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CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO - FAE MATHEUS HENRIQUE DOS SANTOS VELOCIDADE APLICADA EM ATACANTES DO FUTEBOL SÃO JOÃO DA BOA VISTA – SP 2009 9

VELOCIDADE APLICADA EM ATACANTES DO FUTEBOL · para o sucesso nas temporadas. ... componente do sistema de treinamento de desportista e tem como ... correm em intensidade baixa em

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO - FAE

MATHEUS HENRIQUE DOS SANTOS

VELOCIDADE APLICADA EM ATACANTES DO FUTEBOL

SÃO JOÃO DA BOA VISTA – SP2009

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INTRODUÇÃO

Segundo (Tubino apud Alves e Bello, 2008) o esporte é um fenômeno sócio-

cultural sendo uma manifestação da cultura física fundamentada na Educação Física e

que é uma atividade competitiva, institucionalizada, que envolve esforço físico vigoroso

e o uso de atividades motoras complexas.

Atualmente, o futebol está cada vez mais em evidência e disputado. Já não existe

mais tanta diferença entre os chamados times “grandes” e times “pequenos”, como

havia antes desse desenvolvimento do esporte.

Neste novo contexto, o preparo físico das equipes se tornou importantíssimo

para o sucesso nas temporadas. Desse modo, a cada vez mais, se tem buscado na ciência

as bases para a preparação das equipes.

Diante presença da ciência na preparação física das equipes de futebol, a fim de

se obter melhores resultados, o presente trabalho visa apresentar bases científicas para a

preparação no futebol, além de analisar a metodologia de trabalho empregada por

alguns profissionais da área.

Uma das hipóteses com a qual trabalhamos que pode explicar a presença de

bases científicas na preparação física de jogadores de futebol refere-se ao fato de que,

no futebol moderno haja a necessidade de se ter um jogador rápido, forte, capaz de

vencer resistências e de suportar cargas intensas e, ao mesmo tempo, durante o jogo,

manter um nível de rendimento alto na presença de fadiga. Portanto o jogador deve ter

força, velocidade, resistência e flexibilidade de forma harmônica e conjugada para que

uma capacidade possa auxiliar a outra. (BARROS e GUERRA, 2004). Todas estas

habilidades podem resultar de um melhor preparo físico, e caso a ciência esteja

oferecendo suporte a este preparo, os resultados podem ser ainda melhores.

Assim, pretendemos identificar a percepção dos preparadores físicos quanto ao

treinamento de velocidade para os atacantes e suas implicações no planejamento de um

treinamento, bem como analisar as vias metabólicas utilizadas pelo jogador de futebol,

definir a distância percorrida por um atacante em um jogo, e como essa distância é

percorrida (tiros, corridas, trotes, caminhadas, recuperação), analisar as subdivisões de

velocidade utilizadas no treinamento e identificar a metodologia de treinamento de

velocidade utilizada pelos preparadores físicos.

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Através de parâmetros e estudos científicos voltados para a velocidade em

atacantes do futebol, percebe-se que o alto poder de decisão que este possui em uma

partida relaciona-se à importância do treinamento de velocidade a que ele é submetido,

pois, se ele é mais veloz, ele chega primeiro e sendo assim pode decidir um jogo ou até

mesmo um campeonato. O treinamento no futebol, como qualquer outro esporte, requer

uma valorização e evolução continuada dos aspectos trabalhados (BUENO, 2007).

A busca por um melhor preparo físico no que diz respeito à velocidade dos

jogadores de futebol e o interesse em pesquisar tal assunto, que motivou a elaboração do

presente trabalho se deve ao fato de ser a preparação da velocidade algo complexo,

diferentemente do que prega o senso comum. Segundo (Hollmann apud BARBANTI,

1996) a velocidade pode ser entendida como a máxima rapidez de movimento que pode

ser alcançada, cujo grau de aperfeiçoamento depende dos seguintes fatores: força

básica, coordenação, velocidade de contração da musculatura, viscosidade das fibras

musculares, relação de alavancas extremidades-tronco e a elasticidade muscular.

Para o desenvolvimento do presente trabalho, em um primeiro momento, foram

realizados levantamentos bibliográficos que oferecessem uma base teórica relacionada à

velocidade aplicada em atacantes do futebol. Posteriormente, partimos para uma

pesquisa de campo composta por aplicação de questionários a alguns preparadores

físicos que trabalham no futebol. Com a aplicação destes questionários buscamos

analisar a metodologia de trabalho empregada por esses profissionais.

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1. FUTEBOL

1.1 Fisiologia do Futebol

Hoje em dia, o futebol é altamente competitivo, cujas equipes estão todas

niveladas, e que, cada vez mais recorrem à ciência para obterem resultados positivos,

visto que um pequeno detalhe pode decidir uma partida (ALMEIDA e NAVARRO,

2009).

Essa competitividade entre as equipes se deve a uma maior preocupação com a

preparação física dos jogadores, como destaca Gomes (2009). A preparação física é um

componente do sistema de treinamento de desportista e tem como objetivo propiciar o

bom desenvolvimento e aperfeiçoamento em um nível máximo para o desempenho em

determinada modalidade. No caso do futebol, que é um esporte complexo e que mexe

com a emoção dos espectadores, há a necessidade de se fazer um bom planejamento de

treinamento em razão das particularidades que rodeiam tal modalidade, como por

exemplo, calendário de competição, composição do grupo de atletas, objetivos da

direção técnica e patrocínio (OLIVEIRA, 2008).

A estrutura funcional do futebol, que se difere da de um esporte individual,

serviu de referência ao se estabelecer métodos de treinamento. Assim, a partida envolve

as diferenças individuais, que se manifestam de diferentes modos, de acordo com o

trabalho específico que cada jogador realiza. O novo conceito de treinamento dos

esportes trouxe algumas mudanças significativas, observadas, sobretudo, nos requisitos

dos atletas.

Para se elaborar o programa de treinamento é necessário conhecer qual é a carga

fisiológica requisitada durante o jogo. Outro fator importante na estrutura de um

programa de treinamento é observar como e de que forma essa carga é manifestada, ou

seja, a intensidade dos deslocamentos, número de sprints1, pausas entre os sprints e

frequência cardíaca (GOMES e SOUZA, 2008).

O atleta deve estar em condições ideais em todas as qualidades físicas e técnicas,

por isso, os treinamentos que obedecem a critérios científicos procuram dar aos

jogadores as melhores condições que lhes possibilitam realizar, em campo, jogadas

táticas com perfeito equilíbrio psicológico (BORSARI, 1989).

O futebol pode ser considerado como sendo uma modalidade esportiva na qual

os jogadores apresentam características fisiológicas diferentes entre si. Entretanto,

1 Tiro em velocidade máxima

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quando se fala em funções desempenhadas em um time, deve-se sempre conhecer o que

cada posição exige fisiologicamente do jogador para assim saber se está preparado ou

não para desempenhar tal posição no time (BARROS e GUERRA, 2004).

Como se tem buscado cada vez mais a ciência e a tecnologia a favor do futebol,

alguns parâmetros devem ser analisados, como a distância percorrida durante uma

partida.

A distância percorrida pelo jogador serve como parâmetro para a determinação

de sua demanda energética e para elaboração do programa de treinamento. Estudos

realizados com o objetivo de mensurar este parâmetro modernizaram as ações no

futebol. Ao se analisar a maioria destes estudos pode-se afirmar que a distância média

fica em torno de 10 km por partida. Vale notar que apesar das mudanças táticas e físicas

observadas, nos últimos trinta anos, esta distância pouco variou. Como esperado, ao se

analisar as diferentes posições, observa-se que jogadores de meio-campo, devido sua

função de ligação entre a defesa e o ataque, percorrem as maiores distâncias em relação

a atacantes ou defensores (EKBLOM e colaboradores apud AOKI, 2002).

Aoki (2002) diz que os jogadores cadenciam seus ritmos através de percepções

do que eles realmente podem realizar. O percurso total percorrido na forma de sprint

está entre 500m e 3000m para um número de cem sprints por jogo. Com base nas

pesquisas de Gerish/Rutemöller/Weber, deduz-se que os jogadores da liga amadora

alemã percorrem em média 9050 +ou- 969m, sendo 1500m com a

velocidade/intensidade de 5m/s ou mais.

Apesar de não haver variação na distância percorrida pelos jogadores de

diferentes posições, a maneira (ou intensidade) como as mesmas são percorridas por

atacantes, defensores e meio campistas é diferente. Em geral, a distância percorrida

pelos jogadores durante uma partida também dependerá da qualidade do adversário, do

nível da competição, das considerações táticas, da importância do jogo, da motivação

dos jogadores, do tipo de grama e das condições ambientais (BARROS e GUERRA,

2004).

Outro fator a ser analisado durante os treinamentos e jogos é a frequência

cardíaca dos jogadores, que foi analisada, em 1988, por Rhode & Espersen. Eles

relataram valores de frequência cardíaca inferiores a 73% da frequência cardíaca

máxima (FCmax) durante 11% do tempo de jogo. Valquer et al. (2002) analisaram

dezenove atletas pertencentes à primeira divisão do futebol brasileiro e verificaram que

a partida de futebol é disputada a 86% da FCmax e que a zona de intensidade mais

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frequente foi entre 160-170 bpm2, que correspondeu a 28% do tempo total de jogo

(BARROS e GUERRA, 2004).

Durante o jogo, a FC média é de aproximadamente 160-165 bpm, se mantendo

em torno de 80-85% da FCmax. Smoldlaka (1978) reportou que a FC permanece acima

dos 85% da FCmax durante 2/3 do tempo de jogo (AOKI, STOLEN et al. apud

BARROS e GUERRA, 2004) relataram que durante os 90 minutos da partida, jogadores

de alto nível correm aproximadamente 10 km, com uma intensidade média de 80-90%

da frequência cardíaca máxima e que várias atividades de caráter explosivo são

exigidas, tais como saltos, sprints, mudanças de direção e saídas rápidas.

O potencial aeróbio ou a capacidade que o corpo tem de produzir energia na

presença de oxigênio determina a capacidade de resistência do atleta. Segundo Gomes e

Souza (2008) podem ser definidas como a capacidade ou habilidade de suportar a

fadiga. A alta capacidade aeróbia, vital para o treinamento, também facilita a

recuperação mais rápida durante e após o treinamento. Uma recuperação ágil permite

que o atleta reduza o intervalo de descanso e execute o trabalho com mais alta

intensidade.

Como resultado de intervalos de descanso mais curtos, é possível aumentar o

número de repetições, aumentando também o volume de treinamento. Uma taxa de

recuperação rápida, conquistada pela alta capacidade aeróbia, é também importante em

desportos que requerem muitas repetições de uma habilidade, como eventos de salto ou

um número grande de períodos curtos de exercício intenso em desportos de equipe,

como hóquei e futebol (BOMPA, 2002)

Estudos relataram que jogadores profissionais realizam as seguintes atividades

durante o jogo: ficam parados em cerca de 17,1% do tempo total do jogo, andam em

40,4% do tempo, correm em intensidade baixa em 35% do tempo e em 8,1% do tempo

correm com intensidade alta BANGSBO et al. MUJIKA et al. apud BARROS e

GUERRA, 2004). Pode-se dizer, ainda, que os exercícios de alta intensidade são

realizados durante 5% do tempo total do jogo, porém com pausas, contribuindo com

15% desse total. A média da relação descanso-atividade de baixa intensidade e de alta

intensidade é de 3:16:1. Essa relação sugere que a maior parte da energia demandada

pelo futebol é de natureza submáxima e aeróbia, com períodos raros e curtos de

exercícios de alta intensidade (RIENZI et al. ; WITHERS et al. apud BARROS e

GUERRA, 2004).

2 Bpm – batimentos por minuto

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É importante ressaltar que todo jogador que se utiliza da resistência aeróbia

deve observar também a importância da capacidade anaeróbia (predominantemente

alática3) bem-desenvolvida, que também é denominada resistência de sprint. Em uma

partida de futebol cerca de 1000m são percorridos em velocidades máximas. Esta

distância é dividida em vários sprints de 10-15m, com duração média de 2-3segundos.

Além destes piques, outros movimentos como saltos e chutes são repetidamente

realizados pelos jogadores. As características destes movimentos (alta intensidade e

curtíssima duração) realizados durante o jogo sugerem importante contribuição do

sistema energético creatina fosfato (AOKI, 2002).

1.1.1 Vias Metabólicas

Devemos ressaltar que apesar da pequena proporção de participação do

metabolismo anaeróbio dentro do fornecimento de energia, as principais jogadas dentro

de uma partida ocorrem em situações onde as solicitações consistem em piques,

infiltrações, contra-ataques e jogadas em velocidade com a bola dominada.

(HERNANDES JR, 2002)

No futebol atual a resistência anaeróbia está muito presente, por ser um desporto

de intensidades altíssimas e de curta duração, as capacidades condicionais como força e

velocidade são de extrema importância e acontecem a todo o momento no jogo, seja de

ordem tática, técnica ou física (Campeiz e Oliveira apud BORDIN, 2009)

Com a redução dos estoques de glicogênio muscular, parte do substrato

energético vem do metabolismo dos lipídios. Jogadores com melhor capacidade aeróbia

tendem a poupar o glicogênio muscular durante exercícios de intensidade moderada

para usá-lo em momentos finais, mais decisivos do jogo. Esse efeito poupador de

glicogênio permitirá ao jogador correr distâncias maiores sob uma intensidade maior,

antes da diminuição nos estoques de glicogênio (WISLOFF et al. apud BARROS e

GUERRA, 2004)

Na ausência de oxigênio, a energia é produzida pelo sistema anaeróbio para

desportos que demandam esforço máximo e também para aqueles que requerem esforço

submáximo durante o início da atividade. A energia abastecida pelo sistema anaeróbio

está diretamente relacionada com a intensidade do desempenho, assim como afirma

Bompa (2002).

3 Sem o acúmulo de lactato

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O metabolismo anaeróbio refere-se ao sistema do ATP – CP (sistema

fosfagênio) também chamado de metabolismo anaeróbio alático, visto que o ácido lático

não é produzido por este metabolismo, ocorrendo o metabolismo dos fosfogênios e o

metabolismo do ácido lático.

Como o próprio nome sugere Adenosina trifosfato, a molécula de ATP é

constituída de uma molécula de adenosina ligada a três grupos fosfatos. A quebra de

uma das ligações com os grupos fosfatos libera considerável quantidade de energia (MC

ARDLE et al. apud AOKI, 2002)

Gomes e Souza (2008) afirmam que o metabolismo anaeróbio alático está ligado

à utilização dos fosfogênios, presente nos músculos em atividade, principalmente da

creatina fosfato (CP).

A depleção energética ocorre rapidamente em uma atividade vigorosa. Em

resposta, a creatina fosfato (CP) ou fosfocreatina, que também é estocada na célula

muscular, é decomposta em creatina (C) e fosfato (P). A energia liberada é utilizada

para a ressíntese de ADP + P em ATP. Há, uma vez mais, a transformação para ADP +

P, causando a liberação de energia necessária para a contração muscular. Como o CP é

armazenado em quantidades limitadas na célula muscular, esse sistema pode atender às

demandas energéticas por somente 8 a 10 segundos. Essa é a fonte principal de energia

para as atividades extremamente rápidas e explosivas (BOMPA, 2002).

Para eventos intensivos com duração de aproximadamente 40 segundos, o

metabolismo anaeróbio alático fornece a energia que, após 8 a 10 segundos, é

substituída pelo metabolismo anaeróbio lático. Tal metabolismo degrada o glicogênio

armazenado nas células musculares e no fígado, liberando energia para ressintetizar

ATP a partir de ADP + P. Pela ausência de O² durante a quebra do glicogênio, um

subproduto denominado ácido lático é formado. Quando um exercício de alta

intensidade é prolongado, grandes quantidades de ácido lático acumulam-se no

músculo, causando a fadiga e, eventualmente, provocando a paralisação da atividade

(BOMPA, 2002).

Os estoques intramusculares de ATP em repouso são de aproximadamente 20 a

25 mmol/kg/DM. Segundo Boobis, Williams, Wootton (apud GOMES e SOUZA, 2008)

a degradação do ATP muscular parece ser limitada a um máximo de aproximadamente

45% dos valores de repouso em um sprint de 30 s. Em um sprint de 10 a 12 s, a

degradação de ATP parece ser mais modesta, com aproximadamente 14 a 32%. Já em

um sprint de 6 s a degradação de ATP é de 8 a 16%.

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Tem sido sugerido que a quantidade de CP no músculo de humanos fornece

energia suficiente para um sprint de 5 s, ou seja, uma corrida máxima de 40 a 50 metros.

A duração dos sprints relacionados ao jogo de futebol é de 2 a 4 s, e, provavelmente,

são requeridas quantidades consideráveis de energia via glicólise anaeróbia em adição.

A energia proveniente da degradação de CP não está relacionada somente com a

duração do sprint, mas também com a condição física do futebolista. (GOMES e

SOUZA, 2008)

A produção de energia ocorre pela oxidação de carboidratos, lipídios e

eventualmente pela utilização de proteínas na mitocôndria destas células. As atividades

aeróbias, ao contrário das atividades anaeróbias, podem ser sustentadas por muito mais

tempo. Neste tipo de atividade, embora haja uma importante contribuição proveniente

dos carboidratos, os lipídios constituem o principal substrato energético. A maior

utilização de gordura evidenciada em atividades aeróbias (menor intensidade e longa

duração) promove o fenômeno conhecido como efeito poupador de glicogênio. Este

mecanismo de economia dos estoques de glicogênio é responsável pela capacidade de

realizar o exercício por um período prolongado.

A utilização dos diferentes substratos energéticos nos esportes coletivos pode variar

tremendamente dependendo da duração, da intensidade, da relação entre o período ativo

(trabalho) e passivo (recuperação). A demanda energética deste tipo de atividade é

extremamente elevada, exigindo alto catabolismo dos estoques de glicogênio (AOKI,

2002).

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1.1.2 Flexibilidade

De acordo com (Egan apud Barbosa, 2008) a origem da flexibilidade como um

método de treinamento é desconhecida, porém, imagina-se que os antigos gregos

usaram algum tipo de treinamento de flexibilidade para que lhes possibilitassem dançar,

realizaram acrobacias e lutar com mais facilidade.

Flexibilidade é a capacidade e a característica que um atleta possui em executar

movimentos de grande amplitude, ou sob forças externas, ou ainda que necessitem da

movimentação de muitas articulações.

Gomes e Souza (2008) definem flexibilidade como a amplitude de movimento

possível entre uma ou várias articulações. Já (Zakharov e Gomes apud GOMES e

SOUZA, 2008) relatam que a flexibilidade é entendida como a capacidade motora do

organismo que condiciona a obtenção de grande amplitude de movimento. Weineck,

(1999) afirma que a flexibilidade é um pré-requisito para desempenhar habilidades com

alta amplitude e aumentar a facilidade com a qual o atleta pode executar movimentos

rápidos. Bompa (2004), Weineck (1999) e alguns autores observaram a flexibilidade em

jogadores de futebol. (EKSTRAND apud AOKI, 2002) observou que jogadores de

futebol, com exceção do goleiro, geralmente são menos flexíveis que indivíduos ativos

e outros atletas. A flexibilidade é uma condição qualitativa e quantitativa elementar para

boa realização de movimentos. O seu desenvolvimento ideal, adaptado às necessidades

do jogo de futebol, tem efeito positivo sobre os fatores físicos responsáveis pelo

desempenho e sobre as habilidades esportivas. Além disso, possui um importante papel

na prevenção de lesões.

Devido ao treinamento com grande ênfase em contrações concêntrica –

excêntricas, como o trabalho de saltos, a flexibilidade destes atletas fica comprometida.

A utilização de sessões de alongamento antes e depois de jogos ou treinos, além de

auxiliar na manutenção da flexibilidade pode também ter um papel preventivo em

relação ao surgimento de lesões. Entretanto, a eficiência do alongamento em prevenir

lesões ainda é ponto de controvérsia na literatura científica, assim como afirma Aoki,

(2002).

É importante ressaltar que a mobilidade facilita a amplitude do movimento no

futebol, uma vez que o jogador de futebol não necessita ter a mobilidade de um ginasta,

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mas deve possuir uma mobilidade que lhe permita realizar movimentos necessários em

uma partida de futebol (“carrinho”, “voleio”, “bicicleta”, dentre outros). O bom

desenvolvimento da flexibilidade, principalmente do quadril, pode facilitar o

aperfeiçoamento dos fundamentos técnicos do futebol, criar condições de melhoria da

agilidade, da força e da velocidade, auxiliar como fator preventivo contra lesões

musculares e articulares e provocar um aumento na capacidade mecânica dos músculos

e articulações, gerando um aproveitamento econômico de energia durante o esforço

físico (GOMES e SOUZA, 2008)

1.1.3 Coordenação

A coordenação é uma capacidade bimotora complexa, intimamente relacionada

com a velocidade, com a força, com a resistência e com a flexibilidade. É de extrema

importância para a aquisição e o aperfeiçoamento da técnica e das táticas bem como na

aplicação em circunstâncias já familiares (BOMPA, 2002).

A coordenação, quando trabalhada por intermédio das ações motoras de base,

pode facilitar na aprendizagem por intermédio da liberdade dos corpos, pois, segundo

(AOKI, 2002, p 72) “coordenação é a capacidade que o organismo apresenta de realizar

movimentos necessários para a execução de determinada tarefa motora. Pode não

parecer, mas o futebol, como a maioria das modalidades esportivas, requer um processo

de informações de uma variedade de fontes e o desempenho de mais de uma habilidade

de cada vez, o simples movimento do jogador se locomovendo no campo com a bola,

necessita de uma série de informações que vão se processando com a finalidade de

decidir e elaborar a estratégia e quanto maior for a vivência adquirida durante a fase de

aprendizagem, essas informações serão processadas com mais rapidez (MELO, 1999).

Quanto maior for a experiência motora mais facilidade o jogador terá de realizar

movimentos e também irá poupar grande quantidade de energia, assim como destacam

Gomes e Souza (2008).

As capacidades de execução dos movimentos baseiam-se predominantemente na

precisão das percepções motoras. Com pouca experiência motora, as percepções e

sensações do futebolista não o permitem diferenciar, nitidamente, os parâmetros de

espaço, de tempo e de força de movimento. Com a execução racional dos movimentos,

somente os grupos musculares que participam diretamente desses movimentos entram

em estado de excitação, permanecendo relaxados os outros grupos musculares.

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A coordenação está intimamente relacionada ao aspecto técnico. O jogador de

futebol que se destaca no futebol atual possui, além do preparo físico bem desenvolvido,

a coordenação evidenciada, que pode ser demonstrada através da qualidade técnica que

o mesmo possui (AOKI, 2002).

Percebe-se por intermédio de Aoki (2002) que existem alguns benefícios por

meio da coordenação, pois torna o corpo mais econômico, deixando-o mais resistente, e

com isto acaba por aproveitar melhor a massa muscular, melhorando o nível de força,

controlando assim a eficiência dos movimentos, melhorando a velocidade, o que

acarreta na amplitude e mobilidade articular. Considera-se que um atleta com boa

coordenação seja capaz de desempenhar uma tarefa perfeitamente rápida ao solucionar

uma situação a qual ele é inesperadamente exposto.

1.1.4 Força

Na maioria dos esportes, os exercícios de força são realizados com o objetivo

principal de melhorar a potência ou a velocidade do movimento contra uma dada

substância (peso corporal, massa do implemento ou alvo) ao invés da força máxima por

si mesma. A seleção dos exercícios de força para atletas qualificados é bastante

complexa. A ideia geral é simples: os exercícios de força precisam ser específicos, o que

significa que os exercícios do treinamento precisam ser relevantes para as demandas do

esporte que o atleta treina (ZATSIORSKY, 1999).

O treinamento de força pode melhorar o desempenho motor (capacidade para

correr em velocidade, para jogar um objeto ou para saltar), sendo que este

aperfeiçoamento de capacidades motoras básicas pode levar a um melhor desempenho

em vários esportes (FLECK e KRAEMER, 1999).

É evidente o fato de o jogador de futebol necessitar de força, pois a força, nas

suas diferentes formas de manifestação, representa no futebol um fator considerável. De

acordo com Gomes (2009), a melhoria da capacidade de velocidade do atleta está

substancialmente ligada ao aperfeiçoamento do componente de força dos movimentos.

Não existe clube que não tenha estratégias para trabalhar esse importantíssimo fator

específico do desempenho no futebol, mesmo que seja por meio do jogo e pelo jogo

(WEINECK, 2004).

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A força específica do futebol faz referência a quantidade de força produzida

durante uma ação no futebol. É determinada, em parte, pela capacidade de utilizar a

coordenação e a força no momento apropriado (POMBO, 1998).

Força e velocidade são componentes que se interagem completamente. O bom

desenvolvimento das manifestações de força, assim como todos os exercícios

coordenativos, está diretamente associado ao desenvolvimento da velocidade, assim

como afirma Corrêa (2009).

A força motora pode ser definida como a capacidade psicomotora em que o

sistema motor, por meio de suas alavancas ósseas e respectivas musculaturas, contrapõe

uma determinada resistência. Sendo dada pela capacidade de recrutamento de placas

motoras necessárias ao esforço, pela amplitude e acesso aos sistemas energéticos

envolvidos, pelas características cinesiológicas das alavancas envolvidas e pelo estado

psicológico do executante (HERNANDES JR, 2002)

Encontramos outra definição em Aoki (2002) que define força como a

capacidade que o organismo possui para suportar ou deslocar determinada carga através

do potencial das contrações musculares. Quanto maior for a carga suportada ou

deslocada, maior será a força. Em termos simples, força é a capacidade de aplicar

impulso. Seu desenvolvimento deve ser a preocupação de todo aquele que procura

melhorar o desempenho de um atleta. Usar vários métodos de desenvolvimento de força

leva a um crescimento mais rápido, cerca de 8 a 12 vezes mais do que usar apenas

capacidades disponíveis para certo desporto (BOMPA, 2002).

É possível determinar a força pela direção, magnitude ou ponto de aplicação. De

acordo com a Segunda Lei da Inércia de Newton, a força é igual à massa (m) vezes

aceleração (a). Conseqüentemente, um atleta pode melhorar a força alterando um dos

dois fatores (m ou a). Tais mudanças resultam em alterações quantitativas que devem

ser consideradas quando se busca desenvolver o fator força (BOMPA, 2002).

Segundo Gomes e Souza (2008), as capacidades de força do futebolista não

devem se ativer apenas às propriedades contráteis dos músculos, pois a manifestação

direta dos esforços musculares é assegurada pela interação de diferentes sistemas

funcionais do organismo (muscular, vegetativo, hormonal e mobilização das qualidades

psíquicas).

A força que um atleta pode aplicar e a velocidade com que pode aplicá-la

mantêm uma relação inversa. Isso também acontece na relação entre uma força aplicada

por um atleta e o tempo durante o qual ele pode aplicá-la. Os ganhos em uma

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capacidade ocorrem à custa da outra. Em conseqüência, embora a força possa ser a

característica dominante de uma capacidade, não se pode considerá-la isolada porque a

velocidade e o componente tempo afetarão diretamente sua aplicação (BOMPA, 2002).

A força e suas diversas manifestações podem ser sempre consideradas sob os

aspectos de força geral e força específica. Por força geral entende-se a força de todos os

grupos musculares independente de uma modalidade. Por força específica entende-se a

força empregada em uma determinada modalidade esportiva, isto é, a força

desenvolvida por um determinado grupo de músculos para desenvolver um determinado

movimento em uma modalidade esportiva (WEINECK, 1999).

Dentro desses termos, os tipos de força são divididos em subcategorias: força

máxima; resistência de força; força explosiva e força rápida. A força muscular explosiva

é de grande importância para execução dos diversos movimentos realizados durante

uma partida de futebol. O jogador deve visar, além de outros fatores, a aquisição da

força máxima, que nada mais é do que “a maior força que o sistema neuromuscular é

capaz de desenvolver, por meio de uma contração máxima e voluntária” (LETZELTER

apud GOMES e SOUZA, 2008, p. 102). A força máxima é muito importante

principalmente nas extremidades inferiores. No entanto, na maioria das vezes, essa força

é subestimada em relação aos métodos e aos critérios para sua formação e seu uso por

meio de exercícios (WEINECK, 2004). E, segundo (Bossi, 2008) o emprego desse

treinamento de visa o aumento da força pura para movimentos específicos.

A aplicação exclusiva de pesos máximos para o treinamento de força máxima

não permite obter o efeito necessário de treinamento, pois, numa sessão de treinamento,

não devem ser executados mais de 1 – 2 movimentos. Além disso, a aplicação de pesos

máximos exige a mobilização psicológica completa e eleva o risco de um traumatismo.

Porém, em algumas modalidades esportivas, como por exemplo, no halterofilismo, é

necessária a aplicação de pesos máximos em certas etapas da preparação (MATVEIEV,

1981).

Já a resistência de força “tem um papel importante no condicionamento físico

geral do jogador de futebol, especialmente no que diz respeito à musculatura auxiliar”

(WEINECK, 2004, p 188). “É caracterizada pela capacidade do atleta de realizar,

durante um tempo prolongado, os exercícios com peso, mantendo os padrões de

movimento” (GOMES e SOUZA, 2008, p. 102). A resistência de força manifesta-se em

diversas modalidades esportivas. Em conexão com isso, durante o treino da resistência

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de força, as condições específicas de sua manifestação devem ser levadas em conta

(MATVEIEV, 1981).

A força explosiva pode ser definida como a capacidade demonstrada na

superação de certa resistência no menor tempo possível e é caracterizada pelo sistema

neuromuscular mobilizador do potencial funcional com a finalidade de alcançar altos

níveis de força (GOMES E SOUZA, 2008).

A força rápida ou explosiva representa para o jogador de futebol a mais

importante qualidade do condicionamento físico. Ela manifesta-se na forma da força de

chute, de salto, bem como de lançamento (nos laterais e nos lançamentos do goleiro). O

desenvolvimento muscular (ganho de massa muscular) também proporciona maior

capacidade de suportar a intensa maratona de treinos e jogos, evitando lesões

musculares frequentes em jogadores de futebol. Um trabalho de força realizado na pré-

temporada e até mesmo nas categorias inferiores pode contribuir para aquisição de

diversas adaptações tais como: “aumento de força; fortalecimento de tendões e

ligamentos; fortalecimento de ligações tendão-osso e ligamento-osso; aumento de

deposição de cálcio nos ossos e Fortalecimento das cartilagens” (WEINECK, 2004, p.

207)

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2. ATACANTES

A posição de atacante é uma das mais belas e importantes do futebol pelo fato

desses jogadores terem fundamental importância na decisão de uma partida ou até de

um campeonato, já que a maioria dos gols são marcados pelos atacantes. Na posição de

atacante podemos destacar: ponta-de-lança; segundo atacante e centroavante.

Os pontas de lança eram muito utilizados no futebol do passado, até meados da

década de 70, eles jogavam pelas laterais do campo, tanto pela direita quanto pela

esquerda e por isso eram chamados de ponta direita e ponta esquerda e tinham a função

de centrar (cruzar) a bola para a área, hoje em dia é raro encontrar jogadores atuando

nessa posição pois quem faz essa função são os laterais e o segundo atacante.

Os segundos atacantes são jogadores muito utilizados pelos treinadores nos dias

de hoje, eles se movimentam mais, jogam pelas laterais do campo, voltam até o meio do

campo para buscar a bola e podem até ter uma função de marcação.

Os Centroavantes são os atacantes que jogam mais dentro da área, tem uma

movimentação mais restrita são os jogadores responsáveis em fazer os gols do time,

geralmente são jogadores mais altos e fortes fisicamente para poder “brigar” com os

zagueiros dentro da área e para aproveitar as bolas aéreas.

O gol é o momento máximo do futebol, sendo imprescindível na decisão de

quem é o vencedor ou o perdedor de uma partida. Porém, para que se consiga chegar ao

gol são necessários diversos fatores (ALMEIDA e NAVARRO, 2009).

Ao se analisar que um atleta é extrovertido deve-se fazer um contraponto com a

posição de ataque, pois segundo Prates (2005), “todo atleta extrovertido deverá ser

aproveitado no setor de ataque, ou seja, aquele que encara a marcação”.

Nenhuma ação, seja ela física ou psicológica, deve chegar ao jogador sem a

devida cientificidade, e isto fica evidente por meio do que nos diz Borsari:

O atleta deve dispor de condições ideais e de todas as qualidades físicas e técnicas. Por isso, os treinamentos que obedecem a critérios científicos procuram dar aos jogadores as melhores condições para que possam realizar, em campo, jogadas táticas com perfeito equilíbrio psicológico (BORSARI, 1989, p. 14)

O atacante deve criar jogadas com derivações nos setores de ataque do campo,

jogando de frente com a defesa adversária e abrindo espaço para os outros jogadores

que vêm de trás. Quando posicionado de costas para a zaga, o atacante deverá escorar a

bola (fazer o pivô) para o atleta que vem de trás e sempre que possível soltar a perna

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(chutar forte para o gol) finalizando jogadas, pois fazer gols é uma característica

imprescindível para que o jogador ocupe a posição de atacante dentro da equipe de

futebol o atacante que não faz gol morre de fome. (PRATES, 2005).

Segundo Borsari (1989), alguns aspectos se tornam indispensáveis para o

jogador de futebol nos dias de hoje, principalmente no que se refere ao perfeito passe

com os dois pés e com a cabeça; à habilidade do equilíbrio nos dois pés, para não ter

lado deficiente; ao conhecimento das regras, para ter um bom comportamento e poder

tirar proveito daquilo que a regra permite e à consciência tática e da contra tática, para

jogar não por jogar, correndo atrás da bola sem saber o que fazer.

O futebol moderno exige um jogador rápido, forte, capaz de vencer resistências

e suportar cargas intensas e, ao mesmo tempo, durante o jogo, manter um nível de

rendimento alto na presença de fadiga. Portanto o jogador deve ter força, velocidade,

resistência e flexibilidade de forma harmônica e conjugada para que uma capacidade

possa auxiliar a outra (BARROS e GUERRA, 2004).

Todas estas características devem ser inerentes ao jogador que exerce a função

de atacante na equipe, somando-se a elas o fato de ele também dever jogar sem a bola,

pois é importante abrir espaços na defesa adversária, acreditando em todas as jogadas.

Nas finalizações o atacante deverá ter tranquilidade, quesito sem o qual fica difícil

tornar-se um artilheiro (PRATES, 2005).

A título de ilustração, citamos Borsari (1989), que enumera diversas qualidades

específicas necessárias em função da posição de atacante. São elas:

• Físicas

Estatura de média a elevada; velocidade; agilidade; força; boa impulsão; equilíbrio.

• Técnicas

Velocidade com bola; drible; cabeceio; chutes potentes e precisos; antecipação;

oportunismo; visão panorâmica; finalizador.

• Táticas

Saber penetrar; criar vazios; disciplina tática; criar situações de finalização.

• Psicológicas

Agressividade técnica; persistência; decisão; personalidade; combatividade; coragem;

liderança; iniciativa.

Assim, pode-se dizer que, segundo Borsari (1989), um craque em potencial se

caracterizaria como sendo um jogador possuidor de todas as qualidades acima

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enumeradas, que ocupasse um nível elevado em determinada posição, que fosse

favorecido ainda por uma boa base, em um ambiente familiar saudável e que fosse

possuidor de muita simplicidade.

Semelhantemente a Borsari (1989), Fleury (1998) afirma que o desempenho do

jogador está diretamente relacionado a quatro níveis de competências básicas para que

possa desempenhar bem seu papel. São elas:

• Competência técnica – é o resultado do desempenho do jogador no trabalho que

realiza nos fundamentos do futebol. Tais como qualidade dos passes, domínio e

controle da bola, drible, desarme, cruzamento, cabeceio arremate, chute e finalização.

• Competência tática – Refere-se à orientação estratégica realizada,

principalmente, pelo técnico, que estabelece o plano de jogo para a equipe,

determinando a posição que cada jogador deverá ocupar dentro de campo. Esse

posicionamento dirigido visa anular a estratégia do adversário e incrementar a força

tanto ofensiva quanto defensiva da equipe.

• Competência física – tem o objetivo de preparar os jogadores para que

desempenhem quaisquer das funções táticas que o técnico determinar para a equipe.

Compreende, basicamente, o treinamento aeróbio, de força e o condicionamento

anaeróbio. Com a ajuda da fisiologia e fisioterapia, a preparação física vem evoluindo

significantemente nos últimos anos.

• Competência emocional – é a capacidade de regular os próprios estados e inclui

habilidades como controlar os impulsos (ansiedade, raiva, medo e estados de euforia

típicos do “já ganhou”), e lidar com os altos e baixos da vida.

O desempenho de uma equipe e a carreira de um atleta estão diretamente

relacionados à competência emocional. Isso, de certa forma, não é um dado novo dentro

do meio esportivo e também acadêmico. Observa-se que, quando um atleta demonstra

baixo grau de competência emocional, sua carreira fica instável, oscilando sempre entre

altos e baixos. Ele pode ser um craque tecnicamente, estar bem orientado taticamente e

se encontrar com excelente condicionamento físico, mas, se entrar em campo e agredir

um atleta ou até mesmo o próprio juiz da partida, acarretando assim em sua expulsão,

além de pagar um preço muito alto por esse momento de descontrole emocional, o

jogador pode também acabar com o trabalho e com as expectativas de toda a equipe.

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É principalmente nos jogos mais decisivos, em que a pressão psicológica está

mais presente, que o condicionamento emocional se torna ainda mais importante

(FLEURY, 1998).

2.1 Distâncias percorridas durante o jogo

A distância percorrida pelos jogadores de meio campo (10,2 a 11 km) é

significantemente maior do que a percorrida pelos zagueiros (9,1 a 9,6km) e atacantes

(10,5km), sendo esses últimos os jogadores que mais realizam sprints. (EKBLOM,

KIRKENDAL, SHEPARD e LEATT, SHEPARD apud BARROS e GUERRA, 2004)

Isto nos leva a crer que realmente existe uma necessidade de treinamento

específico para cada posição. Os meio-campistas são os que percorrem maior

porcentagem da distância total na forma de trote, dentre todos os jogadores, os atacantes

são os que percorrem maior distância na forma de sprint, já os jogadores da defesa são

os que mais realizam deslocamentos laterais e de costas. (AOKI, 2002)

Barros e Guerra (2004) afirmam que a distância média percorrida pelos meio-

campistas (10.200 a 11.100 m) é maior que a percorrida pelos zagueiros (9.100 a 9.600

m) e pelos atacantes (9.800 a 10.600 m).

Em alguns estudos em que se visava analisar esta variável, foi constatado que

em média, 60% do tempo total do jogo era representado por caminhadas e posições

estáticas. Em torno de 30-35% era representado por trotes e o restante do tempo total

era dividido em piques máximos (0.5-2%) e piques (8%). Yamanaka e col. (1988)

curiosamente observaram que em jogadores europeus e sul-americanos apenas 7.6% do

tempo total era gasto entre piques e piques máximos, já em jogadores japoneses este

percentual atingiu 9.6-10.5% do tempo (AOKI, 2002).

Apesar da discrepância de resultados observados nestes estudos pode-se concluir

que:

• Os meio-campistas são os que percorrem maior porcentagem da distância total

na forma de trote;

• Entre todos os jogadores, os atacantes são os que percorrem maior distância na

forma de sprint (10%);

• Os jogadores de defesa são os que mais realizam deslocamentos laterais e de

costas. (AOKI, 2002)

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Baseado nas informações desses estudos sobre distâncias percorridas por

posições táticas sugere-se que o fato de os jogadores de meio-campo apresentarem

maiores distâncias percorridas que as outras posições esteja relacionado às corridas de

intensidades mais baixas em longas distâncias. As ações de trote e corrida para os meio

campistas totalizam 65% da movimentação, enquanto, para os defensores, esse valor é

de 59,5% e para os atacantes de 54,4%.

Contrariamente, nas ações de alta intensidade, os percentuais foram mais altos

para os defensores e para os atacantes (7,9% e 5,8%, respectivamente) do que para os

meio-campistas (5,3%) (ARRUDA e HESPANHOL, 2009).

Oliveira, Amorim, e Goulart (apud GOMES e SOUZA, 2008) estudaram

futebolistas por meio de filmagens dos jogos, levando em consideração a posição de

jogo. Os resultados médios indicaram que os zagueiros caminharam 3.984 m, trotaram

2.248 m e correram 986 m para a frente em velocidade máxima. Os meio-campistas

caminharam 2.076 m, trotaram 4.359 m e correram 1.199 m para frente em máxima

velocidade. Já os atacantes caminharam 2.276 m, trotaram 3.174 m e correram 1.476 m

para frente em velocidade máxima.

De acordo com o nível da competição e com a capacidade individual, o

desempenho médio total de corrida está, atualmente, entre 9 km e 12 km e, em alguns

casos foram verificados desempenhos de até 14 km por jogo (WINKLER apud

WEINECK, 2004)

Estudos de Thomas e Reilly (apud GOMES e SOUZA, 2008) realizados com

jogadores de futebol da liga inglesa, sem considerar a posição do jogo, registraram a

duração e a intensidade das atividades de cada futebolista. A distância média total

percorrida foi de 8.680 m, sendo 36,8% (3.187 m) de trote, 24,8% (2.150 m) de

caminhada, 20,5% (1.810 m) de corrida em velocidade submáxima, 11,2% (974 m) de

sprint (corrida em velocidade máxima) e 6,7% (559 m) de corrida de costas. A distância

média de cada atividade foi de 10m, com mudanças entre elas ocorrendo em média a

cada 5 segundos.

Já no estudo de Valquer et al. (apud ARRUDA e HESPANHOL, 2009),

observou-se que o maior percentual de percurso é de 10m, correspondendo a 49% do

total. Nesse contexto, é importante destacar que a distância média dos tiros durante uma

partida foi de 15 a 17 m.

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A maior parte do tempo de jogo é gasta com ações de andar e trotar (83%-88%),

um tempo menor com as corridas aceleradas e velozes (7%-10%) e um tempo mínimo

em posição estática (4%-10%). (WEINECK, 2004)

Um experimento realizado por Withers e colaboradores (apud GOMES e

SOUZA, 2008) investigou jogadores de futebol por meio de vídeo, observando as

distâncias percorridas por cinco zagueiros, cinco zagueiros centrais, cinco meio-

campistas e cinco atacantes durante o jogo. Para a atividade caminhada, a média total

geral foi de 3.026 m; para trote, de 5.139 m; para sprint, de 6.66 m; para corrida

submáxima, de 1.506 m; para caminhada para trás, de 590 m; para trote para trás, de

285 m; para deslocamento para os lados, de 316 m e para distância percorrida com bola,

de 218 m.

Estudos realizados por Rampinini et al. (apud ARRUDA e HESPANHOL, 2009)

verificaram a velocidade relativa das seguintes atividades locomotoras realizadas pelos

jogadores: estar parado (de 0 a 0,7km/h); andando (de 0,7 a 7,2 km/h); trotando (de 7,2

a 14,4 km/h); correndo em intensidade moderada (de 14,4 a 19,8 km/h); correndo em

alta velocidade (de 19,8 a 25,2 km/h) e correndo em máxima velocidade (> 25,2 km/h).

Durante uma partida de futebol, os períodos em que os jogadores realizam

sprints ocorrem, aproximadamente, a cada 90 segundos, e cada ação em intensidade

máxima dura em torno de 2 a 4 segundos, com distância média de 14 m. Cerca de 1% a

11% da distância total percorrida pelos jogadores é coberta em intensidade máxima –

sprints.

Segundo Bangsbo et al. (apud ARRUDA e HESPANHOL, 2009), a duração

total dos exercícios realizados em alta intensidade em futebolistas de elite é de, em

média, 7 min, incluindo 19 sprints com duração de 2 segundos cada.

Em relação à metragem total percorrida em velocidade máxima, verificou-se que

41,7% dos movimentos ocorreram em distâncias entre 2 a 10 m, 35,1% em distâncias

entre 10,1 a 20 m e 23,2% em distâncias acima de 20 m. (GOMES e SOUZA, 2008)

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3. VELOCIDADE

Entende-se a velocidade motora como sendo uma qualidade física no movimento

humano, a capacidade de executar, num espaço de tempo mínimo, ações motoras sob

exigências dadas (Zaciorsky apud BARBANTI, 1996).

A velocidade no esporte também se define como a capacidade de conseguir, a

base de processos cognitivos, máxima força volitiva e funcionalidade do sistema

neuromuscular, uma rapidez máxima de reação e de movimiento em determinadas

condições establecidas (Grosser apud ACERO, 2000).

Velocidade é a capacidade que o organismo ou parte dele possui para realizar

um movimento ou uma sequência de movimento no menor tempo possível (AOKI,

2002). Há muito tempo se utiliza o termo geral velocidade para indicar as qualidades do

atleta que irão determinar diretamente as características de rapidez da sua atividade

(MATVEIEV, 1991).

Segundo Barbanti (1979) a velocidade é bastante específica e também relativa.

Certas pessoas podem realizar um movimento bem rápido e outro relativamente lento.

De acordo com o autor, devemos entender como capacidade de velocidade o conjunto

das características funcionais que garantem a realização das ações motoras num tempo

mínimo (PLATONOV, 2008).

De acordo com Hollmann (apud Barbanti, 1996) a velocidade pode ser entendida

como a máxima rapidez de movimento que pode ser alcançada, cujo grau de

aperfeiçoamento depende dos seguintes fatores: força básica, coordenação, velocidade

de contração da musculatura, viscosidade das fibras musculares, relação de alavancas

extremidades-tronco e a elasticidade muscular.

Gomes (2009) afirma que os meios de treinamento de velocidade normalmente

são utilizados na prática de exercícios que podem ser realizados em velocidade máxima.

Na seleção desses exercícios, devemos nos orientar pelos seguintes critérios:

• A técnica de execução desses exercícios deve ser executada com a velocidade

máxima;

• Os exercícios devem ser tão bem dominados, que durante a sua execução não

haja necessidade de uma intervenção do treinador para correção;

• A duração do exercício deve ser de tal forma que, no final de sua execução, a

velocidade não diminua devido à fadiga.

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A velocidade do jogador de futebol é uma capacidade verdadeiramente múltipla,

as quais pertencem o reagir e agir rápido, a saída e a corrida rápidas, a velocidade no

tratamento com a bola, o sprint e a parada, mas também o reconhecimento e a utilização

rápida de certa situação (WEINECK, 2004).

A capacidade motora da velocidade que é o objeto do presente estudo é

necessária para a realização de ações técnicas e táticas de alta intensidade e no futebol

não é manifestada de forma isolada, mas combinadas com outras capacidades. A

capacidade de velocidade pode ser aperfeiçoada em um nível muito amplo, pois o nível

de sua manifestação é determinado não somente pela rapidez, mas também por todo um

complexo de outras atividades (força, flexibilidade e coordenação) (GOMES e SOUZA,

2008).

Segundo Verkochanski e Oliveira (2005) a velocidade é a principal característica

qualitativa da eficácia funcional das locomoções cíclicas, e por sua vez, é o principal

critério da maestria do atleta, que determina seus resultados esportivos e o índice

objetivo da eficácia do sistema de sua preparação.

Caiozzo et al. e Wilmore e Costill (apud PLATONOV, 2008) afirmam que a

manifestação das capacidades de velocidade dos atletas está estreitamente relacionada

também ao nível de desenvolvimento da força, da flexibilidade, da capacidade de

coordenação, do aperfeiçoamento da técnica desportiva e da capacidade dos

mecanismos bioquímicos de mobilização rápida e ressíntese dos fornecedores

anaeróbios aláticos de energia.

Segundo Gomes e Souza (2008) a velocidade e suas subdivisões são um dos

principais indicadores do desempenho do futebolista. Em combinação com um alto

padrão de movimentos técnicos, de coordenação e de força, as diversas manifestações

da velocidade são de importância primordial para as ações motoras específicas do

futebol.

De acordo com Weineck (2004) a velocidade do jogador de futebol é uma

qualidade física complexa formada por diferentes subdivisões:

• Velocidade de antecipação;

• Velocidade de reação;

• Velocidade de movimentos cíclicos e acíclicos;

• Velocidade de ação com Bola;

• Velocidade-habilidade.

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3.1 Velocidade de antecipação

A reação antecipada é uma das formas de previsão realista, qualidade muito

importante para o rendimento da atividade do atleta em interações rápidas e complexas

(PLATONOV, 2008)

A eficiência de muitas ações do jogo baseia-se no reconhecimento rápido da bola ou dos

movimentos da bola por parte do jogador, pois a antecipação precoce possibilita

planejamento adiantado de suas próprias reações. A experiência que um jogador possui

com situações complexas adquire papel importante no reconhecimento.

Um jogador experiente caracteriza-se, entre outras ações, por utilizar um

repertório motor apropriado para a situação, enquanto jogadores de baixa qualificação

dispõem apenas de um programa de escolha atrasado, cheio de insuficiências e não-

apropriado. Quem reage mais rápido, devido a sua “pré-informação” tem mais tempo

pra agir, podendo fazê-lo com calma (WEINECK, 2004).

3.2 Velocidade de reação

A velocidade da reação motora é determinada, acima de tudo, pelas propriedades

dos analisadores à distância (visuais e auditivos) e pela dinâmica dos processos do

sistema nervoso central e pelas reações neuromusculares (MATVEIEV, 1991)

Segundo Steinbach (apud Barbanti, 1979) a velocidade de reação é o tempo

entre um sinal até um movimento muscular solicitado, por exemplo, no tiro de partida

até a primeira impressão deixada no bloco.

De acordo com Gabriel (apud WEINECK, 2004) a velocidade de reação

representa para o jogador de futebol um fator decisivo para a performance. O jogador

necessita da capacidade de reação para acompanhar as sequências rápidas do adversário,

para fintar e reagir às fintas, em bolas divididas, em saídas rápidas para espaços livres,

para livrar-se do adversário e em outras situações inesperadas, como bolas malpassadas

ou, por exemplo, bolas na trave que voltam para o campo de jogo. A rapidez da reação

motora complexa é caracterizada pelo tempo de reação sem o atleta conhecer o sinal da

ação de resposta. As reações motoras complexas são mais características de jogos.

Nessas modalidades, o atleta se vê obrigado a reagir ao objeto em movimento (bola ou

adversário) ou a escolher entre algumas ações eventuais, uma única, talvez a mais

eficiente na situação da disputa esportiva (GOMES, 2009).

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No processo da atividade esportiva, o ser humano não se vê obrigado a reagir

aos estímulos auditivos, táteis, visuais, proprioceptivos ou mistos. Como respostas, é

possível ocorrer uma reação a um sinal emitido ou reações de antecipação pressupondo

uma extrapolação em determinadas correlações temporais, espaciais e espaço-temporais

entre o estímulo e a ação da resposta (PLATONOV, 2003).

Grosser afirma que o tempo de reação é influenciado de maneira positiva pela

concentração, atenção, aquecimento e por uma pré-tensão muscular. Ele é influenciado

negativamente pelo frio, por fatores ambientais e por uma concentração deficiente

(GROSSER apud BARBANTI, 1986)

No futebol, as situações que provocam sinais de reação não são definidas no

tempo e no espaço por causa de mudanças rápidas de situação, de manobras para

ludibriar o adversário e de variações do movimento. (WEINECK, 2004).

Durante o treino da reação simples, é mais utilizado o método de repetição,

reagindo, na medida do possível, com grande rapidez a um sinal determinado que

aparece repentinamente. É importante lembrar que a rapidez em todas as suas

manifestações é aperfeiçoada com dificuldade, sendo assim, o tempo de reação simples

pode ser melhorado não mais que 0,1 s, porém é tempo suficiente para decidir um lance.

A condição com que se executam os exercícios é de grande importância para a redução

do tempo de reação, a concentração e a atenção representam um fator substancial. O

período motor do tempo de reação depende do grau de excitação dos músculos, o tempo

de reação melhora com determinada tensão do aparelho muscular que realizará o

exercício (GOMES e SOUZA, 2008).

A maioria das reações nos esportes coletivos é do tipo complexa, ou seja,

reações a um objeto em movimento (BARBANTI, 1986). Reações complexas típicas do

jogador de futebol são caracterizadas pela velocidade de absorção dos sinais, pelas altas

exigências na programação dos grupamentos musculares envolvidos e pela velocidade

de transmissão do estímulo (WEINECK, 2004). Utilizam-se como principais meios de

preparação os exercícios que exigem a redução do tempo de reação (GOMES e

SOUZA, 2008).

3.3 Velocidade de Movimentos Cíclicos e Acíclicos

A velocidade acíclica, no futebol, pode ser entendida como velocidade de

movimentos sem bola - uma finta de corpo, mudanças de direção - e segundo Barbanti

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(1986) se caracterizam por não apresentarem nenhuma repetição de partes de fases em

seu processo de movimento e considera que a melhoria dessa forma de velocidade deve-

se ao aperfeiçoamento da coordenação.

Platonov (2008) afirma que o regime de trabalho acíclico é determinado, em

grande quantidade, pela grandeza dos esforços musculares, organizados racionalmente

no tempo e no espaço - quanto maior a aceleração e a força aplicada sobre o corpo,

maior a velocidade.

Além dos movimentos acíclicos existem também os movimentos cíclicos, que

são aqueles em que ocorrem repetições de fases. Segundo Barbanti (1986) a maioria dos

movimentos de locomoção são cíclicos como andar, correr e nos esportes há uma

característica de velocidade de progressão cujos movimentos abrangem o corpo todo.

A velocidade cíclica é representada por movimentos repetidos em velocidade ou

corridas de velocidade, por exemplo, corrida para a bola, fugir da marcação do

adversário, corrida com salto ou cabeceada, corrida do goleiro para saltar e defender o

gol (LANNI, 2009).

De acordo com Weineck (2004) sob o ponto de vista da especificidade do

futebol, a velocidade cíclica pode ser ainda subdividida em velocidade básica, sprint e

resistência de velocidade. A velocidade básica se caracteriza pelo alto poder de

aceleração se tornando o componente mais importante da velocidade cíclica. A

resistência de sprint tem a capacidade de absorver rápidas acelerações e depende de boa

capacidade de recuperação e de resistência aeróbia bem desenvolvida. A resistência de

velocidade representa para o jogador de futebol um valor secundário já que o jogador

percorre quase exclusivamente distâncias que não ultrapassam a zona de aceleração.

3.4 Velocidade de Ação com Bola

Sabemos que a velocidade de ação com bola é muito importante no futebol.

Weineck (2004) afirma que no futebol decide-se continuamente com qual ritmo o

jogador pode receber ou conduzir a bola, pressões do tempo e do adversário, driblar

com altíssima precisão e até chutar a gol. A velocidade de ação com bola tem como

base as capacidades parciais de velocidade como: capacidade de percepção, de

antecipação, de decisão e de reação. Porém, em contrapartida, a velocidade de

movimentos com bola tem componentes técnico/coordenativos que seriam as

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habilidades técnicas e podemos observar vários jogadores com seu aspecto físico muito

bem desenvolvido, porém, deixando a desejar no aspecto técnico.

Assim, segundo Weineck (2004), em treinamentos específicos de velocidade de

ação devemos desenvolver as condições técnicas paralelamente às condições físicas,

sendo isso possível por meio de trabalhos técnico-táticos e também através de algumas

formas de jogos, que de acordo com o poder de desempenho são realizados em altíssima

velocidade.

3.5 Velocidade-Habilidade

A forma mais complexa da manifestação da velocidade não é definida somente

pelas ações energéticas e musculares, pois, para exercer a habilidade no esporte,

necessitamos de raciocínio técnico, ou seja, compreensão do jogo. Detectar os espaços

percorridos durante uma partida se tornou algo bastante simples.

Weineck (2004) também define a velocidade-habilidade como a forma mais

complexa de velocidade e é específica da modalidade esportiva. O jogador precisa

resolver a tarefa que aparece no jogo considerando suas habilidades e suas capacidades

táticas. Essas capacidades são individuais e também podem ser encontradas em níveis

diferentes até mesmo em um único jogador. Assim sendo, o jogador mais técnico não

precisa ser necessariamente, o jogador taticamente mais forte ou o que reage mais

rapidamente às situações.

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4. OBJETIVOS

4.1 Objetivo Geral

Identificar a Percepção dos Preparadores Físicos quanto ao treinamento de velocidade para os atacantes e suas implicações no planejamento de um treinamento.

4.2 Objetivos Específicos

Analisar as vias metabólicas utilizadas pelo jogador de futebol;

Definir a distância percorrida por um atacante em um jogo, e como essa distância é percorrida (tiros, corridas, trotes, caminhadas, recuperação);

Analisar as subdivisões de velocidade utilizadas no treinamento;

Identificar a metodologia de treinamento de velocidade utilizada pelos preparadores físicos.

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5. MÉTODOS

5.1 Voluntários

Para a realização do presente trabalho foi realizada uma pesquisa pessoal com

quatro preparadores físicos das cidades de Poços de Caldas - MG, Americana - SP e

Piracicaba – SP

5.2 Dados Pessoais

Os quatro entrevistados são do sexo masculino com média de idade de 27 anos,

com mediana de 26,5 anos, com amplitude de 7 anos e variações entre 24 e 31 anos. Os

quatro voluntários são graduados em Educação Física, sendo que dois possuem pós

graduação e exercem a função de preparador físico, sendo que um deles também

acumula o cargo de técnico.

O voluntário 1 trabalha na área há 3 anos; o voluntário 2 trabalha na área há 4

anos; o voluntário 3 atua na área há 8 anos e o voluntário 4 está na área

profissionalmente há 10 anos.

É importante ressaltar que esses dados mostram que apesar da média de idade

(27 anos) ser baixa, os voluntários entrevistados já possuem certa experiência

profissional.

5.3 Material

Os dados analisados foram obtidos através da aplicação de questionário

contendo 3 questões abertas, 4 questões mistas (fechada/aberta) e 3 questões fechadas,

perfazendo um total de 10 questões.

5.4 Procedimentos

Os participantes foram contatados via e-mail. Desse modo, receberam os

questionários via internet e do mesmo modo, respondiam e encaminhavam as respostas

para o aplicador.

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5.5 Resultados

Com a aplicação da pergunta 1 “Por que tem se dado ênfase no treinamento de

força e velocidade nos últimos tempos?” obtemos as seguintes respostas:

V1 - O futebol moderno esta mais dinâmico, o tempo de posse de bola de um jogador

esta diminuindo devido às rápidas trocas de passes, os atacantes tem um curto espaço

pra decidir uma partida.

V2 – Hoje, no futebol moderno a preparação física tem uma importância muito grande,

pela exigência de jogadores fortes e rápidos. Não vou afirmar que treinamento de força

e velocidade ganha jogo, porque depende de uma série de fatores, mas que um

treinamento bem elaborado ajuda a ganhar jogo, isso ajuda.

V3 - São capacidades biomotoras determinantes ao momento competitivo da

modalidade, ou seja, presentes em momentos cruciais das partidas. Especialmente,

destaca-se a força explosiva de membros inferiores e a velocidade de deslocamento

acíclico. No entanto, recentemente tem-se notado que a dinâmica competitiva das ações

com bola deve ser trabalha de maneira integrada a tais capacidades, sem desconfigurar a

lógica interna do jogo, voltada aos componentes técnicos e táticos das partidas.

V4 - Cada vez mais o treinamento da força muscular vem sendo incluído em programas

de exercício com objetivos variados. O exercício de força está relacionado ao o aumento

do trofismo muscular, com a prevenção à lesão, e ao aumento da performance. A

principal atividade do jogador de futebol é a corrida, sendo que o mesmo desloca-se em

velocidades e distâncias variadas, envolvendo acelerações e frenagens durante a

execução de suas ações competitivas. Portanto, com o treinamento de força e potência

muscular uma equipe adquire uma capacidade de atingir níveis ótimos de força e

potência muscular em um período reduzido de preparação somado ao volume de

treinamentos técnico-táticos e competições.

Fazendo um contraponto entre os voluntários percebe-se que o futebol está mais

dinâmico devido às rápidas trocas de passe, também é destacada a importância da força

e da velocidade como capacidades determinantes para as ações competitivas da

modalidade. Portanto, o treinamento de força e velocidade é imprescindível para a

melhora tanto individual como a da equipe como um todo. Pois segundo Aoki (2002) o

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treinamento de força é necessário para que o jogador desenvolva bem os fundamentos

do futebol e que a velocidade é o fator preponderante para o êxito em uma jogada.

Ao analisarmos o quadro referente à pergunta “Quais são as subdivisões de

velocidade que você já treinou? Você pode escolher mais de uma alternativa”, notamos

que:

V1 V2 V3 V4

Subdivisões

deVelocidadeReação x x x x

Aceleração x x x x

Máxima x x x

Resistência de

velocidade

x x x x

Velocidade assistida x x

Velocidade resistida x x x

Total 5 6 6 3

os voluntários 2 e 3 já trabalharam com todas as subdivisões de velocidade mencionadas

e o voluntário 2 citou ainda: velocidade com mudanças de direção, velocidade motora e

velocidade de explosão. O voluntário 1 apenas não trabalhou com a velocidade

assistida e o voluntário 4 trabalhou com velocidade de reação, velocidade de aceleração

e resistência de velocidade.

Segundo Weineck:

A velocidade do jogador de futebol é uma capacidade verdadeiramente múltipla, a qual pertence não somente o reagir e agir rápido, a saída e corridas rápidas, a velocidade no tratamento com a bola, o sprint e a parada, mas também o reconhecimento e a utilização rápida de certa situação (WEINECK, 2004, p. 355)

Com a análise das respostas à pergunta “Considerando a área de atuação do

atacante. Qual a maior distância que ele pode se deslocar na forma de sprint?”

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V1 – 20 metros

V2 – 20 metros

V3 – 20 metros

V4 – 5 metros

Percebe-se que três voluntários afirmaram que os atacantes podem correr até 20

metros na forma de sprint (velocidade máxima). Segundo Arruda e Hespanhol (2009),

durante uma partida de futebol, os períodos em que os jogadores realizam sprints

ocorrem, aproximadamente, a cada 90 s, e cada ação em intensidade máxima dura em

torno de 2 a 4 s, com distância média de 14 m.

Ao analisarmos as respostas obtidas com a pergunta “Quantas vezes por semana

você trabalha velocidade com os seus atacantes?”

V1 – 3

V2 – 2

V3 – 4

V4 – 3

percebemos que os treinamentos de velocidade com os atacantes são realizados de 2 a 4

vezes por semana de acordo com as respostas dos voluntários, já que dentro da semana

também são realizados trabalhos de força e trabalhos técnico-táticos que também

estimulam a velocidade dos atletas.

Com a pergunta “Você acredita que outras capacidades físicas interferem

diretamente na capacidade de velocidade? Porque?” obtermos as seguintes respostas:

V1 - Sim, a capacidade aeróbia, na recuperação, e a força no recrutamento de fibras

V2 - Um atleta que treina muito resistência aeróbia tende a estimular as fibras de

contração lenta e não as de contração rápida, isso vai acarretar no comprometimento da

velocidade do atleta.

V3 - Sim. É o que tem sido colocado como treinamento combinado das capacidades

biomotoras. Ou seja, na medida em que treino uma, a outra sofre influência dos

estímulos empregados. Nisto, está bem indicado na literatura que a melhoria de

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subdivisões da força é correspondente ao desenvolvimento de alguns tipos de

velocidade.

V4 - Sim.

Fazendo um comparativo entre as respostas, pode-se observar que todos os

voluntários acreditam que outras capacidades interferem na capacidade de velocidade.

A capacidade aeróbia se treinada de maneira bem planejada ajuda na recuperação após

os tiros, e se treinada exageradamente estimula mais as fibras de contração lenta e faz

com o atleta perca velocidade e a capacidade de força que é aliada à velocidade e pode

trazer ganhos consideráveis nessa capacidade.

De acordo com Gomes e Souza (2008, p. 138)

A capacidade de velocidade pode ser aperfeiçoada em um nível muito mais amplo, pois o nível de sua manifestação é determinado não somente pela rapidez, mas também por todo um complexo de outras capacidades (força flexibilidade e coordenação).

Ao serem indagados “Qual a importância do treinamento de força para o

aumento da velocidade? Por quê?” os informantes disseram:

V1 – Muito Significativa. O treinamento de força mobiliza mais fibras, uma

musculatura mais mobilizada gera mais potencia.

V2 – Muito Significativa. Se o atleta não tiver força, o arranque vai ser lento e vai

comprometer a velocidade em tiros curtos.

V3 – Muito Significativa. Principalmente pelo aumento de recrutamento de unidades

motoras básicas no ciclo alongamento-encurtamento dos membros inferiores dos

futebolistas, ou pelo próprio regime de contratibilidade do movimento. Por isto, é

necessário o entendimento da biomecânica dos movimentos destes desportistas, para

que não ocorra efeitos negativos na performance, dada pela ênfase por longo período no

treinamento de força máxima.

V4 – Muito Significativa. O treinamento de força no futebol se faz importante,

indispensável, mas o principal componente da força para o futebol é a potência ou força

rápida. A capacidade de gerar força satisfatória, mais a velocidade máxima atingida no

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movimento desejado são os aspectos fundamentais para o bom desempenho do atleta de

futebol.

Analisando as respostas dos voluntários fica clara a extrema importância do

treinamento de força para a melhora da capacidade de velocidade, é ressaltada a maior

mobilização de fibras que deixa a musculatura mais mobilizada gerando mais potência e

também a importância da força rápida e da potência para o aumento da velocidade.

Com relação à pergunta “Você já aplicou ou realizou testes de velocidade?”

todos os voluntários afirmam que já realizaram testes para avaliar a velocidade de seus

atletas. Pois segundo (Pitanga, 2008) é importante a utilização de testes para que se

possam mensurar a precisão dos atletas em determinados movimentos do desporto:

passe, chute a gol, etc.

Os voluntários V1, V2 e V4 disseram que o treinamento de velocidade é mais

utilizado no período pré competitivo e o voluntário V4 fala da importância do

treinamento de velocidade em todos os períodos do macrociclo ao serem perguntados

“Em que período de preparação o treinamento de velocidade é mais utilizado?”

V1 – Período pré competitivo

V2 – Período pré competitivo

V3 - Em todos os períodos do macrociclo, inclusive se possível, no período transitivo

entre as temporadas.

V4 – Período pré competitivo

Sob a pergunta “Que trabalho é enfatizado na pré temporada?” obtivemos as

seguintes respostas

V1 - Todos os trabalhos são enfatizados, porém a tendência do futebol moderno gira em

torno da força e velocidade.

V2 – Força, resistência, aeróbio e coordenação

V3 - Todos considerados importantes e determinantes, já que há pouco tempo para

preparação para os campeonatos.

V4 – Força, resistência, velocidade e aeróbio

Os voluntários V1 e V3 falaram da importância de se treinar todas as

capacidades na pré temporada, os voluntários V2 e V4 destacaram algumas

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capacidades, porém todos eles consideram força e velocidade como capacidades muito

importantes também na pré temporada. Segundo Aoki (2002) a intensidade dos

trabalhos na pré temporada deve ser paulatinamente aumentada em respostas às

adaptações adquiridas além do próprio desempenho do atleta. Gomes e Souza (2008)

destacam que na pré temporada o treinamento deve ser elaborado buscando aperfeiçoar

as capacidades aeróbia/anaeróbia (glicolítica); aperfeiçoar o sistema anaeróbio alático e

lático e aperfeiçoar as capacidades de coordenação, força, velocidade e flexibilidade.

Por fim, pedimos aos informantes que explicassem a via metabólica utilizada no

treinamento de velocidade. Obtivemos as seguintes explicações:

V1 - A via metabólica utilizada é o atp- cp , fornece energia rápida, para estímulos

curtose de explosão de duração até 10 segundos

V2 - No treinamento de velocidade ocorrerá o metabolismo anaeróbico, as moléculas

de ATP necessárias à manutenção do trabalho muscular são sintetizadas, inicialmente,

por intermédio de outro composto fosfórico o fosfato de creatina, auxiliada pela ação da

enzima creatinoquinase, quando a ligação entre as moléculas de creatina e de fosfato é

desfeita, são formados os ATPs. Portanto, o fornecimento de energia, por essa via

metabólica é muito reduzido e atende aos esforços físicos de elevada intensidade por

não mais do que 8-10 segundos, ou seja, corridas rápidas em distância curtas. Após isso

ocorrerá o acúmulo de lactato no grupo muscular ativo e, na seqüência, se entrará na

corrente sanguínea dificultando o esforço físico de grande intensidade.

V3 - Trabalha-se no regime anaeróbio lático e alático. Dependendo do objetivo do

treinamento e do momento da preparação, são direcionados. Isto fatalmente estará

ligado a fatores como tempo de recuperação, intensidade e volume dos estímulos, meios

e métodos de preparação utilizados. O que ocorre é o predomínio de determinada via

metabólica (como as citadas inicialmente), no entanto, cabe destacar que todos se fazem

presentes nos treinamentos, inclusive o metabolismo por vias oxidativas e aeróbias,

atuando principalmente na recuperação dos desportistas

V4 – Não respondeu

Percebe-se que ambos os preparadores físicos voluntários afirmam que no

trabalho de velocidade, trabalha-se em regime anaeróbio e a via metabólica utilizada é o

ATP-CP que fornece energia em atividades de alta intensidade até 8 – 10 segundos e o

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voluntário 3 lembra ainda da via oxidativa que tem papel importante na recuperação

(ROBERGS e ROBERTS, 2002)

A importância do sistema do fosfogênio é que ele pode regenerar a ATP

rapidamente. Durante o exercício onde a demanda da produção de ATP pode ser

fornecida tanto pela respiração mitocondrial quanto pela glicólise, e a reação da creatina

quinase possibilita a produção de ATP adicional para que este se equipare às exigências

da contração muscular. Entretanto, deve ser levado em conta que a reserva

intramuscular de CrP é finita e pode ser depletada durante o exercício intenso em menos

de 10 segundos.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisar a velocidade aplicada em atacantes do futebol nota-se que os

preparadores físicos estão utilizando cada vez mais a ciência a favor do futebol, o que

faz com que o esporte seja mais dinâmico e competitivo

Em relação ao primeiro objetivo específico, nota-se que a duração de uma

partida de futebol é longa (90 minutos) e a via predominante é a oxidativa, porém,

esforços dentro de uma partida como os piques são de curta duração e alta intensidade e

essas atividades utilizam o ATP-CP que fornecem energia até 8-10 segundos. Como no

jogo são realizados vários piques, o CP pode deixar de fornecer energia, passando a ser

usada a glicólise anaeróbia em adição para fornecer energia para esses eventos.

Foi abordado, também, que o tempo que o sistema ATP-CP vai fornecer energia

não será somente determinado pela quantidade ou intensidade de piques, mas também

pela condição física do futebolista, pois quanto melhor treinado ele estiver, melhor irá

conseguir manter altos níveis de CP por maior tempo.

Já em relação ao segundo objetivo específico, pudemos observar que os

atacantes percorrem, durante um jogo, a distância de 9.600m a 10.600m e que são eles

os jogadores que mais percorrem altas distâncias em altas intensidades, podendo chegar

até a 1.500m pra frente em velocidade máxima. Observa-se, portanto, a importância de

se trabalhar velocidade com os atacantes.

É importante destacar que os voluntários que responderam ao questionário

apontaram que um atacante pode correr até 20m na forma de sprint, que é um dado

importante para se planejar um treinamento de velocidade, já que não há a necessidade

de se realizarem piques de 70-80m.

Nota-se que no terceiro objetivo especifico ficou claro a importância de se

trabalhar todas as subdivisões de velocidade, sendo interessante observar que o atacante

pode decidir uma partida em diversas situações em que levar vantagem sobre o

adversário, como por exemplo, com relação à capacidade de reação em um lance que a

bola inesperadamente sobre entre o atacante e o zagueiro.

Percebe-se que no quarto objetivo especifico, os preparadores físicos voluntários

têm utilizado a ciência a seu favor para elaborar os treinamentos e para planejar a

temporada de acordo com os objetivos da equipe. Ambos ressaltaram a importância do

treinamento de força para o jogador de futebol, para o aumento da velocidade, na

prevenção de lesões e para manter o nível da equipe elevado, já que a exigência do

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futebol atual é de jogadores fortes e rápidos. Os preparadores físicos também afirmaram

que trabalham velocidade com os atacantes em média 3 vezes por semana e que a

velocidade é trabalhada com maior ênfase na pré temporada.

Conclui-se, portanto, que o treinamento de velocidade e força se faz necessário

sempre, inclusive no período transitivo entre as temporadas e que a velocidade aliada a

boa qualidade técnica de um atacante são importantíssimos e decisivos em uma equipe.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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8. Anexo I

Pesquisa de campo para a realização da Monografia do Centro Universitário das

Faculdades Associadas de Ensino – UNIFAE do aluno Matheus Henrique dos

Santos graduando no 4º ano de Educação Física.

Solicito a colaboração dos profissionais que atuam no futebol para o

preenchimento do questionário. Estamos analisando a velocidade aplicada em

atacantes do futebol.

ATENÇÃO:

• Não coloque seu nome;

• Será garantido o seu anonimato;

• Suas respostas deverão ser espontâneas.

QUESTIONÁRIO

IDENTIFICAÇÃO:

Idade: ______anos.

Sexo: Masc. ( ) Fem. ( )

Escolaridade:

( ) Graduação em Educação Física incompleto

( ) Graduado em Educação Física

( ) Pós Graduação

( ) Outros Cursos. Quais?

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Em relação ao Futebol você é:

( ) Preparador Físico

( ) Treinador

( ) Outros. Quais?

Há quanto tempo você atua ou atuou no futebol? _______ano(s)

1. Por quê tem se dado ênfase no treinamento de força e velocidade nos

últimos tempos?

2. Quais são as subdivisões de velocidade que você já treinou? Você

pode escolher mais de uma alternativa.

( ) velocidade de reação

( ) velocidade de aceleração

( ) velocidade máxima

( ) resistência de velocidade

( ) velocidade assistida

( ) velocidade resistida

( ) outros. Quais?

3. Considerando a área de atuação do atacante. Qual a maior distância

que ele pode se deslocar na forma de sprint?

( ) 5 metros

( ) 10 metros

( ) 15 metros

( ) 20 metros

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4. Quantas vezes por semana você trabalha velocidade com os seus

atacantes?

( ) 6 vezes por semana

( ) 5 vezes por semana

( ) 4 vezes por semana

( ) 3 vezes por semana

( ) 2 vezes por semana

( ) 1 vez por semana

5. Você acredita que outras capacidades físicas interferem diretamente

na capacidade de velocidade? Porquê?

6. Qual a importância do treinamento de força para o aumento da

velocidade?

( ) pouco significativa

( ) muito significativa

Por quê?

7. Você já aplicou ou realizou testes de velocidade?

( ) sim

( ) não

8. Em que período de preparação o treinamento de velocidade é mais

utilizado?

( ) período pré competitivo

( ) período competitivo

( ) período de transição

( ) Outro. Qual?

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9. Que trabalho é enfatizado na pré temporada?

( ) força

( ) resistência

( ) velocidade

( ) aeróbio

( ) coordenação

( ) outros. Quais?

10. Explique a via metabólica utilizada no treinamento de velocidade?

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