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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ ELISANGELA DE FREITA ZILLI TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO NO BRASIL CURITIBA 2016

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

ELISANGELA DE FREITA ZILLI

TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO NO BRASIL

CURITIBA

2016

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ELISANGELA DE FREITA ZILLI

TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO NO BRASIL

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção

do grau de bacharel em Direito. Orientadora: Professora Helena de Souza Rocha

CURITIBA

2016

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TERMO DE APROVAÇÃO

ELISANGELA DE FREITA ZILLI

TRABALHO DE ESCRAVO CONTEMPORÂNEO NO BRASIL

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção de título de Bacharel no Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ___de___________de 2016.

___________________________________________________

Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite Coordenador do Núcleo de Monografias do Curso de Direito

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: __________________________________________

Professora Helena de Souza Rocha

Universidade Tuiuti do Paraná Curso de Direito

Supervisor: __________________________________________ Professor

Universidade Tuiuti do Paraná Curso de Direito

Supervisor:___________________________________________ Professor

Universidade Tuiuti do Paraná

Curso de Direito

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AGRADECIMENTOS

Pode até soar como clichê, mas primeiramente quero agradecer a Deus

pela oportunidade de ter chego até este momento, mesmo ele tendo recolhido

para si uma das pedras mais preciosas da minha vida, me deu a oportunidade

de conviver com ela por trinta e quatro anos.

Quero agradecer a minha mãe Maria Cleuza, que mesmo sendo

analfabeta nunca deixou de me estimular a ser alguém, e quando chegasse a

ser alguém, que não me esquecesse dos que não puderam chegar. Que no leito

da sua morte me disse: “você vai sofrer com minha partida, mas te digo, nunca

pare de estudar!”. A ela agradeço toda força, garra e vida passada por ela para

mim através de seu DNA.

Agradeço a meu pai Luiz Guilherme, pelos Xerox pagos, computador

emprestado, ombro cedido e afeto empregado. Pelas palavras de conforto e

oração que me tiraram do lodo sentimental que passei. Agradeço por vê-lo

frequentando a mesma Universidade e curso que eu, e no auge de seus

sessenta anos enfrentar a vida com muita disciplina, amor e foco de viver.

Agradeço ao meu esposo Rafael, pelas louças lavadas, roupas passadas

e momentos de afeto que deixei de dar para me debruçar sobre esse evento .

Agradeço também pelas inúmeras vezes que me escutou lendo o mesmo

parágrafo e dando seu parecer se havia entendido ou não. Agradeço por ser o

esposo, pai, amigo e companheiro durante esses cinco anos de peleja.

Agradeço meus filhos Maria Eduarda e Miguel, pela mãe presente que

deixei de ser, pelas noites que neguei o cheirinho do peito, pelo valor que

empreguei durante todo curso, que muitas vezes foi pago economizando em

nosso lazer.

Agradeço aos meus sogros Marisa e Moacir, pela ajuda na qual eu nunca

poderei pagar, terem criado meu filho nestes quatro anos de luta. Por estarem

ao meu lado em todos os momentos, por mostrarem que amor não se reduz

apenas a laços sanguíneos, o amor também é exercido pela alma.

Agradeço a minha querida orientadora Professora Helena, que

compreendeu em um dos momentos mais tristes da minha vida e me direcionou

para o sucesso.

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“Aqueles que negam liberdade aos outros não a merecem para si mesmo.” Abraham Lincoln

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RESUMO

“O meu povo perece por falta de conhecimento.” (BIBLIA SAGRADA,

1997, pagina 984, Oséas 4:6). O livro de Oséas foi escrito aproximadamente

entre 755 e 725 AC e é impressionante como ele é contemporâneo e tão

contundente para os dias de hoje. Na ocasião Oséas demonstra através de seus

escritos o amor de Deus para um povo cruel, todavia neste trabalho

apresentaremos sim, homens que além de subjugar o próximo em trabalhos

forçados também deterioram a sociedade com seus atos desumanos.

Os Direitos Humanos têm procurado defender o povo, que muitas vezes

por faltar conhecimento, acaba sendo forçado a labutar em sub-trabalhos

exaustivos e degradantes para qualquer indivíduo.

Fato é que, mesmo os Direitos Humanos procurando com afinco

desarticular as quadrilhas que se aproveitam de mão de obra escrava, ele

(Direitos Humanos), não consegue de forma efetiva destroncar uma organização

que vem se fortalecendo desde os primórdios do mundo.

Atualmente no Brasil há mais de 200 mil pessoas vivendo em situação de

trabalho escravo, índice este divulgado pela ONG Walk Free Foundation,

colocando o Brasil em 94º lugar no ranking dos países com maior registro de

trabalho escravo.

Diante da grande importância e da sua relevância, para a segurança

jurídica da Dignidade da Pessoa humana, o presente trabalho pretende abordar

os Direitos Humanos e seus fundamentos, a Regularização das Normas

Trabalhistas e seus fundamentos, sua importância e a urgente necessidade de

uma maior abordagem no que tange à matéria de trabalho escravo associado

aos Direitos Humanos na órbita nacional.

Palavras chave: Escravidão. Trabalho Forçado. Trabalho Degradante. Trabalho

Escravo Contemporâneo. Dignidade da Pessoa Humana. Liberdade. Direitos

Humanos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 9

1. O TRABALHO ESCRAVO ...................................................................................... 11

1.1. Breve Histórico ........................................................................................................... 11

1.2 Conceito de escravidão contemporânea .................................................................... 13

1.3 A proibição da escravidão como direito humano....................................................... 14

2. A ESCRAVIDÃO NO BRASIL ...................................................................................... 15

2.1 Características do Trabalhador e do Trabalho Escravo Contemporâneo.................. 17

2.2 Tratamento jurídico do trabalho escravo .................................................................... 23

2.2.1 Trabalho Escravo Contemporâneo na Constituição Federal ................................. 24

2.2.2 Trabalho Escravo Contemporâneo na Consolidação das Leis do Trabalho .......... 26

2.2.3 Trabalho escravo contemporâneo na Lei Penal ...................................................... 28

2.3 Politícas Públicas......................................................................................................... 33

3 ANÁLISE DOS QUESTIONÁRIOS ............................................................................... 35

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 44

ANEXOS I .......................................................................................................................... 46

ANEXO II ........................................................................................................................... 47

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LISTA DE ABREVIATURAS

ART- Artigo

CF- Constituição Federal

CP – Código Penal

CLT - Consolidação das Leis do Trabalho

CONAETE - Coordenadoria Nacional de Erradicação ao Trabalho Escravo

CPT - Comissão Pastoral da Terra

GEFM - Grupo de Especialização de Fiscalização Móvel

GERTRAF - Grupo Executivo de Repressão ao Trabalho Forçado

MPT- Ministério Público do Trabalho

MTE - Ministério do Trabalho e Emprego

OIT - Organização Internacional do Trabalho

PEC - Proposto de Emenda Constitucional

PF-Polícia Federal

SINAIT - Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho

STF - Supremo Tribunal Federal

ONG- Organização não governamental

CNJ – Conselho Nacional de Justiça

UNODC- Escritório das Nações Unidas Contra Drogas e Crime

ONU – Organização das Nações Unidas

P - Página

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INTRODUÇÃO

A abordagem do trabalho escravo contemporâneo é de extrema

necessidade, pois o conhecimento sobre o assunto não se faz claro para uma

grande parcela da sociedade. Muito se fala sobre os direitos dos trabalhadores,

mas pouco se referência sobre os trabalhadores escravizados em nosso

território nacional.

Apesar da abolição da escravidão ter ocorrido em 13 de maio de 1888,

quando o trabalho escravo passou a proibido em território nacional, ele ainda é

uma prática comum no Brasil contemporâneo. Dados do Grupo Especial de

Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho e Emprego e o Grupo Executivo de

Repressão ao Trabalho Forçado indicam que até o ano de 2011, 41.655 mil

pessoas foram resgatadas de trabalho escravo no Brasil.(PORTAL BRASIL,

2013).

Ou seja, os trabalhadores não carregam mais em sua pele a estigma do

indigno de outrem, mas são “escolhidos” por suas condições, hereditariedade ou

o pior, por falta de conhecimento. No Brasil, o trabalho escravo encontra-se nas

indústrias de madeira, construção civi l, mineração, lavoura, pecuária e indústria

têxtil, não se deve deixar de citar também a escravidão sexual.

O presente trabalho de conclusão de curso inicialmente expõe uma

explanação teórica sobre a escravidão desde a colonização do Brasil até

contemporaneidade, com reflexões da desigualdade, desumanidade e pouca

sanção para quem pratica ato bestial de colocar seu semelhante em condição de

nada para seu benefício.

Desta forma, serão apresentados dados estatísticos de órgãos que

combatem a escravidão contemporânea e a posição vedatóoria deste tipo de

trabalho ilícito, bem como o bem jurídico ferido. Em especial, é dada ênfase à

dignidade da pessoa humana, da qual decorre a intorabilidade da prática de

qualquer forma de subjugação de pessoas.

Finalmente, o trabalho irá demonstrar a atuação do Ministério Público do

Trabalho, a Proposta da Emenda Constitucional (PEC) que trata sobre a

confiscação de propriedades rurais e urbanas nas quais há flagrante de trabalho

escravo, o engajamento da Organização internacional do Trabalho (OIT) que

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busca promover oportunidades para que homens e mulheres possam ter acesso

a um trabalho decente e produtivo, em condições de liberdade, equidade,

segurança e dignidade, juntamente com a posição penal que veda e puni como

crime quem submete outrem a condições análogas a trabalho escravo.

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1. O TRABALHO ESCRAVO

1.1. Breve Histórico

Desde que o mundo é mundo as pessoas tem subjugado outras para seus

próprios interesses, tratando-as como indignas, seres sem alma e sem direito à

sua própria liberdade.

Na escola aprende-se apenas quanto à chegada dos negros em terras

desconhecidas, trazidos por portugueses para o trabalho forçado, pulverizados

em várias regiões para o deleite de seus senhores e a mercê da vida.

Contudo a escravidão vai muito além do que se aprende superficialmente

na escola, vai além da cor da pele, vai além do navio negreiro, açoites e

servidão forçada. Vai além da história que é contada e pouco respeitada da

sangrenta sociedade que se vive.

Na história antiga possuir servos era sinônimo de status social, só uma

pessoa de posses poderia alimentar e vestir um grupo de pessoas que não

originalmente de seu sangue.

Nos mais remotos escritos, já se mencionava quanto à utilidade de um

escravo e a importância dele nos vértices familiares. Em uma de suas

passagens a Bíblia cita uma mulher que dá a seu esposo sua serva para que

com ele gere filhos, já que era estéril (BIBLIA SAGRADA, 1997, pagina 20,

Genesis 16:3). Ao deparar-se com a condição de não conseguir ter filhos, Sarai

sugere a Abrão que tome por esposa sua escrava egípcia Agar e que tivesse um

filho com ela, através disso ela seria mãe:

Ora Sarai mulher de Abrão, não tinha filhos, mas como tinha uma

escrava egiptana, chamada Agar, disse a seu marido: Bem vês que o SENHOR me fêz estéril, e que eu não posso ter filhos. Toma, pois a minha escrava, para ver se ao menos por ela posso ter filhos.

Filho, até então, ilegítimo sob a ótica do cristianismo, mas legal na lei

Mesopotâmica, visto que Agar era propriedade de Sarai, tornava -se a própria

Sarai ao fazer sua vontade. Ismael fruto desta relação segundo a história foi o

precursor da nação Árabe.

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A posição de servo, como visto acima, implicava fazer o que o seu senhor

desejasse, e no curso da história observa-se que a posição de servo foi se

moldando de acordo com a cultura de cada povo.

Em Roma o escravo era uma “peça” extremamente importante para o giro

econômico da Polis. Eles estavam inseridos em várias funções como agricultura,

construção, artesanato, atividades domesticas e mineração. A mão de obra

escrava fazia parte da cultura romana arcaica, encontrando-se estes integrados

na organização familiar.

Com o crescimento da massa escravista, Roma direcionou esta mão de

obra para vários tipos de trabalhos, não apenas braçais, mas também

intelectuais. Vêem-se escravos na história que foram servidores públicos,

médicos, pedagogos e secretários, com isso o escravo tinha identidade, aferia

renda permitida pelo seu senhor, acumulando peculium, com o fim de comprar

sua liberdade e até, na condição de ainda escravo, adquirir para si outros

escravos.

Vale ressaltar que, muitas vezes havia a promessa da liberdade como

recompensa, forma de estímulo para incentivar o maior rendimento do trabalho.

O início da escravidão ocorreu no século XV com as embarcações

Européias em suas viagens marítimas, transportando escravos entre a África e

America. Rapidamente a mão de obra escrava tornou-se lucrativa, pois com a

descoberta de novas terras fazia necessária a extensão do poder comercial,

trazendo consigo a ganância da expansão.

Com a proibição da escravidão indígena os portugueses retornaram ao

continente africano com objetivo de negociar a compra de escravos. A pratica de

escravidão era comum na África1, pois em situações de guerra o povo vencido

tornava-se prisioneiro do vencedor, trabalhando como escravo em sentido de

punição.

Mas a angústia dos africanos iniciava-se de fato com a travessia do

Oceano Atlântico, a viagem da África ao Brasil durava de 30 a 45 dias, e os

escravos eram conduzidos a diferentes portos e locais, mas sempre com destino

comum, o mercado de comercializam de escravos (FLORENTINO, 1997 apud

JUNIOR, 2006, p 67).

1 História Geral da África - Volume V: África do século XVI ao XVIII.

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Segundo o historiador Manolo Florentino (1993, p 9):

No Brasil, nos séculos XVIII e XIX, várias pessoas se especializaram e

investiram na compra de escravos na África. Muitos traficantes de escravos eram cariocas e mantinham as embarcações que traziam os escravos para o Novo Mundo. Quase sempre, os traficant es de

escravos negociavam com os africanos com base no escambo, comercialização de mercadorias como aguardente, armas de fogo, pólvora, tecidos, entre outros, em troca das pessoas escravizadas.

A escravidão na América perdurou por quase quatro séculos e milhões de africanos vieram escravizados para as terras do Novo Mundo. A proibição do tráfico negreiro ocorreu no Brasil no ano de 1850, com a

lei Eusébio de Queiroz.

Conforme explana Queiroz (1993), “durante todo período de escravidão,

os negros foram o suporte da economia.” Trabalhavam em lavouras, extração de

ouro e atividades domestica, de quinze a dezoito horas por dia, sendo açoitados

e agredidos durante suas atividades.

Transportando esse episódio para os dias de hoje, identifica-se

exatamente este contexto no trabalho escravo contemporâneo, mas hoje quem

atua são os gatos, que prometendo trabalho, transportam o indivíduo para o

determinado local, pagando sua locomoção, documentação e alimentação.

Prometendo-lhes condições de angariar seus rendimentos através do tempo

determinado do contrato, mas ao se deparar com condições precárias e trabalho

desumano o que cabe ao sujeito é trabalhar para pagar suas despesas, adquirir

sua liberdade e votar para sua terra, com o fim de retomar sua vida.

1.2 Conceito de escravidão contemporânea

A OIT e a ONU apoiam o conceito de escravidão contemporânea utilizado

pelo Brasil por meio da tipificação da redução à condição análoga à de escravo

constante no artigo 149 do Código Penal.

Deste modo, são elementos que caracterizam o trabalho análogo ao de

escravo no Brasil:

Condições degradantes de trabalho: incompatíveis com a dignidade

humana, caracterizadas pela violação de direitos fundamentais coloquem

em risco a saúde e a vida do trabalhador;

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Jornada exaustiva: em que o trabalhador é submetido a esforço excessivo

ou sobrecarga de trabalho que acarreta a danos à sua saúde ou risco de

vida;

Trabalho forçado: manter a pessoa no serviço através de fraudes,

isolamento geográfico, ameaças e violências físicas e psicológicas;

Servidão por dívida: fazer o trabalhador contrair ilegalmente um débito e

prendê-lo a ele.

Estes elementos podem vir juntos ou isoladamente.

Como se verifica, não é apenas a ausência de liberdade física, mas

também a liberdade psíquica do indivíduo que é acorrentada e sofre as mazelas

da crueldade impostas por um terceiro.

Ser escravo não fere apenas uma história isolada, fere também uma

sociedade, um povo e uma nação, que independente do tempo ainda são

açoitados pelo preconceito de uma parcela da sociedade.

1.3 A proibição da escravidão como direito humano

Há tratados de norma imperativa (jus cogens) que proíbem a escravidão

nos Estados, mesmo em situações excepcionais. Conforme assenta Antônio

Celso Alves Pereira em seu artigo sobre “As normas de jus cogens e os direitos

humanos, página 41”:

Os direitos humanos fundamentais, como o direito à vida, o direito ao

reconhecimento da personalidade jurídica, as normas contra a tortura, a escravidão e a servidão, o direito à integridade pessoal, o princípio da legalidade, a liberdade de consciência e de religião, a proteção da

família, o direito ao nome, os direitos da criança, o direito à nacionalidade, os direitos políticos, bem como as garantias indispensáveis à proteção de tais direitos, estão, conforme o Artigo 27,

(2) da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, incluídos no rol das normas imperativas de Direito Internacional, que obrigam todos os Estados, possuem eficácia normativa erga omnes e são, portanto,

regras que não podem ser derrogadas, mesmo em situações excepcionais vividas pelo Estado.

Logo se destaca que o jus cogens é uma norma imperativa de Direito

Internacional que obrigam os Estados a tutelar valores de caráter universal,

consagrando normas de direitos fundamentais inerentes a vida humana.

Ademais, mesmo os membros que não ratificaram as convenções,

possuem o compromisso de respeitar os direitos fundamentais.

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Embora todos estes tratados possuam força normativa, ainda vemos que

a escravidão contemporânea tem feitos vítimas em todos os lugares do mundo.

Hoje em 2016 cerca de 21 milhões2 de pessoas são submetidas a trabalhos

forçados pelo mundo, tendo suas vidas ceifadas por opressores gananciosos em

sem empatia alguma por seu próximo.

Abaixo os principais tratados que legislam quanto aos Direitos Humanos

na orbita trabalhista:

Convenções 29 e 105 que tratam da eliminação do Trabalho Forçado ou

Obrigatório;

Convenções 87 e 98 que tratam da Liberdade Sindical e da Proteção ao

Direito de Sindicalização e de Negociação Coletiva;

Convenção 100 e 111 que tratam da Discriminação de Acesso, Condições

e Permanência no Trabalho;

2. A ESCRAVIDÃO NO BRASIL

No Brasil a escravidão surgiu com a descoberta das terras brasileiras

pelos portugueses. Do período colonial até o final do império, diversos negros

foram comercializados, mais de cinco milhões de negros nos séculos XVI e XIX

em todo o mundo foram subjugados pela escravidão3.

O transporte para o Brasil era feito através de navios negreiros, com os

indivíduos amontoados, em condições degradantes. Muitos morriam durante a

viagem e seus corpos não recebiam nenhum tratamento digno de sepultamento,

todos eram atirados ao mar4·.

Chegando a terra firme eram proibidos de praticar suas religiões de

origem, celebrar festas ou rituais africanos. Os senhores do engenho os

2 https://nacoesunidas.org

3 http://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/escravidao.htm . Estudo que explana sobre a escravidão

noBrasil.

4 http://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/escravidao.htm . Estudo que explana sobre a escravidão

noBrasi

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obrigavam a seguir o catolicismo e a adotar o português como língua de

comunicação.

Com o Congresso de Viena, Portugal concordou em proibir o comércio de

escravos em regiões acima da linha do Equador. O tratado tomou força de lei,

dando direito a Inglaterra de interceptar navios em alto-mar com suspeitas de

transportar cativos para mão de obra forçada.

No Brasil, o acordo internacional foi ratificado em 1827, proibindo o país

que comercializasse seres humanos, em 1831 o Brasil promulgou a lei que

proibia o tráfico de pessoas da África, declarando livres os cativos que

desembarcassem nos portos do país após a referida data (REPORTER BRASIL,

2008).

Entretanto, lei permaneceu como letra morta em função dos grandes

produtores rurais que dominavam o Brasil.

Com a abolição da escravidão advinda pela lei Áurea no ano de 1988, o

trabalho escravo, antes corriqueiro, tornou-se ilegal. Vale frisar que o Brasi l foi

um dos últimos países a reconhecer a abolição da escravatura 5.

Hoje o trabalho análogo a escravo não contempla apenas o não

recebimento de salário pelo trabalhador, vai além de sua dignidade e direito à

liberdade.

E também, de acordo como site que trata sobre a PEC do trabalho

escravo:

O trabalhador não consegue se desligar do patrão por fraude ou violência, quando é forçado a trabalhar contra sua vontade, quando é sujeito a condições desumanas de trabalho ou é obrigado a trabalhar

tão intensamente que seu corpo não agüenta e sua vida pod e ser colocada em risco. Trabalho escravo não é apenas desrespeito às leis trabalhistas ou problemas leves. É grave violação aos direitos

humanos. (PEC DO TRABALHO ESCRAVO, 2001, pagina única.

Disponível no Site: WWW.pecdotrabalhoescravo.com.br, acesso em 03 de

fevereiro de 2016).

No Brasil o Trabalho escravo é compreendido como pessoa submetida a

condições degradantes, privação de liberdade e trabalho exaustivo, tanto no

campo como na cidade. Definição esta prevista no artigo 149 do Código

Penal Brasileiro:

5 http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/cronologia-da-abolicao-da-escravatura. Tema abordado

quanto a cronologia da abolição da escravatura.

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Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer

submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida

contraída com o empregador ou preposto: Pena – reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência;

Entretanto, mesmo difundido no ordenamento jurídico e protegido

constitucionalmente, a dignidade da pessoa humana e a liberdade não são

manjares para todos. Muitos acreditam que a condição de escravo é norma,

ou seja, desconhecem que possuem o direito de serem livres, escolher o

trabalho e quanto tempo desejam cumprir aquela função.

Verifica-se a afirmação acima no depoimento de um trabalhador mantido

em trabalho análogo a escravidão:

Meu nome é Valdeni, nasci em Colinas, norte do estado do Tocantins. (...) Não tinha estudo, então comecei a trabalhar na juquira “limpeza” de terreno para a formação de pastagem para a pecuária pra poder

manter a despesa da cidade, pois não tinha mais onde plantar. Os “gatos” (...) vinham, contratavam a gente, abonavam, levavam pra trabalhar e a gente ia fazer roçado ou serviço que fosse combinado.

(...) Rocei muita juquira, me desgastei, senti que não agüentava mais fazer o serviço adequado que os fazendeiros exigiam. Os patrões eram muito durões. Se não agüentasse trabalhar da forma que eles exigiam,

então era dispensado e terminava ou trabalhando sujeito sem agüentar, ou tinha que passar fome, necessidade. Eu fui trabalhar uma certa vez para um fazendeiro. Depois que eu tinha feito todo o serviço,

me pagou menos da metade do prometido, ainda cobrando as passagens de ida e volta. E disse que não pagava mais porque eu já tinha ganhado muito, e que não adiantaria eu ir procurar Justiça ou

advogado, porque advogado não ia advogar pra gente pobre. Não tinha conhecimento dos meus direitos, recebi o pouco que ele quis pagar e fiquei quieto. (...) Eu sempre devia, eu nunca tinha saldo. Devido eu ter

sido criado naquele regimento dos pais: “- ó, meu filho, a gente tem que ser homem, tem que pagar o que deve, não pode sujar o nome!”, achava que a pinga pra mim poderia ser uma derrota, mas nem tanto

como meu nome sujo. Minha preocupação era pagar as contas e partir de uma fazenda pra outra. Na época, pra mim era o normal. (REPÓRTER BRASIL, 2011).

É de se pensar, como pode em pleno século XXI, com tanta informação

na velocidade da luz, pessoas desconhecem que está em condição análoga

a de trabalho escravo.

2.1 Características do Trabalhador e do Trabalho Escravo Contemporâneo

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Quando se fala em característica dos trabalhadores escravos, há de se

pensar que muitos deles não possuem estudo e por este motivo estão vulneráveis.

Doce ilusão! Há trabalhadores em regime de escravidão que possuem até grau

superior, enganados com a promessa de uma vida melhor em outra região ou país,

com um retorno triunfante para casa, auxiliando então financeiramente sua família.

Não podemos nos ater apenas a escravidão rural, hoje mais de 70 mil

mulheres e travestis estão sendo comercializados a fim da escravidão sexual,

rendendo três bilhões de dólares ao ano, girando uma economia onde a moeda de

troca está manchada por sangue. Destas 70 mil mulheres e travestis, 84% são

destinadas a exploração sexual, o restante delas, segundo a UNODC (Escritório das

Nações Unidas Contra Drogas e Crime), é levada para o trabalho forçado ou até

mesmo o trafego de órgãos.

Contudo quem é o trabalhador escravo? De acordo com a OIT, 95% são

homens entre 18 e 44 anos de todas as regiões dos pais. Concentrando suas

atividades na construção civil. Destes 33% são analfabetos, 39% chegaram até a 4ª

série e os 23% concluíram o ensino antes chamado de médio.

Impactante pensar que os 5% restantes abrange o trabalho análogo a escravo

de crianças e mulheres de 7 a 36 anos e travestis de todas as idades.

Figura extraída do Livro Escravo nem Pensar. UMA ABORDAGEM SOBRE TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO NA SALA DE AULA E NA COMUNIDADE. 2ª. Edição Atualizada/2012.

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Independente da forma e de gênero que o trabalho escravo abarca, ele fere a

dignidade da pessoa humana e sua liberdade. Ele deflora a alma do sofrente e da

família que muitas vezes não sabe o paradeiro de seu parente.

Podem-se observar as principais mazelas do trabalhador escravo: Anulação

da dignidade com alojamentos precários, falta de assistência medica, péssima

alimentação, falta de saneamento básico, higiene, maus tratos, violência, ameaças

física, psicológicas e jornadas exaustivas. E a privação de liberdade no qual

provocam a servidão por divida, o isolamento geográfico, a retenção documentos e

salários, o encarceramento juntamente com o trabalho forçado.

Abaixo se vê o ciclo do trabalho escravo:

Fonte: site Escravo nem pensar.

O ciclo só se encerra quando o trabalhador é orientado e recebe incentivos

profissionais para através de um trabalho regulamentado sustentar sua família. Caso

contrario ele voltará para a mão dos gatos e novamente será feito de escravo.

De acordo com o e-book ILO Indicators of Forced Labour, as mazelas do

trabalho escravo deixam pistas concretas, mas muitas vezes não visíveis a todos,

colocam o trabalhador em 6condições de decepção, restrição de circulação, violência

sexual e física, retenção dos documentos de identificação, retenção de salários,

servidão por dividas, condição de trabalho e de vida abusivos, excesso de horas

6 Indicadores reti rados do livro em pdf: Ilo Indicators of Forced labour, pag 1 a 27

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extras, isolamento, restrição de circulação, abuso de vulnerabilidade, intimidação e

ameaças.

Abaixo se encontram as descrições destes indicadores que anulam os

trabalhadores, colocando-os na condição de escravo, retirando destes indivíduos um

direito que é inerente ao ser humano, a liberdade.

2.1.1 Decepção

Muito trabalhadores recebem promessas enganosas com respeito ao posto de

trabalho, salários, condições de habitação e de vida, mas ao chegarem ao local se

deparam com uma situação completamente diferente do prometido, sem

possibilidade de escapar, encontrando-se preso em um estado abusivo e subumano

de trabalho.

Nesses casos os trabalhadores não consentiram com a situação, pois foram

ludibriados a buscar uma vida social melhor.

Restrição de Circulação

Se os trabalhadores são impedidos de livre transitar por onde bem

entenderem, há aí um grande indicio de restrição de circulação. Trabalhadores

forçados são em grande parte impedidos de escapar durante o transporte ou do local

de trabalho.

A restrição de circulação veda qualquer atitude tomada sem a autorização de

um superior. Necessidades básicas como ir ao médico, ir ao banheiro e até tomar

água são controladas dentro do local de trabalho, através do uso de câmeras

vigilantes, guardas e agentes que acompanham as saídas externas, caso

necessário.

2.1.2 Violência Sexual e Física

A violência física e sexual é um dos meios mais efetivos de colocar alguém

em posição de submissão. Entretanto muitos acreditam que a violência física

compreende-se apenas de castigos, mas há relatos de pessoas que eram obrigadas

a ingerir bebidas alcoólicas e fazer uso de drogas ilícitas para que o controle do

empregador fosse maior.

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O seqüestro ou coação física é uma forma extrema de violência, mantendo a

pessoa em cativeiro, em seguida, obrigando a trabalhar em funções que não estava

acostumado a cumprir.

2.1.3 Restrição dos Documentos de Identificação

A retenção dos documentos de identificação também é uma das formas de

coagir o trabalhador a se submeter ao trabalho forçado. Muitos são incapazes de

acessar seus documentos e não deixam o trabalho com medo de perdê-los. Esse

medo se dá, porque o trabalhador não será permitido obter outros trabalhos ou

acessar serviços essenciais para sua subsistência.

2.1.4 Retenção de Salários

O pagamento do salário é a contraprestação dos serviços prestados.

Contudo, uma das formas de aprisionar o trabalhador é impossibilitar que o mesmo

tenha acesso ao seu direito pecuniário.

A CLT em seu artigo 459 dispõe:

“O pagamento do salário, qualquer que seja a modalidade do trabalho, não deve ser estipulado por período superior a 1 (um) mês, salvo no

que concerne a comissões, percentagens e gratificações. § 1º Quando o pagamento houver sido estipulado por mês, deverá ser

efetuado, o mais tardar, até o quinto dia útil do mês subseqüente ao vencido. “

Logicamente que o pagamento em atraso ou irregular não será caracterizado

categoricamente em trabalho escravo, mas quando o salário ao invés de ser pago é

retido pelo empregador, negando-o a oportunidade de mudança de emprego,isso é

trabalho forçado.

2.1.5 Servidão por Dividas

Como citado no início do trabalho, muitos trabalhadores são colocados a força

na teia emocional da servidão. Obrigados a quitar uma divida impagável, submetidos

a taxas de juros exorbitantes referentes a transporte, alimentação e moradia. Muitas

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vezes as dividas são tão altas que sucedem o trabalhador, passando para sua prole

a obrigação de quitar uma divida “imaginaria”.

A dívida reflete em um desequilíbrio no poder entre o trabalho e empregador,

vinculando o empregado a qualquer período de tempo na prestação do trabalho,

podendo ser uma única temporada, anos ou ate mesmo gerações sucessivas como

elencado acima.

2.1.6 Condição de Trabalho e de Vida Abusivos

Os trabalhos podem ser realizados sob condições degradantes, perigosos,

insalubres e sem qualquer privacidade. O que acontece é que muitas vezes por falta

de oportunidade os trabalhadores aceitam “voluntariamente” estas condições

abusivas, condições estas que alertam para uma possível coerção dos trabalhadores

que os impedem de deixam o trabalho.

2.1.7 Excesso de Horas Extras

Determinar que alguém trabalhe além de suas horas fixadas em

contrato,coagindo com ameaças (desligamentos ou sanções disciplinares), equivale-

se como trabalho forçado.

Muito empregadores constroem alojamentos, com o fim de manter o

empregado no próprio estabelecimento de trabalho. Alguns levam sua família

consigo e fazem daquele ambiente um lar para sua parentela.

2.1.7 Isolamento e Restrição de Circulação

Na grande maioria as vítimas de trabalho focado são levadas a locais remotos

e de difícil acesso, com o objetivo de isolá-las da sociedade, perdurando assim a

condição de escravo por longo período. De acordo com o GEFM há lugares tão

remotos que nem os trabalhadores possuem conhecimento de onde estão.

Entretanto, a isolação também pode ocorrer em áreas povoadas, como as

cidades. O que ocorre é que o trabalhador é mantido em ambientes fechados, seus

telefones e outros meios de comunicação são confiscados, impedindo de ter contato

com familiares para solicitar ajuda.

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A restrição de circulação em áreas rurais ocorre justamente para evitar a fuga,

já nos casos de trabalho forçado em grandes cidades, o empregador proíbe a

circulação com propósito de não evidenciar o recinto de trabalho sem regularização,

com instalações precárias e ambientes completamente insalubres para qualquer

individuo.

2.1.8 Abuso de vulnerabilidade

O abuso de vulnerabilidade acontece quando o empregado possui uma

“vantagem” sobre o empregado. Isso pode se dar pela retenção de documentos,

pela habitação fornecida pelo empregador, dívidas contraídas com meio de

transporte até o local de trabalho e alguns casos pela falta de conhecimento de seus

direitos trabalhistas.

2.1.9 Intimidações e Ameaças

A intimidação e a ameaça podem ser físicas ou psicológicas. A coerção pode

acontecer também se referindo à família do trabalhador. Este sabendo das

conseqüências que sua prole possivelmente sofrerá, admite viver na condição de

trabalho forçado.

No caso dos imigrantes, muitos por serem i legais acabam se sujeitando a

situações de trabalho escravo com a preocupação de sofrerem deportação, voltando

para seu país de origem com a vergonha de não ter alcançado o objetivo estimado e

se deparando com a pobreza que o fez sair em busca de um futuro melhor.

2.2 Tratamento jurídico do trabalho escravo

O trabalho escravo não pune apenas aquele que submete alguém a condição

análoga a escravo, mas também qualquer indivíduo que concorre para que isso

aconteça.

A lei acerca no que tange ao trabalho escravo é completa e robusta,

compelindo cruel ação.

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Diante desse argumento, é medianamente possível entender porque mesmo

com a robustez da lei, poucos são condenados. Em um país onde a impunidade

alcança os colarinhos brancos, nem a justiça e muito menos a ética é praticada.

2.2.1 Trabalho Escravo Contemporâneo na Constituição Federal

A Constituição Federal em seu artigo 5º, XXIII de 1988 expõe quanto a

posse da propriedade rural no cumprimento de sua função social, sendo

responsabilidade do proprietário tudo o que ocorrer nos domínios de sua

fazenda.

Contudo, em um país ruralista fica difícil acreditar que esta função social é

praticada efetivamente. Segundo Najar Tubino, colunista do jornal Carta Maior,

hoje no Brasil 60%, ou seja, 5.6 milhões de propriedades rurais dominam o

território nacional. Vale ressaltar, conforme cita o colunista em seu artigo

Bancada Ruralista: tudo pela terra, que muitos desses proprietários são

deputados e senadores, fazendo parte diretamente do Congresso Nacional, com

função fiscalizatória e de controle, logo, como pode a lei atuar diretamente e

efetivamente se quem fiscaliza e controla esta lei tem interesse direto ao não

cumprimento? Em resposta vê-se a PEC do trabalho escravo/2014 que em nada

avançou quando propôs que para os casos onde houvesse trabalho escravo nas

dependências da propriedade, esta propriedade deveria ser convertida em

caráter indenizatório.

Hoje a bancada ruralista é uma das mais atuantes e gigantes do cenário

político do país, possui 207 deputados que agem em prol de suas terras,

atitudes estas nocivas para a população. São estes que resistem a promulgação

da PEC, alegando que ainda não está claro no texto sobre a diferença de

irregularidade trabalhista e trabalho escravo. Embora o Ministério Público do

Trabalho já se manifestou fortemente quanto à diferença dos enunciados.

Segundo o ministro Carlos Ayres Britto cerca de 1% dos 17 milhões de

trabalhadores vivem em situações degradantes a dignidade humana, percentual

pequeno, mas que expõe o país aos organismos internacionais em termos de

punição.

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Entende-se então a preposição de injustiça e o impedimento da

tramitação da PEC do trabalho escravo/2014 que repousa a quinze anos na

Câmara aguardando mais um turno de votação.

Diante de toda narrativa apresentada, leva-se a pensar que a maior

concentração de trabalho análogo a escravo ocorre na área rural, mas

observando o 7gráfico abaixo se constata que o trabalho em lavouras e pecuária

galgam o segundo e terceiro lugar no ranking respectivamente:

Fonte: site Escravo nem pensar.

Ferindo a dignidade e a liberdade humana, mas de fato o que é dignidade

da pessoa humana? Dignidade é uma palavra que possui vários significados,

mas está diretamente correlacionada a merecimento ético, ou melhor, a quem

seja merecedor. Já da pessoa humana refere-se a critérios biológicos e

fisiológicos, diferenciando o homem de maquinas e seres inanimados, conforme

explicação advogado de ciências penais Artur Francisco Mori Rodrigues Motta

em seu artigo “o que é a dignidade da pessoa humana?”, página 3:

“A dignidade é essencialmente um atributo da pessoa humana pelo simples fato de alguém "ser humano”, se tornando automaticamente merecedor de respeito e proteção, não importando sua origem, raça,

sexo, idade, estado civil ou condição sócio-econômica.”

E segundo Nascimento (2006, p. 7):

7 Figura extraída do site WWW.escravonempensar.com.br

44

21

12 5 3 3 2 2 1 1 9

-10

0

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20

30

40

50

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A dignidade é um valor subjacente a numerosas regras de direito. A

proibição de toda ofensa à dignidade da pessoa é uma questão de respeito ao ser humano, o que leva o direito positivo a protegê-la, a garanti-la e a vedar atos que podem de algum modo levar à sua

violação, inclusive na esfera dos direitos sociais.

É um princípio fundamental que contempla todos os seres humanos,

desde a concepção, atribuindo a esse humano merecer respeito e proteção.

Igualmente quanto à definição de liberdade, que significa o direito de agir

de acordo com a própria vontade, desde que não prejudique o direito de outrem,

desde que não interfira na vontade do externo.

Com concepções tão claras e literais, ainda é difícil compreender o motivo

que estes direitos, esculpidos como cláusulas pétreas na Constituição, não são

respeitados e quando descobertos não eram conhecidos pelos oprimidos e

seqüestrados destes tais proventos.

2.2.1 Trabalho Escravo Contemporâneo na Consolidação das Leis do Trabalho

Em um primeiro momento é estranho não ler nenhum artigo que dispõe sobre

o trabalho escravo na CLT de forma direta. Há vários juristas que acreditam que a

omissão se deu ao fato de que o legislador da época não desejou criar revogação do

artigo inserido no código penal, pois as matérias contidas na consolidação são de

competência exclusiva da justiça do trabalho, logo, qualquer dispositivo penal

contido no decreto-lei poderia gerar conflitos de competência para o crime de

julgamento a trabalho análogo a escravo. Com a demora na resolução destes

conflitos o que poderia ocorrer é a prescrição punitiva do crime pela demora do

julgamento. (GABRIELA DELGADO 2006, p. 214)

A CLT dispõe nos artigos abaixo os meios que levam ao entendimento da

condição análoga ao trabalho escravo, como dito acima, não diretamente a

escravidão, mas são utilizados em analogia para combater os desregramentos

cometidos contra os trabalhadores.

Artigo 13 da CLT dispõe quanto a não possuir CTPS:

Art. 13 - A Carteira de Trabalho e Previdência Social é obrigatória para

o exerc ício de qualquer emprego, inclusive de natureza rural, ainda que

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em caráter temporário, e para o exercício por conta própria de atividade

profissional remunerada. § 1º - O disposto neste artigo aplica-se, igualmente, a quem:

I - proprietário rural ou não, t rabalhe individualmente ou em regime de economia familiar, assim entendido o trabalho dos membros da mesma família, indispensável à própria subsistência, e exercido em condições

de mútua dependência e colaboração; II - em regime de economia familiar e sem empregado, explore área não excedente do módulo rural ou de outro limite que venha a ser

fixado, para cada região, pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social. § 2º - A Carteira de Trabalho e Previdência Social e respectiva Ficha de

Declaração obedecerão aos modelos que o Ministério do Trabalho e Previdência Social adotar. § 3º - Nas localidades onde não for emitida a Carteira de Trabalho e

Previdência Social poderá ser admitido, até 30 (trinta) dias, o exercício de emprego ou atividade remunerada por quem não a possua, ficando a empresa obrigada a permitir o comparecimento do empregado ao

posto de emissão mais próximo § 4º - Na hipótese do § 3º: I - o empregador fornecerá ao empregado, no ato da admissão,

documento do qual constem a data da admissão, a natureza do trabalho, o salário e a forma de seu pagamento; II - se o empregado ainda não possuir a carteira na data em que for

dispensado, o empregador Ihe fornecerá atestado de que conste o

histórico da relação empregatícia.

Determinação expressa quanto ao registro dos funcionários no momento

da contratação, devendo o empregador registrar em suma, a natureza do

trabalho, salário de forma de pagamento.

Artigo 157, I, da CLT, quanto às normas de segurança do trabalhador:

Art. 157 - Cabe às empresas:

I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; II - instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às

precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais; III - adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão

regional competente; IV - facilitar o exerc ício da fiscalização pela autoridade competente.

Os empregados devem possuir equipamentos de segurança, evitando

assim acidentes de trabalho que possam comprometer a vida produtiva do

trabalhador.

Artigo 444 CLT, manter o trabalhador em condições contrarias as de proteção

ao trabalho:

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Art. 444 - As relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre

estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha às disposições de proteção ao t rabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam aplicáveis e às decisões das autoridades competentes.

Os empregadores devem respeitar as normas trabalhistas e as disposições

dos acordos coletivos. As estipulações em contrato não sobrepõem às normas

trabalhistas vigentes.

Artigo art. 459, caput e § 1º, da CLT, que estipula o pagamento do soldo até o

até o 5ª dia úti l do mês subseqüente ao vencido:

Art. 459 - O pagamento do salário, qualquer que seja a modalidade do trabalho, não deve ser estipulado por período superior a 1 (um) mês,

salvo no que concerne a comissões, percentagens e gratificações. § 1º Quando o pagamento houver sido estipulado por mês, deverá ser efetuado, o mais tardar, até o quinto dia útil do mês subsequente ao

vencido;

É direito do trabalhador o recebimento do salário, com objetivo de sustento, até o

quinto dia útil do mês subseqüente, isto quando o pagamento não houver sido

estipulado mensalmente.

Igualmente há a Medida provisória n° 74/2002 que posteriormente foi convertida na

lei 10.608/02. Lei esta que dá ao trabalhador resgatado da condição análoga a de

escravo o direito de receber três parcelas de seguro desemprego no valor de um

salário mínimo nacional cada. Posteriormente o mesmo é encaminhado para a

recolocação ao mercado de trabalho pelo SINE – Sistema Nacional de Emprego.

Este cenário se dá para evitar os mesmos erros cometidos no passado,

quando o escravo libertado pelo ser senhor voltava às mesmas condições de

escravo,por não possuir meios de sustento próprio, colocando-o a mesma condição

de submisso novamente.

2.2.3 Trabalho escravo contemporâneo na Lei Penal

Segundo Carlos Henrique Borlido Haddad em seu artigo Aspectos Penal

do Trabalho Escravo, página 56, “O trabalho escravo, como crime, não é a

expressão mais adequada a se adotar”, na verdade o Código Penal trata tal

matéria referenciando-se as condições análogas a escravo, pois ninguém

segundo Haddad pode ser considerado juridicamente como escravo nos dias de

hoje.

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Isso ocorre por que ao pensar em escravo logo vem à cabeça certo

indivíduo acorrentado por bolas de ferro, preso em uma senzala, solto para

trabalhar ou levar chibatadas. Por este motivo logo a palavra crime vem a tona

quando se refere a escravidão.

Entretanto, segundo Bento de Faria (1958, p.335 apud Carlos Henrique

Borlido Haddad, p. 34, afirmava que o dispositivo do art. 149 do Código Penal “é

de pura ornamentação, pois rarissimamente será aplicável”. Isso ocorre por que

há casos em que o trabalhador é encontrado sem que visivelmente se perceba o

trabalho escravo, mas ele está lá, camuflado. Segundo o autor, até o ano de

2003 a figura típica era integral, sem de fato chegar ao cerne do delito. Após

2003 a redação do Código Penal indicou expressamente o que se entende sobre

situação análoga a escravo. O Código não se expressou apenas quanto à

privação de liberdade, mas também deixou claro quanto à submissão a trabalhos

forçados, jornadas exaustivas e condições precárias de trabalho. Todas em

caráter alternativo, preenchendo o tipo legal. (Haddad,2013,p.54).

Logo, se verificado qualquer dos elementos abaixo, já se configura trabalho

escravo.

2.2.3.1 Trabalho forçado

Segundo Carlos Henrique Borlido Haddad, página 57, o nome “trabalho

forçado” teve sua origem na Organização Internacional do Trabalho (OIT), que,

em suas Convenções 29 e 105, utilizou a expressão para tratar do tema.

Compreendia a escravidão e a servidão por dívida como formas tradicionais de

trabalho forçado. A ele equiparava-se o trabalho compulsório, ou seja, o

indivíduo é obrigado a se submeter a exploração, sem conseguir deixar o local

por conta de ameaças físicas e psicológicas.

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2.2.3.2 Jornada Exaustiva

Várias horas de trabalho sem respeitar a jornada citada pela CLT em seu

artigo 58º, prevendo o não excesso a 8 (oito) horas diárias, desde que não seja

fixado expressamente outro limite.

Sem respeitar o descanso semanal e os intervalos inter e intrajornada. Neste

caso, por conta das excessivas horas de trabalho, muitos trabalhadores são

impedidos de conviver com sua família e ambiente social.

A jornada exaustiva vai além das horas extras exigidas pelo patrão, ela

viola a dignidade do empregado, pois causa prejuízos a vida pessoal e social do

individuo.

Segundo Granadeiro Guimaraes apud Tribunal Regional do Trabalho 3ª

Região Minas Gerais, 24.11.2014, a jornada exaustiva defini-se em:

O adjetivo exaustiva pode, aparentemente, designar o cansaço resultante de uma jornada comum. Mas aqui ele se refere a algo mais grave e diferenciado, o que pode ser percebido nas decisões

noticiadas. Não se trata, então, do cansaço que vem do ritmo normal do trabalho, nem da sensação de exaustão que qualquer trabalhador sente ao fim do dia, mas de um abuso na submissão do tempo dele às

necessidades impostas pelo empregador. Portanto, as decisões - e, mesmo, o dissenso entre elas - representam uma passagem importante do caminho para a definição precisa do que seja jornada

extenuante.

Neste caso a exaustão vai muito mais profunda que uma mera canseira

do corpo, ela causa detrimento a vida do empregado. Verificando estes

fundamentos o magistrado pode identificar indícios de rime de Redução à

Condição Análoga de Escravo, na forma do art. 149 do Código Pena l, pois

atenta contra o direito de liberdade individual do trabalhador, além de

desrespeitar diversas normas trabalhistas. (Tribunal Regional do Trabalho 3ª

Região Minas Gerais, 24.11.2014, acesso em 19/10/2016).

2.2.3.4 Servidão por dívida

Como citado no início do trabalho, muitos trabalhadores são colocados a força na

teia emocional da servidão. Obrigados a quitar uma dívida impagável, submetidos a

taxas de juros exorbitantes referentes a transporte, alimentação e moradia. Muitas

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vezes as dívidas são tão altas que sucedem o trabalhador, passando para sua prole

a obrigação de quitar uma dívida “imaginaria”.

A dívida reflete em um desequilíbrio no poder entre o trabalho e

empregador, vinculando o empregado a qualquer período de tempo na

prestação do trabalho, podendo ser uma única temporada, anos ou até mesmo

gerações sucessivas como frisado acima.

2.2.3.5 Condição de Trabalho e de Vida Abusivos

Os trabalhos podem ser realizados sob condições degradantes, perigosos,

insalubres e sem qualquer privacidade. O que acontece é que muitas vezes por falta

de oportunidade os trabalhadores aceitam “voluntariamente” estas condições

abusivas. Condições estas que alertam para uma possível coerção dos

trabalhadores que os impedem de deixam o trabalho.

De acordo com o artigo 149 do Código Penal Brasileiro:

Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer

submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida

contraída com o empregador ou preposto: Pena – reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência;

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;

II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. § 2o A pena é aumentada de metade, se o crime

é cometido: I – contra criança ou adolescente; II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.

Anteriormente colocar alguém em condição de escravo equiparava-se a

cárcere privado, pois era tomado dele uma das graças mais pertinentes ao ser

humano, a sua liberdade.

Com a definição do código penal de 1940, era necessário investigar a real

condição de vida dos escravos, para a partir deste momento identificar se de fato

a vítima recebia tratamento como tal. (Haddad, página 8)

De acordo com (ARAÚJO JÚNIOR, 2006, p. 15-6):

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Até o advento da nova redação do art. 149 do Código Penal, o tipo fazia referência apenas a reduzir alguém a condição análoga a de

escravo, o que podia ser compreendido como o fato de o sujeito transformar a vítima em pessoa totalmente submissa a sua vontade, como se escravo fosse, mas, a partir da nova redação, o crime passou

a poder caracterizar-se independentemente da privação de liberdade. Não há mais necessidade de recorrer ao art. 7o, item 2, “c”, do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional para obter o conceito de

escravidão – o exercício de algum ou de todos os atributos do direito de propriedade sobre um indivíduo, incluindo o exerc ício desses atributos no tráfico de pessoas, em particular mulheres e crianças – a

fim de aferir o enquadramento da conduta ao tipo penal, especialmente porque não se deve confundir a escravidão com a condição análoga a de escravo. O ordenamento jurídico vigente não visa conceituar nem

punir o trabalho escravo no sentido estrito do termo, mas dar ao tema tratamento mais abrangente; tanto é verdade que a expressão empregada é a de “condição análoga a de escravo”.

Como se observa, a imputação de crime não se restringe apenas ao direito

tolhido da liberdade de ir e vir apenas, mas adentra ao campo do direito de

liberdade de escolha, de decisão de como, onde e quando fizer.

Nota-se grande desequilíbrio de força entre os trabalhadores e

empregadores, pois vendo o trabalhador que se encontra em situação

degradante de trabalho, que está restrito de sua locomoção por conta de dívidas

contraídas com passagem, alimentação e acomodação, que seus documentos

encontram-se retidos, vê-se em uma situação na qual não consegue se

desvencilhar nem do local e nem do empregador, que extrai do trabalhador toda

sua força, ultrapassando muitas vezes de seus limites físicos, com o objetivo de

lucrar.

O Código Penal expõe em outros artigos as punições cabíveis para outros

tipos penais.

Contra a liberdade do contrato de trabalho e a boicotagem violenta:

Art. 198 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a celebrar contrato de trabalho, ou a não fornecer a outrem ou não adquirir de outrem matéria-prima ou produto industrial ou agrícola:

Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.

Casos em que o empregador constrange o empregado com violência a

celebrar o contrato de trabalho. Isso ocorre quando o trabalhador chega ao local

de labuta e se vê obrigado a cumprir determinada tarefa.

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33

Contra os direitos assegurados por lei trabalhista:

Art. 203 - Frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do trabalho: Pena - detenção de um ano a dois anos, e multa, além da pena

correspondente à violência. § 1º Na mesma pena incorre quem: I - obriga ou coage alguém a usar mercadorias de determinado

estabelecimento, para impossibilitar o desligamento do serviço em

virtude de dívida; II - impede alguém de se desligar de serviços de qualquer

natureza, mediante coação ou por meio da retenção de seus documentos pessoais ou contratuais. § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é

menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental.

Há empregadores, conforme explanado no texto, que obrigam os

empregados a comprarem de determinados fornecedores, coagindo-os ao

pagamento de uma divida superfaturada.

Do aliciamento de trabalhadores de um local para outro território nacional:

Art. 207 - Aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra localidade do território nacional:

Pena - detenção de um a três anos, e multa. § 1º Incorre na mesma pena quem recrutar trabalhadores fora da localidade de execução do trabalho, dentro do território nacional,

mediante fraude ou cobrança de qualquer quantia do t rabalhador, ou, ainda, não assegurar condições do seu retorno ao local de origem § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é

menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental.

O aliciamento de trabalhadores é efetuado através dos “gatos” que prometem

condições dignas de emprego, mas ao chegar ao local de trabalho, deparam-se

com condições precárias para a sobrevivência.

2.3 POLITÍCAS PÚBLICAS

Em 2003 o Governo Federal lançou o Plano Nacional Para a Erradicação

do Trabalho Escravo, com objetivo de erradicar com todos os meios de trabalho

forçado. As medidas consistem em setenta e seis metas, e devem ser cumpridas

pelos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

O Plano Nacional Para a Erradicação do Trabalho Escravo possui seis

níveis de ação e incluem em sua atuação tanto as instituições governamentais

quanto a sociedade civil.

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O Plano Nacional Para a Erradicação do Trabalho Escravo possui seis níveis de ação que podem ser assim agrupados: 1) as ações gerais; 2)

as melhorias na estrutura administrativa do Grupo de Fiscalização Móvel; 3) as melhorias na estrutura administrativa da ação policial; 4) as melhorias na estrutura administrativa do Ministério Público Federal e

do Ministério Público do Trabalho; 5) as ações específicas de promoção da cidadania e combate à impunidade e; 6) as ações específicas de conscientização, capacitação e sensibilização. Em 2008,

foi lançada a segunda versão do Plano Nacional e representa uma ampla atualização do primei ro, que incorpora cinco anos de experiência e introduz modificações significativas decorrentes dos "locais de

combate" contra essa forma ilegal de trabalho no País (LIMA, SOTO e

CORRÊA, 2009)

O combate a escravidão inicia-se na constatação in loco dos Grupos

Moveis de Fiscalização verificando se as denúncias são verídicas. Estas equipes

são coordenadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego e já libertaram muitos

trabalhadores do regime de trabalho forçado no Brasil (Sakamoto, 2016).

A competência para o julgamento de crimes contra a organização do

trabalho é de competência do Ministério Público Federal e a Justiça Federal,

entretanto as sentenças criminais resultam no pagamento de indenizações e não

em prisões dos causadores do trabalho escravo.

A OIT tem representação no Brasil desde a década de 50, promovendo

atividades que melhoraram as condições de trabalho, a ampliação da proteção

social e a promoção de Normas Internacionais do Trabalho e Emprego. A OIT no

Brasil tem se caracterizado pelo apoio de forças políticas quanto ao trabalho

escravo, ao trabalho infantil e ao tráfico de pessoas com fim de exploração

sexual e comercial, à igualdade de oportunidades tratamento de gênero e raça

no trabalho e à promoção de trabalho decente para os jovens (OIT).

A ONU posicionou tecnicamente sobre o tema trabalho escravo,

afirmando que o 8Brasil avançou positivamente na erradicação de trabalho

escravo, ratificando as Convenções nº 29 e 105 da OIT e demais tratados

internacionais de direitos humanos sobre o tema.

Outro instrumento que combate o trabalho escravo é a lista suja. Este

cadastro foi regulamentado pela portaria 1.234 de 2013 do Ministério do

Trabalho e Emprego, em substituição sobreveio a portaria 540, e pôr fim a

portaria Interministerial n.º 2, de 12 de maio de 2011, documento atual.

8 Dados do site: https://nacoesunidas.org/onu-lanca-posicao-tecnica-sobre-trabalho-escravo-no-brasil/

Acesso em 13/10/2016.

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A lista suja foi criada com o intuito de divulgar o nome das empresas que

utilizam-se de mão de obra escrava em suas produções, quando fiscalizados

pelo Ministério Público. Neste contexto, a jornalista Camilla Costa assevera:

A partir da chamada "lista suja", empresas e bancos públicos que assinaram o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo

podem negar crédito, empréstimos e contratos a fazendeiros e empresários que usam trabalho análogo ao escravo. (COSTA, 2015, p 7).

Cabe ao Estado garantir aos seus cidadãos proteções contra grupos que

não cumprem os direitos trabalhistas, desta forma, o trabalho passa sim a

cumprir sua existência fundamental, que é garantir ao trabalhador melhoria de

vida através do fruto de seu braço.

3 ANÁLISE DOS QUESTIONARIOS

Os questionários ministrados foram direcionados para qua lificar quanto ao

conhecimento de um grupo de pessoas sobre o trabalho escravo no Brasil.

Difícil é constatar a alienação de uma parcela da sociedade, e mais difícil

ainda acreditar que muitos destes passaram ou ainda estão passando por

cadeiras de um curso superior.

O grupo de pessoas escolhidas foi de 18 a 30 anos, com uma faixa

salarial de R$ 886,00 (oitocentos e oitenta e seis reais), um salário mínimo. Esse

grupo foi escolhido com o objetivo de verificar o entendimento quanto à

escravidão, já que a classe E segundo o IBGE é a classe pobre, mas não

extremamente pobre, está mais suscetível a situações trabalhistas que possam

levar ao infortúnio de trabalho escravo.

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36

Dos sessenta entrevistados, 57% possuem curso superior, dentre eles

direito, engenharia, serviço social, nutrição, pedagogia, arquitetura e a maior

parcela, administração de empresas, contento ramos como ciências contábeis e

economia.

Já quanto à existência sobre mão de obra escrava, muitos alegaram que

possuíam conhecimento quanto a essa pratica, mas nem todos no momento da

pesquisa sabiam que o Brasil também possui casos de pessoas em regime de

escravidão.

37%

23%

13%

27%

IDADE DOS ENTREVISTADOS

18 A 23 ANOS 24 A 27 ANOS 28 A 30 ANOS MAIS DE 30 ANOS

57%

43%

GRAU SUPERIOR

SIM NÃO

17%

18%

12%

29%

6% 6%

6% 6%

CURSOS

NUTRIÇAO PEDAGOGIA SERVIÇO SOCIAL ADM

ENGENHARIA DIREITO ENFERMAGEM ARQUITETURA

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Segundo a OIT em 2011, 21 milhões de pessoas eram vítimas de trabalho

escravo pelo mundo, dentre estas 155 mil pessoas segundo a 9ONG Walk Free

estão sendo subjugadas no Brasil. Hoje em 2016 a mesma ONG Walk Free

estimou que no Brasil o número de pessoas submetidas à escravidão foi elevado

para 161,1 mil pessoas.

Dentre os entrevistados 7%, ou seja, das trinta pessoas entrevistadas,

duas desconheciam totalmente esta prática. Logicamente que a escravidão

contemporânea não é um tema abordado em nosso cotidiano com frequência e

até mesmo com a atenção que ela necessita.

Os outros 93% conheciam quanto à escravidão, mas segundo a grande

maioria, imaginavam que a servidão era a mesma do ano de 1.800, no qual as

pessoas eram acorrentadas por bolas de ferro e grilhões, sendo açoitados pelos

capatazes e presos em senzalas.

Entretanto conhecer a escravidão não implica em conhecer de fatos

pessoas neste regime cruel para a dignidade humana.

9 Site http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/11/141117_escravidao_brasil_mundo_pai , acesso em

10/10/2016 às 20:30.

93%

7%

EXISTÊNCIA DE TRABALHADRES ESCRAVOS NO BRASIL

SIM NÃO

33%

67%

EXISTENCIA DE MAIS DE 100 MIL TRABALHADORES ESCRAVOS NO BRASIL?

SIM NÃO

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A grande maioria das pessoas desconhecem que situações de retenção

parcial ou total de salários, privação de momentos de descanso, controle

excessivo sobre a produtividade e restrição de circulação também são análogas

a escravidão.

Durante a pesquisa muitos se virão nas situações supracitadas, outros até

relataram que trabalharam em empresas que praticavam tais atos claramente

em desfavor dos funcionários.

Quanto à pesquisa sobre a idade dos trabalhadores escravos no Brasil,

foi inserido várias faixas de vida, justamente para procurar identificar se os

pesquisados possuíam conhecimento que a escravidão não é preconceituosa,

ela abarca todas as idades, credos e raças.

A pesquisa mostrou que a grande maioria dos entrevistados acredita que

a escravidão ocorre na fase infantil, visto a venerabilidade das crianças diante do

adulto.

Entretanto, o trabalho forçado não faz acepção de pessoas ou idade, ele

mina a essência do indivíduo que diante de tamanho desanimo defronte ao

futuro se vê obrigado a aceitar ofertas de trabalho, que em um primeiro momento

aparentam ser a salvação para a miséria que o acomete, mas chegando ao local

de trabalho, depara-se com condições degradantes de subsistência.

27%

73%

CONHECE PESSOAS EM TRABALHO ESCRAVO?

SIM NÃO

44%

13% 13%

30%

IDADE DO TRABALHADOR ESCRAVO

O7 A 12 ANOS 15 A 20 ANOS 20 A 44 ANOS OUTRAS IDADES

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Quanto a concentração do trabalho escravo nas regiões do Brasil, muitos

dos entrevistados apontaram a região do Nordeste como principal celeiro de

trabalho forçado.

Contudo, segundo o mapa abaixo a região com maior com denúncia de

trabalhadores em situação de escravidão é região Norte. Segundo o Júlio Hato,

geografo, formado pela USP, o pico mais elevado de libertações ocorreu na

região do Pará, mas estende-se também até Rondônia, conforme figura abaixo:

Figura extraída do site Eco Debate

56%

16%

6%

6%

16%

REGIAO DE MAIOR CONCENTRAÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO

NORDESTE NORTE SUDESTE E SUL CENTRO OESTE MUNDO TODO

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Outro dado elencado foi quanto à punição de crimes contra a dignidade

humana, 53% dos pesquisados acreditam que sujeitar alguém ao trabalho

escravo é desumano, contudo, a punição não acontece de forma efetiva, pois

segundo eles quem escraviza são pessoas de posses na sua grande maioria

pessoas com poder aquisitivo importante, sendo assim, não irão para as

penitenciarias públicas.

Conforme se citou no tópico Trabalho escravo contemporâneo na Lei

Penal, a reforma do CP em 2013 deixou a lei clara para a punição de crimes

para quem reduz alguém análogo a escravo dividindo-o em quatro tópicos:

servidão por dívida, condições subumanas de trabalho, jornada exaustiva e

impossibilidade de deixar o local da labuta.

O CP dispõe pena de dois a oito anos e multa. O aliciamento de

trabalhadores para outro território nacional consiste na pena de detenção é de

um a três anos e multa, conforme o artigo 207 do CP. A pena é aumentada de

1/6 a 1/3, se a vítima for menor de dezoito anos, gestante, indígena ou portadora

de doença mental ou física.

Quanto as propriedade em que forem localizados trabalhadores escravos,

a lei prevê em seu art. 243 na CF, devem ser expropriadas e destinas a

habitação social e reforma agraria, sem indenização ao proprietário.

Outra forma de punição aos empregadores que descumprem as leis

trabalhistas é a Lista Suja, criada pela Portaria Interministerial n. 2, de 12 de

maio de 2011, do Ministério do Trabalho e Emprego e da Secretaria de Direitos

Humanos da Presidência da República. A lista consta o nome dos infratores que

sujeitaram outrem a escravidão. A lista não é flexível, os nomes são retirados e

colocados novamente de acordo com a regularização ou não dos atos.

47% 53%

PUNIÇÃO PARA O TRABALHO ESCRAVO

SIM NÃO

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É inconcebível a utilização de mão de obra escrava na confecção de

alguns produtos que consumimos. Logicamente que o capitalismo nos

impulsiona as compras sem necessidade e sem consciência.

Nem todos estão atentos as marcas que possuem sangue humano em

suas costuras, poucos, ou melhor, como a pesquisa mostrou nenhuma das

pessoas entrevistadas pesquisa qual a procedência do produto antes da compra.

As manchetes contendo reportagens sobre marcas de roupas e brinquedos e até

mesmo a fabricação de chocolates que se utilizam de mão de obra escrava para

baratear o custo, mas posteriormente superfaturar o preço com o objetivo de

lucro nada mais que o lucro, não é veiculado com apreço necessário, logo, não

alcançam uma parcela significativa da população, ou seja, a parcela C, D e E

são as que mais consomem inconsequentemente segundo uma pesquisa da

10Data Popular em parceria com a Serasa Experian.

Hoje há vários incentivos para o consumo de produtos sustentáveis.

Exemplo se dá ao aplicativo 11Moda Livre que orienta a compra em lojas com

visão social e preço justo, buscando uma venda e compra com conhecimento da

procedência da marca. Incentivando a troca de modelos que estão parados no

armário e o consumo consciente de seus usuários.

Ao final da pesquisa a indagação foi efetuada quanto a visão que cada

pesquisado possuía quanto a escravidão. E a resposta predominante foi que a

escravidão é um abuso contra outro ser humano. Em que pese a escravidão é

considera crime contra a humanidade, apenas 3% dos entrevistados enxergam a

mesma como tal.

10

Dados retirados do site http://brasil.elpais.com/brasil/2014/02/18/politica/1392738180_760953.html. 11

Dados retirados do site http://akina.jusbrasil.com.br/artigos/137113022/escravos -da-moda-quem-se-importa-com-a-procedencia. Acesso em 10/10/2016 às 22:04

100%

PESQUISA DE PROCEDÊNCIA DO PRODUTO

SIM NÃO

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Mas conforme Wal Águia Esteves, “Nós não fomos ensinados à enxergar

a verdade! O sistema nos ensinou a ser cegos, só abrem os olhos quem não se

permite ser enganado.” Sé enxerga a atrocidade quem se permite enxergá-la e

entende-la, quem está atento com os acontecimentos a sua volta, quem se

importa com o outro, mesmo diretamente não podendo lutar, mas indiretamente

boicotando empresas que utilizam-se de mão de obra escrava para a confecção

de seus produtos.

10%

37%

3%

50%

VISÃO SOBRE A ESCRAVIDÃO

NDA INJUSTO CRIME ABUSO

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sociedade pode ser obscura quando se trata de lucro. Pessoas

subjugam outras para o beneficio próprio buscando seu bem estar, sem se

importar se esse “bem estar” afetará a vida ao seu entorno.

Difícil é verificar que um tema tão antigo ainda assombra pessoas em

todo o mundo, colocando-os na posição de servos de algum. Pensamento

arcaico, mas tão contemporâneo no mundo real.

As leis são claras, mas não conseguem atuar de fato, pois o que se

observou é que o “empregador” na maioria das vezes tem um poder capital que

consegue impeli-lo de ser punido. Coloca-o em uma posição de infrator e não de

criminosa. Terras que deveriam ser expurgadas de suas mãos, não são, pois

ainda há uma grande confusão nas decisões judiciárias.

O mundo não está preocupado com seu próximo, o que vale é consumir

cada vez mais, mesmo que o produto esteja marcado pelo sangue de outras

pessoas.

O que se vê é uma sociedade que esconde a ferida, não procura saber

sobre o que ocorre no mundo, às vezes em seu próprio bairro. Fácil é fechar os

olhos e não querer observar o entorno, difícil é encarar que a escravidão

acontece muitas vezes do nosso lado.

Enfim, a escravidão não acabou! Antes era o negro, a descendência do

negro. Hoje é o ser humano, de qualquer raça, credo ou etnia. E como dito no

transcorrer do texto, a escravidão ocorre na alma, não mais apenas no

corpo,marcando cidadãos que muitas vezes a lei não consegue libertar e

acabam desfalecendo na mão de quem pode mais.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ttp://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/11/141117_escravidao_brasil_mund

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BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.

Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 235 p.

BRASIL EL PAÍS. Brasil de Todos. Disponível em: site

http://brasil.elpais.com/brasil. Acesso em 09 de outubro de 2016.

BELISÁRIO, Luiz Guilherme. A redução de trabalhadores rurais à condição

análoga à de escravo: um problema de direito penal trabalhista. São Paulo: LTr,

2005.

BRAVERMANN, Harry. Trabalho e capital monopolista. A degradação do

Trabalho no Século XX. 3ªed., Rio de Janeiro, 2011.

BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro. Trabalho decente: análise jurídica da

exploração do trabalho. São Paulo: LTR, 2013.

COTRIM, Gilberto. Historia Global: Brasil e geral. São Paulo: Saraiva, 2002,

DEJOURS, Christophe. Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisas.

São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007

CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e Escravidão no Brasil. Edição II

DICIONÁRIO. Tradução de Jurema Alcides Cunha. Porto Alegre: Globo, 1970.

DO TRABALHO. Anais da oficina: trabalho escravo – uma chaga aberta.

Organização Internacional do Trabalho – Brasília: OIT, 2003.

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DELGADO, Gabriela Neves. Direito Fundamental ao Trabalho Digno. São Paulo:

LTr, 2006.

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 6ª ed, São Paulo:

LTR, 2007.

ESCRAVO NEM PENSAR. Escravo nem pensar. Disponível em: WWW. Escravo

nem pensar. Com.br. Acesso em 23 de agosto de 2016.

FERNANDES, Florestan. Análise demográfica da População. In:______.

Mudanças sociais no Brasil. São Paulo: Difel, 1960. Cap. 7, item 1, p. 203-209.

FLORENTINO, Manolo. São Paulo: Alameda Casa Editoral, 2005.

HADDAD, Carlos Henrique Borlido. Aspectos Penais do Trabalho Escravo.

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JUS BRASIL. Escravos da Moda. Disponível em: http://akina.jusbrasil.com.br.

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LEITE, Carlos Henrique Bezerra Leite. Curso de Direito Processual do Trabalho.

5ª ed., São Paulo: LTR, 2007.

NASCIMENTO, Raimundo Carlos Bandeira. Estudos de História Moderna e

Contemporânea. São Paulo: LTR, 2007.

NAÇÕES UNIDAS. Escravo. Disponível em: . Acesso em 13 de outubro de

2016.

OLIVEIRA, Ieda. As Cores da Escravidão. Edição I. Local: Rio de Janeiro.

Editora: Vivermos. Ano: 2015;

NAÇÕES UNIDAS, Trabalho Escravo. Disponível em: https://nacoesunidas.org.

Acesso em 22 de agosto de 2106.

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ANEXOS I

Conjunto de questionários para inicialmente identificar o

público alvo da pesquisa e uma previa amostra sobre o

quanto conhecem da escravidão contemporânea.

QUESTIONARIO PARA A CONCLUSÃO DO CURSO DE DIREITO

TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORANEO NO BRASIL

1. Você sabia que ainda há trabalho escravo no Brasil? SIM NÃO

2. Você sabia que existe mais de 100.000 mil trabalhadores escravos no Brasil? SIM NÃO

3. Qual idade ocorre o trabalho escravo em sua concepção?

07 a 12 anos 15 a 20 anos 20 a 44 anos outra idade

4. Você acredita que existe punição para trabalho escravo?

SIM NÃO

5. Que região você acredita que se concentra o trabalho escravo?

_______________________________________________________________________

6. Quantos anos você possui?

18 a 23 anos 24 a 27 anos 28 a 30 anos mais de 30 anos

7. Você possui ensino superior?

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_____________________________

8. Que curso? _____________________________

ANEXO II

Segundo conjunto de questionários para identificar a

percepção do público alvo quanto à escravidão

contemporânea.

PESQUISA TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO

1 . Você acredita que retenção parcial ou total de salários é um meio de trabalho

escravo?

( ) sim ( ) não

2. você possui conhecimento de pessoas vivendo em trabalho escravo?

( ) sim ( ) não

3. já presenciou casos ou soube de pessoas que trabalhavam muito e recebiam

um salário não condizente com a função?

( ) sim ( ) não

4 . Como você enxerga a escravidão do ser humano?

_________________________________________________________

_________________________________________________________

5 . Você pesquisa a procedência dos produtos que compra com o fim de saber

se eles são fruto de trabalho escravo?

( ) sim ( )não