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INPE-16714-TDI/1652 UTILIZA ¸ C ˜ AO DE DADOS MERIS E IN SITU PARA A CARACTERIZA ¸ C ˜ AO BIO- ´ OPTICA DO RESERVAT ´ ORIO DE ITUMBIARA, GO Renata Fernandes Figueira Nascimento Disserta¸ ao de Mestrado do Curso de P´ os-Gradua¸ ao em Sensoriamento Remoto, orientada pelos Drs. Jos´ e Luis Stech, e Milton Kampel, aprovada em 07 de abril de 2010. URL do documento original: <http://urlib.net/sid.inpe.br/mtc-m19@80/2010/03.15.18.39> INPE ao Jos´ e dos Campos 2010

Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

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INPE-16714-TDI/1652

UTILIZACAO DE DADOS MERIS E IN SITU PARA A

CARACTERIZACAO BIO-OPTICA DO RESERVATORIO

DE ITUMBIARA, GO

Renata Fernandes Figueira Nascimento

Dissertacao de Mestrado do Curso de Pos-Graduacao em Sensoriamento Remoto,

orientada pelos Drs. Jose Luis Stech, e Milton Kampel, aprovada em 07 de abril de

2010.

URL do documento original:

<http://urlib.net/sid.inpe.br/mtc-m19@80/2010/03.15.18.39>

INPE

Sao Jose dos Campos

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INPE-16714-TDI/1652

UTILIZACAO DE DADOS MERIS E IN SITU PARA A

CARACTERIZACAO BIO-OPTICA DO RESERVATORIO

DE ITUMBIARA, GO

Renata Fernandes Figueira Nascimento

Dissertacao de Mestrado do Curso de Pos-Graduacao em Sensoriamento Remoto,

orientada pelos Drs. Jose Luis Stech, e Milton Kampel, aprovada em 07 de abril de

2010.

URL do documento original:

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Sao Jose dos Campos

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Dados Internacionais de Catalogacao na Publicacao (CIP)

Nascimento, Renata Fernandes Figueira.N17u Utilizacao de dados MERIS e in situ para a caracterizacao

bio-optica do reservatorio de Itumbiara, GO / Renata FernandesFigueira Nascimento. – Sao Jose dos Campos : INPE, 2010.

xxii + 91 p. ; (INPE-16714-TDI/1652)

Dissertacao (Mestrado em Sensoriamento Remoto) – InstitutoNacional de Pesquisas Espaciais, Sao Jose dos Campos, 2010.

Orientadores : Drs. Jose Luis Stech, e Milton Kampel.

1. Reservatorio. 2. Caracterizacao bio-optica. 3. MERIS.4. Propriedades opticas inerentes. 5. Qualidade da agua. 6. Itum-biara (GO). I.Tıtulo.

CDU 528.81 (817.3)

Copyright c© 2010 do MCT/INPE. Nenhuma parte desta publicacao pode ser reproduzida, arma-zenada em um sistema de recuperacao, ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio,eletronico, mecanico, fotografico, reprografico, de microfilmagem ou outros, sem a permissao es-crita do INPE, com excecao de qualquer material fornecido especificamente com o proposito de serentrado e executado num sistema computacional, para o uso exclusivo do leitor da obra.

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“Espere o melhor, prepare-se para o pior e receba o que vier”.

Provérbio chinês

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus orientadores, Dr. José Luiz Stech e Dr. Milton Kampel, pela

orientação, paciência, ajuda e incentivo na realização deste mestrado.

Ao colega, e agora amigo Enner Alcântara por toda paciência e ajuda nesses dois anos.

Ao Dr. Arcilan Assireu, ao Joaquim e ao João Felipe pela ajuda nas saídas de campo.

Ao pessoal do Instituto Oceanográfico (IO) da USP pelo empréstimo dos materiais e do

laboratório para as análises, principalmente Dr. Salvador Gaeta e Msc. Eduardo

Miranda. Um especial agradecimento à Msc. Maysa Pompeu, que acabou se tornando

uma grande amiga e companheira.

Ao Frederico Rudorff, Aline Matos, Cláudio Barbosa, Gustavo Molleri, Bárbara

Giaccom, Amábile Ferreira, Denílson Viana, Bernard Barbarisi e Elizabete Caria

Moraes por toda ajuda.

Aos meus amigos aqui do INPE por me darem força e incentivo nos momentos difíceis,

e descontração nos momentos alegres. As minhas amigas “osso” que sempre me

animaram, mostrando que a vida só nos dá o que conseguimos agüentar.

A minha família, pai, mãe e irmãs, por sempre acreditarem em mim, e nunca me

deixarem desistir. Ao meu namorado Renan pela ajuda, paciência e carinho.

A todas as pessoas que acreditaram em mim e torceram por mim. Muito Obrigada!

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RESUMO

O sensoriamento remoto de sistemas aquáticos envolve análises das variações da magnitude e qualidade da radiação que deixa a água para se obter informação sobre o tipo de substâncias presentes no corpo de água e suas respectivas concentrações. Essas substâncias apresentam comportamentos espectrais diferentes, interferindo assim de maneira diversa nas propriedades ópticas da água. As três principais substâncias reconhecidas são fitoplâncton, material em suspensão e matéria orgânica dissolvida. As alterações no espectro da água são decorrentes do efeito que essas substâncias têm sobre suas propriedades ópticas inerentes, absorvendo ou espalhando seletivamente a radiação eletromagnética. Assim, o objetivo principal desta dissertação é a caracterização bio-óptica da água do reservatório de Itumbiara - GO, a partir de dados orbitais do sensor Medium Resolution Imaging Spectrometer (MERIS), dados in situ e a utilização de modelos bio-ópticos desenvolvidos pela European Space Agency (ESA). Para alcançar este objetivo, métodos de análise como krigeagem ordinária, classificação por k-médias, análise derivativa e modelo linear de mistura foram aplicados no conjunto de dados. As estimativas de parâmetros geofísicos tais como a concentração de clorofila e totais de sólidos em suspensão, obtidos a partir de dados orbitais foram comparados com estimativas in situ. A análise conjunta dos dados limnológicos e espectrais mostrou uma compartimentação do reservatório na época de cheia (maio de 2009) em duas regiões distintas, sendo uma composta pelo corpo principal do reservatório e a outra, por uma região sob influência do rio Corumbá. No período de seca (setembro de 2009), a análise integrada dos dados mostrou o reservatório mais homogêneo. Entre os processadores de dados MERIS testados, o que mostrou melhor desempenho em relação a estimativas in situ, foi o Case 2 Regional (C2R), para os dados coletados no período de cheia. A medição e utilização de dados de propriedades ópticas inerentes da água de reservatórios no Brasil, ainda não são muito difundidas, apesar de serem amplamente realizadas em águas oceânicas e costeiras. Similarmente, dados do sensor MERIS não tem sido utilizados para a caracterização de águas interiores no país. Desta forma, este trabalho se apresenta como uma contribuição à utilização desses dados MERIS e de propriedades ópticas inerentes em águas interiores, esperando, assim, auxiliar e colaborar com trabalhos futuros.

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BIO-OPTICAL CHARACTERIZATION OF THE ITUMBIARA RESE RVOIR,

IN GOIÁS STATE, BRAZIL, USING MERIS AND IN SITU DATA

ABSTRACT

Remote sensing involves analyses of the variations in magnitude and spectral quality of the water-leaving radiation to derive quantitative information on the type of substances present in the water and their concentrations. Three main components, in addition to pure water itself, influence the optical properties of natural bodies of water. They are phytoplankton, suspended material and dissolved organic substances. The observed color of a water body becomes a direct consequence of the interaction of incident light field with water and these components. The inherent optical properties of relevance in this context are the absorption and the scattering coefficients. The main goal of this work is the bio-optical characterization of the Itumbiara reservoir, located in the State of Goias, Brazil. In situ data, Medium Resolution Imaging Spectrometer (MERIS) images and bio-optical models were analyzed by different methods like ordinary krigeage, k-means classification, derivative analysis and spectral unmixing. Integrated spectral and limnological data showed a partitioning of the reservoir in two different areas at high water level (May 2009): the Corumbá river arm and the main water body. At low water level (September 2009), the reservoir was more homogeneous. MERIS satellite estimates of chlorophyll-a concentration and suspended matter concentration were compared with in situ data. The Regional Case 2 Water (C2R) processor presented the best fit for the data set of May at high water level. The measurement and use of inherent optical properties and the application of MERIS images for inland studies in Brazil is still very new. Therefore, this work could represent a contribution and an initial reference for future similar works.

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LISTA DE FIGURAS

Pág. Figura 2.1 – As diferentes origens da radiação recebida por um sensor sobre um

corpo de água. ...........................................................................................10 Figura 2.2 – Comportamento espectral da água pura. .................................................12 Figura 2. 3 – Comportamento espectral do fitoplâncton, sedimentos em suspensão,

matéria orgânica dissolvida e água. ..........................................................14 Figura 3.1 – (a) e (b) Localização do reservatório de Itumbiara; (c) composição

colorida R(708)G(620)B(490) da imagem MERIS do dia 23/05/2009. ...20 Figura 3.2 – Mapa de batimetria do Reservatório de Itumbiara. Fonte: Alcântara et

al. (2009). ..................................................................................................21 Figura 3.3 – Média mensal (1993-2005) da cota do reservatório de Itumbiara. ............21 Figura 3.4 – Média do acumulado mensal (1993-2007) da precipitação (mm) e

temperatura do ar (oC)...............................................................................22 Figura 3.5 – Mapa do uso do solo na bacia hidrográfica do reservatório de Itumbiara,

obtido a partir da classificação digital de imagens CBERS-2B (158/120 e 158/121) de 02/09/2007. ........................................................................23

Figura 3.6 – Stick plot da velocidade do vento e modulo da intensidade do vento coletado pela bóia SIMA nos dias 12 e 13 de maio de 2009. ...................24

Figura 3.7 – Stick plot da velocidade do vento e modulo da intensidade do vento coletados pela bóia SIMA nos dias 09, 10 e 11 de setembro de 2009......25

Figura 3.8 – Distribuição dos pontos amostrais das duas campanhas de campo realizadas em maio e setembro de 2009. ..................................................27

Figura 3.9 – Fluxograma dos métodos de análise aplicados aos dados coletados em campo........................................................................................................34

Figura 3.10 – Fluxograma dos métodos de análise aplicados aos dados de satélite.......34 Figura 4.1 - Espectros de absorção dos componentes opticamente ativos no

reservatório de Itumbiara, para os meses de maio e setembro de 2009....46 Figura 4.2 – Espectros de Rrs obtidas em campo nos meses de maio e setembro de

2009. .........................................................................................................47 Figura 4.3 – Esepctros de reflectância representativos de águas costeiras do Caso II

nas proximidades de Cingapura, com baixas concentrações de clorofila (<3 µg/L) e total de sólidos em suspensão (<10 mg/L). ..........................48

Figura 4.4 – Localização dos pontos de coleta de dados radiométricos no mês de maio. .........................................................................................................49

Figura 4.5 - Comparação entre as Rrs simuladas para as bandas do sensor MERIS (IN SITU) e as obtidas pela aplicação dos processadores (C2R; BOR – Boreal; EUL – Eutrophic) para o mês de maio.........................................50

Figura 4.6 – Localização dos pontos de coleta de dados radiométricos no mês de setembro....................................................................................................51

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Figura 4.7 - Comparação entre as Rrs simuladas para as bandas do sensor MERIS (IN SITU) e as obtidas pela aplicação dos processadores (C2R; BOR – Boreal; EUL - Eutrophic) para o mês de setembro...................................51

Figura 4.8 – Perfis de temperatura em (a) maio e (b) setembro. Curvas destacadas representam os pontos amostrais localizados nos rios Corumbá e Paranaíba...................................................................................................54

Figura 4.9 – Perfis de concentração de clorofila em a) maio e b) setembro. .................55 Figura 4.10 – Perfis de coeficiente de retro-espalhamento do material particulado

(Bbp) em a) maio e b) setembro ...............................................................55 Figura 4.11 – Diagrama ternário indicando a importância relativa de cada

componente opticamente ativo. Círculos pretos indicam dados do mês de maio, e quadrados vermelhos indicam dados do mês de setembro......56

Figura 4.12 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de concentração de clorofila (mg/L) em a) maio e b) setembro. ...........................................................57

Figura 4.13 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de concentração de total de sólidos em suspensão (mg/L) para a) maio e b) setembro........................58

Figura 4.14 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de turbidez (NTU) para a) maio e b) setembro....................................................................................58

Figura 4.15 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de concentração de carbono total dissolvido (mg/L), carbono orgânico dissolvido (COD) e carbono inorgânico dissolvido (CID) para maio e setembro. .................................59

Figura 4.16 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de temperatura (oC) da superfície da água para a) maio e b) setembro..........................................60

Figura 4.17 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de pH coletados em a) maio e b) setembro. ..............................................................................................60

Figura 4.18 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de absorção do fitoplâncton, CDOM, e detritos em 440 nm, para maio e setembro. .............................61

Figura 4.19 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de absorção do fitoplâncton em 665 nm, para maio e setembro. ...........................................................61

Figura 4.20 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de Bbp (470 nm), em 1 m para a) maio e b) setembro........................................................................62

Figura 4.21 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de concentração de clorofila coletados em maio. ...................................................................................63

Figura 4.22 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de concentração de clorofila coletados em setembro..............................................................................63

Figura 4.23 – Primeira derivada dos espectros de Rrs coletados em maio, com filtro de média móvel de 7 pontos. ....................................................................64

Figura 4.24 – Regressão linear entre a primeira derivada em 595 nm e log10 (chl-a)...65 Figura 4.25 – Segunda derivada dos espectros de Rrs coletados em maio, com filtro

de média móvel de 7 pontos. ....................................................................65 Figura 4.26 – Primeira derivada aplicada aos dados de Rrs coletados em setembro,

com filtro de média móvel de 7 pontos.....................................................66 Figura 4.27 – Regressão linear entre a primeira derivada em 595 nm e log10 (Chl-a)..66 Figura 4.28 – Segunda derivada aplicada aos dados de Rrs coletados em setembro,

com filtro de média móvel de 7 pontos.....................................................67

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Figura 4.29 – Classificação das imagens MERIS e MODIS pelo algoritmo k-médias, para maio e setembro. ...............................................................................67

Figura 4.30 – Resultado da aplicação do algoritmo K-médias para os dados de Rrs obtidos em campo em a) maio e b) setembro. ..........................................69

Figura 4.31 – Mapas de abundância dos COAs em maio...............................................70 Figura 4.32 – Mapas de abundância do COAs em setembro. ........................................71 Figura 4.33 – Composição RGB (R (sedimentos) G (clorofila) B (matéria orgânica))

dos mapas de abundância de maio (a) e setembro (b)..............................72 Figura 4.34 – Relação entre concentração de chl-a medida in situ e a (a) estimada

pelo algoritmo de 3 bandas, (b) estimada pelo modelo de 2 bandas, (c) estimada pelo algoritmo de Härma et al. (2001) para dados do processador C2R para a coleta de maio. ...................................................75

Figura 4.35 – Relação entre concentração de chl-a medida in situ e a (a) estimada pelo algoritmo de 3 bandas, (b) estimada pelo modelo de 2 bandas para dados do Fieldspec para coleta de maio. ..................................................75

Figura 4.36 – Relação entre concentração de TSS in situ e a estimada pelo algoritmo R510/R681 (a) e entre turbidez in situ e a estimada pelo algoritmo R620*R681/R510 (b) para dados de Rrs do Fieldspec para coleta de maio. .........................................................................................................76

Figura 4.37 – Variação (média, erro padrão (SE), desvio padrão (SD)) dos dados de clorofila nos dois períodos de coleta.........................................................77

Figura 4.38 – Variação (média, erro padrão (SE), desvio padrão (SD)) dos dados de absorção dos detritos em 440 nm, nos dois períodos de coleta. ...............78

Figura 4.39 – Variação (média, erro padrão (SE), desvio padrão (SD)) dos dados de total de sólidos em suspensão, nos dois períodos de coleta......................78

Figura 4.40 – Variação (média, erro padrão (SE), desvio padrão (SD)) dos dados de absorção do cdom em 440 nm, nos dois períodos de coleta. ....................79

Figura 4.41 – Variação (média, erro padrão (SE), desvio padrão (SD)) dos dados de temperatura, nos dois períodos de coleta. .................................................79

Figura 4.42 – Variação (média, erro padrão (SE), desvio padrão (SD)) dos dados de absorção do fitoplâncton em 440 nm, nos dois períodos de coleta...........80

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LISTA DE TABELAS

Pág. Tabela 2.1 - Aplicações bandas MERIS......................................................................... 17 Tabela 4.1 - Descrição dos dados coletados durante a saída de campo de maio de 2009.

................................................................................................................................ 45 Tabela 4.2 - Descrição dos dados coletados durante a saída de campo de setembro de

2009. ....................................................................................................................... 45

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

BEAM Basic ENVISAT Toolbox for AATSR and MERIS CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo CDOM Matéria Orgânica Colorida Dissolvida CID Carbono Inorgânico Dissolvido COD Carbono Orgânico Dissolvido COAs Componentes Opticamente Ativos ENVISAT Environmental Satellite ESA European Space Agency FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations FURNAS Furnas Centrais Elétricas S.A. IET Índice de Estado Trófico INMET Instituto Nacional de Meteorologia Kd Coeficiente de atenuação difusa da irradiância descendente MODIS Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer MERIS Medium Resolution Imaging Spectrometer POAs Propriedades Ópticas Aparentes POIs Propriedades Ópticas Inerentes Rrs Reflectância de Sensoriamento Remoto SeaWIFS Sea-viewing Wide Field-of-view Sensor TSS Total de sólidos em suspensão UHE Usina Hidrelétrica

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SUMÁRIO

Pág. 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................1

1.1 Objetivo ......................................................................................................3

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...........................................................................5

2.1. Abordagem limnológica .............................................................................5

2.1.1. Parâmetros limnológicos ............................................................................5

2.1.2. Reservatórios ..............................................................................................7

2.2. Sensoriamento remoto em sistemas aquáticos............................................9

2.3. Propriedades ópticas aparentes e inerentes.................................................12

2.4. Componentes opticamente ativos ...............................................................13

2.5. Modelos bio-ópticos ...................................................................................15

2.6. Sensor MERIS ............................................................................................16

3 MATERIAIS E MÉTODOS ....................................................................................19

3.1. Área de estudo ............................................................................................19

3.1.1. Caracterização meteorológica dos períodos de coleta ................................24

3.2. Materiais .....................................................................................................26

3.2.1. Amostragem................................................................................................26

3.2.2. Variáveis limnológicas ...............................................................................27

3.2.3. Propriedades ópticas inerentes....................................................................28

3.2.4. Dados radiométricos ...................................................................................30

3.2.5. Dados de Sensoriamento remoto ................................................................31

3.2.6. Processadores utilizados .............................................................................32

3.3. Métodos ......................................................................................................33

3.3.1. Análise espacial ..........................................................................................35

3.3.2. Análise da contribuição relativa dos COAs................................................36

3.3.3. Análise derivativa dos espectros.................................................................37

3.3.4. Classificação dos dados ..............................................................................39

3.3.5. Análise de variância....................................................................................40

3.3.6. Análise de regressão linear .........................................................................41

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3.3.7. Modelo de mistura ......................................................................................42

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................45

4.1. Caracterização limnológica do reservatório de Itumbiara ..........................45

4.2. Dados de Sensoriamento Remoto...............................................................47

4.3. Análise da contribuição relativa dos COAs................................................56

4.4. Análise espacial ..........................................................................................57

4.5. Análise derivativa .......................................................................................64

4.6. Classificação dos dados ..............................................................................67

4.7. Modelo de mistura ......................................................................................69

4.8. Análise de regressão linear .........................................................................73

4.9. Análise de variância....................................................................................77

5 CONCLUSÃO..........................................................................................................81

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................83

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1 INTRODUÇÃO

A água é essencial à vida e, portanto, todos os organismos vivos, incluindo o homem,

dependem dela para sua sobrevivência. Sem água de qualidade adequada, o

desenvolvimento sócio-econômico e a qualidade de vida da população ficam

comprometidos. Os usos múltiplos excessivos e as retiradas permanentes para diversas

finalidades têm diminuído consideravelmente a disponibilidade de água e produzindo

inúmeros problemas de escassez em muitas regiões e países (TUNDISI, 2005).

Um dos usos múltiplos da água é na produção de hidroeletricidade, que, no caso do

Brasil, supre cerca de 85% da energia necessária ao país (TUNDISI, 2005). Os

reservatórios hidrelétricos apresentam um número grande de benefícios sócio-

econômicos como, por exemplo, produção de energia, atividades recreativas e

esportivas, pesca comercial, controle de inundações e suprimento de água. A

degradação deste sistema aquático e da qualidade da água pode causar uma série de

impactos ambientais. A qualidade da água se refere às suas propriedades físicas,

químicas e biológicas. Essa qualidade pode ser degradada pela presença de detritos,

nutrientes, microorganismos, pesticidas, metais pesados e sedimentos (LIU et al., 2003),

causando assim diversos problemas.

Normalmente, no entorno de um reservatório, existem áreas agrícolas responsáveis pela

entrada de nutrientes que escoam para o corpo d’água, com conseqüente impacto na

qualidade da água. Um exemplo é o caso do reservatório hidrelétrico de Itumbiara,

localizado na divisa dos estados de Minas Gerais e Goiás. O uso e ocupação do solo

nesta região são constituídos principalmente pela pecuária e agricultura, sendo estas

atividades realizadas praticamente até junto à margem do corpo d’água, sem que haja

proteção por vegetação mais densa (NASCIMENTO et al., 2009). Este padrão aumenta

o aporte de certas substâncias na água, como sedimentos e matéria orgânica dissolvida,

interferindo assim, nas propriedades ópticas do sistema aquático.

O sensoriamento remoto é uma ferramenta importante para o monitoramento desses

ambientes aquáticos, pois proporciona uma visão sinótica sobre grandes áreas e seu

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2

entorno de influência (ATKINSON, 1991; LIU et al., 2003; BARBOSA, 2005;

ALCÂNTARA, 2006; NOVO et al., 2006). Os métodos de coleta in situ, além de

consumirem muito tempo e serem relativamente caros, falham freqüentemente em

delimitar adequadamente áreas heterogêneas e desiguais (KHORRAM et al., 1991).

Quando aplicado a sistemas aquáticos, o sensoriamento remoto procura estudar as

variações na magnitude e qualidade espectral da radiação emergente da água para

derivar informações quantitativas sobre o tipo de substâncias presentes em seu volume e

suas concentrações, baseadas nas propriedades ópticas do meio, e dos processos ópticos

que ali ocorrem. O resultado das combinações dos tipos e quantidades das substâncias

opticamente ativas presentes na água define a sua caracterização bio-óptica. Os

principais componentes, ou substâncias, opticamente ativos são, basicamente, o

fitoplâncton, a matéria orgânica dissolvida (CDOM) e o material inorgânico em

suspensão (IOCCG, 2000). Esses componentes alteram a resposta espectral da água de

forma diferenciada, pois apresentam comportamento espectral característico, além de

interferirem nas propriedades ópticas inerentes (POIs). Estas são independentes das

variações na distribuição angular do campo de luz incidente e são determinadas apenas

pelo tipo e concentração dos componentes presentes no meio. A relação entre esses

componentes e os espectros de reflectância pode ser descrita por modelos bio-ópticos.

Porém, ainda existem limitações tecnológicas e metodológicas que restringem a

obtenção de medidas com precisão satisfatória para águas opticamente complexas

continentais e costeiras (ARST, 2003). As limitações tecnológicas estão relacionadas às

características dos instrumentos em termos de resoluções espaciais, espectrais,

temporais e radiométricas e relação sinal-ruído. As dificuldades metodológicas estão

principalmente relacionadas à questão de como isolar a componente da reflectância da

água, que traz a informação sobre os componentes opticamente ativos da água (COAS),

dos demais fluxos de radiação detectados pelos sensores.

Grande parte dos estudos pretéritos fez uso de imagens Landsat (KHORRAM;

CHESHIRE, 1985; VERDIN, 1985; JENSEN et al., 1989; BRIVIO et al. 2001;

Page 27: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

3

KLOIBER et al. 2002). Porém a desvantagem do satélite Landsat é a falta de bandas na

freqüência para detecção de clorofila-a em águas do Caso II (DEKKER et al., 2001),

isto é, águas influenciadas não só pelo fitoplâncton, mas também por outros COAs, que

variam independentemente, como o material inorgânico particulado e CDOM (MOREL;

PRIEUR, 1977; GORDON; MOREL, 1983; SATHYENDRANATH; MOREL, 1983).

A utilização de diferentes sensores com diferentes resoluções espacial, temporal e

espectral é de grande importância para o aperfeiçoamento da detecção de substâncias

presentes na água e no entendimento sobre suas respectivas influências sobre as

propriedades ópticas do corpo de água. Um sensor de interesse, dentre os atualmente

disponíveis é o Medium Resolution Imaging Spectrometer (MERIS), que apresenta 15

bandas espectrais compreendendo as faixas do visível ao infravermelho próximo, entre

390 e 1040 nm. Uma vantagem do MERIS em relação a outros sensores é possuir uma

melhor resolução espectral (1,8 nm), além das 15 bandas espectrais serem programáveis

em largura e posição, dependendo da aplicação desejada. Vários estudos internacionais

já utilizaram esse sensor na avaliação dos componentes da água e também das

propriedades ópticas inerentes (POIs) (ALIKAS; REINART, 2008; GONS et al., 2008;

KRATZER et al., 2008, entre outros). Diversos estudos também comparam o

desempenho do MERIS com o sensor Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer

(MODIS), podendo-se citar entre outros, Moses et al. (2009a), que utilizaram dados

destes sensores para estimar a concentração de clorofila-a em reservatórios. Porém,

poucos estudos utilizando dados MERIS foram realizados em sistemas aquáticos

continentais brasileiros.

1.1 Objetivo

O objetivo principal deste trabalho é a caracterização bio-óptica da água do reservatório

de Itumbiara, a partir de dados orbitais do sensor MERIS e dados in situ, avaliando

assim a capacidade do sensor MERIS em diferenciar os componentes opticamente

ativos, através das propriedades bio-ópticas da água. Com a finalidade de atingir o

objetivo descrito acima, foram elaborados os seguintes objetivos específicos:

Page 28: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

4

a) quantificar as Propriedades Ópticas Inerentes (POIs) da água do reservatório

por meio de dados limnológicos in situ e de modelos bio-ópticos para os

dados MERIS;

b) compartimentar o reservatório através de dados radiométricos e limnológicos

in situ e de satélite;

c) avaliar a variabilidade das POIs nas épocas de cheia e vazante do ciclo

hidrológico do reservatório.

Page 29: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

5

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Abordagem limnológica

Várias são as definições de limnologia: Forel (1982) a definiu como oceanografia dos

lagos; Lind (1979), como a ecologia aquática; Margalef (1983), como a ecologia das

águas não marinhas. A oceanografia e a limnologia abordam problemas e processos

paralelos, já que o objeto de estudo é a água, mas apresentam algumas características

diferentes. Os oceanos são mais antigos e contínuos em espaço, permitindo que espécies

de animais e vegetais estejam distribuídas mais amplamente. Já as águas interiores são

descontínuas no espaço, distribuindo-se irregularmente no interior dos continentes.

Dependem de processos diferenciados de colonização e, portanto, a diversidade e

distribuição da fauna e flora são mais limitadas e menores (TUNDISI; MATSUMURA

TUNDISI, 2008).

Os estudos limnológicos são fundamentais para a implantação de medidas de

planejamento e gerenciamento de recursos hídricos, pois abrangem uma integração dos

componentes biológicos, físicos e químicos, além dos movimentos da água e mudanças

biogeoquímicas dos ecossistemas aquáticos continentais, e ainda um melhor

acompanhamento de ações de conservação e recuperação. A pesquisa limnológica inclui

o trabalho analítico no campo e no laboratório, abrangendo o estudo de lagos de água

doce e salinos no interior dos continentes, rios, estuários, represas, áreas alagadas,

pântanos e todas as interações físicas, químicas e biológicas desses sistemas. Junto com

pesquisas geológicas, geomorfológicas, climatológicas, e dos organismos das áreas

adjacentes, é de fundamental importância para a compreensão dos processos que

ocorrem nos ecossistemas aquáticos (ESTEVES, 1988; WETZEL, 2001; TUNDISI;

MATSUMURA TUNDISI, 2008).

2.1.1. Parâmetros limnológicos

Para estudos de corpos d’água interiores alguns parâmetros são analisados para se obter

uma melhor caracterização desses ecossistemas e seus processos. Esses parâmetros

podem ser físicos, químicos e biológicos. Entre os parâmetros físicos destacam-se a luz,

temperatura e turbidez. Entre os químicos estão a concentração de oxigênio dissolvido,

salinidade, pH, alcalinidade, fosfato e nitrato. Os biológicos englobam as comunidades

Page 30: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

6

de organismos existentes no corpo d’água e seus processos de interação entre si. Dentre

os parâmetros limnológicos mais importantes estão a concentração de clorofila,

concentração de oxigênio dissolvido, de carbono dissolvido, de material em suspensão,

pH, turbidez e temperatura. A clorofila é o pigmento mais comum nos diferentes

gêneros de fitoplâncton e sua concentração é utilizada como medida de biomassa

fitoplanctônica (KIRK, 1983).

Dentre os gases dissolvidos na água, o oxigênio é um dos mais importantes na dinâmica

e caracterização de ecossistemas aquáticos, sendo essencial ao metabolismo de todos os

organismos aquáticos aeróbicos. Sua solubilidade é afetada não linearmente pela

temperatura, e aumenta consideravelmente em água mais frias. Além disso, a pressão

também afeta sua solubilidade, sendo que o equilíbrio entre o oxigênio da atmosfera e a

concentração de oxigênio na água depende da pressão atmosférica parcial do oxigênio.

(WETZEL, 2001). Assim, as principais fontes de oxigênio para a água são a atmosfera e

a fotossíntese, essa restrita à zona eufótica. Por outro lado, as perdas são o consumo

pela decomposição de matéria orgânica (oxidação), perdas para a atmosfera, respiração

de organismos aquáticos e oxidação de íons metálicos, como por exemplo, o ferro e o

manganês (ESTEVES, 1988).

O carbono dissolvido se divide em carbono orgânico dissolvido (COD) e carbono

inorgânico dissolvido (CID). O COD origina-se principalmente da decomposição de

plantas e animais e a partir de produtos da excreção destes organismos, e de

contribuições externas. É formado por um conjunto de compostos, como proteínas,

carboidratos, lipídios e compostos húmicos, que são tanto biológica como

quimicamente diferenciados, influenciando a dinâmica dos ecossistemas aquáticos de

várias maneiras, como por exemplo, atuando como fonte de energia para bactérias e

cianofíceas e como agente de interferência na fotossíntese de organismos (ESTEVES,

1988). Sua variabilidade em águas naturais é grande e depende de períodos de seca e

precipitação, além de processos internos em lagos e represas, como decomposição, ação

de bactérias, temperatura da água, turbulência e estratificação.

O carbono inorgânico dissolvido é o principal constituinte de águas interiores e pode

influenciar a disponibilidade de gases e nutrientes, além de servir como base para a

produção orgânica (WETZEL, 2001). O dióxido de carbono (CO2) é muito solúvel na

água, e por uma reação lenta se hidrata gerando íons de carbonato e bicarbonato, que se

Page 31: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

7

dissociam para estabelecer um equilíbrio. Estas formas estão fundamentalmente

relacionadas com o pH do meio. O pH expressa a basicidade ou acidez de uma solução,

em termos de concentração de íon H+ (ESTEVES, 1988; WETZEL, 2001). A maioria

dos lagos apresenta valores de pH entre 6 e 9. Lagos com alta concentração de ácidos

apresentam pH entre 1 e 2 e lagos muito eutróficos e com alta concentração de carbono

podem apresentar valores de pH acima de 10. De um modo geral, o pH da água está

inter-relacionado com suas propriedades químicas, com a geoquímica da bacia

hidrográfica, além de sofrer influência de processos biológicos, tais como a fotossíntese,

a respiração e a decomposição dos organismos (TUNDISI; MATSUMURA TUNDISI,

2008).

A turbidez da água é a medida da sua capacidade de dispersar a radiação.

Quantitativamente, este fenômeno pode ser expresso em termos de coeficiente de

atenuação ou alguma unidade empírica, como a turbidez nefelométrica (NTU). Os

principais responsáveis pela turbidez da água são principalmente as partículas suspensas

(bactérias, fitoplâncton, detritos orgânicos e inorgânicos) e em menor proporção os

compostos dissolvidos (ESTEVES, 1988). Estes são responsáveis pela cor verdadeira da

água e o material em suspensão pela cor aparente, ou seja, pelo que o olho humano vê.

A cor aparente é resultado em parte da reflexão e dispersão da luz pelas partículas.

Removido o material em suspensão, diz-se que a cor é verdadeira, devido a partículas

coloidais carregadas negativamente e material dissolvido (MARGALEF, 1983).

Além disso, nos estudos limnológicos, também é importante analisar as propriedades

hidrodinâmicas como o tempo de retenção do corpo d’água, a descarga ou vazão, a

profundidade, assim como a cobertura vegetal no entorno, entre outros. Essas

propriedades podem afetar as propriedades físicas, químicas e biológicas da água.

2.1.2. Reservatórios

As represas artificiais, também chamadas de reservatórios, são ecossistemas aquáticos

de extrema importância estratégica, pois são utilizadas para diversos e variados usos que

interferem na qualidade da água, nos mecanismos de funcionamento e na sucessão de

comunidades aquáticas nos rios e bacias hidrográficas. Apresentam estrutura espacial

variada, com muitas diferenças em sua circulação vertical e horizontal e uma

hidrodinâmica com grande variabilidade, que depende de uma morfometria dos influxos

Page 32: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

8

dos tributários e dos efeitos das condições climatológicas e hidrológicas (TUNDISI;

MATSUMURA TUNDISI, 2008). A característica essencial de uma represa é a

existência de gradientes horizontais e verticais, físicos e químicos, e de um fluxo

contínuo em direção à barragem (ARMENGOL et al., 1999). Esses gradientes

apresentam variações temporais que dependem do fluxo de água para o reservatório e

das diferenças de nível que ocorrem durante as diversas épocas do ano. Os gradientes

verticais são mais acentuados se correntes de advecção se distribuem nas diversas

profundidades, como resultado da estratificação produzida pela entrada de água mais

densa e fria a partir dos afluentes à represa (IMBERGER, 1994).

Além dos gradientes horizontais e verticais, um reservatório pode apresentar,

dependendo do seu tipo de funcionamento, tempos de residência diferentes durante as

fases do ciclo estacional. O tempo de residência é uma função de força importante

quando se consideram as modificações que podem ocorrer na estrutura vertical e

horizontal do reservatório e na distribuição vertical das populações fitoplanctônicas.

Além disso, as flutuações e modificações no tempo de residência interferem nas

sucessões espaciais e temporais do fitoplâncton, na freqüência dos florescimentos de

cianofíceas e na composição química do sedimento (TUNDISI; MATSUMURA

TUNDISI, 2008).

O gerenciamento de reservatórios deve apoiar-se em um processo constante de

monitoramento e avaliação dos mecanismos de funcionamento, em um conhecimento

profundo da limnologia desses ecossistemas e na adoção de técnicas inovadoras

baseadas em ecotecnologias e eco-hidrologias de custo mais baixo e integradas no

funcionamento do sistema. A tomada de água, o tempo de retenção, o período de

enchimento e os impactos dos usos múltiplos na qualidade da água de reservatórios são

de importância fundamental no funcionamento desses ecossistemas e nas suas

características físicas, químicas e biológicas. A determinação da qualidade da água, a

avaliação dos futuros impactos e o monitoramento permanente são fundamentais para a

compreensão dos processos de integração que ocorrem entre os usos da bacia

hidrográfica, os usos múltiplos e a conservação ou deterioração da qualidade da água.

As diferenças entre a qualidade das águas de lagos fechados e reservatórios são

explicadas principalmente pelo fato de que os vertedouros em reservatórios são

localizados na parte superficial do corpo d’água.

Page 33: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

9

A profundidade do reservatório tem uma grande importância sobre a qualidade da água.

É de singular importância a profundidade em relação a sua área superficial e à

intensidade dos ventos na região. Esses elementos são importantes por que afetam a

intensidade da mistura dentro dele. As condições de mistura vertical e horizontal nos

reservatórios também estão relacionadas com volume e tamanho. Uma vez que os

reservatórios geralmente são formados em vales de rios e na base da bacia de drenagem,

a morfometria da bacia do reservatório é normalmente dendrítica (WETZEL, 2001).

Represas com padrão dendrítico acentuado e com morfometria complexa apresentam

alto índice de desenvolvimento de margem, sendo, nesse caso, importante o número de

compartimentos, bem como os processos de acúmulo de material e circulação

compartimentalizada (WETZEL, 2001).

2.2. Sensoriamento remoto em sistemas aquáticos

A utilização do sensoriamento remoto óptico, de uma forma geral, requer o

conhecimento das origens dos fluxos de radiação que atingem o sensor. Quando

sistemas aquáticos são estudados, a diferenciação das componentes radiativas é ainda

mais importante do que nos sistemas terrestres, pois a energia proveniente dos sistemas

aquáticos é relativamente mais baixa e a água possui diversos materiais dissolvidos e

particulados. A radiação que atinge o sensor possui componentes originárias do

espalhamento pela atmosfera, das reflexões especulares da radiação solar direta e difusa,

e do fluxo de radiação emergente da água. Este último é o único que contém informação

sobre a composição do meio aquático (Figura 2.1). A influência relativa desses fluxos

pode ser maior ou menor, dependendo das condições físicas no momento da detecção da

radiância (L) pelo sensor, como por exemplo, a elevação solar e o efeito da atmosfera

(NOVO, 2001).

Page 34: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

10

Figura 2.1 – As diferentes origens da radiação recebida por um sensor sobre um corpo de água. Fonte: Adaptada de Kirk (1983).

Por definição, a Radiância (L) em um ponto no espaço é definida como o fluxo radiante

nesse ponto em uma dada direção por unidade de ângulo sólido por unidade de área em

certos ângulos na direção de propagação [Wm-2sr-1] (KIRK, 1983). A grandeza

radiométrica medida por um sensor é a radiância, mas a propriedade radiométrica da

água que se relaciona com seus componentes é a reflectância. Para se estimar

adequadamente a reflectância, não basta apenas corrigir a radiância medida pelo sensor,

mas é preciso, também, avaliar a irradiância que atinge a superfície da água (NOVO,

2001). A irradiância (E) é definida como o fluxo radiante incidente por unidade de área

de uma superfície, normalmente medida em [Wm-2] (KIRK, 1983).

Portanto, o sensoriamento remoto envolve análises das variações da magnitude e

qualidade da radiação que deixa a água para se obter informação quantitativa do tipo de

substâncias presentes na água e suas concentrações. Essas análises devem ser baseadas

no entendimento das propriedades ópticas do meio e dos processos ópticos que ocorrem

nesse meio. Quando se analisa as propriedades ópticas de um meio, é necessário

distinguir o efeito da própria água no campo de luz dos efeitos dos materiais dissolvidos

e em suspensão na água. É comum, nesse contexto, utilizar o termo água pura para

indicar um meio hipotético sem substâncias a não ser as próprias moléculas de água.

Além da água pura, três componentes principais são reconhecidos: fitoplâncton;

Page 35: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

11

material em suspensão (inorgânico); e substâncias amarelas (dissolvidas) (IOCCG,

2000).

Essas substâncias presentes na água apresentam comportamentos espectrais diferentes,

interferindo assim de maneira diversa nas propriedades ópticas da água. De acordo com

Morel e Prieur (1977), os tipos de água podem ser divididos em águas do Caso I e águas

do Caso II. Essa classificação foi mais tarde refinada por Gordon e Morel (1983). Pela

definição, águas do Caso I são águas em que o fitoplâncton é o principal agente

responsável pelas variações nas propriedades ópticas da água. Já as águas do Caso II são

influenciadas não só por esse grupo de organismos e partículas relacionadas, mas

também por outras substâncias que variam independentemente, principalmente

partículas inorgânicas em suspensão e substâncias amarelas (matéria orgânica

dissolvida). Com isso, o sensoriamento remoto de águas do Caso II, águas costeiras e

continentais, impõe demandas adicionais aos sensores: a relação entre as concentrações

dos componentes aquáticos e a cor da água é não linear, e, portanto é necessário

explorar pequenas mudanças no sinal para alcançar informações úteis.

Comum para todas as águas é a alta absorção no vermelho e infravermelho, que resulta

em efeitos de aquecimento no primeiro metro de água. No outro extremo, ainda que

água destilada absorva pouca luz Ultra-Violeta (UV), até concentrações bem baixas de

compostos orgânicos dissolvidos aumentam bastante a absorção de UV. A estrutura

molecular da água resulta em uma absorção seletiva da luz. O comportamento espectral

da água pura é determinado, basicamente, pelo espalhamento molecular nos

comprimentos de onda mais curtos. O coeficiente de absorção (a) da água pura é

mínimo na região compreendida entre 400 e 600 nm (Figura 2.2), aumentando

rapidamente na região do infravermelho. O coeficiente de espalhamento (b) da água

pura, ao contrário, é máximo na região do azul, e decresce exponencialmente em

direção ao infravermelho (MOBLEY, 1994).

Page 36: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

12

0

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

240 340 440 540 640 740

Comprimento de onda (nm)

Coe

ficie

ntes

de

Abs

orçã

o e

Esp

alha

men

to (

m-1

)

absorção

espalhamento

Figura 2.2 – Comportamento espectral da água pura.

Fonte: Adaptada de Bukata et al. (1995).

Uma porcentagem da absorção da luz pela água pura é muita alta no infravermelho e

vermelho, menor no azul, e aumenta um pouco no violeta – porção do ultravioleta no

espectro visível. O espalhamento da luz resulta da deflexão da energia da luz pelas

moléculas de água, seus solutos, e material orgânico particulado e inorgânico em

suspensão. Então, a extensão dessa reflexão interna varia consideravelmente com a

profundidade, estação do ano, dinâmica da entrada de inorgânicos e orgânicos,

produtividade e distribuição de organismo, entre outros fatores.

2.3. Propriedades ópticas aparentes e inerentes

As propriedades ópticas aparentes (POAs) são aquelas que dependem tanto do meio

quanto da estrutura geométrica (direcional) do campo de luz do ambiente, e que

mostram feições regulares e estabilidade suficientes para serem úteis na descrição de um

corpo d’água (MOBLEY, 1994). Entre essas propriedades estão a Reflectância de

Sensoriamento Remoto (Rrs) e o coeficiente de atenuação difusa da irradiância

descendente (Kd).

Page 37: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

13

Para o sensoriamento remoto, é mais apropriado utilizar a Rrs (λ,+0), definida como a

radiância ascendente que deixa a superfície da água, Lu(λ,+0), normalizada pela

irradiância descendente, Ed(λ,+0), logo acima da superfície da água, em [sr-1]. Ed(λ,+0)

é a soma da irradiância solar difusa Ed,céu(λ,+0) e da direta Ed,sol(λ,+0)

(POZDNYAKOV; GRASSL, 2003). Portanto, a Rrs é uma medida de quanto da luz que

incide na superfície da água retorna para a atmosfera, permitindo assim a detecção por

um radiômetro (MOBLEY, 1994).

Já as propriedades ópticas inerentes (POIs) são aquelas propriedades que dependem

apenas do meio e, portanto são independentes do campo de luz. As duas POIs

fundamentais são o coeficiente de absorção e a função de espalhamento de volume, que

descreve a distribuição do fluxo espalhado como uma função do ângulo de

espalhamento. As POIs normalmente empregadas na óptica hidrológica são os

coeficientes de absorção e de espalhamento espectral, que são respectivamente a

absortância e o espalhamento por unidade de distância no meio (MOBLEY, 1994).

O principal objetivo do sensoriamento remoto de sistemas aquáticos é mapear as

distribuições das características ópticas da qualidade da água. A determinação e a

quantificação dos fatores ópticos da qualidade da água são alcançadas através da

assinatura das reflectâncias espectrais. Já a informação da assinatura dessas

reflectâncias é derivada da influência dos parâmetros ópticos da qualidade da água nas

propriedades ópticas inerentes. Portanto, é essencial obter informações das POIs das

várias substâncias presentes no corpo d’água em estudo (DEKKER, 1993).

2.4. Componentes opticamente ativos

Corpos d’água com diferentes substâncias apresentarão diferenças significativas em sua

cor e, por conseguinte, em seus espectros (Figura 2.3). A dominação de um componente

da água sobre os outros ajuda na compreensão da relação entre as concentrações dos

componentes e assinaturas espectrais desse corpo d’água, lembrando que os

componentes de águas do Caso II podem variar independentemente um do outro. Como

dito anteriormente, os principais componentes, além da água pura, são: fitoplâncton,

matéria orgânica dissolvida (substâncias amarelas, CDOM), e material em suspensão.

As regiões de absorção e espalhamento destes componentes irão definir seletivamente a

forma final da curva de reflectância da água, enquanto que suas concentrações serão

Page 38: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

14

responsáveis pela magnitude das feições e pela magnitude da energia refletida na sub-

superfície (KIRK, 1994).

Figura 2. 3 – Comportamento espectral do fitoplâncton, sedimentos em suspensão, matéria orgânica dissolvida e água.

Fonte: Rudorff et al. (2006).

Os pigmentos fitoplanctônicos como clorofilas, carotenóides e ficobilinas, são capazes

de produzir efeitos de absorção ao longo do espectro na região do visível e ao mesmo

tempo contribuir para o aumento do espalhamento juntamente com as demais partículas

refratoras presentes no meio aquático (POZDNYAKOV; GRASSL, 2003). As

clorofilas, as mais abundantes, causam forte absorção nas bandas do azul e do vermelho

(pico em, aproximadamente, λ = 443 nm e 665 nm, respectivamente, para clorofila-a),

com muito pouca absorção no verde (MOBLEY, 1994). Em torno de 550 nm o aumento

do espalhamento provoca o aparecimento de maiores valores de reflectância

(QUIBELL, 1991). Com a presença de sedimentos em suspensão na água, o sinal da

clorofila pode ficar mascarado e, muitas vezes, as feições na curva espectral podem

aparecer deslocadas (QUIBELL, 1991; GITELSON, 1992; DEKKER et al., 1995).

Estimativas de concentração de clorofila podem ser afetadas pela presença de matéria

orgânica dissolvida, pois ambas absorvem na mesma região do espectro

(RICHARDSON et al., 1994).

Os compostos orgânicos dissolvidos contidos na água são produzidos pela

decomposição de material vegetal e consistem, principalmente, de ácidos húmicos e

fúlvicos, sendo resultados da atividade fotossintética ou de entradas diretas de material

Page 39: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

15

terrestre (MOBLEY, 1994; POZDNYAKOV;GRASSL 2003). As substâncias húmicas,

freqüentemente, apresentam coloração amarelada, sendo denominadas também

substâncias amarelas ou matéria orgânica colorida dissolvida (CDOM) e influenciam

fortemente a absorção de luz na coluna d’água. Enquanto a água pura apresenta

espalhamento mais intenso na faixa do azul, a presença de CDOM provoca absorção

seletiva de radiação em comprimentos de onda menores, dentro da faixa do visível. No

vermelho, a absorção é pequena, aumentando exponencialmente em direção aos

comprimentos de onda mais curtos. Esse fato é notado em termos visuais, pois corpos

d’água com elevada concentração de CDOM apresentam coloração mais escura e

amarelada (JENSEN, 2000).

As concentrações de material em suspensão podem ser bastante altas em águas costeiras

e interiores. Porém, considera-se apenas o material de natureza inorgânica, pois as

partículas inorgânicas apresentam um índice de refração maior, na maioria das vezes, do

que as partículas orgânicas, dominando assim o sinal retroespalhado (MOBLEY, 1994).

A origem do material particulado inorgânico em suspensão está associada a minerais

provenientes de rochas ou solos, que são carreados para os corpos d’água por ação do

vento ou da chuva, à re-suspensão ou erosão do fundo e a detritos inorgânicos como de

conchas carbonáticas de moluscos e carapaças silicosas de certas algas planctônicas. O

material inorgânico em suspensão apresenta um aumento distinto na absorção em

direção aos comprimentos de onda menores, um aumento menos pronunciado no

intervalo do vermelho e um mínimo na faixa entre 590 e 630 nm

(POZDNYAKOV;GRASSL 2003). Sedimentos em suspensão são componentes que

ocasionam, principalmente, o efeito de espalhamento da radiação na superfície dos

corpos d’água. Estudos demonstram que há aumento no coeficiente de espalhamento da

água com a ampliação da concentração de sólidos totais em suspensão na água (NOVO,

2001).

2.5. Modelos bio-ópticos

O obstáculo fundamental do sensoriamento remoto de águas interiores e costeiras é a

mistura tipicamente complexa dos componentes ópticos orgânicos e inorgânicos. Essa

complexidade óptica dificulta a extração por algoritmos de um único componente e

ressalta a necessidade da metodologia de extração de múltiplos componentes, além das

características do fundo, que também influenciam o sinal detectado. Portanto,

Page 40: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

16

algoritmos de recuperação de múltiplos componentes que estimam a co-existência das

concentrações de componentes orgânicos e inorgânicos são necessários ao

sensoriamento remoto desses tipos de águas (BUKATA et al., 1995; IOCCG, 2000).

Esses algoritmos podem ter uma abordagem empírica ou uma baseada em modelos

semi-analíticos. Os algoritmos empíricos estabelecem uma relação entre medidas

ópticas e concentração dos componentes da água, baseada em conjunto de dados

experimentais, ou seja, medidas de reflectância ou radiância coincidentes com medidas

de concentrações in situ. Já os algoritmos semi-analíticos utilizam modelos bio-ópticos

para descrever a relação entre os componentes da água e os espectros de radiância e/ou

reflectância, assim como modelos de transferência radiativa para simular a propagação

da luz através da água e da atmosfera (IOCCG, 2000). Estes modelos são utilizados para

gerar conjuntos de espectros simulados, acima da superfície da água ou no topo da

atmosfera, para determinados intervalos de concentrações de diferentes componentes da

água e diferentes estados da atmosfera. Esta informação é então utilizada para derivar

um algoritmo que estabelece um mapeamento inverso do espectro de reflectância para

os componentes de interesse (IOCCG, 2000).

O termo bio-óptico refere-se às medidas da variação no campo luminoso dentro dos

corpos d’água, que são conseqüência direta das interações entre a irradiância e os

componentes biológicos presentes. Ou seja, representa uma medida do efeito total dos

processos biológicos sobre as propriedades ópticas das águas. A porção bio do termo

inclui todos os componentes opticamente ativos, incluindo detritos e sedimentos, pois

apesar de não serem vivos, possuem influência direta sobre o fitoplâncton (CIOTTI,

2005).

2.6. Sensor MERIS

O sensor MERIS é um espectrômetro imageador de varredura eletrônica pushroom a

bordo do satélite ENVISAT (Environmental Satellite), de observação da Terra, da

Agência Espacial Européia (ESA). Opera nas faixas do visível e infravermelho

próximo, de 400 a 900 nm e possui um campo de visada de 68,5o no nadir, o que

permite uma faixa de imageamento de largura de 1.150 km em uma altitude nominal de

800 km e órbita polar. Sua resolução espacial é de 300 m para dados em full resolution

(FR) e de 1.200 m para dados em reduced resolution (RR). Este sensor possui alto

Page 41: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

17

desempenho radiométrico (menos de 2% de ruído no sinal detectado) em 15 bandas

programáveis que, por default, apresentam comprimentos de onda centrados em 412,5;

442,5; 490; 510; 560; 620; 665; 681,25; 708,75; 753,75; 760,625; 778,75; 865, 885 e

900 nm, sendo a maioria com largura de 10 nm. Uma das principais razões para essa

configuração espectral é a sensibilidade deste sensor aos principais componentes

opticamente ativos da água (Tabela 2.1).

A principal missão do MERIS é monitorar a cor do oceano, incluindo as concentrações

de clorofila para oceanos abertos e áreas costeiras, de substâncias amarelas e do material

particulado em suspensão. Além disso, este sensor fornece parâmetros úteis em

aplicações continentais, tais como o índice de vegetação e parâmetros atmosféricos,

como vapor d’água, tipos de nuvens e coeficientes Angström.

Tabela 2.1 - Aplicações bandas MERIS.

Aplicações Bandas (centro - nm)

Substâncias amarelas (CDOM) 412,5

Máximo de absorção pela clorofila 442,5

Clorofila e outros pigmentos 490

Sedimentos em suspensão, marés vermelhas 510

Mínimo de absorção pela clorofila 560

Sedimentos em suspensão 620

Absorção pela clorofila e referência da clorofila 665

Pico fluorescência da clorofila 681,5

Fluorescência de referência, correções atmosféricas 708,75

Vegetação, nuvens, banda de referência absorção O2 753,75

Banda de absorção O2 760,625

Correções atmosféricas 778.75

Correções atmosféricas 865

Vegetação, referência de vapor d’água 885

Vapor d’água 900

Fonte: MERIS Product Handbook, 2006.

Os produtos MERIS disponibilizados apresentam três níveis diferentes de

processamento:

Page 42: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

18

a) Nível 1B – imagens re-amostradas em grade em projeção satélite com valores

calibrados de radiância no topo da atmosfera (TOA);

b) Nível 2 – imagens derivadas dos produtos nível 1B, com valores de pixels

processados para obter parâmetros geofísicos;

c) Nível 3 – sínteses de um ou mais produtos MERIS (e possivelmente dados

auxiliares) para obter parâmetros geofísicos integrados no tempo ou no espaço.

Para o presente trabalho foram utilizados os produtos nível 1B e 2. O produto nível 1B

foi utilizado na aplicação dos processadores e procedimentos de correção atmosférica.

Os valores dos parâmetros geofísicos foram extraídos do produto nível 2 a fim de

comparações com os parâmetros in situ e os derivados da aplicação dos processadores.

Page 43: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

19

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Área de estudo

O reservatório da Usina Hidrelétrica (UHE) de Itumbiara (18º 25’ S, 49º 06’ W) está

localizado no bioma cerrado, na divisa dos estados de Minas Gerais, no Triângulo

Mineiro, e Goiás. Foi formado pelo represamento do Rio Paranaíba, resultando na

inundação de seus principais tributários, os Rios Corumbá e Araguari (Figura 3.1).

Possui forma dendrítica, com 778 Km2 de área inundada e um volume total de 17

bilhões m3 (www.furnas.com.br), podendo ser assim classificado como um reservatório

de alta capacidade (BERNACSECK, 1984). A profundidade média do reservatório, no

período de cheia, é de aproximadamente 32 m, e a máxima pode chegar até 80 m

(Figura 3.2), sendo que as maiores profundidades se encontram próximas à barragem.

O rio Paranaíba é um dos formadores do rio Paraná. Nasce na serra da Mata da Corda,

município de Rio Paranaíba, estado de Minas Gerais. Tem aproximadamente 1.070 Km

de curso até a junção ao rio Grande, onde ambos passam a formar o rio Paraná, no ponto

que marca o encontro entre os estados de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do

Sul. O rio Paranaíba é conhecido principalmente pela sua riqueza diamantífera e pelas

grandes possibilidades hidrelétricas que apresenta. Este rio divide-se em três trechos:

Alto Paranaíba, Médio Paranaíba e Baixo Paranaíba. A UHE de Itumbiara se encontra

no Médio Paranaíba.

O Rio Araguari é um rio de Minas Gerais que atravessa a região do Triângulo Mineiro.

A nascente fica na Serra da Canastra. O rio passa próximo a cidades importantes da

região como Araxá, Uberlândia e Araguari, antes de desaguar no Rio Paranaíba, na

divisa com Goiás. O Rio Corumbá é um rio de planalto que banha o estado de Goiás.

Sua nascente é no sopé da serra dos Pireneus em Pirenópolis, Goiás, dirigindo-se para o

sudeste onde desagua no rio Paranaiba. Tem um grande potencial energético, tendo

várias usinas hidrelétricas ao longo do seu curso.

Page 44: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

20

Figura 3.1 – (a) e (b) Localização do reservatório de Itumbiara; (c) composição colorida R(708)G(620)B(490) da imagem MERIS do dia 23/05/2009.

barragem

Page 45: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

21

Figura 3.2 – Mapa de batimetria do Reservatório de Itumbiara. Fonte: Alcântara et al. (2009).

O reservatório apresenta uma variação de cota em relação ao período do ano, a qual é

dependente do regime hidrológico e das necessidades de consumo da água pela UHE.

Essa variação, entre os anos de 1993 e 2005, pode ser observada na Figura 3.3, onde

foram destacados os dois períodos de coleta. As médias mensais da precipitação e da

temperatura do ar, entre os anos de 1993 e 2007 podem ser observadas na Figura 3.4.

Figura 3.3 – Média mensal (1993-2005) da cota do reservatório de Itumbiara. Fonte: www.furnas.com.br

Page 46: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

22

Figura 3.4 – Média do acumulado mensal (1993-2007) da precipitação (mm) e temperatura do ar (oC). Fonte: www.inmet.gov.br

O reservatório por estar em uma área de vale, com duas grandes cadeias de montanhas

formando os limites de sua bacia, com altitude de 1.400 m, faz com que parte da água

escoada resultante da chuva, tenha como destino final o reservatório. O fato da região

compreendida pela bacia hidrográfica de Itumbiara ser uma região de expansão de

plantação de cana de açúcar e principalmente de pecuária, aumenta a preocupação com

a qualidade da água, pois o escoamento da bacia, contendo agrotóxicos, matéria

orgânica e inorgânica, além de outros, terá como destino final o reservatório. O tipo de

uso do solo no entorno do reservatório é identificado na Figura 3.5, seguindo o sistema

de classificação da FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations)

(DI GREGÓRIO, 2005).

Page 47: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

23

Figura 3.5 – Mapa do uso do solo na bacia hidrográfica do reservatório de Itumbiara, obtido a partir da classificação digital de imagens CBERS-2B (158/120 e 158/121) de 02/09/2007.

Fonte: Nascimento et al. (2009).

A usina hidrelétrica de Itumbiara possui seis unidades em operação, totalizando uma

capacidade instalada de 2.082 MW, constituindo-se assim na maior usina do Sistema

Furnas em potência (http://www.furnas.com.br). Em operação desde 1981, esta obra foi

marcada por uma sucessão de conquistas tecnológicas. Sua construção teve início em

novembro de 1974 e, em abril de 1980 entrou em operação comercial sua primeira

unidade geradora. Apesar de condições atmosféricas adversas e do pioneirismo das

unidades geradoras, consideradas as maiores no mundo em construção no início da

década de 80, a Usina de Itumbiara foi projetada e construída rigorosamente dentro dos

prazos estabelecidos nos cronogramas originais. Seu nível máximo de armazenamento é

de 520 m, e o nível mínimo de operação é de 495 m. Além disso, sua área inundada é de

778 Km2 (http://www.furnas.com.br).

Devido à grande importância desse reservatório, vários estudos relacionados à qualidade

da água (BAZZOLI et al., 1997; HOJO et al., 2004; ROSA, 2005; MENDONÇA, 2007;

FURNAS, 2008; VIEIRA et al., 2009) e preservação ambiental (OLIVEIRA, 2006;

LOPES e SANTOS, 2002) foram realizados.

Page 48: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

24

3.1.1. Caracterização meteorológica dos períodos de coleta

As campanhas de coleta foram realizadas nos meses de maio e setembro de 2009. Sabe-

se que a ação de ventos e chuvas interfere nos resultados obtidos por dados coletados in

situ. Assim, faz se necessário uma breve caracterização meteorológica dos períodos de

coleta, assim como dos meses que os antecederam. O mês de abril de 2009 foi marcado

por grande quantidade de chuva na maior parte das Regiões Norte e Nordeste do Brasil,

onde a elevação do nível dos rios causou inundações e deixou milhares de desabrigados.

Em contrapartida, as chuvas ocorreram abaixo da média histórica na maior parte da

Região Sul e do Mato Grosso do Sul. Já no mês de maio, as chuvas foram escassas e os

totais mensais ocorreram abaixo do esperado na grande área central do Brasil, que se

estende desde Rondônia ao Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. A precipitação

total do mês foi de 25 a 50 mm (CPTEC/INPE), com anomalias negativas de 25 a 0

mm. Na região de estudo não houve ocorrência de chuva no dias 12 e 13 de maio, dias

exatos das coletas. A velocidade média do vento foi em torno de 3 m/s no período do

dia nos dois dias de coleta (Figura 3.7).

Figura 3.6 – Stick plot da velocidade do vento e modulo da intensidade do vento coletado pela bóia SIMA nos dias 12 e 13 de maio de 2009.

Durante o mês de agosto de 2009, destacou-se a ocorrência de chuvas acima da média

na maior parte do Brasil, porém com períodos de estiagem e baixos valores de umidade

relativa do ar no interior do país, especialmente durante a primeira quinzena. Ressalta-

Page 49: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

25

se, contudo, que este é um mês de transição entre os períodos seco e chuvoso nas

Regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. Já no mês de setembro, a precipitação total

do mês na região de estudo foi de 150 a 200 mm, com anomalias positivas de 100 a 200

mm. A presença de uma massa de ar quente e seco elevou as temperaturas e reduziu a

umidade relativa do ar nos setores central e norte do Brasil, registrando-se valores

abaixo de 20% em diversas localidades. O dia 09 de setembro apresentou a maior

precipitação diária (30 mm), durante o período de coleta, sendo que a ocorrência de

chuva se deu no período da noite. De acordo com dados do CPETEC/INPE, essa alta

ocorrência de chuva durante o período de coleta pode estar associado à passagem de

uma frente fria. Os dados de vento (Figura 3.7) indicam uma mudança na direção e

intensidade durante a ocorrência dessa frente fria (retângulo vermelho na Figura 3.7), na

noite do dia 09 para o dia 10 de setembro. Os dados de vento, tanto para o mês de maio

quanto para o de setembro, foram coletados pela bóia SIMA, que é um Sistema

Integrado de Monitoramento Ambiental desenvolvido pelo Instituto Nacional de

Pesquisas Espaciais (INPE) e pela Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP)

(STECH et al., 2006). A bóia do Reservatório de Itumbiara foi fundeada no dia 28 de

março de 2009, nas coordenadas geográficas 18º25’3,0”S – 49º3’35,6”O.

Figura 3.7 – Stick plot da velocidade do vento e modulo da intensidade do vento coletados pela bóia SIMA nos dias 09, 10 e 11 de setembro de 2009.

Page 50: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

26

3.2. Materiais

3.2.1. Amostragem

Duas campanhas de campo foram realizadas na área de estudo, sendo que uma no

período de cheia do reservatório (12 e 13 de maio de 2009) e outra no período de

vazante (9, 10 e 11 de setembro de 2009). A distribuição dos pontos de coleta é

mostrada na Figura 3.8, onde foram coletados dados limnológicos e radiométricos. Para

a determinação do local dos pontos amostrais imagens do sensor MODIS adquiridas no

site https://wist.echo.nasa.gov/api, do mês de maio de 2008, no mesmo mês da coleta de

campo, porém do ano anterior, foram classificadas a fim de se obter uma verificação

prévia dos tipos de água presentes no reservatório.

Para essa classificação, foram analisadas tanto imagens da plataforma Aqua quanto

Terra, de modo a contornar o problema de cobertura por nuvens na região do

reservatório e obter imagens com melhor qualidade (sem ruídos). Inicialmente foram

escolhidas imagens de 10/05 e 14/05/08 das duas plataformas. Para a realização da

classificação optou-se pela imagem do dia 10/05/2008 da plataforma Aqua. O produto

escolhido foi o MYD09 referente à reflectância de superfície, sendo utilizadas as bandas

1 (648 nm), 2 (858 nm), 3 (470 nm), 4 (555 nm), 5 (1240 nm) e 7 (2130 nm), excluindo

a banda 6 (1640 nm) devido à presença de ruído. A imagem foi re-amostrada de 500 m

para 250 m no aplicativo MODIS Reprojection Tool, onde também foi recortada a área

de estudo (17o40’56,22”S; 49o28’50,6”O; 18o53’33,27”S; 48o0’42,98”O).

No software ENVI foi aplicada a máscara do reservatório, construída no SPRING

através da banda 5 da imagem Landsat TM, do dia 26/05/2007 e realizada a

classificação com dois classificadores não supervisionados (Isodata e K-médias).

Optou-se pela classificação K-médias por ter resultado em uma maior divisão de

classes. A partir dessa classificação distribuiu-se 25 pontos ao longo do corpo principal

do reservatório para maio. Em setembro alguns pontos foram deslocados alguns metros

para dentro do corpo d’água devido ao menor nível do reservatório, totalizando 23

pontos amostrais. A análise dos dados ficou limitada ao corpo principal do reservatório

devido à necessidade de coletar todos os dados em pouco tempo, e ao orçamento

limitado.

Page 51: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

27

Figura 3.8 – Distribuição dos pontos amostrais das duas campanhas de campo realizadas em maio e setembro de 2009.

3.2.2. Variáveis limnológicas

Amostras superficiais de água, em torno de 1 m de profundidade, foram coletadas para a

determinação dos seguintes parâmetros: concentração de clorofila-a, material em

suspensão orgânico e inorgânico, e carbono orgânico e inorgânico dissolvido. Também

foi medida a temperatura da água, pH, concentração de oxigênio dissolvido, turbidez, e

condutividade através das sondas multi-parâmetros YSI e Horiba. A profundidade na

qual o disco de Secchi desapareceu foi utilizada para o cálculo da profundidade da zona

eufótica em cada ponto de coleta, através das seguintes equações (KAMPEL, 2003):

K = 1,7/DS (3.1)

Zeu = (Ln(1)-Ln(100))/-K (3.2)

onde K é o coeficiente de atenuação da luz, DS é a profundidade do disco de Secchi e

Zeu é profundidade da zona eufótica.

Page 52: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

28

Para determinação da concentração de clorofila, 1.000 ml de água de cada ponto de

coleta foram filtrados em filtros de fibra de vidro Whatman GF/F. Após a filtração, os

filtros foram mantidos no escuro por meia hora sobre papel de filtro para remoção do

excesso de água. Os filtros foram, então, guardados em frascos escuros contendo sílica-

gel e mantidos a temperaturas inferiores a 0o C antes da análise. A clorofila foi extraída

com etanol 80% a quente (75º C) por cinco minutos em tubos de ensaio, seguindo a

metodologia de Nush (1980). Em seguida, foi submetida a um choque térmico,

mergulhando os tubos em água gelada a 0 oC e mantida por um período de 6 a 24 horas

no refrigerador e na ausência de luz. A solução de etanol contendo clorofila extraída,

não-acidificada, foi passada para tubo de vidro encapado de 20 ml de capacidade e a

leitura foi realizada por espectrofotometria em cubetas de quartzo de 50 mm de caminho

óptico nos comprimentos de onda 750 e 665 nm. O cálculo da concentração de

clorofila-a foi realizado segundo Lorenzen (1967), que possui uma precisão de 0,1

µg/L.

Para a análise do material em suspensão utilizou-se o método de Wetzel e Likens

(1991), onde 1.000 ml de cada amostra de água foram filtrados em filtro de fibra de

vidro Whatman GF/F pré-calcinado a 480º C e pesado. O filtro contendo o material foi

secado a 60º C por um período de 24 horas e pesado para determinação do material

particulado total. Em seguida, o filtro foi levado à mufla a 480º C em cadinho de

porcelana, por um período de 1 hora. O cadinho contendo o filtro foi então levado ao

dessecador contendo sílica-gel, mantido até o resfriamento e novamente pesado para

determinação do material em suspensão inorgânico. Pela diferença entre o material em

suspensão total e o inorgânico, o material em suspensão orgânico foi determinado. Esse

método apresenta precisão de 0,005 mg/L.

As concentrações de carbono orgânico e inorgânico dissolvido foram determinadas

através do método de análise de gás por infravermelho, onde a amostra de água foi

passada ao estado gasoso por combustão não dispersiva a 680º C, através do Analisador

de Carbono Total SHIMADZU, modelo TOC-5000.

3.2.3. Propriedades ópticas inerentes

Amostras de água também foram utilizadas para determinação dos coeficientes de

absorção do material particulado (fitoplâncton e detritos), e da matéria orgânica

Page 53: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

29

dissolvida (CDOM), seguindo os protocolos de análise publicados pelo projeto

SeaWIFS da National Aeronautics and Space Administration – NASA (MUELLER et

al., 2002).

Para a determinação do coeficiente de absorção da matéria orgânica dissolvida

(CDOM), amostras (duplicatas) de água foram filtradas em filtros Nucleopore de

policarbonato 0,2 µm, deixados em ácido clorídrico (HCl) por 15 minutos. Os filtros

foram então lavados com água Mili-q e colocados nos filtradores. O procedimento para

filtragem consistiu-se em filtrar 25 ml de água Mili-q por três vezes consecutivas,

depois 25 ml de amostra por três vezes consecutivas, e finalmente, 150 ml de amostra.

A amostra filtrada foi acondicionada em geladeira em frascos de borosilicato âmbar

para posterior análise no laboratório. No laboratório cada amostra filtrada foi lida em

espectrômetro modelo U-3010 Hitachi, em cubeta de quartzo de caminho óptico de 10

cm. A baseline (valores a serem subtraídos automaticamente da leitura de cada amostra)

consistiu em leitura com água Mili-q, para zerar o instrumento. A leitura da densidade

ótica (DO) de cada amostra foi feita contra ar, de 250 a 800 nm. Os valores de DO

(adimensonais) foram convertidos em coeficientes de absorção (m-1) multiplicando-se

por 2,3, valor este que converte log10 para loge, já que DO(λ) = Log10[Vo(λ)] -

Log10[V t(λ)], onde Vo é a resposta espectral do espectrofotômetro para o fluxo espectral

transmitido através do material de referência e Vt é a resposta para fluxo espectral

transmitido através da amostra (MUELLER et al., 2002).

Para a determinação do coeficiente de absorção do material particulado foram filtradas

duplicatas de 250 ml de cada amostra de água coletada, em filtros Whatman GF/F 0,7

µm. Os filtros foram mantidos congelados até o laboratório, onde foram descongelados

apenas minutos antes à leitura e mantidos constantemente úmidos, como amostras

filtradas de CDOM dos respectivos pontos de coleta, bem como em baixa temperatura e

abrigados da luz direta durante as análises. Os filtros foram lidos em espectrofotômetro

modelo UV-2450 Shimadzu, sendo que a leitura da densidade ótica (DO) foi realizada

no intervalo de 300 a 750 nm, com resolução de 1nm. Esta leitura corresponde à DO do

material particulado total (fitoplâncton + material não-algal). A referência utilizada

nesse processo foi filtros limpos umedecidos com água Mili-q. Após a leitura, cinco

gotas de hipoclorito de sódio foram pingadas em cada filtro. Após passadas 24 horas, os

filtros foram “lavados” com água Mili-q para total remoção do hipoclorito, e então,

Page 54: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

30

levados ao espectrofotômetro novamente, para a realização de uma segunda leitura da

densidade ótica, da mesma forma descrita anteriormente, com o cuidado de colocar o

filtro na mesma posição da leitura anterior. Esta leitura corresponde à DO do material

particulado não-algal (detritos). De cada leitura, foi subtraído o valor médio espectral de

DO dos filtros (DO filt) utilizados como referência. Os valores de DOfilt (λ) foram

transformados em DOsus(λ) (valores hipotéticos em suspensão) aplicando a correção

Beta, razão ODfilt /ODSUS (BUTLER, 1962) derivada a partir do espectrofotômetro

utilizado neste estudo. Os coeficientes de absorção (m-1) referentes à primeira leitura

foram então calculados da forma: apart(λ) = 2,3 DOsus / (v/a), onde v é o volume filtrado

da amostra e ‘a’ é a área efetiva de filtração. A mesma conversão foi realizada para os

espectros da segunda leitura (referente aos detritos): adet(λ) = 2,3 DOsus / (v/a). A

absorção pelo fitoplâncton consiste, então, na diferenças entre as duas leituras: afito(λ) =

apart(λ) - adet(λ) (MUELLER et al., 2002).

3.2.4. Dados radiométricos

Medidas radiométricas foram realizadas nos pontos amostrais em ambas coletas de

campo, utilizando dois equipamentos. Para as medidas acima da superfície da água foi

utilizado o radiômetro hiper-espectral Fieldspec Hand Held, seguindo o protocolo de

aquisição sugerido por Fougnie et al. (1999), sem polarizador. Este radiômetro possui

campo de visada entre 5º e 15º, resolução espectral de 3 nm e intervalo espectral de 350

a 1100 nm. Já para as medidas abaixo da superfície da água foi utilizado o perfilador

Satlantic, também um radiômetro hiper-espectral, que mede a reflectância espectral em

136 canais com comprimentos de onda variando entre 350 a 800 nm. As medidas com o

Satlantic foram realizadas até, aproximadamente, a profundidade da zona eufótica de

cada ponto.

Com o radiômetro Fieldspec foram realizadas 3 medidas da água, 3 medidas do céu e 3

medidas da placa de referência, em cada ponto amostral. Dentre essas medidas, foi

escolhido o melhor conjunto de dados para o cálculo da Rrs, que foi calculada de acordo

com Mobley (1999):

)0(

)0()0(

)0(

)0(

+++

=++

=d

skyu

d

w

E

LL

E

LRrs

ρ (3.3)

Page 55: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

31

onde )0( +wL é a radiância emergente da água; dE é a irradiânica plana espectral

descendente que incide sobre a superfície do corpo d’água; uL é a radiância ascendente

que chega ao sensor; skyL é a radiância incidente proveniente do céu; e ρ é o fator de

proporcionalidade que relaciona a radiância medida pelo detector quando apontado para

o céu com a radiância do céu refletida medida pelo detector quando este é apontado para

a água. Este fator depende do ângulo azimutal, da geometria de aquisição de dado,

velocidade do vento, rugosidade da superfície, além do FOV do detector e da

distribuição da radiância do céu. Neste trabalho, foi assumido para ρ o valor de 0,028,

de acordo com Mobley (1999). O cálculo de dE foi realizado da seguinte maneira

(MOBLEY, 1999; KAMPEL et al., 2009):

πλλ **)()( fcLEd = (3.4)

onde L(λ) é a radiância de uma placa de Spectralon; fc é um fator de correção calculado

em laboratório pela razão entre L(λ) de uma placa de referência padrão e L(λ) da placa

de Spectralon utilizada em campo. A partir do cálculo das Rrs, os dados hiper-espectrais

foram integrados para simular os intervalos das bandas do sensor multi-espectral

MERIS, de acordo com a técnica de integração de retângulos descrita em Souto et al.

(2005) e Kampel et al. (2009).

As medidas do perfilador Satlantic utilizadas neste trabalho foram: perfil de

concentração de clorofila, perfil do coeficiente de retro-espalhamento em 470 nm, e

perfil de temperatura da água. Na saída de campo de maio, o Fieldspec foi utilizado em

apenas seis pontos amostrais, devido a problemas no equipamento. Já o Satlantic foi

utilizado em 23 pontos, de um total de 25. No mês de setembro foram realizadas 23

medidas com o Fieldspec e 21 medidas com o Satlantic, de um total de 23 pontos.

3.2.5. Dados de Sensoriamento remoto

Para a realização do presente trabalho foram adquiridas imagens do sensor MERIS dos

níveis 1B e 2, dos dias 07 de maio e 12 de setembro de 2009. A imagem de maio é de

cinco dias antes do início das coletas de campo, e a imagem de setembro é de um dia

após o final das coletas. Ambas são imagens full resolution, apresentando resolução

espacial de 300m. Para aquisição dessas imagens foi necessário submeter um projeto à

Page 56: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

32

ESA (European Space Agency). Como citado anteriormente, os produtos utilizados

foram os de nível 1B, para aplicação dos processadores e procedimentos de correção

atmosférica, e os de nível 2, para extração dos valores dos componentes da água, sendo

eles concentração de clorofila-a, total de sólidos em suspensão (TSS), coeficiente de

absorção do fitoplâncton e matéria orgânica dissolvida (CDOM).

Imagens do sensor MODIS (Moderate Resoluiton Imaging Spectroradiometer), produto

MYD09 referente à reflectância de superfície, também foram adquiridas no período das

coletas de campos. Optou-se pelo produto MYD09, pois, segundo alguns autores

(BARRÉ et al., 2006; SHUTLER et al., 2007; CHEN et al., 2007) as imagens Aqua são

melhores calibradas e possuem menos ruídos em relação às imagens Terra. Essas

imagens foram transformadas em formato Geotiff, re-amostradas para 250 m, quando de

500 m, no aplicativo MODIS Reprojection Tool. As imagens adquiridas, referentes aos

dias 10 de maio e 10 de setembro de 2009, foram classificadas com o algoritmo k-

médias para comparação com os resultados encontrados na classificação das imagens

MERIS.

3.2.6. Processadores utilizados

Para o processamento das imagens MERIS foi utilizado o software BEAM (Basic

ENVISAT Toolbox for AATSR and MERIS), desenvolvido para facilitar a utilização,

visualização e o processamento dos dados MERIS, AATSR e ASAR. Neste software

foram utilizados três processadores para a determinação das variáveis da qualidade da

água, desenvolvidos pelo projeto da ESA “Development of MERIS Lake Water

Algorithms”. Um dos processadores é o Case 2 Regional (C2R), que apresenta uma

correção atmosférica baseada em simulações de transferência radiativa, determinando a

reflectância emergente da água, a partir da radiância no topo da atmosfera. As

reflectâncias simuladas são utilizadas para treinar uma rede neural que, por sua vez, é

utilizada para a parametrização das relações entre as radiâncias no topo da atmosfera e

as reflectâncias emergentes da água. O algoritmo utiliza como entrada radiâncias do

topo da atmosfera padrão, que é uma parte do modelo atmosférico, de 12 bandas da

região do visível e infravermelho do MERIS (DOERFFER; SCHILLER, 2008b). Este

processo previne a ocorrência de reflectâncias emergentes da água negativas nas bandas

do visível.

Page 57: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

33

Como entrada para o modelo bio-óptico são utilizadas as reflectâncias emergentes da

água de 8 bandas MERIS, resultantes do modelo de correção atmosférica. A partir de

um conjunto de redes neurais, o modelo bio-óptico transforma essas reflectâncias em no

mínimo três propriedades ópticas inerentes: espalhamento total das partículas,

coeficiente de absorção dos pigmentos fitoplanctônicos, e coeficiente de absorção da

matéria orgânica dissolvida, todos em 443 nm (banda 2 do MERIS). A partir dessas

propriedades ópticas inerentes são derivadas as concentrações de clorofila e do material

total em suspensão. Também é determinado o coeficiente de atenuação da irradiância

descendente, k, no comprimento de onda de máxima transparência (k-min), assim como

o z_90, que indica a profundidade da água de onde 90% da luz refletida têm origem

(DOERFFER; SCHILLER, 2008a). O algoritmo é baseado em uma rede neural,

treinada com reflectâncias simuladas, que relaciona as reflectâncias bi-direcionais

emergentes da água com as concentrações dessas variáveis.

Os outros dois processadores são o Boreal e o Eutrophic, utilizados para lagos boreais e

eutróficos, respectivamente. Esses processadores são baseados na arquitetura do

processador C2R, porém suas redes neurais foram desenvolvidas utilizando simulações

executadas a partir de modelos bio-ópticos com propriedades ópticas inerentes

específicas (DOERFFER; SCHILLER, 2008a), sendo o Boreal com dados bio-ópticos

da Finlândia e o Eutrophic com dados da Espanha. Os resultados obtidos com a

aplicação desses processadores descritos acima foram comparados com dados coletados

em campo, através de análises de regressão.

3.3. Métodos

Na Figura 3.9 é apresentado o fluxograma dos métodos empregados no processamento e

análise dos dados coletados em campo. A Figura 3.10 apresenta os métodos aplicados

aos dados de satélite, ou seja, imagens MERIS e MODIS.

Page 58: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

34

Figura 3.9 – Fluxograma dos métodos de análise aplicados aos dados coletados em campo.

Figura 3.10 – Fluxograma dos métodos de análise aplicados aos dados de satélite.

Page 59: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

35

3.3.1. Análise espacial

Para a análise espacial dos dados foi aplicada a técnica de krigeagem ordinária com

modelo de variograma linear, através do software Surfer, versão 8. Essa técnica foi

utilizada em dados limnológicos, como concentração de clorofila, concentração de

material em suspensão, concentração de carbono dissolvido, temperatura da água, pH e

turbidez. A krigeagem também foi utilizada para espacializar os valores encontrados de

coeficientes de absorção do fitoplâncton, detritos e matéria orgânica dissolvida.

A krigeagem compreende um conjunto de técnicas de estimação e predição de

superfícies baseada na modelagem da estrutura de correlação espacial. O que diferencia

a krigeagem de outros métodos de interpolação é a estimação de uma matriz de

covariância espacial que determina os pesos atribuídos às diferentes amostras, o

tratamento de redundância dos dados, a vizinhança a ser considerada no processo

inferencial e o erro associado ao valor estimado (CAMARGO et al., 2004). Portanto, a

grande diferença é a maneira como os pesos são atribuídos às diferentes amostras. No

caso da interpolação por média simples, por exemplo, os pesos são todos iguais a 1/N

(N = número de amostras); na interpolação baseada no inverso do quadrado das

distâncias, os pesos são definidos como o inverso do quadrado da distância que separa o

valor interpolado dos valores observados. Na krigeagem, o procedimento é semelhante

ao de interpolação por média móvel ponderada, exceto que aqui os pesos são

determinados a partir de uma análise espacial, baseada no semi-variograma

experimental.

A krigeagem possibilita inferência de valores a partir de amostras pontuais de um

atributo espacial. Estas inferências são usadas, geralmente, para finalidades de

mapeamento digital de atributos espaciais. A krigeagem possibilita a inferência de um

valor médio do atributo, em uma posição espacial u, a partir de uma quantidade n(u) de

amostras vizinhas z(uα), α=1,...,n(u). Sob a hipótese de estacionariedade de segunda

ordem, a média de um atributo é constante e não depende da localização dentro de uma

região de interesse. A krigeagem ordinária possibilita a inferência do atributo, numa

posição u, sem a necessidade de se conhecer a média estacionária µ, estimando um

valor em posição espacial não observada segundo uma combinação linear dos valores de

Page 60: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

36

um subconjunto amostral local. Assim o estimador é calculado de acordo com a equação

(JOURNEL, 1988; FELGUEIRAS, 1999):

∑=

=)(

10

*

0)().()(

un

uzuuZα

ααλ (3.5)

A substituição de uma única média estacionária por médias locais, ou tendências locais,

explica a extrema robustez do algoritmo de krigeagem ordinária (DEUTSCH;

JOURNEL, 1998). A aplicação dos critérios de mínima variância do erro de estimação e

de não tendenciosidade do estimador possibilita o cálculo dos pesos, λOα(u), pela

solução do seguinte sistema de equações de krigeagem ordinária:

=

==+

=

=

)(

10

)(

10

1)(

)(,...1),()(),()(

un

un

u

unparauuCuuuCu

αα

αββαα

λ

βφλ

(3.6)

onde: C (uα, uβ) é a covariância entre as amostras observadas em uα e uβ; C (u, uβ) é a

covariância entre a amostra observada em uβ e a posição u e; Φ(u) é o multiplicador de

Lagrange, necessário para a minimização da variância do erro e associado com a

restrição ∑=

=)(

10 1)(

un

αλ .

3.3.2. Análise da contribuição relativa dos COAs

O coeficiente de absorção espectral ( )λa de um corpo d’água pode ser descrito em

termos da contribuição aditiva dos constituintes opticamente ativos da água ( )w ,

partículas ( )p e material dissolvido ( )g , conforme a seguinte equação:

( ) ( ) ( ) ( )λλλλ gpw aaaa ++= (3.7)

sendo que o componente particulado ainda pode ser dividido da seguinte forma:

( ) ( ) ( )λλλ dphp aaa += (3.8)

onde pha e da são os coeficientes de absorção específicos do fitoplâncton e detritos,

respectivamente (IOCCG, 2006).

Page 61: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

37

A partir dos valores dos coeficientes de absorção específicos dos COAs estabelecidos

por filtração e leitura de amostras coletadas em campo, foi construído um diagrama

triangular indicando a contribuição relativa de cada componente na água do

reservatório. Essa classificação é baseada nas contribuições relativas dos três tipos de

substâncias e não depende da magnitude das contribuições individuais. A contribuição

da água pura não entra na classificação, já que seu coeficiente de absorção é uma

propriedade óptica constante.

Assim, as amostras foram classificadas com base nas contribuições relativas dos três

componentes opticamente ativos, no comprimento de onda de 440 nm (comprimento de

onda no qual todos os componentes são opticamente importantes) (PRIEUR;

SATHYENDRANATH, 1981), e os resultados foram plotados em um diagrama

triangular. Esse procedimento foi realizado para 20 pontos amostrais em maio e 23

pontos em setembro.

3.3.3. Análise derivativa dos espectros

A análise derivativa é uma técnica de extração de informações a partir do resultado da

aplicação de uma operação de derivada sobre uma curva espectral. Em ambientes

aquáticos, esta técnica é aplicada para extrair informações dos componentes

opticamente ativos na água. Como a reflectância espectral é uma função da soma das

reflectâncias dos COAs presentes na água, a análise derivativa modela a reflectância

como um sinal ou função composta, resultante da soma ponderada das reflectâncias de

cada um dos componentes opticamente ativos presentes na coluna de água, conforme

apresentado na Equação 3.9:

∑=

+=n

iiiaa rprpR

0λ (3.9)

onde Rλ é a reflectância volumétrica; pa é o peso da água pura, ra é a reflectância da

água pura, pi é o peso atribuído ao iésimo componente, e r i é a reflectância do iésimo

componente.

Assumindo que cada componente do sinal composto possa ser representado por um

polinômio de ordem N, e se N varia diferentemente para cada componente, então a

Page 62: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

38

diferenciação sucessiva da curva original remove sistematicamente os efeitos de menor

ordem (GOODIN et al., 1993). A primeira derivada da curva de reflectância R com

relação ao comprimento de onda x em um determinado ponto “i” pode ser aproximada

numericamente por um esquema de diferenças finitas. O tipo de aproximação finita

escolhida para este trabalho foi a aproximação central ou symmetric, que é calculada de

acordo com a Equação 3.10:

x

RR

dx

dR ii

∆−

≅ −+

211 (3.10)

onde ∆x é a separação entre duas bandas sucessivas. Sendo ∆ x = xj-xk, considera-se que

xj>xk e que o intervalo entre as bandas seja constante. A aproximação para a segunda

derivada pode ser obtida a partir da primeira derivada usando-se a seguinte equação:

( )211

2

2 2

x

RRR

dx

dR

dx

d

dx

Rd iii

∆+−

= −+ (3.11)

Esta técnica ressalta as mudanças bruscas de comportamento na curva espectral devido

à presença de componentes que favorecem a absorção e espalhamento do alvo. Deste

modo, ela permite a remoção do sinal de reflectância da superfície da água na primeira

derivada facilitando a detecção dos componentes presentes da água, principalmente

sedimentos em suspensão. A segunda derivada por sua vez, remove os efeitos da

turbidez causada pelo sedimento em suspensão evidenciado a presença de clorofila.

Deste modo, a análise derivativa remove a sobreposição de feições espectrais realçando

os componentes de menor intensidade que fazem parte da composição da resposta

espectral (HAN; RUNDQUIST, 1997; PHILPOT, 1991; GOODIN et al., 1993).

Uma importante fase do processamento dos dados está relacionada com a escolha dos

algoritmos de suavização (TSAI; PHILPOT, 1998), uma vez que cuidados devem ser

tomados para a aplicação dessa técnica em dados de sensoriamento remoto devido à

presença de ruídos nos dados. Os algoritmos de suavização devem ser adaptados de tal

forma a otimizar a redução dos ruídos, mas sem perder a acurácia dos dados. Neste

trabalho foram aplicados os filtros de média móvel (HAN; RUNDQUIST, 1997;

GOODIN et al., 1993) e blackman (EMERY; THOMSON, 2001), ambos de sete

pontos, para suavização dos ruídos.

Page 63: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

39

3.3.4. Classificação dos dados

O algoritmo K-médias foi utilizado para a classificação dos espectros coletados em

campo, tanto para o mês de maio quanto para o mês de setembro, a fim de

compartimentar a água do reservatório. O k-médias é um método numérico que agrupa

dados com características comuns, além de explorar a estrutura do dado (TAN et al.,

2005; VERFAILLIE et al., 2009). Este método é direto, não necessita de conhecimento

prévio da distribuição dos dados (classificador não supervisionado), e não hierárquico

(MATHER, 1999). O k é o número de clusters (grupos) que se deseja obter e que devem

ser informados antecipadamente ao determinar as posições iniciais dos K centróides dos

clusters. Este algoritmo tem como função agrupar cada elemento ao cluster do centróide

mais próximo e recalcular os centros dos clusters a partir dos elementos agrupados

(SCHOWENGERDT, 2007). Como critério de convergência, pode ser empregado um

número máximo de interações, ou executar o algoritmo até que os centros não se

movam mais, ou apresentem uma mudança muito pequena.

Durante dos processos de interações são utilizados os métodos dos mínimos quadrados

e o ajustamento das médias (média móvel) (SCHOWENGERDT, 2007), onde o

programa tenta minimizar a soma dos resíduos do processo dos mínimos quadrados,

sobre todos os grupos e dentro de cada grupo isoladamente, em relação à distância de

cada objeto para o respectivo centróide de seu grupo. A convergência é alcançada

quando a função objetiva, o resíduo da soma dos quadrados, não pode mais ser

reduzida. Os agrupamentos obtidos são geometricamente os mais compactos possíveis,

em redor de seus respectivos centróides.

Porém existem dúvidas quanto ao melhor número de clusters (grupos) para a

classificação. Esse melhor número seria um número capaz de dividir os dados em

grupos com diferenças mínimas entre os dados em um determinado grupo e grandes

diferenças entre estes e os dados classificados em grupos diferentes. Neste trabalho foi

utilizado o valor silhouete (TAN et al., 2005) para testar o melhor número de grupos, de

2 a 7, no algoritmo k-médias. O valor silhouete é calculado através da equação 3.12:

)),(min(),(max(

)()),(min(()(

vibia

iavibis

−= (3.12)

Page 64: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

40

Onde i é o valor de Rrs, s(i) é o valor silhouete, a(i) é a distância média da curva i a

outras curvas do mesmo cluster, b(i) é a distância média da curva i a curvas de cluster

diferentes, e (v) é referente ao número de variáveis analisadas. O valor do coeficiente

silhouete pode variar entre [-1, 1]. Valores negativos correspondem a casos em que as

Rrs foram classificadas em grupos errados, e valores positivos e próximos de 1 indicam

casos onde as Rrs foram agrupadas corretamente e distantes dos clusters vizinhos.

O algoritmo k-médias também foi utilizado para a classificação de imagens dos sensores

MERIS e MODIS dos dois períodos de coletas. Além disso, dados coletados em campo

foram utilizados para caracterizar a classificação realizada pelo algoritmo.

3.3.5. Análise de variância

Para verificar a diferença entre as épocas de cheia e de vazante do reservatório, foi

realizada a análise de variância (ANOVA), juntamente com os testes de Levene, de

Turkey e de Bonferroni, onde:

H0 = As médias dos dois conjuntos de dados são iguais

H1 = A média de um dos conjuntos de dados é diferente

O teste de Levene avalia a igualdade da variância em diferentes amostras, ou seja, avalia

a hipótese de que as variâncias da população em que as amostras foram retiradas sejam

iguais. Se o vapor-p resultante do teste de Levene for menor que algum valor crítico

(normalmente 0,05), as diferenças obtidas nas variâncias das amostras são improváveis

de terem ocorrido baseadas em amostragem randômica. Assim, a hipótese nula de

variâncias iguais é rejeitada e conclui-se que existe uma diferença entre as variâncias da

população. O teste de Turkey é um procedimento de comparação múltipla e geralmente

utilizado em conjunto com ANOVA para verificar quais médias são significativamente

diferentes das outras. Este teste compara todos os pares de médias possíveis,

identificando onde a diferença entre duas médias é maior que o erro padrão. O teste de

Bonferroni também é um teste de comparação de médias.

Page 65: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

41

3.3.6. Análise de regressão linear

Para testar o desempenho dos produtos MERIS foi realizada uma análise de regressão

linear entre os dados coletados in situ, e os dados do produto nível 2, além dos gerados

pela aplicação dos processadores explicados anteriormente, para os períodos de coleta

de maio e setembro. As variáveis analisadas foram: concentração de clorofila-a, total de

sólidos em suspensão, coeficiente de absorção do fitoplâncton e da matéria orgânica

dissolvida, em 443 nm. Também foram analisados dados de profundidade de Secchi.

Para estimar concentração de clorofila-a e total de sólidos em suspensão, foram testados

algoritmos que utilizam dados de Rrs como entrada. A análise foi realizada para dados

de Rrs obtidos in situ pelo radiômetro Fieldspec, simulados para as bandas do sensor

MERIS, e dados de Rrs das imagens MERIS processadas pelo processador C2R. Em

relação à concentração de clorofila, os algoritmos testados foram os modelos de 3 e 2

bandas (equação 3.17 e 3.18, respectivamente), sugeridos por Gitelson (1992) e

Dall’Olmo et al. (2003) que utilizam reflectâncias na região do vermelho e

infravermelho próximo; além do modelo desenvolvido por Härma et al. (2001),

explanado pela equação 3.19.

7531

7081

665 *)(][ RRRachl −− −=− (3.17)

7081

665 *][ RRachl −=− (3.18)

)/()(][ 754665754705 RRRRachl −−=− (3.19)

Para estimar a concentração de total de sólidos em suspensão foram testados quatro

algoritmos desenvolvidos por Ouillon et al. (2008), sendo dois de duas bandas e dois de

três bandas. Os algoritmos são descritos nas equações abaixo. Esses algoritmos também

foram testados para estimar valores de turbidez.

620412/][ RRTSS = (3.20)

681510 /][ RRTSS = (3.21)

Page 66: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

42

412681620 /*][ RRRTSS = (3.22)

510681620 /*][ RRRTSS = (3.23)

Para a análise de regressão entre os dados radiométricos coletados em campo e os

derivados das imagens MERIS foi necessário fazer algumas transformações para que os

dados se tornassem comparáveis. A reflectância derivada do produto MERIS nível 2 é

definida como:

)(/)(*)( λλπλρ dEL= (3.13)

Onde L é a radiância ascendente, Ed é a irradiância descendente e as unidades são

adimensionais. As reflectâncias derivadas utilizando os processadores são descritas

como:

)(/)()( λλλρ dEL= (3.14)

Portanto, para comparar esse valores com os derivados do produto nível 2 é preciso

multiplicar o resultado por π. Essa transformação também é necessária ao utilizar os

dados coletados em campo, tornando assim todos os conjuntos de dados comparáveis.

Para os produtos MERIS (nível 2 e processadores) foi utilizada a média de uma janela

3X3 pixels tendo o pixel de interesse ao centro.

3.3.7. Modelo de mistura

A ferramenta Spectral Unmixing do software BEAM foi aplicada nas imagens MERIS

nível 2 para decompor a reflectância espectral em um conjunto de determinados

espectros de referência (endmembers). O resultado é uma medida da contribuição

individual de cada endmember ao espectro de origem, ou seja, uma medida da

abundância de cada endmember. O algoritmo utilizado nessa ferramenta foi o Fully

Constrained LSU, onde a soma das abundâncias é igual a 1, sendo que os valores das

abundâncias não podem ser menores que zero. Esse algoritmo é baseado em um modelo

linear de mistura, que assume que um espectro é uma superposição linear dos

endmembers:

Page 67: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

43

∑ +=n

ikkiik EaR ε,* (3.15)

= ∑m

kkm

RMSE 21 ε (3.16)

onde Rk é a reflectância de origem no comprimento de onda k; E ki , é a reflectância do

endmember i no comprimento de onda k; ia é a abundância do endmember i; kε é o

erro no comprimento de onda k; RMSE é o erro médio quadrático de kε ; n é número de

endmembers; e m é o número de comprimento de onda no espectro discreto. Os espetros

utilizados como endmembers foram espectros coletados nas áreas alagáveis do Rio

Amazonas, na região de Santarém, PA (BARBOSA, 2005). A escolha das referências

ocorreu de forma subjetiva e foi realizada a partir da análise dos gráficos das curvas

espectrais que fossem representativas para quatro classes de água distintas: água clara,

água com predomínio de matéria orgânica dissolvida, água com predomínio de matéria

inorgânica em suspensão e água com predomínio de fitoplâncton. Esses endmembers

foram utilizados, pois dentro das amostras da região de estudo não havia curvas

espectrais bem definidas para servirem de referência.

Page 68: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

44

Page 69: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

45

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Caracterização limnológica do reservatório de Itumbiara

Os dados coletados no reservatório durante as duas saídas de campo apresentaram as

seguintes variações, mostradas nas Tabelas 4.1 e 4.2:

Tabela 4.1 - Descrição dos dados coletados durante a saída de campo de maio de 2009.

Mínimo Máximo Média Desvio Padrão Clorofila (µg/L) 0,88 2,70 1,56 0,41

TSS (mg/L) 0,60 1,54 1,04 0,25

COD (mg/L) 0,53 1,17 0,78 0,15

CID (mg/L) 2,46 3,22 2,90 0,16

Secchi (m) 2,00 6,00 4,18 1,08

Turbidez (NTU) 1,40 6,30 2,68 1,40

Temperatura (oC) 25,45 31,40 26,79 1,07

pH 7,48 7,90 7,63 0,13

Tabela 4.2 - Descrição dos dados coletados durante a saída de campo de setembro de 2009.

Mínimo Máximo Média Desvio Padrão Clorofila (µg/L) 0,25 10,02 3,93 3,03

TSS (mg/L) 0,25 1,81 1,12 0,40

COD (mg/L) 0,99 2,59 1,16 0,33

CID (mg/L) 3,08 3,76 3,27 0,19

Secchi (m) 4,00 7,00 5,50 0,82

Turbidez (NTU) 0,46 1,43 0,95 0,21

Temperatura (oC) 24,8 25,9 25,28 0,37

pH 6,29 7,90 6,99 0,47

A partir desses resultados é possível identificar uma maior transparência da água no mês

de setembro, e conseqüentemente uma menor turbidez, assim como uma maior

concentração de clorofila. Também há uma maior concentração de carbono orgânico e

inorgânico dissolvido. O valores médios de pH e temperatura da água diminuíram em

relação aos valores encontrados em maio.

Também foram coletadas amostras superficiais de água para determinação dos

coeficientes de absorção do material particulado, fitoplâncton e detritos, e matéria

orgânica dissolvida. A Figura 4.1 mostra as curvas de absorção encontradas nos meses

Page 70: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

46

de maio e setembro. Pode se observar uma maior homogeneidade nos dados no período

de coleta do mês de setembro. Algumas curvas de absorção por detritos e CDOM do

mês de maio apresentam maiores valores, se destacando das demais. Na absorção por

detritos essas curvas se referem a pontos amostrais localizados próximos à barragem. Já

para a absorção por CDOM, a curva com maiores valores de absorção se refere ao ponto

amostral localizado na região do rio Corumbá. Para os dados de absorção do

fitoplâncton observa-se a influência de outros pigmentos fitoplanctônicos, além da

clorofila-a, no mês de maio. Em setembro, esse pigmento é dominante.

Fitoplâncton - maio

0.00

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

300 400 500 600 700

Comprimento de onda (nm)

a ph

(m-1)

Fitoplâncton - setembro

0

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

300 400 500 600 700

Comprimento de onda (nm)

a ph

(m-1

)

Detritos - maio

0.00

0.04

0.08

0.12

0.16

0.20

300 400 500 600 700

Comprimento de onda (nm)

a d (m

-1)

Detritos - setembro

0.00

0.04

0.08

0.12

0.16

0.20

300 400 500 600 700

Comprimento de onda (nm)

a d (

m-1)

CDOM - maio

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

300 400 500 600 700

Comprimento de onda (nm)

a CD

OM (

m-1)

CDOM - setembro

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

300 400 500 600 700

Comprimento de onda (nm)

a CD

OM (

m-1

)

Figura 4.1 - Espectros de absorção dos componentes opticamente ativos no reservatório de Itumbiara, para os meses de maio e setembro de 2009.

Page 71: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

47

4.2. Dados de Sensoriamento Remoto

As curvas de Rrs coletadas em maio e setembro podem ser observadas na Figura 4.2.

Em maio, devido a problemas no equipamento, foram realizadas medidas com o

Fieldspec em apenas seis pontos amostrais. Para os dois períodos de coleta, as curvas

apresentaram um pico entre 500 e 600 nm, mostrando uma provável influência por

sedimentos inorgânicos em suspensão, pois o espectro de águas dominadas por esse

componente apresenta um aumento na reflectância, principalmente, na região entre 580

e 680 nm (NOVO et al., 1991). A resposta espectral do sedimento em suspensão

também varia de acordo com sua granulometria (CABRAL et al., 1990) e a origem e cor

do sedimento, sendo que no intervalo de 550 a 570 nm é observado um espalhamento

maior (CHOUBEY; SUBRAMANIAN, 1991; GITELSON; KEYDAN, 1990). As

curvas espectrais encontradas se assemelham as curvas encontradas por Liew et al.

(1999), com baixas concentrações de clorofila e de sedimentos em suspensão (Figura

4.3). No mês de setembro, observa-se um achatamento do pico. Goodin et al. (1993),

demonstraram, ao estudar a resposta fitoplanctônica, que as curvas de reflectância

sofrem um deslocamento de um pico bem definido em 550 nm, quando a água está

pouco túrbida, para um pico mais extenso e achatado que vai de 550 nm a 650 nm em

águas com níveis mais altos de turbidez. Esse resultado mostra o mascaramento do pico

na faixa do verde devido aos sedimentos em suspensão.

maio

0.00

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

setembro

0.00

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

Figura 4.2 – Espectros de Rrs obtidas em campo nos meses de maio e setembro de 2009.

Page 72: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

48

Figura 4.3 – Espectros de reflectância representativos de águas costeiras do Caso II nas

proximidades de Cingapura, com baixas concentrações de clorofila (<3 µg/L) e total de sólidos em suspensão (<10 mg/L).

Fonte: Adaptado de Liew et al., 1999.

As dez primeiras bandas espectrais do sensor MERIS foram simuladas a partir das Rrs

obtidas em campo, de acordo com a técnica de integração de retângulos, mencionada

anteriormente. As Rrs nestas bandas foram comparadas com as Rrs geradas tanto pelo

produto MERIS nível 2 quanto pelas geradas pelos processadores utilizados neste

trabalho. De um modo geral, os processadores apresentaram um melhor desempenho do

que o produto nível 2. Este, em alguns casos, apresentou valores negativos nas bandas

de menores e maiores comprimentos de onda. Esses valores negativos estão

relacionados à correção atmosférica aplicada nesse produto que, segundo Dr. Milton

Kampel (comunicação pessoal), em breve será melhorada; informação essa obtida no

Ocean Colour Forum. Por esse motivo, apenas a comparação ilustrativa entre as Rrs

simuladas a partir de dados coletados em campo e as obtidas através da aplicação dos

processadores será mostrada (Figura 4.5 e Figura 4.7), para os dois períodos de coleta.

De um modo geral os processadores subestimaram os valores de Rrs in situ

encontrados, tanto no mês de maio quanto no mês de setembro. Isto pode ser devido à

diferença de data entre a aquisição dos dados em campo e as aquisições das imagens. A

imagem do mês de maio é de cinco dias antes do período de coleta, e a de setembro é de

um dia após o período de coleta. A localização dos pontos do mês de maio e de

setembro se encontra na Figura 4.4 e Figura 4.6, respectivamente. Em setembro, a

diferença entre os dados pode ser explicada, além da diferença de datas, pela ocorrência

Page 73: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

49

de chuva durante o período da noite, depois do primeiro dia de coleta, contribuindo para

mudanças na composição da água.

O desempenho dos processadores foi melhor nas bandas espectrais localizadas na região

do vermelho, sendo que as diferenças mais evidentes se encontram nas bandas na região

do azul e verde do espectro eletromagnético. Essa maior diferença na região do azul

também foi encontrada por Ruiz-Verdú et al.(2008) e está relacionada à correção

atmosférica nessas bandas. Gons et al. (2008) também encontraram diferenças maiores

na região do azul, porém em relação aos produtos nível 2, indicando uma correção

atmosférica incompleta do produto utilizado. Os valores encontrados por Gons et al.

(2008) superestimaram os valores de reflectância in situ. Guanter et al. (2010)

propuseram a utilização do processador SCAPE-M (Self-Contained Atmospheric

Parameters Estimation for MERIS data) e compararam os resultados com os

encontrados pelos processadores utilizados neste trabalho. SCAPE-M obteve melhor

concordância com as reflectâncias de referência de campo, enquanto que os outros

processadores obtiveram melhor desempenho em águas escuras.

Figura 4.4 – Localização dos pontos de coleta de dados radiométricos no mês de maio.

Page 74: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

50

P11

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITUC2RBOREUL

P12

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITUC2RBOREUL

P14

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr

-1)

IN SITU

C2RBOR

EUL

P16

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr

-1)

IN SITUC2RBOREUL

P23

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr

-1)

IN SITUBORC2REUL

P25

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr

-1)

IN SITUC2RBOREUL

Figura 4.5 - Comparação entre as Rrs simuladas para as bandas do sensor MERIS (IN SITU) e

as obtidas pela aplicação dos processadores (C2R; BOR – Boreal; EUL – Eutrophic) para o mês de maio.

Page 75: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

51

Figura 4.6 – Localização dos pontos de coleta de dados radiométricos no mês de setembro.

P1

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITUC2RBOREALEUL

P2

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITU

C2R

BOREAL

EUT

P4

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITU

C2R

BOREAL

EUL

P5

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITU

C2R

BOREAL

EUT

Figura 4.7 - Comparação entre as Rrs simuladas para as bandas do sensor MERIS (IN SITU) e as obtidas pela aplicação dos processadores (C2R; BOR – Boreal; EUL - Eutrophic) para o mês de setembro. (continua)

Page 76: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

52

P6

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)IN SITU

C2R

BOREAL

EUL

P7

0.00

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0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITU

C2R

BOREAL

EUL

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0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITU

C2R

BOREAL

EUT

P9

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITU

C2R

BOREAL

EUT

P10

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITU

C2R

BOREAL

EUT

P11

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITU

C2R

BOREAL

EUT

P12

0.00

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0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITU

C2R

BOREAL

EUT

P14

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITU

C2R

BOREAL

EUT

Figura 4.7 - Continuação. (continua)

Page 77: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

53

P15

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITU

C2R

BOREAL

EUT

P17

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

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0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITU

C2R

BOREAL

EUT

P18

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITU

C2R

BOREAL

EUT

P19

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITU

C2R

BOREAL

EUT

P20

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITU

C2R

BOREAL

EUT

P21

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITU

C2R

BOREAL

EUT

P22

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr

-1)

IN SITU

C2R

BOREAL

EUT

P23

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITU

C2R

BOREAL

EUT

Figura 4.7 – Continuação. (continua)

Page 78: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

54

P24

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITU

C2R

BOREAL

EUT

P25

0.00

0.02

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

400 500 600 700 800

Comprimento de onda (nm)

Rrs

(sr-1

)

IN SITU

C2R

BOREAL

EUT

Figura 4.7 – Conclusão.

Os dados coletados pelo radiômetro perfilador Satlantic foram: medidas de temperatura

da água (Figura 4.8), concentração de clorofila (fluorímetro) (Figura 4.9) e valores de

coeficientes de retro-espalhamento (bbp) do material particulado (Figura 4.10).

a)

0

4

8

12

16

20

26.5 26.7 26.9 27.1 27.3 27.5

Temperatura (oC)

Pro

fun

did

ade

(m

)

b) 0

4

8

12

16

20

23.5 24 24.5 25 25.5 26 26.5

Temperatura (oC)

Pro

fun

did

ade

(m)

Figura 4.8 – Perfis de temperatura em (a) maio e (b) setembro. Curvas destacadas representam

os pontos amostrais localizados nos rios Corumbá e Paranaíba.

O mês de setembro apresentou temperaturas mais baixas em relação às de maio,

provavelmente devido à ocorrência de frente fria e chuvas na região durante o período

de coleta diminuindo assim a temperatura da água. As curvas destacadas em preto nas

Figuras 4.8 a e b representam os pontos amostrais localizados nos rios Corumbá e

Paranaíba. As curvas nesses pontos, em maio e setembro, se apresentam de forma

diferenciada das demais, indicando uma diferença das águas dos braços do rio e do

corpo principal do reservatório, mostrando assim a influência dos rios nesse

reservatório. Nota-se também uma termoclina em torno dos 4 metros de profundidade

em maio, e em torno dos 8 metros em setembro. A análise espacial desses perfis será

mostrada mais adiante.

Page 79: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

55

a)

0

4

8

12

16

20

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1

Concentração de clorofila (ug/L)

Pro

fun

did

ad

e (

m)

b) 0

4

8

12

16

20

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1

Concentração de clorofila (ug/L)P

rofu

ndi

dad

e (m

)

Figura 4.9 – Perfis de concentração de clorofila em a) maio e b) setembro.

Os perfis de concentração de clorofila-a (Figura 4.9) se mostram mais homogêneos no

mês de setembro, com um máximo subsuperficial de clorofila em torno dos 5 m de

profundidade. Na Figura 4.9a as curvas destacadas em preto são as que apresentaram

maiores valores de concentração de clorofila no mês de maio, cujos pontos amostrais

estão localizados no rio Corumbá, evidenciando mais uma vez a influência desse rio nas

águas do reservatório. A análise espacial desses perfis será mostrada mais adiante no

item 4.4.

a) 0

4

8

12

16

20

0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12

Bbp (470 nm)

Pro

fun

did

ad

e (

m)

b) 0

4

8

12

16

20

0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12

Bbp (470 nm)

Pro

fun

did

ade

(m)

Figura 4.10 – Perfis de coeficiente de retro-espalhamento do material particulado (Bbp) em a)

maio e b) setembro Os dados de retroespalhamento do material particulado indicam que os pontos amostrais

localizados no rio Corumbá apresentam os maiores valores (curvas destacadas Figura

4.10a). A partir desses dados pode se dividir o reservatório, no mês de maio, em dois

Page 80: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

56

compartimentos, um o corpo principal do reservatório e o outro a área que compreende

o braço do rio. Em setembro (Figura 4.10b) não há muita diferença entre os perfis de

coeficiente de retro-espalhamento, mostrando que o reservatório, nesse período, se

encontra mais homogêneo.

4.3. Análise da contribuição relativa dos COAs

A partir dos coeficientes de absorção dos componentes opticamente ativos da água, foi

construído um diagrama triangular, indicando as importâncias relativas de cada

componente, para as duas saídas de campo. A Figura 4.11 mostra qual o componente

dominante nos dois períodos de coleta.

Figura 4.11 – Diagrama ternário indicando a importância relativa de cada componente opticamente ativo. Círculos pretos indicam dados do mês de maio, e quadrados vermelhos indicam dados do mês de setembro.

Nos dois períodos de coleta, fica evidente a dominância por detritos, ou seja, a parte

inorgânica do material particulado. No mês de maio algumas amostras indicam uma

maior contribuição de matéria orgânica dissolvida. Esse resultado corrobora os dados de

Rrs medidos em campo, demonstrados na Figura 4.2 deste documento. Em praticamente

todas as amostras analisadas, em maio e setembro, os detritos contribuíram com mais de

Page 81: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

57

50% para a absorção total (descontando-se àquela pela água pura). O fitoplâncton

contribui, em média, com um pouco mais de 20% de todas as coletas. O CDOM

apresentou a menor contribuição relativa, ficando abaixo dos 40% em maio, e dos 25%

em setembro. Essa aparente maior contribuição do CDOM em maio se deve ao fato de

duas amostras apresentarem valores altos de contribuição relativa, cujos pontos

amostrais se localizam próximos ao rio Corumbá. De acordo com a metodologia

proposta por Prieur e Sathyendranath (1981), a água do reservatório de Itumbiara pode

ser classificada como do Caso II, dominada por detritos.

4.4. Análise espacial

A partir dos dados limnológicos coletados em campo, foi aplicada a análise por

krigeagem ordinária. O número de pontos amostrais em maio foi de 25, e em setembro

de 23. A distribuição da concentração de clorofila ao longo do corpo principal do

reservatório se mostra mais homogênea em maio e com valores relativamente menores

(Figura 4.12a). No mês de setembro houve um aumento da concentração desse

pigmento em determinadas regiões do reservatório. Esse aumento pode estar

relacionado a uma maior quantidade de luz nessa época do ano, propiciando assim o

desenvolvimento de organismos fitoplanctônicos. Porém, em ambos os períodos, há

uma maior concentração próxima ao rio Paranaíba, indicando-o como uma possível

fonte de clorofila, principalmente na época de vazante (Figura 4.12b).

a)

b)

Figura 4.12 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de concentração de clorofila (mg/L) em

a) maio e b) setembro.

Os dados de concentração de TSS não apresentaram grande variação espacial entre os

dois períodos estudados (Figura 4.13), porém valores de turbidez se mostraram maiores

no mês de maio (Figura 4.14), principalmente na região do rio Corumbá. Essa maior

Page 82: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

58

turbidez pode ser explicada pelo escoamento de parte da água da chuva em direção ao

corpo d’água, anterior ao período de cheia, já que o reservatório se localiza em uma área

de vale, além da interferência das águas do rio Corumbá. Dados coletados no

reservatório de Corumbá pela Universidade Federal de Juiz de Fora, nos anos de 2004 e

2005, indicam uma turbidez maior do que o reservatório de Itumbiara.

a)

b)

Figura 4.13 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de concentração de total de sólidos em

suspensão (mg/L) para a) maio e b) setembro.

a)

b)

Figura 4.14 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de turbidez (NTU) para a) maio e b)

setembro.

Dados de concentração de carbono dissolvido também foram analisados espacialmente.

Como pode ser observado na Figura 4.15, as maiores concentrações ocorreram no mês

de setembro. O carbono inorgânico dissolvido apresentou uma maior contribuição em

relação ao total, além de maiores valores no mês de setembro (Figura 4.15). Um

máximo de carbono dissolvido pode ser observado, no mês de setembro, próximo ao rio

Corumbá. Este máximo é influenciado pela alta concentração de carbono orgânico

dissolvido nessa região nesse mesmo período, que pode estar relacionada à entrada de

matéria orgânica da bacia como resultado das chuvas durante a coleta. Essa fonte

Page 83: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

59

pontual pode estar relacionada à plantação de cana, ou até mesmo presença de granjas

na região do entorno.

A krigeagem também foi aplicada aos dados de temperatura e pH coletados no

reservatório (Figura 4.16 e Figura 4.17). Em maio valores de pH se mostraram mais

homogêneos do que em setembro, quando as temperaturas se mostraram constantes, em

torno de 25ºC.

Carbono total - maio

Carbono total - setembro

COD - maio

COD - setembro

CID - maio

CID - setembro

Figura 4.15 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de concentração de carbono total

dissolvido (mg/L), carbono orgânico dissolvido (COD) e carbono inorgânico dissolvido (CID) para maio e setembro.

Page 84: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

60

a)

b)

Figura 4.16 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de temperatura (oC) da superfície da água para a) maio e b) setembro.

a)

b)

Figura 4.17 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de pH coletados em a) maio e b)

setembro. Para uma melhor análise dos dados, a técnica de krigeagem foi aplicada para os

coeficientes de absorção do fitoplâncton, detritos e matéria orgânica dissolvida em 440

nm (Figura 4.18), onde todos componentes opticamente ativos são importantes. Para

uma melhor diferenciação entre o fitoplâncton e a matéria orgânica dissolvida, aplicou-

se a técnica para valores no comprimento de onda de 665 nm (GITELSON;

KONDRATYEV, 1991), identificando assim a real atuação do fitoplâncton (Figura

4.19).

Page 85: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

61

aph - maio

aph - setembro

acdom - maio

acdom - setembro

adet - maio

adet - setembro

Figura 4.18 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de absorção do fitoplâncton, CDOM, e

detritos em 440 nm, para maio e setembro.

aph - maio

aph - setembro

Figura 4.19 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de absorção do fitoplâncton em 665 nm,

para maio e setembro.

Page 86: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

62

Ao analisar a Figura 4.19 nota-se uma maior absorção, em 665 nm, na região próxima à

barragem em maio (Figura 4.19a). Nesse mês, as comportas são fechadas para acúmulo

da água para geração de energia. A região da barragem apresenta menor quantidade de

material em suspensão, o que aumenta a transparência da água. Com isso há uma maior

penetração da luz na coluna d’água, promovendo o desenvolvimento do fitoplâncton.

Em setembro observa-se uma maior absorção na região dos rios (Figura 4.19b), o que

pode ser explicado pela menor vazão dos rios nessa época, ocorrendo um acúmulo de

nutrientes na região dos rios, contribuindo, junto ao fato de maior quantidade de

radiação nesse mês, ao desenvolvimento dos organismos fitoplanctônicos.

Como dito anteriormente, os dados de perfilagem obtidos pelo Satlantic também foram

analisados espacialmente. Os valores de coeficiente de retro-espalhamento do material

particulado (Bbp), em 470 nm, foram analisados nas profundidades de 1, 5 e 9 m em

maio, e nas profundidades 1, 6 e 12 m em setembro. Tanto em maio como em setembro,

os valores se mantiveram constantes com aumento da profundidade, por isso apenas os

dados de 1 m serão mostrados (Figura 4.20).

a)

b)

Figura 4.20 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de Bbp (470 nm), em 1 m para a) maio e

b) setembro.

Analisando a Figura 4.20, nota-se que em maio ocorre maior espalhamento na área do

rio Corumbá, indicando uma presença maior de material particulado, e a influência

desse rio no reservatório nessa época. Já em setembro, o reservatório se apresenta mais

homogêneo. Os dados de concentração de clorofila foram analisados nas profundidades

de 2, 6 e 10 m em maio e setembro (Figura 4.21 e 4.22, respectivamente). Nota-se que

os rios Corumbá e Paranaíba são a principal fonte de clorofila no reservatório. Em

setembro (Figura 4.22) observa-se uma maior concentração na profundidade de 6 m.

Page 87: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

63

2 m

6 m

10 m

Figura 4.21 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de concentração de clorofila coletados

em maio.

2 m

6 m

10 m

Figura 4.22 – Krigeagem ordinária aplicada aos dados de concentração de clorofila coletados

em setembro.

Page 88: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

64

4.5. Análise derivativa

A análise derivativa dos espectros de Rrs in situ foi realizada em todos os comprimentos

de onda, de 400 a 800 nm, com resolução nominal de 3 nm. Para melhor análise dos

resultados, um filtro de média móvel de 7 pontos foi aplicado. Também foi testado o

filtro de Blackman. Os resultados não apresentaram grandes diferenças em relação aos

filtros utilizados, assim o filtro de média móvel foi utilizado neste trabalho.

Na Figura 4.23 pode se observar o resultado da primeira derivada aplicada aos espectros

de Rrs coletados em maio de 2009, evidenciando uma feição de absorção em 595 nm.

Como todos os espectros apresentaram comportamento semelhante, todos foram

agrupados em um único grupo. A melhor regressão linear encontrada entre a primeira

derivada e os COAs foi a regressão entre a primeira derivada e concentração de clorofila

(Figura 4.24), embora não tenha apresentado um coeficiente de determinação muito alto

(r2 = 0,35; p<0.0065).

-0.0010

-0.0008

-0.0006

-0.0004

-0.0002

0.0000

0.0002

0.0004

0.0006

0.0008

0.0010

400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Prim

eira

Der

ivad

a

P11 P12 P14 P16 P23 P25

Figura 4.23 – Primeira derivada dos espectros de Rrs coletados em maio, com filtro de média móvel de 7 pontos.

Page 89: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

65

y = 540.56x + 0.4136

R2 = 0.3522

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

-0.0008-0.0007-0.0006-0.0005-0.0004-0.0003-0.0002-0.00010

Primeira derivada

Log

10

(Ch

l-a)

Figura 4.24 – Regressão linear entre a primeira derivada em 595 nm e log10 (chl-a).

A segunda derivada também foi aplicada para remover os efeitos da turbidez e realçar a

presença de clorofila (Figura 4.25). Apesar da aparência ruidosa, nota-se um pequeno

pico na região de 600 nm, porém nenhuma correlação foi encontrada com os COAs.

-0.00010

-0.00008

-0.00006

-0.00004

-0.00002

0.00000

0.00002

0.00004

0.00006

0.00008

0.00010

400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Seg

un

da

Der

ivad

a

P11 P12 P14 P16 P23 P25

Figura 4.25 – Segunda derivada dos espectros de Rrs coletados em maio, com filtro de média

móvel de 7 pontos.

A análise derivativa também foi aplicada para os dados coletados na saída de campo de

setembro. A Figura 4.26 mostra a aplicação da primeira derivada sobre os espectros de

Rrs. Um regressão linear satisfatória (r2 = 0.25, p<0,00013) foi encontrada entre a

primeira derivada e a concentração de clorofila (Figura 4.27). A aplicação da segunda

derivada pode ser vista na Figura 4.28, que apresenta um pequeno pico em torno de 600

nm. A regressão linear entre a segunda derivada e a concentração de clorofila (log10)

apresentou valores de r2= 0.20 e de p<0,00006. Com base em todos esses resultados,

Page 90: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

66

conclui-se que a análise derivativa não foi satisfatória para o conjunto de dados

estudado.

-0.0010

-0.0008

-0.0006

-0.0004

-0.0002

0.0000

0.0002

0.0004

0.0006

0.0008

0.0010

400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Pri

me

ira

de

riva

da

p1 p2 p4 p5 p6 p7 p8 p9 p10 p11 p12p14 p15 p17 p18 p19 p20 p21 p22 p23 p24 p25

Figura 4.26 – Primeira derivada aplicada aos dados de Rrs coletados em setembro, com filtro de

média móvel de 7 pontos.

y = 1706.5x + 0.9307

R2 = 0.2494

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

-0.0007-0.0006-0.0005-0.0004-0.0003-0.0002-0.00010

Primeira Derivada

Lo

g 10 (

Ch

l-a)

Figura 4.27 – Regressão linear entre a primeira derivada em 595 nm e log10 (Chl-a).

Page 91: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

67

-0.0003

-0.0002

-0.0001

0.0000

0.0001

0.0002

0.0003

400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Seg

und

a D

eri

vada

p1 p2 p4 p5 p6 p7 p8 p9 p10 p11 p12p14 p15 p17 p18 p19 p20 p21 p22 p23 p24 p25

Figura 4.28 – Segunda derivada aplicada aos dados de Rrs coletados em setembro, com filtro de média móvel de 7 pontos.

4.6. Classificação dos dados

O algoritmo K-médias foi utilizado para classificar as imagens MERIS produto nível 2,

adquiridas para o presente trabalho (07/05/2009 e 12/09/2009). Também foram

utilizadas imagens MODIS produto MYD09 (10/05/2009 e 10/09/2009) para

comparação. Os resultados de ambas as classificações se encontram na Figura 4.29.

MERIS – 07/05/2009

MERIS – 12/09/2009

MODIS – 10/05/2009

MODIS – 10/09/2009

Figura 4.29 – Classificação das imagens MERIS e MODIS pelo algoritmo k-médias, para maio

e setembro.

Page 92: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

68

A classificação das imagens de maio sugere uma contribuição do rio Corumbá para a

água do reservatório, tanto para imagens MERIS quanto MODIS, dividindo assim o

reservatório em duas regiões. Uma região compreendida pelo braço do rio, e a outra

compreendida pelo corpo principal do reservatório. Essa influência do rio pode ser

explicada pelo fato de maio ser um período de cheia, ainda influenciado pelas chuvas,

ocorrendo escoamento da água da superfície do entorno para dentro do rio, tendo como

destino final o reservatório. Além disso, o rio Corumbá apresenta altos valores de

material em suspensão, conforme encontrado nos resultados da análise espacial do Bbp,

através da perfilagem do sensor Satlantic.

Para o mês de setembro, a classificação apresentou um resultado mais homogêneo, tanto

para imagens MERIS quanto para MODIS. Isto também pode ser observado nos dados

de Bbp coletados em setembro pelo sensor Satlantic. A classe de cor azul claro na

imagem MODIS de setembro é devido à presença de nuvens na região. Com base nesses

resultados, pode se afirmar que tanto as imagens MERIS como as imagens MODIS

foram eficientes para classificar as águas do reservatório.

Para os dados espectrais coletados em campo com o radiômetro Fieldspec, o algoritmo

K-médias também foi aplicado, conforme descrito no item materiais e métodos. A

Figura 4.30 mostra os resultados encontrados para maio (Figura 4.30a) e setembro

(Figura 4.30b). Para se definir o melhor agrupamento é necessário verificar o valor

silhouete, conforme descrito no item materiais e métodos. Valores negativos indicam

que o algoritmo não conseguiu separar os espectros, ocorrendo assim uma confusão.

Valores maiores que 0,5 indicam uma boa separação pelo algoritmo. Em maio o

algoritmo separou os espectros em dois grupos, confirmando o resultado obtido pela

classificação das imagens. Já em setembro, o melhor resultado foi obtido pela separação

dos espectros em 4 grupos, ainda que com um valor negativo.

Page 93: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

69

a)

b)

Figura 4.30 – Resultado da aplicação do algoritmo K-médias para os dados de Rrs obtidos em

campo em a) maio e b) setembro.

4.7. Modelo de mistura

A partir da aplicação da ferramenta Spectral Unmixing do software BEAM foi possível

construir mapas de abundância dos componentes opticamente ativos presentes na água

do reservatório. Os mapas resultantes da coleta de maio estão na Figura 4.31, e os de

setembro estão na Figura 4.32. Também foi realizada uma composição RGB com esses

mapas para uma melhor visualização dos resultados, sendo sedimentos na banda do

vermelho, clorofila na banda do verde, e matéria orgânica dissolvida na banda do azul

(Figura 4.33).

Page 94: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

70

Clorofila

Matéria orgânica

Sedimentos

Água Clara

Figura 4.31 – Mapas de abundância dos COAs em maio.

Page 95: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

71

Clorofila

Matéria orgânica

Sedimentos

Água Clara

Figura 4.32 – Mapas de abundância do COAs em setembro.

No mês de maio observa-se uma dominância de matéria orgânica dissolvida na região

do rio Corumbá, confirmando os dados de absorção desse componente coletados em

campo (Figura 4.18). Em setembro observa-se uma maior abundância relativa de

clorofila, em relação ao mês de maio, no braço do rio Corumbá, além de um pequeno

aumento de sedimentos. Também se verifica uma dominância de água clara no corpo

principal do reservatório, corroborando os valores de profundidade de Secchi

encontrados nos dois períodos de coleta.

Page 96: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

72

(a)

(b)

Figura 4.33 – Composição RGB (R (sedimentos) G (clorofila) B (matéria orgânica)) dos mapas

de abundância de maio (a) e setembro (b).

A composição RGB dos mapas de abundância (Figura 4.30) mostra a dominância da

matéria orgânica dissolvida na região do rio Corumbá, nos dois períodos de coleta,

evidenciando a influência desse rio no sistema como um todo. Porém esses resultados

não corroboram os dados de contribuição relativa, onde se encontrou uma dominância

por detritos, mesmo a água do reservatório sendo bastante clara. Os dados de absorção

foram coletados ao longo do corpo principal do reservatório, e não nos braços dos rios,

o que pode explicar essa diferença de resultados.

A maior quantidade de matéria orgânica no período da cheia pode ser explicada pelo

fato do nível da água do reservatório variar em torno de 10 metros de um período para o

outro. Assim quando o nível aumenta, a água deixa toda a vegetação que cresceu

durante o período de seca submersa, contribuindo para o aumento da matéria orgânica

dissolvida. Além disso, em maio há uma maior entrada de água no reservatório devido

às chuvas, e como o reservatório de Itumbiara se localiza em uma área de vale, com

duas grandes cadeias de montanhas formando os limites de sua bacia, parte da água

escoada resultante da chuva, contendo matéria orgânica e inorgânica, tem como destino

final o reservatório.

Page 97: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

73

4.8. Análise de regressão linear

Para testar o desempenho dos produtos MERIS foi realizada uma análise de regressão

linear entre os dados coletados in situ, e os dados MERIS, tanto do produto nível 2

quanto os gerados pela aplicação dos processadores explicados anteriormente. As

variáveis analisadas foram: concentração de clorofila-a, total de sólidos em suspensão,

coeficiente de absorção do fitoplâncton e da matéria orgânica dissolvida, em 443 nm.

Para os dados do mês de maio, o melhor resultado obtido, em termos de concentração

de clorofila, foi o obtido pela regressão entre dados in situ e os dados gerados pelo

processador C2R (r2 = 0,65, rmse = 0,56). Para total de sólidos em suspensão os

melhores resultados foram obtidos com o produto MERIS nível 2, e também pelo

processador C2R (r2 = 0,26 e rmse = 0,31; r2 = 0,26 e rmse = 0,52, respectivamente).

Em relação aos coeficientes de absorção, o melhor resultado foi obtido entre coeficiente

de absorção do cdom in situ e dados do processador boreal (r2 = 0,76, rmse = 0,24),

desenvolvidos para lagos de região boreal. Este melhor desempenho do processador

boreal pode ser explicado pelo fato de que lagos boreais apresentam grandes

quantidades de matéria orgânica dissolvida.

As análises das coletas de setembro apresentaram resultados mais baixos em relação aos

de maio. Para concentração de clorofila, o resultado mais satisfatório encontrado foi

entre os dados in situ e os dados gerados pelo processador de lagos eutróficos (r2 = 0,14,

rmse = 0,41), porém as concentrações de clorofila encontradas no reservatório de

Itumbiara são muito abaixo do que se encontra em lagos eutrofizados. De acordo com o

Índice de estado Trófico (IET) da CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São

Paulo), um reservatório é considerado eutrófico quando apresenta, entre outras

características, concentração de clorofila entre 11 e 30 µg/L. Uma explicação do

processador de lagos eutróficos ter apresentado o melhor resultado é que esse

processador foi treinado com valores de clorofila entre 1 e 120 µg/L. Para os dados de

total de sólidos em suspensão e coeficiente de absorção do fitoplâncton, as regressões

lineares não apresentaram bons resultados. Para coeficiente de matéria orgânica

dissolvida o melhor resultado encontrado (r2 = 0,40, rmse = 0,21) foi a partir de dados

do processador de lagos eutróficos novamente.

Page 98: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

74

O processador C2R possui os produtos Z90 e K_min, que indicam a profundidade de

onde 90% da luz refletida da água se originam e coeficiente de atenuação da irradiância

descendente no comprimento de onda de máxima transparência, respectivamente. Esses

produtos foram comparados com a profundidade da zona eufótica (Zeu) e coeficiente de

atenuação da luz (K), calculados a partir dos dados de profundidade de Secchi. Para

maio os resultados encontrados foram bons, sendo obtido um r2 = 0,70 e rmse = 0,47

para a regressão linear entre Zeu e Z90; e r2 = 0,86 e rmse = 0,20 entre K e K_min. Para

os dados de setembro os resultados não foram significativos, apresentado valores de

coeficiente de determinação muito baixos.

Para estimar a concentração de clorofila e total de sólidos em suspensão a partir de

dados de Rrs, vários algoritmos foram testados. Primeiramente serão apresentados e

discutidos os resultados dos dados coletados no mês de maio, tanto para valores de Rrs

in situ quanto para valores de Rrs derivados do processador C2R. Em relação à

concentração de clorofila, os três modelos utilizados apresentaram bons resultados para

valores de Rrs do processador C2R (Figura 4.34). A Figura 4.35 mostra os melhores

resultados a partir de dados obtidos in situ. Esse bom desempenho dos algoritmos é

também demonstrado em outros trabalhos (Härma et al. 2001, Gitelson et al. 2009,

Moses et al. 2009a, Moses et al. 2009b).

Page 99: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

75

(a)

(b)

(c)

Figura 4.34 – Relação entre concentração de chl-a medida in situ e a (a) estimada pelo algoritmo

de 3 bandas, (b) estimada pelo modelo de 2 bandas, (c) estimada pelo algoritmo de Härma et al. (2001) para dados do processador C2R para a coleta de maio.

Para os dados de Rrs obtidos pelo Fieldspec os resultados não foram tão robustos, sendo

que os melhores desempenhos foram obtidos pelo modelo de 2 bandas e pelo

desenvolvido por Härma et al. (2001) (Figura 4.35). Deve se ficar atento ao fato de que

no mês de maio foram feitas apenas 6 medidas com o radiômetro Fieldspec, e que, para

fins de comparação, os mesmos pontos foram selecionados para os dados do

processador C2R.

(a)

(b)

Figura 4.35 – Relação entre concentração de chl-a medida in situ e a (a) estimada pelo algoritmo

de 3 bandas, (b) estimada pelo modelo de 2 bandas para dados do Fieldspec para coleta de maio.

Page 100: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

76

Dentre os algoritmos testados para estimar concentração de total de sólidos em

suspensão os que apresentaram melhor desempenho, para dados coletados em maio,

foram a razão entre as bandas 4 e 8 para dados de Rrs do processador C2R (r2 = 0,12;

rmse = 0,09), e a razão entra as bandas 1 e 6 para dados de Rrs obtidos pelo Fieldspec

(r2 = 0,5; rmse = 0,07) (Figura 4.36a). Já para turbidez os melhores valores foram

encontrados para o algoritmo 510681620 /* RRR , tanto para dados do processador C2R

quanto para dados do Fieldspec (Figura 4.36b) (r2 = 0,39; rmse = 0,10 e r2 = 0,59; rmse

= 0,05, respectivamente).

(a)

(b)

Figura 4.36 – Relação entre concentração de TSS in situ e a estimada pelo algoritmo

R510/R681 (a) e entre turbidez in situ e a estimada pelo algoritmo R620*R681/R510 (b) para dados de Rrs do Fieldspec para coleta de maio.

Para o mês de setembro, os resultados não significativos. Por este motivo, para valores

de concentração de clorofila-a, decidiu-se dividir os pontos de amostragem de acordo

com a espacialização dos dados de clorofila-a resultante da aplicação do método de

krigeagem espacial. Dessa forma, testou-se retirar os pontos de concentração mais

baixa, e, em outro teste, retirar os de concentração mais alta. Os melhores valores foram

encontrados para dados de Rrs derivados do processador C2R, com valores de clorofila

maiores, sendo que o modelo de 3 bandas apresentou r2 = 0,15 e rmse = 0,20; o modelo

de 2 bandas r2 = 0,17 e rmse = 0,20; e o modelo de Härma et al. (2001) r2 = 0,17 e rmse

= 0,16. Esses baixos valores podem ser explicados pelo fato de que, no segundo dia de

coleta houve pancadas de chuva à noite, contribuindo para a diferença entre os valores

de clorofila – a encontrados em campo.

Para os dados de TSS não houve nenhuma divisão. Os melhores valores foram

encontrados com aplicação da razão de bandas R510/R681 (r2 = 0,12 e rmse = 0,18) e

R412/R620 (r2 = 0,14 e rmse = 0,18) para dados de Rrs derivados do processador C2R e

Page 101: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

77

dados derivados do Fieldspec, respectivamente. Para turbidez obteve-se o melhor

resultado através da relação entre a razão de bandas R412/R620, para dados de Rrs

derivados do processador C2R, e os valores in situ (r2 = 0,24 e rmse = 0,09).

4.9. Análise de variância

Para verificar se os dados apresentavam diferenças significativas de um período de

coleta para o outro, foram aplicados uma análise de variância (ANOVA) e testes de

comparação de médias, conforme descrito no item materiais e métodos. Os valores de

concentração de clorofila apresentaram médias e variâncias significativamente

diferentes (ANOVA: teste F = 14,96 e p-valor = 0,00034) de um período para outro

(Figura 4.37). Os coeficientes de absorção de detritos também apresentaram médias e

variâncias significativamente diferentes (ANOVA: teste F = 16,54 e p-valor = 0,00018)

(Figura 4.38). Já os valores de TSS apresentaram médias significativamente não

diferentes (ANOVA: teste F = 0,56 e p-valor = 0,45633), porém com variâncias

significativamente diferentes, de acordo com o teste de Levene (Figura 4.39).

Coeficientes de absorção do CDOM (Figura 4.40) e valores de temperatura (Figura

4.41) apresentaram médias significativamente diferentes, mas com variâncias

significativamente não diferentes (ANOVA: teste F = 7,28 e p-valor = 0,01008; teste F

= 41,93 e p-valor = 0, 00000, respectivamente). Para valores de coeficiente de absorção

do fitoplâncton (Figura 4.42), os resultados dos testes indicam médias e variâncias

significativamente não diferentes (ANOVA: teste F = 2,83141 e p-valor = 0.09921).

Figura 4.37 – Variação (média, erro padrão (SE), desvio padrão (SD)) dos dados de clorofila

nos dois períodos de coleta.

Page 102: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

78

Figura 4.38 – Variação (média, erro padrão (SE), desvio padrão (SD)) dos dados de absorção

dos detritos em 440 nm, nos dois períodos de coleta.

Figura 4.39 – Variação (média, erro padrão (SE), desvio padrão (SD)) dos dados de total de

sólidos em suspensão, nos dois períodos de coleta.

Page 103: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

79

Figura 4.40 – Variação (média, erro padrão (SE), desvio padrão (SD)) dos dados de absorção do

cdom em 440 nm, nos dois períodos de coleta.

Figura 4.41 – Variação (média, erro padrão (SE), desvio padrão (SD)) dos dados de

temperatura, nos dois períodos de coleta.

Page 104: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

80

Figura 4.42 – Variação (média, erro padrão (SE), desvio padrão (SD)) dos dados de absorção do

fitoplâncton em 440 nm, nos dois períodos de coleta.

Page 105: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

81

5 CONCLUSÃO

Este trabalho procurou caracterizar bio-opticamente a água do reservatório de

Itumbiara, a partir de dados orbitais do sensor MERIS e dados in situ, verificando assim

a capacidade deste sensor em diferenciar os componentes opticamente ativos na água

em um reservatório localizado em região tropical. De acordo com os resultados

encontrados da análise de dados in situ, conclui-se que o componente opticamente ativo

dominante no reservatório de Itumbiara é o material particulado inorgânico, nos dois

períodos de coleta, cheia e vazante. Isto é demonstrado pelo diagrama triangular, que

indica as importâncias relativas de cada COA, construído para os dois períodos.

De um modo geral os dados MERIS utilizados subestimaram os valores de Rrs

encontrados no campo, tanto para maio como para setembro. Os produtos das imagens

nível 2 e os derivados dos processadores não apresentaram resultados muito robustos,

principalmente em setembro, quando comparados com dados medidos in situ. As

diferenças observadas podem ser devidas ao fato de que os algoritmos utilizados na

geração desses produtos foram treinados com dados adquiridos em lagos da Finlândia e

Espanha e não em ambientes tropicais como o da área de estudo.

A classificação das imagens MERIS sugere uma divisão do reservatório em maio,

período de cheia, em dois compartimentos. Um sendo a região do rio Corumbá e o outro

o corpo do reservatório como um todo. Em setembro, época de vazante, o reservatório

se apresenta de forma mais homogênea, não sendo, portanto, compartimentado. Essas

situações também são mostradas na classificação das imagens MODIS, produto

MYD09, corroborando assim os resultados encontrados. Os dados coletados pelo

perfilador Satlantic, tais como concentração de clorofila, temperatura da água e

coeficiente de retroespalhamento do material particulado também confirmam estes

resultados.

Os dados limnológicos coletados em campo indicam que o reservatório de Itumbiara

apresenta água bastante clara, com pouca concentração de clorofila e sólidos em

suspensão. Estes dados também mostram uma forte influência do rio Corumbá no

reservatório, principalmente no período de cheia. Já o rio Paranaíba pode ser visto como

uma fonte de clorofila para o reservatório, principalmente no período de vazante.

Page 106: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

82

Para futuros trabalhos sugere-se aplicação de outros métodos de correção atmosférica

nos dados do sensor MERIS, para uma nova validação de seus produtos, além de uma

comparação com produtos de outros sensores, como o MODIS, por exemplo. Também é

importante aumentar o número de amostras dos dados coletados em campo, já que o

reservatório de Itumbiara possui uma grande extensão de aproximadamente 28 km, além

de incluir mais pontos nos braços dos rios Corumbá e Paranaíba, que conforme

indicado, interferem na dinâmica do reservatório, aumentando assim a robustez

estatística. A aquisição e utilização de um maior número de imagens, de preferência, em

datas concomitantes às datas de coletas in situ, também é importante, pois a diferença

temporal pode contribuir para as diferenças nas comparações entre dados de satélite e

dados de campo.

A utilização de dados das propriedades ópticas inerentes da água de reservatórios, no

Brasil, ainda não é muito difundida, apesar de ser amplamente realizada em trabalhos de

águas oceânicas e costeiras. Além disso, dados do sensor MERIS geralmente não são

utilizados para caracterização de águas interiores no país. Portanto, este trabalho se

apresenta como uma contribuição à utilização desses dados em águas interiores,

esperando, assim, auxiliar e colaborar com trabalhos futuros.

Page 107: Utilização de dados MERIS e in situ para a caracterização bio óptica

83

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