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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS – CCT DEPARTAMENTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL PÓS-GRADUAÇÃO EM GERENCIAMENTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL MARCELO DE ALENCAR E SILVA USO DA SIMULAÇÃO DE EVENTOS DISCRETOS COMO AUXÍLIO À TOMADA DE DECISÃO NO PROJETO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO JUAZEIRO DO NORTE, CEARÁ. 2017

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS – CCT

DEPARTAMENTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL

PÓS-GRADUAÇÃO EM GERENCIAMENTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL

MARCELO DE ALENCAR E SILVA

USO DA SIMULAÇÃO DE EVENTOS DISCRETOS COMO AUXÍLIO À TOMADA

DE DECISÃO NO PROJETO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO

JUAZEIRO DO NORTE, CEARÁ.

2017

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MARCELO DE ALENCAR E SILVA

USO DA SIMULAÇÃO DE EVENTOS DISCRETOS COMO AUXÍLIO À TOMADA

DE DECISÃO NO PROJETO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Gerenciamento da Construção Civil pela Universidade Regional do Cariri.

Orientador: Prof. Me. Jefferson Luiz Alves Marinho

Co-orientador: Prof. Jefferson Heráclito Alves de Souza

JUAZEIRO DO NORTE, CEARÁ.

2017

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MARCELO DE ALENCAR E SILVA

USO DA SIMULAÇÃO DE EVENTOS DISCRETOS COMO AUXÍLIO À TOMADA

DE DECISÃO NO PROJETO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Pós-Graduação em

Gerenciamento da Construção Civil pela Universidade Regional do Cariri

Monografia defendida e aprovada, em (___ / ___ / 2017), pela banca examinadora:

_____________________________________________________________

Prof. Me. Jefferson Luiz Alves Marinho

Orientador

_____________________________________________________________

Profª.

Examinador Interno

_____________________________________________________________

Prof.

Examinador Interno

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A Deus.

Aos meus pais, João e Leônia.

A minha irmã, Márcia.

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AGRADECIMENTOS

A Deus pela força que me ergueu diante de todas as dificuldades e que me guiou durante

essa conquista.

Aos meus pais, pelo apoio incondicional durante toda minha vida. Em especial, durante

os anos de pós-graduação, quando mesmo a distância geográfica, não impediu que me sentisse

seguro e confiante, sabendo que meu porto seguro estaria sempre lá, de braços abertos.

A todos os professores que me ajudaram a chegar aqui, trazendo preciosas informações

e orientações, tanto no aspecto profissional, como no aspecto pessoal também.

Aos professores Jefferson Luiz Alves Marinho e Jefferson Heráclito Alves de Souza,

pela paciência, tempo e dedicação despendidos durante a orientação deste trabalho.

A todos meus amigos e colegas de graduação e especialização. Pessoas muito especiais

que conheci aqui em Juazeiro do Norte e espero poder levar a amizade para toda a vida.

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“Se uma imagem vale mais do que mil palavras, um modelo vale mais do que mil imagens.” (Edward McCracken)

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RESUMO

A indústria da construção civil, com as suas peculiaridades, é caracterizada por elevada

complexidade, a qual tende a aumentar com o passar do tempo, proporcionalmente ao nível de

exigências. Diante disso, a importância de projetar e simular os sistemas de produção de forma

antecipada tem crescido. A simulação de eventos discretos surge como uma ferramenta

gerencial para avaliar os cenários alternativos em empreendimentos de construção. Entretanto,

seu emprego tende a ser pouco explorado no projeto do sistema de produção de

empreendimentos reais, principalmente devido à dificuldade de interpretação dos dados e da

pouca experiência dos tomadores de decisão com essa ferramenta. Por esse motivo, o objetivo

principal desse trabalho é avaliar a potencialidade do uso da simulação de eventos discretos no

suporte às decisões gerenciais tomadas na fase de planejamento. Para isso, através do software

Arena Simulation, o processo produtivo das fundações de uma obra de grande porte na cidade

de Porto Alegre foi modelado e simulado cinco em cenários. Os resultados obtidos das

simulações serviram como base para tomada de decisão e escolha entre uma das cinco

alternativas consideradas.

Palavras-chave: Projeto do sistema de produção, Simulação de eventos discretos; Arena Simulation; Gestão da produção.

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ABSTRACT

The construction industry, with its peculiarities, is characterized by the high complexity, which

tends to increase over time, in proportion to the level of requirements. Therefore, the importance

of designing and simulating the production systems in advance has grown. The discrete event

simulation emerges as a management tool to evaluate alternative scenarios in construction

projects. However, their use tends to be poorly explored in Production System Design of real

projects, mainly due to the difficulty on data understanding and the lack of experience of

decision-makers with this tool. Thus, the main objective of this study is to evaluate the potential

of using discrete event simulation in supporting the management decisions taken in the planning

phase. For this, through the Arena Simulation software, the foundation production process of a

large project in the city of Porto Alegre has been modeled and five scenarios have been

simulated. The results of the simulations were the basis for decision-making and for the choice

from one of the five alternatives considered.

Keywords: Production System Design, Discrete event simulation; Arena Simulation; Production management.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01 – Sistema de produção .............................................................................................. 15 Figura 02 – Modelo geral de gestão da produção ..................................................................... 20 Figura 03 – Tipos de Sistemas .................................................................................................. 28 Figura 04 – Etapas da Simulação .............................................................................................. 33 Figura 05 – Elementos Centrais da Design Science Research .................................................. 41 Figura 06 – Delineamento da Pesquisa ..................................................................................... 43 Figura 07 – Avaliação dos Softwares de SED .......................................................................... 45 Figura 08 – Ambiente de Trabalho do Arena Simulation ......................................................... 45 Figura 09 – Primeira Etapa do Complexo Fecomércio-RS, Sesc e Senac ................................ 47 Figura 10 – Fundações ............................................................................................................. 48 Figura 11 – Simplificação do Processo de Fundações .............................................................. 49 Figura 12 – Modelo Conceitual do processo de execução das fundações ............................... 51 Figura 13 – Modelo Computacional ......................................................................................... 53 Figura 14 – Características dos Cenários Simulados ................................................................ 54 Figura 15 – Instantaneous Utilization Nivelado ...................................................................... 55 Figura 16 – Faixa Recomendável do Scheduled Utilization ..................................................... 56 Figura 17 – Instantaneous Utilization - Cenário 01 .................................................................. 57 Figura 18 – Scheduled Utilization - Cenário 01 ........................................................................ 58 Figura 19 – Instantaneous Utilization - Cenário 02 .................................................................. 59 Figura 20 – Scheduled Utilization - Cenário 02 ........................................................................ 60 Figura 21 – Instantaneous Utilization - Cenário 03 .................................................................. 61 Figura 22 – Scheduled Utilization - Cenário 03 ........................................................................ 61 Figura 23 – Instantaneous Utilization - Cenário 04 .................................................................. 62 Figura 24 – Scheduled Utilization - Cenário 04 ........................................................................ 63 Figura 25 – Instantaneous Utilization - Cenário 05 .................................................................. 64 Figura 26 – Scheduled Utilization - Cenário 05 ........................................................................ 65 Figura 27 – Resumo das Características dos Cenários ............................................................. 65

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CPM – Critical Path Method

EE – Estudo Empírico

IGLC – International Group for Lean Construction

JIC – Just in Case

JIT – Just in Time

NORIE – Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação

PEPS – Primeiro que Entra – Primeiro que Sai

PERT – Programme Evaluation Review Technique

PSP – Projeto do Sistema de Produção

TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação

TPC – Tambor-pulmão-corda

UEPS – Último que Entra – Primeiro que Sai

UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

URCA – Universidade Regional do Cariri

VIM – Visual Interactive Modelling

VIMS – Sistemas de Modelagem Interativa Visual

VIS – Visual Interactive Simulation

WBS – Work Breakdown Structure

WIP – Trabalho em Progresso

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SUMÁRIO 1. Introdução ............................................................................................................ 12

1.1. Justificativa ................................................................................................... 131.2. Objetivos ...................................................................................................... 13

1.2.1. Objetivo Principal .................................................................................. 131.2.2. Objetivos Específicos ............................................................................. 13

1.3. Limitações do Trabalho .................................................................................. 131.4. Estrutura do Trabalho ..................................................................................... 14

2. PROJETO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO ............................................................ 152.1. CONCEITO DE SISTEMA DE PRODUÇÃO .................................................. 15

2.1.1. Crítica à Visão Tradicional de Produção ................................................... 172.2. Sistema de Produção por Projeto ..................................................................... 182.3. Projeto de Sistema de Produção na Manufatura ..................................................... 19

2.3.1. Nível de Integração Vertical .................................................................... 212.3.2. Capacidade Produtiva ............................................................................. 222.3.3. Layout ................................................................................................... 232.3.4. Fluxos e Sincronia da Produção ..................................................................... 24

3. MODELAGEM DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO .................................................. 273.1 Tipos de Sistemas ................................................................................................ 273.2. Modelo ........................................................................................................ 283.3. Modelagem ........................................................................................................ 293.4. Simulação Computacional ................................................................................... 30

3.4.1. Etapas da Modelagem de Simulação ............................................................... 333.4.2. Sistemas de Modelagem Interativa Visual ....................................................... 37

4. Método de pesquisa ............................................................................................... 404.1 Estratégia de Pesquisa .......................................................................................... 404.2 Delineamento da Pesquisa .................................................................................... 434.3 Fase Exploratória ................................................................................................ 44

4.3.1 Seleção do Software de Simulação de Eventos Discretos ................................... 444.3.2 Estudo Empírico ............................................................................................ 46

4.4 Fase de Desenvolvimento ..................................................................................... 494.4.1 Modelo Conceitual ........................................................................................ 494.4.2 Modelo Computacional .................................................................................. 524.4.3 Simulações ................................................................................................... 54

5. Resultados e discussões ............................................................................................. 55

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5.1 Cenário 01 .......................................................................................................... 565.2 Cenário 02 .......................................................................................................... 585.3 Cenário 03 .......................................................................................................... 605.4 Cenário 04 .......................................................................................................... 625.5 Cenário 05 .......................................................................................................... 635.6 Tomada de Decisão ............................................................................................. 65

6. Conclusão ................................................................................................................ 67 Referências .................................................................................................................. 67Apêndide A ................................................................................................................. 73

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1. INTRODUÇÃO

Muitos dos esforços disseminados a partir do chamado pensamento Lean (WOMACK;

JONES, 1996) estão relacionados aos fluxos, perdas e incertezas. Dessa forma, um dos

principais desafios observados na construção, apontado por Howell (1999), diz respeito à

combinação dos efeitos da dependência e da variabilidade aliados à complexidade,

característica deste ambiente. O planejamento e o controle dos processos na construção são

etapas de difícil execução, uma vez que a incerteza é altamente presente nesse cenário em

função da interdependência entre as atividades (TOMMELEIN, 1997). Dessa forma, o ato de

considerar a existência e a extensão da variabilidade e da incerteza mostra-se fundamental para

minimizar os impactos negativos desses fenômenos nos processos.

Ao mesmo tempo em que emerge a necessidade em se abordar questões relacionadas à

incerteza e à variabilidade, a importância do Projeto do Sistema de Produção (PSP), conforme

apontado por Schramm e Formoso (2007), é frequentemente desconsiderada. Para projetar e

controlar sistemas de produção é necessária uma visão sistêmica, que permita o foco na sua

estruturação e teste de alternativas para a sua execução (RECK, 2013). Assim, em um cenário

de elevada complexidade como a construção civil (OWEN; KOSKELA, 2006), a utilização de

técnicas capazes de analisar o comportamento desses fenômenos em um sistema é fundamental

para auxiliar o processo de tomada de decisão (SCHRAMM; FORMOSO, 2007).

A aplicação de ferramentas tradicionais de gestão de empreendimentos (como as redes

CPM-PERT, por exemplo) são consideradas inapropriados para projetos complexos

(BACCARINI, 1996), sendo que existe uma carência de ferramentas e técnicas adequadas para

apoiar a tomada de decisão em empreendimentos da construção (GIDADO, 1996).

A utilização da simulação de eventos discretos (SED) surge como uma ferramenta de

suporte, para que a análise do comportamento de um sistema ou processo seja realizada

considerando-se o impacto da incerteza, da variabilidade e da interconectividade das variáveis

de produção (RECK, 2013).

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1.1. Justificativa

A oportunidade da realização do presente trabalho surgiu da parceria do grupo de pesquisa

do NORIE/UFRGS com uma empresa construtora responsável pela execução da nova sede do

complexo Fecomercio, Sesc e Senac localizado na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do

Sul, que necessitava de uma solução para reduzir os custos do seu processo produtivo.

Considerando o grande porte do empreendimento a ser construído, aliado à sua elevada

complexidade, buscou-se desenvolver um PSP para o processo de execução, com o apoio de

simulação de eventos discretos, no qual foram analisados vários cenários e apresentados

soluções mais favoráveis a realidade do empreendimento.

1.2. Objetivos

1.2.1. Objetivo Principal

Avaliar o uso da simulação de eventos discretos (SED) como base para a tomada de

decisão, em fase de planejamento, em empreendimentos de construção civil.

1.2.2. Objetivos Específicos

Especificamente visou-se:

1. Identificar as oportunidades de utilização do modelo computacional no dimensionamento de equipamentos para melhor sincronização da produção;

2. Explorar possíveis alternativas e oportunidades de melhoria para a logística e para a execução do processo;

3. Utilizar do modelo computacional para verificar o comportamento do processo produtivo frente à variabilidade.

1.3. Limitações do Trabalho

O trabalho foi realizado em uma obra de grande porte, caracterizada como um

empreendimento de alta complexidade devido à grande variedade dos elementos construtivos,

alto grau de incerteza e grande interdependência nos processos. Para o presente estudo, foi

escolhida apenas a etapa de fundações por a mesma estar em fase de planejamento mais

avançada, com maiores informações e menor grau de incerteza envolvido.

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1.4. Estrutura do Trabalho

A estrutura do trabalho foi dividida em seis capítulos, que demostram as diferentes etapas

do desenvolvimento do mesmo.

• Capítulo 01: Traz em seu conteúdo informações necessárias e suficientes sobre o objeto

de estudo deste trabalho, sua relevância e os objetivos deste estudo;

• Capítulo 02: Traz uma revisão bibliográfica referente ao projeto do sistema de produção;

• Capítulo 03: Traz uma revisão bibliográfica referente à modelagem de sistemas de

produção;

• Capítulo 04: Descreve a metodologia utilizada no estudo;

• Capítulo 05: Apresenta os resultados obtidos frente aos cenários simulados;

• Capítulo 06: Apresentas as principais conclusões do estudo.

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2. PROJETO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO

Nesse primeiro capítulo, são introduzidos os conceitos relacionados ao projeto do sistema

de produção (PSP) e os objetivos deste processo. Em seguida, uma crítica é feita à gestão

tradicional da produção na construção civil, a qual é apresentado os conceitos de transformação,

fluxo e valor fundamentados por Koskela (2000).

2.1. CONCEITO DE SISTEMA DE PRODUÇÃO

De acordo com Meredith e Shafer (2002), um sistema de produção é caracterizado pela

reunião intencional de pessoas, objetos e procedimentos em um ambiente operável. Na Figura

01 está representado os principais elementos de um sistema de produção, que são: insumos,

sistemas de transformação, produtos, ambiente e mecanismos usados para o monitoramento e

controle. Dessa forma, o setor de produção se encarrega em gerar valor a partir de uma

determinada entidade, transformando insumos em produtos úteis, sendo que essa

transformação, segundo Meredith e Shafer (2002), pode ser organizada em quatro tipos

principais:

Figura 01 – Sistema de Produção

Fonte: Meredith e Shafer (2002)

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(a) Alteração ou mudança física do insumo (por exemplo, corte e dobra do aço);

(b) Transporte de produtos a determinados locais (por exemplo, transporte de concreto até o local da aplicação);

(c) Armazenamento em ambiente seguro e por um determinado tempo (por exemplo, armazenamento de sacos de cimentos de forma a evitar a umidade);

(d) Inspeção, valorizando o produto através do conhecimento de suas propriedades (por exemplo, ensaio de dureza superficial ou esclerometria).

De forma semelhante, Gaither e Frazier (2005) adotam a seguinte definição de sistema de

produção: a) o sistema de produção recebe insumos na forma de materiais, pessoal, capital,

serviços públicos e informação; b) os insumos recebidos são modificados em um subsistema de

transformação para os produtos e serviços requeridos; c) uma quantidade de produtos

modificados é monitorada no subsistema de monitoramento e controle para determinar se o

produto é aceitável ou não, em termos de qualidade, quantidade e custo; e d) em casos que o

produto não é aceito, é necessário uma ação corretiva por parte da administração.

Contudo, Hopp e Spearman (2000) destacam o conceito de fluxo, apresentando o sistema

de produção como uma rede de processos orientada aos objetos por onde as entidades fluem. A

partir disso, os autores enfatizam os seguintes aspectos para qualquer sistema de produção:

(a) O objetivo do sistema de produção está geralmente relacionado à lucratividade;

(b) Os processos podem representar tanto processos físicos como aqueles processos que

suportam a função produção;

(c) As entidades podem ser tanto as partes sendo transformadas como também a informação

utilizada para controlar o sistema;

(d) O fluxo de entidades através do sistema descreve a forma como materiais e informações

são processados dentro do sistema, sendo a gestão destes fluxos a principal atividade da

função produção;

(e) O gerenciamento das interações entre os processos é mais importante do que o

gerenciamento de processos e entidades individualmente.

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2.1.1. Crítica à Visão Tradicional de Produção

De acordo com Koskela (2000), o modelo tradicional de gestão da produção apoia-se

fortemente no conceito de transformação, considerando a produção unicamente como a

conversão de insumos em produtos. O modelo tradicional se baseia em alguns princípios: a) o

processo de transformação é decomposto em subprocesso menores e mais gerenciáveis; b) a

redução do custo total do processo é garantida pela redução do custo de cada subprocesso

individualmente; c) o valor de um produto resultante de um processo é calculado pelo valor

(custo) dos insumos utilizados naquele processo.

Koskela (2000) observa que o foco da produção é apenas a transformação dos

subprocessos, o modelo de transformação negligencia e diminui a eficiência do fluxo global do

processo de produção. Deste modo, é definido por Koskela (2000) o conceito de fluxo e geração

de valor. Assim, o tempo é introduzido como uma entrada na produção, onde o que é

quantificado é o tempo consumido e o valor agregado ao produto pela transformação. Koskela

(2000) também afirma que o tempo pode ser consumido por dois tipos de atividades, as

atividades de transformação e as de fluxo, que podem ser: transporte, espera e inspeção;

enquanto que o valor é agregado ao produto apenas pelas atividades de transformação. Diante

disso, para melhorar o processo de produção, entende-se que é necessário eliminar as atividades

que não agregam valor ao produto final, ou seja, deve-se eliminar as atividades de fluxo, que

seriam: transportes desnecessários, atrasos na produção e inspeção final da qualidade do

produto (KOSKELA, 2000).

Koskela e Howell (2000) também criticam a abordagem tradicional do planejamento,

execução e controle da produção. Os autores argumentam que essa abordagem sofre de sérias

deficiências de base teórica: a) o papel do planejamento não é definido de forma real, sendo

que o planejamento de curto prazo é negligenciado ou fracamente desenvolvido; b) não há uma

gestão, de forma sistêmica, da execução; c) o papel do controle da produção é visto apenas

como medição do desempenho e realização de ações corretivas, ao invés de ser um processo de

aprendizagem contínua.

Estes problemas estão relacionados à falhas na base teórica da gestão da produção,

apresentados por Koskela e Howell (2002): a) o controle da produção é visto apenas como um

termostato; b) a função execução é vista apenas como um repasse de ordens de serviços. O

modelo do termostato é a criação de um padrão de desempenho que é usado como referência

para uma avaliação periódica do andamento da produção tendo como propósito avaliar a

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aderência ao padrão estabelecido (HOFSTEDE, 1978). A principal crítica com relação a esse

modelo é que ele não considera, explicitamente, o efeito da aprendizagem ou das melhorias

(KOSKELA; HOWELL, 2002).

2.2. Sistema de Produção por Projeto

Existem diferentes formas de classificação dos sistemas de produção, sendo a

classificação mais comum a Matriz Produto-Processo ou Matriz Volume-Variedade, proposta

por Hayes e Wheelwrigth (1979). Esta classificação considera a construção civil como um

sistema de produção por projeto, que via de regra tem como características principais: (a)

carácter único; (b) duração finita, com início e fim bem definidos; (c) organização temporária;

(d) fluxo de trabalho desordenado; e (e) realização múltiplas tarefas, muitas vezes simultâneas

e independentes (BALLARD; HOWELL, 1998; MEREDITH; SHAFER, 2002). As seguintes

características são acrescentadas por Slack, Chambers e Johnston (2007): (a) envolvem

normalmente produtos altamente customizados; (b) tem um carácter de definição progressiva,

ou seja, as atividades para a confecção do produto podem ser mal definidas e incertas, sendo

modificadas durante o processo de produção; e (c) os recursos para fazer o produto são

organizados especialmente para cada produto.

Diante disso, Gaither e Frazier (2005) observam a necessidade da elaboração de um plano

de execução do projeto no inicio das atividades, alertando que este plano deve ser modificado

à medida que as condições vão mudando durante o projeto. Por isso, o planejamento e controle

devem ocorrer ao longo da evolução do projeto, sendo estes processos essenciais na gestão de

sistemas de produção por projetos (MEREDITH; SHAFER, 2002). Na visão tradicional desse

tipo de sistema, uma das primeiras tarefas do planejamento consiste na definição detalhada de

todas as tarefas, para que estas possam ser agendadas, orçadas e para que se possa atribuir

responsabilidades (MEREDITH; SHAFER, 2002). Em geral existe um padrão de divisão do

projeto em atividades, Work Breakdown Structure (WBS), que serve de ponto de partida para

a elaboração do plano de longo prazo do projeto (GAITHER; FRAZIER, 2005; MEREDITH;

SHAFER, 2002; SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2007).

Segundo Meredith e Shafer (2002), a programação das atividades do projeto normalmente

é complexa devido a: (a) grande número de atividades; (b) grande quantidade e variedade de

relações de precedência entre atividades; e (c) o tempo limitado do projeto. Na visão tradicional

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do planejamento da produção, as atividades que devem ser executadas são definidas para que

sejam atingidos os objetivos do projeto, no tempo em que cada uma delas requer e na ordem

em que elas precisão ser concluídas (MEREDITH; SHAFER, 2002). Por conta disso, na área

de gestão de projetos, duas técnicas de redes de precedência são muito confundidas: Program

Evaluation and Review Technique (PERT) e Critical Path Method (CPM) (GAITHER;

FRAZIER, 2005; MEREDITH; SHAFER, 2002; SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2007).

Esta sistemática de gestão de projetos apresentada nesta seção está intimamente ligada a

visão tradicional de gestão da produção discutida anteriormente. Mas é importante ressaltar as

características desse tipo de sistema, no qual a indústria da construção faz parte, pois as mesmas

influenciam a forma de abordagem do projeto do sistema de produção descrito a seguir.

2.3. Projeto de Sistema de Produção na Manufatura

De acordo com Slack, Chambers e Johnston (2007) o termo projeto é usualmente utilizado

quando se quer referir ao projeto (design) dos produtos que serão produzidos. No entanto, esta

atividade também se refere ao projeto do sistema de produção que efetivamente produz estes

produtos.

Na Figura 02 é apresentado um modelo geral de gestão da produção proposto por Slack,

Chambers e Johnston (2007). Neste modelo é observado o mesmo conceito de sistema de

produção apresentado na Figura 01 por Meredith e Shafer (2002), sendo que são acrescentadas

as funções de projeto, planejamento e controle e melhoria dentro do escopo da transformação e

a estratégia de produção como o objetivo almejado por estas três primeiras atividades. Segundo

Reck (2013), a partir desta estrutura, a estratégia de produção influencia diretamente a atividade

de projeto, planejamento e controle e melhoria de um sistema de produção.

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Figura 02 – Modelo geral de gestão da produção

Fonte: Slack, Chambers e Johnston (2007)

Slack, Chambers e Johnston (2007) afirmam que dentro da gestão da produção, a

atividade de projeto está relacionada tanto ao projeto do produto quanto ao projeto do sistema

de produção, sendo tratados de formas separadas, mas relacionados entre si. Pequenas

mudanças no projeto do produto podem desencadear grandes modificações na forma com que

as operações iram produzi-lo, ou as definições do produto podem ser restringidas pelo projeto

do processo.

O projeto do sistema de produção é definido por Gaither e Frazier (2005) como o

planejamento e projeto dos processos, que requer conhecimento sobre a estratégia de produção,

projetos de produtos ou serviços, tecnologia do sistema de produção e mercado, sendo estes

conhecimentos utilizados para desenvolver um plano detalhado para produzir produtos e

serviços. Ainda segundo Gaither e Frazier (2005) o resultado deste plano é a determinação das

etapas do processo tecnológico a ser utilizado e as conexões entre estas etapas, assim como o

projeto de construção e instalação de layout, escolha de equipamentos, determinação da

quantidade de funcionários e suas habilidades necessárias.

O projeto do sistema de produção, no contexto da construção civil, é a primeira atividade

a ser realizada para estruturar os recursos e os processos para a execução de empreendimentos

(BALLARD et al., 2001a, 2001b; KOSKELA; BALLARD, 2003). Ballard et al. (2001b) afirma

que o escopo do PSP engloba desde a definição da organização necessária para a realização do

empreendimento até o projeto de operações, devendo criar condições para o controle e melhoria

do sistema.

Após ter sido abordada a definição do sistema de produção, a seguir, são apresentadas as

atividades que compõem o seu escopo de decisão. Estas atividades são: definição do nível de

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integração vertical, planejamento da capacidade produtiva, definição dos fluxos físicos,

planejamento de layout e sincronia da produção.

2.3.1. Nível de Integração Vertical

A integração vertical está associada a escolha dos processos que a empresa pretende

manter sob o seu domínio, geralmente relacionado à decisão de fazer ou comprar (SLACK;

CHAMBERS; JOHNSTON, 2013). Askin e Goldberg (2007) afirmam que a integração vertical

é também relacionada à estratégia de gestão da cadeia de suprimentos das empresas, ou seja, a

maneira como as empresas estabelecem parcerias com seus fornecedores e clientes e a gestão

dos fluxos dos produtos e informações desde as atividades básicas até a entrega do produto.

Há uma grande quantidade de empresas que recorrem à integração vertical para garantir

o fornecimento de materiais (ASKIN; GOLDBERG, 2007). Além disso, os efeitos da

integração vertical na produção podem influenciar, segundo Slack, Chambers e Johnston (2013,

p. 99), os seguintes fatores:

(a) Qualidade: as origens de problemas relacionados a qualidade são mais facilmente encontradas quando a mão de obra é própria, mas pode haver riscos de complacência das equipes. Já na cadeia de suprimentos, os fornecedores podem ter mais experiência no processo de execução e mais conhecimentos específicos, no entanto a contratante pode sofrer pressão por parte do mercado e ter dificuldades de comunicação;

(b) Rapidez: as operações mais integradas geralmente apresentam uma maior sincronização da produção, acelerando a troca de informações e materiais, mas se a operação tem clientes externos, os internos podem acabar sendo negligenciados. Já em uma cadeia de suprimentos, a comunicação pode ser construída, mas há também o risco de haver transportes em excesso;

(c) Confiabilidade: uma comunicação facilitada pode ajudar na integração vertical, mas quando a operação tem clientes externos, os internos correm o risco de serem negligenciados. Um bom desempenho de entregas de produtos na cadeia de suprimentos pode ser encorajado por penalidades em entregas tardias, mas barreiras organizacionais podem dificultar a comunicação;

(d) Flexibilidade: a necessidade de mudanças nos processos pode ser percebida mais facilmente pela maior proximidade da contratante com seus processos, mas a habilidade de resposta tem como limitação a escala e o escopo das operações. Já na cadeia de suprimentos, a habilidade e a capacidade de resposta é mais facilitada, no entanto os fornecedores podem ser influenciados pelas necessidades conflitantes de diferentes clientes; e

(e) Custos: produzindo a contratante pode permanecer com todos os lucros de seus processos, mas o baixo volume de produção pode reduzir lucros e a não terceirização pode reduzir a inovação nos processos. Já na cadeia de suprimentos, há um compartilhamento de custos de produção, mas os custos de comunicação e coordenação também devem ser considerados.

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Dessa forma, as características que um fornecedor deve ter, segundo Meredith e Shafer

(2002, p. 107), são:

• Ter condições de entregar os produtos no prazo determinado, com a qualidade e quantidade especificada, para manter o fluxo constante das atividades da organização;

• Ter preços justos e realizar esforços contínuos para manter ou reduzir o preço;

• Ter a capacidade de reação a mudanças imprevistas, como aumento ou redução de demanda, qualidade, especificações ou programações de entrega;

• Ter uma política de melhoramento constante dos seus produtos e serviços.

A decisão sobre os elementos a serem fabricados e a serem comprados de fornecedores

externos tem grande importância para a empresa, devendo ser consideradas as competências

básicas da empresa e os requisitos dos clientes (ASKIN; GOLDBERG, 2007). Askin e

Goldberg (2007) afirmam que a maioria das empresas não tem interesse em atribuir o controle

de peças-chave aos seus fornecedores, no entanto, commodity (produtos disponíveis a partir de

vários fornecedores a preços competitivos, que não apresentam diferenciação em termos de

qualidade e que, normalmente, são entregues rapidamente) são raramente produzidos

internamente devido ao baixo risco envolvido na compra desses produtos. Em compensação,

os elementos que se relacionam diretamente às competências básicas da empresa são

usualmente produzidos internamente (ASKIN; GOLDBERG, 2007).

2.3.2. Capacidade Produtiva

A capacidade produtiva é definida por Gaither e Frazier (2005) como a cadência máxima

de produção de uma organização. Planejar a capacidade é definir o tempo e a quantidade

necessária de instalações, equipamentos e mão de obra (MEREDITH; SHAFER, 2002). Hopp

e Spearman (2000) afirmam que as decisões relacionadas à capacidade produtiva têm um

impacto estratégico para o projeto de novos sistemas de produção e tem muitos efeitos no

desempenho do sistema de produção, por influenciar outros elementos do planejamento e

controle.

Contudo, segundo Slack, Chambers e Johnston (2007), um sistema de produção é

composto por um conjunto de processos, os quais podem ter diferentes capacidades de

produção. Para que um sistema de produção opere com eficácia, todos os seus processos

deveriam ter a mesma capacidade produtiva. Caso contrário, a capacidade de seu processo mais

lento (com a menor capacidade produtiva) limitaria a capacidade de todo o sistema. O processo

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mais lento de um sistema de produção é chamado de gargalo, cuja capacidade restringe as saídas

de todo o processo.

Hopp e Spearman (2000) relatam a possibilidade dos processos gargalos serem

projetados, reduzindo o número de potenciais gargalos através do aumento da capacidade

produtiva em alguns processos para fazer com que os mesmos não restrinjam a produção.

Todavia, esta abordagem é vantajosa quando o custo de adicionar capacidade extra não é

elevado.

2.3.3. Layout

A forma como os recursos são posicionados em entre si e como as várias atividades são

alocadas em relação a estes recursos caracterizam um layout de um sistema de produção. O

layout determina o padrão de fluxo dos recursos ao longo do sistema de produção (SLACK;

CHAMBERS; JOHNSTON, 2007).

De acordo com Dalmas (2004, p. 27) existem quatro tipos básicos de layout:

(a) Por produto: é utilizado, mais frequentemente, em sistemas de produção repetitiva, nos quais a demanda é grande suficiente para justificar economicamente o uso de equipamentos dedicados para um produto único. Os processos de produção são dispostos sequencialmente de forma que o produto percorre cada área, uma após a outra. Os equipamentos são projetados para possuírem taxas de produção semelhantes em cada estágio;

(b) Por processo: este tipo de layout é empregado quando produtos muito distintos são produzidos e há necessidade de conhecimento especializado nos processos de produção. Esta abordagem tem comumente maior flexibilidade para produzir uma diversidade de itens, mas sofre pela baixa utilização dos equipamentos e longos tempos de atravessamento (lead time);

(c) Celular: este tipo de layout tenta dividir grandes instalações em células menores projetadas para produzirem uma família de produtos ou partes relacionadas. O relacionamento pode ser em função da similaridade de máquinas e ferramentas utilizadas ou utilização em um mesmo produto final. Cada célula se assemelha a uma pequena fábrica mais simples, com a vantagem de movimentações de materiais mais curtas e de coordenação mais fácil;

(d) Posicional: este tipo de layout tem como característica o produto permanece fixo, tendo em vista seu tamanho ou peso (ou sua natureza, como é o caso da construção civil), enquanto os recursos de produção (materiais, equipamento e equipes) convergem para o seu entorno, onde são executadas as atividades.

Slack, Chambers e Johnston (2007) reforçam que empreendimentos da construção civil

são, normalmente, caracterizados como sistemas de produção organizados em layout

posicional. Por consequência, existe a necessidade de elaborar um projeto detalhado de layout

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a cada nova obra, com o objetivo de melhorar a eficiência dos recursos transformadores (mão

de obra, materiais e equipamentos).

2.3.4. Fluxos e Sincronia da Produção

Como foi disposto no início deste capítulo, de acordo com Koskela (2000), ao se eliminar

as atividades de fluxo que não agregam valor ao produto final, pode-se eliminar falhas e reduzir

retrabalhos, além de aumentar ganhos com qualidade e produtividade. Uma das formas de

eliminar as atividades de fluxo é trabalhar com o fluxo contínuo na produção. O fluxo contínuo

pode ser definido como a produção e movimentação de um item por vez (ou um lote de

pequenos itens), continuamente, ao longo de uma série de etapas de processamento, realizando-

se em cada etapa apenas o que é exigido pela etapa seguinte (LEAN ENTERPRISE

INSTITUTE, 2008). Para obter o fluxo contínuo na produção, três variáveis de tempo devem

ser compreendidas:

(a) Takt time: para cada produto, a taxa de demanda determina a frequência na qual este

deve ser produzido. Todas as partes constituintes do produto final também devem entrar

em produção na mesma frequência. Este ritmo, ou takt time, determina o intervalo entre

entregas sucessivas de um produto para o sistema a fim de responder precisamente a

demanda (ASKIN; GOLDBERG, 2007);

(b) Lead time: tempo em que um produto se movimenta por todas as etapas de um

processo, desde a matéria prima até o produto acabado (ROTHER, 1997); e

(c) Tempo de ciclo: frequência com que uma peça ou produto é completado por um

processo, ou, o tempo que leva entre um componente e o próximo saírem do mesmo

processo (ROTHER, 1997), dessa forma o tempo de ciclo inclui todas as atividades que

um operador necessita para produzir uma unidade, ou seja, inclui processamento,

transporte, espera, etc.

Rodrigues e Mackness (1998) afirmam que um sistema de produção perfeitamente

sincronizado caracteriza-se pela chegada de componentes nas estações de trabalho em tempo

hábil para sua produção, sem a formação de estoques entre processo, eliminando assim atrasos,

minimizando os custos e melhorando o desempenho na pontualidade de entrega, ou seja,

utilizando o conceito de fluxo contínuo.

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Ainda segundo Rodrigues e Mackness (1998, p. 247), existem três abordagens para

sincronização da produção:

(a) Just in Case (JIC): esta é uma abordagem mais tradicional, que parte da consideração de que, a partir da maximização das eficiências de processos individuais através da definição de lotes econômicos, medidas de custos locais e a definição de que cada recurso deve ser gerenciado e trabalhar com 100% de utilização, obtém-se a otimização do desempenho do sistema como um todo. As principais críticas, discutidas por Rodrigues e Mackness (1998), são o grande número de entregas realizada no final do mês devido a atrasos durante o mesmo, muito trabalho em progresso, muitos despachos de produtos e ordens de entrega atrasadas.

(b) Just in Time (JIT): esta abordagem tenta criar uma corrente de processos de produção balanceada, em que os produtos são produzidos quando necessários e puxados pela demanda do mercado. Esta abordagem tem a vantagem de reduzir estoques, lead time e custos, além de aumentar a satisfação dos clientes. Entretanto, esta abordagem encontra algumas limitações na sincronização da produção, pois, em alguns casos, é difícil criar um fluxo balanceado e mesmo quando obtido, este fluxo poderia gerar perdas sempre que um processo parasse.

(c) Tambor-pulmão-corda (TPC): esta terceira abordagem para sincronização da produção é a proposta do Gerenciamento das Restrições, a qual é uma junção de sistemas puxados e empurrados e é chamada de tambor-pulmão-corda. A mesma reconhece que existem gargalos em qualquer processo e a primeira ação é identificá-los, logo é definida a utilização máxima desse recurso (tambor) e, posteriormente, subordinar todos os outros recursos a essa decisão (corda) da mesma forma que a abordagem JIT. Mas, para garantir a taxa de produção, são utilizados buffers no sistema (pulmão), localizados antes do processo gargalo, para preservar sua total utilização, e ao final do sistema, para garantir o cumprimento das datas de entrega.

Dessa forma o gerenciamento de restrições fundamenta-se em oito regras, que orientam

operacionalmente a gestão da produção (ASKIN; GOLDBERG, 2007, p. 18; MEREDITH;

SHAFER, 2002, p. 13):

(a) Balancear (sincronizar) o fluxo e não a capacidade;

(b) Os gargalos determinam a utilização dos processos não gargalo. Maximizar a utilização dos processos não gargalo somente adiciona custos, tempo ocioso e estoque;

(c) A utilização (produzir quando o material ainda não é necessário) não é igual à ativação de um processo. Produzir além da taxa de produção do gargalo gera estoque;

(d) Uma hora perdida em um processo gargalo é uma hora perdida para o sistema inteiro;

(e) Uma hora economizada em um processo não gargalo não é relevante; os gargalos governam a taxa de produção e o nível de estoque. A taxa de produção do gargalo determina as necessidades dos processos que fornecem materiais ao gargalo e a máxima quantidade de material disponível para os processos posteriores a ele;

(f) O tamanho do lote de transferência (lote de transferências de produtos entre diferentes tarefas) não necessita e não deve ser igual ao lote de processo (lote de

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produção em cada atividade). Pode ser vantajoso para o tempo de atravessamento mover o material em lotes menores;

(g) O tamanho dos lotes de processo deveria ser variável, não fixo; e

(h) A programação da produção deve ser estabelecida considerando todas as restrições simultaneamente e não somente uma restrição.

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3. MODELAGEM DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO

3.1 Tipos de Sistemas

Um sistema é definido como uma coleção de entidades que agem ou interagem em

conjunto para a realização de algum fim lógico (LAW; KELTON, 2000). Por esse motivo, é

importante entender os tipos de sistemas presentes na literatura. A Figura 03 apresenta uma

classificação de tipos de sistema. Na sequência, é realizada a descrição dos diferentes sistemas,

segundo Law e Kelton (2000, p. 5):

(a) Estático: representa um sistema em um momento particular.

(b) Dinâmico: representa um sistema como este evolui durante o tempo dependendo das características do problema sob estudo. O avanço do tempo pode ser feito de duas formas: a incrementos constantes ou variáveis.

(c) Determinístico: caracteriza-se por apresentar todas as variáveis determinísticas e o problema descrito pode – e deve – ser estudado analiticamente. Assim, o resultado é “determinado”, pois o conjunto de quantidades e relacionamentos dos dados é especificado.

(d) Estocástico (ou probabilístico): baseia-se geralmente em uma descrição mais próxima e mais complexa da realidade, o modelo contém uma ou mais variáveis aleatórias, as quais representadas através de amostras. Esse tipo de sistema tem o objetivo de reproduzir o comportamento probabilístico, pois as variáveis produzem resultados aleatórios.

(e) Discreto: a passagem do tempo é feita em incrementos mensuráveis entre eventos consecutivos supõe-se que o estado do sistema não se altera durante este intervalo. Este é um dos métodos mais frequentemente utilizados no apoio à tomada de decisão.

(f) Contínuo: a passagem do tempo é vista como se fosse de fato contínuo, muito embora seja feita a pequenos intervalos de tempo, por restrição do método empregado e do próprio computador é muito útil no estudo de sistemas como operações de refinarias de petróleo, já́ que são, em geral, de natureza determinística.

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Figura 03 – Tipos de Sistemas

Fonte: Law e Kelton (2000)

3.2. Modelo

O Collins English Dictionary (2013) define modelo como uma representação ou

descrição simplificada de um sistema ou de entidades complexas, especialmente as projetadas

para facilitar cálculos ou previsões. Williams (2002) salienta que: (a) um modelo descreve ou

representa algo real; (b) um modelo simplifica entidades reais; (c) a produção do modelo tem

um propósito, geralmente para realizar algum cálculo ou previsão do comportamento da

entidade. Segundo Price e John (2004, p. 7), os modelos podem ser caracterizados de acordo

com o uso a que se destinam. Assim, os modelos podem ser:

(a) Modelos descritivos: modelos que explicam ou descrevem um problema, fenômeno ou sistema. Um organograma é exemplo desse tipo de modelo. Tal modelo é útil para entendimento e comunicação sobre o sistema;

(b) Modelos prescritivos: são modelos que indicam cursos de ação de acordo com as necessidades. Os modelos de programação linear ou de otimização são exemplos desse tipo de modelo;

(c) Modelos preditivos: são modelos que indicam como o mundo pode evoluir à luz de certas decisões ou ações. Jogos de guerra, por exemplo, são projetados para ilustrar as consequências de estratégias de combate específicas ou decisões sobre o mix de combatentes.

Existe a necessidade de manipular o modelo, para explorar alternativas reais ou para

explicar por que ocorreram diferenças entre essas alternativas distintas, uma vez que o modelo

não apenas define as partes ou elementos conceituais de um todo, como também define a relação

entre os conceitos. Para poder manipular o modelo, é necessário que suas definições sejam

manipuláveis em uma linguagem formal, consistente, claras e precisa. A simplificação é

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inerente à modelagem, mas não significa uma desvantagem, já que apenas se abstrai os

elementos chave da realidade para se obter as informações necessárias (WILLIAMS, 2002).

3.3. Modelagem

Pidd (2004) relata dois propósitos chave da modelagem na ciência da gestão: (a) a tomada

de decisão, explicitando os propósitos para ajudar o tomador de decisão a fazer a melhor

escolha; e (b) o controle, para ajudar gestor a controlar o sistema com eficácia. Entretanto, é

necessário acrescentar mais um propósito, que é entender melhor o sistema. Para projetos

complexos o entendimento das entidades do sistema e o seu comportamento é fundamental,

pois considerando apenas as propriedades das partes não se pode compreender o todo

diretamente (WILLIAMS, 2002, p. 67).

Assim que o modelo é construído, o mesmo deve permitir análises de cenários e estudos

do tipo “e se?” (WILLIAMS, 2002). Essa experimentação, que pode ser impossível no mundo

real, pode trazer novas percepções das características do sistema que o modelo representa

(FORRESTER, 1961). Dessa forma, através da modelagem de um sistema complexo, muito

pode ser aprendido sobre as interações das variáreis do sistema, comparado à manipulação no

sistema real (FORRESTER, 1961). Williams (2002) descreve quatro vantagens do processo de

modelagem:

(a) Confrontação: ao invés de permitir que suposições genéricas sobre determinado sistema sejam utilizadas na tomada de decisão, essas suposições serão confrontadas e testadas assegurando que as mesmas são reais e verdadeiras;

(b) Explicação: durante a modelagem, as premissas do sistema serão explicitadas para construir o modelo; assim o processo de modelagem requer que o os gestores do sistema definam-nas explicitamente;

(c) Envolvimento: o processo de construção revela lacunas de conhecimento e motiva o modelador a tentar preencher estas lacunas; e

(d) Diálogo: a atividade de modelagem requer do analista a necessidade de lidar com pessoas de uma gama de disciplinas envolvidas no empreendimento, a qual pode iniciar o diálogo e aumentar a comunicação.

Williams (2002) acrescenta o benefício do aprendizado ao longo do processo de

modelagem, já́ que, através do processo de conceituação, quantificação, experimentação e

aplicação, o modelador tem a oportunidade de aprender sobre o sistema, podendo aplicar o

aprendizado no sistema real.

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3.4. Simulação Computacional

A simulação é uma técnica que usa computadores para imitar ou simular diversos tipos

de operações ou processos do mundo real (LAW; KELTON, 1991), a qual tem sido usada pela

manufatura, indústria de serviços, defesa, saúde e serviços públicos (JAHANGIRIAN et al.,

2010). Também pode ser definida como uma experimentação de um sistema operacional,

representada através do tempo, com o propósito de melhor entender ou melhorar esse sistema

(ROBINSON, 2004). Kamat e Martinez (2000) afirmam que a simulação é uma poderosa

ferramenta de avaliação que é adequada para o projeto de processos de construção com recursos

complexos.

Robinson (2004, p. 4) afirma que existe a necessidade de utilização da simulação

computacional para discutir a natureza dos sistemas de operações, os quais estão sujeitos:

(a) Variabilidade: previsível ou imprevisível;

(b) Interdependência: os componentes afetam uns aos outros e é difícil prever os efeitos das interconexões em um sistema, especialmente quando a variabilidade está presente;

(c) Complexidade, a qual pode ser de duas formas:

1. Complexidade combinatória: relacionada com o número de componentes no sistema ou o número de combinações entre componentes;

2. Complexidade dinâmica: relacionada com a interação entre componentes através do tempo, ou seja, as interconexões entre componentes normalmente não são unidirecionais, mas existem loops ou feedback de informações na direção oposta ao fluxo de transformação das operações.

Assim como existem diferentes tipos de sistemas, também existem diferentes formas de

simular estes sistemas. Uma simulação estática é a representação de um sistema em um

determinado tempo, enquanto a dinâmica representa o sistema ao longo da sua evolução no

tempo. Quando a simulação não apresenta um componente probabilístico, é denominada de

determinística, e seu resultado é determinado assim que as quantidades de entrada e a relação

entre elas são definidas. Já os modelos de simulação estocásticos produzem resultados

aleatórios e devem, portanto, ser tratados somente como uma estimativa das reais características

do modelo. Já as simulações discreta e contínua são definidas da mesma forma que os sistemas

discretos e contínuos, respectivamente, sendo que a diferença reside na passagem do tempo

(LAW; KELTON, 2000).

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Dessa forma, a simulação de eventos discretos (SED) apenas registra o tempo quando há

alguma mudança no sistema representado, ou seja, o sistema é modelado como uma série de

eventos (ou instantes) no tempo e seu estado apenas se altera quando um novo evento acontece

(ROBINSON, 2004). Essa técnica promove ao usuário informações detalhadas, tais como:

gráficos de estatísticas de produção, uso de recursos e discriminação do tempo do sistema

modelado (KAMAT; MARTINEZ, 2000). A mesma é adequada para a análise de processos

detalhados, utilização de recursos, filas e análises relativamente de curto prazo

(JAHANGIRIAN et al., 2010).

No entanto, Robinson (2004) salienta que essa técnica apresenta algumas desvantagens:

(a) os softwares de simulação não são, necessariamente, baratos e os custos de desenvolvimento

e uso de modelos podem ser altos, principalmente se um consultor é utilizado no processo; (b)

é uma atividade que consome tempo e os benefícios não são imediatos; (c) a maioria dos

modelos de simulação requer uma grande quantidade de informações, que podem não estar

disponíveis ou necessitam ser tratadas para utilização; e (d) a simulação requer algumas

habilidades específicas, tais como modelagem conceitual, validação, conhecimentos de

estatística, e capacidade de lidar com pessoas (por exemplo, gerentes de projetos).

Para compreender melhor o processo de modelagem da SED, é importante conhecer a

terminologia básica empregada. As quais, segundo Law e Kelton (2000), são:

(a) Variáveis de estado: são variáveis cujos valores determinam o estado de um sistema,

como, por exemplo, número de pavimentos aguardando para serem executados ou

estado de uma equipe (ocupada ou ociosa).

(b) Eventos: são acontecimentos, ocorrências, programadas ou não, que provocam uma

mudança de estado no sistema, como, por exemplo, o início da execução de um

pavimento ou a disponibilização de uma equipe no canteiro.

(c) Entidades: representa um objeto que necessita de uma definição clara e explícita,

podendo ser dinâmica (uma equipe) ou estática (um pavimento).

(d) Atributos: são as características próprias das entidades, aquilo que as definem

totalmente, como, por exemplo, número do pavimento ou produtividade da equipe.

(e) Recursos: é uma entidade estática que fornece serviços às entidades dinâmicas. Tem

dois estados básicos: ocupado ou livre, como, por exemplo, equipe de pedreiros ou

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elevador. Pode servir mais de uma entidade simultaneamente, ou, caso contrário, há a

formação de filas aguardando pela disponibilidade do recurso.

(f) Filas: acúmulo de entidades aguardando pela disponibilidade de um recurso, sendo que

toda fila tem uma política: primeiro que entra - primeiro que sai (PEPS), último que

entra - primeiro que sai (UEPS).

(g) Atividade: é um período de tempo predeterminado que uma vez iniciada, seu final pode

ser programado, como, por exemplo, execução de reboco ou transporte de material entre

dois pavimentos.

(h) Espera: período de tempo sob o qual, em geral, não se tem controle. Uma vez iniciada,

não se pode programar seu fim, tais como: pavimento aguardando a disponibilidade da

equipe ou dependendo do tempo de execução dos pavimentos anteriores.

(i) Tempo simulado: tempo real do sistema sendo simulado.

(j) Tempo de simulação: tempo necessário para a execução de um experimento.

Law e McComas (1991) afirmam que apenas 30 a 40% do esforço para gerar modelos de

simulação está na etapa de modelagem do sistema. Por esse motivo, estes mesmo autores

especificaram sete elementos para uma modelagem bem definida, os quais são (LAW;

MCCOMAS, 1991):

(a) Conhecimento do método de simulação, modelos estocásticos da pesquisa operacional

(teoria das filas, por exemplo), teoria de probabilidades e estatística;

(b) Formulação do problema de forma correta;

(c) Obter informações corretas e apuradas dos processos de operação do sistema e lógica

de controle;

(d) Escolher apropriadamente o software de simulação e utilizá-lo de forma correta;

(e) Estabelecer a validade e credibilidade do modelo;

(f) Usar procedimentos estatísticos adequado para a interpretação das saídas da simulação;

(g) Empregar técnicas corretas de gerenciamento de projetos.

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3.4.1. Etapas da Modelagem de Simulação

Com o intuito de gerar modelos de simulação válidos e que representem o sistema real da

forma mais coerente, diferentes autores descrevem as etapas que um estudo de simulação deve

seguir. Segundo Law e Kelton (1991), os estudos de simulação devem seguir dez etapas (Figura

04) que serão descritas a seguir. À medida que se realiza o desenvolvimento do estudo e um

melhor entendimento do sistema real é obtido, é desejável voltar a uma etapa anterior para

acrescentar as suposições que antes não estavam explicitas (LAW; KELTON, 1991).

Figura 04 – Etapas da Simulação

Fonte: Law e Kelton (1991)

Etapa 01 - Formular o problema e planejar o estudo

Um dos mais importantes aspectos é a definição cuidadosa dos objetivos gerais e questões

específicas a serem discutidas (LAW; KELTON, 1991). Esta etapa é muitas vezes

negligenciada pela falta de conhecimento da natureza da simulação, as informações que ela

pode fornecer e o tempo e esforço requerido para realizar um bom estudo (LAW; MCCOMAS,

1991). Assim, tem-se a necessidade de entender como a simulação se comporta, tanto por parte

dos responsáveis pela modelagem do sistema como por parte dos usuários finais dos resultados

(especialista do sistema real).

Segundo Law e McComas (1991), a condução de uma reunião inicial pode superar a falta

de entendimento da equipe de estudo sobre a simulação, definindo e discutindo as seguintes

atividades:

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(a) Identificar os principais problemas de desempenho para o sistema existente (se este

sistema existir);

(b) Determinar os objetivos gerais do estudo e de cinco a dez aspectos específicos a serem

considerados pelo modelo;

(c) Decidir como o modelo será́ utilizado no processo de tomada de decisão;

(d) Identificar quem será́ o usuário final do modelo (um analista experiente ou um

engenheiro de produção), uma vez que isto afeta quão amigável o modelo deve ser;

(e) Especificar as medidas de desempenho que serão utilizadas para comparar diferentes

cenários do sistema; e

(f) Delinear as configurações do sistema sob estudo, evitando reprogramações mais tarde.

Segundo Law e McComas (1991), devido ao tempo de execução do estudo, pode ser

necessário usar um modelo de simulação para estudar o trabalho detalhado de um sistema

particular, enquanto outro modelo mais agregado pode ser utilizado para explorar a eficácia do

sistema global.

Etapa 02 - Coletar dados e definir um modelo conceitual

A coleta de dados não é uma tarefa fácil, já́ que uma única pessoa ou documento não tem

todas as informações necessárias. Segundo estes mesmos autores os dados devem ser coletados

para especificar os parâmetros do modelo e distribuições de probabilidade de entrada. As

informações e dados coletados devem ser agrupados em um conjunto de documentos chamado

de documentos de suposições, os quais serão utilizados para realizar a caminhada estrutura do

modelo conceitual do sistema a ser representado. Dados sobre o desempenho do sistema

existente também deve ser coletado para contribuir com a validação do modelo (LAW;

MCCOMAS, 1991).

O nível de detalhe do modelo depende dos objetivos do estudo, dados disponíveis,

questões de credibilidade, restrições de computadores e opiniões dos especialistas no sistema.

Por exemplo, modelos usados para projetar novos sistemas são geralmente menos detalhados

em relação àqueles usados para aperfeiçoar sistemas existentes, devido à diferença de metas do

projeto e na disponibilidade de dados (LAW; MCCOMAS, 1991).

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Law e Kelton (1991) sugerem que a modelagem sempre comece com um modelo

moderadamente detalhado, que pode ser detalhado posteriormente, se necessário. Esses

mesmos autores afirmam que um modelo deve conter apenas o detalhamento suficiente para

capturar a essência do sistema para o propósito para qual o modelo foi produzido. Um modelo

excessivamente detalhado pode ser custoso para programar e executar. É importante para o

especialista em simulação interagir regularmente com o gerente e outros agentes chave do

sistema que está sendo modelado. Os benefícios dessa abordagem são (LAW; MCCOMAS,

1991):

(a) Geralmente quando um estudo é inicializado, não existe uma ideia clara do problema a

ser resolvido, com o andamento do estudo a natureza do problema se torna mais clara;

(b) O interesse e envolvimento do gerente do sistema real são mantidos;

(c) O conhecimento do sistema pelo gerente contribui para a validação do modelo; e

(d) O modelo é mais verossímil, já́ que o gerente compreende e aceita as suposições do

modelo.

Etapa 03 - Validar o modelo conceitual

Na construção do modelo conceitual do sistema real é de extrema importância para o

especialista em simulação envolver pessoas no estudo, as quais são intimamente familiarizadas

com as operações do sistema real (LAW; KELTON, 1991). Essa interatividade contribui para

aumentar a validade do modelo e a sua credibilidade, como descrito anteriormente. Mas para

essa validação, a caminhada estruturada do modelo conceitual pode ser uma alternativa,

verificando se as suposições presentes no modelo conceitual estão corretas, completas e

consistentes. Ao longo da caminhada estruturada, vários erros de suposição do modelo podem

ser identificados e corrigidos, algumas novas suposições são acrescentadas e algumas questões

de nível de detalhe são resolvidas pelos especialistas do sistema. Essa caminhada estruturada

deve ser realizada antes da fase de codificação começar.

Etapa 04 - Construção e verificação do programa computacional

Segundo Law e McComas (1991) a escolha do software usado para desenvolver o estudo

de simulação pode ter um grande impacto no sucesso do projeto. Estes mesmos autores afirmam

que o software irá afetar: (a) o nível de detalhe possível; (b) validação do modelo; (c) tempo de

execução do modelo; e (d) tempo de término do estudo.

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Law e McComas (1991) também sugerem que, baseado em suas experiências

profissionais, que a maioria dos modelos de simulação válidos de sistemas complexos deve ser

programada de alguma forma, mesmo que seja usada a linguagem de simulação ou simulador.

Muitos vendedores de software de simulação oferecem versões com capacidade de animação.

A animação é útil para comunicação da essência do modelo de simulação para os gerentes e

outros interessados, o que aumenta a credibilidade do modelo (LAW; MCCOMAS, 1991). Mas

esta apresenta duas limitações (LAW; MCCOMAS, 1991): não é um substituto para uma

análise estatística cuidadosa da saída da simulação, e não é garantia de um modelo valido ou

um modelo depurado.

Law e McComas (1991) afirmam que existem várias técnicas usadas para depurar, ou

seja, verificar o programa de simulação: (a) desenvolver o programa de forma modular; (b)

usando depuração e rastreamentos iterativos; (c) fazendo uma caminhada estruturada do código;

(d) checar as saídas da simulação para verificar dados com razoabilidade; e (e) animação.

Etapa 05 e 06 – Simulações Piloto e Validação do modelo computacional

A realização de simulações piloto tem o propósito de validação do modelo de simulação

(LAW; MCCOMAS, 1991). As simulações piloto podem ser usadas para testar a sensibilidade

das saídas do modelo a pequenas mudanças nos parâmetros de entrada (LAW; KELTON,

1991). Os resultados numéricos e animações das simulações piloto devem ser examinados

cuidadosamente por especialistas do sistema para detectar erros remanescentes nos

pressupostos do modelo e, caso necessário, o modelo deve ser modificado para refletir as

alterações necessárias (LAW; MCCOMAS, 1991). O teste mais definitivo de validade de um

modelo de simulação é estabelecer que a sua medida de desempenho se aproxime a medida de

desempenho que deveria ser esperada de uma configuração do sistema proposto (LAW;

MCCOMAS, 1991). Se as saídas mudam bastante, uma melhor estimativa dos parâmetros de

entrada deve ser obtida e se um sistema similar ao que está sendo estudado existir, as

informações de saída da simulação piloto podem ser comparadas com aquelas do sistema real

(LAW; KELTON, 1991).

Etapa 07 - Projeto de experimentos

Para que uma estimativa da simulação seja precisa estatisticamente e livre de vieses, o

analista deve especificar para cada sistema as escolhas apropriadas para os seguintes aspectos

(LAW; MCCOMAS, 1991): (a) comprimento de cada tempo de simulação; (b) número de

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replicações simuladas independentes; (c) condições iniciais para cada simulação; e (d)

comprimento do período de warmup, caso seja apropriado.

Law e McComas (1991) sugerem a realização de pelo menos três a cinco simulações

independentes para cada cenário e usar a média da medida do desempenho estimada, a partir

das simulações individuais, como a estimativa da medida global do desempenho.

Etapa 08 e 09 - Realização da simulação e analisar das saídas do modelo

Realizar a simulação é prover dados de desempenho necessários para a etapa de análise

(LAW; KELTON, 1991). Segundo Law e McComas (1991), os dados de saída da simulação

são utilizados para construir estimativas numéricas da medida do desempenho desejada para

cada configuração do sistema de interesse. Metas típicas são de construir um intervalo de

confiança para uma medida de desempenho para um projeto do sistema particular ou para

decidir qual o sistema simulado é o melhor relacionado com algumas medidas especificas de

desempenho (LAW; KELTON, 1991). Law e McComas (1991) afirmam que muitas vezes é

útil empregar interfaces gráficas para analisar estas medidas de desempenho do sistema

simulado.

Etapa 10 - Documentação e apresentação dos resultados do estudo

Devido ao fato de que os modelos de simulação são usados para mais de um tipo de

aplicação, é importante documentar as suposições inseridas no modelo assim como no

programa de computador (LAW; KELTON, 1991). Law e McComas (1991) afirmam que um

dos fatores mais determinantes para saber se os resultados da simulação são utilizados no

processo de decisão é a credibilidade do modelo e do especialista em simulação. Por isso

motivo, estes autores enfatizam as atividades de interação regular com os gerentes do sistema,

a caminha estruturada do modelo conceitual e o uso da animação.

3.4.2. Sistemas de Modelagem Interativa Visual

Os Sistemas de Modelagem Interativa Visual (VIMS) permitem construir o modelo de

simulação e simulá-lo de uma maneira interativa. O sistema, ou software, fornece um conjunto

de objetos predefinidos de simulação, o qual permite ao modelador selecionar os objetos e

definir a lógica do modelo através de uma série de menus (ROBINSON, 2004). Como resultado,

o usuário que utiliza um software com funções VIMS necessita relativamente menos

habilidades de programação, mesmo que os objetos predefinidos estejam conectados a uma

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linguagem de programação ou tenham uma linguagem interna, permitindo modificações

(ROBINSON, 2004).

Muitos pacotes de simulação utilizados regularmente hoje podem ser classificados como

VIMS (PIDD, 2004). No entanto, nem sempre um pacote do tipo VIMS é o mais adequado,

dadas suas limitações. Pidd (2004) relata quando é mais vantajoso recorrer à programação

computacional ao invés de um software VIMS nas seguintes situações: quando a simulação

envolve eventos lógicos complexos ou necessitam incluir cálculos bem específicos, quando a

simulação é em grande escala e necessita ser mantida por muito tempo, quando existe a

necessidade de rápidas simulações e quando a organização não quer investir em especialistas

de software quando já́ existe um considerável conhecimento de programação.

Já o Visual Interactive Modelling (VIM), ou Visual Interactive Simulation (VIS),

começou a ser utilizado em 1976 como uma evolução a simulação de eventos discretos e foi

primeiramente idealizado por Hurion (1986). Segundo Elder (1992), o VIM é um módulo

embutido no programa computacional o qual usa cores e gráficos para mostrar o estado atual

de variáveis importantes para o modelo e também fornece facilidades interativas que permitem

o usuário ajustar os parâmetros do modelo. Quando os parâmetros são ajustados, os gráficos

mostrados são atualizados para permitir que o usuário veja como as variáveis se modificaram,

ou seja, a ideia principal é permitir que o usuário compreenda o relacionamento entre os

parâmetros de entrada do modelo e as variáveis de saída (ELDER, 1992).

Shi e Zhang (1999) afirmam que animar um sistema significa, literalmente, dar vida ao

mesmo e na prática da simulação significa visualizar mudanças de parâmetros ao longo do

tempo. Os benefícios da VIM são:

(a) Comunicar a essência do modelo de simulação para um gestor ou outras pessoas que não estão cientes dos detalhes técnicos do modelo (LAW; KELTON, 2000) e permite a rastreabilidade dos eventos de simulação (ROBINSON, 2004);

(b) Fácil verificação e validação dos modelos, já́ que o mesmo permite a simulação do modelo em determinadas condições para testes, além de permitir aos usuários leigos visualizar o modelo e verificar a sua validade (LAW; KELTON, 2000; ROBINSON, 2004);

(c) Fornece a possibilidade de utilizar os modelos em grupos de solução de problemas (LAW; KELTON, 2000; ROBINSON, 2004);

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(d) Aumenta a compreensão dos resultados, permitindo experimentação interativas com o modelo (ROBINSON, 2004).

Bell et al.(1999) realizou uma survey com tomadores de decisão que utilizaram a VIS e

as principais desvantagens apontadas foram: o tempo de desenvolvimento e a expertise

necessários para o processo de modelagem, a aceitação dos resultados sem seu completo

entendimento e o aumento no tempo necessário de participação do tomador de decisão no

processo.

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4. MÉTODO DE PESQUISA

Este capítulo apresenta uma descrição do método de pesquisa utilizado para a realização

desse trabalho. O capítulo começa com a descrição da escolha de estratégia de pesquisa

utilizada no seu desenvolvimento. Posteriormente são apresentados o delineamento do processo

de pesquisa e a descrição das etapas.

4.1 Estratégia de Pesquisa

O presente trabalho trata de uma pesquisa sobre gestão da produção com auxílio da

tecnologia da informação e comunicação (TIC), mais especificamente, da proposição do uso da

simulação de eventos discretos no Projeto do Sistema de Produção da construção civil. Isso

implica ser uma pesquisa que estuda o artificial, em oposição às ciências naturais.

Segundo March e Smith (1995), as ciências naturais envolvem atividades de descoberta

e justificativa, ou seja, a geração ou proposição de alegações específicas e teste ou validação

dessas alegações. Os mesmos autores afirmam que design science research (ciências do design

ou ciências prescritivas) consistem em atividades de construção de um artefato para um

propósito específico e avaliação da utilidade desse artefato. Simon (1996) afirma que nas

ciências naturais produz-se conhecimentos sobre objetos e fenômenos do mundo que descrevem

e explicam como estes se comportam e interagem entre si, enquanto a design science research

gera conhecimentos referentes a objetos artificiais, feitos pelo homem, os quais são projetados

para alcançar alguns objetivos desejáveis. March e Smith (1995) ainda afirmam que tanto as

atividades da design science research como das ciências naturais são necessárias para o avanço

do conhecimento.

Para Aken (2004) o produto da design science research é o design, o qual pode ser

definido como uma representação de um sistema ou processo a ser realizado. Este mesmo autor

relata que para realizar o design, é necessário utilizar um ciclo de solução de problemas, o qual

consiste em: definição do problema e contexto, planejamento da intervenção, implementação

da solução e avaliação. Aken (2004) ainda afirma que o design pode ser de três tipos: (a) object-

design, ou seja, o desenvolvimento da intervenção ou artefato; (b) realization-design, que é o

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planejamento da intervenção para a construção do artefato; e (c) process-design, o qual é o

método a ser adotado para desenvolver a solução do problema.

A design science research é uma forma de produção de conhecimento que envolve o

projeto ou a construção de soluções inovadoras, destinadas a resolver categorias de problemas

enfrentados no mundo real e, por esse meio, para fazer uma contribuição para o avanço do

conhecimento (LUKKA, 2003). Assim, essa estratégia de pesquisa apresenta dois componentes

básicos, a prática e a teoria, os quais são apresentados na Figura 05.

Figura 05 – Elementos Centrais da Design Science Research

Fonte: Lukka (2003)

Mas, segundo Holmstrom et al. (2009), o objetivo principal da design science research é

solucionar uma classe de problemas e não apenas criar conhecimentos de caráter explanatório.

A design science research é uma abordagem de pesquisa que procura (HOLMSTROM et al.,

2009): (a) explorar novas soluções alternativas para resolver problemas, (b) explicar esse

processo exploratório de soluções alternativas de solução de problemas, e (c) melhorar o

processo de solução do problema.

Para utilizar a estratégia de pesquisa da design science research, Holmstrom et al. (2009)

afirma que primeiramente o cientista cria o fenômeno artificial para posteriormente obter as

informações necessárias para avaliá-lo. Dessa forma o pesquisador está interessado em

desenvolver os meios para um fim, ou seja, um artefato para solucionar o problema

(HOLMSTROM et al., 2009). Entretanto, a design science research pode resultar em diferentes

tipos de produtos, ou outcomes:

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(a) Constructos ou conceitos: são a base conceitual usada para desenvolver a solução de

um problema específico, eles formam uma linguagem especializada e compartilham o

conhecimento de uma disciplina ou áreas do conhecimento (MARCH; SMITH, 1995);

(b) Modelo: é um conjunto de proposições ou declaração que expressa as relações entre

constructos, o modelo pode ser compreendido como uma descrição de como as coisas

são (MARCH; SMITH, 1995);

(c) Método: é um conjunto de passos (algoritmo ou diretrizes) usadas para realizar uma

tarefa, são baseados em um conjunto de constructos subjacentes (uma linguagem) e uma

representação (um modelo) do espaço ou ambiente da solução (MARCH; SMITH,

1995);

(d) Implementação ou instantiation: é a implementação do artefato no seu ambiente, ela

operacionaliza constructos, modelos e métodos, demonstrando a viabilidade e

efetividade dos mesmos (MARCH; SMITH, 1995); e

(e) Regras tecnológicas: é um conjunto de conhecimento geral, conectado a intervenções

ou artefatos com uma solução desejada ou desempenho em uma área de aplicação, o

conjunto de conhecimento geral pode ser entendido como a existência de uma prescrição

geral para um conjunto de problemas (AKEN, 2004).

Lukka (2003) define as etapas de uma design science research: (a) encontrar um problema

de relevância prática; (b) obter um entendimento profundo sobre o tópico; (c) desenvolver uma

construção para resolver o problema; (d) implementar e testar a solução; (e) examinar o escopo

e aplicabilidade da solução; e (f) identificar e analisar a contribuição teórica.

No presente trabalho, optou-se pela abordagem da design science research pelos seguintes

motivos: (1) a elaboração do PSP lida com a construção de um plano que tem como objetivo

contribuir para a gestão do empreendimento, ou seja, seu foco incide sobre um problema real e

de relevância prática para a empresa que está sendo estudada; (2) o processo de elaboração do

PSP envolve estreita cooperação dos intervenientes do empreendimento em estudo, que

assumem a forma de uma equipe, na qual o aprendizado se dá com base na proposição e

experimentação de soluções para os problemas encontrados. O principal produto desta pesquisa

foi a implementação do método de simulação de eventos discretos no processo de PSP. Esta

implementação foi avaliada em função da sua viabilidade e efetividade.

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4.2 Delineamento da Pesquisa

O delineamento da pesquisa é apresentado na Figura 06. A pesquisa foi dividida em

quatro grandes fases: revisão bibliográfica, fase exploratória, fase de desenvolvimento e fase

de consolidação, as quais são relacionadas às etapas típicas da design science research,

propostas por Lukka (2003).

Figura 06 – Delineamento da Pesquisa

Fonte: o autor (2017)

A revisão bibliográfica foi realizada ao longo de toda a pesquisa, dando suporte ao

desenvolvimento, implementação e contribuições das soluções propostas ao longo do

desenvolvimento do trabalho. Esta etapa da pesquisa foi realizada com o intuído de encontrar

trabalhos que: tivessem desenvolvido métodos, modelos e abordagens para projetar sistemas de

produção na construção civil; e discutissem como é utilizada a simulação de eventos discretos

na construção civil. Foram analisados trabalhos publicados em revistas e congressos

internacionais, sendo o International Group for Lean Construction (IGLC) a principal fonte de

pesquisa para este presente estudo.

Na fase exploratória, foi realizada a seleção do software utilizado na pesquisa e o estudo

empírico (EE). Na fase de desenvolvimento, foi realizada a modelagem dos cenários de estudo

e a simulação dos mesmos. Na última fase, foi analisada a elaboração do PSP do

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empreendimento em estudo com o uso da ferramenta de SED e feita uma avaliação da

viabilidade e efetividade do método proposto.

4.3 Fase Exploratória

A fase exploratória deste trabalho compreende a seleção do software para a utilização na

pesquisa e o estudo empírico. Estas duas etapas ocorreram de forma paralela.

4.3.1 Seleção do Software de Simulação de Eventos Discretos

Optou-se por adotar o software Arena Simulation 14, da Rockwell Automation Inc., o

mesmo utilizado por Schramm (2009), que desenvolveu um estudo anterior sobre o uso de SED

para o projeto do sistema de produção. Esta decisão foi tomada em função das vantagens

apontadas por Schramm (2009) em relação a outros programas computacionais. A fim de

proceder a escolha do software, Schramm (2009) utilizou os critérios: facilidade de uso,

adequação ao contexto da pesquisa, qualidade dos recursos de animação; capacidades

estatísticas e custo de aquisição. Estes critérios basearam-se nos critérios originalmente

propostos por Law e Haider (1989) e Davis e Williams (1994), que apontam uma série de

características desejáveis dos softwares de simulação utilizados na análise de sistemas de

produção.

Quatro softwares foram avaliados no processo de escolha: STROBOSCOPE

(MARTINEZ, 1996) ProModel (ProModel Corporation), Arena (Rockwell Automation Inc.) e

Extend (Imagine That Inc.). O STROBOSCOPE foi avaliado em função de seu uso por vários

pesquisadores da área de gestão da produção na construção civil. Já os demais softwares foram

avaliados em função de suas largas utilizações por pesquisadores em diversos setores

industriais, principalmente com base na consulta a artigos publicados no International Group

for Lean Construction. A Figura 07 mostra o resultado da avaliação dos quatro softwares.

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Figura 07 – Avaliação dos Softwares de SED

Fonte: Schramm (2009)

Reck (2013) afirma que o Arena Simulation é um software com capacidades visuais e

interativas do Visual Interactive Modelling Systems, conforme discutido no capítulo anterior.

Dessa forma, o mesmo permite modelar o sistema através de módulos que contém as lógicas de

programação conectadas a estes módulos. Ao final do processo de modelagem é possível obter

um diagrama de rede que apresenta o sequenciamento das atividades. As entidades que fluem

pelo diagrama de rede são as unidades repetitivas do empreendimento. O Arena também

permite a comunicação do modelo com planilhas eletrônicas, o que facilita o processo de

atribuição de valores de entrada e o processo de coleta de dados de saída (RECK, 2013).

A Figura 08 mostra o ambiente de trabalho do Arena Simulation, o qual é composto por

três janelas: a barra de projeto, na qual estão presentes os templates; o diagrama de rede, que

define a sequência lógica do modelo; e exibição de planilhas.

Figura 08 – Ambiente de Trabalho do Arena Simulation

Fonte: Reck (2013)

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4.3.2 Estudo Empírico

Descrição da Empresa M

Fundada em 1978, a empresa M é uma empresa especializada em projetos e construções

e atualmente é líder de mercado em soluções inteligentes de engenharia executiva, em obras de

infraestrutura e construção civil. Com sede em Porto Alegre (RS) e Central de Logística e

almoxarifado em Nova Santa Rita (RS), escritórios em São Paulo e Rio de Janeiro e filial em

Palmas (TO). A Empresa M conta com 1.600 colaboradores diretos e 3.200 indiretos, executa

contratos nos diversos estados brasileiros, como Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de

Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Tocantins, entre outras áreas do Brasil, totalizando 815.000

metros quadrados construídos. Desde a sua fundação, a Empresa M foi responsável pela

execução de 183 obras, sendo 113 na área pública e 70 voltadas ao setor privado.

Descrição do Empreendimento

O empreendimento utilizado como objeto deste estudo trata-se da primeira etapa da nova

sede do complexo Fecomércio-RS, Sesc e Senac, conforme mostrado na Figura 09 e encontra-

se em fase inicial de execução, na região metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

O empreendimento será construído em 3 etapas, totalizando 150 mil metros quadrados de área

construída, sendo que a primeira etapa contempla 45 mil destes.

As obras da primeira etapa do complexo começaram no dia 1º de setembro de 2016 e

devem ser concluídas em fevereiro de 2019 – um cronograma de 30 meses de atividades. Estão

previstos para serem concluídos, nessa primeira etapa, o edifício administrativo (principal

edificação, composto por nove pavimentos), estacionamentos, restaurantes, auditórios e o

centro de conivência. O valor estimado para a construção desta primeira etapa é de

aproximadamente R$ 150 milhões.

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Figura 09 – Primeira Etapa do Complexo Fecomércio-RS, Sesc e Senac

Fonte: o autor (2017)

Elemento a ser estudado

Para este estudo serão contempladas as fundações da primeira etapa da nova sede da

empresa. O processo de execução das fundações foi escolhido como objeto deste estudo, pois

o mesmo já se encontra em um estágio de planejamento mais avançado (projeto estudado e

definido, fornecedor contratado) e pela maior disponibilidade e confiabilidade de dados

coletados, dispondo de um menor grau de incerteza envolvido.

A estrutura dos prédios do empreendimento estudado é caracterizada pela grande

heterogeneidade em seus elementos, tanto em carga, quanto em posição e forma. Por

consequência, as fundações apresentam uma grande variedade em seus componentes. Foram

contabilizadas 1457 estacas na primeira etapa do empreendimento, distribuídas em seis

diâmetros diferentes, variando de 40 cm a 120 cm (Figura 10). Com relação aos blocos, foram

contabilizados 520 blocos de 20 tamanhos diferentes, com dimensões variando de 70 cm x 70

cm a 1550 cm x 1110 cm, totalizando um volume de concreto de 9.324,33 metros cúbicos.

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Figura 10 – Fundações

Fonte: o autor (2017)

O processo produtivo da fundação em questão será composto pelas seguintes atividades:

1. Estaqueamento com hélice contínua;

2. Escavação do bloco de fundação com retroescavadeira;

3. Arrasamento de estacas (manual e automatizado);

4. Ensaio de integridade das estacas;

5. Execução de concreto magro;

6. Execução de formas para bloco;

7. Execução de ferragem para bloco;

8. Concretagem do bloco;

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9. Desforma do bloco;

10. Impermeabilização do bloco;

11. Reaterro do bloco.

Optou-se por desconsiderar parte da complexidade presente no processo produtivo real,

como forma de focar nas atividades que teriam um impacto maior na utilização dos recursos do

processo, tendo como vantagem uma melhor visualização da interação entre estas atividades.

Diante disso, o estudo foi simplificado, sendo segmentado em quatro etapas, conforme ilustrado

na Figura 11:

Figura 11 – Simplificação do Processo de Fundações para Elaboração do Modelo Conceitual

Fonte: o autor (2017)

4.4 Fase de Desenvolvimento

4.4.1 Modelo Conceitual

A elaboração do modelo conceitual iniciou com o levantamento de dados gerais, no qual

foi possível identificar aspectos básicos da construtora, do contrato, do empreendimento, do

processo a ser estudado. Esta primeira aproximação permitiu formular o problema de forma

adequada, identificando os principais desafios e as oportunidades de aplicação da simulação

computacional como suporte às decisões gerenciais.

Na coleta de dados também foram conhecidas informações básicas do projeto, tais como,

quantidades, produtividades médias, características de execução relevantes para a simulação e

principais recursos para cada etapa do processo produtivo.

Os seguintes critérios foram absorvidos nesta etapa:

(a) O período contratual de execução das fundações e a impossibilidade de faturamento em

caso de adiantamento do serviço (não há interesse em adiantamento do serviço para não

haver fluxo de caixa negativo);

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(b) Há estacas de 120 cm de diâmetro que requerem um equipamento especial para

execução;

(c) As estacas de 120 cm de diâmetro só poderão ser arrasadas manualmente por restrições

de equipamento;

(d) A construtora considera ter em obra no máximo 3 perfuratrizes, 3 retroescavadeiras e 1

máquina de arrasamento de estacas;

(e) A construtora considera trabalhar com no máximo 2 equipes para arrasamento manual

de estacas e 5 equipes para blocos de fundação;

(f) A taxa de ocupação para a máquina de arrasamento deve ser máxima;

(g) A taxa de ocupação para as retroescavadeiras deve ser no máximo 70%, por ser utilizada

em limpezas e outras atividades de apoio;

(h) Tempo máximo de locação para a máquina de arrasamento de estacas deve ser 60 dias;

(i) Tempo máximo de locação para a perfuratriz de 120 cm de diâmetro é de 30 dias.

Para avaliar a aplicabilidade da modelo conceitual na tomada de decisões do PSP da obra,

foi necessário o estabelecimento de critérios para essa tomada de decisão, em conjunto com a

equipe técnica da obra. A construtora mostrou preferência por trabalhar com fluxo ininterrupto,

ou seja, com a máxima utilização da capacidade do equipamento e em segundo lugar considerar

uma avaliação do cenário sob a ótica do fluxo contínuo.

Dessa forma, foram estabelecidos dois critérios de avaliação:

(a) Taxa de ocupação dos recursos;

(b) Trabalho em progresso.

A unidade de repetição adotada foi a estaca. Embora as 1457 unidades existentes no

projeto apresentassem variação de diâmetro entre 40 e 120 cm, foi possível a simplificação em

dois elementos de repetição principais, conforme ilustrado na Figura 12:

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Figura 12 – Modelo Conceitual do processo de execução das fundações

Fonte: o autor (2017)

(a) Estacas Comuns (Estaca Tipo 1): Diâmetro 40cm a 90cm, com alta variabilidade de

produtividade;

(b) Estacas Especiais (Estaca Tipo 2): Diâmetro 120cm, baixa variabilidade se comparada

às do tipo 1 e demandam requisitos específicos no PSP, principalmente no que se refere

a restrições de equipamentos.

Durante a coleta de dados de produtividade, as etapas do processo de escavação e

execução de blocos tiveram seus dados obtidos na unidade blocos. Para isso, foi adotado um

critério de conversão para a unidade base estaca: A produtividade foi multiplicada pelo número

médio de estacas por bloco.

A definição do Modelo Conceitual tomou como base as etapas do processo em sua forma

simplificada, acrescentando partes do processo que provocam interferência no resultado final,

seja pelo tempo de espera ou pela variabilidade adicionada:

(a) Condições favoráveis: Devido à interferência direta de condições climáticas na etapa de

fundações e à grande recorrência de quebra de equipamentos;

(b) Cura da estaca antes do arrasamento: Elemento importante a ser analisado pelo tempo

de espera que provoca entre um e outro subprocesso, muitas vezes gerando altos índices

de trabalho em progresso;

(c) Ensaios das estacas: Provas de Carga Estática, Dinâmica, Ensaio de Integridade e a

possível necessidade de executar um eventual reforço nas fundações dependendo do

resultado desses testes.

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Considerando todas essas questões, foi definido o modelo conceitual a ser lançado no

programa para análise das taxas de ocupação de recurso e níveis alcançados de trabalho em

progresso.

4.4.2 Modelo Computacional

Com o uso do Arena Simulator, disponível para a realização deste estudo, e a partir do

modelo conceitual validado, é realizado o modelo computacional do sistema em análise. No

modelo conceitual foram feitas muitas simplificações do sistema de produção real e no modelo

computacional estas foram mantidas, considerando só um nível de detalhe necessário segundo

os fins do estudo.

O modelo está dividido em duas linhas de fluxo, a superior considera como entidades as

estacas cujos diâmetros variam entre 40 a 90cm, e a linha inferior são as estacas de 120cm. Esta

divisão foi feita pela diferenciação de recursos (equipamento) entre estes dois grupos de estacas,

nos processos de estaqueamento e arrasamento. No resto de processos do sistema de produção

modelado nesta simulação os recursos são compartilhados entre as duas linhas de fluxo, para

obter a máxima utilização deles.

Muita da complexidade do sistema de produção real foi desconsiderada ao modelar no

programa computacional, para isso dois mecanismos de segurança foram inseridos no modelo,

representados pelos losangos “Condições Favoráveis” e “Ensaios” (Figura 13), um deles

representa a necessidade de ter condições favoráveis no início da produção e o outro a possível

rejeição de estacas nos testes técnicos. Além disso, considerou-se fatores de segurança ao

estabelecer os limites de utilização dos recursos. O programa e o modelo computacional

permitiram localizar certos recursos dentro de uma linha de tempo, ou seja, foi possível

considerar que alguns equipamentos vão trabalhar em intervalos de tempo definidos pela equipe

de planejamento e controle do projeto.

A técnica utilizada para verificar o programa computacional (Arena Simulator) foi checar

as saídas da simulação para verificar dados com razoabilidade, então esta verificação foi feita

só depois de ter o primeiro modelo computacional apresentado na Figura 13.

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Figura 13 – Modelo Computacional

Fonte: o autor (2017)

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Tendo o primeiro modelo computacional pronto, são rodadas simulações piloto com dois

objetivos: 1) verificar o programa computacional e 2) validar o modelo computacional. No que

diz respeito à verificação do programa computacional, é possível dar por verificado o software

Arena utilizado nesta análise, já que os resultados obtidos das corridas piloto eram razoáveis,

ou seja, esperados. Pode-se concluir também que a flexibilidade deste software é suficiente para

representar o problema deste estudo. Para validar o modelo computacional, foram revisados os

resultados e as animações, alguns erros remanescentes nas assunções do modelo foram

detectados e corrigidos, e finalmente uma análise de sensibilidade foi considerada, calibrando

todos os aspectos do modelo, entre eles, parâmetros de entrada, probabilidades utilizadas e o

nível de detalhe.

4.4.3 Simulações

As simulações ocorreram logo após a validação e aprovação do modelo conceitual

juntamente com integrantes da Empresa M. Foram analisados 5 cenários diferentes, cuja maior

diferença entre eles está relacionada a quantidade de equipamentos e equipes que é empregado

para a produção das 1457 estacas. A Figura 14 apresenta a quantidade de equipamentos e

equipes de trabalho simulados em cada cenário.

Figura 14 – Características dos Cenários Simulados

Fonte: o autor (2017)

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55

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Ao final da simulação no Arena foi gerado um relatório com diversos parâmetros de

utilização dos recursos modelados, como pode ser observado no Apêndice A. Neste trabalho,

foram utilizados os parâmetros de instantaneous utilization e scheduled utilization como base

para tomada de decisão. O instantaneous utilization é um parâmetro útil para o

dimensionamento da quantidade de recursos no processo enquanto que o scheduled utilization

é empregado no cálculo da quantidade de tempo que um determinado recurso deve ser alocado

ao processo produtivo. Além desses parâmetros, o tempo de execução e o trabalho em progresso

(WIP) também foram considerados na análise.

Como critérios para análise e escolha entre os cenários simulados, buscou-se a solução

em que: a) os valores do instantaneous utilization fossem o mais nivelado possível (o

nivelamento dos valores desse parâmetro reduz as filas entre os processos e consequentemente

o WIP) (Figura 15); b) os resultados do scheduled utilization tivessem entre uma faixa de

setenta a noventa per cento (para a retroescavadeira, optou-se por esse valor ser inferior a

setenta per cento, por esse recurso desempenhar outras atividades que não foram incluídas nesse

estudo) (Figura 16), c) o tempo de execução estivesse entre 120 e 135 dias, d) o trabalho em

progresso fosse o menor possível e utilizasse a menor quantidade de recursos.

Figura 15 – Instantaneous Utilization Nivelado

Fonte: o autor (2017)

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Figura 16 – Faixa Recomendável do Scheduled Utilization

Fonte: o autor (2017)

É importante salientar que o trabalho em progresso extraído dos resultados das simulações

do modelo aqui apresentado não indica a quantidade real de estacas com trabalho inacabado. O

WIP foi utilizado como um indicador, unicamente, para fim de comparação entre os cenários,

sendo que um acréscimo de uma unidade ao seu número indica que houve um aumento do

trabalho em progresso, mas não necessariamente o aumento de uma estaca.

A seguir são apresentados os resultados de cada um dos cenários simulados, e discutida

sua contribuição em relação aos objetivos do estudo.

5.1 Cenário 01

O cenário 01 é o planejamento inicial proposto pela Empresa M, executante da obra. Ele

tem como característica possuir três perfuratrizes, sendo duas perfuratrizes comuns e uma

perfuratriz especial, três retroescavadeiras, uma máquina de arrasamento, uma equipe de

arrasamento e cinco equipes de blocos. Com a proposta de melhorar o planejamento inicial,

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apresentado pela Empresa M, esse cenário serviu como base comparativa para os demais

cenários simulados neste trabalho.

Os resultados da simulação do cenário 01 podem ser verificados nas Figuras 17 e 18. Na

figura 17, observou-se que a equipe de bloco gera um desnivelamento nos valores de

instantaneous utilization, fazendo com que esse parâmetro tenha uma variação entre 52% e

79%, considerando apenas os recursos presentes nas atividades do caminho crítico, o que pode

ter ocasionado um alto trabalho em progresso, 978. Foi observado também que o tempo de

execução desse cenário é de 94 dias, representando apenas 62% do tempo total de projeto, o

que não é considerado um tempo viável para a execução dessa obra, visto que essa redução em

tempo de entrega acarretaria em problemas no fluxo de caixa da empresa.

Figura 17 – Instantaneous Utilization - Cenário 01

Fonte: o autor (2017)

Analisando os resultados do scheduled utilization (Figura 18), percebe-se que a máquina

de arrasamento está sendo utilizada acima da faixa recomendável entre 70% e 90%, sugerindo

que o tempo de alocação de 60 dias para esse equipamento não é suficiente. Além disso, nota-

se a subutilização da equipe de arrasamento. Isso já era esperado devido ao fato essa equipe

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está disponível durante todo o período da obra enquanto que o processo de arrasamento das

estacas de 120 cm não passa de dois meses.

Figura 18 – Scheduled Utilization - Cenário 01

Fonte: o autor (2017)

5.2 Cenário 02

Neste cenário, buscou-se nivelar os valores do instantaneous utilization, dos recursos

encontrados no fluxo de produção de uma estaca comum, na tentativa de reduzir o grande

trabalho em progresso observado no cenário 01. Como resultado desse nivelamento, o cenário

02 foi simulado fazendo uso de três perfuratrizes, sendo duas comuns e uma especial, três

retroescavadeiras, uma máquina de arrasamento, uma equipe de arrasamento e oito equipes de

blocos.

No cenário 02, conseguiu-se ter um bom nivelamento da produção, fazendo com que os

valores mínimo e máximo do instantaneous utilization (Figura 19) diferissem em nove pontos

percentuais (no cenário 01 essa diferença era de 27 pontos). Como era esperado, o nivelamento

da produção resultou em uma diminuição do tamanho das filas entre os processos, ocasionando

em uma redução do trabalho em progresso, passando de 978 para 814. No entanto, esse

nivelamento da produção resultou em uma diminuição do tempo de execução da obra,

reduzindo em trezes dias úteis quando comparado com o cenário 01.

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Figura 19 – Instantaneous Utilization - Cenário 02

Fonte: o autor (2017)

Com relação aos equipamentos alugados e que não estão disponíveis durante todo o

período da obra, notou-se que o cenário 02 tem como característica uma melhor utilização

desses recursos, mantendo os valores de scheduled utilization dentro dos limites

recomendáveis, conforme mostrado na Figura 20. O nivelamento da produção exigiu um

aumento considerável na quantidade de equipes de blocos alocadas, fazendo com que essas

equipes fiquem subutilizadas quando disponíveis durante todo o período da obra, sugerindo que

haja uma diminuição desse período alocação.

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60

Figura 20 – Scheduled Utilization - Cenário 02

Fonte: o autor (2017)

5.3 Cenário 03

O cenário 03 tem como proposta aumentar o tempo de execução da obra, para que se

torne mais próximo do tempo estimado em projeto e reduzir a quantidade de recursos alocados

no planejamento inicial, para isso reduziu-se o número de retroescavadeiras e equipes de blocos

para, respectivamente, duas e quatro unidades, mantendo a mesma quantidade dos demais

recursos.

Para o cenário 03, a redução da quantidade de recursos ocasionou um aumento no

tamanho das filas, principalmente no processo de confecção dos blocos e consequentemente do

trabalho em progresso de todo o processo, esse resultado é consequência de um maior

desnivelamento da produção, como mostrado na Figura 21. Como era o objetivo desse cenário,

houve um aumento no tempo de execução da obra, passando para 127 dias, que está dentro de

um intervalo de tempo que se considera viável, e que não causará uma preocupação relacionada

ao fluxo de caixa.

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Figura 21 – Instantaneous Utilization - Cenário 03

Fonte: o autor (2017)

O cenário 03 é caracterizado por um bom dimensionamento dos tempos que os recursos

irão estar disponíveis em obra, mantendo os valores de scheduled utilization dos principais

inferiores a 90% e superiores a 70% (Figura 22).

Figura 22 – Scheduled Utilization - Cenário 03

Fonte: o autor (2017)

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5.4 Cenário 04

No cenário 04, buscou-se verificar a viabilidade de reduzir a quantidade de perfuratrizes

comuns de duas para uma unidade, buscando-se também um tempo de execução mais adequado

ao tempo proposto em projeto. Além disso, tentou-se nivelar os valores do instantaneous

utilization dos recursos reduzindo o número de retroescavadeiras de três para duas, mantendo

a quantidade dos demais recursos constantes.

A utilização de uma perfuratriz comum, assim como era esperado, trouxe o tempo de

execução da obra para um período de tempo que se considera adequado, aproximadamente 84%

do tempo total de projeto. O que não se esperava era um grande aumento do valor de

instantaneous utilization da perfuratriz (Figura 23), causando um desnivelamento na produção

principalmente quando comparado com o processo de arrasamento mecânico. Essa diferença

entre esses dois processos, não resultou em uma melhora significativa no trabalho em progresso,

reduzindo de 978 para 957.

Com apenas uma perfuratriz, o tempo de alocação de uma máquina subiu para 115 dias,

para que sejam perfuradas e concretadas todas as estacas. De acordo com a Figura 24, esse

tempo se mostrou suficiente, obtendo um valor de scheduled utilization de 85%.

Figura 23 – Instantaneous Utilization - Cenário 04

Fonte: o autor (2017)

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63

Figura 24 – Scheduled Utilization - Cenário 04

Fonte: o autor (2017)

5.5 Cenário 05

Neste cenário, o objetivo foi diminuir o trabalho em progresso do sistema produtivo

através da substituição do processo de arrasamento mecânico por um processo de arrasamento

manual. Diante disso, a máquina de arrasamento foi retirada da simulação e mais uma equipe

de arrasamento foi adicionado ao sistema, totalizando duas unidades trabalhando no processo

de arrasamento das estacas. Para não gerar um desbalanceamento de recursos, a quantidade de

recursos do planejamento inicial também foi modificada. Com isso, o cenário 05 se caracterizou

por ter duas perfuratrizes comuns e uma perfuratriz especial, duas retroescavadeiras e cinco

equipes de blocos.

A atribuição do processo de arrasamento das estacas comuns à equipe de arrasamento faz

com que o valor de instantaneous utilization desse recurso aumente consideravelmente, quando

comparado com os demais cenários, como é percebido na Figura 25. Isso é resultado também

do aumento da agregação de valor que o recurso proporciona ao processo, já que agora ele é

necessário para a realização de uma atividade que está no caminho crítico do processo. A

mudança de arrasamento mecânico para arrasamento manual proporcionou uma melhora

significativa no nivelamento da produção, resultando em uma redução considerável do trabalho

em progresso. Fato este que pode ser visualizado pela necessidade do acumulo de um grande

número de estacas esperando o arrasamento mecânico.

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Figura 25 – Instantaneous Utilization - Cenário 05

Fonte: o autor (2017)

Com relação ao scheduled utilization (Figura 26), percebe-se que a equipe de blocos e a

equipe de arrasamento estão sendo subutilizadas nesse cenário. No entanto, a redução da

quantidade de qualquer uma dessas duas equipes acarretaria no não cumprimento do prazo de

projeto, ultrapassando os 150 dias de execução, por isso para que esses valores fiquem dentro

do intervalo de 70% a 90%, caso a Empresa M julgue necessário, seria preciso reduzir o período

de tempo disponível desses recursos.

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65

Figura 26 – Scheduled Utilization - Cenário 05

Fonte: o autor (2017)

5.6 Tomada de Decisão

A Figura 27 apresenta um resumo dos cinco cenários simulados, comparando a

quantidade de equipamentos e equipes utilizados em cada situação e o tempo de execução e o

trabalho em progresso resultantes em cada cenário.

Figura 27 – Resumo das Características dos Cenários

Fonte: o autor (2017)

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66

É importante salientar que a simulação não tem como propósito apresentar uma solução

para um determinado problema. O objetivo de uma simulação é gerar parâmetros que possam

servir como base para uma tomada de decisão. Neste trabalho, os parâmetros analisados foram

de grande importância para a escolha do cenário 05 representando a melhor solução para os

problemas que aqui foram levantados.

Observou-se que o cenário 05, quando comparado com a solução inicial apresentada pela

Empresa M (cenário 01), embora não tenha sido o menor trabalho em progresso encontrado,

apresentou uma redução significativa de 978 para 844, mantendo um tempo de execução de

obra considerado adequado para não trazer problemas para o fluxo de caixa (123 dias, 82% do

tempo de projeto), fato que não foi constatado no cenário 02. Outras vantagens percebidas

foram a redução dos recursos (diminuição da quantidade de perfuratriz e retroescavadeira) e,

principalmente, a eliminação da máquina de arrasamento, que possuía um custo de alocação

muito alto.

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6. CONCLUSÃO

A simulação não é uma ferramenta de imitação do mundo real, ao tentar fazer isso, acaba-

se transformando o problema computacional em um problema tão complexo quanto o problema

real. O que se pretende é adaptar um sistema real ao modelo, neste caminho são feitas várias

simplificações, desconsiderando alguns detalhes, ou seja, algumas adaptações devem ser feitas

para que o modelo computacional proporcione soluções validas para o problema real.

A simulação é uma ferramenta para avaliar ideias e conceitos, quando se faz uma

simulação, primeiro deve-se entender o problema para poder simulá-lo. É importante

compreender os principais mecanismos do problema e da situação ora manifestada.

A informação ou resultados obtidos a partir do modelo tem que ser analisados. Não são

uma verdade absoluta, os dados obtidos do simulador têm que ser interpretados.

As simplificações feitas na simulação, contribuem para que grande parte da complexidade

do sistema real seja desconsiderada, por isso é importante considerar meios ou fatores de

segurança dentro do modelo ou quando os resultados são interpretados.

Um software de simulação é capaz de acompanhar o processo produtivo real com o

modelo computacional, mas principalmente o objetivo é obter uma série de informações através

de relatórios, que quando são corretamente interpretados, são úteis na tomada de decisão. O

relatório da simulação do Cenário 05 é apresentado no Apêndice A.

Pode-se concluir que a Simulação de Eventos Discretos possibilita uma análise de uma

quantidade maior de cenários, reduzindo a complexidade intrínseca ao planejamento de obras

de construção civil e permitindo uma comparação mais precisa entre as variáveis presentes no

processo produtivo. Portanto, a SED surge como uma ferramenta de apoio a tomada de decisão

no Projeto do Sistema de Produção, proporcionando projetos mais enxutos, com uma

quantidade menor de trabalho em progresso, menos desperdício e, consequentemente com um

custo reduzido.

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APÊNDICE A – RELATÓRIO CENÁRIO 05

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