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USO DE METODOLOGIAS DIDÁTICAS E PEDAGÓGICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PROGRAMA PERMANECER RELATO DE EXPERIÊNCIA Eixo Temático: Práticas de Ensino: Práticas Pedagógicas e Materiais Didáticos Autores: Elâyny Hellen Souza Soares¹ Valney Dias Rigonato² Universidade Federal do Oeste da Bahia - UFOB Resumo O relato aqui apresentado é uma experiência de práticas pedagógicas vivenciadas em sala de aula e é parte de um projeto de formação continuada de professores realizado na Escola Municipal Ovídio Francelino de Souza na zona rural da cidade de São Desidério, na Bahia, Brasil, no povoado de Ponte de Mateus. O projeto teve o apoio do Fundo Estadual de Recursos para o Meio Ambiente (FERFA), vinculado a Secretaria do Meio Ambiente (SEMA). O relato objetiva a socialização da experiência vivenciada pela estudante do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal do Oeste da Bahia UFOB, bolsista do Programa Permanecer, no projeto “Uso dos Mapas Mentais: Ler e Interpretar as Paisagens dos Cerrados Baianos” que teve um ano de período de vigência e que neste intervalo de tempo possibilitou ações de caráter prático e teórico desenvolvendo metodologias didáticas e pedagógicas de educação ambiental na Escola Ovídio Francelino de Souza. A metodologia utilizada foi baseada nos princípios da pesquisa-ação e no diagnostico rural participativo (DRP), aqui adaptado para Desenvolvimento Escolar Rural Participativo DERP. Já os resultados alcançados envolvem tanto a experiência pedagógica quanto o conhecimento em relação às práticas pedagógicas para o desenvolvimento de projetos de Engenharia Sanitária e Ambiental que envolva as comunidades do/no campo nos Cerrados baianos. Palavras-chaves: mapa mental, cerrado, prática pedagógica, saberes ambientais. _______________________ ¹ Bolsista do Programa Permanecer 2014/2015. Estudante do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental no Centro das Ciências Exatas e das Tecnologias na Universidade Federal do Oeste da Bahia UFOB. E-mail para correspondência: [email protected]. ² Orientador do Programa Permanecer 2014/2015. Licenciado e mestre em Geografia pelo Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás - IESA/UFG. Atualmente é professor e coordenador do curso de Geografia do Centro das Humanidades da Universidade Federal do Oeste da Bahia, Campus Barreiras, BA. E-mail: [email protected].

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USO DE METODOLOGIAS DIDÁTICAS E PEDAGÓGICAS DE EDUCAÇÃO

AMBIENTAL NO PROGRAMA PERMANECER – RELATO DE EXPERIÊNCIA

Eixo Temático: Práticas de Ensino: Práticas Pedagógicas e Materiais Didáticos

Autores: Elâyny Hellen Souza Soares¹ Valney Dias Rigonato²

Universidade Federal do Oeste da Bahia - UFOB

Resumo

O relato aqui apresentado é uma experiência de práticas pedagógicas vivenciadas em sala de

aula e é parte de um projeto de formação continuada de professores realizado na Escola

Municipal Ovídio Francelino de Souza na zona rural da cidade de São Desidério, na Bahia,

Brasil, no povoado de Ponte de Mateus. O projeto teve o apoio do Fundo Estadual de

Recursos para o Meio Ambiente (FERFA), vinculado a Secretaria do Meio Ambiente

(SEMA). O relato objetiva a socialização da experiência vivenciada pela estudante do curso

de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal do Oeste da Bahia – UFOB,

bolsista do Programa Permanecer, no projeto “Uso dos Mapas Mentais: Ler e Interpretar as

Paisagens dos Cerrados Baianos” que teve um ano de período de vigência e que neste

intervalo de tempo possibilitou ações de caráter prático e teórico desenvolvendo metodologias

didáticas e pedagógicas de educação ambiental na Escola Ovídio Francelino de Souza. A

metodologia utilizada foi baseada nos princípios da pesquisa-ação e no diagnostico rural

participativo (DRP), aqui adaptado para Desenvolvimento Escolar Rural Participativo DERP.

Já os resultados alcançados envolvem tanto a experiência pedagógica quanto o conhecimento

em relação às práticas pedagógicas para o desenvolvimento de projetos de Engenharia

Sanitária e Ambiental que envolva as comunidades do/no campo nos Cerrados baianos.

Palavras-chaves: mapa mental, cerrado, prática pedagógica, saberes ambientais.

_______________________

¹ Bolsista do Programa Permanecer 2014/2015. Estudante do Curso de Engenharia Sanitária e

Ambiental no Centro das Ciências Exatas e das Tecnologias na Universidade Federal do

Oeste da Bahia – UFOB. E-mail para correspondência: [email protected].

² Orientador do Programa Permanecer 2014/2015. Licenciado e mestre em Geografia pelo

Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás - IESA/UFG.

Atualmente é professor e coordenador do curso de Geografia do Centro das Humanidades da

Universidade Federal do Oeste da Bahia, Campus Barreiras, BA. E-mail:

[email protected].

Introdução

Como estudante do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade

Federal do Oeste da Bahia, fui contemplada com uma bolsa na área de Geografia do Programa

Permanecer da própria Instituição de Ensino e comecei a fazer parte do projeto que se intitula

“Uso dos Mapas Mentais: Ler e Interpretar as Paisagens dos Cerrados Baianos”. Inicialmente,

os leitores deste relato podem estranhar devido a minha área de formação, porém o projeto

privilegiou a educação informal, os saberes ambientais e, sobretudo, experiências

interdisciplinares no espaço escolar em foco.

O período de vigência da bolsa foi de primeiro de julho do ano de 2014 até primeiro

de julho do atual ano de 2015. O projeto manteve uma conexão com o projeto FERFA:

“Desenvolvimento de Metodologias e Materiais Pedagógicos Sobre Saberes Ambientais do

Cerrado”, pois os trabalhos de campo sempre foram arquitetados conforme as execuções das

metas desse referido projeto.

Inicialmente, o projeto teve como área de pesquisa os povoados do baixo vale do rio

Guará, sobretudo, os estudantes da Escola Municipal Ovídio Francelino de Souza que se

localiza no povoado de Ponte de Mateus, zona rural da cidade de São Desidério, Bahia. A

Escola recebe também estudantes de comunidades vizinhas como: Cera, Contagem, Currais,

Lagoa dos Buritis, Larga, Pedras e Vereda Grande. O projeto buscou realizar uma ponte entre

os saberes locais com os saberes ambientais para preservação e conservação do domínio

geográfico e ambiental dos Cerrados em áreas de fronteira agrícola. Para isso, objetivou-se

desenvolver metodologias didáticas e pedagógicas de educação ambiental que interligue o

conhecimento popular com os saberes ambientais para conservação e preservação desse

bioma. Assim, o público alvo foram, certamente, os estudantes do Ensino Fundamental e

Médio da Escola Municipal Ovídio Francelino de Souza, crianças e jovens estudantes que

precisam de oportunidades de incentivo à defesa, com responsabilidade e consciência, de suas

identidades, sobretudo, identidade ambiental. Fazendo uso do pensamento de Manuel Castells

(1999, p. 22-23) sobre identidades quando afirma que: “a construção da identidade vale-se da

matéria-prima formada pela história, geografia, biologia, instituições produtivas e

reprodutivas, pela memória coletiva e por fantasias pessoais [...]”.

E com isso utilizar-se das paisagens do Cerrado para auxiliá-los a combater a erosão

da biodiversidade e dos saberes locais provocados pela modernização da agricultura nas áreas

de Cerrado nas últimas décadas, sobretudo, na mesorregião do Extremo Oeste da Bahia. A

metodologia por tanto, foi baseada nos princípios da pesquisa-ação-participativa, no

diagnóstico escolar rural participativo (DERP) promovendo o envolvimento tanto do objeto

quanto do sujeito da pesquisa para a construção de ações e reflexões para a transformação da

realidade vivida.

Com esses princípios os procedimentos metodológicos foram criados com base nos

mapas mentais desenvolvidos pelos estudantes; imagens, saberes populares e perspectivas em

relação ao ecossistema local a curto, médio e longo prazo, retratados com mínimos detalhes

em desenhos, pinturas, fotos e poesias realizadas pelos próprios estudantes. Porém esta parte

será discutida mais adiante no decorrer deste relato.

Os resultados esperados foram divididos em atividades práticas e de formação

continuada. Do primeiro esperou-se o desenvolvimento de oficinas de fotografias, de desenho

e pintura e de leitura e cordel. Já o segundo, esperou-se também que o projeto pudesse

contribuir com a formação continuada dos professores e funcionários da instituição escolar e a

promoção da cidadania ativa nas comunidades rurais, sobretudo, na comunidade de Ponte de

Mateus sede da referida escola.

Por fim, o projeto também teve como meta, incentivar e motivar os estudantes de

licenciatura desde a sua formação o desenvolvimento de metodologias de ensino e

aprendizagem e, mormente, a formação continuada na graduação. No meu caso, no

bacharelado em Engenharia Sanitária e Ambiental, posso dizer que a participação no projeto

foi além de uma motivação a trabalhar com Ensino básico e a realizar metodologias lúdicas

para o aprendizado. E em decorrência disso, este presente relato vem apresentar as atividades

desenvolvidas durante o projeto que propôs o desenvolvimento de metodologias do uso,

leitura e interpretação dos mapas mentais do espaço vivido em áreas de fronteira agrícola,

valorizando a identidade ecológica no processo de ensino e aprendizagem do ensino básico

vindo a fortalecer também a valorização do patrimônio ecológico do domínio geográfico e

ambiental do Cerrado no âmbito social.

Objetivos e Procedimentos Metodológicos

A educação ambiental que valoriza os saberes ambientais das populações que

habitam os Cerrados baianos é essencial para a expansão dos conhecimentos em relação ao

bioma Cerrado, este que é um termo utilizado para designar tanto a formação vegetal do

Brasil central na sua totalidade, como um tipo fisionômico dessa formação (EMBRAPA-

CPAC, 1983), com isso foi dado início aos procedimentos metodológicos, estes que serão

elucidados mais adiante, que consistiam em atender aos seguintes objetivos específicos:

Desenvolver e aprimorar metodologias de leitura e interpretação de

mapas mentais com o proposito de interligar saberes locais e ambientais para

valorização da identidade ecológica local dos estudantes do Ensino Fundamental e

Médio da Escola sede do projeto na zona rural de São Desidério, BA;

Realizar oficinas de fotografia, desenho, pintura, de leitura e cordel com

os estudantes tanto para identificar suas percepções geográficas e ambientais como

para desenvolver princípios da alfabetização ecológica;

Promover leitura, interpretação e escrita - individual e coletiva - com

base nos mapas mentais dos estudantes para contribuir com o processo de ensino e

aprendizagem no Ensino Básico;

Tudo isso visando, de uma forma geral, o auxílio na formação inicial e continuada de

estudantes e professores de escolas municipais do ensino básico e do ensino superior na

valorização dos saberes locais do povoado e ambientais. Os resultados esperados eram,

certamente, oficinas lúdicas com o máximo de envolvimento metodológico possível com os

estudantes e o desenvolvimento de metodologias que viessem a valorizar a leitura, escrita e

debate relacionado ao uso e ocupação dos Cerrados.

Obviamente todos os materiais produzidos pelos estudantes que seriam recolhidos

posteriormente às oficinas aplicadas, também consistiam em atender mais um meta, esta que

formava então a segunda grande parte do projeto, a produção de um livro paradidático1 na

qual traz em seu conteúdo, os próprios trabalhos feitos pelos alunos, poesias, fotos, desenhos,

1 Livro “Saberes Ambientais dos Cerrados Baianos” encontra-se no prelo.

pinturas e outros materiais selecionados durante as aplicações das oficinas. Este também foi

um dos importantes objetivos do projeto desde seu início. Valendo ressaltar que a produção

do livro faz parte da ligação que o projeto do Programa Permanecer: “Uso dos Mapas

Mentais: Ler e Interpretar as Paisagens dos Cerrados Baianos” da Universidade Federal do

Oeste da Bahia manteve com o projeto FERFA: “Desenvolvimento de Metodologias e

Materiais Pedagógicos Sobre Saberes Ambientais”. Contudo, para atender a todos os

objetivos citados acima e para um melhor desenvolvimento das atividades foi adotado um

procedimento metodológico que se dividiu em fases de laboratório, trabalhos empíricos e

atividades didático-pedagógicas.

Primeiramente foi feita uma sistematização da bibliografia, na qual foram

selecionados artigos, monografias, dissertações, teses e livros sobre a temática do projeto.

Também foram feitos trabalhos de campos exploratórios para um maior reconhecimento da

realidade vivida pelos estudantes da escola e de seus familiares; foram articuladas as oficinas

de desenhos e pinturas, de fotografia e de leitura e cordel. E por fim, foram solicitados

trabalhos no laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão em Geografia Escolar

(LEPEGEO/UFOB). Com isso, foi sistematizado e tabulado os desenhos e a preparação das

oficinas. A intenção também era de fazer o scanner dos desenhos que os alunos iriam produzir

no decorrer das oficinas para a produção de slides enquanto apoio para os professores da

escola desenvolver a formação de conceito e o fortalecimento da identidade ecológica local.

Resultados e Discussão

Os resultados esperados foram alcançados com sucesso, gerando uma imensa

satisfação para toda a equipe envolvida no projeto. Saliento que nesta presente pesquisa de

extensão universitária, estas seguintes laudas serão de suma importância, pois pretendo, como

autora do relato, expor com clareza as metas alcançadas assim como a experiência adquirida

em um ano trabalhando no projeto “Uso dos Mapas Mentais: Ler e Interpretar as Paisagens

dos Cerrados Baianos”.

De início, depois de sistematizar a bibliografia com a seleção de materiais referentes

ao tema do projeto, eu e minha colega, Karla Barbosa de Almeida, também bolsista no projeto

e estudante do curso de Geografia na UFOB, estávamos aptas para começar as atividades na

Escola Ovídio Francelino de Souza em Ponte de Mateus, zona rural de São Desidério, Bahia.

O acesso ao local nunca foi fácil, o povoado sede da referida escola, se situa a 100

km da cidade de São Desidério e possui estradas vicinais que dificultam o acesso,

especialmente nos períodos chuvosos que acabam impossibilitando a chegada até o povoado,

além disso, enfrentamos também a dificuldade de comunicação, pois o lugar por ficar afastado

do centro urbano não dispõe de rede de sinal para aparelhos celulares e internet. Possui apenas

um orelhão comunitário que nem sempre funciona. Mas apesar disso o projeto foi bem

sucedido no que se refere à aceitação, no desenvolvimento e, principalmente em alcançar

resultados contextualizados com os saberes e conhecimentos.

Sendo assim fizemos nossa primeira viagem de campo até Ponte de Mateus entre os

dias 13, 14 e 15 de agosto de 2014, nesses dias de trabalho em campo realizamos duas

oficinas com os alunos da escola, a primeira foi a Oficina de Fotografia com os estudantes do

Ensino Fundamental no turno matutino, esta que por sua vez, me deixou bastante satisfeita em

fazer parte deste projeto que possibilitou para muitas crianças a oportunidade de ter o

primeiro contato com uma câmera digital. Foram entregues duas câmeras para cada sala de

aula, a entrega das mesmas para as crianças era feita por ordem alfabética e cada aluno tinha

direito de ficar com o objeto por três dias e posterior a isso devolver para os professores ou

funcionários da escola parceiros no projeto, para que a câmera novamente pudesse ser

entregue a outro colega como um ciclo, até que todos tivessem a oportunidade de ficar com o

objeto e poder fotografar seu lugar vivido, seu ambiente, o Cerrado, auto fotografia e tudo o

mais que lhe chamasse a atenção. O que mais me emocionou nesta primeira etapa foi ver o

quanto os alunos se empolgaram para a obtenção das máquinas, o quanto foram responsáveis

com elas e principalmente, o quanto eles fizeram uso delas de uma forma tão extraordinária,

foram registradas fotos impecáveis, comparadas a fotografias profissionais e isso alegrou a

toda a equipe do projeto que, no entanto teve um árduo trabalho para selecionar determinadas

fotos dentre tantas de vários tipos, vários lugares e várias expressões lhes atraindo a atenção.

Saliento que todas as câmeras foram compradas com a verba direcionada ao projeto.

Ainda nesta mesma viagem foi realizada a Oficina de Desenho e Pintura com os

estudantes do Ensino Médio no noturno. Outra que me deixou deslumbrada ao analisar os

resultados junto com minha colega bolsista e meu professor/orientador. A maioria dos

desenhos e pinturas destacava um sentimento sincero de um afeto enorme pelo lugar onde

esses estudantes trabalham e vivem, lugares como o campo, com o contato diário com a

natureza e com os rios, lugares nos Cerrado baiano. Com atividades que tinham como

princípio estimular a criatividade e a imaginação dos estudantes, conseguimos fazer um dia de

aula diferenciado dos dias normais e explorar os conhecimentos locais populares dos alunos

sobre o Cerrado e sua biodiversidade.

A meu ver, a aula foi bem aceita e divertida, percebi o envolvimento dos alunos com

todo o material que lhes foi dado para a realização de suas artes. Materiais simples como

folhas de tamanho A3, tintas e lápis de colorir fizeram do dia daqueles jovens um dia

diferente na qual eles poderiam com toda a liberdade de expressão detalhar o que pensam

sobre o lugar vivido e seu bioma a curto, médio e longo prazo, o que pensam sobre o futuro

do Cerrado, sobre as ações antropológicas e tudo o que ocorre no presente e que já ocorreu no

passado com a fauna e a flora daquele lugar que de alguma forma é importante dizer,

registrar, mostrar e porque não, desenhar?

Os trabalhos na Escola tiveram continuidade nos dias 23, 24 e 25 de setembro de

2014 na qual foi registrada a segunda viagem para o povoado de Ponte de Mateus na intenção

de realizar mais ações que atendessem aos objetivos do projeto. Aplicamos então, a Oficina

de Leitura, Interpretação e Escrita com os alunos do Ensino Fundamental e Médio baseados

em poemas do Cerrado que foram realizados por eles através de atividades feitas em sala de

aula que tivemos acesso com ajuda dos professores da escola. Mas o projeto foi bem mais

além do que toda a equipe imaginava e no decorrer do seu desenvolvimento surgiram outras

oportunidades de trabalhar mais com aqueles alunos já que toda a atenção e dedicação que

tínhamos para com eles eram fielmente recíprocas. Com isso, nessa mesma viagem

apresentamos o Curta-metragem: Fogo Ardente, Água Corrente da autora Larissa Malty e

discutimos com os alunos do Ensino Médio, o conteúdo abordado que faz referencia ao

problema cada vez mais constante do fogo no Cerrado e ao mesmo tempo a gestão das águas

nesse ecossistema. Foi uma boa experiência, pois foi perceptível o quanto os estudantes

repararam no comportamento da Velha, personagem da própria autora, que percorria as

margens do Rio São Francisco questionando sobre a relação das pessoas com o meio em que

vivem e sobre questões contemporâneas referentes ao Cerrado. Possibilitando assim, um

momento de reflexão e debate na sala de aula. Antes de voltarmos para casa, aproveitamos

também mais um dia dessa segunda viagem para o povoado e realizamos uma aula lúdica com

os alunos do Ensino Fundamental, ao ar livre em pleno contato com a natureza. Onde houve

uma breve conversa com esses estudantes na tentativa de alerta-los sobre os cuidados com o

Cerrado, a preservação das nascentes dos rios e sobre os diversos saberes ambientais. Foi

interessante, afinal houve a participação de todos e os alunos se sentiram bastante a vontade

para expressar suas opiniões em relação ao seu espaço vivido.

Na terceira viagem de campo para Ponte de Mateus realizada entre os dias três e

quatro de junho de 2015, trabalhamos com a Oficina de Poesia e Literatura de Cordel e

apresentamos uma exposição fotográfica em slide para os estudantes do Ensino Fundamental,

com fotos selecionadas que os próprios estudantes tiraram na aplicação da oficina de

fotografia realizada na primeira viagem de campo para o povoado. A reação dos alunos ao

verem suas próprias fotos sendo projetadas no quadro foi com certeza a melhor. Foi um

momento de muita diversão e entrosamento, pois os alunos sorriam e se empolgavam cada

vez mais quando observavam suas fotos e as dos colegas em uma perspectiva jamais vista por

eles. Foi uma sensação agradável e tivemos que repetir o slide por várias vezes a pedido dos

alunos e dos funcionários da escola que também estavam curiosos para verem as fotografias

dos estudantes. Além disso, esse momento foi uma oportunidade de ampliar a percepção dos

mesmos sobre os valores socioculturais que possuem as paisagens dos Cerrados baianos e

também de perceber as inter-relações com a biodiversidade que a comunidade escolar

estabelece em seu modo de vida.

O contato com as pessoas do lugar da área de pesquisa é sem dúvida fundamental e

partindo dessa premissa de que o conhecimento popular e os saberes locais são essenciais para

a construção de um trabalho coletivo, realizamos várias visitas nas comunidades vizinhas de

Ponte de Mateus como: Vereda Grande, Cera, Larga e Pedras e no próprio povoado sede da

escola, objetivando a realização de entrevistas para um maior conhecimento sobre o lugar e a

vida das famílias que ali vivem e rodas de conversas de uma maneira bem descontraída.

Encerrando a parte das práticas pedagógicas vivenciadas em sala de aula na Escola

Ovídio Francelino de Souza, foi feita a última viagem para o povoado de Ponte de Mateus nos

dias 13, 14 e 15 de julho de 2015 para fecharmos as ações visadas nos objetivos do projeto.

Por conseguinte, realizamos além de um curso de capacitação “Viveiro Escola” onde foi

ensinadas técnicas de cultivos de viveiros orgânicos ministrado pelo professor/orientador,

também uma Exposição Artística/Cultural com toda a comunidade Escolar. Houve a

exposição de cinquenta fotografias selecionadas, também tiradas pelos próprios alunos na

Oficina de Fotografia, em um painel que ficou disponível para visualização durante três dias.

Pais, estudantes, funcionários e toda a comunidade e as demais vizinhas foram convidadas

para a exposição. Algo que mais uma vez me fez sentir alegria e satisfação foi à reação das

pessoas, dessa vez não somente dos alunos como foi com a Exposição Fotográfica em slide na

sala de aula, e sim de todos que por ali passavam e por convite, curiosidade e interesse

paravam para visualizar as imagens das paisagens dos Cerrados baianos, fruto das fotografias

dos estudantes. Os visitantes e alunos achavam engraçada, interessante e bonita toda aquela

exposição de fotos. Outros comentavam que aquelas fotografias não pareciam ter sido tiradas

pelos alunos e sim por fotógrafos profissionais. Tais avaliações apontam que o resultado do

trabalho dos alunos foi certamente satisfatório, pois apreenderam a sistematizar e, sobretudo

focar as paisagens mais significativas no espaço vivido pela comunidade escolar.

Durante as atividades e oficinas aplicadas em sala de aula com os alunos do Ensino

Fundamental e Médio da Escola Ovídio Francelino de Souza, foi bastante perceptível um

pensamento geral análogo à degradação do cerrado pela ação antropológica cada vez mais

frequente nessa determinada região do Cerrado no Extremo Oeste da Bahia, paralelamente

observou-se signos que demonstram uma preocupação com essa degradação visto que foi

notável o afeto dos mesmos com o lugar em que vivem. A maioria dos alunos tem uma visão

negativa em relação ao futuro dos Cerrados, alguns afirmam através dos desenhos e poesias

que a destruição, a poluição, as queimadas e a modernização do campo são fatores

antropológicos que acontecem constantemente no nosso presente, porém tende a acontecer

com maior intensidade no futuro. Outros não souberam o que dizer sobre as reais condições

em que o Cerrado pode se encontrar futuramente.

Esses resultados com tamanha relevância me levam a refletir sobre toda essa

experiência pedagógica vivenciada em sala de aula em que nós enquanto educadores,

referindo a toda equipe do projeto, alcançamos bem mais além do que os resultados

esperados, conseguimos promover práticas de ensino de uma maneira simples e interativa

com as crianças e jovens enquanto educandos. A educação, portanto, é um processo contínuo

e deve estar presente nos princípios dos seres humanos, como diz Humberto Maturana (2005,

p. 29): O educar ocorre, portanto, todo o tempo e de maneira recíproca. Ocorre como uma

transformação estrutural contingente com uma história no conviver [...]. A educação

como “sistema educacional” configura um mundo, e os educandos confirmam em

seu viver o mundo que viveram em sua educação. Os educadores, por sua vez,

confirmam o mundo que viveram ao ser educados no educar.

Em virtude de tudo o que foi mencionado, é preciso salientar que este projeto

aperfeiçoou os meus conhecimentos na área de licenciatura, o que considero de suma

importância, pois o contato com a escola e com a prática pedagógica literalmente nos faz

cidadãos mais responsáveis e preocupados com o futuro da educação. Além disso, os meus

saberes em relação ao Cerrado e suas diversidades paisagísticas, fauna e flora e o conceito de

valorização do patrimônio ecológico sem dúvida foi enriquecido com todo o esforço a partir

da convivência com um povo cheio de saberes locais e das pesquisas realizadas necessárias

para a realização do projeto. E por fim, diante das experiências e dados interpretados pude

constatar o envolvimento e identificação dos alunos, público alvo do projeto, com trabalhos

relacionados à literatura e arte aplicados em formas de métodos pedagógicos diferenciados e

interativos, visto que apesar da falta de recursos e integração à tecnologia os estudantes

revelam-se extremamente interessados no conhecimento e na aquisição de novas experiências

e saberes.

Considerações Finais

A experiência adquirida em um ano de período de vigência no Projeto Permanecer:

Uso dos Mapas Mentais, Ler e Interpretar as Paisagens dos Cerrados Baianos, interligado com

o Projeto FERFA: Desenvolvimento de Metodologias e Materiais Pedagógicos Sobre Saberes

Ambientais do Cerrado, foi de suma importância nos âmbitos pessoal e social, pois revela-se

um projeto de extremo envolvimento entre todos os participantes, incluindo equipe

organizadora, bolsistas e técnicos voluntários, estudantes, professores e demais funcionários

da Escola Municipal Ovídio Francelino de Souza, assim como toda a Comunidade de Ponte

de Mateus sede da escola e as vizinhas. Em todo esse tempo cuja interação entre envolvidos

no projeto sempre foi mais que fundamental, a socialização entre os conhecimentos do

Cerrado e entre os saberes locais com os saberes ambientais revelou-se extremamente

positiva. Não apenas no que tange aos objetivos alcançados, mas também à formação de um

pensamento educativo ambiental presente e ativo para elaboração de planos de caráter teórico

e prático que façam uso de metodologias didáticas e pedagógicas cada vez mais inovadoras e

interativas que resultem além de metas atingidas.

Considero o projeto de grande relevância para minha formação acadêmica e para

meu conhecimento, como bolsista, como aluna e como pessoa, pois no futuro posso aproveitar

essa experiência no desenvolvimento da educação informal dentro da minha área de

conhecimento. Sendo assim os dias em que a equipe ficou hospedada na comunidade para a

realização dos trabalhos de campos, ressalto que foi preciso desviar-se da atual vida

globalizada e digital dos centros urbanos e concentrar apenas nos compromissos com a Escola

e seus estudantes. Algo que foi bastante possível com toda a calmaria e tranquilidade que o

campo proporciona. O contato direto com a natureza e o convívio com as pessoas de vida

simples que moram no povoado onde o projeto foi desenvolvido, faz-nos refletir bastante

sobre o meio ambiente, em especial o Cerrado já que é o bioma local e sobre a necessidade de

preservação e conscientização ambiental. Reflexões que são sem dúvidas fundamentais para

formação de um cidadão consciente de seu papel em relação ao espaço em que vive.

Foram realizadas na Escola todas as oficinas propostas pelo projeto e outras ideias a

mais que surgiram no decorrer do desenvolvimento do mesmo, os resultados como já foi dito

foram positivos pela junção dos saberes ambientais e revelaram-se surpreendentes ao serem

analisados. Os alunos se dedicaram e com a ajuda dos professores e demais funcionários o

projeto foi desenvolvido com sucesso e obtiveram-se muitos materiais interessantes

produzidos pelos estudantes do Ensino Fundamental e Médio para a produção do livro.

Contudo, saliento que a educação ambiental deve ser aplicada das mais diversas formas e

práticas de ensino, até mesmo das que fogem dos padrões de sala de aula, tanto nas Escolas de

Ensino Básico quanto no Ensino Superior.

Por fim, posso concluir que a experiência de participação, organização e execução do

projeto, contribuiu para a compreensão de processos educativos e uso de metodologias

didáticas para uma melhor absorção do conhecimento. Este que deve ser praticado em todo o

tempo, pois é com ele que alcançamos a nossa evolução. Assim sendo, finalizo este breve

relato com palavras de um grande gênio da história, Charles Darwin (1859):

[...] enquanto o planeta girava de acordo com a lei fixa da gravidade, a partir de um

início tão simples, um número infinito de formas, as mais belas e maravilhosas,

evoluiu e continua a evoluir.

Referências Bibliográficas

MATURANA, R. Humberto. Emoções e Linguagem na Educação e na Política. Belo

Horizonte: UFMG, 2005.

CASTELLS, Manuel. O Poder da Identidade. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

RIBEIRO, J.F.; SANO, S.M.; MACÊDO, J. & SILVA. J. A. Os Principais Tipos

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DARWIN, Charles, 1809-1882. A Origem das Espécies/Charles Darwin; tradução Carlos

Duarte e Ana Duarte. São Paulo: Martin Claret, 2014.

RIGONATO, V. D. Uso dos Mapas Mentais: Ler e Interpretar as Paisagens dos Cerrados

Baianos. Barreiras: 2014.

MALTY, Larissa. Fogo Ardente, Água Corrente. Disponível em: são-francisco.

blogspot.com.br/2012/09/curta-metragem-chama-atenção-para.html. Acessado em 24 de

agosto de 2015.