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1 USO POTENCIAL DA MADEIRA DA SERINGUEIRA Francisco J. N. Kronka (*) Clóvis Ribas (*) Cláudio Monteiro (*) 1. Introdução A cultura da seringueira, enfrentando inúmeros desafios, está se estabelecendo como uma atividade lucrativa e sustentável, apresentando um expressivo crescimento em suas áreas de plantio. Estabelecidos com o objetivo principal de produção do látex, classificado como um produto florestal não madeireiro, os seringais apresentam boas perspectivas como fornecedores de matéria-prima para o segmento de produtos de madeira sólida. São conhecidas as características que qualificam a madeira da seringueira como excelente matéria-prima para diferentes finalidades, destacando-se para móveis residenciais, de escritórios, móveis institucionais, escolares, médico- hospitalares, móveis para restaurantes, hotéis e similares, forros e escadas. Vários aspectos devem ser analisados ao se ter como objetivo a utilização da seringueira como matéria-prima para a indústria moveleira ao final da rotação, por ocasião do declínio da produção do látex, destacando-se: Os plantios de seringueira foram estabelecidos e conduzidos visando prioritariamente à produção do látex. O rendimento no processamento mecânico (relação volume da tora e da madeira serrada). A disponibilidade da madeira da seringueira: quantidade e época. Os aspectos referentes à secagem e tratamento preservativo, levando-se em consideração o alto teor de carboidrato da madeira da seringueira. Os aspectos da silvicultura da seringueira, considerando-se seu uso múltiplo (látex e madeira, principalmente). A divulgação às indústrias consumidoras da disponibilidade desta matéria- prima. (*) Pesquisadores do Instituto Florestal - Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo

uso potencial da madeira da seringueira

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Page 1: uso potencial da madeira da seringueira

1

USO POTENCIAL DA MADEIRA DA SERINGUEIRA

Francisco J. N. Kronka (*) Clóvis Ribas (*)

Cláudio Monteiro (*)

1. Introdução

A cultura da seringueira, enfrentando inúmeros desafios, está se

estabelecendo como uma atividade lucrativa e sustentável, apresentando um

expressivo crescimento em suas áreas de plantio.

Estabelecidos com o objetivo principal de produção do látex, classificado

como um produto florestal não madeireiro, os seringais apresentam boas

perspectivas como fornecedores de matéria-prima para o segmento de produtos de

madeira sólida.

São conhecidas as características que qualificam a madeira da seringueira

como excelente matéria-prima para diferentes finalidades, destacando-se para

móveis residenciais, de escritórios, móveis institucionais, escolares, médico-

hospitalares, móveis para restaurantes, hotéis e similares, forros e escadas.

Vários aspectos devem ser analisados ao se ter como objetivo a utilização da

seringueira como matéria-prima para a indústria moveleira ao final da rotação, por

ocasião do declínio da produção do látex, destacando-se:

Os plantios de seringueira foram estabelecidos e conduzidos visando

prioritariamente à produção do látex.

O rendimento no processamento mecânico (relação volume da tora e da

madeira serrada).

A disponibilidade da madeira da seringueira: quantidade e época.

Os aspectos referentes à secagem e tratamento preservativo, levando-se

em consideração o alto teor de carboidrato da madeira da seringueira.

Os aspectos da silvicultura da seringueira, considerando-se seu uso

múltiplo (látex e madeira, principalmente).

A divulgação às indústrias consumidoras da disponibilidade desta matéria-

prima. (*) Pesquisadores do Instituto Florestal - Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo

Page 2: uso potencial da madeira da seringueira

2

Dentro deste contexto, a seguir são apresentadas e analisadas as situações

dos plantios com espécies exóticas de rápido crescimento (Pinus e Eucalyptus) que

se constituem nas principais fontes de matéria-prima para produção de diferentes

produtos utilizados na fabricação de móveis: madeira serrada, compensados,

produtos de maior valor agregado e painéis reconstituídos.

Da mesma maneira são apresentadas e discutidas estatísticas sobre o

consumo de madeiras tropicais provenientes da Floresta Amazônica na região de

cultivo da seringueira em São Paulo.

Com relação ao segmento moveleiro é dado destaque ao seu expressivo

crescimento, principalmente na exportação de sua produção. Especial enfoque é

dado aos Pólos Moveleiros de São Paulo cuja localização coincide com as regiões

do Pólo da Borracha e que utilizam como matéria-prima a madeira da Amazônia que

representa 36% do seu consumo.

2. A situação dos plantios com espécies exóticas de rápido crescimento

(Pinus e Eucalyptus)

Os dados referentes às áreas com reflorestamento no Estado de São Paulo

são apresentados na Tabela 1.

GÊNERO (Área em ha) REGIÃO

ADMINISTRATIVA EUCALYPTUS PINUS TOTAL DISTRIBUIÇÃO

Araçatuba 892 115 1.007 0,1% Bauru 47.087 20.150 67.237 8,7% Campinas 100.906 9.099 110.005 14,3% Litoral 4.122 4.378 8.500 1,1% Marília 5.186 3.700 8.886 1,2% Presidente Prudente 2.131 7.436 9.567 1,2% Ribeirão Preto 91.501 5.554 97.055 12,6% São José do Rio Preto 2.315 46 2.361 0,3% São Paulo 57.307 6.590 63.897 8,3% Sorocaba 233.406 92.664 326.070 42,3% Vale do Paraíba 66.663 8.762 75.425 9,8% TOTAL 611.516 158.494 770.010

Fonte: KRONKA et al, 2002.

Tabela 1: Áreas Reflorestadas com Eucalyptus e Pinus no Estado de São Paulo.

Os dados apresentados na Tabela 1 mostram que as Regiões Administrativas

de Araçatuba, São José do Rio Preto e Marília apresentam as menores áreas,

correspondendo a 0,1%, 0,3% e 1,2%, respectivamente, do reflorestamento

existente no Estado de São Paulo.

Page 3: uso potencial da madeira da seringueira

3

A análise dos dados apresentados na Tabela 2, referentes à evolução das

áreas com Pinus e Eucalyptus, durante 5 (cinco) períodos, mostra uma diminuição

das áreas com reflorestamento.

PERÍODO (Área em ha) REGIÃO ADMINISTRATIVA 1961-62(1) 1971-73(2) 1991-92(3) Evolução

(%) 1999-2000

Evolução (%)

1991-1992 / 1999-2000

ARAÇATUBA - 4.930 1.445 -70,7 1.007 -30,3 BAURU - 51.380 74.128 44,3 67.237 -9,3 CAMPINAS - 139.370 104.808 -24,8 110.005 5,0 LITORAL - 12.770 11.653 -8,8 8.500 -27,1 MARÍLIA - 18.670 8.209 -56,0 8.886 8,2 PRESIDENTE PRUDENTE - 8.740 10.173 16,4 9.567 -6,0 RIBEIRÃO PRETO - 58.840 95.303 61,9 97.055 1,8 SÃO JOSÉ RIO PRETO - 15.830 2.729 -82,8 2.361 -13,5 SÃO PAULO - 58.370 62.265 6,7 63.897 2,6 SOROCABA - 234.920 360.117 53,3 326.070 -9,5 VALE DO PARAÍBA - 37.600 81.692 117,3 75.425 -7,7 TOTAL 372.900 641.420 812.523 26,7 770.010 -5,2

Fonte: KRONKA et al, 2002. (1) BORGONOVI & CHIARINI (1965) e BORGONOVI et al. (1967) (2) ZONEAMENTO ECONÔMICO FLORESTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO (1975) (3) INVENTÁRIO FLORESTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO – INSTITUTO FLORESTAL (1993)

Tabela 2: Dados Comparativos entre as Áreas Reflorestadas (Eucalyptus, Pinus e Outros) nos

Períodos 1961-62, 1971-73, 1991-92 e 1999-2000 nas Regiões Administrativas Estado de São Paulo.

Verifica-se também, conforme é visualizado nas Figuras 1 e 2 que a

diminuição da base florestal deveu-se ao decréscimo das áreas com espécies de

Pinus, considerando-se que as áreas de Eucalyptus permaneceram praticamente

inalteradas.

Fonte: KRONKA et al, 2002.

Figura 1: Evolução do Reflorestamento no Estado de São Paulo, nos Períodos de 1961-62, 1971-73, 1991-92 e 1999-2000.

-

200.000

400.000

600.000

800.000

1.000.000

1.200.000

1.400.000

1.600.000

1961-62 1971-72 1991-92 1999-00

Período

Área

(hec

tare

s)

Page 4: uso potencial da madeira da seringueira

4

Fonte: KRONKA et al, 2002.

Figura 2: Evolução do Reflorestamento (Eucalyptus e Pinus) no Estado de São Paulo.

A análise da Tabela 2 indica que, justamente nas Regiões onde se localizam

os Pólos Moveleiros (Votuporanga, Mirassol e Tupã), houve decréscimo acentuado

do reflorestamento (-30,3% em Araçatuba e 13,5% em São José do Rio Preto). A

Região Marília apresentou crescimento de 8,2%.

Outro aspecto que deve ser considerando e que concorre na utilização da

madeira de Pinus e Eucalyptus para outras finalidades, é justamente a ampliação e

conseqüente consumo, das indústrias setoriais (celulose, papel, painéis) que têm

nas referidas espécies sua fonte principal de matéria-prima.

Para que sejam supridas suas necessidades de matéria-prima para

abastecimento industrial, as empresas setoriais mantêm maciços florestais, próprios

ou contratados de terceiros, conforme é indicado na Tabela 3, onde são

apresentadas as áreas com florestas plantadas existentes no Brasil.

Estado Eucalyptus Pinus Total (ha)

AP 61.000 33.800 94.800BA 390.000 20.000 410.000ES 203.000 2.800 205.800GO 18.000 1.000 19.000MA 67.000 -- 67.000

Eucalyptus

Pinus

-

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

1961-62 1969 1971-72 1991-92 1999-2000

Período

Área

(hec

tare

s)

Page 5: uso potencial da madeira da seringueira
Page 6: uso potencial da madeira da seringueira

6

-9.145

-15.600

-19.400

-23.300-25.000

-20.000

-15.000

-10.000

-5.000

0

1.0

00

m3

2002 2005 2010 2015

2.1- Situação referente à oferta / demanda de toras de Pinus no Brasil

A situação nacional referente à produção e demanda de toras de Pinus é a

seguinte:

Área de Plantio de Pinus 1.900.000ha

Idade Média 13 anos

IMA (Incremento Médio Anual) 23m3/ha/ano

Produção Sustentada 43,7 milhões de m3/ano

Consumo Anual 50 milhões de m3

Conforme pode ser constatado, dentro de uma condição de sustentabilidade,

em que seriam explorados unicamente os volumes decorrentes do crescimento da

área plantada (43,7 milhões de m3/ano), o consumo de 50 milhões de m3/ano indica

a existência de um déficit aproximado de 6 milhões de m3/ano.

Na Figura 3 é apresentada uma projeção no balanço referente à produção e

consumo de toras de Pinus.

Fonte: STCP, 2004. Figura 3: Projeção no Balanço (Toras de Pinus).

Page 7: uso potencial da madeira da seringueira

7

2.2- Situação referente à oferta/demanda de toras de Eucalyptus no Brasil

A situação nacional referente à produção e demanda de toras de Eucalyptus é

a seguinte:

Área de Plantio de Eucalyptus 3.000.000ha

Idade Média 4,5 anos

IMA (Incremento Médio Anual) 30m3/ha/ano

Produção Sustentada 90 milhões de m3/ano

Consumo Anual 97 milhões de m3

Conforme pode ser constatado, dentro de uma condição de sustentabilidade,

em que seriam explorados unicamente os volumes decorrentes do crescimento da

área plantada (90 milhões de m3/ano), o consumo de 97 milhões de m3/ano indica a

existência de um déficit aproximado de 7 milhões de m3/ano.

Na Figura 4 é apresentada uma projeção no balanço referente à produção e

consumo de toras de Eucalyptus.

Fonte: STCP, 2004. Figura 4: Projeção no Balanço (Toras de Eucalyptus).

9.24 5

2 .4 7 3

-5.0 57

-13 .91 3

-1 5.00 0

-1 0.00 0

-5.00 0

0

5.00 0

1 0.00 0

1.0

00

m3

2 0 02 20 05 20 1 0 2 01 5

Page 8: uso potencial da madeira da seringueira

8

2.3- Evolução do preço de matéria-prima florestal

A redução da oferta de matéria-prima florestal para as diferentes atividades

industriais setoriais teve como conseqüência um forte aumento dos preços conforme

pode ser constatado pelo exame da Figura 5, que apresenta a variação do preço da

tora de Pinus, considerando-se diferentes classes de diâmetro, durante um período

aproximado de 8 anos.

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

12/9

6

06/9

7

12/9

7

06/9

8

12/9

8

06/9

9

12/9

9

06/0

0

12/0

0

06/0

1

12/0

1

06/0

2

12/0

2

06/0

3

12/0

3

06/0

4

classes de diâmetro (cm)

US$

/ m

³

08 a 18cm 18 a 24cm 25 a 34cm > 34cm

1ª grande desvalorização do Real

Fonte: Valor Florestal, 2004.

Figura 5: Evolução do preço de toras de Pinus no período de 12/1996 a 06/2004, de acordo com

suas classes de diâmetro. 3. O segmento moveleiro

A indústria brasileira de móveis é formada por mais de 16.000 micros,

pequenas e médias empresas que geram mais de 195 mil empregos.

Estas empresas localizam-se em sua maioria na região centro-sul do País

constituindo em alguns Estados pólos moveleiros, conforme é mostrado na Tabela 5.

Pólo moveleiro Estado Empresas Empregados Principais mercados

Ubá MG 300 3.150 MG, SP, RJ, BA e exportação Bom Despacho MG 117 2.000 MG Linhares e Colatina ES 130 3.000 SP, ES, BA e exportação Arapongas PR 145 5.500 Todos os Estados e exportação

Page 9: uso potencial da madeira da seringueira

9

Pólo moveleiro Estado Empresas Empregados Principais mercados Votuporanga SP 85 5.000 Todos os Estados Mirassol SP 210 8.500 PR, SC, SP e exportação Tupã SP 54 700 SP São Bento do Sul SC 210 8.500 PR, SC, SP e exportação Bento Gonçalves RS 370 10.500 Todos os Estados e exportação Lagoa Vermelha RS 60 1.800 RS, SP, PR, SC e exportação

Fonte: Abimovel, 2004.

Tabela 5: Localização dos Pólos Moveleiros, Empresas, Empregados e Principais Mercados.

As receitas geradas pelas exportações de móveis de madeira estão indicadas

na Figura 6.

125,7

532,4

661,5

1000

940,0

483,5488,8

385,2338,1

366,3

351,3

336,6

293,5266,1

57,339,7

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Ano

Rec

eita

s (U

S$ x

1 m

ilhão

)

Fonte: ABIMOVEL, 2004 e REMADE, 2006.

Figura 6: Receitas geradas pelas exportações brasileiras de móveis.

A análise da evolução das receitas geradas pelas exportações de móveis

indica um crescimento expressivo, principalmente nos últimos 5 anos.

Do total produzido, 60% referem-se a móveis residenciais, 25% a móveis de

escritório e 15% móveis institucionais, escolares, médico-hospitalares, móveis para

restaurantes, hotéis e similares.

As matérias-primas mais utilizadas pelas indústrias de móveis são as chapas

de madeiras processadas (aglomerado e MDF), madeira maciça (proveniente de

mata nativa e com sua utilização em rápido declínio) e tábuas provenientes de

plantios das espécies de Pinus e Eucalyptus, que vem ganhando força no mercado,

devido à substituição da madeira maciça.

Page 10: uso potencial da madeira da seringueira

10

Os painéis de madeira aglomerada e de MDF destinam 90% do volume à

fabricação de móveis e toda a sua produção é sustentada por florestas plantadas.

Graças aos painéis de madeira, houve uma “massificação” do consumo,

especialmente de móveis lineares. Em média 70% da madeira maciça utilizada pela

indústria moveleira também é resultado de plantio, como no caso do Pinus, que

substitui a araucária; já o Eucalyptus se consolidou no Brasil, sendo os segmentos

produtores de camas e de sala de jantar os que mais utilizam.

4. O consumo de madeiras tropicais no Estado de São Paulo

Conforme IMAZON (2001), o Estado de São Paulo “importou” o equivalente a

6,1 milhões de metros cúbicos de tora de madeira da Amazônia, sendo que a quase

totalidade foi consumida no próprio Estado, conforme mostra a Tabela 6. Setores envolvidos Volume consumido de madeira em tora (mil m3/ano)

Depósito de madeira 4.200 Indústrias Móveis Casas de madeira Pisos e esquadrias Diversos

666 165 147 301

Construção vertical 605 Total 6.084

Fonte: Sobral, 2002.

Tabela 6: Consumo da Madeira Amazônica dos diferentes segmentos industriais no Estado de São Paulo, 2001.

Na Figura 7 são indicados os diferentes setores e sua participação no

consumo de madeiras tropicais.

estrutura de telhados de casas

42%

móveis finos e peças de decoração

1%

andaimes e fôrmas para concreto

28%

móveis populares15%

forros, pisos e esquadrias

11%

casas pré-fabricadas de madeira

3%

Fonte: Sobral, 2002.

Figura 7: Uso da Madeira Amazônica no Estado de São Paulo, 2001.

Page 11: uso potencial da madeira da seringueira

11

A análise da Tabela 6 e Figura 7 mostra que o setor de estrutura de casas e

andaimes e formas de concreto são responsáveis pelo consumo de 70% da madeira

proveniente da Amazônia. O setor moveleiro, em São Paulo, utiliza 15% do total.

Na região de Votuporanga e Mirassol predominam indústrias especializadas

na produção de móveis populares (camas, estofados, armários, mesas). Estas

indústrias, em número de 240 em 2001, consumiram 644 mil metros cúbicos de

madeira: o aglomerado representou 34% do consumo, a madeira oriunda do

reflorestamento (Pinus e Eucalyptus) contribuiu com 17%, seguida por compensado

e chapa dura com (7%) e MDF (6%). A madeira da Amazônia representou 36% do

consumo dos referidos pólos significando 232 mil m3 por ano.

As indústrias de móveis localizadas em Itatiba (40) e São Bernardo do Campo

(75), consomem 177 mil metros cúbicos sendo que a madeira Amazônia representou

64% ou 113 mil metros cúbicos.

Na Tabela 7 é apresentado o consumo de madeira tropical para as referidas

regiões.

Região No de

Indústrias Consumo de Madeira

(m3) Madeira da Amazônia

Votuporanga e Mirassol 240 644.000 (1) 232.000 (36%) Itatiba e S.Bernardo 115 177.000 113.000 (64%) Total 355 821.000 345.000 (1) aglomerado (34%), reflorestamento (17%), chapa dura (7%), MDF (6%) Fonte: APABOR, 2005.

Tabela 7: Consumo da Madeira Amazônica nas regiões de Votuporanga, Mirassol, Itatiba e São Bernardo, 2001.

5. Os plantios de seringueira (Hevea brasiliensis) no Estado de São Paulo

As áreas plantadas com seringueira (Hevea brasiliensis) no Estado de São

Paulo totalizam aproximadamente 60 mil hectares (Cortez, 2004), concentrando-se

no chamado Pólo da Borracha, cuja localização e evolução são indicadas nas

Figuras 8 e 9.

O exame da Tabela 7 mostra que os principais Pólos Moveleiros de São

Paulo consomem 345.000 m3 de madeira da Amazônia. Admitindo-se um incremento

anual de 5m3/ha/ano, bastante conservador, verifica-se que os 60.000 hectares de

Page 12: uso potencial da madeira da seringueira

12

seringais poderão produzir 300.00 m3/ha/ano, suficientes para, se não totalmente,

diminuir de forma expressiva o consumo de madeira proveniente da Amazônia.

Na Figura 8 é apresentada a evolução dos plantios de seringueira no Estado

de São Paulo no período de 1978 a 2005.

(*) estimativas Fonte: APABOR, 2005.

Figura 8: Distribuição anual dos plantios de seringueira no Estado de São Paulo.

A Figura 9 mostra a localização dos Pólos Moveleiros justamente na região

onde se concentram aproximadamente 90% dos plantios de seringueira existentes.

Ressalte-se uma vez mais, que nestas Regiões houve declínio das áreas de

reflorestamento com espécies exóticas de rápido crescimento (Pinus e Eucalyptus),

cujos índices, aliás, são os menores do Estado de São Paulo

0

1500

3000

4500

6000

7500

9000

1978 1981 1984 1987 1990 1993 1996 1999 2002 2005(*)

Ano

Áre

a (h

a)

Page 13: uso potencial da madeira da seringueira

13

53,14%

35,15%

11,71%

Pólo da Borracha

53,14%

35,15%

11,71%

Pólo da Borracha

Fonte: APABOR / INSTITUTO FLORESTAL, 2006.

Figura 9: Localização dos plantios de seringueira no chamado Pólo da Borracha e dos principais Pólos Moveleiros no Estado de São Paulo.

A expressiva evolução dos plantios

Page 14: uso potencial da madeira da seringueira

14

adulto existente no município de Bálsamo, tendo sido efetuados os seguintes

procedimentos:

1. Determinação da altura comercial e diâmetro (DAP).

2. As árvores foram derrubadas e seccionadas em toras com comprimentos

em torno de 2 m. Para cada tora foram medidos os diâmetros de suas extremidades

para fins do cálculo de seu volume.

3. Foram anotadas também as posições da tora na árvore.

4. As toras, assim obtidas, foram transportadas para a Estação Experimental

do Instituto Florestal, localizada no município de Manduri.

5. Cada uma das toras teve seu volume verde calculado.

6. As toras verdes foram a seguir serradas, sendo cada peça identificada de

acordo com a respectiva tora.

7. A seguir as peças das toras das diferentes árvores, devidamente

identificadas, foram imersas em solução preservativa contendo inseticida e fungicida,

sendo a seguir colocadas para secagem ao ar livre.

8. As peças foram a seguir resserradas tendo determinados os volumes de

cada um dos produtos obtidos.

9. A comparação entre os volumes da árvore e respectivas toras verdes, com

os volumes das peças desdobradas e secas mostrou os resultados apresentados

nas Tabelas 8 e 9. Tora Volume verde

(m3) Volume toras desdobradas

(m3) ÁRVORE A

A1 0,256004 0,1654509 A2 0,149777 0,0971549 A3 0,122871 0,0740742 A4 0,107797 0,0586910 A5 0,094682 0,0614881 A6 0,084249 0,0524104 A7 0,071004 0,0336105

Total 0,886384 (1) 0,5428800 (2) ÁRVORE B

B1 0,275626 0,1870797 B2 0,164871 0,1066165 B3 0,131928 0,0794753

Page 15: uso potencial da madeira da seringueira

15

Tora Volume verde (m3)

Volume toras desdobradas (m3)

B4 0,115211 0,0679491 B5 0,106758 0,0631324 B6 0,081510 0,0218473 B7 0,067663 0,0411026

Total 0,943566 (1) 0,5672029 (2) ÁRVORE C

C1 0,406553 0,2179566 C2 0,232494 0,3077915 C3 0,180690 0,0878800 C4 0,130778 0,0543505 C5 0,087973 0,0457797 C6 0,076166 0,0396027 C7 0,069324 0,0297960

Total 1,183978 (1) 0,7831570 (2) ÁRVORE D

D1 0,414684 0,2273985 D2 0,235563 0,1438200 D3 0,202909 0,1267113 D4 0,067663 0,0672894 D5 0,055105 0,0332514 D6 0,051444 0,0271084 D7 0,055105 0,0265914 D8 0,076166 0,0263670 D9 0,069324 0,0259266

D10 0,146116 0,0243086 D11 0,055105 0,0216684 D12 0,053625 0,0175032 D13 0,059663 0,0160352 D14 0,047910 0,0147256 D15 0,037444 0,0125424 D16 0,056604 0,0112768 D17 0,029344 0,0086320 Total 1,713774 (1) 0,8311562 (2)

TOTAL GERAL 4,727701 (1) 2,7243961 (2)

Tabela 8: Cubagem das toras: cálculo do volume verde e cálculo do volume das peças

desdobradas.

Tora Rendimento (2÷1) (%)

A 61,2 B 60,1 D 66,1 D 48,5

RENDIMENTO MÉDIO 57,6

Tabela 9: Cálculo do rendimento.

Observação:

Os rendimentos indicados devem ser considerados como de caráter

preliminar. Há necessidade de serem feitas novas determinações observados

Page 16: uso potencial da madeira da seringueira

16

os diferentes estratos a serem definidos considerando-se: condições do “site”,

idade, clone, espaçamento.

Os rendimentos obtidos na forma indicada são compatíveis com aqueles

obtidos tradicionalmente na Malásia e Indonésia, principais produtores de

látex e grandes exportadores de madeira de seringueira.

7. Caracterização e monitoramento dos seringais

Os procedimentos metodológicos a serem seguidos para a caracterização e

monitoramento dos seringais existentes no chamado Pólo da Borracha, são

detalhados a seguir:

1- Levantamento (fotointerpretação, mapeamento e quantificação)

Para a caracterização dos seringais será efetuado seu levantamento

mediante análise digital de fotografias digitais coloridas, obtidas mediante vôo

efetuado em 2000-2001, escala 1:30.000, devidamente atualizadas com imagens

recentes do satélite CBERS2 (China-Brazil Earth Resources Satellite). Desta forma

será feita a fotointerpretação, mapeamento e respectiva quantificação dos seringais

existentes.

2- Monitoramento

Para a execução de levantamentos a serem efetuados em intervalos de

tempo regulares, será estruturada base digital georreferenciada em ambiente SIG

(Sistema de Informações Geográficas) que permite a associação de polígonos

espaciais (= seringais levantados) com os bancos relacionais que contém dados

como: clone utilizado, data de plantio, espaçamento, início da sangria, proprietário,

etc.

8. Inventário Florestal dos Seringais

Tem como objetivo determinar a estimativa volumétrica e a qualificação da

madeira da seringueira, em função dos diferentes estratos estabelecidos, bem como

definir parâmetros para predição da produção.

Com o mapeamento dos seringais é gerado um multiplicador fundamental

para extrapolar as estimativas por unidade de área para a população como um todo,

Page 17: uso potencial da madeira da seringueira

17

a partir da amostragem onde serão efetuadas medições de diâmetros e alturas e

outras variáveis para ampliar a abrangência do levantamento.

Para se obter uma base a mais próxima possível sobre a realidade atual dos

seringais e de seu potencial volumétrico de madeira o inventário florestal atualizará e

corrigirá as estatísticas de todos os plantios, mediante visitas e serviços de campo.

Deve ser ressaltado que toda a informação primária e secundária obtida pelo

inventário será sistematizada em base de dados usando-se Sistema de Informação

Geográfica (SIG).

O inventário florestal será executado observando-se as seguintes etapas, a

seguir resumidas:

Estratificação dos seringais (idade, tipo de clone, espaçamentos,

condições de sangria).

Amostragem

- definição da unidade amostral: área, parâmetros a serem levantados

(diâmetro, altura total e comercial, condições de sangria, características

dos indivíduos).

- locação das unidades amostrais nos estratos estabelecidos.

Na definição dos métodos e processos de amostragem (área da parcela,

locação - aleatória, sistemática ou mista), serão observadas as seguintes

premissas básicas: representatividades da população; abranger todas as

realidades da população e validade estatística.

Coleta e processamento de dados: obtenção e caracterização dos

parâmetros volumétricos. Serão definidas equações volumétricas, de

acordo com as características dos estratos estabelecidos.

Projeções e simulações do crescimento.

Os resultados dos volumes obtidos nas mesmas parcelas ao longo dos

anos, permitirão a elaboração de curva de função de produção para cada

estrato.

Em síntese, os produtos desta etapa para toda a região do Pólo da Borracha

serão os seguintes:

Page 18: uso potencial da madeira da seringueira

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Volumetria dos seringais de acordo com os estratos estabelecidos.

Indicação da disponibilidade de madeira dos seringais já exauridos onde

não são efetuadas mais sangrias.

Predição da disponibilidade de madeira em função de novos plantios e

seringais em diferentes fases de sangria.

9. Rendimento volumétrico no processamento mecânico da madeira da seringueira

A partir das informações obtidas através do inventário florestal, nos diferentes

estratos considerados, serão amostradas árvores com a finalidade de avaliação do

volume comercial da madeira verde e do correspondente volume de madeira serrada

e seca.

Desta maneira será obtido o rendimento volumétrico, desde a árvore em pé

até o produto acabado ou serrado.

Observações:

Conforme foi constatado, os seringais existentes foram estabelecidos com o

objetivo principal de extração do látex. A madeira, ao final da rotação com a

diminuição da produção do látex, era utilizada como lenha.

Não tendo havido, portanto, tratamento ou silvicultura dos plantios,

basicamente aqueles referentes a espaçamento e desrrama, os fustes das árvores

apresentam-se bastante irregulares (bifurcações, galhos grossos). Normalmente não

existe um fuste sem galhos devido à inexistência de desrrama que, aliás, somente é

efetuada até a altura que permita a execução das sangrias (+/- 2m).

Também o fato de ter sido adotado espaçamento amplo entre as linhas e

menor dentro (ex.: 8,0 m x 2,5 m), para permitir culturas intercalares nos primeiros

anos, isto também contribuiu para que as árvores não tivessem copas com formação

adequada, conforme pode ser constatado nas Figuras 10, 11 e 12.

Page 19: uso potencial da madeira da seringueira

19

Figura 10: Espaçamentos adotados na implantação de antigos seringais (8 m x 2,5 m). Observar inclinação das árvores motivada pela competição das copas pela luz.

Figura 11: Aspecto de um seringal antigo (+/- 15 anos). Observar ramos laterais grossos e excessivos

provocados pela não execução de desrama.

8

2,5 m

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Figura 12: Aspecto de um seringal adulto mostrando árvores com desenvolvimento desuniforme com má formação silvicultural: bifurcações, galhos grossos e ausência de um fuste definido (município de

Bálsamo).

10. Desenvolvimento do Projeto

A execução das atividades previstas, objetivando a caracterização e

quantificação da madeira da seringueira contará com recursos, em parte, de Projeto

aprovado pela FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São

Paulo, dentro de sua linha de Pesquisas em Políticas Públicas “Disponibilidade da madeira da seringueira (Hevea brasiliensis) como matéria-prima para a confecção de mobiliário no Estado de São Paulo”.

Neste projeto, onde estão indicados os recursos necessários, as instituições

participantes são as seguintes:

Instituições Executoras

1 – Instituto Florestal

2 - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"- Universidade de São Paulo - Departamento de Ciências Florestais

Page 21: uso potencial da madeira da seringueira

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Instituições Parceiras

1 – APABOR – Associação Paulista de Produtores e Beneficiadores de Borracha

2 – CEMAD-SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Centro Tecnológico de Formação Profissional da Madeira e do Mobiliário de Votuporanga

3 - SEBRAE-SP - Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo

4 – ABIMOVEL – Associação Brasileira das Indústrias de Mobiliário Literatura Consultada

Cortez, J.V e Benesi, J.F.C. Contribuição do Estado de São Paulo para aumento da produção de borracha natural. Secretaria da Agricultura – Câmara Setorial de Borracha Natural. São Paulo. 2000.

Dean, W. A luta pela borracha no Brasil: um estudo de história ecológica. Nobel. 1989.

Desenvolvendo indústrias de madeira de seringueira. Workshop. Malásia –Tailândia. 2001.

Gonçalves, P.S. et al. Manual de heveicultura para o Estado de São Paulo. Instituto Agronômico. Boletim Técnico IAC, 189. Campinas. 2001.

Hassan, M.J.M. Viability rubber forest plantation. Malaysian Rubber Board – MRB, Monograph no 6. 2003.

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – Laboratório de Produtos Florestais. Madeira de Hevea brasiliensis: adequação tecnológica para sua utilização. Brasília. 1999.

Kelmanm, W. and Hong L.T. Rubberwood – the success of an agricultural by product. Unasylva 201. vol.51. 2000.

Peralta, D.S. et al. Posibilidades de utilización industrial de la madera de plantaciones de caucho en Colombia. Cali. Colombia. 2004.

Rubber forest plantation. Malaysian Rubber Board – MRB, Monograph no 5. 2003.

Sanquetta, C.R. et al. Carbono: ciência e mercado global. Curitiba. 2004

Sanquetta, C.R. et al. As florestas e o carbono. Curitiba. 2002.

Sobral, L. et al. Acertando o alvo 2: consumo de madeira amazônica e certificação florestal no Estado de São Paulo. Belém: Imazon, 2002. 72p.