15
28 de Outubro de 2014 – Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ USO DA ÁGUA NA PISCICULTURA Camila Fernanda de Sousa e Silva, David Eduardo Kanaan de Oliveira e Kátia Lorena dos Reis Alves. RESUMO: Nos dias atuais enfrentamos a escassez de água, logo a importância de se conhecer suas propriedades tanto físicas quanto químicas para um tratamento correto é fundamental. Outros fatores são as fontes de água e os sistemas de produção, neles sabemos os nutrientes necessários para criação, além de ter um controle da qualidade de água disponibilizada. A piscicultura vem crescendo e é uma atividade muito rentável e cada vez mais considerável seus estudos. Palavras-chave: Piscicultura, aquicultura, Aquaponia, água, qualidade. Introdução A água é um recurso natural renovável, mas com reservas limitadas. É de suma importância para a sobrevivência na Terra, mas tem sido utilizada de forma inadequada e com a crescente demanda pode vir a ser um recurso esgotável em qualidade e quantidade. A aquicultura vem crescendo significativamente nas últimas décadas sendo mais uma atividade a competir pelo

Uso da água na Piscicultura.docx

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Uso da água na Piscicultura.docx

28 de Outubro de 2014 – Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ

USO DA ÁGUA NA PISCICULTURA

Camila Fernanda de Sousa e Silva, David Eduardo Kanaan de Oliveira e

Kátia Lorena dos Reis Alves.

RESUMO: Nos dias atuais enfrentamos a escassez de água, logo a

importância de se conhecer suas propriedades tanto físicas quanto químicas para

um tratamento correto é fundamental. Outros fatores são as fontes de água e os

sistemas de produção, neles sabemos os nutrientes necessários para criação,

além de ter um controle da qualidade de água disponibilizada. A piscicultura vem

crescendo e é uma atividade muito rentável e cada vez mais considerável seus

estudos.

Palavras-chave: Piscicultura, aquicultura, Aquaponia, água, qualidade.

Introdução

A água é um recurso natural renovável, mas com reservas limitadas. É de

suma importância para a sobrevivência na Terra, mas tem sido utilizada de forma

inadequada e com a crescente demanda pode vir a ser um recurso esgotável em

qualidade e quantidade.

A aquicultura vem crescendo significativamente nas últimas décadas sendo

mais uma atividade a competir pelo recurso da água. O desenvolvimento deste

tipo de atividade produtiva acarreta em riscos na qualidade e quantidade da água

e consequentemente, apresenta riscos ambientais, sociais e econômicos. Para

que a expansão da aquicultura se dê em bases ambientalmente sustentáveis, o

desenvolvimento de sistemas mais eficientes do ponto de vista de uso da água e

menores impactos ambientais deve ser alvo de pesquisas.

Para a piscicultura é importante conhecer as características físicas

(temperatura, turbidez, visibilidade ou transparência), químicas (pH, alcalinidade

total, dureza, oxigênio dissolvido, amônia) e biológicas da água, pois os peixes

realizam todas as suas atividades na mesma, ou seja, respiração, alimentação,

excreção e reprodução.

Page 2: Uso da água na Piscicultura.docx

A intensificação na produção de peixes pode levar a um aumento no

impacto ambiental, pela excreção de dejetos e uso da água. Uma alternativa cada

vez mais crescente neste cenário é a Aquaponia (reuso da água), ou seja,

sistema de produção de peixes integrado com vegetais, de tal forma que ambos

sejam beneficiados.

Fontes de água para a Piscicultura

Para um bom resultado, a aquicultura necessita de um fornecimento de

água com bons atributos.

A seguir, vamos apresentar de acordo com uma pesquisa uma discussão

sobre a qualidade e limitações quanto ao uso das diversas fontes de águas

utilizadas em aquicultura.

Águas superficiais: Rio, lagos naturais, açudes e córregos são exemplos

de fontes superficiais de água usadas em piscicultura. Tais águas geralmente

apresentam concentrações de oxigênio e gás carbônico próximas à saturação,

sendo adequadas à vida dos peixes, excetuando-se os casos em que haja

contaminação com resíduos agrícolas (pesticidas, herbicidas, argila e silte em

suspensão devido aos processos erosivos), industriais e urbanos (domésticos e

hospitalares). A temperatura das águas superficiais flutua de acordo com a hora

do dia e época do ano, podendo restringir o cultivo de alguns peixes. Águas

superficiais também podem trazer peixes e outros organismos indesejáveis ao

ambiente de cultivo, sendo necessária a proteção das linhas de abastecimento

com filtros e telas. (KUBITZA; FERNANDO, 1998, p.38)

Águas subterrâneas: As águas provenientes de minas e poços (originária

de lençóis freáticos) têm sido usadas no abastecimento de sistemas

aquaculturais. Geralmente estas águas apresentam baixa concentração de

oxigênio dissolvido e altos níveis de gás carbônico, necessitando de aeração ou

exposição ao ar através de represamento ou percorrendo canais abertos antes de

abastecer os sistemas de criação. Águas subterrâneas apresentam temperatura

praticamente constante durante o ano. Águas de poços e minas podem conter

elevados teores de íons reduzidos de ferro que rapidamente se oxidam quando

Page 3: Uso da água na Piscicultura.docx

em contato com o ar, formando precipitados de hidróxido de ferro. Tais

precipitados são prejudiciais em encubatórios, pois podem recobrir a superfície

dos ovos e impedir as trocas de gases e metabólitos, causando a morte do

embrião em desenvolvimento. Uma aeração vigorosa, seguida por um período de

decantação, auxiliam na precipitação do hidróxido de ferro, melhorando a

qualidade destas águas para uso em encubatórios. (KUBITZA; FERNANDO,

1998, p.38)

Uso da água nos Sistemas Aquaculturais

Os sistemas de produção de peixes podem ser classificados de acordo

com a intensidade de utilização ou renovação de água. Tais podem ser

classificados por:

Sistema de água parada ou estáticos: este se caracteriza pela reposição

das perdas devido a infiltração e evaporação da água dos taques e viveiros. Os

mesmo podem ser utilizados em dois ou mais ciclos de cultivos sem serem

esvaziados. É um sistema bastante utilizado quando o abastecimento da água é

limitado ou depende de bombeamento, o que pode aumentar o custo de

produção. A produção de peixes estimada para esse sistema gira em torno de

4.000 a 12.000kg/há (de acordo com a espécie e produção adotada).

Sistema com renovação de água: neste sistema deve haver grande

disponibilidade de água onde o abastecimento pode ser feito por gravidade,

podendo haver entrada e saída contínua de água ou renovação periódica. A

renovação da água ajuda a manter a qualidade da mesma. A produção de peixes

estimada para esse sistema gira em torno de 10.000 a 30.000kg/há (de acordo

com a espécie e produção adotada).

Sistema de recirculação de água: este sistema é utilizado para a

produção de peixes em alta escala sob limitações quanto a disponibilidade de

água e área. Pode haver troca parcial ou total de água no sistema, mas é

praticamente fechado o que implica no acúmulo de resíduos orgânicos e

metabólicos. Deve- se contar com o auxílio de filtração mecânica e biológica e

aeradores para uma melhor qualidade da água. A produção de peixes estimada

Page 4: Uso da água na Piscicultura.docx

para esse sistema gira em torno de 20 a 70 kg/m3 (de acordo com a espécie e

produção adotada).

Qualidade da água

Para obter uma grande produção de peixes, uma das principais

características a serem observadas é a qualidade da água, pois sem ela não este

processo é inviável.

Os microrganismos do meio líquido têm importância fundamental na

atividade de aquicultura, interferindo na produtividade, ciclagem de nutrientes,

nutrição animal, qualidade da água, controle de doenças e impacto ambiental do

efluente. (MACÊDO; JOSÉ, 2007, p. 1100).

Os Parâmetros Físicos e Químicos fundamentais no controle da qualidade

da água em piscicultura, geralmente são os seguintes.

Físicos

Temperatura

Segundo Oliveira (1995) a temperatura da água é um dos fatores mais

importantes para a produção de peixes, já que os mesmos realizam todas as suas

atividades fisiológicas na água e esta é intimamente ligada à temperatura.

Quando há elevado aumento na temperatura, haverá maior atividade dos

peixes que consequentemente consumirão mais oxigênio. E em baixas

temperaturas o consumo de alimento é prejudicado.

Na fase de ovos, larvas e alevinos é que se deve ter o maior controle

quanto à temperatura, que é prejudicial para os mesmos quando varia de 3 a 4 ºC

no mesmo dia.

Para um melhor controle quanto a este aspecto deve-se medir

regularmente a temperatura da água, sendo este procedimento realizado à

sombra.

As medições são realizadas com termômetro químico, introduzindo-o na

água, esperam-se alguns minutos e realiza a leitura do termômetro ainda imerso.

Para maiores profundidades, conta-se com o auxilio de uma garrafa de

coleta e mede-se a temperatura logo após a retirada da garrafa.

Page 5: Uso da água na Piscicultura.docx

A temperatura deve ser medida em várias profundidades para se ter uma

média e tais medidas devem ser feitas a cada estação do ano para obter-se a

curva da temperatura, que caracterizará o comportamento térmico do viveiro.

Obs.: No inverno, deve-se colocar menos adubo, pois a temperatura baixa,

diminui o metabolismo das bactérias e elas não conseguem degradar

(desmanchar) o esterco. Este acaba se acumulando no fundo, trazendo

problemas quando a temperatura volta a subir.

Turbidez

Quanto mais túrbida a água menos ela é apropriada para a criação de

peixes, pois impede a penetração da luz solar o que prejudica o desenvolvimento

de fitoplâncton (micro vegetais presentes na água que lhe conferem cor verde) e

consequentemente o desenvolvimento de zooplâncton. Águas consideradas

turvas apresentam coloração de barro.

Visibilidade ou Transparência

Oliveira (1995) ressalta que a transparência é a capacidade que a água

tem de permitir a passagem de raios solares. A transparência diminui em função

da profundidade e da Turbidez.

Page 6: Uso da água na Piscicultura.docx

A transparência é um fator de enorme importância para a piscicultura, pois

é com sua medição que se pode observar a existência ou não de Plânctons na

água do viveiro.

Disco de Secchi

Químicos

Potencial de hidrogênio (pH)

O Potencial de Hidrogênio expressa a atividade de íons H+ no meio e

determina seu caráter ácido ou alcalino. A água não pode ser muito ácida e nem

muito alcalina para se conseguir uma boa produção de peixes. O pH é medido em

uma exala que vai de 0 a 14, sendo 7,0 neutro.

Page 7: Uso da água na Piscicultura.docx

Na piscicultura, o pH de 6,5 a 9,5 aproximadamente são considerados

aceitáveis, sendo os melhores resultados observados em pH de 7,0 a 8,5. Valores

abaixo ou acima desta faixa (6,5 a 9,5) podem prejudicar o crescimento e

reprodução.

(MACÊDO, 2007)

Os pontos de acidez ou alcalinidade da água que causam mortalidades em

viveiros de peixes são, aproximadamente pH4 e pH11.

Alcalinidade Total

Segundo Macêdo (2007) a alcalinidade refere-se a disponibilidade de

bases na água e sua capacidade de neutralizar ácidos, o que lhe confere

resistências as mudanças de pH (poder tamponante de acidez). Quanto menor a

alcalinidade da água, maior será a variação diária de pH.

Os maiores contribuintes para a alcalinidade da água são os bicarbonatos

(HCO3), quando o pH da água está 4,4 a 8,3; carbonatos (CO32-) e bicarbonatos,

quando o pH da água está entre 8,3 a 9,4, e hidróxidos (OH -) e carbonatos,

quando o pH da água é maior que 9,4.

Dureza

Representa a concentração de íons metálicos, principalmente sais de

Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg) na água e é dada por mg/L.

A importância de se medir a dureza é que se a água apresentar valores

inferiores a 20mg/L, os Fitoplânctons não conseguem se formar por falta de

nutrientes (Cálcio e Magnésio).

Oxigênio Dissolvido

Page 8: Uso da água na Piscicultura.docx

Oxigênio dissolvido na água é fundamental para que os peixes realizem

suas atividades vitais. As fontes de oxigênio da água são o ar atmosférico e a

fotossíntese das plantas aquáticas.

A concentração de oxigênio dissolvido na água varia com a altitude do

local, temperatura e salinidade da água.

Os peixes se alimentam melhor, apresentam melhor condição de saúde e

crescem mais rápido quando os níveis de oxigênio dissolvido estão próximos à

saturação. Concentrações de oxigênio dissolvido superiores a 5mg.L-1 são

recomendáveis para a piscicultura, no entanto, algumas espécies de peixes

podem tolerar concentrações , menores, ainda que o seu desenvolvimento possa

ser comprometido. Peixes de Piracema necessitam de concentrações mínimas de

4,5ml.L-1. (KUBITZA, 1998 apud MACÊDO, 2007, p. 1109)

Causas da baixa concentração de oxigênio nos viveiros: (pág. 85, Livro

Piscicultura, fundamentos e técnicas de manejo. Antônio Ostrensky e Walter

Boeger)

Morte de boa parte dos fitoplânctons dos viveiros;

Céu encoberto em dias sem vento;

Dias chuvosos;

Superpopulação de peixes

Falha nos equipamentos de aeração;

Excesso de alimentação.

Sintomas da falta de oxigênio:

Peixes param de se alimentar;

Morte dos peixes maiores;

Peixes próximos à entrada de água;

Mudança na coloração da água;

Peixes abrindo e fechando a boca na superfície. (pag86).

Page 9: Uso da água na Piscicultura.docx

(OLIVEIRA)

(MACÊDO, 2007)

Amônia

A amônia é proveniente da decomposição da matéria orgânica, ração e

excrementos de organismos aquáticos. Deve ser medida com frequência devido a

sua toxidade, que aumenta em função do aumento do pH da água.

Aquaponia

A otimização de espaços e recursos naturais levam ao desenvolvimento de

sistemas integrados de produção. A integração da aquicultura com a hidroponia

Page 10: Uso da água na Piscicultura.docx

(Aquaponia) pode se apresentar como uma solução para proporcionar o uso da

água mais eficiente, incrementando a produção de peixes e vegetais sem

aumentar o consumo de água, evitando o despejo do efluente da aquicultura em

corpos d’água a jusante e fornecendo um fertilizante natural para a planta de

cultivo (MARISCALLAGARDA et al., 2012).

Os peixes são criados em tanques com temperatura média de 23 °C. Fator

que ajuda a diminuição de crescimento do peixe, tilápia por exemplo.

A Aquaponia é muito viável, pois leva em conta fatores importantes na

criação de peixes, como redução de tempo de produção e reutilização da água.

Além de possibilitar a criação de peixes em regiões de pouca água.

A água recircula entre os tanques e os biofiltros (eficiência na redução da

concentração de substâncias poluentes ou indesejáveis), onde é tratada e

removida a amônia por bactérias nitrificantes e volta para os tanques.

Os dejetos do tanque como resto de ração e excretas são bombeados para

um biodigestor, onde irá acontecer o tratamento dos dejetos e o mesmo irá

auxiliar na dissolução dos nutrientes em água, e irá ser usado como fertilizante

natural para hortaliças, podendo aumentar a produção e diminuir o tempo de

cultivo das mesmas.

Considerações Finais

Concluímos que para se iniciar atividades na aquicultura devemos avaliar

vários parâmetros quanto ao principal componente da mesma, a água, que é

Page 11: Uso da água na Piscicultura.docx

instrumento essencial para o sucesso nas produções de pescado. Os principais

fatores de avaliação são temperatura, turbidez, visibilidade ou transparência, pH,

alcalinidade total, oxigênio dissolvido, dureza e amônia.

A piscicultura vem crescendo muito nas últimas décadas e com isso há

uma maior preocupação com a qualidade da água, tanto para a produção de

peixes quando no seu reaproveitamento, sendo cada vez mais estudados

manejos sustentáveis.

Uma das alternativas para reduzir os impactos ambientais que vem dando

muito certo é o reuso da água (Aquaponia) que além de manter a qualidade dos

viveiros de criação é uma fonte de nutrientes para vegetais, sendo um sistema

benéfico a todos, onde os peixes e os vegetais são produzidos em menor tempo e

com alta qualidade.

Referências Bibliográficas

MACÊDO, JORGE ANTÔNIO BARROS DE. Águas & Águas. Belo

Horizonte/MG. 3ª ed. 2007.

CORSO, MAIRA NESELLO. Uso de Sistemas com Recirculação em

Aquicultura. Porto Alegre. 2010

SILVA, MARIANA S. G. M. E; LOSENKANN, MARCOS ELISEU; HISANO,

HAMILTON. Aquicultura: Manejo e Aproveitamento de Efluentes.

Jaguariúna/SP. 2013.

KUBITZA, FERNANDO. Qualidade da Água na Produção de Peixes –

Parte I. Panorama da Aquicultura. São Paulo/SP. 1998.

OLIVEIRA, LÉO DE. Manual de Qualidade da Água para Aquicultura.

Florianópolis/SC. 1995.

TAVARES, LÚCIA HELENA SIPAÚBA. Qualidade da Água para a

produção de peixes. Brasília/DF. 2004.