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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ JÉSSICA CHRISTINA KAMAROWSKI MARQUES A CONVENIÊNCIA ESTRATÉGICA NAS INTERVENÇÕES INTERNACIONAIS CURITIBA 2014

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

JÉSSICA CHRISTINA KAMAROWSKI MARQUES

A CONVENIÊNCIA ESTRATÉGICA NAS

INTERVENÇÕES INTERNACIONAIS

CURITIBA 2014

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JÉSSICA CHRISTINA KAMAROWSKI MARQUES

A CONVENIÊNCIA ESTRATÉGICA NAS

INTERVENÇÕES INTERNACIONAIS Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Dr. André Peixoto de Souza.

CURITIBA 2014

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TERMO DE APROVAÇÃO

JÉSSICA CHRISTINA KAMAROWSKI MARQUES

A CONVENIÊNCIA ESTRATÉGICA NAS

INTERVENÇÕES INTERNACIONAIS

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel em Direito no Curso de Graduação em Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, pela banca examinadora composta pelos membros abaixo assinados.

Curitiba, ___________ de ________________________ de 2014. ________________________________________ Professor Dr. Eduardo de Oliveira Leite Coordenador do Núcleo de Monografias ________________________________________Professor Dr. André Peixoto de Souza Orientador ________________________________________ Membro da Banca Universidade Tuiuti do Paraná/Curso de Direito ________________________________________ Membro da Banca Universidade Tuiuti do Paraná/Curso de Direito

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Dedico este trabalho aos meus queridos

pais, Jessé e Isabel e ao meu noivo tão

amado, Lucas, que pacientemente me

encorajaram e me aconselharam para que

eu pudesse alcançar meus objetivos ao

longo destes cinco anos.

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A Deus o meu primeiro agradecimento,

por me sustentar e fortalecer.

Aos familiares que me auxiliaram, ainda

que indiretamente.

Ao Professor Doutor André Peixoto de

Souza, que gentilmente se dispôs a me

acompanhar neste trabalho.

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Quantos há no mundo que, preocupados

em fazer o mal aos outros, esquecem o

bem que poderiam fazer a si próprios.

Malba Tahan

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RESUMO

A evolução do Direito Internacional Público trouxe algumas modificações em

elementos essenciais nas relações interestatais. O conceito de soberania e o

princípio da não intervenção foram submetidos a novos parâmetros a fim de que se

ajustassem à realidade e às necessidades atuais. Este trabalho tem como objetivo

analisar como o princípio da não intervenção vem sendo (mal) empregado após as

transformações ocorridas.

Palavras-chaves: Direito Internacional. Soberania. Princípio da não intervenção.

Direito de Ingerência.

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LISTA DE SIGLAS

DI – Direito Internacional

DIP – Direito Internacional Público

ICG – International Crisis Group

ICISS - International Commission on Intervention and State Sovereingty

OEA – Organização dos Estados Americanos

ONU – Organização das Nações Unidas

R2P/RtoP – Responsabilidade de Proteger

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 09

2 ESTADO ................................................................................................................... 10

2.1 O Estado no Direito Internacional Público .............................................................. 11

2.2 Elementos Constitutivos Dos Estados .................................................................... 11

2.2.1 População ........................................................................................................... 12

2.2.2 Território .............................................................................................................. 13

2.2.3 Governo e capacidade de manter relações externas .......................................... 14

2.3 DIREITOS E DEVERES FUNDAMENTAIS DOS ESTADOS .................................. 14

3 A SOBERANIA .......................................................................................................... 17

4 PRINCÍPIOS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS .................................................. 19

4.1 PRINCÍPIO DA IGUALDADE SOBERANA ENTRE ESTADOS ............................... 19

4.2 PRINCÍPIO DA AUTODETERMINAÇÃO DOS POVOS .......................................... 20

4.3 PRINCÍPIO DA NÃO INTERVENÇÃO X RESPONSABILIDADE DE

PROTEGER ..................................................................................................................... 20

5 A CONVENIÊNCIA ESTRATÉGICA NAS INTERVEÇÕES INTERNACIONAIS ......... 25

6 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 28

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 30

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1 INTRODUÇÃO Em razão da soberania, independência e autodeterminação dos povos, a

intervenção em assuntos particulares de outros Estados é vedada no Direito

Internacional desde os primórdios.

No entanto, a globalização tem sido fator de grande influência neste ramo do

Direito, que se vê obrigado a se adequar às novas e complexas questões políticas,

econômicas, sociais e culturais que surgiram após a Guerra Fria.

Diante das diversas hostilidades e graves violações dos direitos humanos

despontadas da metade do século XX ao início do século XXI, a sociedade

internacional precisou repensar e relativizar alguns preceitos substanciais do Direito

Internacional. Atualmente a ONU admite intervenções coletivas, que por ela devem

ser autorizadas e comandadas, nos casos em que a agressão, ameaça ou ruptura

da paz ultrapassem a jurisdição interna do Estado transgressor, atingindo o âmbito

internacional. ITUASSÚ (1986, p.234/5) afirma que:

“Se os seus atos perturbam ou ferem o direito alheio ou a estabilidade coletiva, não há porque permanecer o respeito a um direito que ultrapassou sua esfera normal e se tornou um ato lesionador, surgindo como exteriorização de uma ofensa à comunidade. (...) Assim, a única forma de intervenção que tem base no Direito é a efetuada pela organização internacional e no interesse da comunidade, desprezadas as antigas fórmulas particulares que apenas funcionavam como expressão de uma atitude pessoal nociva aos direitos dos demais Estados.”

No entanto, diversas intervenções individuais ainda são realizadas, muitas

vezes sob o fundamento da proteção dos direitos humanos ou da defesa nacional,

mas que na prática acabam expondo interesses bem menos moralistas.

O objetivo deste trabalho é demonstrar como essas intervenções vêm sendo

inadequadamente utilizadas pelos entes internacionais, afetando e enfraquecendo

os princípios basilares do DIP e a ordem internacional. Para isso, o trabalho será

dividido em quatro etapas. A primeira irá tratar brevemente do Estado, apontando

seus elementos constitutivos e seus direitos e deveres perante a comunidade

internacional. A segunda versará sobre a questão da soberania, base para os

princípios pelos quais os Estados se encontram compelidos, em tese, a obedecer,

tema que será exposto na terceira etapa, incluindo a questão da intervenção, tema

ainda obscuro e complicado na doutrina internacional. Por fim, algumas intervenções

recentes serão postas a lume para que aspectos absconsos sejam abordados,

demonstrando o quão ardilosa e manipulável esta prática pode se tornar.

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2 ESTADO

O homem, desde seu nascimento, está envolvido em instituições e

sociedades, seja por vínculos parentais ou por interesses comuns. Darcy

AZAMBUJA (2008, p. 01) expõe:

“A primeira em importância, a sociedade natural por excelência, é a família, que o alimenta, protege e educa. As sociedades de natureza religiosa, ou Igrejas, a escola, a Universidade, são outras tantas instituições em que ele ingressa; depois de adulto, passa ainda a fazer parte de outras organizações, algumas criadas por ele mesmo, com fins econômicos, profissionais ou simplesmente morais: empresas comerciais, institutos científicos, sindicatos, clubes, etc.”

No entanto, o autor salienta que não se pode considerar como sociedade

qualquer grupo de indivíduos1. Esse grupo deve se organizar de forma permanente e

possuir um objetivo em comum, características presentes no Estado.

O Estado surgiu de formas e em tempos diferentes na humanidade,

dependendo do progresso e cultura de cada grupo social, se adaptando às suas

necessidades e ao seu desenvolvimento, razão pela qual apresenta diversas

peculiaridades no decorrer da história.

Apenas no século XVI o termo Estado2, que se origina do latim “status”3, foi

inserido nos estudos políticos, tendo sua primeira aparição na obra “O Príncipe”,

escrita em 1513 por Nicolau Maquiavel.

Embora as diversas teorias que se dedicam a explorar a definição, origem e

formação do Estado tenham transformado este assunto em um emaranhado de

suposições, DALLARI ressalta a importância da reflexão sobre as diferentes

percepções apresentadas, das quais o autor abrevia em três correntes4: a) o Estado,

bem como a sociedade, teria existido desde sempre. Este é o entendimento de

muitos autores, que consideram que a convivência entre os homens, ainda que no

período mais primitivo, sempre se baseou na organização social e autoridade; b) por

determinado período a sociedade existiu sem o Estado, sendo este construído para

atender suas necessidades e evoluções, surgindo, assim, de maneira diversa em

cada grupo social; c) o Estado, para a terceira corrente, somente é identificado se a

1 Darcy AZAMBUJA, 2008, p.02.

2 Estado - português e espanhol; State – inglês; Êtat – francês; Stato – italiano; e Staat – alemão.

3 “[...] algo fixo, imóvel, decidido, assentado, regular e constante” - AZEVEDO, Fernando de. 1953, p.

194. 4 DALLARI, Dalmo de Abreu. 2011, p. 60.

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sociedade possuir características bem específicas. Seus defensores apontam como

marco para o nascimento do Estado o Tratado de Westfália (1648), no qual foram

consolidados os limites territoriais e soberanias, arrematando a Guerra dos Trinta

Anos.

2.1 O ESTADO NO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

O Estado é considerado sujeito primordial e basilar do Direito Internacional

(DI), com intensa participação nas relações internacionais e cerne de grande parte

das normas existentes neste ramo5. Até o início do século passado, era visto como

único sujeito internacional existente. Com o tempo, as Organizações Internacionais e

os indivíduos, que ainda causam divergências na doutrina quanto a sua

personalidade jurídica em âmbito internacional, passaram a dividir este posto.

2.2 ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DOS ESTADOS

Os Estados devem possuir alguns elementos indispensáveis para o seu

reconhecimento como pessoa do Direito Internacional, ou seja, para o

reconhecimento legal de sua existência pela sociedade internacional, a fim de que

possa se relacionar com os demais entes, exercer os seus direitos e contrair

obrigações 6 no âmbito internacional. Em 1933 foi realizada em Montevidéu a

Convenção Pan-americana sobre Direitos e Deveres dos Estados, onde foram

estabelecidos estes requisitos, conforme dispõe seu Artigo 1º:

“O Estado como pessoa de Direito Internacional deve reunir os seguintes requisitos: I. População permanente. II. Território determinado. III. Governo. IV. Capacidade de entrar em relações com os demais Estados.”

O Estado, conforme leciona MAZZUOLI, trata-se de:

5 “The international legal system is a horizontal system dominated by States which are, in principle,

considered sovereign and equal. International law is predominately made and implemented by States. Only States can have sovereignty over territory. Only States can become members of the United Nations and other international organizations. Only States have access to the International Court of Justice” - BECKMAN, Robert e BUTTE, Dagmar. Introduction to International Law, p. 01. Disponível em: http://www.ilsa.org/jessup/intlawintro.pdf. Acessado em: 22.09.2014. 6 Hee Moon Jo, 2004, p. 188.

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“(...) um ente jurídico, dotado de personalidade internacional, formado de uma reunião (comunidade) de indivíduos estabelecidos de maneira permanente em um território determinado, sob a autoridade de um governo independente e com a finalidade precípua de zelar pelo bem comum daqueles que o habitam.”

Segundo Celso D. de Albuquerque Mello (2002, p. 343), o Estado no Direito

Internacional é aquele que possui em sua formação uma população, um território e

um governo, destacando, ainda, a soberania como característica para que seja

considerado pessoa internacional plena.

Essa conceituação básica é necessária para o entendimento dos limites

impostos nas relações entre os membros da comunidade internacional.

2.2.1 População

A essência de um Estado é o seu povo. Sem este, o Estado não haveria

razão de ser. Para Ituassú (1986, p. 110) nenhum Estado existiria sem a necessária

e imprescindível associação de indivíduo. O Estado não perderá sua personalidade

se, por algum motivo, temporariamente7, os demais elementos venham a faltar. No

entanto, a agregação de pessoas deve subsistir, pois traz consigo a continuidade do

Estado8.

O termo “população” vem sendo comumente utilizado para caracterizar o

elemento pessoal do Estado, sendo indicado como sinônimo de povo ou nação. No

entanto, essa paridade é um equívoco e deve ser reparado. A população é o

conjunto de pessoas, nacionais ou estrangeiras, que habitam um Estado. Trata-se

de um conceito quantitativo e demográfico, que não apresenta qualquer aspecto

jurídico. A nação, para Carlos Roberto Husek (2000, p. 39):

“é o conjunto de indivíduos que têm a mesma origem, as mesmas tradições, os mesmos costumes, geralmente professam a mesma religião e com a mesma língua, podendo existir uma nação distribuída em vários territórios e sob distintos governos.”

O povo, por sua vez, é o conjunto de nacionais - natos e naturalizados, que

mantêm um vínculo jurídico com o Estado, que permanecerá ainda que se

encontrem no exterior. Diferentemente da concepção populacional, esse conceito

7 “A perda temporária do território, entretanto, não desnatura o Estado, que continua a existir

enquanto não se tornar definitiva a impossibilidade de se reintegrar o território com os demais elementos. O mesmo se dá com as perdas parciais de território, não havendo qualquer regra quanto ao mínimo de extensão territorial.” – DALLARI, Dalmo Abreu. 2011, p. 95. 8 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. 2011, p. 433.

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não inclui os estrangeiros residentes em território nacional 9 . Sendo assim, a

expressão “povo” mostra-se mais adequada ao elemento humano que constitui o

Estado.

O vínculo entre um Estado e sua população é caracterizado pela

permanência10, pela vontade destes de se instalarem em determinado local (território)

para exercer suas atividades11 e se sujeitarem ao poder estatal.

A dimensão populacional não é fator relevante, trata-se do princípio da

igualdade entre Estados que será tratado oportunamente. Tanto os Estados com

grande número de nacionais quanto os que possuem apenas alguns milhares serão

igualmente reconhecidos e detentores dos mesmos direitos e deveres, como é o

caso de San Marino, Mônaco e Liechtenstein, que possuem uma média de trinta e

cinco mil habitantes.

2.2.2 Território

O território se refere ao espaço onde o Estado poderá se impor e

desempenhar sua soberania, sem a influência e interposição de outra. A extensão do

território também não influi no reconhecimento do Estado, encontrando-se aqui,

novamente, o princípio da igualdade.

Grande parte dos doutrinadores defende a natureza essencial deste elemento,

afirmando que o Estado não poderia existir sem um território no qual pudesse

exercer seu poder soberano. O território estaria para o Estado assim como o corpo

para a pessoa humana12.

Este elemento material do Estado compreende tanto aspectos geográficos

(solo, subsolo, rios, faixas marítimas, espaço aéreo, etc.) quanto jurídicos (limites

territoriais reconhecidos internacionalmente).

Não há uma obrigatoriedade imposta ao Estado de estabelecer precisamente

suas fronteiras, o que se exige é um mínimo de estabilidade territorial e de

9 VARELLA, Marcelo D. 2012, p. 162.

10“The population does not have to be homogeneous racially, ethnically, tribally, religiously,

linguistically or otherwise. But it must be a settle population(...)” – AUST, Anthony. 2010 p. 15-16. 11

MATTOS, Adherbal Meira. 2002, p. 67. 12

BONAVIDES, Paulo. 2011, p. 95.

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delimitação13. O melhor exemplo é o Estado de Israel, que em 1948 foi reconhecido

enquanto suas fronteiras ainda se encontravam com certa indefinição.

O delineamento territorial pode ocorrer por meios naturais, através de rios,

lagos, mares e acidentes topográficos, ou artificiais com a utilização de linhas

geodésicas, que levam em consideração as coordenadas geográficas.

Na percepção de Marcelo D. Varella (2012, p. 196), “o direito internacional é

bastante conservador em relação ao respeito dos limites territoriais, sobretudo

porque um dos principais motivos para a guerra é o desejo de alterar os limites

territoriais antes estabelecidos”.

De fato, o território sempre serviu de pretexto para vários desentendimentos

no cenário internacional. Atualmente, podemos verificar o desgaste entre Rússia e

Ucrânia pela detenção do espaço territorial que compreende a Criméia.

2.2.3 Governo e capacidade de manter relações externas

Todo Estado é livre para escolher sua forma de governo, regular e coordenar

suas políticas internas, sem qualquer dependência, interferência ou subordinação a

poderes externos. Sahid Maluf (1995, p. 27 apud ESMEIN) afirma que o governo,

elemento político do Estado, é a própria soberania posta em ação.

Um governo somente será considerado soberano, ou seja, autônomo e

independente, se capaz de reger seus assuntos internos e participar nas relações

internacionais sem a ingerência de outros entes.

2.3 DIREITOS E DEVERES FUNDAMENTAIS DOS ESTADOS

O Estado, como sujeito por excelência do Direito das Gentes e dotado de

personalidade jurídica internacional, possui direitos e deveres. Em razão do princípio

da igualdade jurídica, todos os Estados são detentores dos mesmos direitos e

obrigações. Segundo CASELLA, ACCIOLY e SILVA (2000, p. 104) “as relações

internacionais não estariam garantidas se os Estados só tivessem direitos sem

estarem submetidos a deveres correspondentes”.

13

MAZZUOLI, Valério de Oliveira. 2011, p. 437.

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O direito à existência é o esteio para todos os demais, embora Celso D. de

Albuquerque Mello (2002, p. 429) afirme não tratar de um direito propriamente dito,

mas sim de um pressuposto para o surgimento dos demais direitos fundamentais.

O Direito à liberdade diz respeito à autonomia dada aos Estados, para que

conduzam seus assuntos internos e externos livres de qualquer interferência de

outro ente internacional, desde que respeitados os limites estabelecidos pelo DI.

Esse direito se encontra manifesto em documentos internacionais, como no artigo 2º,

alínea 7 da Carta da ONU14 e artigos 17 e 20 da Carta da OEA15.

O sistema institucional e normativo internacional tem como base o direito à

igualdade entre Estados16. Para Hee Moon Jo (2004, p.197), o Direito à igualdade é

o outro lado da independência estatal. Este direito impede que um Estado de grande

poderio se sobreponha a outro mais frágil, violando sua autodeterminação.

Complementando este entendimento, ITUASSÚ (1986, p. 204) elucida:

“Há Estados fortes e Estados fracos, como há os grandes e pequenos. Para o direito, porém, não interessa o grau de seu desenvolvimento material ou bélico, apenas importando que todos se manifestem livremente e possuam a necessária autonomia para fazê-lo. A força ou fragilidade dos Estados é tão-só o aspecto real da vida política, sem repercussão sensível na atividade jurídica. Tanto assim que, nas organizações internacionais, todas as delegações dos Estados têm um igual poder de voto, qualquer que seja o número de seus membros.”

O direito de defesa e conservação permite que um Estado adote as

precauções que entender cabíveis para assegurar a conservação e defesa de seus

elementos constitutivos, caso se encontrem ameaçados. No entanto, ainda que o

Estado possua essa prerrogativa de proteção, não lhe é permitido perpetrar

injustiças e abusos contra outro Estado. CASELLA, ACCIOLY e SILVA (2000, p.

107/8) ensinam que este direito:

“abrange todos os atos necessários à defesa do estado contra os inimigos internos ou externos, tais como a adoção de leis penais, a organização de tribunais repressivos, a prática de medidas de ordem policial, a expulsão de

14

Art. 2º, alínea 7. Nenhuma disposição da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervir em assuntos que dependam essencialmente da jurisdição interna de qualquer Estado, ou obrigará os membros a submeterem tais assuntos a uma solução, nos termos da presente Carta; este princípio, porém, não prejudicará a aplicação das medidas coercitivas constantes do capítulo VII. – Carta da Organização das Nações Unidas. 15

Art. 17. Cada Estado tem o direito de desenvolver, livre e espontaneamente, a sua vida cultural, política e econômica. No seu livre desenvolvimento, o Estado respeitará os direitos da pessoa humana e os princípios da moral universal; Art. 20. Nenhum Estado poderá aplicar ou estimular medidas coercivas de caráter econômico e político, para forçar a vontade soberana de outro Estado e obter deste vantagens de qualquer natureza. – Carta da Organização dos Estados Americanos. 16

CASELLA, Paulo B.; ACCIOLY, Hildebrando e SILVA, G. E. do Nascimento. 2000, p. 105.

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estrangeiros nocivos à ordem ou à segurança públicas, a proibição da entrada de indesejáveis, a celebração de alianças defensivas, a organização da defesa nacional etc.”

A fim de condicionar a harmonia nas relações internacionais, foram

estabelecidos ao longo do tempo alguns deveres morais e jurídicos que também

devem ser observados pelos Estados. Os primeiros não são exigíveis, os segundos,

por sua vez, são compulsórios e a sua não observância enseja em responsabilidade

perante a sociedade internacional. Segundo ITUASSÚ (1986, p. 227):

“O fundamento dos deveres dos Estados está na própria existência das relações mútuas, que não poderiam ser mantidas se os Estados não compreendessem a necessidade de respeitar certas regras de procedimento.”

Os deveres morais baseiam-se na cortesia, humanidade, equidade e justiça

natural17. Nesta categoria se encontram os deveres de respeito e assistência mútua

e cooperação internacional, pelos quais os Estados devem respeitar, auxiliar e

socorrer uns aos outros, honrar os símbolos nacionais, fronteiras e instituições

políticas18. Aqui merece destaque o precioso ensinamento de Vattel (2004):

“A natureza e a essência do homem, incapaz de ser suficiente para si mesmo, de se aperfeiçoar e de viver feliz sem a assistência de seus semelhantes, deixam claro que o seu destino é viver em uma sociedade de ajuda mútua e, por conseguinte, que todos os homens são obrigados, pela sua própria natureza e essência, a trabalharem conjuntamente e em comum para o aperfeiçoamento do próprio ser e do Estado a que pertencem. (...) cada Estado deve a outro Estado o que ele deve a si mesmo à medida que este outro tenha a necessidade real de ajuda, e que ele possa conceder essa ajuda sem negligenciar os deveres para consigo mesmo.”

Estes deveres devem ser aplicados em momentos de desastres naturais,

socorro marítimo, prevenção de pestes e enfermidades, fome, etc.

Os deveres jurídicos, por sua vez, advêm de convenções internacionais nas

quais os Estados envolvidos se obrigam a agir em conformidade ao que foi pactuado.

Nos ensinamentos de ITUASSÚ (1986, p. 230):

“O conteúdo principal desses deveres está no preceito de observância rígida aos direitos fundamentais dos outros Estados e a regras do Direito Internacional, além de cumprir fielmente as responsabilidades contratuais assumidas, o que é basilar para o bom clima das mutuas relações.”

17

Mazzuolli, Valério de Oliveira. 2011, p. 519. 18

ITUASSÚ, Oyama Cesar.1986, p. 205.

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17

O melhor exemplo, que será tratado adiante, encontra-se no dever de respeito

à soberania e à personalidade jurídica dos demais Estados, conhecido como

princípio da não intervenção.

3 A SOBERANIA

Trata-se de tema desenvolvido e explorado por vários séculos e que ainda

suscita grandes controversas e polêmicas entre seus estudiosos.

É possível verificar na Grécia Antiga, nos discursos de Aristóteles, elementos

que viriam compor, futuramente, o conceito de soberania (autossuficiência e

independência da polis).

No entanto, foi apenas no século XIII que indícios de uma soberania

propriamente dita despontaram 19 , e a partir do século XVI, juntamente com a

instituição do Estado moderno, é que passa a ser realmente debatida e estudada.

Neste período, marcado por conflitos religiosos, sociais e políticos, surgem como

precursores no desenvolvimento teórico das relações exteriores e conceituação de

soberania Jean Bodin com sua obra intitulada “Os Seis Livros da República” (1576),

Thomas Hobbes em “Leviatã” (1651) e Emer de Vattel com “Direito das Gentes”

(1758).

Com o fim da Guerra dos Trinta Anos e firmado o Tratado de Westfália, a

soberania foi concebida com um caráter absoluto e perpétuo, sujeita apenas ao

poder divino, e duas faces distintas, uma interna e outra externa20. A soberania

interna diz respeito à subordinação dos indivíduos ao poder e autoridade soberana

do Estado, não sendo limitada por nenhum outro poder dentro do seu território21. A

externa cuida da relação interestatal, sendo uma consequência lógica da interna. No

entanto, não apresenta subordinação, mas independência de cada Estado na ordem

internacional22.

Nas palavras de DALLARI (2011, p. 84):

“Sendo um poder absoluto, a soberania não é limitada nem em poder, nem pelo cargo, nem por tempo certo. Nenhuma lei humana, nem as do próprio príncipe, nem as de seus predecessores podem limitar o

19

Philippe de Beaumanoir declara em sua obra “Coutumes de Beauvaisis”, publicada em 1283, que “Les baron est souverain en sa baronnie”, ou seja, cada barão é soberano em sua baronia. 20

COLOMBO, Silvana. 2007. 21

AZAMBUJA, Darcy. 2008, p. 69. 22

MELLO, Jezreel Antonio. 2013, p. 09.

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18

poder soberano. Quanto às leis divinas e naturais, todos os príncipes da Terra lhes são sujeitos e não está em seu poder contrariá-las, se não quiseram ser culpados de lesar a majestade divina, fazendo guerra a Deus, sob a grandeza de quem todos os monarcas do mundo devem dobrar-se e baixar a cabeça com temor e reverência.”

A noção de soberania foi se adequando a cada período histórico. Hoje, a

soberania continua indispensável para o reconhecimento de um Estado, mas deixou

de possuir um caráter absoluto, pois este necessita reconhecer e respeitar os

direitos individuais de cada membro da sociedade internacional. Silvana Colombo

(2007) defende:

“De fato, a teoria da soberania se constitui num elemento teórico importante para a formação do Estado moderno e também para a construção da sociedade internacional. Contudo, apesar de a soberania ter sido o fundamento do Direito Internacional nos seus primórdios (para permitir a coexistência pacífica entre os Estados), é certo que a soberania jamais foi absoluta, conforme concebida teoricamente.”

O poder soberano de um Estado, que lhe permite fazer valer suas decisões

em seu território e de resguardar a sua independência em relação aos demais entes

internacionais, não corresponde a um poder arbitrário, desconhecedor de limites23.

Celso D. de Albuquerque Mello (p. 353) expõe que:

“Estado soberano deve ser entendido como sendo aquele que se encontra subordinado direta e imediatamente à ordem jurídica internacional, sem que exista entre ele e o DI qualquer outra coletividade de permeio.”

Ou seja, atualmente o conceito de soberania está relacionado à autonomia

estatal para a exteriorização de suas vontades, sem qualquer influência ou

intromissão, desde que estejam em conformidade com o Direito Internacional24.

Com o avanço da globalização, fortalecimento da sociedade e das

organizações internacionais, os Estados se viram obrigados a constituir vínculos

cada vez mais intrincados entre si, tornando-se interdependentes25 e, ao mesmo

23

COLOMBO, Silvana. 2007. 24

“La souveraineté de l’État reste la pierre angulaire du droit international public et signifie l’indépendance dans les relations entre États; la jurisprudence internationale assimile systématiquement ces deux notions. (...) La soumission de l’État au droit international ne résulte pas d’un de volonté mais du respect des obligations juridiques internationales. (...) le droit international (...) qui aménage les compétences souveraines de l’État tant de manière active que de manière passive”. RANJEVA, Raymond e CADOUX, Charles.1992, p. 80/81. 25

“O processo de globalização é a causa e consequência de um novo modelo de relações transnacionais entre os diferentes sujeitos internacionais. Nos nossos dias, os Estados não são os únicos sujeitos de Direito Internacional e estã cada vez mais dependentes uns dos outros.” FONTES, José. 2007, p.10.

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19

tempo, dependentes das mais fortes. Sobre o assunto Danielle Candido de Oliveira

afirma:

“Numa economia globalizada em que atuam grandes blocos econômicos, um Estado isolado tem pouco poder político e de negociação. A melhor opção nos dias de hoje parece ser a integração regional, um modo de evitar ser engolido, ou o que talvez seja ainda pior, ser descartado da nova “ordem mundial”.”

Os Estados participantes dessas organizações internacionais se veem

submetidos a um poder que lhes é superior e representativo da coletividade26. Mas

André Regis adverte que não é a soberania dos Estados que está sendo afetada

com esta nova realidade, mas sim a autonomia27. Com efeito, as obrigações pelas

quais se vinculam os Estados por meio dessas organizações não são incongruentes

à soberania, uma vez que há o consentimento daqueles em participar e de se

sujeitarem ao convencionado. No entanto, não se pode negar que a soberania atual

se mostra bem diferente, existindo um grande desafio para a compreensão de seus

novos aspectos.

4 PRINCÍPIOS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

4.1 PRINCÍPIO DA IGUALDADE SOBERANA ENTRE ESTADOS

É no Tratado de Paz de Westfália (1648) que a igualdade soberana entre

Estados tem sua origem, mas somente no século XIX que passa ser considerada

como princípio fundamental das relações internacionais.

A Carta das Nações Unidas consolida o princípio da igualdade entre Estados,

ao afirmar que a Organização baseia-se no princípio da igualdade de todos os seus

Membros.

A Convenção Panamericana sobre os Direitos e Deveres dos Estados, por

sua vez, afirma em seu artigo 4º:

“Os Estados são juridicamente iguais, desfrutam iguais direitos e possuem capacidade igual para exercê-los. Os direitos de cada um não dependem do poder de que disponha para assegurar seu exercício, mas do simples fato de sua existência como pessoa de Direito Internacional.“

26

DRI, Clarissa Franzoi. 2005. 27

REGIS, André. 2006, p.12.

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20

A igualdade soberana garante que todos os Estados possuirão os mesmos

direitos e deveres, sendo irrelevante para a ordem jurídica internacional as

diferenças sociais, culturais, políticas ou econômicas. Evita-se com isso que o poder

e influência de uns iniba ou induza as ações de outros que se encontram em

desvantagem nas relações internacionais. Não se trata de uma igualdade de poder,

mas de igualdade jurídica.

4.2 PRINCÍPIO DA AUTODETERMINAÇÃO DOS POVOS

Este princípio ainda é recente no DIP, tendo seu reconhecimento em 1945 ao

ser consagrado no art. 1º, §2º da Carta da ONU28 como um de seus propósitos, em

1966 no art. 1º do Pacto Internacional sobre Direitos Humanos – Pacto dos Direitos

Econômicos, Sociais e Culturais e dos Direitos Civis e Políticos29 e, posteriormente,

em 1970, na Resolução 2625 – XXV da Declaração sobre Princípios de Direito

Internacional Relativos às Relações Amigáveis e Cooperação entre Estados30.

Seu conceito possui forte ligação com a soberania e com os princípios da

igualdade entre Estados e da não intervenção. Em linhas gerais, trata-se da

proteção e garantia do direito de um Estado de escolher, regular e comandar

livremente sua organização política e econômica e a maneira que irá se relacionar

internacionalmente. Nas palavras de Siqueira Junior e Abras (2010, p. 44):

“exterioriza-se pela sua autonomia na tomada de decisões políticas e jurídicas dentro do território por este dominado. Outrossim, trata-se do direito de se auto-governar sem a imposição de limitações externas, sendo assegurado o estabelecimento do próprio status político e das diretrizes do desenvolvimento econômico, social e cultural.”

4.3 PRINCÍPIO DA NÃO INTERVENÇÃO X RESPONSABILIDADE DE

PROTEGER

28

Carta da ONU. Art. 1º. Os propósitos das Nações unidas são: (…) §2º. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal. 29

Pacto Internacional sobre Direitos Humanos. Art. 1º. Todos os povos têm o direito a dispor deles mesmos. Em virtude deste direito, eles determinam livremente o seu estatuto político e dedicam-se livremente ao seu desenvolvimento econômico, social e cultural. 30

Resolução 2625 – XXV. “Convinced that the principle of equal rigths and self-determination of peoples constitutes a significant contribution to contemporary international law, and that its effective application is of paramount importance for the promotion of friendly relations among States, based on respect for the principle of sovereign equality.”

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21

A não intervenção pode ser considerada como uma vertente do princípio da

igualdade entre Estados e da soberania, “ser livre de interferência de terceiros

sempre significou a preservação da independência política dos Estados

soberanos”31. Entende-se por intervenção a imposição de vontades de um Estado,

alheias àquelas de quem sofre a medida, com uso de violência ou força moral ou

material32. É geralmente utilizada por meios diplomáticos, às vezes armados, direta

ou indiretamente, com o intuito de atingir, influenciar e/ou modificar questões

internas de um país. Nesse sentido, expõe ITUASSÚ (1986, p. 231):

“Os elementos da intervenção surgem de seu conceito e são: 1º - a imposição de uma vontade pela pressão ou força, o que implica em certa violência moral ou material; 2º - que não tenha sido solicitada pelo Estado interessado, porque neste caso desaparece o elemento coactivo caracterizador do processo indevido; 3º - que represente a expressão de uma vontade estranha, sem a aceitação por parte do Estado objeto da medida; 4º - que haja a presença de dois Estados soberanos em choque. Por conseguinte, se se tratar de Estado protegido ou vassalo, não há intervenção, pois exprime o uso de um direito decorrente dos tratados respectivos.”

Segundo o entendimento de Celso D. De Albuquerque Mello (2002, p. 475):

“O princípio de não-intervenção é um corolário dos direitos fundamentais dos Estados, especialmente do direito à soberania e do direito à igualdade jurídica. Deste modo, de maneira indireta o princípio da não-intervenção foi consagrado na Carta da ONU ao se afirmar a igualdade jurídica dos Estados (art. 2º, alínea 1ª)

33, bem

como que nos assuntos da jurisdição doméstica dos Estados nem a própria ONU poderá intervir (art. 2º, alínea 7ª)

34.”

Um dos primeiros doutrinadores desta temática foi Emer de Vattel, que

defendia (2004, p. 222):

“Nenhuma nação tem o direito de imiscutir-se no governo de uma outra: É uma consequência manisfesta da liberdade e independência das Nações que todas têm o direito de se auto-governarem e que nenhuma tem o menor direito de interferir no governo da outra. De todos os direitos que pode uma Nação possuir, quele que, sem dúvida, é o mais precioso é a soberania, aquele que as outras devem mais escrupulosamente respeitar se não quiserem causar-lhe injúria.”

31

COLOMBO Silvana. 2008, p. 296. 32

MAZZUOLLi, Valério de Oliveira. 2011, p. 521. 33

Carta da ONU. Art. 2, alínea 1. A Organização é baseada no princípio da igualdade de todos os seus Membros. 34

Carta da ONU. Art. 2, alínea 7. Nenhum dispositivo da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervirem em assuntos que dependam essencialmente da jurisdição de qualquer Estado ou obrigará os Membros a submeterem tais assuntos a uma solução, nos termos da presente Carta; este princípio, porém, não prejudicará a aplicação das medidas coercitivas constantes do Capitulo VII.

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22

O dever imposto aos Estados de não intervir em assuntos alheios

protege a soberania e independência dos membros da sociedade internacional35.

Não obstante a proteção conferida, lhes são também impostas restrições. Assim, ao

se proteger a soberania de um Estado, a soberania dos demais é cerceada. Como

visto no capítulo anterior, a soberania deixou de possuir um caráter absoluto, sendo

limitada pelas normas internacionais.

Em razão das diversas intervenções ocorridas ao longo do século XX (África

do Sul, Iraque, Somália, Libéria, etc.), foi necessária uma nova perspectiva sobre o

tema, uma nova abordagem que acompanhasse as mudanças que vinham

ocorrendo na sociedade como um todo. Em resposta, alguns ordenamentos foram

elaborados, como o Protocolo Adicional sobre Não Intervenção36, Resoluções da

ONU 2131 (XX) de 1965 e 2625 (XXV) de 197037 e a Carta da Organização dos

Estados Americanos (OEA), que consolida em seu artigo 18:

“Nenhum Estado ou grupo de Estados tem o direito de intervir, direta ou indiretamente, seja qual for o motivo, nos assuntos internos ou externos de qualquer outro. Este princípio exclui não somente a força armada, mas também qualquer outra forma de interferência ou de tendência atentatória à personalidade do Estado e dos elementos políticos, econômicos e culturais que o constituem.“

Como toda regra, a não intervenção possui algumas exceções. É permitido à

sociedade internacional intervir quando for necessária a defesa da segurança

coletiva, dos direitos humanos e ambientais e da integridade de um Estado. Assim,

quando um Estado ou uma civilização se encontrar ameaçada por alguma conduta

contrária aos preceitos do DIP, a intervenção será considerada legítima, pois seu

objetivo será restabelecer a ordem pública. O que diferencia a intervenção justa da

injusta é a sua motivação.

35

“Sabido é que, dentro das regras do direito moderna, não há lugar para a intromissão indébita na vida interna dos Estados, que não podem sofrer, em princípio, restrições ao livre exercício de suas competências”. ITUASSU, Oyama Cesar. 1986, p. 233. 36

“Art. I. As Altas Partes Contratantes declaraminadimissível, a intervenção de qualquer delas, direta ou indiretamente, e seja qual for o motivo, nos assuntos internos ou externos de qualquer outra Parte”. Disponível em: http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=9132. Acessado em: 23.ago.2014. 37

Ambas Resoluções dispõem o mesmo conteúdo. “No State has the right to intervene, directly or indirectly, for any reason whatever, in the internal or external affairs of any other State. Consequently, armed intervention and all other forms of interference or attempted threats against the personality of the State or against its political, economic and cultural elements, are condemned”. Disponível em: http://www.un.org/documents/ga/res/20/ares20.htm. Acessado em: 23.ago.2014.

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23

Faz-se necessário destacar as palavras de ITUASSÚ, que relembra (1986, p.

232):

“A intervenção para satisfazer interesses pessoais dos Estados não oferece nenhuma legitimidade, embora praticada inúmeras vezes. A Turquia foi um exemplo eloquente de vítima do sistema, sofrendo o vexame de ser violada continuamente sua integridade moral e material pela ação conjunta da França, Alemanha, Grâ-Bretanha, Áustria-Hungria e Rússia, sob os mais variados pretextos.”

No período de 1980 o chamado Direito de Ingerência (Droit d'ingérence),

expressão vinculada a Jean-François Revel, ganhou destaque. A expressão remete

às tragédias que acometem uma população, sendo dever da sociedade internacional

intervir quando o próprio Estado deixa-lhes de prestar assistência.

Em dezembro de 2001, a Comissão Internacional sobre Intervenção e

Soberania Estatal (ICISS - “International Commission on Intervention and State

Sovereingty”), destinada ao estudo e debates de questões como a moralidade, a

legalidade e a legitimação da intervenção humanitária, publicou um relatório

denominado “A Responsabilidade de Proteger” (Responsability to Protect –

R2P/RtoP), onde surgiu a ideia de que a soberania estatal estaria intimamente

ligada à responsabilidade de proteger a sua população de qualquer ameaça grave

aos direitos a eles garantidos. Ao ser negligente, conivente ou autor dessas

violações, a proteção deveria ser deslocada para a comunidade internacional38

, que

passaria a ter legitimidade para intervir em favor das pessoas, impedindo o

progresso de tais ofensas.

No quinquagésimo aniversário da Organização das Nações Unidas (2005) foi

elaborado um Relatório 39 no qual foi endossado o conteúdo referente a RtoP,

constante no Relatório elaborado pela ICISS.

A responsabilidade de proteger possui quatro fatores fundamentais: I)

princípios básicos – que trazem a ideia de que a soberania acarreta

responsabilidades para o Estado, cuja principal é a proteção de sua população; II)

38

MELLO, Jezreel Antonio. 2013, p. 02 39

Resolução A/REs/60/1, § 138. Each individual State has the responsibility to protect its populations from genocide, war crimes, ethnic cleansing and crimes against humanity. This responsibility entails the prevention of such crimes, including their incitement, through appropriate and necessary means. We accept that responsibility and will act in accordance with it. The international community should, as appropriate, encourage and help States to exercise this responsibility and support the United Nations in establishing an early warning capability.

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24

fundamentos – segundo disposto no art. 24, alíneas 1 e 2 da Carta da ONU40, cabe

ao Conselho de Segurança das Nações Unidas assegurar a manutenção da paz e

da segurança internacionais, que irá agir conforme os propósitos e princípios da

ONU, tornando-se o órgão responsável pela análise e deliberação quanto ao prática

da R2P; III) elementos – são compreendidos em prevenção, reação e reconstrução.

A prevenção consiste no reconhecimento de fatores capazes de dar ensejo a crises

e conflitos, como enfermidades, fome, diferenças étnicas e religiosas, sendo o

International Crisis Group (ICG) o órgão responsável por essa análise. A reação

deve ser desempenhada pelos demais participantes da ordem internacional quando

um Estado se mostra conivente ou incapaz de lidar com as situações de ameaça

que acometem seu povo. A reconstrução, por fim, tem por objetivo sustentar o

equilíbrio alcançado com a reação, evitando assim que perturbações à paz voltem a

ocorrer; IV) prioridades – a prevenção possui primazia perante a Responsabilidade

de Proteger41.

Silvana Colombo (2008, p. 12 apud BACHELET, 1993) afirma:

“Estamos no direito de propor, no caso de riscos maiores, uma outra possibilidade de intervenção, a da ingerência, sobretudo ao nível de atos preventivos destinados a impedir a realização efetiva de um dano com importantes dimensões físicas e humanas.”

Diante da grande resistência na aceitação e uso do termo “intervenção

humanitária” pelos organismos internacionais, por ocasionar desconforto diante da

intensa proibição da intervenção e do uso da força nos mais variados ordenamentos

internacionais 42 a ideia da R2P foi elaborada para que atendesse melhor as

necessidades da comunidade global, sem que afrontasse diretamente os preceitos

estabelecidos de ordem internacional.

40

Carta da ONU, Art. 24. - 1. A fim de assegurar pronta e eficaz ação por parte das Nações Unidas, seus Membros conferem ao Conselho de Segurança a principal responsabilidade na manutenção da paz e da segurança internacionais e concordam em que no cumprimento dos deveres impostos por essa responsabilidade o Conselho de Segurança aja em nome deles. 2. No cumprimento desses deveres, o Conselho de Segurança agirá de acordo com os Propósitos e Princípios das Nações Unidas. As atribuições específicas do Conselho de Segurança para o cumprimento desses deveres estão enumeradas nos Capítulos VI, VII, VIII e XII. 41

CUNHA, STERNBERG, SOARES e SANTOS. 2012, p. 173, 174, 178 e 182. 42

O principal argumento em oposição a intervenção humanitária baseia-se na interpretação literal do artigo 2, parágrafo 4 da Carta da ONU, que proíbe a ameaça ou uso da força contra a integridade territorial e independência política dos Estados. Nesse sentido, Bartram S. Brown (2000, p. 1727) afirma: “Perhaps the most compelling argument against recognizing a right of humanitarian intervention is that it might be used as a pretext for military intervention actually motivated by other, less noble, objectives”.

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25

5 A CONVENIÊNCIA ESTRATÉGICA NAS INTERVEÇÕES INTERNACIONAIS

O advento da globalização, ao contrário do que muitos imaginam, ampliou as

desigualdades entre as nações. Àquelas que se consolidaram política e

economicamente utilizam seu poder de influência sobre as mais frágeis, para

interferir em seus assuntos internos, favorecendo seus interesses. Comumente, esta

interferência é feita disfarçada com o discurso de defesa dos direitos humanos e da

ordem internacional43.

Como apontado anteriormente, desde as últimas décadas do século XX vários

acontecimentos foram seletivamente utilizados para a prática de intervenções

internacionais, geralmente sob o aspecto humanitário, sem que houvesse, de fato,

elementos suficientes que as justificassem44.

Embora, em regra, as intervenções tenham como objetivo restabelecer a paz

e a ordem pública, o que se vê na prática é a utilização desenfreada deste recurso,

que atinge severamente as soberanias dos intervencionados45 e fomenta ainda mais

os conflitos regionais46, com intenções políticas e econômicas47, sendo que esta

última vem sendo aplicada reiteradamente. Conforme expõe Celso D. de

Albuquerque Mello (2002, p. 483):

“Ela é muitas vezes difícil de ser configurada devido ao fato de o DI admitir que o Estado pode fixar livremente as diretrizes de sua política econômica em relação aos demais. Todavia, nos casos em que esta política econômica tem por finalidade obrigar o Estado a uma determinada atitude, ela passa a constituir uma intervenção e deve ser condenada. Esta forma de intervenção teria sido utilizada,

43

“Todos os países, sejam democracias ou ditaduras, fazem um esforço por parecer ao lado dos direitos humanos, buscam legitimar suas ações, mesmo quando buscam avançar interesses particulares, na universalidade da proteção da vida humana. Dir-se-ia que, nesse cado, a hipocrisia de alguns não deixa de ser uma espécie de homenagem que se presta à irtude identificada com os direitos humanos”. FOSECA JR., Gelson. e BELLI, Benoni. 2013, p. 25. 44

“History shows that when the humanitarian justification has been invoked, it has mostly been under circumstances in which there is at least a strong suspicion that the facts and usually the motive, were not as alleged”. FRANCK, Thomas M. e RODLEY, Nigel S. 1973, p. 304. 45

“(...)it seems plausible that the intervention of foreign governments into the internal affairs of another country has a tremendous impact on the sovereignty and autonomy of the receiving state. Even though the reshaping of state affairs usually occurs under the pretext of humanitarian support, the adherence to national interests by Western governments creates the fear that the toleration of humanitarian intervention by most powerful states allows for a remodeling of state structure by foreign interveners”. KRIEG, Andreas. 2013, p. 46. 46

To be viable, the legal standards of humanitarian intervention must address this concern by holding the intervening state responsible for not making the situation worse than it would have been.” BROWN, Bartram S. 2000, p. 1735. 47

Hans Köchler (2003, p. 313) defende: “in an environment in which no checks and balances exist to retrain the arbitrary use of power, humanitarian intervention’ has become one of the key terms to legitimize what otherwise would have to be called ‘act of aggression’ or interference in internal affairs”.

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26

segundo alguns, pelos EUA, a fim de que a Argentina rompesse relações com o Eixo durante a 2ª Guerra Mundial.”

Vale ressaltar ainda que o art. 32 da Carta de Direitos e Deveres Econômicos

dos Estados (Resolução 3.281 XXIX) de 197448, proíbe o incentivo ou aplicação de

medidas de cunho econômico, político ou de qualquer outro gênero por parte de um

Estado, no intuito de coagir outro a subordinar-se.

Quanto aos propósitos políticos, em artigo publicado no Mondialisation.ca, em

20 de janeiro de 2014, Pierre Van Grunderbeek relata precisamente sobre esta

questão. Ressalta a questão da Síria, afirmando que a preocupação dos governos

ocidentais não estava em evitar vítimas nas hostilidades a Bashar al Assad, tendo

em vista as várias oportunidades perdidas de amenizarem e até mesmo cessarem a

violência dos conflitos. Para ele, esses governos provaram que os interesses das

intervenções não eram em nada humanitários, mas unicamente políticos49.

Por outro lado, também é possível verificar a abstenção e indiferença da

sociedade internacional diante de graves violações de direitos humanos que

acometem uma população envolta em um conflito, quando este não causa

repercussão e inconveniência direta na comunidade internacional.

Esta situação ficou claramente demonstrada no início dos anos 90, quando

Bósnia e Ruanda atravessavam por conflitos internos. Na Bósnia, o conflito étnico e

nacionalista foi responsável por 250 mil mortes e milhares de refugiados. Em

Ruanda os conflitos étnicos e políticos resultaram, em apenas cem dias, na morte de

aproximadamente 800 mil tutsis e opositores por extremistas hutus50. Em ambos os

casos, a sociedade internacional demonstrou grande hesitação. Na Bósnia a

intervenção humanitária foi colocada em prática tardiamente, após a intensificação

da crise. Em Ruanda, por sua vez, não houve qualquer atuação efetiva que

impedisse que o genocídio alcançasse tamanha proporção, sendo considerado hoje

o maior erro da comunidade internacional.

48

Resolution 3281 XXIX - Charter of Economic Rights and Duties od States. “Art. 32. No State may use or encourage the use of economic, political or any other type of measures to coerce another State in order to obtain from it the subordination of the exercise of its sovereign rights”. Disponível em <http://www.un-documents.net/a29r3281.htm>. Acesso em: 23.07.2014. 49

Disponível em <http://www.mondialisation.ca/devoir-dingerence-humanitaire-vs-droit-international/5365385>. Acesso em: 22.09.2014. 50

Entenda o genocídio de Ruanda de 1994: 800 mil mortes em cem dias. Disponível em <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/04/140407_ruanda_genocidio_ms.shtml>

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27

Em reportagem publicada no The Economist em 16 de setembro de 199951,

Kofi Annan, então secretário-geral da ONU, se manifestou sobre esta questão e

afirmou que o genocídio em Ruanda mostrou quão terrível pode ser a indolência da

sociedade internacional.

Silva Martins faz proveitosos apontamentos (p. 03):

“A guerra contra o Iraque, a guerra de Kosovo, embora justificadas do ponto de vista ético (defesa do Kuwait invadido e da etnia albanesa), pois em ambos os casos houve violações por parte de Hussein e Milosevic de direitos soberanos e fundamentais do ser humano, não escondem interesses outros que não apenas aqueles de imposição das regras dos mais fortes na convivência entre os povos. Os Estados Unidos e seus parceiros mais desenvolvidos não intervieram no massacre da população portuguesa de Timor, pois lá os interesses econômicos são menores, muito embora o custo operacional de uma intervenção seria também muito menor que os splielberguinianos ataques aéreos à Iugoslávia. Da mesma forma, a nação curda tem sido dizimada pelos turcos e iraquianos, com um conivente silêncio das nações mais desenvolvidas, em clara demonstração de que o verniz ético apenas cobre os interesses de predomínio das nações mais civilizadas, quando seus próprios interesses estão em jogo.”

52

Assim, quando não há qualquer interesse internacional capaz de

motivar um auxílio à restauração da paz em determinado lugar53, “apenas um senso

de dever moral constrange as potências a tomarem decisões de agir”54.

51

Disponível em <http://www.economist.com/node/324795>. Acesso em: 23.09.2014. 52

. “(...) governments only tolerate the losses and costs of intervention that actually serve the national interest. The fewer the national interests involved, the more governments are inclined to either remain passive or keep the costs minimal”. KRIEG, Andreas.2013, p. 44. 53

“Historical analysis also reveals that, in a surprising number of instances where the humanitarian factor was great but no threat existed to the political or economic concerns of foreign powers, states have evinced little interest in forceful surgical intervention”. FRANCK, Thomas M. e RODLEY, Nigel S. 1973, p. 279. 54

MARZZINI, Mikelli Lucas Alves Ribeiro, p. 401.

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28

6 CONCLUSÃO

O surgimento de novos sujeitos nas relações internacionais, os novos

aspectos da soberania, o atual menosprezo pela não intervenção com a tendenciosa

invocação dos Direitos Humanos e a consequente propagação do Direito de

Ingerência, tornam manifestas as grandes mudanças que vêm ocorrendo na

sociedade internacional.

Dos sujeitos que atualmente integram a comunidade internacional, o Estado é

o único que dispõe de todas as capacidades de atuação conferidas pelo Direito –

capacidade de ser titular de direitos e assumir obrigações, capacidade de se

relacionar diretamente com os demais entes internacionais e participar ativamente

das elaborações normativas.

O Estado, hoje, se encontra direta e imediatamente subordinado à ordem

jurídica internacional55. Sem dúvida, o conceito de soberania estatal transformou-se

ao longo do tempo, deixando seu caráter absoluto e ilimitado. Sua trajetória atual

remete a um poder relativizado e limitado pelo Direito Internacional, mas que ainda

confere ao Estado o direito de exercer todo seu poder dentro de seus limites

territoriais e à igualdade jurídica entre todos os demais na ordem internacional.

Em que pese o princípio da igualdade entre Estados seja rigorosamente

defendido pelo DIP, foi possível constatar que as intervenções acabam por

evidenciar as desigualdades, uma vez que os detentores de grande poder e

influência podem facilmente controlar e manobrar os mais fracos e vulneráveis,

utilizando como argumento aparente o direito humanitário, com o fim retrincado de

obter proveitos e vantagens políticas, econômicas e militares.

Embora o Direito de Ingerência e a correspondente Responsabilidade de

Proteger tenham sido criados para dar uma nova abordagem às intervenções

humanitárias, o que se vê na prática é a mesma fórmula, que anteriormente causava

receios pelos infortúnios por ela gerou. Nesse sentido, Gelson Fonseca afirma (p.

25):

“Como as dúvidas e receios no tocante à R2P derivam do uso da força em casos como o da Líbia ou à situação de falta de consenso de como tratar o tema da Síria, parece que a comunidade internacional está diante do mesmo dilema, mutatis mutandis, do identificado pelo ex-secretário geral Kofi Annan ao mencionar

55

MELLO Celso D. de Albuquerque. 2002, p. 353.

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Kossovo e as tragédias de Ruanda e Srebrenica: teríamos a ação unilateral com consequências imprevisíveis, de um lado, ou a inação e paralisia diante de violações inaceitáveis de direitos humanos em larga escala, de outro. Duas opções igualmente inaceitáveis que a doutrina da R2P buscava superar, mas que, (…) não foi capaz de evitar na prática.”

Esta nova intervenção com fins humanitários, baseada na R2P, continua

causando grandes controversas no Direito Internacional, não apenas com os

debates em ralação a sua legalidade ou ilegalidade, mas também pelas

barbaridades cometidas em seu nome e pelas intenções dissimuladas dos agentes

interventores.

Pode-se afirmar, pelos diversos exemplos históricos, que os próprios Estados

autores das intervenções transgridem muitas vezes os objetivos precípuos da

mesma (prevenção ou restabelecimento da ordem pública), agravando a situação de

quem sofre a medida.

Infelizmente, a Responsabilidade de Proteger ideal se tornou uma realidade

utópica. O que havia sido criado como um meio solidário de socorro e resguardo da

ordem e dos direitos fundamentais universais se tornou um mecanismo conveniente

à imposição de vontades e caprichos políticos e econômicos, sujeito as mais

diversas suspeitas quanto às suas motivações.

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