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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
CARLOS ANTONIO BUCH FILHO
O CONTRATO DE TRABALHO DESPORTIVO DO ATLETA DE
FUTEBOL
CURITIBA,
2013
CARLOS ANTONIO BUCH FILHO
O CONTRATO DE TRABALHO DESPORTIVO DO ATLETA DE
FUTEBOL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso De Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Professor Felipe Augusto da Silva Alcure.
CURITIBA,
2013
TERMO DE APROVAÇÃO
CARLOS ANTONIO BUCH FILHO
O CONTRATO TRABALHISTA DESPORTIVO DO ATLETA DE
FUTEBOL
Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do titulo de Bacharel em Direito no programa curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba,______ de___________________ de 2013.
_______________________________________
Curso de Direito
Universidade Tuiuti do Paraná
Orientador ________________________________
Prof. Felipe Augusto da Silva Alcure
Universidade Tuiuti do Paraná.
______________________________________
Prof. Dr.
______________________________________
Prof. Dr.
Primeiramente esse trabalho é dedicado à Deus,
que está comigo em todos os momentos me
dando força, sabedoria e me amparando sempre
que necessário;
Dedico também aos meus pais e familiares, que
me oportunizaram o estudo e todo o necessário
para que eu pudesse chegar até aqui.
Agradeço ao meu Orientador, Prof. Felipe Augusto
da Silva Alcure, pela confiança em mim depositada
e pelos sábios apontamentos, tornando esse
estudo possível.
RESUMO
Esse trabalho de conclusão de curso busca analisar as peculiaridades do contrato de trabalho
desportivo. Aborda o tema desde a evolução histórica do assunto, passando pela legislação atual,
que busca legislar de uma maneira específica a relação de trabalho entre clubes e atletas deste
esporte que encanta milhares de pessoas por todo o mundo. O Direito desportivo encontra respaldo
na Constituição Federal de 1988,desta forma, abrange a todos, sem exceções. O futebol foi criado
como forma de diversão pelo mundo, porém, diante da globalização, tomou proporções comerciais
inimagináveis, com valores de transferência e salários estratosféricos, desta forma, tornou-se um
meio que é a profissão de milhares de pessoas pelo mundo. Diante de todo esse crescimento, se viu
necessário a criação de um sistema normativo para reger as relações empregatícias.
Palavras-chave: Contrato de trabalho desportivo, Lei 9.615/1998, Justiça do Trabalho, Justiça
Desportiva, Futebol, Consolidação das Leis Trabalhistas.
ABSTRACT
This course conclusion work seeks to analyze the peculiarities of employment sports. Approaches the
subject from the historical evolution of the subject, going by the current legislation, which seeks to
legislate in a particular way the working relationship between clubs and players of this sport that
delights thousands of people throughout the world. The Sports Law is supported by the Federal
Constitution of 1988, thereby covering all without exceptions. Football was created as a form of
entertainment in the world, but in the face of globalization, trade took unimaginable proportions, with
values of transfer and stratospheric salaries thus became a medium that is the profession of
thousands of people worldwide. Faced with all this growth, we saw a big kid need a regulatory system
to govern the relaçõesempregatícias.
Keywords: contract work sports, Law 9.615/1998, Labour Court, Justice Sports, Football,
Consolidation of Labor Laws.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO............................................................................................. 9
2.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO FUTEBOL..................................................
11
2.1. 2.2.
No mundo............................................................................................. No Brasil................................................................................................
11 12
3. DO CONTRATO DE TRABALHO...............................................................
13
3.1 3.2
Conceito de Contrato de Trabalho......................................................
3.1.1. Elementos........................................................................
Conceito do Contrato de Trabalho Desportivo..................................
3.2.1. Elementos do Contrato de Trabalho Desportivo......... 3.2.2. Natureza Jurídica.............................................................
14 14 16 17 18
4. DA FORMAÇÃO DO CONTRATODE TRABALHO.................................... 19
4.1 4.2 4.3 4.4
Capacidade............................................................................................. 3.1.1. Atleta Estrangeiro.............................................................
Forma...................................................................................................... Prazo....................................................................................................... Órgão Competente.................................................................................
19 19 20 20 22
5. SUSPENSÃOE INTERRUPÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO..........
23
6. CESSAÇÃO DO CONTRATODE TRABALHO...........................................
25
6.1
Justa Causa...........................................................................................
26
6.2 6.3
Rescisão Indireta...................................................................................
6.2.1. Multa rescisória.............................................................
Cessão ou Transferência........................................................................
6.3.1 Cessão ou transferência à entidade desportiva
estrangeira...........................................................................................
27 29 30 30
7. JORNADA DE TRABALHO................................................................. 32
7.1 7.2 7.3 7.4 7.5 7.6 7.7. 7.8
Conceito Geral........................................................................................ Jornada de Trabalho no Contrato de Trabalho Desportivo.................... Descanso Semanal Remunerado......................................................... Viagens e Pré Temporada.................................................................... Concentração e Horas Extras.............................................................. Jogos e Treinos................................................................................... Intervalo Intra Jornada e Intervalo Inter semanal.................................
Adicional Noturno.................................................................................
32 32 33 33 33 36 36 38
8. REMUNERAÇÃO................................................................................ 40
8.1 8.2
Luvas..................................................................................................... Bicho......................................................................................................
41
42
9. DIREITO DE IMAGEM........................................................................... 44
10. DIREITO DE ARENA.............................................................................
47
11. CONCLUSÃO........................................................................................ 50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................... 52
9
1. INTRODUÇÃO
Com o presente trabalho, objetiva-se conferir uma visão geral sobre as
peculiaridades do contrato de trabalho do atleta profissional de futebol sob a ótica da
justiça do trabalho, bem como a diferenciação aplicada pela lei especial e a
Consolidação das Leis Trabalhistas.
O primeiro capítulo será iniciado expondo o surgimento e o desenvolvimento
do desporto pelo mundo, assim como a introdução e a profissionalização do futebol
no Brasil.
As sociedades mais antigas realizavam o desporto com a finalidade de
diversão, porém, com o passar dos anos, o interesse nas práticas desportivas
aumentaram ao ponto de envolver enormes quantias em dinheiro nas negociações
comerciais, desta forma, não houve outra saída senão a profissionalização do
futebol.
Diante de tal evolução, a implantação do futebol no Brasil era questão de
tempo, fato ocorrido no final do século XIX, sendo que, após a implantação, em
pouco tempo o Brasil se tornou o país em que o futebol se expandiu de uma forma
extremamente rápida, chegando ao ponto de ser conhecido como “o país do
futebol”.
Através da crescente e nítida massificação do desporto no Brasil, diante das
gigantescas proporções que o futebol tomou, não houve outra saída senão a
profissionalização, atrelando assim a necessidade de haver uma legislação
específica para regular as relações de trabalho entre um determinado atleta de
futebol e o respectivo clube de futebol empregador.
Num posterior momento, a ser abrangido pelo segundo capítulo, será
explicada a formação do contrato de trabalho de um atleta, assim como as principais
peculiaridades regidas pela lei 9.615/1998 (Lei Pelé).
No decorrer do presente trabalho, serão constatadas inúmeras peculiaridades
encontradas na Lei 9.615/1998 com o contrato de trabalho celetista, as quais,
distinções entre o contrato celetista, duração do contrato, a formação do contrato de
trabalho, motivação para a suspensão e interrupção do contrato de trabalho, as
principais formas de cessação do contrato de trabalho (transferência, justa causa e
rescisão indireta).
10
Ademais, em um outro momento, no terceiro capítulo, serão tratadas as
especificidades na jornada de trabalho de um atleta profissional, também sob égide
da Lei Pelé (Lei Federal nº 9.615/98), a qual se distingue muito de um contrato
celetista.
Além disso, serão tratados alguns pontos que causam divergências
doutrinárias e jurisprudenciais, como a jornada de trabalho, tempo a disposição na
concentração e o adicional noturno.
No quarto capítulo, outra especificidade do contrato de trabalho apenas
encontrada no contrato com o atleta profissional: a remuneração.
Além da remuneração mensal a qual qualquer trabalhador tem direito pela
contraprestação de serviços, existem inúmeras formas que os clubes encontram de
motivar seus atletas, através de bichos a cada jogos, as luvas na contratação de um
novo atleta, além do direito à imagem o qual o trabalhador tem direito, bem como,
serão analisados alguns pontos do direito de arena, tema de discussões
jurisprudenciais.
Um ponto que será levado em consideração no presente trabalho, diz respeito
à equiparação salarial no contrato de trabalho de atletas de futebol, analisando a
possibilidade, a legislação a ser utilizada, bem como, a aplicabilidade na realidade
prática.
A intenção, portanto, será a de apresentar os diferentes entendimentos que
pairam sobre o nosso ordenamento jurídico, levando em consideração as
discussões doutrinárias e jurisprudenciais que rodeiam o tema, visto o alto índice de
peculiaridades encontradas, bem como, a pouca exploração dos profissionais do
direito do presente tema.
11
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO FUTEBOL
2.1. No mundo
Até os dias de hoje existe a discussão sobre quem teria criado o futebol,
entram nesta briga os chineses, japoneses, gregos, franceses, italianos e ingleses,
sendo que todos eles tem suas razões para a argumentação.
Primeiramente, as primeiras manifestações que surgiram sobre a prática do
futebol que se tem notícia ocorreram na China entre 3.000 e 2.500 a.C., durante a
dinastia do imperador chinês Huang-ti, onde era costume chutar o crânio de inimigos
derrotados, com o objetivo de ultrapassar duas estacas finadas no chão.
Posteriormente os crânios foram substituídos por bolas de couro nos exercícios
militares.
Ainda na China, em 2.197 a.C., a primeira forma documentada que se tem
noticia do futebol chama-se tsu-chu, criado na China para fins militares
O tsu Chu se assemelha muito com o futebol atual, tendo como principais
regras, o campo retangular, 12 jogadores de cada lado, duas estacas de bambu em
cada lado, com fios de seda e a bola deveria ser conduzida com o pé, porém, sem
deixar tocar ao chão, com o objetivo de atingir entre as estacas de bambu.
No Japão, o nome que levava era kemari (chutar a bola), que era um esporte
praticado pelos nobres da corte imperial japonesa e foi patrocinado pelos
imperadores Engi e Tenrei, porém, em suas regras, não contava pontos e não era
possível o contato corporal, o campo era quadrado e em cada lado do campo havia
uma árvore.
Na Grécia, o parente mais próximo do futebol chama-se epyskiros, surgiu o
século I a.C. e era disputado com os pés em campo retangular, por equipes de nove
jogadores. A bola era feita de bexiga de boi e recheada com ar e areia e deveria ser
arremessada para cada metas.
Já na idade média, no século XVI, é criado em Florença pelos italianos o
cálcio, onde foi criado regras em 1580, sendo arbitrado por 10 juízes para impedir
pontapés e empurrões e a partir deste momento se difundiu para toda a Itália.
Na Inglaterra, o mais antigo documento relacionado ao futebol é o Descriptio
Nobilissimae Civitatis Londinae, de William Fitztephelen do ano de 1.175, onde é
12
citado um certo jogo em que vários habitantes de várias cidades saíam as ruas
chutando uma bola de couro, como forma de comemoração è expulsão dos
dinamarqueses. Este jogo, ao logo dos anos foi ficando cada vez mais violento que
chegou ao ponto da prática do jogo ser proibida.
Após a proibição, as escolas inglesas passaram a adotar o esporte como
forma de atividade física, passando a ser praticado com severas regras quanto a
violência e não mais nas ruas, mas sim nos terrenos baldios.
Em 26 de outubro de 1863, visto o grande numero de escolas que praticavam
o esporte, bem como, a mistura de regras que o jogo dispunha, foi realizada uma
conferência para unificar as regras, onde representantes de 11 clubes e escolas
instituíram as bases que regem até hoje o esporte, desta forma, estava criado o
futebol da maneira que conhecemos hoje
2.2. No Brasil
No Brasil, existem inúmeras versões sobre a introdução do esporte no país,
porém, a versão mais aceita a de que Charles Miller foi quem realizou a primeira
partida de futebol, em abril de 1895.
Em 18 de fevereiro de 1894, Charles Miller retornando de viagem à
Southampton, na Inglaterra, trouxe duas bolas e passou a difundir o esporte pelo
estado de São Paulo, inclusive, chegou a ser atacante da equipe São Paulo Athletic
Club, posteirormente dirigente e até mesmo árbitro.
Em 1897, outro estudante, Oscar Cox, trouxe o futebol ao Rio de Janeiro,
sendo nos anos posteriores difundido o esporte para outros estados brasileiros,
começando assim a paixão nacional que se vigora até os dias de hoje.
13
3. DO CONTRATO DE TRABALHO
Antes de se aprofundar no assunto do contrato de trabalho do atleta
profissional, é de suma importância realizar uma breve análise no tocante à
evolução das leis trabalhistas no Brasil, desde a criação da Consolidação das Leis
Trabalhistas, bem como a aplicabilidade de forma subsidiária aos atletas
profissionais de futebol, desta forma, através do conceito criado pela doutrina
referente ao contrato celetista e o contrato do presente estudo, estabelecer as
diferenças e peculiaridades existente entre eles.
O principal período para a evolução do Direito do Trabalho no Brasil, leva-se
em consideração de 1888 até 1930, período em que foi denominado como fase de
manifestações incipientes ou esparsas. Neste período, a relação empregatícia se
apresentava relevante apenas no segmento agrícola cafeeiro do estado de São
Paulo, bem como, na crescente industrialização na cidade de São Paulo/SP e no
então distrito federal, Rio de Janeiro.
Após a fase mencionada, período em que foram criados alguns diplomas e
normas, em 1930 iniciou a segunda parte na evolução histórica, a denominada fase
da institucionalização do Direito do Trabalho, perdurando até o final da ditadura
getulista, em 1945, desta forma firmou um novo modelo trabalhista, o qual,
mantiveram-se os efeitos até a Constituição Federal de 1988.
Na fase de institucionalização do Direito do Trabalho no sistema normativo
nacional, houve intensa atividade legislativa do Estado. Consoante salientado por
Mauricio Godinho Delgado:
A fase de intitucionalização do Direito do Trabalho consubstancia, em seus primeiros treze a quinze anos (ou pelo menos até 1943, com a Consolidação das Leis do Trabalho), intensa atividade administrativa e legislativa do Estado, em consonância com o novo padrão de gestão sociopolítica que se instaura no país com a derrocada, em 1930, da hegemonia exclusivista do segmento agroexportador de café1.
1 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 11. ed. LTr. p. 109.
14
Ademais, foram trazidas inúmeras legislações ordinárias, bem como, a própria
Constituição Federal de 1988, que trazem diversas inovações no direito trabalhista
brasileiro. A Constituição Federal contempla o trabalhador com diversas garantias e
direitos fundamentais, elencados nos arts. 7º a 11, tanto no campo individual, como
no campo coletivo.
3.1. Conceito de Contrato de Trabalho
Para conceituar o contrato de trabalho, consoante um dos principais
doutrinadores da matéria no Direito nacional, Maurício Godinho Delgado, define que
“O Contrato de Trabalho pode ser definido como um negócio jurídico expresso ou
tácito mediante o qual uma pessoa natural obriga-se perante pessoa natural, jurídica
ou ente despersonificado a uma prestação pessoal, não eventual, subordinada e
onerosa de serviços”2.
Outra definição utilizada pelo mesmo doutrinor ao falar do contrato de
trabalho, entende que “é um acordo de vontades, tácito ou expresso, pelo qual uma
pessoa física coloca seus serviços a disposição de outra, a ser prestado com
pessoalidade, não eventualidade, onerosidade e subordinação ao empregador”3.
Desta forma, entende-se que o contrato de trabalho é um vínculo
empregatício entre empregador e empregado, onde uma pessoa física presta
serviços a outra, via de regra pessoa jurídica, com pessoalidade, não eventualidade,
subordinado ao empregador e auferindo uma quantia onerosa pela troca de serviços
prestados.
3.1.1. Elementos
Os elementos constitutivos do contrato de trabalho são divididos entre
essenciais, naturais e acidentais, conforme o entendimento doutrinário.
2 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 11. ed. LTr. p. 5013 Idem, p. 501.
15
Os elementos essenciais, são elencados pelo Direito Civil: a capacidade das
partes, licitude do objeto e forma prescrita ou não vedada por lei (art. 82, CC/1916;
art. 104, I a III, CC/2002).
a) Capacidade das partes: O doutrinador Washington de Barros Monteiro,
define a capacidade das partes como “a aptidão para exercer os atos da
vida civil4”.
Já no direito do trabalho, a principal especificação se encontra na
maioridade trabalhista, a qual, sempre iniciou aos 18 anos, sendo o
trabalhador entre 16 e 18 anos existe a denominada capacidade relativa.
Entre 16 e 18 anos situa-se capacidade/incapacidade relativa do obreiro para atos da vida trabalhista (14 anos, se vinculado ao emprego através de contrato de aprendiz). É o que deriva do texto constitucuinal, combinado com o modelo jurídico celetista adaptado à nova Constituição (art. 7º, XXXIII, da CF/88, conforme EC n. 20, de 15.12.98; arts 402 a 405 da CLT). Antes da emenda n. 20/98, tais parâmetros etários eram, respectivamente, 14 e 12 anos5.
b) Licitude do Objeto: O código civil brasileiro elenca que apenas objetos
lícitos podem ser objetos de um contrato (art. 145, II, CC/1916; art. 166, II,
CC/2002), sendo que, o Direto do Trabalho segue a mesma linha.
“Enquadrando-se a atividade prestada em um tipo legal criminal, rejeita a
ordem justrabalhista reconhecimento jurídico à relação socioeconômica
formada, negando-lhe, desse modo, qualquer repercussão de caráter
trabalhista6”. Desta forma, constata-se que não será válido o contrato de
trabalho que tenha como objeto a prestação de serviços em atividade
ilícita.
c) Forma prescrita e não vedada em lei: Para o Direito Civil, o Direito não
exige forma especifica para atos jurídicos contratados entre privados.
4 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil, 1977: Saraiva, vol 1, p. 57-58.5 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 11. ed. LTr. p. 5106 Idem, p. 5123.
16
O Direito do Trabalho segue a mesma regra citada no Direito Civil, não há
qualquer instrumentalização específica obrigatória ao celebrar um
contrato de trabalho, trata-se de um pacto não solene, desta forma, é
ajustado apenas de modo tácito, conforme aludidos nos arts. 442 e 443
da CLT.
Já os elementos naturais do Contrato de Trabalho, em que pese não ser
imprescindível para a formação do contrato de trabalho, a tendência é o
comparecimento na estrutura concreta de um contrato de trabalho.
“Na área justrabalhista, surge como elemento nartural do contrato
empregatício a jornada de trabalho. Dificilmente se encontrará exemplo contratual
em que a cláusula (expressa ou tácita) concernemente à jornada não seja integrante
do pacto. O avanço normativo trabalhista pode caminhar inclusive na direção de
tornar sempre recorrentes, nas relações de trabalho, estipilações em torno da
jornada de trabalho7”.
O terceiro e ultimo elemento do Contrato de Trabalho, são os denominados
acidentais, os quais, alteram as estruturas e efeitos, denominados pela doutrina
civilista de termo e condição. No Direito do Trabalho, o termo e condição também
surgem como acidentais inserido no contrato de trabalho, de um modo geral,
reporta-se aos contratos sem termo final fixado, ou seja, aos contratos com tempo
indeterminado.
3.2. Conceito do Contrato de Trabalho Desportivo
Todo contrato profissional de futebol firmado entre clube e atleta é um
contrato de trabalho e deverá ser escrito, sendo aplicadas as normas gerais da
legislação trabalhista, conforme aludido o Artigo 4º da CLT, bem como da
Seguridade Social. O Artigo 28 da Lei 9.615/988 conceitua o contrato de trabalho
entre o clube empregador e o atleta empregado como:
7 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 11. ed. LTr. p. 517. 8 BRASIL. Senado Federal. Lei 9.615/98. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil. Acesso em: 25/07/2013.
17
A atividade do atleta profissional é caracterizada por remuneração pactuada
em contrato especial de trabalho desportivo, firmado com entidade de
prática desportiva.
O contrato de trabalho do atleta profissional do futebol é conceituado por
Sérgio Pinto Martins da seguinte forma: “Contrato de trabalho do jogador de futebol
é o negócio jurídico entre uma pessoa física (atleta) e o clube sobre condições de
trabalho, mediante remuneração e sob a direção do último9”.
Desta forma, diante da formação do contrato de trabalho desportivo,
com as condições de onerosidade e pessoalidade, conforme o entendimento
doutrinário, bem como da própria legislação, o contrato de trabalho desportivo, de
um modo geral, além das peculiaridades trazidas pela lei especial (Lei 9.615/1998),
é regido pela CLT, obedecendo assim, às regras do contrato de trabalho celetista.
2.2.1. Elementos do Contrato de Trabalho Desportivo
Os elementos do contrato de trabalho desportivo e celetista, de um
modo geral, se confundem, porém há algumas peculiaridades no tocante à
subordinação, pessoalidade e onerosidade, mas, sendo necessário que o atleta
pratique futebol, sob a subordinação de um empregador, o clube de futebol, para
prestar serviços em continuidade e mediante remuneração.
No tocante à subordinação é que a Lei Pelé identifica diferenciação do
contrato de trabalho celetista, neste contexto, ensina Sérgio Pinto Martins “a
subordinação do contrato de trabalho do atleta de futebol tem características
diferenciadas, pois o empregador determina treinos, concentração, excursões, sua
alimentação, horas de sono, controle de peso, abstinência sexuais antes de jogos.
Já ocorreu de os atletas serem proibidos pelo clube em dar entrevistas. As
entrevistas muitas vezes são dadas em local onde existam logotipos do
patrocinador, etc. 10”.
Ao se falar na pessoalidade, é de suma importância mencionar que o
contrato de trabalho do atleta profissional é intuitu personae, visto que, o atleta é
certo e específico, não havendo a possibilidade de haver substituições.
9 MARTINS, Sergio Pinto. Direitos Trabalhistas do Atleta Profissional de Futebol. ed.Atlas. p. 13. 10 Idem, p. 15.
18
Quanto a onerosidade, existem inúmeras especificidades no contrato
de trabalho desportivo, desta forma, é regido por contrato especial, através da Lei
8.615/1998. As especificidades serão analisadas posteriormente no presente
trabalho, porém, cumpre esclarecer as modalidades, prêmios, luvas, bichos, direito
de arena e direito de imagem.
3.2.2. Natureza Jurídica
O contrato de trabalho entre atleta e clube tem natureza jurídica desportiva e
trabalhista, porém, é considerado um contrato especial, regido principalmente por
legislação especial.
Maria Helena Diniz firma que “a sua natureza jurídica mais se aproxima da
prestação de serviços profissionais às entidades desportivas, sobrevivendo nesta
configuração jurídica, não obstante possam ser-lhe aplicadas analogicamente
normas de direito do trabalho e de seguridade social. É contrato típico e específico
do direito do desporto11”.
No Art. 5º da lei 9.615/199812, aduz que “o vínculo desportivo do atleta com a
entidade de prática desportiva contratante constitui-se com o registro do contrato
especial do contrato de trabalho desportivo na entidade de administração do
desporto, tendo natureza acessória ao respectivo vínculo empregatício”.
Divergindo, Sérgio Pinto Martins entende que “o principal é o vínculo de
emprego, o que me parece mais correto, pois, não existindo o contrato de trabalho,
não há que se falar em vínculo desportivo, em razão de que existe trabalho
subordinado do prestador de serviços13”.
Desta forma, o vínculo desportivo decorre do vínculo de trabalho, pois, não
existiria o qualquer vínculo desportivo se não houvesse um contrato de trabalho
desportivo, trazendo desta forma a importância do contrato de trabalho desportivo
para o direito desportivo.
11 DINIS, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. São Paulo, 1994. V. 5, p. 279. 12 BRASIL. Senado Federal. Lei 9.615/98. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil. Acesso em: 25/07/2013. 13 MARTINS, Sergio Pinto. Direitos Trabalhistas do Atleta Profissional de Futebol. ed.Atlas. p. 19.
19
4. DA FORMAÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO
Visto todo o conceito para o contrato de trabalho celetista e para o contrato de
trabalho desportivo, bem como as distinções encontradas em cada modalidade, o
contrato de trabalho desportivo, para a sua formação, deve seguir a capacidade,
forma, conteúdo, prazo e o registro em órgão competente.
4.1. Capacidade
Primeiramente, cumpre esclarecer que, pela Constituição Federal de 1988, no
inciso XXXIII do Art. 7º de 1988 14, é vedado qualquer contrato de trabalho para
menores de 16 anos.
O Art. 29 da lei 9.615/1998 passou a prever que há a possibilidade do clube
de futebol assinar o primeiro contrato de trabalho profissional com o atleta que tem
idade mínima de 16 anos, porém, não com prazo superior a cinco anos.
Por outro lado, o empregador, necessariamente tem que atender alguns
requisitos para adquirir a capacidade de empregador, tais como, deve ser o clube
inscrito na federação estadual e na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), além
de ser pessoa jurídica de direito privado, a associação civil.
No entendimento de Sérgio Pinto Martins, existe a responsabilidade solidária
para os administradores dos clubes de futebol, conforme se verifica:
Os administradores de entidades desportivas profissionais respondem
solidária e ilimitadamente pelos atos ilícitos praticados, de gestão temerária
ou contrários ao previsto no contrato social ou estatuto, nos termos do
Código Civil (§ 11 do art. 27 da Lei 9.615/1998)15.
3.1.1. Atleta Estrangeiro
Nos dias de hoje, com o recente crescimento da economia brasileira, o Brasil
se tornou um país visado por jogadores e empresários, desta forma, tornou-se 14 VADE MECUM. Legislação Selecionada para OAB e Concursos. 2013. v. 5. Ed. RT. p. 73. 15 MARTINS, Sergio Pinto. Direitos Trabalhistas do Atleta Profissional de Futebol. ed.Atlas. p. 14.
20
normal encontrar atletas de outros países nos gramados brasileiros, em sua grande
maioria maciça, cerca de 42, dos 46 atletas estrangeiros que atuam na Série A do
Campeonato Brasileiro são atletas oriundos de países sul-americanos, porém, há
casos em que grandes craques europeus desfilam pelos estádios brasileiros, como
foi o caso Dejan Petkovic, sérvio que teve o auge pelo Clube de Regatas do
Flamengo em 2009 e, mais recentemente Clarence Seedorf, atleta do Botafogo de
Futebol e Regatas.
Aos atletas estrangeiros se aplica a legislação vigente, a única peculiaridade
encontrada é encontrada pela Lei 6.815/1980 e diz respeito ao visto.
O inciso V do art. 13 da Lei 6.815/1980 é assegurado que o atleta estrangeiro
necessita de visto temporário para desempenhar as atividades laborais, não
podendo este prazo ser excedente a 5 anos, permitido apenas uma renovação,
conforme o art. 46 da Lei 9.615/1998.
4.2. Forma
Não há nenhuma possibilidade de haver contrato verbal no contrato
trabalhista desportivo, desta forma, se haver algum contrato meramente verbal, será
meramente um contrato celetista, não havendo assim o vínculo desportivo, assim
entende o doutrinador José Martins Catharino:
“Quanto a forma, o contrato de emprego atlético apresenta-se diferente do gênero a que se pertence. Realmente, enquanto o contrato de emprego comum pode até ser tacitamente ajustado (CLT, art. 442), aquele forma ao lado dos contratos de emprego marítimo, artístico e discente (de aprendizagem). Quanto a eles, a forma escrita é de substância do negócio jurídico, e não apenas as probarionem (ver Cód. Civil, art. 14, III). Assim sendo, o contrato em causa só é válido se celebrado por escrito, na presença de duas testemunhas16”.
4.3. Prazo
16 CATHARINO, José Martins. O Contrato de Emprego Futebolístico no Direito Brasileiro. São Paulo: LTr Editora, 1969.
21
O contrato de trabalho desportivo obedece a normativa contida no Art. 30 da
lei 9.615/199817, alterada pela Lei 9.981/2000:
O Contrato de Trabalho do atleta profissional terá prazo determinado, com
vigência nunca inferior a três meses nem superior a 5 anos.
Desta forma, não há que se falar em contrato por tempo indeterminado no
meio futebolístico. Além disso, o próprio parágrafo único do Art. 30 da Lei
9.615/199818 retira qualquer possibilidade de houver contrato de trabalho por tempo
indeterminado nos contratos trabalhistas desportivos.
Não se aplica ao contrato especial de trabalho desportivo do atleta
profissional o disposto nos Arts. 445 e 451 da Consolidação das Leis do
Trabalho – CLT.
Para o doutrinador Sergio Pinto Martins é inútil tal dispositivo, visto que tem o
seguinte entendimento: “A regra do parágrafo único do artigo 30 da Lei 9.615/1998 é
inútil e dispensável, pois se o prazo máximo de contrato de trabalho do atleta é de
cinco anos não pode ser o de dois anos do artigo 445 da CLT. Se há norma
específica, que é o artigo 30 da Lei 9.615/1998, que estabelece o prazo máximo do
contrato de cinco anos, não se aplica a regra geral de contratos de prazo
determinado contida no artigo 445 da CLT19”.
Desta forma, regido pela legislação específica e a consequente não
aplicabilidade da CLT para o prazo no contrato de trabalho desportivo, o mesmo
deverá ter o prazo de duração nunca inferior a três meses e no máximo cinco anos,
porém, renovável inúmeras vezes, sem que haja eventual prejuízo ao clube
empregador.
17 BRASIL. Senado Federal. Lei 9.615/98. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil. Acesso em: 25/07/2013. 18 Idem, p. 17. 19 MARTINS, Sergio Pinto. Direitos Trabalhistas do Atleta Profissional de Futebol. ed.Atlas. p. 20
22
4.4. Órgão Competente
O registro do contrato de trabalho no órgão competente é outra especificidade
do contrato de trabalho desportivo, não regido pela CLT, visto que, além da
formalização do contrato de trabalho, é necessário o vínculo desportivo com o órgão
do Estado onde o clube é sediado, bem como na Confederação Brasileira de Futebol
(CBF), dissertado desta forma pelo Domingos Sávio Zanaigh:
A obrigatoriedade do registro do contrato de trabalho no Conselho Regional
dos Desportos e a de inscrição nas entidades regionais e na CBF,
representam procedimentos de ampla garantia para as duas partes, tendo
em vista o caráter público da medida20.
A necessidade do vínculo nos órgãos estaduais e na Confederação Brasileira de
Futebol, existe para que o atleta possa atuar nas partidas, até mesmo para que haja
controle dos referidos órgãos no tocante à transferências de atletas entre clubes.
20 ZAINAGH, Domingos Sávio. Os atletas profissionais do futebol no direito do trabalho. São Paulo/SP LTr, 1998, p. 42.
23
4. SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO
Na legislação trabalhista vigente, não há distinção entre as duas hipóteses,
porém, a doutrina majoritária define a distinção entre suspensão e interrupção, em
que, “a suspensão o empregador não deve pagar salários, nem contar tempo de
serviço do empregado que estiver afastado, já na interrupção, há a necessidade de
realizar o pagamento dos salários no afastamento do trabalhador21”.
Os principais exemplos da suspensão no contrato de trabalho é a concessão
de auxílio doença por acidente de trabalho (B-91) ou aposentadoria por invalidez,
após 15 dias de afastamento, auferindo o trabalhador remuneração do INSS. Já os
principais exemplos de interrupção de um contrato de trabalho são quando o
empregado fica afastado por um período inferior a 15 dias, fincando a cargo do
empregador a remuneração do colaborador.
Nos contratos de trabalho desportivo, existem algumas peculiaridades nesse
sentido, tais como, as expressas no § 7º do art. 28 da Lei 9.615/199822:
A entidade de prática desportiva poderá suspender o contrato especial de
trabalho desportivo do atleta profissional, ficando dispensada do pagamento
da remuneração nesse período, quando o atleta for impedido de atuar, por
prazo ininterrupto superior a 90 dias, em decorrência de ato ou evento de
sua exclusiva responsabilidade, desvinculado da atividade profissional,
conforme previsto no referido contrato.
Desta forma, cita-se como exemplo o caso do ex goleiro Bruno, atleta do
Clube de Regatas do Flamengo, que é acusado de participação no assassinato de
Eliza Samúdio. Atualmente o atleta se encontra com o contrato de trabalho
suspenso, pois recluso desde junho de 2010, tendo o processo criminal em fase
recursal, portanto, não há a possibilidade de hoje, o atleta ter o contrato rescindido
21 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 24. Ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 933. 22 BRASIL. Senado Federal. Lei 9.615/98. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil. Acesso em: 25/07/2013.
24
sob a modalidade de justa causa, é necessário aguardar o trânsito em julgado
condenando-o para que haja a rescisão, permanecendo desta forma, ainda
vinculado ao clube empregador.
No caso mencionado, o clube empregador, protegido pelo § 7º do art. 28 da
Lei 9.615/1998, tem a possibilidade de prorrogar ou não o contrato de trabalho se
após a fase recursal, o atleta for inocentado.
Em outro vértice, é lícita a sessão do atleta, em favor da federação em que
estiver filiado, o Art. 41 da Lei 9.615/1998 protege o atleta nesse sentido.
A participação de atletas profissionais em seleções será estabelecida na
forma como acordarem a entidade de administração convocante e a
entidade de prática desportiva cedente.
A referida proteção da legislação é realizada para que o atleta tenha a
possibilidade de defender sua seleção nacional, até mesmo porque todo atleta
profissional de futebol tem como sonho defender a sua seleção nacional de futebol,
decorrente não só do patriotismo, mas também da promoção do seu nome,
importando muitas vezes em transferências para clubes do exterior, visando muitas
vezes melhoria salarial.
25
6. CESSAÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO DESPORTIVO
O contrato de trabalho desportivo é formado com prazo determinado, tendo o
atleta, cessado o contrato da maneira comum, direito a férias vencidas e
proporcionais acrescidas de um terço, 13º salário proporcional, levantamento dos
depósitos do FGTS.
O contrato é firmado de forma bilateral, havendo interesse de ambas as
partes, há a possibilidade de rescindir o contrato em qualquer tempo, porém, deve
ser realizado de forma escrito, sendo vedada a forma verbal.
Havendo mais de um ano do contrato de trabalho, aplica-se o §1º do Art. 477
da CLT, o qual exige a participação da Delegacia do Trabalho ou do sindicato da
categoria.
Sendo o atleta menor de dezoito anos, aplica-se o Art. 439 da CLT, que exige
a assistência dos responsáveis legais do menor de idade.
Se o motivo da rescisão contratual for autodissolução por parte da entidade
desportiva, o atleta tem direito a todas as verbas rescisórias, inclusive indenização
de 40 % sobre os depósitos de FGTS.
A rescisão do contrato de trabalho desportivo, sendo este um contrato
trabalhista especial, pode ocorrer das seguintes formas:
a) Término da vigência do contrato ou o seu distrato. O distrato ocorre
quando há consenso entre ambas as partes do contrato de trabalho para a
sua cessação;
b) Com o pagamento da cláusula indenizatória desportiva ou da cláusula
compensatória desportiva;
c) Com a rescisão decorrente do inadimplemento salarial, de
responsabilidade da entidade desportiva empregador, nos termos da lei;
d) Com a rescisão indireta, nos termos do art. 483 da CLT;
e) Com a dispensa imotivada do atleta.
26
A cessação do contrato de trabalho em razão do falecimento do atleta, implica
em direito para os herdeiros apenas as férias vencidas e proporcionais, com o
acréscimo de 1/3, 13º salário proporcional, saldo de salário e levantamento do
FGTS, não se fala em dispensa imotivada com as consequências do pagamento do
aviso prévio, bem como da indenização de 40% sobre os depósitos do FGTS.
6.1. Justa Causa
Para Wagner Giglio, “justa causa sempre nos pareceu uma expressão infeliz,
porque causa não tem nela sentido jurídico, mas popular, e justa (ou injusta) poderá
vir a ser a consequência do motivo determinante da rescisão, nunca o próprio motivo
ou causa. Assim, a justa causa não seria nem justa, nem causa, e melhor
andaríamos se a ela nos referíssemos, seguindo o exemplo da lei, como motivo da
rescisão23”.
No âmbito da contrato de trabalho desportivo, as hipóteses de justa causa são
encontradas no art. 482 da CLT, as quais:
a) improbidade: Ocorre quando o atleta se utiliza de argumentos desonestos
para justificar algum ato;
b) incontinência de conduta: A incontinência de conduta ocorre quando a
pessoa é imoderada do ponto de vista sexual, o desregramento do empregado no
tocante aos aspectos sexuais. A incontinência no contrato de trabalho desportivo,
além de ocorrer em razão de atos praticado dentro das dependências do clube,
ocorre nas oportunidades em que o atleta está fora das partidas, treinos e
concentração.
“Poderia configurar a grave incontinência de conduta do jogador quando ele
está proibido de frequentar bares até altas horas da madrugada, além de
estar proibido de manter relação sexual em razão do jogo que será
realizado em dia próximo, pois isso diminui as condições físicas do jogador
e não permite um bom desempenho no jogo. O mesmo pode ocorrer se pela
manhã é dia de treino24”.
23 GIGLIO, Wagner. Justa Causa. 4. Ed. São Paulo: LTr, 1993, p. 16. 24 MARTINS, Sergio Pinto. Direitos Trabalhistas do Atleta Profissional de Futebol. ed.Atlas. p. 97
27
c) condenação criminal do empregado: Ocorre quando o atleta tiver sido
condenado a pena de reclusão ou de detenção, porém, para que haja a
possibilidade do clube rescindir o contrato de trabalho alegando a denominada justa
causa, tem a necessidade da decisão condenatória ter transitado em julgado;
d) Desídia: A desídia no contrato de trabalho do atleta, ocorre pela falta de
empenho nos treinos e jogos, pela péssima forma física do atleta que frequenta
constantemente casas noturnas, ingerindo bebidas alcoolicas;
e) Embriaguez habitual ou em serviço: A embriaguez habitual, para o atleta de
futebol, não necessariamente diz respeito apenas ao álcool, mas também pela
utilização de substâncias proibida, conhecidas no âmbito desportivo, como doping,
desta forma, caracteriza-se a justa causa para atletas que forem flagrados no exame
anti doping;
f) ato de indisciplina ou insubordinação: Comete ato de indisciplina o atleta
que deixa de observar as ordens gerais contidas no regulamento do clube
empregador, através de ordens de serviço, circulares e portarias, ou seja, são
ordens impessoais, não diz respeito a pessoa de um atleta em específico. No
tocante a insubordinação, está ligada ao contrato desportivo, quanto as ordens de
serviços, não são ordens gerais do próprio empregador. No âmbito desportivo ocorre
quando o atleta não aceita as ordens do treinador referente a realização de um
determinado exercício no treinamento.
Ainda, deve ser mencionado como motivos para a justa causa, o abandono de
emprego, ato lesivo ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa, ou
ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa, própria
de outrem, aplicando também em ofensas e atos lesivos praticados contra
superiores hierárquicos.
6.2. Rescisão Indireta
As hipóteses da rescisão indireta elencadas pela CLT, no art. 48325 são
também utilizadas pelo contrato de trabalho desportivo:
Art. 483. O empregado poderá considerar rescindido o contrato de trabalho
e pleitear a devida indenização quando:
25 MARQUES, Cláudio. CLT Organizada. 2012. Ed. LTr. p. 218 ss.
28
a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei,
contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato;
b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com
rigor excessivo;
c) correr perigo manifesto de mal considerável;
d) não cumprir o empregador com as obrigações do contrato;
e) praticar o empregador e seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua
família, ato lesivo da honra e da boa fama;
f) o empregador e seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em
caso de legítima defesa, própria ou de outrem;
g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de
forma a afetar sensivelmente a importância dos salários;
§1º O empregado poderá suspender a prestação de serviços ou rescindir o
contrato, quando tiver de desempenhar obrigações legais, incompatíveis
com a continuação do serviço.
§ 3º Nas hipóteses das letras “d” e “g”, poderá o empregado pleitear a
rescisão de seu contrato de trabalho e o pagamento das respectivas
indenizações, permanecendo ou não no serviço até final decisão do
processo.
No contrato de trabalho desportivo, além de admitir os dispositivos expressos
na CLT, admite a rescisão indireta nos casos previstos no art. 31 da lei 9.615/199826:
Art. 31. A entidade de prática desportiva empregadora que estiver com
pagamento de salário de atleta profissional em atraso, no todo ou em parte,
por período igual ou superior a três meses, terá o contrato especial de
trabalho desportivo daquele atleta rescindido, ficando o atleta livre para se
transferir para qualquer outra entidade de prática desportiva da mesma
modalidade, nacional ou internacional, e exigir a cláusula compensatória
desportiva e os haveres devidos.
§1º São entendidos como salário, para efeitos do previsto no caput, o abono
de férias, o décimo terceiro salário, as gratificações, os prêmios e demais
verbas inclusas no contrato de trabalho.
§ 2º A mora contumaz será considerada também pelo não recolhimento do
FGTS e das contribuições previdenciárias.
26 BRASIL. Senado Federal. Lei 9.615/98. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil. Acesso em: 25/07/2013.
29
Desta forma, o entendimento legal do contrato especial, autoriza o atleta que
estiver com o salário atrasado em pelo menos três meses, ensejar a rescisão
indireta, tendo o contrato de trabalho rescindido configurando a dispensa sem justa
causa.
Ademais, no entendimento de Sérgio Pinto Martins:
“Demais verbas decorrentes do contrato de trabalho podem ser entendidas
como os bichos, que têm natureza salarial e representam espécie de
gratificação; as luvas, que são previstas no contrato de trabalho. Logo, não
é apenas o não pagamento do salário stricto sensu que implica a rescisão
indireta do contrato de trabalho do atleta, mas de qualquer verba que tenha
natureza salarial27”.
A mora também ocorrerá nas hipóteses de não recolhimento do FGTS e das
contribuições previdenciárias, sendo que, a mora contumaz trazida pelo § 2º, art. 31
da CLT, é configurada pelo não pagamento dos salários ou do FGTS.
6.2.1. Multa rescisória
No caso da rescisão indireta, o clube empregador devera ressarcir o atleta em
metade de todo o montante que o empregado teria que auferir até o último dia do
contrato, desta forma, aplicando assim ao contrato de trabalho desportivo a multa
rescisória nos termos do art. 479 da CLT28:
Art. 479. Nos contratos que tenham termo estipulado, o empregador que,
sem justa causa, despedir o empregado será obrigado a pagar-lhe, a título
de indenização, e por metade, a remuneração a que teria direito até o termo
do contrato.
Parágrafo único. Para a execução do que dispõe o presente artigo, o cálculo
da parte variável ou incerta dos salários será feito de acordo com o prescrito
27 MARTINS, Sergio Pinto. Direitos Trabalhistas do Atleta Profissional de Futebol. ed.Atlas. p. 103 28 MARQUES, Cláudio. CLT Organizada. 2012. Ed. LTr. p. 216.
30
para o cálculo da indenização referente à rescisão dos contratos por prazo
indeterminado.
Desta forma, sendo entendido pelo judiciário justo motivo para a rescisão
indireta, o clube empregador deve ressarcir o atleta em pelo menos 50 % da
remuneração em que o atleta iria auferir até o final do contrato de trabalho.
6.3. Cessão ou Transferência
O Art. 38 da Lei Pelé prevê que para haver qualquer cessão ou transferência
depende da formal e expressa anuência.
A transferência realizada entre um clube empregador e outro do mesmo
gênero, pode esta ser temporária, através do contrato de empréstimo, sendo este,
por período igual ou inferior ao contrato com a entidade cedente, desta forma,
restando assegurado ao atleta o retorno para o clube anterior nas mesmas
condições já ajustadas, conforme prevê o art. 39 da Lei 9.615/1998.
“Durante o período em que o atleta é emprestado para outro clube, seu
contrato de trabalho permanece suspenso29”.
O contrato de empréstimo é acessório ao contrato de trabalho celebrado com
o clube cedente, desta forma, ao se falar em atraso de salários da entidade
cessionária de dois meses, o atleta lesado deverá notificar o clube de origem, para
purgar a mora no prazo de quinze dias, porém, neste caso não se aplica a rescisão
indireta prevista no caput art. 31 da Lei Pelé.
Após dois meses de atraso de salário no contrato de empréstimo, é
considerado rescindido o contrato com o clube cessionário, incidindo a cláusula
compensatória desportiva nele prevista. Após a rescisão, o atleta retorna para a
entidade desportiva cedente para cumprir o antigo contrato de trabalho desportivo.
6.3.1 Cessão ou transferência à entidade desportiva estrangeira
O Art. 40 da Lei 9.615/199830 rege a transferência ou cessão de atletas
brasileiros para entidades desportivas estrangeiras, devendo, no caso de atletas de 29 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Direito do trabalho dos jogadores de futebol. Síntese Trabalhista, Porto Alegre, v. 14, n. 165, mar. 2003, p. 45.
31
futebol, seguir a Resolução nº 4 da CBF, que estabelece datas para a realização das
transferências.
Ademais, as condições para a transferência do atleta profissional para o
exterior deverão integrar obrigatoriamente os contratos de trabalho entre o atleta e a
entidade de prática desportiva contratante.
30 BRASIL. Senado Federal. Lei 9.615/98. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil. Acesso em: 25/07/2013.
32
7. JORNADA DE TRABALHO
7.1. Conceito Geral
A duração do trabalho engloba alguns aspectos, considerando distintos
parâmetros para a mensuração, o dia, (diária), semana (semanal), mês (mensal) e
ano (anual).
A CLT regula a duração do trabalho nos artigos 57 até o 75, onde é tratado a
duração semanal, intervalo intrajornadas e repousos trabalhistas.
7.2. Jornada de Trabalho no Contrato de Trabalho Desportivo
No tocante a jornada de trabalho no contrato trabalhista desportivo, a
legislação específica (Lei 9.615/1998) estabelece em seu artigo 28 que é aplicado
ao contrato de trabalho do atleta normas gerais da legislação trabalhista e da
seguridade social, ressalvadas as peculiaridades expressas nesta lei ou integrantes
do contrato de trabalho.
Desta forma, no silêncio da Lei Pelé no tocante à jornada de trabalho, é
aplicado à CLT legislar a jornada de trabalho do atleta profissional de futebol.
A Lei 6.354/1976 que dispunha a jornada de trabalho do atleta até 25 de
março de 2001, estando revogada a referida legislação após a data mencionada,
suscitando assim que os atletas estão sujeitos ao labor sem qualquer limitação, este
é o entendimento de Luiz Antonio Grusard:
Salienta-se que o mencionado art. 6º da Lei nº 6.354/76 vigorou até 2 5de
março de 2001, a teor dos arts. 93 e 96 da Lei Pelé, estando expressamente
revogado a partir de então, fazendo, pois, suscitar a indagação se os atletas
profissionais estariam sujeitos a labor sem qualquer limitação,diária ou
semanal31.
31 GRISARD, Luiz Antônio. Horas Extras, intervalos e adicional noturno para atletas profissionais de futebol. Revista Zênite, Curitiba, v. 34, 2004, p. 1136.
33
A Constituição Federal de 1988, com força do art. 7º, inc. XIII define que a
jornada de trabalho diária é de no máximo 8 horas e semanal de 44 horas, sendo
que, a Carta Magna é taxativa em considerar qualquer meio de trabalho a esta
regra, não excepcionando aos atletas.
7.3. Descanso Semanal Remunerado
Ao repouso semanal remunerado, é aplicado a normativa contida no art. 67
da CLT, apenas destacando que em via de regra, o atleta, diante do calendário de
jogos, onde culturalmente as partidas são realizadas aos domingos, cumpre o dia de
descanso no dia após a partida, oportunidade em que, mesmo por imposição do
clube empregador, não desfigura o descanso.
7.4. Viagens e Pré Temporada
Jamais o atleta poderá recusar-se viajar em excursão ao exterior, bem como,
para a realização de partidas dentro do território nacional.
Hoje em dia, muitos clubes consideram fonte de receita as excursões ao
exterior, exemplos recentes foram o Clube Atlético Paranaense, que no inicio de
2013 realizou excursão para o Leste Europeu, bem como o São Paulo Futebol
Clube, que em julho de 2013 realizou excursão para a Alemanha, Portugal e Japão.
Em qualquer tipo de viagem que o clube realize, tanto excursões, quanto
partidas dos campeonatos oficiais, o clube empregador deverá arcar com todos os
gastos.
7.5. Concentração e Horas Extras
A concentração é uma peculiaridade apenas do contrato de trabalho
desportivo, visto a necessidade da concentração para a boa prática do desporto,
oportunidade em que, o clube empregador disponibiliza a estrutura necessária no
tocante a alimentação e descanso, ou seja, a estrutura necessária para o
profissional desempenhar suas atividades no gramado.
34
Até 25 de março de 2001, o jogador de futebol seguia a regra prevista no art.
6º da Lei 6.354/197632, ou seja, o horário de trabalho seria organizado de maneira
que pudesse servir sua função, não podendo exceder 48 horas semanais, hoje, de
acordo com o art. 7º, XIII, da CF/88, não podendo exceder de 44 horas semanais.
Art . 6º O horário normal de trabalho será organizado de maneira a bem servir ao adestramento e à exibição do atleta, não excedendo, porém, de 48 (quarenta e oito) horas semanais, tempo em que o empregador poderá exigir fique o atleta à sua disposição.
Entretanto, os arts. 93 e 96 da Lei nº 9.615/199833 revogaram o dispositivo
mencionado e a doutrina leciona que, diante das peculiaridades a respeito da função
desenvolvida pelos atletas, deve-se seguir as regras previstas na nova legislação,
em razão das características próprias da profissão, tais como treinos, partidas,
concentração, entre outras.
Art. 93. O disposto no art. 28, § 2o, desta Lei somente produzirá efeitos jurídicos a partir de 26 de março de 2001, respeitados os direitos adquiridos decorrentes dos contratos de trabalho e vínculos desportivos de atletas profissionais pactuados com base na legislação anterior.
Art. 96. São revogados, a partir da vigência do disposto no § 2 o do art. 28 desta Lei, os incisos II e V e os §§ 1º e 3º do art. 3º, os arts. 4º, 6º, 11 e 13, o § 2o do art. 15, o parágrafo único do art. 16 e os arts. 23 e 26 da Lei no 6.354, de 2 de setembro de 1976; são revogadas, a partir da data de publicação desta Lei, as Leis nos 8.672, de 6 de julho de 1993, e 8.946, de 5 de dezembro de 1994.
Segundo o art. 7º da Lei 6.354/197634, o atleta será obrigado a concentrar-se,
se convier ao empregador, por prazo não superior a três dias por semana, desde
que esteja programada qualquer programação amistosa ou oficial e ficar à
disposição do empregador quando da realização de competição fora da localidade
onde tenha sua sede, vejamos: 32 BRASIL. Senado Federal. Lei 6.354/1976. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil. Acesso em: 25/07/2013, p.52. 33 BRASIL. Senado Federal. Lei 9.615/1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil. Acesso em: 25/07/2013, p. 01. 34 Idem, p. 01.
35
Art . 7º O atleta será obrigado a concentrar-se, se convier ao empregador, por prazo não superior a 3 (três) dias por semana, desde que esteja programada qualquer competição amistosa ou oficial e ficar à disposição do empregador quando da realização de competição fora da localidade onde tenha sua sede.
A doutrina e a jurisprudência divergem a respeito do instituto da
concentração, vejamos:
ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL - EXTRAS - A concentração para os jogos de futebol constitui uma característica especial do contrato de trabalho do atleta profissional, cuja atividade, por suas peculiaridades, exige controles de alimentação, sono e dispêndio de energia, visando ao melhor desempenho no momento de atuação. A concentração é legalmente admitida, no limite de 3 dias por semana (Lei nº 6.354/76, art. 7º), não ensejando o pagamento de horas extras. (TRT-03ª R. - RO 00163-2004-106-03-00-4 - 6ª T. - Rel. Juiz João Bosco Pinto Lara - DOEMG 18.11.2004 - p. 13).
A doutrinadora Alice Monteiro de Barros, leciona que:
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Em um outro sentido, o doutrinador Ralph Cândia leciona que:
“a concentração se traduz em resguardo costumeiro dos atletas e peculiar às competições de importância, daí ter sido consagrada na legislação em causa. Se afigura útil para obtenção de um melhor rendimento dos jogadores. O prazo de três dias estabelecido como limite, a nosso ver, não pode deixar de ser considerado como de trabalho normal e, portanto, computável na jornada semanal já examinada, e de sorte que, somado às horas colocadas, à disposição antes da concentração, não ultrapassam as
35 BARROS, Alice Monteiro. As relações de trabalho no espetáculo. São Paulo: LTr, 2003. p. 185-186.
36
quarenta e oito horas semanais, caso em que o excesso será considerado trabalho extraordinário, com incidência do adicional de 50 % sobre as horas excedentes. O mesmo critério deverá ser observado quando ocorrer ampliação da concentração, em nada modificando a situação o fato de o atleta se encontrar à disposição da Federação ou Confederação36”.
Conforme o entendimento da jurisprudência e da doutrina, alguns que o
atleta, em concentração, está à disposição do empregador, gerando o direito ao
pagamento das horas extras, já outras entendem que é uma peculiaridade desse
tipo de contratação, entendendo que não gera direito a respectiva verba. Na
jurisprudência abaixo, o Relator adotou a tese do contrato de trabalho especial, não
fazendo jus ao pagamento de horas extras.
7.6. Jogos e Treinos
Os jogos e treinos serão computados na jornada de trabalho do atleta, visto
que o atleta tem o dever de participar dos jogos, treinos, estágios e outras atividades
preparatórias para as competições.
Desta forma, os jogos e treinos, são considerados tempo a disposição do
empregador, bem como, considerado também como serviços efetivo, aguardanto e
executando ordens.
7.7. Intervalo Intra Jornada e Intervalo Inter semanal
O atleta de futebol tem direito ao intervalo intra-jornada de uma hora nas
jornadas acima de 6 horas, conforme dispositivo legal inserido na CLT, no art. 71.
Art. 71 - Em qualquer trabalho contínuo, cuja duração exceda de 6 (seis) horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para repouso ou alimentação, o qual será, no mínimo, de 1 (uma) hora e, salvo acordo escrito ou contrato coletivo em contrário, não poderá exceder de 2 (duas) horas.
36 CÂNDIA, Ralph. Contratos trabalhistas especiais. 3. Ed. São Paulo: LTr, 1995, p. 123.
37
§ 1º - Não excedendo de 6 (seis) horas o trabalho, será, entretanto, obrigatório um intervalo de 15 (quinze) minutos quando a duração ultrapassar 4 (quatro) horas;
§ 2º - Os intervalos de descanso não serão computados na duração do trabalho;
§ 3º O limite mínimo de uma hora para repouso ou refeição poderá ser reduzido por ato do Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, quando ouvido o Serviço de Alimentação de Previdência Social, se verificar que o estabelecimento atende integralmente às exigências concernentes à organização dos refeitórios, e quando os respectivos empregados não estiverem sob regime de trabalho prorrogado a horas suplementares;
§ 4º - Quando o intervalo para repouso e alimentação, previsto neste artigo, não for concedido pelo empregador, este ficará obrigado a remunerar o período correspondente com um acréscimo de no mínimo 50% (cinqüenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho;
§ 5º Os intervalos expressos no caput e no § 1o poderão ser fracionados quando compreendidos entre o término da primeira hora trabalhada e o início da última hora trabalhada, desde que previsto em convenção ou acordo coletivo de trabalho, ante a natureza do serviço e em virtude das condições especiais do trabalho a que são submetidos estritamente os motoristas, cobradores, fiscalização de campo e afins nos serviços de operação de veículos rodoviários, empregados no setor de transporte coletivo de passageiros, mantida a mesma remuneração e concedidos intervalos para descanso menores e fracionados ao final de cada viagem, não descontados da jornada.
No tocante ao intervalo inter semanal, é aplicado o intervalo mínimo de 11
horas, conforme artigo 66 da CLT:
Art. 66 - Entre 2 (duas) jornadas de trabalho haverá um período mínimo de 11 (onze) horas consecutivas para descanso.
Além do contrato desportivo seguir a legislação trabalhista convencional ao
que se refere os intervalos mencionados acima, a CBF, através de norma
administrativa, estabelece que deverá haver um intervalo de no mínimo 66 horas
entre uma partida e outra, bem como, de 44 horas se as duas partidas forem
disputadas entre equipes da mesma cidade, ou estabelecendo uma quilometragem
máxima de 150 km entre duas cidades.
Cumpre esclarecer que a própria CBF poderá autorizar, de forma justificada, a
partida entre duas equipes sem a necessidade dos intervalos de 66 e 44 horas,
conforme o artigo 85 do Regimento Interno de Competições.
38
Ademais, o intervalo de 15 minutos entre o primeiro e o segundo tempo das
partidas de futebol, não será considerado intervalo intra jornada, pois, representa
tempo a disposição do clube empregador.
7.8. Adicional Noturno
O adicional noturno é devido ao trabalhador urbano que cumprir atividades
laborais entre 22h00min às 5h00min, conforme estipula o art. 73 da CLT:
Art. 66 - Entre 2 (duas) jornadas de trabalho haverá um período mínimo de 11 (onze) horas consecutivas para descanso.
§ 1º A hora do trabalho noturno será computada como de 52 minutos e 30 segundos;
§ 2º Considera-se noturno, para os efeitos deste artigo, o trabalho executado entre as 22 horas de um dia e as 5 horas do dia seguinte;
§ 3º O acréscimo, a que se refere o presente artigo, em se tratando de empresas que não mantêm, pela natureza de suas atividades, trabalho noturno habitual, será feito, tendo em vista os quantitativos pagos por trabalhos diurnos de natureza semelhante. Em relação às empresas cujo trabalho noturno decorra da natureza de suas atividades, o aumento será calculado sobre o salário mínimo geral vigente na região, não sendo devido quando exceder desse limite, já acrescido da percentagem;
§ 4º Nos horários mistos, assim entendidos os que abrangem períodos diurnos e noturnos, aplica-se às horas de trabalho noturno o disposto neste artigo e seus parágrafos;
§ 5º Às prorrogações do trabalho noturno aplica-se o disposto neste capítulo.
Via de regra, quem define o horário das partidas disputadas após 22h00min é
a empresa de televisão que detém os direitos de transmissão de determinado
campeonato, desta forma, sendo a Lei Pelé omissa nessa modalidade, em que pese
o clube não ser o definidor do horário, a jurisprudência e a doutrina entendem que o
artigo 73 da CLT é aplicável o tema, sendo devido o adicional noturno ao atleta que
competir após 22h00min, vejamos o entendimento da doutrinadora Alice Monteiro de
Barros:
39
“É devido o adicional noturno ao atleta profissional. A Lei 9.615/1998 é omissa sobre o assunto, porém o parágrafo 4º do art. 28 da referida norma manda aplicar a CLT, no caso de omissão. Assim, é de observar o art. 73 da CLT, que trata do adicional noturno de 20 % e da hora noturna reduzida de 52 minutos e 30 segundos37”.
Considerando o fato de a legislação especial do vínculo desportivo ser omissa
no tocante ao adicional noturno, a CLT é utilizada subsidiariamente, gerando o
direito ao atleta de ser contemplado com o referido adicional.
37 BARROS, Alice Monteiro. Contratos e regulamentações especiais de trabalho. São Paulo: LTr, 2001. p. 74.
40
8. REMUNERAÇÃO
A Consolidação das Leis do Trabalho, no art. 457, nos mostra os
componentes que integram a remuneração, fazendo necessário estudar o referido
artigo, para encontrar o conceito para a remuneração, vejamos:
Art. 457 - Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber.
§ 1º - Integram o salário não só a importância fixa estipulada, como também as comissões, percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagens e abonos pagos pelo empregador;
§ 2º - Não se incluem nos salários as ajudas de custo, assim como as diárias para viagem que não excedam de 50% (cinqüenta por cento) do salário percebido pelo empregado;
§ 3º - Considera-se gorjeta não só a importância espontaneamente dada pelo cliente ao empregado, como também aquela que for cobrada pela empresa ao cliente, como adicional nas contas, a qualquer título, e destinada a distribuição aos empregados.
Ao conceituar a remuneração, o respeitável doutrinador Sérgio Pinto Martins nos ensina:
“Remuneração é o conjunto de prestações recebidas habitualmente pelo empregado pela prestação de serviços, seja em dinheiro ou em utilidades, provenientes do empregador ou de terceiros, mas decorrentes do contrato de trabalho, de modo a satisfazer suas necessidades básicas e de sua família38.”
O salário é a prestação fornecida pelo empregador em decorrência da
prestação de serviços do trabalhador, já a remuneração, consiste no salário mais
gorjetas.
Ao atleta de futebol, não será pago menos de um salário mínimo, conforme
previsto no art. 7º, IV da Constituição Federal.
O entendimento do doutrinador Domingos Sávio Zainagh é no sentido de
integrar à remuneração qualquer remuneração auferida pelo atleta, vejamos:
38 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 26. Ed. São Paulo: Atlas, 2010, p, 227.
41
“Isto quer dizer que qualquer pagamento que um jogador de futebol receba em virtude do exercício de sua profissão, será remuneração, com os reflexos em todas as demais verbas previstas pela legislação laboral, como, por exemplo, o FGTS e o décimo terceiro salário39”.
Desta forma, no contrato de trabalho desportivo, a remuneração refere-se ao
salário acrescido de possíveis gratificações, prêmios e outros pagamentos, todos
ressarcidos ao atleta pelo clube empregador, visto que a decorrência das verbas são
inerentes ao contrato de trabalho.
8.1. Luvas
As luvas são pagas pelo clube empregador para o atleta quando este assina o
contrato de vinculo desportivo com o clube, em razão do passado do atleta,
eficiência já demonstrada, principalmente pelo reconhecimento profissional que o
atleta teve em sua carreira, além disso, as luvas, são consideradas pagamento
antecipado.
Ademais, as luvas podem ser pagas em parcela única ou em parcelas, em
valor fixo e variável, além disso, podem ser pagas em dinheiro, utilidades, atém
disso, podem ser pagas em dinheiro, utilidades, até mesmo em automóveis.
A doutrina e a jurisprudência entendem que as luvas tem natureza salarial
para todos os efeitos, conforme verifica-se o entendimento do doutrinador Sérgio
Pinto Martins:
“As luvas têm natureza salarial, pois são inclusas no contrato de trabalho. São espécie de gratificação (§ 1º do art. 31 da Lei nº 9.615/19980. Seriam as luvas espécie de salário pago antecipadamente. Não representam indenização, pois não têm por objetivo ressarcir nada. Integram as férias e a Gratificação de Natal, além de haver incidência do FGTS sobre a referida verba40.”
39 ZAINAGH, Domingos Sávio. Os atletas profissionais de futebol no direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1998. p. 73. 40 MARTINS, Sérgio Pinto. Direitos Trabalhistas do Atleta Profissional do Futebol. Ed. São Paulo: Atlas, p. 53.
42
Além da doutrina entender a natureza salarial das luvas, a jurisprudência
aplica constantemente, conforme se verifica o exemplo a seguir:
ATLETA PROFISSIONAL - LUVAS - NATUREZA SALARIAL - Conforme art. 12 da Lei 6.354/76, as luvas são a importância paga pelo empregador ao atleta, na forma do que for convencionado, pela assinatura do contrato. Evidencia-se o caráter salarial da parcela, a qual representa antecipação de parte da contraprestação pelo trabalho. Recurso provido no tópico. (TRT-04ª R. - RO 0064700-63.2007.5.04.0014 - 1ª T. - Rel. José Felipe Ledur - DJe 15.06.2010).
RECURSO DE REVISTA - INTEGRAÇÃO DOS VALORES PAGOS A TÍTULO DE LUVAS - NATUREZA SALARIAL - Evidenciada a figura equiparada às luvas do atleta profissional, paga pelo empregador com o objetivo de tornar mais atraente o ingresso do Reclamante em seu quadro funcional, é de se concluir que as parcelas concedidas ostentam nítida natureza salarial, razão pela qual devem integrar o salário para todos os efeitos legais. Nesse sentido, precedentes desta Corte. Recurso de Revista não conhecido. (TST - RR 152600-58.2009.5.15.0095 - Relª Minª Maria de Assis Calsing - DJe 19.04.2013 - p. 1103).
Desta forma, embora a Lei Pelé não traga especificadamente o instituto, a
doutrina e a jurisprudência majoritária entende a integração das luva como verbas
salariais.
8.3. Bicho
Historicamente, a expressão denominada de bicho tem origem
consuetudinária, através dos costumes, quanto a remuneração paga aos atletas
não profissionais, que não auferiam salário.
O bicho, atualmente, é a importância paga pelo clube ao jogador a razão de
vitórias, com a finalidade de estimular e incentivar os atletas pelo resultado positivo
na partida.
Ao conceituar bicho, o doutrinador José Martins Catharino leciona que:
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�
“Um prêmio pago a um atleta-empregado por uma entidade –empregadora, previsto ou não no contrato de emprego do qual são partes. Tal prêmio tem sempre a singularidade de ser individual, embora resulte um trabalho coletivo desportivo. Além disto, geralmente, é aleatório, no sentido de estar condicionado a êxito alcançado em campo, sujeito à sorte ou azar41”.
41 CATHARINO, José Martins. Contrato de emprego desportivo no direito brasileiro. São Paulo: LTr, 1969, p. 32.
43
Se o bicho é pago com habitualidade, tem natureza salarial, devendo compor
a remuneração do empregado e sofrer com a incidência do FGTS, este é o
entendimento da jurisprudência pátria:
'BICHOS' - PREMIAÇÕES - NATUREZA JURÍDICA SALARIAL - Os 'bichos' - vocabulário largamente utilizado no meio do futebol - referem-se a prêmios tradicionalmente pagos ao atleta profissional pelas vitórias e empates conquistados nos jogos disputados, objetivando estimular a produtividade e o melhor rendimento. Constituem, neste raciocínio, gratificações ajustadas, possuindo eVidente natureza salarial, integrante do contrato e do salário pactuado, não configurando mera liberalidade da associação desportiva empregadora. (TRT-03ª R. - RO 00158-2003-021-03-00-5 - 6ª T. - Relª Juíza Lucilde D'Ajuda Lyra de Almeida - DJMG 23.10.2003 - p. 09).
Além disso, o bicho é um instituto que não deveria ser utilizado, visto que,
deveria ser verba de caráter salarial, não dependendo de vitórias ou empates para o
atleta auferir, neste sentido se manifesta José Martins Catharino:
“[...] quando o salário propriamente dito é pequeno e a gratificação é elevada, fica fortalecida a convicção que esta deriva de obrigação assumida pelo patrão, embora a ele queira se furtar. Quando isto se dá, muitas vezes é até flagrante a fraude grosseira ao salário42”.
Portanto, sendo comum no meio futebolístico, diante da realidade real dos
fatos, frente a situação que os atletas vivenciam ao auferir a parcela dos bichos
pelas vitórias, a justiça do trabalho considera que tal remuneração deverá ser
integrada ao salário do atleta, incidindo todas as cargas trabalhistas e
previdenciárias.
42 CATHARINO, José Martins. Tratado jurídico do salário. São Paulo: LTr, 1994, p. 478.
44
9. DIREITO À IMAGEM
O direito de imagem é previsto constitucionalmente no art. 5º, incisos X e
XVIII, podendo ser aplicada a qualquer pessoa, visando proteger a própria imagem,
o doutrinador Antonio Sérgio Figueiredo Santos conceitua direito de imagem da
seguinte maneira:
“O Direito de imagem é o direito exclusivo e pessoal privativo de todo o cidadão em que expor publicamente a sua própria imagem amparado pelo artigo 5º, X e XVIII, “a”, da Constituição Federal. Esse direito pode ser cedido mediante autorização a terceiros como ocorre com o atleta profissional de futebol perante o clube43”
O jogador de futebol não pode transferir este direito, o que pode ocorrer é a
concessão da licença do uso da imagem do atleta em favor do clube.
O instituto é previsto no art. 87 e 87-A da Lei 9.615/1998, assegurando este
direito ao atleta sem a necessidade de registrar em órgão competente, conforme se
verifica:
Art. 87. A denominação e os símbolos de entidade de administração do desporto ou prática desportiva, bem como o nome ou apelido desportivo do atleta profissional, são de propriedade exclusiva dos mesmos, contando com a proteção legal, válida para todo o território nacional, por tempo indeterminado, sem necessidade de registro ou averbação no órgão competente.
Parágrafo único. A garantia legal outorgada às entidades e aos atletas referidos neste artigo permite-lhes o uso comercial de sua denominação, símbolos, nomes e apelidos.
Art. 87-A. O direito ao uso da imagem do atleta pode ser por ele cedido ou explorado, mediante ajuste contratual de natureza civil e com fixação de direitos, deveres e condições inconfundíveis com o contrato especial de trabalho desportivo.
O direito de arena é personalíssimo e realizado para determinado atleta,
conforme entendimento do doutrinador Alan Menezes Pessotti: 43 SANTOS, Antonio Sérgio Figueiredo. Direito Desportivo e Justiça do Trabalho: Atletas e clubes de
futebol; direitos e deveres. Estatuto do torcedor. Santos: Edição do Autor, 2003. p. 83.
45
“A lei presume onerosa a cessão de direito de imagem, devendo o contrato conter o valor ajustado, o local e a duração. Uma exceção é a utilização gratuita da imagem em campanhas beneficentes, mas, quando há intuito de lucro, deve-se pagar pelo direito de utilizar a imagem44”.
Ao se falar na natureza jurídica do direito de imagem, atualmente não há um
entendimento pacificado pela jurisprudência, bem como, da própria doutrina
desportiva, ocorrendo a duvida sobre o enquadramento como verba salarial ou não.
O contrato de trabalho do atleta profissional é distinto do contrato de cessão
do uso de imagem. O primeiro tem natureza jurídica trabalhista, o ultimo possui
natureza civil.
Parte da doutrina não entende natureza salarial pois considera que o contrato
é celebrado de forma estranha ao âmbito trabalhista, sendo este o entendimento
conforme entendimento de Felipe Legrazie Ezabella:
“Esse contrato firmado com o atleta tem por intuito utilizar a sua imagem fora da jornada de trabalho, extracampo, de forma diferente da que é utilizada no âmbito da relação empregatícia, implícita a sua profissão. Isso porque a profissão de atleta, assim como a de ator, jornalista, apresentador de programa, possui característica especial no qual se pressupõe a difusão de sua imagem durante sua atividade laboral45”.
Em muitas vezes, o contrato de cessão de direito de imagem celebrado entre
as partes interessadas possui valor remuneratório ajustado muito maior do que o
próprio salário do atleta.
Desta forma, em muitas oportunidades, o que ocorre é verdadeira fraude ao
contrato de trabalho, com o objetivo de diminuir encargos previdenciários e até
mesmo tributárias devidas pelo clube ao INSS ou fisco, por exemplo.
Em razão disso, parte da doutrina entende que a verba decorrente do direito
de imagem, como sendo de natureza salarial equiparado ao valor das gorjetas, este
é o entendimento do Sérgio Pinto Martins:
44 PESSOTTI, Alan Menezes. Direito do Atleta. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Júris, 2003. p. 43. 45 EZABELLA, Felipe Legrazie. O contrato desportivo e a imagem do atleta. São Paulo: IOB Thompson, 2006, p. 105.
46
“Entendo, porém, que os pagamentos feitos ao atleta a título de uso de imagem são de direitos trabalhistas. Têm natureza de remuneração, pois decorrem da existência do contrato de trabalho e são pagos pelo próprio clube empregador. Se não houver contrato de trabalho entre clube e atleta, não se faz contrato de uso de imagem do atleta46”.
Até mesmo a jurisprudência vem se posicionando a favor da natureza
trabalhista do direito de imagem:
“'BICHOS' - PREMIAÇÕES - NATUREZA JURÍDICA SALARIAL - Os 'bichos' - vocabulário largamente utilizado no meio do futebol - referem-se a prêmios tradicionalmente pagos ao atleta profissional pelas vitórias e empates conquistados nos jogos disputados, objetivando estimular a produtividade e o melhor rendimento. Constituem, neste raciocínio, gratificações ajustadas, possuindo eVidente natureza salarial, integrante do contrato e do salário pactuado, não configurando mera liberalidade da associação desportiva empregadora.47” (TRT-03ª R. - RO 00158-2003-021-03-00-5 - 6ª T. - Relª Juíza Lucilde D'Ajuda Lyra de Almeida - DJMG 23.10.2003 - p. 09)”.
Frente à situação de que tal parcela apenas é paga ao atleta em razão do
contrato de trabalho, a jurisprudência majoritária vem concedendo aos atletas o
direito à integração do direito de imagem na remuneração, pois, se não houvesse
contrato de trabalho, não haveria o vínculo desportivo, tornando-se impossível o
auferimento do direito de imagem pelo atleta.
46 MARTINS, Sérgio Pinto. Direitos Trabalhistas do Atleta Profissional do Futebol. Ed. São Paulo: Atlas, p. 63.
47 BRASIL. TRT: RO 00158-2003-021-03-00-5, 6ª T. Relª Juíza Lucilde D'Ajuda Lyra de Almeida. DJ 23.10.2003, Minas Gerais, p. 09. Disponível em: http://www.trt12.jus.br.
47
10. DIREITO DE ARENA
O termo “Arena” é uma palavra latina e decorre de areia, pois, na antiguidade,
os gladiadores enfrentavam seus desafios contra animais em um piso de areia,
desta forma, o local onde se enfrentavam entre si chama-se “Arena”.
O Direito de Arena é um direito exclusivo do desportista, comumente para
atletas de futebol que atuam em clubes em que tem a transmissão das partidas
radiofônicas ou televisivas.
A própria Constituição Federal de 1988 prevê o direito de arena, no seu artigo
5º, XXVIII, “a proteção às participações individuais em obras coletivas e à
reprodução da imagem e voz humanas, inclusive em atividades desportivas”.
Neste sentido, com o texto constitucional, se manifesta o doutrinador
ÁLVARO MELO FILHO:
“Ao dar guarita, no contexto constitucional, ao direito de arena nas atividades desportivas, o legislador constituinte demonstrou conhecimento e sensibilidade pois, atualmente, não pode olvidar que os estádios foram transformados em estúdios, por força das modernas técnicas de difusão e de redução do mundo desportivo a uma ideia global48”.
Diante da previsão constitucional do direito de arena, a Lei Pelé, no art. 42, §
1º destina 5% da verba auferida pelo clube empregador através cotas de televisão
ao sindicato de atletas profissionais, o qual, repassa a quantia para os atletas do
clube empregador.
Cabe ressaltar que o art. 42, § é bem claro ao dispor: “§ 1º Salvo convenção
coletiva de trabalho em contrário, 5% (cinco por cento) da receita proveniente da
exploração de direitos desportivos audiovisuais serão repassados aos sindicatos de
atletas profissionais, e estes distribuirão, em partes iguais, aos atletas profissionais
participantes do espetáculo, como parcela de natureza civil”, desta forma, embora a
legislação especial disponha 5%, a Convenção Coletiva dos atletas estabelecem
percentual superior, e assim será realizado o pagamento.
48 MELO FILHO, Álvaro. O desporto na ordem jurídico constitucional brasileira. São Paulo: Malheiros editores, 1995, p. 41.
48
Além disso, a própria legislação especial atende ao caráter cível da parcela
do direito de arena.
Neste sentido, em outra obra, Álvaro Melo Filho assevera que o Direito de
Arena teria direito seria cível e não trabalhista, vejamos:
“Com vista a dissipar qualquer dúvida, lembre-se que o contrato de cessão de direito de imagem, por ser autônomo, paralelo e inconfundível com o contrato desportivo, comporta previsão de sua própria cláusula penal, jungida aos limites do artigo 920 do Código Civil49”.
De outro modo, pelo fato do direito de arena ser decorrente do contrato de
trabalho firmado entre clube e atleta, outra corrente da doutrina entende o caráter
trabalhista do direito de arena, vejamos o entendimento do doutrinador Sérgio Pinto
Martins:
“O pagamento do direito de arena é decorrente do fato de que o atleta é obrigado a participar do jogo televisionado por força do contrato de trabalho mantido com o clube. Sua imagem está sendo mostrada para várias pessoas50”.
Neste ponto, a jurisprudência é confusa e se divide ao ponto de alguns
tribunais regionais pelo país considerarem o caráter trabalhista do direito de imagem
e outros considerarem o caráter cível.
O Tribunal Regional do Trabalho da 3º região, vem afastando o caráter
trabalhista do direito de imagem, pois considera que a remuneração não se
confunde com a contraprestação de serviços, e desta forma decidiu em decisão
recente:
“DIREITO DE ARENA - NATUREZA - Revendo posicionamento anterior, e considerando que o direito dearena está relacionado ao direito individual de imagem, não se está diante de direito trabalhista oponível ao empregador, mas de direito da personalidade, ainda que autônomo, oponível erga omnes. Sua utilização
49 MELO FILHO, Álvaro. Novo regime jurídico do desporto. São Paulo: Brasília Jurídica, 2001, p. 125. 50 MARTINS, Sérgio Pinto. Direitos Trabalhistas do Atleta Profissional do Futebol. Ed. São Paulo: Atlas, p. 68.
49
ou exploração econômica configura o próprio objeto da contratação e não se confunde com a contraprestação pelos serviços prestados em favor do empregador, o que afasta a sua natureza salarial51”.
Sob outro ponto de vista, o Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, em
recente decisão decidiu pelo caráter trabalhista do direito de imagem, vejamos:
“ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL - DIREITO DE IMAGEM - NATUREZA SALARIAL - Os valores de-correntes do uso do direito de imagem são pagos por terceiros (emissoras de televisão e radiodifusão), devendo o empregador repassar uma parte ao empregado (art. 42, § 1º, Lei nº 9.615/1998), tratando-se de parcela que, à semelhança das gorjetas (art. 457, CLT), integra a remuneração do atleta profissional de futebol, já que é percebida em razão do trabalho prestado em prol da entidade esportiva.52”.
No presente caso, o clube sustenta que o direito de imagem não integra ao
salário do atleta, sob a alegação de que o contrato de licença de imagem, voz, nome
e apelido com outras empresas, porém, o entendimento do Egrégio Tribunal vai em
desacordo, pois entende que em razão de ser obrigação do clube repassar o valor
pago a título de imagem ao atleta.
Para finalizar, o Direito e Arena representa a divulgação do espetáculo como
um todo, distingue-se do direito individual de imagem, visto que se efetiva com a
expressa autorização do indivíduo que se pretenda expor, assumindo, por
conseguinte, natureza autônoma em relação ao contrato de trabalho, enquanto
aquele nasce da vontade do empregador, a quem a lei outorga o poder de decisão
sobre divulgação ou não de determinado evento desportivo.
51 BRASIL. TRT: RO 1187/2012-138-03-00.5, Rel. Des. Jorge Berg de Mendonça, DJe 02.09.2013, p. 247. Disponível em: http://www.trt3.jus.br. 52 BRASIL. TRT: RO 25515/2008-006-09-00.7. 4ª T. - Rel. Des. Luiz Celso Napp - DJe 21.01.2011. Disponível em: http://www.trt3.jus.br.
50
11. CONCLUSÃO
Com o presente trabalho, pudemos vislumbrar que o futebol, paixão nacional,
em que pese para o público em geral não passar de mera diversão misturado com
grande sentimento de cada torcedor para com o seu clube, existe uma
contemplação jurídica para ordenar as relações de trabalho entre os atletas e os
clubes.
Ademais, diante da profissionalização e mercantilização, foi necessário o
surgimento de um ordenamento especial,atualmente denominada de Lei Pelé (Lei
8.915/1998, alteradas por leis posteriores em alguns pontos e ajuda da CLT, desta
forma, a relação empregatícia do jogador de futebol ganhou mais enfoque dentro do
ordenamento jurídico nacional.
Atualmente, resta definido que no contrato de trabalho desportivo, todas as
partes estarão cientes de todas especificidades que regem o contrato.
Além disso, foi visto a necessidade da formalização do contrato de trabalho
desportivo junto ao órgão competente, no caso, federação estadual e CBF.
Com a abrangência da formação do contrato de trabalho de vinculo
desportivo, passamos para todas as peculiaridades existente na jornada de trabalho
de um atleta, questões como a concentração, horas extras, trabalho noturno,
intervalos intra jornada e inter jornada e descanso semanal remunerado.
Pudemos concluir neste ponto, que o atleta profissional de futebol tem os
mesmo direitos que o trabalhador celetista,conforme a Constituição Federal de 1988,
onde limita o trabalho semanal em 44 horas.
O tempo a disposição, por ser uma peculiaridade do atleta não é considerada
como hora trabalhada, não havendo a possibilidade de hora extra.
Outro ponto abordado no presente estudo, pois também encontra
particularidades no contrato de trabalho desportivo, é a remuneração, pois, há
pagamentos por fora denominados de bichos e luvas que integram para todos os
fins trabalhistas a remuneração do atleta e outros de natureza salarial.
Porém, de todos os pagamentos por fora que ocorrem em um contrato de
trabalho desportivo, o que mais chama a atenção é o direito de imagem.
51
Estudamos que o direito de imagem é uma quantia paga pelo clube, em
muitas oportunidades, com a razão de fraudar o contrato de trabalho desportivo,
visto que, tal parcela, para grande parte da jurisprudência e doutrina entende ser
verba de caráter civil,e desta forma, não integraria os referidos valores na
remuneração do atleta.
Por fim, foi tratado no presente trabalho, as formas de cessação do contrato
de trabalho e vínculo desportivo, tais como, possibilidades da justa causa, multa
rescisória, rescisão indireta, transferência para clubes nacionais e clubes
internacionais.
Desta forma, diante da magnitude e importância deste esporte não só para o
Brasil, mas também para o mundo, o tema tratado neste trabalho deve ser tratado
entre profissionais da área do direito de forma extremamente ampla, visto que,
mesmo com legislação específica, existem inúmeras lacunas legislativas que não
protegem de forma mais segura o trabalhador, no caso, o principal do espetáculo.
52
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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_____. Senado Federal. Lei 9.981/98. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil. Acesso em: 25/07/2013.
_____. TRT: RO 00158-2003-021-03-00-5, 6ª T. Relª Juíza Lucilde D'Ajuda Lyra de Almeida. DJ 23.10.2003. Disponível em: http://www.trt3.jus.br.
_____. TRT: RO 25515/2008-006-09-00. 4ª T. - Rel. Des. Luiz Celso Napp - DJe 21.01.2011. Disponível em: http://www.trt9.jus.br.
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53
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