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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ GABRIELA OLIVEIRA MATTOZO EFEITO DO ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL EM CRECHE PARA CÃES CURITIBA 2016

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

GABRIELA OLIVEIRA MATTOZO

EFEITO DO ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL EM CRECHE PARA CÃES

CURITIBA

2016

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GABRIELA OLIVEIRA MATTOZO

EFEITO DO ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL EM CRECHE PARA CÃES

Trabalho de conclusão apresentado ao curso de

Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do

Paraná, como requisito parcial para obtenção de

título de graduação.

Orientadora: Profª Drª Maria Aparecida Alcantara

CURITIBA

2016

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

REITOR

Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos

PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO

Carlos Eduardo Rangel Santos

PRÓ-REITORIA ACADÊMICA

Prof. Dra. Carmen Luiza da Silva

DIRETOR DE GRADUAÇÃO

Prof. Dr. João Henrique Farynluk

COORDENADOR DO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

Prof. Dr. Welington Hartmann

COORDENADOR DE ESTÁGIO CURRICULAR

Prof. Dr. Welington Hartmann

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TERMO DE APROVAÇÃO

GABRIELA OLIVEIRA MATTOZO

EFEITO DO ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL EM CRECHE PARA CÃES

Este trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção do título

de Médica Veterinária pela Comissão Examinadora do Curso de Medicina

Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 15 de Junho de 2016

Prof.ª Orientadora Drª Maria Aparecida Alcantara

UTP- Universidade Tuiuti do Paraná

Prof.ª Jesséa França

UTP- Universidade Tuiuti do Paraná

Prof.ª Iolanda Maria Sartori Ofenbock Nascimento

UTP- Universidade Tuiuti do Paraná

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A todos aqueles que vivem determinados a realizar

seus sonhos.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer a Deus, que sempre está ao meu lado.

A minha mãe, Yara Regina Malheiros de Oliveira que sempre me incentivou,

motivou, apoiou a minha escolha de profissão e todos esses anos de graduação, fez

sempre tudo o que podia para minha formação.

Agradeço a todos aqueles que amo, pois me apoiaram até o final com a

certeza de estar realizando mais um sonho.

Aos meus professores da Faculdade Evangélica do Paraná que me deram a

base da Medicina Veterinária, me acolheram com muito amor e carinho.

Aos professores da Universidade Tuiuti do Paraná que me acolheram tão bem

e dividiram seus conhecimentos e ensinamentos.

Ao meu namorado, que sempre me incentivou e esteve ao meu lado em toda

essa jornada me dando forças para nunca desistir.

Aos meus colegas pelo companheirismo, amizade, tristezas, principalmente

Stacy Roesner que estudou comigo desde Ensino Médio e está realizando esse

sonho comigo. As minhas amigas Daniella Bolincenha, Chantal Lejeune por estarem

todos esses anos comigo batalhando sempre juntas.

A Bianca Ribeiro Terçariol que me acompanhou no estágio obrigatório, ajudou

com palavras para o TCC, das risadas, além de uma grande amizade em que fiz

minha futura colega de profissão.

A professora Doutora Maria Aparecida Alcantara, pela dedicação, a amizade,

ao compartilhar informações que possibilitaram a finalização desse trabalho.

As colegas da Clínica Comportamental, pelos ensinamentos, risadas,

companheirismo e que com certeza estarão comigo na minha carreira profissional.

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“Um problema só surge quando estão

presentes todas as condições de solucioná-lo”.

Karl Marx

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RESUMO

O enriquecimento ambiental é um procedimento que modifica os ambientes dos animais de maneira que forneça escolhas comportamentais aos mesmos e traga à tona o comportamento e as habilidades adequadas a suas espécies, tendo sua origem com base em estudos realizados em zoológicos. O estudo e uso regular de diversas técnicas de enriquecimento tem proporcionado aos animais um maior grau de bem-estar, melhorando sua qualidade de vida. Seu uso visa desenvolver atos comportamentais assemelhados aos que experimentariam em vida livre e tem como propósito a manutenção da motivação exploratória e a eliminação de desvios comportamentais. É importante saber como os animais reagem e interagem com os diferentes tipos de enriquecimento, além de conhecer o comportamento normal das espécies para auxiliar nas melhorias do ambiente. Com o estilo de vida contemporâneo as pessoas normalmente optam por habitarem apartamentos, ou residências com espaços reduzidos, o que torna mais próxima a convivência com animais de companhia, sendo muitas vezes atribuído a eles o papel de filhos. Esta humanização dos animais, associada a falta de motivação exploratória, promove alterações comportamentais. Neste trabalho foram realizadas diversas técnicas de enriquecimento ambiental distribuídas de acordo com o tipo de enriquecimento (alimentar, social, físico, sensorial, cognitivo) e com o grupo a qual o animal faz parte. O enriquecimento ambiental alimentar foi o que obteve uma resposta mais positiva dentre os 10 grupos de raças de cães; o social possibilitou uma melhoria na interação entre os diferentes animais e pessoas; o físico demonstrou que é necessário variar os tipos de superfície para diferentes necessidades; o sensorial mais atraente para os cães foi a utilização de diferentes odores proporcionado pela utilização de plantas; o cognitivo não despertou interesse em grande parte dos grupos, com exceção do grupo I (raças border collie e welsh corgi pembroke) do grupo VIII (raças labrador e golden retriever). Além de proporcionar bem-estar aos animais, promoveu interações interespecíficas e intraespecíficos diminuindo assim as alterações comportamentais.

Palavras Chave: animais de companhia, bem-estar, comportamento.

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ABSTRACT

Environmental enrichment is a procedure that modifies the environment of animals in order to provide them behavioral choices and bring up the behavior and skills appropriate to their species. The origin of the environment enrichment is based on studies conducted in zoos. The study and regular use of various enrichment techniques has provided animals a greater degree of well-being, improving their quality of life. The main goal of such studies and techniques is to develop behavioral acts similar to those that would experience in the wild and aims to maintain exploratory motivation and elimination of behavioral deviations. It is important to know how animals react and interact with different types of enrichment, besides knowing the normal behavior of the species to assist in environmental improvements. On the contemporary life-style, people usually choose to live in small apartments or residences, and the pets often assign the role of their children. Thus, the enrichment of these environments can often be the key word for the various types of behavioral changes resulting from that humanization, providing general welfare for the animals and their guardians. In this thesis, various environmental enrichment techniques were carried out and distributed according to the type of enrichment (food, social, physical, sensory, cognitive) and to the group which the animal takes part. The environmental enrichment related to food got a more positive response from the 10 groups of dog breeds. The social one enabled an improvement in the interaction between the different animals and people. The physical environmental enrichment demonstrated that it is necessary to vary the type of surface to different needs. The more attractive sensory environmental enrichment to dogs was the use of different scents provided by the use of plants. The cognitive environmental enrichment did not bring interest in many of the groups, with the exception of Group I (with the Border Collie breed and Welsh Corgi Pembroke) and VIII (with the Labrador and Golden Retriever breeds). In addition to providing welfare to animals, it also promoted interspecific and intraspecific interactions and consequently decreasing the behavioral changes.

Keywords: pets, behaviour, welfare.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Fachada da clínica veterinária Universicão......................................... 20

FIGURA 2: Recepção e loja de conveniência da Universicão............................... 20

FIGURA 3: Cozinha para funcionários................................................................... 21

FIGURA 4: Área externa utilizada para os cães de pequeno porte....................... 21

FIGURA 5: Área externa demostrando rampas, pontes e balança para

enriquecimento físico..............................................................................................

22

FIGURA 6: Área coberta para acomodações dos cães em dias de chuva............ 22

FIGURA 7: Pista de agility da creche Universicão................................................. 23

FIGURA 8: Schipperke compartilhando o enriquecimento social e sensorial........ 29

FIGURA 9: Welshi corgi pembroke participando de enriquecimento ambiental

sensorial com buddytoy .........................................................................................

30

FIGURA 10: Jack russel terrier recebendo o comando de obediência “senta” e

recebendo recompensa como reforço positivo.......................................................

31

FIGURA 11: Dachshund recebendo treino de obediência com o comando

“senta”....................................................................................................................

32

FIGURA 12: Cão compartilhando do enriquecimento ambiental físico com

piscina....................................................................................................................

32

FIGURA 13: Spitz alemão anão recebendo comando “senta” como treino de

obediência .............................................................................................................

33

FIGURA 14: Bulldog recebendo enriquecimento ambiental sensorial com bolhas

de sabão ................................................................................................................

34

FIGURA 15: Border collie participando de enriquecimento ambiental cognitivo

com tabuleiro..........................................................................................................

34

FIGURA 16: Cães procurando alimento escondido e/ou jogado pelo

ambiente.................................................................................................................

44

FIGURA 17: Kong classic, da empresa Kong........................................................ 45

FIGURA 18: PetBalls®, da empresa Pet Games®............................................... 45

FIGURA 19: Comedouros lentos........................................................................... 46

FIGURA 20: Enriquecimento alimentar com garrafas Pet’s................................... 46

FIGURA 21: Osso natural recheado....................................................................... 47

FIGURA 22: Enriquecimento alimentar utilizando coco......................................... 47

FIGURA 23: Colocação de cheiros diversos: chá camomila.................................. 50

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FIGURA 24: Odores derivados de plantas............................................................. 51

FIGURA 25: Ervas aromáticas............................................................................... 51

FIGURA 26: Odores de outros animais. ................................................................ 52

FIGURA 27: Adaptil® - feromônio sintético canino............................................... 52

FIGURA 28: Pet bolhas utilizado como enriquecimento sensorial........................ 53

FIGURA 29: Xadrez ® - Tabuleiro da empresa Pet Games®............................... 55

FIGURA 30: Macaquinho®, da empresa Pet Games®.......................................... 56

FIGURA 31: Recompensas escondidas em caixas................................................ 56

FIGURA 32: PetBall® da empresa Pet Games®................................................... 57

FIGURA 33: Garrafas Pet’s.................................................................................... 57

FIGURA 34: Clicker training.................................................................................. 58

FIGURA 35: Pista de agility como forma de enriquecimento cognitivo.................. 58

FIGURA 36: Cães das raças golden retriever e sem raça definida interagindo

entre si....................................................................................................................

60

FIGURA 37: Cães das raças border collie interagindo entre si.............................. 60

FIGURA 38: Enriquecimento social com brincadeiras........................................... 61

FIGURA 39: Enriquecimento social interespecífico................................................ 61

FIGURA 40: Socialização de cães filhotes............................................................. 62

FIGURA 41: Enriquecimento ambiental com rampas e gangorras........................ 63

FIGURA 42: Enriquecimento ambiental com ponte................................................ 64

FIGURA 43: Enriquecimento ambiental com rampa.............................................. 64

FIGURA 44: Estruturas para morderem ................................................................ 65

FIGURA 45: Galhos e madeiras e árvores para morderem................................... 65

FIGURA 46: Diversos brinquedos como os BuddyToys®...................................... 66

FIGURA 47: Locais para descanso com sombra................................................... 66

FIGURA 48: Piscinas para enriquecimento ambiental físico.................................. 67

FIGURA 49: Áreas para descanso após atividades...............................................

FIGURA 50: Caixas de descanso e refugio............................................................

67

68

FIGURA 51: Bulldog francês procurando comida jogada pelo ambiente.............. 71

FIGURA 52: Bulldog francês em enriquecimento cognitivo e alimentar com

garrafa Pet.............................................................................................................

72

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FIGURA 53: Bulldog francês em enriquecimento alimentar e cognitivo com

PetBall....................................................................................................................

72

FIGURA 54: Bulldog francês participando de enriquecimento físico na

piscina....................................................................................................................

73

FIGURA 55: Bulldog francês participando de enriquecimento físico, em uma

caminha de descanso.............................................................................................

73

FIGURA 56: Bulldog francês em enriquecimento sensorial com bolhas de sabão

sabor melão............................................................................................................

74

FIGURA 57: Cão spitz alemão anão em enriquecimento ambiental com

petball.....................................................................................................................

79

FIGURA 58: Cão spitz alemão anão com buddytoy de milho................................ 80

FIGURA 59: Cão recebendo o comando de obediência “senta”............................ 80

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: Distribuição das diferentes raças utilizadas para o estudo do

enriquecimento ambiental na Universicão durante o estágio curricular ..............

26

QUADRO 2: Classificação de memórias de acordo com o tempo que

perduram .............................................................................................................

55

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1: Porcentagem de cães machos e fêmeas .......................................... 24

GRÁFICO 2: Distribuição do número de dias na creche e do número de

animais ....................................................................................................................

25

GRÁFICO 3: Proporção de cães com alterações comportamentais observados

durante o estágio no período de 01 de março a 30 de maio de 2016 na

Universicão ..............................................................................................................

35

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Distribuição dos números dos animais relacionados com a

idade ......................................................................................................................

25

TABELA 2: Distribuição das diversas raças de acordo com os grupos

considerados pela FCI ...........................................................................................

26

TABELA 3: Relação das alterações comportamentais observadas durante o

estágio no período de 01 de março a 30 de maio de 2016 na Universicão ..........

35

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AVSAB - Sociedade veterinária americana de comportamento animal

BEA – Bem estar animal

EA - Enriquecimento ambiental

EAA - Enriquecimento ambiental alimentar

EAC - Enriquecimento ambiental cognitivo

EAF - Enriquecimento ambiental físico

EAS - Enriquecimento ambiental sensorial

EASO - Enriquecimento ambiental social

FCI - Federation cynologique internationale

FDA - Food and drug administration

OBEA - Objeto de enriquecimento ambiental

SEF - Sistemas emocionais fundamentais

SASA - Síndrome da ansiedade de separação

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 18

2 DESCRIÇÃO DO ESTÁGIO E DA UNIDADE CEDENTE................................ 19

3 CASUÍSTICA.................................................................................................... 24

4 REVISÃO DE LITERATURA........................................................................... 36

4.1 BEM ESTAR ANIMAL.................................................................................... 36

4.2 HIPERVINCULAÇÃO..................................................................................... 37

4.3 PADRONIZAÇÃO DE RAÇAS....................................................................... 38

4.4 COMPORTAMENTO CANINO....................................................................... 38

4.5 COGNIÇÃO.................................................................................................... 40

4.6 ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL (EA)........................................................ 41

4.6.6 TIPOS DE ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL ........................................... 43

4.6.6.1 Enriquecimento Ambiental Alimentar (EAA) ............................................ 43

4.6.6.2 Enriquecimento Ambiental Sensorial (EAS) ............................................ 48

4.6.6.3 Enriquecimento Ambiental Cognitivo (EAC) ............................................ 53

4.6.6.4 Enriquecimento Ambiental Social (EAS) ................................................. 59

4.6.6.5 Enriquecimento Ambiental Físico (EAF) ................................................. 62

5 RELATO DE CASO.......................................................................................... 69

5.1 ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL PARA CÃES COM VOCALIZAÇÃO

EXCESSIVA E ANSIEDADE GENERALIZADA.................................................

69

5.1.1 Definição da doença................................................................................... 69

5.1.2 Tratamento indicado................................................................................... 69

5.1.3 Descrição do caso....................................................................................... 70

5.2 ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL PARA CÃES COM ANSIEDADE DE

SEPARAÇÃO......................................................................................................

75

5.2.1 Definição da doença................................................................................... 75

5.2.2 Tratamento indicado................................................................................... 76

5.2.3 Descrição do caso...................................................................................... 78

6 DISCUSSÃO..................................................................................................... 81

7 CONCLUSÃO................................................................................................... 84

REFERÊNCIAS.................................................................................................... 85

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1 INTRODUÇÃO

O enriquecimento ambiental é uma prática que tem se mostrado efetiva na

redução de comportamentos estereotipados, pois diminui o estresse e melhora o

bem-estar do animal, diminuindo a mortalidade (MENDONÇA-FURTADO, 2006.,

SHEPHERDSON,1998). As práticas de enriquecimento ambiental podem ser

divididas nas seguintes categorias: 1) social, através de interações de uma

determinada espécie com ela mesma ou com outras espécies; 2) ambiente físico,

adaptação da temperatura, umidade, banho de sol, tamanho e forma do ambiente

para cada tipo de espécie; 3) cognitivo, estimulando a atividade mental dos animais,

proporcionando-lhes ocupação; 4) sensorial, estimulando os seis sentidos; 5)

alimentar, fornecendo itens alimentares novos, geralmente não incluídos na dieta,

apresentando-os de formas diferenciadas (HAHN; LAU; ECKERT; MARKOWITZ,

2000).

Este trabalho foi realizado numa creche com 75 cães (48 fêmeas e 27

machos) sendo ofertado um tipo de enriquecimento por dia para os grupos de cães

divididos de acordo com o porte e comportamento.

Esta atividade proporcionou interações inter e intraespecífcas, diminuição da

ansiedade e do estresse, além da estimulação dos cinco sentidos.

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2 DESCRIÇÃO DO ESTÁGIO E DA UNIDADE CEDENTE

O estágio foi realizado na área de Clínica Comportamental Canina (FIGURA

1) situada na cidade de Curitiba no período de 01 de março a 30 de maio de 2016,

totalizando 400 horas, de segunda a sexta, nos horários de 08h às 14h. Como

orientadora acadêmica, a Professora Maria Aparecida Alcantara CRMVPR 06611 e

orientadora profissional a Médica Veterinária Fernanda Correa Lesnau CRMVPR

7294.

A clínica é constituída de recepção juntamente com uma loja de acessórios

para pets e enriquecimento ambiental (FIGURA 2); área de acesso, onde são

deixadas as guias dos cachorros e área externa com dois toaletes; área de lazer

interna; cozinha para funcionários (FIGURA 3); sala de estoque para produtos de

limpeza, xampus, banheira para dar banho nos cachorros; área externa (FIGURA 4)

com brinquedos adaptados para os enriquecimentos ambientais como: rampa,

balança, ponte, piscina, área de refúgio, caixas para descanso, camas, bancos,

cordas, árvores, grama sintética, pedras, calçada, totalizando 1.500 m² (FIGURA 5);

área coberta (FIGURA 6) e uma pista para o agility (FIGURA 7).

A Universicão é da responsabilidade da Médica Veterinária

Comportamentalista e de quatro auxiliares. Oferece serviços relacionados ao

comportamento animal, tais como atividades diárias realizadas por pessoas

treinadas em desempenhar o enriquecimento ambiental.

Nos acompanhamentos em domicílio era permitido auxiliar nas avaliações

comportamentais, assim como colocar em prática o enriquecimento ambiental que

mais se adaptava a cada tipo de cachorro. Na creche diariamente era possível

aplicar os diferentes tipos de enriquecimento ambiental com os diferentes modelos

de brinquedos disponíveis no mercado como: PetBall®, caixas de papelão, piscina,

cordas, parquinho com rampas, balança, caixas de ovos, garrafas pet,

ervas(camomila, erva-doce, alecrim, lavanda, capim-limão, hortelã), BuddyToys,

PetEscova, bolinhas, tabuleiros da PetGames®, assim como observar os diversos

comportamentos compulsivos. O agility era oferecido no período noturno e aos

sábados.

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FIGURA 1: Fachada da clínica veterinária Universicão

FIGURA 2: Recepção e loja de conveniência da Universicão

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FIGURA 3: Cozinha para funcionários

FIGURA 4: Área externa utilizada para os cães de pequenos porte

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FIGURA 5: Área externa demostrando rampas, pontes e balança para enriquecimento físico

FIGURA 6: Área coberta para acomodações dos cães em dias de chuva

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FIGURA 7: Pista de agility da creche Universicão

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3 CASUÍSTICA

Durante o estágio curricular foi possível acompanhar 75 cães, sendo 69 em

dias de creche e 6 cães em atendimento em domicílio. Os gráficos e tabelas a seguir

expõem as raças observadas, sexo, idade, frequência semanal na creche,

comportamentos de maior incidência na clínica.

GRÁFICO 1: Porcentagem de cães machos e fêmeas.

35%

65%

Macho Fêmea

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Gráfico 2: Distribuição do número de dias na creche e do número de animais.

O gráfico 2 representa a quantidade de dias frequentados pelos animais da

creche, sendo que 38 cães (2 vezes por semana), 18 cães (3 vezes por semana), 2

cães (4 vezes por semana), 11 cães (5 vezes por semana). Esse gráfico não leva

em consideração os 6 animais que tiveram atendimento domiciliar.

Tabela 1 – Distribuição dos números dos animais relacionados com a idade.

Idade Quantidade %

0 a 1 ano 22 29 %

1 a 3 anos 23 30%

3 a 5 anos 18 24%

5 a 7 anos 8 10%

7 a 9 anos 3 4%

Mais de 9 anos 1 1%

Total 75 100%

A Tabela 1 representa a quantidade de animais divididos de acordo com a

faixa etária, sendo 22, entre 0 a 1 ano de idade; 23 animais, entre 1 a 3 anos de

idade; 18 animais, entre 3 a 5 anos de idade; 8 animais, entre 5 a 7 anos de idade; 3

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animais, entre 7 a 9 anos de idade, seguido de somente um animal com mais de 9

anos de idade, totalizando 75 cães.

Com relação às raças observadas durante o estágio curricular, a Tabela 2

mostra a divisão de grupos raciais de cães da FCI (Federation Cynologique

Internationale).

Tabela 2: Distribuição das diversas raças de acordo com os grupos considerados pela FCI.

No Quadro 1 observa-se as diferentes raças observadas no estágio curricular.

Quadro 1: Distribuição das diferentes raças utilizadas para o estudo do

enriquecimento ambiental na Universicão durante o estágio curricular.

GRUPO 1 – Schipperke, Border

collie, Welsh corgi pembroke.

GRUPO 2 - Bernese, Schnauzer,

Bulldog inglês.

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GRUPO 3 – West highland white

terrier, Jack russel terrier,

Yorkshire terrier.

GRUPO 4 – Dachshunds

GRUPO 5 – Spitz alemão anão,

Samoyeda.

GRUPO 6 – Beagle.

GRUPO 7 – Braco alemão.

GRUPO 8 - Labrador retriever, Golden retriever.

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GRUPO 9 – Bulldog francês, Maltês, Shihtzu, pequinês.

GRUPO 10 – Whippet, Greyhound, Galgo italiano.

Ao analisar as diferentes raças acima citadas verificou-se que dos 75 cães, 8

demonstraram alterações comportamentais. Na raça schipperke foi diagnosticado

medo de outros cães e humanos; na welshi corgi pembroke, jack russel terrier e

bulldog francês, vocalização excessiva; no dachshund e spitz alemão anão,

síndrome da ansiedade de separação; no labrador retriever, coprofagia e ansiedade

generalizada; no border collie, comportamento compulsivo por perseguição da

cauda.

Com base nas alterações comportamentais, foi aplicado no schipperke o

enriquecimento social interespecífico e intraespecífico para trabalhar os medos;

enriquecimento físico, com Buddytoys para que ele pudesse arranhar e morder; e o

enriquecimento alimentar através da distribuição de ração espalhada pelo ambiente.

O enriquecimento que trouxe um resultado mais positivo, diminuição acentuada do

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medo foi o social, sendo solicitado ao tutor que o animal frequentasse 4 vezes por

semana a creche.

FIGURA 8: Schipperke compartilhando o enriquecimento social e sensorial

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No welshi corgi pembroke, que apresentava vocalização excessiva, foi

aplicado o enriquecimento alimentar com garrafas pet’s e comida espalhada pelo

ambiente, além de enriquecimento sensorial com cordas, chá de camomila e

enriquecimento físico com Buddytoys. O enriquecimento mais atrativo para este

caso foi o sensorial, deixando o cão mais calmo, diminuindo assim a vocalização.

FIGURA 9: Welshi corgi pembroke participando de enriquecimento ambiental sensorial com buddytoy

Ao jack russel terrier foi aplicado enriquecimento alimentar com comida

espalhada pelo ambiente e garrafas pet’s e treino de obediência com reforço

positivo. O comando de obediência apresentou melhor resposta diminuindo 90% da

vocalização excessiva.

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FIGURA 10: Jack russel terrier recebendo o comando de obediência “senta” e recebendo recompensa como reforço positivo

No dachshund que apresentava a síndrome da ansiedade de separação,

foram aplicados treinos de obediência e enriquecimento alimentar com a utilização

de petball e no enriquecimento físico, foram utilizados vários modelos de brinquedos

para morder. Como resultado o treino de obediência se mostrou o mais eficiente.

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FIGURA 11: Dachshund recebendo treino de obediência com o comando “senta”

Ao labrador retriever que apresentava vocalização excessiva e coprofagia, foi

aplicado enriquecimento alimentar com petball, comida espalhada pelo ambiente,

enriquecimento cognitivo com tabuleiros e enriquecimento físico com cordas e

piscina. O enriquecimento físico com piscina foi o que demonstrou o melhor

resultado, diminuindo acentuadamente a vocalização excessiva e a coprofagia.

FIGURA12: Cão compartilhando do enriquecimento ambiental físico em piscina

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Para o spitz alemão anão foi feito enriquecimento alimentar com petball,

garrafas pet’s, comida espalhada pelo ambiente, enriquecimento cognitivo,

treinamento de obediência, além de frequentar a creche duas vezes por semana.

Para ele o treino de obediência foi o mais eficaz (80%), diminuindo sua ansiedade e

melhorando seu bem-estar.

FIGURA 13: Spitz alemão anão recebendo comando “senta” como

treino de obediência

Para o bulldog francês foi praticado enriquecimento alimentar espalhando

comida pelo ambiente, o enriquecimento físico com piscinas, rampas, pedras,

enriquecimento social com interações com a mesma espécie, enriquecimento

sensorial com utilização de petbolhas e o treino de obediência. O enriquecimento de

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maior sucesso foi o sensorial, onde o animal desvia completamente sua atenção

para a brincadeira, diminuindo assim sua ansiedade e vocalização excessiva.

FIGURA 14: Bulldog recebendo enriquecimento ambiental sensorial com bolhas de sabão

Para o border collie foi utilizado enriquecimento cognitivo com tabuleiros,

enriquecimento alimentar com petball, comida espalhada pelo ambiente. O animal

não demostrou um resultado satisfatório, pois desviava a atenção muito facilmente e

voltava a alteração de comportamento

FIGURA 15: Border collie participando de enriquecimento ambiental cognitivo com tabuleiro

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Gráfico 3 – Proporção de cães com alterações comportamentais observados durante o estágio no período de 01 de março a 30 de maio de 2016 na Universicão

Tabela 3 – Relação das alterações comportamentais observadas durante o estágio no período de 01 de março a 30 de maio de 2016 na Universicão.

Alteração comportamental Quantidade de cães acometidos %

Ansiedade generalizada e Coprofagia 1 1%

Ansiedade de separação 2 25%

Comportamento compulsivo 1 1%

Medo excessivo 1 1%

Vocalização excessiva 3 37%

Total 8 100%

11%

89%

Proporção de cães observados com alterações de comportamento

Com alteração de comportamento Sem alteração de comportamento

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4 REVISÃO DE LITERATURA

4.1 BEM-ESTAR ANIMAL

O bem-estar Animal (BEA) é um termo de uso corrente em várias situações e

deve permitir relação com outros conceitos, tais como: necessidades, liberdades,

felicidade, adaptação, controle, capacidade de previsão, sentimentos, sofrimento,

dor, ansiedade, medo, tédio, estresse e saúde (BROOM; MOLENTO, 2004).

Segundo Farm Animal Welfare Council (2003), o bem-estar está diretamente

relacionado às cinco liberdades, onde os animais devem ser: livres de desconforto

físico e térmico, livres de dor, ferimentos e doenças, livres de medo e angústia, livres

para expressar seu comportamento natural.

Cientificamente falando existe uma evidência de que os animais de

companhia têm efeitos positivos sobre o bem-estar psicológico e físico das pessoas

que com eles convivem, ajudando-as na redução da solidão, ansiedade e depressão

(FARNSWORTH, 2004).

A teoria do apego é baseada na premissa de que os seres humanos, como

muitos animais são biologicamente predispostos a buscar e manter um contato físico

e uma conexão emocional com figuras seletivas com quem eles estão se

familiarizando e passam a contar com a proteção psicológica e física. Animais de

estimação são facilmente encontrados, estão sintonizados e são sensíveis aos

movimentos e humores dos seus donos gerando um conforto e uma conexão.

(SABLE, 2000).

Descobertas recentes da neurociência comprovam componentes de fixação

subjacentes e atividade entre seres humanos e animais. Por exemplo, apenas

olhando para um cão, acariciando ou falando com eles, pode ocorrer à liberação da

ocitocina, um hormônio que provoca sensações de prazer e assim aliviar o estresse.

A ocitocina reforça o sistema imunológico, reduzindo a produção de estresse e

diminuindo os sentimentos de medo e perigo (OLMERT, 2009).

É importante entender o quanto animais de estimação podem significar para

algumas pessoas, atestando a forma como eles vieram a ser considerados membros

da família. Os cães proporcionam proximidade e sentimentos positivos de

comandos, como a alegria e o riso para que as pessoas se sintam menos solitárias,

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eles fornecem um componente de apego que promove o bem-estar e segurança,

bem como oferece oportunidades para cuidar e ter um compromisso (SABLE, 2000).

Com base em tudo isso, alguns estudos afirmam ainda que a presença de um

animal de estimação reduz a pressão arterial, aumenta a chances de sobrevida após

um ataque cardíaco e facilita o contato social (FARNSWORTH 2004). Os

proprietários idosos relatam menos sofrimento psicológico e afirmaram irem menos

ao médico (SIEGEL, 1990). A terapia assistida por animais é tão bem sucedida para

todas as idades que agora é generalizada em uma variedade de configurações

(KOPPEL, 2011).

4.2 HIPERVINCULAÇÃO

Para examinar o vínculo humano com os animais é preciso se concentrar

principalmente em sentimentos reatados de proximidade e atitudes em relação e

atividade concluídas com o próprio animal de companhia (MELSON, 1990). Medidas

atuais de apego ao animal de companhia podem corresponder a certos aspectos da

teoria do apego em relação aos seres humanos, como a ligação emocional, uma

base segura, buscando proximidade e modelos representacionais

(TRIEBENBACHER, 1999).

Sendo um animal de companhia que pode se acariciar ou segurar, pode ser

semelhante à ênfase da teoria do apego em proximidade física (ENDERS-

SLEGERS, 2000).

A ansiedade humana pode ser medida tanto como um estado emocional

temporário ou como um traço comportamental e as evidências sugerem que tanto o

estado quanto o traço de ansiedade podem ser afetados pela posse de animais e do

apego (BARLOW, 2002).

A hipervinculação dos animais e o tempo em que passam sozinhos em casa

contribuem para o aparecimento de alterações comportamentais. Este

comportamento é o responsável por mais de um terço das razões apontadas para o

regresso de cães para abrigos de onde haviam sido adotados (SHORE, 2005).

Clark e Boyer (1993), Jagoe e Serpel (1996) relataram que o treinamento de

obediência foi associado com a redução de prevalência de problemas de

comportamento selecionados pelos relatos dos proprietários dos cães. Os efeitos

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positivos das aulas de obediência, conselhos de especialistas e aconselhamento

comportamental podem ser alcançados se os donos optarem por fazer uso de tais.

Muitas pessoas toleram o comportamento do animal ou procuram um novo lar

para ele, mas muitas vezes declaram que não têm tempo nem dinheiro para investir

em treinamento (DIGIACOMO, ARLUKE e PATRONEK, 1998).

Para os donos de cães, a agressão com as pessoas era vista como o

problema mais grave. Os três fatores problemáticos considerados nos cães foram

classificados como destruidor, insociáveis e agitados (GORSUCH, 1983).

Os tutores utilizam várias formas para obter ajuda, a compra de um livro de

autoajuda, pagam para ter uma visita a um veterinário, utilizam várias formas de

brinquedos para entreter os animais. Mas o uso de livros não foi relacionado com o

risco de abandono de animais (PATRONEK et al., 1996). Desde o momento em que

o proprietário escolhe o seu animal de companhia, o médico veterinário deverá

desempenhar um papel ativo no aconselhamento sobre problemas comportamentais

e favorecendo a criação de um importante vínculo entre o proprietário e o se animal

(LANDSBERG, 2008)

4.3 PADRONIZAÇÕES DE RAÇAS

A padronização das raças estabeleceu-se principalmente a partir de critérios

estéticos e funcionais. Os cães sem raça definida são a expressão da ausência de

padrão específico, podendo assim expressar uma grande variedade física e de 13

comportamentos, sem que se possa prever seu real comportamento. Atualmente

existem mais de 400 raças de cães reconhecidas (LANTZMAN, 2013).

4.4 COMPORTAMENTO CANINO

A compreensão para o comportamento social canino através de conceitos de

dominância se deu de resultados de estudos com lobos. Esse conceito é feito em

condições forçadas com animais sem relação prévia alguma, tanto uns com os

outros, como com o ambiente no qual foram estudados. Além disso, o cão deve ser

estudado como espécie própria, pois mesmo que tenha vindo do lobo, seu

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comportamento modificou devido a milhares de anos de domesticação, portanto, as

interações que ocorrem entre cães, entre cães e humanos, ou cães e outros animais

e estímulos, devem ser interpretados como resultado de experiência prévia e

contexto no qual está ocorrendo à interação (RAMOS, 2014).

Os cães de vida livre se organizam em grupos, que podem ser instáveis (não

aparentados) ou estáveis (aparentados) se alimentam de sobras, derrubando latas

de lixo, sem caçar grandes presas. A sobrevivência das ninhadas, nesses grupos, é

praticamente nula e, ao contrário dos lobos, quando os cachorrinhos nascem,

geralmente, só a mãe cuida deles. O método principal de manutenção do grupo é

recrutando mais cães errantes (PEREIRA e PEREIRA, 2013).

Um dos fenômenos mais marcantes do desenvolvimento comportamental dos

mamíferos é a brincadeira, pois abrange muitas categorias comportamentais, varia

consideravelmente dentro das espécies e seu significado funcional único ou múltiplo

ainda está sendo debatido (BURGHARDT, 2005).

Os principais tipos de jogos são as brincadeiras sociais, orientado para uma

mesma espécie (BURGHARDT, 2005), locomotor-rotacional (sozinhos ou na

companhia) (WILSON e KLEIMAN, 1974) e um objeto peça, por exemplo, girar em

círculo, saltar, correr rapidamente, brincar com objeto, imobilizar o outro, imitar.

Como o comportamento de brincar, até mesmo em mamíferos, parece ser

acompanhado por um estado emocional específico muitas vezes rotulado como

prazer ou diversão, a estimulação mútua de brincar pode ser vista como um caso de

contágio emocional, um fenômeno que tem sido estudado em humanos por algum

tempo (DOHERTY, 1997). Contágio emocional recebeu recentemente atenção da

pesquisa por etólogos, especialmente primatologistas (FERRARI; BONINI;

FOGASSI, 2009). Novas evidências sugerem que os neurônios corticais podem

fornecer um dedicado mecanismo neural específico para diferentes emoções, como

medo e raiva; esses neurônios são ativados quando um comportamento emocional

está sendo percebido e quando ele está sendo executado (FERRARI, et al 2009).

Panksepp (2005) foi um dos primeiros neurocientistas a introduzir o conceito de

sistemas emocionais fundamentais (SEF) de necessidades comportamentais

altamente motivas em animais de produção, animais de companhia, animais de

laboratório e animais em zoológicos.

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4.5 COGNIÇÃO

A cognição ou processos cognitivos superiores é definida como aqueles

processos mentais ligados à aprendizagem, ao processamento da informação, à

formação de memórias e a outras funções superiores executivas como certas

operações mentais (reconhecer, categorizar, classificar, discriminar, distinguir,

selecionar, orientar no espaço, recordar lugares e medir o tempo). Estas funções

cognitivas dependem principalmente da atividade do córtex frontal e pré-frontal, e é

a base para o enriquecimento ambiental (SNITCOFSKY, 2013).

Os indivíduos, seja qual a espécie, utilizam mecanismos cognitivos quando

são capazes de resolver um novo problema baseando-se no processamento de

informação preexistida obtida por outras experiências. Ou seja, reconhece-se como

regulado por um processo cognitivo superior todo comportamento que não pode ser

devidamente explicado pela mera associação de estímulos (aprendizagem

associativa) ou tentativa e erro (SNITCOFSKY, 2013).

Segundo Snitcofsky (2013), as funções cognitivas que têm sido até agora

demostradas, na maioria das espécies de mamíferos superiores são:

a) atenção

b) aprendizagem e memória;

c) categorização ou classificação, discriminação ou diferenciação, seleção;

d) reconhecimento ou navegação espacial;

e) uso de ferramentas;

f) raciocínio;

g) resolução de problemas;

h) tomada de decisões;

i) comunicação e linguagem ou cognição social;

j) temporalidade: capacidade de medir o tempo

Em relação à cognição social, relatos recentes indicam que os caninos, que

possuem grande complexidade em suas relações sociais e na comunicação que as

mantêm são capazes de entender sinais visuais, auditivos e olfativos de longa

distância, inclusive quando estes provêm de indivíduos de outra espécie (humano).

A partir da comunicação entre indivíduos, seja entre animais da mesma espécie, ou

entre o cão e seu tutor, por exemplo, os animais são capazes de formar um “mapa

mental” ou mapeamento rápido permitindo fazer deduções ou inferências sobre a

localização de objetos, ou inclusive a respeito do nome de novos objetos, ainda sem

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ter aprendido anteriormente. O cão tem capacidade para entender que objetos com

características físicas distintas possuem nomes diferentes, utilizam um mecanismo

generalizado de aprendizagem, denominado aprendizagem por exclusão ou

associação emergente, armazenando essas informações na memória

(SNITCOFSKY, 2013).

4.6 ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL (EA)

Robert Yerks introduziu o conceito de enriquecimento ambiental nos anos 20,

e tratadores de animais provavelmente o vem praticando desde lá (MELLEN; e

SEVENICH, 1999 apud MARTIN, 1999).

Shepherdson (1998) descreveu o enriquecimento ambiental como um

princípio do comportamento animal que busca aumentar a qualidade dos cuidados

com os animais de cativeiro, através da identificação, caracterização e avaliação do

fornecimento de estímulos ambientais necessários para o bem-estar psicológico e

fisiológico ideal avaliando a sua eficácia.

Genaro (2005) afirma que as técnicas de enriquecimento podem ser

realizadas de diversas maneiras, com a sistemática do ambiente, através de

deslocamento de objetos já conhecidos, ou ainda, por meio da introdução de novos

itens, garantindo desse modo à manutenção da novidade dentro de um ambiente

conhecido. A utilização de métodos de enriquecimento ambiental possui como

propósitos: a manutenção da motivação exploratória, evitar ou eliminar desvios

comportamentais, maximizando assim a qualidade de vida desses animais.

Os estímulos devem mimetizar oportunidades que desenvolvam atos

comportamentais assemelhados aos que experimentariam em vida livre. Entretanto

se o animal não tiver a liberdade desejada para agir naturalmente, é preciso pensar

em um meio de satisfazer a emoção que motiva seu comportamento, dando opções

de atividades (GRANDIN; JOHNSON, 2009). As atividades devem, por exemplo,

promover comportamentos como o forrageiro, o deslocamento através de estruturas

que necessitam de esforços como saltar, oportunidades que permitam a esses

animais obter seu alimento, e ainda, para que aprendam novos comportamentos e

realizem tarefas com exigências mais refinadas cognitivamente (MELLEN e

SHEPHERDSON, 1997).

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Através do enriquecimento pode-se proporcionar ao indivíduo escolhas do

tipo de ambiente a ser utilizado, maiores possibilidades de exploração,

imprevisibilidade, certo controle de sua alimentação e interações sociais. Funciona

também como uma forma de aperfeiçoar o espaço disponível para os animais

cativos, promovendo maior interação com o ambiente (SHEPHERDSON, 1998).

O enriquecimento ambiental é um processo dinâmico que estrutura e modifica

os ambientes dos animais de uma maneira que forneça escolhas comportamentais

aos mesmos, e traga à tona o comportamento e as habilidades adequadas de suas

espécies (YOUNG, 2003).

Técnicas de enriquecimento são tão diversas quanto o repertório

comportamental de uma espécie. A eficácia do enriquecimento é reforçada quando

abordada de forma sistemática. A definição do objetivo, a implementação do

programa e a documentação dos critérios de resposta facilitam a avaliação objetiva,

e são características de um programa de enriquecimento autossustentado (MELLE;

MACPHEE, 2001).

Contudo, nem todas as técnicas são aplicáveis a todas as espécies. Além

disso, para o bom senso, para a sanidade animal e da segurança das pessoas

envolvidas no processo, nem todos os comportamentos naturais podem ser

encorajados (MORRIS et al., 2010).

É importante compreender a função do recurso de enriquecimento a ser

utilizado e o comportamento a ser modificado, e como a função do objeto de

enriquecimento ambiental (OBEA) a ser utilizado, pode ter um resultado diferente

dependendo da espécie considerada (NEWBERRY, 1995).

Existem várias técnicas e metas, sendo que todas elas geram alterações nos

comportamentos dos animais (HOSEY et al, 2009 apud LOREIRO, 2013), e existem

cinco tipos de enriquecimento ambiental, sendo eles: alimentar, sensorial, cognitivo,

social e físico (YOUNG, 2003).

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4.6.6 TIPOS DE ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL

4.6.6.1 Enriquecimento Ambiental Alimentar (EAA)

O enriquecimento ambiental alimentar (EAA) visa introduzir novas formas de

fornecer o alimento ou novos tipos de alimento (HOSEY et al, 2009 apud

LOUREIRO, 2013). O enriquecimento alimentar é o mais implementado e o que

apresenta maior sucesso, pois a alimentação é fácil de ser implantada (HOY, 2010).

Apesar de pertencer à ordem dos carnívoros, o cão doméstico mostra uma

conduta de alimentação extremamente flexível e pode inclusive satisfazer todos

seus requerimentos nutricionais a partir de uma dieta de origem vegetal (VILANOVA,

2003). A quantidade de alimento consumida por um animal depende não só de

fatores estritamente nutricionais, mas também de sua experiência prévia e de fatores

sensoriais. Frequentemente, os alimentos preferidos pelos cães domésticos são

aqueles que são novos e desconhecidos, especialmente se são muito palatáveis.

Podendo assim esconder e/ou jogar a refeição do animal pelo ambiente (pelo chão,

caixas de ovos, garrafas pets, embaixo de móveis), estimulando o cão a deixar seu

pote de comida de lado e interagindo com a comida de formas diferentes (FIGURA

16). Em certas ocasiões, inclusive alimentos pouco palatáveis, porém novos, podem

ter interferência, temporariamente, sobre o seu alimento habitual. (VILLANOVA,

2003).

A alimentação diária deve ser em quantidade controlada, em um lugar

separado e dividida em porções. Os cães normalmente necessitam realizar muito

menos exercício para conseguir comida que seus ancestrais, o que somado a um

estilo de vida sedentário pela permanência em lugares com pouco espaço e pela

disponibilidade permanente de alimento muito saboroso, predispõe o sobrepeso e a

obesidade (MENTZEL, 2013).

Atualmente no mercado estão disponíveis diversos modelos de brinquedos

recheáveis, das quais podem ser utilizadas rações úmidas, rações secas, petiscos e

o brinquedo pode ser até congelado como é o caso do modelo KONG Classic®, da

empresa KONG® (MARKHAM, 2016) (FIGURA 17). Também podem ser utilizados

as PetBalls®, da empresa Pet Games®, onde pode ser utilizada petiscos ou a

própria refeição do animal (FIGURA 18), os “comedouros lentos” (FIGURA 19)

fazendo com que os cães acabem demorando mais para fazer a ingestão das

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comidas (ISHIKAWA, 2016). Neste tipo de enriquecimento ambiental utilizam-se

também alguns produtos recicláveis, como as garrafas Pets (FIGURA 20), osso

natural recheado (FIGURA 21), côco (a própria fruta) (FIGURA 22).

Além disso, o enriquecimento alimentar fornece ao animal o estímulo físico,

cognitivo e sensorial, além de favorecer o cão a comer mais devagar, prevenindo

assim problemas de digestão. Sendo assim, a alimentação é essencial, tornando-se

o enriquecimento mais fácil de praticar, podendo apresentar efeito imediato e

facilmente identificável (HOY; MURRAY; TRIBE, 2010).

FIGURA 16: Cães procurando alimento escondido e/ou jogado

pelo ambiente

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FIGURA 17: Kong classic, da empresa Kong

FONTE: https://dogs.thefuntimesguide.com/2007/05/all_about_kong_toys.php

FIGURA 18: PetBalls®, da empresa Pet Games®

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FIGURA 19: Comedouros lentos

FONTE: https://www.youtube.com/watch?v=hqta8rZAfeE

FIGURA 20: Enriquecimento alimentar com garrfas Pet’s

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FIGURA 21: Osso natural recheado

FIGURA 22: Enriquecimento alimentar utilizando côco

Fonte: http://blogs.d24am.com/compaixaoanimal/2012/08/24/ocê-já-ouviu-

falar-de-enriquecimento-ambiental/

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4.6.6.2 Enriquecimento Ambiental Sensorial (EAS)

O enriquecimento ambiental sensorial (EAS) envolve a utilização de

incentivos de forma a estimular os sentidos dos animais. Podem ser realizados

através da colocação de cheiros (FIGURA 23), sons, texturas, odores derivados de

plantas (FIGURA 24), varal de tecidos e imagens nos recintos, farejamento próprio

da espécie, para estimular, respectivamente, o olfato, a audição, o tato e a visão

(HOSEY et al., 2009 apud LOUREIRO, 2013). Porém deve ser lembrado que o que

é extremamente atrativo para alguns cães, pode não ser para outros. O EAS têm

efeitos positivos no seu resultado e é uma ferramenta para o bem-estar animal de

baixo custo (RESENDE; GOMES; ANDRIOLO, 2011). Os cães são instintivos e sua

realidade é formada por seus sentidos. O sentido mais forte do cão é o olfato,

seguido da visão e depois da audição (MILLAN, 2013).

Vocalização de outras espécies ou de sons da natureza, ervas aromáticas

(FIGURA 25), urina, fezes, ou odores de outros animais (FIGURA 26), além de

espelhos e televisões são alguns exemplos de enriquecimento sensorial (ELLIS e

WELLS, 2008). Os cães possuem a maior acuidade olfatória dentre todas as

espécies domésticas (OVERALL, 2013). A marcação por urina, por exemplo, fornece

informações sobre identidade, sexo, receptividade sexual e familiaridade e relações

sociais entre outros cães (OVERALL, 2013). Possuem cerca de 200 milhões de

receptores para odores, enquanto que os humanos possuem cerca de 5 milhões, ou

seja, 40 vezes menos do que os cães (ROSSI, 2015).

O cão comparado a muitas espécies de mamíferos não apresentam a reação

de flehmen, porém em certas ocasiões apresentam um comportamento análogo.

Essa conduta consiste em apertar a língua contra o palato repetida vezes, muitas

vezes levantando o focinho e colocando a extremidade da língua para fora da boca

(VILANOVA, 2003). Isto ocorre devido ao órgão vomeronasal, que é uma estrutura

epitelial tubular rodeada por vasos sanguíneos, situada na parte final rostral do

palato duro (PEREIRA e PEREIRA, 2013). De qualquer maneira, parece que o órgão

vomeronasal é funcional no cão e provavelmente está envolvido no comportamento

sexual e social (VILANOVA, 2003).

Os cães podem detectar frequências de som abrangendo de 40 Hz até 65

kHz, enquanto que 20 kHz é a frequência, máxima captada pelos humanos. Eles são

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mais sensíveis a sons. A comunicação vocal canina foi categorizada em cinco

grupos básicos de som com base em função global. São eles: sons infantis; sons de

alerta, sons de requisição, sons de retirada e sons de prazer (OVERALL, 2013).

A sinalização tátil está entre os primeiros tipos de sinalização a se

desenvolver em cães, e estimulação tátil aumenta/aprimora o neurodesenvolvimento

(OVERALL, 2013). Outro aspecto do tato canino são os chamados

mecanorreceptores, que se encontram na base dos folículos pilosos, ou seja, nas

vibrissas. As vibrissas se distribuem em cinco grupos: supraciliar, do mento,

zigomático, labial e mandibular. Muito provavelmente proporcionam informações

sobre objetos próximos e contribuem para coordenar os movimentos da boca, e

ainda ter uma função de proteção contra lesões oculares (VILANOVA, 2003).

(PEREIRA e PEREIRA, 2013; VILANOVA, 2003). O tato além de ajudar na caça,

também confere a escolher os lugares onde que vão descansar (PEREIRA e

PEREIRA, 2013).

A visão dos cães se comporta relativamente bem em níveis baixos de luz, e é

bastante sensível ao movimento de objetos. Em contraste, é menos sensível para

detectar detalhes ou estímulos coloridos e com padrões complexos (MIKLÓSI,

2014). Possuem uma visão de cores rudimentar (dicromática), e é sensível à luz de

ondas curtas (azulada), a visão de cores dos cães é suficientemente discriminante

para que eles possam fazer a escolha de um objeto baseada em cor (OVERALL,

2013).

O uso de odores traz um maior bem-estar psicológico para os animais.

Alfazema, erva-doce, lavanda, camomila e sândalo, são utilizados para diminuir a

ansiedade dos animais e incentivar o afeto positivo, diminuir a vocalização e

obtenção de relaxamento (MOSS; COOK; WESNES; DUCKES, 2003). Lavanda e

camomila são bem conhecidas por suas propriedades sedativas (MILLOT et al.,

2002). Enquanto que hortelã, alecrim, capim-limão, são utilizados para melhorar o

estado alerta e melhorar o desempenho cognitivo (DIEGO et al, 1998).

No mercado atual encontramos diversos modelos de brinquedos para serem

aplicados no EAS com texturas variadas, barulhos variados, cheiros variados e

gostos variados. Como é o caso do Adaptil® (FIGURA 27), da empresa CEVA®, que

é um feromônios cuja composição e função já foram mencionadas. A PetBolhas®

(FIGURA 28), da empresa PetGames®, com diferentes aromas estimulando a visão

e o olfato.

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FIGURA 23: Colocação de cheiros diversos: chá de camomila

FIGURA 24: Odores derivados de plantas

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FIGURA 25: Ervas aromáticas

FIGURA 26: Odores de outros animais

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FIGURA 27: Adaptil® feromônio sintético canino

FONTE: http://coisasprapets.blogspot.com.br/2014/11/feliway-o-segredo-dos-gatos-felizes-e.html

FIGURA 28: Pet bolhas utilizado como enriquecimento sensorial

FONTE: http://www.petgames.com.br/pet_bolhas.htm

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53

4.6.6.3 Enriquecimento Ambiental Cognitivo (EAC)

O enriquecimento ambiental cognitivo (EAC) é aquele que envolve a

resolução para estímulo mental. A maioria destes desafios fornece como prêmio o

alimento (HOSEY et al.,2009 apud LOUREIRO, 2013). Envolve enriquecimentos em

que o animal utilize sua capacidade de resolver problemas, ou seja, são como

quebra cabeças apresentando um grau de dificuldade para resolver a tarefa onde o

cão deve “jogar” como abrir gavetas, retiras peças como é o caso do Xadrez ®

Tabuleiro da empresa Pet Games®, onde existem diversos modelos de tabuleiros

(FIGURAS 29). Estes podem ser apenas brinquedos como bolas como o modelo

Macaquinho® (FIGURA 30), da empresa PetGames®, móbiles, ou ainda

recompensas escondidas em caixas (FIGURA 31), escondidas pelo recinto, forçando

o animal a procurar ou se esforçar conseguir uma recompensa, o que ocupa seu

tempo e estimula sua cognição, como é, PetBalls (FIGURAS 32), garrafas pets

(FIGURA 33) (ELLIS, 2009). Tem-se descrito que vários fatores podem afetar

negativamente a aprendizagem e o processo cognitivo, como a exposição

prolongada ao estresse; fatores que afetem os sentidos e a percepção; fatores

genéticos; e fatores ambientais, por exemplo, nutricionais, ou estresse oxidativo

(SNITCOFSKY, 2013). Quanto ao raciocínio inferencial, o cão quando está

buscando um brinquedo em um ensaio de duas escolhas, é capaz de inferir por

exclusão, por exemplo, encontrando um brinquedo escondido, vendo onde não está

escondido (SNITCOFSKY, 2013).

Podemos dizer que existe consenso em assegurar que os caninos têm mente,

ou processos mentais, e capacidades cognitivas superiores, que lhes permitem

resolver problemas e realizar inferências e raciocínios relativamente complexos.

Entretanto, certas capacidades cognitivas que o ser humano possui não podem ser

demonstradas pela ciência em outros animais e ainda são objetos de estudo e de

controvérsias (SNITCOFSKY, 2013).

Segundo a revista Animal Cognition (2014), os cães possuem a chamada

“memória declarativa”, que designa as memórias que podem ser conscientemente

relembradas, como fatos ou conhecimentos (Quadro 2).

O adestramento, obediência básica ou truques é uma das práticas utilizadas

para os cães para enriquecimento Cognitivo. Segundo Millan (2013), a maioria dos

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adestramentos hoje em dia segue duas escolas de pensamentos a primeira que a

aprendizagem é baseada em recompensas ou a segunda que é baseada em

punições. Existem várias técnicas de adestramento comumente utilizadas, como

o clicker training (FIGURA 34) que é baseado no treinamento operante, onde o

animal aprende um novo comportamento através de um estalido de metal e em

seguida uma recompensa (BRADSHAW, 2012).

O Agility, que é uma competição canina onde os cães enfrentam diferentes

obstáculos com finalidade de valorizar e potencializar a sua inteligência quanto sua

agilidade, também é uma prática para o EAC segundo a Comissão Brasileira de

Agility (2016) (FIGURA 35).

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Quadro 2: Classificação de memórias de acordo com o tempo que perduram

TIPOS DE MEMÓRIA PERMANÊNCIA CARACTERÍSTICA

Memórias Sensoriais Poucos segundos Retenção de uma breve

impressão de um estímulo

após este ter

desaparecido, ou seja,

depois que o sistema

sensorial correspondente

deixa de enviar informação

ao cérebro.

Memórias de curta

Duração

Poucas horas Permite manter na

“mente”, e em um estado

ativo e facilmente

acessível, uma pequena

quantidade de informação.

Memórias de Longa

Duração

Dias, meses, anos,

podendo até ser a vida

toda

Contém informações de

índole diversa, os quais se

encontram

armazenamentos de

maneira mais ou menos

permanente constituindo

um sistema de arquivo

dinâmico.

FONTE: adaptado de McGaugh, 2000.

FIGURA 29: Xadrez ® tabuleiro da empresa Pet Games®

FONTE: http://www.petgames.com.br/tabuleiro_xadrez.htm

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FIGURA 30: Macaquinho®, da empresa Pet Games®

FONTE: http://www.petgames.com.br/macaquinhos_g.htm

FIGURA 31: Recompensas escondidas em caixas

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FIGURA 32: PetBall® da empresa Pet Games®

FONTE: http://www.petgames.com.br/pet_ball.htm

FIGURA 33: Garrafas Pet’s

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FIGURA 34: Clicker training

FONTE: http://www.dogfoodinsider.com/clicker-training-guide/

FIGURA 35: Pista de agility como forma de enriquecimento cognitivo

FONTE: http://www.guiadasemana.com.br/esportes/noticia/pistas-de-agility-para-caes-em-já-paulo

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4.6.6.4 Enriquecimento Ambiental Social (EASO)

O enriquecimento ambiental social (EASO) pode ser um enriquecimento

interespecífico (relacionado a indivíduos de outras espécies) ou intraespecífico

(entre indivíduos da mesma espécie) (FIGURA 36, 37) (HOSEY et al. 2009 apud

LOUREIRO, 2013). Corresponde ao agrupamento de indivíduos de mesma espécie,

ou mudança na composição dos grupos quando a espécie possui característica

gregária (CELLOTI, 1994).

Cães, assim como humanos, possuem estruturas sociais fluidas onde

interações do dia a dia são baseadas em comportamentos deferentes,

especialmente onde cães são conhecidos uns dos outros, e em comportamentos

projetados para obter informações sobre risco em situações onde eles não são

conhecidos uns dos outros (OVERRALL, 2013).

Os feromônios são compostos químicos naturais que têm um papel

fundamental na comunicação intraespecífica (PEREIRA e PEREIRA, 2013).

Podem ser definidos como substâncias químicas ou mesclas de substâncias

que, emitidas por um animal, produzem determinados efeitos em um indivíduo

receptor da mesma espécie (VILANOVA, 2003).

Um dos fenômenos mais marcantes do desenvolvimento comportamental dos

mamíferos é a brincadeira (FIGURA 38). Em canídeos, a quantidade de brincadeiras

está correlacionada com a sociabilidade entre as espécies (MIKLÓSI, 2014). Na

privação de outros cães, estes adotam o ser humano como membros da sua

matilha. São exibidos comportamentos perturbados quando não são capazes de tal

associação (BROOM, 1986). Os comportamentos agonísticos, quando ocorrem,

podem ser de duas maneiras: agressão ativa e agressão passiva. A agressão ativa

pode contar com: mordidas, arranhões, lutas, rosnados, exposição dos dentes,

perseguição e botes, vocalização excessiva e fuga. Já a agressão passiva, muitas

vezes despercebida pelos humanos, se caracteriza por: olhar fixado (FIGURA 39),

andar fixado acompanhado de elevação corporal, marcação urinária, evitamento,

afastamento (RAMOS, 2014).

Segundo a Sociedade Veterinária Americana de Comportamento Animal

(AVSAB) todos os filhotes devem receber o período de socialização (FIGURA 40)

que vai do período de 20 dias até as 12 semanas é essencial para um cão adulto ser

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sociável e equilibrado, não demostrar medo, agressões, ansiedade e fobias,

devendo sempre promover interações com controle e supervisão, sendo aplicado de

formas positivas.

FIGURA 36: Cães das raças golden retriever e sem raça definida interagindo entre si

FIGURA 37: Cães das raças border collie interagindo entre si

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FIGURA 38 – Enriquecimento social com brincadeiras

FIGURA 39 – Enriquecimento social interespecífico

FONTE: http://caocidadao.com.br/dicas/como-apresentar-cao-e-gato-com-

seguranca/

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FIGURA 40: Socialização de cães filhotes

4.6.6.5 Enriquecimento Ambiental Físico (EAF)

O enriquecimento ambiental físico (EAF) consiste na modificação estrutural,

permanente ou temporária, do recinto onde residem os animais (HOSEY et al., 2009

apud LOUREIRO, 2013). Para tal podem ser inseridos: vegetação, diferentes

substratos (como areia, terra, grama sintética, piso de concreto, pedras, grama e

folhas secas) (FIGURA 41), rampas e pontes (FIGURA 42, 43) estruturas para

morderem e arranharem (FIGURAS 44, 45, 46), locais para descanso com sombras

(FIGURA 47), as piscinas (FIGURA 48), que além de estarem fazendo o

enriquecimento físico os animais se divertem e se refrescam. A criação de barreiras

visuais também é fundamental para que o animal se sinta protegido, como em áreas

de descanso, áreas para dormir (FIGURA 49) e para se refugiarem de possíveis

“ameaças” como as caixas (FIGURA 50) (ROCHLITZ, 2000; GERET et al. 2011).

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Todos os tipos de enriquecimento ambiental podem ser correlacionados:

alimentar com cognitivo, sensorial com alimentar, etc. A divisão dos enriquecimentos

ocorre apenas com função didática, pois na prática torna-se difícil à aplicação de um

enriquecimento sem estar relacionado a dois ou mais tipos. Mellen e Macphee

(2001) sugerem que os planos de enriquecimento ambiental devem seguir uma

ordenação para que a eficácia e os objetivos do enriquecimento sejam atendidos ao

indivíduo cativo. Essa ordem envolve os seguintes cinco passos: (1) a definição dos

objetivos, (2) planejamento, (3) realização, (4) documentação e evolução e por fim,

(5) o reajuste. Vários parâmetros são utilizados para analisar a interação com o

enriquecimento dos animais mantidos em isolamento ou em grupos como:

comportamento exploratório, interação social, comportamento de vigília, células

sanguíneas, hormônios, vocalização, dentre outros (GENARO et al, 2004), sendo o

comportamento exploratório um dos parâmetros mais utilizados (GENARO e

SCHIMDEK, 2000).

FIGURA 41 – Enriquecimento ambiental com rampas e gangorras

FONTE: http://neafa.org.br/playground-do-neafa-e-uma-otima-opcao-de- lazer-faca-já-uma-visita/

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FIGURA 42: Enriquecimento ambiental com ponte

FIGURA 43: Enriquecimento ambiental com rampa

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FIGURA 44: Estruturas para morderem

FIGURA 45: Galhos, madeiras e árvores para morderem

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FIGURA 46: Diversos brinquedos como os BuddyToys®

FIGURA 47: Locais para descanso com sombra

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FIGURA 48: Piscinas para enriquecimento ambiental físico

FIGURA 49: Áreas para descanso após atividades

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FIGURA 50: Caixas de descanso e refugio

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5 RELATO DE CASO

5.1 ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL PARA CÃES COM VOCALIZAÇÃO

EXCESSIVA E ANSIEDADE GENERALIZADA.

5.1.1 Definição da doença

A vocalização excessiva nada mais é do que um latido exagerado, ela só se

torna um problema para o proprietário quando eles não conseguem mais lidar com a

situação. Os animais podem vocalizar por diversas razões sendo elas: dor,

demonstrações territoriais, atenção, ansiedade, facilitação social, agressões,

comidas. Normalmente os tutores se queixam quando os cachorros estão

vocalizando enquanto se encontram dormindo, descansando, ou até mesmo quando

estão envolvidos em outras atividades (HORWITZ e NEILSON, 2008).

Um dos fatores contribuintes para a vocalização excessiva é a própria

ansiedade generalizada, quando o proprietário leva o cachorro para passear, o

medo subjacente, um comportamento territorial, transtorno compulsivo e a busca por

atenção. Nenhum achado patológico está associado à vocalização, a menos que

uma doença subjacente seja a causa para o mal estar e a resultante vocalização

(HORWITZ e NEILSON, 2008).

5.1.2 Tratamento indicado

O tratamento indicado para a vocalização excessiva e ansiedade

generalizada consiste em várias técnicas, como as técnicas de modificação

comportamental, o manejo ambiental, e a terapia medicamentosa (HORWITZ e

NEILSON, 2008).

Modificação comportamental: Consiste em fornecer ao animal uma atividade

ou reação alternativa os estímulos que previamente causaram a vocalização, como

por exemplo, se for vocalização por excitação o animal é ensinado a pegar um

brinquedo e sentar-se quieto para assim poder ganhar a recompensa, caso contrário

o comportamento do animal é rejeitado e ele acaba não ganhando a recompensa.

Difusores, sprays e coleiras com feromônios podem auxiliar na ansiedade

(HORWITZ e NEILSON, 2008). O treinamento de obediência do animal deve ser

iniciado com o aprendizado dos comandos “senta”, “deita” e “fica”. O cão deve ser

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condicionado a manter um comportamento calmo e relaxado enquanto o tutor se

afasta, devendo ser recompensado sempre que o objetivo for atingido

(LANDSBERG, 2004).

Manejo ambiental: criar um ambiente calmo e seguro, como um aposento

escurecido, com sons de fundo constantes ou isolado de certos estímulos

(HORWITZ e NEILSON, 2008).

Terapia medicamentosa: Consiste em uma medicação que forneçam uma

redução contínua na ansiedade, como os potencializadores da serotonina. Podem

levar até 4 semanas para conseguir eficácia, a terapia deve ser mantida por vários

meses, até a obtenção do sucesso do animal, como exemplo temos a fluoxetina 0,5-

1 mg/kg q24h, lembrando que esse medicamento não é aprovado pela FDA para

esse fim. Sendo assim o clínico sempre deverá avisar o proprietário sobre qualquer

utilização de medicamento sem prescrição de bula e documentar esse aviso. Os

efeitos colaterais são possíveis, sendo assim a resposta do animal à terapia deve

ser monitorada e o tratamento deve ser modificado ou interrompido quando indicado

(HORWITZ e NEILSON, 2008).

O tratamento medicamentoso visa o alívio da ansiedade do cão e facilita a

evolução da terapia comportamental, melhorando o bem-estar do animal no decorrer

do tratamento (SIMPSON, 2000).

5.1.3 Descrição do caso

O animal relatado é um cão, fêmea, castrada, da raça Bulldog francês, de um

ano de idade chamada Aisla, que foi levada para a creche com o objetivo de

consumir energia por indicação de outro tutor. Após 2 meses de creche, o animal

com 5 meses de idade começou a apresentar vocalização excessiva e ansiedade

generalizada. A proprietária relatou que nunca havia observado nenhum desses

comportamentos em casa.

Os comportamentos do animal foram se intensificando e, com 1 ano de idade,

foi possível identificar que o fator desencadeante da vocalização era a busca de

atenção.

Para tratamento desta paciente recomendou-se aumentar a frequência

semanal na creche, passando para 3 vezes por semana com 10 horas diárias.

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Foram intensificados os treinamentos de obediência aos comandos de

“senta”, deita e fica.

Os cinco tipos de enriquecimento (alimentar, cognitivo, físico, social e

sensorial) foram aplicados diariamente durante 3 meses.

No enriquecimento alimentar foi oferecido ração espalhada pelo ambiente e

petball (FIGURA 51).

O enriquecimento cognitivo foi trabalhado com garrafas pet e petball cheias

de ração (FIGURAS 52 E 53).

No enriquecimento físico, a paciente foi estimulada na grama sintética, piso

de areia, piso de cerâmica, pedras, piscinas, diversas estruturas de madeira

(rampas, ponte, balança) (FIGURA 54 E 55).

O enriquecimento social compartilhava estas atividades com diferentes cães.

Diversos estímulos sensoriais (táteis, visuais, olfativos, auditivos e gustativos) foram

oferecidos, dentre eles a petbolha que desviava a atenção da paciente para a

brincadeira diminuindo sua ansiedade e vocalização excessiva (FIGURA 56).

Estas atividades foram trabalhadas durante 5 horas até que o animal

demonstrasse estar cansado. O restante das horas era de descanso em áreas

sombreadas com camas.

Ao final do estágio a paciente apresentou diminuição da vocalização

excessiva e demonstrou estar menos ansiosa e obediente aos comandos e a tutora

relatou ter adotado mais um filhote de Bulldog frânces para melhorar a socialização

do animal.

FIGURA 51: Bulldog francês procurando comida jogada pelo ambiente

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FIGURA 52: Bulldog francês em enriquecimento cognitivo e

alimentar com garrafa Pet

FIGURA 53: Bulldog francês em enriquecimento alimentar e cognitivo com PetBall

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FIGURA 54: Bulldog francês participando de enriquecimento

físico na piscina

FIGURA 55: Bulldog francês participando de enriquecimento físico, em uma caminha de descanso

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FIGURA 56: Bulldog francês em enriquecimento sensorial com bolhas de sabão sabor melão

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75

5.2 ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL PARA CÃES COM ANSIEDADE DE

SEPARAÇÃO.

5.2.1 Definição da doença

A Síndrome da Ansiedade de Separação (SASA) pode ser definida pelo

conjunto de comportamentos indesejáveis exibidos pelos animais quando são

afastados fisicamente da figura de apego ou quando são deixados sozinhos. Essa

figura de vínculo pode ser um ser humano ou outro animal. Os comportamentos que

mais frequentemente caracterizam a SASA são: vocalização excessiva (uivos,

choros ou latidos em excesso), comportamento destrutivo (roer ou arranhar objetos

pessoais da figura de vínculo ou as possíveis rotas de acesso a essa figura de

vínculo), micção e defecação em locais inapropriados e frequentemente em locais

ou objetos que sejam referência à figura de vínculo (LANDSBERG et al., 2004),

atividade motora repetitiva (ficar andando de um lado pro outro), hipersalivação,

ofegar, anorexia, inatividade, o animal pode exibir comportamentos excessivos como

“ficar como uma sombra” quando a figura de apego está em casa, podem apresentar

sinais de mal-estar quando o proprietário se prepara para sair (tremores, ofegar,

ficar mais próximo da figura de apego) (HORWITZ e NEILSON, 2008).

Para que ocorra a SASA, é necessário a hipervinculação, ou seja, a rotina

canina em torno da figura de vínculo, havendo sinais de ansiedade ou desconforto

sempre que essa figura se afasta.

Segundo Appleby e Pluijmakers (2004) a hipervinculação pode ter diferentes

origens e consequências na manifestação da SASA. A hipervinculação primária

relaciona-se à perpetuação de características de imaturidade do animal além da

puberdade, através de uma continuidade de um laço afetivo primário formado

quando o animal ainda é filhote. Já a secundária está associada a traumas, fobias e

outros distúrbios emocionais e pode surgir em qualquer idade. Outros fatores podem

favorecer a ocorrência da hipervinculação, como um contato exagerado e constante

do filhote com os donos, não permitindo que este desenvolva sua independência.

Os sinais descritos para descrever a hipervinculação envolvem a colocação

do dono como centro de todas as atividades que o cão realiza. É comum que o cão

o siga por todos os cômodos da casa, inclusive banheiro, queira dormir sempre

próximo, manter contato físico constante e buscar atenção o tempo todo (APPLEBY

e PLUIJMAKERS, 2004)

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Os cães podem apresentar os sinais da síndrome da ansiedade de separação

mesmo quando não estiver sozinho, pois o animal pode se vincular a um único

indivíduo canino ou humano (LANDSBERG et al., 2004). Tal fato explica o

aparecimento da síndrome em cães de abrigos, residências com mais de uma

pessoa e animais, embora cães que vivam somente com uma pessoa demostrem

maior predisposição para o distúrbio (SCHWARTZ, 2003).

5.2.2 Tratamento indicado

O tratamento da SASA é mais complexo e diretamente relacionado à origem

do problema, sendo necessário um exame minucioso do histórico do cão, de suas

interações sociais, condições ambientais e rotinas diárias. Um tratamento complexo

é composto das seguintes técnicas:

Manejo ambiental: Mudanças no domicílio e no estilo de vida são bons auxiliares no

tratamento da SASA, mas não podem ser generalizadas para todos os casos já que

os cães respondem de maneira diferente a estas modificações. Fornecer distrações,

como brinquedos mastigáveis ou recheados com petiscos, logo antes da saída dos

tutores ajuda a manter o animal ocupado no período que corresponde ao pico de

ansiedade, ou seja, 30 minutos após a separação (LANDSBERG, 2004). A falta de

interesse em alimentos nesta situação é associada com um alto grau de ansiedade

todo. Medidas como deixar a televisão ou o rádio ligado, normalmente criam uma

associação com momentos em que o dono se encontra presente, podendo deixar o

animal mais calmo (APPLEBY e PLUIJMAKERS, 2004). Além disso, interações

diárias entre o tutor e o cão podem ajudar a reduzir os sintomas da SASA, como

exercícios adequados em quantidade e qualidade de acordo com a raça e

temperamento do cão e brincadeiras que reforcem o vínculo humano-animal.

Modificação comportamental: é realizada através de técnicas de dessensibilização,

treinamentos de obediência, contra condicionamento (HORWITZ e NEILSON, 2008).

É considerada a parte mais crítica do tratamento, e depende da determinação e

complacência do tutor em aplicar corretamente as técnicas e evitar o uso de

punições como corretivo. (LANDSBERG, 2004). Choros ou ganidos, cutucadas com

o focinho ou ações como pular no dono deve ser respondido com a ausência de

contato visual ou verbal e afastamento do tutor. Já comportamentos calmos e

relaxados apresentados de forma espontânea em situações em que o cão está

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longe deverão ser ativamente recompensado, reforçando a independência e

ajudando a eliminar o apego exagerado (HORWITZ e NEILSON, 2008).

A dessensibilização do animal à partida do tutor deve ser iniciada com o

aprendizado dos comandos “senta”, “deita” e “fica”. O cão deve ser condicionado a

manter um comportamento calmo e relaxado enquanto o tutor se afasta, devendo

ser recompensado sempre que o objetivo for atingido. Com o avanço do

treinamento, o tutor deverá realizar partidas breves, iniciando com alguns segundos

de duração, fazendo com que o cão se mantenha sentado ou deitado de forma

relaxado em uma área específica antes da sua saída (LANDSBERG, 2004).

Terapia medicamentosa: O uso de medicamentos pode ser um importante auxiliar,

principalmente em casos mais severo onde o tutor não se encontra disposto em

tolerar os comportamentos do animal. A escolha dos princípios ativos deve ser

adaptada a cada caso, de acordo com o objetivo que se espera com seu uso,

devendo ressaltar que antes de se iniciar qualquer tipo de terapia a base de

fármacos devem-se fazer exames físicos e avaliações laboratoriais completas, já

que boa parte das medicações psicoativas requer funções hepáticas e renais

normais para ter um metabolismo adequado (LANDSBERG, 2004).

O tratamento com fármacos tem duração variável, normalmente se

estendendo por 1 a 2 meses após o cão responder satisfatoriamente à modificação

comportamental. Após o cão começar a tolerar separações relativamente longas a

dose poderá ser gradualmente reduzida, devendo ser imediatamente restaurada

caso haja reaparecimento dos sinais (SIMPSON, 2000).

De acordo com o US Food and Drug Administration (FDA), órgão de controle

de drogas e alimentos dos Estados Unidos, a única droga aprovada para o

tratamento da SASA em cães e a clomipramina (Clomicalm®), 1-2 mg/kg BID, mas

também pode ser utilizado fluoxetina 0,5-2 mg/Kg SID, sertralina 1-3 mg/Kg, SID

(HORWITZ e NEILSON, 2008). Este medicamento age diretamente nas sinapses

nervosas, inibindo a receptação de serotonina e, em menor extensão, de

noradrenalina, causando um efeito calmante no animal, proporcionando maior bem-

estar durante a modificação comportamental (LANDSBERG, 2004).

Existem no mercado os ferormônios ansiolíticos ambientais sintéticos como o

DAP – dog appeasing pheromone® que se encontra disponível em forma de sprays,

difusores e coleiras (HORWITZ e NEILSON, 2008). O tratamento medicamentoso

tem como o objetivo de aliviar a ansiedade do cão e facilitar a evolução da terapia

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comportamental e melhorar o bem-estar do animal no decorrer do tratamento

(SIMPSON, 2000).

5.2.3 Descrição do caso

Cão, Macho, Spitz Alemão Anão, 1 ano, chamado Spark, castrado. Cão

começou a frequentar a creche com 4 meses de idade e com 6 meses começou a

apresentar a síndrome da ansiedade de separação, com vocalização excessiva,

“seguir a tutora de um lado pro outro” por todos os cômodos da casa, inclusive

banheiro, queria dormir sempre próximo, manter contato físico constante e buscar

atenção o tempo todo. Tutora relatou também fornecer sempre petiscos.

O quadro do animal foi se agravando conforme foi tendo maturidade, onde o

animal quando deixado na creche já começa a ofegar e a vocalizar. Foram feitas

perguntas para a proprietária tais como: qual é a composição do lar, incluindo

humanos e animais; qual a rotina de todos os membros do lar; quais são as

atividade físicas do animal no período que ele não vai para a creche; ocorre o

comportamento de ficar como sombra em casa.

Ao realizar essas perguntas foram obtidas as seguintes respostas: tutora

mora em apartamento com o marido, não possui outros animais em casa. O casal

sai para trabalhar o dia inteiro e esse foi um dos motivos para ter procurado a

creche. Quando o animal não frequenta a creche ele fica em casa, com os

brinquedos para roer. Foi constatado que o animal sofre da síndrome da ansiedade

de separação.

Para o tratamento foi indicado manejo ambiental da casa com distribuição de

petiscos espalhados pela casa em garrafas pet e petball. Orientação ao responsável

quanto as partidas e chegadas que não estimulassem tanto a ansiedade, assim

como intensificar o treinamento de obediência com o comando “senta”

recompensando com petiscos.

Foram desenvolvidas atividades 3 vezes por semana na creche visando

interação social e modificações comportamentais com treinamento de obediência ao

comando e ausência do contato visual ou verbal durante choros e gemidos.

Quanto ao enriquecimento ambiental foram realizados os cinco tipos (físico,

sensorial, alimentar, sensorial e cognitivo) durante 3 meses.

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No enriquecimento alimentar foram aplicados comida espalhados pelo

ambiente, petball, mas o animal não se interessava pela comida (FIGURA 57).

No enriquecimento físico, o paciente foi estimulado em piso de cerâmica,

grama sintética, pedras, diversas estruturas de madeira (rampas, gangorras e

balança), piscina e diversos brinquedos para morderem como os buddytoys

(FIGURA 58).

O enriquecimento social compartilhava estas atividades com diferentes cães.

O enriquecimento sensorial foi ofertado diversos estímulos sensoriais (visuais,

auditivos, gustativos, táteis e olfatórios).

No enriquecimento cognitivo foram aplicados garrafas pet, petball e o

treinamento de obediência (FIGURA 59).

FIGURA 57: Cão Spitz alemão anão em enriquecimento ambiental com PetBall

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FIGURA 58: Cão Spitz alemão anão com Buddytoy de milho

FIGURA 59: Cão recebendo comando de obediência “senta”

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6 DISCUSSÃO

O conceito de enriquecimento ambiental foi tratado inicialmente na década de

20, surgindo para proporcionar bem estar aos animais de cativeiro segundo

MELLEN; e SEVENICH, 1999 apud MARTIN, 1999. Nos dias atuais os animais

assumiram o papel de membros da família. A humanização dos animais de

companhia pode corresponder a certos aspectos da teoria do apego em relação aos

seres humanos, como a ligação emocional gerando uma base segura na

proximidade e modelos representacionais (TRIEBENBACHER, 1999). Este fato era

observado rotineiramente quando os animais eram deixados na creche. Este

comportamento não é positivo por que promove alterações comportamentais. Para

Shore (2005) a hipervinculação dos animais e o tempo em que passam sozinhos em

casa contribuem para o aparecimento de alterações comportamentais. Este fato foi

observado com o Spitz alemão anão, que ficava ofegante e vocalizando quando era

deixado na creche.

O enriquecimento ambiental tem se concentrado em identificar, caracterizar e

avaliar a importância relativa de diferentes estímulos ambientais e avaliar a eficácia

da sua escolha (SHEPHERDSON, 1998).

É importante compreender a função do recurso de enriquecimento a ser

utilizado e o comportamento a ser modificado, e como a função do objeto de

enriquecimento ambiental (OBEA) a ser utilizado, pode ter um resultado diferente

dependendo da espécie considerada (NEWBERRY, 1995).

Um dos fenômenos mais marcantes do desenvolvimento comportamental dos

mamíferos é a brincadeira, pois abrange muitas categorias comportamentais, varia

consideravelmente dentro das espécies e seu significado funcional único ou múltiplo

ainda está sendo debatido (BURGHARDT, 2005). A brincadeira era uma das

atividades apreciadas pelos cães que também usavam o seu tempo interagindo com

os outros animais através de compartilhamento de camas, brinquedos e espaço.

No período de estágio obrigatório, realizado na Clínica Comportamental

Canina Universicão, o enriquecimento ambiental mais utilizado foi o alimentar,

distribuindo a refeição do animal pelo ambiente, colocando garrafas Pets com

pequenos furos, utilizando a PetBall e o treino de obediência com o comando “senta”

para ajudar a diminuir a ansiedade e vocalização excessiva como citado por Clark e

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Boyer (1993) e Jagoe e Serpel (1996). O aprendizado do comando senta promoveu

a dessensibilização do cachorro com o tutor.

Os pacientes foram submetidos ao enriquecimento alimentar, sensorial,

cognitivo e o enriquecimento físico. Para o paciente com vocalização excessiva e

ansiedade generalizada o enriquecimento sensorial envolveu a utilização de

incentivos de forma a estimular os sentidos dos animais. A literatura relata que o

tratamento indicado era o medicamento fluoxetina 0,5-1 mg/kg q24h segundo

HORWITZ e NEILSON (2008). Foi sugerido para o tutor, porém o mesmo não

demonstrou aceitação pelo tratamento medicamentoso.

O enriquecimento sensorial foi realizado através da colocação de cheiros, sons, texturas, odores derivados de plantas, varal de tecidos e imagens nos recintos

e o farejamento próprio da espécie, para estimular, respectivamente, o olfato, a

audição, o tato e a visão (HOSEY et al., 2009 apud LOUREIRO, 2013). O animal

permaneceu completamente focado na brincadeira buscando capturar as bolhas de

sabão, diminuindo a vocalização e ansiedade. Sendo assim o EAS é bastante

utilizado, de baixo custo, além de proporcionar o bem-estar animal.

Para a síndrome de ansiedade de separação a literatura relata que a prática

mais implementada é o enriquecimento alimentar, onde a alimentação é fácil de ser

implantada (HOY , 2010), porém o animal não demonstrou interesse pelo alimento, o

que dificultou a prática do enriquecimento. A literatura relata que o tratamento

indicado era o medicamento clomipramina (Clomicalm®), 1-2 mg/kg BID segundo

HORWITZ e NEILSON (2008). Foi sugerido para o tutor o medicamento porém não

houve aceitação do tratamento medicamentoso.

Para o enriquecimento foram inseridos: vegetação, diferentes substratos

(como areia, terra, grama sintética, piso de concreto, pedras, grama e folhas secas),

rampas e pontes estruturas para morderem e arranharem, locais para descanso com

sombras, as piscinas, que além de estarem fazendo o enriquecimento físico os

animais se divertem e se refrescam. A criação de barreiras visuais também é

fundamental para que o animal se sinta protegido, como em áreas de descanso,

áreas para dormir e para se refugiarem de possíveis “ameaças” como as caixas

(ROCHLITZ, 2000; GERET et al. 2011). No tratamento foi disponibilizado para o

animal diversos modelos de brinquedos para roer como os Buddytoys, e a piscina

onde o animal além de interagir com ou outros cães estava relaxado, demonstrando

menos ansiedade.

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O que mostrou o resultado mais positivo para o caso da síndrome de

ansiedade de separação foi o treino de obediência. Todos os tipos de

enriquecimento ambiental podem ser correlacionados: alimentar com cognitivo,

sensorial com alimentar, etc. Na prática torna-se difícil à aplicação de um

enriquecimento sem estar relacionado a dois ou mais tipos.

Quanto ao enriquecimento cognitivo, esse foi melhor aplicado nas raças

border collie, labrador, golden retriever. Entre o tabuleiro e a garrafa pet os cães

preferiram a garrafa isso nos faz pensar que a garrafa faz mais barulho, estavam no

mesmo ambiente, ficavam mais curiosos com os barulhos, fato de ver um fazendo e

querer experimentar e o cheiro do outro cão. Já o tabuleiro eles eram colocados em

uma sala isolado e sozinhos. Os indivíduos, seja qual a espécie, utilizam

mecanismos cognitivos quando são capazes de resolver um novo problema

baseando-se no processamento de informação preexistida obtida por outras

experiências. Ou seja, reconhece-se como regulado por um processo cognitivo

superior todo comportamento que não pode ser devidamente explicado pela mera

associação de estímulos (aprendizagem associativa) ou tentativa e erro

(SNITCOFSKY, 2013).

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7 CONCLUSÃO

O enriquecimento ambiental tem melhorado o convívio tanto para os animais

quanto seus tutores.

Para introduzir o EA é indispensável conhecer e aplicar a etologia para que

seja feito de maneira correta e positiva.

Todos os tipos de enriquecimento ambiental podem ser correlacionados. É

importante que a ferramenta de enriquecimento introduzida seja útil e tenha um

significado para a vida do animal. Para tanto, deve-se fazer um estudo prévio do

comportamento do animal, para proporcionar estímulos biologicamente relevantes.

Para vocalização excessiva e ansiedade generalizada o enriquecimento

ambiental de melhor eficiência foi o sensorial. Para a síndrome de ansiedade de

separação o enriquecimento de melhor efeito foi o treino de obediência com o

comando “senta” o qual possibilitou a dessensibilização do cachorro com o tutor.

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