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Alice Bianchini Doutora em Direito Penal (PUC-SP). Coeditora do Portal Atualidades do Direito. Coordenadora do Curso de Especialização em Ciências penais da Anhanguera-Uniderp/LFG. Membra da Comissão Especial da Mulher Advogada do Conselho Federal da OAB. Medidas protetivas

V Fonavid, em Vitória – ES

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Alice Bianchini Doutora em Direito Penal (PUC-SP).

Coeditora do Portal Atualidades do Direito. Coordenadora do Curso de Especialização em Ciências

penais da Anhanguera-Uniderp/LFG. Membra da Comissão Especial da Mulher Advogada do

Conselho Federal da OAB.

Medidas protetivas

Questões controvertidas

1. Constitucionalidade da ampliação das hipóteses de prisão preventiva, após o

advento da Lei 12.403/11?

2. Revogação do art. 20 da LMP que permite a decretação, pelo juiz, de ofício,

da prisão preventiva na fase policial, após o advento da Lei 12.403/11

Questões controvertidas

3. Natureza das MPU?

4. As MPU podem subsistir quando o processo penal já estiver concluído?

5. É possível a aplicação de MPU contra a vontade da mulher em situação de

violência doméstica e familiar?

Três questões gerais iniciais

1. Constituição Federal/Política criminal2. Uma questão de gênero e não de sexo3. Ação afirmativa

1. Mandamento constitucional

Art. 5º, I:

Homens e mulheres são iguais em direitose obrigações, nos termos destaConstituição.

Art. 226§ 5º: Os direitos e deveres referentes à

sociedade conjugal são exercidosigualmente pelo homem e pela mulher.

§ 8º: O Estado assegurará a assistência àfamília na pessoa de cada um dos que aintegram, criando mecanismos para coibir aviolência no âmbito de suas relações.

Setores de intervenção da LMP

Lei Maria da Penha - Medidas prevenção

• Criar estratégias para a diminuição da violência

Objetivo da Política Criminal

46 artigos; 5 de caráter criminal, sendo um de caráter geral(aplicável a qualquer forma de violência doméstica)lei heterotópica

2.Uma questão de gênero e não de sexo

Art. 2º. Toda mulher, independentemente de classe,raça, etnia, orientação sexual, renda, etc...goza dosdireitos fundamentais inerentes à pessoa humana....facilidade para viver sem violência, ....

Art. 5º. Para efeitos desta Lei, configura violênciadoméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ouomissão baseada no gênero....

§ único. As relações pessoais enunciadas neste artigoindependem de orientação sexual. ¥

GÊNERO

Violência de gênero

. Relacional

. Assimetria de poder

. Dominação e submissão

. Naturalização – colaboração da mídia

A Lei proporciona instrumentos quepossam ser utilizados pela mulher vítimade agressão ou de ameaça, tendente aviabilizar uma mudança subjetiva que leveao seu

EMPODERAMENTO

3. Ação afirmativa

3. Ação afirmativa

Art. 4º CEDAW medidas especiais de caráter temporário destinadas a

acelerar a igualdade de fato entre homem e a mulher não se considerará discriminação [Constitucionalidade]

de nenhuma maneira implicará, como consequência, a manutenção de normas desiguais

essas medidas cessarão quando os objetivos de igualdade de oportunidade e tratamento forem alcançados

Lei excepcional (CP, art. 3º): vigora enquantodurarem as circunstâncias que lhe deram origem.

[Aplicação para homem?]

Argumentos específicos

1 Crimes mais frequentes

2 Característica: ciclo de violência3 Números alarmantes

4 Sociedade e LMP

5 Invisibilidade do problema

6 Cultura machista

Questões controvertidas

1. Constitucionalidade da ampliação das hipóteses de prisão preventiva, após o

advento da Lei 12.403/11?

REGRA GERAL

• crimes dolosos punidos compena privativa de liberdademáxima superior a 4 anos

• CPP, art. 313, I

adequado

necessário

proporcional

LEI MARIA DA PENHA

• não há limitação

• CPP, art. 313, III ExemploMonitoramento eletrônico

Crimes mais frequentes

62% violência psicológica

6% violência moral

Tipos de violência doméstica mais conhecidos

80% violência física

Mulher fica 30 dias internada. Lesão corporal leve?

Penas inferiores a 4 anos

Questões controvertidas

2. Revogação do art. 20 da LMP que permite a decretação, pelo juiz, de ofício,

da prisão preventiva na fase policial, após o advento da Lei 12.403/11

Colocação do tema

Art. 20 LMP: permite a decretação da prisão preventiva

Art. 311, CPP, incluído pela Lei 12.403/11: não mais admite quando a decretação de ofício for na fase

policial

Principio da especialidade?Aplicação da lei mais recente?

Sistema acusatório x proteção integral à mulher em situação de risco (art. 4º).

Violência contra a mulher em números

- 52% das violências praticadas pelos maridos e companheiros são de risco de morte (Central de Atendimento à Mulher – Disque 180, jan. a jul de 2012);

- o Brasil ocupa a posição de 7° lugar entre os países que possuem o maior número de mulheres mortas, num universo de 84 países (Mapa da Violência – Homicídios de Mulheres –2012);

- 68,8% dos incidentes com vítimas mulheres aconteceram na residência ou habitação (Mapa da Violência 2012);

- 57% das agressões contra mulheres ocorre após o término do relacionamento: GEVID -MP/SP (2013)

Violência contra a mulher em números

Questões controvertidas

3. Natureza das MPU?

Natureza jurídica (Fausto Rodrigues de Lima)

- não são instrumentos para assegurar processos; - têm por finalidade proteger direitos fundamentais, evitando a continuidade da violência e das situações que a favorecem;- não são, necessariamente, preparatórias de ação judicial; não são acessórios de processos principais e nem se vinculam a eles;- não visam processos, mas pessoas;- “assemelham-se aos writs constitucionais que, como o hc ou o mandado de segurança, não protegem processos, mas direitos fundamentais do indivíduo”;

Sociedade e LMP

Existem situações em que o homem pode agredir sua mulher?

A mulher deve aguentar a violência para manter a família unida?

16% simhomens 19%mulheres 13%

11% sim

“Ele bate, mas ruim com ele, pior sem ele”

20% de acordo

Cerca de 24% homens

Cerca de 17% mulheres

Mais velhos: 32%

Cultura machista2010 Fundação Perseu Abramo/SESC

Entre os pesquisados do sexo masculino (> 14 anos):

8% admitem já ter batido em uma mulher

14% acreditam que agiram bem

15% declaram que bateriam de novo

2% declaram que “tem mulher que só aprende apanhando bastante”

total de homens de 15 anos de idade ou mais do Estado da Paraíba (1.339.206).

Deve-se intervir em briga de marido e mulher

63% dos entrevistados 72% das mulheres,51% dos homens

Advogados(as)Juízes(zas)

Promotores (as) de JustiçaDefensores (as) públicos(as)

Delegados(as)Estagiário(as)

Atores jurídicos

Sociedade e LMP

Questões controvertidas

4. As MPU podem subsistir quando o processo penal já estiver concluído?

Prazo para as MPU

• limite temporal intransponível: término do processo criminal.

• havendo interesse da vítima e necessidade da medida, ela deve pleitear, junto ao juízo cível (vara da família, se for o caso), decisão judicial definitiva que venha a garantir a continuidade da proteção, ou mesmo uma outra espécie de garantia.

• é recomendável que o juiz fixe um prazo razoável de vigência das medidas protetivas, suficiente para evitar a continuidade da violência

Questões controvertidas

5. É possível a aplicação de MPU contra a vontade da mulher em situação de

violência doméstica e familiar?

Aplicação da MPU contra a vontade da vítima

Síndrome do Desamparo Aprendido

- se alguém é submetido a um estímulo de sofrimento por muito tempo, a pessoa não consegue sair de tal situação

- quanto maior a repetição da violência menor a capacidade de reação da vítima

Aplicação da MPU contra a vontade da vítima

Mito do esquecimento

- A mulher esquece a violência como se fosse uma memória distante

- fuga psicológica

Aplicação da MPU contra a vontade da vítima

Que obrigam o agressor

- suspensão da posse ou restrição do porte de armas – principalmente se houver filhos menores

Número elevado dos homicídios de mulheres casadas ocorreu na frente dos filhos – RS

- aproximação de familiares e testemunhas

Motivos pelos quais as mulheres não “denunciam” seus agressores (respostas dadas por vítimas):

1º 31% preocupação com a criação dos filhos

2º 20% medo de vingança do agressor

3º 12% vergonha da agressão

4º 12% acreditarem que seria a última vez

5º 5% dependência financeira

6º 3% acreditarem que não existe punição e

7º 17% escolheram outra opção.

Invisibilidade do problema

As mulheres comunicam o fato às autoridades na MINORIA das vezes

Mulheres levam de 9 a 10 anos para “denunciar” as agressões

Os pais são os principais responsáveis pelos incidentes violentos até os 14 anos de idade das vítimas. Nas idades iniciais, até os 4 anos,

destaca-se sensivelmente a mãe. A partir dos 10 anos, prepondera a figura paterna.

Mapa da Violência 2012. caderno complementar 1:

Homicídio de Mulheres

http://mapadaviolencia.org.br/pdf2012/mapa2012_mulher.pdf

Da primeira vez ela chorou

Mas resolveu ficar

É que os momentos

felizes Tinham deixado

raízes no seu penar

Depois perdeu a esperança

Porque o perdão também cansa

de perdoar

Regra 3Vinicius de Moraes / Toquinho