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PLANO DE SAÚDE E A APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
HEALTH PLAN AND THE APPLICATION OF THE CONSUMER DEFENSE CODE
Renata Rossi Pitas – Graduanda em Direito – UniSALESIANO [email protected]
Prof. Me. Danilo César Siviero Ripoli – UniSALESIANO Lins [email protected]
___________________________________________________________________
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo demonstrar o direito à saúde suplementar e sua relação como o Código de Defesa do Consumidor. Para tanto, foi tratada da legislação específica dos planos e seguros privados de assistência à saúde (Lei nº 9.656/98) e sua compatibilidade com as disposições protetivas do Código de Defesa do Consumidor, ressaltando a aplicação desta lei nas situações conflitantes entre operadoras e usuários. Ao final, o trabalho procurou tratar de situações concretas e corriqueiras no cotidiano de aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos temas planos não regulamentados, reajustes anuais da mensalidade, reajustes por faixa etária, carências e coberturas temporárias, ressaltando nestes casos específicos o entendimento jurisprudencial prevalente.
Palavras-chave: DIREITO À SAÚDE. SAÚDE SUPLEMENTAR. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
ABSTRACT
The present study aims to demonstrate the right to supplementary health and its relation as the Code of Consumer Protection. To this end, it was dealt with in the specific legislation of private health insurance plans and insurance (Law No. 9,656 / 98) and its compatibility with the protective provisions of the Consumer Protection Code, emphasizing the application of this law in situations of conflict between operators and users . In the end, the work sought to deal with concrete and mundane situations in the day-to-day application of the Consumer Protection Code to unregulated plans, annual readjustments of the monthly rate, readjustments by age group, shortages and temporary coverages, highlighting in these specific cases the jurisprudential understanding Prevalence.
Keyword: HEALTH LAW. SUPPLEMENTAL HEALTH. CONSUMER PROTECTION CODE
Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016
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INTRODUÇÃO
O surgimento das operadoras de planos de saúde no Brasil se deu em razão
da ineficiência estatal na gestão da saúde pública.
Com o aumento considerável da oferta de planos de saúde, iniciaram-se
conflitos entre consumidores e operadoras, razão pela qual surgiu a necessidade da
intervenção, ou seja, da regulação estatal.
A regulação genérica da relação entre operadoras e consumidores era
baseada no Código de Defesa do Consumidor, porém foi necessário um regramento
específico devido as confusões e inseguranças jurídicas que começaram a existir.
Foi em 1998 que o Congresso Nacional aprovou a Lei nº 9.656, onde trouxe a
restrição da liberdade das operadoras e ampliação da cobertura mínima a ser
oferecida. Trata-se de uma lei bem extensa, sendo que o objetivo deste trabalho
será focar em alguns aspectos mais relevantes desta norma e os conflitos existentes
entre a mesma e o Código de Defesa do Consumidor. Apesar de atualmente as
operadoras possuírem uma lei especial que as regulamenta e as fiscaliza
rigorosamente, existe o conflito com o Código de Defesa do Consumidor onde
protegeria o consumidor somente na omissão desta Lei, mas que está atuando o
tempo todo em proteção ao consumidor.
Os conflitos quando existentes são solucionados pelo poder judiciário, que
decide qual lei prevalecerá.
Para a elaboração do presente trabalho, a metodologia utilizada consistiu no
levantamento bibliográfico e jurisprudencial sobre o assunto.
1 A APLICABILIDADE DA LEI Nº 9.656/98 EM CONJUNTO COM O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
Diante da ineficiência da saúde pública no Brasil, o ramo da saúde
suplementar passou a ter grande relevância no país, traduzindo num mercado muito
grande, que gera inúmeros conflitos entre as operadoras de saúde e o usuário.
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Em 1998 foi criada a Lei nº 9.656, que buscou garantir o atendimento aos
beneficiários de planos de saúde, com ênfase no compromisso com a qualidade dos
serviços prestados.
A aplicação do Código de Defesa do Consumidor nas relações entre planos
de saúde e seus consumidores é fundamental para preencher as lacunas, regulando
relevantes questões que não foram cuidadas pela legislação específica, ou seja, Lei
nº 9.656/98.
O presente artigo irá trazer casos recorrentes nas relações entre operadora e
consumidor, onde a aplicação da Lei nº 9.656/98 é mitigada e em alguns casos não
observada, em decorrência das normas protetivas do Código de Defesa do
Consumidor.
Dezenas de casos específicos poderiam ser tratados, no entanto, para não se
tornar um trabalho extenso e exaustiva sua leitura, será tratado os principais, ou
seja, os que são diariamente debatidos na mídia e julgados pelos nossos tribunais.
1.1 Planos não regulamentados.
O artigo 35 da Lei nº 9.656/98, dispõe que sua aplicação abrange todos os
contratos celebrados a partir de sua vigência, assegurada aos consumidores com
contratos anteriores, bem como aqueles com contratos celebrados entre 2 de
setembro de 1998 e 1º de janeiro de 1999, a possibilidade de optar pela adaptação
ao sistema previsto na referida lei, que dispõe sobre planos e seguros privados de
assistência à saúde. Tal adaptação conforme discorrem os parágrafos do artigo 35
da Lei dos planos de saúde, deverá ser formalizada em termo próprio, assinado
pelos contratantes, de acordo com as normas a serem definidas pelas Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS):
A partir de 01.01.1999 os contratos anteriores ficaram mantidos como foram pactuados, desde que o consumidor não atendesse ao comunicado de que a adaptação oferecida pela operadora tinha sido aceita, com o pagamento do novo valor da mensalidade, submetida à fiscalização posterior da ANS, segundo a disposição do § 2º do art. 35 da Lei 9.656. A ANS pode requisitar das operadoras as planilhas de custos incluindo os valores das modificações dos contratos novos, obedecendo aos novos padrões estabelecidos pela Lei 9.656 e com base nestas informações ordenar sua alteração quando o novo custo da mensalidade não estiver justificado. (BOTTESINI; MACHADO; 2015, p. 331).
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E para que os consumidores não sejam prejudicados em relação as
carências, o § 3º deixa explicito que a adaptação não implicará nova contagem dos
períodos de carência e dos prazos de aquisição dos benefícios previstos nos arts. 30
e 31 da mesma Lei.
Diante das informações acima, a adaptação não prejudicará o consumidor em
relação as suas carências já cumpridas. Nestes termos doutrinam Maury Angelo
Bottesini e Mauro Conti Machado:
A regulamentação da ANS para a adaptação dos contratos aos termos da Lei 9.656 de 1998, provocou o surgimento do que se convencionou chamar de “novos direitos”. São tantas as normas regulamentares que algumas se desprendem da legislação básica e acabam impondo às operadoras de planos e seguros privados de assistência à saúde algumas obrigações que ultrapassam os limites da legislação, tanto daquela que disciplina a atividade das operadoras como da que limita o poder regulatório da ANS. (BOTTESINI; MACHADO, 2015, p.334)
Após a Lei nº 9.656/98, tornou-se facultativo aos beneficiários a opção de
optar por um plano regulamentado, o qual alguns consumidores optaram por não
regulamentar seu plano, pelo fato do encarecimento de suas mensalidades, devido
as mudanças proporcionadas com o advento da Lei nº 9.656/98, já que com a
regulamentação houve aumento no rol de coberturas atendidas e
consequentemente, do preço dos serviços prestados, sob pena de ocorrer um
desequilíbrio financeiro que prejudicaria as prestadoras de saúde suplementar.
Afinal, a legislação deu o direito à opção para beneficiar a parte mais fraca
dessa relação, que é o consumidor, portanto para aqueles usuários que optaram a
permanecerem nos planos antigos, deverão ser aplicadas as disposições garantistas
do Código de Defesa do Consumidor para exigir seus direitos:
A desvantagem de ficar com o contrato antigo é que, em muitos casos, será necessário recorrer à justiça, o que pode ser custoso e demorado. Mas a possibilidade de vencer, em face de um abuso do plano de saúde, é grande. Para ilustrar a questão, imagine um consumidor que decide ficar com o seu plano antigo, que prevê exclusão de cobertura para cirurgia cardíaca. Se ele necessitar de uma cirurgia cardíaca, é certo que a empresa irá negar atendimento. Como ele não possui o contrato nos termos da nova lei, terá de recorrer à Justiça para fazer valer seu direito, baseando se no Código de Defesa do Consumidor. A batalha nos tribunais não é prazerosa, mas, pelo retrospecto da atuação da Justiça, há grande chance de o usuário ver seu direito reconhecido. (SALAZAR; RODRIGUES; SILVER; DOLCI, 2001, p. 14)
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Entretanto, quando há conflitos contratuais em relação a exposição da saúde
e vida de um consumidor, irá prevalecer o bem mais precioso que é a vida e saúde
do consumidor, até porque o objeto do contrato firmado entre as partes é garantir à
assistência à saúde. A aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos planos
não adaptados, autorizando a realização de procedimentos de saúde específicos
aos planos regulamentados tornou-se uníssona em nossos tribunais, conforme
ementa abaixo:
PLANO DE SAÚDE Exclusão de exame de mamotomia por estereotaxia - Descabimento - Se coberta a doença, estará coberto o tratamento -Incompatibilidade lógica na redação do contrato que se resolve a favor do consumidor Rol de atendimentos da ANS que é mera referência. DANO MORAL - Inocorrência - Negativa de cobertura contratual que, por si só, não dá causa àquela modalidade de vilipendio - Ausência de prova de ofensa anormal à personalidade da paciente -Dissenso contratual Precedentes. Recursos desprovidos. (TJ-SP - APL: 190160920098260362 SP 0019016-09.2009.8.26.0362, Relator: Roberto Solimene, Data de Julgamento: 17/03/2011, 6ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 30/03/2011).
Ademais, por se tratar de contrato sucessivo ou de execução continuada, a
Lei nº 9.656/98, que é de ordem pública, aplica-se imediatamente à espécie,
juntamente como o Código de Defesa do Consumidor, conforme Súmula nº 100 do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo:
Súmula 100: O contrato de plano/seguro saúde submete-se aos ditames do Código de Defesa do Consumidor e da Lei n. 9.656/98 ainda que a avença tenha sido celebrada antes da vigência desses diplomas legais.
1.2 Reajustes anuais
Nos contratos novos individuais/familiares, o reajuste anual deve ser
aprovado pela ANS e previsto no contrato. No caso dos contratos antigos, ou seja,
firmados até 31/12/1998, deve ser aplicado o mesmo índice de reajuste anual
autorizado pela ANS para os contratos novos. Todos os contratos devem
estabelecer de forma clara quais os critérios de reajustes e revisão da
contraprestação pecuniária, o qual é obrigatório que a operadora ofereça ao
consumidor pelo menos duas opções que levem ao reequilíbrio do plano. As opções
têm que ser aprovadas pela ANS antes de serem propostas ao consumidor e os
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ajustes propostos têm que ser oferecidos como opções ao consumidor, não como
obrigação.
Nos planos individuais ou familiares o reajuste sofrido anualmente sujeita-se a
autorização prévia da ANS, conforme afirma o autor José Luis Toro da Silva (2005,
p. 107), segundo o qual, o reajuste deveria ser arbitrado distintamente por
operadora, levando em consideração o perfil de cada uma, através dos dados em
que ANS possui devido as informações econômico-financeira que são enviadas
trimestralmente e obrigatoriamente.
Estes reajustes, que são estipulados anualmente pela agência reguladora de
saúde, continuam sendo uma das diversas reclamações dos consumidores.
Mesmo com a Lei nº 9.656/98, não resolveu o problema de reclamação de
reajuste, pois apenas obriga que sejam devidamente discriminados no contrato, e as
operadoras continuam justificando o aumento das mensalidades com base nos
custos médico-hospitalares, sendo somente esta justificativa vaga e por si só
abusiva, conforme alertam os doutrinadores Andrea Salazar, Karina Rodrigues, Lynn
Silver e Maria Inês R. Landini Dolci (2001, p. 29).
Além disso, o art. 41 do Código de Defesa do Consumidor é expresso que no
caso de fornecedores de produtos ou serviços sujeitos ao regime de controle ou de
tabelamento de preços, os fornecedores deverão respeitar os limites oficiais sob
pena de, não fazendo, responderem pela restituição de quantia recebida em
excesso, monetariamente atualizada, podendo o consumidor exigir, à sua escolha, o
desfazimento do negócio, sem prejuízo de outras sanções cabíveis.
A propósito, comentando o artigo 41 da legislação consumerista, lecionam
Claudia Lima Marques, Antônio Herman V. Benjamim e Bruno Miragem:
A norma advém, sem dúvida, das anteriores experiências brasileiras com planos de estabilização econômica, congelamentos e a cobrança de ágio nas relações de consumo, com danos para o consumidor. A dificuldade prática da norma são os chamados “negócios de bagatela”, onde o consumidor lesado geralmente não reclama, mas, como o dano é coletivo, podemos pensar, nos sistema atual do CDC, que as entidades de defesa do consumidor ou o Ministério Público entrem com ações para evitar a prática comercial proibida da cobrança de ágio. (MARQUES; BENJAMIN; MIRAGEM, 2006. p. 587).
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O Código de Defesa do Consumidor em seu artigo 39, inciso X, assegura aos
consumidores a proibição de elevar sem justa causa o preço de produtos ou
serviços. A propósito, já decidiu o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo:
PLANO DE SAÚDE COLETIVO. APLICAÇÃO DE REAJUSTES ANUAIS. ABUSIVIDADE VERIFICADA. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA REFORMADA PARA JULGAR PROCEDENTE EM PARTE O PEDIDO INICIAL. 1. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor ao contrato de plano de saúde coletivo. 2. Muito embora não haja, aprioristicamente, ilicitude na cláusula contratual que preveja reajuste anual das mensalidades dada a majoração da sinistralidade ou dos custos operacionais [reajuste técnico], não há prova suficiente que justifique o aumento da mensalidade no montante aplicado, nem a participação efetiva dos beneficiários individuais ou da pessoa jurídica estipulante no cômputo de tal reajustamento, o que o torna, in casu, abusivo. Julgamento de procedência em parte do pedido inicial, apenas para declarar a abusividade dos reajustes anuais aplicados nos exercícios de 2013 e 2014 nas mensalidades cobradas do autor. 3. Recurso de apelação do autor provido em parte. (TJ-SP - APL: 10261668220148260577 SP 1026166-82.2014.8.26.0577, Relator: Piva Rodrigues, Data de Julgamento: 15/03/2016, 9ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 28/03/2016).
Considera-se, então, abusivo todo reajuste que não tenha prova suficiente
para sua aplicação, sendo direito do consumidor ter conhecimento destes reajustes
para que não sofra indevidamente tais aplicações.
1.3 Reajuste de preço por faixa etária.
O valor da contraprestação de um contrato de assistência à saúde varia em
função dos riscos assumidos pela operadora de plano de saúde. Nesta esteira,
ensina José Luiz Toro da Silva:
Obviamente os mais jovens estão sujeitos a riscos menores do que os mais velhos. Consequentemente, o preço cobrado dos mais jovens é manifestamente inferior aquele pago pelos mais velhos, que estarão muito mais sujeitos a utilizarem-se da cobertura oferecida pela operadora de planos de saúde. (SILVA, José, 2005, p. 96)
É devido ao entendimento acima que além da revisão anual do valor da
contraprestação nos planos de saúde, conforme já mencionado no subtítulo anterior,
os consumidores sofrem e se sujeitam periodicamente ao aumento do valor do preço
em decorrência de passagem de uma para outra faixa etária.
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O Conselho de Saúde Suplementar (CONSU), órgão colegiado deliberativo
criado com a finalidade de atuar na definição, regulamentação e controle das ações
relacionadas com a prestação de serviços de saúde suplementar, fixou os reajustes
em 7 (sete) faixas, dando à operadora o direito de efetuar o reajuste da
mensalidade, além do aumento anual, nas seguintes passagens de faixas etárias: a)
até 17 anos; b) de 18 a 29 anos; c) de 30 a 39 anos; d) de 40 a 49 anos; e) de 50 a
59 anos; f) de 60 a 69 anos e g) de 70 anos em diante.
Com a aprovação da Lei nº 10.741/03 (Estatuto do idoso) ficou proibido o
reajuste decorrente de faixa etária para as pessoas com mais de 60 anos de idade
nos planos de saúde, sendo que o artigo 15, parágrafo único da Lei nº 9.656/98
reforça expressamente a vedação da variação das contraprestações pecuniárias
para consumidores com mais de 60 (sessenta) anos de idade ou sucessores, há
mais de dez anos na mesma empresa. (BOTTESINI; MACHADO, 2015, p. 146).
Tal sistemática é adotada para não onerar excessivamente os planos para as
pessoas mais idosas, bem como não permite a incidência de reajuste decorrente de
mudança de faixa etária para as pessoas com mais de 60 anos, devido ao Estatuo
do Idoso.
Ocorre, que mesmo estes reajustes tendo aprovação pela ANS e em
conformidade com a legislação reguladora, intérpretes do Código de Defesa do
Consumidor e o judiciário enxergam abusivos tais reajustes, principalmente em sua
última faixa de 59 anos, devido a onerosidade excessiva no momento em que mais o
consumidor precisa de assistência médica, sendo certo que tal cláusula de reajuste
vem sendo considerada abusiva e tem como consequência sua nulidade, conforme
se demonstra da decisão judicial abaixo:
Plano de saúde. Incidência do Código de Defesa do Consumidor. Contrato firmado antes da entrada em vigor da Lei 9.656/98. Incidência da referida lei no contrato nos termos da Súmula nº 100 do TJSP. Reajuste. Aumento na mensalidade por mudança de faixa etária no percentual de 67% quando a autora completou 51 anos. Inadmissibilidade. Percentual exorbitante fixado unilateralmente pela ré. Impossibilidade de manutenção do critério de reajuste fixado, porquanto claramente abusivo. Pleito de devolução dos valores pagos a mais, provido. Juízo "a quo" analisou corretamente as questões suscitadas e o conjunto probatório. Incidência do artigo 252 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Desnecessária repetição dos adequados fundamentos expendidos pela r. sentença recorrida. Sentença mantida. Recurso improvido. (TJ-SP - APL: 10128559320148260554 SP 1012855-93.2014.8.26.0554, Relator: José
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Joaquim dos Santos, Data de Julgamento: 10/03/2015, 2ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 12/03/2015).
As operadoras de saúde defendem que o reajuste não pode ser considerado
abusivo, uma vez em que o Estatuto do Idoso é considerado a partir dos 60
(sessenta) anos e não 59 (cinquenta e nove) anos:
A questão em estudo, ou seja, da retroatividade do Estatuto do Idoso ainda não está pacificada, causando uma atmosfera de insegurança no mercado de saúde suplementar, tendo em vista o expressivo número de beneficiários idosos em tal condição. (SALLAI, 2016).
Devido a isso, Sallai (2016) defende a proteção ao consumidor,considerando
os reajustes por faixa etária como abusivos e que afrontariam o art. 15 do Estatuto,
independente da data da celebração do contrato, mesmo para os contratos
posteriores a Lei nº 9.656/98 como para os anteriores.
1.4 Período de carência e coberturas temporárias.
O art. 12 da Lei nº 9.656/98 menciona expressamente os limites mínimos e
verdadeiros pisos para as amplitudes de cobertura. Maury e Mauro (2015, p. 107)
ensinam que esses limites permite a diferença entre os planos, onde tem por
objetivo proporcionar concorrência nas operados e dar a liberdade para que os
consumidores possam fazer a melhor escolha. O autor José Luiz, faz o seguinte
conceito de carência:
Entende-se por carência, o período que a cobertura contratual ficará suspensa, ou seja, em que o consumidor não poderá usufruir determinado atendimento, que somente lhe será assegurado após o decurso do mencionado lapso temporal. Esse período serve de captação para a operadora, pois terá direito às contraprestações pecuniárias, sem que tenha que cobrir os atendimentos que se sujeitam ao período de carência. (SILVA, 2005, p. 92)
Os prazos máximos de carências são fixados pela Lei nº 9.656/98 em seu art.
12, V, aplicáveis tanto aos contratos de assistência médica ou odontológica, tanto
aos contratos individuais/familiares, como aos contratos coletivos, sendo 300 dias o
prazo máximo de carência para partos a termo, 180 dias para os demais casos e 24
horas para a cobertura dos casos de urgência e emergência.
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Já a cobertura parcial temporária na doutrina de Maury Ângelo Bottesini e
Mauro Conti Machado possui o seguinte conceito:
A cobertura parcial temporária é a exclusão do tratamento integral de doenças preexistentes enquanto o usuário do plano cumpre a carência, seja em razão da adaptação de contrato anterior, sem cobertura para determinadas doenças e tratamentos, seja em razão de contrato novo, assinado a partir de 01/01/1999, seja ainda, em razão da migração para outro segmento utilizando a portabilidade. (BOTTESINI; MACHADO, 2015, p.108).
As condições e prazos para estas coberturas estão definidas na resolução da
ANS nº 162/07, em art. 2º.
Para fins desta resolução, consideram-se doenças ou lesões preexistentes,
aquelas que o beneficiário ou seu representante legal saiba ser portador ou sofredor,
no momento da contratação ou adesão ao plano privado de assistência à saúde e a
cobertura parcial temporária, aquela que admite, por um período ininterrupto de até
24 meses, a partir da data da contratação ou adesão ao plano privado de assistência
à saúde, a suspensão da cobertura de procedimentos de alta complexidade, leitos
de alta tecnologia e procedimentos cirúrgicos, desde que relacionados
exclusivamente às doenças ou lesões preexistentes declaradas pelo beneficiário ou
seu representante legal.
Na jurisprudência abaixo e prevalente, é necessária a prova de que o
segurado agiu de má fé na ocasião da celebração do contrato, caso contrário se o
segurado provar de que desconhecia a doença, a operadora não poderá negar com
o motivo de preexistência. É necessário documento assinado pelo segurado ou
exames que comprovam a doença antes da celebração contratual. Neste sentido:
PROCESSO CIVIL. DIREITO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. SEGURO DE VIDA. DOENÇA PREEXISTENTE. COMPROVAÇÃO DA MÁ-FÉ DO FALECIDO POR OCASIÃO DA CELEBRAÇÃO DO CONTRATO. 1. A não realização de exames prévios de admissibilidade do contratante ao plano de seguro implica a assunção de risco pela seguradora e, consequentemente, sua responsabilização por eventual sinistro, salvo no caso de má-fé do segurado ou quando este tenha plena ciência da doença preexistente e omite tal informação. Precedentes. 2. No caso, tendo concluído a instância de origem pela efetiva comprovação da má-fé do contratante do seguro de vida, rever tal entendimento importa a necessidade de revolvimento de matéria fático-probatória, insindicável ao STJ na estreita via do recurso especial, ante o óbice erigido pela súmula 07 do STJ. 3. Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg no REsp: 1172420 SP 2009/0249644-7, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento: 24/04/2014, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 29/04/2014).
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Sendo assim, caso a operadora não comprova que houve má fé e o
consumidor comprovar que desconhecia tal patologia, não será considerada
preexistência.
CONCLUSÃO
A importância deste artigo foi demonstrar que o conflito entre o consumidor e
a operadora existe e sempre existirá, pois de um lado temos o consumidor que
possui seu direito assegurado no art. 196 da Constituição Brasileira e de outro lado,
temos a operadora, que possui sua lei própria para garantir a segurança em manter
seu equilíbrio econômico com o objetivo de continuar garantindo seus serviços
oferecidos.
Diante da implantação da Lei nº 9.656/98, o Código de Defesa do Consumidor
teve papel fundamental para preencher as lacunas referentes as questões
relevantes que não são cuidadas pela legislação específica, ou seja, onde a Lei nº
9.656/98 foi omissa.
Contudo, na realidade, o judiciário não interpreta desta forma, conforme
jurisprudências apresentadas, onde ficou claro que possuindo situações de conflitos
entre o consumidor e a operadora, prevalece o Código de Defesa do Consumidor,
pois sendo o objeto a prestação de um serviço de acesso e garantia a saúde de
forma privada, prevalecerá o bem maior, ou seja, a vida independentemente das
disposições contratuais preestabelecidas.
Conclui-se, portanto, que os conflitos aqui postos terão na maioria das vezes
decisões favoráveis ao consumidor, em razão de ser considerada a parte mais fraca
e vulnerável na relação contratual, sendo inquestionável a aplicação da legislação
protetiva do Código de Defesa do Consumidor nas questões que foram examinadas.
Não é demais repetir, que o trabalho procurou tratar de pontos específicos e
mais recorrentes no trato sucessivo entre os consumidores e operadoras, que
causam inúmeros conflitos que são levados a solução pelo judiciário, sendo certo
que o artigo se mostra de grande relevância para que o consumidor tome
conhecimento de seus direitos perante as operadores e assim possam se orientar.
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REFERÊNCIAS
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BRASIL, Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, nº 176, p. 1.
BRASIL, Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, nº 105, p. 1.
BRASIL, Lei nº 10.741, de 1 de outubro de 2003. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, nº 192, p. 1.
BRASIL, Resolução normativa ANS nº 162, de 17 de outubro de 2007. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, nº. 201, p. 38.
MARQUES, C. L.; BENJAMIN, A. H. V.; MIRAGEM, B. Comentários ao código de defesa do consumidor. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
SALAZAR, A.; RODRIGUES, K.; SILVER, L.; DOLCI, M. I. R. L.; Planos de saúde. São Paulo: Globo. 2002.
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Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016
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TJSP, APL 10217915720148260506, SP, Rel. Piva Rodrigues, j. em 08/03/2016, publicado no DJ de 10/03/2016.
TJSP, APL 10261668220148260577, SP, Rel. Piva Rodrigues, j. em 15/03/2016, publicado no DJ de 28/03/2016.
TJSP, APL 190160920098260362, SP, Rel. Roberto Solimense, j. em 17/03/2011, publicado no DJ de 17/03/2011.
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