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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
FRANCIELE FERRO YAMASAKI
RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL
CURITIBA
2016
FRANCIELE FERRO YAMASAKI
RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL
Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientador: Profº. Marcos Aurélio de Lima Junior
CURITIBA
2016
TERMO DE APROVAÇÃO
FRANCIELE FERRO YAMASAKI
RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL
Esta monografia foi apresentada à Coordenação do curso de Direito da Universidade
Tuiuti do Paraná – UTP, para que seja julgada e aprovada para obtenção do título de
Bacharel em Direito.
Curitiba, ____ de ________________ de 2016.
______________________________________________________
Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite
Coordenador do Núcleo de Monografia
______________________________________________________
Prof. Marcos Aurélio de Lima Junior
Orientador
______________________________________________________
Professor (a) Examinador (a)
Universidade Tuiuti do Paraná
______________________________________________________
Professor (a) Examinador (a)
Universidade Tuiuti do Paraná
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho, primeiramente, aos meus pais, Vera e Sérgio, como
forma de gratidão por todo o apoio e suporte que me deram ao longo de minha
formação acadêmica e por todo o carinho e amor incondicional de uma vida inteira.
Ao meu irmão Rafael, por ser sempre tão solícito e por permanecer ao meu
lado em todos os momentos, bons ou ruins.
Ao meu esposo Eiji, pelo amor, companheirismo, respeito e dedicação.
Obrigada por me fazer sentir tão amada.
À família Yamasaki, em especial meus sogros Elisa e Masanori, e à minha
cunhada Andrea, por terem me recebido de braços abertos nessa família tão
acolhedora.
Vocês me inspiram a ser uma pessoa melhor, todos os dias.
AGRADECIMENTOS
À Universidade Tuiuti do Paraná, ao coordenador do curso de direito e à
todos os funcionários desta instituição, pela prontidão e dedicação no atendimento
prestado aos alunos.
Ao excelente corpo docente da Faculdade de Ciências Jurídicas da UTP, por
desempenharem com muita dedicação as aulas ministradas.
Ao meu orientador, Professor Marcos Aurélio de Lima Junior, pelo apoio,
paciência e por toda a ajuda para que esse trabalho fosse concluído.
Aos amigos que fiz ao longo destes 5 anos, em especial à Bruna e ao
Evandro, por deixarem as manhãs mais divertidas. Amigos que quero levar para a
vida toda.
Por fim, à minha família, por todo o amor e incentivo.
RESUMO
A presente monografia pretende demonstrar que o ordenamento jurídico brasileiro possui mecanismos que buscam a efetiva proteção do meio ambiente. Para tanto, abordará sobre o instituto da responsabilidade civil nos casos em que há lesão ao meio ambiente. Verificar-se-á que, em matéria ambiental, a espécie de responsabilidade adotada é a objetiva, baseando-se na teoria do risco integral, que visa a reparação do dano causado independentemente de culpa do agente. O objetivo da responsabilidade civil ambiental é a possível reparação do dano causado para que retorne ao status quo ante, ou seja, o estado em que o bem ambiental afetado se encontrava antes do dano causado. Palavras-chave: Direito Ambiental. Dano Ambiental. Responsabilidade Civil
Ambiental.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................8
2 MEIO AMBIENTE......................................................................................................9
2.1 CONCEITO DE MEIO AMBIENTE.........................................................................9
2.2 CLASSIFICAÇÃO DO MEIO AMBIENTE.............................................................10
2.2.1 Meio Ambiente Natural......................................................................................10
2.2.2 Meio Ambiente Artificial.....................................................................................10
2.2.3 Meio Ambiente Cultural.....................................................................................11
2.2.4 Meio Ambiente do Trabalho..............................................................................11
3 DIREITO AMBIENTAL............................................................................................13
3.1 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO AMBIENTAL...............................................14
3.1.1 Princípio do desenvolvimento sustentável........................................................14
3.1.2 Princípio do poluidor-pagador e do usuário-pagador........................................14
3.1.3 Princípio da prevenção e da precaução............................................................15
3.1.4 Princípio da participação...................................................................................16
3.1.5 Princípio da responsabilidade...........................................................................16
3.2 TUTELA CONSTITUCIONAL DO MEIO AMBIENTE...........................................16
4 RESPONSABILIDADE CIVIL.................................................................................20
4.1 PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO INTEGRAL...........................................................21
4.1 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE................................................................22
4.1.1 Responsabilidade civil e responsabilidade penal..............................................22
4.1.2 Responsabilidade contratual e extracontratual.................................................22
4.1.3 Responsabilidade subjetiva e responsabilidade objetiva..................................23
4.2 PRESSUPOSTOS GERAIS DA RESPONSABILIDADE CIVIL............................23
4.2.1 Ação ou omissão...............................................................................................24
4.2.2 Culpa ou dolo do agente...................................................................................24
4.2.3 Dano..................................................................................................................25
4.2.4 Nexo de causalidade.........................................................................................26
5 RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL.......................................27
5.1 DANO AMBIENTAL..............................................................................................27
5.2 CARACTERÍSTICAS DO DANO AMBIENTAL.....................................................28
5.2.1 Pulverização de vítimas.....................................................................................29
5.2.2 A dificuldade inerente à ação reparatória..........................................................29
5.2.3 A dificuldade da valoração................................................................................29
5.3 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL.....................31
5.3.1 Teoria do risco integral......................................................................................33
5.4 REPARAÇÃO DO DANO AMBIENTAL................................................................35
5.4.1 Restauração natural..........................................................................................35
5.4.2 Reparação econômica.......................................................................................36
5.4.3 O seguro ambiental como forma de reparação do dano...................................36
5.5 INSTRUMENTOS PROCESSUAIS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL.....................37
5.5.1 Procedimento civil ordinário..............................................................................37
5.5.2 Ação Civil Pública..............................................................................................37
5.5.3 Ação Popular.....................................................................................................39
5.5.4 Mandado de Segurança Ambiental Coletivo.....................................................39
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................40
REFERÊNCIAS..........................................................................................................42
8
1 INTRODUÇÃO
O meio ambiente sempre foi um assunto muito debatido entre as pessoas,
tanto nacional quanto internacionalmente. Entretanto, ao longo dos anos, com a
observância da finitude dos recursos naturais, este tema ganhou maiores
proporções.
Pode-se afirmar que a maior causa de danos ambientais que ocorrem têm
influência da atividade humana, através de atividades altamente poluidoras.
A partir do momento em que o meio ambiente sádio é afetado por uma
atividade humana, causando-lhe danos que muitas vezes são irreversíveis, surge,
então, o instituto da responsabilidade, que no direito brasileiro se dá de três formas:
responsabilidade penal, responsabilidade administrativa e responsabilidade civil,
sendo esta última o assunto deste trabalho.
A Lei n. 6.938/81, que disciplina sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,
dispõe no § 1º do art. 14 que o poluidor é obrigado a indenizar ou reparar os danos
causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade,
independentemente de existência de culpa.
Visando a reparação dos danos causados ao meio ambiente, na sua
integralidade, é que aplica-se, no Direito Ambiental, a responsabilidade civil objetiva,
fundada na teoria do risco integral, responsabilizando o agente causador do dano,
independentemente de culpa.
Neste trabalho, pretende-se tratar dos aspectos relevantes da
responsabilidade civil ambiental. Para tanto, será abordado sobre o conceito legal de
meio ambiente bem como seus aspectos, as espécies de responsabilidade civil, o
surgimento do direito ambiental, os princípios norteadores do direito ambiental, o
meio ambiente tutelado pela Constituição Federal de 1988, os aspectos do dano
ambiental e a aplicabilidade destes aspectos no caso do rompimento da barragem
de Fundão, em Mariana – MG, da mineradora Samarco, no dia 5 de novembro de
2015 e, por fim, discorrer sobre a responsabilidade civil por dano ambiental,
demonstrando sua importância como um instrumento de tutela do meio ambiente e,
ainda, apresentar as formas de reparação do dano existentes no ordenamento
jurídico brasileiro.
9
2 MEIO AMBIENTE
2.1 CONCEITO DE MEIO AMBIENTE
Define-se meio ambiente, de forma genérica, como tudo aquilo que está ao
nosso redor.
Há uma certa problemática em definir “meio ambiente” uma vez que, em virtude
de sua riqueza e complexidade, torna-se melhor compreendê-la do que defini-la.
(MILARÉ, 2009, p. 112).
Pode-se afirmar, ainda, que o termo meio ambiente é criticado pela doutrina,
pois “meio” é aquilo que está no centro de algo, enquanto “ambiente” é o local onde
habitam seres vivos, entendendo-se, assim, que a palavra ambiente traz consigo o
conceito de meio, tornando o termo meio ambiente um pleonasmo. (SIRVINSKAS,
2015, p. 126). Por tal razão, a disciplina jurídica é denominada de Direito Ambiental
ao invés de Direito do Meio Ambiente.
Entretanto, infere-se da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº
6.938/81), especificamente em seu artigo 3º, inciso I, que “entende-se por meio
ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
José Afonso da Silva ensina que:
Meio ambiente é, assim, a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas. (SILVA, 2013, p. 20)
Nas palavras de Paulo de Bessa Antunes:
Meio ambiente compreende o humano como parte de um conjunto de relações econômicas, sociais e políticas que se constroem a partir da apropriação dos bens naturais que, por serem submetidos à influência humana, transformam-se em recursos essenciais para a vida humana em quaisquer de seus aspectos. (ANTUNES, 2009 p. 9).
Deste modo, considerando que a definição de meio ambiente é ampla,
demonstra-se que o legislador optou por trazer um conceito jurídico indeterminado, a
fim de criar um espaço positivo de incidência da norma. (FIORILLO, 2009, p. 19).
10
Em resumo, o meio ambiente corresponde a uma interação de tudo que,
situado nesse espaço, é essencial para a vida com qualidade em todas as suas
formas. (RODRIGUES, M. A., 2016, p. 70).
A Constituição Federal de 1988, visando a tutela do meio ambiente natural,
artificial, cultural e do trabalho, recepcionou, em seu art. 225, o conceito adotado
pela Lei da Política Nacional do Meio Ambiente.
2.2 CLASSIFICAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
Da interpretação do art. 225 da Constituição Federal identifica-se quatro
classificações do meio ambiente, que são: meio ambiente natural, meio ambiente
artificial, meio ambiente cultural e meio ambiente do trabalho. Essas classificações
facilitam a identificação da atividade degradante e do bem que está sendo agredido.
2.1.1 Meio Ambiente Natural
Pode-se afirmar que o meio ambiente natural é, de todos, o mais fácil de se
identificar, pois, é ele que engloba toda a natureza em si. Ele é constituído pelos
recursos naturais como a atmosfera, água, solo, subsolo, fauna e flora. Consistente
no equilíbrio dinâmico entre os seres vivos e o meio em que vivem. (FIORILLO,
2009, p. 20)
O meio ambiente natural é tutelado pelo caput do artigo 225 da Constituição
Federal, bem como no § 1º, incisos I, III e VII.1
2.1.2 Meio Ambiente Artificial
1 Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;[...] III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; [...] VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
11
O meio ambiente artificial surge com a intervenção humana. Conforme
entendimento de Celso Antonio Pacheco Fiorillo, “é compreendido pelo espaço
urbano construído, consistente no conjunto de edificações (espaço urbano fechado),
e pelos equipamentos públicos (espaço urbano aberto).” (FIORILLO, 2009, p. 21).
Portanto, entende-se por espaço urbano fechado como sendo uma casa, um prédio,
e espaço urbano aberto como parques, áreas verdes, etc.
Sua previsão legal está nos artigos 5º, XXIII, 21, XX, 182, 225, todos da
Constituição Federal.2
2.1.3 Meio Ambiente Cultural
O meio ambiente cultural também surge com a intervenção humana,
distinguindo-se do meio ambiente artificial apenas pelo seu valor cultural. Neste
sentido, o Professor José Afonso da Silva destaca que o meio ambiente cultural “é
integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico, que
embora artifical, em regra, como obra do homem, difere do anterior (que também é
cultural) pelo sentido de valor especial.” (SILVA, 2013 p. 21).
A tutela do meio ambiente cultural está no artigo 216 da Constituição Federal.3
2.1.4 Meio Ambiente Do Trabalho
A tutela do meio ambiente do trabalho é destinada à proteção dos
trabalhadores pois, considera-se meio ambiente do trabalho o lugar onde é exercida
a atividade laboral de alguém, tanto na área urbana como na rural.
2 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; Art. 21. Compete à União: XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos; Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. 3 Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: [...]
12
Conforme disciplina Celso Antonio Pacheco Fiorillo:
Constitui meio ambiente do trabalho o local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais relacionadas à sua saúde, sejam remuneradas ou não, cujo equilíbrio está baseado na salubridade do meio e na ausência de agentes que comprometam a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores, independente da condição que ostentem. (FIORILLO, 2009, p. 22).
A fim de proteger o trabalhador, o meio ambiente do trabalho é tutelado
constitucionalmente nos artigos 7º, inciso XXIII e 200, incisos VII e VIII, da
Constituição Federal.4
4 Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social: [...] XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: [...] VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;
13
3 DIREITO AMBIENTAL
Foi em meados do século XX que iniciou-se um processo de
conscientização sobre a finitude dos recursos naturais. Até o final da década de
1970, não existia sequer um perfil constitucional expresso ou normas legais que
reconhecessem o meio ambiente como bem per se. (MILARÉ, 2009, p. 812).
No Brasil, o marco inicial do direito ambiental se deu com a promulgação da
Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81), pois, a partir dela, é que
o direito ambiental foi considerado como um ramo autônomo do direito. Ainda, coube
à Constituição Federal de 1988 aderir, em seu artigo 225, a proteção do meio
ambiente.
A principal função do direito ambiental é proteger o meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem como ensina Édis Milaré (2009, p. 817), “conservar
a vitalidade, a diversidade e a capacidade de suporte do planeta Terra, para usufruto
das presentes e futuras gerações.”
Ainda, no sentido de conceituar o Direito Ambiental, Luís Paulo Sirvinskas
diz:
[...] direito ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute as questões e os problemas ambientais e sua relação com o ser humano, tendo por finalidade a proteção do meio ambiente e a melhoria das condições de vidano planeta. (SIRVINSKAS, 2015, p. 108).
Nas palavras de Paulo de Bessa Antunes:
“A preocupação fundamental do direito ambiental é organizar a forma pela qual a sociedade se utiliza dos recursos ambientais, estabelecendo métodos, critérios, proibições e permissões, definindo o que pode e o que não pode ser apropriado economicamente (ambientalmente).” (ANTUNES, 2009, p. 3)
Por fim, cabe destacar aqui, o conceito de Direito Ambiental apresentado por
Paulo Affonso Leme Machado:
O Direito Ambiental é um Direito sistematizador, que faz a articulação da legislação, da doutrina e da jurisprudência concernentes aos elementos que integram o ambiente. Procura evitaro isolamento dos temas ambientais e sua abordagem antagônica. Não se trata mais de construir um Direito das águas, um Direito da atmosfera, um Direito do solo, um Direito florestal, um Direito da fauna ou um Direito da biodiversidade. O Direito Ambiental não
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.
14
ignora o que cada matéria tem de específico, mas busca interligar estes temas com a argamassa da identidade dos instrumentos jurídicos de prevenção e de reparação, de informação, de monitoramento e de participação. (MACHADO, 2009, p. 54).
Assim como qualquer outro ramo do direito, o direito ambiental utiliza-se de
princípios que auxiliam na efetividade da proteção ao meio ambiente.
3.1 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO AMBIENTAL
3.1.1 Princípio do desenvolvimento sustentável
Infere-se do caput do art. 225 da Constituição que devemos defender e
preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações. Pode-se afirmar,
assim, que o princípio do desenvolvimento sustentável tem por objetivo gerar
harmonia entre a economia e o meio ambiente, para que os recursos hoje existentes
não se esgotem ou se tornem inócuos. (FIORILLO, 2009, p. 28). Além do caput do
art. 225, o princípio do desenvolvimento sustentável possui respaldo legal no art.
170, inciso VI, da Constituição Federal.5
Neste sentido, o autor José Ricardo Alvarez Vianna explica:
Infere-se, portanto, que seu escopo é equalizar, harmonizar, encontrar um equilíbrio entre atividade econômica e uso adequado, racional e responsável dos recursos naturais, respeitando-os e preservandos-os para as gerações atuais e subsequentes. (VIANNA, 2004, p. 57).
É através do princípio do desenvolvimento sustentável que a legislação
ambiental atua como mecanismo de intervenção da ordem financeira e econômica.
3.1.2 Princípio do poluidor-pagador e do usuário-pagador
É importante salientar que o princípio do poluidor-pagador não significa
permissão para poluir mediante pagamento. Na verdade, o intuito deste princípio é
obrigar o poluidor a responder pelos prejuízos que causa ao meio ambiente.
Neste sentido, Luís Paulo Sirvinskas explica:
5 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem
por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação;
15
Pode parecer um paradoxo, mas o fato de o poluidor ser obrigado a reparar os danos causados não significa que ele poderá continuar a poluir. Ressalte-se que essa reparação deve ser integral. Não sendo possível a recomposição, o poluidor deverá ressarcir os danos em espécie cujo valor deverá ser depositado no fundo para o meio ambiente. (SIRVINSKAS, 2015, p. 148).
Já o princípio do usuário-pagador não possui caráter punitivo, pois é
caracterizado pela compensação remuneratória do direito de uso de algum recurso
natural. Ou seja, está relacionado ao usuário de um serviço público qualquer, como
por exemplo a água, o esgoto. (SIRVINSKAS, 2015, p. 148).
Os princípios do poluidor-pagador e do usuário-pagador possuem previsão
legal no art. 225, §§ 2º e 3º da Constituição Federal 6 e art. 14, § 1º da Lei da
Política Nacional do Meio Ambiente.7
3.1.3 Princípio da prevenção e da precaução
Apesar da discussão doutrinária que há acerca destes princípios, onde
alguns alguns juristas se referem ao princípio da prevenção enquanto outros o
remetem ao princípio da precaução, e há também quem se utiliza das duas
denominações, supondo ou não diferenças entre elas (MILARÉ, 2009, p. 822),
ambos os princípios são distintos e essenciais no direito ambiental.
O princípio da prevenção visa impedir que atividades que ofereçam risco ao
meio ambiente sejam executadas. É através da aplicação de medidas acautelatórias
6 Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. [...] § 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. 7 Art 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não
cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: [...] § 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.
16
que pode-se evitar que danos ao meio ambiente ocorram. Para tanto, os riscos
devem ser conhecidos e previsíveis.
Já no princípio da precaução, não é possível prever se a atividade irá
acarretar em danos ao meio ambiente. Portanto, caberá ao interessado o ônus de
provar que sua atividade não prejudicará o meio ambiente.
Resumidamente, trata-se de prevenção quando os riscos ou impactos são
conhecidos pela ciência, e de precaução quando estes são desconhecidos.
(MILARÉ, 2009, p. 823).
3.1.4 Princípio da participação
O artigo 225 da Constituição Federal dispõe que é dever de todos defender
e preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado. Ou seja, a participação do
cidadão em matéria ambiental é uma imposição constitucional.
3.1.5 Princípio da responsabilidade
Com previsão no art. 225, § 3º, da Constituição Federal8, esse princípio
dispõe que aquele que causar dano ao meio ambiente, fica obrigado a arcar com os
prejuízos causados, devendo repará-los ou indenizá-los.
3.2 TUTELA CONSTITUCIONAL DO MEIO AMBIENTE
A Constituição Federal de 1988 foi a primeira a tratar sobre o meio ambiente,
trazendo, inclusive, um capítulo específico sobre o tema. Além do seu capítulo
próprio, há previsão em outros artigos, que dispõem sobre as obrigações da
sociedade e do Estado brasileiro com o meio ambiente.
Em se tratando de meio ambiente, as Constituições anteriores não previam
sua tutela, isso porque, as referências aos recursos ambientais eram feitas de
8 Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. [...] § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
17
maneira não sistemática, sendo considerados apenas como recursos econômicos.
(ANTUNES, 2005, p. 59).
Ainda, segundo o autor acima mencionado, a Constituição Imperial de 1824
não fez qualquer referência à matéria ambiental, mesmo sendo o País, à época,
grande exportador de produtos agrícolas e minerais. Já no período republicano, a
Constituição Federal de 1891 apenas atribuiu competência legislativa à União para
legislar sobre as suas minas e terras. A Constituição de 1934 atribuiu à União a
competência de legislar sobre os bens de domínio federal, riquezas do subsolo,
mineração, metalurgia, água, energia hidrelétrica, florestas, caça e pesca e sua
exploração. A Carta Magna de 1937 repetiu o disposto na Constituição de 1934,
retirando a competência da União de legislar sobre as riquezas do subsolo.
Entretanto, na Constituição de 1946 as riquezas do subsolo voltaram a ser de
competência legislativa da União. Por fim, a Constituição Federal de 1967 dispôs
que competia à União organizar a defesa permanente contra as calamidade
públicas, especialmente a seca e as inundações. (ANTUNES, 2005, p. 59-62).
Na Constituição Federal de 1988 é possível perceber que há uma enorme
preocupação com o meio ambiente por parte do constituinte. Neste sentido:
A preocupação foi tanta com o meio ambiente que o nosso legislador constituinte resolveu reservar-lhe um capítulo inteiro na Constituição Federal, procurando disciplinar a matéria diante de sua importância mundial. (SIRVINSKAS, 2015, p. 158).
Ainda, é possível compreender que o constituinte pretendeu assegurar a
todos o direito de que as condições que permitem, abrigam e regem a vida não
sejam alteradas desfavoravelmente, uma vez que estas são essenciais. (ANTUNES,
2005, p. 67).
O capítulo do meio ambiente na Constituição Federal é composto pelo artigo
225, e é ele quem determina que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um
direito de todos e bem de uso comum do povo:
“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.”
18
O vocábulo “todos” significa qualquer pessoa que se encontre em território
nacional. Como bem afirma o autor Paulo de Bessa Antunes:
Aqui há uma evidente ampliação do rol dos direitos constitucionalmente garantidos, pois, diferentemente dos direitos eleitorais e os de controle da probidade administrativa, não se exige a condição de cidadão. (ANTUNES, 2012, p. 68).
Infere-se da Constituição Federal de 1988, que a primeira referência
expressa ao meio ambiente está elencada no art. 5º, inciso LXXIII, que disciplina que
qualquer cidadão possui legitimidade para propor ação popular a fim de anular o ato
lesivo praticado contra o meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. Mais
adiante, o art. 20, inciso II, considera, entre os bens da União, as terras devolutas
indispensáveis à preservação do meio ambiente.
O art. 23, incisos III, VI e VII, reconhece a competência comum da União,
Estados, Distrito Federal e Municípios para proteger as paisagens naturais notáveis,
o meio ambiente bem como combater a poluição em todas as suas formas e
preservar as florestas, a fauna e a flora. Já a competência concorrente da União,
Estados e Distrito Federal para legislar sobre florestas, caça, pesca, fauna,
conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio
ambiente e controle da poluição, bem como a responsabilidade por dano ao meio
ambiente está prevista no art. 24, incisos VII e VIII.
Encontra-se, ainda, no art. 91, § 1º, inciso III, a atribuição do Conselho de
Defesa Nacional de opinar sobre o efetivo uso das áreas indispensáveis à
segurança do territorio nacional, especialmente na faixa de fronteira e nas
relacionadas com a preservação e a exploração dos recursos naturais de qualquer
tipo. Após, vem o art. 129, inciso III, que dispõe que uma das funções do Ministério
Público é promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos. O art. 170, inciso VI, prevê que a defesa do meio ambiente é um dos
princípios da ordem econômica. A diante, o art. 186, inciso II, prevê que a utilização
adequada dos recursos naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente
constituem um requisito da função social da propriedade rural.
O art. 200, inciso VIII é de suma importância, uma vez que atribui
competência ao Sistema Único de Saúde para colaborar na proteção do meio
ambiente, nele compreendido o do trabalho. Essa referência ao ambiente de
19
trabalho se conjuga com o direito dos trabalhadores a um ambiente de trabalho
higiênico, previsto no art. 7º, inciso XXII da Constituição. Em seguida, o art. 216,
inciso V, dispõe que constituem bens integrantes do patrimônio cultural brasileiro, os
conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico. Após, o art. 220, § 3º, inciso II, disciplina que
compete à lei federal estabelecer os meios legais que garantam às pessoas e à
família a possibilidade de se defenderem da propaganda de produtos, práticas e
serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente. A diante, vem o
capítulo próprio do meio ambiente, o art. 225, e, por fim, o art. 231, § 1º, que faz
refrência às terras ocupadas pelos índios imprescindíveis à preservação dos
recursos ambientais necessários a seu bem-estar. (SILVA, J. A., 2013, p. 50-52).
Com base na análise dos artigos constitucionais que versam sobre o meio
ambiente, especialmente o art. 225, é correto afirmar que o consituinte impôs ao
Poder Público o dever de atuar na preservação e na defesa do meio ambiente.
Além do Poder Público, o dever de defender e preservar o meio ambiente
para as presentes e futuras gerações é de todos, pois trata-se de um bem de uso
comum, da coletividade.
20
4 RESPONSABILIDADE CIVIL
Entende-se por responsabilidade civil a imposição de um dever de reparação
ao agente causador de um dano. O objetivo é reparar o prejuízo sofrido pela vítima,
que teve seu bem violado, seja através de um ato lícito ou ilícito.
A professora Maria Helena Diniz define a responsabilidade civil da seguinte
forma:
A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal. (DINIZ, 2008, p.3).
O artigo 186 do Código Civil dispõe que “aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
É a obrigação que pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo causado
a outra, por fato próprio, ou por fato de pessoas ou coisas que dela dependam.
(RODRIGUES, 2008, p. 6 apud SAVATIER, 1939).
Segundo o entendimento de José Afonso da Silva, a responsabilidade civil é
a que impõe ao infrator a obrigação de ressarcir o prejuízo causado por sua conduta
ou atividade. (2013, p. 336).
Pode-se afirmar, portanto, que responsabilidade exprime a ideia de
restauração do equilíbrio, de contraprestação, de reparação de dano.
(GONÇALVES, 2015, p. 19).
Oportuno consignar que a responsabilidade civil compreende também o
dever de indenizar o prejuízo causado. Ou seja, em casos que não é possível
apenas a reparação do dano, há a necessidade de indenização. O valor da
indenização será fixado de acordo com a extensão do dano causado.9 Neste
sentido, Sergio Cavalieri Filho diz:
A responsabilidade civil opera a partir do ato ilícito, com o nascimento da obrigação de indenizar, que tem por finalidade tornar indemne o lesado, colocar a vítima na situação em que estaria sem a ocorrência do fato danoso. (CAVALIERI FILHO, 2014, p. 16).
9 Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. (Código Civil de 2002).
21
Desta forma, entende-se que o objetivo da indenização é restaurar o
equilíbrio jurídico-econômico da vítima, fazendo com que ela retorne ao seu status
quo ante. Para tanto, aplica-se o princípio da reparação integral.
4.1 PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO INTEGRAL
Para se chegar à mais completa reparação dos danos sofridos pela vítima, é
que a aplicação do princípio da reparação integral é essencial no instituto da
responsabilidade civil.
O princípio da reparação integral teve origem no direito francês, quando, no
art. 1.149 do Code Civil, estabeleceu que a indenização pelos prejuízos oriundos do
inadimplemento de obrigações nascidas de contratos abrangeria os danos
emergentes e os lucros cessantes. (CAVALIERI FILHO, 2014, p. 27).
No Código Civil de 2002, o princípio da reparação integral está positivado no
art. 944, caput, ao dispor que “a indenização mede-se pela extensão do dano”, ou
seja, a reparação do dano deve equiparar-se à integralidade dos prejuízos sofridos
pela vítima. Portanto, o valor da indenização não poderá ultrapassar à totalidade dos
prejuízos, pois, do contrário, configurará enriquecimento sem causa por parte do
lesado.
Desse modo, há uma exceção à regra da reparação integral, que é o
parágrafo único do art. 944 do Código Civi.l10 Assim, pode o juiz, verificando que há
desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, fixar a indenização de acordo
com seu prudente arbítrio. (CAVALIERI FILHO, 2014, p. 28).
Portanto, entende-se que, para o princípio da reparação integral, o valor da
indenização não pode ultrapassar a extensão do dano, devendo limitar-se à
totalidade dos prejuízos efetivamente sofridos pela vítima, sob pena de acarretar em
enriquecimento injustificado.
Por fim, cabe salientar que não é admissível a reparação parcial do prejuízo
causado, pois a vítima faz jus a uma compensação que visa restabelecer o status
quo ante ou, ainda, recompor equitativamente o que se perdeu. (REIS, 2010, p. 2).
10 Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.
22
4.2 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE
4.2.1 Responsabilidade civil e responsabilidade penal
A principal diferença entre a responsabilidade civil e a responsabilidade
penal é que uma tem por objetivo reparar o dano causado, e a outra, punir o sujeito
que o causou.
Na responsabilidade penal, quando o agente infringe uma norma de direito
público, lesa o interesse da sociedade. Na responsabilidade civil, o interesse
diretamente lesado é o privado, podendo o prejudicado pleitear ou não a reparação.
(GONÇALVES, 2015, p. 42).
Pode-se diferenciar, ainda, a responsabilidade civil da responsabilidade
penal, de outras formas, como ensina Carlos Roberto Gonçalves:
Sob outros aspectos distinguem-se, ainda, a responsabilidade civil e a responsabilidade penal. Esta é pessoal, intransferível. Responde o réu com a privação de sua liberdade. Por isso, deve estar cercado de todas as garantias contra o Estado. A este incumbe reprimir o crime e arcar sempre com o ônus da prova. Na civil, não é o réu, mas a vítima que, em muitos casos, tem de enfrentar entidades poderosas, como as empresas multinacionais e o próprio Estado. Por isso, mecanismos de ordem legal e jurisprudencial têm sido desenvolvidos para cercá-la de todas as garantias e possibilitar-lhe a obtenção do ressarcimento do dano. (GONÇALVES, 2015,
p. 43).
Na responsabilidade penal, a culpabilidade do agente é um requisito
essencial, pondendo ser o sujeito obrigado a pagar uma multa, que é destinada ao
fundo penitenciário nacional11, à cumprir penas restritivas de direito12, prestação de
serviços à comunidade13 ou com a privação de sua liberdade, enquanto na
responsabilidade civil, é o patrimônio do devedor que responderá pelos danos
causados.
Em suma, quando a conduta humana for mais grave e atingir bens sociais
de maior relevância, será aplicável a lei penal, ficando para a lei civil a repressão
das condutas menos graves. (CAVALIERI FILHO, 2014, p. 30).
4.2.2 Responsabilidade contratual e extracontratual
11
Art. 73 da Lei nº 9.605/98. 12
Art. 7º da Lei nº 9.605/98. 13
Art. 9º da Lei nº 9.605/98.
23
Quando alguém descumpre uma obrigação estipulada em contrato, pode
acarretar em prejuízo a outrem. Carlos Roberto Gonçalves exemplifica:
“Quem toma um ônibus tacitamente celebra um contrato, chamado contrato de adesão, com a empresa de transporte. Esta, implicitamente, assume a obrigação de conduzir o passageiro ao seu destino, são e salvo. Se, no trajeto, ocorre um acidente e o passageiro fica ferido, dá-se o inadimplemento contratual, que acarreta a responsabilidade de indenizar as perdas e danos, nos termos do art. 389 do Código Civil.” (GONÇALVES, 2015, p. 44).
Há casos em que a responsabilidade não decorre de contrato, é a chamada
responsabilidade extracontratual, também conhecida como aquiliana, e refere-se à
prática de um ato ilícito que causa dano a alguém sem que haja o vínculo contratual
entre as partes. Na responsabilidade extracontratual, há uma inobservância da lei
por parte de um indivíduo que acarreta em prejuízo à outrem, como por exemplo
num caso de atropelamento, onde o sujeito causa lesões à vítima, devendo repará-
las. O ônus da prova, na responsabilidade extracontratual, é da vítima, cabendo à
ela comprovar, além do dano, a culpa e o nexo de causalidade entre eles.
4.2.3 Responsabilidade subjetiva e responsabilidade objetiva
Entende-se por responsabilidade subjetiva quando se inspira na ideia de
culpa, e responsabilidade objetiva quando esteada na teoria do risco. (RODRIGUES,
S., 2008, p. 11).
A responsabilidade subjetiva pressupõe a culpa como fundamento da
responsabilidade civil. A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto
necessário do dano indenizável. É objetiva quando independe de culpa, sendo esta
irrelevante para a configuração do dever de indenizar. (GONÇALVES, 2015, p. 48).
Silvio Rodrigues ensina que:
“Na responsabilidade objetiva a atitude culposa ou dolosa do agente causador do dano é de menor relevância, pois, desde que exista relação de causalidade entre o dano experimentado pela vítima e o ato do agente, surge o dever de indenizar, quer tenha este último agido ou não culposamente.” (RODRIGUES, S., 2008, p. 11).
A teoria do risco, que justifica a responsabilidade objetiva, diz que aquele
que exerce alguma atividade, e que através dela crie um risco de dano para
terceiros, será obrigado a repará-lo, ainda que sua conduta seja isenta de culpa.
4.3 PRESSUPOSTOS GERAIS DA RESPONSABILIDADE CIVIL
24
O Código Civil Brasileiro define ato ilícito em seu artigo 186: “Aquele que,
por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
Dessa forma, para que possa ser configurada a responsabilidade civil, é
necessária a existência de quatro pressupostos, que são: conduta, culpa, nexo
causal e dano.
A seguir, será abordado de forma específica cada um desses pressupostos
essenciais.
4.3.1 Ação ou omissão
O Código Civil prevê que qualquer pessoa que, por ação ou omissão, causar
dano a outrem, comete ato ilícito.14 Desse modo, classifica-se conduta como um
comportamento humano que se exterioriza através de uma ação ou omissão. É o
elemento primário de todo ilícito. (STOCO, 2011, p. 153).
A responsabilidade pode derivar de ato próprio, de terceiro que esteja sob a
guarda do agente e de danos causados por coisas e animais que lhe pertençam.
(GONÇALVES, 2015, p. 53).
A ação, forma mais comum de exteriorização da conduta (CAVALIERI
FILHO, 2014, p. 38), é caracterizada pela prática de um ou mais atos. Já a omissão,
é o oposto, é a abstenção de fazer o que deveria, é um deixar de agir.
4.3.2 Culpa ou dolo do agente
Não há definição expressa no ordenamento jurídico quanto ao elemento
culpa. O que ocorre é que o Código Civil cogita, em seu art. 186, o dolo como sendo
a ação ou omissão voluntária, e culpa como negligência ou imprudência.
(GONÇALVES, 2015, p. 53)
Rui Stoco, em seu tratado de responsabilidade civil, ensina que:
A culpa pode empenhar ação ou omissão e revela-se através: da imprudência (comportamento açodado, precipitado, apressado, exagerado ou excessivo); da negligência (quando o agente se omite deixa de agir quando deveria fazê-lo e deixa de observar regras subministradas pelo bom senso, que recomendam cuidado, atenção e zelo); e da imperícia (a
14
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
25
atuação profissional sem o necessário conhecimento técnico ou científico
que desqualifica o resultado e conduz ao dano). (STOCO, 2011, p. 1154).
Dolo é a conduta voluntária e intencional de alguém que pratica ou deixa de
praticar uma ação, visando causar dano a outrem. Já a culpa, também é uma
conduta voluntária mas que não é intencional, e que, por um descuido do agente,
seja por imprudência, negligência ou imperícia, causa dano à alguém.
4.3.3 Dano
O dano, proveniente do latim damnum, é um requisito essencial para a
caracterização da responsabilidade, pois, se não houvesse o dano, não haveria o
que reparar.
Neste sentido, ensina a Professora Maria Helena Diniz que o dano é um dos
pressupostos da responsabilidade civil, contratual ou extracontratual, visto que não
poderá haver ação de indenização sem a existência de um prejuízo. (DINIZ, 2008, p.
59).
A autora ainda complementa:
O dano pode ser definido como a lesão (diminuição ou destruição) que, devido a um certo evento, sofre uma pessoa, contra a sua vontade, em qualquer bem ou interesse jurídico, patrimonial ou moral. (DINIZ, 2008, p.62).
A obrigação de indenizar decorre da existência da violação de direito e do
dano, concomitantemente. (RODRIGUES, S., 2008, p. 55).
O dano pode ser de ordem material (ou patrimonial) e de ordem moral
(extrapatrimonial).
De um modo geral, difere-se dano material de dano moral no sentido de que,
um ocorre quando o patrimônio de alguém é lesado, e o outro ocorre quando a
dignidade da pessoa humana é lesada.
O professor Clayton Reis diferencia dano material de dano moral da seguinte
forma:
A diferença entre essas lesões reside, substancialmente, na forma em que se opera a sua reparação. Enquanto no caso dos danos materiais a reparação tem como finalidade repor os bens lesionados ao seu status quo ante, ou possibilitar à vítima a aquisição de outro bem semelhante ao destruído, o mesmo não ocorre, no entanto, com relação aos danos extrapatrimoniais. Neste é impossível repor as coisas ao seu estado
26
original. A reparação, em tais casos, reside no pagamento de uma soma pecuniária, fixada em face do arbitrium boni iuris do magistrado, de forma a possibilitar à vítima uma compensação em decorrência da dor íntima vivenciada. (REIS, 2010, p. 7).
Portanto, conclui-se que, independentemente do seu caráter, se material ou
moral, sem a ocorrência de um dano, não há falar em reparação ou indenização.
4.3.4 Nexo de causalidade
O nexo de causalidade também é um requisito essencial para caracterizar a
responsabilidade. Segundo Rui Stoco, o nexo causal se torna indispensável, sendo
fundamental que o dano tenha sido causado pela conduta daquele a quem se
pretende imputar a responsabilidade. (STOCO, 2011, p. 176).
Trata-se, pois, da relação de causa e efeito entre a conduta praticada e o
resultado danoso. Sem ela, não existe a obrigação de indenizar. Se houve o dano,
mas sua causa não está relacionada com o comportamento do agente, inexiste a
relação de causalidade e, portanto, a obrigação de indenizar. (RODRIGUES, S.
2008, p. 54).
27
5 RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL
5.1 DANO AMBIENTAL
Entende-se por dano como toda agressão causada a um bem jurídico.
Nesse contexto, dano ambiental é toda lesão causada ao meio ambiente, ou seja,
toda vez que ocorre a degradação de algum recurso natural, o equilíbrio ecológico é
afetado, caracterizando-se, assim, o dano ambiental. A degradação do patrimônio
histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico também é um dano ambiental.
Neste sentido, é o entendimento do professor Marcelo Abelha Rodrigues:
Tendo em vista que o dano é uma lesão a um bem jurídico, podemos dizer que existe o dano ambiental quando há lesão ao equilíbrio ecológico (bem jurídico ambiental) decorrente de afetação adversa dos componentes ambientais. Essa lesão pode gerar um desequilíbrio ao ecossistema social ou natural, mas sempre a partir da lesão ao equilíbrio ecológico, que é o bem jurídico tutelado pelo Direito Ambiental. (RODRIGUES, M. A., 2016, p. 415).
Ainda, para fins de definição de dano ambiental, Luís Paulo Sirvinskas diz:
Dano ambiental, por sua vez, é toda agressão contra o meio ambiente causada por atividade econômica potencialmente poluidora, por ato comissivo praticado por qualquer pessoa ou por omissão voluntária decorrente de negligência. (SIRVINSKAS, 2015, p. 263).
Considerando que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um bem
de uso comum do povo, constitucionalmente garantido, quando ocorre um dano
ambiental esse direito é afetado. Assim, o dano ambiental “afeta, necessariamente,
uma pluralidade difusa de vítimas, mesmo quando certos aspectos particulares da
sua danosidade atingem individualmente certos sujeitos. (SAMPAIO, 2003, p. 186
apud MILARÉ, 2000, p. 335).
O art. 14, § 1º da Lei nº. 6938/81, ao referir-se a “danos causados ao meio
ambiente e a terceiros”, prevê que o dano ambiental pode ser identificado como
dano ambiental coletivo ou dano ambiental individual.
Ainda, neste sentido:
DERRAMAMENTO DE ÓLEOS E SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA BAIA DA BABITONGA EM DECORRÊNCIA DE NAUFRÁGIO DE COMBOIO OCEÂNICO CONSTITUÍDO POR UMA BARCAÇA E SEU EMPURRADOR.
28
AÇÃO INDIVIDUAL DEFLAGRADA POR PESCADOR (DIREITO INDIVIDUAL E HOMOGÊNEO) CONTRA AS RESPONSÁVEIS DIRETA E INDIRETA DE DANO AMBIENTAL (DIREITO DIFUSO E COLETIVO). SOLIDARIEDADE DESTAS, LEGITIMIDADE ATIVA DAQUELE. O dano ambiental possui uma classificação ambivalente, isto é, pode recair tanto sobre o patrimônio coletivo - direitos difusos e coletivos - como, ainda que de forma reflexa, sobre o interesse dos particulares - direito individual e homogêneo. Para o direito ambiental, a responsabilidade dos causadores de dano coletivo, direta ou indiretamente, é solidária. É suficiente para legitimar o pescador à pretensão de auferir indenização oriunda de dano ambiental coletivo os documentos que comprovam que, à época dos fatos, estava oficialmente autorizado a praticar a pesca profissional no ecossistema atingido. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. Em razão do interesse público acerca do tema, o Legislador consagrou no ordenamento jurídico, através da Lei nº 6.938/1981, que a responsabilidade do causador de danos ambientais independente da aferição da culpa. TEORIA DO RISCO INTEGRAL. APLICABILIDADE. Se a responsabilidade do poluidor é objetiva e caracterizada pela cumulatividade (solidária), tendo em conta que, à luz do preceito insculpido na Constituição Federal, o dano ambiental nada mais representa do que a apropriação indevida do direito (ao meio ambiente equilibrado) de outrem, faz-se forçoso reconhecer a vinculação desta responsabilidade à teoria do risco integral, para que, diante da lesividade ínsita da atividade humana, se consiga, de modo mais expressivo, responsabilizar o indivíduo que, em razão da natureza do seu empreendimento, veio a degradar o meio ambiente. JULGAMENTO IMEDIATO. NULIDADE, POR CERCEAMENTO DE DEFESA, AFASTADA. Documentalmente comprovados, em ação individual calçada em dano ambiental coletivo [...] (TJ-SC - AC: 20130299092 SC 2013.029909-2 (Acórdão), Relator: Gilberto Gomes de Oliveira, Data de Julgamento: 10/07/2013, Segunda Câmara de Direito Civil Julgado, ) (grifei).
O dano ambiental coletivo ocorre quando há lesão ao meio ambiente e
atinge um número indefinido de pessoas. O dano ambiental coletivo diz respeito às
degradações causadas ao meio ambiente que repercutem nos interesses difusos,
uma vez que lesam diretamente uma coletividade indeterminada ou indeterminável
de titulares. (MILARÉ, 2009, p. 868 apud CARVALHO, D. W., 2001, p. 197). A ação
cabível é a Ação Civil Pública ou a Ação Popular, tema esse que será abordado no
capítulo 5.5 deste trabalho.
No dano ambiental individual o interesse violado é pessoal, atingindo um ou
alguns indivíduos. Édis Milaré ensina que “ao afetar desfavoravelmente a qualidade
do meio, repercute de forma reflexa sobre a esfera de interesses patrimoniais ou
extrapatrimoniais de outrem”. (MILARÉ, 2009, p. 869). Caberá, aqui, uma ação
indenizatória.
5.2 CARACTERÍSTICAS DO DANO AMBIENTAL
29
A doutrina classifica em três as características do dano ambiental, são elas:
a) pulverização de vítimas; b) a dificuldade inerente à ação reparatória; e c) a
dificuldade da valoração.
5.2.1 Pulverização de vítimas
De modo diverso do dano que ocorre em outras áreas do direito, o dano
ambiental é caracterizado pela sua ampla dispersão de vítimas. Isso porque o meio
ambiente é considerado pela Constituição Federal como um “bem de uso comum do
povo.” Sendo assim, ainda que uma lesão ambiental venha a atingir alguém de
forma individualizada, afetará, também, uma pluralidade difusa de vítimas. (MILARÉ,
2009, p. 870).
5.2.2 A dificuldade inerente à ação reparatória
O que se pretende quando ocorre um dano ambiental é tentar repará-lo na
sua integralidade. Contudo, é correto afirmar que o dano ambiental é de difícil
reparação e que, muitas vezes, a indenização pecuniária é insuficiente. Por isso,
Édis Milaré afirma que “por mais custosa que seja a reparação, jamais se
reconstituirá a integridade ambiental ou a qualidade do meio que for afetado.” Por
esse motivo é que afirma-se que a indenização possui um caráter simbólico.
Nas palavras de Hely Lopes Meirelles:
[...] na maioria dos casos, o interesse público é mais o de obstar a agressão ao meio ambiente ou obter a reparação direta e in specie do dano do que de receber qualquer quantia em dinheiro para sua recomposição, mesmo porque quase sempre a consumação da lesão ambiental é irreparável. (MEIRELLES, 2005, p. 192).
Verifica-se, entretanto, que a melhor forma de solucionar este tema é
efetivar a prevenção do dano.
5.2.3 A dificuldade da valoração
Considerando a imprevisibilidade de se ver até onde e até quando se
estendem os efeitos do evento danoso é que considera-se o dano ambiental como
de difícil valoração. Isso porque, o meio ambiente possui valores intangíveis e
imponderáveis (MILARÉ, 2009, p. 871), não sendo possível quantificar o dano
ambiental.
Neste contexto, Édis Milaré indaga:
30
[...] quanto vale, em parâmetros econômicos, uma espécie que desapareceu? Qual o montante necessário para a remediação de um sítio inquinado por organoclorados? (MILARÉ, 2009, p. 872).
Apesar da difícil valoração, é possível pleitear em juízo, além da reparação
dos danos sofridos de ordem patrimonial, também a reparação por danos morais
ambientais. Sob o ponto de vista prático, tal possibilidade tornou ainda mais difícil
mensurar o prejuízo causado.
É possível relacionar essas três características do dano ambiental com o
caso do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana – MG, da mineradora
Samarco, no dia 5 de novembro de 2015. A enxurrada de lama destruiu distritos e
casas, deixando muitos desabrigados e 19 pessoas mortas.
No tocante a pulverização de vítimas, o maior desastre ambiental do país
afetou 35 cidades em Minas Gerais e 3 no Espírito Santo, e apesar das estimativas
já apresentadas, o número total de pessoas afetadas ainda é impreciso.
De acordo com o site BBC Brasil, a Defesa Civil de Minas Gerais estima que
mais de 1 milhão de pessoas foram atingidas. Já o Comitê da Bacia Hidrográfica do
Rio Doce, afirma que cerca de 500 mil pessoas tiveram o abastecimento de água
afetado nos dois Estados. Em contrapartida, a Samarco afirma que possui
cadastradas cerca de 1.300 pessoas que foram diretamente afetadas, nos
municípios de Mariana e Barra Longa. O que se pretende demonstrar aqui, é a
possibilidade de um único dano ambiental poder atingir diversas vítimas, ainda que
em Estados distintos.
Em relação a dificuldade inerente à ação reparatória, no caso de Mariana,
observa-se que a lama que atingiu as regiões próximas às barragens formou uma
espécie de cobertura, o que pode tornar o solo infértil, impedindo o desenvolvimento
de muitas espécies e comprometendo a vegetação local.
Ainda, infere-se do Laudo Técnico Preliminar do IBAMA que “o nível de
impacto foi tão profundo e perverso ao longo de diversos estratos ecológicos que é
impossível estimar um prazo de retorno da fauna ao local”. O laudo aponta, ainda,
uma série de consequências ambientais relacionadas aos peixes, uma vez que
houve uma contaminação da água com lama de rejeitos. Algumas dessas
consequências são: destruição de áreas de reprodução de peixes; perda de
espécies com especificidade de habitat; piora no estado de conservação de
31
espécies já listadas como ameaçadas e ingresso de novas espécies no rol de
ameaçadas.
Com relação à dificuldade da valoração, apesar das multas milionárias
impostas à Samarco pelos danos causados, os impactos sofridos pelo meio
ambiente, bem como pela população afetada são imensuráveis, considerando que
além dos impactos de natureza física, existem também impactos sociais que são de
difícil valoração, “visto que se baseiam em características de cada indivíduo e como
este é afetado por um desastre.” 15
5.3 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL
Como já visto em tópico anterior, o instituto da responsabilidade civil visa
impor ao agente causador do dano, um dever de reparação pelo ato práticado.
Também foi visto que a responsabilidade civil pode ser subjetiva, quando é
necessária a comprovação da culpa, e objetiva, quando independe de culpa do
agente pelo dano causado.
No âmbito do direito ambiental, a responsabilidade subjetiva não foi efetiva,
uma vez que havia grande dificuldade em provar a culpa do sujeito causador do
dano, tendo em vista a grandiosidade e a importância do bem tutelado. Assim, a
doutrina e, posteriormente a legislação, adotaram a responsabilidade objetiva,
responsabilizando o sujeito causador do dano independentemente de sua culpa.
(SIRVINSKAS, p. 271).
O art. 14, § 1º, da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº.
6.938/81), prevê a responsabilidade objetiva, in verbis:
“Art 14. Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: [...] § 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.”
15
Laudo Técnico Preliminar do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, de 26 de Novembro de 2015.
32
Ainda, a responsabilidade objetiva por dano ambiental está prevista no art.
225, § 3º, da Constituição Federal de 1988, in verbis:
“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. [...] § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.”
Nesse sentido, é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - DANOS MATERIAIS E MORAIS A PESCADORES CAUSADOS POR POLUIÇÃO AMBIENTAL POR VAZAMENTO DE NAFTA, EM DECORRÊNCIA DE COLISÃO DO NAVIO N-T NORMA NO PORTO DE PARANAGUÁ - 1) PROCESSOS DIVERSOS DECORRENTES DO MESMO FATO, POSSIBILIDADE DE TRATAMENTO COMO RECURSO REPETITIVO DE TEMAS DESTACADOS PELO PRESIDENTE DO TRIBUNAL, À CONVENIÊNCIA DE FORNECIMENTO DE ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL UNIFORME SOBRE CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO FATO, QUANTO A MATÉRIAS REPETITIVAS; 2) TEMAS: a) CERCEAMENTO DE DEFESA INEXISTENTE NO JULGAMENTO ANTECIPADO, ANTE OS ELEMENTOS DOCUMENTAIS SUFICIENTES; b) LEGITIMIDADE DE PARTE DA PROPRIETÁRIA DO NAVIO TRANSPORTADOR DE CARGA PERIGOSA, DEVIDO A RESPONSABILIDADE OBJETIVA. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR; c) INADMISSÍVEL A EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE POR FATO DE TERCEIRO; d) DANOS MORAL E MATERIAL CARACTERIZADOS; e) JUROS MORATÓRIOS: INCIDÊNCIA A PARTIR DA DATA DO EVENTO DANOSO - SÚMULA 54/STJ; f) SUCUMBÊNCIA. 3) IMPROVIMENTO DO RECURSO, COM OBSERVAÇÃO. 1.- É admissível, no sistema dos Recursos Repetitivos (CPC, art. 543-C e Resolução STJ 08/08) definir, para vítimas do mesmo fato, em condições idênticas, teses jurídicas uniformes para as mesmas consequências jurídicas. 2.- Teses firmadas: a) Não cerceamento de defesa ao julgamento antecipado da lide.- Não configura cerceamento de defesa o julgamento antecipado da lide (CPC, art. 330, I e II) de processo de ação de indenização por danos materiais e morais, movida por pescador profissional artesanal contra a Petrobrás, decorrente de impossibilidade de exercício da profissão, em virtude de poluição ambiental causada por derramamento de nafta devido a avaria do Navio "N-T Norma", a 18.10.2001, no Porto de Paranaguá, pelo período em que suspensa a pesca pelo IBAMA (da data do fato até 14.11.2001); b) Legitimidade ativa ad causam.- É parte legítima para ação de indenização supra referida o pescador profissional artesanal, com início de atividade profissional registrada no Departamento de Pesca e Aquicultura do Ministério da Agricultura, e do Abastecimento anteriormente ao fato, ainda que a emissão da carteira de pescador profissional tenha ocorrido posteriormente, não havendo a ré alegado e provado falsidade dos dados constantes do registro e provado haver recebido atenção do poder público devido a consequências profissionais do acidente; c) Inviabilidade
33
de alegação de culpa exclusiva de terceiro, ante a responsabilidade objetiva.- A alegação de culpa exclusiva de terceiro pelo acidente em causa, como excludente de responsabilidade, deve ser afastada, ante a incidência da teoria do risco integral e da responsabilidade objetiva ínsita ao dano ambiental (art. 225, § 3º, da CF e do art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81), responsabilizando o degradador em decorrência do princípio do poluidor-pagador. d) Configuração de dano moral.- Patente o sofrimento intenso de pescador profissional artesanal, causado pela privação das condições de trabalho, em consequência do dano ambiental, é também devida a indenização por dano moral, fixada, por equidade, em valor equivalente a um salário-mínimo. e) termo inicial de incidência dos juros moratórios na data do evento danoso.- Nos termos da Súmula 54/STJ, os juros moratórios incidem a partir da data do fato, no tocante aos valores devidos a título de dano material e moral; f) Ônus da sucumbência.- Prevalecendo os termos da Súmula 326/STJ, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não afasta a sucumbência mínima, de modo que não se redistribuem os ônus da sucumbência. 3.- Recurso Especial improvido, com observação de que julgamento das teses ora firmadas visa a equalizar especificamente o julgamento das ações de indenização efetivamente movidas diante do acidente ocorrido com o Navio N-T Norma, no Porto de Paranaguá, no dia 18.10.2001, mas, naquilo que encerram teses gerais, aplicáveis a consequências de danos ambientais causados em outros acidentes semelhantes, serão, como natural, evidentemente considerados nos julgamentos a se realizarem. (REsp 1114398/PR, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 08/02/2012, DJe 16/02/2012). (grifei)
Portanto, verifica-se que a responsabilidade civil objetiva é baseada na
teoria do risco integral.
5.3.1 Teoria do risco integral
Essa teoria é aplicada no direito ambiental pois, no dano ambiental, podem
ser vários os prejudicados, tendo em vista a concepção de meio ambiente como
bem difuso. (TARTUCE, 2015, p. 558).
A teoria do risco integral dispõe que para a comprovação do dano, é
necessário apenas demonstrar a relação de causalidade entre o evento danoso e a
atividade, que é a fonte poluidora. O evento danoso é o resultado das atividades que
causam a degradação do meio ambiente, e a relação de causalidade é o vínculo que
existe entre esse evento danoso e a atividade.
Neste sentido:
DIREITO AMBIENTAL E CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL EM
DECORRÊNCIA DE DANO AMBIENTAL PROVOCADO PELA EMPRESA
RIO POMBA CATAGUASES LTDA. NO MUNICÍPIO DE MIRAÍ-MG.
RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
34
Em relação ao acidente ocorrido no Município de Miraí-MG, em janeiro de
2007, quando a empresa de Mineração Rio Pomba Cataguases Ltda.,
durante o desenvolvimento de sua atividade empresarial, deixou vazar
cerca de 2 bilhões de litros de resíduos de lama tóxica (bauxita), material
que atingiu quilômetros de extensão e se espalhou por cidades dos Estados
do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, deixando inúmeras famílias
desabrigadas e sem seus bens (móveis e imóveis): a) a responsabilidade
por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral,
sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o
risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela
empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de
responsabilidade civil para afastar a sua obrigação de indenizar; b) em
decorrência do acidente, a empresa deve recompor os danos materiais e
morais causados; e c) na fixação da indenização por danos morais,
recomendável que o arbitramento seja feito caso a caso e com moderação,
proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível socioeconômico dos autores,
e, ainda, ao porte da empresa recorrida, orientando-se o juiz pelos critérios
sugeridos pela doutrina e jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de
sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades
de cada caso, de modo a que, de um lado, não haja enriquecimento sem
causa de quem recebe a indenização e, de outro lado, haja efetiva
compensação pelos danos morais experimentados por aquele que fora
lesado. Com efeito, em relação aos danos ambientais, incide a teoria do
risco integral, advindo daí o caráter objetivo da responsabilidade, com
expressa previsão constitucional (art. 225, § 3º, da CF) e legal (art.14, §
1º, da Lei 6.938/1981), sendo, por conseguinte, descabida a alegação
de excludentes de responsabilidade, bastando, para tanto, a
ocorrência de resultado prejudicial ao homem e ao ambiente advinda
de uma ação ou omissão do responsável (EDcl no REsp 1.346.430-PR,
Quarta Turma, DJe 14/2/2013). Ressalte-se que a Lei 6.938/1981, em seu
art. 4°, VII, dispõe que, dentre os objetivos da Política Nacional do Meio
Ambiente, está "a imposição ao poluidor e ao predador da obrigação de
recuperar e/ou indenizar os danos causados". Mas, para caracterização da
obrigação de indenizar, é preciso, além da ilicitude da conduta, que exsurja
do dano ao bem jurídico tutelado o efetivo prejuízo de cunho patrimonial ou
moral, não sendo suficiente tão somente a prática de um fato contra
legem ou contra jus, ou que contrarie o padrão jurídico das condutas.
Assim, a ocorrência do dano moral não reside exatamente na simples
ocorrência do ilícito em si, de sorte que nem todo ato desconforme com o
ordenamento jurídico enseja indenização por dano moral. O importante é
que o ato ilícito seja capaz de irradiar-se para a esfera da dignidade da
pessoa, ofendendo-a de forma relativamente significante, sendo certo que
determinadas ofensas geram dano moral in re ipsa. Na hipótese em foco, de
acordo com prova delineada pelas instâncias ordinárias, constatou-se a
existência de uma relação de causa e efeito, verdadeira ligação entre o
rompimento da barragem com o vazamento de 2 bilhões de litros de
dejetos de bauxita e o resultado danoso, caracterizando, assim, dano
material e moral. REsp 1.374.284-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 27/8/2014. (grifei).
35
Da leitura do acórdão acima colacionado, infere-se que, não há, em matéria
ambiental, excludentes de responsabilidade, como o caso fortuito, a força maior e o
fato de terceiro. Isso se dá por força do art. 3º, inciso IV, da Lei da Política Nacional
do Meio Ambiente,16 que disciplina que será poluidor, mesmo que indiretamente, a
pessoa (física ou jurídica) que causar a degradação ambiental, responsabilizando-a
pelos prejuízos causados. A ausência do elemento culpa ou até mesmo a licitude da
atividade não afasta o dever de indenizar.
Conclui-se, portanto, que o Superior Tribunal de Justiça firmou o
entendimento de que a responsabilidade civil por danos ambientais é fundada na
teoria do risco integral, não admitindo excludentes de responsabilidade, tendo em
vista que basta que ocorra o prejuízo ao meio ambiente oriunda de uma atividade
degradante.
5.4 REPARAÇÃO DO DANO AMBIENTAL
Como já abordado neste trabalho, o objetivo da responsabilidade civil por
dano ambiental é fazer com que o sujeito causador de um prejuízo ao meio
ambiente seja obrigado à repará-lo e/ou indenizá-lo.
Desta forma, é correto afirmar que a reparação do dano ambiental se dá de
duas formas: com a restauração natural do bem lesado e com a indenização
pecuniária.
5.4.1 Restauração natural
A restauração natural deverá ser, sempre, a primeira tentativa de reparar o
dano causado. Isso porque, o retorno do status quo ante é prioridade em matéria
ambiental.
A restauração natural pode se dar de duas formas, sendo elas: a
restauração ecológica ou in natura, que tem por objetivo reintegrar ou recuperar in
situ (no local) os bens lesados; e a compensação ecológica, que tem por finalidade a
16
Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: [...] IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental; [...]
36
substituição dos bens lesados por outros funcionalmente equivalentes, ainda que
situados em local diferente. (MILARÉ, 2009, p. 873).
Não sendo possível a restauração do status quo ante do bem ambiental
afetado através da restauração ecológica e tampouco da compensação ecológica, o
ressarcimento deverá ser feito através de indenização pecuniária.
5.4.2 Reparação econômica
A indenização pecuniária deverá ser a última hipótese de reparação do dano
ambiental pois, é uma forma subsidiária de reparação. O objetivo é impor um custo
ao causador de um dano, para que se obtenha, assim, uma resposta econômica aos
prejuízos sofridos pela vítima e afastar comportamentos semelhantes do sujeito ou
de terceiros. (MILARÉ, 2009, p. 874 apud LIPARI, 1978, p. 126).
Oportuno consignar que na ação individual a indenização pecuniária será
destinada ao autor, enquanto na ação coletiva o valor será revertido a um fundo
gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participem o
Ministério Público e os representantes da comunidade17, como por exemplo o Fundo
de Defesa dos Direitos Difusos – FDD.
Ressalte-se que o valor da indenização deverá ser proporcional aos danos
causados.
5.4.3 O seguro ambiental como forma de reparação do dano
Atualmente, buscam-se novas alternativas que tornem viável a reparação do
dano ambiental, além da restauração natural e da indenização pecuniária. É neste
contexto que surge o seguro ambiental.
O seguro ambiental é um contrato de seguro que tem por objetivo a
diminuição dos riscos de causar danos ambientais por conta da atividade
empresarial causadora de potencial degradação ambiental. (SIRVINSKAS, 2015, p.
269).
Roberto Durço esclarece que:
17
Art. 13 da Lei nº 7.347/85
37
Representantes de 35 principais companhias de seguro fundaram a iniciativa da indústria de Seguros para o Meio Ambiente (PNUMA). A formação dessa associação é uma consequência do lançamento, em novembro de 1995, pelo PNUMA, da Declaração de Compromisso Ambiental para a Indústria de Seguros, que já foi assinada até agora por 70 seguradoras de 25 países. A ideia é torná-la um veículo para transformar a declaração em ação, criando oportunidade para o lançamento de novas atividades e projetos de pesquisa nos campos ambientais e de seguros. (SIRVINSKAS, 2015, p. 269 apud DURÇO, 1998, p. 314).
Desta forma, constata-se que o seguro ambiental é uma forma inovadora e
que pode ser uma das alternativas necessárias para fins de reparação de danos
ambientais no futuro. (SIRVINSKAS, 2015, p. 270).
5.5 INSTRUMENTOS PROCESSUAIS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
Considerando que é dever da coletividade e do Poder Público a preservação
e a proteção do meio ambiente, o ordenamento jurídico possui instrumentos
processuais que visam proteger o meio ambiente, segundo o princípio da legalidade
e o princípio da garantia de acesso
à jurisdição. (SILVA, 2013, p. 342).
5.5.1 Procedimento civil ordinário
A responsabilidade civil pelos danos ambientais é cabível somente no
procedimento ordinário.
Possui legitimidade ativa para propor a ação aquele que foi lesado em
decorrência do dano ambiental. Inclui-se, também, as entidades de Direito Público,
pois estas possuem uma legitimidade genérica em casos de danos ambientais que
não sejam causados por agentes públicos. (SILVA, 2013, p. 344).
5.5.2 Ação Civil Pública
Dos mecanismos de proteção ambiental, a ação civil pública é a mais
comum e a mais utilizada. Sua finalidade é a defesa de interesses difusos, coletivos
e individuais homogêneos.
38
A Lei nº. 7.347/8518 regulamentou o dispositivo constitucional previsto no art.
129, inciso III, da Constituição Federal de 1988. 19 (SIRVINSKAS, 2015, p. 942).
O meio ambiente está estabelecido nos interesses difusos, tendo em vista
que estes são de natureza indivisível, tendo como titulares pessoas indeterminadas
que são ligadas por circunstâncias de fato.
O rol de legitimados para propor a ação civil pública está elencado no art. 5º
da Lei nº. 7.347/85, a saber:
“Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: I - o Ministério Público; II - a Defensoria Pública; III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; V - a associação que, concomitantemente: a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.”
Quanto à legitimidade passiva, a lei da Ação Civil Pública não traz um rol
específico, pois não há restrição nesse sentido. Podem figurar no polo passivo as
pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, desde que ofendam os
bens jurídicos tutelados pela referida lei.
Em relação ao interesse processual, Luís Paulo Sirvinskas ensina que:
O interesse processual é requisito indispensável para a propositura da ação civil pública ambiental. Ela é ditada pelo interesse público em relação ao Ministério Público e encontra-se implícita na legitimidade concedida pela lei. Tal fato não ocorre em relação aos demais legitimados, que deverão comprovar, em cada caso, o interesse processual. (SIRVINSKAS, 2015, p. 946).
O art. 2º, caput, da Lei da Ação Civil Pública estabelece que é funcional a
competência do juízo onde ocorreu o dano. Entretanto, se o dano atingir diversas
localidades, ou até mesmo Estados, a competência será do juízo prevento.
18
A Lei nº. 7.347/85 dispõe sobre a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente. 19 Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
[...] III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; [...]
39
Quanto à prescrição, Luís Paulo Sirvinskas afirma que por ser o meio
ambiente um bem de interesse difuso, é imprescritível. (2015, p. 956).
5.5.3 Ação Popular
A finalidade da ação popular é a anulação do ato lesivo ao meio ambiente e
ao patrimônio histórico e cultural.
O art. 5º, inciso LXXXIII, da Constituição Federal dispõe que qualquer
cidadão possui legitimidade para propor ação popular. Cidadão, é toda pessoa que
possua pleno gozo de seus direitos políticos.
A legitimidade passiva da ação popular será de um ente da Administração
Pública direta, indireta ou pessoa jurídica que de alguma forma asministre verba
pública. (SIQUEIRA, 2010, apud RODRIGUES, 2007, p. 203).
5.5.4 Mandado de Segurança Ambiental Coletivo
O objetivo do mandado de segurança é proteger o direito líquido e certo que
não seja amparado por habeas corpus ou habeas data, contra atos ou omissões
ilegais ou com abuso de poder de autoridade, preservando-se, assim, os interesses
individuais homogêneos, coletivos e difusos. O meio ambiente é interesse de cárater
difuso. (SIRVINSKAS, 2015, p. 972).
Possuem legitimidade ativa os partidos políticos, os sindicatos, entidades de
classe e associações, as quais devem estar legalmente constituídas e é necessário
que atuem na defesa dos interesses dos seus membros associados.
Quanto à legitimidade passiva, será a autoridade pública ou quem esteja no
exercício de atribuições do Poder Público, que pratique com abuso de poder ou
cometa algum ato ilega, violando um direito líquido e certo.
A competência será o da sede da autoridade coatora, podendo ser no
âmbito Federal ou Estadual.
40
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo desta pesquisa foi abordar sobre o instituto da responsabilidade
civil por dano ambiental, discorrendo sobre os mecanismos de maior efetividade em
relação à proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Para tanto, foi
possível abordar os aspectos relevantes da responsabilidade civil ambiental,
observando os princípios e conceitos que disciplinam o Direito Ambiental em
conformidade com estudos sobre a responsabilidade no Direito Civil.
A conscientização por parte da sociedade sobre a finitude dos recursos
naturais é, de certa forma, recente, visto que até a década de 1970 não havia
nenhuma previsão legal que dispusesse sobre o meio ambiente e a sua
preservação.
Desta forma, verificou-se que o marco inicial do direito ambiental se deu com
a promulgação da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81), pois,
a partir dela, é que o direito ambiental foi considerado como um ramo autônomo do
direito.
Com o advento da Carta Magna de 1988, o meio ambiente ganhou uma
tutela constitucional, diferentemente das Constituições passadas, que não previam
sua tutela. Na atual Constituição Federal, o meio ambiente possui um capítulo
específico tratando de sua proteção, bem como há previsão em outros artigos, que
dispõem sobre as obrigações da sociedade e do Estado brasileiro com o meio
ambiente.
Percebeu-se, ao longo do trabalho, que o instituto da responsabilidade civil
no âmbito do direito ambiental sofreu uma importante modificação. Antes, era
aplicada a responsabilidade civil subjetiva na ocorrência de danos ambientais,
exigindo-se, assim, a comprovação da culpa do agente para então, poder obrigá-lo à
reparar o dano que causou. No entanto, considerando a grande dificuldade que
havia em comprovar a culpa do sujeito, a responsabilidade subjetiva não foi efetiva.
Foi então que a doutrina, a legislação e a jurisprudência passaram a adotar
a responsabilidade civil objetiva, que tem por finalidade responsabilizar o sujeito
causador do dano independentemente de sua culpa.
Cabe ressaltar aqui que a responsabilidade civil ambiental é objetiva e é
fundada na teoria do risco integral, que dispõe que para a comprovação do dano é
41
necessário apenas demonstrar a relação de causalidade entre o evento danoso e a
atividade, que é a fonte poluidora. O evento danoso é o resultado das atividades que
causam a degradação do meio ambiente, e a relação de causalidade é o vínculo que
existe entre esse evento danoso e a atividade.
De suma importância foi a análise das formas de reparação do dano
ambiental, que são a restauração natural do bem lesado e com a indenização
pecuniária, visto que são elas quem asseguram o restabelecimento do status quo
ante do bem ambiental afetado, bem como a reparação pecuniária, que deve ser
proporcional à extensão do dano.
Por fim, verificou-se que existem remédios constitucionais que auxiliam na
proteção do meio ambiente e na reparação dos danos causados a ele, que são, para
o direito ambiental brasileiro, um grande avanço na preservação do meio ambiente
para assegurar a sadia qualidade de vida para as presentes e futuras gerações.
42
REFERÊNCIAS
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