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1 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ GUSTAVO RIBAS DAOU A LEI 11.232/2005 COMO REFLEXO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO CURITIBA 2010

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

GUSTAVO RIBAS DAOU

A LEI 11.232/2005 COMO REFLEXO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO

PROCESSO

CURITIBA

2010

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GUSTAVO RIBAS DAOU

A LEI 11.232/2005 COMO REFLEXO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO

PROCESSO

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado no

curso de Direito da Faculdade de Ciências

Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como

requisito parcial à obtenção do título de bacharel

em Direito.

Orientador: André Luiz Bauml Tesser

CURITIBA

2010

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TERMO DE APROVAÇÃO

GUSTAVO RIBAS DAOU

A LEI 11.232/2005 COMO REFLEXO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO

PROCESSO

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção de título de bacharel em

Direito no Curso de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 11 de março de 2.010.

_______________________________

Curso de Ciências Jurídicas

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Prof. André Luiz Bauml Tesser

Professor

Professor

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RESUMO

O objeto deste trabalho é tratar sobre a Lei 11.232/05 e assim suas

alterações ocorridas junto ao Código de Processo Civil, a qual tem por finalidade tornar efetivo o processo, atendendo deste modo ao princípio constitucional da razoável duração do processo, instituído pela EC 45/04, o qual objetiva ampliar os direitos e garantias constitucionais. Como fontes, é utilizado pesquisa bibliográfica e jurisprudencial, de modo a visualizar a nova sistemática processual, bem como constitucional.

Palavras-chave: a razoável duração do processo; lei 11.232/2005.

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SUMÁRIO

RESUMO.....................................................................................................................4

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................6

2. A EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL NO CPC DE 1973 .... .................................8

3. A EFETIVIDADE E A RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO.. .......................12

4. PRINCIPAIS ALTERAÇÕES DA LEI 11.232/2008 PARA AT ENDIMENTO DA

RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO....................... .........................................16

4.1 DA LIQUIDAÇÃO ................................................................................................18

4.2 DA IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA .................................24

4.3 DO CUMPRIMENTO VOLUNTÁRIO DA SENTENÇA ........................................29

4.4 DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS ...............................................................33

5. CONCLUSÃO ....................................... ................................................................36

6. BIBLIOGRAFIA .................................... ................................................................38

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1. INTRODUÇÃO

A execução visa o adimplemento da prestação (art. 475-N, do CPC),

contudo, nos dias de hoje a grande dificuldade encontrada resta em conseguir fazer

valer o seu direito. Com este ímpeto foi criada a Lei n°. 11.232/2005, pois esta visa

agilizar a forma de cumprimento de sentença a transformando em apenas mais uma

fase do processo de conhecimento.

Agora prolatada a sentença o juiz intima as partes de seu conteúdo,

podendo já dispor também que na forma do art. 475-J do CPC, e sendo a sentença

condenatória o executado a cumpra dentro do prazo de 15 (quinze) dias, sob pena

de aplicação de multa de 10% sobre o valor da condenação, ou seja, ele acelera o

processo, não mais o finalizando para a posterior execução em autos apartados, ele

quando faz a intimação da sentença diz cumpra sob pena de aplicação de multa, ou

não estando contente recorra, dentro do prazo legal.

Assim, com base na Constituição Federal, e em seus princípios da

Inafastabilidade do Poder Judiciário e da Duração Razoável do Processo, foi

apresentada a exposição de motivos da referida Lei, a qual em uma de suas

passagens nos diz: "A execução permanece o ‘calcanhar de Aquiles’ do processo.

Nada mais difícil, com freqüência, do que impor no mundo dos fatos os preceitos

abstratamente formulados no mundo do direito". (Exposição de Motivos, Lei n°.

11.232, de 22 de dezembro de 2.005. Disponível em:

http://www.bovespa.com.br/pdf/Entrevista210907_04.pdf. Acessado em:

08/08/2.009).

A garantia da duração razoável do processo foi introduzida pela Emenda

Constitucional nº 45/04, instituída mais precisamente no art. 5º, inciso LXXVIII da

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Constituição Federal de 19881, com o intuito de assegurar uma justa ação, bem

como de reforçar o principio constitucional do acesso à justiça, e da inafastabilidade

do Poder Judiciário.

De modo que visa a minimizar/diminuir o prazo de duração das ações, para

que estas quando forem julgadas ainda produzam os efeitos esperados pelas partes,

dando desta forma a segurança jurídica almejada.

Isto levando em consideração os princípios, também constitucionais, da

ampla defesa e do contraditório assegurados às partes, pois um processo célere,

não pode deixar de ser justo, e como anteriormente dito, com duração razoável para

ambas as partes.

Destarte, não devemos apenas pensar na declaração do direito material,

mas também quanto a sua efetivação, e neste ponto verifica-se que Lei 11.232/05

inovou, quando modificou a sistemática tornando o cumprimento de sentença mais

um procedimento do processo de conhecimento, com o intuito de ser mais célere

seu cumprimento, bem como forçando o cumprimento voluntário da sentença

condenatória no prazo de 15 dias sob pena de multa de 10 % (dez por cento), ou

seja, também pressionando ao devedor coercitivamente. Ainda deve-se levar em

consideração que esta não é fixada pela vontade das partes, mas por imposição

legal, quando não ocorrer o cumprimento do disposto, assim visando estimular e/ou

pressionar o devedor.

1 Art. 5, inc. LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

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2. A EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL NO CPC DE 1973

A execução tratada no Código de Processo Civil de 1973 antes das

modificações trazidas pela Lei n°. 11.232/2005, não era de procedimento uno e sim

autônomo, ou seja, ocorria em autos apartados.

Contudo, podendo ser classificado e diferenciado em alguns aspectos e

circunstâncias. Sendo uma delas quanto ao título, podendo ser título

executivo judicial ou extrajudicial, conforme expunha o artigo 583 do CPC, revogado.

Neste trabalho trataremos a respeito do título judicial, sendo estes títulos

tratados pelo artigo 584 CPC/73, o qual regia:

“Art. 584. São titulo executivos judiciais: I – a sentença condenatória proferida no processo civil; II – a sentença penal condenatória transitada em julgado; III – a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda que esta não verse questão posta em juízo; (Redação dada pela Lei n°10.358/01) IV – a sentença estrangeira, homologada pelo Supremo Tribunal Federal; V – o formal e a certidão de partilha; VI – a sentença arbitral; Parágrafo único. Os títulos a que se refere o n°. V deste artigo têm força executiva exclusivamente em relação ao inventariante aos herdeiros e aos sucessores a título universal ou singular.”

Verifica-se que o título executivo judicial constituía-se de uma sentença,

desta forma nasciam de sentenças, sejam condenatórias ou homologatórias.

Assim quando não adimplido o direito apresentado na sentença (titulo

executivo judicial), iniciava-se a fase de execução, ou seja, tinha-se uma nova ação

em autos apartados, dando continuidade na antiga ação, contudo, como dito agora

na fase executória e em autos apartados.

Podendo haver, desta forma, ocasiões em que a sentença apresentava-se

como sendo por quantia certa ou a coisa certa, o objeto da obrigação, e assim a

ação de execução podia ser promovida logo em seguida, pois não havia dúvidas

quanto ao que se pretendia executar. Então se tratando de sentença líquida, ou seja,

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sentença em que se tem a certeza da obrigação e quanto ao seu valor ou à coisa,

então líquida.

Ou ainda, havendo sentença que se declara a existência da obrigação, sem,

contudo, determinar exatamente o seu valor ou a coisa, trata-se de uma sentença

ilíquida, que não se sabe com clareza o “quantum debeatur” específico.

Devendo então, para torná-la líquida realizar o procedimento da Liquidação

de Sentença, disposta no Capítulo VI, do Título I, do Livro II, nos artigos 603 a 611

revogados, ou seja, o procedimento para liquidação por arbitramento e por artigo,

sendo que a liquidação por cálculo já podia ser feita diretamente pelo exequente,

através de memorial de cálculo, assim pensado após a reforma de 1.994.

Contudo o que gerava grande discussão era o fato de que alguns entendiam

que a liquidação por artigos gerava um processo autônomo, o que já não ocorria

com a liquidação por arbitramento, e assim a morosidade do processo se

intensificava. O que hoje já não ocorre mais, tendo em vista a mudança ocorrida na

Lei, a qual estabeleceu sua natureza jurídica como sendo incidental.

E assim também é o entendimento de MARINONI e ARENHART quando

dizem que:

“Portanto, não mais cabe qualquer diferenciação entre as formas de liquidação. Todas elas – até mesmo a liquidação por artigos, que anteriormente poderia suscitar alguma dúvida – têm natureza de incidente do único processo instaurado” (2008, p. 125).

Então, após a liquidação, quando intentada a ação de execução o executado

era citado para que pagasse o valor devido no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, ou

nomeasse bens a penhora, sob pena de que lhe fossem penhorados tantos bens

quantos bastassem a garantia da dívida, nos termos do art. 6522 do CPC revogado.

2 Art. 652. O devedor será citado, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, pagar ou nomear bens à penhora.

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E, posteriormente, ocorreria a expropriação dos bens, que consistiria na

alienação dos bens do devedor, assim por adjudicação em favor do credor, ou no

usufruto quando este recaísse sobre bem imóvel ou empresa.

O que se denota em referido processo é a demora em seus procedimentos,

pois, inicialmente tinha-se de entrar com nova ação, após deveria aguardar que

ocorresse nova citação, em seguida deveria esperar que o próprio executado

nomeasse os bens a penhora, e não permitia que o exequente se manifestasse e

assim o fizesse, o que também foi alterado, com vistas a um efetivo cumprimento de

sentença.

E ainda, quanto à matéria de defesa, o Código de Processo Civil abordava

no artigo 741 a extensão das matérias que poderiam ser arguidas em sede dos

então chamados embargos do devedor, que se consubstanciavam em uma ação

própria, autônoma, ainda que incidente ao processo de execução.

"Art. 741. Na execução fundada em título judicial, os embargos só poderão versar sobre:

I - falta ou nulidade de citação no processo de conhecimento, se a ação lhe correu à revelia;

II - inexigibilidade do título;

III - ilegitimidade das partes;

IV - cumulação indevida de execuções;

V - excesso da execução, ou nulidade desta até a penhora;

VI - qualquer causa impeditiva, modificativa, ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação com execução aparelhada, transação ou prescrição, desde que supervenientes à sentença;

VII - incompetência do juízo da execução, bem como suspeição ou impedimento do juiz;

Parágrafo único. Para efeito do disposto no inciso II do caput deste artigo, considera-se também inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou

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em aplicação ou interpretação tidas por incompatíveis com a Constituição Federal.”

As alternativas apresentadas pelo artigo acima referido são questões

processuais, ou até mesmo exceções, como se denota as de incompetência do

juízo, ou de impedimento e de suspeição do juiz. Em nenhum momento permite a lei

que se aborde, rediscutam-se os fatos constitutivos do crédito, ou o direito alegado

pelas partes, questões substanciais já discutidas e/ou decididas no processo de

conhecimento anterior que motivou o título judicial.

Desta forma os embargos do devedor deveriam ser oferecidos dentro do

prazo de 10 (dez) dias, e somente após ocorrer à garantia/segurança do juízo,

suspendendo automaticamente a execução. Sendo cabível de tal decisão o recurso

de apelação.

Com este mesmo entendimento, afirma HUMBERTO THEODORO JUNIOR,

que:

“os embargos do devedor, que se destinam a atacar a execução forçada, só são admissíveis após a penhora ou o depósito do bem exequendo. Por outro lado, sendo vários os executados, e havendo penhora de bens apenas de um deles, os demais não poderão oferecer embargos, já que não estão sofrendo, ainda, execução forçada” (2003, p. 17).

Após, conseguindo a suspensão da execução, através dos embargos se

verificava a possibilidade de recorrer por apelação, então o processo de execução

ficava tramitando morosamente tanto pela primeira instância, quanto nos Tribunais.

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3. A EFETIVIDADE E A RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO

A garantia da duração razoável do processo foi introduzida pela Emenda

Constitucional nº 45/04, mais precisamente esta prevista no art. 5º, inciso LXXVIII da

Constituição Federal de 1988.

O professor PEDRO LENZA, diz em sua obra que:

“Atualmente, muito se fala na busca da efetividade do processo em prol de sua missão social de eliminar conflitos e fazer justiça, assim observamos que em algumas situações, contudo, a demora, causada pela duração do processo e sistemática dos procedimentos, pode gerar total inutilidade ou ineficácia do provimento requerido. (...) Nesse sentido, a EC n. 45/2004, ampliando os direitos e garantias fundamentais, estabeleceu, no art. 5.°, LXXVIII, que a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. (2009, p. 722/723).

De modo que, tende a reduzir o prazo de duração das ações, para que estas

quando forem julgadas ainda produzam os efeitos almejados.

O princípio constitucional da duração razoável do processo, nos traz a

celeridade e a eficácia devida. No entendimento de CARLOS HENRIQUE RAMOS a

duração razoável do processo “é o tempo necessário para assegurar o exercício do

direito de defesa e a cognição adequada do juiz” (2008, p. 132), assim tendo por

finalidade assegurar uma justa ação, sendo assim dentro de um prazo razoável.

Entretanto, como dito acima, deve-se levar em consideração os princípios,

também constitucionais, do contraditório e da ampla defesa, pois estes nos dizeres

da professora CIBELE FERNANDES DIAS KNOERR: “envolvem prerrogativas

processuais como o direito das partes de serem ouvidas, de oferecer e produzir

provas, de repelir provas produzidas pela outra parte” (2007, p. 107), assim devem

ser garantidos a outra parte, pois um processo célere, nunca poderá deixar de ser

justo.

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Bem como resta salientar que o Brasil é signatário do Pacto de San Juan da

Costa Rica, eis que aderiu em seu artigo 5°, §1° de sua Constituição Federal3 que

devem as normas definidoras de direitos e garantias ter aplicabilidade imediata,

primando assim também a efetividade quanto à duração razoável do processo.

Ainda não podemos deixar de mencionar o que JOSÉ ROGÉRIO CRUZ E

TUCCI citado por CARLOS HENRIQUE RAMOS, diz ao tratar das causas da

morosidade da justiça, quando trata que:

“os fatores básicos causadores da morosidade da justiça são: (a) institucionais, relativos a uma eficiente administração judiciária; (b) de ordem técnica e subjetiva, relativos a alguns aspectos da ordem processual positiva, e ao preparo dos operadores do direito; (c) derivados da insuficiência material, relativos às condições de trabalho, instalações, número de funcionários etc.” (2008, p. 54).

Já na visão de RUI STOCO, a prestação jurisdicional é lenta, morosa devido:

“Inúmeras são as causas, em um extremo, na legislação ultrapassada, anacrônica e extremamente formal; passando pela penúria imposta a esse Poder, diante da quase inexistência de verba orçamentária para sua dinamização, modernização e crescimento; encontrando justificação no excessivo número de recursos previsto na legislação processual e nas inúmeras medidas protelatórias postas à disposição das partes e terminando no outro extremo, qual seja, a conhecida inexistência de magistrados, membros do Ministério Público, Procuradores da República e do Estado para atender à enorme quantidade de feitos em andamento” (2002, p. 345).

Ainda, ADA PELLEGRINI GRINOVER citada por PEDRO LENZA, faz

menção quanto aos meios a serem tomados para fazer valer o princípio da duração

razoável do processo:

“esses meios devem ser inquestionavelmente oferecidos pelas leis processuais, de modo que a reforma infraconstitucional fica umbilicalmente ligada à constitucional, derivando de ordem expressa da Emenda n. 45/2004. Trata-se, portanto de fazer com que a legislação processual ofereça soluções hábeis à desburocratização e simplificação do processo, para garantia da celeridade de sua tramitação”. (2009, p. 723).

Desta forma, parece inegável dizer que também com este propósito foi

instituída a Lei n. 11.232/05, visando tornar o processo executivo mais célere e

3 Art. 5°, § 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.

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desta maneira o tornando também mais eficaz, conforme os termos da nossa

Constituição.

Então, nos dizeres de ARENHART e MARINONI, a respeito da unificação do

processo de conhecimento com o processo de execução, determinada pela lei n.

11.232/05, “é impossível, não há como outorgar legitimidade, no Estado

contemporâneo, a um processo que se limite a declarar o direito, rejeitando a

atividade executiva” (2008, p. 61).

Assim sobre o assunto diz CARLOS HENRIQUE RAMOS:

“As questões estruturais do sistema, como a organização judiciária, o cumprimento dos prazos, a eliminação das ‘etapas mortas’ e a disciplina ética dos agentes processuais merecem atenção especial, pois constituem as reais causas da morosidade”. (2008, p. 132).

Ainda tratando sobre as causas da morosidade excessiva diz ser:

“A principal conseqüência da morosidade é a responsabilização objetiva do Estado em virtude da intempestividade da tutela jurisdicional. Em tal quadro, admite-se a possibilidade de denunciação da lide ao juiz ou aos auxiliares da justiça, os quais responderão subjetivamente. De modo alternativo e, visando a facilitar o acesso à justiça, há ainda a possibilidade de o jurisdicionado acionar diretamente o funcionário público causador da dilação indevida, caso em que terá o ônus de provar a culpa do agente”. (2008, p. 133).

Como visto acima, a Constituição Federal prevê em seu art. 37, § 6°4, a

responsabilidade objetiva do Estado, ou que este seja responsável

independentemente de culpa, pelos danos a que seus agentes derem causa, bem

como pelos danos que tinham o dever de impedir, assim nos casos de omissão.

Nas lições de LUIZ ALBERTO BLANCHET, a respeito do artigo da

Constituição Federal, diz:

“o texto não restringiu a aplicação do instituto aos danos provocados apenas por agentes administrativos. O Estado será diretamente responsável

4 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: § 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

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também quando a esfera de interesses juridicamente protegidos de um particular for invadida mediante a prática de ato legislativo ou jurisdicional”. (2006, p. 216).

Todavia, a indenização compensatória não é o propósito de quem sofre com

o não atendimento da duração razoável do processo.

Neste sentido o escólio de CARLOS HENRIQUE RAMOS, ensina que:

“Quanto à responsabilização do Estado, admite-se que as chamadas soluções compensatórias não são ideais para o problema da celeridade, mas, por um lado, minimizam a angústia dos jurisdicionados e, por outro, podem despertar a atenção do Estado para o fato de que soluções estruturais precisam ser implementadas.” (2008, p. 134).

Contudo, hoje esta é a forma encontrada pelas partes para forçar o Estado a

cumprir os prazos estabelecidos por lei. Bem como de alterarem/modificarem as leis

infraconstitucionais para que possam resolver as questões apresentadas à justiça de

forma mais célere e eficiente.

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4. PRINCIPAIS ALTERAÇÕES DA LEI 11.232/2008 PARA AT ENDIMENTO DA

RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO

A execução é o meio de transformação de um direito adquirido a sua

materialização, ou seja, a maneira de transformar em “ser” o “dever-ser”.

Aprofundando o tema CASSIO SCARPINELLA BUENO entende ser a tutela

jurisdicional executiva compreendida como:

“os efeitos externos ao processo, a realização concreta e sensível, de uma especifica classe de tutela jurisdicional, (..) buscando a satisfação do exeqüente, em conformidade com o direito que é retratado no titulo executivo” (2008, p. 01).

Com o advento da Lei Federal n°. 11.232/2005, o pro cesso de execução foi

modificado, adotando-se então o Processo Sincrético no qual predomina a função

executiva. Desta forma realizando o cumprimento de sentença nos mesmos autos

do processo de conhecimento.

Para que isto ocorra também foi dada nova redação ao artigo 162 do CPC, o

qual trata a respeito da sentença, e em seu §1° ago ra nos diz que: “Sentença é o ato

do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei”. E

de acordo ainda com CASSIO SCARPINELLA BUENO, “o proferimento da sentença

pode ensejar, no máximo, o encerramento de determinadas atividades praticadas

pelo juízo em primeiro grau de jurisdição.” (2006, p. 84).

Para ADA PELLEGRINI GRINOVER, citada por ATHOS GUSMÃO

CARNEIRO em seu livro:

“a principal característica da Lei n°. 11.232/05 co nsiste na eliminação da figura do processo autônomo de execução fundado na sentença civil condenatória ao pagamento de quantia certa, generalizando o disposto nos arts. 461 e 461-A do CPC. Agora, a efetivação dos preceitos contidos em qualquer sentença civil condenatória se realizará em prosseguimento ao mesmo processo no qual esta for proferida” (2007, p. 52/53).

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Mas para que possa ser exigido seu cumprimento de sentença, deve-se

observar se a obrigação possui seus requisitos, ou seja, se ela é certa, líquida e

exigível, senão vejamos:

Que a obrigação seja certa, ou que não haja dúvidas quanto a sua

existência, nem quanto às suas partes, credor e devedor, ou ainda ao que se deve.

Nos termos usados por HUMBERTO THEODORO JUNIOR: “a certeza do

titulo, requisito primeiro para legitimar a execução, decorre normalmente de

perfeição formal em face da lei que o institui e da ausência de reservas à sua plena

eficácia” (2003, p. 24).

Que a obrigação seja exigível, assim que não esteja pendente de nenhuma

condição ou termo, para que possa ser exigida.

Na melhor doutrina de MARINONI e ARENHART, nos dizem que:

“É óbvio que a obrigação não exigível não pode ser coativamente imposta, nem fora do processo, nem dentro dele. (...) a prestação não pode ser exigida sem a ocorrência de alguma outra situação, que confere àquela a necessária eficácia de pretensão. A exigibilidade, portanto, liga-se ao poder, inerente à prestação devida, de se lhe exigir o cumprimento. Trata-se de elemento extraprocessual, mas também assimilado pelo processo, pois sem ele não há o que fazer cumprir” (2008, p. 119/120).

Ainda, que a obrigação seja líquida, de modo que se possa definir o que é

devido, ou, sua quantificação. Também segundo MARINONI e ARENHART:

“toda a espécie de obrigação que se pretenda exigir judicialmente deve ser liquida. A liquidez diz respeito à extensão e à determinação do objeto da prestação (art. 1.533 do Código Civil revogado). De fato, não se pode exigir de alguém a prestação de alguma coisa que não se sabe exatamente o que é. Portanto, a liquidez diz respeito à exata definição daquilo que é devido e de sua quantidade” (2008, p. 121).

Ainda, CALAMANDREI citado por HUMBERTO THEODORO JUNIOR, diz a

respeito dos requisitos que:

“ocorre certeza em torno de um crédito quando, em face do título, não há controvérsias sobre sua existência (na); a liquidez, quando é determinado a importância da prestação (quantum); e a exigibilidade, quando o seu pagamento não depende de termo ou condição, nem está sujeito a outras limitações” (2003, p. 24).

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4.1 DA LIQUIDAÇÃO

Assim, começamos a tratar quanto à liquidação de sentença, que sobrevindo

a lei 11.232/05, passou a integrar o Livro I – Do Processo de Conhecimento, com a

criação de um novo Capítulo X para tratar do tema, pois antes este fazia parte do

Livro II - que trata do Processo de Execução. Contudo somente se pode aceitar que

o processo continue para o próximo procedimento executivo se estiverem presentes

os seus requisitos, não podendo assim, antes disto, fazer parte do procedimento

executório.

Assim conforme dispõe o art. 475-A do CPC, a sentença que não determinar

o seu valor devido, deve-se ser procedida a sua liquidação, cuja finalidade é de

determinar o que é devido, devendo ser requerido através de simples petição nos

autos, o que muito diferencia do procedimento antigo, eis que este é realizado nos

mesmos autos como incidente no processo.

De mesma forma entende HUMBERTO THEODORO JUNIOR citado por

ATHOS GUSMÃO CARNEIRO, quando trata que:

“resume-se a simples incidente no processo em que houve a condenação genérica. Por isso, não há mais citação do devedor, mas simples intimação de seu advogado para acompanhar os atos de definição do quantum debeatur requeridos pelo credor (art. 475-A, §1°).” (2007, p. 31).

Entretanto, dependendo da natureza e complexidade do pleito, a apuração

do quantum debeatur, poderá ser efetivada por três formas: liquidação por cálculos,

arbitramento e artigos.

- DA LIQUIDAÇÃO POR CÁLCULOS

Dispõe o art. 475-B do CPC a respeito do tema, que

“Art. 475-B. Quando a determinação do valor da condenação depender apenas de cálculo aritmético, o credor requererá o cumprimento da sentença, na forma do art. 475-J desta Lei, instruindo o pedido com a memória discriminada e atualizada do cálculo. § 1o Quando a elaboração da memória do cálculo depender de dados existentes em poder do devedor ou de terceiro, o juiz, a requerimento do

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credor, poderá requisitá-los, fixando prazo de até trinta dias para o cumprimento da diligência. § 2o Se os dados não forem, injustificadamente, apresentados pelo devedor, reputar-se-ão corretos os cálculos apresentados pelo credor, e, se não o forem pelo terceiro, configurar-se-á a situação prevista no art. 362. § 3o Poderá o juiz valer-se do contador do juízo, quando a memória apresentada pelo credor aparentemente exceder os limites da decisão exeqüenda e, ainda, nos casos de assistência judiciária. § 4o Se o credor não concordar com os cálculos feitos nos termos do § 3o deste artigo, far-se-á a execução pelo valor originariamente pretendido, mas a penhora terá por base o valor encontrado pelo contador.”

A indicação deve ser realizada extrajudicialmente pelo credor, mediante

simples cálculos aritméticos. Segundo dispõe ARAKEN DE ASSIS:

“Caberá ao exequente instruir o pedido de cumprimento da sentença ‘com a memória discriminada e atualizada’, empregando os dados contidos no título. Nesta hipótese, reajustará o principal pelo índice aplicável de correção, acrescido dos juros estipulados ou moratórios, bem como das despesas da sucumbência (art. 20)” (2007, p. 287).

Ainda enfatizam MARINONI e ARENHART que:

“Não é suficiente a apresentação do cálculo apenas com o resultado total ou com os resultados parciais (principal, juros, correção e multa). É necessário que o credor detalhe estes produtos, indicando como foram obtidos. Ou melhor, a memória de cálculo deve apresentar a evolução do crédito, explicando a sua formação mediante a indicação do índice de correção monetária e da taxa de juros, assim como os períodos em que incidiram” (2008, p. 125).

Assim também já foi decidido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná,

no julgado:

“EMBARGOS À EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. VALOR NOMINAL. NECESSIDADE DA PLANILHA DE CÁLCULOS. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 475-B DO CPC. MULTA. DESCABIMENTO. INVERSÃO DOS ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA. RECURSO PROVIDO. Para a execução de honorários advocatícios, necessária a apresentação de planilha de cálculo discriminado e analítico, para comprovar a exatidão da dívida, conforme determina o art. 475-B do CPC.” (TJPR - 1ª C.Cível - AC 0604462-8 - Cantagalo - Rel.: Juiz Subst. 2º G. Fernando César Zeni - Unânime - J. 17.11.2009).

Destarte, se verifica a existência de dois incidentes existentes nos

parágrafos do artigo em comento, primeiro quando se necessita de dados que se

encontram em poder do executado ou de terceiro, pode o requerente solicitar ao juiz

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que o intime para que apresente os documentos no prazo de 30 (trinta) dias

estipulado por lei.

E em caso dos documentos estarem em posse do executado, e este não os

apresentar no prazo estipulado, reputar-se-ão corretos os cálculos apresentados

pelo credor, ainda, estes se encontrarem em posse de algum terceiro configurar-se-

á a situação prevista no art. 362 do CPC, que trata que se o terceiro, sem justo

motivo, se recusar a efetuar a exibição, o juiz lhe ordenará que proceda ao

respectivo depósito em cartório ou noutro lugar designado, no prazo de 5 (cinco)

dias, impondo ao requerente que o embolse das despesas que tiver; e se o terceiro

descumprir a ordem, o juiz expedirá mandado de apreensão, requisitando, se

necessário, força policial, tudo sem prejuízo da responsabilidade por crime de

desobediência.

Em segundo, pode o juiz valer-se do cálculo elaborado pelo contador judicial

quando aparentemente o cálculo apresentado pelo credor exceder os limites da

decisão exequenda, ou, ainda, nos casos de assistência judiciária, com base no que

dispõe a Constituição Federal em seu art. 5°, incis o LXXIV.

- DA LIQUIDAÇÃO POR ARBITRAMENTO

Dispõe o art. 475-C e 475-D do CPC a respeito do tema, quando tratam:

“Art. 475-C. Far-se-á a liquidação por arbitramento quando: I – determinado pela sentença ou convencionado pelas partes; II – o exigir a natureza do objeto da liquidação. Art. 475-D. Requerida a liquidação por arbitramento, o juiz nomeará o perito e fixará o prazo para a entrega do laudo. Parágrafo único. Apresentado o laudo, sobre o qual poderão as partes manifestar-se no prazo de dez dias, o juiz proferirá decisão ou designará, se necessário, audiência.”

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Nesta forma de liquidação se observa a vontade das partes, a existência de

determinação judicial que assim a determine, ou então devido a particularidades do

objeto da liquidação.

Quanto à hipótese de determinação judicial já decidiu o Superior Tribunal de

Justiça, no Agravo Regimental no Agravo de Instrumento n°. 2008/0244633-4 que:

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. POSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO NA MODALIDADE. COISA JULGADA. OFENSA INEXISTENTE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 344/STJ. AGRAVO IMPROVIDO. I - É assente o entendimento desta Corte no sentido de que é permitido ao Tribunal a quo determinar a liquidação de sentença por forma diversa da estabelecida na sentença proferida em processo de conhecimento, quando esta se mostrar inadequado à apuração do quantum debeatur. Precedentes. II - In casu, aplicável a Súmula 344 desta Corte: "A liquidação por forma diversa estabelecida na sentença não ofende a coisa julgada". III - Agravo regimental ao qual se nega provimento.” (STJ – T.3 – Terceira Turma – AgRg no Ag 1118848 SP – Relator: Ministro Paulo Furtado - J. 17.11.2009. Publicação: DJe 24/11/2009).

Assim somado a inteligência da Súmula 344 do Superior Tribunal de Justiça,

que nos diz:

“Sumula 344. A liquidação por forma diversa da estabelecida na sentença não ofende a coisa julgada”.

Então a forma da realização da liquidação pode ser alterada desde que não

cause prejuízo às partes, e que de mesma forma se conclua o quantum debeatur

devido.

Ainda, muito bem elucidam os professores MARINONI e ARENHART

quando dizem que a liquidação por arbitramento:

“se mostra necessária quando a determinação do valor a ser executado exceder os limites do conhecimento ordinário. O arbitramento é derivação da prova pericial, em que um expert é convocado para realizar atividades próprias de sua formação, cujo conhecimento extrapola o limite do exigível para o ‘homem comum’. Por isso, o arbitramento apenas se justifica quando a fixação do valor da execução depender de conhecimento de um especialista, chamado a arbitrar o valor do bem ou da prestação” (2008, p. 130).

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Bem como o julgado do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul,

no Agravo de Instrumento nº 70017907932, tendo como relator o Dr. Mario Rocha

Lopes Filho, também ajuda a elucidar a questão:

“EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. IMPUGNAÇÃO A EXECUÇÃO REJEITADA LIMINARMENTE. INEXIGIBILIDADE DO TÍTULO. VALOR PATRIMONIAL. O valor patrimonial é uma questão material de alta complexidade, inviabilizada sua solução por mero cálculo aritmético. Portanto, mostra-se necessária, para sua fixação, a realização de liquidação por arbitramento, com participação de perito especializado em valores mobiliários. Precedentes nesta Corte e no Egrégio STJ. Assim, tem-se que a execução proposta foi precipitada, porquanto ilíquido o título objeto da execução, razão pela qual impõe-se a sua extinção. Decisão Monocrática. Agravo de instrumento provido.” (Agravo de Instrumento Nº 70017907932, Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Mario Rocha Lopes Filho, Julgado em 04/12/2006).

Após a designação do perito, realiza-se a intimação do devedor para

participar da liquidação, sendo observadas, no que cabíveis a disciplina da prova

pericial. Podendo as partes adquirir assistente técnico para a formulação de

quesitos. Apresentado o laudo pericial, as partes terão o prazo de 10 (dez) dias para

se manifestarem se concordam ou não com o laudo.

Decorrido o prazo, havendo impugnação deve o juiz decidir, podendo,

inclusive designar audiência de instrução se entender que haja necessidade para tal

desiderato.

- DA LIQUIDAÇÃO POR ARTIGOS

Dispõe o art. 475-E e 475-F do CPC a respeito do tema, quando tratam:

“Art. 475-E. Far-se-á a liquidação por artigos, quando, para determinar o valor da condenação, houver necessidade de alegar e provar fato novo. Art. 475-F”. Na liquidação por artigos, observar-se-á, no que couber, o procedimento comum (art. 272)”.

A liquidação por artigos deverá ser realizada quando o credor houver de

provar fato novo, ou seja, o que ficou de fora da sentença condenatória.

Para melhor elucidar o que dispõe os referidos artigos, pertinente se faz

mencionar a lição de ARAKEN DE ASSIS, que diz: “Fato novo é aquele resultante

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da obrigação e que não foi objeto da pretérita condenação, porque o autor o deixou

de fora do âmbito cognitivo, ou surgiu durante ou após a demanda condenatória”

(2007, p. 292).

Conforme entendimento do Tribunal de Justiça do Estado Paraná, o qual

menciona que:

“AÇÃO DE COBRANÇA. CONTA POUPANÇA. APELAÇÃO CÍVEL. 1) INEXISTÊNCIA DE DOCUMENTOS. APLICAÇÃO DA SANÇÃO DO ART. 359, CPC. REMETIMENTO DA APURAÇÃO DE SALDO PARA LIQUIDAÇÃO POR ARBITRAMENTO. 2) PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. AÇÃO PESSOAL PRESCRITÍVEL EM VINTE ANOS. 3) DIREITO ADQUIRIDO. PRESENÇA. 4) PLANO BRESSER E DATA-BASE. REPETIÇÃO DE ARGUMENTOS ANTERIORES. NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS DO INCISO II DO ARTIGO 514 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. NÃO CONHECIMENTO, NESTAS PARTES. 5) CORREÇÃO MONETÁRIA. MESMOS ÍNDICES DA POUPANÇA. FALTA INTERESSE RECURSAL. NÃO CONHECIMENTO, NESTA PARTE. 1. "A presunção de veracidade é, apenas e tão-somente, da existência de conta poupança com saldo positivo nos períodos de junho de 1987 e janeiro de 1989; vale dizer, não há qualquer presunção no que concerne ao montante depositado na caderneta de poupança, o que, obrigatoriamente, deverá ser provado na fase de liquidação por artigos (CPC, art. 475-E)." (TJPR - 16ª CCív - ApCív 577056-1 - Rel. Des. Renato Naves Barcellos - j. 17.06.2009 - DJ. 14.07.2009) 2. (..). 3. (..). 4. (..). APELAÇÃO PARCIALMENTE CONHECIDA E, NESTA, NÃO PROVIDA.” (TJPR - 16ª C.Cível - AC 0616694-1 - Foro Central da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Des. Shiroshi Yendo - Unânime - J. 14.10.2009).

Ainda com referência o art. 475-F este determina que a liquidação deverá

atender no que couber o procedimento comum.

Faltando mencionar para concluir o assunto quanto à liquidação de sentença

o que dispõem os arts. 475-G e 475-H, ambos do CPC, que tratam:

“Art. 475-G. É defeso, na liquidação, discutir de novo a lide ou modificar a sentença que a julgou. Art. 475-H. Da decisão de liquidação caberá agravo de instrumento”.

O artigo 475-G do CPC, expressamente veda a possibilidade de haver nova

discussão da lide, assim impedindo que isto aconteça. Quanto ao art. 475-H do

CPC, entende LEONARDO GRECCO com relação à incidência do agravo de

instrumento, citado por ATHOS GUSMÃO CARNEIRO em sua obra, que: “Está

correta a opção do legislador. Essas decisões têm tal relevância no conteúdo dos

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atos subsequentes, que sua impugnação pela via recursal deve ser imediata e

resolvida com maior brevidade”. (2007, p. 41).

Assim já decidiu o Superior Tribunal de Justiça:

LIQUIDAÇÃO. ERRO. RECURSO. Publicada a decisão de liquidação de sentença depois de estar em vigor a Lei n. 11.232/2005, que inseriu o art. 475-H no CPC, o qual determinou que o recurso cabível é o agravo de instrumento, não há como aplicar o princípio da fungibilidade recursal. No caso, houve erro grosseiro inerente à regra de direito intertemporal, ou seja, utilização de recurso de apelação no lugar daquele expressamente previsto (agravo de instrumento) na nova lei processual, que tem aplicação imediata, mesmo nos processos em curso (art. 1.211 do CPC). Nesse contexto, a Turma negou provimento ao recurso. Precedentes citados: AgRg no Ag 987.290-RS, DJe 28/10/2008, e AgRg no Ag 946.131-RS, DJ 5/8/2005. REsp 1.132.774-ES, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 9/2/2010.

No entanto, resta informar ainda que a finalização processual da liquidação

se dá através de decisão interlocutória, a qual tem por recurso cabível o agravo de

instrumento nos termos do art. 522 do CPC. E neste caso em específico, uma vez

que não cabe interposição de apelação, não poderá o relator converter em agravo

retido.

4.2 DA IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Quanto às alterações ocorridas sobre a matéria de defesa, se denota a

substituição dos embargos do devedor pela impugnação do devedor, que deverá ser

oferecida dentro do prazo de 15 dias, a partir da intimação da penhora, como

atividade meramente incidental ao processo e nos mesmos autos.

“Art. 475-J, § 1º Do auto de penhora e de avaliação será de imediato intimado o executado, na pessoa de seu advogado (arts. 236 e 237), ou, na falta deste, o seu representante legal, ou pessoalmente, por mandado ou pelo correio, podendo oferecer impugnação, querendo, no prazo de quinze dias.”

Para ARAKEN DE ASSIS, a natureza da impugnação do executado:

“decorre de elementar senso comum a conveniência de a ordem jurídica instituir mecanismos para o executado reagir contra a execução que se

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desenvolva injusta ou ilegalmente. O estado de sujeição a que a eficácia do título executivo submete o executado, porque vencido e condenado, não o coloca sob completo desamparo” (2007, p. 1175).

Segundo TEORI ZAVASCKI citado por ATHOS GUSMÃO CARNEIRO em

sua obra:

“A impugnação, ao contrário do que ocorria com os embargos do devedor, não tem natureza de ação autônoma, constituindo mero incidente do processo. Pode ser oferecida mediante simples petição, dispensadas as formalidades das petições iniciais, nomeadamente a qualificação das partes e o valor da causa. Ao impugnante cumprirá, todavia, expor adequadamente os fundamentos do seu pedido, nos termos do art. 475-L. Não obstante, nada impede que o juiz determine emendas à impugnação, para sanar eventuais deficiências ou insuficiências, aplicando, subsidiariamente, o dispositivo do art. 284 do CPC” (2007, p. 68/69)

Quanto à matéria a ser versada na impugnação o art. 475-L adotou a

seguinte redação:

“Art. 475-L. A impugnação somente poderá versar sobre: I – falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia; II – inexigibilidade do título; III – penhora incorreta ou avaliação errônea; IV – ilegitimidade das partes; V – excesso de execução; VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença. § 1o Para efeito do disposto no inciso II do caput deste artigo, considera-se também inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição Federal. § 2o Quando o executado alegar que o exeqüente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante da sentença, cumprir-lhe-á declarar de imediato o valor que entende correto, sob pena de rejeição liminar dessa impugnação.”

Agora façamos uma análise de seus dispositivos:

a) Falta ou nulidade da citação. Com referência ao inciso I do artigo,

deve-se levar em consideração a ausência ou nulidade da citação no processo,

consoante o que prevê o art. 214 do CPC - para a validade do processo é

indispensável à citação inicial do réu.

Assim a decisão do Superior Tribunal de Justiça a qual nos diz:

“Embargos à execução de título judicial. Interpretação do art. 741, I, do Código de Processo Civil. 1. Como ensina a doutrina, o art. 741, I, do Código de Processo Civil destina-se àqueles casos em que houve falta ou nulidade de citação, se

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ocorreu revelia. Ausente esse pressuposto, não cabe sua invocação nos embargos à execução de título judicial. 2. Recurso especial não conhecido.” (STJ, 3 Turma, REsp 503.091/RO, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j. em18.11.2003, DJ 25.02.2004, p. 169).

De forma que diante desta falta processual deve o processo reiniciar de

onde ocorreu devendo ser refeito, não valendo seus atos posteriores.

b) Inexigibilidade do título. Toda a alegação que privar o titulo de força

executiva, seja por esta se encontrar pendente de recurso com efeito suspensivo, ou

sujeita a reexame necessário, ou ainda, considera-se também inexigível o título

judicial fundado em lei ou atos normativos declarados inconstitucionais pelo

Supremo Tribunal Federal, ou a sua interpretação (art. 475-L, §1° do CPC).

Em sua obra ARAKEN DE ASSIS, diz:

“pode o executado alegar a nulidade da execução ‘por não ser executivo o título apresentado’ e, no sistema geral do CPC, ‘título executivo’ é o documento revisto dos atributos de certeza, liquidez e exigibilidade, a teor do art. 586. (...) Em todos os casos, questiona-se própria exequibilidade do documento, sendo imprescindíveis à defesa do executado, do juízo liminar de admissibilidade, exatamente quando não há título capaz de fundar a demanda executória.” (2007, p. 1090).

Trata-se de lacuna ligada ao título em si, que o tira a sua eficácia executiva,

não devendo deste modo produzir efeitos.

c) Penhora incorreta ou avaliação errônea. O que denota defeitos/vícios

no procedimento de execução, seja na penhora, por ter ocorrido em um bem dito por

impenhorável pela lei, art. 648 e 649 do CPC, seja por a intimação do executado não

ter ocorrido após a avaliação dos bens penhorados, como dispõe o art. 475-J, §1° do

CPC.

Nos ensinamentos de MARINONI e MITIDIERO:

“Defeitos atinentes à penhora devem ser alegados na impugnação. A impenhorabilidade de bem constrito indevidamente e o excesso de penhora são exemplos de assuntos que entram na idéia de incorreção da penhora e que dão lugar à impugnação. A avaliação errônea também deve ser compreendido como o derivado da incongruência entre o valor real do bem penhorado e aquele a ele atribuído na avaliação”. (2008, p. 469).

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De modo que deve ser corrigido e assim invalidado, para que se possa dar

continuidade ao feito.

d) Ilegitimidade das partes. A impugnação permite apenas que se

apresente o defeito nos pólos da ação, ou em outras palavras que esta pessoa não

responde pelo título, tanto ativo como passivamente, para MARINONI e MITIDIERO:

“A ilegitimidade das partes que pode ser alegada em impugnação é a ilegitimidade

para a execução forçada. Não é possível reabrir eventual discussão a respeito da

ilegitimidade para agir de uma das partes na fase de conhecimento”. (2008, p. 469).

e) Excesso de execução. Ocorre quando o exequente postula quantia

superior a devida, nos termos do art. 743 do CPC. Importa mencionar o que

ARAKEN DE ASSIS, narra em seu manual a respeito do tema: “Convém notar que

eventual procedência da impugnação, sob tal fundamento, implicará tão-só a

redução da bitola da dívida, motivo porque, em princípio, não cabe suspender a

execução, a teor do art. 475-M” (2007, p. 1180).

Com relação ao §2° do art. 475-L, ele incita ao dev edor, ora executado

quando da alegação de excesso de execução, a exibir os valores que estima seja o

correto, fidedigno, sob pena de negar liminarmente a impugnação.

f) Qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação,

como pagamento novação, compensação, transação ou prescrição, desde que

supervenientes à sentença.

Segundo MARINONI e ARENHART: “Inserem-se aqui todas as causas, que,

por alguma razão, alteram o conteúdo da obrigação exigida, seja para extingui-la,

seja para modificar seu conteúdo, seja inda para impedir sua exigibilidade.” (2008, p.

304).

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Contudo, nem sempre extinguirão o processo, podendo apenas paralisá-lo

ou alterar seu conteúdo.

Com relação ao §2° do art. 475-L, ele incita ao dev edor, ora executado

quando da alegação de excesso de execução, a exibir os valores que estima seja o

correto, fidedigno, sob pena de negar liminarmente a impugnação.

Quanto aos seus efeitos, o recebimento da impugnação, por via de regra,

não deverá possuir efeito suspensivo, art. 475-M do CPC. Entretanto, analisa seu

§1° a exceção a esta regra, pois dispõe que poderá ocorrê-lo, desde que se mostre

necessário, e que possa causar a parte grave dano ou de reparação incerta.

De forma que deverá o juiz examinar o caso em concreto, para atribuição

dos devidos efeitos. Nos dizeres de ATHOS GUSMÃO CARNEIRO:

“O magistrado, destarte, em criterioso exame das alegações do executado (ponderando a relevância de grave e de difícil reparação), poderá conceder ao incidente processual a eficácia de impedir a prática dos atos executórios propriamente ditos. A impugnação, então, correrá nos próprios autos”. (2007, p. 79).

Ainda, diante de tal caso, é licito ao exequente requerer o prosseguimento

da execução, contudo fica obrigado a prestar caução suficiente e idônea, arbitrada

pelo juiz e prestada nos próprios autos. Em assim ocorrendo, a impugnação deverá

julgada nos próprios autos. O que já ocorre quando não for concedido o efeito

suspensivo, devendo a impugnação ser julgada em autos apartados, para se evitar

tumulto processual.

Antes de mencionarmos quanto ao pagamento voluntário no cumprimento de

sentença, devemos analisar a respeito da execução provisória de sentença, trazida

pelo art. 475-O do CPC, pelo qual se verifica que na execução provisória, exige-se

responsabilidade da parte requerente, ou seja, esta fica obrigada a responder pelos

prejuízos resultantes dos atos executórios, em caso da execução venha a se tornar

insubsistente, ou sem valor algum.

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Sendo uma das grandes inovações trazidas, o conteúdo de seu § 2°, o qual

dispõe da possibilidade de dispensa da caução quando pendente agravo de

instrumento junto aos tribunais superiores, assim mesmo condicionado a que não

ofereça risco de grave dano ou incerta reparação.

4.3 DO CUMPRIMENTO VOLUNTÁRIO DA SENTENÇA

Então prolatado à sentença, cumprido as exigências, serão intimadas as

partes, as quais devem cumpri-las no prazo de 15 (quinze) dias, sendo que

decorrido o prazo sem cumprimento da mesma, deve o credor através de simples

requerimento pedir o acréscimo da multa no percentual de 10%, e ainda requerer

que seja expedido mandado de penhora e avaliação para constrição dos bens do

devedor, nos termos do art. 475-J do CPC.

Reforçando esta idéia vem o entendimento de CASSIO SCARPINELLA

BUENO quando diz: “que há uma ‘ordem’ contida no reconhecimento judicial de que

alguém deve alguma prestação a outrem, e portanto, o devedor deve pagar a

quantia identificada na sentença, assim que ela estiver liquidada e não contiver

nenhuma condição suspensiva” (2006, p. 72/73). Desta forma, deve-se exigi-la a

partir de que se torne exequível.

Visto isto, devemos analisar quanto ao início do prazo estipulado em referido

artigo, pois ainda há divergência tanto doutrinária como jurisprudencial, eis que

existem quatro correntes defendidas pelos nossos doutrinadores e tribunais, sendo

elas a que o prazo se inicia:

1ª - A partir do momento em que haja a sentença transitada em julgado, ou

em caso de haver recurso este possa ser recebido apenas com o efeito devolutivo,

conforme entende ATHOS GUSMÃO CARNEIRO quando discorre que:

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“o prazo transcorre a partir do momento em que a decisão jurisdicional reúne eficácia suficiente para autorizar a execução do julgado, mesmo quando a hipótese comportar ainda apenas execução provisória. Não assiste razão, data vênia, àqueles que sustentam a necessidade de que o demandado seja pessoalmente ‘intimado’, para que fique ‘em mora’ e comece a fluir o prazo dos 15 dias para o adimplemento da prestação determinada na sentença condenatória. Com a intimação da sentença, o réu está ciente do prazo previsto em lei para que cumpra a decisão e pague a quantia devida. Não o fazendo, estará inadimplente, e sujeito à incidência da multa” (2007, p. 53/54).

Neste sentido também o entendimento de GUILHERME RIZZO AMARAL

citado por ATHOS GUSMÃO CARNEIRO:

“Assim bastará a expedição de nota de expediente, publicada em nome do procurador do devedor, ou sua intimação na forma do art. 237 do CPC, para satisfazer o requisito da intimação e proporcionar o início da contagem do prazo de 15 dias para cumprimento voluntário e provisório da condenação. (...) Assim, transitando em julgado a sentença ou o acórdão, passa-se a contar o prazo de 15 (quinze) dias para o cumprimento voluntário da condenação, após o que incidirá, ex vi legis, a multa de 10%, retornando a iniciativa do processo ao credor, para requerer ou não a instauração do procedimento executivo” (2007, p 54).

Então, tendo em vista que o artigo 475-J, do Código de Processo Civil, não

impõe a necessidade de intimação, seja ela pessoal do devedor, seja na pessoa de

seu procurador, para o início do prazo de quinze dias para cumprimento voluntário

da sentença, inegável que tal prazo inicia-se a partir do trânsito em julgado da

sentença condenatória, independentemente de qualquer intimação.

Outro não é o entendimento pacificado também pelo Superior Tribunal de

Justiça:

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. LEI N. 11.232/2005. ARTIGO 475-J. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. INTIMAÇÃO PESSOAL DA PARTE VENCIDA. DESNECESSIDADE. 1. A intimação da sentença que condena ao pagamento de quantia certa consuma-se mediante publicação pelos meios ordinários, a fim de que tenha início o prazo recursal. Desnecessária a intimação pessoal do devedor. 2. Transitada em julgado a sentença condenatória, não é necessário que a parte vencida, pessoalmente ou por seu advogado, seja intimada para cumpri-la. 3. Deve a parte vencida cumprir espontaneamente a obrigação, em quinze dias, sob pena de ver sua dívida automaticamente acrescida de 10%. 4. Agravo regimental desprovido”. (AgRg no Ag 1046147 – RS AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO 2008/0098846-7 – 4ª Turma – Relator. Ministro João Otavio Noronha).

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“LEI 11.232/2005. ARTIGO 475-J, CPC. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. MULTA. TERMO INICIAL. INTIMAÇÃO DA PARTE VENCIDA. DESNECESSIDADE. 1. A intimação da sentença que condena ao pagamento de quantia certa consuma-se mediante publicação, pelos meios ordinários, a fim de que tenha início o prazo recursal. Desnecessária a intimação pessoal do devedor. 2. Transitada em julgado a sentença condenatória, não é necessário que a parte vencida, pessoalmente ou por seu advogado, seja intimada para cumpri-la. 3. Cabe ao vencido cumprir espontaneamente a obrigação, em quinze dias, sob pena de ver sua dívida automaticamente acrescida de 10%.” (REsp.954859/RS RECURSO RESPECIAL 2007/0119225-2 – 3ª Turma, Relator Ministro Humberto Gomes de Barros).

2ª - A partir do trânsito em julgado da sentença definitiva, de forma que esta

não possa mais ser passível de recurso, e em caso de havê-lo não importando em

que efeito foi recebido;

Corrente doutrinária seguida por ERNANE FIDÉLIS DOS SANTOS e que

segundo o mesmo:

“Deve se, antes de tudo, assinalar que a execução provisória é faculdade do credor, de forma tal que, ainda que seja comportada – o que ocorre, em princípio, como constante, quando contra a decisão de segunda instância se interpõe recurso extraordinário ou especial (art. 542, § 2.°) – , poderá optar pelo aguardo do trânsito para requerer a execução, mas o prazo, de qualquer forma, se inicia a partir do momento em que se admite a passagem para a nova fase, seja em forma de definitividade como de provisoriedade. Importa, pois, dizer que se contra a decisão, sentença ou acórdão não pende recurso com efeito suspensivo, nem a ele foi atribuído por relator ou qualquer medida hábil, vencido o prazo implícito na sentença, o credor poderá requerer a execução, em caráter provisório, se houver recurso apenas no efeito devolutivo, e em caráter definitivo, se recurso algum não mais houver.” (2006, p. 54).

3ª - Após o trânsito em julgado, a partir da intimação dos advogados

constituídos pelas partes;

Os professores NELSON NERY JÚNIOR e ROSA MARIA DE ANDRADE

NERY defendem este ponto de vista, se manifestando desta forma:

“o devedor deve ser intimado para que, no prazo de quinze dias a contar da sua efetiva intimação, cumpra o julgado e efetue o pagamento da quantia devida. A intimação do devedor deve ser feita na pessoa de seu advogado, que é o modo determinado pela Reforma da L 11232/05 para a comunicação do devedor ma liquidação da sentença e na execução para cumprimento da sentença”. (2006, p. 641).

Igualmente já ocorreram julgamentos em nossos Tribunais, senão vejamos:

“Cumprimento - Prazo de quinze dias para pagamento previsto no art 475-J do CPC, sob pena de multa de dez por cento — Termo inicial - Intimação do

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devedor na pessoa de seu advogado - Princípio da oficialidade que não impera no processo civil — Precedentes da Corte — Decisão reformada — Agravo provido”. (TJ/SP - 6ª C. D. Priv., Ag. Inst. nº 519.051-4/6-00, Rel. Des. Percivl Nogueira, Julg. 6/12/2007). “Desnecessária a intimação pessoal para o cumprimento da obrigação, bastando a intimação do advogado do devedor na forma dos arts. 236 e 237 do CPC. Art. 475-J, do CPC. AGRAVO IMPROVIDO.” (TJ/RS - 11ª C. Cív., Ag. Inst. nº 70021814447, Rel. Des. Bayard Ney de Freitas Barcellos, Julg. 12/12/2007).

4ª - Após o trânsito em julgado, a partir da intimação pessoal da parte

requerida;

Segundo os renomados autores que defendem este entendimento, Luiz

Rodrigues Wambier, Teresa Arruda Alvim Wambier e José Miguel Garcia Medina:

Nestas linhas, deixamos entrever que, segundo nosso entendimento, é necessária a intimação do executado para que este cumpra a sentença. Entendemos, além disso, que a intimação para o cumprimento da sentença deve se dar na pessoa do devedor, e não deve ser feita através de seu advogado. (...) É importante notar que inexiste, na referida regra jurídica, qualquer disposição no sentido de que basta, para que tenha início o prazo de quinze dias, a intimação do advogado do réu. (...) Assim pensamos, é necessário distinguir os atos processuais que exigem capacidade postulatória dos atos materiais de cumprimento da obrigação. (http://kplus.cosmo.com.br/materia.asp?co=187&rv=Direito acessado em 05/01/2.010).

Assim, também, já julgaram nossos Tribunais, como abaixo se denota:

“Marco inicial do prazo para Cumprimento voluntário. Contagem que se inicia após intimação, para cumprimento do acórdão. Multa indevida. Afastamento”. (TJ/SP - 15ª C. D. Privado, Ag. Inst. nº 7.161.187-3, Rel. Des. José Arnaldo da Costa Teles, Julg. 16/10/2007).

“O devedor deverá ser intimado, pessoalmente, para o cumprimento da sentença, no prazo de quinze dias a contar da sua efetiva intimação, para efetuar o pagamento da importância devida, pena de cominação de multa de dez por cento. Na liquidação de sentença (artigo 475-A), cujos atos são puramente procedimentais, a parte será intimada na pessoa de seu advogado (artigo 475-A, § 1º), porque não existe um ato sequer que a parte leiga pudesse praticar, já que se exercita falando, manifestando nos autos. Uma vez acertada ou dispensada a liquidação, determina a Lei art. 475-J que caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento. O prazo será contado a partir da intimação do devedor, pessoalmente, porque o ato a ser praticado, - pagamento - não depende da representação processual. A intimação feita é simplesmente para efetuar o pagamento e nada mais, sob pena de cominação da multa de dez por cento. Qualquer exceção, que resulte num fato processual, só exercido por advogado, é relegado para a etapa seguinte de cumprimento da sentença via de impugnação. Quando a lei se contentar com a intimação da parte na pessoa de seu advogado ela o diz, expressamente, como no § 1º do artigo 475-A (§ 1o Do requerimento de liquidação de sentença será a parte intimada, na pessoa de seu advogado) ou no § 1º do artigo 475-J verbis: ""§ 1o Do auto

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de penhora e de avaliação será de imediato intimado o executado, na pessoa de seu advogado (arts. 236 e 237, ou, na falta deste, o seu representante legal, ou pessoalmente, por mandado ou pelo correio, podendo oferecer impugnação, querendo, no prazo de quinze dias." (TJ/MG - 16ª C. Cív., Ag. Inst. nº 1.0024.01.565855-2/001, Rel. Des. Sebastião Pereira de Souza, Julg. 08/08/2007).

Destarte, devemos analisar/verificar quanto à incidência da multa prevista no

art. 475-J, a qual visa reprimir o devedor que descumprir a sentença, para

MARINONI e ARENHART: “a multa do art. 475-J, embora também voltada a punir

pelo desprezo a decisão judicial, sanciona o devedor pelo descumprimento de

prestação devida ao credor”. (2007, p. 241).

Ou ainda nos dizeres do eminente ARAKEN DE ASSIS o qual diz ser o

objetivo da multa o de “tornar mais vantajoso o cumprimento espontâneo e, na

contrapartida, excessivamente oneroso o cumprimento forçado da condenação”.

(2007, p. 194).

4.4 DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Importante também se faz mencionar quanto à incidência dos honorários

advocatícios na fase de cumprimento de sentença, pois, com relação aos mesmos,

deve-se levar em consideração que a nova sistemática não trouxe nenhuma

alteração ao tema, conforme se examina dos julgados abaixo:

“CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - CABIMENTO. - São devidos honorários advocatícios no pedido de cumprimento de sentença.” (REsp 987.388/RS, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/03/2008, DJe 26/06/2008). “PROCESSO CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. NOVA SISTEMÁTICA IMPOSTA PELA LEI Nº 11.232/05. CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS. POSSIBILIDADE. - O fato de se ter alterado a natureza da execução de sentença, que deixou de ser tratada como processo autônomo e passou a ser mera fase complementar do mesmo processo em que o provimento é assegurado, não traz nenhuma modificação no que tange aos honorários advocatícios. - A própria interpretação literal do art. 20, § 4º, do CPC não deixa margem para dúvidas. Consoante expressa dicção do referido dispositivo legal, os honorários são devidos “nas execuções, embargadas ou não”.

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- O art. 475-I, do CPC, é expresso em afirmar que o cumprimento da sentença, nos casos de obrigação pecuniária, se faz por execução. Ora, se haverá arbitramento de honorários na execução (art. 20, § 4º, do CPC) e se o cumprimento da sentença se faz por execução (art. 475, I, do CPC), outra conclusão não é possível, senão a de que haverá a fixação de verba honorária na fase de cumprimento da sentença. - Ademais, a verba honorária fixada na fase de cognição leva em consideração apenas o trabalho realizado pelo advogado até então. - Por derradeiro, também na fase de cumprimento de sentença, há de se considerar o próprio espírito condutor das alterações pretendidas com a Lei nº 11.232/05, em especial a multa de 10% prevista no art. 475-J do CPC. De nada adiantaria a criação de uma multa de 10% sobre o valor da condenação para o devedor que não cumpre voluntariamente a sentença se, de outro lado, fosse eliminada a fixação de verba honorária, arbitrada no percentual de 10% a 20%, também sobre o valor da condenação. Recurso especial conhecido e provido.” (REsp 978.545/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 11/03/2008, DJe 01/04/2008). “PROCESSUAL CIVIL - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS - POSSIBILIDADE - PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE. REFORMA PARCIAL 1. Tendo em vista a omissão do legislador em relação ao tema no Capítulo pertinente e, ainda, a determinação de aplicação subsidiária das normas respeitantes ao processo de execução por título extrajudicial, é cabível a fixação de honorários em execução de sentença. 2. Considerando a determinação contida no art. 475-R, é aplicável à espécie os arts. 652-A, e seu parágrafo único, cumulado com o parágrafo 4º do art. 20, todos do CPC. 3. Sendo omissa a sentença que extingue o cumprimento de sentença, em relação aos honorários do advogado do credor, não é o caso de se declarar a nulidade do decisum, mas apenas de reformá-la parcialmente. 4. Recurso conhecido e parcialmente provido.” (20080150007347APC, Relator ANA CANTARINO, 5ª Turma Cível, julgado em 11/04/2008, DJ 07/05/2008 p. 91).

Com base também na determinação de aplicação subsidiária das normas

atinentes ao processo de execução nos casos dos títulos extrajudicial, como dispõe

o art. 475-R do CPC, que diz:

“Art. 475-R. Aplicam-se subsidiariamente ao cumprimento da sentença, no que couber, as normas que regem o processo de execução de título extrajudicial.”

Deste modo, é totalmente admissível a fixação de honorários, uma vez que

igualmente incidirão tanto na execução de título extrajudicial quanto na fase de

cumprimento de sentença.

Agora vejamos o que dispõe o art. 475-J, §5° do CPC que trata a respeito do

arquivamento dos autos, quando prescreve que:

“Art. 475-J, §5°. Não sendo requerida a execução no prazo de seis meses, o juiz mandará arquivar os autos, sem prejuízo de seu desarquivamento a pedido da parte.”

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De maneira, que os autos ficarão paralisados, aguardando a manifestação

do exequente pelo prazo de 06 (seis) meses, quando o juiz mandará arquivá-lo,

sem, contudo prejuízo de seu desarquivamento a requerimento da parte.

Conforme melhor analisa o tema ATHOS GUSMÃO CARNEIRO, explica:

“o juiz mandará arquivar (administrativamente) o processo caso o credor não requeira, no prazo de seis meses, o cumprimento da sentença (presume-se, então, que o pagamento já tenha sido efetuado em mãos do credor, ou que este verificou a total insolvência do devedor, ou resolveu conceder-lhe maior prazo para adimplir etc.). Não teria sentido manter o processo avolumando a relação das causas ‘pendentes’, com prejuízo à veracidade das estatísticas. E passa a fluir o prazo da prescrição intercorrente. A pedido da parte autora, o processo será desarquivado e terão prosseguimento os atos executórios”. (2007, p. 66).

À vista disso há a hipótese de prescrição, prevista pela Súmula 150 do

Supremo Tribunal de Justiça:

“Sumula 150. Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação”.

Seguindo esta linha, preceituam MARINONI e ARENHART, que:

“Embora a lei não tenha fixado prazo para o início da fase de execução, deve haver a limitação temporal da sujeição dos bens do devedor ao credor, sob pena de se conceber limitação indeterminada da liberdade individual. A inexistência de prazo explicitamente fixado para a execução de títulos judiciais não inibiu o Judiciário de concebê-lo à época em que a sentença condenatória dependia de ação para ser executada, e não impedi-lo, em face do regime atual, de novamente impor tal condição. A solução está na figura da prescrição intercorrente. Diz-se que a prescrição intercorrente é aquela que se verifica no curso do processo, e não antes da propositura da ação e da instauração do processo, como ocorre com a prescrição clássica”. (2008, p. 252).

Vislumbrando não existir pena perpétua, ou vitalícia às partes que a compõe.

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5. CONCLUSÃO

A razoável duração do processo foi trazida com a Emenda Constitucional

45/2004, cuja intenção é de expandir este direito fundamental, tornando os

processos céleres, contudo justos.

De modo que o processo não pode ser excessivamente demorado, e

também não atenda os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório,

sem os quais o processo deve ser totalmente invalidado/nulificado.

Desta forma correntemente os legisladores estão formulando novas leis,

com o ímpeto de tornar eficaz a prestação jurisdicional, pretendendo aperfeiçoar o

instrumento judicial, para que ele atenda aos anseios dos jurisdicionados.

Assim a inovação legislativa teve a intenção de melhorar a situação do

credor, então o beneficiando, tornando o antigo processo de execução em uma mera

fase do processo, assim entrando em exercício o chamado Processo Sincrético, no

qual é realizado o cumprimento de sentença nos mesmos autos, tendo por finalidade

a função executiva.

Deste modo abrandando o processo em busca de conceder efetividade ao

mesmo. À vista disto, a mudança na fase de liquidação de sentença, e em seu

cumprimento para meros incidentes processuais, já alterou e muito a forma do seu

procedimento, pois o deixou mais célere.

Ainda devemos salientar que não há mais necessidade de nova citação para

o réu, e que, por via de regra, não se concede efeito suspensivo quando da

apresentação de impugnação ao cumprimento de sentença, bem como que o

recurso interposto de sua decisão agora é atacado através de agravo de

instrumento, assim tornando o processo mais efetivo.

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E para que isto se efetive, e que o Estado não tenha que responder pelos

danos causados as partes é que essas alterações legislativas, como a Lei 11.232/05

vêm ocorrendo, tudo para se efetivar e concretizar a duração do processo, mas

sempre primando para que se aconteça à justiça.

Pois como visto o Estado é objetivamente responsável pelos atos causados

pelos seus agentes, então tendo de responder pelas suas atitudes, restando apenas

o direito de regresso contra o agente quando este houver agido com culpa ou dolo,

nos termos do art. 37, §6° da CF.

Então solucionando os problemas apresentados causadores da morosidade

da justiça, bem como das decisões intempestivas, como as pendências encontradas

na administração judiciária como falhas institucionais, de ordem técnica, e derivada

de insuficiência material, como afirmado por CARLOS HENRIQUE RAMOS5 e

também outras demais conforme dispõe RUI STOCO6.

Por fim, os efeitos desta nova sistemática processual devem ser analisados

na prática, para sabermos se está solucionando ou não a maior parte dos problemas

hoje apresentados, ou seja, se a duração razoável do processo esta acontecendo e

se o cumprimento de sentença esta realizando sua função, a qual seja, de tornar o

direito adquirido na sentença, dentro de um prazo razoável.

5 “os fatores básicos causadores da morosidade da justiça são: (a) institucionais, relativos a uma eficiente administração judiciária; (b) de ordem técnica e subjetiva, relativos a alguns aspectos da ordem processual positiva, e ao preparo dos operadores do direito; (c) derivados da insuficiência material, relativos às condições de trabalho, instalações, número de funcionários etc.” (2008, p. 54). 6 “Inúmeras são as causas, em um extremo, na legislação ultrapassada, anacrônica e extremamente formal; passando pela penúria imposta a esse Poder, diante da quase inexistência de verba orçamentária para sua dinamização, modernização e crescimento; encontrando justificação no excessivo número de recursos previsto na legislação processual e nas inúmeras medidas protelatórias postas à disposição das partes e terminando no outro extremo, qual seja, a conhecida inexistência de magistrados, membros do Ministério Público, Procuradores da República e do Estado para atender à enorme quantidade de feitos em andamento” (2002, p. 345).

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http://www.tex.pro.br/wwwroot/00/070509arazoavel_gisele.php. Acessado em:

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