Upload
vukien
View
212
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1674
VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
TÉCNICAS DE SENSORIAMENTO REMOTO APLICADAS AO ESTUDO DO CLIMA URBANO EM CIDADE LITORÂNEA: O CASO DE UBATUBA-SP
WASHINGTON PAULO GOMES1
MARGARETE CRISTIANE DE COSTA TRINDADE AMORIM2
RESUMO
A utilização de técnicas do sensoriamento remoto tem sido um instrumento bastante importante para elaboração de diagnósticos das ilhas de calor de superfície e identificação dos níveis de vegetação. Tais técnicas podem ser consideradas como um avanço no campo da cartografia e consequentemente se apresentam como progressos no campo dos procedimentos metodológicos nos estudos de clima urbano.O trabalho teve como objetivo analisar as características do índice de vegetação em relação às diferenças de temperaturas de superfície intraurbanas e rural, em episódios de verão e inverno, na cidade de Ubatuba-SP. Os resultados mostraram que houve diferenças significativas das temperaturas da superfície nos dois episódios e em ambos os casos as maiores temperaturas foram encontradas nas áreas com baixa densidade de vegetação. Palavras-chave:Sensoriamento remoto; Índice de vegetação; Temperatura de superfície; Ubatuba-SP.
ABSTRACT The use of remote sensing techniques has been a very important tool for making diagnoses of surface heat islands and identification of vegetation levels. Such techniques can be considered as na advance in the field of mapping and consequently present as progress in the field of the methodological procedures in the urban climate studies. The study aimed to analyze the vegetation index behavior and the differences on intra-urban and rural surface temperatures, in episodes of summer and winter, in the town of Ubatuba-SP. The results showed that there were significant differences of the surface temperatures on the two episodes and in both cases the higher temperatures were found in low density vegetation areas. Key words: Remote sensing; vegetation index; Surface temperature; Ubatuba-SP.
1 – Introdução
A partir da comparação entre a temperatura urbana e a rural circundante, pode-se
detectar a geração do clima urbano na perspectiva do subsistema termodinâmico. A cidade
não é um todo homogêneo e possui especificidades intraurbanas, sobretudo, em relação às
diferenças existentes nas características do uso e da ocupação da terra no interior da
cidade.
Diversos tipos de materiais construtivos absorvem e retêm mais radiação solar do
que os materiais naturais em áreas rurais ou menos urbanizadas, favorecendo a geração de
ilhas de calor nas áreas densamente construídas.
1Mestrando do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Presidente Prudente-SP. E-mail de contato: [email protected] 2 Docente do programa de pós-graduação da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Presidente Prudente-SP. E-mail de contato: [email protected]
1675
VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
A utilização de técnicas do sensoriamento remoto tem sido um instrumento bastante
importante para a elaboração de diagnósticos das ilhas de calor de superfície e identificação
dos níveis de vegetação.
Tais técnicas podem ser consideradas como um avanço no campo da cartografia e
consequentemente se apresentam como progressos no campo dos procedimentos
metodológicos nos estudos de clima urbano.
Partindo desses pressupostos, fica cada vez mais evidente, nos últimos anos, a
importância dos trabalhos utilizando as técnicas do sensoriamento remoto, por meio da
utilização do sensor infravermelho termal das imagens de satélites para o diagnóstico das
ilhas de calor de superfície e as bandas do vermelho e infravermelho próximo para a
identificação de áreas com maiores índices de vegetação.
Assim, é possível obter o maior grau de detalhamento numa visão espacial das
temperaturas de superfície, podendo se relacionar com a ausência ou não de áreas verdes.
Deste modo, é possível identificar as áreas mais quentes e correlacionar com o uso e
ocupação da terra em determinada região e seu entorno.
O trabalho teve como objetivo analisar as características do índice de vegetação em
relação às diferenças de temperaturas de superfície intraurbanas e rural, em episódios de
verão e inverno, na cidade de Ubatuba-SP.
O município de Ubatuba (Figura 1) está localizado no Litoral Norte do estado de São
Paulo, na latitude do Trópico de Capricórnio. Apresenta uma área continental de 723 km²
(Censo IBGE 2010) e situa-se numa área de transição climática entre os sistemas
atmosféricos intra e extratropicais, apresentando maior atuação dos sistemas tropicais e
grande atividade frontal.
A área está localizada entre o cume das escarpas cristalinas da Serra do Mar e a
linha de costa, possui uma faixa litorânea relativamente estreita que varia de 8 a 16 km de
largura e 92 km de extensão.
1676
VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
Figura 1 – Localização do município de Ubatuba, São Paulo, Brasil
Segundo Cruz (1990), este trecho do litoral paulista apresenta-se muito recortado,
compostos por enorme quantidade de vertentes alongadas, na sua maioria escarpadas, com
fortes amplitudes topográficas entre os topos e o fundo dos vales e com a presença de
escarpas festonadas, que em muitos casos, terminam diretamente no oceano.
2 – Clima e sensoriamento remoto
Este trabalho se fundamenta a partir da proposta teórico-metodológica elaborada por
Monteiro (1976), que se refere aos estudos do Sistema Clima Urbano, neste caso, com
ênfase no subsistema termodinâmico.
Segundo Monteiro (1976), a responsabilidade desse subsistema está vinculada a
uma co-participação (intercâmbio) entre o homem e a natureza, pois, seu insumo está
relacionado a radiação solar (balanço de energia) e sua transformação está diretamente
atrelada ao uso da terra, a morfologia urbana e aos materiais construtivos utilizados.
Segundo Oke (1987), as ilhas de calor urbanas podem ser diferenciadas em três
tipos: 1 – a ilha de calor superficial diagnosticada por meio do sensoriamento remoto; 2 – a
ilha de calor atmosférica inferior (urban canopy layer), compreendida entre o nível do solo e
o nível médio dos telhados; 3 - a ilha de calor da atmosfera urbana superior (urban boundary
layer). Esta se sobrepõe à anterior e se estende por vezes até à atmosfera livre.
1677
VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
A característica mais significativa da ilha de calor é sua intensidade, entendida como
a diferença entre o máximo da temperatura urbana e o mínimo da temperatura rural (OKE,
1987).
Esta característica está relacionada com os fatores que contribuem para a formação
da ilha de calor, tais como, os fatores naturais (situação sinótica, relevo e presença de
superfícies com vegetação e/ou água) ou propriamente urbanos (morfologia urbana e
atividades antropogênicas) (AMORIM, 2010).
Deste modo, com a evolução das técnicas e a facilidade de acesso as imagens
orbitais, o sensoriamento remoto tem se tornado um importante instrumento para o
monitoramento de processos ambientais e tem sido usado com grande frequência nos
estudos de climatologia contribuindo para elaboração de diagnósticos das ilhas de calor de
superfície, identificação dos níveis de vegetação e possibilitando a tomada de decisão para
a preservação ambiental (RAMOS et al., 2010).
Segundo Meneses e Almeida (2012), o termo sensoriamento remoto foi introduzido
no início dos anos 1960 e se tornou uma das mais bem sucedidas tecnologias de coleta
automática de dados para o levantamento e monitoramento dos recursos terrestres em
diferentes escalas, sobretudo, na escala global.
De acordo com Jensen (2009), o sensoriamento remoto consiste no registro da
informação de uma determinada região, sem contato, por meio de instrumentos, tais como,
dispositivos localizados em plataformas como aeronaves ou satélites, e a análise da
informação adquirida por meio visual ou processamento digital de imagem. O objeto
imageado é registrado pelo sensor por meio de medições da radiação eletromagnética, tal
como a luz solar refletida da superfície de qualquer objeto.
Os sensores remotos são dispositivos capazes de registrar a radiação
eletromagnética, expressa em termos de comprimento de ondas. O espectro
eletromagnético é dividido em regiões ou faixas espectrais, assim, cada alvo da superfície
terrestre que emite ou reflete radiação tem um comportamento de onda diferenciado no
espectro eletromagnético.
Neste trabalho optou-se pela utilização do canal infravermelho termal para
diagnosticar a distribuição da temperatura de superfície e também a utilização do cálculo do
Índice de Vegetação Diferencial Normalizada (NDVI) - (Normalized Difference Vegetation
Index), para identificar os diferentes níveis de vegetação.
1678
VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
O NDVI é calculado utilizando as porções da energia eletromagnética refletida pela
vegetação nas bandas do vermelho (comprimento de onda = 0,64 – 0,67 micrômetros) e do
Infravermelho próximo (comprimento de onda = 0,85 – 0,88 micrômetros)3.
O princípio físico do NDVI se baseia na assinatura espectral das plantas. As plantas
verdes e com vida absorvem fortemente radiação solar na região do vermelho para utilizar
esta radiação como fonte de energia no processo de fotossíntese. Por outro lado, as células
das plantas refletem fortemente na região do infravermelho próximo. As porções absorvidas
no vermelho e refletidas no infravermelho variam de acordo com as condições das plantas.
Quanto mais verdes, nutridas, sadias e bem supridas do ponto de vista hídrico for a planta
maior será a absorção do vermelho e maior será a reflectância do infravermelho. Assim a
diferença entre as reflectâncias das bandas do vermelho e do infravermelho será tanto maior
quanto mais verde for a vegetação (VELASCO et al., 2007).
Deste modo, os dados de temperatura da superfície sobrepostos com as
informações de uso e ocupação da terra, configuram-se em um indicador importante para a
análise de qualidade ambiental urbana. A vegetação tem um papel fundamental na
paisagem das cidades, e atua como um dos fatores principais na escala intraurbana, no que
se refere ao conforto térmico e consequentemente à qualidade de vida das pessoas.
3 – Procedimentos Metodológicos
A verificação da temperatura de superfície ocorreu por meio da utilização de técnicas
do sensoriamento remoto. As imagens do satélite Landsat-8 do canal infravermelho termal
(banda 10), com resolução espacial de 30 metros, foram adquiridas gratuitamente através
do site da organização "United States Geological Survey" (USGS)4, e correspondem à
órbita/ponto 218/76.
Os procedimentos para o mapeamento da temperatura da superfície foram
realizados no aplicativo IDRISI5 versão TAIGA. Utilizaram-se as constantes de calibração do
sensor do satélite para a conversão dos números digitais em energia radiante,
representados em tons de cinza.
A conversão dos níveis de cinza para informações de radiância foi realizada após a
criação de um projeto para importar a imagem do canal térmico (banda 10) no Idrisi, e com a
aplicação da equação (Quadro 1):
(1)
3http://landsat.usgs.gov/band_designations_landsat_satellites.php 4Disponível em <http://earthexplorer.usgs.gov>. 5Idrisi é marca registrada da Clark Labs.
1679
VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
Lλ Radiância do topo da atmosfera (Watts/(m2 * srad * μm))
ML
Fator multiplicativo de redimensionamento de cada banda presente nos
metadados (RADIANCE_MULT_BAND_x, onde x é o número da banda)
Qcal Valores de pixel quantificados e calibrados do produto padrão (DN)
AL
Fator aditivo de redimensionamento de cada banda presente nos metadados
(RADIANCE_ADD_BAND_x, onde x é o número da banda)
Quadro 1 – Elementos da fórmula de conversão para radiância6
Em seguida, a partir da energia radiante foi possível obter a temperatura dos alvos,
em Kelvin, por meio da seguinte equação (Quadro 2):
(2)
T Temperatura efetiva no satélite em Kelvin
K2 Constante de calibração 2
K1 Constante de calibração 1
L Radiância espectral, em Watts / (metro quadrado ster * * mm).
Quadro 2 – Elementos da fórmula de conversão para Kelvin7
Após esses procedimentos, aplicou-se a fórmula para converter a temperatura Kelvin
em graus Celsius, subtraindo os valores de temperatura de cada pixel da imagem por
273,15, por meio da equação (Quadro 3):
(3)
°C Temperatura da imagem em graus Celsius
𝑰𝒎𝒈𝑲 Temperatura da imagem em Kelvin
Quadro 3 – Elementos da fórmula de conversão para graus Celsius
6 Os valores de radiância espectral correspondentes aos elementos da fórmula são encontrados no arquivo metadados que são baixados em conjunto com os arquivos das imagens. 7 Os valores das constantes de calibração correspondentes na fórmula são encontrados no arquivo metadados que são baixados em conjunto com os arquivos das imagens.
1680
VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
Para este trabalho foram selecionadas cartas de temperatura da superfície
representativas do verão e do inverno, uma vez que estas são as estações do ano em que a
incidência de radiação solar mais se distingue e assim, resultam em diferentes respostas da
superfície. Para tanto, foram utilizadas imagens de satélite capturadas nos dias 19 de
janeiro e 28 de junho de 2015.
Para a verificação dos níveis de vegetação, foi o utilizado o Índice de Vegetação
Diferencial Normalizada (NormalizedDifferenceVegetation Index – NDVI). O cálculo do NDVI
foi elaborado no aplicativo Quantum GIS 2.10.18 e trata-se do modelo resultante da
combinação dos níveis de reflectância das bandas espectrais do vermelho e infravermelho.
As reflectâncias das bandas 4 (vermelho) e 5 (infravermelho próximo) do satélite Landsat-8,
capturas no mesmo dia das imagens termais, resolve-se pela seguinte equação (Quadro 4):
(4)
IVP Valor da reflectância da banda no Infravermelho próximo
VP Valor de reflectância da banda no vermelho
Quadro 4 – Elementos da fórmula do calcúlo do NDVI
A aplicação da equação gera um índice que varia de (-1) a (+1), neste caso, quanto
maior o valor do índice (próximo de +1), maior a presença de vegetação no período
analisado.
Posteriormente, para a seleção das áreas que compreendem a cidade na imagem de
satélite, foi importada a malha de setor censitário georreferenciada disponibilizada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Assim, foram possíveis as análises da
distribuição da temperatura e da densidade de vegetação em Ubatuba, bem como a
identificação das ilhas de calor de superfície, por meio do sensoriamento remoto.
4 - Resultados
A utilização do sensor infravermelho termal é uma técnica importante para fornecer a
temperatura qualitativa da cidade, que muito pode contribuir na perspectiva do planejamento
urbano, na medida em que são definidos padrões na distribuição da temperatura da
superfície de acordo com o uso e a ocupação da terra (AMORIM et al., 2011).
8Quantum GIS é marca registrada da QGIS.
1681
VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
Analisando a imagem do satélite da área urbana de Ubatuba e seu entorno,referente
ao episódio de verão(Figura 2), capturada no dia 19 de janeiro de 2015, pode-se perceber
que as temperaturas dos alvos se apresentaram bastante elevadas, atingindo 37oC.
Área central (calçadão)Bairro periférico (Ipiranguinha)
Área preservada da serra do mar
Condomínio próximo
a orla da praia
(Praia do Tenório)
Figura 2 – Carta de temperatura da superfície para o episódio de verão da área urbana do município de Ubatuba-SP elaborada a partir da imagem do infravermelho termal (banda 10) do sensor TIRS do
Landsat-8 de 19/01/2015
A cidade respondeu de forma mais significativa aos efeitos da radiação solar no
episódio de verão, chegando a apresentar 13oC de diferença entre as áreas preservadas da
serra do mar e o centro da cidade, e também em relação aos bairros periféricos de baixo
padrão construtivo, variando em termos absolutos entre 24oC e 35oC.
Como pode-se observar na Figura 2, no condomínio de alto padrão construtivo
localizado na orla da praia, as temperaturas permaneceram em torno de 28oC e 29oC,
sobretudo, devido a qualidade dos materiais e pela presença marcante de vegetação
arbórea.
De acordo com a carta de NDVI para o episódio de verão (Figura 3), também é
possível notar a diferenciação entre a área urbana e seu entorno, estando a cidade com
1682
VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
valores próximos a zero, enquanto que o campo apresentou predominância de valores
positivos.
Figura 3 – Carta de NDVI para o episódio de verão da área urbana do município de Ubatuba-SP
elaborada a partir da imagem do vermelho (banda 4) e infravermelho próximo (banda 5) do Landsat-8 de 19/01/2015
A coloração verde expressa valores que representam altos índices de vegetação
(valores positivos), já a coloração vermelha representam ausência de vegetação (valores
negativos), neste caso, representado pela água do mar, pois a água apresenta valores de
reflectância maiores no visível do que infravermelho. A coloração bege e laranja
correspondem aos valores próximos de zero, e consequentemente, baixos índices de
vegetação. Na carta estão representadas pelas áreas construídas.
Assim, pode-se observar que todo o entorno, marcado pela presença das escarpas
da serra do mar e pela densidade da cobertura vegetal proveniente da mata Atlântica,
representam valores próximos do extremo positivo (0,6). Entretanto, esse valor diminui
gradativamente quando se aproxima do ambiente construído na área central da cidade,
evidenciando a pouca cobertura vegetal no espaço intraurbano.
1683
VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
Na imagem do satélite referente ao episódio de inverno (Figura 4), capturada no dia
28 de junho de 2015, as temperaturas absolutas dos alvos foram mais amenas por toda a
cidade, entretanto, também pode-se notar diferenças de até 11oC do centro da cidade em
relação às demais áreas.
Área central
Orla da praia do centro
Área preservada da serra do mar
Vertente voltada para sudoeste
(Bairro Toninhas) Figura 4 – Carta de temperatura da superfície do episódio de inverno da área urbana do município de
Ubatuba-SP elaborada a partir da imagem do infravermelho termal (banda 10) do sensor TIRS do Landsat-8 de 28/06/2015
Deste modo, no que diz respeito à análise das temperaturas das superfícies
intraurbanas, percebeu-se claramente a influência e a importância da vegetação para o
aumento ou não da temperatura da superfície. Nas áreas mais próximas às escarpas
preservadas da Serra do Mar, as temperaturas se apresentaram de forma mais amenas do
que nas áreas densamente urbanizadas.
Mesmo com diferenças absolutas bastante significativas entre os dois episódios
(verão e inverno), constatou-se que as áreas com temperaturas de superfícies mais
elevadas se repetiram nos dois casos, sendo possível identificar grandes ilhas de calor
urbana de superfície espalhadas pela cidade, sobretudo na área central, densamente
urbanizada.
1684
VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
De acordo com a carta de NDVI para o episódio de inverno (Figura 5), é possível
perceber que com a diminuição da precipitação e da temperatura nesta época do ano, a
vegetação fica menos exuberante. Assim, como se trata de uma área com declividade
acentuada na Serra do Mar é possível identificar em vários pontos de relevo
escarpado(acima de 75% de declividade) a presença de rocha exposta ou com vegetação
pouco densa.
Figura 5 – Carta de NDVI para o episódio de inverno da área urbana do município de Ubatuba-SP
elaborada a partir da imagem do vermelho (banda 4) e infravermelho próximo (banda 5) do Landsat-8 de 28/06/2015
Os resultados mostraram que houve uma grande diferença das temperaturas da
superfície nos episódios de verão e inverno, sendo que em ambos os casos as maiores
temperaturas foram encontradas em áreas com baixa densidade de vegetação.
O NDVI também se apresentou com índices associados no município de Ubatuba,
quando o solo com vegetação perde energia através dos processos de fotossíntese,
evaporação e evapotranspiração, sendo que nos dois últimos há a transformação do calor
sensível em calor latente, diminuindo a temperatura.
Deste modo, nota-se que a temperatura da superfície da área urbana de Ubatuba é
resultado direto da cobertura do solo pela presença ou não de vegetação, ou seja, os locais
1685
VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
com menores valores de NDVI se mostraram com maiores temperaturas da superfície,
enquanto que áreas com maiores valores NDVI, apresentaram as menores temperaturas.
5 – Considerações finais
A utilização das técnicas do sensoriamento remoto é importante para os estudos no
campo da climatologia urbana. Por meio das informações geradas através dessas técnicas
foi possível verificar as diferenças das temperaturas dos alvos no ambiente urbano, a
caracterização das ilhas de calor de superfície e a identificação do índice de vegetação na
cidade de Ubatuba-SP.
A análise das temperaturas das superfícies intraurbanas mostrou claramente a
influência e a importância da vegetação para o aumento ou não da temperatura dos alvos.
Nas áreas mais próximas as escarpas preservadas da Serra do Mar, as temperaturas se
apresentaram de forma mais amenas do que nas áreas densamente urbanizadas.
Mesmo com diferenças absolutas bastante significativas entre os dois episódios
(verão e inverno), constatou-se que as áreas com temperaturas de superfícies mais
elevadas se repetiram nos dois casos, sendo possível identificar ilhas de calor de superfície
espalhadas pela área central da cidade.
O monitoramento com o sensoriamento remoto, por meio dos seus índices como o
NDVI, que tem sido aperfeiçoado e constantemente aplicado na avaliação da vegetação,
neste caso, a aplicação se mostrou bastante adequada e pode contribuir no estudo do clima
urbano.
6 – Referências AMORIM, M.C.C.T. Climatologia e Gestão do Espaço Urbano. Revista Mercator, p. 71-90, 2010.
AMORIM, M. C. C. T., MONTEIRO, A. As temperaturas intraurbanas: exemplos do Brasil e de Portugal. Confins (Paris), v.13, p.1-18, 2011.
AMORIM, M. C. C. T.; SANT'ANNA NETO, J. L.; DUBREUIL, V. Estrutura térmica identificada por transectos móveis e canal termal do Landsat7 em cidade tropical. Revista de Geografia Norte Grande, nº 43, p. 65-80, 2009. BIAS, E.S.; BAPTISTA, G.M.M.; LOMBARDO, M. A. Análise do fenômeno de ilhas de calor urbanas, por meio da combinação de dados Landsat e Ikonos. In: XI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Belo Horizonte – BH, p. 1741-1748, 2003.
CRUZ, O. Contribuição Geomorfológica ao estudo de escarpas da serra do mar. Revista, Instituto Geológico, São Paulo, l990
1686
VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
DORIGON, L. P.; AMORIM, M. C. C. T. Técnicas de sensoriamento remoto (temperatura da superfície e ndvi) aplicadas aos estudos de clima urbano, o Exemplo de Paranavaí/PR.In: VII Congresso Brasileiro de Geógrafos, Vitória – ES, p. 01-11, 2014.
JENSEN, John R. Sensoriamento Remoto do ambiente: uma perspectiva em recursos terrestres. 2 ed. São José dos Campos: Parênteses, 2009.
MENESES, P. R.; ALMEIDA, T. (Org.) Introdução ao processamento de imagens de sensoriamento remoto.UNB, Brasília, 2012.
MONTEIRO, C. A. de F. O clima e a organização do espaço de São Paulo: problemas e perspectivas. São Paulo: IGEOG/USP, 1976. (Série Teses e Monografias, nº 28).
Oke, Tim R. BoundaryLayerClimates. Routledge, 1987. 435 p.
RAMOS, R. R. D.et, al. Aplicação do índice da vegetação por diferença normalizada (NDVI) naavaliação de áreas degradadas e potenciais para unidades de conservação. In: III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação, Recife - PE, p. 01-06, 2010.
ROSEMBACK, R.; FRANÇA, A. M. S.; FLORENZANO, T. G. Análise comparativa dos dados NDVI obtidos de imagens CCD/CBERS-2 e TM/LANDSAT-5 em área urbana. In: XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Goiânia – GO, p. 01 – 08, 2005.
VELASCO, G. D. N. et, al. Aplicação do índice de vegetação NDVI (NormalizedDifferenceVegetation Index) em imagens de alta resolução no município de São Paulo e suas limitações. Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, v. 2, n. 3, 2007.
United States Geological Survey (USGS) Disponível em <http://earthexplorer.usgs.gov> Acessado em 25 de fev. 2016.
ZANZARINI, F. V. et, al. Correlação espacial do índice de vegetação (NDVI) de imagem Landsat/ETM+ com atributos do solo. Revista Brasileirade Engenharia Agrícola e Ambiental, v.17, n.6, p.608–614, 2013.