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Valores no esporte; 2013

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Valoresno esporte

Brasília, 2013

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© 2013 Fundação Vale.Todos os direitos reservados.

Coordenação: Setor de Ciências Humanas e Sociais da Representação da UNESCO no BrasilRedação e organização e revisão pedagógica: Luciana Marotto HomrichRevisão técnica: Fábio Otuzi Brotto Revisão editorial: Unidade de Publicações da Representação da UNESCO no BrasilIlustração: Rodrigo Vinhas FonsecaProjeto gráfico: Crama Design EstratégicoDiagramação: Unidade de Comunicação Visual da Representação da UNESCO no Brasil

Valores no esporte. – Brasília: Fundação Vale, UNESCO, 2013.42 p. – (Cadernos de referência de esporte; 10).

ISBN: 978-85-7652-164-8

1. Educação física 2. Esporte 3. Jogos Olímpicos 4. Doping 5. Brasil 6. Material didático I. Fundação Vale II. UNESCO

Esta publicação tem a cooperação da UNESCO no âmbito do projeto 570BRZ3002, Formando Capacidades e Promovendoo Desenvolvimento Territorial Integrado, o qual tem o objetivo de contribuir para a melhoria da qualidade de vida dejovens e comunidades.

Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos neste livro, bem como pelas opiniões neleexpressas, que não são necessariamente as da UNESCO, nem comprometem a Organização. As indicações de nomes e aapresentação do material ao longo desta publicação não implicam a manifestação de qualquer opinião por parte daUNESCO a respeito da condição jurídica de qualquer país, território, cidade, região ou de suas autoridades, tampouco dadelimitação de suas fronteiras ou limites.

Esclarecimento: a UNESCO mantém, no cerne de suas prioridades, a promoção da igualdade de gênero, em todas suasatividades e ações. Devido à especificidade da língua portuguesa, adotam-se, nesta publicação, os termos no gêneromasculino, para facilitar a leitura, considerando as inúmeras menções ao longo do texto. Assim, embora alguns termossejam grafados no masculino, eles referem-se igualmente ao gênero feminino.

Fundação Vale Representação da UNESCO no BrasilAv. Graça Aranha, 26 – 16º andar – Centro SAUS Qd. 5, Bl. H, Lote 6, 20030-900 – Rio de Janeiro/RJ – Brasil Ed. CNPq/IBICT/UNESCO, 9º andarTel.: (55 21) 3814-4477 70070-912 – Brasília/DF – BrasilSite: www.fundacaovale.org Tel.: (55 61) 2106-3500 Fax: (55 61) 3322-4261 Site: www.unesco.org/brasilia

E-mail: [email protected]/unesconaredetwitter: @unescobrasil

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Valoresno esporte

Cadernos de referência de esporteVolume 10

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Sumário

Prefácio ............................................................................................................................................... 7

1. Introdução ...................................................................................................................................... 8

2. O Movimento Olímpico, o olimpismo e a educação olímpica .............................................. 112.1. O papel do esporte ...................................................................................................................................... 142.2. Possibilidades de contribuições dos valores olímpicos e de uma educação olímpica ....... 15

3. Fair play .......................................................................................................................................... 213.1. Conceitos básicos ......................................................................................................................................... 21

4. Contextualizando a dopagem .................................................................................................... 26

5. A educação olímpica e sua contribuição para os programas de esporte ........................... 32

6. Considerações finais ..................................................................................................................... 36

Bibliografia ......................................................................................................................................... 38

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Valores no esporte

PrefácioO Programa de Esportes da Fundação Vale, intitulado Brasil Vale Ouro, busca promover o esporte como umfator de inclusão social de crianças e adolescentes, incentivando a formação cidadã, o desenvolvimentohumano e a disseminação de uma cultura esportiva nas comunidades. O reconhecimento do direito e agarantia do acesso da população à prática esportiva fazem do Programa Brasil Vale Ouro uma oportunidade,muitas vezes ímpar, de vivência, de iniciação e de aprimoramento esportivo.

É com o objetivo de garantir a qualidade das atividades esportivas oferecidas que a Fundação Vale realiza aformação continuada dos profissionais envolvidos no Programa, de maneira que os educadores sintam-secada vez mais seguros para proporcionar experiências significativas ao desenvolvimento integral das criançase dos adolescentes. O objetivo deste material pedagógico consiste em orientar esses profissionais para aabordagem de temáticas consideradas essenciais à prática do esporte. Nesse sentido, esta série colaborapara a construção de padrões conceituais, operacionais e metodológicos que orientem a prática pedagógicados profissionais do Programa, onde quer que se encontrem.

Este caderno, intitulado “Valores no esporte”, integra a Série Esporte da Fundação Vale, composta por 12publicações que fundamentam a prática pedagógica do Programa, assim como registram e sistematizam aexperiência acumulada nos últimos quatro anos, no documento da “Proposta pedagógica” do Brasil Vale Ouro.

Composta de informações e temas escolhidos para respaldar o Programa Brasil Vale Ouro, a Série Esporte daFundação Vale foi elaborada no contexto do acordo de cooperação assinado entre a Fundação Vale e aOrganização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no Brasil. A série contoucom a participação e o envolvimento de mais de 50 especialistas da área do esporte, entre autores, revisorestécnicos e organizadores, o que enriqueceu o material, refletindo o conhecimento e a experiência vivenciadapor cada um e pelo conjunto das diferenças identificadas.

Portanto, tão rica quanto os conceitos apresentados neste caderno será a capacidade dos profissionais,especialistas, formadores e supervisores do Programa, que atuam nos territórios, de recriar a dimensãoproposta com base nas suas próprias realidades.

Cabe destacar que a Fundação Vale não pretende esgotar o assunto pertinente a cada um dos cadernos,mas sim permitir aos leitores e curiosos que explorem e se aprofundem nas temáticas abordadas, por meioda bibliografia apresentada, bem como por meio do processo de capacitação e de formação continuada,orientado pelas assessorias especializadas de esporte. Em complemento a esse processo, pretende-se permitira aplicação das competências, dos conteúdos e dos conhecimentos abordados no âmbito dos cadernos pormeio de supervisão especializada, oferecida mensalmente.

Ao apresentar esta coletânea, a Fundação Vale e a UNESCO esperam auxiliar e engajar os profissionais deesporte em uma proposta educativa que estimule a reflexão sobre a prática esportiva e colabore para que asvivências, independentemente da modalidade esportiva, favoreçam a qualidade de vida e o bem-estar social.

Fundação Vale Representação da UNESCO no Brasil

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Caderno de referência de esporte

1. Introdução O esporte é um dos grandes aliados da educação de crianças e adolescentes. Por meio

dele, valores éticos e morais, como a socialização, a cooperação, a solidariedade, a

disciplina, o espírito de equipe e tantos outros, fundamentais para a formação integral

de uma pessoa, podem ser trabalhados e desenvolvidos.

A busca de uma melhor compreensão do esporte como marco social para as crianças

e os adolescentes, aliada às ideias da Carta Olímpica1, aos valores e à realidade esportiva

é um princípio para o desenvolvimento de uma abordagem pedagógica acerca do

esporte contemporâneo.

Em 2005, uma declaração oficial de Kofi Annan, o secretário-geral das Nações Unidas

à época, indicou que “pessoas de todas as nações amam esporte: seus valores – fair

play (jogo “limpo” ou honesto), cooperação, busca pela excelência – são universais”.

Em documento orientado à campanha Esporte para o Desenvolvimento e a Paz (2005),

Annan afirmou que “o esporte é linguagem universal”. Na melhor das hipóteses, ele

une as pessoas, não importa qual a sua origem, situação, crença religiosa ou status

econômico. Ao participar de esportes ou ter acesso à educação física, os jovens podem

ter prazer, mesmo quando aprendem os ideais do trabalho em equipe e da tolerância.

Adolf Ogi (2005), assessor especial do secretário-geral à época, reforçou a posição

anterior de que “o esporte, com suas alegrias e conquistas, suas dores e derrotas, suas

emoções e desafios, é um meio incomparável para a promoção da educação, saúde,

desenvolvimento e paz”. Indicou, ainda, que o esporte ajuda a demonstrar, na busca

pelo aperfeiçoamento da humanidade que, nesse meio, há mais questões que unem

do que questões que dividem.

Afinal, pergunta-se: qual é o papel do esporte no desenvolvimento humano?

Para trabalhar essa questão, parte-se do pressuposto de que praticar uma atividade

física não é apenas importante, mas é necessário para um crescimento sadio e para o

desenvolvimento humano, independentemente da modalidade ou da dimensão

esportiva escolhida.

1 No site do Comitê Olímpico de Portugal, encontra-se a versão em inglês da Carta Olímpica, em vigor desde 8 dejulho de 2011. Esse é o documento de base para o Movimento Olímpico, e estabelece os princípios fundamentaisdo olimpismo, das regras e dos textos de aplicação adotados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Disponívelem: <http://www.comiteolimpicoportugal.pt/olimpismo/carta-olimpica>. Francês e inglês são as línguas oficiaisda Carta; entretanto, ela foi traduzida para o alemão, o espanhol, o russo e o árabe.

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Valores no esporte

Especialistas de diversas áreas, especialmente da educação física, têm apontado os

benefícios da atividade esportiva na infância, e também alertam para o aspecto

demasiadamente competitivo, muitas vezes imputado a essa prática.

No entanto, por acreditar que o esporte favorece o desenvolvimento humano, ele

pode ser considerado como importante elemento da cultura, com relevância nos

programas educativos, mas também como um elemento de comparação, seleção e

competitividade, que conduz, em certas circunstâncias, a excessos, submetendo as

crianças, durante a atividade esportiva, a assumir responsabilidades de adultos para

as quais elas podem não estar preparadas.

Em complemento ao caderno 3 desta série, intitulado “Crescimento, desenvolvimento

e maturação”, de acordo com Todt (2001), não existe, necessariamente, uma relação

direta entre o crescimento e a maturação biológica de uma criança com o

desenvolvimento orientado pelo calendário ou por sua idade cronológica, pois a

puberdade começa em diferentes idades, em diferentes indivíduos, mesmo naqueles

do mesmo sexo.

Assim, uma criança ou adolescente participante de um campeonato realizado nos

moldes de um campeonato adulto, estará competindo com outras da mesma idade

cronológica, mas de diferentes idades biológicas, ou seja, a idade que realmente

corresponde à fase de crescimento e aprendizagem em que se encontra.

Nota-se, assim, que o esporte pode tornar-se inadequadamente seletivo, uma vez

que beneficia as crianças com crescimento acelerado ou com maior idade biológica

em detrimento das demais. Esse fato vem, consequentemente, ao encontro das

conclusões apontadas por estudos realizados em vários países, conclusões que,

invariavelmente, são as mesmas: “só uma percentagem muito reduzida de

campeões em idade jovem chega a campeão na idade de altos rendimentos”

(MARQUES, 1997, p. 23).

Assim, faz-se necessário referendar um dos princípios fundamentais2 da Carta

Olímpica, que estabelece que um dos objetivos do Movimento Olímpico é educar a

juventude por meio do esporte praticado sem qualquer tipo de discriminação e dentro

do espírito olímpico, o que exige compreensão mútua, amizade, solidariedade e fair

play.

Nesse contexto, ao compreender o esporte como um fenômeno socialmente

construído, subentende-se que ele pode contribuir para a saúde, a educação, a

socialização e a construção da imagem corporal dos seus participantes, assim como

da imagem do país representado.

A valorização da imagem corporal trouxe ao esporte um novo conceito que o trata

com proporções espetaculares a partir da segunda metade do século XX (TURINI;

DaCOSTA, 2002, p. 17). Essa visão do esporte obteve um crescimento inesperado com

a demanda evolutiva dos meios de comunicação de massa3, que passaram a transmitir

via satélite imagens que exaltavam toda a beleza performática dos atletas e, de acordo

com o quantitativo de medalhas e títulos conquistados, a imagem positiva ou negativa

do país que esses atletas representavam.

2 Princípio 6 da Carta Olímpica mencionada anteriormente.3 Meios de comunicação de massa são os jornais e as revistas de circulação, televisão, rádio, internet, cinema etc., por

meio dos quais ocorre a disseminação de informações, reunidas em um sistema denominado mídia, que atinge aomesmo tempo uma grande quantidade de receptores.

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Para ambas as situações ou áreas anteriormente mencionadas com as quais o esporte

pode contribuir, deve existir comprometimento e dedicação dos profissionais e

participantes envolvidos, de modo que tenham clareza e consciência das relações

estabelecidas nesse meio e dos fenômenos socioculturais implícitos no decorrer do

processo da sua constituição e construção histórica.

Para tanto, parte-se da compreensão de que a competição, como meio de educação,

deve ter um sentido mais amplo do que ser apenas um evento em que equipes se

confrontam, em que uns ganham e outros perdem, em que uns são premiados e

outros não. Tem-se clareza de que o esporte, em uma visão ampla e mais abrangente,

quando orientado para o rendimento, não está no nível do esporte profissional, nem

os professores que dirigem as equipes devem ser considerados treinadores, mas, acima

de tudo, educadores.

Esse deve ser o ponto de vista do verdadeiro educador dessa área: trabalhar o esporte

em suas aulas como um complemento importante das outras atividades que fazem

parte do dia a dia dos participantes, pensando em seu futuro como seres humanos e

não como corpos ou máquinas capazes de reproduzir perfeitamente os movimentos

específicos de determinada modalidade esportiva.

Mesmo quando se trabalha com o esporte de rendimento dentro das aulas de

esportes, o professor deve ter a oportunidade de salientar aspectos como a lealdade

e o respeito por si mesmo e pelo outro, independentemente de se estar lidando com

um adversário naquela ocasião.

Para melhor entender e contextualizar essas questões faz-se necessário referendar o

debate do movimento esportivo que está relacionado aos princípios ditados por Pierre

de Coubertin e pelos pedagogos do século XIX, sem se preocupar em refazer um

discurso adaptado à função social e à evolução de algumas práticas que apresentam

características diferentes e até antagônicas às postuladas inicialmente. A abordagem

a seguir foi elaborada nesse sentido.

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Caderno de referência de esporte

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Valores no esporte

Durante todo o século XX, a sociedade ocidental e o esporte passaram por inúmeras

transformações. Foi na sociedade aristocrática europeia que surgiu o termo fair play,

difundido posteriormente pelo barão Pierre de Coubertin, idealizador dos Jogos

Olímpicos da Era Moderna. O fair play defendido por Coubertin representa a honra e

a lealdade, o respeito pelos outros e por si próprio, e reflete o pensamento a respeito

das práticas esportivas da aristocracia inglesa dos séculos XVIII e XIX4, estando,

portanto, repleto dos ideais e princípios do comportamento cavalheiro (do inglês

gentleman) característicos daquela sociedade.

Apesar de grande resistência encontrada na

França, em 1892, durante a sessão da Associação

Francesa de Esportes Atléticos na Universidade

de Sorbonne, o barão de Coubertin disseminou,

por meio de uma palestra, a ideia da restauração

dos Jogos Olímpicos.

O olimpismo moderno foi concebido por Pierre de Coubertin em 1894, no âmbito do

Congresso Atlético Internacional de Paris. A partir disso, Pierre de Frédy, barão de

Coubertin (1863-1937), passou a ser reconhecido como pai dos Jogos Olímpicos da Era

Moderna, por ter restituído, 16 séculos depois da sua extinção, o que hoje é conhecido

como a maior festa do mundo esportivo. Amante dos esportes e admirador dos

métodos de pedagogia adotados por Thomas Arnold, na Inglaterra, Coubertin lançou

a ideia de reviver a antiga tradição grega, por meio da qual esperava unir os povos.

Ainda em 1894, após a realização do Congresso, apoiado pelo norte-americano William

Sloane, pelo inglês Charles Herbert e contando com a presença de representantes de

15 países, criou-se o Comitê Olímpico Internacional (COI), que mais tarde, em 1915, foi

definitivamente estabelecido em Lausanne, Suíça, possuindo todos os direitos sobre

o símbolo, a bandeira, o lema, o hino e os Jogos Olímpicos até hoje.

Dois anos mais tarde, com a participação de 14 países, 88 atletas estrangeiros e 123

atletas gregos, realizava-se em Atenas, na Grécia, a primeira disputa dos Jogos

Olímpicos (Olimpíadas) da Era Moderna. Em 1914, a bandeira olímpica apresentada

por Coubertin no Congresso de Paris foi adaptada. Os cinco anéis entrelaçados,

presentes na bandeira, representam a união dos cinco continentes e o encontro de

atletas e ideais de todo o mundo nos Jogos Olímpicos.

O chamado Movimento Olímpico é constituídopela ação concertada, organizada, universal epermanente, exercida pela autoridade supremado COI, e por todos os indivíduos e entidadesinspiradas pelos valores do olimpismo. Essemovimento estende-se aos cinco continentes e

2. O Movimento Olímpico, o olimpismo e a educação olímpica

4 Como estudioso da pedagogia educativa, orientado pelo mestre Thomas Arnold, na Escola de Rugby na Inglaterra,o barão de Coubertin trabalhou em prol de dois grandes objetivos: implantar, na França, a língua inglesa e a práticaprivada de esportes sem finalidade de competição, como era praticado na Inglaterra.

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atinge o seu ponto culminante na reunião de atletas de todo o mundo durante osJogos Olímpicos, o que justifica o seu símbolo oficial constituído pelos cinco anéisinterlaçados.

Desde o seu renascimento, com interrupções apenas durante as duas GuerrasMundiais, os Jogos Olímpicos têm sido realizados de quatro em quatro anos, com aparticipação crescente de atletas e representantes mundiais do esporte. Em 1896, emAtenas, os registros indicam a presença de representantes de 13 países, com um totalde 285 atletas. Em 1972, em Munique, os números foram de 121 países e 8.500 atletas.Na última edição dos Jogos Olímpicos, em agosto de 2012, em Londres, Inglaterra, 40anos depois, um total de 23 países foi representado por 11.028 atletas, sendo que 257atletas entre esses eram da delegação brasileira.

Se, por um lado, esse crescimento representou a vitória do ideal olímpico moderno,por outro lado, provocou, no mundo dos esportes, uma série de problemas que osestudiosos atribuem ao próprio gigantismo dos Jogos. Com o tempo, tornou-se cadavez mais difícil organizá-los, pelo altíssimo investimento financeiro que representame pelo prestígio político que passaram a conferir aos países com mais vitórias emedalhas conquistadas. Associado a isso, há a presença da dopagem (doping) e deoutros meios ilícitos nas competições esportivas.

O objetivo do olimpismo consiste em colocar o esporte a serviço do desenvolvimentoharmonioso do ser humano, tendo em vista a promoção de uma sociedade pacíficae que preserve a dignidade humana. Na opinião de Tubino (2007), o MovimentoOlímpico (ou olimpismo) é a manifestação suprema do esporte internacional; envolvetoda a ética esportiva e é a principal referência esportiva que objetiva a paz mundial.

No contexto dos registros efetivos, o olimpismo tem como documento fundamentala Carta Olímpica. Esse documento regula todos os procedimentos das entidadesolímpicas, inclusive do COI e dos Comitês Olímpicos Nacionais. As principaismanifestações do olimpismo são, obviamente, as Olimpíadas (também chamadas deJogos Olímpicos de Verão) e os Jogos Olímpicos de Inverno. No entanto, a sua principalmissão, desde Coubertin, consiste em fomentar e expandir a ética esportiva conhecidacomo espírito olímpico, que é representado por uma diversidade de símbolos,emblemas e rituais: os anéis olímpicos, o lema citius, altius, fortius (“mais rápido, maisalto, mais forte”), os mascotes, a bandeira olímpica, os juramentos etc. Esse conteúdoético, acompanhado da amplitude político-cultural do olimpismo, fazem doMovimento um dos mais importantes da contemporaneidade.

A Carta Olímpica resume os princípios fundamentais do olimpismo e define aorganização e o funcionamento do Movimento Olímpico. Com base nela, cabedestacar, a seguir, os princípios do olimpismo:

a) O olimpismo é uma filosofia de vida que exalta e combina, de forma equilibrada, umconjunto de qualidades do corpo, da vontade e do espírito. Aliando o esporte à culturae à educação, o olimpismo visa a criar um estilo de vida fundado no prazer do esforço,no valor educativo do bom exemplo e no respeito pelos princípios éticos universais.

b) O propósito do olimpismo é de colocar o esporte a serviço do desenvolvimentoharmonioso do ser humano, com vistas a promover uma sociedade pacífica eempenhada na preservação da dignidade humana.

c) O Movimento Olímpico consiste na ação concertada, organizada, universal epermanente de todos os indivíduos e entidades que são inspirados pelos valoresdo olimpismo, sob a autoridade suprema do COI.

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Valores no esporte

d) A prática do esporte é um direito do homem. Todo e qualquer indivíduo deve tera possibilidade de praticar esporte, sem qualquer forma de discriminação e deacordo com o espírito olímpico, o qual requer o entendimento mútuo, o espíritode amizade, de solidariedade e de fair play. A estrutura, a administração e a gestãodo esporte devem ser controladas por organizações esportivas independentes.

e) Toda a forma de discriminação relativa a países ou pessoas, com base em raça,religião, política, sexo ou outro, é incompatível com a pertença ao MovimentoOlímpico.

f ) Pertencer ao Movimento Olímpico exige o respeito à Carta Olímpica e o reconhe-cimento pelo COI.

Segundo informações divulgadas no portal do Comitê Olímpico Brasileiro5 (COB),

recentemente reformulado, de acordo com a Carta Olímpica, o Comitê Olímpico

Internacional (COI), as Federações Internacionais dos Esportes (FIs) e os Comitês

Olímpicos Nacionais (CONs) devem trabalhar juntos para promover esse movimento

olímpico. Unidas, essas entidades devem contribuir para a construção de um mundo

melhor pautado em uma consciência democrática, humanitária, cultural e ecológica

por meio da prática esportiva.

Conforme informações disponibilizadas em seu site oficial6 e na cartilha “Mundo

olímpico”7, o olimpismo é uma filosofia de vida que utiliza o esporte como instrumento

para a promoção da paz, da união, do respeito por regras, adversários e diferenças

culturais, étnicas e religiosas. Sua base é formada pela combinação entre esporte,

cultura e meio ambiente, e seu objetivo consiste em contribuir para a construção de

um mundo melhor, sem qualquer tipo de discriminação, encarando o esporte como

um direito de todos. Tem como ideal a participação em massa, a educação, a

integração cultural e a busca pela excelência por meio do esporte. Seus valores têm

por base a excelência, a amizade e o respeito, considerando-se ainda a compreensão

mútua, a igualdade, a solidariedade e o fair play (jogo limpo) como princípios

fundamentais do olimpismo. Esses são pressupostos que devem ser aplicados para

além do esporte, no dia a dia e na vida de cada um de seus participantes.

Nessa perspectiva, para o COB, o barão Pierre de Coubertin teria recriado os Jogos

Olímpicos da Antiguidade com o intuito de propagar esses valores. Além do caráter

ideológico da iniciativa do Movimento Olímpico, ele acreditava que a realização da

competição era necessária para incentivar a integração entre as nações e seus povos

– uma tendência crescente no fim do século XIX.

De acordo com Barbosa e outros, o barão Pierre de Coubertin procurou difundir o

Movimento Olímpico dentro de uma filosofia de reforma social, baseada no valor

educacional do esporte (ideal olímpico) (BARBOSA et al. apud REPPOLD FILHO, 2009).

Nessa direção, o COI criou estratégias que, entre outras metas, visam a promover os

valores olímpicos.

Entre essas estratégias, encontram-se programas educacionais de valores olímpicos

que, segundo documento do COI (2008), foram construídos em uma base sólida, na

qual se sustentam as seguintes ideias: a criação de bancos de dados interativos e a

promoção de valores olímpicos de excelência, amizade e respeito.

5 Disponível em: <http://www.cob.org.br/movimento-olimpico>.6 Disponível em: <http://www.cob.org.br/buscar?q=olimpismo>.7 Disponível em: <http://www.cob.org.br/uploads/midias/2012/08/24/downloads/Wnt7r8zHvYLg4F3RjN8255fb77.pdf>.

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Entretanto, cabe destacar que o movimento esportivo8, em termos mundiais, encontra-

-se em profunda crise de mudança. Problemas relativos à corrupção, a dopagem, à

exploração do trabalho infantil, à chamada economia subterrânea, à mercantilização

e à violência, entre outros, comprometem e denigrem a imagem do esporte moderno.

Com isso, é necessário pensar sobre o papel do esporte no contexto da vida humana,

sob pena de ele se transformar definitivamente em uma simples forma de alienação

das massas, em sociedades que caminham tendencialmente para a perda de

princípios e de valores.

2.1. O papel do esporte

Em 2008, Noleto destacou o papel do esporte no processo de formação e de

desenvolvimento humano, destacando a seguinte ideia: “Quando você dá uma bola

a um menino, incute nele um sentido e uma direção”.

Para Noleto (2008), essa simples frase, dita por um professor de educação física, resume

os efeitos positivos que as atividades esportivas exercem na formação das crianças e

dos jovens. Além de integrá-los – bem como as suas comunidades –, a oferta de

atividades esportivas, artísticas e culturais ajuda na socialização e na reconstrução da

cidadania. A atividade esportiva contribui para o desenvolvimento de competências

cognitivas, afetivas, éticas, estéticas, de relação interpessoal e de inserção social. A

distribuição de papéis, o convívio com as regras, a relação estabelecida entre a vitória

e o fracasso e, por fim, a rivalidade e a cooperação, cultivam valores e comportamentos

condizentes com as próprias bases democráticas sobre as quais se fundamentam a

sociedade contemporânea.

Nesse sentido, sem perder de vista suas dimensões tradicionais, o esporte é também

reconhecido, atualmente, como essencial para a cidadania, o respeito aos direitos

humanos, a inclusão social e o combate à violência, sendo um fator que pode

contribuir decisivamente para a formação de uma cultura de paz e de não violência,

na perspectiva do objetivo mais geral das Nações Unidas e para o desenvolvimento,

tendo como paradigma a sustentabilidade.

Essa trajetória de mudanças em relação ao esporte vem sendo percorrida de forma

gradativa, mas constante. De acordo com Tubino e Maynard da Silva, “o esporte, como

um dos fenômenos mais marcantes da transição do século XX para o século XXI, teve,

na Carta Internacional de Educação Física e Esporte (UNESCO, 1978), o seu marco de

mudança de paradigma” (TUBINO; MAYNARD, 2006). Até então restrito ao conceito do

esporte de rendimento, o esporte passou a ser compreendido como um direito de

todos, expandindo-se para abranger o esporte na escola, o esporte-lazer e o de

desempenho, sendo incluído no sistema educacional e na vida social.

Para Noleto (2008), essa nova perspectiva proporciona ao esporte um caráter muito

mais abrangente, fortemente associado ao desenvolvimento sustentável, com ênfase

na inclusão social. A Organização das Nações Unidas defende que o esporte pode

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Caderno de referência de esporte

8 “Os movimentos esportivos continentais/regionais são aqueles movimentos que compreendem as diversasmanifestações concentradas em continentes ou regiões na área do esporte. Os principais eventos dessesmovimentos são os Jogos, como os Jogos Pan-Americanos, os Jogos Centro-Americanos e do Caribe etc., além decongressos científicos e outros eventos localizados regionalmente (Jogos Mediterrâneos, por exemplo). Nessecontexto, o aumento ininterrupto do movimento esportivo mundial se deve ao surgimento de novas modalidadesesportivas principalmente nas correntes esportes aventura/na natureza/radicais e esportes derivados de outrosesportes. No Brasil, para que o campo social do esporte tenha uma evolução compatível com a aceleração domovimento esportivo internacional, será necessário considerar o quadro mundial em grande aceleração. Não hádúvida de que existe um progresso visível no esporte brasileiro, mas esta [sic] melhoria ainda está distante daspossibilidades brasileiras de progresso no setor” (TUBINO, 2010).

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Valores no esporte

desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento de pessoas e de países,

não apenas na complementação de políticas públicas de educação e de saúde, mas

também na promoção do desenvolvimento pessoal e humano e na propagação de

uma cultura de paz.9

Essa percepção levou as Nações Unidas a adotarem, em 2003, uma resolução intitulada

“O esporte como um meio para promover a educação, a saúde, o desenvolvimento e

a paz” (Sport as a Means to Promote Education, Health, Development and Peace), que se

tornou o documento-base para a definição do ano de 2005 como o Ano Internacional

do Esporte e da Educação Física.

A prática de esportes constitui um direito universal, positivado em diversos

instrumentos internacionais. Devido ao seu potencial para o desenvolvimento

individual e coletivo, da mesma forma, é componente essencial para uma educação

de qualidade. Por outro lado, sua inobservância erige barreiras ao fortalecimento do

tecido social. Ciente disso, a UNESCO foi designada como agência-líder para a

promoção da educação física e do esporte. No Brasil, a Organização tem se debruçado

sobre o tema com especial afinco, inserindo-se em uma estratégia integrada voltada

para a promoção do desenvolvimento humano e social (NOLETO, 2008, p. 34).

2.2. Possibilidades de contribuições dos valores olímpicos e de uma educação olímpica

Entende-se que o olimpismo deve ser capaz de permitir que as gerações passadas

estabeleçam um diálogo com as gerações atuais e futuras. O desenvolvimento

sustentável dos territórios propõe um diálogo racional entre aqueles que transmitiram

um legado esportivo, aqueles que momentaneamente o detêm e aqueles que, no

futuro, irão recebê-lo. Se houver uma quebra em um dos elos desse diálogo,

comprometer-se-á o desenvolvimento humano pretendido.

Nesse domínio, o princípio olímpico aqui defendido diz que “mais importante do que

vencer é participar”, o que subverte completamente os ditames do esporte de alto

rendimento, da quantificação de resultados, do recorde, do espetáculo, do

profissionalismo precoce e de dirigentes que veem o olimpismo e os Jogos Olímpicos

somente como instrumentos de promoção pessoal, e em que os atletas, principais

atores envolvidos, são o que menos interessam.

Para reforçar esse ideal, a educação olímpica, idealizada e consolidada na

atualidade, caracteriza-se por um conjunto de atividades pedagógicas e de caráter

multidisciplinar e transversal, tendo como eixo integrador os valores olímpicos

(REPPOLD FILHO et al., 2009).

Segundo Bechara, na obra de Reppold Filho e outros,

Educação olímpica é o processo de educar para a vida, utilizando a prática esportiva como

agente de promoção de saúde, socialização e cidadania, transmitindo sólidos valores

morais de cooperação e solidariedade, ao mesmo tempo em que oportuniza o

crescimento e o desenvolvimento do esporte, e consequentemente, de atletas (REPPOLD

FILHO et al., 2009, p. 130).

Considerando-se ainda esses autores, a lógica do processo de educação olímpica

admite que uma base esportiva maior e mais consistente possibilitará que mais

praticantes do esporte cheguem ao topo, ou seja, alcancem os índices e resultados

9 Essa ideia foi desenvolvida no documento intitulado “Esporte para o desenvolvimento e a paz: em direção à realizaçãodas Metas de Desenvolvimento do Milênio” (ONU, 2003).

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Caderno de referência de esporte

para representar seus países nos grandes eventos esportivos, como é o caso das

Olimpíadas. Essa lógica vem sendo trabalhada pela Fundação Vale, na perspectiva do

Programa Brasil Vale Ouro, uma vez que:

a) entende o esporte a partir de suas três dimensões – educacional, de participaçãoe de rendimento;

b) entende que o ingresso dos participantes no Programa deve ocorrer por meio doesporte educacional (esporte-formação), estruturado como educação permanenteem iniciação aos esportes (modalidades desenvolvidas no âmbito do Programa),criando oportunidades para o aprendizado da cultura de práticas esportivas que,associada à esfera ou dimensão do esporte de participação, torna possível oprocesso de seleção dos praticantes para o esporte de rendimento;

c) entende que o esporte é um fenômeno social que necessita de integração eequilíbrio entre suas três dimensões ou manifestações mencionadas anteriormente;

d) o aprendizado do esporte integra e socializa os participantes, criando oportunidadespara a prática de valores morais de cooperação e solidariedade.

Nesse sentido, o olimpismo deve ser direcionado aodesenvolvimento humano, respeitando ospressupostos defendidos no novo conceito dedesenvolvimento humano da Fundação Vale(2013b), com referência ao pensamento de AmartyaSen (2008) segundo o qual “o desenvolvimento é,na verdade, um tremendo compromisso com aspossibilidades da liberdade”.

A liberdade dos indivíduos, que lhes confere a possibilidade de realizar as suas escolhaspessoais, organizar as suas vidas de forma independente, opinar sobre a organizaçãopolítica em que vivem, escolher quem os governa entre várias outras hipóteses, falare associar-se sob seu arbítrio, lançar iniciativas econômicas autônomas; todos essesaspectos, em conjunto, são constitutivos da dignidade humana como valor intrínsecoe indiscutível.

A dignidade humana implica, por isso, que cada ser humano seja o detentor dascapacidades e dos poderes de definir a sua própria vida naquilo que ela tem deessencial. Assim, a afirmação do potencial de cada indivíduo depende dessa esfera deação própria e autônoma, sem intromissões e limitações, para que lhe permita ser útila si mesmo e à comunidade em que vive.

Como diz Sen, “uma maior liberdade reforça a capacidade das pessoas para ajudarema si mesmas e também para influenciarem o mundo, sendo tais capacidades, fulcraispara o processo de desenvolvimento” (SEN, 2008).

Com isso, entende-se que a ampliação das oportunidades de escolha dos indivíduosna sua trajetória de vida, bem como das suas comunidades, é condição primordial paraa interação do ser humano com o mundo e assim, permite sua participação conscientenas construções coletivas que realmente contribuem para o desenvolvimento humanoe social. Nesse sentido, de acordo com Fundação Vale,

O principal objetivo da utilizaçao de uma nova perspectiva de desenvolvimento

humano para se pensar os objetivos dos programas e açoes da Fundaçao Vale esta em

entendê-los como uma estrate gia estruturada intertemporalmente para a promoça oda autonomia e do bem comum das pessoas, por meio de intervençoes territoriais de

natureza local (FUNDAÇÃO VALE, 2013b).

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Valores no esporte

Esse processo de desenvolvimento vem ao encontro do entendimento que asNações Unidas têm de desenvolvimento humano, pois supõe muito mais do que omero crescimento econômico, normalmente expresso pelo Produto Interno Bruto(PIB) per capita.

A perspectiva ampla e plural que subjaz ao quadro conceitual do processo dedesenvolvimento humano alia a expansão dos mercados ao desenvolvimento dasoportunidades sociais, e realça as liberdades, tais como os direitos democráticos, asgarantias de segurança, as ocasiões de cooperação e outras, como elementosindissociáveis desse mesmo processo.

Por isso, como reafirma Amartya Sen:

Os direitos políticos, incluindo a liberdade de expressão e debate, são não só fulcrais10

para induzir respostas sociais às necessidades econômicas, mas também essenciais para

a conceitualização das próprias necessidades econômicas (SEN, 2008).

Dito de outra forma, a democracia política, com as suas diversas expressões imanentes,é inextricável11 da resolução dos problemas e das necessidades econômicas dequalquer sociedade moderna.

E o olimpismo, ao estabelecer como seus valores constitutivos a dignidade humana,a construção de sociedades de paz, e o desenvolvimento harmonioso do ser humano,com o respeito por princípios éticos universais, não pode deixar de acompanhar osmovimentos e os apelos internacionais que exprimam a conformidade com aobservância desses valores, rejeitando as formas de opressão exercidas sobreindivíduos e povos.

Nesse contexto, o olimpismo encontra-se do lado da liberdade e contra a tirania, do ladoda dignidade do ser humano e contra a opressão. Subentende-se que o MovimentoOlímpico e, consequentemente, o COI como autoridade olímpica, encontram-se do ladoda liberdade, em respeito a esse princípio ético universal fundamental.

No entanto, faz algum tempo que se acompanha que o pensamento da vitória aqualquer preço, culminando com a utilização de meios ilícitos (tais como a dopagem,a manipulação genética e os processos de naturalização, entre outros), temdesconsiderado os princípios do jogo limpo. Reconhece-se aqui um possível produtoestabelecido pela influência do marketing e da mídia, que pressionam as entidadesde representação do esporte e os atletas pela obtenção de melhores resultados.

A orientação adequada durante todo o processo de preparação e, consequentemente,no dia da competição, é extremamente importante para o melhor desempenho dosparticipantes durante a atividade esportiva, durante o processo de desenvolvimentohumano e durante a vida social como um todo. Vale ressaltar que o ideal é que todoaluno possa ter acesso às atividades esportivas de forma educacional, com base emprincípios como participação, cooperação, interação etc., e que não pense em ser umesportista ou atleta bom e correto apenas no dia da competição ou do jogo: ele deveter essa prática em seu dia a dia.

O espírito esportivo abrange o respeito às regras, aos adversários, aos colegas, aostreinadores e ao público. Envolve treinamento exaustivo e dedicação constante, muitasvezes sem se esperar nada em troca.

10 No sentido de fundamentais e centrais.11 No sentido de que não se pode desenredar ou desemaranhar.

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Caderno de referência de esporte

Para isso, parte-se do entendimento de que, quando pautada por valores e pela ética, acompetição inspira o esportista à superação e à cooperação. As pessoas tendem acompartilhar suas estratégias e a perceber que podem ganhar juntos, independentementeda possibilidade de serem vencedoras ou perdedoras em determinada disputa. Assim, paraganhar, não necessariamente o outro precisa perder. Essa afirmação encontra respaldo nadefinição de competição segundo a qual ela é

um encontro social entre dois ou mais indivíduos no qual existe um embate consciente

por um objetivo comum que tende a estabelecer a supremacia de um dos lados

(SPARKES apud FERREIRA, 2000, p. 97).

Outra definição de competição utilizada no âmbito do esporte está na

comparação do desempenho de uma pessoa com algum padrão já existente, com outra

pessoa ou com um grupo de pessoas na presença de pelo menos um indivíduo que

conheça os critérios para essa comparação e possa avaliar o processo. Esse padrão pode

ser um resultado pessoal, um recorde ou uma obtenção de vitória sobre um adversário

ou uma equipe (DE ROSE JR., 2002, p. 69).

Na primeira definição, percebe-se a presença de um parâmetro que permite a comparação

dos resultados obtidos para se alcançar um objetivo comum, enquanto que a segunda

destaca de forma mais evidente que o objetivo da competição é a busca da vitória.

Stigger (2002) também nos auxilia a

entender que a quantificação e a busca do

recorde expressam claramente as principais

características incorporadas pela sociedade

moderna ao esporte. A primeira exprime a

necessidade de medir os feitos esportivos

por meio de determinada pontuação, como

a diferença de gols no futebol, ou de pontos no voleibol, além de medidas de tempo

e distância em outros esportes como o atletismo, por exemplo. A segunda soma a

tendência de quantificar à vontade de alcançar a vitória, de modo a enfatizar a

comparação e progressão do rendimento. Vale a pena destacar que, por meio da busca

do recorde, há competição mesmo que não exista encontro direto entre os

participantes em determinado lugar ou tempo, fato comum na natação, no atletismo,

entre outras modalidades (STIGGER, 2002).

Destaca-se que, associada à primeira definição de competição apresentada (SPARKES

apud FERREIRA, 2000), a valorização extrema da vitória sobre os oponentes dá lugar

ao prazer em participar da atividade, sem se abster da lógica da modalidade em

questão, que geralmente se configura na busca da superioridade no placar. Dessa

forma, existe o desejo pela vitória e a sua constante busca, mas esta participação efetiva

é regulada pelo respeito aos companheiros de time, bem como aos parceiros do time

adversário, pois sem eles é impossível vencer.

No entanto, essa questão que, muitas vezes, passa despercebida, sobre os reflexos que

essa ênfase exacerbada na competição acarreta na construção de signos ou

significados internos aos alunos, reforçando a indicação de que o “espírito” do esporte

foi deturpado em seu percurso histórico, resultando na busca quase que irracional12

por resultados a qualquer custo ou preço.

12 O sentido de irracional no texto refere-se a uma busca “a qualquer preço”, mesmo que os padrões da racionalidadehumana devam ser extrapolados. Um exemplo disso é o fato de um esportista chegar a vomitar por exigir esforçodemasiado de seu organismo para finalizar uma prova a qualquer custo.

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Para desmistificar o caráter maligno da competição para o meio educacional, éimportante considerar a afirmação de Ferraz a respeito disso. Para ele,

[...] a competição em si não é boa ou má, ela é o que fazemos dela. Além disso,

especificamente em relação à competição esportiva, pode-se encontrar efeitos negativos

em quaisquer idades, dependendo das condições em que é realizada e de seu contexto

(FERRAZ apud DE ROSE JR., 2002, p. 37).

O esporte é um dos fenômenos sociais de maior alcance, e pode-se caracterizá-locomo globalizante. Tem aceitabilidade em todas as culturas e etnias, além de serpolítico, como um fim e como um meio. Existem leis e normas que regulam a práticado esporte para a população em geral, mas, na maioria das vezes, não são colocadasem prática. Há um abismo entre o que está escrito e o que existe na realidade.

Assim, nem tudo o que o esporte ensina é positivo e correto. “Cavar” um pênalti para ganharo campeonato, fazer uso de ciclos de anabolizantes para ficar maior, mais forte e maisrápido, valer-se da federação para beneficiar o próprio clube, são algumas estratégiasutilizadas por aqueles que veem o esporte como negócio e não se importam com o papelpedagógico que ele pode oferecer e exercer sobre os indivíduos e sobre uma sociedade.

Por isso, pergunta-se: o que se pretende ensinar quando é mostrado para aqueles queencontram ídolos e modelos no esporte e, ao mesmo tempo, presenciam atitudesdesonestas na prática?

É inegável que os feitos sobre-humanos de grandes atletas e equipes inspiram as pessoas.No entanto, e quando se depara com comportamentos esportivos contraditórios àcondição humana? Ou quando atitudes são deixadas de lado em função de uma paixãoclubística? Ou ainda, quando seleções nacionais fazem “corpo mole” para cruzar com umadversário teoricamente menos expressivo no decorrer de um campeonato?

Diante desses fatos, que tipo de valor pode ser agregado para as crianças, adolescentes,jovens e demais espectadores do esporte?

Acredita-se que o esporte tem muito a ensinar e que seja capaz de fazê-lo, desde queutilizado como ferramenta digna e lícita, seja no meio escolar ou fora dele. Na práticade uma modalidade esportiva, é possível aprender virtudes, valores e verdades,conhecendo, fazendo, refletindo e sentindo. É possível aprender habilidades sociaisque podem ser generalizadas para a vida, como tolerância à frustração, empatia emrelação ao próximo, busca por objetivos comuns e individuais, disciplina, respeito àdiversidade e às diferenças, superação, cooperação, autoconhecimento etc.

A competição, por sua vez, é o combustível de qualquer modalidade esportiva e podeser realizada de maneira leal, honesta e saudável. Ela não precisa ser predatória,desumana ou imoral, como se verifica em muitos aspectos da vida em sociedade. Acompetição deve exacerbar a meritocracia, deve ser prazerosa e compreendida comoalgo natural no cotidiano das pessoas.

Baseado nisso, pode-se dizer que a forma como o professor insere esse valor nasatividades esportivas, bem como a postura assumida frente ao fenômeno competitivo,tem grande importância no momento das aulas. Esse posicionamento frente àcompetição fica evidente no momento de apontar acertos e erros, ou de corrigi-los,bem como na forma de cobrar melhor empenho e desempenho dos participantesdo Programa Brasil Vale Ouro.

A Fundação Vale (2013a) entende que a pedagogia da cooperação13 pode ser umaalternativa para evitar esses problemas em relação à competição exacerbada, além dapossibilidade de estimular a convivência harmoniosa por meio da cooperação.

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Valores no esporte

13 Sobre o assunto, ver o caderno de referência 12 desta mesma série, intitulado "Pedagogia da cooperação", deautoria de Fábio Otuzi Brotto e Denise Jayme de Arimatéa.

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De acordo com Brotto (2001), uma das principais características dos jogos cooperativosé a necessidade de superar desafios de modo conjunto, ou seja, a ação de um jogadorestá condicionada ao êxito de outros jogadores nas suas respectivas ações. Por isso,joga-se de forma cooperativa por um mesmo objetivo final. Nas atividades, joga-sepelo prazer em participar e colaborar com a equipe e não para vencer o oponente.Assim, ao invés de alunos excluídos da prática, o que ocorre é a promoção daparticipação efetiva de todos envolvidos nela. Dessa forma, os jogos cooperativosprocuram desenvolver nos participantes a confiança para encarar as situaçõesadversas, por meio da diminuição da pressão da competição, ao mudar o foco dofracasso ou do sucesso individual para as conquistas do coletivo.

Walker (1987), citado por Brotto (2001), ao apontar diferenças marcantes dos jogoscooperativos com relação aos jogos competitivos, afirma que os primeiros têm adimensão coletiva do divertimento e do alcance da vitória, enquanto que nossegundos apenas alguns se divertem e alcançam a vitória, enquanto que outrossofrem com o mau desempenho e saem como perdedores.

Afirma, ainda, que, nos jogos cooperativos, há participação de todos,independentemente do nível de habilidade; não há divisão do grupo por gênero, oque sugere aceitação das diferenças individuais. Há também o estímulo para que oindivíduo aprenda a compartilhar, confiar e a solidarizar-se com os outros, de modoa desejar o êxito do próximo.

As contradições encontradas nos jogos competitivos com relação a esses quesitosconsistem na exclusão de indivíduos menos hábeis e na divisão entre meninos emeninas, reforçando o preconceito. Há estímulo do individualismo, do egoísmo e dadesconfiança, além do desejo do fracasso do adversário (BROTTO, 2001).

Para Favaretto, Vaz e Pretto (2004), esse processo tem origem na maneira como sãorepassados os valores sobre derrota, vitória e competição, entre outros, que definirãoquais signos ou significados os alunos – e a sociedade – assimilam como próprios.

No sentido de aprofundar esse debate, o fair play e a dopagem são temas de granderelevância e abrangência no processo de reflexão e de construção dos valores do eno esporte14. Apresentam-se relacionados ao contexto mais amplo de entendimentoda prática esportiva e das escolhas do ser humano, para superar seus limites individuaise garantir seu reconhecimento social diante das exigências olímpicas15 nacionais einternacionais.

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Caderno de referência de esporte

14 Essa distinção é apresentada pela professora Marta Gomes da Universidade Gama Filho (RJ) (DaCOSTA et al., 2007, p. 15).15 Nesse tipo de competição, os códigos ou sentidos vigentes são pautados nas competições oficiais, de modo a

supervalorizar a vitória e a desconsiderar os participantes que não vencem, o que culmina com a exclusão dos quenão apresentam bons resultados. Os objetivos desse tipo de evento são destoantes dos objetivos e da função daescola (REVERDITO et al., 2008).

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Valores no esporte

Ao retomar alguns itens elencados nos tópicos anteriores, pode-se perceber como o

conceito de fair play está relacionado à prática pedagógica do esporte, quando é

pensada a partir do jogo e dos ideais de uma educação olímpica contemporânea.

O Manifesto do Fair Play (CÂMARA MUNICIPAL DE OEIRAS, 2000), um dos principais

documentos esportivos do século XX, estimula a promoção do fair play em todos os

âmbitos em que o esporte se manifesta: esporte de alto rendimento, esporte de

participação, esporte de inclusão social e esporte na escola. O fair play tem sido

considerado um dos principais valores do esporte moderno, ao orientar a conduta

dos participantes para o respeito às regras, aos árbitros, aos adversários, e aos princípios

da igualdade e da não violência.16

3.1. Conceitos básicos

O Movimento pelo Fair Play compreende todas as manifestações, ações e entidades

que defendem e protegem o exercício do fair play nas práticas esportivas; as principais

são relacionadas a seguir:

a) a ação do Comitê Olímpico Internacional (COI) e da Academia Olímpica Internacional

(AOI);

b) a ação do Comité International pour le Fair Play17 (CIFP);

c) a ação das Federações Esportivas Internacionais;

d) as ações e manifestações europeias pelo fair play;

e) a ação efetiva do Panathlon Internacional;

f ) a ação da Foundation of Olympic and Sport Education18 (FOSE);

g) a ação da Câmara Municipal de Oeiras19 (Portugal);

h) ações e campanhas organizadas por organismos internacionais vinculados à

Organização das Nações Unidas (ONU).

De acordo com o Manifesto do Fair Play (COMITÉ INTERNATIONAL POUR LE FAIR

PLAY, 1976 apud TUBINO, 1985), esse valor é entendido como uma forma de ser do

esportista, baseada no respeito a si mesmo e que implica honestidade, lealdade,

atitude firme e digna diante de um comportamento desleal; respeito aos colegas

de time; respeito aos adversários, vitoriosos ou vencidos, com a consciência de que

ele é o companheiro indispensável a quem os demais se unem em camaradagem

3. Fair play

16 Para Kolyniak Filho (2007), a violência, considerada um fenômeno mundial, resulta de múltiplas determinações,sendo a violência no esporte uma das suas manifestações dentro da multiplicidade de enfoques. Educação familiar,educação escolar, meios de comunicação social, instabilidade política e social, fatores genéticos, característicasneurofisiológicas, difusão do uso de drogas e ideologias são exemplos de fatores que causam a instauração e amanutenção da violência. Para além das manifestações violentas no âmbito da prática esportiva em si, na atualidadeocorrem manifestações de violência entre grupos de torcedores e destes em relação a pessoas não relacionadasaos eventos esportivos. Nesse quadro, destacam-se os confrontos entre torcedores – que resultam em ferimentosgraves e mesmo em mortes, não raro de pessoas que não fazem parte das torcidas –, e a depredação e saque debens e serviços públicos e privados.

17 Em tradução livre, é o Comitê Internacional para o Fair Play (CIFP).18 A Fundação para a Educação Olímpica e Esportiva (em tradução livre), entidade grega não governamental, sediada

em Atenas e dedicada à divulgação dos valores do olimpismo, tornou-se importante referência para os temas aserem abordados em um programa de educação olímpica, e é responsável pela obra “Be a Champion in Life:international teacher’s resource book” (2000) (REPPOLD FILHO et al., 2009, p. 179).

19 A Câmara Municipal de Oeiras, cidade pertencente ao distrito de Lisboa (Portugal), é uma organização governamentalresponsável por um dos programas pioneiros e mais difundidos de promoção do espírito esportivo no mundo.

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Caderno de referência de esporte

esportiva; respeito às autoridades locais (árbitros e dirigentes) e respeito positivo,

expresso pela constante vontade de colaborar com todos os envolvidos na

atividade ou no jogo.

Parte-se do entendimento de que alguns conceitos básicos do fair play são: o respeito

às regras, o respeito ao árbitro e a aceitação de suas decisões, o respeito ao adversário,

o desejo de igualdade, e a dignidade (não violência). Aqui, destaca-se também o papel

dos pais, dos treinadores e dos atletas profissionais na busca da prática do jogo limpo

e honesto.

O fair play possibilita que os esportistas guardem uma distância adequada nas

situações críticas de competição, mantendo condições competitivas iguais e uma

atitude digna na vitória e na derrota (TUBINO; SILVA, 2006).

Nesse sentido, presume-se que o indivíduo possa receber uma formação ética e moral

respaldada nos valores da honra, da lealdade e do respeito pelos outros e por si

próprio, que indique que, para competir, o atleta não necessita fazer uso de outros

meios que não a própria capacidade para superar a si mesmo e aos outros.

Para Biliatti (s.d.), pode-se afirmar que os valores do fair play foram referência para a

prática esportiva durante muito tempo, mesmo que por vezes tenham sido

transgredidos. Dessa forma, pode-se perceber que essa expressão, conforme indicado

anteriormente, tem uma forte origem aristocrática, caracterizada pela riqueza e pelo

poder que os aristocratas detinham na sociedade inglesa da época. Fica evidente que

o barão de Coubertin, organizador do Movimento Olímpico contemporâneo, foi

fortemente influenciado pelos princípios da aristocracia inglesa, incorporando ao seu

ideário olímpico a noção do comportamento cavalheiresco no esporte. Logo, o conceito

de jogo limpo reflete o sentimento dessa época em relação ao esporte e, portanto, está

repleto dos ideais e princípios característicos daquela sociedade.

A expressão fair play compartilha com o termo olimpismo uma diversidade de

interpretações e de significados. O senso comum a traduz como espírito esportivo ou

jogo limpo, mas sem contemplar o cerne da questão que é a elucidação do conceito.

Para Katia Rubio (2001), o fair play presume uma formação ética e moral do atleta que

pratica determinada modalidade e se relaciona com os demais competidores, e que

esse atleta não fará uso de outros meios que não a própria capacidade para superar

os oponentes. Nessas condições, não se admitem formas ilícitas que objetivem a

vitória, o suborno ou o uso de substâncias que melhorem o desempenho.

De acordo com Tavares (1999a), o fair play, como conjunto de valores normativos do

comportamento individual e coletivo no ambiente das competições atléticas, reflete

a construção de um ambiente cultural específico; ou seja, por mais que tenha ocorrido

uma universalização dos valores esportivos atuais, é preciso contextualizar, do ponto

de vista cultural, as transformações que eles sofreram ao longo do século XX, desde

que foram formulados por Pierre de Coubertin.

Apesar de ser caracterizado por uma abordagem normativa e conservadora do

comportamento esportivo, o fair play serviu durante longo tempo como orientação

para os protagonistas dos espetáculos esportivos. Assim como o conceito de

amadorismo20 foi abolido ou esquecido no olimpismo, assistiu-se igualmente a uma

20 O amadorismo é tanto uma afirmação do desprendimento dos atletas em relação a qualquer tipo de interesse quenão exclusivamente a prática esportiva, quanto à capacidade moral de realizar um combate respeitando as regrasque o definem. O termo é utilizado de forma antagônica a profissionalismo (RIBEIRO, 2008).

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Valores no esporte

mudança no que se refere ao fair play. Tavares (1999b) diz que essa transformação

deve-se ao fato de que o esporte vem sofrendo “deslocamentos de sentido” nos

últimos 30 anos, o que aponta para uma possível relativização dos valores tradicionais

ligados à prática esportiva, entre eles o fair play.

Partindo da importância que o fenômeno esportivo adquiriu na atualidade, Portela

(1999) afirma ser prudente considerar o esporte como um dos agentes de formação

de códigos éticos e de condutas morais. Sua contribuição ao pensamento e ao

comportamento ético do indivíduo torna o fair play o fio condutor da transmissão de

valores. Isso quer dizer que ele pode ser aceito como a ideia de se educar o ser humano

para a reciprocidade e para o respeito à diversidade, igualmente desenvolvendo o

conceito de semelhança, o que permite a identificação com o outro, a percepção das

necessidades do oponente, e o entendimento de que o vencedor e o vencido

relacionam-se em um lapso temporal denominado momento.

O Código de Ética Esportiva elaborado pelo Conselho da Europa (1996) ressalta que

o fair play vai além de um simples comportamento e que significa muito mais do que

o simples respeito às regras: abrange as noções de amizade, de respeito pelo outro e

de espírito esportivo; representa um modo de pensar que é essencial para toda

atividade esportiva e humana.

Além de atuar na delimitação de regras, regulamentos e códigos, o fair play atuará

sempre contra a dopagem, a violência – tanto física quanto verbal –, a desigualdade

de oportunidades, a comercialização excessiva e a corrupção, sendo entendido como

uma aprendizagem de comportamentos para a própria vida.

Segundo Gonçalves,

o espírito esportivo constitui uma noção difícil de definir. Não é, contudo, difícil reconhecer

algumas dimensões da questão: lealdade, honestidade, aceitação das regras, respeito

pelos outros e por si próprio, igualdade de oportunidades [...] tantos são os elementos

associados à ideia de espírito desportivo (GONÇALVES, 1996).

Para essa autora, bem como para a Carta sobre o Espírito Desportivo (La Régie de la

Securité dans les Sports du Québec, 1984), o fair play identifica-se e interage com o

conceito de espírito esportivo, que é explicado pelas atitudes dos praticantes e se

manifestando por meio dos seguintes aspectos:

a) respeito pelas regras;

b) respeito pelos árbitros e aceitação de suas decisões;

c) respeito pelo adversário;

d) desejo de igualdade;

e) dignidade;

f ) mesmo sem nunca deixar de lutar pela vitória.

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Kroll aponta que, mesmo que todos soubessem o que significa o espírito esportivo,

dificilmente alguém poderia propor uma definição que merecesse aprovação universal

(KROLL apud GONÇALVES, 1988). Martens corrobora esse pensamento, na medida em

que afirma que o “espírito esportivo é algo de que julgamos conhecer o sentido, mas

que consideramos difícil definir com exatidão” (MARTENS apud GONÇALVES, 1988).

Apesar da diferença contextual observada entre esses autores, é possível perceber

uma unidade na definição de fair play, pois para todos ele representa o mesmo ideal,

o de uma conduta ética para com o esporte e em relação aos demais envolvidos nessa

prática. Por isso, pode-se dizer que o espírito esportivo abrange tudo que diz respeito

ao esporte, desde os testes realizados em laboratórios até técnicas diferentes

empregadas por um atleta para levar vantagem nas competições.

Tomando o espírito esportivo como um conceito mais amplo e que também faz parte

do desenvolvimento humano, pensa-se que ele deve transcender o campo esportivo

e fazer que as pessoas que expressam tal virtude nas práticas esportivas mantenham,

na sua vida em sociedade, as mesmas atitudes.

No entanto, o esporte está sujeito a direcionamentos de acordo com intenções

externas manifestadas pela sociedade vigente, como, por exemplo, a intenção de

transformá-lo em mais uma mercadoria a serviço da sociedade capitalista, adquirindo

sempre novos significados. Em outras palavras, o esporte é um jogo de significados

intrínsecos, mas que se tornam extrínsecos de forma variada no tempo e no espaço (PEIL,

2000). Em outras palavras, o esporte é feito por homens com vontade e intenção

próprias que, para manter-se no meio esportivo, estão sujeitos às influências da

sociedade e da época em que vivem.

Para Rufino e outros (2005), o esporte no século XIX se caracterizava em grande parte

pelo amadorismo, pela diversão, pela união entre as pessoas, e era muito utilizado

como um passatempo. O cavalheirismo era enaltecido, a ética predominava, e a

formação moral e corporal dos participantes não possuía aparato científico quanto

ao seu planejamento e execução; o lucro não era significativo e não tinha tanta

influência como na contemporaneidade.

Devido à fundamentação científica, levando-se em consideração os valores capitalistas

do rendimento, da autopromoção e do lucro, também encontrados no âmbito do

esporte atual, passou-se a aceitar a intervenção da ciência como meio de ampliar as

oportunidades de vencer a todo custo. A utilização de substâncias proibidas (doping

ou, em português, dopagem) para se alcançar um alto desempenho, a mídia, a política,

a agressividade, a competitividade, a estética, podem ser indicados como fatores

influentes da prática esportiva contemporânea.

Caderno de referência de esporte

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25

Valores no esporte

Nesse contexto, a defesa do fair play no esporte começou com a restauração do

Movimento Olímpico em 1984, em Paris, na França, pelo barão Pierre de Coubertin,

que constituiu os pilares da ética esportiva do final do século XIX.

A exacerbação do esporte de alto rendimento ou de desempenho, apesar de ir contra

os ideais do fair play, acaba por despertar nas entidades, na população e nas

autoridades nacionais e internacionais a força necessária para reagir e tomar atitudes

contra os meios ilícitos que permeiam o esporte atual.

Essas ações e movimentos podem ser observados no contexto histórico

contemporâneo. Como indica Tubino (2006), em 1973 o Comitê Internacional

Provisório dos Troféus Fair Play Pierre de Coubertin se transformou no Comité

International pour le Fair Play (CIFP) que, entre 1975 e 1976, editou o Manifesto do Fair

Play21, documento no qual foi apresentado seu conceito e estabelecidas as

responsabilidades correspondentes.

Cabe, portanto, aos profissionais envolvidos na prática esportiva, pensar e colocar em

prática soluções para “frear” o declínio pedagógico do espírito esportivo na sociedade

atual. Tais soluções devem incluir a revisão do processo de gestão e administração

esportiva mundial, a elaboração de novas regras, novos incentivos a atitudes de fair play

e a promoção de uma educação desde a infância voltada para a ética (RUFINO et al., 2005).

Nesse sentido, o esporte tem a qualidade e o poder de conferir valores e normas à sua

prática, auxiliando na formação cultural e social dos indivíduos. Entretanto, é preciso

repensar que valores têm sido difundidos pelo esporte e se eles estão de acordo com

o contexto social que se pretende construir. Os valores devem ser enfatizados por meio

de uma postura ética em relacionamentos interpessoais. Segundo Rufino e outros

(2005), no esporte, esse parâmetro é trabalhado por meio do respeito mútuo, da

honestidade, do cavalheirismo, do respeito pelas regras, ou seja, por meio do fair play.

Vê-se que a contribuição do esporte para o pensamento e para o comportamento

ético do indivíduo também se torna de suma importância para sua formação, sendo

que o fair play pode ser o fio condutor da transmissão dos valores que orientam a

aquisição dessa conduta ética, por meio da atual educação olímpica. Devido ao fato

de os valores estarem passando por mudanças no comportamento de cada indivíduo,

a identificação de atitudes antiéticas nos jovens atletas é de vital importância para se

entender melhor o processo pelo qual eles tomam suas decisões em situações

esportivas e do seu dia a dia.

21 A última edição do manifesto encontra-se disponível, em inglês e em francês, no site do CIFP (INTERNATIONALFAIR PLAY COMMITTEE, 2010). A versão em português do manifesto pode ser encontrada no site do CentroEsportivo Virtual, disponível em: <http://cev.org.br/biblioteca/manifesto-sobre-o-fair-play/>.

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A crítica mais severa que se faz ao esporte é que ele teria assumido os valores

capitalistas, procurando cada vez mais o lucro e o rendimento a qualquer preço. Nessa

busca frenética pela vitória, a ética adquire um caráter duvidoso, pois os fins

justificam os meios; assim, Peil (2000) cita a dopagem como um exemplo dessa

distorção.

O esporte caminha mais lentamente no sentido da evolução científica e

tecnológica, como mostra Souza. Para ele, a ciência também passa a ser

incorporada ao processo de produção do esporte e, por consequência, da

educação física, com o objetivo de torná-los mais eficientes. Com isso, todas

as fases do processo de desenvolvimento do esporte passam a ser

analisadas cientificamente, e todas as técnicas são propostas com base em

conhecimentos empiricamente “corretos” e verificáveis (SOUZA, 1993, p. 127).

Bertolo (2004) mostra que, em 2003, o tempo na prova dos 100m rasos do

atletismo aumentou, após a intensificação da fiscalização e da descoberta de novos

tipos de dopagem, o que indica que esse aumento no tempo dos competidores pode

estar relacionado à menor utilização de dopagem. Isso mostra que se faz necessária

uma maior conscientização dos praticantes esportivos acerca da importância do fair

play para o esporte, uma maior fiscalização por parte dos órgãos reguladores do

esporte e um maior incentivo às atitudes de jogo limpo.

Conforme Rufino e outros (2005), atualmente, existe a dopagem genética, que não

ocorre pela injeção, no corpo, de hormônios ou outras substâncias, mas sim pela

transformação dos genes responsáveis pelas habilidades atléticas de uma pessoa.

Portanto, deveria ser proposta uma reflexão por parte das organizações esportivas

para que se pare de pensar apenas em métodos tradicionais de dopagem, e que se

passe a debater um novo código de ética para o esporte.

Como mencionado anteriormente, no mundo do esporte contemporâneo, os atletas

são submetidos a um círculo vicioso de conquistas de títulos e medalhas,

independentemente da forma ou do que for necessário fazer para que isso aconteça.

Vencer a qualquer preço, por vezes, requer superar os limites físicos do ser humano.

O aumento do uso de substâncias ou métodos proibidos, destinados a melhorar

artificialmente o desempenho esportivo, motiva uma intensa ação de combate por

parte de autoridades nacionais e internacionais. Aqui, o objetivo é evitar a

ocorrência de uma vantagem desleal de um competidor sobre os

demais, além de preservar os aspectos éticos e morais do esporte

e, acima de tudo, a saúde do praticante.

Entre os meios ilícitos utilizados no esporte, a dopagem é

o mais preocupante, pelo fato de evoluir constantemente,

dificultando sua fiscalização e detecção.

Ribeiro e Puga (2006) reconhecem a dopagem como a negação dos valores

intrínsecos e implícitos do esporte, como por exemplo: a ética, o fair play, a honestidade

e, por que não dizer, a própria saúde, segundo o Código Mundial Antidoping (CMAD).

26

Caderno de referência de esporte

4. Contextualizando a dopagem

Page 26: Valores no esporte; 2013

27

Valores no esporte

A nova ordem internacional no combate e prevenção à dopagem, com o advento do

CMAD, é reflexo da evolução experimentada pelo ser humano no domínio de novas

tecnologias e da crescente tomada de consciência ética para o respeito aos princípios

fundamentais da Carta Olímpica, especificados anteriormente.

Assim, a dopagem é a antítese do esforço próprio, do bom exemplo, do respeito aos

princípios éticos, do espírito de amizade, do fair play e do próprio espírito esportivo.

Mais precisamente, é a distorção do ideário do esporte que conduz à utilização de

substâncias ou métodos proibidos, que deturpa completamente aquele espírito

esportivo inicialmente compreendido como a essência do olimpismo.

De acordo com o breve histórico apresentado na obra de Ghorayeb e Neto (1999), no

Brasil, o processo de combate à dopagem teve início por meio da Deliberação nº 5,

de 18 de janeiro de 1972, do Conselho Nacional de Desportos (CND), que definiu

doping como

a ministração ou o uso de agentes estranhos ao organismo, ou de substâncias fisiológicas

em quantidade anormal, capazes de provocar no atleta, no momento da competição,

um comportamento positivo ou negativo, sem correspondência com sua capacidade

orgânica ou funcional (GHORAYEB; NETO, 1999).

Essa legislação foi revogada pela Portaria nº 531, de 10 de julho de 1985, do Ministério

da Educação, que definiu doping como “a substância, o agente ou o meio capaz de

alterar o desempenho do atleta por ocasião de competição desportiva” (BRASIL, 2004).

No ano de 1967, foi constituída a Comissão Médica do Comitê Olímpico Internacional,

que organizou o “Regulamento antidopagem do COI”, cuja primeira aplicação ocorreu

na III Competição Desportiva Internacional, na Cidade do México, no mesmo ano e,

posteriormente, nos Jogos Olímpicos de Verão e de Inverno, realizados

respectivamente na Cidade do México e em Grenoble, na França, em 1968.

Em 1999, as autoridades do esporte a partir do COI e autoridades públicas, na ocasião

da realização da Conferência Mundial do Doping no Esporte, em Lausanne, na Suíça,

projetaram como resultado concreto a criação da Agência Mundial Antidoping (World

Anti-Doping Agency).

De acordo com o artigo primeiro do Código Mundial Antidoping da WADA, a dopagem

é definida como a verificação de uma ou mais violação das normas antidopagem

enunciadas nos artigos 2.1 a 2.8 do presente código22.

A Agência Mundial Antidoping (AMA, ou WADA, na sigla em inglês) divulga anualmente

a lista de substâncias e métodos proibidos. Os esteroides são as drogas mais comuns.

Além deles, a lista inclui o uso de estimulantes, hormônios, diuréticos, narcóticos e

maconha, e a utilização de métodos proibidos, como transfusão de sangue ou do

doping genético.

O CMAD, publicado pela WADA, também descreve os diferentes tipos de controle e

relaciona as substâncias e os métodos proibidos ou restritos. Aprovado em 2003 pelo

Movimento Olímpico e por governos dos cinco continentes, o código foi revisado em

2007, em Madri, na Espanha, e é atualizado anualmente desde então.

O último CMAD emendado entrou em vigor em 1º de janeiro de 2009, e pode ser

consultado, nas suas versões em espanhol e em inglês, no portal do Ministério do

22 A versão em português desse código encontra-se disponível em: <http://www.wada-ama.org/rtecontent/document/world_anti-doping_code_version3_port.pdf>

Page 27: Valores no esporte; 2013

Esporte.23 O responsável pela área de dopagem no COB desde 1976 é o dr. Eduardo

Henrique de Rose. Professor titular de medicina do esporte, ele já visitou mais de 90

países nos cinco continentes como especialista. É presidente da Comissão Médica da

Organização Desportiva Pan-americana (ODEPA), responsável pela coordenação das

operações antidoping por parte da Comissão Médica do COI e integrante do Conselho

da WADA.

A área de controle de dopagem do COB publicava regularmente uma cartilha com

dados e orientações para atletas – e para toda a comunidade esportiva – sobre o uso

de medicamentos no esporte. Sua última versão de 2010 (nona edição) oferecia a lista

de substâncias e métodos proibidos pela Agência Mundial Antidoping24, entre outras

informações importantes.

Por isso, aqueles profissionais que, de alguma forma, participam ativamente do esporte

de alto rendimento, como atletas, treinadores e médicos especializados, devem buscar

constante atualização para evitar o uso acidental de medicações que possam

ocasionar uma infração da regra antidoping.

Nesse processo de organização e controle da dopagem, o Brasil, por meio do Ministério

do Esporte (ME), adotou as seguintes providências:

a) criou e constituiu a Comissão de Combate ao Doping, no âmbito do Conselho

Nacional de Esporte (CNE) (Portaria ME nº 101, de 29 de julho de 2003)25;

b) introduziu a dopagem no Código Brasileiro de Justiça Desportiva (Resolução CNE

nº 1, de 23 de dezembro de 2003) (CBJD, 2009);

c) instituiu normas básicas de controle de dopagem nas partidas, provas ou

equivalentes do esporte de rendimento, de prática profissional e não profissional

(Resolução CNE nº 2, de 5 de maio de 2004) (BRASIL, 2004), as quais apresentam a

lista de substâncias e métodos proibidos na prática esportiva para o ano de 2012

(Resolução CNE nº 33, de 28 de dezembro de 2011) (BRASIL, 2011);

d) constituiu a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), por meio do

Decreto nº 7.784, de 7 de agosto de 2012 (art. 14), como parte da estrutura

regimental do Ministério do Esporte, em substituição a Agência Brasileira Antidoping

(ABA), criada pelo COB para atender às exigências do Código Mundial Antidoping.

Essa mudança encontra-se em conformidade com

as regras e as convenções internacionais sobre a

matéria, atendendo às exigências da WADA. A

ABCD é responsável pela implementação da política

nacional de combate à dopagem, em conformidade com

as regras e as convenções internacionais, possibilitando o

aporte de mais recursos do governo federal, de forma a

viabilizar possíveis avanços no controle da dopagem no país.

O Brasil foi o primeiro país a assinar o Código Mundial

Antidoping, originado na Conferência Mundial sobre Doping

no Esporte, em março de 2003 em Copenhague (Dinamarca),

onde foi aprovada a Declaração de Copenhague. Na sequência,

ratificou a Convenção Internacional contra o Doping no Esporte,

28

Caderno de referência de esporte

23 Disponível em: <http://www.esporte.gov.br/conselhoEsporte/legislacaoDocumentos.jsp>.24 Para acessar a Agência Mundial Antidoping (em inglês, World Anti-Doping Agency – WADA), ver o link:

<http://www.wada-ama.org/en/>.25 Disponível em: <http://www.esporte.gov.br/conselhoEsporte/legislacao/portaria101.jsp>.

Page 28: Valores no esporte; 2013

29

Valores no esporte

apresentada em 2005 durante a 33ª Conferência Geral da Organização das Nações

Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 18 de dezembro de 2007,

integrando-se ao grupo de 138 países unidos em um esforço supranacional para

promover o fair play e o direito a competições transparentes e honestas, contra

atitudes antidesportivas, assim como instituir no direito internacional o CMAD.

A atuação da UNESCO no campo da dopagem coincide com esses movimentos. A

Carta Internacional de Educação Física e do Esporte de 1978 (UNESCO, 2012) e a

Convenção Internacional contra o Doping no Esporte (UNESCO, 2005) já manifestavam

a posição dessa Organização no sentido de promover os valores humanos, éticos e

de solidariedade presentes no esporte, de modo a contribuir para a construção da paz

mundial. Isso se deve ao entendimento de que a educação física e o esporte são

elementos essenciais da educação ao longo da vida, pelo simples fato de se acreditar

que o esporte aproxima pessoas de diferentes grupos sociais e culturais, bem como

de espaços geográficos, independentemente de suas religiões e ideologias.

Entre as tarefas da UNESCO no âmbito da sua missão, encontra-se a de promover a

expansão e a melhoria da qualidade da educação, entendida como direito

fundamental do indivíduo e instrumento essencial para uma política de diálogo entre

os cidadãos e os Estados. O lema Educação para Todos implica o combate às

discriminações no acesso ao ensino e à educação contínua ao longo da vida, como

meio de melhorar a adaptação às transformações do mundo atual.26

Da mesma forma, esse movimento antidopagem vem desbravando fronteiras

nacionais e internacionais, com o enfoque educacional característico da UNESCO.

Para sensibilizar e mobilizar a sociedade brasileira sobre o tema dopagem no esporte,

a UNESCO no Brasil, juntamente com a Associação dos Empreendedores Amigos da

UNESCO, desenvolveu a campanha denominada Jogo Limpo, que tem como objetivo

atingir, além do público direto, a sociedade em geral, salientando a importância do

jogo ético. Nesse sentido, destacam-se os vídeos gravados para fins de divulgação

dessa campanha27, bem como da campanha específica de jovens contra a dopagem28,

ambas disponibilizadas no portal da UNESCO e no YouTube.

Na luta constante contra a dopagem, a UNESCO também

relembrou esportistas de outras gerações que são exemplos de

ética, de superação e de jogo limpo, quando, em 2012, por meio

de divulgação na sua rede social (Facebook), ex-atletas

vincularam sua imagem ao movimento idealizado pela

UNESCO. Assim, depois de Jacqueline Silva, embaixadora da

UNESCO, homenageou-se o campeão Lars Grael, medalhista

olímpico em Seul e em Atlanta.

Além disso, para quem gosta de histórias em quadrinhos,

recomenda-se a protagonizada pelo sr. Rattus Holmes, que

investiga mais um caso de dopagem junto às redes sociais da

UNESCO, como forma de incentivar o debate e a construção dos

valores sobre esse tema29.

26 Mais informações podem ser encontradas no portal da UNESCO, na área de Educação, disponível em:<http://www.unesco.pt/cgi-bin/educacao/educacao.php>.

27 Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=4OnF3L9bk7Y >.28 Disponível em: <http://www.youtube.com/v/CFsGd1IVeUI>.29 A publicação, em inglês, está disponível em: <unesdoc.unesco.org/images/0016/001618/161868e.pdf>.

Page 29: Valores no esporte; 2013

Como visto, a UNESCO esteve sempre atenta à questão da dopagem,

procurando desenvolver de forma continuada suas campanhas

educativas, com profundo respeito pelo ser humano em um mundo

que convive com as desigualdades entre os países, com os elevados

índices de violência e a persistência de diferentes formas de

discriminação. Diante desse contexto, a proposta de democratização

de conhecimentos defendida pela UNESCO está vinculada à

emancipação das pessoas e ao autodesenvolvimento sustentável

dos diferentes povos e culturas em todo o mundo. O esporte é

compreendido como um grande aliado de todo esse processo.

Para Tubino (1992), a partir da Carta Internacional do Esporte

(UNESCO, 2012), o conceito de esporte ampliado com base em três

dimensões (esporte-educação, esporte-participação e esporte-performance) passou

a exigir também uma nova ética. Segundo Sanches Vasquez, a ética parte da existência

da história da moral, isto é, toma como ponto de partida a diversidade moral ao longo

do tempo, com seus respectivos valores, princípios e normas (SANCHES VASQUEZ apud

TUBINO, 1992). Por isso, o conceito de fair play deve estar coerente com o seu tempo,

de modo a coibir as questões antiéticas e incentivar os valores morais necessários a

uma prática esportiva digna e igualitária.

Um exemplo de atleta contra o doping ocorreu em março de 2012, em Valência, na

Espanha, onde foi disputado o 12º Mundial Indoor de Atletismo, a alemã Anna Battke,

de 23 anos, decidiu fazer seu próprio protesto contra as recentes polêmicas de

dopagem no esporte, escrevendo em seu corpo, de forma visível, a frase “Stop doping”,

ou “Parem com a dopagem”, em tradução livre.

Vários são os vídeos elaborados e divulgados na internet, com o objetivo de esclarecer

a população em geral sobre as consequências desastrosas do uso de substâncias

artificiais ou de certos métodos para melhorar o desempenho e o rendimento

atléticos. Entre eles, destaca-se o vídeo “Como funciona o doping – parte 1”30.

Percebe-se, com isso, que a luta de educadores contra o uso de substâncias proibidas

e nocivas ao ser humano, mesmo diante da descoberta de novos tipos de dopagem,

é incansável e incessante, como pode ser observado no âmbito de entidades de

representação do esporte (Comitê Olímpico Brasileiro, Conselho Federal de Educação

Física, Confederações Brasileiras, entre outras), ou que consideram o esporte como

possibilidade de educação (Ministério do Esporte, Instituto Ayrton Senna, entre outras).

Nesse movimento acerca da dopagem no esporte, debates em torno da ética e da

moral no esporte não poderiam passar despercebidos, em especial quando o esporte

como fenômeno social se revela como um espaço de certa ambiguidade moral e ética.

Ao passo que o esporte pode desenvolver valores positivos como a superação de si

mesmo, o fortalecimento de um coletivo, a interação com o outro, por outro lado, ele

pode reforçar valores negativos como o uso de métodos ilícitos, de manipulações

biológicas, em prol da busca incessante e desleal pela vitória.

Para isso, o fair play deve ser redefinido, pois a sociedade pós-moderna em que a

humanidade vive na atualidade é muito da sociedade do século XIX. Entretanto, o

conceito de jogo limpo ainda permanece inalterado, deixando de abranger as

30

Caderno de referência de esporte

30 Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=UGcs_uMs6K8&feature=related>.

Page 30: Valores no esporte; 2013

31

Valores no esporte

mudanças ocorridas no esporte e na sociedade desde a divulgação desse conceito

pelo barão de Coubertin. Essa lacuna que permanece desde então propiciou a

elaboração de formas discordantes de se alcançar a vitória, com caráter ambíguo, mas

que passaram a ser legitimadas e até justificadas atualmente na sociedade; exemplo

disso é a naturalização31, fenômeno não atual, mas cuja ocorrência aumenta a cada

ano. Nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, 41 atletas medalhistas de modalidades

individuais, de um total de 599 atletas que receberam medalhas, nasceram em um

determinado país, mas defenderam outro (ALMEIDA; MATARUNA, 2004), o que

comprova uma nova tendência de “meio ilícito e não ético” no panorama esportivo

internacional. Os países ricos passam a “comprar” os seus heróis, e os países pobres,

consequentemente, perdem seus ídolos em potencial, o que incrementa a

desigualdade e reduz as possibilidades de vitória e de conquistas reais e éticas.

31 A naturalização ocorre quando um país concede a qualidade de nacional a um estrangeiro que a solicita. Disponívelem: <http://www.brasil.gov.br/para/servicos/documentacao/certificado-de-naturalizacao>.

Page 31: Valores no esporte; 2013

Considerando-se os aspectos históricos e filosóficos do olimpismo, com ênfase nas

ideias de Pierre de Coubertin, bem como suas implicações para a educação olímpica

no Brasil e em outros países, pode-se dizer que esta também é um legado de

Coubertin. O barão não utilizou a expressão educação olímpica, mas referiu-se

inicialmente à “educação através do esporte” ou “educação esportiva”, que deu o título

ao seu primeiro livro, datado de 1922 (REPPOLD FILHO et al., 2009).

Para Miragaya, no texto “Educação olímpica: o legado de Coubertin no Brasil” (REPPOLD

FILHO et al., 2009), a educação relacionada ao olimpismo, ou seja, a educação olímpica,

é caracterizada por um conjunto de atividades educativas e de caráter multidisciplinar

e transversal, tendo como eixo integrador os valores olímpicos e o objetivo de prover

uma educação universal e/ou o desenvolvimento do ser humano como um todo, em

contraposição à educação moderna, cada vez mais especializada.

De acordo com Ren, na obra de Reppold Filho e outros,

os objetivos da educação olímpica são proteger e promover os interesses comuns da

sociedade humana, incluindo em seu conteúdo pedagógico os valores humanistas

que são universalmente aceitos pela sociedade, como a busca pela excelência, o fair

play, a justiça e o respeito pelo próximo, por meio do esporte, compreendido como

cultura reconhecida por todas as sociedades humanas, ricas em significados universais

que transcendem etnia, religião, política, status e outras barreiras sociais (REPPOLD

FILHO et al., 2009).

Por outro lado, na opinião de Miragaya, na obra de Reppold Filho e outros,

Pierre de Coubertin sempre criticou líderes mundiais dos esportes por serem muito

técnicos e não defenderem o espírito olímpico, já que ele sempre esteve interessado na

atitude moral e responsável do atleta para a qual a educação olímpica poderia em muito

contribuir, mas não o fazia (REPPOLD FILHO et al., 2009).

Para essa autora, os valores dos futuros atletas serão diferentes dos atuais, pois o

desafio da educação olímpica proposta não consiste somente em identificar e

conhecer os valores que perpassam as ações dos atores do esporte contemporâneo,

mas em debater e reconstruí-los com base no significado pessoal e social desse

fenômeno mundial.

Nesse contexto, o Movimento Olímpico e o olimpismo são mais amplos e complexos

do que os Jogos Olímpicos considerados isoladamente. Eles representam a história, a

educação, a sociedade, os valores morais, a cultura de paz e uma proposta de vida

(REPPOLD FILHO et al., 2009).

Entretanto, concorda-se com o pensamento de Rúbio, quando essa autora indica que

atualmente assiste-se a uma complexa trama de interesses a motivar ideais e ações

no campo olímpico, no qual os Jogos Olímpicos, a maior realização do Comitê

Olímpico Internacional, tornaram-se fonte inesgotável de reprodução de valores

culturais e de projeção da dinâmica social (REPPOLD FILHO et al., 2009). Contribuindo

para o distanciamento gradativo dos valores inicialmente apregoados, os Jogos

32

Caderno de referência de esporte

5. A educação olímpica e sua contribuição para os programas de esporte

Page 32: Valores no esporte; 2013

33

Valores no esporte

Olímpicos têm levado à promoção de ações identificadas com valores éticos

particulares e, portanto, distantes da proposta olímpica inicial.

Nesse contexto, surgiu a ideia de educação olímpica, que reflete os rumos que o

movimento olímpico como um todo tomou, em um mundo marcado não apenas

pelas diferenças culturais, mas também econômicas e sociais. Educar quem e para que

são questões fundamentais nesse debate, que entende o sujeito da ação olímpica

como o foco da educação e da reprodução desses valores apregoados.

Cabe destacar que a educação olímpica foi introduzida no Brasil pelo dr. Lamartine

DaCosta, docente pesquisador e organizador de grupos de estudo e pesquisas na área,

grande idealizador do Movimento Olímpico e responsável por sua repercussão e

consolidação no país.

Reforça-se igualmente que um dos pontos mais importantes para Pierre de Coubertin

era a busca da paz. Ele considerava, no início do seu trabalho, os atletas participantes

dos encontros esportivos como “embaixadores da paz”, um posicionamento

compatível com os pressupostos defendidos no âmbito da UNESCO, assimilados pelo

Programa Brasil Vale Ouro, como pode ser observado no documento da “Proposta

pedagógica de esporte” (FUNDAÇÃO VALE, 2013b).

No esporte, os professores e educadores se deparam com várias situações em que

podem desenvolver a educação integral de crianças, adolescentes e jovens, enfocando

várias dimensões, como a motora, a cognitiva, a afetiva e a social. Entretanto, para que

isso aconteça, é necessário que esses profissionais se dediquem ao desenvolvimento

integral e integrado de seus alunos, ao mesmo tempo em que trabalham o

desenvolvimento das ações e gestos motores necessários à sua prática.

Como indicado anteriormente, há mais de um século os valores morais vêm sendo

transmitidos por meio do esporte; o fair play é uma das contribuições mais relevantes

dos princípios olímpicos, em conjunto com outros valores como a cooperação, a

solidariedade, a superação, a autonomia, a autoestima, a responsabilidade, o respeito

e a empatia.

Nesse sentido, agências da ONU (UNESCO, PNUD e UNICEF, entre outras) fazem uso

regular dos valores mobilizadores do esporte para ampliar a conscientização sobre os

seus problemas, utilizando-os como ferramentas para realizar suas missões em uma

grande variedade de territórios, em ações que englobam a melhoria da saúde e da

educação, oportunidades de geração de empregos e a promoção da tolerância e

respeito pelos direitos humanos.

Após a publicação do Relatório Interagências (UNITED NATIONS, 2005a), que indicou

como o esporte pode ajudar na realização dos Objetivos de Desenvolvimento do

Milênio (ODMs), a ONU adotou uma resolução que entende o esporte “como meio

para promoção da educação, saúde, desenvolvimento e paz”, reconhecendo

oficialmente seu poder para contribuir para o desenvolvimento humano e uma

infância saudável.

Com isso, a proclamação do Ano Internacional do Esporte e da Educação Física em

2005 (IYSPE 2005), com o objetivo de facilitar a integração de conhecimentos entre

os vários parceiros para aumentar a conscientização geral, bem como a criação das

condições certas para a implementação do esporte baseado em programas e projetos

de desenvolvimento humano, foram iniciativas estabelecidas para viabilizar os ODMs.

Page 33: Valores no esporte; 2013

Considerando ainda o pronunciamento do sr. Getachew Engida, diretor-geral adjunto

da UNESCO em Paris (ENGIDA, 2011), reconhece-se o potencial do esporte para

aproximar culturas e sociedades, promover uma cultura de paz, prevenir a violência,

mobilizar públicos diferenciados, sendo que ele também é compreendido como

importante ferramenta educacional na luta contra a discriminação e o racismo. Nesse

contexto, o aprendizado por meio do esporte pode permitir que seus praticantes

interajam e desenvolvam as habilidades necessárias e fundamentais para a vida.

O esporte deve ser elemento de políticas públicas e privadas, não apenas com o foco

na conquista de resultados e de medalhas (individuais ou coletivas), como fica explícito

na ocasião de uma Olimpíada, mas como fator de desenvolvimento da educação, da

saúde e do ser humano como um todo.

Nesse cenário, os programas e projetos esportivos têm papel importante de construir

e/ou reconstruir valores, resgatando, assim, as atitudes e os comportamentos

associados diretamente a eles. Entretanto, diante da cultura esportiva atual, e das

relações estabelecidas no âmbito das entidades e instituições de representação

nacional e internacional do esporte, sabe-se que não se trata de uma tarefa fácil. Por

esse motivo, a partir de 2011, decidiu-se rever o Programa Brasil Vale Ouro como um

todo e optou-se por referenciá-lo com base na nova “Proposta pedagógica” e nas

temáticas eleitas para os 12 cadernos de referência que compõem esta série

específica, os quais apresentam relação direta com os pressupostos da educação

olímpica abordada aqui.

Como pode ser observado, parte dos volumes desta série (cadernos ns. 1, 2, 3, 4, 8, 9 e

11) refere-se a temáticas técnicas e específicas, sendo que a outra parte (cadernos ns.

5, 6, 7, 10 e 12) trata de temáticas que permitem maior interlocução e integração com

os pressupostos da educação olímpica e, consequentemente, com as temáticas dos

outros cadernos.

Portanto, reforça-se que a educação olímpica, mencionada anteriormente como

possibilidade de se trabalhar o esporte com bases sólidas e consistentes para o

desenvolvimento e a ressignificação de valores no esporte, é entendida como viável

no âmbito do Programa Brasil Vale Ouro.

Sendo assim, ressalta-se que o presente caderno foi elaborado de forma a permitir a

interação mais próxima com os seguintes volumes: o caderno 6, intitulado “Psicologia

do esporte”, no âmbito do processo de construção de valores; o caderno 7, “O esporte

como possibilidade de desenvolvimento”, no processo de construção de uma

pedagogia do esporte consistente; e o caderno 12, “Pedagogia da cooperação”, no

contexto teórico e prático de tornar o esporte mais cooperativo, tendo em vista a

construção de valores e de uma cultura de paz. Cabe também destaque especial às

atividades propostas, aos instrumentos e a alguns indicadores de acompanhamento e

avaliação mencionados no caderno 12, de forma a permitir o início do processo de

debates e discussão acerca da avaliação do Programa, com vistas à sua validade e

eficiência no processo da aprendizagem de valores e, consequentemente, desta para

com o novo conceito de desenvolvimento humano da Fundação Vale.

Pelos motivos expostos acima é que se investe, no atual momento do Programa –

como indicado no caderno 11, intitulado “Avaliação física” –, na estruturação e na

organização de um amplo processo de avaliação, envolvendo as questões físicas e

motoras (com foco quantitativo), e nas questões sociais e humanas (com foco

34

Caderno de referência de esporte

Page 34: Valores no esporte; 2013

qualitativo). Ambas as questões devem estar orientadas no contexto da avaliação de

valores como requisito fundamental para o aprofundamento do conhecimento no

campo da educação olímpica, levando-se em consideração os quatro pilares da

educação formulados por Jacques Delors, abordados com propriedade em outros

cadernos desta série.

35

Valores no esporte

Page 35: Valores no esporte; 2013

Não se tem a pretensão de esgotar os subtemas abordados anteriormente, mas

considera-se a sua relevância e a necessidade de ampliação deste debate no âmbito

do esporte como um todo e do Programa Brasil Vale Ouro. No caso do Programa,

leva-se em conta o contexto do processo de formação continuada e interação entre

os territórios onde ele é desenvolvido, juntamente com entidades e instituições

representativas do esporte no Brasil e no mundo em prol da retomada dos princípios

éticos no e do esporte. Com isso, defende-se o respeito pela ética e pela saúde

humana, de acordo com os valores relacionados no decorrer do presente caderno,

sem se medir esforços na luta contra um dos maiores adversários do esporte na

atualidade: a dopagem.

O maior equívoco existente neste debate encontra-se na capacidade do ser humano

de refletir se pode ou deve utilizar-se de recursos lícitos ou ilícitos para superar,

fisicamente, a si próprio e/ou seus semelhantes, quando, na realidade, está abrindo

mão de cooperar e interagir em prol do seu desenvolvimento e do desenvolvimento

humano como um todo, privando-se de sua liberdade em busca da autopromoção

incentivada pela mídia e pelo próprio mercado esportivo.

Assim, acredita-se no poder das informações e dos alertas e, em especial, na educação

pelo esporte, por meio da implementação de ações de combate e de prevenção ao

doping esportivo, respeitando-se as normas e os regulamentos nacionais e

internacionais em favor do jogo limpo, como forma de sensibilizar a população e

combater esse mal que denigre a imagem dos atletas, do esporte nacional e do país,

de forma mais ampla.

Acredita-se que o esporte não pode ser reduzido e identificado apenas pelo

desempenho, pela competitividade, pelas Copas do Mundo, pelas Olimpíadas e pelos

atletas profissionais. A própria ONU indica que o esporte é muito mais amplo do que

isso; a Organização acredita no esporte como oportunidade para o desenvolvimento

do senso de comunidade e de um propósito comum, enfim, como uma conquista da

humanidade (UNITED NATIONS, 2005b).

Acredita-se ainda no potencial do esporte para transmitir mensagens de forma eficaz

e influenciar comportamentos, assim como na sua capacidade de desenvolver valores

humanos e sociais que têm sido cada vez mais reconhecidos nos últimos tempos,

como instrumentos de combate à injustiça e à discriminação.

Assim, embora o esporte seja dotado de princípios como a competição, os valores não

são essencialmente do esporte, mas se refletem no esporte e são também produzidos

a partir dos significados que os indivíduos, os grupos sociais e as instituições conferem

à sua prática (REPPOLD FILHO et al., 2009, p. 185).

Nesse propósito caminha o Programa Brasil Vale Ouro, a partir do momento em que

entende a possibilidade de consolidação de um novo conceito de desenvolvimento

humano, indicando o esporte como um dos seus eixos e fator de promoção. Por sua

vez, o esporte requer uma educação pautada em valores, tais como os abordados no

decorrer desta série de 12 cadernos de referência e da “Proposta pedagógica de

36

Caderno de referência de esporte

6. Considerações finais

Page 36: Valores no esporte; 2013

esporte”, todos materiais a serem trabalhados e aprofundados no processo de

formação, de supervisão e de avaliação do Programa.

Por fim, acredita-se que a promoção de valores por meio do esporte representa uma

pequena, mas eficaz forma de desenvolvimento de valores humanos, condizentes com

atitudes e ações de uma sociedade mais justa e menos discriminatória. Nesse processo,

os profissionais de educação física e dos esportes atuam como protagonistas.

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