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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PRÓTESE DENTÁRIA Andréia de Cássia Duarte Diab Cassini INFLUÊNCIA DO BRUXISMO NAS REABILITAÇÕES COM PRÓTESES FIXAS CONVENCIONAIS E IMPLANTO-SUPORTADAS Governador Valadares 2009

UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE … · causa mais comum dos desgastes por atrição, hiperemia pulpar, cúspides fraturadas, exostoses alveolares, dores musculares e grande

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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PRÓTESE DENTÁRIA

Andréia de Cássia Duarte Diab Cassini

INFLUÊNCIA DO BRUXISMO NAS REABILITAÇÕES COM PRÓTESES FIXAS

CONVENCIONAIS E IMPLANTO-SUPORTADAS

Governador Valadares

2009

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ANDRÉIA DE CÁSSIA DUARTE DIAB CASSINI

IMFLUÊNCIA DO BRUXISMO NAS REABILITAÇÕES COM PRÓTESES

FIXAS CONVENCIONAIS E IMPLANTO-SUPORTADAS

Monografia apresentada à Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Vale do Rio Doce, para obtenção do título de Especialista em Prótese Dentária Orientador:Prof.ªMs. Maria da Penha Siqueira Assis

Governador Valadares

2009

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ANDRÉIA DE CÁSSIA DUARTE DIAB CASSINI

IMFLUÊNCIA DO BRUXISMO NAS REABILITAÇÕES COM PRÓTESES FIXAS

CONVENCIONAIS E IMPLANTO-SUPORTADAS

Monografia apresentada à Faculdade

de Ciências da Saúde da Universidade

Vale do Rio Doce, para obtenção do

título de Especialista em Prótese Dentária

Governador Valadares, _____ de ________________ de _______

Banca Examinadora:

____________________________________________________

Universidade Vale do Rio Doce

____________________________________________________

Universidade Vale do Rio Doce

____________________________________________________

Universidade Vale do Rio Doce

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DIVINO PAI ETERNO, eis-me aqui.

Prova que o Senhor nunca deixa uma obra inacabada!

Ao meu pai, saudades.

Geralda, mãe e incentivadora esta vitória também é sua.

Murilo, você faz parte desta alegria.

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AGRADECIMENTOS

Ao coordenador Ms. Cândido dos Reis Badaró Filho que compreendeu todas as dificuldades

que passei durante todo este percurso.

A Ms. Maria da Penha S. de Assis que me orientou neste trabalho com dedicação, carinho e

entusiasmo.

Aos meus familiares que de alguma forma contribuíram para a conclusão deste curso, em

especial tia Suely pela sua disponibilidade e amor. Adiany, Ananele e Fabyolla, minha

gratidão.

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“Assim será no fim do mundo: os anjos virão separar os maus

do meio dos justos e os arrojarão na fornalha, onde haverá

choro e ranger de dentes.”

Mt 13, 49 e 50

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RESUMO

Este trabalho objetivou pesquisar através da revisão literária, os fatores relacionados a esta parafunção que pudessem interferir no tratamento odontológico dos pacientes submetidos a reabilitações orais convencionais e implanto-suportadas, bem como a manutenção das estruturas dentais. O bruxismo é definido como contato estático ou dinâmico dos dentes, contrário às funções normalmente desempenhadas pelo sistema estomatognático, como mastigação, fonação e deglutição. Pode manifestar-se durante o dia ou à noite, em algum momento de nossas vidas. É considerado um fator de deteorização dos dentes e estruturas de suporte, apresentando como sinais e sintomas: fadiga dos músculos mastigatórios, principalmente o masseter, disfunção das articulações temporomandibulares, dores de cabeça, interferência no conforto oral, facetas dentais polidas, sendo o desgaste incisal dos dentes anteriores o sinal mais aparente desta disfunção. De etiologia controversa, multifatorial e modulado pelo sistema nervoso central, está fortemente relacionado a fatores emocionais e eventos de estresse. O bruxismo pode ser classificado como cêntrico ou excêntrico, devendo ser diagnosticado precocemente, pois a maioria dos efeitos deletérios associados a esta disfunção são irreversíveis, sendo responsável pela grande incidência de fracassos das próteses dentais fixas. Em relação ás próteses implanto-suportadas o bruxismo não é considerado contra-indicação, desde que se tenha um diagnóstico correto e um planejamento adequado e específico para cada caso. Palavras-chave: Bruxismo. Hábitos parafuncionais.Trauma oclusal.

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ABSTRACT

. This work searched through literal revision the factors related with this para-funtion that could be relevant in odontologic treatment of the patients submitted in conventional and implant-supported oral rehabilitations, as well as the dental structures maintenance. The bruxism is defined as a dynamic or static teeth contact, unlike the functions normally realized by de estomagnactic system, as mastication, phonation and deglutition. It can happen during the day or at night, in some moments of our lifes. It’s considerate a teeth and support structures deterioration factor; Some of the signs and symptoms presented: masticatory muscles fatigue, mostly the masseter, temporomandibular joint dysfunction, headaches, oral comfort interference, polished dental facets, where the incisal wear of the previous teeth the dysfunction most apparent signal. From a controversy etiology, plurifactorial and modulated by the central nervous system, it is high linked to emotional factors and stress events. The bruxism can be assorted as centric or eccentric and must have a precocious diagnostics, because most of the deleterious effects in this dysfunction are irreversible, being responsible for the great incidence of failures in fixed dental prosthesis. In relation to implant-supported prothesis, bruxism is not considerate contraindication, since it has a correct diagnostic and an appropriate planning and specific to each case.

Key-words: Bruxism. Parafuntional habits. Occlusal trauma.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................9

2 REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................................ 11

2.1 CONCEITO.......................................................................................................................11

2.2 ETIOLOGIA......................................................................................................................13

2.3 SINAIS CLÍNICOS E SINTOMAS..................................................................................18.

2.3.1 Sistema Estomatognático.............................................................................................18

2.3.2 Próteses Dento-suportadas e Implanto-suportadas...................................................21

2.4 TRATAMENTO................................................................................................................23

3 DISCUSSÃO .......................................................................................................................27

4 CONCLUSÕES...................................................................................................................32

REFERÊNCIAS.....................................................................................................................33

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1 INTRODUÇÃO

A freqüência e a severidade dos danos causados aos portadores de parafunções tem

motivado o estudo a respeito das alterações dentárias, musculares e articulares, envolvidas na

manifestação desses hábitos, em especial o bruxismo, devido a sua alta complexidade.

Para Paiva et al. (1997) o homem apresenta hábitos funcionais - aqueles realizados

com a finalidade fisiológica (mastigação, deglutição e fonação) e pode desenvolver hábitos

parafuncionais - toda e qualquer ação que não seja própria ou natural de um órgão, sistema ou

aparelho.

Segundo Misch (2000), o bruxismo é uma patologia em que o indivíduo range os

dentes no sentido vertical ou horizontal, de forma cêntrica ou excêntrica, contínua e

inconsciente, não relacionada à função. Essas forças podem ocorrer durante o dia ou à noite,

sendo capazes de causar grandes pressões sobre os dentes, deixando registros ou

consequências sobre a musculatura, periodonto e articulações temporomandibulares.

De acordo com Ranfjord e Ash (1984) e Dawson (2008) este hábito é considerada a

causa mais comum dos desgastes por atrição, hiperemia pulpar, cúspides fraturadas, exostoses

alveolares, dores musculares e grande parte dos insucessos dos implantes osseointegrados e

suas reabilitações protética.

Cardoso (2003) considerou ser o bruxismo de etiologia controversa e multifatorial,

apresentando associação de fatores locais, sistêmicos e ocupacionais, sendo comum o paciente

com esta disfunção, apresentar-se com estresse, ansiedade e aspecto psicológico abalado. Por

ser o bruxismo um ato parafuncional de alta prevalência, torna-se um dos fatores mais críticos

e de extrema importância a se avaliar em qualquer reabilitação oral, nas fases de

planejamento, confecção e manutenção, evitando assim falhas futuras e promovendo o

sucesso do trabalho restaurador.

Em virtude da importância que o bruxismo representa quando presente nos

indivíduos, este trabalho através da revisão literária tem por objetivo analisar os fatores

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relacionados a esta parafunção que pudessem interferir no tratamento odontológico de

pacientes reabilitados com próteses fixas convencionais e implanto-suportadas.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 CONCEITO

“Segundo Dorland’s Illustrated Medical Dictionary, a palavra bruxismo vem do grego

brychein, que significa ranger dos dentes. Porém, foi Pietkiewiez em 1907 que introduziu o

termo” bruxomania “pela primeira vez no vocabulário médico contemporâneo, descrevendo

casos de ranger de dentes durante o dia” (PIETKIEWICZ, 1907, p.14 apud ALÓE et al., 2003,

p.4).

Ramfjord e Ash (1984) consideraram o bruxismo cêntrico como apertamento ou

travamento dos dentes, sendo mais comum durante o dia que à noite, imperceptível ao

paciente, pois não apresentam ruídos. Para estes autores, mesmo não tendo movimentos

mandibulares, alguns dentes podem apresentar ligeira mobilidade. No bruxismo excêntrico

ocorrem movimentos laterais com geração de forças horizontais, apresentando-se mais à

noite.

Kato et al. (2001) referiram ao bruxismo como uma atividade parafuncional, podendo

ocorrer quando o indivíduo está dormindo ou acordado, e o classificam nas formas primária

(idiopática) e secundária (iatrogênica). O bruxismo primário engloba o apertamento diurno e

bruxismo noturno. A forma secundária esta associada às desordens neurológicas,

psiquiátricas, às relacionadas ao sono ou com a administração ou abstinência de

medicamentos e drogas.

Alóe et al. (2003) relataram que o bruxismo que ocorre durante o dia, ou diurno, e o

bruxismo que ocorre durante o sono, ou noturno, são entidades clínicas diferentes que

manifestam em distintos estados de consciência. O bruxismo do sono pode ser classificado

como primário ou secundário. Primário quando não há causas médicas evidentes, sistêmicas

ou psiquiátricas que justifiquem o seu aparecimento, sendo mais provável ser o desequilíbrio

de neurotransmissores, ao nível do sistema nervoso central, mas sua fisiopatologia não está

muito bem esclarecido. Apresenta fatores de predisposição genéticos, psicológicos ou má

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oclusão dentária. Já o bruxismo secundário vem associado a um transtorno clínico,

neurológico ou psiquiátrico. Sendo a maioria dos casos de etiologia primária.

Cardoso (2003) citou que o bruxismo pode manifestar-se como apertamento,

rangimento e batimento dos dentes, didaticamente pode ser classificado como cêntrico e

excêntrico. O cêntrico está relacionado ao apertamento dos dentes, já o excêntrico refere-se a

movimentos de lateralidade ou de latero-protusão.

Segundo Lobbezoo et al. (2004), bruxismo é o hábito deletério de apertar ou ranger os

dentes, podendo ocorrer durante o dia ou à noite, com intensidade variável, atuando

consciente ou inconscientemente, diversamente dos movimentos funcionais do sistema

estomatognático.

Segundo Oliveira et al. (2007) o bruxismo é uma atrição rítmica dos dentes em

movimentos não mastigatórios da mandíbula, manifestando-se especialmente durante o sono.

. Para Dawson (2008) o bruxismo cêntrico manifesta-se na ausência de um fator fisico

ou emocional, sendo este hábito inconsciente e sem movimentação mandibular perceptível. O

excêntrico manifesta-se nas trajetórias excursivas.

De acordo com Lewgoy (2008), o bruxismo está relacionado ao ato de apertar ou

ranger dos dentes no período noturno e ocorrendo durante o dia é denominado briquismo.

Para Maciel (2010), o bruxismo é considerado um transtorno involuntário e

inconsciente de movimentos, caracterizado pelo excesso de apertamento e/ou rangimento dos

dentes, ocorrendo durante o sono ou vigília. O ranger envolve um forte contato entre os dentes

superiores e inferiores, seguido de movimentos mandibulares, produzindo sons desagradáveis,

enquanto o apertamento caracteriza-se por contatos dentários silenciosos, fortes e sem

movimentos mandibulares. Também classificou esta parafunção como bruxismo do sono

primário e secundário. O primário relaciona-se a predisposição genética, maloclusão, fatores

psicológicos e a combinação desses fatores, podendo ter origem periférica (fatores oclusais)

ou origem central (desequilíbrio aminérgico do sistema nervoso central). O secundário tem a

causa relacionada a transtornos clínicos, neurológicos, psiquiátricos ou pelo uso ou retirada de

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medicamentos. Segundo este autor, a grande porcentagem desta disfunção é de causa

primária, sendo a prevalência de 3 a 20% da população, acometendo principalmente os

jovens.

2.2 ETIOLOGIA

O papel das interferências oclusais como fator etiológico do bruxismo tem sido

assunto por muitos anos. “Em 1901, Karolyi, postulou que as interferências oclusais eram um

fator importante em combinação com as interferências psíquicas, e observou que mesmo as

interferências oclusais mínimas poderiam ser um gatilho para o rangido dos pacientes

neuróticos” (KAROLYI, 1901, apud DAWSON, 2008, p. 34).

De acordo com Ramfjord e Ash (1984), todas as pessoas possuem um nível variável

de tolerância às interferências oclusais, podendo ser alterado por tensões psíquicas que afetam

a atividade do tônus dos músculos mastigatórios. Assim, o bruxismo pode ser reduzido por

libertação de tensões, demonstrando a forte influência do sistema nervoso central neste caso.

Relataram que o bruxismo é precipitado por fatores combinados: psíquicos e oclusais, e

consequentemente é o mais apto a estar presente em certas ocasiões na vida de uma pessoa.

Para Attanasio (1991), estudos tornam claro não existirem quaisquer relações entre o

bruxismo noturno e as interferências em uma oclusão individual, não podendo ser vistas como

fatores precipitantes desta parafunção, ainda que se considere o esquema oclusal, visando uma

melhor distribuição de forças geradas pela atividade bruxômana. Este autor declarou que por

causa das diferentes definições, metodologias, critérios operacionais e amostras populacionais

usadas nas inúmeras investigações realizadas com o intuito de se determinar à prevalência do

bruxismo entre os indivíduos, os resultados encontrados variam consideravelmente: de 15 a

90% ou mais da população adulta. Embora muitos indivíduos apresentem sinais e sintomas

desta patologia, apenas 5 a 20% da população geral tem consciência de que possui tal hábito

parafuncional.

A causa do bruxismo não está completamente clara, mas considerou existir mais de

um fator responsável por todo ele, seja fatores oclusais ou emocionais (DAWSON, 1993).

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Para Spear (2000), quase todos os indivíduos são susceptíveis ao bruxismo noturno.

Esse coincide com a passagem do sono mais profundo para o mais leve e também é observado

na fase de movimentos rápidos dos olhos (REM). Durante esta parafunção ocorre ativação

bilateral rítmica dos músculos elevadores da mandíbula com contração máxima sustentada na

posição excursiva (lateralidade). Segundo o autor, a teoria mais provável para o bruxismo

noturno seria uma alteração do sono relacionada ao estado emocional do indivíduo, pois

durante períodos relativamente livres de tensões o bruxismo noturno diminui sua atividade.

Kato et al. (2001) associaram o bruxismo às desordens neurológicas, psiquiátricas, ou

relacionadas ao sono, ou ainda, com administração de medicamentos e drogas ou à

abstinência das mesmas.

Lobbezoo e Naeije (2001) pesquisando os fatores etiológicos do bruxismo indicaram

serem esses de origem multifatorial. Para eles, este hábito é regulado principalmente pelo

sistema nervoso central, tendo origens psicológicas e fisiopatológicas mais frequentes. Já as

causas de origem morfológicas são reguladas perifericamente e menos comum. Seus estudos

não documentaram correlações entre alterações oclusais e atividade eletromiográfica

mastigatória em pessoas com bruxismo noturno, dando a entender que os fatores periféricos

não são instrumentais na gênese desta parafunção.

Seraidarian; Assunção e Jacob (2001) concluiram que o bruxismo cêntrico e

excêntrico podem ser apresentados pela maioria da população, em algum momento de suas

vidas, estando associados a alterações emocionais e a outros fatores causais.

Serralta e Freitas (2002) em suas pesquisas avaliaram que os fatores psicológicos,

especificamente a expressão de emoções negativas, estão fortemente relacionadas com essa

patologia, requerendo atenção especial em seu tratamento.

Segundo Molina et al. (2002) sugeriram que o bruxismo é um problema complexo,

tendo a necessidade de levar em consideração fatores ou traços da personalidade.

Dentre uma diversidade de etiologias relacionadas ao bruxismo, Seraidarian et al.

(2002) relataram que o sistema nervoso central parece exercer uma forte influência sobre a

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ocorrência desta parafunção, originando estímulos que possam provocar várias reações

orgânicas, como o aumento das excitações motoras neuromusculares, resultando em

hiperatividade muscular e comportamentos parafuncionais. Mas deixaram claro que o papel

da interferência oclusal não está suficientemente descartado.

Aloé et al. (2003) consideraram o bruxismo diurno e noturno possuirem etiologias

distintas, devendo ser diferenciados porque necessitam de estratégias de tratamento

específicos. Para estes autores o bruxismo diurno é semi-involuntário e sua prevalência é de

20% da população adulta, sendo predominante em mulheres. Já o noturno é igual nos dois

sexos, variando de 3 a 20% da população geral, sendo mais comum nos jovens. Acreditam

existir uma associação de alterações da neurotransmissão aminérgica do sistema nervoso

central, fatores psicológicos, transtornos oclusais e alterações do sono na gênese do bruxismo

noturno. Após estudos realizados sobre esta disfunção, os autores concluiram que a teoria

odontológica da década de 1960, que relatava que os fatores periféricos como a má oclusão

dentária e os fatores mecânicos dentários seriam a base para o bruxismo noturno é controversa

e inconclusiva. Pois, pessoas sem dentes também apresentam registros de ativação da

musculatura mastigatória durante o sono, indicando que o contato de superfícies dentárias não

é um fator causal para o desencadeamento de atividade oromotora durante o sono. Relataram

que o primeiro evento na gênese do bruxismo é a ativação do sistema nervoso central com o

despertar, ativação do sistema nervoso autônomo com aumento da frequência cardíaca e por

último, ativação da musculatura mastigatória e contatos de superfícies dentárias. Desse modo,

não há evidências convincentes de que a teoria do desajuste oclusal seja válida. Concluiram

que alguns indivíduos com tensão emocional continuaram a ranger os dentes mesmo após o

tratamento específico para a má oclusão dentária, reforçando o papel da teoria

comportamental do bruxismo do sono, e que a atividade muscular mastigatória rítmica

durante o sono nos bruxômanos é de três a oito vezes maior do que nos indivíduos normais. A

prevalência de ranger dos dentes é mais elevada em pacientes adultos que vivem sob tensão

emocional, que são superativos, agressivos ou de personalidade compulsiva, sendo que os

pacientes fumantes apresentam um risco aumentando em duas vezes de desenvolverem o

bruxismo noturno.

A etiologia desta parafunção é bastante controversa, complexa e difícil de ser

identificada, informa Cardoso (2003). Geralmente é multifatorial, havendo uma associação de

fatores locais, psicológicos, sistêmicos, ocupacionais e genéticos. Segundo este autor o

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bruxismo noturno ocorre geralmente na fase REM do sono (“Rapid Eye Movements”) ou fase

de “sono ativo” onde há uma irregularidade da frequência cardíaca e da respiração.

Atualmente a oclusão como um fator desencadeador do bruxismo tem pouco ou

nenhum significado para muitos estudiosos e acreditam numa etiologia multifatorial para essa

condição, salientaram Lobbezoo et al. (2004).

Lobbezoo; Van der Zaag e Naeije (2006) afirmaram ser o bruxismo de origem

multifatorial, atuando como parte da resposta do despertar e modulado por neurotransmissores

do sistema nervoso central.

Oliveira et al. (2007) consideraram o bruxismo uma patologia de ocorrência comum,

podendo ser observado em todas as faixas etárias, com prevalência em ambos os sexos, de

etiologia multifatorial, classificada em fatores locais (oclusão traumática, trauma dental,

contato prematuro, restaurações com excesso, erupção atípica da dentição decídua ou

permanente); fatores sistêmicos (deficiências nutricionais, parasitoses, pacientes portadores de

síndrome de down, distúrbios gastrointestinais, descontrole enzimático da digestão, danos

cerebrais mínimos, efeitos secundários a medicamentos); fatores psicogênicos (tensão

emocional, estresse); fatores ocupacionais (práticas de esportes) e fatores hereditários.

Consideraram esta patologia estar associada ao sono REM (rápido movimento dos olhos)

porque os mecano-receptores podem promover alterações no sono, resultando em irritação

central, levando ao bruxismo.

Para Dawson (2008), o ponto crucial deste hábito é uma etiologia em que se devem

considerar os efeitos das interferências oclusais e do estresse psíquico. Pois como explicar os

achados clínicos: alguns pacientes com interferências oclusais pequenas desenvolveram

padrões disfuncionais de dor e outros com interferências grosseiras apenas desenvolveram

sintomas sob estresse. Mas está claro que essas interferências em um paciente com bruxismo

podem ser extremamente danosas. O autor citou essas interferências oclusais como um fator

primário do bruxismo cêntrico, sendo um mecanismo potente para o mesmo, estando o

paciente com estresse ou não. Pois, mesmo o contato prematuro mais insignificante, ativa

altos níveis de atividade muscular que normalizam quando a interferência é eliminada. Já a

causa do bruxismo excêntrico é incerta, não existindo um fator único responsável por ele, e

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que as interferências oclusais, pode desencadear movimentos mandibulares parafuncionais,

que não estavam presentes antes delas serem introduzidas.

De acordo com os estudos realizados por Diniz (2008), o fator etiológico que mais

prevalece sobre o bruxismo é de origem central, pelos mecanismos neurofisiológicos e

neuroquímicos dos movimentos rítmicos mandibulares, relacionados às funções

estomatognáticas. Esta disfunção, em decorrência de alterações centrais dopaminérgicas, pode

resultar do uso de substâncias estimulantes, tendo como propriedade aumentar a atividade do

sistema nervoso central, como a nicotina, anfetaminas, cocaína e cafeína. Assim, sugeriu que,

sendo a dopamina o neurotransmissor de grande participação na gênese do bruxismo noturno,

a cafeína pode influenciar esta parafunção, devido ao seu potencial em alterar este

neurotransmissor.

Le Gall e Lauret (2008) concordaram que o estresse é um fator etiológico do

bruxismo, uma vez que o sistema nervoso central desencadeia uma hiperatividade muscular,

sendo a causa da dor e das disfunções.

Para Lewgoy (2008), o bruxismo ocorre em cerca e 15% da população, tanto em

crianças, como em adultos de ambos os sexos. Segundo este autor, todas as pessoas rangem os

dentes dentro de um padrão de normalidade, mas somente quando este hábito ultrapassa esse

padrão, ou seja, as pessoas apertam seus dentes com força acima de 30% da força máxima de

contração da mandíbula, é considerado um hábito parafuncional. Afirmaram também que o

bruxismo não está associado a problemas mentais ou psiquiátricos, porém o fator emocional é

predominante em 100% dos casos. Concluiu, portanto, que uma pessoa com fator oclusal

desfavorável alto associado a um fator emocional baixo, normalmente não apresentará o

bruxismo, porém, se existir um fator oclusal desfavorável baixo associado a um fator

emocional alto, normalmente ele poderá se manifestar.

Para Maciel (2010), o grau de tensão dos músculos da região da cabeça e pescoço está

diretamente ligado ao sistema nervoso central que quando estimulado gera basicamente

atividades musculares, podendo ser intensas e incoordenadas promovendo o apertamento

(contração isométrica) e rangimento dentário (contração isotônica), levando a entender que o

alto nível de estresse e ansiedade da população é determinante para estas tensões. Concluiu

que o bruxismo do sono é de maior gravidade que o diurno, pois durante o sono os

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paramentos naturais de defesa (propriocepção) não funcionam e assim os efeitos do bruxismo

neste período possam ser os mais destrutivos. O autor observou que uma oclusão estável

reduz as fontes proprioceptivas que excitam o sistema nervoso central, e que a correlação dos

elementos periféricos (oclusão dentária) com excitações neurais que poderiam fazer parte da

gênese do bruxismo é controversa e não suportada pelo nível atual de conhecimento.

Considerou como fatores de risco para o bruxismo: predisposição genética, fatores hormonais,

distúrbios bipolares, menopausa, estimulantes do sistema nervoso central como a cafeína,

bebidas tipo cola, chocolate, álcool e medicamentos antidepressivos como cloridrato de

fluoxetina e sertralina. O bruxismo acomete indivíduos de todas as idades diminuindo a partir

dos 60 anos, informou este autor.

2.3 SINAIS CLÍNICOS E SINTOMAS

2.3.1 Sistema Estomatognático

Ranfjord e Ash (1984) informaram que a ausência ou presença do bruxismo indica

uma reação individual do paciente às suas imperfeições oclusais, ou seja, seus baixos níveis

de tolerância às interferências. A mobilidade dentária relacionada ao bruxismo é significante

quando encontrada em pacientes com doença periodontal, sendo maior durante a manhã.

Outros sinais e sintomas são: hiperemia pulpar, necrose pulpar, hipertrofia unilateral ou

bilateral dos músculos mastigatórios, sensação de cansaço na mandíbula pela manhã, dores de

cabeça, mordidas nos lábios, língua e bochechas, exostoses mandibulares. Os sinais dentários

mais importantes para esses autores são facetas de desgaste nas incisais dos caninos

superiores, que apresentam geralmente arredondadas. Afirmaram que o bruxismo não inicia a

gengivite ou formação de bolsa periodontal, seu papel na etiologia da doença periodontal é

controverso. Mas se ele for causador de trauma oclusal, pode acelerar o processo desta

doença, provocando perda da inserção dos ligamentos periodontais. Concluiram, portanto que

o dano do bruxismo é maior para a coroa dos dentes que para o periodonto e que

radiograficamente o aparecimento de alargamento do espaço periodontal em forma de funil

em direção a crista e ao redor do ápice é sugestivo desta disfunção. Para eles, a maioria dos

pacientes com bruxismo não é consciente deste hábito, podendo desgastar os dentes sem dor

ou som. Assim sem o conhecimento do mesmo, pode resultar em desgaste excessivo.

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Os sinais da atividade bruxômana mais óbvios para Dawson (1993) referem-se ao

espasmo muscular, aos dentes partidos e às restaurações fraturadas. Os músculos masseteres

estão muitas vezes aumentados, chegando a ponto de causar mudanças perceptíveis ao

contorno facial. Essas características parecem desaparecer completamente com cuidadosa

eliminação de interferências oclusais.

Shillingburg (1998) afirmou que em relação aos tecidos periodontais não há provas

que o trauma oclusal produza lesões periodontais primárias, mas a degeneração periodontal

devido a fatores locais será mais grave na presença do bruxismo. Para este autor, a oclusão

manifesta-se com sinais de destruição, como facetas de desgaste severo nas superfícies

oclusais, fraturas de cúspides e mobilidade dentária, onde a capacidade fisiológica de

adaptação do paciente em relação a sua articulação temporomandibular pode ser influenciada

pelos efeitos de tensões psíquicas e emocionais sobre o sistema nervoso central. Pode

observar uma atividade parafuncional como o apertamento dos dentes ou rangimento, assim

uma oclusão normal torna-se patológica.

De acordo com Molina et al. (2000), os pacientes podem ser classificados como não

portadores de bruxismo (0-2 sinais e sintomas), portadores de bruxismo leve (3-5 sinais e

sintomas), portadores de bruxismo moderado (6-10 sinais e sintomas) e portadores de

bruxismo severo (mais de 11 sinais e sintomas). Após análise de vários pacientes

bruxômanos, observam que esses indivíduos são mais tensos, ansiosos e mais incapacitados

pela dor, por isso são usuários de miorrelaxantes e antidepressivos. Consideraram esta

parafunção um dos fatores etiológicos no desencadeamento da inflamação e dor na região

posterior do disco articular.

Para Camparis et al. (2001), os efeitos dos hábitos parafuncionais podem ser

passageiros e sem significância clínica evidente, podendo desaparecer quando o estímulo é

inativado. Entretanto, podem causar microtraumas nas estruturas do sistema estomatognático,

dores musculares, mobilidade dentária, desgaste dental e destruição de trabalhos

restauradores.

O diagnóstico do bruxismo noturno não é simples. De acordo com a Classificação dos

Distúrbios do Sono (ICSD), ele pode ser diagnosticado clinicamente quando houver os

seguintes sinais e sintomas: desgaste dentário anormal, ruídos de ranger de dentes durante o

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sono e desconforto muscular mandibular, podendo o indivíduo apresentar sono de má

qualidade e sonolência diurna. O sintoma mais importante para o diagnóstico do bruxismo é o

relato do paciente ou familiares sobre ruídos do ranger dos dentes. Esses ruídos são

apresentados durante a noite, sendo que 40% dos bruxômanos são assintomáticos. Outros

sinais e sintomas estão presentes como dor orofacial, rigidez mandibular matinal, mialgia,

dores no masseter e temporal, dores de cabeça, cicatrizes de corte na língua, restaurações

brilhantes, apresentando maior risco de desenvolver uma disfunção da articulação

temporomandibular com o decorrer do tempo (ALÓE et al. 2003).

Cardoso (2003) relatou que os sinais clínicos e sintomas deste hábito dependem de sua

frequência, intensidade, duração e idade do paciente. Informou que as facetas de desgastes

dentários inferiores devem contatar-se com as facetas superiores, podendo atingir o esmalte, a

dentina e até polpa, ocorrendo pulpite ou necrose. Podem causar alteração da dimensão

vertical, fraturas de dentes, fraturas radiculares e crepitações articulares. Radiograficamente, o

bruxismo apresenta-se com alterações da lâmina dura, aumento do espaço do ligamento

periodontal, rarefação do osso alveolar, reabsorção da crista alveolar, exostoses alveolares,

calcificações pulpares, hipercementoses, reabsorções radiculares e radioluminescência apical.

Para este autor, as sequelas deste ato sobre o periodonto depende da sua capacidade de

compensar a tensão aumentada, das estruturas periodontais como o aumento do espaço

periodontal. Caso essas alterações não ocorram, serão observadas mobilidades dentárias. Os

sintomas mais presentes são dores de cabeça, cansaço, miosites, desconforto na mastigação,

travamento mandibular, dor à palpação da musculatura, dor e rigidez cervical,

hipersensibilidade dentinária e sensibilidade radicular

. Afirmaram Oliveira et al. (2007) que no exame local do bruxômano cêntrico, pode

ser identificado o encremento da linha alba ao longo da mucosa julgal e a edentação das

bordas laterais da língua, por causa das forças aplicadas durante o dia ou à noite. Relatam que

o esmalte é a primeira estrutura a receber a carga parafuncional do bruxismo, sendo o

desgaste anormal dos dentes o sinal mais frequente desta patologia, atingindo principalmente

os dentes anteriores, resultando em sensibilidade dentinária, redução excessiva da altura da

coroa clínica e às vezes diminuição da dimensão vertical de oclusão. A mobilidade também

está presente, mesmo com o periodonto sadio e de altura normal, resultado da sobrecarga

oclusal, pois a largura do espaço periodontal aumenta em ambos os lados dos dentes sem que

haja inflamação do ligamento.

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O bruxismo para Dawson (2008) está relacionado a restaurações fraturadas, desgastes

por atrição, exostoses alveolares, recessão do tecido gengival, abfrações e dores musculares.

Esta parafunção apresenta um chiado noturno e profundo mantendo muitos cônjuges

acordados. Um dos aspectos mais singulares do bruxismo é o paciente geralmente não está

ciente deste hábito.

Ballone (2009) citou que fisiopatologicamente, o esmalte dentário é o primeiro a

receber os prejuízos do bruxismo, e o desgaste anormal dos dentes é o sinal mais frequente da

anomalia funcional, sendo mais severo nos dentes anteriores. Destacou que este hábito não é

necessariamente uma doença, mas sim uma disfunção, sendo possível que alguns portadores

do bruxismo não tenham maiores consequências para o sistema mastigatório .

Maciel (2010) informou que nos dentes naturais, ele está associado a erosões cervicais,

abfrações, fraturas recorrentes de dentes e restaurações, hipertrofia muscular do masseter,

lesões de tecido mole (língua e bochecha), alteração da dimensão vertical de oclusão, dores

orofaciais, transtornos otológicos (zumbido e vertigens), inflamação das glândulas salivares e

disfunções da articulação temporomandibular. Os efeitos podem alcançar a musculatura do

pescoço e influenciar a postura de todo o corpo.

2.3.2 Próteses Dento-suportadas e Implanto-suportadas

Em estudo realizado por Zhiyong et al. (2004) revelaram que o estresse em torno de

um implante é maior que aquele ao redor de um dente. Isso porque quando a carga vertical é

aplicada sobre uma prótese dento-implanto-suportada, esta carga é suportada principalmente

pelo implante.

Segundo Lobbezoo et al. (2006), o bruxismo produz cargas oclusais excessivas sobre

os implantes dentais e em suas sobre-estruturas, pode resultar na perda óssea ao seu redor,

levando à falha do implante. Neste sentido, consideram a mastigação como uma carga

funcional aplicada sobre os implantes, enquanto o bruxismo uma sobrecarga. Ainda de acordo

com esses pesquisadores, um agravante às cargas aplicadas sobre os implantes se dá pelo fato

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de que a propriocepção ao seu redor é limitada pela ausência do ligamento periodontal,

restringindo os mecanismos de feedback proprioceptivos dos músculos da mastigação.

Lobbezoo; Van der Zaag e Naeije; (2006) concordaram que o bruxismo não deve ser

encarado como contra-indicação conclusiva para a colocação de implantes e de próteses fixas

implanto-suportadas, mas sim representar um fator condicionante, afetando diretamente o

plano de tratamento a ser instituído, visto que não existem comprovações científicas para tais

sugestões, baseadas somente em experiências clínicas. Entretanto, em alguns casos

específicos, pode ser um fator decisivo na contra-indicação dessas próteses.

Van der Zaag et al. (2007) citaram a reabsorção óssea e a fratura do implante como

alguns dos danos sofridos pelo elemento implanto-suportado em pacientes bruxômanos.

Afirmam ainda que as forças parafuncionais aplicadas sobre os dentes e/ou implantes podem

ter repercussão no local de aplicação da carga, nos tecidos de suporte ou à distância,como nos

músculos e nas articulações, sendo as causas mais comuns da perda prematura de implantes,

fraturas de próteses e perda da osseointegração.

Souza; Takamori e Lenharo (2009) concluíram através de pesquisas que a presença de

sobrecarga oclusal por hábitos parafuncionais e tabagismo parecem interferirem no processo

de osseointegração, principalmente quando associados, havendo necessidade de estudos mais

específicos para confirmar tal hipótese.

Maciel (2010) relatou que os receptores periodontais (terminações nervosas) têm papel

fundamental na limitação das forças parafuncionais derivadas do bruxismo, pois estes

receptores estão envolvidos no controle da força de mordida, inibindo a atividade muscular no

momento do contato dental, principalmente quando os dentes tocam em um objeto duro e

estranho.Os implantes osseointegrados, ao contrário dos dentes naturais, não possuem esses

receptores, pois são unidos diretamente ao osso, descarregando tensões e atritos nos próprios

implantes e no osso de suporte, gerando desgaste das estruturas, fratura dos implantes e

afrouxamento dos seus parafusos. Concluiu que a força derivada do bruxismo é

potencialmente a mais danosa aos implantes - numa escala de 1 a 10, recebe 10.

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2.4 TRATAMENTO

A odontologia restauradora estaria indicada quando uma oclusão estável não pode ser

estabelecida apenas com o ajuste oclusal. Já a terapêutica sistêmica como; analgésicos,

antiinflamatórios, tranquilizantes e relaxantes musculares, teriam indicação com o objetivo de

eliminar temporariamente espasmos musculares dolorosos, proporcionando ao dentista obter

um diagnóstico preciso. Essas drogas, baixando a tensão psíquica, podem ter ação temporária,

retornando o bruxismo tão logo elas sejam removidas (RAMFJORD e ASH, 1984).

Dawson (1993) propos a correção oclusal por meio de um criterioso ajuste, a fim de

reduzir ou eliminar o bruxismo.

A terapia por placas ressaltou Santos Jr. (1995), tem o objetivo de distribuir as forças

traumáticas e controlar seus efeitos. A resina termopolimerizável é o material mais indicado,

pois possui densidade suficiente para manter contatos oclusais estáveis. Citou ainda que o

cirurgião-dentista não deve prometer a cura para o bruxismo através do uso de uma placa.

Spear (2000) reconheceu existir múltiplas etiologias para o comportamento do

bruxismo, contudo, antes de iniciar quaisquer tratamentos restauradores definitivos, deve-se

diagnosticar qual a influencia da oclusão na atividade parafuncional de cada paciente,

observando sua severidade, magnitude e direção. Segundo este autor, o aparelho oclusal

removível (placa) é talvez o método mais simples para analisar o papel da oclusão no

comportamento do bruxismo.

Misch (2000) indicou o uso de um protetor noturno para os pacientes bruxômanos,

reabilitados com prótese fixa, transferindo o elo mais fraco de um sistema, para um aparelho

de acrílico removível. Na implantodontia, uma vez identificado às fontes de força adicional

sobre o sistema de implante, o planejamento deve ser alterado, aumentando a área de

superfície do implante/osso, colocação de implantes adicionais, junto com o aumento na

largura e/ou altura dos mesmos. O uso de mais implantes reduz o número de pônticos, bem

como a mecânica e esforços associados na prótese, dissipando as tensões com mais eficácia na

estrutura óssea.

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Aloé et al. (2003) sugeriram quatro tipos de tratamentos odontológicos: ajuste oclusal;

restaurações dentárias com colocação de coroas, pontes, etc..., ortodontia e uso de dispositivos

intra orais. As placas oclusais têm o objetivo de aliviar a dor e a prevenção de lesões nas

estruturas orofaciais e na disfunção da articulação temporomandibular. Várias drogas já foram

propostas para o tratamento farmacológico, mas existem poucos estudos controlados que

avaliem sua eficácia. Esses autores concordaram com um tratamento comportamental de

acordo com o perfil do portador, incluindo mudança no estilo de vida e manejo do estresse.

Segundo Cardoso (2003), a terapêutica para o bruxismo deveria estar voltada para

reduzir a tensão psicológica do individuo, tratar os sinais e sintomas como: desgaste da

estrutura dentária, as algias musculares e minimizar a irritação oclusal. Podendo exigir

atendimento multidisciplinar: odontólogo; médico; psicólogo; terapêuta e fonoaudiólogo. Na

parte restauradora, este autor relatou que qualquer material pode ser utilizado para reconstruir

dentes nos bruxômanos, o importante é profissional estar consciente que se trata de pacientes

com hábito altamente destruidor, podendo seu trabalho ter menor longevidade do que nos

pacientes sem esta disfunção. Recomendou após qualquer intervenção, o uso de placas

oclusais como meio de proteção das estruturas dentárias e protéticas.

Dekon et al. (2003) sugeriram que devido as constantes sobrecargas funcionais

impostas aos casos de reabilitação oral em pacientes portadores de parafunção severa, o

período entre consultas de controle deve ser reduzido.

“Alguns procedimentos são usados para minimizar as forças, tanto funcionais como

parafuncionais sobre implantes, através de um planejamento adequado em relação à colocação

de um maior número de implantes, alinhamento e posição adequada, uso de implantes longos

e de maior diâmetro, controle da oclusão e o desenho apropriado das próteses, evitando

cantileveres e contatos oclusais laterais. A tendência de contatos posteriores durante os

movimentos laterais num evento do bruxismo do sono e consequentemente um aumento das

forças, tem sido um fator contribuinte para as fraturas dos implantes. A oclusão bilateral em

balanceio deve ser modificada, com desoclusão posterior, prevenindo contatos laterais, que

possam induzir a inclinação do implante. (TOSUN et al., 2003 apud CHAGAS et al., 2006,

p.32)”.

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Lobbezoo; Van der Zaag e Naeije (2006) indicaram a colocação de implantes em

maior número, maior diâmetro e a melhor localização dos mesmos, com a finalidade de

minimizar as consequências deletérias de forças parafuncionais, sugerindo também a

colocação de uma placa como proteção.

Para Oliveira et al. (2007), a conduta do cirurgião dentista frente ao paciente com

bruxismo deve estar voltada para reduzir a tensão psicológica, tratar os sinais, sintomas e

minimizar a irritação oclusal. O ajuste oclusal é indicado para amenizar os riscos de fraturas

geradas pelo apertar ou ranger dos dentes. Já o controle da sobrecarga muscular e atrição

dental podem ser atingidos com uso de placas de acrílico com superfícies rígidas. Nos casos

de desgastes severos na região anterior deve-se determinar ou restabelecer a dimensão vertical

de oclusão, salientam estes autores. A escolha do material restaurador dependerá das

características do trabalho; em cavidades pequenas podem-se utilizar materiais restauradores

convencionais; em uma reabilitação com próteses, a superfície oclusal em cerâmica pode não

ser o material de eleição, pois é dura, friável, além de ser mais resistente que o esmalte

dentário, o que acarretaria desgaste excessivo quando em oclusão com os dentes naturais. O

material de escolha nestes casos deve ser o ouro, por sua maleabilidade e capacidade de

receber forças.

Van der Zaag et al. (2007) sugeriram proceder de forma cautelosa ao se planejar o

tratamento a ser instituído, propondo a utilização de uma placa de proteção, a fim de reduzir

os riscos de falhas dos implantes e/ou dos trabalhos protéticos.

De acordo com os estudos de Dawson (2008), os bruxômanos representam os desafios

mais difíceis na odontologia restauradora, sendo que a dificuldade aumenta com a severidade

do desgaste produzido, não existindo um tratamento único que seja efetivo para eliminar ou

reduzir o bruxismo. Mas, independente da causa ser o estresse ou os gatilhos oclusais, a

oclusão sempre deveria ser ajustada. Autores indicaram o uso de placas oclusais, se houver

desgaste excessivo, e uso de um dispositivo individual (BITE STRIP), para medir a existência

e freqüência do bruxismo diurno ou noturno.

Como tratamento, o melhor é fazer um diagnóstico adequado, aceitando que o

bruxismo vem do nada, tentando achar suas causas no dia-a-dia, salientou Lewgoy (2008),

cortando a tensão psicológica e o estresse. Para este autor o bruxismo noturno é o mais

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comum, estando associado ao sono inadequado, tanto em qualidade como em quantidade.

Muitas vezes, é necessária a utilização de placas de relaxamento, para aliviar a sintomatologia

e desprogramar a mordida e o hábito adquirido. Podendo ser necessário um ajuste fino da

articulação dental através de aparelhos ortodônticos, ortopédicos ou através de desgastes

seletivos.

A odontologia tem optado pela utilização de uma placa estabilizadora de resina

acrílica respeitando os conceitos de máxima estabilidade mandibular em relação cêntrica e

movimentos excêntricos harmoniosos através de guias especificas (protusiva e canina). A

placa teria como função proteger os dentes e demais componentes do sistema mastigatório

durante as crises noturnas do bruxismo, além de reduzir a atividade elétrica de músculos

elevadores da mandibula como o masseter e temporal, reduzindo a atividade tensional

(BALLONE, 2009).

Tradicionalmente, o bruxismo é controlado por aparelhos oclusais (protetores

noturnos), construídos com estabilidade e critérios funcionais, informou Maciel (2010).

Existem outras estratégias terapêuticas como medicamentos alopáticos, naturais, laser;

bloqueio infiltrativo; biometria funcional e hipnose. As placas de proteção são preconizadas

para o uso noturno, entretanto à medida que gerem conforto e bem estar, os pacientes tem

liberdade para usá-las à vontade, salvo limitações de fonética e estética, sendo o tempo de

utilização indeterminado. Este autor indicou o uso de Bite Strip, dispositivo descartável e

portátil, usado para o diagnóstico do bruxismo, utilizando o registro eletromiográfico (EMG)

da atividade muscular do masseter como indicador do apertamento dos dentes durante o sono.

Segundo este autor, os implantes podem ser aplicados em pacientes bruxômanos, desde que

suportados por estratégias específicas de proteção, sendo o grau de bruxismo o principal

critério a se avaliar, atingindo metas de controle dessa parafunção. Nos casos de carga

imediata onde à finalidade básica é a estética, existindo dentes remanescentes que possam

suportar a estabilidade cêntrica e guiar os movimentos mandibulares, a restrição relacionada

ao bruxismo é nula. Já as reabilitações completas apresentam um grau de dificuldade maior.

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3 DISCUSSÃO

Os hábitos parafuncionais em geral são altamente deletérios ao sistema

estomatognático, dentre eles está o bruxismo. Esta parafunção segundo Lewgoy (2008) e

Maciel (2010) acomete em média 20% da população, tanto em crianças como adultos de

ambos os sexos, sendo considerada um tema de grande repercussão e impacto na sociedade

moderna, devido aos danos causados às estruturas dentárias, podendo levar à sua perda total.

Compreende-se que o bruxismo seja um tema aberto e não um fenômeno isolado, devendo ser

analisado em suas diversas implicações e inter-relações com outras disciplinas, para que o

esforço conjunto possa obter resultados positivos e proporcionar maior conforto estético e

funcional para o paciente..

O bruxismo apresenta uma classificação diversificada, Lewgoy (2000), Misch (2000);

Cardoso (2003) e Lobbezzo et al. (2004) fizeram uma classificação baseada no momento de

sua ocorrência, diurno e noturno, afirmando que esta parafunção apresenta intensidade

variável, atuando consciente ou inconscientemente, promovendo ruídos ou não, rangendo,

desgastando ou apertando os dentes, contudo observa-se que o noturno é o mais prejudicial

para os indivíduos. Já Ramfjord e Ash (1984); Seradariam et al. (2001); Cardoso (2003) e

Dawson (2008) o classificaram como cêntrico e excêntrico, mas afirmaram que o excêntrico

tende a ocorrer com maior frequência durante a noite, concordando com sua ação deletéria.

Entretanto, Aloé et al. (2003) e Maciel (2010) mantém o mesmo pensamento com relação à

forma de manifestação, porém eles apresentaram uma classificação mais abrangente,

relacionando-o com os fatores predisponentes; afirmando serem o mesmo primário (ocorre

por predisposições genéticas, psicológicas e de má oclusão dentária), e secundário (ocorre por

transtornos clínicos, psiquiátricos, distúrbios do sono, administração ou abstinência de

medicamentos e drogas), sendo que estes autores observaram que a maioria dos casos

apresentava origem primária.

Com relação à etiologia os autores são unanimes em afirmar ser o ponto mais

controverso desta parafunção, ela é considerada multifatorial, estando intimamente

relacionado ao nível de estresse e ansiedade da população, fator este determinante para estas

tensões, promovendo hiperatividade e rangimento dentário (ATTANASIO, 1991; DAWSON,

1993; KATO et al., 2001; LEWGOY, 2008; MACIEL, 2010).

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Spear (2000); Kato et al. (2001); Lobbezzo e Naeye (2001); Cardoso (2003);

Lobbezzo et al. (2004); Lobbezzo, Van Der Zaag e Naeije (2006); Oliveira et al. (2007);

Diniz (2008); Legall e Lauret (2008) e Maciel (2010) foram unânimes em afirmarem não

existir relação direta entre bruxismo e as interferências oclusais como fator predisponente

desta parafunção. A linha de pensamento mais provável para a gênese do bruxismo seria

multifatorial, originada e regulada pelo sistema nervoso central, de origens psicológicas e

fisiopatológicas, influenciadas por fatores nutricionais, medicamentosos, fatores hereditários e

certas doenças, onde o sistema nervoso desencadearia uma hiperatividade muscular causando

dor e disfunção. Estudos realizados por Alóe et al. (2003) explicaram bem esta hipótese; em

uma pesquisa sobre atividade musculatória facial durante a noite, observaram que durante o

sono a ativação do sistema nervoso autônomo leva em primeiro lugar a movimentos

mandibulares com ou sem a presença de elementos dentários, desvinculando as alterações

oclusais com o bruxismo. No entanto, nas considerações de Seraidarian et al. (2002); Oliveira

et al. (2007) e Dawson (2008) eles mantiveram o papel das interferências oclusais na etiologia

do bruxismo.

Alguns autores como Molina et al. (2002); Serralta e Freitas (2002) e Lewgoy (2008)

associaram o bruxismo a fatores de personalidade do indivíduo, podendo aparecer em

qualquer momento de sua vida. Outros pesquisadores relacionaram o bruxismo do sono às

desordens neurológicas, psiquiátricas e aos distúrbios do sono, podendo ser agravadas pelo

consumo de álcool, cafeína, nicotina, cocaína e certos medicamentos como a anfetamina,

sertralina e fluoxetina, devido ao seu potencial em alterar os níveis dos neurotransmissores

(KATO et al., 2001; DINIZ, 2008; MACIEL, 2010).

Conforme os estudos de Lewgoy (2008) todas as pessoas rangem os dentes dentro de

um padrão de normalidade, nao significando serem todos portadores de parafunção, isto irá

ocorrer se os indivíduos apertarem seus dentes numa força acima de 30% da força máxima de

contração da mandíbula.

De acordo com Spear (2000); Cardoso (2003) e Oliveira et al. (2007) o bruxismo do

sono ocorre durante a fase REM, fase de sono profundo, onde os mecanos-receptores podem

promover alterações no sono resultando em irritação central, levando a esta disfunção.

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Ramfjord e Ash (1984); Shillingburg (1998); Oliveira et al. (2007); Ballone (2009)

afirmaram que o diagnóstico do bruxismo é complexo. Segundo a Classificação dos

Distúrbios do Sono (ICSD), ele é identificado clinicamente quando houver os seguintes sinais

e sintomas: hipertrofia dos músculos mastigatórios, principalmente o masseter, cansaço

mandibular pela manhã, sono de má qualidade e sonolência diurna; outros sinais estão

presentes como necrose pulpar, lesões de tecido mole, exostoses mandibulares, dentes e

restaurações fraturadas, alteração da dimensão vertical, abfrações, hiperemia pulpar. Alóe et

al. (2003) e Maciel (2010) citaram ainda transtornos otológicos (vertigens e zumbidos),

alterações nas articulações temporomandibulares, inflamação das glândulas salivares e dores

cervicais, podendo essas atingir todo o corpo, cicatrizes de corte na língua e restaurações

brilhantes.

Ramfjord e Ash (1984); Alóe et al. (2003) e Dawson (2008) enfatizaram que o relato

do paciente e de seus familiares é essencial para o diagnóstico, pois se sabe que 40% dos

bruxômanos são assintomáticos, não sendo conscientes deste hábito, e assim não se

preocupando em buscar tratamento específico, dos efeitos deletérios ao sistema

estomatognático.

Segundo Ramfjord e Ash (1984); Shillingburg (1988) não existem provas que

confirme ser o bruxismo indutor de lesões primárias no periodonto, mas sim um agravante

desta doença.

Já no contexto das reabilitações, os autores de forma geral não contra indicam

nenhuma forma de tratamento. Santos Jr (1995); Misch (2000); Spear (2000); Van Der Zaag

et al. (2007); Lewgoy (2008); Ballone (2009) e Maciel (2010) são unanimidades em

afirmarem que todas as reabilitações devem ser planejadas de forma cautelosas, tanto

dentárias como implanto-suportadas, tendo o cuidado de propor uma placa de proteção em

acrílico com superfície rígida para minimizar os efeitos deletérios sobre os dentes e implantes,

controlando a sobrecarga muscular. Nas reabilitações dentárias existem sugestões como o de

Oliveira et al. (2007) que nos casos de grandes desgastes dos dentes anteriores deve-se buscar

determinar ou restabelecer a dimensão vertical de oclusão; quanto aos materiais, estes são os

convencionais, de acordo com cada caso. Em reabilitações com próteses fixas, estes autores

sugerem o uso do ouro nas superfícies oclusais, por sua maleabilidade e capacidade de receber

forças, já nas reabilitações com implantes Zhiyong et al. (2004); Lobbezoo at al. (2006); Van

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Der Zaag et al. (2007) e Maciel (2010) afirmaram que o bruxismo é potencialmente mais

danoso, podendo produzir cargas oclusais excessivas maiores que nos dentes, levando à perda

óssea ao seu redor, fratura dos implantes, afrouxamento de seus parafusos e até a sua perda,

principalmente pela ausência do ligamento periodontal, o qual restringe o mecanismo de

feedback proprioceptivo dos músculos mastigatórios. Nestas reabilitações os autores não

contram-indicam, mas sugerem a colocação de um maior numero de implantes, implantes

longos, com maior diâmetro e um desenho apropriado das próteses, procurando evitar

cantilever, principalmente distais, contatos oclusais laterais e buscar manter um bom controle

da oclusão. Devendo-se procurar avaliar o grau de severidade de cada caso, tendo cuidado

maior com as cargas imediatas, quando ocorrer este caso e existir dentes remanescentes, que

estes possam suportar a estabilidade cêntrica e guiar os movimentos mandibulares. Nos casos

de reabilitações completas, buscar ter mais cautela, pois o grau de dificuldade é maior

(TOSUN et al., 2003 apud CHAGAS et al., 2006, P. 32; LOBBEZOO; VAN DER ZAAG e

NAEIJE, 2006).

A etiologia complexa do bruxismo paralelamente com a falta conclusiva de

diagnóstico promove controvérsias sobre o tratamento desta parafunção, afirmaram Ramfjord

e Ash (1984) e Spear (2000). Para estes autores o melhor tratamento influi tanto sobre os

fatores psíquicos e oclusais, devendo avaliar o limiar de tolerância do paciente relativo aos

sinais da disfunção.

Segundo Molina et al. (2000); Spear (2000); Cardoso (2003); Dawson (2008); Lewgoy

(2008) e Maciel (2010), o tratamento do indivíduo bruxômano é um desafio, devendo ser

multidisciplinar: atuando odontologia, medicina, psicologia e fonoaudiologia, avaliando-o

como um todo, preocupando em eliminar as tensões emocionais, problemas sistêmicos, sinais

e sintomas, buscando solucionar cada caso de acordo com sua severidade. Para Ramfjord e

Ash (1984); Alóe et al. (2003); Oliveira et al. (2007) e Dawson (2008), a conduta do cirurgião

dentista frente ao paciente com bruxismo deve estar voltada para tratar os sinais, sintomas e

minimizar a irritação oclusal, através do ajuste oclusal, indicado para amenizar os riscos de

fraturas, geradas pelo apertar ou ranger dos dentes.

Segundo Dekon et al. (2003) independente do tipo de reabilitação, os pacientes

portadores de parafunção devem ter o período entre consultas de controle reduzido, e como

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tratamento auxiliar para o bruxismo, Maciel (2010) sugere o uso de medicamentos alopáticos,

laser, bloqueio infiltrativo, biometria funcional e hipnose.

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4 CONCLUSÕES

Com base na literatura consultada, conclui-se que:

- O bruxismo é um distúrbio periódico, inconsciente, decorrente da contração rítmica dos

dentes, podendo ser cêntrico (apertamento) ou excêntrico (rangimento), durante o dia ou à

noite. Regulado pelo sistema nervoso central, com origens psicológicas e fisiopatológicas,

podendo não ter relação direta com a oclusão dentária.

- O bruxismo não é considerado contra-indicação para as reabilitações orais com próteses

implanto-suportadas ou próteses dento-suportadas, desde que se tenha um diagnóstico correto

e um planejamento adequado e específico para cada caso.

- uso de placas rígidas de acrílico é indicado como proteção de fraturas e desgastes excessivos

das estruturas dentais e protéticas, bem como acompanhamento multidisciplinar para atuar

nos fatores sistêmicos e psicogênicos.

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