1
INTRODUÇÃO Muitos estudos com materiais fossilizados vêm empregando a Tomografia Computadorizada (CT) por se tratar de uma metodologia não destrutiva, facilitando observações de estruturas internas e a geração de modelos tridimensionais de espécimes fósseis (Azevedo e Carvalho, 2009; Azevedo et al., 2010). Essa técnica consiste de um método indireto, via utilização do Raio-x, criando diversas fatias de mesma espessura que permite distinguir os artefatos (fóssil e matriz rochosa) com base na diferença de densidade (Dardon et al., 2010; Azevedo et al., 2010). Este trabalho tem objetivo definir aspectos morfológicos e tafonômicos de espécimes fósseis de Mesosauridae (Parareptilia) (FIG. 1) da Formação Irati (Permiano Inferior da Bacia do Paraná) através da CT. METODOLOGIA Nesta abordagem pioneira, foram tomografados um pós-crânio de Mesosaurus tenuidens, preservado em uma placa de folhelho betuminoso, e um indivíduo completo de Stereosternum tumidum, preservado em placa calcária. Nas análises tomográficas foi utilizado o programa 3D Doctor, visando evidenciar os artefatos e a geração do modelo 3D em estudos morfológicos e tafonômicos (FIG. 2). O espécime de Stereosternum tumidum encontra-se em melhor estado de preservação, com todo o esqueleto articulado. O canal medular na coluna cervical é menor (Fig.4A e 4B) , aumentando na região truncal e com uma leve diminuição na região caudal. O fêmur é de comprimento ligeiramente maior que o úmero (Fig. 4G). Em termos tafonômicos, o fêmur esquerdo apresenta quebra em três pontos, duas próximas às epífises e uma na diáfise (Fig. 4D e 4E); também no membro esquerdo, tíbia e fíbula estão fraturadas na diáfise e apresentam deformações (Fig. 4A, 4B e 4G). Há uma desconexão nas 10ª e 11ª vértebras da região truncal (Fig. 4B), possível observação de uma quebra na 10ª vertebra caudal (Fig. 4F) e as costelas apresentam várias fraturas in situ e a gastrália não foi preservada. CONCLUSÕES Os padrões tafonômicos observados sugerem que Mesosaurus tenuidens sofreu um soterramento rápido, permitindo somente a desarticulação do crânio e de pequena parte das vértebras cervicais. O padrão de organização das costelas e a presença de gretas de ressecamento no sedimento, no qual o espécime está preservado, são sugestivos do processo de mumificação natural de carcaças em condições subaéreas. Stereosternum tumidum apresentou alterações tafonômicas que ocorreram em contexto fossildiagenético e por compressão litostática. Sendo assim, a tomografia é uma ótima ferramenta para análises descritivas em morfologia e tafonomia. REFERÊNCIAS Azevedo, S. A. K.; Carvalho, L. B. 2009. O uso da tomografia computadorizada no estudo de vertebrados fósseis. In: H. WERNER JR.; J. LOPES (org.), Tecnologia 3D Technologies: Paleontologia, Arqueologia e Fetologia. Rio de Janeiro, Livraria e Editora Revinter, p. 1-32. Azevedo, S. A. K.; Carvalho, L. B.; Santos, D. D. 2010. Metodologias digitais aplicadas no estudo de vertebrados. In: CARVALHO, I. S. Paleontologia. 3ª ed., Rio de Janeiro, Editora Interciências, vol. 1, p. 445-450. Dardon, U.; Souza, R. S.; Abranches, C. T. S.; Bergqvist, L. P. 2010. Modelagem 3D e suas aplicações na pesquisa paleontológica. Gaea, 6(2): 76-89. Figura 3. Resultados de Mesosaurus tenuidens: (A) Coluna Cervical; (B e D) Região Truncal; (C) Pélvis e Membros Posteriores; (E) Região Caudal; (F) Modelo 3D. Escala 5cm. Figura 1. Espécies tomografadas: (A) Mesosaurus tenuidens, (B) Stereosternum tumidum. Escala 5 cm. UTILIZAÇÃO DE TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA EM ESTUDOS DE MESOSAURIDAE: ASPECTOS MORFOLÓGICOS E TAFONÔMICOS Dardon, U. 1 ; Dino, R. 2 ; Araújo-Júnior, H.I. 2 ; Grillo, O.N. 3 1 Programa de Pós-graduação em Análise de Bacias e Faixas Móveis, Faculdade de Geologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2 Departamento de Estratigrafia e Paleontologia, Faculdade de Geologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 3 Departamento de Geologia e Paleontologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Figura 4. Resultados de Stereosternum tumidum : (A) Crânio e Coluna Cervical; (B e C) Região Truncal Anterior; (D e E) Região Truncal Posterior e Caudal; (F) Região Caudal; (G) Modelo 3D. Escala 5cm. Figura 2. Tomografias sendo tratados pelo programa 3D Doctor: (A) tomografias de Mesosaurus tenuidens; (B) tomografias de Stereosternum tumidum; (C) Tomógrafo GE BrightSpeed 16 canais; (D) Esqueleto evidenciado. Em Mesosaurus tenuidens observou-se que ossos como ílio, ísquio e púbis estão achatados e fusionados nas vértebras sacrais, possivelmente influenciadas por processos fossildiagenéticos (compressão litostática) (Fig. 3C). O crânio desse espécime, por sofrer desarticulação, não se preservou. Nota-se na região dorsal que: 1) as vértebras cervicais apresentam uma abertura longitudinal que cessa no canal medular (Fig. 3A); 2) as costelas estão posicionadas uma sobre a outra e recurvadas no sentido crânio-caudal (Fig. 3B); e 3) as vértebras caudais estão fragmentadas (na sétima e na vigésima vértebra caudal) e retorcidas (Fig. 3D e 3E). Duas características evidenciadas nas tomografias são: 1) canal medular é maior na região cervical, diminuindo nas regiões truncais e caudais; e 2) as medidas do úmero e fêmur são aproximadamente iguais (Fig. 3B e 3D). RESULTADOS A B C D A B C D E F A B C D E G D F A B

UTILIZAÇÃO DE TOMOGRAFIA …cbg2018anais.siteoficial.ws/anexos/st14/8081.pdfComputadorizada (CT) por se tratar de uma metodologia não destrutiva, facilitando observações de estruturas

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Page 1: UTILIZAÇÃO DE TOMOGRAFIA …cbg2018anais.siteoficial.ws/anexos/st14/8081.pdfComputadorizada (CT) por se tratar de uma metodologia não destrutiva, facilitando observações de estruturas

INTRODUÇÃO

Muitos estudos com materiais fossilizados vêm empregando a Tomografia Computadorizada (CT) por se tratar de uma metodologia não destrutiva, facilitando observações de estruturas internas e a geração de modelos tridimensionais de espécimes fósseis (Azevedo e Carvalho, 2009; Azevedo et al., 2010). Essa técnica consiste de um método indireto, via utilização do Raio-x, criando diversas fatias de mesma espessura que permite distinguir os artefatos (fóssil e matriz rochosa) com base na diferença de densidade (Dardon et al., 2010; Azevedo et al., 2010). Este trabalho tem objetivo definir aspectos morfológicos e tafonômicos de espécimes fósseis de Mesosauridae (Parareptilia) (FIG. 1) da Formação Irati (Permiano Inferior da Bacia do Paraná) através da CT.

METODOLOGIA

Nesta abordagem pioneira, foram tomografados um pós-crânio de Mesosaurus

tenuidens, preservado em uma placa de folhelho betuminoso, e um indivíduo completo de Stereosternum tumidum, preservado em placa calcária. Nas análises tomográficas foi utilizado o programa 3D Doctor, visando evidenciar os artefatos e a geração do modelo 3D em estudos morfológicos e tafonômicos (FIG. 2).

O espécime de Stereosternum tumidum encontra-se em melhor estado de preservação, com todo o esqueleto articulado. O canal medular na coluna cervical é menor (Fig.4A e 4B) , aumentando na região truncal e com uma leve diminuição na região caudal. O fêmur é de comprimento ligeiramente maior que o úmero (Fig. 4G). Em termos tafonômicos, o fêmur esquerdo apresenta quebra em três pontos, duas próximas às epífises e uma na diáfise (Fig. 4D e 4E); também no membro esquerdo, tíbia e fíbula estão fraturadas na diáfise e apresentam deformações (Fig. 4A, 4B e 4G). Há uma desconexão nas 10ª e 11ª vértebras da região truncal (Fig. 4B), possível observação de uma quebra na 10ª vertebra caudal (Fig. 4F) e as costelas apresentam várias fraturas in situ e a gastrália não foi preservada.

CONCLUSÕES

Os padrões tafonômicos observados sugerem que Mesosaurus tenuidens sofreu um soterramento rápido, permitindo somente a desarticulação do crânio e de pequena parte das vértebras cervicais. O padrão de organização das costelas e a presença de gretas de ressecamento no sedimento, no qual o espécime está preservado, são sugestivos do processo de mumificação natural de carcaças em condições subaéreas.

Stereosternum tumidum apresentou alterações tafonômicas que ocorreram em contexto fossildiagenético e por compressão litostática.

Sendo assim, a tomografia é uma ótima ferramenta para análises descritivas em morfologia e tafonomia.

REFERÊNCIAS

Azevedo, S. A. K.; Carvalho, L. B. 2009. O uso da tomografia computadorizada no estudo de vertebrados fósseis. In: H. WERNER JR.; J. LOPES (org.), Tecnologia 3D Technologies: Paleontologia, Arqueologia e Fetologia. Rio de Janeiro, Livraria e Editora Revinter, p. 1-32. Azevedo, S. A. K.; Carvalho, L. B.; Santos, D. D. 2010. Metodologias digitais aplicadas no estudo de vertebrados. In: CARVALHO, I. S. Paleontologia. 3ª ed., Rio de Janeiro, Editora Interciências, vol. 1, p. 445-450. Dardon, U.; Souza, R. S.; Abranches, C. T. S.; Bergqvist, L. P. 2010. Modelagem 3D e suas aplicações na pesquisa paleontológica. Gaea, 6(2): 76-89.

Figura 3. Resultados de Mesosaurus tenuidens: (A) Coluna Cervical; (B e D) Região Truncal;

(C) Pélvis e Membros Posteriores; (E) Região Caudal; (F) Modelo 3D. Escala 5cm.

Figura 1. Espécies tomografadas: (A) Mesosaurus tenuidens, (B) Stereosternum tumidum.

Escala 5 cm.

UTILIZAÇÃO DE TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA EM

ESTUDOS DE MESOSAURIDAE: ASPECTOS MORFOLÓGICOS E

TAFONÔMICOS

Dardon, U.1; Dino, R.2; Araújo-Júnior, H.I.2; Grillo, O.N.3

1Programa de Pós-graduação em Análise de Bacias e Faixas Móveis, Faculdade de Geologia,

Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2Departamento de Estratigrafia e Paleontologia,

Faculdade de Geologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 3Departamento de Geologia e

Paleontologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Figura 4. Resultados de Stereosternum tumidum : (A) Crânio e Coluna Cervical; (B e C)

Região Truncal Anterior; (D e E) Região Truncal Posterior e Caudal; (F) Região Caudal; (G)

Modelo 3D. Escala 5cm.

Figura 2. Tomografias sendo tratados pelo programa 3D Doctor: (A) tomografias de

Mesosaurus tenuidens; (B) tomografias de Stereosternum tumidum; (C) Tomógrafo GE

BrightSpeed 16 canais; (D) Esqueleto evidenciado.

Em Mesosaurus tenuidens observou-se que ossos como ílio, ísquio e púbis estão achatados e fusionados nas vértebras sacrais, possivelmente influenciadas por processos fossildiagenéticos (compressão litostática) (Fig. 3C). O crânio desse espécime, por sofrer desarticulação, não se preservou. Nota-se na região dorsal que: 1) as vértebras cervicais apresentam uma abertura longitudinal que cessa no canal medular (Fig. 3A); 2) as costelas estão posicionadas uma sobre a outra e recurvadas no sentido crânio-caudal (Fig. 3B); e 3) as vértebras caudais estão fragmentadas (na sétima e na vigésima vértebra caudal) e retorcidas (Fig. 3D e 3E). Duas características evidenciadas nas tomografias são: 1) canal medular é maior na região cervical, diminuindo nas regiões truncais e caudais; e 2) as medidas do úmero e fêmur são aproximadamente iguais (Fig. 3B e 3D).

RESULTADOS

A

B

C

D

A B

C

D

E

F

A B

C

D

E

G

D

F

A B