22
USO COSMÉTICO DE PATCHES: artigo de revisão 1 Daniela Furlani 2 Nayara da Silva 2 Daisy Janice Aguilar Netz 3 Resumo: A veiculação de ativos de aplicação cosmética por meio de patches é recente e ainda muito pouco difundida entre os profissionais da área de estética e até mesmo na academia, embora algumas publicações abordem esta aplicação há alguns anos. O emprego desta tecnologia representa um importante avanço na área da cosmetologia, uma vez, que pode proporcionar grande incremento na permeação de ativos sobre a pele e nas diferentes camadas-alvo, potencializando desta forma a eficácia da formulação. Assim, este trabalho teve como objetivo o levantamento de dados e informações relativas a este tipo de dispositivo, buscando o entendimento aprofundado da relação entre a pele e a penetração de ativos, do seu mecanismo de ação e estruturação dos patches e o levantamento de produtos desta categoria de cosméticos disponíveis no mercado nacional e internacional. Palavras-chave: Cosmecêuticos. Patches. Cosméticos 1 INTRODUÇÃO A pele é considerado o maior órgão humano, pesando, em um adulto mediano, por volta de 4 kg, cobrindo uma superfície de cerca de 2 m 2 e recebendo aproximadamente um terço da circulação sanguínea do corpo. Com a espessura de apenas alguns milímetros (2,97 ± 0,28 mm), a pele separa a rede de circulação sanguínea e os demais órgãos do corpo do ambiente externo, ajudando a manter a temperatura corporal, evitando a perda excessiva de água pelo corpo, além de protegendo o indivíduo contra a entrada de agentes químicos e ambientais 1 Artigo apresentado como requisito para aprovação no Curso de Especialização Lato Senso em Estética Facial e Corporal, da Universidade do Vale do Itajaí, Unidade Ilha, Florianópolis, SC, sob orientação da Profª Drª Daisy Janice Aguilar Netz. Março 2012 2 Acadêmicas do Curso de Especialização Lato Senso em Estética Facial e Corporal UNIVALI, Balneário Camboriú, Santa Catarina. [email protected] e [email protected] 3 Professor de Graduação no Curso de Farmácia e de Cosmetologia e Estética UNIVALI.

USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

USO COSMÉTICO DE PATCHES: artigo de revisão1

Daniela Furlani 2 Nayara da Silva2

Daisy Janice Aguilar Netz3

Resumo: A veiculação de ativos de aplicação cosmética por meio de patches é

recente e ainda muito pouco difundida entre os profissionais da área de estética e

até mesmo na academia, embora algumas publicações abordem esta aplicação há

alguns anos. O emprego desta tecnologia representa um importante avanço na

área da cosmetologia, uma vez, que pode proporcionar grande incremento na

permeação de ativos sobre a pele e nas diferentes camadas-alvo, potencializando

desta forma a eficácia da formulação. Assim, este trabalho teve como objetivo o

levantamento de dados e informações relativas a este tipo de dispositivo,

buscando o entendimento aprofundado da relação entre a pele e a penetração de

ativos, do seu mecanismo de ação e estruturação dos patches e o levantamento

de produtos desta categoria de cosméticos disponíveis no mercado nacional e

internacional.

Palavras-chave: Cosmecêuticos. Patches. Cosméticos

1 INTRODUÇÃO

A pele é considerado o maior órgão humano, pesando, em um adulto mediano,

por volta de 4 kg, cobrindo uma superfície de cerca de 2 m2 e recebendo

aproximadamente um terço da circulação sanguínea do corpo. Com a espessura

de apenas alguns milímetros (2,97 ± 0,28 mm), a pele separa a rede de circulação

sanguínea e os demais órgãos do corpo do ambiente externo, ajudando a manter

a temperatura corporal, evitando a perda excessiva de água pelo corpo, além de

protegendo o indivíduo contra a entrada de agentes químicos e ambientais

1 Artigo apresentado como requisito para aprovação no Curso de Especialização Lato Senso em

Estética Facial e Corporal, da Universidade do Vale do Itajaí, Unidade Ilha, Florianópolis, SC, sob orientação da Profª Drª Daisy Janice Aguilar Netz. Março 2012

2 Acadêmicas do Curso de Especialização Lato Senso em Estética Facial e Corporal – UNIVALI,

Balneário Camboriú, Santa Catarina. [email protected] e [email protected] 3 Professor de Graduação no Curso de Farmácia e de Cosmetologia e Estética – UNIVALI.

Page 2: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

danosos, particularmente os infecciosos (bactérias e vírus), impurezas e a

radiação solar. Além disso, possui funções metabólicas, imunológicas e táteis

(CHIEN 1992). Observam-se ainda várias estruturas anexas, que são os pêlos, as

unhas e as glândulas sudoríparas e sebáceas. (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004).

De acordo com Ribeiro (2010) o termo cosmético vem do grego kosméticos, que

designa prática ou habilidade em adornar, e no Brasil, a ANVISA define que são

preparações que compreendem uma vasta classe de produtos destinados a

aplicação nas diversas partes do corpo, ou seja, pele, sistema capilar, unhas,

lábios, órgãos genitais externos, dentes, membranas e mucosas da cavidade oral

e que possuem como objetivo exclusivo ou principal limpá-los, perfumá-los, alterar

sua aparência ou corrigir odores corporais e ou ainda protegê-los e mantê-los em

bom estado (BRASIL, 2005).

Partindo do ponto de vista que cosméticos podem desempenhar uma gama de

ações, muitos produtos cosméticos contem ativos capazes de alterar de modo

considerável a funcionalidade da pele, os quais são denominados de

cosmecêuticos, termo criado por Kligman há mais de 30 anos, e que deriva na

mistura das palavras cosmético e farmacêutico (cosme + cêutico). De uma forma

geral, estes produtos veiculam ativos com mecanismo de ação conhecido, como

são o dos fármacos, e, em função disso, prometem benéficos comprovados.

Embora o termo não seja termo reconhecido pela ANVISA, é amplamente

empregado pelo mercado de profissionais da área de cosmetologia (RIBEIRO,

2010)

A indústria cosmética os define como produtos cosméticos que proporcionam

benefícios “semelhantes” aos dos medicamentos. Os dermatologistas devem

conhecê-los, pois podem ser úteis como coadjuvantes ao tratamento clínico

Page 3: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

medicamentoso, no preparo da pele para procedimentos e na manutenção de

resultados (BEGATIN 2009). Logo, existe uma grande variedade de ativos

classificados como cosmecêuticos. Esses ativos podem ser didaticamente

enquadrados em categorias tais como: agentes despigmentantes, retinóides, filtros

solares, vitaminas, antioxidantes, minerais, hidroxiácidos, fatores de crescimento,

proteínas extratos botânicos, entre outras (GAO et al., 2008).

O termo patch deriva do inglês “remendo”, “emplastro”, sendo atualmente na

medicina e na estética empregado como terminologia geral para dispositivos

colocados sobre a pele os quais liberam ativos nesta camada, que podem ficar

retidos na camada córnea e exercer ação localizada, podem permear entre as

camadas e abaixo do estrato córneo e na derme (liberação intradérmica) assim

como podem proporcionar a ação sistêmica (transdérmica). Consistem

basicamente de materiais poliméricos dispostos na forma de filmes delgados e

flexíveis, delineados basicamente por um suporte externo impermeável, o qual

protege um reservatório contendo uma preparação semissólida, na qual os ativos

se encontram dispersos próximos à concentração de saturação, revestido por um

filme adesivo protetor (em contato com a pele). Podem conter uma quantidade de

ativo suficiente para algumas horas ou até alguns dias e de uma forma geral,

liberam os ativos da formulação para o estrato córneo numa razão controlada. Os

patches são classificados em duas categorias principais, os monolíticos ou

matriciais e os de velocidade limitada por membrana (BARRY, 2005).

A veiculação de ativos de aplicação cosmética por meio de patches comerciais é

recente e ainda muito pouco difundida entre os profissionais da área de estética e

até mesmo na academia, embora algumas publicações abordem esta aplicação há

vários anos (GUERET, 2000; 2003; 2008; AUBRUN-SONNEVILLE, 2010). Nos

sistemas que veiculam medicamentos, são denominados de transdérmicos, mas

Page 4: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

para aplicação cosmética, são usados os termos transdérmico e também

intradérmico.

O emprego de patches para a veiculação de ativos cosméticos representa um

importante avanço na área da cosmetologia, uma vez, que pode proporcionar

grande incremento na permeação de ativos sobre a pele e nas diferentes

camadas-alvo, proporcionando desta forma o aumento da eficácia da formulação,

aspecto de grande importância. Algumas empresas classificam este tipo de

veiculo, em função do caráter inovativo e do potencial em proporcionar grande

efeito de retenção e de penetração de ativos de interesse na pele, como a

“terceira geração dos cosméticos” (BIOTECDERMO, 2010)

Este trabalho teve como objetivo o levantamento de dados e informações relativas

a este tipo de preparação cosmética, buscando o entendimento do seu

mecanismo básico de ação, da relação entre a pele e a penetração de ativos, a

estruturação e composição básica destes dispositivos e a busca de exemplos de

sistemas disponíveis no mercado de produtos cosméticos.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Estrutura da pele humana

A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso

corporal. Limita a evaporação de água corporal, serve como receptora para as

sensações (dor, pressão, temperatura e tato), protege contra a radiação

ultravioleta, atua na regulação térmica e também na excreção de substâncias

através das glândulas sudoríparas e do tecido adiposo (CHIEN, 1992; ROSS et

al., 1993; SAMPAIO; RIVITTI, 2001). É composta por várias camadas de células

Page 5: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

distintas, que podem ser divididas em três grandes camadas: a epiderme, a derme

e a hipoderme.

A epiderme é a camada mais externa e é composta por tecido epitelial

estratificado. Na epiderme é possível diferenciar várias camadas de células

distintas. O estrato germinativo ou camada basal é constituído fundamentalmente

por células colunares, nucleadas, contendo filamentos de queratina e organelas

celulares. O, estrato espinhoso apresenta células achatadas e poligonais, núcleo

ovóide, com a presença, no citoplasma, de pequenos grânulos lamelares.

Tonofibrilas se estendem para o interior dos prolongamentos citoplasmáticos,

semelhantes a espinhos e se fixam na placa densa do desmossoma. O estrato

granuloso é composto de várias camadas de queratinócitos anucleados,

achatados, com grânulos de querato-hialina, de formato irregular, sem membrana

limitante e associados a tonofilamentos. Já o estrato lúcido somente é observado

em determinados cortes de pele espessa e se apresenta como uma linha clara,

brilhante e homogênea. As células (eosinófilos) são finas e achatadas, sem núcleo

ou organelas. O estrato córneo é formado por 10 a 20 camadas de queratinócitos

anucleados, com 10 m de espessura quando seca. Apresentam citoplasma

contendo agregados de filamentos intermediários de queratina, unidos por

ligações cruzadas com filagrina, que confere o aspecto achatado característico.

(MENDELSOHN et al., 2006)

A derme é constituída por tecido conjuntivo e apresenta papilas que se projetam

para a epiderme, apresentando função primordial relacionada à resistência e a

elasticidade (WAINWRIGHT, 1995). Nesta camada são encontrados os capilares

sanguíneos e também estão presentes os apêndices da pele, como os folículos

pilosos e as glândulas sebáceas e sudoríparas. Histologicamente, aderme é

dividida em derme papilar, constituída de tecido conjuntivo frouxo e localizada

imediatamente abaixo da epiderme, contendo prolongamentos nervosos e vasos

sanguíneos que irrigam a epiderme, mas não penetram nela, e derme reticular,

mais profunda e espessa, constituída por tecido conjuntivo denso. Apresenta

Page 6: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

fibras colágenas mais espessas e menor quantidade de células que a camada

papilar (ROSS et al., 1993).

Abaixo da derme, encontra-se a hipoderme ou tecido subcutâneo, uma camada de

tecido conjuntivo mais frouxo, que contem quantidade variável de tecido adiposo,

o qual desempenha varias funções, entre elas o fornecimento de energia, a

definição corporal e a ação absorvedora de choques, isolamento térmico e

preenchimento de espaços. Também apresenta função imunológica, pela

secreção de adipocinas como a interleucina 6, o fator de necrose tumoral α e os

fatores do complemento B, C3 e D (adipsina) e função cardiovascular, pela

secreção de moléculas do eixo renina-angitensina.Também está relacionada com

a função metabólica, em função da produção de ácidos graxos livres,

adiponectina, resistina, visfatina e ácido palmitoleico (C16:1, ω-7). Por fim, quanto

a função endócrina, secreta leptinas, associadas à regulação dos depósitos

energéticos e da fertilidade e ainda a secreção de hormônios esteroidais

(SPEROFF, 1995)

Cosmecêuticos

Cosméticos são produtos de uso externo, destinados a aplicação na pele, sistema

capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos, dentes e membranas mucosas da

cavidade oral, constituídos de substâncias sintéticas ou naturais, cuja função ou

objetivo está relacionado com limpar, perfumar, alterar a aparência e ou corrigir

odores corporais ou ainda com a função de proteger ou manter em bom estado

(BRASIL, 2005).

O emprego de substâncias capazes de melhorar a aparência cutânea pode trazer

benefícios amplos, desde aos aspectos psicológicos, podendo afetar até mesmo

as relações inter-indivíduo, uma vez que promove aumento da auto-estima,

proporcionando maior bem estar, afetando assim o estado físico também,

promovendo a saúde e desta forma, proporcionando aumento da longevidade

Page 7: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

(LAWRENSE, 2000).

A indústria de produtos cosméticos representa uma considerável área no mercado

mundial, que tende a crescer ainda mais, devido à busca universal pela melhoria

da qualidade de vida e de aumento do bem-estar (KLIGMAN, 2000). No Brasil, a

indústria que engloba produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos

apresentou, nos últimos 15 anos, crescimento médio (deflacionado) de 10,5%,

com faturamento líquido de 27,3 bilhões em 2010 (ABIHPEC, 2012).

Até a década de 60, os produtos cosméticos se limitavam a desempenhar uma

ação superficial, tendo como alvo principal a ornamentação e a beleza, não

afetando a estrutura nem a função da pele. Assim, os produtos cosméticos

deveriam ser completamente inertes ou farmacologicamente inativos. Tal função,

apresentar qualquer efeito biológico, era restrita a fármacos. Entretanto, após a

década de 1960, os estudos começaram a mostrar que quase todas as

substâncias podem afetar a estrutura e função da pele. Como exemplo, a água,

uma substância fundamental para todos os processos celulares, pode ser danosa,

se o contato com a mesma for excessivo, prejudicando a função de barreira e

predispondo a pessoa a lesões com outros agentes químicos e dermatose.

Conforme KLIGMAN (2000), a pele, quando em contato com a água por

aproximadamente 48 horas poderá apresentar afrouxamento de corneócitos,

alteração na produção de células de langerhans, melanócitos e queratinócitos,

aumento dos espaços intercelulares, aumento do fluxo sanguíneo e ativação de

citoquinas pró-inflamatórias

Visto desta forma, onde nem mesmo a água é inerte, percebeu-se que muitos

ativos cosméticos podem realmente vir a atuar não somente com efeito cosmético,

mas alterando profundamente a pele. Tal classe de produto é conhecida como

“cosmecêutico”. Este termo foi introduzido por Albert Kligman, em1988 (GAO et

al., 2008), sendo designado para produtos que contenham ingredientes

Page 8: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

biologicamente ativos, com mecanismo de ação conhecido, capazes de

proporcionar benefícios semelhantes aos dos medicamentos, sendo entretanto

ainda considerados cosméticos. Assim, além de satisfazer as necessidades de

“beleza”, estes produtos podem atuar de modo mais efetivo em determinados

problemas estéticos.

Embora o termo cosmecêutico não tenha aceitação oficial por parte dos órgãos

regulatórios, como o FDA e a ANVISA, entrou para o vocabulário da indústria de

cosméticos e é empregado em todo o mundo, com variações de nomenclatura,

sendo designados também como Dermocosméticos, Cosméticos de desempenho,

Cosméticos funcionais e Neocêuticos. Entretanto, independente do nome dado,

devido ao seu aspecto funcional, estes produtos fazem mais do que melhorar a

aparência através da ocultação e camuflagem. E assim, o emprego dos

cosmecêuticos é justificado em função de apresentarem propriedades

farmacológicas úteis para aplicações específicas, de finalidade cosmética. Com

esta premissa, pode-se desenvolver produtos cosméticos com ingredientes

multifuncionais, como por exemplo, para o tratamento da acne (alfa e beta-

hidroxiácidos), de sinais do fotoenvelhecimento e manchas de pele (idebenona,

coenzima Q 10, hidroquinona, arbutin, ácido kójico, ácido ferúlico, vitaminas A, B,

C e E, extratos polifenólicos de plantas, derivados do ácido retinóico) da pele seca

(ácido hialurônico) assim como na proteção a radiação ultravioleta (RIBEIRO,

2010).

Produtos cosméticos e cosmecêuticos geralmente são empregados na forma de

semisólidos, como emulsões consistentes (cremes) ou fluidas (loções),

suspensões, magmas, géis loções, ou ainda na forma de soluções, pós, entre

outras formas de preparação. Estas formas de apresentação são denominadas de

sistemas de liberação, que podem ser divididos em convencionais ou modificados.

São denominados de convencionais quando a liberação do ativo a partir do

veículo ou base, não é modelada, direcionada, e como modificados ou não

convencionais quando a liberação é controlada, direcionada. Patches são

Page 9: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

dispositivos capazes de veicular ativos e proporcionar a liberação de modo

modificada, ou seja, são sistemas não convencionais (BARRY, 2005). Entretanto,

anterior a abordagem do que são estes dispositivos, é importante salientar alguns

aspectos tocantes á permeação cutânea.

Permeação cutânea

A maioria dos cosméticos empregados aplicados na pele possui ação superficial,

entretanto, muitos ativos necessitam permear o estrato córneo para chegar ao seu

local de ação, como no caso dos utilizados para o tratamento de hidrolipodistrofia

ginóide (celulite). Considerando a constituição e o efeito protetor do estrato

córneo, estes podem apresentar dificuldades em atravessar essa barreira e atingir

seu sítio de ação (BARRY, 2004).

A pele compreende três camadas, derme, epiderme e hipoderme. A camada mais

externa da pele, a epiderme, é de aproximadamente 100-150 micrômetros de

espessura e não tem fluxo de sangue. Ela inclui uma camada dentro dela

conhecida como o estrato córneo. Esta é a camada mais importante, no sentido de

ser a limitante para a para a aplicação transdérmica (ANSEL; POPOVICH; ALLEN,

2003).

A administração de ativos na pele seja para um tratamento local (tópico) ou

sistêmico (transdérmico), baseia-se na difusão destes através das diversas

camadas da epiderme. O estrato córneo mantém o conteúdo de água mesmo em

condições climáticas variáveis, bem como limita a absorção de substâncias tóxicas

(ou não tóxicas) do ambiente. Assim, a maioria dos ativos liberados pelos

sistemas transdérmicos são moléculas pequenas, apolares, potentes e

relativamente lipofílicas. No entanto, a quantidade que penetra na pele depende

quase sempre do veículo utilizado (BARRY, 2003)

Page 10: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

Os ativos podem atravessar o estrato córneo através de três diferentes vias, a

intercelular, a transcelular e pela via dos anexos, conforme ilustra a figura 1. Pela

via intercelular, difunde-se ao redor dos corneócitos, permanecendo

constantemente dentro da matriz lipídica; pela via transcelular, atravessam

diretamente através dos corneócitos e da matriz lipídica intercelular intermediária.

Já na via apêndices, denominada de rota paralela, os ativos podem ser absorvidos

pelo folículo piloso, glândulas sebáceas e glândulas sudoríparas. A absorção de

ativos na pele é afetada por vários fatores tais como espessura, temperatura, grau

de hidratação, limpeza da pele, fluxo sanguíneo, concentração de lipídios, número

de folículos pilosos, função das glândulas sudoríparas, raça, pH na superfície da

pele e integridade do estrato córneo (BARRY, apud AULTON, 2005)

Figura 1. Vias de permeação de fármacos através do estrato córneo: através da

matriz lipídica, entre os corneócitos (penetração intracelular) e através dos corneocitos e a matriz lipídica (penetração transcelular). Fonte: Moser, et al , 2001.

Embora a proposta da aplicação de produtos cosméticos não inclua a ação

sistêmica dos ativos, muitos destes ativos desempenham sua ação em tecidos

localizados nas camadas abaixo do estrato córneo e até mesmo na derme e na

hipoderme. Neste caso encontram-se os ativos empregados para o tratamento da

HLDG, de clareadores de manchas, hidratantes de ação profunda, entre outros.

Page 11: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

Assim, partindo-se da necessidade de promover a penetração de determinados

ativos, os patches ou adesivos transdérmicos e as bandagens têm sido propostos

para veicular produtos de cuidado pessoal e cosméticos (KANTNER, 2005)

Adesivos ou patches transdérmicos

Patches, adesivos e bandagens são dispositivos que, quando colocados sobre a

pele, são capazes de permitir a liberação de fármacos ou ativos na pele por um

determinado tempo, numa, de tal forma que o adesivo, e não o estrato córneo,

controla a velocidade com a qual o ativo se difunde sobre a pele (BARRY, 2005).

As bandagens foram os primeiros tipos de adesivos colocados sobre a superfície

da pele, sendo que os primeiros materiais empregados, derivados de borracha

natural, datam do final do século 19, sendo o primeiro produto delineado pela

empresa Johnson & Johnson’s (VENKATRAMAN; GALE, 1998).

Os dispositivos transdérmicos consistem basicamente de um suporte externo

impermeável, o qual protege um reservatório contendo uma preparação semi-

sólida, na qual o fármaco se encontra disperso próximo à concentração de

saturação, revestida por um filme protetor. Liberam o fármaco para a pele a uma

razão controlada, numa velocidade abaixo da capacidade de aceitação da pele,

sendo que o dispositivo deve controlar a difusão no estrato córneo (HADGRAFT,

2001).

Os adesivos são classificados em duas categorias principais, os monolíticos ou

matriciais e os de membrana limitante a velocidade. A figura 2 ilustra um dos tipos

de sistema, o monolítico. Estes sistemas são compostos por uma camada

posterior, que protege a matriz que contem a formulação e o (s) ativo (s), uma

camada adesiva, que contem o ativo disperso em equilíbrio com a matriz, é a

responsável pela fixação à pele.

Page 12: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

No sistema denominado de reservatório, o (s) ativo (s) está situado entre uma

camada não permeável e uma membrana que limita a liberação, que geralmente é

porosa. Independente do tipo de sistema, algumas características dos materiais

empregados e dos ativos ali colocados são fundamentais para que se tenha um

bom desempenho. Com relação aos ativos, salientam-se a solubilidade, pKa e

tamanho molecular. Com relação aos materiais, a capacidade de aderir,

biocompatibilidade, porosidade e elasticidade (KANDAVILLI et al., 2002)

Figura 2 Representação esquemática de um dispositivo de liberação transdérmica

baseado no modelo matricial ou monolítico.

Fonte: adaptado de AULTON (2005)

Os materiais empregados podem ser classificados em vários grupos, dependendo

da função desempenhada. Uma classificação básica compreende: a) materiais

formadores de matriz; b) membrana limitante da liberação; c) película protetora.

Assim, os formadores de matriz, ou seja, os que estão em contato direto com a

formulação, tem como exemplos de principais materiais diversos tipos de como os

polietilenoglicóis (PEG´s), derivados do ácido acrílico, polivinilpirrolidona,

derivados de celulose, lecitina, tensoativos como o monoesteratode sorbitano e o

Tween®, poloxamers, entre outros. Já entre os materiais denominados de

membrana limitante, os quais podem ser porosos ou não, citam-se os copolímeros

do etileno acetato de vinila (EVA), borracha de silicone, poliuretano, materiais

sensíveis à pressão (PSA). Finalmente, como película protetora destacam-se o

polietileno, o filme de poliuretano, os copolímeros de etileno acetato de vinila, o

polipropileno, os poliuretanos, os polipropilenos e os poliésteres (polietileno

Película destacável

Filme protetor removível

Molécula do

fármaco

Cristal do fármaco

Camada anterior

Reservatório do fármaco

Membrana

Adesivo

Molécula do fármaco

Cristal do fármaco

Película protetora

Reservatório do fármaco

Membrana

Adesivo

Page 13: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

tereftalato). Durante a estocagem, o patch se encontra envolvido por uma capa

protetora, a qual é removida imediatamente antes da aplicação sobre a pele.

Apesar de fazer parte da embalagem primária, está em contato próximo com o

sistema de liberação, devendo estar em concordância com os requerimentos a

respeito de inerticidade e biocompatibilidade quanto á reatividade química,

permeação do fármaco, promotor de absorção ou água.

Patches propostos para uso cosmético

A veiculação de ativos de aplicação cosmética por meio de patches comerciais é

recente, embora algumas publicações abordem esta aplicação há vários anos

(GUERET, 2000; AUBRUN-SONNEVILLE, 2010). Nos sistemas que veiculam

medicamentos, são denominados de transdérmicos, mas para aplicação

cosmética, são usados os termos transdérmico e também intradérmico. O termo

intradérmico se refere à liberação de ativos sobre a pele, em determinado período

de tempo, a partir de um determinado patch, que pode ser formado por vários

tipos de filmes e matrizes, contendo uma vasta gama de ativos veiculados.

Shcherbina; Roth; Nussinovich (2010) avaliaram as propriedades físicas de um

patch contendo óleo essencial de Lavandula augustifolium, um óleo essencial de

grande aplicação na dermocosmética e na aromaterapia. Os patches foram

desenvolvidos utilizando-se goma caraia, propilenoglicol, glicerina, emulsificante,

água destilada e amido de batata como diluente e com concentrações de óleo

essencial variando de 2,5 a 10%. Foram preparados pelo método de geleificação

em baixa temperatura (-20°C) seguida de solidificação em placa de Petri. Embora

se reconheça que óleos essenciais, por suas características físico-químicas sejam

moléculas hábeis para penetrar no ambiente anfifílico do estrato córneo, a

utlização de patches pode favorecer grandemente a terapêutica, dada a

capacidade do sistema em atuar como um depósito que libera gradualmente

pequenas quantidades do óleo essencial.

A empresa Natural Patches (http:www//naturalpatches.com) disponibiliza uma

Page 14: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

extensa linha de patches com diferentes óleos essenciais, com proposta para

aplicações cosméticas e de aromaterapia. O sistema é delineado para que a

liberação dos óleos essenciais seja ativada pela temperatura corporal

(Shcherbina; Roth; Nussinovich, 2010).

Batchelder et al (2004) avaliaram a permeção in vitro (em modelo animal, com

pele de porco) de catequinas e cafeína a partir do extrato de chá verde. Utilizaram

patches contendo diferentes concentrações do extrato e quantificaram a presença

da (−)-epigallocatechina gallato (EGCg), (−)-epigallocatechina (EGC) and (−)-

epicatechina (EC) dissolvidas. A importância do emprego tópico deste extrato e

dos polifenóis nele presentes tem sido demonstrada, não somente para o

tratamento da HLDG, mas também como terapia para tratamento de tumores de

pele malignos e não malignos , conforme artigo de LU et al (2002 apud Batchelder

et al., 2004). Os autores avaliaram a permeação e observaram que o

correspondente a 0,1% de EGCg permeou em 24 horas, o que corresponde ao

mesmo percentual quando administrada a mesma concentração por via

intragástrica em ratos (CHEN at al., 1997 apud Batchelder et al., 2004).Estes

resultados demonstram que a liberação transdérmica de catequinas e xantinas

derivadas do extrato de chá verde em concentrações efetivas e seguras.

Kantner (2005) descreve um tipo diferente de patch para uso cosmético

(veiculação de ativos dermocosméticos, capilares, para aplicação nas unhas,

pigmentos para maquiagem) e dermatológico, ou seja, com potencial aplicação

também para fármacos. A inovação está no caráter hidrofílico, com o emprego de

filme polimérico dissolvível e sensível à pressão (isto, de acordo com o autor,

proporciona grande aderência na pele). Os ativos, quando veiculados sobre o

filme e ou matriz, são liberados após a lenta desintegração do sistema, permitindo

desta forma longo tempo de contato da pele. O nome do produto é 3MTM

HydroElegance, 3M.

Este sistema foi delineado para veicular uma ampla variedade de ingredientes, de

caráter hidrossolúvel e também lipossolúvel. O adesivo, contendo o (s) ativo (s)

Page 15: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

deve ser mantido seco até o momento do uso. Os ativos podem estar na matriz,

dissolvidos, suspendidos, emulsificados ou aderidos sobre o adesivo. São

diferenciais neste sistema a versatilidade de aplicação, uma vez que pode sem

empregado para pequenas ou grandes áreas do corpo, podenso ser aplicado

sobre a pele, cabelo e unhas, além de mucosa mucal e em dentes. A tecnologia

permite tratamentos prolongados, muitas vezes essenciais para a eficácia da

terapia (KANTNER, 2005)

Viyoch et al. (2005) descrevem a preparação e avaliação de patch contendo alfa-

hidroxiácidos (AHAs) contidos no extrato da polpa de tamarindo. Os autores

argumentam que apesar do amplo emprego destes AHAs em formulações

dermatológicas e cosméticas, existem limitações de uso, concernentes

especialmente ao potencial irritante dos mesmos, devido suas características

acídicas e a quantidade permeada em formulações convencionais. A escolha do

extrato da polpa de tamarindo se deu em função do uso tradicional, do percentual

de AHAs (8-23% de ácido tartárico, 2% de ácido lático e pequenas quantidades de

ácido cítrico e mandélico) e do baixo potencial de irritação dérmica. Assim, os

autores propuseram a veiculação deste ativo em patches de hidrogéis compostos

da mistura de quitosana ligada com diferentes tipos de amido (mandioca, milho e

arroz) através do reticulante glutaraldeído. O artigo teve como foco a avaliação da

liberação a partir das variáveis de uma determinada composição de hidrogéis e

mostraram que esta variação pode implicar no perfil de liberação, no potencial de

irritação e na permeação.

A empresa multinacional L´Oréal é detentora de várias patentes de patches com

aplicação cosmética. GUERET (2000) descreve a patente de um tipo de patch

contendo uma matriz polimérica anidra, hidrofóbica, contendo material adsorvente,

especialmente delineada para veicular ativos instáveis à oxidação, como por

exemplo a vitamina C. O patch é formado por uma camada oclusiva ligada a uma

camada reservatório, que estoca uma matriz polimérica de silicone, poliéster ou

Page 16: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

poliéster polituretano, que contem pelo menos um ativo cosmético ou

farmacêutico. O (s) ativo (s) são liberados deste dispositivo após o mesmo entrar

em contato com apele e então, as partículas adsorventes sofrem sweeling e

gradualmente solubilizam o ativo, liberando-o em direção as camadas da pele.

Gueret também é o inventor de outras patentes semelhantes (GUERET, 2003;

GUERET, 2008).

Ainda outra patente (AUBRUN-SONNEVILLE, 2010), assinada pela empresa

L´Oréal, descreve patches que consistem de um filme hidrofílico (suporte contendo

fibras solúveis em meio aquoso, em temperatura ≤ 30°C) contendo componentes

ativos dispersos em géis ou emulsões, o qual deve ser umedecido e aplicado

sobre a pele. Após a aplicação, sofre swelling e após ser deixado por determinado

período na área pode ser retirado com água. Pode ser aplicado para limpeza de

pele e para incorporação de ativos hidrofílicos, para o tratamento de pele oleosa e

acnéica, para hidratação remoção de maquiagem, para peeling e tratamento de

pele sensível, veiculando ativos hidrofílicos como por exemplo, alfa e beta

hidroxiácidos, queratina hidrolisada, entre outros.

O emprego de patches associado ao mecanismo da iontoforese é a proposta da

empresa Biotec Dermocosméticos, que comercializa no Brasil o produto

denominado Power Paper®, um patch que utiliza a microeletrônica para

tratamento estético, o qual é acionado logo após a colocação na pele, e, sob ação

da temperatura corpórea é acionado e, sob efeito da iontoforrese, promove

aumento da hidratação e firmeza em apenas 20 minutos. Através de um campo

elétrico de baixa voltagem (3V), obtido por um diferencial de cargas, ocorrem os

fenômenos da eletrorepulsão, eletroosmose e difusão, facilitando a permeação de

água e moléculas de ativos carregados além de também estimular a circulação

local, promovendo melhora visível na região onde foi aplicado (BIOTEC, 2010).

Alguns exemplos de patches disponíveis no mercado nacional e internacional

estão incluídos no quadro 1.

Page 17: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

Quadro 1. Exemplos de patches cosméticos disponíveis no mercado nacional e

internacional

Nome do Produto Ativo (s) veiculado (s)/Proposta Imagem

LÓRÉAL Perfect Slim Patch®

Cafeína/Tratamento da HLDG

*

New SPA Skin Care® Colágeno, ácido hialurônico/Anti-envelhecimento

**

Verseo Flawless Skin Firming Patches®

Ativos não informados/Ação hidratante, firmadora

***

MD Skincare Instant Beautification Lip Area Firming Patch

Múltiplos ativos/Hidratação e firmeza

****

POWER PATCH (BIOTEC) Múltiplos ativos/Hidratação e firmeza

*****

Thalgo Thalgogive Restructuring Firming Patches

Pro-colágeno marinho, óleo de damasco, extrato de Imperata cylindrica

******

Natural Patches of Vermont® Aplicação ampla: cosmetologia, aromaterapia, medicinal. Veiculação de blend de óleos essenciais.

*******

Page 18: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

Fontes: *http://blog.setecosmetic.com.br/?p=85;**http://www.new-spa.us/item/skin-care-products-collagen-

ma/super-hydrating-collagen-eye-p/lid=5999215;***http://www.verseo.com/verseo-flawless-skin-firming-

patches.html;****http://www.beautyflashshop.co.uk/cat-face-and-body/eyes-and-lips/instant-beautification-lip-

area-firming-

patch.html?ref=shopzilla;*****http://www.biotecdermo.com.br/default.aspx;******http://br.ozcosmetics.com/Thal

go/Thalgogive-Restructuring-Firming-Patches-Tamanho-profissional-

/128945;*******http://www.naturalpatchesofvermont.com/node/95

3 METODOLOGIA

Foi realizado levantamento bibliográfico, que segundo Severino (2008) é aquele

que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores,

em documentos impressos, como, livros, artigos, tese, etc. Utilizou-se de dados ou

de categorias teóricas já trabalhadas por outros pesquisadores e devidamente

registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados e o

pesquisador trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos

constantes do texto. Assim, foi realizado levantamento bibliográfico em periódicos

nacionais e internacionais, livros e sites que abordam o assunto sobre o emprego

de patches na cosmetologia.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Impulsionada por um mercado cada vez mais exigente, a indústria de produtos

cosméticos incessantemente direciona suas pesquisas para a obtenção de

produtos que sejam realmente capazes de veicular ativos com alto desempenho

na pele, ou seja, que apresentem eficácia aliada à segurança. Estes aspectos vêm

sendo salientados desde a década de 1980, quando Kligman utilizou pela primeira

vez o termo cosmecêutico (RIBEIRO, 2010).

Seguindo a tendência da busca pela eficácia dos produtos dermocosméticos,

buscou-se mais uma vez na área farmacêutica a proposta de um sistema

realmente capaz de potencializar a ação dos ativos sobre a pele e nas diferentes

Page 19: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

camadas da pele. Tais sistemas ou dispositivos são denominados de adesivos ou

patches trandérmicos na área farmacêutica e são chamados de patches

intradérmicos pela indústria cosmética. Independente do termo escolhido, o

mecanismo de ação e a tecnologia de preparo e estrutura são idênticos. Trata-se

de sistemas que aderem sobre a pele, formados por diferentes camadas de filmes

poliméricos, contendo ou não um sistema reservatório, proporcionando contato

íntimo da formulação com o estrato córneo, por um determinado período de tempo

e com controle da razão de liberação destes ativos (GUERET, 2000).

Interessante aplicação para um patch foi relatada no trabalho de Bian et al. (2003),

que relata a veiculação do ácido gentísico, um agente despigmentante,

antioxidante e estimulador da renovação celular, derivado da hidroquinona. Este

ativo tem se mostrado seguro e tem sido empregado para diversos tipos de

desrodens de pigmentação, incluindo o melasma induzido por radiação UV.

Patches veiculando blends de óleos essenciais são vendidos pela empresa norte-

americana Natural Patches of Vermont. Inclui uma ampla linha direcionada para

tratamento cosmético e aromaterapêutico. Este tipo de ativo foi veiculado e

avaliado por Shcherbina; Roth; Nussinovich (2010) em patches compostos por

goma caraia, amido como diluente e outros excipientes, contendo o óleo essencial

de lavanda. O questionamento dos autores envolveu a possibilidade de a

veiculação de altas cargas de óleo essencial comprometer aspectos físicos e

mecânicos do patch (adesividade, elasticidade, etc..). Concluíram que a adição de

amido de batata como diluente possibilitou a veiculação de até 10% de óleo nos

patches sem perda de integridade e de propriedades mecânicas ou aderência na

pele.

Além dos artigos citados acima, foram relatadas algumas patentes, da empresa

francesa L´Oréal (GUERET, 2000, 2003, 2008; AUBRUN-SONNEVILLE, 2010),

que descrevem patches hidrofílicos, solúveis em água e patches hidrofóbicos,

Page 20: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

apropriados para veiculação de ativos instáveis e que sofrem oxidação facilmente.

Percebe-se que mais uma vez a empresa L´Oréal salienta-se na área de pesquisa

e inovação em produtos cosméticos, não só pelas patentes requeridas, mas por

disponibilizar no mercado de cosméticos este tipo de produto.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscou-se neste trabalho realizar um levantamento bibliográfico do estado da arte

dos patches cosméticos. Embora a aplicação de produtos transdérmicos esteja há

décadas consolidada no emprego de fármacos, na área cosmética não existem

trabalhos clínicos avaliando estes dispositivos.

Foram relatados alguns artigos científicos que abordam diretamente o

desenvolvimento e a avaliação física ou físico-química da performance de patches

para emprego cosmético (BIAN et al., 2003; SHCHERBINA; ROTH;

BATCHELDER et al., 2004; VIYOCH et al., 2005; NUSSINOVICH, 2010) e

algumas patentes (GUERET, 2000; 2003; 2008; AUBRUN-SONNEVILLE, 2010).

Foram encontrados vários sites de empresas que distribuem patches cosméticos,

especialmente no mercado internacional. Esta escassez de informações mostra

quanto é nova e necessária esta abordagem, especialmente para o mercado

brasileiro

REFERÊNCIAS

ABIHPEC. Associação Brasileira de Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. Disponível em: <http://www.abihpec.org.br/>. Acesso em: 07 mar. 2012.

ANSEL, H.C.; POPOVICH, N.G; ALLEN Jr., L. V. Farmacotécnica: formas farmacêuticas e sistemas de liberação de fármacos. 6. ed. São Paulo: Premier, 2000.

AUBRUN-SONNEVILLE, A. O. Soluble patch. US007811953 B2, Jul, 9, 2008,

Page 21: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

Oct, 12, 2010. AULTON, M. Delineamento de formas farmacêuticas,2 ed., ArtMed: Porto Alegre, 2005.

BARRY, B. H. Breaching the skin barrier to drugs. Nat. Biotechnol., v. 22, n. 2, p. 165-167, 2004.

BATCHELDER, R. J.; CALDER; R. J.;THOMAS, C. P.; HEARD, C. M. In vitro transdermal delivery of the major catechins and caffeine from extract of Camellia sinensis. Int. J. Pharm., v. 283, p. 45-51, 2004.

BIAN et al. In vitro evaluation of patch formulations for topical delivery of gentisic acid in rats. Eur. J. Pharm. Sci., v. 18, p. 141-147, 2003.

BIOTEC DERMOCOSMETICOS. Disponível em: http://www.biotecdermo.com.br/pdf/Revista%20Biotec%202.pdf. Acesso em: 07 mar. 2012.

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução nº. 211, de 14 de julho de 2005. Ficam estabelecidas a definição e a classificação de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, D.F, de 18 de julho de 2005.

CHIEN, Y. W. Novel drug delivery systems, Marcel Decker: New York, 1992. GAO, XING-HUA; ZHANG, L.; HUACHEN, W.; CHEN, HONG-DUO. Efficacy and safety of innovative cosmeceuticals. Clin. Dermatol., v. 26, p. 367-374, 2008 GUERET, Jean-Loius, H. Cosmetic or dermopharmaceutical patch containing, in a anhydrous polymeric matrix, at least one active compound which is, in particular, unstable in oxidizing medium, and at least one water-absorbing agent. US0063398A, Sep, 8, 1997, May, 16, 2000. GUERET, Jean-Loius. H. A cosmetic, pharmaceutical, or dermatological patch includes a composition including a hydrophilic gelling system in an aqueous phase. The hydrophilic gelling system includes at least one gellan gum and at least one other hydrocolloid. US00623751, July, 29, 1999, Sep, 23, 2003. GUERET, Jean-Loius. H. Treatment device and method of using the same. US7419677B2, Mar, 28, 2002, Sep, 2, 2008.

HADGRAFT, J. Modulation of the barrier function of the skin. Skin

Page 22: USO COSMÉTICO DE 1siaibib01.univali.br/pdf/Daniela Furlani e Nayara da Silva.pdf · A pele humana é a cobertura externa do corpo e equivale a mais de 15% do peso corporal. Limita

Pharmacol. Appl. Skin Physiol., v.14, supl.1, n.1, p.72-81, 2001.

JUNQUEIRA, L. C. ; CARNEIRO, J.; Histologia Básica, 9ª ed., Guanabara Koogan: Rio de Janeiro, 2004. .

KANTNER, S. Water-soluble adhesive patch delivery systems for personal care actives. Delivey System Handbook for Personal Care and Cosmetic Products, p. 833-848, Ed William Andrew, 2005. KLIGMAN, A. M. Cosmetics. A dermatologist looks to the future: promises and problems. Dermatol. Clin., v. 18, n. 4, p. 699-709, 2000. MOSER, K.; KRIWET, K.; NAIK, A.; KALIA, Y. N.; GUY, R.H. Passive skin penetration enhancement and its quantification in vitro. Eur. J. Pharm. Biopharm., v.52, n.2, p.103-112, 2001. MURPHY G.F. Histology of the skin. In: Elder DE. Lever's histopathology of the skin. 9th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; June 1997. p. 9-58.

RIBEIRO, C. Cosmetologia aplicada a dermoestética: Cosmético orgânico e natural. 2.a ed. São Paulo: Pharmabooks, p.377-378, 2010.

ROSS M. H, REITH, E. J, ROMRELL, L. J. Histologia: texto e atlas. São Paulo: Panamericana: 1993.p.347-377 SAMPAIO, A. S.; REVITTI, E. A. Dermatologia. São Paulo: Artes medicas; 2001. p. 3-35. SHCHERBINA; Y.; ROTH, Z.; NUSSINOVICHH., A. Physical properties of gum karaya-starch-essential oil patches. AAPS Pharm. Sci. Tech., v. 11, n.3, p. 1276-1286, 2010 VIYOCH, J.; SUDEEMARK, T.; SREMA, W.; SUWONGKRUA, W. Development of hydrogel patch for controlled release of alpha-hydroxy acid contained in tamarind fruit pulp extract. Int. J. Cosmet. Sci., v. 27, p. 89-99, 2005.

WAINWRIGHT , D. J. Use of an a cellular allograft dermal matrix (AlloDerm) in the management of full-thickness burns. Burns. v. 21, n. 4, p. 243-248, 1995