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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ NAYARA TSCHA DE ASSIS EUTANÁSIA E DIREITO CURITIBA 2012

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

NAYARA TSCHA DE ASSIS

EUTANÁSIA E DIREITO

CURITIBA

2012

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NAYARA TSCHA DE ASSIS

EUTANÁSIA E DIREITO

Trabalho de conclusão do curso apresentado ao curso de direito da faculdade de ciências jurídicas, da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em direito. Orientador: Prof. Dr. Martim Afonso Palma.

CURITIBA

2012

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TERMO DE APROVAÇÃO

NAYARA TSCHA DE ASSIS

EUTANÁSIA E DIREITO

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Bacharelado no Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ___ de _____________ de 2012.

____________________________________________ Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografia Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: ____________________________________________ Prof. Prof. Dr. Martim Afonso Palma

Universidade Tuiuti do Paraná Curso de Direito

Supervisor: _____________________________________________ Prof. Dr.

Universidade Tuiuti do Paraná Curso de Direito

Supervisor:______________________________________________ Prof. Dr.

Universidade Tuiuti do Paraná Curso de Direito

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AGRADECIMENTO

Acima de tudo a Deus, pai misericordioso que sempre esta ao meu lado e por

me privilegiar de exercer uma profissão magnífica.

Aos meus pais, Ironi e Wilson, que me deram toda a estrutura para que me

tornasse a pessoa que sou hoje. Pela confiança e pelo amor que me fortalece todos

os dias.

A meu irmão Winicius, por ser meu porto seguro e estar sempre presente, na

minha vida a cada dia.

As minhas amigas, Karen e Sabrina e meu grande amigo Algeu, por me

ajudarem nestes longos anos e estarem SEMPRE presentes.

Ao meu Orientador Dr. Martim Afonso Palma, pelas orientações prestadas.

E ao meu namorado Juan, onde ofereço um agradecimento mais do que

especial, por ter vivenciado cada passo do meu trabalho, das minhas noites mal

dormidas, por ter me dado todo o apoio que necessitava nos momentos difíceis, todo

carinho, respeito, por ter me aturado nos momentos de estresse, e por tornar minha

vida cada dia mais feliz.

Obrigada por tudo!

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Dedico este trabalho às pessoas mais importantes da minha vida: meus pais, Ironi e Wilson, a meu irmão/ amigo/companheiro Winicius, a minha irmã Ligia, a minha prima Paulinha, ao meu namorado Juan e a todos meus amigos que confiaram no meu potencial para esta conquista. Não conquistaria nada se não estivessem ao meu lado. Obrigada, por estarem sempre presentes a todos os momentos, me dando carinho, apoio, incentivo, determinação, fé, e principalmente pelo amor de vocês.

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“Existe algo em nós que não se pode ser suscetível de destruição”. (Jaspers)

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RESUMO

A eutanásia é um tema de grande importância jurídica, pois lida com um

direito fundamental: a vida. O presente estudo tem como principal finalidade o

estudo sobre a escolha da terminalidade da vida, a qual visa uma morte digna em

casos de pessoas que se encontram em estado incurável e terminal. Nesta

monografia serão abordadas as formas de terminalidade, que são: a eutanásia, a

distanásia, a ortotanásia, a mistanásia e também o suicídio assistido. O trabalho

utilizou-se de livros, artigos e legislações pertinentes ao tema em comento,

aprofundando questões polêmicas dentro do limite do tema e das referências

utilizadas, analisando a vida do indivíduo, as questões influenciadas pelas religiões

acerca do tema, os princípios constitucionais, morais e a medicina brasileira. O

principal objetivo da pesquisa é instigar a discussão sobre a eutanásia, elucidando

destarte, os posicionamentos favoráveis e desfavoráveis, os prós e os contras, numa

ótica social e jurídica.

Palavra chave: Eutanásia. Dignidade da pessoa humana. Autonomia da vontade.

Direito.

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 08 2 EUTANÁSIA ........................................................................................... 10 2.1 CONCEITO DE EUTANÁSIA ................................................................. 10 2.2 EUTANÁSIA NA HISTÓRIA .................................................................... 10 2.3 POSICIONAMENTO RELIGIOSO SOBRE A EUTANÁSIA................ ........ 12 2.3.1 Igreja Católica ......................................................................................... 12 2.3.2 Judaísmo .................................................................................................. 12 2.3.3 Budismo .................................................................................................. 13 2.3.4 Islamismo .................................................................................................. 13 3 MODALIDADES DA EUTANÁSIA ...................................................... 15 4 FORMAS DE TERMINALIDADE DA VIDA ........................................... 16 4.1 4.2

EUTANÁSIA ORTOTANÁSIA

...........................................................................................

........................................................................................... 16 16

4.3 DISTANÁSIA ...................................................................................... 19 4.3 MISTANÁSIA ......................................................................................... 20 4.4 SUICÍDIO ASSISTIDO ............................................................................ 21 5 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS ......................................................... 23 5.1 O DIREITO À VIDA .................................................................................. 23 5.2 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ........................... 24 5.3 PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE ...................................... 25 5.4 PRINCIPIO DA BENEFICÊNCIA ............................................................ 26 5.5 CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA ................................................................. 26 5.6 ANTEPROJETO DO CÓDIGO PENAL .................................................... 27 6 EUTANÁSIA E O DIREITO COMPARADO ......................................... 29 6.1 HOLANDA .............................................................................................. 29 6.2 ESPANHA .............................................................................................. 29 6.3 URUGUAI .............................................................................................. 30 7 POSICIONAMENTOS SOBRE A EUTANÁSIA ...................................... 32 7.1 FAVORÁVEIS ......................................................................................... 32 7.2 DESFAVORÁVEIS .................................................................................. 32 8 CONCLUSÃO ......................................................................................... 34 REFERÊNCIAS......................................................................................................... 36

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1 INTRODUÇÃO

A eutanásia, por restar intimamente relacionada com a vida humana, é

tema de discussão permanente em vários países, inclusive no Brasil. Aqui, ela

é expressamente proibida e configura crime, nos termos da legislação penal

brasileira. Por envolver a vida do ser humano, as questões polêmicas sempre

envolvem, entre outros, a sociedade, os costumes, as religiões, e também as

questões éticas.

Todo assunto juridicamente relevante, deve ser estudado da ótica da

relevância social para criar-se a norma. Destarte, verifica-se que no Brasil a

eutanásia conflita com alguns princípios do direito à vida, tais como a dignidade

da pessoa humana e a autonomia da vontade.

Atualmente, a eutanásia ainda causa grandes polêmicas e desconforto

perante a sociedade. O tema torna-se ainda mais complexo quando torna-se

objeto de estudo na seara religiosa, fomentando discussões sobre a

possibilidade do paciente dispor de sua vida. Isso porque estar-se-ia

contrariando diversos fatores, principalmente o ciclo natural da vida e os

valores doutrinários da religião católica, uma das religiões predominantes no

Brasil e no mundo.

Contudo, há de se ressalvar que a medicina evolui, podendo

proporcionar diversos tratamentos eficazes para prolongar a vida através de

tecnologias avançadas, ou até mesmo a cura para muitas doenças antes

consideradas incuráveis. Tais prolongamentos e ou tratamentos porém, nem

sempre proporcionam qualidade de vida, na medida que se anseia, E em

muitos casos, pode-se levar a um penoso e lento processo até a morte,

podendo se falar em tratamento fútil.

Esta monografia visa apresentar os posicionamentos favoráveis e

desfavoráveis, demonstrando assim, quais os princípios jurídicos que regem e

seguem em cada argumentação. Nos casos considerados favoráveis, os

estudiosos baseiam-se no princípio da autonomia da vontade, onde entendem

que a morte é um ato de compaixão e que cada ser humano deve ter uma

morte digna, sem sofrimento. Já os posicionamentos desfavoráveis à

eutanásia, seguem os aspectos religiosos e a Constituição, pois, entendem que

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a vida não pode ser abreviada devido ao fato de ninguém ter este direito, e

defendem ainda que a morte deve acontecer naturalmente.

Com efeito, a presente pesquisa, pretende-se ainda compreender a

aplicação da eutanásia em sentido amplo perante o direito à vida, regido pela

Constituição Federal, frente a questionamentos relativos ao direito de viver ou

morrer diante de situações irreversíveis.

A discussão sobre o tema envolve os direitos e garantias individuais,

cujo objetivo é garantir uma sadia qualidade de vida para o ser humano.

Porém, a preocupação é preservar uma existência digna, sob a ótica do direito

constitucional.

Serão abordados tópicos que discutem a eutanásia, tais como o seu

conceito e etimologia, os aspectos históricos, as modalidades mais utilizadas

pelos estudiosos, a possível regulamentação da eutanásia no Brasil, as

distinções entre as formas de eutanásia, apresentadas como distanásia,

ortotanásia, mistanásia e também o suicídio assistido.

O presente estudo contempla considerações sobre os aspectos

religiosos e o posicionamento da Igreja Católica. Adicionalmente serão

analisados aspectos sobre o consentimento do paciente e de pessoas

próximas a este, fazendo análise sobre o viés constitucional, bem como a

análise do direito comparado, explanando brevemente sobre os países que

tem a prática da eutanásia socialmente e juridicamente aceita.

Em suma, este projeto tem o intuito de demostrar o real objetivo da

eutanásia, qualquer que seja a sua forma, um ato realizado por compaixão e/ou

piedade, causando ao indivíduo uma morte digna e sem sofrimento,

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2 EUTANÁSIA

2.1 CONCEITO DE EUTANÁSIA

A etimologia da palavra Eutanásia vem do grego: “eu”, o qual significa

bem, e “thanatos”, significa morte, traduzindo-se como “morte boa”.

(RODRIGUES, 1993).

O termo surgiu em meados do século XVII, mais exatamento no ano

de 1623, na obra “História da Vida e da Morte”, escrita pelo inglês Sir. Francis

Bacon.

Francis Bacon acreditava que os médicos poderiam dispor do direito

da pessoa permanecer em estado incurável, ou seja, dispor da vida do

enfermo, mas para tanto, se fazia necessário apresentar uma fundamentação

coercitiva, causando assim uma morte indolor e digna. (RODRIGUES, 1993).

Para França (2003) a eutanásia é uma forma de terminalidade da vida

antecipada, devido à compaixão, diante de pacientes incuráveis e em estado

terminal.

Neste diapasão, destaca Bittencourt (2003) que eutanásia é um

grande sentimento de piedade que leva alguém bom e caridoso à violência, de

acabar com a vida de semelhante para atenuar ou abreviar-lhe o sofrimento

insuportável. Esse é um real motivo de relevante valor moral que justifica o

abrandamento da pena no homicídio dito privilegiado.

Desta feita, a eutanásia é uma forma de amenizar o sofrimento das

pessoas as quais não tem mais perspectiva de vida, em decorrência de

doenças incuráveis e estados terminais, proporcionando-lhes uma morte digna

e indolor.

2.2 EUTANÁSIA NA HISTÓRIA

A prática da eutanásia existe há muitos anos. Como se viu, foi tema de

estudo em meados no século XVII. Assim, por tratar-se de um tema bastante

polêmico, sua prática sempre foi amplamente discutida, porém, com poucas

definições bem embasadas.

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Neste sentido, insta salientar que o tema já foi tratado muito antes

disso, como na Bíblia Sagrada. Há relatos em 2° Samuel, versículo 1 a 13,

referindo-se à batalha entre os Israelitas e Filisteus, mais especificamente no

trecho em que fala da morte do rei Saul, de Israel. (BÍBLIA, 2009).

Nesta batalha muitas pessoas morreram. Os Filisteus, protagonistas

da guerra, se puseram contra o Rei Saul e seus filhos, matando-os e deixando

o Rei Saul gravemente ferido. Como este não queria sofrer e ser entregue vivo

aos inimigos preferiu abreviar a sua vida se atirando as mãos de Amecida, para

que sua espada transpasse seu corpo e como isso acabasse com seu

sofrimento de saber que sua famíla não se fazia mais presente. (BÍBLIA, 2009).

Em Esparta, era prática comum arremessar do alto do monte Taijeto,

as pessoas que nasciam com alguma deformação e aquelas chamadas de

inúteis para a sociedade. Esta forma de comportamento social era chamada de

eutanásia, tendo por objetivo o intuito de eliminar as pessoas que fugiam do

padrão social ou de beleza. (DINIZ, 2009).

Na Ilha de Cea, em Atenas, os idosos com idade superior a 60 anos

eram envenenados e depois sacrificados, pois, eram considerados inválidos e

não poderiam mais cooperar com nos períodos de guerra. (DINIZ, 2009).

Na Índia, as pessoas que não tinham mais perspectiva de vida ou até

mesmo que eram acometidas por doenças, eram jogadas no Rio Ganges, com

suas bocas e narinas trancadas com lama, chamada de sagrada. (DINIZ,

2009).

Os Celtas matavam os idosos e as crianças que nasciam com

deficiência. (RODRIGUES, op. cit.)

Ainda, no decorrer da história, Napoleão Bonaparte em campanha no

Egito, pediu ao médico responsável pelo cuidado e atenção do exército, para

que abreviasse a vida dos soldados que estavam em momento de sofrimento,

devido à peste, pois não lhe restavam mais de vinte quatro horas de vida.

(RODRIGUES, op. cit.)

Antigamente, a eutanásia não era conhecida por seu termo, porém, a

sua prática era algo que ocorria com muita frequência, como supratranscrito.

As pessoas viviam em uma sociedade limitada de recursos, sejam eles

aquisitivos, de acesso à saúde e de acesso social a tratamentos, o que

tornavam os indivíduos vulneráveis a pestes e doenças que se convertiam em

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incuráveis. Por esses motivos, as famílias ou pessoas mais próximas tomavam

decisões de antecipar a morte dos indivíduos para poupar-lhes dos

sofrimentos.

Desta forma, com a evolução dos métodos de tratamento, bem como

acesso aos tratamentos de saúde, ao longo do processo histórico, observa-se

que ocorreram influências em relação às decisões de pacientes e de seus

familiares acerca da eutanásia. Isso demonstra indícios de que a autonomia da

vontade deveria prevalecer mediante alguns aspectos, principalmente quando

está associado ao direito fundamental à vida e a dignidade da pessoa humana.

2.3 POSICIONAMENTO RELIGIOSO SOBRE A EUTANÁSIA

2.3.1 Igreja Católica

A Igreja católica é contra a prática da eutanásia, pois interrompe o

ciclo natural da vida do ser humano. Para a igreja, trata-se de um crime a

eutanásia, admitindo apenas a ortotanásia em determinados casos.

Sobre o tema, a professora Maria Helena Diniz nos traz o seguinte

pensamento, suscitado pelo Papa Pio XII:

É de incumbência do médico tomar todas as medidas ordinárias destinadas a restaurar a consciência e outros fenômenos vitais, e empregar medidas extraordinárias quando estas se acham ao seu alcance. Não tem, entretanto, a obrigação de continuar de forma indefinida o uso de medida em casos irreversíveis. De acordo com a Igreja Católica, chega um momento em que todo esforço de ressuscitação deve suspender-se e não nos opomos mais à morte. (DINIZ, 2009, p. 387).

Entende o catolicismo que, o momento morte, não significa apenas

morrer, mas, proteger a dignidade da pessoa humana.

O professor Rodrigues (op. cit., p. 87) dispõe em sua obra que “se por

um lado, a vida é um dom de Deus, pelo outro, a morte é inelutável, é

necessário, portanto, que, sem antecipar de algum modo a hora da morte, se

saiba aceitá-la com plena responsabilidade e com toda a dignidade”.

Desta forma, vê-se que a Igreja Católica permite a interrupção dos

procedimentos médicos quando o paciente encontra-se em estado irreversível.

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2.3.2 Judaísmo

Quando ao judaísmo, necessário se faz citar o entendimento da

professora Diniz:

O Judaísmo distingue entre o prolongamento da vida do paciente, que é obrigatória, e o da agonia, que não é. Logo, se houver convicção médica de que o paciente agoniza, podendo falecer dentro de 3 dias, admitidas estão a suspensão das manobras reanimatórias e interrupção de tratamento não analgésico. Deveras, no Torá, livro sagrado dos judeus, acolhia esta a idéia da dignidade da morte, pois assim reza: Todo aquele cuja existência tounou-se miserável esta autorizado a abster-se de fazer algo para prolongá-la; (Diniz, ibid., p. 386).

Assim, nota-se que o Judaísmo, proíbe a eutanásia ativa, a qual a vida

é abreviada antecipadamente e não condena totalmente a prática da eutanásia

passiva, aquela que se dá com a interrupção dos tratamentos médicos, porém,

existem requisitos que devem ser seguidos conforme suas leis sagradas.

2.3.3 Budismo

Os que seguem a religião budista consideram à vida um bem sagrado.

Segundo estudos de Pessine (1999), é dada a tranquilidade e paz no

momento morte do paciente. Diz ainda, que não existe uma contrariedade

perante a prática da eutanásia seja ela, ativa ou passiva, às quais são

aplicadas em situações determinadas.

2.3.4 Islamismo

Nesta religião, a vida é sagrada e considera-se um bem inviolável,

devendo ser cuidada e protegida. Acredita-se que, antes e depois da morte o

corpo constitui uma sacralidade.

Pessine (1999) nos traz o seguinte

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Segundo a legislação islâmica, todos os direitos humanos provêm de Deus. Não são presente de uma pessoa a outra e nem propriedade de qualquer criatura que algumas vezes os distribui e outras vezes os retém (injustamente).

Em suma, o islamismo proíbe totalmente a prática da eutanásia por

colocarem em primeiro lugar a dignidade da pessoa humana juntamente com a

religião que se volta à defesa da vida.

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3 MODALIDADES DE EUTANÁSIA

Seguindo o pensamento do Professor Goldim (2003), a eutanásia pode

ser classificada de diversas formas, podendo ser classificada quanto ao tipo da

ação como: Eutanásia Ativa, sendo aquela que por um ato caritativo

proporciona uma morte ao indivíduo sem sofrimento, ou, Eutanásia passiva ou

indireta, onde não se inicia uma ação médica ou há uma interpelação de

medida ao exercício de prolongar um sofrimento e a eutanásia de duplo efeito,

que vem a ser o aceleramento da morte para que o paciente pare de sofrer,

sabendo-se que este não tem mais chance de viver.

Também, quanto ao consentimento do paciente, Goldim (ibid.) entende

ainda que a eutanásia voluntária advém quando da vontade do paciente; a

eutanásia involuntária, quando a morte se dá contra a vontade do paciente e, a

eutanásia não voluntária, quando o paciente nem se quer teve o direito de se

manifestar sobre sua vontade.

Neste mesmo sentido, elucida o professor Rodrigues (1993) que: “A

eutanásia ativa, por implicar encurtamento da vida é repelida pela sociedade,

ao passo que sua forma passiva tem merecido simpatia e aprovação. Aqui a

interrupção terapêutica não tem eficácia causal na determinação da morte”.

A Revista bioética - CFM (2008) entende que a eutanásia ativa/passiva

é quando a intenção anima a conduta do agente; a eutanásia direta e indireta,

ou duplo efeito, ocorre quando à vontade é do doente; e a eutanásia voluntária

ou involuntária, quanto à finalidade do agente.

Desta razão, eutanásia ativa é quando advém de uma conduta

positiva; e eutanásia passiva, quando o resultado morte é obtido a partir de

uma conduta que ocorre por omissão.

Também há de se considerar a eutanásia de duplo efeito, podendo ser

chamada de eutanásia indireta, pois a morte é efeito indireto da conduta, sua

intenção é retirar a dor, diminuir o sofrimento. Já a eutanásia direta é praticada

através de remédios letais para gerar o aceleramento da morte do individuo.

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Sendo assim, percebe-se que as modalidades de eutanásia são

amplas, pois os estudiosos do assunto entendem de uma forma e seguem uma

linha de raciocínio próprio. As que foram suscitadas aqui são as mais

conhecidas e discutidas.

4 TERMINALIDADE FORMAS DE DA VIDA

4.1 EUTANÁSIA

A palavra eutanásia significa “boa morte” e visa a antecipação da morte

de uma forma saudável e indolor, ou seja, sem sofrimento.

Na obra de iniciação à bioética (1998, p. 182) está disposto que “[...]

podemos perceber no resultado da eutanásia dois elementos: a eliminação da

dor e a morte do portador da dor como meio para alcançar este fim”.

Entende Goldim (1997-2004) que a eutanásia é a morte causada por um

agente secundário quando o paciente esta debilitado, fraco, evitando assim, o

sofrimento decorrente de doença que já vem de longo período.

Neste mesmo sentido, insta frisar o que explanou a Revista Bioética

(2008, p. 62) que:

Atualmente, o conceito mais prevalente relaciona a expressão com a antecipação da morte do paciente incurável, geralmente terminal e em grande sofrimento, movido por compaixão para com ele. A necessidade de que a conduta eutanástica seja precedida por um pedido do interessado é questão polêmica e bastante relevante nos tempos atuais, em razão da crescente valorização da autonomia e da liberdade individual.

A eutanásia pode ser caracterizada por elementos intrínsecos, como

demostra-se nas modalidades.

Visto isso, entende-se que a eutanásia é a antecipação da morte da

pessoa sem qualquer dor ou sofrimento, visando à dignidade da pessoa

humana.

4.2 ORTOTANÁSIA

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A ortotanásia é uma conduta médica no qual o médico deixa de

submeter um paciente a tratamentos fúteis, suspendendo a realização de atos

para prolongar a vida do indivíduo, quando este já não tem mais perspectiva

alguma de cura.

Neste sentido, ao invés do médico tentar prolongar mais a vida do

paciente, este passa a deixar acontecer o resultado morte, naturalmente,

empregando apenas as condutas médicas para que não haja sofrimento, mais

sim, uma morte digna.

Segundo Prado:

O tema ortotanásia (do grego orthos, correto, e thanatos, morte) indica a morte certa justa, e em seu momento oportuno. Este procedimento tem como objetivo o não prolongamento da vida, por meios artificiais, correspondente á supressão de cuidados de reanimação em pacientes em estados de coma profundo e irreversível, em estado terminal ou vegetativo. (PRADO, 2006. p. 61).

Corrobora no mesmo sentido a Revista Bioética – CFM (2008, p. 64)

quando diz que:

A ortotanásia, aqui configurada pelas condutas médicas restritivas, é objetivo médico quando já não se pode buscar à cura: visa promover o conforto ao paciente, sem interferir no momento da morte, sem encurtar o tempo natural de vida nem adiá-lo indevida e artificialmente, possibilitandoque a morte chegue na hora certa, quando o organismo efetivamente alcançou um grau de deterioração incontornável.

Vê-se que a ortotanásia, diferentemente da eutanásia, não tem o

intuito de antecipar a morte do indivíduo, mas sim, deixar que a morte aconteça

no tempo certo.

Entende Pessini que:

Distinta da eutanásia é a decisão de renunciar ao chamado excesso terapêutico, ou seja, a certas intervenções médicas já inadequadas à situação real do doente, porque não proporcionais aos resultados que se poderiam esperar ou ainda porque demasiado graves para ele e para a sua família. Nestas situações, quando a morte se anuncia iminente e inevitável, pode-se em consciência “renunciar a tratamentos que dariam somente um prolongamento precário e penoso da vida, sem, contudo interromper os cuidados normais devidos ao doente em casos semelhantes”. (2001, p. 89 apud Dreher, 2009).

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Desta feita, a ortotanásia traz consigo alguns princípios que estão

figurados no artigo 1º, inciso III da Constituição Federal/88. São eles: dignidade

da pessoa humana, princípio da justiça, princípio da beneficência e o princípio

da autonomia. Cominados estes princípios, entende-se que o paciente tem o

direito de decidir o que é melhor para si naquele momento.

Na Resolução do CFM 1.805/2006 de 28.11.2006 do Conselho Federal

de Medicina, era permitido que o médico se limitasse ao tratamento do

paciente que visivelmente não tinha mais cura e que a morte era certa, porém,

era garantido os cuidados necessário que amenizassem a dor e o sofrimento

do enfermo.

Em relação à Resolução supra citada, foi concedida uma liminar ao

Ministério Público do Distrito Federal, onde o Douto Magistrado entendeu que a

prática da ortotanásia se caracterizada crime de homicídio..

Ainda, na Resolução CFM 1.931/2009 do Conselho Federal de

Medicina, em seu artigo 41, parágrafo único, tem-se a seguinte redação:

É vedado ao médico: 41 Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal. Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a seu representante legal.

Contudo, foi publicada em data de 31 de agosto de 2012 a Resolução

1995/2012 pelo CFM - Conselho Federal de Medicina, o qual dispõe que o

paciente em estado terminal tenha a livre escolha para decidir sobre quais os

cuidados e tratamentos que deseja, ou não receber.

Desta forma, tem-se a redação da resolução supra citada:

Art. 1º Definir diretivas antecipadas de vontade como o conjunto de desejos, prévia e expressamente manifestados pelo paciente, sobre cuidados e tratamentos que quer, ou não, receber no momento em que estiver incapacitado de expressar, livre e autonomamente, sua vontade. Art. 2º Nas decisões sobre cuidados e tratamentos de pacientes que se encontram incapazes de comunicar-se, ou de expressar de maneira livre e independente suas vontades, o médico levará em consideração suas diretivas antecipadas de vontade.

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§ 1º Caso o paciente tenha designado um representante para tal fim, suas informações serão levadas em consideração pelo médico. SGAS 915 Lote 72 | CEP: 70390-150 | Brasília-DF | FONE: (61) 3445 5900 | FAX: (61) 3346 0231| http://www.portalmedico.org.br § 2º O médico deixará de levar em consideração as diretivas antecipadas de vontade do paciente ou representante que, em sua análise, estiverem em desacordo com os preceitos ditados pelo Código de Ética Médica. § 3º As diretivas antecipadas do paciente prevalecerão sobre qualquer outro parecer não médico, inclusive sobre os desejos dos familiares. § 4º O médico registrará, no prontuário, as diretivas antecipadas de vontade que lhes foram diretamente comunicadas pelo paciente. § 5º Não sendo conhecidas as diretivas antecipadas de vontade do paciente, nem havendo representante designado, familiares disponíveis ou falta de consenso entre estes, o médico recorrerá ao Comitê de Bioética da instituição, caso exista, ou, na falta deste, à Comissão de Ética Médica do hospital ou ao Conselho Regional e Federal de Medicina para fundamentar sua decisão sobre conflitos éticos, quando entender esta medida necessária e conveniente. (CFM, 2012)

Verifica-se assim que a ortotanásia nada mais é do que a morte

natural do ser humano, sem dor, sem sofrimento, tendo o paciente autonomia e

livre escolha para ser tratado e cuidado por especialistas, portanto, a

ortotanásia pode ser chamada de morte digna, afinal, morte esta que nem os

médicos, nem a medicina podem evitar, pois nenhum ser humano está livre

dela.

4.3 DISTANÁSIA

A distanásia, também chamada de intensificação terapêutica ou ainda

obstinação terapêutica, consiste em atrasar o momento da morte, de uma

forma onde são realizados todos os tipos de tratamentos no indivíduo, mesmo

sabendo que o caso é irreversível e o momento morte é inevitável.

Goldim (op. cit.) em suas brilhantes reflexões conceitua distanásia

como uma forma de prolongar a vida de uma forma artificial, sem perspectiva

alguma de melhora ou de cura.

A professora Diniz segue a mesma linha de raciocínio, vejamos:

[...] tudo deve ser feito mesmo que cause sofrimento atroz ao paciente. Isto porque a distanásia é a morte lenta e com muito sofrimento. Trata-se do prolongamento exagerado da morte de um paciente terminal ou tratamento inútil. Não visa prolongar a vida, mais sim o processo da morte. (DINIZ, ibid., p. 391).

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Ainda, na Iniciação à bioética – CFM (passim, pág. 187), entende-se

que:

A distanásia erra por outro lado, não conseguindo discernir quando intervenções terapêuticas são inúteis e quando se deve deixar a pessoa abraçar em paz a morte como desfecho natural de sua vida. [...] A distanásia, que também é caracterizada como encarniçamento terapêutico ou obstinação ou futilidade terapêutica, é uma postura ligada especialmente aos paradigmas tecnocientífico e comercial empresarial da medicina. [...] Os avanços tecnológicos e científicos e os sucessos no tratamento de tantas doenças e deficiências humanas levaram a medicina a se preocupar cada vez mais com a cura de patologias e a colocar em segundo plano as preocupações mais tradicionais com o cuidado do portador das patologias.

Diferentemente da eutanásia, que visa uma morte digna e sem

sofrimento, a Distanásia utiliza-se de todos os meios extraordinários para

prolongar a vida de pacientes, mesmo sabendo da real situação e que em

diversos casos é inevitável a morte, acreditando assim que o quadro clínico

possa mudar e que o paciente possa atingir a cura.

4.3 MISTANÁSIA

A mistanásia vem do grego mis (infeliz) ou mys (rato). Os dois nomes

ou sentidos levam a condições precárias, devido à falta de oportunidades e

cârencia social. (VILLAS – BOAS, 2005).

A mistanásia também chamada de eutanásia social é denominada

como morte miserável, normalmente as pessoas menos favoráveis são

atingidas, pois estas não têm condições e nem acesso facilitado à saúde,

fazendo assim, com que a morte ocorra antes do tempo.

Villas – Boas, elabora uma comparação nesta modalidade:

A mistanásia não equivale à antecipação proposital da morte que ocorre na eutanásia, nem chega a conhecer a distanásia dos recursos excessivos nos modernos hospitais. Ela não deixa espaço para a ortotanásia, pois a morte virá sempre fora do tempo, ainda que sob o manto de uma morte natural, como se fosse natural morrer de doenças evitáveis, por falta de assistência, de remédios, de cuidados [...] O Direito Penal passa ao largo da maioria dos casos de mistanásia. No máximo, poder-se-ia vislumbrar uma vaga tentativa de prevenção, ao se vedar a omissão de socorro, mas, em verdade, a mistanásia é questão muito mais de políticas públicas do que propriamente de tipos penais. (VILLAS - BOAS, op. cit., p. 77).

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Existem algumas formas de mistanásia. A mais comum é por omissão

de socorro, pois atinge milhões de pessoas durante sua vida; também a

ausência ou a precariedade de serviços de atendimento médico, causando a

morte prematura de pessoas com deficiências físicas ou mentais. Ainda,

questões econômicas e sociais, como a fome, moradias precárias, desemprego

e outros fatores são essenciais à saúde, e sem eles pode se ter a mistanásia.

Ainda, o Código de Ética Médica classifica três tipos de erros médicos

que também são considerados mistanásia. São eles: 1. Imperícia, que pode se

caracterizar através da desatualização do médico perante a medicina; 2.

Imprudência, quando o médico não vê muito sentido em tentar tratamentos em

pacientes desenganados; e 3. Negligência, aquela em que o médico se omite

em fazer tratamentos e abandona o paciente em estado crônico ou terminal

sem uma justa causa. (INICIAÇÃO À BIOÉTICA- CFM, 1998).

4.4 SUICÍDIO ASSISTIDO

O suicídio assistido é uma conduta que ocorre por meio de um agente

secundário, o qual auxilia na ação, facilitando ou até mesmo cedendo material

para que o indivíduo pratique o suicídio.

Para Maria Helena Diniz (ibid., p. 373) “suicídio é a hipótese em que a

morte advém de ato praticado pelo próprio paciente, orientado ou auxiliado por

terceiro ou por médico”.

Já no entendimento do professor Goldim:

A assistência ao suicídio de outra pessoa pode ser feita por atos (prescrição de doses altas de medicação e indicação de uso) ou, de forma mais passiva, através de persuasão ou de encorajamento. Em ambas as formas, a pessoa que contribui para a ocorrência da morte da outra, compactua com a intenção de morrer através da utilização de um agente causal. (GOLDIM, op. cit., 2004).

O suicídio assistido ficou conhecido no mundo, devido ao Dr. Jack

Kevorkian ter praticado várias vezes nos Estados Unidos e em diversos lugares

daquele país, a pedido de muitos pacientes.

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O suicídio assistido já está legalizado em países como a Suíça, onde

pode ser realizado até mesmo sem a participação de um médico. A legalização

é o Código Penal de 1918, que afirma não ser crime o suicídio. Porém, a

eutanásia não é autorizada e constitui crime.

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5 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS

O tema discutido envolve diversos aspectos constitucionais,

correlacionados aos direitos fundamentais da pessoa, por estar ligado à vida do

ser humano. Alguns estudiosos abordam tais linhas de estudos e nos trazem

diversos princípios, onde os principais e mais conhecidos do mundo jurídico

serão apregoados a seguir.

5.1 O DIREITO À VIDA

O direito à vida esta previsto no artigo 5º, caput da Constituição

Federal/88 de uma forma genérica, o qual prevê o direito da pessoa de

permanecer vivo, de ter uma vida digna e não ser privado de sua vida e nem de

ser morto.

Artigo 5° Todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito a vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, e à propriedade, nos termos seguintes [...].

Neste sentido Lenza (2007, p. 595) entende que “o direito a uma vida

digna é garantir as necessidades vitais básicas do ser humano e proibir

qualquer tratamento indigno, como a tortura, penas e caráter perpétuo,

trabalhos forçados, cruéis, etc”.

Também entende o professor Silva que:

[...] vida no seu texto constitucional (art. 5, caput, CF), não será considerada apenas no seu sentido biológico de incessante auto-atividade funcional, peculiar a matéria orgânica, mas na sua acepção biográfica mais compreensiva. Sua riqueza significativa é de dificil apreensão porque é algo dinâmico, que se transforma incessantemente sem perder sua própria identidade. É mais um processo (processo vital), que se instaura com a concepção (ou germinação vital), transforma-se, progride, mantendo sua identidade, até que muda de qualidade, deixando, então, de ser vida para ser morte. Tudo que interfere em prejuizo deste fluir espontâneo e incessante contraria a vida. (SILVA, 2008, p. 197).

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Na visão de Loureiro, dignidade da pessoa humana vem a ser:

É axinomia jusfilosófico, um comando jurídico dotado de superioridade, pois se trata de um direito natural e inato, construído pela cultura resultante de progressiva luta e conquista dos povos. Corrobora o entendimento de que as pessoas devem ter condições dignas de desenvolverem-se como individos porque a Constituição Federal, norma superior e fundamental, assim o determina. (LOUREIRO, 2009, p. 85).

Porém, resta deixar claro que a CF/88, prêve que em alguns casos é

permitido dispor da vida, é o caso de guerra declarada, a qual tem fulcro no art.

5º, XLVII, A.

E também é autorizada a abreviação da vida perante o Código Penal

em seu art. 23, que ocorre quando há legitima defesa, estrito cumprimento do

dever legal, ou exercício legal do direito e, o aborto autorizado, previsto no

artigo 128 do Código Penal brasileiro.

Desta feita, tirando as exceções, vê-se que todo e qualquer ser

humano tem o livre direito de viver e se manter em uma vida digna, não

podendo assim, praticar a eutanásia frente ao ordenamento jurídico.

5.2 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Este princípio está disposto no artigo 1º da Constituição Federal, que

é basilar e fundamental para o direito.

Art. 1° A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana [...].

A dignidade da pessoa humana significa que uma pessoa tem o direito

de contrair obrigações e adquirir direitos.

Neste sentido, entende o professor Silva que:

Dignidade da Pessoa Humana é um valor supremo que atraí o conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem, desde o direito à vida, concebido como referência constitucional unificadora de todos os direitos fundamentais o conceito de dignidade da pessoa humana obriga a uma densificação valorativa que tenha em conta o seu amplo sentido normativo-constitucional e não qualquer ideia

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apriorística do homem, não podendo reduzir-se o sentido da Dignidade humana à defesa dos direitos pessoais tradicionais, esquecendo-a nos casos dos direitos sociais, ou invocá-la para construir teoria do núcleo da personalidade individual, ignorando-a quando se trate de garantir as bases da existência humana. Daí decorre que a ordem econômica há de ter por fim assegurar a todos existência digna, a ordem social visará à realização da justiça social, a educação, o desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o exercício da cidadania, não como meros enunciados formais, mas como indicadores do conteúdo normativo eficaz da dignidade da pessoa humana. (SILVA, op. cit, p. 109).

Apreciando o princípio da dignidade da pessoa humana, tem-se a

certeza de que todo e qualquer indivíduo independente de seu estado vital,

esteja ele bem ou em quase morte, tem o total direito de ter a dignidade de

viver o momento. No caso da eutanásia existem dois argumentos, os

favoráveis e os desfavoráveis, que serão tratados mais adiante. Porém, o caso

da dignidade da pessoa humana segue os argumentos de estudiosos que são

favoráveis, porque não tem como uma pessoa sem capacidade viver

dignamente em estado degradante ou vegetativo.

5.3 PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE

Analisando da forma como quem é a favor da eutanásia este principio

tem como base fundamental a liberdade e a igualdade, trazendo consigo a

idéia de que o indivíduo deve ser respeitado em todas as ocasiões, até mesmo

nas situações da eutanásia.

Nesse sentido, Diniz entende que:

O principio da autonomia requer que o profissional da saúde respeite a vontade do paciente, ou de seu representante, levando em conta, em certa medida, seus valores morais e crenças religiosas. Reconhece o domínio do paciente sobre a própria vida (corpo e mente) e o respeito a sua intimidade, restringindo, com isso, a introdução alheia no mundo daquele que esta sendo submetido a um tratamento. (DINIZ, ibid p. 16).

Tal princípio nos mostra que o indivíduo que é submetido e vive a

situação de sofrimento, de enfermidade, de estado incurável, tem a autonomia

de decidir se continua no estado em que vive ou se abrevia a sua própria vida,

pois, o estado em que se encontra está acometido somente a ele, e neste

sentido, para que prolongar o sofrimento? Doutrinadores que defendem a

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prática da eutanásia discutem e usam abundantemente o princípio da

autonomia da vontade.

Sobre este ponto de vista argumenta Sztjan (2002) que o principio da

autonomia da vontade é um requisito de validade do consentimento informado,

se a pessoa tem capacidade de exprimir sua vontade, demonstra respeitar sua

autonomia.

Sendo assim, se respeitada à autonomia do enfermo, o qual não há

mais nenhuma perspectiva de vida, automaticamente estará respeitando a sua

dignidade.

5.4 PRINCIPIO DA BENEFICÊNCIA

A palavra beneficência nos traz o conceito de praticar o bem, o ato de

compaixão, porém faz-se mister visar a moral no sentido de agir perante outro

individuo.

Beauchmo (2002, p. 282) nos traz o conceito de Beneficência, qual seja,

na linguagem comum, a palavra “beneficência” significa atos de compaixão,

bondade e caridade. Algumas vezes, o altruísmo, o amor e a humanidade são

também considerados formas de beneficência.

Este princípio tem a obrigação de ajudar outros indivíduos, buscando os

interesses legítimos e importantes.

Assim, a beneficência visa ações coercitivas, ou seja, positivas.

Arguindo e seguindo tal principio, deve-se ter atitude de praticar o bem

enquanto se procura a cura ou a prevenção. Contudo, vale ressaltar, que não

se deve agir por agir, tem-se que, verificar os riscos.

5.6 CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA

O Novo Código de Ética Médica dispõe três situações acerca da

eutanásia, ortotanásia e distanásia. A primeira é a proibição total da eutanásia,

disposto no artigo 41, caput, parágrafo único.

É vedado ao médico: Artigo 41 - Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal:

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Parágrafo Único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal.

A segunda situação está relacionada à ortotanásia, no qual o Código

de Ética dispõe ser lícito quando fala em seu capítulo I – princípios

fundamentais:

XXII - nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários e proporcionará sob sua atenção todos os cuidados apropriados.

E terceira situação, conforme disposto no inciso XXII, o médico deverá

de todas as formas amenizar o sofrimento paliativo do paciente, evitando

submete-lo a diversos tratamentos, sabendo que estes não surtirão efeito para

sua melhora.

5.7. ANTEPROJETO DO CÓDIGO PENAL.

No Brasil, não existe uma legislação que tipifique a prática da

Eutanásia, ela apenas pode ser equiparada ao crime de homicídio privilegiado

o qual se dá por compaixão e está disposto no artigo 121, §1º do Código Penal,

que dispõe:

Art. 121 - Matar alguém: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. Caso de Diminuição de Pena § 1º - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

Alberto entende que ocorrem casos de homicídio por compaixão quando

o individuo age em situação de desespero. Diz ainda que, a decisão homicida

só surge com o término de uma trajetória de sofrimento no qual entendia-se

como uma situação insuportável.

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Contudo, encontra-se no Senado Federal (2012) o anteprojeto da parte

especial do Código Penal, que traz modificações ao artigo 122 e seus

parágrafos, acrescentando os elementos da eutanásia ativa e passiva.

A proposta da redação é a seguinte:

Eutanásia Art. 122. Matar, por piedade ou compaixão, paciente em estado terminal, imputável e maior, a seu pedido, para abreviar-lhe sofrimento físico insuportável em razão de doença grave: Pena – prisão, de dois a quatro anos. § 1º O juiz deixará de aplicar a pena avaliando as circunstâncias do caso, bem como a relação de parentesco ou estreitos laços de afeição do agente com a vítima. Exclusão de ilicitude § 2º Não há crime quando o agente deixa de fazer uso de meios artificiais para manter a vida do paciente em caso de doença grave irreversível, e desde que essa circunstância esteja previamente atestada por dois médicos e haja consentimento do paciente, ou, na sua impossibilidade, de ascendente, descendente, cônjuge, companheiro ou irmão.

No paragrafo 1º do referido artigo o homicídio praticado se refere ao

“relevante valor moral”, momento em que é retirado o homicídio simples

passando-se para homicídio privilegiado.

Bittencourt entende por homicídio privilegiado:

As circunstâncias especialíssimas elencadas no §1º do art. 121 minoram a sanção aplicável ao homicídio, tornando-o um crimen exceptum. Contudo, não se trata de elementares típicas, mas de causas de diminuição de pena, também conhecidas como minorantes, que não interferem na estrutura da descrição típica, permanecendo esta inalterada. (BITTENCOURT, 2010, p. 69).

Já no paragrafo 2º, se trata da ortotanásia, sendo uma prática aceita

pelo Conselho Federal de Medicina – CFM. Esta forma de terminalidade da

vida, não implica em matar alguém. Entende-se que manter artificialmente o

falecimento é retirar do indivíduo o direito de escolha do local e a forma da sua

morte. Desta forma, fica evidente que ortotanásia não constitui crime se

determinados requisitos forem seguidos, são eles: se for atestado por dois

médicos e houver consentimento do paciente e na sua impossibilidade deve

haver a autorização de ascendente, descendente, cônjuge, companheiro ou

irmão.

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6 EUTANÁSIA E O DIREITO COMPARADO

6.1 HOLANDA

A eutanásia atualmente é regulamentada na Holanda. A lei foi

aprovada em 10 de abril de 2001 e começou a vigorar no ano de 2002. Mas,

para ser aceito o pedido de eutanásia, deve-se respeitar alguns requisitos, que

o Professor José Roberto Goldim (1997-2003) nos trás: “Quando o paciente

tiver uma doença incurável e estiver com dores insuportáveis; o paciente deve

ter pedido, voluntariamente, para morrer e depois de um segundo médico ter

emitido opinião sobre o caso”.

Diniz nos trás no mesmo sentido a redação a seguir:

A eutanásia na Holanda, apenas poderá ser praticada se o paciente não tiver a menor chance de cura e estiver submetido à insuportável sofrimento. O pedido deve vir do próprio paciente e tanto ele quanto seu medico devem estar convencidos de que não há alternativa confirmada por parecer de outro medico e por uma comissão de especialistas. (DINIZ, 2006, p.388).

O pedido para a efetivação da eutanásia deve vir do próprio paciente e

tanto o médico quanto o paciente devem ter certeza de que não existe outro

tratamento.

6.2 ESPANHA

Na Espanha a eutanásia é considerada crime. Porém, este tema já

vem sendo discutido desde 1920. Foi estudada a proposta de legalizar a

eutanásia, não eliminado o delito, mais impedindo que o agente descaracterize

o ato, desde que o mesmo não tenha cometido nenhum delito, ou seja, que não

tenha nenhum antecedente. (idem,1997).

Na proposta, se colocou que nas condições deveriam conter a piedade

no ato e reiterados pedidos do paciente.

Nenhuma proposta foi aceita na Espanha e a eutanásia constitui crime

se praticada. Ainda, há de salientar que se houver a ajuda de um secundário

na prática da eutanásia, este pode pegar uma pena de 6 (seis) meses à 6

(seis) anos de prisão.

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No entanto, foi aprovado um projeto chamado “morte digna” no ano de

2010, que dispõe: “permite o enfermo negar a submter-se a um tratamento que

apenas prolongue sua vida de forma artificial“. (MERLO, 2010).

Um caso bem polêmico ocorrido na Espanha é o de Ramon

Sampedro, que viveu durante 29 anos tetraplégico e nos últimos 5 anos brigou

na justiça pela procedência da eutanásia voluntária. O pedido foi negado,

devido este tipo de procedência ser considerado homicídio na Espanha.

Contudo, diante de tanto sofrimento, planejou com pessoas próximas a sua

morte, e no dia 15/01/1998 foi encontrado morto, foi diagnosticado em seu

corpo a substância de cianureto. Ramom Sampedro gravou um vídeo no

momento da morte, mostrando que ele, somente ele tinha culpa, pois era ele

quem estava com o copo e o canudo contendo a substância. Não aceitando

tais fatos a justiça espanhola incriminou a amiga de Sampedro, só que por falta

de provas o processo foi arquivado e o caso se perdeu na história. (id. ibidem,

1997).

6.3 URUGUAI

O Uruguai foi um dos primeiros países do mundo a trazer a

possibilidade da prática da Eutanásia.

Quando entrou em vigor o novo Código Penal, em 10 de agosto de

1934, ficou caracterizado o homicídio piedoso, mencionado no artigo 37 do

capítulo III, que dispõe sobre os casos de impunidade. (GOLDIM, 1997).

De acordo com a legislaçãodo Uruguai, é facultada ao juiz a

exoneração do castigo a quem realizou este tipo de procedimento, desde que

preencha três requisitos essenciais:

• Ter antecedentes honráveis;

• Ser realizado por motivo piedoso; e

• A vítima ter feito reiteradas súplicas.

A proposta do Uruguai foi também adotada pela Holanda, citada

anteriormente, a partir de 1993. Nos dois casos, não há uma autorização para

a realização da eutanásia, mas sim uma possibilidade do agente do

procedimento ficar impune, desde que cumpridos os requisitos básicos

estabelecidos.

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A legislação foi baseada na doutrina criada pelo penalista espanhol

Jiménez de Asúa. (idem 1997).

Ainda vale ressaltar que, o Código Uruguaiano artigo 315, não se

aplica ao suicídio assistido, ou seja, quando uma pessoa auxilia outra a realizar

o suicídio. Nestes casos, sobressai a caracterização do perdão judicial. (id.

ibidem, 1997).

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7 POSICIONAMENTOS SOBRE A EUTANÁSIA

7.1 FAVORÁVEIS

Os estudiosos que se posicionam a favor da eutanásia, seguem a linha

de raciocínio de que o indivíduo não deve sentir dor ou sofrimento, para

defender este pensamento, usam como alicerce o princípio da autonomia da

vontade, no qual explanam que o agente e ou paciente deve ter o direito e

liberdade de escolha.

Neste sentido entende Urban (2003, p. 539) que:

Os que defendem a eutanásia o fazem como um verdadeiro “direito de morrer com dignidade”, ante uma situaçãoirremediável e penosa, e que tende a alguma agonia prolongada e cruel. Desse modo, seria concedida aos médicos a faculdade de propiciar uma morte sem sofrimento ao paciente portador de um mal sem esperança e cuja agonia é longa e sofrida [...].

Defendem ainda que ninguém deve ter um sofrimento insuportável e

viver em condições sub-humanas em situações onde já sabem que não há

mais cura.

7.1 DESFAVORÁVEIS

Os argumentos que se voltam contra a eutanásia se baseiam na

espiritualidade, ou seja, na santidade. Entendem que é um total desrespeito a

vida, pois, contraria os mandamentos de Deus.

Ainda, estes posicionamentos podem ser elucidados pelos estudiosos

Batista e Schamm (2004), no qual entendem como base principal os preceitos

religiosos, no que tange a abreviação da vida.

Urban (2003, p. 538) ainda sucita que:

Os que são contra a eutanásianão admitem que se transforme in articulo mortis uma agonia mesmo dolorosa, e se outorgue o direito de antecipar uma morte, como formagenerosa de suprimir a dor e o sofrimento. Essas pessoas não admitem que se ofereça à profissão médica tão triste sina – a de praticar ou facilitar a morte, em face de

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uma série de situações que venham a ser consideradas como constrangedoras ou nocivas aos interesses da própria sociedade.

Tem-se ainda esse posicionamento em relação aos médicos, devido o

juramento realizado para prometer cuidar e tentar todos os procedimentos

possiveis para que uma pessoa seja curada. Desta forma, estende-se que os

médicos não podem decidir se o paciente deve ou não permanecer vivo.

Para aqueles que são contra a prática da eutanásia, dispensam o

principio da autonomia da vontade, voltando-se completamente para religião,

bem como entendem que o ciclo da vida deve ser o natural, nascer, viver e

morrer, tudo no seu tempo.

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8 CONCLUSÃO

Diante do contexto trazido ao longo da pesquisa, percebe-se que a

eutanásia é um tema bastante complexo, por se tratar de um procedimento

associado diretamente com a vida humana e com o direito fundamental

explanado no artigo 5º da Constituição Federal da República Federativa do

Brasil.

A eutanásia é bastante polêmica, e que a sua prática se deu com os

primeiros resquícios na antiguidade, conforme descrito na Biblia Sagrada.

Decorrente de sua origem nas batalhas advindas dos Filisteus foi, se

aperfeiçoando no decorrer da história, e se moldando na sociedade moderna,

contemporânea e atual, com visões favoráveis e desfavoráveis.

O tema eutanásia significa “morte boa”, ou seja, morte sem sofrimento.

Porém, existem diferentes modalidades, podendo ser classificada quanto ao

tipo de ação que pode ser ativa ou positiva; passiva ou indireta e a de duplo

efeito.

Eutanásia ativa ou positiva é aquela que se dá por um ato misericordioso

e provoca uma morte sem sofrimento para o paciente. Passiva ou indireta, que

vem a ser aquela onde não existe uma iniciação médica diante de casos

terminais e a de eutanásia de duplo efeito, que é aquela onde ocorre o

abreviamento direto do paciente mediante uma ação médica, visando amenizar

o sofrimento do mesmo.

Ainda, pode ser classificada quanto ao consentimento do paciente, no

qual se apresenta como a eutanásia voluntária, aquela se dá a pedido do

paciente; a eutanásia involuntária, quando não existe o consentimento do

paciente e a eutanásia não voluntária, que ocorre quando o paciente não

expressou a sua vontade.

Na pesquisa realizada foram especificadas as diferentes formas de

terminalidade da vida, apresentadas como: Ortotanásia, sendo o momento em

que o médico deixa que a morte ocorra naturalmente, eximindo-se dos

procedimentos dados como fúteis; a Distanásia, que prevê que mesmo estando

ciente que o caso é irreversivel, todos os procedimentos são tentados, e

também a Mistanásia que vem a ser a morte miserável. Atenta-se também para

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o caso do Suicídio Assistido, onde o individuo tem a vontade de agir e por meio

de outrem o faz.

Como descrito no trabalho, à eutanásia tem a sua prática proibida no

Brasil, e, caso ocorra será constituido crime. Porém, o projeto do Código Penal

já levando a votação no Senado Federal nos traz grandes avanços no mundo

jurídico e um pouco de receio perante a sociedade, pois, ele nos apresenta

uma proposta que permitirá a prática da ortotanasia mediante a assinatura de

dois médicos e seguindo todos os requisitos específicos exigidos para a

prática. Ainda assim, paira uma dúvida quanto ao consentimento do paciente,

momento este que a relação com a sociedade gera grande desconforto.

Posto a contraditoriedade é difícil estabelecer uma opinião sobre o tema,

de grande discussões, e que gera conflitos. Na Constituição Federal o que se

tutela é a vida, que se contrapõe à dois principio suscitados ao longo do

trabalho que são, principio da dignidade da pessoa humana e a autonomia da

vontade.

A morte é bastante difícil de sem encarada pela sociedade, porém,

acontece inevitavelmente, por se tratar de um ciclo natural do ser humano, mas

quando envolve a eutanásia sempre amplia a polêmica.

Contudo, para que a eutanásia venha algum dia a ser legalizada em

nosso país, será necessária grande maturidade da sociedade e requisitos que

contenham fatos coercitivos para que a prática seja realizada de uma forma

correta e justa.

Diante de todos os pontos expostos aqui, chega-se a uma conclusão de

que aquelas pessoas que não tem condição alguma de praticar qualquer ato

em sua vida e que vivem em momento de sofrimento, sem perspectiva de cura,

causando-lhe sofrimento também a sua familia, tem o direito de ter uma morte

digna, e ainda, usufruir da sua autonomia, pois, somente o próprio paciente e

quem está passando por todo este processo de desgaste emocional e vital

conhece essa dor, causa maior do sofrimento.

Entende-se que todo e qualquer ser humano, deve ter dignamente o seu

momento morte, sem dor nem sofrimento e levar-se em conta que todos tem o

direito de viver, e o direito de morrer.

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