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1 VALÉRIA MARIA GUIMARÃES ESPADA UNIÃO AFRICANA: UM ESTUDO SOBRE A MEDIAÇÃO DE CONFLITOS Monografia apresentada ao Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário de Belo Horizonte - UNI-BH, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em analista de relações internacionais. Orientadora: Alexandra Nascimento BELO HORIZONTE JUNHO DE 2009

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VALÉRIA MARIA GUIMARÃES ESPADA

UNIÃO AFRICANA: UM ESTUDO SOBRE A MEDIAÇÃO DE

CONFLITOS

Monografia apresentada ao Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário de Belo Horizonte - UNI-BH, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em analista de relações internacionais. Orientadora: Alexandra Nascimento

BELO HORIZONTE

JUNHO DE 2009

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VALÉRIA MARIA GUIMARÃES ESPADA

UNIÃO AFRICANA: UM ESTUDO SOBRE A MEDIAÇÃO DE

CONFLITOS

Monografia apresentada ao Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário de Belo Horizonte - UNI-BH, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em analista de relações internacionais.

MONOGRAFIA APROVADA EM 22 DE JUNHO DE 2009

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Dedico à minha mãe querida por ter seguido os seus conselhos e não ter desistido de um curso que eu julgava impossível chegar ao fim. Ao meu pai por ter me dado o conhecimento diante de todas as dificuldades que temos passado. E aos meus amigos, pois foi com quem pude contar nas horas mais difíceis e a uma grande amizade que nasceu nesses últimos tempos, se tornando uma segunda mãe.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha orientadora por acreditar em um trabalho que no início parecia

impossível de ser finalizado. Assim, ela conseguira organizar minha mente, me

dando outras alternativas para se fazer um trabalho bem feito.

5

“O pan-africanismo torna-se compreensível na medida em que

forem esclarecidas sua gênese histórica, a natureza de suas

diversas manifestações e eficácias”.

HERNANDEZ, 2005

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RESUMO

Este estudo busca responder com vem acontecendo a atuação da União Africana como mediadora dos conflitos existentes entre a República Popular do Congo e a República Democrática do Congo. Os conflitos existentes no continente africano colocam em evidência a complexidade das ações a serem implementadas diante da diversidade cultural, étnica, econômica e política. Portanto, o objetivo deste estudo se centra na verificação da atuação da União Africana, desde a sua criação, na mediação dos conflitos existentes entre os dois países. Como conclusão, observou-se que dadas às diversidades culturais existentes na África, a atuação da União Africana pode ser considerada muito frágil, visto a complexidade dos elementos que envolvem a construção de sua própria identidade. Sendo assim, se torna impossível obter um processo integracionista, pois os Estados-membros estão em constantes conflitos na busca da consolidação de suas soberanias, provando que as identidades nacionais estão vinculadas à diferença, gerando conflitos entre eles. Palavras-chaves: União Africana. República Popular do Congo. República Democrática do Congo. Identidade Nacional. Guerra civil.

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ABSTRACT

This study analyses the role of Africa in mediating conflicts between Popular Congo Republic and Democratic Congo Republic. These conflicts in the African Continent shows the complexity of the actions to be taken about the cultural, ethnic, economic, and political diversity in this continent. Therefore, this paper present the role of the African Union on the mediation of such conflicts existing between these two countries, also brings an analyse of the action of this institution. In summary, in front of cultural diversity in Africa, the performance of African Union may be considered very weak toward complexity of the elements involved in the construction of their own identity. This way, it seems impossible to come to a process of integration, since the member states disagree about the consolidation of their sovereignty, and that way showing that the national identities are bound in difference, causing conflicts between them. Key words: African Union - Popular Republic of Congo - Democratic Republic of Congo – National Identity – Civil War.

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LISTA DE ABREVIATURAS

AFDL - Aliança das forças Democráticas para libertação do Congo

CPP - Comitê du Pouvoir du Peuple

FRP - Frente Patriótica Ruandesa

GPRA - Governo Provisório da República Argelina

MAS - Movimento Socialista Africano

MLC - Movimento de Libertação Congolês

NEPAD - New Partnership for Africa´s Development-Nova

NICs - New Industrialized Countries

OUA - Organização da Unidade Africana

ONU – Organização das Nações Unidas

PCC - Partido Progressista Congolês

RCD - Rassemblement Congolais pour la Démocratie et la Libération du Congo

UAM - Union Africaine et Malgache

Uddia - União Democrática da Defesa dos Interesses Africanos) de Jacques

UNAZA - Universidade Federal do Zaire

MONUC - Comissão da ONU na República Democrática do Congo

MRE - Ministério das Relações exteriores

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 10

2 IDENTIDADE................................................................................................. 13

2.1 Identidade Nacional............................ ...................................................... 15

2.2 Globalização................................... ........................................................... 16

2.3 Formação de blocos econômicos.................. ......................................... 21

3 UNIÃO AFRICANA................................... ..................................................... 23

3.1 Organização da Unidade Africana................ ........................................... 23

3.2 União Africana................................. .......................................................... 27

4 CONGO......................................................................................................... 31

4.1 República Popular do Congo..................... .............................................. 34

4.2 República Democrática do Congo................. ......................................... 36

5 A ATUAÇÃO DA UNIÃO AFRICANA NOS CON FLITOS DA REPÚBLICA POPULAR DO CONGO E NA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO..........................................................................................................

45 6 CONCLUSÃO........................................ ........................................................ 52

REFERÊNCIA................................................................................................... 54

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1 INTRODUÇÃO

Antes da globalização as informações sobre os conflitos existentes no mundo eram

menos acessíveis. Com o advento das novas tecnologias, as informações passaram

a circular com mais facilidade, e a maioria dos países começou a conhecer os

diferentes grupos que mantinham costumes diferentes dos seus.

A globalização possibilitou a difusão dessas sociedades e de suas formas de viver e

conviver, e com isso, passou-se a ter conhecimento sobre os outros, descobrimento

não só pelas semelhanças, mas principalmente pelas diferenças que identificam

cada grupo.

A África, por sua diversidade cultural e ambiental desperta a curiosidade de outros

países que querem de alguma forma tê-la sob domínio e explorar os recursos

naturais e humanos que ainda conserva. Com o intuito de proteger os interesses e o

território africano formou-se a Organização da Unidade Africana, atual União

Africana com a proposta de se formar um bloco constituído de vários países visando

a promoção do desenvolvimento de todos os seus membros, além de atenuar os

conflitos existentes entre eles.

Baseada no modelo da União Européia, a União Africana atualmente ajuda na

promoção da democracia, dos direitos humanos e do desenvolvimento na África,

especialmente através os investimentos estrangeiros.

Dentre os vários países africanos encontram-se a República Popular do Congo,

também conhecida como Congo-Brazaville e a República Democrática do Congo ou

Congo-Kinshasa e ainda Zaire Congo. Ambos são separados por um grande rio e

possuem esses nomes, dado a um antigo reino do Congo que cobria duas regiões

contíguas entre os dois Estados e o norte de Angola (MUNANGA,2007). Esta região

se caracteriza por muitos conflitos envolvendo territórios, etnias, poder político e

econômico, e cujas negociações de paz nunca foram eficazes, impedindo que se

instalasse o desenvolvimento econômico e social.

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Diante desse cenário este estudo se pautou pela seguinte questão: Como vem

sendo a atuação da União Africana nas questões políticas e econômicas que

envolvem dois dos seus países membros: a República Popular do Congo e a

República Democrática do Congo?

Para responder a essa questão tem-se aqui como objetivo geral verificar qual a

atuação da União Africana na mediação dos conflitos existentes entre a República

Popular do Congo e a República Democrática do Congo.

A importância desse estudo está na busca de conhecimento e compreensão das

tentativas dos Estados africanos na sua busca de fazerem parte de um órgão

internacional tal como a União Africana que tem por premissa a interação econômica

e política de um continente, compartilhando ideais comuns, consolidando sua

soberania internacional, e principalmente aprendendo a conviver com as diferenças.

Como o Estado é a principal unidade de análise das relações internacionais,

percebe-se que os estes são constituídos por estruturas sociais e que ao

cooperarem criam blocos econômicos como a União Africana, numa luta que busca

o bem comum. Assim, os Estados sendo formados por conhecimentos (idéias

comuns) pretenderam criar um bloco capaz de construir uma identidade

supranacional, visando ter o desenvolvimento econômico, social e a paz no

Continente, defendendo seus interesses nacionais.

Metodologicamente esta monografia se pautou pela a análise bibliográfica de

estudos sobre identidade, cultura e conflitos africanos, apresentando-se da seguinte

maneira:

O primeiro capítulo trata do aspecto identitário, conceituando-o e demonstrando

como este influencia as transformações políticas, econômicas e sociais da

globalização. Aborda também o conceito de blocos econômicos e o fenômeno da

globalização.

O capítulo dois destaca o surgimento e a história da Organização da Unidade

Africana e sua transição para a União Africana.

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O capítulo três refere-se à história da República Popular do Congo e a República

Democrática do Congo, mostrando seus aspectos econômicos, políticos e sociais.

Já o capítulo quatro analisa a atuação da União Africana na mediação dos conflitos

existentes em ambos os Congos tecendo algumas considerações sobre a atuação

da União Africana nos dois Congos.

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2 IDENTIDADE

Neste capítulo ressalta-se o conceito de identidade e identidade nacional acrescido

de uma noção construtivista para se entender a relação existente entre os africanos

e a dificuldade de se manter um processo de cooperação na República Democrática

do Congo e na República do Congo. No contexto deste estudo faz-se necessário

salientar e entender estes conceitos, pois serão justamente eles que permitirão

estabelecer a discussão sobre a representação. Woodward (2003) explica que:

Para compreender o que faz a identidade um conceito tão central, precisamos examinar as preocupações contemporâneas com questões de identidade em diferentes níveis. Na arena global, por exemplo, existem preocupações com as identidades nacionais e com as identidades étnicas; em contexto mais “local”, existem preocupações com a identidade pessoal como, por exemplo, com as relações pessoais e com a política sexual (WOODWARD, 2003, p. 16)

Observa-se que este conceito é definido igualmente por Silva (2003), Woodward

(2003) e Larrain (2003): A identidade é marcada pela diferença que se dá entre os

símbolos, ou seja, a partir do momento em que o “ser diferente” simboliza possuir

dada nacionalidade, logo o outro passa a não ser, gerando uma diversidade entre

eles. O resultado se apresenta na exclusão de um grupo e, consequentemente, na

inclusão de outro, impondo distinções entre quem está dentro e quem está fora.

De acordo com Woodward (2003, p. 9) “a diferença é sustentada pela exclusão” por

meio do conteúdo simbólico da identidade, de seu significado, que determina

aqueles que estão dentro e aqueles que estão fora. E ainda, é por intermédio da

identidade que se busca entender a sua finalidade. “A identidade e a diferença estão

estritamente ligadas ao sistema de representação” (Silva, 2003, p.89), visto que, “a

representação inclui as práticas de significação e os sistemas simbólicos por meio

dos quais os significados são produzidos, posicionando-nos como sujeito”

(Woodward, 2003, p.17). Portanto, “representar significa, neste caso, dizer: essa é a

identidade, a identidade é isso” (SILVA, 2003, p.91).

Sendo assim, pode-se afirmar que os sistemas simbólicos produzem significados

que permitem aos indivíduos se posicionarem como sujeitos, ou seja, os sistemas

simbólicos favorecem aos sujeitos a se tornarem aquilo que eles são e aquilo que

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eles querem ser (WOODWARD, 2003). Tanto a identidade quanto a diferença

possuem o poder de definir e determinar a identidade, estando ligadas a sistemas de

representação de poder (SILVA, 20003; WOODWARD, 2003).

Silva (2003) aborda a identidade da seguinte maneira:

A afirmação “sou brasileiro”, na verdade é parte de uma extensa cadeia de negações, de expressões negativas de identidade e diferença. Por trás dessa afirmação”sou brasileiro” deve-se ler: “não sou argentino”, “não sou chinês”,”não sou japonês” e assim por diante, numa cadeia neste caso quase interminável.(SILVA, 2003, p. 75)

Isso então estabelece a diversidade entre o eu e o outro que causa uma diferença,

gerando uma forma negativa, quando eu afirmo que sou daquela nacionalidade e o

outro não. Assim, a identidade e a diferença estão vinculadas a relações de poder,

onde inclui um grupo e exclui outro grupo, fazendo distinções entre quem está

dentro e quem está fora. Dividir então, o mundo entre nós e eles, não deixa de ser

uma classificação e uma hierarquização (SILVA, 2003).

A identidade está ligada ao jogo das modalidades de poder, de quem exclui e de

quem inclui, tendo aí uma marcação na diferença. Essa forma de distinguir está

ligada ao aspecto da identificação, ou seja, quando se tem alguma origem em

comum, características comuns a outras pessoas, ou até mesmo um ideal comum

(HALL, 2003). Visto dessa maneira é possível afirmar que a identidade é cultural,

pois os indivíduos passam a se definir em suas categorias de acordo com as

diferenças de etnia, de classe, de religião, de sexualidade, de nacionalidade, de

profissão. A identidade cultural é algo que é construído socialmente. A

internacionalização da cultura só ocorre quando o indivíduo ou o grupo se sentem

parte deste, criando um sentimento preservação desta identidade, onde é permitido

se diferenciar uns dos outros (LARRAIN, 2003).

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2.1 Identidade nacional

Na identidade nacional é possível observar as diferentes identidades presentes em

um mesmo território formando uma única identidade cultural (HALL, 2004). Assim,

“as culturas nacionais em que nascemos se constituem uma das principais fontes de

identidade cultural” (Hall, 2004, p. 47). Essas culturas nacionais são formadas

através de discursos, narrativas como: símbolos, rituais, estórias que acabam por

representar as experiências que dão sentido aquela nação, de mitos ou de onde um

povo se origina. O simbolismo então envolve a cultura nacional e influencia o sujeito.

A identidade nacional unificaria as diferenças de classe, de raça, de gênero. Ela

então seria nada mais do que a reunião de uma determinada nação, com território,

instituições, costumes, religiões, história e futuros comuns (COIMBRA, 2006).

Larrain (2003) parte da mesma definição de identidade nacional quando ele

descreve em seu texto que não existem identidades pessoais sem identidades

coletivas ou vice-versa. Dessa forma, os indivíduos são considerados entidades

aliadas, que se definem por suas relações sociais. Assim as ações individuais se

alteram de acordo com a sociedade. “As identidades pessoais são formadas por

identidades coletivas culturalmente definidas, mas estas não podem existir

separadamente dos indivíduos” (Larrain, 2003, p. 36).

Woodward (2003), entretanto, aponta que as identidades nacionais excluem alguns

e incluem outros, ou seja, o que se tem é na verdade a marcação simbólica que

separa os grupos. A identidade nacional no caso dos grupos étnicos tem mais

destaque do que em qualquer outro caso, visto que eles necessitam voltar as suas

raízes para poder se diferir uns dos outros, o que acaba sempre levando à conflitos.

O que ocorre é que os indivíduos se identificam com certo grupo e se diferem uns

dos outros, que gera hostilidades entre eles, sendo que muitos matam por isso.

Portanto, as identidades nacionais são culturais, visto que as coletividades se

diferem em categorias, tal como: religião, classe social, gênero, sexo, etnia,

orientação sexual, entre outros (LARRAIN, 2003).

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Contudo, os discursos identitários nacionais fazem crer que existe somente uma

única identidade nacional e que a partir disso uma só única e verdadeira identidade

nacional poderia determinar o que uma nação representaria, ou seja, que todos os

membros de uma nação seriam (LARRAIN, 2003). Para o autor então, a identidade

nacional é marcada pela representação de interesses, valores e grupos sociais

distintos. Ele aponta que ao se analisar a construção da identidade nacional, esta

não é um processo monolítico e autônomo e que ocorre independente da pluralidade

dos modos de vida, das diversas práticas sociais e de múltiplas divisões sociais que

existem na sociedade.

Assim, o processo identitário nacional não é algo que surge naturalmente ou

espontaneamente, elas surgem por causa da representação das diversidades

culturais e sociais. Dessa forma o processo discursivo da identidade nacional em

Larrain (2003) sempre tende a excluir alguns e incluir outros. Cada identidade

nacional tem sua própria história e sua própria ressonância individual. Silva (2003)

parte da mesma definição, visto que essas identidades nacionais são comunidades

que os indivíduos necessitam inventar, ou seja, os indivíduos criam laços

imaginários, tal como símbolos comuns, como a língua que lhes permitem

estabelecer elos de ligação. Isso ele chama de mito fundador, onde os símbolos

permitem aproximar os indivíduos formando suas comunidades (identidades

nacionais) que advém da história dos grupos e não somente baseado na

diferenciação das características naturais (genéticas).

2.2 Globalização

O conceito de globalização passou a ser utilizado em substituição aos conceitos de

internacionalização e transnacionalização. Esta idéia se fundamentava nos setores

que “defendiam a maior participação de países em desenvolvimento, em especial os

NICs (New Industrialized Countries) Latino-Americanos e Asiáticos em uma

economia administrada internacionalmente” (PRADO, 2006, p. 1). Na falta de dados

precisos para posicionar quando ocorreu o fenômeno da globalização, Prado (2006)

sugere o final da década de 1980 e, principalmente, na década de 1990, pois neste

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período o termo globalização passou a ser utilizado sob dois aspectos: “um positivo,

descrevendo o processo de integração da economia mundial; e um normativo

prescrevendo uma estratégia de desenvolvimento baseado na rápida integração

com a economia mundial” (PRADO, 2006, p 1).

Pode-se dizer que a globalização é a integração entre os habitantes do planeta

Terra no século XX (RAMOS, 2002). A partir desse advento, ela possibilitou o

acesso fácil das comunicações com novas tecnologias de comunicação que se

dissiparam rapidamente, tais como: o rádio, o telefone, a Internet, o telefone celular

que possibilitaram uma integração muito maior entre os indivíduos (Willians;

BIERNAZKI, 2000; RAMOS, 2002). Portanto, pode-se dizer que a globalização se

iniciou junto com a comunicação, a partir do momento que favoreceu o

relacionamento entre as pessoas estabelecendo elos, tal como a linguagem. Dessa

forma, as pessoas passaram se comunicar seja por meio de alto falantes,

megafones, rádio, televisão, internet. “A comunicação é a ponta do iceberg. A

comunicação favorece o relacionamento econômico, o diálogo político e tem um

papel importante também cultural e em termos de valores” (Ramos, 2002, p. 02).

Entretanto, Willians (2000) afirma que essa velocidade das comunicações e do

processo de integração acaba por afetar a identidade cultural dos indivíduos, visto

que ao se ter diferentes pessoas e culturas convivendo no mesmo local, isso pode

gerar conflitos, ameaçando a identidade dos indivíduos. Para Woodward (2003), o

processo de globalização ao ser definido pela interação de fatores econômicos e

culturais, que causam mudanças nos padrões de consumo, provoca novas

identidades e globalizadas. Dessa forma haveria uma pluralidade de identidades, ou

seja, várias identidades que gera grandes desigualdades. Algum grupo étnico tem

emergido do interior das duas sociedades num apelo pelo retorno de suas origens.

Assim, o passado e o presente então, exercem um papel fundamental, visto que as

identidades nacionais na contemporaneidade estão concentradas nas fronteiras na

busca por uma identidade nacional unificada e homogênea.

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Para Anderson1 (1983) citado Woodward (2003) a identidade nacional no mundo

contemporâneo depende da idéia que temos dela, ou seja, as identidades nacionais

são formadas pelas diferentes formas como elas são imaginadas, onde devemos ter

uma idéia partilhada sobre aquilo que a compõe. Essas comunidades imaginadas

estão então sendo reconstituídas e contestadas, no qual o “eu X o outro” impera no

contexto. Para Larrain (2003) as identidades nacionais são também comunidades

criadas ou imaginadas pela nação, tal como tradições, celebrações, dias nacionais,

aniversários, entre outros que são criadas pelos aparatos do Estado que independe

da diversidade de identidades plurais, pois isso sempre se concretizará. Assim,

algumas características nacionais são representativas, e influenciam na maneira

como os indivíduos se vêem.

Silva (2003) afirma que na contemporaneidade o que se tem é o hibridismo, ou seja,

o contato entre diferentes identidades, que não está associada a nenhuma das

identidades originais, apesar de manter alguns traços. Para ele então:

A hibridização se dá entre sociedades situadas simetricamente em relação ao poder. Os processos de hibridização analisados pela teoria da cultura contemporânea nascem de relações conflituosas entre diferentes grupos nacionais, raciais ou étnicos. Eles estão ligados a histórias de ocupação, colonização e destruição. Trata-se, na maioria dos casos de uma hibridização forçada (SILVA, 2003, p. 87)

Assim, os contatos entre diferentes culturas ao gerar processo de miscigenação,

desestabilizam as identidades originais. A identidade não é fixa unificada, estável e

que dura para todo sempre, ela está sempre sendo socialmente transformada

(SILVA, 2003). Exemplificando:

A diáspora dos negros africanos escravizados, por exemplo, ao colocar em contato diferentes culturas e ao favorecer processos de hibridização, sincretismo e crioulização cultural que, forçosamente, transformam, desestabilizam e deslocam as identidades originais (SILVA, 2003, p. 58)

Hall (1997) parte da mesma definição: as novas identidades híbridas estão se

tornando freqüente no mundo globalizado. Além do que também a era globalizada

provoca um fortalecimento das identidades locais, onde os membros dos grupos

étnicos se sentem ameaçados pela presença de outras identidades.

1 ANDERSON, B. Imagied Communities : reflections on the origis spread of nationalism. Londres: Left Books, 1971.

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Para os autores Hall (1997) e Woodward (2003) em toda parte estão emergindo

identidades culturais plurais, ou seja, que são as identidades novas advindas de

cruzamentos, o que eles chamam de transição e também identidades de tradução.

Na primeira as identidades que possuem um forte vínculo com a sua origem

baseado na biologia, já a segunda são pessoas que se dispersaram pelo mundo,

longe de sua terra natal, mas sem a idéia de um retorno ao passado. Ambas buscam

lutar pela sua própria identidade, no entanto, esta última nunca terá a possibilidade

de unificar, visto que agora as culturas são interconectadas.

Diante disso, pode-se dizer que a necessidade de se diferenciar entre os grupos é

uma constante na globalização, mesmo com as diversas identidades novas que

surgem no cenário (Woodward, 2003; Lopes, 2009, HALL, 1997). Willian (2003)

afirma que ao se ter diferentes etnias convivendo entre si surgem conflitos, onde a

necessidade de um grupo se separar culturalmente é uma constante.

Woodward (2003) ao falar da pluralidade de identidades que emergiram no contexto,

denomina esta de crises de identidade, no qual entram em ascensão identidades

vindas do interior de mudanças sejam elas políticas, economias e sociais. Cada

cultura tem suas próprias particularidades e distintas formas. No caso das

identidades nacionais, a redescoberta pelo passado se torna de fundamental

importância para as nações, tanto na sociedade de tradição quanto na de tradução,

visto que ambas contestam na contemporaneidade, a busca por uma identidade

verdadeira, o que causa a necessidade deles se diferirem no eu versus o outro,

onde inclui um grupo exclui outro (WOODWARD, 2003; HALL, 1997).

Essa crise de identidade advinda da globalização gerou identidades plurais e assim

novas identidades advindas do cruzamento de raças como foi ressaltado. Disso

então, tem-se uma miscigenação onde os povos lutam pelo direito de impor sua

identidade, sendo que isso ocorre dentro de suas próprias fronteiras. Aqui a

necessidade voltando novamente a salientar é que a diferenciação é de fato de vital

importância para os povos. Assim há sempre, a necessidade das nações buscarem

seus próprios símbolos, mesmo que estes tenham que criar esta, ou seja, mesmo

que para isso eles tenham que criar novos laços simbólicos, reivindicando sua

identidade, no qual esta seja aceita nessa era globalizada.

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A busca dos próprios símbolos ou a necessidade da criação de novos pode ser

explicada pela teoria do construtivismo que tem por premissa de que o ambiente é

socialmente construído pelos seus membros (NOGUEIRA; MESARI, 2005). Essa

teoria acredita que as pessoas possam construir realidades sociais incluindo sua

própria identidade nacional formando outras identidades nacionais. As interações

sociais são elementos que formam as identidades.

As estruturas dos sistemas políticos são socialmente construídas e estas estruturas

moldam os interesses e identidades dos atores (WENDT, 1999; ADLER, 1999). Os

construtivistas acreditam que os interesses das identidades são constituídos através

de símbolos e percepções coletivas de mundo (WENDT, 1999). Pode-se dizer que

as identidades nacionais influenciam na formação dos indivíduos, o que se

denomina de co-constituição. E esta é a premissa do construtivismo, onde a partir

das relações dos indivíduos formam-se as identidades (ONUF, 1998, WENDT,

1999).

As interações dos agentes constituem a base para os interesses, pois são eles que

têm de saber o que querem. As identidades então são exógenas, já que os agentes

têm em sua característica a individualidade intrínseca a eles e as preferências

destes. Portanto, as identidades (nacionais e culturais) por serem socialmente

construídas se definem em suas categorias, visto que estes são formados por

conhecimento (idéias). A partir da definição dos interesses das identidades nacionais

e culturais, leva-se a interesses que não são egoístas, apenas visam defender

interesses nacionais.

Sendo assim, percebe-se que as identidades entram em choque, dado as diferenças

existentes, mas também quando partilham as mesmas idéias entram em

cooperação. Os indivíduos, por partilharem um ideal comum (símbolos) reproduzem

os conceitos do eu versus o outro, onde as diferenças existentes entre eles

fortalecem suas identidades. Entretanto, as identidades estão sempre em processo

de construção e reconstrução, visto que as identidades são relacionais, ou seja, o

processo delas advém de um relacionamento histórico e contínuo, tendo a

necessidade de voltar ao passado alterando as identidades (WENDT, 1999).

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2.3 Formação de blocos econômicos

Para se entender o que sejam blocos econômicos, é necessário entender o que vem

a ser integração, que na conceituação de More (2002) é:

O primeiro pensamento que nos salta quando nos falam de "integração" é a simples noção de união de diversas partes num todo. O processo de integração econômica, nesta perspectiva simplista, pode ser comparado mais a um "mosaico", que à distância faz desaparecer as imperfeições das justaposições das partes que o compõe, e menos a um "quebra-cabeças", onde a necessidade de perfeição dos encaixes é imprescindível para o resultado do jogo. Integrando-se peças, interesses, regulamentos, tem-se o desenho mosaico que tão bem caracteriza os processos de integração econômica internacional. (MORE, 2002, p. 03)

A integração econômica visa estabelecer os trâmites legais internos dos Estados,

tendo a harmonização e a uniformização em sua base constituinte (MORE, 2002)

Por outro lado a Integração regional é “um processo dinâmico de intensificação em

profundidade e abrangência das relações entre atores levando à criação de novas

formas de governança político-institucionais de escopo regional” (HERZ, 2004, p.

168).

No contexto pós Guerra fria passaram a existir várias alianças entre os Estados,

formando zonas de livre comércio. Nessa época predominava o regionalismo

fechado, no qual os países mais atrasados não podiam concorrer no mercado em

igualdade com os países desenvolvidos, e por isso precisavam de incentivos para

promover sua industrialização. Assim regionalmente, os países não podiam

comercializar entre si. Somente com o fim da Guerra Fria é que os países puderam

manter relações comerciais entre si, liberalizando seus mercados, nascendo os

blocos econômicos regionais, tal como a União Africana em 2002. Sendo assim,

acreditou-se que por meio dessas relações comerciais entre os países, pudesse se

estabelecer uma cooperação funcional entre eles criando uma comunidade política,

na qual pudesse combater os problemas sociais internos de cada organização, tal

como a fome, pobreza, doenças entre outros, visando ter um sistema de paz (HERZ,

2004).

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Os blocos econômicos possibilitaram então que países de uma mesma região

geográfica estabelecessem relações comerciais aumentando sua interdependência

e também atuando no mercado internacional. Além disso, os blocos permitiram a

redução das barreiras tarifárias com vistas à criação de livre comércio (BEZERRA

JÚNIOR, 2001).

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3 UNIÃO AFRICANA

A Organização da Unidade Africana surgiu com o pan-africanismo (BADIR, 1993),

entendido como:

[...] um movimento político ideológico centrado na noção de raça, noção que se torna primordial para unir aqueles que a despeito de suas especialidades históricas são assemelhados por sua origem humana e negra. O movimento pan-africano surgiu como um mal estar generalizado que ensaiava o tema de resistência à opressão, pensando a libertação do homem negro. (HERNANDEZ, 2005, p.138)

A raça, entendida como cor de pele, corresponde a uma característica semelhante,

capaz de unir os africanos numa comunidade baseados na consciência comum. É a

partir do movimento do pan-africanismo que surgem os movimentos de

independência (BADIR, 1993; HERNANDEZ, 2005).

3.1 Organização da Unidade Africana

Na década de 1950 iniciou-se uma das primeiras Conferências referentes ao pan-

africanismo. Assim NKrumah presidente de Gana iniciou o processo em 1958 numa

dimensão pan-africana continental de Estados Africanos Independentes. Na década

de 1960 duas tendências emergiram nesse contexto resultando em conflitos.

(BADIR, 1993).

Nos primeiros conflitos da história do Congo este se dividiu em dois Estados

Africanos rivais: a) o grupo de Brazzaville, que mais tarde passou a se chamar

Monróvia; b) o Grupo Casa Blanca. Estes grupos mantiveram posturas opostas

quanto à realização de uma união política do Continente e quanto ao apoio de

libertação dos povos africanos. (BADIR, 1993).

O Grupo Brazzaville reuniu-se entre 15 e 19 de dezembro de 1960 e estabeleceu

uma cooperação econômica e cultural criando uma comunidade baseada em seus

interesses chamada de Union Africaine et Malgache (UAM), com o intuito de

24

promover um pacto multilateral de defesa, baseado na cooperação interafricana, no

princípio da boa vizinhança e na não interferência dos assuntos internos. Faziam

parte deste grupo: Alto voga (Burkina Faso), Cameron, Centro África, Chade, Congo

Brazaville (República Popular do Congo ou República do Congo), Costa do Marfim,

Daomé (Benín),Gabão, Mdagáscar,Mauritânia, Níger e Senegal. Mais tarde, foram

incluídos Togo e Ruanda, buscando um pacto multilateral de defesa, baseado na

cooperação interafricana, baseado no princípio da boa vizinhança e na não

interferência dos assuntos internos. Este grupo pretendia manter laços políticos,

econômicos e culturais com França, mantendo a presença desta no apoio à

libertação dos povos africanos (DÖPCKE, 1999; BADIR, 1993).

Os principais objetivos do grupo Brazzaville era decidir sobre as questões de

descolonização e auto-determinação dos povos com a presença e influência da

França. Eles então buscaram resolver a crise do Congo, denunciando as manobras

recolonizadoras das grandes potências atuantes na região, intervindo dessa maneira

diretamente por meio dos Estados asiáticos e africanos (DÖPOCKE, 1999;

BADIR1993):

Em 1955, na Conferência de Bandung na Indonésia, uma conferência convocada pelo grupo de Colombo, congregando os cinco países recém-independentes Índia, Paquistão, Ceilão, Birmânia e Indonésia- pela primeira vez,os Chefes de Estado de 29 países da Ásia e da África( 18 a 24 de abril), que se apresentavam como um terceiro mundo.Pronunciavam-se pela neutralidade e pelo socialismo mas declarando-se contra o Ocidente, ou seja, os Estados Unidos, e contra a União Soviética.Comprometiam-se a ajudar a libertação dos povos subjugados (LINHARES, 2000, p.57)

O Grupo Casa Blanca reuniu-se entre 3 e 7 de janeiro de 1961 considerando uma

verdadeira unidade africana baseada na liberação do Continente do colonialismo, ou

seja, lutavam pela independência total do Continente, sem nenhum pacto com os

antigos colonizadores. Oito países então aceitaram essas condições: Gana, Guiné,

Mali, Egito, Líbia, Marrocos, a GPRA (Governo Provisório da República Argelina) e

Ceilândia. Assim, sobre a crise do Congo os participantes apoiaram as teses de

Lumumba, defendendo a integridade do território e sobre a GPRA, eles

reconheceram o país como um Estado independente, além de exigirem o boicote ao

Sul da África. Eles eram contra toda e qualquer forma de ocidentalismo,

anticolonialismo e antineocolonialismo (DÖPCKE, 1999; BADIR, 1993).

25

Após cinco meses Nigéria e Libéria se juntam à UAM (Union Africaine et Malgache),

formando o grupo de Monróvia (DÖPCKE, 1999; BADIR, 1993). Esse grupo

consistiu de acordo com DÖPOCKE (1999):

O respeito ao status quo territorial e à não-interferência na política doméstica (Gana foi acusado por eles de ter desrespeitado ambos os pontos) eram os elementos principais de consenso entre estes Estados. A Nigéria, que se projetou como um dos maiores adversários do radicalismo ganense, liderou o movimento contra a revisão das fronteiras coloniais, uma posição bem compreensível, considerando a heterogeneidade étnica e cultural deste que é o maior país africano (DÖPOCKE, 1999, p. 01)

Assim, surgiram dois blocos rivais em plena Guerra Fria: o grupo Monróvia era

favorável à independência mediante a cooperação dos antigos estados

colonizadores, ao passo que o grupo Casa Blanca era totalmente contra os

antiimperialistas nos movimentos de independência, necessitando de uma ruptura

total nesse contexto (BADIR, 1993).

Na Conferencia de Lagos em 1962, a finalidade de reunir ambos os grupos

constituindo um mercado comum africano se tornou ineficiente, visto que 90% dos

presentes era constituída pelo grupo Monróvia e somente 10% do grupo Casa

Blanca (BADIR, 1993).

Somente no final do ano 1962 e princípio do ano 1963, com o fim da guerra na

Argélia e com a estabilidade política no Congo é que o acirramento entre os grupos

cessou, favorecendo a Conferência de Addis Abeba em maio de 1963, na decisão

de se criar uma unidade africana, e na busca de soluções para os problemas

referentes à descolonização. A pretensão era a de se criar um organismo com uma

estrutura bem delimitada com Chefes de Estado e de Governo, Conselho de

Ministros, uma Secretaria permanente, com comissões especializadas e técnicas, o

que deu origem à Organização da Unidade Africana (OUA), visando integrar o

Continente e solucionar o problema dos Estados africanos referentes à

descolonização (BADIR, 1993):

A tentativa mais antiga de integrar o continente data de 1963, com a criação da Organização da Unidade Africana (OUA). Essa organização visava, como expressa seu nome, promover a unidade do continente, a cooperação e a integração de seus países; para isso, defendia o fim do imperialismo europeu, a soberania dos Estados nascentes e a integridade de seus

26

territórios. Apesar de ter sido mediadora em alguns conflitos, a OUA teve uma atuação bastante limitada e sua fraqueza residia justamente na fragmentação do continente e na pobreza dos países-membros.(SENE; MOREIRA, 2009, p.01).

No entanto, segundo Pondi2 (1990) citado por Badir (1993) se criou uma unidade

negativa composta por várias comunidades inimigas na África. Assim, em 25 de

maio de 1963, por intermédio do que fora combinado em Addis Abba, 32 Estados

Independentes deram início à Organização da Unidade Africana exceto Marrocos e

Somália (BADIR, 1993).

A Organização da Unidade Africana tinha como objetivos de acordo com Ribeiro

(2007): promover uma unidade africana por intermédio da solidariedade dos países

africanos; manter uma cooperação entre os Estados Africanos visando o bem-estar

dos povos; defender a integridade territorial dos Estados, apoiando a independência

deles e sua soberania; ser contra qualquer forma de colonialismo na África;

promover a cooperação internacional de acordo com a Carta das Nações Unidas e a

Declaração Universal dos Direitos Humanos e ter na política dos seus Estados-

membros a harmonização nas esferas políticas, diplomáticas,econômicas,

educacionais, culturais e também nas áreas de saúde, bem-estar, de ciência,

tecnologia e defesa.

Com objetivos tão amplos, a Organização da Unidade Africana sofreu, de acordo

com Ribeiro (2007), sérios problemas desde o seu surgimento, sendo um deles a

resposta ao problema da questão étnica. Dessa forma a “OUA tratou tal dificuldade

garantindo a unidade do Estado dentro das fronteiras coloniais, procurando

assegurar a formação de nações fora dos distintos grupos religiosos, lingüísticos e

culturais” (RIBEIRO, 2007, p. 5).

Segundo Badir (1993) essa Organização foi totalmente contraditória à medida que

apontava o fortalecimento da nacionalidade e a solidariedade dos Estados africanos

ao mesmo tempo em que passava a defender a soberania, a integridade e a

independência.

2 PONDI, J. E. I’évolution de I’ideal panafricain sur lê continent depuis 1963. In:KAMTO, M.; PONDI, J.; ZANG, L. (comp.). Rétrospective et perspectives africaines . Paris : Economia, 1990.

27

Na segunda crise do Congo, no período de 1964 a 1965, fora dada à nomeação de

Moisés Tshombe, antigo líder da sucessão de Katanga e primeiro ministro do Congo

em julho de 1964 (BADIR, 1993). Na década de 1960, o Congo passou a ser

dominado por movimentos separatistas e federalistas; com os Tshombe (primeiro

ministro de Katanga) e com os Kalondji (primeiro ministro de Kasai), no qual tinham

a finalidade de enfraquecer Lumumba, tendo-se uma guerra civil instalada, com a

intervenção de tropas belgas e das forças de paz da ONU. Tshombe, em 1964, se

tornou o primeiro ministro com o apoio da Bélgica e dos Estados Unidos,

conseguindo derrubar os movimentos internos (ALMEIDA, 2007; SARAIVA, 1987).

A partir desse acontecimento emergiram duas tendências: a) Tshombe foi

considerado como ilegítimo, ilegal e não representativo, e a intervenção e o apoio

belgo-americano fora considerado uma intromissão nos assuntos africanos. O apoio

a esta tendência foi visualizado em países como a Argélia, o Burundi, o Congo-

brazaville, Daomé (Benin), Egito, Etiópia, Gana, Guiné, Quênia, Malauí, Mali,

Mauritânia,Somália, Sudão, Tanzânia, Uganda e Zâmbia; b) esse conflito foi

considerado como uma intervenção humanitária, onde o Governo Congolês com o

apoio da Bélgica e da ONU se tornou o único capaz de por fim à rebelião interna. Os

países que apoiaram esta tendência foram: Alta Voga (Burkina Faso), Camarão,

Centro África, Chade, Costa do Marfim, Gabão, Madagascar, Níger, Senegal e Togo.

Dessa forma, a Organização da Unidade Africana no conflito, simplesmente se

esquivou (BADIR, 1993).

Portanto, segundo Badir (1993) a Organização da Unidade Africana:

[...] fora concebida como uma organização de liberalização ou de descolonização e não como uma federação de Estados Africanos, a OUA, baseada nos princípios da existência independente e soberana, não podia ter uma integração política do Continente. Se converteu em uma organização mais de reuniões que de união (BADIR, 1993, p. 253)

3.2 União Africana

No ano 2002 surge a União Africana com a proposta de assegurar a paz e as

condições necessárias dos Estados-membros, baseada nos moldes da União

28

Européia (RIBEIRO, 2007; GUARIZA, 2006). Ela veio substituir a Organização da

Unidade Africana de 1963, sendo criada em 9 de julho de 2002, tendo a finalidade

de se integrar economicamente, adotando uma moeda comum (NADLER, 2006;

RIBEIRO, 2007).

Ribeiro (2007) afirma que a União Africana teve como princípios e objetivos:

a) Realizar maior unidade e solidariedade entre os países e povos da África, b) Respeitar a soberania, integridade territorial e independência dos seus Estados Membros, c) acelerar a integração política e socioeconômica do Continente, d) promover e defender posições africanas comuns sobre as questões de interesse para o Continente e os seus povos, e) encorajar a cooperação internacional, tendo devidamente em conta a Carta das Nações Unidas e a Declaração dos Direitos do Homem, f) promover a paz, a segurança e a estabilidade no Continente, g) promover os princípios e as instituições democráticas, a participação popular e a boa governação, h) promover e proteger os direitos do homem e dos povos, em conformidade com a Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos e outros instrumentos pertinentes relativos aos direitos do homem, i) criar as necessárias condições que permitam ao Continente desempenhar o papel que lhe compete na economia mundial e nas negociações internacionais, j) promover o desenvolvimento duradouro nos planos econômico, social e cultural, assim como a integração das economias africanas, k) promover a cooperação em todos os domínios da atividade humana, com vista a elevar o nível de vida dos povos africanos, l) coordenar e harmonizar as políticas entre as Comunidades Econômicas Regionais existentes e futuras, para a gradual realização dos objetivos da União, m) fazer avançar o desenvolvimento do Continente através da promoção da investigação em todos os domínios, em particular em ciência e tecnologia, n) trabalhar em colaboração com os parceiros internacionais relevantes na erradicação das doenças susceptíveis de prevenção e na promoção da boa saúde no Continente (RIBEIRO, 2007, p. 16).

Com sede em Addis Abeba na Etiópia, a União Africana tem como principal órgão

decisório a Asssembléia geral dos Estados-membros, no qual os respectivos Chefes

de Estados se reúnem uma vez a cada ano. Alérm disso, o presidente eleito na

Assembléia geral possui um mandato de um ano, quando então entra outro

presidente de outro estado-membro. A União Africana conta também com um

Conselho de Ministro que aconselha a Assembléia geral sobre as decisões a serem

tomadas, sendo composto por ministros das relações exteriores e com uma

Comissão que possui em sua composição um secretariado com poderes executivos,

onde é composto por dez comissionários encarregados de pastas específicas para

cada área distinta. A cada quatro anos é eleito um coordenador para chefiar a

29

Comissão. E por último ela conta com um Conselho de Paz e Segurança inspirado

no Conselho de Segurança da ONU que tem por finalidade estabelecer a paz e a

segurança no Continente, intervindo em circunstâncias graves tais como: crimes de

guerra, genocídio e crimes contra a humanidade (RIBEIRO, 2007).

Constituído por 53 países-membros, com exceção do Marrocos que continuou a

considerar o Saara Ocidental parte de seu território. São estes: Angola, Argélia,

Benin, Botsuana, Burkina Faso, Burundi, Cabo Verde, República dos Camarões,

Chade, Costa do Marfim, Dibutiji, Egito, Eritréia, Etiópia, Gabão, Gâmbia, Gana,

Guiné, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Quênia, Lesoto, Libéria, Líbia, Madagascar,

Malauí, Mali, Mauricio, Mauritânia, Moçambique, Namíbia, Níger, Nigéria, República

Centro-Africana, República do Congo, República Democrática do Congo, Ruanda,

Saara Ocidental no Sul do Marrocos, São Tomé e Príncipe, Senegal, Ilhas

Seychelles, Serra Leoa, Somália, Suazilândia, África do Sul, Sudão, Tanzânia, Togo,

Tunísia, Uganda, Zâmbia, Zimbábue e Comores (NADLER, 2006, MRE 2009).

A União Africana de 2002 veio com objetivos amplos da luta pela paz, do

crescimento econômico e social com governos democráticos (HERNANDEZ, 2005).

Utilizou da ajuda financeira de investimentos estrangeiros do programa da NEPAD

(New Partnership for Africa´s Development-Nova3) visando crescimento econômico e

social. Entretanto, as tentativas de reerguer economicamente, se tornam difíceis à

medida que os países-membros se encontram em estado de guerra civil (GUARIZA,

2006). Os conflitos persistiram em território africano, tal como na região sudanesa de

Dafur, na Somália, no Uganda, no Chade e no enclave Angola de Cabinda. Observa-

se a tentativa de um “acordo de cessar-fogo instáveis noutros países, como é o caso

do Congo e da Costa do Marfim, e um acordo frágil de paz celebrado entre a Etiópia

e a Eritréia” (VIEIRA, 2005, p.1).

Com este cenário, a União Africana juntamente com a Comunidade Econômica dos

Estados da África Ocidental tem recebido apoio financeiro e logístico por parte da

ONU, dos Estados Unidos e da União Européia. Na Libéria a guerra civil cessou em

2003. Em Angola, após a morte do líder Jonas Savimbi em 2002, acabou. Em

3 Parceria para o Desenvolvimento da África

30

Ruanda e Serra Leoa, após a ONU ter prendido os autores dos crimes de guerra,

também acabou. Somente no caso do Congo e da Costa do Marfim é que os

conflitos ainda podem vir a se tornar maiores (VIEIRA, 2005).

31

4 CONGO

Os ocidentais ao encontrar os congoleses pela primeira vez os chamaram de

pigmeus – na realidade, Mbuti e Batwa. Uma grande parte dos congoleses são

negros que falam a língua bantu ou banto. Os bantos se formaram na bacia do

Congo, ocupando parte de Angola e do Congo (LODY, 2004). Os congoleses

pertenciam a várias etnias como quicongo (kilongo), os bacongos (bakongo, congos,

ou Kongo), bundos, quibundos (Kimbundus), ovibundos (ovimbundos) entre outros

(MUNANGA, 2007, FEMENICK, 2006).

Na época da chegada dos portugueses na África, vários africanos foram

escravizados e se espalharam pela África Central constituindo diferentes povos tanto

na Costa Leste, quanto na Costa Oeste (BARBOSA, 2007). A presença portuguesa

no Congo do século XVI resultou na comercialização dos povos na América e na

Europa, estabelecendo a imigração de milhões de africanos (FEMENICK, 2006;

BARBOSA, 2007).

De acordo com Reader (2002) em fins do século XIX, houve a colonização Belga no

Congo por parte de Leopoldo II, proclamando “O Estado Livre do Congo” e tornando-

se rei dessa região. Em 1876, Leopoldo II tentou criar uma conferência por meio da

qual ele poderia manter uma colônia africana. Na Conferência Internacional de

Bruxelas surgiu a Associação Internacional Africana: Leopoldo II pretendia abrir a

bacia do Congo, ou seja, estabelecer a autonomia da civilização ocidental na região.

Nessa Conferência fundaram-se comissões nacionais na Bélgica, Suíça, Holanda,

França, Espanha, Alemanha, Áustria, Estados Unidos, a fim de recolher capital,

destacando-se aqui a inexistência de uma comissão da Grã-Betanha (MUNANGA,

2007; READER, 2002).

Em 1878 o rei Leopoldo II convidou H. M. Stanley a negociar tratados de comércio,

amizade e protetorado, firmados com relativa facilidade, sem que os chefes locais

tivessem conhecimento real do que se tratava na verdade, ou seja, a instalação da

sua soberania sobre este território (MUNANGA, 2007). Enquanto isso, a França ao

desconfiar dos planos de Leopoldo II enviou uma expedição para o Gabão em 1880

32

sob a chefia de Pierre Brazza. A expedição consistiu numa missão civilizadora indo

até o alto do Congo com propósitos comerciais. Brazza obteve cerca de quinze

quilômetros na costa norte de Pool (onde está situada a cidade de Brazaville).

Contudo, Stanley comunicou a Leopoldo II as intenções francesas sobre o Congo,

construindo em seguida três postos comerciais no alto do Congo (READER, 2002;

MUNANGA, 2007).

Em fins de 1882, a Associação Internacional Africana passou a ser desfeita, dando

lugar à Associação Internacional do Congo com objetivos humanitários, filantrópicos,

científicos e geográficos. Na realidade,o rei Leopoldo II tinha por objetivo o controle

total da região. Sem capital para financiar os custos de sua exploração no Congo, o

rei pediu ajuda financeira ao embaixador dos Estados Unidos na Bélgica, o que lhe

foi negado, recorrendo então à França, que por sua vez concordou, mas com o

direito de ter alguns benefícios e concessões (READER, 2002; MUNANGA, 2007).

A partir desse período eclodiram diversas guerras que tinham por finalidade o

controle do Congo, envolvendo países como Portugal, Alemanha, França e Bélgica.

Assim, na Conferência de Berlim, na qual ocorreu a partilha da África entre os anos

de 1884 é que o Congo se tornou Estado Independente do Congo (EIC), sob o

controle de Leopoldo II com a condição de deixar esta região livre para as

transações comerciais internacionais (READER, 2002; MUNANGA, 2007).

De acordo com Munanga (2007), o território belga passou a ser quatro vezes maior

do que o francês. A França conseguiu o reconhecimento do seu território que ia

desde Stanley (Malebo) Pool atravessando a margem do rio Congo, até a costa do

Gabão, ratificado em 1º de julho. Somente em 1886 é que uma parte do Congo

passa a pertencer à França, e em 1903 foi denominado de Congo Médio, mais tarde,

de Congo Brazzaville (READER, 2002; HERNANDEZ, 2005).

O rei Leopoldo II explorou o Congo até 1908 quando foi condenado pelo governo da

Bélgica, que passou a anexar o território do Estado Independente do Congo,

tornando este do governo Belga. Nesse tempo o rei Leopoldo II mantivera os

africanos em trabalhos forçados, além da escassez que a região passara a sofrer,

dada a exploração da borracha, do marfim, do óleo de palma, no entanto, a Bélgica

33

não conseguiu arcar com todos os custos gerados. Já o Congo Francês, abriu

caminho para que muitos trabalhadores atravessassem o rio Congo indo até em sua

direção. O governo francês não permitiu os trabalhos forçados na região, o que

possibilitou a construção da ferrovia de Brazaville (READER, 2002; HERNANDEZ,

2005; MUNANGA, 2007).

No ano de 1921 iniciou-se uma grande revolta tanto no Congo Belga quanto naquele

dominado pelos franceses. Simon Kimbangu, fundador da Igreja de Jesus Cristo

liderou um forte movimento no Congo, o Kimbanguismo da cultura bakongo. Ele

acabou por levar os fiéis a se posicionarem contra os trabalhos forçados e

pagamento de impostos à colônia. O movimento foi até as vésperas da Segunda

Guerra Mundial e foi marcado pela morte do líder do Kimbanguismo (HERNANDEZ,

2005).

Outro movimento contra a administração colonial no Congo Belga ocorreu em 1923

no sul de Catanga e que se estendeu até Kasai e Kivu sob a influência do líder

Nyirenda que fora preso em 1926. No Congo Francês (Congo Brazzaville), outra

agitação religiosa com base na Igreja Católica conhecida como lassysmo em 1946,

se alastrou até o Gabão contra as elites culturais e políticas européias, tendo

inúmeros mortos. As diferenças religiosas profundas resultaram em movimentos pelo

retorno às suas origens e influenciaram a história posterior dos africanos

(HERNANDEZ, 2005).

Em outubro 1945, no Congresso Pan-Africano realizado em Manchester, haviam

vários jovens líderes africanos que lutavam pela liberdade e por uma educação

decente com a finalidade de que os grupos e pessoas pudessem governar a si

próprios constituindo-se em unidades e federações mundiais (READER,2002).

“Foram os valores, a educação e a escolaridade formal que prepararam as elites

(formadas não só por negros, mas também por mestiços e brancos) oferecendo-lhes

os elementos necessários para a luta contra o colonialismo e a discriminação racial)”

(Hernandez, 2005, p.453).

34

4.1 República Popular do Congo

A República Popular do Congo possui uma área de 342.000 quilômetros quadrados.

É dividido em nove prefeituras e seis comunas. Está limitado ao norte com a

República da África Central e Camerão, a oeste com o Gabão, e ao sul com a

República Democrática do Congo (antigo Zaire), ao sul com Angola e ao sudoeste

com o Oceano Atlântico. Possui um clima equatorial, sendo muito úmido e muito

quente, o que propicia uma rica e variada vegetação. As chuvas são muito

freqüentes, especialmente nos meses de janeiro a abril e em novembro. Sua capital

é Brazzavile e sua população de acordo com o censo realizado m 1997 é de

2.583.000 habitantes (MRE, 2009).

A maioria da população se concentra na área existente entre Brazzaville e a costa

Atlântica e seguem os preceitos da religião Católica. Composta por um grupo de

diferentes raças, sendo que a quase totalidade do grupo pertence aos bantus (língua

banto). Um dos grupos também importantes são os baleke que estão situados ao

norte de Brazzaville, além disso, possui também em sua etnia,os vilis, os kongos, os

mboshis e os songas. Contudo o idioma oficial do país é o francês, além é claro

também de falarem outras línguas, tal como os lingala e os munukutuba (MRE,

2009).

Após a Segunda Grande Guerra, no Congo francês ou República do Congo,

observa-se a relevância das organizações político partidárias com a formação do

PCC (Partido Progressista Congolês) que dominou até 1956 quando foi criada a

Uddia (União Democrática da Defesa dos Interesses Africanos) por Fulbert Youlu.

Vários dirigentes deixaram o PCC e migraram para a Uddia e se opuseram ao, MAS

(Movimento Socialista Africano) de Jacques Opangult (HERNANDEZ, 2005; ICEX,

2005).

A disputa pelo poder entre o PCC e o, MAS, levaram Opangult e Youlu a selarem

acordos, através dos quais Opangult se tornou ministro de Estado e Youlu chefe de

Estado em 1959. A independência foi realizada por Youlu um governante

autoritarista que contou com o apoio europeu de extrema direita, tornando a ex-

colônia a República Popular do Congo ou República do Congo (HERNANDEZ, 2005;

35

ICEX, 2005). De acordo com Hernandez (2005), a partir de 1963 a República

Popular do Congo mergulhou em uma guerra civil.

Os protestos contra o regime vigente acabam por depor Youlu e o Congo passou a

ter um regime de orientação marxista a partir de 1964, tendo no poder Alphonse

Massemba-Débat que implantou o MNR (Movimento Nacional da Revolução

Comunista) alinhando-se aos comunistas. Quatro anos depois o major Ngouabi, por

meio de um golpe de Estado, assume a presidência substituindo o MNR por PCT

(Partido Congolês do trabalho) também de orientação marxista. Entretanto, Ngouabi

é assassinado pelos seguidores de Massemba-Débat e Denis Sassou Nguesso que

assume o poder alinhando-se aos soviéticos com políticas austeras. A derrocada do

regime comunista o obrigou a mudar sua política implantando a democratização, um

regime econômico aberto aos mercados, o multipartidarismo, o que levou as

manifestações por parte da população (ICEX, 2005).

Ao assumir o poder, Pascal Lissouba, possibilitou o surgimento novos partidos: a

União Pan-africana para Ordem Social e Movimento Congolês para Democracia e

Ordem Integral. Pascoal fazia parte do primeiro partido citado, o que o levou lançar

mão deste tendo a maioria das cadeiras representativas ao seu lado, aproveitando

para usufruir do poder, o que gerou uma guerra entre o exército e a milícia Zulu,

contra as milícias dos Ninjas e Cobras (milícias ligadas à Nguesso); afetando

estruturalmente o país (ICEX, 2005).

O ano de 1994 é marcado por uma trégua nos conflitos, pela a ajuda financeira do

FMI (Fundo Monetário Internacional), com a qual o governo implementa programas

de reformas e liberalização econômica e ainda pelo regresso de Sasssou Nguesso

ao poder com apoio de sua vizinha a Angola, que depõe Lissouba. Contudo, os

conflitos continuaram a existir após a posse de Sassou Nguesso, visto os constantes

ataques das milícias rebeldes especialmente na linha férrea do país (ICEX, 2005).

Mesmo envolto em vários conflitos o país sempre buscou a reconstrução da sua

estrutura econômica por intermédio do Banco Mundial e do FMI. O petróleo constitui

sua principal fonte de renda movimentando 84% das exportações. A República do

36

Congo mantém relações comerciais com a China, com os Estados Unidos e com a

União Européia (ICEX, 2005).

4.2 República Democrática do Congo

A República Democrática do Congo está localizada na região Central do Continente,

tendo uma estreita faixa territorial com o Oceano Atlântico cobrindo uma área de

2.345.09 km quadrados. Faz fronteira com nove países que são eles: República do

Congo, a oeste; a República Centro Africana e o Sudão, ao norte; Uganda, Ruanda,

Burundi e Tanzânia, a leste; Zâmbia a sudoeste e Angola ao Sul. (MRE, 2004;

MUNANGA, 2007).

O país conta com uma população de aproximadamente cinqüenta e oito milhões de

habitantes, tendo uma vasta riqueza em recursos minerais. Sua capital é Kinshasa,

com uma população de cinco milhões de habitantes. Seu clima é equatorial, propício

à chuvas na maior parte das estações do ano. A maior parte da população é adepta

do Catolicismo com 50%,o resto segue outros, tal como o protestantismo que são

20%, quimbanda 10%, islamismo 10% e outros 10%. Assim como na República do

Congo este possui em sua composição étnica: Lubas 18%, congos 16,1%, mongos

13,5%, ruandas 10,3%, zandis 6,1%, bangis e ungalas 5,8%, teques 2,7%, boas

2,3%, tchoques 1,8%, outros 23,4% (1983), compõem a população (48 milhões,

1997) de nacionalidade congolesa O dialeto oficial é o francês,Lingala e quilongo,

além de ter também os principais os dialetos bantos contando com 45% da

população e sudaneses (quissuaíle, quiluba e quicongo) (MRE 2004).

Na década de 1950, um professor belga de estudos internacionais A. J. Van Bilsen,

publicou um estudo que gerou grande repercussão no território. O estudo previa o

surgimento de movimentos de libertação no Congo Belga, e que por isso, tanto a

metrópole quanto a colônia deveriam se habituar às forças de libertação nacional

(READER, 2002; MUNANGA, 2007).

37

Os belgas adotaram a postura de cristianização dos povos por meio de uma aliança

com a Igreja Católica. O Congo Belga, por meio de ações da Igreja Católica, obteve

êxito nos anos de 1950 com o esforço missionário: 10% dos congoleses

freqüentavam a escola, um número satisfatório se comparado aos 7% da Costa do

Ouro, 6% na Índia e 3% na África Equatorial Francesa (READER, 2002). Nessa

época, a Igreja Católica, presente na região utilizava o franco-congolês (inglês e

francês) para se comunicar, dentre as várias línguas nacionais que os congoleses

falavam e que persiste até os dias atuais, e onde a maior parte da população é

seguidora do cristianismo (MENDONÇA, 2006).

Nos anos 1950, as oportunidades dos congoleses de usufruírem da mesma

liberdade que os Belgas era extremamente limitada, tanto é que Reader (2002)

ressaltou que:

Em 1955, por exemplo, mais de um milhão de congoleses exerciam profissões remuneradas, mas as suas remunerações totais mal ultrapassavam o total pago aos 20.000 Belgas que trabalhavam nos campos-uma média salarial entre negros e brancos no valor de um para quarenta (READER, 2002, p. 639)

Em julho de 1956, um grupo de intelectuais publicou um manifesto no qual

rejeitavam a dominação Belga. Esse grupo, influenciado pelos estudos de Van

Bilsen, era composto por professores, jornalistas e funcionários da administração

colonial pretendiam ir contra qualquer reforma que não contasse com a sua

participação. Poucas semanas depois, esse grupo publicou o Abako, ou seja, uma

publicação vinculada a associação cultural que visava unificar o grupo étnico

bacongo e difundir sua língua quicongo ou quilongo na África Central e que se

transformou em um partido político que rejeitou a administração colonial da Bélgica

(MUNANGA, 2007).

No ano de 1957, o governo colonial Belga, pela primeira vez, organizou uma eleição

popular. Dessa forma, foram criadas eleições municipais por parte do Congo Belga e

de Ruanda-Burundi. “Cada municipialidade devia então eleger seus conselheiros,

deixando o governador da província à prerrogativa de nomear o prefeito” (Munanga,

p. 12). Contudo, disso surgiram algumas reivindicações populares contribuindo para

a aceleração da independência do Congo, tais como:

38

a) a organização em Bruxelas reuniu povos de diferentes regiões do Congo

Belga, de Ruanda e do Burundi, onde os chefes de etnias, sindicalistas e

professores primários de diferentes regiões, iniciaram a tomada de

consciência com os povos congoleses;

b) o Congresso Pan-africano em Acra, Capital de Gana, onde os povos

congoleses representados pelos líderes MNC (Movimento Nacional Congolês)

sob a liderança de Patrice Lumumba que eram contra o poder colonial com a

finalidade de libertar o povo congolês e unificar as tribos congolesas. A maior

parte da população era de bantos, mas no norte habitavam os sudaneses e a

leste nilóticos pigmeus e hamitas (MUNANGA, 2007; READER, 2002; CIVITA,

1997).

O ano de 1959 foi marcado por intensas manifestações com milhões de africanos

incendiando e atacando os europeus. As autoridades coloniais culparam Lumumba,

o que acarretou na sua retenção em 1º de novembro de 1959. As autoridades belgas

decidiram, dada a situação, promover uma mesa-redonda organizada em Bruxelas

com todos os chefes políticos congoleses, com o intuito de conceder a

independência a curto prazo. Mesmo Lumumba preso participou a pedido dos

políticos belgas. Os participantes da mesa-redonda decidiram que o Congo Belga

teria um governo central forte e seis governos provinciais, e se tornaria uma

República Parlamentar. As eleições nacionais foram organizadas em maio de 1960 e

Joseph Kasa-Vubu tornou-se primeiro presidente da República e Patrice Lumumba

primeiro-ministro chefe. Assim a data de independência para espanto dos belgas

fora para 30 de junho de 1960. Após a independência, a população branca entrou

em declínio, tendo-se ao norte os azandes, a noroeste os benguelas, na bacia os

mongos, a leste e na região de Katanga os balubas, em Kasai os luluas

(MUNANGA, 2007; HERNANDEZ, 2005; CIVITA, 1997).

Durante a Segunda Guerra Mundial, o país conseguiu desenvolver uma economia

altamente lucrativa. Foram vendidas toneladas de cobre e zinco à Grã-Betanha,

urânio e cobalto aos Estados Unidos, além do aumento significativo da borracha,

óleo de palma e algodão. O território chegou a ser identificado pelo nome de

“escândalo geológico”, dada as suas grandes riquezas em diversos minérios. Em

39

1959, o Congo produzia 9% do cobre mundial, 49%do seu cobalto, 69% dos seus

diamantes e 6,5% do seu estanho. O óleo de palma, o algodão e o café geraram

cerca de 53 milhões de libras para as exportações do país. Entretanto, toda essa

economia exigia uma mão-de-obra pesada por parte dos africanos, incluindo cerca

de no mínimo sessenta dias por ano de trabalho obrigatório para os homens

(READER, 2002; HERNANDEZ, 2005; MUNANGA, 2007).

Patrice Lumumba em 5 de julho de 1960 decidira dar uma promoção, no qual todos

os soldados se encaixariam numa posição superior. Contudo, muitos soldados

acabaram por perceber que essa promoção não os colocava numa posição de

comando, o que provocou a revolta dos soldados belgas. Nesse contexto surge

Joseph Mobutu como coronel do Estado Maior. Poucos dias após a Independência

houve a mudança do nome do país para Zaire, surgindo correntes radicais contra os

seus oficiais.

Tshomé, em julho de 1960, promoveu na província de Katanga um Estado

Independente, privando o Congo dos seus recursos minerais, provocando a ira do

Rei Kalondji. A intervenção e controle de pontos estratégicos pelos belgas no

conflito, o respaldo de Tshombé e a interferência da ONU (Organização das Nações

Unidas) com o envio de armas e aviões militares à Katanga, instalou-se uma

verdadeira guerra civil, dividindo o Congo em duas tendências que apontaram

Tshombé como ilegítimo ou como vitorioso.

Neste conflito a União Africana se esquivou. A guerra afetou 45% da renda nacional

do Congo, logo no primeiro mês de sua independência (MUNANGA, 2007;

HERNANDEZ, 2005; BADIR, 1993).

Nesse período Lumumba foi preso e assassinado em Katanga. Já no ano seguinte

Tshombé fora escolhido para primeiro-ministro por Kasavubu, com o apoio

americano e belga. Entretanto, as guerras continuaram a existir e Tshombé foi

demitido do cargo. Na véspera de eleições e como Tshombé e Kasavubu lutavam

pelo poder, o exército interveio colocando Mobutu Sese Seko na presidência da

República (HERNANDEZ, 2005; MUNANGA, 2007).

40

No ano de 1964 Mobutu proclamou a República do Congo em República

Democrática do Congo, e em 1965 eliminou qualquer vestígio de democracia

(HERNANDEZ, 2005; MUNANGA, 2007). Durante esse período, a economia do

Congo sofria com uma inflação alta, dado o forte contrabando de pedras preciosas e

um alto tráfico de divisas, faltando bens de primeira necessidade, tendo-se um déficit

orçamentário econômico alto, no qual Mobutu abria seu mercado para a China e

para a França entre 1966 e 1967 (HERNANDEZ, 2005).

Em 1970, Mobutu extinguiu todos os partidos políticos, criou o MPR (Movimento

Popular da Revolução), no qual, todos os povos congoleses passaram a ser

membros, obrigou toda a população a abandonar seus nomes ocidentais e unificou

três universidades criando apenas uma: a UNAZA (Universidade Federal do Zaire)

que seria administrada por ele. “O Zaire (ex Congo Belga) era seu”, dizia ele

(Munanga, 2007, p.28).

Mobutu contava com o apoio de vários países vizinhos: Angola, República do Congo

Brazzaville, Moçambique, Guiné-Bissau, Guiné Conacri, Benin, entre outros, além de

receber ajuda dos Estados Unidos, Bélgica, França, Alemanha, mesmo cientes das

denúncias de corrupção em seu governo. Contudo entre 1973, a economia começou

a mostrar indícios de degeneração, devido à forma de gestão comercial adotada por

Mobutu a fim de beneficiar seus parceiros comerciais (MUNANGA, 2007).

Em 1977 uma queda do preço do cobre no mercado internacional propiciou a piora

das condições econômicas. Nesse mesmo período os exilados em Angola (ex-

germandes) invadiram a província de Shaba (ex Katanga) sendo aniquilados pelas

tropas francesas e marroquinas. No ano seguinte, os ex-germandes voltaram e

atacaram a província de Shaba (cidade de Kolwezi) sendo reprimidos novamente

pelas tropas estrangeiras. Entretanto, a crise econômica piora e os líderes

oposicionistas de Mobutu, iniciaram suas manifestações contra a violação dos

direitos humanos no Congo, além das reivindicações do segmento estudantil, mas

foram massacrados em 1990 (MUNANGA, 2007).

Nos anos de 1991 a 1993 Mobutu criou uma nova legislação que previa a

pluralidade de partidos, entretanto, todos deveriam ser manipulados por ele. A crise

41

econômica se agrava ainda mais, o que provoca o aumento dos protestos. Diante da

situação Mobutu, em 1993, convocou uma Conferência Nacional a fim de resolver a

crise e implantar uma nova forma de governo. Entretanto, em 1997 Mobutu foi

obrigado a se afastar do poder devido a um câncer bastante avançado (MUNANGA,

2007).

Seu primeiro-ministro Kengo Wa Ndondo não conseguiu lidar com a situação

política, o que provocou o retorno de Mobutu. A criação da AFDL (Aliança das forças

Democráticas para libertação do Congo) sob o comando de Laurent-Désiré-Kabila

adentrou as fronteiras de Uganda, Ruanda e Burundi para libertar o Zaire de

Mobutu. As tropas de Mobutu foram derrotadas pela AFDL e Mobutu organizou a

sua fuga para o Marrocos em 16 de maio de 1997. Um dia após a fuga de Mobutu a

AFDL ocupou Kinshasa e Kabila foi proclamado presidente da República

Democrática do Congo (MUNANGA, 2007).

Kabila extinguiu todos os partidos políticos e instituições estabelecendo uma nova

ditadura, o que gerou protestos dos partidos. “Os desentendimentos entre Kabila e

seus aliados tutsi, ou melhor, seus aliados de Ruanda, Burundi e Uganda vão

desembocar uma nova rebelião anti-Kabila” (Munanga, 2007, p. 20). Dessa forma,

conflitos sempre se mantiveram entre os belgas e os ruandeses-burundeses. No

ano de 1961, véspera da independência do Ruanda-Burundi, o governo belga

apoiou os hutus nas eleições presidenciais, causando a revolta dos tutsis, pois estes

sempre tiveram o governo belga ao seu lado satisfazendo suas exigências políticas.

Assim, o governo belga, demitiu todos os tutsis e iniciaram uma intensa perseguição

à estes,o que os levou a refugiarem-se no Congo,Tanzânia e Uganda(READER,

2002; BARBOSA; TEIXEIRA, 2007).

Após a expulsão dos tutsis de várias instituições, um golpe militar entregou ao poder

ao general hutu Juvenal Habyarima. Ele sendo antigo comandante do exército,

assumiu o poder fomentando a discórdia e fazendo os preços do petróleo decaírem.

Assim, nem os tutsis, nem os hutus estavam contentes com Habyarima no poder.

Eles organizaram a FRP (Frente Patriótica Ruandesa) com o objetivo de derrotar

Juvenal Habyarima: eles receberam apoio e arsenais bélicos dos franceses, belgas,

42

dos Estados Unidos e de tropas zairenses (READER, 2002; BARBOSA; TEIXEIRA,

2007).

Juvenal Habyarima, acuado decidiu negociar com a FRP com os acordos de Arusha

(no norte da Tanzânia). Nesse acordo, ficou estabelecida a criação de um novo

governo e com a FRP contribuindo com 40% das tropas e com 50% dos altos

comandos. Além disso, especulou-se o retorno dos tutsis ao poder. Assim, em 06 de

abril de 1994, dado os acordos de Arusha, Habyarima é morto quando se preparava

para aterrisar. As Nações Unidas culparam as tropas belgas pelo ato, visto que os

belgas apoiavam o retorno dos tutsis. Na região do Congo, ambos os grupos

étnicos, hutus e tutsis representavam 99% da população e não havia grandes

diferenças culturais entre eles. Haviam duzentos pequenos grupos étnicos dentre

eles, com grande diversidade política religiosa e lingüística (READER, 2002;

BARBOSA; TEIXEIRA, 2007).

Voltando à década de 90, em 02 de agosto de 1998 nasceu o RCD (Rassemblement

Congolais pour la Démocratie et la Libération du Congo) com o apoio das tropas de

Ruanda e Uganda atacando o leste do país e seguindo em direção à capital

Kinshasa. Contudo, tropas de Angola, Namíbia, Zimbábue conseguem conter o

avanço do RCD auxiliando Kabila. Surgiu ainda outro movimento o MLC (Movimento

de Libertação Congolês) no leste (MUNANGA,2007).

As atrocidades cometidas pelos ruandeses, burundeses e ugandeses geraram

inúmeros mortos, cerca de 3,5 milhões de pessoas provocando também o

deslocamento da população. Em agosto de 1999 as Nações Unidas examinaram o

local e concluíram a violação dos direitos humanos cometidas na região. Kabila

decide por dissolver a AFDL e cria o CPP (Comitê du Pouvoir du Peuple) a fim de

discutir o futuro do país, além é claro do regresso dos partidos políticos e da

abertura de novos. Assim reuniões e encontros foram feitos entre os rebeldes dos

países africanos (Zâmbia, Angola, Namíbia, Zimbábue, Ruanda e Uganda) e entre

representantes do governo, tendo levado ao acordo de LUSAKA, assinado por todos

(MUNANGA, 2007).

43

Em janeiro de 2001, Kabila foi morto por seu filho Joseph Kabila que assumiu a

presidência da República. O Conselho de Segurança da ONU cria a Monuc4 para

supervisionar a região. Tropas de sete Estados africanos se enfrentaram na

República Democrática do Congo. Zimbábue, Angola, Chade e Namíbia ao lado do

governo contra Ruanda, Burundi, Uganda ao lado dos movimentos rebeldes, o que

foi considerado pela ONU uma violação do território e da soberania nacional. Em

2002, Ruanda e o Congo assinam um acordo de paz e os ruandeses retiram suas

tropas do Congo (MUNANGA, 2007; BARBOSA; TEIXEIRA, 2007).

No ano de 2003, Joseph Kabila instui um governo provisório com uma Nova

Constituição com mandato por mais de dois anos. De acordo com o Almanaque Abril

(2005):

O acordo institui quatro vice-presidentes (dois indicados pelos rebeldes, um por Kabila e um pela oposição legal), a formação de um Parlamento provisório e a integração dos grupos armados no Exército. Prevê-se também a vinda de forças de paz da ONU. Em maio, as tropas de Uganda saem da RDC. (ALMANAQUE ABRIL, 2005, p. 01)

Contudo, a partir dessa Nova Constiuição, Kabila nomeia o novo governo com um

parlamento representado por rebeldes, oposicionistas e partidários leais à Kabila, o

que gerou novos combates. Em março de 2004, homens ligados ao ex-presidente

Mobutu são derrotados. Em junho surgem novos conflitos, nos quais oficiais se

opuseram aos rebeldes, tendo doze envolvidos presos posteriormente. No mesmo

mês 2000 homens que integram o governo, atacam Bukayu, no leste do país.

Joseph Kabila acusou o governo Tutsi de Ruanda de apoiar o movimento, quando

este atacou inclusive as forças de paz da ONU que estavam no território.

(ALMANAQUE ABRIL, 2005).

Do período de 2004, o PIB das regiões africanas era de 14,4% durante esse

período, houve um aumento significativo do petróleo na República do Congo

fazendo crescer sua economia. Na República Democrática do Congo tem-se o

crescimento de sua economia também no pós-conflito com a ajuda da NEPAD. A

inflação baixou 10% em 2004, ao passo que em Ruanda subiu 11%, dada à

4 Comissão na ONU na República Democrática do Congo

44

escassez das colheitas. Contudo a balança comercial tanto de Ruanda quanto da

República Democrática do Congo se deterioraram. (BAFD/OCDE, 2005).

A República Democrática do Congo é rica em espécies de animais além das suas

grandes reservas de diamantes, cobre e cobalto, entretanto a guerra do século XX

arruinou sua economia. Com o país mergulhado em guerra, ele passou a não ter

infra-estrutura básica, capaz de atender a sua população com água, saúde e

educação. A indústria de diamantes gera 870 milhões de dólares na economia e os

africanos não ganhavam mais de um dólar por dia. Os 256 milhões de habitantes

estão divididos entre várias etnias e cerca de 210 línguas (LOPES, 2008).

45

5 A ATUAÇÃO DA UNIÃO AFRICANA NOS CONFLITOS DA REPÚ BLICA POPULAR DO CONGO E NA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO C ONGO

A Organização da Unidade Africana criada em 1963 se mostrou atuante na

intermediação dos conflitos dos países após a descolonização, tendo como meta

estabelecer a integração do Continente e a cooperação (BADIR, 1993; SILVA,

2005). A integração do continente consiste aqui em unir os africanos que tenham

características comuns, uma consciência coletiva em oposição aos dirigentes

coloniais e brancos (HERNANDEZ, 2005). Nesse sentido, torna-se relevante pensar

acerca da construção de uma identidade construída a partir de informações e

objetos advindos da história, instituições produtivas, geografia, memória coletiva.

Tais informações e objetos são analisados pelos indivíduos, grupos e sociedades, e

posteriormente legitimados por eles. A identidade cultural que é algo construído

socialmente e que só ocorre quando o indivíduo se sente parte de um ambiente,

criando um sentimento de pertencimento. Um grupo de indivíduos reunidos então

seria nada mais do que a identidade nacional que unifica as diferenças de classe, de

raça, de gênero, tendo costumes, religiões, história e futuro comuns (LARRAIN,

2003).

No continente africano, bem como nos inúmeros países que o constituem, tais

construções têm-se mostrado ineficazes se considerarmos a diversidade existente,

cujas interações foram historicamente marcadas por ações discriminatórias étnicas.

Os idiomas podem ser vistos como elementos deste sistema de diferenças que

compõe a identidade.

Para Silva (2005) a questão da integração entre os Estados, está relacionada com o

fato de as colônias possuírem recursos econômicos muito diferenciados. As regiões

mais ricas, ou seja, as que detinham mais recursos não querem se associar aos

mais provocando os conflitos separatistas, tal como no Congo.

Tais conflitos, no entanto, não podem ser compreendidos a partir de uma única

premissa: têm origem anterior à colonização européia ocorrida no século XX. O

continente africano já era marcado por uma longa história de conflitos que remontam

46

à épocas bem anteriores à “Partilha”, e estavam em franca expansão à época da

Conferência de Berlim, que teve como objetivo organizar a ocupação do continente

pelas potências européias. Cabe ressaltar que se tratava apenas de uma

organização, já que tais potências já haviam ocupado parte do território.

A tese defendida por alguns autores que condiciona a existência dos conflitos às

fronteiras artificiais herdadas após o colonialismo por si só também não se sustenta,

uma vez que:

As fronteiras africanas foram em grande parte, herdadas, de fato, do colonialismo. Porém a implantação das fronteiras coloniais resultou quer de acordos com chefes políticos africanos que tinham uma região sob seu domínio, quer da luta colonialista contra os povos de diversas regiões que não queriam estabelecer os acordos ou que a eles se impunham. (SILVA, 2005, p.04)

A colonização européia não conseguira dissolver a cultura africana, nem pode ser

tomada como única culpada pelos conflitos no continente. As fronteiras africanas

que se tem nos dias atuais, são nada mais do que o resultado das transformações

advindas do imperialismo e também das ações tomadas pelos governos africanos

quanto à independência (SILVA, 2005).

A Organização da Unidade Africana estabeleceu que os Estados surgidos do

processo de descolonização herdassem os mesmos limites territoriais do período

colonial. Conflitos ocorridos na década de 1960 e 1970 na busca pela independência

não tiveram fim, o que ocasionou em vários países africanos a instauração de um

sistema unipartidário ou mesmo tomada de poder pelos militares, o que gerou uma

profunda crise de identidade e violência (RIBEIRO, 2007). De acordo com o autor a

constituição da Organização da União Africana provocou:

[...] a prevalência do sistema unipartidário, sob qualquer forma e intento, fez proliferar o modelo de Estado de partido único como fundamento de unidade e bem-estar social geral, frustrando as expectativas criadas ao longo da descolonização, acarretando num processo desenfreado de crises e desacertos (SYLLA, 1977). Sua adoção acarretou no patrimonialismo, nepotismo, tribalismo e corrupção generalizada, minando o otimismo da era da independência, propiciando intervenções militares cujos registros, com poucas exceções, têm sido muito piores do que aqueles dos regimes que eles substituíram. (RIBEIRO, 2007, p. 07)

47

Na República Democrática do Congo os conflitos na década de 1960 entre Tshombé

(primeiro ministro de Katanga), figura que promoveu esta região em Estado

Independente, e Kalondji (primeiro ministro de Kasai) que foi privado dos recursos

minerais, provocando uma guerra civil com a intervenção da ONU e de tropas belgas

(READER, 2002; HERNANDEZ, 2005; MUNANGA, 2007).

Esta guerra gerou dois grupos com duas vertentes diferentes: a primeira considera

a atitude de Tshombé uma forma ilegal, não representativa, e que a intervenção

belga em seu auxílio fora uma intromissão nos assuntos internos do Congo. Já a

segunda considera Tshombé como o único capaz de por fim ao conflito. Esse

conflito, entretanto, só serviu para enfraquecer as relações intra-africanas e dar

ênfase às suas diferenças. A Organização da União Africana não interferiu no

conflito (BADIR, 1993; ALMEIDA, 2007).

Na República Popular do Congo, o regime de Youlu autoritarista e autônomo a

tornou independente, mas nasceram protestos contra o governo,quando Aplphonse

Massemba-Débat implantou um único partido o MNR (Movimento Nacional da

Revolução Comunista) e onde Ngouabi deu um golpe de Estado agregando um novo

partido, o PCT (Partido Congolês de Trabalho) (ICEX, 2005).

Por outro lado, na República Democrática do Congo, observou-se a ascensão do

ditador Mobutu, entrando, no poder, este governante tentou eliminar qualquer

vestígio de democracia, ou seja, acabou com todos os partidos políticos e criou o

MPR (Movimento Popular da Revolução) obrigando todos os congoleses a serem

membros e unificando três universidades, levando ao surgimento de movimentos

contra o seu regime que estava fraco, resultado de uma crise econômica, obrigando-

o a criar uma pluralidade de partidos, todos manipulados e gerenciados por Mobutu

que se fundamentou no unipartidarismo (HERNANDEZ, 2005; MUNANGA, 2007).

Desde 1985 a União Africana recebe ajuda financeira do Banco Mundial e do FMI

(Fundo Monetário Internacional), o que obrigou os países exportarem mais e baixar

o preço das matérias primas, tendo altas taxas inflacionárias em sua economia e se

endividando externamente (SILVA, 2005). Esta organização, na tentativa de conter

os conflitos destinou verbas e donativos desde a primeira metade da década de

48

1990. O resultado desse procedimento pode ser observado ou no declínio ocorrido

no período posterior, onde se constatou um déficit de 65 milhões de dólares, lhe

sendo impossível continuar auxiliando nos conflitos(STEDMAN, 1996).

Dessa forma, ambos os Congos foram obrigados a recorrer a outros organismos

internacionais para sanar suas dívidas. A República Popular do Congo recorreu ao

FMI, e a República Democrática do Congo recorrera aos Estados Unidos, França,

Bélgica e Alemanha (ICEX, 2005; MUNANGA, 2007; STEDMAN, 1996).

Contudo, a Organização da Unidade Africana em Addis Abeba, buscou manter um

dos seus objetivos: a busca de uma África independente nos assuntos

internacionais. Os trinta chefes de Estado presentes assinaram a Carta da Unidade

Africana, comprometendo a respeitar a integridade territorial de cada um, o que não

impediu a continuidade dos conflitos após 1997, demonstrado nos mais de sessenta

golpes em 32 nações independentes da África (READER, 2002).

Como exemplo, tem-se a República Democrática do Congo, quando Kabila, um novo

ditador no poder, criou o RCD juntamente com as tropas de Uganda e Ruanda

atacando o leste do país indo em direção à Kinshasa, atual capital do país,

desencadeando diversos conflitos com inúmeros mortos (MUNANGA, 2007).

Ribeiro (2007) ressalta alguns aspectos que contribuem para a ineficiência da

Organização da Unidade Africana:

Desde sua fundação até a criação da UA, a OUA permaneceu inalterada em sua estrutura. Seus objetivos declarados não sofreram igualmente alterações substantivas, sendo reiterados através de sua existência a constante defesa da soberania, da integridade territorial, da independência dos Estados africanos e o princípio de não-interferência nos assuntos internos dos países. (REIBEIRO, 2007, p.05)

Mediante a estes aspectos Organização da Unidade Africana não consegue ser

eficiente, acrescentado ainda a crise econômica pela qual passara, dado a sua

soberania, a integridade e a independência (RIBEIRO, 2007; BADIR, 2003).

49

A identidade tem por finalidade unificar raças, classes e gêneros. (LARRAIN, 2003).

Entretanto, é difícil se falar de identidade na África, visto a sua diversidade cultural,

política e econômica, o que por si já representa a possibilidade da existência de

conflitos (WOODWARD, 2003; HALL1997).

Com o fim da era descolonizadora e com o advento do pluripartidarismo, nasce a

União Africana em 2002 substituindo Organização da União Africana de 1963, onde

os africanos sonhavam pelo bem comum na África, podendo se unir, numa luta por

isso (ALMEIDA, 2005).

No que se refere ao multipartidarismo, percebe-se que na República do Congo

desde a década de 1960, a existência de vários conflitos ocorreu por se ter somente

um partido. Neste período, Sassou Nguesso fora obrigado a ser mais democrático.,

reflexo de um regime econômico mais aberto em virtude da derrota comunista.

Contudo, Pascoal Lissouba assumiu o poder implantando o pluripartidarimo, não

impedindo que este continuasse atuando como se houvesse somente um partido,

causando vários outros conflitos (ICEX, 2005).

Na República Democrática do Congo, ocorreram fatos semelhantes que obrigaram

Joseph Kabila, filho do ditador Kabila, a colocar em prática os mesmos

procedimentos da República Popular do Congo, visto que haviam conflitos na região

e órgãos poderosos como a ONU que já o estavam supervisionando. Entretanto,

mesmo com essa implementação realizada em seu governo, os conflitos

continuaram a existir, persistindo até 2008 (MUNANGA et al.; 2007).

Segundo Vieira (2005) a União Africana recebeu apoio financeiro e logístico por

parte da ONU, da União Européia e de outros. Entretanto, a instabilidade

apresentada por alguns países envolvidos em guerra civil, impediu a ajuda da União

Africana. Na República Democrática do Congo as hostilidades continuaram

resultando em 250 mil refugiados e no impedimento da ajuda das missões

humanitárias pelos rebeldes. Os confrontos são obstáculos na entrega de alimentos,

remédios e outros elementos de ajuda essenciais para a sobrevivência dos povos

locais (LEITE; TADASHI, 2008).

50

Os conflitos no Congo então não pararam, especialmente entre Ruanda e o Congo,

mesmo com os acordos realizados em 2002 que puseram fim à guerra civil naquela

região com a saída das tropas ruandesas do Congo (BARBOSA; TEIXEIRA, 2007;

TUPINAMBÁ, 2008). Há pelo menos duzentas etnias instaladas naquela região, com

enormes riquezas, tais como: o ouro, o petróleo, o urânio, a columbita, a tantalita, o

que acirra a disputa entre ambos. Com o apoio da ONU, a União Africana, busca o

entendimento entre os dois países por meio de um novo acordo, o que será um

desafio. Como afirmou Tupinanbá (2008):

Um dos maiores desafios será convencer ao chefe das milícias rebeldes de origem tutsi a respeitar o governo congolês, já desacreditado por conta das acusações que pesam sobre ele, de colaboracionismo com a reedição da perseguição aos tutsi em solo local. Um coquetel explosivo, cujos ingredientes são formados por ódios étnicos históricos e interesses econômicos, convertendo a região num campo de batalha com pouca chance de trégua, tendo em vista o pouco interesse dos chefes locais e da fraca diplomacia internacional de alcançá-la. (TUPINAMBÁ, 2008, p.1)

Em 2003, o presidente sul africano Thabo Mbeki insistiu para os países-membros da

União Africana se dedicassem a fazer uma Força Africana de Pronto Emprego a fim

de sanar os conflitos. Assim, O Conselho de Paz garantiria que a Força Africana de

Pronto Emprego teria como função em Neethling (2005):

• prover orientação militar regional ou da União Africana para uma missão política; • realizar missões de observadores regionais ou da União Africana desdobradas em conjunto com missões da ONU; • conduzir missões independentes de observadores regionais ou da União Africana; • atuar como uma força de manutenção da paz regional ou da União Africana para missões sob a égide do capítulo VI e desdobramentos preventivos; • atuar como uma força de manutenção de paz da União Africana para as complexas missões multinacionais contra saqueadores (uma característica comum em muitos conflitos atuais); e • intervir em situações genocidas quando a comunidade internacional não agir rapidamente (NEETHLING, 2005, p.52)

Dependente da comunidade internacional e ainda com uma dívida de 40 milhões de

dólares, a União Africana somente realizará seus objetivos de sanar os conflitos com

o apoio da Força Africana de Pronto Emprego, fato que deverá se concretizar em

2010 (NEETHLING, 2005).

51

No ano de 2004, o G8 convocou a Cimieria de Sea Island, com a finalidade de

treinar e equipar 75 mil tropas africanas, para estabelecer a paz na região. Assim,

por meio do programa African Contingency Operations Training and Assistance

Program, os Estados Unidos treinaram trinta e nove mil tropas africanas em vinte

países. As tropas africanas sob o comando da ONU (Organização das Nações

Unidas) juntamente com a União Africana, acaba por dar aos Estados Unidos o

capital político nas suas relações com os Estados que ele auxilia. Com este

procedimento, a União Africana se beneficiou somente dos Estados Unidos no ano

de 2007 com aproximadamente 100 milhões de dólares, que revertido em juros dá

250,06 milhões de dólares. Assim, 80% das tropas africanas já receberam

treinamento (TAVARES, 2008).

A União Africana, com a finalidade de estabelecer maior integração vem

desenvolvendo esforços para a criação de uma moeda comum. Mas, pelo fato dos

cinqüenta e três países-membros serem produtores de matérias-primas de baixo

valor econômico levando a estagnação, essa possibilidade da moeda única é

remota. Atualmente é utilizada a moeda da Comunidade Econômica da África por

abranger quase todos os membros da União Africana e por ter o mesmo status junto

aos membros da União Africana. Seu principal objetivo é: “a criação de iniciativas de

integração nas regiões onde ainda não existem, sua harmonização com aquelas já

consolidadas, a criação de uniões aduaneiras, mercado único, moeda e banco

central” (LEITE;TADASHI, 2008, p.1).

A longo prazo então busca-se ter uma união monetária com áreas de livre comércio

e de uniões aduaneiras em cada bloco regional para mais tarde se ter uma

construção única de integração em todo o Continente. A meta é que se estabeleça

tais propostas em 2028, semelhante à União Européia. Portanto, cabe à União

Africana atuar nos aspectos políticos e econômicos dos países africanos buscando

fortalecê-los. No entanto, as guerras civis instaladas podem barrar o processo

integracionista, pois qualquer um dos governos pode não se considerar como

entidade legitimada (NADLER, 2006; LEITE; TADASHI, 2008).

52

6 CONCLUSÃO

De acordo com o levantamento teórico realizado para a efetivação deste estudo,

buscou-se responder a seguinte questão: Como vem sendo a União Africana nas

questões políticas e econômicas que envolvem dois dos seus países membros: a

República Popular do Congo e a República Democrática do Congo?

Constatou-se que a União Africana ainda busca o fortalecimento da sua identidade

junto aos países africanos, visto os esforços que realiza para continuar existindo.

As mudanças da sua denominação – Organização da Unidade Africana para União

Africana – não surtiu o efeito desejado nos países-membros diante de sua

incapacidade de solucionar conflitos e sua constante dependência de outros órgãos

como a ONU e a Comunidade Econômica Africana.

Por não reavaliar a sua estrutura, a União Africana acaba por cometer os mesmos

erros que demonstram sua dificuldade de atuação com mais coerência e firmeza,

principalmente no que se refere à República Democrática do Congo e a República

Popular do Congo. Observa-se que o princípio de não-interferência nos assuntos

internos dos países membros muitas vezes não é respeitado, pois, por meio das

suas intervenções nas negociações de acordos entre os países-membros acaba por

beneficiar um ou outro, deixando-os em permanente conflito.

Pela diversidade de identidades culturais existentes na África, a atuação da União

Africana pode ser considerada muito complexa, inclusive para construção de uma

identidade supranacional. A preservação das identidades nacionais pode ajudar a

construção de uma identidade africana. Entretanto, cabe ressaltar que esta relação

pode levar a outro extremo: desencadear uma resistência dos estados-membros e

de seus cidadãos em defesa de suas identidades nacionais. Segundo Woodward

(2000), a exacerbação dos nacionalismos pode desencadear processos de

discriminação nacionalistas. Grupos dessa ordem estão cada vez ganhando mais

espaço e procuram até mesmo em partidos políticos enraizarem sua ideologia. Da

mesma forma, os construtivistas partilham dessa mesma análise, visto que os

53

indivíduos ao aderir a um mesmo ideal entram em cooperação. Por outro lado,

quando não compartilham entram em conflito, reproduzindo o conceito do eu versus

o outro, ou seja, a diferença entre eles que gera divergências (WENDT, 1999).

Percebe-se que a União Africana se caracteriza como um organismo carente de

recursos agregado a um processo integracionista e convivendo com conflitos

internos dos países-membros em busca de soberania, reforça a situação negativa

ao provocar mais guerras, pois comete os mesmos erros, visto que as identidades

nacionais estão vinculadas à diferença provocando divergências entre os grupos.

Sendo assim, a União Africana ao propor a unidade em seu discurso sobre o Congo

ressaltou a ineficácia da sua atuação. Com o objetivo de promover a integração das

economias ao criar uma moeda africana, respeitar a soberania dos Estados-

Membros, manter a integridade territorial dos Estados-membros, tendo a

participação popular com instituições democrática e promover a cooperação

elevando o nível de vida dos africanos, dentre outros, percebe-se que a sua

interferência não obteve muito êxito, pois os conflitos que surgiram tanto na

República do Congo quanto na República Democrática do Congo, provocou o

sentimento dos povos que ao se sentirem ameaçados, reivindicaram seus direitos.

Portanto, considera-se aqui que a União Africana ainda tem um longo caminho a

percorrer no que se refere à construção da sua própria identidade como

organização, e em seguida na sua estruturação objetivando a busca do

desenvolvimento econômico, político e social da República Popular do Congo e da

República Democrática do Congo. Com isso, a União Africana não obteve êxito nas

suas interferências em ambos os Congos, pois como foi visto, ela ainda é um órgão

carente de recursos dependente de outros organismos internacionais.

Estes dois países apenas exemplificam a complexidade das relações que envolvem

o continente africano, que mesmo assim busca o seu espaço em um mundo

globalizado.

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE – UNI - BH

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS,

POLÍTICAS E GERENCIAIS

CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

UNIÃO AFRICANA: UM ESTUDO SOBRE A MEDIAÇÃO DE

CONFLITOS

BELO HORIZONTE

JUNHO DE 2009

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ESPADA, Valéria Maria Guimarães União Africana: um estudo sobre a mediação de conflitos/Valéria Maria Guimarães Espada. Orientador: profesora Alexandra Nascimento. – Belo Horizonte: 2009. Monografía (Graduação) – Centro Universitário de Belo Horizonte – UNI. 1. Relações internacionais. 2. Conflitos . I. Título. CDU: 327