85
RECIFE, 2016 SHALANA CÁSSIA DO NASCIMENTO USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS POR Sapajus libidinosus (Spix, 1823) SELVAGENS EM AMBIENTE SEMIÁRIDO.

USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

RECIFE, 2016

SHALANA CÁSSIA DO NASCIMENTO

USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS POR Sapajus libidinosus

(Spix, 1823) SELVAGENS EM AMBIENTE SEMIÁRIDO.

Page 2: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

RECIFE, 2016

SHALANA CÁSSIA DO NASCIMENTO

USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS POR Sapajus libidinosus

(Spix, 1823) SELVAGENS EM AMBIENTE SEMIÁRIDO.

Dissertação apresentada ao Programa Pós-

Graduação em Ecologia da Universidade

Federal Rural de Pernambuco, como exigência

para obtenção do título de mestre em Ecologia.

Orientador: Dr. Antonio da Silva Souto

Co-orientador: Drª Nicola Schiel

Page 3: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

RECIFE, 2016

Ficha Catalográfica

N244u Nascimento, Shalana Cássia do.

Uso de ferramentas e ajustes comportamentais por

Sapajus libidinosus (Spix, 1823) selvagens em ambiente

semiárido / Shalana Cássia do Nascimento. – Recife, 2016.

84 f. : il.

Orientador: Antonio Souto.

Dissertação (Mestrado em Ecologia) – Universidade

Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Biologia,

Recife, 2016.

Inclui referências.

1. Comportamento. 2. Forrageio. 3. Adaptação.

I. Souto, Antonio, orientador. II. Título

CDD 574

Page 4: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS POR Sapajus libidinosus

(Spix, 1823) SELVAGENS EM AMBIENTE SEMIÁRIDO

SHALANA CÁSSIA DO NASCIMENTO

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em

Ecologia (PPGE) da Universidade Federal Rural de Pernambuco como

parte dos requisitos necessários para obtenção do grau de Mestre em

Ecologia.

Dissertação apresentada e em / /

Orientador:

Prof. Dr. Antonio da Silva Souto – UFPE

Co-orientadora:

Prof.ª Drª Nicola Schiel - UFRPE

Examinadores:

Profª Dra. Bruna Bezerra – UFPE

Prof. Dr. Martin Alejandro Montes – UFRPE

Dr. Hugo Fernandes Ferreira– UFRPE

Page 5: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

DEDICATÓRIA

Dedico esta dissertação ao meu marido, e a

todos os macacos que tive a oportunidade de estudar.

Page 6: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

EPÍGRAFE

“Se o dinheiro for a sua esperança de

independência, você jamais a terá. A única segurança

verdadeira consiste numa reserva de sabedoria, de

experiência e de competência.” (Henry Ford)

Page 7: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

AGRADECIMENTOS

Aos meus orientadores Antonio Souto e Nicola Schiel pela recepção, apoio e amizade.

Agradeço a todos do LETA – Laboratório de Etologia Teórica e Aplicada pela parceria ao longo de

todo o estudo, em especial Marilian Boachá, Danise Alves, Filipa Abreu, Rafaela Souza, Natasha

Bittencourt, Julia Vasconcelos.

À FACEPE (Fundação de Amparo à ciência e tecnologia de Pernambuco) pela concessão da bolsa

para realização do estudo.

Ao meu marido, minha mãe e demais familiares pelo apoio incondicional, compreensão nas faltas

dos eventos de família.

Aos queridos Veremundo e Luzimar Peixoto e toda sua família por me acolherem, auxiliarem e

permitirem a realização da pesquisa. Principalmente por abrirem sua casa e sua vida para uma pessoa

estranha até então e que com o tempo me incluíram parte da família.

À Arleu Vianna pelo auxílio com os mapas estatísticos e por me deixar fissurada no software R e

querer aprender mais sobre estatística.

À Jéssica Caroline por me acompanhar, mesmo que pouco, nessa jornada e por dividir tantas

aventuras.

À Galego (in memorian), Adriano, Marcos e Mael por serem mateiros tão dedicados e companheiros.

Aos macacos por me permitirem realizar essa pesquisa, por me deixarem acompanha-los e entender

um pouco do mundo deles.

Page 8: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 7

2. REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................................... 9

2.1 Uso de ferramentas ........................................................................................................................9

2.2 Uso de ferramentas por primatas não humanos ...................................................................... 10

2.3 Sapajus libidinosus e o uso de ferramentas ............................................................................... 11

2.5 Cultura em primatas não humanos ........................................................................................... 15

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 17

4. CAPITULO I .......................................................................................................................... 23

5. USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS POR MACACOS-

PREGO (Sapajus libidinosus) SELVAGENS EM AMBIENTE SEMIÁRIDO ..................... 24

Resumo............................................................................................................................................... 24

Introdução ......................................................................................................................................... 25

Metodologia ....................................................................................................................................... 27

Área de estudo ........................................................................................................................................... 27

Coleta de dados ......................................................................................................................................... 27

Caracterização e monitoramento dos sítios de quebra ............................................................................. 29

Acompanhamento sistemático dos animais ............................................................................................... 29

Comportamento do uso de ferramentas ..................................................................................................... 30

Análise dos dados ...................................................................................................................................... 30

Resultados .......................................................................................................................................... 31

Identificação, caracterização e monitoramento dos sítios de quebra e registros dos itens alimentares. . 31

Comportamento do uso de pedras como ferramentas ............................................................................... 35

Discussão ............................................................................................................................................ 36

Agradecimentos ................................................................................................................................. 41

Referências bibliográficas ................................................................................................................ 41

6. CAPÍTULO II ........................................................................................................................ 45

7. OBTENÇÃO DE ÁGUA POR MACACOS-PREGO (Sapajus libidinosus) EM AMBIENTE

SEMIÁRIDO ........................................................................................................................... 46

Resumo............................................................................................................................................... 46

Introdução ......................................................................................................................................... 47

Métodos .............................................................................................................................................. 48

Resultados .......................................................................................................................................... 49

Discussão ............................................................................................................................................ 51

Page 9: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

Agradecimentos ................................................................................................................................. 54

Referências ........................................................................................................................................ 54

8. INSTRUCTIONS FOR AUTHORS ..................................................................................... 59

Page 10: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

5

Castro, Shalana Cássia do Nascimento (MSc Ecologia) Universidade Federal Rural de Pernambuco.

Fevereiro de 2016. Uso de ferramentas e ajustes comportamentais por macacos-prego (sapajus

libidinosus) selvagens em ambiente semiárido. Antonio Souto (Orientador); Nicola Schiel (Co-

orientadora)

RESUMO

O gênero Sapajus, apesar de sua ampla distribuição, sofre altas pressões por déficit hídrico e intensas

temperaturas. Como forma de adaptações a esses locais algumas espécies do gênero apresentam o

hábito de usar ferramentas (pedras e gravetos) para acessar alimento. A espécie Sapajus libidinosus

até o dado momento apresenta uma gama maior de variabilidade acerca do comportamento. Devido

às dificuldades de habituação desses animais, existem poucas populações estudadas o que dificulta

um melhor entendimento acerca do uso de ferramentas para a espécie como um todo. Diante da

problemática e a fim de entender como uma nova população se comporta em comparação com outras

populações e em comparação consigo própria considerando duas áreas distintas, uma aberta e outra

fechada, nós investigamos uma população de Sapajus libidinosus composta de 35 indivíduos vivendo

em ambiente de caatinga. Os animais apresentaram comportamentos semelhantes a estudos

anteriores bem como adaptações próprias não observadas em outras populações. O grupo ao ter seu

comportamento comparado acerca da área de forrageio apresentou preferência pelo centro da mata e

utilizou um maior número de sítios de quebra em área aberta apesar de ter visitado mais vezes a área

fechada durante nosso estudo. Seis tipos de alimento foram consumidos pelos animais com o auxílio

de ferramentas (Syagrus oleraceae, Manihot epruinosa, Hymenaea sp., Mucuna pruriens,

Pilosocerus pachycladus). Para acessar os alimentos os animais apresentaram 5 diferentes posturas e

pedras martelo de pesos diferentes, modificadas de acordo com o fruto consumido. A variação da

postura foi observada em indivíduos de diferentes idades e também em relação ao número de batidas

até a quebra do alimento, onde as posturas mais utilizadas apresentaram um menor número de

batidas. Foram verificados quatro recursos vegetais para consumo hídrico pelos animais. O grupo

não utilizou ferramentas para acessar a água, porém boa parte dos recursos estava em situação

críptica. A população aqui estudada além de fazer uso de ferramentas regularmente exibe diversas

adaptações que tendem a facilitar a permanência destes em ambientes hostis. O estudo agrega valor à

afirmação de que o uso de ferramentas seja comum para a espécie e que esse comportamento pode

sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores bióticos e abióticos.

Palavras-chaves: Comportamento; Forrageio; Adaptação.

Page 11: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

6

Castro, Shalana Cássia do Nascimento (MSc Ecologia). Federal Rural University of Pernambuco.

February 2016. Tool use and behavioral adjustments by wild capuchin monkeys (sapajus

libidinosus) in semiarid environment. Antonio Souto (Supervisor); Nicola Schiel (Co-supervisor)

ABSTRACT

The Sapajus genre, despite its wide distribution, suffer high pressures by drought and intense

temperatures. As a way of adaptations to these places some species of the genus have the habit of

using tools (stones and sticks) to access food. The species Sapajus libidinosus until the given time

has an increased range of variability of the behavior. Due to the difficulties of habituation of the

animals, there are few populations studied which hampers a better understanding of the use of tools

for the species as a whole. Regarding the problem and in order to understand how a new population

behaves compared to other populations and compared with itself considering two distinct areas, one

open and one closed, we investigated a population of Sapajus libidinosus composed of 35 individuals

living in environment Caatinga. The animals showed behavior similar to previous studies and own

adjustments observed in other populations. The group to be compared behavior on the foraging area

presented preferably at the center and used kills a greater number of sites for breaking open area

despite having played more often the closed area during our study. Six types of food were consumed

by animals with the aid of tools (Syagrus oleracea, Manihot epruinosa, Hymenaea sp., Mucuna,

Pilosocerus pachycladus). To access food animals presented 5 different positions and hammer stones

of different weights, modified according to the fruit consumed. The change of attitude was observed

in individuals of different ages and also in the number of hits to the food breaks down, where the

most frequently used positions had fewer hits. Four plant resources were checked for water

consumption by animals. The group did not use tools to access the water, but most of the funds was

cryptic situation. The population studied here as well as make use of tools regularly displays several

adaptations that tend to facilitate the permanence of these in hostile environments. The study adds

value to the claim that the use of tools is common for the species and that this behavior can be varied

at the expense of the environment and other biotic and abiotic factors.

Key-words: Foraging; Behavior; Adaptation

Page 12: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

7

USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS POR Sapajus libidinosus (Spix,

1823) SELVAGENS EM AMBIENTE SEMIÁRIDO.

INTRODUÇÃO

Dentre os primatas neotropicais, o gênero Sapajus é caracterizado pela sua ampla distribuição

geográfica, ocupando diferentes ambientes como florestas tropicais, manguezais, cerrado e caatinga,

situados no centro e nordeste brasileiro, sul do Paraguai e norte da Argentina (FRAGASZY et al.,

2004b). No Brasil são relatadas oito espécies de macacos-prego pertencentes a esse gênero (Sapajus

apella, S. nigritus, S. cay, S. macrocephalus, S. robustus, S. xanthosternos, S. flavius e S. libidinosus)

(SILVA JR, 2005) (Fig.1). A espécie S. libidinosus se encontra distribuída nas regiões de cerrado e

caatinga, ambientes que sofrem altas pressões por déficit hídrico e intensas temperaturas (FURLEY e

METCALFE, 2007). Suas áreas de uso podem ser grandes (290 ha) ou relativamente pequenas (80

ha), pois variam de acordo com a distribuição e disponibilidade dos recursos alimentares

(FRAGASZY et al., 2004). Os ambientes ocupados pelos S. libidinosus, apesar de serem distintos e

se conformarem de formas diferentes diante das mudanças climáticas e ambientais, assemelham-se

por serem relativamente abertos (PENNINGTON et al., 2006). Além das mudanças naturais como

sazonalidade, vegetação e clima, o crescimento acelerado da população humana e a consequente

modificação de diversos ambientes, tem se tornado um fator adicional no ajuste desses animais

pressionando-os a ocupar pequenos fragmentos de ecossistemas (MARSH, 2003; MMA, 2003;

SABBATINI et al., 2006; STRIER, 2007), transitando entre áreas antropizadas e preservadas.

Figura 1- Distribuição das espécies do gênero Sapajus no Brasil e América latina

Page 13: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

8

A presença e adaptação dos S. libidinosus a locais abertos poderia ser explicada pela sua

flexibilidade comportamental, principalmente em relação ao seu comportamento alimentar

(FRAGASZY et al., 2004a). Esses animais são arborícolas, e demonstram uma preferência pela parte

central do dossel, muitas vezes forrageando no chão ou em locais mais abertos, o que, para alguns

pesquisadores, pode ter propiciado a terrestrialidade e consequentemente o uso de pedras como

ferramentas (MEULMAN et al., 2012).

Sabe-se que esses macacos se sobressaem por exibir de forma bastante difundida o hábito de

utilizar pedras como ferramentas para acessar frutos encapsulados ou de difícil acesso (OTTONI &

IZAR, 2008; MORAES et al., 2014). Geralmente a definição básica utilizada para o uso de

ferramentas e a empregada neste trabalho é a sugerida por Beck (1980) que a define como:

“aplicação de um objeto solto no ambiente para alterar a forma, a posição ou a condição de outro

objeto, de outro organismo ou do próprio usuário”. A essa definição foi acrescido que o uso do

objeto nos termos descritos acima deve ser feito com regularidade e estar disseminado por meio da

aprendizagem, em pelo menos alguns indivíduos do grupo (e.g. MEULMAN et al., 2012).

Devido às dificuldades de localização e habituação desses animais, existem poucas

populações de macacos-prego selvagens que vem sendo estudadas até o momento, sendo duas na

Caatinga (MOURA & LEE, 2004; MORAES et al., 2014) e duas em área de transição entre Cerrado

e Caatinga (OTTONI & IZAR, 2008). Apesar do uso de ferramentas e demais adaptações desses

animais estar bastante disseminado, as poucas populações de vida livre pesquisadas até o momento,

inviabilizam conclusões sobre a flexibilidade comportamental e cognitiva desses primatas,

principalmente para definir se tais comportamentos são realizados de forma generalizada entre as

populações ou se ocorrem apenas em alguns grupos. Tal lacuna dificulta um maior entendimento

referente aos fatores ligados à cognição em primatas não humanos.

Dessa forma, este estudo teve como finalidade avaliar o uso de ferramentas e demais ajustes

comportamentais por uma população de Sapajus libidinosus selvagem, ainda não estudada, vivendo

em ambiente semiárido e heterogêneo, e ainda auxiliar na confirmação do uso de ferramentas ser

comum para espécie, bem como a existência de cultura entre as populações. Especificamente,

objetivou-se (i) comparar os comportamentos de grupos distintos a fim de avaliar o efeito desses

comportamentos em diferentes contextos ambientais e sociais; (ii) caracterizar o uso das pedras

como ferramentas; (iii) analisar a variação quanto o uso de ferramentas entre a população do presente

estudo e estudos anteriores; (iv) identificar demais adaptações comportamentais decorrentes do

ambiente.

Page 14: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

9

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Uso de ferramentas

As definições sobre o uso de ferramentas são variadas, podendo ser definida tanto de forma

simples como: “o uso de um objeto como extensão dos membros ou bico, com o objetivo de

modificar o ambiente” (VAN LAWICK-GOODALL et al., 1973), quanto de forma mais complexa

como foi descrito por Beck (1980). Em termos gerais, o uso de ferramentas refere-se ao processo do

pensamento, pelo qual o indivíduo adquire, organiza, armazena e age diante dos estímulos e

informações do ambiente (SHETTLEWORTH, 1998). Para tal estudo, à essa definição foi acrescido

que o uso do objeto deve ser feito com regularidade e estar disseminado, por meio da aprendizagem,

em ao menos alguns indivíduos do grupo (e.g. MEULMAN et al., 2012).

O uso de ferramentas, em suas várias formas, já foi observado nas mais diversas ordens

incluindo invertebrados como aranhas (HENSCHEL, 1995), formigas (PIERCE, 1986) e polvos

(MATHER, 1994); aves como abutres (VAN LAWICK-GOODALL, 1971), tentilhões (TEBBICH &

BSHARY, 2004), gralhas (REID, 1982), psitacídeos (BORSARI & OTTONI, 2005) e mamíferos

como elefantes (CHEVALIER-SKOLNIKOFF & LISKA, 1993; HART & HART, 1994), leões

(BAUER, 2001), ratos (SHUSTER & SHERMAN, 1998), castores (HANSELL & RUXTON, 2008;

THOMSEN, CAMPBELL & ROSELL, 2007), golfinhos e baleias (MCCOWAN et al., 2000) e em

primatas (TOMASELLO & CALL, 1997).

São vários os relatos de uso de ferramentas em sua forma mais simples, como no caso das

araras azuis (Anodorhynchus hyacinthinus) que foram observadas usando pedaços de madeira para

apoiar, na base do bico, os cocos de Attalea dubia e assim abrir o fruto (BORSARI & OTTONI,

2005). Outro relato refere-se aos elefantes africanos (Loxodonta africana) e elefantes asiáticos

(Elephus maximus) que utilizam varetas para aumentar o alcance da tromba e auxiliar o arremesso de

objetos (CHEVALIER-SKOLNIKOFF & LISKA, 1993; HART & HART, 1994). Já outros usos

ocorrem em sua forma mais complexa, como por exemplo, nos corvos da Nova Caledônia (Corvus

moneduloides), que foram observados produzindo “ganchos” e “espátulas” a partir de folhas para

extrair larvas de troncos de árvores (HUNT, 2004).

Page 15: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

10

2.2 Uso de ferramentas por primatas não humanos

O uso de ferramentas de forma regular e mais extensivo entre os primatas não humanos é

observado em populações de chimpanzés, Pan troglodytes (WHITEN et al., 1999), orangotangos,

Pongo sp. (VAN SCHAIK et al., 2003), macacos de cauda longa, Macaca fascicularis aurea

(GUMERT et al., 2009), gorilas, Gorilla gorilla (GRUETER et al., 2013) e macacos-prego, Sapajus

libidinosus (OTTONI & IZAR, 2008). No entanto, o uso de ferramentas de forma mais generalizada

e flexível em uma variedade de contextos e descrito em diferentes populações é encontrado somente

em chimpanzés, Pan troglodytes (MCGREW, 2004) e macacos-prego, Sapajus libidinosus

(MANNU & OTTONI, 2009) de vida livre. Em geral, as ferramentas são utilizadas com a finalidade

de auxiliar na alimentação ou na aquisição do alimento (GRUETER et al., 2013), porém também são

registrados uso de ferramentas para auto-cuidado, exploração e comunicação (FRAGASZY et al.,

2004).

Apesar do uso de ferramentas por primatas não humanos ter sido verificado em cativeiro

através de estudos pioneiros realizados de Köller (1925) envolvendo chimpanzés (Pan troglodytes),

sua fabricação e seu uso foram, durante muito tempo, considerados como características unicamente

humanas (OAKLEY, 1949). A aceitação de que o uso de ferramentas não seria uma exclusividade

humana só começou a ser realmente desfeita com os estudos de grupos selvagens de chimpanzés

(Pan troglodytes) por Jane Goodall (GOODALL, 1964; VAN LAWICK-GOODALL, 1971) ao

acompanhar grupos desses animais por várias décadas observando as fabricações e uso de

ferramentas por esses primatas.

Os chimpanzés não utilizam apenas pedras para acessar frutos, mas também pescam cupins e

sondam formigas com varas. As vastas populações estudadas apresentam uso de ferramentas em

contextos particulares, sendo exibida em aspectos diferentes entre as populações (KOOPS et al.,

2012). Kortlandt (1986) comparando duas populações distintas de chimpanzés, uma na Guinea e

outra na Libéria, ambas fazendo uso de pedras ferramentas para acessar frutos encapsulados sugeriu

que o comportamento do uso de ferramentas pode ser adquirido de formas diferentes entre as

populações de primatas e que o ambiente influencia diretamente na absorção do comportamento.

O uso de ferramentas desempenhados por orangotangos (Pongo pygmaeus) de vida livre

parece ser restrito a algumas populações que aparentemente são favorecidas por aspectos ecológicos

que propiciam o uso de ferramentas (VAN SCHAIK et al., 2003). O autor aponta que os

orangotangos do pântano da floresta de Sumatra de Suaq Balimbing variam bastante nas taxas de uso

de ferramenta para extrair mel, formigas ou cupins de buracos de árvores e no grau em que se

Page 16: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

11

especializaram neste comportamento e que tais variações seriam resultantes das diferenças de hábitat

e dos efeitos da dominância social.

Os macacos-de-cauda-longa (Macaca fascicularis) utilizam não apenas pedras, mas também

conchas, devido influência ambiental, para soltar e/ou quebrar ostras, gastrópodes, bivalves,

caranguejos, e frutos encapsulados (MALAIVIJITNOND et al., 2007, GUMERT et al., 2009). De

acordo com Gumert et al. (2009), apesar de haverem relatos de que esses animais utilizam pedras

como ferramentas há mais de 120 anos, tal comportamento só foi visto em uma população e também

indica uma adaptação ao ambiente.

Apesar de ser raro, os relatos em vida livre revelam que os gorilas usaram um ramo para

sondar a profundidade de água em uma clareira pantanosa (BREUER et al., 2005). Além disso, os

pesquisadores observaram um outro animal utilizando uma haste como uma estrutura de apoio

durante a preparação dos alimentos e mais tarde usando a haste como uma ponte para atravessar um

pântano. Grueter et al. (2013), observaram um gorila de montanha do sexo feminino usando uma

vara de bambu para ajudar seu filho a superar um obstáculo físico. No caso dos gorilas o uso de

ferramentas parece estar mais associado a superação de obstáculos devido seu porte físico e

flexibilidade com relação a percepção desses animais em consideração ao ambiente (GRUETER et

al., 2013).

O panorama de que, em vida livre, apenas os primatas do Velho Mundo, em destaque os

chimpanzés, obtinham sucesso no uso de ferramentas só começou a mudar a partir de 1995 com o

início dos estudos sobre uso de ferramentas por macacos-prego (Sapajus sp.) semi-livres no Parque

Ecológico do Tietê, sudeste do Brasil (OTTONI, 2009). Desde então populações de S. libidinosus

selvagens tem sido alvo de estudos que abordam o uso de ferramentas por esses primatas (MOURA

& LEE, 2004; MANNU & OTTONI, 2009; FALÓTICO & OTTONI, 2014).

2.3 Sapajus libidinosus e o uso de ferramentas

O uso de ferramentas por macacos-prego foi por muito tempo observado somente em

indivíduos de cativeiro ou em semiliberdade, mas não em grupos livres (OTTONI & IZAR, 2008).

No entanto, estudos nos últimos 10 anos mostram que populações de Sapajus libidinosus de vida

livre nos biomas da Caatinga (MORAES et al., 2104) e Cerrado (OTTONI & IZAR, 2008), em S.

xanthosternos também em área de caatinga (CANALE et al., 2009), tem feito uso regular de

ferramentas. Porém uma maior ocorrência e variabilidade de uso tem sido registrada para S.

libidinosus (OTTONI & IZAR, 2008).

Page 17: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

12

Os S. libidinosus são considerados primatas arborícolas que utilizam, preferencialmente,

estratos médios e inferiores das florestas (TERBORGH, 1983). Podem exibir terrestrialidade

facultativa de acordo com as condições ecológicas encontradas no habitat (NAPIER & NAPIER,

1967), como a estrutura da vegetação, a distribuição de recursos alimentares no tempo e espaço e o

risco de predação (ENSTAM & ISBELL, 2004). Utilizando-se desses fatores associados à sua

capacidade cognitiva, são capazes de caminhar sobre duas pernas e transportar objetos em suas mãos

(FRAGASZY et al., 2004; FALÓTICO, 2006).

Um dos primeiros registros de uso de ferramentas por S. libidinosus selvagens foi fortemente

relacionado à escassez alimentar provocada pelas condições extremas em que viviam as populações

(MOURA & LEE, 2004). No estudo, conduzido no Parque Serra da Capivara (PI) os autores

registraram o uso de ferramentas para escavar, quebrar cocos, e sondar, todos com objetivo

alimentar. Foi o primeiro registro para espécie envolvendo o uso das ferramentas para escavar e

assim extrair raízes e tubérculos. Os animais foram observados utilizando pedras para quebrar frutos

encapsulados, abrir cactos, abrir galhos ocos, quebrar raízes e capturar vertebrados em fendas de

rochas. Também se observou a utilização de ramos e galhos para sondar buracos de árvores e fendas

de rochas para capturar insetos, mel ou água.

Dois grupos de S. libidinosus também no Parque da Serra da Capivara (PI), que por vezes se

fundiam, apresentaram diversas formas de uso de ferramentas, reforçando o uso de pedras não

apenas para quebrar frutos encapsulados, mas também para cavar o solo, cortar e quebrar troncos, ou

até mesmo o uso de duas ou mais ferramentas associadas para alcançar o mesmo objetivo, ao qual

chamaram de meta-ferramenta, ou seja, uso de uma ferramenta para obtenção de outra, configurando

assim um amplo repertorio e também um ajuste do comportamento do uso de ferramentas (MANNU

& OTTONI, 2009).

Estudos afirmam haver variação do peso das pedras utilizadas como martelos pelos S.

libidinosus em relação aos frutos consumidos, onde os mesmos modificam a pedra de acordo com o

tamanho do fruto processado (VISALBERGUI et al., 2009; FERREIRA et al., 2010). Os animais

escolhem pedras que apresentem melhor custo-benefício eliminando assim gastos energéticos

desnecessários (MASSARO et al., 2012). Com isso, os frutos menores são quebrados com pedras

mais leves e frutos maiores com pedras mais pesadas evitando uma maior perda energética com a

utilização de pedras mais adequadas (MORAES et al., 2014).

Spagnoletti et al. (2012) afim de avaliar se o uso de ferramentas apresenta variação em

relação à disponibilidade de alimento testou duas hipóteses: hipótese de necessidade (segundo o qual

o uso de ferramentas é mantido pela necessidade alimentar durante escassez de recursos) e da

hipótese de oportunidade (a utilização de ferramentas é mantida devida frequente exposição a

Page 18: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

13

condições ambientais apropriadas, tais como recursos alimentares preferidos que requeiram a

utilização de ferramentas). Os pesquisadores compararam dois grupos de S. libidinosus, no Parque

Serra da Capivara (PI), aprovisionando um dos grupos diariamente e aferindo variáveis climáticas e

disponibilidade de frutos, invertebrados e sementes encapsuladas. Ao fim do estudo notou-se que a

hipótese de oportunidade foi fortemente apoiada não havendo diferenças significativas na utilização

da ferramenta entre os grupos aprovisionados ou não.

Concomitantemente Emídio & Ferreira (2012) estudaram dois grupos de S. libidinosus em

ambiente de caatinga na Paraíba analisando os modelos de oportunidade e gargalo energético para

explicar o uso de ferramentas por macacos-prego. O modelo de gargalo energético argumentou que o

uso da ferramenta deriva da necessidade de quebrar frutos encapsulados que são recursos-chave

durante os períodos de escassez de alimentos, enquanto que o modelo de oportunidade argumentou

que o uso de ferramentas por macacos-prego deriva do acesso simultâneo a pedras e frutos

encapsulados. Os autores inferiram o ganho energético com base no número de locais de uso de

ferramentas utilizadas e a massa de frutos encapsulados consumido por mês, e comparados entre as

estações e áreas ocupadas pelos dois grupos. As análises indicaram que as exigências nutricionais

específicas podem desempenhar um papel importante na explicação do consumo contínuo de frutos

encapsulados e uso habitual de pedras para abrir esses frutos, porém nenhuma das hipóteses foi

fortemente apoiada havendo flutuação dos modelos entre as estações seca e chuvosa.

Registros de uso de pedras como ferramentas não apenas para alimentação, foram observados

sendo apresentados por fêmeas de uma população de S. libidinosus na Serra da Capivara, semiárido

brasileiro, em que os indivíduos jogam pedras em direção aos machos para chamar a atenção em sua

fase receptiva sugerindo uma inovação no uso de ferramentas por parte dessa população

(FALÓTICO & OTTONI, 2013).

Recentemente Moraes et al. (2014) estudando uma população no sertão de Pernambuco

descreveram o uso de ferramentas não apenas para obtenção de frutos encapsulados, mas também em

frutos com espinhos, demonstrando uma adaptabilidade nesse comportamento. Verderane (2013) ao

estudar a socioecologia de dois grupos de S. libidinosus na Serra da Capivara encontrou diferenças

significativas com relação ao uso de ferramentas, não apenas entre os dois grupos, mas também entre

os gêneros, considerando o papel das fêmeas dentro do grupo.

Falótico e Ottoni (2014) investigando os animais da Serra da Capivara reportaram o uso de

gravetos como sonda para acessar lagartos em fendas de rochas ou ocos de árvores, ou mel a partir

de ninhos de vespas, e também para cutucar sapos e cobras venenosas. Os autores afirmam que o uso

de gravetos como sondas é o único caso onde os animais modificam a ferramenta retirando folhas e

aparando galhos para diferentes objetivos. Apesar dos gravetos não apresentarem limitações, como

Page 19: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

14

peso, 97% dos registros de uso das ferramentas foram feitos por macacos do sexo masculino

indicando que as fêmeas exibem menor oportunidade de aprendizado. Posteriormente Haslam e

Falótico (2015) observaram nesse mesmo grupo uma fêmea utilizando gravetos para palitar os dentes

e gengivas e também inserir no nariz provocando espirros propondo um aperfeiçoamento do uso de

sondas.

2.4 Ambiente de caatinga

Pesquisadores sugerem o ambiente de Caatinga como sendo a maior causa de os macacos-

prego fazerem uso de ferramentas, devido sua fisionomia arbustiva, o clima semiárido e dois outros

importantes fatores que se encontram diretamente correlacionados: a escassez de recursos

alimentares e a terrestrialidade facultativa. (MOURA & LEE, 2004)

A caatinga resulta de numerosas protusões abruptas de rocha de granito, por cadeias de

montanhas (serras), pequenas serras (serrotes) e afloramentos de várzea (lajeiros), gerando um

terreno extremamente acidentado (STREILEIN, 1982a). Ainda de acordo com Streilein (1982a), as

áreas onde a camada da superfície de rocha sedimentar foi mantida intacta e se encontram elevadas

acima da paisagem circundante como planaltos íngremes, são denominadas chapadas. Além disso, tal

bioma caracteriza-se por apresentar tanto terrenos bastante impermeáveis, quanto terrenos

sedimentares contendo uma grande reserva de água (ALVES, 2009).

A Caatinga exibe distribuição disjunta, que vai desde o Nordeste do Brasil até o Vale do Rio

Uruguai (PRADO, 2000), apresentando uma geomorfologia e geologia bastante variada (HERZOG

& KESSLER, 2002). Altamente sazonal, com pluviosidade inferior a 1600 mm / ano, e um período

de pelo menos 5 meses de seca (GENTRY, 1995; MURPHY & LUGO, 1986), apresentando

precipitação altamente irregular (PRADO, 2003; SAMPAIO, 1995). Esta constitui um complexo

mosaico de solos (SAMPAIO, 1995), em geral bastante férteis (MAYLE, 2004; MOONEY et al.,

1995; RATTER, 1992), sob o qual vários tipos de vegetação local coexistem com arbustos

prevalecentes em oposição a vegetações de árvores com dossel contínuo (SAMPAIO, 1995),

formando uma heterogeneidade distinta. A taxa de endemismo segundo Leal et al. (2005) é de cerca

de 3% (aves) e 7% (mamíferos) para 34% (plantas) e 57% (peixes).

Apesar de considerada taxa endêmica a caatinga enfrenta sérios problemas, tais como a alta

densidade populacional humana, a agricultura intensiva, substituição de galeria e florestas secas por

vegetações abertas (Desertificação), extrativismo de minerais, exploração de madeira e pecuária,

sendo esta última a atividade principal (MOREIRA et al., 2006). Todas as interferências antrópicas,

Page 20: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

15

no geral, são acompanhadas de desmatamento indiscriminado, fragilizando e trazendo várias

consequências para tal domínio (ALVES, 2009). Contudo, a região conta com apenas 11 áreas de

proteção integral, representando menos do que 1% da região; a menor área protegida de qualquer

grande bioma brasileiro (LEAL et al., 2005).

2.5 Cultura em primatas não humanos

Pesquisas realizadas com diferentes populações de chimpanzés (Pan troglodites) acerca da

variabilidade comportamental em relação ao uso de ferramentas levam a crer na existência de uma

influência cultural entre os indivíduos das populações, devido particularidades encontradas nas

formas e ocorrência de uso dessas ferramentas (WHITEN et al., 1999). Tornando os chimpanzés

bons exemplos de estudos que levam ao entendimento da cultura não humana (MCGREW, 2004).

Acredita-se que o uso de ferramentas pelos macacos-prego ao longo das gerações é

disseminado através do aprendizado social, sendo esta, a melhor explicação para essa transmissão de

comportamento (KRÜTZEN et al., 2005).

Van Schaik juntamente com Deaner & Merrill (1999), e Pradhan (2003), propuseram um

modelo baseado em três fatores principais relacionados a predisposições específicas da espécie tais

como: (1) alta encefalização e destreza manual a qual permita o animal inovar, desenvolvendo

habilidades individuais na ausência de influência social (2) a dependência crítica de alimentos

encapsulados em ambientes escassos, e (3) um grau de tolerância social que permita que os

indivíduos menos experientes possam assistir utilizadores de ferramentas proficientes em atividade,

sendo essa capacidade de aprendizagem socialmente mediada. Segundo Fragaszy et al. (2004) todos

esses fatores apontados por Van Schaik estão presentes nos macacos-prego. A exemplo, em um

experimento realizado com animais semi-livres, Ottoni & Izar (2008) introduziram em um grupo

com animais proficientes, dois machos subadultos que não faziam uso de ferramentas, um desses

machos, depois de assistir episódios de quebra de cocos por alguns meses, começou a apresentar

comportamentos de surrar a pedra sem cocos e furtar as sobras de cocos dos animais experientes.

Mesmo com a desvantagem de ser menos tolerado do que outros indivíduos, este recém-chegado

começou a quebrar cocos corretamente após dois anos, aproximadamente o mesmo tempo que leva

para jovens nascidos em grupos que ocorre a quebra de cocos.

Alguns estudos propõem comparar os comportamentos de grupos distintos a fim de avaliar o

efeito dessas tradições em diferentes contextos ambientais e sociais. Fragaszy & Perry (2003)

afirmam que o método de comparação entre populações detecta as tradições somente através da

exclusão de fatores genéticos e ecológicos, sem levar em conta a característica mais relevante das

Page 21: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

16

tradições, o papel da influência social na aquisição do comportamento. No entanto, Van Schaik

(2003) argumenta que os estudos de campo comparativos, onde são avaliadas as transferências

sociais, ainda são essenciais para demonstrar a existência de padrões espaço-temporais na ocorrência

dos comportamentos, podendo mostrar os comportamentos típicos da espécie e aqueles que são raros

e únicos nas populações estudadas.

Ottoni & Izar (2008) afirmam que no caso do gênero Sapajus, a existência da grande variação

comportamental, nesse caso do uso de ferramentas, abre a possibilidade de serem usadas como um

modo para testar a qualidade das relações sociais entre os indivíduos dos grupos ou subgrupos, sem

descartar determinantes ecológicos e genéticos na maioria dos casos.

Page 22: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

17

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, L. I. F.; SILVA, M. M. P.; VASCONCELOS, K. J. C. (2009). Visão de comunidades rurais

em Juazeirinho - PB referente à extinção da biodiversidade da caatinga. Caatinga, v.22, n.1, p.180-

186.

BAUER, H. (2001). Use of tools by lions in Waza National Park, Cameroon. African Journal of

Ecology, 39, 317.

BECK, B. B. (1980). Animal tool behavior: the use and manufacture of tools by animals. New York:

Garland Press. 281 pp.

BORSARI, A., & OTTONI, E. B. (2005). Preliminary observations of tool use in captive hyacinth

macaws (Anodorhynchus hyacinthinus). Animal Cognition, 8(1), 48-52.

BREUER, T., NDOUNDOU-HOCKEMBA, M., FISHLOCK, V., (2005). First observation of tool

use in wild gorillas. PLoS Biol. 3, e380.

CANALE, G. R., GUIDORIZZI, C. E., KIERULFF, M. C. M., & GATTO, C. A. F. R. (2009). First

record of tool use by wild populations of the yellow‐breasted capuchin monkey (Cebus

xanthosternos) and new records for the bearded capuchin (Cebus libidinosus). American journal of

primatology, 71(5), 366-72. doi: 10.1002/ajp.20648.

CHEVALIER‐SKOLNIKOFF, S., & LISKA, J. (1993). Tool use by wild and captive elephants.

Animal Behaviour, 46, 209-219.

ENSTAM, K.L.; ISBELL, L.A. Microhabitat preference and vertical use of space by patas monkey

(Erythrocebus patas) in relation to predation risk and habitat structure. Folia Primatologica. 75: 70-

85, 2004.

EMIDIO RA, FERREIRA RG. (2012). Energetic payoff of tool use for capuchin monkeys in the

Caatinga: variation by season and habitat type. American Journal of Primatolology 74:332– 343.

FALÓTICO, T. (2006). Estudo experimental do uso de ferramentas para quebra de frutos

encapsulados por macacos‐prego (Cebus apella) em semi‐liberdade. Dissertação de Mestrado,

Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo.

FALÓTICO T, OTTONI E (2013). Stone throwing as a sexual display in wild female bearded

capuchin monkeys, Sapajus libidinosus. PLoS One 8:e79535

FALÓTICO T, OTTONI E (2014). Sexual bias in probe tool manufacture and use by wild bearded

capuchin monkeys. Behaviour Processes 108:117–122

FERREIRA R.G, EMIDIO R.A, JERUSALINSK L. (2010). Three stones for three seeds: natural

occurrence of selective tool use by capuchins (Cebus libidinosus) based on an analysis of the weight

of stones found at nutting sites. American Journal of Primatolology 72:270–275.

Page 23: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

18

FRAGASZY DM, IZAR P, VISALBERGHI E, OTTONI EB, OLIVEIRA MG. (2004). Wild

capuchin monkeys (Cebus libidinosus) use anvils and stone pounding tools. American Journal of

Primatolology 64:359–366.

FRAGASZY, D., & PERRY, S. (2003). Towards a biology of traditions. In D Fragaszy & S. Perry

(Eds.), Biology of Traditions (pp. 1‐32). Cambridge: Cambridge University Press

FRAGASZY, D.M.; VISALBERGHI, E.; FEDIGAN, L.M. The complete capuchim: the biology of

the Genus Cebus. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.

FURLEY, P.A., METCALFE, S.E., (2007). Dynamic changes in savanna and seasonally dry

vegetation through time. Progress in Physical Geography 31, 633-642.

GENTRY, A.H.,(1995). Diversity and floristic composition of neotropical dry forests. In: Bullock,

S.H., Mooney, H.A., Medina, E. (Eds.), Seasonally Dry Tropical Forests. Cambridge University

Press, Cambridge, pp. 146-194.

GOODALL, J. (1964). Tool‐use and aimed throwing in a community. Nature, 201, 1264- 1266.

GRUETER C. C, ROBBINS M. M, NDAGIJIMANA, F., STOINSKI, T. S. (2013). Possible tool use

in a mountain gorilla. Behavioural Processes 100:160– 162.

GUMERT M. D, KLUCK M & MALAIVIJITNOND S (2009). The physical characteristics and

usage patterns of stone axe and pounding hammers used by long tailed macaques in the Andaman

Sea region of Thailand. American Journal of Primatology. 71: 594-608.

HANSELL, M., & RUXTON, G. D. (2008). Setting tool use within the context of animal

construction behaviour. Trends in Ecology & Evolution, 23(2), 73‐78. doi:

10.1016/j.tree.2007.10.006.

HART, B. L., & HART, L. A. (1994). Fly switching by Asian elephants: tool use to control parasites.

Animal Behaviour, 48, 35-45.

HASLAM, M & FALÓTICO, T (2015). Nasal probe and toothpick tool use by a wild female

bearded capuchin (Sapajus libidinosus). Primates, v. 56: 211-214.

HENSCHEL, J. R. (1995). Tool use by spiders: stone selection and placement by corolla spiders

Ariadna (Segestriidae) of the Namib desert. Ethology, 101, 187‐199. doi:

10.1111/j.1439‐0310.1995.tb00357.x

HERZOG, S.K., KESSLER, M., (2002). Biogeography and composition of dry forest bird

communities in Bolivia. Journal fur Ornithologie 143, 171-204.

HUNT, G. R., & GRAY, R. D. (2004). Direct observations of pandanus-tool manufacture and use by

a new caledonian crow (Corvus moneduloides). Animal Cognition, 7(2), 114‐ 120.

KÖHLER, W. (1925). The mentality of apes. Liveright, New York, 336 pp.

Page 24: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

19

KOOPS K, MCGREW WC, MATSUZAWA T. (2012). Ecology of culture: do environmental factors

influence foraging tool use in wild chimpanzees, Pan troglodytes verus? Animal Behaviour.

Available online at: http://dx.doi.org/10.1016/j. anbehav.2012.10.022

KORTLANDT, A. (1986). The use of stone tools by wild-living chimpanzees and earliest hominids.

Journal human Evolutionary 15, 77-132.

KRÜTZEN, M., MANN, J., HEITHAUS, M. R., CONNOR, R. C., BEJDER, L., & SHERWIN, W.

B. (2005). Cultural transmission of tool use in bottlenose dolphins. Proceedings of the National

Academy of Sciences of the United States of America, 102(25), 8939-43. doi:

10.1073/pnas.0500232102.

LAWICK-GOODALL, J. VAN. (1971). Tool‐Using in Primates and Other Vertebrates. In R. A. H.

Daniel S. Lehrman & S. Evelyn (Eds.), Advances in the Study of Behavior (Vol. 3, pp. 195‐249).

Academic Press.

LAWICK‐GOODALL, J. VAN, LAWICK, H. VAN, & PACKER, C. (1973). Tool-use in free-living

baboons in the Gombe National Park, Tanzania. Nature, 241, 212-213.

LEAL, I.R., SILVA, J.M.C., TABARELLI, M., LACHER JR., T.E., (2005). Changing the course of

biodiversity conservation in the Caatinga of Northeastern Brazil. Conservation Biology 19, 701-

706.

MALAIVIJITNOND S, et al (2007). Stone-tool usage by thai long-tailed macaques (Macaca

fascicularis). American Journal of Primatology 69: 227-233.

MANNU, M., & OTTONI, E. B. (2009). The Enhanced Tool‐Kit of Two Groups of Wild Bearded

Capuchin Monkeys in the Caatinga: Tool Making, Associative Use, and Secondary Tools. American

Journal of Primatology, 71(3), 242‐251. doi: 10.1002/Ajp.20642.

MARSH LK. (2003). The nature of fragmentation. Em: Marsh LK, editor. Primates in fragments

ecology and conservation. New York: Kluwer Academic/Plenum.p.1-10.

MATHER, J. A. (1994). “Home” choice and modification by juveniles Octopus vulgaris (Mollusca:

Cephalopoda): specialized intelligence and tool use. Journal of Zoology, 233, 359‐368.

MAYLE, F.E., BEERLING, D.J., (2004). Late Quaternary changes in Amazonian ecosystems and

their implications for global carbon cycling. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeocology

214, 11-25.

MCCOWAN, B., MARINO, L., VANCE, E., WALKE, L., & REISS, D. (2000). Bubble ring play of

bottlenose dolphins (Tursiops truncatus): Implications for cognition. Journal of Comparative

Psychology, 114(1), 98‐106.

MCGREW, W. C. (2004). The Cultured Chimpanzee: Reflections on Cultural Primatology.

Cambridge University Press.

Page 25: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

20

MEULMAN, E. J. M., SANZ C. M., VISALBERGHI E., SCHAIK C. V. (2012). The role of

terrestriality in promoting primate technology. Evolutionary Anthropology 21: 58-68.

MMA. (2003). Fragmentação de ecossistemas. Causas, efeitos sobre a biodiversidade e

recomendações de políticas públicas. Maury C, editor. Brasília.p.510.

MOONEY, H.A., BULLOCK, S.H., MEDINA, E., (1995). Introduction. In: Bullock, S.H., Mooney,

H.A ., Medina, E. (Eds.), Seasonally Dry Tropical Forests. Cambridge University Press,

Cambridge, pp. 1-8.

MORAES, B. L. C., SOUTO A. S. & SCHIEL N. (2014). Adaptability in Stone Tool Use by Wild

Capuchin Monkeys (Sapajus libidinosus). American Journal of Primatology, 76 (10), 967-977.

doi: 10.1002/ajp.22286.

MOREIRA, N.J.; LIRA, M.A.; SANTOS, M.V.F.; FERREIRA, M.A.; ARAUJO, G.G.L.;

FERREIRA, R.L.C. (2006). Caracterização da vegetação de Caatinga e da dieta de novilhos no

Sertão de Pernambuco. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília/DF, v.41, n.11, p.1643-1651.

MOURA, A. C. A. & LEE, P. (2004). Capuchin stone tool use in Caatinga dry forest. Science 306:

1909.

MURPHY, F.G., LUGO, A.E., (1986). Ecology of tropical dry forest. Annual Review of Ecology

and Systematics 17, 67-88.

NAPIER, J. R.; NAPIER, P. A handbook of living primates. London; Academic Press. 1967.

OAKLEY, K. P. (1949). Man the Toolmaker (p. 98). London: The British Museum of Natural

History.

OTTONI, E. B. (2009). Uso de ferramentas e tradições comportamentais em macacos prego (Cebus

spp.). Tese de Livre Docência (junto a área de conhecimento Etologia) – Universidade de São

Paulo, São Paulo, SP. 178 pp.

OTTONI, E. B. & IZAR, P. (2008). Capuchin monkey tool use: Overview and implications.

Evolucionary Anthropology 17: 171-178.

PENNINGTON, R.T., LEWIS, G.P., RATTER, J.A., (2006). An overview of the plant diversity,

biogeography and conservation of Neotropical Savannas and Seasonally Dry Forests. In: Pennington,

R.T., Lewis, G.P., Ratter, J.A. (Eds.), Neotropical Savannas and Seasonally Dry Forests: Plant

Diversity, Biogeography and Conservation. CRC Press Taylor & Francis Group, Boca Raton,

London, New York, pp. 1-29.

PIERCE, J. D. (1986). A review of tool use in insects. Florida Entomologist, 69(1), 95-104.

PRADO, D.E., (2000). Seasonally dry forests of tropical South America: from forgotten ecosystems

to a new phytogeographic unit. Edinburgh Journal of Botany 57, 437-461.

Page 26: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

21

PRADO, D.E., (2003). As Caatingas da América do Sul. In: Leal, I.R., Tabarelli, M., Silva, J.M.C.

(Eds.), Ecologia e Conservação da Caatinga. Editora Universitária UFPE, Recife, pp. 3-73.

RATTER, J.A., (1992). Transitions between Cerrado and forest vegetation in Brazil. In: Furley, P.A.,

Proctor, J., Ratter, J.A. (Eds.), Nature and Dynamics of Forest-Savanna Boundaries. Chapman &

Hall, pp. 417-429.

REID, J. B. (1982). Tool-use by a rook (Corvus frugilegus), and its causation. Animal Behaviour,

30, 1212‐1216.

SABBATINI G, STAMMATI M, TAVARES MCH, GIULIANI MV, VISALBERGHI E. (2006).

Interactions between humans and capuchin monkeys (Cebus libidinosus) in the Parque Nacional de

Brasília, Brazil. Applied Animal Behaviour Science.97:272–283.

SAMPAIO, E.V.S.B., (1995). Overview of the Brazilian Caatinga. In: Bullock, S.H., Mooney, H.A.,

Medina, E. (Eds.), Seasonally Dry Tropical Forests. Cambridge University Press, Cambridge, pp.

35-63.

SILVA JÚNIOR, J. S. (2005). Especiação nos macacos-prego e caiararas, gênero Cebus Erxleben,

1777 (Primates, Cebidae). Boletim da Sociedade Brasileira de Mastozoologia. 42: 11-12 pp.

SHETTLEWORTH, S.J. (1998). Cognition, Evolution and Behavior. Oxford University Press:

Oxford.

SHUSTER, G., & SHERMAN, P. W. (1998). Tool use by naked mole‐rats. Animal Cognition, 1,

71-74.

SOUTO, A. BIONE, C. B., BEZERRA, B. M., FRAGASZY, D. & SCHIEL, N. (2011). Critically

endangered blonde capuchins fish for termites and use new techniques to accomplish the task.

Biology Letters 7(4): 532-535.

SPAGNOLETTI N, VISALBERGHI E, VERDERANE MP, et al. (2012). Stone tool use in wild

bearded capuchin monkeys, Cebus libidinosus. Is it a strategy to overcome food scarcity? Animal

Behaviour 83:1285–1294.

STREILEIN, KE 1982a. Ecology of small mammals in the semiarid Brazilian Caatinga. I. Climate

and faunal composition. Annals of Carnegie Museum, Pittsburgh, 51: 79-107.

STRIER KB. (2007). Conservation. Em: Campbell CJ, Fuentes A, MacKinnon KC, Panger M,

Bearder SK, editores. Primates in Perspective. Oxford: Oxford University Press. P.496-509.

TEBBICH, S., & BSHARY, R. (2004). Cognitive abilities related to tool use in the woodpecker

finch, Cactospiza pallida. Animal Behaviour, 67(4), 689‐697.

TERBORGH, J. Five new world monkeys. Pincetown. Princetown University Press, 1983.

Page 27: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

22

THOMSEN, L. R., CAMPBELL, R. D., & ROSELL, F. (2007). Tool-use in a display behaviour by

Eurasian beavers (Castor fiber). Animal Cognition, 10(4), 477-82. doi: 10.1007/s10071‐007-0075-

6.

TOMASELLO, M., & CALL, J. (1997). Primate Cognition (1st ed., p. 517). New York: Oxford

University Press.

VAN SCHAIK, C. P. (2003). Social learning and social tolerance in orangutans and chimpanzees. In

D Fragaszy & S. Perry (Eds.), The Biology of Traditions: Models and evidence (pp. 297‐328).

Cambridge: Cambridge University Press.

VAN SCHAIK C. P, DEANER R.O & MERRILL M.Y (1999). The conditions for tool use in

primates: implications for the evolution of material culture. Journal of Human Evolution 36: 719-

741.

VAN SCHAIK, C. P., & PRANDHAN, G. (2003). A model for tool-use traditions in primates:

implications for the coevolution of culture and cognition. Journal of Human Evolution, 44(6), 645-

664. doi: 10.1016/S0047‐2484(03)00041-1.

VERDERANE, M. P., IZAR, P., VISALBERGHI, E. & FRAGASZY D. M. (2013). Socioecology of

wild bearded capuchin monkeys (Sapajus libidinosus): an analysis of social relationships among

female primates that use tools in feeding. Behaviour, 150, 659–689. DOI:10.1163/1568539X-

00003076.

VISALBERGHI E, ADDESSI E, TRUPPA V, et al. (2009b). Selection of effective stone tools by

wild bearded capuchin monkeys. Current Biology 19:213–217.

WHITEN A, GOODALL J, MCGREW WC, et al. (1999). Culture in chimpanzees. Nature 399:682–

685.

Page 28: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

23

CAPITULO I

“Uso de ferramentas e ajustes comportamentais por macacos-prego (Sapajus libidinosus) selvagens

em ambiente semiárido”

Periódico: Primates

Fator de impacto: 1.337

Autor

Shalana Cássia do Nascimento Castro

Page 29: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

24

1 USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS POR MACACOS-PREGO

2 (Sapajus libidinosus) SELVAGENS EM AMBIENTE SEMIÁRIDO

3

4 ¹ Departamento de Biologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco,

5

6 Corresponding author:

7 Shalana Cássia do Nascimento Castro

8 Rua Dom Manoel de Medeiros

9 52171-900 Recife

10 Pernambuco / Brasil

11 e-mail: [email protected]

12 Fone: +55 081 3320-6332

13 Resumo

14

15 Nós relatamos como um grupo com 35 macacos-prego (Sapajus libidinosus) fazem uso de

16 ferramentas para processar alimentos bem como adaptações comportamentais em ambiente

17 semiárido. Os animais foram monitorados ao longo de oito meses em área desmatada e em área

18 preservada totalizando 280 ha e 960 h de esforço amostral. Câmeras trap foram utilizadas para

19 auxiliar nos registros do uso de ferramentas e ficaram ativas durante todo o período do estudo.

20 Observamos quebra de frutos de Syagrus oleraceae (Arecaceae); sementes de Manihot epruinosa

21 (Euphorbiaceae); frutos de Acrocomia aculeata (Arecaceae); frutos de Hymenaea sp. (Fabaceae);

22 sementes de Mucuna pruriens (Fabaceae); fruto de Pilosocereus pachycladus (Cactaceae). Os

23 animais variaram na escolha do peso dos martelos de acordo com o recurso consumido e

Page 30: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

25

1 apresentaram 5 posturas diferentes para acessar os alimentos. Apresentaram, ainda, variação na

2 localização dos sítios de quebra quando comparados entre a área aberta e fechada. Os dados

3 mostraram variabilidade na postura adotada de acordo com a faixa etária do animal bem como na

4 eficiência da quebra do alimento. O estudo, além de colaborar para afirmação de que o uso de

5 ferramentas é comum na espécie, apresentando uma nova população com comportamentos

6 semelhantes às demais populações estudadas, aponta ajustes comportamentais antipredatórios e

7 ações que visam uma menor perda energética.

8

9 Key words: Forrageio, cognição, adaptabilidade.

10

11 Introdução

12

13 Os macacos-prego (Sapajus libidinosus) se sobressaem entre as demais espécies de primatas

14 neotropicais por exibirem o peculiar hábito de utilizarem ferramentas associadas a diferentes

15 contextos (Alimentar, Fragaszy et al., 2004; Mannu & Ottoni, 2009; sexual, Falótico & Ottoni,

16 2013). O comportamento de usar pedras como ferramentas envolve vários custos (tais como, os

17 custos energéticos, os custos de manutenção, de tempo, risco de predação, produção de ruído e risco

18 de dano físico em cada exercício) (Massaro et al., 2012) e pode ser observada com maior frequência

19 entre as populações que habitam regiões semiáridas, caracterizadas por escassez de recursos

20 alimentares (e.g. Moura & Lee, 2004; Ottoni & Izar, 2008; Ferreira et al., 2010; Moraes et al., 2014).

21 Estudos apontam que as propriedades físicas como o peso das pedras usadas como martelos

22 parece ser um fator que influencia a escolha destes em S. libidinosus, ocorrendo a troca da pedra em

23 função das propriedades do fruto a ser processado (Visalberghi et al., 2009b; Ferreira et al., 2010;

24 Moraes et al., 2014). Massaro et al. (2012) em um estudo experimental concluiu que além da massa

Page 31: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

26

1 das pedras a distância em que o animal percorre carregando a pedra também influencia no

2 comportamento e dinâmica dos animais.

3 Grande parte dos estudos envolvendo uso de ferramentas por S. libidinosus selvagens são

4 baseados em evidências físicas encontradas nos sítios (Canale et al., 2009; Emídio & Ferreira, 2012)

5 ou envolvem algumas poucas populações diretamente observadas (Waga et al., 2006; Ottoni & Izar,

6 2008; Spagnoletti et al., 2012; Moraes et al., 2014), o que dificulta a compreensão acerca da

7 variabilidade do comportamento e possível presença de cultura nesses animais. Contudo, os estudos

8 envolvendo uso de ferramentas demonstram variações no repertório comportamental em algumas

9 populações de S. libidinosus (Ottoni & Izar, 2008; Mannu & Ottoni, 2009). Mannu & Ottoni (2009)

10 constataram que indivíduos da Serra da Capivara não apenas utilizam pedras para acessar frutos

11 encapsulados, mas também para escavar o solo, cortar e quebrar troncos, ou até mesmo o uso de duas

12 ou mais ferramentas associadas para alcançar o mesmo objetivo. Observaram, também, a utilização

13 de pedras no intuito de deslocar outra pedra fincada ao solo para posterior uso, ao qual chamaram de

14 meta-ferramenta. Falótico & Ottoni (2014) em estudo envolvendo animais da mesma localidade

15 observaram fêmeas fazendo uso de pedras para chamar a atenção de machos durante o período de

16 acasalamento. A ausência de estudos envolvendo populações de outras áreas além da Serra da

17 Capivara dificulta entender melhor se tais comportamentos seriam mais fortemente influídos por

18 fatores hereditários ou por questões culturais.

19 Pesquisas realizadas com diferentes populações de chimpanzés (Pan troglodites) acerca da

20 variabilidade comportamental em relação ao uso de ferramentas levam a crer na existência de uma

21 influência cultural entre os indivíduos das populações, devido particularidades encontradas nas

22 formas e ocorrência de uso dessas ferramentas (Whiten et al., 1999). Whiten (2000) aponta que para

23 espécies de macaco-prego ainda não se pode afirmar a existência de cultura, devido poucas

24 evidências e populações documentadas.

Page 32: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

27

1 Aqui, nós investigamos uma nova população de macacos-prego (Sapajus libidinosus)

2 selvagem, vivendo em ambiente semiárido e geograficamente distante de todas as outras populações

3 já estudadas. Nós monitoramos os comportamentos referentes ao uso de ferramentas e fizemos

4 acompanhamentos sistemáticos dos animais, bem como dos possíveis ajustes adotados pela

5 população aqui investigada e suas similaridades com demais populações. Por fim, fizemos a

6 identificação, caracterização e monitoramento dos sítios de quebra e registros dos itens usados para a

7 alimentação dos primatas.

8 Metodologia

9

10 Área de estudo

11

12 A pesquisa foi conduzida no município de Exú (7°26'33.8"S 39°42'47.7"W), região semiárida

13 do Nordeste do Brasil. A área de estudo compreende parte da Chapada do Araripe, APA que ocupa

14 1.063.000 hectares, sendo 36% no estado de Pernambuco. Caracteriza-se por uma grande área de

15 platô com quatro zonas fisiográficas bem definidas (topo de chapada, zona de escarpa, pé de serra e

16 sertão), tornando assim a vegetação bastante heterogênea (Figura 1) (MMA, 1999). A altitude da

17 região pode atingir até 980 m acima do nível do mar. O clima é quente e semiárido, com curta

18 estação chuvosa no verão-outono e a precipitação média anual é de 380 a 760 mm (Köppen et al.,

19 2000). Apesar de ser uma área de proteção ambiental parte do local é marcada por impacto antrópico,

20 provenientes da agricultura e agropecuária, modificando assim a vegetação e solo do local.

21 Coleta de dados

22

23 A coleta de dados foi realizada num total de 8 meses (julho de 2014 a fevereiro de 2015)

24 compreendendo 4 meses de período seco e 4 meses de período chuvoso. Cada ida a campo envolveu

25 de sete a dez dias, tendo as observações sido realizadas das 6:00 às 18:00h, totalizando um esforço

26 amostral direto de 960 h, dos quais 102 h foram de visualização direta dos indivíduos. Com o auxílio

Page 33: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

28

1 de uma câmera digital (Nikon P510, zoom óptico de 24-1000mm) acompanhamos um grupo, não

2 totalmente habituado à presença do observador, de macacos-prego (Sapajus libidinosus) composto de

3 35 indivíduos, sendo 4 machos adultos; 2 machos subadultos; 7 fêmeas adultas; 1 fêmea subadulta;

4 12 jovens, 6 infantes e 3 filhotes de sexo indefinido. As características corporais para definir a faixa

5 etária dos animais foi fundamentado por Fragaszy et al., 2004. O estudo foi conduzido em duas

6 áreas: uma parte fechada em estágio de sucessão com vegetação densa preservada, sem atividade

7 humana e uma área aberta com presença de atividade humana, pecuária e presença apenas de

8 exemplares de Syagrus oleraceae, que também é utilizada para alimentação dos bovinos, ambas

9 medindo 140 ha, totalizando 280 ha (fig. 1). Em amostragens piloto foi realizado levantamento da

10 área identificando os locais utilizados pelos animais para alimentação com auxílio de ferramentas

11 (Fragaszy et al., 2004b) ao qual denominamos pontos de alimentação. Cada ponto foi caracterizado

12 por afloramentos rochosos e pés de catolé em seu entorno ou próximo. Considerou-se um mínimo de

13 100m de distância entre as marcações dos pontos. Os locais identificados foram georeferenciados

14 (GPS Garmin 62s).

15

16

17 Figura 2: Explanação da área de estudo dividida pelos diferentes fragmentos, delimitados por cercas de arame farpado, o qual permite

18 livre circulação dos animais entre eles. (Fonte: Google Earth, acesso em 27/01/2016).

Page 34: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

29

1 Caracterização e monitoramento dos sítios de quebra

2

3 Os sítios de quebra ativos presentes nos pontos de alimentação foram definidos como cada

4 pedra utilizada como base para apoiar os itens alimentares, seguindo a classificação de Fragaszy et

5 al. (2004b). As bigornas foram considerando a largura e o comprimento de sua superfície. Os

6 martelos foram definidos como as pedras utilizadas pelo animal para quebrar o item alimentar.

7 Foram considerados os martelos que apresentaram vestígios de item alimentar processados pelos

8 animais e/ou possuíam indícios de quebra foram pesados com uma balança digital tipo peixeiro (Wei

9 Heng) com capacidade para 40 kg e precisão de 10 g. As pedras foram marcadas com caneta

10 permanente e seu uso e troca foram acompanhados mensalmente. Depois de caracterizados, os

11 martelos eram recolocados no mesmo local para evitar intervenções nos comportamentos dos

12 animais e não mais contabilizados subsequentemente.

13 Assim, mensalmente todos os pontos de alimentação foram revisados duas vezes, registrando

14 a presença de atividade dos animais. Ao avistar locais com vestígios de alimentação e/ou uso de

15 ferramentas, o mesmo era georeferenciado, as bigornas utilizadas eram medidas e os martelos

16 pesados.

17 Num raio de 20m ao redor das bigornas utilizadas pelos animais e monitoradas mensalmente

18 contabilizava-se a quantidade de árvores cujos frutos haviam sido consumidos com o auxílio de

19 ferramentas, o seu estágio ontogênico e a distância do mesmo em relação ao sítio de quebra, a fim de

20 estimar a disponibilidade de frutos e sua influência na utilização das áreas. A utilização das árvores

21 era mensurada a partir de vestígios deixados pelos animais ou por visualização direta da utilização.

22 Acompanhamento sistemático dos animais

23

24 Além do monitoramento dos pontos de alimentação, os animais foram sistematicamente

25 acompanhados. Ao chegar ao ponto mais alto do local de coleta, cerca 200m de altitude do ponto

Page 35: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

30

1 mais baixo, aguardava-se 30 min., a espera dos animais, realizando varredura do local. Ao visualizar

2 ou ouvir vocalizações do grupo nos dirigíamos em busca do mesmo os acompanhando até o

3 recolhimento ou perda do mesmo.

4 Comportamento do uso de ferramentas

5

6 Para obtermos melhor clareza e detalhes de como esses animais fazem o uso de ferramentas

7 optamos por registrar os comportamentos através de armadilhas fotográficas. Para isso foram

8 instaladas quatro câmeras (duas Bushnell Trophy Cam: formato HD, vídeos de 60 segundos de

9 duração, intervalos de 1 segundo entre um registro e outro e duas Moultrie M-990i: formato HD,

10 vídeos de 90 segundos de duração, intervalos de 1 segundo entre um registro e outro) posicionadas

11 em frente aos sítios mais utilizados pelos animais. Ao notar que os animais não mais frequentavam o

12 sítio onde a câmera havia sido posicionada a mesma era transferida para um sítio ativo. As câmeras

13 ficaram ativas 24 h durante todos os meses do estudo, totalizando 243 dias, porém, em dois meses,

14 duas das câmeras descarregaram no 15º dia. Mensalmente as baterias foram recarregadas e seu

15 conteúdo repassado para um computador. Nos vídeos foram observados o gênero e a idade dos

16 indivíduos (Fragaszy et al., 2004), fruto consumido no ato da quebra, postura apresentada (Moraes et

17 al., 2014) e a quantidade de batidas até a quebra do fruto ou desistência do animal em processar o

18 alimento. Os comportamentos foram analisados utilizando o método de observação “ad libitum”

19 (Altmann, 1974).

20 Análise dos dados

21

22 Para verificar se as variáveis respostas assumiam distribuição normal, um teste de

23 Kolmogorov-Smirnov foi realizado e seguiu analises não-paramétricas devido à falta de normalidade

24 das variáveis.

Page 36: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

31

1 Com isso, aplicaram-se dois modelos de Kruskal-Wallis (K-W) para avaliar se: i) o peso dos

2 martelos (variável resposta) altera em relação ao fruto consumido (variável explicativa) e ii) a

3 eficiência da quebra do fruto em relação a postura utilizada levando em consideração a quantidade de

4 batidas para acessar o fruto. Em seguida testes post hoc de Dunn foram realizados a fim de se

5 verificar exatamente entre quais pares ocorreu uma diferença significativa.

6 Para se verificar a relação entre a postura adotada e a idade do animal foi usado o teste Qui-

7 quadrado (χ2). Todas as análises foram realizadas utilizando-se o software livre R (R core team,

8 2013). Foi considerado significativo P< 0,05.

9 Resultados

10

11 Identificação, caracterização e monitoramento dos sítios de quebra e registros dos itens alimentares.

12

13 A coleta de dados resultou no monitoramento de 51 pontos de alimentação frequentados pelos

14 animais, compreendendo 16 pontos em área aberta e 35 pontos em área fechada. Os pontos

15 registrados em área aberta não ultrapassaram 400 m de distância em relação ao fragmento mais

16 próximo, apesar de haver recursos alimentares disponíveis em distâncias superiores (Fig. 2). Notou-

17 se que os animais deram preferência aos recursos mais próximos ao fragmento, mas à medida que o

18 fruto se tornava escasso os animais se dirigiam às árvores mais distantes da área aberta e ainda com

19 recursos. Em área fechada, os animais deram preferência a sítios distantes da borda. A frequência de

20 uso em área fechada mostrou-se superior à frequência em área aberta, com exceção dos meses de

21 outubro e fevereiro (Fig. 3).

Page 37: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

32

1

2 Figura 2. Mapa ilustrativo da área de estudo e os pontos de alimentação utilizados pelos animais em área aberta

3 (▲) e em área fechada (●).

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15 Figura 3- Frequência absoluta de uso dos pontos de alimentação em ambiente aberto e fechado durante os meses

16 monitorados.

17

18 Foram identificados, através de recursos fotográficos, 6 itens processados e consumidos pelos

19 animais com o auxílio de ferramentas. Observamos quebra de frutos de catolé (Syagrus oleraceae -

20 Arecaceae); sementes de maniçoba (Manihot epruinosa - Euphorbiaceae); frutos de macaíba

21 (Acrocomia aculeata - Arecaceae); frutos de Jatobá (Hymenaea sp. - Fabaceae); sementes de mucunã

aberto fechado

17

13

11

8 9

6

4 4 4

2

0 1

0 1

1 0

Meses

de

visi

ta a

os

po

nto

s

Page 38: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

33

1 (Mucuna pruriens - Fabaceae); fruto de facheiro (Pilosocereus pachycladus - Cactaceae) (Fig.4).

2 Destes, tanto a presença de vegetais quanto o consumo pelos animais em área aberta só foram

3 observadas para frutos de Syagrus oleraceae e Hymenaea sp. Em área fechada apenas o consumo e

4 presença de vegetais de Hymenaea sp. próximos aos sítios não foram registrados.

5 A disponibilidade de frutos maduros de Syagrus oleraceae em área aberta mostrou-se

6 superior em relação a área fechada, no entanto em área fechada foi observado maior variabilidade de

7 frutos. Durante o monitoramento dos sítios foram encontrados restos de frutos verdes acessados com

8 auxílio de ferramentas em área fechada apesar de em área aberta haver abundância de frutos

9 maduros, porém, a distâncias superiores a 400 m do fragmento mais próximo.

10

11 Figura 4- Itens alimentares utilizados pelos Sapajus libidinosus com o auxílio de pedras como ferramentas: (A) Syagrus

12 oleraceae; (B) Manihot epruinosa; (C) Acrocomia aculeata; (D) Hymenaea sp.; (E) Mucuna pruriens; (F) Pilosocereus

13 pachycladus (Imagens por: Shalana Castro).

14 A coleta de dados resultou na identificação e monitoramento de 436 sítios de quebra (Tabela I).

15 Destes, 189 encontrava-se em área fechada e 247 em área aberta. Para Syagrus oleraceae, único fruto

Page 39: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

34

1 consumido em ambas as áreas, contabilizamos 246 sítios em área aberta e 86 em área fechada. Em

2 área fechada, os sítios se encontravam entre 1 e 11 m de distância do vegetal explorado, enquanto na

3 área aberta a distância máxima foi de 2 m.

4 Em área aberta observou-se várias pedras com características de bigorna e martelo em áreas

5 superiores a 400 m de distância que durante todo o estudo não foram utilizadas pelos animais, como

6 também não continham vestígios vegetais. Em área fechada algumas pedras com características e

7 condições semelhantes foram encontradas em locais que passaram por queimadas e encontra-se em

8 estágio de sucessão ecológica.

Tabela I. Item alimentar, estrutura processada e número total de sítios de quebra registrados de acordo com o item alimentar.

Item alimentar

Estrutura

processada

Sítios em área

aberta

Sítios em área

fechada

Total de sítios

de quebra

Syagrus oleraceae

Fr¹

N= 245

N= 42

N= 268

Manihot epruinosa Se² -------- N= 85 N= 85

Acrocomia aculeata Fr -------- N= 18 N= 18

Hymenaea sp. Fr N= 1 ------- N= 1

Mucuna pruriens Se -------- N= 1 N= 1

Syagrus oleraceae + Pilosocereus pachycladus Fr -------- N= 1 N= 1

Syagrus oleraceae + Manihot epruinosa Fr + Se -------- N= 61 N= 61

Syagrus Oleraceae + Acrocomia aculeata Fr + Fr -------- N= 1 N= 1

Syagrus Oleraceae + Hymenaea sp. Fr + Fr N= 1 -------

N= 1

¹ = Fruto; ² = Semente

9

10 Registrou-se um total de 491 pedras utilizadas como martelos para quebra dos itens

11 alimentares. Foram observadas 243 pedras martelo em área fechada e 248 em área aberta. Os pesos

12 dos martelos variaram de 10 g a 8 kg (média: 305,4 g). Houve uma diferença significativa entre o

13 peso dos martelos e o fruto consumido (K-W = 18.423, df = 4, p = 0.001, N= 491), o teste de Dunn

14 apontou que as pedras utilizadas para quebra de S. oleraceae foram mais pesadas e as mais leves

15 utilizadas para consumo de M. epruinosa (Fig. 5).

Page 40: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

35

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12 Figura 5-. Estatística: Kruskal-Wallis, seguido do teste de Dunn. Letras iguais = não significativo; letras

diferentes = significativo (p ≤ 0,05).

13 Os martelos eram transportados apenas quando o que estava sendo utilizado se partia (N=20)

14 ou quando em uma mesma bigorna havia quebra de frutos diferentes (N=62).

15 Comportamento do uso de pedras como ferramentas

16

17 Foram obtidos através das câmeras trap 727 eventos de quebra envolvendo uso de pedras

18 como ferramentas associados ao processamento de alimentos. A análise dos vídeos permitiu

19 identificar 5 diferentes posições adotadas pelos animais (Tabela II).

Tabela II. Descrição das posturas adotadas nos comportamentos de uso de pedras como

ferramentas para o processamento dos itens alimentares

Comportamento Descrição

Postura 1

(N= 04)

Indivíduo sentado posiciona o item alimentar sobre a bigorna, ergue o martelo

com uma das mãos até no máximo 15 cm de altura, passando a bater sobre o

item repetidas vezes. Tal processo envolve apenas o movimento dos braços

(Moraes et al., 2014).

Postura 2

(N= 105)

Indivíduo sentado ou curvado em posição bípede, posiciona o item alimentar

sobre a bigorna, ergue o martelo com ambas as mãos até a altura do ombro,

passando a bater sobre o item alimentar. Tal processo envolve apenas o

movimento dos braços (Fragaszy et al., 2004b).

Postura 3

(N= 515)

Indivíduo curvado em posição bípede posiciona o item alimentar sobre a

bigorna, ergue o martelo com ambas as mãos até a altura do ombro, passando a

bater sobre o item alimentar. Tal processo requer braços e das pernas em

movimento de flexão (Fragaszy et al., 2004b).

Page 41: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

36

Postura 4

(N= 76)

Indivíduo curvado em posição bípede posiciona o item alimentar sobre a bigorna, ergue o martelo com ambas as mãos para uma postura ereta até a altura

dos ombros, passando a bater sobre o item alimentar. Tal processo pode levar os

pés a saírem do chão (Fragaszy et al., 2004b).

Postura 5

(N= 27)

Indivíduo ereto em posição bípede posiciona o item alimentar sobre a bigorna,

"ergue rapidamente" o martelo com ambas as mãos para uma postura vertical

até a altura da cabeça, passando a bater sobre o item alimentar. Tal processo

pode levar os pés a saírem do chão.

1

2 Houve uma diferença significativa entre a postura adotada e o número de batidas para acessar

3 o fruto (K-W = 21.415, df = 4, p = 0.000262). O teste de Dunn indicou que a postura 3 necessitou de

4 menos batidas, bem como foi a postura mais adotada pelos animais (N=515) enquanto a postura 1 foi

5 observada em menor exibição (N= 4) (Fig. 6). O teste qui-quadrado indicou diferença significativa

6 entre a idade e a postura adotada (X-squared = 44.603, df = 8, p-value = 0,0001), indicando que os

7 jovens adotaram em maior frequência a postura 4 (N=58) e 5 (N=19) em relação aos adultos (N=18,

8 N=7, respectivamente).

9 10 11

12

13

14

15

Figura 6 - Estatística: Kruskal-Wallis, seguido do teste de Dunn. Letras iguais = não significativo; letras

diferentes = significativo (p ≤ 0,05).

16 Discussão

17

18 A população de macacos-prego da Chapada do Araripe além de fazer uso de ferramentas

19 exibe diversas adaptações que tendem a facilitar a permanência desses animais em ambientes hostis.

20 Nossos resultados reforçam a existência de um possível padrão comportamental para os macacos

Page 42: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

37

1 prego, não obstante algumas peculiaridades, certamente impostas pela variação ambiental também

2 existente (Ottoni & Izar, 2008).

3 Identificação, caracterização e monitoramento dos sítios de quebra e registros dos itens

4 alimentares

5 Os macacos-prego em área aberta frequentaram preferencialmente os pontos de alimentação

6 próximos à borda, apesar de observada maior disponibilidade de frutos em áreas mais distantes

7 dando prioridade aos recursos vegetais próximos ao fragmento. Tal escolha poderia ser a

8 consequência de uma possível percepção de risco à predação como também um minimizador de

9 custos, pois ao optarem por pontos próximos ao fragmento os animais percorreram menores

10 distâncias no retorno ao fragmento a qualquer sinal de alerta.

11 Os primatas em geral vêm sendo bastante estudados acerca da capacidade de tomada de

12 decisão sobre áreas de forrageamento e como utilizam as informações de alterações ambientais

13 nessas escolhas, como, por exemplo, o padrão espacial e temporal da disponibilidade de alimentos

14 (Janson, 2007). A abundância de recursos alimentares em área aberta não se mostrou um fator

15 preponderante para escolha dos espaços, tendo os animais optado pela área fechada durante a maior

16 parte do estudo. Esse comportamento, assim como a escolha de vegetais próximos ao fragmento,

17 também pode ser explicado pelas vantagens em permanecer na área fechada, uma vez que os animais

18 estariam menos expostos ao risco de predação e maior deslocamento bípede.

19 Por vezes os animais foram vistos consumindo frutos imaturos em área fechada, enquanto em

20 área aberta os recursos maduros estiveram disponíveis em abundância, demonstrando clara

21 preferência pela área fechada. Atividades antrópicas na região podem ter resultado na perda de

22 hábitat desses animais tornando a área de uso ainda mais restrita, ou ainda com que os animais

23 percorram distâncias maiores em busca de recursos. O extrativismo e a agropecuária em áreas de

24 caatinga são responsáveis por até 80% da modificação da vegetação, transformando a maioria dessas

Page 43: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

38

1 áreas em estádios iniciais ou intermediários de sucessão ecológica (Araújo Filho, 1996). O mosaico

2 vegetacional da área de estudo reflete as diferentes atividades antrópicas exercidas na região e isso

3 teria, como consequência, a preferência dos animais pelas áreas menos impactadas. Em algumas

4 áreas da parte fechada do presente estudo pudemos observar possíveis sítios de quebra sem utilização

5 devido a queimadas no local, e apesar de atualmente o espaço desmatado estar em processo de

6 recuperação, os animais evitaram esses locais durante todo o período do estudo, alterando as rotas de

7 deslocamento, o que pode explicar uma maior concentração de pontos de alimentação no centro do

8 fragmento. A prática de queimadas em área de caatinga é bastante comum visando manutenção do

9 solo para replantio de pastagens (Souza et al., 2010). Como consequência o vento pode deslocar as

10 chamas afetando áreas não desmatadas e a prática sucessiva acarreta em diminuição progressiva da

11 rebrota da vegetação (Souza et al., 2015).

12 Uma maior quantidade de sítios de quebra, apesar do menor número de pontos de

13 alimentação, em área aberta pode indicar uma economia energética, onde o animal busca o sítio mais

14 próximo ao recurso alimentar evitando transportar o alimento a longas distâncias se comparado as

15 distâncias entre os sítios de quebra e a fonte do recurso extraído em ambas as áreas. Em área aberta o

16 animal tende a se deslocar em posição bípede, geralmente numa velocidade elevada, muitas vezes

17 com o item alimentar sendo segurado pelos membros posteriores. Em área fechada o animal

18 retornava rapidamente à árvore mais próxima, sem haver longos deslocamentos.

19 Os macacos do nosso estudo, em geral, não transportaram os martelos para diferentes

20 bigornas a menos que o mesmo se partisse. Os martelos permaneciam sobre a bigorna para uso

21 posterior, porém, os animais transportaram um número considerável de frutos. Massaro et al. (2012)

22 em um estudo experimental analisou o transporte realizado pelos animais das pedras martelo até a

23 bigorna, avaliando a massa do martelo relacionada a distância percorrida, a mudança de trajeto

24 relacionada a massa do martelo, e a massa do martelo em relação a massa corpórea do animal. O

25 estudo realizado com uma população do Parque Nacional da Serra da Capivara apontou que os

Page 44: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

39

1 animais preferiram pedras mais pesadas para distâncias de 3 m, e pedras mais leves para distância de

2 6m, bem como os caminhos mais curtos. Os macacos da Chapada do Araripe comparados aos da

3 Serra da Capivara demonstraram maior adaptabilidade e menor esforço optando em transportar os

4 frutos aos martelos.

5 Corroborando com estudos anteriores, os animais da Chapada do Araripe escolheram os

6 martelos de acordo com o item alimentar. Os pesos dos martelos utilizados para quebra de M.

7 epruinosa foram inferiores aos martelos utilizados para quebra de S. oleraceae. A mudança dos

8 martelos exibe, além de uma adaptabilidade para menor esforço no ato da quebra, maiores chances

9 de consumir o recurso com mais eficiência (Liu et al., 2011).

10 Estudos apontam o uso de ferramentas por macacos-prego para abrir frutos encapsulados

11 (Ottoni & Izar, 2008), para escavar (Moura & Lee, 2004), para sondar ninhos de artrópodes e répteis,

12 bem como defesa (Falótico & Ottoni, 2014), para atrair machos em época de acasalamento (Falótico

13 & Ottoni, 2013). Não foi observado no presente estudo o uso de ferramentas para escavar, os animais

14 se alimentaram de tubérculos oportunisticamente quando os mesmos estavam em situação aparente.

15 Ao se deslocarem durante o forrageio também reviravam pedras a procura de insetos, mas não

16 usaram ferramentas como auxílio para removê-las, como foi observado por Mannu e Ottoni (2009),

17 as pedras eram removidas apenas com os membros superiores.

18 Algumas populações estudadas consomem itens alimentares espinhosos (cactáceas) com o

19 auxílio de ferramentas (Moraes et al., 2014; Moura & Lee, 2004; Mannu & Ottoni, 2009). No

20 entanto essa prática não foi observada pela população da Chapada do Araripe. Em contrapartida os

21 animais vieram a consumir o fruto do facheiro (P. pachycladus) que não contém espinhos (Habud et

22 al., 2010) com o auxílio de ferramentas. O consumo de cactáceas, em especial com auxílio de

23 ferramentas, pode estar relacionado com a oferta de recursos da área em que se encontram as

24 populações, onde áreas que exibem baixa disponibilidade se tornam mais propícias ao consumo das

Page 45: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

40

1 cactáceas pelos macacos. Além do consumo de itens com auxílio de ferramentas também foi

2 observado o consumo de mel, insetos, folhas e brotos, frutos carnosos e pequenos mamíferos o que

3 possivelmente pode ter reduzido a exploração de cactáceas pela população aqui estudada.

4 Comportamento do uso de ferramentas

5 Apesar dos registros das quebras dos itens alimentares terem sido observados para um único

6 fruto (Syagrus oleraceae) as posturas utilizadas pelos animais apresentaram variações. Tal variação

7 ocorreu de acordo com a idade dos indivíduos, ampliando as possíveis causas que possam explicar as

8 posturas utilizadas para quebra de itens encapsulados.

9 Os animais optaram por posturas que exigiram menor número de batidas até a quebra do

10 item. As nossas observações são semelhantes às de Fragaszy et al. (2004), onde ocorre a

11 classificação das posturas levando em consideração o movimento dos membros posteriores. Os

12 animais adultos ao adotarem posturas que necessitem menor esforço demonstram maior grau de

13 controle e taxa de sucesso que os jovens (Fragaszy et al., 2004). O fato das visualizações dos

14 comportamentos de uso de ferramentas terem sido feitas apenas para frutos de Syagrus oleraceae

15 pode explicar o menor número de exibições da postura 1, que em geral é adotada para quebra de

16 Manihot epruinosa (Moraes et al., 2014). Segundo Bernstein (1996) a posição em que o animal se

17 encontra sem flexionar os membros posteriores proporcionam um controle mais preciso do ato. No

18 entanto ações bi manuais associadas a posições onde o animal flexiona os membros posteriores

19 geram maior gasto. No primeiro caso, menos segmentos do membro são coordenados durante o

20 movimento, a trajetória da pedra é mais curta, e as forças geradas pelo indivíduo estão mais

21 próximos da gama normal de forças exercidas nas atividades diárias, conferindo maior controle na

22 ação.

23 O uso de pedras como ferramentas requer elevado gasto energético bem como garantia de

24 retorno, com isso os animais procuram ser seletivos e escolhem cuidadosamente os recursos que

Page 46: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

41

1 serão quebrados (Massaro et al., 2012). Contudo, a proteção externa dos itens alimentares impede a

2 avaliação visual e, com isso, a certeza se o mesmo está oco ou não (Terborgh, 1983). Nos episódios

3 obtidos através de câmeras trap, geralmente os animais da Chapada do Araripe antes de quebrar o

4 fruto balançaram o mesmo para se certificarem da presença de tegumento interno como sugerem

5 Visalberghi & Néel (2003), podendo o mesmo ser descartado. Os sentidos são o meio para obter

6 informação, e a atenção dos percebidores tem papel importante na detecção permitindo maior

7 informação no comportamento (Gibson, 1986).

8 Agradecimentos

9

10 Nós agradecemos à FACEPE (IBPG: 1662-2.05/13) pelo apoio financeiro concedido à

11 Shalana Castro. Ao senhor Veremundo Peixoto pela recepção e permissão da pesquisa em sua

12 fazenda. Aos mateiros Galego, Adriano, Marcos e Mael pelo suporte e dedicação durante a pesquisa.

13 Referências bibliográficas

14

15 Abud HF. Gonçalves NR, Reis RGE, Pereira DS, Bezerra AME. (2010). Germinação e expressão

16 morfológica de sementes e plântulas de Pilosocereus pachycladus Ritter. Revista Ciência

17 Agronômica (UFC. Impresso) 41:468-474.

18 Altmann J. (1974). Observational study of behavior: sampling methods. Behaviour 40:227–267.

19 Araújo Filho JA. (1996). Desenvolvimento sustentável da caatinga. Sobral (CE): Ministério da

20 Agricultura/ EMBRAPA/CNPC 45p.

21 Bernstein N. (1996). On dexterity and its development. In: Latash M, Turvey M, editors. Dexterity

22 and its development. Hillsdale: Lawrence Erlbaum. p 3–237.

Page 47: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

42

1 Canale GR, Guidorizzi CE, Kierulff MCM, Gatto CAFR. 2009. First Record of tool use by wild

2 populations of the yellow-breasted capuchin monkeys (Cebus xanthosternos) and new records for the

3 bearded capuchin (Cebus libidinosus). American Journal of Primatolology 71:366–372.

4 Emidio RA, Ferreira RG. (2012). Energetic payoff of tool use for capuchin monkeys in the Caatinga:

5 variation by season and habitat type. American Journal of Primatolology 74:332– 343.

6 Falótico T, Ottoni E (2013). Stone throwing as a sexual display in wild female bearded capuchin

7 monkeys, Sapajus libidinosus. PLoS One 8:e79535

8 Falótico T, Ottoni E (2014). Sexual bias in probe tool manufacture and use by wild bearded capuchin

9 monkeys. Behaviour Processes 108:117–122

10 Ferreira RG, Emidio RA, Jerusalinsk L. (2010). Three stones for three seeds: natural occurrence of

11 selective tool use by capuchins (Cebus libidinosus) based on an analysis of the weight of stones

12 found at nutting sites. American Journal of Primatolology 72:270–275.

13 Fragaszy DM; Visalberghi E; Fedigan LM. (2004). The complete capuchim: the biology of the

14 Genus Cebus. Cambridge: Cambridge University Press.

15 Fragaszy DM, Izar P, Visalberghi E, Ottoni EB, Oliveira MG. (2004).Wild capuchin monkeys

16 (Cebus libidinosus) use anvils and stone pounding tools. American Journal of Primatolology 64:359–

17 366.

18 Gibson JJ. (1986). The Ecological Approach to visual perception. New Jersey: Lawrence Earlbaum

19 Associates.

20 Janson C. (2007) Experimental evidence for route integration and strategic planning in wild capuchin

21 monkeys. Animal Cognition 10:341-56.

Page 48: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

43

1 Liu Q, Fragaszy D, Wright B, Wright K, Izar P, Visalberghi E (2011) Wild bearded capuchin

2 monkeys (Cebus libidinosus) place nuts in anvils selectively. Animal Behavior 81:297–305.

3 Mannu M, Ottoni EB. (2009). The enhanced tool‐kit of two groups of wild bearded capuchin

4 monkeys in the Caatinga: tool making, associative use, and secondary tools. American Journal of

5 Primatolology 71:242–251.

6 Massaro L, Liu Q, Visalberghi E, Fragaszy D. (2012). Wild bearded capuchin (Sapajus libidinosus)

7 select hammer tools on the basis of both stone mass and distance from the anvil. Animal Cognition

8 15:1065–1074.

9 Ministério do Meio Ambiente. (1999). Convênio MMA N.º 97CV 0026, Zoneamento Ambiental,

10 Plano de Gestão da Área de Proteção Ambiental da Chapada do Araripe – CE/PE/PI. Relatórios.

11 Moraes, BLC, Souto AS, Schiel N. (2014). Adaptability in Stone Tool Use by Wild Capuchin

12 Monkeys (Sapajus libidinosus). American Journal of Primatology, 76 (10), 967-977.

13 Moura AC, Lee PC. (2004). Capuchin stone tool use in Caatinga dry forest. Science 306:1909–1909.

14 Ottoni EB, Izar P. (2008). Capuchin monkey tool use: overview and implications. Evolutionary

15 Anthropology 17:171–178

16 R Development Core Team (2010). R: A language and environment for statistical computing. R

17 Foundation for Statistical Computing, Vienna, Austria. ISBN 3-900051-07-0, URL http://www.R-

18 project.org/

19 Spagnoletti N, Visalberghi E, Verderane MP, et al. (2012). Stone tool use in wild bearded capuchin

20 monkeys, Cebus libidinosus. Is it a strategy to overcome food scarcity? Animal Behaviour 83:1285–

21 1294.

22 Souza BI, Artigas RC, Lima VER (2015). The Caatinga and desertification. Mercator 14:131-150.

Page 49: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

44

1 Souza BI, Suertegaray DMA, LIMA VER (2010). Políticas Públicas, uso do solo e desertificação nos

2 Cariris Velhos (PB/Brasil). Barcelona (ESP.): Scripta Nova 14: 311.

3 Terborgh J. (1983). Five new world primates: a study in comparative ecology. New Jersey: Princeton

4 University Press. p.260

5 Visalberghi E, Neel C. (2003). Tufted capuchins (Cebus apella) use weight and sound to choose

6 between full and empty nuts. Ecological Psychology 15:215–228.

7 Visalberghi E, Fragaszy D, Ottoni EB, et al. (2007). Characteristics of hammer Stones and anvils

8 used by wild bearded capuchin monkeys (Cebus libidinosus) to crack open palm nuts. American

9 Journal of Physical Anthropology 132:426– 444.

10 Visalberghi E, Addessi E, Truppa V, et al. (2009b). Selection of effective stone tools by wild

11 bearded capuchin monkeys. Current Biology 19:213–217.

12 Waga IC, Dacier AK, Pinha OS, Tavares MC. (2006). Spontaneous tool use by wild capuchin

13 monkeys (Cebus libidinosus) in the Cerrado. Folia Primatologica 77(5):337–344.

14 Whiten A, Goodall J, McGrew WC, et al. (1999). Culture in chimpanzees. Nature 399:682–685.

15 Whiten A. (2000). Social complexity and social intelligence. In The nature of intelligence Bock G.R,

16 Goode J.A, Webb K Novartis foundation symposium 233:185–196. Eds. Chichester,UK:Wiley.

Page 50: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

45

1 CAPÍTULO II

2

3 “Obtenção de água por macacos-prego (Sapajus libidinosus) em ambiente semiárido”

4

5 Periódico: Primates

6

7 Fator de impacto: 1.337

8

9

10

11 Autores

12 Shalana Cássia do Nascimento Castro

13

Page 51: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

46

1 OBTENÇÃO DE ÁGUA POR MACACOS-PREGO (Sapajus libidinosus) EM AMBIENTE

2 SEMIÁRIDO

3

4 Shalana Cássia do Nascimento Castro¹

5 ¹ Departamento de Biologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco,

6

7 Corresponding author:

8 Shalana Cássia do Nascimento Castro

9 Rua Dom Manoel de Medeiros

10 52171-900 Recife

11 Pernambuco / Brasil

12 e-mail: [email protected]

13 Fone: +55 081 3320-6332

14

15 Resumo

16

17 Nós relatamos de forma inédita como um grupo de macacos-prego (Sapajus libidinosus) exploram

18 potenciais fontes de água para lidar com um ambiente com intensa escassez hídrica na Chapada do

19 Araripe, Nordeste do Brasil. O grupo utilizou fontes vegetais que continham água em seu interior

20 associando o comportamento ao forrageio alimentar. Ao longo de oito meses foram registrados

21 quatro recursos vegetais e como estes foram explorados pelos macacos. Os animais acessaram frutos

22 imaturos de catolé (Syagrus sp.), pseudobulbos de orquídeas (Catasetum sp.), caules de cansanção

23 (Cnidoscolus sp.) e exploraram ocos de árvores. Os dados fornecem informações importantes no que

24 concerne aos métodos de utilização das fontes alternativas de água. As altas temperaturas e a

25 escassez de frutos carnosos podem ter contribuído para que esses animais adotassem estratégias

26 comportamentais para manterem-se hidratados.

Page 52: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

47

1 Palavras-chave: Forrageio, adaptabilidade, recursos hídricos

2

3 Introdução

4

5 A notável capacidade do uso de ferramentas por macacos-prego (Sapajus libidinosus)

6 selvagens tem sido cada vez mais relatada para distintas populações (e.g. Moraes et al. 2014;

7 Falótico e Haslam 2015; Ottoni e Izar 2008). A maioria destes estudos focam no uso de ferramentas

8 para o acesso a frutos encapsulados, recurso alimentar rico em proteínas (e.g. Moraes et al. 2014;

9 Ottoni e Izar 2008). Mais recentemente alguns estudos começaram a relatar o uso de ferramentas

10 dentro de outros contextos (contexto sexual: Falótico e Ottoni (2013, 2014) para S. libidinosus;

11 toothpick e nasal probe: Haslam e Falótico (2015) para S. libidinosus; pesca de cupins: Souto et al.

12 (2011) por S. flavius). Contudo, até o momento, apenas pouquíssimos estudos relatam o consumo de

13 água por macacos pregos selvagens (e.g. Moraes et al. 2014: S. libidinosus; Oliveira et al. 2014:

14 Cebus kaapori; Phillips, 1998: Cebus albifrons trinitatis). Isso é particularmente curioso para S.

15 libidinosus considerando que, geralmente, estes animais vivem em ambientes severamente secos

16 como a Caatinga.

17 Ambientes como a Caatinga caracterizam-se por regiões que são marcadas por precipitação

18 irregular, altas temperaturas e baixa disponibilidade de recursos alimentares (Araújo et al. 2007).

19 Estas características impõem à fauna uma maior pressão na adaptabilidade para lidar com tais

20 situações extremas, em especial mamíferos (Streilein 1982; Albuquerque et al. 2012). Diversas

21 espécies de primatas que vivem em ambientes cujas temperaturas são elevadas lidam com esses

22 problemas ao adotarem distintas estratégias comportamentais (e.g. De la Fuente et al. 2014).

23 Especificamente, macacos-prego (Sapajus libidinosus) são conhecidos por apresentarem alto

24 potencial adaptativo e assim manter populações estáveis em ambientes secos (Moura e Lee 2004;

25 Mannu e Ottoni 2009). Uma característica da espécie é o uso de ferramentas para a obtenção de

26 alimentos encapsulados ou de difícil acesso o que, possivelmente, se torna uma das principais fontes

Page 53: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

1 de obtenção de líquido (e.g. Moraes et al. 2014). Aparentemente S. libidinosus selvagens da Chapada

2 do Araripe, além de usarem ferramentas para acessar frutos, driblam a necessidade hídrica e

3 consequente desidratação ao adotarem distintas estratégias para diretamente acessarem potenciais

4 fontes de água.

5 Baseados na importância da hidratação, procuramos identificar e descrever aqui, pela

6 primeira vez, a obtenção de água a partir de fontes naturais por S. libidinosus selvagens sem o uso de

7 ferramentas. Para tanto, investigamos um grupo de macacos-prego (Sapajus libidinosus) no

8 semiárido brasileiro, em um ambiente onde fontes de água permanente são muito raras ou

9 virtualmente inexistentes principalmente durante a estação seca.

10

11 Métodos

12

13 O estudo foi conduzido na parte da Chapada do Araripe que compreende o estado de

14 Pernambuco, Nordeste do Brasil (7°26'33.8"S 39°42'47.7"W). A área se caracteriza por um

15 extensivo platô de arenito ao longo da divisa dos estados de Pernambuco e Ceará apresentando alta

16 complexidade estrutural, refletida através da vegetação que sofre mudanças bruscas em sua

17 composição, formando um mosaico de manchas de tamanho variado (Streilein 1982). O clima é

18 quente e semiárido, com curta estação chuvosa no verão-outono, podendo ser favorecido com chuvas

19 orográficas irregulares (Araújo et al. 2007).

20 A coleta de dados ocorreu de julho de 2014 a fevereiro de 2015 com uma população de

21 macacos-prego (Sapajus libidinosus) selvagens composta de 35 indivíduos. Os animais foram

22 acompanhados por S. Castro durante 10 dias por mês, desde o amanhecer até o entardecer,

23 totalizando um esforço amostral de 960 h, destas 102 h foram de observações diretas dos animais.

24 Observações diretas consistiam da visualização dos animais pelo observador sendo anotadas em

25 caderneta de campo e, quando possível, registradas com o auxílio de uma câmera Nikon P510.

26 Observações indiretas consistiam do registro de vestígios dos vegetais consumidos, encontrados em

48

Page 54: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

49

1 áreas comumente utilizadas pelos animais (e.g. Moraes et al. 2014). Nestes casos foi dada especial

2 atenção à composição dos vegetais e das partes utilizadas, interpretando assim as ocorrências.

3 Utilizamos o método de observação ad libitum (Altmann 1974; Lehner 1996) para registrar os

4 eventos relacionados à obtenção de água em ambos os registros.

5

6 Resultados

7

8 Nós registramos atividades exploratórias para obtenção de água durante os meses de agosto a

9 dezembro. As técnicas realizadas para a aquisição de água ocorreram durante as atividades de

10 alimentação e forrageio. Registramos e descrevemos, através de observações diretas e indiretas, o

11 uso de quatro distintas fontes de água:

12 Water source 1 (Observação direta: n = 2; período: 20 de setembro, às 8:17 h da manhã e

13 posteriormente às 10:48 h da manhã; estação seca): água encontrada em oco de árvores. Obtenção da

14 água: uma fêmea adulta encontrava-se ancorada ao tronco de uma árvore (pela cauda e apoiada pelos

15 membros posteriores, liberando assim seus membros anteriores em uma postura semelhante à que

16 Hunt (1996) chamou de horizontal tripod ou, de acordo com Fontaine (1990), inverted bipedalism).

17 Assim, a fêmea retirava a água acumulada na porção oca do caule com as mãos. Em um segundo

18 momento, no mesmo dia, a fêmea inseriu a cauda no oco da árvore, para, em seguida, sugar a água

19 retida nos pelos (Fig. 1a). O primeiro evento durou 95 s e o segundo durou 49 s. O comportamento

20 também foi observado por um macho adulto que não repetiu a ação.

21 Water source 2 (Observação direta: n = 10; período: agosto a dezembro; estação: seca e

22 chuvosa): pseudobulbos de orquídeas (Catasetum sp.). Catasetum sp. são epífitas que se encontram

23 fixas nos caules de catolé e dispõem de reserva hídrica nos meses de dormência (Moraes e Almeida

24 2004). Obtenção da água: os indivíduos subiam em pés de catolé (Syagrus sp.) e inspecionavam os

25 pseudobuldos de Catasetum sp. Com ambos os membros anteriores os animais retiravam os

26 pseudobulbos com a mão ou, às vezes, mordiam o vegetal diretamente com a boca sugando o líquido

Page 55: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

59

1 contido em seu interior descartando o bagaço (Fig. 1b). Tal método foi realizado tanto por indivíduos

2 jovens quanto adultos de ambos os gêneros, sendo observado também por filhotes.

3 Water source 3 (Observação direta: n = 1; observação indireta: n = 3; período: agosto,

4 setembro e novembro; estação: seca): cachos de catolé (Syagrus sp). Syagrus é uma palmeira

5 pertencente à família Arecacea, seu fruto, enquanto verde, apresenta endosperma líquido que se torna

6 sólido com o processo de amadurecimento dando origem às amêndoas (Drumond 2007). Estes frutos

7 também são consumidos pelos animais com auxílio de ferramentas (Moraes et al. 2014). Obtenção da

8 água: os indivíduos exploravam aparentemente os frutos em estágio propício para o consumo da água

9 presente em seu interior. Na observação direta visualizamos um macho retirando com os membros

10 posteriores e boca, os cachos de catolé. Em seguida ele segurou o fruto de catolé firmemente com um

11 ou dois membros anteriores e, com os dentes, perfurou o fruto e bebeu o endosperma líquido. Nas

12 observações indiretas visualizamos cachos de catolés perfurados com os dentes (Fig. 1c).

13 Water source 4 (Observação indireta: n = 8; período: julho a fevereiro; estação: seca e

14 chuvosa): caules de cansanção Cnidoscolus sp.. Estes são um vegetal da família Euphorbiaceae com

15 presença de tricomas urticantes em quase todas as suas partes vegetativas e florais (Muenscher

16 1958). Obtenção da água: o caule era totalmente desfiado até alcançar o látex contido em seu

17 interior. As folhas eram dispensadas. Não houve presença de pedras martelos nas bigornas indicando

18 que não ocorreu o uso de ferramentas para acessar o vegetal. A ausência de ferramentas e o estado

19 como o vegetal era encontrado indicam que os animais usavam os dentes para desfiar o vegetal. As

20 evidências foram observadas em um único ponto de estudo, mesmo havendo presença do mesmo

21 vegetal em outros locais utilizados para forrageio (Fig. 1d).

Page 56: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

51

1

2 Figura 1 - Fêmea consumindo água no oco da árvore com a cauda (a); Jovem consumindo pseudobulbo de orquídea (b);

3 Catolé consumido pelos animais (c); Cansanção consumido pelos animais (d).

4

5 Discussão

6

7 Aqui apresentamos de forma inédita como um grupo de macacos-prego (Sapajus libidinosus)

8 exploram potenciais fontes de água sem o uso de ferramentas para lidar com um ambiente desafiador

9 como a Caatinga. Capuchins monkeys da Costa Rica (Cebus capucinus) costumam mudar de fonte

10 de alimento várias vezes ao dia, porém, durante a estação seca na dry forest desse país esses animais

11 concentram sua área de forrageamento ao redor das poucas spring-fed waterholes, reduzindo assim a

12 área percorrida diariamente durante essa época (Fedigan et al. 1996). A área aqui estudada não

13 possui fontes naturais de água durante o período seco e todas as técnicas registradas foram realizadas

14 durante o forrageio alimentar, sugerindo uma possível otimização tanto dos recursos disponíveis

Page 57: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

52

1 quanto da economia energética ao atrelar o consumo hídrico ao alimentar evitando assim percorrer

2 maiores distâncias.

3 A realização do comportamento de beber água em ocos de árvores, ao que tudo indica,

4 depende de altos níveis de pluviosidade local, pois a água só permanece acumulada nas fendas se

5 houver constantes precipitações a qual permita o acúmulo da água, sugerindo que essa conduta seja

6 esporádica em ambientes secos. Miranda et al. (2005) relatam tentativa semelhante realizada por uma

7 fêmea de bugio-ruivo (Alouatta guariba clamitans), porém a mesma se utilizou apenas dos membros

8 anteriores e boca, não obtendo êxito na ação.

9 As técnicas envolvendo vegetação específica/peculiar foram predominantemente

10 apresentadas pelos animais. Ferrari e Hilário (2012) indicaram diferenças entre dois grupos de

11 calitriquídeos de áreas distintas na frequência de visitas a fontes de água, apontando tanto a

12 influência dos vegetais no ambiente quanto o comportamento mais terrestrial de um dos grupos

13 estudados. A vegetação associada ao elevado poder cognitivo/adaptativo desses primatas pode ter

14 sido os principais fatores que influenciaram os comportamentos exploratórios do grupo estudado.

15 Alguns mamíferos conseguem driblar a escassez hídrica com adaptações fisiológicas (e.g. Streilein

16 1982b) e comportamentais (De La Fuente et al. 2014), ou ainda utilizando apenas a umidade presente

17 nos alimentos (Nagy e Gruchacz 1994). Os macacos do presente estudo conseguem identificar

18 presença de água mantida em situações crípticas demonstrando sucesso ainda não observado em

19 outras espécies bem como em outros grupos de macacos-prego. Em ambientes onde o tipo de

20 vegetação se distancia da observada nesse estudo ou que os vegetais aqui apresentados estejam

21 ausentes pode-se dificultar o acesso a fontes alternativas de água, podendo tanto aumentar as

22 atividades exploratórias como diminuir o consumo direto de água caso os vegetais com aporte

23 hídrico estejam indisponíveis no ambiente.

24 Ao se utilizarem desses vegetais, os animais podem atuar modificando a estrutura das

25 comunidades de plantas onde vivem (Chapman et al. 2012). Os catolés e orquídeas consumidos pelos

Page 58: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

53

1 macacos não terão como se reestruturar, entendendo que ao mesmo tempo em que desenvolvem

2 novos métodos exploratórios esses animais podem vir a atuar como controladores desses vegetais. A

3 área estudada tem presença elevada tanto de catolés quanto de orquídeas, logo tal atividade, ao que

4 tudo indica, não representa um papel negativo no ambiente, podendo até ter um valor positivo no

5 controle desses vegetais.

6 Cebus capucinus (espécie proximamente aparentada com os Sapajus libidinosus do presente

7 estudo) de Santa Rosa National Park são os únicos primatas daquela região que descem das árvores

8 para beber água, uma vez que bebem água praticamente todos os dias (Fedigan et al. 1996; Fragaszy

9 et al. 2004). Sapajus libidinosus de áreas semelhantes às do presente estudo costumam passar uma

10 grande parte do tempo no chão, em comparação a populações do gênero Sapajus que vivem em

11 florestas úmidas, em atividades relacionadas com o forrageamento e busca por água (Campos e

12 Fedigan 2009). Para acessar os pés de cansanção e os frutos do catolé os animais precisaram adotar

13 comportamentos mais terrestriais, favorecendo assim dois métodos exploratórios. Mesmo sendo

14 considerados primatas arborícolas, os macacos-prego utilizam, preferencialmente, estratos médios e

15 inferiores das florestas (Terborgh 1983), exibindo terrestrialidade facultativa, de acordo com as

16 condições ecológicas encontradas no habitat (Napier e Napier 1967), como a estrutura da vegetação,

17 a distribuição de recursos alimentares no tempo e espaço e o risco de predação (Enstam e Isbell

18 2004).

19 Ao longo de nosso estudo as únicas fontes de água de onde os macacos bebiam eram

20 efêmeras, como troncos ocos com pouca capacidade para acumular água de chuva e caules de

21 cansanção (Cnidoscolus sp.), ou bem distribuída, como o catolé (Syagrus sp.) e as orquídeas

22 (Catasetum sp.). Os dados fornecem informações importantes no que concerne aos métodos de

23 utilização das fontes alternativas de água. As altas temperaturas e a escassez de frutos carnosos

24 podem ter contribuído para que esses animais adotassem estratégias comportamentais para

25 manterem-se hidratados.

Page 59: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

54

1 É interessante que se façam pesquisas semelhantes com outras populações e até com outras

2 espécies a fim de elucidar com mais precisão essa lacuna ainda pouco explorada. Não foi possível

3 registrar o home range dos animais, uma vez que os mesmos ainda se encontram em fase de

4 habituação, contanto, estudos subsequentes poderão indicar se há de fato uma alteração no uso da

5 área durante as duas estações levando em conta as fontes alternativas e naturais de água.

6

7 Agradecimentos

8

9 Nós agradecemos à FACEPE (IBPG: 1662-2.05/13) pelo apoio financeiro concedido à Shalana

10 Castro. Ao senhor Veremundo Peixoto pela recepção e permissão da pesquisa em sua fazenda.

11

12

13 Referências

14

15 Albuquerque UP et al. (2012). Caatinga revisted: ecology and conservation of an important seasonal

16 dry forest. Sci World J vol. 2012, Article ID 205182, 18 pages. doi:10.1100/2012/205182

17

18 Altmann J. (1974). Observational study of behavior: sampling methods. Behavior 49: 227-267.

19

20 Araújo, EL, Albuquerque, UP, & Castro, CC (2007). Dynamics of Brazilian Caatinga - a review

21 concerning the plants, environment and people. Functional Ecosystems and Communities 1:15-29.

22

23 Campos, FA & Fedigan, LM (2009). Behavioral adaptations to heat stress and water scarcity in

24 white-faced capuchins (Cebus capucinus) in Santa Rosa National Park, Costa Rica. American

25 Journal of Physical Anthropology 138: 101-111. doi: 10.1002/ajpa.20908

26

Page 60: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

55

1 Chapman CA et al., (2012). Are Primates Ecosystem Engineers? International Journal of

2 Primatology, DOI 10.1007/s10764-012-9645-9

3

4 De La Fuente, MF et al., (2014). Behavioral Adjustments by a Small Neotropical Primate (Callithrix

5 jacchus) in a Semiarid Caatinga Environment, The Scientific World Journal, vol. 2014, 8 páginas.

6

7 Drumond, MA et al. (2004). Estratégias de uso sustentável da biodiversidade da caatinga. In Silva,

8 J.M.C.; Tabarelli, M.; Lins, L. V. (Org.). Biodiversidade da Caatinga: áreas e ações prioritárias.

9 Brasília: Ministério do Meio Ambiente; UFPE, p.329 - 340.

10

11 Enstam, KL; Isbell, LA (2004) Microhabitat preference and vertical use of space by patas monkey

12 (Erythrocebus patas) in relation to predation risk and habitat structure. Folia Primatologica. 75: 70-

13 85.

14

15 Falotico, T & Ottoni, EB (2013). Stone Throwing as a Sexual Display in Wild Female Bearded

16 Capuchin Monkeys, Sapajus libidinosus. PLoS One, v. 8, n. 11.

17

18 Falotico, T & Ottoni, EB (2014). Sexual bias in probe tool manufacture and use by wild bearded

19 capuchin monkeys. Behavioural Processes, 108: 117-122.

20

21 Fedigan, LM, Rose, LM, & Avila, RM (1996). See how they grow: tracking capuchin monkey

22 populations in a regenerating Costa Rican dry forest. In: Adaptive Radiations of Neotropical

23 Primates. M Norconk, A Rosenberger and P Garber (eds) Plenum Publishing, pp.289-30.

24

Page 61: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

56

1 Ferrari, SF & Hilário, RR (2012). Use of water sources by buffy-headed marmosets (Callithrix

2 flaviceps) at two sites in the Brazilian Atlantic Forest. Primates, 53: 65-70.

3

4 Fontaine, B, Moissom, PY & Wickings, EJ (1995). Observations of spontaneous tool making and

5 tool use in a captive group of western lowland gorillas (Gorilla gorilla gorilla). Folia Primatologica.

6 65: 219–223.

7

8 Fragaszy, DM; Visalbergui, E; Fedigan, LM. (2004) The complet capuchim: the biology of the

9 Genus Cebus. Cambridge: Cambridge University Press.

10

11 Haslam, M & Falótico, T (2015). Nasal probe and toothpick tool use by a wild female bearded

12 capuchin (Sapajus libidinosus). Primates, v. 56: 211-214.

13

14 Hunt, GR (1996). Manufacture and use of hook-tools by New Caledonian crows. Nature, 379: 249-

15 251.

16

17 Lehner, PN (1996). Handbook of ethological methods. Cambridge University Press. Cambridge.

18 672p.

19

20 Mannu, M, & Ottoni, EB (2009). The Enhanced Tool‐Kit of Two Groups of Wild Bearded Capuchin

21 Monkeys in the Caatinga: Tool Making, Associative Use, and Secondary Tools. American Journal of

22 Primatology, 71(3), 242‐251. doi: 10.1002/Ajp.20642.

23

Page 62: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

57

1 Miranda, JMD et al. (2005). Formas não usuais para a obtenção de água por Alouatta guariba

2 clamitans em ambiente de Floresta com Araucária no Sul do Brasil. Neotropical Primates 13 (2): 21-

3 23.

4

5 Moraes, BLC, Souto AS & Schiel N (2014). Adaptability in Stone Tool Use by Wild Capuchin

6 Monkeys (Sapajus libidinosus). American Journal of Primatology, 76 (10), 967-977. doi:

7 10.1002/ajp.22286.

8

9 Moraes, CP & Almeida, M (2004). Influência climática sobre a plasticidade fenotípica floral de

10 Catasetum fimbriatum Lindley. Ciência e Agrotecnologia 28: 942-948.

11 Moura, ACA & Lee, P (2004). Capuchin stone tool use in Caatinga dry forest. Science 306: 1909.

12

13 Muenscher, WC (1958). Euphorbiaceae. In: MUENSCHER, W.C. (Ed.) Poisonous plants of the

14 United States. New York: The Macmillan Company. p. 142-152

15

16 Nagy, KA, Gruchacz, MJ (1994) Seasonal water and energy metabolism of the desert-dwelling

17 kangaroo rat (Dipodomys merriami). Physiology Zoology 67:1461–1478.

18

19 Napier, JR; Napier, PA (1967) handbook of living primates. London; Academic Press.

20

21 Ottoni, EB. & Izar, P (2008). Capuchin monkey tool use: Overview and implications. Evolucionary

22 Anthropology 17: 171-178.

23

24 Oliveira SG, Lynch Alfaro JW, Veiga LM (2014) Activity Budget, Diet, and Habitat Use in the

25 Critically Endangered Ka’apor Capuchin Monkey (Cebus kaapori) in Pará State, Brazil: A

Page 63: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

58

1 Preliminary Comparison to Other Capuchin Monkeys American Journal of

2 Primatology 10.1002/ajp.22277

3

4 Phillips, KA. (1998). Tool Use in Wild Capuchin Monkeys (Cebus albifrons trinitatis). American

5 Journal of Primatology, 46: 259–261.

6

7 Souto, A, et al., (2011). Critically endangered blonde capuchins fish for termites and use new

8 techniques to accomplish the task. Biology Letters 7(4): 532-535.

9

10 Streilein, KE 1982a. Ecology of small mammals in the semiarid Brazilian Caatinga. I. Climate and

11 faunal composition. Annals of Carnegie Museum, Pittsburgh, 51: 79-107.

12

13 Streilein, KE 1982b. Ecology of small mammals in the semiarid Brazilian Caatinga. II. Water

14 relations. Annals of Carnegie Museum, Pittsburgh, 51: 109-126.

15

16 Terbogh, J (1983) Five new world monkeys. Pincetown. Princetown University Press.

17

Page 64: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

59

INSTRUCTIONS FOR AUTHORS

Submit manuscripts in Word. Save your file in .docx format (Word 2007 or higher) or .doc format

(older Word versions).

• Number pages consecutively. Use continuous line numbers starting on the first page. Do not

use footnotes.

• Double-space the text throughout. Leave anempty line between paragraphs and ensure

headings are clear.

• Use tab stops or other commands for indents, not the space bar.

• Use the table function to make tables, not spreadsheets.

• Use the equation editor or MathType for equations. Define all variables used in an equation.

• Use abbreviations sparingly. If you invent new ones, they will be familiar to you, but not to

your reader, who will need to go back and look them up. Define all abbreviations at first mention in

the abstract and in the main text by giving the full term, then the abbreviation in parentheses, and use

them consistently thereafter. Abbreviations that are self-explanatory are more useful to the reader

than those that are not (e.g., “wet season” rather than “period 1”).

• The text should be clear, readable, and concise. Manuscripts should be well presented, with

correct grammar, spelling and punctuation. You should not expect reviewers and editors to make

corrections to the English. Authors who are native English speakers must take responsibility for

checking the submission for errors. Authors whose first language is not English should ask a native

English speaker with experience in writing for scientific journals to verify their use of English prior

to submission and confirm this in the letter to the Editor. If the English is unsatisfactory, we will

return the manuscript for correction without review.

• Always consider your reader. Make sure that the order and flow of your ideas is logical, and

follow the same order throughout, i.e., in the Introduction, Methods, Results, and Discussion.

• Read your manuscript through carefully before submission.

Page 65: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

60

• Avoid colloquialisms and jargon.

• Capitalize IUCN threat categories, such as Threatened, Endangered, Critically Endangered.

• Be consistent with the use of tense. In general, use past tense for the Methods (what you did),

the Results (what you found) and Discussion.

• Avoid beginning sentences with “Author (year) found…” This is usually better phrased as

“The finding you wish to highlight (Author, year).”

• Use the active voice throughout, not the passive. In other words, employ I/we in relating what

you did, observed, etc.

• Every sentence should have an explicit subject. Use “I” or “we” as appropriate for the number

of actors.

• Avoid parenthetic instructions to readers. In other words, avoid embedded fragments such as

(see Darwin, 1859 for fuller discussion on the origin of species). The citation (Darwin, 1959) is

sufficient to direct the reader to a fuller source of information on a topic.

• Refer to Figures and Tables using an Arabic number (1, 2, 3, etc.) in the text and include

them in the text, following the paragraph in which you refer to them. Do not write “Results are

presented in Table/Figure 1”; instead summarize the content of the table or figure and cite it

parenthetically, for example: We found a significant difference in body mass between the sexes

(Figure 2)”.

• Insert a space between numbers and the unit of measure (6 m, 14 ml).

• Use no more than three levels of headings. Do not number headings.

Please consult one or more of the following when preparing your manuscript:

1) Papers of similar length and topic in a recent issue of the International Journal of Primatology

2) Planning, Proposing and Presenting Science Effectively (by Jack P. Hailman and Karen

B. Strier, Cambridge University Press, 1997)

Page 66: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

61

3) Scientific Style and Format. The Council of Biology Editors Manual for Authors, Editors and

Publishers (Cambridge University Press).

TAXONOMY

• Use strepsirrhine, not prosimian.

• Be consistent in your use of latin and common names. If using common names, give the latin

name for a species the first time you mention the common name, both in the abstract and in the main

text.

• Linnaean nomina and common names of species should use the lexicons in Grubb et al. (IJP

24(6): 1301-1357, 2003) and Brandon-Jones (IJP 25(1); 97-164, 2004) for Old World monkeys and

apes and Colin Grove's Primate Taxonomy (2001, Smithsonian Institution Press) for New World

monkeys, tarsiers and strepsirrhines, unless your subject is a new species. Do not use Linnaean

nomina adjectivally; write "habitats of Pan paniscus," not "Pan paniscushabitats."

• Do not abbreviate taxa except within a paragraph in which you have already written out the

same taxon.

• Avoid nicknames such as chimps for chimpanzees, orangs for orangutans, ringtails for ring-

tailed lemurs.

• The International Union of Geological Sciences have recently moved the Pliocene-

Pleistocene boundary from 1.8 to 2.6 Ma, but there is opposition to that move among many

researchers who work on late Cenozoic (post-Miocene) topics. We do not endorse either the old or

the new definition, but ask authors who use the terms Pleistocene and Pliocene to state in their

Introduction which of the two current options they use, citing the relevant reference. The recognition

of Neogene and Quaternary is at the discretion of the author.

PREPARING A MANUSCRIPT FOR SUBMISSION

To facilitate double-blind review, please ensure that your manuscript does not reveal your identity.

To do this, please submit the following as two separate files:

Page 67: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

62

• a Title Page containing the Authors’ details and the Acknowledgements

• the Complete Anonymous Text with no author details

TITLE PAGE and ACKNOWLEDGEMENTS

Submit a full cover page with the title and the authors' names and affiliations followed by a page

with the full acknowledgments.

Cover page

The cover page should include the title; the full names of all authors (first and last) as they wish them

to appear in print; the authors' institutional affiliations; the name, address, telephone number, and e-

mail address of the author responsible for receiving proofs, correspondence, and reprint requests; and

the current address of any author(s) whose institutional affiliation has changed since the work

reported was performed.

Acknowledgments

On a separate page list any acknowledgments, sources of support, grants, disclaimers, etc. All

individuals acknowledged should be aware of the fact and agree to inclusion.

COMPLETE ANONYMOUS TEXT

Remove names and affiliations from the Complete Anonymous Text. In addition:

- remove phrases like “as we have shown before”

- name files with care

- remove the acknowledgements

THE SECTIONS OF THE MANUSCRIPT

Title

Provide a concise and informative title. We do not encourage journalistic or colloquial titles. If you

include a species name in the title, also include the corresponding latin name.Include a short running

title.

Abstract

Page 68: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

63

• The abstract should constitute a single paragraph of not more than 250 words that is complete

without reference to the text.

• Do not use acronyms or complex abbreviations. The abstract must summarize the entire

paper, including the general context, your aim, a concise account of the methods, a clear description

of the most important results, and a brief presentation of the conclusions, including broad

conclusions for Primatology, in that order.

• Do not begin the abstract with your aim or study taxon.

• Avoid vague statements such as: "We discuss the implications of our findings". Instead give a

brief summary of that discussion.

• The abstract should not contain unexplained abbreviations or terms. It should not normally

contain citations, but if it does, then these should be included in full, as not all readers are able to

access the full text.

Keywords

Provide 4 to 6 keywords which can be used for indexing purposes. These should not repeat the title.

Introduction

• The Introduction should put your study into context. It should begin broadly, with the general

context of your study, and focus down to the specific question that you address. It is not normally

appropriate to begin with your study species.

• Begin with a brief summary of current understanding of the question that you address.

• Review the literature that reports previous research on the subject, highlighting why the

question is important and what is not yet known. The number of papers published on a topic is not

usually a good way to begin a review.

• Once you have reviewed the general context, introduce your model system (e.g., your study

taxon), and describe why it is a particularly suitable choice to advance our knowledge of the question

in hand. No further general context should appear after this point.

Page 69: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

64

• Lead up to a clear statement of your aim and explain your approach to the question and

rationale succinctly. The introduction should normally finish with clear predictions regarding the

outcomes of your study.

• Avoid listing articles but providing no information about their content. Cite reviews where

appropriate, rather than long lists of articles.

• Cite the original author for a hypothesis.Ensure that you cite the literature fairly. It is not

appropriate, for example, to cite only work by your group when other groups also work on the same

topic.

• Avoid self-promotion and unnecessary claims of novelty (e.g., “we provide the first

evidence” or “we are the first to show”. All studies present new findings, so such claims are not

necessary. Instead, explain to the reader how the study contributes new understanding of a question

and explain why the findings are of interest.

• Remember that we build on previous work and review previous work fairly, rather than

highlighting only any limitations.

• Reports in IJP should be self-contained. It is not usually appropriate to refer to larger research

programs if you do not report the results of these studies.

Methods

• The Methods should describe clearly how you carried out your study, including a description

of your study site, details of the study subjects, study design and data collection, laboratory analysis

and statistical analysis, as appropriate.

• Provide details of how you collected all data reported in the Results but do not include

additional data collection for which you do not report findings. Define all terms. Use sub-headings to

organize the content.

• Data collection and laboratory analyses should be described in sufficient detail such that other

researchers could repeat your work. This may involve repeating material from previous publications.

Page 70: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

65

Include how you summarized data (means, etc.) and report variability (SEM, SD, etc.), any

transformations used and all statistical tests with reference to the particular. Do not include results in

the methods, with the exception of preliminary results that were used to design your study.

• Statistical analyses are usually described in a sub-section entitled “statistical analysis”.

Describe how you tested your predictions in the same order as you introduced them, to help the

reader. Provide details of all tests conducted.

• Authors using generalized linear models (GLMs), generalized linear mixed models (GLMMs)

and the like should provide a statement in their methods to indicate that they have considered the

assumptions of their models and have tested their datasets to ensure these assumptions are not

violated.

Ethical Note

• Address the ethical considerations of your study in a separate subsection of the Methods

headed Ethical Note. Identify any ethical implications of the experimental design and procedures,

and specify any licenses acquired to carry out the work.

• Describe procedures that were taken to minimize the welfare impact on subjects, including

choice of sample sizes, use of pilot tests and predetermined rules for intervention, where relevant.

Include any steps taken to enhance the welfare of subjects. If the study involved keeping wild

animals in captivity, state for how long the animals were captive and whether, where and how they

were returned to the wild. If you use radio-telemetry, give details of capture methods, and include

how you removed collars at the end of the study.

• Where relevant, include a statement that (1) the research complied with protocols approved

by the appropriate Institutional Animal Care Committee (provide the name of the committee); and

that (2) the research adhered to the legal requirements of the country in which the research was

conducted.

Page 71: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

66

• Consult relevant guidelines, including the Code of Best Practices for Field Primatology (Code

of Best Practices for Field Primatology)."Guidelines for the treatment of animals in behavioural

research and teaching" in ANIMAL BEHAVIOUR, 2006, 71, 245–253 253 and the ARRIVE

guidelines for the Reporting of In Vivo Experiments in Animal Research published in PLoS Biology

8 (6): e1000412. doi:10.1371/journal.pbio.1000412.

Results

• The results section should report your findings succinctly in a logical sequence. It should not

contain introductory material, methods or discussion.

• Support your statements with data. Present data in tables or figures where appropriate.

Summarize the findings in words, and refer to the table or figure, but do not repeat values presented

in tables.

• Report summary rather than raw data. Do not use “average”. Instead, specify which type of

“average” you report (mean, median, mode, etc.).

• Present means and standard deviation/standard error in the format X ± SD/SE unit (i.e., mean

body weight = 6.38 ± SD 1.29 kg or mean head-trunk length = 425 ± SE 3.26 mm).

• Present ranges as “range: 15-29”.

• Write sample sizes as “N=731”.

• Write numbers less than 1 as 0.54 not as .54.

• Present all P values, including non-significant outcomes, using an exact probability value

whenever possible. Thresholds are acceptable for highly significant values (e.g., P ‹ 0.001).

• Capitalize the P value (P) and sample size (N). Write degrees of freedom in lower case

(e.g.,df = 4). For example: ANOVA: F = 2.26, df = 1, P = 0.17.

• Results should include the name of the statistical test, followed by a colon, the test statistic

and its value, degrees of freedom or sample size (depending on which is most appropriate for that

test), and the P value, with indication if it is one-or two-tailed (unless you address this issue in the

Page 72: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

67

methods). These entries should be separated by commas, e.g. Wilcoxon signed-ranks test: Z=3.82,

P‹0.001, N=20; ANOVA: F=2.26, df=1, P=0.17. There is no need to repeat the name of the test if

you report similar tests in the same paragraph.

• When using generalized linear models (GLMs), generalized linear mixed models (GLMMs),

and the like,ensure that you report the results of the full model.

• Remember that the P value does not measure the magnitude of an effect, so ensure that you

include information concerning biological, as well as statistical, significance of any findings by

presenting summary statistics or a figure.

Illustrating Your Findings

• Use figures to facilitate the readers’ ability to evaluate the data and findings.

• Plot data such that the reader can examine the distribution, for example by using scatterplots

and indicating paired or matched data, particularly where sample sizes are small. Consider

illustrating the differences between matched pairs where appropriate. Boxplots are more informative

than bar charts. Ensure that you describe all aspects of the plot in the legend or notes.

• Figures for studies with small sample sizes should show the full distribution of the data,

rather than summary statistics.

• Report medians when using nonparametric statistical tests. When reporting nonparametric

statistics for paired or matched data report the median difference instead of the median values for

each condition (unlike means, medians are not additive, thus the median difference is not the same as

the difference between the medians for each condition).

• For more on this topic, please see Weissgerber et al2015. Beyond bar and line graphs: time

for a new data presentation paradigm. PLoSBiol 13(4): e1002128.

doi:10.1371/journal.pbio.1002128.

Discussion

Page 73: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

68

• The Discussion should summarize and interpret your main findings and place them in the

context of what was already known. It should link back to the question(s), hypotheses and

predictions in the Introduction, examine whether the findings support the hypotheses and compare

your findings with those of previous studies.

• Begin the Discussion with a summary of your findings. There is no need to repeat your aim.

• The Discussion should not repeat the results, but may summarize them. It should not include

further results that are not reported in the Results section. Include discussion of any limitations to

your study.

• It is often useful to address each major finding in a separate paragraph, comparing your

results with previous studies, and giving potential explanations for any differences. As a general rule,

a paragraph that does not refer to your results does not belong in your discussion.

• End with the broader implications of your results for Primatology (not only for your study

taxon).

Acknowledgments

• Acknowledgments should include sources of support, grants, disclaimers, names of those

who contributed but are not authors, etc. The names of funding organizations should be written in

full.

• Remember to acknowledge comments from reviewers and editors in any revision. This

includes comments on previous drafts submitted to other journals.

Citations

• Cite references in the text by name and year in parentheses, e.g.:

Negotiation research spans many disciplines (Thompson 1990).

This effect has been widely studied (Abbott 1991; Barakat et al. 1995; Kelso and Smith 1998;

Medvec et al. 1993).

Page 74: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

69

• Avoid beginning sentences with “Author (year) found…”. This is usually better phrased as

“The finding you wish to highlight (Author, year).”

Reference list

The list of references should only include works that are cited in the text and that have been

published or accepted for publication. Personal communications and unpublished works should only

be mentioned in the text. Do not use footnotes or endnotes as a substitute for a reference list.

Reference list entries should be alphabetized by the last names of the first author of each work.

Harris, M., Karper, E., Stacks, G., Hoffman, D., DeNiro, R., Cruz, P., et al. (2001). Writing labs and

the Hollywood connection. Journal of Film Writing, 44, 213–245.

Slifka, M. K., & Whitton, J. L. (2000) Clinical implications of dysregulated cytokine production.

Journal of Molecular Medicine, doi:10.1007/s001090000086

Calfee, R. C., & Valencia, R. R. (1991).APA guide to preparing manuscripts for journal publication.

Washington, DC: American Psychological Association.

O’Neil, J. M., & Egan, J. (1992). Men’s and women’s gender role journeys: Metaphor for healing,

transition, and transformation. In B. R. Wainrib (Ed.), Gender Issues Across the Life Cycle(pp. 107–

123). New York: Springer.

Abou-Allaban, Y., Dell, M. L., Greenberg, W., Lomax, J., Peteet, J., Torres, M., & Cowell, V.

(2006).Religious/spiritual commitments and psychiatric practice. Resource document. American

Psychiatric Association.http://www.psych.org/edu/other_res/lib_archives/archives/200604.pdf.

Accessed 25 June 2007.

Journal names and book titles should be italicized.

For authors using EndNote, Springer provides an output style that supports the formatting of in-text

citations and reference list.

Tables

• Include tables in the main text for review purposes.

Page 75: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

70

• Number all tables using Arabic numerals (Table 1, 2, 3). Cite all tables in text in consecutive

numerical order. Supply a table caption (title) for each table above the table, explaining the

components of the table. Include the study taxon, site and dates, where relevant.

• The reader should be able to interpret tables without referring to the text. Define all

abbreviations and terms in the caption, using the same terminology as used in the text. Identify any

previously published material by giving the original source in the form of a reference at the end of

the table caption.

• Do not split tables into separate sections (e.g., Table 1a and Table 1b). Make separate tables

(Table 1, Table 2) or combine data under the same columns or rows.

Figures

• Include figures in the main text for review purposes.

• Number all figures using Arabic numerals (Fig. 1, 2, 3). Cite all figures in the text in

consecutive numerical order. Denote figure parts using lowercase letters (a, b, c, etc.). If your article

includes an appendix containing figures, continue the numbering fromthe last figure in the main text.

Do not number the appendix figures, "A1, A2, A3, etc.".

• Avoid unnecessary gridlines and rectangular frames. Ensure that axes are in black. Label all

axes and include units of measure in the label. Use a sensible number of decimal places in tick labels

and ensure all numbers along an axis have the same number of significant figures (1.0, 1.5, 2.0 not 1,

1.5, 2). Do not repeat % in the axes label and the tick labels.

• Match typeface and type size among figures. On a plot, ensure that the axis labels are similar

in size.

• Ensure that maps include a scale and compass direction. Number figures in online appendices

(Electronic Supplementary Material) separately.

Figure Captions

Page 76: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

71

• Each figure should have a concise caption describing accurately what the figure shows.

Include the study taxon, site and dates. Include the captions and the figure in the text file of the

manuscript, not in separate figure files for review purposes.

• The reader should be able to interpret figures without referring to the text. Define all

abbreviations and terms in the caption, using the same terminology as used in the text.

• Figure captions begin with the term Fig. in bold type, followed by the figure number, also in

bold type.

• Do not include punctuation after the number, or at the end of the caption.

• Identify all elements found in the figure in the figure caption; and use boxes, circles, etc., as

coordinate points in graphs.

• Identify previously published material by giving the original source in the form of a reference

citation at the end of the figure caption.

SUBMISSION OF THE FINAL MANUSCRIPT

Once a manuscript is accepted, please submit your final manuscript as:

(1) A text file (doc or docx) including the title page, abstract, keywords, introduction, methods,

results, discussion, acknowledgements, references and figure legends

(2) A text file (doc or docx) including the tables, with their headings

(3) A separate file for each figure. Please see the artwork and illustrations guidelines below.

(4) Any Electronic Supplementary Material. See instructions below.

DATA ACCESSIBILITY

The International Journal of Primatology encouragesauthors to make the data supporting their results

available, asElectronic Supplementary Material or via anappropriate repository.Data-sharing allows

others to check your analyses and build on your work.

If you include data asElectronic Supplementary Material, state thisin the article:

The datasets supporting this article are available asElectronicSupplementary Material.

Page 77: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

72

If you use an external repository then list the database, accession number and link to the DOI.

ARTWORK AND ILLUSTRATIONS GUIDELINES

For the best quality final product, we recommend that you submit all of your artwork in an electronic

format. Your art will then be produced to the highest standards. The published work will directly

reflect the quality of the artwork provided.

Electronic Figure Submission

Indicate which graphics program was used to create the artwork.

For vector graphics, the preferred format is EPS; for halftones, please use TIFF format. MS Office

files are also acceptable. Vector graphics containing fonts must have the fonts embedded in the files.

Name your figure files with "Fig" and the figure number, e.g., Fig1.eps.

Line Art

Definition: Black and white graphic with no shading.

Do not use faint lines and/or lettering and check that all lines and lettering within the figures are

legible at final size. All lines should be at least 0.1 mm (0.3 pt) wide. Scanned line drawings and line

drawings in bitmap format should have a minimum resolution of 1200 dpi. Vector graphics

containing fonts must have the fonts embedded in the files.

Halftone Art

Definition: Photographs, drawings, or paintings with fine shading, etc.

If any magnification is used in the photographs, indicate this by using scale bars within the figures

themselves. Halftones should have a minimum resolution of 300 dpi.

Definition: a combination of halftone and line art, e.g., halftones containing line drawing, extensive

lettering, color diagrams, etc.

Combination artwork should have a minimum resolution of 600 dpi.

Color Art

Page 78: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

73

Figures will be produced in black & white in the print version and in color in the electronic version

free of charge. The cost for reproducing color in the print version is $1150 per article. If color is

necessary and funding is unavailable, please contact the Editor-in-Chief.

If black and white will be shown in the print version, ensure that the main information will still be

visible. Many colors are not distinguishable from one another when converted to black and white. A

simple way to check this is to make a xerographic copy to see if the necessary distinctions between

the different colors are still apparent.

If the figures will be printed in black and white, do not refer to color in the captions.

Figure Lettering

To add lettering, it is best to use Helvetica or Arial (sans serif fonts).

Keep lettering consistently sized throughout your final-sized artwork, usually about 2–3 mm (8–12

pt). Variance of type size within an illustration should be minimal, e.g., do not use 8-pt type on an

axis and 20-pt type for the axis label. Avoid effects such as shading, outline letters, etc. Do not

include titles or captions within your illustrations.

Figure Placement and Size

When preparing your figures, size figures to fit the column width. For most journals the figures

should be 39 mm, 84 mm, 129 mm, or 174 mm wide and not higher than 234 mm.

Accessibility

To give people of all abilities and disabilities access to the content of your figures, please make sure

that:

All figures have descriptive captions (blind users can then use a text-to-speech software or a text-to-

Braille hardware).

Patterns are used instead of or in addition to colors for conveying information (color-blind users

would then be able to distinguish the visual elements).

Any figure lettering has a contrast ratio of at least 4.5:1.

Page 79: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

74

ELECTRONIC SUPPLEMENTARY MATERIAL (ONLINE APPENDICES)

Springer accepts electronic multimedia files (animations, movies, audio, etc.) and other

supplementary files to be published online along with an article or a book chapter. This feature can

add dimension to the article, as some information cannot be printed or is more convenient in

electronic form.

Cite Electronic Supplementary Material parenthetically in the text of the paper.

Provide a brief description of supporting information after the Acknowledgments, in the following

format:

Supporting Information XXX (Appendix S1) and XXX (Appendix S2) are available online.

Submission

Supply all Electronic Supplementary Material in standard file formats.

Include the following informationin each file: article title, journal name, author names, affiliation and

e-mail address of the corresponding author.

To accommodate user downloads, please keep in mind that larger-sized files may require very long

download times and that some users may experience other problems during downloading.

Audio, Video, and Animations

Always use MPEG-1 (.mpg) format.

Text and Presentations

Please submit editable versions of text files [e.g., .docx]. PDF format is acceptable when combining

collection of figures.

Spreadsheets

Spreadsheets should be converted to PDF if no interaction with the data is intended, but can be

submitted as .xls files (MS Excel).

Specialized Formats

Page 80: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

75

Specialized format such as .pdb (chemical), .wrl (VRML), .nb (Mathematica notebook), and .tex can

also be supplied.

Collecting Multiple Files

You can collect multiple files in a .zip or .gz file.

The text must make specific mention of all Electronic Supplementary Material as a citation, similar

to thosefor figures and tables.

Refer to the supplementary files as “Online Resource”, e.g., "... as shown in the animation (Online

Resource 3)", “... additional data are given in Online Resource 4”.

Name the files consecutively, e.g. “ESM_3.mpg”, “ESM_4.pdf”.

Captions

Please supply a concise caption describing the content of the file for each supplementary file.

Processing of supplementary files

Electronic supplementary material will be published as received from the author without any

conversion, editing, or reformatting.

Accessibility

In order to give people of all abilities and disabilities access to the content of your supplementary

files, please ensure that:

• The manuscript contains a descriptive caption for each supplementary material

• Video files do not contain anything that flashes more than three times per second (so that

users prone to seizures caused by such effects are not put at risk)

THE REVIEW PROCESS

All manuscripts are subject to review. Initial review is by the Editor-in-Chief and/or one of the

Associate Editors. Manuscripts judged inappropriate at this stage are rejected. Reasons for rejection

are based only on manuscript quality. We do not base decisions on the number of manuscripts

submitted, and we do not have target rejection rates.

Page 81: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

76

Manuscripts that pass the initial evaluation are sent to expert reviewers for evaluation. Once the

reviews are returned, the editor handling the manuscript evaluates both the reviews and the

manuscript and either requests revisions from the authors, or makes a recommendation of acceptance

or rejection to the Editor-in-Chief, who then issues the final decision.

PUBLICATION ETHICS

The International Journal of Primatology participates in the Committee on Publication Ethics (COPE

http://publicationethics.org/) and acts in accordance with their guidelines relating to the integrity of

the work submitted to, or published in, the journals.

AUTHORSHIP

The International Journal of Primatology recommends the COPE document “How to handle

authorship disputes: a guide for new researchers” as a guide to good authorship practice.

ETHICAL RESPONSIBILITIES OF AUTHORS

This journal is committed to upholding the integrity of the scientific record. As a member of the

Committee on Publication Ethics (COPE) the journal will follow the COPE guidelines on how to

deal with potential acts of misconduct.

Authors should refrain from misrepresenting research results which could damage the trust in the

journal and ultimately the entire scientific endeavor. Maintaining integrity of the research and its

presentation can be achieved by following the rules of good scientific practice, which includes:

• The manuscript has not been submitted to more than one journal for simultaneous

consideration.

• The manuscript has not been published previously (partly or in full), unless the new work

concerns an expansion of previous work (please provide transparency on the re-use of material to

avoid the hint of text-recycling (“self-plagiarism”)).

• A single study is not split up into several parts to increase the quantity of submissions and

submitted to various journals or to one journal over time (e.g., “salami-publishing”).

Page 82: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

77

• No data have been fabricated or manipulated (including images) to support your conclusions

• No data, text, or theories by others are presented as if they were the authors own

(“plagiarism”). Proper acknowledgements to other works must be given (this includes material that is

closely copied (near verbatim), summarized and/or paraphrased), quotation marks are used for

verbatim copying of material, and permissions are secured for material that is copyrighted.

Important note: the journal may use software to screen for plagiarism.

• Consent to submit has been received from all co-authors and responsible authorities at the

institute/organization where the work has been carried out beforethe work is submitted.

• Authors whose names appear on the submission have contributed sufficiently to the scientific

work and therefore share collective responsibility and accountability for the results.

In addition:

• Changes of authorship or in the order of authors are not accepted after acceptance of a

manuscript.

• Requests to add or delete authors at revision stage or after publication is a serious matter, and

may be considered only after receipt of written approval from all authors and detailed explanation

about the role/deletion of the new/deleted author. The decision on accepting the change rests with the

Editor-in-Chief of the journal.

• Upon request authors should be prepared to send relevant documentation or data in order to

verify the validity of the results. This could be in the form of raw data, samples, records, etc.

If there is a suspicion of misconduct, the journal will carry out an investigation following the COPE

guidelines. If, after investigation, the allegation seems to raise valid concerns, the accused author will

be contacted and given an opportunity to address the issue. If misconduct has been proven, this may

result in the Editor-in-Chief’s implementation of the following measures, including, but not limited

to:

• If the article is still under consideration, it may be rejected and returned to the author.

Page 83: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

78

• If the article has already been published online, depending on the nature and severity of the

infraction, either an erratum will be placed with the article or in severe cases complete retraction of

the article will occur. The reason must be given in the published erratum or retraction note.

• The author’s institution may be informed.

DISCLOSURE OF POTENTIAL CONFLICT OF INTERESTS

Authors must disclose all relationships or interests that could influence or bias the work. Although an

author may not feel there are conflicts, disclosure of relationships and interests affords a more

transparent process, leading to an accurate and objective assessment of the work. Awareness of real

or perceived conflicts of interests is a perspective to which the readers are entitled and is not meant

to imply that a financial relationship with an organization that sponsored the research or

compensation for consultancy work is inappropriate. Examples of potential conflicts of interests that

are directly or indirectly related to the researchmay include but are not limited to the following:

• Research grants from funding agencies (please give the research funder and the grant

number)

• Honoraria for speaking at symposia

• Financial support for attending symposia

• Financial support for educational programs

• Employment or consultation

• Support from a project sponsor

• Position on advisory board or board of directors or other type of management relationships

• Multiple affiliations

• Financial relationships, for example equity ownership or investment interest

• Intellectual property rights (e.g. patents, copyrights and royalties from such rights)

• Holdings of spouse and/or children that may have financial interest in the work

Page 84: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

79

In addition, interests that go beyond financial interests and compensation (non-financial interests)

that may be important to readers should be disclosed. These may include but are not limited to

personal relationships or competing interests directly or indirectly tied to this research, or

professional interests or personal beliefs that may influence your research.

The corresponding author collects the conflict of interest disclosure forms from all authors. In author

collaborations where formal agreements for representation allow it, it is sufficient for the

corresponding author to sign the disclosure form on behalf of all authors.

The corresponding author will include a summary statement in the text of the manuscript in a

separate section before the reference list, that reflects what is recorded in the potential conflict of

interest disclosure form(s).

See below examples of disclosures:

Funding: This study was funded by X (grant number X).

Conflict of Interest: Author A has received research grants from Company A.Author B has received

a speaker honorarium from Company X and owns stock in Company Y.Author C is a member of

committee Z.

If no conflict exists, the authors should state:

Conflict of Interest: The authors declare that they have no conflict of interest.

AFTER ACCEPTANCE

On acceptance of your article you will receive a link to the special Author Query Application at

Springer’s web page where you can sign the Copyright Transfer Statement online and indicate

whether you wish to order Springer Open Choice, offprints, or printing of figures in color.

Once the Author Query Application has been completed, your article will be processed and you will

receive proofs.

Page 85: USO DE FERRAMENTAS E AJUSTES COMPORTAMENTAIS … · Ficha Catalográfica ... Acompanhamento sistemático dos animais ... sofrer variações em detrimento do ambiente e demais fatores

80

The purpose of the proof is to check for typesetting or conversion errors and the completeness and

accuracy of the text, tables and figures. Substantial changes in content, e.g., new results, corrected

values, title and authorship, are not allowed without the approval of the Editor.

After online publication, further changes can only be made in the form of an Erratum, which will be

hyperlinked to the article.

In addition to the normal publication process (whereby an article is submitted to the journal and

access to that article is granted to customers who have purchased a subscription), Springer provides

an alternative publishing option: Springer Open Choice. A Springer Open Choice article receives all

the benefits of a regular subscription-based article, but in addition is made available publicly through

Springer’s online platform SpringerLink.

http://www.springer.com/open+access/open+choice?SGWID=0-40359-0-0-0

Copyright transfer

Authors will be asked to transfer copyright of the article to the Publisher (or grant the Publisher

exclusive publication and dissemination rights). This will ensure the widest possible protection and

dissemination of information under copyright laws.

Open Choice articles do not require transfer of copyright as the copyright remains with the author. In

opting for open access, the author(s) agree to publish the article under the Creative Commons

Attribution License.

Offprints

Offprints can be ordered by the corresponding author.

Color illustrations

Online publication of color illustrations is free of charge. For color in the print version, authors will

be expected to make a contribution towards the extra costs.