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URBANISMO PARAMÉTRICO Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico JULIA MARIA SOUSA FERREIRA MARQUES Dissertação submetida para satisfação parcial dos requisitos do grau de MESTRE EM PLANEAMENTO E PROJECTO URBANO Orientador: Professor Doutor Paulo S. Conceição Coorientador: Professor Doutor Fernando Brandão Alves JULHO DE 2019

URBANISMO PARAMÉTRICO

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URBANISMO PARAMÉTRICO Avaliação de qualidades urbanas no projeto

paramétrico

JULIA MARIA SOUSA FERREIRA MARQUES

Dissertação submetida para satisfação parcial dos requisitos do grau de

MESTRE EM PLANEAMENTO E PROJECTO URBANO

Orientador: Professor Doutor Paulo S. Conceição

Coorientador: Professor Doutor Fernando Brandão Alves

JULHO DE 2019

Page 2: URBANISMO PARAMÉTRICO

MESTRADO EM PLANEAMENTO E PROJECTO URBANO 2018/2019

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

Tel. +351-22-508 1901

Fax +351-22-508 1446

[email protected]

Editado por

FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

Rua Dr. Roberto Frias

4200-465 PORTO

Portugal

Tel. +351-22-508 1400

Fax +351-22-508 1440

[email protected]

http://www.fe.up.pt

Reproduções parciais deste documento serão autorizadas na condição que seja mencionado o Autor e feita referência a Mestrado em Planeamento e Projecto Urbano - 2018/2019 - Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2019.

As opiniões e informações incluídas neste documento representam unicamente o ponto de vista do respetivo Autor, não podendo o Editor aceitar qualquer responsabilidade legal ou outra em relação a erros ou omissões que possam existir. O idioma escolhido para este documento foi o português do Brasil.

Este documento foi produzido a partir de versão eletrónica fornecida pelo respetivo Autor.

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

À minha família

“Cities have the capability of providing something for everybody, only because, and only when, they are created by everybody”

Jane Jacobs

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, gostaria de agradecer ao meu orientador Professor Doutor Paulo Santos Conceição e ao co-orientador Professor Doutor Fernando Brandão Alves pelos ensinamentos passados ao longo do curso e pela atenção e disponibilidade que tiveram comigo no decorrer desta dissertação.

Aos meus pais, por ter compreendido a minha falta com eles durante estes dois anos longe de casa.

Em especial, ao Renan, pela paciência, apoio e companheirismo.

Por último, aos meus irmãos e amigos, que mesmo distantes sempre demonstraram apoio e carinho.

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

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RESUMO

O presente trabalho baseia-se no estudo do urbanismo paramétrico cuja sua característica principal inclui a utilização de softwares paramétricos com objetivo de dinamizar o processo de criação de desenho e formular soluções flexíveis e adaptativas para o projeto urbano. A questão central da análise visa verificar a presença de qualidades do ambiente urbano no projeto paramétrico.

Inicia-se por apresentar a revisão bibliográfica sobre o urbanismo paramétrico em que se apresenta a discussão sobre questões relacionadas ao seu surgimento bem como a exposição do debate sobre o parametricismo ser um novo estilo ou uma nova metodologia de processo. Clarificam-se também as características e diferenças das principais ferramentas utilizadas para o urbanismo paramétrico.

A metodologia deste trabalho envolveu a elaboração de uma base avaliativa com características de 5 qualidades do ambiente urbano. Dentre as qualidades encontradas na literatura foram escolhidas aquelas que tinham mais possibilidade de serem avaliadas de modo quantitativo. A quantidade de informações disponíveis de projeto também contribuiu para a escolha das qualidades, nomeadamente acessibilidade, permeabilidade, conforto, variedade e legibilidade, onde a partir do estudo sobre as características específicas de cada uma das qualidades, foram comparadas a um projeto urbano paramétrico, o Waterfront Tanjong Pagar que foi elaborado pelo estúdio de projeto InfAR (Bauhaus-Universität) através da utilização de técnicas paramétricas criadas no programa de modelação Rhinoceros em conjunto com o Grasshopper.

Quanto aos resultados destaca-se a clarificação dos conceitos principais relacionados ao urbanismo paramétrico, através da análise de cada conceito no projeto paramétrico analisado (Waterfront Tanjong Pagar), onde pôde-se verificar a aplicação do sistema generativo, geometria associativa, projeto paramétrico, urbanismo paramétrico e modelagem tridimensional.

Dentro dos principais resultados também pôde-se verificar que o emprego do processo paramétrico no urbanismo pode facilitar a visualização de resultados alternativos de projeto e que as características das qualidades urbanas podem ser alcançadas parcialmente e que ainda encontram dificuldades em serem parametrizadas, especialmente no que toca a tradução das características em regras paramétricas. Dessa forma constatou-se que uma parcela das características das qualidades urbanas estudadas nesta dissertação pode ser parametrizadas e que outra parcela ainda depende de um processo manual de criação. Outro ponto resultante dessa dissertação está associado à utilização dos programas disponíveis para modelação paramétrica. Foi apresentado que alguns aspectos característicos são essenciais na escolha do software, como o nível de compatibilidade, o aprendizado, o processamento frente a dimensão do projeto, o investimento para o seu uso e o incentivo acadêmico.

PALAVRAS-CHAVE: urbanismo paramétrico, parametricismo, qualidades urbanas, projeto urbano.

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ABSTRACT

The present work is based on the study of parametric urbanism whose main characteristic includes the use of parametric software with the purpose of streamlining the process of design creation and formulating flexible and adaptive solutions for urban design. The central question of the analysis aims to verify the presence of qualities of the urban environment in the parametric project.

It begins by presenting the bibliographic review on parametric urbanism in which the discussion on issues related to its emergence is presented, as well as the exposition of the debate on parametricism to be a new style or a new process methodology. The characteristics and differences of the main tools used for parametric urbanism are also clarified.

The methodology of this work involved the elaboration of an evaluative base with characteristics of 5 qualities of the urban environment. Among the qualities found in the literature were chosen those that were more likely to be evaluated quantitatively. The amount of available design information also contributed to the choice of qualities, namely accessibility, permeability, comfort, variety and readability, where from the study of the specific characteristics of each of the qualities, were compared to a parametric urban design, the Waterfront Tanjong Pagar which was prepared by the InfAR project studio (Bauhaus-Universität) through the use of parametric techniques created in the Rhinoceros modeling program in conjunction with Grasshopper.

As for the results, we highlight the clarification of the main concepts related to parametric urbanism, through the analysis of each concept in the analyzed parametric project (Waterfront Tanjong Pagar), where it was possible to verify the application of the generative system, associative geometry, parametric design, urbanism. parametric and three-dimensional modeling.

Within the main results it could also be verified that the use of the parametric process in urbanism can facilitate the visualization of alternative design results and that the characteristics of urban qualities can be partially achieved and that they still find it difficult to be parameterized, especially with regard to The translation of the characteristics into parametric rules, it was found that a portion of the characteristics of the urban qualities studied in this dissertation can be parameterized and another portion still depends on a manual process of creation. Another point resulting from this dissertation is associated with the use of available parametric modeling programs. It was presented that some characteristic aspects are essential in the choice of the software, such as the level of compatibility, the learning, the processing in relation to the project dimension, the investment for its use and the academic incentive.

KEYWORDS: parametric urbanism, parametricism, quality urban, urban design.

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ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................ i

RESUMO ..........................................................................................................................iii

ABSTRACT ....................................................................................................................... v

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 1

1.1 ENQUADRAMENTO , JUSTIFICAÇÃO DO TEMA E ESTRUTURA.......................................... 1

1.2 MOTIVAÇÃO E OBJETIVOS ........................................................................................... 2

1.3 METODOLOGIA ........................................................................................................... 2

2. URBANISMO PARAMÉTRICO .......................................................... 5

2.1. ORIGEM E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO URBANISMO PARAMÉTRICO .................... 5

2.2. CONCEITOS RELACIONADOS AO URBANISMO PARAMÉTRICO ..................................... 12

2.3. SOFTWARES E PLUGINS PARAMÉTRICOS .................................................................. 17

2.4 SÍNTESE DA DISCUSSÃO ........................................................................................... 26

3. QUALIDADE DO AMBIENTE URBANO .................................... 27

3.1 SELEÇÃO E ANÁLISE PRÉVIA DAS QUALIDADES URBANAS .......................................... 27

3.1.1 ACESSIBILIDADE ..................................................................................................... 28

3.1.2 PERMEABILIDADE ................................................................................................... 32

3.1.3 CONFORTO ............................................................................................................ 34

3.1.4 VARIEDADE ............................................................................................................ 37

3.1.5 LEGIBILIDADE ......................................................................................................... 41

3.2 SÍNTESE DAS QUALIDADES URBANAS ........................................................................ 45

4. ESTUDO DE CASO WATERFRONT TAJONG PAGAR . 47

4.1 METODOLOGIA E APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO ............................................ 47

4.2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ................................................................... 47

4.3 QUALIDADES URBANAS NO PROJETO ....................................................................... 53

4.4 DIAGNÓSTICO .......................................................................................................... 69

Page 12: URBANISMO PARAMÉTRICO

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................ 75

5.1 CARACTERÍSTICAS DO URBANISMO PARAMÉTRICO ..................................................... 75

5.2 PROCEDIMENTOS MANUAIS E A OTIMIZAÇÃO PARAMÉTRICA ....................................... 76

5.3 CARACTERÍSTICAS DAS QUALIDADES URBANAS ......................................................... 76

6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ..................................... 79

Referências Bibliográficas ..................................................................... 81

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Primeiro programa de desenho – Sketchpad e a caneta de luz para modelação. 1963. ........... 6

Figura 2 Thames Gateway Masterplan em Londres. ............................................................................... 8

Figura 3. Kartal Masterplan – Regeneração urbana em Instambul. ........................................................ 8

Figura 4. Cidade inteligente de Rublyovo-Arkhangelskoye. .................................................................. 9

Figura 5. Três etapas da estrutura da grade: grade básica (1), grade deformada (2) e a grade final em mosaico (3). ........................................................................................................................................... 10

Figura 6. Comparativo entre Técnicas Paramétricas e Técnicas algorítmicas. ..................................... 13

Figura 7. Esquema da interligação dos parâmetros e do desenho. ........................................................ 14

Figura 8. Figura 8. Modelo paramétrico e obra da Sagrada Família do arquiteto Antoni Gaudí. ......... 16

Figura 9. Programa Rhino3D a esquerda e interface do Grasshopper a direita..................................... 18

Figura 10. Simulação de modelos de edifícios com alçados paraboloidais. ......................................... 19

Figura 11. Função em Autolisp (Autocad) referente aos alçados paraboloidais. .................................. 19

Figura 12. Exemplos de comandos da interface do Grasshopper .......................................................... 21

Figura 13. Interface Revit a esquerda e Dynamo a direita. ................................................................... 22

Figura 14. Interface SketchUp a esquerda e Modelur a direita. ............................................................ 24

Figura 15. Esquema de acessibilidade interna à direita. Esquema de acesso à área de estudo. ............ 29

Figura 16. Serviços primários até no máximo 500m das habitações e secundários no máximo até 800m, a esquerda. Exemplo de ruas bem conectadas e cruzamento simples e claro, a direita. ....................... 30

Figura 17. Estudo de permeabilidade na disposição dos obstáculos. .................................................... 32

Figura 18. Exemplo de rede viária com hierarquia. Linha vermelha é a rota utilizada, linha verde seria a ligação direta dos pontos AD sem passar por C e B. ............................................................................ 33

Figura 19. Tipos de blocos que contribuem para a permeabilidade. ..................................................... 33

Figura 20. Esquema do fluxo de vento do efeito de ilhas de calor e a relação entre a largura da via e altura do edifício (W/H > 3). ................................................................................................................. 36

Figura 21. Sentido das vias paralelas e perpendiculares ao fluxo do vento facilitam o seu percurso por entre o edificado, enquanto que vias perpendiculares dificultam a entrada de vento. .......................... 36

Figura 22. Efeitos de fluxo dos ventos estudados por Romero (2000). ................................................ 36

Figura 23.Ligação, uso, formas, pessoas e significados. ....................................................................... 38

Figura 24. Exemplo de variedade de alçados. ....................................................................................... 38

Figura 25. Exemplo da uniformização do estilo dos alçados ................................................................ 38

Figura 26. Variados tipos usos e a integração do espaço público e o privado – Calçada, via, espaço com atratividade, espaços para lazer, interação entre comércio e habitaçao ................................................ 39

Figura 27. Esquema de fluxo em Shopping Center. .............................................................................. 40

Figura 28. Distância máxima entre o utilizador e o espaço íman. ......................................................... 40

Figura 29. Pontos chaves da legibilidade urbana. ................................................................................. 42

Figura 30. Exemplos de espaços com características distintas e delimitação de bairros. ..................... 43

Figura 31. Exemplos de espaços legíveis. ............................................................................................. 44

Figura 32. Exemplo de projeto com vegetação em Singapura (The Marina Barrage). ......................... 48

Figura 33. Mapa Singapura e localização do projeto. ........................................................................... 49

Figura 34. Identificação das áreas T. Keppel, T. Tanjong Pagar e Ilha Pulau Brani. ........................... 50

Figura 35. Cenário 1 do Projeto Waterfront Tanjong Pagar. ................................................................ 52

Figura 36. Cenário 2 do Projeto Waterfront Tanjong Pagar. ................................................................ 52

Figura 37. Cenário 3 do Projeto Waterfront Tanjong Pagar. ................................................................ 53

Figura 38. Mapa dos acessos ................................................................................................................. 54

Figura 39. Distribuição dos usos. .......................................................................................................... 55

Page 14: URBANISMO PARAMÉTRICO

Figura 40. Mapa conceitual das funções inicialmente sugeridas. .......................................................... 55

Figura 41. Mapa de uso definitivo. ........................................................................................................ 55

Figura 42. Tipos de junções. .................................................................................................................. 56

Figura 43. Caminhos por entre as quadras. ........................................................................................... 56

Figura 44. Parklets. ................................................................................................................................ 57

Figura 45. Disposição dos edifícios para separação do fluxo de pessoas do espaço público e privado. 58

Figura 46. Cheios e Vazios. ................................................................................................................... 58

Figura 47. Etapas do processo ............................................................................................................... 59

Figura 48. Mapa de tráfego.................................................................................................................... 60

Figura 49. Efeito Venturi. ...................................................................................................................... 61

Figura 50. Quebra dos blocos para passagem do ar............................................................................... 61

Figura 51. Efeitos do vento de acordo com a altura das edificações. .................................................... 61

Figura 52. Relação edifício e via. .......................................................................................................... 62

Figura 53. Podiuns e vegetação ............................................................................................................. 62

Figura 54. Desenho conceitual. ............................................................................................................. 63

Figura 55. Mapa de densidade. .............................................................................................................. 64

Figura 56. Espaços verdes. .................................................................................................................... 64

Figura 57. Espaço para atividades diversas entre os edifícios na parte densa do projeto. ..................... 65

Figura 58. Costa..................................................................................................................................... 65

Figura 59. Mapa 1: Linhas amarelas - Vias principais. Linhas verdes - caminhos verdes. Mapa 2: Rede de vias. ................................................................................................................................................... 67

Figura 60. Viaduto que funciona como barreira. Costa marinha à direita. ............................................ 67

Figura 61. Mapa dos bairros. ................................................................................................................. 68

Figura 62. Bairro 4 - Volumetria. .......................................................................................................... 68

Figura 63. Bairro 1 – Orla marítima. ..................................................................................................... 69

Figura 64. Gráficos do nível de parametrização das qualidades urbanas. ............................................. 77

Figura 65. Gráfico do Nível de Parametrização Geral. ......................................................................... 78

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

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ÍNDICE DE QUADROS E TABELAS

Tabela 1. Quadro comparativo. Geometria Euclidiana e Topológica. .................................................. 16

Tabela 2. Softwares paramétricos e o seu respetivo nível de conhecimento prévio. ............................ 18

Tabela 3. Valores das licenças para Rhinoceros 3D. ............................................................................ 20

Tabela 4. Valores das licenças para Revit. ............................................................................................ 22

Tabela 5. Valores para SketchUp 2019 e Modelur. .............................................................................. 24

Tabela 6. Tabela comparativa das características dos softwares analisados. ........................................ 25

Tabela 7. Cinquenta e uma qualidades do ambiente. ............................................................................ 28

Tabela 8. Síntese do quadro de indicadores das qualidades urbanas e referências – Acessibilidade .... 31

Tabela 9. Síntese do quadro de indicadores e fatores das qualidades urbanas e referências – Permeabilidade. ..................................................................................................................................... 34

Tabela 10. Síntese do quadro de indicadores das qualidades urbanas e referências – Conforto. .......... 37

Tabela 11. Síntese do quadro de indicadores das qualidades urbanas e referências – Variedade ......... 40

Tabela 12. Síntese do quadro de indicadores das qualidades urbanas e referências – Legibilidade ..... 44

Tabela 13. Nível de parametrização. ..................................................................................................... 70

Tabela 14. Síntese da análise da acessibilidade e o nível de parametrização no estudo de caso. ......... 70

Tabela 15. Síntese da análise da permeabilidade e o nível de parametrização no estudo de caso. ....... 71

Tabela 16. Síntese da análise do conforto urbano e o nível de parametrização no estudo de caso. ...... 72

Tabela 17. Síntese da análise da variedade e o nível de parametrização no estudo de caso. ................ 73

Tabela 18. Síntese da análise da legibilidade e o nível de parametrização no estudo de caso. ............. 74

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

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1 INTRODUÇÃO

1.1 ENQUADRAMENTO, JUSTIFICAÇÃO DO TEMA E ESTRUTURA

O crescimento das cidades e a sua dinâmica de transformação tornam-se um dos maiores desafios para a manutenção do bem-estar humano. Na ausência do planeamento urbano e na falta de projetos adequados, as consequências podem ser sentidas em vários contextos sociais e cotidiano, sendo incontestável a necessidade de se obter soluções mais adequadas e eficazes para o ambiente urbano (Batty, 2007).

Neste sentido, as transformações das cidades, quase sempre complexas, requerem o aperfeiçoamento das técnicas existentes e novas soluções para auxiliar a disciplina urbanística. É neste cenário que surge o parametricismo e o urbanismo paramétrico, como uma ramificação da disciplina urbana que a princípio visa utilizar técnicas digitais paramétricas para elaborar projetos urbanos criativos (Leach, 2009) e flexíveis, capaz de sintetizar o processo de criação e desenvolvimento dos desenhos urbanos (Beirão, 2012).

Em decorrência a crescente quantidade de pesquisas relacionadas a modelação paramétrica (Schumacher, 2009) é importe compreender se a corrente parametricista consegue atender as necessidades das transformações das cidades e obter os mesmos níveis de qualidade de soluções que os processos não paramétricos conseguem oferecer. Dessa maneira, justifica-se a elaboração da presente dissertação, a necessidade de analisar se a criação de projetos por meio de ferramentas paramétricas é capaz de alcançar qualidades urbanas, sendo essa uma questão importante para esclarecer a viabilidade da sua utilização em futuros trabalhos.

Para esclarecer as questões características do urbanismo paramétrico e verificar a possibilidade de obter qualidades do ambiente urbano através de técnicas paramétricas, essa dissertação foi estruturada em 06 capítulos.

O presente capítulo introduz a motivação, os objetivos e metodologia adotada. O segundo capítulo expõe uma breve contextualização tecnológica no campo do desenho, disserta sobre o surgimento do urbanismo paramétrico, apresenta as principais características e os conceitos relacionados e por fim apresenta quais as ferramentas paramétricas são utilizadas. O terceiro capítulo, apresenta e justifica a escolha das qualidades do ambiente urbano e sintetiza uma grelha de avaliação formatada a partir de especialistas em cada área. O quarto capítulo apresenta o estudo de caso Waterfront Tanjong Pagar, onde as características do projeto foram comparadas a grelha de avaliação gerada no capítulo anterior. O quinto capítulo apresenta a discussão dos resultados do estudo de caso em relação ao debate da revisão da literatura feito no primeiro capítulo. Por fim o último capítulo demonstra as conclusões e as eventuais pesquisas futuras.

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1.2 MOTIVAÇÃO E OBJETIVOS

A motivação inicial decorreu da dificuldade encontrada numa atividade de projeto urbano na cadeira de Qualidade do Ambiente Urbano do Mestrado em Planeamento e Projeto Urbano da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, na qual era necessário propor soluções urbanas para uma determinada área que possuía um vazio urbano no centro do quarteirão. O processo de elaboração do projeto mostrou ser um procedimento árduo e de tentativa e erro, uma vez que considerou inúmeras variáveis como a indicação de novas vias, edificações, estacionamentos, espaços de lazer e áreas verdes, bem como a correlação entre elas e a adequação aos índices urbanos.

A partir dessa experiência, surgiu a seguinte questão: é possível sintetizar o processo de elaboração de projetos de intervenção urbanística de forma que não haja perda das qualidades requeridas para o ambiente urbano?

Buscando responder a essa questão, nos estudos sobre inovações tecnológicas aplicadas ao projeto urbano, descobriu-se um novo conceito designado como urbanismo paramétrico que tinha como objetivo dinamizar os procedimentos de criação e torná-los flexíveis.

O anseio de entender como são os procedimentos adotados nas ferramentas paramétricas, sobretudo na lógica das regras e parâmetros foi essencial para realizar esse estudo e verificar se as qualidades do ambiente urbano se fazem presentes nos projetos desenvolvidos a partir da utilização de técnicas paramétricas.

Tendo como base a motivação referida, este estudo tem como objetivo geral verificar a possibilidade de obter qualidades do ambiente urbano, a partir do estudo de caso que fez uso de ferramentas paramétricas.

Do objetivo geral surgem os objetivos específicos que nortearam o estudo, nomeadamente: i) analisar o debate sobre os conceitos do urbanismo paramétrico, o surgimento deste movimento, características marcantes e as ferramentas utilizadas para a criação do projeto urbano; ii) refletir sobre as vantagens, desvantagens e limitações das técnicas e ferramentas paramétricas; e por fim iii) sintetizar uma grelha de avaliação a partir de estudos de especializados das qualidades do ambiente urbano que foram escolhidas.

1.3 METODOLOGIA

Para se alcançar os objetivos desta dissertação, a metodologia foi composta por duas linhas principais, sendo que a primeira consiste numa revisão da literatura, a fim de se organizar uma linha cronológica do percurso tecnológico, especificamente dos softwares de desenho e assim conseguir identificar o papel da tecnologia no urbanismo. Deste modo, se apresentam também alguns dos principais programas de desenho voltados para as técnicas paramétricas, onde se apresentam as diferenças entre os programas de desenho, bem como os plugins associados e as suas particularidades perante ao desenvolvimento do projeto urbano.

A revisão da literatura aborda também a apresentação, descrição e caracterização das qualidades urbanas escolhidas.

A grande variedade de qualidades urbanas torna os estudos destes tipos complexos, pois, requerem um grande número de dados a avaliar, além da construção de uma grelha de avaliação capaz de sintetizar as informações necessárias para a correta avaliação do projeto em causa.

Dessa forma, a escolha das qualidades baseou-se na limitação do detalhamento do projeto, que embora seja um projeto urbano, pelo nível de informação é considerado como estudo prévio, ou seja, possui o

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

3

Base da grelha de avaliação

desenvolvimento do conceito preliminar, como, por exemplo, a disposição e localização dos edifícios, áreas de lazer, vias para automóveis e pedonais, não contendo informações executivas e detalhadas como a especificação de cores, materiais, tipologia de fachada e estilos, entre outras informações necessárias para a execução do projeto.

Portanto, das cinquenta e uma qualidades de desenho urbano pesquisadas por Maryland Inventory of Urban Design Qualities (Ewing e Clemente, 2013), foram escolhidas cinco das quais seriam passíveis de avaliar, nomeadamente acessibilidade, permeabilidade, conforto, variedade e legibilidade.

Numa primeira etapa, foi necessário reunir informações acerca das qualidades, onde a organização foi apresentada através do conceito e definição, discussão sobre as características que concretizam as qualidades, modo na qual a qualidade pode ser avaliada e indicação da possibilidade de traduzir as características em parâmetros.

As definições, discussões e características das qualidades apresentadas foram fundamentadas em estudos de especialistas, em que a seleção destes foi baseada em pesquisas bibliográficas, onde pôde ser constatada a repetição de autores referenciais sobre cada qualidade.

Em alguns casos, os autores mais expressivos não apresentam todas as informações requeridas para esta fase e, nesses casos, novos autores são referenciados para complementar as informações em falta.

A interpretação das características permitiu a criação de uma grelha de avaliação com indicação das qualidades, contributos que são considerados divisões ou partes importantes das qualidades, e ações e/ou medidas que fazem parte do conjunto de avaliação para determinar se a qualidade urbana avaliada pode ou não estar presentes no projeto.

Fluxograma 1. Pontos para construção da avaliação.

Fonte: Elaborado pela própria autora.

Beirão (2012), ao dissertar sobre a dificuldade de planear cidades, uma vez que possuem comportamentos complexos e inesperados, indica e resume cinco grupos de estratégias para auxiliar o planeamento das cidades. Estes grupos, são compostos por: técnicas de simulação para previsão de possíveis cenários; a utilização de sistemas, padrões e tipos, pautados nas soluções históricas e tradicionais; o uso de técnicas de avaliação, que se utilizam de padrões de comparação; tomada de decisão participativa, que envolvem os indivíduos ou coletivos influenciadores diretos do ambiente; flexibilidade e design flexível que envolve a capacidade de gerar várias soluções.

Qualidades

Divisão das qualidades por características

comuns

Características específicas

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Esta dissertação, aborda a estratégia de técnicas de avaliação por meio da comparação das informações da grelha de avaliação de qualidades urbanas, face às características do projeto do estudo de caso, enquanto que o caso de estudo utiliza da técnica de design flexível como pode ser constatado no capítulo do estudo de caso Waterfront Tanjong Pagar.

Após a fase de escolha e criação da grelha de avaliação das qualidades urbanas, a próxima etapa, apresenta uma análise do projeto escolhido, demonstrando se os critérios indicados na grelha de avaliação se fazem presentes no projeto. Essa análise pode conter informações quantitativas ou qualitativas.

Fluxograma 2. Fluxo de trabalho.

Fonte: Elaborado pela autora.

A utilização de softwares paramétricos aplicado ao urbanismo ainda não é tão comum quanto a utilização de outros softwares CAD, o que resulta na escassez de projetos construídos a partir de projetos totalmente elaborado através do urbanismo paramétrico. Deste modo, foi necessário encontrar um projeto elaborado por esse método, que tivesse disponíveis as peças gráficas e dados, para que fosse possível a avaliação.

A avaliação, portanto, buscar identificar a existência de 5 (cinco) qualidades urbanas no projeto WaterFront Tanjong Pagar, elaborado com auxílio de técnicas paramétricas e algorítmicas através da manipulação de variáveis no software Rhinoceros e Grasshoper.

O projeto em questão foi escolhido por estar localizado numa cidade-Estado que tem vindo a destacar-se nos últimos anos, pela busca de novas soluções tecnológicas e pela pesquisa e desenvolvimento urbano marcado por obras arquitetónicas icónicas, e pela disponibilidade de material técnico do projeto, peças gráficas e digitais, vídeos explicativos dos conceitos importantes e relevantes e principalmente a utilização de técnicas paramétricas, cumprindo assim os requisitos necessários para esta avaliação.

Nesta fase do estudo de caso, foram apresentadas primeiramente as características e descrição geral do projeto. Foi indicada a localização geográfica, o período de realização, os participantes, o estúdio responsável, quais foram as circunstâncias que levaram a realização do projeto urbano.

A descrição da metodologia utilizada pelo estúdio de projeto é apresentada ao longo da avaliação, pois, frequentemente utiliza-se a explicação do processo para justificar a presença ou a falta de determinada ação ou medida que caracteriza as qualidades urbanas. Assim, o processo projetual e as técnicas utilizadas foram identificadas no corpo da avaliação das qualidades.

Grelha de Avaliação Estudo de Caso Resultados

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

5

2 URBANISMO PARAMÉTRICO

Este capitulo disserta brevemente sobre a evolução da tecnologia aplicada ao desenho que possibilitou a criação de ferramentas que auxiliam os projetos urbanos. Para o melhor entendimento do conceito do urbanismo paramétrico, expõem-se conceitos relacionados com o tema, que são descritos por especialistas, além de se expor em qual contexto surge a necessidade de um novo método para o projeto urbano. Por fim demonstram-se 3 ferramentas paramétricas utilizadas para a criação de desenhos urbanos paramétricos.

2.1 ORIGEM E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO URBANISMO PARAMÉTRICO

O período pós Segunda Guerra Mundial foi marcado pela disputa entre socialistas e capitalistas, representados pelas potências mundiais, União das Repúblicas Soviética e Estados Unidos das Américas (EUA), que acabaram por fomentar a corrida do desenvolvimento tecnológico, científico e armamentista, na qual a corrida espacial servia como “termómetro” dos avanços tecnológicos de cada potência (Bandeira, 2005).

A tecnologia desenvolvida na época auxiliou e possibilitou a criação de ferramentas, que mais tarde auxiliaria cada uma das potências nos objetivos, como, por exemplo o desenvolvimento nos EUA de ferramentas que maximizavam a produção industrial e o seu ideal capitalista (Bandeira, 2005).

O intenso estudo e desenvolvimento de tecnologias ligadas à informatização também teve um destaque expressivo, sobretudo no que diz respeito ao processamento computacional. Um dos resultados deu-se por meio do surgimento de ferramentas que permitiam a construção direta pelo computador, que só era possível dada a junção dos sistemas chamados de desenho assistido por computador – CAD, aliado a engenharia assistida por computador - CAE e a manufatura assistida por computador - CAM (Henrique, 2016, p.4).

O sistema CAD tem por objetivo a criação de desenhos bidimensionais e tridimensionais em plataformas digitais, o que torna mais ágil a modificação de informações antes da execução do projeto, comparando com projetos feitos a mão. Já o sistema CAE permite verificar o produto final antes de ser fabricado, através de análise de comportamento de material e resistência e da simulação geral do desenho realizado. O sistema CAM está ligado a automatização, permitindo o controlo da fabricação industrial. Portanto, estes três sistemas permitem projetar, simular e executar, melhorando a produção através do computador (Lazo e Bacalla, 1999).

Para Lazo e Bacalla (1999), a pioneira na utilização destes sistemas é a indústria aeroespacial, seguida das industriais aeronáutica e automobilística, que utilizavam além de formas euclidianas também modelação 3D a fazer uso de superfícies aerodinâmicas.

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A modelação 3D utilizada nas indústrias, além de fazer uso dos processos de execução com parâmetros geométricos (como por exemplo, formato das peças) e dimensionais, também explora parâmetros de ordem não geométrica, como por exempo, a propriedade de materiais (Steinø, e Veirum, 2005).

O primeiro software de auxílio de projeto surge em 1963 criado por Ivan Sutherland e foi chamado de Sketchpad (Davis, 2013). A interface permitia indicar as linhas de desenho por meio de uma caneta que emitia uma luz sobre a tela, e que para o auxílio do desenho havia botões com a função de mover e apagar as linhas desenhadas com a caneta (Sutherland, 1964).

Figura 1. Primeiro programa de desenho – Sketchpad e a caneta de luz para modelação. 1963.

Fonte: Sutherland (1964) e MIT Electronic Systems Laboratory

Após o desenvolvimento do Sketchpad, outros softwares começaram a ser comercializados como o Pro/Engineer em 1988, distribuído pela desenvolvedora Parametric Technology Corporation (PTC) (Davis, 2013).

Apesar do desenvolvimento de ferramentas digitais no auxílio do desenvolvimento de projetos, na visão de Monedero (2000), as ferramentas daquela época ainda não eram de fácil manuseio nem interativas.

É no contexto da busca de modelações 3D com superfícies curvilíneas, complexas e de NURBS (Non Uniform Rational Basis Spline) que a arquitetura tenta criar e adaptar softwares para a criação de projeto arquitetónico (Silva e Amorim, 2010). Ou seja, houve uma necessidade de criação que fosse mais dinâmica e mais ágil, e assim aproveitou-se uma tecnologia de desenho já existente e utilizada em outras áreas.

Durante a década de 80, surgiram empresas de grande expressão no mundo tecnológico de software de projetos como a pioneira Proenginner, com o software “Cátia”, e a Autodesk que, a partir do lançamento do AutoCad, começou a desenvolver outros softwares específicos para cada tipo de necessidade projetual (Autodesk, 2019), como, por exemplo o Revit que utiliza de tecnologia BIM, Civil 3D para projeto de engenharia civil, e Inventor para projetos mecânicos.

A aproximação e a relação cada vez mais forte da arquitetura com ferramentas de desenhos 3D, sobretudo com aquelas que se utilizavam de técnicas paramétricas, possibilitou os estudos de projeto em escalas maiores e alcançou os projetos urbanos.

Conforme a utilização desses softwares se foi solidificando, os profissionais (arquitetos, engenheiros, técnicos, projetistas, urbanistas) entenderam que os softwares que auxiliavam na produção de desenhos nos escritórios de arquitetura e engenharia também poderiam ser utilizados no urbanismo, disciplina que também já vinha procurando uma alternativa ao projeto tradicional para suprir as necessidades da época (Voltolini, 2016).

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Por volta de 1980, começou a verificar-se uma mudança no planeamento das cidades e das “políticas públicas, económicas e sociais” (Mata, 2013, p.81), como consequência dos novos métodos e organização pós-fordista.

Os territórios urbanos transformaram-se para atender as novas necessidades da sociedade, uma vez que as cidades passam a ter um papel significativo para a economia global (Beirão, 2012).

Essas transformações permitiram que o projeto urbano priorizasse o método de renovação urbana e revitalizações de centros históricos, além da exploração de espaços vazios com o objetivo de recriarem espaços criativos, cenários de inovação e cidades mais atrativas (Mata, 2013).

Para Mata (2013) a competição das cidades abriu espaço para novas estratégias de projeto urbano. Quanto mais atrativo, inovador e criativo, melhor seria o resultado, o que implicou na inserção de “ideais para novas experiências no desenho urbano, baseadas em teorias espaciais, exploração criativa e geometrias complexas” (Mata, 2013, p.82) o que mais tarde possibilitou a aplicação do parametricismo através da utilização de ferramentas paramétricas na elaboração dos planos e projetos urbanos, que ressurge como forma de alcançar as necessidades de projetos urbanos com dinâmicas e formas complexas de maneira mais eficientes e previsíveis.

Além da exploração de novas estratégias para o desenho urbano, Verebes (2014) indica que o crescimento das cidades também necessita de um planeamento flexível e adaptativo, o que implica na necessidade de novas técnicas de master plannig (processo de planeamento urbano), visto que as tradicionais já não correspondem às necessidades na totalidade e que as respostas do método de planeamento urbano atual resultam sempre na resolução para manutenção ou renovações urbanas. Em resumo, o método tradicional de planeamento urbano tem tido dificuldade em prever modificações que irão acontecer nas cidades, uma vez que “as ferramentas e técnicas convencionais de design da cidade são fundamentalmente incapazes de gerenciar mudanças” (Verebes, 2014, p.93). Sendo assim, as cidades necessitam que a sua dinâmica de adaptação seja compreendida, para que novas soluções possam ser sugeridas, o que abre a possibilidade de criar um cenário para a utilização de novas ferramentas de desenho de projeto urbano e planeamento.

A cidade formal, planeada com rigor sob as regras de regulação e controlo dos planos urbanos, tem a sua dinâmica mais fácil de ser visualizada, tornando a gestão e as decisões urbanísticas mais fáceis de serem controladas.

É nesse sentido que o desenvolvimento da tecnologia tem possibilitado a evolução de diversas áreas do conhecimento humano, através da criação e do melhoramento de ferramentas digitais que são capazes de processar um grande volume de dados num curto espaço de tempo. Na área dos estudos das cidades já se encontram alguns casos de aplicação destas novas tecnologias. Exemplificam-se os estudos de trânsito e transporte, previsão do crescimento e desenvolvimento urbano, monitoramento de serviços públicos, como videovigilância nos locais públicos, recolha de resíduo, aviso de estacionamentos cheios, aviso de altas temperaturas, entre outros tipos de serviços feitos através de sensores que comunicam com os gestores responsáveis pelas cidades.

A dinâmica das cidades informais é mais difícil de ser controlada. Verebes (2014), exemplifica que o crescimento de favelas e dos cortiços é possível de ser previsto, e está relacionado com as condições mínimas que o território possui, como recursos, topografia, hidrografia, e que traça um padrão lógico, mesmo que informal e sem planeamento, o que significa que os padrões de crescimento urbano, mesmo que informais, podem ser estudados, analisados e posteriormente replicados, inseridos como dados relevantes e com o auxílio de ferramentas paramétricas para que os resultados possam prever com mais fidelidade os avanços urbanos dos sítios informais.

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Para Silva e Amorim (2010) a introdução do parametricismo no auxílio de projetos urbanos diz respeito a uma “nova corrente de desenho” em que a última década foi marcada pela crescente utilização dos softwares 3D, onde passaram de “uma mera ferramenta de representação” para “assumir uma importância vital no processo criativo e de evolução de um projeto” (Pinto, et al 2013, p.15). Se destacam como pioneiro praticante o escritório Zaha Hadid Architects com os arquitetos Zaha Hadid e Patrik Schumacher na elaboração de grandes projetos expressivos, como, por exemplo Kartal Masterplan em Istambul-Turquia e a cidade inteligente de Rublyovo-Arkhangelskoye na Rússia.

O projeto Thames Gateway Masterplan é outro exemplo de projeto urbano paramétrico de Zaha Hadid Architects. O projeto utilizou de ferramentas paramétricas aplicadas a metodologia de regeneração urbana (quando a cidade está em estado de declínio com desemprego, degradação ambiental, sem estruturas físicas adequadas, questões sociais em desarmonia). A criação do projeto considerando as construções existentes, e baseou-se na criação através de 4 elementos geométricos: ponto, linha, plano e volume1, que ao serem transformados em parâmetros resultou numa nova abordagem estética para Londres, principalmente pelo formato proposto para os edifícios e pela forma como a rede viária foi desenhada.

Figura 2 Thames Gateway Masterplan em Londres.

Fonte: Zaha Hadid Architects.

Figura 3. Kartal Masterplan – Regeneração urbana em Instambul.

Fonte: Zaha Hadid Architects.

1 https://www.zaha-hadid.com/design/global-cities/

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Figura 4. Cidade inteligente de Rublyovo-Arkhangelskoye.

Fonte: Zaha Hadid Architects

Alguns autores defendem a exploração dos benefícios funcionais (e não formais) de tais ferramentas. Verebes (2013) acredita que o urbanismo paramétrico possui uma complexidade para além da complexidade formal.

Em contraste com os projetos icónicos apresentados pelos escritórios de grande expressividade como de Zaha Hadid Architects, é possível verificar a existência de estudos académicos e a criação de modelos paramétricos que podem auxiliar novos projetos urbanos, também no âmbito funcional. O CItyMaker, é um método desenvolvido no âmbito de tese de doutoramento por Duarte e Beirão (2012) sendo uma ferramenta de projeto materializada como templates, que ao serem ajustadas e manipuladas permitem novas soluções de projeto urbano (Beirão 2012).

Para se entender o processo pelo qual é realizada a modelação do projeto paramétrico, exemplifica-se o experimento demonstrado por Çalışkan (2017). O processo de planeamento começa por determinar os componentes principais, que serão manipulados através do uso de variáveis consideradas como parâmetros de projeto.

Essas variáveis ou parâmetros são coletados a partir do objetivo principal do projeto, podendo estar relacionados com as variações de grandezas mensuráveis, por exemplo, a altura, largura, comprimento e densidade, e que por sua vez podem estar relacionados com elementos do projeto urbano, como, por exemplo, ruas, edificados, usos, formas, cores, mobiliário urbano, acessibilidade e entre outros aspetos do espaço.

Após a identificação dos componentes e dos parâmetros é necessário inter-relacionar as variáveis e transformá-las em algoritmos para que seja possível a criação de regras. Desta forma, todo o sistema estará interligado, com um corpo único.

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É necessário adicionar ao processo as restrições normativas, que podem ser baseadas na legislação local, e caso haja outra restrição imposta pelo objetivo do projeto também será considerada nesta fase. No experimento demonstrado por ÇalıŞkan (2017), o objetivo foi criar um ambiente urbano flexível, capaz de adaptar as alterações urbanas e evoluir, além de considerar as estradas existentes e propor uso de terra adequada a cada situação, respeitando sempre as normativas legais vigentes.

O conjunto de parâmetros, regras e restrições são realizados dentro de um sistema generativo, onde poderão ser modificados e que irão gerar modificações do desenho paramétrico. Para que isso ocorra é necessário adicionar informações relevantes que ainda não foram abordadas no processo, como, por exemplo, o limite do sítio ou pontos de atração importantes. Informações sobre a localização territorial e dados geográficos podem ser aproveitadas de sistemas de informação geográfica (GIS), perfeitamente compatíveis com os softwares de modelação paramétrica.

Depois dessas condições iniciais é criada uma grade de desenho que será ligada ao sistema generativo e que sofrerá as modificações de acordo com a variação dos parâmetros.

No caso específico do experimento de ÇalıŞkan (2017), essa grade é modificada por apenas 2 tipos de parâmetros, rotação e divisão, conforme os desenhos a seguir demonstram a grade normal sobreposta a malha existe (1), após a interligação das regras com a malha do desenho, a grade foi deformada para estar de acordo com as ligações com os pontos de atratividades, círculos a branco (2). Por fim, para otimização dos blocos foi utilizada uma técnica denominada Voronoi tessellation, espécie de decomposição do espaço do desenho.

Figura 5. Três etapas da estrutura da grade: grade básica (1), grade deformada (2) e a grade final em mosaico

(3).

Fonte: Çalışkan (2017 apud Stefanescu, 2013).

A ordem de processo descrita pelo experimento de ÇalıŞkan (2017) não é universal, podendo sofrer variações de acordo com o modo de trabalho de cada projetista. Mas a descrição é importante para entender os elementos básicos e essências para a criação de um projeto paramétrico.

O projeto paramétrico pela sua complexidade inicial, necessita de uma antevisão do processo de modelação e uma estruturação da lógica antes de qualquer manipulação das regras para o projeto. É necessário esboçar esquemas e identificar quais parâmetros serão necessários para chegar ao objetivo, tendo em vista que há uma variedade de parâmetros e que poderá variar da necessidade e especificação de cada projeto.

Silva e Amorim (2010) acreditam que, para se obter as geometrias urbanas complexas é necessário, inicialmente utilizar 3 tipos de técnicas paramétricas denominadas por técnicas de variação, diferenciação e deformação que aplicadas ao desenho da malha urbana irão construir outros tipos de resultados, diferentes dos habituais. Dessa forma, “o urbanismo paramétrico fundamenta-se

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essencialmente na exploração das ferramentas de desenho paramétrico para constituir novas lógicas de desenho urbano” (Silva e Amorim, 2010, p.420).

Assim como Schumacher (2009), um dos principais defensores do parametricismo e do urbanismo paramétrico, outros defensores da disciplina argumentam que uma das maiores qualidades avistada nesta área do urbanismo é que sistemas paramétricos permitem criar “rapidamente, diferentes alternativas a partir da simples alteração de valores de um ou mais parâmetros específicos” (Lima, 2014, p. 262) o que facilita a avaliação e visualização do projeto, a escolha de alternativas que condizem com o objetivo principal e as decisões projetuais baseadas na previsão de eventuais problemas.

Dessa forma, visando a flexibilidade do parametricismo, entende-se que o campo do urbanismo paramétrico ainda contém traços marcantes do urbanismo tradicional. O conceito global de urbanismo, pode ser interpretado de acordo com cada situação das cidades, contexto histórico ou de cada pensamento dos teóricos. O termo é abrangente e pode envolver diversos atores, planos, projetos, estratégias e ações. Entre a diversidade de conceitos, entende-se que a base da disciplina é constituída pelo conjunto de ações que visam promover as transformações e desenvolvimento das cidades a fim de atender as necessidades atuais e futuras sendo “considerado a nova ferramenta flexível do planeamento” (Vescina, 2010, p.37). Sendo abordado por Vescina (2010) e por Lima e Freitas (2016) não como um produto final, mas sim como um processo, com a justificativa de que as cidades estão em constante mudança e desenvolvimento.

O zoneamento urbano faz parte do conjunto de regras que devem ser seguidas pelos Projetos Urbanos, o que é duramente criticado em casos como o Brasil onde existe uma grande parcela da população a viver em lugares informais. Para Lima e Freita (2016), há uma distância enorme entre a cidade legal (regida por leis) e a cidade real, pois, a falta de estudo sobre a realidade das cidades aliadas aos procedimentos (normativas e índices urbanos) do urbanismo tradicional, resultam em projetos urbanos e planos mal sucedidos que não conseguem solucionar questões urbanas e não conseguem prever situações futuras.

“Em suma, o planeamento tradicional adota zoneamentos com indicadores pouco

embasados na dinâmica urbana existente e nas possibilidades socioeconómicas da maior

parte da população urbana, numa abordagem estanque, restritiva, de difícil

compreensão, descolada dos problemas da cidade real e, sobretudo, excludente”. (Lima

e Freitas, 2016, p.121)

A fim de tentar solucionar certos problemas das cidades, no que o projeto urbano tem dificuldades em resolver, o Projeto Paramétrico Urbano utiliza inicialmente a junção de dados existentes (como exemplo a topografia, insolação, ventos dominantes, hidrografia, ruas, edifícios, marcos, entre outros) e dos dados obrigatórios (regras, leis, índices) de projeto para propor novas soluções de malhas urbanas normalmente com um zoneamento não tradicional, tentando ainda mesclar os variados usos e serviços para que se possa obter uma urbanização de forma mais dinâmica, eficiente e adaptativa.

Cada dado, seja quantitativo, qualitativo ou de relações, no parametricismo torna-se uma estrutura algorítmica, ou seja, não se projeta com as figuras sólidas como o projeto tradicional, mas sim na modificação dos parâmetros ou das suas relações.

O processo de criação pode iniciar-se com a indicação de uma grelha ou de pontos iniciais desenhados ou indicados no programa de modelação 3D. Após a inserção dos dados existentes (que podem ser a indicação dos limites e da topografia de um terreno, bairro, cidade ou até mesmo vias existentes), começa a manipulação dos comandos na interface do plugin paramétrico. A flexibilidade dos resultados pode ser obtida através da manipulação de dados indicados pelo próprio projetista, como, por exemplo,

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a indicação dos pontos de atratividade de um sítio, a largura das vias de vias e calçadas, a quantidade de vias e quadras, a dimensão adequada de quadras, prédios, densidade, fluxo, áreas, restrições formais entre outros.

Os principais motivos da escolha deste processo estão relacionados com a praticidade de inter-relacionar variados tipos de dados com uma rápida visualização tridimensional, onde a modificação de dados ou parâmetros possa ser correspondida no modelo tridimensional, sendo assim a variação ou modificação pode sempre interferir um ao outro.

A complexidade do projeto urbano que envolve a integração de sistemas de infraestrutura, índices urbanos, definição de usos, e outras disciplinas, requer também que seja, “argumentativo, colaborativo e inclusivo a fim de alcançar um projeto viável, deve ser aberto para alterações como resultado de negociações” (Steinø e Veirum, 2005, p.184).

A facilidade de alteração advinda da modelagem paramétrica, além da grande variação de resultados, é uma ferramenta poderosa para que os projetos e planos urbanos sejam aprovados pelos clientes e responsáveis pela construção dos projetos. Uma vez que a elaboração de um design urbano envolve entidades e atores que também têm outros interesses políticos, para Steinø, et al. (2013, p.12) “profissionais e atores têm diferentes modos de pensar e de línguas diferentes e isso representa um dilema de comunicação”.

2.2 CONCEITOS E METODOLOGIA DO URBANISMO PARAMÉTRICO

O início do século XXI foi marcado pelo desenvolvimento tecnológico, que possibilitou um grande avanço na criação e aperfeiçoamento das ferramentas de modelagens tridimensionais e facilitou o desenho de modelagens mais complexas.

Tais modelações, especificamente as que são utilizadas no urbanismo paramétrico, relacionam dados existentes com os que se pretendem projetar, tornando as informações em parâmetros que, ligados ao desenho podem, numa simples alteração dos valores, gerar modificações precisas, quase que automáticas e correspondentes no desenho.

“Isso significa que qualquer alteração em um dos parâmetros de um componente dentro

do sistema generativo termina com uma transformação relacional dentro dos outros

componentes em modelos paramétricos”.

(Traduzido de Çalışkan, 2017, p. 491)

O debate acerca dos conceitos e sobre as técnicas utilizadas podem gerar um vasto número de interpretações (Voltolini, 2016). Segundo Davis (2013), entender o conceito de modelagem paramétrica é o primeiro passo para “identificar os desafios idiossincráticos dos modelos paramétricos”. Tal afirmação baseia-se nas várias interpretações e conceitos sobre o tema.

Neste contexto de esclarecimentos e definições, serão apresentados os conceitos sobre os termos relacionados ao urbanismo paramétrico, nomeadamente o design generativo, modelagem paramétrica, projeto paramétrico, geometria associativa e o parametricismo.

Algumas questões importantes são abordadas nos debates atuais sobre o parametricismo. A questão inicial, como já mencionado, refere-se ao conceito “parametricismo”, e a segunda questão diz respeito à hipótese de criação de um novo estilo global, anunciado pelo urbanista Schumacher (2009).

Schumacher (2009) disserta que após o modernismo, os estilos do pós-modernismo e desconstrutivismo serviram como episódios de transição preparando o campo para novas ideias de pesquisas e que

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resultaram na inovação de novas ferramentas digitais que utilizam técnicas de design paramétrico, definindo o parametricismo como um estilo arquitetónico de alta expressão criativa. Já Çalışkan, (2017) disserta que o termo parametricismo tem uma história ligada à matemática e não às ferramentas digitais, que no conceito de (Weisstein, 2002, p.2150) significa “conjunto de equações que expressam um conjunto de quantidades como funções explícitas de um número de variáveis independentes”.

O debate é intensificado a partir do ano de 2009, quando Schumacher (2009), cria um manifesto sobre o “Parametricismo” e o cita como novo um estilo baseado no design cada vez mais sofisticado e que busca “atender racionalmente às necessidades sociais e económicas da era pós-Fordista”. O urbanista tenta esclarecer que esse novo movimento ditado por regras metodológicas e inovação é um “novo estilo e não apenas um conjunto de tecnologia”. Entre as regras a serem seguidas, encontram-se as instruções de Schumacher quanto às heurísticas negativas, que são baseadas em situações que não devem serem seguidas, como a repetição de elementos e o uso de geometria circular, retangular ou quadrada. A regra das heurísticas positivas tem como base, instruções como, a utilização de qualquer forma paramétrica, flexível e de variadas proporções.

No que diz respeito à teoria da existência de um novo estilo, Oktan e Vural (2017), discutem sobre o conceito imposto pelo urbanismo Schumacher (2009) e tentam chegar à conclusão se o Parametricismo é um estilo ou um método. Na visão dos autores, o “design paramétrico não é uma atividade orientada por teoria, mas voltada para o processo”, assumindo uma postura de metodologia e não de estilo.

Neste processo metodológico, um dos pontos que preocupa Leach (2014) é compreender a diferença entre técnicas algorítmicas e técnicas paramétricas, uma vez que possuem processos complexos e se tornam confusos para os profissionais que não utilizam tais técnicas. Schumacher (2009) consegue dividir as técnicas paramétricas e algorítmicas, e a junção dessas técnicas resultam no que o autor chama de um novo estilo denominado Parametricismo.

Com a utilização de softwares paramétricos cada vez mais frequente nos escritórios de projetos arquitetónicos e urbanísticos, deve haver algum esforço para tentar esclarecer os termos que cercam o parametricismo, sobretudo no que diz respeito à confusão entre o conceito das técnicas paramétricas e de técnicas algorítmicas (Voltolini, 2016). O que para Leach (2014) diz ser claramente diferente, sendo que técnicas algorítmicas contém uma estrutura baseada em códigos, e técnicas paramétricas baseadas na manipulação da forma. As interpretações equivocadas podem ser consequência da base do design paramétrico estar diretamente ligada aos princípios algorítmicos (Dino, 2012).

Figura 6. Comparativo entre Técnicas Paramétricas e Técnicas algorítmicas.

Fonte: Elaborado pela autora.

O código algoritmo pode ser ajustado para obter vários resultados, assim como os parâmetros (dentro das regras algorítmicas) podem ser modificados. Leach (2014) acredita que todo “desenho paramétrico

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se baseia necessariamente em código. Por outras palavras, nos encontramos numa situação dialética onde o código e forma dependem um do outro. Não pode haver nenhuma forma sem código, e muitas vezes nenhum código sem forma” (Leach, 2014, p. 04).

Figura 7. Esquema da interligação dos parâmetros e do desenho.

Fonte: Elaborado pela autora.

Para Leach (2014), o projeto algorítmico funciona com uma instrução para o uso de linguagem de script que permite a manipulação do código e que nos softwares atuais já se utilizam de formas pictográficas para melhor interatividade com o programa de desenho. “No final, não é tão claro como muitos arquitetos estão a trabalhar dentro de um quadro verdadeiramente algorítmico, ao invés de simplesmente operarem dentro de uma estrutura visual” (Leach, 2014, p.04).

Portanto, a função principal dos algoritmos é gerar a geometria no ambiente do desenho e o processo funciona através da transformação de dados e das regras em junção com a modificação dos parâmetros. Esse processo de geração da modelagem baseada em “sistema de geração e regras” (Çalışkan, 2017, p.418) é designado por design generativo. Gomes (2014) indica que as técnicas e a modelação paramétrica derivam deste sistema de design generativo.

Não há consenso sobre qual a data de criação do design generativo, mas o estudo que marcou este tipo de design foi a publicação “A New Theory of Urban Design” em 1980, quando Alexander et al. (1987) escreveram os resultados do seu estudo, onde utilizaram o design generativo no contexto urbano, para demonstrarem os sentidos do crescimento urbano.

A princípio, o designer, ao fazer uso da utilização de técnicas paramétricas num sistema generativo, dificilmente irá prever a forma final que irá surgir do resultado do processo. Apesar de saber os objetivos e as necessidades que se quer alcançar, o sistema generativo ao nível computacional tem a “capacidade geradora de possíveis soluções infinitas através de processamento de informação avançada, que resulta na simulação de formas e padrões complexos” (Çalışkan, 2017, p. 419). O papel do designer no primeiro momento é indicar as informações que servem de alimentação para o processo gerador da forma, e não especificar a forma da modelação propriamente dita.

O conjunto de informações indicadas pelo designer após ser processada pelo software de modelação estará conectada numa espécie de rede, onde as variáveis estarão totalmente relacionadas (Dino, 2012). Essa vinculação é chamada de geometria associativa e expressa a relação de interdependência entre todos os componentes do modelo (Çalışkan, 2017).

A geometria associativa, portanto, torna-se um aspeto fundamental do projeto paramétrico. Na visão mais abrangente, Çalışkan, (2017) e Verebes (2014) definem o projeto paramétrico como uma técnica computacional adaptativa e flexível, que permite a simulação de soluções infinitas através de

Interligado

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modificação de parâmetros e padrões complexos. Esta perspetiva é ampla e pode abranger outras áreas para além dos estudos urbanos.

De uma forma mais específica, Gomes (2014, p. 27) complementa que o urbanismo paramétrico “opera através da correlação de múltiplos sistemas urbanos com os sistemas de modulação de abertura e fecho de espaços, explorando novas técnicas de variação formal e diferenciação, em que nada se repete”. Portanto, além de aplicar as técnicas computacionais, é necessário que haja um domínio sobre as configurações do tecido urbano, os índices urbanos dispostos pelo PDM, e outras questões do convívio humano relacionados ao desenho das cidades que podem vir a ser convertidas em parâmetros e posteriormente compor uma modelagem paramétrica.

Dessa forma, Davis (2013, p. 09) especifica que a modelagem paramétrica é um “conjunto de equações que expressam um modelo geométrico como funções explícitas de vários parâmetros”. O autor expõe que o modelo paramétrico é único, não pelas facilidades de modificações ou pela utilização de novas ferramentas, mas, porque cada modelo é resultado de um conjunto de parâmetros que dificilmente será o mesmo para cada projeto. Nesse sentido, os primeiros escritos que citam a modelagem tridimensional baseada em parâmetros é por volta de 1837, data em que foi publicado o artigo “On the Drawing of Figures of Crystals” pelo cientista James Dana’s, onde explicita os passos para se desenhar cristais através da utilização de parâmetros. Outro exemplo que aborda uma perspetiva diferente, são as obras arquitetónicas de Antoni Gaudí (1852-1926) e Frei Otto (1925-2015), que utilizavam uma metodologia similar ao parametricismo para os projetos, ainda sem auxílio de computação gráfica para a realização das obras arquitetónicas.

Davis (2013) expõe uma discussão a respeito de que os arquitetos e designers sempre projetaram de certa forma de maneira paramétrica. Segundo o autor, a justificação para dizer que todo projeto é paramétrico surge da análise que cada elemento do projeto é considerado um parâmetro, como o sítio, materiais utilizados, orçamento, e que cada parte está interligada com um todo, e que por consequência toda a modificação afeta o todo. Essa linha de pensamento confronta os ideais formulados por Schumacher (2009) de que foi criado recentemente um estilo arquitetónico composto por técnicas paramétricas fruto de uma tecnologia computacional.

Este pensamento pautado no conceito que o projeto paramétrico está intrinsecamente ligado às tecnologias computacionais atualmente existentes, e entram em conflito quando se estuda a produção de obras arquitetónicas de Gaudí, como a Colònia Güell em Barcelona, Espanha. O seu estilo pessoal de projeto surge num tempo onde não havia a facilidade computacional. Os conceitos matemáticos e de lógica sobre estruturas possibilitou-lhe criar obras arquitetónicas que ainda hoje são consideradas complexas e que Makert e Alves (2017) consideram ser as primeiras obras arquitetónicas parametricistas.

O arquiteto Antoni Gaudí explorou a utilização de ligações de cordas tencionadas e presas a pequenos pesos, que permitiam a alteração dos mesmos e que no sistema todo interligado resultava em variadas versões de desenho. A estrutura resultante do método foi rotacionada 180º, e quando visualizada através de um espelho resultou na forma da Colònia Güell em 1898. A sua construção, apesar de cativar muitos entusiastas, permanece ainda inacabada (Makert e Alves, 2017). O resultado e o modo como o artista trabalhava e desenvolvia os seus projetos utilizando geometria não euclidiana e principais matemáticos é similar aos resultados das técnicas computacionais parametricistas, uma vez que a repetição dos mesmos parâmetros são quase que inexistentes e que a criação acontece dentro de um espaço generativo.

De facto, a exploração da geometria não euclidiana era difícil e requeria um conhecimento aprofundado em matemática. Henriques (2016) cita que a “utilização matemática mais evoluída” serviu de base para que softwares pudessem explorar e possibilitar a criação de desenhos de geometrias complexas,

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superfícies topológicas e curvas NURBS (Non Uniform Rational B-Spline), o que antes era difícil e quase que improvável sem auxílio de softwares.

Figura 8. Figura 9. Modelo paramétrico e obra da Sagrada Família do arquiteto Antoni Gaudí.

Fonte: Maher e Burry (2003) e Thetimes.com

Os primeiros softwares de desenho trabalhavam na sua maior parte com geometria euclidiana, cujo referencial é o plano cartesiano, e que possibilitava a criação de volumes discretos através do CAD tradicional. A inserção do desenho das curvas NURBS só veio mais tarde, através da superfície topológica, cujo referencial é local, obtida através de softwares paramétricos. A geometria topológica trouxe a possibilidade de modificar e manipular geometrias complexas através das modificações de pontos em superfícies curvas, parâmetros ou fórmulas. Segundo Henrique e Bueno (2010), “como as curvas NURBS são definidas através de fórmulas matemáticas, quando se altera um parâmetro das mesmas a forma geral é recalculada localmente, se aplicarmos uma torção a um objeto este é reconfigurado”. Enquanto que o referencial da geometria euclidiana é desenvolvida dentro de um espaço cartesiano baseada em coordenadas X, Y, Z, o referencial da geometria topológica é indicado em pontos ou espaços locais (Henrique, 2016).

Tabela 1. Quadro comparativo. Geometria Euclidiana e Topológica.

Fonte: Adaptado de Henrique (2016) e J Monqueiro, E. Bueno.

Geometria Euclidiana Geometria Topológica

Referencial Cartesiano Referencial Local

Volumes discretos Curvas/superfícies continuas

Poli Linha (ligação coordenadas) N.U.R.B.S (fórmula matemática)

(Cad Tradicional) (Geometria paramétrica)

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Embora a existência das ferramentas digitais sejam relativamente recentemente, constata-se que mesmo antes da criação e refinamento de softwares capazes de processar grande quantidade de informação e auxiliar na criação de modelagem, alguns arquitetos e designers já aplicavam os conceitos de matemática mais avançados, similares às de técnicas paramétricas, sem o auxílio das ferramentas computacionais. Tais ferramentas só surgiram mais tarde, em meados do séculos XX, para auxiliar e tornar mais rápido e acessível o processo de desenho.

2.3 SOFTWARES E PLUGINS PARAMÉTRICOS

Segundo Leach (2014), a utilização dos novos softwares se deparam com uma grande barreira relacionada ao facto de estar a ser mais utilizada no âmbito da prática comercial dos escritórios e pouco disseminada nas academias. Entende-se que a disseminação da prática no meio académico pode incentivar e impulsionar a utilização desses softwares e o seu desenvolvimento através de pesquisas neste campo de estudo.

Davis (2013) comenta a dificuldade dos designs e arquitetos de mudarem a sua forma de projetar para começarem a utilizar das ferramentas paramétricas, uma vez que precisam de conhecimento de outras áreas como sequência lógica e fórmulas.

Percebe-se que a dificuldade imposta pela falta de conhecimento de programar e desenvolver fórmulas e scripts está a ser amenizada pelas interfaces de plugins que já possuem uma série de fórmulas pré-programadas e que facilitam o desenvolvimento de desenhos (Lee, 2006). Portanto, é possível estabelecer parâmetros e regras tanto por scripts como por indicações de comandos visuais (Davis, 2013).

Nos escritórios e estúdios de projetos de arquitetura, urbanismo e engenharia, alguns softwares paramétricos tornaram-se mais populares que outros, alguns destes, são referenciados neste capítulo. Vale ressaltar que a função paramétrica do software, normalmente está associada a uma ferramenta adicional ao programa que pode ser um plugin ou dialeto de programação especifico como o “lisp”. Cada software tem uma ferramenta particular para criar desenhos paramétricos, e uma particularidade que as podem diferenciar é o grau de conhecimento que o utilizador possui somada a curva de aprendizado que o programa oferece. A seguir, será apresentado uma síntese do nível de conhecimento requerido para alguns dos softwares paramétricos.

Uma das características comum, é que no software paramétrico a “geometria muda com a modificação de parâmetros” (Davis, 2013, p. 41). Nas ferramentas paramétricas, a modificação de um parâmetro gera uma modificação da geometria automática, sendo a visualização e a análise de projeto facilitada pela rapidez dos softwares. Nesse sentido, destacam-se algumas diferenças entre o software paramétrico para o não paramétrico, como a associação dos parâmetros ao desenho e a sua manipulação através dos parâmetros, de forma a se obter um histórico visível e acessível do processo. Enquanto que no CAD não paramétrico, o desenho é feito através de comandos de figuras geométricas, com a criação e modificação de linhas, curvas, retângulos, círculos e polígonos dentro do próprio ambiente de trabalho que está inserido o desenho, os comandos no CAD paramétrico são feitos num ambiente externo ao desenho, onde contempla um sistema inteligente que pode estar pré-programada, e que dessa forma, não se irá apontar os comandos de geometria básica, mas, por exemplo, altura dos edifícios, número de pavimento, uso do solo, entre outros. Dessa forma, ao ter acesso ao ambiente estão inseridos os parâmetros e a sua a estrutura lógica em formato de histórico, nota-se uma vantagem face ao ambiente CAD não paramétrico que ao necessitar de qualquer tipo de alteração no desenho, o processo irá ocorrer de forma mais lenta.

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Tabela 2. Softwares paramétricos e o seu respetivo nível de conhecimento prévio.

Fonte: Adaptado de Gaspar e Manzione (2015)

Figura 10. Programa Rhino3D a esquerda e interface do Grasshopper a direita.

Fonte: Elaborado pela autora.

Fabricante Software Ferramenta Nível de conhecimento

Esri R&D Center Zurich CityEngine Paramétrico Porta Nenhum

Autodesk Revit Dynamo Conhecimento sólido em matemática; desejável ter

conhecimento intermediário em programação

Trimble Navigation SketchUp Modelur

Bentley Microstation Generative

Components Conhecimento sólido em matemática; desejável ter

conhecimento intermediário em programação McNeel Rhino Grasshopper

Autodesk AutoCAD AutoLISP Conhecimento sólido em

matemática e programação

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

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Figura 11. Simulação de modelos de edifícios com alçados paraboloidais.

Fonte: Leitão (2007)

Figura 12. Função em Autolisp (Autocad) referente aos alçados paraboloidais.

Fonte: Leitão (2007)

FERRAMENTA DE MODELAGEM RHINOCEROS 3D E PLUGIN GRASSHOPPER

Rhinoceros 3D, também conhecido como Rhino, é um software de modelagem 3D desenvolvido pela Robert McNeel & Associates, criado em 1992 para auxiliar a integração da biblioteca Nurbs no AutoCad (McNeel, 2018). Posteriormente foi aprimorado, e tornou-se um software independente.

Muito utilizado em organizações de grande porte, o programa possui ferramentas que possibilitam desenhar curvas e superfícies baseadas na representação de NURBS (non-uniform rational B-spline). O Rhinoceros promete ser uma ferramenta de precisão 3D, que pode ser utilizada para “criar, editar, analisar, documentar, renderizar, animar e traduzir curvas NURBS, superfícies e sólidos, nuvens de pontos e malhas poligonais” (Rhinoceros, 2019) em qualquer tipo de desenho e superfície, desde joias até iates.

A empresa também disponibiliza uma biblioteca aberta, que possibilita a troca de informação entre os usuários programadores de C++, para que possam criar, editar e trocar informações.

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Uma característica importante e que facilita os trabalhos dos designs é a compatibilidade deste software com outras plataformas de desenho.

Segundo informações da página web do software, o Rhinoceros é considerado acessível pelo preço de compra e por não ter outros tipos de taxas associadas ou de manutenção, e todas as licenças têm suporte e serviço. A facilidade também acompanha o software, que possui uma interface intuitiva e de fácil acesso às ferramentas de desenho.

O valor comercial do produto na versão atualizada no ano de 2018 é no valor de 995 € para Windows e 695 € para Mac, cobrados numa única parcela. Os valores podem variar para professores, alunos e escolas. Os preços podem ser menores para atualizações e nas compras de pacotes o Rhinoceros com outros softwares desenvolvidos pela Rhino3D.

Tabela 3. Valores das licenças para Rhinoceros 3D.

Fonte: Rhino3D.

Existe a possibilidade de avaliar a versão do Rhino 6 por 90 dias, sendo que após esse prazo as funções primordiais deixam de funcionar.

O software Rhinoceros disponibiliza uma vasta gama de ferramentas que possibilitam um nível de detalhamento avançado capaz de facilitar a fabricação e impressão 3D.

Aliado ao Rhino, foram desenvolvidos pela própria desenvolvedora uma série de plugins que auxiliam no desenvolvimento de projetos complexos. No conjunto de plugins para renderização (do grupo McNeel) estão o Flamingo indicado para arquitetura e imagens foto realistas, o Penguim para imagens de desenho animado, e o Brazil indicado para imagens artísticas.

No conjunto de ferramentas de desenvolvimento, o Rhino-Script, RhinoCommon (.NET) e o Rhino.Python permitem adicionar funcionalidades através de sprits baseados na linguagem Visual Basic.

Para além dos plugins já citados, existe o Bongo para animações, o Rhinophoto, importante para digitalização de objetos tridimensionais, e o Grasshopper, que na última versão do Rhino 6 já vem instalado.

O Grasshoper assumiu uma relevância maior nos últimos anos, pela funcionalidade paramétrica e algorítmica. Além da interface facilitada, o fabricante disponibiliza em seu site vídeos tutoriais criados com ajuda do próprio criador do software, David Rutten.

O plugin foi criado para o Rhino3D no ano de 2008, quando a arquiteto David Rutten propôs a criação de um plugin que mantivesse o histórico de comandos de desenho visíveis, como um fluxograma, ao mesmo tempo, que a modelagem de formas NURBS seria facilitada sem necessitar de experiência em programação.

Rhino 6 Comercial (1 usuário)

Alunos e Professores (1 usuário)

Escolas (30 usuários)

Windows 995 € 195 € 975 €

Mac 695 € 195 € 975 €

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

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O plugin possui uma janela própria, mas utiliza a geometria padrão do Rhino. A interface é composta por três partes principais: o Painel de Componentes, o Canvas (tela de pintura) e a barra de Status. Os parâmetros são inseridos através de comandos em “pedais” são interligados por linhas.

Figura 13. Exemplos de comandos da interface do Grasshopper

Fonte: Elaborado pela autora.

Para a utilização de dados de georeferenciamento, o Grasshopper possui um add-on que permite importar topografia e shapefile (arquivos de dados geoespacial), entre outras ferramentas que auxiliam na representação real do terreno (Washburn, 2018).

FERRAMENTA DE MODELAGEM REVIT E PLUGIN DYNAMO

O Revit é um software 3D que inicialmente foi criado, como forma de uma versão arquitetónica do Pro-Engineer. Começou a ser desenvolvido por Irwin Jungreis e Leonid Raiz, pela empresa Charles River Software, em 1997.

A primeira versão comercial foi lançada no ano 2000, o software “foi escrito em C ++ programação e foi programado como um objeto baseado em software que utiliza a mudança paramétrica para o objeto digital criado” (Rosli, et al 2018, p.18).

Em 2002, a empresa Charles River Software, conhecida como Revit Technology Corporation, foi vendida para a empresa Autodesk, detentora do software Autocad, uma das ferramentas mais utilizadas no setor de projetos.

O Revit é uma platarforma BIM (Building Information Modelling), que auxilia com as informações de projeto e de construção através da criação e modificação de parâmetros.

“O modelo BIM é uma imagem virtual do cenário real e todas as informações sobre o ciclo de vida do edifício são incluídas nele. A informação é a parte física, bem como a composição lógica dos objetos e o próprio edifício” (Mousiadis e Mengana, 2016, p. 11).

A concentração de informações num único modelo, pode evitar mudanças de projeto que podem ter um custo alto para o cliente final. A compatibilização de vários projetos, minimiza os erros projetuais, e auxilia na criação de um orçamento preciso e na gestão do tempo de construção (Mousiadis & Mengana, 2016).

A diferença principal entre o Autocad e o Revit, é a informação dos objetos da modelação. O Autocad permite a criação de desenhos precisos e gerais, enquanto que o Revit permite a criação de desenhos 3D

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inteligentes, que contêm informações de construção e que contribuem para orçamentos e gestão de tempo.

Ao iniciar o desenho, o projetista escolhe que tipo de família irá desenhar (por exemplo, parede), e as especificações vêm logo a seguir (por exemplo, parede de alvenaria, de espessura de 12 cm). Logo após a escolha de todas as especificações da parede desejada, inicia-se o desenho indicando o ponto de início da parede e a direção a seguir, indicando-se posteriormente a dimensão do comprimento da parede.

Dessa forma, ao continuar a criar outras paredes, todas as partes do desenho ficam automaticamente associadas. A modificação numa das paredes, diretamente irá influenciar as outras paredes que estão conectadas.

A licença Revit é disponibilizada por períodos, ou seja, o método de pagamento pode ser feito mensalmente, anualmente ou a cada 3 anos, conforme tabela a seguir. Existe a possibilidade de experimentar gratuitamente por 30 dias e para alunos, professores e instituições de ensino, em que a licença é gratuita desde que façam a comprovação dos dados.

Tabela 4. Valores das licenças para Revit.

Fonte: Autodesk.

Figura 14. Interface Revit a esquerda e Dynamo a direita.

Fonte: Zach Kron

Revit 2019 Mensal

(1 usuário)

1 ano

(1 usuário)

3 anos

(1 usuário)

Windows/Mac 369,05 € 2970,55 € 8020,48 €

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Para o auxílio da criação de geometrias mais complexas, a Autodesk desenvolveu uma ferramenta “para estender as funcionalidades do Autodesk Revit” (Faria, 2018). O Dynamo é um software livre e de código aberto, baseado em programação visual de controle, permitindo também a programação por texto e que possibilita a criação de códigos de comando para dinamizar os processos repetitivos no Revit, interagir e criar modelos, além de permitir a utilização de regras complexas, “ou seja, uma tarefa pode alterar o valor de um parâmetro de um elemento, selecionar objetos, comparar valores, ler e escrever planilhas de Excel, etc.” (Faria, 2018). O Revit pode ser personalizado a partir da automatização de rotinas e melhoramento no fluxo de trabalho, além do ganho de controle sobre a geometria e informações do modelo.

Assim como no Grassopher, os comandos no Dynamo também podem ser realizados através de “nós” e linhas. Os nós possuem comandos de entradas a esquerda (input), e pontos de saídas a direita (output). As linhas, também chamados de fios, são as ligações de um nó ao outro.

FERRAMENTA DE MODELAGEM SKETCHUP E PLUGIN MODELUR

O Sketchup é um software que permite a criação de modelos 3D de forma fácil e rápida. Criado em 2000 pela startup @Last Software, tinha como objetivo ser uma plataforma simples que pudesse substituir os desenhos feitos a caneta e papel. O melhoramento de algumas funcionalidades só foi possível após a venda da empresa @Last Software em 2006 para a Google. Foi neste momento que recursos importantes foram acrescentados, como a inserção de dados do Google Earth e a ferramenta integrada ao programa que permite importar desenhos do próprio armazém (Gaspar, 2017). No ano de 2012, o Sketchup foi novamente vendido, a empresa Trimble adquiriu e começou novas funcionalidades importantes para o software.

O Sketchup é uma ferramenta de modelação 3D simples e intuitiva, e por si só não é um software paramétrico, mas permite que plugins sejam adicionados a plataforma. Para que se possam desenvolver desenhos urbanos paramétricos, é possível adicionar o plugin Modelur, que foi projetado especificamente para a massa e controle urbano “enquanto projeto em fase de evolução” (Modelur, 2019), que irão auxiliar nas decisões de projeto urbano. Além de ser intuitivo, o que acarreta ganho de tempo de aprendizado, o Modelur permite trabalhar com as regras de zoneamento, avaliar as alternativas de projetos e calcular em tempo real os parâmetros, como números de apartamento, altura de edifícios, larguras das calçadas, números de estacionamento, entre outros.

Apesar da sua interface intuitiva, facilidade de aprendizado e a sua integração com dados georeferenciados, para Junior (2016) ainda há uma dificuldade na exportação de arquivos em .dwg (extensão dos arquivos criados em AutoCad) e shp (formatos de arquivo com dados geoespacial). Na opinião do autor, o Modelur é indicado para pequenas áreas urbanas, mas para áreas maiores, como bairro ou cidade, em que a programação acaba por ficar “braçal”, tomando muito tempo e diminuindo a eficácia do programa. Os dois softwares em questão têm valores diferenciados de acordo com o período de uso.

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Tabela 5. Valores para SketchUp 2019 e Modelur.

Fonte: SketchUp.com e Modelur.com

Figura 15. Interface SketchUp a esquerda e Modelur a direita.

Fonte: SketchUp.

Diferente de outros softwares paramétricos, Modelur não trabalha com a inserção de valores através de nós (espécie de desenho em formato de bateria ou pilha), as informações são inseridas num modelo de barra de propriedades que já está previamente configurada com informações para desenhos urbanos de pequena escala, onde é possível realizar ajustes às configurações prévias de acordo com a necessidade de cada projeto.

Além dos espaços da inserção de dados números, existem outros campos que ao processarem as informações do projeto, realizam automaticamente os cálculos de índice urbano e de construção para cada edifício. Por exemplo, ao alimentar as informações sobre um edifício, relativamente a área construída total, número de pisos e área por piso, a combinação destes parâmetros resulta numa forma

Sketchup 2019 Comercial PRO

(1 usuário) Licença Estudante

(1 ano)

Licença Professor

Windows/Mac $ 299 55 € 55 €

MODELUR Licença Projeto

(1 mês)

Licença Pessoal

(1 ano – 1 usuário)

Licença Equipe

(1 ano- 3 usuários)

Windows/Mac 59 € 549 € 1.949 €

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

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específica onde qualquer modificação de um destes parâmetros, resulta no ajuste automático dos outros elementos. Caso haja qualquer tipo de interferência entre parâmetros a ferramenta consegue avisar e indicar qual o motivo que está a causar o conflito.

COMPARAÇÕES ENTRE AS FERRAMENTAS PARAMÉTRICAS

A incorporação de novas funcionalidade aos programas de desenhos, auxiliam a desenvolver cada vez mais, respostas para problemas de alta complexidade. O nível da qualidade da resposta dos programas, está diretamente relacionado a forma como cada um desenvolve o seu trabalho. Nota-se a existência de 4 pontos importantes na comparação entre as ferramentas analisadas.

1. A compatibilidade com outros programas; 2. A facilidade de aprendizado; 3. Capacidade de processamento face à dimensão do projeto; 4. Investimento e incentivo a utilização académica.

Tabela 6. Tabela comparativa das características dos softwares analisados.

Fonte: Elaborado pela autora.

Comparativo

Compatibilidade Aprendizado Processamento/

dimensão do projeto

Investimento Incentivo acadêmico

Rhinoceros 3d e plugin

Grasshopper

Requer mais conhecimentos

(Rhinoceros)

€955 (único) licença paga

Revit e plugin Dynamo

Requer mais conhecimentos

(Revit)

€2970 (anual)

SketchUp e plugin Modelur

Encontra dificuldades

Mais indicado a dimensões menores

(SketchUp)

$299 (único)

(Modelur)

€549 (anual)

licença paga

A compatibilidade dos programas Rhinoceros e Revit mostra-se aceitável enquanto que o SketchUp ainda tem certa dificuldade para trabalhar com informações de outros programas. Em contrapartida, o SketchUp + Modelur tem uma curva de aprendizado maior, pela facilidade de adicionar os parâmetros construtivos nos espaços já pré-configurados, enquanto que para os outros softwares, é necessário montar a sua própria estrutura de projeto (nós e as suas interligações), o que os tornam programas mais complexos e que exigem um maior nível de conhecimento por parte do utilizador.

O grau de complexidade de cada ferramenta também resulta na capacidade de processamento face à dimensão do projeto, uma vez que, quanto mais tipos de regras e parâmetros tiver, maior poderá ser a abrangência do projeto. O SketchUp + Modelur neste quesito ficam atrás das outras ferramentas, pois, o seu formato de criação de desenho é engessado pela forma como são inseridos os dados, enquanto que o Revit + Dynamo e Rhinoceros + Grasshopper possui uma variedade de comandos e possibilidades.

Por fim, o tipo de investimento e os incentivos acadêmicos são outros 2 fatores analisados e que podem ser pontos importantes no momento da escolha destes softwares. O Sketchup + Modelur e o Rhinoceros

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têm um custo 3 vezes menor que o valor da licença do Revit anual, enquanto que o Revit é o único software a ter licenças gratuitas para o ensino, o que a princípio pode ter maior peso na escolha desta ferramenta de desenho.

2.4 SÍNTESE DA DISCUSSÃO

Este capítulo serviu para demonstrar alguns pontos importantes sobre os conceitos relacionados sobre o urbanismo paramétrico. Demonstrou também a discussão sobre o movimento iniciado por Schumacher (2009) no qual o autor defende a criação de uma novo estilo de projeto baseado na utilização de tecnologia digital, nomeadamente softwares paramétricos e, em contrapartida, está a discussão de Davis (2013) de que as técnicas paramétricas já estavam presentes muitos antes da existência de computadores e programas de desenho. Por fim, o estudo indica as características primordiais de 3 softwares paramétricos e quais as diferenças entre eles.

O próximo capítulo, aborda algumas questões das qualidades do ambiente urbano e demonstra o estudo mais detalhado de 5 qualidades para que as suas características possam ser utilizadas para realizar uma base de avaliação e deste modo ser aplicada no estudo de caso.

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3 QUALIDADE DO AMBIENTE URBANO

3.1 SELEÇÃO E ANÁLISE PRÉVIA DAS QUALIDADES URBANAS

O espaço urbano é palco para diversas atividades e acontecimentos, e para garantir que haja sucesso da vivência urbana é necessário que a qualidade de vida da população seja considerada nas estratégias das políticas e gestão públicas, nos debates participativos, e sobretudo o que será analisado nesta dissertação: nos projetos urbanos.

Apesar de ser amplo e abrangente o campo que debate dos conceitos e ideias sobre o tema geral da qualidade do ambiente urbano, encontra-se frequentemente na literatura uma questão comum que se relaciona com a sustentabilidade do ambiente interligado ao nível de qualidade de vida da população (Pinho, 1997). As preocupações acerca do desenvolvimento sustentável estão presentes em todas as esferas do cotidiano, e interfere sobretudo nas dimensões urbanas, física, económica, sociocultural e ambiental.

No desenho urbano, a qualidade do ambiente pode ser analisada a partir de um conjunto de indicadores que são traduzidos em parâmetros quantitativos. Sendo uma ampla área de estudo, a qualidade do ambiente urbano pode ser dividida em várias partes, cuja característica singular confere-lhe um nome de qualidade específica. Por exemplo, Ewing e Clemente (2013) indicam uma lista de 51 qualidades do ambiente urbano, baseada na pesquisa de Maryland Inventory of Urban Design Qualities (Ewing & Clemente, 2013) que reuniu diversos especialistas a fim de discutir o modo de avaliação de qualidades urbanas.

A mensuração das qualidades urbanas é uma tarefa complexa, alvo de muitos estudos, e envolve a árdua integração de vários elementos, como a perspetiva humana, sentimentos e sensações individuais e/ou coletivas dos utilizadores, que por vezes se tornam dificilmente quantificáveis.

Ewing e Handy (2009) comentam que uma única característica física não pode resumir a experiência de viver e andar pelas cidades; nesse sentido, a avaliação de uma qualidade urbana isolada não é suficiente para encontrar um resultado positivo ao desenho urbano, além disso, a obtenção de um resultado fiel da análise depende do ambiente construído/edificado (Alves, 2003).

Apesar desta compreensão, entende-se que é possível avaliar a existência ou não de qualidades do ambiente urbano através da comparação entre o projeto e um conjunto de indicadores específicos. Nesse sentindo, foi necessário escolher, de entre uma variedade de qualidades, aquelas que tinham mais chances de serem avaliadas sem um ambiente construído, mas somente como um projeto conceitual.

A existência e a possibilidade de traduzir as qualidades urbanas para parâmetros e regras pode ser um exemplo de demonstração da forma como o conhecimento humano pode ser auxiliado por ferramentas digitais.

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Do quadro das 51 qualidades do ambiente, listadas por Ewing e Clemente (2013), 3 foram escolhidas, nomeadamente conforto, legibilidade e variedade, primeiramente pelo critério da possibilidade de avaliação ao nível de desenho, e também pela disponibilidade de informações projetuais. Para além dessas, outras 2 qualidades foram escolhidas por serem fatores chaves na qualificação dos espaços urbanos (Project for Public Spaces, 2001), sendo elas a acessibilidade e a permeabilidade, que estão ligadas a ligação e transparência, respetivamente.

Tabela 7. Cinquenta e uma qualidades do ambiente.

Fonte: Ewing, e Clemente (2013, p. 04)

Adaptability Contrast Human scale Mystery Sensuousness

Ambiguity Deflection Identifiability Naturalness Singularity

Centrality Depth Imageability Novelty Spaciousness

Clarity Distinctiveness Intelligibility Openness Territoriality

Coherence Diversity Interest Ornateness Texture

Compatibility Dominance Intimacy Prospect Transparency

Comfort Enclosure Intricacy Refuge Unity

Complementarit Expectancy Legibility Regularity Upkeep

Complexity Focality Linkage Rhythm Variety

Continuity Formality Meaning Richness Visibility Vividness

Este capítulo abordará questões importantes acerca das qualidades escolhidas, nomeadamente acessibilidade, permeabilidade, conforto, variedade e legibilidade. As questões envolvem definições, a discussão sobre as características marcantes de cada qualidade, e o modo como será avaliada. O objetivo posterior é analisar o desempenho alcançado do estudo de caso, de acordo com a grelha de informações sintetizadas a partir do estudo das qualidades escolhidas.

3.1.1 ACESSIBILIDADE

O significado de acessibilidade abordada nesta análise refere-se ao acesso e ligações do nível urbano e refere-se a dois tipos de abrangência. A primeira questão envolve características do espaço dentro dos limites na área estudada, enquanto que a segunda envolve questões relacionadas ao acesso de outros lugares à área estudo.

A análise da acessibilidade torna-se um importante instrumento para se verificar problemas como congestionamento e tráfego intenso, dificuldade em caminhar e ao acesso a serviços, comércios e lazer (PPS Inc. 2000).

Burton e Mitchell (2006) apresentam alguns pontos característicos importantes para ruas acessíveis, construídos a partir de estudos de campo apresentado no livro Inclusive Urban Design streets for life. O livro aborda o design urbano para todos, com foco para os idosos, o que subentende que ao projetar para aqueles que possuem alguma necessidade especial estará também a projetar para todos. O capítulo sobre “Acessibilidade” do livro em questão aborda alguns pontos característicos de ruas e espaços acessíveis. Os pontos que serão considerados são aqueles que conseguem ser previstos ao nível de projeto de estudo prévio e não construído, uma vez que a construção de projetos urbanos paramétricos ainda não é de fácil acesso.

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

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Figura 16. Esquema de acessibilidade interna à direita. Esquema de acesso à área de estudo.

Fonte: adaptada de Wallhere.com

Burton e Mitchell (2006) verificaram que quando há um uso de solo misto, ou seja, quando há uma variedade de usos como habitações, comércio, serviços e lazer numa determinada área, a proximidade destes usos ajudam a área a tornar-se acessível.

Para a escolha do indicador que reflete a obtenção do uso misto de solo ideal, foi tido em consideração o projeto iniciado pela Faculty of Architecture at the Delft University of Technology, em colaboração com Berlage Institute, com assinatura de Van den Hoek (2008).

Como argumento a favor da utilização de uso misto de solo, Van den Hoek (2008, p.6) explicita que “ao misturar habitação e trabalho, o tráfego humano é induzido a toda a hora, resultando em ambientes mais controlados, eficientes e seguros”. A fim de criar uma urbanidade o Índice de Uso Misto de Solo – MXI, descrito por Van de Hoek, (2008) sugere que a proporção de áreas residenciais e não residenciais seja 50/50, o que se reflete numa maior dinâmica dos centros urbanos.

Alguns fatores externos como a distância até instalações e serviços locais auxiliam na obtenção de melhores resultados para acessibilidade (Burton e Mitchell, 2006). É possível perceber uma correlação entre a existência do uso misto de solo e as distâncias mais curtas entre habitações e serviços, comércios, espaços de lazer e outros tipos de instalações.

Para a mensurar a distância adequada para pessoas mais idosas, Burton e Mitchell (2006), indicam as seguintes sugestões:

• Até 500m para serviços essenciais e instalações: loja de alimentos em geral, correios, banco, cirurgia de clínica geral ou centro de saúde, espaços verdes menores, banheiros públicos, assentos e paragem de autocarro;

• Até 800m para serviços secundários e instalações: parque ou outra forma de espaço aberto, biblioteca, dentista, oftalmologista, locais de culto e instalações comunitárias e de lazer;

• Passeio e passadeira: no mínimo dois metros da largura; • Cruzamentos: simples e conectados.

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Figura 17. Serviços primários até no máximo 500m das habitações e secundários no máximo até 800m, a

esquerda. Exemplo de ruas bem conectadas e cruzamento simples e claro, a direita.

Fonte: Daniel Kozak e Nacto.

A acessibilidade é indicada por Brandão (2008, p. 24) como pilar “estratégico e performance identitária do espaço público”, e que somada à mobilidade, pode oferecer facilidade de locomoção de atravessamento e acesso para todos, sem exceções. Esse conjunto de pilares/características resultam na performance dos espaços públicos, sendo importante para garantir a convivência e interação social. Esses princípios para a qualidade do desenho do espaço público foram listados no livro O Chão da Cidade (2002):

• Identidade; • Continuidade, legibilidade e permeabilidade; • Segurança, conforto e aprazibilidade; • Mobilidade e acessibilidade; • Utilidade, durabilidade e resistência; • Diversidade e adaptabilidade; • Sustentabilidade.

Carrelo e Aguas (2002) indicam que de entre alguns critérios para se alcançar a acessibilidade um dos fatores importantes é a localização e distribuição dos usos e a oferta/opção em termos de meios de transportes. Reforçando esse critério, a organização Project for Public Spaces - PPS (2000) indica que a opção variada para chegar ou sair é um dos fatores que contribuem para os acessos e conexões. As opções em termos de transportes podem ser traduzidas ao analisar qual a distância do raio de abrangência do metro (se existir), quantas linhas de autocarro existem, qual a distância da área para o núcleo central de atividades, negócios, compras e serviços, e por fim a distância do aeroporto mais próximo à área.

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

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Tabela 8. Síntese do quadro de indicadores das qualidades urbanas e referências – Acessibilidade

Fonte: Elaborado pela autora.

Acessibilidade

Divisão Característica Autores Referência

Acesso à área

Raio abrangência ao metro

Carrelo & Aguas (2002) PPS (2001)

Burton e Mitchell, (2006) Hoek (2008)

Burton e Mitchell, (2006)

Número de linhas Autocarro/população RA

Distância para o núcleo central de Singapura e vias principais

Distância para o aeroporto

Acesso interno

Uso-misto de solo

Serviços primários 500 m das habitações

Ruas bem conectadas e cruzamentos simples

Calçadas mín. 2 metros de

largura

Tendo por base a Tabela 8. verifica-se que apesar das ações e medidas serem quantitativas, o que seria perfeitamente traduzida como variável numa plataforma paramétrica, algumas das análises pontuais não são resultados do processamento de software paramétrico. Por exemplo, a distância de qualquer área até o aeroporto é uma medida imutável, a menos que seja requerido um novo aeroporto mais perto e que este seja considerado em projeto. É uma grandeza que não tem consequência no projeto, sendo somente uma constatação de que o aeroporto é longe ou é perto.

A avaliação de outros pontos, como raio de abrangência ao metro e número de linhas de autocarro suficientes, podem ser um aliado a elementos de que facto irão ser considerados no projeto. Ou seja, se se constatar que existe uma deficiência nos transportes públicos, poderão ser adotadas medidas no projeto, como espaços pontuais nas vias para paragem de autocarro, metro ou outro transporte de passageiros. Estas medidas podem ser indicadas no ambiente generativo e serão consideradas juntamente com as outras informações.

Os fatores que possuem uma influência direta estão lidados no acesso interno conseguem ser traduzidos como parâmetros e regras, uma que vez que são quantitativos e variáveis. Por exemplo, a percentagem de habitações é uma variável que poderá ser indicada ao software, desde que seja indicado do que poderão ser os outros 50% de edificações. Nas vias bem conectadas, por exemplo, poderá ser indicado que não se deve ter cruzamento sem saídas, mas que poderão ter 3 ou 4 junções de vias.

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3.1.2 PERMEABILIDADE

A permeabilidade é qualidade que possibilita o acesso rápido e fácil através das interfaces e conexões. A integração na malha urbana pode ser obtida pelas várias alternativas de caminhos e percursos (Brandão, 2008). Um exemplo de permeabilidade está relacionado com a forma e dimensão – quanto menores forem os quarteirões, mais opções de caminhos terá. A existência de espaços sem utilidade nos espaços não utilizados nos centros dos quarteirões é um indicativo de que a área é pouco permeável.

Para Bently, et al. (1985)e Carrelo e Aguas (2002), a permeabilidade está intrinsecamente ligada ao acesso de um lugar para outro, o que irá refletir na quantidade de caminhos alternativos que um sítio pode ter. Quarteirões de grandes áreas normalmente, pela forma como as áreas privadas são dispostas, possuem pouca permeabilidade, pois, não permite a possibilidade de caminhos alternativos.

Além de quadras/quarteirões mal dimensionados, as ruas sem saída estilo “cul-de-sac” também não permitem a alternativas de caminhos e podem contribuir para a falta de permeabilidade. Bentley et al. (1985) indicam que ao projetar ruas e quarteirões, sugerem que os blocos tenham entre 80 a 90 metros. Já Burton e Mitchell (2006) indicam pequenos blocos entre 60 a 100 metros, com a justificativa de que essas medidas também contribuem para outras qualidades do desenho urbano como a variedade e legibilidade. Outra abordagem relativa ao dimensionamento das quadras é de Pafka e Dovey (2017 apud Whyte 1988 e Jacobs 1961), que “geralmente definem boa permeabilidade pelo comprimento do bloco que varia entre 60 e 90 m (…) com um máximo de 120 m”.

A Figura 17 faz uma comparação relativamente à permeabilidade de dois desenhos; o primeiro demonstra a disposição de elementos que servem de obstáculo para o acesso ao interior do quarteirão, e o segundo desenho identifica o obstáculo e indica uma solução para aumentar a legibilidade do quarteirão, com a criação de várias rotas pedonais onde todas convergem para o meio do quarteirão, promovendo a acessibilidade de espaços antes inacessíveis.

Figura 18. Estudo de permeabilidade na disposição dos obstáculos.

Fonte: Elaborado pela autora.

Esta qualidade pode ser diferenciada em dois aspetos: físico (caminhos e rotas alternativas) e visual (caminhos e locais que chamam a atenção e fornece sensação de segurança). Além de interferir diretamente no acesso do público para o privado, a permeabilidade, ao ser pensada, tem que ser cuidadosa ao ponto de não comprometer a privacidade das atividades privadas. Para isso, Bently, et al. (1985) sugerem que os espaços privados tenham as suas áreas bem delimitadas com as frentes dos alçados voltados para o espaço público e resguardando o fundo para outras áreas privadas. A permeabilidade de espaços urbanos enfrenta também algumas dificuldades relativas à implantação, com

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empreendimentos cada vez maiores e utilizando mais áreas, o uso de redes hierarquizadas (que irão gerar poucas escolhas de rotas) e estratégias de separação dos pedestres e veículos (Bently, et al. 1985).

Figura 19. Exemplo de rede viária com hierarquia. Linha vermelha é a rota utilizada, linha verde seria a ligação

direta dos pontos AD sem passar por C e B.

Fonte: Bently, et al (1985, p. 13).

Um espaço urbano permeável é aquele que permite a ligação física e visual dos utilizadores com o ambiente urbano, e promove a integrações dos espaços “assegurando a ligação dos seus elementos às redes pré-existentes (infraestrutura, equipamentos, revestimentos vegetais)” (Carrelo e Aguas, 2002, p. 35).

Pafka e Dovey (2017) desenvolveram um estudo sobre o qual tipo de quadras/quarteirões são os mais permeáveis. São considerados 5 tipos de desenho de blocos: chanfrados, quadrados, alongados, grandes e variados. Seguem em ordem do mais para o menos permeável.

O dimensionamento e desenho das vias também é um ponto importante no desenho urbano e na permeabilidade, além de estarem diretamente relacionados com o desenho dos quarteirões. É preciso que haja alguns cuidados ao projetar as vias, pois, o fluxo de intenso do tráfego, congestionamento, falta de segurança e outros aspetos podem afetar duramente o bom desempenho urbano, “por exemplo, altos níveis do fluxo de tráfego pode inibir a habitação a menos que seja manuseado com cuidado em detalhe” (Bently, et al. 1985, p.15).

Figura 20. Tipos de blocos que contribuem para a permeabilidade.

Fonte: Elaborado pela autora.

Assim como as vias utilizadas pelos veículos, as rotas pedonais e ciclovias também assumem um papel decisivo na complementação das ligações, contribuindo para o aumento das possibilidades de locomover de um lugar para outro (Bently, et al. 1985).

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Tabela 9. Síntese do quadro de indicadores e fatores das qualidades urbanas e referências – Permeabilidade.

Fonte: Elaborado pela autora.

Permeabilidade

Divisão Característica Autores Referência

Dimensões e formato das quadras/quarteirões

Blocos chanfrados, quadrado ou variado

Burton e Mitchell (2006) Bentley et al. (1985)

Brandão (2008) Pafka e Dovey (2017)

Carrelo e Aguas (2002) Whyte (1988) Jacobs (1961)

Blocos de quadras com 60-100 m

Edifícios Alçados voltados para espaço público e fundos voltados para

espaços privados

Vias Dimensionamento das vias x uso

Máximo de conexões e ligações

Alguns aspetos subjetivos são identificados na Tabela 9, onde se encontram a sintetização das medidas para se alcançar a permeabilidade urbana. A indicação dos alçados voltados para o espaço público e fundos voltados para espaço privado, por exemplo, não é uma variável quantificável, portanto, impossibilita a sua transformação para uma variável paramétrica. A ação de direcionar os alçados para o espaço público é uma decisão de projeto inteiramente baseada na perceção do projetista urbanista. Outra ação subjetiva é a obtenção do máximo de conexões e ligações possíveis, pois, neste caso a análise será feita após o desenho das vias, ruas, vielas, passagens, ligações, entre outras espécies de conexões entre dois espaços. Só se torna possível a tradução num parâmetro, se houver um intervalo ou uma quantificação de ligações possíveis.

A relação entre o dimensionamento das vias e o uso das edificações é passível de ser transcrito para uma tradução paramétrica através da criação de uma regra de possibilidade. Por exemplo, a partir de uma análise que sugere que uma determinada via possui uso habitacional, a via correspondente deverá ter uma indicação do dimensionamento ideal.

A indicação dos blocos de quadras terem de 60 a 100 metros é um exemplo claro de variação paramétrica. Ou seja, após a indicação desta variação, o programa irá calcular, de acordo com as outras informações do desenho, qual a melhor resposta dentro do intervalo, para cada bloco de quadra.

3.1.3 CONFORTO

Na análise para o conforto urbano, serão abordados dois tipos: o acústico e o térmico. Segundo Reffat e Harkness (2002), o conforto acústico é considerado um critério importante para avaliação da qualidade ambiental, e segundo os autores o objetivo deste tipo de conforto é promover sons desejáveis e diminuir os ruídos. Para se alcançar esta qualidade de desenho é preciso realizar algumas medidas, tais como a implantação de barreiras acústicas, que podem ser do tipo de vegetação (Burton & Mitchell, 2006), ou barreiras físicas com finalidade de reduzir o ruído, como muros e taludes (Carrelo e Aguas, 2002).

A grande preocupação com a poluição sonora nos centros urbanos está concentrada ao longo das grandes vias, resultante do intenso tráfego de veículos (Jiang e Kang, 2016).

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O conforto térmico, segundo Reffat e Harkness (2001) é um estado de espírito em que o utilizador possui uma espécie de contentamento térmico, com o espaço que utiliza. Para se alcançar um conforto térmico desejável, é necessário que ocorra uma troca de calor entre o espaço e o ambiente. Nos espaços públicos, esse equilíbrio pode ser alcançado quando se evita a formação de ilhas de calor ou quando se pretende minimizar os seus efeitos.

Os conjuntos de critérios para serem considerados no projeto de conforto térmico ou acústico possuem muitas considerações e pode tornar-se complexo, o que requeria uma análise mais aprofundada, neste estudo de caso serão levados em considerações, elementos que podem ser avaliados no projeto de estudo.

Um dos pontos que unem esses dois tipos de conforto são as árvores. As árvores podem contribuir tanto para a redução ou atenuação do ruído, comportando-se como barreiras sonoras, como para propiciar um clima ameno, equilibrando a temperatura e auxiliando o escoamento de águas das chuvas (Barton, Grant, Guise, 2003, p. 176).

Givoni (1976) discute que nos desenhos dos edifícios devem ser tidas em consideração as características dos padrões climáticos da localização em que este edifício está situado, e que o conforto humano depende de corretas soluções projetuais baseadas nos seguintes elementos climáticos: radiação solar, comprimento de onda da radiação, temperatura do ar, humidade, ventos e precipitações.

No livro “Princípios Bioclimáticos para o Desenho Urbano” (2001), é discutida a relação entre o clima, seus efeitos e o traçado urbano. (Romero, 2000) analisa o equilíbrio térmico na ótica do homem e do ambiente, onde são abordados os efeitos fisiológicos e comportamentais do homem face às condições térmicas do ambiente. No segundo momento, a autora aborda a relação entre o abrigo e o ambiente, e diz respeito ao modo como as construções se comportam face a determinado clima. As variáveis climáticas, quando tidas em consideração, podem interferir diretamente nas de decisões arquitetónicas de edifícios.

No aspeto de conforto térmico, a relação entre o homem, o meio ambiente e o edificado torna-se completa quando se soma o desenho urbano influenciado pelo Bioclimatismo, pelo que “esta conceção é antes de tudo uma interação de vários elementos climáticos, do lugar, de uma cultura, com a finalidade de criar ou recriar ambientes urbanos” (Romero, 2001, p. 48).

A correta relação entre o traçado urbano e a orientação dos ventos também auxilia na obtenção do conforto térmico, de modo a maximizar os benefícios do vento. A existência de vegetação também contribui para uma melhoria do conforto térmico, pois, produz sobras e diminui a passagem de calor.

Os estudos de Oke (1988) nas cidades sobre as causas da formação das ilhas de calor baseia-se na configuração espacial urbana. A relação entre a altura dos edifícios e a largura das vias têm influência direta no armazenamento do calor associado à dificuldade de passagem do vento nos centros urbanos. O especialista estabeleceu que a relação entre a largura da via e a altura do edifício não pode ser maior que 3, ou seja, W/H > 3, sendo que quanto maior a altura do edifício, menor será o fluxo de ventos (Brown, 2000).

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Figura 21. Esquema do fluxo de vento do efeito de ilhas de calor e a relação entre a largura da via e altura do

edifício (W/H > 3).

Fonte: Elaborado pela autora.

Outros fatores também podem interferir no fluxo do vento e dissipação do calor nos centros urbanos. Além da altura dos edifícios, a sua implantação pode agir como barreira ou como canalizador de vento. Por exemplo, ruas paralelas e oblíquas ao sentido do vento têm a tendência de prevalecer a sucção e percurso dos ventos entre a ambiente construído. Já as ruas perpendiculares ao sentido do vento têm maior tendência a dificultar o percurso do mesmo por entre os edifícios (Edward, 2010).

Figura 22. Sentido das vias paralelas e perpendiculares ao fluxo do vento facilitam o seu percurso por entre o

edificado, enquanto que vias perpendiculares dificultam a entrada de vento.

Fonte: Elaborado pela autora.

Assim como os edifícios se comportam como filtros dos efeitos do clima, o espaço urbano também pode ser considerado como uma ferramenta que amenizará ou intensificará os efeitos climáticos, através de elementos que poderão ser controlados através do desenho urbano, como a temperatura, vento, humidade, radiação e chuva.

Figura 23. Efeitos de fluxo dos ventos estudados por Romero (2000).

Fonte: Elaborado pela autora.

Pilotis Esquina Canalização Venturi Barreira

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Qualquer fenómeno climático, excessivo ou em falta, pode ser prejudicial, pelo que é necessário que haja um equilíbrio entre os elementos. A incidência solar, por exemplo, pode ser controlada com vegetação ou minimizada pelos ventos, que podem ser controlados por alguns efeitos. Romero (2000) apresenta alguns efeitos, sendo eles os efeitos de pilotis (quando o fluxo de ar passa sob a edificação), o efeito de esquina (quando o fluxo contorna o ângulo da edificação), o efeito de Venturi (age direcionando o fluxo de ar por uma passagem estreita), o efeito de canalização (moldado pela implantação dos edifícios que formam uma espécie de canalização), e o efeito de barreira (acontece quando o fluxo de é desviado em espiral).

Tabela 10. Síntese do quadro de indicadores das qualidades urbanas e referências – Conforto.

Fonte: Elaborado pela autora.

Conforto

Divisão Característica Autores Referência

Acústico Barreiras acústicas Burton e Mitchell (2006)

Barton, Grant, Guise, (2003) Romero (2000) Givoni (1976)

Reffat e Harkness (2001) Oke (1988)

Térmico

Relação do traçado urbano / Orientação dos Ventos

Possíveis Ilhas de calor relação w/h (altura/largura)

Área verde / área total

O conforto urbano também possui medidas subjetivas e que não podem ser diretamente convertidas em parâmetros, como é o caso da relação do traçado urbano orientado face ao fluxo dos ventos dominantes. Neste caso, após a configuração dos edifícios é necessário que haja uma análise do urbanista a fim de se verificar as áreas propensas a terem ilhas de calor. Essa análise pode ser feita manualmente ou com programas ou plugins específicos que podem ou não estar associados aos programas paramétricos.

A medida que é passível de ser convertida em parâmetro que minimiza os efeitos das ilhas de calor é a relação entre a largura da via e altura do edifício (w/h). Tal efeito pode ser transformado em regra algorítmica dentro de um ambiente generativo, desde que haja um intervalo de resposta. Esse procedimento também é válido para a área verde em relação à área total do projeto.

A parametrização dos dados relativos as barreiras acústicas podem serem feita apenas se, em fase de desenho, o urbanista conseguir descrever uma regra que relacione os causadores do ruído como vias de muito tráfego, e conseguir obter uma resposta automática para o ajuste da dimensão das laterais das vias em que necessitam de barreiras para que sejam destinados espaços para vegetação densa.

3.1.4 VARIEDADE

Para significado Bentley, et al. (1996) a chave da essência da boa variedade urbana está na diversidade, com um conjunto de usos, formas e significados dos elementos que compõem as cidades.

Esta qualidade proporciona a experiência de experimentação por possibilitar a escolha nas mais diversas opções, com a presença de variados tipos de usos, formas e significados, de lugares, de estilos de edifícios, de arquitetura, de expressão, de interesses, de pessoas e grupos, possibilitando a escolha por

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diferentes razões. É importante frisar que é preciso que haja a interação entre as atividades e usos, não bastando apenas estarem juntas, mas que se reforcem mutuamente.

Figura 24.Ligação, uso, formas, pessoas e significados.

Fonte: Bently, et al. (1985)

Um fator que prejudica a variedade é a tendência de especialização do espaço, onde as possibilidades de variados tipos de uso são limitados àquelas atividades específicas ou espaços monos funcionais. Quanto maiores e mais parecidos forem os edifícios, menos características diferentes terão, e consequentemente menor será a variedade.

Um dos desafios da variedade urbana são os “zoneamentos” comumente encontrados nos planos diretores. Esse tipo de estratégia pode diminuir a escolha dos utilizadores, pois, divide determinadas zonas em usos especializados, dificultando a utilização de atividades e usos misturados. Assim, quanto maior for a pluralidade de uso, mais variedade se irá encontrar (Bentley, et a1., 1996).

Figura 25. Exemplo de variedade de alçados.

Fonte: Bentley, et al., (1996).

Figura 26. Exemplo da uniformização do estilo dos alçados

Fonte: Bentley, et al., (1996).

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Ao analisar as imagens, encontra-se a variedade física nas alturas das edificações, nos diferentes estilos arquitetónicos, na disposição das entradas, tipos de portas, de janelas e cobertura. Em contrapartida, a segunda imagem indica um estilo quase idêntico para todas as edificações, a repetir o mesmo tipo de janelas, portas e altura das edificações sem quase nenhuma variação.

Na Figura 27 pode perceber-se a presença de espaços diferentes que suportam vários tipos de atividades e se relacionam, como o deslocamento de carros, a caminhada de pedestres, o encontro, o lazer, espaços de cafés, tudo isso num espaço onde há uma variação de edificações.

Um dos pontos importantes da variedade é a interação entre usos e utilização do espaço urbano. É necessário abordar algumas estratégias para assegurar o fluxo de pessoas a todos os lugares, primários e secundários. Um exemplo aplicado é o shopping center, em que lojas-âncoras são inseridas em pontos estratégicos para que o público possa passar pelas lojas menores primeiro – Figura 27. Nos espaços urbanos, pode-se identificar como uso primário a tipologia de uso para habitações, locais de trabalho, supermercados e todos os lugares que possuem poder de atração de fluxo de pessoas. Por outro lado, são também identificados locais que não têm poder de atração, sendo considerados de uso secundário, e que necessitam de apoio do primeiro para a sobrevivência das suas atividades. Para que os espaços provedores de grande fluxo possam agir como íman e beneficiar outros espaços, sugere-se que o espaçamento entre o utilizador e os espaços ímans seja de 90 a 120 metros (Bentley, et al., 1996).

Figura 27. Variados tipos usos e a integração do espaço público e o privado – Calçada, via, espaço com

atratividade, espaços para lazer, interação entre comércio e habitaçao

Fonte: aasarchitecture.com

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Figura 28. Esquema de fluxo em Shopping Center.

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em Bentley, et al., (1996).

Figura 29. Distância máxima entre o utilizador e o espaço íman.

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em Bentley, et al., (1996).

Ao estabelecer os usos e atividades para os espaços públicos, deve ser tida em consideração a demanda de utilização, pois, sem interesse e procura não haverá interação entre os usos. Para isso devem ser estudados cuidadosamente os dados através de fontes confiáveis, e neste ponto, fatores sociais, económicos e políticos também poderão afetar o desenho urbano (Bentley, et al., 1996).

Tabela 11. Síntese do quadro de indicadores das qualidades urbanas e referências – Variedade

Fonte: Elaborado pela autora.

Variedade

Divisão Característica Autores Referência

Nível físico

Edifícios de formas, estilos, tipos, alturas variadas

Bentley et al. (1985) Ewing, et al. (2005)

Localização de espaços ímans de 90 a 120 metros

Atividades

Atividades variadas e suas relações – uso-mix

Interações entre usos

Demanda

As características passíveis de serem diretamente convertidas em parâmetros na variedade urbana estão relacionadas com os espaços ímans e as alturas dos edifícios, pois, a resposta para ambos pode estar entre um intervalo de valores, neste caso de 90 a 120 metros de distância para áreas imãns, e no caso da

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altura dos edifícios a indicação de altura pode variar, desde que esteja dentro de um determinado intervalo.

A interação entre usos pode ser subjetiva e depende da interpretação do projetista urbanista. Por exemplo, se a interação for interpretada como zonas de alta ou baixa densidade, essa informação poderá ser passada para o ambiente generativo.

As atividades variadas, assim como já mencionado no subcapítulo 3.1. sobre a acessibilidade, podem ser parametrizáveis desde que haja uma interpretação quantificável de cada atividade a ser considerada no desenho, e depender do leque de opção de atividades a ser escolhida para o desenho, por exemplo, um projeto que irá propor a requalificação com atividades de desporto, espaços de lazer para crianças, espaços de ginásio aberto para idosos, áreas para caminhar, edificações para serviços e comércios e espaços de estacionamento.

Considera-se que a demanda é uma constante do estudo prévio que vai auxiliar na elaboração do programa de necessidades, não sendo consideração uma variável que poderá ser convertida em parâmetro.

A estética que vai ditar as formas, estilos e tipos arquitetónicos das edificações, depende da escolha de cada proprietário, a não ser que o projeto urbano delimite os padrões específicos para cada edifício e espaço.

3.1.5 LEGIBILIDADE

A legibilidade é a qualidade de ler e entender o espaço urbano tanto nos padrões físicos quanto nos padrões de atividades. O especialista Kevin Lynch, foi o primeiro a realizar abordagem sobre a legibilidade (Bentley et al., 1985) e até hoje os seus estudos contribuem para novas pesquisas.

Ler e apreender a imagem da cidade está diretamente relacionado com as características físicas, formais e funcionais que contribuem para a rápida e fácil compreensão do espaço. A leitura dos espaços é bastante complexa, “a nossa perceção da cidade não é íntegra, mas sim bastante parcial, fragmentária, envolvida noutras referências” (Lynch, 1997, p.12). Percebe-se que atualmente, é mais difícil identificar o uso de um determinado edifício em relação à sua forma ou estilo. No passado, edifícios públicos ou outros edifícios importantes eram os mais imponentes e de rápida perceção; nos dias de hoje, edifícios públicos e privados muitas vezes coexistem no mesmo espaço (Bentley et al., 1985) e instalações que possuem serviços de grande importância passam despercebidas diante dos utilizadores.

Apesar desta qualidade ser visual e percetiva, permite-se que seja prevista desde a escala global (cidade) até uma escala menor (conjunto de quadras/quarteirões), tornando-se um elemento importante a ser considerado ao nível de estudo de projeto. Segundo Lynch (1997) e Bentley et al. (1985), o conjunto de 5 elementos conferem a legibilidade a um espaço urbano, sendo eles: as vias (trilhos), limites (orlas), bairros (distritos), cruzamentos (nós) e os pontos marcantes (marcos de referência).

Alguns exemplos de vias ou trilhos podem ser ruas, alamedas, estradas, linhas férreas e qualquer outro espaço por onde o observador se locomove. As definições características de vias legíveis passam por uma dualidade, nomeadamente redes de vias regulares funcionam para a boa leitura das cidades (Lynch, 1997), uma vez que o layout de vias e quadras irregulares podem causar confusão tornando a “navegabilidade” dificultosa (Ewing, et al., 2005). Se a rede de vias tiver características semelhantes, torna-se difícil a distinção de uma para outra. Neste caso, a configuração e layout das redes de vias

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devem trabalhar em conjunto com outros elementos que irão trazer distinção de um lugar para o outro, para trazer mais legibilidade aos espaços.

Figura 30. Pontos chaves da legibilidade urbana.

Fonte: Lynch (1997)

Do ponto de vista da legibilidade para pessoas mais idosas, Burton e Mitchell (2006) descrevem que ruas legíveis são aquelas que tem a hierarquia de ruas bem definida, com as linhas de desenhos levemente inclinadas, com curvas suaves e conexões claras, além de possuírem uma rede pedonal simples e bem articulada (Alves, 2003). Tais características auxiliam na elaboração de mapas mentais do espaço, e facilitam o deslocamento e o acesso ao local de destino.

Os limites também fazem parte do conjunto de elementos básicos que permitem compreender com clareza o ambiente e aumentar a qualidade de “orientação do homem no espaço urbano” (Alves, 2003, p. 110).

São considerados elementos de barreira lineares e divisórios os que não funcionam como vias, como, por exemplo, rios, costas marítimas ou fluviais, muralhas, espaços em desenvolvimento, e qualquer outro elemento que servirá para dividir áreas distintas, como fronteiras que dividem uma cidade e de outra, ou um rio de corta bairro do outro ou margens com vegetação que indica a fronteira de um lugar para o outro. Em alguns casos, as vias com grande fluxo acabam por fazer o papel de um elemento divisório entre sítios distintos.

É importante que os elementos divisórios sejam distintos e permeáveis (Alves, 2003), “limites fortes, impedindo transição de um bairro para o outro, podem contribuir para a sensação de desorganização” (Lynch, 1997, p. 81). É também necessário que os limites sejam nítidos, de modo a facilitarem a memorização dos espaços, tornando-os singulares.

O terceiro elemento que irá conceder a legibilidade aos espaços é denominado de bairro ou distrito, que pelo seu significado pode ser quaisquer parcelas de território que funcionem como regiões, partes ou divisões da cidade que possuam identificação comum (Lynch, 1997).

Os bairros comportam-se como pontos de referência externos, o que permite ao utilizador lembrar-se de regiões e localizar-se mentalmente. A imagem dos bairros pode ter características comuns, não necessariamente físicas. Por exemplo, as regiões e bairros históricos são facilmente reconhecidos pela tipologia de prédios e marcos históricos, enquanto que outras regiões não possuem a mesma

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característica física na sua totalidade, mas que podem ser reconhecidas por atividades cotidianas, como os centros de negócios.

Bairros de sucesso têm fronteiras bem delimitadas, mas não forte o suficiente para causar impacto e sentimento de desorganização. A presença de componentes com características semelhantes podem ser “textura, espaço, forma, detalhe, símbolo, tipo de edifício, costume, atividade, habitantes, estado de conservação, topografia (...) homogeneidade de fachada, material, modelo, ornamento, cor, horizonte, disposição de janelas e pontas, (...) ruídos” (Lynch, 1997, p. 79). É importante ressaltar que a completa homogeneidade característica da região pode causar indistinção; por exemplo, se um bairro possuir edificações sempre da mesma altura, cor e estilo, não será legível o suficiente dentro do próprio bairro.

Figura 31. Exemplos de espaços com características distintas e delimitação de bairros.

Fonte: Bently et al., (1985)

Os cruzamentos ou “nós” são pontos estratégicos que permitem a identificação clara do observador, podendo ser quaisquer lugares que consigam concentrar pessoas, assim como as praças ou outros espaços que também possam assumir essas características, como, por exemplo, paragens de autocarro e metro, junções de vias com grande aglomeração de pessoas, e outros espaços onde o utilizador aumente a atenção ao focar na dinâmica e movimentação do espaço (Lynch, 1997), o que irá contribuir para a construção do mapa mental de determinada área.

Para (Ewing, et al., 2005), qualquer junção de via pode ser um nó em potencial, mas de acordo com alguns critérios nem todos podem receber tal atenção. Esses critérios estão relacionados com o papel funcional de um determinado espaço. Por exemplo, prédios com que desempenham funções importantes têm o poder de concentrar grande fluxo de pessoas.

Os pontos marcantes ou marcos de referência que se comportam como pontos externos que ao ser identificados à distância, podem trazer orientação ao utilizador além de reforçar o mapa mental do espaço. Estes marcos podem ser monumentos, torres, arranha-céus, colinas, estátuas, chafariz, e quaisquer outros sinais que auxiliem na leitura do espaço.

Brandão (2008) sugere estratégias para alcançar a identidade urbana do espaço público e de entre vários temas, as estratégias que conferem a legibilidade indicam que a imagem e a visibilidade podem ser

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reforçadas pelo “carácter icónico de landmarks” e que para a referência urbana é necessário “acentuar nos mapas mentais as referências estruturantes do espaço”.

Como características que auxiliam na legibilidade dos espaços, é preciso que os sinais e marcos sejam claros e de fácil compreensão, para além de passarem as informações corretas. Os edifícios também devem ser identificáveis, seja pela arquitetura seja pela correta identificação por meio de sinais.

Figura 32. Exemplos de espaços legíveis.

Fonte: Lynch (1997)

Tabela 12. Síntese do quadro de indicadores das qualidades urbanas e referências – Legibilidade

Fonte: Elaborado pela autora.

Legibilidade

Divisão Característica Autores Referência

Vias

Vias e quadras regulares

Bentley et al. (1985) Ewing, et al. (2005)

Lynch (1997) Burton e Mitchell (2006)

Hierarquia de ruas bem definida

Linhas levemente inclinadas, curvas suaves

Conexões claras

Rede pedonal simples e bem articulada

Limites Distintos, permeáveis e nítidos

Bairros Identificação comum

Fronteiras delimitadas

Cruzamentos

Existência de pontos estratégicos

Identificação clara de praças e cruzamentos

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Pontos Marcantes

Elementos claros e fácil compreensão

Edifícios identificáveis, monumentos, praças, quiosques

O padrão das quadras e vias regulares é passível de ser traduzido em parâmetros, uma vez que pode ser considerado como parâmetros os lados que compõem os desenhos das quadras e o dimensionamento das ruas e calçadas.

Se a caracterização da hierarquia viária for ditada pela dimensão e número das pistas, neste caso será possível indicar dentro do software quais são as vias e quais as suas características. Por exemplo, as vias arteriais poderão ter em cada sentido 3 faixas de rodagem com 4 metros cada.

A tradução das medidas e ações restantes que fazem um espaço legível tornam-se complexas e dependem da interpretação do projetista. Por exemplo, a identificação das conexões claras dos bairros com identidade comum, a existência de pontos estratégicos e fronteiras bem delimitadas, dependem de uma análise pontual e que não pode ser transformada num objeto quantificável traduzido em parâmetro.

3.2 SÍNTESE DAS QUALIDADES URBANAS

Esse capítulo iniciou-se com uma breve contextualização das qualidades urbanas e a importância da presença dessas qualidades nas cidades. Apresentou o trabalho dos autores Ewing e Clemente (2013) e Carrelo e Aguas (2002) e se aprofundou nos conceitos e características específicas da acessibilidade, permeabilidade, conforto, variedade e legibilidade. Dessa forma foi possível sintetizar as informações e elaborar uma base de avaliação para ser aplicada no estudo de caso que será apresentado no próximo capítulo.

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4 ESTUDO DE CASO WATERFRONT TAJONG PAGAR

4.1 METODOLOGIA E APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO

O estudo de caso a ser apresentado é da autoria do estúdio de projeto InfAR (Bauhaus-Universität) pertencente à faculdade de arquitetura e urbanismo da Bauhaus-Universität Weimar, localizada na Alemanha. Compõem a equipa do projeto os investigadores Kateryna Konieva, Iuliia Osintseva, Ondřej Veselý, Abdulmalik Abdulmawla, Katja Knecht, coordenados pelo Dr. Reinhard Koenig e Dr. Sven Schneider. O estúdio tem como premissa ensinar as práticas de modelação paramétrica nos projetos urbanos com o objetivo do “desenvolvimento das estratégias de design baseado em computador” (Dennemark et al., 2017, p. 468). Entre os projetos desenvolvidos pelo InfAR, escolheu-se o projeto Tanjong Pagar Waterfront em Singapura, que contou com a cooperação com o ETH Future Cities Lab, cujo objetivo principal do centro de pesquisa é desenvolver soluções para os desafios da sustentabilidade global das cidades e utilizar as novas tecnologias a favor da urbanização.

Utilizaram-se como referências as informações publicadas na tese de Osintseva (2017), os arquivos digitais de desenho do projeto fornecido pelo InfAR e a apresentação do projeto disponível na plataforma Vimeo2.

A metodologia adotada para o caso de estudo, contém uma caracterização da área do estudo com informações relevantes para contextualização da área e das diretrizes do projeto, tendo sido posteriormente apresentadas as informações do projeto de acordo com cada qualidade urbana escolhida para este estudo de caso. A síntese e comparação com de acordo com a grelha de avaliação será apresentada no tópico diagnóstico.

4.2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O projeto a ser analisado está localizado num dos países tecnologicamente mais desenvolvidos do mundo. Atualmente Singapura está a tornar-se numa próspera metrópole global devido ao forte investimento em pesquisa e inovação, que a ter bons índices em variados rankings internacionais e esteja classificada entre as 5 maiores economias globais da inovação (Universidade Cornell et al. 2018), tendo

2 https://vimeo.com/240964157. Acesso em 10-07-2019 às 16:03

Caracterização da área de

estudoAnálise

Diagnóstico

Comparação com a grelha

Discussão dos resultados

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liderado o ranking global das “smart city” em 2017 (Juniper Research, 2018), além de ser considerada o 2º país mais competitivo ao nível global.

Singapura também ocupa o 2º lugar na lista de países mais densos do mundo devido ao seu pequeno território, com cerca de 7.615 hab/km² e uma extensão total de 718,20 km², sendo que 72% destinado à área urbana (Xue, et al., 2017).

Apesar do seu pequeno território, o governo trabalha com vários tipos de estratégias para minimizar os problemas causados pela falta de espaço. As iniciativas públicas e privadas, são exemplos disso, abrangem diversos campos de estudos, incluindo desde a educação até tecnologia, resultado do planeamento nacional implementado para transformar a cidade-Estado numa economia forte baseada em conhecimento e inovação (Poh, 2016). As pesquisas intensivas também estão presentes na mobilidade e infraestruturas, o que contribui para a inserção de centros de pesquisa de estudos urbanos como o ETH Future Cities Lab.

O apoio para pesquisas e grandes empreendimentos facilita a instalação de novos aglomerados de inovação. Somente em 2015 a região One-North recebeu uma comunidade de 16.000 pesquisadores, cientistas e empreendedores, provenientes de várias companhias, empresas públicas e privadas, start-ups, universidades e centros de pesquisas.

Para além dessas estratégias, a cidade-Estado possui um lema nacional denominado “A City in a Garden”, onde o plano de urbanização incentiva a exploração de equipamentos mais eficientes energeticamente, tecnologias verdes, utilização de vegetação vertical e coberturas verdes, entre outras abordagens para que possam reduzir a sua emissão de carbono. Em 2015 a taxa de edifícios com o certificado de “green Mark Certified” era de 31%, e existe um forte planeamento para se elevar a taxa à 80% em 2030 (Xue et al., 2017).

Contribuem também para o desenvolvimento da cidade-Estado os aglomerados urbanos “eco-smart”, considerados parte do plano diretor para um planeamento urbano sustentável e inteligente. Fazem parte desse planeamento, estudos e análise de radiação solar, ventos dominantes e espaços sombreados, que irão auxiliar a escolha do local ideal para o posicionamento de coletores e placas solares, além da localização dos equipamentos e espaços urbanos de uso coletivo. O uso das tecnologias está presente também na obtenção de informação do funcionamento do sistema da rede urbana, que através de sensores enviam e analisam dados para os responsáveis locais e auxiliam no planeamento e gestão destes aglomerados. São exemplos de informação a situação e no funcionamento do sistema de drenagem, rede de água, esgoto, recolha de resíduos, transportes públicos, fluxo de trânsito e iluminação pública (Ministry of the Environment and Water Resources, 2016).

Figura 33. Exemplo de projeto com vegetação em Singapura (The Marina Barrage).

Fonte: PUB, Singapore’s National Water Agency e HDB

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

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O estímulo a pesquisa, conhecimento, desenvolvimento tecnológico e empreendedorismo gerou a busca de espaços apropriados com novas soluções de design e em alguns casos de grande impacto quanto ao estilo arquitetónico e urbano. Um exemplo marcante em Singapura é o bairro tecnológico One-North, localizado a 4 km de distância da área do projeto de estudo de caso, projetado por Zaha Hadid Architects. O mega projeto é considerado um dos primeiros projetos urbanos paramétricos. O one-North ainda não está concluído, mas, parte do que já está feito já consegue fortalecer e contribuir para o crescimento e desenvolvimento do país asiático.

Além do One-North, o Waterfront Tajong Pagar (WTP) possui como vizinhança os polos financeiros e de negócios “Central Business District” e “Alexandra”, que apesar de abrigarem comércio e serviços de grandes empresas globais preveem novas construções para habitações para que essas regiões possam ganhar mais vida nos horários pós-laboral.

Para completar a lista de regiões do entorno da área do WTP, cita-se a ilha “Sentosa”. Considerada uma região turística denominada como ilha resort por conter hotéis de luxo, parques de diversão, praias, campos de golfes, floresta, entre outras atrações turísticas. O acesso à ilha é feito exclusivamente pela via Sentosa Gateway, que também é a única via de acesso a uma parte da área do estudo de caso do Waterfront Tajong Pagar.

Figura 34. Mapa Singapura e localização do projeto.

Fonte: Planetobserver

O projeto de estudo Waterfront Tajong Pagar possui uma área total correspondente à junção de três áreas particulares: os Terminais de Tanjong Pagar e o Terminal de Keppel, que contêm ligação com a ilha Pulau Brani, somando cerca de 3,25km² de área.

Está previsto pelo governo local que estas áreas, atualmente portos de contentores, serão alvos de transformações urbanísticas, uma vez que o novo porto está a ser construído na região de “Tuas” e

Singapura

Malaysia

Indonésia

Waterfront

Tanjong Pagar

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50

contempla uma operacionalização mais eficiente, inovadora e com o dobro de capacidade3. Portanto, o terminal do porto de Tanjong Pagar, o de Keppel e da ilha de Pulau Brani serão realojados em 2027 para o Porto de “Tuas”, o que irá liberar uma extensa área para novos investimentos na região.

Quanto a sua topografia, o terreno é considerado na sua totalidade plano, havendo apenas uma leve elevação no centro da ilha de Palau Brani, onde está concentrada uma densa vegetação. No restante da área não há vegetação notável.

Do ponto de vista hidrológico, apesar dos terminais serem à beira-mar e da ilha ser cercada pelo Mar da China, as áreas não possuem nenhum corpo de água doce corrente, como, rio, riacho, córrego ou nascente.

Por conter espaços demarcados para depositar os contentores, encontram-se poucas edificações na ilha, e no continente localizam-se duas grandes edificações de mais de 20 andares cada, sendo que ambas fazem parte dos edifícios de negócios da região.

A infraestrutura viária existente é composta pela Via Expressa de Singapura, que interliga rapidamente todas as regiões da cidade-Estado. Outras vias com menos fluxo de tráfego, dentro do limite do terreno, estão condicionadas ao perímetro dos espaços destinados aos contentores, portanto, de fácil remoção.

Quanto aos ventos dominantes na área são identificáveis por dois períodos distintos: direção Monção Nordeste de dezembro a março, e Monção Sudoeste de junho a setembro4.

Figura 35. Identificação das áreas T. Keppel, T. Tanjong Pagar e Ilha Pulau Brani.

Fonte: Elaborado pela autora.

Dessa forma, com uma extensa área livre de edificações e sem muitas condicionantes topográficas, com as infraestruturas viárias delimitando o perímetro da área, e tendo em consideração as diretrizes do plano

3www.maritimesgconnect.com 4 www.weather.gov.sg/climate-climate-of-singapore/

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de urbanização de Singapura e das práticas já adotadas nos projetos urbanos para além das informações da carta de ventos, os projetistas puderam traçar as estratégias para alcançar os objetivos do projeto.

Tendo em conta que o objetivo desse projeto era desenvolver um projeto urbano sustentável e interativo de larga escala, de alta densidade e de uso misto, o método adotado permitiu “gerar protótipos de tecidos urbanos rapidamente e explorar e avaliar facilmente alternativas de projeto” (Koenig, et al., 2017).

O desafio do estúdio InfAR baseou-se em desenvolver estratégias de desenho modular que funcionam por meio de etapas processuais lineares, ou seja, seguem uma linha de passos a executar. No caso do projeto urbano Waterfront Tajong Pagar, a sequência modular possui a indicação manual da seguinte sequência: primeiramente a indicação da delimitação do terreno, depois das ruas principais e das unidades de regiões ou bairros e por último a indicação dos tamanhos de blocos (quadras) desejadas. Após essa etapa, o software gerou a rede de ruas e blocos a partir das informações inseridas pelo projetista.

Para além deste modulo inicial, completam a lista outros 4 módulos, que se referem à localização dos espaços da costa marítima chamados de fiordes, às funções dos espaços, à análise dos sistemas viários e por último à distribuição e ajustes dos edifícios e das funções.

O conceito do projeto principal foi baseado na conceção de três tipos de densidades: a valorização das áreas verdes e de lazer com especial atenção as “beachfront” e espaços privados para os moradores locais, a criação de vias adequadas, pedonais verdes, e a inserção de pontos de referências locais.

O processo que resultou no projeto urbano paramétrico foi testado pelos autores do projeto, para que pudesse verificar a sua adaptabilidade e flexibilidade, e este pôde criar outros dois cenários que se diferenciam pela densidade, áreas verdes e implantação do projeto. Dos 3 cenários apresentados a seguir (também podem ser consultados através de visualização e interação na plataforma online5), somente o primeiro será alvo desta avaliação, uma vez que o cenário 1 é aquele que possui as características necessárias para satisfazer o programa de necessidade para este local.

PRIMEIRO CENÁRIO

Conceito: Interconectar a área verde da ilha com a área do continente e criar uma área de alta densa no centro do projeto.

Área construída (total): 12,5 milhões m²

Área residencial (%): 52%

Área Comercial (%): 16%

Área de Escritório (%): 19%

Áreas públicas (%): 13%

5 https://toolbox.decodingspaces.net/parametric-assistnance/

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Figura 36. Cenário 1 do Projeto Waterfront Tanjong Pagar.

Fonte: Osintseva, 2017.

SEGUNDO CENÁRIO

Conceito: Cidade jardim, com uma cintura de área verde em volta das áreas de alta densidade.

Área construída (total): 12,1 milhões m²

Área residencial (%): 43%

Área Comercial (%): 17%

Área de Escritório (%): 27%

Áreas públicas (%): 13%

Figura 37. Cenário 2 do Projeto Waterfront Tanjong Pagar.

Fonte: Osintseva, 2017.

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

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TERCEIRO CENÁRIO

Conceito: Criação de uma ilha artificial com uma área de alta densidade próxima ao centro de negócios de Singapura.

Área construída (total): 15,2 milhões m²

Área residencial (%): 50%

Área Comercial (%): 15%

Área de Escritório (%): 26%

Áreas públicas (%): 9%

Figura 38. Cenário 3 do Projeto Waterfront Tanjong Pagar.

Fonte: Osintseva, 2017.

4.3 QUALIDADES URBANAS NO PROJETO

QUESTÕES DA ACESSIBILIDADE

A verificação das acessibilidades à área de intervenção foi realizada primeiramente do nível externo para o interno, e posteriormente no nível local, isto é, de um ponto ao outro dentro dos limites da área. Não será abordada a acessibilidade dos espaços externos para o ambiente construído, pela justificativa que este projeto preliminar não disponibilizar o tipo de informação necessária para tal análise.

Sobre a acessibilidade foram identificados fatores que facilitam o acesso à área do Waterfront Tanjong Pagar, representado na imagem a seguir.

Waterfront Tanjong Pagar está localizado na região Centro de Singapura a cerca de 1,5 km no CBD - Distrito Central de Negócios, embora toda a região Centro seja palco de muita movimentação financeira e de negócios. O acesso pelo aeroporto de Changi, que está a aproximadamente a 23 km, pode ser feito de carro pelas rodovias arteriais da Cidade- Estado ou de metro pela linha EW (East West Line, Verde - Figura 39. Mapa dos acessos

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Para 2025 está prevista a construção de 3 novas linhas de metro na área, e no projeto proposto algumas soluções foram tomadas a partir desta informação, como os edifícios com maior densidade locados próximos a estes pontos. Além de também ser considerada com parte do programa de necessidades, o acréscimo de mais um espaço para ser parada de metro dentro da área localizada na ilha. Atualmente a linha de metro existente está a 300 metros do limite da área.

A área do Waterfront Tanjong Pagar, quando não é rodeada pelo mar, é envolvida por duas vias, sendo que uma delas não permite o acesso direto a área (Kepper Rd Viaduct), restando apenas uma entrada pela arterial West Coast Highway (Figura 39). Caso o acesso seja feito através de autocarro, existem 9 linhas que dão suporte para esta área da cidade (10, 30, 57, 80, 97, 97e, 100, 131, 145) que podem ser utilizados pela Keppel Rd e pela West Coast Highway6. Embora o projeto preveja novas paradas de autocarro, não fica claro onde estão localizadas.

Figura 39. Mapa dos acessos

Fonte: Elaborado pela autora.

Para a acessibilidade interna verifica-se o grau de facilidade interna de acesso aos serviços básicos (que está relacionada a análise do índice de uso misto de solo), a conectividade física das ruas, o tipo de cruzamento e largura das calçadas.

Quanto a distribuição dos usos de acordo com a ocupação das edificações o projeto propõe 52% de uso do solo para residencial, 16% para comércio, 19% para escritórios e 13% para e funções públicas. Em relação à área total verifica-se que 50% da área do território foi destinada para edificações, 19% para superfícies de rede viária e 31% para espaços verdes. Esta característica pode ser facilmente ajustada, uma vez que a modificação em um destes parâmetros gera a ajuste automático nos restantes.

6 Fonte: sbstransit.com.sg e towertransit.sg.

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Figura 40. Distribuição dos usos.

Fonte: Osintseva (2017).

Figura 41. Mapa conceitual das funções inicialmente sugeridas.

Fonte: Osintseva (2017).

Figura 42. Mapa de uso definitivo.

Fonte: Osintseva (2017)

52%

16%

19%

13%

Residencial

Comércio

Escritórios

Funçõespúblicas

50%

19%

31%

Edificações

Rede Viária

EspaçosVerdes

Função

Pública

Uso-Mix Alta

Densidade Uso-Mix Baixa e

Média Densidade

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O acesso aos serviços primários, nomeadamente escolas secundárias, unidades comercias e escritórios foi considerado um critério importante e que refletiu na criação de uma função algorítmica de modo que se respeitasse a distância máxima de 500 metros de qualquer um destes usos para as unidades residências, as médias de distâncias são apresentadas a seguir:

• Escolas do secundário com média de 460 metros até unidades residências; • Edifícios comerciais com média de 134 metros até unidades residências; • Edifícios de escritórios com média de 230 metros até unidades residências.

No projeto não foi identificado nenhum tipo de cruzamento complexo como rotundas ou anéis rodoviários. Apesar das quadras terem dimensões laterais superiores a 90 metros, os edifícios foram projetados para que as quadras pudessem ter caminhos internos para meios não automotivos, aumentando a conectividade e o acesso rápido a outros sítios (que é abordado em questões da Permeabilidade).

Figura 43. Tipos de junções.

Fonte: Elaborado pela autora.

Figura 44. Caminhos por entre as quadras.

Fonte: Osintseva, 2017.

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

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A correção do dimensionamento das calçadas em espaços suburbanos existentes é mais complicada de serem feita. Quando o sítio não possui edificações construídas, o dimensionamento das vias, calçadas, quadras e outros espaços podem ser realizados dentro dos padrões mínimos da acessibilidade urbana. Neste projeto foi considerado que calçadas para pedestres tivessem a dimensão mínima de 2 metros, e em alguns pontos os espaços para peões foram aumentados a fim de se tornarem espaços de lazer (parklets) junto às calçadas.

Figura 45. Parklets.

Fonte: Osintseva (2017)

QUESTÕES DA PERMEABILIDADE

O processo inicial desse projeto tem forte influência sobre a permeabilidade do resultado final, pois, a forma como foram projetadas as ruas, quarteirões e o posicionamento dos edifícios resultou num projeto com várias alternativas de percursos.

Os primeiros passos para o Waterfront Tanjong Pagar são resultados de 6 etapas:

1. A delimitação do contorno das áreas do projeto foi um processo realizado manualmente, partindo da escolha do próprio projetista/urbanista.

2. O segundo passo foi delimitar os eixos principais a considerar as rodovias já existentes do perímetro. Como o projeto envolve uma península que atualmente só detinha uma ligação com o continente também foi pensado em outras 3 vias alternativas.

3. Com as linhas das principais vias traçados, foi possível dividir o projeto em regiões, uma espécie de bairro.

4. O próximo estágio foi a escolha do tamanho dos blocos/quarteirões, um processo também manual.

5. A partir de uma decisão conceitual, foram criados canais (fiordes) aproveitando a costa litorânea e a faixa de mar que estão entre as duas porções de terra, o que irá proporcionar uma canalização de vento para dentro do território, e mais áreas de lazer ao redor dos canais.

6. O último passo do início do processo foi criar um algoritmo que sintetizou e processou as informações das vias principais, os bairros formados e os tamanhos de quarteirões desejados, e indicou soluções possíveis para as restantes vias.

O algoritmo utilizado é flexível quanto a escolha manual de alguns dados, como o tamanho das quadras, o que implica a flexibilidade de escolha por parte do urbanista em qual dimensão utilizar. Apesar da

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flexibilidade do algoritmo em dar resposta a dimensão das quadras, este projeto não teve em consideração as dimensões ideias para um espaço permeável, uma vez que as medidas das faces das quadras são superiores a 90 metros, chegando em alguns caso a 200 metros.

Quadras/quarteirões mais compridos diminuem as possibilidades de percursos direcionados aos veículos e pedestres. No entanto, o projeto em análise adotou medidas para aumentar a permeabilidade dos pedestres entre as quadras/quarteirões. Isto só foi possível porque foi determinada a implantação dos espaços privados de modo que não gerasse um vazio urbano no meio dos quarteirões, o que gerou mais espaços públicos, mais alternativas de caminhos (para não motorizados) e permeabilidade visual. Verifica-se também que a volumetria indica formatos variados e com bordas chanfradas (espécie de esquina de ângulo maior ou menor que 90º).

O algoritmo de Voronoi foi utilizado para estabelecer aleatoriamente a dimensão entre o intervalo de 50 a 90 metros para as torres de cada edifício, entretanto, existem alguns edifícios cujo o podium (parte inferior dos edifícios - a base) possui valores superiores a 90 metros em uma das laterais, sendo que nestes casos a outra lateral se torna bastante estreita.

Figura 46. Disposição dos edifícios para separação do fluxo de pessoas do espaço público e privado.

Fonte: Osintseva (2017)

Figura 47. Cheios e Vazios.

Fonte: Osintseva (2017)

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Figura 48. Etapas do processo

Fonte: Osintseva (2017)

Uma questão importante é sobre a disposição dos alçados. Bently, et al. (1985) sugere que os alçados frontais devem ser voltados para o espaço público e os fundos para os espaços privados. Essa indicação é valida para edificações que contenham uma espécie de limite bem delimitado, como muros, cercas ou vegetação alta que desempenha papel de divisão e limite. No projeto do Waterfront Tanjong Pagar considerou-se que os terrenos privados não devem ser fechados, mas abertos o suficiente para haja mais espaços de vivência e mais conexões de um espaço a outro. Os edifícios quase sempre estão faceados na borda das quadras, podendo considerar-se que os alçados frontais ficam posicionados para as calçadas/vias. A crítica está no facto de não haver alçados de fundo voltadas para o espaço privado, apesar de algumas tentativas de ajustar o fluxo de pessoas para somente o espaço público.

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Anteriormente foi explicada a metodologia utilizada nos primeiros passos para este projeto, o que resultou no dimensionamento parcial das quadras e traçados do sistema viário. O desenho resultante deste processo foi submetido a uma análise de tráfego realizada através do Space Syntax.

Space Syntax é um conjunto de técnicas elaboradas por Bill Hillier e Juliene Hanson, para analisar configurações espaciais e investigar a relação do layout dos espaços com fenómenos sociais, económicos e ambientais.

Os seus resultados podem auxiliar a prever comportamentos e simular efeitos prováveis antes mesmo do projeto ser executado. Apesar da teoria começar a ser elaborada nos anos 1970, atualmente é imprescindível a utilização de modelação gráfica e recursos de big data.

Neste projeto o Space Syntax foi utilizado para prever o comportamento do tráfego de acordo com as informações de uso, tamanho de via e quantidade de pistas. Desta forma, ao verificar a análise feita, é possível, por exemplo, aumentar o número de pistas em determinada via, para que não ocorram congestionamentos.

É possível perceber que os problemas com o tráfego estão presentes nas áreas mais densas do projeto (Figura 49).

Figura 49. Mapa de tráfego

Fonte: Osintseva (2017)

QUESTÕES DA CONFORTO

No projeto do Tanjong Pagar uma das fontes de maior ruído é a via nacional que circunda parte do perímetro. A rodovia Keppel possui três pistas em cada sentindo, e o viaduto Keppel possui quatro pistas em cada sentido, o que gera uma fonte de ruído para a vizinhança.

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A solução para minimizar os ruídos provenientes da rodovia e do viaduto foi colocar uma linha de vegetação com arborização, para que possa ser criada uma barreira filtrando o ruído nas partes mais afetadas.

Pensando no conforto térmico, a fim de minimizar os efeitos de ilha de calor, algumas estratégias foram realizadas, como o posicionamento dos prédios em relação aos ventos, inserção de áreas verdes ao longo do projeto, e também a consideração em relação à altura dos prédios e largura das vias, como meio de assegurar a passagem de vento, minimizando assim as ilhas de calor.

Primeiramente, o posicionamento e dimensionamento dos prédios foram pensados para que o vento pudesse proporcionar maior circulação por entre os quarteirões. Para que o vento que vem do mar entrasse na área do Tanjong Pagar, foi utilizado o efeito Venturi, conforme representado na Figura 50, que canaliza o máximo de vento possível para dentro do continente. Depois, para que o vento possa circular por entre os espaços sem que se disperse, os edifícios são divididos a fim de criar rotas para os ventos, conforme representado na Figura 51, ou podem ter a sua altura redimensionada.

Figura 50. Efeito Venturi.

Fonte: Osintseva (2017).

Figura 51. Quebra dos blocos para passagem do ar.

Fonte: Osintseva (2017).

Figura 52. Efeitos do vento de acordo com a altura das edificações.

Fonte: Osintseva (2017).

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Após a inserção dos edifícios de acordo com os ventos, outro ajuste teve que ser realizado. O mapa de radiação demonstrou quais os sítios que eram mais suscetíveis de ter ilhas de calor e portanto, deveriam ser realizados ajustes no posicionamento os alçados em relação às ruas ou outras medidas compensatórias, como inserção de vegetação ou outro tipo de soluções para contribuir para um melhor conforto térmico.

Desse modo, a fim de respeitar a relação de largura da rua e altura dos prédios, para melhorar a passagem de vento e diminuir a criação de ilhas de calor, foi criado um algoritmo para garantir que a proporção fosse respeitada. Ou seja, se a proporção fosse menor de 1/3 o edifício era afastado de modo que a via aumentasse e a proporção ficasse adequada (Figura 53).

Figura 53. Relação edifício e via.

Fonte: Osintseva (2017).

Também foram ajustados os espaços nas calçadas para conter árvores de grande porte. Além disso, acima dos pódios, por terem áreas maiores que área dos edifícios, foram também posicionados espaços de lazer verde para a população residente. No total, 31% (128 há) da área total é verde, contando com cerca de 3448 árvores.

Figura 54. Podiuns e vegetação

Fonte: Osintseva (2017)

W

H

W/H > 1/3

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

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QUESTÕES DA VARIEDADE

No projeto Waterfront Tanjong Pagar, após a projeção das ruas e consequentemente dos blocos, iniciou-se então a distribuição dos usos, onde foi tido em consideração o estudo de tendência populacional realizado por estatísticas demográficas de Singapoure. A previsão do plano diretor que indicava uma demanda de 70.000 unidades habitacionais, somando cera de 500.000 m² de área rentável para a área em questão.

Para preencher a distribuição dos usos no mapa de blocos gerados pelo software, primeiro foi preciso a elaboração de uma lista de usos e a algumas indicações essenciais para o projeto com a densidade definida como parte da criação conceitual, pontos de atratividades e espaços verdes.

Figura 55. Desenho conceitual.

Fonte: Osintseva (2017).

O fato de ter variados usos na distribuição da área do Waterfront Tanjong Pagar não é o que lhe dá alta variedade urbana, mas sim a forma como foram distribuídos os usos.

Apesar de existirem edifícios apenas habitacionais, que são pouco comuns no projeto, procurou-se mesclar edifícios e espaços de variedade de usos e atividades. Primeiro foram distribuídas as tipologias públicas como escolas, universidades, hospitais, edifícios culturais, entre outros. Depois foi formulada uma função para a combinação de uso de habitacional com comércio e escritórios, procurando tornar cada bairro multi funcional. Para os edifícios habitacionais, foram criadas 3 tipologias:

• Somente habitacional (raros); • Habitacional + Comercial; • Habitacional + Comercial + Escritórios.

O projeto também considerou distribuição da densidade. A zona de alta densidade foi pensada como forma de ser extensão do Distrito Central de Negócios- CBD de Singapura e possui habitações, comercio, serviços e funções públicas.

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Nas zonas das laterais, os níveis de densidade podem ser médios ou baixos, para além de possuírem as mesmas tipologias de usos (habitações, comercio, serviços e funções públicas), mas são nestas zonas que são encontradas as áreas verdes, parques, jardins, praças e orla com espaço para pequeno comércio.

O nível de detalhamento do projeto não permite uma análise de forma completa, uma vez que não são especificadas formas das edificações, cores ou texturas, além de ser um projeto nível de estudo prévio. O que se pode supor é que, seguindo a linha de ideologia da vizinhança, haverá uma tendência a arranha-céus de formas arquitetónicas icónicas. No entanto, seria necessária uma análise após a concretização do projeto para verificação dos indicadores da variedade urbana para se testar se efetivamente através do projeto paramétrico será possível obter esta qualidade. Uma característica física dos edifícios que podem ser verificados diz respeito à relação da sua altura e os espaços verdes.

Figura 56. Mapa de densidade.

Fonte: Osintseva (2017).

Figura 57. Espaços verdes.

Fonte: Osintseva (2017).

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Os parques verdes funcionam como ponto de atração e ímans e para que não ficassem “sufocados” pelas construções densas na envolvente imediata, foi criado um algoritmo que calcula a altura dos edifícios de modo que os mais próximos dos espaços verdes não fossem os mais altos, criando assim uma variedade de altura dos prédios.

Quanto às atividades variadas, pode dizer-se que procurou aproveitar a orla com espaços para as mais diversas atividades; além disso, foi encontrado espaços cobertos por dentro os quarteirões próximo da costa, que serve como espaço público de lazer e de serviço.

Figura 58. Espaço para atividades diversas entre os edifícios na parte densa do projeto.

Fonte: Osintseva (2017)

Figura 59. Costa

Fonte: Osintseva (2017)

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A variedade urbana é o resultado do conjunto complexo da presença de multiplicidade e interação da utilização dos espaços públicos – a perceção da vida urbana, através das variadas formas e de interpretação e significado dos espaços. A sua mensuração também se faz complexa pelo nível de detalhamento. O que se pode dizer é que apesar do projeto não conter as informações suficientes para realizar uma análise profunda da variedade urbana, a linha de procedimentos utilizada neste projeto pode possibilitar e ajudar inicialmente a sintetização mais ágil de informações que auxiliará na busca pela melhor variedade urbana.

QUESTÕES DA LEGIBILIDADE

Como já citado, a distribuição das vias principais, dos bairros e limites fizeram parte dos primeiros passos deste projeto. Dessa forma, é fácil identificar tais elementos. Na análise serão considerados como elementos lineares as vias principais, onde a característica principal é suportar o maior fluxo, além de servir como entrada e saída da área do projeto, tanto na área da costa como na área da ilha. Também foi elaborado uma via verde, que faz ligação das maiores áreas verdes existentes e a costa direita. A partir do desenho das vias principais e da conexão verde, o algoritmo relacionou os parâmetros de dimensão das quadras e gerou uma nova malha com as ruas restantes e consequentemente com o contorno das quadras. Esse processo garantiu que a hierarquia das vias ficasse bem definida, e que o desenho das quadras/quarteirões ficasse na maioria das vezes regular. Apesar das conexões aparentemente se mostrem claras e não confusas, em poucos casos há vias ligeiramente inclinadas e nenhum com curvas suaves.

O desenho das vias verdes, neste caso, possibilitou dividir a área em 6 regiões, concluindo-se que os limites são bem distintos e nítidos, uma vez que ou terá um corredor com vegetações altas e um corredor verde, ou então no caso da ilha e da costa, terá o mar como limite. O único ponto crítico a ser comentado é sobre o limite com a parte norte, pois ali, encontra-se um viaduto com tráfego intenso, sem acesso à área, tornando-se o limite não permeável neste ponto.

As informações para caracterização das quadras são poucas, sendo que esta análise é mais completa com as informações num ambiente construído. Para facilitar a compreensão dos bairros, e pela falta de nomes para cada região, identificar-se-ão os bairros por números – ver Figura 62.

Na imagem do mapa dos bairros, verifica-se que há uma separação de bairro por densidade, principalmente nas regiões centrais 2 e 5, onde a densidade é mais alta. Nestes bairros, verifica-se a existência de podiuns (espécie de base que contém os primeiros andares do edifício e que normalmente possui uma área maior que a área de ocupação dos pisos superiores) em quase todos os edifícios, locais onde estão os grandes escritórios, comércio e serviços, além conter altos edifícios, justificando a alta densidade no local.

O bairro 4, considerado habitacional e de baixa densidade, apesar de possuir comércio, escritório e serviços, não possui edifícios públicos como escolas, hospitais, edifícios culturais ou religiosos. Outra característica desse bairro é que não possui grandes edifícios e o formato proposto para os edifícios são pouco variado (ver Figura 63). O bairro 6 possui as mesmas características que o 4, exceto pelo facto de existirem edifícios públicos.

O bairro 3 é o que possui maior área e contém dois tipos de densidade, a baixa e a costeira. Não sendo uma característica única, possui entradas do mar, espécie de “fiordes”, para além de conter uma grande extensão de costa. Possui todos os tipos de usos e não possui nenhum tipo de identificação comum nesta fase inicial de projeto.

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

67

O bairro 1 também não é diferente do 3 e, apesar de não haver fiordes, possui um espaço lazer, convívio e caminhada no perímetro da sua costa (Figura 64).

Figura 60. Mapa 1: Linhas amarelas - Vias principais. Linhas verdes - caminhos verdes. Mapa 2: Rede de vias.

Fonte: Osintseva (2017)

Figura 61. Viaduto que funciona como barreira. Costa marinha à direita.

Fonte: Osintseva (2017)

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68

Figura 62. Mapa dos bairros.

Fonte: Osintseva (2017)

Figura 63. Bairro 4 - Volumetria.

Fonte: Osintseva (2017)

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

69

Figura 64. Bairro 1 – Orla marítima.

Fonte: Osintseva (2017)

Alguns “nós” foram identificados no projeto, mas não é possível perceber-se de que tipologia será, por exemplo, se será praça, ou jardim, ou se terá um monumento.

Os pontos de atração neste projeto foram abordados como diretrizes e refletiram na interferência da altura e dimensões dos edifícios, onde quanto mais perto da costa marítima menor. Tal decisão também foi aplicada para parques e jardins verdes. Outros tipos de marcos são inexistentes no projeto.

4.4 DIAGNÓSTICO

A análise da qualidade do ambiente urbano torna-se mais complexa quanto se trata de avaliar um projeto não executado ao invés de um espaço público construído que já tenha vitalidade, mas as características que tornam um espaço de fácil acesso, legível, que contenha variedade, permeabilidade e conforto urbano, podem ser ponto de partida para começar a projetar.

Portanto, buscou-se apresentar informações do estudo de caso dentro dos padrões necessários para a avaliação das qualidades do ambiente urbanos. Este capítulo apresenta o diagnóstico que relaciona e compara o estudo de caso e as indicações da grelha de avaliação proposta no capítulo de Qualidade do

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70

Ambiente Urbano. Para uma melhor verificação dos resultados foi acrescentado à tabela de avaliação uma classificação pontal de 1 a 3 de acordo com o grau de parametrização.

Tabela 13. Nível de parametrização.

Fonte: Elaborado pela autora.

Nível Parametrização

1 Não

2 Parcialmente Manual

3 Sim

DIAGNÓSTICO DA ACESSIBILIDADE

Sobre a análise das qualidades urbanas no projeto do Waterfront Tanjong Pagar, verificou-se que o projeto conseguiu alcançar as premissas da acessibilidade, com o aproveitamento das linhas de transporte público, a facilidade de acesso ao centro da cidade-Estado e ao aeroporto, a disposição de serviços primários e secundários dentro dos limites ideais de distância, além de deter um desenho de rede de ruas bem conectadas, sem cruzamentos complicados e com calçadas de largura confortáveis.

Como visto, um conjunto de características foi formulado para acessibilidade dos espaços urbanos, segundo Carrelo e Aguas (2002), PPS (2001), Burton e Mitchell (2006) e Hoek (2008). A seguir será apresentado a análise de cada item de acordo com as considerações feitas a partir do estudo de caso.

Tabela 14. Síntese da análise da acessibilidade e o nível de parametrização no estudo de caso.

Fonte: Elaborado pela autora.

Acessibilidade

Medidas Análise Nível de Parametrização

Raio abrangência ao metro Considera 3 novas linhas, a mais próxima existente está a 300m

3

Número de linhas autocarro/população RA

9 linhas de autocarro p/ 700.000 unidades residenciais

1

Distância para o núcleo central de Singapura e vias principais

Distância ao centro: 1,5 km Bons acessos pelas rodovias

nacionais

1

Distância para o aeroporto Aeroporto: 23km

Pode ser feito pelo metro ou pela rodovia nacional

1

Uso-misto de solo

Habitação 52% Comércio 16% Escritórios 19%

Funções públicas 13%

3

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

71

Serviços primários 500 m das habitações

Todos os serviços primários estão a menos de 500 metros das habitações

3

Ruas bem conectadas e cruzamentos simples

Não tem existência de nenhum cruzamento complicado

3

Calçadas mín. 2 metros de largura

As calçadas possuem o mínimo de 2 metros de largura

3

DIAGNÓSTICO DA PERMEABILIDADE

Sobre a permeabilidade, verificou-se que a proposta de layout adotado favoreceu o acesso físico pedonal e visual, uma vez que a disposição dos terrenos não é unitária, mas corresponde à construção de prédios com número de andares que variam de acordo com a zona (mais densa ou menos), e que servem para aumentar a densidade e deixar espaços livres entre um terreno e outro, gerando várias alternativas de caminho e consequentemente o aumento da permeabilidade das áreas. Em contrapartida, as quadras não possuem as medidas contidas entre os 60 a 100 metros, o que implica a redução do número de rotas alternativas para veículos, e que consequentemente poderá vir a ser um problema para o tráfego. Uma solução alternativa foi feita utilizando uma técnica de avaliação do comportamento de tráfego, o que permitiu aos designers do projeto aumentar os tamanhos de vias e pistas onde o tráfego poderia estar condicionado a ter congestionamentos, mas o que não necessariamente irá dispor de mais opções de rotas para os utilizadores. A questão da permeabilidade visual enfrenta uma dualidade, uma vez que os espaços abertos entre os prédios podem demonstrar uma sensação de mais caminhos alternativos, como também podem reprimir os utilizadores pelo facto de estarem adentrando um espaço que pode não ser público. Isso acontece porque necessariamente os alçados dos fundos não estão voltados para espaços claramente privados.

Tabela 15. Síntese da análise da permeabilidade e o nível de parametrização no estudo de caso.

Fonte: Elaborado pela autora.

Permeabilidade

Medidas Análise Nível de Parametrização

Blocos chanfrados, quadrado ou variado

A proposta para a volumetria das edificações contém bordas

chanfradas e variadas 3

Blocos de quadras com 60-100 m

Os blocos das quadras são superiores a 100 metros, em

contrapartida, as quadras possuem várias opções de caminhos pedonais

3

Alçados voltados para espaço público e fundos voltados para

espaços privados

Esta característica não é clara para o caso uma vez que os fundos das edificações não estão claramente voltado para um espaço privado

1

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72

Dimensionamento das vias x uso As vias foram adequadas de acordo com a estimativa de tráfego e não de

uso 3

Máximo de conexões e ligações

Para pedestre existem várias rotas alternativas, em contrapartida, para veículos as grandes dimensões dos blocos oferecem poucas ligações

3

DIAGNÓSTICO DO CONFORTO

No projeto do caso analisado, a medida adotada para conseguir um maior conforto acústico foi a inserção de uma linha arbórea entre as vias mais ruidosas e a área do Tanjong Pagar. Este processo de inserção de vegetação foi feito manualmente, através da indicação de pontos de atração do projeto. No que diz respeito ao conforto térmico, algumas estratégias foram adotadas, como a inserção de outros pontos de áreas verdes e vegetação mais densa, e o dimensionamento e disposição dos prédios e as relações das construções com as vias, para a dissipação de ilhas de calor.

Tabela 16. Síntese da análise do conforto urbano e o nível de parametrização no estudo de caso.

Fonte: Elaborado pela autora.

Conforto Urbano

Medidas Análise Nível de Parametrização

Barreiras acústicas Foi adicionado vegetação ao longo de

vias com tráfego intenso 2

Relação do traçado urbano / Orientação dos Ventos

O traçado das vias foi projetado de modo que obtivesse o maior

aproveitamento possível do fluxo dos ventos

3

Possíveis Ilhas de calor - relação w/h (altura/largura)

Foi elaborado um algoritmo específico para que essa relação

obtivesse o resultado ideal 3

Área verde / área total A área verde corresponde a 31% da

área total 3

DIAGNÓSTICO DA VARIEDADE

O projeto do Tanjong Pagar teve em consideração, dados estatísticos para a tomada de decisão relativamente à demanda e distribuição dos usos, aliado ao facto de a distribuição se ter baseado em três tipologias diferentes de edifícios habitacionais. Neste aspeto torna um ponto favorável para a variedade de uso. Em contrapartida, outros aspetos como a variedade das construções, estilos, cores e forma, não foram especificados, tornando a análise da variedade incompleta. Uma questão isolada foi identificada, a partir da forma como os prédios foram idealizadas ao redor nos pontos ímans, o que resultou na

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

73

variedade de alturas dos edifícios, assim como os espaços identificados para o lazer, o que possibilita ser um palco para variadas atividades.

Tabela 17. Síntese da análise da variedade e o nível de parametrização no estudo de caso.

Fonte: Elaborado pela autora.

Variedade

Medidas Análise Nível de Parametrização

Edifícios de formas, estilos, tipos, alturas variadas

Encontrou-se apenas a variação nas alturas e na forma da volumetria dos

edifícios 2

Localização de espaços ímans de distância entre 90 a 120 metros

A localização de espaços ímans não estão dentro dos 90 a 120 metros de distância, apesar de ser considerado

um parâmetro

3

Atividades variadas e as suas relações – uso-mix

Verificou a existência de 3 tipologias de utilização para edifícios

habitacionais e 3 tipos de densidade 3

Interações entre usos Verificou a existência de espaços de lazer a cima dos pódiuns e espaços para comércio e lazer a beira-mar

2

Demanda

Utilizou de dados demográficos para ter como base a projeção total de

unidades habitacionais eram necessárias

2

DIAGNÓSTICO DA LEGIBILIDADE

Na questão característica da legibilidade alguns aspetos contribuíram para tornar legível este projeto. Existe uma hierarquia de vias aparentemente bem definidas e existem elementos divisórios bem distintos, apesar de não ter nomes ou identificação os bairros e caracterização comum, são bem delimitados. Em contrapartida, elementos como os nós (espaços de aglomeração) não são bem especificado em nível de detalhamento, havendo apenas uma identificação de espaço que funcionaria como “nós”, e os únicos marcos de referência identificáveis são a costa marítima e outros espaços verdes espalhados pela área do projeto. Essa decisão é fruto da decisão projetual dos autores.

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74

Tabela 18. Síntese da análise da legibilidade e o nível de parametrização no estudo de caso.

Fonte: Elaborado pela autora.

Legibilidade

Medidas Análise Nível de Parametrização

Vias e quadras regulares Não foi encontrado nenhum tipo de vias e quadras de formato

irregular 3

Hierarquia de ruas bem

definida

A hierarquia bem definida das ruas é fruto da própria

metodologia utilizada pelos autores do projeto 3

Ruas com linhas levemente

inclinadas e curvas suaves

O desenho das ruas quase sempre possui ângulo de 90º,

existe ruas levemente inclinadas e não possui ruas curvas 3

Conexões claras Aparentemente não conexões confusas 3

Rede pedonal simples e

bem articulada

A rede pedonal é bem articula e está presente entre as

edificações, nas orlas e entre a área do continente e a ilha 3

Limites distintos,

permeáveis e nítidos

Os limites são distintos e nítidos embora a permeabilidade na

parte norte seja prejudicada pelo viaduto existente 2

Bairros com identificação

comum

Encontram-se algumas identificações comuns:

Bairro 1: Possui nível médio e baixo de densidade e espaço

de lazer na costa marítima.

Bairro 2: Possui densidade alta e existência de podiuns e

fiordes na costa marítima;

Bairro 3: Possui nível médio e baixo de densidade e fiordes

na costa marítima.

Bairro 4: Baixa densidade e não possui uso público, cultural

ou religioso;

Bairro 5: Densidade alta e existência de podiuns;

Bairro 6: Baixa densidade e não possui uso cultural ou

religioso

2

Bairros com fronteiras

delimitadas As fronteiras são bem delimitadas pelos caminhos verdes 3

Existência de pontos

estratégicos nos

cruzamentos

Não foi possível identificar pontos estratégicos 1

Identificação clara de praças

e cruzamentos Não foi possível identificar 1

Elementos claros e fácil

compreensão Não foi possível verificar 1

Edifícios identificáveis,

monumentos, praças,

quiosques

Esses elementos não são especificados no projeto 1

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

75

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1 CARACTERÍSTICAS DO URBANISMO PARAMÉTRICO

A princípio, o emprego de novas ferramentas digitais no auxílio de projetos arquitetônicos e urbanos surgiu como um instrumento que iria tornar a criação de desenho manual em procedimento um digital, tornando-o mais rápido e facilitando o processo de possíveis modificações no desenho, uma vez que não estaria fazendo-o em papel e sim num software de desenho. Desse ponto de partida, a evolução e o desenvolvimento das ferramentas digitais de desenho acompanham a necessidade de criar desenhos com geometrias mais complexas, com superfícies e linhas curvilínea e cada vez mais controláveis e parametrizáveis.

Dois pontos importantes podem ser vistos perante o estudo de caso: i) o primeiro diz respeito a falta de geometria de formas complexas. Os projetos considerados como urbanismo paramétrico normalmente destacam-se pela apresentação de um aspeto formal que se diferencia dos padrões conhecidos das cidades, seja pela forma em que se propõe os formatos e estilos das edificações, seja pela divisão das quadras e traçados curvilíneos das vias. É notável que o caso WaterFront Tanjong Pagar partiu para a criação de um conceito funcional e não formal, privilegiando as relações das funções e usos dos espaços e que não considerou espaços com formas vibrantes e outras estratégias disponíveis pelo software utilizado; ii) a utilização da ferramenta paramétrica possibilitou a demonstração de mais 2 cenários para além da proposta principal apresentada nesta dissertação, o que implica no fácil controle e flexibilidade do desenho em oferecer novas alternativas a partir da modificação de alguns parâmetros. Desta maneira, foi evidenciado a modificação dos parâmetros nos outros 2 cenários relativamente ao aumento total de áreas verdes e consequentemente na diminuição de edificações e rede de vias.

Quanto aos conceitos relacionados ao urbanismo paramétrico, verifica-se a presença dos elementos citados no capítulo 2: i) o sistema generativo mostrou presente na ligação entre os parâmetros adotados e do modelo criado; ii) a geometria associativa permitiu a interdependia de todos os componentes do desenho estivessem interligados o que facilitou a geração de outros 2 cenários; iii) o projeto paramétrico (geral não apenas urbano) esteve presença na técnica utilizada, com a presença da manipulação de variáveis, criação de parâmetros e regras de interligação; iv) o urbanismo paramétrico está na presente no conceito e na elaboração do programa de necessidade (pautado em criar um espaço urbano sustentável de alta densidade e com uso-mix) e no resultado final, onde contempla os elementos básicos de intervenção urbanística, criação de quadras, vias, espaços verdes, de lazer e indicação do conceito das edificações; por fim, v) a modelagem tridimensional está presente no resultado da manipulação das variáveis no software paramétrico transformado em volumetria.

Page 92: URBANISMO PARAMÉTRICO

76

5.2 PROCEDIMENTOS MANUAIS E A OTIMIZAÇÃO PARAMÉTRICA

O estudo de caso demonstrou a existência de uma parte manual, mesmo que num ambiente de modelagem paramétrica, mas que após a otimização dos parâmetros e regras algorítmicas foi possível obter uma interação maximizada do projetista com o projeto, que possibilitou a modificação de parâmetros face às análises realizadas.

A seguir um resumo dos procedimentos manuais identificados no estudo, desenvolvidos do software paramétrico Rhinoceros e Grasshoper para o projeto do Waterfront Tanjong Pagar:

• Delimitação da área do projeto feito através de desenho manual feito no Rhinoceros; • Indicação da área de projeto feito para Grasshoper; • Desenho das vias principais no Rhinoceros; • Desenho das divisões dos bairros no Rhinoceros; • Desenho das dimensões dos blocos de quadras desejáveis no Rhinoceros; • Indicação das áreas de baixa, média ou alta densidade; • Indicação das áreas de beira-mar e pontos de atração.

A seguir um resumo dos elementos transformados em parâmetros e regras algorítmicas para criação do projeto dentro do Grasshoper:

• Localização dos fiordes dentro da indicação da área de beira-mar; • Distribuição dos usos de acordo com a indicação da densidade; • Distribuição da localização dos edifícios e do volume das edificações; • Redimensionamento das alturas dos edifícios; • Criação de podiuns na base dos edifícios; • Distribuição das vias secundárias e dimensionamento das quadras de acordo com a indicação

das dimensões dos blocos desejáveis; • Redimensionamento das vias e números de pistas de acordo com a análise de tráfego; • Redimensionamento das vias de acordo com a altura dos edifícios; • Ajuste nos edifícios beira-mar para que a sua posição possa encaminhar o vento para dentro do

continente.

5.3 CARACTERÍSTICAS DAS QUALIDADES URBANAS

O diagnóstico demonstrou o nível de parametrização face às características analisadas, sendo que o número 1 foi designada para características que não podiam ser parametrizadas, o número 2 para aquelas que poderiam ser parametrizadas, mas que passariam por algum processo manual, e 3 para aqueles pontos característicos perfeitamente parametrizáveis. A seguir é demonstrado os resultados de cada qualidade e a percentagem de parametrização de cada qualidade separada e o nível de parametrização geral das 5 qualidades urbanas.

Page 93: URBANISMO PARAMÉTRICO

Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

77

Figura 65. Gráficos do nível de parametrização das qualidades urbanas.

37%

63%

Parametrização na Acessibilidade

NÃO

SIM

75%

25%

Parametrização no Conforto

SIM

PARCIAL

MANUAL

20%

80%

Parametrização na Permeabilidade

NÃO

SIM

40%

60%

Parametrização na Variedade

SIM

PARCIAL

MANUAL

33%

50%

17%

Parametrização na Legibilidade

NÃO

SIM

PARCIAL

MANUAL

Através da avaliação das acessibilidades pôde ser identificado que 63% das suas características podem ser parametrizáveis, tornando-a uma qualidade com alta probabilidade de ser encontrada no projeto paramétrico.

Através da avaliação do conforto urbano pôde ser identificado que 75% dos pontos estudados podem ser parametrizáveis, o que torna essa qualidade com muita probabilidade de ser encontrada no projeto paramétrico.

Através da avaliação da permeabilidade pôde ser identificado que 80% das suas características podem ser parametrizáveis, tornando-a uma qualidade com alta probabilidade de ser encontrada no projeto paramétrico.

Através da avaliação da variedade urbana pôde ser identificado que 60% dos pontos estudados podem ser parametrizáveis, e que 40% necessitam de trabalho manual, o que torna essa qualidade com alta probabilidade de ser encontrada no projeto paramétrico.

Através da avaliação da legibilidade urbana pôpde ser identificado que 50% dos pontos estudados podem ser parametrizáveis, mas que 33% não são passíveis de tornarem-se parâmetros.

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78

Figura 66. Gráfico do Nível de Parametrização Geral.

Na avaliação geral das qualidades urbanas, nota-se que 59% das características estudadas pode ser alvo de parametrização dentro de um software paramétrico, que 18% podem ser parametrizadas, mas que requerem ainda um trabalho manual de criação e 23% não podem ser parametrizáveis.

23%

59%

18%

Nível de Parametrização das 5 qualidades do ambiente urbano

NÃO

SIM

PARCIAL

MANUAL

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

79

6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A realização do presente estudo permitiu verificar que existe uma dificuldade em sintetizar as características das qualidades do ambiente urbano e traduzi-las para um ambiente paramétrico. Essa constatação foi identificada através do diagnóstico onde foi possível identificar o nível de parametrização de cada ponto característico das qualidades urbanas.

A revisão da literatura contribuiu para aprofundar o tema geral do urbanismo paramétrico, que passou da discussão sobre uma nova corrente urbana até os conceitos específicos associados ao parametricismo. Foi possível clarificar que o urbanismo paramétrico está mais voltado a ser uma metodologia de criação de desenho do que um estilo. Constatou-se que essa metodologia trabalha dentro de um sistema paramétrico que auxiliado pela manipulação de parâmetros e regras pode gerar várias alternativas de modelagem tridimensional.

O estudo também permitiu verificar a existência das vantagens, desvantagens e limitações que podem ser evidenciadas na utilização de softwares paramétricos nos projetos urbanos. A sintetização do conjunto de informações e a rápida resposta de solução que o programa oferece é um dos pontos positivos desta ferramenta, mas para que isso ocorra é necessário um conhecimento prévio do urbanista de questões externas ao planeamento e projeto das cidades, o que pode ser uma grande barreira. Para além do conhecimento sobre as dinâmicas das cidades e domínio sobre o software, é necessário que haja um nível de experiência para converter todas as informações importantes do projeto urbano em parâmetros e regras.

O estudo sobre as características das 5 qualidades urbanas, permitiu criar uma base de avaliação para identificar que pontos eram possíveis de ser encontrados no caso do projeto paramétrico e quais poderiam ser parametrizadas. A metodologia que permitiu sintetizar as informações das qualidades e posteriormente aplicá-la para avaliar o projeto torna-se o contributo desta dissertação.

A princípio, o urbanismo paramétrico destaca-se pelo resultado formal decorrente das geometrias vibrante e incomuns, em consequência dos grandes projetos urbanos do escritório de Zaha Hadid Architects. Em contrapartida, o que pôde-se constatar no estudo de caso, foi que a aplicação das técnicas paramétricas também assume um papel importante no que toca a organização dos uso-mix e na interações entre usos do projeto urbano e não apenas características formais e estética dos edifícios.

A avaliação do projeto, realizada na presente dissertação tinha como objetivo verificar se este novo meio inovador de projeto paramétrico era suficientemente capaz de dar resposta às configurações urbanas com alto nível de qualidade, assim como os projetos urbanos feitos por outros métodos e técnicas mais usuais.

Foi através da análise que se verificou que muitas das qualidades urbanas intangíveis têm uma dificuldade em serem mensuradas e mesmo aquelas que tinham mais potencial para serem quantificadas

Page 96: URBANISMO PARAMÉTRICO

80

mostraram que, ao envolverem questões subjetivas, requeriam um nível de estudo aprofundado a fim de poderem ser parametrizadas (como a legibilidade de marcos referenciais).

Desta forma, a essência da evolução do pensamento foi marcada, primeiramente, pela dificuldade em transformar as qualidades em parâmetros, e por compreender que o urbanismo paramétrico não é uma disciplina a parte do grupo geral do projeto urbano, mas sim uma técnica aliada, capaz de reduzir o tempo de projeto e de gerar e modificar configurações do projeto urbano simultaneamente, auxiliando na rapidez de decisões projetuais.

Constatou-se que as ferramentas paramétricas podem auxiliar no processo de projetar o desenho das cidades, e uma vez que a característica essencial destes softwares paramétricos é a capacidade de reunir e processar um conjunto com informações relevantes, foi reafirmado que a função do urbanista vai além de inserir dados no programa. É preciso saber quais as informações necessárias para o projeto, qual o programa de necessidade proposto, como será a transformação do programa em parâmetros e regras, como interligá-las, e se, após a criação resultante do projeto paramétrico existe a necessidade da realização da análise e possíveis ajustes nos parâmetros variáveis.

Verificou-se também que o produto do projeto feito no programa paramétrico resultou da forma como o projetista interpretou e correlacionou os dados. O software pode dar a mesma resposta de um processo normal que não se utiliza de ferramentas paramétricas. Pôde-se verificar no caso de estudo que o nível de detalhe foi considerado baixo, e que o projeto não pôde dar resposta aos pormenores que contribuem para a concepção de espaços públicos, como, a ausência das especificações dos pontos ímans, a indicação, o desenho, o estilo e tipo dos equipamentos e mobiliários urbanos, o tipo de paisagismo e outros elementos que podem fornecer um nível de intimidade do projetista com o que se está a projetar.

Para concluir, sugere-se para futuros trabalhos que seja realizado um estudo aprofundado e denso sobre as qualidades urbanas, a fim de se estabelecer uma grelha de indicadores robusta e complexa das principais qualidades do espaço urbano, para obter uma padronização numérica das qualidades urbanas.

Quanto ao campo do urbanismo paramétrico, é necessário o incentivo para a capacitação dos profissionais urbanistas, projetistas e designers, a fim de se tornar possível e democrático o conhecimento das técnicas paramétricas, sendo também necessário que o desenvolvimento das pesquisas nesta área seja mais intenso e aprofundado. Recomenda-se que haja novos estudos sobre a formulação das regras e parâmetros, de modo a esclarecer a metodologia adotada na criação e no procedimento das técnicas paramétricas.

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Urbanismo Paramétrico – Avaliação de qualidades urbanas no projeto paramétrico

81

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