação da regra do direito adquirido

[...], do fato de o trabalhador já ter conquistado certo direito, que não pode

20

ser modificado, no sentido de se outorgar uma condição desfavorável ao

obreiro.

Ou seja, o trabalhador que já conquistou um direito, este não poderá ser

diminuído, como determina a Súmula 51 do TST.

I - As cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens

deferidas anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos após a

revogação ou alteração do regulamento.

II - Havendo a coexistência de dois regulamentos da empresa, a opção do

empregado por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do sistema

do outro.

A regra do ―in dúbio pro operário” consiste em que existindo dúvida acerca da

proteção de uma norma, deverá ser interpretada a favor do empregado.

Amauri Mascaro Nascimento (2005, p.350) observa.

[...] é o principio da interpretação do direito do trabalho, significa que, diante

de um texto jurídico que possa oferecer duvidas a respeito do seu verdadeiro

sentido e alcance, o interprete deverá pender, dentre as hipóteses

interpretativas cabíveis, para a mais benéfica para o trabalhador.

O requisito para aplicação desta regra é que deve existir de uma dúvida real e

plausível e não se deve alterar o sentido claro da norma.

Estabelece o artigo 620 da CLT. ―As condições estabelecidas em convenção,

quando mais favoráveis, prevalecerão sobre as estipuladas em acordo‖.

No princípio da proteção a preocupação central é estabelecer um amparo

preferencial a uma das partes (o trabalhador), mediante essa proteção alcançar uma

igualdade substancial e verdadeira entre as partes (RODRIGUEZ, 1978, p. 27) o

princípio da proteção deriva do princípio da igualdade material se dividindo nas três

regras: ―in dúbio pro operário”, norma mais favorável e condição mais benéfica.

21

3.2 PRINCÍPIO DA ISONOMIA NO DIREITO DO TRABALHO

O princípio da isonomia é previsto em diversos dispositivos legais. O artigo 7º,

XXX, XXXI, XXXII, XXXIV da Constituição Federal, regula o princípio da isonomia

no Direito do Trabalho.

Artigo 7º

XXX – Proibição de diferentes salários, de exercício de funções e de critério

de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.

XXXI – Proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios

de admissão do trabalhador portador de deficiência.

XXXII – Proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual

ou entre profissionais respectivos.

XXXIV – Igualdade de direitos entre o trabalhador com vinculo

empregatício permanente e o empregado avulso.

O artigo 5º da CLT. ―A todo trabalho de igual valor corresponderá salário igual,

sem distinção de sexo‖.

Dispõe o art. 461 da CLT:

Art. 461

Sendo idêntica a função, a todo trabalhado de igual valor, prestado ao

mesmo empregador, na mesma localidade, corresponderá igual salário, sem

distinção de sexo, nacionalidade ou idade

O princípio da isonomia preceitua que todos são iguais perante a lei, quer seja

esta de conteúdo material ou processual.

Segundo Jorge Neto. ―Em face do princípio da igualdade, a lei não deve ser

fonte de privilégios ou perseguições, mas um instrumento que regula a vida em

sociedade, tratando de forma eqüitativa todos os cidadãos‖ (2003, p. 104).

O art. 5º, caput da CF, consagra serem todos iguais perante a lei, sem distinção

de qualquer natureza. Deve-se, contudo, buscar não somente essa aparente igualdade

formal, mas principalmente a igualdade material.

22

Atender o princípio da igualdade não é tratar a todos de forma igual, sem

exceção, mas sim tratar a todos de forma igual, porém desigualmente os desiguais na

medida de suas desigualdades, essa é a consecução pregada na constituição (CALIL,

2007, p.85).

Radbruch anota que.

A idéia central em que o direito social se inspira não é a da igualdade entre

as pessoas, mas a do nivelamento das desigualdades que entre elas existem.

A igualdade deixa assim de constituir uma ponte de partida do direito para

converter-se em meta ou aspiração da ordem jurídica (RADBRUCH 1951, p.

162).

Igualdade formal não quer dizer que todos terão, concretamente, os mesmos

meios, os mesmos recursos, os mesmos direitos e oportunidades, alguns terão maiores

oportunidades e outros menores oportunidades. Daí a ideia de igualdade substancial ou

real, em oposição à igualdade formal, a partir do que se busca assegurar as mesmas

oportunidades a todos, compensando os desfavorecidos. O tratamento é desigual, para

compensar as desigualdades reais e chegar-se há um pouco mais de igualdade

substancial (MALLET 2013, p. 19).

A preocupação no direito do trabalho é proteger uma das partes com o objetivo

de alcançar uma igualdade verdadeira entre as partes. Através do princípio da

igualdade material (princípio da isonomia) tenta-se buscar maneiras de garantir uma

igualdade jurídica diante da desigualdade econômica, buscando uma justiça real e

concreta. O princípio da isonomia é a igualdade real, para que não ocorra o tratamento

igual para o desigual, o que não seria uma igualdade substancial. O princípio da

igualdade supõe o tratamento legal desigual, compensando uma desigualdade real,

para que haja de forma efetiva maior igualdade.

Há muitas desigualdades e todas devem ser combatidas ou protegidas pelo

arcabouço jurídico, criado sob esteio da isonomia (CALIL, 2007, p.).

Nesse contexto expõe Amauri Mascaro Nascimento.

Seria grave equivoco supor igualdade de todos perante a lei no Direito do

Trabalho signifique que as partes do contrato individual de trabalho são

iguais. Não são. Desnecessárias são considerações para dizer que as partes

neste contrato, são desniveladas; de um lado o empregado-subordinado, de

23

outro lado o empregador-subordinante. Este dá as ordens e paga salários para

aquele que esta, por contrato, submetido a esse quadro, a essa situação de

desigualdades de forças. Logo, a igualdade, no sentido formal, não pode

expressar um mesmo tratamento para ambas as partes. É também um

comando para a lei. ―Esta deve promover o equilíbrio entre as partes onde e

quando se romper.‖ (NASCIMENTO, p.778).

A preocupação no direito do trabalho é proteger uma das partes com o objetivo

de alcançar uma igualdade verdadeira entre as partes. Através do princípio da

isonomia tenta-se buscar maneiras de garantir uma igualdade jurídica diante da

desigualdade econômica, buscando uma justiça real e concreta. O princípio da

isonomia é a igualdade real, para que não ocorra o tratamento igual para o desigual, o

que não seria uma igualdade substancial. O princípio da igualdade supõe o tratamento

legal desigual, compensando uma desigualdade real, para que haja de forma efetiva

maior igualdade.

3.2.1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

O fim último do direto é a pessoa humana, contudo, não a pessoa humana

isoladamente, mas sim, a pessoa humana vivendo em sociedade. O ordenamento

jurídico é construído com a finalidade de possibilitar a vida harmônica das pessoas

inseridas em um contexto social (CALIL, 2007, p. 86).

―O bem maior que a lei protege é a vida, a vida de toda e qualquer pessoa‖

(ibidem, p.87). A Constituição protege a vida como um bem maior. ―Porém não basta

garantir vida sem garantir outros direitos que a assegurem. [...] mas também

garantindo a integridade física e psíquica e o bem estar da pessoa humana‖. (ibidem,

p.87). Todos esse direitos somados garantem a dignidade humana.

A dignidade humana ocupa posição de destaque no exercício dos direitos e

deveres que se exteriorizam no direito do trabalho aplicando-se principalmente com o

fim de evitar o tratamento degradante do trabalhador.

È ela, a dignidade, o primeiro fundamento de todo o sistema constitucional

posto e o último arcabouço da guarida dos direitos individuais. A isonomia

serve, é verdade, para gerar equilíbrio real, porém visando concretizar o

direito a dignidade (NUNES, p.45 apud CALIL, 2007, p.87).

24

Ela é invocada para adotar de alcance o direito a honra, que confere ao seu

titular proteção diante do tratamento humilhante e desprezível. A dignidade da pessoa

humana constitui um núcleo intangível do direito a honra (BARROS, 2012, p.151).

A justiça deverá promover a dignidade do ser humano, impedindo abusos em

todos os sentidos (ibidem, p.151).

Para Léa Elisa Silingowschi Calil, o conceito de dignidade é vasto, e por isso

difícil de ser definido.

É também um conceito constantemente em construção, à medida que as

violações à dignidade da pessoa humana vão sendo reconhecidas e

condenadas pela sociedade civil internacional. Assim, fica mais fácil defini-

lo através de sua negativa, ou seja, através daquilo que não é digno. E, com

certeza, não é digno que mulheres não tenham as mesmas condições de

trabalho que os homens, não é digno que as mulheres sejam ‗punidas‘ por

engravidarem e darem à luz, e não é digno que percebam salários inferiores

aos homens por igual trabalho (CALIL, 2007, p.88).

Ingo Wolfgang Sarlet sobre a dignidade da pessoa humana

[...] a dignidade, como qualidade intrínseca da pessoa humana, é

irrenunciável e inalienável, constituindo elemento que qualifica o ser

humano como tal e dele não pode ser destacado, de tal sorte que não se pode

cogitar a possibilidade de determinada pessoa ser titular de uma pretensão a

que lhe seja concedida a dignidade. Esta, portanto, compreendida como

qualidade integrante e, em princípio, irrenunciável da própria condição

humana, pode (e deve) ser reconhecida, respeitada, promovida e protegida,

não podendo, contudo (no sentido ora empregado) ser criada, concedida ou

retirada (2007, p.366).

―Enquanto o princípio da igualdade cria deveres de agir em certos moldes‖

(NOVAIS, 2005, p.29), o princípio da dignidade da pessoa humana dá direito ao

acesso as condições mínimas de uma vida digna. Já o princípio da não-discriminação

―tem um caráter negativo de proibição de desequiparação, a não ser que haja um

fundamento lógico a justificar a desigualdade de tratamento‖ (ibidem, p.29). O

princípio da não-discriminação é um reflexo do princípio da igualdade.

25

4 PRINCÍPIO DA NÃO DISCRIMINAÇÃO

O princípio da não discriminação está ligado ao princípio da igualdade em sua

vertente igualdade de direitos, ou igualdade na lei, pressupondo a vedação de

discriminação injustificada (ROMITA, 2005, p. 293)

Art. 1º Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em

direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os

outros em espírito de fraternidade.

Art. 7º Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual

proteção da lei. Todos têm a proteção igual contra qualquer discriminação

que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal

discriminação

Toda distinção, exclusão ou preferência fundada na raça, cor, sexo, religião,

opinião política, ascendência nacional ou origem social, que tenha por efeito

destruir ou alterar a igualdade de oportunidades ou de tratamento em matéria

de emprego ou profissão; (artigo 1º, da Convenção n. 111 da Organização

Internacional do Trabalho sobre discriminação em matéria de emprego e

profissão).

As relações de gênero, construídas social e historicamente para delimitar papeis

sociais masculinos e femininos, interferem na inserção da mulher no trabalho e estão

presentes nas práticas discriminatórias que se revelam no cotidiano trabalhista. É

preciso que se analisem as formas de discriminação e como são tratadas pelo

ordenamento jurídico (GOSDAL, 2003, p.91).

O verbo discriminar apresenta dois significados, o de distinguir e o de

diferenciar, empregados em um sentido neutro, e o sentido pejorativo que adquiriu no

discurso jurídico do século XX, de parcialidade, favoritismo, fanatismo ou

intolerância. A discriminação por ser social é dinâmica, variável no tempo e no espaço.

Podendo em um mesmo contexto ser discriminatório para uma pessoa e não o ser para

outra, porque não diz a uma característica inerente do sujeito, mas algo que se constrói

na relação com o outro, a uma valoração comparativa (UNZUETA, apud, GOSDAL,

Op. cit. p.91).

Afirma Hédio Silva Junior (apud GOSDAL, Op. cit. p.92), que a palavra deriva

do latim discriminatione e que designa o ato ou efeito de discriminar a faculdade de

distinguir ou discernir.

26

Alice Monteiro de Barros, afirma que a palavra é anglo-americana e que, do

ponto de vista etmológico, significa ―o caráter infundado de uma distinção‖. Relata

ainda que, a doutrina italiana, significa ―uma situação subjetiva de tratamento

diferenciado em relação a uma qualidade possuída pelo sujeito, no caso, o sexo, lesiva

de um interesse econômico, moral, profissional ou de outra ordem‖. No discurso

político moderno o ato de discriminar é desfavorecer uma pessoa ou um grupo, sem

motivo razoável. No discurso jurídico, é preciso distinguir entre discriminação em

sentido amplo, correspondendo a toda ofensa ao princípio da igualdade e, em sentido

estrito, quando a violação ao princípio da igualdade se funda em critérios proibidos

(apud, GOSDAL, Op. cit. p.92).

O princípio da não discriminação, em diretriz geral vedatória de tratamento

diferenciado a pessoa em virtude de fator injustamente desqualificante (DELGADO,

20015, p. 859).

Mauricio Godinho Delgado define a discriminação como a ―conduta pela qual

se nega a alguém, em função de fator injustamente desqualificante, tratamento

incompatível com o padrão jurídico assentado a situação concreta vivenciada‖ (ibidem,

p.860).

O princípio da não discriminação é princípio de proteção, de resistência,

denegatório de conduta que se considera gravemente censurável, labora sobre um piso

de civilidade que se considera mínimo para a convivência entre pessoas (ibidem,

p.861).

A discriminação contra a mulher possui vinculação com conceitos relativos à

vida familiar e social. São fruto de uma inferioridade presumida advinda, de mitos e

crenças, como também de considerações arbitrárias (BARROS, 2012, p.899).

Embora a diversidade biológica e cultural seja natural, o homem comum tem

dificuldade para encará-la como tal e para compreender a humanidade como única,

porque ele não se realiza a sua natureza numa humanidade abstrata e sim nas culturas

tradicionais (GOSDAL, 2003, p.92).

O preconceito constitui uma atitude interior do indivíduo ou grupo, uma

ideia preconcebida acerca de algo ou alguém. O preconceito conduz a

discriminação que consiste em infligir a certas pessoas um tratamento

diferenciado e imerecido, em geral por ausência de conhecimento. [...]

27

Igualdade de tratamento importa na ausência de discriminação. Em geral o

preconceito se presta a justificar a exploração econômica, a dominação

política, ou a ocultar antagonismos de classe (GOSDAL, 2003, p.92).

João Batista Luzardo Soares Filho (apud GOSGAL, Op. cit. p.93). Afirma

acerca do estereótipo.

[...] não permite que as pessoas de determinado grupo possam ser avaliadas

por suas reais qualidades, já que são ―rotuladas‖ ou ―carimbadas‖ deste ou

daquele ―atributo‖. Exemplos: todo negro é ladrão; todo português é burro;

todo judeu é sovina; toda loira é burra, etc.

Por sua vez, o preconceito, ou seja, o julgamento prévio e negativo que se

faz das pessoas estigmatizadas por estereótipos, apresenta-se como forte

obstáculo à erradicação da discriminação.

[...] A discriminação, então, corresponde à materialização (à manifestação)

do racismo, do estereótipo e do preconceito.

A discriminação pode assumir diversas feições, efetivando-se direta ou

indiretamente, ou consolidando em ações positivas (GOSDAL, Op. cit. p.97). Assim a

discriminação atua como contraponto da inclusão social.

4.1 DISCRIMINAÇÃO DIRETA E INDIRETA

Em alguns casos a discriminação se manifesta de maneira frontal. É que se dá

quando, por exemplo, mulheres são excluídas do processo seletivo para exercer a

função de motorista, em consequência tão somente do gênero e de preconceitos na

sociedade, essa é chamada de discriminação direta. Em outros casos, ao contrário, a

adoção de critérios aparentemente impessoais repercute de maneira diferente em certos

grupos ou pessoas, esses critérios caprichosos ou desnecessários, é tratada como

discriminação indireta (MALLET, 2013, p. 98).

A discriminação manifesta-se de forma direta, indireta e oculta. A primeira é

conceituada como ato por meio do qual se atribui ao empregado um tratamento

desigual, com efeitos prejudiciais, fundados em razões proibidas (raça, sexo, estado

civil, idade ou outra característica enumerada pela lei). A discriminação direta traduz

um tratamento formalmente igual, mas que produzirá um efeito diverso sobre

determinados grupos. Já a discriminação oculta, se funda em motivo proibido, mas não

28

confessado, ela vem disfarçada sob forma de outro motivo e o verdadeiro é ocultado

daí sua intenção de discriminar.

A discriminação indireta é considerada em práticas que exclui o maior número

de mulheres como exigência de requisitos de altura, peso, idade e provas físicas,

quando a atividade não necessita desses requisitos, e também critérios subjetivos,

como agressividade e capacidade de liderança (BARROS, 2012, p. 893).

A discriminação indireta ocorre independentemente de a pessoa ter ou não a

intenção manifesta de discriminar, o que importa é o resultado de sua ação, ela se dá

de forma velada, camuflada, com práticas aparentemente neutras, mas que, na

realidade criam desigualdades entre pessoas que tem a mesma característica

(NOVAIS, 2005, p. 28).

No Brasil são menos frequentes as referências à discriminação indireta. Há

alguns traços de medidas proibitivas da prática, como se vê, por exemplo, no art. 442

da CLT, que proscreve a comprovação de experiência prévia por período superior a

seis meses. O impacto da imposição de experiência, aparentemente neutro, é maior

entre jovens, que iniciam a carreira profissional (MALLET, 2013, p.101).

A discriminação direta ou manifesta ocorre quando há favorecimento ou

exclusão explicita de certos trabalhadores em razão de características como opinião

política, estado civil, cor, sexo, nacionalidade, entre outros critérios proibidos, nesta

hipótese a discriminação corre abertamente. Como exemplo, um anúncio de emprego

apenas para trabalhadores do sexo masculino, sem qualquer justificativa plausível.

Rose-Marie Lagrave (apud GOSDAL, Op. cit. p.98), define a discriminação

direta como ―[...] a propensão para conceder um titulo ou um salário menos elevado a

uma mulher dotada da mesma formação e a executar o mesmo trabalho que um

homem‖.

A exemplo da discriminação direta aquela em que se aplica uma quantidade de

medida para cálculo de remuneração diversa para homem e mulher. É evidente a

ruptura da necessária correlação entre trabalho de igual valor e salário igual

(MELGAR; BOTIA, apud GOSDAL, Op. cit. p.99).

É possível ainda falar-se em discriminação vertical e horizontal.

29

Para Denise Pasello Valente Novais ―a discriminação vertical manifesta-se pela

dificuldade de acesso aos postos de alto escalão‖ (2005, p. 29).

A discriminação vertical é responsável pelo afastamento das mulheres dos

postos de direção. As principais razões apresentadas para justificar a exclusão das

mulheres desses cargos referem-se a dificuldades de submeter homens as suas ordens,

a falta de qualificação e a descontinuidades de suas carreiras em face da gravidez e do

cuidado aos filhos (BARROS, 2012, p.911).

Além da discriminação vertical, há também a discriminação horizontal é

constatada quando empregos ocupados tradicionalmente por grupos segregados são

mais mal remunerados que aqueles tradicionalmente ocupados pelo grupo dominante

(NOVAIS, 2005, p.29).

Podemos constatar que, a discriminação ocorre de várias formas e atuação

perante a mulher trabalhadora.

4.2 DISCRIMINAÇÃO POSITIVA E NEGATIVA

Observa-se também a discriminação positiva e negativa. A positiva é encarnada

por políticas públicas fadado a elidir situações de desigualdade maior, ela exerce

instrumento próprio da tutela do princípio da igualdade. Na discriminação negativa

concerne à noção genérica de discriminação, encarnado pela adesão de critérios

diferenciados em relação a sujeitos, presumidamente, titulares dos mesmos direitos e

obrigações (WANDELLI, 2004, p.369-370).

Aldacy Rachid Coutinho (2002, p.17-18, apud NOVAIS, 2005, p.30) conceitua

a discriminação positiva como a adoção de regras jurídicas que prevêem um

tratamento desigual para certos grupos minoritários desfavorecidos ou pessoas vítimas

de segregação, com o fito de garantir-lhes igualdade de oportunidades na estrutura

social.

A discriminação positiva revela uma mudança de postura do Estado, da simples

proibição da discriminação, para adoção de políticas constituídas por obrigações

positivas em favor das minorias discriminadas. A mera proclamação da intenção de

não - discriminar se revelou insuficiente à correção de desigualdades reais e garantia

30

de igualdade de oportunidade e de tratamento no trabalho, tornando-se necessária a

introdução de mecanismos e procedimentos substanciados em ações (LORENZ apud

GOSDAL, 2003, p.118).

A concepção de igualdade de oportunidades justifica uma série de medidas para

o combate à desigualdade, a exemplo as ações afirmativas que tem por objetivo

programar uma igualdade material, real, que a igualdade perante a lei formal por si só,

não consegue proporcionar (NOVAIS, 2005, p.30).

As ações afirmativas surgiu nos Estados Unidos na década de 60, são

mecanismos que procuram conceder temporariamente preferências a certos grupos de

pessoas que se encontram em desvantagem no contexto social, mas sem infringir o

princípio da isonomia. Seu objetivo é corrigir desigualdades presentes em

determinados grupos, como gênero, raça e deficiência (BARROS, 2012, p. 894).

No Brasil, o tema ganhou destaque nos anos 90, principalmente porque a CF de

1988 prevê medidas dessa natureza, ao dispor sobre a proteção do mercado de trabalho

da mulher mediante incentivos específicos, com o escopo de garantir real igualdade de

oportunidade as mulheres através da adoção de medidas compensatórias (NOVAIS,

2005, p.33).

Segundo Maria Aparecida Gurgel (apud GOSDAL, 2003, p.212) a ação

afirmativa, ou discriminação positiva, compreende um conjunto de medidas legais,

modo de vida e políticas sociais, destinadas a aliviar os tipos de discriminação que

limitam oportunidades de determinados grupos sociais.

Nas palavras de Maria José Morais Pires (apud GOSDAL, 2003, p.121).

A discriminação positiva traduz-se na adoção de normas jurídicas que

prevêem um tratamento distinto para certas pessoas ou categorias de pessoas,

com vista a garantir-lhes uma igualdade material em relação aos outros

membros da sociedade. Essas normas são tendencialmente temporárias e

vigoram enquanto se verificar situação desfavorável, devendo deixar de

vigorar logo que ultrapassada a desigualdade. A discriminação positiva

propõe-se garantir as pessoas pertencentes a grupos particularmente

desfavorecidos uma posição idêntica a dos outros membros da sociedade,

com vista a que estes venham a alcançar uma verdadeira igualdade material.

A ação afirmativa ou discriminação positiva compreende um conjunto de

medidas legais e de práticas sociais destinadas a compensar uma desigualdade efetiva,

31

possibilitando o acesso tornando viável o exercício de direitos fundamentais a um

determinado grupo social (GOSDAL, 2003, p.122).

Alice Monteiro de Barros (apud GOSDAL, 2003, p. 122) define as ações

afirmativas como.

[...] programas adotados tanto no setor publico como no setor privado,

atribuindo um tratamento especial as mulheres, temporariamente, até que

haja um equilíbrio entre os sexos no mercado de trabalho, tornando-o mais

homogêneo. [...] As ações afirmativas congregam medidas que implicam

supressão das desigualdades de fato, capazes de restringir as oportunidades

de formação profissional das mulheres, com reflexo nas suas condições de

trabalho.

Andrés Ollero (apud GOSDAL, 2003, p.123) diferencia as ações positivas de

discriminação inversa, a primeira busca favorecer as mulheres sem prejudicar os

homens, enquanto a discriminação inversa prejudica, pois toma em consideração um

grupo que pode gerar resultados injustos, bem como hostilidade em relação ao que se

pretende favorecer, gerando um possível efeito negativo sobre o reconhecimento social

e sua auto-estima.

Nas relações de gênero a expressão discriminação inversa significa o tratamento

discriminatório que sofrem os homens como consequência da aplicação de medidas de

ação positiva (NOVAIS, 2005, p.34).

Para Alice Monteiro de Barros ―A CF, no art. 7º, XX, ao proteger o mercado de

trabalho da mulher mediante incentivos específicos, está sem dúvida, admitindo as

ações afirmativas cujo fundamento consiste em desigualar para criar igualdade‖ (2012,

p.895).

Elisa Sierra Hernaiz (apud GOSDAL, 2003, p.124) acresce que a discriminação

inversa são medidas de ação positiva mal aplicada, que extrapolam seus limites. Ela

entende que o termo discriminação positiva deve ser evitado, pois sua utilização faz

parecer que através dessa medida se atribui as mulheres um tratamento discriminatório

favorável, quando o que se pretende alcançar é igualdade de oportunidades na relação

de gênero.

32

Thereza Cristina Gosdal entende que outras formas podem ser consideradas a

discriminação positiva e as ações afirmativas, que a primeira é espécie do gênero e a

segunda uma ação mais direta de compreender as cotas e o tratamento preferencial.

Entende também que o termo discriminação positiva não seja associada a uma

conotação pejorativa, pois se compreendida em sentido negativo, apresentará uma

contradição, pois se é discriminação, não pode ser positiva (2003, p.124).

As ações afirmativas na verdade estão amparadas pela ideia de igualdade

substancial, até porque só se remove a desigualdade com uma desigualdade

compensatória, por meio do qual se possa reequilibrar a desigualdade de fato. Não

ofende ao princípio da igualdade a adoção de medidas promocionais ou de

favorecimento a um grupo de pessoas desprivilegiadas (MALLET, 2013, p.110).

Além das ações afirmativas, outra providência importante para a eliminação da

discriminação, mencionada por Antoine Mazeaud (apud MALLET, Op. cit. p.115)

está relacionada a despeito das normas legais substanciais existentes, é ainda muito

difícil discutir judicialmente o problema da discriminação. Para o autor o motivo é

simples: a discriminação não se dá de modo ostensivo, declarado ou manifesto. Ela é

quase sempre dissimulada e disfarçada.

O problema é particularmente delicado no campo do Direito do Trabalho, em

que muitos atos se praticam fundado no exercício dos direitos postestativos. A

dispensa, em regra geral, não precisa ser motivada. Não está o empregador obrigado a

declinar o motivo para a rescisão do contrato de trabalho, quando não invocada a justa

causa. Se pretende dispensar por motivo discriminatório, simplesmente silencia, não

indica a razão. O mesmo vale para admissão do trabalhador. Ninguém dirá que não

admite o trabalhador por conta de seu sexo, raça, idade, origem ou outro fator

discriminatório (MALLET, 2013, P.118).

A discriminação negativa por ser dissimulada, é difícil de ser comprovada, a

discriminação vem sendo combatida às duras penas e o legislador tenta proporcionar

um amparo legal para que tais práticas sejam afastadas e penalizadas.

33

4.3 A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA NA DISCRIMINAÇÃO

Quando se busca realmente tratar judicialmente de casos de discriminação, é

impostergável permitir, em certos casos e preenchidas condições, a inversão do ônus

da prova. Quem estabelece a diferenciação é que fica obrigado a demonstrar

razoabilidade do comportamento. Deve demonstrar na prática justificar-se por conta da

natureza da atividade, da forma de sua execução ou de qualquer outro fator legitimo de

diferenciação (MALLET, 2013, p.118).

Para Estevão Mallet, a inversão da prova, contudo não se pode verificar de

modo irrestrito e gratuitamente, mediante mera alegação do autor. Há duas ressalvas

importantes: em primeiro, é preciso à demonstração de indícios de discriminação, é o

que os tribunais norte-americanos chamam de ―prima facie case‖ a exemplo seria: que

ele pertence a uma minoria; que ele se inscreveu e foi qualificado para um cargo para o

qual o empregador estava buscando candidatos; que, apesar de suas qualificações, ele

foi rejeitado; e depois da sua rejeição, a posição permaneceu aberta e o empregador

continuou a procurar candidatos de pessoas de qualificações do queixoso.

A segunda ressalva diz respeito à limitação da inversão do ônus da prova ao

campo não penal. É que em matéria criminal não se pode pensar em presunção de

culpabilidade. (2013, p. 119).

O autor ainda acredita que, a inversão do ônus da prova é elemento essencial

para o combate à discriminação, e que não ofende as garantias processuais dos

litigantes. Há de ser tomada em conta pelo legislador, a fim de modificar o quadro hoje

vigente, estabelecendo-se, mediante norma clara, distribuição mais adequada do ônus

da prova, seja com inversão posta pelo legislador , sela com determinação judicial,

autorizada por lei, diante de indícios de discriminação, e dada a conhecer as partes

antes do inicio da instrução processual a fim de respeitar o devido processo legal,

evitando incerteza. A aplicação da regra do art. 818 da CLT, aos pleitos relacionados

com impugnação de práticas discriminatórias, que contou com algum respaldo na

jurisprudência, cria problemas práticos, frustrando a tutela do direito à igualdade. A

solução que veio a prevalecer, após a edição da Sumula 443 do TST, que trata somente

dos empregados portadores de doença grave que são dispensados, é a mais adequada,

34

ainda que nela não se tenha feito referência, como seria desejável, à demonstração,

pelo empregado da presença dos elementos do ―prima facie case”. (MALLET, 2013,

p.121).

Súmula nº 443 do TST

Dispensa discriminatória. Presunção. Empregado portador de doença grave.

Estigma ou preconceito. Direito à reintegração.

Presume-se discriminatória a despedida de empregado portador do vírus HIV

ou de outra doença grave que suscite estigma ou preconceito. Inválido o ato,

o empregado tem direito à reintegração no emprego.

RECURSO DE REVISTA. EMPREGADO PORTADOR DO VÍRUS HIV.

DISPENSA IMOTIVADA. DISCRIMINAÇÃO. SÚMULA Nº 443 DO

TST. Trata-se de hipótese na qual a reclamada dispensou, sem justa causa, o

empregado portador do vírus HIV, ao argumento de que ele liberara

descontos em roupas de coleção nova fora dos parâmetros fixados. No

entanto, prevalece nesta Corte Superior o entendimento de que caracteriza

ato discriminatório a dispensa imotivada de empregado portador de doença

grave ou que cause estigma ou preconceito, a pretexto de motivação de

ordem técnica, sem ocorrência de justa causa e ciente o empregador do

estado de saúde do trabalhador. Inteligência da Súmula nº 443 do TST.

Recurso de revista conhecido, nesse particular, e provido.

(TST - RR: 23955120115020081, Relator: Walmir Oliveira da Costa, Data

de Julgamento: 27/05/2015, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT

05/06/2015).

A dispensa discriminatória, no caso citado, traz em segundo plano, uma

possibilidade de se requerer danos morais à empresa.

DISPENSA DISCRIMINATÓRIA - EMPREGADO PORTADOR DE

DOENÇA GRAVE - DANOS MORAIS. A responsabilidade por danos

morais, reconhecida pelo art. 5º, V e X, da Constituição Federal e que

encontra guarida também no Código Civil, art. 186, decorre de uma lesão ao

direito da personalidade, inerente a toda e qualquer pessoa. Diz respeito à

ordem interna do ser humano, seu lado psicológico, seja em razão de uma

dor sofrida, tristeza, sentimento de humilhação ou outro qualquer que venha

a atingir seus valores e repercutir na sua vida social. Desnecessário se faz,

nesse caso, que aquele que se diz ofendido comprove a sua dor, o sentimento

de tristeza. Deve provar, entretanto, que o ato do empregador foi

suficientemente agressivo a ponto de ofender a sua honra ou de que foi

submetido a uma situação vexatória e humilhante. Reconhecido que a

reclamada praticou ato discriminatório ao proceder à dispensa do

reclamante, quando ele, portador de doença grave, ainda se encontrava em

tratamento médico, não há como se olvidar, no caso, da negligência da

empresa, que a ele dispensou tratamento desumano. O dano é incontestável,

pois presumível o sentimento de tristeza e humilhação em face da demissão

em um momento de grande abalo emocional, decorrente da própria doença.

35

Presentes os pressupostos legais para a caracterização do dano moral, o

dever de indenizar se impõe.

(TRT-3 - RO: 00044201406303000 0000044-30.2014.5.03.0063, Relator:

Julio Bernardo do Carmo, Quarta Turma, Data de Publicação: 02/06/2014

30/05/2014. DEJT/TRT3/Cad.Jud. Página 114. Boletim: Sim.)

O ato discriminatório é nulo, por contrariar norma imperativa. Em alguns

sistemas jurídicos é feita claramente pelo direito positivo. Bom exemplo disso é o

direito espanhol, sobre igualdade de gênero a Lei Orgânica 3/2007, no art. 10, dispõe

que serão nulas e sem efeito cláusulas do negocio jurídico que constituam

discriminação de gênero. Ainda que não haja previsão semelhante ou equivalente de

nulidade do direito positivo, como se passa no direito brasileiro, o resultado não muda.

A fazer nulo o ato jurídico, incide o disposto no art. 9º da CLT (ibidem, p.103). A

discriminação não é tolerada pelo ordenamento jurídico, mas não é o que ocorre na

prática.

36

5 PRINCIPAIS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER NO

MERCADO DE TRABALHO

5.1 A DISCRIMINAÇÃO NA RELAÇÃO DE EMPREGO

As regras ao trabalho da mulher contidas no ordenamento jurídico brasileiro são

completadas com normas destinadas a combater a discriminação no emprego.

A Lei nº 9.799/99 introduziu o art. 373-A na CLT, estabelecendo regras sem

prejuízo de outras medidas já existentes, e destinadas a corrigir distinções que afetam o

acesso da mulher ao mercado de trabalho.

Desde a Lei nº 9.029/95, o legislador havia estabelecido como crime a serem

passiveis de detenção, de um a dois anos e multa as práticas discriminatórias

limitativas para efeito de acesso ao emprego. Assim o art. 2º, tipifica a conduta a

exigência de teste ou qualquer outro procedimento relativo à esterilização ou estado de

gravidez e outras ali mencionadas. Sendo nítido o caráter da lei em dar concretude ao

comando constitucional que proclama a igualdade de gênero.

A CLT foi alterada para vedar as condutas ali descritas, incluindo também a

proibição da exigência de atestado de esterilidade ou gravidez na admissão ou para a

permanência no emprego.

Também, veda a publicação de anúncios de emprego, recusa, promoção ou

dispensa calcada no sexo, cor ou idade, com exceção as situações que justifique a

ressalva em razão da natureza da atividade exercida.

Apenas remanescem as restrições referentes à maternidade, a gravidez e a pesos, uma

vez que somente essas se justificam, a CF pronunciou a igualdade entre os sexos,

revogando restrições discriminatórias.

A CLT no art. 373-A veda a possibilidade do empregador ou preposto submeter

empregadas a revista intima, mesmo alegado ser o empregador sendo o detentor do

poder diretivo, justificando assim a invasão a intimidade da empregada. A revista

intima é sempre vexatória, mesmo que efetuada por pessoas do mesmo sexo.

Com isso o legislador deu efetividade no âmbito trabalhista, ao preceito

constitucional que veda a violação da intimidade.

37

Grande parte da jurisprudência de nossos tribunais tem admitido a revista

pessoal, entendendo como inseridas no poder disciplinar do empregador e no exercício

da defesa do seu patrimônio, desde que fundada em critérios objetivos que não atentem

contra a dignidade do trabalhador e realizada em caráter geral. Como já mencionado a

lei veda expressamente a revista íntima, sem esclarecer quanto ela é íntima. E também

apenas faz referencia a empregada do sexo feminino, quando a revista íntima ofende a

dignidade e a intimidade do empregado, seja homem ou mulher (GOSDAL, 2003,

p.109).

Sandra Lia Simón (apud, GOSDAL Op. cit. p.109), ao analisar a matéria, crítica

a postura que admite a revista, entendendo que o contrato de trabalho é fundado na

confiança, que uma vez quebrada inviabiliza a sua permanência. Ainda salienta que a

revista íntima traz a ínsita suspeita de furto praticado pelos empregados, o que torna

incompatível com o contrato de trabalho. Aduz que a defesa sem limites da

propriedade, em detrimento de bem jurídico maior, que é a dignidade humana e a

intimidade do empregado. Ofende o princípio da igualdade, ao submeter o empregado

a um constrangimento ao qual os outros não estão sujeitos e confere ao empregador

um poder que não se assegura ao cidadão comum. Viola o princípio da presunção da

inocência prevista no art. 5º, inc. LVII da CF. Por fim que os meios e tecnologias de

que se dispõe atualmente, é possível o empregador proteger seu patrimônio por outros

meios. A revista é apenas mais cômodo e barato. E conclui pela impossibilidade de

qualquer tipo de revista, inclusive de objetos e armários destinados aos empregados.

Deve o empregador buscar outros meios, menos vexatórios e gravosos aos empregados

que a revista.

A Lei 13.271/2016 de 15 de abril de 2016 proíbe a revista íntima de

funcionárias nos locais de trabalho e trata da revista em ambientes prisionais.

De acordo com a lei, as empresas privadas, os órgãos e entidades da

administração pública ficam proibidos de adotar qualquer prática de revista íntima de

38

suas funcionárias e de clientes do sexo feminino. Em caso de infração, estará sujeitos a

multa de R$ 20 mil, valor que pode ser dobrado para reincidência3.

Ainda na esteira da proteção da mulher no trabalho foi editada a Lei 11.340/06,

que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar, garantindo a mulher

sua liberdade e as condições para o efetivo direito inalienáveis do ser humano, assim

como assegura o direito a manutenção do vínculo trabalhista quando for necessário o

afastamento da mulher do local de trabalho pelo período de até 6 meses (CUNHA,

2010, p. 229).

Assim andou bem o legislador ao assegurar a manutenção do emprego na

hipótese de suspensão do contrato de trabalho (ibidem, p.230).

O inciso XX do art. 7º da CF, ao versar sobre proteção do mercado de trabalho

da mulher, mediante incentivos específicos, já está tratando de forma indireta de não

haver discriminação na relação de emprego (MARTINS, 2007, p.593).

A CF, em seus artigos 5º, caput e 7º, incisos XX e XXX, firmemente,

abscederam do Direito brasileiro qualquer prática discriminatória contra a mulher no

enquadramento empregatício ou que pudesse delimitar o mercado de trabalho, ainda

que justificada a prática jurídica pelo fundamento da proteção e da tutela. Revogou

alguns dispositivos da CLT que, sob o aparente manto tutelar, produziram efeito

discriminatório com relação à mulher obreira (DELGADO, 2015, p.866).

Octavio Bueno Magado (1993, p.482)

O principio da não discriminação é hoje denominado, refletindo-se não

apenas no já citado preceito do Estatuto dos trabalhadores, mas também na

eliminação de certas prerrogativas que, no passado, só se conferiam à mulher

e que hoje se atribuem também ao homem, como a de licença para cuidar de

filhos e a de garantia de transferência, condicionada tão somente à existência

de vagas, na hipótese de qualquer dos cônjuges ser designado para trabalho

em local diverso do habitual.

Conforme dispõe Américo Plá Rodrigues (2000, p.132);

O princípio da não discriminação é a versão mais moderna ou simples do

principio da igualdade por este princípio proíbe-se introduzir diferenciações

3 Agência Senado, Disponível em: http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/04/18/sancionada-a-lei-

que-proibe-revista-intima-de-funcionarias-no-local-de-trabalho.

39

por razões não admissíveis. Pela proposição não discriminatória excluem-se

todas aquelas diferenciações que põem um trabalhador numa situação de

inferioridade ou mais desfavorável que o conjunto, e sem razão válida nem

legitima.

Vários são os dispositivos na CLT que visam coibir a discriminação contra a

mulher na relação de trabalho, como os atinentes à igualdade de remuneração entre

homens e mulheres, medidas de proteção ao acesso e manutenção no emprego e

proteção a intimidade da trabalhadora.

A igualdade de remuneração encontra fundamento no art. 7º XXX da CF, que

proíbe a diferença de salários, de exercício de funções e de critérios de admissão por

motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.

No mesmo sentido a CLT no art. 5º, preceitua que a todo trabalho de igual valor

corresponderá salário igual, sem distinção de sexo. O art.461 da CLT dispõe sobre a

equiparação salarial. Já o art. 76 do mesmo diploma legal determina que o pagamento

do salário mínimo não pode estabelecer distinções quanto ao sexo.

RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL. ASSÉDIO MORAL. DISCRIMINAÇÃO

NO MERCADO DE TRABALHO DA MULHER. O direito à igualdade se

caracteriza pela isonomia de tratamento e a proteção à maternidade encontra

sede na Constituição Política (arts. 5º, I, e 6º, caput), portanto, não se permite

qualquer distinção decorrente de atributos pessoais, ainda mais referente ao

estado gestacional, momento em que a mulher, devido a diversas alterações

físicas e emocionais, encontra-se numa condição mais sensível a fatores

discriminatórios. É inegável que, com a modernização das relações sociais,

as mulheres, após longos anos de lutas e conquistas, vêm ocupando o seu

lugar no mercado de trabalho, não se limitando aos afazeres meramente

domésticos. A mulher moderna é autônoma, e por meio de seu trabalho se

afirma como uma personagem ativa das transformações sociais e

econômicas, muito contribuindo no próprio sustento familiar, não sendo

raros os casos em que o ônus pela manutenção do lar fica exclusivamente ao

seu cargo. Nessa linha, e considerando que historicamente a mulher exerceu

um papel subalterno na sociedade (com raras exceções), devido a

preconceitos enraigados no complexo social, que infelizmente até hoje

persistem, como se verifica no caso dos autos, foram inseridas na legislação

pátria normas de proteção do mercado de trabalho da mulher (art. 7º, XX,

CF; art. 10, b da ADCT; art. 391 da CLT, dentre outras). Especificamente

quanto à maternidade, a legislação, de cunho eminentemente social, prevê

medidas que visam proteger não só a mulher na sua condição de

trabalhadora, mas também permitir que esta tenha tranqüilidade para exercer

de forma plena suas funções maternas, o que é de suma importância para um

desenvolvimento saudável da criança. Nesse contexto, verifica-se que a

conduta da reclamada, ao praticar discriminação generalizada contra

mulheres grávidas no âmbito de seu estabelecimento, além de contrariar

todas as normas protetivas do mercado feminino, em especial o da

40

maternidade, está na contramão da história, por demonstrar modos de

conduta empresariais arcaicos não condizentes com o que se espera

hodiernamente de uma empresa séria e em consonância com as

peculiaridades da sociedade moderna. Recurso patronal a que se nega

provimento. EQUIPARAÇÃO SALARIAL. IDENTIDADE DE FUNÇÃO.

Comprovado nos autos que a reclamante exercia as mesmas atividades do

paradigma, sem que tenha sido comprovado fato impeditivo ao direito

obreiro, faz jus a empregada às diferenças salariais pleiteadas.

(TRT-10 - RO: 949200802110001 DF 00949-2008-021-10-00-1 , Relator:

Desembargadora Maria Piedade Bueno Teixeira, Data de Julgamento:

12/05/2009, 2ª Turma, Data de Publicação: 29/05/2009)

Importante destacar o art. 373-A da CLT, com redação dada pela Lei 9.799/99

que veda a consideração do sexo, como variável determinante para fins de

remuneração (NOVAIS, 2005, p. 83).

Thereza Cristina Gosdal observa sobre a discriminação salarial.

Quando se trata de discriminação salarial direta a sua constatação é bastante

fácil. Homens e mulheres exercendo funções idênticas, com remunerações

diversas, sendo a da mulher inferior. Ou, alguma parcela remuneratória paga

apenas aos homens, sem nenhum fundamento especifico. Contudo, quando a

discriminação é indireta, como, por exemplo, somente se paga uma parcela

remuneratória a uma determinada função, exclusivamente ocupada por

homens, a constatação é mais difícil. O mesmo pode ocorrer, quando

funções idênticas, mas com denominações diversas segundo o empregado

seja homem ou mulher (2003, p. 197).

Ainda, havendo, previsão legal coibindo a diferenciação de salários entre

homens e mulheres, ela ainda ocorre, conforme demonstra dados da pesquisa feita pelo

Cadastro Geral de Empregadores (Caged), de 2015, que mostra a diferenciação salarial

entre homens e mulheres de diferentes níveis escolares. Na figura 1 é possível observar

a diferença na remuneração entre homens e mulheres, quanto maior o grau de

instrução maior é a diferença de salários.

41

FIGURA 1 - DIFERENÇA SALARIAL ENTRE HOMENS E MULHERES CONFORME

ESCOLARIDADE.

4

A maior discrepância na remuneração observa-se nas mulheres com a mesma

escolaridade e trajetória semelhante à de um homem, à diferença salarial pode chegar a

34%. Dados como esse evidenciam que a discussão sobre a diferenciação no

tratamento entre gêneros na relação de emprego está longe de acabar.

A igualdade de remuneração resta ofendida não apenas quando o

empregador objetiva discriminar em razão do sexo, ou de outro critério, mas

também quando a política salarial que ele pratica produz a discriminação de

gênero (discriminação indireta) (GOSDAL, 2003, p.192).

A mulher também enfrenta a segregação vertical do mercado de trabalho,

traduzida na desvantagem das mulheres em relação aos homens, não só em termos de

salários como também em ascensão funcional (NOVAIS, 2005, p.41).

4 Dados Caged, 2015. Ter trajetória semelhante e ocupar mesmo cargo ainda não é suficiente para dar

a mulher um salário igual ao do homem. O Estado de S. Paulo. ALEMI, Flavia. Diferença salarial

entre homens e mulheres sobe conforme escolaridade. Estadão, São Paulo, 08 de Março 2016.

Disponível em http://economia.estadao.com.br/noticias/sua-carreira,diferenca-salarial-entre-homens-e-

mulheres-sobe-conforme-escolaridade,1841086

4,24%

14,59% 14,11%17,21% 17,10% 18,20%

34%

Diferença Salarial

42

Conforme Sylvia Cristina Yannoulas

[...] Diversas pesquisas demonstram que as mulheres devem apresentar um

requisito a mais que seus colegas homens, para ocupar o mesmo posto de

trabalho. Quer dizer, quando um candidato ou candidata a ingressar ou

ascender numa empresa tem igualdade de condições, a preferência é para o

homem (2002, apud NOVAIS, 2005, p.41).

Em pesquisa realizada pela Catho em 2012 as mulheres ocupam 23,85% dos

cargos de Presidentes e CEOs na América Latina5.

Estudos indicam que as mulheres contam com menos possibilidades de

promoção a cargos mais altos que os homens. Como aponta Sylvia Cristina Yannoulas.

A combinação dos efeitos perversos da divisão vertical e horizontal do

trabalho pode ser verificada nos setores de atividades dos quais a presença

de mão-de-obra feminina é maior, porém os cargos hierarquicamente mais

altos são ocupados preferencialmente por homens (2002, apud NOVAIS,

p.42).

Este fenômeno é conhecido como ―teto de vidro‖, metáfora que faz alusão a

existência de uma barreira invisível, encontradas por mulheres ou minorias, que

impedem seu acesso aos altos postos nas empresas (NOVAIS, 2005, p.42).

A segregação vertical, ao tratar das barreiras estabelecidas no trabalho para as

mulheres alcançarem altos postos de chefia e direção, que envolvam poderes de

mando, corresponde ao ―teto de vidro‖ (BARROS, apud GOSDAL, 2003, p.180).

Nessa perspectiva a discriminação encontra-se mais sofisticada que aquela que

se faz diretamente, e que se evidencia nas relações entre patrões e empregadas. O

conhecimento desses fatos, não tem o condão de municiar o Direito com

possibilidades de combate a esta forma de discriminação indireta (GOSDAL, 2003,

p.165).

Mesmo quando a mulher tem nível de escolaridade superior ao do homem ela

encontra maior dificuldade para se inserir no emprego e para ter acesso a promoções,

5 Pesquisa da Catho Online destaca o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho.

Estudo aponta o crescimento das profissionais do sexo feminino em cargos de liderança e em quais

áreas são maioria dentro das organizações. São Paulo, 07 de Março 2012. Disponível em

http://www.catho.com.br/institucional/2012/03/pesquisa-da-catho-online-destaca-o-aumento-da-

participacao-das-mulheres-no-mercado-de-trabalho/

43

além de receber salários inferiores, os postos de chefia, continuam sendo atribuídos

com maior facilidade aos homens (ibidem, 175).

Além dos dispositivos constitucionais que vedam qualquer prática

discriminatória na relação de trabalho, no que tange a ascensão profissional o inciso II

do art. 373-A da CLT, veda expressamente a discriminação para efeito de recusar

promoção ao empregado. O inciso III desse mesmo artigo veda a consideração de

sexo, além d outros fatores, como variável a ascensão profissional (GOSDAL, 2003,

p.174).

Márcio Tulio Viana (apud GOSDAL, Op. cit. p.103), que ao vedar as práticas

discriminatórias para efeito de acesso à relação de trabalho, ou sua manutenção, a lei

alcançou o período pré-contratual, atuando também na fase de vigência do contrato.

Quanto ao período pós-contratual, a lei não faz menção expressa, embora o contrato

possa continuar gerando efeitos após sua extinção, um exemplo frequente desse efeito

pós-contratual é a do ex-empregador que divulga informações desabonadoras do

empregado, prejudicando seu acesso ao novo emprego.

Lembra-se que, ainda que tenha sido despedido por justa causa, o ex-

empregador, não tem o direito de continuar punindo o empregado que já foi

contratualmente punido com a pena máxima aplicável ao contrato de trabalho. Esse

ex-empregador estará causando ilicitamente um dano ao empregado e pode responder

judicialmente por danos caudados, com base no art. 159 do Código Civil.

A CLT preocupa-se também em coibir a discriminação contra a mulher casada

ou em estado de gestação. O art. 391 dispõe que ―não constitui justo motivo para a

rescisão do contrato de trabalho da mulher o fato de haver contraído matrimonio ou de

encontrar-se em estado de gravidez‖. O parágrafo único, no mesmo sentido, preceitua

que ―não serão permitidos em regulamentos, convenções coletivas ou contratos

individuais de trabalho, restrições ao direito da mulher ao seu emprego, por motivo de

casamento ou de gravidez‖ (NOVAIS, 2005, p.84).

Tal proibição encontra reforço no art. 373-A e incisos da CLT.

Ressalvadas as disposições legais destinadas a corrigir as distorções que

afetam o acesso da mulher ao mercado de trabalho e certas especificidades

estabelecidas nos acordos trabalhistas, é vedado:

44

I - publicar ou fazer publicar anúncio de emprego no qual haja referência ao

sexo, à idade, à cor ou situação familiar, salvo quando a natureza da

atividade a ser exercida, pública e notoriamente, assim o exigir;

II - recusar emprego, promoção ou motivar a dispensa do trabalho em razão

de sexo, idade, cor, situação familiar ou estado de gravidez, salvo quando a

natureza da atividade seja notória e publicamente incompatível;

III - considerar o sexo, a idade, a cor ou situação familiar como variável

determinante para fins de remuneração, formação profissional e

oportunidades de ascensão profissional;

IV - exigir atestado ou exame, de qualquer natureza, para comprovação de

esterilidade ou gravidez, na admissão ou permanência no emprego;

V - impedir o acesso ou adotar critérios subjetivos para deferimento de

inscrição ou aprovação em concursos, em empresas privadas, em razão de

sexo, idade, cor, situação familiar ou estado de gravidez;

VI - proceder o empregador ou preposto a revistas íntimas nas empregadas

ou funcionárias.

A convenção sobre exclusão de todo modo de discriminação contra a mulher foi

adotada pela ONU em 1974, sendo promulgada pelo decreto nº. 89.469, de 20 de

março de 1984. Prevê que os direitos alusivos ao emprego sejam assegurados ―em

condições de igualdade entre homens e mulheres‖ (art. 11). Refere-se que as medidas

―destinadas a proteger a maternidade não serão consideradas discriminatórias‖ (§2º do

art. 4°) (MATINS, 2007, p.477).

A maternidade passa a ter normatização especial na CF proporcionando

condutas e vantagens excepcionais ao paradigma concedido ao homem e mesmo à

mulher que esteja experimentando a situação de gestação e recente parto (DELGADO,

2015, p.867).

Apesar da importância da mulher na força de trabalho brasileira, sua inserção

no mercado de trabalho continua se dando de forma diferenciada. O mercado de

trabalho, aparentemente, define determinadas funções como mais femininas, os

homens são maioria na construção civil e na indústria, já o emprego doméstico é quase

que exclusivamente feminino. Suas ocupações têm em comum o fato de ser uma

extensão direta da domesticidade (NOVAIS, 2005, p.41).

Isso só evidencia que a colocação diferenciada de homens e mulheres nos

postos de trabalho baseia-se em uma segmentação de gênero.

45

5.2 A MATERNIDADE À LUZ DO DIREITO DO TRABALHO

A situação de gravidez e as consequências jurídicos laborais que dela decorrem

é provavelmente um dos maiores condicionantes para o acesso e manutenção do

emprego da mulher (GOSDAL, 2003, p.205).

A partir do Final do século XIX os movimentos feministas passaram a se

preocupar com a maternidade, compreendendo como condição unificadora

do sexo feminino. Na luta pela igualdade inseriu-se a reivindicação de

licença de parto remunerada para as mulheres trabalhadoras (GOSDAL,

2003, p.205).

Gisela Bock (1950, apud GOSDAL, p.206) afirma que a maior parte dos países

introduziram a legislação relativa à proteção da maternidade nos anos anteriores e

durante a Primeira Guerra Mundial. Os subsídios em geral contemplavam alguns

grupos de mães assalariadas ou necessitadas. Apesar das limitações, estas leis

representavam um avanço em beneficio à proteção da maternidade.

Antigamente era o empregador que custeava o período em que a gestante se

afastava no emprego para dar a luz, em consequência, a contratação de mulheres era

mais escassa, o empregador não se interessava em ter esse encargo. Havia a

necessidade que o pagamento da licença-maternidade ficasse ao encargo da

Previdência Social, como forma de incentivar a contratação de mulheres. (MARTINS,

2007, p.590).

Segundo Sergio Pinto Martins:

Com a edição da Lei nº 6.136, 7-11-74, é que o salário-maternidade passou a

ser uma prestação previdenciária, não mais tendo o empregador pagar o

salário da empregada que vai dar à luz. O custeio do salário-maternidade era

de 0,3% (art. 4º da Lei nº 6.136/74), que foi extinta pela Lei nº 7.787/89,

pois ficou englobado no porcentual de 20% que a empresa deve recolher

sobre a folha de pagamento (§ 1º do art. 3º da Lei nº 7.787/89). Essa

orientação foi repetida no inciso I do art. 22 da Lei nº 8.212/91 (MARTINS,

2008, p. 580).

Nesse contexto salienta Sergio Pinto Martins, ―A natureza jurídica do salário-

maternidade continua, assim, a ser de benefício previdenciário, pois é a previdência

social que faz seu pagamento‖ (2007, p. 592).

46

Após o nascimento da criança, a mulher fica afastada, e o ônus deste

afastamento já que a empregada continuará a ser remunerada, apesar de não prestar

serviço, será suportado pela Previdência Social, através do benefício previdenciário

Salário-Maternidade, que atualmente, pelos termos da lei, é pago diretamente à

segurada pelo órgão gestor da Previdência Social (CARVALHO, 1991, p.220).

A gestante, durante a licença terá direito a seu salário integral, quando variável,

calculado de acordo com a média dos seis últimos meses de trabalho. O salário

maternidade da trabalhadora avulsa consistira numa renda mensal igual a sua

remuneração integral e será pago pelo INSS. A empregada doméstica terá direito ao

salário maternidade correspondente ao seu último salário contribuição (MARTINS,

2009, p.589).

A empregada gestante tem direito a licença maternidade de 120 dias, sem

prejuízo do emprego e do salário. Assim dispõe o art. 392-A da CLT, ―empregada

gestante tem direito a licença maternidade de 120 (cento e vinte) dias, sem prejuízo do

emprego e do salário‖.

Com a edição da Lei 11.324 de 2006, a doméstica gestante passou a ter direto à

estabilidade, a licença à gestante sem prejuízo do emprego e do salário com duração de

cento e vinte dias.

O art. 4º da Lei 11.324/06 veda ―a dispensa arbitrária ou sem justa causa da

empregada doméstica gestante desde a confirmação da gravidez até 5 meses após o

parto‖.

Na hipótese de parto antecipado, a mulher mantém o direito a licença de 120

dias (art. 392, parágrafo 3º, CLT).

Em caso de aborto não criminoso, comprovado por atestado médico

(MARTINS, 2009, p 589), a mulher empregada faz jus a licença remunerada de duas

semanas, assegurado o direito ao retorno a função que ocupava antes do afastamento

(CLT, art. 395). Em caso de aborto criminoso, não terá direito a licença remunerada

(MARTINS 2009, p.589).

É importante notar que pode ocorrer assédio moral do empregador que se recusa

a aceitar o atestado médico em que ocorra o aborto não criminoso (LEITE, 2015, p.

549).

47

À empregada que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de

criança será concedida licença-maternidade, que só será concedida mediante

apresentação do termo judicial de guarda à adotante ou guardiã (Art. 392-A CLT).

A licença deixa de existir na hipótese de haver falecimento da gestante, pois

neste caso há a extinção do contrato de trabalho. Outra situação é o falecimento do

filho. Neste caso, permanece o direito a licença e ao salário-maternidade, pois estes

não estão condicionados ao nascimento com vida do filho. Esse entendimento ficou

consolidado a partir da ratificação, pelo Brasil, da convenção número 103 da OIT, em

1966 (NOVAIS, 2005, p. 80).

Durante a gravidez é garantida a transferência de função, quando as condições

exigirem, assegurada à retomada de função, anteriormente exercida, após o retorno ao

trabalho.

Vólia Bomfim Cassar enfatiza a cerca da estabilidade e a comunicação.

A gestação é o fato jurídico que faz a empregada adquirir o direito a

estabilidade. A comunicação é mero requisito da prova do ato e não

substancia. Sendo assim o empregador, mesmo que desconheça o estado

gravídico da empregada, não pode demiti-la, porque sua culpa é objetiva

(CASSAR, 2007, p. 1129).

O TST fixou jurisprudência a respeito da dispensa imotivada, em caso de

descoberta da gravidez após a dispensa ou a falta da comunicação.

Súmula 244

GESTANTE. ESTABILIDADE PROVISÓRIA (redação do item III alterada

na sessão do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) - Res. 185/2012,

DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012

I - O desconhecimento do estado gravídico pelo empregador não afasta o

direito ao pagamento da indenização decorrente da estabilidade (art. 10, II, b

do ADCT).

II - A garantia de emprego à gestante só autoriza a reintegração se esta se der

durante o período de estabilidade. Do contrário, a garantia restringe-se aos

salários e demais direitos correspondentes ao período de estabilidade.

III - A empregada gestante tem direito à estabilidade provisória prevista no

art. 10, inciso II, alínea b, do Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias, mesmo na hipótese de admissão mediante contrato por tempo

determinado.

48

Ainda esclarece Vólia Bomfim Cassar.

A empregada terá direito á reintegração ou indenização desde a concepção

(se esta se deu no curso do contrato de trabalho), pois este é o marco inicial

da estabilidade, mesmo que a confirmação para a gestante tenha ocorrido

após a dispensa. Este entendimento visa proteger a gestante, independente de

qualquer outra medida objetiva, como atestados, exames ou comprovações

do estado gravídico. Se baseia na culpa objetiva do empregador. Ademais, o

prazo prescricional para o pedido de reparação de lesão trabalhista é de dois

anos contados da extinção do contrato (CASSAR, 2007, p.1130).

O art. 10, II, b, do ADCT da CF de 1988 instituiu a estabilidade a gestante,

desde a confirmação da gravidez. Alice Monteiro de Barros (apud, GOSDAL, 2003,

p.211) afirma que essa estabilidade provisória, tem o objetivo de impedir que a mulher

seja despedida pelo empregador por represália, assim que retome suas atividades.

Sonia Bossa e Silvia Regina da Rocha (apud, GOSDAL, Op.cit. p.211)

entendem que a estabilidade ocorre com a confirmação da gravidez, e que isso importa

na apresentação de atestado médico ao empregador.

Já para Alice Monteiro de Barros (1995, apud, GOSDAL, Op. cit. p.211) ―[...] a

gravidez da empregada vincula-se a teoria do risco objetivo, do risco social, porquanto

o Direito do Trabalho não protege, simplesmente, o reconhecimento da gravidez, nem

sua divulgação, mas a gestação em sua grandeza biológica‖. Essa parece ser a postura

mais adequada, quando se analisa a norma de proteção a maternidade sob enfoque da

discriminação (GOSDAL, 2003, p.211).

Com a ampliação da licença maternidade por ocasião da CF de 1988, levou a

fortes reações do empresariado na época (ibidem, p.211). Como relata Florisa Verucci

(apud, GOSDAL, 2003, p.211), houve na época ameaças de demissões de empregadas

e não contratação de mulheres.

Devido à estabilidade da gestante fez surgir a prática de exigência de atestado

de gravidez para mulheres que estavam postulando uma vaga de emprego, para a

comprovação de esterilização.

Dessa forma foi criada a Lei 9.029/95, que considera ato discriminatório a

dispensa em razão de gravidez contra a mulher obreira e a exigência de exame de

qualquer natureza destinada a esclarecer seu estado. Podendo a mulher vítima de ato

49

discriminatório, postular a indenização dobrada, ou danos morais decorrentes da

discriminação e a readmissão com indenização do período de afastamento, com

fundamento de ato discriminatório do empregador.

DISCRIMINAÇAO CONTRA A MULHER GRÁVIDA. DANO MORAL.

INDENIZAÇAO DEVIDA. Confirmando a prova dos autos, a adoção pela

reclamada da prática discriminatória de dispensar empregadas grávidas, ou

quando egressas da licença maternidade, é de se reconhecer o direito da

autora à indenização por dano moral. Inaceitável a discriminação em

manifesto atentado à dignidade das trabalhadoras, e que inclusive já é alvo

de investigação pelo Ministério Público do Trabalho, razão pela qual merece

prestígio a bem lançada decisão de origem. Arts. 1º, III e IV, 3º, IV, 5º, I e

XIII, art. 170, caput e III), da Lex Fundamenta lis, e 373-A da CLT.

(TRT-2 - RECORD: 592200808602000 SP 00592-2008-086-02-00-0,

Relator: RICARDO ARTUR COSTA E TRIGUEIROS, Data de Julgamento:

17/11/2009, 4ª TURMA, Data de Publicação: 04/12/2009)

Observa Sergio Pinto Martins, ―[...] a empresa não poderá exigir teste para

efeito de verificação da constatação de que a empregada se encontra ou não

esterilizada, pois será nítida a pratica discriminatória‖ (2007, p. 587)

Na visão de Sérgio Pinto Martins não há discriminação em solicitar o teste

gravídico na dispensa da empregada, uma vez que o resultado seja positivo, a empresa

deverá manter a relação de emprego.

Nada impede, à empresa solicitar exame médico na dispensa da empregada,

visando verificar se ela está grávida, justamente por ter objetivo manter a

relação de emprego, caso o resultado seja positivo. O empregador não

poderá saber se a empregada está ou não grávida se não proceder ao exame.

A prática do empregador de solicitar o exame médico para dispensa da

empregada é um ato de segurança para as próprias partes da condição de

garantia de emprego da obreira, para efeito da manutenção da relação de

emprego no caso de estar ela grávida não representando crime, infração

administrativa ou outra qualquer (2008, p. 587).

Ainda nesse sentido o autor observa.

O empregador não poderá saber se a empregada esta ou não grávida se não

proceder ao exame. A prática de o empregador solicitar o exame médico

para a dispensa da empregada é um ato de garantia para as próprias partes da

condição de estabilidade da obreira, para efeito da manutenção da relação de

emprego no caso de estar ela grávida não representando crime, infração

administrativa ou outra qualquer. Não se trata assim de discriminação, pois,

ao contrario, esta verificando se a empregada pode ou não ser dispensada,

pois sem o exame não se saberá se a empregada estava ou não grávida

50

quando da dispensa, que implicaria ou não a reintegração (MARTINS, 2008,

p.583).

O objetivo das normas de proteção a maternidade visa coibir as práticas

discriminatórias da mulher no emprego e para fazer compatível o trabalho da mulher, e

seu desenvolvimento profissional, para que ela não seja penalizada pelo fato de tornar-

se mãe.

5.3 ASSÉDIO SEXUAL NO AMBIENTE LABORAL

O assédio sexual pode ocorrer com homem ou com mulheres, ou até mesmo

pessoas do mesmo sexo, porém a forma mais comum é a mulher como vítima do

assédio sexual, e o homem no papel de assediante (CALIL, 2007, p.72).

O termo assédio sexual surgiu no início da década de 70, por pesquisadores da

Universidade de Cornell, ao realizarem um trabalho sobre as experiências de mulheres

com homens em locais de trabalho, para definir a conduta masculina que emitia sinais

de caráter sexual, mas que constituía, na verdade, um exercício de poder e dominação

(ibidem, p.73).

Lea Elisa Silingowschi Calil define o assédio sexual como.

Assim, pode-se definir assédio sexual como atentado a liberdade sexual de

empregada feito por superior hierárquico, por meio de chantagem. Essa

chantagem tem de ser tal que crie na mulher receio por seu emprego, cargo

ou função e, portanto, reduza sua capacidade de resistência, A posição de

poder do assediante não precisa advir necessariamente de um cargo superior

no organograma da empresa, mas que, de fato, ele exerça comando sobre a

assediada (2007, p. 73).

BARROS (2000 p.9-37 apud NOVAIS) traduz o assédio sexual a

comportamentos que sejam indesejados pela vítima, sejam eles físicos ou verbais a

repulsa da vítima pode se dar de forma explicita ou implícita. O assédio pode resultar

em um ambiente hostil ou humilhante em relação à vítima, podendo interferir até

mesmo em questões relativas ao seu emprego ou sua remuneração (2005, p.95).

Para Paula Oliveira Cantelli entende sobre o assédio.

51

O assédio pode ser entendido como comportamento que viola a liberdade

sexual, indo de encontro com o direito que cada um tem de dispor do próprio

corpo e expondo a vitima de modo geral, a situações de intimidação,

humilhação, constrangimento (2007, p. 131).

[...] o assedio sexual somente se caracteriza se a proposta sexual for

indesejada, pois é justamente essa rejeição – expressa ou oculta – que

concretiza a violação da liberdade sexual do assediado (ibidem, 2007, p.

133).

Lea Elisa Silingowschi Calil observa que o assédio sexual é um dos muitos

percalços que a mulher trabalhadora enfrenta na vida, tendo em vista a origem na

cultura machista e discriminatória contra mulher, que apesar de toda legislação

existente, se recusa a evadir-se de nosso cotidiano (2007, p.74).

O assédio sexual também tem sido apontado como fator responsável pela

discriminação de que são vítimas as mulheres no trabalho (CUNHA, 2010, p.231)

A promulgação de leis em favor da igualdade de oportunidades, o incremento

do movimento feminista, o aumento do número de mulheres no mercado de trabalho,

ocasionaram a oposição a sua presença, o que passou a ser manifestado por assédio

sexual, com o fito de conduzi-las a deixarem o trabalho ou funções tradicionalmente

masculinas (ibidem, p.231).

Como regra as mulheres não denunciam o assédio, deixando a tarefa para os

sindicatos, não apenas por pudor, em face ao constrangimento, mas pelo temos de

perder o emprego (CUNHA, 2010, p.231).

As legislações em geral consideram o assédio sexual uma violação a intimidade

e a dignidade da pessoa, o que conduz ao pagamento de indenização por dano moral

ou material. No que tange o direito trabalhista conduz a rescisão indireta do contrato

de trabalho (ibidem, p.231).

RECURSO DE REVISTA - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS -

ASSÉDIO SEXUAL - TRATAMENTO OFENSIVO E DESRESPEITOSO -

LESÃO AO DIREITO DA PERSONALIDADE DA EMPREGADA. Para o

deferimento de indenização por danos morais é necessária a violação de

algum dos valores imateriais do cidadão, como a honra, a imagem, o nome, a

intimidade e a privacidade, que englobam os chamados direitos da

personalidade. A referida indenização justifica-se nos casos em que há

patente ofensa a direitos personalíssimos do trabalhador, no curso da relação

empregatícia ou dela decorrente. No caso, o Tribunal Regional deixou claro

que o preposto da reclamada e chefe da autora praticou assédio sexual contra

52

a reclamante, dispensando habitualmente tratamento desrespeitoso, ofensivo

e humilhante com nítido cunho libidinoso. Tal situação viola direito da

personalidade da reclamante e enseja o pagamento de danos morais. Recurso

de revista não conhecido. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS -

REQUISITOS NÃO PREENCHIDOS - DESCABIMENTO. Nos termos do

art. 14 da Lei nº 5.584/70 e da Súmula nº 219, I, do TST, na Justiça do

Trabalho a condenação ao pagamento dos honorários advocatícios não

decorre pura e simplesmente da sucumbência ou do princípio da restituição

integral. É imperiosa a observância conjunta dos requisitos afetos à prestação

de assistência jurídica pelo sindicato profissional e à insuficiência econômica

do empregado. Recurso de revista conhecido e provido.

(TST - RR: 6108220125040204, Relator: Luiz Philippe Vieira de Mello

Filho, Data de Julgamento: 25/03/2015, 7ª Turma, Data de Publicação:

DEJT 31/03/2015)

Há duas formas de assédio sexual reconhecida pela doutrina trabalhista: o ―quid

pro quo”, que é o assédio por chantagem sexual, e por intimidação ou ambiental

(NOVAIS, 2005, p. 88).

O assédio sexual por chantagem ocorre quando um superior hierárquico exige

de seu subordinado a prestação de atividade sexual, sob condição de perder seu

emprego (NOVAIS, 2005, p.88).

A Lei 10.422/2001 introduziu no Código Penal o art. 216-A que tipifica como

crime de assédio sexual por chantagem que pode conduzir a pena de dois anos

(CUNHA, 2010, p.232).

Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou

favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior

hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou

função.

Para que o assediante seja enquadrado na lei, pouco importa se sua posição

hierárquica é contemplada ou não, bastando apenas que haja uma efetiva ascendência

sobre a vítima do assédio. E não exclui o tipo penal o fato de a relação ser de emprego

informal (CALIL, 2007, p.75).

Ainda que o assédio seja praticado por preposto, este poderá ser

responsabilizado. A responsabilidade do empregador por ser titular do poder diretivo e

assumir os riscos do empreendimento, ele se impõe pelos atos praticados por colegas

de trabalho ou clientes do estabelecimento (NOVAIS, 2005, p.89).

Segundo Alice Monteiro de Barros (200, p.35 apud NOVAIS, 2005, p.89).

53

O empregador deve ser responsável solidariamente pela indenização por

dano moral ou material, na hipótese de o assédio sexual ser cometido pelos

seus prepostos, em face a culpa in eligendo e/ou in vigilando, ou seja, da ma

escolha ou insuficiência na fiscalização. Já quando o assédio é praticado por

colega de trabalho do empregado ou cliente do estabelecimento a

responsabilidade do empregador, no tocante à indenização, também se impõe

mas de forma subsidiaria, por ser ele o titular do poder diretivo e assumir os

riscos do empreendimento econômico, nos termos do art. 2º da CLT. Logo,

deverá zelar não só pela boa organização técnica, como também pela boa

ordem na empresa, onde deverá existir um padrão mínimo de moralidade e

garantia pessoal.

O assédio sexual é um ato ilícito que viola os direitos fundamentais, como a

liberdade, a dignidade, a intimidade e a honra, garantidos constitucionalmente, geram

indenização por danos morais a vítima (FELKER, 2007, p.101).

O assédio por intimidação se compreende por condutas indesejadas, verbais ou

físicas, com conotação sexual, que venham a criar uma situação hostil ou de

intimidação para a vítima no ambiente de trabalho (NOVAIS, 2005, p.88).

O assédio sexual tem o intuito de obter vantagens sexuais, e pode se concretizar

de várias formas (CALIL, 2007, p.74).

Francisco Antonio de Oliveira (apud CALIL) expõe sobre as formas de conduta

sexual.

Toda e qualquer conduta de natureza sexual, ou outros comportamentos

dirigidos ao sexo, que causem situação de constrangimento ou que afetem a

dignidade do assediado, homem ou mulher. A conduta ofensiva poderá ser

verbal, escrita, olhar lascivo, por toques e beliscões em regiões pudendas –

toques em regiões que causem constrangimento ou vergonha. Poderá, ainda,

ser dirigido por mímicas grotescas ou ridículas. Até mesmo um simples

olhar poderá ser ofensivo, dependendo da carga de intenção que irradie

(2007, p. 74).

Ainda nesse sentido Ernesto Lippman define que:

(...) o assédio se caracteriza por ter conotação sexual, pela falta de

receptividade, por uma ameaça concreta contra o empregado, e, ―que seja

repetitiva em se tratando de assédio verbal e não necessariamente quando o

assédio é físico — a chamada apalpadela no bumbum, entre pessoas que não

dividem intimidade e com intenção sexual, é suficiente para configurar o

assédio sexual, sem necessidade de repetição —, de sorte a causar um

ambiente desagradável no trabalho, colocando em risco o próprio emprego,

além de atentar contra a integridade e dignidade da pessoa, possibilitando

pedido de indenização por danos físicos e morais (2001, p. 17).

54

As legislações consideram em geral o assédio uma violação a intimidade ou a

dignidade da pessoa, que conduz ao pagamento de indenização por dano material ou

moral. Em sede trabalhista, a hipótese conduz a rescisão-indireta do contrato de

trabalho (CUNHA 2010, p.231).

Thereza Cristina Gosdal aduz que no âmbito trabalhista a repercussão do

assédio sexual pode importar em indenização por dano moral ao ofendido. A reparação

por danos morais encontra amparo legal no art. 5º, inc. V e X da CF, e também no art.

159 do Código Civil (2003, p.240).

Sobre os direitos da vítima de assédio, Waleska Kurtz Felker dispõe.

Portanto, a vítima de assédio sexual poderá pleitear a devida reparação pelos

danos sofridos de seu empregador, ainda que o ato ilícito tenha sido

cometido por colega de trabalho ou outro funcionário hierarquicamente

superior. Neste caso, a empresa responsabilizada poderá ajuizar Ação de

Regresso contra o agente do assédio (FELKER, 2007, p. 82).

Sobre o direito a indenização expõe Paula Cantelli.

O assédio sexual é um exemplo claro de violação ao direito à intimidade, a

privacidade, a livre disposição do próprio corpo, a dignidade da pessoa,

motivo pelo qual o assediado faz jus a referida indenização

constitucionalmente garantida (CANTELLI, 2007 p. 138).

Para Denise Pasello Valente Novais para que o assédio produza efeito em

âmbito trabalhista necessita estar relacionado ao contrato de trabalho direta ou

indiretamente. E que embora a legislação trabalhista brasileira não aborde essa matéria

de forma especifica, a doutrina firmou entendimento que a vítima de assédio pode

requerer a rescisão indireta do contrato de trabalho (2005, p.88).

A legislação civil e trabalhista não aborda especificamente a matéria. Mas a

Convenção nº 111 da OIT, ratificada pelo Brasil, comporta o assédio sexual, ao tratar

da discriminação no emprego.

Em regra o assédio sexual provoca dissolução do contrato de trabalho, por

pedido da vítima, por abandono de emprego, por pedido de rescisão indireta, ou por

despedida por iniciativa do empregador, geralmente sem justa causa (GOSDAL, 2003,

p. 236).

55

O assédio sexual pode se manifestar de várias formas, e seja ela qual for, deve

ser coibida pela legislação civil, penal e trabalhista, que tão pouco disciplina essa

matéria.

5.4 PROTEÇÃO AO TRABALHO DAS MULHERES

A proteção ao mercado da mulher está prevista na CF, e visa garantir que as

mulheres tenham o mesmo acesso e igual oportunidade de trabalho que homens,

buscando afastar toda e qualquer discriminação em relação à mulher (CALIL, 2007, p.

52).

Não foram pequenas as restrições que as mulheres sofreram, em suas primeiras

tentativas de atividade profissional. Não apenas pela sua situação pessoal, física, moral

e econômica, mas também pela dignidade do trabalho, o legislador compreendeu a

necessidade de adotar um sistema de proteção efetivo ao trabalho feminino.

Perduraram no fundo, todas aquelas razões históricas que criaram uma regulamentação

especial do trabalho feminino e que repousam até hoje na sua fragilidade física, em

defesa de sua moralidade e na proteção à maternidade (RUSSOMANO, 2010, pp. 429,

430, 431).

O empregador não pode recusar a contratação da mulher, promoção ou

despedida tendo como referência o sexo. Da mesma forma é vedado exigir atestado ou

exame para confirmação de esterilidade ou gravidez, na admissão quanto no decurso

do contrato; impedir o acesso ou adotar critérios para deferimento de inscrição em

concursos promovidos por empresa privada e realizar a revista íntima nas empregadas.

Todas essas normas estão previstas no artigo 373-A da CLT, criada pela Lei 9.799/99.

No parágrafo único desse artigo ressalta a adoção de medidas temporárias que visem à

adoção de políticas de igualdade entre homens e mulheres (RUSSOMANO, 2010, PP.

431 – 432).

Inspirada em convenções internacionais, a legislação brasileira proíbe o

trabalho da empregada gestante pelo período de 120 dias, (licença-maternidade – art.

7º, XVIII, da CF e 392 e 393 da CLT), dos quais 28 dias devem ser concedidos antes

do parto e 92 após este. Os períodos poderão ser aumentados em mais duas semanas,

56

antes e depois do parto, em circunstâncias especiais mediante atestado médico

fornecido pelo SUS. (CUNHA, 2010, p. 222).

Com relação à proteção da mulher durante a gravidez, o parágrafo 4º do artigo

392 da CLT, com redação dada pela Lei 9.799/99, dispõe que é garantido à empregada

durante a gravidez sem prejuízo do salário e demais direitos, a transferência de função,

quando as condições de saúde exigir, e poderá retomar a função anteriormente

exercida após o retorno ao trabalho, e a dispensa em horário de trabalho para

realização de no mínimo seis consultas médicas e demais exames complementares

(LEITE, 2015, p. 548).

A Lei n. 9.029, de 13 de abril de 1995, surgiu para combater uma prática

discriminatória que ganhou vulto após a promulgação da CF de 1988, já que a

estabilidade foi uma ameaça ao direito do empregador de demitir suas empregadas.

Assim a referida lei criminalizou a conduta do empregador de exigir qualquer tipo de

procedimento relativo à esterilização ou estado de gravidez.

Desta forma a lei combateu, tornando crime, a prática nas duas frentes em

que ela se manifestava; proibindo a exigência de atestados de gravidez ou de

esterilização e o incentivo à esterilização ou controle de natalidade que não

seguisse as normas do Sistema Único de Saúde (SUS). (CALIL, 2007, p.55).

As normas de proteção à maternidade são imperativas e indisponíveis, de sorte

que não poderá o empregador exigir trabalho durante o período de afastamento, sob

risco de arcar com penalidades administrativas (CUNHA, 2010, p. 222).

A Lei 11.770/70 possibilitou a prorrogação de 60 dias na licença maternidade

em caso de o empregador aderir ao Programa Empresa Cidadã.

Outra regra importante, a empregada terá o direito a dois descansos

intrajornadas especiais, com duração de 30 minutos cada, sem prejuízo do salário. Os

intervalos na jornada de trabalho para amamentação do filho será considerado tempo

de serviço.

A CF de 1988 inovou não apenas ao majorar a licença maternidade, como

introduziu a estabilidade a gestante desde a confirmação da gravidez até 5 meses após

o parto.

57

As regras contidas no ordenamento jurídico brasileiro, no que tange o trabalho

da mulher, são completadas por normas destinadas a combater a discriminação no

emprego (CUNHA, 2010, p. 229).

Nessa ordem, em 1999, foi editada a Lei 9.799, que inseriu na CLT algumas

regras sobre a proteção do mercado de trabalho da mulher.

O art. 373-A e incisos da CLT, veda situações discriminatórias contra a mulher,

o artigo é auto-explicativo, e assegura uma série de garantias para a trabalhadora.

Além disso, o artigo 390-B da CLT passou a dispor que as ―vagas dos cursos de

formação de mão de obra, ministradas por instituições governamentais, pelos próprios

empregadores ou por qualquer órgão de ensino profissionalizante, serão oferecidos a

empregados de ambos os sexos‖ (LEITE, 2015, p. 552).

Outra norma importante para a otimização do mercado de trabalho da mulher

está prevista no art. 390-C da CLT, segundo quais as ―empresas com mais de cem

empregados, de ambos os sexos, deverão manter programas especiais de incentivos e

aperfeiçoamento profissional da mão de obra‖. Para, tanto a pessoa jurídica poderá

associar-se a entidade de formação profissional, sociedades civis e cooperativas,

órgãos e entidades publicas ou entidades sindicais, bem como firmar convênios para o

desenvolvimento de ações conjuntas, visando à execução de projetos relativos ao

incentivo ao trabalho da mulher (CLT, art. 390-E). (LEITE, 2015, p. 553).

As normas e incentivos são destinadas a proteger e combater a discriminação do

trabalho da mulher.

De outra parte, o artigo 5º da CLT, é significativa a referência à igualdade de

tratamento entre pessoas de sexo diferente. Sua inclusão na parte geral revela o

objetivo do legislador de ressaltar a importância da regra posta. A referência do

legislador à igualdade apenas no plano salarial. Os outros aspectos do contrato de

trabalho, como o tratamento dispensado a cada empregado, nos diferentes momentos

do contrato de trabalho, são deixados de lado, não consideram os momentos de

formação do contrato ou de sua extinção. Segundo Estevão Mallet (200, p.30), ―Não

admitir trabalhadora, por motivo de gênero, não estaria em desacordo com a

literalidade do art. 5º da CLT‖.

58

A equiparação por identidade supõe, trabalho de igual valor. O conceito legal de

trabalho de igual valor encontra-se no art. 461 da CLT, exige como explicitado pela

doutrina: a) exercício de igual função; b) trabalho de igual qualidade; c) realizado com

igual produtividade; d) em favor do mesmo empregador; e) no mesmo local e f) por

empregador com tempo de serviço com diferença não superior a dois anos.

A legislação trabalhista vem se adequando e tem assegurado uma proteção

especial às mulheres, principalmente aquelas que dizem respeito ao estado de gestação

e a maternidade, mas também tem dado atenção à questão da revista intima a

salubridade e a igualdade de remuneração mesmo que isso não ocorra de forma eficaz

na prática.

No entanto a mulher vem adquirindo consciência e lutando pelos seus direitos,

seu papel é de suma importância no mercado e na economia.

59

6 CONCLUSÃO

O objetivo central no qual se procedeu esta monografia foi analisar a

discriminação da mulher no ambiente de trabalho. O trabalho da mulher antigamente

foi limitado aos afazeres domésticos. Para a mulher conquistar seu espaço no mercado

de trabalho foi com muita luta. Ao adentrar na indústria, a sua história é marcada por

exploração e nenhuma forma de proteção. Com o surgimento das primeiras normas

específicas, sofreu diversas restrições. O Estado sob a justificativa de proteger a

mulher restringiu o trabalho feminino por longos anos. A mulher era considerada

relativamente incapaz para os atos da vida civil até o advento do Estatuto da Mulher

casada, que retirou o poder do marido de autorizar o trabalho da esposa.

Com o advento da Constituição Federal de 1988 que as mulheres passaram a ter

direito a trabalhar em locais insalubres, e as leis garantindo a proteção ao trabalho

feminino.

Atualmente a mulher ainda enfrenta uma luta na busca de igualdade de

tratamento e de oportunidade, e ainda sofrem discriminações por estigmas históricos e

supostos fatores biológicos. Na maior parte as leis que protegem o trabalho da mulher

estão ligadas a maternidade. A discriminação contra a mulher, não está somente ligada

à maternidade e sim, a diversas formas de discriminação, somente pelo fato de ser

mulher, sem nenhuma justificativa plausível para o tratamento discriminatório.

A discriminação é a ação de segregar alguém, tratando essa pessoa de maneira

diferente, por motivos que não se justificam, tratando-a de forma injusta.

No que tange a discriminação vertical, não há nenhum fator relevante para a

dificuldade ou o veto da promoção da mulher, a verdade que baseado em modelos

sexistas muitos homens tem ‗dificuldade‘ em ser comandados por mulheres, por se

sentirem inferiorizados ou ‗menos homem‘.

A desigualdade de remuneração é mais uma infeliz realidade na vida

profissional da mulher brasileira, desvalorizando o trabalho feminino, a problemática

da remuneração é a discriminação mais antiga que atinge as mulheres, no passado com

desenvolvimento do capitalismo, e a necessidade da mão-de-obra feminina, as

60

jornadas eram desumanas e o salário bem inferior ao do homem. Hoje em dia mesmo

com formação universitária a desigualdade salarial ainda a acompanha.

E ainda, apesar de todas as formas de proteção, a discriminação ainda é

realidade no universo feminino, a despeito do assédio sexual, não há lei no Direito do

Trabalho que discipline a matéria de forma concreta, como o assédio normalmente não

se ocorre às claras, é evidente a dificuldade probatória que dele decorre.

Assim é possível concluir que a lei no que tange a proteção e a igualdade da

mulher no ambiente de trabalho, evoluiu e se modificou ao longo do tempo se

adaptando as novas realidades do mercado, mas ainda não é o suficiente para coibir as

práticas discriminatórias nas relações de gênero. Garantir a igualdade nas relações de

gênero é o caminho para uma sociedade mais justa.

61

REFERENCIAS

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