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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ ELIZIANE PORTELLA O VISLUMBRE DO PATRIMÔNIO NA VIRADA CULTURAL DE CURITIBA CURITIBA 2016

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

ELIZIANE PORTELLA

O VISLUMBRE DO PATRIMÔNIO NA VIRADA CULTURAL DE

CURITIBA

CURITIBA

2016

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ELIZIANE PORTELLA

O VISLUMBRE DO PATRIMÔNIO NA VIRADA CULTURAL DE

CURITIBA

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de História da Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciatura em História.

Orientador: Prof. Pedro Oscar Valandro

CURITIBA 2016

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Gratidão. É a palavra que expressa meu sentimento aos que me

acompanharam nesse percurso. Obrigada pelos pequenos gestos de carinho e

pelas injeções de ânimo.

Agradeço ao professor Pedro Oscar Valandro por sua ajuda providencial nesse

trabalho e por sua presença em toda minha vida acadêmica. Agradeço a

professora Valéria Pilão por apostar nessa pesquisa desde seu início e pelo

apoio depositado em todos os momentos. Agradeço a professora Viviane Zeni

por encorajar minha volta ao curso e suas palavras de fortalecimento.

Agradeço a professora Liz Andréa Dalfré por sua paciência e incentivo.

Agradeço aos demais professores do curso que colaboraram para esse

desfecho. Agradeço a Marili Azim por conceder entrevista para o

desenvolvimento desse trabalho. Agradeço aos funcionários da Casa da

Memória por sua prontidão, em especial ao colega Matheus Vasconcelos.

Agradeço aos colegas e amigos que fiz durante esse período. Agradeço pelas

experiências e lembranças que sempre guardarei com muito apreço.

Agradeço ao meu bem, que me acompanhou todos os dias e os iluminou com

seu sorriso.

Agradeço ao meu Pai Ogum, aos meus Guias e Orixás, e à família que escolhi

dentro da Umbanda.

Agradeço à minha mãe (In Memoriam) por me ensinar a ter firmeza e coerência

em minhas atitudes, por moldar meu caráter e mostrar que a vida se conquista

com humildade e honradez.

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RESUMO

Este trabalho tem como análise central a utilização de bens patrimoniais da cidade de Curitiba no evento da Virada Cultural. Tendo em vista a reflexão sobre as práticas de valorização do patrimônio, esse estudo colabora para a pesquisa histórica por seu teor político e social acerca dos questionamentos levantados sobre a integração desses bens na cidade. Pautando-se nas considerações de David Harvey sobre as transformações no espaço urbano e o aproveitamento do patrimônio para a economia da cidade. A investigação desenvolvida durante a pesquisa permitiu observar o propósito da inserção dos patrimônios no cenário cultural de Curitiba e o estabelecimento de práticas para incentivar a economia por meio do consumo turístico e cultural. Observando a atuação da parceria público-privada que colabora na promoção da cidade e resulta em investimentos no município.

Palavras-chave: Patrimônio. Virada Cultural. Economia. Público-privada. Investimentos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 6

1. PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO EM CURITIBA ................................................................. 9

1.1 O PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARQUITETÔNICO DENTRO DA VIRADA CULTURAL ..................................................................................................................................... 17

2. ESTRATÉGIAS DE INTEGRAÇÃO ........................................................................................... 24

2.1 O USO ECONÔMICO DOS PATRIMÔNIOS ...................................................................... 32

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 40

FONTES............................................................................................................................................... 43

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 43

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................. 44

ANEXOS .............................................................................................................................................. 47

ANEXO A – MAPA DO SETOR HISTÓRICO DE CURITIBA .................................................. 48

ANEXO B – REPORTAGEM VIRADA CULTURAL .................................................................. 49

ANEXO C – INFORME SOBRE REVITALIZAÇÕES ................................................................ 50

ANEXO D – PROPAGANDA POLÍTICA CULTURAL ............................................................... 51

ANEXO E – MAPA VIRADA CULTURAL 2010 ......................................................................... 52

ANEXO F – MAPA DA VIRADA CULTURAL 2011 ................................................................... 53

ANEXO G – MAPA VIRADA CULTURAL 2012 ......................................................................... 54

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INTRODUÇÃO A Virada Cultural de Curitiba está intimamente ligada ao movimento Corrente

Cultural1, como consta nos relatórios sobre a campanha o intuito desses dois

projetos é promover e valorizar a cultura local. A Corrente Cultural surgiu como

iniciativa da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) no ano de 2009, resultado da

parceria entre instituições públicas e privadas. (RELATÓRIO CORRENTE

CULTURAL, 2009)

O acontecimento da Virada Cultural teve sua primeira versão em novembro

de 2010, consequência de uma proposta da ex-vereadora Renata Bueno, do Partido

Popular Socialista (PPS), com a colaboração do vereador Caíque Ferrante, do

Partido Republicano Progressista (PRP) e do então presidente da FCC, Paulino

Viapiana. O formato desse primeiro evento também contou com a participação do

diretor executivo da Virada Cultural paulistana, José Mauro Gnaspini.

Segundo a Prefeitura de Curitiba, outro objetivo é incentivar a população que

ocupem os espaços culturais da cidade. Em geral, as produções acontecem em

locais abertos da capital, de fácil acesso e locomoção. Algumas apresentações

ocorrem em organizações internas, menores e com um escopo diferenciado. Os

principais envolvidos na elaboração do evento são a Secretaria de Estado da Cultura

(SEEC), a Fundação Cultural de Curitiba (FCC) e o Sistema Fecomércio Sesc Senac

Paraná e o Sistema Fiep – Sesi. (CURITIBA, 2016)

Alguns pontos escolhidos para as manifestações são considerados bens

culturais da cidade, pode-se destacar: Praça da Espanha, Ruínas de São Francisco,

rua Riachuelo, Boca Maldita e Rua XV de Novembro.

Sendo assim, por que a seleção de palcos da Virada Cultural de Curitiba

privilegia espaços com valores patrimoniais e/ou históricos? Será discutido como os

aparelhos culturais da cidade buscam preparar o ambiente urbano para seus

visitantes e reforçar a imagem modelo do local. Seguindo a lógica do city-marketing

1 Corrente Cultural é um movimento criado em 2008 pela Fundação Cultural de Curitiba em parceria com instituições privadas com o intuito de promover ações culturais durante um determinado período do ano na cidade de Curitiba, sua primeira versão aconteceu em 2009. A Virada Cultural, é uma ação dentro desse movimento. Ganha maior destaque por proporcionar acesso à atividades maiores, em locais de fácil locomoção para o grande público, entrou na programação da Corrente Cultural no ano de 2010.

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a utilização de um planejamento urbano ou plano diretor, pode auxiliar na criação de

uma identidade para a cidade, tornando-se um empreendimento e utilizando

políticas culturais para sua promoção. Nesse caso, como aponta Otília Arantes, a

própria cidade torna-se um produto, uma mercadoria. (ARANTES, 2000)

Segundo Sánchez, as cidades-modelo são construídas através do agir

simultâneo e combinado dos governos locais, de atores hegemônicos e de agências

multilaterais, que agem em escalas regional, nacional e global. Esses atores

passam, portanto, a estabelecer mediante discursos e meios de difusão, imagens e

representações sobre a cidade. (SÁNCHEZ, 2001)

A requalificação de variados espaços urbanos para o consumo, seja para

habitação ou atividades dos mais variados setores, aparece junto com a

necessidade de valorização de bens culturais e especificidades locais, ganhando

título de fator indispensável na apresentação da cidade.

Para entender esse cenário, os panfletos distribuídos pelos organizadores do

evento, com a programação das apresentações e seus respectivos locais, serão

utilizados como fonte a fim de mapear a estrutura dos shows e analisar a escolha

dos espaços. Esse material foi distribuído gratuitamente em todas as edições (2010

a 2014), nele contém as atrações já separadas por palcos, os horários de cada

espetáculo, os realizadores e patrocinadores, quem promove e apoia.

Também considerados fontes para essa pesquisa o Plano Diretor de Curitiba

e suas respectivas revisões, leis e decretos referentes à proteção e preservação do

patrimônio, relatórios da Corrente Cultural disponibilizados pela Fundação Cultural

de Curitiba, o Guia Curitiba Apresenta disponível no site da FCC e entrevista

concedida por Marili Azim atual diretora do setor de Patrimônio Cultural da FCC.

Esse trabalho pretende analisar como os patrimônios históricos de Curitiba se

relacionam com as políticas intervencionistas de revalorização da cidade e com os

eventos ao seu redor. Analisando a Virada Cultural como um dos projetos anuais da

cena municipal, que destaca locais considerados redutos da imagem coletiva dos

curitibanos.

Nesse sentido, o seu teor político e social se torna relevante para a pesquisa

histórica a fim de discutir as formas utilizadas para valorização desses patrimônios.

Faz-se necessário uma análise crítica com relação à integração desses espaços na

vida cotidiana, uma observação sobre a forma que o evento tenta auxiliar na

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promoção da preservação real desses locais e se existe a preocupação em

favorecer sua função histórica.

Até que ponto um monumento deve ser resguardado e preservado? Por um

lado, corre-se o risco do desuso e por outro a exposição em larga escala. Essa

relação é complexa, pois não se trata apenas de levar em consideração o estado

material do edifício, mas também o uso de seus símbolos e significados (CHOAY,

2001).

Para o estudo proposto no trabalho, David Harvey foi utilizado como

norteador na discussão de cidade desenvolvida no texto. A análise foi pautada em

um capítulo especifico chamado “Do administrativismo ao empreendedorismo: a

transformação da governança urbana no capitalismo tardio” contido em seu livro “A

Produção Capitalista do Espaço” (2006).

Para Choay, o patrimônio arquitetônico funciona como uma espécie de

materialização da memória coletiva, ela também destaca que o crescimento recorde

das práticas de conservação e seus respectivos objetos, podem ter efeitos

negativos, especialmente o uso turístico desses bens. A autora também salienta o

caráter econômico associado ao patrimônio e a sua adaptação para novos usos

(CHOAY, 2001).

Portanto, a cidade passou a ser apresentada como produto de consumo

turístico e cultural com a intenção de atrair investimentos. Os equipamentos culturais

e as revitalizações urbanas, relacionados a grandes eventos internacionais,

constituem o que David Harvey denomina “empreendedorismo urbano”. Nesse caso,

a realização dos grandes eventos produzidos através do city marketing proporciona

oportunidades de promoção das cidades e de aproveitamento estratégico para a

reestruturação econômica, despertando o grande interesse nesses tipos de

intervenções.

O presente trabalho está dividido em dois capítulos, o primeiro tem como

parte integrante de sua discussão a identificação dos palcos em quatro anos do

evento da Virada Cultural (recorte temporal analisado no trabalho), bem como

contextualiza o leitor sobre as políticas direcionadas ao patrimônio histórico e seu

desenvolvimento em Curitiba.

No segundo capítulo, a análise se concentra nos motivos que levaram à

escolha dos espaços onde as estruturas dos palcos foram fixadas, quem são os

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envolvidos nessa elaboração e quais os parâmetros que estabeleceram a

preferência por esses pontos.

1. PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO EM CURITIBA

Em busca de aprofundar os conhecimentos sobre a estrutura urbana e a

preservação do patrimônio em Curitiba e verificar o seu uso no evento da Virada

Cultural, esse capítulo procura esquematizar um breve histórico sobre o processo de

reconhecimento e valorização do patrimônio dentro da cidade.

Visto como pertinente para esse estudo, o início de ações públicas para

conservação de bens patrimoniais traz uma noção compartilhada desse aspecto,

uma vez que sua gestão se dá nas esferas federal, estadual e municipal.

A preocupação com a instituição de políticas de preservação começou em

Curitiba no ano de 1943 com o Plano Agache, que tinha por objetivo estabelecer

diretrizes para ordenar o crescimento da cidade, mostrando de forma breve,

alternativas de administração dos bens patrimoniais. Consta no documento que seria

de bom tom proteger o patrimônio histórico e paisagístico da cidade, essa afirmação

é seguida pela seguinte frase: “para que possam ser conservadas as reminiscências

e as tradições valiosas do esforço humano em todas as épocas, legando às

gerações vindouras um patrimônio de valor inestimável”. (IPPUC, 1943, p. 4)

É sabido que o país possui uma legislação de proteção a bens culturais desde

19372, o desenvolvimento de instituições e órgãos específicos de preservação foi

crescendo, no final da década de 1970 reacendeu-se o debate sobre as raízes da

identidade cultural do país e órgãos responsáveis pelo patrimônio buscaram

aprofundar as políticas de preservação (ARAÚJO, [2007-? ], p.irreg).

Não foi diferente com Curitiba, esse processo iniciou sua consolidação em

1965 com a criação do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba

(IPPUC), responsabilizando-se na época pela implantação e gerenciamento do

Plano Preliminar de Urbanismo (1965).

2 Criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - SPHAN

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Uma das diretrizes do Plano era a preservação do centro tradicional, dentro

da proposta se enquadravam quatro áreas consideradas básicas para

transformações simultâneas: a econômica, a física, a social e a cultural. Nesta

última, um dos pontos estratégicos seria a promoção de uma identidade própria,

pautando-se nos referenciais urbanos da cidade. Nesse caso, houve uma grande

movimentação por parte de órgãos públicos para alcançar esse propósito.

Já em 1971, o Decreto Nº 1.160 considerou setor histórico de Curitiba: Praça

João Cândido, Avenida Jaime Reis, Rua Dr. Keller, Praça Garibaldi, Rua Dr. Murici,

Rua do Rosário, Rua Claudino dos Santos, Lago Coronel Enéas, Rua Mateus Leme,

Rua São Francisco, Tv. Júlio de Campos, Praça JB de Macedo, Praça Generoso

Marques e Rua Riachuelo.

O decreto também classifica as edificações em três categorias:

1- Unidades monumentos: maior valor pelo seu significado histórico

e pela expressão arquitetônica;

2- Unidades de acompanhamento: as de menos importância como

obra de arquitetura, contribuem para fisionomia paisagística do setor;

3- Unidades destituídas de importância arquitetônica. (CURITIBA,

1971)

No mesmo ano do Decreto, iniciou-se a revitalização de setores históricos

tradicionais e a delimitação efetiva do centro histórico, que concentra um grande

número de construções do final do século XIX e início do XX. Em 1972, foi criado o

primeiro calçadão exclusivo para pedestres do país, a Rua das Flores. Ainda em

1972, o antigo paiol de pólvora da cidade, localizado no bairro Rebouças3, é

restaurado e usado como novo recurso cultural de Curitiba.

Todo esse resgate foi realizado juntamente com a execução prática do

planejamento urbano do município, nesse aspecto pode-se entender um pouco

melhor a posição da Prefeitura Municipal de Curitiba através de um trecho do

discurso de posse (primeiro mandato) de Jaime Lerner:

Uma cidade é muito mais do que um modelo de planejamento; é muito mais do que um instrumento de política econômica; é muito mais do que um núcleo de polarização social. A alma de uma cidade, a força vital que a faz respirar, progredir, existir – reside em cada um de seus cidadãos, em cada homem que nela aplica e nela esgota o sentido de sua vida. (CURITIBA, 1975, irreg.)

3 O Decreto Municipal Nº 223 de 2003 viabilizou a implantação do projeto Novo Rebouças, com a proposta de diversificar as atividades econômicas do bairro e garantir novos espaços de entretenimento, lazer e cultura por meio da renovação da área.

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Analisando esse discurso e textos presentes no livro “Curitiba: uma

experiência em planejamento urbano” distribuído pelo poder público, é possível notar

que os mesmos buscam evidenciar o pertencimento do cidadão à sua cidade e, suas

perspectivas humanas.

Em 1973 foi criada a Fundação Cultural de Curitiba4 (FCC), sua concepção

tinha como princípios a descentralização da cultura, o estímulo ao estudo da

memória da cidade, às artes e a criatividade, e a preservação do patrimônio

histórico. Sua atuação passou a se entrelaçar com as atividades do IPPUC.

Dessa forma, a instituição tornou-se responsável por alguns espaços

considerados patrimônios públicos por desenvolver ações nesses locais a fim de

integrar a cidade e seus cidadãos e contribuir para o proclamado sentimento de

pertencer.

Essa procura pelo estabelecimento de um sentimento de pertencer, sugere o

esforço que o poder público fez em Curitiba para tornar viável aquilo que havia

planejado. As preocupações com o Patrimônio arquitetônico e histórico, bem como

as ações práticas relacionadas a ele, estão entrelaçadas com as diretrizes do Plano

Diretor da cidade.

O Plano Preliminar de Urbanismo (1965) se tornou Plano Diretor de Curitiba

através de discussões com a comunidade, processo intitulado como “Curitiba do

Amanhã” reuniu associações de bairros, estudantes, sindicatos, entidades

assistenciais, poder público e população em geral. Foi instituído pela Lei Municipal

Nº 2828 de 10 de agosto de 1966.

O Plano Diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal, a

Constituição Federal de 1988 definiu o Plano Diretor como instrumento básico de

política de desenvolvimento e de expansão urbana, e obrigatório para cidades com

mais de vinte mil habitantes (BRASIL, 1988).

As medidas tomadas na área de cultura e patrimônio histórico acompanham o

crescimento da cidade e sua constante ocupação, mecanismos são utilizados para

orientar a expansão urbana e novos equipamentos são criados para o consumo

coletivo, integrando a capital à uma rede de cidades bem-sucedidas.

4 A Lei N° 4545/1973 instituiu a criação da Fundação Cultural de Curitiba destinada a estimular, desenvolver, tomar iniciativas de qualquer natureza, fazendo acordos, contratos, convênios com terceiros a fim de formular a política cultural do município. Bem como a responsabilidade de promover e defender o patrimônio histórico e artístico de Curitiba (CURITIBA, 1973).

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Dentro desse processo de desenvolvimento da eficácia do planejamento

urbano, há um fator extremamente importante: a administração pública. Ocorre que

as alterações mais significativas para a promoção de Curitiba e a construção de uma

imagem forte e positiva, se deram nos mandatos do urbanista Jaime Lerner. Figura

que levou de forma constante a máxima do mundo do chamado city marketing5 :

pensar local e agir global.

Lerner foi prefeito da cidade nos períodos de 1971/75, de 1979/83 e de

1989/92. Em suas administrações Curitiba assumiu um caráter competitivo, por meio

do planejamento integrou-a em uma rede internacional de cidades e atraiu olhares

estrangeiros.

Na sequência de publicações produzidas em seu primeiro mandato, é

possível notar o cuidado com a imagem da cidade. No caderno, “Curitiba: uma

experiência em planejamento urbano”, o folhetim destinado à comunicação traz logo

em sua introdução a informação de que uma cidade deve saber se “vender”; tanto

para seus habitantes como para seus visitantes. Dessa forma, a comunicação ganha

destaque e possibilita a divulgação constante dos atrativos de Curitiba.

Várias gestões se voltaram para a prática de construção e manutenção da

ideia de cidade competitiva e internacional, no governo de Rafael Greca (1993-1997)

esse discurso continuou. Em uma revista intitulada “Curitiba, desenvolvimento com

qualidade de vida” são encontrados esclarecimentos sobre a organização urbana da

cidade, economia, infraestrutura, cultura, lazer, turismo, entre outros. O documento

descreve Curitiba como um dos principais centros de negócios e investimentos

internacionais do Brasil na época, movimento esse que é auxiliado por agentes

facilitadores, como o então Departamento de Assuntos Internacionais6 e Mercosul da

Secretaria Municipal da Indústria, Comércio e Turismo, entre outros (CURITIBA, [19-

? ]).

Nesse período sua prospecção internacional é reforçada por relações e

acordos de coirmandade com cidades estrangeiras e pelo recebimento de eventos, o

texto ainda sugere que algumas organizações foram estrategicamente realizadas em

5 Para Sánchez city marketing é um instrumento das políticas urbanas, relacionado com a promoção das cidades na esfera local, regional e global (SÁNCHEZ, 2001, p.32). Esse tipo de metodologia tem como objetivo agregar valores à cidade, aos olhos de seus moradores e especialmente de investidores externos. 6 Função desempenhada hoje pela Secretaria Municipal Extraordinária de Relações Internacionais e Cerimonial com a finalidade de organizar, promover e executar atividades com autoridades e organizações internacionais, federais, estaduais e municipais. (CURITIBA. 2006)

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Curitiba por sua condição de pólo de irradiação de novas ideias. (CURITIBA, [19-? ],

p.13)

Outro trecho que interessa para essa pesquisa, é o que se direciona para a

cultura. Ganham importância os aparelhos culturais e as atrações presentes no

calendário de evento da cidade, o patrimônio arquitetônico aparece como elemento

de preservação da memória e recurso do ensino das artes. Destacam-se o Solar do

Barão (inaugurado como complexo cultural em novembro de 1980), Casa Romário

Martins (inaugurada como espaço cultural em dezembro de 1973) e Centro de

Criatividade (núcleo cultural inaugurado em dezembro de 1973), que tiveram suas

instalações reaproveitadas para promover a animação da cidade e estimular a

população na ocupação desses espaços.

Conferindo os discursos impressos nesses documentos, em leis, decretos, no

próprio Plano Diretor e comparando com o período que este estudo pretende se

ater, é interessante observar que as práticas de divulgação permanecem parecidas

e contemplam basicamente os mesmos aspectos da cidade. O pensamento de

capital modelo se consolidou na década de 1970 com as inovações urbanísticas e

as ações bem sucedidas com o planejamento, e prossegue até os dias atuais.

Esses elementos fazem parte do Plano Diretor da cidade e constituem a

busca incessante pela manutenção do status de cidade inovadora, atrelado à ideia

de crescimento econômico, daí a importância de reunir atributos que permitam a

inserção da cidade em uma rede internacional de contatos. Segundo Carlos Vainer,

o debate atual sobre a questão urbana tem como nexo central a problemática da

competitividade urbana (VAINER, 2000, p. 76). A noção de competitividade que

aparece nas publicações divulgadas pelas administrações municipais de Curitiba e

citadas aqui neste texto, são peça chave no desenvolvimento de um planejamento

estratégico, pois nesse contexto o objetivo é tornar as qualidades e características

da cidade atraentes o suficiente para possíveis investidores.

Uma das ações praticadas por cidades inseridas nesse meio competitivo é a

revitalização urbana realizada com o intuito de renovar a imagem da cidade e

oferecer opções estratégicas para a ocupação de determinados locais. Um exemplo

prático são os usos destinados aos patrimônios arquitetônicos históricos. Além

desses fatores, essa renovação serve como reforço ao patriotismo cívico, uma vez

que se entrelaça com a identidade urbana do local e pode reafirmar significados

para a população, assim:

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Os monumentos e as esculturas (pelo que representam e pelo prestígio de seus autores), a beleza plástica e a originalidade do desenho de infra-estruturas e equipamentos ou o cuidadoso perfil de praças e jardins proporcionam dignidade à cidadania, fazem a cidade mais visível e reforçam a identidade, incluído o patriotismo cívico de sua gente (BORJA, 1997, p. 14 ap. VAINER, 2000, p. 95)

Nesse sentido, o patrimônio tem dupla função dentro da cidade, transmitir

saberes do passado e conservar a memória, bem como auxiliar na distribuição de

propagandas sobre o município. Françoise Choay chama esse acontecimento de

metamorfose do valor de uso do Patrimônio em valor econômico (CHOAY, 2001,

p.211).

Conforme consta no histórico do planejamento urbano de Curitiba, a intenção

de tornar o Plano em um procedimento autenticamente democrático e pioneiro no

Brasil, esteve presente desde sua concepção.

Curitiba manteve o documento do Plano Preliminar de Urbanismo de 1965 e

houve complementações e detalhamentos para implementação das propostas ao

longo dos anos. Em 1966, o plano recebeu adequações para sua inserção inicial; em

1975 o plano ficou mais detalhado e definiu um novo zoneamento e nos anos 2000 a

lei Nº 9.800/2000 sobre zoneamento, uso e ocupação do solo foi um marco

significativo na política urbana do munícipio. Em 2004 e 2014 o Plano Diretor

recebeu revisão e adequação de acordo com o Estatuto da Cidade7, adaptando-se

às regras e padronizando a revisão do documento a cada dez anos.

A alteração de 1975 reflete o crescimento da cidade e divide o município em

zonas de usos diferentes, classificando o centro tradicional e setor histórico, como

setores especiais. Os setores especiais compreendem áreas para as quais são

estabelecidas ordenações especiais de uso e ocupação do solo, condicionadas às

suas características locacionais, funcionais ou de ocupação urbanística. Em 1982, a

Lei Nº 6.337 institui incentivo construtivo para a preservação de imóveis de valor

cultural, histórico ou arquitetônico. A partir dessa lei, o Decreto Nº 380/1993 criou as

Unidades de Interesse Especial de Preservação (UIEP).

A lei Nº 9.800/2000 retrata a maior reformulação nas diretrizes da cidade,

desde 1966. Nela é possível perceber uma maior preocupação com o patrimônio

cultural e histórico da cidade. Aparecem como objetivos da política urbana para o

município, em seu capítulo VI, “Do incentivo à proteção e preservação”, a lei prevê:

7 A Lei Federal 10.257 de 10 de julho de 2001, denominada Estatuto da Cidade, prevê que o Plano Diretor deve ser revisto, pelo menos, a cada dez anos.

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Art. 43. Objetivando a proteção e preservação do Patrimônio Cultural, Natural e Ambiental no Município, ao imóvel que compõe esse patrimônio, poderá ser estabelecida condição especial de ocupação ou autorizado pelo órgão competente, a transferência a terceiros do potencial construtivo permitido no imóvel objeto de limitações urbanísticas, ou aos que doarem ao Município o imóvel sob proteção e preservação. Parágrafo único. Constitui o Patrimônio Cultural, Natural e Ambiental do Município de Curitiba o conjunto de bens existentes em seu território, de domínio público ou privado, cuja proteção e preservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história, quer por seu significativo valor arqueológico, artístico, arquitetônico, etnográfico, natural, paisagístico ou ambiental, tais como: I - Unidades de Interesse de Preservação; II - Unidades de Conservação; III - Anel de Conservação Sanitário-Ambiental; IV - Áreas Verdes. (CURITIBA, 2000)

Outro aspecto notado é o de que o direito de construir depende de uma

organização urbanística pautada no Plano Diretor do município. O potencial

construtivo8 funciona como estímulo para preservação do patrimônio edificado da

cidade, o imóvel passa a ser visto como catalisador do desenvolvimento social e

bem-estar dos habitantes.

O Plano Diretor não é apenas uma ferramenta para organizar o crescimento

da cidade, suas diretrizes têm objetivos abrangentes em diversas áreas. Esse

documento também prevê o direito à moradia, saneamento, cultura, lazer, qualidade

de vida, mobilidade, trabalho e qualidade ambiental.

Planejar significa elaborar algo, projetar ou programar. Portanto, é preciso

criar estratégias a fim de atingir um propósito. Para Arantes, o conceito de

Planejamento Estratégico surgiu nos anos de 1970 nos Estados Unidos, com a

transferência de técnicas empresariais ao planejamento urbano, transformando as

cidades em “máquinas de produzir riquezas” (ARANTES, 2000, p. 21).

Nesse caso, o planejamento que resulta em um plano diretor, já não se

preocupa apenas com o fato de disciplinar o crescimento, mas também promover

uma urbanização que possa atrair investimentos e ser comercializada. Pensando

nesse gerenciamento urbano, Otília Arantes também acredita que a cultura passa a

ser utilizada para alavancar propostas contidas em um planejamento, auxiliando na

construção de um orgulho cívico pela cidade (ARANTES, 2000, p. 25).

8 É um instrumento urbanístico que regula o uso e ocupação do solo, e tem por objetivo transferir os potenciais construtivos de uma área particular. Pode ser feita a transferência do potencial construtivo de um lote com restrições urbanísticas para outro lote com capacidade de infraestrutura adensável. Em Curitiba a lei 9.800/2000 autoriza a transferência do potencial construtivo a fim de proteger e preservar o patrimônio cultural, natural e ambiental do município.

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As questões sobre a preservação e revitalização do patrimônio estão

indispensavelmente, ligadas ao processo de construção do planejamento urbano, e

ao apoio às manifestações culturais e aos usos do patrimônio histórico. A

manutenção de bens patrimoniais pode ir além da afirmação de identidade do local,

dentro do planejamento urbano, segundo Castells e Borja, deve constar a

preocupação com a resposta de cinco objetivos: nova base econômica,

infraestrutura urbana, qualidade de vida, integração social e governabilidade

(CASTELLS; BORJA, 1996, p. 155).

Um município que é capaz de responder com sucesso a esses objetivos,

torna seu plano estratégico item importante na inserção da cidade nos espaços

econômicos internacionais, fazendo-a competitiva e atuante no mercado exterior. Ao

mesmo tempo, deve oferecer bem-estar à população e dar garantias de uma

convivência democrática.

No informativo de 2014 sobre o Plano Diretor, existem descrições destacando

a preocupação com uma cidade mais humana, participativa, inovadora e funcional

com base em um elo sociopolítico, destacando sua visão futurística (REVISÃO

PLANO DIRETOR, 2014).

Conforme consta no Estatuto da Cidade, o Plano Diretor deve ser revisto a

cada dez anos. Em Curitiba a última revisão foi realizada em 2014, e dentre os

temas contemplados aparece a intenção de conservar, proteger, e recuperar os

aspectos ambientais e culturais da cidade para futuras gerações (REVISÃO PLANO

DIRETOR, 2014).

Recentemente, foi aprovada a lei 14.794/2016, Lei de Proteção ao Patrimônio

Cultural de Curitiba, que traz um amparo legal sobre a proteção e manutenção de

imóveis e bens culturais, com regras e instrumentos específicos de tombamento,

inventário, registro, fiscalização e penalidades. Também foi sancionada a criação do

Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Curitiba (CMPC) e do Fundo de

Proteção ao Patrimônio Cultural (FUNPAC).

A delonga para a concepção de um mecanismo permanente de apoio às

condições de preservação do patrimônio cultural e histórico em Curitiba, oferece

uma reflexão acerca da preocupação das diferentes administrações municipais e a

aplicabilidade de medidas a fim de proteger a identidade da cidade.

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1.1 O PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARQUITETÔNICO DENTRO DA VIRADA CULTURAL

Com a anuência da Lei de Proteção do Patrimônio Cultural de Curitiba, a

cidade poderá executar o tombamento de bens culturais, tarefa que ficava por conta

apenas do governo do estado e da União. Antes dessa lei os decretos permitiram a

criação de uma lista com cerca de 647 imóveis considerados Unidades de Interesse

de Preservação (UIP’s).

Além dessa listagem, há outros bens tombados pela Coordenação do

Patrimônio Cultural do Paraná (CPC) que ficam dentro da cidade de Curitiba.

Segundo a CPC, “O registro material das ocupações sistemáticas da cidade é o

conjunto arquitetônico da localidade, composto pelas ruas, quadras, edificações

antigas ou ruínas que resgatam a memória da comunidade e possibilita o vislumbre

de parte do cotidiano daqueles que construíram aquele momento”. (PARANÁ, 2016)

Analisando a estruturação da lista de UIP’s organizada pelo IPPUC, percebe-

se que a maior parte de bens que compõem o documento se localiza na região

central da cidade. Os bens tombados pelo governo estadual também fazem parte,

em sua grande maioria, do centro e de bairros que fazem divisa com o mesmo.

Nesse contexto, essa parte da capital abriga alguns eventos conhecidos

dentro e fora do país, um deles é a chamada Virada Cultural, projeto que já

apresentou seis edições na capital paranaense.

A Virada Cultural de Curitiba se espelhou no evento de mesmo caráter que

acontece em São Paulo há doze anos. Essa produção é realizada anualmente e

oferece diversos tipos de atrações, como: teatro, dança, oficinas recreativas,

atividades circenses e de literatura, moda, cinema, arte urbana, gastronomia e

principalmente, música. A intenção é que esses programas tenham uma duração de

24 horas ininterruptas, por isso o uso do termo “virada cultural”, e também estejam

ao alcance de diferentes faixas etárias, classes sociais e grupos culturais.

O movimento aqui no Brasil foi inspirado na chamada Nuit Blanche de Paris, a

cidade francesa organiza esse evento desde 2002. No caso francês, o propósito é

reunir artistas contemporâneos e de vanguarda e apresentar seus trabalhos por

meio de intervenções urbanas e arquitetônicas. O espírito da Nuit Blanche (noite em

claro) é mostrar a cidade de maneira original, revelando novas formas de apresentar

e interagir com locais já conhecidos de Paris. Acontece sempre de sábado para

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domingo, durante a madrugada oferecendo acesso livre aos museus, bibliotecas,

universidades, prédios históricos, galerias de artes, intervenções em espaços

públicos e instituições culturais.

Todo ano é escolhido um diretor para o evento, responsável por organizar e

definir o tema da edição. É assim, formada uma rede de artistas oriundos de várias

partes do mundo, que possibilita a troca de experiências em cada montagem, essa

estrutura permite inovações e diferentes olhares no percurso definido por cada

curadoria.

A Nuit Blanche se tornou um dos eventos mais esperados da Europa e

inspirou diversas outras cidades. Além da alta frequência de franceses, Paris recebe

milhares de visitantes estrangeiros durante a festa.

São Paulo é uma das cidades que se inspirou nesse exemplo e trouxe para o

país a proposta de atividades culturais diferenciadas e gratuitas para o público em

geral. A primeira experiência ocorreu em 2005 durante a gestão do então prefeito

José Serra, levou 200 atrações para as ruas com um investimento de 600 mil reais.

No segundo ano, o investimento foi de 2,7 milhões de reais e mais de 1,5

milhões de pessoas prestigiando o evento. Inicialmente, a programação acontecia

basicamente no perímetro central da cidade, nas últimas edições outros locais foram

contemplados e segundo a prefeitura de São Paulo o objetivo principal é promover a

convivência em espaço público e a apropriação do centro da cidade por meio das

manifestações culturais. (SÃO PAULO, 2016)

Seguindo os passos da capital paulista, Curitiba promoveu a primeira Virada

Cultural no ano de 2010. Mesmo tendo o evento paulistano como referência, a

versão paranaense desenvolveu uma ação adaptada ao seu público. Em Curitiba o

movimento precursor foi a Corrente Cultural, lançada em 2009 por meio da parceria

entre instituições públicas e privadas, artistas e produtores locais.

Segundo o primeiro relatório da Corrente Cultural, a criação do movimento

visava promover e valorizar a multiplicidade cultural e dar visibilidade aos inúmeros

espaços concentrados no eixo central da cidade. Nesse primeiro experimento a

Corrente aconteceu durante 35 dias e mobilizou espaços públicos e privados para a

realização de espetáculos, exposições, debates, mostras, instalações e shows.

Eventos estes, que aconteceram dentro de horários determinados, diferente da

Virada que tem como intenção oferecer atividades simultâneas e ininterruptas

durante 24 horas. (RELATÓRIO CORRENTE CULTURAL, 2009, p. 3)

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Em 2010 a organização da Corrente Cultural inseriu em seu plano de ação a

Virada Cultural, reduziu os dias de programação para onze, sendo dois destinados

às atividades da Virada. A campanha de 2009 procurou promover os espaços

culturais do centro da cidade, no ano seguinte a Corrente se estendeu para os

bairros e reservou o centro para a Virada.

Para a execução da Corrente os recursos foram provenientes do Fundo

Municipal da Cultura, e através de emendas parlamentares os vereadores Renata

Bueno e Caíque Ferrante possibilitaram as atrações da Virada Cultural. Nessa

ocasião, o custo do evento girou em torno de 1,5 milhões de reais; 800 mil do Fundo

Municipal da Cultura e 500 mil de emendas parlamentares. O público total do evento

foi de 226.000 pessoas, sendo que 193.000 pessoas passaram pelos palcos.

(RELATÓRIO CORRENTE CULTURAL, 2010, p.4)

As atividades foram realizadas em mais de 60 espaços culturais públicos e

privados, e em quatro grandes palcos: Riachuelo (programação FCC e SESC PR),

Ruínas (FCC e SESI), Praça da Espanha (FCC, Teatro Guaíra e Soho Batel) e

Praça Nossa Senhora da Salete (RPC TV). Esse grupo de parceiros, em específico,

ficou responsável de alinhar a programação em conjunto com a Fundação Cultural

de Curitiba.

Em 2005 a prefeitura criou o programa Marco Zero que segundo o anexo II do

Plano Plurianual para o período 2006/2009, tinha como objetivo a revitalização da

região central, visando adequá-la aos novos usos e diminuindo o seu processo de

degradação. A região de abrangência da revitalização foi composta a partir da Praça

Tiradentes e nos eixos formados pela Rua das Flores e eixo Barão/Riachuelo.

(CURITIBA, 2006)

A obra de recuperação da rua Riachuelo foi concluída em 2010, e já nesse

mesmo ano o local foi utilizado como área de fomentação cultural recebendo um dos

palcos da Virada, que foi montado praticamente em frente ao Paço da Liberdade,

imóvel que abrigou o segundo mercado público da cidade inaugurado por volta de

1874, foi sede da Prefeitura Municipal de Curitiba de 1916 até 1969, foi sede do

Museu Paranaense em 1974 e depois da transferência do museu e a revitalização

do prédio, passou a abrigar um espaço cultural administrado pelo Sistema

Fecomércio Sesc Senac.

O Paço da Liberdade é o único imóvel de Curitiba encontrado nas três

instâncias de proteção histórica. É uma Unidade de Interesse de Preservação

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municipal, é tombado pela Secretaria de Estado da Cultura e o único bem

arquitetônico da cidade tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional (IPHAN), na categoria de edificação. A respeito de sua importância

histórica e arquitetônica:

Prédio de arquitetura eclética, com elementos art nouveau representados, sobretudo, pelas marquises de ferro voltadas para a Praça Tiradentes, pelo desenho das esquadrias de madeira e portas externas. Ocupando área de 500 metros quadrados, está construído sobre base de concreto e blocos de cantaria, possuindo planta retangular sobre cujos lados menores se erguem duas fachadas, a principal voltada para o jardim e na qual se destaca torre quadrada. É construído em alvenaria de tijolos, e em três pavimentos e cobertura em quatro águas. Dois Hércules sustentam as colunas da entrada do prédio e representam os poderes municipais – o Legislativo e o Executivo -, e o nicho existente logo acima encerra figura feminina que representa a cidade de Curitiba. Completa a ornamentação da torre escudo com as armas do município e a cabeça do leão, símbolos da força. Em três faces da torre, há relógios movidos eletricamente. Em todas as fachadas, sacadas semicirculares. (PARANÁ, 2016)

No ano de 2010 o “Palco Riachuelo” funcionou durante os dias 06 e 07 de

novembro atraindo um público de 45 mil pessoas, com apresentações nacionais,

como: Sandra de Sá, Mart’nália, Erasmo Carlos, Paulinho da Viola, Orquestra à

Base de Corda e Orquestra à Base de Sopro. No ano seguinte, o palco foi montado

no mesmo local (Parceria FCC/SESCPR- Paço da Liberdade) e recebeu shows de

Marcelo Jeneci, Jair Rodrigues, Hamilton de Holanda, Orquestra Sinfônica do

Paraná, Banda Ultraje a Rigor.

Em 2012 o palco permaneceu na programação da Virada e apresentou Zeca

Baleiro, Arnaldo Antunes, Trio Quintina e Orquestra de Câmara da cidade de

Curitiba. Em 2013, tocaram e cantaram Moraes Moreira, Guilherme Arantes e a

Banda Blitz, no próximo ano João Bosco, Confraria da Costa e Esperanza.

Outro local que se destaca na programação da Virada Cultural, é o “Palco

Ruínas”, presente desde a primeira edição. Montado na Praça Doutor João Cândido,

dentro do Setor Histórico de Curitiba, delimitado por decreto municipal de 1971. O

espaço abriga as ruínas da construção de um convento franciscano iniciada no

século XVIII, e ainda uma edificação influenciada pela arquitetura Art Nouveau, um

Belvedere9 inaugurado em 1915.

9 Pequena construção isolada num jardim ou parque de onde se desfruta de um panorama, pequeno mirante. (MICHAELIS, 2016, p.irreg)

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Entre as ruínas do convento a prefeitura municipal instaurou um pequeno

anfiteatro10 que acolhe diversas apresentações culturais da cidade, na Virada esse

ponto da praça concentra o público e as exibições artísticas e culturais. A Praça

João Cândido, as Ruínas e o Belvedere são bens tombados pelo Governo do Estado

do Paraná.

Na primeira experiência como palco da Virada Cultural o espaço recebeu 25

mil pessoas, a maior parte das atrações foram locais, já passaram pelo palco: Banda

Gentileza, Locomotiva Duben, Lemoskine, Molungo, a Banda Mais Bonita da

Cidade, Banda Uh La La! Escambau, Copacabana Club, Teatro Mágico e muitos

outros artistas. (RELATÓRIO FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA, 2010)

Sobre a estrutura presente na Praça, a Coordenação do Patrimônio Cultural

do Paraná, destaca:

Compõe-se a praça de uma área trapeizodal, gramada, com algumas árvores de porte, tendo como atrativo principal as ruínas de paredes de alvenaria de pedras, com um vão de portas completo, que correspondia, provavelmente, a entrada da igreja conventual. O outro elemento arquitetônico significativo, o antigo "Belvedere", é edificação de dois pavimentos, de alvenaria de tijolo, com coberturas de telhas francesas, implantada na extremidade leste da praça. O aspecto mais importante dessa casa é a solução plástica que transmite, com graça e equilíbrio, o traço Art Nouveau, principalmente na composição das varandas, na forma dos vãos e no desenho fitomorfo dos ornamentos, em massa, ressaltados nos paramentos da fachada, e nos guardas copos recortados em madeira. (PARANÁ, 2016, p.irreg.).

A Praça Da Espanha também esteve entre os palcos principais entre 2010 e

2013. Fundada em 23 de março de 1955 como homenagem aos colonizadores

espanhóis, é rodeada por comércios e sede de feiras gastronômicas da cidade. Se

localiza entre as ruas Saldanha Marinho, Coronel Dulcídio, Dr. Carlos de Carvalho e

Fernando Simas. Com uma área total de 6.500 m² a praça recebeu um público de 25

mil pessoas em 2010 (RELATÓRIO CORRENTE CULTURAL, 2010), é o coração do

movimento chamado Batel Soho11; um circuito de lazer, gastronomia e compras que

se estende por cerca de 20 quadras da praça e abrange principalmente o bairro do

10 Sala ou espaço, ao ar livre ou não, circular, oval ou semicircular, com arquibancadas e palco, estrado ou arena, para encenações teatrais, aulas, palestras, etc. (MICHAELIS, 2016, p. irreg) 11 SoHo é uma expressão do idioma inglês, abreviação de South of Houston um bairro de Nova York, que oferece várias opções de comércio, gastronomia, lazer, cultura e serviços diversos. Inspirando-se em bairros Soho de Nova York, Londres e Buenos Aires, surgiu em 2007 a Associação dos Comerciantes da Região da Praça da Espanha (Ascores) e o projeto Batel SoHo. Com o intuito de criar um circuito de compras, gastronomia e lazer na região. Levando em consideração a experiência de bairros de outras cidades do mundo, que passaram por um processo de enobrecimento, tiveram espaços urbanos recriados e tornaram-se alvo de investimentos públicos e privados.

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Batel. Nessa região se concentram alguns imóveis considerados Unidades de

Interesse de Preservação pela prefeitura municipal e outros bens tombados na

esfera estadual.

Nessa área da cidade encontram-se a Casa Gomm, Castelo do Batel, o

antigo grupo escolar D. Pedro II, Palacete do Batel, a antiga sede da UFPR, o

conjunto urbano da rua Comendador Araújo, grupo escolar Cruz Machado; todos

inscritos como bens tombados do Estado do Paraná. Na ocasião em que ocorre a

Virada Cultural as pessoas que se direcionam à Praça da Espanha têm a

oportunidade de passar por esses locais durante seu percurso. (PARANÁ, 2016)

Nos anos de 2010 e 2012, a Praça Nossa Senhora da Salete entrou na

programação do evento como mais um dos palcos principais, localizada no bairro

Centro Cívico idealizado pelo urbanista francês Alfred Agache como parte do Plano

Urbano de Curitiba. A região foi projetada para concentrar edifícios dos três poderes

(Legislativo, Executivo e Judiciário), ao redor da praça encontram-se diversos

prédios públicos, entre eles: Palácio Iguaçu, Assembleia Legislativa do Paraná,

Tribunal de Justiça do Paraná, Palácio das Araucárias, Palácio 29 de março.

Em 25 de maio de 2012, o Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e

Artístico, da Secretaria de Estado da Cultura, aprovou tombar o conjunto urbano e

arquitetônico do local. Essa aprovação protege os edifícios do Palácio Iguaçu, grupo

escolar Tiradentes, Praça 19 de dezembro, Prefeitura Municipal, Assembleia

Legislativa, Tribunal do Júri, Palácio da Justiça, Tribunal de Contas, Edifício Castelo

Branco, e toda a extensão da Avenida Cândido de Abreu, bem como a Praça Nossa

Senhora da Salete, ruas e calçadas.

Em 2012 foi inaugurado o “Palco Conexões”12 fixado na Boca Maldita no

centro de Curitiba. Boca Maldita corresponde à um espaço sem área determinada,

onde pessoas se reúnem para discutir assuntos do cotidiano, próximo do comércio

da Avenida Luiz Xavier, extremidade da Rua XV de Novembro. O local onde o palco

foi instalado compreende parte da paisagem urbana que foi tombada como

patrimônio do Estado do Paraná. Essa paisagem corresponde ao trecho que se

inicia na Praça Osório até a Praça Santos Andrade.

Nesse palco durante as edições de 2012, 2013 e 2014 passaram artistas

reconhecidos nacionalmente como Dudu Nobre, Ângela Maria, Cauby Peixoto, Gabi

12

O nome do palco mudou ao longo dos anos de evento, pode ser encontrado também como “Palco Boca Maldita”.

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Amarantos, Martinho da Vila, Criolo, Elza Soares, Rashid, Cidade Negra, entre

outros.

No ano de 2012 o público da Virada foi de 253.709 mil pessoas, nos dias 10 e

11 de novembro. O Fundo Municipal da Cultura disponibilizou recursos financeiros

no valor de 336 mil para a realização da 4ª Corrente Cultural. Já em 2013 o público

estimado foi de 315 mil pessoas com investimento de 2,1 milhões. Na edição

seguinte o público foi de aproximadamente 160 mil pessoas (RELATÓRIO

CORRENTE CULTURAL, 2012)

Outros espaços urbanos foram utilizados como palcos: Praça Carlos Gomes e

Praça Monsenhor Celso em 2013. Desde 2010 uma das estratégias de divulgação

do evento foi a distribuição de mapas com a programação e locais dos shows.

Nesses guias é possível verificar quais são as possibilidades de rota. Há uma

concentração de bens patrimoniais na área delimitada para o evento, seja como

palco para as atrações ou no caminho para se chegar às plataformas.

Desse modo, a mídia escolhida para promover o evento tende a dar

visibilidade também à experiência urbana da cidade e acionar a busca pela

identidade por meio de seus patrimônios. Diante desse fenômeno constrói-se uma

imagem de Curitiba, que perpetua por seus habitantes, segundo Sánchez “o

marketing moderno é o organizador do processo que viabiliza a consolidação da

imagem e que a promove no nível local, nacional e internacional” (SÁNCHEZ, 1997,

p.43).

Assim, o marketing que acompanha a divulgação da Virada Cultural

associa notadamente o evento aos marcos históricos e simbólicos da cidade.

Promover a participação da comunidade na identificação, valorização, preservação e

conservação dos elementos significativos da paisagem urbana (CURITIBA, 2004,

p.74) é premissa, é parte constituinte do Plano Diretor de Curitiba. O Plano age

como um mecanismo para efetivar o planejamento urbano e para além disso,

consolida iniciativas que viabilizam a afirmação da identidade da cidade de Curitiba.

Sobre o assunto é interessante destacar:

Desde os primeiros anos de vigência do Plano Diretor, o IPPUC tem presente constatação de que, além dos acertos na conformação física, ambiental e territorial da cidade, mediante a coordenação de investimentos públicos e privados, e de integrar e monitorar ações no desenvolvimento socioeconômico da cidade, o planejamento global exige, ainda, mais outro esforço adicional, projetar componentes de cunho estratégico à dinâmica urbana. Nada aconteceria, por exemplo, para identificar e conservar o patrimônio e ruas fechadas ao trânsito no Setor Histórico da cidade, em

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torno do Largo da Ordem de São Francisco, se não tivessem sido programados feiras e eventos culturais para o local, estimulando ali os usos boêmios e de interesse econômico e cultural. Acompanhando essa orientação, estabelecem-se critérios para atingir uma linguagem simbólica e de marketing da cidade, de modo que todo cidadão entenda o Plano Diretor, contribuindo para sua construção gradual. (CURITIBA, 2004, p.50)

A adoção de políticas de preservação e a manutenção de símbolos da

memória coletiva de uma cidade criam a ideia de pertencimento, fator sempre

lembrado pela administração municipal de Curitiba. Justamente, por ter como parte

integrante de sua construção um determinado elemento significante para uma

comunidade, o patrimônio deve configurar um marco coletivo, e não apenas

destacar a ideologia de um grupo dominante, o que o transforma em simples

mercadoria para consumo turístico.

2. ESTRATÉGIAS DE INTEGRAÇÃO

Ao analisar as fontes foi possível notar no evento da Virada Cultural a

presença constante de locais considerados patrimônios da cidade, utilizados como

elemento de identidade urbana e reafirmação da imagem de Curitiba. Os mapas

permitem visualizar o circuito no núcleo central da cidade, que expõe as ações

propostas pelo evento. Nesse setor se concentra uma quantidade considerável de

atrativos culturais, turísticos, de entretenimento e lazer do município.

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FIGURA 1 – MAPA VIRADA CULTURAL DE 2013

FONTE: FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Descubra a Corrente

Cultural Waltel Branco. 08 nov. 2013. Guia.

Por meio da oferta de atividades de cunho cultural, o evento reforçou

discursos produzidos sobre a imagem da cidade, competitiva e empreendedora,

mantendo o foco no ambiente construído e intensificando aspectos presentes na

última revisão do Plano Diretor de Curitiba, sobre seu desenvolvimento econômico:

A política municipal de desenvolvimento econômico tem como objetivo principal contribuir para o crescimento sustentável das atividades econômicas e competitividade da cidade, alinhada ao desenvolvimento social e ao meio ambiente, com a continua melhoria da qualidade de vida e bem estar da população [...] (REVISÃO DO PLANO DIRETOR, 2015, p. 97).

Entre os objetivos dessa política destacam-se a ideia de criar condições para

o desenvolvimento do turismo, gerando eventos, negócios, cultura, gastronomia e

compras. Estímulo para aumentar a permanência do visitante na cidade, o

fortalecimento da cultura empreendedora, a contribuição de projetos econômicos

para o aumento da competitividade nacional e internacional das atividades

econômicas do município, o estabelecimento de acordos e parcerias com entidades

da esfera pública e privada, a contribuição para a geração de emprego e renda em

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cadeias produtivas geradoras de maior valor agregado, promoção de uma

infraestrutura adequada ao desenvolvimento econômico, e assim por diante.

(REVISÃO DO PLANO DIRETOR, 2015, p. 98).

O Plano Diretor desempenha um papel significativo no que se refere às

estratégias adotadas para manter o status da cidade e prosseguir com seu

desenvolvimento. Sendo assim, seus objetivos devem ser capaz de gerar respostas

competitivas aos desafios da globalização. (ARANTES, 2000, p.13).

A adoção de uma postura empreendedora para a cidade classifica o que

Harvey denomina de “empreendedorismo urbano”. Segundo o autor, a mudança no

tipo de gestão de cidade ocorreu na década de 1970, com uma reestruturação na

ordem econômica mundial. Algumas razões são apontadas pelo autor para entender

a mudança do administrativismo urbano para empreendedorismo urbano. Efeitos da

recessão econômica de 1973, como a desindustrialização e o desemprego

disseminado, a capacidade decrescente do Estado-nação em controlar fluxos

financeiros de empresas internacionais e dificuldades nos repasses financeiros para

municípios. Assim, os governos locais precisaram encontrar maneiras de explorar

outros atrativos da cidade e potencializar a atratividade do local, gerando

competição para possíveis investimentos do capital financeiro internacional.

(HARVEY, 2005, p. 168).

Nesse contexto, as características e qualidades marcantes de uma cidade

podem se transformar em produtos, a serem apresentados para investidores,

turistas e parcerias privadas. A aposta em cultura e seus derivados, é mais uma

forma de explorar atrativos presentes no meio urbano. Dentro desse processo, o

patrimônio histórico adquire visibilidade como forma de propagar uma imagem

interessante para o público consumidor.

Nessa passagem do administrativismo para o empreendedorismo urbano é

preciso reconhecer os efeitos da mudança por meio dos impactos causados em

instituições e ambientes urbanos. Há reflexos na organização da cidade, em seus

padrões, estruturas, na forma que exerce o poder político e financeiro, e em como

permite a integração espacial da ação social. (HARVEY, 2006, p.171).

A condição com que a gestão da cidade exerce seu papel empreendedor

repercute em suas intervenções para a melhoria dos espaços. Segundo Harvey, os

investimentos voltam-se, principalmente, para a qualidade de vida. (HARVEY, 2006,

p.176). Desta forma, investe-se na recuperação de regiões degradadas, na

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disponibilização de inovações culturais e na melhoria física do ambiente urbano,

inclusive financiando a renovação e preservação de patrimônios do local. Ações

fundamentais para transmitir uma imagem inovadora e estimulante da cidade.

Em consonância a essa forma de intervir no urbano analisada por Harvey,

percebe-se em Curitiba ações que reproduzem tal maneira de gerir a cidade, pois

quando se aborda a política de desenvolvimento social de Curitiba verifica-se que se

“tem por objetivo a gestão de políticas públicas indutoras do desenvolvimento social

que garantam à população o acesso à informação, a bens e serviços públicos de

qualidade e ao exercício pleno da cidadania [...]” (REVISÃO DO PLANO DIRETOR,

2015, p. 87) e ainda:

compreende-se Desenvolvimento Social como um processo econômico, social, cultural, político e ambiental, abrangente e sustentável, que visa o constante incremento do bem estar de toda a população com base em sua participação ativa, livre e significativa no desenvolvimento e na distribuição justa dos benefícios daí resultantes. (REVISÃO DO PLANO DIRETOR, 2015, p.87).

Oferecer um ambiente de bem estar e favorável aos negócios faz parte da

concepção de uma cidade empreendedora, e o estímulo para a assertividade das

ações vem da concorrência interurbana existente nesse processo. Ou seja, a

exploração de experiências bem sucedidas de Curitiba e seus sistemas identitários

favorece a elaboração de estratégias para atrair investimento de capital à cidade.

As políticas de image-making são responsáveis por construir e consolidar a

imagem que a cidade reflete para seus investidores, e também se apoia nos

atributos culturais para demonstrar sua capacidade competitiva. Consequentemente,

a questão da visibilidade do patrimônio que identifica o local transcorre nesse

movimento de perpetuação da imagem. Como coloca Harvey: “A produção

orquestrada de uma imagem urbana também pode, se bem-sucedida, ajudar a criar

solidariedade social, orgulho cívico e lealdade ao lugar. ” (HARVEY, 2006, p. 185)

Segundo as diretrizes de políticas de desenvolvimento social de Curitiba, as

ações devem ser implementadas de forma integrada com outras áreas, entre elas a

Cultura. A política municipal da Cultura, por sua vez, propõe a preservação e acesso

ao patrimônio cultural material e imaterial; incentivo a participação pública e privada

no financiamento de ações culturais, valorização da cultura como estratégia de

desenvolvimento humano, social e econômico. (REVISÃO DO PLANO DIRETOR,

2015, p. 90)

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Associada à essa questão está a preocupação com o patrimônio cultural em

específico, que também se torna visível na revisão do Plano Diretor da cidade.

Evidenciando pontos como a proteção, manutenção, restauração e preservação de

bens com valor cultural do município; adequação da acessibilidade ao Setor

Histórico, definição de mecanismos de incentivos à preservação do patrimônio e a

regulamentação através da Lei 14.794/2016 de Proteção ao Patrimônio Cultural de

Curitiba.

Para fazer parte de um grupo de cidades interessantes para investidores, é

importante a utilização de artifícios do city marketing, que auxiliam na reorganização

do espaço urbano para adequá-lo e oferecer condições para sua disputa com outras

metrópoles. As políticas públicas de preservação do patrimônio em Curitiba, estão

aliadas ao seu Plano Diretor e à política de city marketing que procura inseri-la em

uma rede de economia globalizada.

Considerando as mais variadas formas de intervenções na cidade para atrair

capital financeiro, é possível pensar os festivais e eventos culturais como eixos de

investimento. Uma agenda cultural bem estruturada e um ambiente que exala

qualidade de vida, é necessário para demonstrar a versatilidade de inovações da

cidade e agregar valor aos seus produtos. “O espetáculo e a exibição se

transformam em símbolos de uma comunidade dinâmica” criando a expectativa de

consolidar boas parcerias. (HARVEY, 2006, p. 177)

Nota-se que a Virada Cultural de Curitiba atrelou a sua estrutura

organizacional aos patrimônios da região central da cidade, utilizando a

infraestrutura de alguns prédios e instalando palcos na frente de outros, criando um

circuito entre os palcos com passagem por patrimônios históricos, consolidando

alianças entre setor público e privado na administração tanto dos bens históricos

como do próprio evento.

Entidades privadas participam em Curitiba como parceiras não só em eventos

periódicos, mas na elaboração e gestão de projetos permanentes. A atuação

empreendedora da cidade vai além do “governo”, ela se concentra em uma

coalização de parcerias, em que o governo e a administração urbana exercem um

papel de facilitador. (HARVEY, 2006, p. 171).

A presença de parceiros privados de forma constante, organiza o espaço

urbano de maneira estratégica, criando um sistema complexo de forças

mobilizadoras por diferentes agentes sociais. A inserção do patrimônio histórico em

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eventos culturais pode significar um interesse que extrapola apenas sua

preservação.

Para Harvey:

Em primeiro lugar, o novo empreendedorismo tem, como elemento principal, a noção de “parceria público-privada”, em que a iniciativa tradicional local se integra com o uso dos poderes governamentais locais, buscando e atraindo fontes externas de financiamento, e novos investimentos diretos ou novas fontes de emprego. (HARVEY, 2006, p.172).

Em Curitiba, há exemplos do uso do patrimônio integrado na vida da cidade e

colocado à serviço da população, uma forma de apropriação desses bens por

parcerias público-privadas. Uma das coalizões que merece destaque, é a operação

do SESC-PR nos movimentos culturais da cidade.

FIGURA 2- CONVITE PARA CORRENTE CULTURAL

FONTE: FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. A arte faz parte da sua vida.

Curitiba, 2010, p.irreg.

O Serviço Social do Comércio (SESC) é uma entidade de direito privado,

mantida e administrada por empresários do comércio de bens, serviço e turismo. O

SESC-PR além de gerenciar diversos eventos e ações dentro do município,

administra espaços culturais, como o Paço da Liberdade. Como já citado

anteriormente, o prédio do Paço é patrimônio tombado da cidade e atualmente

abriga uma das unidades de ações culturais da referida instituição.

As parcerias no evento da Virada Cultural viabilizam grande parte das ações

propostas na grade de programação, quando não utilizam um espaço que é

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patrimônio da cidade, permeiam esse cenário e compartilham da identidade nele

contida. A cerimônia também conta com o apoio do Serviço Social da Indústria

(SESI) que tem atuação nacional e também desenvolve programas para promover o

bem-estar social. Os serviços oferecidos pelo SESI são direcionados para

trabalhadores de indústrias e seus dependentes, focando na área educacional e

visando o aumento da produtividade do setor.

Outro apoio importante ao evento é a Associação Brasileira de Bares e

Restaurantes (ABRASEL), o Centro Histórico da cidade, a Rua XV de Novembro e o

bairro do Batel são locais que concentram um número considerável desse tipo de

estabelecimento e, durante a Virada, fazem parte do circuito de palcos. No relatório

da Fundação Cultural de Curitiba sobre o evento no ano de 2010, aparecem como

sugestões para as edições que ainda iriam acontecer: uma melhor organização com

os comerciantes e prestadores de serviços para o aumento da demanda, a opção

em realizar o evento no mês de novembro por ser um mês de baixa para diversos

setores da economia, a não realização da tradicional feira de domingo no Largo da

Ordem; para que o público pudesse andar por um “corredor” entre os palcos, e

ainda, a intenção de fortalecer as marcas dos parceiros da campanha. (RELATÓRIO

DA CORRENTE CULTURAL, 2010, p. 7)

Outro ponto interessante da parceria público-privada em Curitiba é o projeto

“Centro Vivo”, que é uma iniciativa da Associação Comercial do Paraná (ACP),

embora essa entidade não apareça como parceira no evento da Virada Cultural, sua

intervenção no cenário urbano da cidade foi de grande valia para o desenvolvimento

da reflexão nessa pesquisa. O projeto “Centro Vivo” iniciou sua operação em

outubro de 2003 com uma sugestão de ação continuada, e apresentou como

proposta principal a revitalização da região central de Curitiba para impulsionar

economicamente os negócios dos diferentes setores.

Em relatório apresentado na participação da entidade no Prêmio FGV-

EAESP de Responsabilidade Social no Varejo13, o texto esclarece os objetivos do

projeto da seguinte forma:

o objetivo principal do Centro Vivo é transformar o Centro da Cidade em um local onde as pessoas queiram morar, se encontrar, fazer suas compras e seu lazer, possibilitando um considerável crescimento na circulação de

13O Prêmio FGV- EAESP de Responsabilidade Social no Varejo é promovido pelo Centro de Excelência em Varejo da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, que tem como foco o reconhecimento de projetos e programas de responsabilidade social desenvolvidos por empresas e instituições varejistas em todo o Brasil.

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consumidores de bens e serviços e um consequente aumento no fluxo de capital, gerando novos empregos e riqueza para nossa cidade.

O Centro Vivo é um programa de empresários para empresários, que entenderam a revitalização do centro de Curitiba como única saída para uma contínua e crescente geração de negócios para todos os segmentos envolvidos direta e indiretamente com esta ação. (PROJETO CENTRO VIVO, 2006, p.1).

A ACP demonstrou com esse movimento sua preocupação em revitalizar o

centro da capital e evitar a degradação de prédios dessa área, criando atrativos e

atuando em cooperação com o poder público na melhoria da infraestrutura com foco

na reforma e conservação de logradouros públicos, fachadas dos comércios e

construções particulares.

O entendimento de patrimônio está ligado à compreensão do que é

monumento. Françoise Choay defende que o termo é essencialmente referência à

palavra recordar. O monumento interpela a memória, não fornece uma informação

neutra, mas carrega em si uma memória viva. (CHOAY, 2000, p. 16). Inicialmente, o

monumento é visto como recordação de uma comunidade de indivíduos e suas

crenças, ritos e acontecimentos. A especificidade do monumento se dá no seu modo

de ação sobre a memória, na sua forma de recordar o passado pela mediação da

afetividade, fazendo o passado vibrar no presente.

Ainda segundo Choay, o monumento contribui para afirmar a identidade de

um grupo e mantém a memória, ao passo que, a ação dissolvente do tempo ocorre

sobre as coisas naturais e artificiais. Constitui um universo cultural e mobiliza a

memória coletiva, contribuindo para preservar traços específicos de uma

comunidade. “A sua relação com o tempo vivido e com a memória, noutras palavras,

a sua função antropológica, constitui a essência do monumento”. (CHOAY, 2000,

p.16).

Todavia, como explica Choay, esse papel de memória foi sendo

progressivamente esquecido nas sociedades ocidentais, e o termo adquiriu um valor

estético. Assim, o monumento passa a refletir a beleza, afirmar o poder, promover

estilos e dirige-se à sensibilidade estética. Para explicitar a distinção entre

monumento e monumento histórico, a autora diz que “o monumento tem por

finalidade fazer reviver no presente um passado engolido pelo tempo. O monumento

histórico mantém uma relação diferente com a memória viva e com a duração”.

(CHOAY, 2000, p.22).

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Mas a autora salienta que, monumento histórico e patrimônio histórico não

são expressões sinônimas, para ela “desde os anos sessenta do século XX os

monumentos históricos constituem apenas uma parte de uma herança que não para

de aumentar” (CHOAY, 2000, p.11). Portanto, o conceito de monumento, teve que

agregar outros fragmentos de identidade da cidade, ampliando-se e transformando a

noção de patrimônio mais completa.

Pode-se dizer que a ampliação do termo para patrimônio fez-se necessária

para denominar o conjunto de bens culturais de uma comunidade, que configuram

sua identidade e criam um reconhecimento de sua história. Choay aponta que:

a expressão que designa um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensões planetárias, constituído pela acumulação contínua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum: obras e obras-primas das belas artes e das artes aplicadas, trabalhos e produtos de todos os saberes dos seres humanos. (CHOAY, 2000, p. 11).

Nesse sentido, a noção de patrimônio histórico vai além da concepção de um

apanhado de documentos, objetos e edificações, está presente em processos

sociais e experiências coletivas. A incumbência de refletir a identidade de um grupo

e participar da construção de sua imagem, evidencia a participação social do

patrimônio.

2.1 O USO ECONÔMICO DOS PATRIMÔNIOS

Na revisão do Plano Diretor de Curitiba, aparece a preocupação com a

qualificação do espaço urbano para fortalecer a identidade da cidade. (REVISÃO DO

PLANO DIRETOR DE CURITIBA, 2015, p. 75). Esse incentivo para a preservação

da identidade da capital paranaense reflete no evento da Virada Cultural, na medida

em que os pontos escolhidos para o desenvolvimento do programa fazem parte de

uma porção específica do espaço urbano.

Nesse sentido, é importante pensar se políticas de matriz identitária podem

ser estrategicamente planejadas. (ARANTES, 2000, p. 14). Com a priorização de

espaços que são vistos como patrimônio de Curitiba ou que remetem à memória

coletiva de seus cidadãos, a Virada Cultural incentiva a valorização das estruturas

históricas da cidade, mas também as transforma em produto econômico, seguindo a

lógica do city marketing.

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Entendendo City Marketing como “uma política estratégica de valorização das

características mais importantes das cidades”, (MARCHESINI JÚNIOR, 2010, p. 85)

esse tipo de interesse na visibilidade do patrimônio histórico pode ser entendido

como artifício para atrair turistas, investimentos, parcerias e melhorar a imagem da

metrópole. A transformação do espaço em prol dessas condições, reforça a ideia de

manifestar as peculiaridades do local e sua identidade, bem como a originalidade

econômica e cultural do município.

A respeito do uso econômico do patrimônio histórico, Choay afirma que

[...] os monumentos e o patrimônio histórico adquirem dupla função - obras que propiciam saber e prazer, postas à disposição de todos; mas também produtos culturais, fabricados, empacotados e distribuídos para serem consumidos. A metamorfose do seu valor de uso em valor econômico ocorre graças à “engenharia cultural”, vasto empreendimento público e privado, a serviço do qual trabalham grande número de animadores culturais, profissionais da comunicação, agentes de desenvolvimento, engenheiros, mediadores culturais. Sua tarefa consiste em explorar os monumentos por todos os meios, a fim de multiplicar indefinidamente o número de visitantes. (CHOAY, 2001, p. 211)

A intenção em promover a cidade usando como expediente as qualidades do

seu espaço urbano, necessita do fortalecimento de ações presentes em sua gestão

empreendedora, na sua forma de comunicação, nos aparelhos culturais e na

parceria público-privada. Dessa maneira, visto que o Plano Diretor é um instrumento

da política de desenvolvimento urbano, é importante observá-lo como item

determinante na aplicação de práticas que refletem no posicionamento de Curitiba.

Como salienta Arantes, “o planejamento estratégico é antes de tudo um

empreendimento de comunicação e promoção”, portanto, é preciso demonstrar o

vigor das políticas públicas e a capacidade de desenvolvimento econômico do local.

O estímulo para o acontecimento de eventos como a Virada Cultural, reflete essa

intenção, inclusive explorando serviços e bens patrimoniais. (ARANTES, 2000, p.

17)

Em análise às Cartas Patrimoniais disponibilizadas pelo Instituto do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), é possível reconhecer no

documento Normas de Quito, a representação econômica do patrimônio histórico. A

reunião de 1967, demonstra preocupação com a conservação e utilização de

monumentos e lugares de interesse histórico e artístico, e ainda reforça os

benefícios econômicos que podem ser extraídos da promoção e revalorização dos

patrimônios.

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Segundo o documento, o planejamento de uma cidade deve levar em

consideração a integração dos monumentos e complexos históricos no conjunto

urbanístico. No decorrer do texto nota-se também a visão do patrimônio como uma

riqueza ainda inexplorada, para dar continuidade à essa ideia argumentou-se:

“mediante um processo de revalorização que, longe de diminuir sua significação

puramente histórica ou artística, a enriquece, passando-a do domínio exclusivo de

minorias eruditas ao conhecimento e fruição de maiorias populares” (NORMAS DE

QUITO, 1967, p. 5).

Considerações realizadas em reuniões internacionais sobre o patrimônio

histórico, como a que deu origem às Normas de Quito, auxiliam na uniformização de

medidas de preservação e promoção desses bens. Como cita Choay, esse processo

de mundialização das ações referenciais contribuiu para a expansão das práticas

patrimoniais. ( CHOAY, 2001, p. 207).

Algumas razões são citadas para a valorização do patrimônio e a participação

do mesmo no progresso econômico, entre elas a recomendação de priorizar

investimentos com o turismo e sua relação com o patrimônio histórico. Ainda

insistindo nos benefícios econômicos desse tipo de ação, o documento declarou

que:

dois pontos de particular interesse merecem ser destacados: a) a afluência turística determinada pela revalorização adequada de um monumento assegura a rápida recuperação do capital investido nesse fim; b) a atividade turística que se origina da adequada apresentação de um monumento e que, abandonada, determinaria sua extinção, traz consigo uma profunda transformação econômica da região em que esse monumento se acha inserido. (NORMAS DE QUITO, 1967, p. 7).

Dito isso, observa-se no atual Plano Municipal de Turismo de Curitiba a

importância dada aos patrimônios históricos. A existência do Centro Histórico, com a

oferta de atrativos culturais; e a diversidade de edifícios e monumentos históricos,

segundo o Plano, são componentes da imagem turística da cidade. Mas, o texto

considera que esses atrativos ainda são pouco aproveitados como fatores de

composição do produto turístico. (PLANO MUNICIPAL DE TURISMO, 2015, p. 11).

Outro componente da oferta turística, são os eventos que se evidenciam no cenário

regional e nacional e são capazes de atrair uma grande demanda de visitantes. Os

recursos turísticos disponíveis na cidade são considerados elementos centrais no

desenvolvimento da atividade econômica do turismo, nesse sentido o Plano

esclarece que:

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em Curitiba, esses elementos são representados pelo histórico de planejamento urbano, sua rede de praças, parques e bosques, seu patrimônio cultural edificado, museus, teatros, equipamentos de contemplação, monumentos e espaços étnicos, bairros gastronômicos, feiras de artesanato e os eventos programados de interesse turístico. (PLANO MUNICIPAL DE TURISMO, 2015, p. 11).

Vale ressaltar que as diretrizes para o fortalecimento do turismo em Curitiba,

são construídas de forma compartilhada entre órgãos e entidades que demonstram

interesse em consolidar essa atividade na capital. O documento acima citado, foi

elaborado com a participação do Instituto Municipal do Turismo (CURITIBA

TURISMO – CTUR) e o Conselho Municipal de Turismo (COMTUR). O COMTUR é

formado por agentes públicos e privados, entre eles novamente: Fundação Cultural

de Curitiba, Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do Paraná, Associação

Comercial do Paraná (ACP), Federação do Comércio do Paraná, Federação das

Indústrias do Estado do Paraná, SENAC PR, SESC PR, e ainda; Associação

Brasileira das Empresas de Eventos do Paraná ( ABEOC PR), Associação dos

Comerciantes da Região da Praça da Espanha (ASCORES), Rede Empresarial do

Centro Histórico de Curitiba, entre outros.

A presença dessas instituições em diferentes áreas da gestão da cidade de

Curitiba, revela a existência de uma estrutura organizacional voltada para o fomento

econômico, através de fatores múltiplos que compõe a imagem construída da capital

paranaense. Nesse cenário, a mercantilização da cidade se evidencia na

composição e seleção de investimentos realizados no espaço urbano.

Para completar a análise sobre as diretrizes de turismo na cidade de Curitiba,

bem como sua conexão com o patrimônio histórico, é importante observar a Política

Municipal de Turismo estabelecida por meio da Lei 14.115/2012. O manuscrito

considera e define turismo como “atividade econômica representada pelo conjunto

de transações efetuadas entre os agentes econômicos do turismo e os órgãos

públicos para o fomento à atividade turística”. (CURITIBA, 2012).

Tendo em vista essa afirmação, é relevante notar a participação de

instituições privadas no desenvolvimento de atividades, que envolvam bens culturais

e proporcionem experiências diferenciadas aos visitantes na cidade de Curitiba.

Facilitando assim a formação de um quadro econômico rentável advindo do turismo

local.

Ainda sobre a Política Municipal de Turismo, cabe pontuar alguns de seus

objetivos: a exploração do potencial turístico com base em seu patrimônio cultural,

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natural e na capacidade empresarial; o apoio à realização de feiras, congressos e

eventos, como a Virada Cultural; o incentivo aos empreendimentos voltados para

atividades de expressão cultural e a integração do setor privado em financiamentos

necessários para o desenvolvimento turístico; itens esses que vão ao encontro das

propostas contidas no Plano Municipal de Turismo, realizado com parcerias

estabelecidas por entidades que compõe o COMTUR e administração municipal.

(CURITIBA, 2012)

Esse conjunto de medidas visa manter uma imagem de Curitiba para seus

possíveis visitantes e investidores, a valorização patrimonial preenche um espaço

dentro da organização turística da cidade, e aliado a isso, a utilização de recursos

culturais completa a estante de produtos turísticos. Nessa perspectiva, bens

culturais de valor histórico estão sujeitos à transformação em atrações turísticas, por

isso, a importância de regenerar espaços urbanos e adequá-los às suas novas

funções, conferindo-lhes um novo potencial econômico.

Durante o período em que ocorre o evento anual da Virada, empresários do

setor turístico tem a possibilidade de se beneficiar da circulação de visitantes na

cidade.

Os guias que continham mapas do circuito da Virada Cultural, e foram

distribuídos durante o evento, apontam caminhos cercados por bens patrimoniais da

cidade de Curitiba. Essa demarcação reforça intenções expostas no Plano Diretor,

em leis e medidas que circundam o turismo e o patrimônio histórico da cidade, em

interesses de empresários e comerciantes da região, documentos internacionais de

promoção ao patrimônio, e presente também nos relatórios pós-evento da Fundação

Cultural de Curitiba.

Na Virada Cultural de Curitiba a integração do patrimônio atende à

expectativas de diferentes setores, e faz uma tentativa de reutilizar esses espaços,

seja introduzindo um novo sentido, ou aumentando sua evidência no meio do

caminho dos frequentadores do evento e da cidade. Sobre esses novos usos, Choay

discorre a respeito da animação, que tem por intenção tornar o patrimônio

consumível, e por via de efeitos especiais facilitar o acesso ao seu interior. Ela ainda

diz que:

levada a extremos, a animação cultural torna-se exatamente o inverso da mise-em-scène do monumento, que ela transforma em teatro ou em cena. O edifício entra em concorrência com um espetáculo ou um “evento” que lhe é imposto, em sua autonomia. Associam-se exposições, concertos, óperas, representações dramáticas, desfiles de moda ao patrimônio histórico, que

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os valoriza; este, por sua vez, pode, em decorrência dessa estranha relação antagônica, ser engrandecido, depreciado ou reduzido a nada. (CHOAY, 2001, p. 216).

Esse tipo de evento e sua relação com o patrimônio histórico da capital, tende

a conferir um maior sentido de identidade à cidade e consolida parcerias

estabelecidas no meio público-privado. É interessante observar o viés econômico

intrínseco nessa relação, viés que se destaca nos documentos utilizados para essa

pesquisa, e que demonstram a ligação entre cultura e economia.

Para Arantes alguns motivos influenciam na convergência entre cultura e

economia, como a participação das cidades nas redes globais via competitividade

econômica, serviços que desenvolvam uma sensação de cidadania aos moradores

por intermédio de atividades culturais, investimentos em equipamentos culturais,

preservação e restauração de patrimônios, patrimônio que pode ser utilizado como

isca ou imagem publicitária para o capital. (ARANTES, 2000, p.47).

Essa postura adotada com relação ao patrimônio manifesta o propósito de

desenvolvimento econômico do local, assim, a revitalização urbana e a construção

da imagem da cidade fazem parte de um mercado de investimentos. A respeito da

utilização de equipamentos culturais para atração de visitantes, os eventos são uma

importante fonte de captação de turistas e auxiliam na promoção de outras áreas,

como no exemplo de Curitiba. Sobre o assunto:

Os eventos culturais, quando promovem aspectos singulares e são estruturados adequadamente, têm um papel importante na promoção e na consolidação da imagem de um destino cultural; sendo excelentes instrumentos para reduzir os efeitos de sazonalidade

Os melhores exemplos são as iniciativas capazes de identificar oportunidades, de perceber as tendências de mercado, de estabelecer sintonia com a identidade local, de envolver a comunidade, além da capacidade técnica e de articulação de parcerias para sua realização. (TURISMO CULTURAL: ORIENTAÇÕES BÁSICAS, 2010, p.17).

O conjunto de fontes analisado durante a pesquisa, aponta que o vínculo com

instituições privadas é um dos principais elementos para a organização da Virada

Cultural, uma vez que a infraestrutura é pensada levando em consideração os

interesses e preocupações de grupos apoiadores e parceiros da campanha. Os

palcos escolhidos para sediarem as apresentações durante o evento tiveram poucas

mudanças ao longo das edições, logo na primeira experiência a localização

geográfica e a programação foram vistas como fatores de maior sucesso pela FCC.

O guia que continha o mapa e programação da Virada Cultural foi produzido

por organizadores do evento, um misto de entidades públicas e privadas, como um

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mecanismo de marketing e divulgação. Nesse material constavam informações

sobre os órgãos envolvidos e as instituições parceiras, com suas marcas e

identidades impressas, além da grade de atrações.

Segundo o relatório pós-evento produzido pela Fundação Cultural de Curitiba,

a fim de traçar estratégias para futuras organizações e atender expectativas de

apoiadores, nos anos de 2011 e 2012 a divulgação contou com o reforço de uma

agência de publicidade para desenvolver uma série de produtos. Dentre eles,

camisetas, cartazes, totens, anúncios, adesivos, crachás, os mapas e guias;

chamadas para rádio, televisão e internet.

Desse modo, a divulgação do evento destacou os parceiros e construiu de

forma planejada os recursos, para atender a uma demanda de espectadores vistos

como consumidores em potencial. Segundo Sánchez, a publicidade pode atuar

como veículo construtor de uma determinada leitura de cidade, intervindo

decisivamente na criação de valores culturais e representações sociais, promovendo

consequentemente, determinados comportamentos e formas de utilização dos

espaços públicos. (SÁNCHEZ, 2001, p. 41)

Em entrevista concedida pela Diretora do departamento de Patrimônio

Cultural da Fundação Cultural de Curitiba, Marili Azim14, esclarece que a escolha

geográfica dos palcos foi realizada pensando, principalmente, na acessibilidade do

público às atividades. Nesse mesmo contexto, optou-se por lugares centrais e

próximos aos diversos espaços culturais públicos e privados e do “Sistema S”15, com

a finalidade de estabelecer um circuito que pudesse ser percorrido a pé e que

também auxiliasse na divulgação dos espaços culturais do entorno.

Segundo Marili Azim, a maioria dos palcos foram montados em praças ou

calçadões, justamente, para acomodar o público e não causar prejuízos aos

moradores, comerciantes ou trânsito. Sobre a relação dos palcos com os

patrimônios históricos, comenta que existe a preocupação de dar visibilidade a

14 Marili Azim é formada em pintura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP) e especialista em Conservação e restauro de Obras sobre papel pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). É analista cultural e servidora pública concursada da Fundação Cultural de Curitiba desde 1991. Antes de ocupar sua função atual já foi coordenadora de Artes Visuais, de Programação Visual, de Difusão Cultural e de Exposições. 15 Termo que define um conjunto de instituições que tem o nome iniciado com a letra “S” e raízes e características organizacionais similares. Fazem parte desse sistema: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Serviço Social do Comércio (SESC), Serviço Social da Indústria (SESI), Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (SENAC), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), Serviço Nacional de Aprendizado do Cooperativismo (SESCOOP) e Serviço Social de Transporte (SEST).

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esses locais durante o evento, já que uma das metas é propiciar que a comunidade

conheça e se aproprie da cidade.

Sobre a programação dos palcos, Azim explica que cada palco é direcionado

a um perfil de público, exemplifica: Palco Riachuelo com MPB, Palco Ruínas com

Rock, Palco Praça da Espanha com Jazz, e Palco Boca Maldita diversifica as

atrações devido à expectativa de público maior e variado. Ocorrendo pequenas

variações entre essa grade, a programação é definida em conjunto entre a

Fundação Cultural de Curitiba e os parceiros do evento.

Por fim, informa que a partir de 2013 a FCC passou a contar com incentivo da

iniciativa privada à título de apoio ou patrocínio. No relatório da corrente cultural de

2013, disponibilizado durante a entrevista, é importante destacar alguns dados. O

investimento de parceiros (SESI, SESC, SEEC) totalizou 1,2 milhões de reais, foram

gerados 1.500 empregos diretos pelo evento, foram distribuídos 60 mil mapas de

programação, foram publicados anúncios na Gazeta do povo e Tribuna do Paraná,

inserções durante programas da Rede Paranaense de Comunicação (RPC), e

divulgação digital por meio de mensagens na internet. O documento destaca que

com a divulgação nos meios de comunicação tradicionais e eletrônicos, o cálculo do

retorno de mídia chega a 1,3 milhões. (RELATÓRIO DA CORRENTE CULTURAL

DE CURITIBA, 2013, p.1)

A fala de um integrante da Fundação Cultural de Curitiba, instituição que

administra a maior parte dos espaços culturais públicos da cidade e organiza o

evento da Virada Cultural de Curitiba, vai ao encontro de documentos utilizados para

embasar essa pesquisa e evidencia o empreendedorismo urbano, que por meio de

inovações busca obter capital de investimento, atraindo fluxos de produção,

financeiros e de consumo de alta mobilidade e flexibilidade para a cidade em prol do

desenvolvimento econômico (HARVEY, 2005, p. 180).

Nesse contexto, vale refletir sobre como as intervenções ao patrimônio

histórico estão sendo executadas na cidade e se as justificativas para tais ações

visam a qualidade de vida da população ou remetem apenas aos lucros obtidos por

essas atividades. Em um cenário de transformação do espaço urbano, baseado na

criação de estratégias para fomentar a economia local e global, os aspectos

apontados nessa pesquisa mostram a importância dessas ações no sistema

capitalista.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As transformações urbanas na cidade de Curitiba ocorrem pautadas nas

diretrizes do Plano Diretor, bem como as intervenções no âmbito do patrimônio

histórico e seus desdobramentos. Patrimônio esse que compõe a imagem do

município e se relaciona com a identidade cultural do local, são elementos

considerados marcos urbanísticos e que também desempenham a função de abrigar

práticas operacionais e eventos programados.

Ao analisar as políticas públicas de proteção e preservação do patrimônio na

capital paranaense foi possível observar a relação de caráter intrínseco dessas

medidas com o Plano Diretor da cidade e acompanhar como diferentes áreas que

compõe a estrutura urbana se confrontam com os componentes do patrimônio no

município. Nesse sentido, esse documento molda as ações implementadas na

dinâmica urbana em todos os aspectos.

As ações e iniciativas públicas em cultura sempre foram observadas com

atenção pelo planejamento de Curitiba, levando em consideração a ideia de que a

dinâmica social e econômica se apoia em crenças e valores culturais (IPPUC, 2004,

p. 48). Durante a pesquisa foi possível notar a incorporação das práticas de

valorização patrimonial nos eventos e no campo turístico da cidade. A gestão desses

fatores ocorre com contribuições da iniciativa privada e agrega interesses de

diferentes instituições envolvidas no processo.

Dentro do contexto apresentado no desenvolvimento dessa pesquisa, foi

sugerido como proposta de análise a finalidade da utilização de patrimônios

históricos dentro da Virada Cultural e sua inserção como palcos do evento. Ao longo

do estudo percebeu-se com base nas fontes e referencial teórico, que um possível

desfecho para esse questionamento seria a promoção da cidade para atrair

investidores e dinamizar sua economia por meio de formas inovadoras de aquisição

de capital.

Um dos principais elementos na organização da Virada Cultural e nos usos

destinados ao patrimônio é a presença da parceria público-privada que integra os

poderes governamentais locais e a iniciativa privada a fim de conquistar fontes

externas de financiamento e investimentos diretos ou indiretos (HARVEY, 2005, p.

173). Foi possível notar que o patrimônio histórico no município exerce sua função

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de suporte memorial, mas que para além disso, faz parte de uma estrutura que

procura realçar as tradições locais e afirmar sua identidade para impor uma marca

que confirme sua condição na rede de cidades globais (ARANTES, 2000, p.62)

Outro ponto que permite reflexão é o valor de uso que o lugar representa para

seus habitantes e o valor de troca com que ele se apresenta para interessados em

extrair benefícios econômicos (ARANTES, 2000, p. 26). Relacionando com o

empreendedorismo explicitado por Harvey, a construção de um lugar ou a sua

requalificação tem muitas vezes um impacto pequeno levando em consideração o

território como um todo. Em geral os benefícios para a população são ínfimos, e os

projetos específicos de um determinado lugar acabam se tornando prioridade da

atenção pública, desviando o foco de problemas mais amplos ou até mesmo

recursos, que podem afetar a região ou o território em sua totalidade (HARVEY,

2005, p. 174)

É necessário ainda pensar sobre a destinação do patrimônio na cidade, que

para poupar o seu desuso, muitas vezes é exposto ao desgaste (CHOAY, p.219) ou

ainda permanece apenas como marco urbanístico banalizando sua essência.

Nessas condições o patrimônio acaba rompendo com sua significação dentro da

comunidade em que está inserido, e no exemplo da aplicação da Virada passa a

refletir uma ideologia impressa no planejamento da cidade e se limita à atribuição

que lhe foi concedida, de mercadoria para consumo cultural e turístico.

Ainda que sejam utilizados como palcos do evento acabam se tornando um

dos recursos da política de image-making, auxiliando na reafirmação da imagem da

capital e, juntamente, com a própria Virada tornam-se estratégia de propaganda da

cidade global para atração de investimentos. A descaracterização de sua identidade

em nome de decisões políticas e econômicas restringe a participação de cidadãos e

desvincula qualquer questão social da sua valorização e preservação.

Como visto nos documentos analisados durante o estudo, algumas

intervenções foram realizadas na cidade a fim de revitalizar espaços. Esses novos

espaços urbanos ocupam uma posição turística e apontam como referências

culturais de Curitiba, como o Centro Histórico, a Rua XV de novembro, o bairro do

Batel, os diversos centros culturais, museus, parques e praças da cidade.

São roteiros promovidos a atrações e que, segundo os registros públicos,

foram produzidos para proporcionar qualidade de vida aos cidadãos e recuperar a

vida local. (CURITIBA, 2004, p. 7-11). Entretanto, a população dessas áreas acaba

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ficando à mercê do poder público e de interesses corporativos, muitas vezes sendo

afastada dos locais requalificados que ficam acondicionados aos seus

desenvolvedores, com isso ocorre a subordinação de um espaço público ao controle

privado (ARANTES, 2000, p.36).

Esse processo de retirada acontece por conta de uma aparente

reestruturação em troca da valorização do solo, vista como fundamental para atrair

olhares de investidores. Como sugere Arantes, o processo denominado

gentrification16, que trata da eletização e enobrecimento de determinadas áreas da

cidade, acaba transferindo oportunidades do público em geral para grupos

privilegiados; que podem escolher onde viver, trabalhar e usufruir de suas condições

(ARANTES, 2000, p. 28).

Levando em consideração essas características, os espaços revitalizados, e

normalmente, financiados por meio do sistema público-privado; adaptam-se

facilmente às questões econômicas e produzem uma espécie de seletividade e

desigualdade na apropriação desses locais. Para Harvey, essas tentativas de inserir

a cidade em uma posição privilegiada no mundo global, causam impactos na

distribuição de renda, na efemeridade dos benefícios trazidos por grande parte dos

projetos e nas alterações da malha urbana, diz ainda que “ a concentração no

espetáculo e na imagem, e não na essência dos problemas sociais e econômicos

também pode se revelar deletéria a longo prazo” (HARVEY, 2005, p. 189).

Curitiba atende à padrões estabelecidos por seu plano diretor e segue

tendências internacionais de competição urbana, os princípios incorporados em suas

políticas públicas definem o futuro e a manutenção de sua estrutura. A realização de

eventos como a Virada Cultural e a utilização de seu patrimônio histórico para

promover sua imagem, atendem a critérios calculados estrategicamente em sua

política de desenvolvimento urbano, e previstos na elaboração de ações

socioeconômicas.

16 O termo foi usado pela primeira vez em um estudo da socióloga Ruth Glass, a expressão deriva do substantivo inglês gentry, que se refere a indivíduos de “origem nobre”. Portanto, a expressão foi concebida originalmente para fazer referência a um processo de enobrecimento de determinados lugares da cidade, anteriormente caracterizados como áreas predominantemente populares. (PEREIRA, 2004, p. 308)

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ANEXOS

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ANEXO A – MAPA DO SETOR HISTÓRICO DE CURITIBA

FONTE: SEBRAE/CURITIBA TURISMO. Mapa de Curitiba. Centro e Centro Histórico Rotas do Pinhão. Curitiba, nov. 2015.

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ANEXO B – REPORTAGEM VIRADA CULTURAL

FONTE: FILHO, Carlos Guimarães.”Virada” anima comércio do Centro de Curitiba. Gazeta do Povo, Curitiba, 03 nov. 2010. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/> Acesso em: 22 out. 2016.

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ANEXO C – INFORME SOBRE REVITALIZAÇÕES

FONTE: CURITIBA. Prefeitura Municipal de Curitiba. Curitiba faz bem pra você. 2. Ed. Curitiba, 2013

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ANEXO D – PROPAGANDA POLÍTICA CULTURAL

FONTE: CURITIBA. Prefeitura Municipal de Curitiba. Curitiba faz bem pra você. 2. Ed. Curitiba, 2013

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ANEXO E – MAPA VIRADA CULTURAL 2010

FONTE: GAZETA DO POVO. Caderno G. 06 nov. 2010, p. 5.

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ANEXO F – MAPA DA VIRADA CULTURAL 2011

FONTE: GAZETA DO POVO. Caderno G. 04 nov. 2011, p. 11.

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ANEXO G – MAPA VIRADA CULTURAL 2012

FONTE: PONIWASS, Luigi. Caldeirão maior, mistura mais rala. Gazeta do Povo, Curitiba, 30 out. 2012. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/> Acesso em: 22 out. 2016